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Espaços não formais de ensino e o EIC.

Espaços não formais de educação são ambientes extra-escolares em que é


possível trabalhar conhecimentos e experiências que muitas vezes a escola não
consegue transmitir em sua totalidade, seja pela falta de tempo durante as aulas
(que muitas vezes são extremamente organizadas em um tempo específico para
lidar com todo o conteúdo), ou por não apresentar um ambiente no espaço escolar
próprio para aquele tipo de ensino e interação (OVIGLI; BOSSOLAN; BELTRAMINI,
2009).
Um exemplo desses espaços são os museus e centros educativos de ciências, que
seguem um modelo de aprendizado e organização que difere das escolas, sendo
mais flexível, podendo ingressar novos conhecimentos e percepções, que em
conjunto não só ajudam a formar conhecimento, valores, mas também atuam na
cultura, uma vez que são espaços que podem ampliar a visão de mundo e realidade
tanto dos estudantes, mas também da comunidade em geral. As visitas a esses
espaços interativos devem ser um adicional ao que se estuda nas escolas e um
complemento para os conhecimentos desenvolvidos e compartilhados.
Há um cuidado a respeito dessa realidade dos alunos e da comunidade, em que é
necessário a introdução desses valores para que se tenha um significado maior no
ensino-aprendizagem e na formação científica desses indivíduos. Aquilo que lhes
pertence e que lhes é conhecido é muito mais chamativo e interessante do que algo
que nunca foi inserido em suas vidas, e dessa forma eles podem utilizar essas
novas informações no dia-a-dia e para modificar suas próprias realidades. Com
essa abordagem, é possível inserir os indivíduos em conceitos específicos da
ciência, mostrando como os mesmos se relacionam diretamente com a realidade -
onde a ciência se encaixa no seu dia-a-dia e no que você consome.
Ao apresentar os conceitos científicos, há também a análise da própria história da
ciência por trás do desenvolvimento tecnológico, mas também a desmistificação da
ciência como dogma ou apenas como aspecto positivo - apresentando então essa
relação Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA).
O museu no Espaço Interativo de Ciências em São Carlos apresenta na sua
composição um extenso material de divulgação científica, que se integra com os
conteúdos das escolas, ao abordar temas relacionados à Biologia Molecular e
Biotecnologia, como os microrganismos, suas interações com o cotidiano, a célula
animal e vegetal, o DNA e RNA, doenças causadas por microrganismos, exposições
de modelos dessas células, assim como experimentos relacionados ao material
genético (DNA do morango) e também com a história da ciência relacionada com a
biotecnologia e com cientistas brasileiros, e como as pesquisas ajudaram a
desenvolver modelos e métodos científicos, como PCR, para a comunidade e usos
no cotidiano (OVIGLI; BOSSOLAN; BELTRAMINI, 2009). Há vários materiais de
divulgação e que podem ser interativos, o que mostra a qualidade das pesquisas e
desenvolvimento de métodos de ensino que podem chamar ainda mais a atenção
do público, e principalmente esquematizar os conhecimentos que os alunos
adquirem nas escolas e ser possível visualizar esses conteúdos (que podem ser
abstratos), principalmente se tratando de componentes que não são visíveis a olho
nu.
Essas atividades e materiais são bem didáticos, e um dos fatores que me chamou
atenção é a acessibilidade das informações, principalmente no que diz respeito à
linguagem utilizada, pois são conteúdos que podem apresentar um caráter mais
técnico, uma linguagem científica mais robusta que pode tanto assustar como
afastar totalmente a comunidade, mas com os materiais visados para essa
divulgação científica, o acesso fica mais facilitado e gera curiosidade, o que é o
ponto chave e inicial para o trabalho com os estudantes.
Um fator motivador também que me chamou atenção, é que o tema escolhido abre
caminho e espaço para a discussão de vários fatores atuais da sociedade, como
remédios, as superbactérias, os vírus e suas doenças, e como se realiza testes e
experimentos para produção de vacinas, etc, ainda mais em conjunto com o Jardim
Medicinal, que apresenta um amplo potencial de produção de chás e extratos, além
de oferecer um conhecimento ainda mais aprofundado sobre as potencialidades
tanto de uma medicina natural, mas como em conjunto com a biotecnologia, e com
os conhecimentos sobre os próprios microrganismos e como atuam no corpo. E
tudo isso é muito importante em um ambiente não formal de educação em que os
estudantes possam ter uma maior autonomia e criticidade a respeito do seu
conhecimento e aprendizado. Quais dúvidas irão surgir, quais exemplos, situações,
etc, tudo isso pode ser integrado nesses ambientes informais.
É isso que mais me encanta e que fez com que eu tivesse uma grande curiosidade
a respeito dos materiais e métodos de ensino que estavam sendo formados e são
apresentados no EIC - a grande possibilidade de aumentar e despertar a
curiosidade, envolvida com a qualidade dos materiais, e como são pensados para
esse público, que vem a um museu aprofundar seus conhecimentos mas também
compartilhar suas próprias experiências e relacioná-las com o que estão vendo e
interagindo. E esses trabalhos e atividades relacionadas apresentam sempre uma
especificação de quem e para quem se pensou todas essas questões. De acordo
com MacManus (2013), é possível abordar efetivamente o seu público se você
souber quem são aquelas pessoas ali interessadas, e tanto os jogos, como as
atividades desenvolvidas no EIC apresentam um público-alvo estabelecido que
condiz com o processo de aprendizagem que será realizado ali, e isso é muito
eficaz, e pelas minhas percepções, garante um bom desenvolvimento e andamento
do museu.
O público-alvo não se estabelece apenas nos fatores: quais os anos das escolas
que estarão indo (ensino fundamental, médio), ou pessoas da graduação, etc; mas
também os diferentes aspectos sociais relacionados aos visitantes, o que é muito
importante de se entender quando se está trabalhando com a comunidade e uma
ampla diversidade de pessoas. O modo de abordagem ali efetivado, a maneira de
se comunicar e os exemplos são componentes importantes a serem levados em
conta ao realizar as atividades no museu. Desta forma, o museu do Espaço
Interativo de Ciências - São Carlos apresenta vários componentes que garantem, ao
meu ver, a comunicação científica eficaz para todos os públicos, o exercício da
curiosidade com os variados jogos e dinâmicas, os experimentos e as visualizações
chamativas, e principalmente a atenção e o cuidado com o conhecimento ali
transmitido, sendo acessível, confiável, e entendendo que a ciência é algo mutável e
cheio de oportunidades.

Referência:
OVIGLI, Daniel FB; BOSSOLAN, Nelma RS; BELTRAMINI, Leila M. Biologia
molecular na educação básica: explorando possibilidades de aprendizagem em um
espaço não formal. Revista de Ensino de Bioquímica, v. 7, n. 1, p. 18-24, 2009.

MCMANUS, Paulette. Educação em museus: pesquisas e prática/Paulette


McManus; organizadoras Martha Marandino e Luciana Monaco. São Paulo:
FEUSP, v. 97, p. 24, 2013.

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