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BAIRRO

PASSADO E PRESENTE: O FUTURO É O AGORA

SENHOR DOS MONTES

APOIO:
16
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, André Neves Pinheiro; FRANCO, Thamiris. Bate-Paus mantém tradição
por gerações. Observatório de Cultura, 19 de março de 2011. Disponível em:
https://saojoaodelreitransparente.com.br/works/view/973. Acesso em: setembro
de 2019.

BIBLIOTECA MUNICIPAL SJDR. História de São João del Rei. 02 de junho de


2015. Disponível em: http://www.bibliotecamunicipalsjdr.com.br/bca/index.php/
menu-historia/historia-sjdr. Acesso em: setembro de 2019.

CARNEIRO, Eder. Formações territoriais urbanas em São João del-Rei (MG). In: XXV
Simpósio Nacional de História: História e Ética (ANPUH), 2009, Fortaleza. Anais do XXV
Simpósio Nacional de História: História e Ética (ANPUH), 2009.

CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do


Brasil. Apresentação. 2017. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/sobre. Acesso em:
setembro de 2019.

GAZETA São João del-Rei. Campeonato Master terá a final amanhã. 06 de junho
de 2015.

SÃO JOÃO DEL-REI TRANSPARENTE. Disponível em: https://


saojoaodelreitransparente.com.br/. Acesso em: junho de 2019.
15
AS PESSOAS POR O BAIRRO SENHOR
TRÁS DA REVISTA DOS MONTES
MÁRCIA
MÁR
ANA LUÍSA

DEDICAMOS ESTES REGISTROS À COMUNIDADE DO BAIRRO SENHOR DOS MONTES, QUE NOS
RECEBEU COM CARINHO IMENSO AO LONGO DAS PESQUISAS. AGRADECEMOS A TODOS VOCÊS
QUE ACREDITARAM EM NÓS E NO NOSSO TRABALHO, ABRINDO NÃO SÓ AS PORTAS DE SUAS
CASAS, MAS TAMBÉM DIVIDINDO CONOSCO PARTE DE SUAS VIDAS E HISTÓRIAS. PELA CONFIANÇA,
UM MUITO OBRIGADA ESPECIAL AO TIO LELÉU, AO DINGAS, À DONA MARIA DAS GRAÇAS, À
NATÁLIA, À JANAÍNA, À DONA APARECIDA, À DONA MARIA DAS DORES, AO FRANCISCO, AO
LÍVIA
GEPHIS E À UFSJ.
LUIZA
BÁRBARA

E para despedir de vocês, falaremos um pouco


Bárbara Pereira nasceu em Belo Horizonte de nós que estamos por trás desta revista.
e mora em São João del Rei fazem já bons Vocês devem estar pensando: quem são essas
pessoas, não é mesmo? Somos essas três garotas
01 O QUE É E COMO FIZEMOS?
anos. É geminiana e estuda Arquitetura
e Urbanismo pela UFSJ. Seus maiores desenhadas aí em cima, mulheres, estudantes,
interesses - além de gatos, - envolvem negras, brancas, comuns. Apenas somos 02 O SENHOR DOS MONTES E A CIDADE

percussão e manifestações afro-brasileiras, representantes de uma turma muito bacana que


sobretudo o coco e o maracatu, artes possui um grande afeto pelo Senhor dos Montes. 03 ATIVIDADES CULTURAIS: GRES BATE PAUS, CRUZEIRO E A QUADRILHA
visuais e ilustrações. Ela acredita que o que Somos Ana Luísa Magalhães Oliveira, Bárbara
realmente constrói e é capaz de revolucionar
a cidade são os encontros entre as pessoas.
Regiane Pereira e Luiza Queiroz Barroso,
estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo
07 O CRISTO E A CAPELA

da Universidade Federal de São João del-Rei.


Contamos com a ajuda de duas professoras que 09 O RIBEIRÃO
são a Lívia Muchinelli e a Márcia Hirata. Além
Ana Luísa Magalhães Oliveira disso contamos com o apoio do CRAS, dos 11 A MINERAÇÃO, AS FÁBRICAS E AS CASAS
nasceu em Quartel Geral e moradores que aparecem na revista, do GEPHIS
mora em São João del Rei já faz e do Programa de Extensão “ (des)Mercantilização
três anos. É Canceriana (bem do Direito à Moradia”. Por fim queremos deixar
13 QUEM CONSTRÓI O BAIRRO?

sonhadora) cursa Arquitetura aqui o nosso muito obrigada e um grande abraço!


e Urbanismo na UFSJ e ama a 15 AS PESSOAS POR TRÁS DA REVISTA
cidade. Ana é uma menina bem
do interior e mineirinha que só,
ela não possui muitos talentos ou
16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Luiza Queiroz Barroso é outra que veio de
tempo livre, mas sempre que pode BH há uns três anos para estudar Arquitetura
sai para correr, encontrar com os e Urbanismo na UFSJ. Sempre em busca
amigos e fazer uma comidinha de alguma coisa que nem ela sabe o que é
gostosa. Pretende ser professora (geminiana né), acredita que a arquiteura e o
para poder orientar e ensinar o urbanismo devem ser acessíveis a todos, e se
lado humano da arquitetura. agarra nisso na sua caminhada.
01
O QUE É E COMO
FIZEMOS ? DONA MARIA DAS GRAÇAS

A HISTÓRIA DO BAIRRO NARRADA EM PRIMEIRA


PRIME PESSOA
OA

NATÁLIA SEU LELÉU Ginc


Gincan
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O QUE É
AUTOCONSTRUÇÃO?
O QUE É AFORAMENTO? Você já parou para pensar em como a sua casa ou as casas
DONA APARECIDA dos seus vizinhos foram construídas? A forma que elas são
É uma forma de se conseguir feitas muda a sua relação com a casa. No bairro e no Brasil
DINGAS a posse do terreno para a forma mais comum é a autoconstrução. É uma maneira
FRANCISCO JANAÍNA moradia, embora não que as pessoas encontram de baratear e possibilitar que seja
DONA MARIA DAS DORES possua a sua propriedade. feita sua própria casa, construídas por eles mesmos, sem o
Alguém da família procura acompanhamento de um profissional especializado.
a prefeitura municipal e
Olá, tudo bem? Você pode estar se perguntando do por quê dessa solicita a posse do terreno,
O QUE É HISTÓRIA ORAL?
revista estar bem agora, nas suas mãos. Não é mesmo? Essa revista esses lotes costumam estar
aconteceu em parceria com a Universidade Federal de São João del A história oral começou situados na faixa da zona
Rei (UFSJ) e foi feita graças aos moradores que estão bem aí em em 1950, logo após a rural que fica próxima da
cima - O Seu Leléu, a Dona Aparecida, o Francisco, a Natália, a invenção do gravador, que área urbana. (CARNEIRO, “Comecei a construir um ano
Dona Maria das Dores, a Janaína, o Seu Dingas e a Dona Maria das permitiu registrar entrevistas p.07, 2009). antes. Comecei a construir
Dores- juntamente com algumas estudantes e professoras do curso devagarzinho. Meu pai me PESSOAS MARCANTES DA
contendo testemunhos sobre HISTÓRIA DO SENHOR
de Arquitetura e Urbanismo. Juntos, conversamos e papeamos muito diversos aspectos da história ajudando, né? Eram quatro
e entendemos que a história das coisas e dos lugares é viva e está cômodos só. Eram esses dois DOS MONTES
contemporânea. Aqui no Brasil
presente em praticamente tudo o que vemos. E isso é extremamente ela foi introduzida um pouco “...não precisava comprar cômodos, esse meu quarto
poderoso, não é mesmo? Daí, papeando um pouco mais e fazendo mais tarde, na década de 1970, terreno. Era terreno da aqui e a salinha aqui. Mas
algumas buscas aqui e outras acolá, percebemos que encontramos com a criação do Programa prefeitura. Se chama terreno depois você tem um punhado
pouquíssima coisa sobre o bairro Senhor dos Montes nos registros de História Oral do Centro aforado, né? Aí cercava e de filhos, né? Eu tenho seis
oficiais da cidade. E isso foi muito estranho, porque o bairro tem de Pesquisa e Documentação podia ser da gente.” (Leléu) filhos, então foi aumentando
uma importância enorme pra cidade de São João del Rei, mas isso de História Contemporânea devagarzinho. Aumentando a
deixamos para as próximas páginas. Com isso, juntamos todas do Brasil. A História Oral é casinha pra lá.” (Leléu) Dona Carmélia
as nossas forças e buscamos tentar montar a partir dos relatos e uma forma de pesquisa que
histórias do cotidiano de todo mundo que foi entrevistado, e por busca ouvir e registrar as vozes Dona Gilda
meio de busca em fotografias de moradores, a história do bairro. das pessoas que geralmente
Acabamos entendendo que a história também pode e é contada pelas “Depois o padre da nossa basílica, era um padre Seu Carlinhos
não estão na história oficial,
próprias construções do bairro. Já parou para pensar nos nomes das muito abençoado, ele fez a creche, fez aquelas casa Dona Marta
e assim de algum jeito tentar
ruas, há quanto tempo tem aquela capela ali ou mesmo a escola? daquela rua de baixo da igreja aquelas casas todas e
inseri-las dentro dela. As
E o Cristo? Entender essas coisas pode nos permitir entender mais o entrevistas servem como
a creche ele fez primeiro. Então tem a minas, as várias Seu Lucas
bairro e até mesmo a nossa própria vida e sua relação com ele. Está minas do Ribeirão lá nos olhos d’ água que chama.
fonte para compreensão do
pronta/o? Topa embarcar nessa? Ah, só pra não ficar com coisas não Então o padre tirou o reservatório para a creche
passado, em conjunto com
faladas, colocamos também alguns dados que encontramos de outras primeiro e depois mandou água para gente.”(Maria
documentos escritos, imagens
formas, mas vai estar bem explicado nas próximas páginas. E mais das Graças)
ou outros tipos de registros.
uma coisa, isso de sentar e conversar e contar histórias, gravá-las e (CPDOC, 2017)
depois colocar para o mundo se chama História Oral, você conhece?
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13 02
QUEM CONSTRÓI O SENHOR DOS
O BAIRRO? MONTES E A CIDADE
Você sabia que a maioria das casas no bairro foram autoconstruídas sobre terrenos aforados? Foi
graças aos esforços das próprias pessoas que o Senhor dos Montes se desenvolveu. Graças a pesso-
as como o Padre Paiva, que construiu a primeira creche da comunidade e também várias casas perto
da capela. Não só ele, mas cada um dos moradores que se preocuparam em fazer um bairro melhor, MINAS GERAIS
não somente para eles, mas por um bem maior, que é o Senhor dos Montes. Quando vocês leêm SÃO JOÃO DEL-REI
isso, quais nomes vêm à cabeça? Durante as entrevistas, surgiram alguns, dê uma olhada direito, no
canto inferior, da página ao lado.
Não só de construção se fez o bairro. Muitas festas fizeram parte de sua história, você conhece alguma?
Seu Dingas promovia as gincanas no Alto do Cristo, a festa do Senhor dos Montes, as festas do dia das
mães e do dia das crianças, trazendo sempre diversão e união para a comunidade.
União é uma palavra importante, que descreve bem os moradores do Senhor dos Montes, você
concorda? Um exemplo disso é o restauro da Igreja Sr. Bom Jesus do Monte, que só aconteceu pelo
patrocínio do dinheiro do povo, com campanhas, jantares, almoços, bailes, bingos e o carnê do Uai, Minas Gerais (MG) é um dos maiores
Bom Jesus, numa campanha chamada “Somos Todos Pelo Bom Jesus”. Quer poder de união maior estados brasileiros com uma área de
que esse? A reforma só aconteceu pela boa vontade de todos em ajudar e ver a igreja reformada 586.522.111 km² e segundo o IBGE, onde
novamente. vivem 20,5 milhões de pessoas, se encontra na
Por falar em boa vontade, outra parte da história do bairro é a sopa distribuída no galpão ao lado região Sudeste do Brasil e faz divisa com outros
da Igreja, você pode conhecer como a “sopa do Sô Mário”, que, ao que tudo indica, foi quem sete estados. Em Minas há uma cidadezinha
começou essa ação. Independente de como ela é chamada, uma coisa é certa: se não fosse a união, que se chama São João del Rei que possui uma
a organização e o empenho das pessoas, o Senhor dos Montes não teria conquistado tantas vitórias. área de 1464,327 km² e segundo o censo
(IBGE/2017) 90 263 pessoas moram ali. Foi
criada no século XVIII e é conhecida por suas
construções antigas, é uma cidade que possui
resquícios da colonização do Brasil, por isso Fo
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apresenta uma arquitetura muito famosa,
formada por construções religiosas, civis e
oficiais, além disso, exala arte, cultura e história “Eu nasci no bairro Sr. dos Montes” (Leléu)
(SJDR TRANSPARENTE).
Dentro dessa cidade existem 74 bairros e “A gente mudou pra cá.Já fazem trinta
nessa revista trataremos em específico do e sete anos que eu estou morando
bairro Senhor dos Montes. Segundo o censo nessa casa aqui em cima.” (Maria das
(IBGE/2010) tem 6.260 habitantes e por ele Dores)
existir a muito tempo conta com um espaço
equipado com: igreja, centro de umbanda, “Igual onde eu nasci, em frente a minha casa tinha
praças, posto de saúde, CRAS, escola, creche, projeto de ser rua, hoje não tem essa rua.” (Janaína)
farmácias, supermercados, padarias e ônibus
de 20 em 20 minutos para o centro. É um
bairro com ação coletiva muito ativa entre os “Eu nasci nesse bairro. O que eu encontrei
próprios moradores, além disso, possui uma foram as ruas todas sem calçamento, chovia
cultura marcante que conta com o bloco “Bate- dava aqueles regos, aquelas valas que dava,
paus”, quadrilhas, festas religiosas e gincanas, as casinhas todas pobres só de telha, com
descreveremos melhor sobre isso nas próximas cerca de bambu, sabe?”(Maria das Graças)
páginas.
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ATIVIDADES Além da mineração, uma outra coisa que pode
ser pensada é a a vinda das fábricas para São
João del Rei. Essa vinda, em especial das ligadas
à tecelagem aconteceu lá pro final do século
“Meus irmãos mesmos
trabalharam na fábrica, o pai
dela, meu irmão que faleceu,

CULTURAIS
XIX - nos anos de 1800 . Isso se deu por conta o meu outro irmão Geraldo. Lá
de um desenvolvimento industrial que já estava de casa acho que todo mundo
acontecendo no Brasil inteiro. Nessa época, trabalhou na fábrica, só eu que
com a diminuição da exploração do ouro e com não.” (Dona Aparecida)
o fim do processo de escravidão, muitas pessoas
O GRES BATE-PAUS, O TIME DO CRUZEIRO E A QUADRILHA
ficaram sem trabalho o que incentivou a chegada
da Companhia Industrial São Joanense, isso em
1891. Essas pessoas que começaram a trabalhar
O que torna o Senhor dos Montes único na na fábrica têxtil - e nas outras que surgiram
cidade? Aqui vamos mostrar os principais na cidade - começaram a construir casas nas
movimentos da cultura local nascidos e proximidades delas (SJDR TRANSPARENTE).
criados no bairro. Frutos da vontade, da Mas e o Senhor dos Montes, o que tem a ver com “Trabalhou na fábrica de tecido,
criatividade e da união popular, essas três isso? Uma hipótese é que ainda que o bairro Fábrica Brasil.” (Dingas)
atividades fizeram (e ainda fazem) parte não seja tão próximo das fábricas, possibilitou
da vida dos moradores. Motivos de grande que os trabalhadores fizessem do bairro sua
orgulho e alegria para a população, é morada, facilitando suas idas ao trabalho.
importantíssimo que as futuras gerações
conheçam e preservem a história local,
responsável por moldar a realidade do
presente. “A Ana com a Mercês trabalhou na São Joanense,
trabalhou muito tempo até fechar. Agora Lu foi na Brasil,
Lu, Zé, Geraldo. Maria.” (Dona Aparecida)

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A MINERAÇÃO, AS
FÁBRICAS E AS CASAS
Você sabia que a exploração do ouro em São João del
Rei começou junto com o criação das casas, das ruas, ESCRAVIZAÇÃO?
com a formação da própria cidade mesmo? A descoberta A escravização no Brasil foi
do ouro aqui aconteceu por volta do século XVIII, ou um regime social violento que
seja nos anos de 1700, no Ribeirão, o Rio São Francisco explorava a utilização da força
Xavier (lembra da página 09?). Antigamente São João de trabalho e saberes de pessoas
del Rei era formada pelo Arraial Novo do Rio das Mortes - a maioria delas vindas do
e depois pela Vila de São João del Rei e isso aconteceu continente africano que possuiam
por conta da mineração . Dessa forma, as pessoas fizeram seus modos de vida, a sua
da cidade a sua morada - construindo casas, igrejas, cultura, sua própria história, com
comércios e etc - e trabalhando com isso. É importante inúmeras habilidades e línguas. Carn
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lembrar, que muita gente que estava nas betas e trabalhando Era a partir desse sistema que
como mineradores - e não só com isso - eram forçados a pessoas ricas, a maioria delas
trabalhar. Isso porque nesse período, havia a escravização. vindas ou então descendentes do
(BBTMUNICIPALSJDR, 2015) continente europeu enriqueciam
- explorando a mão-de-obra GRÊMIO RECREATIVO ESCOLA “Meu pai se chamava José Pereira Andrade
Mas o que isso tem a ver com o Senhor dos Montes? dos escravizados em especial DE SAMBA BATE-PAUS Filho, entendeu? Ele foi uma das pessoas do
Isso é um jeito de começar a pensar em como podem ter na mineração e na agricultura. bairro que ajudava muito aqui. Ele que fundou
surgido as primeiras casas do bairro. Sendo a atividade É importante ressaltar que esse A Escola de Samba Bate-Paus surgiu o bloco do Bate-Paus [...] E eu fui dando
mineradora tão próxima, no Ribeirão e no Alto das Mercês sitema foi muito complexo e que oficialmente em 1933, com as cores continuidade, eu com meus irmãos.” (Leléu)
é possível pensar que as primeiras pessoas que vieram a a população escravizada lutou verde e rosa. Quando começou a
ocupar o bairro podem ter ligação com essa atividade, não muito para colocar fim a esse desfilar tinha características de rancho
é mesmo? processo. (agremiações carnavalescas anteriores
aos blocos) e desfilava com as marchinhas
de carnaval. Com o passar do tempo “Então... era uma escola de samba. Uma
transformou-se em bloco carnavalesco, escola de samba aqui da comunidade.
tendo suas próprias canções produzidas Esse nome bate-paus, é a única escola
por Hélio Alex, Wilson Tirapelli, dentre que tem, é uma roda [...] tem um
outros. Passaram a não ser mais samba- significado né. “(Natália)
“Naquela época o pessoal mexia muito com a tiração enredos, mas sim temas livres. Os foliões
de ouro. E o pessoal ficava escavacando pela rua para desfilavam com qualquer tipo de fantasia,
aproveitar, ficava batendo pra tirar ouro.“ (Leléu) pois o importante era brincar com paz e
alegria.
Não oficialmente, a tradição de baterr “Eu desfilei até grávida. Eu desfilei de 8
paus começa no princípio de 1901, com meses grávida. A gente ia pra Tiradentes,
[As primeiras igrejas da cidade] “foi construída em uma turma de amigos que se reunia a ia pra Belo Horizonte, que todo mundo
cima de betas, já ouviram falar em betas? É umas fim de passar o tempo batendo paus queria ver.” (Janaína)
escavação que se faz no meio da rocha, no meio junto com alguns instrumentos de sopro e
da pedra.“(Dingas) percussão. As pessoas que presenciaram
a dança na época, repassaram para as
gerações posteriores.
Bate-Paus é a agremiação que possui Bate-Paus tem história. (Dingas)
mais títulos do Carnaval.
“Essas Igrejas ai tudo são feitas em cima (AZEVEDO E FRANCO, 2011)
de ouro.” (Dona Maria das Graças)
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“Daí tinha uma água lá, tanto é que tinha uma bomba lá que manda água
pro bairro do Sr. dos Montes, Araçá, Dom Bosco, entendeu? Pro lado de lá,
tudo. Essa mina. Depois que fizeram a rede de esgoto lá pras casas do lado
do Ribeirão, né? E não tem como vir aqui pro lado da cidade, daí desce lá pro
córrego. Daí acabou a água. Acabou. Corre a água, mas um tantinho e toda
fedorenta, né? Por conta do esgoto mal feito, né? [...] Porque o pessoal vinha
da cidade, lá do bairro Dom Bosco, São Geraldo, Alto das Mercês, tudo vinha
pra tomar banho. A nascente era bastante água. E dava aqueles poços fundo,
os poços eram da altura da gente. Foi lá que eu aprendi a nadar. ” (Leléu)

“A gente lavava roupa, quando faltava


“Ribeirão acho que é
água nós íamos pra tomar banho era
um marco aqui, né. [...]
lá. Que não tinha sujeira na água. [...]
Nadavam no ribeirão
e era bom que gente levava, lavava
todinho. [...] To
e tinha que esperar secar, então nesse
falando assim, era uma
período de secar a gente brincava.“
diversão das crianças,
(Janaína)
hoje as crianças não
tem essa diversão que
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ribeirão.” (Natália)
“Lavei muita roupa pra fora e trabalhei muito lá,
graças a Deus. [...] Eles iam nadar lá, eles iam, era
limpinho, nadava, depois que botaram esgoto... [...]
CRUZEIRO ESPORTE CLUBE
“Nós custamos muito para construir o clube lá, No dia que eu fui lá com Zé Luiz eu sentei lá onde
né? A sede, né? Com muita dificuldade, com eu lavava roupa, como é que eu chorei. Eu lembrei “Nossa tudo de bom, né, o
Fundado aproximadamente no ano ribeirão, né. [...] Antes não
ajuda política e esforço de cada um para poder de 1935, dois anos depois do GRES do passado todo. [...] Até então a gente ia lá no
trabalhar na mão-de-obra e pedir material. Ribeirão, tinha uma mina lá sozinha, ai a gente ia lá tinha esse tanto de casa que
Bate-Paus, o Cruzeiro Esporte Clube tem agora. Porque cresceu
Daí conseguimos construir a sede. Hoje a sede realizava suas partidas no lugar buscar, ia lá lavar roupa.” (Maria das Dores)
quase não funciona mais. Funciona mais como muito o bairro, muito muito
onde atualmente está o Cristo, bem muito. Antes era pouca
academia. [...] Eles sempre davam baile...” no alto do bairro. Depois, quando o
(Leléu) casa que tinha, você podia
Monumento foi colocado (em 1942), contar. Mas era mato, pra
foi construída a sede para abrigar os você brincar, lavar roupa. “
jogadores e torcedores, que funciona (Dona Aparecida)
até hoje. Mas infelizmente, não se vê
mais a mesma atuação do Cruzeiro
“O Cruzeiro mesmo, time de futebol, acabou. do Senhor dos Montes do passado.
Porque passou por vários presidentes e inclusive eu (RELATO LELÉU)
fui um deles, e quando eu fui eu fiz a sede. A sede Notícias encontradas da década de
tá lá até hoje, ao lado daquele supermercado, tem 1990 mostram a atividade de um
a sede do Cruzeiro.” (Dingas) time formado por veteranos para
disputar o “Campeonato Master”.
Sendo o Cruzeiro campeão da
edição de 1992. (GAZETASJDR,
2019
“Era conhecido o time do Cruzeiro. Ele disputava O Clube chegou a participar de
aí com todo mundo. Ia aquela galera junto, pra um concurso para eleger o time
torcer né.” (Natália) mais popular da cidade, em 1952,
ficando na 8ª colocação.

05
QUADRILHA DO 06
“Eu mexi com a quadrilha, festa junina. [...] Sou marcador
SENHOR DOS MONTES
de quadrilha, marquei todos os colégios da cidade,
inclusive na Funrei, onde eu era chamado eu ia. Formava-
se os grupos dentro das próprias escolas e eu tinha o O grupo de quadrilha do
meu grupo particular, que era aqui no bairro Senhor dos Senhor dos Montes surgiu
Montes. Era a quadrilha mais histórica, mais famosa e graças aos esfoços de José
mais falada da cidade. [...] A gente arrumava uns vestidos Fernando Borges, que aprendeu
bonitos para as meninas, que eram vestidos de chitão, a marcar os passos com o
vestidos de quadrilha e usava aquelas marcações “Anarriê, Senhor Geraldo Napoleão,
balancê, tu”, tudo são coisas francesas. [...] Todos vinham enquanto trabalhava na cidade
aqui me chamar e eu ensinava como se marca quadrilha de Barroso-MG. Assim começou
e ensinei para os colégios também, muitas professoras a “carreira de marcador”
sabem marcar quadrilha, inclusive na Funrei também.” do Seu Dingas, primeiro em
(Dingas) Barroso, e logo em seguida em
São João del-Rei, onde, além
de criar a importante quadrilha
do Senhor dos Montes, também
“A quadrilha era... eu lembro dela fazer foi responsável por passar esse
parte de concurso. [...] a daqui era uma das conhecimento adiante.
melhores, ela rodava aí tudo.” (Natália) A quadrilha do bairro ficou
tão famosa que chegou a se
apresentar em diversas cidades
vizinhas. (RELATO DINGAS)

“Nossa, era coisa boa, a quadrilha era boa mesmo.


[...] você tinha o prazer de vir ver a quadrilha. [...] era
importante, deixou... morreu... acabou tudo.” (Dona
Aparecida)

O RIBEIRÃO
O rio São Francisco Xavier, nome oficial do famoso Ribeirão está ligado às
origens da cidade de São João del-Rei. Vamos falar mais um pouco sobre isso
nas páginas seguintes.
O Ribeirão sempre representou uma fonte de sobrevivência para a cidade e,
especialmente para população próxima, que vai muito além da extração do ouro.
Ele já foi a única forma que se tinha para conseguir água, lavar roupas, tomar
banho. Desde a década de 1970, aproximadamente, são canos que transportam
essa mesma água para dentro das casas do bairro. Sempre foi um lugar de lazer,
onde as pessoas podiam tirar um pouco do peso de um dia de trabalho, ou
aproveitar um final de semana com a família e amigos, ou se refrescar em um dia
quente. (RELATOS DAS ENTREVISTAS)
De umas décadas para cá o Ribeirão vem sofrendo com a poluição, devido
ao esgoto despejado nele. O grande aumento de casas e empreendimentos na
região, apoiado pela falta de infraestrutura urbana e descaso do poder público,
reduziu muito os lugares limpos do rio. Não é mais possível nadar em qualquer
ponto de suas águas, como se fazia antigamente. Mas, mesmo assim, nunca deixou
de ser frequentado pelos moradores do Senhor dos Montes, de outros bairros e
até por turistas, ainda bem! Um lugar como esse não pode ser abandonado.

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O CRISTO A CAPELA
“instalado primeiro o tronco, depois veio a imagem, Você sabe como foi que Você sabia que a Capela foi a primeira
o pedestal e depois veio a imagem em cima [...] Ele o Cristo chegou até aqui? grande construção do bairro? Ela foi “já mexi com a igreja durante muitos
ficou guardado quase 5 anos na igreja. De acordo com o portal São João del feita no ano de 1800 segundo o site anos e agora que ultimamente eu
[...] Rei transparente, ele foi colocado no SJDR Transparente e é um bem tombado parei. Com a igreja eu já mexi, já fui
Isso aqui era uma gincana que eu fazia no alto do dia 8 de dezembro de 1942, quando pelo Município, ela possui um grande tesoureiro.” (Leléu)
Cristo, tá eu aqui né. Então eu colocava um mutirão o prefeito era o Antônio das Chagas papel, promove festas e ações sociais
de pessoas e fazia festas no alto “do Cristo” (Dingas) Viegas. Desde então, o Cristo é um para a população. Recentemente ela
ponto de encontro no bairro e um lugar passou por uma reforma e isso só foi
que abriga e já abrigou muita festa, possível graças a ação da população, “Tinha gente que cantava no largo da igreja,
várias gincanas e encontros. Para além (leia mais na página 12 - Quem todas as tardes tinha música boa mesmo. Que
“Deve ter uns sessenta, cinquenta e oito a era a Olívia, a Conceição, a minha madrinha
disso, ele possui uma das vistas mais Constrói o Bairro).
sessenta e dois anos que o Cristo foi lá pra Raimunda. Nossa era show bom que tinha
bonitas da cidade, sendo considerado
cima. Lá antes só era o morro.” (Leléu) mesmo... Violão, sanfona.” (Dona Aparecida)
um ponto turístico de São João del Rei.

VOCÊ SABIA?
“Até que fizesse o
pedestal dele, de Ele mede 4 metros e meio de altura e
pedra sabão”. pesa duas toneladas e meia e está sobre “Era uma igreja velhinha, agora
Dona Maria. um pedestal de 13 metros de altura, que é uma igreja reformada, agora
foi feito pelo Rosino Baccarini e pelo ela tá linda” (Maria das Graças)
Tarcilo Tolentino.
Costumava existir um portal na entrada
de baixo para o Monumento, mas ele
acabou sendo demolido. “Com o trabalho de várias pessoas”. (Dingas)

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