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Revista Brasileira de
Ciências Farmacêuticas
volume 45, n. 1, jan./mar., 2009

Características da fibra capilar e métodos para avaliar as propriedades

físicas e mecânicas do cabelo

, Tânia Cristina de Sá Dias1

Maria Valéria Robles Velasco1 , Anderson Zanardi de Freitas2
,
, Claudinéia Aparecida Sales de Oliveira Pinto1
Nilson Dias Vieira Júnior2 ,
,
Telma Mary Kaneko1André Rolim Baby1 *

1
Departamento de Farmácia, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo,2 Centro de Aplicação e Lasers,
Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares/ IPEN-CNEN

O fio do cabelo é uma fibra natural formada por queratina, uma proteína que contém alta concentração de enxofre
proveniente do aminoácido cistina. As principais propriedades físicas do cabelo dependem principalmente de sua
geometria; as propriedades físicas e mecânicas do cabelo envolvem características a melhorar: elasticidade, maciez,
volume, brilho e maciez devido tanto à aderência significativa das escamas da cutícula e ao controle do movimento
(maleabilidade), quanto à facilidade de pentear, uma vez que reduzir a eletricidade estática das fibras. A avaliação
desses efeitos no cabelo pode ser realizada por diversos métodos, como: microscopia óptica e eletrônica, medição
de resistência mecânica, avaliação do brilho e tomografia de coerência óptica (OCT).

Unitermos: Cabelo/propriedades/avaliação. Fibras capilares/propriedades/avaliação. Fibras/características do cabelo.

Tomografia de coerência óptica/aplicação analítica. Microscopia óptica/aplicação analítica. Microscopia eletrônica/
aplicação analítica

O cabelo é uma fibra natural produzida por queratina, uma composta por teor elevado de enxofre proveniente da
cistina. Como propriedades principais do cabelo dependente de sua geometria, estrutura física.
Características físicas e mecânicas das fibras capilares envolvem o que melhoram: elasticidade, maciez, volume,
maleabilidade, facilidade para propriedades de pentear e brilho. A avaliação de tais propriedades pode ser feita por
métodos, mensuração mecânica de tais métodos, mensuração de brilho eletrônica e por técnicas ópticas (OCT).

Unitermos: Cabelo/propriedades/avaliação. Fibras capilares/propriedades/avaliação. Fibras capilares/

características. Tomografia por ministração/aplicação Microscopia ótica/aplicação analítica. Microscopia eletrônica/
aplicação analítica.

INTRODUÇÃO e distribuídos seguindo um desenho muito preciso e pré-definido.

O cabelo forma uma estrutura muito rígida em nível molecular,
Os fios de cabelo formam a maior parte do revestimento capaz de oferecer ao fio flexibilidade e resistência mecânica. O
externo da maioria dos mamíferos. No ser humano, o cabelo cabelo é considerado uma matéria morta e só fica vivo quando é

representa uma estrutura que há muito tempo perdeu seu inserido no couro cabeludo (folículo piloso). Quando o fio emerge,
significado funcional durante o processo de evolução da espécie. torna-se matéria morta, embora pareça estar crescendo, pois a
O valor do cabelo, no entanto, não deve ser subestimado em fibra segue aumentando seu comprimento em uma velocidade de
termos emocionais e sociais. cerca de 1,0 cm/mês (Cade, 1995; Dias, 2004; Longo et al., 2006).
O fio de cabelo tem uma estrutura cilíndrica, altamente
organizada, formada por células inertes, a maioria delas queratinizadas O cabelo humano tem cerca de 65-95% do seu peso em
proteínas, mais 32% de água, pigmentos lipídicos e outros
* Correspondência: AR Baby. Laboratório de Cosmetologia, Departamento de componentes. Quimicamente, cerca de 80% do cabelo humano é
Farmácia, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo, Av.
formado por uma proteína conhecida como queratina (Kaplin et al.,
Prof. Lineu Prestes, 580 Bl. 15/13 - Cidade Universitária - 05508-900 - São
Paulo - SP, Brasil. E-mail: andrerb@usp.br 1982; Wagner, Joekes, 2005), com alto teor de enxofre
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– proveniente do aminoácido cistina – que é a característica que a
distingue de outras proteínas. A queratina é um complexo laminado
formado por diferentes estruturas, que confere ao cabelo força,
flexibilidade, durabilidade e funcionalidade.
Os fios apresentam diferenças estruturais notáveis, segundo
a etnia e dentro de um mesmo grupo.
Essas propriedades estão relacionadas com as características das
fibras e com os atributos cosméticos (Dias et al., 2007).
Entre os primeiros temos: resistência, elasticidade, diâmetro,
flexão, cor e forma da seção transversal. Apesar de depender das
características dos fios e da integridade dos componentes
morfológicos, as propriedades cosméticas são: brilho, penteabilidade,
volume, maleabilidade, retenção do penteado e capacidade de voar.
O cabelo tem uma natureza genética particular. Podemos
manuseá-lo e aplicar nele produtos para mimetizar diferenças das
características sensoriais do toque; estes são, porém, efeitos
transitórios (Juez, Gimier, 1983; Dias, 2004).
ANATOMIA E FISIOLOGIA DO CABELO
FIBRA
A fibra capilar é composta por três estruturas principais:
cutícula, córtex e medula. O principal fator a ser considerado no
cabelo humano é a elevada quantidade do aminoácido cistina, que
pode ser degradado e posteriormente reoxidado sob uma forma
delimitadora dissulfídica. Esta é a base para o processo de ondulação
permanente. A cistina é muito estável; esta é a razão pela qual o
cabelo humano pode ser encontrado relativamente intacto, mesmo
após vários anos após a morte de um indivíduo.
Proteínas com estrutura ÿ-hélice se enrolam pelo lado
esquerdo, como se fossem duas cordas esticadas (enroladas uma na
outra, enroladas). Quando o cabelo é esticado, esse cacho dá uma
espécie de elasticidade. As proteínas que se enrolam no cabelo
possuem longos filamentos de microfibras desconhecidas que se
ligam umas às outras para formar estruturas maiores, a fim de
produzir células do córtex. Essa estrutura encadeada oferece mais
resistência e elasticidade à fibra capilar (Wilkinson, Moore, 1990;
Robbins, 1994; Wagner, Joekes, 2005).
Cutícula
A cutícula cobre o fio capilar do couro cabeludo até as pontas
como camada sobreposta e é o componente mais importante do
cabelo humano, pois pode ser mais ou menos afetado por tratamentos
cosméticos. Na cutícula são depositados produtos cosméticos, como
condicionadores, sprays de cabelo, mousses e géis. Tintureiros,
produtos para alisar e cachear também se espalham pelo
cutícula para expandir seus efeitos pela fibra capilar. Existem
aproximadamente 8 a 11 camadas de cutícula, que são sobrepostas
na direção distal do fio, dependendo do tipo, condição e comprimento
do cabelo. Cada camada é formada por apenas uma célula. Cada
célula da cutícula tem formato retangular e se sobrepõem de tal forma
que apenas 1/6 delas ficam expostas (Wilkinson, Moore, 1990;
Robbins, Crawford, 1991).
Cada célula da cutícula contém uma fina membrana externa,
a epicutícula (~3 nm), que é uma capa proteica coberta por uma forte
estrutura lipídica. As outras camadas são: Camada A: uma estrutura
•
resistente contendo cistina (>30%). As ligações cruzadas das
proteínas, nesta camada, não apenas conferem resistência
física, mas também as tornam relativamente resistentes ao
ataque químico. Essas propriedades protegem a fibra contra
ataques mecânicos e químicos.
•
Exocutícula: também conhecida como Camada B, corresponde
a 55% da área da cutícula e é rica em cistina (~15%), e
fisicamente rígida (mas menos intensa que a Camada A).
•
Endocutícula: com baixo grau de cistina (~3%), esta parte
inferior da membrana também é considerada como epicutícula.
É muito mais macio que as camadas superiores e há
evidências de que incha com a água.
Quando a cutícula está molhada, suas camadas rígidas tornam-
se acolchoadas com camadas consecutivas macias (como
gel) e duras alternadas. Esse processo também intensifica o
ápice das etapas superficiais do fio, o que também explica que
o coeficiente de atrito é maior no cabelo molhado do que no
seco. Quando a endocutícula está inchada tem uma estrutura
mais quebradiça, o que explica tanto a quebra quanto a
descamação dos fios se forem penteados ainda molhados.
•
Complexo de membrana celular (CMC): essas células, com
espessura constante (30 nm), separam todas as células da
cutícula. O ácido 18-metil eicosanóico (18-MEA) é um dos
componentes lipídicos muito importantes da CMC. Este lípido
também está ligado de forma covalente à superfície externa
do cabelo. O 18-MEA é o principal lipídio na composição do
cabelo, contribuindo para as propriedades de penteação úmida
e seca.
•
Epicutícula: é considerada a parte mais importante da cutícula,
do ponto de vista da deposição de polímeros e é a camada
mais externa. A ligação lipídica (18-MEA) à matriz proteica
confere à cutícula uma superfície hidrofóbica substantiva.
A epicutícula representa um resíduo da membrana das células
da cutícula e possui natureza protéica. É composto por cerca de 25%
de lipídios e 75% de proteínas, com 12% de
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Características da fibra capilar e métodos para avaliar as propriedades físicas e mecânicas do cabelo
cistina, que representa um alto teor de enxofre. A matriz proteica é
direcionada para a superfície da fibra capilar e é abundante em grupos
cisteil, próximos à superfície, que são acidulados por ácidos graxos
(lipídios) (Juez, Gimier, 1983; Robbins, 1994; Ruetch, Weigmann, 1996;
Swift, 1999).
Esses lipídios, envolvendo principalmente o ácido 18-metil eicosanóico
(cerca de 30Å, ou 3 nm), formam uma região hidrofóbica (cerca de 50-70Å,
ou 5-7 nm). Esse aspecto hidrofóbico da cutícula é importante porque
materiais hidrofóbicos como silicones, álcoois graxos, óleos e polímeros
têm grande afinidade por superfícies hidrofóbicas e não se depositam em
superfícies hidrofílicas. Como a superfície da cutícula sofre abrasão
durante os processos de lavagem e secagem, bem como na penteação,
essa camada hidrofóbica é removida por lavagem da superfície da camada
A. A camada A e suas camadas seguintes podem ser oxidadas para
camadas mais hidrofílicas. A condição da cutícula é responsável pelas
propriedades visuais e táteis do cabelo, tem potencial para auxiliar no
diagnóstico de distúrbios de saúde e também pode ser utilizada forense
para fornecer informações sobre a identidade do dono do cabelo (Juez,
Gimier, 1983; Robbins , 1994; Ruetch, Weigmann, 1996; Swift, 1999;
Gurden et al., 2004).
Córtex
O córtex ocupa a maior parte da área do cabelo (75%). Da mesma
forma que a cutícula, possui células preenchidas por ligações cruzadas de
cistina e células duras separadas pelo complexo de membrana celular
(CMC). Cada uma das células do córtex tem uma forma fusiforme, com
50-100 µm de comprimento e 3 µm de diâmetro. A superfície distal de
cada célula é áspera, irregular e elas se unem cruzadamente (Wilkinson,
Moore, 1990; Robbins, Crawford, 1991; Robbins, 1994; Schlake, 2007).
Medula
A medula é uma fina camada cilíndrica no centro do fio de cabelo
contendo alta concentração de lipídios e pobre cistina. Sua função ainda
não está completamente esclarecida, embora suas células possam ficar
desidratadas e seus espaços possam ser preenchidos com ar, o que afeta
tanto a cor quanto o brilho dos cabelos brancos, castanhos e loiros. A
medula tem um pequeno efeito na maioria dos aspectos dos tratamentos
cosméticos capilares e está presente apenas nos cabelos terminais
(Robbins, 1994; Cade, 1995; Oliveira, 2000). Recentemente, Wagner et al.
(2007) estudaram a medula por meio de microscopia eletrônica e
observaram que a medula apresenta três subunidades distintas (estruturas
globulares, células corticais desorganizadas e camada de cobertura lisa),
e também foram identificados dois tipos de medula: fina e grossa.
155
PROPRIEDADES FÍSICAS E MECÂNICAS
DAS FIBRAS DO CABELO
Propriedades físicas do cabelo
As propriedades físicas do cabelo dependem principalmente de
sua geometria. O cabelo caucasiano é oval; O cabelo asiático é circular;
O cabelo afro é elíptico. Diversas propriedades mecânicas estão
diretamente relacionadas com o diâmetro das fibras (Kolar, Miller, 1972;
Juez, Gimier, 1983; Robbins, Crawford, 1991; Dias et al., 2005).
Propriedades mecânicas do cabelo
O cabelo é surpreendentemente forte. A queratina do córtex é
responsável por essa propriedade e suas longas cadeias são comprimidas
para formar uma estrutura regular que, além de forte, é flexível (Dias,
2004; Robbins, 1994). As propriedades físicas do cabelo envolvem:
resistência ao alongamento, elasticidade e poder hidrofílico.
Resistência ao alongamento
Em geral, o peso necessário para produzir uma ruptura natural do
fio de cabelo é de 50-100 g. Uma cabeça média tem cerca de 120.000 fios
de cabelo e suportaria cerca de 12 toneladas.
A resistência à quebra é função do diâmetro do fio, da condição do córtex,
e é afetada negativamente pelos tratamentos químicos.
Quando uma determinada carga é aplicada em um cabelo e seu
alongamento é medido, obtemos a representação gráfica de suas diversas
regiões características:
•
Região de Hookean ou pré-recuperação: durante o alongamento
entre 0 e 2% o alongamento é proporcional à carga aplicada.
•
Região de recuperação: entre 25-30% de alongamento, o
alongamento aumenta consideravelmente sem relação com a
carga aplicada.
•
Região pós-recuperação: a partir de 30% a carga de estiramento e
a extensão da fibra são proporcionais novamente.
Podemos considerar que na primeira e terceira zonas o cabelo
atua como um sólido cristalino; no segundo, como um sólido amorfo ou
um fluido, uma vez que a fibra apresenta uma resposta do tipo plástico.
As alterações sofridas pelo cabelo durante o alongamento podem ser
explicadas pela conversão protéica e pela possível conversão de ÿ-
queratina com disposição helicóide organizada e compacta em ÿ-queratina
com cadeias peptídicas soltas.
O estágio inicial é conhecido como região de Hookean.
As estruturas capilares consistem em cadeias de ÿ-queratina estáveis com
ligações de hidrogênio e o fio do cabelo parece um sólido cristalino.
A inclinação do meio-fio sobre a região elástica depende
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a coesão da ÿ-queratina, e todos os fatores que afetam a coesão
diminuirão esse valor. Os polipeptídeos são produtos da cadeia de
aminoácidos e são 18 no cabelo humano.
Em estado estacionário, não esticadas, as cadeias polipeptídicas
apresentam estrutura helicoidal que gera várias ligações. A ligação
cistina-SS é a mais forte e ocorre a cada 4 ciclos da espiral (Woodruff,
2002).
As ligações de hidrogênio com os grupos C=O e HN ocorrem
em quase todos os ciclos. Portanto, na região de Hookeana (região
elástica) ocorre interferência proveniente da forma ÿ-queratina como
resistência ao estiramento, por ligações de hidrogênio que estabilizam
a estrutura helicoidal (Juez, Gimier, 1983; Woodruff, 2002).
Na região não-hookeana ocorre a transição de ÿ-queratina para
ÿ-queratina, quando ocorre um deslocamento de cadeias peptídicas
sem alto grau de resistência. A terceira etapa, a região pós-não-
hookeana, está relacionada com a resistência da configuração da ÿ-
queratina ao estiramento, até atingir o ponto de ruptura.
A análise da curva carga-alongamento dos fios ajuda a
reconhecer o comportamento do cabelo, quando diversos
procedimentos são aplicados para modelar o cabelo. A aplicação de
produtos com caráter redutor, um processo de alisamento (Dias et al.,
2005; Dias et al., 2008) ou ondulação do tipo redutor e oxidante ou um
processo de descoloração do cabelo, alteram a forma do meio-fio
carga-alongamento . A primeira e a segunda zonas tornam-se mais
extensas; por outro lado, o valor da carga necessária para iniciar a
transição na primeira e segunda regiões do meio-fio é diminuído (Kolar,
Miller, 1972; Juez, Gimier, 1983; Wilkinson, Moore, 1990; Tate et al.,
1993; Robbins, 1994; Feughelman, 1997; Ishii, 1997; Woodruff, 2002).
Elasticidade do cabelo
A fibra capilar tem característica elástica, podendo sofrer
alongamentos moderados úmidos ou secos. O alongamento é um
atributo do cabelo sob a ação de uma força distal (comprimento) e o
fio volta ao estado original, quando esta força deixa de atuar. Quando
seco, o fio de cabelo pode esticar de 20 a 30% do seu comprimento;
e, em contato com a água, pode chegar a 50%. Em contato com a
amônia torna-se mais elástica.
Tratamentos químicos e físicos, exposição ao sol e uso de secadores
elétricos e placas aquecidas afetam essa propriedade (Juez, Gimier,
1983).
Poder hidrofílico
O cabelo absorve a água tanto na forma líquida quanto na
forma de vapor. A queratina pode absorver até 40% do seu próprio
peso em água. A hidratação é favorecida pelo aumento da temperatura,
alterando o pH e por todos os solventes polares que quebram as
ligações de hidrogênio. A hidratação altera a elasticidade da fibra.
A queratina tem afinidade especial com a água. Essa absorção
depende da taxa de umidade relativa do ar e interfere muito em todas
as propriedades do cabelo, como: capacidade de alongamento,
diâmetro e viscosidade interna das fibras (Juez, Gimier, 1983; Robbins,
1994).
O cabelo também tende a ser permeável à água em sua forma
líquida. Essa absorção é seguida por um inchaço no cabelo, com
aumento de 15 a 10% no diâmetro do fio e de 0,5 a 1,0% no
comprimento. Tanto a absorção como o inchaço dependem
essencialmente do pH médio. Geralmente, o inchaço é favorecido pelo
pH alcalino. Outros solventes polares como soluções de ureia,
acetamida e brometo de lítio têm efeito semelhante nos fios de cabelo.
Normalmente, a resistência do cabelo ao inchaço deve-se à
existência de ligações que mantêm a integridade reticular, o que
impede a penetração das moléculas num volume superior ao existente
entre as cadeias proteicas.
Este fenômeno absortivo e inchado na fibra pode ser de grande
aplicação em produtos capilares, pois permite uma penetração
favorecida ou retardada de certas moléculas orgânicas (Juez, Gimier,
1983; Robbins, 1994; Feughelman, 1997; Ishii, 1997).
Propriedades da superfície do cabelo
O cabelo existente no couro cabeludo normal representa uma
enorme superfície, se considerarmos um valor médio de 20 cm de
comprimento para um fio com 80 µm de diâmetro. As condições da
superfície são diferentes em função do indivíduo, tipo de cabelo e
comprimento de cada fio.
Porosidade da superfície do cabelo
Quando o cabelo é poroso, os tratamentos químicos como
tingimento e alisamento ocorrem mais rapidamente.
Alguma influência da situação na porosidade:
•
O pH alcalino acima de 8 aumenta a permeabilidade.
•
A alta temperatura acelera a penetração da água.
•
Processos químicos como ondulação permanente,
descoloração, alisamento e tingimento afetam a porosidade.
•
Umidade relativa do ar (Juez, Gimier, 1983; Robbins, 1994;
Feughelman, 1997).
Absorção
A superfície do cabelo retém os óleos naturais do fio (sebo)
compostos por ingredientes tensoativos e alguns corantes.
A absorção de substâncias gordurosas é devido a um processo físico
de tensão superficial. A absorção de sebo sobre o cabelo
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Características da fibra capilar e métodos para avaliar as propriedades físicas e mecânicas do cabelo
ocorre pelo contato com o couro cabeludo e transferência de um
fio para o outro. Os tratamentos químicos potencializam a natureza
aniônica da superfície do fio capilar, que se torna eletronegativo,
causando sua afinidade físico-química com componentes
catiônicos, como tensoativos e tingimentos em ingredientes (Juez,
Gimier, 1983; Robbins, Crawford, 1991; Feughelman, 1997).
Atrito
O atrito é a força que resiste ao movimento quando um
corpo desliza sobre outro. A superfície da cutícula possui alto
coeficiente de atrito devido ao seu formato de escamas e depende
da geometria da cutícula e do estado físico-químico do cabelo. O
atrito contínuo de um fio sobre outro danifica a cutícula.
Da raiz às extremidades o coeficiente de fricção difere no
fio seco e úmido, e basta pentear para danificar o cabelo. Vários
fatores influenciam o atrito, como:
•
umidade relativa: o atrito é maior no cabelo molhado do
que no seco.
• descoloração do cabelo: a descoloração aumenta o atrito
entre os fios.
•
ondulação e alisamento permanentes: devido à composição
química e ao alto pH dos ingredientes o atrito é aumentado
(Dias et al., 2005; Dias et al., 2008).
•
lavagem: quanto maior o poder detergente maior é a
fricção. A adição de substâncias condicionantes promove
um coeficiente de atrito inferior ao trazido pelo shampoo,
sem essas substâncias.
Creme condicionador, creme de enxágue, banho de creme
e produtos afins reduzem o atrito entre os fios do cabelo (Juez,
Gimier, 1983; Robbins, 1994; Cade, 1995; Feughel man, 1997;
Paula, 2001).
Carga estática
Quando um pente desliza sobre o cabelo, a carga elétrica
superficial é gerada tanto pelo atrito quanto pela alta resistência
elétrica do cabelo, o que dificulta o manuseio. A dispersão da
carga estática é uma função da condutividade das fibras ou da
resistência elétrica. Os sais de amônio quaternário de cadeia
longa aumentam a condutividade na superfície da rosca e reduzem
o atrito.
O potencial de carga depende de alguns fatores:
•
estado da superfície do cabelo, porque a presença de uma
camada oleosa proveniente do sebo ou de um cosmético
157
produto influencia o efeito da eletricidade estática, que é
reduzido ou desaparece. grau de umidade do cabelo – as
•
cargas elétricas dos fios tendem a fluir mais facilmente nos
cabelos molhados do que nos secos, devido à menor
resistência elétrica. Como consequência, o cabelo tende a
ficar mais 'elétrico' (voar para longe) em um ambiente seco
do que em um úmido (Juez, Gimier, 1983; Robbins, 1991;
Feughelman, 1997; Ishii, 1997).
Em um teste de carga elétrica desenvolvido por Syed et al.
(1995), observou-se que o cabelo afro-étnico desenvolve uma alta
carga estática negativa (-25 kV/m). Por outro lado, o cabelo
caucasiano desenvolve uma carga eletrostática positiva muito
baixa (+ 6,6 kV/m). A alta carga negativa adquirida pelo cabelo
afro-étnico seco ao ser penteado, pode ser devido à alta força de
tração necessária para passar o pente pelos fios de cabelo
emaranhados.
O ato de pentear o cabelo étnico afro quimicamente
alisado resulta em uma carga eletrostática positiva (+ 25,9 kV/m);
isso pode ser atribuído à facilidade de pentear e ao emaranhamento
de um mínimo de fios de cabelo.
Se o cabelo afro-étnico não for quimicamente tratado ou
alisado, desenvolve uma carga eletrostática significativamente
maior do que o cabelo caucasiano. Cargas eletrostáticas
relativamente altas podem provocar o eriçamento dos fios (Syed
et al., 1996; Dias, 2004).
Ponto de isolação eletrica
A superfície do cabelo apresenta cargas elétricas positivas
e negativas enquanto a cutícula tem um ponto eletricamente
neutro (igual à quantidade de cargas positivas e negativas) sob
pH 3,8 (ponto isoelétrico). Quando o cabelo fica em contato com
produtos cujo valor de pH é superior a 3,8 torna-se mais negativo,
+
pois o NH3 grupo perde sua
carga. No entanto, em valores de pH abaixo de 3,8 o cabelo torna-
se mais positivo, os grupos carboxila são protonados e
+
neutralizados, e a predominância do NH3 grupo ocorre (Juez,
Gimier, 1983; Robbins, 1994).
Brilhar
O brilho é um dos atributos cosméticos mais importantes e
desejados do cabelo. Do ponto de vista físico, está relacionado
com a forma como o cabelo reflete e difunde o feixe de luz
incidente.
Assim, qualquer fator que alterasse a reflexão da luz teria
influência no brilho. Por se tratar de uma propriedade de superfície,
a cutícula é a principal responsável por ela. Danos na cutícula
(abertura e quebra de escamas), bem como
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158 MVR Velasco, TCS Dias, AZ Freitas, ND Vieira Júnior, CASO Pinto, TM Kaneko, AR Baby

partículas de poeira e secreções do couro cabeludo acumuladas sobre
os fios reduzem o brilho. O aumento da curvatura dos cachos reduz sua
visualização e os cabelos mais escuros parecem ser mais brilhantes que
os claros.
Quando um feixe de luz atinge a superfície do cabelo, uma parte
é refletida, outra parte é absorvida e uma terceira parte é dispersa. A
quantidade de luz correspondente a cada um desses fenômenos
depende da geometria da superfície, do índice de refração do fio e do
ângulo de incidência da luz.
Os fatores que influenciam a percepção do brilho, por ordem de
importância, são: reflexão, dispersão da luz, alinhamento e cor.
Estes apresentam efeito favorável de brilho do cabelo:
•
filme contínuo e fino sobre as escamas;
•
filme com alto índice de refração;
•
reflexão sendo maior que a dispersão difusa.
Estes apresentam efeitos desfavoráveis:
•
maior dispersão de luz;
•
revestimento de filme – irregular ou descontínuo – sobre os fios;
•
tratamentos químicos como ondulação permanente e
descoloração, que causam alterações no posicionamento plano
da cutícula devido ao levantamento de escamas (Reimer et al.,
1995; Ishii, 1997; Starch, 1999; Schueller, Romano wski, 2001).
possuem alta sensibilidade. Esses testes são específicos e fornecem
apenas informações sobre um atributo para ensaio. Normalmente, o
equipamento é utilizado para obter a imagem, que é avaliada de forma
subjetiva. Análises realizadas em regiões pré-definidas de mechas para
padronizar o método e ter resultados mais confiáveis.
As vantagens dessas técnicas, quando comparadas com
avaliações meramente subjetivas, são:
•
não há necessidade de painel de voluntários;
• algumas avaliações podem ser realizadas rapidamente;
•
uso de mechas específicas;
•
condição de ensaio padronizado;
•
eles podem ser usados para estudos complexos.
Alguns dos métodos mais utilizados para avaliação de produtos
capilares estão listados abaixo.
Microscopia Eletrônica de Varredura (SEM)
A microscopia eletrônica de varredura (MEV) é muito utilizada
para análise de fios de cabelo. Esta técnica permite a observação de
amostras espessas e não transparentes sob um feixe de elétrons.
Também permite determinar a forma de um material, o tamanho de suas
partículas componentes e seu layout (Dias, 2004). A Figura 1 ilustra uma
fotomicrografia de uma amostra de cabelo afro-étnico obtida por SEM.

Capacidade de pentear

A penteabilidade pode ser definida como a percepção subjetiva

da maneira fácil ou difícil de pentear o cabelo. Está diretamente
relacionado com as forças opostas à ação de pentear o cabelo. Este é
um atributo importante na avaliação do condicionamento capilar (Dias et
al., 2005; Dias et al., 2008). Para a consumidora, uma melhor
penteabilidade reflete um melhor condicionamento do cabelo.

Outros fatores relacionados à penteabilidade envolvem

maleabilidade e danos mecânicos – que podem ocorrer quando
penteamos o cabelo normalmente, e são agravados quando o
desembaraçamos (Garcia, Diaz, 1976; Syed et al., 1996; Ishii, 1997).

MÉTODOS PARA AVALIAR PRODUTOS CAPILAR FIGURA 1 - Fotomicrografia SEM de uma amostra de cabelo
afro-étnico.

O desejo por produtos que melhorem a aparência do cabelo

criou uma enorme indústria de cuidados com os cabelos. A caracterização
da estrutura e propriedades físicas e mecânicas do cabelo são essenciais
para desenvolver melhores produtos cosméticos e avançar na Ciência
Biológica e Cosmética (Bhushan, Chen, 2006). A avaliação da eficácia
dos produtos capilares pode envolver o uso de dispositivos que
geralmente
O MEV é muito utilizado para grande ampliação de uma
determinada amostra, geralmente para avaliar as condições morfológicas
da superfície do cabelo. A amostra é revestida com um filme de carbono/
ouro para conduzir corrente elétrica; então, sob alto vácuo, um feixe de
elétrons é direcionado sobre ele e o espalhamento é avaliado por um
detector, assim a imagem é gerada.
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Características da fibra capilar e métodos para avaliar as propriedades físicas e mecânicas do cabelo
Microscopia de força atômica (AFM)
Este equipamento permite observar imagens de amostras
através do microscópio, em condições ambientais ou mesmo
quando temos uma solução. A imagem é capturada por uma
sonda que tem contato físico com a amostra, e segue um plano
paralelo à superfície enquanto adquire cada ponto do componente
topográfico. A deflexão da sonda é então medida por um programa
de computador (software) que gera a imagem.
Através deste equipamento também é possível ter dados
quantitativos sobre distribuição de cargas elétricas e força do
sensor para trafegar a amostra (Smith, 1997; Dias, 2004).
Ensaios mecânicos
O cabelo, quando considerado como corpo físico, é uma
fibra muito resistente. A carga de ruptura de um fio de cabelo
saudável varia de 50 a 100 g. O valor relativo é diretamente
proporcional ao comprimento da rosca. Para realizar este ensaio
é utilizado um dinamômetro – equipamento frequentemente
utilizado para avaliar: tensão de ruptura do cabelo, elasticidade,
penteabilidade e desembaraçamento. O dispositivo exerce uma
tensão no fio de cabelo e mede a força necessária versus alongamento.
A mecha de cabelo é amarrada com um suporte, passando por
ela dois pentes e a força necessária para essa ação (Syed et al.,
1996; Ishii, 1997; Dias, 2004).
Sensores piezoelétricos
Esta análise está muito próxima da percepção sensorial.
O princípio piezoelétrico baseia-se na deformação de um cristal
por uma ação mecânica. Quando isso ocorre, um deslocamento
de carga é induzido – criando assim um sinal de tensão. Nos
cabelos, é possível aplicar esta técnica nas percepções táteis
das propriedades do cabelo, como: condicionamento, limpeza e
rugosidade da superfície. Durante a avaliação, o sensor é
colocado em um braço mecânico que toca a mecha e depois é
liberado. Isso se repete várias vezes. Os resultados são expressos
como valores arbitrários de voltagem (Reimer et al., 1995; Ishii,
1997; Schueller, Roma nowski, 2001).
Medidores de brilho
Glossmeter é um equipamento projetado para medir o
brilho do cabelo. A regularidade da superfície do cabelo ajuda a
determinar a reflexão da luz. Quando a luz segue uma superfície
uniforme, como em um espelho, o ângulo de incidência é
exatamente igual ao ângulo de reflexão. Porém o cabelo não é
totalmente uniforme e em alguns pontos a luz
159
feixe é refletido formando diferentes ângulos (0 a 75o ) e esse
tipo de refletância é conhecido como refletância difusa (Reimer et
al., 1995; Ishii, 1997; Schueller, Romanowski, 2001; Dias, 2004).
Testes subjetivos
Este tipo de teste visa obter uma resposta através de um
painel treinado ou de um técnico especializado, ou de uma
avaliação subjetiva de um grupo de voluntários treinados, após a
avaliação de um produto-teste, de forma a mimetizar a opinião
final dos consumidores. Esses ensaios permitem resultados não
paramétricos e os protocolos neles utilizados buscam padronizar
alguns procedimentos a fim de extrapolar uma opinião de pequeno
grupo para o público-alvo. Os principais testes são: teste de salão
e teste em condições normais de uso (Postiaux, 2000).
Tomografia de coerência óptica
A tomografia de coerência óptica (OCT) é uma tecnologia
de diagnóstico por imagem baseada na interferometria de
coerência de baixo comprimento em que as características de
coerência dos fótons são exploradas, levando a uma tecnologia
de imagem capaz de produzir imagens sem contato, não
destrutivas (Freitas et al . ., 2008), imagens transversais de alta
resolução da microestrutura interna de tecidos vivos como: retina,
pele (Huang et al., 1991) e dentes (Freitas et al., 2006). Suas
aplicações na medicina foram relatadas há menos de uma
década, mas suas raízes estão nos primeiros trabalhos sobre
interferometria de luz branca (Takada, 1987; Youngquist, Carr, Davies, 1987)
A imagem OCT é baseada principalmente em uma propriedade
óptica da amostra, o coeficiente de retroespalhamento. A cor
falsa na imagem representa o coeficiente de retroespalhamento,
onde a cor branca representa alto espalhamento e a cor preta
baixa espalhamento.
A Figura 2(a) mostra pela primeira vez, com o melhor de
nosso conhecimento, a imagem em corte transversal de cabelos
afro-étnicos, onde é possível identificar as principais estruturas
capilares: medula, córtex e cutícula (Freitas et al., 2008). O
diâmetro médio da medula foi de 29 ± 7 µm e o diâmetro do
cabelo foi de 122 ± 16 µm em nossas amostras. A imagem
tridimensional (Figura 2(b) foi construída a partir de 601 imagens
transversais (fatias) como na Figura 2(a). Cada fatia foi feita em
passos de 6,0 µm a 8 quadros por segundo, e toda a imagem 3D
foi construída em 60 segundos.
A Figura 3 mostra uma OCT para cabelos afro-étnicos,
onde podemos ver suas principais estruturas. O primeiro pico
corresponde à cutícula, o vale corresponde ao córtex apresentando
menor coeficiente de espalhamento em relação à medula e os
outros dois picos correspondem à medula.
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FIGURA 2 - Imagem OCT de uma amostra de cabelo afro-étnico. Em (a) uma amostra de fibra transversal e em (b) uma reconstrução tridimensional
dessa fibra, mostrando as principais estruturas capilares: medula, córtex e cutícula.

FIGURA 3 - Perfil do sinal OCT para cabelos afro-étnicos, mostrando as principais estruturas.

A análise dessas imagens permite comparar os Referências

coeficientes de retroalimentação de diferentes estruturas
presentes no cabelo, e ainda comparar esses coeficientes BHUSHAN, B.; CHEN, N. AFM estudos de efeitos ambientais sobre
antes e depois de algum tratamento químico, com a propriedades nanomecânicas e estrutura celular do cabelo
vantagem desta técnica não ser destrutiva, permitindo humano. Ultramicroscopy, Amsterdam, v.106, n.8-9, p.755-764,
rastrear a mesma fibra durante todo o tratamento processo. 2006.

RECONHECIMENTOS CADE, P. Alisadores químicos, ondas e tratamento

Este trabalho foi apoiado pelo Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
fundação vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT), para apoio à pesquisa brasileira, CAPES, FAPESP
e Dow Corning. Agradecemos também aos revisores
deste trabalho de pesquisa por suas sugestões,
contribuições e gentil ajuda.
produtos. Edison: Croda, 1995. p.1-21.
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Recebido para publicação em 18 de abril de 2008.
Aceito para publicação em 16 de julho de 2008.