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Gabriel Alberto Sans1, Betania Vahl de Paula2, Carina Marchezan3, Adriele Tassinari4, Álvaro Luis
Pasquetti Berghetti5, Renato Trevisan6, Gustavo Brunetto7
1
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail gabalbertosans@gmail.com
2
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail behdepaula@hotmail.com
3
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail
marchezancarina@yahoo.com.br
4
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail tassinaridrica@gmail.com
5
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail alvaro.berghetti@gmail.com
6
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail renatrevisan@gmail.com
7
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail brunetto.gustavo@gmail.com
1 INTRODUÇÃO
O lúpulo (Humulus lupulus L.) é uma commodity global, vendida geralmente
longe do seu local de produção, pelo seu fácil transporte (FILIMONOV; BAZHINOVA,
2018). A planta é um arbusto perene da família Cannabaceae dioica, predominantemente
propagada por rizomas (propagação vegetativa). Essa planta trepadeira, que pode ter de
2 a 9 metros de altura, movimenta um valor de produção estimado de 600 milhões de
dólares por ano (FAO, 2016).
O valor comercial da produção está nas flores das plantas femininas, chamadas de
cones, onde estão as glândulas de lupulinas. As glândulas de lupulina são divididas em
óleos essenciais e resinas, caracterizando as variedades em duas classes: as ricas em
aromas (ricas em óleos essenciais que conferem o caráter de sabor e aroma aos lúpulos
nobres) e as ricas em alfa-ácidos (responsável pelo amargor na cerveja), respectivamente
(VARNAM; SUTHERLAND, 1997). O lúpulo é cultivado a milênios sendo
principalmente utilizado para fins cervejeiros, sendo utilizado também para fins
medicinais e gastronômicos (MARCOS et al., 2011).
Durante muito tempo acreditou-se não ser possível de realizar o cultivo do lúpulo
no Brasil, pois o cultivo necessita de alguns fatores para se estabelecer com sucesso,
dentre eles, solos profundos, bem drenados, pH entre 6,0 a 7,5 (AREDES, 2016) e média
fertilidade. A planta necessita ainda de água em abundância, 5000 m3 ha-1 (RODRIGUES;
MORAIS; CASTRO, 2015). Além disso, a duração da luz do dia, temperatura do verão e
precipitação anual do local de plantio de 300 a 475 mm (RADTKE, 1999) são fatores
essenciais para o desenvolvimento fisiológico da planta, sendo cultivada normalmente
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22 e 23 de Novembro de 2019, Botucatu – São Paulo, Brasil.
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entre as latitudes 35º e 55º dos hemisférios norte e sul, apresentando regiões do clima
mais moderadas do mundo (ALMAGUER et al., 2014), em altitudes superiores a 200m
(OLIVEIRA, M. V. R. DE, 2016 apud RADTKE, 1999).
O lúpulo necessita de no mínimo de 120 dias de frio e 15 ou mais horas de sol por
dia (KNEEN, 2003), sendo que para completar o seu ciclo a planta necessita de 1800 a
2000 horas de insolação (RODRIGUES; MORAIS; CASTRO, 2015).
Considerando que o cultivo do lúpulo está ligado as condições climáticas e
fotossintéticas e que seu cultivo é recente no Brasil, ainda não se tem informações
suficientes sobre como deve-se manejar a cultura. Além disso, não é conhecido os seus
parâmetros, entre eles os fotossintéticos, que podem auxiliar os técnicos e agricultores na
escolha dessas cultivares fisiologicamente mais eficientes que, por consequência, tendem
a apresentar rápido crescimento vegetativo e melhor adaptabilidade as condições
edafoclimáticas do Sul do Brasil. Desta forma, o presente estudo objetivou avaliar os
parâmetros fotossintéticos de variedades de lúpulo cultivadas no Brasil, para auxiliar na
escolha das plantas mais eficientes fotossinteticamente que, por consequência, podem
apresentar rápido crescimento e elevada produtividade.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na casa de vegetação do Departamento de Solos
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em Santa Maria (RS), entre janeiro e
fevereiro de 2019. Para a realização do experimento foram utilizadas quatro variedades
de lúpulo (Humulus lupulus L.) Cascade (CD), Chinook (CH), Columbus (CL) e
Hallertau Mittelfrüh (HM). A classificação das variedades quanto ao propósito de
utilização são: variedade aromática – Cascade e Hallertau Mittelfrüh (sendo esta uma
variedade nobre); variedade de amargor – Columbus; e variedade de duplo propósito -
Chinook. As mudas foram fornecidas pelas empresas Lúpulos Serrana e Lúpulo Gaúcho,
de Lages (SC) e Gramado (RS), respectivamente.
As mudas foram selecionadas quanto à uniformidade de raiz e parte aérea,
avaliadas quanto aos seus parâmetros morfológicos: medidas de altura, diâmetro do caule,
comprimento radicular e massa fresca (MF) e, em seguida, acondicionadas em vasos
individuais com 2,5 L de solução nutritiva e sistema de aeração. Uma lâmina de isopor
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com um orifício no centro foi ajustada na parte superior de cada vaso, para fixar as plantas
e reduzir a evaporação da água. Cada planta foi tutorada por meio de um fio de sisal
amarrado na estrutura superior da casa de vegetação possibilitando o seu crescimento
ereto. As plantas foram aclimatadas durante 21 dias, onde foram submetidas durante 7
dias à 25% da concentração da solução nutritiva de Hoagland (JONES JR., 1983) e,
posteriormente, à 50% da concentração da solução nutritiva de Hoagland (JONES JR.,
1983), sendo a solução substituída três vezes por semana e seu pH ajustado diariamente
para 6,0 ± 0,2, com HCl 1,0 mol L-1 ou NaOH 1,0 mol L-1. A solução nutritiva de
Hoagland, na forma original, contém as seguintes concentrações (em mg L-1): N-NO3 =
196; N-NH4 = 14; P = 31; K = 234; Ca = 160; Mg = 48,6; S = 70; Fe-EDTA = 5; Cu =
0,02; Zn = 0,15; Mn = 0,5; B = 0,5; Mo = 0,01.
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com quatro
repetições por tratamento, totalizando 16 plantas de lúpulo.
Aos 26 dias de experimento, as plantas foram avaliadas quanto a fluorescência
da clorofila a durante a noite (entre 02:00 e 5:30 a.m.) usando um fluorômetro de pulso
modulado JUNIOR-PAM (Fig. 1 (a e b)). Em seguida, durante o dia (entre as 8:00 e 11:00
a.m.) foi avaliado a fotossíntese por meio da medição de trocas gasosas com o analisador
infravermelho de gases (IRGA – Infra-red Gas Analyzer) (Li-6400XT LI-COR, Lincoln,
NE, USA), com fonte artificial de luz vermelho e azul (Fig. 1 (c)).
Figura 1. Utilização do JÚNIOR-PAM para leituras de fluorescência (a e b) e do IRGA portátil
para leituras dos parâmetros fotossintéticos (c)
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
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A cultivar CH apresentou maiores valores de fotossíntese, eficiência do uso da
água e eficiência instantânea de carboxilação (pela RuBiSCO) (Tab. 1).
Tabela 1. Parâmetros fotossintéticos determinados através da leitura do IRGA
Tratamento A GS Ci E EUA A/CI
CH 18,552 A 0,542 A 292,508 A 6,376 A 2,908 A 0,063 A
CL 14,799 A 0,432 AB 296,692 A 6,056 A 2,465 AB 0,050 AB
HM 14,196 A 0,5756 A 318,662 A 6,934 A 2,047 B 0,045 AB
CD 8,404 B 0,189 B 295,130 A 3,687 B 2,268 B 0,029 B
CH - Chinook; CL - Columbus; HM - Hallertau Mittelfrüh; CD - Cascade
O desempenho fotossintético da cultivar CH é compatível aos valores de
fluorescência (Tab. 2), que também apresentou maior taxa de transferência de elétrons.
Assim, apesar de a cultivar CH apresentar taxa fotossintética, condutância estomática,
eficiência do uso da água e eficiência instantânea de carboxilação (pela RuBiSCO)
semelhante as cultivares CL e HM, a cultivar CH se destacou das demais pela alta taxa
de transferir elétrons, que são importantes para a produção de matéria seca e
desenvolvimento da planta. Isso está associado aos menores valores de florescência
inicial (1:Fo) (Tab. 2), que indicam uma menor perda de energia.
4 CONCLUSÕES
A cultivar Chinook apresentou o maior potencial fotossintético e, com isso, pode
apresentar rápido crescimento e elevada produtividade. Porém, as cultivares Columbus e
Hallertau Mittelfrüh também apresentaram bom potencial de cultivo.
Os parâmetros fotossintéticos podem ser utilizados em programas de
melhoramento, para selecionar as plantas mais eficientes fotossinteticamente.
5 REFERÊNCIAS
ALMAGUER, C. et al., 2014. Humulus lupulus - a story that begs to be told. A review. Journal of the
Institute of Brewing, v. 120, n. 4, p. 289–314.
AREDES, M., 2016. Lúpulo - o ingrediente que revolucionou a cerveja. São Paulo. Disponível em:
<http://www.brauakademie.com.br/assets/lúpulo.pdf>
FERREIRA, P. A. A. et al., 2015. Rhizophagus clarus and phosphate alter the physiological responses of
Crotalaria juncea cultivated in soil with a high Cu level. Applied Soil Ecology, 91, 37-47.
FILIMONOV, E.; BAZHINOVA, A., 2018. Journal Beer - Internacional journal “Beer Business”.
Disponível em: <http://journal.beer/2018/02/03/global-hop-market-hop-market-in-russia/>. Acesso
em: 6 out. 2018.
JONES JR., J.B., 1983. A Guide for the hydroponic & soilless culture grower. Portland, Timber Press,
123p.
KNEEN, R., 2003. Small scale and organic hops production. British, Columbia.
MARCOS, J. A. et al., 2011. GUIA DEL CULTIVO DEL LÚPULO. [s.l: s.n.]. Disponível em:
<http://www.lutega.com/pdf/guiacultivo.pdf>.
RODRIGUES, M.A.; MORAIS, J. S.; CASTRO, J. P. M., 2015. Jornada de lúpulo e cerveja: novas
oportunidades de negócios. Bragança: Livro de Atas.
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22 e 23 de Novembro de 2019, Botucatu – São Paulo, Brasil.
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VARNAM, A. H.; SUTHERLAND, J. P., 1997. Bebidas: tecnología, química y microbiología. Volume 2
ed. [s.l.] Editorial Acribia. S. A.
Agradecimentos
Trabalho apoiado pelo programa PIBIC-CNPq, FAPERGS, CNPq, CAPES,
Lúpulos Serrana, Lúpulo Gaúcho, Departamento de Solos da UFSM e Colégio
Politécnico da UFSM.