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I ENCONTRO BRASILEIRO DE PESQUISADORES E PRODUTORES DE LÚPULO

22 e 23 de Novembro de 2019, Botucatu – São Paulo, Brasil.


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USO DE PARÂMETROS FOTOSSINTÉTICOS NA SELEÇÃO DE


VARIEDADES DE LÚPULO (Humulus Lupulus L.)

Gabriel Alberto Sans1, Betania Vahl de Paula2, Carina Marchezan3, Adriele Tassinari4, Álvaro Luis
Pasquetti Berghetti5, Renato Trevisan6, Gustavo Brunetto7
1
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail gabalbertosans@gmail.com
2
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail behdepaula@hotmail.com
3
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail
marchezancarina@yahoo.com.br
4
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail tassinaridrica@gmail.com
5
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail alvaro.berghetti@gmail.com
6
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail renatrevisan@gmail.com
7
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail brunetto.gustavo@gmail.com

1 INTRODUÇÃO
O lúpulo (Humulus lupulus L.) é uma commodity global, vendida geralmente
longe do seu local de produção, pelo seu fácil transporte (FILIMONOV; BAZHINOVA,
2018). A planta é um arbusto perene da família Cannabaceae dioica, predominantemente
propagada por rizomas (propagação vegetativa). Essa planta trepadeira, que pode ter de
2 a 9 metros de altura, movimenta um valor de produção estimado de 600 milhões de
dólares por ano (FAO, 2016).
O valor comercial da produção está nas flores das plantas femininas, chamadas de
cones, onde estão as glândulas de lupulinas. As glândulas de lupulina são divididas em
óleos essenciais e resinas, caracterizando as variedades em duas classes: as ricas em
aromas (ricas em óleos essenciais que conferem o caráter de sabor e aroma aos lúpulos
nobres) e as ricas em alfa-ácidos (responsável pelo amargor na cerveja), respectivamente
(VARNAM; SUTHERLAND, 1997). O lúpulo é cultivado a milênios sendo
principalmente utilizado para fins cervejeiros, sendo utilizado também para fins
medicinais e gastronômicos (MARCOS et al., 2011).
Durante muito tempo acreditou-se não ser possível de realizar o cultivo do lúpulo
no Brasil, pois o cultivo necessita de alguns fatores para se estabelecer com sucesso,
dentre eles, solos profundos, bem drenados, pH entre 6,0 a 7,5 (AREDES, 2016) e média
fertilidade. A planta necessita ainda de água em abundância, 5000 m3 ha-1 (RODRIGUES;
MORAIS; CASTRO, 2015). Além disso, a duração da luz do dia, temperatura do verão e
precipitação anual do local de plantio de 300 a 475 mm (RADTKE, 1999) são fatores
essenciais para o desenvolvimento fisiológico da planta, sendo cultivada normalmente
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entre as latitudes 35º e 55º dos hemisférios norte e sul, apresentando regiões do clima
mais moderadas do mundo (ALMAGUER et al., 2014), em altitudes superiores a 200m
(OLIVEIRA, M. V. R. DE, 2016 apud RADTKE, 1999).
O lúpulo necessita de no mínimo de 120 dias de frio e 15 ou mais horas de sol por
dia (KNEEN, 2003), sendo que para completar o seu ciclo a planta necessita de 1800 a
2000 horas de insolação (RODRIGUES; MORAIS; CASTRO, 2015).
Considerando que o cultivo do lúpulo está ligado as condições climáticas e
fotossintéticas e que seu cultivo é recente no Brasil, ainda não se tem informações
suficientes sobre como deve-se manejar a cultura. Além disso, não é conhecido os seus
parâmetros, entre eles os fotossintéticos, que podem auxiliar os técnicos e agricultores na
escolha dessas cultivares fisiologicamente mais eficientes que, por consequência, tendem
a apresentar rápido crescimento vegetativo e melhor adaptabilidade as condições
edafoclimáticas do Sul do Brasil. Desta forma, o presente estudo objetivou avaliar os
parâmetros fotossintéticos de variedades de lúpulo cultivadas no Brasil, para auxiliar na
escolha das plantas mais eficientes fotossinteticamente que, por consequência, podem
apresentar rápido crescimento e elevada produtividade.

2 MATERIAIS E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na casa de vegetação do Departamento de Solos
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em Santa Maria (RS), entre janeiro e
fevereiro de 2019. Para a realização do experimento foram utilizadas quatro variedades
de lúpulo (Humulus lupulus L.) Cascade (CD), Chinook (CH), Columbus (CL) e
Hallertau Mittelfrüh (HM). A classificação das variedades quanto ao propósito de
utilização são: variedade aromática – Cascade e Hallertau Mittelfrüh (sendo esta uma
variedade nobre); variedade de amargor – Columbus; e variedade de duplo propósito -
Chinook. As mudas foram fornecidas pelas empresas Lúpulos Serrana e Lúpulo Gaúcho,
de Lages (SC) e Gramado (RS), respectivamente.
As mudas foram selecionadas quanto à uniformidade de raiz e parte aérea,
avaliadas quanto aos seus parâmetros morfológicos: medidas de altura, diâmetro do caule,
comprimento radicular e massa fresca (MF) e, em seguida, acondicionadas em vasos
individuais com 2,5 L de solução nutritiva e sistema de aeração. Uma lâmina de isopor
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com um orifício no centro foi ajustada na parte superior de cada vaso, para fixar as plantas
e reduzir a evaporação da água. Cada planta foi tutorada por meio de um fio de sisal
amarrado na estrutura superior da casa de vegetação possibilitando o seu crescimento
ereto. As plantas foram aclimatadas durante 21 dias, onde foram submetidas durante 7
dias à 25% da concentração da solução nutritiva de Hoagland (JONES JR., 1983) e,
posteriormente, à 50% da concentração da solução nutritiva de Hoagland (JONES JR.,
1983), sendo a solução substituída três vezes por semana e seu pH ajustado diariamente
para 6,0 ± 0,2, com HCl 1,0 mol L-1 ou NaOH 1,0 mol L-1. A solução nutritiva de
Hoagland, na forma original, contém as seguintes concentrações (em mg L-1): N-NO3 =
196; N-NH4 = 14; P = 31; K = 234; Ca = 160; Mg = 48,6; S = 70; Fe-EDTA = 5; Cu =
0,02; Zn = 0,15; Mn = 0,5; B = 0,5; Mo = 0,01.
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com quatro
repetições por tratamento, totalizando 16 plantas de lúpulo.
Aos 26 dias de experimento, as plantas foram avaliadas quanto a fluorescência
da clorofila a durante a noite (entre 02:00 e 5:30 a.m.) usando um fluorômetro de pulso
modulado JUNIOR-PAM (Fig. 1 (a e b)). Em seguida, durante o dia (entre as 8:00 e 11:00
a.m.) foi avaliado a fotossíntese por meio da medição de trocas gasosas com o analisador
infravermelho de gases (IRGA – Infra-red Gas Analyzer) (Li-6400XT LI-COR, Lincoln,
NE, USA), com fonte artificial de luz vermelho e azul (Fig. 1 (c)).
Figura 1. Utilização do JÚNIOR-PAM para leituras de fluorescência (a e b) e do IRGA portátil
para leituras dos parâmetros fotossintéticos (c)

As leituras da área foliar, fluorescência e relacionadas a fotossíntese foram


realizadas nas folhas do terço médio de cada planta (Fig. 1), completamente
desenvolvidas e sadias, em todas as plantas.
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Para a determinação da fluorescência inicial (Fo) a folha amostrada (Fig. 1(b))
foi submetida a um pulso de luz saturante (10.000 μmol-2 s-1) por 0,6 s, determinando-se
assim a fluorescência máxima (Fm). Os valores da fluorescência variável (Fv = Fm – F0)
e o valor de máxima eficiência quântica do fotossistema II (PSII) (Fv / Fm) foram
calculados a partir de F0 e Fm. A taxa máxima de transporte de elétrons (ETRm) foi
avaliada durante o período pré-amanhecer (Ferreira, P. A. A. et al., 2015).
As avaliações relacionadas a fotossíntese tiveram as condições microclimáticas
mantidas constantes durante as leituras, sendo estas de 1100 µmol m-2 s-1 PAR (radiação
fotossinteticamente ativa) e concentração de CO2 ambiente (média de 383 μmol CO2 mol-
1
). As taxas de assimilação de CO2 (μmol CO2 m-2 s-1), condutância da água (mol H2O m-
2
s-1), concentração intracelular de CO2 (μmol CO2 mol-1), taxa de transpiração (mmol
H2O m-2 s-1) e temperatura foliar (ºC) foram avaliadas. A fotossíntese (A), concentração
de CO2 intracelular (Ci), eficiência do uso da água (EUA), condutância estomática (GS),
taxa de transpiração (E) e a eficiência instantânea de carboxilação (pela RuBiSCO) (A/CI)
foram determinadas.
O experimento foi conduzido ao longo de 34 dias, sendo no final, cada planta
avaliada quanto aos seus parâmetros morfológicos: medidas de altura, diâmetro do caule,
comprimento radicular e massa fresca (MF). Posteriormente as partes foram divididas em
parte área (composto por folhas, caule e flores) e parte radicular, secas e pesadas
novamente para obtenção dos valores de massa seca (MS), considerando a massa seca de
parte aérea (MSPA) e parte radicular (MSPR). Ademais foi calculado a taxa de
crescimento relativo (TCR) com base nos índices de altura de planta ((Altura final –
Altura inicial) / número de dias de experimento) (cm/dia) e peso de planta ((MF final –
MF inicial) / número de dias de experimento) (g/dia).
Os resultados obtidos foram submetidos a análise dos pressupostos de
normalidade dos resíduos e a homogeneidade de variância pelo teste de Shapiro - Wilk e
Bartlett, respectivamente. Posteriormente, foi realizada a análise de variância (ANOVA,
p<0,05), pelo programa SISVAR, versão 4.0. Constatada diferença entre os tratamentos,
comparou-se as médias pelo teste de Tukey (p<0,05).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
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A cultivar CH apresentou maiores valores de fotossíntese, eficiência do uso da
água e eficiência instantânea de carboxilação (pela RuBiSCO) (Tab. 1).
Tabela 1. Parâmetros fotossintéticos determinados através da leitura do IRGA
Tratamento A GS Ci E EUA A/CI
CH 18,552 A 0,542 A 292,508 A 6,376 A 2,908 A 0,063 A
CL 14,799 A 0,432 AB 296,692 A 6,056 A 2,465 AB 0,050 AB
HM 14,196 A 0,5756 A 318,662 A 6,934 A 2,047 B 0,045 AB
CD 8,404 B 0,189 B 295,130 A 3,687 B 2,268 B 0,029 B
CH - Chinook; CL - Columbus; HM - Hallertau Mittelfrüh; CD - Cascade
O desempenho fotossintético da cultivar CH é compatível aos valores de
fluorescência (Tab. 2), que também apresentou maior taxa de transferência de elétrons.
Assim, apesar de a cultivar CH apresentar taxa fotossintética, condutância estomática,
eficiência do uso da água e eficiência instantânea de carboxilação (pela RuBiSCO)
semelhante as cultivares CL e HM, a cultivar CH se destacou das demais pela alta taxa
de transferir elétrons, que são importantes para a produção de matéria seca e
desenvolvimento da planta. Isso está associado aos menores valores de florescência
inicial (1:Fo) (Tab. 2), que indicam uma menor perda de energia.

Tabela 2. Parâmetros de fluorescência determinados através da leitura do


fluôrometro JÚNIOR-PAM

ETRm 1:Fo 1:Fm 1:Fv/Fm


CH 168,937 A 58,667 B 185,000 B 0,690 B
CL 86,526 B 58,667 B 197,333 B 0,709 B
HM 80,353 B 74,333 A 298,000 A 0,750 A
CD 107,555 B 79,000 A 267,667 AB 0,716 AB
CH - Chinook; CL - Columbus; HM - Hallertau Mittelfrüh; CD - Cascade
Através dos parâmetros morfológicos se observa que por mais eficiente
fotossinteticamente que a cultivar CH seja, a mesma obteve a menor altura e menor TCR
(cm/dia), quando comparada com as demais. Porém, a mesma apresentou um
comprimento radicular expressivo, juntamente com uma elevada TCR (g/dia), MSPA e
diâmetro, o que indica que a mesma pode não ter crescido em altura, mas redirecionou
seus reforços em produzir mais matéria seca da parte aérea (folhas) e até mesmo flores, o
que seria de maior interesse no cultivo de lúpulo.
Tabela 3. Parâmetros morfológicos de lúpulo (Humulus lupulus L.) após 34 dias de cultivo
Altura TCR
Diâmetro (cm) Raiz (cm) MF (g) TCR (cm/dia) MSPA (g)
(m) (g/dia)
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58,850
CH 0,413 B 3,170 A 13,200 AB 235,811 A 1,213 B 6,936 A
AB
CL 1,692 A 3,310 A 3,800 B 227,300 A 4,975 A 6,685 A 59,244 A
HM 1,370 AB 3,880 A 3,533 B 203,675 AB 3,618 AB 5,990 A 52,099 B
CD 0,560 B 2,000 B 15,567 A 158,525 B 2,029 B 4,400 B 39,030 C
CH - Chinook; CL - Columbus; HM - Hallertau Mittelfrüh; CD - Cascade;

4 CONCLUSÕES
A cultivar Chinook apresentou o maior potencial fotossintético e, com isso, pode
apresentar rápido crescimento e elevada produtividade. Porém, as cultivares Columbus e
Hallertau Mittelfrüh também apresentaram bom potencial de cultivo.
Os parâmetros fotossintéticos podem ser utilizados em programas de
melhoramento, para selecionar as plantas mais eficientes fotossinteticamente.

5 REFERÊNCIAS
ALMAGUER, C. et al., 2014. Humulus lupulus - a story that begs to be told. A review. Journal of the
Institute of Brewing, v. 120, n. 4, p. 289–314.

AREDES, M., 2016. Lúpulo - o ingrediente que revolucionou a cerveja. São Paulo. Disponível em:
<http://www.brauakademie.com.br/assets/lúpulo.pdf>

FERREIRA, P. A. A. et al., 2015. Rhizophagus clarus and phosphate alter the physiological responses of
Crotalaria juncea cultivated in soil with a high Cu level. Applied Soil Ecology, 91, 37-47.

FILIMONOV, E.; BAZHINOVA, A., 2018. Journal Beer - Internacional journal “Beer Business”.
Disponível em: <http://journal.beer/2018/02/03/global-hop-market-hop-market-in-russia/>. Acesso
em: 6 out. 2018.

FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF UNITED NATIONS, 2016. FAOSTAT – Statistics


Database. Disponível em: <http://www.faostat.fao.org/faostat>. Acesso em 6 out. 2018.

JONES JR., J.B., 1983. A Guide for the hydroponic & soilless culture grower. Portland, Timber Press,
123p.

KNEEN, R., 2003. Small scale and organic hops production. British, Columbia.

MARCOS, J. A. et al., 2011. GUIA DEL CULTIVO DEL LÚPULO. [s.l: s.n.]. Disponível em:
<http://www.lutega.com/pdf/guiacultivo.pdf>.

OLIVEIRA, M. V. R. DE, 2016 Crescimento do lúpulo influenciado por calagem e fornecimento de


fósforo. [s.l.] UDESC.

RADTKE, V.M. et al., 1999 Zoneamento Agroecológico e Socioeconômico de Santa Catarina.


Florianópolis: Epagri.

RODRIGUES, M.A.; MORAIS, J. S.; CASTRO, J. P. M., 2015. Jornada de lúpulo e cerveja: novas
oportunidades de negócios. Bragança: Livro de Atas.
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22 e 23 de Novembro de 2019, Botucatu – São Paulo, Brasil.
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VARNAM, A. H.; SUTHERLAND, J. P., 1997. Bebidas: tecnología, química y microbiología. Volume 2
ed. [s.l.] Editorial Acribia. S. A.

Agradecimentos
Trabalho apoiado pelo programa PIBIC-CNPq, FAPERGS, CNPq, CAPES,
Lúpulos Serrana, Lúpulo Gaúcho, Departamento de Solos da UFSM e Colégio
Politécnico da UFSM.

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