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Eu imagino que quando eu entro no terreiro os espíritos atrasados que me acompanham

serão levados embora mesmo sem eu pedir. É certo?


Vão embora em termos. Por causa da tronqueira, alguns espíritos não entram no terreiro. E
quando você sai, eles estão te esperando lá fora. Além disso, se você aceita um obsessor,
você exerceu o livre arbítrio, impedindo que entidades protetoras possam afastá-los de
você.
O que é o Anjo da Guarda?
É um tema bastante polêmico. Na Umbanda não se diz “é assim”, fala-se “eu faço assim” ou
eu “penso assim”. Por isso, vou dizer o que eu penso: o Anjo da Guarda é a soma do teu
próprio espírito livre da encarnação atual. Quando você pede a proteção do Anjo da Guarda
você acaba pedindo para todas as tuas vidas e varias reencarnações ajudem o
cumprimento da missão nesta vida atual.

Um espírito sem luz pode se passar por caboclo ou preto velho?


Um espírito mistificador pode atuar em qualquer linha, mas isto não ocorrerá se o terreiro
tiver boa segurança.

No caso de obsessão, é permitido dar passagem para esse espírito para saber o que ele
quer, dentro de uma gira?
Depende da intuição no momento do dirigente da Casa, aliás o único que pode permitir que
isso aconteça.

O Sr. acredita que um espírito pode matar uma pessoa ou intuir a mesma a se matar?
Dificilmente isso pode acontecer, mas influências malignas com essa intenção são comuns.
Quando um visitante, ou mesmo um membro da casa, precisa de uma oferenda maior, onde
se gaste bastante qual o procedimento do terreiro, quando há necessidade de dinheiro para
a feitura dos trabalhos e ou oferendas?
Não existe nada que não possa ser substituído. O preço das coisas fica por conta da
pessoa interessada que é quem faz as compras, e por isso, quando o material custa caro
deve ser substituído por outro. Um amalá é coisa simples e sempre está ao alcance de
qualquer bolso. Aqui em nosso terreiro não pegamos dinheiro de ninguém.

Como a gente faz para usufruir alguns prazeres da vida com uma certa proteção espiritual?
Tudo o que ultrapassa o razoável não é bom. Devemos perceber quando o prazer está em
excesso para dominá-lo sem deixar este que ele se transforme em um tormento. Quando
não se dominá-lo, pode estar acontecendo a interferência de um espírito que partilha desse
prazer, que é um obsessor. Devemos ficar vigilantes para que isso não aconteça.

Qual a diferença entre possessão e obsessão?


Na obsessão o espírito apenas dá a idéia de fazer alguma coisa, e a pessoa com seu livre
arbítrio decide se faz ou não. Na possessão o espírito domina e toma conta da pessoa. São
verdadeiros animais. Um exemplo é o de um menino de 14 anos que entrou carregado por
outras pessoas no centro kardescista em que eu trabalhava. Eu percebi que ele estava
possuído por um espírito. Depois da realização de um trabalho o menino voltou a si e disse
que não sabia o que lhe acontecia, mas sabia que um bicho grande e feio pulava nele.

Gostaria de saber se podemos fazer e entregar oferendas a orixás na quaresma e por quê?
Quaresma faz parte do ritual do catolicismo, não da Umbanda. Dentro da nossa religião,
entregas podem ser feitas a qualquer momento.

Até que ponto, um espirito maligno pode causar uma doença física?
O espirito maligno mal intencionado e que sabe agir na matéria pode causar danos
imprevisiveis. Ele age no perispirito enfraquecendo a sua defesa e abrindo espaços para a
penetração de vibrações negativas diretamente na carne. Prova disso são as dores nos
ossos, na coluna, tonturas, enjoos e aí por diante. Por isso que são necessários constantes
vibrações nos terreiros e contato direto com a natureza para equilibrar esses desvios do
perispirito.

Em que momento, na sua caminhada espiritual na umbanda Pai Fernando, o senhor atingiu
a maturidade?
Uma vez alguém me contou ter cometido uma fala grave dentro da Umbanda. A pessoa
disse que contava para mim, porque tinha vergonha de falar com o Caboclo. Akuan. Acho
que foi aí que eu senti ter conquistado a confiança dos médiuns e o respeito ao Caboclo
Akuan, de forma bem separada.

É verdade que as outras entidades somente dão seus nomes se o caboclo assim permitir?
Também essa resposta é verdadeira, desde que o Caboclo seja o Pai de Cabeça, que é o
mentor espiritual aquele que manda e organiza tua vida espiritual.

É possível meu caboclo “conversar” com outra pessoa ou seja entrar na cabeça de outra
pessoa e lhe dar respostas, informando inclusive o nome dele(caboclo) que até então
desconhecia?
É possível sim, principalmente como forma de chamar a atenção da pessoa.

É possível que as entidades tenham me afastado dos trabalhos para que eu pudesse ter
uma vida tido como comum? E depois das realizações elas me forçarem a voltar?
Nós não podemos jamais deixar de considerar em primeiro plano o direito que temos ao
nosso livro arbítrio. Esse direito perante os espíritos é sagrado, e se isso acontecesse, os
colocaria como interferindo em nosso carma. Provavelmente quando vc fez a opção as
entidades deixarem de interferir, embora seja provável que tenham ficado ao teu lado para
ajudar no que lhes fosse permitido.

Um médium com problemas pessoais pode dar boas consultas?


O médium, como o próprio nome diz, é o meio de comunicação entre os espíritos elevados
e os consulentes. Como ser humano também está em evolução espiritual e talvez suas
mazelas estejam sendo experimentadas para seu próprio desenvolvimento, o que não nos
cabe julgar. O treinamento e o aprendizado da concentração são de grande importância
durante a incorporação e nas subseqüentes consultas, pois com isto o médium consegue
separar sua vida cotidiana do trabalho espiritual a ser realizado, formando assim uma
terceira energia com as entidades mais eficiente.

Se eu não desenvolver minha mediunidade sofrerei a vida inteira?


A Umbanda é uma religião misteriosa às vezes, mas sempre será norteada pelo bom senso.
Esta afirmação está baseada em um dito folclórico, que esperamos que seja esquecido com
o tempo. Como toda religião, a Umbanda promove o reencontro com Deus de várias
formas, você pode freqüenta-la sem ter qualquer forma de compromisso com o terreiro. Se
você busca um equilíbrio maior pode fazê-lo através dos passes magnéticos nos terreiros e
casas espirituais, conversas com os guias e às vezes, até mesmo com uma integração
maior com a natureza.

O Sr. Zélio de Moraes pregava que o som dos atabaques poderia levar os médiuns a um
estado de hipnose que levaria a mistificação, isto é correto?
Há aqui mais uma afirmação baseada em folclore e que deve sim ser desmistificada. Hoje,
após cem anos do inicio da religião, sabe-se que a auto-hipnose é um processo natural de
proteção da mente humana que ocorre diariamente pra proteção contra o stress, sem
necessidade de nenhum estimulo externo, conforme citam vários autores especializados
nesta área. A incorporação se dá por um processo divinamente maravilhoso, mas
infelizmente ainda desconhecido da ciência e dos terreiros. O que causa a mistificação nas
incorporações são as informações erradas que o médium recebe e sua conseqüente falta
de conhecimento. Antigamente era muito perigoso o uso do atabaque porque a Umbanda
era proibida e o som era um meio fácil das autoridades policiais encontrarem os terreiros.
Por opção alguns terreiros hoje não usam o atabaque. Nos do Terreiro do Pai Maneco
usamos além dos atabaques vários outros instrumentos musicais,porque acreditamos que
Umbanda é alegria e a música é inegavelmente uma de suas fontes.

Na incorporação qual é a responsabilidade do médium e da entidade?


A incorporação, momento mágico onde ocorre a junção do espírito comunicante e o
médium-chamada de terceira energia-é um ato divino, que não possibilita medir a
responsabilidade do médium e muito menos da entidade. O que podemos falar é sobre a
responsabilidade do médium anterior à incorporação. Este deve seguir as orientações de
seu dirigente para sua preparação física,mental e espiritual anterior ao inicio da gira.

Há algum tipo de estudo no terreiro para os médiuns e a freqüentadores?


A formação do médium é de extrema importância na criação da terceira energia. No terreiro
não há segredos e há uma grande liberdade de conversas sobre a nossa religião entre os
médiuns e os pais e mães de santo. São promovidas aulas básicas, encontros culturais,
disponibilizados dvd´s com estes encontros, além, logicamente deste site que como o
terreiro é de livre acesso a todos. No Terreiro do Pai Maneco não há espaço para dúvidas e
mistificações.

Quais são as conseqüências para um médium que age de forma mal-intencionada ou


irresponsável?
Toda ação corresponde a uma reação. Se um médium agir desta forma seu padrão
vibratório será tão baixo que se torna inevitável a aproximação de mesmo padrão, atraídas
pela lei dos semelhantes.

As entidades podem evitar que o médium seja assediado por espíritos trevosos?
A lei do livre arbítrio é imperiosa. Por mais que as entidades protetoras assim o desejem,
não podem evitar que o médium ande por caminhos errados, quando a opção é dele.
Logicamente, como bons pais, eles farão o possível para orientar antes que o pior ocorra.
Essa orientação se dá por intuições, comunicações, sinais e outras formas possíveis entre
os guias e o médium.
Existe um espírito desenvolvedor?
Isso nada mais é do que um mito dentro da Umbanda: como se existisse uma entidade que
vai desenvolver o médium para depois seu pai-de-cabeça incorporar. Veja no meu caso,
trabalho com o Pai Maneco há cinqüenta anos e com meu pai-de-cabeça, o Caboclo Akuan,
há vinte cinco anos. Então meu desenvolvedor foi o Pai Maneco? Será que essa entidade
se prestaria a ser “meu desenvolvedor?” Eu acho que desenvolvedor é aquele que
desenvolve. Na Umbanda quem desenvolve a mediunidade no médium é seu pai-de-santo.

As entidades podem abandonar o médium?


Quando o médium age de forma errada as entidades podem se afastar para que ele
aprenda com os próprios erros. Isto faz parte da evolução espiritual, contudo, como um pai
nunca abandona seu filho, os guias atenderão seus pedidos, desde que estejam dentro da
ética da Umbanda.

Se uma pessoa está doente ou com uma idade muito avançada, há meios de bloquear a
mediunidade?
Não há formas de bloquear este dom divino, que todos possuem em maior ou menor grau.
Há outras formas sim da pessoa obter equilíbrio, sem necessariamente participar da gira.

Como um médium pode se proteger de entidades mal-intencionadas?


Estando sempre atento e com bom entrosamento com seus dirigentes.

Mediunidade em uma família, em seu entender é uma questão genética ou kármica?


Nem genética e muito menos cármica. É a lei de semelhantes.

Por que alguns médiuns tem sintomas físicos desagradáveis (dor, tontura, enjôo)?
Cada caso é um caso e não há como generalizar. As causas vão desde a doação de
energia e ectoplasma até problemas pessoais. Ao se obter o equilíbrio estes sintomas são
mais facilmente controláveis.

Certa vez me falaram que o médium que fica na ponta da corrente, durante a gira recebe
uma carga muito grande. É verdade?
Na linha do espiritismo tradicional, quando os médiuns estão sentados na mesa, as pontas
é que seguram a corrente, tanto que, quando algum problema existe, e nesses médiuns que
cai a carga. Entretanto, os médiuns que ocupam esse lugar normalmente estão preparados
e têm essa função especifica no grupo, ou seja, alto poder de concentração e dificilmente
incorporam. Na Umbanda existe uma diferença enorme, porque não são as vibrações dos
médiuns que seguram a corrente, ficando isso mais por conta do canto, seguranças
previamente fincadas e do pai-de-santo. Usando o bom senso não vejo como, ao menos no
transcorrer da gira, que as pontas segurem a corrente.

Acredito que quando existe a quebra na corrente não é devido a buracos ”físicos”
perceptíveis, mas à falta de concentração dos médiuns. Estou certa? O Sr. acha que uma
pessoa só pode estragar o fluxo da corrente?
Não devemos confundir Umbanda com o espiritismo kardecista. Na linha kardecista a
concentração mental é a segurança, e por isso que eles ficam em silencio e olhos fechados.
Na Umbanda quanto mais o médium se envolve com a musica, o que não deixa de ser uma
forma de concentração, mais a corrente fica firme. Só que as linha são bem diferentes.
Eu acredito que a intuição é uma coisa nata, sem desenvolvimento. Estou correta?
O treinamento da intuição é separar o real do irreal. Tem que saber quando é intuição e
quando não é, senão a pessoa começa a entrar no mundo da ilusão e da criação
imaginativa. A intuição é a percepção de um fato do presente. O passado e o futuro é
devem ser desprezados na lida da intuição.

Uma das funções do médium é trazer os espíritos obsessores para o terreiro onde ele será
encaminhado?
Sim, isto acontece mesmo. Mas não espere que o guia diga que você está com um
obsessor. Você tem que pedir, não para que o levem embora, mas sim para que
encaminhem este espírito para um lugar de luz. Eles estão sofrendo por não saberem e se
conscientizarem da situação em que se encontram, que não tem nada a ver como que a
pessoa viveu na terra evolutivamente. As pessoas morrem e os seus espíritos ficam uns
com consciência do desencarne, e outros não sabem que desencarnaram e ficam
revoltados,com o estranho pouco caso que os encarnados lhes dispensam. Nós não
podemos medir o estado do espírito pelo que ele foi quando ocupava o corpo carnal.

Às vezes sinto que a entidade quer girar rápido demais e eu tento refreá-la e acabo me
desequilibrando o que devo fazer?
Fique atento na música durante a incorporação, que você entrará no ritmo certo.

Como posso estabelecer um contato maior com as minhas entidades?


Através de amalás e muito treinamento da intuição.

No seu entender quais são as características que um médium deva ter para ser um bom pai
de santo?
Humildade e comunicação com os espíritos. O pai-de-santo é o dirigente do terreiro, a sua
filosofia deve ser respeitada, e não devemos esquecer que se ele se propõe a exercer esse
cargo tem que proteger todos os membros do terreiro.

O que se deve levar em consideração ao se permitir que um médium de corrente seja feito
pai (mãe) de santo? Por exemplo uma pessoa vaidosa ou com sérios problemas pessoais
pode exercer esta função na Umbanda?
O que eu mais levo em consideração para fazer um pai-de-santo é sua conscientização de
que terá uma árdua tarefa. Quando eu era membro da corrente, sem hierarquia, o meu
problema era atender três entidades. Hoje tenho que me preocupar com todas as entidades
de todos os membros do terreiro, além de suas vidas pessoais. Não é uma tarefa fácil, mas
acaba sendo gratificante quando as coisas acontecem positivamente. A vaidade eu deixo
por conta dos espíritos, que eles dão um jeito de colocar o pai-de-santo no caminho da
humildade. Eu não gosto de julgar ninguém. Muitas vezes aqueles que nos parecem
incompetentes acabam nos surpreendendo. Nós como pais e mães de santo temos que
entender que também é um exercício de humildade dar oportunidade as pessoas que vão
se preparar porque elas vão precisar de ajuda, como eu já precisei e ainda preciso.

Frequentemente me vêm lembranças e conhecimentos pertencentes à umbanda e ao


candomblé, imagens de como devem ser feitas entregas e coisas afins. Isto pode ser
conhecimento que adquiri em vidas passadas?
Por influência das vidas passadas ou mesmo por uma intuição presente de entidades que
ficam ao lado, pode acontecer essa lembrança. Não sei se isso que acontece (você não
mencionou o nome), mas se for sugiro muito cuidado nessa atividade. Como as lembranças
são fortes, seria bom um desenvolvimento mediúnico sem fazer uso das lembranças (por
simples zelo) que depois quando a mediunidade estiver mais acentuada tudo deve
acontecer de uma forma forte e bonita.

Incorporo já há um ano e acredito ter problemas, pois mesmo incorporada vejo e escuto
tudo o que acontece. Será que apresento algum problema mediúnico?
Eu incorporo há 14 anos e quando estou incorporado escuto e vejo tudo. Porque a
incorporação não inibe nem a audição, nem a visão, muito menos a consciência. Quem fica
inconsciente ou está mentindo ou está bêbado pelo álcool ingerido durante o trabalho
desenvolvido.

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