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GOVERNADOS
REVOLTA DO VINAGRE
WALLACE DE MORAES
REVOLTA DO VINAGRE
2a edição
Rio de Janeiro – RJ
WSM Edições / Via Verita - 2018
Para todos os insurgentes que foram
às ruas nos protestos em 2013/14 e que se
deram ao luxo de sonhar em construir um
mundo melhor.
2a Edição
Revisão ortográfica e gramatical: Luciana Simas
Projeto Gráfico e Diagramação: Katharina Borges
Capa: Antonia Pires
Charges: Antonia Luciana Pires da Silva e Cristiano de Oliveira Gomes
Editor: Wallace dos Santos de Moraes
Foto do autor: André Albuquerque
Fotos da capa e folha de rosto: Ruy Barros
Ficha catalográfica: Vanda Lucia
De Moraes, Wallace
2013 - Revolta dos Governados: ou para quem esteve presente, revolta
do vinagre / Wallace De Moraes.--- Rio de Janeiro: WSM Edições / Via Verita, 2018.
504 p.; 16 x 23 cm.
ISBN 978-85-921-408-1
320.981
D386
AGRADECIMENTOS E BASTIDORES 8
ADVERTÊNCIA 11
APRESENTAÇÃO 14
INTRODUÇÃO 23
1. NOSSO APORTE TEÓRICO-METODOLÓGICO 62
2. A REVOLTA E SUAS INTERPRETAÇÕES 100
3. ANTECEDENTES DA REVOLTA E SUA CONEXÃO 166
MUNDIAL
4. DIA-A-DIA DE UMA PRIMAVERA DE LUTA 184
5. DITADURA E DEMOCRACIA NO BRASIL - MAIS 358
DO MESMO
6. DIREITO PARA QUEM? GOVERNADOS 374
REBELADOS CRIMINALIZADOS
7. ATIVISMO CONSERVADOR AGRESSIVO E O FIM 398
DO MOVIMENTO
CONCLUSÃO 430
APÊNDICES 454
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 486
AGRADECIMENTOS E
BASTIDORES
8 wallace de moraes
Brasil para realizar meu pós-doutorado com outra investigação. Mas
nunca esquecia dessa pesquisa, cuja importância e singularidade re-
servava um lugar especial em meu íntimo, pois faz parte de um acer-
to e um compromisso com a História desse país. Quando sabia de
análises que absurdamente desmereciam os protestos, os manifes-
tantes, todos que lutaram e sonharam naqueles dias, distorcendo
fatos, ficava indignado e urgia em mim a necessidade de terminá-lo,
publicá-lo, divulgá-lo. Eu pensava em cada um que, entre junho de
2013 e junho de 2014, lutou contra tudo e contra todas as governan-
ças institucionais e sociais, tentando reacender a centelha da chama
popular em uma aurora inesquecivelmente revolucionária, mas que
ficava cada vez mais perigosa, pois a repressão só aumentava.
Por tudo isso, esse livro é uma homenagem aos 23 condenados
políticos no Rio de Janeiro, é para Rafael Braga, é para as centenas
de processados, detidos, machucados de todo o Brasil que sonha-
ram em verdadeiras mudanças, alterações profundas, nesse sistema
de exploração e discriminação.
Mas como disse, uma obra dessa magnitude não seria possí-
vel escrevê-la sozinho, nem teria graça. Assim, agradeço aos meus
orientandos e pesquisadores do OTAL/UFRJ que discutiram e colabo-
raram direta ou indiretamente para as teses que apresento aqui, em
especial a Juan Magalhães, que leu o trabalho com bastante afinco
e ao Flávio Moraes que me acompanha há mais tempo nessa discus-
são. Luciana Simas corrigiu, sugeriu, leu todo o livro e ainda escre-
veu um dos capítulos sobre a criminalização dos movimentos sociais
que o compõem. Não poderia ter feito mais. Esse é o nosso terceiro
filho. Muitíssimo obrigado! Antonia Pires e Cris Oliveira tiveram um
papel fundamental na finalização da obra. Eles são os chargistas que
contribuíram para a melhor exposição das ideias do livro. Na maior
parte das vezes, uma imagem tem um significado mais claro do que
mil palavras. Eles foram maravilhosos nesse quesito. Além do mais,
pensar nessas charges materializou-se em belo trabalho coletivo.
Quando um de nós tínhamos uma ideia, algumas vezes a partir da
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ADVERTÊNCIA
“Encontrei com a Dona Lelê (...). Disse-lhe que ando muito nervosa
e tem hora que penso em suicidar. Ela disse-me para eu acalmar. Eu
disse-lhe que tem dia que eu não tenho nada para os meus comer.”
1 De acordo com o critério adotado pelo Banco Mundial, que considera pobre quem ganha
menos do que US$ 5,5 por dia nos países em desenvolvimento. Esse valor equivale a
uma renda domiciliar per capita de mais ou menos R$ 350,00 por mês, ao considerar a
conversão pela paridade de poder de compra em agosto de 2018. Fonte: https://agencia-
denoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/18825-um-quar-
to-da-populacao-vive-com-menos-de-r-387-por-mes.html acessado em 29 de agosto de
2018.
2 Dados de 2017. Fonte: https://www.valor.com.br/brasil/5446455/pobreza-extrema-au-
menta-11-e-atinge-148-milhoes-de-pessoas acessado em 29 de agosto de 2018.
3 Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/05/falta-trabalho-para-277-milhoes-
-de-pessoas-diz-ibge.shtml acessado em 29 de agosto de 2018.
12 wallace de moraes
todos os governantes, tentam apagar ou desvirtuar, ignorando e
combatendo seus signos.
Noam Chomsky (2017), de forma astuta, descreve os dois pa-
péis que intelectuais4 podem cumprir na sociedade: 1) bajulador
do sistema, dos governos e dos donos do poder, justificando suas
ações e seus crimes; 2) crítico independente das posturas governa-
mentais e defensor da justiça. Os primeiros, nos diz Chomsky, são
respeitados e idolatrados na sociedade pelos mesmos governos e
seus seguidores, enquanto os críticos e independentes são desvalo-
rizados e taxados como orientados por valores e/ou por ideologia.
Estes são os dissidentes.
4 Chomsky (2017) mostra que o termo foi criado com o “Manifesto dos Intelectuais”,em 1898,
para criticar uma ação arbitrária e injusta do governo francês. Portanto, o conceito de
intelectual tem uma origem crítica às posturas oficiais.
14 wallace de moraes
APRESENTAÇÃO
5 Um dos exemplos foi uma comemoração em Paris, que ficou conhecida como a “farra dos
guardanapos”, na qual Cabral e alguns de seus secretários junto com representantes de
empreiteiras aparentemente comemoravam a escolha do Rio de Janeiro para sede das
Olimpíadas e as obras que seriam feitas com dinheiro público. Hoje, praticamente todos
estão presos ou sendo investigados por prática de corrupção. Em maio de 2013, o prefei-
to Eduardo Paes se envolveu em briga em um restaurante, quando foi xingado por um
cantor e reagiu socando-o com a ajuda de seus seguranças. Fonte: https://odia.ig.com.
br/_conteudo/noticia/rio-de-janeiro/2013-05-27/xingado-em-restaurante-eduardo-paes-
-parte-para-a-briga.html
6 Ver: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/02/thor-batista-e-absolvido-em-caso-
-de-morte-de-ciclista-por-atropelamento.html
16 wallace de moraes
testos foi a máscara do V de Vingança7, simbolizando a luta anarquis-
ta contra o Estado e as opressões.8
O aumento do valor das passagens dos transportes públicos,
considerada uma das mais caras do mundo, foi só o estopim em
meio a outros problemas igualmente sérios. Todos percebiam que
esses preços exorbitantes eram fruto de uma articulação entre go-
vernantes políticos (governadores, prefeitos, deputados e vereado-
res) e governantes econômicos (empresários), com base em trocas
de favores no famoso “toma-lá-dá-cá”. Esses acordos garantiram
monopólios privados de reis dos transportes, os quais, em contra-
partida, eram os principais financiadores das campanhas eleitorais
dos candidatos vencedores. A sensação entre os governados era de
indignação e impotência.
O petismo - que, na década de 1980, ajudou a impulsionar a luta
popular -, detinha a governança política federal e era aliado de Ca-
bral, Paes, Eike, Paulo Maluf, Collor de Mello, Jader Barbalho, Re-
nan Calheiros, Michel Temer... a lista é imensa. Em conversas com os
governados, percebíamos que sua ampla maioria tinha nojo/repul-
sa do Congresso Nacional, dos governadores, prefeitos e políticos
em geral. De maneira alguma, se sentiam representados. Era o sinal
mais evidente da plutocracia vigente, chamada erroneamente por
democracia.9 Diante desse quadro, a pergunta que deve ser feita
não é: por que aconteceu 2013? Mas, por que demorou tanto para
acontecer 2013?
Todos os governantes (políticos, econômicos, jurídicos, penais
e socioculturais) e seus partidos políticos em conjunto, inclusive,
com a maioria dos militantes da esquerda oficial, criticam 2013. Não
7 Ver http://noticias.terra.com.br/educacao/historia/manifestantes-adotam-mascara-de-v-
de-vinganca-como-simbolo-de-protestos,3e9ab3cd1336f310VgnVCM5000009ccceb0aR-
CRD.html
8 A história em quadrinhos do V de Vingança foi relançada no Brasil em edição especial em
2012.
9 Sobre o conceito de plutocracia, ver De Moraes (2018).
18 wallace de moraes
o ano de maior quantidade de greves, desde quando elas são men-
suradas. Também discutimos porque adotamos o título Revolta do
Vinagre nesse livro.
No capítulo 1, apresentamos a metodologia adotada, bem
como os conceitos criados e/ou utilizados para análise da revolta. A
importância desse capítulo reside na exigência teórico-metodológi-
ca de utilização de categorias apropriadas e que permitam decifrar
os signos de 2013, pois se for descuidado, não será possível colabo-
rar para uma interpretação autêntica.
No capítulo 2, fazemos uma discussão bibliográfica sobre o
assunto. Identificamos diferentes autores que escreveram sobre
2013 e, a partir das suas semelhanças metodológicas e teóricas, os
agrupamos em cinco escolas interpretativas, quando três delas as
denominamos por Plutocráticas Neoliberais, sendo uma, Dissimula-
da, outra Desavergonhada, e, por último, a Conservadora Agressiva.
Também identificamos as interpretações da Esquerda Oficial e a dos
setores Revolucionários.
No capítulo 3 apresentamos alguns indícios que desmontam a
tese da espontaneidade pura e simples das manifestações de 2013.
Mostramos que a revolta vinha sendo gestada e almejada há muito
por setores revolucionários, não obstante muitos acontecimentos
tinham sido casuais. Aqui também perscrutamos como 2013 estava
conectado a um novo ciclo de lutas mundiais, mais horizontal e con-
testador da ordem.
Depois de apresentarmos nossos métodos, conceitos, um de-
bate bibliográfico sobre o assunto e antecedentes da revolta bem
como sua relação com outras lutas internacionais, partimos no ca-
pítulo 4 para a descrição do dia-a-dia dos protestos. Esse é o nos-
so capítulo histórico e empírico, baseado fundamentalmente nas
seguintes fontes: nossa observação participante, midiativismo, co-
mentários de participantes dos protestos, assembleias, fóruns de
discussão, debates e notícias dos oligopólios de comunicação de
10 É importante alertar para o perigo de se utilizar apenas as fontes dos oligopólios de comu-
nicaçãode massa para referendar uma pesquisa, pois elas tendem a passar uma informa-
ção conservadora e em contrário aos interesses dos manifestantes. Portanto, é neces-
sário tomar muito cuidado com esse tipo de fonte e sempre que possível cotejá-la com
outras.
20 wallace de moraes
Por fim, seguem dois apêndices. O primeiro com um poema
para tratar da relação do governo Dilma com os protestos; o segun-
do com uma entrevista que concebemos ainda em 2014 para a Revis-
ta Habitus da UFRJ sobre 2013. Achamos importante divulgá-la, pois
foi realizada ainda no calor dos acontecimentos e muitas das teses
apresentadas naquela oportunidade foram ampliadas e concretiza-
das nesse livro.
Esperamos que o livro colabore para a perspectiva crítica e o
resgate da história do maior movimento popular e insurgente bra-
sileiro, sob uma perspectiva teórica-metodológica revolucionária.
Bom proveito!
INTRODUÇÃO
foto: ruy barros
O período entre junho de 2013 e julho de 2014 foi um dos
mais importantes da biografia política e social do Brasil, trazendo
muitas novidades no cenário das ações coletivas dos governados.
Nesse intervalo de tempo, presenciamos vários acontecimentos
que ratificam essa premissa: 1) os maiores protestos da história
do país (junho de 2013), caracterizados por enfrentamentos entre
manifestantes e policiais em praticamente todas as capitais, em
especial no Rio de Janeiro, de onde fizemos nossa observação
participante; 2) algumas categorias impulsionaram lutas e greves,
a despeito da orientação das direções sindicais em contrário, como
garis, rodoviários, caminhoneiros e professores; 3) também tivemos
os “rolezinhos” de negros, pobres, moradores de favelas e periferias
em templos do consumo como shopping centers para escancarar
o, por vezes, dissimulado apartheid social que os discriminam; 4)
tivemos ainda a luta pela liberdade sexual com as “marchas das
vadias” e a luta LGBTQIA+ no meio desse cenário; 5) em função
do péssimo serviço dos transportes e da forte repressão policial
discriminatória, populares fizeram barricadas, mesmo depois de
junho, em seus bairros, favelas, e quebraram trens, ônibus, barcas e
metrôs; 6) foram criados vários coletivos de segmentos profissionais
importantes para dar apoio nas manifestações como: enfermeiros,
advogados, músicos, projetistas e até hackers, cada um com seu
papel específico; 7) até os jogadores da elite do futebol brasileiro
cruzaram os braços e protestaram antes, durante e depois das
partidas;11 8) podemos incluir as ocupações de espaços que deveriam
ser públicos como câmaras de vereadores, assembleias legislativas,
secretarias de governos e, inclusive, escolas e universidades que
aconteceram depois de 2013, mas com seu espírito; 9) vimos um
novo modelo de manifestações ser gestado, mais horizontal,
26 wallace de moraes
São Paulo, maior polo econômico da República, 100 mil pessoas
ocuparam praças e tentaram quebrar a prefeitura. O mesmo movi-
mento aconteceu em todas as capitais com destaque para as maio-
res: Salvador, Goiânia, Fortaleza, Recife, Curitiba, Belo Horizonte13
e Porto Alegre, onde tudo começou em fevereiro de 2013. A luta
contra os preços dos transportes públicos no país é histórica, acon-
tece desde a primeira república. Na década de 1980, tivemos alguns
quebra-quebras e saques no Rio de Janeiro, tal como em outras ci-
dades por esses motivos. No século XXI, a primeira revolta dessa na-
tureza aconteceu em Salvador, denominada de “revolta do buzu”,
em 2003. Também em 2011, os estudantes, em Florianópolis, prota-
gonizaram grandes lutas pelo passe livre. A Revolta dos Governados
de 2013 assumiu magnitude nacional em junho, em São Paulo, com
a covarde repressão policial sobre os manifestantes, amplamente
divulgada pelas redes sociais, o que obrigou os oligopólios de co-
municação de massa no país a também divulgar, inclusive porque
alguns jornalistas foram gravemente feridos.
Não obstante, foi na cidade do Rio de Janeiro que o movimento
teve a maior proporção e continuidade. Nos atos dos dias, 17, mais
de 400 mil pessoas, e 20 de junho, mais de 1,5 milhão de governa-
dos, cantaram, festejaram, protestaram, lutaram, respectivamente,
em direção à ALERJ (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Ja-
neiro) e à sede da prefeitura da cidade. O dia 17 ficou marcado como
aquele em que o povo “tomou” a ALERJ, quando a multidão enfu-
recida expulsou a polícia e tentou atear fogo na simbólica casa dos
deputados fluminenses. Outrossim, nessa cidade as manifestações
não se limitaram a junho, estenderam-se até julho do ano seguinte
com atos praticamente diários, não mais de massa, é verdade, mas
de categorias, populares e coletivos políticos combativos.
13 Em Belo Horizonte, no dia 22, ocorreu a maior manifestação da história de Minas Gerais,
contando com a presença de mais de duzentas mil pessoas. A polícia reprimiu fortemente
o ato e os manifestantes responderam quebrando os radares, as concessionárias de auto-
móveis, bancos e grandes empresas que estavam no caminho.
28 wallace de moraes
No estado do Rio de Janeiro, além da capital, todos os municí-
pios de médio, muitos de pequeno porte, e até mesmo em bairros
da periferia da capital fluminense como Bangu, Campo Grande, Bon-
sucesso, e favelas, como Rocinha, Vidigal, Maré, Cidade de Deus e
Santa Marta, tiveram pessoas indo para as ruas protestar.
30 wallace de moraes
com enorme quantidade de gás lacrimogênio.17 Logo nos primeiros
atos com intensa repressão e uso indiscriminado do gás, divulgaram
pelas redes sociais que a utilização do vinagre aliviava a respira-
ção no momento da infestação pelas armas químicas lançadas pe-
los agentes do Estado.18 Inclusive, algumas pessoas foram detidas
simplesmente por portá-lo em suas mochilas.19 Simultaneamente,
existiu uma grande solidariedade na sua distribuição. O vinagre,
portanto, foi o primeiro item daquilo que depois se chamou de ma-
terial de primeira necessidade do manifestante, o “kit manifesta-
ção”. Para cada arma das forças de repressão, os populares criaram
uma maneira própria para autodefesa, nos termos de Kropotkin,
segundo o qual era necessário nos momentos revolucionários que
a própria população usasse sua excelente criatividade para a ges-
tação do mundo novo. Assim, para não sucumbir diante do gás, os
manifestantes da linha de frente perceberam que o vinagre se cons-
tituía como item fundamental, junto com um pedaço de pano, ou
um lenço, ou a própria camisa. Mais tarde, esse processo evoluiu
para o uso de máscara contra gás, para aqueles com maior poder
financeiro. Com relação ao gás de pimenta, lançado, por vezes, in-
discriminadamente pelos agentes da governança penal, as pessoas
souberam que o leite de magnésio ajudava. Era comum vê-las com
o rosto todo branco em função do uso do leite após as agressões
policiais. Esse item também depois evoluiu para óculos de proteção.
17 A luta contra o uso indiscriminado do gás lacrimogênio contra manifestantes tem sido
uma luta mundial marcada pela troca de informações sobre como resistir ao uso dessa
arma química. Uma boa referencia sobre o assunto é o livro de Anna Feigenbaum (2017)
disponível em https://www.versobooks.com/books/2109-tear-gas. O site Outras Palavras
traz uma boa prévia sobre o assunto. Ver: https://outraspalavras.net/uncategorized/a-ba-
talha-mundial-contra-o-gas-lacrimogenio/
18 Tem uma sátira com o comercial da Fiat realizada por manifestantes de Campinas que
usaram o vinagre como símbolo. Vale ver: https://www.youtube.com/embed/iGai-
5q27pUg Fonte Ferreira (2015).
19 O caso mais conhecido foi o de um jornalista da revista Carta Capital em junho de 2013,
em São Paulo.
32 wallace de moraes
com a ação direta deram a tônica do movimento.21 A descentraliza-
ção da luta não só a possibilitou como foi seu principal combustível.
É mister destacar que faremos um exercício de filosofia, o mais
básico de todos, que nenhum jornalista da grande mídia, nem inte-
lectuais da esquerda oficial ou da direita conservadora fizeram. Tra-
ta-se de perguntar o porquê de parte dos manifestantes quebrarem
vidraças de agências bancárias. Por que não colocaram essa dúvida?
Tariq Ali (2012) define o Occupy Wall Street e a sua relação com o
sistema financeiro da seguinte maneira:
21 Algo muito semelhante aconteceu na Europa e na América do Norte. Ver dois excelentes
registros históricos: Ludd (2002) e Duppuis-Déri (2014).
34 wallace de moraes
puis-Déri, 2014, Ludd, 2002; Gordon, 2015), podemos dizer que no
Brasil não foi diferente.
Indubitavelmente, a Revolta pôs em xeque muitos paradigmas
considerados estáveis do cotidiano brasileiro. Apresentamos a se-
guir as principais características da Revolta dos Governados durante
pouco mais de um ano, entre junho de 2013 e julho de 2014, marcada
por centenas de protestos de rua.
22 Em junho de 2018, Rafael Braga estava em prisão domiciliar para tratamento de tubercu-
lose que contraiu no sistema prisional.
36 WALLACE DE MORAES
vindicação, aquela entrou em conflito com as tendências de alguns
partidos políticos oficiais, que, com seus aparatos burocráticos, ten-
taram dirigir a revolta com seus carros de som, buscando colocar
a sua palavra de ordem, normalmente, com viés eleitoreiro, como
sendo supostamente a de todos.
Além do mais, as manifestações passaram a ser mais violentas
e contestadoras da ordem, diferente das anteriores controladas pe-
los partidos da esquerda oficial, que não almejavam a destruição do
sistema como um todo, mas substituir o governante da hora para,
ocupando os cargos, fazer mudanças pontuais na gestão do Estado
e do capitalismo.
24 Os hackers, por exemplo, em uma das atitudes mais ousadas divulgaram os endereços de
todos os policiais do estado do Rio de Janeiro.
25 Em São Paulo, Locatelli (2013) diz que o motor dos protestos foi a “Fanfarra do Mal”.
26 O coletivo Projetação foi um deles.
27 Ao menos quatro manifestações em apoio aos protestos realizados no Brasil, contra o
aumento da passagem de ônibus, foram organizadas por meio do Facebook em cida-
des europeias: Paris (França), Berlim (Alemanha), Coimbra (Portugal) e Dublin (Irlanda).
http://noticias.r7.com/…/manifestacoes-na-franca-e-na-alema…
28 Ficou comprovado no processo judicial que, toda vez que o valor da passagem de ônibus
no Rio de Janeiro sofria aumento, o governador Sérgio Cabral recebia propina.
38 wallace de moraes
foto de fernando frazão
31 Fonte: https://www.dieese.org.br/desempenhodosbancos/2013/desempenhoDosBancos-
2013.pdf
32 Vejam a horrorosa cobertura da Globo sobre a prisão de um professor, sempre justifi-
cando as atitudes policiais e tentando induzir ao expectador que ele poderia ser uma pes-
soa perigosa. Uma cobertura da pior qualidade. É esse o papel dos oligopólios de comu-
nicação de massa no Brasil.http://g1.globo.com/globo-news/jornal-globo-news/videos/t/
todos-os-videos/v/policia-faz-detencoes-em-manifestacao-no-centro-do-rio/3412291/
40 wallace de moraes
lavras de ordem entoadas nos pro-
testos era: “A verdade é dura, a Rede
Globo apoiou a ditadura”.33
6) contra as multinacionais
42 wallace de moraes
fonte: ruy barros
Rocinha e Vidigal, que eram antigas rivais, protestaram juntas em 2013 contra a
violência policial. foto: chistophe simon afp
44 wallace de moraes
8) expressou a crise da representação política e conse-
quentemente da plutocracia vigente
46 wallace de moraes
aumento para R$ 3,40 seria para que as empresas colocassem toda
a frota com ar condicionado. Em julho de 2017 já custava R$ 3,80
e apenas 42% da frota possuía refrigeração. Então, o Ministério Pú-
blico exigiu e ganhou a redução de R$ 0,20 em setembro de 2017
dos altos valores das passagens de ônibus no Rio de Janeiro. Ainda
assim, o preço do transporte público, de péssima qualidade, sobre-
tudo para os bairros habitados por pessoas com baixo poder aqui-
sitivo, é um dos mais caros do mundo.37 Uma das canções era: “Se
a passagem... não abaixar, o Rio, o Rio, o Rio vai parar, olê, olê, olê,
olá... olê, olê, olê, olá”. “Ô motorista, ô cobrador, me diz aí se seu
salário aumentou”.
38 No caso do Maracanã, a concessão foi para a Odebrecht, uma das empresas amplamente
denunciadas em casos de corrupção com governantes políticos.
48 wallace de moraes
Foi surpreendente ver o povo apaixonado por futebol não sair
às ruas para comemorar um título da seleção brasileira, como o da
Copa das Confederações, em 2013.39 Era muito comum ver cartazes
de manifestantes pedindo hospitais e escolas com o “padrão FIFA”,
em alusão às exigências dessa instituição para um determinado mo-
delo de construção nos campos de futebol. Outra canção era: “Da
copa, Da copa, Da copa eu abro mão, eu quero é dinheiro pra saúde
e educação”.
39 Somente os ricos, com condições financeiras para pagar o caríssimo ingresso, comemo-
raram no estádio do Maracanã.
40 Amarildo e Douglas Silva, DG, eram moradores de favela no Rio de Janeiro. O primeiro,
como mencionado acima, era ajudante de pedreiro; o segundo, era participante de um
programa de auditório na Rede Globo de televisão. Ambos foram assassinados por po-
liciais.
50 WALLACE DE MORAES
ainda não foi resolvido.41 É importante ressaltar que o tráfico de dro-
gas permaneceu, mesmo nas comunidades com UPPs. Por esses e
outros motivos, muitos dos moradores das favelas e periferias parti-
ciparam dos protestos intensamente. Uma das palavras de ordem
dos protestos pedia pela vida do Amarildo: “Cabral bandido, cadê o
Amarildo?”
41 Ver: http://anovademocracia.com.br/noticias/8441-rj-barbaro-assassinato-de-claudia-com-
pleta-quatro-anos-sem-punicao
42 Foi em 2013 que o movimento #PrimeiroAssédio começou e ganhou força, antes mesmo
do #METOO dos EUA. Aqui a ONG Olga criou uma campanha contra os assédios às mulhe-
res logo após uma menina de 12 anos ter sido alvo de comentários de cunho sexual depois
de apresentar-se em um programa de culinária. Ver: https://thinkolga.com/2018/01/31/pri-
meiro-assedio/. Em 2015, as mulheres desencadearam uma enorme campanha vitoriosa
pela saída do deputado Eduardo Cunha que dificultava o aborto após um estupro. Em
2018, uma anarquista baiana criou o movimento #ELENÃO contra a campanha do Bol-
sonaro à presidência da República e foi um sucesso em todo o país. As mulheres têm
assumido o protagonismo na política e 2013 também foi um marco importante para tal
empreitada.
52 wallace de moraes
cebida, sobretudo nos Black Blocs. Uma das canções entoadas pelas
pautas identitárias foi: “se cuida seu machista, a América Latina vai
ser toda feminista”; “lugar de mulher é onde ela quiser”; “Sem hipo-
crisia, essa polícia mata preto todo dia”; “Cadê o Amarildo?”.
54 wallace de moraes
e de violência doméstica/familiar também servem
como dispositivos de amansamento da mulher pro-
letária, consequentemente são ferramentas de do-
minação de classe. Portanto, é preciso apontar que
o opressor machista age indiretamente em favor
dos exploradores. Neste sentido, é urgente comba-
ter o machismo que se manifesta também no seio da
classe trabalhadora. Ele age para nos dividir. Não
se pode reivindicar o classismo sem incorporar a
luta pela emancipação integral da mulher (econô-
mica, política, sexual, cultural e etc.). O povo só
se liberta quando todas suas frações e grupos se
libertam.
Coletivo Aurora
56 wallace de moraes
2013 -
revolta dos governados
Fonte: Dieese, disponível em: https://www.dieese.org.br/balancodasgreves/2013/estPesq79balancogreves2013.pdf
57
Vejamos na tabela abaixo o crescimento de mais de 100% da
quantidade de greves de 2012 para 2013.
58 wallace de moraes
socioculturais criticaram veementemente a greve, mas os trabalha-
dores mantiveram o movimento e ganharam a solidariedade de di-
versos setores mais combativos na sociedade. Por fim, a categoria
conseguiu arrancar um aumento substantivo dos salários perante
o governo, embora ainda muito abaixo diante da exploração que
sofrem. Não obstante, sem dúvida foi uma vitória dos trabalhadores
que tiveram que enfrentar o próprio sindicato, o governo e a grande
mídia.
Então, qual era a pauta do movimento? Só não viu quem não
quis.
O panfleto abaixo do FOB – Fórum de oposições pela Base – re-
sumiu bem a pauta radicalizada.45
45 http://oposicaopelabase.blogspot.com
60 wallace de moraes
1. NOSSO APORTE TEÓRICO-
METODOLÓGICO
fonte: ruy barros
“Amar é querer a liberdade, a completa independência do outro, o
primeiro ato do verdadeiro amor; é a emancipação completa do ob-
jeto que se ama; não se pode verdadeiramente amar senão a um ser
perfeitamente livre, independente não apenas de todos os outros,
mas até mesmo, e sobretudo, daquele pelo qual é amado e que ele
próprio ama. Eis minha profissão de fé política, mas também, tanto
quanto eu possa, o de minha existência particular e individual, pois
o tempo em que estes dois tipos de ação podiam ser separados está
bem longe” (Bakunin, 1845).
1 Tanto Thomas Hobbes, quanto Georg Hegel, são expoentes do pensamento político que
concebem o Estado como uma instituição absolutamente essencial para a melhor orga-
nização da sociedade.
2 A historiografia oficial construiu a história jogando luz sobre o papel das Cortes, do Esta-
do, dos capitalistas, senhores de modo geral e das leis. As revoltas, os levantes, as revo-
luções, normalmente não aparecem, mas quando é inevitável, são apresentadas como
acidentes da história que obstaculizam “o bom percurso do progresso da humanidade”.
66 wallace de moraes
timar e justificar o poder estabelecido.3 Sob essa perspectiva, mui-
tos pseudo-teóricos, ou mesmo alguns renomados, sob o manto da
isenção (atualmente, conhecida como neutralidade axiológica), “te-
orizaram” sobre a realidade do ponto de vista mais ideológico ima-
ginável, abordando-a da maneira mais irreal possível e apontando
soluções pitorescas para seus problemas. Chomsky (2017) os deno-
mina por intelectuais conformistas, que apoiam os objetivos oficiais
e ignoram ou justificam os crimes governamentais.
As reflexões de Kropotkin (2000) quando relatou o papel dos
historiadores ao negligenciar a existência das comunas na Idade
Média, pode servir para exemplificar o ocorrido em 2013, no Brasil.
Naquele ano insurgente, também não houve nenhuma grande per-
sonalidade ligada a ele, tampouco alguma instituição romana. Veja-
mos.
3 Certo é que legitimar o poder político e econômico nunca foi exclusivo dos historiadores,
mas indubitavelmente certificado por muitos deles. Na Idade Média, por exemplo, os
padres cumpriam um papel mais importante; na contemporaneidade, os oligopólios de
comunicação de massa. Para bela reflexão sobre o assunto, ver Fontana (2004).
68 wallace de moraes
Associado a isso, Castoriadis (2007: 69) ressalta que grande
parte dos pensadores tentou ocultar o fato de que a sociedade se
auto-institui, buscando apresentar suas instituições como tendo
uma origem extra-social, divina, racional ou como sendo fundada
em leis da história. O principal objetivo dessa ocultação é retirar por
completo o papel dos humanos na criação do seu próprio mundo.
É a obliteração da crítica das instituições existentes, bem como da
possibilidade de criar/resgatar novas formas de convívio social. Par-
timos do princípio, por consequência, de que a sociedade deve ter a
liberdade de se auto-instituir. Com efeito, a história deve ser tratada
como auto-instituição societal.
Outrossim, entendemos que as interpretações sobre o maior
Levante Popular da história brasileira a partir de uma perspectiva
anarquista, que valoriza a ação direta dos governados, são margina-
lizados e enquadrados na perspectiva dos saberes sujeitados (Fou-
cault, 2002) ou sofrem perfeitamente do epistemicídio acadêmico
(Santos, 2003). Com vistas a superar essa discriminação epistemoló-
gica e preencher essa lacuna acadêmica, importantizamos desenvol-
ver a pesquisa que segue.
Nas duas últimas décadas, percebemos um revival do anarquis-
mo, potencializando produções que nunca deixaram de existir, mas
que foram marginalizadas durante muito tempo. Florescem grupos
com viés libertário no mundo inteiro. No Brasil, particularmente, o
surgimento e/ou desenvolvimento de diversos coletivos de estudo
e de ação, formando uma verdadeira escola interpretativa, resultou
em forte reflexo na Revolta dos Governados.6 Suas análises geral-
mente privilegiam o lócus da liberdade, que só pode se concretizar
na igualdade. Como a perspectiva do anarquismo não buscou cen-
tralizar, nem dirigir o processo, mas estimulá-lo de todas as formas,
no sentido de aprender com o povo e consciente de fazer parte
6 Surgiram organizações dessa natureza pelo país e grande parte delas com alguma influ-
ência nas ocupações urbanas e luta por moradia, expressada com força nos anos
2000/2010 como mostramos no prefácio e na introdução desse livro.
70 wallace de moraes
realizada pela ação dos próprios interessados, coagidos a vender a
sua força de trabalho. Trata-se de uma perspectiva em clara oposi-
ção à estadolátrica.
Como forma de melhor entender a ação dos insurgentes de
2013 no Brasil é fundamental utilizarmos conceitos apropriados. Ali-
ás, seguiremos por um caminho que visa incorporar categorias das
ciências sociais com a problematização histórica, sendo, portanto,
uma forma que unifica o olhar de cientistas sociais e historiadores.7
Já alertamos que para o caso peculiar em tela, é mister comba-
ter a estadolatria, que não apenas evoca a hierarquia social e a de-
sigualdade como naturais, mas também como uma perspectiva que
tem um fascio condutor típico de análises autoritárias que refletem
um ponto de vista de organização societal que se admira. Com efei-
to, se contempla o Estado enquanto expressão máxima da razão,
para o qual colaboram teses nas ciências sociais desde Maquiavel,
passando necessariamente por Hobbes e alcançando o paroxismo
com as proposições de Hegel. Ao mesmo tempo, procuraram incutir
a ideologia segundo a qual a desigualdade econômica-social é bené-
fica para a sociedade, com clara defesa da legitimação da proprieda-
de privada dos meios de subsistências e de produção, tal como fez
John Locke, seguido pela escola que inaugurou conhecida como li-
beral. Por esse caminho, o capitalismo foi justificado. Coube a deter-
minados pensadores estadolátricos, impor ao restante do mundo
uma forma de reprodução socio-metabólica pautada no eurocen-
trismo que, dentre outras acepções, significa defesa do Estado,
do capitalismo, com todas suas desigualdades, com a subjugação
e preconceito com relação a negros, ameríndios, revolucionários e
não proprietários. Criou-se, portanto, um Estado e um sistema eco-
nômico capitalista racista, imposto pela força e pela violência sobre
os governados.
Os diversos paradigmas de análise sob essa égide são portado-
res de um preconceito inicial, implicando em não se estudar expe-
7 Ver Burke (2012).
72 wallace de moraes
o caro leitor concorda, preferirá o uso do conceito de plutocracia,
que significa governo em favor dos ricos. Suas principais funções
representam: garantir a reprodução do dinheiro e a segurança da
propriedade privada dos meios de produção, deixando a proteção
da vida e do bem-estar dos governados em segundo plano, sobretu-
do se forem alvos das governanças sociais.8 Segue apresentação do
conceito que realizamos em outra pesquisa.
8 Identificamos nove tipos puros de governanças sociais: racial, patriarcal, sexual, acadê-
mica-científica, estética produtiva, religiosa, xenofóbica (ufanista, nacionalista), capitalis-
ta, oficialista. Para detalhes, ver De Moraes, 2018.
9 Ver Graeber (2015).
10 As diferentes formas são apresentadas no capítulo 1 do livro “Governados por quem?” (De
Moraes, 2018).
74 wallace de moraes
dura Militar-Plutocrática-Desavergonhada, governada diretamente
por militares, seja sob uma Ditadura Plutocrática-Militar-Dissimula-
da, governada diretamente por civis. Contudo, ambas se amparam
fundamentalmente nas repressões militares, quando necessárias,
para a manutenção do capitalismo em favor de todos os governan-
tes.11 Para ratificar que vivemos em uma ditadura, é significativa a
descrição de um dos perseguidos políticos de 2013, em seu livro a
“Pequena Prisão”:
76 wallace de moraes
parte hierárquica inferior dessa governança estão: b) governados
politicamente (todos que devem obedecer às leis e políticas empre-
gadas por aqueles). O lócus, por excelência, da governança política,
é o Estado. Os governantes políticos têm o poder da lei, do decreto,
das políticas públicas, de aumentar ou diminuir a verba para a saúde
e a educação, de aumentar ou diminuir as leis penais, as políticas de
encarceramento, de declarar perseguições racistas e/ou guerras, de
aumentar ou baixar as taxas de juros, câmbio, de mandar reprimir e
controlar os governados.
Todo o dinheiro público arrecadado com os impostos está sob
seu domínio. Diga-se de passagem, um dinheiro fácil, certo e líqui-
do. Por isso, esse é o lugar ordinário da corrupção, da falcatrua, da
troca de favores, do patrimonialismo. Ao mesmo tempo, é o espaço
da disputa, que interessa a todos os capitalistas, que almejam pri-
vilégios de contratos e de financiamento pelo dinheiro público. Os
representantes dos setores empresariais, banqueiros, latifundiários
(governantes da economia) possuem acesso direto aos governan-
tes da política, sobretudo, se foram financiadores da empreitada
eleitoral, ou se apresentam com potencial para bancar as futuras
campanhas e/ou a vida privada deles.
Sob o regime representativo, o papel destinado aos governa-
dos, pensado pelos governantes, fundamenta-se apenas no direito
ao voto: a escolha daqueles que vão lhes governar politicamente,
sob um sistema privilegiado, de tempos em tempos. A governança
política é praticamente vedada (insulada) aos governados, enquan-
to é absolutamente aberta aos demais governantes e seus lobbies,
principalmente dos setores economicamente mais fortes. A desi-
gualdade, portanto, de acesso aos governantes políticos é patente
e determinada pelo poder financeiro do agente. Em razão disso, a
denominamos como plutocracia. Ao mesmo tempo, ela busca apre-
sentar-se como resultado da escolha dos governados por meio do
voto. A essência dessa governança é a dissimulação, a mentira, as
78 wallace de moraes
autoritária, cujo domínio dos governantes econômicos apresenta-se
como inquestionável. Ao mesmo tempo, a sua situação é diferen-
ciada, pois existem distintos graus de comando e poder que estão
diretamente ligados à quantidade de capital que se possui e/ou que
se ganha ou pode ganhar. Assim, temos governantes econômicos
com diferentes condições de poder, sobretudo de influenciar outros
governantes e governados.
Sob essa governança, todo trabalhador, assalariado, vendedor
de força de trabalho caracteriza-se como um governado economi-
camente, pois recebe ordem direta dos governantes econômicos
ou de seus representantes. Por exemplo, quando um trabalhador
recebe ordens de seu patrão por 40 horas semanais, aquele está sob
a governança econômica deste.
A governança econômica materializa-se como o eixo central
da ‘opressão capitalista’ por meio da legitimação e da legalização
da exploração do proprietário sobre o não proprietário, através da
alienação, isto é, da apropriação pelo proprietário daquilo que é pro-
duzido pelo trabalhador. Em outras palavras, aquilo que o governa-
do economicamente produz não lhe pertence, mas é apropriado,
indebitamente, como um roubo pelo proprietário. Um roubo das
horas de trabalho coletivo dos governados, tal como colocado por
Proudhon (2007); ou extração de mais-valor, como, posteriormen-
te, sublinhou Marx (1984).
Em resumo, a essência dessa governança é formada pela obe-
diência, subordinação direta, subjugação, alienação, exploração e
controle.
A possibilidade de libertação dela manifesta-se no fim da pro-
priedade privada dos meios de produção e na autogestão coletiva
nos locais de trabalho, única maneira, de acabar com todas as for-
mas de opressão da governança econômica, e com ela mesma. É
importante destacar que a supressão dessa governança não está
sujeita ao voto.13
13 Para a descrição completa dessa governança, ver De Moraes, 2018.
80 wallace de moraes
b) governantes socioculturais das igrejas: padres, pastores e si-
milares, que vendem esperança no ‘além’ para miseráveis a partir de
insinuações metafísicas. Esta é uma governança estritamente con-
servadora, sendo a que mais resiste a reconhecer formas diferentes
de sociabilidade e principalmente liberdade comportamental. Ela
concretiza-se como a governança sociocultural baseada na fé e está
diretamente atrelada a três opressões/governanças sociais: religio-
sa, por discriminar as crenças diferentes das judaico-cristãs; sexual,
por só admitir heterossexuais; patriarcal, por buscar justificar a su-
bordinação da mulher. Essa governança, ao ligar diretamente a fé
ao dinheiro, está também atrelada à governança econômica, sobre-
tudo, quando ‘industrias da crença’ são montadas com a contribui-
ção financeira dos fiéis.
c) governantes socioculturais do saber escolar: o seu lugar
privilegiado é a escola (a universidade) com seus professores/in-
telectuais que retroalimentam um discurso/ensino justificador do
nacionalismo, das instituições estatais e capitalistas de um modo
geral, da ‘participação cidadã’ e do regime supostamente democrá-
tico, que eles tanto idolatram. Essa se constitui como a governança
sociocultural pela ‘educação reprodutora de conteúdos em prol do
establishment’. Estes governantes alimentam as opressões/gover-
nanças sociais oficialista e acadêmica-científica, pois simultaneamen-
te cometem o epistemicídio contra as produções revolucionárias e
populares, colocando-as como saberes sujeitados, inferiores, ‘erra-
dos’.
d) governantes socioculturais da família: representada pelo
chefe de família, autoritário, intolerante, que não admite visões, em
casa, diferente das suas. Utiliza-se da violência, física e simbólica,
como forma de fazer seus filhos e sua mulher obedecerem. Não es-
cuta, não debate e não admite pensamentos fora de seu comando.
Dessa maneira, prepara os filhos para não contestarem a autoridade
e, para saber, se assim o fizerem, serão castigados pela violência,
serão penalizados, receberão “chineladas”. Essa é a governança por
14 Agradeço ao orientando Flávio Moraes pelo alerta sobre o papel das mídias sociais como
parte dessa governança sociocultural.
15 Para descrição dos demais tipos de governanças socioculturais, ver De Moraes (2018).
82 wallace de moraes
Quem são os governados socioculturais? São aqueles que as-
sumem como suas as ideias propaladas por seus governantes, nas
escolas, nas igrejas, nas TVs, nas famílias, nos grupos epistêmicos
(think tanks) reproduzindo-as, em conversas informais e/ou nas re-
des sociais (nas mais diferentes formas assumidas, como reporta-
gens, músicas, filmes, textos, fotos, dogmas religiosos, fake News
(notícias falsas) e chineladas). Normalmente, não questionam a sua
situação econômica, política e social; às vezes, até justificam essa
triste condição, mesmo sem ter nenhum ganho pessoal ou coletivo.
Os governados socioculturais são aqueles que não produzem crítica
autônoma à sua própria situação de governado e se contentam em
receber ordens e conhecimentos alheios sem avaliá-los. Assim, atu-
am como se ovelhas fossem, obedecendo aos seus governantes e
seguindo o rebanho.
Os alvos principais da referida governança são pessoas sem fir-
meza de ideias e/ou sem acesso a conhecimento alternativo, que
abrem mão de produzir seu próprio saber, para ficar a mercê daqui-
lo que outros produzem, para lhes fazer crer... num mundo surre-
al. Algumas, sem qualquer resistência, são guiadas como ovelhas,
transformando-se em verdadeiros escravos ideológicos do sistema.
É óbvio que existem dentre os governantes socioculturais
pessoas ou pequenos grupos (professores/intelectuais, religiosos,
jornalistas, ‘midiativistas’, pais democráticos) que atuam na defesa
dos interesses dos governados, mas esses compõem uma ínfima mi-
noria, que trabalha em contrário ao papel que lhe requer os demais
governantes.
84 wallace de moraes
b) governados jurídicos: todos aqueles que devem obedecer
às interpretações da lei, exercidas por esses homens de toga. Essa
governança transpassa por todas as demais, retroalimentando-as e
a si mesma, resultando em diferentes graus de sujeição dos gover-
nados.
A superação dessa governança passa necessariamente pelo
fim do Estado e da crença segundo a qual alguém possa decidir o
futuro de outros por meio da neutralidade.
Por fim, ao reconhecermos que somos governados por diferen-
tes governanças e não apenas pela política, abrimos caminho para
almejarmos a libertação das outras e para deixarmos de acreditar
que uma vitória eleitoral possa nos levar à liberdade.
86 wallace de moraes
Esse conceito é relativamente novo na longa história do pensamen-
to político. Platão, Aristóteles e os romanos, Políbio e Tácito, não
trataram dele, embora discutissem sobre as diversas formas de
substituições de elites políticas por outras no poder. Até o advento
da Época Moderna, portanto, o pensamento político clássico carac-
terizou-se pela ausência da possibilidade do poder popular.
Para o pensamento liberal, o conceito de revolução foi pratica-
mente abandonado depois da consolidação do capitalismo. Sob o
regime do capital, os proprietários passaram a ter total poder sobre
suas propriedades, atendendo seus interesses, por isso o conceito
de revolução passou a ser tratado como sinônimo de golpe de es-
tado, ou rebeliões, sempre vistos como algo depreciativo. Enfim, a
ideia de revolução serviu muito bem aos adeptos do capitalismo na
luta contra o absolutismo feudal, mas depois da consolidação das
plutocracias foi praticamente tratada de forma preconceituosa. As-
sim, a revolta dos grandes proprietários na Inglaterra em 1688-89 foi
classificada como Revolução Gloriosa. Outra revolução, tipicamente
burguesa, foi a Francesa de 1789. Em ambas, governos autoritários
foram substituídos por outras elites que passaram a governar os de-
mais, tratando os dissidentes, igualmente, de maneira autoritária.19
19 O pensamento liberal defendeu fortemente a liberdade para a propriedade privada, para
seu proprietário, para o comércio, para obtenção de lucro, enfim, para o pleno funciona-
mento do mercado. Quando as primeiras formulações liberais foram concretizadas, com
o pensamento de John Locke, na segunda metade do século XVII, elas visavam exclusiva-
mente atacar a centralização do poder da coroa e a sua possível e costumeira intervenção
na propriedade alheia. Por isso, a liberdade estava restrita aos interesses dos grandes
proprietários de terra, como Locke, que inclusive também era senhor de escravos. Em
nenhum momento se pensou em liberdade para além dos senhores. A liberdade quase se
restringia ao uso e abuso da propriedade privada e suas subsequentes consequências. A
igualdade para o pensamento liberal deve ser entendida por dois momentos: 1) quando
nasceu, com Locke, era restrita a defesa de que os proprietários deveriam ter os mesmos
direitos que os membros da realeza; 2) já no século XX, a igualdade se resumia a dois pila-
res: a) igualdade jurídica (resumida na afirmação clássica de que “todos são iguais peran-
te a lei”; b) igualdade política (voto universal para escolher os governantes). A igualdade
econômica e social é vista por esse pensamento como malfazejo.
88 wallace de moraes
volução se distingue de rebelião ou revolta, porque esta se limita
geralmente a uma área geográfica circunscrita, é, o mais das vezes,
isenta de motivações ideológicas, não propugna a subversão total
da ordem constituída, mas o retorno aos princípios originários que
regulavam as relações entre as autoridades políticas e os cidadãos, e
visa à satisfação imediata das reivindicações políticas e econômicas.
A rebelião pode, portanto, ser acalmada tanto com a substituição
de algumas das personalidades políticas, como por meio de conces-
sões econômicas” (Pasquino, 2000: 1121).
20 O conceito “liberal-social” do ponto de vista da História das ideias é uma verdadeira aberra-
ção, pois os liberais historicamente se opuseram a qualquer perspectiva que privilegiasse
o social. Não obstante, Norberto Bobbio passou a utilizá-lo como tentativa de associar as-
pectos que ele atribui como positivos da economia de mercado, com preocupação social
em único projeto denominado por esse termo.
21 K. Marx e F. Engels são expoentes de uma das interpretações mais clássicas acerca do socialis-
mo e autores do “Manifesto Comunista”, reverenciado em todo o mundo pelos seus se-
guidores, como a publicação mais importante sobre o assunto desta corrente.
22 Sobre esse assunto, ver Castoriadis (2010), principalmente capítulo 1.
90 wallace de moraes
terra e as riquezas, abolir as classes e entregar o poder aos traba-
lhadores”
“(...) o nome não foi mal escolhido, visto que encerra uma ideia: ex-
prime a negação de todo o conjunto dos fatos da civilização atual,
com base na opressão de uma classe por outra; na negação do regi-
me econômico atual, a negação do governamentalismo e do poder,
da política burguesa, da ciência rotineira, do moralismo burguês (...)
resumindo a negação de tudo o que a civilização burguesa cerca
hoje de veneração.”
92 wallace de moraes
valorizando esta, associando-a ainda com o anarquismo e por conse-
quência desmascarando o real significado do tão venerado sistema
liberal e conservador. Vejamos:
94 wallace de moraes
mente precisam ter compromissos com as instituições existentes,
com o Estado, com o capitalismo, com a escravidão, com o racismo.
Por consequência, partimos do princípio de que a sociedade deve
ter a liberdade de se auto-instituir; a história deve ser tratada como
auto-instituição da comunidade que pode definir suas regras, sem
que exista camisa de força que a prenda a determinadas leis/insti-
tuições criadas por outros, de maneira autoritária. Por este ângulo é
possível legitimar as ações de insurgentes na busca pela construção
de um novo mundo através das lutas sociais.
Outro conceito é o de Ação Direta. Ele deve ser entendido
quando os homens, através de suas próprias mãos, sem represen-
tantes, realizam as ações que resultarão na sua liberdade. Assim,
Makhno (2001) descrevia a ação de camponeses durante a Revolu-
ção Russa na Ucrânia, em 1917:
23 Denominação utilizada por certos grupos indígenas da América do Norte para designar o
governo dos brancos.
96 wallace de moraes
ticapitalistas, portanto, claramente auto-instituinte, podendo ser
chamado por revolução social, constituída a partir da ação pela pro-
paganda de seus membros.
Nicolas Walter (2000) descreve sobre diferentes tipos de ação
anarquista. O principal deles é o de ação direta e reivindicado por
praticamente todos os anarquistas. Segundo ele, a categoria foi uti-
lizada pela primeira vez em 1890 e significava apenas o antônimo de
ação parlamentar, enquadravam-se nesse conceito as greves, boico-
tes e sabotagens. Hoje, o conceito engloba também ocupações de
fábricas, escolas, universidades e bases militares. O objetivo dessas
ações era conseguir algum resultado concreto e não apenas publici-
dade para o movimento. Enquanto a “Propaganda pelo Fato” este-
ve muito mais ligada à publicidade para o movimento sem obtenção
de um ganho palpável. Não obstante, a ação direta foi muitas vezes
confundida com outros conceitos como o de “propaganda pelo ato”
(ou pelo fato ou através da ação) e de desobediência civil. Segundo
o autor, um dos responsáveis foi Gandhi, que chamou de Ação Dire-
ta a forma não violenta de desobediência civil que realizava. Por fim,
Walter trata de mais uma forma de ação anarquista: “Protesto Per-
manente”. Embora o autor tenha uma visão um tanto quanto pessi-
mista dessa ação, nós a trataremos como uma categoria importante
para entendermos a continuidade das ações e atos rebeldes, sem as
massas, que foram perpetrados depois de junho de 2013 por muitos
anarquistas e revolucionários em geral. Fato que os fragilizou, tor-
nando-os presas fáceis para os governantes penais e jurídicos, mas
que tentou manter acessa a chama insurgente de junho.
Henry Thoreau (1997) fez uma reflexão fundamental para en-
tendermos a hipocrisia vigente sobre o suposto direito de revolu-
ção. Vejamos:
98 wallace de moraes
zendo greves, organizando-se coletivamente, autogerindo-se, que
pode fazer as mudanças substantivas para melhoria da qualidade
de vida, como um verdadeiro processo de auto-instituição. Nesse
sentido, o nosso diferencial é estabelecer uma teoria das ruas e não
uma teoria para as ruas. Assim estaremos seguindo os exemplos de
Bakunin (2008) e Kropotkin (2005)25, quando teorizaram sobre a Co-
muna de Paris.
Uma teoria das ruas deve estar comprometida com os sinais
emitidos por elas, problematizando-os, tentando decifrá-los. Dife-
rente de outras perspectivas que almejam tutelar os governados,
dizendo-lhes o que deveriam ter feito ou devem fazer; nós quere-
mos entender os seus sinais, que também são os nossos, pois somos
parte desse povo. A primeira perspectiva parte de um plano pré-es-
tabelecido; a nossa, ao contrário, deve aprender junto e construir
coletivamente o novo mundo. Para nós, os maiores exemplos de Re-
volução Social, Ação Direta e Auto-Instituição Social no país foram
realizados pelos diversos quilombos, que ao construírem seu mun-
do, o realizaram em completa dissonância dos valores estatistas e
capitalistas europeus. Deixemos os governados se auto-instituirem.
Antes de continuar, cabe mais uma ressalva metodológica, que
está centralmente guiando essa pesquisa: uma pessoa livre não obe-
dece a ordens! Se ela é obrigada a obedecer (sem possibilidade de
debate, participação ou deliberação, em uma palavra, isegoria) du-
rante todo o tempo ou parte de seu tempo de vida, ela não passa
de uma escrava. Um ser livre não deve ser obrigado a obedecer à
exploração ou opressão por qualquer forma de violência, mas aten-
de a pedidos e/ou desempenhará suas responsabilidades sociais que
considerar justas. Esse talvez seja o núcleo central do pensamento
libertário.
3 Assim, por exemplo, se ele não esteve na linha de frente da resistência aos ataques da
polícia, poderá facilmente classificar os resistentes como “vândalos”, um equívoco abso-
lutamente deplorável e criminalizador dos lutadores populares.
4 Dirigida oficialmente pelo petismo, governou abertamente em prol dos ricos, mas procu-
rou aparentar a defesa dos interesses dos trabalhadores. Da nossa parte, não lemos o
governo do Partido dos Trabalhadores como parte da esquerda oficial, pois através de
suas políticas públicas implementou um programa muito similar ao partido neoliberal
que o antecedeu no poder, o PSDB, de Fernando Henrique Cardoso. Ambos os partidos,
embora se apresentem como oposições um ao outro, implementam uma política muito
semelhante em vários sentidos, diferenciada, sobretudo, pelo ciclo de crescimento eco-
nômico mundial. Para mais detalhes, Ver De Moraes (2018).
5 Dirigida pelos tucanos e peemedebistas - governou para os ricos e com pouca preocupa-
ção em simular defender interesses populares.
6 Dirigida por setores que em 2013 eram minúsculos e desorganizados. Como reação a
2013, segmentos de militares, latifundiários, evangélicos, populares penalizantes se aglu-
tinaram na campanha de Bolsonaro para a presidência da República. Esses setores defen-
dem um governo em favor dos ricos através da centralização do poder, verticalização,
nacionalismo, conservadorismo comportamental, extermínio físico de pessoas que aten-
tem contra a ordem e a propriedade, com forte repressão sobre os divergentes.
7 Integralismo foi um movimento liderado por Plínio Salgado, nos anos 1930 no Brasil, e
advogava muitos dos princípios do fascismo europeu.
9 Em suma, mais uma vez a ideologia do nacionalismo foi usada para subordinar o povo.
10 Todas essas análises amparam-se em números divulgados pelos oligopólios de comunica-
ção de massa com a sua já sabida tentativa de desmerecer os protestos.
11 Segue explicação retirada do próprio site do governo federal: “De modo a desenvolver
uma definição para a nova classe média, a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Pre-
sidência da República (SAE/PR) instituiu, por meio da Portaria Ministerial nº 61, de 27 de
setembro de 2011, um Grupo de Trabalho segundo o qual “uma pessoa é estruturalmente
pobre quando, dadas as características dos membros economicamente ativos da famí-
lia, a renda do trabalho predita, somada às transferências e rendimentos de ativos efe-
tivamente recebidos, leva a uma renda per capita inferior a R$140 por mês.” Sob essa
perspectiva, uma pessoa não pobre vive em uma família com renda per capita superior a
R$140 por mês.Fonte disponível em: http://www.sae.gov.br/wp-content/uploads/Relat%-
C3%B3rio-Defini%C3%A7%C3%A3o-da-Classe-M%C3%A9dia-no-Brasil1.pdf
12 R$ 0,20 foi o valor do aumento do transporte público que serviu de estopim para o início
dos protestos.
13 A PEC 37 sugeria incluir um novo parágrafo ao artigo 144 da Constituição Federal, com a
seguinte redação: “A apuração das infrações penais de que tratam os §§ 1º e 4º deste
artigo, incumbem privativamente às polícias federal e civis dos Estados e do Distrito Fe-
deral, respectivamente”. A “grande” sugestão de Arnaldo Jabor resumia-se ao fato de o
Ministério Público ficar de fora das investigações.
15 Ver: http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/arnaldo-jabor/2013/06/20/REDUCAO-
-DAS-PASSAGENS-DE-ONIBUS-E-TIMIDA-TENTATIVA-DE-AQUIETAR-OS-MANIFESTANTES.
htm, acessado em 27/07/2014.
16 Termo pouco preciso, mas amplamente utilizado pelos oligopólios de comunicação de
massa no Brasil para depreciar os manifestantes que se defendiam dos ataques policiais
e quebraram vidraças de bancos por consequência. Depois de exaustiva campanha de
grande mídia, o termo vândalo virou quase um insulto público.
19 http://www.teoriaedebate.org.br/materias/nacional/manifestacoes-de-junho-de-2013-na-
-cidade-de-sao-paulo
21 Portanto, os equívocos do autor começam com a escolha de suas fontes, tratando-as sem
uma problematização necessária, tomando em conta seus dados como verdades abso-
lutas. Não obstante, como todas elas são conservadoras e alinhavam-se com o governo
federal e/ou com a sua oposição à direita, elas servem muito bem aos interesses do autor.
22 Como consequência dessa primeira e central inferência, Singer pode dizer que a orienta-
-ção ideológica dos manifestantes era de direita. A lógica é simples: se os manifestantes
não são populares e pertencem à classe média, podem ser considerados de direita, nas
palavras de Singer: “cujo objetivo consistia em fazer retroceder as forças populares que
haviam constituído a base de apoio do governo do PT desde 2003”.
23 Em um dado momento, Singer admitiu que os protestos eram contra todos os partidos
políticos, mas em outro, entra em contradição ao dizer que a direita partidária atacou a
prefeitura de São Paulo, dirigida pelo PT, bem como o governo federal, também dirigido
pelo partido. Ao admitir que os manifestantes estavam contra todos os políticos, como
concluiu que eram conduzidos pela direita partidária? O próprio governador de São Paulo
que pertencia ao PSDB, oposição oficial ao PT, foi criticado pelas ruas e teve que por de-
creto abaixar os preços das passagens de ônibus no estado. Enfim, o autor chegou à con-
clusão excêntrica de que a direita partidária articulou uma luta contra o PT e a ela própria.
25 Com exceção evidentemente para os poucos e pequenos bairros da alta elite. Somente
depois de 2013 e como reação a ele, e em função da atuação de muitos think tanks que
pessoas que se dizem de direita começaram a assumir tal pecha.
“Tudo isso é muito parecido com o que acontece agora” (2016), “no
caso das invasões nas escolas. No começo, o movimento surgiu dire-
tamente da extrema-esquerda. Por puro desconhecimento, muitos
acabaram aderindo a ideia acreditando que eles estavam mesmo
‘lutando por educação’. Aí o tempo passou e, como de praxe, per-
ceberam que a luta era ilegítima, e que tudo não passava de engodo
partidário. Quando começou um movimento contrário, para a deso-
cupação dos locais invadidos pela extrema-esquerda, os Black Blocs
começaram a surgir, e junto veio a violência organizada.”
43 Coleção organizada por Cava e Cocco (2014), com escritos de trinta intelectuais/militantes
na mesma linha, abordando diferentes aspectos da Revolta.
44 Encontramos dificuldade para enquadrar as teses de Gohn (2014) em uma das escolas
puras sobre 2013. Com alguma tinta de uma perspectiva revolucionária, a tese da autora
situa os protestos brasileiros na onda mundial de contestação, não cai no absurdo de
entender a revolta brasileira como de direita, mas se deixa levar pela ideia de que seria
composto pela classe média. Para ela, 2013 no Brasil foi uma manifestação dos indigna-
dos, pois tinha uma pauta nacional, diferente dos movimentos da AGP (1998-2001) e do
Ocuppy (2011). Não obstante, o texto da autora traz boas reflexões sobre o movimento
como um todo. Talvez por focar em São Paulo, ela chegue a algumas conclusões distintas
das nossas.
Dizer que as revoltas surgidas nas ruas de Rio e São Paulo, em 2013,
foram organizadas na forma da multidão significa dizer que, - em vez
de dirigidas pelo partido ou uma direção centralizada ou mesmo um
“A rebelião foi iniciada pelos jovens (...) Mas a revolta afetou os mais
velhos também. (...) Embora tivesse sido catalisada pelos revolucio-
nários conscientes, especialmente por grupos de afinidade anarquis-
ta, de cuja existência ninguém suspeitava nem mesmo vagamente,
o fluxo, o movimento de rebelião foi espontâneo. Ninguém incitou
à revolta, ninguém chegou a organizá-la e também ninguém conse-
guiu controlá-la (...). Durante a maior parte daqueles dias de maio e
junho, houve uma atmosfera de festa, um despertar da solidarieda-
de, um desejo de ajudar-se mutuamente, de expressar a própria in-
dividualidade. (...) As pessoas estavam literalmente redescobrindo
– ou talvez reconstruindo – a si próprias e aos outros. (...) Milhares
de pessoas foram atacadas por uma febre de viver, um renascer de
sentimentos que nem sonhavam possuir, de uma alegria e um entu-
siasmo que nunca pensaram poder sentir. As línguas ficaram mais
soltas, os ouvidos e os olhos adquiriram mais acuidade.”
1 Com base nos relatos dos camelôs que indignados enfrentaram os guardas por diversas
vezes na cidade do Rio de Janeiro
2 Castells (2013) identifica o início da Primavera Árabe na Tunísia justamente pela repressão
aos camelôs: “Tudo começou num lugar totalmente inesperado, em Sidi Bouzid, uma ci-
dadezinha de 40 mil habitantes na empobrecida região central da Tunísia, ao sul de Túnis.
O nome de Mohamed Bouazizi, vendedor ambulante de 26 anos, agora está gravado na
história como o daquele que mudou o destino do mundo árabe. Sua autoimolação por
fogo às 11h30 da manhã de 17 de dezembro de 2010, diante de um prédio do governo, foi
seu último grito de protesto contra a humilhação que era para ele o repetido confisco de
sua banca de frutas e verduras pela polícia local, depois de ele recusar-se a pagar propina.
A última apreensão havia ocorrido uma hora antes. Ele faleceu em 3 de janeiro de 2011,
em um hospital de Túnis, para onde fora levado pelo ditador com o objetivo de aplacar a
fúria da população. De fato, poucas horas depois de ele ter colocado fogo em seu próprio
corpo, centenas de jovens, com experiências semelhantes de humilhação por parte das
autoridades, fizeram um protesto no mesmo local.
3 Ver, especialmente, coletivo de Hip Hop Lutarmada. Ver também Mano Zeu “Brasil Ilegal”,
disponível em: http://som13.com.br/mano-zeu-rap; Ver Ktarse “Gueto subversivo”, dispo-
nível em: https://www.youtube.com/watch?v=KDJGDaon7h0. Ver também https://www.
letras.mus.br/gustavo-gn/patria-armada/. Ver “Racionais MCs”, “Gabriel O Pensador” e
“MV Bill”, talvez os mais famosos deles e diversos outros raps pelo Brasil afora. Como voz
do morro e também no diapasão de contestação do sistema, podemos incluir as músicas
escritas por diversos populares e gravadas por Bezerra da Silva.
4 Essa ocupação foi realizada por militantes políticos junto com moradores de rua que ocu-
param o prédio da rua Barão de São Félix no Centro em outubro de 2004.
5 Essa ocupação aconteceu em outubro de 2006. Oito anos depois a Organização Anarquis-
ta Terra e Liberdade (OATL) soltou a seguinte nota: Gostaríamos de parabenizar a Ocu-
pação sem-teto Quilombo das Guerreiras pelos seus 8 anos de vida, completados hoje.
Foram dias, anos, tempos de muita luta e aprendizagem. Vocês ensinaram à nossa época
a possibilidade concreta, real, de viver em coletivo, de se organizar em autogestão, viver
em liberdade com respeito e união. Nos deram força, coragem, sonhos. Hoje, devido à
crueldade do Estado, não estão mais no mesmo prédio, na Avenida Francisco Bicalho,
mas a vida e história de vocês não se fecha nos muros de uma parede. O coletivo conti-
nua, a história continua, e esperamos poder participar eternamente dela, vendo-a crescer
e brilhar como merece. “Povo de luta não é de brincadeira, aqui quem fala é a quilombo
das guerreiras!”
7 “Ver pesquisa de Misse (2011). Diz ainda o estudo que “embora sejam homicídios, essas
mortes são classificadas separadamente, pela polícia, por se tratarem de mortes com
‘exclusão de ilicitude’, porque supostamente cometidos em legítima defesa ou com o
objetivo de “vencer a resistência” de suspeitos de crime.”
8 Estima-se que os filmes tenham sido assistidos por mais de 20 milhões de pessoas. “Tro-
pa de elite 2”, de José Padilha, tornou-se o filme mais visto da história do cinema brasilei-
ro, quando atingiu a marca de 10.736.995 espectadores após nove semanas de exibição.
Estima-se que 11 milhões de pessoas tenham assistido a um DVD pirata do filme “Tropa de
elite 1” antes de sua estreia, em 2007, quando foi copiado e se tornou um fenômeno nos
camelôs. Fonte: http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2010/12/tropa-de-elite-2-e-maior-bi-
lheteria-da-historia-no-brasil.html
9 http://www.andes.org.br:8080/andes/print-ultimas-noticias.andes?id=5576
10 Para mais detalhes, ver De Moraes (2012) http://www.otal.ifcs.ufrj.br/a-greve-traida-
-de-2012/
11 Ver: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/07/03/manifestantes-de-
predam-pedagio-e-queimam-onibus-em-sp.htm
12 Ver: http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/32546
13 Sobre esses três casos de revolta popular e a sua relação com as redes sociais, é impor-
tante ver excelente livro de Castells (2013).
14 Sobre essas revoltas, ver Castells, 2013.
15 “Nos Estados Unidos, o movimento Occupy Wall Street, tão espontâneo quanto os outros
e igualmente conectado em redes no ciberespaço e no espaço urbano, tornou-se o even-
to do ano e afetou a maior parte do país, a ponto de a revista Time atribuir ao “Manifes-
tante” o título de personalidade do ano. E o lema dos 99%, cujo bem-estar fora sacrificado
em benefício do 1% que controla 23% das riquezas do país, tornou-se tema regular na vida
política americana. Em 15 de outubro de 2011, uma rede global de movimentos Occupy,
sob a bandeira “Unidos pela Mudança Global”, mobilizou centenas de milhares de pesso-
as em 951 cidades de 82 países, reivindicando justiça social e democracia real. Em todos
os casos, os movimentos ignoraram partidos políticos, desconfiaram da mídia, não re-
conheceram nenhuma liderança e rejeitaram toda organização formal, sustentando-se
na internet e em assembleias locais para o debate coletivo e as tomadas de decisão.”
(Castells, 2013).
16 Em maio de 2011, teve início a Revolta dos Indignados na Espanha. Uma revolta que não
contou com o apoio dos partidos políticos, dos sindicatos, da grande mídia, ou de quais-
quer organizações institucionalizadas. Ela foi preparada pela internet, sem nenhuma lide-
rança explícita. Ver Castells (2013).
4. DIA-A-DIA DE UMA
PRIMAVERA DE LUTA
fonte: ruy barros
“É barricada, greve geral, ação direta que derruba o capital”
(canção cantada pelos radicalizados nos protestos)
1 Para mais detalhes, ver Movimento Passe Livre – São Paulo (2013); ver também, Löwy
(2014).
2 Militantes do MPL muitas vezes também pertenciam a partidos políticos da esquerda ofi-
cial ou a diversos grupos políticos de diferentes orientações, dentre eles, anarquistas.
12 Ver: https://www.youtube.com/watch?v=KSYR9RN7LyI
16 Os oligopólios de comunicação de massa, mais uma vez cumprindo seu papel histórico,
tentaram minimizar o poder das manifestações, reduzindo o número de governados nas
ruas exorbitantemente, estimando apenas 300.000 pessoas na Avenida Pres. Vargas. Nú-
mero este que já seria absurdamente grande, mas dada a realidade, ficou muito aquém
dos 1,5 milhão. Só no Facebook mais de 1 milhão confirmou presença.
17 Existiam muitos vídeos no YouTube sobre 2013, mas muitos deles foram retirados. No dia
11 de junho de 2018, ainda dava para ver esse vídeo, em meio a vários outros indisponíveis:
https://www.bing.com/videos/h?q=black+bloc+caveirao&&view=detail&mid=ACBD61A-
49D0D3C0C0C24ACBD61A49D0D3C0C0C24&&FORM=VRDGAR
Teve uma palavra de ordem que chamou atenção por não ter
o caráter político dos estudantes, mas das favelas e periferias do
país. Em ritmo de funk os insurgentes cantavam: “PM cuzão, larga
a arma e vem na mão”. Essa palavra de ordem mostrava que as co-
munidades das favelas e periferias estavam representadas e na linha
de frente do confronto. Os intelectuais de plantão da esquerda ofi-
cial puristas e da direita podem fazer a crítica, mas entendemos que
esta palavra de ordem também é revolucionária. É importante rela-
tar um fato: quando as pessoas voltavam na contramão do sentido
do protesto, sob as bombas e o gás lacrimogênio, muitas tentaram
entrar nas estações do metrô e do trem da Central do Brasil, mas
foram impedidas pelos seguranças que fecharam as portas. Não se
sabe de onde partiu a ordem, mas sem dúvida foi uma atitude covar-
de contra o direito de ir e vir dos governados, que buscavam deses-
peradamente respirar melhor depois de tanto gás. O vinagre nesse
dia foi fundamental para aliviar a horrível sensação de falta de ar.
O retorno foi doloroso para aqueles que ainda pensavam em
continuar no ato. Logo de improviso, mas muito bem pensado pelos
manifestantes, surgiu a ideia “vamos ocupar novamente a ALERJ”.
Então a multidão gritava: “ALERJ, ALERJ, ALERJ”. Não obstante, as
bombas não paravam de cair nas nossas costas. Mais uma vez, a soli-
dariedade do vinagre foi fantástica. Recebemos por várias vezes um
pouquinho desse produto de várias pessoas que nunca havíamos
das mais diversas para embasar essa tese. Até agora ninguém con-
seguiu comprovar os verdadeiros autores da covardia. Nossa hipó-
tese é que foram grupos infiltrados das próprias forças de repressão
que atuaram para dividir o movimento. Fato é que eles foram muito
bem-sucedidos. A esquerda institucional eleitoreira começou, en-
tão, a desqualificar por completo a Revolta dos Governados. Diziam
eles: “a passeata tomou rumos muito nacionalistas”; “Existe um
movimento fascista muito forte no Brasil que obriga aos partidos
abaixarem as bandeiras”; “Os manifestantes ficaram cantando o
hino nacional e outras canções nacionalistas, portanto, está predo-
minando o fascismo”. Ouvimos esses e outros argumentos dos mais
absurdos.
A supracitada tese já era proferida pelo petismo e pelo PCdoB.
A grande mídia também embarcou nessa. Inclusive, a governança
plutocrática neoliberal dissimulada petista começou a alardear que
se estavam preparando um golpe no Brasil contra a Dilma e que os
militares iriam estabelecer uma nova ditadura. Portanto, “as ma-
nifestações estavam atendendo aos interesses da direita”. Nesta
Não passarão!
21 Sua entrevista representa bastante bem o espírito daquele mês histórico. https://www.-
youtube.com/watch?v=C2GEln6N-dY
22 Ver: https://www.youtube.com/watch?v=O5xdsIrDHAA
23 Depois de muito tempo, a governança política petista voltou a receber movimentos so-
ciais em ano não eleitoral. Segundo Locatelli (2013), em duas semanas recebeu mais movi-
mentos sociais em seu gabinete do que em dois anos e meio, mas todos “chapa branca”.
Toda força aos que lutam por uma vida sem catracas!”
24 Nesse dia, aconteceu um ato chamado pelo Facebook que contou com poucos partici-
pantes, pois a esquerda oficial boicotou propositalmente e a massa popular estava assus-
tada com a enorme repressão sofrida no dia 20 de junho e com medo do fantasma do fas-
cismo, amplamente difundido pelos oligopólios de comunicação de massa, que comprou
a pauta da esquerda oficial para desbaratar o movimento.
fonte: http://www.lfc.ifcs.ufrj.br
25 Ver vídeo sobre ato em 11 de julho em frente ao Palácio Guanabara, residência do go-
vernador: https://www.bing.com/videos/search?q=black+bloc+caveirao&&view=detail&-
mid=65EDE768A40B60D3FDE765EDE768A40B60D3FDE7&&FORM=VRDGAR
30 Conceito criado por Flávio Moraes (2018) para explicitar uma relação entre o conceito de
nobreza, restrito a poucos, e a posse de meios de comunicação no Brasil.
31 Ver https://brasil.elpais.com/brasil/2016/09/12/opinion/1473693538_681813.html
36 https://www.youtube.com/watch?v=OC_rns9bSG0
38 Depois, parte dos manifestantes voltou a organizar o “Ocupa Cabral” até outubro de 2013.
39 Fonte: http://oposicaopelabase.blogspot.com/search?updated-max=2014-03-07T05:56:0-
0-08:00&max-results=15 acessado em 22 de agosto de 2018.
51 Ver http://www.otal.ifcs.ufrj.br/as-reais-diferencas-entre-o-black-bloc-e-o-pstu/
52 Vídeo sobre a prisão dos manifestantes em outubro de 2013 - os presos políticos de Ca-
bral. Emocionante. https://www.youtube.com/watch?v=CkR4xzK9Mno
PRINCÍPIOS
TARIFA ZERO
O início de
2014, apesar das
prisões e da divul-
gação do terror
pelos governantes
em geral, buscan-
do amedrontar os
manifestantes,
prometia uma re-
fonte: ellan lustosa, jornal a nova democracia tomada da luta
nas ruas.
Não obstante, a reação conservadora buscava avançar seu pro-
jeto de destruição do público e, principalmente, das comunidades
que estavam em lugares que interessavam à governança econômica.
A página dos Anonymous, em 10 de janeiro de 2014, exibia a
seguinte foto que foi amplamente compartilhada:
dos habitantes das comunidades foi frequente, exigindo o cumprimento de seu direito
à moradia. Fonte: https://comitepopulario.files.wordpress.com/2014/06/dossiecomite-
rio2014_web.pdf (pág 22 a 38)
Rua Domin-
BRT Transca-
gos Lopes 100 Removida 100
rioca
(Madureira)
Acesso à
Condomínio
de luxo;
Arroio Pavu-
Viaduto para Iniciada
na (Jacarepa- 73 23 96
o BRT Trans- em 2006
guá)
carioca;
Preservação
Ambiental
Construção
do Parque Iniciada
Vila das Tor- Municipal de em ju-
res (Madu- 1017 Removida 1017 Madureira; nho/2010,
reira) “Legado”as- concluída
sociado à em 2013
Transcarioca
Vila Taboinha
Reintegra-
(Vargem - 400 400
ção de posse
Grande)
Colônia Julia-
BRT Transo-
no Moreira - 400 400
límpica
(Colônia)
Inicio
Área de agosto de
Metrô Man- influência 2010, con-
518 46 612
gueira das obras do cluída em
Maracanã janeiro de
2014
Parque
Olímpico;
Vila autódro- Inicio
BRT Tran-
mo57 (Jaca- 200 350 550 agosto
solímpica;
répagua) 2014
Preservação
Ambiental
Favela do Alargamen-
sambódromo 60 Removida 60 to do sam-
(Centro) bódromo
(1) Implan-
tação de
Morro da
teleférico
providência 140 60 832
e plano in-
(Porto)
clinado; (2)
área de risco
Ocupação
Projeto por-
Machado de 150 Removida 150 2012
to maravilha
Assis
Ocupação
Projeto por-
Flor do As- 30 Removida 30
to maravilha
falto
Ocupações
Projeto por-
na rua do Li- - 400 400
to maravilha
vramento
Interesse Inicio em
ambiental e 2005, até
Horto 3 520 523
patrimônio maio de
histórico 2014
Área de
Indiana 110 517 627 2012
risco
Área de
Manguinhos s/i 900 s/i
risco
57 [nota referente � tabela] Vila Autódromo sofreu mais remoções após a publicação do
documento anterior para a construção do Parque Olímpico. Das 500 famílias que viviam
na comunidade, apenas 20 permaneceram no local após a urbanização feita pela prefei-
tura. De acordo com a prefeitura, a única comunidade removida por causa dos jogos foi
a Vila Autódromo, onde moravam 824 famílias, segundo o poder público. Fonte: http://
agenciabrasil.ebc.com.br/rio-2016/noticia/2016-08/rio-2016-moradores-de-comunidades-
-removidas-dizem-que-nao-ha-clima-de-festa (Vila Autódromo 2016)
58 Ver: https://evanderoliveira.jusbrasil.com.br/artigos/152053538/o-movimento-rolezinho
59 Divulgada pelo Facebook em 16 de janeiro de 2014. Jornalista da revista Carta Capital:
wwww.cartacapital.com.br
60 Ver https://evanderoliveira.jusbrasil.com.br/artigos/152053538/o-movimento-rolezinho.
Mas, pior do que isso, o foco da grande mídia foi sobre o lixo não
recolhido na cidade, não importava se a reivindicação era justa e se
o salário era indecente. Além do mais, para deslegitimar a luta dos
garis, os governantes socioculturais tentaram associar a greve a in-
teresses políticos escusos, como se os garis não pudessem pensar
por si próprios, nem tivessem capacidade para se indignar com um
salário indecente. Entretanto, essa postura não representou nenhu-
ma novidade. Essa emissora historicamente cumpriu esse papel.61
Sem dúvida, o pior lixo é aquele divulgado pelos grandes oligopólios
de comunicação de massa nesse país.
Os governantes jurídicos, por sua vez, rapidamente, crimina-
lizaram a greve, dizendo que era ilegal, como era de se esperar.62
Comissão de Greve
eleita na assembleia do dia 01 de março.
GREVE DO COMPERJ
63 Ver: http://anovademocracia.com.br/no-150/5907-rj-lideres-da-greve-dos-garis-sao-demi-
tidos
OCUPAÇÕES DE ESCOLAS
68 Fonte: https://terraeliberdade.org/nota-da-oatl-sobre-a-criminalizacao-dos-movimentos-
-sociais-anarquismo-e-o-terror-de-estado/, acessado em 13 de agosto de 2018.
69 Essa nota foi publicada no dia 30 de junho de 2014 na página da organização no Facebook:
https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=577284159054910&id=398254483-
624546 acessado em 13 de agosto de 2018.
13 de junho de 2014
70 http://www.otal.ifcs.ufrj.br/por-favor-entenda-e-nao-venha-comemorar-a-copa-comigo/
71 “Show de Trumman – o show da vida”, filme de 1998 sob direção de Peter Weir. Trata-se
de comédia com humor negro, cujo ator principal, Jim Carrey, vive em uma ilha onde to-
dos os outros habitantes são atores e tudo que ele faz é controlado, manipulado, filmado
e transmitido pela TV para o mundo todo como um fenômeno que fica no ar 24 horas
por dia.
72 Segundo Mendes (2017: 255), Caio e Fabio, acusados de acenderem o morteiro que matou
o cinegrafista Santiago, foram torturados na prisão, com Fábio sendo espancado.
OⒶTL
Rebelar-se é justo!”
(RENATO RUSSO)
1 Uma primeira versão desse capítulo foi publicada na Revista Estudos Filosóficos da UERJ:
http://www.ensaiosfilosoficos.com.br/Artigos/Artigo17/00_Revista_Ensaios_Filosoficos_
Volume_XVII.pdf
fonte: anony�ous
3 Letra de “Pra Frente Brasil”, de Miguel Gustavo, hino oficial da seleção na Copa do Mun-
do, 1970.
4 A canção “Mostra tua Força, Brasil”, propaganda de uma instituição bancária, foi produ-
zida por Simoninha, composta por Jairzinho e interpretada por Fernanda Takai e Paulo
Miklos.
“Eu... fui traído, foi a Dilma quem criou a Lei antiterrorismo” – can-
ção do Black Bloc nos protestos.
1 Uma primeira versão desse capítulo foi publicada na Revista Passagens – Revista Interna-
cional de História Política e Cultura Jurídica in vol. 8 – n. 1 (2016).
2 Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva
(PPGBIOS/IESC/UFRJ). Mestre em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Flumi-
nense. Advogada, graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Colaboradora
na Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz).
3 Tribunais ou criminalizações ad hoc são aqueles criados especificamente para um determi-
nado ato, ou circunstância, podendo ser associados a um juízo de exceção.
MARCOS NORMATIVOS
1 Só em junho de 2013, segundo Gohn (2014) foram realizadas 1301 detenções em 15 capitais
do país. Somente em São Paulo, 218 pessoas foram presas e foram abertos 273 inqué-
ritos. O estabelecimento do medo ocorre por ações policiais, mas também pelo papel
exercido pelos oligopólios de comunicação de massa em associação com as polícias. Em
junho de 2014, a Rede Globo divulgou que a polícia de SP tinha uma lista de mais de 700
investigados como membros do Black Bloc que sofreriam as sanções legais. Ver http://
g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2014/06/apos-um-ano-policia-identifica-700-suspeitos-de-
-violencia-em-atos-em-sp.html
2 Conceito estereotipado, tal como os de comunista, de traficante, de pivete etc, criados
outrora, em verdadeiro processo de “etiquetamento social”. A respeito, ver Batista
(2003a) e (2003b).
3 Vejamos o relato de Lacatelli (2013) sobre os atos em São Paulo: “Confesso que fiquei
impressionado ao ver o protesto no canal Globo News, cujo o apresentador criticava a
manifestação”. Segundo o autor, a realidade que a televisão buscou reproduzir não tinha
nada a ver com aquilo que ele presenciou pessoalmente.
4 Foram várias as medidas reconhecidas pelo próprio Facebook como divulgadoras de no-
tícias falsas, apoiadas em perfis falsos e impulsionadas por robôs. Vejamos: https://
oglobo.globo.com/brasil/facebook-divulga-lista-de-paginas-excluidas-em-julho-por-de-
sinformacao-22954480?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaig-
n=newsdiaria Na lista das páginas retiradas com perfil falso e/ou difusora de notícias
falsas divulgadas pelo Facebook estão algumas do MBL e outros do Bolsonaro, como
“bolsonaro o mito”. https://d37iydjzbdkvr9.cloudfront.net/arquivos/2018/08/06/face-
book.pdf acessado em 20 de agosto de 2018.
5 Mostraremos as leituras marxistas de 2013 e de outras correntes no capítulo 2 desse livro.
12 Segundo relato de Tomazine (2014), “No Rio de Janeiro, no ato contra os abusos da or-
ganização da Copa do Mundo, convocado para o dia 12 de junho, cuja concentração foi
em frente à igreja da Candelária, no Centro, e seguiu pela Avenida Rio Branco e o passeio
até os Arcos da Lapa, o cerco via ‘policiamento desproporcional’ ocorreu ao fim, no desti-
no previsto pelo ato, e não na sua concentração, conforme eu mesmo pude presenciar. E
foi também na parte final do protesto, já contando com o cerco, que o ataque preventivo
se deu. Aproximadamente meia hora após a concentração final do protesto, quando ain-
da algumas centenas de manifestantes se reuniam e confraternizavam pacificamente, um
professor foi detido arbitrariamente. Sua detenção despertou a solidariedade de outros
manifestantes, que tentaram resgatá-lo dos policiais, o que provocou novas detenções,
outras tentativas de resgate e, finalmente, o uso de bombas de gás pela polícia. No total,
cinco manifestantes foram detidos e, poucos minutos após o ataque, a manifestação já
estava completamente dispersa.”
14 Com o êxito dessa campanha, em seguida, utilizou fortes críticas plutocráticas sobre o
governo Dilma, potencializando e canalizando a revolta contra os petistas.
15 O governo do PT não perde em nada para os governos do PSDB. Ambos foram péssimos
para os governados e ótimos para os banqueiros e especuladores em geral. Aliás, po-
demos incluir nessa lista os governos do PMDB e dos militares. Em todos esses casos,
os governantes econômicos foram prioritariamente atendidos, com algumas migalhas
sobrando para o povo trabalhador depois de muitas lutas. Desenvolvemos melhor essas
teses em outra pesquisa publicada em 2018, para mais detalhes ver De Moraes (2018).
16 Ao longo desse livro utilizaremos a terminologia “black blockers”, utilizada por Dupuis-
-Déri (2014), para designar indivíduos que se utilizam da tática Black Bloc em manifesta-
ções.
17 Esse nome buscava expressar exatamente a revolta popular contra tudo e todos, mas
defendeu valores extremamente conservadores apesar do nome.
18 Esse nome aparentemente foi escolhido a dedo pois muito parecido com o Movimento
Passe Livre, que iniciou os protestos de Junho de 2013, ganhando notoriedade nacional.
19 De acordo com o Facebook, as páginas e os perfis faziam parte de uma rede “de uma
rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas no Facebook, e escondia
das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão
e espalhar desinformação. Uma fonte que atuou no rastreamento revelou que todo o
conjunto de páginas e perfis era controlado por integrantes do MBL. Fonte: O Globo, 26
de julho de 2018, p. 3.
20 Em março de 2018, o jornal O “Globo apurou que o grupo usava o programa Voxer para
compartilhar suas postagens de forma automática na conta de outros usuários.” Fonte:
O Globo, 26 de julho de 2018, p. 3.
21 Não obstante, essas ações do Facebook foram muito tardias, pois os referidos grupos
já haviam trabalhado por mais ou menos quatro anos na construção ideológica do ativis-
mo conservador agressivo.
22 Ademais, os agentes da governança política municipal proibiram o estacionamento nas
ruas do Centro, dificultando a chegada de manifestantes de mais locais mais distantes
para os protestos.
26 Ocorreu, ainda, a sexta-feira sangrenta com várias prisões e até mortes de estudantes,
em 21 de junho de 1968, depois de grande confronto entre manifestantes e forças de re-
pressão; cinco dias depois aconteceu a passeata dos 100 mil contra a Ditadura Militar-Plu-
tocrática Desavergonhada; mais de 700 estudantes foram presos no congresso da UNE
em Ibiúna/SP; o governador de São Paulo foi apedrejado em palanque.
27 Um dos exemplos mais emblemáticos da manipulação realizada por think tanks foi a notí-
cia divulgada pelo WhatsApp de que o Bolsonaro seria o político mais honesto do mundo.
Veja reportagem abaixo. https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/noti-
cia-falsa-de-que-bolsonaro-e-o-politico-mais-honesto-do-mundo-nao-sera-mais-promovi-
da-pelo-google/
28 Sobre detalhes das formas de governanças/opressões sociais existentes na sociedade
brasileira e estimuladas pelo pensamento autoritário e conservador, ver De Moraes
(2018).
29 Sobre esse assunto ver Castoriadis (2002) e coletânea organizada por Joyeux (2008).
30 Os conceitos de esquerda e direita nasceram na Revolução francesa no contexto da for-
mação do Parlamento francês. Portanto, o próprio termo esquerda já tem um significado
institucional, embora algumas pessoas tenham-no associado à ideia de revolução. Cha-
mamos de esquerda oficial para reforçar esse aspecto, diferenciando daquilo que poderia
ser revolucionário.
10 Ver: https://www.youtube.com/watch?v=9OCvABy2pBg
11 Diversos grupos de jovens negros e pobres, geralmente estigmatizados, passaram a ocu-
par locais de concentração de riquezas, como shopping centers, para denunciar o pre-
conceito velado e a exclusão social). Os “rolezinhos” simbolizaram uma ocupação real do
espaço das cidades. As greves dos garis e dos professores, em contrário às orientações
das burocracias sindicais, evidenciam o aumento da quantidade de mobilizações dos tra-
balhadores, fazendo daquele ano o mais grevista desde 1982. As ocupações de escolas
em 2015 e 2016, bem como as barricadas nas favelas e periferias, mostraram a opção pela
ação direta dos governados.
19 Segundo a Global Witness, o Brasil é o país mais perigoso do mundo para manifestar-se
contra a destruição ambiental, com 150 defensores/as do meio ambiente assassina-
dos/as entre os jogos olímpicos de 2012 e os de 2016. Em 2017, foram 57 assassinatos
de defensores do meio ambiente no Brasil. Fonte: https://www.globalwitness.org/en/
press-releases/brasil-anfitriao-das-olimpiadas-e-o-pais-mais-perigoso-do-mundo-para-o-a-
tivismo-ambiental/
20 A teoria de escolha racional explicaria bem esse ponto. Ver Downs (1998) e Olson (1999).
21 Segundo levantamento do jornal O Globo, publicado no dia 24 de junho de 2018 (p. 5), 429
militares e policiais espalhados pelo país deviam concorrer nas eleições de 2018. Esse gru-
po comporia a bancada da “Lei e da Ordem”. Essa é uma das materializações da reação
a 2013.
22 Estudo comprovou que 400 mil seguidores de Bolsonaro no Twiter são robôs. Outros
candidatos a presidente também possuem milhares de robôs seguidores. Fonte: http://
justificando.cartacapital.com.br/2018/07/04/400-mil-seguidores-de-bolsonaro-no-twitter-
-sao-robos-aponta-estudo/
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23 Nos anos subsequentes a 2013, parte dos governados tentou reviver os protestos de ju-
nho, com especial ênfase para a luta contra as reformas da previdência e trabalhistas em
2017, mas as governanças penais trataram com uma truculência absurda, tornando insus-
tentável permanecer nas ruas. Em atuação conjunta as governanças penal, sociocultu-
ral, política e jurídica, estavam preparadas com discursos únicos e articulados para evitar
divulgação de questões e brechas que proporcionassem um novo 2013. Assim, a brutal
perseguição aos manifestantes, expulsando-os literalmente das ruas, não foi veiculada.
Como as redes sociais já estavam preparadas para evitar a propagação das visões dos
insurgentes, não foi possível a ampla veiculação como existiu em 2013. Os manifestantes
foram para casa desolados, apenas um grupo guerreiro de Black Bloc permaneceu na
luta, mas mesmo assim, caiu diante da infiltração e da rearticulação das forças policiais.
5 Conceito incluído na revisão dessa entrevista em 2018, criado nesse ano e publicado em
De Moraes (2018).
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