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1.

Artes Visuais
As 10 criações mais impressionantes de Vik Muniz
Rebeca Fuks

Doutora em Estudos da Cultura


Vik Muniz é um artista plástico brasileiro reconhecido internacionalmente que
trabalha com materiais inusitados. Chocolate, feijão, açúcar, manteiga de
amendoim, leite condensado, molho de tomate, gel para cabelo, geleia e
produtos reaproveitáveis são algumas das suas principais matérias-primas.
Suas criações carregam uma forte preocupação social e com o futuro do meio
ambiente. Instalado nos Estados Unidos desde a sua juventude, atualmente os
trabalhos de Vik Muniz estão espalhados pelos quatro cantos do planeta.
Conheça agora algumas das suas principais criações.

1. Lampedusa

A instalação criada em 2015 e apresentada na Bienal de Veneza é uma dura


crítica feita pelo artista as políticas europeias contra a abertura da fronteira aos
refugiados.
O barco, feito simulando uma dobradura infantil e supostamente construído a
partir de ampliações de jornais, foi disposto num dos principais canais de
Veneza e lembrava os espectadores da morte de refugiados que encontravam-
se na costa italiana.
2. John Lennon

O cantor inglês, ícone do pop, membro dos Beatles, ganhou um retrato feito a
partir do café. Os grãos são responsáveis por definir o seu contorno e o seu
cabelo enquanto os olhos são representados por um par de xícaras cheias.
Vik Muniz consegue criar uma belíssima peça com apenas quatro elementos: o
fundo liso, os grãos, as xícaras e o café pronto dentro delas. Após ser criada, a
instalação foi fotografada e então exibida em mostras.

3. Double Mona Lisa (Peanut butter and jelly)


Nesse trabalho, Vik Muniz recriou a obra clássica de Leonardo da Vinci, a
Monalisa. Mas ao dar forma a misteriosa moça escolheu dois elementos
particulares e bastante cotidianos: a geleia de uva e a manteiga de amendoim.
Apenas com essas duas matérias-primas e um fundo branco liso, o artista foi
capaz de dar corpo a pintura. O trabalho foi realizado em 1999 e tem as
seguintes dimensões: 119,5 x 155 cm.
O uso de materiais inesperados e efêmeros para a composição das peças é
justificado pelo próprio artista:
“A arte é sobretudo a habilidade de olhar para uma coisa e enxergar outra”.

4. Sugar children
A série Crianças de açúcar, criada em 1996, alçou Vik Muniz para a fama. Esse
foi o seu primeiro trabalho a ter repercussão e a levá-lo a ser reconhecido
internacionalmente. As imagens são de crianças caribenhas oriundas de
famílias pobres que cortam canas de açúcar nas plantações em St. Kitts.
Vik fotografou essas crianças e depois reconstituiu os contornos usando
somente açúcar, elemento que faz parte do cotidiano desses jovens. O açúcar
é uma referência tanto a doçura e a pureza das crianças como ao material que
as condena a pobreza.
A respeito da criação, Vik Muniz conta em entrevista os bastidores da ideia:
"O Sugar Children” tem muito a ver com a fotografia, já que o açúcar é um
cristal e a fotografia é um cristal prateado exposto à luz. É uma série pontilhista
feita com açúcar sobre papel preto e depois fotografada em prata de gelatina.
Isso desencadeou algo muito importante. Em 1992, passei as férias na ilha de
St. Kitts e brincava com as crianças locais em uma praia de areia preta. Estas
eram crianças de plantações de açúcar. No meu último dia eles me levaram
para conhecer seus pais e me surpreendeu o quão tristes e cansados eles
estavam. Como essas crianças se tornaram esses adultos? Concluí que a vida
tirara sua doçura deles. Esses retratos em açúcar agora estão em várias
coleções importantes, mas também na pequena biblioteca da escola infantil de
St. Kitts. Eu devo muito a essas crianças."

5. The Bearer Irma

O trabalho acima foi realizado em 2008 no lixão de Gramacho, baixada do Rio


de Janeiro. O aterro sanitário escolhido por Vik Muniz como cenário de uma
das suas mais importantes criações foi o maior lixão a céu aberto da América
Latina.
No local, Vik contou com a ajuda dos catadores de lixo que já habitualmente
trabalhavam em Gramacho. Primeiro fotografou-os, depois, com material
recolhido no próprio lixão, montou as fotografias em dimensões gigantes num
depósito próximo. Todo o projeto foi registrado e deu origem ao consagrado
documentário Lixo extraordinário.
6. Track brawl
Criada em 2000, Track brawl atualmente pertence a consagrada coleção The
Frick Pittsburgh.
A fotografia, com 61cm x 50,8cm de dimensões, é intitulada de modo literal (a
tradução para o português seria "briga de pista") e representa, literalmente,
uma disputa entre dois indivíduos em cima dos trilhos de um trem.

7. Paparazzi
A obra Paparazzi faz parte de uma coleção composta a partir de xarope de
chocolate da marca Bosco. Esse trabalho foi posterior ao das crianças de
açúcar, quando Vik começou a despertar o olhar para materiais inesperados.
Vale lembrar que Hitchcock usou xarope de chocolate Bosco para realizar a
famosa cena do chuveiro porque o sangue real não era suficientemente
sangrento na tela.
Ao contrário da série produzida a partir do açúcar, que podia levar muito tempo
para ser confeccionada, nas peças produzidas com chocolate o artista
precisava ser rápido, caso contrário, ficaria seco e sem o brilho necessário.

8. Che, à maneira de Alberto Korda

O ícone cubano Che Guevara ganhou contornos bastante peculiares ao ser


reproduzido por Vik Muniz a partir de feijão enlatado. O sujeito que ficou
marcado como o retrato da revolução cubana foi reinterpretado com feijões
porque o alimento é uma comida típica de Cuba.
A peça foi criada no ano 2000 e é grande, trata-se de uma impressão com
150,1 cm por 119,9 cm.
9. Principia

O objeto criado em 1997 que foi batizado com o nome de Principia possui 18,1
cm por 27,6 cm e é composto por fotografias, vidro estereoscópico, madeira e
couro.
Muniz criou uma série com 100 objetos idênticos numerados, um deles
encontra-se no MAM do Rio de Janeiro e foi doado pelo Clube de
Colecionadores de Gravura MAM de São Paulo.

10. Torre Eiffel


A criação, datada de 2015, faz parte da série Postcards from nowhere. A
representação de Paris feita a partir do olhar de Vik Muniz ganha contornos
completamente diferentes porque o trabalho é todo realizado a partir de
recortes de cartões postais.
Na peça foram utilizados centenas de cartões da cidade luz que, colados,
compõem a célebre paisagem da capital francesa.

A capa do CD Tribalistas feita por Vik Muniz


A capa do CD “Tribalistas” (2002) foi feita com calda de chocolate. O artista
plástico foi convidado pelo trio para dar a cara do álbum que se tornou icônico
na música brasileira.
Vik Muniz conta sobre os bastidores da criação e sobre a encomenda feita pelos por Arnaldo
Antunes, Marisa Monte e Brown:

Afinal, quem é Vik Muniz?


Vicente José de Oliveira Muniz, conhecido no meio artístico apenas como Vik
Muniz, nasceu em São Paulo no dia 20 de dezembro de 1961. De origem
humilde, o pai do artista era garçom e a mãe telefonista, Vik foi basicamente
criado pela avó até imigrar para os Estados Unidos, onde acabou por
desenvolver seu trabalho nas artes plásticas.
É possível encontrar obras de Vik Muniz em grandes cidades como Paris, Los
Angeles, São Francisco, Madri, Tóquio, Moscou e Londres (na capital da
Inglaterra há peças suas tanto no Victoria & Albert Museum quanto no Tate
Modern).
No Brasil há trabalhos expostos no MAM de São Paulo e em Minas Gerais, no
Museu do Inhotim.
Autorretrato feito por Vik Muniz com pedaços de papel.

O documentário Lixo extraordinário (Waste Land)


A criação retrata a viagem feita por Vik Muniz da sua segunda casa - os
Estados Unidos - para o Brasil. O artista resolve desenvolver um trabalho a
partir do Jardim Gramacho, o maior depósito de lixo a seu aberto da América
Latina.
O filme foi um sucesso de público e crítica chegando a ser indicado ao Oscar.
O documentário recebeu o prêmio do público nos festivais de Sundance e
Berlim.
Cartaz do filme Lixo Extraordinário.

Quem ajudou Vik Muniz nessa empreitada artística foram os catadores,


trabalhadores de recolhem material reciclável. Os trabalhadores foram
fotografados e as imagens foram reproduzidas em escala gigante, a partir do
material coletado no próprio lixão.
O cineasta responsável pelo documentário foi Lucy Walker.
O resultado está disponível na íntegra, trata-se de um belíssimo documentário
com 90 minutos de duração:

Disponível em: <https://www.culturagenial.com/vik-muniz-obras/.> Acesso em:


14 jun 2021.

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