Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
■
ÍNSELHO EDITORIAL ::: UIMISC
UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL
Reitor
lriana Schmidt Dias - UFRGS Luiz Augusto Costa a Campis
ídré Luiz Jacobus - MARSUL Vice-Reitora
ul Eduardo Seiger Milder - UFSM Helga Haas
Pró-Reitor de Pós-Graduação,
rgio Klamt - UNISC Pesquisa e Extensão
Wilson Kniphoff da Cruz
Pró-Reitora de Graduação
Luci Elaine Kràmer
Pró-Reitor de Administração
Vilmar Thomé
Pró-Reitor de Planejamento
e Desenvolvimento Institucional
Marcos Moura Baptista dos Santos
EDITORA DA UNISC
Editora
Helga Haas
EDUNISC
Avenida Independência, 2293
Telefone: (051)717-7461 e 717-7462 - Fax: (051) 717-1855
96815-900 - Santa Cruz do Sul - RS
SU M Á R IO
Editorial............................................................................................................. 5
PEQ U EN O GLOSSÁRIO ILU STR A D O PARA
REPRESENTAÇÃO GRÁFICA D E ARTEFA TO S
L ÍT IC O S
Marcha Daisson Hameister, João Darcy de Moura Saldanha e
Adriana Schmidt D ias ...................................................................................... 7
...GUAIANÁ, BURACO DE BUGRE, KAINGANG/
XOKLENG: ...qual ancestralidade?...qual analogia?
...de que campo pode-se falar?...
José Alberione dos R eis ..............................................................................35
GARRAFAS, FRASCOS E PO NTAS DE FLECHA.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O VIDRO DO SÍTIO
DA GUARDA DE SÃO MARTINHO - RS
João Heitor Silva M acedo .............................................................................91
DISTÂNCIAS E N T R E AS ÁREAS DE CAPTAÇÃO
DE RECURSOS LÍTICOS E O SÍTIO ARQUEOLÓGICO
DO ARROIO DO CONDE, RIO GRANDE DO SUL
Francisco Silva Noelli ..................................................................................113
>á m
V ' ■ ' ,
PEQ U EN O GLOSSÁRIO ILU STR A DO PARA
R EPRESENTAÇÃO GRÁFICA
DE A RTEFA TO S LÍTICO S
I. Introdução
O desenho de um artefato lítico corresponde à última etapa de seu
processo de estudo, tendo por função representar de forma gráfica os
critérios analíticos utilizados pelo pesquisador para sua decodificação.
Embora esta atividade possua papel fundamental na pesquisa, observa-se
na bibliografia especializada a ausência de critérios padronizados para a
documentação dos diferentes fenômenos passíveis de serem identificados
quando da análise dessa categoria de artefatos (PROUS, 1992:100). Esta
mesma preocupação é compartilhada por Vallejo e Sánchez (1996:89) ao
destacarem que: •
" Uma olhada superficial em diversas publicações permite
constatar como, às vezes, esquece-se que a comunicação
entre investigador (es) e leitor realiza-se através de um
sistema dual (texto e ilustrações). Disto deriva-se que o
escrito expõe de forma desorbitada, o que poderia
simplificar-se por meio de um maior desenvolvimento
dos convencionalism os icônicos" (V A L L E JO E
SÁNCHEZ, 1996:89).
A mesma sorte tem a bibliografia brasileira voltada ao estudo de
coleções líticas, na qual ocorre uma prolixidade de códigos que reflete-se,
por vezes, em mais de uma forma de representação ou denominação para
»s desenhos de artefatos líticos que ilustram esse glossário foram feitos a partir das coleções
rtencentes aos sítios arqueológicos RS-C-43: Capivara I, RS-S-358: Toca Grande (ambos
tradição Umbu) e da coleção de machados Guarani do Rio Grande do Sul/ MARSUL. Foram
ífeccionados por Eduardo Kickhõfel, João Darcy de Moura Saldanha e Adriana Schmidt
as, com arte final realizada por Martha Daisson Hameister. Ao longo do texto, para casos
>eciais, a título de ilustração dos verbetes, optou-se por representar diferentes fenômenos
-n a utilização de um mesmo artefato, não correspondendo, portanto, a representação ao
jeto real.
Rev. do C E P A Santa Cruz do Sul, v.21, n.26, p. 7-33, Set. 1997
9
gráfica” deixa claro que não é o objeto real que se tem em mãos, e sim uma
representação codificada dos elem entos que foram considerados
significativos para a sua compreensão. Corresponde a uma sucessão de
escolhas que vai desde o momento em que o pesquisador elege as vistas
a serem representadas, passando pela julgamento do que seriam elementos
significativos e pela definição e elaboração dos códigos gráficos que os
representarão. Nem sempre o tipo de representação escolhida corresponde
a aparência do objeto real. Todavia, o objetivo é saber que tal código
significa um tipo somente de elemento passível de ocorrer nos artefatos
líticos, tornando sua compreensão e “leitura” acessíveis a qualquer um
que domine o léxico utilizado.
1 Sistema Cilíndrico de Projeção de Vistas Ortogonais - A
representação gráfica de objetos tridimensionais no plano pode obedecer
a vários sistemas de representação. O mais utilizado em grande número
de países e em especial no Brasil é baseado no método bi-projetivo
mongeano. Grosso modo, este trata da projeção de diferentes vistas do
objeto em um plano de projeção que rota ortogonalmente em torno de si.
Nesse sistema, cada vista do objeto está posicionada de maneira
paralela ao plano de projeção, sendo “atravessada” por linhas conceituais,
paralelas entre si e perpendiculares ao plano de projeção e ao objeto, que
“impressionam” este plano. É um sistema dito cilíndrico2 (fig. 1),
contrapondo-se ao sistema chamado cônico (fig. 2), onde as linhas
conceituais têm origem em um ponto comum.
Figura 1* Figura 2*
Figura 5
1 : 10 ou 1/10
Figura 6
Rev. do CEPA, Santa Cruz do Sul, v.21, n.26, p. 7-33, Set. 1997
11
3 Efeitos de Iluminação e Sombra Própria do Objeto - Para
conferir volume à representação gráfica, utiliza-se uma “iluminação”
ideal, que convenciona-se como que partindo de um foco de luz situado
no canto superior esquerdo (ou Io quadrante), a 45° . Este foco eleva-se
sobre o objeto representado também a 45°, colocado conforme a ilustração
abaixo (fig. 7):
Figura 7* Figura 8
A intensidade da luz abate-se, portanto, de maneira diferente em
cada uma das partes do objeto e, por conseqüência, de sua representação,
como visto em fig. 8. A luz é mais intensa no segundo quadrante, variando
para uma intensidade média, com predomínio de luz no terceiro, inten
sidade média com predomínio de sombras no primeiro e sombras intensas
no quarto quadrante.
4 Escolha de Vistas de Objetos Tridimensionais - A escolha das
vistas a serem representadas também obedece a determinadas regras,
dependendo do artefato que se pretende representar. A colocação dessas
vistas no plano de representação deverá obedecer a disposição ditada
pelas convenções do desenho técnico de objetos tridimensionais,
largamente adotada no desenho mecânico, arquitetônico ou no design de
objetos. De acordo com as normas da ABNT, a vista principal do objeto
é escolhida por conter uma maior riqueza de detalhes a serem
representados, ocupando a posição central, no desenho. A sua direita,
representa-se a vista lateral esquerda, e a direita desta a vista posterior.
Abaixo da vista principal, localiza-se a vista superior do objeto, sendo que
as vistas inferior e lateral direita deverão ser colocadas acima e à esquerda
da vista principal, respectivamente. O posicionamento descrito para a
representação destas vistas, consideradas como as principais do objeto,
confere uma forma de cruz à representação, com a maior dimensão sendo
Rev. do CEPA, Santa Cruz do Sul, v-21, n.26, p. 7-33, set. 1997
a horizontal, como é ilustrado a seguií (figs. 9, 10 e 11)
Figura 13
Rev. do CEPA, Santa Cruz do Sul, v.27, n.26, p. 7 -3 3 , set. 1997
14
b) Núcleo Unipolar:
1. Se todas ou a maioria das lascas foram desprendidas num mesmo
;entido, a vista superior será aquela que contém o plano de percussão
mncipal. A vista frontal, bem como as demais, ficam a critério de quem
epresenta, desde que estas sempre formem ângulo de 90° com as vistas
]ue lhes são contíguas;
2. no caso de não haver o predomínio de nenhum sentido no
iesprendimento das lascas, considera-se como vista frontal aquela que
:ontiver o maior número de informações;
3. não sendo possível hierarquizar as vistas, pela quantidade de
nformações, sua escolha fica a critério de quem representa, desde que
sstas formem ângulo de 90° com as vistas que lhes são contíguas;
4. representam-se as cicatrizes e características das superfícies de
cordo com o já dito no item relativo à lasca unipolar.
Rev. do CEPA, Santa Cruz do Sul, v.21, n.26, p. 7-33, set. 1997
Figura 15
0 0,5 1 2 cm
1U l
0 0,5 2 cm
Figura 17
Figura 20
Figura 21
0,5
Figura 22
Figura 24
Rev. do CEPA, Santa Cruz do Sul, v.21, n.26, p. 7-33, set. 1997
CO
Figura 27
2 Marcas de Uso Associadas à Artefatos Brutos - Os artefatos
brutos podem ser classificados como ativos, quando a marca de uso
presente nestes é o resultado da aplicação ou ampliação da força humana
no ato de transformar a matéria-prima, ou como passivos, quando serviram
de suporte para a aplicação de golpes ou pressões (MOURA &
PRO U S,1989:409; PROUS, 1986/90: 11-12). Como a distinção das
diferentes categorias de artefatos brutos decorre dos tipos de marcas de
uso que estes apresentam, optou-se por estabelecer critérios gráficos
específicos para a sua diferenciação. Sua representação gráfica geral
obedece às mesmas especificações já explicitadas nos itens II e III,
agregando-se a estas as particularidades icônicas relativas às marcas de
uso.
a) Picotamento Decorrente de Percussão Direta e Indireta:
Corresponde a marcas pontuais em forma de pequenas vírgulas relacionadas
às áreas de impacto, dispostas de modo concêntrico na periferia e/ou nas
faces de seixos utilizados para percutir (percutores) ou nas faces planas de
seixos utilizados como apoios para o lascamento bipolar (bigornas).
Podemos fazer uma distinção entre picotamento passivo, causado pelo
uso, e picotamento ativo ou intencional, associado à tecnologia de
produção de artefatos através do esmagamento de arestas ou produção de
depressões ou sulcos, cujas regras de representação já foram explicitadas
(PROUS, 1986/1990:13).
A representação gráfica do picotamento passivo, decorrente do uso
da peça bruta, dá-se da seguinte forma:
1. Delimitação por traço médio da área que apresenta o picotamento
passivo;
2. preenchimento desta área por marcas semicirculares, na forma de
vírgulas, sobreposto ao padrão pontilhado que marca a presença de córtex
Rev. do C E P A Santa Cruz do Sul, v.21, n.26, p. 7-33, set. 1997
29
e dá volume à peça.
Nas ilustrações selecionadas representamos um percutor com marcas
de picotamento passivo periféricas (fig. 28) e uma bigorna com marcas
semelhantes em uma de suas faces (fig. 29).
Figura 28 Figura 29
Figura 30 Figura 31
c) Marcas de Polimento Causadas pelo Uso: Fragmentos naturais
de matérias-primas de superfície áspera podem ser utilizados como
superfície abrasiva. A pressão difusa exercida sobre estas causa a formação
de áreas mais regulares, onde observa-se marcas passivas de polimento.
A representação gráfica deste fenômeno utiliza as seguintes
convenções:
1. Delimitação por traço médio da área que apresenta o polimento
passivo;
2. preenchimento desta área por reticulado, sobreposto ao padrão
pontilhado que marca a presença de córtex e dá volume à peça;
3. cobertura da área desgastada por o tom de cinza claro, de acordo
com os critérios sugeridos por Hameister e Saldanha (1997b).
c
0 0,5 1 2 cm
Figura 32 h -y — i
VI Considerações Finais
A plena implementação dessa proposta depende de um processo de
artefinalização adequado, podendo ser empregadas técnicas manuais ou
recursos da informática. Para a confecção das ilustrações aqui apresentadas,
após a digitalização das imagens brutas, realizou-se o tratamento destas
com a utilização dos programas IPHOTOPLUS e ADOBE PHOTOSHOP
3.0 e 4.0.
Há ainda uma decorrência da utilização desses recursos ao longo
deste processo: a elaboração, por parte da equipe responsável por este
projeto, de um banco de imagens de representação de fenômenos, tais
como padrões de ondas de força, córtex e alterações de superfície, entre
outros. O desenvolvimento desse trabalho permitirá, futuramente, a
composição de representação de vistas dos artefatos com excelente
qualidade gráfica por pesquisadores sem as habilidades manuais de um
bom desenhista.
Também desenvolve-se no NUPArq-UFRGS um projeto que visa
estender as propostas aqui apresentadas, com a devida adaptação a outras
categorias de artefatos arqueológicos como o cerâmico.
Rev. do CEPA, Santa Cruz do Sul, w.21, n.26, p. 7-33, set. 1997
33
M. C. D. (Ed.). Anais da IV Reunião Científica da Sociedade Brasileira
de Arqueologia. Dédalo, Publicações Avulsas, n.l. São Paulo:
Universidade de São Paulo, 1989. p. 409-425.
PROUS, A. Os Artefatos Líticos: Elementos Descritivos Classificatórios.
Arquivos do Museu de História Natural, Belo Horizonte, Universidade
Federal de Minas Gerais, v. 11, p. 1-88, 1986/1990.
PROUS, A. Arqueologia Brasileira. Brasília: UnB Editora, 1992. 605p.
PROUS, A., LIMA, M. A. A Tecnologia de Debitagem do Quartzo no
Centro de Minas Gerais: Lascamento Bipolar. Arquivos do Museu de
História Natural, v. 11. Belo Horizonte: Universidade Federal de
Minas Gerais, 1986/1990. p.91-111.
RÜTHSCHILLING, A. L. B. Pesquisas Arqueológicas no Baixo Rio
Camaquã. Documentos, Pré-História do Rio Grande do Sul (Brasil), n.
3. São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas, 1989. p.7-106
VALLEJO, M. D. S., SÁNCHEZ, M. C. Cadenas Operativas Líticas:
Algunas Aportaciones a Dibujo Tecnológico. Complutum Extra, v. 6,
n. II. Madrid: Universidade Complutense, 1996. p. 89-102.