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TÍTULO
Por
TÍTULO
TÍTULO
BANCA EXAMINADORA
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Profa. Dra. Irene Bulcão
Universidade Federal Fluminense
(Orientadora)
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Profa. Dra. Marcelo de Abreu Maciel
Universidade Federal Fluminense
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Profa. Dra. Alessandra Daflon dos Santos
Universidade Federal Fluminense
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Ficha Catalográfica - obrigatória
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AGRADECIMENTOS
À Deus que é a definição de amor e que me sustentou até aqui
Aos meus pais e meu irmão, por me apoiarem em todas as minhas empreitadas e
por serem refugiados em momentos caóticos. E principalmente a minha mãe que sempre
investiu financeiramente nos meus estudos, em cursinhos, em pré vestibulares.
À minha família, por todo apoio e por acreditarem em mim e vibrarem a cada
vitória minha.
À professora Patrícia, que uma vez falou que não me via em uma faculdade, e
por causa dessas palavras eu dei tudo de mim, superei todas as minhas dificuldades e
aqui estou.
Aos meus amigos do GAP, por embarcarem juntos comigo na aventura que era o
vestibular, por todos os cursinhos, por todos choros pós prova da Uerj. Por serem
incentivo em momentos de desânimo. É um orgulho ver onde cada um de vocês chegou.
À todos que por algum momento escutaram minhas angústias com a monografia.
Aos meus professores da graduação por me passarem seus conhecimentos, a
profissional que serei amanhã, devo a vocês hoje.
Aos meus colegas de faculdade e as minhas parceiras de estágio, por toda
construção.
Ao meu amigo Gabriel, por ter sido um anjo em toda minha jornada em Rio das
Ostras.
À todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a concretização
deste trabalho.
Às pessoas que me ensinaram amor.
Aos meus amores, que já se foram e que ainda virão.
E a mim mesma, por não ter desistido, por não ter desanimado, que mesmo
regada de choros e batalhas ter dado duro até aqui. Você é forte, por isso nunca duvide
de você!
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SUMÁRIO
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RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
O amor, na nossa cultura, está em toda parte, sendo apresentado como um sentimento
que nos move, através do discurso de que ele é capaz de nos completar e promover a
felicidade plena. E mesmo com o passar dos anos, amar e ser amado ainda continua sendo
uma enorme busca do ser humano. Por esse motivo sempre me questionei sobre como esses
discursos atravessavam a formação da nossa subjetividade e como eles, inconscientemente,
moldavam a nossa maneira de amar, valorizando determinadas formas de expressar o amor e
desmoralizando outras, nos pondo em “caixinhas”, como se fosse simples, como se todos
tivessem as mesmas necessidades amorosas. Na maioria da minha formação fui adepta ao
discurso do amor líquido, e como as relações eram rasas em nosso tempo, até que provei na
pele esse sentimento. Ao mesmo tempo em que cursei uma disciplina que falava sobre a
importância da relação interpessoal, experimentei como o amor poderia não ser raso, que
poderia ser algo que potencializava, promovia a autenticidade e a formação da minha
subjetividade. Mas voltei a me questionar, quando vi como a minha forma de amar acabou
sendo moldada pelo discurso amoroso dominante e de como o amor deveria ser, botei o amor
na caixa, deixei de lado a criação, e segui pelas linhas duras da normatização e o que eu vi, foi
a líquida ruína da subjetividade e da afetividade.
À guisa de Conclusão compartilho novos modos de ver amor para além do senso
comum, baseando a ideia de que o amor é muito mais do que o encontro entre dois corpos, ele
é algo essencial na vida e importante na construção de si, e para assumir essa visão, é
necessário Devir amor. E reafirmo que minha intenção não foi só apresentar uma revisão
bibliográfica, mas promover questionamentos, promover novas maneiras de pensar em amor.
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Capítulo 1
Fromm (1958) exemplifica que a fonte desses sentimentos é a razão, pois a partir dela
é possível observar o aparelho psíquico consciente. E foi através da evolução do ser que se
adquiriu a razão que, apesar de promover a capacidade de adquirir inúmeras habilidades,
promove a consciência da vida e das questões que a permeiam, e ao tomar essa consciência o
sujeito se vê diante de diversos sentimentos decorrente das angústias, e segundo Rolnik
(1989) elas são de cunho ontológico, existencial e psicológico. Essas questões são
inexistentes no reino animal, e ela trás uma série de sentimentos negativos e angústias, como
a noção da finitude humana, a culpa, vergonha, tristeza, ansiedade (sentimentos esses são
conhecidos hoje como o mal do século XXI). E foi a partir desse momento que se tomou
consciência da separação elementar, pois “[...] as paixões básicas do homem [...] nas
condições específicas da existência humana, na necessidade de encontrar nova relação com o
homem e a Natureza após haver perdido a relação primária da etapa pré-humana” (Fromm,
1970, p. 12). Essa separação acontece porque uma parte do self só é capaz de existir na
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relação, e com a razão o ser humano se enxerga como algo separado da natureza e isolado uns
dos outros.
O autor Fromm (1958) utiliza como metáfora a história Bíblica de Adão e Eva para
ilustrar como a vergonha se associa ao sentimento de separação da natureza. Nesta história,
Adão e Eva viviam em harmonia com Deus, seu criador, mas Ele deu uma ordem aos dois:
era proibido comer o fruto da árvore do bem e do mal, pois ao comer desse fruto eles
morreriam, se separando eternamente do seu criador. O desfecho da história é que eles foram
contra a ordem divina, comendo o fruto proibido e, a partir desse momento, eles se viram
separados, tomaram conhecimento de que eles eram diferentes, que não eram eternos, e donos
de uma subjetividade particular e não um ser uno com Deus, e a partir desse momento eles
foram inundados pelo sentimento de culpa e vergonha. Logo, quando perceberam que
estavam nus, procuraram por folhas para se cobrirem; e quando Deus falou com eles, como
fazia todo fim de tarde, eles se esconderam.
A busca pela união como consequência da separação pode ser ilustrada pelo mito do
andrógino. Platão (380 a.C) apresenta esse mito em O Banquete, e a sua intenção foi definir a
natureza humana e o tipo de amores possíveis. No mito do andrógino os humanos originários
apresentavam três gêneros: feminino, masculino e andrógino, este último representava a
forma completa da humanidade e de possibilidades de relações interpessoais. Mas ao tentar
desafiar os Deuses, foram separados como punição.
O autor Menezes (2018) comenta o mito do andrógino e esclarece que a natureza antes
una agora “[...] sem suas metades, passam a morrer [...] devido a parte que lhes falta”
(MENEZES, 2018, p. 172), e através desse fato, aparece o desejo como um resgate a essa
união, anulando a sensação de separação, e “o desejo desse todo e o empenho em estabelecê-
lo é o que denominamos de amor” (PLATÃO, 192e10-193a1 apud MENEZES, 2018, p. 173),
logo o amor é o sentimento de anseio “pela unidade perfeita como valorização da ideia de
uma possível androginia que multiplica” (LONDERO, 2006, p.74), atingindo a completude.
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Por isso o amor tem sua genealogia a partir dessa vivência que o ser
humano experimenta de separação, de mutilação, de incompletude, como
se realmente cada um vivesse na própria carne a dor da perda de um
pedaço de si, que só seria aliviada quando encontrasse aquele outro, que
seria nada menos do que uma parte de si mesmo. O desejo de unir-se ao
amado provém dessa sensação de ser apenas parte, metade de um todo.
(LONDERO, 2006, p. 28-29)
Com estes exemplos, Fromm (1958) faz perceber que a “[...] mais profunda
necessidade do homem, assim, é a necessidade de superar sua separação, de deixar a prisão
em que está só [...]” (p. 30). E com o intuito de superar essa angústia proveniente da
separação, as culturas e sociedades utilizaram ao longo da história diferentes modos de buscar
esse estado de completude. Uma dessas maneiras foi onde em diversas culturas houve a busca
através das experiências orgíacas, pois segundo Fromm (1958) eles são capazes de provocar
um estado de transe auto provocado – a partir de drogas, experiências sexuais e religiosas, por
exemplo – mas esses estados provocam resultados transitórios, onde o sentimento de estar
separado desaparece momentaneamente, pois “[...] parece que, depois da experiência orgíaca,
o homem pode continuar por algum tempo sem sofrer demais com a sua separação.
Vagarosamente, a tensão da ansiedade some, e é de novo reduzida pela realização repetida do
rito” (FROMM. 1958, p.32). Logo, pode-se observar que essa forma acaba gerando
repetição, se assemelhando a um vício, pois os resultados da busca orgânica são parciais, pois
essas experiências têm por característica o caráter periódico e transitório.
Outro modo de lidar com essa separação é a de união com um grupo, ela “[...] é uma
união em que o ser individual desaparece em ampla escala, em que o alvo é pertencer ao
rebanho.” (FROMM, 1958, p. 34), promovendo uma homogeneização e universalização, “[...]
uma espécie de reducionismo da subjetividade” (BRITO, 2012, p. 8). Nesse modelo todos
estão, inconscientemente, vivendo um mesmo padrão, segundo os mesmos costumes, gerando
um sentimento de pertencimento, e a sensação de não estar só no mundo. Porém, essa
maneira é de certa forma problemática, pois flerta com o controle, padronização e inércia,
prejudicando diretamente a subjetividade do sujeito, surgindo diversas linhas de fugas
próprias da modernidade, tais como: os vícios em álcool, drogas, trabalho, sexo, dentre outras,
a fim de buscar experiências novas que transcendem para além dos padrões enrijecidos e
impostos pela sociedade.
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Como solução, Fromm (1964) traz que esse sentimento pode ser superado ao passo
que cada sujeito consiga mutuamente encontrar o seu propósito aceitando sua singularidade,
através da constituição de si e de sua subjetividade, e desenvolvendo a capacidade de amar.
Para aceitar e promover a sua singularidade é fundamental que o indivíduo seja capaz de
descobrir seu próprio sentido do self de maneira autêntica, ao invés de aderir às normas já
postas pelo grupo, alienado de si mesmo, pois é de extrema importância conhecer “nossa
própria natureza antes de tomarmos nossas decisões [...] é impossível amar [...] sem antes
conhecermos a nós mesmo. O autoconhecimento é o primeiro e fundamental degrau para que
sejamos capazes de buscar o que precisamos” (NOGUERA, 2020, p. 69). Por isso, o
propósito da vida é a autodefinição, de uma maneira que cada indivíduo abrace sua própria
subjetividade e singularidade. Logo, o autor Fromm (1964) menciona que a principal missão
do homem, na vida, é dar luz a si mesmo e tornar-se aquilo que ele é potencialmente.
Mesmo que num primeiro momento pareça paradoxal, a sensação de integração com a
natureza se dá a partir do momento que conseguimos descobrir nossa individualidade. Para
Fromm (1958) atingir esse estado é possível quando o sujeito segue suas próprias paixões
através da força criativa, pois a criatividade exige coragem de se desapegar das certezas
aventurando no novo, habitando novos territórios e seguindo por novas linhas.
E nada melhor para captar a força criativa do que a arte, pois ela carrega consigo o
ímpeto criador, que traz novos olhares, a capacidade de cocriação com a “obra”criada,
promovendo movimento, logo, a vitalidade “[...] que nos faz encontrar fagulhas de liberdade
no tempo morto da sobrevivência” (ARAÚJO, 2019, p. 2). Diante disso, Araújo (2019) cita
Deleuze, quando fala que não há uma esfera que capta com tanta destreza o devir como a arte,
visto que ela “cria estende esses devires, como linhas prolongadas que escapam dos pontos
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E diante disso está o amor, “[...] o amor é uma arte político-afetiva." (NOGUERA,
2020, p. 188), e ela proporciona a principal maneira de conseguir escapar da solidão e da
finitude. Esses sentimentos são necessários, pois quando uma “pessoa vive sozinha, todo o
seu repertório, toda a sua sabedoria morre com ela. Nesse sentido, ninguém pode ser sozinho,
de modo que as uniões amorosas tornam-se fundamentais para que as pessoas aprendam umas
com as outras.” (NOGUERA, 2020, p. 74). Dessa forma, o “[...] amor possui a capacidade de
fazer com que o amante se transforme, cresça, torne-se mais potente.” (NOGUERA, 2020, p.
148). Mas, para Fromm (1958) amar é uma ação um tanto diferente da que nossa sociedade
está acostumada, para o autor o amor é uma capacidade criadora interpessoal, ou seja, precisa
ser desenvolvida ativamente como uma parte integrante da personalidade do indivíduo, uma
arte. Logo, a atividade criadora é a maneira de alcançar o sentimento de união, pois o
indivíduo e sua criação tornam-se um através do processo de criação.
O amor segundo essa lógica não é apenas um sentimento, e sim uma atitude. Noguera
(2020) em um dos capítulos do seu livro traz a ideia de que amor é contar histórias, ou seja, é
construção, que não depende só de uma pessoa, mas reside na capacidade de produzir uma
história em comum. Nessa lógica o amor
Giannandrea e Magnoler, 2013 apud GAVILLON, 2019, p. 36), trazendo a ideia de que o
sujeito e o mundo se constituem mutuamente, ou seja, a relação mútua é necessária para a
construção de um sujeito, que se estabelece a partir do agir no mundo, logo não é possível
separar o sujeito do mundo, pois o sujeito é relacional, necessitando de uma relação com o
coletivo para se formar subjetivamente de maneira autônoma. Logo a enação traz a ideia de
que “nós e o mundo somos inseparáveis; nós co-emergimos - cognição (aprendizagem) não
pode ser separada de ser (viver). Conhecimento é o domínio de possibilidades que emerge
quando respondemos a e causamos mudanças no nosso mundo” (Begg, 2013, p.82 apud
GAVILLON, 2019, p. 39). Com isso fica claro perceber que é uma via de mão dupla, que no
mesmo momento que se relaciona com o outro, o próprio sujeito forma a si mesmo, como
visto em Fromm (1964, 1958).
Quando se fala de amor, é preciso ter certa sensibilidade para definir que tipo de amor
é esse, que supre o sentimento de separação, pois não é qualquer tipo de amor que provoca
essa resposta. O autor Fromm (1958) traz dois tipos de amores: o amadurecido e o imaturo;
mas esse último não é capaz de ser a resposta para o problema. Ela não pode ser a solução,
pois é uma união simbiótica, havendo a necessidade do outro de maneira, em que se fundem e
se “tornam um”, abrindo mão da integridade, e subjetividade e autonomia, podemos ver essas
manifestações através da dominação e submissão – popularmente conhecidos como sadismo e
masoquismo.
Esse modelo simbiótico é o cerne do amor romântico, aquele que dita nossos padrões
contemporâneos de relacionamento afetivo, onde se prega a necessidade de fusão, anulando
toda subjetividade do sujeito. Com isso, acabamos caindo novamente na conformidade do
rebanho, caracterizadas pela falta de subjetividade através da padronização das relações e
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visões. E é exatamente essa a configuração que nosso ideário amoroso tirou seus ideais, a
necessidade de simbiose e padronização, onde qualquer forma de expressão da afetividade
contrária das ditas certas e esperadas são respondidas com preconceito e repressão, oprimindo
as pessoas que não se sentem encaixadas naquele ideário romântico. Atualmente o amor em
sua configuração romântica deixou de lado sua essência criadora, deixou de ser um devir para
se tornar um dever, impedindo os sujeitos de emergirem através da relação, sendo sempre
cercado por padrões que são construídos socialmente, a fim de, não potencializar o sujeito,
inibindo sua capacidade criadora, ou seja, as relações afetivas dentro desse modelo não são
capazes de atingir o objetivo de resolver o problema da separação. Somente o amor
amadurecido que é capaz de suprir esse problema, esse amor é a
Ou seja, o amor amadurecido na verdade é uma potência, é uma ação de caráter ativo,
pois “[...] não é possível viver o amor se não estivermos abertos às mudanças [...] amar de
verdade exige cultivar cada momento vivido em conjunto” (NOGUERA, 2020, p. 140). O
amor é o devir, o amor é movimento, onde o amor produz amor, “O amor amadurecido segue
o princípio: ‘sou amado porque amo’. O amor imaturo diz: ‘Amo-te porque necessito de ti’.
Diz o amor maduro: ‘Necessito de ti porque te amo’” (FROMM, 1958, p. 65-66). Os
principais fundamentos desse amor amadurecido são: cuidado, responsabilidade,
preocupação, respeito e conhecimento objetivo.
O amor deve ser capaz de existir de uma maneira amadurecida se existir respeito pela
distinção e singularidade, pois somente assim é capaz de criar uma conexão interpessoal.
Logo, o amor exige respeito pela individualidade do outro, sua base é a autonomia e não a
mistura ou fusão de personalidades, é necessário que haja a promoção da liberdade, “[...] se
amo a outra pessoa, sinto-me um com ela, ou ele, mas com ela tal como é, não como eu
necessito que seja para objeto de meu uso [...] o amor é filho da liberdade, nunca da
dominação” (FROMM, 1958, p. 51-52), dessa maneira o amor amadurecido incentiva o outro
a exercer toda sua autonomia, e nunca a dominação do outro. Para complementar, Noguera
(2020) demonstra isso ao falar que o amor para ser bem sucedido depende na capacidade dos
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Com isso, pode-se observar que o amor é um modo de ação e uma maneira de reger a
vida, pois “[...] se verdadeiramente amo alguém, então amo a todos, amo o mundo, amo a
vida.” (FROMM, 1958, p. 72). O que difere é apenas o objeto para que esse amor seja
direcionado, mudando a maneira de satisfação e a construção que será feita juntamente com o
outro. O amor é praticado através da atividade criadora, da criação do desejo/afeto. E o
desejo é o movimento de afeto e de simulações desses afetos, estando presente no encontro
dos corpos que “são tomados por uma mistura de afetos. Eróticos, sentimentais, estéticos,
perceptivos, cognitivos” (ROLNIK, 1989, p. 25),e por isso se eles podem afetar e ser afetado.
Para Deleuze e Guattari (1996) o desejo cria caminhos que são capazes de aumentar a
autonomia do sujeito, trazendo a alegria de viver, ou seja, respondendo ao problema da
separação elementar, e é essa capacidade de criação do desejo que torna a vida uma arte, a
arte de amar. Essa capacidade criadora, da subjetividade e do desejo e da construção de si,
pode se expressar de algumas maneiras, por exemplo, através do processo de territorialização
e desterritorialização e das linhas/mecanismos de fuga.
móveis, que vão em direção aos devires, a novos encontros, afetando e sendo afetados, é na
medida em que se aprende a reterritoriar-se que o solo para a produção de desejo se torna
fértil.
Logo, esses movimentos são os próprios devires, pois permite a capacidade de habitar
novos territórios, criar novo território e construir novas realidades, assim “[...] o desejo é a
criação do mundo.” (ROLNIK, 1989, p. 55). Esses processos se dão constantemente e
mutuamente, ao passo que se desterritorializa e habite-se outros territórios através da
capacidade de criação de novas perspectivas e subjetividades. A subjetividade como descrito
por Fromm (1964) se dá a partir de um movimento criador, ou seja, ela não se dá através da
inércia, e sim a partir de devires, logo, ela está sempre em constante composição, não sendo
“[...] como uma espécie de moldura formatada e fixada que leva à padronização do indivíduo
a ser conhecido e reconhecido” (BRITO, 2012, p. 7). Dessa maneira, esse movimento está
relacionado à ideia de território, pois se produz ativamente, um constante movimento de
desterritorializar e habite-se novos territórios.
Para esclarecer esse contexto Cassiano e Furlan (2013) expõem que “As linhas duras
são as linhas de controle, normatização e enquadramento, e através de seus atravessamentos
se busca manter a ordem e evitar o que é considerado inadequado a determinado contexto
social instituído” (p. 373). Sendo assim, são duras, pois são relações que não dão
possibilidades de criação, de mudança para o sujeito. As linhas dura especificamente nas
relações interpessoais se dão de maneira que controle a identidade de cada indivíduo,
aprisionando as subjetividades, impedindo a promoção da autonomia. Já as linhas maleáveis,
promovem uma maior fluidez através da sua configuração rizomática. Outro ponto
importante é que para Deleuze e Guattari (1995) existe uma multiplicidade heterogênea de
elementos e relações, onde cada ponto pode se conectar a outro traçando novas linhas e
conexões, sendo possível ver o início de uma capacidade criadora.
Apesar das linhas maleáveis serem mais flexíveis, elas, assim como as duras, fazem
parte do controle social, e mesmo criando novas possibilidades, estas ainda estão rizomadas,
não há rupturas, como ocorre no terceiro tipo de linhas, a de fuga. As linhas são “[...]
rupturas que desfazem o eu com suas relações estabelecidas, entregando-o à pura
experimentação do devir [...] São linhas muito ativas, imprevisíveis, que em grande parte das
vezes precisam ser inventadas, sem modelo de orientação.” (Cassiano e Furlan, 2013, p. 374).
Essas rupturas que nascem a partir de um sentimento de insatisfação provocam mudanças a
partir da capacidade criadora, pois é necessário abandonar algo antes enrijecido, permitindo
novas experimentações através da potencialização do ser.
Essas linhas são responsáveis por libertarem os movimentos do desejo “o mundo que
foge de si mesmo por essa linha, ele se desmancha e vai traçando um devir [...] processos que
se desencadeiam: variação infinitesimais, ruptura que se operam imperceptivelmente;
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O desejo está sempre em construção, mas ele pode ser paralisado, quando essa
produção criadora é castrada pela culpa e moral que bombardeia o ser a todo o momento, se
tornando mais cômodo seguir pela linha dura, mesmo que penosa psicologicamente, por
causar os sentimentos de angústia. Sendo assim, quando o desejo, a subjetividade e o amor
correm pela linha dura, regida pela imposição, atua como um paliativo para o problema da
separação, pois ela não é fonte de felicidade.
Cassiano e Furlan (2013) ressaltam que quando o sujeito se encontra estratificado nas
linhas do desejo, ele acaba se encontrando em um estado de aniquilação da subjetividade, se
tornando uma marionete da massa. Logo, a criação de linhas de fuga são essenciais para uma
genuína capacidade de se construir como sujeito e amar, atingindo a proposta de Fromm
(1958), que é a capacidade de suprir o sentimento de separação amenizando as angústias
diárias, atingindo a capacidade de amar e se tornar sujeito.
Ao olhar para a História pode-se observar esses movimentos formados por inúmeras
linhas de fuga, não é coincidência que a maioria dessas rupturas se deram através de
movimentos artísticos, que foram responsáveis por inserir um novo olhar e promovendo
mudanças significativas nos modos vigentes de determinar as vidas e relações interpessoais.
As mudanças dessas linhas podem ser vistas como uma sucessão de desvio e composições,
sendo assim Latour (2016) reforça o caráter ativo que as mudanças têm, que em torno de “[...]
um determinado curso de ação sempre é composto por uma série de desvios cuja
interpretação, posteriormente, define uma defasagem que dá a medida da tradução” (p. 28), ou
seja, a partir de situações problemas há um movimento para uma nova prática, através da
tradução que “[...] é ao mesmo tempo transcrever, transpor, deslocar, transferir e, portanto,
transportar transformando” (p. 30). Sendo assim, tais situações como a insatisfação dos
casamentos arranjados onde o sentimento não tinha lugar para florescer, ou mais a frente a
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insatisfação do papel da mulher na sociedade machista, estrutura essa em que as mulheres não
tinham voz nem direitos.
Capítulo 2
Cartografar a história é importante para entender como ela foi sendo moldada até a
maneira que se observa atualmente, e como o amor e os afetos foram sendo impostos ao longo
do tempo, visto que o amor é uma construção política social. Esses devires alteram o
pensamento da humanidade, a fim de nos situarmos na composição atual, para que seja
possível projetar novos caminhos do desejo. E principalmente entender como a angústia de
hoje pode ser a solução de amanhã, através da criação pelas linhas dos desejos. E como os
impactos dessa construção social influenciam na capacidade criadora do sujeito nos
relacionamentos e na criação de si, com autonomia.
O Estado, no século XVII, reconhecia que havia uma lei da natureza que levava os
indivíduos de sexos diferentes a viverem juntos, para a sobrevivência da espécie. Sendo
assim, haveria a distinção entre animais e homens. Para os primeiros, prevalência unicamente
o instinto de preservação, mas em relação à espécie humana o instinto podia acarretar más
consequências, precisando, portanto, se controlar por um sistema de regras civis ou religiosas.
Dessa maneira, a autora Del Priore (2012, p. 23) clarifica essa situação pontuando que “[...]
Ao ordenar as práticas sexuais pelos Campos do certo e do errado, do lícito e do ilícito, a
igreja procurava controlar justamente o desejo”, pois existia a ideia que se deixasse o homem
agir somente pelo desejo e instinto sexual poderia provocar uma desordem.
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Ocorreram diversas mudanças, no que diz respeito às relações amorosas sexuais, que
inicialmente havia uma relação de liberdade. Partindo do princípio que a vida em sociedade
era a principal forma de se relacionar, com o início do patriarcado iniciou a ideia de casal,
para que o homem tivesse certeza da paternidade da criança e não correr o risco de ter a
responsabilidade de criar “o filho de outro”, e foi imposto à exclusividade sexual da mulher;
já que o homem não tinha essa obrigação, pois ele não engravidava.
Costa (1998) mostra que no primeiro século o amor verdadeiro era somente o amor de
Deus, sendo ele o bem absoluto, tanto que Santo Agostinho pregava que o amor entre os
homens “se caracteriza pelo desejo de possuir o que não se tem e pelo medo de perder o que
se possui” (LONDERO, 2006, p.32). Dessa maneira, essa ideia permanece no Ocidente até a
Idade Média, sendo valorizado o amor da amizade, vale enfatizar que era totalmente afastado
da sexualidade e erotismo.
Assim, qualquer sexualidade expressada era vista como pecado, e que acabava sendo
um obstáculo para o amor de Deus. Foi com o tempo que, a Igreja Católica começou a se
mostrar monogâmica, somente a partir do século VIII d.C., pois até então os reis usavam da
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poligamia para exibir suas riquezas e poder. Entretanto, foi apenas com a Reforma
Gregoriana no século XI d.C. que definiu que a monogamia deveria ser respeitada, e que os
clérigos deveriam se abster de qualquer relação sexual, praticando então o celibato.
Ainda sobre o patriarcado vale enfatizar que foi instaurado inicialmente, pois na visão
dos homens era necessário um controle da fertilidade e da gestação feminina. Mas o que seria
o patriarcado? Para compreendermos melhor esse termo, Lins (2007, p. 39) o define como
“[...] uma organização social baseada no poder do pai. E a descendência e o parentesco
seguem a linha masculina. As mulheres são consideradas inferiores aos homens e, por
conseguinte, subordinadas à sua dominação”. Sendo assim, para conseguir “controlar” a
mulher precisou submetê-la a inúmeras restrições físicas e mentais, mantendo elas em tarefas
específicas, principalmente as dentro de casa, tendo o discurso que a mulher é inferior e mais
frágil, e até nos dias de hoje conseguimos ver marcas do patriarcado.
Com o passar do tempo a religião ganhou força e espaço, dessa forma o casamento, a
estruturação da família e as questões sexuais passaram a ser amplamente controladas pela
religião, principalmente pelas “[...] religiões judaicas e cristãs, as que prestam cultos ao Deus-
Pai” (LINS, 2007, p. 43) reforçando o pensamento patriarcal. Com isso, o condicionamento
pela influência religiosa tomou grandes proporções na sociedade ocidental, de forma
inconsciente. Por isso, “[...] a condenação a sexualidade se instaurou de forma intensa,
desenvolvendo uma ideologia de negação sexual, onde era buscado a superação do apetite
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sexual” (LINS, 2007, p. 49). A Igreja Católica fez do sexo “[...] um ato higiênico, contido,
quase cirúrgico. Tratava-se, sobretudo, de diminuir o desejo e não mais de aumentá-lo ou de
fazê-lo durar. No lugar do amor erotizado, o amor ágape” (DEL PRIORE, 2012, p. 76).
Logo, o sexo passou a ser visto, somente, como necessário a procriação, e quando usado para
outra função, principalmente como fonte de prazer, era visto como pecado. Isso mostra uma
grade contradição frente aos ancestrais é que na sociedade pré-patriarcal não havia relação
sexo-procriação, e relação à com sexo era instintiva e pela busca do prazer.
Para os padres da igreja o sexo era abominável. [...] O sexo era “uma
experiência da serpente” e o casamento “um sistema de vida repugnante
e poluído”, [...] a igreja desenvolveu horror aos prazeres do corpo, e as
pessoas que se abstiam e optavam pelo celibato eram consideradas
superiores. (LINS, 2007, p. 63-64)
Lins (2007) demonstra que os padres pregavam a ética sexual e a castidade, ambas
eram glorificadas e almejadas para alcançar uma santidade religiosa. Mas, ao perceber que
era impossível abolir o sexo da sociedade, atribuiu-se um novo significado para o casamento
que passou a ter duas funções: a válvula para o desejo carnal e a de procriação. Essa
concepção sexual perdurou por séculos, onde a relação sexual será permitida e legitimada,
deixando de ser uma transgressão se ela ocorrer dentro do casamento, e mais, a partir dessa
visão, até mesmo a relação sem o objetivo de procriação, buscando somente o prazer, era
visto como pecado.
Ocorreu uma mudança significativa ao longo de anos que “[...] ressurge com o
cristianismo a figura da mãe, que havia desaparecido” (LINS, 2007, p. 62), com a exaltação
da importância da figura da Virgem Maria. Essa mudança foi essencial para a introdução de
novas manifestações afetivas, pois trouxe de volta a importância do papel da mulher, olhando-
a de maneira mais sensível.
Esse novo olhar mais sensível para a mulher, assumindo a sua importância foi
essencial para que, no século XII houvesse a primeira manifestação de amor mais próxima de
como conhecemos hoje no mundo ocidental. O amor como uma relação pessoal e afetiva,
conhecido também como “amor cortês”.
O amor cortês surgiu primeiramente na classe artística dos trovadores que pertenciam
à nobreza francesa de Provença, trazendo um discurso que o amor seria um sentimento capaz
de elevar duas pessoas espiritualmente, sendo esse um sentimento que promoveria a aventura
e a liberdade, deixando de lado o pensamento focado nas obrigações e sanções. Para eles, o
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amor era um sentimento que estava no campo da impossibilidade, sendo perfeito e sofredor e
quando não tinha obstáculos, não era possível existir as paixões.
Lins (2007) mostra que, sutilmente, foi introduzindo a ideia de que no casamento
deveria haver espaço para esse sentimento, não vendo só como contrato social. E foi a partir
dessa iniciativa artística que a Igreja Católica começou a dar indícios de mudanças na visão
do casamento, onde passou a recomendar o casamento para controlar a devassidão, sendo ela
uma instituição que assegurava a reprodução da sociedade.
Outro ponto, é que ainda havia uma sutileza na introdução de uma questão econômica
muito importante, pois sugeria que os “filhos mais jovens de senhores feudais, sem herança,
passam a ter como obrigação conquistar uma noiva rica e estes se rebelam contra este dever
[...] conquista através de amores impossíveis” (LONDERO, 2006, p.40). Isso faria com que
os jovens buscassem através desses amores impossíveis a ascensão econômica.
O amor romântico
Com esse novo prisma pode-se observar uma nova forma de amor onde “O amor se
torna sinônimo de sensações prazerosas que o outro pode proporcionar [...]. Cria-se, então,
uma interiorização subjetiva do amor, já que reduz o sujeito amoroso a uma capacidade
‘natural’ de sentir prazer ou desprazer” (LONDERO, 2006, p.49). Para complementar essa
ideia Lins (2007) expõe que o amor romântico é construído através da projeção, exaltação e
idealização do outro, ao invés de ser calcado na realidade a respeito do parceiro, onde o outro
não é visto com clareza, e sim através da distorção. Por esse motivo que anteriormente além
da falta de contato físico, não era permitido muita conversa e conhecimento profundo sobre o
outro, antes de formalizar o casamento, a fim de evitar o desencantamento de relações
sexuais.
Houve movimentos sociais como “as preciosas” que começaram a questionar o papel
da mulher e do homem. A partir daí se pode ver o inicio do movimento feminista. Depois
desse breve histórico do patriarcado é sabido que anteriormente a mulher não tinha lugar na
sociedade patriarcal e machista, mas com o movimento feminista houve o início da busca pela
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Para Lins (2007) apesar de o amor ser um fenômeno que pode ser visto em diversas
épocas anteriores, esse sentimento não era almejado. Sendo assim, o amor romântico como
vemos hoje é estritamente restrito à sociedade ocidental moderna, “[...] é a única cultura da
história que tem a experiência do amor romântico como um fenômeno de massa” (LINS,
2007, p. 134). Portanto, foi somente com a expansão do pensamento romântico que o amor
passou a ser um sentimento que alicerça os casamentos e qualquer relacionamento amoroso.
Deixando obsoleta a ideia de um casamento arranjado, ou relações firmadas pelos interesses
sociais e econômicos. Para complementar essa ideia, Lins (2007) menciona que “O amor
romântico não é apenas uma forma de amor, mas todo um conjunto psicológico – uma
combinação de ideias, crenças, atitudes e expectativas” (p. 134). E assim, somos
condicionados desde crianças a se enquadrar nesses conjuntos de padrões, nos fazendo
acreditar que ele é a melhor configuração a ser seguida, tornando qualquer movimento fora do
ideário vigente, é visto com estranheza e desvalorizado.
A mulher e o homem dentro desse padrão que emerge com o patriarcado e reforçado
com o amor romântico, são estereotipados não deixando ambos os sexos se portarem
livremente, “[...] os conceitos de feminino e masculino são prejudiciais a ambos os sexos por
potencializar as pessoas, aprisionando-as a estereótipos” (LINS, 2007, p. 145). Pois certas
atitudes não condizem a um homem, e sim a uma mulher, ou vice e versa. Mas, esse padrão
engessado tem apresentado rachaduras, pois hoje sabemos que “[...] na vida real, homens e
mulheres têm as mesmas necessidades psicológicas – amar e ser amado, expressar emoções,
ser ativo ou passivo –, mas o ideal do homem impede-lhe a satisfação dessas necessidades”
(LINS, 2007, p. 163). Atualmente podemos ver que a mulher recatada e frágil e o homem
sempre viril “não são mais exaltados”, e sim a busca pela mistura de ambos, ver a fragilidade
do homem, abandonando esse estereótipo de “macho” e ver a mulher empoderada.
A história do amor no Brasil é de certo modo peculiar, pois não houve uma evolução
de modo tão gradual, por exemplo, como na Europa. Mas, foi marcado por uma ruptura
brusca no pensamento vigente e a imposição de outra cultura totalmente diferente. De uma
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hora para outra, os portugueses trouxeram suas crenças e práticas de como era vivenciado o
amor na Europa e a intenção deles era fazer do território Brasileiro uma colônia de Portugal,
dessa maneira implementaram sua cultura.
Del Priore (2012) faz um estudo acerca da maneira que o amor e a vida privada
mudaram com o decorrer da História do Brasil. Por ser um país majoritariamente católico,
Portugal trouxe seus costumes fortemente influenciados pela religião. Inicialmente os índios
não apresentavam uma estrutura de família como se tinha na Europa. O Brasil por ser uma
colônia, tinha o casamento como sua principal função o lado econômico. Não eram todos que
se casavam no território, onde podemos observar que durante esse período “[...] a maioria da
população vivia [...] em concubinato ou relações consensuais, apesar de a igreja punir os
teimosos com admoestações, censuras, excomunhão e até prisões.” (DEL PRIORE, 2012,
p.26). O casamento era visto como uma “coisa de branco”, pois ocorria principalmente nas
uniões que envolviam patrimônio.
Em relação aos casamentos dos negros, o que acontecia eram as relações consensuais
e duradouras ou os concubinatos, pois o casamento homologado, legal, era interesse somente
dos portugueses, por causa das questões patrimoniais, que era o principal fim do matrimônio.
Já que para Portugal era preciso manter esforços em fazer com que os brasileiros ingressarem
na vida matrimonial e a vivenciarem de maneira pura e fiel, pois “[...] na visão da igreja, não
era por amor que os cônjuges deveriam se unir, mas sim por dever; para pagar o débito
conjugal, procriar e, finalmente, lutar contra a tentação do adultério” (DEL PRIORE, 2012,
p.28). Dando indícios de que apesar de seu principal motivo ser o social, havia um caráter
dúbio e importante para uma vida “santa” diante dos padrões religiosos da época.
Del Priore (2012) clarifica que durante o século XVIII os afetos começaram a ganhar
visibilidade com a difusão das poesias coloniais, explicitando práticas de sedução e relações
regidas pelo amor. Porém, esse sentimento demonstrado nessas poesias era o carnal, pois o
amor para a Igreja Católica era o amor castro, desprendido de qualquer manifestação erótica,
porque era visto como expressão do pecado ou qualquer atitude que aumentava o prazer.
Del Priore (2012) traz uma separação do amor cantado nas prosas, que era um
sentimento mais carnal e erotizado. O amor do cotidiano, que era o presente no casamento,
que tinha três principais funções: a primeira é que o casamento servia para a procriação e
educação cristã dos filhos; a segunda era o matrimônio como remédio para a fornicação; e a
terceira era ser um instrumento que auxiliasse a convivência mútua. Porém, pode afirmar que
havia um “[...] laço entre a hipocrisia [...] a tensão erótica que elas contribuem a reforçar,
fornecerá o tema essencial para a libertinagem [...] falar de sexo tornou-se uma compensação
agradável para o vazio espiritual de uma elite.” (DEL PRIORE, 2012, p. 84). Essa
compensação pode ser vista com o desencadear de uma obsessão erótica e um culto
clandestino na pornografia, mas o espaço de expressar essa necessidade era visto no campo
artístico da literatura e nos bordeis.
As relações afetivas nessa época eram de certa forma complexa, pois segundo Del
Priore (2012) existiam vários tipos de amor, se encaixando em ocasiões específicas: o amor
platônico, o amor carnal (só existia na literatura e nas relações extraconjugais), e o amor casto
(aquele vivenciado dentro do casamento). Lutando contra o sistema vigente podemos ver
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diversas expressões de carinho, que resistiam mesmo diante as constantes vigilâncias dos
pais, o abanar de leques, recados através das frestas, beliscões e pisadelas. Essas
manifestações geralmente aconteciam nas cerimônias religiosas, pois era uma das poucas
ocasiões que eles tinham menos vigilância, se tornando o principal palco para os namoros e
demonstração de interesse dos jovens.
Sendo assim, nessa fase de paquera ocorreram inúmeros hábitos herdados de Portugal,
como as pisadelas e beliscões, em épocas festivas da Igreja Católica começou a ver também
os correios sentimentais. Além dos encontros nas igrejas e cerimônias religiosas, os
encontros se davam nas reuniões particulares, e os jovens dançavam e faziam música, as
ladainhas, quadrilhas, valsas e serenatas eram aliadas aos cochichos enamorados, pois as “[...]
música e dança serviam para traduzir, sutilmente, o que não podia ser vivido de maneira mais
direta” (DEL PRIORE, 2012, p. 130). Porém, a igreja ajudou muito nessa fase inicial do
romance no solo brasileiro, pois durante muito tempo o namoro ainda continuou sendo
dificultado, principalmente nas elites
Mesmo com essa influência da literatura, o casamento ainda era uma forma de
agenciar interesses econômicos, e as afinidades afetivas eram deixadas em segundo plano.
As demonstrações afetivas como “[...] carinho e amor são aspectos relevantes nos casamentos
de pobre e libertos [...] os padrões de moralidade eram mais flexíveis e havia pouco que se
dividir ou oferecer em uma vida simples” (DEL PRIORE, 2012, p. 159). Os casamentos
aconteciam bem cedo, pois
Na História do Brasil quem foi responsável pelo início de um novo olhar para o prazer
sexual, foram os prostíbulos; pois nesses ambientes que os homens eram apresentados para
um sexo erotizado, diferente do vivenciado no casamento. Além disso, apesar da virgindade
feminina ser uma condição básica para o casamento, a virgindade masculina era
ridicularizada, e eram nos prostíbulos que os homens eram iniciados na vida sexual. Para Del
Priore (2012) essa relação estava explícita no decorrer dos “tempos de desejos contidos, de
desejos frustrados, o século XIX abriu-se com um suspiro romântico e fechou-se com o
higienismo frio de confessores e médicos. Século hipócrita que reprimiu o sexo, mas foi por
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ele obcecado” (p. 220). Dessa forma, a obsessão era vista no sucesso e expansão dos
prostíbulos, as relações extraconjugais dos homens e a crescente literatura romântica e
erótica. Entretanto, foi com esse espaço “clandestino” que as relações de afeto foram se
desenvolvendo e ganhando força nos ideários das pessoas.
Segundo Londero (2006) a passagem do século XIX para o XX foi marcada pela
campanha de higienização da sexualidade, pode-se observar um “dispositivo de prevenção
das doenças sociais (doenças venéreas, alcoolismo, tuberculose). A medicina buscou erigir a
sexualidade a uma questão de Estado, saindo do âmbito religioso para o secular”
(LONDERO, 2006, p.93). Logo, nessa passagem a principal mudança foi a destituição da
igreja como a única que normatizava as relações.
Podemos observar como todas essas mudanças que ocorreram no século XX tiveram
grandes reflexos no modo que os relacionamentos eram vivenciados no Brasil, com a rica
obra de Del Priore (2012), podemos observar como em apenas 3 séculos passamos por
profundas mudanças, como as influências externas foram de extrema importância para como
nos relacionamos hoje.
Século XX
Del Priore (2012) mostra que o século XX é conhecido como o século da velocidade,
pois em tão pouco tempo podemos ver eclodindo várias transformações que estavam sendo
geradas de maneira sutil nos séculos passados no Brasil. Nas primeiras décadas foram
observadas as reformas urbanísticas, dando um novo olhar e espaço para os entretenimentos
como música, danças e esportes. Essa reforma foi essencial para uma mudança brusca nos
códigos de vestimentas que eram observados nos séculos anteriores, as mulheres eram
encobertas de roupas. Assim, ocorreu uma mudança cultural a partir do século XX, as
mulheres começaram a mostrar mais o corpo. A revolução científica e a expansão do
capitalismo foram fundamentais para a transformação dos hábitos e costumes do cotidiano,
refletindo diretamente também nos papéis de homem e mulher na sociedade e
consequentemente nas formas de se relacionar afetivamente.
Essas mudanças foram essenciais para que nas décadas de 1960 e 1970 que
começaram a surgir assuntos mais complexos acerca das formas de relacionamento e
sexualidade, e podemos ver que “[...] eclode o fruto tão lentamente amadurecido: a chamada
‘revolução sexual’” (DEL PRIORE, 2012, p. 300). Com a difusão da pílula anticoncepcional,
sem o terror da Sífilis e da Aids (doenças transmitidas, majoritariamente, sexualmente na
época), os jovens poderiam experimentar tudo, o movimento hippie, o rock’ and’ roll, sexo
livre, paz, drogas, libertação da mente e os movimentos LGBT e feminista (tiveram
importantes papéis).
Já o movimento feminista foi marcado por idas e vindas, mas foi o principal
responsável pela discursão dos papeis de gêneros; que eram estabelecidos desde o início do
patriarcado. Aos poucos a mídia foi difundindo esse novo papel da mulher, através das
novelas e revistas, mas mesmo assim, ainda havia um investimento na figura da mulher dona
de casa e mãe. As mulheres começaram a serem vistas como um ser sexual, abrindo espaço
para discursões sobre sexo e orgasmo. A pílula também foi extremamente importante para o
movimento de emancipação feminina, pois ela deu a autonomia à mulher sobre o seu corpo e
sobre a reprodução.
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De fato, “nós amamos porque estamos vivos. A vida no impõem a vontade de amar”
(NOGUERA, 2020, p. 197), isso porque o amor é essencial para a vida, pois ele é a resposta
para o problema da existência, mas o amor como ele é cultivado hoje “não há nada natural no
amor” (LONDERO, 2006, p.56). Pois, como é possível observar, houve uma construção e
normatização de valor e crenças de como deveria ser o amor, deixando de lado a principal
característica do amor amadurecido, o devir. Em uma sociedade de consumo onde as artes
não são valorizadas, a capacidade criadora é castrada, promovendo uma crise de
subjetividades e identidade, com relações interpessoais fragilizadas. Um lugar que deveria
servir como espaço de potência, se tornou um lugar de controle. Costa (1998) ressalta a
importância de entendermos que o amor se tornou uma crença que pode ser alterada, pois o
amor como se vivencia hoje foi inventado como a medicina, como a roda, como tudo que o
homem criou ao longo da história, uma criação que infelizmente foi moldado para
potencializar o sujeito e controlar seus desejos. “Portanto tudo pode ser recriado,
transformado” (LONDERO, 2006, p.59) através de novos devires.
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Capítulo 3
Para Guedes e Assunção (2006) o ideário romântico de amor dava destaque para a
fidelidade amorosa e compromisso em relação à família. Dentre as principais características
desse modelo, Lins (2021) destaca a idealização da pessoa amada, como principal
característica, logo “não se relaciona com a pessoa real, mas com a inventada de acordo com
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as próprias necessidades” (p. 129). As dificuldades presentes nesse modelo é o fato de não
ser possível manter a idealização em longo prazo, ou seja, a relação quando baseada a partir
da idealização com o tempo e convivência os “defeitos” começam a serem vistos, gerando
mal estares e infelicidades, e tornando, muitas vezes, insustentável a relação. Outra
característica, de certo modo problemática, é a proposta de fusão e simbiose com o próximo,
despersonalizando por vez a subjetividade individual de cada sujeito.
Lins (2021) demonstra que o modelo de amor romântico, apesar de ainda popular,
começou a dar primeiros indícios de decadência e mudanças nos meados do século XX, com
o período denominado de Renascença. Assim, quando olhamos os escritos de Fromm (1958)
a respeito de um amor amadurecido que é capaz de promover a felicidade, e ainda reforçado
pela teoria de Lins (2021) clarifica que ver que a configuração romântica do amor não é capaz
de trazer a felicidade, como promete, mas ele acaba por acentuar a angústia, visto que “se
opõe à autonomia pessoal” (NAVARRO, 2021, p. 145) e prega a necessidade de fusão,
fortalecendo a ideia de que
idealização ou dominação de um deles. O amor deve ser capaz de promover uma busca de si
e de desenvolvimento do potencial do sujeito, “sem a crença de que é necessário encontrar
alguém que o complete" (LINS, 2017, p. 32), pois de fato, não há alguém que complete o
outro e sim alguém que deseja criar com o outro. Essa mudança pode-se observar em
diversas frentes, uma delas é na indústria midiática, que anteriormente popularizou e ainda
perpetua as ideias românticas através dos “felizes para sempre”, e que atualmente está
trazendo às telas histórias de mulheres autônomas, dos homens sensíveis, e quebra desses
padrões e dos pensamentos que o amor romântico prega.
Outro ponto que marca essa decadência do modelo romântico segundo Guedes e
Assunção (2006) seria o movimento homossexual, que na atualidade se transformou no
movimento LGBTQI+ que vai contra os papeis pré-definidos para cada sexo, promovendo um
olhar mais humano, assumindo a diversidades de gêneros e maneiras de amar e constituir
relações, que vai muito além do modelo heteronormativo de homem e mulher, dando voz a
essas diversidades não só no âmbito social, mas também no campo amoroso, que antes
precisavam ser vivido em anonimato.
Assim, como a emancipação das mulheres e a busca de direitos iguais, que começou
com a revolução sexual do século XIX, mas que agora no século XX está bastante em voga.
A mulher autônoma, dona de si, que desempenha muito além do papel imposto pelo
patriarcado, que é o de mãe, dona de casa e principalmente submissa a um marido. Hoje
podemos ver que essas especificações de papéis que o romantismo prega tem de dissipado, e a
mulher assumindo papéis importantes na sociedade, como no ano de 2010 tivemos no Brasil a
primeira Presidente da República mulher, além da emancipação feminina cada vez mais forte
e presente.
Lévy (1999 apud GUEDES e ASSUNÇÃO, 2006) entende que com a grande difusão
dos meios de comunicação há a tendência de um dilúvio de ideias, assim “garante apoio
psicológico e senso de pertença” (p. 415) promovendo uma pluralidade de possibilidades, de
formas de se relacionar. Como, por exemplo, já foi mencionado ao longo do texto que os
encontros amorosos aconteciam nos eventos religiosos, mas, hoje não é preciso sair de casa
para conhecer um possível par amoroso, em questão de segundos chega-se ao outro lado do
mundo, e na mesma rapidez é possível desconectar-se com o outro, “aumenta as opções de
escolhas do sujeito, sempre na perspectiva de um processo Mutantes, exageradamente rápido
e geralmente com objetivos inalcançáveis” (CATELLS, 2000 apud GUEDES e ASSUNÇÃO,
2006, p. 411), isso ilustra a fragilidade dos laços interpessoais, que Bauman (2004, apud
LAGO, 2009) expressa.
As vantagens que o mundo globalizado possui são inúmeros modos de conexão, por
exemplo, promovendo incontáveis possibilidades de buscar satisfação e de criação de
subjetividades. O que não pode ser confundido é a diferença das relações vividas no
ambiente virtual para as vividas no ambiente real, pois no “ciberespaço, as imagens virtuais
são uma simulação do real” (LAGO, 2009, p. 61) e quando as vivências virtuais são levadas
ao extremo se tornam preocupantes.
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Por esse motivo que as relações atuais não têm sido verdadeiras fontes de felicidade e
bem estar, pois não há uma criação com outro real, o que vive é apenas uma simulação, como,
por exemplo, no vídeo game, pois muitas vezes o que se vive no virtual não é possível viver
integralmente no real e a vivência virtual não substitui o real. Para resolver essa questão
“cabe a esse sujeito saber utilizar-se dos benefícios trazidos pela tecnologia, usando-a para
potencializar suas relações com o mundo sem jogá-las no vazio provocado pela
indiferenciação virtual/real” (LAGO, 2009, p. 64). É necessário um retorno ao presente real,
onde habita as relações e a criação, se criam no presente, é um processo como Lago (2009)
descreve como afetivo-corporal, deixando de lado a “lógica do ‘conectar’, ao invés do
‘relacionar’” (LAGO, 2009, p. 59), em que estamos imersos.
de poder. São muitos desafios, mas essa multiplicidade de necessidades são bem típicas da
pós modernidade, por isso
Em confronto com essa lógica individualista, que “altera a forma como o sujeito
vivencia os relacionamentos” (LAGO, 2009, p. 24) reside a dicotomia no fato de uma
transição de modelos rígidos, onde não existia a liberdade, com “a rigidez das leis paternas,
representadas socialmente por religião, Estado, instituições de ensino, entre outros” (LAGO,
2009, p. 45). E essa liberdade que a pós-modernidade promoveu, deixou os sujeitos confusos,
criam-se subjetividades ainda influenciadas e preocupadas com a “moral dominante”. Esse
período histórico é marcado por grandes transformações nos campos da economia, política,
cultura, e principalmente o movimento de globalização, e todos esses movimentos têm
grandes influências nos modos de subjetivação do sujeito e nas formas de vivenciar o amor.
O culto à imagem, o imediatismo e a efemeridade, a cultura do consumo, o narcisismo e o
individualismo são marcas da sociedade pós-moderna.
Outro aspecto que aparece em voga na pós-modernidade são as relações regidas pelo
desejo, no sentido “vontade de consumir [...] apontando sempre para a tentativa de domesticar
o objeto, de forma que ele seja subsumido, destruído ao tentar ser transformado” (LAGO,
2009, p. 57), com isso o sentimento de amor, como capacidade criativa, é raramente vista,
pois o “sujeito pós-moderno procura desfrutar do aqui e agora” (LAGO, 2009, p. 58)
contrariando a ideia de construção junto ao outro. A partir da direta influência do capitalismo
pode observar como a “‘lógica do shopping center’ ilustra como a satisfação pulsional está,
hoje, vinculada à aquisição de bens de consumo, oferecidos através de uma mídia quase
onipresente” (LAGO, 2009, p. 67). Isso está intimamente ligado ao fenômeno da
globalização pois
Entretanto, quando observamos como a história do amor se deu, podemos ver algo
curioso em relação, que é que as novas formas de ver o amor surgiram nas classes artísticas,
como linha de fuga e resistência ao modelo vigente, por exemplo, como os trovadores e no
período do romantismo. As novas formas de observar o amor sempre surgiram através da
arte, através da capacidade produtiva criadora, a fim de suprir as necessidades que não eram
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atendidas nas maneiras que se vivenciavam o amor. Logo, o amor é uma arte que está em
constantes mudanças.
Se buscarmos seguir pelo caminho de Fromm (1958) e assumir o amor como uma
instância potencializadora e promotora da felicidade, que é capaz de diminuir a angústia da
separação: é preciso assumir o amor como uma arte; e é importante ressaltar que como uma
arte qualquer, o amor requer alguns requisitos gerais. Para aprender a amar é do mesmo
modo como se aprende qualquer arte, e para aprender uma arte precisa ter o domínio da teoria
e o domínio da prática, a fim de que, ambos os conhecimentos se fundem em um só.
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Mas nossa sociedade muitas vezes não considera importante aprender sobre essa arte
do amar, pois influenciados novamente pela lógica de mercado, temos em mente considerar
“dignas de ser aprendidas aquelas coisas com as quais se pode obter dinheiro ou prestígio, e
que o amor, que só traz proveito a alma, mas não é proveitoso no sentido moderno”
(FROMM, 1958, p. 25), sendo um luxo, mas o amor, assim como todas as relações humanas
são de extrema importância para a satisfação pessoal e uma harmoniosa vida social. Para
Freud (1930) a principal fonte de mal estar e a que causa mais sofrimento são os sofrimentos
provenientes das relações entre humanos, que apesar de ser a fonte mais penosa é uma que
poderia facilmente ser resolvida, mas não damos o valor para a aprendizagem dessa arte e
temos ela como algo nato, que não precisamos de esforços para aprender. Mas, de modo
geral na nossa sociedade as artes nunca foram prestigiadas, podemos ver hoje, que vários
artistas da história, em sua época, foram discriminados e viviam às margens e que só vieram a
ter maior prestígio quando morreram, mas o que era visto como loucura podemos ver hoje a
atividade criadora, criadora de um novo sentido, criadora de uma resistência às amarras.
Se partimos para a lógica de Fromm (1958), podemos ver que as artes têm como
principal característica um processo dinâmico e ativo, para isso é necessário uma disciplina
com a prática e concentração, e é exatamente esses pontos que vão contra com o modelo que
o homem moderno leva a vida, a vida líquida. Isso seria a correria como o principal regente
do cotidiano, pois a concentração está intimamente ligada a nossa capacidade de ouvir o outro
e o mundo, de maneira que essa concentração esteja focada no presente e na relação que está
sendo estabelecida no aqui e agora, sendo sensível ao outro da relação, deixando de lado o
nosso narcisismo.
muitas coisas em pouco tempo, tornando o amor amadurecido um fenômeno raro em nossa
sociedade contemporânea.
Para Fromm (1958) o essencial para a prática do amor, assim como toda arte, é a
atividade, o amor não pode ser um sentimento inerte, pois quando uma prática de amor é
inerente, se configura e um pseudo-amor, é necessário uma postura criadora ativa
interpessoal, que tem uma constante preocupação com o outro, é necessário uma constante
reavaliação de pontos, um constante investimento na figura de amor, promovendo esse caráter
criador que surge na relação interpessoal. É válido ressaltar que no amor a relação de
atividade deve ser vertical, onde se crie com o outro (característica de um amor amadurecido),
e que não imponha ao outro seus ideais.
Segundo levantado no livro “A Arte de Amar” Fromm (1985), o autor menciona que
amar em nossa sociedade, como uma prática amadurecida, é uma atitude rara e que para que
venhamos mudar esse cenário, devemos passar por mudanças na nossa estrutura social,
deixando de ser apenas um fenômeno isolado. Por isso, é importante que venhamos a nos
organizar de “modo tal que a natureza social e amorosa do homem não se separe se sua
existência social, mas se unifique a ela [...] o amor é a única resposta sadia e satisfatória ao
problema da existência humana” (FROMM, 1958, p. 170). Esperançosamente, vemos que as
mudanças que eclodiram no final do século XX, foram o início de uma mudança nos
relacionamentos, trazendo uma “luz no fim do túnel”, esse túnel é o patriarcado e o fim dele
consegue promover relações afetivas regidas pela liberdade e autonomia. As revoluções
foram os momentos em que começa a ver essa luz, ainda não chegamos ao fim, temos ainda
grandes atitudes que são marcadas pelo patriarcado, temos fantasmas de tabus que são
resultados de longos séculos de influências da repressão da sexualidade, e o amor é autêntico
e maduro “por uma pessoa não pode se fundamentar apenas em um contrato moral-jurídico-
religioso, mas sim uma poderosa celebração regida pela espontaneidade, pela alegria e pela
criatividade” (BITTENCOURT, 2012, p. 47) e por esse motivo que hoje já conseguimos
vislumbrar relações mais livres.
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A prática de amor, de maneira amadurecida, que seja capaz de ser resposta para o
problema da existência humana, a separação, precisa ser uma atividade interpessoal, essa
prática “enraizada através da afirmação da alteridade, capacidade de se compreender a
interioridade do outro; [...] assim, uma experiência que preconiza a intersubjetividade,
comunicando-se então os afetos de pessoa para pessoa” (BITTENCOURT, 2012, p. 44).
Fromm (1958) aponta algumas características que uma atitude amadurecida traz consigo, para
ele esta precisa ser uma atividade que consiste em dar, sendo necessário deixar de lado
sempre o narcisismo, que faz praticar um amor egóico, ama a partir de si. O “ dar” necessário
no amor não está relacionado ao ato de abandonar ou se privar de algo, quando temos essa
visão, deturpada, demonstra a nossa falta de desenvolvimento do caráter. E essa falta está
intimamente ligada ao caráter mercantil em que estamos inseridos, em que o principal é
receber, e quando damos e não recebemos nos sentimos defraudados, lesados. E isso está
muito enraizado na nossa sociedade, a maioria das pessoas tem mais prazer em receber um
presente do que dar, pois o dar necessita de muito mais esforço, depende de doar tempo, para
pensar no que dar, ir comprar, muitas vezes necessita de tempo e dinheiro (FROMM, 1985).
Mas, em contraponto, o ato de dar é uma “expressão da potência. No próprio ato de dar,
ponho a prova minha força, minha riqueza, meu poder. [...] Dar é mais alegre do que receber,
não por ser uma privação, mas porque, no ato de dar, encontra-se a expressão de minha
virtude” (FROMM, 1958, p. 45-46), logo, quando se ama, o indivíduo é capaz de se dar na
relação, se dá cuidado, preocupação, se dá tempo, respeito e conhecimento. Fromm (1958)
ainda na linha das características necessárias para a prática de um amor amadurecido, destaca
o trabalho, pois se “a essência do amor é trabalhar por alguma coisa e fazer alguma coisa
crescer, que amor e trabalho são inseparáveis, Ama-se aquilo por que se trabalha e trabalha-se
por aquilo que se ama” (FROMM, 1958, p. 50), essa característica está intimamente ligada ao
fato do amor residir no movimento.
Quando se afirma que o amor está na capacidade criadora na relação interpessoal, pois
ela é a resposta da separação porque, através dessa criação o indivíduo se coloca naquela
relação, podemos confundir com a ideia de fusão que conhecemos hoje, em que o amor
romântico se prega que tem que ser um com o parceiro, anulando a individualidade, onde há o
discurso religioso “uma só carne”, mas essa ideia e em Fromm (1958) é diferente pois a fusão
está ligada a um modo de “transcender a prisão da própria separação relaciona-se muito de
perto com outro desejo especificamente humano, o de conhecer “o segredo do homem””
50
(FROMM, 1958, p. 52-53). No processo de criar com o próximo é preciso ter muito cuidado,
para que ao invés de ocorrer uma relação de amor, vire uma relação de dominação, imposição
e fusão no sentido de simbiose, pois o processo de dominação está intrinsecamente ligado à
natureza humana. Ao contrário da dominação cruel, tem a prática de amor, que é a
“penetração ativa na outra pessoa, e que meu desejo de conhecer é destilado pela união [...] no
ato de amar, de dar-me, no ato de penetrar a outra pessoa, encontro-me, descubro-me,
descubro-nos a ambos, descubro o homem” (FROMM, 1958, p. 54-55), é como fica claro, o
amor se dá na relação, ele é uma via dupla, onde ao mesmo tempo, o sujeito se descobre e
descobre o outro.
Ver novas formas de amar é assumir o devir constante que a relações interpessoais se
encontram e se criam a partir de insatisfações acentuadas pela imposição, nova forma de ver a
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vida e gerir seus relacionamentos pessoais, pois o “problema dos modelos é que todos se
tornam parecidos, as singularidades desaparecem. A grande vantagem do momento em que
vivemos é cada um poder escolher a sua forma de viver” (LINS, 2021, p. 350). Devir amor é
ter a certeza que cada indivíduo se modifica em busca da felicidade, a fim de se tornar mais
autônomo e potente, Noely Moraes citada por Lins (2021) deixa claro que ”o amor tem
diversas faces assim como nós. Não temos uma única dimensão, nossa identidade é bem mais
complexa do que um produto unificado e acabado” (p. 352). É importante ter em mente que
esses devires não assumem o papel normatizador, em que todos devem advir, como o amor
romântico, a monogamia, a necessidade de um casamento e filhos, sobre o risco de ser
julgado, e sim abre espaço para pensar a multiplicidade subjetiva do ser. Pensando nessa
lógica, pode-se observar uma forma de amar um tanto diferente da que estamos acostumados
hoje, em que somos capazes de amar somente uma pessoa, somente ela será fonte dos desejos
e a satisfação dos mesmos. Este modelo diz a respeito do amor ser um sentimento global, ou
seja, o
‘amor livre’, por sua vez, daria lugar a plena manifestação das emoções
entre homens e mulheres [...] a ‘livre União’ significaria a possibilidade
de se definir livremente o tipo de relação amorosa mais adequada para
cada qual [...] Amor Livre [...] é um todo formado pelo homem e pela
mulher que se completa um ,que buscam a vida em comum, sem
dependência de códigos ou leis que determinam as suas funções,
juntando-os por simples convenção social. Vivem juntos Porque se
querem. (DEL PRIORE, 2012, p. 259 - 260)
Lins (2017) dedica todo um trabalho as “Novas formas de amar”, trazendo diversas
tendências atuais de uma vivência amorosa “fora da curva”, como os encontros casuais,
relações múltiplas, as relações livres, o poliamor, o casamento nada convencionais, os amores
"grisalhos", e outras npossibilidades. Para Lins (2017) os encontro casuais são uma nova
forma de se relacionar afetivamente bem característica do sujeito pós-moderno, pois ao invés
de se fecharem em uma relação em uma rotina acelerada, firmam uma relação mais fluida, em
que seguem pelas linhas do desejo, quando ele aparece, buscam se encontrar e construir uma
relação naquele momento, sem grandes planos e regras e normas, deixando o desejo e a
criação fluírem livremente. Porém, nas relações múltiplas, como o nome já diz, são a relações
onde o pacto de exclusividade não existe, principalmente a liberdade sexual, e é nesse ponto
que muitas vezes é confundida com o poliamor, pois na relação múltipla, muitas vezes se
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mantém um relacionamento fixo com uma pessoa, mas tem a possibilidade de conhecer e se
relacionar com outras.
O poliamor, por sua vez, está pautado num modelo mais realista do
mundo. Ele reconhece que a monogamia, ou seu status de modelo único
e possível, está ligada ao patriarcado patrimonialista e a valores
religiosos. Além disso, reconhece o prazer sexual e postula que a
liberdade do exercício da sexualidade é um valor individual – portanto,
os desejos afetivo-sexual de uma pessoa não podem ser reduzidos a
padrões morais, econômicos e culturais. (NOGUERA, 2020, p. 120)
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É importante ter em mente que o que rege essa relação é deixar o caminho aberto para
as linhas do desejo, em que constantemente há a negociação de acordos, pois segundo a lógica
poliamorista é possível viver uma relação monogâmica sendo poliamorista. Vale ressaltar
que essa constante negociação de acordos deveria ser aplicada em qualquer manifestação de
amor em que se deseje seguir,afirmando o amor como um movimento constante. Assim,
como é possível não ter uma relação aberta e ser poliamorosa, pois a relação é regida pelo
amor e não somente pela relação sexual com uma outra pessoa.
Lins (2017, 2007 e 2021) traz uma ideia de casamento nada convencional, em que
antes uma relação que servia de obstáculo para a liberdade de experiência, agora alguns casais
tem se mostrado abertos em viver uma sexualidade livre dentro do casamento para Lins
(2007, p. 414) relata “há algum tempo, passei a receber grande quantidade de mensagens de
pessoas casadas dispostas a praticar sexo a três com seus cônjuges”. Pode-se destacar como
exemplo, práticas como swing, experiências tântricas são práticas vistas cada vez mais não só
entre os solteiros como os casados, dando uma abertura à experiência, buscando sempre uma
autenticidade e prazer nas relações afetivas e profundas. Potencializando as vivências sexuais
assim como a vivência do eu.
Outra mudança é o amor grisalho, que segundo Lins (2017) acontece entre aqueles que
casaram antes da revolução sexual, em que era vista uma moral sexual bem rígida, e com
costumes e práticas bem diferentes das vividas atualmente. Mas, há uma “crença tão
difundida socialmente de que na velhice as pessoas são assexuadas” (LINS, 2017, p. 191),
essa crença funciona como uma estrutura encaixotante para as pessoas de mais idade que
buscam se encontrar e viver uma vida mais autêntica, inclusive no âmbito sexual, que não está
ligado a idade e juventude, e para ir contra essa lógica podemos ver uma crescente adesão às
reposições hormonais e o uso de viagras. Eles por viverem em uma configuração sexual,
onde o “amor” deveria ser para sempre há o fenômeno atual descrito por Lins (2017) que é o
divorcio grisário, que são essas pessoas de mais idade que lutaram contra o tabu e buscaram
se reencontrar, buscando a auto realização e autonomia. Os motivos para esses movimentos é
a busca pela diminuição do mal-estar provocado pelos modelos e tabus a respeito da
sexualidade e amor e velhice, visto que muitas vezes são potencializados em sua
subjetividade por terem certa idade, mas com o aumento da longevidade. Este pensamento se
tornou antiquado, visto que ainda são sujeitos, capazes, autônomos e que merecem viver uma
subjetividade autêntica, tornando a terceira idade mais sadia, prazerosa e potencializadora.
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Essas novas formas de amor foram necessárias, pois “a monogamia nem sempre dá
conta de todas as necessidades de uma comunidade” (NOGUERA, 2020, p. 75 ), pois o amor
romântico não abraça as diferentes necessidades. E segundo Lins (2021) estamos vivendo um
momento histórico de transição, pois os valores atuais, dados como certos, estão começando a
serem questionados e aparecendo novas formas de amar. Porém ainda assim essas novas
formas de viver e de amar, ainda causam insegurança, questionamentos e julgamentos, por
parte dos mais conservadores. Mas segundo Lins (2021) o fim de muitos tabus é questão de
tempo, pois como foi visto, inúmeros aspectos que antes eram vistos como tabus, e até crime,
hoje em dia são vistos com normalidade, causando até um estranhamento em pensar que antes
isso era uma realidade, como os divórcios, a questão da virgindade. De fato, “São novas
relações com o corpo, com a sexualidade, com o desejo, com o outro” (ROOS, 2006, p. 42),
novas formas de amar.
É possível aos poucos ir vendo uma lógica que não é regida pela normatização, e aos
poucos consegue-se observar que na pós-modernidade, “os fluidos valores não indicam uma
ordem uma”. O que existe é uma pluralidade de modos de subjetivação [...] Apresenta-se
uma fluidez (LAGO, 2009, p. 70). Ou seja, não há um modelo no qual se deve seguir para
alcançar a felicidade ou para ser aceito, como por exemplo,
Não há problema nenhum uma mulher querer ser “dona de casa”, assim como também
não há quando a mulher busca a sua independência, não há problema a mulher sonhar em
casar, ter filhos e construir uma família, assim como não há, a mulher não sonhar com nada
disso. Escolher a monogamia é algo antiquado que deveria ser chacotado no futuro? Não,
não há problema nenhum em querer uma relação a dois, como não há problema nenhum em
viver uma relação livre, um poliamor. O que tem problema é querer normatizar todas as
relações, impondo a todos uma única maneira de amar, o problema está em impedir o devir e
os modos de criação particular de cada um, castrando as linhas do desejo e a capacidade de
satisfazer de diversas formas.
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É necessário que haja liberdade e abertura de criação, a fim de, criar um modelo de
amor que faça sentido para as pessoas envolvidas na relação, satisfazendo suas necessidades,
e tem por característica o não enraizamento dos acordos, e a “arte de amar já está justamente
em negociar constantemente, fazer e refazer pactos. Uma pessoa não pode dizer “sim” uma
só vez. A magia de um relacionamento não está no começo [...] mas na capacidade de se
manter junto” (NOGUERA, 2020, p. 196), ou seja, um eterno devir. “Ser e amar, no
contemporâneo, com a mesma proposta estética: a de afirmar os acontecimentos e, a partir de
suas novas sensibilidades, propor a si mesmo uma nova existência. Afirmando o devir e o e
ser do devir.” (ROOS, 2006, p. 51-52). Devir amor é potencializar o ser a partir da
capacidade de criar novos modos de amar, de criar novos modos de ser, de ser autêntico, a
possibilidade de viver um amor livre, livre de qualquer “receita de bolo” para só assim o
amor pode dar certo, livre de norma, fixado apenas no eterno devir e criação com a pessoa
com quem deseje compartilhar essa experiência tão potente, que é a arte de amar.
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CONCLUSÃO
Ao longo deste trabalho mapeamos muitas definições do que é amor dadas ao longo da
história e com certeza, muitas outras ainda serão criadas. Definições muitas vezes
subordinadas a modelos, pondo o amor no campo da normatividade, e sempre que o amor
percorre por essas linhas do dever, por linhas duras, ele é utilizado como ferramenta de
controle, de forma a despotencializar a nossa subjetividade. Amar na contemporaneidade é
fuga, fuga dos padrões impostos e de receitas de bolo que garantem a felicidade, fuga para si e
fuga para a autenticidade.
Devir amor é sair, definitivamente, do campo da norma e seguir pelas linhas do desejo
genuíno. Pode-se amar um, dois, três, pode-se desejar envelhecer juntos ou viver
intensamente durante meses, pode-se desejar um amor “tradicional” ou abraçar as novas
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formas de amar, monogamia ou relacionamento aberto, tanto faz, não existe um tipo de amor,
existem amores. Não é sobre quantidade, tempo, sexo, é sobre criação com o outro, é sobre
potencialização, é sobre se tornar autentico, é sobre criar, é sobre arte.
Devir amor é isso, saber que ele pode sim ser a resposta para a angústia elementar do
homem, que é a separação, a prisão de se sentir só, mas ela só é capaz de servir como resposta
quando ela é utilizada de forma madura, de forma a potencializar a subjetividade e
autenticidade, de potencializar o eu, livre de idealizações, fusões, imposições, é ser fluido, se
recriar a cada encontro, é se criar com o outro, é expandir, é experimentar.
Gostaria encerrar não com um ponto final, pois não é a intenção resolver o problema
do amor ou ditar alguma fórmula mágica para a felicidade, a intenção é sim questioná-lo, de
fazer pensar, de promover o devir. Por isso gostaria de terminar com uma reflexão, para fazer
pensar acerca de nossos fluxos, de nossas linhas, de por onde o nosso amor percorre, e de
como ele pode percorrer a fim de nos potencializar como sujeitos, de quais devires são
necessários para que o amor seja realmente a instância promotora de felicidade e realização,
As linhas se inscrevem [...] quais são suas próprias linhas, qual mapa
você está fazendo e remanejando, qual linha abstrata você traçará, e a que
preço, para você e para os outros? Sua própria linha de fuga? [...] Você
racha? Você rachará? Você se desterritorializa? Qual linha você
interrompe, qual você prolonga ou retoma [...]? (DELEUZE e
GUATTARI, Mil Platôs vol 03)
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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apresentado na IX Semana de Artes Visuais, UFRN, 6-10/05 de 2019, na mesa temática
“Precisamos abrir mão da esperança: arte e política”. Disponível em:
https://www.academia.edu/39085568/A_arte_suas_linhas_de_fuga_e_perspectivas_Andre_Vi
nicius20190510_63855_39rr8u. Acesso em: 07 jul. 2021.
BAUMAN, Z. Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge
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COSTA, J. F. Sem fraude nem favor: estudos sobre o amor romântico. Rio de Janeiro: Rocco,
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DEL PRIORE, M. História do amor no Brasil. 3 ed. São Paulo: Contexto, 2012.
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LONDERO, S. M. Tecendo vias pelas quais o amor se fala: cartografias dos discursos
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Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Campus de
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Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/97683. Acesso em: 09 set.
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NOGUERA, R. Por que amamos: o que os mitos e a filosofia têm a dizer sobre o amor. Rio
de Janeiro: Haper Collins Brasil, 2020.