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Belo Horizonte
2011
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Belo Horizonte
2011
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Dedico este trabalho aos meus filhos pelo companheirismo e por me ensinarem um
novo, possível e belo conceito de família.
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AGRADECIMENTOS
“G7” amado e querido, Alice, Bruna, Fernanda Baldi, Fernanda Brum, Vinícius
e Virgínia, muito mais que um grupo de estudo, um grupo de pessoas amigas,
amáveis e com disponibilidade e abertura para o aprendizado profissional e pessoal.
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Por fim, agradeço a mim mesma por este momento atual de minha evolução
que me permite a expansão do autoconhecimento e maior flexibilidade comigo
mesma.
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É necessário apreciarmos o que somos (...) É preciso ser o que é. Nem colocarmos as
criaturas num pedestal, nem nos rebaixarmos à condição de capachos.
Hammed
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RESUMO
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre as possíveis
dificuldades da comunicação nas relações afetivas e também como é possível para
o psicólogo ter como ferramenta de trabalho recursos lúdicos e artísticos como a
análise de filmes. Aborda conceitos de Mony Elkaim a respeito da linguagem e
reações emocionais que tendem a direcionar nossa conduta nas comunicações. Por
fim, traz comentários sobre tais conceitos e as implicações em nosso cotidiano,
através de cenas do filme Amor Sem Escalas.
ABSTRACT
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
2 TERAPIA FAMILIAR SISTÊMICA ......................................................................... 12
2.1 A História da Terapia de Família................................................................... 12
2.2 Conceituando Família....................................................................................13
2.3 O Terapeuta de Família ................................................................................. 14
2.4 Teoria Familiar Sistêmica na visão de Mony Elkaïm .................................. 15
2.5 Alguns conceitos de Mony Elkaim ...............................................................16
1 INTRODUÇÃO
Cada um faz parte de uma família, cuja história vem recheada de recursos
internos, os quais vão lhes permitir, diante de seu desejo, usufruir do que os
terapeutas tem a oferecer no processo de psicoterapia sistêmica. Para se formar
uma história que envolve pessoas, é necessário se fazer pensar na história dessas
pessoas envolvidas.
O individualismo é uma característica da modernidade, mas também são
encontrados aspectos não individualistas ligados a permanência de elementos
tradicionais como a família.
Cada sujeito está imerso em um contexto sócio histórico que define um modo
de ser família. Sabemos que carregamos nossa história a partir de nossa origem e
cultura e sobre o que temos como crenças e a maneira de agir e de se posicionar no
mundo A importância do terapeuta de buscar informações e ter um conhecimento
sobre o contexto em que os clientes estão inseridos faz toda a diferença no
desenvolvimento terapêutico.
Segundo Aun (2006) até o final dos anos 70 os terapeutas viam a família
como um sistema e se viam colocados fora dela. Sobre este aspecto, Ponciano e
Féres-Carneiro (2006) buscam em Dias e Ferro-Bucher, a afirmação do cuidado em
relação a formação do terapeuta. Estas autoras consideram a formação do terapeuta
como um dos aspectos mais importantes e após análise de um questionário que
enviaram para 22 instituições pelo Brasil, concluem
3 O SISTEMA CASAL
Não existem pré-requisitos que garantam que a relação entre duas pessoas
vai ou não se constituir como relação íntima. Ela poderá ser co-construída pelos
esforços dos parceiros. Sejam quais forem suas condições iniciais, uma relativa
harmonia entre valores e objetivos dos parceiros é necessária.
As diferenças quando muito acentuadas podem produzir inveja, temor de
perda gerando tentativa de cerceamento ou mudança do outro. Ainda que os
opostos se atraiam são as afinidades que mais possibilitam a solidificação do
vínculo.
É difícil uma relação se desenvolver e se manter satisfatoriamente quando se
deseja atender a expectativas idealizadas. A incompatibilidade entre os parceiros é a
preponderância do conflito entre os seus objetivos conscientes e inconscientes,
acerca de si mesmos e acerca do que esperam de um relacionamento afetivo.
A interação entre pessoas é uma realidade viva e, portanto sujeita as
mudanças a partir dos aprendizados que propicia. Algumas diferenças entre
parceiros podem dificultar e muito a relação harmoniosa e de crescimento entre eles.
Mas não são as diferenças individuais entre parceiros que podem inviabilizar
a construção de um relacionamento amoroso satisfatório entre eles, mas a
resistência em mudar, a insistência na manutenção das diferenças e a maneira de
se lidar com elas é que podem impedir a continuidade deste relacionamento ou a
manutenção de uma convivência saudável.
Ainda com a prática clínica, percebo que relacionamento entre pessoas é uma
realidade viva, dinâmica, geradora de aprendizagens ou de adoecimento, sendo o
fator de adoecimento mais frequente, a paralisia, o enrijecimento das funções e
comportamentos entre os envolvidos, o que caracteriza a negação à aprendizagem,
à mudança.
Toda pessoa tem aptidão e capacidade de aprender a se relacionar
intimamente com seu semelhante, havendo fatores intrapsíquicos e contextuais que
vão favorecer ou dificultar este aprendizado, gerando maior ou menor abertura para
aprender, disponibilidade para negociar, tolerar diferenças, sobrepor às diversidades
o interesse maior de construir e manter a relação.
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Numa de suas viagens, Ryan conhece Alex, que também trabalha viajando e
com quem se envolve sexualmente. Por suas afinidades superficiais, articulam seus
horários para que possam sempre se encontrar entre um aeroporto e outro para
mais um momento casual.
Ryan é lembrado por Kara, sua irmã mais velha, sobre o casamento de sua
irmã caçula, Julie e lhe envia um pôster de Julie com o noivo para que durante suas
viagens, Ryan fotografe os lugares com o pôster, na intenção de fazer com que o
casal tenha a ilusão de ter viajado pelo mundo.
Natalie ajuda Ryan em sua missão de adquirir as fotos e aproveita para
questioná-lo sobre a importância dos laços afetivos. Ryan, Alex e Natalie se
divertem fazendo com que o tão racional executivo se aproxime da necessidade de
conviver e deixando-o à vontade para convidar Alex para acompanhá-lo ao
casamento de Julie, onde ele terá a até então inimaginável tarefa de irmão mais
velho, pertencente a sua família de origem.
Na véspera do casamento, seu futuro cunhado, Jim, pensa em desistir do
casamento e Kara, o incita a conversar com ele, afinal, essa era uma de suas
principais características: levar pessoas a reflexões positivas, motivadoras.
Na conversa Ryan questiona Jim sobre a presença de Julie nos momentos
felizes de sua vida, sobre a importância de se ter um co-piloto, de compartilhar a
vida com alguém e falando para Jim, ele se ouve e após o casamento reflete sobre o
que ele mesmo tem carregado em sua mochila da vida.
A vida não vale pela viagem, mas pelas conexões que fazemos pelo
caminho. (Turner – 2009)
Ryan decide ir em busca de Alex, sem avisá-la e descobre que ela é casada e
não está interessada em ter com ele mais do que os encontros que vinham tendo.
No filme, Alex passa uma mensagem dúbia de que tem interesse em Ryan,
eles tem um contrato não verbal de um relacionamento exclusivamente sexual e
quando ele vai à casa dela, ele quebra esse contrato.
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Cena 1
Ryan, Alex e Natalie conversam sobre o término do namoro de Natalie por uma
mensagem de texto recebida em seu celular.
Aqui é observado a busca pelo ideal, ainda não se dando espaço para análise dos
desejos reais. Percebe-se a dualidade Mapa de Mundo e Programa Oficial. Natalie
apresenta como mapa de mundo a expectativa de amor romântico, que é “a crença
medieval de que o amor verdadeiro tem de ser a adoração extática de um homem
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ou de uma mulher que representa para nós a imagem da perfeição” (Johnson, 1987)
e demonstra um programa oficial onde busca o sucesso profissional e a
independência.
Natalie: Não sou anti feminista. Agradeço o que sua geração fez por mim.
Alex: Foi um prazer.
Natalie: Parece que o sucesso não importa se eu não estiver com o cara certo.
Alex: Achou que era ele?
Natalie: Podia ter dado certo. Ele realmente tinha tudo a ver.
Alex: Sabia?
Ryan: Tudo a ver?
Natalie: Executivo, formado. Adora cachorros, comédias, 1.86m, cabelo castanho,
olhos meigos. Trabalha com finanças, mas gosta de ar livre nos finais de semana.
Sempre o imaginei com um nome curto como Matt, Jonh ou Dave. Num mundo
perfeito, ele dirige um 4Runner e, mais que de mim, só gosta do Golden Retrivier. E
um belo sorriso. E você?
Alex: Me deixe pensar. Aos 34 anos, todos os requisitos físicos saem pela janela.
Você reza para que seja mais alto que você. Que não seja babaca. Curta a sua
companhia. Seja de boa família. Não pensa nisso quando é jovem. Não sei. Alguém
que queira filhos. Que goste e queira filhos. Por favor, deixe-o ganhar mais dinheiro
do que eu. Pode não entender agora, mas entenderá depois. Senão é uma receita
para o desastre. E um pouco de cabelo na cabeça. Mas nem isso é um problema
atualmente. Um sorriso bacana pode ser suficiente.
O discurso de Alex é com expressão de que ainda deseja encontrar essa pessoa e
quando segura a mão de Ryan , olhando em seus olhos dizendo que um sorriso
bacana pode ser suficiente, demonstra desejar que o homem com quem sonha pode
ser ele, e isso somado a suas reflexões após o casamento de sua irmã o impulsiona
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Cena 2
Kara pede a Ryan que converse com Jim que, na véspera do casamento com Julie,
apresenta-se inseguro para tal responsabilidade.
Ryan: Sabe, não sou o cara certo para conversar sobre isso. Se pensar nas suas
lembranças favoritas, nos seus momentos mais importantes, estava sozinho?
Jim: Não, acho que não.
Ryan: E ontem à noite, quando toda essa besteira estava girando na sua cabeça,
vocês não estavam em quartos separados?
Jim: Sim. A Julie foi para o apartamento e eu fiquei na suíte de lua de mel.
Ryan: Solitário, né?
Jim: É, bem solitário.
Ryan: A vida é melhor com companhia. Todos precisam de co-piloto.
Jim: Foi um toque bacana.
Ryan: Obrigado.
Jim: Como está o clima lá fora?
Ryan: Nada bom.
Jim: Ela está muito chateada?
Ryan: Só preocupada.
Jim: O que devo fazer?
Ryan: Vá pegá-la.
Cena 3
Telefonema de Alex para Ryan, após ele ir na casa dela sem avisá-la, acreditando
que ela tem por ele os mesmos sentimentos que ele tem por ela, e a encontrando
casada.
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Ryan: Alex?
Alex: Como aparece assim na minha porta?
Ryan: O quê? Queria ver você. Não sabia que tinha uma família. Porque não me
contou?
Alex: Desculpa estragar a sua noite, mas quase me arruinou. Aquela é a minha
família, a minha vida real.
Ryan: Achei que vivíamos algo real.
Alex: Achei que nos “inscrevemos” para a mesma coisa.
Ryan: Me ajude a entender exatamente no que você se “inscreveu”.
Alex: Achei que nossa relação estava perfeitamente clara. Quer dizer, você é uma
fuga. Uma pausa das nossas vidas normais. Você é um parêntese.
Ryan: Eu sou um parêntese.
Alex: O que você quer? Me diga o que quer. Você nem sabe o que quer. Sou uma
mulher adulta, ta legal? Se quiser me ver de novo, me ligue. Tá legal?
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a execução deste trabalho fui percebendo como foi importante para
eu buscar os autores que busquei.
Gosto muito de assistir filmes e “analisá-los”, mas debruçando sobre a análise
deste filme em particular, vivenciei de forma clara os conceitos aqui apresentados,
sendo o principal deles a ressonância.
Conforme a sinopse do filme é possível perceber o dilema de uma pessoa
entre “Mapa de mundo” e “Programa oficial”.
Como psicóloga, levo para os atendimentos não só conhecimentos com os
quais me identifico como também situações de vida que contribuem para essa
identificação teórica e as possíveis intervenções.
A vida pode ser vista como um exercício de nossos desejos, multiplicado
pelas nossas expectativas, dividido pelas nossas escolhas e em alguns casos estas
escolhas se distanciam de nossos reais desejos.
Enquanto acreditar que a verdade me pertence, não tenho como expandir a
visão para aprender com a verdade do outro que pode ser a mesma, vista de outro
ângulo. Cada pessoa tende a viver do modo com que acredita. Não é possível
enxergar o outro e aceitá-lo, se não conseguir me estranhar em relação ao que sou.
Isso não se dá apenas na ordem intelectual, mas também emocional. Não há ação
humana que não tenha significação para quem age.
Os paradigmas influenciam as percepções fazendo acreditar que meu jeito de
fazer as coisas é a única forma de fazer. As mudanças de paradigmas só podem
ocorrer por meio de vivências, de experiências, de contato, de relação para que se
tenha consciência das próprias crenças e aprendizados, questionando-os.
Aprendi na formação de Psicoterapia de Família e Casal a ser mais flexível na
escuta clínica, para que o que difere de mim não prejudique o sistema que estiver
inserida, seja ele terapêutico, social, profissional ou institucional.
Observo que a realização deste trabalho me ensina que o submetimento às
normas pode ser visto de forma ampliada possibilitando a percepção do aprendizado
na execução dessas normas, embora a exigência da produção deste trabalho para a
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REFERÊNCIAS
Ponciano, Edna Lúcia Tinoco. História da Terapia de Família: de Palo Alto ao Rio
de Janeiro. 1999. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Curso de Pós-Graduação
em Psicologia Clínica, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro.
TURNER, Sheldon. Sinopse do filme “Amor sem Escalas”. 2009. Disponível em:
http://www.cinepop.com.br/filmes/amorsemescalas.php Acesso em: 31 de outubro
de 2010.