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Prefácio 009
Página
Correcção do exercício de treino 479
Bibliografia 748
Prefácio 009
PREFÁCIO
No contexto da nossa civilização, o futebol, nas suas diferentes manifestações, é um fenómeno que
está profundamente associado aos aspectos de origem social, pois, é um facto institucional que tem a sua própria
organização, as suas regras, as suas infra e super-estruturas, e de origem cultural, considerado como um proces-
so de actualização de valores culturais, morais e estéticos, os quais se radicam na sua popularidade e na sua uni-
versalidade. Embora as opiniões divirjam quanto ao sistema de valores sobre os quais este fenómeno assenta, a
sua importância no Mundo Contemporâneo não sofre qualquer tipo de contestação. Neste sentido, o jogo de
futebol sendo uma criação do Homem, desenvolve-se simultaneamente com a civilização, reflectindo ou
divergindo nos aspectos de carácter positivo ou negativo, que toda a sociedade na sua evolução evidencia. O fute-
bol pelo alto nível de especialização e profissionalização que atingiu, tornou-se objecto de co-nhecimento (leia-
se compreensão dos factos) o qual quando correctamente adquirido e aplicado possibilita a criação de novos
valores e paralelamente a construção de um novo sistema de convicções, que em última análise, determina a
alteração de processos ou caminhos para a sua renovação e inovação. Nesta perspectiva, sejam quais forem os
meios de análise, a causa, o pretexto ou as circunstâncias, esta será sempre a reflexão do Homem sobre o
Homem, num caminho que conduz ao conhecimento sustentado numa lógica racional, reflexiva e aplicativa.
Como especialistas desta modalidade desportiva, ao longo destes últimos 20 anos preenchidos por
múltiplas facetas, desde a conceptualização e aplicação de diferentes sessões de treino, passando pela condução
estratégico-táctica de equipas na competição profissionalizada, continuando pela elaboração de livros e publi-
cações de carácter pedagógico-científico e concluindo no ensino de carácter teórico e prático desta moda-lidade
na Universidade, sentimos em cada momento, a responsabilidade e a exigência metodológica de interpretar a
complexidade da situação, consubstanciada simultaneamente, na identificação e sistematização da rea-lidade do
jogo, descrevendo-a com o máximo de rigor possível, e a partir desta, lançar um conjunto de linhas orientado-
ras programáticas - estratégias, essenciais à transformação, quer quantitativa, quer qualitativa, da intervenção
nesta realidade competitiva. Não nos esquecendo das raízes que sempre nos nortearam ao longo destes anos,
pretendemos dar "alma" ao "corpo" da nossa actividade profissional quotidiana, que se exprime num circuito que
começa na observação de um facto, passa pela sua identificação, reflexão, sistematização, e experimentação,
levando-nos imediatamente a uma nova observação, para estabelecer a que nível quantitativo e qualitativo inter-
viemos sobre a realidade desse facto. Durante este "trajecto", perfilhamos fundamentalmente duas atitudes pro-
gramáticas, por um lado não procurar, embora reconhecendo as nossas ambições legítimas, esconder as nossas
limitações reais, e por outro, como em todas as áreas do conhecimento, o desvendar de um mistério hoje é cer-
tamente o redimensionamento no futuro de outros problemas cada vez mais difíceis de resolver.
Consequentemente, a pertinência do nosso esforço, terá que advir da nossa coerência profissional, que reside
obviamente na compreensão da intencionalidade e significação das decições tomadas, e do comportamento téc-
nico-táctico dos jogadores que daí derivam, procurando as suas relações e interrelações de cooperação e de
adversidade, e porque não, também, de alguns dos seus determinismos. Em última análise, pretendemos que o
andar do tempo, sempre inquieto, dinâmico e absorvente, não apague de todo o estigma do nosso principal
esforço, traduzido, quer por ideias soltas quer em óptica de labor, que estimule e inspire a procura de uma sis-
tematização e organização cada vez mais realista do jogo de futebol, ou por outras palavras, construir um códi-
go de leitura cada vez mais representativo da realidade.
Neste lento e seguro caminhar, aprendemos a debatermo-nos essencialmente com a complexidade de
duas questões, cujos contornos transportam em si próprios uma mesma implicação para o desenvolvimento do
jogo de futebol: por um lado, a importância do estabelecimento de uma teoria geral do jogo, e por outro, a
dinamização de novas atitudes mentais, práticas e funconais.
010 Guia prático de exercícios de treino
Uma teoria geral, embora não deva ser encarada como um dogma inatingível, deve consubstanciar
um sistema explicativo que cumpra provisoriamente (na medida em que este deve acompanhar as perspectivas
das diferentes correntes de evolução do pensamento), de forma o mais eficiente possível, procurar abarcar o
máximo de factos observados dentro do domínio da realidade que lhe é própria. Com efeito, a teoria represen-
ta um conjunto de conhecimentos organizados num sistema lógico e coerente, mas simultâneamente aberto,
dinâmico, complexo, adaptativo e dentro de certos limites antecipativo, cuja função consiste na descrição, expli-
cação, sistematização dos fenómenos observados na prática do jogo. Adicionalmente sublinhamos que a teoria
geral do jogo deve ter um carácter activo e não contemplativo, contribuindo assim para o aperfeiçoamento da
prática e da sua metodologia, entendidas como parte integrante do motor íntimo da evolução do futebol.
Fora da teoria nada é visível para ver outra coisa é necessário mudar de teoria
Ao observarmos e analisarmos o conteúdo do jogo de futebol, temos em conta certas regularidades,
que identificamos, nomeamos e classificamos, condição importante para a formulação das leis propícias à
etapa da teoria. Devido à continua ligação entre a prática e a teoria, atinge-se um estado superior de com-
preensão da realidade do jogo, sendo assim possível proceder-se a uma síntese, ou seja, a uma generalização
e sistematização dos seus elementos fundamentais. Parte-se assim, da prática para a teorizar e desta volta à
prática para a orientar. Tal como refere Popper (1989) é preciso ter em atenção que os conceitos e teorias que
procuram explicar uma certa realidade não são absolutas mas sim aproximativas, desta forma as verdades de
hoje poderão não o ser amanhã. Todavia, nunca devemos esquecer que as verdades do amanhã só existirão
porque existiram as do hoje dessa forma não se deve ignorar a sua importância deitando fora um processo
evolutivo impar. Neste domínio, quanto mais o jogo for privado deste esforço de análise, mais a sua teoria se
ressente do estabelecimento dos fundamentos necessários aos seus raciocínios, aumentando-se consequente-
mente, o espaço onde prolifera o acidental, o casuístico. Se o êxito ou inêxito individual (jogador), ou colec-
tivo (equipa), está exclusivamente nas mãos do acaso, o mérito, e por consequência a responsabilidade do
jogador que actua parece estar fora de causa. Todavia, e em sentido diametralmente oposto, não podemos
conter uma aprovação tácita cada vez que a nossa concepção se realiza, nem uma espécie de mal-estar int-
electual quando se verifica que é falsa. "Um facto nada é em si próprio, só vale pela ideia a que se liga ou pela
prova que fornece. Quando se identifica e qualifica um novo facto de descoberta, não é o facto em si que con-
stitui a descoberta, mas a ideia nova que dele deriva, também quando se demonstra, não é o próprio facto que
Prefácio 011
dá a prova, mas apenas a relação racional entre o fenómeno e a sua causa" (Bernard, 1783).
cobrem uma maior área de terreno de jogo tanto na fase ofensiva como defensiva o que por sua vez implica
uma diminuição do tempo e do espaço para a resolução técnico-táctica de uma dada situação quando se tem
ou não a posse da bola. Na actualidade cada jogador executa em média 360 intervenções (de curta até 2 segun-
dos, média - até 5 segundos ou longa duração - até 8 segundos) por jogo, este facto determina 4 esforços por
minuto, mas se utilizarmos o tempo real de jogo (excluindo as paragens que representam mais de 30% do
tempo total de jogo) este valor sobe para 6, isto é, observa-se um comportamento de 10 em 10 segundos com
ou sem a posse da bola com uma determinada intenção, finalidade e duração. A tendência destes valores no
futuro é de aumentarem especialmente no domínio qualitativo e na duração de cada esforço. Desta pequena
análise, fácil será extrapolar, que ao aumentarmos o ritmo de jogo, os jogadores estão mais pressionados tanto
no domínio do raciocínio táctico como no domínio do desempenho técnico sendo cada vez mais importante
utilizar-se processos de antecipação por forma a prever não só o resultado, mas também o desenvolvimento
dos acontecimentos de uma dada situação. Cada jogador procura em cada situação de jogo “viver a imagem
do futuro no momento presente” por forma a ganhar o tempo suficiente para pensar/executar um compor-
tamento eficaz e adaptado na resposta aos problemas postos pelo treino e pela competição desportiva. Mesmo
perante estes factos incontestáveis e incontornáveis da realidade competitiva ainda existem técnicos que afir-
mam categoricamente que no futebol nada muda, está tudo inventado, não vale a pena reflectir, não vale a
pena pensar é sempre o passe curto e o passe longo, o remate, a tabelinha, etc. Outros um pouco mais "evoluí-
dos" dirão que é fundamental ter duas ou três ideias e aplicá-las em função da situação que se lhes depara.
Partindo desta visão fechada e parada da realidade do jogo, não é de admirar que os treinadores, que assim
ainda pensam, vivem como eremitas utilizando receitas do passado mortas e doentias, mantêm-se "fieis" e
inflexíveis nos seus "exerciciozinhos" meios e métodos de treino, são "treinadores" da repetição decalcam ano
após ano independentemente dos jogadores ou da equipa os mesmos vícios - "os bons e maus". Perante este
panorama, ainda alguns ainda se reclamam competentes simplesmente por terem 20 ou 25 anos de profissão
quando na maior das hipóteses têm 1 ano multiplicado por 20 ou 25 vezes. É verdade que para se inovar é
preciso ler, reflectir, investigar, difundir as suas experiências, trocar ideias para que esta modalidade tenha
mais e melhor público, e implantação na sociedade, mas isto custa tempo, massa cerebral, exposição pública
e crítica.
Enquanto os médicos, por exemplo, todos os anos têm um novo receituário o que determina que as
doenças actuais não sejam curadas com medicamentos de há 10 ou há 20 anos atrás. Os treinadores mantêm
o seu receituário técnico influenciado pelos mesmos exercícios sobre os quais realizaram toda a sua vida
desportiva. Será possível que o conhecimento teórico e prático de há 20 ou 30 anos atrás possa ainda respon-
der adequada e cabalmente às questões inerentes à actividade desportiva na actualidade? A falta de cultura
geral, desportiva e de hábitos de reflexão por parte dos treinadores determina a recusa destes em aceitarem e
a entenderem que existem novas condições, novas mudanças no plano da investigação, na metodologia do
treino e das diferentes tecnologias pedagógicas cujo desinteresse determina um imobilismo e uma repetição
cega do passado. A mediocridade de grande parte dos intervenientes do fenómeno desportivo (treinadores,
dirigentes, jornalistas, etc.), baseia-se na necessidade constante do obscurantismo e do medo de perder algum
tempo para estudar e reflectir. Alguns pensam que a sua mediocridade será compensada pela mutação genéti-
ca de gerações e gerações de jogadores que lhes passam pelas mãos ao longo da sua vida profissional re-chea-
da de repetições baseadas não na experiência ou na competência mas sim da falta de ambas. Progresso, desen-
volvimento e inovação significa, acima de tudo, uma nova atitude mental sobre o problema, implica uma
nova atitude prática e uma nova atitude funcional. O treinador deverá abarcar uma bagagem de conheci-
mentos suficientes, que possibilitem a construção de situações de treino que se constituam como verdadeiras
oportunidades para que os jogadores necessitem, para além dos recursos físicos, exercitarem “à priori” a
reflexão crítica e através desta, possam dentro de um leque de opções tomar as decisões mais adequadas e
adaptadas aos problemas colocados. Nesta linha de pensamento, não é mais possível a utilização constante dos
mesmos “caminhos”, pois, estes irão transportar-nos para os mesmos lugares (miradouros) a partir dos quais
contemplamos as mesmas vistas, mudando somente o tempo e as circunstâncias de como lá chega-mos. Esta
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realidade constitui-se mais como um ritual, muitas vezes penoso e repetítivel. O treinador deve assumir-se
como um explorador de novos caminhos, que se traduzirão em novos conceitos, metodologias, teorias, etc.,
os quais contribuem de forma irredutível para a evolução do jogo de futebol. Com efeito, o treinador deverá
construir e interpretar novos caminhos (leia-se mapas) partindo de perspectivas diferenciadas em função de
novos conceitos, do tempo, do espaço, das circunstâncias, etc., abrindo assim novas vias de acesso a um
processo de treino optimizado pela rentabilização dos meios humanos e materiais à sua disposição. No mesmo
momento, eliminar-se-á tudo aquilo que potencialmente poderá diminuir a possibilidade dos jogadores não
atingirem o máximo das suas capacidades. É que no treino dever-se-á conceptualizar situa-ções-problema em
que se objective mais as acções motoras produtivas, isto é, aquelas que se alteram cons-tantemente na procu-
ra de uma adaptação mais eficiente e eficaz, do que acções motoras reprodutivas, no qual se realizam sempre
a mesma resposta independentemente da variabilidade situacional proposta. “O acto do treinador baseia-se
num saber, que como qualquer outro, se aprende que se renova e se transforma cons-tantemente” (Lima,
2000).
dade, todavia, há uma forte relação entre o número de vezes que se executa uma acção de predominância téc-
nica ou de predominância técnico-táctico e o nível de performance (rendimento) conseguido por este.
O objectivo do livro
O conteúdo deste livro centra-se numa problemática em que a evolução da praxis do futebol, resul-
ta da interacção entre o jogo (a sua lógica interna) e do jogador (a lógica de como este aprende, evolue e se aper-
feiçoa) os quais por sua vez evidenciam um terceiro problema estabelecido pela lógica do exercício de treino
(considerado como uma construção hipotética potencialmente capaz de organizar e orientar a actividade do
jogador). Assim, para além das questões que derivam (1) da análise, sistematização, evolução, (2) dos diferentes
aspectos de ordem metodológica (fa-ctores, etapas, princípios, unidades de programação, etc.), na procura de
uma didáctica pedagógica eficaz para para o jogo de futebol, (3) o exercício de treino é um meio, que se confi-
na como um dos mais importante da actividade do treinador. Ora, se é um meio essencial desta actividade
profissional deve-se ter para com este - exercício de treino, um respeito, uma reflexão, um estudo e uma pro-
fundidade conducente com a sua real importância, não só na actividade profissional do treinador como tam-
bém no processo de formação/desenvolvimento dos jogadores ou das equipas. Nesta dimensão procuramos
poder contribuir, se possível decisiva-
mente, para que o exercício de treino
seja encarado, reflectido, analisado e
utilizado como uma individualidade,
uma intimidade e uma lógica fun-
cional, contendo assim, todos os ele-
mentos essenciais e vitais para se con-
stituir como instrumento operacional para ultrapassar fronteiras consubstanciadas pela limitada capacidade
humana. É com esta entrega deliberada (no sentido de se tomar uma opção), racional (na dinâmica da inteligi-
bilidade) e apaixonada (orientada para um objectivo exclusivo) que se poderá concretizar um determinado
desígnio, pretexto para abarcar grande parte, senão a maior, só sendo possível pelo cumprimento rigoroso, sis-
temático, coerente e inteligível do ciclo do exercício de treino que:
1. “Nasce” da reflexão intelectual do treinador na procura dos melhores meios para elevar racionalmente as
capacidades desportivas dos seus jogadores ou da sua equipa.
2. “Vive” durante o tempo da sua aplicação na qual o jogador terá que respeitar as suas prescrições e obri-
gações por forma a potenciar um certo comportamento motor específico.
3. “Morre” logo após o terminus da sua execução, deixando no entanto, a sua sustentável existência traduzi-
da nos efeitos de origem interna que produzem no jogador a curto, médio ou longo prazo.
4. “Ressuscita” através da continua e sistemática aplicação do mesmo ou de outros exercícios de carácter mais
complexo que se desenvolvem na base dos primeiros.
5. “Autorregenera-se” devido à necessidade de se estudar os seus efeitos (de carácter positivo ou negativo)
por forma a se compreender a que nível qualitativo e quantitativo se interviu na elevação, manutenção ou
redução da capacidade de prestação desportiva do jogador.
adaptadas à situação. E mais se acrescenta, é a partir do resultado da resposta motora do jogador, que este irá
analisá-la em função da sua eficácia, a qual permitirá interiorizá-la na sua memória tornando a experiência
significativa, logo facilitadora na resolução de outras situações idênticas (devido à participação da consciên-
cia) ou servindo de base para a resolução de uma nova situação momentânea de jogo (devido à utilização de
um pensamento produtor).
Concluindo, no futebol não ganha quem é mais rápido (veloz), quem salta mais alto ou quem corre
mais, mas sim, quem basicamente tem a capacidade de reconhecer em cada momento as invariantes estrutu-
rais do jogo e a capacidade de antecipar o desenvolvimento desses acontecimentos os quais se traduzem pela
utilização de procedimentos técnico-tácticos específicos adaptados às situações momentâneas de jogo, os quais
foram escolhidos dentro de um leque mais ou menos alargado de opções possíveis para aquele caso, sendo
suportados pelas diferentes componentes de dominante física (velocidade, força e resistência) numa corre-
lação íntima (não confundir com separada!) e premente. Nesta dimensão podemos acrescentar, que o jogo de
futebol tem uma estrutura multifactorial formando uma complexidade específica e pluridimensional, todavia,
partindo da sua lógica interna podemos analisar quais os factores de treino fundamentais a desenvolver e
sobre quais estes se suportam de forma coerente e correlativa. Inverter a ordem dos factores em treino é não
respeitar a lógica interna do jogo que se quer aprender, desenvolver ou aperfeiçoar, é tornar o processo de
treino arbitrário, como se operações de multiplicação se tratassem (8x4 ou 4x8 tem sempre o mesmo resulta-
do) é perder o seu carácter inteligível da relação consciente entre a competição, o treino e o jogador. “O mel-
hor técnico do Mundo não é um treinador internacional de grande sucesso mas sim o próprio jogo. Observem
o jogo e o jogo vos ensinará o que deverão fazer” (Cramer, 1987).
traduzem na prática pelo: (1) aumento da capacidade do jogador para memorizar informação relacionada
com a resposta motora (reforça a resistência ao esquecimento), (2) incrementa a capacidade de discriminação
de pequenas e subtis variações da situação (identificação e retenção dos índices pertinentes) e, (3) potencia o
efeito de transfer positivo através da evocação de experiências anteriores (diminuindo-se significativamente o
tempo de aprendizagem e aperfeiçoamento da resposta motora). Marina (1993) refere relativamente ao movi-
mento inteligente que “numa jogada de basquetebol identificamos os elementos estruturais de toda a activi-
dade criadora: a invenção de um projecto, a sua promulogação, as operações para a realizar e os actos para a
sua avaliação. É a inteligência que possibilita a execução dessas capacidades”.
Aprofundemos através de um exemplo prático comparativo o que pretendemos evidenciar. Se apli-
carmos um exercício pliométrico aos jogadores para o desenvolvimento da sua prestação de força explosiva,
utilizando um certo número de repetições de saltos sobre barreiras, o programa motor para a sua execução é
de carácter “fechado” não havendo a possibilidade dessa “rotina motora” possa utilizar ajustamentos e repro-
gramações motoras “significativas” para além do normal relativamente à execução em causa. Contrariamente
se utilizarmos uma situação específica de treino de 3x3 sobre duas balizas o trabalho de força explosiva poderá
ser traduzida pelas constantes travagens com mudanças de direcção e velocidade e pelo número de saltos real-
izados para cabecearem a bola. Ao compararmos os dois exercícios acima referidos, observa-se que o segun-
do utiliza uma programação motora completamente distinta e especializada, tendo em conta os dife-rentes
aspectos que derivam da contextualização da situação a qual determina diferentes mecanismos decisórios e de
execução. Este facto objectiva a necessidade de constantes reprogramações motoras devido às constantes alter-
ações dessa situação. Todavia poder-se-á perguntar como podemos garantir que o segundo exercício cumpre
os pressupostos científico-metodológicos do treino pliométrico? A resposta é dada pelas prescrições (condi-
cionantes estruturais) estabelecidas para a realização do exercício. Por exemplo: (1) utilização de circulações
tácticas estandardizadas que devido à sua eficácia aumentam as possibilidades de cruzamento e de cabecea-
mento da bola (aumento do número de saltos por jogador na unidade de tempo), (2) considerar somente os
golos conseguidos através de cabeceamento com impulsão, (3) criar condições de espaço e tempo que poten-
cializem certos tipos de comportamento táctico-técnico em detrimento de outros (diminuição do número de
toques na bola por intervenção e restringir o número de passes do processo ofensivo para se poder finalizar
à baliza utilizando o cabeceamento). Sejamos claros! Um exercício de treino que faz interagir (nas suas difer-
entes proporções determinada pela sua lógica) os diferentes sistemas dos jogadores, aproximando-o à especi-
ficidade competitiva do jogo de futebol, tem um valor acrescentado porque estabelece padrões de resposta
motora e um número de repetições conducente à elevação do rendimento desportivo do jogador ou da equipa.
Neste sentido, todos os processos e sistemas do ser que joga estão em interacção, especialmente os processos
de recolha e tratamento de informação, da memória, da atenção selectiva, da antecipação, os quais, estão per-
manentemente a serem utilizados em virtude da variabilidade contextual do exercício. Noutro sentido, o exer-
cício de carácter “geral” ou “artificial” para além dos aspectos fisiológicos, musculares e de controlo da sua
execução, nada mais solicita no plano cognitivo, não tem nexo, textura e transferibilidade, todavia, são exer-
cícios muito utilizados na prática metodológica de velhos paradigmas que nada tem haver com as necessi-
dades do treino desportivo na actualidade. Nesta perspectiva, se pretendemos verdadeiramente estabelecer
uma relação significativa entre a lógica interna de uma dada modalidade desportiva, a lógica do jogador e a
lógica do processo de treino, devemos elaborar e construir modelos (simulações da realidade constituídos por
elementos específicos do fenómeno que se observa) de forma intencional susceptíveis de tornar inteligível um
fenómeno complexo. A construção de modelos de treino implica a representação de algo que é semelhante e
consistente com a realidade e apresenta como vantagens os seguintes três aspectos: (1) possibilita superar as
dificuldades inerentes à organização hierárquica dos diferentes factores e conteúdos específicos que derivam
da lógica interna do jogo de futebol (separa o que é fundamental do que é acessório), (2) possibilita uma
análise operativa e uma busca de carácter provisional de cada factor ou conteúdo preponderante na estrutu-
ra do rendimento dessa modalidade desportiva (analisando a parte em função do todo, sem perder a possi-
bilidade de analisar isoladamente cada factor de rendimento), (3) possibilita a criação de contextos mais ou
Prefácio 019
menos complexos que derivam da estrutura do processo competitivo inerente ao jogo de futebol, conservan-
do no entanto as informações, os contextos, as atitudes e os comportamentos substanciais e significativos do
jogo (independentemente do nível de complexidade do exercício de treino este nunca desvirtuará a sua lógi-
ca fundamental).
Concluindo, não se pode ignorar que a construção de um qualquer programa de treino seja para as
sessões, para os microciclos, para os mesociclos ou para a periodização anual os quais só podem manifestar a
sua essencialidade e objectividade quando correctamente suportadas numa unidade (célula) lógica de progra-
mação e de estruturação que é o exercício de treino. É com esta entidade nas suas diferentes facetas e pela sua
acumulação ao longo de um certo período de tempo, que se podem alterar constante, consistente e significati-
vamente as possibilidades de êxito do jogador ou da equipa a curto, médio e a longo prazo. A reflexão sobre o
exercício de treino e a sua operacionalidade é tão aliciante como perturbadora, que nos obriga por consciência
e necessidade profissional, dedicar racionalmente todo o nosso esforço, tempo e empenho num problema
temático que para muitos parece estar resolvido enquanto, para outros, parece estar no inicio de uma longa cam-
inhada. Poder-se-á referir que o exercício é um problema tão evidente dentro do contexto do processo de treino,
que talvez seja essa própria evidência que o atraíço provocando uma discrepância significativa entre a importân-
cia do assunto e as reflexões teórico-práticas que procuram debruçar-se sobre ele, bem como dos parâmetros
fundamentais que deverão ser manipulados para a sua correcta elaboração compatibilizando todas as invariáveis
e variáveis inerentes a este processo pedagógico. Noutro sentido podemos observar mais concretamente, que a
pouca escrita sobre o exercício também advém da sua dificuldade traduzida: (1) pelo seu forte determinismo,
porque quando correctamente construído, aplicado e corrigido potencia claramente uma riqueza de base
humana evidenciado nas elevadas prestações desportivas alcançadas e, (2) pela sua volatilidade, pois quantas
vezes ao utilizarmos este ou aquele exercício pensamos que os seus efeitos estão direccionados para um deter-
minado sentido de evolução do jogador e após algumas sessões ou semanas de trabalho verificamos que esses
mesmos efeitos se manifestam colocando-nos numa direcção completamente oposta aquela que nos propuse-
mos. A lógica funcional e relacional do exercício de treino é precária e instável visto depender, por um lado, do
nível de capacidade do jogador no momento da sua aplicação, e por outro, dos diferentes níveis de complexi-
dade que estruturam cada patamar evolutivo de aperfeiçoamento ou desenvolvimento relativamente à lógica do
jogo de futebol.
A organização do livro
jogadores orientam e coordenam as suas decisões, atitudes e comportamentos, por forma a assegurar-se rap-
idamente a solução táctica para cada situação de jogo e do estabelecimento de uma linguagem comum den-
tro da equipa com o objectivo de melhorar a sua funcionalidade, (5) técnico-táctico. Todos os jogadores
devem ter um repertório de respostas motoras, por forma a resolver as diferentes e complexas situações
momentâneas de jogo, optando consciente e adaptadamente em função dos objectivos tácticos e estratégicos
pretendidos e, (6) táctico-estratégico. Expressa uma planificação que analisa, define e siste-matiza as difer-
entes operações inerentes à construção e desenvolvimento de uma equipa. Assim, organiza-as em função das
finalidades, objectivos e previsões, escolhendo as decisões que visem o máximo de eficácia e funcionalidade
da mesma.
Na segunda parte iremos analisar a unidade lógica de estruturação e programação do treino de futebol
reflectindo sucessivamente: (1) os fundamentos do exercício de treino, no qual se desenvolvem as questões
inerentes: à sua definição, caracterização, natureza e estrutura, (2) as lógicas estruturais do exercício de
treino dentro das quais se sobrelevam os aspectos da adaptação funcional do jogador suportado pelas com-
ponentes e condicionantes estruturais do exercício de treino, (3) os princípios de aplicação do exercício de
treino, que têm por objectivo sistematicamente direccionar, orientar, moldar e controlar a globa-lidade da
actividade dos jogadores e das equipas, por forma a lhes conferir uma maior eficácia e eficiência. Neste
domínio, evidenciamos princípios de carácter: biológico, metodológico e pedagógico e, (4) as bases de eficá-
cia dos exercícios de treino, que envolve: a concepção fundamentalmente determinada pela capacidade
momentânea do jogador ou da equipa, e a lógica interna do jogo de futebol, a apresentação na qual se estab-
elecem os objectivos e a forma de os concretizar, a prática/repetição onde se criam as condições mais
favoráveis para se atingir os objectivos pretendidos e a correcção, por forma a evitar-se a consolidação de
hábitos motores inadequados aos objectivos pretendidos e que posteriormente serão de difícil modificação.
Na terceira parte dedicamos o nosso esforço à concepção e organização prática de exercícios de treino esta-
belecendo uma taxonomia que consubstancia três níveis fundamentais: (1) os execícios de preparação geral,
os quais são conceptualizados e operacionalizados sem ter em conta nem os contextos situacionais, nem as
condicionantes estruturais objectivas em que se realiza a competição, (2) os exercícios gerais de preparação
específica manipulam as condicionantes estruturais como o espaço, o número, o tempo, o regulamento, etc.,
por forma a criar condições favoráveis para potenciar a relação do jogador com a bola e um número restrito
de companheiros e adversários com quem este se relaciona, os quais irão ser progressivamente aumentados
até ao número estabelecido pelo regulamento da modalidade e da capacidade de prestação dos jogadores.
Neste âmbito conceptualizamos exercícios: i) para o aperfeiçoamento da acção de recepção e passe, ii) para a
manutenção da posse da bola e, iii) de dominante técnico-física e por último, (3) os exercícios específicos
constituem-se como o núcleo central da preparação dos jogadores tendo sempre em consideração as
condições estruturais em que as diferentes situações de jogo se verifiquem. Neste âmbito conceptualizamos
exercícios: i) de finalização em condições favoráveis de espaço, tempo e número de jogadores, ii) circulações
tácticas para a criação de situações de finalização, iii) para potenciar comportamentos técnico-tácticos em
função das missões específicas dentro da organização da equipa, iv) para a articulação dos sectores de jogo de
organização da equipa e, v) para potenciar as situações de bola parada.
Na quarta parte desenvolvemos os aspectos mais importantes para a conceptualização e organização da sessão
de treino em futebol. Neste sentido, iremos analisar cinco aspectos fundamentais da sessão de treino: (1) a
duração, (2) a forma, (3) a estrutura, (4) os tipos e, (5) a elaboração.
021
Futebol
Guia prático de exercícios de treino PARTE I
A ORGANIZAÇÃO
DINÂMICA DO
JOGO DE FUTEBOL
Capítulo 2
É representado pela coordenação (sincroniza-
O subsistema estrutural ção) comportamental dos jogadores e pelo
ritmo de execução das suas acções téc-
nico-tácticas.
Capítulo 3
O subsistema metodológico
É suportado pelo posiciona-
mento dos jogadores no terreno É constituído por comportamentos de base
de jogo e pelas funções tácticas Capítulo 4 que os jogadores accionam na fase de
gerais e específicas distribuídas ataque ou de defesa por forma a re-
O subsistema relacional solucionar as situações de jogo.
Capítulo 5
É formado pelas linhas ori-
entadoras do pensamento táctico O subsistema técnico-táctico
dos jogadores, que visam a resolução
operativa das situações de jogo.
Capítulo 6
O subsistema táctico-estratégico
Parte UM
O jogo de A ORGANIZAÇÃO DINÂMICA DO JOGO DE FUTEBOL
futebol
Parte UM O futebol é um jogo desportivo colectivo, no qual os intervenientes (jogadores) estão agru-
O jogo de pados em duas equipas numa relação de adversidade - rivalidade desportiva, numa luta
incessante pela conquista da posse da bola (respeitando as leis do jogo), com o objectivo de
a introduzir o maior número de vezes na baliza adversária e evitá-los na sua própria baliza,
com vista à obtenção da vitória. Para se atingir esta finalidade, o futebol possui uma dinâmi-
ca própria, um conteúdo que podemos definir como essência do jogo a qual é moldada pelas
suas leis e regulamentos dando origem a uma série de atitudes e comportamentos técnico-
tácticos. Concretamente, é o jogo que determina o perfil das exigências impostas aos
jogadores, originando assim um quadro experimental específico. Isto é válido, tanto para as
acções motoras em si, e o seu consequente desempenho, como para as solicitações de ordem
psíquica e a sua exteriorização em termos de resposta.
A natureza do jogo de futebol fundamenta-se no seu carácter "lúdico, agonístico e proces-
sual, em que os 11 jogadores que constituem as duas equipas, encontram-se numa relação de
adversidade típica não hostil - denominada de rivalidade desportiva" (Teodorescu, 1983). As
equipas em confronto directo formam duas entidades colectivas que planificam e coordenam
futebol as suas acções para agir uma contra a outra, cujos comportamentos são determinados pelas
A organização dinâmica do jogo de futebol
de jogo estabelecem-se como um dos parâmetros básicos que configuram e determinam a Parte UM
sua resolução. Uma das classificações mais utilizadas considera duas grandes categorias:
(1) "habilidades fechadas": em que a execução técnica é realizada num contexto (envolvi- O jogo de
mento) relativamente estável e, (2) "habilidades abertas": em que a execução técnica é futebol
realizada face a uma grande variabilidade do contexto da situação do jogo. Com efeito, o
desempenho motor dos jogadores está estreitamente relacionado com a capacidade destes Parte UM
responderem de forma adaptada e eficaz às constantes e diversas mudanças que se pro- O jogo de
duzem no envolvimento. Qualquer uma destas "habilidades" - fechadas e abertas, podem
ser observadas no jogo de futebol, enquanto as primeiras se verificam fundamentalmente
nas reposições de bola em jogo (livres, pontapés de canto, de saída, de baliza, etc.), as
segundas são utilizadas em todas as outras situações de jogo.
4. A aproximação táctica. Ao observarmos o jogo de futebol imediatamente chegamos à
conclusão do elevado grau de complexidade que os comportamentos técnico-tácticos dos
jogadores em si encerram. Executar uma acção correcta, no momento exacto, empregan-
do a força necessária, imprimindo a velocidade ideal, antecipando as acções dos adver-
sários, e tornando compreensível a sua acção em relação aos companheiros, são alguns dos
elementos que qualquer jogador deve ter em conta antes de tomar uma decisão. Com
efeito, o comportamento dos jogadores só é compreensível considerando-os como indiví-
duos que têm que dar uma resposta eficaz às várias situações momentâneas de jogo,
porquanto estes são obrigados a adaptar-se rápida e continuamente a si próprios, às neces-
sidades da equipa e aos problemas postos pela equipa adversária. É nestas circuns-tâncias
futebol
que o jogo de futebol é considerado de preponderância táctica, que consubstancia a neces-
sidade de resolução das situações de jogo, isto é, problemas tácticos continuamente var-
iáveis, os quais derivam do grande número de adversários e companheiros com objectivos
Parte UM
opostos, através do factor técnico-coordenativo. Isto significa, que a resolução de qual- O jogo de
quer situação de jogo se consubstancia numa dupla dependência: (1) da capacidade téc- futebol
nico-coordenativa do jogador: "se uma situação de jogo determinar uma mudança do
ângulo de ataque que o jogador não pode realizar, é necessário que este escolha uma outra
solução que não será na lógica das opções tácticas mais eficazes, mas que exprimirá as pos- Parte UM
sibilidades de resposta desse jogador nesse momento" (Grehaigne, 1992) e, (2) da opção
táctico-estratégica tomada pelo jogador: "na qual procura surpreender os adversários O jogo de
executando uma resposta imprevisível dentro das opções lógicas da situação por forma futebol
que resulte na rotura da organização da equipa adversária" (Grehaigne, 1992). Com efeito,
o jogo de futebol constitui-se como um notável meio de expressão. Esta perspectiva assen-
ta no facto dos jogadores disporem de um amplo conjunto de possibilidades e de proced-
imentos técnico-tácticos com vista à resolução das situações de jogo. Todavia, a natureza
desta resolução não é “unidireccional”, pois, pode partir de diferentes condições iniciais
para chegar ao mesmo objectivo, isto é, utilizar dife-rentes caminhos para atingir a mesma
finalidade
Uma aproximação táctica não significa somente uma organização em função do
espaço de jogo e das missões específicas dos jogadores, esta pressupõe, em última análise,
a existência de uma concepção unitária para o desenrolar do jogo ou, por outras palavras,
o tema geral sobre o qual os jogadores concordam e que lhes permite estabelecer uma "lin-
guagem comum". Neste sentido, a táctica impõe diferentes atitudes e comportamentos
consubstanciados num conjunto de combinações, cujos mecanismos assumem um carác-
ter de uma disposição universalmente válida, edificada sobre as particularidades do
envolvimento (meio). Assim, a inteligência do jogador em jogo deverá permitir um pen-
samento lógico, flexível, original e crítico, garantindo a execução óptima das habilidades
024 Guia prático de exercícios de treino
Futebol
Guia prático de exercícios de treino CAPÍTULO 1
O SUBSISTEMA
CULTURAL
Parte UM
O SUBSISTEMA CULTURAL
Capítulo
UM
1. Conceito de subsistema cultural
O subsis - O subsistema cultural que deriva da noção de organização dinâmica de uma equipa de
tema cul - futebol, é definido por um conjunto complexo de representações, valores, finalidades, obje-
ctivos, símbolos, etc., partilhados em interacção por todos os jogadores, as quais estabelecem
as formas como a equipa encara e responde perante a competição desportiva, tendo em
atenção as Leis do jogo.
é, todos estão dependentes uns dos outros e, (3) pelo treinador, cuja actividade se radica num Parte UM
projecto cultural com objectivos de formação ou rendimento desportivo, que é preciso aper-
feiçoar e desenvolver. Todavia importa sublinhar, que tanto o treinador como os jogadores Capítulo
devem compreender e assimilar o melhor possível a história, a tradição e a cultura da insti- UM
tuição - Clube, pois a sua representação (contratação no
domínio profissional) visa a valorização do Clube e O subsis -
depois sim, as pessoas que o servem. A acção do tema cul -
Foto cedida pelo jornal O JOGO
treinador nesta perspectiva, não é só fundamental como
decisiva. Assim, o treinador deverá criar todas as
condições necessárias e suficientes para que os jogadores
Foto 5. O treinador como elemento
melhorem as suas capacidades e competências de decisão
decisivo na concretização de um projec- e de execução procedimental, em função do cumprimen-
to cultural to de um modelo de jogo assumido pelo Treinador e pela
instituição. Clubes existem, que ao longo dos tempos
conceptualizaram e cristalizaram progressivamente um modelo, para o qual terá todo o sen-
tido que o treinador venha a aperfeiçoá-lo e dar-lhe o seu cunho pessoal e personalizado, não
sendo aconselhável inverter bruscamente o seu desenvolvimento, especialmente quando este
é consentâneo às perspectivas de evolução do jogo de futebol. O treinador ao obrigar que os
jogadores cumpram os aspectos fundamentais do modelo de jogo: (1) respeita os vínculos
que o ligam à instituição, (2) promove um caminho de desenvolvimento da equipa que lhe
parece mais correcto, (3) focaliza com maior precisão as funções tácticas que irão ser tural
atribuidas aos jogadores, (4) fomenta uma melhor comunicação interna, isto é, uma lin-
guagem comum entre os jogadores e entre estes e o treinador, (5) atender à evolução do jogo
de futebol em função do enquadramento competitivo em que estão inseridos, (6) evita que Parte UM
determinado tipo de jogadores devido às suas particularidades e competências possam desvir- Capítulo
tuar o próprio modelo por forma a valorizarem-se somente a eles próprios, (7) potencia um
determinado tipo de atitudes, decisões e comportamentos técnico-tácticos que reproduzem
UM
as características e particularidades do modelo de jogo, sem que a criatividade e a impro- O subsis -
visação das acções dos jogadores seja uma trave mestra da sua construção, (8) direcciona tema cul -
objectivamente a responsabilidade do incumprimento dos objectivos delineados para a época
desportiva, (9) estabelece a possibilidade de alteração pontual de pressupostos, que não são tural
compaginaveis com o rendimento desportivo evolutivo da equipa.
Nestas circunstâncias, a natureza do subsistema cultural deriva essencialmente das
seguintes quatro vertentes fundamentais: (1) as finalidades, os valores e convicções, (2) o Parte UM
desenvolvimento de condições normativas, (3) as Leis do jogo de futebol e, (4) pelos dife- Capítulo
rentes tipos de competição (a eliminar, por pontos, torneio, etc.).
UM
2.1. As finalidades, os valores e as convicções
As finalidades, os valores e as convicções partilhados pelos diferentes jogadores
que constituem a equipa, influenciam indelevelmente as suas atitudes e os seus comporta-
mentos, perante a necessidade de resolucionar
os diferentes contextos situacionais de jogo. Esta
influência traduz-se numa dupla dimensão, por
Foto cedida pelo jornal O JOGO
análise, o traço de união do espiríto ou da alma da equipa não devendo haver dúvidas quanto a estes pressu-
postos por parte dos jogadores, especialmente quando são profissionais. Nesta perspectiva, cada jogador adere a
"uma visão" comum, isto é, assume uma consciência colectiva, factor fundamental para a união e coerência inter-
na da equipa. Entre muitos aspectos fundamentais, esta consciência colectiva é complementada essencialmente
pelos seguintes aspectos:
2.1.1. Criação de um ambiente colectivo e intimista, que se traduz, entre muitos aspectos: (1) pela utilização
de roupa comum para o treino e para as viagens, (2) a capacidade de reagir de forma colectiva às dificuldades
e vicissitudes do treino, dos resultados da competição, (3) no aperfeiçoamento da comunicação dentro da
equipa, (4) no respeito pelas condições normativas vigentes, (5) criação de climas de trabalho, (6) respeito pela
história e ressuscitar tradições do Clube por forma a aumentar a sua coesão, (7) fazer aproximar os níveis de
aspiração individual com os objectivos da equipa, (8) reacção colectiva a comen-
tários considerados menos correctos por parte dos jogadores de outras equipas ou
de jornalistas, (9) refeições conjuntas nas horas que antecedem as competições
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO
idade deve saber o que o treinador julga dever ser o seu desempenho e de modo contin-
uado e persistente receber a informação de retorno acerca do modo como está ou não a
corresponder. Noutro sentido, a ausência da determinação das obrigações e funções de
cada jogador fomenta um clima de rivalidade generalizada entre estes, os quais desen-
Foto 9. As conferên- volvem ao longo do tempo (especialmente quando os resultados desportivos não corre-
cias de imprensa spondem aos objectivos e intenções da equipa), um sentimento de frustração e de agres-
sividade, contrário ao correcto espírito da equipa, absorvendo e direccionando inutil-
mente grande parte das suas energias individuais e colectivas. É evidente que não se pode negar a rivalidade
humana existente no seio da mesma equipa. "A ideia tão usada de onze companheiros, sempre de acordo e
inseparáveis deve ser observada com largo cepticismo. É preciso ter em atenção que cada elemento de uma
equipa pretende sempre representar-se a si mesmo, provando e vivendo a sua autorealização, o desenvolvi-
mento da sua personalidade e da sua capacidade de autodeterminação em relação aos outros" (Bauer e
Ueberla, 1988). Neste sentido, deve-se admitir uma rivalidade sã, considerada normal, estabelecida pelos
jogadores com as mesmas obrigações e funções tácticas dentro da equipa (por exemplo: os guarda-redes, os
defesas centrais, etc.). Por último, mas não menos importante, é o facto de os jogadores compreenderem e
interiorizarem que cada acção individual será tanto mais eficaz, quanto mais se basear e depender da acção
colectiva. No jogo de futebol como em qualquer outro desporto colectivo, há sempre lugar para individuali-
dades de grande capacidade técnico-táctica, que em qualquer momento poderão resolver o resultado final do
A organização dinâmica do jogo de futebol 029
jogo. Todavia, estas individualidades têm de perceber que sozinhos conseguem muito pouco para o sucesso
da equipa. Nesta perspectiva, “o êxito ou insucesso são um problema de todos e não só de alguns” (Araújo,
2000) dos que jogam ou que cumprem tarefas tácticas que apreciam. A responsabilidade terá de ser dividida
por todos, incluindo aqueles, que não sendo convocados para a competição, o seu esforço e empenhamento
consubstanciou durante a semana de treinos (1) lutarem para demonstrarem que estão num nível de pron-
tidão capaz de dar um contributo eficaz à equipa e, (2) possibilitarem condições favoráveis para que os seus
colegas, podessem desfrutar de ambientes semelhantes ao da competição, por forma a puderem superar-se,
melhorando ou aperfeiçoando as suas capacidades de domínio técnico-táctico, físico e emocional. Numa
equipa todos fazem falta mas ninguém é imprescindível.
2.1.3. Estabelecimento de níveis hierárquicos específicos dentro da equipa, que normalmente são baseados:
(1) no tempo de permanência de determinado jogador no clube (factor idade), (2) na personalidade do
jogador (espírito de liderança) e, (3) na sua capacidade de execução técnico-táctica (reconhecimento da sua
importância na resolução das situações de competição).
2.1.4. Aceitação ou a eleição (quando é possível e útil) do conjunto de pessoas (elementos) de referência, tais
como:
A. O capitão da equipa, cuja importância se estabelece basicamente em dois níveis fundamentais: (1)
durante a competição: i) no diálogo que estabelece e mantém com o juiz árbitro da partida, ii) interlocu-
tor privilegiado entre o treinador e os restantes jogadores da equipa,
transmitindo informações fundamentais aos companheiros e consubstan-
ciando ajustamentos tácticos estabelecidos pelo treinador e, iii) na res-
Foto cedida pelo jornal O JOGO
treino não seja somente mais um exercício de treino, que cada sessão de treino não seja somente mais uma
sessão de treino. Pelo contrário, qualquer uma destas unidades lógicas de programação do processo de
treino devem ser encaradas como mais uma oportunidade que encaminhará inapelavelmente o jogador e a
equipa para uma evolução desportiva significativa, perdurável e sustentada no futuro e, (2) estabelece toda
a planificação de domínio: i) conceptual (construção do modelo de jogo da equipa, na formulação de pres-
suposto de índole técnica para a aquisição de jogadores com uma determinada competência e a gestão
diária de um grupo heterogéneo de jogadores com diferentes ambições e expectativas), ii) a planificação
estratégica (recolha de dados da equipa adversária, na elaboração do plano táctico-estratégico - no qual se
inclui, entre outros, a orientação geral para o jogo, a constituição da equipa e a distribuição das missões
tácticas dos jogadores, as reuniões de reconhecimento da equipa adversária, de preparação e de análise do
jogo, elabora o programa de preparação para o ciclo de treino e prepara a equipa durante as horas que ante-
cedem a competição) e, iii) a planificação táctica (consubstancia basicamente a orientação da equipa
durante o jogo, durante o intervalo, utiliza as substituições procurando incrementar o rendimento da
equipa, etc.).
2.1.5. Estabelecer objectivos realistas. Uma das vertentes fundamentais da natureza do subsistema cultur-
al é o estabelecimento de objectivos que devem ser concretizados durante o desenrolar da época desporti-
va. Em função da “marca” histórica do Clube no panorama desportivo Nacional e Internacional, dos
anseios e solicitações dos adeptos e, das circunstâncias conjunturais vividos no momento (no domínio
económico-financeiro especialmente) é fundamental estabelecer objectivos realistas. São estes objectivos,
consentâneos com a realidade funcional, estrutural e económica do Clube, que irão criar a existência de
uma identificação colectiva e uma comunhão de interesses entre os jogadores que compõem a equipa. Nesta
perspectiva, em qualquer momento da época desportiva é possível comparar o valor visado e o valor atingi-
do pela equipa responsabilizando de forma positiva ou negativa os elementos que a constituem, podendo-
se estabelecer as correcções no plano da preparação necessárias para inverter, manter ou maximizar a
capacidade desta.
através da qual os elementos infractores serão obrigados a pagar. Como refere Araújo (2000) “mais importante
que multar um jogador que chega atrasado ao treino, é o facto de todos os jogadores entenderem a necessidade
de chegar ao treino com a antecipação suficiente que lhes permita concentrarem-se para as importantes tarefas
de preparação nelas contidos”. Desta afirmação importa referir que os jogadores dentro da equipa não estão só
para serem cumpridores de um horário, de um regulamento, mas acima de tudo para serem elementos partici-
pantes, actuantes e repercursores rentáveis do desenvolvimento e aperfeiçoamento do modelo de jogo da equipa.
O estabelecimento de condições normativas e o seu cumprimento por parte de todos os elementos da equipa é
um primeiro passo para regular pedagogicamente comportamentos perante diferentes situações da vida diária
dos jogadores perante o domínio do treino/competição ou fora deste. Assim, a sua aplicação não significa que
tudo está bem, nem invalida a necessidade do treinador apelar continuamente à participação e responsabiliza-
ção dos jogadores no processo de preparação individual e colectiva da equipa.
A organização é muito mais que um conjunto de elementos, "é um todo orientado para uma finali-
dade, uma intencionalidade que dá o tom a todas as actividades de uma organização. A finalidade converte-se
assim, em valores, em critérios e em objectivos" (Bertrand e Guillement, 1988). Com efeito, a organização de
uma equipa que procura atingir elevados níveis de eficácia deverá assentar numa finalidade que por si representa
uma intenção, isto é, um objectivo que descreve uma situação que ainda não existe, mas que é preciso con-
cretizar. No entanto, um objectivo pode ser fechado ou aberto. Um objectivo fechado seria por exemplo ganhar
um determinado confronto. Um objectivo aberto seria ganhar esse mesmo confronto através de um determina-
do resultado (por exemplo 2 a 0), pois só este seria conveniente para atingir um lugar ou uma fase do processo
de desenvolvimento da competição em que essa equipa estaria inserida.
1. No plano conceptual que se exprime basicamente pelo modelo de jogo, instituído pelo treinador em função
da sua concepção de jogo e das particularidades e especificidades dos elementos que constituem a equipa.
A organização dinâmica do jogo de futebol 035
2. No plano estratégico o qual, considerando o modelo de jogo de base da equipa realiza um conjunto de
alterações funcionais preestabelecido para aquele confronto, naquele momento e perante aquelas circunstân-
cias, que objectivam uma melhor adaptação da equipa, procurando potenciar o aproveitamento dos aspectos
menos eficientes e a minorar os mais eficientes da organização da equipa adversária.
3. No plano táctico que secunda o plano conceptual e estratégico estabelecendo as decisões operativas
necessárias à resolução das situações de jogo e à concretização dos objectivos delineados.
jogo, ou seja, o ataque (processo ofensivo) que é determinado pela posse da bola e a defesa (processo defensi-
vo). Com efeito, o elemento material fundamental do jogo na mudança das escolhas e objectivos tácticos
momentâneos de cada equipa é a bola. Esta constitui-se "na realidade como o eixo a partir do qual se pode
exprimir um número infinito de relações abstractas... suscitando as relações interpessoais e a luta entre as duas
equipas" (Menaut, 1983), conferindo aos seus sucessivos possuidores responsabilidades específicas. Nestas cir-
cunstâncias, o jogo de futebol evidencia dois processos perfeitamente distintos, que reflectem clara e funda-
mentalmente diferentes conceitos, objectivos, princípios, atitudes e comportamentos técnico-tácticos, sendo
determinados pela condição "posse ou não da bola" (processo ofensivo e processo defensivo respectivamente).
No entanto, estes dois processos, embora constituindo-se sob uma verdadeira oposição lógica, são no fundo o
complemento um do outro, ou seja, cada um deles está fundamentalmente implicado pelo outro. Assim, na
nossa análise estrutu-ral do conteúdo do jogo de futebol, reconhecemos interinamente que a totalidade de um
processo está na totalidade do outro. Isto significa, por outras palavras, que a identificação, nomeação e classi-
ficação de um novo elemento pertencente a um destes processos, lançará sempre sobre o outro uma luz sufi-
ciente para a identificação do elemento que lhe está directamente em oposição.
Segundo Teodorescu (1984), "o conteúdo técnico e táctico do jogo desenvolve-se num quadro
antagónico de duas fases fundamentais de ataque e defesa, que se manifesta tanto individualmente (luta entre o
atacante e o defesa), como colectivamente (luta entre o ataque e a defesa). Cada elemento do jogo (atacante ou
defesa), tenta romper o equilíbrio existente (teoricamente) e criar vantagens que lhes assegurem o sucesso". Para
atingir este objectivo, acrescenta o mesmo autor, (1984) "foi necessário encontrar procedimentos técnicos especí-
ficos, para o ataque e para a defesa, bem como a forma mais eficiente de os utilizar e valorizar, o que conduziu
claramente à sua organização-estruturação (que pressupõe o desenvolvimento e a coordenação racional das
acções), sob a forma de acções individuais e colectivas"... "para o desenrolar do jogo foi, portanto, necessário
estabelecer princípios, regras, formas, bem como outros elementos, através dos quais se assegurasse o êxito, tanto
no ataque como na defesa". "O aspecto crucial do jogo é, o facto de se ter ou não a posse da bola. A equipa que
tem a posse da bola ataca, quando não tem a posse da bola defende. Neste contexto, seja qual for a posição do
jogador dentro da equipa, será sempre um potencial atacante ou defesa quando a sua equipa tem ou não a posse
da bola" (Hughes, 1990), todavia, é igualmente um jogo de contrastes, acrescenta o mesmo autor (1973) "um
jogador ao aprender a pressionar os adversários deve igual-
mente saber como aliviar a pressão quando a sua equipa tem
a posse da bola. Esta é a base do jogo e a sua principal
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO
atracção".
As leis do jogo
com o intuito de tornar o jogo mais lógico, mais racional, mais sociável e mais
espectacular. Com efeito, os regulamentos passam de geração em geração possi-
bilitando, por um lado, a comparação evolutiva das diferentes prestações
desportivas e dos diferentes meios, métodos e didácticas de treino, e por outro,
cristalizando formas básicas comportamentais que fazem parte de um espólio
cultural humano.
As 17 Leis que regem universalmente o jogo de futebol caracterizam-se pela sua
simplicidade as quais: (1) normalizam as condutas dos jogadores, isto é, estab-
Foto 21. O organismo elecem graus de liberdade por forma a que estes possam intervir eficaz e efi-
Internacional
cientemente respeitando os regulamentos da modalidade, (2) determinam as
pres-crições necessárias para que os jogadores possam intervir durante a competição favorecendo a continuidade
dos seus comportamentos, (3) apresentam-se como o elemento definidor e delimitador do jogo consubstan-
ciando o seu sentido e espírito porque está integrado nele, fazendo assim parte da sua própria essência. Esta
038 Guia prático de exercícios de treino
inerência determina em larga medida a sua lógica interna e, (4) decorrem do princípio da igualdade de oportu-
nidade. Dito de outra forma, à luz dos regulamentos todos os jogadores na competição têm os mesmos direitos
e deveres os quais determinam uma igualdade de oportunidade para demostrar o seu valor evidenciado pelas
suas prestações. Analisemos de forma sucinta cada uma delas:
Lei I. O campo de jogo. Define as dimensões, as marcações (área de baliza, área de grande penalidade, área
de canto) e as balizas.
Lei II. A bola. Define a sua forma, tamanho, materiais para a sua construção, peso e pressão.
Lei III. O número de jogadores. Define o número máximo e mínimo de jogadores para a realização do jogo.
Lei IV. O equipamento dos jogadores. Estabelece que nenhum jogador pode fazer uso de qualquer objecto
perigoso para os restantes jogadores. Indica igualmente o tipo de calçado e as condições a que devem obede-
cer (tamanho dos pítons).
Lei V. O árbitro. Designa um árbitro para dirigir o encontro fazendo cumprir as Leis do jogo.
Lei VI. Os árbitros assistentes. Designa dois árbitros assistentes ou auxiliares equipados com bandeirolas,
cujos deveres são de coadjuvar a acção do árbitro, o qual ignorará ou não os seus sinais.
Lei VII. A duração do jogo. Estabelece as partes do jogo (2) e o tempo (45 minutos).
Lei VIII. O começo do jogo. Define o início da partida, o seu recomeço após a marcação do golo, após o inter-
valo e após qualquer interrupção temporária.
Lei IX. A bola fora e a bola em jogo. Define quando a bola está em jogo e quando está fora.
Lei X. A marcação dos pontos. Define quando é golo e como uma equipa é considerada vencedora.
Lei XI. Fora-de-jogo. Define quando um jogador está ou não fora-de-jogo.
Lei XII. As faltas e incorrecções. Define as faltas e incorrecções que os jogadores podem eventualmente come-
ter e os correspondentes castigos.
Lei XIII. Os pontapés livres. Categoriza os pontapés livres (directos e indirectos) e define as condições a que
os adversários devem obedecer para a sua execução.
Lei XIV. O pontapé de grande penalidade. Define em que situações deverá ser concedido o pontapé de grande
penalidade e as condições a que todos os jogadores (excepto o executante e o guarda-redes) devem obedecer.
Lei XV. O lançamento da bola pela linha lateral. Define o recomeço do jogo quando a bola transpõe as lin-
has laterais do campo e a forma de execução técnica.
Lei XVI. O pontapé de baliza. Define o recomeço do jogo quando a bola transpõe a linha de golo (excepto o
espaço delimitado pela baliza) tocada em último lugar por um dos jogadores atacantes.
Lei XVII. O pontapé de canto. Define o recomeço do jogo quando a bola transpõe a linha de golo (excepto
o espaço delimitado pela baliza) tocada em último lugar por um dos jogadores defesas.
1. A estrutura formal
A estrutura formal das Leis do jogo descreve
essencialmente os seguintes aspectos particulares: Foto 22. As três equipas do jogo de futebol
1.1. O campo de jogo traduz: (1) as dimensões do terreno
de jogo e, (2) as suas características através de marcações dos limites do campo (incluem as linhas laterais e
as linhas de baliza), das áreas de baliza, das áreas de grande penalidade, das áreas de canto, do círculo central,
da linha do meio campo, da meia lua e da colocação e dimensionamento das balizas.
1.2. A descrição da bola que não poderá ser trocada a não ser com a autorização do árbitro. Neste caso especí-
fico, o árbitro poderá autorizar a existência de um número maior de bolas por forma a poder substituír a bola
do jogo quando esta sai para lá das linhas do campo, por forma a minimizar o tempo de paragem do jogo.
A organização dinâmica do jogo de futebol 039
Controla igualmente os materiais complementares que se usam no jogo, especialmente no que diz respeito ao
equipamento dos jogadores que não deverão conter nenhum objecto perigoso para os outros jogadores.
1.3. Estabelecimento do número máximo de jogadores que compõem a equipa (onze, um dos quais será o
guarda-redes) e o número mínimo (sete) para que o jogo possa começar,
recomeçar ou prosseguir. Determina igualmente como os jogadores podem sair e
entrar no terreno de jogo, trocar de funções com o guarda-redes e a forma como
se processam as substituições.
1.4. A marcação de golos (é consubstanciada pelo facto de a bola transpor com-
pletamente a linha de baliza entre
os postes e por baixo da barra), a
determinação da vitória (para a
equipa que marcou o maior
número de golos) e de empate
(quando nenhuma das equipas
marcou golos ou marcaram o
mesmo número de golos).
1.5. O tempo total de jogo (90
minutos) a sua divisão em duas
partes (de 45 minutos) com um
intervalo (15 minutos) e o controlo
do mesmo pelo árbitro que deter-
mina igualmente o tempo perdido
durante o jogo (devido a substitu-
Figura 2. O campo de jogo de futebol
ições, assistência médica a
jogadores, etc.), acrescentando-o ao tempo de jogo.
1.6. Estabelece as competências: (1) do árbitro que velará pelo respeito e aplicação das Leis do jogo, não
havendo apelo às suas decisões sobre os factos ocorridos no decurso da partida, mesmo que isso tenha reflex-
os no resultado final do encontro e, (2) dos árbitros assistentes (dois) cujos deveres consistem fundamental-
mente em indicações ao árbitro, que as aceitará ou não, sobre situações de bola fora, jogadores fora-de-jogo,
situações de infracção às Leis do jogo, a que equipa compete recomeçar o jogo nas
situações de pontapé de baliza, de canto, lançamento da linha lateral, etc.).
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO
perto da baliza adversária. O árbitro castiga quem a infringe através da interrupção da partida e concede a posse
da bola à equipa que se encontrava nesse momento em fase defensiva, que reatará o jogo através de um pontapé
livre indirecto no local onde a transgressão ocorreu. Todavia, existe um conjunto de atenuantes ao julgamento
desta situação as quais determinam que a partida deverá prosseguir. Neste sentido, quando o atacante recebe a
bola directamente: i) da execução de um pontapé de baliza, ii) da execução de um pontapé de canto, iii) da exe-
cução de um lançamento da linha lateral, iv) da execução de uma bola ao solo e, v) se o árbitro considerar que
a posição do atacante não interfere no jogo, nem este procura ganhar vantagem da sua posição. A presente aten-
uante confere à Lei do fora-de-jogo uma certa parte de subjectividade porque atribui ao árbitro o sentido dis-
cricionário de julgar a situação de jogo.
da bola transpor completamente a linha de baliza entre os postes e por baixo da barra).
mente à livre iniciativa dos treinadores e dos praticantes, que têm a responsabilidade de encontrar as formas,
as ideias, as concepções, etc., para atingir os objectivos da modalidade transformando-se assim, num espaço
de inovação, criação e libertação de antigas formas de observação, análise e interpretação do jogo de futebol.
2. Fomentam a necessidade do seu estudo por forma a se poder usufruir de condições mais vantajosas para
se atingir eficazmente os objectivos ou a vitória. Todos os especialistas desportivos têm presente a importân-
cia de acompanhar e contribuir para uma reflexão de carácter teórico-prático, por forma a potenciar e max-
imizar em competição:
A. O uso de situações pouco habituais criando-se assim, todas as condições para surpreender o adversário
(nas partes fixas do jogo, na aplicação da Lei do fora-de-jogo, etc.).
B. A exploração dos próprios hiatos dos regulamentos por falta de regras ou normas que os definam objec-
tivamente.
C. A utilização dos regulamentos em benefício próprio.
3. Estabelecem, implicações que traduzem contextos situacionais caracterizados por duas propriedades
nucleares:
A. A variedade do meio envolvente. Evidencia a necessidade de elevadas exigências dos mecanismos per-
ceptivos dos jogadores. Estas exigências derivam da grande quantidade de informações que estes têm de
tratar, no reduzido tempo que dispõem para agir, devendo:
1. Percepcionar rapidamente os índices pertinentes (selectividade) fundamentais sobre as condições e
intenções dos adversários e dos companheiros.
2. Solucionar mentalmente a situação obriga os jogadores a uma concentração constante na competição
para realizar uma correcta leitura desta e decidir por uma resposta motora eficaz e adaptada às circun-
stâncias do contexto da situação.
B. A transitoriedade do meio. Determina um aumento da complexidade de todas as componentes da estru-
tura da situação obrigando o jogador a realizar:
1. Funções (missões tácticas) dentro da competição ou dentro da organização da sua equipa de maior
amplitude que fundamentalmente derivam de um maior número de opções e decisões tácticas a tomar
e de execuções técnicas a executar.
2. Acções que procuram prever antecipadamente o desenvolvimento e o resultado dos acontecimentos
de uma dada situação competitiva (antecipação) tornando assim, a sua capacidade de intervenção mais
eficiente.
043
Foto cedida pela revista Training
Futebol
Guia prático de exercícios de treino CAPÍTULO 2
O SUBSISTEMA
ESTRUTURAL
Parte UM
O SUBSISTEMA ESTRUTURAL
Capítulo
Dois
1. Conceito de subsistema estrutural
O subsis - O subsistema estrutural que deriva da organização dinâmica de jogo de uma equipa de
tema futebol, é definido pelo posicionamento dos jogadores no terreno de jogo e, paralelamente,
pelas funções tácticas gerais e específicas distribuídas a esses mesmos jogadores.
Estes dois elementos de base desenvolvem um sistema de relações estabelecidas pelos com-
Parte UM panheiros, adversários, bola, espaço de jogo, etc., que se condicionam mutuamente, exprim-
indo uma articulação interna, mas mantendo a sua interdependência funcional. Por forma a
compreendermos melhor esta dimensão estrutural do problema, F. Saussure apresenta um
exemplo elucidativo desta questão “uma peça de xadrez não se define pela sua cor, dimen-
sões, da matéria de que é feito, nem pelos seus atributos físicos ou pela sua "forma", mas pela
regra do jogo e pelas relações que essas regras lhe permitem intervir com as ou-tras peças no
conjunto dos casos. Assim, o avançado ou o guarda-redes têm um valor estrutural não pelas
características físicas da sua aparência e dos seus deslocamentos, mas por um sistema de
relações estabelecidos entre os diferentes jogadores...”
condena-o a não abrir senão uma perspectiva unilateral, incapaz de abranger a realidade ló- Parte UM
gica do jogo. Muitas pessoas ainda julgam que a eficácia e o rendimento de uma equipa passa
somente pela aplicação deste ou daquele sistema de jogo, dispondo os jogadores de uma Capítulo
forma mais ou menos ardilosa. No entanto, não existe nenhum sistema de jogo que possa Dois
compensar a insuficiência técnica de um mau passe ou de uma má recepção, de falta de
enquadramento de um conjunto de regras básicas de coordenação dos comportamentos dos O subsis -
jogadores no terreno de jogo ou de incapacidade física para pôr em funcionamento todo o tema
sistema de elementos na procura de um objectivo comum - o golo. Neste sentido, equivocar-
nos-íamos profundamente acerca do sentido da nossa análise se a tomássemos por uma
condição indispensável, logo, a sua importância depende concomitantemente das condições
intrínsecas à sua aplicação.
Concluindo, a importância do subsistema estrutural deve-se ao facto deste, para
além de estabelecer a colocação de base dos jogadores no terreno de jogo, proporcionar igual-
mente a base racional da conjugação das acções dos jogadores, permitindo canalizar a toma-
da de consciência por parte destes sobre os seus direitos e deveres, fundamentalmente no que
diz respeito às suas funções e limites. Todavia, isto não significa que cada jogador não encon-
tre dentro desta concepção de organização da equipa o "espaço" necessário para reflectir a
sua própria personalidade, improvisação e criatividade, pois este é um pressuposto integrante
do subsistema estrutural.
5.1. Ocupação dinâmica de uma parte do espaço de jogo. Ao ana-lisarmos a área do ter-
reno de jogo em função do total de jogadores que dentro deste se movimentam, observa-
046 Guia prático de exercícios de treino
entre o sector defensivo e o se-ctor atacante, constituído normalmente por 3 a 5 jogadores, dois ou três médios
centros, um médio esquerdo e um médio direito. A responsabilidade primária dos médios é, auxiliar os defe-
sas nas suas missões defensivas e os avançados nas suas missões ofensivas.
6.4. Avançados. São os jogadores que formam o sector atacante, constituído normalmente por 1 a 3 jogadores.
A responsabilidade primária dos avançados é marcar golos.
Esta nomenclatura indica somente o papel preponderante dos jogadores, pois, a sua actividade real
na actualidade, ultrapassa em muito o limite das obrigações resultantes destas denominações, desaparecendo
assim as fronteiras de carácter rígido entre as funções destes dentro da equipa. Existe assim, com maior fre-
quência o intercâmbio (infiltração), de posições e de funções dos jogadores. Esta perspectiva renuncia igual-
mente, à divisão por categorias (os criadores/distribuidores de jogo e os lutadores pela posse da bola), pois todos
devem ser perigosos para a baliza adversária, sabendo construir, criar, rematar e, simultaneamente, deverão recu-
perar a posse da bola e proteger a baliza. Segundo Kacani (1982), consoante a quantidade e a qualidade do tra-
balho que desempenham no jogo os jogadores podem ser divididos em três categorias: (1) jogadores universais.
São capazes de cumprir com a mesma eficácia tarefas das fases defensiva e ofensiva do jogo, nas zonas de defe-
sa e ataque, nos sectores do terreno de jogo próprio de ambos, conhecendo as exigências de cada uma das
funções a desempenhar, (2) jogadores semi-universais. São capazes de cumprir as tarefas de uma das fases do
jogo (defensiva ou ofensiva), na zona de defesa ou do ataque e nos sectores de terreno próprio de cada uma delas.
Conhecem e dominam com elevado nível de rendimento, as funções de uma destas fases do jogo e, (3) espe-
cialistas. São jogadores com uma especialização delimitada, capazes de cumprir com eficácia as tarefas de uma
fase do jogo, num sector específico da zona ofensiva ou defensiva (por exemplo, o guarda-redes).
A racionalização do espaço de jogo, como referimos, representa uma das orientações fundamentais
do subsistema estrutural através:
1. Do estudo da evolução dos sistemas de jogo e dos elementos de base que fundamentam a alteração dos sis-
temas na actualidade.
2. Da distribuição dos 11 jogadores da equipa no terreno de forma coerente e homogénea, consubstancian-
do paralelamente a constituição de sectores (defensivo, médio e ofensivo) formado por vários jogadores que
exercem a sua acção de forma concertada.
da lei do fora-de-jogo.
3. Do melhoramento das capacidades técnicas, tácticas, físicas, psicológicas e sociais dos jogadores, ou por
outras palavras, da sua relação de universalidade versus especialização dentro de um quadro referencial no
qual se consubstancia e conceptualiza, que todas as situações de jogo devem ser resolvidas com pleno sentido
de equipa.
Dentro desta perspectiva, os diferentes sistemas de jogo utilizados ao longo do tempo podem ser anal-
isados à luz de uma pertinência técnica, táctica e física, da qual resulta que a sua dinâmica é caracterizada pre-
dominantemente por uma destas componentes.
D. A época do sistema WM
Respondendo às modificações no plano táctico e do
plano regulamentar do jogo (em 1925 a Lei do fora-de-
jogo reduzia de 3 para 2 jogadores adversários que o ata-
cante deverá ter entre si e a linha de golo para se con-
siderar em posição regular), Herbert Chapman,
treinador do Arsenal de Londres, converteu o médio
Figura 8. O sistema táctico clássico centro num terceiro defesa (defesa central), não
podendo este participar no processo ofensivo da
equipa, devendo antes ficar entre os dois defesas vigiando e marcando individualmente o avançado centro da
equipa adversária. Os dois defesas do sistema clássico deslocaram-se para marcar os extremos adversários e os
A organização dinâmica do jogo de futebol 051
dois médios que marcavam os extremos deslocaram-se para o meio do terreno de jogo com a função de coor-
denar e marcar os interiores da equipa adversária. Neste sentido, a zona central do terreno de jogo era vigiada
por 4 jogadores que tinham como tarefa táctica fundamental destruir o jogo adversário e construir o seu próprio
jogo ofensivo. Implantou-se assim, definitivamente o WM, considerado como o primeiro sistema de jogo que
em teoria proporcionava um equilíbrio numérico entre defesas e atacantes, ou seja, 5 defesas e 5 atacantes.
Em traços gerais, a estratégia fundamental deste sistema de jogo era fazer recuar sete jogadores (os
médios e os interiores) em bloco homogéneo quando a equipa adversária atacava. Este facto obrigava-os a terem
que deslocar um maior número de jogadores para a frente por forma a compensarem o desequilíbrio numéri-
co existente na tentativa de ultrapassar a barreira formada por estes 7 jogadores, deixando a linha defensiva des-
guarnecida. Desta forma o Arsenal, logo que recuperava a posse da bola, lançava-a para a frente em direcção de
um dos três avançados que a esperavam, em especial os extremos que sendo rápidos a conduziam directamente
para a baliza adversária. Com efeito, o WM concretiza uma organização em que repartia o esforço físico, as tare-
fas e responsabilidades tácticas de todos os jogadores
com precisão, estabelecendo-se para cada um uma tare-
fa particular e específica dentro de um espaço de acção
limitado. Determinando à partida o equilíbrio numéri-
co em qualquer zona do campo e em qualquer fase ou
momento de jogo. Concluindo, o sistema WM exprime o
sentido exacto da superioridade do jogo colectivo sobre o
jogo individual, constituindo uma etapa chave na evolução
do cará-cter racional e reflectido do jogo de futebol.
Figura 9. Os sistema WM
E. A época dos 4 defesas
Os sistemas de jogo formados por 4 elementos no seu sector defensivo foram marcados no início da
sua implantação por dois sistema fundamentais: o "betão" e o "ferrolho". O sistema de jogo denominado por
"betão" foi utilizado nos anos 30 pela selecção Suíça (não obstante as polémicas que provocou devido ao seu
carácter eminentemente defensivo) obtendo excelentes resultados devido à elevada protecção da própria baliza
e das rápidas passagens para o contra-ataque, constituindo-se como uma solução táctica eficaz no confronto com
as equipas adversárias. Com efeito, com o intuito de se aumentar a protecção das zonas próximas da ba-liza,
traduzido pelo sistema WM, o sistema "betão" reforça o sector defensivo através da mobilização de mais um ele-
mento que se posiciona "nas costas" dos outros 3 defesas garantindo uma cobertura defensiva mais eficaz e ade-
quada às diferentes situações de jogo. Neste contexto, em função do corredor de jogo em que o processo ofen-
sivo adversário se desenvolve, o quarto defesa desloca-se por detrás de todo o sector defensivo por forma a
aumentar a protecção das acções técnico-tácticas do(s) seu(s) companheiro(s). O sistema de jogo denominado
de "ferrolho" está historicamente ligado aos Clubes e à selecção Italiana. Este sistema é baseado numa marcação
individual, rigorosa e impiedosa dos avançados adversários e a utilização de um jogador livre dessas funções tác-
ticas que se desloca "nas costas" dos companheiros dando-lhes uma cobertura defensiva adequada, podendo
dobrá-los sempre que estes sejam ultrapassados pelos seus adversários directos.
Mais tarde, o campeonato do Mundo de l958,
realizado na Suécia marcou um novo marco da evolução
do jogo. Esta evolução deriva da reacção ao sistema WM
que embora consubstanciasse um progresso evidente do
jogo, limitava a acção individual devido à aplicação
exagerada dos princípios de base que por vezes se traduzi-
am num jogo negativo e estático. A adopção do 4-2-4 pela
equipa brasileira revolucionou o futebol mundial, introduzin-
do no sistema de jogo pela primeira vez 4 defesas, 2 médios e
4 atacantes. A partir da base do WM bastou deslocar um médio Figura 10. O sistema de jogo 4-2-4
052 Guia prático de exercícios de treino
para a linha defensiva e um interior para a linha média desse mesmo lado. Este sistema é constituido por 2 defe-
sas laterais que têm como função táctica defensiva fundamental a marcação dos extremos avançados da equipa
adversária quando esta se encontra de posse de bola e como função táctica ofensiva, incorporar-se pontualmente
no ataque da sua equipa por forma a surpreender os adversários provocando situações de superioridade numéri-
ca em espaços vitais de jogo. Dos 2 defesas centrais, em função das circunstâncias de jogo, um deles deverá mar-
car directamente as acções do avançado centro adversário, enquanto que o outro dá-lhe a necessária cobertura
defensiva. O maior trabalho no plano técnico-táctico e físico é desenvolvido pelos 2 médios que têm uma dupla
função táctica, ao longo de toda a partida, desenvolver acções ofensivas e defensivas por forma a coadjuvar os
companheiros do sector defensivo e concomitantemente do se-ctor ofensivo mantendo permanentemente 6
jogadores em qualquer destas fases do jogo. Neste sentido, a vantagem deste sistema situava-se na rapidez de
transformar uma forte defesa num forte ataque.
Todavia, este sistema ao ser constituido por 2 jogadores no sector médio cujas funções tácticas são
de vital importância para a organização da equipa, implica que estes devem encontrar-se numa elevada condição
física, técnico-táctica e psicológica por forma a suportar a grande fatia de trabalho colectivo durante o jogo
(introdução da dominante condição física). Concluindo, este sistema permitia um jogo ofensivo e defensivo com
maior mobilidade devido à utilização de apoios e permutações que conservavam uma ocupação racional e per-
manente do espaço, abrindo assim uma maior perspectiva individual, mas exigindo simultaneamente um acen-
tuado espírito colectivo.
de-lança cuja missão táctica específica é de explorar os espaços criados pelo seu companheiro deslocando-se de
trás para a frente na procura dos momentos em que a
organização defensiva adversária se desequilibra ou no
aproveitamento dos movimentos de subida destes no
terreno de jogo para tentarem tirar vantagem da Lei do
fora-de-jogo.
Por último, outro dos sistemas de jogo que
têm sido aplicados com algum sucesso na actualidade é o
3-5-2. Em termos gerais, este dispositivo táctico consub-
stancia a marcação individual e premente dos dois ou um
ponta-de-lança adversário através dos dois defesas centrais.
Figura 12. O sistema de jogo 4-4-2
Existe constantemente um terceiro central que se desloca "nas
costas" dos seus dois companheiros ou à frente destes assumin-
do variavelmente as posições de "líbero" ou de "trinco" em função das exigências da situação de jogo.
Paralelamente, poder-se-á observar o deslocamento deste jogador no terreno de jogo para ajudar os compan-
heiros do se-ctor médio ou avançado. Este sistema de jogo estabelece um médio centro cuja função táctica prin-
cipal é equilibrar constantemente o sistema de forças da equipa compensando os deslocamentos dos restantes
médios. Existem dois médios, denominados "alas" que
jogam permanentemente perto das linhas laterais e cuja
missão táctica específica é de grande universalidade,
isto é, procuram atacar ganhando os corredores de jogo
e defen-der ajudando os seus companheiros do sector
defensivo quando a situação assim o exige. Neste contex-
to, estes jogadores são dotados de uma elevada capacidade
física para poderem cumprir com as necessidades que
derivam tanto da fase ofensiva como defensiva do jogo. Os
restantes dois médios organizam constantemente o jogo ofen-
Figura 13. O sistema de jogo 5-4-1
sivo da equipa estabelecendo relações privilegiadas com os dois
pontas-de-lança e os dois médios alas. Os dois pontas-de-lança
para além dos aspectos específicos inerentes ao seu posicionamento, são dotados de grande mobilidade táctica,
podendo assim jogar tanto no corredor central como nos corredores laterais com o objectivo de arrastar con-
stantemente os defesas centrais adversários para posições desvantajosas e, neste contexto, consubstanciar os
desequilíbrios necessários à desorganização defensiva, criando-se assim os espaços que poderão ser explorados
pelos médios nos seus deslocamentos de trás para a frente.
glória de vencer.
2. Regulamentar. Uma das Leis do jogo que mais estimulam a subjectividade da decisão e a controvérsia que
daí deriva é a Lei do fora-de-jogo. Durante décadas, esta Lei foi aplicada tendo por base os seus preceitos re-
gulamentares (alteradas ao longo dos anos) tendo por pano de fundo, que quando existissem dúvidas quan-
to à posição regulamentar do atacante a decisão deveria ser favorável à equipa em fase defensiva. Isto signi-
fica tão simplesmente, interromper o processo ofensivo e conceder-se a bola à equipa que defende. Estudados
e analisados estes casos, estabeleceu-se uma interpretação diferente, na qual é preferível em caso de dúvida
não se interromper o processo ofensivo e deixar que este possa originar situações de golo. Como se com-
preende, uma alteração desta natureza que mexe fundamentalmente com a mentalidade de quem decide
demorará muito tempo até ser correctamente aplicada. Todavia, no presente, enquanto se fizerem sentir as
referidas circunstâncias é normal observar-se que jogadores de tendência predominantemente atacante se
refugiam em certas posições com o intuito de não serem punidos com a aplicação desta Lei que: (1) diminu-
am a profundidade ofensiva da equipa e, (2) retardam a possibilidade de interferirem no processo ofensivo
que decorre, estando sempre em desvantagem relativamente ao seu adversário directo. Com efeito, existe um
desfasamento comportamental que irá ter um papel muito importante no desfecho de sinal positivo ou neg-
ativo da acção.
3. Arbitral. Reconhece-se a "pouca importância" que os árbitros normalmente concedem às infracções reali-
zadas "por trás" do atacante, especialmente na zona ofensiva. Este aspecto diminui gravemente a eficácia, a
fluidez e fundamentalmente a profundidade do jogo ofensivo porque, os jogadores ao terem "medo" (por não
se sentirem protegidos pelo árbitro) de receber a bola de costas para a baliza adversária (problemas de inte-
gridade física), naturalmente procuram espaços do terreno de jogo longe da baliza adversária por forma a
receberem a bola sem a marcação directa dos defesas.
4. Social. Outro facto recorrente do problema que reforça a componente defensiva do jogo é o da comuni-
cação social desportiva e não só, ao analisarem os acontecimentos de uma partida segundo o critério do resul-
tado final. Com efeito, todos os dados objectivos e subjectivos inerentes à observação do jogo são reciclados,
subjugados e interpretados à luz do resultado da partida. Prova desta constatação, são os poucos comentários
finais realizados nos segundos antes do final da partida, o qual por ironia do destino, nesse preciso instante
se verifica uma alteração do resultado final. Então, perante a nova realidade é necessário refazer o comentário
final dando-lhe uma nova maquilhagem, recuperando-se argumentos preciosos, que até ai não eram inter-
pretados como significativos. O que importa na realidade realçar, é a incompreensível valorização social que
se proporciona a esta ou aquela equipa, a este ou aquele treinador, quando se elogia e aceita um resultado
denominado de “honroso” (empatar ou perder pela dife-rença miníma) sem que a equipa em análise tivesse
conseguido durante os 90 minutos de jogo uma situação de finalização, nem ter tido a capacidade de se aprox-
imar em termos ofensivos da baliza adversária. Enquanto perante outra equipa que apresenta uma dinâmica
através da qual expõe os seus argumentos e procedimentos de carácter ofensivo, que se traduziram em situ-
ações eminentes de golo, executando remates à baliza, etc. Pelo facto do
resultado final, ser por exemplo de 4-1, o esforço dos jogadores e do
treinador é menos valorizável que no caso anterior. Ora perante esta dis-
crepância real, que não é mais que uma discrimi-nação negativa, porque
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO
é minimizada por uma elevada concentração defensiva, (2) a possibilidade de perder com um resultado exces-
sivo é quase nulo, (3) a possibilidade de atingir o golo poderá ser mínimo, mas caso se consiga “enervar” a
equipa adversária este poderá acontecer e, (4) no final do jogo (na maioria das situa-ções) os jogadores serão
valorizados pelo seu esforço, perseverânça, entrega, vontade, personalidade, etc., só que estes valores serão
sempre de carácter defensivo.
Apesar da realidade dos factos evocados, com o peso de toda a sua pertinência, a verdade é que para-
lela e simultaneamente desenvolveu-se um conjunto de conceitos e perspectivas que imprimem um carácter evo-
lutivo ao jogo, não num sentido unilateral, mas sim no equilíbrio dinâmico da relação estabelecida entre a fase
ofensiva e defensiva do jogo e, da relação entre os factores colectivos e individuais das relações de dimensão uni-
versal e especializado na formação dos jogadores. Nestas circunstâncias, destacamos seguidamente, de forma
sucinta oito aspectos basilares em resposta a esta problemática:
jogadores são obrigados assim, a cumprirem alternadamente tarefas técnico-tácticas tanto da fase ofensiva
como defensiva em curtos intervalos de tempo. Com efeito, esta ambivalência da actividade dos jogadores
(ataque/defesa) determina igualmente que estes deverão assumir outras missões tácticas específicas distintas
das suas (que consubstanciam uma maior cultura táctica), dentro do quadro referencial das necessidades da
equipa, daí que, não é de admirar, que os protagonistas fundamentais na concretização do processo ofensivo
sejam, em muitas das situações de jogo, os jogadores pertencentes
ao sector médio e defensivo. Concluindo, a universalização das
funções dos jogadores e a consciencialização das particularidades
atingir um elevado grau de eficácia. Com efeito, cada situação de jogo exprime uma dimensão táctica e uma
estratégia única. Assim, poder-se-ão observar duas situações de jogo similares mas não existem duas iguais.
Embora, a dinâmica de um jogo desportivo colectivo, como é o caso do futebol, permita acções préestabele-
cidas estudadas e treinadas, a verdade é que estas, não se reproduzem de forma exacta durante a partida.
Portanto, toda a acção de ataque ou de defesa, com ou sem a bola, são acções descricionais, a resolver segun-
do a contextualidade da situação, cuja realização exige um programa de acção (dentro de um leque de opções),
adequado à situação e aos objectivos estratégico-tácticos a atingir.
2. O espaço de jogo
O espaço de jogo oferece a todo o momento a possibilidade de
transformar o significado preciso do comportamento dos jogadores, em
função das suas intenções e dos seus projectos, onde todas as movimen-
tações longe de serem independentes umas das outras, influenciam-se
mútua e reciprocamente. Um jogador intervém sempre na orgânica do Foto 41/42. Qualidades intelectuais, criativi-
jogo, quer seja o adversário ou o companheiro, facilitando ou contrar- dade e improvisação
iando pelos seus deslocamentos, o jogo colectivo.
tar outras linhas (imaginárias) que consubstanciaram: os corredores e os sectores do terreno de jogo.
A. O sector defensivo
É uma zona privilegiadamente ocupada por jogadores de marcante acção defensiva. Aqui se cons-
tituem redes escalonadas em função da bola, adversário e baliza, visando, em última instância, condicionar e
sobretudo interromper, as ligações das acções ofensivas adversárias. Nesta zona onde as aglomerações dos
jogadores são frequentes, requer da parte destes uma maior eficácia na execução das acções técnico-tácticas
com ou sem a bola, daí que se observa, uma mútua cobertura aos companheiros e uma marcação premente
aos adversários com ou sem a posse da bola, já que a introdução de um adversário livre de marcação consti-
tui grande desvantagem pela possibilidade de pro-
duzir uma rotura da organização defensiva.
Uma vez recuperada a posse da bola, dever-
se-à efectuar rapidamente a progressão
desta em direcção à bali-za adver-
sária ou na sua momentânea impos-
sibilidade, assegurar a sua
manutenção, sem criar situações Figura 15. Os corredores do terreno de jogo de jogo
060 Guia prático de exercícios de treino
perigosas para a sua própria baliza. Raramente as acções ofensivas são interrompidas nesta zona do campo,
devido, por um lado, a uma diminuição da pressão defensiva por recuo dos adversários, e por outro, à grande
segurança e responsabilidade individual e colectiva para não se perder a bola nesta zona do campo de jogo.
Pois, se tal acontecer, implica pela proximidade da baliza um grande risco. Logo, a execução de qualquer acção
técnico-táctica por parte dos jogadores que contactem momentaneamente com a bola, nesta zona do campo,
é sempre calculado pelo lado da segurança máxima.
D. O sector ofensivo
É para esta zona que se orientam as linhas de força e onde culminam as grandes combinações e cir-
culações tácticas, visando provocar roturas na organização defensiva adversária. Permite pela sua proximidade
da área da baliza e a partir de um certo ângulo, uma conclusão com maiores possibilidades de êxito da acções
ofensivas. Para isso, sendo esta zona onde as aglomerações são frequentes, não deverá haver hesitações na
decisão e execução das acções técnico-tácticas, essencialmente aquelas que embora entreguem a bola ao adver-
sário possam resultar em golo. É uma zona onde as equipas procuram, após a perda da posse da bola, equili-
brar-se defensivamente por forma a ganhar o tempo necessário para que todos os companheiros assumam ati-
A organização dinâmica do jogo de futebol 061
Segundo Teodorescu (1984) "uma equipa pressupõe uma funcionalidade geral (constante - realizada com base
em princípios e regras de coordenação das acções) e uma funcionalidade especial (variável - para cada jogo, para
cada adversário, em função de condições diversas, etc.)"..."Tanto a funcionalidade geral e especial da equipa real-
iza-se através de uma Bases da racionalização das missões tácticas dos jogadores
determinada progra-
mação das acções individuais e colectivas dos jogadores, segundo um sistema de relações e interrelações dinâmi-
cas desenvolvidas e coordenadas segundo estes princípios e regras tácticas". Nestas circunstâncias, a complexi-
dade das diferentes missões tácticas específicas, é concebida a partir de finalidades e objectivos comuns sendo
atribuída de forma a:
1. Não restringir a iniciativa e a capacidade individual mas, pelo contrário, tomar em consideração que cada
jogador é único nas suas ambições pessoais, atitudes, preferências e tendências, dever-se-á alargar o seu "raio
de acção" em termos de participação no jogo, fundamentalmente na sua criatividade e improvisação.
2. Assegurar a valorização das particularidades dos jogadores quer estas sejam técnicas, tácticas, físicas ou
psicológicas. Essa valorização é condicionada pela criação (através de acções individuais e colectivas) das
condições e situações de jogo favoráveis à sua realização.
3. Combinar as diferentes missões tácticas específicas, isto é, assegurar que o potencial (técnico, táctico, físi-
co e psicológico) operacional de cada jogador se interrelacione e se complemente, criando-se uma força inte-
gradora que estabeleça a coesão, a homogeneidade e a funcionalidade da equipa.
4. Tirar vantagens do conhecimento particularizado da expressão táctica da equipa adversária, minimizando
ou anulando os aspectos mais eficientes e evidenciando as carências de preparação técnica, táctica, física e psi-
cológica.
5. Estabelecer coordenadores de jogo. Se é verdade que o colectivo e a capacidade de entreajuda numa equipa
é fundamental, não é menos verdade que continua a haver jogadores que individualmente podem decidir o
jogo, daí a importância dos coordenadores de jogo, ou dos jogadores de nível técnico-táctico superior.
Teodorescu (1984), refere que "o grande número de acções técnico-tácticas (tanto ofensivas como defensivas),
determinou o aparecimento e a especialização de coordenadores de jogo. Assim no ataque, o coordenador tem
por funções específicas adaptar de uma forma criativa, e nas situações concretas de jogo, o plano táctico do
ataque. Este jogador é cara-cterizado por um elevado raciocínio táctico e de grande capacidade de execução
técnica, assim como uma forte personalidade e certa autoridade sobre os companheiros". Para Palfai (1982),
"as equipas têm necessidade de jogadores com qualidades humanas e competitivas especiais, capazes de con-
duzir os seus companheiros, de organizar um jogo de um sector ou de uma equipa, tornando-se exemplos a
seguir e encorajando os seus colegas também nos momentos mais difíceis". Durante largo período da evolução
do jogo a preponderância era consubstanciada na singular capacidade técnico-táctica de alguns jogadores.
Com efeito, é absurdo pensar que o futebol actual não necessita destes grandes jogadores ou que estes ten-
ham perdido a sua importância, a diferença reside nos novos factores vitais que complementam e ampliam o
rendimento da acção destes jogadores dentro do contexto da equipa e naturalmente no jogo. Neste sentido,
uma equipa de valor é consubstanciada pela complementaridade dos seus elementos que reside inequivoca-
mente na aceitação mútua e na compreensão recí-proca.
Portanto, a coerência e a dinâmica destas manifestações, tal como referimos anteriormente, serão
tanto mais eficazes quanto a sua expressão final se traduza de uma forma unitária e homogénea, não dando lugar
a compartimentos estanques que só conduzem a equipa a uma maior permeabilidade na sua organização. A
racionalidade destes deslocamentos compensatórios deriva essencialmente de um conjunto de missões tácticas
específicas atribuídas a cada jogador pelo treinador, que as adaptam em função das situações de jogo e dos objec-
tivos tácticos momentâneos da equipa.
4. Procurar fundamentalmente vantagens quer em termos numéricos, espaciais ou temporais, com o objecti-
vo de transformar as situações de jogo em fáceis resoluções tácticas, fazendo assim um jogo simples e práti-
co com vista à concretização dos objectivos tácticos da equipa.
5. Utilizar todos os meios técnico-tácticos de modo a cooperar constantemente com os companheiros com e
sem bola, evidenciando atitudes que exprimam, que o interesse colectivo está acima dos interesses individu-
ais, pois estes só têm sentido quando suportados na acção colectiva. A execução dos procedimentos técnico-
tácticos poderão ser potenciadas pela determinação, agressividade e eficácia, transmitindo estas característi-
cas aos seus colegas e adversários.
6. Procurar executar constantemente acções de cobertura defensiva, transmitindo maior confiança e iniciati-
va ao companheiro que marca o adversário de posse de bola (contenção), respeitando uma distância e ângu-
lo convenientes à situação momentânea de jogo. Neste domínio, deverá saber aproximar-se ou afastar-se con-
soante a zona do campo, capacidade técnico-táctica do adversário, etc., afim de aumentar a pressão sobre o
adversário.
7. Comunicar constantemente com os companheiros, pedindo ajuda ou informando-os das intenções dos ata-
cantes. Este facto pressupõe a permanente preocupação em prever e deduzir quais as verdadeiras atitudes tác-
ticas dos adversários permitindo accionar-se preventivamente acções que as antecipem.
8. Conhecer perfeita e correctamente os princípios gerais e específicos da defesa, estabelecendo uma lin-
guagem comum com os seus companheiros. Mesmo quando não estão envolvidos na situação de jogo (cen-
tro da acção), devem consciencializar e valorizar constantemente a sua contribuição para a estabilidade e orga-
nização do método defensivo. Tornando o jogo previsível do ponto de vista defensivo e imprevisível do ponto
de vista ofensivo, dissimulando assim, as verdadeiras intenções tácticas e obrigando os adversários a não
poderem antecipar as acções nas situações de jogo.
9. Assegurar o seu contributo na formação de barreiras.
10. Deslocar-se de trás para a frente, logo após a recuperação da posse da
bola, acompanhando o processo ofensivo: i) abrindo a "frente de ataque",
4. Evitar a execução de passes laterais (especialmente os longos e de trajectória aérea) do seu corredor para
o centro do espaço de jogo.
5. Valorizar o momento mais justo para poder aproveitar o seu corredor de jogo na rentabilização de
acções de contra-ataque ou ataque rápido. Através de deslocamentos para espaços de jogo existentes “nas
costas” dos defesas contrários.
6. Realizar acções que estabeleçam equilíbrios defensivos, vigiando jogadores e espaços, permutando as
suas funções com o defesa central.
7. Executar os lançamentos da linha lateral a partir do seu corredor.
C. Os defesas centrais em termos ofensivos devem atender aos seguintes aspectos:
1. Coordenam e cooperam um com o outro, particularmente quando um deles se
incorpora no desenvolvimento e terminação do processo ofensivo da equipa.
2. Deslocam-se para espaços perto do meio-campo, diminuindo assim, a profun-
didade da equipa.
2. Os jogadores pertencentes ao sector defensivo. O nível de intervenção dos jogadores pertencentes ao sec-
tor defensivo da equipa observa-se fundamentalmente nas zonas 5 (15%), 2 (14%), 4 (11%), 3 e 6 (10%) e 1
(9%). Com efeito, são zonas pertencentes ao sector defensivo (1/4 - 34%) e ao sector do meio-campo defen-
sivo (2/4 - 37%), seguido do sector do meio-campo ofensivo (3/4 - 18%) e, por último, do sector ofensivo (4/4
- 11%). Os dados apresentados significam, com efeito, que embora se observe a intervenção sobre a bola destes
jogadores ao longo da totalidade do espaço de jogo durante o processo ofensivo da sua equipa, diminuem a
sua percentagem de intervenção à medida que o centro do jogo se aproxima da baliza adversária. Em relação
aos diferentes corredores de jogo observou-se percentagens semelhantes para os corredores di-reito e esquer-
do (31%) e para o corredor central (38%). Em média, os jogadores pertencentes ao sector defensivo, intervêm
directamente sobre a bola cerca de 170 vezes durante a partida, o que corresponde a 36% das situações
momentâneas de jogo observadas. Em função do tempo útil de jogo, em média, intervêm sobre a bola em cada
8 segundos, com um tempo total de posse de bola que não ultrapassa os 4 minutos.
2.1. Os defesas centrais. As acções de intervenção sobre a bola dos defesas centrais, durante o processo
ofensivo da sua equipa, radicam fundamentalmente nos sectores defensivo e meio-campo defensivo (20 e
23% respectivamente) e no corredor central do terreno de jogo (54%). A posição dos defesas centrais no
corredor central apresenta condições óptimas para servir os jogadores que jogam nos corredores (médios
ou defesas laterais) explorando os espaços atrás da última linha defensiva adversária, ou aproveitando igual-
mente todas as oportunidades de se incorporar no ataque, tentando criar situações de superioridade
A organização dinâmica do jogo de futebol 071
3. Os jogadores pertencentes ao sector médio da equipa. O nível de intervenção dos jogadores pertencentes
ao sector médio da equipa observa-se fundamentalmente nas zonas 5 (13%), 2 (11%), 6, 7, 9 e 12 (10%). Neste
sentido, são zonas pertencentes ao sector do meio-campo defensivo (2/4-32%) e do sector do meio-campo
ofensivo (3/4 - 30%), que se observam o maior número de intervenções dos jogadores que cons-tituem o sec-
tor médio, seguido pelo sector ofensivo (4/4 - 26%) e, por último, pelo sector defensivo (1/4-13%).
Concluindo, são utilizados com maior preponderância os sectores centrais do terreno de jogo. Em relação aos
diferentes corredores de jogo observou-se, tal como para os jogadores pertencentes ao sector defensivo, per-
centagens semelhantes para os corredores direito e esquerdo (31 a 33%) e para o corredor central (36%). Tal
como referimos para os jogadores pertencentes ao sector defensivo, embora se observe a intervenção sobre a
bola destes jogadores ao longo da totalidade do espaço de jogo durante o processo ofensivo da sua equipa,
após atingirem a sua percentagem mais elevada no sector do meio-campo defensivo, diminuem a sua per-
centagem de intervenção à medida que o centro do jogo se aproxima da baliza adversária. Em média, os
jogadores pertencentes ao sector médio intervêm directamente sobre a bola cerca de 190 vezes durante a par-
tida, o que corresponde a 41% das si-tuações momentâneas de jogo observadas. Em função do tempo útil de
jogo, em média, intervêm sobre a bola em cada 7 segundos, com um tempo total de posse de bola que não
ultrapassa os 5'30''.
3.1. Os médios alas (direito e esquerdo). As percentagens de intervenção sobre a bola dos médios direito
e esquerdo durante o processo ofensivo da sua equipa verificam-se fundamentalmente nos corredores de
jogo (entre os 57 e os 65%) a que estão adstritos. Em relação aos sectores observa-se um elevado equilíbrio
percentual de intervenção sobre a bola (entre os 16 e os 19%), a partir do meio-campo defensivo até ao sec-
tor ofensivo. A atitude e o comportamento técnico-táctico destes jogadores visam criar situa-ções iminen-
temente de finalização utilizando a sua velocidade de condução de bola e a sua capacidade de drible. A
mobilidade dentro do espaço de jogo é constante na procura de espaços livres ou no arrastamento de um
ou mais defesas, para que os outros companheiros possam explorar o espaço por ele criado. Poderá igual-
mente cumprir missões tácticas de defesa desse mesmo lado. Em média, os médios laterais intervêm direc-
tamente sobre a bola cerca de 44 vezes durante a partida, o que corresponde a 9% das situações momen-
tâneas de jogo observadas. Participa em 66% das acções ofensivas da sua equipa, ou seja, em cada 33 segun-
dos de tempo útil de jogo, com um tempo total individual de posse de bola que não ultrapassa o 1'10''.
3.2. Os médios centros. A acções de intervenção sobre a bola dos médios centros, durante o processo ofen-
sivo da sua equipa, radicam fundamentalmente nos sectores do meio-campo defensivo e do meio-campo
072 Guia prático de exercícios de treino
ofensivo (17 e 15% respectivamente) e no corredor central do terreno de jogo (45%). A posição dos médios
centros no corredor central apresenta condições óptimas para servir todos os outros companheiros, sendo
o elo de ligação (transmissão) entre os jogadores pertencentes ao sector defensivo e avançado. Com efeito,
a sua missão é extremamente importante na distribuição do jogo ofensivo, na circulação rápida da bola
entre os vários corredores, procurando o desequilíbrio do método defensivo adversário e na finalização do
ataque. Normalmente os jogadores que ocupam esta posição têm um alto nível de raciocínio táctico, adap-
tando de forma criativa nas situações concretas de jogo o plano táctico do ataque. Poderão igualmente
cumprir missões tácticas de defesa central. Em média, os médios centros intervêm directamente sobre a
bola cerca de 51 vezes durante a partida, o que corresponde a 11% das situações momentâneas de jogo
observadas. Participa em 76% das acções ofensivas da sua equipa, ou seja, em cada 28 segundos de tempo
útil de jogo, com um tempo total individual de posse de bola que não ultrapassa o 1'30''.
4. Os jogadores pertencentes ao sector avançado (pontas de lança). O nível de intervenção dos jogadores per-
tencentes ao sector avançado da equipa observa-se fundamentalmente nas zonas 11 (21%), 9 e 12 (13%), 8 e
10 (10%), 5 e 7 (9%). Com efeito, são zonas pertencentes ao sector ofensivo (4/4 - 45%) e do sector do meio-
campo ofensivo (3/4 - 33%), que se observam o maior número de intervenções dos jogadores que cons-tituem
o sector avançado, seguido pelo sector do meio-campo defensivo (2/4 - 19%) e, por último, pelo sector defen-
sivo (1/4 - 3%). Em relação aos diferentes corredores de jogo observou-se, que o corredor central é prepon-
derante na intervenção destes jogadores (42%). Em média, os jogadores pertencentes ao sector avançado inter-
vêm directamente sobre a bola cerca de 80 vezes durante a partida, o que corresponde a 18% das si-tuações
momentâneas de jogo observadas. Em função do tempo útil de jogo, em média, intervêm sobre a bola em cada
18 segundos, com um tempo total de posse de bola que não ultrapassa o 1' 30''. Os comportamentos técnico-
tácticos sobre a bola por parte dos pontas de lança, durante o processo ofensivo da sua equipa, observam-se
fundamentalmente na zona 11 do espaço de jogo
(22%), no sector ofensivo (46%) e no corredor cen-
tral do terreno de jogo (43%). A sua principal mis-
são é de marcar golos, consequentemente deverá
dominar a acção técnico-táctica de remate, em qual-
quer situação ou posição (pé, cabeça) de forma cria-
tiva. Sendo os jogadores que se posicionam mais
perto da baliza adversária (dando assim profundi-
dade ao processo ofensivo da sua equipa), evidenci-
am uma mobilidade constante desmarcando-se para
os extremos buscando apoios dos companheiros per-
tencentes ao sector médio ou procurará devido à
grande vigilância a que está sujeito pelos defesas a
atraí-los para falsas posições, facilitando a pene-
tração dos seus colegas para zonas vitais do terreno
de jogo. Poderam igualmente cumprir missões tácti-
cas de médio centro. Em média, o ponta de lança
intervém directamente sobre a bola cerca de 44 vezes
durante a partida, o que corresponde a 9% das situ-
ações momentâneas de jogo observadas. Participa
em 60% das acções ofensivas da sua equipa, ou seja,
em cada 33 segundos de tempo útil de jogo, com um Figura 20. Representação gráfica da intervenção preferencial sobre a
bola durante o processo ofensivo, por parte dos vários jogadores perten-
tempo total individual de posse de bola que não centes aos vários sectores da equipa
ultrapassa os 50 segundos.
A organização dinâmica do jogo de futebol 073
Foto 63. A distribuição das diferentes missões tácticas dentro da organização da equipa deve suportar-se numa lógica que amplie a iniciativa, a capaci-
dade de decisão, improvisação e a criação dos jogadores, assegurando-se assim, a valorização das suas particularidades, combinando harmoniosamente
as diferentes missões tácticas estabelecidas, tirar vantagens do conhecimento particularizado da equipa adversária e estabelecer coordenadores de jogo
074 Guia prático de exercícios de treino
075
Foto cedida pela revista Training
Futebol
Guia prático de exercícios de treino CAPÍTULO 3
O SUBSISTEMA
METODOLÓGICO
Parte UM
O SUBSISTEMA METODOLÓGICO
Capítulo
Três
1. Conceito de subsistema metodológico
O subsis - O subsistema metodológico é representado pela coordenação (sincronização) comporta-
tema mental dos jogadores e pelo ritmo de execução das suas acções técnico-tácticas, racionali-
zando-as e sequencializando-as, através do estudo e do treino realizado durante o processo
de preparação da equipa, para as fases fundamentais do jogo, isto é, no processo ofensivo e
defensivo, enquadrados num dispositivo estrutural de base, denominado sistema de jogo.
rar um certo número de medidas preventivas e adaptativas tendentes a contrariar a iniciativa, as qualidades
e os jogadores que o aplicam. Sendo esta adaptação realizada fundamentalmente na tentativa de uma recu-
peração rápida da posse da bola, logo após a sua perca, estabelecendo de forma simultânea a criação de cir-
cunstâncias e momentos mais vantajosos, possibilitando no futuro imediato, que o processo ofensivo daí
decorrente apresente as mais elevadas probabilidades de êxito. Nos mesmo termos e acentuando a mesma
dinâmica, a equipa deverá organizar-se e dar primordial importância à protecção da sua baliza evitando a
todo custo sofrer o golo, quando não foi possível uma recuperação rápida da bola e paralelamente não se
conseguiu suster o processo ofensivo adversário que progrediu para as zonas predominantes de finalização
e, (2) obrigar a equipa adversária a defender com menor número de jogadores, ou com jogadores de menor
qualidade em termos defensivos, ou ainda, em situações desfavoráveis para estes em termos de espaço,
tempo, ou número, logo após a recuperação da posse da bola e durante o desenvolvimento e concretização
do processo ofensivo. Em resumo, relativamente a esta segunda articulação, podemos afirmar, que a con-
strução de um qualquer método de jogo deve conter medidas preventivas e adaptativas tendentes a con-
trariar a iniciativa e a eficácia dos métodos de jogo adversário.
4.4. Surpresa e iniciativa. Sublinhámos que a organização de uma equipa de futebol deve ser construída a
partir de métodos de jogo de carácter ofensivo ou defensivo e por ritmos consentâneos com um rendimento
favorável às capacidades dos jogadores. Todavia, por forma a valorizar e potenciar esta conceptualização deve
igualmente conter em si dois aspectos essenciais:
1. Um conjunto de acções inesperadas, do ponto de vista da equipa adversária, por forma a surpreendê-la
e, por inerência obrigar os jogadores a realizarem continuamente ajustamentos na sua organização. Estes
constantes ajustamentos, para além de desgastarem os adversários em termos energéticos, estabelecem as
condições mais propícias para que hajam falhas no plano técnico-táctico, originando desequilíbrios da sua
organização de ordem numérica, espacial e temporal. Com efeito, os desequilíbrios de uma organização
diminuem a coordenação (sincronismo) das acções adversárias e consequentemente a sua eficácia.
2. Fazem uso da iniciativa, no sentido de pôr em prática um pensamento e uma acção. Com efeito, a ini-
ciativa deverá ser uma qualidade dos métodos e do ritmo de jogo, no qual se tomam decisões, antecipan-
do-as ao do adversário e aplicando-as por forma a tirar vantagens da sua execução.
4.5. Exequilibidade. A aplicação de qualquer método de jogo deve ser exequível do ponto de vista prático.
Daqui resulta a necessidade que a sua conceptualização deve ter em consideração o nível real das capacidades
dos jogadores, isto é, os seus argumentos técnico, tácticos, físicos e psicológicos, por forma a preencher todos
os pré-requisitos estabelecidos para cada método de jogo a utilizar. Com efeito, se este elemento não for
respeitado a eficácia de qualquer organização de uma equipa não poderá exprimir-se na sua plenitude.
so defensivo), são coordenados pela necessidade de equilibrar a repartição dos jogadores (das forças), sobre o
terreno de jogo. Esta coordenação será tanto mais eficaz, quanto a sua expressão final se traduza de uma forma
unitária e homogénea, não dando lugar a compartimentos estanques que só conduzem a equipa a uma maior
permeabilidade da sua organização. Nestas circunstâncias, observação da articulação dinâmica da estrutura da
equipa no espaço, reflecte indubitavelmente deslocamentos tendentes:
5.1. A apoiar ou a pressionar o jogador de posse de bola e os espaços circundantes à volta destes. Neste
domínio, observam-se deslocamentos de envolvimento sobre todo o espaço de jogo, no sentido de facilitar a
movimentação e progressão da bola quando em situação ofensiva, ou opondo-se ao seu caminho quando em
situação defensiva.
5.2. A romper a organização defensiva adversária por forma a se assegurar condições contextuais favoráveis
à criação de situações de finalização e de finalização com elevadas probabilidades de êxito.
5.3. A equilibrar a organização defensiva, no sentido de se evitar a possibilidade de progressão da equipa
adversária para as zonas propícias de finalização, ou se criar situações eminentes de finalização, e quando de
posse de bola, equilibrar a sua organização ofensiva através da vigilância de espaços vitais de jogo ou marcar
adversários que não estão directamente implicados no processo de recuperação da posse da bola, os quais se
posicionam de forma que possam preparar ou dar continuidade ao ataque da sua equipa quando se verificar
a recuperação desta.
A noção fundamental que define e condiciona o futebol na actualidade, deriva do facto de subsistir
em muitos momentos do jogo as equipas “terem ou não a posse da bola”. Nestas circunstâncias, nem o proces-
so ofensivo é exclusivo dos jogadores que detêm o estatuto de avançados, nem se descarrega sobre os defesas
toda a responsabilidade de defender. No seguimento deste raciocínio, todo e qualquer método de jogo terá
grandes dificuldades em se impor se depender exclusivamente de acções isoladas de um jogador ou de um sec-
tor da equipa. Embora, seja verdadeiro a possibilidade de se observar preponderâncias mais ou menos acentu-
adas, que derivam do modelo de jogo da equipa e do plano estratégico para aquele jogo e para aquele momen-
to, a realidade é que todo e qualquer método se torna mais eficaz e eficiente se for posto em prática através de
acções coordenada pela participação cons-ciente de todos os jogadores da equipa. Assim:
1. Nas situações de posse de bola, os jogadores com funções predominantemente defensivas, apoiam a fase
ofensiva movimentando-se em direcção à baliza adversária, por forma a que as distâncias entre estes e os com-
panheiros com funções predominantemente atacantes sejam reduzidas. Nessas posições realizam acções:
A. De suporte às circulações tácticas mudando o ângulo de ataque de um para o outro corredor de jogo.
B. De apoio à retaguarda relativamente aos jogadores mais avançados.
C. De temporizar o processo ofensivo até que se reunam as condições favoráveis a uma progressão e cul-
minação com êxito deste processo.
D. Na execução de deslocamentos ofensivos de rotura, de trás para a frente da linha da bola, por forma a
surpreender os adversários, a criar situações de rotura temporal de organização defensivo adversário e de
criar situações pontuais de superioridade numérica num determinado espaço vital de jogo.
E. De colaborar activamente na preparação e organização do processo ofensivo, sendo cada vez mais pro-
A organização dinâmica do jogo de futebol 081
Do exposto ressalta o raciocínio base do jogo de futebol: ataca-se a baliza adversária quando se tem
a posse da bola, defende-se atacando a bola, por forma a recuperá-la. Observa-se assim: "uma expressão colecti-
va no processo e do método ofensivo, e uma expressão colectiva no processo e método defensivo. Por outras
palavras, todos os jogadores atacam e todos os jogadores defendem. Desta reflexão resulta claramente, que as
equipas devem estabelecer um conjunto de relações e interrelações que consubstanciam e permitem resolver
todos os contextos situacionais de jogo com um pleno sentido da equipa. Com efeito, a funcionalidade da equipa
não pode ser encarada pela justaposição das acções individuais, mas sim no ajustamento dos vários comporta-
mentos técnico-tácticos dos jogadores em função das contingências e do desenvolvimento das situações de jogo
numa complementaridade coerente e dinâmica. Isto por si determina, consequentemente, a exigência da parti-
ci-pação de todos os jogadores na resolução de todas as situações de jogo, criando-se assim uma forte mentali-
dade e dimensão colectiva.
Antes de analisarmos as diferentes formas básicas de manifestação dos métodos de jogo ofensivo
interessa analisar e desenvolver a fase de jogo a que este está adstrito.
1. O processo ofensivo
"A relação antagónica entre o ataque e a defesa manifesta-se tanto individual (luta entre o atacante e
o defesa), como colectivamente (luta entre o ataque e a defesa). Cada elemento do jogo (atacante ou defesa),
tenta romper o equilíbrio existente (teoricamente) e criar vantagens que lhes assegurem o sucesso" (Teodorescu,
1984).
Foto 64. O processo ofensivo 1. Controlar o ritmo específico do jogo, pois, em função da
082 Guia prático de exercícios de treino
estratégia concebida para esse jogo, do resultado (numérico) momentâneo e das circunstâncias do momento,
poder-se-ão contrapor acções técnico-tácticas que acelerem ou diminuam este ritmo.
2. Criar condições, por forma a surpreender a equipa adversária, através de mudanças contínuas de orien-
tação das acções técnico-tácticas e atempadamente fazer uma ocupação racional do espaço de jogo, em função
dos objectivos tácticos da equipa.
3. Obrigar os adversários a passarem por longos períodos sem a posse da bola, levando-os a entrar em crise
de raciocínio táctico e, consequentemente, a expô-los a respostas tácticas erradas em função dos contextos
situacionais de jogo.
4. Concretizar a recuperação física de companheiros, com o mínimo de risco, que devido a pequenos choques
com o adversário ou por uma elevada prestação para se recuperar a posse da bola, não se encontram nas mel-
hores condições para participarem de imediato no processo ofensivo da equipa.
1.2.1. Progressão/finalização
Imediatamente após a recuperação da posse da
bola, o objectivo fundamental da equipa é o de progredir em
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO
sários.
cados, ou seja, em espaços mais perigosos para a equipa adversária e, (2) assegurar a posse da bola esperan-
do o momento mais favorável para a resolução táctica escolhendo, decidindo e executando a acção técni-
co-táctica mais adequada (e não a mais fácil).
Numa análise estrutural do jogo de futebol, podemos estabelecer três etapas fundamentais do proces-
so ofensivo: a construção do processo ofensivo, a criação de situações de finalização e a finalização.
1.4.3. A finalização
Esta fase do processo ofensivo é objectivada pela acção técni-
co-táctica individual (remate) que culmina todo o trabalho da equipa
com vista à obtenção do golo. Esta etapa apresenta as seguintes cara-
cterísticas essenciais:
1. Desenrola-se numa zona restrita do terreno de jogo, onde a pressão Figura 23. Zona predominante de fina-lização
dos adversários é elevada e o espaço de realização é diminuta.
2. As condições de execução técnico-táctica exigem uma precisão e um
ritmo elevados, em que a espontaneidade, a determinação e a criativi-
dade são as componentes mais evidentes desta etapa do ataque.
Foto cedida pelo jornal O JOGO
Neste domínio podemos estabelecer três formas base através dos quais se expressam os diferentes
métodos de jogo ofensivo: o contra-ataque, o ataque rápido e o ataque posicional.
1.5.1. O contra-ataque
Analisaremos esta forma ofensiva de base tendo em consideração as suas características, as suas van-
tagens e desvantagens.
A. Esta forma de organização ofensiva é caracterizada pelos seguintes aspectos:
1. Rápida transição das atitudes e comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos, da fase defen-
siva para a fase ofensiva do jogo, logo após a recuperação da posse da bola.
086 Guia prático de exercícios de treino
2. Elevada velocidade de transição da zona do campo onde se efectuou a recuperação da posse da bola, às
zonas predominantes de finalização. Diminuindo assim, o tempo da fase de construção do processo ofen-
sivo.
3. Máxima (a mais elevada) cadência-ritmo de circulação da bola e dos jogadores.
4. Simplicidade do processo ofensivo, implicando um reduzido número de jogadores que intervêm direc-
tamente sobre a bola, executando comportamentos técnico-tácticos fundamentalmente pelo lado do risco.
5. Execução de respostas técnico-tácticas em condições favoráveis em termos de tempo e espaço, cuja
direcção tem como alvo a baliza adversária.
6. Impedir a equipa adversária, devido à velocidade deste método ofensivo, em dispor do tempo necessário
para poder evoluir para uma organização mais estável e coesa do seu método defensivo.
7. Obriga a aplicação de métodos defensivos, em que os jogadores se posicionam e se concentram muito
perto da sua grande área. Este facto provoca na equipa adversária, quando em processo ofensivo, uma falsa
sensação de domínio de jogo levando os jogadores, a "subir" no terreno para colmatar o desequilíbrio exis-
tente e a recrutar um maior número de jogadores para cumprirem o objectivo do ataque. Em consequên-
cia desta acção, criam-se grandes espaços de jogo, entre a última linha defensiva e a baliza, espaços esses
que deverão ser posteriormente utilizados para a aplicação eficaz do método ofensivo em questão.
B. Os aspectos favoráveis do contra-ataque são os seguintes:
1. Cria sucessivamente condições de instabilidade do processo defensivo adversário, devido à rápida tran-
sição de atitudes e comportamentos da fase defensiva para a fase ofensiva e à elevada velocidade de tran-
sição da zona de recuperação da posse da bola para as zonas predominantes de finalização. Procura-se
assim, não se proporcionar à equipa adversária, o tempo necessário para o estabelecimento de uma orga-
nização suficiente para contrapor às acções e interacções dos atacantes.
2. Transmite à equipa adversária, quando eficazmente utilizado, um elevado nível de insegurança. Assim,
decorrido algum tempo observa-se, que um só atacante "prende" a atenção de dois ou mais adversários que,
consequentemente não poderão integrar-se no processo ofensivo da sua equipa.
3. Provoca um elevado desgaste técnico-táctico, físico e principalmente psicológico aos adversários, cuja
função táctica é marcar os atacantes que relançam e suportam fundamentalmente este método ofensivo.
4. Aumenta as dificuldades de marcação dos atacantes, pois a maioria dos deslocamentos neste método
ofensivo, executam-se de trás para a frente da linha da bola, o que torna as situações mais delicadas em ter-
mos defensivos.
5. Eleva a capacidade de iniciativa, improvisação e criatividade dos jogadores, que devido à sua grande
liberdade de acção podem explorar amplamente as suas capacidades individuais.
6. Usufrui de condições favoráveis em termos de espaço. A criação e utilização eficaz destes espaços leva a
uma constante modificação do ângulo de ataque, consequentemente provoca uma constante instabilidade
da organização da defesa adversária.
7. Dificulta ou mesmo impossibilita a equipa adversária a contra-atacar ou atacar rapidamente, logo após
a recuperação da posse da bola, visto haver um grande número de jogadores atrás da linha da bola, man-
tendo um rígido e eficaz equilíbrio defensivo.
C. Os aspectos desfavoráveis do contra-ataque são os seguintes:
1. Possibilidade de se observar constantes e rápidas perdas da posse da bola, devido à elevada velocidade
de execução técnico-táctica, assim uma falha individual pode comprometer de imediato a continuidade do
processo ofensivo e criar situações difíceis de resolução.
2. Elevado carácter individualizado das acções, pois em que quase todas as situações de jogo, os jogadores
encontram-se em igualdade ou inferioridade numérica. Daí a necessidade de os jogadores, para além de
serem rápidos, teram que evidenciar elevados níveis de eficácia em situações de 1x1, ou 1x2.
3. Diminui a coesão e aumenta a permeabilidade da organização ofensiva, devido a não haver uma mútua
cobertura nas situações de jogo. Impossibilitando assim, que se jogue num bloco homogéneo e enfraque-
cendo o espírito e solidariedade entre os jogadores.
4. Contribui para um rápido desgaste físico dos jogadores sobre quem recaem fundamentalmente a cons-
trução do ataque da equipa, obrigando-os a reagir constantemente às situações de jogo.
5. Necessidade de se utilizar métodos defensivos em que se verifica uma grande concentração de jogadores
perto da sua própria baliza, o que: a) determina uma maior perigosidade na recuperação da posse da bola
devido à distância a que esta se encontra da sua baliza e, b) quando a equipa sai para o contra-ataque, obser-
va-se um estiramento da equipa em termos de profundidade (parece que se encontra “partida”) diminuin-
do a coesão e homogeneidade da equipa.
6. Impõe um elevado espírito de sacrifício e paciência, pois sem estes atributos, dificilmente haverá efec-
tividade deste método ofensivo.
1.5.2. O ataque-rápido
A. As características fundamentais do ataque rápido são as mesmas que foram referidas para o contra-ataque,
a diferença estabelece-se fundamentalmente no facto do contra-ataque procurar assegurar as condições mais
favoráveis para preparar a fase de finalização, antes da defesa contrária se organizar de forma efectiva.
Enquanto que, o ataque rápido, terá de preparar a fase de finalização já com a equipa adversária organizada
eficientemente no seu método defensivo. Assim, observa-se os mesmos pressupostos referidos para o contra-
ataque, especialmente no que diz respeito, à rápida transição da zona de recuperação da posse da bola para as
zonas predominantes de finalização, com uma preparação mais demorada e laboriosa da etapa de criação e
da de finalização.
C. As vantagens e as desvantagens deste método ofensivo, são fundamentalmente as mesmas que foram referi-
das para o contra-ataque.
6. Pode determinar, devido ao tempo que normalmente este método ofensivo dura, que os adversários
entrem em crise de raciocínio táctico. Consequentemente, levá-los-á a julgar erradamente as situações de
jogo e a optar por soluções tácticas de elevado risco na tentativa de recuperar a posse da bola.
C. Os aspectos desfavoráveis do ataque posicional são os seguintes:
1. Possibilita, devido ao tempo necessário para a elaboração da fase de construção do ataque, que a equipa
adversária pode estabelecer uma organização defensiva consistente e homogénea em função da evolução do
processo ofensivo.
2. Implica por parte dos jogadores atacantes uma percepção e leitura constantes das situações de jogo e a
antecipar as acções técnico-tácticas dos defesas.
3. Requer a execução constante de acções que visam o reequilíbrio da organização da equipa (compen-
sações-permutações) durante a fase ofensiva.
4. Perspectiva a resolução táctica das situações de jogo pelo lado da segurança, daí que se observe que
muitas acções técnico-tácticas são direccionadas para o lado ou para trás. Em alguns casos, perde-se a pos-
sibilidade de se aproveitar uma excelente situação de jogo para isolar um companheiro e resolver rapida-
mente a acção ofensiva.
5. Estabelece a possibilidade, devido ao processo ofensivo desenrolar-se frequentemente em espaços reduzi-
dos, que a equipa adversária se concentre nesses espaços facilitando as acções de marcação e por inerência
dificulte a progressão do ataque.
6. Diminui a eficácia do método defensivo, se não se corrigir rapidamente os possíveis desequilíbrios na
organização da equipa, logo após a perda da posse da bola. este facto é significativo e compreensível, pois
devido a um tempo de posse de bola e a utilização de um número de jogadores mais alargado é normal que
a organização da equipa tenha a tendência para se desequilibrar defensivamente. Assim, logo após a perda
da posse da bola a equipa está mais exposta e vulnerável a acções ofensivas caracterizadas por uma eleva-
da velocidade de execução.
A. O equilíbrio ofensivo
O primeiro aspecto fundamental na organização de qualquer método ofensivo, é ter presente que a
fase de ataque começa antes do momento da recuperação da posse da bola. Com efeito, os jogadores que não
intervenham directamente nas acções que procuram concretizar essa recuperação, devem assumir atitudes e
comportamentos técnico-tácticos por forma a atingir os seguintes objectivos:
1. Preparar mentalmente a acção ofensiva, ocupan-
Foto 70. Equilíbrio ofensivo
do e explorando espaços vitais de jogo que possam
ser utilizados para o empreendimento do ataque.
2. Obrigar os seus adversários directos, a preocuparem-se mais na
Foto cedida pelo jornal O JOGO
B. A velocidade de transição
Um dos pressupostos essenciais de qualquer método de jogo ofensivo é a velocidade de transição
(reconversão) de dois aspectos fundamentais:
1. Das atitudes e dos comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos subjacentes à fase defensiva
para a fase ofensiva, logo após a recuperação da posse da bola.
Neste sentido, ao consumar-se a recuperação da posse da bola,
toda a equipa deverá reajustar os seus comportamentos técnico-
comportamentos técnico-tácticos, e por outro, obrigar os defesas a terem frequentemente de optar entre mar-
car um espaço vital ou um adversário.
2. Proporcionar ao companheiro de posse de bola o máximo de alternativas de resolução técnico-táctica da
situação momentânea de jogo.
3. Dificultar o trabalho defensivo consubstanciado por uma deficiente marcação aos seus atacantes directos
e a impossibilidade de estabelecer um mútua cobertura defensiva.
E. A circulação táctica
O método de jogo ofensivo, qualquer que este seja, aplicado por uma equipa com um determinado
nível de organização, reflecte de forma mais ou menos explícita um conjunto diferenciado de circulações tácti-
cas, que representam, em última análise, formas superiores de coordenação das acções individuais e colectivas
de vários jogadores, que visam essencialmente assegurar a criação de
contextualidades de jogo propícias à concretização de situações de final-
ização e de culminação de todo um processo ofensivo com a acção téc-
Foto cedida pelo jornal O JOGO
estas relativas à unidade de tempo (duração de um processo ofensivo ou defensivo). Por outras palavras, pre-
tende-se aumentar o número de vezes que a equipa tem a posse da bola, consequentemente aumentar o tempo
de posse de bola e simultaneamente diminuir o tempo em que a equipa se encontra em processo defensivo.
Logicamente estes pressupostos irão aumentar as oportunidades de concretização da equipa e reduzir o
número de oportunidades cedidas para o mesmo fim, ao adversário. É neste contexto que podemos dizer que
o "tempo de jogo" é o número de acções individuais e colectivas realizadas na unidade de tempo durante um
processo ofensivo ou defensivo.
1.6.2. Ritmo de jogo. "Pretende-se que a equipa faça variar a sequên-
cia das acções individuais e colectivas durante o processo ofensivo, de
modo que seja variável a ordem com que são executadas, o espaço
necessário para a sua execução, a velocidade de execução de cada
uma delas e a distribuição no tempo em que dura o ataque"
(Teodorescu, l984). A capacidade de utilização de um ritmo-variação
sequencial de acções individuais e colectivas, adaptado às situa-ções
momentâneas de jogo, determina o nível de maturidade técnico-táctica de
Do exposto, podemos inferir que a velocidade (de execução e de raciocínio táctico) é o factor deter-
minante e o denominador comum da aplicação de um elevado ritmo de jogo. Todavia, é preciso ter presente três
aspectos fundamentais: (1) um ritmo elevado é consequência da variação ("pontos altos e baixos") da velocidade
de execução dos comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos, daí a importância de a equipa reagir
no seu conjunto reconhecendo quando, onde e como o aplicar de uma forma metódica e sistemática. Um maior
ou menor ritmo de jogo, ao transportar igualmente o factor surpresa, provocará desequilíbrios pontuais e tem-
porários, tanto nas unidades estruturais funcionais da equipa adversária, como inclusive, em toda a sua organi-
zação defensiva, (2) ao aumento da velocidade corresponde normalmente o aumento da probabilidade de exe-
cução ineficaz das acções técnico-tácticas que por si poderão incrementar o número de perdas de posse de bola,
neste contexto se infere, a necessidade de se estabelecer um ritmo, o mais conveniente possível, mantendo os
níveis de rendimento da equipa e, (3) o ritmo de jogo aplicado deverá determinar a impossibilidade do adver-
sário se adaptar eficientemente às constantes e sequenciais mudanças de cadência da velocidade de execução
motora /aumentando-se ou diminuindo-se) em momentos oportunos (criação de condições desfavoráveis aos
adversários).
de posse de bola (1,7 e 7%, respectivamente). São os jogadores pertencentes ao sector médio (4%) que mais
perdem a posse da bola nestes sectores do terreno de jogo, seguido dos defesas (3%) e dos avançados (2%).
3. A etapa ofensiva em que se encontrava a equipa que perdeu a posse da bola determinou os seguintes valo-
res percentuais: 70% em construção, 13% em criação e 17% em finalização.
4. A atitude táctica dos jogadores no momento da perda da posse da bola podemos constatar os seguintes
aspectos: (1) 10% das situações observadas os jogadores assumiram comportamentos técnico-tácticos que
procuraram consubstanciar a sua manutenção, (2) em 30% das situações visavam a progressão da bola em
direcção à baliza adversária, (3) em 33% a criação de situações de finalização e, (4) em 15% a finalização (os
restantes 12% por outras causas).
5. Os comportamentos técnico-tácticos individuais ofensivos que consubstanciaram a perda da posse da bola
foram: (1) em 4% das situações os deslocamentos ofensivos, (2) 10% as recepções da bola, (3) 5% as con-
duções, (4) 52% os passes (11% - foram cruzamentos e 1% lançamentos da linha lateral), (5) 10% os
dribles/fintas, vi) 1% as simulações, vii) 14% os remates e, viii) 5% os fora-de-jogo.
Antes de analisarmos as diferentes formas básicas de manifestação dos métodos de jogo defensivo
interessa analisar e desenvolver a fase de jogo a que este está adstrito.
2. O processo defensivo
"O aspecto crucial do jogo é, o facto de se ter ou não a posse da bola. A equipa que tem a posse da
bola ataca, quando não tem a posse da bola defende. Neste sentido, seja qual for a posição do jogador dentro da
equipa este será sempre um potencial atacante ou defesa quando a sua equipa tem ou não a posse da bola"
(Hughes, 1990).
A equipa em fase defensiva e em função dos aspectos acima referidos, deverá dar imediatamente pri-
oridade à defesa da sua própria baliza. O desrespeito por este objectivo, poderá comprometer o resultado do
jogo, ou seja, a vitória. Por outras palavras, os erros cometidos no processo defensivo saldam-se habitualmente
pelo sofrer de golos, não consolidando assim os sucessos do seu próprio ataque. O cumprimento deste objecti-
vo, por parte dos jogadores é facilmente observável nas zonas predominantes de finalização (20 a 25 metros da
baliza), verificando-se assim, uma maior concentração de jogadores para uma melhor cobertura da baliza. Por
último, e tal como referimos para o processo ofensivo, o respeito por estes objectivos pressupõe que a organi-
zação do dispositivo defensivo determine a divisão das tarefas e funções individuais, a sua organização por sec-
tores, as regras específicas de colaboração (entreajuda) entre os jogadores e entre os sectores da equipa.
As equipas normalmente perdem a sua concentração no jogo: (1) quando os jogadores estão fatiga-
dos, (2) nas situações de bola parada (esquemas tácticos) e, (3) nos momentos, logo após a perda da posse da
bola, devido às movimentações dos jogadores da equipa que recuperarem a bola. Neste caso, existe a dificuldade
de uma vigilância e marcação eficazes desses adversários directos. Portanto, o tempo ganho pela acção de pressão
(após a perda da posse da bola) será utilizado para a recuperação e organização da defesa, e da concentração
(atenção) dos jogadores no jogo, procurando rapidamente os espaços e
os jogadores adversários mais perigosos. Nesta linha de raciocínio, seja
qual for a zona do terreno de jogo em que se verificou a perda da posse
da bola, a primeira fase de organização do processo defensivo deve ser Foto cedida pelo jornal O JOGO
consubstanciado por uma rápida reacção da equipa através de desloca-
mentos em direcção ao adversário de posse da bola e dos espaços vitais
de jogo com os seguintes objectivos:
A. Entrar de novo na sua posse por forma a reorganizar o ataque. Foto 79. O equilíbrio defensivo
Recuperar rapidamente a posse da bola: logo após a sua perda é um
dos aspectos de jogo que melhor traduzem o ganhar de confiança de uma equipa, e simultaneamente, se pres-
siona no plano psicológico a equipa adversária. Se juntarmos a este facto a possibilidade de essa recupera-ção
imediata da bola proporcionar condições vantajosas em termos de criação de situação de finalização ou
mesmo de finalização, maior será o seu impacto de carácter positivo para uma das equipas e negativo para a
outra. Nestas circunstâncias, um dos aspectos essenciais da fase defensiva do jogo é não perder de vista, que
pequenos pormenores podem determinar a eminência de grandes momentos.
B. Impedir o relançamento do processo ofensivo adversário e, em especial, que este renuncie ao contra-
ataque. Na mesma linha de pensamento lógico, do que foi referido no ponto anterior, é sempre importante
“refrear” as acções técnico-tácticas individuais e colectivas dos adversários, logo após a recuperação da posse
da bola no sentido de lhes diminuir o leque de opções possíveis de relançamento do seu processo ofensivo.
Neste domínio, referimo-nos particularmente, aquelas soluções que podem originar uma aceleração positiva
de jogo em direcção à baliza adversária. Com efeito, ao reduzir-se o leque de opções tácticas da equipa pe-
rante o contexto situacional de jogo conduz-se os adversários a concretizar acções que não objectivam mais
que a manutenção da posse da bola e a concretizar acções previsíveis do ponto de vista táctico.
C. Ganhar o tempo suficiente para que todos os jogadores se possam enquadrar no dispositivo defensivo da
equipa. Não havendo a possibilidade de se recuperar de imediato a posse da bola e diminuindo-se o leque de
opções tácticas no momento do relançamento do processo ofensivo, é necessário temporizar as acções da
equipa adversária, por forma a que todos os jogadores se reposicionem (mental e fisicamente) na organização
defensiva em função da situação momentânea de jogo.
que consubstanciam a fase de equilíbrio defensivo e dura até à ocupação do dispositivo defensivo previamente
preconizado pela equipa. Nestas circunstâncias, importa relevar os seguintes aspectos fundamentais que derivam
da etapa de recuperação defensiva:
1. Marcar, durante o deslocamento dos defesas em recuperação defensiva os atacantes que se desmarcam ou
se posicionam no mesmo espaço de jogo em especial os que se direccionam relativamente à baliza adversária.
Os deslocamentos de recuperação defensiva são considerados verdadeiros exames de maturidade táctica.
2. Interpor-se rapidamente entre o atacante (com ou
sem a posse da bola) e a própria baliza. Com efeito, entre
todas as questões que o defesa deverá equacionar e
responder adequadamente, este é o sentido táctico domi-
nante, a partir do qual, todos os outros comportamentos
técnico-tácticos são executados.
3. Obstaculizar constantemente a
acção dos atacantes pondo-lhes pro-
Foto cedida pelo jornal O JOGO
marcação sobre os adversários, por forma que a ordem, o espaço e a velocidade sejam imprevisíveis aos
olhos dos adversários.
C. No aumento da pressão e agressividade na marcação sobre o atacante de posse de bola e dos compan-
heiros que possam dar continuidade ao processo ofensivo de forma eficiente, isto é, obrigá-los a terem
respostas tácticas cujas direcções sejam para o lado ou para trás (em direcção à sua própria baliza).
D. Na colocação em profundidade de 1 ou 2 jogadores que não se empenhem directamente na luta pela
recuperação da posse da bola, mas que assumam atitudes e comportamentos técnico-tácticos de preparação
do ataque da sua equipa logo que esta recupere a posse da bola. Isto determina consequentemente que 2
ou mais jogadores da equipa de posse de bola não se possam incorporar no processo ofensivo, preocupan-
do-se, nestas circunstâncias, mais com a defesa da sua própria baliza, do que com o ataque à baliza adver-
sária.
E. Na condução dos adversários com e sem a posse da bola para
espaços menos perigosos ou onde beneficiem (através da acção
Figura 25. Representação gráfica das diferentes fases e as suas interrelações, do processo ofensivo e defensivo (I - ciclo irrever-
sível, R - ciclo reversível)
2.5. Os
102 Guia prático de exercícios de treino
Neste domínio podemos estabelecer três formas base através dos quais se expressam os diferentes
métodos de jogo defensivo: o método individual, o método à zona, o método misto e a zona pressionante que
decorre da evolução do método à zona.
7. Recruta elevados níveis de atenção selectiva, especialmente sobre o atacante que o defesa deverá marcar
de modo constante.
8. Evidencia a necessidade de elevados níveis de sacrifício e abnegação, pois sem estes atributos este méto-
do defensivo não tem eficácia.
B. Os aspectos favoráveis do método individual são os seguintes:
1. Possibilidade de se anular um jogador de grande capacidade técnico-táctica por um jogador de menores
recursos, compensados por outras características, tais como a perseverância e a vontade.
2. Estabelece missões facilmente compreendidas no plano táctico, por parte dos jogadores, pois cada um
pode concentrar a sua atenção e esforço num só adversário, numa só missão.
3. Transmite, quando é eficazmente aplicado, uma autoconfiança de extrema importância no desenrolar
do jogo.
4. Provoca um desgaste técnico-táctico, físico e principalmente psicológico aos jogadores sujeitos a este tipo
de marcação.
5. Reduz a capacidade de iniciativa do adversários que está sob influência deste tipo de marcação.
6. Consegue-se sempre um certo equilíbrio numérico em qualquer situação momentânea de jogo.
7. Potencializa-se a sua eficácia quando utilizado. Logo após a equipa ter conseguido o golo, aumenta-se
assim, o carácter perturbador da situação.
C. Os aspectos desfavoráveis do método individual são os seguintes:
1. Contextualiza situações muito difíceis de ultrapassar quando se verifica a falha individual de um defe-
sa, podendo assim comprometer de imediato toda a organização defensiva.
2. Determina um rápido desgaste físico, pois o defesa deverá reagir constantemente às movimentações do
seu adversário directo.
3. Estabelece a possibilidade se criar e explorar espaços livres em zonas vitais do terreno de jogo, em con-
sequência de roturas do método de jogo devido a falhas individuais.
4. Limita o jogo ofensivo da equipa, logo após a recuperação da posse da bola, pois depende largamente
do adversário directo do jogador que a recuperou.
5. Diminui a iniciativa, criatividade e a improvisação do jogador em termos defensivos, pois minimiza as
suas missões tácticas.
6. Reduz a coesão e aumenta a permeabilidade da organização defensiva devido ao não cumprimento de
um dos princípios específico da defesa - cobertura defensiva, enfraquecendo assim o espírito de entreaju-
da e solidariedade entre os jogadores.
7. Possibilidade de existir um maior número de contactos físicos, que poderão traduzir-se por um maior
número de infracções às leis do jogo realizadas em espaços perigosos para a baliza.
5. Poderá utilizar a denominada “defesa em linha” tentando tirar partido da lei do fora-de-jogo.
B. Os aspectos favoráveis do método à zona são os seguintes:
1. Delimita o posicionamento dos defesas, os quais gozam da facilidade de ver a sua acção limitada a um
determinado espaço (zona) que lhe é familiar, pois não abandonam os seus postos habituais de marcação.
2. Reduz largamente o desgaste físico e psicológico comparativamente aos métodos individuais, estando
assim, "à priori" mais aptos a responder às situações de jogo que lhes deparam, quer na fase defensiva como
na transposição para a fase ofensiva.
3. Obriga os atacantes adversários a terem de executar acções em direcções alternativas relativamente à bal-
iza adversária, devido à continua existência de duas linhas defensivas que obstróem sucessivamente a pro-
gressão do processo ofensivo adversário.
4. Aumenta a dificuldade de se criar, explorar e ocupar espaços vitais de jogo. Nos casos em que este facto
se verifica, o atacante está sempre pressionado por um ou mais defesas.
5. Correcção pronta das falhas individuais pelos companheiros, devido à contínua execução de cobertura
defensiva. Estabelece-se assim, um elevado grau de solidariedade entre os jogadores, pois todos se sentem
participantes na acção, que visa a recuperação da posse da bola.
6. Proporciona um melhor aproveitamento das qualidades técnico-tácticas-físicas dos jogadores.
C. Os aspectos desfavoráveis do método à zona são os seguintes:
1. Cria condições que facilitam a possibilidade dos atacantes evidenciarem uma maior capacidade de ini-
ciativa, particularmente quando se deslocam de um para outro espaço de marcação.
2. Permite situações de superioridade numérica ofensiva, pois poder-se-á verificar a entrada simultânea de
2 ou mais jogadores numa determinada zona de marcação de um defesa.
3. Desenvolve as dificuldades inerentes em definir, com exactidão, os limites das respectivas zonas de mar-
cação respeitantes a cada defesa e as inibições que daí possam advir. Adverte-se para o facto de existirem
possibilidades dos jogadores em certas situações de jogo, não saberem de quem é a responsabilidade da
marcação de determinado atacante.
4. Impõe um elevado sentido de sacrifício, pois sem isso dificilmente haverá efectividade.
5. Estabelece elevados níveis de insegurança se não existir uma sincronização colectiva correcta.
6. Compartimenta o método defensivo, que determina sempre uma maior permeabilidade do sistema.
depois do atacante se desfazer da bola ou outro companheiro assumir as suas funções, é que o defesa poderá
(consoante a situação de jogo) voltar para a sua zona de marcação.
3. Acentua as acções de cobertura defensiva ao 1º defesa (contenção) tornando-as mais rigorosas que no
método à zona. Assim, verifica-se que os outros defesas se posicionam em função da acção do compa-
nheiro que marca o adversário de posse de bola e de outros atacantes, que possam evoluir na sua zona de
marcação os quais poderão de imediato dar continuidade ao processo ofensivo adversário.
B. Os aspectos favoráveis (para além de alguns já referenciados para o método à zona) do método misto são
os seguintes:
1. Oferece uma excelente segurança defensiva.
2. Dificulta a criação de situações de superioridade numérica por parte dos atacantes.
3. Permite a possibilidade permanente de execução de compensações-permutações;
4. Aumenta a iniciativa e criatividade dos defesas possibilitando-os de sair da sua zona de marcação para
outra, marcando o atacante numa posição vital.
C. Os aspectos desfavoráveis do método misto são os seguintes:
1. Requer a leitura constante das situações de jogo e a antecipação das acções técnico-tácticas dos atacantes.
2. Determina a necessidade de um grande espírito de solidariedade e um alto grau de responsabilidade
individual.
3. Obriga os defesas a jogarem em certas zonas às quais estão menos habituados.
4. Diminui, em certas circunstâncias, a eficácia do método ofensivo da equipa.
Finalizando, a escolha de qualquer um destes méto- Foto 85. Defesa zona pressionante
dos defensivos atrás descritos, depende essencialmente da con-
cepção de jogo do treinador, que deverá ter em conta:
1. As condicionantes e características dos jogadores de que dispõe no plano intelectual, motor e físico.
2. O método ofensivo próprio e da equipa adversária.
3. As capacidades técnico-tácticas dos jogadores que irão realizar e que irão sofrer essa marcação (se come-
tem muitas faltas ou se pelo contrário simulam muitas faltas).
4. O nível de pensamento táctico dos jogadores (capacidade de leitura e percepção de jogo)
5. A capacidade física atingida pelos jogadores.
6. Os níveis de perserverânça, personalidade, sacrifício, etc.
A. O equilíbrio defensivo
A defesa altamente organizada, característica do futebol moderno, começa ainda durante o desenro-
lar do seu ataque e em qualquer fase deste processo. Através de medidas preventivas, asseguradas por um ou
mais jogadores (especializados), que se colocam e agem na retaguarda dos jogadores atacantes, da equipa que se
encontra nesse momento em fase defensiva. O equilíbrio defensivo constrói-se na base da igualdade ou na supe-
rioridade numérica, isto é, se a equipa adversária deixa um jogador adiantado, a equipa de posse de bola poderá
deixar um ou dois jogadores, que mantêm sob vigilância, o(s) adversário(s) que não estão directamente empen-
hados na luta defensiva. Esta forma de organização tem um triplo objectivo:
1. Reorganização do ataque no caso de insucesso.
2. Passagem organizada à defesa após a perda da posse da bola.
3. Organização de uma defesa temporária em função da situação, até que todos os companheiros se
enquadrem no dispositivo defensivo da equipa.
B. A recuperação defensi-
va
A recuperação
defensiva começa logo após
a impossibilidade de recu-
perar a posse da bola
através das acções que con-
substanciam a fase do equi-
líbrio defensivo e dura até à fase
da defesa propriamente dita.
Durante este trajecto os jogadores
têm como quadro referencial dois
aspectos fundamentais: Figura 29. O equilíbrio defensivo
108 Guia prático de exercícios de treino
1. A linha de recuo: recuperar o mais rapidamente possível tomando o caminho mais curto (sem nunca
perder o contacto visual com a bola), marcar adversários que possam dar seguimento ao processo ofensivo,
marcar espaços por onde o processo ofensivo possa progredir, deduzir continuamente quais as intenções tác-
ticas da equipa adversária.
2. Até que posição recuperar: há sempre um ponto em que o recuo defensivo termina, este está dependente
de duas questões fundamentais: (1) da capacidade da equipa em fase defensiva em pressionar mais ou menos
distante da sua própria baliza e, (2) da capacidade técnico-táctica da equipa adversária progredir no terreno
de jogo ultrapassando os obstáculos colocados pelos defesas ao longo do seu deslocamento na recuperação
defensiva.
C. Concentração defensiva
Um dos pressupostos chave da eficácia de qualquer método de jogo defensivo é a possibilidade deste
transmitir e criar condições para que a equipa, imediatamente após a perda da posse da bola, possa concentrar-
se, tornando-se compacta e homogénia em qualquer das etapas do processo defensivo, particularmente na recu-
peração defensiva e na defesa propriamente dita. Em nossa opinião, existem basicamente cinco aspectos essen-
ciais para a concretização deste objectivo:
1. Os jogadores avançados que normalmente ocupam posições mais perto da baliza adversária devem inter-
por-se entre a bola e a sua própria baliza por forma a exercer pressão, logo desde o momento da sua perca:
A organização dinâmica do jogo de futebol 109
geneidade e a compacticidade da organização defensiva, Estes atributos poderam ser potenciados se forem
aplicados: (1) num espaço restrito do terreno de jogo, (2) o mais longe possível da própria baliza, (3) dimin-
uin-do continuamente as possíveis mudanças do ângulo de ataque e, (4) diminuindo o leque de opções tácti-
cas dos adversários que a cada momento sugerem, por forma que as acções técnico-tácticas executadas para
a reso-lução dos diferentes contextos de jogo sejam previsíveis e antecipadas do ponto de vista defensivo.
5. No caso de não ser possível evitar o rápido desenvolvimento do processo ofensivo adversário e, conse-
quentemente, não se poder concretizar uma organização defensiva constituída pela maior parte dos jogadores
da equipa. Nestas circunstâncias, em função da progressão do ataque adversário, os defesas posicionados entre
os atacantes e a baliza deverão: (1) recuar concentrando-se na zona central desta, procurando protegê-la,
interceptando os ângulos vitais de remate e, (2) um dos defesas deslocar-se-à por forma a dar profundidade
a esta organização defensiva rudimentar evitando a concretização de deslocamentos de rotura dos atacantes
para o seio das zonas vitais de finalização.
bola, a partir da qual todos os restantes jogadores se arti-culam estabelecendo uma distância e ângulo correctos
dando assim cobertura à acção dos diferentes companheiros. No caso do processo ofensivo adversário ser real-
izado pelo corredor central a diagonal é subdividida em duas, articulando-se em função do companheiro em
contenção. Este posicionamento da última linha defensiva tem por objectivos: (1) diminuir os espaços de jogo
entre os jogadores pertencentes
à última linha defensiva da
equipa, (2) menores possibili-
dades de utilização por parte
dos atacantes em explorar o
espaço "nas costas" dos defesas e,
(3) favorece o empenhamento e a
solidariedade dos defesas. Os
inconvenientes do posicionamento
desta última linha defensiva são os
seguintes: (1) não é possível explorar a
Lei do fora-de-jogo, (2) dificuldades em
manter estável esta linha defensiva quan-
do os atacantes executam rápidas Figura 32. Organização da última linha defensiva “na diagonal”
mudanças do ângulo de ataque, o que obriga os defe-
sas a assumirem constantemente acções de contenção sobre o atacante de posse de bola e de cobertura defensi-
va e, (3) os atacantes que executam acções de apoio lateral ao seu companheiro de posse de bola poderão rece-
bê-la nas melhores condições, isto é, sem a pressão dos defesas, que necessitam de algum tempo para se deslo-
carem da posição de cobertura defensiva para contenção.
1. Se a equipa adversária mobilizar um avançado, a sua marcação será realizada por um dos defesas centrais,
sendo este definido consoante o avançado se desloque mais para um ou para o outro lado do corredor cen-
tral. Simultaneamente o defesa central que não tem adversário para marcar, desloca-se para a posição de
cobertura estabelecendo
assim a profundidade defen-
siva da equipa.
2. Se a equipa adversária
mobilizar dois avançados
posicionando-se no corredor
central, então cada defesa cen-
tral marca individualmente cada
avançado e consoante a posição
da bola, a cobertura e profundi-
dade defensivas são realizadas alter-
nadamente por um dos defesas lat-
erais (esquerda ou direita). Neste sen- Figura 33. Organização da última linha defensiva com profundidade variável”
tido, se a bola estiver no corredor dire-
112 Guia prático de exercícios de treino
ito, o defesa esquerdo deverá realizar a cobertura à acção dos seus colegas defesas centrais, estabelecendo a
profundidade defensiva. No caso da bola se encontrar no corredor esquerdo o defesa direito deverá realizar a
acção descrita. Caso a bola se posicione no corredor central, os dois defesas laterais devem posicionar-se
simultaneamente no corredor central, possibilitando uma cobertura defensiva mais compacta aos seus cole-
gas defesas centrais, e ai permanecerem até haver uma nova definição do corredor de jogo que irá ser utiliza-
do pelos adversários.
3. No caso da equipa disponibilizar três avançados os quais se posicionam um em cada corredor de jogo. Nesta
situação cada defesa lateral marcará o seu adversário directo enquanto que um dos defesas centrais marcará
o terceiro atacante. O defesa central que não tem marcação dará profundidade defensiva e a cobertura aos três
companheiros deslocando-se mais para “as costas” de um ou de outro consoante o deslocamento da bola no
terreno de jogo.
4. No caso, da equipa adversária disponibilizar três avançados que se posicionam no corredor central de jogo,
poder-se-á utilizar uma de duas formas: (1) os dois defesas centrais marcam dois dos avançados e o terceiro
elemento é marcado por um dos defesas laterais ou, (2) os dois defesas centrais marcam dois dos avançados
e para o terceiro avançado é mobilizado um dos médios centros para o marcar. Esta segunda solução é nor-
malmente a mais utilizada, pois irá manter os movimentos de cobertura e profundidade defensivas realizadas
pelos defesas laterais em função do posicionamento da bola no corredor esquerdo, central ou direito.
D.2.1. O libero
Os métodos defensivos podem ser articulados, ou não, em profundidade. Esta medida pressupõe a
possibilidade da colocação de um jogador "libero" atrás da última linha defensiva (entre esta e o guarda-redes).
A sua função principal é de fazer a cobertura dos espaços "nas costas" dos companheiros garantindo assim a sua
segurança e homogeneidade. Normalmente este jogador tem como características um grande sentido de leitura
do jogo, dominando e orientando perfeitamente os deslocamentos defensivos em termos individuais e colectivos.
As vantagens da defesa articulada em profundidade são: (1) a existência de um jogador que "sobra" estando assim
em condições de responder às situações momentâneas de jogo mais prementes, quer fazendo a cobertura defen-
siva, quer dobrando os compa-nheiros e, (2) a equipa tem uma maior segurança defensiva permitindo um maior
espaço para que os defesas após a recuperação da posse da bola saiam a jogar. As desvantagens desta defesa são:
(1) não diminuir a profundidade do processo ofensivo adversário dando-lhe assim mais espaço para jogar e, (2)
na possibilidade de falhas indi-
viduais, poder-se-ão criar situ-
ações de 2X1 muito pró-ximas
da baliza.
D.2.2. O trinco
Os métodos defen-
sivos podem igualmente articular
um jogador à frente da última linha
defensiva, normalmente denomina-
do de "trinco", cujas funções funda-
mentais são: (1) reforçar a marcação e
a vigilância da zona central da baliza e,
(2) de equilibrar o método defensivo, Figura 34. Organização da última linha defensiva com a articulação
ocupando e vigiando espaços de jogo que de um “libero”
A organização dinâmica do jogo de futebol 113
foram deixados livres pelos seus companheiros da defesa após a recuperação da posse da bola e que se integraram
no processo ofensivo da sua
equipa.
2.6. Estabelecimento de um
ritmo defensivo
A aplicação de um
ritmo defensivo radica-se na
cadência de execução das acções
de marcação a adversários com ou
sem a posse da bola, temporizando a
progressão do centro do jogo, recu-
perando a posse da bola, ou exercendo
a protecção máxima da própria baliza.
Uma defesa agressiva deve caracterizar-se Figura 35. Organização da última linha defensiva com a articulação
por um grande número de acções e por de um “trinco”
um grande espaço de jogo defendido.
amente, procurar momentos de desconcentração que possibilitem de imediato a recuperação da posse da bola.
São os jogadores pertencentes ao sector médio (5%) que mais recuperam a posse da bola nestes sectores do
terreno de jogo, seguido dos defesas (2%) e dos avançados (1%).
4. Os jogadores que recuperaram a posse da bola: (1) em 30% das situações observadas pressionaram eles
próprios o atacante que a detinha, (2) em 26% das situações o jogador que a recuperou beneficiou em parte
da pressão exercida por um seu companheiro sobre o atacante de posse de bola e finalmente, (3) em 34% das
situações observadas a recuperação da posse da bola deveu-se a erros imputados aos jogadores da equipa ata-
cante.
2.7.2. A relação entre o sector de recuperação da posse da bola e a eficácia do processo ofensivo
Da análise deste aspecto verificamos os seguintes aspectos:
1. Ao compararmos os dados referentes às acções ofensivas eficientes (atingiram o golo) e as outras, observa-
se um aumento dos valores percentuais em zonas e sectores do terreno de jogo próximas da baliza adversária.
Comparativamente, o sector ofensivo (4/4) aumentou quatro vezes o seu valor, o mesmo sucedendo ao sec-
tor do meio-campo ofensivo (3/4), enquanto o sector defensivo (1/4) reduziu para metade o seu valor. Neste
contexto, um dos factores fundamentais que contribui amplamente para uma eficiente etapa de finalização do
processo ofensivo, advém do facto de se recuperar a posse da bola o mais perto possível da baliza adversária.
Figura 36. Relação entre o sector do terreno de jogo onde se verificou a recu-
peração da posse da bola, a duração, o número de acções de passe executa-
dos, o número de jogadores utilizados (intervieram sobre a bola), os
jogadores que participaram, a média do número de toques por intervenção
dos jogadores nos processos ofensivos que culminaram em golo.
Para reforçar esta ideia, analisemos o sector do terreno onde a bola foi recuperada em relação com: (1) o sec-
tor do terreno de jogo onde se verificou a perda da posse da bola do processo ofensivo subsequente, e, (2) o
nível de eficácia (etapa ofensiva) que esse processo atingiu. Com efeito, no primeiro nível de análise, obser-
varam-se os seguintes dados importantes: somente 66% das recuperações no sector defensivo (1/4) atingiram
o sector ofensivo (4/4) e, em 24% das situações o sector do meio-campo ofensivo (3/4). As recuperações no
sector do meio-campo defensivo (2/4) em 70% das situações atingiram o sector ofensivo (4/4) e em 24% o sec-
tor do meio-campo ofensivo (3/4). As recuperações no sector do meio-campo ofensivo (3/4) em 80% das situ-
ações atingiram o sector ofensivo (4/4).
2. No segundo nível de análise: somente 15% das recuperações de posse de bola no sector defensivo (1/4) atin-
giram a etapa de finalização e em 11% a etapa de criação. As recuperações no sector do meio-campo defen-
sivo (2/4) somente em 17% das situações atingiram a etapa de finalização e em 21% a etapa de criação. As
recuperações no sector do meio-campo ofensivo (3/4) em 31% das situações atingiram a etapa de finali-zação
e em 21% a etapa de criação. E por último, as recuperações no sector ofensivo (4/4) em 29% das situa-ções
atingiram a etapa de finalização e em 29% a etapa de criação. Os dados apresentados, demonstram e reforçam
A organização dinâmica do jogo de futebol 115
claramente que, quanto mais perto da baliza adversária se verificar a recuperação da posse da bola, maiores
serão as probabilidades do processo ofensivo subsequente, atingir com facilidade espaços vitais de jogo e con-
comitantemente, maiores níveis de êxito, isto é, por um lado, a criação de situações de finalização que objec-
tivam o estabelecimento das condições mais vantajosas à concretização da etapa de finalização, e por outro,
situações de finalização que objectivam a possibilidade de concretização do golo.
3. Em função dos dados analisados podemos verificar que em cada 10 acções ofensivas em que a bola foi recu-
perada no sector defensivo (1/4), 7 a 8 (75%) terminaram na fase de construção do processo ofensivo, 1 (10%)
na fase de criação de situação de finalização, 1 (10%) na fase de finalização e 0 a 1 (5%) possivelmente com
finalização positiva (golo). No que respeita, ao sector do meio-campo defensivo (2/4) em cada 10 acções ofen-
sivas em que a bola foi recuperada neste sector, 6 (62%) terminaram na fase de construção do processo ofen-
sivo, 2 (20%) na fase de criação de situação de finalização, 1 (10%) na fase de finalização e 0 a 1 (8%) com
finalização positiva (golo). No sector do meio-campo ofensivo (3/4) em cada 10 acções ofensivas em que a
bola foi recuperada neste sector, 4 a 5 (48%) terminaram na fase de construção do processo ofensivo, 2 (20%)
na fase de criação de situação de finalização, 2 (20%) na fase de finalização e 1 (12%) com finalização positi-
va (golo). No sector ofensivo (4/4) em cada 10 acções ofensivas em que a bola foi recuperada neste sector, 4
(40%) terminaram na fase de construção do processo ofensivo, 2 a 3 (25%) na fase de criação de situa-ção de
finalização, 1 a 2 (15%) na fase de finalização e 2 (20%) com finalização positiva (golo).
4. Os
dados
apre-
senta-
d o s
Quadro 1. Resumo das relações observadas entre o sector de recuperação da posse da bola com os valores médios e os valores signi-
ficativos da duração, dos jogadores que intervieram e participaram e o número de passes executados durante as acções ofensivas que
culminaram em golo
116 Guia prático de exercícios de treino
2.7.3. A relação entre o sector de recuperação da posse da bola, a duração, o número de jogadores e passes
executados nas acções ofensivas que culminaram em golo
À medida que a recuperação da posse da bola se efectua mais perto da baliza adversária, menor é a
duração do processo subsequente. O mesmo tipo de conclusões se pode verificar para: (1) o número de jogadores
que intervieram sobre a bola, (2) o número de jogadores que participaram na acção ofensiva, e, (3) o número de
acções técnico-tácticas de passe efectuados. Em relação ao número de toques e ao tempo de posse da bola por
intervenção, (embora os valores médios nos dois casos sejam semelhantes para os diferentes sectores do terreno
de jogo), observa-se os mesmos pressupostos referidos para os outros factores, isto é, à medida que se recupera
a bola em espaços próximos da baliza adversária menor é a tendência dos jogadores que intervêm momentânea
e directamente sobre esta, de diminuírem o número e o tempo de relacionamento com a bola. Todavia, verifi-
ca-se, enquanto que a média do número de contactos com a bola se mantém constante, para os diferentes sec-
tores de jogo, o tempo para a sua execução diminui e deriva da necessidade de uma resolução técnico-táctica
mais rápida da situação de jogo, por forma a ultrapassar a acções de marcação movidas pela equipa adversária
sobre os atacantes e sobre os espaços vitais de jogo, ou seja, desequilibrar a sua organização defensiva.
B. Poder contrastar com as acções de cobertura defensiva levadas a cabo pelos defesas dentro da sua orga-
nização na qual as falhas individuais são prontamente corrigidas.
3 - Os jogadores e a bola devem circular correcta e rapidamente procurando criar situações de desequilíbrio
por forma a espartilhar a organização defensiva adversária, quebrando assim o elevado grau de solidariedade
entre os defesas através da criação de situações de finalização.
4 - Colocar problemas de jogo complexos no plano táctico, obrigando os defesas a terem necessidade de mais
tempo para percepcionarem e analisarem as situações de jogo, que se lhes deparam através de movimentações
múltiplas e sincronizadas dos atacantes.
5 - Utilizar métodos de jogo ofensivos caracterizados por uma rápida transição da fase defensiva para a fase
ofensiva, por um lado, e uma rápida transição da zona de recuperação da posse da bola para as zonas pre-
dominantes de finalização, por outro. Procuram-se assim criar continuamente condições de instabilidade ao
método defensivo adversário, não lhes permitindo, nem o tempo nem o espaço para se poderem organizar
convenientemente.
acções dos defesas, estabelecendo a incerteza ("pânico" por vezes) nas marcações sobre os atacantes.
D. Executam-se acções que levem os defesas a antecipar incorrectamente a situação de jogo e beneficiar
desses erros.
E. Aumenta a sequência das acções individuais e colectivas se as condições no plano físico dos jogadores
adversários estiverem diminuidas, por forma a incutir-lhes elevados níveis de insegurança.
4 - Estabelecer ritmos defensivos usando uma variação e uma sequência de acções individuais e colectivas
de marcação sobre os adversários por forma que a ordem, o espaço e a velocidade sejam imprevisíveis,
criando condições de insegurança na qual a equipa adversária não sabe nem quando, nem onde e durante
quanto tempo, irão estar sujeitos a elevados níveis de pressão. Ainda neste contexto, as equipas que uti-
lizem predominantemente o ataque posicional sentem algumas dificuldades contra equipas que exprimem
um tempo e um ritmo elevados.
Foto cedida pelo jornal O JOGO
Foto 86. A posse da bola não é um fim em si e torna-se utópico, se não for conscientemente considerada como o primeiro passo indispensável no
processo ofensivo, sendo condição "sine qua non" para a concretização dos seus objectivos fundamentais
121
Futebol
Guia prático de exercícios de treino CAPÍTULO 4
O SUBSISTEMA
RELACIONAL
Parte UM
O SUBSISTEMA RELACIONAL
Capítulo
Quatro
1. O conceito de subsistema relacional
O subsis - O subsistema relacional da organização dinâmica do jogo de futebol, é definido pela cria-
tema rela - ção de uma linguagem táctica comum no seio da equipa (também denominado de princípios
do jogo), a qual é suportada pela implementação de um conjunto de linhas orientadoras do
pensamento táctico dos jogadores (também denominadas de regras de decisão) as quais
visam a resolução operativa, isto é, técnico-táctica, dos diferentes contextos situacionais que
o jogo em si encerra.
stanciam o melhoramento da funcionalidade da equipa tanto do ponto de vista operacional como afectivo. O
jogo de futebol reflecte um conjunto diversificado de situações momentâneas de jogo, que por si encerram
inúmeros problemas que de-verão ser resolvidos pelos componentes das duas equipas em confronto, através de
acções significativas, orientadas em relação a um objectivo comum. Desta assunção, facilmente inferimos do ele-
vado grau de complexidade que os comportamentos dos jogadores em si encerram. Executar uma acção correc-
ta, no momento exacto, empregando a força necessária, imprimindo a velocidade ideal, antecipando as acções
dos adversários e tornar compreensível a sua acção em relação aos companheiros e incompreensível relativa-
mente aos adversários, são alguns dos elementos que qualquer jogador deve ter em conta antes de tomar uma
decisão. Neste sentido, a re-solução de um qualquer contexto de jogo passa indissoluvelmente pelos comporta-
mentos dos jogadores que exprimem duas vertentes fundamentais e inseparáveis: i) a vertente táctica que é
definida pelo processo intelectual de solução do problema de jogo e, (2) a vertente técnica que é definida pela
solução prática do problema de jogo. Nesta linha de raciocínio, a solução dos contextos situacionais de jogo
implicam, em geral, o recurso a certos princípios que são desenvolvidos através das directrizes do treinador (na
prática do treino e da competição) e dos conhecimentos pré-existentes (experiências) dos jogadores para resolver
as situações-problema. Estas regras de decisão, aprendidas e aperfeiçoadas pela aplicação prática, possibilitam
soluções satisfatórias relativamente ao balanço entre os benefícios qualitativos de se fazerem melhores escolhas
contra os custos de usar outras mais complexas, pois embora sejam melhores como regras necessitam de mais
tempo para reflectir a si-tuação (tempo é o que não existe no futebol) e de mais esforço.
A utilização de regras de decisão compreendem duas operações mentais distintas: (1) a primeira que
é a mais difícil na maior parte das vezes, consiste em determinar a que regra é necessário recorrer para resolver
o problema levantado, (2) a segunda diz respeito à aplicação de uma determinada regra relativamente às
condições particulares do problema a resolver. É nesta perspectiva que a escolha da resposta perante a situa-ção-
problema é determinado pela:
1. Disposição dos elementos mais pertinentes no contexto situacional
2. Estratégia colectiva e individual dos jogadores da equipa.
3. Eficácia na execução da acção técnico-táctica
Neste domínio, a importância dos princípios do jogo de futebol e nos desportos colectivos em geral,
consubstancia-se sobre dois valores de ordem interna e externa.
processo defensivo. Isto significa, a necessidade de procurem uma cooperação, racionalização e coerência
dinâmica da movimentação da equipa com vista à concretização dos objectivos definidos. Assim, no plano fun-
cional (valor externo), os princípios utilizados durante o jogo devem permitir a comunicação dentro da equipa,
considerando: (1) a situação de jogo (compreendê-la) e, (2) a sua evolução (prevê-la).
à sua execução, (4) enviá-lo ao sistema neuro-muscular para a sua efectivação e, (5) recolher
informação concomitante e terminal sobre a resposta e o seu grau de ajustamento, para pos-
sibilitar a sua eventual correcção.
Foto 97. O
Após uma ou mais situações de jogo, os jogadores são levados a comparar o desvio entre
jogador os efeitos produzidos e os efeitos pretendidos, ou seja, a eficácia da sua acção em função do
A organização dinâmica do jogo de futebol 127
cumprimento dos objectivos tácticos da sua equipa. São estas relações de influência e de comparação que per-
mitem aos jogadores: (1) mo-dificar em pequenos detalhes, (2) redefinir totalmente o projecto de acção quando
o resultado pretendido não foi atingido e, (3) reforçar a compatibilidade entre situação e resposta (feedback pos-
itivo). Os meios de comparação, entre o produzido e o pretendido, segundo Grehaigne (1992) "quando assumem
um carácter constante e são suficientemente gerais transformam-se em auto-conselhos para os jogadores na
medida em que estabelecem regulamentos activos para afinar as suas respostas motoras". A passagem, acrescen-
ta o mesmo autor (1992) "da conceptualização à acção pressupõe uma modificação na linguagem, isto é, a
tradução de uma linguagem conceptual para uma linguagem motora. Esta modificação realiza-se pela instalação
do projecto de acção a partir do suporte conceptual que constituem os princípios do jogo".
Outro aspecto que é preciso não ignorar é o facto de que cada jogador, consoante as suas particular-
idades, percepciona, analisa e resolve mentalmente as situações competitivas de forma diferente. Portanto, os
processos mentais de base à resolução eficaz duma mesma situação irão concretamente determinar diferentes
níveis de elaboração. Assim, a solução mental de uma mesma situação de jogo, poderá para uns, envolver um
pensamento que resulta de uma actividade mental criadora, enquanto para outros, envolve um processo mental
menos elaborado, resolvendo a situação mais "economicamente". Este facto determina, que os jogadores poderão
preservar a atenção para o tratamento de outros aspectos, tal como a previsão do desenvolvimento da direcção
do jogo. Contudo, a resolução mental de um elevado número de situações idênticas de competição, determina
um auto-aperfeiçoamento, que consubstancia a diminuição da elaboração mental e da vigilância da situação.
Logo, à medida que o jogador eleva a sua capacidade de solução mental do problema de jogo, necessita cada vez
menos, que o processo mental adjacente a esta solução seja tão elaborado. Isto significa que a resposta à situação
competitiva, é realizada mais rapidamente, mas mantendo o mesmo nível de eficácia, não consagrando toda a
atenção a essa situação momentânea e particular do jogo.
As regras racionais de tomada de decisão dos jogadores devem ter em consideração três vertentes
nucleares: (1) a natureza da decisão, (2) o contexto situacional em que essa decisão irá ter lugar e, (3) o jogador
que está apetrechado com um conjunto de processos cognitivos e motores.
5.1. A natureza da decisão. Vários investigadores assumem que a tomada de decisão ocorre de acordo com
uma série de estádios bastante bem definidos, se bem que algumas decisões mais complexas possam repetir
alguns passos ou voltar atrás na sequência de estádios (Carroll e Johnson, 1990, Araújo, 1998):
1. Reconhecimento. O processo da tomada de decisão começa quando o jogador reconhece a necessidade
que uma decisão deve ser tomada para alterar o rumo dos acontecimentos que gravitam à sua volta.
2. Gerar alternativas. Quando um jogador vai decidir há, teorica-
mente, inúmeras alternativas a equacionar. Todavia, esse número
vai ser reduzido às alternativas mais racionais ou adaptadas,
Foto cedida pelo jornal O JOGO
cas e constrangimentos da contextualidade da situação. Assim há que ter em consideração os seguintes aspec-
tos:
1. O contexto situacional pode ser: (1) co-nhecida. O conhecimento da situação-pro-blema estabelece um
determinado nível de estruturação no processo de tomada de decisão, sendo regulada e organizada em
função dos hábitos e dos automatismos
adquiridos pelo jogador ao longo do seu
processo de treino e, (2) desconhecida.
Verifica-se uma destruturação, pois não
existe uma forma pré-definida para encon-
trar e aplicar a acção motora em resposta aos
Figura 38. Exemplo de uma árvore de tomada de decisão para o jogo de futebol
1. Não exaustividade. A mente humana é limitada, uma vez que a memória de curto prazo armazena uma
ínfima parte do que se passa à nossa volta, como na sua passagem para a memória de longo prazo. Devido
a estas limitações, o jogador tem a tendência de simplificar as informações que derivam do envolvimento
e em formular decisões que iluminam alguns aspectos da situação, mas ignoram outros. No futebol
podemos sistematizar as diferentes tomadas de decisão partindo-se de condições iniciais concretas e
padronizadas, que se anulam mutuamente consoante as situações as quais determinam diferentes opções
(decisões), que por sua vez, são suportadas por um conjunto de comportamentos (acções técnico-tácticas)
de base que concretizam os objectivos de cada decisão tomada.
Foto cedida pelo jornal O JOGO
mação em detrimento de outro. Assim: (1) a informação referente a ocorrências é sobrevalorizada relati-
Figura 39. As condições iniciais, as situações, as decisões e as acções a executar durante o processo ofensivo
numa modalidade de jogos desportivos colectivos
vamente aquela referente a não ocorrências, (2) a informação superficialmente relevante ou que confirma
as expectativas ou aprendizagens anteriores, é tida como mais útil do que a informação cuja relevância seja
A organização dinâmica do jogo de futebol 131
um pouco menos óbvia ou que seja incongruente em relação às expectativas ou à aprendizagem anterior e,
Figura 40. As condições iniciais, as situações, as decisões e as acções a executar durante o processo defensivo numa modalidade de jogos desportivos
colectivos
(3) a informação mais acessível tem um valor exagerado em relação ao da informação menos acessível.
3. Incompreensão do conceito de “acaso”. O ser humano é muitas vezes incapaz de reconhecer o compo-
132 Guia prático de exercícios de treino
Finalizando, os princípios de jogo definem, em última instância, a compreensão das relações lógicas
elementares ou por outras palavras, das propriedades invariantes das situações de jogo, sobre as quais se vai
inserir a actividade conceptual e motora dos jogadores para responder aos diferentes problemas gerados pelo
confronto entre as duas equipas. Constituem-se neste domínio, como uma construção teórica e um instrumen-
to operatório que orienta um certo número de comportamentos técnico-tácticos dos jogadores, representando
assim uma fonte que permite agir sobre a realidade do jogo, isto é, na resolução das situações momentâneas de
jogo. As suas principais características são: i) serem conscientes, (2) serem simples, (3) possuírem um certo grau
de generalização, (4) concorrerem na planificação, selecção e execução da acção em relação estreita com os
mecanismos motores, sem se confundir com esta e, (5) participarem na explicação da acção.
Figura 41. Elementos a percepcionar durante a situação de jogo e o modelo cognitivo de regulação
da acção (adaptado de Konzag, Dobler e Herzog, 1995)
para o desenvolvimento eficaz do processo ofensivo ou defensivo em que a sua equipa está inserida, ou na
preparação de uma destas fases fundamentais do jogo, independentemente de a sua equipa deter ou não a posse
da bola. Para que o correcto desenvolvimento do jogo seja uma realidade, é fundamental que se faça sentir a
contribuição de cada jogador tanto: (1) na resolução imediata dos diferentes contextos situacionais pontuais e
temporários, que o jogo em cada momento em si encerra, bem como, (2) na antecipação ou na preparação dos
futuros cenários contextuais que daí possam resultar.
Neste domínio, os diferentes jogadores procuram dentro das suas possibilidades, facilitar ou pertur-
bar a continuidade do processo ofensivo ou defensivo, que em última análise, são constituídos pelas interacções
resultantes dos diferentes contextos situacionais, desde a recuperação até à perca da posse da bola. Do referido,
podemos evidenciar que em cada fracção do jogo todos os jogadores de cada equipa devem assumir atitudes e
comportamentos técnico-tácticos de carácter individual e colectivo, convergindo (aproximando-se) ou divergin-
do (afastando-se) do espaço em que a bola se encontra e, naturalmente, do companheiro ou do adversário que
a detém. Estas decisões, que levam a uma aproximação ou afastamento do espaço onde a bola se encontra,
derivam fundamentalmente: (1) das necessidades verificadas para uma resolução eficaz dessa situação pontual e
temporária do jogo, (2) da importância de se criar condições de desequilíbrio da organização da equipa adver-
sária e, (3) do restabelecimento continuo e automático dos equilíbrios de suporte ao sistema táctico da equipa.
Com efeito, sempre que a bola entra em movimento observa-se, por parte dos jogadores, um conjunto de acções
individuais coordenadas por um amplo sentido colectivo suportado por decisões mentais que os transportam
para espaços mais afastados dos contextos situacionais temporários ou directamente para o seio des-ses contex-
tos, com o intuito que essas decisões do domínio táctico e técnico convirjam numa via única, a de contribuir
positivamente para a concretização dos objectivos estratégicos preestabelecidos pela equipa e/ou dos objectivos
134 Guia prático de exercícios de treino
7.1. As unidades estruturais funcionais (do qual derivam os princípios específicos do jogo)
Se analisarmos outras modalidades desportivas de carácter colectivo, tais como o andebol e o bas-
quetebol por exemplo, de imediato verificamos que estas se desenvolvem num espaço de jogo mais reduzido e
com um menor número de elementos por equipa, quando comparado ao jogo de futebol. Este facto tem como
consequência prática dois aspectos essenciais:
1. Em todas as situações, todos os elementos da mesma equipa, no mesmo momento, estão profundamente
envolvidos numa das fases fundamentais do jogo (ataque ou defesa). Assim, os jogadores da equipa de posse
de bola, procuram circulá-la executando simultaneamente constantes deslocamentos por forma a criar, ocu-
par e explorar espaços vitais de jogo, em ordem à execução de um remate (andebol) ou lançamento (bas-
quetebol) efectivo. No mesmo momento e em sentido contrário, os defesas procuram anular essas mesmas
circulações tácticas, por forma a recuperar a bola e a defender a baliza ou o cesto, através de deslocamentos
que mantenham objectivamente, a marcação a adversários directos e a vigilância dos espaços vitais e estratégi-
cos do jogo.
2. Devido à proximidade posicional e processual (operatória) que os diferentes jogadores (atacantes e defesas)
adoptam nos diferentes contextos situacionais de jogo, durante as fases de cariz ofensivo ou defensivo, faz
interagir os seus comportamentos técnico-tácticos (tendo em consideração, as suas decisões de carácter tácti-
co), com as acções executadas pelos outros jogadores (companheiros e adversários) as quais, na maio-ria das
situações se enquadram no seu campo de visão. Estabelece-se assim, devido a um esforço concentrado da
atenção, relações de comunicação e contra-comunicação priviligiadas, pelo facto de serem observadas, anal-
A organização dinâmica do jogo de futebol 135
No jogo de futebol este aspecto de influenciar e ser influenciado por um número significativo de
jogadores (companheiros e adversários) que assumem diferentes comportamentos técnico-tácticos, é de todo
impossível. A realidade deste facto, constrange inapelavelmente a tomada de decisão, e por inerência, a execução
da acção de resposta ao contexto situacional presente. Daí que, podemos teoricamente estabelecer a existência,
em cada momento do jogo, de uma unidade lógica funcional e operacional, que rapidamente se constitui (con-
soante o nível de organização dinâmica da própria equipa), cada vez que um dos jogadores recebe a bola, poden-
do ser alterada (positiva ou negativamente) durante o tempo em que este a detém. Assim, em cada momento do
jogo, observam-se transformações fundamentais consubstanciados por um conjunto de deslocamentos de alguns
companheiros, que convergem na sua direcção com o intuito de apoia-lo na sua acção, e de adversários a tentar
destituí-lo da posse da bola, ou no mínimo levá-lo a optar e a executar acções desadaptadas e ineficazes ao con-
texto situacional existente. Cada unidade lógica (estrutura) funcional, que se forma em cada instante do jogo em
função dos objectivos tácticos momentâneos de quem ataca ou de quem defende, é estabelecida num enquadra-
mento situacional caracterizado por uma determinada “incerteza” mas
também por uma integridade estrutural, cujos componentes estabele-
cem nomeadamente:
1. Um espaço concreto de jogo onde esta unidade operacional se veri-
fica.
2. Um tempo real de jogo, pois, à medida que este tempo se esgota estas
unidades estruturais operacionais tendem a deteriorar-se.
3. Um resultado numérico do jogo, pois, em função do resultado positivo ou
negativo existe a possibilidade de um aumento ou redução da eficácia destas
unidades lógicas funcionais.
4. Um jogador que intervém sobre a bola convergindo para ele as atenções
dos companheiros e adversários, os quais se deslocam na sua direcção, mas
mantendo um certo distanciamento, por forma a que a bola
possa circular (perspectiva ofensiva), ou evitar essa circulação e
recuperar a posse da bola (perspectiva defensiva).
Foto cedida pelo jornal O JOGO
7.2. A organização dinâmica que envolve as unidades estruturais funcionais (do qual derivam os princípios
gerais do jogo)
As referidas constatações levam-nos a admitir, em teoria, a possibilidade de se estabelecer dois níveis
de princípios orientadores do comportamento táctico dos jogadores, os quais derivam das unidades estruturais
funcionais que se encontram em constante mutação, constituídas momentaneamente pelo jogador de posse de
bola e elementos pertencentes às duas equipas (companheiros e adversários) posicionam-se até a uma certa dis-
136 Guia prático de exercícios de treino
tância (não superior a 15 metros), auxiliando ou perturbando o seu raciocínio táctico, e consequentemente a sua
execução motora. Neste sentido, os atacantes que se posicionam no seio da unidade estrutural funcional apoiam
as acções técnico-tácticas do colega de posse de bola, facultando-lhe opções de resolução táctica enquanto que
os adversários se opõem ou limitam estes propósitos com vista à recuperação da posse da bola ou ainda para
evitar situações que possam ter como consequência o remate à baliza. À volta das diferentes unidades lógicas
funcionais, que continuamente se formam, estrutura-se uma organização dinâmica mais extensa em termos de
espaço de jogo e número de jogadores, que assumem atitudes e comportamentos técnico-tácticos tendo, em con-
sideração o desenvolvimento das unidades estruturais funcionais, balizada pelas circunstâncias do momento e
pelos objectivos estratégicos preestabelecidos. Do ponto de vista defensivo, os defesas assumem posicionamen-
tos ajustando-se: (1) à continuidade das acções dos seus colegas colocados no seio das unidades estruturais fun-
cionais, (2) à racionalização dos espaços vitais e estratégicos de jogo em consonância com as circunstâncias do
momento e do sistema táctico de base da equipa, (3) aos deslocamentos de rotura dos atacantes relativamente
à posição da bola e da baliza e, (4) à forma de recuperar a posse da bola em condições favoráveis à implemen-
tação imediata de um processo ofensivo eficaz. Do ponto de vista ofensivo, os atacantes procuram: (1) ajustar
antecipando a resolução das situações contextuais de jogo, proporcionando simultaneamente condições óptimas
para a sua continuidade, (2) criar condições favoráveis para a realização de acções de rotura de organização
defensiva adversária ou de progressão da bola em direcção às zonas predominantes de finalização e, (3)
racionalizar constantemente o espaço de jogo relativamente aos equilíbrios que todo o sistema táctico deve asse-
gurar em função: i) das possibilidades de se perder a posse da bola momentaneamente (reinício imediato do
ataque ou organização do processo defensivo), ii) dos espaços vitais de jogo e, iii) dos adversários que não estão
directamente implicados no processo defensivo da sua equipa.
Na maioria das situações de jogo, estes jogadores não fazem parte do circulo de relações priviligiadas
do ponto de vista da resposta táctica do portador da bola. Não queremos com isto dizer, que o facto de um com-
panheiro ou adversário se posicionar fora da unidade estrutural funcional não influencie a tomada de decisão
do portador da bola, isto significa, que o atacante apercebendo-se ou não das suas movimentações, normal-
mente responde tacticamente, relacionando-se com os colegas que lhe estão mais próximos, no intuito de
resolver os diferentes contextos situacionais que o jogo proporciona.
A sustentabilidade
deste facto, pode ser
comprovada pelos
seguintes dois aspectos:
1. O jogador de posse
d e
bola num determi-
nado espaço de
jogo, não consegue
abranger, no seu
campo de visão
todas as acções
dos jogadores (companheiros e adversários).
Quando este decide, não atende portanto, às difer-
entes ocorrências de carácter facilitador ou pertur-
bador, do qual não tem
consciência da sua
existência, nem da sua
Foto cedida pelo jornal O JOGO
denam as atitudes e os comportamentos técnico-tácticos dos jogadores que não se encontram dentro da
Figura 43. Resumo dos princípios gerais e específicos de jogo ofensivo e defensivo. Os jogadores que se posicionam fora da unidade estrutural fun-
cional ofensiva procuram a rotura da organização da equipa adversária (atacantes 9, 10, 11), o equilíbrio da organização da própria equipa (atacantes
2,3,4) e intervenção no centro do jogo (atacante 7). Os jogadores que se posicionam fora da unidade estrutural funcional defensiva procuram a
preparação do processo ofensivo (defesas I, e J), a estabilização da organização defensiva (defesas A, C, E e H) e intervenção no centro do jogo (defesa
G). Os jogadores que se posicionam dentro da unidade estrutural funcional procuram penetrar (atacante 8) a contenção (defesa B), a cobertura ofensiva
(atacante 5), a cobertura defensiva (defesa D), a mobilidade (atacante 6) e o equilíbrio (defesa F).
unidade estrutural funcional do jogo (não fazem parte do círculo de apoios ao companheiro de posse de bola
- no caso da sua equipa se encontrar em processo ofensivo, ou do companheiro que marca o adversário de
posse de bola - no caso da equipa se encontrar em processo defensivo). Neste domínio distinguem-se os
princípios gerais de cariz ofensivo e defensivo.
2. Os princípios específicos do jogo. Visam fundamentalmente assegurar as linhas orientadoras básicas que
coordenam as atitudes e os comportamentos técnico-tácticos dos jogadores que se posicionam dentro do
unidade estrutural funcional do jogo, distinguindo-se neste nível os princípios específicos ofensivos e os
princípios específicos defensivos.
como objectivo fundamental a racionalização permanente dos espaços vitais de jogo equilibrando e adaptando
o sistema táctico, à dinâmica das situações momentâneas de jogo. Com efeito, a organização de uma equipa de
futebol, será tanto mais evoluída quanto mais esta consegue expressar um bloco unitário e homogéneo, tanto
nas etapas que derivam do processo ofensivo como defensivo. A concretização deste princípio geral ofensivo, é
definido pela permanência ou pelo deslocamento de jogadores, normalmente das linhas mais recuadas, em
direcção a dois pontos alvo fundamentais:
1. Espaços vitais e estratégicos de jogo, que em função da variabilidade situacional:
A. Possibilitem aos jogadores pertencentes à linha mais recuada, subirem no terreno de jogo em direcção
à linha do meio-campo, por forma a aumentar a agressividade do ataque, tornar o jogo ofensivo mais com-
pacto e tirar vantagens da Lei do fora de jogo.
B. Assegurem uma recuperação imediata da bola em caso de insucesso momentâneo do ataque. Esta
capacidade da equipa em reagir de imediato, antecipando constantemente a possibilidade de se perder a
posse da bola, incrementa a pressão de carácter psicológico sobre os adversários.
C. Impossibilitem à equipa adversária uma progressão rápida e eficaz da bola, após a sua recuperação, em
direcção às zonas predominantes de finalização.
D. Estabeleçam, caso não se consiga recuperar de imediato a bola, uma transição dinâmica e segura, da fase
ofensiva para a fase defensiva, na qual se ajusta uma ligação estrutural em largura e profundidade para uma
ligação mais concentrada em certos espaços de jogo.
E. Racionalizem constantemente o espaço de jogo, pois a perda da posse da bola na maioria das vezes é
imprevisível, havendo assim a necessidade de se assegurar em todos os momentos do jogo um equilíbrio
constante e eficaz.
F. Tomem decisões tácticas determinadas por um balanço correcto entre os aspectos inerentes: à contex-
tualidade situacional, às missões tácticas distribuídas para os diferentes jogadores e a organização preesta-
belecida pelo sistema táctico da equipa e da sua estratégia.
2. Adversários que não estão, de momento, envolvidos no processo defensivo da sua equipa, os quais visam
preparar o ataque, predispondo-se para materializá-lo de forma imediata e eficaz, logo que se concretiza a
recuperação da posse da bola. Assim dever-se-ão:
A. Marcar agressivamente todos os adversários que procurem concretizar estes objectivos.
B. Vigiar constantemente as possíveis permutações ou desdobramentos entre adversários que estavam
envolvidos no processo defensivo da equipa, com os que não estavam directamente envolvidos.
C. Atender à possibilidade, em função da variabilidade dos contextos de jogo, de existência de situações de
superioridade ou igualdade numérica em certos espaços vitais de jogo.
D. Manter simultaneamente a concentração, nas circulações da bola e nos deslocamentos permanentes dos
avançados adversários.
E. Resistir à tendência, quando a equipa está em processo ofensivo, de se desequilíbrar defensivamente dev-
ido à incursão no ataque de jogadores das linhas mais recuadas, não criando condições para que as suas
missões sejam salvaguardadas por outros colegas.
sários). Procura assim vantagens de superioridade numérica, em termos espaciais e temporais, que em última
análise estabelecem:
1. O controlo do jogo, através de comportamentos técnico-tácticos que imprimam mudanças de ritmo e da
direcção do ataque, levando os adversários a aceitar uma certa cadência de jogo.
2. A resolução eficaz dos problemas inerentes às unidades estruturais funcionais de jogo, através da interacção
posicional e processual dos jogadores da sua equipa.
3. A preparação desequilíbrios na organização da equipa adversária, em espaços e momentos apropriados.
2.1. A penetração
Em competição, uma equipa quando se encontra de posse de bola, a sua atitude táctica fundamental,
deverá consubstanciar-se na penetração persistente das diferentes linhas de resistência da organização defensiva
(numa dinâmica em largura e profundidade), por forma a conquistar um enquadramento favorável (rela-tiva-
mente a essa baliza) nas zonas predominantes de finalização, susceptível de culminar o processo ofensivo com a
concretização do objectivo do jogo - o golo. Neste sentido, independentemente dos factores inerentes à estraté-
gia de jogo predefinida, do resultado numérico e momentâneo que se possa verificar, do tempo de jogo, das mis-
sões tácticas atribuídas aos diferentes jogadores que constituem a equipa, e de todo um conjunto de circunstan-
cialismos pontuais e temporários, que possam influenciar de forma significativa a tomada de decisão dos
jogadores, a penetração configura-se, em nossa opinião, como o princípio táctico orientador mais importante
das decisões e comportamentos dos atacantes, que em cada momento intervêm sobre a bola durante o desen-
volvimento do processo ofensivo da sua equipa. O cumprimento eficaz deste princípio específico é suportado
por um conjunto de decisões e comportamentos técnico-tácticos de carácter individual e colectivo, que se
exprimem pela criação de condições favoráveis para circular a bola com precisão, eficácia e à velocidade ade-
quada, relativamente às diferentes e sucessivas contex-tualidades situa-
cionais que em cada momento do processo ofensivo se verificam.
Nesta linha de raciocínio, o cabal cumprimento deste princí-
Foto cedida pelo jornal O JOGO
pio táctico orientador das atitudes e das acções dos atacantes, implica
múltiplas exigências, sendo alicerçado nos seguintes atributos essenciais:
1. Numa inteligência táctica, suportada numa agudeza de espírito,
numa motivação sem limites e numa agressividade ofensiva da Foto 117. A penetração
equipa, que deverá ser cultivada, treinada e aperfeiçoada por forma a
responder continua e adequadamente aos contextos situacionais que o jogo determina.
2. Numa rápida transição de uma atitude defensiva para uma atitude ofensiva, logo após a recuperação da
posse da bola, através de movimentações concertadas em largura e profundidade, por forma a aumentar o
leque de opções tácticas de carácter eficaz.
3. Numa elevada velocidade de execução técnico-táctica com bola, utilizando meios individuais que podem
determinar a manutenção desta (através de acções de drible, simulação, condução etc.), a comunicação
(através da acção de passe) ou mesmo a finalização (remate), se as condições de jogo o permitirem e as pos-
sibilidades de êxito forem razoáveis.
4. Numa sincronização das movimentações colectivas dos jogadores em direcção a espaços de jogo e num
ritmo correcto, por forma a apoiar o companheiro de posse de bola ou a desequilibrar a organização defen-
siva adversária.
5. Numa direccionalidade das acções técnico-tácticas que perturbem constante e persistentemente: i) os
obstáculos e as linhas de resistência que derivam do método de jogo defensivo adversário e, ii) espaços de
142 Guia prático de exercícios de treino
jogo, que pela sua distância e ângulo possam determinar uma finalização eficaz.
6. Numa incapacidade por parte da equipa adversária de conduzir o processo ofensivo: i) para espaços não
vitais de jogo, ii) para situações parciais e temporárias onde se verifiquem condições de superioridade numéri-
ca, iii) na criação de contextos favoráveis de recuperação da posse da bola e, v) relançamento favorável do
processo ofensivo subsequente.
ataque por forma a obrigar os defesas a saírem das suas posições de base e a
mobilizarem a sua atenção para a marcação directa a outros atacantes. A
modificação do ângulo e do momento do ataque é consubstanciado através
de acções técnico-tácticas de:
Foto 119. Orientar sempre que pos-
A. Condução, drible/finta, simulação, que alterem os ângulos relativa- sível as acções em direcção à baliza
mente aos seus companheiros. adversária
B. Passe dirigidos para um ou outro corredor ou sector do terreno de
jogo.
deverá produzir um conjunto de "falsos sinais" que irão, por um lado, tornar
mais difícil e complexo o processo de antecipação por parte do defesa, e por
outro, induzi-lo a assumir um comportamento a partir de uma leitura errada
dos índices pertinentes, referentes ao contexto da situação de jogo. Com
Foto 120/121. Variar o ângulo e o
efeito, o atacante ao procurar tornar difícil a leitura do jogo, do ponto de vista
momento de ataque defensivo, consubstancia vários objectivos:
A organização dinâmica do jogo de futebol 143
ra das condições mais favoráveis à fase de finalização, contribuindo igualmente, para a criação de uma con-
stante instabilidade da organização da defesa adversária, no aproveitamento dos espaços vitais de forma sim-
ples e efectiva, que se traduzem, em última análise, no aumento da iniciativa do jogo ofensivo.
3. Em 24% das situações de jogo verificou-se a criação de situações propícias à fase de finalização em que se
procura estabelecer as condições favoráveis para a execução imediata de acções técnico-tácticas de remate.
4. Em 4% das situações de jogo verificaram-se respostas tácticas consubstanciadas por acções, que visam a
concretização do objectivo fundamental do jogo - o golo. Logicamente as soluções tácticas de manutenção e
de progressão diminuem à medida que as situações de jogo se situam próximo da baliza adversária, dando
lugar a soluções tácticas que procuram criar situações de finalização e de remate à baliza.
Das análises das relações estabelecidas entre o atacante e a bola (quando intervém sobre esta) obser-
vamos os seguintes aspectos:
1. Os valores do tempo de posse de bola mantêm-se estáveis ao longo do terreno de jogo, essencialmente até
ao sector do meio-campo ofensivo (3/4), somente no último sector (4/4) os tempos de posse de bola tendem
a diminuir de forma radical (em cerca de 70% das situações os jogadores tocam momentaneamente na bola).
Verificaram-se para um intervalo de tempo entre 0 e 0.5 segundo cerca de 46%, entre 1 e 1.5 segundos 20%,
entre 2 e 2.5 segundos 15%, com 3 segundos 6% e por último, mais de 3 segundos 15%. No que se refere ao
número de toques na bola os dados também não diferem significativamente. Assim, com 1 toque 46%, com
2 ou 3 toques 37%, com 4 ou 5 toques 12% e mais de 5 toques 4%. O sector do meio campo defensivo (2/4)
e ofensivo (3/4) apresentam as mais elevadas percentagens em relação aos tempos individuais de posse de bola.
Isto deve-se fundamentalmente ao facto dos espaços abrangidos por estes sectores do terreno de jogo serem
utilizados na construção do processo ofensivo. Acelerando ou diminuindo o ritmo de jogo, temporizando a
acção ofensiva na procura do melhor momento para desequilibrar a organização defensiva adversária, em
espaços e momentos apropriados. Nestas circunstâncias, cada espaço de jogo é caracterizado por um certo
tempo individual de posse de bola, que se fundamenta em dois factores interligados e independentes: (1) um
ofensivo, sendo determinado pela circunstância de que quando o centro do jogo se aproxima da ba-liza adver-
sária há a necessidade de se jogar mais rapidamente, circulando a bola pelos vários jogadores e mudando o
ângulo de ataque na procura de desequilibrar ou manter o desequilíbrio da organização da defesa adversária
e, (2) um defensivo, sendo determinado pelo aumento do nível de pressão dos defesas sobre os atacantes de
posse de bola, obrigando-os a raciocinar e executar respostas técnico-tácticas rapidamente em função das situ-
ações de jogo.
2. Não existem diferenças significativas entre os tempos de posse de bola em função das missões tácticas dos
jogadores. Este facto demonstra a preocupação e a necessidade de todos os jogadores, independentemente da
sua missão táctica quando intervêm sobre a bola, elaborarem a resposta táctica perante a situação de jogo e
os comportamentos inerentes a essa resposta, de forma rápida, precisa e eficiente. Aspecto importante a assi-
nalar é o facto de ao longo do decurso do jogo se verificar que os jogadores mantêm preponderantemente os
mesmos tempos individuais de posse de bola. Nestas circunstâncias, os factores de acumulação de fadiga, o
“stress” que deriva das circunstâncias da situação, os factores psico-emocionais inerentes à competição etc.,
poderão ser condicionantes da eficácia das acções executadas (tendência para uma diminuição ao longo do
tempo de jogo). No entanto, não são condicionantes da modificação do comportamento técnico-táctico dos
jogadores, especialmente no que se refere ao seu tempo de resolução da situação de jogo.
Das análises observadas em relação à intensidade e às distâncias percorridas pelos jogadores de posse
de bola verificaram-se as seguintes particularidades:
1. Somente em 39% das situações de jogo se observaram deslocamentos dos jogadores em penetração, dos
quais, mais de 20% as distâncias foram inferiores a 15 metros, 9% entre 15 e os 40 metros e cerca de 10% para
distâncias superiores a 40 metros. Em relação à intensidade 52% foram executadas em elevados regimes,
enquanto 48% a baixos regimes.
148 Guia prático de exercícios de treino
2. Na maior parte das situações de jogo (61%), independentemente das missões tácticas dos jogadores, estes
não se deslocam com a bola. Todavia, os jogadores pertencentes ao sector médio são os que mais se deslocam
com a bola (43%), seguido dos defesas e avançados (37%). Em relação à intensidade do deslocamento
podemos depreender que as baixas intensidades de deslocamento são empreendidas essencialmente pelos
defesas (53%). Os deslocamentos com a bola a alta intensidade são características dos médios e avançados (39
e 63%, respectivamente). Este facto é observável mesmo em zonas que não são preponderantes na intervenção
destes jogadores, o que determina a existência de mecanismos específicos de programação e acção motora, os
quais se desenvolvem sempre a uma elevada velocidade.
3. Os jogadores sentem menos necessidade de se deslocar com a bola em função do número de apoios que os
companheiros lhes proporcionam. De igual modo, em relação às distâncias percorridas observa-se que, quan-
to maior é o número de apoios, menores serão as distâncias percorridas pelos jogadores em resposta às situ-
ações de jogo. Em relação à intensidade do deslocamento verifica-se que ao maior número de apoios corre-
spondem simultaneamente baixas intensidades de deslocamento com a bola. Daqui se conclui, que quando os
jogadores estão perante contextualidades situacionais com cobertura ou apoio dos seus colegas, procuram
combinar colectivamente por forma a resolucionar a situação de jogo.
4. Observa-se que os jogadores diminuem o número de deslocamentos com bola quando confrontados com
elevados níveis de pressão defensiva. Constata-se igualmente que as distâncias percorridas com bola são
menores à medida que o nível de pressão aumenta. Por último, verifica-se inequivocamente que os desloca-
mentos com a bola a alta intensidade são secundados por elevados níveis de pressão defensiva, independen-
temente do sector do terreno do jogo em que o jogador se encontra inserido.
se desenrola a acção e o jogador em cobertura ofensiva, são os limites de segurança para o jogador de posse
de bola, porque, ao colocar-se em cobertura ao 1º atacante, o 2º atacante está numa boa posição para defen-
der se for perdida a posse da bola.
Para se realizar uma posição de cobertura ofensiva eficaz devemos considerar especialmente três fac-
tores: a distância de cobertura, o ângulo de cobertura e a comunicação.
2.2.3. A comunicação
A comunicação estabelece-se entre o 1º e o 2º atacante. A comunicação estabelecida entre o 1º e o 2º
atacante é essencialmente verbal, na qual o jogador de cobertura ofensiva deverá comunicar com o companheiro
de posse de bola informando-o do contexto geral da situação de jogo, isto é, da posição do adversário, dos com-
panheiros melhor posicionados e encorajando-o a executar acções técnico-tácticas pelo lado do risco.
Finalizando, o jogo de futebol moderno cada vez mais requer jogadores que saibam onde e quando
deslocar-se para a frente da linha da bola. Se este deslocamento é executado no momento correcto, abre ópti-
mas oportunidades para progredir rapidamente em direcção à baliza adversária. Neste contexto, a maturidade
táctica de um jogador pode ser objectivada, quando este executa eficazmente a acção de cobertura ou apoio ao
jogador de posse de bola, ou seja, quando o faz atrás ou à frente respectivamente. Este deverá deslocar-se para
a frente da linha da bola (apoio), quando o companheiro de posse de bola não precisa de cobertura. Contudo,
não faz nenhum sentido táctico que todos os jogadores tentem posicionar-se à frente da linha da bola, pois, se
tal acontecer, não haverá a possibilidade da circulação da bola e, consequentemente, a variação do ângulo de
ataque do processo ofensivo.
2. São os jogadores que constituem o sector defensivo que mais vezes assumem atitudes e comportamentos
de cobertura defensiva (50%), seguido pelos médios (31%) e por último, dos avançados (4%). Em termos
globais (cobertura e apoio), são os defesas que mais participam com 42%, seguido dos médios com 40% e dos
avançados com 12%. Os jogadores participantes ao sector médio são muito importantes na ligação dos dois
sectores extremos do sistema de jogo (defensivo e avançado) da equipa, pois, beneficiam de um posiciona-
mento que apresenta condições óptimas para servir todos os outros companheiros, na distribuição do jogo
ofensivo, na circulação rápida da bola entre os vários corredores, no desequilíbrio do método defensivo adver-
sário e na finalização do ataque.
Da análise dos jogadores que ao intervirem sobre a bola beneficiaram de acções de cobertura/apoio
por parte dos seus companheiros verificaram-se os seguintes factos:
1. Em 89% das situações de jogo analisados, os jogadores pertencentes ao sector defensivo beneficiam da acção
de cobertura/apoio por parte dos seus colegas. Estes valores elevados derivam: (1) do facto destes jogadores
executarem predominantemente respostas técnico-tácticas pelo lado da segurança, (2) das zonas onde inter-
vêm - implicam pela proximidade da baliza um elevado risco de se perder a posse da bola, e, (3) nestas zonas
do terreno de jogo onde se verifica prioritariamente o relançamento do processo ofensivo e onde se inicia nor-
malmente a sua construção.
2. Em 80% das situações de jogo, os jogadores pertencentes ao sector médio da equipa quando intervêm sobre
a bola, recebem por parte dos seus companheiros acções de cobertura/apoio, cujas percentagens são semel-
hantes aos do sector defensivo. Com efeito, os médios intervêm sobre a bola fundamentalmente nas zonas do
2/4 (meio-campo defensivo) e 3/4 (meio-campo ofensivo) nas quais as respostas técnico-tácticas são avaliadas:
(1) pelo lado da segurança, em que se objectiva a manutenção da posse da bola e complementarmente do equi-
líbrio da organização da própria equipa, através de acções de compensação e de circulação da bola e, (2) pelo
lado do risco, visando fundamentalmente acções de rotura ou manutenção do desequilíbrio da organização
defensiva adversária, do que acções que respeitem os princípios de cobertura/apoio ao companheiro que
momentaneamente intervêm sobre a bola.
5. Aspecto importante a assinalar, na presente análise, é o facto de as equipas estabelecerem uma organização
estável e constante de acções de cobertura e apoio, fundamentalmente no que diz respeito ao número de
apoios de que esta é constituída, para cada sector do terreno de jogo, independentemente da missão táctica
dos jogadores, dentro do sistema de jogo da equipa, que intervenham sobre a bola. Dos dados observados,
podemos inferir que os defesas são sucessivamente substituídos pelos médios e estes por sua vez pelos avança-
dos na execução de acções de cobertura ofensiva, apoio lateral e apoio frontal aos companheiros que inter-
vêm sobre a bola, à medida que as situações momentâneas de jogo se aproximam da baliza adversária. (1) O
guarda-redes participa em 14% das situações do jogo, intervindo (6%), ou apoiando (8%), o compa-nheiro de
posse de bola, ou seja, participa no centro da acção em cada 22 segundos do tempo útil de jogo. (2) Os defe-
sas laterais participam em 20% das situações de jogo, intervindo (9%), ou apoiando (11%) o companheiro de
posse de bola, ou seja, participa no centro da acção em cada 15 segundos do tempo útil de jogo. (3) Os defe-
sas centrais participam em 28% das situações de jogo, intervindo (10%), ou apoiando (18%) o companheiro
de posse de bola, ou seja, participam no centro da acção em cada 11 segundos do tempo útil de jogo. (4) Os
médios (direito ou esquerdo), participam em 21% das situações de jogo, intervindo (9%) ou apoiando (12%),
o companheiro de posse de bola, ou seja, participam no centro da acção em cada 14 segundos do tempo útil
de jogo. (5) Os médios centros, participam em 29% das situações de jogo, intervindo (11%) ou apoiando
(18%) o companheiro de posse de bola, ou seja, participam no centro da acção em cada 10 segundos do tempo
útil de jogo. (6) Os avançados participam em 17% das situações de jogo, intervindo (9%) ou apoiando (8%) o
companheiro de posse de bola, ou seja, participam no centro da acção em cada 18 segundos do tempo útil de
jogo.
A organização dinâmica do jogo de futebol 153
2.3. A mobilidade
Os jogadores em processo ofensivo, uma vez assegurada a cobertura do companheiro de posse de
bola, utilizam o princípio da mobilidade tentando espartilhar a organização defensiva (em termos de largura e
profundidade), criando assim os espaços necessários para a progressão da bola. Com efeito, a concretização dos
comportamentos técnico-tácticos de base ao princípio da mobilidade, consubstanciam-se, em última análise, nos
Missões tácticas % de participação Intervindo directamente Apoiando o colega Tempo médio de parti-
seguintes
nas situações de jogo sobre a bola de posse de bola cipação relativamente objec-
ao tempo útil de jogo tivos tác-
Guarda-redes 14% 6% 8% de 22 em 22 segundos ticos:
Defesas laterais 20% 9% 11% de 15 em 15 segundos
criar
Defesas centrais 28% 10% 18% de 11 em 11 segundos
Médios ala 21% 9% 12% de 14 em 14 segundos
espaços
Médios centro 29% 11% 18% de 10 em 10 segundos livres,
Avançados 17% 9% 8% de 18 em 18 segundos desequili-
Quadro 2. Representativo das percentagens de participação (intervindo directamente na bola ou apoiando o companheiro de brar o
posse de bola nas unidades estruturais funcionais) em função das missões tácticas relativas ao sistema táctico de jogo centro do
j o g o
defensivo, tornar o jogo ofensivo imprevisível e assumir outras
funções dentro ou fora da unidade estrutural funcional ofensiva.
Foto cedida pela revista Training
muito embora com especial incidência perto da grande área adversária, os atacantes devem estar continuamente
activos de modo a colocarem a cada instante problemas acrescidos à defesa contrária. A compreensão e a assim-
ilação do jogo sem bola é tão importante como é, o perfeito domínio das diferentes acções técnico-tácticas. Neste
domínio, os jogadores que momentaneamente possam não fazer parte do leque de opções decisionais do com-
panheiro de posse de bola devem consciencializar e valorizar constantemente a sua contribuição para a resolução
e desenvolvimento da acção ofensiva. Tanto mais que, o objectivo do jogo sem bola não consiste tão só em inter-
vir de forma mais concreta e visível no jogo e apoderar-se da bola, mas também em arrastar um ou vários adver-
sários, permitindo deixar livres de marcação directa um ou vários companheiros ou criar espaços vitais de jogo
que poderão ser explorados para a concretização dos objectivos do ataque.
realização.
(2) Os jogadores ao afastarem-se da bola forneçam
espaços que possam ser imediatamente ocupados, por out-
ros atacantes, escolhendo o momento certo para se deslo-
carem para esses espaços Foto 140. Tornar o jogo ofensivo imprevisível
(3) O atacante em mobilidade deverá procurar colocar-se
por forma que não seja possível ao defesa directo através da sua visão periférica, ver de forma simultanea-
mente a si e à bola. Neste sentido, o atacante deverá posicionar-se na denominada zona “cega” do defesa,
criando-se condições para que este cometa o erro de concentrar a sua atenção somente na bola.
(2) utilizando pequenas e rápidas fintas de simulação, no sentido da corrida, por forma a dissimular as suas
verdadeiras intenções tácticas.
2.3.4. Assumir outras funções dentro ou fora das unidades estruturais funcionais
Figura 53. Fluxograma das atitudes e dos comportamentos técnico-tácticos dos jogadores em processo ofensivo
Ao jogador em mobilidade exige-se uma clara visão do jogo, percepcionando continuamente as movi-
156 Guia prático de exercícios de treino
mentações dos seus companheiros (percepção), apercebendo-se rapidamente que decisão - resposta táctica, é
mais adequada à situação de jogo (decisão). Neste sentido, deverá assumir outras funções dentro da unidade
estrutural funcional ofensiva reajustando os seus comportamentos técnico-tácticos:
1. Às funções de cobertura ofensiva sempre que o seu companheiro (nessas funções) tome a iniciativa que não
lhe permita continuar a cumprir a tarefa relativamente ao companheiro de posse de bola.
2. Cumprir as atitudes e os comportamentos técnico-tácticos inerentes ao princípio da penetração, sempre
que a bola lhe seja passada.
3. Assumir, se for possível, os comportamentos técnico-tácticos inerentes ao jogador em cobertura defensiva,
logo após a perda da posse da bola por parte de um dos seus companheiros.
Noutra perspectiva, a situação de jogo poderá determinar que o jogador assuma atitudes e os com-
portamentos técnico-tácticos individuais determinados pela necessidade deste se deslocar para fora da unidade
estrutural funcional visando essencialmente colocar problemas cada vez mais difíceis de resolver à equipa adver-
sária:
1. Ocupar e utilizar espaços livres e vitais longe da unidade
estrutura funcional, procurando a rotura imediata e premente
Foto cedida pelo jornal O JOGO
2.3.5. Análise das respostas tácticas do jogador depois de intervir sobre a bola
Da análise das respostas tácticas dos jogadores após intervirem sobre a bola destacam-se as seguintes
observações:
1. As respostas tácticas depois da intervenção sobre a bola visam em 50% das situações de jogo a integração
imediata desse jogador na unidade estrutural funcional (centro do jogo) seguinte, através de deslocamentos
ofensivos em direcção ao companheiro de posse de bola, executando acções de cobertura ofensiva (26%),
apoio lateral (14%) e apoio frontal (9%). Com efeito, 17% das situações de jogo observadas, os jogadores
depois de intervirem sobre a bola procuram assumir atitudes e comportamentos técnico-tácticos que consubs-
tanciem o princípio da mobilidade. E por último, em 33% das situações o jogador depois de intervir sobre a
bola assume atitudes e comportamentos técnico-tácticos que consubstanciam o princípio da rotura da orga-
nização defensiva adversária, (20%) ou do princípio da estabilidade da organização da própria equipa (13%).
2. Os defesas, embora diminuindo as percentagens à medida que a bola se aproxima da baliza adversária, são
os que assumem comportamentos técnico-tácticos que objectivam preponderantemente deslocamentos em
direcção ao novo centro do jogo apoiando o companheiro de posse de bola para qualquer sector do terreno
analisado. Os comportamentos que consubstanciam o princípio da mobilidade aumentam à medida que o
centro do jogo se aproxima da baliza adversária, especialmente no sector do meio-campo ofensivo e sector
ofensivo e por último, as soluções tácticas que conduzem os jogadores para fora do centro do jogo mantêm-
se sensivelmente iguais ao longo dos sectores. Os médios assumem comportamentos técnico-tácticos de inte-
gração no centro do jogo de uma forma equitativa ao longo dos vários sectores analisados. Em relação aos
comportamentos que consubstanciam o princípio da mobilidade vão diminuindo à medida que o centro do
jogo se aproxima da baliza adversária, contrariamente aumentam as soluções tácticas que se consubstanciam
fora da unidade estrutural funcional. As diferentes soluções tácticas dos avançados, depois de intervirem sobre
a bola no sector defensivo e no sector do meio-campo defensivo, são sensivelmente iguais. No sector do meio-
A organização dinâmica do jogo de futebol 157
Da análise integrada das várias respostas tácticas antes, durante e depois dos jogadores intervirem
sobre a bola destacam-se as seguintes observações:
1. O decurso coordenado de cada comportamento técnico-táctico pressupõe e está intimamente ligado a uma
antecipação constante e múltipla de um projecto de acção. O prognóstico do programa ocorre através da per-
cepção de informação e análise correcta dos factores envolventes da situação de jogo, e da maturidade (exper-
iências) táctica armazenada no jogador. É nesta combinação, que os jogadores antecipam as possibilidades de
continuidade e desenvolvimento dessa situação, accionando para lá dos correspondentes e precisos processos
cognitivos, os esquemas de resposta consoante as modificações das componentes da situação. Este processo
ocorre milhares de vezes durante o jogo. O jogador ao intervir sobre a bola, está perante várias soluções pos-
síveis em função da situação de jogo, isto é, sobre circunstâncias com diversas possibilidades e objectivos.
Enquanto este combina antecipadamente as acções e as possíveis reacções dos seus compa-nheiros e adver-
sários em fracções de segundo, chega a uma variante que lhe parece óptima.
2. Os jogadores cuja resposta táctica antes de intervir sobre a bola foi de apoiar o companheiro de posse de
bola, quando na sua posse, em 28% das situações de jogo observadas procuraram mantê-la. Nos restantes 72%
procuraram progredir no terreno, transportar o centro do jogo em direcção à baliza adversária (58%), criar
situações propícias à fase de finalização (14%) e finalizar (1%). Em relação à resposta táctica depois da inter-
venção sobre a bola, em 52% das situações de jogo observadas, estes jogadores integraram-se imediatamente
no centro do jogo. Em 19% das situações os jogadores procuraram assumir o princípio da mobilidade. E por
último, em 30% das situações de jogo observadas procuraram assumir o princípio da rotura da organização
da defesa adversária (20%) ou equilibrar a organização da sua própria equipa (10%).
3. Os jogadores, cuja resposta táctica antes de intervir sobre a bola foi a progressão desta no terreno de jogo,
quando na sua posse, 58% mantiveram a mesma solução táctica, nos restantes 42% procuraram a manutenção
(15%), a criação (24%), ou a finalização (3%). Em relação à resposta táctica depois da intervenção sobre a bola,
47% integraram-se de imediato no centro do jogo, 26% procuraram assumir o princípio da mobilidade e por
último, 27% procuraram assumir o princípio da rotura da organização da defesa adversária (20%), ou equili-
brar a organização da sua própria equipa (7%).
4. Os jogadores cuja resposta táctica antes de intervir sobre a bola foi de rotura, quando na sua posse, 69%
mantiveram a mesma solução táctica, nos restantes 31% procuraram finalizar (19%), progredir (5%) e man-
ter a posse da bola (7%). Em relação à resposta táctica depois da intervenção sobre a bola, 35% integraram-se
de imediato no centro do jogo, 16% procuraram assumir o princípio da mobilidade e, por último, 41% procu-
raram assumir o princípio da rotura da organização da defesa adversária (23%) ou equilibrar a organização
da sua própria equipa (26%).
Quadro 3. Representativo das percentagens entre as respostas tácticas dos atacantes antes, durante e depois destes intervirem sobre a bola
158 Guia prático de exercícios de treino
siva, deverão a todo o momento do jogo evidenciar atitudes e comportamentos técnico-tácticos que procuram
consubstanciar um dos seguintes três princípios gerais, em função da variabilidade das situações de jogo: a
preparação do processo ofensivo, a continua estabilidade da organização defensiva e a intervenção na unidade
estrutural funcional defensiva.
termos globais, verifica-se constantemente uma situação de inferioridade numérica, impossibilitando igual-
mente que estes jogadores possam contribuir para um reinicio imediato do processo ofensivo, em caso de
insucesso momentâneo deste.
2. Preparar o processo ofensivo no qual já existem jogadores “alvo” para os quais a bola deve ser (quando e
se possível) imediatamente dirigida após a sua recuperação, de forma a evitar-se que a equipa adversária tenha
o tempo suficiente para evoluir para uma melhor organização defensiva.
3. Conduzir os defesas para espaços deixando livre de marcação atacantes numa situação em que possam exte-
riorizar toda a sua capacidade específica de jogo extremamente vantajoso para a equipa (por exemplo drible
e remate à baliza).
4. Arrastar adversários para posições menos confortáveis e habituais onde não possam exercer com eficácia
as suas capacidades individuais.
5. Estabelecer, logo após a perda da posse de bola, uma transição dinâmica e segura da fase defensiva para a
fase ofensiva, no qual se ajusta uma ligação estrutural concentrada para uma organização em largura e pro-
fundidade.
2.1. A contenção
Em competição, quando uma equipa perde a posse da bola, todos os seus jogadores devem orientar
as suas atitudes e comportamentos técnico-tácticos na contribuição individual e sincronizada com os seus cole-
gas, no cumprimento dos objectivos estabelecidos para a fase defensiva do jogo. Neste domínio, logo que se ver-
ifica a perda da posse da bola, a atitude basilar da equipa fundamenta-se na criação de obstáculos e linhas de
resistência defensiva, numa dinâmica de concentração posicional e processual dos jogadores, por forma a reunir
as condições mais vantajosas para a sua recuperação. Este objectivo poderá ser concretizado de forma mais ou
menos rápida (consoante a estratégia e o método de jogo preestabelecido, e em função das circunstâncias especí-
ficas da situação), formulando-se um enquadramento situacional favorável, que não pondo em risco a protecção
da baliza, isto é a sua inviolabilidade, potencie o êxito do processo ofensivo subsequente. Com efeito, indepen-
dentemente do conjunto de circunstancialismos inerentes a todos os contextos situacionais de jogo, a contenção
configura-se como o princípio táctico orientador mais importante das decisões e comportamentos dos defesas,
que pressionam o atacante de posse de bola em cada momento do desen-
volvimento do processo ofensivo adversário. Nesta perspectiva, o cumpri-
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO
mento deste princípio táctico orientador das atitudes e das acções dos defe-
sas implica múltiplas exigências, sendo alicerçado nos seguintes atributos
essenciais:
1. Rápida mudança de uma atitude ofensiva para uma atitude defensiva,
alicerçada em movimentações na direcção do atacante de posse de bola
e dos companheiros com os quais este se pode relacionar de forma priv-
ilegiada, com o intuito de dar continuidade ao processo ofensivo. Evita- Foto 142. A contenção
A organização dinâmica do jogo de futebol 161
3. Determinação. Quando o defesa se desloca para recuperar a posse da bola, deve fazê-lo com velocidade,
precisão, timing e determinação. O jogo de futebol é um conjunto de situações de 1x1 em todo o campo,
alguns envolvem velocidade, outros técnica, outros contacto físico, quantas mais situações destas uma equipa
ganhar maior será o domínio psicológico sobre a equipa adversária.
4. "Aclarar" a defesa. Mesmo as equipas que defendem eficientemente,
mais tarde ou mais cedo, estarão em situações de pressão perto da sua
grande área. A todos os níveis muitos golos são marcados porque a defe-
sa não "aclara" adequadamente a situação de jogo. Existem cinco pres-
supostos no "aclaramento" da defesa: (1) chegar
primeiro à bola. Não interessa se o jogador é
bom cabeceador, ou se a sua técnica é segura, se
não for o primeiro a chegar à bola a sua capaci-
dade técnica não lhe serve para nada. Portanto,
atacar a bola nestas circunstâncias é largamente
um problema de determinação e de cora-gem,
(2) ir no tempo certo. O tempo na grande área concorre a favor da
Foto cedida pelo jornal O JOGO
ser jogada para uma zona onde haja o menor número de jogadores atacantes e,
(5) jogar a bola para fora. Existem situações em que é preferível jogar imedi-
atamente a bola para a linha lateral ou para a linha final do que tentar desarmar
o adversário.
mentalmente pelos médios e defesas. E por último, quando os avançados têm a posse da bola, são pressiona-
dos preponderantemente pelos defesas e médios da equipa contrária. Em termos globais, os dados ana-lisa-
dos evidenciam que os defesas são pressionados em 43%, os médios em 60% e os avançados em 79%.
6. Relativamente às infracções às leis do jogo verifica-se, que à medida que as situações de jogo se aproximam
da baliza adversária maiores são as probabilidades de o atacante sofrer falta por parte dos adversários. Nos
corredores de jogo, observam-se percentagens mais elevadas nos corredores laterais (direito e esquerdo), que
no corredor central. Em média cada guarda-redes comete entre 1 a 2 infracções (1%), cada jogador perten-
cente ao sector defensivo entre 6 a 7 (31%), cada médio entre 10 a 11 (46%) e cada avançado entre 8 a 9 (23%).
Noutro sentido, em média cada guarda-redes sofre entre 1 a 2 infracções (5%), cada defesa entre 4 a 5 (17%),
cada médio entre 7 a 8 (29%) e cada avançado entre 16 a 17 (49%).
central, o jogador de cobertura defensiva deverá posicionar-se do lado de dentro, ou seja, o lado que converge
para o centro do terreno de jogo.
3. O jogador de cobertura defensiva deverá igualmente equacionar a possibilidade de o seu companheiro em
acção de contenção (1º defesa) ser ultrapassado pelo atacante de posse de bola. Nesta situação, deverá anteci-
padamente posicionar-se por forma a poder intervir de imediato e com o
máximo de eficácia.
4. Quando o atacante de posse de bola beneficia da acção de cobertura
Figura 59. Fluxograma das atitudes e dos comportamentos técnico-tácticos dos jogadores em processo ofensivo
A organização dinâmica do jogo de futebol 171
3. Os jogadores pertencentes ao sector defensivo, quando pressionam o adversário de posse de bola, benefici-
am em 57% das situações de acções de cobertura defensiva, os médios beneficiam em 52% e, por último, os
avançados em 38%. Noutro sentido, os defesas quando têm a posse da bola e são pressionados, em 34% têm
acções de cobertura defensiva no correspondente contexto de oposição, os médios em 57% e, por último, os
avançados em 62%. Os dados referidos demonstram claramente que os avançados são os que têm de execu-
tar respostas técnico-tácticas perante contextos de oposição mais complexas, seguidos pelos jogadores do sec-
tor médio, do sector defensivo e do guarda-redes respectivamente.
2.3. O equilíbrio
Os jogadores em processo ofensivo (uma vez assegurada a cobertura do companheiro de posse de
bola), utilizam o princípio da mobilidade, tentando espartilhar o método defensivo (em termos de largura e pro-
fundidade), na procura de criar os espaços necessários à progressão da bola ou à criação de situações de fina-
lização. Os jogadores em processo defensivo contrapõem ao princípio da mobilidade, o princípio do equilíbrio,
que visa assegurar fundamentalmente: a estabilidade da unidade estrutural funcional defensiva, criando
condições desfavoráveis aos atacantes. Torna-se assim, o jogo ofensivo previsível, assumindo-se outras funções
dentro da unidade estrutural funcional defensiva.
2.3.2. Criar condições desfavoráveis aos atacantes tornando o jogo ofensivo previsível
O jogador em equilíbrio defensivo deverá criar constantemente condições desfavoráveis aos ata-
cantes, isto é, fazer com que estes não cumpram de forma eficaz os objectivos do ataque, cometendo inclusiva-
mente erros que determinem a recuperação da posse da bola numa situação favorável à entrada imediata do con-
tra-ataque. Nestas circunstâncias, no centro do jogo, os defesas deverão manter uma certa iniciativa baseada
numa clara visão de jogo, percepcionando continuamente as movimentações dos adversários, companheiros e
trajectória da bola. Para que estes factos sejam uma realidade, o 3º defesa deverá assumir deslocamentos carac-
terizados por bruscas mudanças de ritmo e direcção, por forma a manter uma constante pressão sobre espaços
e adversários directos com o intuito de:
1. Alterar os ângulos de ataque com a intenção de tornar o jogo ofensivo previsível (do ponto de vista defen-
sivo), obrigando-os a jogar num certo sentido e, por consequência, a ter no máximo uma solução táctica para
a resolução da situação de jogo.
2. Fazer continuamente sentir aos adversários directos a sua presença,
mobilizando a sua atenção, tentando desconcentrá-los, inclusiva-
Foto cedida pelo jornal O JOGO
adversário.
mais eficiente, em
função dos objec-
tivos da equipa, não
decidindo pela
única alternativa
táctica que a situ-
ação lhe propor-
ciona.
Foto 172. Independentemente do conjunto de circunstancialismos inerentes a todos os contextos situacionais de jogo, a
contenção configura-se como o princípio táctico orientador mais importante das decisões e comportamentos dos defe-
sas, que pressionam o atacante de posse de bola em cada momento do desenvolvimento do processo ofensivo adver-
sário
173
Futebol
Guia prático de exercícios de treino CAPÍTULO 5
O SUBSISTEMA
TÉCNICO-TÁCTICO
Parte UM
O SUBSISTEMA TÉCNICO-TÁCTICO
Capítulo
Cinco 1. Conceito de subsistema técnico-táctico
O subsistema técnico-táctico deriva da noção de organização dinâmica de uma equipa de
O subsis - futebol sendo definido pelos comportamentos (meios) de base que os jogadores individual-
tema téc - mente e colectivamente accionam na fase de ataque ou de defesa, visando resolucionar os
contextos situacionais de jogo. Neste domínio, o subsistema técnico-
táctico contém os meios, as formas e os procedimentos mais eficazes,
eficientes e racionais para resolucionar os problemas que derivam das
Parte UM
de do processo ofensivo ou a concretização do objectivo do jogo - o golo, respectivamente).
A execução de qualquer procedimento técnico tem de atender à contextualização da situação, Capítulo
caracterizada pela sua variabilidade, transitoriedade e aleatoriedade numa constante procura Cinco
de adaptação às circunstâncias do envolvimento (“técnica situacional” Mesquita, 2001). Na
dinâmica contextual do envolvimento o jogador deverá, por um lado, dominar eficiente- O subsis -
mente os procedimentos técnicos de base do futebol, e por outro, adequar um desses pro- tema téc -
cedimentos (dentro de um vasto leque de opções), que lhe parece ser a resposta à situação de
jogo. Tal como refere Araújo (2000) “devido ao enorme grau de variabilidade e instabilidade
das situações de jogo, o jogador deve estar permanentemente pe-rante a necessidade de gerir
o inesperado, buscando consistência num contexto, em que predomina precisamente a
inconsistência. O que nos obriga a nunca perder de vista que a preparação desportiva não
deve apontar para a aquisição mecânica de automatismos técnicos, mas sim para a adaptação
constante às perturbações que as situações de jogo impõem permanentemente”.
esta razão que as acções técnicas desportivas não são imóveis, pro-
gridindo e aperfeiçoando-se. A cada época desportiva corresponde
uma técnica “actual”, que é mais eficaz e mais económica, sendo
acção técnica desportiva deve: (1) fomentar a máxima eficácia das potencialidades
individuais do jogador, (2) utilizar de modo mais eficaz os constrangimentos externos
e, (3) considerar as exigências tácticas traduzidas pelas respectivas situa-ções de com-
petição, em cooperação com os companheiros e em oposição com os adversários.
Deste modo destaca-se a importância da acção técnica se adequar ao circunstancia-
Foto 180. A acção técni- lismo dinâmico da situação.
co-táctica deverá permitir
o máximo de rendimento
5. A acção técnico-táctica representa a fase final de um complexo processo psicofisi-
ológico. Os modelos de execução técnico-táctica, utilizados durante as situações com-
petitivas, estabelecem-se como um dos factores básicos que configuram e determinam
a sua resolução. Todavia, a dimensão dos comportamentos técnicos (motores) visíveis dos jogadores,
reflectem uma relação consciente e inteligível de manifestação de uma personalidade, não representando
"mais que" a fase final de um longo e complexo processo psicofisio-
lógico. Nesta perspectiva, o jogador ao executar uma acção de jogo,
opera mentalmente quatro tipos de impressões: as do meio externo
Foto cedida pelo jornal O JOGO
cujo grau dependerá da nova conjectura situacional que daí se verifique; (2) pela velocidade com que se
encontra a solução da situação. Cada situação comporta índices de identificação bem definidos e hierar-
quizados, que são o testemunho do seu significado. Através deste os jogadores: avaliam as suas possibilidades
de êxito, preparam mentalmente a sua acção futura, antecipam o seu comportamento em função do prognós-
tico e executam uma resposta que seja previsível aos olhos dos seus companheiros e imprevisí-vel aos dos
adversários; (3) pela adequação da solução à situação. As fontes críticas de informação das situações evoluem
constantemente. Os acontecimentos são imprevisíveis no tempo e no espaço, sendo resultado dos comporta-
mentos motores dos jogadores. Daqui nasce a necessidade de se estabelecer em constantes ajustamentos
espaço-temporais, que reflectem uma antecipação e uma eficaz adaptabilidade (plasticidade) à mesma,
reflectindo também uma consonância da resposta com os objectivos estratégicos e tácticos e; (4) pela eficácia
da solução da situação. A existência de um envolvimento continuamente instável e complexo, determina que
os jogadores procurem (num ínfimo tempo, que vai desde a percepção à execução), uma adaptação eficiente
e criativa, que evidencie as suas capacidades motoras no domínio técnico-táctico, físico e psicológico.
Consequentemente, os jogadores são obrigados (perante as diferentes situações de treino ou competição), a
optar por uma resposta motora o mais eficaz possível, dentro de um vasto leque de possibilidades. Entre as
múltiplas variantes de solução que se podem produzir para uma dada situação, irá ser escolhida e realiza-
da do ponto de vista motor (no menor tempo possível), a solução que for considerada óptima. Assim, os com-
portamentos motores, desenvolvidos pelos jogadores, na resposta às mutações permanentes das situações
competitivas, requerem destes "uma aptidão de decisão que se pretende objectiva, racional e criativa e, uma
aptidão de execução física, técnico-táctica e psicológica, que se pretende o mais eficaz possível" (Queiroz,
1986).
6. A acção técnico-táctica deve “jogar” com a incerteza. Cada acção técnica é portadora de um sentido e, por
conseguinte, de um significado para os outros jogadores (companheiros e adversários), que é sempre função
do contexto situacional, no qual está inserido. Nestas circunstâncias, na sequência do jogo observam-se dois
aspectos complementares: (1) as atitudes e comportamentos técnico-tácticos são até certo ponto imprevisíveis.
Isto significa, que cada situação estabelece uma rápida sucessão de acontecimentos caracterizados pela
"incerteza", a qual, é determinada pelas acções e reacções dos outros jogadores, os quais tentam resolver efi-
cazmente a situação de jogo. Estabelece-se neste contexto, uma margem de imprevisibilidade correspondente
às atitudes, às escolhas e às decisões tomadas a cada momento, por cada jogador, em função daquilo que eles
próprios apreendem da situação ; (2) uma grande parte das acções dos jogadores consiste em "jogar" com a
incerteza induzida pelos seus comportamentos. Neste sentido procura-se, por um lado, anular a incerteza face
aos seus companheiros, e por outro lado, aumentar a incerteza face aos seus
adversários. Trata-se de um meio humano repleto de reflexão táctica, de decisão
e de antecipação. Eigen e Winkler (1989), referem que "nos jogos de estratégia o
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO
1. Conceito. São a escolha e execução conscientes, por parte dos jogadores (tanto no ataque como na defesa),
do complexo de procedimentos técnico-tácticos, com o objectivo de resolucionar as situações do jogo .
2. Objectivos. A acção (comportamento, procedimento) técnica individual, não é um objectivo em si, mas um
meio para atingir uma capacidade, que deve ser dimensionada e equacionada com a constante mutação das si-
tuações (movimentações dos companheiros e adversários) de jogo - intenção táctica. Por outras palavras, a
intenção táctica é o fim, enquanto que a técnica é um meio, não se podendo conceber um meio independente-
mente do fim a que se destina.
3. Superfícies corporais de contacto com a bola. Denominamos de superfície de contacto, a parte do corpo que
entra voluntariamente em contacto com a bola, que em si oferece uma multitude de superfícies, consoante esta
esteja animada ou não. Podemos, estabelecer dois aspectos fundamentais no que diz respeito à superfície de con-
tacto com a bola:
1. Quanto maior for a superfície de contacto, maior é a precisão da acção.
2. Quanto menor for a superfície de contacto, maior é a potência que se poderá imprimir à bola.
rápida porque é mais contínua, mas torna-se de certo modo pouco pre-
cisa, por ser relativamente pequena a área de contacto com a bola e, iii)
a condução da bola realizada com a parte externa do pé (é rápida e efi-
execução do drible:
(1) A aproximação. A aproximação do atacante em direcção ao
defesa deve consubstanciar dois objectivos: i) a linha de aproxi-
mação deverá ser a mais directa possível, ii)
a velocidade de aproximação deverá ser
máxima, observando-se uma diminuição
dessa velocidade no momento final de
aproximação para que possa existir a possi-
4.5. A simulação
1. Definição. Entendemos
por simulação, a acção técni-
co-táctica individual, realiza-
da por qualquer segmento
corporal, visando provocar o
Foto 221. A acção de simulação
dese-
Foto cedida pelo O JOGO
4.6. O passe
1. Definição. Entendemos por passe, a acção técnico-táctica de relação de comunicação material, estabelecida
entre dois jogadores da mesma equipa, sendo portanto, a acção de relação colectiva mais simples de observar e
executar.
2. Objectivos. A acção técnico-táctica de passe é considerado o elemento
fundamental básico de colaboração entre os jogadores de uma mesma
equipa (os quais devem possuir uma ampla "bagagem técnica" de dife-
sem efeito, iii) o tempo de passe. Um passe executado no tempo correcto põe
o companheiro (receptor) numa posição de máxima vantagem e, natural-
precisão e velocidade que queiramos transmitir-lhe. Assim, quanto maior for a área de
impacto, maior será a precisão do passe mas menor a distância que a bola poderá per-
correr. Logo, quanto menor for a superfície de contacto, menos preciso será o gesto,
mas maior será a distância a que a bola pode ser lançada. Portanto, a parte do pé que
Foto 230. O passe deve
ser preciso
oferece maior precisão é a parte interna e a que permite lançar a bola a uma maior dis-
tância é o peito do pé, se não considerarmos a ponta do pé. Observa-se que a parte
interna do pé é preponderante e fundamental em qualquer zona, sector ou corredor do terreno de jogo em
relação a todas as outras formas de contacto na execução de um passe. A parte interna do pé é a superfície cor-
poral de contacto que imprime e transmite uma maior precisão, eficácia e segurança a esta acção técnico-tácti-
ca. Todavia, verifica-se uma diminuição de utilização desta superfície corporal (cerca de 23%), à medida que o
centro do jogo se aproxima da baliza adversária. Este facto pode ser explicado pela necessidades dos jogadores
terem de utilizar outras partes do pé, adaptando-se rápida e eficientemente, em função das exigências prementes
e determinantes da situação de jogo (por exemplo a utilização do calcanhar), ou de imprimirem uma maior
velocidade e potência à acção de passe (por exemplo o peito do pé). Outro aspecto importante ligado às anális-
es da acção de passe é a relação privilegiada entre os jogadores. Assim, observa-se que o guarda-redes recebe,
fundamentalmente passes dos defesas (59%). Os defesas dos médios (46%) e os jogadores médios recebem fun-
damentalmente, passes dos com-
panheiros do mesmo sector
(42%). Os jogadores avançados
recebem fundamentalmente
passes dos médios (54%). (Ver
figura 60).
4.8. O cabeceamento
1. Definição. É o gesto técnico de tocar a bola com a cabeça.
2. Objectivo. Esta acção, pode, conforme a situação e os objectivos do jogo, estar
ligado à recepção, ao passe, ao remate, à condução da bola e à intercepção.
Foto cedida pelo jornal O JOGO
(21%) sem oposição e sem impulsão. A totalidade dos gestos técnico-tácticos de cabeceamento, consubstancia-
ram acções de intercepção (54%) de passes ou cruzamentos efectuados pela equipa adversária, (39%) de acções
técnico-tácticas de passe e (6%) acções de remate.
4.9. O remate
1. Definição. Entendemos por remate, toda a acção técnico-tácti-
ca exercida pelo jogador sobre a bola, com o objectivo de a intro-
duzir na baliza adversária.
2. Objectivo. O jogo de futebol é objectivado pela concretização
do golo. Perseguir continuamente este objectivo, vencendo a
resistência organizada do adversário, é a tarefa mais importante
que todos os jogadores de uma e de outra equipa pre-
tendem cumprir com a maior frequência possível.
3. Execução. Existem seis aspectos fundamentais na
execução das acções técnico-tácticas de remate: Foto cedida pelo jornal O JOGO
(1) Rematar logo que a oportunidade surja. Os
jogadores perdem muitas oportunidades de remate
(em qualquer nível de rendimento), pelas
Fotos 236/237/238. Rematar logo que a
seguintes razões: i) na procura de um melhor posi-
oportunidade surja é um factor funda-
cionamento em relação à baliza adversária, ii) pelo mental do jogo
facto de terem receio de não utilizar o pé domi-
nante, iii) por procurarem passar a responsabilidade a um companheiro, iv) terem medo de errar a baliza e,
v) contacto físico.
(2) Utilizar a técnica mais ajustada à situação de jogo. O tipo de execução técnico-táctica de remate depende:
i) da trajectória da bola (rasa ou alta), ii) da distância da baliza (necessidade de se empregar maior ou menor
potência sobre a bola) e, iii) da posição do guarda-redes (posicio-
nando-se entre os postos, ou deslocando-se em direcção ao ata-
cante).
Foto cedida pelo Sport Lisboa e Benfica
clusões:
(1) Observam-se em média 26 remates por jogo. Isto, significa, um remate em cada
1' 48" de tempo útil de jogo, ou por outras palavras, em cada seis acções ofensivas uma
contém a fase de finalização.
(2) 43% dos remates não atingem a baliza.
(3) 58% dos remates são executados sob pressão do adversário directo, nos restantes
Foto 242. O remate em
42% não se observam acções de marcação, das quais (32%) surgem devido às Leis do
condições acrobáticas
jogo que em certas situações obrigam os adversários a respeitarem uma distância mín-
ima da bola de 9.15 metros (esquemas tácticos).
(4) 5% dos remates são executados na pequena área, 44% na grande área e 51% fora da área. Neste contexto,
(21%) dos remates são executados a 11 metros da linha de golo, (33%) entre os 11 e os 22 metros e (46%) a
mais de 22 metros.
(5) O ângulo preferencial da acção de remate é o frontal (61%), seguido dos ângulos 2 e 4 (35%) e dos ângu-
los 3 e 5 (4%).
(6) As superfícies corporais de con-
tacto com a bola para a execução do
remate são o peito do pé (75%) e a
parte interna do pé (8%) - para o pé
direito (54%),e para o pé esquerdo
(29%). O cabeceamento representa
(17%), dos quais (15%) tiveram
impulsão.
(7) 32% das acções de remate foram
executadas a partir de situa-ções de
bola parada (esquemas tácticos),
das quais (23%) de livre - directo ou
indirecto, (6%) de pontapé de
canto, (1%) de lançamento da linha
lateral e (2%) de grande penalidade.
(8) Dos 57% dos remates que atin-
giram a baliza, (35%) são rasos,
(14%) médios e (14%) altos (em
função da divisão estabelecida para
Figura 61. Análise da variação percentual das acções técnico-tácticas de remate que originaram
a baliza). Neste sentido, (42%) dos golo, em função das zonas, ângulos, distâncias, superfícies corporais de contacto na bola, esque-
remates são executados para o lado mas tácticos, zona da baliza, lateralidade e a pressão exercida sobre o atacante
direito do guarda-redes, (33%) para
188 Guia prático de exercícios de treino
(esquemas tácticos), dos quais 12% de livre (4% de livre directo, 6% com
um passe, 2% com dois passes antes do remate), 5% de pontapé de canto
(4% com um passe, 1% com dois passes), 9% de grande penalidade e 1% a
partir de lançamento de linha lateral. Por último, verificou-se que em 5%
Foto 248. Rematar por forma surpreen- dos jogos observados a vitória foi conseguida a partir de uma situação de
der os adversários bola parada.
A organização dinâmica do jogo de futebol 189
(17)
Observou-se o maior número de golos nas
Fotos 249/250/251/252/253. Em quaisquer circunstâncias o golo é o objectivo do jogo
190 Guia prático de exercícios de treino
segundas partes dos jogos (58%), especialmente nos últimos 9 minutos (14%), seguido dos parciais com-
preendidos entre os 55 e os 63 e os 73 e os 81 minutos (12% cada). Nas primeiras partes observaram-se 9%
entre os 37 e os 45 minutos e 8% entre os 10 e os 18, e os 19 e 27 minutos.
5.1. O desarme
Foto cedida pela revista Training
Foto 257. O desarme frontal utilizando a técnica de em que o defesa bloqueia a tra-
“carrinho” jectória do atacante de posse de
bola, na luta pela conquista da
mesma. Em casos extremos esta acção poderá ser executada em queda.
Foto 258. A acção de desarme later-
(2) O desarme lateral. Na impossibilidade de bloquear de frente para o ata- al em “carrinho”
A organização dinâmica do jogo de futebol 191
5.2. A intercepção
1. Definição. Entendemos por intercepção, o gesto técnico-táctico que consiste em
o jogador se apoderar da bola, ou em repeli-la: i) quando esta é tocada em direcção
à sua própria baliza (trata-se da intercepção de um remate), ou, (2) entre dois
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO
Dos dados observados, 73% das situações de recuperação da posse da bola foram consubstanciadas
através de comportamentos técnico-tácticos de intercepção, os quais foram executados sob pressão do adversário
(16%) e em queda (15%).
5.3. A carga
1. Definição. É a acção exercida por dois jogadores, que procuram o contac-
to físico - carga, em zonas do corpo permitidas pelas leis do jogo, aquando da
luta directa pela posse da bola.
2. Objectivo. Os defesas utilizam todos os argumentos técni-
cos legais para criar situações desvantajosas aos atacantes de
protecção e conservação da
Fotos 267/268/269 A carga de bola por parte do atacante,
ombro se o carregarem legalmente,
através do contacto físico,
afastando-o ou desequilibrando-o da situação de jogo. É
este o objectivo essencial em que se baseia a acção técnico-táctica de carga.
3. Execução. As superfícies corporais de contacto permitidas pelas leis do jogo
são: i) o ombro contra ombro, e, (2) o ombro contra espádua. Contudo, alia- Fotos 270/271. O objectivo do defesa
do à restrição de só poderem ser ao executar a carga de ombro é
estas as superfícies corporais de desiquilibrar o avançado
Foto cedida pelo jornal O JOGO
Consoante o nível de formação de uma equipa (tanto ofensiva como defensiva), reflecte uma organi-
zação elementar, que assenta fundamentalmente:
1. Nas acções técnico-tácticas individuais e colectivas que visam a coerência de movimentação dos jogadores
dentro do subsistema estrutural (sistema de jogo e tarefas tácticas) preconizado pela equipa e uma ocupação
racional e constante do espaço de jogo (deslocamentos ofensivos e defensivos, compensações/permutações).
2. Nas acções técnico-tácticas individuais e colectivas que visam a resolução temporária das situações momen-
tâneas de jogo (combinações tácticas, dobras, cortinas/ecrans e temporizações).
3. Nas soluções estereotipadas das partes fixas do jogo (esquemas tácticos ofensivos e defensivos).
Os deslocamentos ofensivos
1. Definição. Os deslocamentos ofensivos são comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos, desen-
volvidos no absoluto respeito dos princípios (gerais e específicos) do ataque, que visam assegurar em última
análise a cooperação e a coerência dinâmicas da movimentação, dentro do método ofensivo preconizado pela
equipa, para o cumprimento dos objectivos fundamentais do ataque (finalização-progressão manutenção).
2. Objectivos. Os deslocamentos ofensivos realizados pelos atacantes procuram, em última análise: (1) o con-
trolo do ritmo e do tempo de jogo, em função dos objectivos tácticos da equipa durante o desenrolar da parti-
da e, (2) manter a iniciativa do jogo, surpreender o adversário e cansá-lo fisicamente, obri-gando-os a jogar sob
uma grande pressão psicológica e a entrar continuamente em crise de raciocínio táctico. Nesta perspectiva, os
deslocamentos ofensivos objectivam os três seguintes atributos:
2.1. Equilíbrio ou reequilibrio constantemente a repartição de forças do método ofensivo consoante as
situações de jogo. Qualquer que seja o sistema de jogo utilizado por uma equipa, a relação geométrica implíci-
ta desse dispositivo, não permite ocupar o espaço total do jogo. Daí que, as mudanças incessantes das
condições de jogo, determinem deslocamentos permanentes dos jogadores para equilibrar ou reequilibrar a
repartição de forças no terreno de jogo. Assim a dinâmica de uma equipa deve assegurar:
(1) Deslocamentos constantes, respeitando-se sempre a relação de distância jogador-bola-companheiros-
adversários, isto é, que a equipa jogue num bloco homogéneo entre os vários jogadores e sectores, evitan-
do-se que esta se distenda ao longo do terreno de jogo. Isto significa, que se concretiza automaticamente
uma disposição geométrica em que se equilibra ou reequilibra a organização, em função das situações
momentâneas de jogo.
(2) A reconstituição das ligações associativas fundamentais de vários jogadores (apoio, cobertura e mobili-
dade), formando unidades funcionais nas acções colectivas de ataque. Cria-se assim, um maior número de
hipóteses ao jogador de posse de bola, dando-lhe a possibilidade de uma opção mais conveniente à situa-
ção momentânea de jogo, não o obrigando a excessos de individualismos, por falta de apoio ou cobertura
dos companheiros da equipa
2.2. Criar, ocupar e utilizar de forma eficiente os espaços de jogo. Os jogadores em processo ofensivo,
devem consciencializar e valorizar constantemente a sua contribuição para o desenvolvimento eficaz da acção
ofensiva. Assim, o jogo sem bola não consiste só em executar um certo número de deslocamentos com vista
a intervir sobre esta, mas também, assegurar através dos seus deslocamentos, o "arrastamento" de um ou mais
adversários, deixando livres de vigilância determinados espaços de jogo mais favoráveis à persecução dos
objectivos tácticos momentâneos do ataque. Como resultado destes deslocamentos, visa-se igualmente,
aumentar os intervalos entre os defesas, tanto no sentido longitudinal, como no transversal, com o objectivo
de descoordenar e desequilibrar a ocupação racional do espaço de jogo e, consequentemente, o enfraqueci-
mento do método defensivo adversário. Após a criação de espaços livres, é necessário ocupá-los e utilizá-los
de forma eficiente, sendo essenciais deslocamentos rápidos para o seio desses espaços, para os quais em princí-
pio deve ser direccionado o centro da acção ofensiva.
2.3. Colocação de jogadores livres de oposição (marcação) do adversário. O aumento da quantidade (dis-
tância) e da qualidade (intensidade), dos deslocamentos dos jogadores em campo durante o jogo, determinou
consequentemente o aumento do seu "raio de acção". Por outras palavras, os jogadores deslocam-se mais fre-
quentemente para criar e explorar os espaços de jogo (quando de posse de bola), do que para restringir, mar-
car espaços e jogadores (quando não têm a posse de bola). Daqui resulta, que as condicionantes da execução
técnico-táctica, com ou sem a posse da bola, se tornam cada vez mais problemáticos para uma eficaz resolução
da situação táctica. Este facto reflecte a constante preocupação de colocar a cada instante, problemas cada vez
mais difíceis de resolver (do ponto de vista defensivo), procurando deslocamentos ofensivos que coloquem
um ou vários jogadores livres de marcação, para que usufruam de condições favoráveis em termos de espaço
e tempo, para a resolução táctica das situações momentâneas de jogo, tendo presente, que um jogador inter-
vém sempre na orgânica do jogo, facilitando ou contrariando pelos seus deslocamentos, o jogo colectivo.
A organização dinâmica do jogo de futebol 195
reno de jogo.
(4) Circulares-
complexos. A tra-
Foto cedida pelo jornal O JOGO
(4) De rotura.
Estas acções
objectivam
Foto cedida pelo jornal O JOGO
fundamental-
Fotos 287/288. O deslocamento ofensivo de rotura per-
pendicular mente a cri-
ação de situ-
ações de finalização, ou de rotura do método defensivo
adversário. Neste sentido, estes deslocamentos são carac- Foto 289. O deslocamento ofensivo de rotura diagonal
terizados pela aproximação ou afastamento do compan-
heiro de posse de bola, com o objectivo imediato de assegurar as
condições mais favoráveis ao cumprimento de um dos objectivos do
Foto cedida pelo O JOGO
C. A criação de situações de surpresa para os adversários, obrigando-os a jogar sob uma grande pressão
psicológica e técnico-táctica. Podemos distinguir três tipos de deslocamentos ofensivos de rotura: per-
pendiculares, diagonais e paralelos.
(4). De equilíbrio. Estas acções caracterizam-se fundamentalmente por deslocamentos em direcção a
espaços vitais, ou a jogadores adversários (que não estão directamente envolvidos no processo defensivo da
sua equipa) e visam o equilíbrio da organização ofensiva, em função das situações de jogo.
Consequentemente estes deslocamentos consubstanciam:
(1) O equilíbrio da organização ofensiva em função do espaço e do(s) adversário(s) que aí evoluem, evi-
tando-se que após a perda da posse da bola, haja a possibilidade da equipa adversária poder contra-
atacar, estabelecendo-se de imediato uma contínua estabilidade na organização da equipa.
(2) A reorganização rápida do ataque em caso de insucesso, através de uma maior homogeneidade e
compacticidade do jogo ofensivo.
4. Meios. As condicionantes favoráveis para a realização dos deslocamentos ofensivos podem ser analisados sob
as seguintes vertentes:
4.1. Gerais. A forma geral de organização, ou seja, o método de jogo deverá ser um factor facilitador na exe-
cução das acções dos jogadores, exprimindo: i) um bloco homogéneo, tanto no processo ofensivo como defen-
sivo, ii) a criação de espaços livres através de desmarcações coordenadas em largura e profundidade a 2, 3, ou
mais jogadores, iii) mudanças bruscas de ritmo e direcção e, iv) combinações tácticas fundamentais (simples,
directas e indirectas). Contudo, é importante evidenciar dois aspectos que se relacionam directamente com a
eficácia destas acções:
(1) O deslocamento individual é sempre condicionado pelos deslocamentos colectivos, sendo importante
uma sincronização eficaz destas acções no seu conjunto.
(2) O momento (tempo) em que se verificam as condições mais favoráveis, à resolução táctica da situação
de jogo, é demasiadamente curto sendo necessária uma plena concentração por parte dos jogadores.
4.2. Específicos. Os deslocamentos defensivos são o resultado da procura constante e harmónica entre o pos-
suidor da bola e os restantes companheiros:
(1) No que respeita ao jogador de posse de bola exige-se:
A. Uma clara visão do jogo, percepcionando continuamente as movimentações dos seus companheiros
(percepção), apercebendo-se rapidamente que decisão (resposta táctica) é mais adequada à situação
momentânea de jogo (decisão). Entregar a bola no melhor momento sincronizando a sua execução técni-
co-táctica com a do companheiro a quem é dirigida a bola (execução);
B. Utilização de acções técnico-tácticas que alterem os ângulos relativamente aos seus companheiros com
as seguintes intenções: i) mobilizar a atenção, e por conseguinte a desconcentração de um ou mais adver-
sários, que marcavam, na circunstância, os seus companheiros, ii) tornar o jogo imprevisível do ponto de
vista defensivo, podendo a todo o momento executar acções técnico-tácticas em direcção a um ou outro
corredor ou sector de jogo e, iii) assegurar a protecção da bola, de modo a ganhar o tempo necessário para
permitir, o desencadeamento de deslocamentos ofensivos por parte dos seus companheiros, criando por
conseguinte, as condições mais favoráveis aos objectivos momentâneos (manutenção-progressão-finaliza-
ção).
(2) No que respeita aos jogadores em deslocamento exige-se:
A. Indicar através da direcção, a forma e o tipo de deslocamento quais as suas verdadeiras intenções tácti-
cas, pois o companheiro de posse de bola deverá decidir de acordo com estas.
B. Plena concentração no jogo, sabendo quando, onde e como, deverá criar as condições mais vantajosas
para a concretização dos objectivos tácticos da equipa (decisão). Em consequência, ter espírito de sacrifí-
cio e colaboração, permanecendo em constante movimento, realizando-o em local oportuno, no momen-
to certo e de acordo com as possibilidades técnico-tácticas do jogador de posse de bola (execução).
198 Guia prático de exercícios de treino
5. Princípios. Os princípios de orientação na execução dos deslocamentos ofensivos devem assumir dois
domínios fundamentais:
5.1. Gerais. As mudanças incessantes das condições de jogo (tanto ofensivas como defensivas) devem deter-
minar deslocamentos permanentes dos jogadores, exprimindo os seguintes princípios:
(1) Racionalizar permanentemente o espaço de jogo:
A. Os deslocamentos dos jogadores são coordenados pela necessidade de equilibrar e racionalizar a repar-
tição de forças no terreno de jogo.
B. Todos os deslocamentos se influenciam mútua e reciprocamente e cada jogador intervém sempre na
orgânica do jogo (adversário ou companheiro), facilitando ou contrariando pelos seus deslocamentos, o
jogo colectivo.
C. A articulação das várias fases do jogo será tanto mais evoluída, quanto mais a sua expressão se traduza
de forma unitária e homogénea, não dando lugar a compartimentos estanques que só conduzem a equipa
a uma maior permeabilidade na sua organização.
(2) Execução de deslocamentos a ritmos (velocidade) e direcções variáveis pretendendo chamar atenção dos
opositores com o intuito de:
A. Deslocar os adversários dos espaços mais perigosos.
B. Atrair os adversários deixando livre de marcação os companheiros melhor posicionados.
C. Visar permanentemente a baliza adversária, isto é, o objectivo do jogo - o golo.
(3) Procurar que o movimento da bola implique um deslocamento relativo de todos os jogadores:
A. Um jogador em qualquer situação de jogo jamais deverá estar parado.
B. O espaço deixado livre pelo jogador deve ser imediatamente ocupado por um dos seus companheiros.
C. Qualquer que seja, e onde quer que se situe, o jogador de posse de bola, logo que a passa, deve movi-
mentar-se (simultaneamente ao passe) no sentido de apoiar o companheiro de posse de bola, ou procurar
romper o equilíbrio defensivo adversário.
D. Os deslocamentos ofensivos são sempre válidos mesmo quando o jogador não recebe a bola.
5.2. Específicos: reagir rapidamente à situação de recuperação de posse de bola:
(1) As acções visando a libertação de marcação e procura de espaços livres, devem iniciar-se instantaneamente
após a recuperação da posse de bola. Assim, os jogadores deverão responder às seguintes questões: i) quem:
todos os jogadores da equipa, ii) quando: a partir do momento em que a equipa entra de posse de bola, iii)
onde: em qualquer zona do terreno de jogo e, iv) como: ocupando lugares apropriados para oferecer linhas
de passe e ajudar o portador da bola.
(2) Os deslocamentos dos jogadores devem caracterizar-se pelo desenvolvimento de certos processos técni-
cos individuais, de carácter "explosivo", visando em última instância surpreender ou iludir o adversário: i) uti-
lizando mudanças rápidas de ritmo e direcção da corrida e, ii) utilizando pequenas e rápidas fintas de simu-
lação, no sentido da corrida, isto é, o jogador executa um deslocamento rápido e curto no sentido inverso
àquele para onde pretende verdadeiramente deslocar-se.
Concluindo, o futebol exige que a totalidade dos jogadores (a partir do momento em que a bola é
recuperada) se coloquem disponíveis por meio de deslocamentos, no sentido de oferecer os seguintes objectivos:
1. A manutenção da posse da bola (estas desenvolvem-se num quadro referencial, cujo núcleo é representa-
do pelo jogador de posse de bola, sendo orientados preferencialmente por forma a se aproximarem dele).
2. A progressão da acção ofensiva (estas desenvolvem-se num quadro referencial, cujo núcleo é constituído
pelo jogador de posse de bola, da baliza adversária, dos adversários e companheiros).
3. A rotura do sistema defensivo adversário (estas desenvolvem-se num quadro referencial, cujo núcleo é con-
stituído pelo jogador de posse de bola, pela organização defensiva adversária e a baliza adversária.
4. O equilíbrio do método defensivo (estas desenvolvem-se num quadro referencial, cujo núcleo é constituí-
do pelo jogador de posse de bola, própria baliza e adversários, que não estão directamente implicados no
processo defensivo da sua equipa).
A organização dinâmica do jogo de futebol 199
Compensações/desdobramentos ofensivos
1. Definição. São acções técnico-tácticas individuais e colectivas, desenvolvidas no absoluto respeito dos princí-
pios (gerais e específicos) do ataque, que visam assegurar constantemente a ocupação racional do terreno, assu-
mindo posições e missões tácticas dos companheiros, que num certo momento do jogo estão envolvidos na reali-
zação de outras funções.
As acções técnico-tácticas de compensação e de permutação, em termos pragmáticos consolidam os
mesmos objectivos. Contudo, numa análise mais aprofundada, das acções de ocupação e de racionalização do
espaço de jogo e da troca de missões tácticas específicas de cada jogador, verificamos que: a compensação é fun-
damentalmente consubstanciada pela ocupação de um espaço de jogo deixado livre por um companheiro, que
num certo momento se integrou directamente no processo ofensivo. A permutação é fundamentalmente con-
substanciada pelo facto, de depois de a acção ofensiva terminar, o jogador que foi ajudado ter de retomar o mais
rapidamente possível, não a sua posição e missão específica de base, mas a posição e missão específica de base
do jogador que o ajudou, cumprindo esta função com pleno sentido de responsabilidade.
3. Meios (condicionantes favoráveis). A forma geral de organização, ou seja, o método de jogo ofensivo, deverá
ser um factor facilitador na organização das acções dos jogadores, exprimindo um bloco homogéneo que reflic-
ta: i) um grande sentido de jogo colectivo, ii) um grupo de jogadores solidários com as suas funções específicas,
iii) uma clara fixação dos conceitos de disciplina e responsabilidade táctica, iv) um grande espírito de sacrifício
e, v) um correcto sentido de doseamento do esforço físico.
200 Guia prático de exercícios de treino
4. Princípios (de orientação). As incessantes mudanças das condições de jogo determinam deslocamentos per-
manentes dos jogadores, exprimindo a racionalização constante do espaço, consoante as necessidades para a res-
olução táctica das situações momentâneas de jogo:
(1) Os deslocamentos dos jogadores são coordenados pela necessidade de equilibrar e racionalizar a repar-
tição de forças no terreno de jogo.
(2) Todos os deslocamentos se influenciam mútua e reciprocamente, e cada jogador intervém sempre na
orgânica do jogo, (adversários ou companheiros), facilitando ou contrariando o jogo colectivo pelos seus
deslocamentos.
(3) A articulação das várias fases do jogo será tanto mais evoluída quanto mais a sua expressão se traduza de
forma unitária e homogénea, não dando lugar a compartimentos estanques que só conduzem a equipa a uma
maior permeabilidade na sua organização.
(4) No futebol deverá existir esta elementar compreensão: sempre que um companheiro ajuda, tem direito a
que o ajudem também. Se um jogador deixa o seu lugar e funções específicas num determinado momento da
partida, para ocupar o lugar e as funções de um companheiro que se adiantou no terreno, deverá este último,
o mais rapidamente possível (a quando da perda da posse da bola, ou noutra situação particular), voltar não
ao seu lugar e funções de base, mas antes ocupar o lugar deixado livre pelo companheiro que o ajudou.
Mudam assim momentaneamente de lugar e funções, mas nunca de responsabilidades, organização e soli-
dariedade. Em conclusão, estas acções técnico-tácticas deverão reflectir: i) o entendimento mútuo dos
jogadores, pois a realização destes comportamentos não têm qualquer efeito prático se levarem a equipa a rea-
grupamentos múltiplos dos jogadores e, ii) devem efectuar-se rápida e espontaneamente, pois constituem um
elemento dinâmico do jogo actual.
As combinações tácticas
1. Definição. As combinações tácticas representam a coordenação das acções individuais de natureza ofensiva,
de dois ou três jogadores, desenvolvidos no absoluto respeito dos princípios do ataque, (gerais e específicos).
Visam a resolução de uma tarefa parcial (temporária) específica do jogo, assegurando a criação de condições
mais favoráveis (analogamente aos deslocamentos ofensivos), em termos numéricos, espaciais e temporais.
2. Objectivos. O objectivo fundamental das combinações tácticas, é a resolução táctica das situações momen-
tâneas de jogo (nas unidades funcionais), criando-se assim as condições mais favoráveis (em termos de numéri-
cos, espaciais e temporais) à persecução dos objectivos do processo ofensivo (progressão/finalização). Esta acção
coordenada de dois ou três jogadores visa em última análise:
2.1. A colocação de jogadores (durante o processo ofensivo) em espaços vitais e livres de oposição.
2.2. Romper o equilíbrio ou manter o desequilíbrio da organização defensiva da equipa adversária.
2.3. A reorganização constante do método defensivo adversário, o que consequentemente determina um
maior empenhamento físico e psíquico dos seus jogadores.
4. Meios (condicionantes favoráveis). Os meios de suporte às combinações tácticas (especialmente no que se ref-
ere às simples e às directas), fundamentam-se essencialmente nos deslocamentos ofensivos de apoio. Portanto,
os meios - gerais e específicos - enunciados para os deslocamentos ofensivos, mantêm-se para as combinações
tácticas, especialmente para as exigências referentes: (1) ao método de jogo, (2) ao jogador de posse de bola, e,
(3) ao jogador em deslocamento ofensivo.
5. Princípios (de orientação). As combinações tácticas estudadas são condicionadas pela participação directa ou
indirecta de todos os jogadores da equipa. Todo e qualquer tipo de combinação táctica é complementada com
a introdução de mudanças de ritmo e direcção, as quais assumem consequências muito acentuadas no equilíbrio
defensivo adversário: i) quer por resultarem em situações em que o jogador de posse de bola fica livre de mar-
cação (situação favorável à finalização por exemplo) e, ii) quer por permitirem criar de imediato situações de
superioridade numérica nas unidades funcionais da equipa. Por último, importa realçar que a atitude e as acções
descritas de passar e mover, são sempre válidas, mesmo quando não se recebe a bola.
202 Guia prático de exercícios de treino
Cortinas/écrans
1. Definição. São combinações tácticas especiais, desenvolvidas no absoluto respeito dos princípios (gerais e
específicos) do ataque e das leis do jogo, por um ou mais jogadores, que se posicionam por forma a perturbar a
leitura táctica da situação, e consequentemente do comporta-
mento defensivo dos adversários directos.
As acções técnico-tácticas de cortinas e écrans, em
3. Meios (condicionantes favoráveis). Do que foi exposto, e para além dos aspectos ligados ao método de jogo,
é necessário evidenciar que estes comportamentos técnico-tácticos são resultado:
3.1. Da procura que os adversários (no seu conjunto ou particularmente, exemplo: guarda-redes), tenham
uma visão pouco clara das situações de jogo, obrigando-os a reagir mais tardiamente.
3.2. Da utilização de comportamentos técnico-tácticos que consubstanciem a variação dos ângulos e posições
relativas dos jogadores atacantes, em função dos defesas, com as seguintes intenções:
(1) Interpôr-se entre o defesa e o seu companheiro, para que este se liberte dessa pressão, mobilizando
assim a atenção e desconcentrando os comportamentos técnico-tácticos do defesa.
(2) Encobrir a posição real da bola e a sua possível trajectória tornando o jogo imprevisível (do ponto de
vista defensivo).
(3) Assegurar a protecção da bola, de modo a ganhar o tempo suficiente para que se criem as condições
favoráveis à persecução dos objectivos tácticos do ataque.
(4) Rentabilização dos esquemas tácticos, através da criação do aumento da dificuldades para certos
jogadores adversários, tanto no encobrimento do jogador que irá executar a acção técnico-táctica, como da
partida e trajectória da bola.
3.3. Da correcta leitura do jogo e saber, quando, onde e como, efectuar as cortinas/écrans, tendo em conta
que o seu deslocamento deverá criar as condições mais vantajosas para a concretização dos objectivos tácti-
cos da equipa. Momentos existem em que estes deslocamentos podem originar aglomerações de jogadores ata-
cantes podendo, por consequência, um defesa marcar efectivamente mais que um atacante.
3.4. De deslocamentos rápidos e directos para o seio dessas situações momentâneas de jogo. Se durante esse
trajecto o jogador for marcado, deverá utilizar pequenas e rápidas fintas de simulação, para evitar o arrasta-
mento de mais um adversário para o centro do jogo, aumentando assim, as dificuldades de resolução táctica
da situação.
4. Princípios (de orientação). A grande pressão sobre certos jogadores atacantes deverá originar acções que
visam a libertação da marcação dos companheiros. Estas acções desenvolvem-se num quadro referencial, cujo
núcleo é representado pelo companheiro de posse de bola e o adversário directo, tendo este quadro como princí-
pio a interposição de um jogador atacante entre os dois jogadores referidos. Este aspecto reflecte o princípio da
exigência fundamental do futebol dos nossos dias, do qual se traduz que em todos os momentos os jogadores
devem estar disponíveis, no sentido de oferecerem o máximo de possibilidades de resolução táctica ao com-
panheiro de posse de bola, criando simultaneamente as condições mais desfavoráveis à marcação dos atacantes
e à visualização da bola e da sua possível trajectória. A maximização da eficiência dos esquemas tácticos, devem
incluir os dois objectivos enunciados para as cortinas/écrans, consubstanciado pela coerente e coordenada acção
204 Guia prático de exercícios de treino
Temporização
1. Definição. São acções técnico-tácticas individuais e colectivas, de natureza ofensiva desenvolvidas no absolu-
to respeito dos princípios (gerais e específicos) do ataque, que visam assegurar as condições mais favoráveis ao
cumprimento dos objectivos tácticos momentâneos (temporários) da equipa.
2. Objectivos. O objectivo fundamental da acção de temporização é ganhar o tempo suficiente para assegurar o
cumprimento dos objectivos tácticos momentâneos (temporários) da equipa, que poderão ser:
(1) O jogador de posse de bola consegue devido aos seus comportamentos técnico-tácti-
cos atrair para si a atenção, de um ou vários adversários, por forma a que estes diminuam
A. Clara compreensão dos objectivos tácticos da equipa: i). Percepcionando as condições do sistema de
jogo da equipa, ii) observando se existem companheiros que não estejam em condições físicas (neces-
sitem de assistência médica), iii) se existe uma ocupação racional do sistema de jogo aceitável, não haven-
do assim grandes desequilíbrios nos vários sectores e corredores de jogo e, iv) os prós e os contra, de
assumir um aumento ou diminuição do ritmo atacante da sua equipa, em função do resultado numéri-
co do jogo.
B. Clara visão da situação momentânea de jogo, utilizando
acções técnico-tácticas que alterem os ângulos relativa-
1. Definição. São soluções estereotipadas, previamente estudadas e treinadas para as situações de bola parada
(livres, pontapés de saída, de canto, lançamento da linha lateral, etc.). Representam uma forma de combinação
táctica, ou seja, a coordenação das acções individuais de vários jogadores de natureza ofensiva, que visam asse-
gurar as condições mais favoráveis para a concretização imediata do golo durante as fases fixas do jogo.
206 Guia prático de exercícios de treino
2. Objectivos. Em síntese, o objectivo fundamental dos esquemas tácticos ofensivos é assegurar as condições
mais favoráveis à concretização imediata do golo: dos dados das análises
do jogo de futebol, concluí-se que entre 25 e os 50% das situações de final-
ização e de criação das situações de finalização, têm por base as soluções
3. Meios. Os meios fundamentais para a concepção dos esquemas tácticos, devem assegurar os seguintes aspec-
tos:
3.1. Um dispositivo fixo, no qual os jogadores e a bola circulam de uma forma pré-estabelecida. No entanto,
deve igualmente ter um carácter espontâneo e criador, relacionando o nível de organização ofensiva e defen-
A organização dinâmica do jogo de futebol 207
siva, em função da situação momentânea de jogo. A sucessão de procedimentos técnico-tácticos dos jogadores
deve ser lógica, coerente e de acordo com um "cenário" de jogo convincente para a equipa adversária, sendo
esta levada a ler incorrectamente a situação, e consequentemente a optar por medidas menos eficazes, ou seja,
cometer erros.
3.2. A execução dos esquemas tácticos ofensivos exigem:
A. No que diz respeito ao jogador que repõe a bola: (1) um claro conhecimento da solução táctica e das
suas variantes, (2) uma reposição de bola no momen-
to certo, articulado com a movimentação dos seus
companheiros, e, (3) uma eficaz execução técnico-
As formas de se conseguirem mais situações de bola parada, segundo Hughes (1990), são as seguintes:
(1) Passar a bola para o espaço nas "costas" da defesa adversária. Os passes para o espaço nas "costas" dos
defesas causam-lhes sempre problemas, porque partem para uma posição desconfortá-vel, tendo que rodar
em direcção à sua própria baliza.
(2) Através de cruzamentos. Os cruzamentos para as "costas" da defesa, especialmente para a zona central
causam um desconforto enorme aos defesas. Na maioria dos casos, estes ao deslocarem-se em direcção à sua
própria baliza, jogam a bola para lá da linha final.
(3) Através de dribles. Os atacantes, ao optarem por uma situação
de 1x1 na zona ofensiva, poderão retirar grandes dividendos,
Foto cedida pelo jornal O JOGO
(3) A utilização de acções de protecção (cortinas/écrans), especialmente sobre: i) o guarda-redes, para aumen-
tar a dificuldade de leitura da situação de jogo e, ii) jogador que irá executar a acção técnico-táctica, enco-
brindo a partida e trajectória da bola.
(4) Nas paragens momentâneas de jogo verifica-se uma menor concentração (atenção) dos jogadores. Isto
determina, que os jogadores escalonados para as várias soluções tácticas de bola parada, devem imediatamente
ocupar as suas posições dentro do dispositivo fixo, tentando rentabilizar uma possível reposição rápida da
bola em jogo, beneficiando de uma menor atenção dos jogadores adversários.
(5) Colocação de jogadores em determinados espaços, com funções que maximizem as suas potencialidades
individuais, criando-se as condições mais favoráveis para a sua exteriorização.
(6) Colocação dos defesas a uma certa distância (regulamentada pelas leis do jogo), a qual determina que o
problema da pressão não seja equacionado, logo, o jogador que repõe a bola poderá concentrar-se funda-
mentalmente no momento mais favorável para a concretização da solução táctica.
(7) Os esquemas tácticos devem utilizar-se poucas vezes durante o mesmo jogo, para que os adversários não
se habituem às intenções e às manobras tácticas dos jogadores nestas situações de jogo. Assim, dever-se-á
introduzir uma ou duas variantes na construção dos esquemas tácticos.
(8) Dever-se-ão igualmente criar situações de "conflito" com os adversários e com o árbitro, (posição da bola,
distância da barreira, etc.), com o intuito de mobilizar a atenção dos adversários para outros pormenores de
menos interesse.
(9) Alguns treinadores são “obcecados” pela variedade na execução das situações de bola parada. A variedade
não é recomendada. Na maior parte das situações, a melhor variedade é a variedade sobre um tema base que
é eficiente e manter constantemente a equipa adversária na expectativa. Existe um preceito na organização das
situações de bola parada, "quanto mais directo e simples for executado, mais probabilidades de sucesso terá a
situação" (Hughes, 1980, 1990).
a bola facilmente: o lançamento da linha lateral é, para todos os efeitos, um passe. A bola dev-
erá ser entregue com a mesma consideração que um passe, ou seja, lançando-a para um
espaço, e sob um ângulo, que possibilite ao receptor um controlo fácil da bola.
(5) Criar o espaço suficiente para que o lançamento da linha lateral seja eficiente: os jogadores
Foto 319. O
lançamento da
erram ao posicionar-se muito perto do companheiro, ou ficam estáticos à espera da bola. Com
linha lateral efeito, estes devem deslocar-se, afastando-se ou aproximando-se do companheiro que irá exe-
cutar o lançamento, criando assim grandes dificuldades de marcação aos defesas contrários.
(6) Executado o lançamento o jogador deverá entrar rapidamente no jogo: uma vez executa-
do o lançamento da linha lateral, o jogador deve deslocar-se imediatamente para dentro do terreno de jogo,
dando simultaneamente cobertura ao companheiro de posse de bola e procurando criar superioridade
numérica nessa zona do campo.
estão na barreira.
3. A grande penalidade
A importância da grande penalidade tem
aumenta-
do nos Foto 325. Livres directos no corredor central de jogo
últimos
anos,
sendo normalmente usado para decidir finais de jogos do
Campeonato do Mundo, da Europa, etc. A
eficácia da grande penalidade é o resultado da
combinação de três aspectos fundamentais:
Foto cedida pelo jornal O JOGO
Os deslocamentos defensivos
jogo, (2) criar um menor número de possibilidades ao processo ofensivo adversário, o que determina conse-
quentemente a previsibilidade dos seus comportamentos técnico-tácticos e, (3) mesmo durante a fase defensiva,
a equipa deverá manter uma certa iniciativa de jogo, ao obrigar os jogadores adversários a jogar sobre uma forte
pressão técnico-táctica e psicológica. Em síntese, os objectivos dos deslo-
camentos defensivos são os seguintes:
2.1. Ocupar, restringir e vigiar de forma eficiente os espaços vitais à
o trajecto) sobre espaços e jogadores adversários que possam dar continuidade à progressão do proces-
so ofensivo, tentando uma rápida recuperação da posse da bola. Para realizar este tipo de recuperação é
necessário: i) um grande espirito de sacrifício e solidariedade, ii) grande disciplina em termos tácticos,
iii) grande capacidade de leitura do jogo e, iv) grande capacidade físico-psicológica.
3.2. Deslocamentos para manter o equilíbrio
ou reequilibrar a organização defensiva
dobra.
4.2. Específicos. Os deslocamentos defensivos
resultam da reacção da equipa logo após a perca
da posse da bola. Esta reacção baseia-se em dois Fotos 347/348. Deslocar para recuperar ou para
tipos de comportamento, individual e colectivo, interromper o processo ofensivo
216 Guia prático de exercícios de treino
cológico).
E. A entreajuda entre os jogadores da equipa
em fase defensiva, deverá reflectir um sig-
nificado especial de comunicação e com-
preensão mútua.
As compensações/desdobramentos defensivos
1. Definição. São acções técnico-tácticas individuais e colectivas, desenvolvidas no absoluto respeito dos princí-
pios (gerais e específicos) da defesa, que visam assegurar constantemente a ocupação racional do terreno,
cobrindo ou ocupando espaços, e assumindo posições e missões tácticas de companheiros, que num certo
momento estão envolvidos na realização de outras funções.
3. Meios. Os meios fundamentais à execução das compensações/desdobramentos são os mesmos que foram
referidos para o processo ofensivo. Salienta-se, que o conjunto de acções dos jogadores de uma equipa, devem
exprimir um bloco homogéneo, que reflicta fundamentalmente: (1) um grande sentido de jogo colectivo, (2)
clara fixação dos conceitos de disciplina e responsabilidade táctica e, (3) grande espírito de sacrifício.
3. Meios (condições favoráveis). As dobras assentam fundamentalmente numa leitura correcta da situação de
jogo, consubstanciada em deslocamentos rápidos para o centro da acção do jogo. Esta aproximação deverá pôr
em evidência dois aspectos importantes:
(1) A velocidade de aproximação (abrandamento dessa velocidade logo que o jogador adversário tenha a bola
perfeitamente dominada).
(2) O correcto ângulo de aproximação (pois condicionará o ângulo de passe ou remate do adversário).
4. Princípios. Em síntese, o princípio de orientação fundamental na execução das dobras é reagir rapidamente
ao desequilíbrio temporal da organização defensiva, através da marcação rigorosa e pressio-nante do adversário
de posse de bola, fazendo a contenção aos seus comportamentos técnico-tácticos, com os seguintes objectivos:
(1) Tentar ganhar, numa primeira fase, o tempo suficiente para que os restantes companheiros reequilibrem
colectivamente a organização defensiva.
(2) Defender a baliza conduzindo o adversário para espaços menos perigosos.
(3) Tentar recuperar a posse da bola tirando parte da iniciativa ao adversário através de: i) uma posição de
base correcta (em permanente equilíbrio para poder
reagir a qualquer iniciativa do adversário), ii) obser-
vação da bola (concentrando-se somente nos movi-
mentos desta), iii) paciencia (o tempo nestas situ-
ações concorre sempre a favor de defesa) e, iv) ter a
iniciativa.
A temporização
Cortinas/écrans
3. Meios. Estes comportamentos técnico-tácticos são o resultado da procura constante das condições favoráveis
à situação de recuperação de posse de bola e de protecção máxima da própria baliza. Para isso, é necessário uti-
lizar acções técnico-tácticos que consubstanciem a variação de ângulos e posições, relativas dos jogadores defe-
sas em função dos atacantes, com as seguintes intenções:
(1) Interpôr-se entre o atacante e o seu companheiro, para que este encontre as condições mais favoráveis à
recuperação da posse da bola.
(2) Interposição - formação de barreiras - entre a posição da
bola e a baliza própria nas situações de livre. As barreiras são
formadas por jogadores em acção defensiva que se colocam uns
1. Definição. São as soluções adaptadas para as situações de bola parada (livres, pontapés de baliza, de canto,
etc.). Representam a coordenação de acções individuais e colectivas de vários jogadores de natureza defensiva,
que visam assegurar as condições mais favoráveis à protecção máxima da baliza e à recuperação da posse da bola
durante as partes fixas do jogo.
(3) Prever as alterações possíveis, isto é, estabelecer um conjunto de cenários subsequentes à execução dos
esquemas tácticos, em termos defensivos (defesa da baliza) e ofensivos (uma vez recuperada a posse da bola
atacar de imediato a baliza adversária).
Durante o processo defensivo, e em especial nas zonas predominantemente defensivas, nem sempre
é possível recuperar de imediato a posse da bola, tal como nem sempre é possível afastar de imediato a bola das
zonas vitais do terreno de jogo, e nem sempre é possível evitar que o atacante directo consiga rodar e orientar
os seus comportamentos técnico-tácticos em direcção à baliza adversária. Com efeito, os defesas não devem estar
obcecados em concretizar um destes objectivos defensivos, ao ponto de cometerem infracções às leis do jogo que
determinam na maioria dos casos, situações mais vantajosas do ponto de vista ofensivo. Neste sentido, os
jogadores em processo defensivo, para além de evidenciarem as suas qualidades técnico-tácticas na procura de
diminuírem o tempo, o espaço e o número de opções tácticas do ataque adversário, deverão evidenciar igual-
mente os seus atributos psicológicos de concentração, paciência, auto-disciplina, ou seja, de maturidade táctica.
Todavia, mesmo as equipas de elevados níveis de rendimento, irão mais cedo ou mais tarde, cometer infracções
às leis do jogo longe ou perto da sua zona defensiva, nos corredores laterais ou central. Com efeito, para uma
melhor compreensão do problema das situações de bola parada é necessário encontrar as suas vantagens bási-
cas: i) são executados com a bola parada, não se pondo o problema do seu controlo, (2) não existe pressão defen-
siva sobre o atacante de posse de bola, devido às leis do jogo, (3) verifica-se uma mobilização de um grande
número de atacantes, posicionando-se em espaços vitais do terreno de jogo, (4) os atacantes posicionam-se em
espaços, por forma a maximizar as suas capacidades, e, (5) a acção sincronizada dos movimentos de todos os
atacantes. A raiz do problema defensivo em evitar a elevada percen-tagem da eficácia dos esquemas tácticos
ofensivos, advém fundamentalmente:
(1) Do facto de a equipa não estar suficientemente organizada para fazer face à situação de bola parada e à
situação subsequente à sua efectivação.
(2) Diminuição da concentração por parte dos defesas, devido à paragem momentânea do jogo, na qual alguns
deles argumentam com o árbitro ou com os adversários.
(3) Os jogadores deslocam-se para a sua posição de base dentro do dispositivo fixo da equipa, e uma vez
assumida essa posição, pensam que o problema está resolvido, esquecendo-se das tarefas específicas dentro do
esquema táctico defensivo, modificando assim as suas respostas técnico-tácticas em função das alterações ou
do desenvolvimento do esquema táctico ofensivo.
(4) Uma utilização incorrecta da vantagem de em todas as situações de bola parada os defesas se encontrarem
normalmente em superioridade numérica, em relação aos atacantes.
iza e recuperação da posse da bola. Daí a necessidade de todos os jogadores saberem em detalhe a sua missão
táctica específica na organização dos esquemas tácticos defensivos da equipa e desenvolverem concertada-
mente a sua acção.
3.2. Disciplina individual e colectiva. A eficácia e funcionalidade de uma equipa no seu conjunto depende
do cumprimento eficiente das suas missões tácticas específicas. Isto é sempre verdade, mas é premente nos
esquemas tácticos defensivos. Os jogadores que participam nos esquemas tácticos defensivos devem ter um
claro conhecimento das acções específicas da sua organização e das suas variantes (livres, pontapés de canto,
lançamentos da linha lateral, grandes penalidades, etc.), estar sempre preparados para assumir na eventuali-
dade as missões específicas do companheiro.
3.3. Concentração. Os lapsos de concentração são o maior problema dos esquemas tácticos defensivos. O
tempo necessário para a execução das situações de bola parada é o suficiente para se poder reajustar a posição,
as distâncias e a concentração psíquica dos jogadores por forma a prepararem a sua resolução (procurar o
adversário para marcar, ler a situação e antecipar as soluções que os atacantes procuram efectuar). Todavia,
se o dispositivo não estiver totalmente concretizado, os defesas deverão efectuar um esquema táctico defensi-
vo, tendo um carácter espontâneo.
4. Princípios. Os princípios fundamentais de orientação para a concepção dos esquemas tácticos, devem asse-
gurar os seguintes aspectos:
4.1. Nos livres directos ou indirectos. Potencialmente é um factor muito importante para a obtenção de
golos:
(1) No meio-campo do terreno de jogo. Os atacantes, nas situações de livre directo ou indirecto no meio-
campo, procuram repôr rapidamente a bola em jogo, por forma a aproveitar dois tipos de vantagem: i) pos-
sível lapso de concentração por parte dos defesas e, ii) explorar o espaço de jogo livre à sua frente (leis do
jogo). Em termos defensivos, um jogador deverá colocar-se imediatamente entre a bola e a baliza, procu-
rando concretizar os seguintes objectivos:
A. Bloquear a trajectória directa da bola em direcção à baliza, por
forma a que o atacante tenha que utilizar uma linha diferente, ou seja,
Foto cedida pelo jornal O JOGO
menos directa.
rectamente a situação de jogo, e por outro lado, pelos defesas que muitas vezes se preocupam mais em
argumentar com o árbitro do que em concentrar-se no esquema táctico defensivo.
B. Quem coordena a posição da barreira. Normalmente a coordenação da posição da barreira é feita
pelo guarda-redes com a ajuda de um companheiro, que se coloca perto da bola com as seguintes
intenções:
1. Ganhar o tempo suficiente para que os companheiros formem a barreira e evitar que o livre seja
executado rapidamente.
2. Não deixar que a bola mude de posição para dar
o correcto ponto referencial ao seu guarda-redes
para posicionamento da barreira num ângulo ideal.
C. O número de jogadores que formam a barreira.
O número de jogadores que formam a barreira
depende essencialmente dos seguintes factores:
1. Da distância da posição da bola em relação à bal-
iza.
2. Do ângulo, ou seja, no corredor central, ou corredores laterais.
Foto cedida pelo jornal O JOGO
dois comportamentos:
A. Cobrir o máximo possível da baliza através da formação da barreira com todos os jogadores, que
muitas vezes (devido às leis do jogo) terão que posicionar-se em cima da linha de golo. O guarda-redes
deverá colocar-se à frente e ao centro da barreira.
B. Uma vez efectuado o primeiro toque na bola toda a barreira de forma coesa e homogénea deve con-
vergir em
direcção à bola
diminuindo
assim o espaço
e o tempo do
atacante em
rematar.
4.2. Nos pontapés Figura 69. O número de jogadores que formam a barreira, em função da distância da baliza e do ângulo
de canto. A defesa
dos pontapés de
canto envolvem os mesmos princípios aplicados para os livres. Neste sentido, dever-se-á atender aos seguintes
pressupostos:
(1) Posicionar um defesa à frente da trajectória da bola movendo-se activamente de forma a:
A. Perturbar o atacante na marcação do pontapé de canto.
B. Obrigar o atacante a executar um cruzamento mais difícil.
C. Marcar de imediato o atacante se o canto for curto, por forma a evitar que este cruze para a grande
área;
(2) A posição do guarda-redes deve situar-se no meio da baliza de forma:
A. A observar a bola.
B. A trajectória da bola.
C. A situação dentro da grande área. Deverá igualmente evitar que o seu possí-vel deslocamento em
direcção ao primeiro poste não seja obstruído para poder intervir nesse espaço vital.
(3) No primeiro poste. Os pontapés de canto mais perigosos são os que são efectuados para o primeiro
poste, daí a necessidade de um especial cuidado no posicionamento dos defesas, neste sentido, coloca-se:
A. Um defesa que deverá assumir um posicionamento perto do poste e da linha de golo.
B. Dois defesas em que um destes assume um posicionamento à frente do companheiro e o outro ao
lado deste por forma a reforçar a defesa neste espaço vital. Estes dois defesas devem ter capacidades par-
ticulares de determinação em atacar a bola (ser o primeiro a chegar) e de cabecear eficientemente, preo-
cupando-se em marcar o espaço à
sua frente.
(4) No segundo poste. Posicionar
um defesa perto do segundo poste e
em cima da linha de golo. Este
jogador deverá ter o máximo de
atenção não só nos cruzamentos para
esse espaço, como as bolas que sejam
desviadas do primeiro poste para trás;
(5) A defesa do resto da pequena área
deve ser assumida através da colocação, no
mínimo, de três jogadores que marcam o
espaço e os adversários aí posicionados ou Figura 70. Organização básica do pontapé de canto em termos
que para aí possam deslocar-se. defensivos
226 Guia prático de exercícios de treino
pontapé de canto.
Foto 393. As situações de bola parada (esquemas tácticos) representam a coordenação das acções de vários jogadores que visam do ponto de vista ofen-
sivo as condições mais favoráveis para a concretização imediata do golo, e do ponto de vista defensivo assegurar a protecção máxima da baliza
228 Guia prático de exercícios de treino
229
Futebol
Guia prático de exercícios de treino CAPÍTULO 6
O SUBSISTEMA
TÁCTICO- ESTRATÉGICO
Parte UM
O SUBSISTEMA TÁCTICO-ESTRATÉGICO
Capítulo
Seis O jogo de futebol na actualidade levanta enormes exigências, em especial ao nível das
equipas de rendimentos superiores sendo possível prever que essas exigências irão aumentar
O subsis - no futuro próximo. Posto o problema neste plano, os limites da intervenção do treinador
tema tác - perante a sua equipa há muito que deixaram de ser "apenas" a aplicação de um conjunto de
exercícios de treino e da orientação táctica da equipa, através de uma intervenção mais ou
menos realista ou mais ou menos ardilosa durante a competição. Com efeito, a dificuldade
que envolve a preparação e maximização das capacidades e potencialidades de uma equipa
de futebol, determina a necessidade de o treinador ter uma visão simultaneamente global e
integradora de todos os elementos que influenciam de forma preponderante o rendimento
da equipa, através de uma planificação sistemática e dinâmica. Nestas circunstâncias, o sub-
sistema táctico-estratégico da organização do jogo de futebol expressa-se numa planificação
que analisa, define e sistematiza as diferentes operações inerentes à construção e desenvolvi-
mento de uma equipa. Organiza-as em função das finalidades, objectivos e previsões, escol-
hendo as decisões que visem o máximo de eficácia e funcionalidade da mesma.
1. Conceito de planificação
A planificação é definida como um método que analisa, define e sistematiza as diferentes
tico- operações inerentes à construção e desenvolvimento de uma equipa. Organiza-as em função
estraté- das finalidades, objectivos e previsões (a curta, média, ou longa distância), escolhendo-se as
decisões que visem o máximo de eficácia e funcionalidade da mesma. Traduzem, em última
gico análise, não só uma preparação prévia para a competição, como também transformam as
soluções em atitudes e comportamentos técnico-tácticas com vista à resolução dos contextos
situacionais de jogo.
Parte UM
Capítulo 2. A natureza da planificação
A natureza da planificação evidencia quatro elementos de base que o constituem:
Seis 2.1. A orientação para o futuro. A planificação é uma representação das operações de
O subsis - uma equipa tendo em conta, na sua análise: i) a situação actual do sistema, isto é, da orga-
tema tác - nização da equipa, ii) os resultados e consequências antecipadas das diferentes acções esta-
belecidas e produzidas e, iii) as novas configurações desejáveis da organização da equipa.
tico- 2.2. Toma o contexto competitivo em consideração. A planificação promove as relações
estraté- entre a organização da equipa e o contexto competitivo em que esta está inserida. Neste
sentido, a planificação deve analisar constantemente: (1) as equipas adversárias, especial-
gico mente ao nível das suas expressões técnico-tácticas e, (2) o contexto em que as dife-rentes
competições irão decorrer (e suas modificações).
2.3. A continuidade do processo. A planificação é um processo contínuo e global. Com
efeito, a planificação está no centro da dinâmica de uma organização. Nunca pára. A plani-
ficação é um processo que implica todos os elementos da equipa (incluindo, para além dos
jogadores e equipa técnica, os dirigentes), devendo assim todos estar ao corrente das final-
idades, objectivos e intenções.
2.4. Consubstancia planos para transformação da realidade presente. Isto significa que
a planificação deve conduzir a planos que descrevem como passar da situação actual para
uma situação mais desejável.
3. Objectivos da planificação
A organização de uma equipa de futebol constrói-se e desenvolve-se num contexto (meio)
A organização dinâmica do jogo de futebol 231
competitivo que se caracteriza, por um lado, pelo ritmo de mudança, e por outro, pela com- Parte UM
plexidade dessa mudança. Estas características (ritmo e complexidade de mudança) desafiam
e provocam a organização da equipa na sua dinâmica e na sua estruturação. Nestas circun- Capítulo
stâncias, a planificação ao analisar, definir e sistematizar as diferentes operações inerentes à Seis
construção e desenvolvimento de uma equipa de futebol, fornece à sua organização, o con-
junto de meios gerais e específicos de orientação e coordenação das acções da equipa. O subsis -
Partindo desta análise a equipa de futebol estrutura-se continuamente, procurando uma mel- tema tác -
hor eficiência, a qual se consubstancia na relação directa com a adapta-bilidade às mudanças
do contexto competitivo. Com efeito, o papel da planificação, em última análise, consiste em
fornecer um guia de acção na organização com vista a facilitar o alcance dos seus objectivos:
(1) incrementando a sua eficácia, (2) incrementando a sua estabilidade e, (3) incrementando
a sua adaptabilidade no seio do meio competitivo. Concluindo, os objectivos da planificação
consistem em: (1) assinalar as situações vantajosas para a organização, (2) a antecipação e a
resolução dos problemas previstos e, (3) a formulação de planos de acção.
4. Os níveis da planificação
Distinguem-se geralmente três níveis de planificação: a planificação conceptual, a
planificação estratégica e a planificação táctica.
4.1. A planificação conceptual caracteriza-se pela construção de um modelo de jogo da
equipa, sendo alicerçado em três vertentes fundamentais: (1) da concepção do jogo por
parte do treinador, isto é, as suas perspectivas e ideias, (2) da análise das particularidades tico-
e potencialidades dos jogadores que constituem a equipa e, (3) das tendências evolutivas estraté-
no presente e no futuro do jogo de futebol.
4.2. A planificação estratégica caracteriza-se pela escolha das estratégias mais eficazes em gico
função de três vertentes fundamentais: (1) do conhecimento da expressão táctica da
própria equipa, (2) do conhecimento e do estudo das condições objectivas sobre as quais
se realizará a futura confrontação desportiva. Fazem parte deste conhecimento a expressão Parte UM
táctica da equipa adversária, o terreno de jogo, as condições e circunstâncias em que este Capítulo
se vai desenrolar e, (3) das adaptações à funcionalidade de base da equipa, que são função
das duas vertentes anteriores, por forma a criar as condições mais desfavoráveis à equipa
Seis
adversária e mais favoráveis à própria equipa durante o confronto competitivo. O subsis -
4.3. A planificação táctica caracteriza-se pela aplicação prática, isto é, pelo carácter aplica- tema tác -
tivo e operativo da planificação conceptual e da planificação estratégica durante o desen-
rolar do jogo e em função de um conjunto de factores, tais como: as modificações das tico-
condições climatéricas, as condições do terreno de jogo, o resultado numérico momentâ- estraté-
neo do jogo, do tempo de jogo e das modificações pontuais da táctica da equipa adver-
sária, determinam a aplicação de certas medidas especiais tomadas pelo treinador que gico
procuram constantemente: (1) melhorar a organização da equipa no terreno de jogo, (2)
utilizar acções técnico-tácticas com fins precisos, (3) melhorar a capacidade de colabo-
ração entre os sectores da equipa, ou entre 2 ou 3 jogadores, que numa certa fase do jogo,
objectivam conjunturas favoráveis à con-
cretização dos objectivos preestabeleci-
dos e, (4) a capacidade de passar rapida-
mente de um sistema de jogo ou de um
método de jogo para outro durante a
competição, com vista à concretização
Figura 71. Os níveis da planificação do subsistema táctico-
dos objectivos preestabelecidos para um
estratégico da organização dinâmica da equipa determinado confronto competitivo.
232 Guia prático de exercícios de treino
A planificação conceptual
e determinar os objectivos da próxima época desportiva. Basicamente este modelo deverá corresponder a três
vertentes fundamentais: (1) às concepções de jogo do treinador que derivam do seus conhecimentos teóricos
sobre o futebol e das suas próprias experiências adquiridas ao longo da sua actividade profissional, (2) as
tendências evolutivas, tanto dos jogadores como do jogo e, (3) às capacidades, particularidades e especifici-
dades dos jogadores que constituem a equipa. Neste contexto, compara-se objectivamente a análise dos aspec-
tos individuais e colectivos da equipa com o modelo organizativo que se pretende que esta tenha no futuro.
Estabelece-se paralelamente a formação da equipa para a nova época desportiva, definindo: a) o número de
jogadores que formam a equipa e, b) as bases de escolha dos jogadores.
3.3. Elaborar os programas de acção pragmática que consubstanciam um processo de evolução controlada da
organização da equipa direccionando-a para um modelo de jogo pré-determinado, definindo simultanea-
mente as orientações do trabalho da equipa e os meios e métodos de treino para atingir os efeitos pretendi-
dos.
hamos os seguintes:
1. Razões fundamentais do sucesso ou insucesso da equipa. Momentos críticos e os momentos vitoriosos do
rendimento da equipa.
2. Evolução classificativa da equipa ao longo do campeonato.
3. As diferentes constituições da equipa e as particularidades dessas alterações. Quais as possibilidades de
adaptação de cada jogador no sector defensivo, médio ou atacante.
4. Tendências da evolução da equipa e dos jogadores e a sua capacidade de rendimento.
5. Número de golos e de que forma foram conseguidos e consentidos.
6. Tipo de lesões (roturas, distensões, fracturas, etc.), tempo médio de tratamento e o tempo de inactividade
competitiva.
7. Comportamento desportivo dos jogadores da equipa dentro do terreno de jogo. Castigos (cartões amare-
los, ou vermelhos), as razões destes (a favor da equipa, por exemplo: evitar que o adversário de posse de bola
progredisse isolado para a baliza, ou contra a equipa, por exemplo: discutir com o árbitro, agredir o adver-
sário, etc.).
8. Carga de treino e a assiduidade dos jogadores.
9. Carga de competição para cada jogador.
10. Comportamento desportivo dos jogadores da equipa fora do campo. Níveis de conflito interpessoal.
escolha por parte do treinador do modelo de jogo, que em última análise consubstancia a organização eficaz de
uma equipa de futebol, é aplicada pelos jogadores que a constituem. Obedece basicamente a um critério funda-
mental: a concepção de jogo por parte do treinador que deriva dos seus conhecimentos sobre o futebol, que para
além das questões ligadas à eficácia e à funcionalidade da equipa, deverá apresentar-se sob três características
essenciais:
1. Um carácter progressista. Isto significa que a concepção deverá atender às grandes tendências evolutivas
do jogo e às suas perspectivas de desenvolvimento: no plano dos regulamentos do jogo, no plano técnico, no
plano táctico, no plano físico, no plano psicológico e no plano social. Neste sentido, a concepção de jogo deve-
rá corresponder, ou mesmo ultrapassar, se possível, a orientação das melhores equipas, tanto interna como
internacionalmente.
2. Um carácter adaptativo. A concepção deverá atender à especificidade das características dos jogadores que
compõem a equipa, por forma a que estes possam exprimir natural e eficazmente as suas próprias capacidades
interligando-as e através delas a equipa responda como um todo homogeneamente. Este carácter adaptativo
deve igualmente ter em perspectiva as transformações (modificações) pontuais possíveis e as tendências evo-
lutivas do jogo, para a construção de um jogador mais autónomo e mais eficiente, sendo este encara-do como
um elemento em constante formação e evolução.
3. A experiência e a capacidade intelectual do treinador são os factores preponderantes na construção de um
modelo de jogo. Não se pode implantar ou executar aquilo que não se sabe, que não se domina com suficiente
segurança. Daí a necessidade de o treinador retirar da sua experiência e da sua capacidade de equacionar e
reflectir constante e continuamente os elementos fundamentais do modelo de jogo e as suas interdependên-
cias, os quais determinam, em última análise, a eficácia da organização da equipa.
mesmo jogo. O modelo é "uma criação antecipativa, fundamentada numa realidade existente, onde a analogia
crítica está sempre presente e que pressupõe na maioria dos casos um grau maior ou menor de simplificação e
cujas vantagens práticas serão uma economia de meios e tempo. Assim, a plasticidade do modelo de jogo, que
deverá ser óptimo para um dado momento, será transformável e aperfeiçoado através da acção principal do
modelo de preparação. Importa salientar dentro deste contexto, que não devemos encarar este fenómeno de uma
forma estática, mas sim fazendo da mudança um princípio heterogéneo, por a forma que se traduza para qual-
quer observador imparcial a apreensão instantânea e artificial de uma realidade móvel. Porquanto esta análise
não é mais que a intersecção no tempo e no espaço dos processos em vias de mudança e desenvolvimento, sendo
impossível captar esses factos se não compreendermos os processos que lhe são inerentes, processos esses de dois
tipos: i) os que se repetem ciclicamente durante o jogo (por exemplo as acções técnico-tácticas) e, (2) as acu-
mulativas, ou direccionais, que se produzem num nível "histórico/progressivo" de transformação do sistema.
Com efeito, estes dois processos são recorrentes, isto é, encontram-se misturados em proporções diversas den-
tro do contexto do futebol, sendo uma ou outra predominante em função da concepção de jogo, ou seja, das
particularidades evidenciadas pelas equipas. Todavia, independentemente dessa concepção, é necessário ter
cons-ciência que a rede de ligação entre os factores de competição (técnico-tácticas, físicas, psicológicas e soci-
oló-gicas) é tão apertada, que as consequências de qualquer alteração de uma delas tem de ter de imediato reper-
cussões em todas as outras. Do que foi referido, não se entenda que a evolução do jogo é desconexo ou assimétri-
co, pois há que ter presente que todas as formas jogadas são auto-formais, isto é, as mais simples evoluem para
as mais lógicas, mais racionais e mais eficazes. Existe assim, um "motor íntimo do sistema " em que se observa
a influência recíproca entre todos os factores, só que, em certos momentos, uns são preponderantes em relação
aos outros, no trajecto da evolução do jogo. Esta perspectiva relacional formaliza igualmente que todas as trans-
formações operadas e inerentes à lógica do jogo, que proporcionam novas soluções para os problemas levanta-
dos pelas situações, não o conduzem para fora das suas fronteiras, consubstanciam antes, uma estrutura mais
ampla e enriquecida.
Concluindo, na formação de uma equipa de futebol, para além dos aspectos básicos do ponto de vista
cultural, estrutural, metodológico, relacional e técnico-táctico inerentes à organização de um colectivo, é
necessário atender a três questões fundamentais:
1. Ultrapassar conflitos. Seja qual for o nível competitivo em que a equipa se insere, existirão sempre confli-
tos com uma maior ou menor frequência, ou com uma maior ou menor duração. Estes conflitos estabelecem-
se basicamente entre jogadores (em função dos grupos que se
formam, em função dos jovens e menos jovens, entre os que
jogam e os que não jogam, entre os que auferem maiores e
menores recompensas económicas, etc.), entre os jogadores e
o treinador, entre os jogadores e os directores do Clube, etc.
Neste contexto, sendo o conflito uma situação "normal" é
preciso ultrapassá-la rapidamente de forma a: i) que estes
tenham o mínimo de repercussões ao nível do rendimento
competitivo da equipa e, (2) tirar vantagens desses conflitos
por forma a desenvolver novas motivações, enriquecendo as
mútuas relações da equipa. Seguramente, não existe nenhu-
ma receita para ultrapassar, de forma correcta, os conflitos
que derivam das divergências entre os elementos que con-
stituem a equipa. Neste sentido, o treinador terá que "con-
formar-se" com determinadas condições não alteráveis.
Todavia, deverá mantê-los entre parâmetros controláveis e
razoáveis, respeitando as pessoas e os seus estados emo-
cionais.
2. Seleccionar talentos. Uma das funções fundamentais do
treinador no processo de formação de uma equipa de futebol,
a curto e médio prazo, é de seleccionar talentos e utilizá-los
sempre que possível, independentemente de serem jovens e
desconhecidos. Neste sentido, os Clubes para além de terem
um sector de formação constituído por equipas de futebol de
diferentes grupos etários (escolas, infantis, iniciados, juvenis,
juniores) e treinadores especializados que dirigem a sua
evolução desportiva, necessitam igualmente de uma grande Figura 76. Modelo de formação de uma equipa de futebol
rede de observadores para acompanhar os diferentes (segundo Bauer e Ueberle, 1982)
A organização dinâmica do jogo de futebol 239
D.3
temática do modelo de jogo a atingir pela equipa no futuro, que por sua vez, e como referimos, deve reproduzir
a actividade competitiva na qual a equipa está inserida. Desta forma seleccionam-se meios, métodos e condições
de treino que exercem sobre o organismo dos jogadores um estímulo eficaz que dê resposta aos problemas lig-
ados à melhoria funcional (biológica), técnica, táctica e psicológica, quer no plano individual, quer no plano da
equipa no seu conjunto.
Do referido, não significa que em certos momentos da preparação da equipa, não se privilegiem pro-
gramas de acção com direcção unilateral, isto é, quase utilizem programas que compreendem meios e métodos
que estão principalmente dirigidos para a resolução de um problema concreto, qualquer que este seja, quer no
plano do aperfeiçoamento de uma dada situação de jogo, quer no desenvolvimento de uma certa capacidade
condicional.
A planificação estratégica
4.2. Específicos. Qualquer das equipas não têm nenhuma possibilidade de conhecer
"chave" por forma a favorecer o início e o desenvolvimento tanto do ataque como da defesa com os melhores
jogadores (especialistas), ii) a distribuição das tarefas tácticas inerentes aos diferentes jogadores em função do
seu posicionamento e da sua circulação dentro do dispositivo da equipa, bem como, iii) a concordância efec-
tiva entre o método de jogo ofensivo e do método de jogo defensivo por forma a possibilitar um ritmo e um
sincronismo favorável de execução técnico-táctica individual e colectiva, entre outros e variedissimos aspec-
tos da funcionalidade da equipa não devem ser prejudicados, em termos de eficácia, pelo plano estratégico.
Pois, tal como foi referido, o objectivo desta planificação é de criar as condições desfavoráveis para a equipa
adversária e vantajosas para a própria equipa, e não ao contrário. Logo, não deverá ser um elemento pertur-
bador, mas sim catalizador de um melhor rendimento da equipa. Nestas circunstâncias, poderá não haver
qualquer tipo de vantagens de se procurar aproveitar os aspectos menos positivos da equipa adversária, a não
ser em certos aspectos específicos, por exemplo: a organização dos esquemas tácticos ofensivos e defensivos,
marcação individual de um determinado adversário devido à sua capacidade técnico-táctica, etc. Com efeito,
é preciso ter em atenção que "as modificações introduzidas não devem perturbar ou constituir-se como fac-
tores de perturbação da funcionalidade de base da expressão táctica da equipa, pelo contrário, estas modifi-
cações deverão consubstanciar um processo de optimização da funcionalidade da equipa, imprimindo-lhe em
termos de eficácia uma qualidade nova" (Teodorescu, 1984).
a experimentação do plano táctico-estratégico, (7) a preparação da equipa nas horas que antecedem o jogo e, (8)
a reunião de análise do jogo.
(6) A escolha dos elementos que irão constituir a equipa (universalistas, especialistas, coordenadores).
(7) As missões tácticas individuais (especiais) dos jogadores.
(8) O comportamento global da equipa.
Devido à importância desta etapa na planificação estratégia iremos analisá-la subdividindo-a hierar-
quicamente nas seguintes vertentes: a orientação geral do jogo colectivo, a adaptação dos métodos de jogo da
equipa em função das particularidades da expressão táctica adversária, planeamento das acções tácticas difer-
entes por forma a surpreender o adversário, constituição da equipa e a distribuição das missões tácticas.
(3) Se a equipa adversária é desconhecida a determinação da parte fundamental torna-se mais complexa. No
entanto recomenda-se que a equipa tome e mantenha a iniciativa do jogo desde o seu início por forma a sur-
A organização dinâmica do jogo de futebol 247
preender o adversário, sem contudo, descuidar o equilíbrio e a organização defensiva, por forma a consolidar
os sucessos do ataque.
A orientação geral do jogo colectivo também pode ser influenciada pelo facto de se jogar em casa, ou
no terreno do adversário. Neste sentido, para o primeiro caso, seja qual for a classificação da equipa esta não
poderá "dar-se ao luxo" de perder no seu próprio terreno. Logo, o treinador procurará que a sua equipa tenha a
iniciativa do jogo, dando assim, preponderância ao ataque, sendo consequência da sua expressão colectiva, con-
substanciado num domínio desde o início do jogo. No segundo caso, a orientação geral do jogo colectivo quan-
do a equipa se desloca ao terreno do adversário, parte basicamente de uma "aceitação" do domínio desta, dando
assim, preponderância à defesa, não descurando a possibilidade de contra-atacar sempre que for possível.
não é exclusivo de um só treinador, nem de uma só equipa, mas pelo contrário se encontra disseminada a dife-
rentes níveis por quase todas equipas e treinadores. Não será de admirar que o conhecimento das diferentes
equipas, por parte dos diferentes treinadores, numa dada competição desportiva (por exemplo: Campeonato
Nacional), seja basicamente igual. Podemos assim afirmar que num determinado confronto, existe como que um
conhecimento recíproco das expressões tácticas das equipas. Esta realidade apresenta todas as vantagens em ten-
tar-se, simultaneamente à elaboração do plano táctico estabelecer, algumas medidas e acções tácticas dife-rentes
que constituirão acções surpresa contra o adversário, mesmo que hipoteticamente. "Mais ainda, existem reais
possibilidades de antecipar as prováveis variantes do comportamento técnico-táctico individual e colectivo dos
adversários, levando-os a reagir dum certo modo que lhes seja desfavorável, mas por outro lado, muito vanta-
joso para a própria equipa" (Teodorescu, 1984).
7.3.4. Constituição da
equipa
Uma vez
elaborado o
plano táctico-
estratégico, o
treinador determi-
nará a constituição da
equipa que considera capaz
de o aplicar, partindo do pres-
suposto que esta deve ter como
parâmetro essencial "a eficácia, e
implicitamente a funcionalidade, da qual Figura 79. Planear acções tácticas diferentes por forma a
se assegura aquela eficácia" (Teodorescu, surpreender o adversário
1984). No entanto, é preciso ter em mente, que a constituição da equipa é uma das "áreas mais sensíveis" da
dialéctica que se esta-belece entre o grupo de jogadores que formam a equipa e o treinador que é o responsável
máximo (enquadran-do-se plenamente dentro das suas competências profissionais) pela gestão desses recursos
humanos. Todavia, o treinador deve aperceber-se que a constituição da equipa é um fenómeno que fascina a
larga maioria das pessoas que se interessam pelo futebol, sentido-se capazes de a indicar a qualquer momento,
sob quaisquer circunstâncias. Contudo, esquecem-se que a constituição de uma equipa de futebol é objectivada,
por um lado, pela direccionalidade das diferentes actividades essenciais dos jogadores e, por outro, pela inte-
gração e coerência interna do grupo através de orientações claras. A escolha dos jogadores que irão fazer parte
da equipa para um determinado confronto, não pode fugir aos aspectos evidenciados por estes objectivos. Logo,
a constituição da equipa deverá passar, numa primeira análise, por dois critérios básicos:
(1) O primeiro é consubstanciado pela escolha e distribuição por lugares no contexto dos sectores (defensi-
vo, médio e atacante) da equipa, em função da necessidade de assegurar a funcionalidade da táctica de base
da equipa.
(2) O segundo é traduzido pela escolha de jogadores que estabelecem a adaptação da funcionalidade de base
da equipa, em função das características da expressão táctica da equipa adversária, conferindo-lhe uma fun-
cionalidade específica com carácter temporário (só para aquele jogo).
Para além dos critérios fundamentais acima referidos dever-se-ão tomar igualmente em consideração
os seguintes aspectos:
(1) O estado de capacidade de rendimento óptimo em que os diferentes jogadores se encontram, isto é, a sua
forma desportiva.
(2) A personalidade dos jogadores, que se expressa nas relações e interrelações de cooperação e de oposição
A organização dinâmica do jogo de futebol 249
com os companheiros e adversários, num quadro complexo em virtude das suas funções específicas e da vari-
abilidade-imprevisibilidade das diferentes situações de jogo.
(3) A ligação entre os jogadores, do ponto de vista social, mas principalmente no que se refere à compreen-
são e resolução táctica das situações de jogo, utilizando para isso os mesmos princípios orientadores que coor-
denam as atitudes e comportamentos técnico-tácticos.
(4) O facto da equipa se encontrar mal ou bem classificada em função das metas e objectivos delineados no
princípio da época desportiva. Neste sentido, as más classificações que derivam da acumulação de maus resul-
tados fazem com que o treinador tenha a necessidade de mudar qualquer coisa, mesmo que não esteja con-
vencido antecipadamente das possibilidades do sucesso.
(5) No caso inverso, a equipa ao encontrar-se bem classificada, deverá manter a mesma constituição da
equipa, procurando assegurar a dinâmica de vitória e prolongá-la o máximo de tempo possível. O treinador
deverá, nestas circunstâncias, fazer sentir aos jogadores a necessidade de aumentar as exigências com o in-
tuito de valorizar as suas prestações anteriores como expressão normal das qualidades de cada um.
Importa referir, que embora a constituição da equipa de base para o jogo seja estabelecida, na sua
globalidade, alguns dias antes da competição, isso não significa que esta seja inalterável. Com efeito, é impor-
tante ao longo do ciclo de preparação da equipa (microciclo de treino) que se reavalie constantemente a equipa
em termos colectivos e individuais, as opções que derivam não só da capacidade dos jogadores considerados
suplentes, mas também do seu empenhamento neste e nos períodos de preparação anteriores. Partindo do
princípio que uma equipa de futebol é uma globalidade, sendo definida por um conjunto complexo de repre-
sentações, valores, finalidades, objectivos, símbolos, etc., partilhados em interacção por todos os jogadores que
estabelecem as formas como a equipa encara e conduz a competição. Cada jogador dentro da equipa adere a
uma "visão comum", sabendo à priori o lugar que ocupa em relação aos seus colegas, tendo uma ideia precisa
das suas tarefas e missões tácticas dentro da equipa, o que a equipa espera dele e a melhor forma de ele corres-
ponder a essa expectativa. Consequentemente, as decisões tomadas pelo treinador, no que concerne à constitu-
ição da equipa deverão ser realizadas de forma isenta não manifestando qualquer preferência individual. Neste
sentido, todas as decisões deverão ser tomadas a partir de factos concretos e critérios definidos (no plano con-
ceptual, por exemplo). Assim, a consistência interna de uma equipa será tanto maior quanto as decisões forem
tomadas a partir da coerência dos factos e não baseadas nas pessoas (jogadores), ou por outras palavras, nada
destrói tão facilmente a coerência interna do grupo se as orientações no que se refere à constituição da equipa
não se basearem em atitudes e comportamentos coerentes por parte do treinador. Paralelamente é necessário
que todos (jogadores, directores, sócios, etc.) estejam conscientes, a qualquer momento, que a constituição da
equipa é (foi) decidida com a clara intenção de se atingir o melhor resultado possível. "Uma constituição justa
não é necessariamente a mais acertada. Uma equipa acertada não é necessariamente justa. Antes do jogo se
realizar há que actuar com critérios de justiça e coerência, se foi ou não acertada só no final do jogo se verá"
(Bauer e Ueberle, 1982).
as missões tácticas individuais e as missões tácticas colectivas. Com efeito, as primeiras devem subordinar-se às
segundas, enquanto que estas deverão favorecer a realização das primeiras, isto é, não perturbando a iniciativa
dos jogadores. Por último, todas as missões tácticas atribuídas deverão ser do conhecimento de todos os ele-
mentos da equipa (incluindo os suplentes) contribuindo-se assim, para um melhor entendimento entre os
jogadores. Nestas circunstâncias, é possível para qualquer jogador em qualquer momento do jogo, ocupar rápi-
da e espontaneamente um lugar e uma missão táctica de um seu companhei-ro, mantendo-se a dinâmica orga-
nizativa da equipa. Muda-se assim momentaneamente de lugar e funções, mas nunca de responsabilidades, orga-
nização e soli-
dariedade.
7.4. Reunião de
reconhecimento do
adversário
A
reunião de recon-
hecimento da
equipa adversária
constitui-se como a
primeira etapa de
carácter teórico da
planificação
estratégica de
preparação da Figura 80. Factores que influenciam a constituição da equipa
equipa para a com-
petição, e visa essencialmente, tal como a sua denominação indica, dar a conhecer aos jogadores, através da
palavra do treinador, os aspectos conside-rados mais pertinentes da organização da equipa adversária. Esta
reunião versará, neste contexto, aspectos técnicos, tácticos, físicos e psicológicos evidenciados pelo seu modelo
de jogo.
1. Importância. A importância da reunião de reconhecimento da equipa adversária decorre do facto de se
consubstanciar, de forma específica, um ciclo de preparação para a competição, traduzido pelos conhecimen-
tos sobre a equipa adversária. Tal como referimos, quando os jogadores são advertidos para as características
do modelo de jogo da equipa em termos gerais, e dos adversários directos em particular, poderão percep-
cionar/analisar a situação de jogo mais rápida e eficazmente, influenciando, por consequência, de forma posi-
tiva a resposta adequada. A importância desta reunião é determinada igualmente pela harmonização dos
divergentes conhecimentos que os diferentes jogadores têm da equipa adversária, baseado em opiniões pes-
soais adquiridas ao longo da sua experiência e pelos meios de informação especializada e não especializada.
2. Objectivos. O objectivo da reunião de reconhecimento da equipa adversária é o de dar a conhecer, sem
sobre nem subestimar o valor dos jogadores e o seu modelo de jogo, analisando de forma sucinta os aspectos
gerais e específicos a partir dos quais se estabelece as suas bases fundamentais. Analisam-se, neste contexto,
as potencialidades da equipa adversária, por forma a minimizá-las, e as suas vulnerabilidades, para tirar par-
tido destas.
3. Meios. A reunião de reconhecimento da equipa adversária poderá ser realizada na cabina onde habitual-
mente os jogadores se equipam, ou numa sala apropriada para o efeito, dentro das instalações do clube. Os
meios específicos a utilizar na reunião de reconhecimento da equipa adversária são os audiovisuais (video-
cassetes), os quadros ou maquetes do terreno de jogo com peças móveis.
4. Princípios. A condução e a direcção da reunião de reconhecimento da equipa adversária, é da responsa-
bilidade do treinador principal que organizará e sistematizará a metodologia de exposição à equipa. Todavia,
A organização dinâmica do jogo de futebol 251
este poderá ser coadjuvado na sua acção pelos seus colaboradores, que poderão dirigir-se aos jogadores para
explicarem as características gerais e específicas do modelo de jogo da equipa adversária. Participam nesta
reunião de reconhecimento da equipa adversária todos os jogadores que constituem o plantel da equipa e a
equipa técnica (treinador principal e adjuntos). O momento ideal para a realização da reunião de reconhe-
cimento da equipa adversária situa-se a 3 ou 4 dias da competição. A duração da reunião não deverá ultra-
passar os 20 minutos, para que os jogadores concentrem a sua atenção nos aspectos e indicações transmitidos
pela exposição do treinador ou auxiliares. O princípio específico desta reunião baseia-se essencialmente, na
observação/análise da equipa adversária por parte do treinador.
5. Metodologia. A metodologia da reunião de reconhecimento da equipa adversária visará fundamentalmente
aspectos tácticos-estratégicos, na qual o treinador, tendo em atenção o nível de especificidade do discurso dev-
erá dirigir o pensamento dos jogadores para a caracterização da equipa adversária, incidindo essencialmente
nos seguintes aspectos: (1) na colocação de base dos jogadores no terreno de jogo (sistema de jogo 4:4:2, 4:3:3,
etc.), (2) na forma geral de organização tanto do ataque como da defesa (o método de jogo ofensivo - con-
tra/ataque, ataque rápido, ataque posicional, etc., e o método de jogo defensivo - defesa zona, defesa mista,
defesa zona pressionante, etc.), (3) nas diferentes acções técnico-tácticas individuais e colectivas e a sua uti-
lização durante o jogo (compensações, combinações tácticas, coerência de movimentação, etc.), (4) na
"filosofia" de jogo da equipa (agressividade, eficácia, entreajuda, ritmo, etc.), (5) nos jogadores que são fun-
damentais na organização da equipa, nas fases ofensiva e defensiva (coordenadores de jogo), (6) nas soluções
das situações de bola parada (esquemas tácticos), (7) nas atitudes e comportamentos sócio-psicológicos dos
jogadores e da equipa no seu conjunto em situações de adversidade e, (8) no tipo de relação com o árbitro e
árbitros assistentes.
Para um microciclo competitivo com 5 dias de intervalo entre dois jogos, este deverá assumir as
seguintes características fundamentais:
1º Dia. Esta sessão de treino apre-
senta basicamente os pressupostos
referidos para o primeiro dia de
preparação do microciclo anterior.
Com efeito, a sessão de treino visa o
melhoramento das capacidades téc-
nico-tácticas dos jogadores que não
competiram e a recuperação dos
outros jogadores.
2º Dia. Esta sessão de treino apre- Figura 81. Planeamento de um microciclo de treino com seis dias de intervalo entre duas
competições
senta basicamente os pressupostos
referidos para o segundo dia de preparação do microciclo anterior. Neste contexto, a sessão de treino visa o
melhoramento das capacidades físicas gerais e específicas de todos os jogadores da equipa, tanto quanto pos-
sível, num regime técnico-táctico de execução.
3º Dia. O terceiro dia de preparação da equipa é especialmente concebido para um aumento máximo da inten-
sidade e um grande volume na execução dos exercícios propostos. A sessão de treino é fundamentalmente
direccionada para a dominante técnico-táctica, em regime de melhoramento das capacidades físicas específi-
A organização dinâmica do jogo de futebol 253
Para um microciclo competitivo com três jogos, deverá assumir as seguintes características funda-
mentais:
1º Dia. Esta sessão de treino apresen-
ta basicamente os pressupostos
referidos para o primeiro dia de
preparação do microciclo anterior.
Com efeito, a sessão de treino visa o
melhoramento das capacidades técni-
co-tácticas dos jogadores que não
competiram e a recuperação dos out-
ros jogadores.
2º Dia. O segundo dia de preparação
da equipa, apresenta basicamente os
pressupostos referidos para o quinto Figura 82. Planeamento de um microciclo de treino com cinco dias de intervalo entre duas
competições
dia de preparação do microciclo
anterior. Neste sentido, a sessão de treino visa não só a conservação das capacidades técnicas, tácticas e físi-
cas dos jogadores, como a diminuição da pressão psicológica sobre estes.
3º Dia. O terceiro dia de preparação da equipa apresenta basicamente os pressupostos referidos para o
primeiro dia de preparação do presente microciclo. Com efeito, a sessão de treino visa o melhoramento das
capacidades técnico-tácticas dos jogadores que não competiram e a recuperação dos outros jogadores.
4º Dia. O quarto dia de preparação tem como objectivo fundamental o afinamento da organização ofensiva e
defensiva da equipa e do seu plano táctico/estratégico. Neste contexto, a sessão de treino deve ter como domi-
nante o factor técnico-táctico num regime de grande volume e de intensidade média.
5º Dia. O quinto dia de preparação da equipa, apresenta basicamente os pressupostos referidos para o segun-
do dia de preparação do presente microciclo. Neste sentido, a sessão de treino visa não só a conservação das
capacidades técnicas, tácticas e físicas dos jogadores como a diminuição da pressão psicológica sobre estes.
podem suceder durante o jogo de treino entre os jogadores, porque poderão originar lesões impeditivas destes
darem o seu contributo na competição.
2. Objectivos. A reunião de preparação para o jogo caracterizada pela seriedade e solenidade, consubstancia-
se essencialmente no afinar e finalizar a compreensão por parte dos jogadores da forma como irá ser aplica-
do o plano estratégico. Com efeito, e segundo Teodorescu (1984, a reunião de preparação poderá evidenciar
os seguintes objectivos:
(1) Precisar de forma conclusiva as diferentes missões tácticas individuais e a forma segundo a qual os
jogadores irão colaborar com os seus companheiros que têm missões tácticas especiais a cumprir (durante
os esquemas tácticos defensivos, por exemplo: a formação da barreira e a sua coordenação com as infor-
mações do guarda-redes, marcar os postes da baliza e as zonas do 1º e do 2º postes durante a execução dos
pontapés de canto, etc.).
(2) Contribuir para ultrapassar o estado emotivo e para o estabelecimento no seio da equipa de um senti-
mento positivo, eliminando, neste sentido, influências perturbadoras.
(3) Apreciação final das características e das potencialidades dos adversários, sem as sobrestimar nem as
subestimar.
(4) Estimular as componentes volitivas e morais.
(5) Desenvolver algumas medidas que prevejam situações para o caso de se conseguir uma vantagem, ou
pelo contrário, uma desvantagem durante o jogo.
(6) Melhorar o nível de preparação teórica dos jogadores para esse jogo em especial e para os jogos
seguintes em geral.
3. Meios. A reunião de preparação para o jogo deverá ser levada a efeito num local apropriado devendo ser
calmo e agradável (habitual, no caso de jogos em casa, e poder-se-á utilizar por exemplo a sala do hotel aquan-
do dos jogos fora), durante o qual os jogadores estejam isolados, sem se preocuparem com outras actividades.
Durante a realização da reunião dever-se-ão utilizar quadros ou maquetas do campo de jogo com peças
móveis (que representam jogadores), para que seja possível uma fácil, clara e orientada representação mental
dos elementos da equipa sobre a exposição do treinador.
4. Princípios. Cabe ao treinador principal a condução e a direcção da reunião de preparação para o jogo.
Todavia, este poderá ser coadjuvado na sua acção pelos seus colaboradores que poderão dirigir-se aos
jogadores para explicarem e demonstrarem certos aspectos específicos, principalmente no que diz respeito à
equipa adversária. Com efeito, é preciso que fique claro, que toda a organização dos temas, quer no plano téc-
nico, táctico, físico, psicológico, etc., a sua sistematização e metodologia de exposição à equipa, é da total
responsabilidade do treinador. Participam nestas reuniões de preparação para o jogo fundamentalmente os
jogadores convocados pelo treinador para esse efeito e a equipa técnica (treinador principal e adjuntos). A
participação de outras pessoas para além destas (director do clube por exemplo) só é recomendável quando
este acompanha diariamente as diferentes actividades (treinos, reuniões, etc.) da equipa, independentemente
do valor da equipa adversária e da importância do jogo. Se este elemento, por razões imperativas, tiver que
A organização dinâmica do jogo de futebol 257
usar da palavra deverá fazê-lo (em função do tema) logo no princípio da reunião ou no final desta. A reunião
de preparação para o jogo situa-se no tempo entre as 24 e as 2 horas antes do começo do jogo. Basicamente,
a hora da reunião deverá ser a mesma durante todo o período competitivo. Todavia, a amplitude temporal
evidenciada é função de três aspectos essenciais:
(1) Da capacidade dos diferentes elementos que constituem a própria equipa se concentrarem e com-
preenderem as diferentes missões tácticas que irão desempenhar no jogo, bem como reflectirem o seu com-
portamento individual em função de um projecto colectivo (finalidade).
(2) Da dificuldade e complexidade do cumprimento dos objectivos estabelecidos para esse jogo. Com
efeito, quanto maior e fulcral for essa concretização (por exemplo: a equipa adversária ser do mesmo nível,
ou de um nível de eficácia superior), mais distante no tempo, em nossa opinião, a reunião deverá situar-
se. Isto é devido fundamentalmente a evitar situações de hiperexcitação até muito próximo do começo do
jogo.
(3) Dos tratamentos médicos que alguns jogadores, considerados chave, deverão realizar muitas horas
antes do jogo, para que produzam efeito. Neste contexto, haverá a necessidade do treinador indicar ao gabi-
nete médico qual será a constituição da equipa ou parte desta. Portanto, para que não haja "fugas de infor-
mação", nem indicadores pertinentes através dos quais os outros jogadores poderão fazer juízos errados, é
preferível, nestas circunstâncias, realizar a reunião de preparação para o jogo na véspera da competição.
O princípio específico da reunião de preparação para o jogo deverá basear-se nas soluções estudadas,
preparadas e treinadas durante o período de tempo que mediou até à competição. Todavia, não se exclui a
utilização de outras soluções já conhecidas, assimiladas e postas em prática pelos jogadores noutros jogos. Em
última análise, a essência do princípio específico enunciado procura evitar o risco irracional presente nalguns
jogadores através do qual se "inventa" uma série de soluções (utópicas) mais ou menos ardilosas, mas que
estão desenquadradas do contexto para o qual a reunião foi programada. Com efeito, é preciso ter presente
que esta reunião não substitui as falhas de preparação da equipa quer no plano quantitativo, quer no plano
qualitativo. Neste sentido, este princípio específico estabelece que a reunião de preparação para o jogo, deva
decorrer na realidade como uma etapa subsequente do ciclo de etapas de preparação da equipa para uma
determinada e específica competição. Concluindo, o princípio específico fundamental da reunião de
preparação para o jogo deve basear-se nas informações que reforcem a estabilidade psíquica dos jogadores e
da equipa, suprimindo simultaneamente, todas as informações e experiências que tornem os jogadores inse-
guros.
5. Metodologia. A metodologia da reunião de preparação para o jogo estabelece, à partida, duas vertentes
essenciais que se referem aos: i) aspectos organizativos da equipa e, ii) aos aspectos táctico-estratégicos.
A. Organizativos. O treinador dedicará os primeiros minutos (entre 2 a 4 minutos) da reunião para abor-
dar aspectos ligados: i) à hora e local de partida do jogo, ii) meio de transporte, iii) outras informações ref-
erentes ao jogo e, iv) convida igualmente os jogadores a pronunciar-se ou a pedirem esclarecimentos suple-
mentares, se for caso disso.
B. Táctico-estratégicos. Em relação a esta vertente da reunião, o treinador tem de solicitar a concentração
dos jogadores e da equipa para a competição, encontrando sempre as palavras e o tom mais adequado para
transmitir as suas convicções de forma clara. Neste contexto, o treinador deverá de forma metódica e sis-
tematizada dirigir o pensamento dos seus jogadores, influindo positivamente no seu comportamento, con-
vencendo-os com argumentos válidos e centrando-os basicamente em oito problemas essenciais:
(1) Curta introdução (entre 2 a 3 minutos) na qual fará comentários acerca da importância do jogo den-
tro do contexto competitivo em que a equipa está inserida e os reflexos que este terá em função dos dife-
rentes resultados possíveis do jogo (vitória, empate, derrota).
(2) Caracterizará (entre 2 a 3 minutos) seguidamente o árbitro do encontro, no que diz respeito à sua
forma pessoal de interpretar as Leis do jogo, como reage às situações de indisciplina dos jogadores, quais
os seus hábitos nos julgamentos das situações mais vantajosas do jogo (por exemplo: grande penalidade),
258 Guia prático de exercícios de treino
Concluindo, importa igualmente referir que é necessário variar a forma e a locução da reunião. A uti-
lização de um modelo estereotipado e imutável irá contribuir para a concretização de um objectivo inverso ao
pretendido. É preciso ter presente que duas reuniões absolutamente idênticas com o mesmo grupo de jogadores,
realizadas com um certo intervalo de tempo, têm efeitos diferentes.
1. Importância. A importância da reunião de análise do jogo deriva da sua dupla dimensão. Encerra, por um
lado, o ciclo de preparação da equipa para a competição já realizada e, abre, por outro, um novo ciclo de
preparação da equipa para o próximo confronto desportivo. Nestas circunstâncias, a reunião de análise do
jogo funciona como um meio de reflexão e análise sobre o passado (o que foi planeado e as soluções estab-
elecidas, o que foi treinado e o que aconteceu na realidade durante o jogo), e na perspectivação do futuro por
forma a operacionalizar e a precisar quais os aspectos que devem ser treinados e por via disso melhorados.
3. Meios. A reunião de análise do jogo poderá ser realizada nas próprias cabinas onde habitualmente os
jogadores se equipam, ou numa sala apropriada para o efeito, dentro das instalações do clube. Importa assim,
que logo após a reunião, os jogadores possam começar o primeiro treino do microciclo semanal de preparação
para o próximo jogo. Os meios específicos a utilizar na reunião da análise do jogo variam em função do tempo
e dos temas que o treinador decidiu conceder e abordar. Neste sentido, na actualidade os meios mais utiliza-
dos são os audiovisuais (videocassetes), os quadros ou maquetes do terreno de jogo com peças amovíveis e as
análises estatísticas efectuadas à equipa.
4. Princípios. A condução da reunião de análise do jogo, tal como foi referido para as restantes reuniões (de
preparação e de reconhecimento), deverá ser da responsabilidade do treinador principal, o qual organizará os
temas, a sua sistematização e metodologia de exposição à equipa. Poderá ser, eventualmente, coadjuvado pelos
seus colaboradores directos (adjuntos), como do gabinete médico e da direcção do clube. Participam nesta
reunião de análise do jogo todos os jogadores que constituem o plantel da equipa, independentemente de
terem ou não sido convocados, ou terem ou não jogado e a equipa técnica (treinador principal e adjuntos). A
participação de outros elementos está, neste contexto, condicionado pelos temas escolhidos pelo treinador e
que serão abordados na reunião. Com efeito, no caso do director do clube o tema rondará os problemas liga-
dos a eventuais quebras de disciplina de grupo, etc. No caso do médico, o tema ligar-se-á aos problemas didác-
ticos, ao tratamento de lesões, etc. Existe um momento concreto para a realização da reunião da análise do
jogo. Basicamente esta confina-se ao tempo que medeia entre a reunião de preparação para o jogo e a reunião
de reconhecimento do próximo adversário. Todavia, preconiza-se que esta reunião deva ser realizada antes do
início do primeiro treino do ciclo de preparação da equipa, sendo totalmente contra indicado, por um lado,
logo após o final do jogo, pois os estados emotivos podem alterar a realidade dos factos que a competição
encerra, não as reflectindo convenientemente, por outro lado, esta não deverá decorrer muito próximo da
reunião de reconhecimento do próximo adversário. Tal como para as reuniões de preparação e de recon-
hecimento do próximo adversário, é fundamental que os jogadores concentrem a sua atenção nos aspectos e
indicações transmitidos pela exposição do treinador ou auxiliares. Com efeito, para que essa concentração se
mantenha, é necessário que a reunião não ultrapasse os 20 minutos por forma a que estes não dispersem a
sua atenção sobre outros assuntos. O valor estabelecido poderá eventualmente diminuir de forma gradual em
função da grandeza dos desvios verificados entre o modelo de organização da equipa e o modelo de organi-
zação a atingir. Por último, a preparação qualitativa e quantitativa de uma equipa de futebol, determina com
carácter habitual, a necessidade de uma reunião de análise do jogo, independentemente do resultado da com-
petição e da concretização ou não dos objectivos estabelecidos para esse jogo.
Os aspectos específicos da reunião de análise do jogo baseia-se essencialmente, num profundo exame,
A organização dinâmica do jogo de futebol 263
por parte do treinador, do ciclo de preparação da equipa recordando (a partir dos registos dos treinos) tudo
o que foi executado e realizado em torno dessa finalidade. Determina-se assim o grau de validade desse pro-
grama de acção, verificando igualmente a qualidade da sua direcção táctica (a partir de registos vídeo).
Estabelece as relações entre o que é pré-determinado em termos de missões tácticas e em que medida estas
foram ou não cumpridas no plano individual e no plano de colaboração colectiva. Deste última vertente, o
treinador precisa ter em mente alguns problemas essenciais:
(1) Embora a definição de rendimento de uma equipa de futebol seja muito difícil, é fundamental ter-se
uma compreensão e concepção mínima do que isso significa, não confundindo com o êxito ou inêxito, em
função dos objectivos estabelecidos. É preciso lembrar que uma partida de futebol não é somente determi-
nada pela nossa equipa, mas também pela equipa adversária, pela eficácia interpretativa dos árbitros, e pelas
circunstâncias mais ou menos vantajosas do decurso da competição.
(2) Compreender que mesmo que o rendimento da equipa no seu plano colectivo possa ser elevado, poderá
ter havido jogadores cujo contributo para esse rendimento foi preponderante ou insignificante. O contrário
também é perceptível, isto é, alguns jogadores podem ter realizado rendimentos elevados, mas a equipa no
seu conjunto ter apresentado um rendimento diminuto.
(3) Em muitas ocasiões, nem mesmo a posterior observação e análise minuciosa do jogo, através de regis-
tos vídeo, responde cabal e definitivamente a todas as questões que derivam do rendimento realizado pela
equipa.
(4) Existem factores contextuais subjectivos que influenciam o treinador quando este valoriza o êxito ou
inêxito dos jogadores. Segundo Bauer e Ueberle (1982) são os seguintes: i) diferentes escalas de valoriza-
ção. Pode-se comparar o rendimento dos jogadores entre si, como o rendimento individual ao longo de
várias partidas e diferentes perspectivas de valorização. O treinador como observador tem uma perspecti-
va diferente do jogador. Logo, o que o treinador considera como fracasso, o jogador não o sente neces-
sariamente, e vice-versa; ii) a parcialidade da valorização do treinador: a imagem que o treinador tem do
jogador influi na percepção do seu comportamento na partida e na valorização do seu comportamento. Por
exemplo é mais fácil tolerar erros de um bom, do que de um mau jogador.
Por último, faz o levantamento dos casos de indisciplina por parte de algum jogador, perante os
adversários, companheiros, árbitro, etc. Revê os cartões (amarelos/vermelhos) apresentados aos seus
jogadores, discernindo aqueles que foram úteis ou não ao colectivo. Relativamente às lesões, tipifica-as por
forma a correlacioná-las com os factores de treino (especialmente o factor físico) e o seu grau de gravidade.
Por último, durante a reunião dever-se-á evitar sublinhar responsabilidades pessoais em caso de insucesso,
nem elogiar de forma exagerada o comportamento excepcional de um ou outro jogador.
5. Metodologia. A metodologia da reunião de análise do jogo estabelece, à partida, tal como a reunião de
preparação para o jogo, duas vertentes essenciais:
A. Organizativos. O treinador dedicará os primeiros minutos (entre 4 a 5) da reunião para abordar aspec-
tos ligados: i) ao número, à hora de começo e local onde se realizará os treinos estabelecidos para o ciclo
de preparação da equipa, ii) os objectivos gerais que se pretendem atingir no plano técnico, táctico, físico,
etc. e, iii) outras informações consideradas pertinentes.
B. Táctico-estratégicos. Em relação a esta vertente da reunião, o treinador deverá, de forma metódica e sis-
tematizada, dirigir o pensamento dos seus jogadores para os seguintes problemas essenciais:
(1) Curto comentário acerca da concretização ou não dos objectivos estabelecidos para esse jogo e os
reflexos que estes terão no futuro imediato e a longo prazo na equipa.
(2) Analisa o comportamento geral da equipa, evidenciando os aspectos positivos e negativos que esta-
belecem a "distância" da realidade organizativa da equipa e o modelo de jogo preconizado para o futuro.
(3) Refere as causas fundamentais, que em sua opinião, determinaram o resultado do jogo, seja esta pos-
itiva ou negativa, analisando a validade da direcção da preparação estratégica e da direcção táctica
264 Guia prático de exercícios de treino
Concluindo, a estratégia tem a finalidade de fixar objectivos, tornando-os mais claros em si próprios
e das suas relações recíprocas, determinando em função destes uma série de acções pragmáticas com vista à sua
concretização. Dado que todas estas decisões (planos), assentam em suposições: i) que em alguns casos, não se
realizam, e, (2) algumas delas não podem ser mais detalhadas, nem tomadas antecipadamente, resulta que a
estratégia tem de ser secundada pela táctica, para que durante a competição se opte por decisões operativas
necessárias às modificações gerais e específicas que se impõem incessantemente.
A planificação táctica
tas medidas especiais tomadas pelo treinador (substituições, mudanças das funções tácticas dos jogadores).
Estas procuram constantemente: i) melhorar a organização da equipa no terreno de jogo, ii) utilização de
acções técnico-tácticas com fins precisos, iii) melhorar a capacidade de colaboração entre os sectores da
equipa, ou entre 2 ou 3 jogadores que numa certa fase do jogo objectivam
conjunturas favoráveis à concretização dos objectivos preestabelecidos e,
iv) a capacidade de passar rapidamente de um sistema de jogo ou de um
Não seria lógico, nem conveniente deixar de ser o treinador, durante a competição, ou seja, no
momento crítico no qual surgem o maior número e a maior complexidade de problemas (que derivam essen-
cialmente do envolvimento social e emocional), a decidir pelos ajustamentos (planificação táctica) que lhe pare-
cem mais correctos, em função dos conhecimentos da sua própria equipa e da equipa adversária. A experiência,
nestas situações, é provavelmente a melhor "escola" mas isto não significa que todos os treinadores apresentam
uma elevada capacidade analítica de observar e analisar o jogo como resultado exclusivo da sua expe-riência.
Nestas circunstâncias cabe ao treinador, em nossa opinião, assumir toda a responsabilidade das altera-ções e
ajustamentos pontuais da sua equipa durante o decorrer do jogo - planificação táctica, não "descarregando"
sobre os seus próprios jogadores o encontrar dessas soluções. É evidente que estes desempenham um papel pre-
ponderante na pragmatização dessas soluções, todavia, a necessidade, a decisão e direcção do processo são, como
referimos, da total responsabilidade do treinador, estando este no seguimento destas alte-rações, atento às novas
condições criadas e às respostas da equipa adversária a essas mesmas modificações, ou seja, perante o "novo"
quadro situacional.
sidades individuais e se consegue com que se mantenham dentro do quadro das neces-
sidades da equipa.
(4) Ouvir e observar, são as condições básicas para uma direcção eficaz. Ambas as ati-
tudes pressupõem da parte do treinador predisposição e conhecimentos.
Foto 424. A direcção da
equipa pelo treinador
A direcção da equipa inferma de imediato, numa primeira grande dificuldade,
durante a competição que deriva da necessidade de se ter de observar ambas as equipas simultaneamente.
Alguns treinadores concentram-se demasiado sobre as acções da sua própria equipa,
A organização dinâmica do jogo de futebol 269
perdendo, por um lado, a possibilidade de reagir a tempo às soluções postas em prática pela equipa adversária
e, por outro, a possibilidade de valorizar convenientemente o rendimento dos seus jogadores, pois esta val-
orização tem de ter em conta os adversários. Com efeito, devido à grande quantidade de factores que o treinador
tem que observar e analisar durante a competição, (pois só a partir deste reconhecimento é possível tomar even-
tuais decisões), é necessário que o treinador estabeleça um "guia" ou "roteiro" sequencial e automatizado que lhe
permita retirar as informações, consideradas por ele mais pertinentes, para que estabeleça uma decisão rápida e
segura. Daqui se infere a necessidade de o treinador presen-ciar o jogo num estado físico e intelectual óptimo,
julgando as diferentes situações de jogo a partir de rotinas de observação caracterizadas pela sua selectividade,
sistematização e rapidez, sem se envolver emocionalmente nelas, cumprindo esta tarefa com plena concentração
e objectividade. Em conformidade com o que foi referido, durante o jogo o treinador está perante um contexto
em constante modificação e evolução, o que determina da parte deste uma vigilância, isto é, uma observação
minuciosa na procura de descobrir algo de novo no jogo, que possa ser utilizado em benefício próprio e de inter-
vir através de indicações pontuais, ou estabelecer mudanças no plano de jogo da equipa. É da rapidez de obser-
vação/análise e da tomada de decisão (opção) do treinador que depende parte do êxito de uma equipa num
determinado confronto.
Nestas circunstâncias, sendo o treinador responsável pelos ajustamentos ou modificações do plano de
jogo da equipa, quer ao nível estrutural, metodológico, técnico-táctico e táctico-estratégico, deverá, durante o
confronto (primeira e segunda parte) direccionar o seu pensamento e a sua actuação para os seguintes aspectos
prioritários:
(1) Analisar sistematicamente o sistema de jogo, o método de jogo, os coordenadores de jogo, etc., no plano
ofensivo e defensivo, utilizado pela equipa adversária, verificando se são consonantes com as informações
dadas aos seus jogadores. Observar a conveniência, ou não, de ajustar ou modificar o plano de jogo da própria
equipa.
(2) Constatar o cumprimento do plano de jogo por parte da própria equipa, analisando a sua funcionalidade
geral e específica que fomentará um rendimento conducente, ou não, com os objectivos estabelecidos para
esse jogo;
(3) Dar informações para o terreno de jogo (expressas em palavras ou sinais previamente combinados) que
traduzem adaptações pontuais do plano de jogo, ou a relembrar a certos jogadores as suas tarefas e missões
tácticas concretas. Poder-se-á utilizar o capitão da equipa como elemento interlocutor entre o treinador e os
restantes jogadores. Promove-se assim, uma informação clara, concisa e completa, por forma a evitar a pos-
sibilidade de haver informações mal compreendidas, que durante o jogo, têm consequências mais graves que
a ausência de informação. Importa igualmente referir que as informações não devem ser constantes, devido
ao facto, de mais tarde ou mais cedo, os jogadores deixarem de ouvir as orientações do treinador, ou mais
grave ainda, deixarem de estar convenientemente concentrados nas situações de jogo. Responder de forma
clara e directa a questões que os jogadores possam colocar durante a competição.
(4) Dar feedbacks positivos aos jogadores mais emotivos e menos experientes, encorajando-os, exortando-os
sempre que a situação se proporcione. Deverá ser intransigente quando se verifica falta de empenhamento ou
desmoralização dos jogadores. Importa ter em mente, que os jogadores são muito sensíveis à crítica e aos gri-
tos do treinador durante a competição, especialmente, quando esta não tem como base objectiva ajudá-los,
mas sim de função justificadora do treinador perante os directores, sócios, público, etc.
(5) O treinador deve abster-se de demonstrações exageradas de alegria e tristeza. Não deverá insultar nem
entrar em conflito com os adversários, árbitro, fiscais-de-linha, nem utilizar sinais depreciativos. Nunca dev-
erá deixar de observar o jogo mesmo nos períodos mais críticos e deve evitar fazer comentários culpabilizan-
do ou ridicularizando comportamentos técnicos deste ou daquele jogador da sua equipa, mesmo quando estes
não o ouçam, lembrando que há suplentes no banco.
(6) “Reagir" às alterações introduzidas pelo treinador adversário (utilização das substituições, modificação do
posicionamento dos jogadores, alteração das missões tácticas, etc.), por forma a manter ou a melhorar as
adaptações da sua própria equipa, à "nova" funcionalidade da equipa adversária. Partindo da alteração verifi-
270 Guia prático de exercícios de treino
cada, o treinador deverá estar seguro e entendê-la perfeitamente estabelecendo uma ou outra alteração à
equipa de base (através de uma utilização dos jogadores considerados suplentes), modificar missões tácticas
específicas e distribui-las aos diferentes jogadores, estabelecendo numa ou noutra situação de jogo, outras
soluções tácticas por forma a surpreender o adversário.
A direcção e orientação de uma equipa, por parte do treinador, deve ter presente que uma partida de
futebol é constituída por momentos que se sucedem influenciando decisivamente o rendimento individual e
colectivo da equipa. Neste contexto, existem vários acontecimentos durante o transcurso da partida que se
podem sistematizar e analisar da seguinte forma: a sucessão, o momento e as circunstâncias em que os golos
acontecem, as lesões, as substituições como meio operacional da planificação táctica, a acção do juiz da partida
e a equipa adversária.
como a alteração da corrente positiva do jogo da sua própria equipa, quer em ter-
mos ofensivos como defensivos.
(4) Substituir o jogador que não consegue pôr em prática o que lhe
foi distribuído em termos de missões tácticas, sendo continuamente
ineficaz nas suas acções técnico-tácticas.
(5) Substituir o jogador que tem diferentes perspectivas tácticas do
treinador, convencendo-se que a "sua" forma de actuar serve mel-
Foto 431. A substituição é um meio fundamen-
hor o interesse colectivo. Se depois de uma breve conversa (antes, tal para corrigir ou melhorar o plano de jogo da
no intervalo, ou mesmo durante o decorrer do jogo), o jogador não equipa
272 Guia prático de exercícios de treino
quer entender as opiniões tácticas do treinador e insiste numa atitude e comportamento diferentes, em últi-
ma análise prejudiciais à actividade da equipa, então, o treinador deverá impor-se não restando qualquer
outra alternativa, senão substituí-lo.
(6) Substituir o jogador por razões tácticas operacionais por forma a reforçar a capacidade: i) ofensiva da
equipa na procura de modificar o resultado momentâneo do jogo e, ii) defensivo da equipa por forma a man-
ter o resultado momentâneo do jogo.
(7) Substituir o jogador que, após ter sido advertido disciplinarmente pelo árbitro continua a prevaricar,
estando na contingência de prejudicar a própria equipa se lhe for mostrado o cartão verme-lho.
(8) Substituir o jogador, quando o resultado do jogo já não poderá ser posto em causa, por forma a permitir
a aquisição do ritmo competitivo a um outro companheiro que vem de uma lesão mais ou menos prolonga-
da e necessita de se readaptar novamente à equipa.
(9) Substituir o jogador para entrar um especialista na resolução das situações de bola parada (esquemas tác-
ticos).
Por último, podemos ainda deter-nos ou debruçar-nos sobre dois aspectos da problemática das subs-
tituições: o momento em que estas se devem realizar e a sua classificação, em função dos objectivos que pretende
atingir. No primeiro caso, é fundamental escolher-se adequadamente o momento em que a substituição deverá
ser levada a efeito. Neste sentido, e teoricamente, o momento mais oportuno para a efectivação da subs-tituição
é quando a equipa detém a posse da bola, isto é, quando se encontra em processo ofensivo. As razões derivam
da possibilidade da equipa poder retardar o recomeço do jogo, para que o novo companheiro se posicione den-
tro do dispositivo táctico da equipa, por um lado, e verbalize, por outro, transmitindo um conjunto de infor-
mações dadas pelo treinador aos diferentes companheiros por forma que estes compreendam, o novo ajusta-
mento ou modificação do plano táctico da equipa. Apesar das referidas vantagens da substituição durante a fase
ofensiva da equipa, admite-se igualmente outras tantas vantagens na substituição de um ou outro jogador
durante a fase defensiva, em especial, quando esta se encontra sob uma grande pressão ofensiva da equipa adver-
sária. Procura-se, neste sentido, por um lado, quebrar o ritmo de jogo ofensivo adversário, diminuindo assim, o
elevado fluxo das acções dos jogadores e, por outro, obrigá-los a diminuir a sua concentração sobre a situação
momentânea de jogo, por forma a perder algum tempo na tentativa de perceber qual o objectivo táctico da subs-
tituição realizada, adaptando-se funcionalmente ao novo jogador.
No segundo caso, podemos classificar as substituições em função dos objectivos tácticos que se pre-
tendem atingir da seguinte forma:
(1) Uniformes. Quando o jogador que entra no campo apresenta qualidades técnico-tácticas e missões ou
tarefas tácticas similares ao companheiro que substituiu (por exemplo a troca de um ponta-de-lança, por
outro ponta-de-lança).
(2) Contraste. Quando um jogador entra no jogo apresenta qualidades técnico-tácticas e missões ou tarefas
tácticas totalmente diferentes do companheiro que substituiu (por exemplo a troca de um avançado por um
defesa).
do-se do temor evidenciado por alguns jogadores de serem substituídos, mandam todos os suplentes aquecerem
com o intuito de pressionarem os companheiros que estão em competição e, assim, influir positivamente nos
seus comportamentos técnico-tácticas na resolução vigorosa das diferentes situações de jogo que se lhes
deparam. Todavia, este tipo de actuação, por parte do treinador, poderá mais tarde ou mais cedo criar conflitos
entre os suplentes que sentem que estão a ser "usados" não para jogarem, mas para indicarem que o treinador
não está contente com a sua actuação e, simultaneamente, "forçarem" os seus companheiros a jogarem de forma
mais eficaz.
7.2.2. Relaxar/tranquilizar
Os primeiros minutos do intervalo devem ser utilizados: (1) para fazer descansar os jogadores que se
colocam em posições que facilitem o repouso e a recuperação do esforço despendido. Quanto maior foi esse
esforço e quanto mais desfavorável foi o desenvolvimento do mesmo, mais importante se torna esta fase do
intervalo, (2) utilizar bebidas regenerativas (minerais, hidratos de carbono, etc.) e, (3) o treinador aproveitará os
primeiros três a quatro minutos de descanso para conferir os seus apontamentos e conferenciar com os seus
colaboradores (técnicos e médicos).
positivo no comportamento dos jogadores na segunda parte do jogo. Os jogadores necessitam de instruções cen-
tradas a partir das suas missões tácticas específicas. Se for necessário criticar, é fundamental que essa crítica este-
ja directamente ligada às instruções e conselhos. Estabelecem-se, entre outros, os seguintes princípios essenciais:
i) qualquer crítica, por mais necessária que seja, opõe-se à nossa necessidade de ser reconhecido, ii) ninguém
gosta que o critiquem, não importa se a crítica é justa ou não, iii) a pessoa que emite a crítica é sempre mal vista,
apesar de insistir que só quer melhorar e incrementar o rendimento dos jogadores, iv) elogiar e reconhecer tem
muito mais êxito que as críticas e, v) o treinador deverá reforçar a autoconfiança dos jogadores acentuando e
potencializando os seus comportamentos positivos". Neste contexto, o treinador:
(1) Deverá dar informações respeitantes à própria equipa e à equipa adversária, por forma a concretizar uma
melhor compreensão das situações mais marcantes no plano táctico da funcionalidade colectiva da equipa,
que aconteceram na primeira parte.
(2) A partir dessas informações deverá fazer ajustamentos ou modificações quer no plano individual, quer no
plano colectivo, como também na orientação geral da equipa na fase ofensiva e na fase defensiva. Estas infor-
mações são imprescindíveis porque, é preciso ter em atenção, que o resultado do jogo se decide na segunda
parte. Assim, é mais fácil fazer compreender aos jogadores não só as dificuldades ou facilidades objectivas que
esse confronto específico em si encerra, uma vez que já têm uma visão mais concreta e realista, pois experi-
mentaram 45 minutos de luta contra essa equipa, traduzida numa noção teórica (que deriva da reunião de
preparação para o jogo) e numa noção prática das situações que se sucederam no jogo. O treinador anuncia-
rá igualmente, a constituição da equipa que irá actuar na segunda parte do jogo.
(3) O treinador deverá relembrar que o jogo só acaba quando o árbitro dá por terminada a partida, até lá tudo
pode acontecer dentro de um certo número de probabilidades.
Finalizando, tanto a planificação estratégica como a planificação táctica são dirigidas para um mesmo
fim, nomeadamente a vitória. No entanto, a estratégia por si própria não poderá atingir esse objectivo, estab-
elecendo-se o seu êxito na preparação (favorável da equipa), vitoriosa da táctica. Quanto maior for o êxito
estratégico, menos duvidosa será a vitória no decurso da partida. Neste contexto, em nossa opinião, a diferença
que se estabelece entre a táctica e a estratégia, fundamenta-se no facto de a táctica ser utilizada logo após o
começo do jogo e até ao final deste. A estratégia insere-se em todas as fases de preparação da equipa, tendo em
Foto cedida pelo jornal O JOGO
conta o conhecimento das particularidades da equipa contrária. Assim, a táctica será a utilização concreta dos
meios de acção e a estratégia a arte de estabelecer as tácticas para o objectivo estabelecido. Do lado da concepção
- a estratégia, do lado da execução - a táctica
276 Guia prático de exercícios de treino
Foto 436. A planificação táctica de uma equipa de futebol consubstancia a base de resolução dos problemas metodológicos que surgem no terreno de
jogo, sendo constituída pelo conjunto de todos os conhecimentos susceptíveis de dar uma certa direcção às diferentes acções (individuais/colectivas,
ofensivas/defensivas) da equipa relativamente à concretização dos objectivos preestabelecidos