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FUTEBOL

FUTEBOL - GUIA PRÁTICO DE EXERCÍCIOS DE TREINO


GUIA PRÁTICO DE
EXERCÍCIOS DE
TREINO

Aos jogadores que diariamente


inovam e fazem evoluir o jogo de futebol tor-
nando tudo possível

Foto 1. O exercício encarado como a unidade lógica de progra-


mação e estruturação do treino desportivo. É um meio pedagógico
potencialmente capaz de melhorar a capacidade de prestação
desportiva do praticante, na resposta ao quadro específico das situ-
ações competitivas, organizando a actividade deste em direcção a
um determinado objectivo orientado por princípios devidamente
fundamentados nos conhecimentos científicos
Ficha técnica

TÍTULO: FUTEBOL - Guia prático de exercícios de treino


AUTOR: Jorge Fernando Ferreira Castelo
EDIÇÃO: Visão e contextos - Azinhaga dos Ulmeiros, 6-A
1600 - 778 Lisboa
CAPA: Manoel Júnior com fotos cedidas pelo jornal “O JOGO”
PAGINAÇÃO: Jorge Castelo
REVISÃO: Helena Ramos
DATA: Março de 2003
TIRAGEM: 1500 exemplares
REPORTERES FOTOGRÁFICOS: Vitor Rios
Jorge Amaral
Jorge Carmona
Vitor Manuel Moutinho
Nuno Garuti
António Azevedo
Carlos Cunha
João Santos
Jorge Padeiro
Eduardo Barrento
Sara Aresta
Dolores Silva
Ramiro de Jesus
Paulo Alexandre Santos
COLABORAÇÃO ESPECIAL: Rui Barroso e Vitor Rios
EXECUÇÃO GRÁFICA: Tipografia Peres
ISBN: 972-96326-6-9
DEPÓSITO LEGAL Nº
Índice temático

Prefácio 009

Parte I - A ORGANIZAÇÃO DINÂMICA DO JOGO DE FUTEBOL 021


Capítulo 1. O subsistema Cultural 025
Finalidade, intenção e objectivo 033
As Leis do jogo 037
Capítulo 2. O subsistema Estrutural 043
Bases de racionalização do espaço de jogo 048
Bases de racionalização das missões tácticas dos jogadores 063
Capítulo 3. O subsistema Metodológico 075
Os métodos de jogo ofensivo 081
Os métodos de jogo defensivo 097
Capítulo 4. O subsistema Relacional 121
Princípios de jogo ofensivo 139
Princípios de jogo defensivo 158
Capítulo 5. O subsistema Técnico-táctico 173
As acções individuais ofensivas e defensivas 178
As acções colectivas ofensivas e defensivas 193
Capítulo 6. O subsistema Táctico-estratégico 229
A planificação conceptual 232
A planificação estratégica 240
A planificação táctica 264

Parte II - A UNIDADE LÓGICA DE ESTRUTURAÇÃO E PROGRAMAÇÃO


DO TREINO DE FUTEBOL 277
Capítulo 7. Fundamentos dos exercícios de treino 283
Definição do exercício de treino 284
Caracterização do exercício de treino 296
Natureza do exercício de treino 313
Estrutura do exercício de treino 336
Capítulo 8. Lógicas estruturais dos exercícios de treino 355
A adaptação funcional do jogador 357
As componentes estruturais do exercício de treino 374
As condicionantes estruturais do exercício de treino 388
Capítulo 9. Princípios de aplicação do exercício de treino 407
Princípios biológicos 409
Princípios metodológicos 420
Princípios pedagógicos 435
Capítulo 10. Bases de eficácia do exercício de treino 437
Conceptualização do exercício de treino 439
Apresentação do exercício de treino 460
Prática e repetição do exercício de treino 466

Página
Correcção do exercício de treino 479

Parte III - CONCEPTUALIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO PRÁTICA DE


EXERCÍCIOS DE TREINO 493
Capítulo 11. Exercícios para o aperfeiçoamento da acção de recepção e passe 513
Capítulo 12. Exercícios para a manutenção da posse da bola 535
Capítulo 13. Exercícios de dominante técnico-física e lúdica 559
Capítulo 14. Exercícios de finalização em condições favoráveis em termos de
espaço, tempo e número de jogadores 567
Capítulo 15. Circulações tácticas para a criação de situações de finalização 615
Capítulo 16. Exercícios para potenciar comportamentos técnico-tácticos em
função das missões tácticas específicas dos jogadores 663
Capítulo 17. Exercícios para o aperfeiçoamento da articulação dos diferentes
sectores de jogo da equipa 695
Capítulo 18. Exercícios para as situações de bola parada (esquemas tácticos) 713

Parte IV - CONCEPTUALIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA SESSÃO DE TREINO


PARA O FUTEBOL 733

Bibliografia 748
Prefácio 009

PREFÁCIO

No contexto da nossa civilização, o futebol, nas suas diferentes manifestações, é um fenómeno que
está profundamente associado aos aspectos de origem social, pois, é um facto institucional que tem a sua própria
organização, as suas regras, as suas infra e super-estruturas, e de origem cultural, considerado como um proces-
so de actualização de valores culturais, morais e estéticos, os quais se radicam na sua popularidade e na sua uni-
versalidade. Embora as opiniões divirjam quanto ao sistema de valores sobre os quais este fenómeno assenta, a
sua importância no Mundo Contemporâneo não sofre qualquer tipo de contestação. Neste sentido, o jogo de
futebol sendo uma criação do Homem, desenvolve-se simultaneamente com a civilização, reflectindo ou
divergindo nos aspectos de carácter positivo ou negativo, que toda a sociedade na sua evolução evidencia. O fute-
bol pelo alto nível de especialização e profissionalização que atingiu, tornou-se objecto de co-nhecimento (leia-
se compreensão dos factos) o qual quando correctamente adquirido e aplicado possibilita a criação de novos
valores e paralelamente a construção de um novo sistema de convicções, que em última análise, determina a
alteração de processos ou caminhos para a sua renovação e inovação. Nesta perspectiva, sejam quais forem os
meios de análise, a causa, o pretexto ou as circunstâncias, esta será sempre a reflexão do Homem sobre o
Homem, num caminho que conduz ao conhecimento sustentado numa lógica racional, reflexiva e aplicativa.
Como especialistas desta modalidade desportiva, ao longo destes últimos 20 anos preenchidos por
múltiplas facetas, desde a conceptualização e aplicação de diferentes sessões de treino, passando pela condução
estratégico-táctica de equipas na competição profissionalizada, continuando pela elaboração de livros e publi-
cações de carácter pedagógico-científico e concluindo no ensino de carácter teórico e prático desta moda-lidade
na Universidade, sentimos em cada momento, a responsabilidade e a exigência metodológica de interpretar a
complexidade da situação, consubstanciada simultaneamente, na identificação e sistematização da rea-lidade do
jogo, descrevendo-a com o máximo de rigor possível, e a partir desta, lançar um conjunto de linhas orientado-
ras programáticas - estratégias, essenciais à transformação, quer quantitativa, quer qualitativa, da intervenção
nesta realidade competitiva. Não nos esquecendo das raízes que sempre nos nortearam ao longo destes anos,
pretendemos dar "alma" ao "corpo" da nossa actividade profissional quotidiana, que se exprime num circuito que
começa na observação de um facto, passa pela sua identificação, reflexão, sistematização, e experimentação,
levando-nos imediatamente a uma nova observação, para estabelecer a que nível quantitativo e qualitativo inter-
viemos sobre a realidade desse facto. Durante este "trajecto", perfilhamos fundamentalmente duas atitudes pro-
gramáticas, por um lado não procurar, embora reconhecendo as nossas ambições legítimas, esconder as nossas
limitações reais, e por outro, como em todas as áreas do conhecimento, o desvendar de um mistério hoje é cer-
tamente o redimensionamento no futuro de outros problemas cada vez mais difíceis de resolver.
Consequentemente, a pertinência do nosso esforço, terá que advir da nossa coerência profissional, que reside
obviamente na compreensão da intencionalidade e significação das decições tomadas, e do comportamento téc-
nico-táctico dos jogadores que daí derivam, procurando as suas relações e interrelações de cooperação e de
adversidade, e porque não, também, de alguns dos seus determinismos. Em última análise, pretendemos que o
andar do tempo, sempre inquieto, dinâmico e absorvente, não apague de todo o estigma do nosso principal
esforço, traduzido, quer por ideias soltas quer em óptica de labor, que estimule e inspire a procura de uma sis-
tematização e organização cada vez mais realista do jogo de futebol, ou por outras palavras, construir um códi-
go de leitura cada vez mais representativo da realidade.
Neste lento e seguro caminhar, aprendemos a debatermo-nos essencialmente com a complexidade de
duas questões, cujos contornos transportam em si próprios uma mesma implicação para o desenvolvimento do
jogo de futebol: por um lado, a importância do estabelecimento de uma teoria geral do jogo, e por outro, a
dinamização de novas atitudes mentais, práticas e funconais.
010 Guia prático de exercícios de treino

Estabelecimento de uma teoria geral do jogo

Uma teoria geral, embora não deva ser encarada como um dogma inatingível, deve consubstanciar
um sistema explicativo que cumpra provisoriamente (na medida em que este deve acompanhar as perspectivas
das diferentes correntes de evolução do pensamento), de forma o mais eficiente possível, procurar abarcar o
máximo de factos observados dentro do domínio da realidade que lhe é própria. Com efeito, a teoria represen-
ta um conjunto de conhecimentos organizados num sistema lógico e coerente, mas simultâneamente aberto,
dinâmico, complexo, adaptativo e dentro de certos limites antecipativo, cuja função consiste na descrição, expli-
cação, sistematização dos fenómenos observados na prática do jogo. Adicionalmente sublinhamos que a teoria
geral do jogo deve ter um carácter activo e não contemplativo, contribuindo assim para o aperfeiçoamento da
prática e da sua metodologia, entendidas como parte integrante do motor íntimo da evolução do futebol.

O que é o jogo de futebol?


O futebol é um jogo desportivo colectivo, no qual os intervenientes (jogadores) estão agrupados em
2 equipas numa relação de adversidade - rivalidade desportiva, numa luta incessante pela conquista da posse
da bola (respeitando as leis do jogo), com o objectivo de a introduzir o maior número de vezes na baliza
adversária e evitá-los na sua própria baliza, com vista à obtenção da vitória. Para se atingir esta finalidade, o
futebol possui uma dinâmica própria, um conteúdo que podemos definir como essência do jogo. Esta essên-
cia moldada pelas leis do jogo, dá origem a uma série de atitudes e comportamentos técnico-tácticos mais ou
menos estereotipados. Concretamente, é o jogo que determina o perfil das exigências impostas aos jogadores,
originando assim um quadro experimental específico. Isto é válido, tanto para as acções motoras em si, e o
seu consequente desempenho, como para as solicitações de ordem psíquica e a sua exteriorização em termos
de resposta. As equipas em confronto directo formam duas entidades colectivas que planificam e coordenam
as suas acções para agir uma contra a outra, cujos comportamentos são determinados pelas relações antagóni-
cas de ataque/defesa. Representam assim, nesta perspectiva, uma forma de actividade social, com variadas
manifestações específicas, cujo conteúdo consta de acções e interacções. A cooperação entre os vários ele-
mentos é efectuada em condições de luta com adversários (oposição), os quais por sua vez, coordenam as suas
acções com vista à desorganização dessa cooperação.

Fora da teoria nada é visível para ver outra coisa é necessário mudar de teoria
Ao observarmos e analisarmos o conteúdo do jogo de futebol, temos em conta certas regularidades,
que identificamos, nomeamos e classificamos, condição importante para a formulação das leis propícias à
etapa da teoria. Devido à continua ligação entre a prática e a teoria, atinge-se um estado superior de com-
preensão da realidade do jogo, sendo assim possível proceder-se a uma síntese, ou seja, a uma generalização
e sistematização dos seus elementos fundamentais. Parte-se assim, da prática para a teorizar e desta volta à
prática para a orientar. Tal como refere Popper (1989) é preciso ter em atenção que os conceitos e teorias que
procuram explicar uma certa realidade não são absolutas mas sim aproximativas, desta forma as verdades de
hoje poderão não o ser amanhã. Todavia, nunca devemos esquecer que as verdades do amanhã só existirão
porque existiram as do hoje dessa forma não se deve ignorar a sua importância deitando fora um processo
evolutivo impar. Neste domínio, quanto mais o jogo for privado deste esforço de análise, mais a sua teoria se
ressente do estabelecimento dos fundamentos necessários aos seus raciocínios, aumentando-se consequente-
mente, o espaço onde prolifera o acidental, o casuístico. Se o êxito ou inêxito individual (jogador), ou colec-
tivo (equipa), está exclusivamente nas mãos do acaso, o mérito, e por consequência a responsabilidade do
jogador que actua parece estar fora de causa. Todavia, e em sentido diametralmente oposto, não podemos
conter uma aprovação tácita cada vez que a nossa concepção se realiza, nem uma espécie de mal-estar int-
electual quando se verifica que é falsa. "Um facto nada é em si próprio, só vale pela ideia a que se liga ou pela
prova que fornece. Quando se identifica e qualifica um novo facto de descoberta, não é o facto em si que con-
stitui a descoberta, mas a ideia nova que dele deriva, também quando se demonstra, não é o próprio facto que
Prefácio 011

dá a prova, mas apenas a relação racional entre o fenómeno e a sua causa" (Bernard, 1783).

A dinamização de novas atitudes mentais


A mudança mais marcante que se distingue actualmente no desenvolvimento do futebol no Mundo
é, sem dúvida, a aplicação da ciência aos seus problemas e, em especial, à utilização de uma tecnologia cada vez
mais aperfeiçoada e apoiada em dados científicos, que nos permita estabelecer um "código de leitura" da reali-
dade do jogo. Todavia, a aplicação destes dados não poderão ter êxito se, simultaneamente não se dinamizar
novas atitudes mentais com a finalidade de ajustar os componentes a um eficaz aproveitamento do imenso
potencial oferecido pela ciência desportiva. As mudanças de perspectiva não surgem, nem se implantam facil-
mente. Muitos resistem a este surto de inovação, porque as inovações tendem a a tornar na maioria das situ-
ações, obsoletas as antigas formas de pensamento, levando consequentemente a rompimentos com um passado
não muito distante. Para nós a competição de alto nível e naturalmente do treino que o suporta na actualidade,
solicitam elevadíssimas exigências aos seus jogadores para qualquer dos factores de preparação que perspe-cti-
varmos. Importa equacionar neste domínio, se a sessão de treino e os exercícios que a constituem são ou não
um momento fulcral para desenvolvimento e aperfeiçoamento do jogador ou da equipa, pois, muitas vezes mais
parece um passatempo, um hábito, um castigo, um ritual, uma forma de "atirar areia para os olhos" dos
Directores e dos Sócios dos Clubes. Porque o que é preciso é suar a camisola, não interessa se concomitante-
mente existem ideias, objectivos, princípios e desenvolvimento profissional. Em última análise existe a ideia que
a qualidade (ou a falta dela) da competição nada tem haver com a qualidade (ou a falta dela) do treino, tudo se
reduz ao acaso: um dia corre bem outro dia poderá correr mal. Observe-se quantas equipas profissionalizadas
têm no mí-nimo um campo de treino ou quantos têm um campo com condições mínimas para se realizar qual-
quer tipo de treino que permita o desenvolvimento integrado dos factores técnicos, tácticos, físicos e psicológi-
cos dos jogadores preparando-os verdadeiramente para uma competição profissional que se quer de alto rendi-
mento. Contudo, temos também que iventariar se os pressupostos prático-científicos actuais respondem cabal-
mente e em tempo real a essas exigências, por forma a estabelecer uma teoria que advenha da prática e se desen-
volva simultaneamente com esta. Há que evidenciar, em nossa opinião, que ainda não possuímos o conheci-
mento bastante sobre a problemática na qual o fenómeno desportivo se apoia, por forma a respondermos efi-
cientemente às suas exigências no que toca ao seu enquadramento metodológico que derivam dos aspectos iner-
entes à técnica, à táctica, à tecnologia didáctica, aos factores humanos e sociais, etc. Todavia, é a partir desta con-
statação que se torna ainda mais importante e imprescindível o investimento no estudo e reflexão do jogo de
futebol quer do ponto de vista da prática diária quer do ponto de vista teórico. Todavia, é fundamental ultra-
passar visões parcelares, na análise e no tratamento do conteúdo real do jogo, traduzidas por uma excessiva com-
partimentação das componentes técnicas, das componentes tácticas, das componentes físicas e das componentes
psicológicas. Toma-se assim consciência, que o jogo é algo mais que o simples somatório destes vários factores.
O futebol contém em si uma enorme complexidade secundada por um numeroso conjunto de variáveis, deven-
do ser enca-rado como um sistema aberto. A sua condição de sistema determina que a multiplicidade do seu
estudo e interpretação deve ser considerada em complementaridade.

E entretanto o futebol evoluíu e evoluí continuamente


O jogo de futebol evoluíu ao longo dos anos, desde a sua institucionalização até à actualidade. Quer
queiramos ou não, quer gostemos ou não, o facto é que os acontecimentos que o consubstanciam tornaram-
se mais intensos, competitivos, complexos, ritmados, pressionantes, transitórios, instáveis, etc. A evolução do
jogo tem um carácter sistémico, isto é, o melhoramento de um dos seus factores constituintes afecta não só
esse elemento como também o desempenho de todos os outros, influenciando radicalmente todo o sistema.
Se tivermos presente alguns dados da análise do jogo de futebol, observamos que o número de acontecimen-
tos aumentou na unidade de tempo. Com efeito, no quadro da dinâmica dos esforços produzidos pelos
jogadores ao longo do jogo triplicaram nos últimos 30 anos. Daqui se infere que no plano táctico os jogadores
012 Guia prático de exercícios de treino

cobrem uma maior área de terreno de jogo tanto na fase ofensiva como defensiva o que por sua vez implica
uma diminuição do tempo e do espaço para a resolução técnico-táctica de uma dada situação quando se tem
ou não a posse da bola. Na actualidade cada jogador executa em média 360 intervenções (de curta até 2 segun-
dos, média - até 5 segundos ou longa duração - até 8 segundos) por jogo, este facto determina 4 esforços por
minuto, mas se utilizarmos o tempo real de jogo (excluindo as paragens que representam mais de 30% do
tempo total de jogo) este valor sobe para 6, isto é, observa-se um comportamento de 10 em 10 segundos com
ou sem a posse da bola com uma determinada intenção, finalidade e duração. A tendência destes valores no
futuro é de aumentarem especialmente no domínio qualitativo e na duração de cada esforço. Desta pequena
análise, fácil será extrapolar, que ao aumentarmos o ritmo de jogo, os jogadores estão mais pressionados tanto
no domínio do raciocínio táctico como no domínio do desempenho técnico sendo cada vez mais importante
utilizar-se processos de antecipação por forma a prever não só o resultado, mas também o desenvolvimento
dos acontecimentos de uma dada situação. Cada jogador procura em cada situação de jogo “viver a imagem
do futuro no momento presente” por forma a ganhar o tempo suficiente para pensar/executar um compor-
tamento eficaz e adaptado na resposta aos problemas postos pelo treino e pela competição desportiva. Mesmo
perante estes factos incontestáveis e incontornáveis da realidade competitiva ainda existem técnicos que afir-
mam categoricamente que no futebol nada muda, está tudo inventado, não vale a pena reflectir, não vale a
pena pensar é sempre o passe curto e o passe longo, o remate, a tabelinha, etc. Outros um pouco mais "evoluí-
dos" dirão que é fundamental ter duas ou três ideias e aplicá-las em função da situação que se lhes depara.
Partindo desta visão fechada e parada da realidade do jogo, não é de admirar que os treinadores, que assim
ainda pensam, vivem como eremitas utilizando receitas do passado mortas e doentias, mantêm-se "fieis" e
inflexíveis nos seus "exerciciozinhos" meios e métodos de treino, são "treinadores" da repetição decalcam ano
após ano independentemente dos jogadores ou da equipa os mesmos vícios - "os bons e maus". Perante este
panorama, ainda alguns ainda se reclamam competentes simplesmente por terem 20 ou 25 anos de profissão
quando na maior das hipóteses têm 1 ano multiplicado por 20 ou 25 vezes. É verdade que para se inovar é
preciso ler, reflectir, investigar, difundir as suas experiências, trocar ideias para que esta modalidade tenha
mais e melhor público, e implantação na sociedade, mas isto custa tempo, massa cerebral, exposição pública
e crítica.
Enquanto os médicos, por exemplo, todos os anos têm um novo receituário o que determina que as
doenças actuais não sejam curadas com medicamentos de há 10 ou há 20 anos atrás. Os treinadores mantêm
o seu receituário técnico influenciado pelos mesmos exercícios sobre os quais realizaram toda a sua vida
desportiva. Será possível que o conhecimento teórico e prático de há 20 ou 30 anos atrás possa ainda respon-
der adequada e cabalmente às questões inerentes à actividade desportiva na actualidade? A falta de cultura
geral, desportiva e de hábitos de reflexão por parte dos treinadores determina a recusa destes em aceitarem e
a entenderem que existem novas condições, novas mudanças no plano da investigação, na metodologia do
treino e das diferentes tecnologias pedagógicas cujo desinteresse determina um imobilismo e uma repetição
cega do passado. A mediocridade de grande parte dos intervenientes do fenómeno desportivo (treinadores,
dirigentes, jornalistas, etc.), baseia-se na necessidade constante do obscurantismo e do medo de perder algum
tempo para estudar e reflectir. Alguns pensam que a sua mediocridade será compensada pela mutação genéti-
ca de gerações e gerações de jogadores que lhes passam pelas mãos ao longo da sua vida profissional re-chea-
da de repetições baseadas não na experiência ou na competência mas sim da falta de ambas. Progresso, desen-
volvimento e inovação significa, acima de tudo, uma nova atitude mental sobre o problema, implica uma
nova atitude prática e uma nova atitude funcional. O treinador deverá abarcar uma bagagem de conheci-
mentos suficientes, que possibilitem a construção de situações de treino que se constituam como verdadeiras
oportunidades para que os jogadores necessitem, para além dos recursos físicos, exercitarem “à priori” a
reflexão crítica e através desta, possam dentro de um leque de opções tomar as decisões mais adequadas e
adaptadas aos problemas colocados. Nesta linha de pensamento, não é mais possível a utilização constante dos
mesmos “caminhos”, pois, estes irão transportar-nos para os mesmos lugares (miradouros) a partir dos quais
contemplamos as mesmas vistas, mudando somente o tempo e as circunstâncias de como lá chega-mos. Esta
Prefácio 013

realidade constitui-se mais como um ritual, muitas vezes penoso e repetítivel. O treinador deve assumir-se
como um explorador de novos caminhos, que se traduzirão em novos conceitos, metodologias, teorias, etc.,
os quais contribuem de forma irredutível para a evolução do jogo de futebol. Com efeito, o treinador deverá
construir e interpretar novos caminhos (leia-se mapas) partindo de perspectivas diferenciadas em função de
novos conceitos, do tempo, do espaço, das circunstâncias, etc., abrindo assim novas vias de acesso a um
processo de treino optimizado pela rentabilização dos meios humanos e materiais à sua disposição. No mesmo
momento, eliminar-se-á tudo aquilo que potencialmente poderá diminuir a possibilidade dos jogadores não
atingirem o máximo das suas capacidades. É que no treino dever-se-á conceptualizar situa-ções-problema em
que se objective mais as acções motoras produtivas, isto é, aquelas que se alteram cons-tantemente na procu-
ra de uma adaptação mais eficiente e eficaz, do que acções motoras reprodutivas, no qual se realizam sempre
a mesma resposta independentemente da variabilidade situacional proposta. “O acto do treinador baseia-se
num saber, que como qualquer outro, se aprende que se renova e se transforma cons-tantemente” (Lima,
2000).

Os jogadores são o espelho daquilo que treinam


Existe na mente de muitos treinadores a presunção, que qualquer exercício de treino independente-
mente do seu nível de especialização (que reproduza de forma mais ou menos aproximada a natureza - lógi-
ca do jogo de futebol) transfere sempre algo de positivo para a capacidade objectiva do jogador ou da equipa.
Todavia, é preciso ter presente que a transferibilidade, isto é, a influência de um exercício sobre outro que é
realizado num ambiente contextualmente diferente ou na aquisição de uma outra competência não é um fenó-
meno positivo por natureza. Assim, tanto poderá ter (1) um efeito positivo - potencializa essa relação (é o
objectivo a atingir sempre que possível), (2) um efeito nulo - não influencia nem positiva nem negativamente
e, (3) um efeito negativo - influencia negativamente (situação a evitar). Thorndike em 1914, postulava para
que existisse uma transferência positiva era necessário haver “elementos idênticos” entre a tarefa original-
mente aprendido e a nova tarefa a aprender. Mais tarde Osgood (1947) enquadrado numa abordagem do tipo
estímulo-resposta precisou esta teoria referindo que a quantidade e a direcção do efeito de transfer está rela-
cionado com as similitudes existentes entre os estímulos e as similitudes das respostas. Esta teoria vulgarmente
conhecida pela teoria dos dois factores refere que quando as similitudes decrescem numa certa percentagem
não só não se produz transferência positiva como se passa para uma interferência de carácter ne-gativo como
é o caso do efeito de transfere entre tarefas “com elementos parecidos”. Nesta perspectiva, o treino, da mesma
forma que pode alargar e optimizar os limites da capacidade humana, quando mal dese-nhado (leia-se con-
struído) é um factor limitador dos futuros rendimentos ou da sua própria sustentabilidade. Neste domínio,
há uma evidência que se tem demonstrado à largos anos, só se é bom naquilo que especificamente se prat-
ica, e mais, os processos de adaptação específica e de aumento do rendimento especia-lizado é prejudicado
quando predomina no treino outros factores (leia-se não específicos) mesmo quando estes são de ocorrência
temporária, isto é, num determinado momento da sessão de treino ou num determinado período de
preparação para competição. Tomemos em consideração um exemplo prático para termos consciência sobre
a necessidade de utilização de exercícios com um determinado grau de especificidade no treino. Imaginemos
um jogador que começou a sua iniciação da modalidade aos 8 anos de idade e manteve-se até aos 20, isto é,
12 anos de prática ininterrupta utilizando exercícios correctos e específicos de futebol. Efectuará cerca de 2700
a 3000 horas de treino durante os quais realizará mais de 1.5 milhões de acções técnico-tácticas de passe,
100.000 remates e mais de 3 milhões de deslocamentos ofensivos ou defensivos durante as fases ofensivas e
defensivas do jogo. O simples facto de um outro treinador para o mesmo tempo total de treino dedicar mais
10 a 15 minutos para executar outro tipo de exercício que não seja específico do jogo de futebol, o jogador
executará cerca de 1 milhão de passes, 80.000 remates e cerca de 2 milhões de deslocamentos ofensivos ou
defensivos durante as fases ofensivas e defensivas do jogo. Com efeito, ao fim de 12 anos de treino o segun-
do jogador terá um "défice técnico-táctico" no final da sua formação que muito dificilmente recuperará ao
longo do resto da sua vida como praticante. É verdade que a quantidade não determina de imediato quali-
014 Guia prático de exercícios de treino

dade, todavia, há uma forte relação entre o número de vezes que se executa uma acção de predominância téc-
nica ou de predominância técnico-táctico e o nível de performance (rendimento) conseguido por este.

O objectivo do livro

O conteúdo deste livro centra-se numa problemática em que a evolução da praxis do futebol, resul-
ta da interacção entre o jogo (a sua lógica interna) e do jogador (a lógica de como este aprende, evolue e se aper-
feiçoa) os quais por sua vez evidenciam um terceiro problema estabelecido pela lógica do exercício de treino
(considerado como uma construção hipotética potencialmente capaz de organizar e orientar a actividade do
jogador). Assim, para além das questões que derivam (1) da análise, sistematização, evolução, (2) dos diferentes
aspectos de ordem metodológica (fa-ctores, etapas, princípios, unidades de programação, etc.), na procura de
uma didáctica pedagógica eficaz para para o jogo de futebol, (3) o exercício de treino é um meio, que se confi-
na como um dos mais importante da actividade do treinador. Ora, se é um meio essencial desta actividade
profissional deve-se ter para com este - exercício de treino, um respeito, uma reflexão, um estudo e uma pro-
fundidade conducente com a sua real importância, não só na actividade profissional do treinador como tam-
bém no processo de formação/desenvolvimento dos jogadores ou das equipas. Nesta dimensão procuramos
poder contribuir, se possível decisiva-
mente, para que o exercício de treino
seja encarado, reflectido, analisado e
utilizado como uma individualidade,
uma intimidade e uma lógica fun-
cional, contendo assim, todos os ele-
mentos essenciais e vitais para se con-
stituir como instrumento operacional para ultrapassar fronteiras consubstanciadas pela limitada capacidade
humana. É com esta entrega deliberada (no sentido de se tomar uma opção), racional (na dinâmica da inteligi-
bilidade) e apaixonada (orientada para um objectivo exclusivo) que se poderá concretizar um determinado
desígnio, pretexto para abarcar grande parte, senão a maior, só sendo possível pelo cumprimento rigoroso, sis-
temático, coerente e inteligível do ciclo do exercício de treino que:
1. “Nasce” da reflexão intelectual do treinador na procura dos melhores meios para elevar racionalmente as
capacidades desportivas dos seus jogadores ou da sua equipa.
2. “Vive” durante o tempo da sua aplicação na qual o jogador terá que respeitar as suas prescrições e obri-
gações por forma a potenciar um certo comportamento motor específico.
3. “Morre” logo após o terminus da sua execução, deixando no entanto, a sua sustentável existência traduzi-
da nos efeitos de origem interna que produzem no jogador a curto, médio ou longo prazo.
4. “Ressuscita” através da continua e sistemática aplicação do mesmo ou de outros exercícios de carácter mais
complexo que se desenvolvem na base dos primeiros.
5. “Autorregenera-se” devido à necessidade de se estudar os seus efeitos (de carácter positivo ou negativo)
por forma a se compreender a que nível qualitativo e quantitativo se interviu na elevação, manutenção ou
redução da capacidade de prestação desportiva do jogador.

A conceptualização e construção do exercício de treino para o futebol, em nossa opinião, assenta em


três pressupostos fundamentais de base que importa concretizar e equacionar permanentemente: 1) separar o
fazer interagir os diferentes factores de treino no mesmo exercício, 2) assumir a inevitabilidade de contextualizar
situações por forma a potencializar tomadas de decisão e, 3) que relações de inteligibilidade estabelecer entre a
realidade competitiva do jogo e do seu processo de treino.
Prefácio 015

Separar ou fazer interagir os diferentes factores


de treino no mesmo exercício
Muitos treinadores persistem em admitir tanto na teoria como na prática diária a existência de cons-
tantes dicotomias em relação ao trabalho físico, trabalho técnico e trabalho táctico. Com efeito, quando se
veri-fica que este ou aquele jogador demonstra durante as suas execuções técnicas ou técnico-tácticas a
existência, por exemplo, de um determinado déficit de força que influencia decisivamente o êxito dos seus
comportamentos, de imediato pensa-se que este deverá cumprir um programa de treino de força por forma
a colmatar o diagnóstico efectuado. Contudo, apesar da boa vontade demonstrada pelo treinador, quer na sua
análise quer na sua posterior intervenção ou dos seus colaboradores, é normal colocar-se o jogador perante
um conjunto de exercícios predominantemente físicos de carácter “artificial” para o melhoramento da capaci-
dade de produzir força. No entanto, estes programas de treino, geralmente, não têm em conta o contexto em
que esse ou esses comportamentos devem ser executados quer no âmbito do treino como da competição.
Normalmente esta estratégia de treino está condenada ao insucesso em termos de eficácia do processo, tanto
no que diz respeito à perda de tempo como ao gasto inútil de energias por parte do jogador que um progra-
ma desses acarreta. Este facto deriva que as condições de melhoria de uma das partes de todo um sistema de
resposta motora efectiva do jogador, bem como dos processos cognitivos que lhes estão na base, não teve em
conside-ração os contextos ou ambientes, por outras palavras, as diferentes interligações dos factores de
suporte em que essa participação muscular se faz sentir durante as respostas de índole técnica ou técnico-tác-
tica do jogador. A elevação do rendimento desportivo, quer no plano individual quer no plano colectivo,
jamais poderá passar por uma visão puramente analítica do problema, mas sim, por uma análise e uma opera-
cionalidade multifactorial conceptualizando exercícios de treino que potencializem situações contextualmente
análogas, condicionando diferentes níveis de complexidade (de maior ou menor grandeza) do problema que
equacionamos e queremos resolver. De outra forma, uma análise e uma operacionalidade analítica não equa-
cionará as interacções factoriais que cada problema no domínio competitivo em si encerra, protelando con-
sequentemente, a situação que queremos fazer evoluir. A mesma questão poderá ser reflectida quando se ver-
ifica que um jogador, por exemplo, falha consecutivamente muitas acções técnico-tácticas de passe. Pensa-se
de imediato que é preciso potencializar esta acção “isolando” o jogador “obrigando-o” a executar várias
repetições e vários exercícios tanto de carácter individual como colectivo em que a acção de passe seja pre-
ponderante em relação a todo o outro repertório de acções técnico-tácticas inerentes ao jogo de futebol.
Todavia, esquece-se do principal, que é, em que situações de treino ou jogo se verifica efectivamente que a
acção observada é ineficaz. Ao elevar-se o tempo e o número de exercícios de treino com carácter predomi-
nantemente técnico sem se ter em conta os contextos de jogo, nem os contextos em que efectivamente o
jogador falha a acção considerada, ou seja, em que contextos é que se verificam os erros de execução, o único
aspecto que se está a potencializar é a perda de tempo, e por vezes o que é mais negativo, a desautomatizar
um comportamento de base já com um determinado nível de qualidade. Complementarmente importa adi-
cionar a estes aspectos o factor monotonia dos exercícios e dos factores psicológicos negativos que advêm por
o jogador se sentir cada vez mais fragilizado pela ineficácia daquilo que podemos considerar como os seus: i)
comportamentos subjacentes, isto é, a capacidade de executar diferentes tipos de passe em dife-rentes situ-
ações de jogo e, ii) comportamentos adjacentes, referimo-nos às acções que se ligam predominantemente à
acção de passe como sejam a recepção da bola, a condução e o remate, já para não referir algumas acções
colectivas cuja realização, são suportadas fundamentalmente por este tipo de acção técnico-táctica (combi-
nações ou circulações tácticas).

Contextualizar situações por forma potenciar tomadas de decisão


As novas e actuais exigências do treino e da competição necessitam levar em linha de conta a forma
específica como cada jogador lida com as diferentes situações inerentes ao jogo de futebol por forma a opti-
mizar a sua performance. A tomada de decisão é um processo humano complexo sendo inerente a qualquer
actividade da nossa vida quotidiana, bem como na actividade desportiva. No que se refere à nossa análise, a
016 Guia prático de exercícios de treino

natureza e a contextualidade da decisão depende especificamente da lógica interna de cada modalidade


desportiva a qual determina para a sua correcta execução um conjunto de exigências, de controlo e regulação
do comportamento motor do jogador. Naturalmente, que a tomada de decisão sendo uma escolha entre
muitos actos motores possíveis de resolução da situação, determina de forma inexorável o pensamento e a
acção. Assim, cada jogador na solução de qualquer situação-problema (treino ou competição) por mais ou
menos complexa e dinâmica que o seu enquadramento exija, este é inerente à incerteza o qual deriva tanto
das informações que o jogador tem acesso a partir do contexto situacional, bem como dos seus resultados
sendo avaliadas quer de acordo com o seu nível de risco, quer estratégico, quer táctico, quer físico. Interagindo
com estes factores existem igualmente as características do jogador, como as suas preferências pessoais ou
expectativas subjectivas que podem influenciar as decisões. Aspecto fundamental da tomada de decisão que
distingue os jogadores experientes dos não experientes consiste: (1) na repetibilidade e similaridade que os
contextos situacionais se sucedem perante o jogador e a variabilidade decisional inerente que este vai assu-
mindo ao longo do treino e competição, (2) na quantidade de vezes que as várias situações são vividas tanto
na execução dos exercícios de treino bem como da competição, as quais criam uma série de rotinas no plano
da percepção/análise e solução mental permitindo a utilização de mais alternativas que facilitam a decisão e
uma solução motora cada vez mais adaptada aos circunstancialismos contextuais das situações e, (3) numa
me-lhor selectividade das informações mais pertinentes que irão desencadear padrões familiares de resposta
motora, padrões esses que são já controlados automaticamente. O êxito desportivo está essencialmente condi-
cionado pela aptidão do jogador em assimilar a variabilidade do envolvimento e em transformar a informação
disponível para realizar a acção. Assim, a compreensão do fenómeno da tomada de decisão passa pela capaci-
dade do jogador para integrar e interpretar a informação, cuja garantia e validade são imperfeitas. O jogador
fica entregue aos seus recursos, procedendo de duas formas: i) seguindo a sua intuição, ou seja, usando a
informação de forma que lhe é mais fácil (mesmo a informação mais acessível deixa uma série de incertezas
e dúvidas). Todavia, segundo Slovic (1982) as decisões e os julgamentos intuitivos dos indivíduos violam
muitos dos princípios fundamentais do comportamento óptimal ou, ii) usando a informação de forma lóg-
ica com o intuito de optimizar a sua resposta motora perante o problema. Todavia, importa perguntar se o
homem pretende actuar de forma óptima? Ou será que num momento umas decisões resolvem melhor o pro-
blema que outras? Constata-se assim, que todos os jogadores tem um repertório de regras de decisão, denom-
inadas de heurísticas (Svenson, 1979) as quais são desenvolvidas através: (1) das directrizes do treinador, (2)
da experiência do jogador e, (3) dos exercícios de treino que colocam diferentes situações-pro-blemas análo-
gas ou similares às que ocorrem especificamente na competição. Estas regras de decisão aprendidas e aper-
feiçoadas possibilitam soluções satisfatórias, de modo a não se despender demasiado tempo e esforço, em vez
de se fazerem melhores escolhas mas que necessitam mais esforço e tempo.
Aprofundemos este aspecto tomando em consideração um exemplo sintomático. Quando se verifi-
cou que a distância total percorrida por um jogador de futebol durante os 90 minutos variava entre os 6 e os
11 quilómetros (dependente da missão táctica deste dentro do sistema de jogo da equipa), logo se criou na
mente dos treinadores que no treino os jogadores percorreriam mais ou menos esta distância no princípio de
cada sessão e esta "parte física" ficaria de imediato resolvida. Mais tarde, apercebendo-se que esta distância
total exprimia diferentes velocidades (intensidades), diferentes mudanças de direcção, diferentes distâncias
parciais, etc., construíram-se exercícios de treino de dinâmica atlética (leia-se do atletismo) que contem-
plassem mais ou menos estas características. Só que se esqueceram que quando se corre no futebol faz-se
depois de se: (1) percepcionar e analisar a situação de jogo, (2) encontrar a solução mental da situação e só
então surge, (3) a resposta técnico-táctica que objective a resolução da situação de jogo que pode incluir ou
não a corrida como um elemento constituinte dessa mesma resposta. Isto significa que o jogador numa deter-
minada situação momentânea de jogo corre não pelo simples facto de correr, mas corre com ideias e pensa-
mentos cujo âmbito é determinado pela dimensão estratégico-táctica da situação. Isto significa que é funda-
mental preci-sar e centrar a construção dos exercícios de treino na actividade decisória dos jogadores e nos
processos co-gnitivos que lhes estão na base por forma a executar-se as acções motoras mais eficazes e mais
Prefácio 017

adaptadas à situação. E mais se acrescenta, é a partir do resultado da resposta motora do jogador, que este irá
analisá-la em função da sua eficácia, a qual permitirá interiorizá-la na sua memória tornando a experiência
significativa, logo facilitadora na resolução de outras situações idênticas (devido à participação da consciên-
cia) ou servindo de base para a resolução de uma nova situação momentânea de jogo (devido à utilização de
um pensamento produtor).
Concluindo, no futebol não ganha quem é mais rápido (veloz), quem salta mais alto ou quem corre
mais, mas sim, quem basicamente tem a capacidade de reconhecer em cada momento as invariantes estrutu-
rais do jogo e a capacidade de antecipar o desenvolvimento desses acontecimentos os quais se traduzem pela
utilização de procedimentos técnico-tácticos específicos adaptados às situações momentâneas de jogo, os quais
foram escolhidos dentro de um leque mais ou menos alargado de opções possíveis para aquele caso, sendo
suportados pelas diferentes componentes de dominante física (velocidade, força e resistência) numa corre-
lação íntima (não confundir com separada!) e premente. Nesta dimensão podemos acrescentar, que o jogo de
futebol tem uma estrutura multifactorial formando uma complexidade específica e pluridimensional, todavia,
partindo da sua lógica interna podemos analisar quais os factores de treino fundamentais a desenvolver e
sobre quais estes se suportam de forma coerente e correlativa. Inverter a ordem dos factores em treino é não
respeitar a lógica interna do jogo que se quer aprender, desenvolver ou aperfeiçoar, é tornar o processo de
treino arbitrário, como se operações de multiplicação se tratassem (8x4 ou 4x8 tem sempre o mesmo resulta-
do) é perder o seu carácter inteligível da relação consciente entre a competição, o treino e o jogador. “O mel-
hor técnico do Mundo não é um treinador internacional de grande sucesso mas sim o próprio jogo. Observem
o jogo e o jogo vos ensinará o que deverão fazer” (Cramer, 1987).

A relação de inteligibilidade entre a realidade competitivo


do jogo e do seu processo de treino
É fundamental não ignorar que os diferentes comportamentos motores executados pelos jogadores
em resposta aos variados contextos situacionais que a competição em si encerra, resultam do aperfeiçoamen-
to, durante o processo de treino, de forma particular e interactiva dos complexos sistemas de ordem co-gni-
tiva, nervosa, muscular, energética, etc., os quais constituem o ser humano. Com efeito, esses comportamen-
tos (acções motoras), produto final da conjugação de todos os sistemas orgânicos, devem ser observados e
interpretados de forma inteligível. Logo, nada poderá ser tão argumentativamente consistente como o facto
de a construção e aplicação dos exercícios de treino respeitarem e reflectirem essa inteligibilidade, sem a qual
a prática do treino encarada como um meio de preparação para a competição desportiva, por mais horas que
contemple, não tem qualquer sentido. Todos os treinadores relevam a importância dos seus jogadores serem
submetidos a uma prática variável, mas no fundo parecem não entender claramente esta noção. A prática va-
riável em termos operacionais significa variar as condições de prática, isto é, manipular de forma sistemática,
coerente e inteligente os diferentes parâmetros da resposta motora em função de um pro-blema específico
colocado por cada exercício de treino. Parte-se assim do princípio, que a estruturação de um contexto var-
iável das condições de prática contribui para a construção de esquemas motores mais genéricos, isto é, mais
adaptáveis e ajustáveis às diferentes situações determinadas pelos exercícios de treino, que na-turalmente
devem reproduzir de forma mais ou menos idêntica um ou múltiplos problemas específicos postos pelo
enquadramento competitivo do jogo de futebol. Desta forma, manipulando-se a sequência das decisões e da
prática de um certo número de comportamentos técnicos ou técnico-tácticos similares em função de dife-
rentes contextos de aprendizagem, aperfeiçoamento ou desenvolvimento, procura-se que uma interfira com
as outras. Não é de admirar que as acções motoras, especialmente as de carácter complexo, só sofram pressões
adaptativas quando treinadas em determinados contextos e circunstâncias proporcionadas por situações cujos
envolvimentos são diversificados. Se analisarmos as duas teorias que procuram analisar estes factos (da ela-
boração e da construção), embora divergentes na reflexão do fenómeno da interferência contextual, assentam
no entanto em termos explicativos num processo de natureza altamente cognitiva, isto é, a interferência con-
textual que deriva da variabilidade das condições de prática é mediada por variáveis cognitivas que se
018 Guia prático de exercícios de treino

traduzem na prática pelo: (1) aumento da capacidade do jogador para memorizar informação relacionada
com a resposta motora (reforça a resistência ao esquecimento), (2) incrementa a capacidade de discriminação
de pequenas e subtis variações da situação (identificação e retenção dos índices pertinentes) e, (3) potencia o
efeito de transfer positivo através da evocação de experiências anteriores (diminuindo-se significativamente o
tempo de aprendizagem e aperfeiçoamento da resposta motora). Marina (1993) refere relativamente ao movi-
mento inteligente que “numa jogada de basquetebol identificamos os elementos estruturais de toda a activi-
dade criadora: a invenção de um projecto, a sua promulogação, as operações para a realizar e os actos para a
sua avaliação. É a inteligência que possibilita a execução dessas capacidades”.
Aprofundemos através de um exemplo prático comparativo o que pretendemos evidenciar. Se apli-
carmos um exercício pliométrico aos jogadores para o desenvolvimento da sua prestação de força explosiva,
utilizando um certo número de repetições de saltos sobre barreiras, o programa motor para a sua execução é
de carácter “fechado” não havendo a possibilidade dessa “rotina motora” possa utilizar ajustamentos e repro-
gramações motoras “significativas” para além do normal relativamente à execução em causa. Contrariamente
se utilizarmos uma situação específica de treino de 3x3 sobre duas balizas o trabalho de força explosiva poderá
ser traduzida pelas constantes travagens com mudanças de direcção e velocidade e pelo número de saltos real-
izados para cabecearem a bola. Ao compararmos os dois exercícios acima referidos, observa-se que o segun-
do utiliza uma programação motora completamente distinta e especializada, tendo em conta os dife-rentes
aspectos que derivam da contextualização da situação a qual determina diferentes mecanismos decisórios e de
execução. Este facto objectiva a necessidade de constantes reprogramações motoras devido às constantes alter-
ações dessa situação. Todavia poder-se-á perguntar como podemos garantir que o segundo exercício cumpre
os pressupostos científico-metodológicos do treino pliométrico? A resposta é dada pelas prescrições (condi-
cionantes estruturais) estabelecidas para a realização do exercício. Por exemplo: (1) utilização de circulações
tácticas estandardizadas que devido à sua eficácia aumentam as possibilidades de cruzamento e de cabecea-
mento da bola (aumento do número de saltos por jogador na unidade de tempo), (2) considerar somente os
golos conseguidos através de cabeceamento com impulsão, (3) criar condições de espaço e tempo que poten-
cializem certos tipos de comportamento táctico-técnico em detrimento de outros (diminuição do número de
toques na bola por intervenção e restringir o número de passes do processo ofensivo para se poder finalizar
à baliza utilizando o cabeceamento). Sejamos claros! Um exercício de treino que faz interagir (nas suas difer-
entes proporções determinada pela sua lógica) os diferentes sistemas dos jogadores, aproximando-o à especi-
ficidade competitiva do jogo de futebol, tem um valor acrescentado porque estabelece padrões de resposta
motora e um número de repetições conducente à elevação do rendimento desportivo do jogador ou da equipa.
Neste sentido, todos os processos e sistemas do ser que joga estão em interacção, especialmente os processos
de recolha e tratamento de informação, da memória, da atenção selectiva, da antecipação, os quais, estão per-
manentemente a serem utilizados em virtude da variabilidade contextual do exercício. Noutro sentido, o exer-
cício de carácter “geral” ou “artificial” para além dos aspectos fisiológicos, musculares e de controlo da sua
execução, nada mais solicita no plano cognitivo, não tem nexo, textura e transferibilidade, todavia, são exer-
cícios muito utilizados na prática metodológica de velhos paradigmas que nada tem haver com as necessi-
dades do treino desportivo na actualidade. Nesta perspectiva, se pretendemos verdadeiramente estabelecer
uma relação significativa entre a lógica interna de uma dada modalidade desportiva, a lógica do jogador e a
lógica do processo de treino, devemos elaborar e construir modelos (simulações da realidade constituídos por
elementos específicos do fenómeno que se observa) de forma intencional susceptíveis de tornar inteligível um
fenómeno complexo. A construção de modelos de treino implica a representação de algo que é semelhante e
consistente com a realidade e apresenta como vantagens os seguintes três aspectos: (1) possibilita superar as
dificuldades inerentes à organização hierárquica dos diferentes factores e conteúdos específicos que derivam
da lógica interna do jogo de futebol (separa o que é fundamental do que é acessório), (2) possibilita uma
análise operativa e uma busca de carácter provisional de cada factor ou conteúdo preponderante na estrutu-
ra do rendimento dessa modalidade desportiva (analisando a parte em função do todo, sem perder a possi-
bilidade de analisar isoladamente cada factor de rendimento), (3) possibilita a criação de contextos mais ou
Prefácio 019

menos complexos que derivam da estrutura do processo competitivo inerente ao jogo de futebol, conservan-
do no entanto as informações, os contextos, as atitudes e os comportamentos substanciais e significativos do
jogo (independentemente do nível de complexidade do exercício de treino este nunca desvirtuará a sua lógi-
ca fundamental).

Concluindo, não se pode ignorar que a construção de um qualquer programa de treino seja para as
sessões, para os microciclos, para os mesociclos ou para a periodização anual os quais só podem manifestar a
sua essencialidade e objectividade quando correctamente suportadas numa unidade (célula) lógica de progra-
mação e de estruturação que é o exercício de treino. É com esta entidade nas suas diferentes facetas e pela sua
acumulação ao longo de um certo período de tempo, que se podem alterar constante, consistente e significati-
vamente as possibilidades de êxito do jogador ou da equipa a curto, médio e a longo prazo. A reflexão sobre o
exercício de treino e a sua operacionalidade é tão aliciante como perturbadora, que nos obriga por consciência
e necessidade profissional, dedicar racionalmente todo o nosso esforço, tempo e empenho num problema
temático que para muitos parece estar resolvido enquanto, para outros, parece estar no inicio de uma longa cam-
inhada. Poder-se-á referir que o exercício é um problema tão evidente dentro do contexto do processo de treino,
que talvez seja essa própria evidência que o atraíço provocando uma discrepância significativa entre a importân-
cia do assunto e as reflexões teórico-práticas que procuram debruçar-se sobre ele, bem como dos parâmetros
fundamentais que deverão ser manipulados para a sua correcta elaboração compatibilizando todas as invariáveis
e variáveis inerentes a este processo pedagógico. Noutro sentido podemos observar mais concretamente, que a
pouca escrita sobre o exercício também advém da sua dificuldade traduzida: (1) pelo seu forte determinismo,
porque quando correctamente construído, aplicado e corrigido potencia claramente uma riqueza de base
humana evidenciado nas elevadas prestações desportivas alcançadas e, (2) pela sua volatilidade, pois quantas
vezes ao utilizarmos este ou aquele exercício pensamos que os seus efeitos estão direccionados para um deter-
minado sentido de evolução do jogador e após algumas sessões ou semanas de trabalho verificamos que esses
mesmos efeitos se manifestam colocando-nos numa direcção completamente oposta aquela que nos propuse-
mos. A lógica funcional e relacional do exercício de treino é precária e instável visto depender, por um lado, do
nível de capacidade do jogador no momento da sua aplicação, e por outro, dos diferentes níveis de complexi-
dade que estruturam cada patamar evolutivo de aperfeiçoamento ou desenvolvimento relativamente à lógica do
jogo de futebol.

A organização do livro

O presente livro está organizado em quatro partes fundamentais e 18 capítulos subjacentes.


Na primeira parte estudaremos a organização dinãmica do jogo de futebol que assenta em seis vertentes fun-
damentais, cujo funcionamento só têm sentido quando ligadas ao todo. Assim, elegemos como elementos
essenciais o: (1) cultural. Um dos aspectos básicos de qualquer organização, seja qual for o seu domínio, não
poderá existir, desenvolver-se e aperfeiçoar-se se não continuar dentro de si própria um conjunto de valores
e finalidades partilhados por todos os seus membros. Na mesma e precisa dimensão, a organização de uma
equipa de futebol não poderá subsistir se os seus jogadores não aderirem a uma visão comum, por forma a
direccionar efectivamente as suas decisões, atitudes e comportamentos com o intuito de estabelecer uma
coerência interna, (2) estrutural. Neste domínio, a equipa deve ser encarada como um campo de forças,
suportada pelos jogadores que representam cada um, uma linha de força, os quais agem conjuntamente
(cooperando) e interagindo os seus esforços confrontando-se com uma outra equipa (outro campo de forças),
que têm objectivos diametralmente opostos. Com efeito, cada situação de jogo, que a cada momento se sucede
é resolvida com vista à persecução dos objectivos preestabelecidos racionalizando continuamente o espaço de
jogo e as funções (missões) tácticas definidas para cada jogador, (3) metodológico. Representa a coordenação
geral e a sequência temporal de execução de comportamentos técnico-tácticos dos jogadores tanto no proces-
so ofensivo como defensivo, (4) relacional. Estabelece as linhas orientadoras, em virtude das quais os
020 Guia prático de exercícios de treino

jogadores orientam e coordenam as suas decisões, atitudes e comportamentos, por forma a assegurar-se rap-
idamente a solução táctica para cada situação de jogo e do estabelecimento de uma linguagem comum den-
tro da equipa com o objectivo de melhorar a sua funcionalidade, (5) técnico-táctico. Todos os jogadores
devem ter um repertório de respostas motoras, por forma a resolver as diferentes e complexas situações
momentâneas de jogo, optando consciente e adaptadamente em função dos objectivos tácticos e estratégicos
pretendidos e, (6) táctico-estratégico. Expressa uma planificação que analisa, define e siste-matiza as difer-
entes operações inerentes à construção e desenvolvimento de uma equipa. Assim, organiza-as em função das
finalidades, objectivos e previsões, escolhendo as decisões que visem o máximo de eficácia e funcionalidade
da mesma.
Na segunda parte iremos analisar a unidade lógica de estruturação e programação do treino de futebol
reflectindo sucessivamente: (1) os fundamentos do exercício de treino, no qual se desenvolvem as questões
inerentes: à sua definição, caracterização, natureza e estrutura, (2) as lógicas estruturais do exercício de
treino dentro das quais se sobrelevam os aspectos da adaptação funcional do jogador suportado pelas com-
ponentes e condicionantes estruturais do exercício de treino, (3) os princípios de aplicação do exercício de
treino, que têm por objectivo sistematicamente direccionar, orientar, moldar e controlar a globa-lidade da
actividade dos jogadores e das equipas, por forma a lhes conferir uma maior eficácia e eficiência. Neste
domínio, evidenciamos princípios de carácter: biológico, metodológico e pedagógico e, (4) as bases de eficá-
cia dos exercícios de treino, que envolve: a concepção fundamentalmente determinada pela capacidade
momentânea do jogador ou da equipa, e a lógica interna do jogo de futebol, a apresentação na qual se estab-
elecem os objectivos e a forma de os concretizar, a prática/repetição onde se criam as condições mais
favoráveis para se atingir os objectivos pretendidos e a correcção, por forma a evitar-se a consolidação de
hábitos motores inadequados aos objectivos pretendidos e que posteriormente serão de difícil modificação.
Na terceira parte dedicamos o nosso esforço à concepção e organização prática de exercícios de treino esta-
belecendo uma taxonomia que consubstancia três níveis fundamentais: (1) os execícios de preparação geral,
os quais são conceptualizados e operacionalizados sem ter em conta nem os contextos situacionais, nem as
condicionantes estruturais objectivas em que se realiza a competição, (2) os exercícios gerais de preparação
específica manipulam as condicionantes estruturais como o espaço, o número, o tempo, o regulamento, etc.,
por forma a criar condições favoráveis para potenciar a relação do jogador com a bola e um número restrito
de companheiros e adversários com quem este se relaciona, os quais irão ser progressivamente aumentados
até ao número estabelecido pelo regulamento da modalidade e da capacidade de prestação dos jogadores.
Neste âmbito conceptualizamos exercícios: i) para o aperfeiçoamento da acção de recepção e passe, ii) para a
manutenção da posse da bola e, iii) de dominante técnico-física e por último, (3) os exercícios específicos
constituem-se como o núcleo central da preparação dos jogadores tendo sempre em consideração as
condições estruturais em que as diferentes situações de jogo se verifiquem. Neste âmbito conceptualizamos
exercícios: i) de finalização em condições favoráveis de espaço, tempo e número de jogadores, ii) circulações
tácticas para a criação de situações de finalização, iii) para potenciar comportamentos técnico-tácticos em
função das missões específicas dentro da organização da equipa, iv) para a articulação dos sectores de jogo de
organização da equipa e, v) para potenciar as situações de bola parada.
Na quarta parte desenvolvemos os aspectos mais importantes para a conceptualização e organização da sessão
de treino em futebol. Neste sentido, iremos analisar cinco aspectos fundamentais da sessão de treino: (1) a
duração, (2) a forma, (3) a estrutura, (4) os tipos e, (5) a elaboração.
021

Futebol
Guia prático de exercícios de treino PARTE I
A ORGANIZAÇÃO
DINÂMICA DO
JOGO DE FUTEBOL

É definido pelo conjunto complexo de repre-


sentações, valores, finalidades, objectivos e
Capítulo 1 símbolos, partilhados em interacção
O subsistema cultural por todos os jogadores.

Capítulo 2
É representado pela coordenação (sincroniza-
O subsistema estrutural ção) comportamental dos jogadores e pelo
ritmo de execução das suas acções téc-
nico-tácticas.
Capítulo 3
O subsistema metodológico
É suportado pelo posiciona-
mento dos jogadores no terreno É constituído por comportamentos de base
de jogo e pelas funções tácticas Capítulo 4 que os jogadores accionam na fase de
gerais e específicas distribuídas ataque ou de defesa por forma a re-
O subsistema relacional solucionar as situações de jogo.

Capítulo 5
É formado pelas linhas ori-
entadoras do pensamento táctico O subsistema técnico-táctico
dos jogadores, que visam a resolução
operativa das situações de jogo.
Capítulo 6
O subsistema táctico-estratégico

É consubstanciado pelo méto-


do que analisa, define e sistemati-
za as diferentes operações inerentes à
construção e desenvolvimento de uma
equipa.
022 Guia prático de exercícios de treino

Parte UM
O jogo de A ORGANIZAÇÃO DINÂMICA DO JOGO DE FUTEBOL
futebol
Parte UM O futebol é um jogo desportivo colectivo, no qual os intervenientes (jogadores) estão agru-
O jogo de pados em duas equipas numa relação de adversidade - rivalidade desportiva, numa luta
incessante pela conquista da posse da bola (respeitando as leis do jogo), com o objectivo de
a introduzir o maior número de vezes na baliza adversária e evitá-los na sua própria baliza,
com vista à obtenção da vitória. Para se atingir esta finalidade, o futebol possui uma dinâmi-
ca própria, um conteúdo que podemos definir como essência do jogo a qual é moldada pelas
suas leis e regulamentos dando origem a uma série de atitudes e comportamentos técnico-
tácticos. Concretamente, é o jogo que determina o perfil das exigências impostas aos
jogadores, originando assim um quadro experimental específico. Isto é válido, tanto para as
acções motoras em si, e o seu consequente desempenho, como para as solicitações de ordem
psíquica e a sua exteriorização em termos de resposta.
A natureza do jogo de futebol fundamenta-se no seu carácter "lúdico, agonístico e proces-
sual, em que os 11 jogadores que constituem as duas equipas, encontram-se numa relação de
adversidade típica não hostil - denominada de rivalidade desportiva" (Teodorescu, 1983). As
equipas em confronto directo formam duas entidades colectivas que planificam e coordenam
futebol as suas acções para agir uma contra a outra, cujos comportamentos são determinados pelas
A organização dinâmica do jogo de futebol

relações antagónicas de ataque/defesa. Representam assim, nesta perspectiva, uma forma de


actividade social, com variadas manifestações específicas, cujo conteúdo consta de acções e
Parte UM interacções. A cooperação entre os vários elementos é efectuada em condições de luta com
O jogo de adversários (oposição), os quais por sua vez, coordenam as suas acções com vista à desorga-
futebol nização dessa cooperação. Os desportos colectivos, incluindo naturalmente o jogo de futebol,
podem ser encarados sob diferentes perspectivas que evidenciam diferentes aspectos funda-
mentais para a sua compreensão e caracterização. Neste sentido, analisaremos quatro dessas
Parte UM aproximações:
1. A aproximação regulamentar. De forma sucinta podemos assinalar que o regulamen-
O jogo de to normaliza as condutas dos jogadores, estabelecendo as condições de confrontação quer
futebol individual, quer colectiva, e que em última análise determina o sentido e o espírito do
jogo.
2. A aproximação psicossocial. A partir de um outro ponto de vista, os jogos desportivos
colectivos podem ser encarados como situações de exploração dinâmica de grupos. Neste
caso, o jogo cria as condições de confrontação entre dois grupos com objectivos perfeita-
mente antagónicos, os quais se consubstanciam como um campo de forças que tendem a
manter-se em equilíbrio. Os diferentes posicionamentos dos jogadores traduzem-se por
relações de forças, e a mudança do posicionamento equivale à mudança de estrutura. A
táctica adoptada durante a competição resulta em grande parte de uma análise destes jogos
de força, escolhendo a melhor articulação estratégica que proporcione o rompimento do
equilíbrio da estrutura adversária, retirando para si a vantagem que advém deste facto.
Nestas circunstâncias, as constantes mudanças posicionais dos jogadores determinam con-
sequentemente uma enorme diversidade de situações momentâneas de jogo, que por si
estabelecem a existência de um envolvimento continuamente instável com carácter de
incerteza, reforçado pelo facto de a iniciativa do jogo mudar em função da equipa ter a
posse da bola (processo ofensivo) ou não ter a posse da bola (processo defensivo).
3. A aproximação técnica. Os modelos de execução técnica utilizados durante as situações
A organização dinâmica do jogo de futebol 023
A organização dinâmica do jogo de futebol

de jogo estabelecem-se como um dos parâmetros básicos que configuram e determinam a Parte UM
sua resolução. Uma das classificações mais utilizadas considera duas grandes categorias:
(1) "habilidades fechadas": em que a execução técnica é realizada num contexto (envolvi- O jogo de
mento) relativamente estável e, (2) "habilidades abertas": em que a execução técnica é futebol
realizada face a uma grande variabilidade do contexto da situação do jogo. Com efeito, o
desempenho motor dos jogadores está estreitamente relacionado com a capacidade destes Parte UM
responderem de forma adaptada e eficaz às constantes e diversas mudanças que se pro- O jogo de
duzem no envolvimento. Qualquer uma destas "habilidades" - fechadas e abertas, podem
ser observadas no jogo de futebol, enquanto as primeiras se verificam fundamentalmente
nas reposições de bola em jogo (livres, pontapés de canto, de saída, de baliza, etc.), as
segundas são utilizadas em todas as outras situações de jogo.
4. A aproximação táctica. Ao observarmos o jogo de futebol imediatamente chegamos à
conclusão do elevado grau de complexidade que os comportamentos técnico-tácticos dos
jogadores em si encerram. Executar uma acção correcta, no momento exacto, empregan-
do a força necessária, imprimindo a velocidade ideal, antecipando as acções dos adver-
sários, e tornando compreensível a sua acção em relação aos companheiros, são alguns dos
elementos que qualquer jogador deve ter em conta antes de tomar uma decisão. Com
efeito, o comportamento dos jogadores só é compreensível considerando-os como indiví-
duos que têm que dar uma resposta eficaz às várias situações momentâneas de jogo,
porquanto estes são obrigados a adaptar-se rápida e continuamente a si próprios, às neces-
sidades da equipa e aos problemas postos pela equipa adversária. É nestas circuns-tâncias
futebol
que o jogo de futebol é considerado de preponderância táctica, que consubstancia a neces-
sidade de resolução das situações de jogo, isto é, problemas tácticos continuamente var-
iáveis, os quais derivam do grande número de adversários e companheiros com objectivos
Parte UM
opostos, através do factor técnico-coordenativo. Isto significa, que a resolução de qual- O jogo de
quer situação de jogo se consubstancia numa dupla dependência: (1) da capacidade téc- futebol
nico-coordenativa do jogador: "se uma situação de jogo determinar uma mudança do
ângulo de ataque que o jogador não pode realizar, é necessário que este escolha uma outra
solução que não será na lógica das opções tácticas mais eficazes, mas que exprimirá as pos- Parte UM
sibilidades de resposta desse jogador nesse momento" (Grehaigne, 1992) e, (2) da opção
táctico-estratégica tomada pelo jogador: "na qual procura surpreender os adversários O jogo de
executando uma resposta imprevisível dentro das opções lógicas da situação por forma futebol
que resulte na rotura da organização da equipa adversária" (Grehaigne, 1992). Com efeito,
o jogo de futebol constitui-se como um notável meio de expressão. Esta perspectiva assen-
ta no facto dos jogadores disporem de um amplo conjunto de possibilidades e de proced-
imentos técnico-tácticos com vista à resolução das situações de jogo. Todavia, a natureza
desta resolução não é “unidireccional”, pois, pode partir de diferentes condições iniciais
para chegar ao mesmo objectivo, isto é, utilizar dife-rentes caminhos para atingir a mesma
finalidade
Uma aproximação táctica não significa somente uma organização em função do
espaço de jogo e das missões específicas dos jogadores, esta pressupõe, em última análise,
a existência de uma concepção unitária para o desenrolar do jogo ou, por outras palavras,
o tema geral sobre o qual os jogadores concordam e que lhes permite estabelecer uma "lin-
guagem comum". Neste sentido, a táctica impõe diferentes atitudes e comportamentos
consubstanciados num conjunto de combinações, cujos mecanismos assumem um carác-
ter de uma disposição universalmente válida, edificada sobre as particularidades do
envolvimento (meio). Assim, a inteligência do jogador em jogo deverá permitir um pen-
samento lógico, flexível, original e crítico, garantindo a execução óptima das habilidades
024 Guia prático de exercícios de treino

tácticas e permitindo modificações autónomas da acção segundo as circunstâncias contextuais da situação.

Concluindo, as diferentes aproximações analisadas, embora se complementem umas às outras, esta-


belecendo um perfil básico de compreensão do jogo, não abrangem a sua totalidade. Em nossa opinião, uma
perspectiva dinâmica da organização do jogo de futebol implica uma maior amplitude e especificidade na
resposta às exigências de desenvolvimento da modalidade na actualidade. Assim, partindo de um quadro que lhe
é indissociável, que deriva das Leis e regulamentos inerentes a esta modalidade, a organização dinâmica do jogo
de futebol deverá assentar em seis vertentes fundamentais, cujo funcionamento só têm sentido quando li-gadas
ao todo. Com efeito, uma rotura de um dos seus elementos, afecta não apenas esse elemento, mas também o
desempenho geral do sistema num determinado grau de proporcionalidade e profundidade, relativamente à
importância imediata desse elemento em desagregação. Assim, elegemos como elementos essenciais:
1. Cultural. Um dos aspectos básicos de qualquer organização, seja qual for o seu domínio, não poderá exis-
tir, desenvolver-se e aperfeiçoar-se se não conter dentro de si própria um conjunto de valores e finalidades
partilhados por todos os seus membros. Na mesma e precisa dimensão, a organização de uma equipa de fute-
bol não poderá subsistir se os seus jogadores não aderirem a uma visão comum por forma a direccionar efe-
ctivamente as suas decisões, atitudes e comportamentos com o intuito de estabelecer uma coerência interna.
Assim, em situação de treino ou competição, todos os elementos ligados à equipa devem ser parte actuante e
participante para o desenvolvimento dessa organização
2. Estrutural. Neste domínio, a equipa deve ser encarada como um campo de forças, suportada pelos
jogadores que representam cada um, uma linha de força, os quais agem conjuntamente (cooperando) e inte-
ragindo os seus esforços confrontando-se com uma outra equipa (outro campo de forças), que têm objectivos
diametralmente opostos. Com efeito, cada situação de jogo, que a cada momento se sucede é resolvida com
vista à persecução dos objectivos preestabelecidos racionalizando continuamente o espaço de jogo e as funções
(missões) tácticas definidas para cada jogador.
3. Metodológico. Representa a coordenação geral e a sequência temporal de execução de comportamentos téc-
nico-tácticos dos jogadores tanto no processo ofensivo como defensivo. Estabelecem-se assim, os princípios
de circulação e de colaboração dos jogadores no seio da organização da equipa.
4. Relacional. Estabelece as linhas orientadoras, em virtude das quais os jogadores orientam e coordenam as
suas decisões, atitudes e comportamentos, por forma a assegurar-se rapidamente a solução táctica para cada
situação de jogo e do estabelecimento de uma linguagem comum dentro da equipa com o objectivo de
melhorar a sua funcionalidade.
5. Técnico-táctico. Todos os jogadores devem ter um repertório de respostas motoras, por forma a resolver
as diferentes e complexas situações momentâneas de jogo, optando consciente e adaptadamente em função
dos objectivos tácticos e estratégicos pre-
tendidos.
6. Táctico-estratégico. Expressa uma pla-
nificação que analisa, define e sistematiza as
diferentes operações inerentes à cons-trução
e desenvolvimento de uma equipa. Assim,
organiza-as em função das finalidades,
objectivos e previsões, escolhendo as
decisões que visem o máximo de eficácia e
funcionalidade da mesma.

Figura 1. Os subsistemas da organização dinâmica do jogo de futebol


025
Foto cedida pela revista Training

Futebol
Guia prático de exercícios de treino CAPÍTULO 1
O SUBSISTEMA
CULTURAL

Neste primeiro capítulo incidiremos o nosso


esforço de reflexão sobre o subsistema cultural
da organização dinâmica de uma equipa de fute- A organização de uma equipa de futebol passa inevitavelmente pelo
bol, do qual derivam: (1) as finalidades, as re- seguinte objectivo: marcar golos na baliza adversária e evitá-los na
presentações, os valores e as convicções partil- nossa própria baliza, pois só assim se poderá atingir a vitória.
hadas pelos diferentes jogadores que aderem a Esta premissa, que habitualmente não é mencionada pela sua
clara evidência, é aquela que condiciona todo o trabalho
uma visão comum da equipa. Estabelecendo
colectivo na perseguição desta finalidade intrínseca
uma direccionalidade às suas atitudes, decisões e do jogo.
comportamentos técnico-tácticos, (2) o desen-
volvimento de um conjunto de condições nor-
mativas construídas dentro da equipa, com a
finalidade de manter a sua coerência interna, (3)
o respeito pelas Leis do jogo que normalizam e
As Leis do jogo estabelecem-se como elemento do sub- condicionam as atitudes e os comportamentos
sistema cultural da organização do jogo de futebol, pois, dos jogadores perante as situações de jogo e, (4)
normalizam e condicionam os comportamentos técnico-tácti- a compreensão das regras estabelecidas para uma
cos dos jogadores, fomentam formas de relação com os compan- determinada competição desportiva (a eliminar
heiros, adversários, com a bola e espaço, que em última análise, deter-
ou por pontos).
minam o sentido e o espírito do jogo.
026 Guia prático de exercícios de treino

Parte UM
O SUBSISTEMA CULTURAL
Capítulo
UM
1. Conceito de subsistema cultural
O subsis - O subsistema cultural que deriva da noção de organização dinâmica de uma equipa de
tema cul - futebol, é definido por um conjunto complexo de representações, valores, finalidades, obje-
ctivos, símbolos, etc., partilhados em interacção por todos os jogadores, as quais estabelecem
as formas como a equipa encara e responde perante a competição desportiva, tendo em
atenção as Leis do jogo.

2. Natureza do subsistema cultural


A natureza do subsistema cultural é resultante da interacção de três aspectos essenciais: (1)
da instituição (Clube) que cristalizou ao longo da sua herança história uma forma de estar e
actuar, em ordem a corresponder aos anseios e solicitações vindas dos seus adeptos, simpa-
tizantes e da sociedade em geral que a envolve. Neste enquadramento importa referir, que a
instituição - Clube, SAD etc., vive diariamente
com a angústia e o medo advindo de dois pólos
opostos. O primeiro, deriva da tendência das Foto cedida pelo jornal O JOGO

instituições priviligiarem a estabilidade em con-


tural traste com a mudança, recusando assim, tudo
aquilo, que em seu entender possa ferir hábitos
e tradições. Ao comportar-se desta forma, perde
Parte UM a oportunidade e a possibilidade de inovar no Foto 2. A instituição - Clube
Capítulo momento certo e acompanhar a evolução dos
tempos, tendo sempre respostas antigas para problemas actuais. O segundo, refere-se à pos-
UM sibilidade de uma aceitação passiva daquilo que pensam ser a modernidade quando esta não
O subsis - é compatível e compaginável com o passado. Uma instituição que não perceba a grandeza do
tema cul - seu passado não pode ter futuro ou no mínimo tem sempre um futuro incerto. Neste senti-
do, nem o passado pode ser impeditivo de se compreender as novas realidades, necessidades
tural e as respostas perante o presente, nem a construção
do presente perspectivando o futuro pode ser con-
struído sem a refundição do passado. Uma ideia nos
Foto cedida pelo jornal O JOGO

Parte UM parece correcta, Clube sem um passado e sem uma


Capítulo cultura não consegue atingir o êxito, muito menos os
grandes sucessos. Exemplo vivo deste facto, pode ser
UM Foto 3. O respeito pelas glórias do passado observado pelas equipas que normalmente atingem
as grandes vitórias ao nível Nacional e Internacional,
(2) pelo conjunto de relações estabelecidas pelos
jogadores dentro do seio da equipa, as quais derivam das suas aprendizagens, experiências,
tomadas de decisão e modelos de acção. Assim,
é fundamental tanto para as Direcções dos
Clubes, SAD’s, etc., e o treinador estarem aten-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

tos à complexidade dessas acções e inte-racções


assumindo que cada jogador é uma individuali-
dade própria intransmissível cujas suas carac-
terísticas necessitam de ser respeitadas, poten- Foto 4. As relações de cooperação dentro do seio
cializadas e canalizadas a favor do colectivo, isto da equipa
A organização dinâmica do jogo de futebol 027

é, todos estão dependentes uns dos outros e, (3) pelo treinador, cuja actividade se radica num Parte UM
projecto cultural com objectivos de formação ou rendimento desportivo, que é preciso aper-
feiçoar e desenvolver. Todavia importa sublinhar, que tanto o treinador como os jogadores Capítulo
devem compreender e assimilar o melhor possível a história, a tradição e a cultura da insti- UM
tuição - Clube, pois a sua representação (contratação no
domínio profissional) visa a valorização do Clube e O subsis -
depois sim, as pessoas que o servem. A acção do tema cul -
Foto cedida pelo jornal O JOGO
treinador nesta perspectiva, não é só fundamental como
decisiva. Assim, o treinador deverá criar todas as
condições necessárias e suficientes para que os jogadores
Foto 5. O treinador como elemento
melhorem as suas capacidades e competências de decisão
decisivo na concretização de um projec- e de execução procedimental, em função do cumprimen-
to cultural to de um modelo de jogo assumido pelo Treinador e pela
instituição. Clubes existem, que ao longo dos tempos
conceptualizaram e cristalizaram progressivamente um modelo, para o qual terá todo o sen-
tido que o treinador venha a aperfeiçoá-lo e dar-lhe o seu cunho pessoal e personalizado, não
sendo aconselhável inverter bruscamente o seu desenvolvimento, especialmente quando este
é consentâneo às perspectivas de evolução do jogo de futebol. O treinador ao obrigar que os
jogadores cumpram os aspectos fundamentais do modelo de jogo: (1) respeita os vínculos
que o ligam à instituição, (2) promove um caminho de desenvolvimento da equipa que lhe
parece mais correcto, (3) focaliza com maior precisão as funções tácticas que irão ser tural
atribuidas aos jogadores, (4) fomenta uma melhor comunicação interna, isto é, uma lin-
guagem comum entre os jogadores e entre estes e o treinador, (5) atender à evolução do jogo
de futebol em função do enquadramento competitivo em que estão inseridos, (6) evita que Parte UM
determinado tipo de jogadores devido às suas particularidades e competências possam desvir- Capítulo
tuar o próprio modelo por forma a valorizarem-se somente a eles próprios, (7) potencia um
determinado tipo de atitudes, decisões e comportamentos técnico-tácticos que reproduzem
UM
as características e particularidades do modelo de jogo, sem que a criatividade e a impro- O subsis -
visação das acções dos jogadores seja uma trave mestra da sua construção, (8) direcciona tema cul -
objectivamente a responsabilidade do incumprimento dos objectivos delineados para a época
desportiva, (9) estabelece a possibilidade de alteração pontual de pressupostos, que não são tural
compaginaveis com o rendimento desportivo evolutivo da equipa.
Nestas circunstâncias, a natureza do subsistema cultural deriva essencialmente das
seguintes quatro vertentes fundamentais: (1) as finalidades, os valores e convicções, (2) o Parte UM
desenvolvimento de condições normativas, (3) as Leis do jogo de futebol e, (4) pelos dife- Capítulo
rentes tipos de competição (a eliminar, por pontos, torneio, etc.).
UM
2.1. As finalidades, os valores e as convicções
As finalidades, os valores e as convicções partilhados pelos diferentes jogadores
que constituem a equipa, influenciam indelevelmente as suas atitudes e os seus comporta-
mentos, perante a necessidade de resolucionar
os diferentes contextos situacionais de jogo. Esta
influência traduz-se numa dupla dimensão, por
Foto cedida pelo jornal O JOGO

um lado, atribuindo-lhes um significado e um


sentido, que se quer colectivo e, por outro, uma
direccionalidade (finalidade) às suas atitudes e
comportamentos técnico-tácticos. As finali-
Foto 6. A equipa de futebol dades, os valores e as convicções são, em última
028 Guia prático de exercícios de treino

análise, o traço de união do espiríto ou da alma da equipa não devendo haver dúvidas quanto a estes pressu-
postos por parte dos jogadores, especialmente quando são profissionais. Nesta perspectiva, cada jogador adere a
"uma visão" comum, isto é, assume uma consciência colectiva, factor fundamental para a união e coerência inter-
na da equipa. Entre muitos aspectos fundamentais, esta consciência colectiva é complementada essencialmente
pelos seguintes aspectos:
2.1.1. Criação de um ambiente colectivo e intimista, que se traduz, entre muitos aspectos: (1) pela utilização
de roupa comum para o treino e para as viagens, (2) a capacidade de reagir de forma colectiva às dificuldades
e vicissitudes do treino, dos resultados da competição, (3) no aperfeiçoamento da comunicação dentro da
equipa, (4) no respeito pelas condições normativas vigentes, (5) criação de climas de trabalho, (6) respeito pela
história e ressuscitar tradições do Clube por forma a aumentar a sua coesão, (7) fazer aproximar os níveis de
aspiração individual com os objectivos da equipa, (8) reacção colectiva a comen-
tários considerados menos correctos por parte dos jogadores de outras equipas ou
de jornalistas, (9) refeições conjuntas nas horas que antecedem as competições
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

com os alimentos estipulados pelo departamento médico, (10) os problemas emer-


gentes, quer do ponto de vista disciplinar, regulamentar, médico, etc., são resolvi-
dos e mantidos no seio da equipa. “O sentir colectivo é algo mágico que anda no
ar sempre que nos juntamos. Como se
estivéssemos colados uns aos outros e isso

Foto cedida pelo O JOGO


Foto 7. As viagens nos transmitisse uma maior força do que
aquela que individualmente seríamos
capazes” (Araújo, 2000).
Foto 8. A imprensa desportiva
2.1.2. Determinação das obrigações e funções de cada jogador den-
tro da equipa, consubstanciando um processo de dar e receber mutuamente. Estabelece-se neste sentido, e à
priori (em função das expectativas próprias de cada jogador): (1) o lugar que este ocupa em relação aos seus
compa-nheiros. O espirito de grupo, o grau de coesão da equipa aumenta exponencialmente à medida que os
jogadores percepcionam e consciencializam as suas tarefas, responsabilidades e direitos
que lhes cabem dentro do colectivo e, (2) uma ideia precisa das suas tarefas e missões
técnico-tácticas dentro da equipa, o que a equipa espera dele e, a melhor forma deste cor-
responder a essas expectativas. Cada jogador, consoante as suas características e personal-
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

idade deve saber o que o treinador julga dever ser o seu desempenho e de modo contin-
uado e persistente receber a informação de retorno acerca do modo como está ou não a
corresponder. Noutro sentido, a ausência da determinação das obrigações e funções de
cada jogador fomenta um clima de rivalidade generalizada entre estes, os quais desen-
Foto 9. As conferên- volvem ao longo do tempo (especialmente quando os resultados desportivos não corre-
cias de imprensa spondem aos objectivos e intenções da equipa), um sentimento de frustração e de agres-
sividade, contrário ao correcto espírito da equipa, absorvendo e direccionando inutil-
mente grande parte das suas energias individuais e colectivas. É evidente que não se pode negar a rivalidade
humana existente no seio da mesma equipa. "A ideia tão usada de onze companheiros, sempre de acordo e
inseparáveis deve ser observada com largo cepticismo. É preciso ter em atenção que cada elemento de uma
equipa pretende sempre representar-se a si mesmo, provando e vivendo a sua autorealização, o desenvolvi-
mento da sua personalidade e da sua capacidade de autodeterminação em relação aos outros" (Bauer e
Ueberla, 1988). Neste sentido, deve-se admitir uma rivalidade sã, considerada normal, estabelecida pelos
jogadores com as mesmas obrigações e funções tácticas dentro da equipa (por exemplo: os guarda-redes, os
defesas centrais, etc.). Por último, mas não menos importante, é o facto de os jogadores compreenderem e
interiorizarem que cada acção individual será tanto mais eficaz, quanto mais se basear e depender da acção
colectiva. No jogo de futebol como em qualquer outro desporto colectivo, há sempre lugar para individuali-
dades de grande capacidade técnico-táctica, que em qualquer momento poderão resolver o resultado final do
A organização dinâmica do jogo de futebol 029

jogo. Todavia, estas individualidades têm de perceber que sozinhos conseguem muito pouco para o sucesso
da equipa. Nesta perspectiva, “o êxito ou insucesso são um problema de todos e não só de alguns” (Araújo,
2000) dos que jogam ou que cumprem tarefas tácticas que apreciam. A responsabilidade terá de ser dividida
por todos, incluindo aqueles, que não sendo convocados para a competição, o seu esforço e empenhamento
consubstanciou durante a semana de treinos (1) lutarem para demonstrarem que estão num nível de pron-
tidão capaz de dar um contributo eficaz à equipa e, (2) possibilitarem condições favoráveis para que os seus
colegas, podessem desfrutar de ambientes semelhantes ao da competição, por forma a puderem superar-se,
melhorando ou aperfeiçoando as suas capacidades de domínio técnico-táctico, físico e emocional. Numa
equipa todos fazem falta mas ninguém é imprescindível.

2.1.3. Estabelecimento de níveis hierárquicos específicos dentro da equipa, que normalmente são baseados:
(1) no tempo de permanência de determinado jogador no clube (factor idade), (2) na personalidade do
jogador (espírito de liderança) e, (3) na sua capacidade de execução técnico-táctica (reconhecimento da sua
importância na resolução das situações de competição).

2.1.4. Aceitação ou a eleição (quando é possível e útil) do conjunto de pessoas (elementos) de referência, tais
como:
A. O capitão da equipa, cuja importância se estabelece basicamente em dois níveis fundamentais: (1)
durante a competição: i) no diálogo que estabelece e mantém com o juiz árbitro da partida, ii) interlocu-
tor privilegiado entre o treinador e os restantes jogadores da equipa,
transmitindo informações fundamentais aos companheiros e consubstan-
ciando ajustamentos tácticos estabelecidos pelo treinador e, iii) na res-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

olução de pro-blemas específicos da organização da equipa e, (2) durante


o período de preparação semanal da equipa (treinos): i) relaciona-se pref-
erencialmente com o elemento directivo do Clube, por forma a dialogar
com este a resolução de aspectos que dizem respeito a todos os jogadores
Foto 10. O capitão da equipa
(por exemplo: condições de trabalho, prémios de jogo, etc.), ii) relaciona-
se com o treinador e, partindo do consentimento dos jogadores, levar-lhe as preocupações e pro-blemas
levantados por estes, iii) manter com todos os jogadores da equipa uma relação de igual para igual, infor-
mando, aconselhando e recebendo ideias. Tem uma atenção especial para com os jogadores mais jovens e,
iv) é por vezes o porta-voz da equipa, representando os interesses dos elementos que a cons-tituem no exte-
rior.
B. O director do clube, que acompanha sempre a equipa durante a competição e, o mais possível durante
o período de preparação semanal da equipa (treinos). Constitui-se como um elo de ligação e interlocutor
válido com os restantes elementos da direcção do Clube e com o treinador, médicos e sócios. Intervém
quando é necessário, em consonância com a Direcção e o treinador, por forma a tomar decisões que: (1)
abalem a consciência de todos, (2) provoquem reacções positivas individuais e colectivas, (3) fomentem o
espírito da equipa e de solidariedade institucional, (4) alterem as condições normativas tornandos-as mais
rígidas em certos domínios, (5) estabeleçam a possibilidade de alteração do grupo de trabalho, (6)
assumem a defesa do grupo pe-rante egoísmos e individualismos de alguns jogadores, (7) aceitam pro-
postas dos jogadores com o intuito de melhorar a funcionalidade inter-
na e externa da equipa, (8) identifiquem aqueles que se servem da
instituição em vez de servi-la e, (9) vivam os momentos da equipa
Foto cedida pelo jornal O JOGO

estando com esta no melhor e no pior.

C. O médico, que acompanha constantemente a equipa durante a


competição e durante o período de preparação semanal da equipa
(treinos), é o elemento crucial e responsável (dentro de um amplo Foto 11. O director do Clube
030 Guia prático de exercícios de treino

leque de funções): (1) pelo tratamento e acompanhamento de


jogadores lesionados, procurando que estes, o mais rapidamente

Foto cedida pelo jornal O JOGO


possível, regressem à condição de poderem ser utilizados pelo
treinador, (2) na decisão justa e clara perante o jogador e o
treinador que este ou aquele jogador não deverá participar nas
actividades planeadas para o treino ou, inclusive não deverá ser con-
vocado para a competição, por forma a precaver ou a evitar reincidir Foto 12. O médico da equipa
uma determinada lesão, que poderá equacionar a curto ou a médio
prazo o futuro do jogador, (3) pela alimentação dos jogadores durante as concentrações, as competições e
no aconse-lhamento dietético da alimentação dos jogadores fora do contexto competitivo e, (4) ajuda os
jogadores a ultrapassar problemas particulares. Neste quadro de referência podemos igualmente incluir os
massagistas/fisioterapeutas que gozam de uma confiança quase ilimitada por parte dos jogadores: i) tratan-
do-os nas pequenas e grandes lesões, ii) ouvem-nos sobre os seus medos e temores que derivam da com-
petição, iii) acalmam-nos das angústias logo após as sessões de treino, iv) ajudam-nos a debelar lesões
crónicas ou em certas incapacidades físicas, construindo programas específicos de tratamento, de restab-
elecimento ou de prevenção realizados antes ou depois das sessões normais da equipa (por exemplo: no for-
talecimento dos músculos da região da articulação do joelho, exercícios de alongamento e reforço da parede
abdominal para evitar problemas derivados das pubalgias, etc). Aspecto
importante, é o facto do treinador não quebrar esse elo de confiança quase
total entre os jogadores e o massagista/fisioterapeuta, procurando tirar infor-
Foto do jornal O JOGO

mações pessoais referentes a certos jogadores.


D. Os auxiliares. Todos os Clubes dispõem de um conjunto de auxiliares
Foto 13. O fisioterapeuta que normalmente aí trabalham há longos anos e que passaram por várias
direcções, treinadores e jogadores. Para o treinador é muito importante
colaborar construtivamente com estes auxiliares apreciando e elogiando o seu trabalho, porque podem ter
uma influência decisiva no rendimento dos jogadores: (1) o responsável pelo material: que está à dis-
posição dos jogadores sendo de certa forma "o homem para todo o serviço", ajudando-os nos equipamen-
tos, na troca ou no aperto dos pitons das botas, a resolver problemas quando os jogadores se esquecem de
algo. No fundo, trivialidades que aparentemente só têm importância e assumem dimensão quando são os
jogadores que têm eles próprios de tratar desses assuntos e, (2) o encarregado do campo: que trata das
condições do terreno de jogo cortando o relvado, cilindrando o campo por forma que este não seja impedi-
tivo da demonstração da capacidade técnico-táctica dos jogadores. Molhando o relvado, se necessário, para
se criar um maior número de situações de contacto físico e possibilitar uma maior velocidade da bola, o
que provoca consequentemente, um aumento do ritmo de jogo da equipa, etc.
E. O treinador, que ocupa uma posição referencial fundamental dentro do seio da equipa. Senão vejamos:
(1) mantém um contacto constante do tipo "objectivo-formal e pessoal-informal" (Bauer e Ueberle, 1988)
com todos os jogadores da equipa durante a competição e durante o período de preparação semanal da
equipa (treinos). Assim, criam-se condições no domínio do processo de treino e de competição que levam
os jogadores a aperfeiçoarem-se, a desenvolverem-se e a
superarem-se o maior número de vezes durante a época
desportiva. Neste domínio, cada exercício de treino,
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

cada sessão de treino, cada microciclo de treino, cada


período do processo anual de treino ou cada planea-
mento anual de treino, deve ser encarado tanto pelo
treinador como pelos jogadores como oportunidades
únicas de aprender, desenvolver, aperfeiçoar ou supe-
rar. Com efeito, uma das funções primordiais do
binómio treinador/jogador é que cada exercício de Foto 14. O treinador na organização do treino
A organização dinâmica do jogo de futebol 031

treino não seja somente mais um exercício de treino, que cada sessão de treino não seja somente mais uma
sessão de treino. Pelo contrário, qualquer uma destas unidades lógicas de programação do processo de
treino devem ser encaradas como mais uma oportunidade que encaminhará inapelavelmente o jogador e a
equipa para uma evolução desportiva significativa, perdurável e sustentada no futuro e, (2) estabelece toda
a planificação de domínio: i) conceptual (construção do modelo de jogo da equipa, na formulação de pres-
suposto de índole técnica para a aquisição de jogadores com uma determinada competência e a gestão
diária de um grupo heterogéneo de jogadores com diferentes ambições e expectativas), ii) a planificação
estratégica (recolha de dados da equipa adversária, na elaboração do plano táctico-estratégico - no qual se
inclui, entre outros, a orientação geral para o jogo, a constituição da equipa e a distribuição das missões
tácticas dos jogadores, as reuniões de reconhecimento da equipa adversária, de preparação e de análise do
jogo, elabora o programa de preparação para o ciclo de treino e prepara a equipa durante as horas que ante-
cedem a competição) e, iii) a planificação táctica (consubstancia basicamente a orientação da equipa
durante o jogo, durante o intervalo, utiliza as substituições procurando incrementar o rendimento da
equipa, etc.).

2.1.5. Estabelecer objectivos realistas. Uma das vertentes fundamentais da natureza do subsistema cultur-
al é o estabelecimento de objectivos que devem ser concretizados durante o desenrolar da época desporti-
va. Em função da “marca” histórica do Clube no panorama desportivo Nacional e Internacional, dos
anseios e solicitações dos adeptos e, das circunstâncias conjunturais vividos no momento (no domínio
económico-financeiro especialmente) é fundamental estabelecer objectivos realistas. São estes objectivos,
consentâneos com a realidade funcional, estrutural e económica do Clube, que irão criar a existência de
uma identificação colectiva e uma comunhão de interesses entre os jogadores que compõem a equipa. Nesta
perspectiva, em qualquer momento da época desportiva é possível comparar o valor visado e o valor atingi-
do pela equipa responsabilizando de forma positiva ou negativa os elementos que a constituem, podendo-
se estabelecer as correcções no plano da preparação necessárias para inverter, manter ou maximizar a
capacidade desta.

2.2. Desenvolvimento de condições normativas


Desenvolve-se um conjunto de condições normativas construídas dentro do grupo, com a finalidade
de manter a coerência interna da equipa, partindo-se do núcleo de representações e valores imprescindíveis que
são fundamentais implementar, cumprir e respeitar para atingir as finalidades e os objectivos propostos. Neste
contexto, cada equipa fixa um conjunto de normas comportamentais válidas para todos os elementos (inclusive
treinadores, médicos, massagistas e directores) que o constituem, controlando o seu cumprimento e sancionan-
do as transgressões. O objectivo essencial destas condições, regulamentos internos, etc., não é ser repressivo mas
fundamentalmente pedagógico, pois, mais não visa o enquadramento de eventuais situações em que os jogadores
poderão ser castigados, mas acima de tudo, criar condições na qual a vida colectiva decorre com a participação
consciente e responsável de todos os jogadores. Um exemplo elucidativo, é o que se refere à hora de recolher a
casa por forma a que os jogadores possam cumprir o número de horas suficientes de descanso para recuperarem
dos esforços realizados durante as sessões de treino e se preparem para as seguintes. O não cumprimento deste
aspecto diminui claramente a capacidade do jogador em termos individuais, o qual se reflecte seriamente na
evolução da equipa. No mesmo sentido, o respeito pelo horário de treinos, das concentrações e de outras activi-
dades extra previamente combinadas, o cumprimento das actividades durante o treino e durante as concen-
trações para a competição, o respeito dos símbolos do Clube e as relações a ter com os outros agentes do Clube
(treinadores, médicos, dirigentes, sócios, etc.), os cartões amarelos e vermelhos atribuídos pelo árbitro durante
a competição que prejudicaram essencialmente a equipa não tirando qualquer proveito desse facto, etc., são
alguns dos valores fundamentais que importa impor e respeitar. As infracções a estas normas são normalmente
sancionadas pelos directores do Clube, pelo treinador ou pelos próprios jogadores, sendo função do valor
hierárquico da norma desrespeitada. Pode inclusivamente estabelecer-se uma "tabela" de multas pecuniárias
032 Guia prático de exercícios de treino

através da qual os elementos infractores serão obrigados a pagar. Como refere Araújo (2000) “mais importante
que multar um jogador que chega atrasado ao treino, é o facto de todos os jogadores entenderem a necessidade
de chegar ao treino com a antecipação suficiente que lhes permita concentrarem-se para as importantes tarefas
de preparação nelas contidos”. Desta afirmação importa referir que os jogadores dentro da equipa não estão só
para serem cumpridores de um horário, de um regulamento, mas acima de tudo para serem elementos partici-
pantes, actuantes e repercursores rentáveis do desenvolvimento e aperfeiçoamento do modelo de jogo da equipa.
O estabelecimento de condições normativas e o seu cumprimento por parte de todos os elementos da equipa é
um primeiro passo para regular pedagogicamente comportamentos perante diferentes situações da vida diária
dos jogadores perante o domínio do treino/competição ou fora deste. Assim, a sua aplicação não significa que
tudo está bem, nem invalida a necessidade do treinador apelar continuamente à participação e responsabiliza-
ção dos jogadores no processo de preparação individual e colectiva da equipa.

2.3. As Leis do jogo de futebol


A estruturação de qualquer actividade desportiva necessita da adopção de um código (leis ou regras)
que se constitui como um dos factores de sociabilização do jogo, sendo assim, um elemento cultural essencial.
Com efeito, um dos impactos fundamentais do jogo de futebol na sociedade, é o facto de as suas Leis assumirem
um carácter e uma disposição universalmente válidas para qualquer País, região, local, etc. Estas Leis do jogo
que foram doadas pelas gerações anteriores, pese embora as pontuais modificações introduzidas ao longo dos
anos com o intuito de tornar o jogo mais racional e, simultaneamente, mais espectacular: (1) determinam o
respeito, por parte de todos os jogadores, normalizando e condicionando as suas atitudes e comportamentos téc-
nico-tácticos as quais fomentam, em última análise, formas de relação com companheiros, adversários, bola,
espaço de jogo, etc., quer no plano formal, quer no plano do desenvolvimento do jogo e, (2) fomentam a neces-
sidade do seu estudo por forma a poder usufruir de condições mais vantajosas para atingir a vitória, em relação
à equipa adversária, quando em confronto directo.

2.4. Os diferentes tipos de competição


Existem diferentes tipos de competição desportiva em futebol, quer se trate de equipas de Clubes
através de jogos de campeonato realizados a duas voltas (casa e fora) ou jogos por eliminatórias (sistema de elim-
inação directa), quer se trate de selecções nacionais, regionais, etc., através das quais os jogadores formam a
equipa com um carácter de curto prazo. A verdade é que a compreensão das regras estabelecidas para uma dada
competição desportiva, na qual a equipa está inserida determina a existência de um conjunto de expectativas de
rendimento e de planificação estratégica sensivelmente diferente, para as quais os jogadores devem estar prepara-
dos, quer no plano físico, técnico, táctico e psicológico.

3. Objectivos do subsistema cultural


A organização de uma equipa de futebol é mais do que um conjunto de elementos, ela representa,
antes de tudo, uma globalidade, na qual o subsistema cultural, através do estabelecimento dos seus valores, fina-
lidades, objectivos, etc., evidencia os seguintes dois objectivos fundamentais:
1. Orientar e direccionar as diferentes actividades essenciais ao desenvolvimento da equipa para uma dada
competição desportiva. Nestas circunstâncias, procura-se objectivar claramente uma mobilização no plano
informacional, energético e afectivo dos jogadores, focalizando-os numa finalidade importante, facilitando,
com efeito, a sua adaptação ao meio competitivo.
2. Integrar e manter a coerência interna do grupo de jogadores criando condições vantajosas para a sua
preparação e desenvolvimento através de orientações claras.

4. Níveis do subsistema cultural


O subsistema cultural da organização dinâmica de uma equipa de futebol pode estabelecer-se a par-
A organização dinâmica do jogo de futebol 033

tir de dois níveis:


1. A sua finalidade, ou por outras palavras, do objectivo a alcançar estabelecendo automaticamente um resul-
tado a obter.
2. As Leis do jogo que normalizam as condutas dos jogadores, estabelecendo o grau de liberdade de acção
destes para que possam intervir nas situações, constituindo-se igualmente como um factor de sociabilidade
do jogo da qual decorre a lógica da igualdade de oportunidades.

A finalidade, intenção e objectivo

A organização é muito mais que um conjunto de elementos, "é um todo orientado para uma finali-
dade, uma intencionalidade que dá o tom a todas as actividades de uma organização. A finalidade converte-se
assim, em valores, em critérios e em objectivos" (Bertrand e Guillement, 1988). Com efeito, a organização de
uma equipa que procura atingir elevados níveis de eficácia deverá assentar numa finalidade que por si representa
uma intenção, isto é, um objectivo que descreve uma situação que ainda não existe, mas que é preciso con-
cretizar. No entanto, um objectivo pode ser fechado ou aberto. Um objectivo fechado seria por exemplo ganhar
um determinado confronto. Um objectivo aberto seria ganhar esse mesmo confronto através de um determina-
do resultado (por exemplo 2 a 0), pois só este seria conveniente para atingir um lugar ou uma fase do processo
de desenvolvimento da competição em que essa equipa estaria inserida.

1. As diferentes finalidades e a organização do jogo de futebol


Importa neste contexto salientar os diferentes níveis de finalidade que podemos evidenciar e que
determinam uma organização específica do jogo de futebol. Assim, podemos estabelecer 3 níveis essenciais: a
finalidade do jogo, a finalidade do jogo e a finalidade da equipa e a finalidade divergente das equipas em con-
fronto.

1.1. A finalidade do jogo de futebol


O jogo de futebol é um desporto colectivo que opõe duas equipas formadas por 11 jogadores num
espaço claramente definido, numa luta incessante pela conquista da bola com a finalidade (objectivo) de a intro-
duzir o maior número de vezes possí-vel na baliza adversária (marcar golo) e evitar que esta entre na sua própria
baliza (evitar o golo). Neste sentido, desde o momento em que o árbitro
manda iniciar a partida, observa-se que os elementos das duas equipas, real-
izam no espaço de jogo um conjunto de acções individuais e colectivas (den-
tro dos limites das leis do jogo) com o objectivo de atingir a vitória. Assim,
a equipa de posse da bola executa acções individuais e colectivas ofensivas
Foto cedida pela revista Training

que permitam não perder a posse da bola e que objectivem a concretização


do golo, enquanto que a equipa sem a posse da bola executa acções individ-
uais e colectivas defensivas, que objectivem evitar a sua progressão e sofrer
o golo, tentando simultaneamente a recuperação da posse da bola tomando
para si a iniciativa do jogo. É a referida finalidade (vitória) que se assume
Foto 15. O objectivo do jogo - o golo como valor fundamental partilhado por todos os elementos que formam a
equipa, estabelecendo nessa situação o elo de uma cooperação cons-ciente e
deliberada contra as acções adversas, conscientes e deliberadas por parte dos membros da equipa adversária. Este
elo relacional de cooperação (entre os jogadores da mesma equipa) e de oposição (para com os elementos da
equipa adversária), fomentam e promovem um conjunto de convicções, que em última análise, consubstanciam
o motor íntimo da coerência interna de uma equipa determinando igualmente os valores normativos que ori-
034 Guia prático de exercícios de treino

entam os comportamentos técnico-tácticos em resposta aos proble-


mas que as situações de jogo em si encerram. Em resumo, a for-

Foto cedida pelo jornal O JOGO


mação e organização de uma equipa de futebol passa inevitavel-
mente pelo seguinte objectivo: marcar golos na baliza adversária e
evitá-los na própria baliza, pois só assim se poderá atingir a vitória.
Esta premissa, que habitualmente não é mencionada pela sua clara
evidência, é aquela que condiciona todo o trabalho colectivo. Logo, Foto 16. Evitar o golo
todos os esforços individuais e colectivos se dirigem na perseguição
desta finalidade intrínseca do jogo, procurando atingi-lo o maior número de vezes, independentemente do con-
texto competitivo em que esta se encontre.

1.2. A finalidade do jogo e a finalidade da equipa


Pese embora a finalidade do jogo seja atingir o golo o maior número de vezes possível ou, no míni-
mo, mais vezes que o adversário para atingir a vitória, a verdade é que existem muitas ocasiões antes do próprio
confronto, como em muitos momentos durante o jogo em que a finalidade da(s) equipa(s) não são coincidentes
com a finalidade do próprio jogo. Isto significa que, em função das estratégias montadas para a confrontação
directa (por exemplo: a equipa adversária conter uma organização demasiadamente eficiente, não ser, devido à
organização do torneio ou campeonato, absolutamente necessário ganhar o jogo, etc.) ou em função da táctica
que se desenrola durante a confrontação (por exemplo: a equipa com um resultado numérico do jogo desfa-
vorável - poderá estar a ganhar no cômputo geral da eliminatória e faltando pouco tempo para o jogo terminar,
procura manter a posse da bola para quebrar o ritmo do adversário, deixar passar o tempo, evitar que os adver-
sários entrem de posse de bola, etc.), a equipa estabelece outra finalidade, outros objectivos táctico-estratégicos
para os quais concorrem os comportamentos e as acções dos seus elementos no jogo. Nestas circunstâncias, cada
jogador da equipa adere a uma visão comum estabelecida: (1) pelo plano estratégico (preestabelecido e desen-
volvido durante o período de preparação que antecede a competição), (2) pela acção táctica (no qual se faz um
balanço permanente entre os condicionalismos de resposta perante os contextos situacionais e a estratégia
preestabelecida para esse jogo) e, (3) pela compreensão e execução das suas funções tácticas (gerais e específi-
cas) do lugar que ocupa no seio da sua equipa e as relações e interrelações que estabelece com os seus compan-
heiros e adversários. A aparente simplicidade da finalidade do jogo de futebol (marcar golo e evitar o golo) con-
tém já em si um vasto e complexo quadro de variáveis quer do domínio técnico, táctico, físico, psicológico e
social que se interpenetram e condicionam mutuamente. Complica-se ainda mais, pela mistura e encruzilhadas
da aplicação de concepções estratégicas preestabelecidas e/ou através da aplicação operativa de medidas tácticas
especiais, fruto das modificações previstas ou não, que ocorrem ao longo da partida (jogo). Todavia, durante o
jogo de futebol nada é definitivo, nada é estabelecido para sempre. A consequência de uma determinada situ-
ação de jogo, seja a perda da posse da bola, seja a intercepção de um passe, seja, inclusive, a marcação de um
golo, os seus efeitos positivos ou negativos, traduzem-se durante um determinado tempo, os quais poderão ser
imediatamente "compensados" na acção ofensiva ou defensiva subsequente. Esta realidade provoca uma insegu-
rança constante por parte dos jogadores, os quais evidenciam uma preocupação e tensão permanentes que só
termina após o apito do árbitro para culminar a partida.
Resumindo, qualquer concepção organizacional dinâmica de uma equipa de futebol, na preparação e
desenvolvimento para a competição contra uma equipa adversária específica, deverá basear-se num subsistema
cultural que estabelece um conjunto de convicções, representações e finalidades através dos quais os jogadores
aderem, desenvolvem e evoluem de um projecto individual para um projecto colectivo. A construção desse
aspecto fundamental da organização da equipa que é a finalidade (objectivo) suporta-se sob três vertentes essen-
ciais:

1. No plano conceptual que se exprime basicamente pelo modelo de jogo, instituído pelo treinador em função
da sua concepção de jogo e das particularidades e especificidades dos elementos que constituem a equipa.
A organização dinâmica do jogo de futebol 035

2. No plano estratégico o qual, considerando o modelo de jogo de base da equipa realiza um conjunto de
alterações funcionais preestabelecido para aquele confronto, naquele momento e perante aquelas circunstân-
cias, que objectivam uma melhor adaptação da equipa, procurando potenciar o aproveitamento dos aspectos
menos eficientes e a minorar os mais eficientes da organização da equipa adversária.
3. No plano táctico que secunda o plano conceptual e estratégico estabelecendo as decisões operativas
necessárias à resolução das situações de jogo e à concretização dos objectivos delineados.

1.3. Finalidade divergente das equipas em confronto


No jogo em cada instante sucessivo, as circunstâncias do mesmo momento não são semelhantes para
cada uma das duas equipas em confronto directo, mas também não permanecerão por muito tempo como tal.
Com o tempo produzem-se alterações, na sequência das quais o presente instante será mais favorável a uma
equipa do que a outra. Por consequência, não podem ambos ter simultaneamente o mesmo objectivo táctico e,
também por via disso, as mesmas atitudes e comportamentos técnico-tácticos. Esta exclusão mútua dos mesmos
objectivos, no mesmo momento para as duas equipas reflecte a condição "sine qua non", que a define e condi-
ciona. É que a cada vantagem de uma equipa corresponde uma desvantagem equivalente para a outra no decur-
so do jogo. Neste sentido, em termos técnicos da teoria dos jogos, o duelo consubstancia uma situação de con-
frontação que opõe dois adversários cujos interesses são diametralmente opostos, ou seja, de "soma zero" (nula).
Esta expressão indica que a soma algébrica do "saldo" dos dois protagonistas é igual a zero, o que um ganha (van-
tagem) corresponde a uma perda (desvantagem) simétrica do outro. Neste domínio, alerta-se para o facto dos
diferentes elementos de carácter estratégico e táctico implementados de forma mais ou menos correcta, adapta-
da e eficaz por uma das equipas em competição, podem perfeitamente simular ambientes e condições de jogo,
as quais aos olhos de um observador imparcial e inexperiente lhe pareçam que a vantagem do jogo tenda mais
para uma das equipas. Todavia, após uma análise mais aprofundada podemos chegar à conclusão que essa pre-
tensa vantagem decorre “somente” do resultado da aplicação de uma estratégia adaptada àquelas circunstâncias,
que recriam condições favoráveis à concretização do plano de jogo estabelecido. Deter durante a competição
mais tempo de posse de bola por exemplo, não é um facto por si só, que determina a vitória no jogo. Este facto,
poderá ter sido proporcionado pela estratégia da equipa que ao dar
“toda” a iniciativa ao adversário, por forma a se aproveitar de pos-
síveis desequilíbrios defensivos daí decorrentes, quer no plano estru-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

tural (sistema de jogo) quer mental (concentração, atenção) possi-


bilitando a concretização de contra-ataques ou ataques rápidos em
condições vantajosas em termos de espaço (ataque a zonas vitais de
jogo), de tempo e de número (situações isoladas de atacante versus Foto 17. Finalidade divergente das equipas em
defesas - 1x1, ou de superioridade - 2x1). confronto

2. A perspectiva dualista de organização do jogo de futebol


A maioria dos autores procuram uma teorização do conteúdo dos jogos desportivos colectivos priv-
ilegiando essencialmente um modelo de organização dualista. De uma forma irreversível um jogador é total-
mente solidário com todos os companheiros da equipa e totalmente rival de todos os adversários. Esta oposição
crucial em dois blocos antagonistas é sublinhado pela unidade do tempo, pela unidade do espaço e a pela
unidade da acção. Com efeito, o termo "organização dualista" define, em termos gerais, um sistema no qual os
membros do jogo são divididos em dois grupos possuindo limites rigorosamente fixos, no interior dos quais
mantêm relações complexas de cooperação e diversas formas de rivalidade (desportiva) com a equipa adversária.

2.1. A luta permanente pela posse da bola


Para lá deste ponto referencial de base, a organização dualista estabelece igualmente, num segundo
momento, um quadro de luta permanente pela posse da bola, que consubstancia duas fases fundamentais do
036 Guia prático de exercícios de treino

jogo, ou seja, o ataque (processo ofensivo) que é determinado pela posse da bola e a defesa (processo defensi-
vo). Com efeito, o elemento material fundamental do jogo na mudança das escolhas e objectivos tácticos
momentâneos de cada equipa é a bola. Esta constitui-se "na realidade como o eixo a partir do qual se pode
exprimir um número infinito de relações abstractas... suscitando as relações interpessoais e a luta entre as duas
equipas" (Menaut, 1983), conferindo aos seus sucessivos possuidores responsabilidades específicas. Nestas cir-
cunstâncias, o jogo de futebol evidencia dois processos perfeitamente distintos, que reflectem clara e funda-
mentalmente diferentes conceitos, objectivos, princípios, atitudes e comportamentos técnico-tácticos, sendo
determinados pela condição "posse ou não da bola" (processo ofensivo e processo defensivo respectivamente).
No entanto, estes dois processos, embora constituindo-se sob uma verdadeira oposição lógica, são no fundo o
complemento um do outro, ou seja, cada um deles está fundamentalmente implicado pelo outro. Assim, na
nossa análise estrutu-ral do conteúdo do jogo de futebol, reconhecemos interinamente que a totalidade de um
processo está na totalidade do outro. Isto significa, por outras palavras, que a identificação, nomeação e classi-
ficação de um novo elemento pertencente a um destes processos, lançará sempre sobre o outro uma luz sufi-
ciente para a identificação do elemento que lhe está directamente em oposição.
Segundo Teodorescu (1984), "o conteúdo técnico e táctico do jogo desenvolve-se num quadro
antagónico de duas fases fundamentais de ataque e defesa, que se manifesta tanto individualmente (luta entre o
atacante e o defesa), como colectivamente (luta entre o ataque e a defesa). Cada elemento do jogo (atacante ou
defesa), tenta romper o equilíbrio existente (teoricamente) e criar vantagens que lhes assegurem o sucesso". Para
atingir este objectivo, acrescenta o mesmo autor, (1984) "foi necessário encontrar procedimentos técnicos especí-
ficos, para o ataque e para a defesa, bem como a forma mais eficiente de os utilizar e valorizar, o que conduziu
claramente à sua organização-estruturação (que pressupõe o desenvolvimento e a coordenação racional das
acções), sob a forma de acções individuais e colectivas"... "para o desenrolar do jogo foi, portanto, necessário
estabelecer princípios, regras, formas, bem como outros elementos, através dos quais se assegurasse o êxito, tanto
no ataque como na defesa". "O aspecto crucial do jogo é, o facto de se ter ou não a posse da bola. A equipa que
tem a posse da bola ataca, quando não tem a posse da bola defende. Neste contexto, seja qual for a posição do
jogador dentro da equipa, será sempre um potencial atacante ou defesa quando a sua equipa tem ou não a posse
da bola" (Hughes, 1990), todavia, é igualmente um jogo de contrastes, acrescenta o mesmo autor (1973) "um
jogador ao aprender a pressionar os adversários deve igual-
mente saber como aliviar a pressão quando a sua equipa tem
a posse da bola. Esta é a base do jogo e a sua principal
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

atracção".

2.2. As fases do jogo de futebol


Desta visão dualista do jogo podemos subdividi-lo
em duas fases fundamentais: o processo ofensivo - ataque e o
processo defensivo - defesa. Foto 18. A luta intensa pela posse da bola

2.2.1. O processo ofensivo


Só o processo ofensivo contém em si uma acção positiva ou, por outras palavras, um fim positivo,
pois só através deste o jogo pode ter uma conclusão lógica - o golo. É para este objectivo que os jogadores das
duas equipas, aquando de posse de bola, direccionam as suas intenções e acções. Esta acepção não impede a
existência de em algumas partidas, haver períodos de jogo que ressaltam aos olhos de qualquer observador
imparcial, que uma ou as duas equipas em confronto, estando de posse de bola, os jogadores que as constituem
não parecem dispostos a realizar qualquer coisa de positivo, isto é, concretizar o objectivo do jogo - o golo.
Produz-se assim um "estado de equilíbrio", que em boa verdade compreende um conjunto de contingências e de
interes-ses tácticos da equipa que não são convergentes com os objectivos tácticos do jogo, logo, quando dois
objectivos não fazem parte um do outro, excluem-se mutuamente e a acção utilizada para atingir um deles não
pode servir para atingir o outro. No entanto, este "estado de equilíbrio" não acarreta a suspensão temporária das
A organização dinâmica do jogo de futebol 037

atitudes e dos comportamentos dos jogadores da equipa de posse ou sem


a posse da bola, porque a primeira continua a aproveitar-se das vantagens

Foto cedida pelo jornal O JOGO


inerentes ao processo ofensivo, a iniciativa e a surpresa. E assim, de um
momento para o outro, uma situação que "parecia" não ter qualquer fim
positivo, poderá transformar-se nele próprio.

2.2.2. O processo defensivo Foto 19. O processo ofensivo


O processo defensivo contém em si uma acção negativa, pois, a
equipa não poderá concretizar o objectivo do jogo. Assim, este processo deverá ser encarado como uma forma
de recurso, sendo logo abando-nada quando se recupera a posse da bola. Ao conquistar-se uma vantagem
importante, o processo defensivo desempenhou o seu papel e, então, tem que se desenvolver o ataque sob a pro-
tecção dessa vantagem em que a passagem rápida ao ataque é o momento mais brilhante do processo defensivo.
Neste sentido, as probabilidades da acção ofensiva culminar em finalização, dependem em grande medida das
circunstâncias em que ocorreu a recuperação da posse da bola. Teodorescu (1984) refere que "a defesa não deve
limitar-se à réplica a dar ao adversário, pelo contrário, deverá ripostar sempre por forma a obrigar o ataque a
preocupar-se igualmente com a protecção da sua própria baliza. É nisto que consta o carácter agressivo das defe-
sas mo-dernas".

As leis do jogo

Foto cedida pelo S. L. B.


As Leis do jogo estabelecem-se como elemento de excelência do
subsistema cultural da organização dinâmica do jogo de futebol devido às
seguintes razões fundamentais: Foto 20. O processo defensivo
1. Criam um conjunto de constrangimentos nas atitudes e comportamentos
dos jogadores durante a competição, constituindo-se como um factor essen-
cial de sociabilização, isto é, de relação ou relações sociais entre os jogadores.
2. Assumem um carácter e uma disposição universalmente válida e aceite por qualquer País, região ou local-
idade. É através destas disposições aceites por todos, que existe a possibilidade de assistirmos a uma partida
realizada em qualquer parte do Globo e podermos interpretá-la à luz dos conhecimentos regulamentares váli-
dos para o nosso País.
3. Fomentam formas de relação entre jogadores (de cooperação com os companheiros e de oposição com os
adversários).
4. Transmitem-se às gerações seguintes, tal como nos foram doadas pelas gera-
ções anteriores. Pese embora as modificações introduzidas ao longo dos anos
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

com o intuito de tornar o jogo mais lógico, mais racional, mais sociável e mais
espectacular. Com efeito, os regulamentos passam de geração em geração possi-
bilitando, por um lado, a comparação evolutiva das diferentes prestações
desportivas e dos diferentes meios, métodos e didácticas de treino, e por outro,
cristalizando formas básicas comportamentais que fazem parte de um espólio
cultural humano.
As 17 Leis que regem universalmente o jogo de futebol caracterizam-se pela sua
simplicidade as quais: (1) normalizam as condutas dos jogadores, isto é, estab-
Foto 21. O organismo elecem graus de liberdade por forma a que estes possam intervir eficaz e efi-
Internacional
cientemente respeitando os regulamentos da modalidade, (2) determinam as
pres-crições necessárias para que os jogadores possam intervir durante a competição favorecendo a continuidade
dos seus comportamentos, (3) apresentam-se como o elemento definidor e delimitador do jogo consubstan-
ciando o seu sentido e espírito porque está integrado nele, fazendo assim parte da sua própria essência. Esta
038 Guia prático de exercícios de treino

inerência determina em larga medida a sua lógica interna e, (4) decorrem do princípio da igualdade de oportu-
nidade. Dito de outra forma, à luz dos regulamentos todos os jogadores na competição têm os mesmos direitos
e deveres os quais determinam uma igualdade de oportunidade para demostrar o seu valor evidenciado pelas
suas prestações. Analisemos de forma sucinta cada uma delas:
Lei I. O campo de jogo. Define as dimensões, as marcações (área de baliza, área de grande penalidade, área
de canto) e as balizas.
Lei II. A bola. Define a sua forma, tamanho, materiais para a sua construção, peso e pressão.
Lei III. O número de jogadores. Define o número máximo e mínimo de jogadores para a realização do jogo.
Lei IV. O equipamento dos jogadores. Estabelece que nenhum jogador pode fazer uso de qualquer objecto
perigoso para os restantes jogadores. Indica igualmente o tipo de calçado e as condições a que devem obede-
cer (tamanho dos pítons).
Lei V. O árbitro. Designa um árbitro para dirigir o encontro fazendo cumprir as Leis do jogo.
Lei VI. Os árbitros assistentes. Designa dois árbitros assistentes ou auxiliares equipados com bandeirolas,
cujos deveres são de coadjuvar a acção do árbitro, o qual ignorará ou não os seus sinais.
Lei VII. A duração do jogo. Estabelece as partes do jogo (2) e o tempo (45 minutos).
Lei VIII. O começo do jogo. Define o início da partida, o seu recomeço após a marcação do golo, após o inter-
valo e após qualquer interrupção temporária.
Lei IX. A bola fora e a bola em jogo. Define quando a bola está em jogo e quando está fora.
Lei X. A marcação dos pontos. Define quando é golo e como uma equipa é considerada vencedora.
Lei XI. Fora-de-jogo. Define quando um jogador está ou não fora-de-jogo.
Lei XII. As faltas e incorrecções. Define as faltas e incorrecções que os jogadores podem eventualmente come-
ter e os correspondentes castigos.
Lei XIII. Os pontapés livres. Categoriza os pontapés livres (directos e indirectos) e define as condições a que
os adversários devem obedecer para a sua execução.
Lei XIV. O pontapé de grande penalidade. Define em que situações deverá ser concedido o pontapé de grande
penalidade e as condições a que todos os jogadores (excepto o executante e o guarda-redes) devem obedecer.
Lei XV. O lançamento da bola pela linha lateral. Define o recomeço do jogo quando a bola transpõe as lin-
has laterais do campo e a forma de execução técnica.
Lei XVI. O pontapé de baliza. Define o recomeço do jogo quando a bola transpõe a linha de golo (excepto o
espaço delimitado pela baliza) tocada em último lugar por um dos jogadores atacantes.
Lei XVII. O pontapé de canto. Define o recomeço do jogo quando a bola transpõe a linha de golo (excepto
o espaço delimitado pela baliza) tocada em último lugar por um dos jogadores defesas.

Da análise das referidas 17 Leis podemos resumir


a totalidade do seu conteúdo em dois blocos fundamentais:
a estrutura formal e o desenvolvimento da acção de jogo.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

1. A estrutura formal
A estrutura formal das Leis do jogo descreve
essencialmente os seguintes aspectos particulares: Foto 22. As três equipas do jogo de futebol
1.1. O campo de jogo traduz: (1) as dimensões do terreno
de jogo e, (2) as suas características através de marcações dos limites do campo (incluem as linhas laterais e
as linhas de baliza), das áreas de baliza, das áreas de grande penalidade, das áreas de canto, do círculo central,
da linha do meio campo, da meia lua e da colocação e dimensionamento das balizas.
1.2. A descrição da bola que não poderá ser trocada a não ser com a autorização do árbitro. Neste caso especí-
fico, o árbitro poderá autorizar a existência de um número maior de bolas por forma a poder substituír a bola
do jogo quando esta sai para lá das linhas do campo, por forma a minimizar o tempo de paragem do jogo.
A organização dinâmica do jogo de futebol 039

Controla igualmente os materiais complementares que se usam no jogo, especialmente no que diz respeito ao
equipamento dos jogadores que não deverão conter nenhum objecto perigoso para os outros jogadores.
1.3. Estabelecimento do número máximo de jogadores que compõem a equipa (onze, um dos quais será o
guarda-redes) e o número mínimo (sete) para que o jogo possa começar,
recomeçar ou prosseguir. Determina igualmente como os jogadores podem sair e
entrar no terreno de jogo, trocar de funções com o guarda-redes e a forma como
se processam as substituições.
1.4. A marcação de golos (é consubstanciada pelo facto de a bola transpor com-
pletamente a linha de baliza entre
os postes e por baixo da barra), a
determinação da vitória (para a
equipa que marcou o maior
número de golos) e de empate
(quando nenhuma das equipas
marcou golos ou marcaram o
mesmo número de golos).
1.5. O tempo total de jogo (90
minutos) a sua divisão em duas
partes (de 45 minutos) com um
intervalo (15 minutos) e o controlo
do mesmo pelo árbitro que deter-
mina igualmente o tempo perdido
durante o jogo (devido a substitu-
Figura 2. O campo de jogo de futebol
ições, assistência médica a
jogadores, etc.), acrescentando-o ao tempo de jogo.
1.6. Estabelece as competências: (1) do árbitro que velará pelo respeito e aplicação das Leis do jogo, não
havendo apelo às suas decisões sobre os factos ocorridos no decurso da partida, mesmo que isso tenha reflex-
os no resultado final do encontro e, (2) dos árbitros assistentes (dois) cujos deveres consistem fundamental-
mente em indicações ao árbitro, que as aceitará ou não, sobre situações de bola fora, jogadores fora-de-jogo,
situações de infracção às Leis do jogo, a que equipa compete recomeçar o jogo nas
situações de pontapé de baliza, de canto, lançamento da linha lateral, etc.).
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

2. O desenvolvimento da acção de jogo


Para o desenvolvimento da acção dos jogadores, as Leis do jogo descrevem
essencialmente os seguintes aspectos:

2.1. Formas de intervir sobre a bola


Foto 23. As infracções às
Perante as leis do jogo os jogadores (exceptuando os guarda-redes quando posi-
Leis do jogo
cionados dentro das suas respectivas áreas de grande penalidade) são totalmente
impedidos de contactar a bola para a controlar, interceptar, conduzir, etc., com os
membros superiores (braços, antebraços e mãos). Todavia, uma outra condição especial para se poder intervir
sobre a bola é o facto do jogador não se encontrar em fora-de-jogo: (1) este não será declarado na posição de
fora-de-jogo se estiver posicionado no meio-campo próprio ou se tiver no mínimo dois adversários mais perto
do que ele e a linha de baliza. Importa analisar em pormenor esta Lei do fora-de-jogo, que no plano táctico é
muito utilizada, não só para recuperar a posse da bola de uma forma fácil (vertente defensiva) ou de criar
condições excepcionais para marcar o golo, isto é, o atacante encontra-se isolado face ao guarda-redes (vertente
ofensiva), (2) esta Lei, na sua essência, destina-se a evitar que os jogadores esperem paulatinamente pela bola
040 Guia prático de exercícios de treino

perto da baliza adversária. O árbitro castiga quem a infringe através da interrupção da partida e concede a posse
da bola à equipa que se encontrava nesse momento em fase defensiva, que reatará o jogo através de um pontapé
livre indirecto no local onde a transgressão ocorreu. Todavia, existe um conjunto de atenuantes ao julgamento
desta situação as quais determinam que a partida deverá prosseguir. Neste sentido, quando o atacante recebe a
bola directamente: i) da execução de um pontapé de baliza, ii) da execução de um pontapé de canto, iii) da exe-
cução de um lançamento da linha lateral, iv) da execução de uma bola ao solo e, v) se o árbitro considerar que
a posição do atacante não interfere no jogo, nem este procura ganhar vantagem da sua posição. A presente aten-
uante confere à Lei do fora-de-jogo uma certa parte de subjectividade porque atribui ao árbitro o sentido dis-
cricionário de julgar a situação de jogo.

2.2. O começo e o recomeço do jogo


As situações que se observam após o intervalo, após a
marcação do golo ou após a marcação de livres, pontapés de
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

baliza ou de canto, só poderão ser considerados válidos quan-


do a bola percorrer uma distância igual à sua circunferência.
Outro aspecto particular do começar ou recomeçar do jogo é
o facto do jogador que executa o primeiro toque na bola não
poder voltar a intervir sobre esta antes que qualquer outro
Foto 24. As diferentes formas de intervir sobre a bola jogador (companheiro ou adversário) a tenha tocado.

2.3. Determina quando a bola está ou não está em jogo


e as formas de reatamento
A bola está em jogo sempre: (1) que este não tenha sido interrompido pelo árbitro da partida e, (2)
se a bola não transpuser completamente: i) as linhas laterais (se tal acontecer o jogo será reatado através da exe-
cução de um gesto técnico-táctico específico realizado com as mãos denominado de lançamento da linha late-
ral) ou, ii) as linhas de baliza (se tal acontecer o jogo será reatado com um pontapé de baliza
ou pontapé de canto consoante o último jogador a tocar na bola e consoante a pertença da
linha de baliza que esta transpuser. Podemos incluir igualmente o pontapé de saída no caso
Foto cedida pelo jornal O JOGO

da bola transpor completamente a linha de baliza entre os postes e por baixo da barra).

2.4. Formas de utilização do espaço de jogo Foto 25. O


Referem-se essencialmente às zonas que são interditas aos adversários e pelo menos lançamento da
num caso aos companheiros. Podemos distinguir estas zonas como: (1) fixas: como é o caso linha lateral
do pontapé de saída durante o começo ou recomeço do jogo e na qual os adversários não
poderão posicionar-se dentro do grande círculo. No pontapé de baliza onde nenhum adver-
sário poderá posicionar-se dentro da área de grande penalidade, onde se irá executar essa acção ou durante a
execução de uma grande penalidade na qual nenhum jogador, compa-nheiro ou adversário (exceptuando o ata-
cante e o guarda-redes), poderá posicionar-se dentro da área de grande penalidade e na meia-lua. Poder-se-ão
ainda incluir nas zonas interditas fixas, todas as situ-
ações de pontapé livre (directo ou indirecto), pontapé
de canto, onde os adversários terão de respeitar uma
distância mínima de 9,15 metros do local onde se
Foto cedida pelo jornal O JOGO

encontra a bola e, (2) alteráveis: no interior dos quais,


e em função da movimentação dos defesas, os ata-
cantes não têm a possibili-dade de intervir sobre a
bola e inclusivamente fazer com que a sua própria
Foto 26. As zonas alteráveis no interior das quais os defesas não
equipa perca a sua posse, como é o caso da Lei do
poderão intervir fora-de-jogo.
A organização dinâmica do jogo de futebol 041

2.5. Formas de relação com os adversários


Baseiam-se essencialmente (do ponto de vista das Leis do jogo) em evitar e sancionar situações em
que determinado jogador dê ou tente dar pontapés no adversário, passar rasteiras, saltar sobre este, carregar de
forma violenta, agredir ou tentar agredir, cuspir, agarrar, empurrar, utilizar linguagem injuriosa. Qualquer
destas infracções para além do castigo que acarreta à equipa do infrac-
tor, o próprio jogador poderá, em função da gravidade da sua conduta,
ser punido com advertência ou expulsão do jogo até ao final deste.
Foto cedida pelo jornal O JOGO
2.6. Formas de participação de cada jogador e a
relação com os seus companheiros
Uma equipa de futebol é constituída por 11 elementos, dos quais 10
são considerados jogadores de campo (independentemente fazerem
Foto 27. As formas de participação dos difer-
parte do sector defensivo, médio ou atacante) e um guarda-redes o qual
entes jogadores no jogo
beneficia de um estatuto diferente de todos os seus companheiros no
que diz respeito às formas de contacto com a bola (poderá utilizar qualquer parte do corpo) e de protecção aos
seus comportamentos técnico-tácticos, quando se posiciona dentro da sua área de grande penalidade. Fora desta
é considerado como jogador de campo. As formas de relação entre companheiros, do ponto de vista das Leis do
jogo, são basicamente as mesmas que foram referidas para com os adversários.

2.7. As infracções às Leis e as penalizações


As Leis do jogo estabelecem diferentes formas de infracção segundo um determinado grau de gravi-
dade (intencional ou não intencional) a que corresponde uma determinada penalização da equipa (livre directo
ou indirecto respectivamente) a quem pertence o infractor e a ele próprio se for caso disso com advertência
(cartão amarelo) ou expulsão (cartão vermelho). As infracções cometidas e sancionadas pelo árbitro da partida
determinam necessariamente a interrupção do jogo que poderá ser curta ou longa consoante a situação.
Determinam igualmente a continuidade do processo ofensivo da equipa que tem a posse da bola ou a inter-
rupção desse processo passando a equipa adversária a usufruir da posse da bola. Todavia, embora existam cas-
tigos que correspondem a infracções específicas, verifica-se na prática que em certas situações de jogo, os
jogadores recorrem à falta procurando transformar um momento extremamente desfavorável num outro mais
favorável. Com efeito, quando um atacante consegue romper a organização defensiva adversária, é preferível, do
ponto de vista defensivo, efectuar uma falta a que corresponderá um castigo que, no entanto, dará o tempo
necessário para que toda a equipa se reorganize em função da nova situação criada. Nestas circunstâncias, o árbi-
tro poderá aplicar a Lei da vantagem que proíbe a interrupção do jogo se este oferece qualquer tipo de vanta-
gens à equipa infractora, sendo um aspecto fundamental para o desenvolvimento desportivo correcto do fute-
bol. Neste contexto, sendo uma questão que advém essencialmente do jul-
gamento do árbitro, este deverá ter a capacidade de analisar as situações
conhecendo claramente a natureza do jogo, evitando, por um lado, o recur-
so excessivo a esta Lei, que incita os jogadores a endurecerem o jogo e a
cometer irregularidades e, por outro, o árbitro deverá reconhecer o que é
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

uma situação verdadeiramente vantajosa para a equipa que sofre a infracção.

Concluindo, numa perspectiva técnico-jurídica das Leis e dos


regulamentos do jogo de futebol, estas devem ser analisadas à luz das
seguintes vertentes:
1. Normalizam as condutas dos jogadores durante a competição, mas
nada referem como se consegue atingir a finalidade do jogo. Com efeito, Foto 28. As infracções às Leis do jogo
todos os aspectos técnicos, tácticos e estratégicos são deixados completa-
042 Guia prático de exercícios de treino

mente à livre iniciativa dos treinadores e dos praticantes, que têm a responsabilidade de encontrar as formas,
as ideias, as concepções, etc., para atingir os objectivos da modalidade transformando-se assim, num espaço
de inovação, criação e libertação de antigas formas de observação, análise e interpretação do jogo de futebol.
2. Fomentam a necessidade do seu estudo por forma a se poder usufruir de condições mais vantajosas para
se atingir eficazmente os objectivos ou a vitória. Todos os especialistas desportivos têm presente a importân-
cia de acompanhar e contribuir para uma reflexão de carácter teórico-prático, por forma a potenciar e max-
imizar em competição:
A. O uso de situações pouco habituais criando-se assim, todas as condições para surpreender o adversário
(nas partes fixas do jogo, na aplicação da Lei do fora-de-jogo, etc.).
B. A exploração dos próprios hiatos dos regulamentos por falta de regras ou normas que os definam objec-
tivamente.
C. A utilização dos regulamentos em benefício próprio.
3. Estabelecem, implicações que traduzem contextos situacionais caracterizados por duas propriedades
nucleares:
A. A variedade do meio envolvente. Evidencia a necessidade de elevadas exigências dos mecanismos per-
ceptivos dos jogadores. Estas exigências derivam da grande quantidade de informações que estes têm de
tratar, no reduzido tempo que dispõem para agir, devendo:
1. Percepcionar rapidamente os índices pertinentes (selectividade) fundamentais sobre as condições e
intenções dos adversários e dos companheiros.
2. Solucionar mentalmente a situação obriga os jogadores a uma concentração constante na competição
para realizar uma correcta leitura desta e decidir por uma resposta motora eficaz e adaptada às circun-
stâncias do contexto da situação.
B. A transitoriedade do meio. Determina um aumento da complexidade de todas as componentes da estru-
tura da situação obrigando o jogador a realizar:
1. Funções (missões tácticas) dentro da competição ou dentro da organização da sua equipa de maior
amplitude que fundamentalmente derivam de um maior número de opções e decisões tácticas a tomar
e de execuções técnicas a executar.
2. Acções que procuram prever antecipadamente o desenvolvimento e o resultado dos acontecimentos
de uma dada situação competitiva (antecipação) tornando assim, a sua capacidade de intervenção mais
eficiente.
043
Foto cedida pela revista Training

Futebol
Guia prático de exercícios de treino CAPÍTULO 2
O SUBSISTEMA
ESTRUTURAL

O segundo capítulo reflecte a análise do


subsistema estrutural da organização
dinâmica de uma equipa de futebol, do qual
deriva uma dupla dimensão: "estática" e "dinâmi-
ca". A primeira traduz-se pela racionalização do
espaço, através da aplicação de um dispositivo de A racionalização do espaço de jogo representa uma das orientações fun-
base em que os jogadores ocupam o terreno de damentais da estrutura da equipa através do estudo da evolução dos
jogo, estabelecendo as linhas de força unitárias e sistemas de jogo e dos elementos de base que fundamentam a
homogéneas, que cons-tituem o quadro referen- alteração dos sistemas na actualidade e da distribuição dos 11
cial de redes de comunicação ou de intercepção jogadores da equipa no terreno de forma coerente e
das ligações dos adversários. A segunda dimen- homogénea.
são do subsistema estrutural, traduz-se pela
racionalização e objectivação do conjunto de
tarefas e missões tácticas de base e específicas,
distribuídas aos diferentes jogadores que con-
stituem a equipa, estabelecendo em última
análise, o quadro orientador dos seus comporta-
mentos técnico-tácticos. Partindo destes dois
Um dos problemas mais complexos que determinam a elementos de base, extrai-se um terceiro que é
eficácia de qualquer estrutura de uma equipa de futebol é a determinado pelo sistema de relações estabeleci-
forma como os jogadores desenvolvem a sua acção dentro da das pelos compa-nheiros, adversários, bola,
organização da equipa. A concretização dos objectivos preestab- espaço de jogo, etc., que se condicionam mutu-
elecidos, consubstancia a necessidade do estabelecimento dum estatu- amente, exprimindo uma articulação interna,
to (por exemplo: guarda-redes, defesa, avançado, etc.) e duma função mas mantendo a sua interdependência fun-
(missão) táctica específica cional.
044 Guia prático de exercícios de treino

Parte UM
O SUBSISTEMA ESTRUTURAL
Capítulo
Dois
1. Conceito de subsistema estrutural
O subsis - O subsistema estrutural que deriva da organização dinâmica de jogo de uma equipa de
tema futebol, é definido pelo posicionamento dos jogadores no terreno de jogo e, paralelamente,
pelas funções tácticas gerais e específicas distribuídas a esses mesmos jogadores.

2. Natureza do subsistema estrutural


A natureza do subsistema estrutural consubstancia-se basicamente por duas dimensões:
(1) "estática" denominada de sistema de jogo ou dispositivo táctico, que representa o modo
de colocação dos jogadores sobre o terreno de jogo. Esta colocação de base fundamental
(traduzida por diagramas, por exemplo: 4-4-2; 4-5-1; 4-3-3; etc.), restabelece a ordem e os
equilíbrios nas várias zonas do campo, servindo de ponto de partida (referenciais) para os
deslocamentos relativos dos jogadores e para a coordenação das acções individuais e colecti-
vas logo que a bola entra em movimento e, (2) "dinâmica" estabelecida pelas diferentes tare-
fas e missões tácticas distribuídas aos jogadores que compõem a equipa que, em última
análise, traduzem as regras e os limites orientadores dos seus comportamentos técnico-tácti-
cos. Nesta linha de raciocínio, podemos referir, que a natureza do subsistema estrutural
estrutu-ral exprime uma dupla dimensão do mesmo fenómeno, isto é, duas faces da mesma moeda,
envolvendo no mesmo nível de importância o posicionamento de base do jogador no espaço
de jogo e as funções tácticas gerais e específicas, desenvolvidas a partir desse posicionamen-
Parte UM to. Em conclusão a natureza do subsistema estrutural de uma equipa de futebol evidencia
Capítulo fundamentalmente dois elementos de base que o constituem:
2.1. O sistema de jogo ou dispositivo táctico, representa o modo de colocação dos
Dois jogadores sobre o terreno de jogo, para o qual a racionalização do espaço representa a sua
O subsis - orientação fundamental.
tema 2.2. As diferentes funções distribuídas aos diferentes jogadores que compõem a equipa,
para a qual a objectivação do comportamento técnico-táctico destes, representa a sua ori-
estrutu-ral entação fundamental.

Estes dois elementos de base desenvolvem um sistema de relações estabelecidas pelos com-
Parte UM panheiros, adversários, bola, espaço de jogo, etc., que se condicionam mutuamente, exprim-
indo uma articulação interna, mas mantendo a sua interdependência funcional. Por forma a
compreendermos melhor esta dimensão estrutural do problema, F. Saussure apresenta um
exemplo elucidativo desta questão “uma peça de xadrez não se define pela sua cor, dimen-
sões, da matéria de que é feito, nem pelos seus atributos físicos ou pela sua "forma", mas pela
regra do jogo e pelas relações que essas regras lhe permitem intervir com as ou-tras peças no
conjunto dos casos. Assim, o avançado ou o guarda-redes têm um valor estrutural não pelas
características físicas da sua aparência e dos seus deslocamentos, mas por um sistema de
relações estabelecidos entre os diferentes jogadores...”

3. A importância do subsistema estrutural


Ao longo dos tempos, o sistema de jogo na sua dimensão geométrica do subsistema estru-
tural da equipa, tem sido sobrevalorizado no momento da apreciação do jogo, em detrimen-
to de outros aspectos tão importantes, como é o caso dos métodos de jogo, dos princípios de
jogo, etc. A análise da natureza do sistema de jogo, através de uma pertinência geométrica,
A organização dinâmica do jogo de futebol 045

condena-o a não abrir senão uma perspectiva unilateral, incapaz de abranger a realidade ló- Parte UM
gica do jogo. Muitas pessoas ainda julgam que a eficácia e o rendimento de uma equipa passa
somente pela aplicação deste ou daquele sistema de jogo, dispondo os jogadores de uma Capítulo
forma mais ou menos ardilosa. No entanto, não existe nenhum sistema de jogo que possa Dois
compensar a insuficiência técnica de um mau passe ou de uma má recepção, de falta de
enquadramento de um conjunto de regras básicas de coordenação dos comportamentos dos O subsis -
jogadores no terreno de jogo ou de incapacidade física para pôr em funcionamento todo o tema
sistema de elementos na procura de um objectivo comum - o golo. Neste sentido, equivocar-
nos-íamos profundamente acerca do sentido da nossa análise se a tomássemos por uma
condição indispensável, logo, a sua importância depende concomitantemente das condições
intrínsecas à sua aplicação.
Concluindo, a importância do subsistema estrutural deve-se ao facto deste, para
além de estabelecer a colocação de base dos jogadores no terreno de jogo, proporcionar igual-
mente a base racional da conjugação das acções dos jogadores, permitindo canalizar a toma-
da de consciência por parte destes sobre os seus direitos e deveres, fundamentalmente no que
diz respeito às suas funções e limites. Todavia, isto não significa que cada jogador não encon-
tre dentro desta concepção de organização da equipa o "espaço" necessário para reflectir a
sua própria personalidade, improvisação e criatividade, pois este é um pressuposto integrante
do subsistema estrutural.

4. Objectivos do subsistema estrutural estrutu-ral


Pragmática e sinteticamente, o subsistema estrutural da organização de jogo de
uma equipa de futebol fundamenta dois objectivos essenciais:
4.1. Racionalização do espaço de jogo através: (1) do estudo da evolução dos sistemas de Parte UM
jogo e dos elementos de base que fundamentam a alteração dos sistemas na actualidade e, Capítulo
(2) da distribuição dos 11 jogadores da equipa no terreno de forma coerente e homogénea,
consubstanciando paralelamente a constituição de sectores (defensivo, médio e ofensivo)
Dois
formados por vários jogadores que exercem a sua acção de forma concertada. O subsis -
4.2. Racionalização e objectivação dos limites orientadores dos comportamentos técnico- tema
tácticos, através da distribuição de um conjunto de tarefas e missões tácticas específicas
ofensivas e defensivas, em função: (1) das potencialidades individuais dos jogadores, (2) estrutu-ral
dos objectivos estratégico-tácticos da equipa e, (3) do conhecimento mais ou menos por-
menorizado das circunstâncias em que determinado confronto irá decorrer, incluindo,
naturalmente, as particularidades fundamentais da equipa adversária. Assegura-se assim, Parte UM
em última análise, a coordenação dos comportamentos dos jogadores dentro da organiza-
ção da equipa a partir da qual se desenvolve e evolui a sua expressão táctica.

5. As linhas de força do subsistema estrutural


A ocupação do terreno de jogo determina ligações, que por sua vez, definem li-
nhas de força, ou seja, redes de comunicação ou intercepção. Para que isto se verifique ver-
dadeiramente, é necessário o respeito por uma certa distância relativa entre os jogadores,
nem demasiadamente longa, pois aumenta os riscos de intercepção da bola pela equipa
adversária, nem demasiadamente curta em que a progressão da bola em direcção à baliza
adversária se faça com grandes dificuldades. Neste sentido, cada jogador em campo repre-
senta uma força que se manifesta pela:

5.1. Ocupação dinâmica de uma parte do espaço de jogo. Ao ana-lisarmos a área do ter-
reno de jogo em função do total de jogadores que dentro deste se movimentam, observa-
046 Guia prático de exercícios de treino

mos em média, um espaço de cerca de 325m2/por jogador. Nestas cir-


cunstâncias, dentro da estrutura da equipa cada jogador, independen-
temente da sua missão táctica específica, deverá ocupar e dinamizar

Foto cedida pelo jornal O JOGO


uma parte do terreno de jogo podendo exprimir individualmente a
sua própria personalidade, não sendo mais "prisioneiro" do seu posto,
visto possuir um largo suporte de uma organização estruturada e fun-
damentada numa cobertura permanente e recíproca. Foto 29. A ocupação dinâmica de um espaço
5.2. Acção sobre a bola. Em cada momento do jogo somente um de jogo
jogador dos 22 em campo poderá deter a posse de bola. Isto significa
que cada jogador ao intervir sobre esta direcciona o jogo num ou noutro sentido, isto é, na concretização ou
não dos objectivos do jogo. Simultânea e paralelamente, a cada intervenção
sobre a bola por parte de um qualquer jogador, observa-se uma interacção
operatória entre este e os restantes jogadores (companheiros e adversários)
consubstanciado por um conjunto de complexas movimentações à volta ou
Foto cedida pelo jornal O JOGO

em direcção à bola (apoio ou cobertura do companheiro de posse de bola


ou marcação do adversário com bola).
5.3. Relação com os companheiros. A cooperação representa uma forma
específica de sociabilidade do jogo de futebol. Qualquer jogador dentro da
equipa em função de um determinado objectivo comum, deve ajudar os
Foto 30/31. Acção sobre a bola
seus companheiros e comunicar com eles. Para comunicar, é necessário
estabelecer uma "linguagem comum", por outras palavras, ter um sistema referencial comum que é funda-
mentado no estabelecimento e definição de princípios de jogo. A comunicação realiza-se de uma forma
instrumental - através da bola, e comportamental - através das acções
técnico-tácticas executadas. Assim, os jogadores deverão compreen-
der as intenções e projectos dos seus companheiros em cada situação
Foto cedida pelo jornal O JOGO

de jogo e adoptar comportamentos conducentes a tirar o máximo de


eficácia dessa situação, em função dos objectivos da equipa. As pecu-
liaridades e o carácter das acções sem bola dos jogadores representam
a base do conceito de jogo de equipa. O posicionamento escolhido
Foto 32. Arelação com os colegas
pelo jogador nas várias situações de jogo, reflecte a fase qualitativa do
pensamento criativo e de maturidade táctica, baseados na capacidade de ler e valorizar rapidamente as situ-
ações, por forma a poder adoptar operacionalmente as soluções mais eficazes à tarefa táctica da sua própria
equipa.
5.4. Intercepção das ligações dos adversários. A presença do adversário constitui outra das constantes do
jogo o que determina o "jogar com e contra". O jogo deve ser analisado e compreendido em termos de relações
de força entre as equipas. Estas, quando em fase ofensiva, tentam desequilibrar o sistema de forças do adver-
sário e estabelecer as condições mais favoráveis à objectivação do golo. Pelo contrário, a equipa em acção
defensiva tenta a todo o momento manter o equilíbrio dinâmico do seu sistema,
procurando recuperar a posse da bola e proteger a sua baliza.
5.5. Constante adaptação à variabilidade das situações de jogo. A variabilidade das
situações momentâneas de jogo, determina a constante adaptação dos comportamen-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

tos técnico-tácticos individuais (resolução táctica presente) e dos comportamentos


técnico-tácticos colectivos (deslocamentos coordenados pela necessidade de equili-
brar a repartição de forças no terreno de jogo). Em síntese, dentro destas diversas
manifestações, cada jogador concretiza uma linha de força com múltiplas orientações
Foto 33. Intercepção das
em que o rendimento está subordinado à sua situação no espaço de jogo relativa-
ligações com os adversários mente: i) à bola, ii) às balizas, iii) aos companheiros, e, iv) aos adversários.
5.6. Concretização do objectivo do jogo. Cada jogador representa uma identidade
A organização dinâmica do jogo de futebol 047

indivisivel com uma vontade própria, que transporta consigo uma


mentalidade, uma capacidade e uma finalidade. Redimensionando
esta questão no seio de uma equipa, a integração de cada jogador

Foto cedida pelo jornal O JOGO


realiza-se pela aceitação, por parte deste, de um conjunto de val-
ores, convicções e de um projecto comum assumindo, neste con-
texto, uma consciência colectiva. De forma simultânea, cada
Foto 34. A constante adaptação à variabilidade das
jogador deverá saber, o que a equipa espera dele e a melhor forma
condições de jogo deste corresponder a essas expectativas. Assim, cada jogador pe-
rante um quadro de confrontação
desportiva, deve entender, que em qualquer momento do jogo (intervindo ou não
sobre a bola) ele é parte integrante de uma cadeia de acontecimentos, cuja
importância é determinada pelas suas decisões, ao contribuírem para a resolução

Foto cedida pelo jornal O JOGO


dos diferentes contextos situacionais do jogo, por forma a que se concretizem os
objectivos estratégicos preestabelecidos ou os objectivos tácticos momentâneos da
equipa.
Foto 35. Na concretização do
6. O subsistema estrutural de base da equipa objectivo do jogo
Uma equipa de futebol pressupõe a existência de um colectivo organiza-
do e ligado do ponto de vista da finalidade, dos objectivos e das intenções. Representa, segundo Teodorescu
(1984) um "microssistema social numericamente estável e constituído por jogadores especializados"..."o que con-
duz ao aparecimento de lugares na equipa (defesas, médios, etc.), bem como a constituição de subconjuntos, sec-
tores ou linhas". Com efeito, a colocação de base da equipa sendo suportado pelas acções individuais dos
jogadores, organiza-se em função de linhas ou sectores constituídos por vários jogadores que exercem a sua
acção (quer ofensiva, quer defensiva) de forma concertada e homogénea, estabelecendo as relações ou as ligações
que estão na base das acções colectivas (missões tácticas colectivas) e, em última análise, das acções da equipa
no seu conjunto. Neste sentido, os
jogadores que pertencem aos diferentes
sectores da equipa, evidenciam missões
tácticas específicas cuja nomenclatura
tradicional denomina de:
6.1. Guarda-redes. É o jogador que
dentro da sua grande área goza de um
estatuto diferente de todos os outros
jogadores, em termos de contacto com
a bola e de protecção às suas acções téc-
nico-tácticas. A responsabilidade
primária do guarda-redes é, evitar o
golo na sua baliza.
6.2. Defesas. São os jogadores que for-
mam o sector mais perto da sua ba-liza,
constituído normalmente por 3 a 5
jogadores, dois ou três defesas centrais,
um defesa lateral direito e um defesa
lateral esquerdo. A responsabilidade
primária dos defesas é, proteger a sua
baliza.
6.3. Médios. São os jogadores que for-
mam o sector intermediário, ou seja, Figura 3. Base estrutural da equipa
048 Guia prático de exercícios de treino

entre o sector defensivo e o se-ctor atacante, constituído normalmente por 3 a 5 jogadores, dois ou três médios
centros, um médio esquerdo e um médio direito. A responsabilidade primária dos médios é, auxiliar os defe-
sas nas suas missões defensivas e os avançados nas suas missões ofensivas.
6.4. Avançados. São os jogadores que formam o sector atacante, constituído normalmente por 1 a 3 jogadores.
A responsabilidade primária dos avançados é marcar golos.

Esta nomenclatura indica somente o papel preponderante dos jogadores, pois, a sua actividade real
na actualidade, ultrapassa em muito o limite das obrigações resultantes destas denominações, desaparecendo
assim as fronteiras de carácter rígido entre as funções destes dentro da equipa. Existe assim, com maior fre-
quência o intercâmbio (infiltração), de posições e de funções dos jogadores. Esta perspectiva renuncia igual-
mente, à divisão por categorias (os criadores/distribuidores de jogo e os lutadores pela posse da bola), pois todos
devem ser perigosos para a baliza adversária, sabendo construir, criar, rematar e, simultaneamente, deverão recu-
perar a posse da bola e proteger a baliza. Segundo Kacani (1982), consoante a quantidade e a qualidade do tra-
balho que desempenham no jogo os jogadores podem ser divididos em três categorias: (1) jogadores universais.
São capazes de cumprir com a mesma eficácia tarefas das fases defensiva e ofensiva do jogo, nas zonas de defe-
sa e ataque, nos sectores do terreno de jogo próprio de ambos, conhecendo as exigências de cada uma das
funções a desempenhar, (2) jogadores semi-universais. São capazes de cumprir as tarefas de uma das fases do
jogo (defensiva ou ofensiva), na zona de defesa ou do ataque e nos sectores de terreno próprio de cada uma delas.
Conhecem e dominam com elevado nível de rendimento, as funções de uma destas fases do jogo e, (3) espe-
cialistas. São jogadores com uma especialização delimitada, capazes de cumprir com eficácia as tarefas de uma
fase do jogo, num sector específico da zona ofensiva ou defensiva (por exemplo, o guarda-redes).

Bases da racionalização do espaço de jogo

A racionalização do espaço de jogo, como referimos, representa uma das orientações fundamentais
do subsistema estrutural através:
1. Do estudo da evolução dos sistemas de jogo e dos elementos de base que fundamentam a alteração dos sis-
temas na actualidade.
2. Da distribuição dos 11 jogadores da equipa no terreno de forma coerente e homogénea, consubstancian-
do paralelamente a constituição de sectores (defensivo, médio e ofensivo) formado por vários jogadores que
exercem a sua acção de forma concertada.

1. A evolução dos sistemas de jogo


Desde a institucionalização do futebol em 1863, o dispositivo de base (sistema de jogo) dos 11
jogadores da equipa conheceu constantes modificações através dos tempos. Com efeito, estas modificações
traduzem evoluções, que se radicam nas diferentes correntes que influenciaram ao longo dos tempos a análise
do jogo e complementarmente pelas concepções técnico-tácticas que daí derivam. Tal como refere Morris (1981)
"no passado as equipas estavam mais preocupadas com a glória da vitória do que pelo desdém da derrota, assim
sofriam-se bastantes golos mas marcavam-se mais". Nestas circunstâncias, os diferentes sistemas de jogo que
marcaram claramente diferentes períodos temporais, consubstanciaram-se, em nossa opinião, em três vertentes
fundamentais:
1. Da procura constante: (1) na concretização de situações de superioridade numérica (invariante número)
em certas zonas vitais do terreno de jogo, dividindo igualmente o número de jogadores que se dedicavam à
fase ofensiva e à fase defensiva do jogo e, (2) na ocupação racional da totalidade do espaço de jogo (invari-
ante-espaço) por forma a criar, explorar e vigiar zonas fundamentais para atacar e defender, melhorando para-
lelamente o conceito de largura e profundidade da equipa.
2. Das modificações operadas nas Leis do jogo, especialmente no que concerne aos regulamentos que derivam
A organização dinâmica do jogo de futebol 049

da lei do fora-de-jogo.
3. Do melhoramento das capacidades técnicas, tácticas, físicas, psicológicas e sociais dos jogadores, ou por
outras palavras, da sua relação de universalidade versus especialização dentro de um quadro referencial no
qual se consubstancia e conceptualiza, que todas as situações de jogo devem ser resolvidas com pleno sentido
de equipa.

Dentro desta perspectiva, os diferentes sistemas de jogo utilizados ao longo do tempo podem ser anal-
isados à luz de uma pertinência técnica, táctica e física, da qual resulta que a sua dinâmica é caracterizada pre-
dominantemente por uma destas componentes.

A. A época dos dribladores


O sistema de jogo no início (1863), caracterizava-se fundamentalmente por acções individuais, isto é,
quando um jogador detinha a posse da bola realizava uma sequência de acções em progressão para a baliza
adversária. Se vencia a oposição de todos os jogadores adversários que lhe surgissem pela frente arriscava-se a
finalizar, caso contrário, se algum jogador opositor recuperasse a bola, seria esse mesmo jogador a realizar o
mesmo tipo de acções até perder a posse da bola (predominância técnica). Desta caracterização se infere o pouco
trabalho de cooperação no seio da equipa, assim, os restantes
jogadores da equipa acompanhavam o companheiro de posse
de bola até este ser privado desta, nessa situação procuravam
recuperá-la para poder iniciar uma nova penetração. Com
efeito, para além do pouco trabalho colectivo, a divisão de
funções tácticas era semelhante para todos os jogadores.
Basicamente, o sistema de jogo era constituído por 9
avançados, 1 defesa (que ajudava o guarda-redes na sua
função) e 1 guarda-redes. Devido ao grande espaço de
jogo que mediava entre a posição do único defesa e
dos atacantes procurou-se preencher esse espaço pelo
recuo de um dos avançados para uma linha intermé-
dia Neste sentido, a disposição táctica era formada
por 8 avançados, 1 defesa, 1 defesa-médio e 1 guarda-
redes. Um pouco mais tarde, as equipas mais fracas
reforçavam ainda mais essa linha média com a
inclusão de mais um jogador retirado do sector
avançado, ficando o sistema táctico formado por 7
avançados, 1 defesa, 2 médios e 1 guarda-redes.

B. A época dos dois defesas


Seguidamente (por volta de l880), quando um
jogador do clube escocês do Queen's Park se lembrou
de passar deliberadamente a bola a um dos seus com-
Figura 4, 5 e 6. Os sistemas de jogo desde 1863 a 1870 panheiros da equipa, introduziu-se assim o passe no
jogo. Segundo Morris (1981), foi a partir deste
momento que o jogo de futebol deixou de ser o jogo de "penetração solitária" para se transformar no "jogo de
passagem" (desenvolvimento da componente táctica). Este jogo que inclui um novo procedimento técnico-tác-
tico, veio lançar a equipa adversária numa confusão total, pois, os jogadores ao tentarem recuperar a posse da
bola deslocavam-se para o espaço onde esta se encontrava, mas, quando lá chegavam já esta se encontrava num
outro espaço, na posse de um outro atacante. Nestas circunstâncias e concomitantemente à introdução deste
novo argumento técnico-táctico, os jogadores foram compelidos a espalharem-se por todo o terreno de jogo,
050 Guia prático de exercícios de treino

atribuindo uma nova dimensão ao espaço em termos


de largura, profundidade e às relações estabelecidas
entre a largura e a profundidade. Para se instituir este
novo conceito de jogo, o dispositivo táctico foi imedi-
atamente obrigado a modificar a linha que continha
somente um jogador, isto é, a linha defensiva passando
esta a ser constituída por dois jogadores em detrimento do
número de avançados. Com efeito, o sistema táctico passou
para 6 avançados, 2 médios, 2 defesas e 1 guarda-redes.
Figura 7. O sistema táctico com dois defesas
C. A época do sistema clássico
À medida que a acção técnico-táctica de passe, nas suas diferentes dimensões, foi evoluindo, foi
aumentando paralelamente a eficácia deste "jogo de passagem", tornando-se clara a necessidade de o neutralizar,
por um lado, e de continuar a desenvolvê-lo, por outro. Neste contexto, nasceu a posição do médio centro
através do deslocamento de um dos seis avançados. Este novo sistema de jogo, denominado sistema clássico (por
ter sido o de maior longevidade), com a configuração geométrica de uma pirâmide, rapidamente se desenvolveu
por todo o Mundo e sobreviveu como formação dominante durante quase 50 anos, altura em que a lei do fora-
de-jogo foi modificada em três aspectos fundamentais: a) o jogador não está fora-de-jogo se estiver posiciona-
do no seu próprio meio-campo, b) ou se tiver pelo menos dois jogadores adversários entre ele e a linha de golo
(anteriormente o número era de três) e, c) se o jogador receber a bola directamente de um lançamento da linha
lateral, pontapé de canto ou de baliza. Este sistema consubstanciava fundamentalmente um maior equilíbrio
entre a defesa e o ataque, pois, para além da possibilidade de dois dos 5 avançados actuarem na posição de inte-
riores, quando os atacantes da equipa adversária tinham a posse da bola viam-se constantemente confrontados
por 5 defesas (força combinada dos médios mais os defesas) e daí resultou a possibilidade de uma marcação indi-
vidual mais eficiente. O jogador mais importante no jogo era o médio centro que tinha a dupla tarefa que exi-
gia grande talento e capacidade física, pois, recuava no terreno actuando como defesa e deslocava-se em direcção
à baliza adversária para apoiar o ataque da sua equipa, procurando situações de superioridade numérica. Em sín-
tese, o sistema clássico apresentava as seguintes características: i) uma distribuição mais equitativa das missões
tácticas e das despesas energéticas dos jogadores pelos três sectores da equipa, ii) os dois defesas asseguravam
uma melhor cobertura da zona central da ba-liza, iii) os três médios consubstanciavam os pontos mais fortes do
sistema de forças da equipa, exercendo a sua acção na fase ofensiva e defensiva do jogo, iv) os médios laterais
marcavam os deslocamentos dos extremos adversários, v) os dois interiores coordenavam o jogo ofensivo e, vi)
os dois extremos e o avançado centro procuravam finalizar o jogo ofensivo.

D. A época do sistema WM
Respondendo às modificações no plano táctico e do
plano regulamentar do jogo (em 1925 a Lei do fora-de-
jogo reduzia de 3 para 2 jogadores adversários que o ata-
cante deverá ter entre si e a linha de golo para se con-
siderar em posição regular), Herbert Chapman,
treinador do Arsenal de Londres, converteu o médio
Figura 8. O sistema táctico clássico centro num terceiro defesa (defesa central), não
podendo este participar no processo ofensivo da
equipa, devendo antes ficar entre os dois defesas vigiando e marcando individualmente o avançado centro da
equipa adversária. Os dois defesas do sistema clássico deslocaram-se para marcar os extremos adversários e os
A organização dinâmica do jogo de futebol 051

dois médios que marcavam os extremos deslocaram-se para o meio do terreno de jogo com a função de coor-
denar e marcar os interiores da equipa adversária. Neste sentido, a zona central do terreno de jogo era vigiada
por 4 jogadores que tinham como tarefa táctica fundamental destruir o jogo adversário e construir o seu próprio
jogo ofensivo. Implantou-se assim, definitivamente o WM, considerado como o primeiro sistema de jogo que
em teoria proporcionava um equilíbrio numérico entre defesas e atacantes, ou seja, 5 defesas e 5 atacantes.
Em traços gerais, a estratégia fundamental deste sistema de jogo era fazer recuar sete jogadores (os
médios e os interiores) em bloco homogéneo quando a equipa adversária atacava. Este facto obrigava-os a terem
que deslocar um maior número de jogadores para a frente por forma a compensarem o desequilíbrio numéri-
co existente na tentativa de ultrapassar a barreira formada por estes 7 jogadores, deixando a linha defensiva des-
guarnecida. Desta forma o Arsenal, logo que recuperava a posse da bola, lançava-a para a frente em direcção de
um dos três avançados que a esperavam, em especial os extremos que sendo rápidos a conduziam directamente
para a baliza adversária. Com efeito, o WM concretiza uma organização em que repartia o esforço físico, as tare-
fas e responsabilidades tácticas de todos os jogadores
com precisão, estabelecendo-se para cada um uma tare-
fa particular e específica dentro de um espaço de acção
limitado. Determinando à partida o equilíbrio numéri-
co em qualquer zona do campo e em qualquer fase ou
momento de jogo. Concluindo, o sistema WM exprime o
sentido exacto da superioridade do jogo colectivo sobre o
jogo individual, constituindo uma etapa chave na evolução
do cará-cter racional e reflectido do jogo de futebol.
Figura 9. Os sistema WM
E. A época dos 4 defesas
Os sistemas de jogo formados por 4 elementos no seu sector defensivo foram marcados no início da
sua implantação por dois sistema fundamentais: o "betão" e o "ferrolho". O sistema de jogo denominado por
"betão" foi utilizado nos anos 30 pela selecção Suíça (não obstante as polémicas que provocou devido ao seu
carácter eminentemente defensivo) obtendo excelentes resultados devido à elevada protecção da própria baliza
e das rápidas passagens para o contra-ataque, constituindo-se como uma solução táctica eficaz no confronto com
as equipas adversárias. Com efeito, com o intuito de se aumentar a protecção das zonas próximas da ba-liza,
traduzido pelo sistema WM, o sistema "betão" reforça o sector defensivo através da mobilização de mais um ele-
mento que se posiciona "nas costas" dos outros 3 defesas garantindo uma cobertura defensiva mais eficaz e ade-
quada às diferentes situações de jogo. Neste contexto, em função do corredor de jogo em que o processo ofen-
sivo adversário se desenvolve, o quarto defesa desloca-se por detrás de todo o sector defensivo por forma a
aumentar a protecção das acções técnico-tácticas do(s) seu(s) companheiro(s). O sistema de jogo denominado
de "ferrolho" está historicamente ligado aos Clubes e à selecção Italiana. Este sistema é baseado numa marcação
individual, rigorosa e impiedosa dos avançados adversários e a utilização de um jogador livre dessas funções tác-
ticas que se desloca "nas costas" dos companheiros dando-lhes uma cobertura defensiva adequada, podendo
dobrá-los sempre que estes sejam ultrapassados pelos seus adversários directos.
Mais tarde, o campeonato do Mundo de l958,
realizado na Suécia marcou um novo marco da evolução
do jogo. Esta evolução deriva da reacção ao sistema WM
que embora consubstanciasse um progresso evidente do
jogo, limitava a acção individual devido à aplicação
exagerada dos princípios de base que por vezes se traduzi-
am num jogo negativo e estático. A adopção do 4-2-4 pela
equipa brasileira revolucionou o futebol mundial, introduzin-
do no sistema de jogo pela primeira vez 4 defesas, 2 médios e
4 atacantes. A partir da base do WM bastou deslocar um médio Figura 10. O sistema de jogo 4-2-4
052 Guia prático de exercícios de treino

para a linha defensiva e um interior para a linha média desse mesmo lado. Este sistema é constituido por 2 defe-
sas laterais que têm como função táctica defensiva fundamental a marcação dos extremos avançados da equipa
adversária quando esta se encontra de posse de bola e como função táctica ofensiva, incorporar-se pontualmente
no ataque da sua equipa por forma a surpreender os adversários provocando situações de superioridade numéri-
ca em espaços vitais de jogo. Dos 2 defesas centrais, em função das circunstâncias de jogo, um deles deverá mar-
car directamente as acções do avançado centro adversário, enquanto que o outro dá-lhe a necessária cobertura
defensiva. O maior trabalho no plano técnico-táctico e físico é desenvolvido pelos 2 médios que têm uma dupla
função táctica, ao longo de toda a partida, desenvolver acções ofensivas e defensivas por forma a coadjuvar os
companheiros do sector defensivo e concomitantemente do se-ctor ofensivo mantendo permanentemente 6
jogadores em qualquer destas fases do jogo. Neste sentido, a vantagem deste sistema situava-se na rapidez de
transformar uma forte defesa num forte ataque.
Todavia, este sistema ao ser constituido por 2 jogadores no sector médio cujas funções tácticas são
de vital importância para a organização da equipa, implica que estes devem encontrar-se numa elevada condição
física, técnico-táctica e psicológica por forma a suportar a grande fatia de trabalho colectivo durante o jogo
(introdução da dominante condição física). Concluindo, este sistema permitia um jogo ofensivo e defensivo com
maior mobilidade devido à utilização de apoios e permutações que conservavam uma ocupação racional e per-
manente do espaço, abrindo assim uma maior perspectiva individual, mas exigindo simultaneamente um acen-
tuado espírito colectivo.

F. Os diferentes sistemas de jogo na actualidade


A resposta à desvantagem fundamental do sistema 4-2-4, consistiu em fazer recuar um avançado para
preencher a antiga posição de médio centro, o qual determinou um sistema constituído por 4 defesas, 3 médios
e 3 avançados. Como consequência, pela primeira vez na história dos sistemas de jogo o número de jogadores
que constituíram o sector defensivo ultrapassava o número de jogadores do sector avançado.
Posteriormente na década de 70 fez-se recuar um outro avançado com o objectivo de criar uma linha
intermédia mais forte constituída por quatro jogadores, consubstanciando, com efeito, o dispositivo táctico: 4-
4-2. Este sistema de jogo ainda é muito utilizado na actualidade devido, por um lado, ao elevado grau de
racionalização do grande espaço de jogo no qual o futebol se desenrola e, por outro, à distribuição equilibrada
e de fácil compreensão das diferentes missões tácticas
estabelecidas para os jogadores pertencentes aos difer-
entes sectores da equipa.
A partir destes sistemas de jogo outros
foram estabelecidos tais como o 5-4-1 e o 4-5-1. Em
relação ao primeiro, a sua característica fundamental rad-
ica-se no reforço do sector defensivo, com mais um
jogador em detrimento do sector avançado. Este "novo"
defesa posiciona-se: i) atrás da linha defensiva, tomando a
desi-gnação específica de "líbero" cujas funções tácticas prin-
cipais são de fazer a cobertura dos espaços "nas costas" dos seus
Figura 11. O sistema de jogo 4-3-3
companheiros, garantindo assim a sua segurança e homogenei-
dade ou, ii) à frente da linha defensiva, tomando neste caso a designação específica de "trinco", cujas funções
tácticas principais são reforçar a vi-gilância e a marcação das zonas centrais da baliza.
Em relação ao 4-5-1, a sua característica fundamental radica-se no reforço do sector médio com mais
um jogador, igualmente à custa de um jogador retirado do sector avançado. Este "novo" médio posiciona-se: i)
entre os médios cuja missão táctica específica é de fixar a zona central do meio-campo executando deslocamen-
tos por forma a equilibrar constantemente o sistema de jogo da equipa, quer durante a fase ofensiva, quer
durante a fase defensiva. Com efeito, a elevada mobilidade dos outros jogadores do sector médio, neste dispos-
itivo táctico é, continuamente compensado pela movimentação deste "quinto" médio ou, ii) por detrás do ponta-
A organização dinâmica do jogo de futebol 053

de-lança cuja missão táctica específica é de explorar os espaços criados pelo seu companheiro deslocando-se de
trás para a frente na procura dos momentos em que a
organização defensiva adversária se desequilibra ou no
aproveitamento dos movimentos de subida destes no
terreno de jogo para tentarem tirar vantagem da Lei do
fora-de-jogo.
Por último, outro dos sistemas de jogo que
têm sido aplicados com algum sucesso na actualidade é o
3-5-2. Em termos gerais, este dispositivo táctico consub-
stancia a marcação individual e premente dos dois ou um
ponta-de-lança adversário através dos dois defesas centrais.
Figura 12. O sistema de jogo 4-4-2
Existe constantemente um terceiro central que se desloca "nas
costas" dos seus dois companheiros ou à frente destes assumin-
do variavelmente as posições de "líbero" ou de "trinco" em função das exigências da situação de jogo.
Paralelamente, poder-se-á observar o deslocamento deste jogador no terreno de jogo para ajudar os compan-
heiros do se-ctor médio ou avançado. Este sistema de jogo estabelece um médio centro cuja função táctica prin-
cipal é equilibrar constantemente o sistema de forças da equipa compensando os deslocamentos dos restantes
médios. Existem dois médios, denominados "alas" que
jogam permanentemente perto das linhas laterais e cuja
missão táctica específica é de grande universalidade,
isto é, procuram atacar ganhando os corredores de jogo
e defen-der ajudando os seus companheiros do sector
defensivo quando a situação assim o exige. Neste contex-
to, estes jogadores são dotados de uma elevada capacidade
física para poderem cumprir com as necessidades que
derivam tanto da fase ofensiva como defensiva do jogo. Os
restantes dois médios organizam constantemente o jogo ofen-
Figura 13. O sistema de jogo 5-4-1
sivo da equipa estabelecendo relações privilegiadas com os dois
pontas-de-lança e os dois médios alas. Os dois pontas-de-lança
para além dos aspectos específicos inerentes ao seu posicionamento, são dotados de grande mobilidade táctica,
podendo assim jogar tanto no corredor central como nos corredores laterais com o objectivo de arrastar con-
stantemente os defesas centrais adversários para posições desvantajosas e, neste contexto, consubstanciar os
desequilíbrios necessários à desorganização defensiva, criando-se assim os espaços que poderão ser explorados
pelos médios nos seus deslocamentos de trás para a frente.

1.1. Os fundamentos dos sistemas de jogo actuais


Da análise da evolução dos dispositivos tácticos parece fácil concluirmos, que os actuais sistemas de
jogo consubstanciam uma excessiva preocupação
defensiva. Este facto pode ser comprovado pelo eleva-
do número de jogadores que formam o sector defensi-
vo, bem como, a colocação de poucos jogadores em
posições mais avançadas no terreno de jogo. Esta pre-
ocupação advém, em nossa opinião, de quatro vertentes
interdependentes:
1. Técnica. Deriva da tendência dos treinadores con-
struírem a sua equipa de trás para a frente, ou por outras
palavras, do sector defensivo para o sector ofensivo, pre- Figura 14. O sistema de jogo 4-5-1
ocupando-se mais com o medo de perder do que com a
054 Guia prático de exercícios de treino

glória de vencer.
2. Regulamentar. Uma das Leis do jogo que mais estimulam a subjectividade da decisão e a controvérsia que
daí deriva é a Lei do fora-de-jogo. Durante décadas, esta Lei foi aplicada tendo por base os seus preceitos re-
gulamentares (alteradas ao longo dos anos) tendo por pano de fundo, que quando existissem dúvidas quan-
to à posição regulamentar do atacante a decisão deveria ser favorável à equipa em fase defensiva. Isto signi-
fica tão simplesmente, interromper o processo ofensivo e conceder-se a bola à equipa que defende. Estudados
e analisados estes casos, estabeleceu-se uma interpretação diferente, na qual é preferível em caso de dúvida
não se interromper o processo ofensivo e deixar que este possa originar situações de golo. Como se com-
preende, uma alteração desta natureza que mexe fundamentalmente com a mentalidade de quem decide
demorará muito tempo até ser correctamente aplicada. Todavia, no presente, enquanto se fizerem sentir as
referidas circunstâncias é normal observar-se que jogadores de tendência predominantemente atacante se
refugiam em certas posições com o intuito de não serem punidos com a aplicação desta Lei que: (1) diminu-
am a profundidade ofensiva da equipa e, (2) retardam a possibilidade de interferirem no processo ofensivo
que decorre, estando sempre em desvantagem relativamente ao seu adversário directo. Com efeito, existe um
desfasamento comportamental que irá ter um papel muito importante no desfecho de sinal positivo ou neg-
ativo da acção.
3. Arbitral. Reconhece-se a "pouca importância" que os árbitros normalmente concedem às infracções reali-
zadas "por trás" do atacante, especialmente na zona ofensiva. Este aspecto diminui gravemente a eficácia, a
fluidez e fundamentalmente a profundidade do jogo ofensivo porque, os jogadores ao terem "medo" (por não
se sentirem protegidos pelo árbitro) de receber a bola de costas para a baliza adversária (problemas de inte-
gridade física), naturalmente procuram espaços do terreno de jogo longe da baliza adversária por forma a
receberem a bola sem a marcação directa dos defesas.
4. Social. Outro facto recorrente do problema que reforça a componente defensiva do jogo é o da comuni-
cação social desportiva e não só, ao analisarem os acontecimentos de uma partida segundo o critério do resul-
tado final. Com efeito, todos os dados objectivos e subjectivos inerentes à observação do jogo são reciclados,
subjugados e interpretados à luz do resultado da partida. Prova desta constatação, são os poucos comentários
finais realizados nos segundos antes do final da partida, o qual por ironia do destino, nesse preciso instante
se verifica uma alteração do resultado final. Então, perante a nova realidade é necessário refazer o comentário
final dando-lhe uma nova maquilhagem, recuperando-se argumentos preciosos, que até ai não eram inter-
pretados como significativos. O que importa na realidade realçar, é a incompreensível valorização social que
se proporciona a esta ou aquela equipa, a este ou aquele treinador, quando se elogia e aceita um resultado
denominado de “honroso” (empatar ou perder pela dife-rença miníma) sem que a equipa em análise tivesse
conseguido durante os 90 minutos de jogo uma situação de finalização, nem ter tido a capacidade de se aprox-
imar em termos ofensivos da baliza adversária. Enquanto perante outra equipa que apresenta uma dinâmica
através da qual expõe os seus argumentos e procedimentos de carácter ofensivo, que se traduziram em situ-
ações eminentes de golo, executando remates à baliza, etc. Pelo facto do
resultado final, ser por exemplo de 4-1, o esforço dos jogadores e do
treinador é menos valorizável que no caso anterior. Ora perante esta dis-
crepância real, que não é mais que uma discrimi-nação negativa, porque
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

não se considera quem procura implementar uma filosofia que respeite


a essência e a natureza do próprio jogo, naturalmente os treinadores e os
jogadores quando confrontados com esta realidade social objectiva, sem-
pre que tiverem de defrontar uma equipa que teoricamente apresenta
melhores argumentos no plano técnico e no plano táctico, quais serão as
suas opções de domínio estratégico? Naturalmente o da concentração
defensiva permanente, o do ataque quando é possível e o da espera que
algo de bom aconteça. Actuando desta forma, os jogadores e os
treinadores acreditam em algumas certezas: (1) a possibilidade de perder Foto 36. As infracções “por trás”
A organização dinâmica do jogo de futebol 055

é minimizada por uma elevada concentração defensiva, (2) a possibilidade de perder com um resultado exces-
sivo é quase nulo, (3) a possibilidade de atingir o golo poderá ser mínimo, mas caso se consiga “enervar” a
equipa adversária este poderá acontecer e, (4) no final do jogo (na maioria das situa-ções) os jogadores serão
valorizados pelo seu esforço, perseverânça, entrega, vontade, personalidade, etc., só que estes valores serão
sempre de carácter defensivo.

Apesar da realidade dos factos evocados, com o peso de toda a sua pertinência, a verdade é que para-
lela e simultaneamente desenvolveu-se um conjunto de conceitos e perspectivas que imprimem um carácter evo-
lutivo ao jogo, não num sentido unilateral, mas sim no equilíbrio dinâmico da relação estabelecida entre a fase
ofensiva e defensiva do jogo e, da relação entre os factores colectivos e individuais das relações de dimensão uni-
versal e especializado na formação dos jogadores. Nestas circunstâncias, destacamos seguidamente, de forma
sucinta oito aspectos basilares em resposta a esta problemática:

1.1.1. A racionalização do espaço de jogo


O sistema de jogo proporciona, uma base racional que permite canalizar a tomada de consciência por
parte de todos os jogadores sobre os seus direitos e deveres, fundamentalmente no que diz respeito às suas
funções e limites. Por outras palavras, subordinar-se as acções individuais às colectivas, através de uma dis-
tribuição coerente dos seus comportamentos por forma a assegurar a coordenação e cooperação destes que
consubstancia o aumento da rentabilidade e da eficácia da equipa. Todavia, isto não significa que cada jogador
não encontre dentro desta concepção de organização da equipa o "espaço" necessário para reflectir a sua
própria personalidade, improvisação e criatividade, pois este é um pressuposto integrante da estrutura da
equipa. As situações de posse ou não da bola, a que correspondem complexas movimentações à volta, em
direcção à bola (apoio, ou cobertura do companheiro de posse de bola, ou a marcação do adversário com
bola), aparentemente destituídas de sentido, correspondem na realidade a situações altamente rentáveis em
termos de espaço e tempo para a concretização dos objectivos momentâneos da equipa (o golo ou a recuper-
ação da posse da bola). É nesta ocupação racional, constante e fluida do espaço em função das situações
momentâneas de jogo que o subsistema estrutural da organização da equipa, exprime a sua mobilidade e fle-
xibilidade não possibilitando aos adversários em qualquer momento do jogo: (1) ocupar, criar e explorar
espaços vitais para o desenrolar eficaz do seu processo ofensivo ou, (2) de restringir, vigiar e marcar espaços
vitais quando em processo defensivo.

1.1.2. Estabelecimento de um conjunto de missões tácticas específicas


As missões tácticas dos jogadores dentro do sistema de jogo da equipa são tão importantes que o seu
posicionamento, ou seja, o conteúdo e a forma constituem as vertentes de resolução dos problemas que
derivam do jogo. Com efeito, a concretização dos objectivos preestabelecidos consubstanciam a necessidade
do estabelecimento dum estatuto (por exemplo: guarda-redes, defesa, avançado, etc.) e duma função (missão)
táctica específica (por exemplo: marcação individual de um adversário, movimentar-se exclusivamente num
corredor de jogo quando em processo ofensivo ou defensivo, executar esquemas tácticos de uma determina-
da forma, etc.), definidores do sentido e dos limites da participação de cada jogador na resolução das varie-
díssimas situações, que o jogo em si encerra.

1.1.3. Universalidade versus especialização


Os jogadores passaram da noção estática de "posto" em que cada jogador evoluía somente em deter-
minada área conduzindo a equipa a uma rígida compartimentação e por inerência a uma maior permeabili-
dade na sua organização, para um conceito de função (missão). Esta noção, consubstancia amplos limites para
que cada jogador possa exprimir a sua iniciativa, improvisação, criatividade e autonomia, ou seja, a sua
própria personalidade, visto possuir largo suporte de uma organização fundamentada, numa cobertura per-
manente e recíproca em todas as fases (ofensiva e defensiva) do jogo e em qualquer zona do campo. Os
056 Guia prático de exercícios de treino

jogadores são obrigados assim, a cumprirem alternadamente tarefas técnico-tácticas tanto da fase ofensiva
como defensiva em curtos intervalos de tempo. Com efeito, esta ambivalência da actividade dos jogadores
(ataque/defesa) determina igualmente que estes deverão assumir outras missões tácticas específicas distintas
das suas (que consubstanciam uma maior cultura táctica), dentro do quadro referencial das necessidades da
equipa, daí que, não é de admirar, que os protagonistas fundamentais na concretização do processo ofensivo
sejam, em muitas das situações de jogo, os jogadores pertencentes
ao sector médio e defensivo. Concluindo, a universalização das
funções dos jogadores e a consciencialização das particularidades

Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO


relacionadas com a sua especialização não constituem, em nossa
opinião, realidades antagónicas. Estamos antes, perante comple-
mentaridades naturais e necessárias do mo-delo de jogo do futebol
contemporâneo.

1.1.4. A entreajuda constante estabelecida pelos jogadores


Foto 37. A universalidade versus a especialização A dinâmica do futebol actual, que se consubstancia em
incessantes mudanças, isto é, na variabilidade das condições de
decisão/execução, determinou a necessidade de se encontrar um
equilíbrio que permita resolver todas as situações momentâneas de jogo com pleno sentido colectivo. Pois,
como se compreende, qualquer jogador, por melhor que sejam as suas capacidades técnico-tácticas, agindo
isoladamente, somente em casos raros poderá fazer frente a um ataque ou a uma defesa colectiva. Nestas cir-
cunstâncias, a concretização deste objectivo exige que os jogadores cumpram alternadamente tarefas técnico-
tácticas tanto da fase ofensiva como defensiva. Todavia, esta duplicidade comportamental só é possível se estes
sentirem que a sua equipa lhes pode oferecer uma organização de base que exprima, a possibili-dade de qual-
quer elemento participar integrando-se nas dife-rentes fases do jogo, procurando assim, assegurar uma maior
eficácia e continuidade tanto do processo ofensivo ou do processo defensivo. Perante o exposto, é inevitável
que a racionalidade e a funcionalidade da equipa passa pela entreajuda permanente, independentemente do
espaço ou das funções específicas do jogador dentro do sistema de jogo, sendo assim uma das tarefas tácticas
individuais mais definidas e determinantes para o rendimento da equipa de futebol actual.

1.1.5. A disponibilidade total dos jogadores


Os jogadores são caracterizados por inúmeras operações
mentais complexas na unidade de tempo, consubstanciado por
uma assistemática repetição de comportamentos técnico-tácticos.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

Nesta perspectiva, os jogadores deverão ser continuamente


activos, intervindo de forma coerente e racional na orgânica das
situa-ções, apoiando, marcando ou solicitando a bola, não obser-
vando assim, passivamente o desenrolar do jogo. É desta dimen-
são que resulta a expressão que "o jogo actual é um futebol de Foto 38. A entreajuda constante entre os
movimento". Só desta forma poderá influenciar e ser influencia- jogadores
do pelas modificações constantes e transitórias dos acontecimen-
tos, possibilitando a transformação do signi-ficado preciso das atitudes e dos comportamentos dos outros
jogadores em função das sua intenções e projectos. Deverá, no entanto, escolher o momento mais favorável,
em função das suas missões tácticas específicas dentro do dispositivo de base, quando intervir dentro ou fora
das unidades estruturais funcionais, sendo co-responsável pela concretização dos objectivos tácticos da
equipa. Daí que, o conceito de jogador activo não significa somente a intervenção sobre a bola, ela consub-
stancia fundamentalmente a disponibilidade dos jogadores em intervirem no jogo. Existe um pensamento de
base em todos os jogadores desde o momento que o árbitro manda iniciar a partida até ao seu terminus, "há
sempre qualquer coisa para fazer” no plano táctico e estratégico, para facilitar as condições de resolução dos
A organização dinâmica do jogo de futebol 057

diferentes contextos situacionais de jogo.

1.1.6. O elevado grau de capacidade física dos jogadores

Foto cedida pelo jornal O JOGO


Se passarmos em revista o passado-presente desta modalidade,
somos confrontados incondicionalmente com o elevado aumento do
número e da intensidade dos esforços realizados pelos jogadores em
jogo. Tal como refere Queiroz (1983), "ao analisarmos o futebol dos nos-
sos tempos ressalta uma perspectiva dinâmica e criadora, tanto dos
Foto 39. Disponibilidade total jogadores como logicamente do jogo. Aprecie-se ou não o futebol actu-
al, o que é incontestável é que o modelo de jogo dos anos 80 é diferente
dos anos 60 e quase diríamos que nada tem de comum com o modelo dos anos 40/50". Reflectindo o quadro
da dinâmica dos esforços do futebol, verifica-se que este tem aumentado significativamente quer em quanti-
dade quer em qualidade. Comparando dados observados na década de 60 com os actuais, verifica-se que o
espaço de jogo coberto pelos jogadores quase triplicou. Se atendermos a que, em futebol, espaço é igual ao
tempo, e que em jogo o factor tempo é a causa do aumento da velocidade dos desempenhos técnicos e simul-
taneamente condicionante fundamental do ritmo, que o factor espaço é hoje assegurado pela maior mobili-
dade de todos os intervenientes do jogo, facilmente se percebe que a sua resultante altera substancialmente
todo o perfil do jogo. Nesta perspectiva, o jogo na actualidade exige por parte dos jogadores um raio de acção
maior e uma preparação mais completa, quer do ponto de vista técnico-táctico quer de condição física. O
aumento do "raio e da velocidade de acção do jogador no campo", significa que este está presente num maior
número de situações momentâneas de jogo em fragmentos cada vez mais pequenos. Este factor determina dois
aspectos essenciais: (1) um aumento da pressão sobre os jogadores com ou sem a posse da bola, dimi-nuin-
do-lhes o tempo durante o qual se desenrolam as fases do acto táctico (percepção-análise, solução mental e
solução motora), com vista à resolução dos problemas criados pelas situações de jogo, com os mesmos níveis
de eficácia e rendimento e, (2) uma aproximação ou um afastamento constante do companheiro de posse de
bola, com vista a proporcionar-lhe um maior número de possibilidades de resposta táctica perante a contex-
tualidade da situação de jogo.

1.1.7. As qualidades psíquicas e intelectuais


O comportamento dos jogadores só é compreen-
sível considerando-os como indivíduos que têm que dar
uma resposta eficaz às várias situações momentâneas de
jogo, na qual prevalecem processos de acomodação,
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

porquanto estes são obrigados a adaptar-se rápida e con-


tinuamente: (1) a si próprios, (2) às necessidades da
equipa e, (3) aos problemas postos pela equipa adversária.
Esta forma de acomodação caracterizada pelo stress,
favorece os processos de saturação, de ansiedade e de
angústia, não havendo assim, espaço no futebol actual
para personalidades frágeis no plano afectivo-emotivo.
Neste sentido, as qualidades psíquicas e intelectuais rep- Foto 40. Empenhamento físico total no jogo
resentam igualmente um dos factores fundamentais do
jogo de futebol, consu-bstanciando a necessidade dos jogadores: (1) suportarem sacrifícios, lutando constante
e continuamente contra as dificuldades inerentes à complexidade: i) das suas funções específicas dentro da
equipa (coordenando-as com os restantes companheiros), e, ii) das diferentes situações de jogo (variabilidade-
imprevisibilidade) e,. (2) paralelamente, as qualidades intelectuais dos jogadores caracterizam-se por um pen-
samento (solução mental) lógico, flexível, original e crítico, na procura de uma execução técnico-táctica
(solução motora) que permita modificações autónomas segundo as circunstâncias, pois só assim se poderá
058 Guia prático de exercícios de treino

atingir um elevado grau de eficácia. Com efeito, cada situação de jogo exprime uma dimensão táctica e uma
estratégia única. Assim, poder-se-ão observar duas situações de jogo similares mas não existem duas iguais.
Embora, a dinâmica de um jogo desportivo colectivo, como é o caso do futebol, permita acções préestabele-
cidas estudadas e treinadas, a verdade é que estas, não se reproduzem de forma exacta durante a partida.
Portanto, toda a acção de ataque ou de defesa, com ou sem a bola, são acções descricionais, a resolver segun-
do a contextualidade da situação, cuja realização exige um programa de acção (dentro de um leque de opções),
adequado à situação e aos objectivos estratégico-tácticos a atingir.

1.1.8. A criatividade e improvisação


Os jogadores de futebol exprimem na actualidade comportamentos técnico-tácticos caracterizados
pela sua: (1) adaptabilidade aos contextos situacionais de jogo na
procura de soluções heterogéneas e eficientes, (2) antecipação, ou seja
a capacidade de discernir e prever as modificações das situações de
jogo e por último, (3) criatividade que consubstancia a capacidade de
idealizar e executar novas soluções que sejam imprevisíveis, do ponto
de vista defensivo, aumentando-se o factor surpresa (iniciativa) do

Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO


jogo.

2. O espaço de jogo
O espaço de jogo oferece a todo o momento a possibilidade de
transformar o significado preciso do comportamento dos jogadores, em
função das suas intenções e dos seus projectos, onde todas as movimen-
tações longe de serem independentes umas das outras, influenciam-se
mútua e reciprocamente. Um jogador intervém sempre na orgânica do Foto 41/42. Qualidades intelectuais, criativi-
jogo, quer seja o adversário ou o companheiro, facilitando ou contrar- dade e improvisação
iando pelos seus deslocamentos, o jogo colectivo.

2.1. A dinâmica dos espaços de jogo


A estrutura esquemática do jogo torna evidentes zonas significativas. Neste sentido, cada jogador
encontra-se confrontado por espaços dinâmicos funcionalmente ligados entre si, que se modificam num senti-
do particular, logo, os comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos dos jogadores procuram con-
duzir o jogo para certos espaços e evitar outros. Resumidamente podemos observar:
1. Espaços de grande segurança e de responsabilidade individual e colectiva, procurando não criar situações
perigosas para a sua própria baliza.
2. Espaços onde subsiste um certo equilíbrio entre a segurança e o risco, isto é, procura-se, acima de tudo,
manter a estabilidade dinâmica da organização da sua própria equipa, não descurando a possibilidade de dese-
quilibrar a organização da equipa adversária.
3. Espaços onde subsiste um certo equilíbrio entre o risco e a segurança, isto é, procura-se, acima de tudo,
desequilibrar a organização da equipa adversária, sem descurar a estabilidade dinâmica da sua própria orga-
nização.
4. Espaços de risco onde culminam as grandes combinações tácticas visando a concretização eficaz da acção
ofensiva.

2.2. A divisão do espaço de jogo


O terreno de jogo é um espaço rectangular, tendo para os jogos internacionais um comprimento má-
ximo de 110 metros e mínimo de 100 e de largura um máximo de 75 e um mínimo de 64 metros, sendo mar-
cado por linhas visíveis. Para além destas, a divisão do espaço de jogo poderá, para efeitos de análise, compor-
A organização dinâmica do jogo de futebol 059

tar outras linhas (imaginárias) que consubstanciaram: os corredores e os sectores do terreno de jogo.

2.2.1. Os corredores do terreno de jogo


Projectando duas linhas longitudinais que unem as pequenas áreas das balizas forma-se três corre-
dores de jogo (o corredor esquerdo, o corredor central e o corredor direito).
A. O corredor central. É o espaço delimitado pela projecção das linhas laterais das pequenas áreas de ba-liza
e, traduzem um grande número de zonas vitais do terreno de jogo. A importância destas zonas deriva fun-
damentalmente do estabelecimento de ângulos frontais (formados pela posição da bola e pela baliza adver-
sária ou própria) que proporcionam a possibilidade de concretizar elevados níveis de eficácia, tanto no
cumprimento dos objectivos estabelecidos pelo processo ofensivo como do processo defensivo. Este corredor
é pri-vilegiadamente ocupado e explorado, no plano ofensivo por jogadores de marcante acção organizativa
da equipa, pois gozam de excelentes condições para servirem companheiros posicionados tanto nos corre-
dores laterais - mudando o ângulo de ataque, como no corredor central - através de passes de rotura por
forma a isolar um dos seus companheiros. No plano defensivo, as equipas procuram privilegiar a ocupação
de forma concentrada o corredor central com o objectivo de diminuir as distâncias relativas entre os defesas
e, assim, construir uma organização defensiva eficaz que proporcione a recuperação conveniente da posse da
bola e uma protecção segura da baliza. Neste sentido, o corredor central é, normalmente, ocupado por dois
perfis de jogadores, uns de reconhecida capacidade técnica e de raciocínio táctico que procuram resolver de
forma eficaz as diferentes situações momentâneas de jogo, e por jogadores "especialistas" cuja função é a cul-
minação do processo ofensivo na procura do golo ou na defesa intransigente da própria baliza.
B. Os corredores laterais. Os corredores laterais - direito e esquerdo, são espaços delimitados pela projecção
das linhas laterais da pequena área e das linhas laterais do terreno de jogo. Os corredores laterais propor-
cionam excelentes espaços para fazer progredir a bola para zonas perto da baliza adversária devido à reduzi-
da concentração de defesas. Neste sentido, os atacantes procuram, por um lado, apoiar o ataque criando situa-
ções de superioridade numérica ou explorando os espaços "nas costas" dos defesas, e por outro, quando perto
da baliza adversária, assumir atitudes e comportamentos técnico-tácticos eminentemente de criação e de final-
ização.

2.2.2. Os sectores do terreno de jogo


Projectando duas linhas que subdividem em partes iguais os dois meios-campos do terreno, forman-
do quatro sectores de jogo (o sector defensivo, o sector do meio-campo defensivo, o sector do meio-campo ofen-
sivo e o sector ofensivo).

A. O sector defensivo
É uma zona privilegiadamente ocupada por jogadores de marcante acção defensiva. Aqui se cons-
tituem redes escalonadas em função da bola, adversário e baliza, visando, em última instância, condicionar e
sobretudo interromper, as ligações das acções ofensivas adversárias. Nesta zona onde as aglomerações dos
jogadores são frequentes, requer da parte destes uma maior eficácia na execução das acções técnico-tácticas
com ou sem a bola, daí que se observa, uma mútua cobertura aos companheiros e uma marcação premente
aos adversários com ou sem a posse da bola, já que a introdução de um adversário livre de marcação consti-
tui grande desvantagem pela possibilidade de pro-
duzir uma rotura da organização defensiva.
Uma vez recuperada a posse da bola, dever-
se-à efectuar rapidamente a progressão
desta em direcção à bali-za adver-
sária ou na sua momentânea impos-
sibilidade, assegurar a sua
manutenção, sem criar situações Figura 15. Os corredores do terreno de jogo de jogo
060 Guia prático de exercícios de treino

perigosas para a sua própria baliza. Raramente as acções ofensivas são interrompidas nesta zona do campo,
devido, por um lado, a uma diminuição da pressão defensiva por recuo dos adversários, e por outro, à grande
segurança e responsabilidade individual e colectiva para não se perder a bola nesta zona do campo de jogo.
Pois, se tal acontecer, implica pela proximidade da baliza um grande risco. Logo, a execução de qualquer acção
técnico-táctica por parte dos jogadores que contactem momentaneamente com a bola, nesta zona do campo,
é sempre calculado pelo lado da segurança máxima.

B. O sector do meio-campo defensivo


Nesta zona do campo subsiste um
certo equilíbrio entre a segurança e o
risco que envolve a execução de qual-
quer acção técnico-táctica, sendo
uma excelente zona de apoio e de
suporte ao jogador de posse de
Figura 16. Os sectores do terreno de jogo
bola. Ofensivamente é ocupado e
animado por jogadores funda-
mentalmente dedicados à procura de espaços livres, visando assegurar eventuais compensações e circulações
tácticas. A execução deficiente de qualquer acção técnico-táctica não só interrompe a construção do proces-
so ofensivo como também pode desencadear o contra-ataque do adversário, visto que os jogadores da equipa
de posse de bola diminuem a vigilância aos seus adversários directos. Defensivamente é uma zona onde se
desencadeiam as primeiras "verdadeiras" acções no sentido de travar o processo ofensivo ou retardá-lo o mais
possível, de modo a ganhar o máximo de tempo para a própria organização defensiva.

C. O sector do meio-campo ofensivo


Nesta zona do campo subsiste um certo equilíbrio entre: i) o risco na procura de desequilibrar de
forma irredutível a organização defensiva, sendo assim uma zona de base fundamental para a interposição no
seio da resistência adversária. Com efeito, é nesta zona onde se desencadeiam as primeiras "verdadeiras"
acções por forma a ultrapassar o processo defensivo adversário. Neste sentido, em termos ofensivos, esta zona
é ocupada e animada por jogadores fundamentalmente dedicados à criação e ocupação de espaços vitais de
jogo, através de deslocamentos ofensivos de progressão e rotura (perpendicular e diagonal), de combinações
tácticas simples, directas e indirectas e de acções técnico-tácticas de passe, drible, condução e simu-lação, ii)
e de segurança que se baseia na manutenção do equilíbrio dinâmico da sua própria organização, pois, a perda
da posse da bola nesta zona do campo, tal como foi referido para as restantes zonas, pode eventualmente des-
encadear o contra-ataque adversário com grandes probabilidades de êxito. Assim, requer-se uma organização
dinamicamente equilibrada por forma a poder reagir adequadamente a esta situação. Defensivamente, é uma
zona onde se procura evitar que os adversários relancem rapidamente o seu processo ofensivo, através de
acções de temporização por forma a ganhar o tempo necessário para uma organização defensiva coesa e
homogénea, tendo igualmente em atenção as enormes vantagens que são determinadas pela possibilidade de
recuperação da posse da bola nesta zona do campo.

D. O sector ofensivo
É para esta zona que se orientam as linhas de força e onde culminam as grandes combinações e cir-
culações tácticas, visando provocar roturas na organização defensiva adversária. Permite pela sua proximidade
da área da baliza e a partir de um certo ângulo, uma conclusão com maiores possibilidades de êxito da acções
ofensivas. Para isso, sendo esta zona onde as aglomerações são frequentes, não deverá haver hesitações na
decisão e execução das acções técnico-tácticas, essencialmente aquelas que embora entreguem a bola ao adver-
sário possam resultar em golo. É uma zona onde as equipas procuram, após a perda da posse da bola, equili-
brar-se defensivamente por forma a ganhar o tempo necessário para que todos os companheiros assumam ati-
A organização dinâmica do jogo de futebol 061

tudes e comportamentos técnico-tácticos de marcação sem descurar as possibilidades de recuperar de imedi-


ato a posse da bola, estabelecendo as condições mais vantajosas para atingir o golo. É nesta ocupação racional,
constante e fluida do espaço em função das situações momentâneas de jogo, que se consubstanciam os sis-
temas de jogo actuais que exprimem uma grande mobilidade e flexibilidade não permitindo aos adversários
a possibilidade destes, em qualquer momento do jogo ocupar, criar e explorar espaços vitais para o desenro-
lar eficaz do seu processo ofensivo ou de restringir, vigiar e marcar espaços vitais quando em processo defen-
sivo.

Ao analisarmos diferentes jogos realizados em campeonatos do Mundo e da Europa verificou-se que


o sector do meio-campo defensivo (29%) é o mais utilizado, seguido pelo sector defensivo (25%) do sector do
meio-campo ofensivo (24%) e por último do sector ofensivo (22%). Assim, o maior número de intervenções
sobre a bola é realizado no meio-campo próprio (54%), contra os (46%) do meio-campo adversário. Ao
dividirmos o terreno de jogo em três corredores fundamentais observamos que o corredor central é a porção do
terreno de jogo preferencial na intervenção dos jogadores sobre a bola (40%), seguido dos corredores direito e
esquerdo com cerca de (30%) cada. Aspecto importante a assinalar, para as acções ofensivas observadas a partir
das referidas finais, é o facto das percentagens de utilização dos sector defensivo (1/4) e sector do meio-campo
defensivo (2/4) diminuírem ao longo do tempo de jogo, passando de 27 para 23% e dos 32 para os 25% respe-
ctivamente. Esta diminuição percentual dos referidos sectores contrasta com o aumento do sector do meio-
campo ofensivo que passa dos 22 para os 27% e do sector ofensivo que passa dos 18 para os 24%. Nestas cir-
cuns-tâncias, ao longo do tempo de jogo, as equipas de alto rendimento, têm a tendência (cerca de 10%) para
canalizar o seu jogo ofensivo para sectores mais perto da baliza adversária. O mesmo facto é observável ao nível
do corredor central, que embora seja o corredor de jogo com maior número de intervenções dos jogadores sobre
a bola, a sua média aumenta cerca de 8 e 5% nos 15 minutos finais das primeira e segundas partes dos jogos
respectivamente. Existe assim a tentativa de aumentar a concentração do jogo ofensivo das equipas nas zonas
centrais do terreno de jogo (e como referimos anteriormente nas zonas mais perto da baliza adversária), onde
se consubstanciam igualmente os espaços mais perigosos para a baliza adversária.

3. As ligações estruturais da equipa


Independentemente da disposição táctica adaptada pelos jogadores de uma equipa dentro do terreno
de jogo ou em qualquer momento do desenvolvimento do mesmo, podemos verificar que, ao unirmos os
jogadores através de linhas obtém-se uma cadeia de figuras geométricas denominadas de triângulos, daí a razão
de se considerar que o jogo de futebol é uma questão de triângulos. Neste sentido, podemos considerar que as
ligações estruturais básicas de uma equipa de futebol, tanto durante o processo ofensivo como durante o proces-
so defensivo, são asseguradas pelas relações dinâmicas de cada triângulo, considerados como as estruturas fun-
cionais parciais mais simples do jogo de futebol. A forma e o tamanho de cada triângulo varia consoante e de
acordo, com a sucessão e desenvolvimento das situações momentâneas de jogo.

3.1. As ligações ofensivas


Basicamente durante o processo ofensivo procura-se assegurar sempre que possível, ligações em
largura e profundidade que têm como objectivo aumentar as dificuldades de marcação dos jogadores da
equipa de posse de bola, proporcionando uma rápida e segura progressão desta em direcção à baliza adver-
sária.

3.2. As ligações defensivas


No processo defensivo procura-se assegurar a concentração da equipa nas zonas próximos da bola
por forma a uma recuperação rápida dessa e sempre que possível o mais longe da própria baliza. Caso a
equipa adversária consiga ultrapassar os diferentes obstáculos colocados pelos defesas é necessário assegurar
a concentração na zona defensiva própria. Esta acção realiza-se nos espaços mais perigosos para a baliza, ou
062 Guia prático de exercícios de treino

seja, nas zonas de maior predominância


das fina-lizações (até 20 a 25 metros da
baliza, em ângulos frontais).

Os jogos desportivos colectivos


são caracterizados por inúmeras operações
multifactoriais complexas, cuja realidade é
determinada "por uma assistemática repetição
de acções" (Konzag, 1981), ou seja, por actos pre-
meditados que têm um sentido e um objectivo.
Neste sentido, a racionalização das tarefas e missões
tácticas dos jogadores, representa uma das orien- Figura 17. Decomposição das ligações estruturais da equipa
tações fundamentais do subsistema estrutural sendo
estabelecida em função:
1. Das potencialidades individuais dos
jogadores.
2. Dos objectivos tácticos da equipa.
3. Do conhecimento mais ou menos por-
menorizado das circunstâncias em que
determinado confronto irá decorrer,
incluindo, naturalmente, as particular-
idades fundamentais da equipa adver-
sária.

Figura 18. As ligações do processo ofensivo

1. Elementos para a racionalização das missões tácticas


Um dos problemas mais complexos que determina a eficácia
de qualquer estrutura de uma equipa de futebol é a forma como os
Foto cedida pelo jornal O JOGO

jogadores desenvolvem a sua acção dentro da organização da equipa.


Com efeito, a concretização dos objectivos preestabelecidos, consub-
stancia a necessidade do estabelecimento dum estatuto (por exemplo:
guarda-redes,
defesa, avança-
do, etc.) e duma função
(missão) tác-
Foto 43/44. Jogar em largura
tica especí-
fica (por
exemplo: marcação individual de um adversário,
movimentar-se exclusivamente num corredor
de jogo quando em processo ofensivo ou
Foto cedida pelo jornal O JOGO

Figura 19. As ligações do processo defensivo

defensivo, executar esquemas tácticos de uma determinada forma, etc.),


as quais definem o sentido e os limites da participação de cada jogador
na resolução das variadíssimas situações que o jogo em si encerra. Foto 45. A concentração defensiva
A organização dinâmica do jogo de futebol 063

Segundo Teodorescu (1984) "uma equipa pressupõe uma funcionalidade geral (constante - realizada com base
em princípios e regras de coordenação das acções) e uma funcionalidade especial (variável - para cada jogo, para
cada adversário, em função de condições diversas, etc.)"..."Tanto a funcionalidade geral e especial da equipa real-
iza-se através de uma Bases da racionalização das missões tácticas dos jogadores
determinada progra-
mação das acções individuais e colectivas dos jogadores, segundo um sistema de relações e interrelações dinâmi-
cas desenvolvidas e coordenadas segundo estes princípios e regras tácticas". Nestas circunstâncias, a complexi-
dade das diferentes missões tácticas específicas, é concebida a partir de finalidades e objectivos comuns sendo
atribuída de forma a:
1. Não restringir a iniciativa e a capacidade individual mas, pelo contrário, tomar em consideração que cada
jogador é único nas suas ambições pessoais, atitudes, preferências e tendências, dever-se-á alargar o seu "raio
de acção" em termos de participação no jogo, fundamentalmente na sua criatividade e improvisação.
2. Assegurar a valorização das particularidades dos jogadores quer estas sejam técnicas, tácticas, físicas ou
psicológicas. Essa valorização é condicionada pela criação (através de acções individuais e colectivas) das
condições e situações de jogo favoráveis à sua realização.
3. Combinar as diferentes missões tácticas específicas, isto é, assegurar que o potencial (técnico, táctico, físi-
co e psicológico) operacional de cada jogador se interrelacione e se complemente, criando-se uma força inte-
gradora que estabeleça a coesão, a homogeneidade e a funcionalidade da equipa.
4. Tirar vantagens do conhecimento particularizado da expressão táctica da equipa adversária, minimizando
ou anulando os aspectos mais eficientes e evidenciando as carências de preparação técnica, táctica, física e psi-
cológica.
5. Estabelecer coordenadores de jogo. Se é verdade que o colectivo e a capacidade de entreajuda numa equipa
é fundamental, não é menos verdade que continua a haver jogadores que individualmente podem decidir o
jogo, daí a importância dos coordenadores de jogo, ou dos jogadores de nível técnico-táctico superior.
Teodorescu (1984), refere que "o grande número de acções técnico-tácticas (tanto ofensivas como defensivas),
determinou o aparecimento e a especialização de coordenadores de jogo. Assim no ataque, o coordenador tem
por funções específicas adaptar de uma forma criativa, e nas situações concretas de jogo, o plano táctico do
ataque. Este jogador é cara-cterizado por um elevado raciocínio táctico e de grande capacidade de execução
técnica, assim como uma forte personalidade e certa autoridade sobre os companheiros". Para Palfai (1982),
"as equipas têm necessidade de jogadores com qualidades humanas e competitivas especiais, capazes de con-
duzir os seus companheiros, de organizar um jogo de um sector ou de uma equipa, tornando-se exemplos a
seguir e encorajando os seus colegas também nos momentos mais difíceis". Durante largo período da evolução
do jogo a preponderância era consubstanciada na singular capacidade técnico-táctica de alguns jogadores.
Com efeito, é absurdo pensar que o futebol actual não necessita destes grandes jogadores ou que estes ten-
ham perdido a sua importância, a diferença reside nos novos factores vitais que complementam e ampliam o
rendimento da acção destes jogadores dentro do contexto da equipa e naturalmente no jogo. Neste sentido,
uma equipa de valor é consubstanciada pela complementaridade dos seus elementos que reside inequivoca-
mente na aceitação mútua e na compreensão recí-proca.

Portanto, a coerência e a dinâmica destas manifestações, tal como referimos anteriormente, serão
tanto mais eficazes quanto a sua expressão final se traduza de uma forma unitária e homogénea, não dando lugar
a compartimentos estanques que só conduzem a equipa a uma maior permeabilidade na sua organização. A
racionalidade destes deslocamentos compensatórios deriva essencialmente de um conjunto de missões tácticas
específicas atribuídas a cada jogador pelo treinador, que as adaptam em função das situações de jogo e dos objec-
tivos tácticos momentâneos da equipa.

2. As atitudes e comportamentos técnico-tácticos dos jogadores


O subsistema estrutural da organização de uma equipa de futebol, para além do dispositivo de base
064 Guia prático de exercícios de treino

(sistema de jogo) que posiciona os jogadores no terreno


de jogo, estabelece igualmente as tarefas ou as missões

Foto cedida pelo jornal O JOGO


tácticas fundamentais que se consubstanciam num
conjunto de atitudes e de comportamentos técnico-tác-
ticos gerais e específicos.

2.1. As atitudes e comportamentos técnico-tácticos de


base dos jogadores
Neste domínio podemos evidenciar cinco atributos fundamen-
tais que todos os jogadores deverão aperfeiçoar e desenvolver continua-
mente:
1. Seleccionar uma atenção que se concentre sobre os aspectos perti-
nentes do contexto da situação. Deste atributo resulta uma cuidadosa
observação do comportamento dos companheiros e adversários,
condições fundamentais para a correcta leitura e valorização das situações de jogo.
2. Planear antecipadamente as opções a tomar, para as diferentes situações que o
jogo em si encerra. Reagindo com um comportamento diferente perante a sua
imprevisibilidade e transitoriedade.
3. Respeitar continuamente os princípios estabelecidos pela equipa durante as fases
de jogo, por forma que haja uma linguagem comum de entendimento entre os
jogadores, com vista à resolução táctica eficaz das si- Foto 46/47/48. Não restringir a iniciativa e a capacidade individual
tuações momentâneas de jogo. dos jogadores

4. Procurar fundamentalmente vantagens quer em termos numéricos, espaciais ou temporais, com o objecti-
vo de transformar as situações de jogo em fáceis resoluções tácticas, fazendo assim um jogo simples e práti-
co com vista à concretização dos objectivos tácticos da equipa.
5. Utilizar todos os meios técnico-tácticos de modo a cooperar constantemente com os companheiros com e
sem bola, evidenciando atitudes que exprimam, que o interesse colectivo está acima dos interesses individu-
ais, pois estes só têm sentido quando suportados na acção colectiva. A execução dos procedimentos técnico-
tácticos poderão ser potenciadas pela determinação, agressividade e eficácia, transmitindo estas característi-
cas aos seus colegas e adversários.

2.1.1. As atitudes e comportamentos técnico-tácticos de base dos jogadores em processo ofensivo


No âmbito ofensivo podemos evidenciar os seguintes atributos fundamentais:
1. Procurar obstinadamente o golo tentando objectivá-lo o maior número de vezes, devendo reflectir conc-
retamente a concepção e o método de jogo, previamente preconizado pela equipa.
2. Mudar, após a recuperação da posse da bola, de uma atitude defensiva para uma atitude ofensiva, alicerça-
da em rápidas movimentações, por forma que o adversário não tenha o tempo necessário para organizar con-
venientemente as suas acções defensivas, quer individual como colectivamente.
3. Compreender, quando de posse de bola, a sua corresponsabilidade pela sua manutenção e pela sua quota
parte na concretização do objectivo do ataque - o golo. Assim, deverá penetrar (com ou sem a posse da bola)
sempre que as circunstâncias o permitam, evitando que o seu adversário directo oriente os seus comporta-
mentos técnico-tácticos para zonas de jogo menos importantes.
4. Assegurar a ocupação racional do espaço, consoante as necessidades determinadas pelas diferentes si-
tuações de jogo, devido às infiltrações dos seus companheiros noutras posições e funções tácticas. Articulando
um posicionamento variável (distância, ângulo e comunicação), tendo em conta para além da bola, posições
relativas dos companheiros e adversários, o estado do terreno de jogo, as condições climatéricas e a zona do
campo.
A organização dinâmica do jogo de futebol 065

5. Procurar executar constantemente acções de cobertura/apoio, em ordem a tornar a tarefa do companheiro


de posse de bola, o mais simples possível, consubstanciada na criação de um maior número de hipóteses para
que este decida pelo comportamento técnico-táctico mais eficaz à solução táctica das situações momentâneas
de jogo. Neste sentido, deve afastar-se ou aproximar-se do companheiro de posse de bola para criar espaços,
que possam ser imediatamente ocupados e explorados pelos os seus companheiros ou para fazer deslocar o
adversário directo para uma posição mais desfavorável, em sintonia com o trabalho da equipa.
6. Utilizar todo o espaço de jogo - largura e profundidade, na procura permanente de criação e exploração
de espaços livres nas zonas vitais do terreno, com vista à instabilidade da equipa adversária, fundamental-
mente no que se refere à sua organização defensiva em ordem à objectivação de uma progressão e finalização
eficazes. Aproveita assim todos os momentos de desequilíbrio da equipa adversária, deslocando-se sin-
cronizadamente com a movimentação global da sua equipa para o seio dessas zonas explorando esses espaços
de jogo.
7. Conhecer perfeita e correctamente os princípios gerais e específicos do ataque, estabelecendo uma lin-
guagem comum com os seus companheiros. Mesmo quando não estão
envolvidos na situação de jogo (centro da acção), devem conscien-
cializar e valorizar constantemente a sua contribuição para o desen-

Foto cedida pelo jornal O JOGO


volvimento do processo ofensivo da sua equipa. Tornando o jogo
imprevisível do ponto de vista defensivo e previsível do ponto de vista
ofensivo, dissimulando assim as verdadeiras intenções tácticas e obrig-
ando os adversários a não poderem antecipar as acções executadas nas Foto 49. Procurar obstinadamente o golo
situações de jogo.
8. Dominar perfeitamente todas as acções predominantes na execução
dos esquemas tácticos estudados e treinados, em ordem à resolução eficaz das situações de bola parada.

2.1.2. As atitudes e comportamentos técnico-tácticos de base dos jogadores em processo defensivo


No âmbito defensivo podemos evidenciar os seguintes atributos fundamentais:
1. Preparar mentalmente o ataque da sua equipa, quando não intervêm no objectivo de recuperar a posse da
bola , através de movimentações que criem espaços livres, obrigando o adversário directo a preocupar-se mais
com ele que com o ataque à baliza adversária.
2. Reagir de imediato à perda da posse da bola, através da alteração da sua atitude e dos seus comportamen-
tos técnico-tácticos, alicerçados em rápidas movimentações posicionando-se em função da bola, baliza, adver-
sários e companheiros, marcando: i) individualmente o adversário de posse de bola ou, ii) o adversário que
possa dar continuidade imediata ao processo ofensivo ou, iii) um espaço vital de jogo pelo qual o processo
ofensivo pode ser encaminhado.
3. Compreender a sua corresponsabilidade pelo retardamento do processo ofensivo (temporização) da equipa
adversária. Especialmente quando marca o adversário de posse de bola na tentativa de ganhar o tempo sufi-
ciente para a recuperação e organização do método defensivo. Neste âmbito inclui-se a orientação dos com-
portamentos técnico-tácticos do atacante para espaços de jogo onde o perigo seja menor e a recuperação da
posse da bola possa ser realizada de forma mais eficaz.
4. Saber recuperar defensivamente, para ocupar as suas funções dentro
do método defensivo. Este deslocamento é caracterizado pela marcação
Foto cedida pelo jornal O JOGO

pressionante sobre os adversários que possam dar continuidade imedi-


ata do processo ofensivo e pela entreajuda organizada, isto é, pela coor-
denação de acções individuais dos defesas.
5. Assegurar permanentemente a ocupação racional do espaço de jogo
Foto 50. Compreender a corresponsabilidade
equilibrando dinamicamente a organização da equipa. Neste domínio
de cada jogador na acção da equipa, quando compreende e domina as noções técnico-tácticas de dobra, permutação
de posse de bola e compensação.
066 Guia prático de exercícios de treino

6. Procurar executar constantemente acções de cobertura defensiva, transmitindo maior confiança e iniciati-
va ao companheiro que marca o adversário de posse de bola (contenção), respeitando uma distância e ângu-
lo convenientes à situação momentânea de jogo. Neste domínio, deverá saber aproximar-se ou afastar-se con-
soante a zona do campo, capacidade técnico-táctica do adversário, etc., afim de aumentar a pressão sobre o
adversário.
7. Comunicar constantemente com os companheiros, pedindo ajuda ou informando-os das intenções dos ata-
cantes. Este facto pressupõe a permanente preocupação em prever e deduzir quais as verdadeiras atitudes tác-
ticas dos adversários permitindo accionar-se preventivamente acções que as antecipem.
8. Conhecer perfeita e correctamente os princípios gerais e específicos da defesa, estabelecendo uma lin-
guagem comum com os seus companheiros. Mesmo quando não estão envolvidos na situação de jogo (cen-
tro da acção), devem consciencializar e valorizar constantemente a sua contribuição para a estabilidade e orga-
nização do método defensivo. Tornando o jogo previsível do ponto de vista defensivo e imprevisível do ponto
de vista ofensivo, dissimulando assim, as verdadeiras intenções tácticas e obrigando os adversários a não
poderem antecipar as acções nas situações de jogo.
9. Assegurar o seu contributo na formação de barreiras.
10. Deslocar-se de trás para a frente, logo após a recuperação da posse da
bola, acompanhando o processo ofensivo: i) abrindo a "frente de ataque",

Foto cedida pelo jornal O JOGO


ii) jogando com o máximo de segurança, iii) criando instabilidade na
equipa adversária em ordem à objectivação de uma progressão e finaliza-
ção eficazes. Neste sentido, aproveita todos os momentos de desequilíbrio
da equipa adversária deslocando-se sincronizadamente com a movimen- Foto 51. Compreender a responsabili-
tação global da sua equipa, para o seio dessas zonas explorando esses dade pelo retardamento do processo
espaços de jogo. ofensivo

2.2. As atitudes e comportamentos técnico-tácticos específicos dos jogadores


2.2.1. Durante o processo ofensivo
A. O guarda-redes em termos ofensivos deverá atender aos seguintes aspectos:
1. Regular o ritmo de jogo (aumentando-o ou diminuindo-o) através da reposição rápida ou lenta da bola
em jogo.
2. Orientar, devido à sua posição priviligiada no terreno de jogo, essencialmente os companheiros da últi-
ma linha defensiva.
3. Executar os pontapés de baliza, evitando assim a inferioridade numérica que sucederia se fosse um com-
panheiro a realizá-lo.
4. Assegurar constantemente linhas seguras de passe aos seus companheiros, fazendo uso das vantagens
que as Leis do jogo lhes conferem, no que diz respeito ao seu controlo e protecção da bola com as mãos.
5. Transparecer tranquilidade, confiança e segurança aos companheiros, para que assumam comporta-
mentos mais arriscados, pois sabem que existe confiança "nas suas costas".
B. Os defesas laterais em termos ofensivos devem atender aos seguintes aspectos:
1. Deslocar-se de imediato para a linha lateral, após a recuperação da posse da bola , por forma a abrir uma
possibilidade de passe, particularmente quando o seu guarda-redes tiver a posse da bola.
2. Utilizar o seu corredor de jogo no apoio ao ataque da sua equipa, sain-
do de trás da linha da bola para: i) desequilibrar, ii) criar situações de supe-
rioridade numérica ou, iii) explorar os espaços de jogo livres. Estes com-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

portamentos devem verificar-se a partir do correcto entendimento com os


companheiros dos sectores médio e ofensivo por forma a evitar-se situa-
ções de sobreposição de acção e gastos de energia inúteis.
Foto 52. Assegurar constantemente
acções de cobertura defensiva
3. Desenvolver e cumprir, quando necessário, missões tácticas inerentes
aos médios-ala ou extremos.
A organização dinâmica do jogo de futebol 067

4. Evitar a execução de passes laterais (especialmente os longos e de trajectória aérea) do seu corredor para
o centro do espaço de jogo.
5. Valorizar o momento mais justo para poder aproveitar o seu corredor de jogo na rentabilização de
acções de contra-ataque ou ataque rápido. Através de deslocamentos para espaços de jogo existentes “nas
costas” dos defesas contrários.
6. Realizar acções que estabeleçam equilíbrios defensivos, vigiando jogadores e espaços, permutando as
suas funções com o defesa central.
7. Executar os lançamentos da linha lateral a partir do seu corredor.
C. Os defesas centrais em termos ofensivos devem atender aos seguintes aspectos:
1. Coordenam e cooperam um com o outro, particularmente quando um deles se
incorpora no desenvolvimento e terminação do processo ofensivo da equipa.
2. Deslocam-se para espaços perto do meio-campo, diminuindo assim, a profun-
didade da equipa.

Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO


3. Aproveitam as vantagens que advém da sua posição no corredor central, a qual
apresenta condições óptimas para servir os companheiros que jogam nos corre-
dores (médios alas, extremos, ou defesas late-rais).

4. Incorporam-se no ataque, especialmente nas situações de contra-ataque ou Foto 53. O guarda-


redes poderá ace-lerar
ataque rápido, por forma a tirar vantagens da criação de contextos de superioridade ou diminuir o ritmo do
numérica ou de desequilíbrio do método defensivo adversário, devido à execução jogo
de desmarcações de rotura perpendicular.
5. Participam na organização das situações de bola parada (esquemas tácticos) por forma a maximizar e
valorizar as suas capacidades parti-culares, sendo em algumas situações
serem os elementos terminais da situação.
D. Os médios centrais em termos ofensivos devem atender aos seguintes
aspectos:
Foto cedida pela revista Training

1. Evidenciam comportamentos técnico-tácticas que expressam um


grande equilíbrio tanto na execução de funções ofensivas como defensivas
Estes jogadores são normalmente inteligentes com um alto nível de
Foto 54. Os defesas laterias devem raciocínio táctico adaptando de forma criativa nas situações concretas de
aproveitar o seu corredor de jogo para jogo. Com efeito, marcam o ritmo de jogo temporizando-o ou aumentan-
atacar do-o.
2. Apoiam constantemente o processo ofensivo, tendo muitas vezes a
função de organizador de jogo. Neste sentido, devem evitar utilizar acções de condução de bola quando é
possível efectuar o passe para um companheiro melhor posicionado, utilizando inclusive, conforme as cir-
cunstâncias de jogo, passes longos por forma a isolar algum companheiro.
3. Criar, desenvolver e culminar, quando possível, os ataques através de remates de longa ou curta distân-
cia assumindo assim, as responsabilidades inerentes à execução e consequência desta acção técnica.
4. Desmarcam-se para os espaços livres nos corredores do jogo “nas costas” da defesa. Neste sentido, colab-
oram de forma racional com os pontas de lança, médios ala ou extremos.
5. Colaboram na marcação dos pontapés de canto executando-os, participando na sua culminação ou par-
ticipando no equilíbrio defensivo da sua equipa.
6. Executam as acções com bola rapidamente, solicitando de imediato o companheiro melhor posiciona-
do. Assim, sempre que possível deverá jogar ao primeiro toque aumentando deste modo a velocidade de
circulação da bola. Concomitantemente deve de imediato disponibilizar-se para a poder receber de novo.
E. Os médios alas ou extremos em termos ofensivos devem atender aos seguintes aspectos:
1. Criam situações eminentemente de finalização utilizando a sua velocidade de execução técnico-táctica e
particularmente a sua capacidade de drible e cruzamento.
068 Guia prático de exercícios de treino

2. Aproveitam as suas posições para executarem remates eficazes a par-


tir de ângulos reduzidos.
3. Marcam os pontapés de canto.

Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO


4. Utilizam constantemente acções de mobilidade cujo objectivo tácti-
co é a criação de espaços livres ou arrastar consigo um ou mais defesas,
para que os outros companheiros possam explorar esse espaço.
5. Desmarcam-se para os espaços de base do ponta de lança com o
intuito de desequilibrar a defesa. Foto 55. Os defesas centrais devem
6. Preparam mentalmente o contra-ataque nas situações de pontapés de participar nas situações de bola parada
canto contra, posicionando-se no corredor central (fora da grande
área).
F Os pontas-de-lança em termos ofensivos devem atender aos seguintes
aspectos:
1. Dar profundidade ao processo ofensivo da equipa, uma vez que é o
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

jogador que se posiciona mais perto da baliza adversária.


2. Atrair os defesas centrais para falsas posições, facilitando a pe-
netração dos seus colegas para zonas vitais do terreno de jogo.
3. Dominar a acção técnico-táctica de remate, em qualquer situa-ção ou
Foto 56. Os médios centro expressam um posição (pé e cabeça) sendo expontâneo, criativo assumindo a respons-
grande equilíbrio entre as funções ofensivas e abilidade de culminar o ataque.
defensivas
4. Criar constantes condições de mobilidade através de desmarcações
em direcção dos corredores laterais buscando apoios dos médios ala ou defesas laterais.

2.2.2. Durante o processo defensivo


A. O guarda-redes em termos defensivos deverá atender aos seguintes aspectos:
1. Protege a baliza utilizando um conjunto de acções técnico-tácticas específicas por forma a impedir por
todos os meios que a equipa adversária consiga concretizar o golo.
2. Dirige e orienta as acções dos seus companheiros nas diferentes situações de jogo, utilizando uma lin-
guagem constituída por expressões curtas, simples e inequívocas.
3. Lê constantemente o jogo e em situações de emergência, deverá sair da sua grande área e jogar a bola
utilizado os procedimentos técnico-tácticos de um qualquer outro jogador.
4. Transmite constantemente tranquilidade, confiança e segurança aos seus companheiros.
B. Os defesas laterais em termos defensivos devem atender aos seguintes aspectos:
1. Formam com os defesas centrais a última linha defensiva, a qual
se deve desdobrar o maior número de vezes em função das situ-
ações momentâneas de jogo.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

2. Defendem os corredores de jogo vigiando e marcando agressi-


vamente os atacantes que por aí se desloquem.
3. Deslocam-se para zona central, marcando o espaço nas costas
dos seus defesas centrais sempre que a bola esteja do lado contrário
ao seu corredor de jogo. Foto 57. A capacidade de drible e cruzamen-
4. Marcam pressionantemente o adversário que evolua na sua zona to
de actuação, obrigando-os a orientar os seus comportamentos técnico-tácticos para a linha lateral. Esta
marcação será tanto mais agressiva quanto mais o adversário se aproximar da baliza.
5. Temporizam, em situações de emergência, até que os companheiros restabeleçam um referencial equi-
librado de forças.
6. Colocam-se sobre a linha de baliza protegendo-a utilizando todos os meios, nas situações em que o guar-
da-redes tiver que se deslocar para pressionar o atacante de posse de bola.
A organização dinâmica do jogo de futebol 069

7. Posicionam-se perto de um dos postes da baliza, nas situações


de pontapé de canto marcando e vigiando essa zona da baliza.
8. Participam na formação de barreiras.

Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO


C. Os defesas centrais em termos defensivos devem atender aos
seguintes aspectos:
1. Marcam de forma activa e rigorosa o jogador adversário mais
adiantado, não lhe dando nem tempo nem espaço para que este
possa executar as suas acções técnico-tácticas. Foto 58. Dominar a acção de remate em
quaisquer situações é a condição básica do
2. Alternam acções de marcação individual com acções de cober- avançado
tura defensiva com o outro defesa central.
3. Coordenam a última linha defensiva, em termos de diminuir ou aumentar a profundidade defensiva da
sua equipa, e simultaneamente, procurar aproveitar as vantagens da lei do fora-de-jogo.
4. Participam na construção das barreiras coordenando a sua posição com as indicações do guarda-redes.
5. Procuram ser sóbrios, exactos e seguros nas suas acções defensivas.
6. É o jogador que pela sua função e pela sua posição no terreno de jogo,
apresenta as melhores condições para ser capitão da equipa.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

D. Os médios centrais em termos defensivos devem atender aos


seguintes aspectos:
Foto 59. A missão táctica fundamental do
1. Equilibram constantemente o sistema de jogo da equipa.
guarda-redes, em termos defensivos, é prote- 2. Marcam os médios centro da equipa adversária acompanhando-os se
ger a baliza estes se deslocarem para as zonas vitais de finalização.
3. Permutam as suas missões tácticas, consoante as situações momen-
tâneas de jogo, com os defesas centrais.
4. Colaboram em todos os pontapés de canto contra, através da marcação de um espaço vital de jogo, de
um adversário ou através da preparação do contra-ataque.
E. Os médios alas e extremos em termos defensivos devem atender aos seguintes aspectos:
1. Fecham os seus corredores de jogo, prestando ajuda ao seu companheiro defesa lateral.
2. Deslocam-se para o centro do terreno ajudando nas tarefas defensivas o médio centro, sempre que a bola
esteja no corredor oposto à sua acção.
3. Colocam-se à frente da bola até que a formação da barreira esteja concluída, evitando que a bola mude
de posição ou que o esquema táctico seja executado rapidamente.
4. Posicionam-se à frente da barreira, por forma a deslocar-se, aproveitando a sua velocidade, em direcção
do adversário após o primeiro toque na bola.
F. Os pontas-de-lança em termos defensivos devem atender aos seguintes aspectos:
1. Pressionam as linhas de passe possíveis de saída da bola, particularmente quando esta se encontra no
sector defensivo da equipa adversária.
2. Constituem uma ameaça permanente para o guarda-redes adversário pressionando-o constantemente.
3. Pressionam os adversários quando a bola circula no corredor
central de jogo.
4. Participam nas situações de bola parada, por forma a tirar par-
tido das suas capacidades e especialmente, quando estas envolvem
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

os defesas centrais da equipa adversária.

Foto 60. Os defesas marcam de forma activa


e rigorosa os avançados adversários
070 Guia prático de exercícios de treino

3. Análises das intervenções dos jogadores durante o jogo


Das observações realizadas, verifica-se que durante o jogo os
22 jogadores que compõem as duas equipas em confronto, assumem

Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO


diferentes posições e missões tácticas intervindo de forma diferenciada
sobre a bola. Neste contexto, observa-se que os jogadores que formam o
sector médio são os que mais vezes intervêm sobre a bola durante o
processo ofensivo das suas equipas (mais de 40%), seguido pelos
Foto 61. Os defesas centrais assumem papel
jogadores que formam o sector defensivo (36%), pelos jogadores que for- fundamental nas situações fixas do jogo
mam o sector avançado (18%) e, por último, pelo guarda-redes (6%).
Todavia, ao utilizarmos as médias em função de cada missão específica
dos jogadores, os valores obtidos para todos os sectores são mais equilibrados e homogéneos. Assim, em média
cada jogador pertencente ao sector médio intervém ao longo do jogo 48
vezes (30%) sobre a bola, cada jogador pertencente ao sector defensivo
42 (26%), cada jogador pertencente ao sector avançado 40 (25%) e, por
último, o guarda-redes 30 vezes (19%).
Foto cedida pelo jornal O JOGO

1. O guarda-redes. O nível de intervenção do guarda-redes observa-se


fundamentalmente na zona 2 (90%), seguido das zonas 1 e 3 (5%).
Naturalmente o sector do campo de intervenção deste jogador é o defen-
Foto 62. Os médios centro equilibram con-
stamente o sistema táctico da equipa sivo (1/4 - 100%) e o corredor central (90%). Dentro do processo ofen-
sivo o guarda-redes é considerado o primeiro atacante, pois devido ao
seu posicionamento tem uma visão global do terreno de jogo, dirigindo
essencialmente os comportamentos técnico-tácticos dos companheiros da última linha defensiva. Poderá
igualmente e, fazendo uso dos poderes que as Leis do jogo lhe conferem, especialmente no que diz respeito à
possibilidade de poder utilizar as mãos para controlar/proteger a bola, aumentando ou diminuindo o ritmo
de jogo da sua equipa ou quebrar o ritmo de jogo ofensivo da equipa adversária através da reposição rápida
ou lenta da bola em jogo. Em média, o guarda-redes intervém directamente sobre a bola cerca de 30 vezes
durante a partida, o que corresponde a 6% das situações momentâneas de jogo observadas. Participa em 45%
das acções ofensivas da sua equipa, ou seja, em cada 48 segundos de tempo útil de jogo, com um tempo total
individual de posse de bola que não ultrapassa o 1'15''.

2. Os jogadores pertencentes ao sector defensivo. O nível de intervenção dos jogadores pertencentes ao sec-
tor defensivo da equipa observa-se fundamentalmente nas zonas 5 (15%), 2 (14%), 4 (11%), 3 e 6 (10%) e 1
(9%). Com efeito, são zonas pertencentes ao sector defensivo (1/4 - 34%) e ao sector do meio-campo defen-
sivo (2/4 - 37%), seguido do sector do meio-campo ofensivo (3/4 - 18%) e, por último, do sector ofensivo (4/4
- 11%). Os dados apresentados significam, com efeito, que embora se observe a intervenção sobre a bola destes
jogadores ao longo da totalidade do espaço de jogo durante o processo ofensivo da sua equipa, diminuem a
sua percentagem de intervenção à medida que o centro do jogo se aproxima da baliza adversária. Em relação
aos diferentes corredores de jogo observou-se percentagens semelhantes para os corredores di-reito e esquer-
do (31%) e para o corredor central (38%). Em média, os jogadores pertencentes ao sector defensivo, intervêm
directamente sobre a bola cerca de 170 vezes durante a partida, o que corresponde a 36% das situações
momentâneas de jogo observadas. Em função do tempo útil de jogo, em média, intervêm sobre a bola em cada
8 segundos, com um tempo total de posse de bola que não ultrapassa os 4 minutos.
2.1. Os defesas centrais. As acções de intervenção sobre a bola dos defesas centrais, durante o processo
ofensivo da sua equipa, radicam fundamentalmente nos sectores defensivo e meio-campo defensivo (20 e
23% respectivamente) e no corredor central do terreno de jogo (54%). A posição dos defesas centrais no
corredor central apresenta condições óptimas para servir os jogadores que jogam nos corredores (médios
ou defesas laterais) explorando os espaços atrás da última linha defensiva adversária, ou aproveitando igual-
mente todas as oportunidades de se incorporar no ataque, tentando criar situações de superioridade
A organização dinâmica do jogo de futebol 071

numérica ou de desequilíbrio do método defensivo adversário, devido às desmarcações de rotura perpen-


dicular. Poderão igualmente cumprir missões tácticas de médio centro. Em média, os defesas centrais inter-
vêm directamente sobre a bola cerca de 46 vezes durante a partida, o que corresponde a 10% das situações
momentâneas de jogo observadas. Participa em 69% das acções ofensivas da sua equipa, ou seja, em cada
31 segundos de tempo útil de jogo, com um tempo total individual de posse de bola que não ultrapassa o
1'10''.
2.2. Os defesas laterais (direito e esquerdo). As percentagens de intervenção sobre a bola dos defesas la-
terais direito e esquerdo durante o processo ofensivo da sua equipa verifica-se fundamentalmente nos
corredores de jogo (cerca de 78%) a que estão adstritos. Em relação aos sectores observa-se um elevado
equilíbrio percentual de intervenção sobre a bola (entre os 26 e os 33%). A atitude e o comportamento téc-
nico-táctico destes jogadores visam predominantemente apoiar o ataque através de deslocamentos ofen-
sivos de rotura perpendicular (detrás para a frente da linha da bola), procurando criar situações de superi-
oridade numérica ou explorar os espaços livres nas "costas" dos defesas adversários. Poderá igualmente
cumprir missões tácticas de médio desse mesmo lado. Em média, os defesas laterais intervêm directamente
sobre a bola cerca de 42 vezes durante a partida, o que corresponde a 9% das situações momentâneas de
jogo observadas. Participa em 63% das acções ofensivas da sua equipa, ou seja, em cada 34 segundos de
tempo útil de jogo, com um tempo total individual de posse de bola que não ultrapassa os 60 segundos.

3. Os jogadores pertencentes ao sector médio da equipa. O nível de intervenção dos jogadores pertencentes
ao sector médio da equipa observa-se fundamentalmente nas zonas 5 (13%), 2 (11%), 6, 7, 9 e 12 (10%). Neste
sentido, são zonas pertencentes ao sector do meio-campo defensivo (2/4-32%) e do sector do meio-campo
ofensivo (3/4 - 30%), que se observam o maior número de intervenções dos jogadores que cons-tituem o sec-
tor médio, seguido pelo sector ofensivo (4/4 - 26%) e, por último, pelo sector defensivo (1/4-13%).
Concluindo, são utilizados com maior preponderância os sectores centrais do terreno de jogo. Em relação aos
diferentes corredores de jogo observou-se, tal como para os jogadores pertencentes ao sector defensivo, per-
centagens semelhantes para os corredores direito e esquerdo (31 a 33%) e para o corredor central (36%). Tal
como referimos para os jogadores pertencentes ao sector defensivo, embora se observe a intervenção sobre a
bola destes jogadores ao longo da totalidade do espaço de jogo durante o processo ofensivo da sua equipa,
após atingirem a sua percentagem mais elevada no sector do meio-campo defensivo, diminuem a sua per-
centagem de intervenção à medida que o centro do jogo se aproxima da baliza adversária. Em média, os
jogadores pertencentes ao sector médio intervêm directamente sobre a bola cerca de 190 vezes durante a par-
tida, o que corresponde a 41% das si-tuações momentâneas de jogo observadas. Em função do tempo útil de
jogo, em média, intervêm sobre a bola em cada 7 segundos, com um tempo total de posse de bola que não
ultrapassa os 5'30''.
3.1. Os médios alas (direito e esquerdo). As percentagens de intervenção sobre a bola dos médios direito
e esquerdo durante o processo ofensivo da sua equipa verificam-se fundamentalmente nos corredores de
jogo (entre os 57 e os 65%) a que estão adstritos. Em relação aos sectores observa-se um elevado equilíbrio
percentual de intervenção sobre a bola (entre os 16 e os 19%), a partir do meio-campo defensivo até ao sec-
tor ofensivo. A atitude e o comportamento técnico-táctico destes jogadores visam criar situa-ções iminen-
temente de finalização utilizando a sua velocidade de condução de bola e a sua capacidade de drible. A
mobilidade dentro do espaço de jogo é constante na procura de espaços livres ou no arrastamento de um
ou mais defesas, para que os outros companheiros possam explorar o espaço por ele criado. Poderá igual-
mente cumprir missões tácticas de defesa desse mesmo lado. Em média, os médios laterais intervêm direc-
tamente sobre a bola cerca de 44 vezes durante a partida, o que corresponde a 9% das situações momen-
tâneas de jogo observadas. Participa em 66% das acções ofensivas da sua equipa, ou seja, em cada 33 segun-
dos de tempo útil de jogo, com um tempo total individual de posse de bola que não ultrapassa o 1'10''.
3.2. Os médios centros. A acções de intervenção sobre a bola dos médios centros, durante o processo ofen-
sivo da sua equipa, radicam fundamentalmente nos sectores do meio-campo defensivo e do meio-campo
072 Guia prático de exercícios de treino

ofensivo (17 e 15% respectivamente) e no corredor central do terreno de jogo (45%). A posição dos médios
centros no corredor central apresenta condições óptimas para servir todos os outros companheiros, sendo
o elo de ligação (transmissão) entre os jogadores pertencentes ao sector defensivo e avançado. Com efeito,
a sua missão é extremamente importante na distribuição do jogo ofensivo, na circulação rápida da bola
entre os vários corredores, procurando o desequilíbrio do método defensivo adversário e na finalização do
ataque. Normalmente os jogadores que ocupam esta posição têm um alto nível de raciocínio táctico, adap-
tando de forma criativa nas situações concretas de jogo o plano táctico do ataque. Poderão igualmente
cumprir missões tácticas de defesa central. Em média, os médios centros intervêm directamente sobre a
bola cerca de 51 vezes durante a partida, o que corresponde a 11% das situações momentâneas de jogo
observadas. Participa em 76% das acções ofensivas da sua equipa, ou seja, em cada 28 segundos de tempo
útil de jogo, com um tempo total individual de posse de bola que não ultrapassa o 1'30''.

4. Os jogadores pertencentes ao sector avançado (pontas de lança). O nível de intervenção dos jogadores per-
tencentes ao sector avançado da equipa observa-se fundamentalmente nas zonas 11 (21%), 9 e 12 (13%), 8 e
10 (10%), 5 e 7 (9%). Com efeito, são zonas pertencentes ao sector ofensivo (4/4 - 45%) e do sector do meio-
campo ofensivo (3/4 - 33%), que se observam o maior número de intervenções dos jogadores que cons-tituem
o sector avançado, seguido pelo sector do meio-campo defensivo (2/4 - 19%) e, por último, pelo sector defen-
sivo (1/4 - 3%). Em relação aos diferentes corredores de jogo observou-se, que o corredor central é prepon-
derante na intervenção destes jogadores (42%). Em média, os jogadores pertencentes ao sector avançado inter-
vêm directamente sobre a bola cerca de 80 vezes durante a partida, o que corresponde a 18% das si-tuações
momentâneas de jogo observadas. Em função do tempo útil de jogo, em média, intervêm sobre a bola em cada
18 segundos, com um tempo total de posse de bola que não ultrapassa o 1' 30''. Os comportamentos técnico-
tácticos sobre a bola por parte dos pontas de lança, durante o processo ofensivo da sua equipa, observam-se
fundamentalmente na zona 11 do espaço de jogo
(22%), no sector ofensivo (46%) e no corredor cen-
tral do terreno de jogo (43%). A sua principal mis-
são é de marcar golos, consequentemente deverá
dominar a acção técnico-táctica de remate, em qual-
quer situação ou posição (pé, cabeça) de forma cria-
tiva. Sendo os jogadores que se posicionam mais
perto da baliza adversária (dando assim profundi-
dade ao processo ofensivo da sua equipa), evidenci-
am uma mobilidade constante desmarcando-se para
os extremos buscando apoios dos companheiros per-
tencentes ao sector médio ou procurará devido à
grande vigilância a que está sujeito pelos defesas a
atraí-los para falsas posições, facilitando a pene-
tração dos seus colegas para zonas vitais do terreno
de jogo. Poderam igualmente cumprir missões tácti-
cas de médio centro. Em média, o ponta de lança
intervém directamente sobre a bola cerca de 44 vezes
durante a partida, o que corresponde a 9% das situ-
ações momentâneas de jogo observadas. Participa
em 60% das acções ofensivas da sua equipa, ou seja,
em cada 33 segundos de tempo útil de jogo, com um Figura 20. Representação gráfica da intervenção preferencial sobre a
bola durante o processo ofensivo, por parte dos vários jogadores perten-
tempo total individual de posse de bola que não centes aos vários sectores da equipa
ultrapassa os 50 segundos.
A organização dinâmica do jogo de futebol 073

Foto 63. A distribuição das diferentes missões tácticas dentro da organização da equipa deve suportar-se numa lógica que amplie a iniciativa, a capaci-
dade de decisão, improvisação e a criação dos jogadores, assegurando-se assim, a valorização das suas particularidades, combinando harmoniosamente
as diferentes missões tácticas estabelecidas, tirar vantagens do conhecimento particularizado da equipa adversária e estabelecer coordenadores de jogo
074 Guia prático de exercícios de treino
075
Foto cedida pela revista Training

Futebol
Guia prático de exercícios de treino CAPÍTULO 3
O SUBSISTEMA
METODOLÓGICO

O terceiro capítulo tem como objectivo


a análise do subsistema metodológico da
organização dinâmica de uma equipa de fute-
bol, que exprime a coordenação geral e a
sequência de execução das acções dos jogadores
tanto no ataque como na defesa. A análise do Reforça-se a importância de se estabelecer princípios directores e orien-
referido subsistema fundamenta-se, por um tadores da forma geral de organização do ataque e da defesa dentro
lado, no método de jogo que estabelece os do sistema de jogo preconizado pela equipa expressando, na
princípios de circulação e de colaboração no seio mesma medida, um tempo e um ritmo conveniente à
do subsistema estrutu-ral, e por outro, pela manutenção de elevados níveis de rendimento.
definição de um tempo e um ritmo de jogo car-
acterístico da equipa. O subsistema metodológi-
co baseia-se igualmente num conjunto de ele-
mentos de base que se consubstanciam num fun-
damento sólido de compreensão e reso-lução das
situações de jogo, na simplicidade dos métodos
de jogo a serem aplicados no terreno, num equi-
líbrio dinâmico constante em qualquer situação
de jogo, na aplicação de respostas diferentes e
Paralela e complementarmente, cada equipa ao aplicar variadas em função da complexidade dos prob-
um determinado método de jogo expressa, na mesma medi- lemas postos pelo jogo, na adaptabilidade, não
da, um tempo e um ritmo conveniente à manutenção de eleva- só entre os métodos de jogo ofensivo e defensi-
dos níveis de rendimento vo da própria equipa, mas também, em relação
aos métodos de jogo.
076 Guia prático de exercícios de treino

Parte UM
O SUBSISTEMA METODOLÓGICO
Capítulo
Três
1. Conceito de subsistema metodológico
O subsis - O subsistema metodológico é representado pela coordenação (sincronização) comporta-
tema mental dos jogadores e pelo ritmo de execução das suas acções técnico-tácticas, racionali-
zando-as e sequencializando-as, através do estudo e do treino realizado durante o processo
de preparação da equipa, para as fases fundamentais do jogo, isto é, no processo ofensivo e
defensivo, enquadrados num dispositivo estrutural de base, denominado sistema de jogo.

2. A natureza do subsistema metodológico


A natureza do subsistema metodológico na organização do jogo de futebol exprime-se,
para uma dada realidade (equipa), pela aplicação teórica e prática de princípios baseados em
juízos de valor que irão inapelavelmente orientar e, de forma simultânea regular, as atitudes,
comportamentos e ritmos de execução das acções técnico-tácticas dos jogadores. Esta orien-
tação e regulação tem por objectivo racionalizar e sequencializar, durante as fases ofensivas
e defensivas do jogo, a circulação (deslocamento) dos jogadores e naturalmente da bola, den-
tro do espaço de jogo no seio de um dispositivo táctico preestabelecido. Em consequência do
referido, a natureza do subsistema metodológico de organização do jogo de futebol eviden-
metodo- cia fundamentalmente dois elementos essenciais:
lógico 1. Os métodos de jogo. A natureza de qualquer método de jogo, no domínio ofensivo ou
defensivo, deriva da coordenação unitária das acções dos onze jogadores que constituem
a equipa, na concretização de um projecto que lhes é comum. Neste sentido, a conjugação
Parte UM dos esforços dos vários elementos da equipa com o intuito de responder colectiva e efi-
cazmente a todas as contextualidades situacionais que o jogo de futebol em si encerra,
Capítulo determina a necessidade de se estabelecer uma ordem nos comportamentos realizados
Três pelos jogadores. Esta necessidade, irá por si desenvolver de forma inequívoca a divisão de
tarefas e funções tácticas que devem ser compreendidas e assimiladas por todos os
O subsis - jogadores, isto é, que cada um entenda as suas e as dos seus companheiros, com o intui-
tema to de ao analisarem uma qualquer contextualidade situacional de jogo, assumam atitudes
e comportamentos técnico-tácticos coordenados com as atitudes e os comportamentos
metodo- técnico-tácticos dos restantes companheiros. Por outras palavras, a organização coorde-
lógico nação da equipa baseia-se na unidade da compreensão, da atitude e da acção, onde cada
jogador sincroniza os seus comportamentos, em função das necessidades para a reso-lução
das situações de jogo, estando simultaneamente consciente das suas acções e dos seus com-
Parte UM panheiros, por forma que cada comportamento tenha uma intenção, um ritmo, um tempo
e uma eficácia na execução. Neste sentido, ao estabelecer-se princípios directores e orien-
tadores da forma geral de organização do ataque e da defesa dentro do sistema de jogo
preconizado pela equipa desenvolve-se paralelamente mecanismos:
A. De participação activa de todos os jogadores na resolução das situações de jogo,
criando-se uma forte mentalidade e dimensão colectiva.
B. De entreajuda e solidariedade entre estes assegurando-se uma maior eficácia nas
fases ofensivas e defensivas independentemente das missões tácticas de base a que cada
jogador deve estar adstrito.
C. Do equilíbrio constante e automático das relações de força dentro do sistema de
jogo, de forma a manter elevados níveis de organização e resposta, perante as alte-rações
constantes e operacionais determinadas pelas situações de jogo.
A organização dinâmica do jogo de futebol 077

D. De racionalização dos espaços em função das contextualidades situacionais do jogo, Parte UM


nas quais se observam comportamentos divergentes dos jogadores, mas que na sua
globalidade se complementam convergindo para a concretização de um projecto Capítulo
comum. Três
E. De simplificação dos processos de carácter ofensivo e defensivo para atingir os seus
fins, mesmo quando os níveis de capacidade dos jogadores são elevadas. O subsis -
2. O tempo e o ritmo de jogo. Paralela e complementarmente, cada equipa ao aplicar um tema
determinado método de jogo expressa, na mesma medida, um tempo e um ritmo conve-
niente à manutenção de elevados níveis de rendimento, o qual determina entre muitos ou-
tros aspectos:
A. A variação sequencial da velocidade de execução dos procedimentos técnico-tácticos
individuais e colectivos quer do âmbito ofensivo e defensivo.
B. O conhecimento monográfico dos espaços de jogo onde e como os aplicar de forma
metódica e sistemática, com vista a assegurar o sucesso de cada iniciativa.
C. O uso do factor surpresa por forma a tirar vantagens que derivam dos desequilíbrios
pontuais e temporários da organização ofensiva ou defensiva da equipa adversária.

3. Objectivos do subsistema metodológico


Perante o quadro referencial estabelecido, que deriva da racionalização e coorde-
nação que caracterizam todo o método de jogo (quer ofensivo, quer defensivo), por um lado,
e pela variação sequencial e velocidade de execução dos procedimentos técnico-tácticos que metodo-
definem um tempo e um ritmo de jogo próprio da equipa, por outro. O subsistema lógico
metodológico procura equacionar constantemente, a criação de condições mais vantajosas
em termos de número, em termos de espaço e em termos de tempo, tendo como objectivo
essenciais o estabelecimento de princípios que definem a linha geral da coerência dos pro- Parte UM
cedimentos re-lativamente:
1. À repartição do jogadores sobre o terreno de jogo, particularmente através dos seus Capítulo
contínuos deslocamentos executados por forma a equilibrar dinâmica e automaticamente Três
o sistema táctico da sua equipa e, simultaneamente, a desequilibrar a do adversários logo O subsis -
quando a bola entra em movimento.
2. À ordem e às relações recíprocas dos jogadores em colaboração (com os seus compan- tema
heiros) e em adversidade (com os componentes da equipa adversária). metodo-
3. À orientação dos comportamentos técnico-tácticos em função dos objectivos tácticos-
estratégicos momentâneos do jogo, das contextualidades situacionais, das fases (ofensivas lógico
e defensivas), das etapas em que a equipa se encontra e dos factores que condicionam a
resolução do contexto situacional.
4. À velocidade, mais ou menos elevada de execução das acções técnico-tácticas dos Parte UM
jogadores, mantendo elevados níveis de adaptação ao problema posto e de eficácia na sua
resolução dentro de um vasto leque de opções.
5. À iniciativa que as equipas devem preconizar perante o adversário independentemente
de terem ou não a posse da bola. Neste sentido, cada equipa deverá fazer uso da iniciati-
va tomando decisões, antecipando e aplicando comportamentos, cujas variações sequenci-
ais sejam imprevisíveis aos olhos dos adversários, em ordem a estabelecer um elevado nível
de pressão e agressividade (ofensiva e defensiva).
078 Guia prático de exercícios de treino

4. Elementos de base do subsistema metodológico


Os elementos de base do subsistema metodológico (métodos de jogo), tanto ofensivos como defen-
sivos, consubstanciam os seguintes atributos:
4.1. Fundamento versus finalidade. A concepção de um qualquer método de jogo ofensivo ou defensivo,
estrutura-se numa primeira análise: (1) num fundamento, pois estabelece os seus alicerces e, (2) numa final-
idade a qual exprime uma intencionalidade, que dá o tom a todas as actividades da organização da equipa.
Com efeito, a organização de uma equipa revê-se num conjunto de atitudes e comportamentos técnico-tácti-
cos individuais e colectivos, os quais determinam um fundamento sólido, por um lado, para a compreensão
das contextualidades situacionais, e por outro, numa finalidade objectiva na resolução dessas situações de
jogo. Só assim é possível, desenvolver e evoluir das respostas menos complexas para as mais complexas. Nestas
circunstâncias, sempre que uma equipa regride no seu rendimento, quer no plano individual, quer no plano
colectivo, sem que se descortinem razões aparentes, os meios de treino deverão direccionar-se e intensificar-
se objectivando exercícios cujo conteúdo contemple profunda e predominantemente os fundamentos e as
finalidades da organização do jogo da equipa.
4.2. Simplicidade versus complexidade. A organização de uma equipa de futebol numa perspectiva
metodológica, deve basear-se numa dupla articulação:
1. Na simplicidade de compreensão dos seus fundamentos e finalidades no que concerne à sua articulação
entre os diferentes jogadores e sectores da equipa.
2. Da simplicidade da sua aplicação prática, que se exprime pela resolução eficiente e eficaz das situações
problemáticas de jogo. É para nós evidente, que quanto maior for a capacidade dos jogadores, em termos
de inteligência táctica, execução motora e talento, mais complexa poderá ser a organização ofensiva ou
defensiva de uma equipa. Todavia, o pensamento e as acções de carácter “simples” devem permanecer
como elementos referenciais que fundamentam todo e qualquer método e ritmo de jogo, o qual consub-
stanciam, em última análise, a sua eficiência e eficácia.
4.3. Adaptação versus flexibilidade. A conceptualização e construção de um método de jogo quer ofensivo
quer defensivo, deve basear-se essencialmente e, numa primeira análise, em dois factores fundamentais: (1)
na precisão, no rigor e na orientação adequada das acções técnico-tácticas individuais e colectivas executadas
para a solução dos diferentes contextos situacionais de jogo e, (2) na aplicação de um tempo-ritmo, em qual-
quer fase do jogo, que seja adequado à organização e à preparação técnico-táctica dos jogadores que compõem
a equipa. Concomitantemente ligado a estes factores, dever-se-ão estabelecer dois tipos de adaptação fun-
cional dos métodos ofensivos e defensivos preestabelecidos pela equipa:
1. A que deriva do seu carácter intrínseco, que se reflecte na concordância organizativa entre o método
ofensivo e defensivo e aplicado pela própria equipa. Com efeito, é necessário que os pressupostos funda-
mentais de um dos métodos não ponham em risco de forma irredutível a aplicação dos pressupostos de
eficácia do outro. Neste sentido, a equipa deverá jogar num bloco homogéneo e compacto não só na apli-
cação isolada de cada um dos métodos preestabelecidos, mas também na transição de um para o outro
método por forma a que não haja quebra na continuidade do processo ofensivo ou defensivo. Isto deter-
mina, por exemplo, a colocação de certos jogadores em posições "chave" dentro do dispositivo ofensivo ou
defensivo da equipa, por forma a favorecer o início e o desenvolvimento tanto do ataque como da defesa
com os melhores jogadores (especialistas). Preconiza-se assim, que a equipa deverá ter a “flexibilidade” sufi-
ciente para passar rapidamente de um processo ofensivo para um processo defensivo e vice-versa, procu-
rando assim retirar todas as vantagens inerentes aos possíveis desequilíbrios na organização da equipa
adversária, quando esta deixa de atacar e tem de passar a defender ou quando recupera a posse da bola e
tem de passar a atacar. Em resumo, esta articulação ofensiva versus defensiva, determina que as caracterís-
ticas de base de um dos métodos não devem por em risco os pressupostos da eficácia do outro, mas sim,
se possível, aumentá-los.
2. A que deriva do seu carácter extrínseco, que equaciona tanto na sua globalidade e especificidade o méto-
do ofensivo e defensivo estabelecido e aplicado pela equipa adversária. Com efeito, procura-se: (1) assegu-
A organização dinâmica do jogo de futebol 079

rar um certo número de medidas preventivas e adaptativas tendentes a contrariar a iniciativa, as qualidades
e os jogadores que o aplicam. Sendo esta adaptação realizada fundamentalmente na tentativa de uma recu-
peração rápida da posse da bola, logo após a sua perca, estabelecendo de forma simultânea a criação de cir-
cunstâncias e momentos mais vantajosos, possibilitando no futuro imediato, que o processo ofensivo daí
decorrente apresente as mais elevadas probabilidades de êxito. Nos mesmo termos e acentuando a mesma
dinâmica, a equipa deverá organizar-se e dar primordial importância à protecção da sua baliza evitando a
todo custo sofrer o golo, quando não foi possível uma recuperação rápida da bola e paralelamente não se
conseguiu suster o processo ofensivo adversário que progrediu para as zonas predominantes de finalização
e, (2) obrigar a equipa adversária a defender com menor número de jogadores, ou com jogadores de menor
qualidade em termos defensivos, ou ainda, em situações desfavoráveis para estes em termos de espaço,
tempo, ou número, logo após a recuperação da posse da bola e durante o desenvolvimento e concretização
do processo ofensivo. Em resumo, relativamente a esta segunda articulação, podemos afirmar, que a con-
strução de um qualquer método de jogo deve conter medidas preventivas e adaptativas tendentes a con-
trariar a iniciativa e a eficácia dos métodos de jogo adversário.
4.4. Surpresa e iniciativa. Sublinhámos que a organização de uma equipa de futebol deve ser construída a
partir de métodos de jogo de carácter ofensivo ou defensivo e por ritmos consentâneos com um rendimento
favorável às capacidades dos jogadores. Todavia, por forma a valorizar e potenciar esta conceptualização deve
igualmente conter em si dois aspectos essenciais:
1. Um conjunto de acções inesperadas, do ponto de vista da equipa adversária, por forma a surpreendê-la
e, por inerência obrigar os jogadores a realizarem continuamente ajustamentos na sua organização. Estes
constantes ajustamentos, para além de desgastarem os adversários em termos energéticos, estabelecem as
condições mais propícias para que hajam falhas no plano técnico-táctico, originando desequilíbrios da sua
organização de ordem numérica, espacial e temporal. Com efeito, os desequilíbrios de uma organização
diminuem a coordenação (sincronismo) das acções adversárias e consequentemente a sua eficácia.
2. Fazem uso da iniciativa, no sentido de pôr em prática um pensamento e uma acção. Com efeito, a ini-
ciativa deverá ser uma qualidade dos métodos e do ritmo de jogo, no qual se tomam decisões, antecipan-
do-as ao do adversário e aplicando-as por forma a tirar vantagens da sua execução.
4.5. Exequilibidade. A aplicação de qualquer método de jogo deve ser exequível do ponto de vista prático.
Daqui resulta a necessidade que a sua conceptualização deve ter em consideração o nível real das capacidades
dos jogadores, isto é, os seus argumentos técnico, tácticos, físicos e psicológicos, por forma a preencher todos
os pré-requisitos estabelecidos para cada método de jogo a utilizar. Com efeito, se este elemento não for
respeitado a eficácia de qualquer organização de uma equipa não poderá exprimir-se na sua plenitude.

5. As relações entre o subsistema estrutural e metodológico


A estrutura do jogo de futebol passa primeiramente, na sua fase de organização, por uma etapa
geométrica de ocupação racional do espaço. Todavia e, como se compreende, seja qual for o modo de colocação
dos jogadores sobre o terreno de jogo, a forma geométrica implícita, não permite a sua ocupação total, portan-
to, a disposição estabelecida no início da partida, não é conciliável com a modificação situacional decorrente do
jogo. Neste sentido, as equipas ocupam o espaço de jogo por forma a assegurar que as disposições básicas dos
jogadores dentro da equipa, estabeleçam linhas de força unitárias e homogéneas, que constituem o quadro re-
ferencial da rede de comunicação da equipa ou de intercepção das ligações do adversário. Logo que a bola entra
em movimento, efectuam-se com uma certa liberdade, de sector para sector e de corredor para corredor, movi-
mentos compensatórios, em que a ocupação é a cada instante adaptada consoante a contextualidade situacional
de jogo, onde se procuram assegurar as respostas tácticas específicas - imediatas e prementes, à consecução dos
objectivos da equipa. Na linha dos raciocínios formulados, é o subsistema metodológico que estabelece os
princípios directores da forma geral da organização do ataque ou da defesa, racionalizando simultaneamente a
coordenação/sincronização dos comportamentos individuais e colectivos em função dos contextos situacionais
de jogo. A coerência e a dinâmica (ritmo) destes comportamentos (tanto no processo ofensivo como no proces-
080 Guia prático de exercícios de treino

so defensivo), são coordenados pela necessidade de equilibrar a repartição dos jogadores (das forças), sobre o
terreno de jogo. Esta coordenação será tanto mais eficaz, quanto a sua expressão final se traduza de uma forma
unitária e homogénea, não dando lugar a compartimentos estanques que só conduzem a equipa a uma maior
permeabilidade da sua organização. Nestas circunstâncias, observação da articulação dinâmica da estrutura da
equipa no espaço, reflecte indubitavelmente deslocamentos tendentes:
5.1. A apoiar ou a pressionar o jogador de posse de bola e os espaços circundantes à volta destes. Neste
domínio, observam-se deslocamentos de envolvimento sobre todo o espaço de jogo, no sentido de facilitar a
movimentação e progressão da bola quando em situação ofensiva, ou opondo-se ao seu caminho quando em
situação defensiva.
5.2. A romper a organização defensiva adversária por forma a se assegurar condições contextuais favoráveis
à criação de situações de finalização e de finalização com elevadas probabilidades de êxito.
5.3. A equilibrar a organização defensiva, no sentido de se evitar a possibilidade de progressão da equipa
adversária para as zonas propícias de finalização, ou se criar situações eminentes de finalização, e quando de
posse de bola, equilibrar a sua organização ofensiva através da vigilância de espaços vitais de jogo ou marcar
adversários que não estão directamente implicados no processo de recuperação da posse da bola, os quais se
posicionam de forma que possam preparar ou dar continuidade ao ataque da sua equipa quando se verificar
a recuperação desta.

6. Níveis do subsistema metodológico


Os níveis do subsistema metodológico são resultantes do dualismo estabelecido pelas fases ofensiva e
defensiva do jogo de futebol, as quais evidenciam, naturalmente, duas vertentes fundamentais de análise:
6.1. Os métodos de jogo ofensivo. Visam uma coordenação eficaz das acções dos jogadores que consti-tuem
a equipa, por forma a criar as condições mais favoráveis para concretizar os objectivos do ataque da equipa
em consonância ou não, com os objectivos do jogo - o golo.
6.2. Os métodos de jogo defensivo. Visam uma coordenação eficaz das acções dos jogadores que consti-tuem
a equipa, por forma a criar as condições mais favoráveis para concretizar os objectivos da defesa, isto é, recu-
peração da posse da bola e a protecção da baliza.

A noção fundamental que define e condiciona o futebol na actualidade, deriva do facto de subsistir
em muitos momentos do jogo as equipas “terem ou não a posse da bola”. Nestas circunstâncias, nem o proces-
so ofensivo é exclusivo dos jogadores que detêm o estatuto de avançados, nem se descarrega sobre os defesas
toda a responsabilidade de defender. No seguimento deste raciocínio, todo e qualquer método de jogo terá
grandes dificuldades em se impor se depender exclusivamente de acções isoladas de um jogador ou de um sec-
tor da equipa. Embora, seja verdadeiro a possibilidade de se observar preponderâncias mais ou menos acentu-
adas, que derivam do modelo de jogo da equipa e do plano estratégico para aquele jogo e para aquele momen-
to, a realidade é que todo e qualquer método se torna mais eficaz e eficiente se for posto em prática através de
acções coordenada pela participação cons-ciente de todos os jogadores da equipa. Assim:
1. Nas situações de posse de bola, os jogadores com funções predominantemente defensivas, apoiam a fase
ofensiva movimentando-se em direcção à baliza adversária, por forma a que as distâncias entre estes e os com-
panheiros com funções predominantemente atacantes sejam reduzidas. Nessas posições realizam acções:
A. De suporte às circulações tácticas mudando o ângulo de ataque de um para o outro corredor de jogo.
B. De apoio à retaguarda relativamente aos jogadores mais avançados.
C. De temporizar o processo ofensivo até que se reunam as condições favoráveis a uma progressão e cul-
minação com êxito deste processo.
D. Na execução de deslocamentos ofensivos de rotura, de trás para a frente da linha da bola, por forma a
surpreender os adversários, a criar situações de rotura temporal de organização defensivo adversário e de
criar situações pontuais de superioridade numérica num determinado espaço vital de jogo.
E. De colaborar activamente na preparação e organização do processo ofensivo, sendo cada vez mais pro-
A organização dinâmica do jogo de futebol 081

tagonistas fundamentais na concretização do objectivo do jogo - o golo.


2. Nas situações de perda de posse de bola, os jogadores com funções predominantemente atacantes
A. Pressionam de imediato a saída da bola.
B. Dificultam e obstaculizam permanentemente o desencadeamento do processo ofensivo adversário.
C. Acompanham e marcam decisivamente adversários que saindo de trás da linha da bola podem criar situ-
ações pontuais de rotura da organização defensiva ou situações de superioridade numérica em espaços
vitais de jogo.
D. Interrelacionam-se posicionalmente com outros companheiros, executando acções de permutação e
desdobramento, por forma a contribuir para a manutenção de um equilíbrio dinâmico da equipa.
E. Cumprirem tarefas especiais de marcação a adversários em função de situações momentâneas e especí-
ficas de jogo (por exemplo: nas situações de bola parada - esquemas tácticos).

Do exposto ressalta o raciocínio base do jogo de futebol: ataca-se a baliza adversária quando se tem
a posse da bola, defende-se atacando a bola, por forma a recuperá-la. Observa-se assim: "uma expressão colecti-
va no processo e do método ofensivo, e uma expressão colectiva no processo e método defensivo. Por outras
palavras, todos os jogadores atacam e todos os jogadores defendem. Desta reflexão resulta claramente, que as
equipas devem estabelecer um conjunto de relações e interrelações que consubstanciam e permitem resolver
todos os contextos situacionais de jogo com um pleno sentido da equipa. Com efeito, a funcionalidade da equipa
não pode ser encarada pela justaposição das acções individuais, mas sim no ajustamento dos vários comporta-
mentos técnico-tácticos dos jogadores em função das contingências e do desenvolvimento das situações de jogo
numa complementaridade coerente e dinâmica. Isto por si determina, consequentemente, a exigência da parti-
ci-pação de todos os jogadores na resolução de todas as situações de jogo, criando-se assim uma forte mentali-
dade e dimensão colectiva.

Os métodos de jogo ofensivo

Antes de analisarmos as diferentes formas básicas de manifestação dos métodos de jogo ofensivo
interessa analisar e desenvolver a fase de jogo a que este está adstrito.

1. O processo ofensivo
"A relação antagónica entre o ataque e a defesa manifesta-se tanto individual (luta entre o atacante e
o defesa), como colectivamente (luta entre o ataque e a defesa). Cada elemento do jogo (atacante ou defesa),
tenta romper o equilíbrio existente (teoricamente) e criar vantagens que lhes assegurem o sucesso" (Teodorescu,
1984).

1.1. Conceito de processo ofensivo


O processo ofensivo representa uma das duas fases fun-
damentais do jogo de futebol, sendo objectivamente deter-
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

minado, "pela equipa que se encontra de posse de bola, com


vista à obtenção do golo, sem cometer infracções às leis do
jogo" (Teodorescu, 1984). Quando determinada equipa está
de posse de bola, para além de poder concretizar o objectivo
do jogo - o golo, poderá igualmente:

Foto 64. O processo ofensivo 1. Controlar o ritmo específico do jogo, pois, em função da
082 Guia prático de exercícios de treino

estratégia concebida para esse jogo, do resultado (numérico) momentâneo e das circunstâncias do momento,
poder-se-ão contrapor acções técnico-tácticas que acelerem ou diminuam este ritmo.
2. Criar condições, por forma a surpreender a equipa adversária, através de mudanças contínuas de orien-
tação das acções técnico-tácticas e atempadamente fazer uma ocupação racional do espaço de jogo, em função
dos objectivos tácticos da equipa.
3. Obrigar os adversários a passarem por longos períodos sem a posse da bola, levando-os a entrar em crise
de raciocínio táctico e, consequentemente, a expô-los a respostas tácticas erradas em função dos contextos
situacionais de jogo.
4. Concretizar a recuperação física de companheiros, com o mínimo de risco, que devido a pequenos choques
com o adversário ou por uma elevada prestação para se recuperar a posse da bola, não se encontram nas mel-
hores condições para participarem de imediato no processo ofensivo da equipa.

1.2. Objectivos do processo ofensivo


A posse da bola não é um fim em si e torna-se utópico, se não for conscientemente considerada como
o primeiro passo indispensável no processo ofensivo, sendo condição "sine qua non" para a concretização dos
seus objectivos fundamentais: a progressão/finalização e a manutenção da posse da bola.

1.2.1. Progressão/finalização
Imediatamente após a recuperação da posse da
bola, o objectivo fundamental da equipa é o de progredir em
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

direcção à baliza adversária, de uma forma rápida e eficaz,


evitando-se ao máximo a interrupção deste processo. A maxi-
mização destes objectivos pressupõem:
1. Contínua instabilidade da equipa adversária desequili-
brando, por consequência, a organização defensiva, crian-
do-se constantemente as condições mais favoráveis em
termos de espaço, tempo e número, à resolução táctica dos Foto 65. A progressão
contextos situacionais de jogo.
2. Orientação de todos ou a maioria das acções técnico-tácticas individuais e colectivas, realizadas pelos
jogadores em processo ofensivo, na direcção da baliza adversária.
3. Criação de condições de jogo mais propícias, quando perto da baliza adversária, à culminação positiva da
acção ofensiva, através de acções individuais de suporte à fase de finalização (desmarcação-remate), com vista
à obtenção do golo. Perseguir continuamente este objectivo vencendo a resistência organizada do adversário,
é a tarefa mais importante e todos os jogadores de uma e outra equipa têm de se esforçar por cumpri-la com
a maior frequência possível.

1.2.2. Manutenção da posse da bola


A concretização deste objectivo significa evitar o risco
irracional presente em alguns jogadores, que em diferentes
circunstâncias do jogo perdem, de forma extemporânea, a
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

posse da bola pondo assim em causa todo um esforço colec-


tivo, que determinou a sua recuperação, bem como todos os
procedimentos de carácter ofensivo executados até esse
momento. “Se as acções individuais ou as circulações tácticas
utilizadas na construção e criação de situações de finali-zação
não resultam, recomenda-se que as mesmas se reiniciem não
Foto 66. A finalização as transformando numa lotaria" (Teodorescu, 1984). Em
A organização dinâmica do jogo de futebol 083

função de um conjunto de circunstancialismos inerentes ao próprio jogo, independentemente da dimensão


estratégica e táctica da equipa para essa partida, a resolução dos diferentes contextos situacionais devem prever
a impossibilidade temporária de se progredir ou de se atacar a baliza adversária em condições que possibilitem
um sucesso mínimo das acções técnicas e tácticas dos jogadores. Neste sentido, não havendo ou não se percep-
cionando essas condições mínimas os jogadores devem manter a posse da bola por forma a temporizar o proces-
so ofensivo até que essa condições se reunam. Assim, a maximização deste objectivo pressupõe a/o:
1. Necessidade de se resolver os diferentes contextos situacionais, avaliando-os em função do binómio
risco/segurança. Neste caso, o jogador de posse de bola deverá percepcionar e avaliar prognosticamente de
forma realista, quais as vantagens e desvantagens, para os objectivos tácticos da sua equipa, da execução deste
ou daquele comportamento. Assim, dentro de um largo leque de opções, é preferível uma acção técnico-tác-
tica "a mais" do que uma acção que entregue a bola ao adversário. Logo, uma determinada acção técnico-tác-
tica pode não constituir a solução mais adequada para uma dada situação momentânea de jogo, mas permite
à equipa manter a posse da bola, que é sempre um aspecto positivo.
2. Sentido táctico dos jogadores, de em certas situações de jogo terem que quebrar o ritmo de jogo do adver-
sário imprimindo um ritmo mais conveniente à sua própria equipa ou criar uma falsa noção de ritmo que
proporcione uma acentuação da iniciativa do ataque.
3. Manutenção da iniciativa do jogo, por forma a surpreender o adversário, a cansá-lo fisicamente, obrigá-lo
a jogar sobre uma grande pressão psicológica e, por último, a criar condições para que se estabeleça uma crise
de raciocínio táctico.

1.3. Vantagens - desvantagens do processo ofensivo


A iniciativa e a surpresa criadas pelas acções ofensivas - o risco de estas poderem terminar pela con-
cretização do golo, constituem as grandes vantagens do ataque. Estas vantagens derivam do facto do processo
ofensivo, utilizar uma maior mobilidade por parte dos seus jogadores (podendo rodear e envolver), em relação
às posições mais ou menos fixas e concentradas dos defesas. Em contrapartida, a
desvantagem do processo ofensivo consta das dificuldades apresentadas pela exe-
cução das acções técnico-tácticas específicas com bola sugerem - necessidade da
sua protecção e conservação, contra as acções agressivas de marcação dos adver-
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

sários.

1.4. Etapas do processo ofensivo


Antes de analisarmos individualmente as diferentes etapas do processo ofensi-
vo importa evidenciar dois aspectos fundamentais:
1. O processo ofensivo começa antes da recuperação da posse da bola. Neste sen-
tido, os jogadores que não intervenham directamente na fase defensiva da sua
equipa, devem preparar mentalmente a acção ofensiva, na procura de espaços
Foto 67. A iniciativa é a van- vazios, que possam ser utilizados para o empreendimento do ataque e obrigar os
tagem do processo ofensivo seus adversários directos, a se preocuparem mais com a defesa da sua própria ba-
liza do que com o ataque à baliza adversária.
2. Durante o processo ofensivo. Independentemente da etapa ofensiva em que este
processo se encontre e o nível organizacional do sistema defensivo adversário, dois aspectos assumem funda-
mental importância:
A. Os deslocamentos dos jogadores sem bola, cuja intenção táctica é de criar as situações que contribuam
constantemente para: (1) um melhor apoio ao companheiro de posse de bola aumentando-lhe as possibil-
idades de resolução da situação táctica com o máximo de eficácia e, (2) a criação de desequilíbrios pontu-
ais e temporários na organização defensiva adversária.
B. Os jogadores de posse de bola: deverão evidenciar uma correcta visão, leitura e análise das situações tác-
ticas de jogo para: (1) jogar rapidamente visando aproveitar as solicitações dos companheiros melhor colo-
084 Guia prático de exercícios de treino

cados, ou seja, em espaços mais perigosos para a equipa adversária e, (2) assegurar a posse da bola esperan-
do o momento mais favorável para a resolução táctica escolhendo, decidindo e executando a acção técni-
co-táctica mais adequada (e não a mais fácil).

Numa análise estrutural do jogo de futebol, podemos estabelecer três etapas fundamentais do proces-
so ofensivo: a construção do processo ofensivo, a criação de situações de finalização e a finalização.

1.4.1. A construção do processo ofensivo


A construção do processo ofensivo procura assegurar, em última análise, o deslocamento da bola da
zona de recuperação para as áreas vitais do terreno de jogo. Esta etapa apresenta as seguintes características
essenciais:
1. É a fase do ataque mais fácil e frequentemente observável despendendo-se igualmente maior tempo para a
sua concretização.
2. Consta de circulações, combinações e acções tácticas individuais e colectivas visando a progressão da bola
para as zonas propícias à finalização.
3. A circulação da bola pelos vários jogadores é realizada de uma forma contínua, fluente e eficaz, evitando-
se ao máximo a sua interrupção (perda da posse da bola).
4. Procura-se criar de forma continua ou pontual situações de instabilidade e consequentemente desequi-
líbrios na organização defensiva adversária.

1.4.2. A criação de situações de finalização


A criação de situações de finalização é a etapa do processo ofensivo, que visa fundamentalmente asse-
gurar, nas zonas predominantes de finalização, os pressupostos mais vantajosos para a concretização imediata
do objectivo do jogo. Esta etapa apresenta as seguintes características essenciais:
1. É nesta etapa do ataque que culminam as combinações "mais ricas" do ponto de vista táctico (binómio
espaço/tempo), pois, só assim é possível provocar as roturas necessárias à implementação da fase seguinte, isto
é, a fase de finalização.
2. Esta etapa concentra-se num espaço de jogo onde afluem um
grande número de jogadores, essencialmente em atitude defen-
siva, requerendo por parte dos atacantes um maior risco e uma
Foto cedida pelo jornal O JOGO

maior eficácia na execução das acções técnico-tácticas individ-


uais e colectivas, por forma a desorganizar o processo defensi-
vo em determinados espaços vitais de jogo e em determinados
Foto 68. O pontapé de cannto é uma situação propícia
ângulos relativamente à baliza.
para se finalizar 3. É fundamental nesta etapa do processo ofensivo, que se
observem acções que exprimam uma grande mobilidade e
flexibilidade de organização atacante da equipa, por forma a criar, explorar e a ocupar espaços vitais de jogo.
4. Importa igualmente referir, que é nesta etapa do processo ofensivo que se procura e se provoca situações
de jogo que levem os defesas a errar e a cometer infracções às Leis do jogo. Em função da gravidade da
infracção, existe sempre a possibilidade da equipa atacante ter o tempo suficiente para se reorganizar em torno
dessas situações de bola parada (pontapé de canto, livres - directos ou indirectos, grande penalidade ou
mesmo lançamentos de linha lateral), por forma a criar condições vantajosas para a obtenção do golo. Estas
soluções estereotipadas, estudadas e treinadas a partir das fases fixas do jogo (esquemas tácticos), são as situ-
ações tácticas que contribuem com maior preponderância para a concretização do golo. No caso das duas
equipas em confronto directo apresentarem níveis de rendimento similar, estas situações tácticas são o factor
“desequilibrador” que irá se repercutir no resultado final da partida.
A organização dinâmica do jogo de futebol 085

1.4.3. A finalização
Esta fase do processo ofensivo é objectivada pela acção técni-
co-táctica individual (remate) que culmina todo o trabalho da equipa
com vista à obtenção do golo. Esta etapa apresenta as seguintes cara-
cterísticas essenciais:
1. Desenrola-se numa zona restrita do terreno de jogo, onde a pressão Figura 23. Zona predominante de fina-lização
dos adversários é elevada e o espaço de realização é diminuta.
2. As condições de execução técnico-táctica exigem uma precisão e um
ritmo elevados, em que a espontaneidade, a determinação e a criativi-
dade são as componentes mais evidentes desta etapa do ataque.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

3. A responsabilidade do jogador que objectiva esta fase do jogo, reside


no facto de ter de valorizar individualmente aquilo que foi construído
através do esforço colectivo.
Foto 69. A espontaneidade e determinação do
remate
1.5. Os métodos de jogo ofensivo
Visam uma coordenação eficaz das acções dos jogadores que constituem a equipa, por forma a criar
as condições mais favoráveis para concretizar dos objectivos do ataque em consonância com os objectivos do
jogo - o golo. Para atingir este objectivo os métodos de jogo ofensivo procuram, dentro de uma panóplia de aspe-
ctos, concretizar os seguintes aspectos:
1. Provocar uma contínua instabilidade na organização do método de jogo defensivo adversário.
2. Aplicar um ritmo mais ou menos elevado, que seja incompatível com as acções coordenadas dos adver-
sários com vista à sua desorganização.
3. Utilizar constantes deslocamentos em largura e profundidade, por forma a aumentar o número de linhas
de passe e naturalmente o incremento das opções tácticas em termos de apoio, progressão e rotura da orga-
nização defensiva adversária. Nestas circunstâncias, dificultam-se as acções de marcação que se traduzem pela
presença física do defesa sobre o atacante com o intuito de o neutralizar.
4. Direccionar, sempre que possível, as acções técnico-tácticas individuais e colectivas para a baliza adversária
ou para espaços vitais do terreno de jogo. Esta condição coloca os defesas adversários sob uma forte pressão
de carácter táctico e psicológico.
5. Executar circulações tácticas, que representam formas superiores de coordenação da participação cons-
ciente dos jogadores e das suas acções de carácter individual ou colectivo, com o intuito de elevar as taxas de
sucesso, especialmente, nas fases de criação de situações de finalização e de remate à baliza.
6. Simplificar o processo ofensivo através do recurso a um reduzido número de jogadores que intervêm dire-
ctamente sobre a bola, executando comportamentos técnico-tácticos pelo lado do risco, o que determina um
aumento da capacidade de iniciativa, improvisação e criatividade dos jogadores.
7. Aproveitar o desequilíbrio momentâneo de carácter mental (atitude), motor (comportamento) e de orga-
nização espacial da equipa que estava a atacar e tem de passar a defender.

Neste domínio podemos estabelecer três formas base através dos quais se expressam os diferentes
métodos de jogo ofensivo: o contra-ataque, o ataque rápido e o ataque posicional.

1.5.1. O contra-ataque
Analisaremos esta forma ofensiva de base tendo em consideração as suas características, as suas van-
tagens e desvantagens.
A. Esta forma de organização ofensiva é caracterizada pelos seguintes aspectos:
1. Rápida transição das atitudes e comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos, da fase defen-
siva para a fase ofensiva do jogo, logo após a recuperação da posse da bola.
086 Guia prático de exercícios de treino

2. Elevada velocidade de transição da zona do campo onde se efectuou a recuperação da posse da bola, às
zonas predominantes de finalização. Diminuindo assim, o tempo da fase de construção do processo ofen-
sivo.
3. Máxima (a mais elevada) cadência-ritmo de circulação da bola e dos jogadores.
4. Simplicidade do processo ofensivo, implicando um reduzido número de jogadores que intervêm direc-
tamente sobre a bola, executando comportamentos técnico-tácticos fundamentalmente pelo lado do risco.
5. Execução de respostas técnico-tácticas em condições favoráveis em termos de tempo e espaço, cuja
direcção tem como alvo a baliza adversária.
6. Impedir a equipa adversária, devido à velocidade deste método ofensivo, em dispor do tempo necessário
para poder evoluir para uma organização mais estável e coesa do seu método defensivo.
7. Obriga a aplicação de métodos defensivos, em que os jogadores se posicionam e se concentram muito
perto da sua grande área. Este facto provoca na equipa adversária, quando em processo ofensivo, uma falsa
sensação de domínio de jogo levando os jogadores, a "subir" no terreno para colmatar o desequilíbrio exis-
tente e a recrutar um maior número de jogadores para cumprirem o objectivo do ataque. Em consequên-
cia desta acção, criam-se grandes espaços de jogo, entre a última linha defensiva e a baliza, espaços esses
que deverão ser posteriormente utilizados para a aplicação eficaz do método ofensivo em questão.
B. Os aspectos favoráveis do contra-ataque são os seguintes:
1. Cria sucessivamente condições de instabilidade do processo defensivo adversário, devido à rápida tran-
sição de atitudes e comportamentos da fase defensiva para a fase ofensiva e à elevada velocidade de tran-
sição da zona de recuperação da posse da bola para as zonas predominantes de finalização. Procura-se
assim, não se proporcionar à equipa adversária, o tempo necessário para o estabelecimento de uma orga-
nização suficiente para contrapor às acções e interacções dos atacantes.
2. Transmite à equipa adversária, quando eficazmente utilizado, um elevado nível de insegurança. Assim,
decorrido algum tempo observa-se, que um só atacante "prende" a atenção de dois ou mais adversários que,
consequentemente não poderão integrar-se no processo ofensivo da sua equipa.
3. Provoca um elevado desgaste técnico-táctico, físico e principalmente psicológico aos adversários, cuja
função táctica é marcar os atacantes que relançam e suportam fundamentalmente este método ofensivo.
4. Aumenta as dificuldades de marcação dos atacantes, pois a maioria dos deslocamentos neste método
ofensivo, executam-se de trás para a frente da linha da bola, o que torna as situações mais delicadas em ter-
mos defensivos.
5. Eleva a capacidade de iniciativa, improvisação e criatividade dos jogadores, que devido à sua grande
liberdade de acção podem explorar amplamente as suas capacidades individuais.
6. Usufrui de condições favoráveis em termos de espaço. A criação e utilização eficaz destes espaços leva a
uma constante modificação do ângulo de ataque, consequentemente provoca uma constante instabilidade
da organização da defesa adversária.

Figura 22. O método ofensivo “contra-ataque”


A organização dinâmica do jogo de futebol 087

7. Dificulta ou mesmo impossibilita a equipa adversária a contra-atacar ou atacar rapidamente, logo após
a recuperação da posse da bola, visto haver um grande número de jogadores atrás da linha da bola, man-
tendo um rígido e eficaz equilíbrio defensivo.
C. Os aspectos desfavoráveis do contra-ataque são os seguintes:
1. Possibilidade de se observar constantes e rápidas perdas da posse da bola, devido à elevada velocidade
de execução técnico-táctica, assim uma falha individual pode comprometer de imediato a continuidade do
processo ofensivo e criar situações difíceis de resolução.
2. Elevado carácter individualizado das acções, pois em que quase todas as situações de jogo, os jogadores
encontram-se em igualdade ou inferioridade numérica. Daí a necessidade de os jogadores, para além de
serem rápidos, teram que evidenciar elevados níveis de eficácia em situações de 1x1, ou 1x2.
3. Diminui a coesão e aumenta a permeabilidade da organização ofensiva, devido a não haver uma mútua
cobertura nas situações de jogo. Impossibilitando assim, que se jogue num bloco homogéneo e enfraque-
cendo o espírito e solidariedade entre os jogadores.
4. Contribui para um rápido desgaste físico dos jogadores sobre quem recaem fundamentalmente a cons-
trução do ataque da equipa, obrigando-os a reagir constantemente às situações de jogo.
5. Necessidade de se utilizar métodos defensivos em que se verifica uma grande concentração de jogadores
perto da sua própria baliza, o que: a) determina uma maior perigosidade na recuperação da posse da bola
devido à distância a que esta se encontra da sua baliza e, b) quando a equipa sai para o contra-ataque, obser-
va-se um estiramento da equipa em termos de profundidade (parece que se encontra “partida”) diminuin-
do a coesão e homogeneidade da equipa.
6. Impõe um elevado espírito de sacrifício e paciência, pois sem estes atributos, dificilmente haverá efec-
tividade deste método ofensivo.

1.5.2. O ataque-rápido
A. As características fundamentais do ataque rápido são as mesmas que foram referidas para o contra-ataque,
a diferença estabelece-se fundamentalmente no facto do contra-ataque procurar assegurar as condições mais
favoráveis para preparar a fase de finalização, antes da defesa contrária se organizar de forma efectiva.
Enquanto que, o ataque rápido, terá de preparar a fase de finalização já com a equipa adversária organizada
eficientemente no seu método defensivo. Assim, observa-se os mesmos pressupostos referidos para o contra-
ataque, especialmente no que diz respeito, à rápida transição da zona de recuperação da posse da bola para as
zonas predominantes de finalização, com uma preparação mais demorada e laboriosa da etapa de criação e
da de finalização.
C. As vantagens e as desvantagens deste método ofensivo, são fundamentalmente as mesmas que foram referi-
das para o contra-ataque.

Figura 23. O método ofensivo “ataque rápido”


088 Guia prático de exercícios de treino

1.5.3. O ataque posicional


Analisaremos esta forma ofensiva de base tendo em consideração as suas características, as suas van-
tagens e desvantagens.
A. Esta forma de organização ofensiva é caracterizada pelos seguintes aspectos:
1. Eleva-se o tempo de elaboração da fase de construção do processo ofensivo, em que a maior ou menor
velocidade de transição da zona de recuperação da posse da bola às zonas predominantes de finalização, é
sempre consequência do nível de organização da equipa em processo ofensivo e da equipa em processo
defensivo.
2. Pressupõe-se a utilização de um grande número de jogadores e de acções técnico-tácticas para con-
cretizar os objectivos do ataque. Neste sentido, a equipa joga constantemente numa organização que evi-
dencia um bloco homogéneo e compacto, devido a permanentes acções de cobertura ofensiva, especial-
mente, aos jogadores que intervêm directamente sobre a bola.
3. Impõe-se que as atitudes e os comportamentos individuais e colectivos dos jogadores nas situações
momentâneas de jogo, são resolvidas pelo lado do seguro, fundamentalmente na de construção do proces-
so ofensivo. Sendo preferível acções "a mais", ou seja, que não resolvam eficazmente a situação de jogo, do
que acções que possam provocar a perda da bola extemporaneamente.
4. Criam-se constantemente as condições mais favoráveis, em termos de tempo, de espaço e número, para
uma simples, eficaz e segura resposta táctica, em função das situações de jogo.
5. Estabelece-se constantemente um equilíbrio dinâmico da organização do método ofensivo, devido à uti-
lização de acções técnico-tácticas de compensação e permutação, na procura permanente de uma ocupação
racional do espaço de jogo.
6. Possibilita-se a aplicação de métodos defensivos pressionantes que evidenciam a preocupação da recu-
peração da posse da bola em zonas longe da sua própria baliza e que diminuam a profundidade do proces-
so ofensivo adversário. Em suma, retirar parte da iniciativa ao adversário, quando este se encontra de posse
de bola.
B. Os aspectos favoráveis do ataque posicional são os seguintes:
1. Possibilita que a organização ofensiva reflicta continuamente um bloco homogéneo e compacto.
2. Diminui a possibilidade de se perder a posse da bola de uma forma extemporânea, ao se optar por
soluções tácticas pelo lado do seguro.
3. Estabelece que as falhas individuais possam ser prontamente corrigidas pelos companheiros, devido à
contínua execução de acções de cobertura ofensiva, construindo-se assim, um elevado grau de soli-
dariedade.
4. Proporciona uma melhor divisão dos esforços produzidos pela equipa, não existindo a sobrecarga de uns
jogadores em detrimento de outros.
5. Permite muitas situações de superioridade numérica no centro do jogo ofensivo, devido ao deslocamento
de um ou mais jogadores para um certo espaço vital de jogo.

Figura 24. O método ofensivo “ataque posicional”


A organização dinâmica do jogo de futebol 089

6. Pode determinar, devido ao tempo que normalmente este método ofensivo dura, que os adversários
entrem em crise de raciocínio táctico. Consequentemente, levá-los-á a julgar erradamente as situações de
jogo e a optar por soluções tácticas de elevado risco na tentativa de recuperar a posse da bola.
C. Os aspectos desfavoráveis do ataque posicional são os seguintes:
1. Possibilita, devido ao tempo necessário para a elaboração da fase de construção do ataque, que a equipa
adversária pode estabelecer uma organização defensiva consistente e homogénea em função da evolução do
processo ofensivo.
2. Implica por parte dos jogadores atacantes uma percepção e leitura constantes das situações de jogo e a
antecipar as acções técnico-tácticas dos defesas.
3. Requer a execução constante de acções que visam o reequilíbrio da organização da equipa (compen-
sações-permutações) durante a fase ofensiva.
4. Perspectiva a resolução táctica das situações de jogo pelo lado da segurança, daí que se observe que
muitas acções técnico-tácticas são direccionadas para o lado ou para trás. Em alguns casos, perde-se a pos-
sibilidade de se aproveitar uma excelente situação de jogo para isolar um companheiro e resolver rapida-
mente a acção ofensiva.
5. Estabelece a possibilidade, devido ao processo ofensivo desenrolar-se frequentemente em espaços reduzi-
dos, que a equipa adversária se concentre nesses espaços facilitando as acções de marcação e por inerência
dificulte a progressão do ataque.
6. Diminui a eficácia do método defensivo, se não se corrigir rapidamente os possíveis desequilíbrios na
organização da equipa, logo após a perda da posse da bola. este facto é significativo e compreensível, pois
devido a um tempo de posse de bola e a utilização de um número de jogadores mais alargado é normal que
a organização da equipa tenha a tendência para se desequilibrar defensivamente. Assim, logo após a perda
da posse da bola a equipa está mais exposta e vulnerável a acções ofensivas caracterizadas por uma eleva-
da velocidade de execução.

1.5.4. Aspectos fundamentais dos métodos ofensivos


Qualquer método de jogo ofensivo fundamenta-se em diferentes pressupostos que direccionam e
potencializam os seus objectivos. Neste sentido, iremos analisar cinco aspectos essenciais do problema: (1) o
equilíbrio defensivo, (2) a velocidade de transição, (3) o relançamento do processo ofensivo, (4) os deslocamen-
tos em largura e profundidade e, (5) a circulação táctica.

A. O equilíbrio ofensivo
O primeiro aspecto fundamental na organização de qualquer método ofensivo, é ter presente que a
fase de ataque começa antes do momento da recuperação da posse da bola. Com efeito, os jogadores que não
intervenham directamente nas acções que procuram concretizar essa recuperação, devem assumir atitudes e
comportamentos técnico-tácticos por forma a atingir os seguintes objectivos:
1. Preparar mentalmente a acção ofensiva, ocupan-
Foto 70. Equilíbrio ofensivo
do e explorando espaços vitais de jogo que possam
ser utilizados para o empreendimento do ataque.
2. Obrigar os seus adversários directos, a preocuparem-se mais na
Foto cedida pelo jornal O JOGO

defesa da sua própria baliza, que no ataque à baliza adversária e


mesmo na organização do processo ofensivo da sua equipa.
3. Forçar a equipa adversária a atacar em inferioridade numérica,
uma vez que o equilíbrio defensivo é construído, na maior parte das
situações, na base da superioridade numérica.
090 Guia prático de exercícios de treino

B. A velocidade de transição
Um dos pressupostos essenciais de qualquer método de jogo ofensivo é a velocidade de transição
(reconversão) de dois aspectos fundamentais:
1. Das atitudes e dos comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos subjacentes à fase defensiva
para a fase ofensiva, logo após a recuperação da posse da bola.
Neste sentido, ao consumar-se a recuperação da posse da bola,
toda a equipa deverá reajustar os seus comportamentos técnico-

Foto cedida pelo jornal O JOGO


tácticos individuais e colectivos na resposta a quatro questões
fundamentais: quem (todos os jogadores da equipa), quando no
momento imediato à recuperação da posse da bola), onde (em
qualquer espaço de jogo) e como (ocupando espaços apropria-
dos, estabelecer linhas de passe, utilizar mudanças rápidas de Foto 71. A velocidade de transição
ritmo e direcção e executando procedimentos técnico-tácticos
individuais e colectivos).
2. Na rápida transição do centro do jogo desde da zona de recuperação da posse da bola em direcção aos
espaços predominantes de finalização. Diminuindo nesta perspectiva, o tempo da fase de construção/elabo-
ração do processo ofensivo por forma a que a organização defensiva adversária não tenha o tempo necessário
para poder evoluir para uma organização mais estável e coesa do seu método defensivo.

C. O relançamento do processo ofensivo


O relançamento do processo ofensivo estabelece-se como um momento fundamental de qualquer
método atacante preconizado pela equipa. Os objectivos de um eficaz relançamento do processo ofensivo
radicam-se no/na:
1. Aproveitamento do momentâneo desequilíbrio em que se encontra uma equipa que atacava e que tem que
passar a defender. Este facto é, na maior parte das situações, a chave para um ataque com êxito.
2. Reacções imediatas de todos os jogadores através de movimentações escalonadas em largura e profundi-
dade, por forma a estabelecer linhas de passe (opções tácticas) e a diminuir a possibilidade de se realizar
acções de marcação.
3. Maximização das acções técnico-tácticas de relançamento deste processo, evitando-se a perca imediata da
posse da bola, que se traduziria, num curto intervalo de tempo, numa nova mudança de atitude dos jogadores
(defensiva-ofensiva-defensiva) e no desequilíbrio de toda a organização da equipa que esse momento eviden-
cia. Daqui se infere, a necessidade de assegurar a posse da bola para que a equipa encontre uma forma segu-
ra e eficaz, por um lado, mas tão rápida quanto possível a progressão desta até às zonas predominantes de
finalização, por outro.
4. Correcta leitura da situação de jogo, a qual consequentemente determina que forma de organização ofen-
siva irá suceder-se - contra-ataque, ataque rápido, ou ataque posicional, tendo em atenção que o relançamento
do processo é normalmente realizado em situações de grande pressão sobre o jogador de posse de bola.

D. Deslocamentos em largura e profundidade


Qualquer método ofensivo consubstancia-se por constantes deslocamentos por parte dos jogadores
sem a posse da bola. Estes deslocamentos são realizados em diferentes
ângulos e para diferentes espaços, nunca se perdendo o contacto visual
com a bola e tendo uma visão o mais ampla possível do terreno de jogo,
Foto cedida pelo jornal O JOGO

na procura de exploração dos espaços de jogo para a progressão da bola.


Os deslocamentos em largura e profundidade devem concretizar os
seguintes três objectivos:
1. Criar um maior espaço de jogo, estabelecendo-se, por um lado, a Foto 72. Jogar em largura e profundidade
possibilidade dos jogadores terem mais tempo para executar os seus
A organização dinâmica do jogo de futebol 091

comportamentos técnico-tácticos, e por outro, obrigar os defesas a terem frequentemente de optar entre mar-
car um espaço vital ou um adversário.
2. Proporcionar ao companheiro de posse de bola o máximo de alternativas de resolução técnico-táctica da
situação momentânea de jogo.
3. Dificultar o trabalho defensivo consubstanciado por uma deficiente marcação aos seus atacantes directos
e a impossibilidade de estabelecer um mútua cobertura defensiva.

E. A circulação táctica
O método de jogo ofensivo, qualquer que este seja, aplicado por uma equipa com um determinado
nível de organização, reflecte de forma mais ou menos explícita um conjunto diferenciado de circulações tácti-
cas, que representam, em última análise, formas superiores de coordenação das acções individuais e colectivas
de vários jogadores, que visam essencialmente assegurar a criação de
contextualidades de jogo propícias à concretização de situações de final-
ização e de culminação de todo um processo ofensivo com a acção téc-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

nico-táctica de remate. Estas etapas do processo ofensivo só poderão ter


uma elevada taxa de sucesso, através de uma coordenada orientação e
regulação preestabelecida com a utilização de meios de treino suficien-
temente exercitados (duração e intensidade) no plano da estandardiza-
Foto 73. Circulação táctica
ção, por um lado, e de variação situacional, por outro.
Nesta perspectiva, a circulação táctica consubstancia uma forma evoluída de regras (mais ou menos
complexas) da participação consciente de todos os elementos da equipa no jogo colectivo, por forma a ultra-
passar os obstáculos postos pela equipa adversária e a criar situações eminentes de golo. É neste quadro con-
ceptual, que os exercícios cujo objectivo é o aperfeiçoamento e desenvolvimento das circulações tácticas iram de
forma sistemática, coerente e eficaz rentabilizar as acções técnico-tácticas específicas dos jogadores com ou sem
a bola. O estudo e a aplicação das circulações tácticas procuram maximizar cada comportamento individu-al,
numa dinâmica e intenção colectiva fruto dos objectivos estratégico-tácticos da equipa em cada momento do
jogo. Assim, as circulações tácticas exprimem-se segundo quatro vertentes fundamentais: (1) uma circulação da
bola em determinadas direcções que derivam da execução de diferentes acções técnico-tácticas, (2) uma circu-
lação de jogadores com ou sem a posse da bola expressos por deslocamentos e desmarcações múltiplas e con-
stantes, (3) uma variação sequencial da velocidade de execução dos procedimentos técnico-tácticos individuais
e colectivos e, (4) uma articulação sectorial (defesas, médios e avançados) entre os vários jogadores que cons-
tituem a equipa na concretização do golo, mas que mantêm sempre um equilíbrio dinâmico em função da situ-
ação, no caso de se ter de reiniciar o processo ofensivo ou no máximo ter de novo recuperar-se a posse da bola.
Finalizando, qualquer circulação táctica deve caracterizar-se por um conjunto de atributos que na sua globali-
dade determinam a eficiência e a eficácia destas acções:
1. Agressividade. As circulações tácticas devem ter como um dos seus atributos intrínsecos a propensão para
atacar a baliza e, simultaneamente, diminuir a resistência psicológica e moral da equipa adversária. Estas
condições só são possíveis devido à criação e desenvolvimento de uma coordenação colectiva consciente e
dinâmica que procura impor sucessivamente o objectivo último do jogo de futebol - o golo. Nesta perspecti-
va, a agressividade das circulações tácticas devem conter basicamente três vertentes fundamentais de ordem
técnica e táctica:
A. Execução sucessiva e múltipla de deslocamentos ofensivos e desmarcações.
B. Orientação permanente de todos os comportamentos técnico-tácticos executados na direcção da baliza
adversária.
C. Ataque constante aos espaços vitais de jogo através da criação e exploração desses espaços através dos
mesmos ou diferentes jogadores pertencentes à equipa.
2. Reversibilidade. Este atributo ajusta-se às circulações tácticas no sentido destas estabelecerem mecanismos
automáticos por forma a responder adequadamente às seguintes três possibilidades:
092 Guia prático de exercícios de treino

A. Inversão do desenvolvimento do processo. Os jogadores quando percepcionam a possibilidade de


perder a posse da bola se insistirem na utilização de um determinado sector ou corredor de jogo, no qual
existe uma elevada pressão defensiva da equipa adversária, o desenvolvimento da circulação táctica terá de
conter mecanismos de inversão de carácter técnico-táctico e espacial por forma a mudar rapidamente o
ângulo de ataque.
B. Recomeço do processo. Os jogadores têm a noção que em qualquer momento do desenvolvimento da
circulação táctica esta poderá ser pontualmente interrompida devido ao incumprimento do regulamento
do jogo por parte dos defesas (infracções) ou pela execução ineficaz da acção técnico-táctica. Nestas cir-
cuns-tâncias, a circulação táctica não deverá recomeçar desde o seu início, mas sim, coordenando-se as
acções dos jogadores da equipa partir de um novo contexto situacional, que por si, poderá determinar uma
circulação táctica diferente.
C. Passagem controlada à fase defensiva do jogo. As circulações tácticas devem igualmente prever as situ-
ações de perda de posse de bola, criando-se mecanismos de suporte a uma passagem controlada à fase
defensiva do jogo. Neste sentido, é fundamental estabelecer-se as condições mais vantajosas para uma ráp-
ida recuperação da posse da bola ou no mínimo a impossibilidade dos atacantes adversários imprimirem
uma elevada velocidade de transição desde a zona de recuperação da posse da bola para as zonas propícias
à finalização.
3. Acessibilidade. Outro dos atributos fundamentais das circulações tácticas é estas apresentarem um nível de
acessibilidade elevado, a qual poderá ser perspectivado segundo diferentes vertentes:
A. Construção de um acesso mais fácil à concretização dos objectivos do processo ofensivo, isto é, o golo.
B. Estabelecimento de condições no qual a criação, inovação e improvisação são predicados fundamentais
do jogo ofensivo.
C. Possibilitar uma fácil aprendizagem consentânea com as capacidades momentâneas dos jogadores no
plano da compreensão e da prática.
D. Reunir as condições para que um maior número de jogadores possam estar em condições para
finalizarem o processo ofensivo com elevadas possibilidades de êxito.

1.6. Estabelecimento de um tempo e ritmo de jogo


A variação do ritmo de jogo é hoje em dia e no futuro, um dos aspectos mais importantes na modi-
ficação estrutural do futebol. A duração de cada acção ofensiva varia entre os 2 e os 150 segundos, tempo durante
o qual a atitude e os comportamentos técnico-tácticos dos jogadores da equipa de posse de bola, são de a movi-
mentar com precisão e o mais rapidamente possível (consoante a situação de jogo) para a baliza adversária e aí
culminar o processo ofensivo através de acções de finalização. Contudo, observa-se uma alternância frequente
entre períodos de tempo (das acções ofensivas) curtos e relativamente longos, com constantes mudanças de
ritmo (em função do resultado numérico e da situação de jogo). Esta alternância relaciona-se, por um lado, com
o grau de risco ou de segurança em que as equipas nesta fase do jogo executam as suas acções técnico-tácticas
com o objectivo de chegar ao golo, e por outro, pelas equipas em processo defensivo assumem uma atitude mais
ou menos determinante e agressiva na tentativa de conquistar a posse da bola.
As equipas tentam impor um tempo e um ritmo mais rápido que o seu adversário. Para o con-
seguirem, pressionam e obrigam o adversário a entrar em crise de tempo e de raciocínio táctico. As equipas que
estão submetidas a longos períodos de jogo sem terem recuperado a posse da bola tornam-se ansiosas e arriscam-
se por vezes em demasia na tentativa de recuperar a bola, não discernindo correctamente as situações de jogo.
Segundo Teodorescu (l98(4), o tempo e o ritmo de jogo têm uma importância maior no ataque que na defesa
(devido à iniciativa, determinada pela posse da bola) e, consiste no maior ou menor número de acções individ-
uais e colectivas, na velocidade de execução destas e na zona do terreno de jogo em que estas se desenvolvem.
Assim, podemos referir que no:
1.6.1. Tempo de jogo. Pretende-se que a equipa realize durante o tempo regulamentar de jogo - 90 minutos
- um número máximo de acções individuais e colectivas quer na fase ofensiva como na fase defensiva, sendo
A organização dinâmica do jogo de futebol 093

estas relativas à unidade de tempo (duração de um processo ofensivo ou defensivo). Por outras palavras, pre-
tende-se aumentar o número de vezes que a equipa tem a posse da bola, consequentemente aumentar o tempo
de posse de bola e simultaneamente diminuir o tempo em que a equipa se encontra em processo defensivo.
Logicamente estes pressupostos irão aumentar as oportunidades de concretização da equipa e reduzir o
número de oportunidades cedidas para o mesmo fim, ao adversário. É neste contexto que podemos dizer que
o "tempo de jogo" é o número de acções individuais e colectivas realizadas na unidade de tempo durante um
processo ofensivo ou defensivo.
1.6.2. Ritmo de jogo. "Pretende-se que a equipa faça variar a sequên-
cia das acções individuais e colectivas durante o processo ofensivo, de
modo que seja variável a ordem com que são executadas, o espaço
necessário para a sua execução, a velocidade de execução de cada
uma delas e a distribuição no tempo em que dura o ataque"
(Teodorescu, l984). A capacidade de utilização de um ritmo-variação
sequencial de acções individuais e colectivas, adaptado às situa-ções
momentâneas de jogo, determina o nível de maturidade técnico-táctica de

Foto cedida pelo jornal O JOGO


uma equipa. Neste contexto, o ritmo pelo qual se desenvolve o processo
ofensivo ou processo defensivo exprime-se pela velocidade (tempo), ori-
entação (espaço) e pela organização (acções técnico-tácticas, jogadores
envolvidos etc.). Muitas vezes numa partida entre duas equipas de valor Foto 74/75. O ritmo de jogo
idêntico, a vitória é decidida pela capacidade de uma das equipas impor o
seu ritmo de jogo.

Do exposto, podemos inferir que a velocidade (de execução e de raciocínio táctico) é o factor deter-
minante e o denominador comum da aplicação de um elevado ritmo de jogo. Todavia, é preciso ter presente três
aspectos fundamentais: (1) um ritmo elevado é consequência da variação ("pontos altos e baixos") da velocidade
de execução dos comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos, daí a importância de a equipa reagir
no seu conjunto reconhecendo quando, onde e como o aplicar de uma forma metódica e sistemática. Um maior
ou menor ritmo de jogo, ao transportar igualmente o factor surpresa, provocará desequilíbrios pontuais e tem-
porários, tanto nas unidades estruturais funcionais da equipa adversária, como inclusive, em toda a sua organi-
zação defensiva, (2) ao aumento da velocidade corresponde normalmente o aumento da probabilidade de exe-
cução ineficaz das acções técnico-tácticas que por si poderão incrementar o número de perdas de posse de bola,
neste contexto se infere, a necessidade de se estabelecer um ritmo, o mais conveniente possível, mantendo os
níveis de rendimento da equipa e, (3) o ritmo de jogo aplicado deverá determinar a impossibilidade do adver-
sário se adaptar eficientemente às constantes e sequenciais mudanças de cadência da velocidade de execução
motora /aumentando-se ou diminuindo-se) em momentos oportunos (criação de condições desfavoráveis aos
adversários).

1.7. Análises do processo ofensivo


Das análises realizadas tendo como amostra jogos dos campeonatos do Mundo e da Europa verifi-
camos que em média se observam 135 acções ofensivas por jogo, isto é, uma em cada 40 segundos de tempo de
jogo, 53% das quais verificam-se nas primeiras partes dos jogos.

1.7.1. Tempo de jogo e o tempo efectivo de jogo.


A análise do tempo de jogo e do tempo efectivo de jogo determinou os seguintes dados:
1. Em média a duração efectiva, ou seja, o tempo durante o qual a bola esteve jogável para qualquer das duas
equipas em confronto, foi de 48'39", que representa 54% do tempo definido pela Lei VII que determina que
o jogo comportará duas partes iguais de 45 minutos cada, isto é, um tempo total de 90 minutos.
2. O tempo efectivo de jogo é superior nas primeiras partes dos jogos com 26'27" que representa 58%, dimi-
094 Guia prático de exercícios de treino

nuindo em média cerca de 7% nas segundas partes, o que corresponde a 4'08".

1.7.2. A duração dos processos ofensivos.


A análise da duração dos processos ofensivos determinou os seguintes dados:
1. A duração média das acções ofensivas observadas foi de 22 segundos e de 18 para as 549 acções ofensivas
observadas e que culminaram em golo.
2. Cerca de 39% das acções ofensivas observadas têm uma duração entre os 1 e os 15 segundos, 37% entre os
16 e os 30 segundos e os restantes 34% referem-se a acções com mais de 30 segundos. A análise das acções
ofensivas que culminaram em golo apresentam menores percentagens, assim, para os mesmos períodos de
tempo observou-se respectivamente 50%, 37% e 13%. Daqui podemos concluir que as acções ofensivas efi-
cazes consubstanciam uma menor duração entre o momento de recuperação da posse da bola e o seu termi-
nus.
3. Da duração média das acções ofensivas, 51% do tempo é gasto dentro do meio-campo próprio e o restante
no meio-campo adversário. Valores totalmente diferentes são observados para as acções ofensivas que culmi-
naram em golo, isto é, verifica-se que o tempo gasto é percentualmente superior no meio-campo adversário
em 80% das situações, 4% o tempo é igual e somente em 16% o tempo foi maior no meio-campo próprio.
Logo para além das acções ofensivas eficazes determinarem uma menor duração, o tempo gasto é essencial-
mente no meio-campo do adversário, isto é, mais perto da baliza da equipa opositora.
4. Outro aspecto a sublinhar é o grande equilíbrio resultante da relação entre o total dos tempos de posse de
bola de cada jogador que interveio sobre esta e o valor da sua diferença com a duração do processo ofensivo.
Com efeito, verifica-se que em 30% das situações analisadas, os totais dos tempos de posse de bola dos
jogadores, foram maiores que os valores da sua diferença com a duração do processo ofensivo, exprimindo
assim, um carácter mais individual do ataque, enquanto em 31% das situações os valores da sua diferença
foram menores dando-lhe um carácter mais colectivo e em 39% das situações o tempo individual e colectivo
foram iguais.

1.7.3. Número e duração das interrupções de jogo.


Em conformidade com os dados anteriormente referidos, verifica-se que cerca de 41'21" (46%) são
gastos nas inúmeras paragens do jogo, que contêm em si um leque extremamente amplo de situações, tais como:
assistência a jogadores lesionados, substituições, paragens para a reposição da bola em jogo, etc. O tempo per-
dido nas situações mencionadas, não são descontadas pelo árbitro, excepto em alguns casos pontuais. Ao anal-
isarmos as interrupções de jogo verificamos os seguintes factos:
1. Observam-se em média 120 interrupções, o que significa uma interrupção em cada 45 segundos de jogo.
2. Cada interrupção gasta em média 21 segundos de tempo de jogo e a sua amplitude varia entre os 2 e os 148
segundos de paragem. Neste sentido, observam-se: a) tempos de paragem relativamente curtos que derivam
da procura de aproveitamento da diminuição momentânea da concentração da equipa adversária, e, b) tem-
pos de paragem relativamente longos, que consubstanciam a necessidade da equipa em processo ofensivo se
concentrar em certos espaços vitais para uma finalização imediata e eficaz ou de situações que visam clara-
mente a perda de tempo.
3. Aos jogadores pertencentes ao sector defensivo correspondem 42% da responsabilidade na interrupção do
jogo, seguido dos jogadores pertencentes ao sector médio com 36%, dos jogadores pertencentes ao sector
avançado com 21% e por último o guarda-redes com 1%.
4. 42% das interrupções de jogo originam pontapés livres, 28% lançamentos da linha lateral, 18% pontapés de
baliza, 11% pontapés de canto e 1% pontapés de saída. Neste sentido, em média por jogo observaram-se 50
pontapés livres, 33 lançamentos da linha lateral, 22 pontapés de baliza, 13 pontapés de canto e 2 pontapés de
saída.
5. 38% das acções ofensivas foram interrompidas durante o seu desenvolvimento.
A organização dinâmica do jogo de futebol 095

1.7.4. Intervenções dos jogadores sobre a bola durante os processos ofensivos.


A análise das intervenções dos jogadores sobre a bola durante os processos ofensivos determinou os seguintes
dados:
1. Da análise de 674 acções ofensivas que constituíram a nossa amostra, verificou-se em média 7 intervenções
directas sobre a bola. Por outro lado, das 549 acções ofensivas que culminaram em golo a média foi de 5. Com
efeito, as acções ofensivas com 3 jogadores representam (13%), com 6, 4 e 2 (10%) são as que mais se obser-
vam no jogo de futebol. De salientar igualmente que as acções ofensivas com mais de 12 jogadores represen-
tam 10% das observações efectuadas. As acções ofensivas eficazes apresentam os seguintes valores percentu-
ais: com 5 (17%), com 4 e 6 (16%), com 3 (13%), com 7 (12%) e com mais de 8 (18%). Os dados apresenta-
dos demonstram uma tendência para uma diminuição do número de intervenções sobre a bola durante os
processos ofensivos que culminaram em golo.
2. Ao analisarmos o número de jogadores que participaram no processo ofensivo que culminou em golo, veri-
ficamos os seguintes valores percentuais: com 5 (24%), com 6 (19%), com 4 (16%), com 3 (14%), com 7 (12%),
com 2 (8%) e com mais de 7 (7%). Estes dados demonstram que em cerca de 40% das acções ofensivas efi-
cazes não foram mobilizados mais de 4 jogadores, ou seja, um pouco mais de 1/3 do total da equipa, para
intervirem directamente sobre a bola com vista à concretização do ataque, 43% intervieram entre 5 e 6
jogadores.

1.7.5. As etapas do processo ofensivo.


A análise das etapas do processo ofensivo determinou as seguintes conclusões:
1. Em 75% das acções ofensivas só se observou a fase de construção, isto é, comportamentos técnico-tácticos
que visam a progressão da bola em direcção à baliza adversária:
A. 15% a acção ofensiva desenvolveu-se e terminou sem nunca ter entrado no sector ofensivo (4/4).
B. 42% desenvolveu-se e terminou sem nunca ter entrado na zona predominante de finalização.
C. 18% a acção ofensiva entrou na zona predominante de finalização mas manteve-se na fase de cons-
trução.
2. Em 13% das acções ofensivas se observou a fase de criação de situações de finalização, sendo objectivadas
por comportamentos técnico-tácticos que visam a criação dos pressupostos fundamentais para a concretiza-
ção imediata do golo:
A. 9% criou-se uma situação de finalização.
B. 4% criou-se uma situação de finalização com elevadas possibilidades de se concretizar o golo.
3. Somente em 12% das acções ofensivas se observou a fase finalização, consubstanciada por comportamen-
tos técnico-tácticos de remate:
A. 7% a acção ofensiva teve a fase de finalização.
B. 4% teve a fase de finalização com elevadas possibilidades de concretizar o golo.
C. 1% concretizou o golo.
4. Em 8% das acções ofensivas observou-se mais que uma fase de criação.
5. Em 2% das acções ofensivas observou-se mais que uma fase de finalização.

1.7.6. A perda da posse da bola


A análise da perda da posse da bola determinou as seguintes conclusões:
1. A perda da posse da bola observa-se fundamentalmente na zona 11 (42%), no sector ofensivo (71%) e no
corredor central do terreno de jogo (52%).São os jogadores pertencentes ao sector médio (29%) que mais per-
dem a posse da bola neste sector do terreno de jogo, seguido dos avançados (26%) e dos defesas (15%).
2. No sector do meio-campo ofensivo o valor percentual para as perdas de posse de bola são de 20%. São os
jogadores pertencentes ao sector médio (8%) que mais perdem a posse da bola neste sector do terreno de jogo,
seguido dos avançados (7%) e dos defesas (3%).
3. No sector defensivo como no sector do meio-campo defensivo verificam-se baixas percentagens de perdas
096 Guia prático de exercícios de treino

de posse de bola (1,7 e 7%, respectivamente). São os jogadores pertencentes ao sector médio (4%) que mais
perdem a posse da bola nestes sectores do terreno de jogo, seguido dos defesas (3%) e dos avançados (2%).
3. A etapa ofensiva em que se encontrava a equipa que perdeu a posse da bola determinou os seguintes valo-
res percentuais: 70% em construção, 13% em criação e 17% em finalização.
4. A atitude táctica dos jogadores no momento da perda da posse da bola podemos constatar os seguintes
aspectos: (1) 10% das situações observadas os jogadores assumiram comportamentos técnico-tácticos que
procuraram consubstanciar a sua manutenção, (2) em 30% das situações visavam a progressão da bola em
direcção à baliza adversária, (3) em 33% a criação de situações de finalização e, (4) em 15% a finalização (os
restantes 12% por outras causas).
5. Os comportamentos técnico-tácticos individuais ofensivos que consubstanciaram a perda da posse da bola
foram: (1) em 4% das situações os deslocamentos ofensivos, (2) 10% as recepções da bola, (3) 5% as con-
duções, (4) 52% os passes (11% - foram cruzamentos e 1% lançamentos da linha lateral), (5) 10% os
dribles/fintas, vi) 1% as simulações, vii) 14% os remates e, viii) 5% os fora-de-jogo.

1.7.7. Os métodos de jogo


Da análise dos métodos de jogo ofensivo verificamos os seguintes dados:
1. O método ofensivo mais utilizado pelas equipas durante a fase de ataque foi o ataque rápido (49%), segui-
do do ataque posicional (45%) e do contra-ataque (6%). Este facto evidencia claramente, a tentativa constante
e premente de se transportar rapidamente o centro do jogo para espaços próximos da baliza adversária (55%).
2. Em 22% das acções ofensivas verificou-se mudanças de ritmo no desenvolvimento do seu processo. Em 10%
dos quais se observou a passagem de ataque posicional para ataque rápido, 10% de ataque rápido para ataque
posicional e 2% de contra-ataque para ataque rápido. Os dados apresentados determinam que em 12% das
acções ofensivas as equipas tiveram que diminuir o ritmo de execução dos seus comportamentos técnico-tác-
ticos individuais e colectivos devido à reorganização eficaz das equipas em fase defensiva.
Da análise de 549 métodos de jogo ofensivo que culminaram em golo, verificamos os seguintes dados:
1. 42% das acções ofensivas que culminaram em golo, foram efectuadas a partir do ataque rápido, seguido em
21% dos contra-ataques e ataques posicionais. Mais uma vez os presentes dados demonstram a importância
dada pelas equipas em transportar rapidamente o centro de jogo ofensivo para espaços próximos da bali-za
adversária (63%).
2. Em 16% das acções ofensivas eficientes verificaram-se mudanças de ritmo no desenvolvimento do seu
processo. 1% passou de contra-ataque para ataque posicional, 8% de ataque rápido para posicional e 7% de
posicional para rápido.
3. Quanto mais rápida for a organização ofensiva, menor é a média do número de toques na bola por inter-
venção. Com efeito, 25% dos contra-ataques observados a média foi de 1 toque na bola por intervenção,
enquanto para os ataques rápidos foi de 18% e os ataques posicionais de 1%. Para uma média de 2 toques o
contra-ataque obteve 48%, o ataque rápido 58% e o ataque posicional 71%. Para uma média de 3 toques por
intervenção, o contra-ataque obteve 17%, o ataque rápido, 15% e o ataque posicional 26%.
4. No que se refere ao tempo de posse de bola por intervenção, as conclusões finais são exactamente as mes-
mas que foram referidas para a média do número de toques na bola, isto é, quanto mais rápido for a organi-
zação ofensiva menor é a média do tempo de posse de bola por intervenção.
5. Quanto menor for a velocidade de organização ofensiva, maior é a média do número de apoios estabeleci-
dos aos companheiros que intervêm momentaneamente sobre a bola. Com efeito, 54% dos ataques posicionais
tiveram em média 1 apoio ao companheiro de posse e 46% 2 apoios. Em relação aos ataques rápidos 5% destes
não tiveram em média qualquer tipo de apoio, 66% teve 1 apoio e 29% teve 2 apoios. Por último, 20% dos
contra-ataques não tiveram em média qualquer tipo de apoio, 60% teve 1 apoio e 18% 2 apoios.
A organização dinâmica do jogo de futebol 097

Os métodos de jogo defensivo

Antes de analisarmos as diferentes formas básicas de manifestação dos métodos de jogo defensivo
interessa analisar e desenvolver a fase de jogo a que este está adstrito.

2. O processo defensivo
"O aspecto crucial do jogo é, o facto de se ter ou não a posse da bola. A equipa que tem a posse da
bola ataca, quando não tem a posse da bola defende. Neste sentido, seja qual for a posição do jogador dentro da
equipa este será sempre um potencial atacante ou defesa quando a sua equipa tem ou não a posse da bola"
(Hughes, 1990).

2.1. Conceito de processo defensivo


O processo defensivo representa uma das duas fase fundamentais do jogo de futebol, na qual uma
equipa luta para entrar na posse da bola, com vista à realização de acções ofensivas, sem cometer infracções e
sem permitir que a equipa adversária obtenha golo" (Teodorescu, 1984). A fase defensiva consubstancia-se na
base de acções de marcação, que em última análise, traduzem a presença física do defesa sobre o atacante, visan-
do a tomada de todas as disposições para os neutralizar, em qualquer
momento do jogo, empregando os meios lícitos à sua disposição (incluin-
do naturalmente o contacto físico). Nestas circunstâncias, as acções de mar-
cação que exprimem a oposição do conjunto dos defesas através de com- Foto cedida pelo jornal O JOGO

portamentos técnico-tácticos individuais e colectivos, visam essencialmente


a anulação e cobertura dos adversários e espaços livres, concretizando o
cumprimento dos objectivos fundamentais da defesa, nomeadamente, a
Foto 76. O processo defensivo - a mar-
recuperação da posse da bola (retirar a iniciativa ao adversário) e a defesa cação
da baliza (impedir a finalização).

2.2. Objectivos do processo defensivo


O objectivo básico da defesa é de restringir o tempo e o espaço disponível dos atacantes, mantendo-
os sob pressão e negando-lhes a possibilidade de poder progredir no terreno de jogo. Todos os jogadores inde-
pendentemente da sua posição deverão pressionar o mais rapidamente possível o(s) adversário(s). Mantendo a
concentração no jogo e a pressão sobre os atacantes, os defesas estabelecem assim, o primeiro passo para a recu-
peração da posse da bola. Os objectivos fundamentais do processo defensivo são: a recuperação da posse da bola
e a defesa da baliza.

2.2.1. A recuperação da posse da bola


Este objectivo da fase defensiva do jogo consubstancia-se através de:
1. Uma atitude fundamental: não sendo possível atacar a baliza adversária, uma vez que a equipa não se
encontra de posse de bola, dever-se-á "atacar a bola" de modo a recuperá-la ou a retardar o processo ofensi-
vo adversário. Neste sentido, observa-se um de dois tipos de atitude
no que concerne à recuperação da posse da bola:
A. Os jogadores da equipa em fase defensiva desenvolvem uma série
Foto cedida pelo Sport Lisboa e Benfica

de comportamentos técnico-tácticos fundamentados numa forte ati-


tude de conquista da bola (atitude característica das equipas de altos
rendimentos);
B. Os jogadores da equipa em fase defensiva limitam-se a esperar que
Foto 77. A recuperação da posse da bola
a equipa adversária perca a posse da bola, devido essencialmente a
erros imputados a ela própria.
098 Guia prático de exercícios de treino

2. Comportamentos técnico-tácticos: caracterizados pela procura de desapossar, o mais rapidamente possív-


el, os adversários na sua posse. Neste sentido, a tentativa da defesa em retirar a iniciativa ao ataque adversário
pode ser consequência:
A. Dos comportamentos técnico-tácticos defensivos (esta é a causa mais vezes observada nos confrontos
em que intervêm equipas de altos rendimentos).
B. Erros na protecção e conservação da bola e infracções às leis do jogo por parte dos atacantes, devido
essencialmente à insuficiente preparação técnico-táctica da equipa.

2.2.2. A defesa da baliza


A impossibilidade de recuperar de imediato a posse da bola e de estancar (parar) a progressão do
processo ofensivo adversário, deriva de um de dois factores:
1. À capacidade da equipa ultrapassar os diferentes e variados
problemas (obstáculos) que lhe vão sendo sucessivamente coloca-

Foto cedida pelo jornal O JOGO


dos.
2. À incapacidade organizativa momentânea da equipa em fazer
face aos diferentes e variados problemas postos pelas situações de
jogo criados pelo processo ofensivo. Foto 78. A protecção da baliza

A equipa em fase defensiva e em função dos aspectos acima referidos, deverá dar imediatamente pri-
oridade à defesa da sua própria baliza. O desrespeito por este objectivo, poderá comprometer o resultado do
jogo, ou seja, a vitória. Por outras palavras, os erros cometidos no processo defensivo saldam-se habitualmente
pelo sofrer de golos, não consolidando assim os sucessos do seu próprio ataque. O cumprimento deste objecti-
vo, por parte dos jogadores é facilmente observável nas zonas predominantes de finalização (20 a 25 metros da
baliza), verificando-se assim, uma maior concentração de jogadores para uma melhor cobertura da baliza. Por
último, e tal como referimos para o processo ofensivo, o respeito por estes objectivos pressupõe que a organi-
zação do dispositivo defensivo determine a divisão das tarefas e funções individuais, a sua organização por sec-
tores, as regras específicas de colaboração (entreajuda) entre os jogadores e entre os sectores da equipa.

2.3. Vantagens - desvantagens do processo defensivo


As vantagens do processo defensivo situam-se: (1) na maior simplicidade das acções técnico-tácticas
sem bola, (2) pelo grande número de processos que permitem a recuperação da posse da bola e, (3) por uma
colocação concentrada dos jogadores num certo espaço de jogo, estabelecendo uma melhor entreajuda dos
jogadores. Em contrapartida a surpresa criada pelas acções ofensivas e o risco de elas poderem terminar pela
concretização de golos, reflectem a desvantagem do processo defensivo.

2.4. Etapas do processo defensivo


O processo defensivo começa antes da perda de posse da bola. Os jogadores que não intervenham
directamente no processo ofensivo, devem preparar mentalmente a acção defensiva: (1) na procura de espaços
os quais a equipa adversária possa utilizar para o empreendimento das suas acções ofensivas e, (2) de adversários
que possam dar continuidade ao processo ofensivo da sua equipa. Ao consumar-se a perda da posse da bola
toda a equipa deverá passar por uma mudança de atitude ofensiva para defensiva reajustando-se os comporta-
mentos técnico-tácticos individuais e colectivos na resposta a quatro questões fundamentais: quem (todos os
jogadores da equipa), quando (no momento imediato à perda da posse da bola), onde ( em qualquer zona do
campo) e como (ocupando posições por forma a vigiar espaços vitais de jogo e marcar atacantes com ou sem a
posse da bola). Consideramos fundamentalmente três etapas no processo defensivo: o equilíbrio defensivo, a
recuperação defensiva e a defesa propriamente dita.
A organização dinâmica do jogo de futebol 099

2.4.1. O equilíbrio defensivo


O equilíbrio defensivo, que representa uma das fases fundamentais do processo defensivo, pode ser
concretizado interdependentemente em dois momentos diferentes e sucessivos:
1. No desenrolar do processo ofensivo da própria equipa, através de medidas preventivas asseguradas por um
ou mais jogadores (especializados), que se colocam e agem na retaguarda dos adversários (em fase defensiva)
que não estão directamente implicados nas acções que determinam objectivamente a recuperação da posse da
bola.
2. Após a perda da posse da bola, através da rápida reacção de todos os jogadores da equipa que se deslo-
cam: (1)em direcção à bola e ao jogador que a possui e, (2) em direcção aos espaços vitais de jogo e, (3) aos
adversários que possam dar de imediato uma continuidade efectiva do processo ofensivo da sua equipa.

As equipas normalmente perdem a sua concentração no jogo: (1) quando os jogadores estão fatiga-
dos, (2) nas situações de bola parada (esquemas tácticos) e, (3) nos momentos, logo após a perda da posse da
bola, devido às movimentações dos jogadores da equipa que recuperarem a bola. Neste caso, existe a dificuldade
de uma vigilância e marcação eficazes desses adversários directos. Portanto, o tempo ganho pela acção de pressão
(após a perda da posse da bola) será utilizado para a recuperação e organização da defesa, e da concentração
(atenção) dos jogadores no jogo, procurando rapidamente os espaços e
os jogadores adversários mais perigosos. Nesta linha de raciocínio, seja
qual for a zona do terreno de jogo em que se verificou a perda da posse
da bola, a primeira fase de organização do processo defensivo deve ser Foto cedida pelo jornal O JOGO
consubstanciado por uma rápida reacção da equipa através de desloca-
mentos em direcção ao adversário de posse da bola e dos espaços vitais
de jogo com os seguintes objectivos:
A. Entrar de novo na sua posse por forma a reorganizar o ataque. Foto 79. O equilíbrio defensivo
Recuperar rapidamente a posse da bola: logo após a sua perda é um
dos aspectos de jogo que melhor traduzem o ganhar de confiança de uma equipa, e simultaneamente, se pres-
siona no plano psicológico a equipa adversária. Se juntarmos a este facto a possibilidade de essa recupera-ção
imediata da bola proporcionar condições vantajosas em termos de criação de situação de finalização ou
mesmo de finalização, maior será o seu impacto de carácter positivo para uma das equipas e negativo para a
outra. Nestas circunstâncias, um dos aspectos essenciais da fase defensiva do jogo é não perder de vista, que
pequenos pormenores podem determinar a eminência de grandes momentos.
B. Impedir o relançamento do processo ofensivo adversário e, em especial, que este renuncie ao contra-
ataque. Na mesma linha de pensamento lógico, do que foi referido no ponto anterior, é sempre importante
“refrear” as acções técnico-tácticas individuais e colectivas dos adversários, logo após a recuperação da posse
da bola no sentido de lhes diminuir o leque de opções possíveis de relançamento do seu processo ofensivo.
Neste domínio, referimo-nos particularmente, aquelas soluções que podem originar uma aceleração positiva
de jogo em direcção à baliza adversária. Com efeito, ao reduzir-se o leque de opções tácticas da equipa pe-
rante o contexto situacional de jogo conduz-se os adversários a concretizar acções que não objectivam mais
que a manutenção da posse da bola e a concretizar acções previsíveis do ponto de vista táctico.
C. Ganhar o tempo suficiente para que todos os jogadores se possam enquadrar no dispositivo defensivo da
equipa. Não havendo a possibilidade de se recuperar de imediato a posse da bola e diminuindo-se o leque de
opções tácticas no momento do relançamento do processo ofensivo, é necessário temporizar as acções da
equipa adversária, por forma a que todos os jogadores se reposicionem (mental e fisicamente) na organização
defensiva em função da situação momentânea de jogo.

2.4.2. A recuperação defensiva


A recuperação defensiva começa nos momentos logo após a impossibilidade de recuperar imediata-
mente a posse da bola ou de evitar a progressão do ataque do adversário na sua fase inicial, através das acções
100 Guia prático de exercícios de treino

que consubstanciam a fase de equilíbrio defensivo e dura até à ocupação do dispositivo defensivo previamente
preconizado pela equipa. Nestas circunstâncias, importa relevar os seguintes aspectos fundamentais que derivam
da etapa de recuperação defensiva:
1. Marcar, durante o deslocamento dos defesas em recuperação defensiva os atacantes que se desmarcam ou
se posicionam no mesmo espaço de jogo em especial os que se direccionam relativamente à baliza adversária.
Os deslocamentos de recuperação defensiva são considerados verdadeiros exames de maturidade táctica.
2. Interpor-se rapidamente entre o atacante (com ou
sem a posse da bola) e a própria baliza. Com efeito, entre
todas as questões que o defesa deverá equacionar e
responder adequadamente, este é o sentido táctico domi-
nante, a partir do qual, todos os outros comportamentos
técnico-tácticos são executados.
3. Obstaculizar constantemente a
acção dos atacantes pondo-lhes pro-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

blemas que retardam a sua progressão


em relação à baliza adversária e possi-
bilitem, ao mesmo tempo, situações de
perda de posse de bola. Importa igual-
mente realçar, que o recuo defensivo
deve ser resultado da capacidade dos atacantes ultrapassarem
os obstáculos colocados pelos defesas e não pelo recuo puro e
simples para posições defensivas preestabelecidas, indepen-
dentemente das capacidades técnico-tácticas dos adversários.
4. Entreajuda estabelecida e coordenada pelos
Foto 80/81/82/83. A recuperação defensiva
vários defesas, por forma que cada jogador sinta a
importância de mudar de posição e de missão táctica mas nunca de responsabilidade e solidariedade. Como
se compreende, um jogador por melhor que sejam as suas capacidades técnico-tácticas, agindo isoladamente,
somente em casos raros poderá fazer frente a um ataque colectivo.

2.4.3. A defesa propriamente dita


Esta fase constitui a fase principal da defesa. Pressupõe a ocupação, por parte de todos os jogadores,
do dispositivo defensivo previamente preconizado pela equipa. Qualquer método defensivo, visa com a sua orga-
nização, coordenação e colaboração não apenas a recuperação da posse da bola, como também, proteger a bali-
za contra as acções agressivas desenvolvidas pelos adversários. Ultrapassada a etapa do equilíbrio e da recuper-
ação defensiva, a etapa subjacente denominada de defesa propriamente dita irá completar e complementar os
pressupostos de base ao estabelecimento eficaz de uma organização defensiva. Neste domínio, importa valo-rizar
dois aspectos fundamentais que caracterizam as defesas modernas:
1. Tirar parte da iniciativa ao processo ofensivo. Defender não significa somente proteger a baliza, nem a
colocação deste ou daquele jogador neste ou naquele espaço dentro do método defensivo preconizado pela
equipa. Neste perspectiva, um dos aspectos fundamentais de qualquer método de jogo defensivo das equipas
de rendimentos superiores, é a importância e a necessidade de se assegurar, a todo o instante do jogo, parte
da iniciativa do ataque. Este aspecto poderá ser consubstanciado pelos seguintes factos:
A. No deslocamento coordenado e homogéneo de todos os jogadores dentro dos seus sectores da equipa,
em direcção ao centro do jogo: (1) procurando reduzir o espaço onde os seus adversários podem desen-
volver o seu processo ofensivo, (2) tentar recuperar a bola em espaços longe da sua própria baliza e, (3)
procurar beneficiar da lei do fora-de-jogo.

B. Na variação sequencial da execução dos comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos de


A organização dinâmica do jogo de futebol 101

marcação sobre os adversários, por forma que a ordem, o espaço e a velocidade sejam imprevisíveis aos
olhos dos adversários.
C. No aumento da pressão e agressividade na marcação sobre o atacante de posse de bola e dos compan-
heiros que possam dar continuidade ao processo ofensivo de forma eficiente, isto é, obrigá-los a terem
respostas tácticas cujas direcções sejam para o lado ou para trás (em direcção à sua própria baliza).
D. Na colocação em profundidade de 1 ou 2 jogadores que não se empenhem directamente na luta pela
recuperação da posse da bola, mas que assumam atitudes e comportamentos técnico-tácticos de preparação
do ataque da sua equipa logo que esta recupere a posse da bola. Isto determina consequentemente que 2
ou mais jogadores da equipa de posse de bola não se possam incorporar no processo ofensivo, preocupan-
do-se, nestas circunstâncias, mais com a defesa da sua própria baliza, do que com o ataque à baliza adver-
sária.
E. Na condução dos adversários com e sem a posse da bola para
espaços menos perigosos ou onde beneficiem (através da acção

Foto cedida pelo jornal O JOGO


conjunta de vários companheiros) de situações de superioridade
numérica, diminuindo assim: (1) os ângulos de passe ou de remate,
(2) o número de jogadores a quem a bola possa ser passada eficaz-
mente e, (3) tornar o jogo ofensivo previsivel. Foto 84. A defesa propriamente dita
2. Ter um carácter construtivo. A conceptualização de um método
de jogo defensivo não pode caracterizar-se somente por um carácter destrutivo do processo ofensivo adver-
sário. Este deverá exprimir concomitantemente a base fundamental pela qual se deve construir o seu proces-
so ofensivo logo após a recuperação da posse da bola. Nesta perspectiva, as probabilidades da acção ofensiva
culminar em finalização, dependem em larga medida das circunstâncias em que ocorreu a recuperação da
posse da bola. O quadro referencial que condiciona este facto, baseia-se fundamentalmente na zona (espaço
de jogo/corredor de jogo), no estado de evolução de organização tanto da defesa como do ataque e na forma,
ou seja, na acção técnico-táctica individual defensiva de recuperação da posse da bola. Partindo da análise
deste facto é fundamental construir-se situações de treino que potenciem uma recuperação “modelar” da
posse da bola, por forma a que os seus efeitos de carácter positivo se possam repercutir durante a fase ofen-
siva que daí resulta. "A defesa não deve limitar-se à réplica a dar ao adversário, pelo contrário, deverá ripostar
sempre por forma a obrigar o ataque a preocupar-se igualmente com a protecção da sua própria baliza. É disto
que consta o carácter agressivo das defesas modernas" (Teodurescu, 1984).

Figura 25. Representação gráfica das diferentes fases e as suas interrelações, do processo ofensivo e defensivo (I - ciclo irrever-
sível, R - ciclo reversível)
2.5. Os
102 Guia prático de exercícios de treino

métodos de jogo defensivo


Visam uma coordenação eficaz das acções dos jogadores que constituem a equipa, por forma a criar
as condições mais favoráveis para concretizar os objectivos da defesa, isto é, a recuperação da posse da bola e
protecção da baliza. Para atingir estes objectivos, os métodos de jogo ofensivo procuram dentro de um largo
número de aspectos, concretizar os seguintes:
1. Estabelecer uma contínua estabilidade dinâmica da organização do método de jogo defensivo.
2. Desenvolver uma iniciativa constante perante as diferentes contextualidades do jogo, por forma a atacar a
bola com o intuito de a recuperar ou a retardar inexoravelmente o processo ofensivo adversário diminuindo
as suas possibilidades de êxito.
3. Recorrer continuamente a procedimentos técnico-tácticos que encaminhem os atacantes, com ou sem a
posse da bola, para posições ou espaços de jogo menos perigosos e que possibilitem simultaneamente uma
recuperação da bola com elevados níveis de êxito. Todavia, caso não seja possível a recuperação da posse da
bola é importante que os atacantes não disponham de possibilidades para culminar o ataque com êxito.
4. Empreender uma recuperação defensiva que mantenha uma forte pressão sobre os atacantes de posse da
bola ou que possam dar continuidade ao processo ofensivo adversário.
5. Manter uma elevada concentração defensiva nas zonas onde está a bola ou para onde esta poderá progredir

Neste domínio podemos estabelecer três formas base através dos quais se expressam os diferentes
métodos de jogo defensivo: o método individual, o método à zona, o método misto e a zona pressionante que
decorre da evolução do método à zona.

2.5.1. O método individual


Analisaremos esta forma defensiva de base tendo em consideração as suas características, as suas van-
tagens e desvantagens.
A. Esta forma de organização defensiva é caracterizada pelos seguintes aspectos:
1. Aplica, em todos os momentos do jogo, a lei do um contra um.
2. Estabelece que cada atacante é marcado por um defesa que o importuna sem cessar, evitando que este
receba a bola sob quaisquer circunstâncias (respeito pelo princípio da contenção).
3. Fundamenta situações de igualdade numérica a todo o momento, evidenciando uma maior agressivi-
dade quando a acção se aproxima da baliza.
4. Desenvolve a responsabilização individual ao mais alto grau. Assim, em qualquer momento podemos
observar qual ou quais os jogadores que foram fundamentais na resolução ou não da situação de jogo.
5. Utiliza primordialmente os fundamentos individuais defensivos inerentes ao princípio da contenção,
senão não há eficácia.
6. Necessita de uma elevada capacidade física de todos os jogadores por forma a reagirem constantemente
aos deslocamentos dos seus adversários mantendo-os sob pressão.

Figura 26. O método defensivo “individual”


A organização dinâmica do jogo de futebol 103

7. Recruta elevados níveis de atenção selectiva, especialmente sobre o atacante que o defesa deverá marcar
de modo constante.
8. Evidencia a necessidade de elevados níveis de sacrifício e abnegação, pois sem estes atributos este méto-
do defensivo não tem eficácia.
B. Os aspectos favoráveis do método individual são os seguintes:
1. Possibilidade de se anular um jogador de grande capacidade técnico-táctica por um jogador de menores
recursos, compensados por outras características, tais como a perseverância e a vontade.
2. Estabelece missões facilmente compreendidas no plano táctico, por parte dos jogadores, pois cada um
pode concentrar a sua atenção e esforço num só adversário, numa só missão.
3. Transmite, quando é eficazmente aplicado, uma autoconfiança de extrema importância no desenrolar
do jogo.
4. Provoca um desgaste técnico-táctico, físico e principalmente psicológico aos jogadores sujeitos a este tipo
de marcação.
5. Reduz a capacidade de iniciativa do adversários que está sob influência deste tipo de marcação.
6. Consegue-se sempre um certo equilíbrio numérico em qualquer situação momentânea de jogo.
7. Potencializa-se a sua eficácia quando utilizado. Logo após a equipa ter conseguido o golo, aumenta-se
assim, o carácter perturbador da situação.
C. Os aspectos desfavoráveis do método individual são os seguintes:
1. Contextualiza situações muito difíceis de ultrapassar quando se verifica a falha individual de um defe-
sa, podendo assim comprometer de imediato toda a organização defensiva.
2. Determina um rápido desgaste físico, pois o defesa deverá reagir constantemente às movimentações do
seu adversário directo.
3. Estabelece a possibilidade se criar e explorar espaços livres em zonas vitais do terreno de jogo, em con-
sequência de roturas do método de jogo devido a falhas individuais.
4. Limita o jogo ofensivo da equipa, logo após a recuperação da posse da bola, pois depende largamente
do adversário directo do jogador que a recuperou.
5. Diminui a iniciativa, criatividade e a improvisação do jogador em termos defensivos, pois minimiza as
suas missões tácticas.
6. Reduz a coesão e aumenta a permeabilidade da organização defensiva devido ao não cumprimento de
um dos princípios específico da defesa - cobertura defensiva, enfraquecendo assim o espírito de entreaju-
da e solidariedade entre os jogadores.
7. Possibilidade de existir um maior número de contactos físicos, que poderão traduzir-se por um maior
número de infracções às leis do jogo realizadas em espaços perigosos para a baliza.

2.5.2. O método à zona


Analisaremos esta forma defensiva de base tendo em consideração as suas características, as suas
vantagens e desvantagens.
A. Esta forma de organização defensiva é caracterizada pelos seguintes aspectos:
1. Aplica, na maioria das situações de jogo a lei do todos contra um.
2. Atribui a cada jogador a responsabilidade por uma certa zona do campo (perfeitamente delimitada) o
qual intervém desde que aí penetre: (1) a bola, (2) o adversário de posse de bola e, (3) o adversário sem
bola, independentemente do atacante que aí evolua. Assim, a responsabilidade da defesa está em função da
zona e não do adversário.
3. Evidencia uma primeira linha defensiva, que se forma em função do posicionamento da bola forçando
os adversários a ter que a contornar. Simultaneamente organiza-se uma outra linha defensiva que assegu-
ra a cobertura permanente à primeira linha.
4. Estabelece continua e permanentemente acções técnico-tácticas colectivas com o objectivo de uma
entreajuda permanente.
104 Guia prático de exercícios de treino

5. Poderá utilizar a denominada “defesa em linha” tentando tirar partido da lei do fora-de-jogo.
B. Os aspectos favoráveis do método à zona são os seguintes:
1. Delimita o posicionamento dos defesas, os quais gozam da facilidade de ver a sua acção limitada a um
determinado espaço (zona) que lhe é familiar, pois não abandonam os seus postos habituais de marcação.
2. Reduz largamente o desgaste físico e psicológico comparativamente aos métodos individuais, estando
assim, "à priori" mais aptos a responder às situações de jogo que lhes deparam, quer na fase defensiva como
na transposição para a fase ofensiva.
3. Obriga os atacantes adversários a terem de executar acções em direcções alternativas relativamente à bal-
iza adversária, devido à continua existência de duas linhas defensivas que obstróem sucessivamente a pro-
gressão do processo ofensivo adversário.
4. Aumenta a dificuldade de se criar, explorar e ocupar espaços vitais de jogo. Nos casos em que este facto
se verifica, o atacante está sempre pressionado por um ou mais defesas.
5. Correcção pronta das falhas individuais pelos companheiros, devido à contínua execução de cobertura
defensiva. Estabelece-se assim, um elevado grau de solidariedade entre os jogadores, pois todos se sentem
participantes na acção, que visa a recuperação da posse da bola.
6. Proporciona um melhor aproveitamento das qualidades técnico-tácticas-físicas dos jogadores.
C. Os aspectos desfavoráveis do método à zona são os seguintes:
1. Cria condições que facilitam a possibilidade dos atacantes evidenciarem uma maior capacidade de ini-
ciativa, particularmente quando se deslocam de um para outro espaço de marcação.
2. Permite situações de superioridade numérica ofensiva, pois poder-se-á verificar a entrada simultânea de
2 ou mais jogadores numa determinada zona de marcação de um defesa.
3. Desenvolve as dificuldades inerentes em definir, com exactidão, os limites das respectivas zonas de mar-
cação respeitantes a cada defesa e as inibições que daí possam advir. Adverte-se para o facto de existirem
possibilidades dos jogadores em certas situações de jogo, não saberem de quem é a responsabilidade da
marcação de determinado atacante.
4. Impõe um elevado sentido de sacrifício, pois sem isso dificilmente haverá efectividade.
5. Estabelece elevados níveis de insegurança se não existir uma sincronização colectiva correcta.
6. Compartimenta o método defensivo, que determina sempre uma maior permeabilidade do sistema.

2.5.3. O método misto


Analisaremos esta forma defensiva de base tendo em consideração as suas características, as suas van-

Figura 27. O método defensivo “à zona”


tagens e desvantagens.
A. Esta forma de organização defensiva é caracterizada pelos seguintes aspectos:
1. Sintetiza de forma global o método defensivo à zona e o método defensivo individual.
2. Desenvolve uma marcação ao atacante que evolui numa determinada zona do terreno de jogo, conti-
nuando mesmo que este progrida para outra zona, que não é da responsabilidade do defesa. Neste caso, só
A organização dinâmica do jogo de futebol 105

depois do atacante se desfazer da bola ou outro companheiro assumir as suas funções, é que o defesa poderá
(consoante a situação de jogo) voltar para a sua zona de marcação.
3. Acentua as acções de cobertura defensiva ao 1º defesa (contenção) tornando-as mais rigorosas que no
método à zona. Assim, verifica-se que os outros defesas se posicionam em função da acção do compa-
nheiro que marca o adversário de posse de bola e de outros atacantes, que possam evoluir na sua zona de
marcação os quais poderão de imediato dar continuidade ao processo ofensivo adversário.
B. Os aspectos favoráveis (para além de alguns já referenciados para o método à zona) do método misto são
os seguintes:
1. Oferece uma excelente segurança defensiva.
2. Dificulta a criação de situações de superioridade numérica por parte dos atacantes.
3. Permite a possibilidade permanente de execução de compensações-permutações;
4. Aumenta a iniciativa e criatividade dos defesas possibilitando-os de sair da sua zona de marcação para
outra, marcando o atacante numa posição vital.
C. Os aspectos desfavoráveis do método misto são os seguintes:
1. Requer a leitura constante das situações de jogo e a antecipação das acções técnico-tácticas dos atacantes.
2. Determina a necessidade de um grande espírito de solidariedade e um alto grau de responsabilidade
individual.
3. Obriga os defesas a jogarem em certas zonas às quais estão menos habituados.
4. Diminui, em certas circunstâncias, a eficácia do método ofensivo da equipa.

2.5.4. O método zona pressionante


Analisaremos esta forma defensiva de base tendo em consideração as suas características, as suas van-
tagens e desvantagens.
A. Esta forma de organização defensiva é caracterizada pelos seguintes aspectos:
1. Estabelece uma marcação rigorosa ao adversário de posse de bola, no qual o defesa deve demonstrar
agressividade na tentativa da sua recuperação ou para obrigá-lo a cometer erros no plano técnico-táctico.
2. Permite a cada defesa evoluir na sua zona de marcação, mas deverá deslocar-se para outras zonas con-
centrando-se nos espaços de jogo próximo da bola.
3. Impõe de forma continua a marcação agressiva a zonas e jogadores adversários que possam dar con-
tinuidade ao processo ofensivo. Para se obter uma maior concentração defensiva, diminui-se a pressão
exercida aos atacantes que estejam posicionados em espaços longe da bola.
4. Conduz o ataque adversário para um espaço de jogo próprio onde predomina a melhor capacidade da
equipa em termos de recuperação da posse da bola.
5. Concentração e homogeneidade de toda a organização defensiva, independentemente do deslocamento
da bola.
6. Constante comunicação verbal entre os jogadores, fundamentalmente quando os atacantes adversários
conseguem mudar o ângulo de ataque, levando a bola para outro espaço de jogo.
7. Elevado espírito de equipa, coordenação e solidariedade.
B. Os aspectos favoráveis (para além de alguns já mencionados para o método misto) da defesa zona pres-
sionante são os seguintes:
1. Proporciona muitas situações de recuperação da posse da bola que derivam das acções dos defesas no
seu conjunto. Neste sentido, não se espera que os adversários cometam erros de execução, este método
provoca esses mesmos erros.
2. Diminui o espaço de jogo, à volta da posição da bola criando-se as condições mais favoráveis para a sua
recuperação. Procura-se assim, uma recuperação da bola o mais perto possível da baliza adversária.
3. Cria continuamente situações de superioridade numérica nos vários momentos do jogo.
4. Diminui a iniciativa dos adversários, forçando-os a cometer erros no plano técnico-táctico, que nor-
malmente não ocorrem, dando origem a que os atacantes entrem em “pânico” em termos de pensamento
106 Guia prático de exercícios de treino

táctico e de execução técnica.


5. Permite à organização defensiva jogar num bloco homogéneo e compacto.
6. Dificulta a criação, exploração e utilização de espaços livres no ataque adversário, especialmente nas
zonas à volta da bola e nas zonas vitais do terreno de jogo.
7. Estabelece uma solidariedade efectiva entre os defesas, verificando-se a cobertura permanente dos com-
portamentos técnico-tácticos na procura da recuperação da bola.
8. Impossibilita a existência de linhas de passe em direcção à baliza, obrigando os adversários a jogarem
para o lado ou para trás.
9. Determina que o recuo defensivo seja realizado sempre em função da progressão possível do processo
ofensivo, não se recuando pelo simples facto de se recuar.
10. Aumenta a iniciativa e criatividade dos defesas de acordo com a sua velocidade e habilidade.
11. Extremamente eficaz contra equipas, cuja organização ofensiva é lenta e sem ritmo ou com dificuldades
de condição física.
C. Os aspectos desfavoráveis do método zona pressionante são os seguintes:
1. Dificuldades em se estabilizar a organização defensiva, se a bola circular rapidamente de um para outro
corredor de jogo, utilizando jogadores, sobre os quais a pressão é menos agressiva, por estes estarem posi-
cionados longe do centro do jogo.
2. Requer uma leitura constante das situações momentâneas de jogo, obrigando a antecipar as acções téc-
nico-tácticas dos atacantes.
3. Impõe a execução constante de acções de compensação/permutação, podendo em alguns casos, não
haver o tempo necessário para um reequilíbrio eficaz da organização defensiva consoante certas situações
de jogo, poder-se-á criar algum "pânico" entre os defesas se os adversários conseguirem algumas situa-ções
de finalização com elevadas possibilidades de êxito.
4. Necessita de um elevado espírito de equipa, trabalho árduo e uma elevada coordenação e cooperação
entre os jogadores.
5. Criam-se grandes espaços de jogo entre o último defesa e o guarda-redes, devido ao facto de o recuo
defensivo ser efectuado em função da progressão da bola. Estes espaços podem ser eficientemente utiliza-
dos através de acções de penetração ou de passe longo para “as costas” da defesa.
6. Excesso de agressividade sobre o atacante de posse de bola ou sobre os adversários, que possam dar con-
tinuidade ao processo ofensivo, as quais podem traduzir-se num maior número de infracções às Leis do
jogo.
7. Dificuldades de fazer uma rápida transição defesa/ataque, logo após a recuperação da posse da bola, dev-
ido às grandes concentrações de jogadores em processo ofensivo e defensivo (podendo em certos casos,
diminuir a eficácia do ataque), daí a necessidade de logo após a recuperação da posse da bola. O processo
ofensivo deve ser construído tendo em atenção a contextualidade das situações, a qual pode determinar um

Figura 28. O método defensivo “zona pressionante”


A organização dinâmica do jogo de futebol 107

relançamento mais pausado e seguro ou mais rápido e


directo..
8. Impõe-se uma elevada capacidade física dos jogadores

Foto cedida pelo jornal O JOGO


para que se possa adoptar e aplicar este método defensi-
vo.

Finalizando, a escolha de qualquer um destes méto- Foto 85. Defesa zona pressionante
dos defensivos atrás descritos, depende essencialmente da con-
cepção de jogo do treinador, que deverá ter em conta:
1. As condicionantes e características dos jogadores de que dispõe no plano intelectual, motor e físico.
2. O método ofensivo próprio e da equipa adversária.
3. As capacidades técnico-tácticas dos jogadores que irão realizar e que irão sofrer essa marcação (se come-
tem muitas faltas ou se pelo contrário simulam muitas faltas).
4. O nível de pensamento táctico dos jogadores (capacidade de leitura e percepção de jogo)
5. A capacidade física atingida pelos jogadores.
6. Os níveis de perserverânça, personalidade, sacrifício, etc.

2.5.5. Aspectos fundamentais dos métodos defensivos


Qualquer método de jogo defensivo fundamenta-se em diferentes pressupostos que direccionam e
potencializam os seus objectivos. Neste sentido, iremos analisar quatro aspectos essenciais do problema: (1) o
equilíbrio defensivo, (2) a recuperação defensiva, (3) concentração defensiva e, (4) a última linha defensiva.

A. O equilíbrio defensivo
A defesa altamente organizada, característica do futebol moderno, começa ainda durante o desenro-
lar do seu ataque e em qualquer fase deste processo. Através de medidas preventivas, asseguradas por um ou
mais jogadores (especializados), que se colocam e agem na retaguarda dos jogadores atacantes, da equipa que se
encontra nesse momento em fase defensiva. O equilíbrio defensivo constrói-se na base da igualdade ou na supe-
rioridade numérica, isto é, se a equipa adversária deixa um jogador adiantado, a equipa de posse de bola poderá
deixar um ou dois jogadores, que mantêm sob vigilância, o(s) adversário(s) que não estão directamente empen-
hados na luta defensiva. Esta forma de organização tem um triplo objectivo:
1. Reorganização do ataque no caso de insucesso.
2. Passagem organizada à defesa após a perda da posse da bola.
3. Organização de uma defesa temporária em função da situação, até que todos os companheiros se
enquadrem no dispositivo defensivo da equipa.

B. A recuperação defensi-
va
A recuperação
defensiva começa logo após
a impossibilidade de recu-
perar a posse da bola
através das acções que con-
substanciam a fase do equi-
líbrio defensivo e dura até à fase
da defesa propriamente dita.
Durante este trajecto os jogadores
têm como quadro referencial dois
aspectos fundamentais: Figura 29. O equilíbrio defensivo
108 Guia prático de exercícios de treino

1. A linha de recuo: recuperar o mais rapidamente possível tomando o caminho mais curto (sem nunca
perder o contacto visual com a bola), marcar adversários que possam dar seguimento ao processo ofensivo,
marcar espaços por onde o processo ofensivo possa progredir, deduzir continuamente quais as intenções tác-
ticas da equipa adversária.
2. Até que posição recuperar: há sempre um ponto em que o recuo defensivo termina, este está dependente
de duas questões fundamentais: (1) da capacidade da equipa em fase defensiva em pressionar mais ou menos
distante da sua própria baliza e, (2) da capacidade técnico-táctica da equipa adversária progredir no terreno
de jogo ultrapassando os obstáculos colocados pelos defesas ao longo do seu deslocamento na recuperação
defensiva.

Podemos distinguir duas formas básicas de recuperação defensiva:


1. A recuperação intensiva. Revela como atitude táctica fundamental, na qual, os jogadores recuperam ra-
pidamente para as suas posições dentro do sistema defensivo preestabelecido. Nestas circunstâncias, os deslo-
camentos dos defesas são realizadas de forma rápida, imediata e continua não tendo em mente nem a con-
textualidade da situação, nem a possibilidade de exercer acções de marcação de forma continua ou pontual
sobre os diferentes atacantes que intervêm sobre a bola especialmente no momento da sua recuperação, no
relançamento do processo ofensivo e na sua progressão em direcção à baliza adversária (etapa de cons-trução
do processo ofensivo). Sob este domínio, a intencionalidade táctica primária de todos os jogadores submeti-
dos a uma recuperação intensiva é o de ocupar de imediato as posições preestabelecidas pelo sistema defen-
sivo, normalmente, em frente à sua própria baliza formando um bloco complecto e homogéneo a partir do
qual se desenvolvem as primeiras (verdadeiras) acções de carácter defensivo mais conducentes e apropriadas
à concretização eficiente dos objectivos de jogo - recuperação da posse da bola e a protecção da baliza.
2. A recuperação em pressing. Revela uma atitude táctica fundamental, a qual é suportada por comporta-
mentos individuais e colectivos, que objectivam uma rápida reconstrução do sistema defensivo preestabeleci-
do, marcando de forma simultânea, durante esse trajecto atacantes com ou sem a posse da bola e espaços de
jogo para onde os atacantes possam dar continuidade ao processo defensivo da sua equipa. A recupe-ração
em pressing, contrariamente à recuperação intensiva, prevê constantemente a possibilidade de se executar
acções de marcação logo após a perda da posse da bola e durante o relançamento do processo ofensivo, com
o intuito de: (1) se recuperar de imediato a bola, (2) reduzir o leque de opções tácticas dos atacantes no
relançamento do seu processo ofensivo (3) temporizar a acção dos atacantes por forma a ganhar o tempo sufi-
ciente para que todos os jogadores se possam ajustar adequadamente à nova contextualidade situacional de
jogo e, (4) obstacularizar constante e permanentemente a progressão dos atacantes no espaço de jogo. Os pre-
sentes pressupostos demonstram, que a recuperação em pressing se suporta numa intencionalidade tácti-ca
primária, determinada pela existência, desde o seu início, de verdadeiras acções defensivas com o intuito de
desapossar o adversário da posse da bola, logo após a sua perda, continuando preserverantemente nessa ati-
tude até à sua recuperação. Nesta perspectiva, a recuperação em pressing procura ser realizada tendo sempre
em conta as capacidades de-monstradas pelos atacantes em ultrapassar os vários obstáculos colocados pelos
defesas, os quais só recorrem à recuperação defensivas para espaços próximos da sua baliza quando não é pos-
sível estancar o processo ofensivo e recuperar a posse da bola em espaços mais distantes.

C. Concentração defensiva
Um dos pressupostos chave da eficácia de qualquer método de jogo defensivo é a possibilidade deste
transmitir e criar condições para que a equipa, imediatamente após a perda da posse da bola, possa concentrar-
se, tornando-se compacta e homogénia em qualquer das etapas do processo defensivo, particularmente na recu-
peração defensiva e na defesa propriamente dita. Em nossa opinião, existem basicamente cinco aspectos essen-
ciais para a concretização deste objectivo:
1. Os jogadores avançados que normalmente ocupam posições mais perto da baliza adversária devem inter-
por-se entre a bola e a sua própria baliza por forma a exercer pressão, logo desde o momento da sua perca:
A organização dinâmica do jogo de futebol 109

(1) pressionando as linhas de


relançamento do processo
ofensivo adversário, (2)
obstacularizando permanen-
temente o desencadeamento
do método de jogo ofensivo
adversário, (3) interligando
posicionalmente com colegas de
outros sectores de jogo, por forma
a mudarem de missões tácticas mas
mantendo a entreajuda e a soli-
dariedade dentro da equipa e, (4)
marcando agressivamente adversários Figura 30. Concentração defensiva
que se deslocam de trás para a frente da
linha da bola por forma: a) surpreender, b) romper a organização defensiva, c) explorar espaços vitais de jogo
ou, d) criar pontualmente situações de superioridade numérica em espaços vitais de jogo.
2. Os jogadores pertencentes à última linha defensiva devem subir no terreno de jogo com o propósito de
diminuir a profundidade da equipa e manter os sectores avançado, médio e defensivo mais perto um dos ou-
tros aumentando a compacticidade da equipa. Os jogadores que integram a última linha defensiva têm como
função: (1) desenvolver as suas missões tácticas de carácter defensivo interagindo activamente com os com-
panheiros do sector médio dando-lhes cobertura defensiva, (2) cumprir missões específicas de marcação fun-
damentalmente aos adversários colocados mais perto da baliza, (3) compreender a possibilidade de colocar os
avançados adversários em situações de fora-de-jogo contrastando com situações de profundidade defensiva
através da qual um defesa se coloca pontualmente em cobertura defensiva, (4) todo este sector sobe no ter-
reno de jogo, por forma a tirar vantagens da redução momentânea do espaço de jogo, em resposta ao aumen-
to da pressão exercida pelos outros sectores da equipa, que se traduz objectivamente pela necessidade da
equipa adversária ter de executar acções técnico-tácticas na direcção da sua própria baliza e, (5) os defesas
posicionados nos corredores laterais deslocam-se para a zona central do terreno de jogo, por forma a reforçar
a vigilância (dando cobertura defensiva aos defesas centrais) ou a marcação (aos avançados adversários) neste
espaço nevrálgico de jogo, especialmente quando a bola se encontra no corredor oposto à sua posição de base.
3. Os jogadores pertencentes ao sector médio devido à particularidade da sua posição assumem atitudes e
comportamentos dentro de um espaço de jogo limitado à sua frente pelos avançados e na retaguarda pela últi-
ma linha defensiva. Nestas circunstâncias objectivam: (1) a cobertura defensiva das acções dos avançados
podendo estes usufruir de um maior risco na tentativa de recuperação da posse da bola, (2) interagem com o
sector avançado e com o sector defensivo, mudando pontualmente de posições e missões tácticas por forma
a manter a coerência dinâmica, a entreajuda e a solidariedade da organização defensiva, (3) desenvolvem as
suas acções de marcação podendo usá-las com uma maior convicção e risco na tentativa de recuperar a bola,
pois sabem que existe uma linha de cobertura nas suas “costas”, (4) os médios que jogam nos corredores la-
terais devem deslocar-se para o espaço central, por forma a reforçar esta zona quando a bola se encontra no
lado oposto ao da posição do médio. Estes jogadores interagem igualmente com os defesas laterais (quando
estes se deslocam para o corredor central) vigiando e marcando esse corredor deixado livre pelo defesa, (5) os
médios centro interagem especialmente, com os defesas centrais auxiliando-os nas suas tarefas, em particular
quando se observa a introdução de um ou mais atacantes vindos de trás da linha da bola na procura de sur-
preender, romper, explorar e criar situações pontuais de superioridade numérica e, vi) sobem no terreno de
jogo em resposta ao aumento de pressão exercido pelos avançados que se traduz pela execução de acções téc-
nico-tácticas em direcção à sua própria baliza.
4. As diferentes movimentações, interacções, compensações, desdobramentos e entreajuda por parte dos
jogadores que constituem a equipa deverão ter sempre como objectivos contribuir eficazmente para a homo-
110 Guia prático de exercícios de treino

geneidade e a compacticidade da organização defensiva, Estes atributos poderam ser potenciados se forem
aplicados: (1) num espaço restrito do terreno de jogo, (2) o mais longe possível da própria baliza, (3) dimin-
uin-do continuamente as possíveis mudanças do ângulo de ataque e, (4) diminuindo o leque de opções tácti-
cas dos adversários que a cada momento sugerem, por forma que as acções técnico-tácticas executadas para
a reso-lução dos diferentes contextos de jogo sejam previsíveis e antecipadas do ponto de vista defensivo.
5. No caso de não ser possível evitar o rápido desenvolvimento do processo ofensivo adversário e, conse-
quentemente, não se poder concretizar uma organização defensiva constituída pela maior parte dos jogadores
da equipa. Nestas circunstâncias, em função da progressão do ataque adversário, os defesas posicionados entre
os atacantes e a baliza deverão: (1) recuar concentrando-se na zona central desta, procurando protegê-la,
interceptando os ângulos vitais de remate e, (2) um dos defesas deslocar-se-à por forma a dar profundidade
a esta organização defensiva rudimentar evitando a concretização de deslocamentos de rotura dos atacantes
para o seio das zonas vitais de finalização.

D. A última linha defensiva


A última linha defensiva, em nossa opinião, poderá analisada em função da sua: (1) organização e,
(2) articulação.

D.1. A organização da última linha defensiva


Da organização da última linha defensiva ressaltam três variantes essenciais: (1) a “defesa em linha”,
(2) a “defesa na diagonal” e, (3) defesa com profundidade variável.

D.1.1. A defesa em linha


Qualquer método de jogo defensivo deverá obrigar o adversário a lutar em condições desfavoráveis
com o objectivo destes cometerem erros. Isto pressupõe, a realização correcta, oportuna e agressiva de certas
acções sancionadas pelas leis do jogo, quer por erros de orientação do ataque, saldados quase sempre com a
perda da posse da bola. Com efeito, os métodos defensivos poderão aplicar a chamada "defesa em linha", ten-
tando tirar partido da lei do fora-de-jogo. Na "defesa em linha" os jogadores da última linha defensiva posi-
cionam-se formando uma linha paralela à linha de baliza. Este posicionamento da última linha defensiva tem
por objectivos: (1) provocar continuamente situações de fora-de-jogo à equipa adversária, (2) reduzir os espaços
de jogo entre os vários sectores da equipa, (3) diminuir a profundidade do processo ofensivo adversário, (4)
defender a baliza em zonas mais distantes e, (5) recuperar a posse da bola o mais perto possível da ba-liza adver-
sária. Os inconvenientes do posicionamento desta última linha defensiva baseiam-se nos dois seguintes aspec-
tos: (1) dificuldades de se realizar coberturas defensivas entre os jogadores e, (2) a falta de entendimento entre
os jogadores da última linha defensiva poderá provocar situações difíceis de resolver.

D.1.2. A defesa em diagonal


Os métodos defen-
sivos estudados (fundamental-
mente a defesa zona e mista)
poderão ser articulados com
uma última linha defensiva colo-
cada “na diagonal” por forma a
estabelecer uma cobertura mútua,
sucessiva, integral e permanente por
parte de todos os defesas entre si. Em
termos práticos a organização desta
linha defensiva exprime-se pela mar-
cação agressiva ao atacante de posse de Figura 31. Organização da última linha defensiva “em linha”
A organização dinâmica do jogo de futebol 111

bola, a partir da qual todos os restantes jogadores se arti-culam estabelecendo uma distância e ângulo correctos
dando assim cobertura à acção dos diferentes companheiros. No caso do processo ofensivo adversário ser real-
izado pelo corredor central a diagonal é subdividida em duas, articulando-se em função do companheiro em
contenção. Este posicionamento da última linha defensiva tem por objectivos: (1) diminuir os espaços de jogo
entre os jogadores pertencentes
à última linha defensiva da
equipa, (2) menores possibili-
dades de utilização por parte
dos atacantes em explorar o
espaço "nas costas" dos defesas e,
(3) favorece o empenhamento e a
solidariedade dos defesas. Os
inconvenientes do posicionamento
desta última linha defensiva são os
seguintes: (1) não é possível explorar a
Lei do fora-de-jogo, (2) dificuldades em
manter estável esta linha defensiva quan-
do os atacantes executam rápidas Figura 32. Organização da última linha defensiva “na diagonal”
mudanças do ângulo de ataque, o que obriga os defe-
sas a assumirem constantemente acções de contenção sobre o atacante de posse de bola e de cobertura defensi-
va e, (3) os atacantes que executam acções de apoio lateral ao seu companheiro de posse de bola poderão rece-
bê-la nas melhores condições, isto é, sem a pressão dos defesas, que necessitam de algum tempo para se deslo-
carem da posição de cobertura defensiva para contenção.

D.1.3. Defesa com profundidade variável


A articulação da última linha com profundidade variável pode ser aplicada a qualquer um dos méto-
dos de jogo defensivo estudados (excepção feita para o método individual). Esta articulação objectiva-se, tal
como o nome indica, pela variação constante do defesa que realiza a acção de cobertura defensiva da última
linha defensiva, sendo sempre função dos contextos tácticos estabelecidos pela equipa adversária quando em
processo ofensivo. Nesta perspectiva vejamos os exem-plos principais:

1. Se a equipa adversária mobilizar um avançado, a sua marcação será realizada por um dos defesas centrais,
sendo este definido consoante o avançado se desloque mais para um ou para o outro lado do corredor cen-
tral. Simultaneamente o defesa central que não tem adversário para marcar, desloca-se para a posição de
cobertura estabelecendo
assim a profundidade defen-
siva da equipa.
2. Se a equipa adversária
mobilizar dois avançados
posicionando-se no corredor
central, então cada defesa cen-
tral marca individualmente cada
avançado e consoante a posição
da bola, a cobertura e profundi-
dade defensivas são realizadas alter-
nadamente por um dos defesas lat-
erais (esquerda ou direita). Neste sen- Figura 33. Organização da última linha defensiva com profundidade variável”
tido, se a bola estiver no corredor dire-
112 Guia prático de exercícios de treino

ito, o defesa esquerdo deverá realizar a cobertura à acção dos seus colegas defesas centrais, estabelecendo a
profundidade defensiva. No caso da bola se encontrar no corredor esquerdo o defesa direito deverá realizar a
acção descrita. Caso a bola se posicione no corredor central, os dois defesas laterais devem posicionar-se
simultaneamente no corredor central, possibilitando uma cobertura defensiva mais compacta aos seus cole-
gas defesas centrais, e ai permanecerem até haver uma nova definição do corredor de jogo que irá ser utiliza-
do pelos adversários.
3. No caso da equipa disponibilizar três avançados os quais se posicionam um em cada corredor de jogo. Nesta
situação cada defesa lateral marcará o seu adversário directo enquanto que um dos defesas centrais marcará
o terceiro atacante. O defesa central que não tem marcação dará profundidade defensiva e a cobertura aos três
companheiros deslocando-se mais para “as costas” de um ou de outro consoante o deslocamento da bola no
terreno de jogo.
4. No caso, da equipa adversária disponibilizar três avançados que se posicionam no corredor central de jogo,
poder-se-á utilizar uma de duas formas: (1) os dois defesas centrais marcam dois dos avançados e o terceiro
elemento é marcado por um dos defesas laterais ou, (2) os dois defesas centrais marcam dois dos avançados
e para o terceiro avançado é mobilizado um dos médios centros para o marcar. Esta segunda solução é nor-
malmente a mais utilizada, pois irá manter os movimentos de cobertura e profundidade defensivas realizadas
pelos defesas laterais em função do posicionamento da bola no corredor esquerdo, central ou direito.

D.2. A articulação da última linha defensiva


A última linha defensiva poderá ser articulada segundo duas possibilidades: com libero ou com trin-
co.

D.2.1. O libero
Os métodos defensivos podem ser articulados, ou não, em profundidade. Esta medida pressupõe a
possibilidade da colocação de um jogador "libero" atrás da última linha defensiva (entre esta e o guarda-redes).
A sua função principal é de fazer a cobertura dos espaços "nas costas" dos companheiros garantindo assim a sua
segurança e homogeneidade. Normalmente este jogador tem como características um grande sentido de leitura
do jogo, dominando e orientando perfeitamente os deslocamentos defensivos em termos individuais e colectivos.
As vantagens da defesa articulada em profundidade são: (1) a existência de um jogador que "sobra" estando assim
em condições de responder às situações momentâneas de jogo mais prementes, quer fazendo a cobertura defen-
siva, quer dobrando os compa-nheiros e, (2) a equipa tem uma maior segurança defensiva permitindo um maior
espaço para que os defesas após a recuperação da posse da bola saiam a jogar. As desvantagens desta defesa são:
(1) não diminuir a profundidade do processo ofensivo adversário dando-lhe assim mais espaço para jogar e, (2)
na possibilidade de falhas indi-
viduais, poder-se-ão criar situ-
ações de 2X1 muito pró-ximas
da baliza.

D.2.2. O trinco
Os métodos defen-
sivos podem igualmente articular
um jogador à frente da última linha
defensiva, normalmente denomina-
do de "trinco", cujas funções funda-
mentais são: (1) reforçar a marcação e
a vigilância da zona central da baliza e,
(2) de equilibrar o método defensivo, Figura 34. Organização da última linha defensiva com a articulação
ocupando e vigiando espaços de jogo que de um “libero”
A organização dinâmica do jogo de futebol 113

foram deixados livres pelos seus companheiros da defesa após a recuperação da posse da bola e que se integraram
no processo ofensivo da sua
equipa.

2.6. Estabelecimento de um
ritmo defensivo
A aplicação de um
ritmo defensivo radica-se na
cadência de execução das acções
de marcação a adversários com ou
sem a posse da bola, temporizando a
progressão do centro do jogo, recu-
perando a posse da bola, ou exercendo
a protecção máxima da própria baliza.
Uma defesa agressiva deve caracterizar-se Figura 35. Organização da última linha defensiva com a articulação
por um grande número de acções e por de um “trinco”
um grande espaço de jogo defendido.

2.7. Análises do processo defensivo


As probabilidades da acção ofensiva culminar em finalização depende em larga medida das circuns-
tâncias em que ocorreu a recuperação da posse da bola. As análises efectuadas demonstram inequivocamente
que, a zona (espaço de jogo/corredor de jogo), a fase evolutiva da organização (tanto dos processos ofensivos
como defensivos) e a forma (o meio técnico-táctico individual defensivo de recuperação da bola), constituem o
quadro referencial que determinam o aumento das probabilidades da acção ofensiva culminar em finalização
positiva (golo).

2.7.1. Sectores de recuperação da posse da bola e a missão táctica dos jogadores.


Da análise das acções ofensivas verificaram-se fundamentalmente os seguintes aspectos:
1. A recuperação da posse da bola é realizada na zona 2 (42%), no sector defensivo (71%) e no corredor cen-
tral do terreno de jogo (52%). Do ponto de vista defensivo, este facto é explicado pela elevada concentração
de jogadores, em atitude defensiva, nos espaços próximos da sua baliza procurando de forma simultânea pro-
tegê-la e recuperar a posse da bola. A marcação destes espaços e dos jogadores que aí evoluem faz-se de forma
agressiva, obrigando-os a terem que executar os seus comportamentos técnico-tácticos rapidamente, aumen-
tando assim o factor de risco que envolve a sua realização. São os jogadores pertencentes ao sector defensivo
(27%) que mais recuperam a posse da bola neste sector do terreno de jogo, seguido do guarda-redes (11%),
dos médios (10%) e dos avançados (2%).
2. Os 20% de recuperações de posse de bola que se verificam no sector do meio-campo defensivo derivam
fundamentalmente do facto de ser neste sector do terreno de jogo que se desencadeiam as primeiras "ver-
dadeiras" acções defensivas que procuram consubstanciar a recuperação da posse da bola. São os jogadores
pertencentes ao sector defensivo (9%) que mais recuperam a posse da bola neste sector do terreno de jogo,
seguido dos médios (7%) e dos avançados (2%).
3. No sector ofensivo como no sector do meio-campo ofensivo verificam-se baixas percentagens de recupe-
rações de posse de bola (1.7 e 7%, respectivamente), que derivam do facto de existir uma menor concentração
de jogadores em atitude defensiva nestes sectores do terreno de jogo, pois, logo após a perda da posse da bola
e com o intuito de impedir que os adversários relancem de imediato o seu processo ofensivo, os jogadores
recuam no terreno de jogo, oferecendo mais espaço aos adversários para estes poderem jogar a bola com segu-
rança e eficácia. Os defesas que permanecem nestes espaços têm por objectivo fundamental assumir compor-
tamentos técnico-tácticos de temporização, por forma a retardar o processo ofensivo adversário e, simultane-
114 Guia prático de exercícios de treino

amente, procurar momentos de desconcentração que possibilitem de imediato a recuperação da posse da bola.
São os jogadores pertencentes ao sector médio (5%) que mais recuperam a posse da bola nestes sectores do
terreno de jogo, seguido dos defesas (2%) e dos avançados (1%).
4. Os jogadores que recuperaram a posse da bola: (1) em 30% das situações observadas pressionaram eles
próprios o atacante que a detinha, (2) em 26% das situações o jogador que a recuperou beneficiou em parte
da pressão exercida por um seu companheiro sobre o atacante de posse de bola e finalmente, (3) em 34% das
situações observadas a recuperação da posse da bola deveu-se a erros imputados aos jogadores da equipa ata-
cante.

2.7.2. A relação entre o sector de recuperação da posse da bola e a eficácia do processo ofensivo
Da análise deste aspecto verificamos os seguintes aspectos:
1. Ao compararmos os dados referentes às acções ofensivas eficientes (atingiram o golo) e as outras, observa-
se um aumento dos valores percentuais em zonas e sectores do terreno de jogo próximas da baliza adversária.
Comparativamente, o sector ofensivo (4/4) aumentou quatro vezes o seu valor, o mesmo sucedendo ao sec-
tor do meio-campo ofensivo (3/4), enquanto o sector defensivo (1/4) reduziu para metade o seu valor. Neste
contexto, um dos factores fundamentais que contribui amplamente para uma eficiente etapa de finalização do
processo ofensivo, advém do facto de se recuperar a posse da bola o mais perto possível da baliza adversária.

Figura 36. Relação entre o sector do terreno de jogo onde se verificou a recu-
peração da posse da bola, a duração, o número de acções de passe executa-
dos, o número de jogadores utilizados (intervieram sobre a bola), os
jogadores que participaram, a média do número de toques por intervenção
dos jogadores nos processos ofensivos que culminaram em golo.

Para reforçar esta ideia, analisemos o sector do terreno onde a bola foi recuperada em relação com: (1) o sec-
tor do terreno de jogo onde se verificou a perda da posse da bola do processo ofensivo subsequente, e, (2) o
nível de eficácia (etapa ofensiva) que esse processo atingiu. Com efeito, no primeiro nível de análise, obser-
varam-se os seguintes dados importantes: somente 66% das recuperações no sector defensivo (1/4) atingiram
o sector ofensivo (4/4) e, em 24% das situações o sector do meio-campo ofensivo (3/4). As recuperações no
sector do meio-campo defensivo (2/4) em 70% das situações atingiram o sector ofensivo (4/4) e em 24% o sec-
tor do meio-campo ofensivo (3/4). As recuperações no sector do meio-campo ofensivo (3/4) em 80% das situ-
ações atingiram o sector ofensivo (4/4).
2. No segundo nível de análise: somente 15% das recuperações de posse de bola no sector defensivo (1/4) atin-
giram a etapa de finalização e em 11% a etapa de criação. As recuperações no sector do meio-campo defen-
sivo (2/4) somente em 17% das situações atingiram a etapa de finalização e em 21% a etapa de criação. As
recuperações no sector do meio-campo ofensivo (3/4) em 31% das situações atingiram a etapa de finali-zação
e em 21% a etapa de criação. E por último, as recuperações no sector ofensivo (4/4) em 29% das situa-ções
atingiram a etapa de finalização e em 29% a etapa de criação. Os dados apresentados, demonstram e reforçam
A organização dinâmica do jogo de futebol 115

claramente que, quanto mais perto da baliza adversária se verificar a recuperação da posse da bola, maiores
serão as probabilidades do processo ofensivo subsequente, atingir com facilidade espaços vitais de jogo e con-
comitantemente, maiores níveis de êxito, isto é, por um lado, a criação de situações de finalização que objec-
tivam o estabelecimento das condições mais vantajosas à concretização da etapa de finalização, e por outro,
situações de finalização que objectivam a possibilidade de concretização do golo.
3. Em função dos dados analisados podemos verificar que em cada 10 acções ofensivas em que a bola foi recu-
perada no sector defensivo (1/4), 7 a 8 (75%) terminaram na fase de construção do processo ofensivo, 1 (10%)
na fase de criação de situação de finalização, 1 (10%) na fase de finalização e 0 a 1 (5%) possivelmente com
finalização positiva (golo). No que respeita, ao sector do meio-campo defensivo (2/4) em cada 10 acções ofen-
sivas em que a bola foi recuperada neste sector, 6 (62%) terminaram na fase de construção do processo ofen-
sivo, 2 (20%) na fase de criação de situação de finalização, 1 (10%) na fase de finalização e 0 a 1 (8%) com
finalização positiva (golo). No sector do meio-campo ofensivo (3/4) em cada 10 acções ofensivas em que a
bola foi recuperada neste sector, 4 a 5 (48%) terminaram na fase de construção do processo ofensivo, 2 (20%)
na fase de criação de situação de finalização, 2 (20%) na fase de finalização e 1 (12%) com finalização positi-
va (golo). No sector ofensivo (4/4) em cada 10 acções ofensivas em que a bola foi recuperada neste sector, 4
(40%) terminaram na fase de construção do processo ofensivo, 2 a 3 (25%) na fase de criação de situa-ção de
finalização, 1 a 2 (15%) na fase de finalização e 2 (20%) com finalização positiva (golo).

4. Os
dados
apre-
senta-
d o s

Quadro 1. Resumo das relações observadas entre o sector de recuperação da posse da bola com os valores médios e os valores signi-
ficativos da duração, dos jogadores que intervieram e participaram e o número de passes executados durante as acções ofensivas que
culminaram em golo
116 Guia prático de exercícios de treino

reflectem indubitavelmente que as probabilidades da acção ofensiva culminar em finalização ou finalização


positiva duplicam sucessivamente do sector defensivo (1/4) para o sector do meio-campo defensivo (2/4), do
sector do meio-campo defensivo (2/4) para o sector do meio-campo ofensivo (3/4) e do sector do meio-campo
ofensivo (3/(4) para o sector ofensivo (4/4). Com efeito, à medida que a recuperação da posse da bola é real-
izada nos sectores mais próximos da baliza adversária estabelecem-se as condições mais vantajosas para uma
concretização com êxito do processo ofensivo. Segundo Hughes (1990) "uma vez perdida a posse da bola, a
equipa: (1) ou recua para a sua zona defensiva perto da sua baliza, ou, (2) "sobe" no terreno de jogo para ten-
tar recuperar a posse da bola na zona onde foi perdida"... "Algumas vezes não há escolha possível é preciso
recuar, todavia, vejamos os factos, as equipas recuperam mais vezes a posse da bola na sua zona defensiva
(1/3), que na zona do meio-campo (2/(3) ou na zona ofensiva (3/3), mas as análises demonstram igualmente
que a maioria dos golos foram marcados a partir de recuperações na zona ofensiva (3/3). Neste sentido, ainda
segundo o mesmo autor (1990) "aumentando-se o número de recuperações de posse de bola na zona ofensi-
va, maiores são as probabilidades de se conseguir maior número de golos. Os dados indicam que esta proba-
bilidade é sete vezes maior que em qualquer outra zona do campo. A melhor, a mais positiva estratégia defen-
siva é, "subir" no terreno de jogo e pressionar os adversários para que a recuperação da posse da bola seja o
mais perto possível da baliza destes".

2.7.3. A relação entre o sector de recuperação da posse da bola, a duração, o número de jogadores e passes
executados nas acções ofensivas que culminaram em golo
À medida que a recuperação da posse da bola se efectua mais perto da baliza adversária, menor é a
duração do processo subsequente. O mesmo tipo de conclusões se pode verificar para: (1) o número de jogadores
que intervieram sobre a bola, (2) o número de jogadores que participaram na acção ofensiva, e, (3) o número de
acções técnico-tácticas de passe efectuados. Em relação ao número de toques e ao tempo de posse da bola por
intervenção, (embora os valores médios nos dois casos sejam semelhantes para os diferentes sectores do terreno
de jogo), observa-se os mesmos pressupostos referidos para os outros factores, isto é, à medida que se recupera
a bola em espaços próximos da baliza adversária menor é a tendência dos jogadores que intervêm momentânea
e directamente sobre esta, de diminuírem o número e o tempo de relacionamento com a bola. Todavia, verifi-
ca-se, enquanto que a média do número de contactos com a bola se mantém constante, para os diferentes sec-
tores de jogo, o tempo para a sua execução diminui e deriva da necessidade de uma resolução técnico-táctica
mais rápida da situação de jogo, por forma a ultrapassar a acções de marcação movidas pela equipa adversária
sobre os atacantes e sobre os espaços vitais de jogo, ou seja, desequilibrar a sua organização defensiva.

3. Procedimentos a tomar relativamente aos diferentes métodos de base ofensiva e defensiva


Em função dos diferentes métodos de base ofensivos e defensivos tendo em consideração as suas car-
acterísticas principais as vantagens e desvantagens analisaremos os procedimentos a tomar contra: (1) os méto-
dos defensivos individuais, (2) os métodos defensivos zona e mistos, (3) os métodos defensivos zona pression-
antes, (4) métodos ofensivos baseados no contra-ataque e ataque rápido e, (5) métodos ofensivos baseados no
ataque posicional.

3.1. Procedimentos a tomar contra métodos defensivos individuais


Os procedimentos a tomar quando se joga contra uma equipa que utiliza predominantemente um
método de jogo defensivo individual, deverá abranger essencialmente os seguintes aspectos:
1 - Os atacantes sem a posse de bola devem movimentar-se constantemente de forma:
A. Disponibilizar-se para a receber sem estarem agressivamente marcados pelos seus adversários directos,
pois, estes ao serem obrigados a reagirem aos movimentos dos atacantes (e não ao contrário) dá-lhes a pos-
sibilidade nos instantes finais ao deslocamento ofensivo não estarem marcados.
B. Arrastarem os seus defesas directos para espaços de jogo menos perigosos (perto da linha lateral por
exemplo), espartilhando a organização defensiva e, consequentemente, evitar concentrações e aglome-
A organização dinâmica do jogo de futebol 117

rações nos espaços vitais de jogo.


C. Possibilitar do companheiro de posse de bola beneficiar, por um lado, de um aclaramento do jogo,
tendo assim mais espaço para aplicar os seus argumentos técnico-tácticos individuais, e por outro, benefi-
ciar de espaços vitais de jogo (zonas frontais da baliza adversário, por exemplo) por forma a poder con-
cretizar o ataque eficazmente.
2 - Os atacantes com elevadas capacidades individuais de resolução de situação de 1x1 (drible, finta, si-
mulação) devem constantemente arriscar em ultrapassar o seu adversário directo, pois ao fazer isso:
A. Têm de imediato tempo e espaço de jogo para poderem decidir eficientemente que resolução técnico-
táctica devem optar, isto é, manter a posse da bola, progredir, ou finalizar.
B. Obrigam a equipa adversária no seu conjunto a desdobrar-se para compensar a rotura momentânea e
pontual da organização defensiva, fundamentalmente no que diz respeito ao seu equilíbrio (balanço).
C. Estabelecem situações de superioridade numérica num certo espaço do terreno de jogo, quando um dos
defesas ter que deixar a sua marcação directa e deslocar-se em direcção ao atacante de posse de bola.
D. Forçam e provocam a possibilidade dos defesas cometerem infracções às Leis do jogo em espaços vitais
do terreno.
3 - Aspecto importante na luta contra métodos defensivos individuais é o carácter explosivo dos desloca-
mentos ofensivos realizados com mudanças de direcção, velocidade e com fintas procurando:
A. Enganar os adversários directos, não lhes dando indicações claras sobre as suas intenções finais.
B. Obrigá-los a reagir aos falsos sinais que toda a comunicação motora pode conduzir, que traduz, conse-
quentemente num desgaste físico (gasto energético) inútil.
C. Realizar fundamentalmente deslocamentos ofensivos de rotura (diagonal e perpendicular), em direcção
à baliza adversária, ou para os espaços "nas costas" dos defesas por forma a aumentar a profundidade do
ataque e por inerência incrementar o espaço de jogo.
4. Os múltiplos deslocamentos dos atacantes sem bola devem ser sincronizados (coordenados) por forma,
que os defesas tenham grandes dificuldades em lerem as situações de jogo de forma lúcida tendo incertezas
sobre quem devem marcar, obrigando-os consequentemente, a trocas sucessivas que permeabilizam a organi-
zação defensiva.
5. O processo ofensivo a utilizar deve ter um carácter fundamentalmente organizado e colectivo, consubs-
tanciado por acções em profundidade (na direcção à baliza adversária) mas sem nunca pôr em causa as acções
de cobertura ofensiva inerentes a qualquer organização atacante de forma a:
A. Criar muitas situações com elevadas possibilidades de êxito (do ponto de vista ofensivo).
B. Diminuir a iniciativa e a criatividade dos defesas no controlo das situações de jogo.
C. Desmoralizar os defesas diminuindo-lhes a confiança destes sobre a utilização prática deste método
defensivo.

3.2. Procedimentos a tomar contra métodos defensivos zona ou mistos


Os procedimentos a tomar quando se jogo contra uma equipa que utiliza predominantemente um
método de jogo defensivo zona ou misto, deverá abranger essencialmente os seguintes aspectos:
1 - Os atacantes sem a posse da bola devem executar deslocamentos ofensivos:
A. Nos limites (imaginários) das zonas de marcação dos defesas, isto é, nos limites de responsabilidade
individual por forma a criar incertezas entre estes.
B. Para os espaços de jogo onde já esteja posicionado um companheiro, por forma a criar situações de supe-
rioridade numérica pontual e temporária.
C. Arrastar os defesas para espaços não habituais ao desenvolvimento normal das suas acções técnico-tác-
ticas.
2 - Os diferentes atacantes que intervêm momentaneamente sobre a bola devem beneficiar, por parte da sua
equipa, de constantes acções de cobertura ofensiva e de mobilidade com o intuito de:
A. Poder optar pela solução táctica mais eficaz dentro de um leque de possibilidades.
118 Guia prático de exercícios de treino

B. Poder contrastar com as acções de cobertura defensiva levadas a cabo pelos defesas dentro da sua orga-
nização na qual as falhas individuais são prontamente corrigidas.
3 - Os jogadores e a bola devem circular correcta e rapidamente procurando criar situações de desequilíbrio
por forma a espartilhar a organização defensiva adversária, quebrando assim o elevado grau de solidariedade
entre os defesas através da criação de situações de finalização.
4 - Colocar problemas de jogo complexos no plano táctico, obrigando os defesas a terem necessidade de mais
tempo para percepcionarem e analisarem as situações de jogo, que se lhes deparam através de movimentações
múltiplas e sincronizadas dos atacantes.
5 - Utilizar métodos de jogo ofensivos caracterizados por uma rápida transição da fase defensiva para a fase
ofensiva, por um lado, e uma rápida transição da zona de recuperação da posse da bola para as zonas pre-
dominantes de finalização, por outro. Procuram-se assim criar continuamente condições de instabilidade ao
método defensivo adversário, não lhes permitindo, nem o tempo nem o espaço para se poderem organizar
convenientemente.

3.3. Procedimentos a tomar contra métodos defensivos zona pressionantes


Os procedimentos a tomar quando se joga contra uma equipa que utiliza predominantemente um
método de jogo defensivo zona pressionante, deverá abranger essencialmente os seguintes aspectos:
1 - Os atacantes sem a posse da bola devem:
A. Efectuar constantes deslocamentos ofensivos na direcção do companheiro de posse de bola executando
acções de cobertura ofensiva e de mobilidade, procurando proporcionar soluções tácticas simples e efecti-
vas dentro desse centro do jogo.
B. Utilizar um jogo em profundidade, através de deslocamentos ofensivos de rotura procurando explorar
os espaços existentes entre o último defesa e o guarda-redes. Aumenta-se assim, o espaço de jogo, quer em
largura, quer em profundidade e obrigando-se os adversários a recuperarem para espaços mais perto da sua
própria baliza, proporcionando mais tempo e mais espaço para organizar o ataque.
2 - Os diferentes atacantes que intervêm momentaneamente sobre a bola devem:
A. Encontrar rapidamente soluções técnico-tácticas para a situação de jogo evitando que o método de jogo
defensivo se concentre nesse espaço de jogo, aumentando as probabilidades de perda da bola.
B. Beneficiar constantemente de acções de cobertura ofensiva e de mobilidade por parte dos seus com-
panheiros, por forma a optar por uma solução técnico-táctica mais eficaz dentro de um leque alargado de
possibilidades.
C. Modificar, se possível, rapidamente o ângulo de ataque obrigando os adversários a adaptarem-se a este
novo contexto do jogo, através de um conjunto de acções de compensação e permutação que poderão
provocar desequilíbrios irrecuperáveis dentro da organização defensiva.
D. Procurar executar acções de passe para os corredores de jogo opostos, onde se verifica uma menor vigi-
lância e pressão sobre os atacantes aí posicionados, que seguramente receberam a bola sem marcação e
aproveitando-se do tempo que é necessário para a organização defensiva se equilibrar de novo, conseguin-
do situações com elevadas possibilidades de êxito.
E. Forçar as situações de 1x1 provocando a possibilidade dos defesas cometerem infracções em espaços
vitais do terreno de jogo, devido aos elevados níveis de agressividade, especialmente sobre o atacante de
posse de bola.
3 - Utilizar métodos de jogo ofensivos caracterizados por uma análise rápida e correcta da situação de jogo
por forma a imprimir um ritmo mais ou menos elevado:
A. Evita percas extemporâneas da posse da bola, após a sua recuperação, devido às elevadas concentrações
dos jogadores no centro do jogo.
B. Proporciona uma progressão no terreno do jogo realizada de forma rápida e segura, procurando con-
tinuamente os espaços contrários.
C. Cria, através de múltiplos e divergentes deslocamentos ofensivos, condições de dessincronização das
A organização dinâmica do jogo de futebol 119

acções dos defesas, estabelecendo a incerteza ("pânico" por vezes) nas marcações sobre os atacantes.
D. Executam-se acções que levem os defesas a antecipar incorrectamente a situação de jogo e beneficiar
desses erros.
E. Aumenta a sequência das acções individuais e colectivas se as condições no plano físico dos jogadores
adversários estiverem diminuidas, por forma a incutir-lhes elevados níveis de insegurança.

3.4. Procedimentos a tomar contra métodos ofensivos baseados


no contra-ataque ou ataque rápido
Os procedimentos a tomar quando se joga contra uma equipa que utiliza predominantemente um
método de jogo ofensivo baseado no contra-ataque ou ataque rápido, deverá abranger essencialmente os
seguintes aspectos:
1 - Quando de posse de bola a equipa deverá:
A. Manter uma organização defensiva de base (denominado equilíbrio defensivo), que assegura a reorga-
nização do ataque em caso de insucesso deste, ou numa passagem organizada e controlada à fase defensi-
va. Neste sentido, a equipa procura concomitantemente o objectivo de jogo (o golo) e estar preparado para
o momento da perda da posse da bola. Este pressuposto embora seja importante, torna-se fulcral contra
equipas que utilizam o contra-ataque ou o ataque rápido como método de jogo ofensivo.
B. Marcar individual e agressivamente todos os jogadores que não estejam directamente empenhados na
defesa da sua própria baliza. Nestas circunstâncias, devem-se utilizar os melhores defesas em termos indi-
viduais ou criar condições de superioridade numérica no caso da equipa adversária contar com jogadores
de elevada capacidade técnico-táctica individual ofensiva (resolução de situações de 1x1).
2 - Nos momentos após a perda da posse da bola, marcar individual e colectivamente todos os jogadores que
estejam nas melhores condições para relançar ou dar continuidade ao processo ofensivo. Desta forma é pos-
sível, retardar o ataque adversário dando o tempo necessário para que a equipa no seu conjunto recupere para
as suas posições defensivas de base ou recuperar de imediato a posse de bola, tomando para si todas as van-
tagens inerentes ao facto de uma equipa ter de passar num tempo muito curto da fase defensiva para ofensi-
va e novamente para a fase defensiva.
3 - Se não for possível parar ou retardar o contra-ataque ou o ataque rápido do adversário, logo após a perda
da posse da bola, é fundamental:
A. Criar as condições mais favoráveis para enfraquecer o diminuto espírito colectivo deste método ofensi-
vo por forma a que não haja qualquer tipo de possibilidade (veleidade) dos adversários poderem cimentar
esses propósitos em qualquer momento do jogo;
B. Desgastar psicologicamente os adversários evitando que estes possam pôr em prática os seus comporta-
mentos técnico-tácticos, em especial, os atacantes sobre quem recai a organização deste método de jogo.

3.5. Procedimento a tomar contra métodos ofensivos baseados


no ataque posicional
Os procedimentos a tomar quando se joga contra uma equipa que utiliza predominantemente um
método de jogo ofensivo posicional, deverá abranger essencialmente os seguintes aspectos:
1 - Concentrar rapidamente, logo após a perda da posse da bola, os jogadores dentro do método de jogo
defensivo, caracterizado por um bloco homogéneo exprimindo um conjunto de coberturas recíprocas das
acções dos jogadores em que cada erro individual é de imediato corrigido pelos companheiros.
2 - Marcar agressivamente o atacante de posse de bola de forma segura e paciente, obrigando-o a cometer
erros ou a executar respostas tácticas inofensivas do ponto de vista defensivo. Neste contexto, o defesa em
contenção deverá tentar o desarme se houver elevadas possibilidades de se poder recuperar a posse da bola.
3 - Assegurar, a todo o instante do jogo, parte da iniciativa do ataque através do deslocamento coordena-
do e homogéneo de todos os jogadores na procura de reduzir os espaços de jogo onde o ataque se pode
desenvolver e neste sentido, beneficiar, se possível, da Lei do fora-de-jogo.
120 Guia prático de exercícios de treino

4 - Estabelecer ritmos defensivos usando uma variação e uma sequência de acções individuais e colectivas
de marcação sobre os adversários por forma que a ordem, o espaço e a velocidade sejam imprevisíveis,
criando condições de insegurança na qual a equipa adversária não sabe nem quando, nem onde e durante
quanto tempo, irão estar sujeitos a elevados níveis de pressão. Ainda neste contexto, as equipas que uti-
lizem predominantemente o ataque posicional sentem algumas dificuldades contra equipas que exprimem
um tempo e um ritmo elevados.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

Foto 86. A posse da bola não é um fim em si e torna-se utópico, se não for conscientemente considerada como o primeiro passo indispensável no
processo ofensivo, sendo condição "sine qua non" para a concretização dos seus objectivos fundamentais
121

Futebol
Guia prático de exercícios de treino CAPÍTULO 4
O SUBSISTEMA
RELACIONAL

O subsistema relacional traduz


basicamente um conjunto de linhas
orientadoras (denominados princípios do
jogo), em virtude das quais os jogadores ori-
entam e coordenam as suas atitudes e comporta-
mentos técnico-tácticos individuais e colectivos.
Com efeito, os princípios do jogo estabelecem
Os princípios gerais do jogo. Visam assegurar as linhas orientadoras básicas que
um quadro referencial que evidencia um valor
coordenam as atitudes e os comportamentos técnico-tácticos dos jogadores
interno que se radica em dois aspectos funda-
que não se encontram dentro da unidade estrutural funcional do jogo
mentais: a possibilidade de os jogadores atin-
(não fazem parte do círculo de apoios ao companheiro de posse de
girem rapidamente a solução táctica para o
bola ou do companheiro que marca o adversário de posse de
problema que a situação de jogo em si encerra.
bola).
O facto de se resolver, pela acção, problemas em
plena situação de jogo, leva o jogador a obter
conhecimentos subjectivamente novos. E um
valor externo determinado pelo estabelecimento
dos aspectos relacionados com a comunicação
da equipa, isto é, de uma "linguagem comum"
por forma a melhorar a sua funcionalidade.
Com efeito, ao assegurar-se constantemente
Os princípios específicos do jogo. Visam assegurar as linhas uma linguagem comum, ou seja um "código de
orientadoras básicas que coordenam as atitudes e os comporta- leitura", contribui-se claramente para de que os
mentos técnico-tácticos dos jogadores que se posicionam dentro da jogadores ao lerem e valorizarem as situações de
unidade estrutural funcional do jogo. jogo, possam imputar-lhes um significado mais
ou menos relevante e homogéneo em função das
necessidades para a sua resolução táctica.
122 Guia prático de exercícios de treino

Parte UM
O SUBSISTEMA RELACIONAL
Capítulo
Quatro
1. O conceito de subsistema relacional
O subsis - O subsistema relacional da organização dinâmica do jogo de futebol, é definido pela cria-
tema rela - ção de uma linguagem táctica comum no seio da equipa (também denominado de princípios
do jogo), a qual é suportada pela implementação de um conjunto de linhas orientadoras do
pensamento táctico dos jogadores (também denominadas de regras de decisão) as quais
visam a resolução operativa, isto é, técnico-táctica, dos diferentes contextos situacionais que
o jogo em si encerra.

2. A natureza do subsistema relacional


Em função do conceito formulado, a natureza do subsistema relacional, evidencia duas
questões recorrentes e fulcrais:
1. A primeira refere-se à importância do estabelecimento de uma linguagem comum no
seio da organização dinâmica da equipa, por forma a que todos os seus elementos utilizem
o mesmo “dialecto” podendo, no entanto, exprimirem-se num estilo diferente. Neste
âmbito, já Tessie (1970) referia que "para se jogar correctamente é necessário compreen-
der, para compreender é necessário saber, para compreender e saber é necessário definir
cional princípios do jogo". Para uma melhor clarificação deste problema, tomemos por exemplo
duas pessoas a conversar: para que as mensagens emitidas sejam compreendidas, o quadro
refe-rencial tem de ser comum e idêntico tanto para o emissor como para o receptor. Só
Parte UM assim se permitirá, não só manter no tempo o significado dos termos utilizados, como o
Capítulo sentido das frases graças às regras que fixam a disposição desses mesmos termos. Por out-
ras palavras, para que as pessoas comuniquem é necessário que elas utilizem uma lin-
Quatro guagem comum. Analogamente, a natureza do subsistema relacional, num primeiro nível
O subsis - de análise, estabelece o quadro a partir do qual os jogadores interpretam todas as acções de
tema rela - jogo, tais como: os deslocamentos, as paragens, os posicionamentos, as marcações, etc., dos
companheiros e adversários, percepcionando o sentido e o significado dos sinais, que eles
cional em si transportam numa dimensão de carácter estratégico e táctico, impondo simultanea-
mente, as suas próprias significações. Assim, em cada contextualidade situacional, cada
jogador deverá ser capaz de analisar o conjunto de relações implicadas na situação,
Parte UM deduzindo antecipadamente a acção projectada pelos companheiros, adversários e funda-
mentalmente pelo portador da bola. Para assegurar uma sequência lógica da acção de jogo,
cada jogador deverá fazer-se compreender entre os seus companheiros, usando atitudes,
comportamentos que ele mesmo projecta executar e gestos (inclui-se em alguns casos a
comunicação verbal), simultaneamente, procura que estes sejam imperceptíveis aos olhos
dos seus adversários. Resumido, cada jogador perante um contexto situacional concreto de
jogo procura saber e intervir tendo
em consideração:
A. O que está a ocorrer à sua volta,
detectando os índices mais perti-
nentes para tomar uma decisão.

B. O que fazer perante essas circun-


stâncias, isto é, dentro de um leque Figura 37. O quadro referencial
mais ou menos alargado de opções tác- comum nos desportos colectivos. (Caron e Pelchat, 1976)
A organização dinâmica do jogo de futebol 123

ticas encontrar a que mais se adapta à situação. Parte UM


C. Estabelecer o projecto de acção tendo em consideração a
estratégia preestabelecida e os objectivos tácticos momentâ- Capítulo

Foto cedida pelo jornal O JOGO


neos da equipa. Quatro
D. Executar a acção motora de resposta à situação-problema.
E. Verificar que alterações ocorreram no novo contexto situa- O subsis -
Foto 87. O jogador deverá ver cional. tema rela -
o que está à sua volta F. Continuar a influenciar e a ser influenciado pela nova con-
textualidade situacional.
2. A segunda (que decorre do primeiro) exprime a essencialidade de se construir em regras
racionais de decisão (heurísticas) que suportam o pensamento táctico dos jogadores na
resolução das diferentes situações de jogo. Estas regras podem ser consi-deradas como
referências nas quais se apoiam as ligações comuns de todos os espíritos, da compreensão
e da eficácia das acções técnico-tácticas potencializadas pela criatividade e improvisação
que determinam, em última análise, a elevação do nível de jogo da equipa. Ao comparar-
mos jogadores com diferentes níveis de experiência as suas dife-renças esta-belecem-se a
três níveis:
A. Na repetibilidade e similaridade que os contextos situacionais se sucedem perante o
jogador e a variabilidade decisional inerente que este vai
assumindo.
B. Na quantidade de vezes que as várias situações são vivi- cional
das, as quais criam uma série de rotinas no plano da per-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

cepção/análise e solução mental permitindo a utilização de


mais alternativas que facilitam a decisão e uma solução Parte UM
motora cada vez mais adaptada aos circunstancialismos Capítulo
contextuais das situações.
C. Na selectividade das informações mais pertinentes que
Quatro
Foto 88. O jogador deve selec-
cionar as informações mais perti-
irão desencadear padrões familiares de resposta motora, O subsis -
nentes padrões esses que são já controlados automaticamente. O tema rela -
êxito desportivo está essencialmente condicionado pela
aptidão do jogador em assimilar a variabilidade do envolvimento e em transformar a cional
informação disponível para realizar a acção.

Partindo desta perspectiva, os factores que diferenciam os jogadores de elevado Parte UM


nível dos não experientes, consiste na capacidade dos primeiros reproduzirem atitudes e
comportamentos de índole técnica, táctica e estratégica em função da contextualidade situa-
cional. Neste sentido, cria-se um conjunto de hábitos ou rotinas: i) de percepção e análise da
situação, (2) tratamento da informação, (3) tomada de decisões as quais põem em jogo os
mecanismos de evocação da memória, no qual se enquadra um conjunto de experiências pas-
sadas e por inerência um maior número de alternativas, que optimizam e facilitam a selec-
tividade da decisão (solução mental) estabelecida. Os jogadores de elevado nível, além da
capacidade de seleccionar os índices mais pertinentes da situação, desencadeiam padrões
familiares ou similares de resposta motora e por inerência com um elevado nível de automa-
tismo.

3. A importância do subsistema relacional


Muitos são os autores, que evidenciam a importância do estabelecimento de
princípios de jogo justificando para isso, um vasto leque de diferentes aspectos que consub-
124 Guia prático de exercícios de treino

stanciam o melhoramento da funcionalidade da equipa tanto do ponto de vista operacional como afectivo. O
jogo de futebol reflecte um conjunto diversificado de situações momentâneas de jogo, que por si encerram
inúmeros problemas que de-verão ser resolvidos pelos componentes das duas equipas em confronto, através de
acções significativas, orientadas em relação a um objectivo comum. Desta assunção, facilmente inferimos do ele-
vado grau de complexidade que os comportamentos dos jogadores em si encerram. Executar uma acção correc-
ta, no momento exacto, empregando a força necessária, imprimindo a velocidade ideal, antecipando as acções
dos adversários e tornar compreensível a sua acção em relação aos companheiros e incompreensível relativa-
mente aos adversários, são alguns dos elementos que qualquer jogador deve ter em conta antes de tomar uma
decisão. Neste sentido, a re-solução de um qualquer contexto de jogo passa indissoluvelmente pelos comporta-
mentos dos jogadores que exprimem duas vertentes fundamentais e inseparáveis: i) a vertente táctica que é
definida pelo processo intelectual de solução do problema de jogo e, (2) a vertente técnica que é definida pela
solução prática do problema de jogo. Nesta linha de raciocínio, a solução dos contextos situacionais de jogo
implicam, em geral, o recurso a certos princípios que são desenvolvidos através das directrizes do treinador (na
prática do treino e da competição) e dos conhecimentos pré-existentes (experiências) dos jogadores para resolver
as situações-problema. Estas regras de decisão, aprendidas e aperfeiçoadas pela aplicação prática, possibilitam
soluções satisfatórias relativamente ao balanço entre os benefícios qualitativos de se fazerem melhores escolhas
contra os custos de usar outras mais complexas, pois embora sejam melhores como regras necessitam de mais
tempo para reflectir a si-tuação (tempo é o que não existe no futebol) e de mais esforço.
A utilização de regras de decisão compreendem duas operações mentais distintas: (1) a primeira que
é a mais difícil na maior parte das vezes, consiste em determinar a que regra é necessário recorrer para resolver
o problema levantado, (2) a segunda diz respeito à aplicação de uma determinada regra relativamente às
condições particulares do problema a resolver. É nesta perspectiva que a escolha da resposta perante a situa-ção-
problema é determinado pela:
1. Disposição dos elementos mais pertinentes no contexto situacional
2. Estratégia colectiva e individual dos jogadores da equipa.
3. Eficácia na execução da acção técnico-táctica

Neste domínio, a importância dos princípios do jogo de futebol e nos desportos colectivos em geral,
consubstancia-se sobre dois valores de ordem interna e externa.

3.1. Valor interno


A análise do valor interno dos princípios do jogo do futebol radica em dois aspectos que conside-
ramos fundamentais:
1. O facto dos jogadores atingirem rapidamente a solução táctica adaptada e eficaz ao problema que a situa-
ção de jogo em si encerra, exige concretamente a participação da consciência. Nesta perspectiva, desenvolve-
se uma intensa e determinante actividade intelectual operatória, através da qual os jogadores procuram iden-
tificar alterações/modificações da contextualidade do meio, tentando descodificar continuamente a estrutura
(lógica) dinâmica das interacções observadas. Estes processos intelectuais operatórios, de carácter complexo,
estabelecem os mecanismos organizadores das percepções e das acções motoras dos jogadores consubstan-
ciando-se: (1) na apreciação das velocidades, das distâncias, da profundidade e, (2) da estimação (antecipação)
dos projectos dos outros intervenientes, isto é, companheiros e adversários. Todos estes elementos e as suas
interacções são analisados pelos jogadores em termos de probabilidade subjectiva partindo de um grau de
confiança variável, com a qual se estabelece a estratégia da acção relativamente à situação contextual de jogo.
2. O facto de se resolver em pela acção (prática), os problemas inerentes aos diferentes contextos situacionais
que o jogo de futebol traduz, obriga os jogadores na maior parte das vezes a realizarem com discernimento a
situação problemática, cuja solução leva-os a obterem novos conhecimentos e experiências. Tal como refere
Mahlo (1966), "o acto táctico é um sistema de investigação que não se contenta em escolher a melhor respos-
ta entre várias possíveis, esta auto-aperfeiçoa-se ao mesmo tempo que resolve o problema posto". Assim, as
A organização dinâmica do jogo de futebol 125

soluções encontradas para a resolução das


situações de jogo fixam-se como expe-riên-
cias acumuladas, que por sua vez, se tornam
o suporte fundamental na formulação de
novas soluções tácticas. Estas soluções
alargam o espectro resolucional das situ-
ações-problema possíveis potenciando para-
lelamente, o seu grau de eficácia. Perante uma determinada con-
textualidade situacional, os jogadores numa primeira fase, ime-
diatamente procuram as similaridades com outros problemas
(outras experiências) já anteriormente vividas, por forma a evo-
car um determinado nível de resolução do
problema (carácter indutivo). Caso estas
similaridades não existam ou não sejam
Foto cedida pelo jornal O JOGO

reconhecidas, isto é, o problema para o


jogador é totalmente novo, este terá de
deduzir conscientemente por forma a encon-
trar a acção motora de resposta para a qual Foto 89/90/91. O valor interno dos princí-
pios - atingir-se rapidamente a solução tácti-
contribui a sua capacidade de modificação, ca
comparação, improvisação e criação face às
acções adversas dos opositores.

3.2. O valor externo


O valor externo do subsistema relacional é determinado pelo estabelecimento dos aspectos rela-
cionados com a comunicação da equipa, isto é, de uma "linguagem comum" por forma a melhorar a sua fun-
cionalidade. Com efeito, ao assegurar-se constantemente uma linguagem comum, ou seja um "código de leitu-
ra", contribui-se claramente para que os jogadores ao lerem e valorizarem as
situações de jogo, possam imputar-lhes um significado mais ou menos relevante
e homogéneo em função das necessidades para a sua resolução táctica. Os
mecanismos que fundamentam o comportamento táctico dos jogadores, ocor-
rem contínua e permanentemente durante a competição. Cada situação de jogo,
tal como referimos anteriormente, comporta índices de identifi-
cação bem definidos e hierarquizados que são o testemunho do
seu si-gnificado táctico e que transportam já em si as li-gações
essenciais, através das quais os jogadores ao "lerem" a situação
avaliam as suas possibilidades de êxito, preparando mentalmente
a sua acção futura, respeitando as regras do jogo,
antecipando o seu comportamento em função do
prognóstico por ele elaborado e executando uma
resposta que seja previsível aos olhos dos seus
compa-nheiros (ordem) e imprevisível aos dos
adversários (desordem). Neste
sentido, todos os jogadores,
Foto cedida pelo jornal O JOGO

devem cons-ciencializar e val-


orizar constantemente, a sua
contribuição para o desen-
volvimento eficaz, tanto do
Foto 92/93/94/95. Estabelecimento de uma linguagem comum processo ofensivo, como do
126 Guia prático de exercícios de treino

processo defensivo. Isto significa, a necessidade de procurem uma cooperação, racionalização e coerência
dinâmica da movimentação da equipa com vista à concretização dos objectivos definidos. Assim, no plano fun-
cional (valor externo), os princípios utilizados durante o jogo devem permitir a comunicação dentro da equipa,
considerando: (1) a situação de jogo (compreendê-la) e, (2) a sua evolução (prevê-la).

4. Os objectivos do subsistema relacional


Em cada momento do jogo, só um jogador poderá deter a posse da bola, todavia, a coordenação e o
rendimento total da equipa depende largamente dos comportamentos técnico-tácticos dos restantes dez com-
panheiros. O futebol actual consubstancia o aumento da mobilidade (raio de acção) de todos os jogadores, o que
determina claramente a necessidade de uma correlação correcta e complementar das suas movimentações, obri-
gando-os, neste contexto, a terem um conhecimento o mais profundo possível dos princípios (encarado como
as normas para ajudar a formular um pensamento e determinar o sentido da acção baseado em factos práticos
e teóricos básicos do jogo, por forma a permitir cumprir o propósito da criação, ocupação e exploração eficiente
dos espaços de jogo (quando a equipa tem a posse da bola) ou vigilância e restrição (quando a equipa não tem
a posse da bola).
O subsistema relacional da organização dinâmica de uma equipa de futebol, tem por objectivo fun-
damental o estabelecimento de um conjunto de regras básicas de orientação táctica, que coordenam as atitudes
e comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos dos jogadores, tanto no processo ofensivo como no
defensivo. Por outras palavras, os princípios do jogo asseguram, em última análise, as linhas orientadoras dos
comportamentos dos jogadores (linguagem comum) permitindo uma melhor selecção e articulação dentro da
organização da equipa, a partir dos quais se desenvolve e evolui a sua expressão táctica, reflectindo no seu inte-
rior uma solidariedade orgânica e regulativa desses mesmos comportamentos.

5. As fontes de que derivam os princípios do jogo


O jogo de futebol pode ser analisado em função de várias classes de problemas técnico-tácticos esta-
belecidos pelas várias situações momentâneas de jogo. É num quadro diversificado de relação, que os jogadores
têm que intervir nas situações de jogo, através dos seus comportamentos que derivam de princípios previamente
estabelecidos e que provêm de duas fontes essenciais:
1. Das directrizes dadas pelo treinador. É de extrema importância avançar na compreensão da lógica interna
do jogo partindo do conhecimento o mais alargado possível dos seus elementos estruturais. Tal como refere
Teodorescu (1984 "através da contínua ligação entre a prática e a teoria atinge-se um esta-
do superior de compreensão da realidade do jogo, sendo assim possível proceder-se a uma
síntese, ou seja, a uma generalização e sistematização dos seus elementos fundamentais".
Foto cedida pelo jornal O JOGO

Todas as atitudes e comportamentos em futebol são auto-formais, isto é, as formas mais


simples evoluem para as mais lógicas, mais racionais e mais eficazes, sendo o papel pri-
mordial do treinador, o de acelerar os factores deste aperfeiçoamento constante, que só
poderá acontecer se os processos de observação/análise e de treino se ajustarem o mais Foto 96. O
possível (identidade/similaridade) à realidade competitiva. treinador
2. Da experiência e maturidade adquirida pelos jogadores. Os jogadores são confronta-
dos com uma realidade que exige: (1) percepcioná-la através dos órgãos dos sentidos, detectando os seus
índices pertinentes, (2) seleccionar a resposta estabelecendo o plano de acção que define com
elevada precisão a articulação dos diferentes procedimentos que entende utilizar, (3) progra-
mar a resposta recebendo o projecto de solução e recrutar os comandos motores necessários
Foto cedida pelo jornal O JOGO

à sua execução, (4) enviá-lo ao sistema neuro-muscular para a sua efectivação e, (5) recolher
informação concomitante e terminal sobre a resposta e o seu grau de ajustamento, para pos-
sibilitar a sua eventual correcção.
Foto 97. O
Após uma ou mais situações de jogo, os jogadores são levados a comparar o desvio entre
jogador os efeitos produzidos e os efeitos pretendidos, ou seja, a eficácia da sua acção em função do
A organização dinâmica do jogo de futebol 127

cumprimento dos objectivos tácticos da sua equipa. São estas relações de influência e de comparação que per-
mitem aos jogadores: (1) mo-dificar em pequenos detalhes, (2) redefinir totalmente o projecto de acção quando
o resultado pretendido não foi atingido e, (3) reforçar a compatibilidade entre situação e resposta (feedback pos-
itivo). Os meios de comparação, entre o produzido e o pretendido, segundo Grehaigne (1992) "quando assumem
um carácter constante e são suficientemente gerais transformam-se em auto-conselhos para os jogadores na
medida em que estabelecem regulamentos activos para afinar as suas respostas motoras". A passagem, acrescen-
ta o mesmo autor (1992) "da conceptualização à acção pressupõe uma modificação na linguagem, isto é, a
tradução de uma linguagem conceptual para uma linguagem motora. Esta modificação realiza-se pela instalação
do projecto de acção a partir do suporte conceptual que constituem os princípios do jogo".
Outro aspecto que é preciso não ignorar é o facto de que cada jogador, consoante as suas particular-
idades, percepciona, analisa e resolve mentalmente as situações competitivas de forma diferente. Portanto, os
processos mentais de base à resolução eficaz duma mesma situação irão concretamente determinar diferentes
níveis de elaboração. Assim, a solução mental de uma mesma situação de jogo, poderá para uns, envolver um
pensamento que resulta de uma actividade mental criadora, enquanto para outros, envolve um processo mental
menos elaborado, resolvendo a situação mais "economicamente". Este facto determina, que os jogadores poderão
preservar a atenção para o tratamento de outros aspectos, tal como a previsão do desenvolvimento da direcção
do jogo. Contudo, a resolução mental de um elevado número de situações idênticas de competição, determina
um auto-aperfeiçoamento, que consubstancia a diminuição da elaboração mental e da vigilância da situação.
Logo, à medida que o jogador eleva a sua capacidade de solução mental do problema de jogo, necessita cada vez
menos, que o processo mental adjacente a esta solução seja tão elaborado. Isto significa que a resposta à situação
competitiva, é realizada mais rapidamente, mas mantendo o mesmo nível de eficácia, não consagrando toda a
atenção a essa situação momentânea e particular do jogo.
As regras racionais de tomada de decisão dos jogadores devem ter em consideração três vertentes
nucleares: (1) a natureza da decisão, (2) o contexto situacional em que essa decisão irá ter lugar e, (3) o jogador
que está apetrechado com um conjunto de processos cognitivos e motores.
5.1. A natureza da decisão. Vários investigadores assumem que a tomada de decisão ocorre de acordo com
uma série de estádios bastante bem definidos, se bem que algumas decisões mais complexas possam repetir
alguns passos ou voltar atrás na sequência de estádios (Carroll e Johnson, 1990, Araújo, 1998):
1. Reconhecimento. O processo da tomada de decisão começa quando o jogador reconhece a necessidade
que uma decisão deve ser tomada para alterar o rumo dos acontecimentos que gravitam à sua volta.
2. Gerar alternativas. Quando um jogador vai decidir há, teorica-
mente, inúmeras alternativas a equacionar. Todavia, esse número
vai ser reduzido às alternativas mais racionais ou adaptadas,
Foto cedida pelo jornal O JOGO

preferidas ou mais atraentes para este.


3. Procura de informação. Discernir e identificar com eficiência
entre vários estímulos, os mais pertinentes no menor tempo pos-
sível, é de fundamental importância para a resolução das situações
de jogo. Foto 98. Procura da informação, escolher a
4. Julgamento ou escolha. O julgamento e a escolha são dois tipos alternativa e executá-la
diferentes da tomada de decisão, podendo mesmo, produzir decisões diferentes. A forma pela qual o
jogador avalia as alternativas - para um julgamento ou para uma escolha - consiste no emprego de regras
de decisão, as quais variam quer por serem: i) gerais, podem ser aplicadas através de uma larga variedade
de situações decisionais e, (2) específicas são aplicadas num estrito leque aplicacional.
5. Acção. Uma vez tomada a decisão esta deverá ser posta em prática pelo jogador.
6. Feedback. Depois de se ter executado a decisão, o jogador deve receber informação de retorno acerca da
sua acção. Isto permite desenvolver o conhecimento, bem como as regras decisionais, ou seja, aprender,
aperfeiçoar ou desenvolver.
5.2. O contexto situacional. A tomada de decisão é um processo extremamente dependente das característi-
128 Guia prático de exercícios de treino

cas e constrangimentos da contextualidade da situação. Assim há que ter em consideração os seguintes aspec-
tos:
1. O contexto situacional pode ser: (1) co-nhecida. O conhecimento da situação-pro-blema estabelece um
determinado nível de estruturação no processo de tomada de decisão, sendo regulada e organizada em
função dos hábitos e dos automatismos
adquiridos pelo jogador ao longo do seu
processo de treino e, (2) desconhecida.
Verifica-se uma destruturação, pois não
existe uma forma pré-definida para encon-
trar e aplicar a acção motora em resposta aos

Foto cedida pelo jornal O JOGO


problemas contextualizados pela situação.
Esta deverá ser resolvida através do aspecto
intrínseco e criador do jogador e dos princí-
pios orientadores do comportamento tácti-
co.
2. Clareza do objectivo. Pressupõe uma
especificação clara de um estado ou de uma
multiplicidade de resultados. Fotos 99/100/101. O contexto da situação deter-
3. Complexidade. No futebol os comporta- mina um conjunto de aspectos que importa
mentos dos jogadores não apresentam uma tomar em consideração
sequência fixa dos elementos que o com-
põem, mas sim uma adaptação a cada circunstância situacional, alterando os elementos de execução de
forma distinta, dando lugar a uma cascata de decisões de grande variabilidade.
4. Importância da situação. Em função da importância da situação no que se refere aos objectivos que estes
poderão concretizar, maiores serão os riscos associados a uma adaptada tomada de decisão. Neste sentido,
consequentemente o jogador irá pôr um maior cuidado na escolha de uma opção decorrente de várias, para
solucionar o problema. A concentração psíquica e os valores fisiológicos que se poderão registar no jogador
durante a marcação de uma grande penalidade serão totalmente diferentes se essa acção técnica decidir o
resultado final da partida, do que os de uma outra que nada irá decidir.
5. O tempo para decidir. A manipulação do tempo que o jogador tem para decidir (aumentando-o ou
reduzindo-o) na resolução de uma situação-problema estabelecido, é o factor de maior constrangimento
para este na concretização dos objectivos e critérios de êxito predeterminados. Vejamos uma situação con-
creta: um jogador ao receber a bola está perante duas soluções tácticas, rematar à baliza ou penetrar, apro-
ximando-se da área por forma a aumentar as possibilidades de êxito do remate. A pequena fracção de
segundo (determinada pela hesitação da qual a decisão a tomar irá inexoravelmente alterar a contextuali-
dade situacional), poderá levar o jogador , devido ao aumento da pressão defensiva, a optar por uma ter-
ceira opção menos eficaz, como por exemplo passar a bola a um companheiro pior posicionado. Sob
pressão temporal a eficiência da tomada de decisão do praticante pode ser afectada.
6. Os constrangimentos espaciais. Cada jogador representa uma “força” que se manifesta pela ocupação e
dinamização de um espaço de jogo no qual, este exprime a sua individualidade e a sua personalidade, ref-
erenciadas pelas suas opções e, consequentemente, pelas suas acções motoras. Assim, é preciso ter presente
que cada jogador se encontra confrontado por espaços dinâmicos funcionalmente ligados entre si, que se
modificam: (1) em função das tarefas que lhes são determinadas, (2) da evolução das acções programadas
e, (3) do tempo para as executar. No que se refere a esta última vertente, ao diminuirmos o espaço, maiores
serão as dificuldades encontradas pelos jogadores na concretização dos objectivos, este facto surge porque
quanto menor for o espaço, menor será o tempo que os praticantes possuem para ana-lisar a situação e exe-
cutar as acções técnico-tácticas correspondentes à sua solução, o que implica consequentemente um
aumento da velocidade e do ritmo de execução das acções individuais e colectivas, dimi-nuindo a eficiên-
A organização dinâmica do jogo de futebol 129

cia estabelecida para a concretização de níveis de êxito propostos.


5.3. O jogador. Genericamente, só é legitimo falar-se do processo decisional quando o jogador passa por um
processo de comparação de alternativas. Sem comparação de alternativas não é possível que o comportamen-
to reflicta uma escolha, mas antes um hábito ou um automatismo. Neste domínio podemos assinalar os
seguintes aspectos:

Figura 38. Exemplo de uma árvore de tomada de decisão para o jogo de futebol

1. Não exaustividade. A mente humana é limitada, uma vez que a memória de curto prazo armazena uma
ínfima parte do que se passa à nossa volta, como na sua passagem para a memória de longo prazo. Devido
a estas limitações, o jogador tem a tendência de simplificar as informações que derivam do envolvimento
e em formular decisões que iluminam alguns aspectos da situação, mas ignoram outros. No futebol
podemos sistematizar as diferentes tomadas de decisão partindo-se de condições iniciais concretas e
padronizadas, que se anulam mutuamente consoante as situações as quais determinam diferentes opções
(decisões), que por sua vez, são suportadas por um conjunto de comportamentos (acções técnico-tácticas)
de base que concretizam os objectivos de cada decisão tomada.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

2. Selectividade sistemática. Pelo facto de


não ser exaustivo o ser humano é selectivo,
Fotos 102/103. O jogador quando decide
passa por um processo de comparação de
tornando-se fonte de maior enviesamento. O
alternativas homem privilegia determinado tipo de infor-
130 Guia prático de exercícios de treino

mação em detrimento de outro. Assim: (1) a informação referente a ocorrências é sobrevalorizada relati-

Figura 39. As condições iniciais, as situações, as decisões e as acções a executar durante o processo ofensivo
numa modalidade de jogos desportivos colectivos

vamente aquela referente a não ocorrências, (2) a informação superficialmente relevante ou que confirma
as expectativas ou aprendizagens anteriores, é tida como mais útil do que a informação cuja relevância seja
A organização dinâmica do jogo de futebol 131

um pouco menos óbvia ou que seja incongruente em relação às expectativas ou à aprendizagem anterior e,

Figura 40. As condições iniciais, as situações, as decisões e as acções a executar durante o processo defensivo numa modalidade de jogos desportivos
colectivos

(3) a informação mais acessível tem um valor exagerado em relação ao da informação menos acessível.
3. Incompreensão do conceito de “acaso”. O ser humano é muitas vezes incapaz de reconhecer o compo-
132 Guia prático de exercícios de treino

nente aleatório de grande parte das situações que enfrenta.


4. Demasiada confiança no julgamento e decisão. As pessoas acreditam ter muito melhor imagem da real-
idade do que na verdade têm, pois o conhecimento que possuem acerca dos factos é demasiado estrito, por
oposição às largas previsões que efectuam com plena confiança
5. A propensão para tomar riscos. Outra das características do jogador é assumir riscos, a qual influência
as estratégias de decisão quando se lida com um vasto número de características do contexto. Numa decisão
com risco o praticante não tem certezas quanto aos resultados e às possibilidades de perdas de recursos.
6. A influência das características do jogador nos modos de escolha. As características do decisor pare-
cem influenciar fortemente a selecção de um modo de escolha apropriado, a partir do momento em que
estes reflectem diferentes percepções do problema, requerem diferentes capacidades para processar infor-
mação e implicam diferentes níveis de aspiração e de risco.

Finalizando, os princípios de jogo definem, em última instância, a compreensão das relações lógicas
elementares ou por outras palavras, das propriedades invariantes das situações de jogo, sobre as quais se vai
inserir a actividade conceptual e motora dos jogadores para responder aos diferentes problemas gerados pelo
confronto entre as duas equipas. Constituem-se neste domínio, como uma construção teórica e um instrumen-
to operatório que orienta um certo número de comportamentos técnico-tácticos dos jogadores, representando
assim uma fonte que permite agir sobre a realidade do jogo, isto é, na resolução das situações momentâneas de
jogo. As suas principais características são: i) serem conscientes, (2) serem simples, (3) possuírem um certo grau
de generalização, (4) concorrerem na planificação, selecção e execução da acção em relação estreita com os
mecanismos motores, sem se confundir com esta e, (5) participarem na explicação da acção.

6. As relações entre o subsistema estrutural e relacional


A interacção técnico-táctica dos jogadores observado no terreno, em qualquer contexto situacional
de jogo, passa indubitavelmente (e uma vez que uma dada situação é única, pois contém sempre uma parte de
casualidade e de improvisação), pelo sentido táctico dado aos vários sinais que a tarefa em si comporta, os quais
deverão ser reunidos e decifrados durante o decurso da situação, na procura de uma resolução eficaz do pro-
blema. Os jogadores de alto nível conseguem compreender as acções dos seus companheiros, criando-se uma
rede de comunicação que coordena e sincroniza os movimentos de cada jogador. Temos assim que aceitar que
existe na base da rede, uma linguagem comum que permite a transmissão e a compreensão das respectivas
intenções dos jogadores.
O subsistema estrutural deverá, simultaneamente, estabelecer as linhas de força unitárias e
homogéneas (que constituem o quadro referencial de redes de comunicação ou de intercepção das ligações dos
adversários),e consubstanciar um conjunto de normas básicas de orientação que coordenam as atitudes e com-
portamentos técnico-tácticos individuais e colectivos dos jogadores, tanto no processo ofensivo como no defen-
sivo. Por outras palavras, os princípios do jogo asseguram, em última análise, as linhas orientadoras dos com-
portamentos dos jogadores (linguagem comum), permitindo uma melhor selecção e articulação dentro da orga-
nização da equipa, a partir dos quais se desenvolve e evolui a sua expressão táctica, reflectindo no seu interior
uma solidariedade orgânica e regulativa desses mesmos comportamentos. Ao assegurar-se constantemente uma
linguagem comum, ou seja um "código de leitura", contribui-se claramente para que os jogadores ao lerem e val-
orizarem as situações de jogo, possam imputar-lhes um significado mais ou menos relevante e homogéneo, em
função das necessidades, para a sua resolução táctica. Se todos os jogadores compreenderem, consciencializarem
e valorizarem constantemente a sua contribuição e dos seus companheiros, para o desenvolvimento eficaz tanto
do processo ofensivo como defensivo, estabelecem automaticamente um quadro relacional de participação con-
sciente e activa na coerência dinâmica de movimentação da equipa, cooperando e racionalizando os seus com-
portamentos técnico-tácticos, com vista à concretização dos objectivos definidos para cada um dos referidos
processos. Esta visão, de maneira nenhuma restringe a liberdade de acção dos jogadores. Pelo contrário, desta
forma e em cada situação de jogo, o jogador estará em condições de percepcionar, analisar e decidir-se por um
A organização dinâmica do jogo de futebol 133

comportamento o mais adaptado possível às condições da situação de jogo.

7. Níveis do subsistema relacional


O futebol desenvolve-se num extenso espaço de jogo (existe em média 325m2/por jogador) com um
elevado número de elementos (onze) pertencentes a cada uma das equipas em confronto. Deriva desta cons-
tatação lógica do jogo de futebol, a existência, sem a qual o jogo não poderá evoluir no sentido positivo, a acção
coordenada de todos os jogadores em qualquer momento do jogo, sendo esta, em primeira análise, norteada
pelas suas missões tácticas específicas que derivam do seu posicionamento dentro do sistema táctico da equipa.
A atribuição destas missões tácticas obriga os jogadores a manterem-se constantemente atentos e activos, influ-
enciando e em simultâneo ser influenciados pelo desenvolvimento do jogo. Procuram nesse sentido, contribuír

Figura 41. Elementos a percepcionar durante a situação de jogo e o modelo cognitivo de regulação
da acção (adaptado de Konzag, Dobler e Herzog, 1995)
para o desenvolvimento eficaz do processo ofensivo ou defensivo em que a sua equipa está inserida, ou na
preparação de uma destas fases fundamentais do jogo, independentemente de a sua equipa deter ou não a posse
da bola. Para que o correcto desenvolvimento do jogo seja uma realidade, é fundamental que se faça sentir a
contribuição de cada jogador tanto: (1) na resolução imediata dos diferentes contextos situacionais pontuais e
temporários, que o jogo em cada momento em si encerra, bem como, (2) na antecipação ou na preparação dos
futuros cenários contextuais que daí possam resultar.
Neste domínio, os diferentes jogadores procuram dentro das suas possibilidades, facilitar ou pertur-
bar a continuidade do processo ofensivo ou defensivo, que em última análise, são constituídos pelas interacções
resultantes dos diferentes contextos situacionais, desde a recuperação até à perca da posse da bola. Do referido,
podemos evidenciar que em cada fracção do jogo todos os jogadores de cada equipa devem assumir atitudes e
comportamentos técnico-tácticos de carácter individual e colectivo, convergindo (aproximando-se) ou divergin-
do (afastando-se) do espaço em que a bola se encontra e, naturalmente, do companheiro ou do adversário que
a detém. Estas decisões, que levam a uma aproximação ou afastamento do espaço onde a bola se encontra,
derivam fundamentalmente: (1) das necessidades verificadas para uma resolução eficaz dessa situação pontual e
temporária do jogo, (2) da importância de se criar condições de desequilíbrio da organização da equipa adver-
sária e, (3) do restabelecimento continuo e automático dos equilíbrios de suporte ao sistema táctico da equipa.
Com efeito, sempre que a bola entra em movimento observa-se, por parte dos jogadores, um conjunto de acções
individuais coordenadas por um amplo sentido colectivo suportado por decisões mentais que os transportam
para espaços mais afastados dos contextos situacionais temporários ou directamente para o seio des-ses contex-
tos, com o intuito que essas decisões do domínio táctico e técnico convirjam numa via única, a de contribuir
positivamente para a concretização dos objectivos estratégicos preestabelecidos pela equipa e/ou dos objectivos
134 Guia prático de exercícios de treino

tácticos que resultam das circunstâncias da situação de jogo.


Ampliando as considerações referidas, verifica-se que os jogadores ao optarem por se aproximar
(apoiando os colegas) ou afastar da posição da bola (rompendo ou equilibrando o sistema táctico da equipa
adversária e da própria equipa respectivamente), cumprem pressupostos fundamentais de carácter estratégico e
táctico de base eficaz para o desenvolvimento do jogo, seja qual for a fase em que se encontrem. Nesta medi-
da, o jogo “fragmenta” (não no sentido de se partir ou separar) numa continuidade lógica de acção (envolven-
do no mesmo momento a resolução dos diferentes contextos situacionais do jogo e a criação de condições facil-
itadoras) em espaços mais distantes, que possam resultar na execução de comportamentos técnico-tácticos de
carácter individual e colectivo, que objectivam a rotura da organização adversária e do equilíbrio do sistema tác-
tico da própria equipa. É neste enquadramento situacional, suportado por duas decisões e comportamentos, (que
à primeira vista parecem divergentes), se convergem num sentido único de contribuição eficaz para a con-
cretização dos objectivos do ataque ou da defesa. Um exemplo típico destas considerações, acontece quando os
jogadores, não estando directamente implicados na recuperação da posse da bola, se posicionam em certos
espaços estratégicos de jogo, nos quais preparam o ataque da sua equipa (quando se verifica a recuperação desta).
Simultaneamente obrigam a equipa adversária a atacar em condições de inferioridade numérica, pois, como se
compreende, estes jogadores deverão ser marcados e vigiados por adversários, cuja equipa se encontra nesse
momento em processo ofensivo. Na linha deste raciocínio poder-se-á acrescentar, que os jogadores não estando
directamente implicados no processo ofensivo da sua equipa, se posicionam em certos espaços estratégicos de
jogo (equilibrando o sistema táctico), nos quais se desenvolvem e preparam a possibilidade de uma perda extem-
porânea da posse da bola, marcando e vigiando espaços e adversários que podem estabelecer-se como corredores
e correntes de transmissão do rápido desenvolvimento do processo ofensivo adversário. O seu posicionamento
deverá possibilitar, simultaneamente, uma reorganização rápida do ataque da sua equipa, em caso de insucesso
momentâneo deste. Nesta perspectiva, dentro do desenvolvimento de cada processo ofensivo e defensivo, nem
todos jogadores pertencentes às equipas estão directamente envolvidos no ataque à baliza adversária, nem na
tentativa de recuperação da posse da bola. Todavia isto não significa, que em qualquer circunstância do jogo, e
sempre que estas exijam, não possam vir a ser recrutados e envolverem-se de forma profunda e motivante na
criação de condições favoráveis à concretização efectiva dos objectivos de uma das duas fases fundamentais do
jogo de futebol.

7.1. As unidades estruturais funcionais (do qual derivam os princípios específicos do jogo)
Se analisarmos outras modalidades desportivas de carácter colectivo, tais como o andebol e o bas-
quetebol por exemplo, de imediato verificamos que estas se desenvolvem num espaço de jogo mais reduzido e
com um menor número de elementos por equipa, quando comparado ao jogo de futebol. Este facto tem como
consequência prática dois aspectos essenciais:
1. Em todas as situações, todos os elementos da mesma equipa, no mesmo momento, estão profundamente
envolvidos numa das fases fundamentais do jogo (ataque ou defesa). Assim, os jogadores da equipa de posse
de bola, procuram circulá-la executando simultaneamente constantes deslocamentos por forma a criar, ocu-
par e explorar espaços vitais de jogo, em ordem à execução de um remate (andebol) ou lançamento (bas-
quetebol) efectivo. No mesmo momento e em sentido contrário, os defesas procuram anular essas mesmas
circulações tácticas, por forma a recuperar a bola e a defender a baliza ou o cesto, através de deslocamentos
que mantenham objectivamente, a marcação a adversários directos e a vigilância dos espaços vitais e estratégi-
cos do jogo.
2. Devido à proximidade posicional e processual (operatória) que os diferentes jogadores (atacantes e defesas)
adoptam nos diferentes contextos situacionais de jogo, durante as fases de cariz ofensivo ou defensivo, faz
interagir os seus comportamentos técnico-tácticos (tendo em consideração, as suas decisões de carácter tácti-
co), com as acções executadas pelos outros jogadores (companheiros e adversários) as quais, na maio-ria das
situações se enquadram no seu campo de visão. Estabelece-se assim, devido a um esforço concentrado da
atenção, relações de comunicação e contra-comunicação priviligiadas, pelo facto de serem observadas, anal-
A organização dinâmica do jogo de futebol 135

isadas e conscientemente integradas como informações pertinentes para a tomada de decisão.

No jogo de futebol este aspecto de influenciar e ser influenciado por um número significativo de
jogadores (companheiros e adversários) que assumem diferentes comportamentos técnico-tácticos, é de todo
impossível. A realidade deste facto, constrange inapelavelmente a tomada de decisão, e por inerência, a execução
da acção de resposta ao contexto situacional presente. Daí que, podemos teoricamente estabelecer a existência,
em cada momento do jogo, de uma unidade lógica funcional e operacional, que rapidamente se constitui (con-
soante o nível de organização dinâmica da própria equipa), cada vez que um dos jogadores recebe a bola, poden-
do ser alterada (positiva ou negativamente) durante o tempo em que este a detém. Assim, em cada momento do
jogo, observam-se transformações fundamentais consubstanciados por um conjunto de deslocamentos de alguns
companheiros, que convergem na sua direcção com o intuito de apoia-lo na sua acção, e de adversários a tentar
destituí-lo da posse da bola, ou no mínimo levá-lo a optar e a executar acções desadaptadas e ineficazes ao con-
texto situacional existente. Cada unidade lógica (estrutura) funcional, que se forma em cada instante do jogo em
função dos objectivos tácticos momentâneos de quem ataca ou de quem defende, é estabelecida num enquadra-
mento situacional caracterizado por uma determinada “incerteza” mas
também por uma integridade estrutural, cujos componentes estabele-
cem nomeadamente:
1. Um espaço concreto de jogo onde esta unidade operacional se veri-
fica.
2. Um tempo real de jogo, pois, à medida que este tempo se esgota estas
unidades estruturais operacionais tendem a deteriorar-se.
3. Um resultado numérico do jogo, pois, em função do resultado positivo ou
negativo existe a possibilidade de um aumento ou redução da eficácia destas
unidades lógicas funcionais.
4. Um jogador que intervém sobre a bola convergindo para ele as atenções
dos companheiros e adversários, os quais se deslocam na sua direcção, mas
mantendo um certo distanciamento, por forma a que a bola
possa circular (perspectiva ofensiva), ou evitar essa circulação e
recuperar a posse da bola (perspectiva defensiva).
Foto cedida pelo jornal O JOGO

5. Um contexto de cooperação, constituído por companheiros


assumindo posições que concretizam verdadeiras opções tácti-
cas, dentro de um leque mais ou menos alargado de soluções
que respondam adequada e eficazmente à situação-problema.
Fotos 104/105/106. A unidade estrutur-
al funcional do jogo de futebol 6. Um contexto de oposição, naturalmente constituído por
adversários, que se posicionam a uma determinada distância do
jogador de posse da bola, a qual determina a redução do seu
leque de opções tácticas de re-solução da situação e simultaneamente, possibilitem a recuperação da posse da
bola de forma directa e consequente, ou através de erros de execução técnico-táctica do atacante.
7. Uma finalidade sendo determinada pela necessidade de se cumprir, em simultâneo ou separadamente, os
objectivos estratégicos preestabelecidos para esse jogo e os objectivos tácticos momentâneos da equipa em
função dos circunstancialismos contextuais da situação.

7.2. A organização dinâmica que envolve as unidades estruturais funcionais (do qual derivam os princípios
gerais do jogo)
As referidas constatações levam-nos a admitir, em teoria, a possibilidade de se estabelecer dois níveis
de princípios orientadores do comportamento táctico dos jogadores, os quais derivam das unidades estruturais
funcionais que se encontram em constante mutação, constituídas momentaneamente pelo jogador de posse de
bola e elementos pertencentes às duas equipas (companheiros e adversários) posicionam-se até a uma certa dis-
136 Guia prático de exercícios de treino

tância (não superior a 15 metros), auxiliando ou perturbando o seu raciocínio táctico, e consequentemente a sua
execução motora. Neste sentido, os atacantes que se posicionam no seio da unidade estrutural funcional apoiam
as acções técnico-tácticas do colega de posse de bola, facultando-lhe opções de resolução táctica enquanto que
os adversários se opõem ou limitam estes propósitos com vista à recuperação da posse da bola ou ainda para
evitar situações que possam ter como consequência o remate à baliza. À volta das diferentes unidades lógicas
funcionais, que continuamente se formam, estrutura-se uma organização dinâmica mais extensa em termos de
espaço de jogo e número de jogadores, que assumem atitudes e comportamentos técnico-tácticos tendo, em con-
sideração o desenvolvimento das unidades estruturais funcionais, balizada pelas circunstâncias do momento e
pelos objectivos estratégicos preestabelecidos. Do ponto de vista defensivo, os defesas assumem posicionamen-
tos ajustando-se: (1) à continuidade das acções dos seus colegas colocados no seio das unidades estruturais fun-
cionais, (2) à racionalização dos espaços vitais e estratégicos de jogo em consonância com as circunstâncias do
momento e do sistema táctico de base da equipa, (3) aos deslocamentos de rotura dos atacantes relativamente
à posição da bola e da baliza e, (4) à forma de recuperar a posse da bola em condições favoráveis à implemen-
tação imediata de um processo ofensivo eficaz. Do ponto de vista ofensivo, os atacantes procuram: (1) ajustar
antecipando a resolução das situações contextuais de jogo, proporcionando simultaneamente condições óptimas
para a sua continuidade, (2) criar condições favoráveis para a realização de acções de rotura de organização
defensiva adversária ou de progressão da bola em direcção às zonas predominantes de finalização e, (3)
racionalizar constantemente o espaço de jogo relativamente aos equilíbrios que todo o sistema táctico deve asse-
gurar em função: i) das possibilidades de se perder a posse da bola momentaneamente (reinício imediato do
ataque ou organização do processo defensivo), ii) dos espaços vitais de jogo e, iii) dos adversários que não estão
directamente implicados no processo defensivo da sua equipa.
Na maioria das situações de jogo, estes jogadores não fazem parte do circulo de relações priviligiadas
do ponto de vista da resposta táctica do portador da bola. Não queremos com isto dizer, que o facto de um com-
panheiro ou adversário se posicionar fora da unidade estrutural funcional não influencie a tomada de decisão
do portador da bola, isto significa, que o atacante apercebendo-se ou não das suas movimentações, normal-
mente responde tacticamente, relacionando-se com os colegas que lhe estão mais próximos, no intuito de
resolver os diferentes contextos situacionais que o jogo proporciona.

Figura 42. A unidade estrutural funcional do jogo


A organização dinâmica do jogo de futebol 137

A sustentabilidade
deste facto, pode ser
comprovada pelos
seguintes dois aspectos:
1. O jogador de posse
d e
bola num determi-
nado espaço de
jogo, não consegue
abranger, no seu
campo de visão
todas as acções
dos jogadores (companheiros e adversários).
Quando este decide, não atende portanto, às difer-
entes ocorrências de carácter facilitador ou pertur-
bador, do qual não tem
consciência da sua
existência, nem da sua
Foto cedida pelo jornal O JOGO

pertinência. Daí que, o jogador se concentre pro-


fundamente no que está à sua frente ou à sua
volta, dentro de referências bastante limitadas, e
Fotos 107/108/109/110/111/112/113. As de uma ou outra solução táctica que vise uma
alterações que se verificam na unidade rotura da organização defensiva adversária longe
estrutural funcional do jogo de futebol ao desse centro do jogo. Importa neste caso salien-
longo do tempo
tar, que as acções ofensivas com elevados níveis
de êxito, isto é, que concretizem situações imi-
nentes de finalização ou de golo efectivo, têm como denominador comum o uso dessas acções de carácter téc-
nico-táctico, que objectivem a rotura pontual da organização defensiva adversária em espaços de jogo mais
distantes onde se posiciona a bola.
2. Ao analisarmos as acções tácticas dos jogadores (em jogos de alto nível de rendimento), imediatamente
antes destes intervirem sobre a bola, verifica-se que em 64% dessas situações estes executaram acções de apoio
ao companheiro de posse de bola. Esta constatação, envolve todos os jogadores da equipa, independentemente
das suas missões tácticas, diminuindo naturalmente, em função da distância em que estes se posicionam rel-
ativamente à baliza adversária. Assim, jogadores de cariz defensivo apresentam os valores mais elevados (76%)
seguido dos médios (62%) e dos avançados (44%). Este facto admite igualmente, que a maioria das soluções
de jogo passam por uma manutenção e progressão da bola em direcção à baliza adversária, ou mesmo crian-
do situações de finalização, cuja circulação da bola passa fundamentalmente por relações de proximidade,
privilegiando os companheiros que se posicionam perto do jogador de posse de bola. Desta análise podemos
concluir que o futebol é um jogo fundamentalmente de apoio/equilíbrio.
Nesta linha de pensamento, parece-nos correcto estabelecer dois níveis relativos ao subsistema rela-
cional:
1. Os princípios gerais do jogo. Visam fundamentalmente assegurar as linhas orientadoras básicas que coor-
138 Guia prático de exercícios de treino

denam as atitudes e os comportamentos técnico-tácticos dos jogadores que não se encontram dentro da

Figura 43. Resumo dos princípios gerais e específicos de jogo ofensivo e defensivo. Os jogadores que se posicionam fora da unidade estrutural fun-
cional ofensiva procuram a rotura da organização da equipa adversária (atacantes 9, 10, 11), o equilíbrio da organização da própria equipa (atacantes
2,3,4) e intervenção no centro do jogo (atacante 7). Os jogadores que se posicionam fora da unidade estrutural funcional defensiva procuram a
preparação do processo ofensivo (defesas I, e J), a estabilização da organização defensiva (defesas A, C, E e H) e intervenção no centro do jogo (defesa
G). Os jogadores que se posicionam dentro da unidade estrutural funcional procuram penetrar (atacante 8) a contenção (defesa B), a cobertura ofensiva
(atacante 5), a cobertura defensiva (defesa D), a mobilidade (atacante 6) e o equilíbrio (defesa F).

unidade estrutural funcional do jogo (não fazem parte do círculo de apoios ao companheiro de posse de bola
- no caso da sua equipa se encontrar em processo ofensivo, ou do companheiro que marca o adversário de
posse de bola - no caso da equipa se encontrar em processo defensivo). Neste domínio distinguem-se os
princípios gerais de cariz ofensivo e defensivo.
2. Os princípios específicos do jogo. Visam fundamentalmente assegurar as linhas orientadoras básicas que
coordenam as atitudes e os comportamentos técnico-tácticos dos jogadores que se posicionam dentro do
unidade estrutural funcional do jogo, distinguindo-se neste nível os princípios específicos ofensivos e os
princípios específicos defensivos.

Os princípios do jogo ofensivo


Foto cedida pelo jornal O JOGO

Fotos 114/115/116. O golo


A organização dinâmica do jogo de futebol 139

1. Os princípios gerais do jogo ofensivo


Os jogadores que não se encontram directamente implicados na unidade estrutural funcional (tam-
bém denominado centro do jogo) ofensivo, deverão a todo o momento evidenciar atitudes e comportamentos
técnico-tácticos, que procuram consubstanciar um dos seguintes três princípios gerais, em função da variabili-
dade das situações de jogo: a rotura da organização da equipa adversária, a estabilidade da organização da
própria equipa, a intervenção na unidade estrutural funcional ofensiva.

1.1. A rotura da organização da equipa adversária


Este princípio geral do processo ofensivo procura orientar as decisões, as atitudes e os comporta-
mentos técnico-tácticos dos atacantes, quando posicionados fora da unidade estrutural funcional do jogo, no
sentido de colocar, de forma constante e persistente problemas de carácter técnico, táctico e estratégico difíceis
de resolver e de regularizar pela equipa adversária ou no mínimo, obrigar os seus adversários directos a pre-
ocuparem-se (concentrarem-se) mais com eles do que com o próprio desenvolvimento do jogo. Ao conseguir-
se descentrar a atenção dos defesas do desenvolvimento do jogo, criam-se as condições mais propícias para que
estes assumam decisões e por inerência acções técnico-tácticas desajustadas e inadequadas à resolução da situ-
ação. Com efeito, esta poderá e deverá ser uma das primeiras e principais consequências, determinadas pelos
constantes deslocamentos dos atacantes, por forma a romper o equilíbrio organizativo adversário e manter essa
desorganização durante o máximo tempo possível, isto é, que as movimentações defensivas compensatórias de
resposta sejam complexas do ponto de vista táctico e demoradas do ponto de vista do jogo.
Estes deslocamentos de rotura da organização defensiva adversária devem caracterizar-se pela sua
forma repentina, utilizando-se mudanças rápidas de ritmo e direcção, conjuntamente com pequenas fintas, que
visam simular o sentido da corrida com o intuito de surpreender e iludir os adversários. Do ponto de vista tác-
tico, estas roturas da organização defensiva adversária devem ser realizadas, não tendo somente como objectivo
último intervir sobre a bola, mas fundamentalmente:
1. Arrastar defesas adversários para posições menos confortáveis e habituais onde não possam exercer com
eficácia as suas capacidades individuais.
2. Demover um ou mais defesas deixando livre de vigilância e marcação determinados espaços fulcrais à con-
cretização eficaz e imediata do ataque ou o relançamento eficaz do processo ofensivo logo após a recupera-
ção da posse da bola (dar primazia ao jogo directo).
3. Conduzir os defesas para espaços, deixando livre de marcação atacantes numa situação em que possam
exteriorizar toda a sua capacidade específica de jogo extremamente vantajoso para a equipa (por exemplo
drible e remate à baliza).
4. Aumentar o espaçamento entre os defesas diminuindo por esta razão a homogeneidade e a concentração
defensiva adversária. O aumento da permeabilidade da organização da equipa adversária resulta fundamen-
talmente da ausência de compacticidade desta, aumentando-se consequentemente as distâncias entre os
jogadores e, em especial, "seccionando" as linhas de comunicação entre os jogadores envolvidos no centro do
jogo dos restantes companheiros da equipa.
5. Criar, ocupar e explorar espaços vitais e estratégicos de jogo com vista à persecução dos objectivos ofen-
sivos do jogo.
6. Construir rapidamente situações de finalização com elevadas probabilidades de êxito, fazendo uso da ini-
ciativa e da surpresa. Obriga-se assim, os adversários a jogarem sobre forte pressão psicológica e técnico-tác-
tica.

1.2. A estabilidade da organização da própria equipa


O princípio ofensivo da estabilidade da organização da própria equipa assenta na necessidade dos
jogadores, não posicionados no seio das unidades estruturais funcionais, reajustarem os seus comportamentos
técnico-tácticos individuais e colectivos relativamente ao desenvolvimento sucessivo destas unidades. Tendo
140 Guia prático de exercícios de treino

como objectivo fundamental a racionalização permanente dos espaços vitais de jogo equilibrando e adaptando
o sistema táctico, à dinâmica das situações momentâneas de jogo. Com efeito, a organização de uma equipa de
futebol, será tanto mais evoluída quanto mais esta consegue expressar um bloco unitário e homogéneo, tanto
nas etapas que derivam do processo ofensivo como defensivo. A concretização deste princípio geral ofensivo, é
definido pela permanência ou pelo deslocamento de jogadores, normalmente das linhas mais recuadas, em
direcção a dois pontos alvo fundamentais:
1. Espaços vitais e estratégicos de jogo, que em função da variabilidade situacional:
A. Possibilitem aos jogadores pertencentes à linha mais recuada, subirem no terreno de jogo em direcção
à linha do meio-campo, por forma a aumentar a agressividade do ataque, tornar o jogo ofensivo mais com-
pacto e tirar vantagens da Lei do fora de jogo.
B. Assegurem uma recuperação imediata da bola em caso de insucesso momentâneo do ataque. Esta
capacidade da equipa em reagir de imediato, antecipando constantemente a possibilidade de se perder a
posse da bola, incrementa a pressão de carácter psicológico sobre os adversários.
C. Impossibilitem à equipa adversária uma progressão rápida e eficaz da bola, após a sua recuperação, em
direcção às zonas predominantes de finalização.
D. Estabeleçam, caso não se consiga recuperar de imediato a bola, uma transição dinâmica e segura, da fase
ofensiva para a fase defensiva, na qual se ajusta uma ligação estrutural em largura e profundidade para uma
ligação mais concentrada em certos espaços de jogo.
E. Racionalizem constantemente o espaço de jogo, pois a perda da posse da bola na maioria das vezes é
imprevisível, havendo assim a necessidade de se assegurar em todos os momentos do jogo um equilíbrio
constante e eficaz.
F. Tomem decisões tácticas determinadas por um balanço correcto entre os aspectos inerentes: à contex-
tualidade situacional, às missões tácticas distribuídas para os diferentes jogadores e a organização preesta-
belecida pelo sistema táctico da equipa e da sua estratégia.
2. Adversários que não estão, de momento, envolvidos no processo defensivo da sua equipa, os quais visam
preparar o ataque, predispondo-se para materializá-lo de forma imediata e eficaz, logo que se concretiza a
recuperação da posse da bola. Assim dever-se-ão:
A. Marcar agressivamente todos os adversários que procurem concretizar estes objectivos.
B. Vigiar constantemente as possíveis permutações ou desdobramentos entre adversários que estavam
envolvidos no processo defensivo da equipa, com os que não estavam directamente envolvidos.
C. Atender à possibilidade, em função da variabilidade dos contextos de jogo, de existência de situações de
superioridade ou igualdade numérica em certos espaços vitais de jogo.
D. Manter simultaneamente a concentração, nas circulações da bola e nos deslocamentos permanentes dos
avançados adversários.
E. Resistir à tendência, quando a equipa está em processo ofensivo, de se desequilíbrar defensivamente dev-
ido à incursão no ataque de jogadores das linhas mais recuadas, não criando condições para que as suas
missões sejam salvaguardadas por outros colegas.

1.3. A intervenção nas unidades estruturais funcionais (centro do jogo)


Em função da elevada variabilidade das situações de jogo, os jogadores deverão, em todos os momen-
tos e circunstâncias, estar preparados para intervir directamente no centro do jogo. Este facto poderá suceder
sob uma de duas formas distintas: (1) pelo deslocamento do jogador em direcção ao centro do jogo ou, (2) pelo
deslocamento do centro do jogo em direcção ao jogador (através de acções técnico-tácticas de passe e de con-
dução da bola). Neste sentido, sejam quais forem as circunstâncias que determinem a intervenção de um dado
jogador no centro de jogo, o que é importante é que este rapidamente transmita aos seus companheiros
confiança e segurança, apoiando constantemente os seus comportamentos técnico-tácticos, e respeitando os
princípios específicos inerentes (penetração se tiver de posse de bola, dar cobertura ofensiva ao companheiro de
posse de bola ou executar acções de mobilidade com o intuito de desequilibrar posicionalmente os defesas adver-
A organização dinâmica do jogo de futebol 141

sários). Procura assim vantagens de superioridade numérica, em termos espaciais e temporais, que em última
análise estabelecem:
1. O controlo do jogo, através de comportamentos técnico-tácticos que imprimam mudanças de ritmo e da
direcção do ataque, levando os adversários a aceitar uma certa cadência de jogo.
2. A resolução eficaz dos problemas inerentes às unidades estruturais funcionais de jogo, através da interacção
posicional e processual dos jogadores da sua equipa.
3. A preparação desequilíbrios na organização da equipa adversária, em espaços e momentos apropriados.

2. Princípios específicos ofensivos


Os jogadores quando se encontram directamente implicados na unidade estrutural funcional ofensi-
va deverão, em todos os momentos, evidenciar atitudes e comportamentos técnico-tácticos que procurem con-
subs-tanciar um dos seguintes três princípios específicos: a penetração, a cobertura ofensiva e a mobilidade.

2.1. A penetração
Em competição, uma equipa quando se encontra de posse de bola, a sua atitude táctica fundamental,
deverá consubstanciar-se na penetração persistente das diferentes linhas de resistência da organização defensiva
(numa dinâmica em largura e profundidade), por forma a conquistar um enquadramento favorável (rela-tiva-
mente a essa baliza) nas zonas predominantes de finalização, susceptível de culminar o processo ofensivo com a
concretização do objectivo do jogo - o golo. Neste sentido, independentemente dos factores inerentes à estraté-
gia de jogo predefinida, do resultado numérico e momentâneo que se possa verificar, do tempo de jogo, das mis-
sões tácticas atribuídas aos diferentes jogadores que constituem a equipa, e de todo um conjunto de circunstan-
cialismos pontuais e temporários, que possam influenciar de forma significativa a tomada de decisão dos
jogadores, a penetração configura-se, em nossa opinião, como o princípio táctico orientador mais importante
das decisões e comportamentos dos atacantes, que em cada momento intervêm sobre a bola durante o desen-
volvimento do processo ofensivo da sua equipa. O cumprimento eficaz deste princípio específico é suportado
por um conjunto de decisões e comportamentos técnico-tácticos de carácter individual e colectivo, que se
exprimem pela criação de condições favoráveis para circular a bola com precisão, eficácia e à velocidade ade-
quada, relativamente às diferentes e sucessivas contex-tualidades situa-
cionais que em cada momento do processo ofensivo se verificam.
Nesta linha de raciocínio, o cabal cumprimento deste princí-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

pio táctico orientador das atitudes e das acções dos atacantes, implica
múltiplas exigências, sendo alicerçado nos seguintes atributos essenciais:
1. Numa inteligência táctica, suportada numa agudeza de espírito,
numa motivação sem limites e numa agressividade ofensiva da Foto 117. A penetração
equipa, que deverá ser cultivada, treinada e aperfeiçoada por forma a
responder continua e adequadamente aos contextos situacionais que o jogo determina.
2. Numa rápida transição de uma atitude defensiva para uma atitude ofensiva, logo após a recuperação da
posse da bola, através de movimentações concertadas em largura e profundidade, por forma a aumentar o
leque de opções tácticas de carácter eficaz.
3. Numa elevada velocidade de execução técnico-táctica com bola, utilizando meios individuais que podem
determinar a manutenção desta (através de acções de drible, simulação, condução etc.), a comunicação
(através da acção de passe) ou mesmo a finalização (remate), se as condições de jogo o permitirem e as pos-
sibilidades de êxito forem razoáveis.
4. Numa sincronização das movimentações colectivas dos jogadores em direcção a espaços de jogo e num
ritmo correcto, por forma a apoiar o companheiro de posse de bola ou a desequilibrar a organização defen-
siva adversária.
5. Numa direccionalidade das acções técnico-tácticas que perturbem constante e persistentemente: i) os
obstáculos e as linhas de resistência que derivam do método de jogo defensivo adversário e, ii) espaços de
142 Guia prático de exercícios de treino

jogo, que pela sua distância e ângulo possam determinar uma finalização eficaz.
6. Numa incapacidade por parte da equipa adversária de conduzir o processo ofensivo: i) para espaços não
vitais de jogo, ii) para situações parciais e temporárias onde se verifiquem condições de superioridade numéri-
ca, iii) na criação de contextos favoráveis de recuperação da posse da bola e, v) relançamento favorável do
processo ofensivo subsequente.

A concretização desta orientação táctica fundamental - a penetração, é consubstanciada pelos


seguintes três comportamentos que iremos desenvolver: ter e usar de iniciativa, correcta percepção da situação
de jogo, as acções técnico-tácticas que objectivam o princípio da penetração e a continuidade da acção de jogo.

2.1.1. Ter e usar de iniciativa


O atacante de posse de bola deverá manter a iniciativa e a surpresa da situação de jogo através dos
seguintes aspectos:
1. Orientar continuamente a sua acção em direcção aos espaços vitais do terreno de jogo, especialmente para
as zonas predominantes de finalização. Respeitando esta orientação, o atacante colocará sucessivamente prob-
lemas difíceis de resolver à organização defensiva. Nas situações de jogo em que o atacante tem de recepcionar
a bola de "costas" para a baliza adversária deverá ter em conta dois aspectos importantes: (1) deslocar-se em
direcção da trajectória do passe que lhe é dirigido (evitando que o defesa se antecipe) e, (2) simultaneamente
à acção técnico-táctica de recepção deverá rodar rapidamente os seus apoios,
por forma a orientar o seu comportamento em direcção à baliza adversária. No
caso de não ser possível, devido à pressão exercida pelo defesa, o atacante
Foto cedida pelo Sport Lisboa e Benfica

poderá assumir um dos seguintes três comportamentos:


A. Passar a bola para trás ou para o lado, na direcção de um companheiro que
possa perspectivar de imediato a orientação do ataque na direcção desejada.
B. Forçar o adversário directo a aumentar a pressão defensiva por forma a
Foto 118. Ter e usar de iniciativa
cometer infracções às leis do jogo e consequentemente determinar uma situ-
ação vantajosa para o ataque (esquema táctico).
C. Manter a posse da bola até que se estabeleçam as condições favoráveis para
o desenvolvimento do ataque.
2. Variar o ângulo e o momento do ataque. O atacante de posse de bola de-
verá procurar desequilibrar a organização defensiva ou o centro do jogo
defensivo adversário, através da modificação do ângulo e do momento do
Foto cedida pelo jornal O JOGO

ataque por forma a obrigar os defesas a saírem das suas posições de base e a
mobilizarem a sua atenção para a marcação directa a outros atacantes. A
modificação do ângulo e do momento do ataque é consubstanciado através
de acções técnico-tácticas de:
Foto 119. Orientar sempre que pos-
A. Condução, drible/finta, simulação, que alterem os ângulos relativa- sível as acções em direcção à baliza
mente aos seus companheiros. adversária
B. Passe dirigidos para um ou outro corredor ou sector do terreno de
jogo.

3. Simular as suas verdadeiras intenções tácticas. O atacante de posse de bola


Foto cedida pelo jornal O JOGO

deverá produzir um conjunto de "falsos sinais" que irão, por um lado, tornar
mais difícil e complexo o processo de antecipação por parte do defesa, e por
outro, induzi-lo a assumir um comportamento a partir de uma leitura errada
dos índices pertinentes, referentes ao contexto da situação de jogo. Com
Foto 120/121. Variar o ângulo e o
efeito, o atacante ao procurar tornar difícil a leitura do jogo, do ponto de vista
momento de ataque defensivo, consubstancia vários objectivos:
A organização dinâmica do jogo de futebol 143

A. Criar e explorar espaços de jogo, que con-


substanciam simultaneamente diferentes linhas

Foto cedida pelo O JOGO


de passe ou de comunicação dentro da equipa,
facilitando e possibilitando constantes modifi-
cações do ângulo de passe.
B. Contribuir para que os defesas assumam
comportamentos técnico-tácticos ineficazes e posicionamentos inadequados
relativamente ao contexto situacional do jogo.
C. Executar acções de drible, procurando desequilibrar a posição de base do
defesa e, em função da reacção deste, aumentar de imediato a velocidade
mudando a direcção da acção técnico-táctica, por forma a ultrapassar efi- Fotos 122/123. Simular as ver-
cientemente o defesa. dadeiras intensões tácticas

2.1.2. Correcta percepção da situação de jogo


O atacante de posse de bola deverá discernir correctamente o contexto da situação de jogo por forma
a seleccionar o comportamento técnico-táctico mais adaptado e eficaz à sua resolução, pelo seguro (manutenção
da posse da bola) ou pelo risco (perspectivando acções de rotura da organização defensiva adversária com o
objectivo de criar situações de finalização). Isto significa, que o jogador que em certo momento da partida, tem
a posse da bola, decide a direcção do jogo, ou seja, a concretização ou não dos objectivos do processo ofensivo.
Assim, o comportamento técnico-táctico observado para a resolução táctica da situação de jogo, resulta da
mútua responsabilidade do jogador em penetração e dos seus companheiros (aproximando-se ou afastando-se
deste). Esta opção técnico-táctica deverá reflectir a manutenção da posse da bola e a sua quota parte na con-
cretização do objectivo do ataque - o golo. Por outras palavras, em função das condicionantes que cada contex-
to situacional em si encerra, cabe ao jogador optar pelas soluções tácticas que permitam, de uma forma
simultânea, estando na posse da bola, conservá-la e lograr o objectivo do jogo. Neste domínio, podemos estabe-
lecer os seguintes atributos:
1. Esperar pelo momento mais oportuno para desenvolver o ataque. O atacante de posse de bola em várias
situações de jogo terá que esperar pelo momento mais oportuno para desenvolver ou culminar o processo
ofensivo. Isto significa, por exemplo, dar o tempo necessário para que os seus companheiros se desloquem e
se posicionem em espaços vitais de jogo (colocação no ataque), ou saiam de posições irregulares do ponto de
vista das leis do jogo (fora-de-jogo), por forma que se estabeleçam as condições mais favoráveis e vantajosos
para o cumprimento dos objectivos do ataque. Neste sentido, o atacante de posse de bola deve executar com-
portamentos técnico-tácticos que visem fundamentalmente a protecção-conservação da bola, (condução,
drible, finta e simulação), compreendendo a sua corresponsabilidade em função das condicionantes que cada
situação de jogo apresenta, no cumprimento deste objectivo táctico.
2. Acelerar o ritmo de desenvolvimento do processo ofensivo da sua
equipa especialmente nas seguintes situações básicas:
Foto cedida pelo jornal O JOGO

A. Logo após a recuperação da posse da bola, procurar aproveitar


o momentâneo desequilíbrio em que se encontra uma equipa que
atacava e que tem de passar a defender é, na maior parte das situ-
ações, a chave para um ataque com êxito. Foto 124. Esperar pelo momento mais
B. Na etapa de construção do processo ofensivo sempre que se favorável ao desenvolvimento do ataque
observem situações de rotura da organização defensiva adversária
devido à execução de deslocamentos ofensivos em profundidade por parte dos seus compa-nheiros.
C. Na etapa de criação de situações de finalização, isto é, perto da grande área adversária em que a espon-
taneidade, determinação e a criatividade são componentes fundamentais desta etapa do ataque. Neste
domínio, dever-se-ão observar alterações da velocidade de desenvolvimento do ataque, por forma a encon-
trar linhas e ângulos de remate com elevados níveis de êxito.
144 Guia prático de exercícios de treino

D. Na reposição rápida da bola sempre que houver uma interrupção de jogo.


É nas paragens momentâneas de jogo que se verifica uma menor concen-
tração (atenção) por parte dos jogadores. Embora o tempo nestas situações

Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO


concorra a favor do ataque, não se deve perder a oportunidade de se repor
rapidamente a bola, procurando tirar o máximo de vantagens que advêm da
desconcentração dos jogadores adversários ou de uma organização defensi-
va precária.
Foto 125. Acelerar o ritmo de desen-
E. Nas situações em que a organização defensiva adversária consegue cir-
volvimento do processo ofensivo
cunscrever o jogo ofensivo num determinado espaço de jogo, com o objec-
tivo de facilitar a recuperação da posse de bola através de uma utilização
altamente concentrada dos seus jogadores. Nestas situações os avançados deverão responder, acelerando a
execução das acções técnico-tácticas de suporte ao desenvolvimento do processo ofensivo, retirando-o dess-
es espaços e modificando rapidamente o ângulo de ataque, por forma a desequilibrar em termos de espaço,
tempo e número a defesa adversária.
F. Criar condições que alterem constantemente a velocidade e o ritmo do desenvolvimento do ataque, espe-
cialmente quando a equipa adversária está bem organizada do ponto de vista defensivo. O facto de se modi-
ficar a velocidade e o ritmo de execução técnico-táctica, variando entre regimes reduzidos e elevados, cria
nos defesas noções erradas da realidade do jogo, transportando consigo sensações de insegurança e pressão
no domínio do pensamento táctico , o qual se constitui como o primeiro passo para a tomada de decisões
desajustadas à realidade contextual de jogo.
3. Mudar o ritmo de execução técnico-táctica. Esta mudança de ritmo comportamental, por parte do jogador
de posse de bola, traduz-se operacionalmente na aceleração com carácter "inesperado" e "explosivo", utilizan-
do em simultâneo mudanças de direcção da acção de jogo. A alteração do ritmo de execução técnico-táctica
é um factor fundamental do comportamento do atacante, que visa atingir, em última análise, dois aspectos
essenciais:
A. Manter a iniciativa da situação de jogo, estabelecendo a sua direccionalidade, pois os defesas terão que
reagir continuamente à acção do atacante e não ao contrário.
B. "Desequilibrar" os eventuais comportamentos dos defesas em termos técnicos,
tácticos, físicos e psicológicos, tornando-os assim, desarticulados e desajustados à
realidade da situação momentânea de jogo.
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

2.1.3. As diferentes acções técnico-tácticas que objectivam o princípio da penetração


Basicamente existem quatro acções técnico-tácticas que objectivam o princí-
pio da penetração:
A. A acção técnico-táctica de passe. É a forma mais rápida e simples de progressão Foto 126. Mudar o
da equipa no terreno de jogo. A atitude fundamental dos jogadores de posse de bola, ritmo de execução téc-
quando se decidem pela execução da acção técnico-táctica de passe, na resolução da nico-táctica
situação de jogo que se lhes apresenta. Procura-se ganhar o máximo de espaço em ter-
mos de profundidade por forma a transportar o centro do jogo o mais rapidamente possível para as zonas
predominantes de finalização. Nestas circunstâncias, o jogador de posse de bola deverá, na sua execução téc-
nico-táctica, objectivar preponderantemente passes em direcção à baliza adversária (proporcionando um jogo
directo) ou para espaços que aproximem o ataque à baliza adversária (utilização de passes para os corredores
laterais), por forma a estabelecer os pressupostos fundamentais e imediatos à persecução positiva do objec-
tivos do jogo - o golo. Esta atitude fundamental de todos os jogadores, consubstanciada por passes em pro-
fundidade na direcção dos avançados ou dos médios alas, assumem claramente um papel importante na mod-
elização e conceptualização de um método de jogo ofensivo eficiente. Neste sentido, Hughes (1990) estabelece
uma ordem de prio-ridades para a selecção da acção técnico-táctica de passe:
(1) Passar a bola para o espaço nas "costas" da última linha defensiva. Este é o passe que causa maior número
A organização dinâmica do jogo de futebol 145

de problemas à defesa contrária resultante de dois factores: i) os defesas são obri-


gados a mudarem a orientação dos seus apoios e a deslocarem-se na direcção da
sua própria baliza, logo, podem tornar-se acções demoradas e ineficazes e, ii) a

Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO


última linha defensiva ao "subir" no terreno de jogo para suportar o seu próprio
ataque, torna-se vulnerável a este tipo de passes logo após a perda da posse da
bola: a) por estarem eventualmente desconcentrados devido à mudança de posse
de bola, b) por não se encontrarem nas suas posições defensivas de base e, c) por
Foto 127. O passe na pene- terem de marcar e vigiar um largo espaço do terreno de jogo.
tração (2) Passar a bola para o companheiro que esteja posicionado o mais profunda-
mente no ataque. Se o passe para o espaço nas "costas" da última linha defensiva
adversária não for possível a melhor opção é passá-la com precisão directamente para os pés do companheiro
que esteja posicionado o mais profundamente no ataque.
(3) Passar a bola a um companheiro pondo o má-ximo de adversários à frente da linha da bola. Se o passe
para o companheiro posicionado profundamente no ataque não for possível, a melhor opção é passá-la a um
companheiro pondo fora da jogada o maior número de adversários, isto é, não estando estes entre a bola e a
sua própria baliza (à frente da linha da bola). Mesmo que esta acção só ponha de fora um adversário irá criar
problemas, por um lado, ao defesa mal colocado, e por outro,
aos outros defesas que terão que reajustar as suas posições
como consequência da modificação da situação de
jogo.
(4) Mudar o ângulo de ataque. Se as três anteriores
opções tácticas não foram possíveis o jogador de Figura 44. O passe para o espaço nas "costas" da última linha defensiva
posse de bola deverá mudar o ângulo de ataque, ou
seja, se está colocado no corredor lateral direito
executa o passe para o corredor lateral esquerdo e vice-
versa. Devido a uma maior concentração exercida
pelos defesas no lado do centro do jogo, normal-
mente existe uma diminuição na marcação e vi-
gilância sobre os espaços contrários, que poderão Figura 45. O passe para o companheiro posicionado profundamente no
ataque
ser eventualmente utilizados por atacantes
preparados para explorar esse facto.
(5) Passar a bola para trás como último recurso. Se não
for possível mudar o ângulo de ataque, então só
neste caso a bola deverá ser passada para trás para
o jogador em cobertura ofensiva, que deverá ter o
Figura 46. O passe pondo o máximo de adversários fora da jogada
espaço, o tempo e o campo de visão para jogar a
bola em direcção à baliza adversária.
B. Utilizar a condução como meio de objectivar a pene-
tração. Nestas circunstâncias é necessário que o
jogador direccione essa acção para o interior da
defesa adversária, criando um contínuo desequi-
líbrio nos apoios dos adversários, seja através de Figura 47. O passe mudando o ângulo de ataque
mudanças rápidas e inesperadas de velocidade, seja
pela persistente alternância do pé utilizado para essa con-
dução.
C. Muitas vezes a única forma de ganhar vantagem
é através do drible. Para o realizarmos, tudo está
dependente: (1) das características do adversário Figura 48. O passe para trás como último recurso
146 Guia prático de exercícios de treino

directo, (2) do local do terreno de jogo onde esse drible é real-


izado, (3) do tipo de vantagem a obter pela sua realização e
como é óbvio, (4) das capacidades próprias de quem o executa.
Por norma, quanto mais o jogador se afasta da sua ba-liza e se
aproxima da baliza contrária,
menos arriscado e mais compen-

Foto cedida pelo jornal O JOGO


sador se torna executar um
drible. Resta saber, se perante as
condicionantes referidas da situ-
ação será uma acção oportuna e
simultaneamente com elevadas possibilidades de sucesso.
D. Na zona preponderante de finalização, o jogador de posse de
bola deverá modificar a sua atitude táctica baseada em comporta-
mentos técnico-tácticos que visam a progressão ou a manutenção e
transformá-la numa atitude finalizadora. Neste sentido, o atacante
Fotos 128/129/130. A condução na penetração deve ser encorajado a assumir a responsabilidade de rematar em
qualquer oportunidade. Sem dúvida que o comportamento do
jogador de posse de bola é condicionado pelas características individuais.
Assim há que ter em atenção, que os jogadores com funções e predisposições
básicas iguais, desenvolvem parti-cularidades técnicas diferentes. São precisa-

Foto cedida pelo jornal O JOGO


mente estas particularidades que determinam a eficácia de um jogador.

2.1.4. Continuidade da acção de jogo


Depois do atacante solucionar a situação de Foto 131. O drible na pene-
jogo, através de qualquer um dos comportamen- tração
Foto cedida pelo Sport Lisboa e Benfica

tos técnico-tácticos possíveis (passe, drible,


remate, etc.), independentemente da eficácia deste, deverá dar continuidade à
sua acção mantendo uma atitude activa e disponível para intervir num dos
seguintes contextos:
1. No seio das unidades estruturais funcionais, através de comportamentos de
Foto 132. O remate na pene-
cobertura ofensiva ou mobilidade, quer no plano defensivo (no caso de se perder
tração
a posse da bola), executando comportamentos de contenção, de cobertura defen-
siva ou de equilíbrio.
2. Fora das unidades estruturais funcionais através de comportamentos, que consubstanciem a rotura da
organização da equipa adversária ou contribuam para a estabilidade da organização do sistema de jogo da
própria equipa.

2.1.5. Análise do comportamento táctico do atacante em penetração


Das análises das respostas tácticas realizadas pelo atacante que interveio sobre a bola, observamos os
seguintes objectivos factos:
1. Em 23% das situações de jogo verificou-se a sua manutenção, através de comportamentos técnico-tácticos
que permitem o controlo do jogo (diminuindo ou aumentando o seu ritmo), na procura de momentos em
que é possível surpreender o adversário e executar mudanças rápidas do ângulo de ataque.
2. Em 49% das situações de jogo verificou-se a progressão da bola em direcção à baliza adversária, na procu-
A organização dinâmica do jogo de futebol 147

ra das condições mais favoráveis à fase de finalização, contribuindo igualmente, para a criação de uma con-
stante instabilidade da organização da defesa adversária, no aproveitamento dos espaços vitais de forma sim-
ples e efectiva, que se traduzem, em última análise, no aumento da iniciativa do jogo ofensivo.
3. Em 24% das situações de jogo verificou-se a criação de situações propícias à fase de finalização em que se
procura estabelecer as condições favoráveis para a execução imediata de acções técnico-tácticas de remate.
4. Em 4% das situações de jogo verificaram-se respostas tácticas consubstanciadas por acções, que visam a
concretização do objectivo fundamental do jogo - o golo. Logicamente as soluções tácticas de manutenção e
de progressão diminuem à medida que as situações de jogo se situam próximo da baliza adversária, dando
lugar a soluções tácticas que procuram criar situações de finalização e de remate à baliza.

Das análises das relações estabelecidas entre o atacante e a bola (quando intervém sobre esta) obser-
vamos os seguintes aspectos:
1. Os valores do tempo de posse de bola mantêm-se estáveis ao longo do terreno de jogo, essencialmente até
ao sector do meio-campo ofensivo (3/4), somente no último sector (4/4) os tempos de posse de bola tendem
a diminuir de forma radical (em cerca de 70% das situações os jogadores tocam momentaneamente na bola).
Verificaram-se para um intervalo de tempo entre 0 e 0.5 segundo cerca de 46%, entre 1 e 1.5 segundos 20%,
entre 2 e 2.5 segundos 15%, com 3 segundos 6% e por último, mais de 3 segundos 15%. No que se refere ao
número de toques na bola os dados também não diferem significativamente. Assim, com 1 toque 46%, com
2 ou 3 toques 37%, com 4 ou 5 toques 12% e mais de 5 toques 4%. O sector do meio campo defensivo (2/4)
e ofensivo (3/4) apresentam as mais elevadas percentagens em relação aos tempos individuais de posse de bola.
Isto deve-se fundamentalmente ao facto dos espaços abrangidos por estes sectores do terreno de jogo serem
utilizados na construção do processo ofensivo. Acelerando ou diminuindo o ritmo de jogo, temporizando a
acção ofensiva na procura do melhor momento para desequilibrar a organização defensiva adversária, em
espaços e momentos apropriados. Nestas circunstâncias, cada espaço de jogo é caracterizado por um certo
tempo individual de posse de bola, que se fundamenta em dois factores interligados e independentes: (1) um
ofensivo, sendo determinado pela circunstância de que quando o centro do jogo se aproxima da ba-liza adver-
sária há a necessidade de se jogar mais rapidamente, circulando a bola pelos vários jogadores e mudando o
ângulo de ataque na procura de desequilibrar ou manter o desequilíbrio da organização da defesa adversária
e, (2) um defensivo, sendo determinado pelo aumento do nível de pressão dos defesas sobre os atacantes de
posse de bola, obrigando-os a raciocinar e executar respostas técnico-tácticas rapidamente em função das situ-
ações de jogo.
2. Não existem diferenças significativas entre os tempos de posse de bola em função das missões tácticas dos
jogadores. Este facto demonstra a preocupação e a necessidade de todos os jogadores, independentemente da
sua missão táctica quando intervêm sobre a bola, elaborarem a resposta táctica perante a situação de jogo e
os comportamentos inerentes a essa resposta, de forma rápida, precisa e eficiente. Aspecto importante a assi-
nalar é o facto de ao longo do decurso do jogo se verificar que os jogadores mantêm preponderantemente os
mesmos tempos individuais de posse de bola. Nestas circunstâncias, os factores de acumulação de fadiga, o
“stress” que deriva das circunstâncias da situação, os factores psico-emocionais inerentes à competição etc.,
poderão ser condicionantes da eficácia das acções executadas (tendência para uma diminuição ao longo do
tempo de jogo). No entanto, não são condicionantes da modificação do comportamento técnico-táctico dos
jogadores, especialmente no que se refere ao seu tempo de resolução da situação de jogo.

Das análises observadas em relação à intensidade e às distâncias percorridas pelos jogadores de posse
de bola verificaram-se as seguintes particularidades:
1. Somente em 39% das situações de jogo se observaram deslocamentos dos jogadores em penetração, dos
quais, mais de 20% as distâncias foram inferiores a 15 metros, 9% entre 15 e os 40 metros e cerca de 10% para
distâncias superiores a 40 metros. Em relação à intensidade 52% foram executadas em elevados regimes,
enquanto 48% a baixos regimes.
148 Guia prático de exercícios de treino

2. Na maior parte das situações de jogo (61%), independentemente das missões tácticas dos jogadores, estes
não se deslocam com a bola. Todavia, os jogadores pertencentes ao sector médio são os que mais se deslocam
com a bola (43%), seguido dos defesas e avançados (37%). Em relação à intensidade do deslocamento
podemos depreender que as baixas intensidades de deslocamento são empreendidas essencialmente pelos
defesas (53%). Os deslocamentos com a bola a alta intensidade são características dos médios e avançados (39
e 63%, respectivamente). Este facto é observável mesmo em zonas que não são preponderantes na intervenção
destes jogadores, o que determina a existência de mecanismos específicos de programação e acção motora, os
quais se desenvolvem sempre a uma elevada velocidade.
3. Os jogadores sentem menos necessidade de se deslocar com a bola em função do número de apoios que os
companheiros lhes proporcionam. De igual modo, em relação às distâncias percorridas observa-se que, quan-
to maior é o número de apoios, menores serão as distâncias percorridas pelos jogadores em resposta às situ-
ações de jogo. Em relação à intensidade do deslocamento verifica-se que ao maior número de apoios corre-
spondem simultaneamente baixas intensidades de deslocamento com a bola. Daqui se conclui, que quando os
jogadores estão perante contextualidades situacionais com cobertura ou apoio dos seus colegas, procuram
combinar colectivamente por forma a resolucionar a situação de jogo.
4. Observa-se que os jogadores diminuem o número de deslocamentos com bola quando confrontados com
elevados níveis de pressão defensiva. Constata-se igualmente que as distâncias percorridas com bola são
menores à medida que o nível de pressão aumenta. Por último, verifica-se inequivocamente que os desloca-
mentos com a bola a alta intensidade são secundados por elevados níveis de pressão defensiva, independen-
temente do sector do terreno do jogo em que o jogador se encontra inserido.

2.2. A cobertura ofensiva


No decorrer do processo ofensivo, várias são as situações de jogo em que o jogador poderá receber a
bola quando existe um conjunto de rápidos deslocamentos dos restantes jogadores, havendo assim demasiado
movimento à sua volta. Nestas "apertadas" circunstâncias, poderá não ter o tempo necessário para efectuar um
julgamento preciso e controlado da situação, e obviamente, se não tiver nenhum companheiro a quem possa pas-
sar a bola, não terá grandes hipóteses de escolha. Se existirem três ou quatro opções de acção a executar, sim-
plificará muito a sua resposta técnico-táctica. Estas hipóteses de escolha só poderão ser possíveis se os compan-
heiros que se deslocam para a frente ou para trás da linha da bola, realmente se desmarquem e dêem apoio e
cobertura, abrindo linhas de passe ao companheiro de posse de bola. Portanto, a organização da equipa deve
permitir que, quando um jogador recebe a bola, deve receber igualmente, e de uma forma imediata por parte
dos seus companheiros, acções de cobertura (atrás da linha da bola) e de apoio (à frente da linha da bola), para
que lhe possam dar várias opções de solução técnico-táctica e, consequentemente, tornar mais fácil a sua tarefa.
As acções de cobertura ofensiva, consubstanciam essencialmente um triplo objectivo:
1. Simplificar a resposta táctica do companheiro de posse de bola, dando-lhe
várias opções de solução técnico-táctica da situação de jogo. Como já referimos,
ao aumentar-se o número de opções de resposta táctica em função dos circun-
Foto cedida pela revista Training

stancialismos contextuais, diminui-se consequentemente a complexidade de res-


olução da situação.
2. Diminuir a pressão dos adversários sobre o portador da bola, determinando
consequentemente a execução de acções rápidas e eficazes. Os defesas têm como
princípio de base incrementar a pressão sobre o atacante de posse de bola em
função do número de opções tácticas de resposta à situação. Consequentemente, Foto 133. A cobertura ofen-
siva
quanto menor for o número de apoios à sua acção, maior será a pressão a que
estará sujeito, pelo contrário, quanto maior for o número de apoios menor será a pressão defensiva.
3. Possibilitar a manutenção do equilíbrio defensivo, em relação ao companheiro de posse de bola. Para que
este desencadeie qualquer acção, seja condução de bola, drible, remate, ou passe, necessitará estar minima-
mente seguro para o fazer. O risco só existe quando não se conhecem os limites da segurança. O local onde
A organização dinâmica do jogo de futebol 149

se desenrola a acção e o jogador em cobertura ofensiva, são os limites de segurança para o jogador de posse
de bola, porque, ao colocar-se em cobertura ao 1º atacante, o 2º atacante está numa boa posição para defen-
der se for perdida a posse da bola.

Para se realizar uma posição de cobertura ofensiva eficaz devemos considerar especialmente três fac-
tores: a distância de cobertura, o ângulo de cobertura e a comunicação.

2.2.1. A distância de cobertura


Situa-se entre o jogador de cobertura ofensiva (2º atacante) e o jogador de posse de bola (1º atacante).
A distância de cobertura ofensiva consubstancia dois objectivos fundamentais:
1. Que a recepção da bola por parte do jogador em cobertura ofensiva, seja efectuada com segurança e sem a
pressão defensiva dos adversários directos.
2. Que o jogador de cobertura ofensiva ao receber a bola tenha o tempo e o espaço para jogá-la em direcção
à baliza adversária.

A distância de cobertura ofensiva depende de quatro aspectos fundamentais: da zona do campo, do


estado das superfícies do terreno de jogo e das condições climatéricas, da distância do defesa em cobertura defen-
siva e da velocidade de execução técnico-táctica do atacante de posse de bola.

A. A zona do campo onde se verifica a situação de jogo


A distância entre o 1º e o 2º atacantes varia de acordo com a zona do campo,
vejamos duas situações básicas:
Foto cedida pela revista Training

1. Se a situação se verifica no 1/3 do campo (zona predominantemente defensiva), o


jogador de cobertura poderá optar por uma distância maior para que esta acção seja
extremamente segura, pois tendo mais espaço, terá consequentemente mais tempo para
controlar e passar a bola.
2. Se a situação de jogo se verificar no 3/3 do campo (zona predominantemente ofensi-
Foto 134. A distância va), o jogador de posse de bola deverá movimentar-se com o jogador de cobertura ofen-
de cobertura ofensiva
siva mais perto, pois, nestas situações em que a pressão defensiva é elevada, os atacantes
terão que jogar em espaços restritos e com o máximo de velocidade.

B. O estado das superfícies do terreno de jogo e das condições climatéricas


O estado das superfícies do terreno de jogo e as condições climatéricas afectam obviamente a distân-
cia de cobertura ofensiva. Senão vejamos quatro situações possíveis:
1. Quando se verificam condições de terreno irregular e mole, é aconselhável que o jogador de cobertura
aumente a distância em relação ao jogador de posse
de bola, porque pode necessitar de mais tempo
que o habitual para controlar a bola.
2. Quando as condições do terreno são
regulares e firmes, os jogadores em
cobertura ofensiva devem deslocar-se
mais perto do jogador de posse de bola Figura 49. A variação da distância de cobertura ofensiva em função do espaço de jogo
para que o ritmo de jogo da equipa seja
elevado.
3. Quando o vento sopra contra, a grande velocidade, dever-se-á diminuir a distância entre o jogador de
posse de bola e o jogador de cobertura e vice-versa.
4. Outra razão que deriva das condições climatéricas que poderão suceder no jogo, é aquela que resulta
durante o pôr-do-sol. Nestas circunstâncias, a equipa que está de costas para o sol, deverá construir as suas
150 Guia prático de exercícios de treino

acções ofensivas através de passes de trajectória aérea para


zonas perigosas do terreno, com o intuito de
o sol poder encandear os jogadores em
acção defensiva.

C. A distância estabelecida pelo jogador em


cobertura defensiva
Se o 2º defesa (cobertura defensiva) se aproximar
do 1º defesa (contenção) procurando tirar parte da iniciativa
do ataque ao aumentar a pressão sobre o jogador de posse de Figura 50. Encurtar a distância
bola, o jogador de cobertura ofensiva (2º atacante) deverá assumir
um dos seguintes três comportamentos tácticos:
1. Encurtar a sua distância em relação ao
companheiro de posse de bola por forma a
não permitir que se estabeleça uma situ-
ação de superioridade numérica (do ponto
de vista defensivo).
2. Aumentar a sua distância em relação ao com-
panheiro de posse de bola, por forma a beneficiar de
mais tempo e de mais espaço para receber e passar a bola
em direcção à baliza adversária. Figura 51. Aumentar a distância
3. Dar mobilidade ao seu ataque procurando: i) explorar um
espaço à frente ou ao lado da linha da bola com o intu-
ito de ultrapassar de imediato os dois
opositores ou, ii) provocar o desequilíbrio
do centro do jogo defensivo a partir da
movimentação do 2º defesa, reduzindo-se
assim a complexidade da situação de 2x2 para
1x1 ou, iii) provocar a desconcentração do 1º defe-
sa.

D. A velocidade de execução técnico-táctica do companheiro de Figura 52. Dar mobilidade ao ataque


posse da bola
A velocidade de execução técnico-táctica do companheiro de posse da bola influencia a distância de
cobertura ofensiva, neste sentido, ao aumento da velocidade de execução corresponderá a diminuição da dis-
tância de cobertura ofensiva e vice-versa.

2.2.2. O ângulo de cobertura ofensiva


O ângulo de cobertura é o ângulo estabelecido entre o jogador de posse de bola (1º atacante) e o
jogador de cobertura ofensiva (2º atacante). O ângulo de cobertura ofensiva visa consubstanciar três objectivos
fundamentais:
1. Possibilitar uma eficiente base de recepção da bola, isto é, que esta seja orientada para a baliza adversária.
2. Possibilitar uma visão global do espaço e da situação de jogo à sua frente.
3. Possibilitar uma mudança rápida do ângulo e do momento do ataque, em especial, passando a bola para a
frente. Não existe nenhum ângulo que esteja permanentemente correcto. Se o jogador em cobertura defensi-
va, tem dúvidas quanto ao ângulo que deve escolher, deverá optar por um ângulo de 45 graus.
A organização dinâmica do jogo de futebol 151

Concomitantemente aos objectivos e às considerações formuladas, outra questão fundamental se


coloca ao 2º atacante, é a de saber qual o lado (em relação ao companheiro de posse de bola) da cobertura ofen-
siva que este deverá escolher para efectuar eficazmente esta acção. Com efeito, podemos estabelecer quatro
condições (situações) básicas na resposta à questão formulada:
1. À medida que o companheiro de posse de bola se deslocar ou posicionar em direcção, ou perto das linhas
laterais, o jogador de cobertura ofensiva deverá deslocar-se ou posicionar-se do lado de dentro, ou seja, do
lado que converge para o centro do terreno de jogo, estabelecendo assim, a possibilidade de variar eficazmente
o ângulo e o momento do processo ofensivo.
2. A opção do lado da cobertura ofensiva é função da possibilidade de arrastamento do 2º defesa (cobertura
defensiva) para uma posição ineficaz por forma a proporcionar um melhor espaço de progressão ao com-
panheiro de posse de bola, ou na exploração de um espaço vital de jogo pela intervenção de um 3º atacante
(mobilidade).
3. A opção do lado da cobertura ofensiva deverá ter igualmente em atenção
a possibilidade do jogador que o assume poder em função da situação de
jogo, ocupar e explorar um espaço vital à frente da linha da bola, dando
assim mobilidade ao seu próprio ataque.
Foto cedida pela revista Training

4. A opção do lado da cobertura ofensiva deverá equacionar a possibilidade


de perda da posse da bola por parte do companheiro que a detém. Assim, o
jogador de cobertura ofensiva procurará antecipadamente posicionar-se do
Foto 135. Espreitar a possibilidade de lado em que possa intervir com maior eficácia (do ponto de vista defensivo)
passar de cobertura para mobilidade
se esta situação ocorrer.

2.2.3. A comunicação
A comunicação estabelece-se entre o 1º e o 2º atacante. A comunicação estabelecida entre o 1º e o 2º
atacante é essencialmente verbal, na qual o jogador de cobertura ofensiva deverá comunicar com o companheiro
de posse de bola informando-o do contexto geral da situação de jogo, isto é, da posição do adversário, dos com-
panheiros melhor posicionados e encorajando-o a executar acções técnico-tácticas pelo lado do risco.
Finalizando, o jogo de futebol moderno cada vez mais requer jogadores que saibam onde e quando
deslocar-se para a frente da linha da bola. Se este deslocamento é executado no momento correcto, abre ópti-
mas oportunidades para progredir rapidamente em direcção à baliza adversária. Neste contexto, a maturidade
táctica de um jogador pode ser objectivada, quando este executa eficazmente a acção de cobertura ou apoio ao
jogador de posse de bola, ou seja, quando o faz atrás ou à frente respectivamente. Este deverá deslocar-se para
a frente da linha da bola (apoio), quando o companheiro de posse de bola não precisa de cobertura. Contudo,
não faz nenhum sentido táctico que todos os jogadores tentem posicionar-se à frente da linha da bola, pois, se
tal acontecer, não haverá a possibilidade da circulação da bola e, consequentemente, a variação do ângulo de
ataque do processo ofensivo.

2.2.4. Análises das situações em que se observaram acções de


cobertura/apoio ao companheiro de posse de bola
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

Da análise global das acções ofensivas observadas verificaram-se os seguintes


dados:
1. Em 18% das situações de jogo, o jogador de posse de bola não teve qualquer apoio
por parte dos companheiros, nos restantes 82% verifica-se no mínimo um apoio, o
Foto 136. O jogador em que demonstra claramente a importância desta acção no desenvolvimento do
cobertura ofensiva deve processo ofensivo da equipa. Neste sentido, as equipas de alta organização mobi-
comunicar com o colega de
lizam constantemente jogadores para o seio de centro do jogo, ou seja, para os
posse de bola
espaços próximos onde se desenvolve a acção do companheiro de posse de bola.
152 Guia prático de exercícios de treino

2. São os jogadores que constituem o sector defensivo que mais vezes assumem atitudes e comportamentos
de cobertura defensiva (50%), seguido pelos médios (31%) e por último, dos avançados (4%). Em termos
globais (cobertura e apoio), são os defesas que mais participam com 42%, seguido dos médios com 40% e dos
avançados com 12%. Os jogadores participantes ao sector médio são muito importantes na ligação dos dois
sectores extremos do sistema de jogo (defensivo e avançado) da equipa, pois, beneficiam de um posiciona-
mento que apresenta condições óptimas para servir todos os outros companheiros, na distribuição do jogo
ofensivo, na circulação rápida da bola entre os vários corredores, no desequilíbrio do método defensivo adver-
sário e na finalização do ataque.

Da análise dos jogadores que ao intervirem sobre a bola beneficiaram de acções de cobertura/apoio
por parte dos seus companheiros verificaram-se os seguintes factos:
1. Em 89% das situações de jogo analisados, os jogadores pertencentes ao sector defensivo beneficiam da acção
de cobertura/apoio por parte dos seus colegas. Estes valores elevados derivam: (1) do facto destes jogadores
executarem predominantemente respostas técnico-tácticas pelo lado da segurança, (2) das zonas onde inter-
vêm - implicam pela proximidade da baliza um elevado risco de se perder a posse da bola, e, (3) nestas zonas
do terreno de jogo onde se verifica prioritariamente o relançamento do processo ofensivo e onde se inicia nor-
malmente a sua construção.
2. Em 80% das situações de jogo, os jogadores pertencentes ao sector médio da equipa quando intervêm sobre
a bola, recebem por parte dos seus companheiros acções de cobertura/apoio, cujas percentagens são semel-
hantes aos do sector defensivo. Com efeito, os médios intervêm sobre a bola fundamentalmente nas zonas do
2/4 (meio-campo defensivo) e 3/4 (meio-campo ofensivo) nas quais as respostas técnico-tácticas são avaliadas:
(1) pelo lado da segurança, em que se objectiva a manutenção da posse da bola e complementarmente do equi-
líbrio da organização da própria equipa, através de acções de compensação e de circulação da bola e, (2) pelo
lado do risco, visando fundamentalmente acções de rotura ou manutenção do desequilíbrio da organização
defensiva adversária, do que acções que respeitem os princípios de cobertura/apoio ao companheiro que
momentaneamente intervêm sobre a bola.
5. Aspecto importante a assinalar, na presente análise, é o facto de as equipas estabelecerem uma organização
estável e constante de acções de cobertura e apoio, fundamentalmente no que diz respeito ao número de
apoios de que esta é constituída, para cada sector do terreno de jogo, independentemente da missão táctica
dos jogadores, dentro do sistema de jogo da equipa, que intervenham sobre a bola. Dos dados observados,
podemos inferir que os defesas são sucessivamente substituídos pelos médios e estes por sua vez pelos avança-
dos na execução de acções de cobertura ofensiva, apoio lateral e apoio frontal aos companheiros que inter-
vêm sobre a bola, à medida que as situações momentâneas de jogo se aproximam da baliza adversária. (1) O
guarda-redes participa em 14% das situações do jogo, intervindo (6%), ou apoiando (8%), o compa-nheiro de
posse de bola, ou seja, participa no centro da acção em cada 22 segundos do tempo útil de jogo. (2) Os defe-
sas laterais participam em 20% das situações de jogo, intervindo (9%), ou apoiando (11%) o companheiro de
posse de bola, ou seja, participa no centro da acção em cada 15 segundos do tempo útil de jogo. (3) Os defe-
sas centrais participam em 28% das situações de jogo, intervindo (10%), ou apoiando (18%) o companheiro
de posse de bola, ou seja, participam no centro da acção em cada 11 segundos do tempo útil de jogo. (4) Os
médios (direito ou esquerdo), participam em 21% das situações de jogo, intervindo (9%) ou apoiando (12%),
o companheiro de posse de bola, ou seja, participam no centro da acção em cada 14 segundos do tempo útil
de jogo. (5) Os médios centros, participam em 29% das situações de jogo, intervindo (11%) ou apoiando
(18%) o companheiro de posse de bola, ou seja, participam no centro da acção em cada 10 segundos do tempo
útil de jogo. (6) Os avançados participam em 17% das situações de jogo, intervindo (9%) ou apoiando (8%) o
companheiro de posse de bola, ou seja, participam no centro da acção em cada 18 segundos do tempo útil de
jogo.
A organização dinâmica do jogo de futebol 153

2.3. A mobilidade
Os jogadores em processo ofensivo, uma vez assegurada a cobertura do companheiro de posse de
bola, utilizam o princípio da mobilidade tentando espartilhar a organização defensiva (em termos de largura e
profundidade), criando assim os espaços necessários para a progressão da bola. Com efeito, a concretização dos
comportamentos técnico-tácticos de base ao princípio da mobilidade, consubstanciam-se, em última análise, nos
Missões tácticas % de participação Intervindo directamente Apoiando o colega Tempo médio de parti-
seguintes
nas situações de jogo sobre a bola de posse de bola cipação relativamente objec-
ao tempo útil de jogo tivos tác-
Guarda-redes 14% 6% 8% de 22 em 22 segundos ticos:
Defesas laterais 20% 9% 11% de 15 em 15 segundos
criar
Defesas centrais 28% 10% 18% de 11 em 11 segundos
Médios ala 21% 9% 12% de 14 em 14 segundos
espaços
Médios centro 29% 11% 18% de 10 em 10 segundos livres,
Avançados 17% 9% 8% de 18 em 18 segundos desequili-
Quadro 2. Representativo das percentagens de participação (intervindo directamente na bola ou apoiando o companheiro de brar o
posse de bola nas unidades estruturais funcionais) em função das missões tácticas relativas ao sistema táctico de jogo centro do
j o g o
defensivo, tornar o jogo ofensivo imprevisível e assumir outras
funções dentro ou fora da unidade estrutural funcional ofensiva.
Foto cedida pela revista Training

2.3.1. Criação de espaços livres


A mobilidade consubstancia objectivamente, a criação de
espaços livres e a sua utilização, de modo a possibilitar ao portador
da bola a escolha da acção técnico-táctica mais adequada à contex-
Foto 137. A mobilidade (3º atacante) tualidade da situação de jogo. Cada jogador entende especifica-
mente o jogo à sua maneira. As peculiaridades e o carácter das
acções sem bola representam a base do conceito do jogo de equipa que compreendem duas questões funda-
mentais em estrita relação (embora sejam independentes):
1. O posicionamento “alvo” escolhido pelo atacante. A posição
escolhida pelo jogador representa a fase quali-tativa do pensamento
criativo e da maturidade táctica, que contém componentes tais como
a capacidade de ler e va-lorizar rapidamente as situações por forma
a poder adoptar operacionalmente as soluções mais eficazes à tarefa
táctica da sua própria equipa.
2. O deslocamento do atacante. Sendo caracterizado pelo desen-
volvimento de certos procedimentos de carácter técnico baseado
numa elevada velocidade de execução, com mudanças rápidas de direcção, e pela utilização de fintas e simu-
lações por forma a dessimular as suas verdadeiras intenções tácticas.

2.3.2. Desequilibrar a unidade estrutural funcional defensiva


A contínua criação de instabilidade na equipa que
Foto cedida pelo jornal O JOGO

defende, é a chave da progressão no terreno de jogo, bem como


a criação de condições favoráveis à finalização. A marcação que
é realizada por cada um dos defensores só terá sucesso comple-
to, se os atacantes assumirem uma posição estática no terreno
de jogo. Em todos os momentos e em todos os espaços de jogo, Foto 138. Criação de espaços livres
154 Guia prático de exercícios de treino

muito embora com especial incidência perto da grande área adversária, os atacantes devem estar continuamente
activos de modo a colocarem a cada instante problemas acrescidos à defesa contrária. A compreensão e a assim-
ilação do jogo sem bola é tão importante como é, o perfeito domínio das diferentes acções técnico-tácticas. Neste
domínio, os jogadores que momentaneamente possam não fazer parte do leque de opções decisionais do com-
panheiro de posse de bola devem consciencializar e valorizar constantemente a sua contribuição para a resolução
e desenvolvimento da acção ofensiva. Tanto mais que, o objectivo do jogo sem bola não consiste tão só em inter-
vir de forma mais concreta e visível no jogo e apoderar-se da bola, mas também em arrastar um ou vários adver-
sários, permitindo deixar livres de marcação directa um ou vários companheiros ou criar espaços vitais de jogo
que poderão ser explorados para a concretização dos objectivos do ataque.

2.3.3. Tornar o jogo ofensivo imprevisível (do ponto de vista defensivo)


O jogador em mobilidade deverá tornar o seu jogo
imprevisível do ponto de vista defensivo através de desloca-
mentos ofensivos os quais deverão atender às seguintes
questões fundamentais:
Foto cedida pelo jornal O JOGO

1. O tipo de deslocamento de maior sucesso executado pelo


atacante é o que dá ao portador da bola duas opções de passe:
(1) Directamente para o atacante em deslocamento, o qual
ameaça de imediato um espaço de jogo ou o seu defesa directo.
(2) Directamente para o espaço deixado livre instantes antes
Foto 139. Desequilibrar o centro do jogo
para este atacante, em que o companheiro da equipa possa
ameaçar de imediato o defesa que ai se posiciona ou as perspectivas abertas pela exploração desse espaço
de jogo sem marcação ou que se encontra desfasado no tempo.
2. O jogador que se desloca, geralmente determina a direcção, a forma e o momento oportuno do passe.
Nesta perspectiva o atacante de posse de bola deve decidir e actuar de acordo com as diferentes opções tácti-
cas disponibilizadas pelos seus companheiros, prevendo concomitantemente, as intenções dos seus compan-
heiros pela forma e pelo tipo de deslocamento. Em consequência, para que ao jogador de posse de bola, seja
oferecido um maior número de alternativas de acção, é
necessário, que esses deslocamentos:
(1) Se realizem surpreendendo o adversário, aproveitem
de uma forma qualitativa o espaço disponível para a sua
Foto cedida pelo jornal O JOGO

realização.
(2) Os jogadores ao afastarem-se da bola forneçam
espaços que possam ser imediatamente ocupados, por out-
ros atacantes, escolhendo o momento certo para se deslo-
carem para esses espaços Foto 140. Tornar o jogo ofensivo imprevisível
(3) O atacante em mobilidade deverá procurar colocar-se
por forma que não seja possível ao defesa directo através da sua visão periférica, ver de forma simultanea-
mente a si e à bola. Neste sentido, o atacante deverá posicionar-se na denominada zona “cega” do defesa,
criando-se condições para que este cometa o erro de concentrar a sua atenção somente na bola.

3. O deslocamento ofensivo do jogador em mobilidade deve caracterizar-se pelo desenvolvimento de certos


processos técnicos individuais, de carácter "explosivo", visando em última instância surpreender ou iludir o
adversário utilizando:
(1) Mudanças rápidas de ritmo e direcção da corrida, de forma a dificultar a possibilidade de marcação
por parte do defesa adversário.
A organização dinâmica do jogo de futebol 155

(2) utilizando pequenas e rápidas fintas de simulação, no sentido da corrida, por forma a dissimular as suas
verdadeiras intenções tácticas.

2.3.4. Assumir outras funções dentro ou fora das unidades estruturais funcionais

Figura 53. Fluxograma das atitudes e dos comportamentos técnico-tácticos dos jogadores em processo ofensivo

Ao jogador em mobilidade exige-se uma clara visão do jogo, percepcionando continuamente as movi-
156 Guia prático de exercícios de treino

mentações dos seus companheiros (percepção), apercebendo-se rapidamente que decisão - resposta táctica, é
mais adequada à situação de jogo (decisão). Neste sentido, deverá assumir outras funções dentro da unidade
estrutural funcional ofensiva reajustando os seus comportamentos técnico-tácticos:
1. Às funções de cobertura ofensiva sempre que o seu companheiro (nessas funções) tome a iniciativa que não
lhe permita continuar a cumprir a tarefa relativamente ao companheiro de posse de bola.
2. Cumprir as atitudes e os comportamentos técnico-tácticos inerentes ao princípio da penetração, sempre
que a bola lhe seja passada.
3. Assumir, se for possível, os comportamentos técnico-tácticos inerentes ao jogador em cobertura defensiva,
logo após a perda da posse da bola por parte de um dos seus companheiros.

Noutra perspectiva, a situação de jogo poderá determinar que o jogador assuma atitudes e os com-
portamentos técnico-tácticos individuais determinados pela necessidade deste se deslocar para fora da unidade
estrutural funcional visando essencialmente colocar problemas cada vez mais difíceis de resolver à equipa adver-
sária:
1. Ocupar e utilizar espaços livres e vitais longe da unidade
estrutura funcional, procurando a rotura imediata e premente
Foto cedida pelo jornal O JOGO

da organização da equipa adversária.


2. Criar condições favoráveis à resolução táctica da situação
momentânea de jogo e concomitantemente à persecução eficaz
dos objectivos do ataque - progressão/finalização e manutenção
da posse da bola.
Foto 141. Desequilibrar o centro do jogo
3. Constituir-se como: i) um "alvo" que se desloca em profun-
didade e em largura por forma a fazer progredir ou a modificar o ângulo de ataque da sua equipa e, ii) refer-
enciar-se como um "elo" de ligação eficaz na transmissão de uma para outra unidade estrutura funcional.

2.3.5. Análise das respostas tácticas do jogador depois de intervir sobre a bola
Da análise das respostas tácticas dos jogadores após intervirem sobre a bola destacam-se as seguintes
observações:
1. As respostas tácticas depois da intervenção sobre a bola visam em 50% das situações de jogo a integração
imediata desse jogador na unidade estrutural funcional (centro do jogo) seguinte, através de deslocamentos
ofensivos em direcção ao companheiro de posse de bola, executando acções de cobertura ofensiva (26%),
apoio lateral (14%) e apoio frontal (9%). Com efeito, 17% das situações de jogo observadas, os jogadores
depois de intervirem sobre a bola procuram assumir atitudes e comportamentos técnico-tácticos que consubs-
tanciem o princípio da mobilidade. E por último, em 33% das situações o jogador depois de intervir sobre a
bola assume atitudes e comportamentos técnico-tácticos que consubstanciam o princípio da rotura da orga-
nização defensiva adversária, (20%) ou do princípio da estabilidade da organização da própria equipa (13%).
2. Os defesas, embora diminuindo as percentagens à medida que a bola se aproxima da baliza adversária, são
os que assumem comportamentos técnico-tácticos que objectivam preponderantemente deslocamentos em
direcção ao novo centro do jogo apoiando o companheiro de posse de bola para qualquer sector do terreno
analisado. Os comportamentos que consubstanciam o princípio da mobilidade aumentam à medida que o
centro do jogo se aproxima da baliza adversária, especialmente no sector do meio-campo ofensivo e sector
ofensivo e por último, as soluções tácticas que conduzem os jogadores para fora do centro do jogo mantêm-
se sensivelmente iguais ao longo dos sectores. Os médios assumem comportamentos técnico-tácticos de inte-
gração no centro do jogo de uma forma equitativa ao longo dos vários sectores analisados. Em relação aos
comportamentos que consubstanciam o princípio da mobilidade vão diminuindo à medida que o centro do
jogo se aproxima da baliza adversária, contrariamente aumentam as soluções tácticas que se consubstanciam
fora da unidade estrutural funcional. As diferentes soluções tácticas dos avançados, depois de intervirem sobre
a bola no sector defensivo e no sector do meio-campo defensivo, são sensivelmente iguais. No sector do meio-
A organização dinâmica do jogo de futebol 157

campo ofensivo os comportamentos de integração no centro do jogo e de mobilidade são preponderantes e,


finalmente, no sector ofensivo observa-se um maior número de situações que procuram a rotura da organi-
zação defensiva adversária e de apoio ao companheiro de posse de bola.

Da análise integrada das várias respostas tácticas antes, durante e depois dos jogadores intervirem
sobre a bola destacam-se as seguintes observações:
1. O decurso coordenado de cada comportamento técnico-táctico pressupõe e está intimamente ligado a uma
antecipação constante e múltipla de um projecto de acção. O prognóstico do programa ocorre através da per-
cepção de informação e análise correcta dos factores envolventes da situação de jogo, e da maturidade (exper-
iências) táctica armazenada no jogador. É nesta combinação, que os jogadores antecipam as possibilidades de
continuidade e desenvolvimento dessa situação, accionando para lá dos correspondentes e precisos processos
cognitivos, os esquemas de resposta consoante as modificações das componentes da situação. Este processo
ocorre milhares de vezes durante o jogo. O jogador ao intervir sobre a bola, está perante várias soluções pos-
síveis em função da situação de jogo, isto é, sobre circunstâncias com diversas possibilidades e objectivos.
Enquanto este combina antecipadamente as acções e as possíveis reacções dos seus compa-nheiros e adver-
sários em fracções de segundo, chega a uma variante que lhe parece óptima.
2. Os jogadores cuja resposta táctica antes de intervir sobre a bola foi de apoiar o companheiro de posse de
bola, quando na sua posse, em 28% das situações de jogo observadas procuraram mantê-la. Nos restantes 72%
procuraram progredir no terreno, transportar o centro do jogo em direcção à baliza adversária (58%), criar
situações propícias à fase de finalização (14%) e finalizar (1%). Em relação à resposta táctica depois da inter-
venção sobre a bola, em 52% das situações de jogo observadas, estes jogadores integraram-se imediatamente
no centro do jogo. Em 19% das situações os jogadores procuraram assumir o princípio da mobilidade. E por
último, em 30% das situações de jogo observadas procuraram assumir o princípio da rotura da organização
da defesa adversária (20%) ou equilibrar a organização da sua própria equipa (10%).
3. Os jogadores, cuja resposta táctica antes de intervir sobre a bola foi a progressão desta no terreno de jogo,
quando na sua posse, 58% mantiveram a mesma solução táctica, nos restantes 42% procuraram a manutenção
(15%), a criação (24%), ou a finalização (3%). Em relação à resposta táctica depois da intervenção sobre a bola,
47% integraram-se de imediato no centro do jogo, 26% procuraram assumir o princípio da mobilidade e por
último, 27% procuraram assumir o princípio da rotura da organização da defesa adversária (20%), ou equili-
brar a organização da sua própria equipa (7%).
4. Os jogadores cuja resposta táctica antes de intervir sobre a bola foi de rotura, quando na sua posse, 69%
mantiveram a mesma solução táctica, nos restantes 31% procuraram finalizar (19%), progredir (5%) e man-
ter a posse da bola (7%). Em relação à resposta táctica depois da intervenção sobre a bola, 35% integraram-se
de imediato no centro do jogo, 16% procuraram assumir o princípio da mobilidade e, por último, 41% procu-
raram assumir o princípio da rotura da organização da defesa adversária (23%) ou equilibrar a organização
da sua própria equipa (26%).

1. Os princípios gerais do jogo defensivo


Os jogadores que não se encontram directamente implicados na unidade estrutural funcional defen-
Re..táctica durante a intervenção sobre a bola Resposta táctica após a intervenção sobre a bola
Resposta táctica antes manu- progressão criação finalização cobertura apoio apoio mobili- rotura equilíbrio
de intervir sobre a bola tenção ofensiva lateral lateral dade da defesa própria
Apoiar o colega de p.b. 28% 58% 14% 0.5% 26% 16% 10% 19% 20% 9%
Progredir no espaço 15% 58% 24% 3.0% 27% 14% 6% 26% 20% 7%
Rotura da defesa adv. 7% 6% 69% 19% 11% 11% 13% 16% 23% 26%

Quadro 3. Representativo das percentagens entre as respostas tácticas dos atacantes antes, durante e depois destes intervirem sobre a bola
158 Guia prático de exercícios de treino

siva, deverão a todo o momento do jogo evidenciar atitudes e comportamentos técnico-tácticos que procuram
consubstanciar um dos seguintes três princípios gerais, em função da variabilidade das situações de jogo: a
preparação do processo ofensivo, a continua estabilidade da organização defensiva e a intervenção na unidade
estrutural funcional defensiva.

1.1. A preparação do processo ofensivo


Este princípio geral, desenvolvido durante a fase defensiva do jogo, procura orientar as decisões, as
atitudes e consequentemente os com-
Os princípios do jogo defensivo
portamentos técnico-tácticos dos
defesas, quando posicionados fora das unidades estruturais funcionais do jogo, cujas razões derivam das cir-
cunstâncias da situação (por exemplo na execução de bolas paradas - partes fixas do jogo) ou das directrizes de
carácter estratégico predefinido pelo treinador, que se expressam pela a aplicação do plano de jogo. Logicamente,
este ou estes jogadores, não estando de forma directa envolvidos no cumprimento dos objectivos defensivos
(recuperação da posse da bola ou na protecção da baliza), têm como missão táctica fundamental colocar de
modo constante e persistente pro-blemas de carácter técnico, táctico e estratégico difíceis de resolver e regu-
larizar, aos adversários directos pertencentes à equipa adversária, que detêm nesse momento a posse de bola.
Actuando desta forma, o cumprimento deste princípio irá reproduzir um impacto traduzido por
efeitos a dois níveis estruturais: (1) o primeiro, advém da sua contribuição indirecta para a criação de condições
favoráveis à recuperação da posse da bola, que se estabelecem pela diminuição do número de jogadores adver-
sários envolvidos directamente no desenvolvimento do processo ofensivo da sua equipa, pois a sua actividade
nesse contexto de jogo, restringe-se a marcar e vigiar de forma premente e agressiva esses jogadores e, (2) o
segundo, deriva do facto de se estabelecer desde esse momento um contexto de carácter ofensivo, embora
preparado de forma “precária”, mas suficientemente organizada para dar uma resposta imediata e positiva ao
desenvolvimento do ataque da equipa, logo que se verifique a recuperação da posse da bola. A correcta aplicação
deste princípio leva consequentemente os jogadores da equipa que detêm a posse da bola a pensarem e a pre-
ocuparem-se mais em defenderem (equilibrarem a organização do seu sistema táctico) do que atacarem (rotura
da organização defensiva adversária) levando-os a assumirem atitudes e comportamentos técnico-tácticos, que
podem ser desadequados à resolução contextual da situação, os quais poderão ser aproveitados num futuro ime-
diato.
Uma forma de potenciar a aplicação deste princípio geral, passa pela utilização não constante dos
mesmos jogadores, mas sim, por uma utilização diferenciada destes, dentro de certos limites, os quais se vão per-
mutando em função das necessidades prementes dos contextos situacionais de jogo, em termos de recuperação
da posse da bola e de manutenção constante da equipa adversária sob a ameaça, expressa por deslocamentos e
posicionamentos, que visam a preparação iminente do ataque à sua baliza. A permutação racional e sistemática
dos jogadores que cumprem o princípio da preparação do ataque, determina que os adversários não se possam
habituar às capacidades individuais dos jogadores que marcam de forma continuada, os quais se apercebem, aco-
modam e antecipam facilitando as suas acções de marcação. Ao modificar-se os jogadores que cumprem este
princípio os adversários têm assim de se adaptar às diferentes particularidades dos jogadores de domínio técni-
co e táctico, elementos que poderão constituir-se para uma decisão e execução de acções erradas no plano tác-
tico e estratégico. Esta poderá ser uma das principais consequências determinadas pelos constantes desloca-
mentos dos jogadores e as suas permutações, por forma a desorganizar a equipa adversária e mantê-la assim o
máximo de tempo possível, determinando que as movimentações compensatórias de resposta sejam complexas
do ponto de vista táctico e demoradas do ponto de vista do jogo.
Nesta perspectiva, as acções de preparação do processo ofensivo são baseados num conjunto de deslo-
camentos cuja intencionalidade táctica é alterar constantemente com outros colegas a luta directa pela recuper-
ação da posse de bola e pela preparação do processo ofensivo. Estas acções visam fundamentalmente os seguintes
objectivos:
1. Diminuir o número de jogadores que se envolvem directamente no processo ofensivo da sua equipa. Em
A organização dinâmica do jogo de futebol 159

termos globais, verifica-se constantemente uma situação de inferioridade numérica, impossibilitando igual-
mente que estes jogadores possam contribuir para um reinicio imediato do processo ofensivo, em caso de
insucesso momentâneo deste.
2. Preparar o processo ofensivo no qual já existem jogadores “alvo” para os quais a bola deve ser (quando e
se possível) imediatamente dirigida após a sua recuperação, de forma a evitar-se que a equipa adversária tenha
o tempo suficiente para evoluir para uma melhor organização defensiva.
3. Conduzir os defesas para espaços deixando livre de marcação atacantes numa situação em que possam exte-
riorizar toda a sua capacidade específica de jogo extremamente vantajoso para a equipa (por exemplo drible
e remate à baliza).
4. Arrastar adversários para posições menos confortáveis e habituais onde não possam exercer com eficácia
as suas capacidades individuais.
5. Estabelecer, logo após a perda da posse de bola, uma transição dinâmica e segura da fase defensiva para a
fase ofensiva, no qual se ajusta uma ligação estrutural concentrada para uma organização em largura e pro-
fundidade.

1.2. A estabilidade da organização da própria equipa


Este princípio geral de carácter defensivo, assenta fundamentalmente na necessidade imperiosa dos
defesas (quando por diversas circunstâncias, não se posicionam no seio das unidades estruturais funcionais),
reajustarem de forma constante as suas decisões, atitudes e comportamentos técnico-tácticos individuais e colec-
tivos em função do sucessivo desenvolvimento desse centro do jogo, tendo como elemento táctico orientador a
construção de uma organização centrada e desenvolvida expressando um bloco unitário e homogéneo que objec-
tive: (1) a racionalização permanente dos espaços vitais e estratégicos de jogo, pois a sua ocupação e vi-gilância
determinam a restrição de “tempo” de acção dos atacantes, estabelecendo condições favoráveis para o encamin-
hamento do processo ofensivo para zonas menos perigosas, tornando o jogo mais previsivel do ponto de vista
defensivo, e para uma resolução desadequada ao contexto situacional, devido à pressão exercida sobre os órgãos
de decisão táctica dos jogadores, (2) a marcação pressionante e agressiva dos atacantes que se desloquem ou se
posicionem em espaços estratégicos de jogo, tentando estruturar condições vantajosas para a progressão, para a
criação de situações de finalização ou para a finalização do processo ofensivo. A concretização deste princípio
geral defensivo é determinado pelo cumprimento dos seguintes aspectos basilares:
1. Diminuir a profundidade defensiva da equipa, através do deslocamento (logo que as condições se propor-
cionem para o deslocamento da última linha defensiva em direcção à unidade estrutural funcional), por forma
a aumentar a concentração de defesas nesse espaço de jogo. Este deslocamento, que poderá ter diferentes pro-
porções, para além das vantagens inerentes à aplicação da Lei do fora-de-jogo, determina o aumento de
pressão sobre o atacante ou atacantes que intervenham sobre a bola e os que o apoiam, criando condições
para a execução de decisões tácticas inadequadas à contextualidade situacional do qual poderão derivar tem-
porizações irremediáveis para o sucesso do processo ofensivo, como também a possibilidade da perda imedi-
ata da posse da bola.
2. Criar condições vantajosas para uma recuperação sem “sobressaltos” da posse da bola: i) impossibilitando
os atacantes de realizarem circulações tácticas de forma rápida e eficaz em direcção às zonas predominantes
de finalização e, ii) condicionando positivamente o desenvolvimento subjacente do processo ofensivo da
equipa através da possibilidade de atingir elevados níveis de êxito.
3. Assumir decisões tácticas determinadas por um correcto balanço entre os aspectos inerentes à contextual-
idade situacional, às missões tácticas distribuídas para os diferentes jogadores e à organização preesta-beleci-
da pelo sistema táctico da equipa e da sua estratégia.
4. Manter constantemente uma superioridade numérica especialmente nos espaços mais sensíveis e vitais rel-
ativos à unidade estrutural funcional de jogo.
5. Resistir à tendência de perseguir (marcar) todo e qualquer atacante que poderá, com os seus deslocamen-
tos, desarticular a organização defensiva e criar espaços que poderão ser ocupados e explorados por ou-tros
160 Guia prático de exercícios de treino

companheiros que beneficiam da acção dos primeiros.


6. Resistir à tentação de olhar somente para a bola e espaço onde esta se encontra. Actuando desta forma os
defesas poderão perder a noção global da situação, especialmente dos adversários directos que se movimen-
tam de forma a constituir-se como uma ameaça efectiva para a baliza.

1.3. A intervenção nas unidades estruturais funcionais (centro do jogo)


Os jogadores em qualquer situação de jogo devem estar preparados em termos mentais, técnicos e
tácticos para interferirem directamente no centro do jogo. Esta situação poderá suceder tanto pelo deslocamen-
to do jogador em direcção ao centro do jogo, como pelo deslocamento do centro do jogo em direcção ao jogador.
Assim, sejam quais forem as circunstâncias que determinem essa intervenção, é importante que este transmita:
(1) confiança e segurança aos seus colegas, apoiando as suas decisões e acções através do respeito dos princípios
específicos inerentes à unidade estrutural funcional, isto é, assumindo a contenção das acções do atacante de
posse de bola, a cobertura defensiva ou a mobilidade e, (2) agressividade e pressão defensiva aos adversários
procurando criar condições vantajosas em termos numéricos, espaciais e temporais por forma a estabele-cer:
1. A resolução eficaz dos problemas inerentes às unidades estruturais funcionais do jogo através da interac-
ção posicional e processual dos jogadores da sua equipa.
2. Retirar parte da iniciativa ao processo ofensivo adversário, conduzindo-o em direcção às linhas laterais do
terreno de jogo, para espaços onde se verifiquem situações de inferioridade numérica ofensiva e aumento da
previsibilidade do ataque, diminuindo-se as opções tácticas da situação.
3. Estabelecer condições para uma recuperação da posse da bola que simultaneamente potencie o êxito do
processo ofensivo subsequente.

2. Os princípios específicos defensivos


Os jogadores quando se encontrem directamente implicados na unidade estrutural funcional defen-
siva, deverão em todos os momentos, evidenciar atitudes e comportamentos técnico-tácticos que procurem con-
substanciar um dos seguintes três princípios específicos: a contenção, a cobertura defensiva ou o equilíbrio.

2.1. A contenção
Em competição, quando uma equipa perde a posse da bola, todos os seus jogadores devem orientar
as suas atitudes e comportamentos técnico-tácticos na contribuição individual e sincronizada com os seus cole-
gas, no cumprimento dos objectivos estabelecidos para a fase defensiva do jogo. Neste domínio, logo que se ver-
ifica a perda da posse da bola, a atitude basilar da equipa fundamenta-se na criação de obstáculos e linhas de
resistência defensiva, numa dinâmica de concentração posicional e processual dos jogadores, por forma a reunir
as condições mais vantajosas para a sua recuperação. Este objectivo poderá ser concretizado de forma mais ou
menos rápida (consoante a estratégia e o método de jogo preestabelecido, e em função das circunstâncias especí-
ficas da situação), formulando-se um enquadramento situacional favorável, que não pondo em risco a protecção
da baliza, isto é a sua inviolabilidade, potencie o êxito do processo ofensivo subsequente. Com efeito, indepen-
dentemente do conjunto de circunstancialismos inerentes a todos os contextos situacionais de jogo, a contenção
configura-se como o princípio táctico orientador mais importante das decisões e comportamentos dos defesas,
que pressionam o atacante de posse de bola em cada momento do desen-
volvimento do processo ofensivo adversário. Nesta perspectiva, o cumpri-
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

mento deste princípio táctico orientador das atitudes e das acções dos defe-
sas implica múltiplas exigências, sendo alicerçado nos seguintes atributos
essenciais:
1. Rápida mudança de uma atitude ofensiva para uma atitude defensiva,
alicerçada em movimentações na direcção do atacante de posse de bola
e dos companheiros com os quais este se pode relacionar de forma priv-
ilegiada, com o intuito de dar continuidade ao processo ofensivo. Evita- Foto 142. A contenção
A organização dinâmica do jogo de futebol 161

se assim, que a equipa adversária possa aproveitar-se do momentâneo


desiquilíbrio que todas as equipas passam, quando estando a atacar têm de
passar a defender.
2. Reagir instantaneamente à situação de perca de posse de bola, através de

Foto cedida pela revista Training


comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos, que se traduzem
em movimentações e posicionamentos em função da bola, dos adversários,
dos companheiros, da baliza e dos espaços mais sensíveis do terreno de jogo,
Foto 143. Marcação pressio-nante e
rigorosa do atacante de posse de bola através dos quais o processo ofensivo adversários se possa desenvolver.
3. Marcação pressionante e rigorosa dos atacantes que a cada momento
intervenham sobre a bola, elegendo-os como os elementos mais importantes
da situação, pois são estes que determinam a direccionalidade e o desenvolvimento do processo ofensivo.
4. Sincronização das movimentações colectivas dos defesas por forma: i) a apoiar o companheiro que marca
o atacante de posse de bola, com o objectivo de retirar para si parte da iniciativa da situação e, ii) optar por
espaços vitais de jogo, que a cada momento são alteráveis devido à mudança do ângulo de ataque.
5. Direccionar constantemente as acções dos atacantes para zonas e espaços de jogo menos sensíveis, dentro
dos quais seja possível uma recupe-ração da posse da bola em
condições favoráveis de tempo e número (superioridade numérica).
6. Aplicação de um ritmo elevado de execução das acções técnico-tác-
ticas, com o objectivo de colocar problemas aos atacantes, por forma
a pressionar o seu pensamento táctico a níveis que o levem a errar no Foto cedida pelo jornal O JOGO

julgamento das situações e a optarem por respostas técnicas inade-


quadas e desajustadas ao contexto situacional.
7. Numa inteligência táctica, suportada numa agudeza de espírito, Foto 144. Direccionar o atacante para
numa motivação sem limites, num litígio constante com os atacantes espaços de jogo menos perigosos
e numa agressividade defensiva da equipa, que deverá ser cultivada,
treinada e aperfeiçoada, por forma a responder continua e adequadamente
aos contextos situacionais que o jogo determina.
A concretização desta orientação táctica fundamental - a contenção,
é consubstanciada pelos seguintes três comportamentos que iremos desen-
volver: manter-se entre a bola e a baliza, retardar a acção do atacante de posse
de bola e a continuidade da acção de jogo.

2.1.1. Manter-se entre a bola e a baliza


Um dos fundamentos básicos da fase defensi-
va do jogo de futebol, é consubstanciado pela
adopção por parte dos defesas, de uma colocação que
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

traduz a possibilidade destes em qualquer si-tuação


de jogo se posicionarem entre a bola e a sua própria
baliza por forma a cumprirem eficazmente um dos
seus objectivos: a recuperação da posse da bola ou a
Fotos 145/146. Evitar, utilizando qualquer procedi- defesa da baliza. Neste sentido, sempre que uma
mento técnico-táctico (lícito), que o atacante possa equipa esteja em processo defensivo, os jogadores
rematar em condições vantajosas
que a compõem de-verão em função do contexto da
situação de jogo (companheiros, adversários, bola,
baliza), posicionar-se continuamente entre a bola e a sua própria baliza, subjugando todos os seus comporta-
mentos técnico-tácticos a este sentido (instinto) táctico dominante. Todavia, existem situações de jogo, em que
este fundamento não poderá ser aplicado. Referimo-nos às situações que derivam das zonas do terreno de jogo
perto da linha final, por exemplo: pontapés de canto, livres, lançamentos da linha lateral, cruzamentos a partir
162 Guia prático de exercícios de treino

da linha final, etc. Neste domínio podemos desenvolver os seguintes aspectos:


1. Atender à velocidade e ao ângulo de aproximação ao atacante de posse de bola. Da leitura das situações
de jogo deriva a capacidade do defesa deduzir antecipadamente que acções técnico-tácticas irão ser executadas
pelos atacantes. Assim, é fundamental ter em consideração
dois aspectos: (1) rápida aproximação do
defesa ao atacante, enquanto a bola
estiver no seu trajecto em direcção a
este ou não estiver ainda perfeita-
mente controlada pelo seu possuidor.
Logo que esta condição se verifique, deve
abrandar a sua corrida, pois se o não fizer, será
extremamente difícil mudar de direcção, se a situ-
ação assim se proporcionar sendo facilmente ultrapas-
Figura 54. Os defesas devem manter constantemente um
sado. Portanto, dever-se-á observar um abrandamento na
posicionamento entre a bola e a sua própria baliza
corrida de aproximação do defesa ao adversário, logo que este
controla a bola e, (2) adoptar um correcto ângulo de aproxi-
mação que é determinado por uma condição essencial, que é o defesa manter-se continuamente entre a bola
e a sua própria baliza e, por uma condição específica, que deriva da situação de jogo, isto é, da intenção tác-
tica do atacante em passar, driblar ou rematar.
2. Posicionamento de base. Todas as possibilidades de inter-
venção na situação do jogo estão determinadas por um factor
essencial - a posição de base. Embora aparentemente escape
à observação, a transcendência e a importância da posição de
Foto cedida pelo Sport Lisboa e Benfica

base em qualquer situação de jogo, a verdade é que a prática


demonstra que o jogador apto e preparado para intervir,
decidindo-se antecipadamente pela acção técnico-táctica,
executa-la-á com maior segurança e eficácia, actuando com
Foto 147. Reduzir a velocidade de aproximação logo que o maior equilíbrio e estabilidade, tomando para si próprio
atacante tenha a bola perfeitamente dominada parte da iniciativa do ataque. Com efeito, é necessário con-
siderar a posição de base como um comportamento de
importante magnitude devendo exigir-se por parte dos
jogadores a sua adopção, não sendo por isso encarado como um gesto decorativo e ilustrativo. A posição de
base é fundamentada por duas razões: motora (equilíbrio-estabilidade), favorecendo a intervenção e a con-
tinuidade do comportamento defensivo e, psíquica (observação-concentração), favorecendo a reacção do
jogador no momento oportuno. No que se refere à problemática da posição de base podemos ainda eviden-
ciar três factores importantes: (1) a eficácia de
um posicionamento de base diminui à medi-
da que o atacante utiliza acções de carácter
repentino, com mudanças de velocidade e de
direcção. Não obstante o referido, a melhor
forma do defesa poder contrastar o compor-
tamento do atacante, é reagir apropriada-
mente a essas acções, a partir de uma correcta posição de base, (2)
Foto cedida pelo jornal O JOGO

o defesa numa situação de 1x1 deve manter continuamente a esta-


bilidade dinâmica da sua posição de base, resistindo à tentação de
tentar desarmar o atacante, deslizando pelo chão (acção técnica
denominada de “carrinho”). Esta acção técnico-táctica de difícil Foto 148/149. Ganhar e assumir a posição
execução só deve ser utilizada em situações extremas ou quando o defensiva de base
A organização dinâmica do jogo de futebol 163

defesa tem a certeza absoluta que irá ganhar a posse


de bola. Em todas as outras situações
deverá manter-se sobre os apoios, ser
paciente e tentar tomar para si parte
da iniciativa do ataque e, (3) o defesa,
a partir da posição de base e em função da
capacidade de progressão do atacante, deverá
deslizar em direcção à sua própria baliza, não ele-
vando o centro de gravidade e mantendo a planta dos
pés em contacto com o solo.
3. Distância entre o defesa e o atacante. Numa situação de Figura 55. A colocação dos apoios
contenção ao adversário de posse de bola, o defesa deverá
assumir uma posição cuja distância varia entre 0,5 a 1 metro, todavia, o aumento ou diminuição desta dis-
tância é determinada fundamentalmente pelos seguintes aspectos: (1) a capacidade técnico-táctica do defesa.
Quanto maior for a capacidade do defesa em desarmar, menor será a distância de marcação entre este e o ata-
cante de posse de bola, por forma a poder aplicar eficientemente o referido procedimento técnico defensivo,
(2) a capacidade técnico-táctica do atacante. Quanto maior for a capacidade do atacante em driblar/fintar,
maior será a distância de marcação adoptada pelo defesa em contenção, por forma a que tenha o tempo e o
espaço necessários para recuperar uma posição defensiva equilibrada e eficiente, sempre que o atacante pro-
cure aplicar o referido procedimento técnico ofensivo, (3) a zona do terreno de jogo onde se verifica a situ-
ação. À medida que o atacante de posse de bola se aproxima da baliza adversária, em especial dos espaços pre-
dominantes de finalização, menor será a distância de marcação entre o defesa e o atacante, (4) possibilidade
de observar continuamente a bola (reagir ao movimento desta,
observando-a de forma constante - ser paciente), (5) a posição do
atacante em relação à baliza adversária. Se o atacante de posse de
bola está posicionado "de frente" para a baliza adversária, o defesa
Foto cedida pela revista Training

em contenção deverá aumentar um pouco a distância de mar-


cação, evitando ser surpreendido por este. Se o atacante se posi-
ciona "de costas" ou eventualmente "de lado", dever-se-á diminuir
a distância de marcação por forma a evitar que este rode em
direcção à baliza adversária, (6) a existência de acções de cobertu-
Foto 150. Distância entre o defesa e o atacante de
posse de bola ra defensiva. Determinam a possibilidade do defesa em contenção
assumir
uma maior iniciativa perante o atacante: i) na recuper-
ação imediata da posse da bola, ii) na criação de
condições mais favoráveis para o atacante cometer
erros ou, iii) outro companheiro possa beneficiar da
sua acção e ser ele próprio a recuperar a bola. Com
efeito, ao procurar ser mais agressivo na conquista da
bola o defesa em contenção sabe que se a sua acção falhar,
imediatamente outro companheiro tomará integralmente e
sem demoras a sua missão táctica e, (7) existência de
acções de cobertura ofensiva ou apoio ao atacante de
posse de bola. Determinam que o jogador em contenção,
deverá assumir uma maior distância de marcação, por
forma a evitar ser imediatamente ultrapassado pela superi-
Figura 56. A distância e a posição do defesa, condicionam o
oridade numérica dos atacantes. Com efeito, ao posicionar- espaço e o ângulo de remate, ou de passe do atacante
se um pouco mais longe do atacante procurará temporizar
164 Guia prático de exercícios de treino

(demorando) ao máximo o desenvolvimento do processo ofensivo para


que os restantes companheiros possam providenciar as acções de entrea-
juda necessárias.

Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO


4. Observar a bola - ser paciente. O defesa deve observar continua-mente
a bola para que a sua reacção seja de acordo com esta e não com o adver-
sário. Evita assim, ser ludibriado com os falsos sinais emitidos pelo corpo
do adversário e particularmente pelos seus pés. É esta a razão pela qual o
defesa não deve posicionar-se demasiadamente perto do adversário, pois
Foto 151. A acção técnica denominada de se o fizer, não poderá observar a bola e só poderá reagir aos movimentos
“carrinho” só deve ser usada em situações do atacante. Ser paciente: é importante para o defesa compreender este
extremas
aspecto pois, uma vez correctamente posicionado, os problemas devem ser
resolvidos pelo atacante. O tempo nestas situações, concorre sempre a favor do defesa. "A paciência e a con-
centração são qualidades essenciais dos defesas e fazem parte integrante de todas as técnicas defensivas sendo
fruto da confiança e da capacidade" (Hugges, 1973). Portanto, deverá evitar o desarme, salvo quando houver
a garantia de poder vir a ganhar a bola. Em situação de último defesa da equipa não deverá arriscar o desarme,
salvo em última circunstância, ou seja, perto da linha de golo.

2.1.2. Retardar a acção do atacante de posse de bola


Existem fundamentalmente dois momentos em que se verificam desequilíbrios (pontuais ou totais)
na organização defensiva. Uma, observa-se logo após a perda da posse
da bola, em que a equipa tem de reestruturar todo o seu comportamen-
to colectivo face à nova situação (ataque x defesa), e a outra, quando os
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

atacantes com ou sem a posse da bola executam deslocamentos ofen-


sivos de rotura (perpendicular ou diagonal) para espaços vitais de jogo.
Em qualquer uma das situações referidas, o jogador em acção de con-
tenção deve imediatamente respeitar um dos princípios fundamentais
da defesa: temporizar a acção do atacante de posse de bola por forma a
retardar o desenvolvimento do processo ofensivo, para que todos os Foto 152. Observar a bola - ser paciente
companhei-ros tenham o tempo suficiente para se recolocarem nas suas
posições de base, em função das exigências da situação de jogo, mar-
cando simultaneamente de forma agressiva todos os atacantes que possam de alguma maneira dar continuidade
à acção atacante. Neste domínio podemos desenvolver os seguintes aspectos:
1. Ter a iniciativa. O vencedor das situações de 1x1, é aquele que tem a iniciativa. O defesa poderá ter a ini-
ciativa assumindo as seguintes atitudes e comportamentos técnico-tácticos: (1) em muitas situações de jogo,
principalmente nas zonas predominantes de finalização, os atacantes recebem a bola de "costas" para a baliza
adversária, nestas circunstâncias, o jogador em contenção deverá
exercer uma marcação mais pressionante, não o
deixando rodar, obrigando-o assim, a
orientar os seus comportamentos téc-
nico-tácticos em direcção à sua
própria baliza, (2) simular que vai
desarmar, desta forma dois objectivos
serão possíveis: i) o jogador de posse de bola
olha para esta com o intuito de a proteger do
pretenso desarme (quando isto acontece, o atacante
Figura 57. Acção de retardamento do processo ofensivo
pensa mais em proteger a bola do que atacar o defesa) e, adversário, com o consequente deslocamento dos com-
ii) o jogador de posse de bola tenta tirá-la do alcance do panheiros para posições em função da situação de jogo
desarme e assim perder o seu controlo, (3) procurar conduzir
A organização dinâmica do jogo de futebol 165

o adversário de posse de bola para um dos corre-


dores laterais, tornando assim, a
acção ofensiva do adversário menos
perigosa, por três razões: i) o ângulo
de passe é extremamente reduzido, ii)
o número de jogadores a quem o atacante
pode passar a bola é menor e, iii) o jogo ofen-
sivo torna-se mais previsivel, (4) procurar con-
duzir o adversário de posse de bola em determinada Figura 58. Conduzir o adversário para a linha (espaço
direcção que possibilite a ajuda de um companheiro, não vital de jogo). Conduzir o atacante para uma situ-
tendo assim em vista a criação de superioridade numérica ação de inferioridade numérica
perto da bola e, (5) escolher o momento certo de desarme e exe-
cutar a acção eficientemente.
2. Manter o jogo ofensivo em frente dos defesas. Nem sempre é possível recuperar de imediato a posse da
bola, nem sempre é possível afastar de imediato a bola das zonas vitais do terreno de jogo, nem sempre é pos-
sível evitar que o atacante directo consiga rodar e orientar os seus comportamentos técnico-tácticos em
direcção à baliza adversária. Com efeito, os defesas não devem estar obcecados na procura de concretizar um
destes objectivos defensivos, ao ponto de entrarem em crise de raciocínio táctico, e por via disso, cometerem
erros graves que determinam na maioria dos casos situações muito mais vantajosas para o ataque adversário.
Neste sentido, é importante para além dos defesas serem pacientes, discernirem claramente entre: i) o risco
que advém da procura a todo o transe de intervir sobre a bola, podendo contribuir mais rapidamente para
serem ultrapassados pelo atacante, o que determina uma rotura do centro do jogo defensivo que poderá ser
temporária ou permanente, ou de originar situações perigosas de bola parada (esquemas tácticos) e, ii) a segu-
rança que é consubstanciada pela manutenção e orientação do jogo ofensivo nos espaços de jogo em frente à
organização defensiva da equipa, obri-gando os atacantes a assumir continuamente comportamentos técnico-
tácticos para o lado (em direcção às linhas laterais) ou para trás (em direcção à sua própria baliza).

3. Determinação. Quando o defesa se desloca para recuperar a posse da bola, deve fazê-lo com velocidade,
precisão, timing e determinação. O jogo de futebol é um conjunto de situações de 1x1 em todo o campo,
alguns envolvem velocidade, outros técnica, outros contacto físico, quantas mais situações destas uma equipa
ganhar maior será o domínio psicológico sobre a equipa adversária.
4. "Aclarar" a defesa. Mesmo as equipas que defendem eficientemente,
mais tarde ou mais cedo, estarão em situações de pressão perto da sua
grande área. A todos os níveis muitos golos são marcados porque a defe-
sa não "aclara" adequadamente a situação de jogo. Existem cinco pres-
supostos no "aclaramento" da defesa: (1) chegar
primeiro à bola. Não interessa se o jogador é
bom cabeceador, ou se a sua técnica é segura, se
não for o primeiro a chegar à bola a sua capaci-
dade técnica não lhe serve para nada. Portanto,
atacar a bola nestas circunstâncias é largamente
um problema de determinação e de cora-gem,
(2) ir no tempo certo. O tempo na grande área concorre a favor da
Foto cedida pelo jornal O JOGO

defesa, é melhor jogar a bola para o ar do que jogá-la no chão para o


atacante, (3) jogar a bola o mais longe possível. Jogar a bola para longe
determina a diminuição temporária da pressão ofensiva. Assim, quan-
Fotos 153/154/155. Manter o atacante
de frente para a sua própria baliza
to mais longe da grande área a bola for jogada, menor serão as hipóte-
ses de sofrer golo, (4) jogar a bola num ângulo correcto. A bola deverá
166 Guia prático de exercícios de treino

ser jogada para uma zona onde haja o menor número de jogadores atacantes e,
(5) jogar a bola para fora. Existem situações em que é preferível jogar imedi-
atamente a bola para a linha lateral ou para a linha final do que tentar desarmar
o adversário.

Foto cedida pelo Sport Lisboa e Benfica


2.1.3. Continuidade da acção de jogo
Independentemente da resolução efectiva ou não da situação de jogo
por parte do atacante de posse de bola, o
defesa em contenção deverá realizar com- Foto 156. Determinação no
portamentos técnico-tácticos baseados numa momento de desarmar o ata-
cante
atitude activa e disponível, continuando a
intervir:
1. No seio da unidade estrutural funcional, quer no plano defensivo (se
Foto cedida pelo Sport Lisboa e Benfica

não for possível recuperar a posse da bola), executando comportamentos


de contenção, de cobertura defensiva ou equilíbrio, quer no plano ofensi-
vo, através de comportamentos de penetração, de cobertura ofensiva ou
mobilidade.
2. Fora da unidade estrutural funcional através de comportamentos que
consubstanciem a rotura da organização da equipa adversária ou con-
tribuam para a estabilidade da organização da própria equipa.
Foto 157. “Aclarar” a defesa
2.1.4. Análise do princípio da contenção ao atacante de posse de bola
Da análise das acções de contenção sobre o atacante de posse de bola constata-se os seguintes factos:
1. Mais de 60% das situações de jogo, os atacantes que intervieram momentaneamente sobre a bola, tiveram
que solucionar a situação táctica sobre pressão directa de um ou mais adversários, havendo a salientar os
seguintes aspectos em: 39% destas situações, o atacante de posse de bola foi pressionado desde o momento
que inicia o deslocamento ofensivo para a receber, até ao momento que executa a resposta técnico-táctica, em
29% das situações, os jogadores que intervieram sobre a bola foram pressionados desde o momento da
recepção, até ao momento da execução da resposta técnico-táctica e, por último, em 32% das situações os ata-
cantes foram pressionados em parte do total dos comportamentos técnico-tácticos.
2. Regista-se igualmente que, das situações de jogo em que houve pressão, 90% dos casos os jogadores em fase
defensiva (contenção) deslocaram-se em direcção ao atacante, consubstanciando assim uma forte atitude
defensiva baseada em movimentações rápidas para pressionar o adversário de posse de bola, diminuin-do o
tempo e o ângulo de resposta técnico-táctica ao atacante. Outro aspecto importante, é que em 89% das situ-
ações observadas, o jogador em acção de contenção demonstra uma atitude activa, tomando para si parte da
iniciativa, não limitando portanto, a esperar que o atacante perdesse a posse da bola.
3. À medida que o centro do jogo se aproxima da baliza adversária, o atacante de posse de bola é confronta-
do, por um lado, com um maior número de situações de jogo em que existe contexto de oposição e, por outro,
de maiores níveis de pressão.
4. Os jogadores pertencentes ao sector médio são os que mais pressionam os adversários de posse de bola
(41%), seguido dos avançados (31%), dos defesas (25%). Os dados analisados demonstram, a importância que
as equipas dão à fase defensiva do jogo, não descarregando sobre os defesas toda a responsabilidade de defend-
er. Pelo contrário, procura-se estabelecer concepções unitárias que permitam resolver todas as si-tuações de
jogo com pleno sentido de equipa, assegurando, por um lado, uma melhor cobertura do espaço com o objec-
tivo de recuperar a posse da bola e, por outro, proteger eficazmente a baliza, impedindo as acções de final-
ização.
5. Observa-se que quando os defesas adversários têm a posse da bola são pressionados essencialmente pelos
médios e avançados da equipa contrária. Quando os médios têm a posse da bola são pressionados funda-
A organização dinâmica do jogo de futebol 167

mentalmente pelos médios e defesas. E por último, quando os avançados têm a posse da bola, são pressiona-
dos preponderantemente pelos defesas e médios da equipa contrária. Em termos globais, os dados ana-lisa-
dos evidenciam que os defesas são pressionados em 43%, os médios em 60% e os avançados em 79%.
6. Relativamente às infracções às leis do jogo verifica-se, que à medida que as situações de jogo se aproximam
da baliza adversária maiores são as probabilidades de o atacante sofrer falta por parte dos adversários. Nos
corredores de jogo, observam-se percentagens mais elevadas nos corredores laterais (direito e esquerdo), que
no corredor central. Em média cada guarda-redes comete entre 1 a 2 infracções (1%), cada jogador perten-
cente ao sector defensivo entre 6 a 7 (31%), cada médio entre 10 a 11 (46%) e cada avançado entre 8 a 9 (23%).
Noutro sentido, em média cada guarda-redes sofre entre 1 a 2 infracções (5%), cada defesa entre 4 a 5 (17%),
cada médio entre 7 a 8 (29%) e cada avançado entre 16 a 17 (49%).

2.2. A cobertura defensiva


A acção de cobertura defensiva é extremamente importante, pois não só dá a confiança necessária ao
companheiro que marca o adversário de posse de bola (1º defesa), para que este tenha maior iniciativa, como
terá a responsa-bilidade imediata de exercer pressão sobre o adversário quando este ultrapassar o seu colega.
Com efeito, independentemente do nível qualitativo do jogador em contenção, este deve ter sempre a segurança
de beneficiar de uma cobertura defensiva correcta e eficiente. A posição de cobertura defensiva, para além dos
aspectos anteriormente mencionados (posição de base, observar a bola, ser paciente, etc.), terá ainda que ter em
conta os seguintes factores: a distância de cobertura, o ângulo de cobertura e a comunicação.

2.2.1. A distância de cobertura


A distância de cobertura entre o jogador de cobertura defensiva (2º defesa) e o jogador em contenção
(1º defesa) depende:
1. A zona do campo onde se verifica a situação de jogo. A distância
entre o 1º e o 2º defesa varia de acordo com a zona do campo, ou seja,
se a situação se verificar no 3/3, o 2º defesa posiciona-se a uma maior
distância do 1º defesa, pois, o adversário de posse de bola poderá ultra-
passar os dois jogadores em acção defensiva de uma vez só, pelo aumen-
to de velocidade de execução que deriva fundamentalmente da utiliza-
ção de grandes espaços de jogo que se verifica nesta
zona do campo. Se a situação de jogo se verifica no 1/3
do campo, o 2º defesa posiciona-se mais perto do 1º
Foto cedida pelo jornal O JOGO

defesa, para evitar que (no caso do adversário ultrapas-


sar o 1º defesa), não tenha o mínimo de espaço para
poder finalizar. Por fim, sempre que o jogador se posi-
Fotos 158/159. A cobertura defensiva cione ou se desloque para as linhas laterais do terreno
de jogo, o jogador de cobertura defensiva deve imedi-
atamente aproximar-se do seu companheiro, aumentando assim a pressão defensiva sobre esta.
2. A capacidade técnico-táctica do jogador adversário. Os jogadores atacantes, segundo as suas característi-
cas e capacidades, executam as acções técnico-tácticas das quais se sen-
tem mais seguros (drible ou passe). Assim, se o adversário tem uma
grande capacidade de resolver situações de 1x1 (drible), o 2º defesa dev-
erá posicionar-se mais perto do seu companheiro com o objectivo de
Foto cedida pelo jornal O JOGO

encurtar o tempo e o espaço de execução do adversário. Se o adversário


tem uma grande capacidade de executar acções de passe (especialmente
para os espaços vazios), o 2º defesa deverá posicionar-se um pouco mais
Foto 160. Ultrapassado o 1º defesa o jogador
de cobertura tem o dever de marcar o ata- longe do 1º defesa, para que tenha mais tempo para decidir conforme a
cante de posse de bola evolução da situação.
168 Guia prático de exercícios de treino

3. A velocidade dos defesas. Se os defesas são mais rápidos que os


adversários directos, o 2º defesa deverá posicionar-se mais perto do
companheiro. Se os defesas são mais lentos que os seus adversários, o
2º defesa deverá aumentar a sua distância do 1º defesa.
4. O estado das superfícies do terreno de
jogo e as condições climatéricas. O estado
das superfícies de jogo e as condições cli-
matéricas afectam obviamente a distância

Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO


do defesa em acção de cobertura. Em
condições de superfície de terreno irregular,
é aconselhável que o 2º defesa diminua a
distância do 1º defesa. Quando o vento
sopra a grande velocidade dever-se-á
aumentar a distância de cobertura defensiva.
5. Do deslocamento do jogador em cober-
tura ofensiva. Do deslocamento do jogador
em cobertura ofensiva em direcção ao com-
panheiro de posse de bola, ou deste em direcção ao jogador de cober-
tura ofensiva. Sempre que uma destas situações se verificarem, o
jogador de cobertura defensiva deve imediatamente diminuir a sua dis- Fotos 161/162/163/164. A entreajuda
defensiva especialmente do jogador de
tância em relação ao companheiro em acção de contenção, a fim de evi- cobertura defensiva
tar em qualquer dos casos a criação momentânea e pontual de superi-
oridade numérica ofensiva.
2.2.2. O ângulo de cobertura defensiva
É o ângulo entre o jogador de contenção (1º defesa) e o jogador de
cobertura defensiva (2º defesa). O ângulo de cobertura defensiva visa
consubstanciar dois objectivos fundamentais: (1) possibilitar uma visão
Foto cedida pelo Sport Lisboa e Benfica

glo-bal do espaço e da situação de jogo à sua frente e, (2) possibilitar a


intercepção das linhas de passe em direcção à sua própria baliza. Não
existe nenhum ângulo que esteja
permanentemente correcto. Se o
Foto 165. A acção sincronizada dos jogador em cobertura defensiva,
jogadores em contenção e cobertura defensi- tem dúvidas quanto ao ângulo
va em situações extremas
que deve escolher, deverá optar
por um ângulo de 45 graus. Concomitantemente
aos objectivos formulados, outra questão funda-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

mental se coloca ao 2º defesa: saber qual o lado


(em relação ao companheiro em contenção) de
cobertura defensiva este deverá escolher para efec-
tuar eficazmente esta acção. Com efeito, podemos
estabelecer quatro condições (situações) básicas na
resposta à questão formulada:
1. Quando o atacante está a ser conduzido em direcção a um dos corre-
dores laterais do terreno de jogo, o jogador de cobertura defensiva
deverá, em função da evolução da situa-ção, posicionar-se próximo Fotos 166/167/168. A incorrecta cobertuar
defensiva e de contenção faz com que o ata-
da linha lateral procurando aumentar a pressão sobre o adversário de cante consiga ultrapassar dois defesas com a
posse de bola. mesma acção
2. Quando o atacante está a ser conduzido em direcção ao corredor
A organização dinâmica do jogo de futebol 169

central, o jogador de cobertura defensiva deverá posicionar-se do lado de dentro, ou seja, o lado que converge
para o centro do terreno de jogo.
3. O jogador de cobertura defensiva deverá igualmente equacionar a possibilidade de o seu companheiro em
acção de contenção (1º defesa) ser ultrapassado pelo atacante de posse de bola. Nesta situação, deverá anteci-
padamente posicionar-se por forma a poder intervir de imediato e com o
máximo de eficácia.
4. Quando o atacante de posse de bola beneficia da acção de cobertura

Foto cedida pelo S. L.. Benfica


ofensiva (2º atacante) por parte de um dos seus companheiros, o jogador
de cobertura defensiva deverá assumir um posicionamento que equacione
a colocação adoptada pelo 2º atacante.
Foto 169. O ângulo de cobertura
2.2.3. A comunicação defensiva
A comunicação estabelecida entre o 1º e o 2º defesas é essencial-
mente verbal, na qual o jogador de cobertura defensiva deverá comunicar com o companheiro que nesse
momento marca o adversário de posse de bola, informando-o da posição do adversário, estimulando-o para a
condução deste para zonas menos perigosas do campo ou encorajando-o na execução do desarme.

2.2.4. Análise das acções de cobertura defensiva


Da análise das acções de cobertura defensiva observaram-se os seguintes factos:
1. Em 54% das situações de pressão sobre o atacante de posse de bola, consubstanciam acções de cobertura
defensiva. Este factor demonstra a preocupação das equipas organizarem uma oposição, em que o defesa em
acção de contenção, tenha a possibilidade de actuar com mais iniciativa na sua acção de marcação sobre o
adversário directo e, simultaneamente, estabelecer uma estrutura que mantenha um equilíbrio permanente,
pois, se o primeiro defesa (contenção) for ultrapassado, o segundo defesa (cobertura defensiva), terá a respon-
sabilidade imediata de exercer pressão, temporizando
momentaneamente a rotura pontual da organização defensi-
va.
2. À medida que as situações de jogo se aproximam da baliza
Foto cedida pelo Sport Lisboa e Benfica

adversária aumenta o número de acções de cobertura defen-


siva. Neste sentido, observaram-se 28% para o sector ofensi-
vo, valor que aumenta gradualmente até atingir os 84% no
sector defensivo. Nos corredores de jogo, observam-se per-
centagens mais elevadas no corredor central, que nos corre-
Foto 170. A comunicação estabelecida entre o 1º e 2º defe- dores laterais (direito e esquerdo).
sas
170 Guia prático de exercícios de treino

Figura 59. Fluxograma das atitudes e dos comportamentos técnico-tácticos dos jogadores em processo ofensivo
A organização dinâmica do jogo de futebol 171

3. Os jogadores pertencentes ao sector defensivo, quando pressionam o adversário de posse de bola, benefici-
am em 57% das situações de acções de cobertura defensiva, os médios beneficiam em 52% e, por último, os
avançados em 38%. Noutro sentido, os defesas quando têm a posse da bola e são pressionados, em 34% têm
acções de cobertura defensiva no correspondente contexto de oposição, os médios em 57% e, por último, os
avançados em 62%. Os dados referidos demonstram claramente que os avançados são os que têm de execu-
tar respostas técnico-tácticas perante contextos de oposição mais complexas, seguidos pelos jogadores do sec-
tor médio, do sector defensivo e do guarda-redes respectivamente.

2.3. O equilíbrio
Os jogadores em processo ofensivo (uma vez assegurada a cobertura do companheiro de posse de
bola), utilizam o princípio da mobilidade, tentando espartilhar o método defensivo (em termos de largura e pro-
fundidade), na procura de criar os espaços necessários à progressão da bola ou à criação de situações de fina-
lização. Os jogadores em processo defensivo contrapõem ao princípio da mobilidade, o princípio do equilíbrio,
que visa assegurar fundamentalmente: a estabilidade da unidade estrutural funcional defensiva, criando
condições desfavoráveis aos atacantes. Torna-se assim, o jogo ofensivo previsível, assumindo-se outras funções
dentro da unidade estrutural funcional defensiva.

2.3.1. A estabilidade da unidade estrutural defensiva


O princípio táctico orientador das decisões e comportamentos técnico-tácticos do 3º defesa procura
assegurar constantemente o equilíbrio ou o reequilíbrio da unidade estrutural funcional defensiva, por forma a
manter a sua estabilidade dinâmica. Nestas circunstâncias, enquanto os atacantes procuram fragmentar e insta-
bilizar o centro do jogo (através de deslocamentos constantes em apoio ao companheiro de posse de bola ou
para fora desse mesmo centro), o defesa que assume o princípio do equilíbrio realiza o balanço estrutural das
acções dos diferentes jogadores (companheiros e adversários) tendo especial atenção aos movimentos do 3º ata-
cante (mobilidade). Estabelece-se assim uma distância coerente e homogénea entre si e os companheiros em con-
tenção e cobertura defensiva. Com efeito, consoante a variabilidade do contexto situacional, o defesa em equi-
líbrio aumenta ou diminui a concentração, restringindo o espaço de jogo ou marcando e acompanhando o 3º
atacante para fora da unidade estrutural funcional.

2.3.2. Criar condições desfavoráveis aos atacantes tornando o jogo ofensivo previsível
O jogador em equilíbrio defensivo deverá criar constantemente condições desfavoráveis aos ata-
cantes, isto é, fazer com que estes não cumpram de forma eficaz os objectivos do ataque, cometendo inclusiva-
mente erros que determinem a recuperação da posse da bola numa situação favorável à entrada imediata do con-
tra-ataque. Nestas circunstâncias, no centro do jogo, os defesas deverão manter uma certa iniciativa baseada
numa clara visão de jogo, percepcionando continuamente as movimentações dos adversários, companheiros e
trajectória da bola. Para que estes factos sejam uma realidade, o 3º defesa deverá assumir deslocamentos carac-
terizados por bruscas mudanças de ritmo e direcção, por forma a manter uma constante pressão sobre espaços
e adversários directos com o intuito de:
1. Alterar os ângulos de ataque com a intenção de tornar o jogo ofensivo previsível (do ponto de vista defen-
sivo), obrigando-os a jogar num certo sentido e, por consequência, a ter no máximo uma solução táctica para
a resolução da situação de jogo.
2. Fazer continuamente sentir aos adversários directos a sua presença,
mobilizando a sua atenção, tentando desconcentrá-los, inclusiva-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

mente através de pequenos contactos físicos.


3. Marcação contínua e coerente, principalmente sobre os jogadores
atacantes (os quais poderão dar melhor seguimento ao processo ofen-
sivo), obrigando-os a deslocar-se para espaços menos perigosos, afas- Foto 171. Tornar o jogo atacante previsível
tando-os dos caminhos possíveis à progressão do processo ofensivo
172 Guia prático de exercícios de treino

adversário.

2.3.3. Assumir outras funções dentro do centro de jogo defensivo


O posicionamento do jogador em equilíbrio defensivo, representa a fase qualitativa do pensamento e
da maturidade táctica, que reflecte a rápida capacidade de: ler, valorizar, antecipar, e, executar operacionalmente
as soluções tácticas mais eficazes (adaptadas), às situações momentâneas de jogo. Tem por objectivo fundamen-
tal manter uma certa iniciativa do jogo, obrigando os atacantes a jogar sob uma forte pressão técnico-táctica e
psicológica. Neste sentido, o jogador em equilibrio defensivo deverá assumir outras funções dentro do centro de
jogo defensivo, reajustando os seus comportamentos técnico-tácticos para:
1. Assumir as funções de cobertura defensiva sempre que o companheiro em contenção (1º defesa) é ultra-
passado pelo atacante de posse de bola.
2. Cumprir atitudes e comportamentos técnico-tácticos, inerentes ao princípio da contenção, sempre que ao
modificar-se as condições da situação de jogo, seja o defesa mais próximo do atacante de posse de bola.
3. Respeitar o princípio da mobilidade, logo após a recuperação da posse da bola, por forma a aumentar as
opções de ataque da sua equipa, na procura de espaços livres, ou na criação de desequilíbrios na organização
adversária.

Concluindo, o futebol da actualidade exige um elevado grau de comunicação e de compreensão das


situações tácticas por parte de todos os jogadores, por forma a encontrar as resoluções mais eficazes dos pro-
blemas, a partir de uma concepção colectiva, na qual o factor individual se possa desenvolver e exprimir. Da
referida exigência deriva igualmente o carácter de entreajuda que deve existir entre os jogadores, isto é, se um
jogador sai da sua posição de base (na tentativa de concretização dos objectivos tácticos da equipa), outro com-
panheiro ocupará rapidamente a sua posição. Esta ocupação racional, constante e fluida do espaço de jogo, con-
substancia um sistema de jogo com uma grande mobilidade e flexibilidade da estratégia preestabelecida, da tác-
tica da equipa e das circunstâncias situacionais. As equipas de alta organização mobilizam constantemente
jogadores para o seio do centro do jogo, ou seja, para os espaços próximos ao desenvolvimento da acção do com-
panheiro de posse de bola. Com efeito, podemos inferir que o comportamento técnico-táctico observado para a
resolução táctica da situação de jogo, deverá resultar da mútua responsabilidade do jogador que a executa e dos
companheiros que o apoiam. Este aspecto demonstra clara e inequivocamente que à riqueza táctica (consub-
stanciada pelo contexto de cooperação), corresponde posteriormente uma maior variedade de respostas aos
problemas postos pela situação de jogo. O que importa é conceder aos jogadores, em qualquer situação de jogo,
a possibilidade de
decidirem e exe-
cutarem, entre
várias opções de
resposta táctica, a
que lhes parece ser
Foto cedida pelo jornal O JOGO

mais eficiente, em
função dos objec-
tivos da equipa, não
decidindo pela
única alternativa
táctica que a situ-
ação lhe propor-
ciona.
Foto 172. Independentemente do conjunto de circunstancialismos inerentes a todos os contextos situacionais de jogo, a
contenção configura-se como o princípio táctico orientador mais importante das decisões e comportamentos dos defe-
sas, que pressionam o atacante de posse de bola em cada momento do desenvolvimento do processo ofensivo adver-
sário
173

Futebol
Guia prático de exercícios de treino CAPÍTULO 5
O SUBSISTEMA
TÉCNICO-TÁCTICO

O subsistema técnico-táctico na orga-


nização dinâmica de uma equipa de futebol,
estabelece os meios de base (também denomina-
dos de factores) que os jogadores quer indivi- Os procedimentos técnico-tácticos individuais, ofensivos e defensivos, objecti-
dual, quer colectivamente, accionam na fase do vam a resolução imediata das situações de jogo. Definimos, objectivamos e
ataque ou defesa, com vista à resolução eficaz evidenciamos os elementos que concorrem largamente para a sua eficaz
das situações de jogo (em conformidade com as execução, analisando-os adicionalmente quanto à sua utilização em
decisões tácticas que suportam os princípios jogo, segundo o espaço e as missões tácticas dos jogadores.
gerais e específicos). Os diferentes níveis deste
subsistema fundamentam-se nos diferentes
níveis de formação e rendimento de uma equipa.
Estes reflectem-se numa organização elementar
e complexa que assentam em acções que procu-
ram: (1) a execução de um complexo de proced-
imentos técnico-tácticos que objectivam de ime-
diato a resolução das situações de jogo, (2) uma
Os procedimentos técnico-tácticos colectivos, ofen-
coerência de movimentação e uma ocupação
sivos e defensivos visam a coerência de movimentação dos
racional do espaço de jogo, (3) uma resolução
jogadores dentro do subsistema estrutural preconizado pela
temporária das situações tácticas de jogo e, (4)
equipa, uma ocupação racional e constante do espaço de jogo, uma
as soluções estereotipadas das partes fixas do
resolução temporária das situações momentâneas de jogo e, por último,
jogo.
as soluções estereotipadas das partes fixas do jogo. Definimos, objectivamos
e evidenciamos os elementos que concorrem largamente para a sua eficaz exe-
cução, analisando-os adicionalmente quanto à sua utilização durante o jogo em função
do espaço e das missões tácticas dos jogadores.
174 Guia prático de exercícios de treino

Parte UM
O SUBSISTEMA TÉCNICO-TÁCTICO
Capítulo
Cinco 1. Conceito de subsistema técnico-táctico
O subsistema técnico-táctico deriva da noção de organização dinâmica de uma equipa de
O subsis - futebol sendo definido pelos comportamentos (meios) de base que os jogadores individual-
tema téc - mente e colectivamente accionam na fase de ataque ou de defesa, visando resolucionar os
contextos situacionais de jogo. Neste domínio, o subsistema técnico-
táctico contém os meios, as formas e os procedimentos mais eficazes,
eficientes e racionais para resolucionar os problemas que derivam das

Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO


situações de jogo. Esta resolução é condicionada interiormente pelos
processos cognitivos, fisiológicos, afectivos e motores, e exteriormente
pelas condições contextuais da situação e pelas Leis que regulam os
comportamentos do jogo de futebol.
Foto 173. A acção
técnico-táctica

2. Objectivo do subsistema técnico-táctico


O subsistema técnico-táctico tem como objectivo fundamental adequar eficientemente as
respostas técnico-tácticas dos jogadores, em função das situações de jogo e em conformidade
nico-tácti - com os respectivos princípios (gerais e específicos). A acção técnico-táctica deve admitir a
co coexistência de três dimensões: (1) eficiência que pressupõe a realização correcta da acção
no domínio da precisão, segurança e economia, (2) eficácia que reflecte a procura do rendi-
mento no domínio táctico e estratégico e (3) adaptabilidade no sentido de ajustar a acção à
Parte UM contextualidade da situação.
Capítulo 3. Importância do subsistema técnico-táctico
Cinco A importância do subsistema técnico-táctico exprime-se durante o decurso do jogo, no
O subsis - qual todos os jogadores procuram resolver eficaz e adaptadamente (através de comporta-
mentos técnico-tácticos) as situações momentâneas de jogo, em função dos diversificados
tema téc - contextos que estas em si encerram. As referidas acções técnico-tácticas são a consequência
nico-tácti - de um processo mental e de uma execução motora, que se estabelece a partir de um largo
leque de possibilidades de resposta (múltipla escolha). O subsistema técnico-táctico funda-
co menta e suporta a racionalidade e especificidade do jogo de futebol, sendo considerado um
dos factores nucleares do carácter complexo da estrutura de rendimento dos jogadores. No
futebol, cujo envolvimento é variável e transitório, a acção técnica assume-se como um meio
Parte UM para atingir um fim, isto é, na consequência de utilização desta ou daquela acção motora
determina-se a eficácia da acção do jogador, ou por outras palavras, do seu sucesso. Nestas
circunstâncias, o que está realmente em causa na execução motora não será propriamente a
beleza, a inovação ou a dificuldade da acção de um passe ou de um remate, por exemplo, mas
sim o objectivo (estratégico) que se pretende atingir com a sua execução, (a continuida-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

Fotos 174/175/176. A importância dos procedimentos técnico-tácticos do jogo de futebol


A organização dinâmica do jogo de futebol 175

Parte UM
de do processo ofensivo ou a concretização do objectivo do jogo - o golo, respectivamente).
A execução de qualquer procedimento técnico tem de atender à contextualização da situação, Capítulo
caracterizada pela sua variabilidade, transitoriedade e aleatoriedade numa constante procura Cinco
de adaptação às circunstâncias do envolvimento (“técnica situacional” Mesquita, 2001). Na
dinâmica contextual do envolvimento o jogador deverá, por um lado, dominar eficiente- O subsis -
mente os procedimentos técnicos de base do futebol, e por outro, adequar um desses pro- tema téc -
cedimentos (dentro de um vasto leque de opções), que lhe parece ser a resposta à situação de
jogo. Tal como refere Araújo (2000) “devido ao enorme grau de variabilidade e instabilidade
das situações de jogo, o jogador deve estar permanentemente pe-rante a necessidade de gerir
o inesperado, buscando consistência num contexto, em que predomina precisamente a
inconsistência. O que nos obriga a nunca perder de vista que a preparação desportiva não
deve apontar para a aquisição mecânica de automatismos técnicos, mas sim para a adaptação
constante às perturbações que as situações de jogo impõem permanentemente”.

4. Natureza do subsistema técnico-táctico


Os jogadores ao executarem uma qualquer acção técnico-táctica, estão confronta-
dos à partida com uma natureza cujas vertentes fundamentais se evidenciam:
1. A acção técnico-táctica é um meio para atingir um fim que, em última análise, é deter-
minado pela resolução das situações de treino ou competição, sendo executadas na base
de quatro processos essenciais: (1) cognitivos (a nico-tácti -
percepção, a memória, a antecipação, a atenção col
selectiva, etc.), (2) afectivos (sensações
Foto cedida pelo jornal O JOGO

agradáveis, acções que dão prazer, etc.), (3) fisi-


ológicos (fontes energéticas de base à acção de Parte UM
dominante aeróbia, anaeróbia ou mista) e, (4)
Foto 177. A acção técnico-táctica é um meio motores (funcionalidade muscular e articular, Capítulo
para atingir um fim coordenação muscular, etc.). Cinco
2. A acção técnica é um procedimento sistematicamente treinado e experimentado que O subsis -
se revela eficaz quando: (1) executada num dinamismo cuja velocidade e ritmo sejam cor-
rectos e coerentes com a situação, (2) é adequada à solução de uma determinada situação tema téc -
competitiva, que o jogador de futebol escolhe de um vasto leque de possibilidades (opções) nico-tácti -
e, (3) individualizada, quando não se confunde técnica com estilo, pois, este não é mais
do que a interpretação personalizada de uma determinada acção técnica. co
3. A acção técnico-táctica deverá respeitar as Leis e os regulamentos do jogo de futebol
numa perspectiva: (1) regulamentar. Normaliza e condiciona as atitudes e os comporta-
mentos motores, prescrevendo neste sentido, os requisitos básicos necessários para que Parte UM
seja possível intervir de forma adequada perante as situações competitivas. Com efeito, a
estruturação de uma qualquer modalidade desportiva necessita da adopção de um código,
que se constitui como um dos factores de sociabiliza-
ção da modalidade, na qual decorre a lógica da igual-
dade de oportunidades para todos os jogadores. Para
alguns autores, os regulamentos desportivos consub-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

stanciam e configuram em larga medida, a denomina-


da lógica interna da modalidade. Importa todavia
Foto 178. A acção téctico-táctica é um
acrescentar, que as disposições regulamentares estab-
procedimento sistematicamente treinado elecidas por cada modalidade desportiva impõem
“somente” formas gerais de execução técnica. É por
176 Guia prático de exercícios de treino

esta razão que as acções técnicas desportivas não são imóveis, pro-
gridindo e aperfeiçoando-se. A cada época desportiva corresponde
uma técnica “actual”, que é mais eficaz e mais económica, sendo

Foto cedida pelo jornal O JOGO


necessário, por vezes, um certo tempo para que se propague. Com
efeito, o progresso técnico assenta na variabilidade das acções, nas
suas variantes intrínsecas, na pesquisa, no treino e especialmente na
competição. O que não “prova” é eliminado e o que “prova” é retira- Foto 179. A acção técnico-táctica é o produ-
do para ser estudado e aplicado por outros praticantes e; (2) históri- to de anos e anos de evolução
ca. As diferentes acções técnicas das modalidades são na actualidade
o produto final de anos de evolução, constituindo-se como o seu próprio património cultural. Neste contex-
to, as diferentes acções técnicas de uma modalidade desportiva "estabelecem-se como um repertório concre-
to, hiperespecializado e específico de acções motoras" (Bayer, 1974) tendo como objectivo atingir um deter-
minado rendimento desportivo. Lima (1981) refere ser “reduzido o número de treinadores que adquirem con-
sciência da função social que exercem quando através dos anos da sua actividade vão transmitindo às difer-
entes gerações de praticantes, as atitudes e os movimentos que integram e sintetizam um verdadeiro código
corporal da sua modalidade e que define, por assim dizer, a especificidade global que a identifica e a individ-
ualiza entre as outras modalidades desportivas”.
4. A acção técnico-táctica deverá permitir o máximo de rendimento. O problema
motor que deve ser resolvido pela acção técnica desportiva, a qual é sempre produto
do objectivo geral de cada jogador. Neste sentido, a capacidade e o domínio técnico
não são um estado em si, mas um processo de aperfeiçoamento constante. Assim, a
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

acção técnica desportiva deve: (1) fomentar a máxima eficácia das potencialidades
individuais do jogador, (2) utilizar de modo mais eficaz os constrangimentos externos
e, (3) considerar as exigências tácticas traduzidas pelas respectivas situa-ções de com-
petição, em cooperação com os companheiros e em oposição com os adversários.
Deste modo destaca-se a importância da acção técnica se adequar ao circunstancia-
Foto 180. A acção técni- lismo dinâmico da situação.
co-táctica deverá permitir
o máximo de rendimento
5. A acção técnico-táctica representa a fase final de um complexo processo psicofisi-
ológico. Os modelos de execução técnico-táctica, utilizados durante as situações com-
petitivas, estabelecem-se como um dos factores básicos que configuram e determinam
a sua resolução. Todavia, a dimensão dos comportamentos técnicos (motores) visíveis dos jogadores,
reflectem uma relação consciente e inteligível de manifestação de uma personalidade, não representando
"mais que" a fase final de um longo e complexo processo psicofisio-
lógico. Nesta perspectiva, o jogador ao executar uma acção de jogo,
opera mentalmente quatro tipos de impressões: as do meio externo
Foto cedida pelo jornal O JOGO

(que se modificam constantemente em cada instante), as do meio inter-


no (que se referem às condições dos órgãos efectores), as imagens (reti-
das na memória, e que são resultado das experiências significativas
anteriores) e as imagens representativas (planeadas antecipadamente e Foto 181. A acção técnico-táctica represen-
associadas no momento da acção). Esta actividade cognitiva e intelec- ta a fase final de um complexo processo
tual amplia significativamente a capacidade das respostas adaptativas psicofisiológico
dos jogadores às situações competitivas, permitindo que estes recon-
heçam, orientem e regulem a sua acção motora. O factor técnico-táctico, dimensionado como o produto final
de um complexo processo psicofisiológico, expressa-se no jogo de futebol sob quatro vertentes fundamentais:
(1) pela antecipação da resposta à situação. O jogador deverá fazer intervir processos cognitivos que se
expressam pela capacidade deste, não só prever o resultado, mas também o desenvolvimento dos aconteci-
mentos de um determinado contexto situacional. Quando a antecipação da situação é exacta, acelera o proces-
so de resposta motora. Contudo, quando é falsa, provoca um retardamento ou uma execução desadequada,
A organização dinâmica do jogo de futebol 177

cujo grau dependerá da nova conjectura situacional que daí se verifique; (2) pela velocidade com que se
encontra a solução da situação. Cada situação comporta índices de identificação bem definidos e hierar-
quizados, que são o testemunho do seu significado. Através deste os jogadores: avaliam as suas possibilidades
de êxito, preparam mentalmente a sua acção futura, antecipam o seu comportamento em função do prognós-
tico e executam uma resposta que seja previsível aos olhos dos seus companheiros e imprevisí-vel aos dos
adversários; (3) pela adequação da solução à situação. As fontes críticas de informação das situações evoluem
constantemente. Os acontecimentos são imprevisíveis no tempo e no espaço, sendo resultado dos comporta-
mentos motores dos jogadores. Daqui nasce a necessidade de se estabelecer em constantes ajustamentos
espaço-temporais, que reflectem uma antecipação e uma eficaz adaptabilidade (plasticidade) à mesma,
reflectindo também uma consonância da resposta com os objectivos estratégicos e tácticos e; (4) pela eficácia
da solução da situação. A existência de um envolvimento continuamente instável e complexo, determina que
os jogadores procurem (num ínfimo tempo, que vai desde a percepção à execução), uma adaptação eficiente
e criativa, que evidencie as suas capacidades motoras no domínio técnico-táctico, físico e psicológico.
Consequentemente, os jogadores são obrigados (perante as diferentes situações de treino ou competição), a
optar por uma resposta motora o mais eficaz possível, dentro de um vasto leque de possibilidades. Entre as
múltiplas variantes de solução que se podem produzir para uma dada situação, irá ser escolhida e realiza-
da do ponto de vista motor (no menor tempo possível), a solução que for considerada óptima. Assim, os com-
portamentos motores, desenvolvidos pelos jogadores, na resposta às mutações permanentes das situações
competitivas, requerem destes "uma aptidão de decisão que se pretende objectiva, racional e criativa e, uma
aptidão de execução física, técnico-táctica e psicológica, que se pretende o mais eficaz possível" (Queiroz,
1986).
6. A acção técnico-táctica deve “jogar” com a incerteza. Cada acção técnica é portadora de um sentido e, por
conseguinte, de um significado para os outros jogadores (companheiros e adversários), que é sempre função
do contexto situacional, no qual está inserido. Nestas circunstâncias, na sequência do jogo observam-se dois
aspectos complementares: (1) as atitudes e comportamentos técnico-tácticos são até certo ponto imprevisíveis.
Isto significa, que cada situação estabelece uma rápida sucessão de acontecimentos caracterizados pela
"incerteza", a qual, é determinada pelas acções e reacções dos outros jogadores, os quais tentam resolver efi-
cazmente a situação de jogo. Estabelece-se neste contexto, uma margem de imprevisibilidade correspondente
às atitudes, às escolhas e às decisões tomadas a cada momento, por cada jogador, em função daquilo que eles
próprios apreendem da situação ; (2) uma grande parte das acções dos jogadores consiste em "jogar" com a
incerteza induzida pelos seus comportamentos. Neste sentido procura-se, por um lado, anular a incerteza face
aos seus companheiros, e por outro lado, aumentar a incerteza face aos seus
adversários. Trata-se de um meio humano repleto de reflexão táctica, de decisão
e de antecipação. Eigen e Winkler (1989), referem que "nos jogos de estratégia o
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

decurso de cada jogo é historicamente único em virtude de um grande número de


possibilidades de escolha. A aleatoriedade da trajectória tem a sua origem na
incerteza associada à ignorância recíproca da estratégia escolhida por cada um dos
parceiros do jogo...".
Foto 182. A acção técnico-
5. Níveis do subsistema técnico-táctico táctica deve jogar com a
Os níveis do subsistema técnico-táctico fundamentam-se essencialmente “incerteza”
nos diferentes níveis de formação e rendimento de uma equipa, a qual reflecte, em
função das situações de jogo, uma organização elementar e complexa, que assenta em acções que procuram:
1. A execução de um complexo de procedimentos técnico-tácticos que objectivam de imediato a resolução das
situações de jogo.
2. Uma coerência de movimentação e uma ocupação racional do espaço de jogo.
3. Uma resolução temporária das situações tácticas de jogo.
4. As soluções estereotipadas das partes fixas do jogo.
178 Guia prático de exercícios de treino

As acções individuais ofensivas e defensivas

1. Conceito. São a escolha e execução conscientes, por parte dos jogadores (tanto no ataque como na defesa),
do complexo de procedimentos técnico-tácticos, com o objectivo de resolucionar as situações do jogo .

2. Objectivos. A acção (comportamento, procedimento) técnica individual, não é um objectivo em si, mas um
meio para atingir uma capacidade, que deve ser dimensionada e equacionada com a constante mutação das si-
tuações (movimentações dos companheiros e adversários) de jogo - intenção táctica. Por outras palavras, a
intenção táctica é o fim, enquanto que a técnica é um meio, não se podendo conceber um meio independente-
mente do fim a que se destina.

3. Superfícies corporais de contacto com a bola. Denominamos de superfície de contacto, a parte do corpo que
entra voluntariamente em contacto com a bola, que em si oferece uma multitude de superfícies, consoante esta
esteja animada ou não. Podemos, estabelecer dois aspectos fundamentais no que diz respeito à superfície de con-
tacto com a bola:
1. Quanto maior for a superfície de contacto, maior é a precisão da acção.
2. Quanto menor for a superfície de contacto, maior é a potência que se poderá imprimir à bola.

4. Classificação. Em futebol podemos dividir os comportamentos técnico-tácticos individuais em função das


fases do jogo. Assim observam-se:
1. Acções individuais ofensivas (com ou sem bola): em relação às acções técnico-tácticas com bola podemos
subdividi-las em: (1) as acções técnico-tácticas que têm por objectivo a conservação/progressão da bola:
recepção, protecção e condução da bola, drible, finta e simulação e, (2) as acções técnico-tácticas que têm por
objectivo a comunicação/finalização: o passe e o remate.
2. Acções individuais defensivas visam fundamentalmente a recuperação da posse da bola/ou interromper
momentaneamente o processo ofensivo do adversário, protegendo a baliza: desarme, intercepção, técnica do
guarda-redes e a carga.

5. As acções individuais ofensivas

5.1. A recepção/controlo da bola


1. Definição. Entendemos por recepção, a acção técnico-táctica efectuada por um jogador, visando o controlo
ou domínio da bola, que a recebe dos companheiros (passe) ou dos adversários (intercepção).

2. Objectivo. A recepção da bola é a acção sem a qual não se poderá rentabi-


lizar o comportamento técnico-táctico do jogador na resolução das situações
de jogo. Com efeito, uma eficaz recepção da bola permitirá: (1) que o jogador
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

tenha o tempo e o espaço suficientes para executar os seus comportamentos


técnico-tácticos (mesmo quando pressionado pelo defesa) e, (2) uma melhor
ligação com as acções técnico-tácticas subsequentes ao controlo da bola,
assim, quanto melhor for a recepção e controlo, melhor será a execução ter-
minal da acção do jogador, que poderá ser um passe, um drible ou um
Fotos 183/184. Recepção com a parte
remate. interna do pé seguida de passe
A organização dinâmica do jogo de futebol 179

3. Execução. Existem quatro elementos fundamentais que concor-

Foto cedida pelo jornal O JOGO


rem largamente para uma boa recepção da bola:
(1) Deslocar-se em direcção à trajectória da bola. A superfície
corporal de recepção e controlo deve deslocar-se em direcção à
trajectória da bola, interceptando-a.
(2) Decidir antecipadamente com que super- Foto 185. Recepção alta com o peito do pé
fície corporal se irá recepcionar e controlar a
bola. Esta decisão antecipada dá o tempo necessário para se posicionar correctamente e
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

para se concentrar na execução técnica.


(3) Dominar a bola orientan-
do-a por forma a estabelecer

Foto cedida pelo jornal O JOGO


uma ligação mais sequencial
Foto 186. Recepção com as outras acções técnico-
alta com o peito tácticas (passe, drible, simu-
lação, condução, remate),
imprimindo um ritmo de jogo
contí-nuo e, (4) Ter confiança na execução técnica. Esta confiança é con-
substanciada por um estado mental de relaxação Fotos 187/188. Recepção com a parte
que é determinada pelo conhe-cimento das suas externa do pé
reais capacidades. Por último, as recepções da bola
podem ser observadas sem ou com a pressão do adversário directo, essencialmente em
Foto cedida pelo jornal O JOGO

duas situações de jogo: de frente ou de costas para este.

5.2. A condução da bola


Foto 189. Recepção 1. Definição. Entendemos
sob pressão por condução, a acção téc-
nico-táctica de um
jogador que visa o deslo-
camento controlado da bola no espaço de jogo.
2. Objectivo. É uma acção técnico-táctica
imprescindível não só na progressão para a
Foto cedida pelo jornal O JOGO

baliza adversária, como para temporizar a


acção ofensiva, possibilitando uma movimen-
tação táctica dos companheiros, com o objec-
tivo de criar as condições mais favoráveis ao
desenvolvimento do processo ofensivo.

3. Execução. Existem cinco


elementos fundamentais
que concorrem largamente Fotos 190/191/192/193. A importância da
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

para uma eficaz condução recepção na continuidade da acção de jogo


da bola:
(1) A condução da bola é efectuada normalmente pelos membros in-
feriores, especialmente com os pés: i) a parte interna do pé é a que ofe-
rece maior precisão (devido à grande superfície de contacto) mas é
Foto 194. Condução progredindo em
menos rápida (por ser necessário rodar para fora a perna condutora no
direcção à baliza adversária momento do toque), ii) condução de bola com o peito do pé, é bastante
180 Guia prático de exercícios de treino

rápida porque é mais contínua, mas torna-se de certo modo pouco pre-
cisa, por ser relativamente pequena a área de contacto com a bola e, iii)
a condução da bola realizada com a parte externa do pé (é rápida e efi-

Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO


ciente, por ser grande a superfície de contacto na bola e fácil a sua adap-
tação). Estas três superfícies corporais de condução de bola, podem
empregar-se durante o mesmo deslocamento.
(2) O contacto com a bola. Quando existe espaço livre à frente do ata-
Fotos 195/196. Condução com mudança de
cante, menor deverão ser o número de contactos sobre a bola, logo, cada
sentido contacto deverá permitir que esta esteja permanentemente à frente do
atacante que se desloca à veloci-
dade máxima. Quando o atacante é pressionado pelo adversário deverá,
durante a condução da bola, mantê-la sempre perto dos pés (evitar ser

Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO


desarmado), contactando-a permanentemente, de forma a protegê-la,
podendo mudar de direcção (em função da situação de jogo).
(3) A condução de bola deve ser executada com o pé condutor do lado
oposto, ao do adversário, a fim de evitar que este possa desarmá-lo
(protecção da bola).
(4) Observar o espaço de jogo à
Foto 197. Condução da bola sob pressão
sua volta. Durante a condução da
bola o jogador deverá levantar a
cabeça, por forma a inteirar-se correctamente da situação de jogo à sua
volta a qual determinará que opções técnico-tácticas dev-
erá tomar.
(5) A decisão. Durante o deslocamento com bola o
jogador deverá, constantemente e antes de cada contacto,
decidir sobre a continuidade, ou
não, da acção. Não devem existir
quanto à decisão a tomar.

Fotos 198/199/200/201/202/203/204. Sequência de


uma acção de condução de bola com finalização

5.3. Protecção da bola


1. Definição. Entendemos por protecção da bola, todo o comportamento do atacante na sua posse (quer em
movimento ou não), por forma a resguardá-la de qualquer intervenção do(s) adversário(s) directo(s).
A organização dinâmica do jogo de futebol 181

2. Objectivo. Esta acção técnico-táctica, ao procurar evitar que o defesa inter-


venha sobre a bola, objectiva quatro aspectos fundamentais: (1) temporizar o
processo ofensivo, por forma a que os companheiros (atacantes) forneçam me-

Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO


lhores opções tácticas de resolução da situação de jogo, (2) ganhar tempo de
jogo, no qual o atacante se coloca perto da ban-
deirola de canto e, beneficiando das linhas limites
do campo, procura reter a bola o máximo de tempo
possível, (3) quebrar o ritmo do adversário, obri-
gando-o a entrar em crise de raciocínio táctico e, Foto 205. A acção de protecção
(4) em certas zonas específicas do da bola
terreno, provocar infracções às leis
do jogo (por parte dos adversários), possibilitando, nestas circun-
stâncias, beneficiar das vantagens inerentes às situ-
ações de bola parada.
Foto cedida pelo jornal O JOGO
3. Execução. Existem três elementos fundamentais
que o atacante de posse de bola deverá respeitar,
para uma eficaz protecção da bola:
(1) Colocar sistematicamente a bola o mais longe
possível do(s) adversário(s).
(2) Interpor o seu corpo entre a bola e o(s) adversário(s), no
qual um dos membros inferiores suporta o seu peso e funciona
como "pivot" (no caso na variação do ângulo em relação ao defe-
sa), enquanto o outro contacta a bola com pequenos toques,
mantendo-a longe do(s) adversário(s).
Fotos 206/207/208/209/210. A protecção da bola sob
(3) Reagir constantemente às diferentes acções do(s) adver-
pressão do adversário sário(s) directo(s), variando ângulos e posições em relação a
este(s).

5.4. Drible - finta


1. Definição. Entendemos por drible ou finta, as acções técnico-tácticas de ultrapassar, o adversário directo, com
a bola perfeitamente controlada. A diferença entre estas duas acções técnico-tácticas, em nossa opinião, diz
respeito ao contacto físico, isto é, no drible o contac-
to físico com o adversário directo é mais premente,
enquanto que na finta o jogador atacante ladeia o
adversário directo.
2. Objectivo. Este comporta-
mento técnico-táctico é um ele-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

mento fundamental do futebol


na actualidade, devido à falta de
espaços livres e às acções de
marcação movidas pelos adver-
sários em processo defensivo.
Tanto o drible como a finta, são elementos
muito pessoais e originais. Estes exigem
uma grande virtuosidade técnica e um sen-
tido de improvisação elevado.
3. Execução. Existem cinco elementos
importantes que concorrem para a eficiente Fotos 211/212/213/214/215. A acção técnico-táctica de drible
182 Guia prático de exercícios de treino

execução do drible:
(1) A aproximação. A aproximação do atacante em direcção ao
defesa deve consubstanciar dois objectivos: i) a linha de aproxi-
mação deverá ser a mais directa possível, ii)
a velocidade de aproximação deverá ser
máxima, observando-se uma diminuição
dessa velocidade no momento final de
aproximação para que possa existir a possi-

Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO


bilidade de mudar de direcção e de veloci-
dade, na ultrapassagem do adversário.
(2) O controlo da bola. O drible envolve a
ultrapassagem do adversário directo, logo, a
recepção e o controlo da bola devem objec-
tivar dois aspectos: i) controlo da bola por
forma a que o defesa não possa desarmar e,
ii) rodar com a bola atacando de imediato o
defesa.
(3) Enganar e desequilibrar o adversário directo. É importante para o
atacante enganar o defesa, especialmente se este tem cobertura defensiva,
dependendo sempre da velocidade e da distância a que o defesa se encon-
tra. Quanto mais rápida for a aproximação, mais longe do defesa se dev-
Fotos 216/217/218/219. O controlo da erá executar o engano. O defesa ao reagir erradamente às intenções do
bola durante a acção de dible atacante, desequilibrar-se-á,
sendo mais fácil a execução do
drible.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

(4) Mudança de direcção. Normalmente os defesas eficientes só


reagem aos movimentos da bola, daí a importância da mudança de
direcção para desequilibrar o adversário.
(5) Mudança de velocidade. O tempo necessário para que o defesa
Foto 220. A mudança de direccção na acção
retome o equilíbrio da sua posição, deve ser usado para que o ata- de dible
cante ultrapasse rapidamente o defesa.

4.5. A simulação
1. Definição. Entendemos
por simulação, a acção técni-
co-táctica individual, realiza-
da por qualquer segmento
corporal, visando provocar o
Foto 221. A acção de simulação
dese-
Foto cedida pelo O JOGO

quilíbrio momentâneo ou ludibriar o


adversário directo, isto é, simular que vai
executar uma acção para um lado mudan-
do, bruscamente para outra direcção.
2. Objectivo. A importância crescente da
execução das acções de simulação em futebol advem fundamental-
Fotos 222/223/224. A acção de simulação visa
mente da necessidade dos jogadores "ocultarem" dos adversários direc-
ludibriar o adversário tos, em todos os momentos, os seus verdadeiros objectivos.
A organização dinâmica do jogo de futebol 183

4.6. O passe
1. Definição. Entendemos por passe, a acção técnico-táctica de relação de comunicação material, estabelecida
entre dois jogadores da mesma equipa, sendo portanto, a acção de relação colectiva mais simples de observar e
executar.
2. Objectivos. A acção técnico-táctica de passe é considerado o elemento
fundamental básico de colaboração entre os jogadores de uma mesma
equipa (os quais devem possuir uma ampla "bagagem técnica" de dife-

Foto cedida pelo jornal O JOGO


rentes tipos de passe), imprescindível para a consecução dos objectivos
tácticos do ataque. O passe é, sem dúvida, a acção predominante no jogo
de futebol. Em 80% das situações nas quais o jogador está de posse de
bola, tem a intenção de a passar a outro companheiro. Nas restantes situa-
Foto 225. A acção técnico-táctica de passe
ções, dribla, finta, conduz, simula ou remata.
3. Execução. Segundo Hughes (1990) "nada destrói tão rapidamente a
confiança de uma equipa como um passe impreciso, nada constrói tão rapidamente a confiança de uma equipa
como um passe preciso... não existe ne-nhum substituto para uma boa acção técnica de passe e não existe nen-
huma estratégia que resista a passes imprecisos". A execução técnico-táctica do passe é baseada numa atitude que
procura levar o centro do jogo rapidamente em direcção à baliza adversária, consubstanciando dois aspectos
essenciais:
(1) O aspecto táctico, ou seja, seleccionar o passe: que é determina-
do pela análise da situação momentânea de jogo que por si estabele-
cerá o objectivo táctico da execução do passe. Esta análise é baseada
Foto cedida pelo jornal O JOGO

em cinco factores: i) a posição dos companheiros, isto é, a existência


ou não de atacantes posicionados ou preparados para explorar
espaços vitais do terreno de jogo, por forma a poderem concretizar
o desenvolvimento ou a concretização do ataque, ii) a posição dos
Fotos 226/227. A acção de passe deve ser executa- adversários, que se consubstancia no nível de organização defensiva
da por forma a simular as verdadeiras intenções e a possibilidade de se poder tirar vantagem da sua precariedade, iii)
tácticas do jogador a zona do terreno de jogo onde se calcula a relação entre o risco e a
segurança da execução da acção técnico-táctica (observa-se a diminuição percentual da execução desta acção
à medida que o centro de jogo se aproxima da baliza adversária). Neste sentido, 60% dos passes são executa-
dos no meio-campo, devendo-se ao facto destas zonas do terreno de jogo se constituírem como espaços pref-
erenciais para a preparação e construção das acções ofensivas. Complementarmente, os jogadores quando
perto da baliza adversária têm que encontrar e executar outros procedimentos técnico-tácticos, tais como o
drible/finta ou simulação, que consubstanciam a procura de criação de vantagens para a concretização efi-
ciente do processo ofensivo), iv) o conhecimento por parte do jogador das suas próprias capacidades de exe-
cução do passe seleccionado e, v) dos objectivos tácticos momentâneos da equipa, cujos pressupostos com-
preendem um largo conjunto de factores tais como, o resultado numérico momentâneo do jogo, do tempo de
jogo, quebra do ritmo de jogo do adversário, esperar que os companheiros se desloquem para certas posições
que determinem um elevado nível de organização ofensiva.
(2) O aspecto técnico, ou seja, a execução do passe que é determinado
pela execução propriamente dita desta acção. Neste sentido existem
cinco factores fundamentais para a execução do passe: i) simular. O
atacante deverá simular a sua verdadeira intenção táctica produzindo
Foto cedida pelo jornal O JOGO

um conjunto de "falsos sinais", contribuindo assim para que os defesas


adoptem posicionamentos inadequados à situação de jogo, ii) tipo de
passe a executar. O tipo de passe depende largamente da intenção tác-
Foto 228. O passe deve ser executado com
tica pré-estabelecida pelo atacante. Assim este poderá ter uma ampli- uma potência tal que não crie problemas
tude longa ou curta, uma trajectória alta ou rasa, ser executada com ou ao receptor da bola
184 Guia prático de exercícios de treino

sem efeito, iii) o tempo de passe. Um passe executado no tempo correcto põe
o companheiro (receptor) numa posição de máxima vantagem e, natural-

Foto cedida pelo jornal O JOGO


mente torna o trabalho defensivo mais difícil e complexo, iv) a potência do
passe. Um passe eficaz atinge o alvo a uma velocidade que não cria proble-
mas acrescidos ao companheiro na recepção da bola, pois isto irá ter conse-
quências marcantes não só na relação de comunicação entre os dois
Foto 229. O passe deve ser executa-
jogadores, como na diminuição da fluidez e ritmo do processo ofensivo e, v) do no tempo correcto
a precisão. Este factor determinará se o companheiro (receptor) tem ou não
que modificar a direccionalidade e o objectivo do seu comportamento para recepcionar a bola. "A precisão
não é tudo no passe, mas tudo o resto não tem qualquer significado se o passe for impreciso" (Hughes, 1990).
Todas as superfícies corporais podem ser utilizadas para a execução desta acção
técnico-táctica, mas os mais utilizados são: os pés (parte interna, externa e peito do pé),
o peito, a cabeça, as mãos (pelo guarda-redes dentro da sua grande área). O emprego
da melhor superfície para passar a bola, será função da situação de jogo, da direcção,
Foto cedida pelo jornal O JOGO

precisão e velocidade que queiramos transmitir-lhe. Assim, quanto maior for a área de
impacto, maior será a precisão do passe mas menor a distância que a bola poderá per-
correr. Logo, quanto menor for a superfície de contacto, menos preciso será o gesto,
mas maior será a distância a que a bola pode ser lançada. Portanto, a parte do pé que
Foto 230. O passe deve
ser preciso
oferece maior precisão é a parte interna e a que permite lançar a bola a uma maior dis-
tância é o peito do pé, se não considerarmos a ponta do pé. Observa-se que a parte
interna do pé é preponderante e fundamental em qualquer zona, sector ou corredor do terreno de jogo em
relação a todas as outras formas de contacto na execução de um passe. A parte interna do pé é a superfície cor-
poral de contacto que imprime e transmite uma maior precisão, eficácia e segurança a esta acção técnico-tácti-
ca. Todavia, verifica-se uma diminuição de utilização desta superfície corporal (cerca de 23%), à medida que o
centro do jogo se aproxima da baliza adversária. Este facto pode ser explicado pela necessidades dos jogadores
terem de utilizar outras partes do pé, adaptando-se rápida e eficientemente, em função das exigências prementes
e determinantes da situação de jogo (por exemplo a utilização do calcanhar), ou de imprimirem uma maior
velocidade e potência à acção de passe (por exemplo o peito do pé). Outro aspecto importante ligado às anális-
es da acção de passe é a relação privilegiada entre os jogadores. Assim, observa-se que o guarda-redes recebe,
fundamentalmente passes dos defesas (59%). Os defesas dos médios (46%) e os jogadores médios recebem fun-
damentalmente, passes dos com-
panheiros do mesmo sector
(42%). Os jogadores avançados
recebem fundamentalmente
passes dos médios (54%). (Ver
figura 60).

Figura 60. As relações previligiadas nas acções de passe entre os jogadores

4.7. O lançamento da bola pela linha lateral


1. Definição. Acção técnica de reposição da bola em jogo, executado com as mãos, que deriva da saída da bola
pelas linhas laterais do terreno de jogo.
2. Objectivos. O lançamento de linha lateral consubstancia em todas as circunstâncias uma acção técnico-tácti-
ca de passe, logo, assume os mesmos objectivos estabelecidos para esta acção. Em virtude das possíveis modifi-
cações às Leis do jogo (que regulamentam o lançamento de linha lateral), virem a determinar que este seja exe-
cutado com os pés, consubstanciará duas vantagens fundamentais para a equipa de posse de bola: i) maior ampli-
A organização dinâmica do jogo de futebol 185

tude e rapidez na progressão do centro do jogo em direcção à baliza adversária e, ii)


em certas situações de jogo, o ângulo de lançamento da linha lateral (em relação à bal-
iza adversária) será mais propício à criação de situações de finalização.

Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO


3. Execução. Os lançamentos da linha lateral são situações de ataque de inestimável
valor por serem execuções muito simples (com as mãos) de recomeço do jogo. Existem
seis aspectos importantes na execução dos lançamentos de linha lateral: (1) executar
rapidamente o lançamento da linha lateral, (2) executar o lançamento de linha lateral
para um companheiro sem marcação, (3) executar o lançamento de linha lateral em
direcção à baliza adversária, (4) executar o lançamento de linha lateral por forma que Foto 231. O lançamento
o companheiro possa recepcionar a bola facilmente, (5) criar o espaço suficiente para da linha lateral
que seja eficiente e, (6) executado o lançamento, o jogador deverá entrar rapidamente
no jogo.

4.8. O cabeceamento
1. Definição. É o gesto técnico de tocar a bola com a cabeça.
2. Objectivo. Esta acção, pode, conforme a situação e os objectivos do jogo, estar
ligado à recepção, ao passe, ao remate, à condução da bola e à intercepção.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

3. Execução. Existem quatro elementos básicos que concorrem largamente para


uma acção de cabeceamento eficaz:
(1) Precisão do contacto. As superfícies preferenciais de contacto com a bola são:
i) a testa (é a superfície anatomica-
Foto 232. Precisão no contacto
mente mais adaptada à bola e per-
mite uma maior visão de jogo) e, ii)
Foto cedida pelo jornal O JOGO

os parie-tais (não permite tanta pre-


cisão como a testa, sendo usada como recurso em função da situ-
ação de jogo).
(2) Manter o contacto visual com a bola. É normal que os olhos
se fechem no momento do contacto com a bola, todavia, é Foto 233. Gerar potência na execução do cabecea-
importante que estes se mantenham abertos mento
até esse momento.
(3) Gerar potência. Todo o corpo (pernas, tronco e pescoço) devem ajudar a suportar,
Foto cedida pela revista Training

estabilizar e a gerar potência para a acção de cabeceamento. Neste sentido, é importante


a ligeira inclinação do corpo para trás para que, ao ser impulsionado para a frente em
direcção à bola, gere uma maior potência no cabeceamento. As formas de cabeceamento
podem ser: com ou sem impulsão, com ou sem mergulho lateral ou frontal, e com ou sem
Foto 234. Manter o
oposição.
contacto visual com a (4) Atacar a bola. Saltar ou mergulhar para atacar a bola durante o seu trajecto eviden-
bola cia dois aspectos fundamentais: i) o chegar primeiro à bola e, ii) o aumento da potência
do cabeceamento.

As zonas do terreno de jogo preferenciais à execução desta


acção são as zonas frontais à baliza (47%). Os defesas são os que mais
executam acções de cabeceamento (49%), dos quais (28%) a se real-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

izam sem oposição do adversário. Os médios realizam cerca de 29%


dos quais (9%) têm oposição. Os avançados (22%), dos quais (11%) se
realizam sem oposição do adversário. Os dados analisados revelam
igualmente que 40% das acções de cabeceamento são executadas com Foto 235. Não esperar pela bola mas sim atacá-
oposição e com impulsão, (39%) sem oposição e com impulsão e la
186 Guia prático de exercícios de treino

(21%) sem oposição e sem impulsão. A totalidade dos gestos técnico-tácticos de cabeceamento, consubstancia-
ram acções de intercepção (54%) de passes ou cruzamentos efectuados pela equipa adversária, (39%) de acções
técnico-tácticas de passe e (6%) acções de remate.

4.9. O remate
1. Definição. Entendemos por remate, toda a acção técnico-tácti-
ca exercida pelo jogador sobre a bola, com o objectivo de a intro-
duzir na baliza adversária.
2. Objectivo. O jogo de futebol é objectivado pela concretização
do golo. Perseguir continuamente este objectivo, vencendo a
resistência organizada do adversário, é a tarefa mais importante
que todos os jogadores de uma e de outra equipa pre-
tendem cumprir com a maior frequência possível.
3. Execução. Existem seis aspectos fundamentais na
execução das acções técnico-tácticas de remate: Foto cedida pelo jornal O JOGO
(1) Rematar logo que a oportunidade surja. Os
jogadores perdem muitas oportunidades de remate
(em qualquer nível de rendimento), pelas
Fotos 236/237/238. Rematar logo que a
seguintes razões: i) na procura de um melhor posi-
oportunidade surja é um factor funda-
cionamento em relação à baliza adversária, ii) pelo mental do jogo
facto de terem receio de não utilizar o pé domi-
nante, iii) por procurarem passar a responsabilidade a um companheiro, iv) terem medo de errar a baliza e,
v) contacto físico.
(2) Utilizar a técnica mais ajustada à situação de jogo. O tipo de execução técnico-táctica de remate depende:
i) da trajectória da bola (rasa ou alta), ii) da distância da baliza (necessidade de se empregar maior ou menor
potência sobre a bola) e, iii) da posição do guarda-redes (posicio-
nando-se entre os postos, ou deslocando-se em direcção ao ata-
cante).
Foto cedida pelo Sport Lisboa e Benfica

(3) Rematar a partir de ângulos eficientes. Os remates executados


sob ângulos reduzidos necessitam de procedimentos técnicos mais
apurados e precisos. Com efeito, a eficácia do remate modifica-se
consoante o ângulo sobre o qual este é executado.
Foto 239. O remate deve ser executado a partir de (4) Rematar raso e fora do alcance do guarda-redes. As acções téc-
ângulos eficientes nico-tácticas de remate mais eficazes são normalmente direc-
cionadas para o poste mais distante da posição do guarda-redes,
isto é, fora do alcance deste. Daí a necessidade de se seleccionar a área de baliza mais vulnerável, rematando
em trajectória rasa, por forma a forçar o guarda-redes a mover-se da sua posição de base para defender a bola.
(5) Criar o espaço para rematar. As aglomerações de jogadores nas imediações da baliza são frequentes, não
facilitando, nestas circunstâncias, a execução do remate. Com efeito, os atacantes deverão executar desloca-
mentos ofensivos de rotura, por forma a desorganizar e "arrastar" os defesas para outras posições menos efi-
cientes e, deste modo, criar o espaço suficiente para o companheiro
de posse de bola ter o tempo necessário para rematar.
(6) Movimentar-se logo após o remate. Muitos golos são consegui-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

dos devido a defesas incompletas do guarda-redes, que ao tentar evi-


tar que a bola entre na sua baliza, a desviam para o espaço frontal de
jogo, tornando fácil a execução de um novo remate (menor distân-
cia, melhor ângulo e menor organização defensiva). Foto 240. O remate deve ser ajustado às
(7) Existem três situações nas quais os jogadores não devem rematar: condições de jogo
A organização dinâmica do jogo de futebol 187

i) quando o adversário está tão próximo que bloqueará a trajectória


da bola, ii) quando a distância é tão grande que a percen-tagem de
sucesso é inaceitável e, iii) quando o ângulo de remate é muito

Foto cedida pela revista Training


reduzido.

O remate é sem dúvida a acção técnico-táctica mais impor-


tante do processo ofensivo. Todavia, "o que é surpreendente, é que as
análises revelam, em qualquer nível ou escalões de rendimento, que
Foto 241. A utilização da cabeça para realizar
uma alta percentagem de oportunidades (situações de finalização) para o remate
rematar não são aproveitadas”. Vejamos os
dados provenientes de duas situação:
1. Da análise da acção técnico-táctica de remate podemos retirar as seguintes con-
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

clusões:
(1) Observam-se em média 26 remates por jogo. Isto, significa, um remate em cada
1' 48" de tempo útil de jogo, ou por outras palavras, em cada seis acções ofensivas uma
contém a fase de finalização.
(2) 43% dos remates não atingem a baliza.
(3) 58% dos remates são executados sob pressão do adversário directo, nos restantes
Foto 242. O remate em
42% não se observam acções de marcação, das quais (32%) surgem devido às Leis do
condições acrobáticas
jogo que em certas situações obrigam os adversários a respeitarem uma distância mín-
ima da bola de 9.15 metros (esquemas tácticos).
(4) 5% dos remates são executados na pequena área, 44% na grande área e 51% fora da área. Neste contexto,
(21%) dos remates são executados a 11 metros da linha de golo, (33%) entre os 11 e os 22 metros e (46%) a
mais de 22 metros.
(5) O ângulo preferencial da acção de remate é o frontal (61%), seguido dos ângulos 2 e 4 (35%) e dos ângu-
los 3 e 5 (4%).
(6) As superfícies corporais de con-
tacto com a bola para a execução do
remate são o peito do pé (75%) e a
parte interna do pé (8%) - para o pé
direito (54%),e para o pé esquerdo
(29%). O cabeceamento representa
(17%), dos quais (15%) tiveram
impulsão.
(7) 32% das acções de remate foram
executadas a partir de situa-ções de
bola parada (esquemas tácticos),
das quais (23%) de livre - directo ou
indirecto, (6%) de pontapé de
canto, (1%) de lançamento da linha
lateral e (2%) de grande penalidade.
(8) Dos 57% dos remates que atin-
giram a baliza, (35%) são rasos,
(14%) médios e (14%) altos (em
função da divisão estabelecida para
Figura 61. Análise da variação percentual das acções técnico-tácticas de remate que originaram
a baliza). Neste sentido, (42%) dos golo, em função das zonas, ângulos, distâncias, superfícies corporais de contacto na bola, esque-
remates são executados para o lado mas tácticos, zona da baliza, lateralidade e a pressão exercida sobre o atacante
direito do guarda-redes, (33%) para
188 Guia prático de exercícios de treino

o lado esquerdo e (25%) para o centro da baliza.


(9) Em função da missão táctica dos jogadores dentro
do sistema de jogo da equipa, observa-se que (40%) das
acções de remate são da responsabilidade dos
jogadores pertencentes ao sector avançado e médio e
(20%) dos defesas.
2. Da análise dos dados referentes à acção técnico-táctica
de remate que originou o golo
podemos retirar as seguintes con-
Foto cedida pelo jornal O JOGO
clusões:
(1) Observou-se em média 2 a 3
golos por jogo. Isto significa, um
golo em cada 17' de tempo útil,
sendo necessárias 48 acções ofensi-
vas para o concretizar.
(2) São necessários em média 9 a 10
remates para se obter o golo.
(3) 20% dos golos são concretizados na
pequena área, 62% na grande área e 18%
fora da área.
(4) 49% dos golos são concretizados a 11
metros da linha de golo, 38% entre os 11 e
os 22 metros e 14% a mais de 22 metros, (ao Fotos 243/244/245/246/247. Criar o
diminuir a distância da baliza aumenta a espaço suficiente para rematar com possi-
bilidades de êxito
eficácia da acção técnico-táctica de remate).
(5) O ângulo preferencial da acção de remate que origina o golo é o frontal (61%), seguido dos ângulos 2 e 4
(30%) e dos ângulos 3 e 5 (9%).
(6) As superfícies corporais de contacto com a bola para a execução do remate que originou o golo foram o
peito do pé (50%) e a parte interna do pé (30%) - para o pé direito (48%),e para o pé esquerdo (33%). O
cabeceamento representa (20%), dos quais (13%) tiveram impulsão.
(7) Dos remates que originaram golo, 58% foram rasos, 22% médios e 20% altos (em função da divisão esta-
belecida para a baliza). Neste sentido, 36% dos remates são executados para o lado direito do guarda-redes,
38% para o lado esquerdo e 26% para o centro da baliza.
(8) O jogador que executou o remate em 69% das situações deu um toque na bola, 15% para dois toques, 8%
para três, 3% para quatro e 4% para mais de quatro. Os presentes dados demonstram a importância da exe-
cução rapida do remate, não efectuando mais de dois toques na bola (representa 84% da análise total). No que
se refere ao tempo de posse de bola, observaram-se os seguintes dados: 70% para 0", 13% para 1", 8% para 2",
5% para 3", 4% para mais de 3".
(9) As acções técnico-tácticas anteriores ao remate foram as seguintes: a
recepção da bola - 60%, condução - 19%, drible/finta - 5%, simulação - 3%,
12% não existiram.
(10) 27% dos golos foram executados a partir de situações de bola parada
Foto cedida pelo jornal O JOGO

(esquemas tácticos), dos quais 12% de livre (4% de livre directo, 6% com
um passe, 2% com dois passes antes do remate), 5% de pontapé de canto
(4% com um passe, 1% com dois passes), 9% de grande penalidade e 1% a
partir de lançamento de linha lateral. Por último, verificou-se que em 5%
Foto 248. Rematar por forma surpreen- dos jogos observados a vitória foi conseguida a partir de uma situação de
der os adversários bola parada.
A organização dinâmica do jogo de futebol 189

(11) Em função da missão táctica dos


jogadores dentro do sistema de jogo da
equipa, observa-se que 57% das acções
de remate que originaram golo são da
responsabilidade dos avançados, 34%
dos médios e 9% dos defesas.
(12) Os remates que originaram o
golo, em 60% das situações foram exe-
cutados sob pressão do adversário
directo (19% desde o deslocamento
ofensivo à execução final, 19% durante
a acção sobre a bola, e, 22% em parte
da acção sobre a bola), 39% não houve
pressão, dos quais 9% se deveram às
Leis do jogo.
(13) Marcar (golo) primeiro é muitas
vezes o elemento determinante para
atingir a vitória no jogo. Com efeito,
da análise dos 549 golos observados
entre 1982 e 1994 (dos campeonatos Figura 62. Análise da variação percentual das acções técnico-tácticas de remate em função
do Mundo e Europa), 75% das equipas das zonas, ângulos, distâncias, superfícies corporais de contacto na bola, esquemas tácticos,
zona da baliza, lateralidade e a pressão exercida sobre o atacante
que marcaram o primeiro golo atingi-
ram a vitória, 36% o empate e somente
14% acabaram por perder o jogo. Em relação às equipas que marcaram o segundo golo, 93% atingiram a
vitória, 6% empataram e, somente 1% acabou por perder o jogo.
(14) 32% dos golos surgiram após cruzamento. Desta percentagem, em 4% o cruzamento foi em trajectória
aérea para a zona do 1º poste, em 7% o cruzamento foi em trajectória aérea para a zona do 2º poste, em 11%
o cruzamento foi em trajectória aérea para a zona central da baliza, em 2% o cruzamento foi raso para a zona
do 1º poste, em 1% o cruzamento foi raso para a zona do 2º poste, em 6% o cruzamento foi raso para a zona
central da baliza, e em 1% a bola foi cruzada para o 1º poste e depois desviada para o 2º poste, ou vice-versa.
(15) 78% dos remates que concretizaram o golo foram directos, 12% em volei, 8% em "chapéu" e 2% após a
execução do drible sobre o guarda-redes.
(16) A equipa que sofreu o golo em 21% das situações encon-
Foto cedida pelo O JOGO

trava-se na etapa de equilíbrio ou recuperação defensiva, 45%


em defesa organizada e em 34% o atacante isolou-se perante o
guarda-redes.

(17)
Observou-se o maior número de golos nas
Fotos 249/250/251/252/253. Em quaisquer circunstâncias o golo é o objectivo do jogo
190 Guia prático de exercícios de treino

segundas partes dos jogos (58%), especialmente nos últimos 9 minutos (14%), seguido dos parciais com-
preendidos entre os 55 e os 63 e os 73 e os 81 minutos (12% cada). Nas primeiras partes observaram-se 9%
entre os 37 e os 45 minutos e 8% entre os 10 e os 18, e os 19 e 27 minutos.

4.10. A técnica do guarda-redes


1. Definição. Entendemos por técnica do guarda-redes todas as acções técni-
co-tácticas específicas, executadas por este durante o
processo ofensivo da sua equipa.
2. Objectivos. As acções do guarda-redes compreendem

Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO


formas que visam fundamentalmente o relançamento do
ataque da sua equipa.
3. Execução. O comportamento técnico-táctico do guarda-
redes beneficia de um estatuto especial dentro da mesma,
que se consubstancia pela possibilidade de fazer uso de
Fotos 254/255. A reposição de bola em jogo todas as partes do corpo (desde que esteja dentro da sua
pelo guarda-redes
grande área), e em especial, de intervir com as mãos na
bola. Objectiva assim uma melhor protecção e conservação desta, não podendo ser pressionado na sua acção
pelos adversários. Neste sentido, o guarda-redes expressa a sua influência directa no ataque de 2 formas, que em
termos pragmáticos se concretizam: (1) no relançamento ou, (2) no desenvolvimento do processo ofensivo.
Todavia, evidencia-se o facto, de em alguns momentos do jogo os guarda-redes (que encerram algumas partic-
ularidades especiais - como a envergadura, a capacidade de impulsão, etc.), subirem no terreno de jogo e par-
ticiparem nas situações de bola parada (em especial nos que são executadas perto da baliza adversária - cantos,
livres, lançamentos, grandes penalidades, etc.), procurando finalizar a acção ofensiva da sua equipa. Por último,
a partir da sua posição de base, o guarda-redes pode observar todo o espaço de jogo e, conforme as circunstân-
cias do encontro, aumentar ou diminuir o ritmo específico do mesmo, através de reposições ou desenvolvimen-
tos (rápidos ou lentos), consubstanciados por passes (longos ou curtos) para zonas ou companheiros que pos-
sam dar melhor continuidade ao processo ofensivo.

5. As acções individuais defensivas

5.1. O desarme
Foto cedida pela revista Training

1. Definição. Entendemos por desarme, o gesto técnico-táctico efectuado pelo


defesa procurando interferir sobre a mesma respeitando as Leis do jogo, na luta
directa com o atacante que a detém a bola.
2. Objectivo. A acção técnico-táctica de desarme visa fundamentalmente a recu-
peração da posse da bola, ou a tem- Foto 256. A acção técnico-tác-
porização do processo ofensivo tica de desarme
adversário, intervindo momentanea-
Foto cedida pelo Sport Lisboa e Benfica

mente sobre a bola.


3. Execução. Existem duas for-
mas fundamentais de desarme:
(1) O desarme frontal. Situação
Foto cedida pelo jornal O JOGO

Foto 257. O desarme frontal utilizando a técnica de em que o defesa bloqueia a tra-
“carrinho” jectória do atacante de posse de
bola, na luta pela conquista da
mesma. Em casos extremos esta acção poderá ser executada em queda.
Foto 258. A acção de desarme later-
(2) O desarme lateral. Na impossibilidade de bloquear de frente para o ata- al em “carrinho”
A organização dinâmica do jogo de futebol 191

cante de posse de bola a sua trajectória, o defesa poderá procurar desar-


má-lo lateralmente, utilizando para isso, dois tipos de execução técni-
ca, em função da situa-ção de jogo: i)
deslocando-se ou colocando-se ao lado
do atacante, na procura do momento

Foto cedida pelo jornal O JOGO


certo para intervir sobre a bola, utilizan-
do o contacto corporal e interpondo um
dos membros inferiores para desarmar
Fotos 259/260. O desarme visa temporizar e, ii) não sendo possível deslocar-se ou
a acção do atacante colocar-se ao lado do atacante, coloca-se
um pouco atrás deste, procurando o momento certo para, em queda (deslizando-carrinho), intervir sobre a bola.
Esta forma de execução técnica deverá ser utilizada em últimas circunstâncias, por duas razões: uma vez o corpo
em queda/carrinho, o defesa jamais poderá controlar devi-
damente o seu deslizamento (em especial nos terrenos mol-
hados) provocando o choque
Foto cedida pelo jornal O JOGO
ou que o atacante tropece,
podendo assim originar uma
infracção
às leis do Fotos 261/262. O desarme visa fundamentalmente a recuper-
j o g o . ação da bola
Depois da
execução técnica, o defesa encontra-se no solo, sendo incapaz
por breves momentos, de
prosseguir a luta defensiva, se a
acção executada for ineficaz, ou
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

relançar o processo ofensivo


rapidamente, se recuperar a
posse da bola.
Dos dados observados,
Fotos 263/264/265. O problema mais premente da uti- 27% das situações de recuper-
lização da técnica de “carrinho” é a possibilidade de se ação da posse da bola foram
cometer infracções às Leis do jogo consubstanciadas através de
comportamentos técnico-tácti-
cos de desarme, os quais foram
executados de frente para o atacante de posse de bola (13%), de frente para o atacante e em queda (5%), por
detrás do atacante de posse de bola (6%), por detrás do atacante e em queda (3%).

5.2. A intercepção
1. Definição. Entendemos por intercepção, o gesto técnico-táctico que consiste em
o jogador se apoderar da bola, ou em repeli-la: i) quando esta é tocada em direcção
à sua própria baliza (trata-se da intercepção de um remate), ou, (2) entre dois
Foto cedida pelo jornal desportivo O JOGO

adversários (trata-se da intercepção de um passe).


2. Objectivo. Analogamente ao desarme, a acção técnico-táctica de intercepção
visa fundamentalmente a recuperação da posse da bola, ou a temporização do
processo ofensivo adversário, intervindo momentaneamente sobre esta.
3. Execução. A acção técnico-táctica de intercepção, contém fundamentos básicos
difíceis de sistematizar, porque pressupõe diferentes formas de actuação, con- Foto 266. A acção de inter-
soante as qualidades do jogador e as situações momentâneas de jogo. cepção
192 Guia prático de exercícios de treino

Dos dados observados, 73% das situações de recuperação da posse da bola foram consubstanciadas
através de comportamentos técnico-tácticos de intercepção, os quais foram executados sob pressão do adversário
(16%) e em queda (15%).

5.3. A carga
1. Definição. É a acção exercida por dois jogadores, que procuram o contac-
to físico - carga, em zonas do corpo permitidas pelas leis do jogo, aquando da
luta directa pela posse da bola.
2. Objectivo. Os defesas utilizam todos os argumentos técni-
cos legais para criar situações desvantajosas aos atacantes de

Foto cedida pelo jornal O JOGO


posse de bola, procurando intervir sobre esta, nem que seja
momentaneamente para interromper o processo ofensivo
adversário. Com efeito, o facto de as leis do jogo permitirem
um certo contacto físico - carga, na disputa da bola, coloca
sob forte pressão o jogador que a detém. Nestas circunstân-
cias, os defesas aumentam as
dificuldades ineren-tes à
Foto cedida pelo O JOGO

protecção e conservação da
Fotos 267/268/269 A carga de bola por parte do atacante,
ombro se o carregarem legalmente,
através do contacto físico,
afastando-o ou desequilibrando-o da situação de jogo. É
este o objectivo essencial em que se baseia a acção técnico-táctica de carga.
3. Execução. As superfícies corporais de contacto permitidas pelas leis do jogo
são: i) o ombro contra ombro, e, (2) o ombro contra espádua. Contudo, alia- Fotos 270/271. O objectivo do defesa
do à restrição de só poderem ser ao executar a carga de ombro é
estas as superfícies corporais de desiquilibrar o avançado
Foto cedida pelo jornal O JOGO

contacto, a carga tem de ser obriga-


toriamente realizada num tempo
certo de disputa da bola. Assim, todas as cargas "fora ou dentro do
tempo" são consideradas legais ou ilegais em função dos critérios do
Foto 272. Em certas circunstâncias, o atacante árbitro. Para além dos pressupostos legais atrás referidos, o pressu-
procura evitar a carga de ombro do defesa uti-
posto técnico de execução desta acção baseia-se fundamentalmente no
lizando os braços
tempo certo de carga sobre o jogador de posse de bola, que ocorre
quando este se apoia na perna mais afastada, pelas seguintes razões: i) torna-se mais difícil para este, recuperar
o equilíbrio e, ii) normalmente a perna mais afastada é a que protege ou conduz a bola. Assim, o jogador ao
desequilibrar-se terá menos hipóteses de controlar a bola.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

5.4. A técnica do Foto 273. O objectivo fundamental das acções do


Foto cedida pelo jornal O JOGO

guarda-redes guarda-redes é de evitar o golo


1. Definição. Entendemos por técnica do guarda-redes todas as
acções técnico-tácticas específicas executadas por este, durante o
Foto 274. O guarda-redes goza de um estatuto especial processo defensivo da sua equipa.
dentro da grande área 2. Objectivo. As acções do guarda-redes compreendem formas
A organização dinâmica do jogo de futebol 193

que visam fundamentalmente a protecção da baliza - evitar o golo.


3. Execução. No plano defensivo, o comportamento técnico-táctico do

Foto cedida pelo jornal O JOGO


guarda-redes consubstancia-se sob duas vertentes fundamentais: i) seguir
atentamente o processo ofensivo adversário e partindo de um posiciona-
mento privilegiado dentro do terreno de jogo assumir a orientação verbal
dos seus companheiros quer individual quer colectivamente, no que diz
respeito aos seus posicionamentos, deslocamentos dos atacantes, sendo Foto 275. Em situações de emergência
igualmente elemento preponderante na formação de barreiras, estabelecen- deverá utilizar todos os procedimentos
para proteger a sua baliza
do-se assim uma relação de comunicação extremamente viva e contagiante,
e, (2) uma vez que o objectivo do jogo é o golo, normalmente cabe ao guar-
da-redes a responsabilidade última de evitar que tal objectivo se concretize, através das mais variadas acções téc-
nico-tácticas, tais como, o apanhar, o blocar, o recolher, o mergulhar, o
afastar, o desviar a bola, etc.
Dos dados referentes aos comportamentos técnico-tácticos defen-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

sivos do guarda-redes evidenciamos os seguintes factos:


(1) 77% das situações defensivas em que o guarda-redes interveio sobre
a bola foi para a recuperar, os restantes 23% tocou momentaneamente
nesta.
Foto 276. Coragem, determinação e pron-
(2) Os comportamentos técnico-tácticos ofensivos das quais derivou a
tidão são algumas das características essenci- intervenção do guarda-redes, foram em 34% os cruzamentos e os pass-
ais dos guarda-redes es executados para dentro da grande área, os restantes 32% deveram-se
a remates.
(3) Somente em 31% das situações observadas o guarda-redes teve de
executar a sua acção sobre pressão do adversário.
(4) Em 36% das situações apanha a bola, parado ou em corrida, 41% bloca a bola (através de mergulhos,
impulsões, etc.). E em 23% toca momentaneamente na bola, desviando a sua trajectória.
(5) A superfície corporal de contacto preponderante com a bola são as mãos (66%).
(6) Em 57% das situações observadas o guarda-redes executa uma reposição lenta da bola em jogo e em 43%
uma reposição rápida

As acções colectivas ofensivas e defensivas

Consoante o nível de formação de uma equipa (tanto ofensiva como defensiva), reflecte uma organi-
zação elementar, que assenta fundamentalmente:
1. Nas acções técnico-tácticas individuais e colectivas que visam a coerência de movimentação dos jogadores
dentro do subsistema estrutural (sistema de jogo e tarefas tácticas) preconizado pela equipa e uma ocupação
racional e constante do espaço de jogo (deslocamentos ofensivos e defensivos, compensações/permutações).
2. Nas acções técnico-tácticas individuais e colectivas que visam a resolução temporária das situações momen-
tâneas de jogo (combinações tácticas, dobras, cortinas/ecrans e temporizações).
3. Nas soluções estereotipadas das partes fixas do jogo (esquemas tácticos ofensivos e defensivos).

As acções colectivas ofensivas


194 Guia prático de exercícios de treino

Os deslocamentos ofensivos
1. Definição. Os deslocamentos ofensivos são comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos, desen-
volvidos no absoluto respeito dos princípios (gerais e específicos) do ataque, que visam assegurar em última
análise a cooperação e a coerência dinâmicas da movimentação, dentro do método ofensivo preconizado pela
equipa, para o cumprimento dos objectivos fundamentais do ataque (finalização-progressão manutenção).
2. Objectivos. Os deslocamentos ofensivos realizados pelos atacantes procuram, em última análise: (1) o con-
trolo do ritmo e do tempo de jogo, em função dos objectivos tácticos da equipa durante o desenrolar da parti-
da e, (2) manter a iniciativa do jogo, surpreender o adversário e cansá-lo fisicamente, obri-gando-os a jogar sob
uma grande pressão psicológica e a entrar continuamente em crise de raciocínio táctico. Nesta perspectiva, os
deslocamentos ofensivos objectivam os três seguintes atributos:
2.1. Equilíbrio ou reequilibrio constantemente a repartição de forças do método ofensivo consoante as
situações de jogo. Qualquer que seja o sistema de jogo utilizado por uma equipa, a relação geométrica implíci-
ta desse dispositivo, não permite ocupar o espaço total do jogo. Daí que, as mudanças incessantes das
condições de jogo, determinem deslocamentos permanentes dos jogadores para equilibrar ou reequilibrar a
repartição de forças no terreno de jogo. Assim a dinâmica de uma equipa deve assegurar:
(1) Deslocamentos constantes, respeitando-se sempre a relação de distância jogador-bola-companheiros-
adversários, isto é, que a equipa jogue num bloco homogéneo entre os vários jogadores e sectores, evitan-
do-se que esta se distenda ao longo do terreno de jogo. Isto significa, que se concretiza automaticamente
uma disposição geométrica em que se equilibra ou reequilibra a organização, em função das situações
momentâneas de jogo.
(2) A reconstituição das ligações associativas fundamentais de vários jogadores (apoio, cobertura e mobili-
dade), formando unidades funcionais nas acções colectivas de ataque. Cria-se assim, um maior número de
hipóteses ao jogador de posse de bola, dando-lhe a possibilidade de uma opção mais conveniente à situa-
ção momentânea de jogo, não o obrigando a excessos de individualismos, por falta de apoio ou cobertura
dos companheiros da equipa
2.2. Criar, ocupar e utilizar de forma eficiente os espaços de jogo. Os jogadores em processo ofensivo,
devem consciencializar e valorizar constantemente a sua contribuição para o desenvolvimento eficaz da acção
ofensiva. Assim, o jogo sem bola não consiste só em executar um certo número de deslocamentos com vista
a intervir sobre esta, mas também, assegurar através dos seus deslocamentos, o "arrastamento" de um ou mais
adversários, deixando livres de vigilância determinados espaços de jogo mais favoráveis à persecução dos
objectivos tácticos momentâneos do ataque. Como resultado destes deslocamentos, visa-se igualmente,
aumentar os intervalos entre os defesas, tanto no sentido longitudinal, como no transversal, com o objectivo
de descoordenar e desequilibrar a ocupação racional do espaço de jogo e, consequentemente, o enfraqueci-
mento do método defensivo adversário. Após a criação de espaços livres, é necessário ocupá-los e utilizá-los
de forma eficiente, sendo essenciais deslocamentos rápidos para o seio desses espaços, para os quais em princí-
pio deve ser direccionado o centro da acção ofensiva.
2.3. Colocação de jogadores livres de oposição (marcação) do adversário. O aumento da quantidade (dis-
tância) e da qualidade (intensidade), dos deslocamentos dos jogadores em campo durante o jogo, determinou
consequentemente o aumento do seu "raio de acção". Por outras palavras, os jogadores deslocam-se mais fre-
quentemente para criar e explorar os espaços de jogo (quando de posse de bola), do que para restringir, mar-
car espaços e jogadores (quando não têm a posse de bola). Daqui resulta, que as condicionantes da execução
técnico-táctica, com ou sem a posse da bola, se tornam cada vez mais problemáticos para uma eficaz resolução
da situação táctica. Este facto reflecte a constante preocupação de colocar a cada instante, problemas cada vez
mais difíceis de resolver (do ponto de vista defensivo), procurando deslocamentos ofensivos que coloquem
um ou vários jogadores livres de marcação, para que usufruam de condições favoráveis em termos de espaço
e tempo, para a resolução táctica das situações momentâneas de jogo, tendo presente, que um jogador inter-
vém sempre na orgânica do jogo, facilitando ou contrariando pelos seus deslocamentos, o jogo colectivo.
A organização dinâmica do jogo de futebol 195

Neste sentido, ressalta a necessidade de


execução de deslocamentos ofensivos
múltiplos e rápidos, inseridos num con-
texto que procure colocar jogadores em
zonas vitais, e em condições mais vanta-
josas para a persecução dos objectivos tácti-
cos da equipa. Obviamente, os defesas prefer-
em jogar contra atacantes que se mantenham
em posições fixas. Assim, quantas mais vezes os
atacantes mudarem de posição, mais difícil se
torna para os defesas coordenar a sua organiza-
ção defensiva. Figura 63. As diferentes formas dos deslocamentos ofensivos
3. Classificação. Os deslocamentos ofensivos
podem ser classificados sob dois domínios, quanto à forma e quanto ao tipo.
3.1. Formas. As formas dos deslocamentos ofensivos, resultam da relação que se estabelece entre a linha final
e a trajectória descrita pelo deslocamento do jogador no terreno de jogo. Assim, observam-se 4 formas de
deslocamentos ofensivos:
(1) Perpendiculares ou directos. A trajectória do
deslocamento do jogador é perpendicular à linha
final do terreno de jogo.
(2) Diagonais ou indirectos. A trajectória do deslo-
camento do jogador é diagonal à linha final do ter-
reno de jogo.
(3) Paralelos ou simétricos.
A trajectória do deslocamento do
jogador é paralela à linha final do ter-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

reno de jogo.
(4) Circulares-
complexos. A tra-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

jectória do deslo- Fotos 277/278. O deslocamento ofensivo de apoio


camento do frontal
jogador é circular,
Fotos 279/280. O deslocamento ofensivo ou não é perfeitamente definida, isto é, apresenta várias
de apoio à retaguarda mudanças de direcção.
3.2. Tipos. O tipo dos deslocamentos ofensivos, resultam da
relação que se esta-belece entre o deslocamento efectuado e o objectivo próximo do ataque perspectivado pelo
jogador. Assim, observam-se 4 tipos de
deslocamentos ofensivos:
Foto cedida pelo jornal O JOGO

(1) De apoio. Estas acções caracterizam-


se fundamentalmente por deslocamentos
de aproximação em relação ao compan-
heiro de posse de bola, no cumprimento
de um dos objectivos do ataque, isto é, a
manutenção da posse da bola. Consequentemente, estes desloca-
mentos consubstanciam:

A. O controlo do jogo em determinados momentos, tempo- Fotos 281/282. O deslocamento ofensivo de


rizando a acção ofensiva para surpreender o adversário, com apoio lateral
196 Guia prático de exercícios de treino

mudanças de ritmo e ângulo de ataque.


B. A preparação de desequilíbrios na organização defensiva
adversária, em espaços e momentos apropriados.
C. A diminuição ou aumento do ritmo de jogo, levando os
adversários a aceitar um certo tipo de cadência de jogo.
Podemos distinguir três tipos de deslocamentos ofensivos de
apoio: frontal,
lateral e à reta-
Foto cedida pelo jornal O JOGO
guarda.
(2) De pro-
gressão. Estas
Fotos 283/284. O deslocamento ofensivo acções caracteri-
de progressão perpendicular zam-se funda-
mentalmente por deslocamentos
de afastamento em relação ao com-panheiro de posse de bola, em

Foto cedida pelo jornal O JOGO


direcção à baliza adversária, no cumprimento de um dos objectivos
do ataque, isto é, a progressão. Consequentemente estes desloca-
mentos consubstanciam:
Fotos 285/286. O deslocamento ofensivo de
A. O desenvolvimento da acção ofensiva para zonas mais perto apoio lateral passando a progressão perpen-
da baliza adversária, onde se verificam as condições mais dicular
favoráveis à fase de finalização.
B. A criação de instabilidade da organização
defensiva adversária, na procura de aproveita-
mento dos espaços vitais de uma forma simples
e eficaz.
C. O aumento do ritmo e da iniciativa do jogo
ofensivo. Os deslocamentos de apoio e de pro-
gressão são a base fundamental de suporte às
combinações tácticas. Podemos distinguir três tipos de deslo-
camentos ofensivos de progressão: perpendiculares, diagonal e
paralela.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

(4) De rotura.
Estas acções
objectivam
Foto cedida pelo jornal O JOGO

fundamental-
Fotos 287/288. O deslocamento ofensivo de rotura per-
pendicular mente a cri-
ação de situ-
ações de finalização, ou de rotura do método defensivo
adversário. Neste sentido, estes deslocamentos são carac- Foto 289. O deslocamento ofensivo de rotura diagonal
terizados pela aproximação ou afastamento do compan-
heiro de posse de bola, com o objectivo imediato de assegurar as
condições mais favoráveis ao cumprimento de um dos objectivos do
Foto cedida pelo O JOGO

ataque, isto é, a finalização. Consequentemente, estes deslocamentos


consubstanciam:
A. O desenvolvimento de condições mais favoráveis para a execução
de acções técnico-tácticas de remate.
Foto 290. O deslocamento ofensivo de equilíbrio
B. A rotura momentânea das organização defensiva da equipa adver-
sária, em espaços e momentos apropriados.
A organização dinâmica do jogo de futebol 197

C. A criação de situações de surpresa para os adversários, obrigando-os a jogar sob uma grande pressão
psicológica e técnico-táctica. Podemos distinguir três tipos de deslocamentos ofensivos de rotura: per-
pendiculares, diagonais e paralelos.
(4). De equilíbrio. Estas acções caracterizam-se fundamentalmente por deslocamentos em direcção a
espaços vitais, ou a jogadores adversários (que não estão directamente envolvidos no processo defensivo da
sua equipa) e visam o equilíbrio da organização ofensiva, em função das situações de jogo.
Consequentemente estes deslocamentos consubstanciam:
(1) O equilíbrio da organização ofensiva em função do espaço e do(s) adversário(s) que aí evoluem, evi-
tando-se que após a perda da posse da bola, haja a possibilidade da equipa adversária poder contra-
atacar, estabelecendo-se de imediato uma contínua estabilidade na organização da equipa.
(2) A reorganização rápida do ataque em caso de insucesso, através de uma maior homogeneidade e
compacticidade do jogo ofensivo.

4. Meios. As condicionantes favoráveis para a realização dos deslocamentos ofensivos podem ser analisados sob
as seguintes vertentes:
4.1. Gerais. A forma geral de organização, ou seja, o método de jogo deverá ser um factor facilitador na exe-
cução das acções dos jogadores, exprimindo: i) um bloco homogéneo, tanto no processo ofensivo como defen-
sivo, ii) a criação de espaços livres através de desmarcações coordenadas em largura e profundidade a 2, 3, ou
mais jogadores, iii) mudanças bruscas de ritmo e direcção e, iv) combinações tácticas fundamentais (simples,
directas e indirectas). Contudo, é importante evidenciar dois aspectos que se relacionam directamente com a
eficácia destas acções:
(1) O deslocamento individual é sempre condicionado pelos deslocamentos colectivos, sendo importante
uma sincronização eficaz destas acções no seu conjunto.
(2) O momento (tempo) em que se verificam as condições mais favoráveis, à resolução táctica da situação
de jogo, é demasiadamente curto sendo necessária uma plena concentração por parte dos jogadores.
4.2. Específicos. Os deslocamentos defensivos são o resultado da procura constante e harmónica entre o pos-
suidor da bola e os restantes companheiros:
(1) No que respeita ao jogador de posse de bola exige-se:
A. Uma clara visão do jogo, percepcionando continuamente as movimentações dos seus companheiros
(percepção), apercebendo-se rapidamente que decisão (resposta táctica) é mais adequada à situação
momentânea de jogo (decisão). Entregar a bola no melhor momento sincronizando a sua execução técni-
co-táctica com a do companheiro a quem é dirigida a bola (execução);
B. Utilização de acções técnico-tácticas que alterem os ângulos relativamente aos seus companheiros com
as seguintes intenções: i) mobilizar a atenção, e por conseguinte a desconcentração de um ou mais adver-
sários, que marcavam, na circunstância, os seus companheiros, ii) tornar o jogo imprevisível do ponto de
vista defensivo, podendo a todo o momento executar acções técnico-tácticas em direcção a um ou outro
corredor ou sector de jogo e, iii) assegurar a protecção da bola, de modo a ganhar o tempo necessário para
permitir, o desencadeamento de deslocamentos ofensivos por parte dos seus companheiros, criando por
conseguinte, as condições mais favoráveis aos objectivos momentâneos (manutenção-progressão-finaliza-
ção).
(2) No que respeita aos jogadores em deslocamento exige-se:
A. Indicar através da direcção, a forma e o tipo de deslocamento quais as suas verdadeiras intenções tácti-
cas, pois o companheiro de posse de bola deverá decidir de acordo com estas.
B. Plena concentração no jogo, sabendo quando, onde e como, deverá criar as condições mais vantajosas
para a concretização dos objectivos tácticos da equipa (decisão). Em consequência, ter espírito de sacrifí-
cio e colaboração, permanecendo em constante movimento, realizando-o em local oportuno, no momen-
to certo e de acordo com as possibilidades técnico-tácticas do jogador de posse de bola (execução).
198 Guia prático de exercícios de treino

5. Princípios. Os princípios de orientação na execução dos deslocamentos ofensivos devem assumir dois
domínios fundamentais:
5.1. Gerais. As mudanças incessantes das condições de jogo (tanto ofensivas como defensivas) devem deter-
minar deslocamentos permanentes dos jogadores, exprimindo os seguintes princípios:
(1) Racionalizar permanentemente o espaço de jogo:
A. Os deslocamentos dos jogadores são coordenados pela necessidade de equilibrar e racionalizar a repar-
tição de forças no terreno de jogo.
B. Todos os deslocamentos se influenciam mútua e reciprocamente e cada jogador intervém sempre na
orgânica do jogo (adversário ou companheiro), facilitando ou contrariando pelos seus deslocamentos, o
jogo colectivo.
C. A articulação das várias fases do jogo será tanto mais evoluída, quanto mais a sua expressão se traduza
de forma unitária e homogénea, não dando lugar a compartimentos estanques que só conduzem a equipa
a uma maior permeabilidade na sua organização.
(2) Execução de deslocamentos a ritmos (velocidade) e direcções variáveis pretendendo chamar atenção dos
opositores com o intuito de:
A. Deslocar os adversários dos espaços mais perigosos.
B. Atrair os adversários deixando livre de marcação os companheiros melhor posicionados.
C. Visar permanentemente a baliza adversária, isto é, o objectivo do jogo - o golo.
(3) Procurar que o movimento da bola implique um deslocamento relativo de todos os jogadores:
A. Um jogador em qualquer situação de jogo jamais deverá estar parado.
B. O espaço deixado livre pelo jogador deve ser imediatamente ocupado por um dos seus companheiros.
C. Qualquer que seja, e onde quer que se situe, o jogador de posse de bola, logo que a passa, deve movi-
mentar-se (simultaneamente ao passe) no sentido de apoiar o companheiro de posse de bola, ou procurar
romper o equilíbrio defensivo adversário.
D. Os deslocamentos ofensivos são sempre válidos mesmo quando o jogador não recebe a bola.
5.2. Específicos: reagir rapidamente à situação de recuperação de posse de bola:
(1) As acções visando a libertação de marcação e procura de espaços livres, devem iniciar-se instantaneamente
após a recuperação da posse de bola. Assim, os jogadores deverão responder às seguintes questões: i) quem:
todos os jogadores da equipa, ii) quando: a partir do momento em que a equipa entra de posse de bola, iii)
onde: em qualquer zona do terreno de jogo e, iv) como: ocupando lugares apropriados para oferecer linhas
de passe e ajudar o portador da bola.
(2) Os deslocamentos dos jogadores devem caracterizar-se pelo desenvolvimento de certos processos técni-
cos individuais, de carácter "explosivo", visando em última instância surpreender ou iludir o adversário: i) uti-
lizando mudanças rápidas de ritmo e direcção da corrida e, ii) utilizando pequenas e rápidas fintas de simu-
lação, no sentido da corrida, isto é, o jogador executa um deslocamento rápido e curto no sentido inverso
àquele para onde pretende verdadeiramente deslocar-se.

Concluindo, o futebol exige que a totalidade dos jogadores (a partir do momento em que a bola é
recuperada) se coloquem disponíveis por meio de deslocamentos, no sentido de oferecer os seguintes objectivos:
1. A manutenção da posse da bola (estas desenvolvem-se num quadro referencial, cujo núcleo é representa-
do pelo jogador de posse de bola, sendo orientados preferencialmente por forma a se aproximarem dele).
2. A progressão da acção ofensiva (estas desenvolvem-se num quadro referencial, cujo núcleo é constituído
pelo jogador de posse de bola, da baliza adversária, dos adversários e companheiros).
3. A rotura do sistema defensivo adversário (estas desenvolvem-se num quadro referencial, cujo núcleo é con-
stituído pelo jogador de posse de bola, pela organização defensiva adversária e a baliza adversária.
4. O equilíbrio do método defensivo (estas desenvolvem-se num quadro referencial, cujo núcleo é constituí-
do pelo jogador de posse de bola, própria baliza e adversários, que não estão directamente implicados no
processo defensivo da sua equipa).
A organização dinâmica do jogo de futebol 199

Compensações/desdobramentos ofensivos

1. Definição. São acções técnico-tácticas individuais e colectivas, desenvolvidas no absoluto respeito dos princí-
pios (gerais e específicos) do ataque, que visam assegurar constantemente a ocupação racional do terreno, assu-
mindo posições e missões tácticas dos companheiros, que num certo momento do jogo estão envolvidos na reali-
zação de outras funções.
As acções técnico-tácticas de compensação e de permutação, em termos pragmáticos consolidam os
mesmos objectivos. Contudo, numa análise mais aprofundada, das acções de ocupação e de racionalização do
espaço de jogo e da troca de missões tácticas específicas de cada jogador, verificamos que: a compensação é fun-
damentalmente consubstanciada pela ocupação de um espaço de jogo deixado livre por um companheiro, que
num certo momento se integrou directamente no processo ofensivo. A permutação é fundamentalmente con-
substanciada pelo facto, de depois de a acção ofensiva terminar, o jogador que foi ajudado ter de retomar o mais
rapidamente possível, não a sua posição e missão específica de base, mas a posição e missão específica de base
do jogador que o ajudou, cumprindo esta função com pleno sentido de responsabilidade.

2. Objectivos. Em síntese os objectivos das compensações/permutações são os seguintes:


2.1. Ocupação racional do terreno de jogo. Quando a equipa se encontra em processo ofensivo, existe a
tendência de esta se desequilibrar defensivamente, devido à incursão e integração de certos jogadores das lin-
has mais atrasadas no centro do jogo atacante, assegurando-lhe uma eficaz continuidade. Estes desequilíbrios
defensivos reflectem-se pelo pouco cuidado posto na vigilância dos espaços vitais do terreno de jogo. Dado
que, o momento e a zona onde se irá verificar a perda da posse da bola, não é sempre previsível, há assim, a
necessidade de assegurar, em todos os momentos pelos quais o processo ofensivo se desenvolve, a vigilância
ou até mesmo a ocupação dos espaços de jogo, pelos quais a equipa adversária poderá progredir logo após a
recuperação da posse da bola.
2.2. Contínua vigilância sobre os adversários. Quando a equipa está em processo defensivo, verifica-se que
o sistema subjacente determina a existência de um ou dois elementos que não estão directamente implicados
neste processo, cuja função é de preparar mentalmente o processo ofensivo a efectuar, logo após a recuper-
ação da posse da bola. Assim, a vigilância, ou mesmo a marcação pressionante sobre as atitudes e comporta-
mentos técnico-tácticos destes jogadores, são de vital importância para se evitar a possibilidade de se
realizarem contra-ataques que possam por em causa o equilíbrio imediato da organização defensiva, criando
igualmente as condições mais favoráveis para a concretização do golo.
2.3. Repartição equilibrada do esforço dos jogadores. Devido à grande dinâmica do jogo de futebol actual,
há a necessidade de se encontrar um equilíbrio que permita resolver as situações momentâneas de jogo com
pleno sentido colectivo. Este facto salienta que os jogadores das linhas atrasadas, ao se incorporarem no
processo ofensivo, não podem por razões físicas e técnico-tácticas, recuperar imediatamente para a sua
posição e funções específicas de base. Daí que, cada jogador deverá encontrar, na sua equipa uma organiza-
ção que exprima a possibilidade de qualquer elemento participar no ataque, assumindo outras posições e
funções consoante as necessidades da variabilidade das situações momentâneas de jogo. Sabe desta forma que
a sua posição e funções específicas de base estão a ser acautelados por outro companheiro, podendo assim,
terminada a acção ofensiva, recuperar para a sua posição e função específicas de base e, se for caso disso, recu-
perar do esforço despendido.

3. Meios (condicionantes favoráveis). A forma geral de organização, ou seja, o método de jogo ofensivo, deverá
ser um factor facilitador na organização das acções dos jogadores, exprimindo um bloco homogéneo que reflic-
ta: i) um grande sentido de jogo colectivo, ii) um grupo de jogadores solidários com as suas funções específicas,
iii) uma clara fixação dos conceitos de disciplina e responsabilidade táctica, iv) um grande espírito de sacrifício
e, v) um correcto sentido de doseamento do esforço físico.
200 Guia prático de exercícios de treino

4. Princípios (de orientação). As incessantes mudanças das condições de jogo determinam deslocamentos per-
manentes dos jogadores, exprimindo a racionalização constante do espaço, consoante as necessidades para a res-
olução táctica das situações momentâneas de jogo:
(1) Os deslocamentos dos jogadores são coordenados pela necessidade de equilibrar e racionalizar a repar-
tição de forças no terreno de jogo.
(2) Todos os deslocamentos se influenciam mútua e reciprocamente, e cada jogador intervém sempre na
orgânica do jogo, (adversários ou companheiros), facilitando ou contrariando o jogo colectivo pelos seus
deslocamentos.
(3) A articulação das várias fases do jogo será tanto mais evoluída quanto mais a sua expressão se traduza de
forma unitária e homogénea, não dando lugar a compartimentos estanques que só conduzem a equipa a uma
maior permeabilidade na sua organização.
(4) No futebol deverá existir esta elementar compreensão: sempre que um companheiro ajuda, tem direito a
que o ajudem também. Se um jogador deixa o seu lugar e funções específicas num determinado momento da
partida, para ocupar o lugar e as funções de um companheiro que se adiantou no terreno, deverá este último,
o mais rapidamente possível (a quando da perda da posse da bola, ou noutra situação particular), voltar não
ao seu lugar e funções de base, mas antes ocupar o lugar deixado livre pelo companheiro que o ajudou.
Mudam assim momentaneamente de lugar e funções, mas nunca de responsabilidades, organização e soli-
dariedade. Em conclusão, estas acções técnico-tácticas deverão reflectir: i) o entendimento mútuo dos
jogadores, pois a realização destes comportamentos não têm qualquer efeito prático se levarem a equipa a rea-
grupamentos múltiplos dos jogadores e, ii) devem efectuar-se rápida e espontaneamente, pois constituem um
elemento dinâmico do jogo actual.

As combinações tácticas

1. Definição. As combinações tácticas representam a coordenação das acções individuais de natureza ofensiva,
de dois ou três jogadores, desenvolvidos no absoluto respeito dos princípios do ataque, (gerais e específicos).
Visam a resolução de uma tarefa parcial (temporária) específica do jogo, assegurando a criação de condições
mais favoráveis (analogamente aos deslocamentos ofensivos), em termos numéricos, espaciais e temporais.

2. Objectivos. O objectivo fundamental das combinações tácticas, é a resolução táctica das situações momen-
tâneas de jogo (nas unidades funcionais), criando-se assim as condições mais favoráveis (em termos de numéri-
cos, espaciais e temporais) à persecução dos objectivos do processo ofensivo (progressão/finalização). Esta acção
coordenada de dois ou três jogadores visa em última análise:
2.1. A colocação de jogadores (durante o processo ofensivo) em espaços vitais e livres de oposição.
2.2. Romper o equilíbrio ou manter o desequilíbrio da organização defensiva da equipa adversária.
2.3. A reorganização constante do método defensivo adversário, o que consequentemente determina um
maior empenhamento físico e psíquico dos seus jogadores.

3. Classificação. As combinações tácticas podem ser


classificadas em:
3.1. Combinações simples (combinações a 2 ou
“passa-e-sai”): i) o portador da bola fixa a acção do
adversário directo (penetração), ii) executa um passe a
um companheiro, que consubstancia um deslocamento
ofensivo de apoio, seguido de um deslocamento imedia-
to (passar e mover), para um espaço ou posição facilitado-
ra e favorá-vel para receber a bola. Figura 64. A combinação táctica simples
A organização dinâmica do jogo de futebol 201

3.2. Combinações directas (um-dois ou passa-e-sai): i) o portador


da bola fixa a acção do adversário directo (penetração), ii) execução
de um passe a um companheiro que consubstancia um deslo-
camento ofensivo de apoio, seguido de um deslocamento imediato
(passar e mover) para um
espaço ou posição facilita-
dora e favorável para a

Foto cedida pelo jornal O JOGO


Foto 291. A combinação táctica simples recepção da bola e, iii)
devolução da bola ao porta-
dor inicial.
3.3. Combinações indirec-
Foto 292. A combinação táctica directa tas (combinações a 3
jogadores). A utilização de
combinações simples (a 2), é muitas vezes difícil de
concretizar face às grandes concentrações de
jogadores, ou à falta de espaços livres. São assim
fáceis de anular sempre que a cobertura defensiva é
assegurada. De modo a garantir um maior desequi-
líbrio na organização defensiva, integra-se mais um
jogador, realizando uma combinação a 3 que abre mais
possibilidades. Em função da iniciativa (selecção de uma
opção), da circunstância (local da acção espaço) e da colo-
cação ou posicionamento sobre o terreno (posição relativa
dos adversários baliza): i) o portador da bola fixa a acção do Figura 65. A combinação táctica directa
adversário directa (penetração), ii) executa um passe
a um companheiro que realiza um deslocamento
ofensivo de apoio, seguido de um deslocamento ime-
diato (passar e mover) para um espaço ou posição
facilitador e favorá-vel para a recepção da bola e, iii)
devolução da bola, não ao portador inicial, mas a um
3º jogador cuja situação favorável resulta de um benefí-
cio directo (fruto da acção que desencadeou) e um bene-
fício indirecto (fruto da acção desenvolvida pelo primeiro
portador da bola). Figura 66. A combinação táctica indirecta

4. Meios (condicionantes favoráveis). Os meios de suporte às combinações tácticas (especialmente no que se ref-
ere às simples e às directas), fundamentam-se essencialmente nos deslocamentos ofensivos de apoio. Portanto,
os meios - gerais e específicos - enunciados para os deslocamentos ofensivos, mantêm-se para as combinações
tácticas, especialmente para as exigências referentes: (1) ao método de jogo, (2) ao jogador de posse de bola, e,
(3) ao jogador em deslocamento ofensivo.

5. Princípios (de orientação). As combinações tácticas estudadas são condicionadas pela participação directa ou
indirecta de todos os jogadores da equipa. Todo e qualquer tipo de combinação táctica é complementada com
a introdução de mudanças de ritmo e direcção, as quais assumem consequências muito acentuadas no equilíbrio
defensivo adversário: i) quer por resultarem em situações em que o jogador de posse de bola fica livre de mar-
cação (situação favorável à finalização por exemplo) e, ii) quer por permitirem criar de imediato situações de
superioridade numérica nas unidades funcionais da equipa. Por último, importa realçar que a atitude e as acções
descritas de passar e mover, são sempre válidas, mesmo quando não se recebe a bola.
202 Guia prático de exercícios de treino

Cortinas/écrans

1. Definição. São combinações tácticas especiais, desenvolvidas no absoluto respeito dos princípios (gerais e
específicos) do ataque e das leis do jogo, por um ou mais jogadores, que se posicionam por forma a perturbar a
leitura táctica da situação, e consequentemente do comporta-
mento defensivo dos adversários directos.
As acções técnico-tácticas de cortinas e écrans, em

Foto cedida pelo jornal O JOGO


termos pragmáticos consolidam os mesmos objectivos. No
entanto, numa análise mais profunda e objectiva, verificamos
que os écrans diferem das cortinas porque consubstanciam um
maior tempo durante o qual, o(s) defesa(s) estão sujeito(s) aos
efeitos desta acção técnico-táctica.
Foto 293. As cortinas/ecrans
2. Objectivos. Em síntese os objectivos fundamentais destas
acções são os seguintes:
2.1. Proteger os comportamentos técnico-tácticos do(s) companheiro(s). A organização geral da equipa,
particularmente o seu método defensivo, poderá articular acções de marcação específica (temporal ou con-
tínua), de um certo número de jogadores atacantes, que pela sua
elevada capacidade técnico-táctica deverão (do ponto de vista
defensivo) ser continuamente vigiados ou mesmo cerradamente
Foto cedida pelo jornal O JOGO

marcados. Assim, perante esta organização defensiva adversária, os


elementos da equipa atacante deverão, sempre que possível, posi-
cionar-se por forma a interpôr-se, entre o adversário directo de
marcação e o companheiro, para que este se liberte desta pressão
Foto 294. Proteger a acção técnico-tácticado com-
panheiro ganhando o tempo necessário, consubstanciado na:
(1) Necessidade de um maior tempo de leitura da situação de jogo
(percepção), por parte do defesa, com o consequente momento de hesitação por parte do mesmo.
(2) Um tempo mais alargado de execução dos seus comportamentos técnico-tácticos, devido à necessidade
de contornar o atacante que se interpôs entre ele e o seu adversário directo de marcação.
2.2. Impossibilitar a visão da posição e da possível trajectória da bola. As grandes concentrações de
jogadores num certo espaço vital de jogo, obrigam os atacantes a executar as suas acções técnico-tácticas sob
grande pressão, mas determinam igualmente, dificuldades por parte dos defesas que estão colocados em
espaços mais atrasados, em ver claramente a posição da bola e a sua correcta ou possível trajectória (espe-
cialmente no que diz respeito ao guarda-redes). Assim, os jogadores atacantes aproveitam este facto tirando,
vantagens através:
(1) Da libertação de um ou outro jogador que vindo de trás poderá penetrar com ou sem a posse da bola
para posições vitais, sem uma marcação adequada à perigosidade da si-tuação.
(2) Do erro de julgamento da posição e do possível trajecto da bola. Os defesas ao não verem partir a bola,
reflectem um tempo de julgamento (percepção) e de
reacção (decisão) mais longo.
As cortinas e écrans são mais facilmente observadas durante a
Foto cedida pelo jornal O JOGO

execução dos esquemas tácticos, pela colocação de um ou mais


jogadores à frente da bola encobrindo perfeitamente: i) o
jogador que irá executar a acção técnico-táctica, ii) o momen-
to da partida da bola. Nos pontapés de canto, por exemplo, a Foto 295. As cortinas/ecrans durante as situações de
colocação de um jogador à frente do guarda-redes adversário pontapé de canto
A organização dinâmica do jogo de futebol 203

(muitas vezes executando contínuas impulsões), e a incorporação de


um ou mais jogadores na formação das barreiras da equipa adversária
nos pontapés livres, são os factos mais
observáveis e evidentes da utilização destas
combinações tácticas especiais.

Foto cedida pelo jornal O JOGO


2.3. Desequilibrar o centro do jogo defen-
sivo. As acções técnico-tácticas de corti-
nas/écrans criam momentos de indecisão
de raciocínio táctico dos defesas, quando
Fotos 296/297. As cortinas/ecrans no
desiquilibrio do centro de jogo
estes procuram: i) o seu adversário directo
de marcação e, ii) a posição e a possível tra-
jectória real da bola. Este facto, reflecte-se incondicionalmente no equilíbrio do centro do jogo defensivo, pois
os momentos de hesitação por parte dos adversários, obrigam-nos a reagir mais tardiamente para a resolução
táctica das situações momentâneas de jogo.

3. Meios (condicionantes favoráveis). Do que foi exposto, e para além dos aspectos ligados ao método de jogo,
é necessário evidenciar que estes comportamentos técnico-tácticos são resultado:
3.1. Da procura que os adversários (no seu conjunto ou particularmente, exemplo: guarda-redes), tenham
uma visão pouco clara das situações de jogo, obrigando-os a reagir mais tardiamente.
3.2. Da utilização de comportamentos técnico-tácticos que consubstanciem a variação dos ângulos e posições
relativas dos jogadores atacantes, em função dos defesas, com as seguintes intenções:
(1) Interpôr-se entre o defesa e o seu companheiro, para que este se liberte dessa pressão, mobilizando
assim a atenção e desconcentrando os comportamentos técnico-tácticos do defesa.
(2) Encobrir a posição real da bola e a sua possível trajectória tornando o jogo imprevisível (do ponto de
vista defensivo).
(3) Assegurar a protecção da bola, de modo a ganhar o tempo suficiente para que se criem as condições
favoráveis à persecução dos objectivos tácticos do ataque.
(4) Rentabilização dos esquemas tácticos, através da criação do aumento da dificuldades para certos
jogadores adversários, tanto no encobrimento do jogador que irá executar a acção técnico-táctica, como da
partida e trajectória da bola.
3.3. Da correcta leitura do jogo e saber, quando, onde e como, efectuar as cortinas/écrans, tendo em conta
que o seu deslocamento deverá criar as condições mais vantajosas para a concretização dos objectivos tácti-
cos da equipa. Momentos existem em que estes deslocamentos podem originar aglomerações de jogadores ata-
cantes podendo, por consequência, um defesa marcar efectivamente mais que um atacante.
3.4. De deslocamentos rápidos e directos para o seio dessas situações momentâneas de jogo. Se durante esse
trajecto o jogador for marcado, deverá utilizar pequenas e rápidas fintas de simulação, para evitar o arrasta-
mento de mais um adversário para o centro do jogo, aumentando assim, as dificuldades de resolução táctica
da situação.

4. Princípios (de orientação). A grande pressão sobre certos jogadores atacantes deverá originar acções que
visam a libertação da marcação dos companheiros. Estas acções desenvolvem-se num quadro referencial, cujo
núcleo é representado pelo companheiro de posse de bola e o adversário directo, tendo este quadro como princí-
pio a interposição de um jogador atacante entre os dois jogadores referidos. Este aspecto reflecte o princípio da
exigência fundamental do futebol dos nossos dias, do qual se traduz que em todos os momentos os jogadores
devem estar disponíveis, no sentido de oferecerem o máximo de possibilidades de resolução táctica ao com-
panheiro de posse de bola, criando simultaneamente as condições mais desfavoráveis à marcação dos atacantes
e à visualização da bola e da sua possível trajectória. A maximização da eficiência dos esquemas tácticos, devem
incluir os dois objectivos enunciados para as cortinas/écrans, consubstanciado pela coerente e coordenada acção
204 Guia prático de exercícios de treino

dos jogadores envolvidos nestes esquemas.

Temporização

1. Definição. São acções técnico-tácticas individuais e colectivas, de natureza ofensiva desenvolvidas no absolu-
to respeito dos princípios (gerais e específicos) do ataque, que visam assegurar as condições mais favoráveis ao
cumprimento dos objectivos tácticos momentâneos (temporários) da equipa.
2. Objectivos. O objectivo fundamental da acção de temporização é ganhar o tempo suficiente para assegurar o
cumprimento dos objectivos tácticos momentâneos (temporários) da equipa, que poderão ser:
(1) O jogador de posse de bola consegue devido aos seus comportamentos técnico-tácti-
cos atrair para si a atenção, de um ou vários adversários, por forma a que estes diminuam

Foto cedida pelo jornal O JOGO


a vigilância ou mesmo a marcação: i) aos seus companheiros, que poderão ser solicitados
pelo portador da bola em qualquer momento, e, ii) de espaços de jogo vitais, os quais
exigem o rápido deslocamento para o seio dessas zonas, para os quais devem ser dirigidos
os passes.
(2) Para que os companheiros se desloquem e se posicionem em espaços vitais de jogo
(colocação no ataque), por consequência mais favoráveis e vantajosos para o cumprimen- Foto 298.
to dos objectivos do ataque, ou por outro lado, para que os companheiro(s) saiam de Assegurar as
posições irregulares do ponto de vista das leis do jogo (fora-de-jogo). condições mais
favoráveis
(3) Manter a iniciativa do jogo, surpreender o adversário a cansá-lo fisicamente, obrigan-
do-o a jogar sobre uma grande pressão psicológica e a entrar em crise de raciocínio tácti-
co.
(4) Devido à grande dinâmica do jogo de futebol, observam-se con-
tinuamente movimentações que procuram estabelecer uma ocu-
pação racional do espaço de jogo, no entanto, há momentos em que
Foto cedida pelo jornal O JOGO

é necessário proporcionar um tempo mais ou menos alargado para


que haja uma reocupação clara do dispositivo táctico de base da
equipa.
(5) Proporcionar o restabelecimento físico de certos jogadores, que
Foto 299. Esperar que os companheiros se colo- por pequenos choques com os adversários, ou por uma elevada
quem em espaços vitais de jogo prestação nos momentos anteriores à situação presente de jogo, não
estão nas melhores condições.
(6) Manter a posse da bola para assegurar o resultado numérico momentâneo de jogo; e,
(7) Quebrar o ritmo de jogo do adversário imprimindo um ritmo de jogo mais conveniente à sua própria
equipa, ou por último criar uma falsa noção de ritmo, que propor-
cione uma acentuação da iniciativa do ataque.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

3. Meios. As condicionantes favoráveis para a realização das


cortinas/ecrans podem ser analisados sob as seguintes vertentes:
3.1. Gerais. A temporização é fundamentalmente observada durante
a fase de construção do processo ofensivo. Assim o jogador de posse
de bola consoante, a análise: i) dos objectivos tácticos momentâneos
(temporais) da equipa e, ii) da variação das situações momentâneas de Foto 300. Reocupação clara do dispositivo
jogo, que determinam a selecção de comportamentos técnico-tácticos, táctico da equipa
optando pela diminuição, ou aumento do ritmo do processo ofensivo
da sua equipa.
3.2. Específicos. Do exposto, a temporização resulta da procura constante em conciliar uma intenção táctica
individual (jogador de posse de bola) e uma intenção táctica colectiva (companheiros):
(1) No que respeita ao jogador de posse de bola exige-se:
A organização dinâmica do jogo de futebol 205

A. Clara compreensão dos objectivos tácticos da equipa: i). Percepcionando as condições do sistema de
jogo da equipa, ii) observando se existem companheiros que não estejam em condições físicas (neces-
sitem de assistência médica), iii) se existe uma ocupação racional do sistema de jogo aceitável, não haven-
do assim grandes desequilíbrios nos vários sectores e corredores de jogo e, iv) os prós e os contra, de
assumir um aumento ou diminuição do ritmo atacante da sua equipa, em função do resultado numéri-
co do jogo.
B. Clara visão da situação momentânea de jogo, utilizando
acções técnico-tácticas que alterem os ângulos relativa-

Foto cedida pelo jornal O JOGO


mente, aos seus companheiros, com as seguintes intenções:
i) mobilizar a atenção e por conseguinte a desconcentração
de um ou mais adversários, que marcavam na circunstância
os seus companheiros, ii) tornar o jogo imprevisível do
ponto de vista defensivo, podendo a todo o momento, exe- Foto 301. Manter a iniciativa do jogo
cutar acções técnico-tácticas em direcção a um ou outro
corredor ou sector de jogo e, iii) assegurar a protecção da bola, esperando o momento mais favorável
para a resolução táctica, escolhendo, decidindo e executando, a acção técnico-táctica mais adequada (e
não a mais fácil).
(2) No que respeita aos jogadores em deslocamento, exige-se:
A. Clara compreensão dos objectivos tácticos momentâneos da sua
Foto cedida pelo jornal O JOGO

equipa e do companheiro de posse de bola, para que haja uma


intenção colectiva, consubstanciada num grande sentido de jogo
colectivo. Fixam-se conceitos de disciplina e responsabilidade táctica,
Foto 302. Quebrar o ritmo de jogo do adversário os quais são o sentido de uma ocupação racional constante do espaço
de jogo e do doseamento do esforço físico.
B. Concentração nas situações momentâneas de jogo, tendo um
espírito de sacrifício e colaboração constantes, para a criação de condições mais favoráveis à concretiza-
ção dos objectivos tácticos da equipa.
4. Princípios Os princípios de orientação na execução dos deslocamentos ofensivos devem assumir dois
domínios fundamentais:
4.1. Gerais. A variabilidade das situações momentâneas de jogo e dos objectivos tácticos da equipa, determi-
nam uma inferência dinâmica e contínua, dos aspectos condicionantes e inerentes ao centro da acção de jogo
(situação), e a necessidade de uma atenção concentrada das condicionantes que se encontram longe desse cen-
tro. Obriga assim, os jogadores a fazerem um balanço mais global do jogo, dos interesses momentâneos e fun-
damentais da equipa e do modo de os cumprir, mesmo que "pareça" que se tenham de utilizar acções técni-
co-tácticas individuais e colectivas que não concretizam de imediato os objectivos do jogo de futebol.
4.2. Específicos. O jogador de posse de bola deve consubstanciar os seus comportamentos técnico-tácticos,
através de acções individuais até que estejam cumpridos parte dos objectivos que determinaram o seu com-
portamento. Estas acções individuais, baseiam-se em procedimentos técnico-tácticos que visam a protecção-
conservação da bola, (condução, drible, finta e simulação), compreendendo a sua corresponsabilidade, em
função das condicionantes que cada situação de jogo e dos objectivos tácticos que em si se encerram. Cabe ao
jogador optar pelas soluções que permitam concretizá-los simultaneamente.
Os esquemas tácticos ofensivos

1. Definição. São soluções estereotipadas, previamente estudadas e treinadas para as situações de bola parada
(livres, pontapés de saída, de canto, lançamento da linha lateral, etc.). Representam uma forma de combinação
táctica, ou seja, a coordenação das acções individuais de vários jogadores de natureza ofensiva, que visam asse-
gurar as condições mais favoráveis para a concretização imediata do golo durante as fases fixas do jogo.
206 Guia prático de exercícios de treino

2. Objectivos. Em síntese, o objectivo fundamental dos esquemas tácticos ofensivos é assegurar as condições
mais favoráveis à concretização imediata do golo: dos dados das análises
do jogo de futebol, concluí-se que entre 25 e os 50% das situações de final-
ização e de criação das situações de finalização, têm por base as soluções

Foto cedida pelo jornal O JOGO


tácticas a partir de bola parada. Mais importante é o facto de os jogos
importantes (entre equipas com os mesmos níveis de rendimento) serem
cada vez mais decididos através de golos que derivam de livres, lança-
mentos da linha lateral, pontapés de canto, pontapés de grande penali-
Foto 303. Os esquemas tácticos ofensivos
dade. Hughes (1980), refere que "entre 1966 e 1986 decorreram seis finais
do Campeonato do Mundo, onde foram marcados 27 golos, 13 dos quais
foram conseguidos a partir de situações de bola parada e outros cinco foram marcados logo a seguir a essa situ-
ação. As razões deste facto são perfeitamente compreensíveis, sendo basicamente três: i) nos jogos importantes
a marcação é muito pressionante, não dando assim muito tempo e espaço para que se possa jogar, ii) quando
existe menos tempo e espaço para se jogar é difícil para os atacantes con-
seguiram deslocar-se para posições perigosas e, iii) nos jogos com marcações
muito cerradas existem normalmente mais faltas e consequentemente mais
livres.
Daí a importância que é dada pelas equipas, no treino e na maxi-
mização da eficácia destas soluções, que oferecem igualmente o tempo e a
oportunidade de se reajustar em posições, distâncias entre os vários
elementos, acertar marcações e ocupar racionalmente o terreno de
jogo, em função das situações. Deste facto, se pode retirar a
Foto cedida pelo jornal O JOGO

importância atribuída pelas equipas, à concepção do treino e à max-


imização da eficiência destas soluções. Esta eficácia, traduz-se fun-
damentalmente pela iniciativa que a equipa de posse de bola
Fotos 304/305. Assegurar as condições mais
favoráveis à concretização do golo
usufrui, surpreendendo os adversários e obrigando-os a cometer
erros. Nas situações de bola parada, o factor tempo dá a possibili-
dade e a oportunidade de os jogadores se posicionarem em espaços que maximizem as suas potencialidades (téc-
nicas-tácticas-físicas) específicas, na procura constante de os colocar em condições favoráveis para a concretiza-
ção imediata do golo. Segundo Hughes (1980) "existem cinco vantagens básicas que determinam a eficácia destas
situações:
(1) São sempre executadas com a bola parada. Por
conseguinte o problema do controlo da bola é elim-
inado.
(2) Os adversários têm sempre que se colocar a pelo
menos 9,15 metros, por conseguinte não existe
pressão sobre a bola.
Foto cedida pelo O JOGO

(3) Um grande número de atacantes (8 ou 9), podem deslocar-se para


posições perigosas para a equipa adversária.
(4) Os jogadores colocam-se em posições pré-planeadas para maxi- Fotos 306/307. Treino sistemático de bolas
mizar as suas capacidades individuais. paradas
(5) O treino sistemático destas situações produz níveis de sincroniza-
ção dos movimentos.

3. Meios. Os meios fundamentais para a concepção dos esquemas tácticos, devem assegurar os seguintes aspec-
tos:
3.1. Um dispositivo fixo, no qual os jogadores e a bola circulam de uma forma pré-estabelecida. No entanto,
deve igualmente ter um carácter espontâneo e criador, relacionando o nível de organização ofensiva e defen-
A organização dinâmica do jogo de futebol 207

siva, em função da situação momentânea de jogo. A sucessão de procedimentos técnico-tácticos dos jogadores
deve ser lógica, coerente e de acordo com um "cenário" de jogo convincente para a equipa adversária, sendo
esta levada a ler incorrectamente a situação, e consequentemente a optar por medidas menos eficazes, ou seja,
cometer erros.
3.2. A execução dos esquemas tácticos ofensivos exigem:
A. No que diz respeito ao jogador que repõe a bola: (1) um claro conhecimento da solução táctica e das
suas variantes, (2) uma reposição de bola no momen-
to certo, articulado com a movimentação dos seus
companheiros, e, (3) uma eficaz execução técnico-

Foto cedida pelo jornal O JOGO


táctica de reposição da bola.
B. No que respeita aos jogadores que participam
directamente no esquema táctico: (1) claro conheci-
mento da solução táctica e as suas variantes, (2) coor-
denação eficaz do objectivo do seu comportamento e Foto 308. Estabelecimento de um dispositivo fixo para a exe-
dos seus companheiros, e, (3) estar sempre preparado cução das situações de bola parada
para a eventualidade de finalizar mesmo que no
treino dessa solução táctica não tenha sido o escolhido para o fazer.
C. Os esquemas tácticos envolvem normalmente um grande número de jogadores para se tirar o máximo
de rendimento destas situações. Este facto determina, consequentemente, a aplicação de medidas preventi-
vas para se minimizar o eventual risco (no caso da execução deficiente destas soluções tácticas). Daqui se
infere igualmente, a necessidades dos jogadores que não estão directamente envolvidos nos esquemas tác-
ticos, terem o conhecimento com a mesma exactidão e responsabilidade, que os restantes companhei-ros.
D. O tempo necessário para a execução dos esquemas tácticos ofensivos, é suficiente para se poderem rea-
justar as posições, as distâncias e a concentração psíquica dos jogadores, de forma a se prepararem para a
sua execução. Normalmente nestas situações, o tempo concorre a favor do ataque, no entanto, não se deve
perder a oportunidade de se repor rapidamente a bola em jogo, mesmo que o dispositivo fixo não esteja
ainda totalmente concretizado, desde que se tire maiores vantagens de uma desconcentração (atenção), dos
jogadores adversários e de uma organização defensiva precária.
E. As diferenças fundamentais entre os esquemas tácticos ofensivos e as combinações tácticas segundo,
Teodorescu (1984) são as seguintes: i) maior complexidade, ii) só são utilizados nos momentos fixos do
jogo, iii) maior rigidez e estereótipo, iv) dispositivo fixo de circulação de jogadores e da bola, enquanto que
as combinações tácticas têm um carácter espontâneo e criador em função da fase do jogo.

As formas de se conseguirem mais situações de bola parada, segundo Hughes (1990), são as seguintes:
(1) Passar a bola para o espaço nas "costas" da defesa adversária. Os passes para o espaço nas "costas" dos
defesas causam-lhes sempre problemas, porque partem para uma posição desconfortá-vel, tendo que rodar
em direcção à sua própria baliza.

(2) Através de cruzamentos. Os cruzamentos para as "costas" da defesa, especialmente para a zona central
causam um desconforto enorme aos defesas. Na maioria dos casos, estes ao deslocarem-se em direcção à sua
própria baliza, jogam a bola para lá da linha final.
(3) Através de dribles. Os atacantes, ao optarem por uma situação
de 1x1 na zona ofensiva, poderão retirar grandes dividendos,
Foto cedida pelo jornal O JOGO

através de situações (de pontapés livres directos ou indirectos)


muito vantajosas para a sua equipa.
(4) Pressionando os defesas. Quando a bola é introduzida nas
"costas" da organização defensiva, os atacantes devem pressionar Foto 309. Colocar constantemente os defeesas
constantemente os adversários (mesmo que estes cheguem em posições desconfortáveis
208 Guia prático de exercícios de treino

primeiro à bola), disputando com eles a bola, diminuindo-lhes o tempo e o


espaço para a poderem jogar. Esta limitação (em termos de tempo e
espaço), determina que a execução técnica tenha que ser perfeita, logo, se
os defesas não estão confiantes da sua capaci-
dade, frequentemente entram em pânico. Neste
sentido, embora pareça estranho, todos os defe-

Foto cedida pelo jornal O JOGO


sas devem estar marcados por um atacante, os
quais mesmo não tendo a certeza de chegar
primeiro à bola, devem tentar disputá-la com o
defesa adversário.
Fotos 310/311. Colocar a bola no espaço nas
(5) Rematando. Quanto mais uma equipa
“costas” da defesa
rematar, mais oportunidades tem de criar situ-
ações secundárias de remate. Algumas advêm de ressaltos e outras de pontapés de canto. As equipas devem
estar preparadas para rematar em qualquer opor-
tunidade, sobre esta pressão os defesas têm mais
Foto cedida pelo jornal O JOGO

pro-babilidades de cometer erros e originar mais


situações de bola parada.

Aplicando estas cinco formas po-sitivas,


aumentar-se-á o número de situações de bola para-
da. Todavia, isto não significa que uma equipa deva ter como objec-
tivo estas si-tuações. O
que é importante com-
Fotos 312/313. Executando acções de cruzamento
Foto cedida pelo jornal O JOGO

preender é que estas situações, ao reunirem


condições favoráveis, irão aumentar as possi-
bilidades de se atingir o golo.
Fotos 314/315. Pressionando os defesas para
4. Princípios. Os princípios fundamentais de
cometerem faltas
orientação para a concepção dos esquemas
tácticos ofensivos, devem assegurar os
seguintes aspectos:
(1) Criar um "cenário" convincente, que permita mobilizar
a atenção, e por conseguinte, a desconcentração de um ou
Foto cedida pelo jornal O JOGO

vários adversários. Os defesas, ao desconhecerem as acções


individuais e colectivas que
envolvem a concretização do esque-
ma táctico, podem ser induzidos em
Foto cedida pelo jornal O JOGO

Fotos 316/317. Executando acções de remate


erros, centrando a sua atenção em
outros elementos que lhes pareçam
mais prováveis de acontecer (surpresa). Torna-se assim o jogo ofensivo mais impre-
visível para os defesas.
(2) Para a concretização da solução táctica, os deslocamentos dos jogadores devem car-
Foto 318. Criação de
acterizar-se pelo desenvolvimento de procedimentos técnico-tácticos rápidos, com um cenário convin-
mudanças de direcção e utilizando pequenas fintas de simulação do verdadeiro sentido cente
da corrida.
A organização dinâmica do jogo de futebol 209

(3) A utilização de acções de protecção (cortinas/écrans), especialmente sobre: i) o guarda-redes, para aumen-
tar a dificuldade de leitura da situação de jogo e, ii) jogador que irá executar a acção técnico-táctica, enco-
brindo a partida e trajectória da bola.
(4) Nas paragens momentâneas de jogo verifica-se uma menor concentração (atenção) dos jogadores. Isto
determina, que os jogadores escalonados para as várias soluções tácticas de bola parada, devem imediatamente
ocupar as suas posições dentro do dispositivo fixo, tentando rentabilizar uma possível reposição rápida da
bola em jogo, beneficiando de uma menor atenção dos jogadores adversários.
(5) Colocação de jogadores em determinados espaços, com funções que maximizem as suas potencialidades
individuais, criando-se as condições mais favoráveis para a sua exteriorização.
(6) Colocação dos defesas a uma certa distância (regulamentada pelas leis do jogo), a qual determina que o
problema da pressão não seja equacionado, logo, o jogador que repõe a bola poderá concentrar-se funda-
mentalmente no momento mais favorável para a concretização da solução táctica.
(7) Os esquemas tácticos devem utilizar-se poucas vezes durante o mesmo jogo, para que os adversários não
se habituem às intenções e às manobras tácticas dos jogadores nestas situações de jogo. Assim, dever-se-á
introduzir uma ou duas variantes na construção dos esquemas tácticos.
(8) Dever-se-ão igualmente criar situações de "conflito" com os adversários e com o árbitro, (posição da bola,
distância da barreira, etc.), com o intuito de mobilizar a atenção dos adversários para outros pormenores de
menos interesse.
(9) Alguns treinadores são “obcecados” pela variedade na execução das situações de bola parada. A variedade
não é recomendada. Na maior parte das situações, a melhor variedade é a variedade sobre um tema base que
é eficiente e manter constantemente a equipa adversária na expectativa. Existe um preceito na organização das
situações de bola parada, "quanto mais directo e simples for executado, mais probabilidades de sucesso terá a
situação" (Hughes, 1980, 1990).

Vejamos alguns princípios específicos na execução dos esquemas tácticos:


1. lançamentos da linha lateral
As modificações referentes às Leis do jogo que regulamentam a execução dos lançamentos da linha
lateral irão consubstanciar que a situação de bola parada mais frequente do jogo de futebol venha a assumir, não
somente uma simples forma de recomeçar o jogo, mas sim, um momento extremamente vantajoso para o
processo ofensivo. As vantagens acrescidas desta situação de bola parada devem-se a dois factores essenciais:
(1) A execução do lançamento da linha lateral, ao ser executado com os pés, determina uma maior amplitude
e rapidez na progressão do centro do jogo em direcção à baliza adversária, tendo igualmente um maior
número de companheiros a quem passar a bola e, por inerência, um maior número de opções ofensivas.
(2) Os ângulos em que o atacante se posiciona, relativamente à baliza adversária, para executar o lançamen-
to da linha lateral pode ser mais propício à criação das condições imediatas à concretização do golo. Nestas
circunstâncias, vejamos alguns exemplos: os lançamentos perto da linha final assumem-se claramente como
pontapés de canto, com a vantagem (ofensiva) de serem executadas sob um ângulo mais fácil para cruzar, o
que consequentemente, determina um ângulo de contacto/ataque na bola de menor dificuldade para os com-
panheiros que se deslocam para a grande área. Os lançamentos da linha lateral no meio-campo podem assim
atingir de imediato a baliza adversária, não havendo a necessidade de repôr a bola em jogo para reiniciar a
fase de construção do processo ofensivo.
Existem seis aspectos importantes na execução dos lançamentos de linha lateral:
(1) Executá-lo rapidamente: se a concentração dos defesas diminui quando a bola sai do terreno de jogo, é
importante expô-los novamente à presença desta. Neste sentido, o lançamento da linha lateral deve ser exe-
cutado rapidamente, o que significa que o jogador mais perto deverá executar a acção. A única excepção a
esta regra verifica-se quando se executa o lançamento de linha lateral para/ou na zona ofensiva, necessitan-
do-se de mais tempo para que os companheiros se desloquem para posições mais avançadas, ou para entre-
gar a bola ao especialista de passes longos para dentro da área.
210 Guia prático de exercícios de treino

(2) Executar o lançamento da linha lateral para um companheiro sem


marcação: o companheiro sem marcação poderá iniciar o ataque
mais rapidamente que qualquer outro jogador. Se por qualquer razão
não existir ninguém na posição para receber a bola nas melhores
condições dever-se-á esperar que os companheiros se desmarquem.
(3) Executar o lançamento da linha lateral em direcção à baliza adver-
sária: o lançamento da linha lateral deverá, sempre que possível, ser exe-
cutado em direcção à baliza adversária. Existem todavia excepções a esta
regra como é o caso de a acção ser realizada na zona ofensiva.
(4) Executar o lançamento da linha lateral por forma a que o companheiro possa recepcionar
Foto cedida pelo jornal O JOGO

a bola facilmente: o lançamento da linha lateral é, para todos os efeitos, um passe. A bola dev-
erá ser entregue com a mesma consideração que um passe, ou seja, lançando-a para um
espaço, e sob um ângulo, que possibilite ao receptor um controlo fácil da bola.
(5) Criar o espaço suficiente para que o lançamento da linha lateral seja eficiente: os jogadores
Foto 319. O
lançamento da
erram ao posicionar-se muito perto do companheiro, ou ficam estáticos à espera da bola. Com
linha lateral efeito, estes devem deslocar-se, afastando-se ou aproximando-se do companheiro que irá exe-
cutar o lançamento, criando assim grandes dificuldades de marcação aos defesas contrários.
(6) Executado o lançamento o jogador deverá entrar rapidamente no jogo: uma vez executa-
do o lançamento da linha lateral, o jogador deve deslocar-se imediatamente para dentro do terreno de jogo,
dando simultaneamente cobertura ao companheiro de posse de bola e procurando criar superioridade
numérica nessa zona do campo.

2. Livres directos ou indirectos


Potencialmente são um factor muito importante para a obtenção de golos. São mais os golos marca-
dos como resultado de livres, que de pontapés de canto conjuntamente com os lançamentos da linha lateral:
(1) Os livres directos fora da zona ofensiva (3/3 da zona do campo). Têm uma possibilidade muito remota
de se conseguir golo através de uma execução directa. Assim, o ênfase deve ser posto numa execução rápida,
para retirar vantagem de qualquer lapso de concentração por parte dos defesas. Nestas circunstâncias, logo
que o livre é apontado pelo árbitro, dois jogadores devem deslocar-se em direcção à bola e recomeçar o jogo
prontamente, observando a possibilidade de mudar o ângulo de ataque, enquanto os jogadores colocados em
posições avançadas se deslocam para a baliza adversária, tendo em atenção o fora-de-jogo;
(2) Os livres dentro da zona ofensiva: a partir dos corredores laterais dever-se-á: i) cruzar a bola para as
"costas" da defesa, e, (2) pressionar os defesas. O cruzamento apresenta dois aspectos importantes:
A. O primeiro refere-se fundamentalmente ao jogador que executa a acção:
(1) A área alvo do cruzamento. É a área delimitada pela marca da grande penalidade e pela linha da
pequena área.
(2) O cruzamento. Existem três fases nesta acção: i) observação: perante a situação é fundamental veri-
ficar-se se é possível cruzar de imediato, ou se se deve esperar por melhores condições para o fazer, ii)
decisão. Em função da observação, decidir que tipo de cruzamento executar e, iii) execução. Os melhores
cruzamentos são aqueles que tornam o trabalho dos defesas mais difícil. Isto significa que o cruzamen-
to deve ser executado para as "costas" da defesa, colocando a bola com velocidade e a meia-altura.
B. O segundo consubstancia os aspectos fundamentais dos jogadores que se deslocam para a área alvo:
(1) O deslocamento antes do cruzamento. Enquanto os defesas têm a tendência natural de se deslocarem
em direcção à bola, os atacantes deverão deslocar-se afastando-se destes. Isto põe de imediato um grande
problema defensivo, como ver a bola e o atacante simultaneamente? Nestas circuns-tâncias, os atacantes
devem afastar-se dos seus adversários directos dissimulando as suas intenções. Deslocam-se numa
primeira fase em direcção à bola e rapidamente mudam de direcção e velocidade para o lado oposto, tor-
nando assim o trabalho defensivo muito complexo.
A organização dinâmica do jogo de futebol 211

(2) O momento do deslocamento para


o cruzamento. O deslocamento para a

Foto cedida pelo O JOGO


área alvo deve ser retardada o mais
possível para que o jogador não tenha
que esperar pela vinda da bola.
Idealmente o atacante e a bola devem
chegar à área alvo ao mesmo tempo.
(3) O ângulo de deslocamento para o cruzamento. Quanto maior
for o ângulo entre o deslocamento do jogador e a trajectória da
Fotos 320/321. Observar, decidir e execu-
bola mais eficiente, será o contacto com a mesma.
tar o cruzamento
(4) O contacto com a bola. Se o deslocamento do atacante for exe-
cutado no momento e num ângulo correctos, o contacto com a bola torna-se a fase mais importante, a
qual deve ser realizada na metade superior da bola, para assegurar que
esta não suba. Directamente ligado aos cruzamentos está o problema do
cabeceamento.
(3) Os livres dentro da zona ofensiva. A partir
do corredor central, dever-se-á:
A. Evitar em qualquer momento que o guarda-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

redes veja a bola.


B. Utilizar dois ou mais jogadores para a exe-
cução do livre, para que o adversário não saiba
quem vai marcar o livre. Os atacantes aproxi-
mam-se da bola a partir de diferentes ângulos,
Fotos 322/323/324. Deslocamento, momen-
to, ângulo e contacto com a bola são aspectos
podendo executar diferentes tipos de remate. O
fundamentais em resposta aos cruzamentos jogador que não remata poderá executar uma
cortina/écran para impedir que os defesas vejam
a partida da bola.
Por último existem quatro factores importantes na execução do livre: i) compreender que acção téc-
nica é mais eficiente, ii) jogar a bola simples e directa, iii) jogar a bola com precisão, iv) determinação por parte
dos atacantes em pressionar os defesas contrários e, v)
observar atentamente os jogadores adversários que não
Foto cedida pelo jornal O JOGO

estão na barreira.

3. A grande penalidade
A importância da grande penalidade tem
aumenta-
do nos Foto 325. Livres directos no corredor central de jogo
últimos
anos,
sendo normalmente usado para decidir finais de jogos do
Campeonato do Mundo, da Europa, etc. A
eficácia da grande penalidade é o resultado da
combinação de três aspectos fundamentais:
Foto cedida pelo jornal O JOGO

(1) Ideias claras sobre a execução da grande


penalidade, baseado num treino específico e sis-
temático.
(2) O correcto temperamento. O jogador ao
Fotos 326/327. Livres indirectos dentro da grande área executar a grande penalidade tem ser capaz de
212 Guia prático de exercícios de treino

alhear-se de tudo à sua volta, demonstrando


serenidade e tranquilidade, convencendo-se

Foto cedida pelo jornal O JOGO


em absoluto de que irá ter sucesso.
(2) Correcta técnica. O jogador deverá con-
centrar-se confiante e positivamente na exe-
cução técnica. Existem duas técnicas para a
sua execução: i) colocação ou, ii) potência.
Todavia, seja qual for a escolha, o jogador
executá-la-á sem indecisões.

4. O pontapé de canto Fotos 328/329/330. A grande penali-


O pontapé de canto não é tão importante como os livres, sendo a dade
são a fonte de numerosos golos. Existem dois tipos básicos de pontapés de
canto:
(1) Cantos curtos. Objectivo fundamental é de concretizar superioridade numérica (2x1, 3x2) nessa área do ter-
reno de jogo, tomando vantagem das leis que obrigam os adversários a se posicionarem no mínimo a 9,15 me-
tros da bola. Esta vantagem é usada para arquitectar um posicionamento mais perigoso perto da baliza adver-
sária e num ângulo mais correcto, tentando desorganizar a defesa. Contudo, os cantos curtos não são a maior
fonte de golos, não havendo grandes vantagens em ter superioridade numérica nessa parte do terreno de jogo.
(2) Cantos longos. Existem dois tipos de cantos que dependem fundamentalmente da trajectória da bola em
direcção à baliza adversária, e que podem ser: com
"efeito" na bola por dentro e com "efeito" na bola por
fora.

As acções colectivas defensivas

Os deslocamentos defensivos

1. Definição. Os deslocamentos defensivos são


comportamentos
técnico-tácticos
individuais e colec-
tivos, desenvolvidos
no absoluto respeito
dos princípios
(gerais e específicos)
da defesa, visando assegurar, em última análise, a
cooperação e coerência dinâmica da movimentação
dentro do método defensivo, preconizado pela
equipa para o cumprimento dos objectivos funda-
mentais da defesa (defesa da baliza/recuperação da
posse da bola).
Foto cedida pelo jornal O JOGO

2. Objectivos. Os deslocamentos defensivos objectivam, em última


análise, um meio técnico-táctico fundamental para: (1) obrigar o
adversário de posse de bola a cometer erros, a optar pelas respostas Fotos 331/332/333/334/335. As consequências
tácticas menos convenientes e adaptadas à situação momentânea de do pontapé de canto
A organização dinâmica do jogo de futebol 213

jogo, (2) criar um menor número de possibilidades ao processo ofensivo adversário, o que determina conse-
quentemente a previsibilidade dos seus comportamentos técnico-tácticos e, (3) mesmo durante a fase defensiva,
a equipa deverá manter uma certa iniciativa de jogo, ao obrigar os jogadores adversários a jogar sobre uma forte
pressão técnico-táctica e psicológica. Em síntese, os objectivos dos deslo-
camentos defensivos são os seguintes:
2.1. Ocupar, restringir e vigiar de forma eficiente os espaços vitais à

Foto cedida pelo jornal O JOGO


progressão do processo ofensivo do adversário. Qualquer que seja o sis-
tema de jogo adoptado por uma equipa e a relação geométrica implíci-
ta nesse sistema, não permitem ocupar, restringir e vigiar o espaço total
de jogo. Assim, há a necessidade de se optar consciente e adaptada-
Foto 336. O deslocamento defensivo
mente pelos espaços mais importantes à persecução dos objectivos do
ataque adversário. A ocupação e a vigilância desses espaços vitais deter-
mina consequentemente a restrição do "tempo" para a execução técnico-táctica do processo ofensivo, encam-
inhando-o para outros espaços (menos perigosos), tornando desta forma o jogo ofensivo mais previsível em
termos defensivos.
2.2. Marcação efectiva dos jogadores posicionados em espaços vitais e que possam dar continuidade ao
processo ofensivo adversário. A marcação mais ou menos cerrada aos adversários que possam ser o elo de
transmissão do processo ofensivo, é um objectivo de extrema importância, determinando igualmente a pre-
visibilidade do jogo ofensivo. Devido às grandes variações momentâneas das condições de jogo, os jogadores
em processo defensivo passam por verdadeiros exames de maturi-
dade táctica, marcando cerradamente adversários que sejam ele-
mentos importantes nesse momento, ou seja, os que naquela situ-
ação táctica são elo de ligação do processo ofensivo. Este objectivo
pressupõe igualmente, a permanente preocupação por parte dos
defesas em prever e deduzir que acções irão ser levadas a cabo, tanto
pelos adversários, como pelos companheiros. Esta capaci-
dade dedutiva permite aos defesas accionar preventiva-
mente, para contrariar as acções dos adversários e ajudar
Foto cedida pelo jornal O JOGO

os comportamentos técnico-tácticos dos seus compan-


heiros.
2.3. Equilibrar ou reequilibrar constante e automatica-
mente a repartição de forças do método defensivo, con- Fotos 337/338. Encaminhar o atacante para
soante as situações momentâneas de jogo. Durante a recu- espaços menos perigosos
peração e ocupação do dispositivo defensivo da equipa, observam-se com uma certa liberdade e coerência,
deslocamentos compensatórios de adaptação à variabilidade das situações momentâneas de jogo, coordenan-
do-se assim, a repartição de forças necessárias ao equilíbrio do sistema pre-
conizado. As respostas técnico-tácticas, e a variabili-
dade das condições momentâneas das situações de
jogo, devem não só reflectir uma eficaz adaptabilidade
Foto cedida pelo jornal O JOGO

(plasticidade) a essa situação, como a consonância


dessa resposta, em função dos objectivos do jogo ou
da táctica da equipa. As redes de intercepção não são
automáticas, é sempre necessário que a equipa crie as
Fotos 339/340. Marcar cerradamente atacantes condições favoráveis à sua implementação e utilização,
que sejam elementos fundamentais na res-
consoante as situações variáveis de jogo (conjuntura).
olução táctica de jogo
O processo ofensivo visa assegurar ligações em largu-
ra e profundidade, com o objectivo de aumentar as dificuldades de marcação, procurando assim efectuar uma
rápida e segura progressão da bola. O processo defensivo tenta contrariar estas acções através da concen-
214 Guia prático de exercícios de treino

tração, diminuindo assim as possibilidades da


equipa se fragmentar e criar largos espaços de
jogo entre os defesas, estabelecendo uma certa
distância, coerente e homogénea entre os vários
sectores da equipa.

3. Classificação. Os deslocamentos defensivos


podem ser divididos em:
3.1. Deslocamentos que visam a recuperação defensiva. Os deslocamen-
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tos que visam a recuperação defensiva começam logo após a perda da
posse da bola e duram até à ocupação do método defensivo. Durante este
Fotos 341/342. Criação de situações de trajecto os jogadores têm como quadro referencial dois aspectos funda-
concentração à volta do atacante de posse mentais:
de bola (1) A linha de recuo. Recuperar o mais rapidamente possível tomando o
caminho mais curto. Este deverá “desenhar” uma recta desde o ponto
onde se posiciona o jogador até ao poste mais perto da sua baliza. Durante este deslocamento os defesas
devem:
A. Nunca perder o contacto visual com a bola.
B. Marcar adversários que possam dar seguimento ao processo ofensivo.
C. Marcar espaços por onde o processo ofensivo possa progredir.
D. Deduzir continuamente quais as intenções tácticas da equipa adversária.
(2) Até que posição recuperar. Há sempre um ponto em que o recuo defensivo termina. Este está depen-
dente da capacidade:
A. Da equipa, em fase defensiva, pressionar mais ou menos distante da sua própria baliza.
B. Técnico-táctica da equipa adversária progredir no terreno de jogo. Quando o jogador atinge a posição
de recuperação, deve executar uma das
seguintes cinco acções: i) pressionar o atacante
de posse de bola, ii) fazer cobertura ao compan-
heiro que marca o atacante de posse de bola, iii)
marcar um atacante que esteja no centro da
acção, iv) ocupar um espaço importante para a
segurança da própria baliza e, v) marcar o desloca-
mento de um atacante para o espaço nas "costas" da
defesa.
Figura 67. As linhas de recuo defensivo
(3) Nesta perspectiva, os jogadores em fase defensiva dev-
erão ajustar a velocidade de recuo e a posição final deste
recuo em função das particularidades enunciadas. No entanto, o jogador ao recuperar, poderá executá-lo
para:
A. Posições de base dentro do método defensivo preconizado.
B. Marcar um determinado adversário, onde quer que ele se encontre.
C. Outra posição dentro do método defensivo, visto que a sua posição e função já foi ocupada por outro
companheiro.

Podemos distinguir duas formas de deslocamento que visam a recuperação defensiva:


1. A recuperação intensiva. Apresenta como atitude fundamental, os jogadores concentrarem-se rapida-
mente em posições à frente da sua própria baliza, ocupando espaços e formando um bloco homogéneo.
2. A recuperação em pressing. É a forma de recuperação mais utilizada pelas equipas de alto rendimen-
to. A atitude deste tipo de recuperação fundamenta-se essencialmente numa forte pressão (ainda durante
A organização dinâmica do jogo de futebol 215

o trajecto) sobre espaços e jogadores adversários que possam dar continuidade à progressão do proces-
so ofensivo, tentando uma rápida recuperação da posse da bola. Para realizar este tipo de recuperação é
necessário: i) um grande espirito de sacrifício e solidariedade, ii) grande disciplina em termos tácticos,
iii) grande capacidade de leitura do jogo e, iv) grande capacidade físico-psicológica.
3.2. Deslocamentos para manter o equilíbrio
ou reequilibrar a organização defensiva

Foto cedida pelo O JOGO


propriamente dita. A grande variabilidade
das situações momentâneas de jogo são
determinadas fundamentalmente pela tran-
sitoriedade da posição da bola, dos jogadores
e dos espaços de jogo. Esta variabilidade
determina a adaptação da organização da própria equipa, consubstan-
ciada pelos deslocamentos dos jogadores, coordenados pela necessi-
dade de equilibrarem ou reequilibrarem a repartição de forças no ter- Fotos 343/344. Recuperação defensiva em
reno de jogo. Todas as movimentações, longe de serem independentes pressing
umas das outras, influenciam-se mútua e reciprocamente. Um jogador
intervém sempre na orgânica do jogo, quer seja o adversário ou o companheiro, facilitando ou contrariando
o jogo colectivo pelos seus deslocamentos. Portanto, dentro da organização da equipa deve existir um con-
junto de regras e normas (princípios específicos), que permitam uma melhor selecção e articulação orgânica
das acções técnico-tácticas individuais e colectivas. Reflectem no seu interior uma solidariedade orgânica e
regulativa desses mesmos comportamentos, que deve caracterizar-se por três aspectos fundamentais:
A. Manter uma correcta colocação, em função do sistema utilizado, bem como das particularidades dos
adversários.
B. Atender ao facto dos deslocamentos efectuados não perturbarem a circulação dos outros companheiros,
antes pelo contrário as favoreçerem.
C. Possibilitar a realização completa e oportuna dos procedi-
mentos técnicos de defesa.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

4. Meios. As condicionantes favoráveis para a realização dos


deslocamentos defensivos podem ser analisados sob as
seguintes vertentes:
4.1. Gerais. A forma geral de organização - método de jogo,
deverá ser um factor facilitador na execução das acções individuais
e colectivas dos jogadores exprimindo:
(1) Um bloco homogéneo em que os vários sectores da equipa se
posicionam perto uns dos outros, concentrando-se em espaços
importantes para a protecção da baliza, assegurando li-gações asso-
Fotos 345/346. Reequilibrar constantemente a ciativas fundamentais entre vários jogadores.
organização defensiva
(2) Utilização de mudanças
bruscas de ritmo e direcção, assumindo parte da iniciativa do ataque,
mantendo sempre uma pressão constante sobre espaços e adver-
sários directos.
(3) Utilização das acções técnico-tácticas de
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dobra.
4.2. Específicos. Os deslocamentos defensivos
resultam da reacção da equipa logo após a perca
da posse da bola. Esta reacção baseia-se em dois Fotos 347/348. Deslocar para recuperar ou para
tipos de comportamento, individual e colectivo, interromper o processo ofensivo
216 Guia prático de exercícios de treino

que se observam simultaneamente nos jogadores em processo defensivo:


(1) Marcação rigorosa e pressionante ao
adversário de posse de bola pelo defesa mais
próximo, com os seguintes objectivos:
A. Tentativa de entrar de novo na posse
da bola.
B. Impedir o relançamento imediato do
processo ofensivo adversário, e em
especial do contra-ataque.
C. Ganhar o tempo suficiente para
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a recuperação e organização do
método defensivo. Assim, o adver-
sário de posse de bola, qualquer
que seja e por onde quer que se
movimente, deve ser rigorosa- Fotos 349/350/351. Marcação rigorosa e pression-
ante do atacante de posse de bola
mente marcado de forma individ-
ual.
(2) Por jogadores em deslocamento que visam a ocupação do dispositivo defensivo exige-se:
A. Uma clara visão de jogo, percepcionando continuamente as movimentações dos adversários, com-
panheiros e trajectória da bola.
B. Utilização de atitudes e comportamentos técnico-tácticos, que alterem os ângulos de ataque, com a
intenção de tornar o jogo ofensivo previsível (do ponto de vista defensivo), obrigando-os a jogar num
certo sentido.
C. Fazer continuamente sentir aos adversários directos a sua presença, mobilizando-lhes a atenção, ten-
tando desconcentrá-los, utilizando inclusivamente pequenos contactos físicos.
D. A marcação contínua e coerente, principalmente sobre os jogadores atacantes que poderão dar mel-
hor seguimento ao processo ofensivo. A pressão sobre os restantes adversários deverá ser variável, obri-
gando-os a procurar saber constantemente
se estão ou não pressionados (factor psi-
Foto cedida pelo O JOGO

cológico).
E. A entreajuda entre os jogadores da equipa
em fase defensiva, deverá reflectir um sig-
nificado especial de comunicação e com-
preensão mútua.

5. Princípios. Os princípios de orientação


na execução dos deslocamentos defensivos
devem assumir dois domínios fundamen-
tais:
5.1. Gerais. A variabilidade das situações
momentâneas de jogo determina desloca-
mentos dos jogadores, exprimindo os seguintes princípios de orientação:
(1) Racionalização permanente do espaço de jogo: os deslocamentos dos
jogadores são coordenados pela necessidade de, a todo o momento, equi-
Fotos 352/353/354/355. Durante o deslo- librarem e racionalizarem o espaço de jogo onde evolui a organização
camento o defesa deverá fazer sentir a sua
presença através de pequenos contactos
defensiva;
físicos sobre o atacante (2) Deslocamentos dos jogadores a ritmos e direcções variáveis:
A. Obrigam os adversários a deslocarem-se para espaços menos perigosos.
A organização dinâmica do jogo de futebol 217

B. Visam permanentemente a protecção da baliza e dos caminhos possíveis à progressão do processo


ofensivo adversário.
(3) O movimento da bola deve implicar um deslocamento relativo de todos os jogadores:
A. Um jogador, em qualquer situação de jogo, jamais deverá estar parado.
B. A mudança do ângulo de ataque deve reflectir constantemente o deslocamento relativo do método
defensivo individual e colectivo de uma forma homogénea.
5.2. Específicos. O princípio fundamental da defesa é de reagir rapidamente à situação de perda de posse de
bola. Os comportamentos técnico-tácticos de marcação devem iniciar-se imediatamente após a perda da posse
da bola e em qualquer zona do campo. Estes manifestam-se através de um posicionamento em função: da
bola, dos adversários, dos companheiros e da baliza. Neste sentido, imediatamente após a perda de posse de
bola, os jogadores devem colocar-se entre a bola e a baliza. Por último, há que ter presente que uma defesa
bem organizada, está normalmente em superioridade numérica (em termos de centro do jogo) e somente a
passividade de alguns jogadores permite que os atacante ganhem o espaço e o tempo necessários, para atin-
girem os objectivos do ataque.

As compensações/desdobramentos defensivos

1. Definição. São acções técnico-tácticas individuais e colectivas, desenvolvidas no absoluto respeito dos princí-
pios (gerais e específicos) da defesa, que visam assegurar constantemente a ocupação racional do terreno,
cobrindo ou ocupando espaços, e assumindo posições e missões tácticas de companheiros, que num certo
momento estão envolvidos na realização de outras funções.

2. Objectivos. Em síntese, os objectivos das compensações/desdobramentos são os seguintes:


2.1. Ocupação racional do terreno de jogo.
2.2. Marcação do adversário de posse de bola, depois deste ter ultrapassado o seu companheiro (execução da
acção técnico-táctica de dobra, com o reajustamento automático de todos os companheiros em função da
"nova" situação de jogo). Estes objectivos evidenciam os seguintes aspectos: (1) excelente segurança defensi-
va, (2) criação de superio-ridade numérica, (3) reciprocidade no trabalho colectivo, (4) poucos espaços livres
e, (4) criação de condições desfavoráveis ao prosseguimento do processo ofensivo adversário.

3. Meios. Os meios fundamentais à execução das compensações/desdobramentos são os mesmos que foram
referidos para o processo ofensivo. Salienta-se, que o conjunto de acções dos jogadores de uma equipa, devem
exprimir um bloco homogéneo, que reflicta fundamentalmente: (1) um grande sentido de jogo colectivo, (2)
clara fixação dos conceitos de disciplina e responsabilidade táctica e, (3) grande espírito de sacrifício.

4. Princípios. Os princípios fundamentais à execução das compensações/desdobramentos são os mesmos que


foram referidos para o processo ofensivo. Salienta-se, que devido às incessantes mudanças das condições de jogo,
exigem-se deslocamentos permanentes aos jogadores, racionalizando
continuamente o espaço de jogo, em função: (1) da repartição equili-
brada das forças no terreno de jogo, (2) facilitação das acções de con-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

junto da sua própria equipa, (3) de evitar a compartimentação de


funções e missões específicas dos jogadores e, (4) estabelecimento de
regras de compreensão mútua dos jogadores, dentro do seio da equipa.
Foto 356. Criar constantemente situações de
As dobras superioridade numérica
218 Guia prático de exercícios de treino

1. Definição. As dobras são combinações tácticas

Foto cedida pelo O JOGO


que representam a coordenação das acções indi-
viduais de dois jogadores de natureza defensiva,
desenvolvidas no absoluto respeito dos princípios
(gerais e específicos) defensivos, que visam asse-
gurar a resolução de uma tarefa parcial (temporária) específica do jogo.

Fotos 357/358. As equipas estabelecem


2. Objectivos. O objectivo fundamental das dobras é a resolução táctica
acções que desesenvolvam o espírito colec- da situação de rotura momentânea da organização defensiva (numa certa
tivo e a solidariedade fase do jogo), equilibrando-a temporariamente, através da contenção dos
comportamentos técnico-tácticos do adversário de posse de bola.

3. Meios (condições favoráveis). As dobras assentam fundamentalmente numa leitura correcta da situação de
jogo, consubstanciada em deslocamentos rápidos para o centro da acção do jogo. Esta aproximação deverá pôr
em evidência dois aspectos importantes:
(1) A velocidade de aproximação (abrandamento dessa velocidade logo que o jogador adversário tenha a bola
perfeitamente dominada).
(2) O correcto ângulo de aproximação (pois condicionará o ângulo de passe ou remate do adversário).

4. Princípios. Em síntese, o princípio de orientação fundamental na execução das dobras é reagir rapidamente
ao desequilíbrio temporal da organização defensiva, através da marcação rigorosa e pressio-nante do adversário
de posse de bola, fazendo a contenção aos seus comportamentos técnico-tácticos, com os seguintes objectivos:
(1) Tentar ganhar, numa primeira fase, o tempo suficiente para que os restantes companheiros reequilibrem
colectivamente a organização defensiva.
(2) Defender a baliza conduzindo o adversário para espaços menos perigosos.
(3) Tentar recuperar a posse da bola tirando parte da iniciativa ao adversário através de: i) uma posição de
base correcta (em permanente equilíbrio para poder
reagir a qualquer iniciativa do adversário), ii) obser-
vação da bola (concentrando-se somente nos movi-
mentos desta), iii) paciencia (o tempo nestas situ-
ações concorre sempre a favor de defesa) e, iv) ter a
iniciativa.

Figura 68. As acções de dobra

A temporização

1. Definição. São acções técnico-tácticas individuais e colectivas de


Foto cedida pelo jornal O JOGO

natureza defensiva, desenvolvidas no absoluto respeito dos princípios


gerais e específicos da defesa, que visam o retardamento da progressão
do processo ofensivo adversário, com vista ao cumprimento dos objec-
tivos da defesa.
Foto 359. Ultrapassado o 1º defesa outro com-
panheiro deverá dobrá-lo por forma a estancar 2. Objectivos. O objectivo fundamental da acção de temporização é
o desenvolvimento do processo ofensivo assegurar o retardamento do processo ofensivo adversário, por forma
a ganhar o tempo necessário para que os companheiros se recoloquem
A organização dinâmica do jogo de futebol 219

dentro do seu método defensivo de base: a equipa


deverá reagir logo que se verifica a perda de posse
de bola, observando-se dois tipos de comporta-
mento:
(1) Marcação rigorosa ao adversário de posse de
bola:
A. Impedir que o adversário relance o processo ofensivo e em especial
que este renuncie ao contra-ataque.

Foto cedida pelo jornal O JOGO


B. Ganhar o tempo suficiente para que todos os jogadores se
enquadrem no método defensivo de base.
(2) Marcação de todos os jogadores que possam dar continuidade ao
Fotos 360/361. Recuperando-se a posição defen- processo ofensivo. Diminuir parte da vantagem (iniciativa) do
siva, há que respeitar os princípios inerentes às processo ofensivo adversário, obrigando-os a jogar sobre uma forte
situações de 1x1 pressão técnico-táctica e psicológica com o objectivo de:
A. Manter um ritmo de jogo mais conveniente para a sua própria
equipa.
B. Manter o resultado numérico momentâneo do jogo.
C. Recuperar fisicamente.

3. Meios (condições favoráveis). A acção de temporização defensiva, observa-se fundamentalmente no momen-


to do relançamento do processo ofensivo adversário, evitando-se que a equipa de posse de bola aproveite o
momentâneo desequilíbrio em que se encontra a
equipa que tem de passar a defender, ou seja, no
momento da mudança das atitudes e dos comporta-
mentos técnico-tácticos dos jogadores. De qualquer
forma, a temporização defensiva pode ser observada
em qualquer das fases pelas quais passa o processo
ofensivo, sendo objectivo desta acção essencialmente
o mesmo: ganhar tempo, tirar para si parte da iniciativa das situações
momentâneas de jogo. O contínuo retardamento de qualquer uma das
fases do processo ofensivo adversário, obriga-os a pensar em como con- Fotos 362/363. Marcação rigorosa do ata-
trariá-los, fazendo uso de procedimentos técnico-tácticos e a ter respostas cante de posse de bola
tácticas não tão eficazes como desejariam e, por consequência, a cometer mais erros, tornando assim, o jogo
ofensivo mais previsivel para a defensiva. Este facto pressupõe a permanente preocupação (por parte dos defe-
sas), em prever e deduzir quais as intenções dos adversários, permitindo accionar-se preventivamente acções que
as antecipem. Neste sentido, as situações momentâneas de jogo devem reflectir uma eficaz adaptabilidade (plas-
ticidade) através de respostas tácticas, utilizadas em consonância com os objectivos tácticos momentâneos da
equipa (jogar pelo lado da segurança ou do risco). Em últi-
ma análise, as acções de temporização defensiva asseguram
uma atitude que implica o retardamento da acção ofensiva,
tanto no espaço como no tempo, na medida em que está
ligado àquele e na medida em que as circunstâncias o per-
mitam.

4. Princípios (de orientação). Para que a acção de temporização defensiva


efectivamente resulte, é necessária a conjugação de procedimentos, ao nível: Fotos 364/365. Obrigar o atacante a
(1) Do jogador que marca o adversário de posse de bola cumpra os jogar sob forte pressão técnico-táctica e
objectivos específicos determinados para o 1º defesa (contenção), e, dos psicológica
220 Guia prático de exercícios de treino

outros companhei-ros que deverão marcar cerradamente os


jogadores adversários, ou espaços vitais que possam dar con-
tinuidade ao processo ofensivo.
(2) Outro princípio fundamental que faz parte da acção de tem-
porização defensiva, é a infracção às
leis do jogo. Estas poderão e deverão
ser utilizadas quando não houver
capacidade técnico-táctica de parar ou
retardar o processo ofensivo adver-
sário. Desde que os objectivos tácticos
da equipa e as situações momentâneas
de jogo assim o exijam, é necessário que os defesas, sem qualquer
tipo de reserva, utilizem a infracção a favor da equipa.

Foto cedida pelo jornal O JOGO


Fotos 366/367/368. Os defesas devem assegurar
uma atitude e um comportamento que impliquem
o retardamento do processo ofensivo

Cortinas/écrans

1. Definição. São acções técnico-


tácticas individuais e colectivas,
desenvolvidas no absoluto
respeito dos princípios (gerais e
específicos) da defesa e das leis do
jogo, desenvolvidas por um ou
mais jogadores que se posicionam
por forma a perturbar a acção dos
atacantes, estabelecendo uma protecção eficiente da própria
baliza e dos comportamentos do companheiro que recupera a
posse da bola.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

2. Objectivos. Em síntese, os objectivos fundamentais das


cortinas/écrans no processo defensivo são os seguintes:
2.1. Proteger os comportamentos técnico-tácticos de um
companheiro, aquando da recuperação da posse da bola:
(1) Estas acções são especialmente visíveis na protecção (corti-
na/écran) dada pelos defesas ao guarda-redes, no momento
Fotos 369/370/371/372/373/374. As em que este recupera a posse da bola.
infracções às Leis do jogo como forma de (2) Na ocupação de um espaço vital de jogo, aquando da mar-
temporização cação dos esquemas tácticos, para evitar que o adversário
ocupe esse mesmo espaço e efectue ele próprio acções de
cortina ou écran.
2.2. Protecção máxima da baliza. A protecção máxima da baliza é efectuada através da formação de barreiras
durante a execução de livres (directos ou indirectos) nas zonas predominantes de finalização, especialmente
A organização dinâmica do jogo de futebol 221

em ângulos frontais à baliza.

3. Meios. Estes comportamentos técnico-tácticos são o resultado da procura constante das condições favoráveis
à situação de recuperação de posse de bola e de protecção máxima da própria baliza. Para isso, é necessário uti-
lizar acções técnico-tácticos que consubstanciem a variação de ângulos e posições, relativas dos jogadores defe-
sas em função dos atacantes, com as seguintes intenções:
(1) Interpôr-se entre o atacante e o seu companheiro, para que este encontre as condições mais favoráveis à
recuperação da posse da bola.
(2) Interposição - formação de barreiras - entre a posição da
bola e a baliza própria nas situações de livre. As barreiras são
formadas por jogadores em acção defensiva que se colocam uns

Foto cedida pelo jornal O JOGO


ao lado dos outros, constituindo um bloco homogéneo que dev-
erá manter-se até depois da execução do livre.

4. Princípios. Os procedimentos técnico-tácticos individuais de


protecção ao jogador que recupera a posse da bola, devem carac- Foto 375. Protecção à acção técnico-táctica do com-
terizar-se por deslocamentos rápidos e directos para o seio do cen- panheiro
tro do jogo, obrigando o atacante a ter que percorrer uma maior
distância, pois terá que contornar o defesa, se quiser chegar primeiro à
bola.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

Foto 376. A formação de barreiras por forma


a realizar a protecção máxima da baliza

Os esquemas tácticos defensivos

1. Definição. São as soluções adaptadas para as situações de bola parada (livres, pontapés de baliza, de canto,
etc.). Representam a coordenação de acções individuais e colectivas de vários jogadores de natureza defensiva,
que visam assegurar as condições mais favoráveis à protecção máxima da baliza e à recuperação da posse da bola
durante as partes fixas do jogo.

2. Objectivos. Em síntese, o objectivo fundamental dos esquemas tácti-


cos defensivos é o de assegurar as condições mais favoráveis à protecção
da baliza e à recuperação da posse da bola durante as partes fixas do
Foto cedida pelo jornal O JOGO

jogo. De forma directa, entre 25 e os 50% das acções ofensivas a alto


nível que culminaram em golo, têm por base a resolução de situações de
bola parada. Se a esta percentagem somarmos as situações que derivam
indirectamente dos esquemas tácticos, depois da sua execução, com- Foto 377. Protecção da bola perante as
preendemos a importância e a necessidade das equipas aquando em acções agressivas do adversário
processo defensivo, procurarem:
(1) Evitar cometer infracções às leis do jogo, especialmente na zona defensiva, pois diminui em muito as pro-
babilidades da equipa adversária conseguir o golo.
(2) Planear e organizar as condições ideais de defesa em situações resultantes da marcação dos esquemas tác-
ticos.
222 Guia prático de exercícios de treino

(3) Prever as alterações possíveis, isto é, estabelecer um conjunto de cenários subsequentes à execução dos
esquemas tácticos, em termos defensivos (defesa da baliza) e ofensivos (uma vez recuperada a posse da bola
atacar de imediato a baliza adversária).

Durante o processo defensivo, e em especial nas zonas predominantemente defensivas, nem sempre
é possível recuperar de imediato a posse da bola, tal como nem sempre é possível afastar de imediato a bola das
zonas vitais do terreno de jogo, e nem sempre é possível evitar que o atacante directo consiga rodar e orientar
os seus comportamentos técnico-tácticos em direcção à baliza adversária. Com efeito, os defesas não devem estar
obcecados em concretizar um destes objectivos defensivos, ao ponto de cometerem infracções às leis do jogo que
determinam na maioria dos casos, situações mais vantajosas do ponto de vista ofensivo. Neste sentido, os
jogadores em processo defensivo, para além de evidenciarem as suas qualidades técnico-tácticas na procura de
diminuírem o tempo, o espaço e o número de opções tácticas do ataque adversário, deverão evidenciar igual-
mente os seus atributos psicológicos de concentração, paciência, auto-disciplina, ou seja, de maturidade táctica.
Todavia, mesmo as equipas de elevados níveis de rendimento, irão mais cedo ou mais tarde, cometer infracções
às leis do jogo longe ou perto da sua zona defensiva, nos corredores laterais ou central. Com efeito, para uma
melhor compreensão do problema das situações de bola parada é necessário encontrar as suas vantagens bási-
cas: i) são executados com a bola parada, não se pondo o problema do seu controlo, (2) não existe pressão defen-
siva sobre o atacante de posse de bola, devido às leis do jogo, (3) verifica-se uma mobilização de um grande
número de atacantes, posicionando-se em espaços vitais do terreno de jogo, (4) os atacantes posicionam-se em
espaços, por forma a maximizar as suas capacidades, e, (5) a acção sincronizada dos movimentos de todos os
atacantes. A raiz do problema defensivo em evitar a elevada percen-tagem da eficácia dos esquemas tácticos
ofensivos, advém fundamentalmente:
(1) Do facto de a equipa não estar suficientemente organizada para fazer face à situação de bola parada e à
situação subsequente à sua efectivação.

(2) Diminuição da concentração por parte dos defesas, devido à paragem momentânea do jogo, na qual alguns
deles argumentam com o árbitro ou com os adversários.
(3) Os jogadores deslocam-se para a sua posição de base dentro do dispositivo fixo da equipa, e uma vez
assumida essa posição, pensam que o problema está resolvido, esquecendo-se das tarefas específicas dentro do
esquema táctico defensivo, modificando assim as suas respostas técnico-tácticas em função das alterações ou
do desenvolvimento do esquema táctico ofensivo.
(4) Uma utilização incorrecta da vantagem de em todas as situações de bola parada os defesas se encontrarem
normalmente em superioridade numérica, em relação aos atacantes.

3. Meios. Os meios fundamentais para a concepção dos


esquemas tácticos defensivos, devem assegurar os
seguintes aspectos básicos:
3.1. Organização. Os esquemas tácticos defensivos
devem ser organizados, por forma a colocar os ata-
cantes adversários em condições desfavoráveis no
desenvolvimento dos esquemas tácticos ofensivos, como nas situações
subsequentes à sua execução. Neste sentido, pressupõe sempre o esta-
belecimento de um disposi-tivo fixo, no qual os jogadores se posi-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

cionam de forma pré-estabelecida. No entanto, deve igualmente ter


um carácter espontâneo se os atacantes conseguirem executá-lo rapi-
Fotos 378/379. Apesar da maturidade táctica
damente. Com efeito, dever-se-á requisitar os jogadores cujas partic- e da disciplina da equipa esta irá cometer
ularidades, independentemente da sua posição dentro do sistema tác- infracções às Leis do jogo
tico da equipa, melhor contribuam para uma eficiente defesa da bal-
A organização dinâmica do jogo de futebol 223

iza e recuperação da posse da bola. Daí a necessidade de todos os jogadores saberem em detalhe a sua missão
táctica específica na organização dos esquemas tácticos defensivos da equipa e desenvolverem concertada-
mente a sua acção.
3.2. Disciplina individual e colectiva. A eficácia e funcionalidade de uma equipa no seu conjunto depende
do cumprimento eficiente das suas missões tácticas específicas. Isto é sempre verdade, mas é premente nos
esquemas tácticos defensivos. Os jogadores que participam nos esquemas tácticos defensivos devem ter um
claro conhecimento das acções específicas da sua organização e das suas variantes (livres, pontapés de canto,
lançamentos da linha lateral, grandes penalidades, etc.), estar sempre preparados para assumir na eventuali-
dade as missões específicas do companheiro.
3.3. Concentração. Os lapsos de concentração são o maior problema dos esquemas tácticos defensivos. O
tempo necessário para a execução das situações de bola parada é o suficiente para se poder reajustar a posição,
as distâncias e a concentração psíquica dos jogadores por forma a prepararem a sua resolução (procurar o
adversário para marcar, ler a situação e antecipar as soluções que os atacantes procuram efectuar). Todavia,
se o dispositivo não estiver totalmente concretizado, os defesas deverão efectuar um esquema táctico defensi-
vo, tendo um carácter espontâneo.

4. Princípios. Os princípios fundamentais de orientação para a concepção dos esquemas tácticos, devem asse-
gurar os seguintes aspectos:
4.1. Nos livres directos ou indirectos. Potencialmente é um factor muito importante para a obtenção de
golos:
(1) No meio-campo do terreno de jogo. Os atacantes, nas situações de livre directo ou indirecto no meio-
campo, procuram repôr rapidamente a bola em jogo, por forma a aproveitar dois tipos de vantagem: i) pos-
sível lapso de concentração por parte dos defesas e, ii) explorar o espaço de jogo livre à sua frente (leis do
jogo). Em termos defensivos, um jogador deverá colocar-se imediatamente entre a bola e a baliza, procu-
rando concretizar os seguintes objectivos:
A. Bloquear a trajectória directa da bola em direcção à baliza, por
forma a que o atacante tenha que utilizar uma linha diferente, ou seja,
Foto cedida pelo jornal O JOGO

menos directa.

B. Obrigar o atacante a executar uma acção técnico-táctica mais com-


plexa, o que determinará igualmente uma recepção mais difícil da bola
Foto 380. Organização, disciplina individual e por parte de um dos seus companheiros.
concentração são os aspectos básicos da defesa C. Temporizar o ataque adversário, ganhando algum tempo, que deve
perante situações de bola parada ser utilizado na marcação dos atacantes posicionados em profundidade
e nos espaços vitais de jogo. Marcação pressionante dos atacantes que
eventualmente desenvolvam deslocamentos ofensivos de rotura.
(2) a zona defensiva. O perigo dos livres (directos ou indirectos) aumenta à medida que estes são conce-
didos nas proximidades da baliza. Neste sentido, é importante que se construa uma barreira para con-
cretizar uma melhor protecção da baliza, sendo esta uma peça importante e detalhada da organização da
equipa. Existem cinco questões fundamentais na construção de uma barreira:
A. A rapidez de formação de uma barreira. A formação da barreira deve ser tão rápida quanto possív-
el, daí a necessidade de a sua construção ser previamente planeada e treinada. Todos os jogadores que
participam no esquema táctico defensivo deverão ter um claro conhecimento quanto à sua posição, quais
as suas funções específicas, coordenando eficazmente o seu comportamento com o dos restantes
companheiros, estando sempre concentrados e preparados para intervir sobre a bola, recuperando-a ou
afastando-a do espaço vital de jogo. É necessário salientar o facto de normalmente a barreira ser forma-
da sobre uma elevada pressão (tensão) e por vezes de grande confusão, por um lado, pelos atacantes
procuram criar um cenário convincente para os defesas, por forma a que sejam levados a lerem incor-
224 Guia prático de exercícios de treino

rectamente a situação de jogo, e por outro lado, pelos defesas que muitas vezes se preocupam mais em
argumentar com o árbitro do que em concentrar-se no esquema táctico defensivo.
B. Quem coordena a posição da barreira. Normalmente a coordenação da posição da barreira é feita
pelo guarda-redes com a ajuda de um companheiro, que se coloca perto da bola com as seguintes
intenções:
1. Ganhar o tempo suficiente para que os companheiros formem a barreira e evitar que o livre seja
executado rapidamente.
2. Não deixar que a bola mude de posição para dar
o correcto ponto referencial ao seu guarda-redes
para posicionamento da barreira num ângulo ideal.
C. O número de jogadores que formam a barreira.
O número de jogadores que formam a barreira
depende essencialmente dos seguintes factores:
1. Da distância da posição da bola em relação à bal-
iza.
2. Do ângulo, ou seja, no corredor central, ou corredores laterais.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

3. Do conhecimento dos esquemas tácticos ofensivos da equipa


adversária, no qual se inclui: a capacidade técnico-táctica do atacante
que o executa e a forma de sincronização estabelecida pelos atacantes
Fotos 381/382. A formação de barreiras
da equipa adversária.
D. Os pressupostos na formação da barreira. Uma vez estabelecido
o número de jogadores e os que irão formar a barreira dever-se-á atender aos seguintes quatro pressu-
postos fundamentais:
1. Os jogadores que formam a barreira devem colocar-se uns ao lado dos outros, constituindo um
bloco homogéneo e coeso, em que o afastamento das pernas
deverá ser o suficiente para precaver a possibilidade de a bola
passar entre elas.

2. A formação da barreira deverá proteger um dos lados da bal-


iza, enquanto o guarda-redes deve assumir uma posição perto
do meio da baliza de forma: a possibilitar a visão da bola, a
impedir que a bola possa entrar pelo seu lado, e, espreitar a pos-
sibilidade de intervir no lado da barreira.
3. Um dos jogadores coloca-se do lado de fora da trajectória directa entre a
posição da bola e o poste da baliza, por forma a evitar a execução de remates
Foto cedida pelo jornal O JOGO

que possam "rodear" a barreira.


4. O posicionamento dos jogadores da barreira é realizada em função da sua Fotos 383/384. Cabe
altura. Assim, os jogadores mais altos deverão colocar-se e proteger o ângulo ao guarda-redes a
organização das bar-
da baliza contrária ao do posicionamento do guarda-redes.
reiras
E. Em que momento a barreira deverá dissolver-se. A barreira deverá dissolver-
se só depois da execução do remate ou do passe (consoante o esquema táctico ofensivo), ou seja, depois
de efectuado o primeiro toque na bola. Nos livres indirectos um dos jogadores da barreira, normalmente
o mais rápido é colocado por dentro desta, saindo de imediato após o primeiro toque na bola procu-
rando diminuir o tempo e o espaço de execução técnico-táctica ao atacante de posse de bola. Por últi-
mo, mesmo depois da formação da barreira continua haver a necessidade de se trabalhar defensivamente.
Com efeito, os restantes defesas deverão marcar adversários e espaços vitais de jogo dentro da grande
área e prever as condições essenciais à protecção dos comportamentos técnico-tácticos do guarda-redes.
(3) Livres indirectos dentro da grande área. Nestas circunstâncias, os defesas deverão assumir os seguintes
A organização dinâmica do jogo de futebol 225

dois comportamentos:
A. Cobrir o máximo possível da baliza através da formação da barreira com todos os jogadores, que
muitas vezes (devido às leis do jogo) terão que posicionar-se em cima da linha de golo. O guarda-redes
deverá colocar-se à frente e ao centro da barreira.
B. Uma vez efectuado o primeiro toque na bola toda a barreira de forma coesa e homogénea deve con-
vergir em
direcção à bola
diminuindo
assim o espaço
e o tempo do
atacante em
rematar.

4.2. Nos pontapés Figura 69. O número de jogadores que formam a barreira, em função da distância da baliza e do ângulo
de canto. A defesa
dos pontapés de
canto envolvem os mesmos princípios aplicados para os livres. Neste sentido, dever-se-á atender aos seguintes
pressupostos:
(1) Posicionar um defesa à frente da trajectória da bola movendo-se activamente de forma a:
A. Perturbar o atacante na marcação do pontapé de canto.
B. Obrigar o atacante a executar um cruzamento mais difícil.
C. Marcar de imediato o atacante se o canto for curto, por forma a evitar que este cruze para a grande
área;
(2) A posição do guarda-redes deve situar-se no meio da baliza de forma:
A. A observar a bola.
B. A trajectória da bola.
C. A situação dentro da grande área. Deverá igualmente evitar que o seu possí-vel deslocamento em
direcção ao primeiro poste não seja obstruído para poder intervir nesse espaço vital.
(3) No primeiro poste. Os pontapés de canto mais perigosos são os que são efectuados para o primeiro
poste, daí a necessidade de um especial cuidado no posicionamento dos defesas, neste sentido, coloca-se:
A. Um defesa que deverá assumir um posicionamento perto do poste e da linha de golo.
B. Dois defesas em que um destes assume um posicionamento à frente do companheiro e o outro ao
lado deste por forma a reforçar a defesa neste espaço vital. Estes dois defesas devem ter capacidades par-
ticulares de determinação em atacar a bola (ser o primeiro a chegar) e de cabecear eficientemente, preo-
cupando-se em marcar o espaço à
sua frente.
(4) No segundo poste. Posicionar
um defesa perto do segundo poste e
em cima da linha de golo. Este
jogador deverá ter o máximo de
atenção não só nos cruzamentos para
esse espaço, como as bolas que sejam
desviadas do primeiro poste para trás;
(5) A defesa do resto da pequena área
deve ser assumida através da colocação, no
mínimo, de três jogadores que marcam o
espaço e os adversários aí posicionados ou Figura 70. Organização básica do pontapé de canto em termos
que para aí possam deslocar-se. defensivos
226 Guia prático de exercícios de treino

4.3. Nos lançamentos da linha lateral. Se no futuro as modificações referentes


às leis que regulamentam os lançamentos da linha lateral determinarem que
estes sejam executados com os pés, transformaram estas situações de bola para-
da (as mais frequentes no jogo de futebol) num momento extremamente vanta-
joso em termos ofensivos. A amplitude do passe do atacante que executa o
lançamento da linha lateral e o ângulo relativamente à baliza adversária em que
este se posiciona, traduz um aumento acrescido das dificuldades defensivas na
resolução destas situações de bola parada. Com efeito, por exemplo, em algumas situ-
ações de jogo é preferível conceder um pontapé de canto do que um lançamento perto
da linha final. Os esquemas tácticos defensivos nas situações de lançamento da
linha lateral devem basear-se nos seguintes pressupostos:
(1) Se o lançamento de linha lateral for executado perto da linha final, os defe-
sas deverão assumir os mesmos objectivos e pressupostos estabelecidos para o
Foto cedida pelo jornal O JOGO

pontapé de canto.

(2) Se o lançamento da linha lateral for efectuado no meio-campo:


A. Colocação de um defesa na trajectória directa do lançamento com a baliza
Fotos 385/386/387. Organização por forma a perturbar o atacante, obrigá-lo a executar uma acção técnico-tácti-
do pontapé de canto ca mais complexa, ou forçá-lo a efectuar um passe de trajectória aérea para dar
mais tempo aos companheiros de se readaptarem à tarefa defensiva.
B. Marcação agressiva e premente dos atacantes que se posicionem em profun-
didade ou que executem deslocamentos de rotura em direcção à grande área.
C. Os restantes atacantes que possam receber a bola devem ser marcados com um pouco mais de espaço
para que o defesa possa reagir e acompanhar eficientemente o atacante, se este mudar de direcção.

4.4. Na grande penalidade. Na situação de


grande penalidade quatro ou cinco defesas
devem posicionar-se ao longo da meia-lua da
grande área por forma a concretizar os
seguintes objectivos:
(1) Repelir a bola no caso desta embater
no poste ou na barra da baliza, ou pela
defesa incompleta do guarda-redes.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

(2) Evitar ou perturbar a acção dos


restantes atacantes na sua possível inter-
venção sobre a bola.

Logo após a execução do esquema


táctico ofensivo a equipa em fase defensiva deverá
estar preparada para resolver eficientemente a
situação que daí advenha. Assim, deverá logo que
a bola seja rechaçada reagir rápida, coesa e homo-
geneamente, subindo no terreno de jogo e assu-
mindo as seguintes atitudes e comportamentos
técnico-tácticos:
A. Marcação agressiva do novo atacante de posse de bola. Foto 388/389/390/391/392. O
B. Reduzir o tempo e o espaço e por inerência aumentar a pressão defensi- pontapé de canto
A organização dinâmica do jogo de futebol 227

va sobre todos os atacantes.


C. Procurar pôr adversários na posição de fora-de-jogo.
D. Apoiar o companheiro que relança o processo ofensivo por forma a aproveitar os desequilíbrios da
equipa adversária.
Finalizando, os esquemas tácticos ofensivos envolvem um elevado número de atacantes para tirar o
máximo de rendimento destas situações de bola parada, alguns dos quais, a fim de poderem maximizar as suas
potencialidades individuais, colocam-se em espaços de jogo muito diferentes daqueles em que exercem as suas
missões tácticas de base. Neste contexto, a organização dos esquemas tácticos defensivos não deverá visar
somente a defesa da baliza, mas procurar igualmente tirar o máximo de vantagens logo após a recupe-ração da
posse da bola, que advém do possível desequilíbrio em termos espaciais e também em termos numéricos, dev-
ido à elevada concentração de atacantes na grande área. Com efeito, é importante estabelecer na organização dos
esquemas tácticos defensivos, um conjunto de medidas, não pondo em causa o objectivo prioritário da defesa
da baliza, que visam a colocação de um ou dois jogadores em posições propícias à preparação/relançamento do
ataque, obrigando inclusivamente a equipa adversária a aplicar medidas preventivas que originam uma
diminuição do número de atacantes envolvidos nos esquemas tácticos ofensivos. Todavia, os jogadores que não
estão directamente envolvidos nos esquemas tácticos defensivos (ou em alguns), devem ter o conhecimento
destes com a mesma exactidão e responsabilidade dos restantes companheiros, podendo a qualquer momento
do jogo, em quaisquer circunstâncias, assumir uma missão mais preponderante (em termos defensivos) na orga-
nização dos esquemas tácticos defensivos.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

Foto 393. As situações de bola parada (esquemas tácticos) representam a coordenação das acções de vários jogadores que visam do ponto de vista ofen-
sivo as condições mais favoráveis para a concretização imediata do golo, e do ponto de vista defensivo assegurar a protecção máxima da baliza
228 Guia prático de exercícios de treino
229

Futebol
Guia prático de exercícios de treino CAPÍTULO 6
O SUBSISTEMA
TÁCTICO- ESTRATÉGICO

A planificação conceptual caracteriza-se pela construção de um modelo de jogo da equipa,

FUTEBOL - Guia prático de exercícios de treino


sendo alicerçado em três vertentes fundamentais: da concepção do jogo por parte do
treinador, das particularidades e potencialidades dos jogadores que constituem a
equipa e, das tendências evolutivas do jogo de futebol.
O subsistema táctico-estratégico da organização
dinâmica do jogo de futebol expressa-se numa
planificação que analisa, define e sistematiza as
dife-rentes operações inerentes à cons-trução e A planificação táctica, que se caracteriza pela aplicação práti-
desenvolvimento de uma equipa. Organiza-as ca, isto é, pelo carácter aplicativo e operativo da planifi-
em função das finalidades, objectivos e pre- cação conceptual e da planificação estratégica, com
visões, escolhendo as decisões que visem o máx- vista à concretização dos objectivos preestabeleci-
dos para um determinado confronto competiti-
imo de eficácia e funcionalidade da mesma. Com
vo.
efeito, o papel da planificação, em última análise,
consiste em fornecer um guia de acção na orga-
nização, com vista a facilitar o alcance dos seus
objectivos: incremento da sua eficiência, a esta-
bilidade, adaptabilidade no seio do meio com-
petitivo.
A planificação estratégica caracteriza-se pela escolha das estraté-
gias mais eficazes em função de três vertentes fundamentais: do con-
hecimento da expressão táctica da própria equipa, do conhecimento da
expressão táctica da equipa adversária e do estudo das condições objectivas
sobre as quais se realizará a futura confrontação desportiva. É esta análise que
determina as adaptações à funcionalidade de base da equipa, por forma a criar as
condições mais desfavoráveis à equipa adversária e mais favoráveis à própria equipa durante
o confronto competitivo.
230 Guia prático de exercícios de treino

Parte UM
O SUBSISTEMA TÁCTICO-ESTRATÉGICO
Capítulo
Seis O jogo de futebol na actualidade levanta enormes exigências, em especial ao nível das
equipas de rendimentos superiores sendo possível prever que essas exigências irão aumentar
O subsis - no futuro próximo. Posto o problema neste plano, os limites da intervenção do treinador
tema tác - perante a sua equipa há muito que deixaram de ser "apenas" a aplicação de um conjunto de
exercícios de treino e da orientação táctica da equipa, através de uma intervenção mais ou
menos realista ou mais ou menos ardilosa durante a competição. Com efeito, a dificuldade
que envolve a preparação e maximização das capacidades e potencialidades de uma equipa
de futebol, determina a necessidade de o treinador ter uma visão simultaneamente global e
integradora de todos os elementos que influenciam de forma preponderante o rendimento
da equipa, através de uma planificação sistemática e dinâmica. Nestas circunstâncias, o sub-
sistema táctico-estratégico da organização do jogo de futebol expressa-se numa planificação
que analisa, define e sistematiza as diferentes operações inerentes à construção e desenvolvi-
mento de uma equipa. Organiza-as em função das finalidades, objectivos e previsões, escol-
hendo as decisões que visem o máximo de eficácia e funcionalidade da mesma.

1. Conceito de planificação
A planificação é definida como um método que analisa, define e sistematiza as diferentes
tico- operações inerentes à construção e desenvolvimento de uma equipa. Organiza-as em função
estraté- das finalidades, objectivos e previsões (a curta, média, ou longa distância), escolhendo-se as
decisões que visem o máximo de eficácia e funcionalidade da mesma. Traduzem, em última
gico análise, não só uma preparação prévia para a competição, como também transformam as
soluções em atitudes e comportamentos técnico-tácticas com vista à resolução dos contextos
situacionais de jogo.
Parte UM
Capítulo 2. A natureza da planificação
A natureza da planificação evidencia quatro elementos de base que o constituem:
Seis 2.1. A orientação para o futuro. A planificação é uma representação das operações de
O subsis - uma equipa tendo em conta, na sua análise: i) a situação actual do sistema, isto é, da orga-
tema tác - nização da equipa, ii) os resultados e consequências antecipadas das diferentes acções esta-
belecidas e produzidas e, iii) as novas configurações desejáveis da organização da equipa.
tico- 2.2. Toma o contexto competitivo em consideração. A planificação promove as relações
estraté- entre a organização da equipa e o contexto competitivo em que esta está inserida. Neste
sentido, a planificação deve analisar constantemente: (1) as equipas adversárias, especial-
gico mente ao nível das suas expressões técnico-tácticas e, (2) o contexto em que as dife-rentes
competições irão decorrer (e suas modificações).
2.3. A continuidade do processo. A planificação é um processo contínuo e global. Com
efeito, a planificação está no centro da dinâmica de uma organização. Nunca pára. A plani-
ficação é um processo que implica todos os elementos da equipa (incluindo, para além dos
jogadores e equipa técnica, os dirigentes), devendo assim todos estar ao corrente das final-
idades, objectivos e intenções.
2.4. Consubstancia planos para transformação da realidade presente. Isto significa que
a planificação deve conduzir a planos que descrevem como passar da situação actual para
uma situação mais desejável.
3. Objectivos da planificação
A organização de uma equipa de futebol constrói-se e desenvolve-se num contexto (meio)
A organização dinâmica do jogo de futebol 231

competitivo que se caracteriza, por um lado, pelo ritmo de mudança, e por outro, pela com- Parte UM
plexidade dessa mudança. Estas características (ritmo e complexidade de mudança) desafiam
e provocam a organização da equipa na sua dinâmica e na sua estruturação. Nestas circun- Capítulo
stâncias, a planificação ao analisar, definir e sistematizar as diferentes operações inerentes à Seis
construção e desenvolvimento de uma equipa de futebol, fornece à sua organização, o con-
junto de meios gerais e específicos de orientação e coordenação das acções da equipa. O subsis -
Partindo desta análise a equipa de futebol estrutura-se continuamente, procurando uma mel- tema tác -
hor eficiência, a qual se consubstancia na relação directa com a adapta-bilidade às mudanças
do contexto competitivo. Com efeito, o papel da planificação, em última análise, consiste em
fornecer um guia de acção na organização com vista a facilitar o alcance dos seus objectivos:
(1) incrementando a sua eficácia, (2) incrementando a sua estabilidade e, (3) incrementando
a sua adaptabilidade no seio do meio competitivo. Concluindo, os objectivos da planificação
consistem em: (1) assinalar as situações vantajosas para a organização, (2) a antecipação e a
resolução dos problemas previstos e, (3) a formulação de planos de acção.

4. Os níveis da planificação
Distinguem-se geralmente três níveis de planificação: a planificação conceptual, a
planificação estratégica e a planificação táctica.
4.1. A planificação conceptual caracteriza-se pela construção de um modelo de jogo da
equipa, sendo alicerçado em três vertentes fundamentais: (1) da concepção do jogo por
parte do treinador, isto é, as suas perspectivas e ideias, (2) da análise das particularidades tico-
e potencialidades dos jogadores que constituem a equipa e, (3) das tendências evolutivas estraté-
no presente e no futuro do jogo de futebol.
4.2. A planificação estratégica caracteriza-se pela escolha das estratégias mais eficazes em gico
função de três vertentes fundamentais: (1) do conhecimento da expressão táctica da
própria equipa, (2) do conhecimento e do estudo das condições objectivas sobre as quais
se realizará a futura confrontação desportiva. Fazem parte deste conhecimento a expressão Parte UM
táctica da equipa adversária, o terreno de jogo, as condições e circunstâncias em que este Capítulo
se vai desenrolar e, (3) das adaptações à funcionalidade de base da equipa, que são função
das duas vertentes anteriores, por forma a criar as condições mais desfavoráveis à equipa
Seis
adversária e mais favoráveis à própria equipa durante o confronto competitivo. O subsis -
4.3. A planificação táctica caracteriza-se pela aplicação prática, isto é, pelo carácter aplica- tema tác -
tivo e operativo da planificação conceptual e da planificação estratégica durante o desen-
rolar do jogo e em função de um conjunto de factores, tais como: as modificações das tico-
condições climatéricas, as condições do terreno de jogo, o resultado numérico momentâ- estraté-
neo do jogo, do tempo de jogo e das modificações pontuais da táctica da equipa adver-
sária, determinam a aplicação de certas medidas especiais tomadas pelo treinador que gico
procuram constantemente: (1) melhorar a organização da equipa no terreno de jogo, (2)
utilizar acções técnico-tácticas com fins precisos, (3) melhorar a capacidade de colabo-
ração entre os sectores da equipa, ou entre 2 ou 3 jogadores, que numa certa fase do jogo,
objectivam conjunturas favoráveis à con-
cretização dos objectivos preestabeleci-
dos e, (4) a capacidade de passar rapida-
mente de um sistema de jogo ou de um
método de jogo para outro durante a
competição, com vista à concretização
Figura 71. Os níveis da planificação do subsistema táctico-
dos objectivos preestabelecidos para um
estratégico da organização dinâmica da equipa determinado confronto competitivo.
232 Guia prático de exercícios de treino

A planificação conceptual

1. Conceito de planificação conceptual


A planificação conceptual é definida pelo estabelecimento de um conjunto de linhas gerais e especí-
ficas que procuram direccionar e orientar a trajectória da organização da equipa no futuro próximo. Em última
análise, a planificação conceptual exprime-se no modelo de jogo da equipa, o qual é consubstanciado a partir da
análise organizacional da equipa (os seus valores e intenções) no presente, pela concepção de jogo por parte do
treinador na qual se incluem as tendências evolutivas do próprio jogo (estabelecendo paralelamente a formação
de base da equipa e os objectivos a atingir na próxima época desportiva) e pela definição das orientações do tra-
balho da equipa e as vias para atingir os efeitos pretendidos.

2. A natureza da planificação conceptual


A natureza da planificação conceptual consubstancia-se essencialmente no conhecimento claro do
trajecto e da forma de organização da equipa que se pretende implementar num futuro próximo. Este facto
traduz os seguintes quatro aspectos fundamentais:
2.1. Avalia-se profundamente o trajecto da equipa na temporada competitiva anterior, por forma a lançar as
bases do trabalho futuro da equipa. Estabelecendo, concomitantemente o objectivo da próxima época
desportiva a partir de pressupostos coerentes e idóneos.
2.2. Facilita a análise (leitura) e as respostas (soluções) tácticas que derivam da situação de jogo quer ao nível
do treino, quer ao nível da competição, melhorando por consequência a comunicação entre os jogadores inde-
pendentemente do seu posicionamento e das tarefas tácticas dentro do subsistema estrutural da equipa. Com
efeito, os jogadores direccionam os seus comportamentos técnico-tácticos em função de um significado que
atribuem à situação de jogo, que é partilhado e compreendido da mesma forma pelos diferentes compan-
heiros.
2.3. Aumenta os níveis de motivação dos jogadores que se traduz num melhor empenhamento (atitude)
destes, quer no plano individual, quer no plano colectivo, na execução das tarefas que o treino e a competição
em si encerram.
2.4. Melhora a comunicação entre o treinador e os jogadores. Por um lado, o primeiro pode seleccionar os
diferentes exercícios de treino, ajustando correctamente a dificuldade e a complexidade destes em função dos
níveis de rendimento momentâneos dos jogadores e da organização da equipa, e por outro, os segundos com-
preendem a necessidade e a importância da sua execução como um meio para se atingir um modelo organi-
zativo de jogo eficaz, por forma a atingir os objectivos delineados para a próxima época desportiva.

3. Objectivos da planificação conceptual


Os objectivos fundamentais da planificação conceptual é o de assegurar: (1) a construção de um mod-
elo de organização eficaz do jogo da equipa, melhorando a sua funcionalidade geral e especial e, por conse-
quência, o seu rendimento desportivo e, (2) o delinear de um trajecto (caminho), através da aplicação de pro-
gramas de acção capazes de atingir o modelo de jogo da equipa, que se pretende num futuro realizável o mais
cedo possível.
Para que os objectivos estabelecidos sejam concretizados é necessário analisar, descrever e elaborar os
seguintes três aspectos:
3.1. Analisar quais os principais aspectos positivos e negativos da organização da equipa (a sua situação actu-
al). Desta análise, para além dos níveis de rendimento desportivo individual e colectivo, retém-se igualmente
os valores e as intenções da equipa, avaliando-se o transcurso da temporada desportiva anterior.
3.2. Descrever de forma clara e profunda o modelo organizativo da equipa que se pretende atingir no futuro
A organização dinâmica do jogo de futebol 233

e determinar os objectivos da próxima época desportiva. Basicamente este modelo deverá corresponder a três
vertentes fundamentais: (1) às concepções de jogo do treinador que derivam do seus conhecimentos teóricos
sobre o futebol e das suas próprias experiências adquiridas ao longo da sua actividade profissional, (2) as
tendências evolutivas, tanto dos jogadores como do jogo e, (3) às capacidades, particularidades e especifici-
dades dos jogadores que constituem a equipa. Neste contexto, compara-se objectivamente a análise dos aspec-
tos individuais e colectivos da equipa com o modelo organizativo que se pretende que esta tenha no futuro.
Estabelece-se paralelamente a formação da equipa para a nova época desportiva, definindo: a) o número de
jogadores que formam a equipa e, b) as bases de escolha dos jogadores.
3.3. Elaborar os programas de acção pragmática que consubstanciam um processo de evolução controlada da
organização da equipa direccionando-a para um modelo de jogo pré-determinado, definindo simultanea-
mente as orientações do trabalho da equipa e os meios e métodos de treino para atingir os efeitos pretendi-
dos.

4. Etapas da planificação conceptual


A planificação conceptual compreende, como se pode depreender do que foi referido, essencialmente
três etapas que, em última análise, se constituem como três questões fundamentais que qualquer treinador de-
verá equacionar quando assume a liderança de uma equipa de futebol: i) a organização actual da equipa, (2) a
organização que se pretende no futuro e, (3) como atingir essa organização. Neste sentido, o treinador partindo
da análise das características e da estrutura da actividade competitiva em que a sua equipa está inserida (campe-
onato, taça, etc.), deverá efectuar de forma profunda:
1. A descrição e análise da situação organizacional da equipa (incluindo os seus va-lores e intenções) e a
avaliação da época desportiva anterior (evolução classificativa, as dife-rentes constituições, tendências da
evolução da equipa, etc.).
2. A descrição do modelo de organização da equipa no futuro, determinação clara dos objectivos da próxi-
ma época desportiva e a for-
mação da equipa (número de
jogadores que formam a equipa
e as bases de escolha dos
jogadores.
3. A elaboração de planos de
acção, isto é, de aplicação práti-
ca, que resultam basicamente
dos desvios estabelecidos entre a
análise da situação actual da
equipa e do modelo de organi-
zação a atingir.

4.1. Avaliação da época desporti-


va anterior
No início de qualquer
planificação conceptual, o
treinador deverá analisar profun-
damente o transcurso da tempora-
da competitiva anterior por forma
a lançar as bases do trabalho futuro
da equipa. Com efeito, dentro de
um largo conjunto de reflexões que
o treinador irá efectuar sublin- Figura 72. As etapas da planificação conceptual em futebol
234 Guia prático de exercícios de treino

hamos os seguintes:
1. Razões fundamentais do sucesso ou insucesso da equipa. Momentos críticos e os momentos vitoriosos do
rendimento da equipa.
2. Evolução classificativa da equipa ao longo do campeonato.
3. As diferentes constituições da equipa e as particularidades dessas alterações. Quais as possibilidades de
adaptação de cada jogador no sector defensivo, médio ou atacante.
4. Tendências da evolução da equipa e dos jogadores e a sua capacidade de rendimento.
5. Número de golos e de que forma foram conseguidos e consentidos.
6. Tipo de lesões (roturas, distensões, fracturas, etc.), tempo médio de tratamento e o tempo de inactividade
competitiva.
7. Comportamento desportivo dos jogadores da equipa dentro do terreno de jogo. Castigos (cartões amare-
los, ou vermelhos), as razões destes (a favor da equipa, por exemplo: evitar que o adversário de posse de bola
progredisse isolado para a baliza, ou contra a equipa, por exemplo: discutir com o árbitro, agredir o adver-
sário, etc.).
8. Carga de treino e a assiduidade dos jogadores.
9. Carga de competição para cada jogador.
10. Comportamento desportivo dos jogadores da equipa fora do campo. Níveis de conflito interpessoal.

4.2. Descrição do modelo de organização da equipa no futuro

4.2.1. Definição de modelo


Em termos gerais, Bompa (1990), define modelo como "uma imitação, uma simulação da realidade
constituída por elementos específicos do fenómeno que se observa ou investiga". É igualmente, segundo o
mesmo autor, "um tipo de imagem isomorfa", ou por outras palavras, a cristalização de formas fundamentais
(idênticas), da competição, que é obtida através da abstracção, (um processo mental de generalização), desses
elementos e da sua natureza.

4.2.2. Objectivos do modelo de jogo


A planificação conceptual estabelecida através do modelo técnico-táctico do jogo de futebol, procu-
ra, em última análise, consubstanciar uma maior unidade das respostas que derivam das questões que se esta-
bele-cem das relações dos jogadores e do jogo, sendo neste contexto encarado como uma simulação da realidade,
representando-a à sua semelhança, pois, é constituída por elementos específicos pertencentes ao fenómeno estu-
dado. Ao reunir-se estes elementos específicos procuramos estabelecer um triplo objectivo: (1) compreendê-los
melhor, (2) estabelecer hipóteses sobre o seu comportamento de conjunto (interdependência dos seus factos) e,
(3) tentar prever as suas modificações (reacções) em função da variabilidade das situações.

4.2.3. Bases para a construção do modelo de jogo


As bases para a construção do modelo de jogo passam por quatro aspectos essenciais: a respon-sabil-
idade de quem constrói o modelo, o factor referencial da construção do modelo, as regras fundamentais da con-
strução do modelo e as tendências evolutivas do modelo de jogo.

A. O responsável pela construção do modelo de jogo


A escolha, a aplicação no treino e na competição do dispositivo posicional dos jogadores no terreno
de jogo (sistema de jogo), o método de jogo ofensivo ou o método de jogo defensivo, a circulação táctica dos
jogadores, os esquemas tácticos, etc., são da exclusiva responsabilidade do treinador, que partindo da sua própria
concepção, os adapta de forma mais ou menos creativa e mais ou menos eficaz à especificidade dos jogadores
individualmente maximizando as suas potencialidades, e à equipa no seu conjunto, procurando estabelecer as
condições mais vantajosas à concretização das finalidades e dos objectivos preestabelecidos. Neste sentido, a
A organização dinâmica do jogo de futebol 235

escolha por parte do treinador do modelo de jogo, que em última análise consubstancia a organização eficaz de
uma equipa de futebol, é aplicada pelos jogadores que a constituem. Obedece basicamente a um critério funda-
mental: a concepção de jogo por parte do treinador que deriva dos seus conhecimentos sobre o futebol, que para
além das questões ligadas à eficácia e à funcionalidade da equipa, deverá apresentar-se sob três características
essenciais:
1. Um carácter progressista. Isto significa que a concepção deverá atender às grandes tendências evolutivas
do jogo e às suas perspectivas de desenvolvimento: no plano dos regulamentos do jogo, no plano técnico, no
plano táctico, no plano físico, no plano psicológico e no plano social. Neste sentido, a concepção de jogo deve-
rá corresponder, ou mesmo ultrapassar, se possível, a orientação das melhores equipas, tanto interna como
internacionalmente.
2. Um carácter adaptativo. A concepção deverá atender à especificidade das características dos jogadores que
compõem a equipa, por forma a que estes possam exprimir natural e eficazmente as suas próprias capacidades
interligando-as e através delas a equipa responda como um todo homogeneamente. Este carácter adaptativo
deve igualmente ter em perspectiva as transformações (modificações) pontuais possíveis e as tendências evo-
lutivas do jogo, para a construção de um jogador mais autónomo e mais eficiente, sendo este encara-do como
um elemento em constante formação e evolução.
3. A experiência e a capacidade intelectual do treinador são os factores preponderantes na construção de um
modelo de jogo. Não se pode implantar ou executar aquilo que não se sabe, que não se domina com suficiente
segurança. Daí a necessidade de o treinador retirar da sua experiência e da sua capacidade de equacionar e
reflectir constante e continuamente os elementos fundamentais do modelo de jogo e as suas interdependên-
cias, os quais determinam, em última análise, a eficácia da organização da equipa.

B. O factor referencial do modelo de jogo


"A competição representa não só o ponto referencial do modelo, mas também a sua componente mais
forte"..."a criação de um modelo começa com uma fase de contemplação, durante a qual o treinador observa e
analisa o actual nível do treino. Seguidamente, é a fase de inferência em que o treinador, baseado nas conclusões
das observações, decide que elementos da sua concepção de treino devem ser retirados e os que devem ser desen-
volvidos. No próximo passo, o treinador introduz novos elementos qualitativos, que se referem aos aspectos da
intensidade do treino, à técnica, à estratégia, à psicologia, e elementos quantitativos, que dizem respeito aos
aspectos do volume de treino, duração e número de
repetições requeridas para automatizar os novos ele-
mentos qualitativos"..."o novo modelo é então testa-
do no treino e depois em competições de importân-
cia secundária. Depois o treinador estabelece um
conjunto de conclusões em função da validade do
novo modelo e estabelece eventuais pequenas alter-
ações. Esta última fase conduz-nos a um modelo
final, que deverá ser aplicado no treino para as com-
petições importantes" (Bompa, 1990).

C. Tendências evolutivas do modelo de jogo


"O desenvolvimento do modelo não é um
processo de curta duração" (Bompa, 1990), ou seja,
não basta desenvolver o modelo de jogo de hoje, pelo
contrário, é preciso prever o futuro que se consub-
stancia, no(s) aspecto(s) que serão predominantes na Figura 73. A sequência do desenvolvimento de um modelo (Bompa, 1993)
aceleração dos processos de desenvolvimento desse
236 Guia prático de exercícios de treino

mesmo jogo. O modelo é "uma criação antecipativa, fundamentada numa realidade existente, onde a analogia
crítica está sempre presente e que pressupõe na maioria dos casos um grau maior ou menor de simplificação e
cujas vantagens práticas serão uma economia de meios e tempo. Assim, a plasticidade do modelo de jogo, que
deverá ser óptimo para um dado momento, será transformável e aperfeiçoado através da acção principal do
modelo de preparação. Importa salientar dentro deste contexto, que não devemos encarar este fenómeno de uma
forma estática, mas sim fazendo da mudança um princípio heterogéneo, por a forma que se traduza para qual-
quer observador imparcial a apreensão instantânea e artificial de uma realidade móvel. Porquanto esta análise
não é mais que a intersecção no tempo e no espaço dos processos em vias de mudança e desenvolvimento, sendo
impossível captar esses factos se não compreendermos os processos que lhe são inerentes, processos esses de dois
tipos: i) os que se repetem ciclicamente durante o jogo (por exemplo as acções técnico-tácticas) e, (2) as acu-
mulativas, ou direccionais, que se produzem num nível "histórico/progressivo" de transformação do sistema.
Com efeito, estes dois processos são recorrentes, isto é, encontram-se misturados em proporções diversas den-
tro do contexto do futebol, sendo uma ou outra predominante em função da concepção de jogo, ou seja, das
particularidades evidenciadas pelas equipas. Todavia, independentemente dessa concepção, é necessário ter
cons-ciência que a rede de ligação entre os factores de competição (técnico-tácticas, físicas, psicológicas e soci-
oló-gicas) é tão apertada, que as consequências de qualquer alteração de uma delas tem de ter de imediato reper-
cussões em todas as outras. Do que foi referido, não se entenda que a evolução do jogo é desconexo ou assimétri-
co, pois há que ter presente que todas as formas jogadas são auto-formais, isto é, as mais simples evoluem para
as mais lógicas, mais racionais e mais eficazes. Existe assim, um "motor íntimo do sistema " em que se observa
a influência recíproca entre todos os factores, só que, em certos momentos, uns são preponderantes em relação
aos outros, no trajecto da evolução do jogo. Esta perspectiva relacional formaliza igualmente que todas as trans-
formações operadas e inerentes à lógica do jogo, que proporcionam novas soluções para os problemas levanta-
dos pelas situações, não o conduzem para fora das suas fronteiras, consubstanciam antes, uma estrutura mais
ampla e enriquecida.

D. Formação da equipa para a nova época


desportiva
Todos os anos as direcções dos
Clubes e o seu treinador, têm a responsabil-
idade de formar, ou no mínimo reestruturar,
a sua equipa de futebol. Esta necessidade
real, deve-se: (1) à saída de jogadores devido
à sua veterania, ou a transferências para out- Figura 74. A planificação conceptual alicerça o modelo de jogador e o modelo de
preparação (Soares, 1982)
ros clubes e, (2) à entrada de novos
jogadores transferidos de outros clubes, ou os que transitam do sector de formação do próprio Clube.

D.1. Número de jogadores que formam a equipa


Basicamente uma equipa de futebol deve ser formada por um número relativo e estável. Para se atin-
gir este número é preciso ter como primado duas ideias fundamentais:
1. Ser suficientemente grande para fazer frente aos problemas inerentes a uma época desportiva mais ou
menos longa que consubstancia lesões e castigos (federativos, ou associativos); e,
2. Ser o mais reduzido possível para que não haja jogadores que desenvolvam um sentimento de frustração e
agressividade por passarem a maior parte do tempo no banco dos suplentes, ou mesmo nunca serem convo-
cados.
Nesta perspectiva, o número de jogadores base, que constituem a equipa são: (1) 17/19 jogadores por
forma a estabelecer uma sã competição entre eles e, (2) completado por mais 4 ou 5 jogadores jovens com ta-
lento, sendo uma das formas de os introduzir gradualmente num círculo de exigências mais elevadas. Com
efeito, o número de jogadores que constituem uma equipa de futebol situa-se entre os 21 e os 24 jogadores.
A organização dinâmica do jogo de futebol 237

D.2. Bases para a escolha dos jogadores que constituíram a equipa


Dos diferentes conflitos emergentes de uma equipa de futebol, grande parte têm origem, por um lado,
no elevado número de jogadores que constituem o plantel e, por outro, num elevado número de jogadores para
cada posição táctica. Daqui se conclui, que a formação de uma equipa de futebol não tem por objectivo a ampli-
ação indiscriminada do plantel dos jogadores, ou por outras palavras, prevalece o pressuposto da qualidade sobre
a quantidade. Simultaneamente ao pressuposto qualidade, estabelece-se a necessidade de interligação das difer-
entes capacidades técnicas, tácticas, físicas e psicológicas dos jogadores. Outro aspecto importante a ter em conta
são as idades dos jogadores, para que não haja uma renovação brusca do plantel da equipa de uma para outra
época desportiva. Neste sentido, podemos afirmar que os diferentes jogadores seleccionados devem:
(1) Demonstrar uma dimensão cultural do jogo que passa por uma forte atitude de lutar pela posse da bola,
compreendendo simultaneamente que, para que essa atitude individual se transforme em colectiva, é
necessário:
A. Procurar resolver todas as situações de jogo com pleno sentido de entreajuda, baseada numa actividade
ininterrupta dos seus comportamentos técnico-tácticos.
B. Num equilíbrio permanente durante o desenvolvimento das fases ofensivas e defensivas do jogo e na sua
transição de uma fses para outra, através de uma interligação eficaz das qualidades e particularidades dos
diferentes companheiros, baseada numa elevada capacidade física, psíquica e criativa.
(2) Edificar uma dimensão estrutural que passa pela ocupação adequada e equilibrada das diferentes posições
tácticas estabelecidas a partir dos vários sectores do sistema de jogo consubstanciados pela equipa. A partir
desta colocação de base dos jogadores no terreno de jogo (4:4:2; 4:3:3; 4:5:1, etc.), a formação de uma equipa
para a nova época desportiva deverá encontrar:
A. Jogadores com uma universalidade, semi-universalidade e especialidade diferenciada.
B. Jogadores que interliguem, complementarizem e valorizem mutuamente as suas capacidades individuais
no interesse colectivo. Neste domínio, para um quadro máximo de 24 jogadores estes devem ser distribuí-
dos da seguinte forma:
(1) Guarda-redes - 3 os quais representam 12% do total da equipa. É conveniente que um deles tenha uma
idade compreendida entre os 20 e os 21 anos.
(2) Sector defensivo - 8 que representam 33% do total da equipa, sendo conveniente que dois dos jogadores
deste sector tenham idades compreendidas entre os 20 e os 21 anos e quatro entre os 24 e os 26 anos:
Devem ser distribuidos da seguinte forma:
2 defesas laterais direitos, tendo um deles a capacidade de jogar a defesa lateral esquerdo ou a médio ala
direito.
2 defesas laterais esquerdos, tendo um deles a capacidade de jogar a defesa lateral direito ou a médio ala
esquerdo.
2 defesas centrais de marcação com a possibilidade de um deles jogar na posição de "trinco" ou a médio
centro.
2 defesas libero com a possibilidade de um deles jogar a defesa central de marcação.
(3) Sector médio - 7 que representam 29% do total da equipa, distribuídos sendo conveniente que dois dos
jogadores deste sector tenham idades compreendidas entre os 20 e os 21 anos e três entre os 24 e os 26
anos. Deverão distribuir-se por:
2 médios ala direitos, tendo um deles a capacidade de jogar a defesa lateral direito, ou a extremo dire-
ito.
2 médios ala esquerdos, tendo um deles a capacidade de jogar a defesa lateral esquerdo, ou a extremo
esquerdo.
3 médios centro, com a possibilidade de um deles jogar a defesa central, trinco ou a ponta de lança recua-
do.
(4) Sector avançado - 6 que representam 25% do total da equipa. É conveniente que um dos jogadores deste
238 Guia prático de exercícios de treino

sector tenham idades compreendidas


entre os 20 e os 21 anos e três entre
os 24 e os 26 anos, sendo que:
2 são extremos direitos, tendo um
deles a capacidade de jogar a
médio ala direito, a extremo
esquerdo, ou a ponta de lança.
2 são extremos esquerdos, tendo
um deles a capacidade de jogar a
médio ala esquerdo, ou a extremo
direito, ou a ponta de lança. Figura 75. Distribuição da constituição da equipa em função dos posicionamentos tácti-
2 são pontas de lança, com a pos- cos que derivam do sistema de jogo
sibilidade de um deles jogar nas
costas do companheiro (2º ponta de lança).

Concluindo, na formação de uma equipa de futebol, para além dos aspectos básicos do ponto de vista
cultural, estrutural, metodológico, relacional e técnico-táctico inerentes à organização de um colectivo, é
necessário atender a três questões fundamentais:
1. Ultrapassar conflitos. Seja qual for o nível competitivo em que a equipa se insere, existirão sempre confli-
tos com uma maior ou menor frequência, ou com uma maior ou menor duração. Estes conflitos estabelecem-
se basicamente entre jogadores (em função dos grupos que se
formam, em função dos jovens e menos jovens, entre os que
jogam e os que não jogam, entre os que auferem maiores e
menores recompensas económicas, etc.), entre os jogadores e
o treinador, entre os jogadores e os directores do Clube, etc.
Neste contexto, sendo o conflito uma situação "normal" é
preciso ultrapassá-la rapidamente de forma a: i) que estes
tenham o mínimo de repercussões ao nível do rendimento
competitivo da equipa e, (2) tirar vantagens desses conflitos
por forma a desenvolver novas motivações, enriquecendo as
mútuas relações da equipa. Seguramente, não existe nenhu-
ma receita para ultrapassar, de forma correcta, os conflitos
que derivam das divergências entre os elementos que con-
stituem a equipa. Neste sentido, o treinador terá que "con-
formar-se" com determinadas condições não alteráveis.
Todavia, deverá mantê-los entre parâmetros controláveis e
razoáveis, respeitando as pessoas e os seus estados emo-
cionais.
2. Seleccionar talentos. Uma das funções fundamentais do
treinador no processo de formação de uma equipa de futebol,
a curto e médio prazo, é de seleccionar talentos e utilizá-los
sempre que possível, independentemente de serem jovens e
desconhecidos. Neste sentido, os Clubes para além de terem
um sector de formação constituído por equipas de futebol de
diferentes grupos etários (escolas, infantis, iniciados, juvenis,
juniores) e treinadores especializados que dirigem a sua
evolução desportiva, necessitam igualmente de uma grande Figura 76. Modelo de formação de uma equipa de futebol
rede de observadores para acompanhar os diferentes (segundo Bauer e Ueberle, 1982)
A organização dinâmica do jogo de futebol 239

jogadores e jogos que se realizam ao longo do país.


3. A formação de uma equipa de futebol nunca termina. Mesmo durante a época desportiva, perante quais-
quer imprevistos pode ser necessária uma reorientação. Esta modificação pode derivar de múltiplas razões,
tais como: lesões cujo tratamento é prolongado, incidentes disciplinares graves entre jogadores com quebra
das normas estabelecidas, ou entre os jogadores e o treinador ou dirigentes do Clube, ou ainda devido a mo-
dificações bruscas do rendimento da equipa.

D.3

Foto 394. A equipa para a nova época desportiva

Determinação dos objectivos da próxima época desportiva


Analisada a época desportiva transacta, estabelecido o modelo de jogo da equipa e os jogadores escol-
hidos para a constituírem, o treinador conjuntamente com os directores do Clube, determinará qual o objecti-
vo real para a próxima época desportiva. Partindo de pressupostos coerentes e idóneos, é possível estabelecer
objectivos que não sejam constantemente mudados, quer no plano positivo como negativo, no decorrer da com-
petição. Os presentes objectivos devem ser posteriormente transmitidos aos jogadores que constituem a equipa,
por forma a que estes saibam quais os níveis de expectativa a que a análise do seu trabalho estará sujeito, e para
que façam coincidir os seus objectivos pessoais (como jogadores), com os objectivos colectivos da equipa.

4.3. Elaboração de programas de acção


Esta fase da planificação conceptual consubstancia-se no estabelecimento e construção de planos de
intervenção pragmática, que procuram direccionar o trabalho do treinador com o objectivo de fazer aproximar
o mais rapidamente possível, a análise organizacional da equipa em tempo real com a conceptualização do mo-
delo organizativo do jogo da equipa no futuro. Com efeito, o treinador ao estabelecer um programa de trabal-
ho da equipa na direcção a um modelo de jogo a atingir no futuro, mobilizará a sua intervenção ao maior
número de factores condicionantes do rendimento desportivo da equipa no presente e seleccionará os meios
necessários, dando forma e transmitindo conteúdo à organização que se pretende atingir. A presente terceira
etapa da planificação conceptual da organização da equipa, evidencia na sua essência três aspectos fundamen-
tais na elaboração dos programas de acção: reproduzir o modelo de jogo da equipa a atingir no futuro, contro-
lar o processo de evolução dos jogadores e da equipa, e por último, definir de forma realística objectivos inter-
médios.

4.3.1. Reproduzir o modelo de jogo da equipa


Um aspecto fundamental e característico da elaboração dos programas de acção, é a reprodução sis-
240 Guia prático de exercícios de treino

temática do modelo de jogo a atingir pela equipa no futuro, que por sua vez, e como referimos, deve reproduzir
a actividade competitiva na qual a equipa está inserida. Desta forma seleccionam-se meios, métodos e condições
de treino que exercem sobre o organismo dos jogadores um estímulo eficaz que dê resposta aos problemas lig-
ados à melhoria funcional (biológica), técnica, táctica e psicológica, quer no plano individual, quer no plano da
equipa no seu conjunto.
Do referido, não significa que em certos momentos da preparação da equipa, não se privilegiem pro-
gramas de acção com direcção unilateral, isto é, quase utilizem programas que compreendem meios e métodos
que estão principalmente dirigidos para a resolução de um problema concreto, qualquer que este seja, quer no
plano do aperfeiçoamento de uma dada situação de jogo, quer no desenvolvimento de uma certa capacidade
condicional.

4.3.2. Controlar o processo de evolução individual e colectiva


Os programas de acção exprimem, na sua essência, um processo de evolução controlada dos
jogadores e da organização da equipa, intervindo racionalmente na evolução dos factores que condicionam a sua
eficácia. Estabelece-se desta forma um conjunto de critérios que direccionam o seu funcionamento e o seu desen-
volvimento, retirando simultaneamente, o carácter casuístico do processo de treino, substituindo-o por uma sis-
tematização que prevê a direccionalidade para o futuro. Por outras palavras, procura-se que o elemento resul-
tante da actividade cuidadosamente organizada se sobreponha aos acidentais e tenda a eliminá-los por comple-
to.

4.3.3. Definir objectivos intermédios


A elaboração de programas de acção deverá definir de forma precisa e realística objectivos intermé-
dios, em quantidade e qualidade, que quando atingidos constituem uma base segura para confirmar ou redefinir
os referidos programas. Estabelece-se assim a importância da interligação (retroacção) permanente entre o con-
trolo e a correcção dos desvios entre o modelo de jogo real e o modelo de jogo a atingir. Neste contexto, a
definição de objectivos intermédios exige paralelamente, uma rigorosa forma de recolha da avaliação dos resul-
tados da acção da equipa. Basicamente os objectivos intermédios poderão ser confinados a três níveis funda-
mentais: (1) objectivos por etapas. É consubstanciado por um determinado tempo de treino da equipa, sendo
normalmente mais utilizado a(s) semana(s) ou o(s) mês(es), (2) objectivos correntes. É determinado por uma
ou mais sessões de treino realizados pela equipa e, (3) objectivos operacionais. É determinado pelo(s) exercí-
cio(s) fundamentais ao rendimento da equipa, realizados durante a sessão ou sessões de treino.

A planificação estratégica

1. Conceito de planificação estratégica


A planificação estratégica é consubstanciada pela elaboração de planos estratégicos de intervenção
que se traduzem em modificações pontuais e temporárias (funcionalidade especial) da
expressão táctica de base da equipa, isto é, da sua funcionalidade geral, que se estabelece
em função dos conhe-cimentos e do estudo das condições objectivas sobre as quais se
Foto cedida pelo jornal O JOGO

realizará a futura confrontação desportiva.

2. A natureza da planificação estratégica


A natureza da planificação estratégica radica-se no facto de que quando os
jogadores, são alertados (individual e colectivamente) para as condições objectivas da Foto 395. A planifi-
futura competição, e especialmente para as particularidades deste ou daquele adversário, cação estratégica
(combinações e esquemas tácticos executados pela equipa), a sua percepção e análise da
A organização dinâmica do jogo de futebol 241

situação encontrar-se favoravelmente influenciada, facilitando e acelerando a resposta adequada. No entanto há


que ter presente, a possibilidade de variação sistemática de re-solução técnico-táctica das situações de jogo real-
izada pela equipa adversária (consubstanciado pela sua organização: subsistema estrutural, metodológico, rela-
cional e técnico-táctico) reduzindo-se consideravelmente, neste contexto, a coerência dos acontecimentos devi-
do, logicamente, ao aumento do número de variantes possíveis de serem manipulados pelos seus jogadores.
Logo, quanto maior for a variabilidade de resolução técnico-táctica por parte da equipa adversária, mais difíceis
e complexas serão os mecanismos de detecção e identificação reveladores dos índices pertinentes da situação, ou
seja, maior será a dificuldade em seleccionar rapidamente os índices que mantêm a sua identidade mau grado
as suas possíveis transformações.

3. Objectivos da planificação estratégica


O objectivo fundamental e único da planificação estratégia é o de assegurar as modificações pontu-
ais e temporárias da funcionalidade geral da equipa, isto é, adaptar a sua expressão táctica em função das
condições e da especificidade em que a confrontação desportiva irá decorrer. Estas adaptações estabelecem-se a
partir, entre outras, da identificação e caracterização da expressão táctica da equipa adversária, do terreno de
jogo, das circunstâncias que rodeiam a partida, etc. Pretende-se, neste sentido, obrigar a equipa adversária a
jogar em condições desfavoráveis e vantajosas para a própria equipa, ou, por outras palavras, criar-se situações
e condições de jogo que evidenciem as carências de preparação física, técnica, táctica e psicológica, minimizan-
do ou anulando, neste contexto, os aspectos de organização de jogo mais eficientes da equipa adversária.

4. Meios da planificação estratégica


4.1. Gerais. Basicamente, os meios gerais a ter em atenção para a conceptualização de uma planificação
estratégia, passam por três vertentes fundamentais:
(1) O conhecimento mais ou menos aprofundado da equipa adversária, isto é, ter um conhecimento cor-
recto das potencialidades (pontes fortes), tentando minimizá-los e das vulnerabilidades (pontos fracos) da
equipa adversária para tirar partido destes. No fundo, o que se pretende com a observação/análise da equipa
adversária, é identificar e simplificar a sua organização de jogo, ou seja, o desmontar do seu mo-delo de
jogo, eliminando os aspectos de ordem casuística e analisando os factores que derivam claramente de uma
ordem organizacional e que estabelecem as bases fundamentais do jogo dessa equipa. Neste domínio, o
conhecimento relativo à equipa adversária incidirá essencialmente entre outros aspectos:
A. Na colocação de base dos jogadores no terreno de jogo (sistema de jogo 4:4:2, 4:3:3, etc.).
B. Norma geral de organização tanto do ataque como da defesa (o método de jogo ofensivo e o método
de jogo defensivo).
C. Nas diferentes acções técnico-tácticas individuais e colectivas, e a sua utilização durante o jogo.
D. Na "filosofia" de jogo da equipa (agressividade, eficácia, entreajuda, ritmo, etc.).
E. Nos coordenadores de jogo.
F. Nas soluções das situações de bola parada (esquemas tácticos).
G. Nas atitudes e comportamentos sócio-psicológicos dos jogadores e da equipa no seu conjunto em
situações de adversidade.
H. No tipo de relação com o árbitro e fiscais-de-linha.
(2) O terreno de jogo essencialmente no que diz respeito:
A. Jogar em casa ou fora.
B. Às suas dimensões em termos de largura e profundidade.
C. Às suas condições: relvado, pelado, seco, molhado, encharcado, etc.
(3) Circunstâncias em que se vai desenrolar o jogo, que passa pelos seguintes aspectos:
A. A classificação das duas equipas em confronto.
B. Necessidade de ganhar o jogo.
C. Entrevistas (directores, treinadores, jogadores, etc.).
242 Guia prático de exercícios de treino

D. As condições climatéricas - chuva, vento, calor, etc..


E. O árbitro - critérios subjacentes ao seu trabalho.
F. O público - apoiantes ou não.
G. O nível de rivalidade entre as equipas, etc.

4.2. Específicos. Qualquer das equipas não têm nenhuma possibilidade de conhecer

Foto cedida pelo jornal O JOGO


todas as circunstâncias que ditam as medidas que se estabelecem para a elaboração da
planificação estratégica. E, ainda que conhecessem essas circunstâncias, a sua exten-
são e complexidade são tais que seria sempre impossível adequar-lhes todas as medi-
das. Deste modo, as nossas disposições terão sempre de se adaptar a um certo número
de possibilidades. Assim, os meios específicos da planificação estratégica consubstan-
ciam-se num único aspecto: prever as possíveis alterações ou variantes, que poderão Foto 396. O treinador
deve estar preparado
surgir ao longo do jogo, por parte da equipa adversária, ou seja, estabelecer um con- para a aplicação de cer-
junto de cenários possíveis, se os seus objectivos tácticos não estiverem a ser cumpri- tas medidas
dos. Este aspecto determina igualmente a preparação do treinador para a possibili-
dade da aplicação de certas medidas especiais durante o jogo.

5. Princípios de orientação da planificação estratégica


5.1. Geral. O princípio de orientação geral da planificação estratégica baseia-se no facto de esta ser só aplica-
da para aquele jogo, contra aquele adversário e perante as circunstâncias no momento do encontro. É no
desenvolvimento do plano semanal de treinos (microciclo), que o treinador determinará quais os aspectos
principais do jogo que deverão ser modificados e readaptados, em função do conhecimento das condições em
que este se realizará, por forma a concretizar os objectivos definidos pela equipa - em princípio deverá ser a
vitória.
5.2. Específico. A preparação de uma equipa, independentemente do adversário que se lhe venha a opôr, de-
verá caracterizar-se pela capacidade de executar respostas técnico-tácticas variáveis e eficazes aos problemas
postos pela situação de jogo. É este o sentido e o significado, da expressão de que a organização de uma equipa
deve ter um carácter operativo e adaptativo. Nestas circunstâncias, a preparação de uma equipa para um
determinado confronto (jogo), contra um adversário específico, deverá basear-se "permanentemente no
princípio específico da adaptação da equipa durante o treino e a competição" (Teodorescu, 1984) às princi-
pais características (identificadas), evidenciadas pela expressão táctica da equipa adversária. Com efeito, a
expressão táctica de uma equipa deverá adaptar-se à especificidade da expressão táctica da equipa adversária,
o que implica concretamente a elaboração, opção e execução de certas medidas adaptativas, e tendentes a con-
trariar: (1) a iniciativa as qualidades do ataque adverso (método ofensivo) e dos atacantes que o aplicam. Esta
adaptação, para além de uma protecção eficaz da baliza, procura recuperar a posse da bola em circunstâncias
e momentos que possibilitem uma maior probabilidade de êxito e, (2) os obstáculos criados pela defesa adver-
sária (método defensivo) e dos defesas que o aplicam, obrigando, simultaneamente a equipa adversária a
defender com menor número de jogadores, ou com jogadores de menor qualidade em termos defensivos.

6. Limites da planificação estratégica


A planificação estratégica, que se fundamenta nas diferentes adaptações temporárias da funcionali-
dade geral da equipa, deve ter como limites de aplicação as seguintes vertentes:
(1) À incapacidade da própria equipa encontrar uma resposta no seio dos seus argumentos técnicos, tácticos,
físicos e psicológicos fundamentais para esse aproveitamento de uma forma global e concertada, mas sim
somente em certos aspectos particulares.
(2) As modificações pontuais e temporárias necessárias na preparação da equipa (funcionalidade específica),
serem de tal ordem, que afectam de forma irredutível a sua funcionalidade de base (geral), a qual põe em causa
a eficiência da própria equipa. Isto significa, por exemplo que: i) a colocação de certos jogadores em posições
A organização dinâmica do jogo de futebol 243

"chave" por forma a favorecer o início e o desenvolvimento tanto do ataque como da defesa com os melhores
jogadores (especialistas), ii) a distribuição das tarefas tácticas inerentes aos diferentes jogadores em função do
seu posicionamento e da sua circulação dentro do dispositivo da equipa, bem como, iii) a concordância efec-
tiva entre o método de jogo ofensivo e do método de jogo defensivo por forma a possibilitar um ritmo e um
sincronismo favorável de execução técnico-táctica individual e colectiva, entre outros e variedissimos aspec-
tos da funcionalidade da equipa não devem ser prejudicados, em termos de eficácia, pelo plano estratégico.
Pois, tal como foi referido, o objectivo desta planificação é de criar as condições desfavoráveis para a equipa
adversária e vantajosas para a própria equipa, e não ao contrário. Logo, não deverá ser um elemento pertur-
bador, mas sim catalizador de um melhor rendimento da equipa. Nestas circunstâncias, poderá não haver
qualquer tipo de vantagens de se procurar aproveitar os aspectos menos positivos da equipa adversária, a não
ser em certos aspectos específicos, por exemplo: a organização dos esquemas tácticos ofensivos e defensivos,
marcação individual de um determinado adversário devido à sua capacidade técnico-táctica, etc. Com efeito,
é preciso ter em atenção que "as modificações introduzidas não devem perturbar ou constituir-se como fac-
tores de perturbação da funcionalidade de base da expressão táctica da equipa, pelo contrário, estas modifi-
cações deverão consubstanciar um processo de optimização da funcionalidade da equipa, imprimindo-lhe em
termos de eficácia uma qualidade nova" (Teodorescu, 1984).

Figura 77. As etapas da planificação estratégica em futebol

7. Etapas da planificação estratégica


Basicamente, a planificação estratégica pode ser dividida pelas seguintes oito etapas:
(1) a recolha de dados, (2) a comparação das forças, (3) a elaboração do plano táctico-estratégico, (4) a reunião
de reconhecimento da equipa adversária, (5) elaboração do programa de preparação para o ciclo de treino, (6)
244 Guia prático de exercícios de treino

a experimentação do plano táctico-estratégico, (7) a preparação da equipa nas horas que antecedem o jogo e, (8)
a reunião de análise do jogo.

7.1. Recolha dos dados


A recolha dos dados é a primeira etapa da planificação estratégica através da qual o treinador com-
pila as informações necessárias para conhecer e caracterizar a equipa adversária bem como
os elementos que a constituem. Procura-se fazer uma análise global da equipa adversária
apreciando-se: o seu sistema de jogo, os métodos de jogo (ofensivo e defensivo), o ritmo e

Foto cedida pelo jornal O JOGO


o tempo de jogo, os esquemas tácticos (ofensivos e defensivos), as particularidades dos out-
ros factores de treino (físicos e psicológicos), a qualidade dos jogadores adversários e, por
último, a qualidade do treinador adversário. Para que isto seja efectivamente concretizado
utilizam-se as seguintes fontes de informação: i) fichas de observação cujo conteúdo e forma Foto 397. Os jor-
nais desportivos
são diversas, dependendo do que se pretende avaliar, ii) observação através de meios audio- são uma fonte de
visuais (filmes, vídeo, etc.), iii) os comentários da imprensa desportiva, iv) as trocas de informação da
impressões com os treinadores das equipas que já jogaram com a equipa ou, v) organizar equipa adversária
observações directas por parte do treinador ou dos adjuntos.

7.1.1. As particularidades dos outros factores de treino


As particularidades dos outros factores de treino, tais como a condição física e psicológica são de real
importância na planificação estratégica, pois irá determinar uma orientação geral diferente do jogo colectivo da
equipa, etapa fundamental da elaboração do plano táctico-estratégico. Nestas circunstâncias, se a equipa adver-
sária apresenta problemas ao nível da condição física (devido a questões de preparação, inerentes ao planea-
mento de treino, ou pelo facto de ter disputado um outro jogo e o tempo de recuperação sido curto), então é
importante estabelecer condições em que as situações de jogo sejam realizadas a ritmos elevados, através de uma
variação sequencial da velocidade de execução dos comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos, por
forma a evidenciar estas carências de preparação. Noutro sentido, se a equipa adversária apresenta uma condição
psicológica diminuta (devido à acumulação de resultados negativos, ou por não atingir os objectivos e metas
estipuladas no início da competição), é fundamental estabelecer condições de jogo que obriguem os adversários
a entrar em crise de raciocínio táctico, expondo-os a respostas tácticas não condizentes com as situações de jogo,
e ou criar inclusivamente "cenários" de conflitualidade com os adversários, por forma a que estes tenham cada
vez mais, um entendimento menos lúcido dessas mesmas situações.

7.1.2. A qualidade dos jogadores adversários


O estudo dos jogadores que formam a equipa de base adversária, o valor dos jogadores considerados
suplentes e o estudo da acção dos coordenadores de jogo, são dados importantes para a formulação de uma plan-
ificação estratégica eficaz. Com efeito, é fundamental ter uma informação o mais completa possível dos
jogadores que constituem normalmente a equipa base adversária e reconhecer as suas qualidades predominantes
nos planos técnico, táctico, físico e psicológico. O conhecimento do valor dos jogadores suplentes é igualmente
importante, pois, é possível prever as diferentes opções que o treinador detém na planificação táctica, por forma
a alterar o curso dos acontecimentos através da possibilidade de aplicar certas medidas especiais durante o jogo,
que são dinamizadas pela utilização destes jogadores em qualquer momento. O jogo de futebol da actualidade
é caracterizado por um elevado conjunto de acções técnico-tácticas individuais e colectivas, facto que determi-
nou o aparecimento de jogadores especialistas na coordenação dessas acções, por forma a impri-mir um ritmo
e um sincronismo mais adaptado e eficaz à resolução das situações de jogo. Com efeito, os coordenadores de
jogo são caracterizados, como referimos, pela sua elevada capacidade de raciocínio táctico e capacidade técnica,
procurando adaptar de forma criativa as situações de jogo ao plano ofensivo e defensivo estabelecido pela equipa.
Neste contexto, importa determinar e analisar em que medida se torna importante desenvolver e distribuir mis-
sões tácticas específicas, por forma a diminuírem a eficácia destes jogadores e em que medida esta diminuição
A organização dinâmica do jogo de futebol 245

se traduz consequentemente na diminuição do rendimento da equipa.

7.1.3. A qualidade do treinador adversário


As informações referentes às qualidades do treinador adversário são igualmente importantes, tanto
na concretização eficaz de uma planificação estratégica da nossa equipa, como também, na sua aplicação na pla-
nificação táctica, isto é, durante o decorrer da competição - jogo. A importância destas informações deriva fun-
damentalmente de um conhecimento da personalidade e das características do comportamento do treinador
adversário. Estes conhecimentos indiciam um conjunto de hábitos, que estabelecem, por um lado, concepções
estratégicas que durante a competição se transformam em acções tácticas operativas e, por outro, definem a sua
filosofia de interpretação das circunstâncias em que decorre a competição e o nível de importância que ele lhes
atribui. Nesta perspectiva, podemos afirmar a existência de duas filosofias de base dos treinadores:
(1) Num sentido, é fácil admitir que certos treinadores, independentemente da equipa adversária, do momen-
to do período competitivo, da classificação das equipas em confronto, etc., não estabelecem qualquer tipo de
modificações (pontuais e temporárias) à funcionalidade geral e específica da equipa, por forma a adaptar efi-
cientemente (tirando todas as vantagens e desvantagens inerentes a este processo) a expressão táctica da sua
equipa à expressão táctica da equipa adversária. Com efeito, esta filosofia traduz-se na apresentação de uma
equipa de base idêntica para todos os jogos, mantendo igualmente as mesmas missões tácticas distribuídas aos
diferentes jogadores que a constituem. Estes treinadores procuram, em última análise, manter os padrões de
eficácia anteriormente atingidos e evitar qualquer tipo de modificações que poderiam, em sua opinião, prej-
udicar essa eficácia, constituindo-se neste caso como um elemento perturbador do rendimento da equipa.
(2) Noutro sentido, existem treinadores que por natureza e formação "reagem" aos conhecimentos que obtêm
das circunstâncias em que o jogo irá decorrer, dando assim importância à expressão táctica da equipa adver-
sária. Partindo destes conhecimentos, procuram elaborar as melhores soluções de adaptação (pontual e tem-
porária) da sua própria equipa, à funcionalidade geral e específica da equipa adversária, por forma a que esta
seja expressa em condições o mais desfavoráveis possível. Partindo desta filosofia, o treinador pode para além
de uma ou outra alteração à equipa de base (através de uma utilização mais fluente dos jogadores considera-
dos suplentes), modificar missões tácticas específicas e distribuí-las aos diferentes jogadores que constituem a
equipa, estabelecendo numa ou noutra situação de jogo, outras soluções tácticas, por forma a surpreender o
adversário, aumentando, com efeito, e na sua opinião, a eficácia e os índices de rendimento da equipa.

7.2. Comparação das forças


Da mesma forma que é importante ter um conhecimento tão exaustivo quanto possível da equipa
adversária, esta etapa da planificação estratégica - comparação das forças - pressupõe a existência de dados coer-
entes e exaustivos respeitantes às particularidades dos jogadores e da própria equipa, recolhidos basicamente,
sob os mesmos critérios utilizados para a apreciação dos adversários. Com efeito, só assim é possível efectuar-se
uma comparação objectiva entre as duas equipas que irão competir. A comparação das forças é uma operação
muito importante, pois é esta que irá determinar:
(1) As adaptações e modificações no plano estrutural (disposição dos jogadores no terreno de jogo e a dis-
tribuição das missões tácticas aos diferentes jogadores).
(2) As adaptações e modificações no plano metodológico (organização geral dos métodos de jogo, tanto no
ataque como na defesa).
(3) As adaptações e modificações no plano técnico-táctico (fundamentalmente no que concerne aos desloca-
mentos ofensivos e defensivos, temporizações, desdobramentos da equipa, esquemas tácticos, etc.).
(4) O conteúdo da preparação da equipa no respectivo ciclo de treino, isto é, as acções a serem desenvolvidas
(quer no plano técnico, táctico, físico e psicológico) para as diferentes unidades de treino, a serem reali-zadas
durante o período de preparação para o jogo.
(5) O plano táctico-estratégico colectivo, onde se determinam quais os aspectos fundamentais para o sucesso
no jogo.
246 Guia prático de exercícios de treino

(6) A escolha dos elementos que irão constituir a equipa (universalistas, especialistas, coordenadores).
(7) As missões tácticas individuais (especiais) dos jogadores.
(8) O comportamento global da equipa.

7.3. Elaboração do plano táctico-estratégico


Estabelecida a comparação de forças entre as duas equipas, passar-se-á a uma fase na qual determi-
narão o(s) aspecto(s) principal(is) para o sucesso no jogo. Neste sentido, a partir da análise objectiva dos dados
anteriormente referidos, o treinador irá elaborar o plano táctico-estratégico
cuja importância tem vindo a aumentar ao longo dos anos, devido essencial-
mente à exigência cada vez maior de se obter elevados níveis de eficácia das
equipas. Neste domínio, para além dos aspectos positivos que advêm do
desenvolvimento de uma estratégia que procura criar as condições mais van-
tajosas para atingir os objectivos preestabelecidos, em função dos conheci-
mentos da equipa adversária, importa igualmente salientar que a sua elabo-
ração providencia a obtenção de dados sobre quatro aspectos fundamentais: Figura 78. A elaboração do plano
táctico-estratégico é um dos aspectos
(1) A possibilidade de o treinador no mesmo momento que define a mel-
fundamentais das funções do
hor preparação possível para a sua equipa, se preparar teórica e mental- treinador
mente para a competição, estabelecendo quais serão as respostas tácticas
mais rápidas, mais racionais e mais eficazes às questões formuladas pelo treinador, e pela equipa adversária,
durante a competição.
(2) Avaliar as divergências verificadas entre o plano táctico concebido e as situações de jogo surgidas durante
a competição, podendo assim aferir-se a metodologia de preparação da equipa, no que diz respeito à sua eficá-
cia e às suas deficiências.
(3) Avaliar o grau de identidade entre o plano proposto aos jogadores e a sua aplicação durante a competição.
(4) Utilização de todos estes elementos para a etapa de reunião de análise do jogo na qual participam todos
os elementos da equipa.

Devido à importância desta etapa na planificação estratégia iremos analisá-la subdividindo-a hierar-
quicamente nas seguintes vertentes: a orientação geral do jogo colectivo, a adaptação dos métodos de jogo da
equipa em função das particularidades da expressão táctica adversária, planeamento das acções tácticas difer-
entes por forma a surpreender o adversário, constituição da equipa e a distribuição das missões tácticas.

7.3.1. A orientação geral do jogo colectivo


Nesta etapa o treinador estabelece fundamentalmente qual das fases do jogo (ataque ou defesa) con-
stituirá o aspecto principal para se atingir a vitória, ou os objectivos da equipa e, consequentemente, se a orga-
nização da defesa se subordinanará a organização do ataque ou se deverá ser ao contrário:
(1) Se a equipa, na sequência de uma avaliação correcta, é capaz de tomar e manter a iniciativa do jogo, o
ataque terá carácter prioritário (se nada houver em contrário: por exemplo não haver necessidade absoluta de
vencer o confronto), tornando-se a orientação geral do jogo colectivo, isto é, a parte fundamental, subordi-
nando-se a defesa à organização e desenvolvimento do ataque.
(2) Se pelo contrário a equipa adversária é aquela que normalmente terá a iniciativa, neste caso, a parte fun-
damental da orientação táctica será a defesa e, em função da sua organização e tarefas, assim funcionará o
ataque.

(3) Se a equipa adversária é desconhecida a determinação da parte fundamental torna-se mais complexa. No
entanto recomenda-se que a equipa tome e mantenha a iniciativa do jogo desde o seu início por forma a sur-
A organização dinâmica do jogo de futebol 247

preender o adversário, sem contudo, descuidar o equilíbrio e a organização defensiva, por forma a consolidar
os sucessos do ataque.

A orientação geral do jogo colectivo também pode ser influenciada pelo facto de se jogar em casa, ou
no terreno do adversário. Neste sentido, para o primeiro caso, seja qual for a classificação da equipa esta não
poderá "dar-se ao luxo" de perder no seu próprio terreno. Logo, o treinador procurará que a sua equipa tenha a
iniciativa do jogo, dando assim, preponderância ao ataque, sendo consequência da sua expressão colectiva, con-
substanciado num domínio desde o início do jogo. No segundo caso, a orientação geral do jogo colectivo quan-
do a equipa se desloca ao terreno do adversário, parte basicamente de uma "aceitação" do domínio desta, dando
assim, preponderância à defesa, não descurando a possibilidade de contra-atacar sempre que for possível.

7.3.2. A adaptação dos métodos de jogo da equipa em função das particularidades


da expressão táctica adversária
Uma vez estabelecido este pressuposto principal, o treinador fará a adaptação dos métodos de defe-
sa e ataque da própria equipa, tomando em consideração as particularidades do adversário. Esta adaptação dos
métodos deverá ser concebida pensando que o adversário irá utilizar o mais incómodo ataque e a mais eficaz
defesa contra a nossa equipa. Nestas circunstâncias, tomemos em consideração alguns exemplos a partir dos
quais a equipa adversária apresenta:
(1) Dificuldades no que concerne aos equilíbrios defensivos, dentro do seu plano estrutural e metodológico,
nos momentos que se sucedem à perda da posse da bola, assumindo somente após um período de tempo mais
ou menos alargado, uma consistência e uma homogeneidade mais eficaz. Neste contexto, o plano táctico
(estratégia) deverá insistir para o facto de a preparação da equipa consubstanciar, logo após a recuperação da
posse da bola. o relançamento imediato do processo ofensivo em termos de largura e profundidade.
Transporta-se o centro do jogo para espaços predominantes de finalização, por forma a não conceder o tempo
necessário (habitual) para que a equipa adversária possa evoluir (após a perda de possa de bola) para níveis
de organização defensiva mais estáveis e consistentes. Procura-se assim, criar as condições e as situações de
jogo que objectivem uma contínua instabilidade na equipa adversária mantendo, ou inclusivamente aumen-
tando, o seu desequilíbrio inicial.
(2) Concentra um grande número de jogadores nas zonas predominantes de finalização, por forma a fazer
uma cobertura o mais ampla possível da sua própria baliza, mobilizando um número reduzido de jogadores
no desenvolvimento do processo ofensivo (após a recuperação da posse da bola). Nesta situação, o plano tác-
tico deverá incidir numa preparação da equipa, tendo em vista um aumento da velocidade de execução das
acções técnico-tácticas nas zonas predominantes de finalização, simplificar a etapa da criação de situações de
finali-zação (1x1; 2x2; 3x3, etc.), jogar na largura do campo com uma utilização judiciosa dos corredores lat-
erais do jogo com a utilização do jogo aéreo, aumento da distância de finalização, etc. Deve manter um equi-
líbrio dinâmico e eficaz, logo após a perda da posse da bola, através da marcação agressiva sobre os adver-
sários que normalmente se envolvem no ataque, por forma a parar de imediato o possível contra-ataque,
ganhar tempo para a reorganização da defesa, e/ou reorganização do ataque que foi interrompido momen-
taneamente.
(3) Se apresenta aspectos negativos em termos de condição física, então o plano táctico deverá estabelecer
condições de jogo em que a maior parte dos processos ofensivos sejam realizados com um elevado ritmo (vari-
ação da velocidade de execução dos comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos), por forma a
evidenciar as carências de preparação da equipa adversária, obrigando a jogar em condições desvantajosas.

7.3.3. Planeamento de acções tácticas diferentes por forma a surpreender o adversário


Uma vez que a planificação estratégica representada pelo processo metodológico de preparação da
equipa para a competição (em função dos conhecimentos da expressão táctica que temos da equipa adversária),
248 Guia prático de exercícios de treino

não é exclusivo de um só treinador, nem de uma só equipa, mas pelo contrário se encontra disseminada a dife-
rentes níveis por quase todas equipas e treinadores. Não será de admirar que o conhecimento das diferentes
equipas, por parte dos diferentes treinadores, numa dada competição desportiva (por exemplo: Campeonato
Nacional), seja basicamente igual. Podemos assim afirmar que num determinado confronto, existe como que um
conhecimento recíproco das expressões tácticas das equipas. Esta realidade apresenta todas as vantagens em ten-
tar-se, simultaneamente à elaboração do plano táctico estabelecer, algumas medidas e acções tácticas dife-rentes
que constituirão acções surpresa contra o adversário, mesmo que hipoteticamente. "Mais ainda, existem reais
possibilidades de antecipar as prováveis variantes do comportamento técnico-táctico individual e colectivo dos
adversários, levando-os a reagir dum certo modo que lhes seja desfavorável, mas por outro lado, muito vanta-
joso para a própria equipa" (Teodorescu, 1984).

7.3.4. Constituição da
equipa

Uma vez
elaborado o
plano táctico-
estratégico, o
treinador determi-
nará a constituição da
equipa que considera capaz
de o aplicar, partindo do pres-
suposto que esta deve ter como
parâmetro essencial "a eficácia, e
implicitamente a funcionalidade, da qual Figura 79. Planear acções tácticas diferentes por forma a
se assegura aquela eficácia" (Teodorescu, surpreender o adversário
1984). No entanto, é preciso ter em mente, que a constituição da equipa é uma das "áreas mais sensíveis" da
dialéctica que se esta-belece entre o grupo de jogadores que formam a equipa e o treinador que é o responsável
máximo (enquadran-do-se plenamente dentro das suas competências profissionais) pela gestão desses recursos
humanos. Todavia, o treinador deve aperceber-se que a constituição da equipa é um fenómeno que fascina a
larga maioria das pessoas que se interessam pelo futebol, sentido-se capazes de a indicar a qualquer momento,
sob quaisquer circunstâncias. Contudo, esquecem-se que a constituição de uma equipa de futebol é objectivada,
por um lado, pela direccionalidade das diferentes actividades essenciais dos jogadores e, por outro, pela inte-
gração e coerência interna do grupo através de orientações claras. A escolha dos jogadores que irão fazer parte
da equipa para um determinado confronto, não pode fugir aos aspectos evidenciados por estes objectivos. Logo,
a constituição da equipa deverá passar, numa primeira análise, por dois critérios básicos:
(1) O primeiro é consubstanciado pela escolha e distribuição por lugares no contexto dos sectores (defensi-
vo, médio e atacante) da equipa, em função da necessidade de assegurar a funcionalidade da táctica de base
da equipa.
(2) O segundo é traduzido pela escolha de jogadores que estabelecem a adaptação da funcionalidade de base
da equipa, em função das características da expressão táctica da equipa adversária, conferindo-lhe uma fun-
cionalidade específica com carácter temporário (só para aquele jogo).

Para além dos critérios fundamentais acima referidos dever-se-ão tomar igualmente em consideração
os seguintes aspectos:
(1) O estado de capacidade de rendimento óptimo em que os diferentes jogadores se encontram, isto é, a sua
forma desportiva.
(2) A personalidade dos jogadores, que se expressa nas relações e interrelações de cooperação e de oposição
A organização dinâmica do jogo de futebol 249

com os companheiros e adversários, num quadro complexo em virtude das suas funções específicas e da vari-
abilidade-imprevisibilidade das diferentes situações de jogo.
(3) A ligação entre os jogadores, do ponto de vista social, mas principalmente no que se refere à compreen-
são e resolução táctica das situações de jogo, utilizando para isso os mesmos princípios orientadores que coor-
denam as atitudes e comportamentos técnico-tácticos.
(4) O facto da equipa se encontrar mal ou bem classificada em função das metas e objectivos delineados no
princípio da época desportiva. Neste sentido, as más classificações que derivam da acumulação de maus resul-
tados fazem com que o treinador tenha a necessidade de mudar qualquer coisa, mesmo que não esteja con-
vencido antecipadamente das possibilidades do sucesso.
(5) No caso inverso, a equipa ao encontrar-se bem classificada, deverá manter a mesma constituição da
equipa, procurando assegurar a dinâmica de vitória e prolongá-la o máximo de tempo possível. O treinador
deverá, nestas circunstâncias, fazer sentir aos jogadores a necessidade de aumentar as exigências com o in-
tuito de valorizar as suas prestações anteriores como expressão normal das qualidades de cada um.

Importa referir, que embora a constituição da equipa de base para o jogo seja estabelecida, na sua
globalidade, alguns dias antes da competição, isso não significa que esta seja inalterável. Com efeito, é impor-
tante ao longo do ciclo de preparação da equipa (microciclo de treino) que se reavalie constantemente a equipa
em termos colectivos e individuais, as opções que derivam não só da capacidade dos jogadores considerados
suplentes, mas também do seu empenhamento neste e nos períodos de preparação anteriores. Partindo do
princípio que uma equipa de futebol é uma globalidade, sendo definida por um conjunto complexo de repre-
sentações, valores, finalidades, objectivos, símbolos, etc., partilhados em interacção por todos os jogadores que
estabelecem as formas como a equipa encara e conduz a competição. Cada jogador dentro da equipa adere a
uma "visão comum", sabendo à priori o lugar que ocupa em relação aos seus colegas, tendo uma ideia precisa
das suas tarefas e missões tácticas dentro da equipa, o que a equipa espera dele e a melhor forma de ele corres-
ponder a essa expectativa. Consequentemente, as decisões tomadas pelo treinador, no que concerne à constitu-
ição da equipa deverão ser realizadas de forma isenta não manifestando qualquer preferência individual. Neste
sentido, todas as decisões deverão ser tomadas a partir de factos concretos e critérios definidos (no plano con-
ceptual, por exemplo). Assim, a consistência interna de uma equipa será tanto maior quanto as decisões forem
tomadas a partir da coerência dos factos e não baseadas nas pessoas (jogadores), ou por outras palavras, nada
destrói tão facilmente a coerência interna do grupo se as orientações no que se refere à constituição da equipa
não se basearem em atitudes e comportamentos coerentes por parte do treinador. Paralelamente é necessário
que todos (jogadores, directores, sócios, etc.) estejam conscientes, a qualquer momento, que a constituição da
equipa é (foi) decidida com a clara intenção de se atingir o melhor resultado possível. "Uma constituição justa
não é necessariamente a mais acertada. Uma equipa acertada não é necessariamente justa. Antes do jogo se
realizar há que actuar com critérios de justiça e coerência, se foi ou não acertada só no final do jogo se verá"
(Bauer e Ueberle, 1982).

7.3.5. Distribuição das missões tácticas


Estabelecido o plano táctico-estratégico e a constituição da equipa, o treinador deverá distribuir as:
(1) Missões tácticas individuais, para as quais deverá ter em conta as particularidades e as capacidades dos
jogadores escolhidos, procurando realçar o seu valor.
(2) Missões tácticas colectivas, que visam a coordenação das acções de 2 ou 3 jogadores procurando: i) min-
imizar a eficácia técnico-táctica de um ou mais adversários ou, ii) tirar vantagem de um aspecto menos pos-
itivo de um certo espaço de jogo ou de um adversário.
Neste domínio, as missões tácticas individuais e colectivas, concretizam a funcionalidade da equipa,
criando-se condições mais vantajosas para que os jogadores possam exteriorizar, potenciar e valorizar todas as
suas capacidades individuais e a funcionalidade especial que concretiza as adaptações da funcionalidade de base
da equipa em função da expressão táctica da equipa adversária. Basicamente existe uma relação extrínseca entre
250 Guia prático de exercícios de treino

as missões tácticas individuais e as missões tácticas colectivas. Com efeito, as primeiras devem subordinar-se às
segundas, enquanto que estas deverão favorecer a realização das primeiras, isto é, não perturbando a iniciativa
dos jogadores. Por último, todas as missões tácticas atribuídas deverão ser do conhecimento de todos os ele-
mentos da equipa (incluindo os suplentes) contribuindo-se assim, para um melhor entendimento entre os
jogadores. Nestas circunstâncias, é possível para qualquer jogador em qualquer momento do jogo, ocupar rápi-
da e espontaneamente um lugar e uma missão táctica de um seu companhei-ro, mantendo-se a dinâmica orga-
nizativa da equipa. Muda-se assim momentaneamente de lugar e funções, mas nunca de responsabilidades, orga-
nização e soli-
dariedade.

7.4. Reunião de
reconhecimento do
adversário
A
reunião de recon-
hecimento da
equipa adversária
constitui-se como a
primeira etapa de
carácter teórico da
planificação
estratégica de
preparação da Figura 80. Factores que influenciam a constituição da equipa
equipa para a com-
petição, e visa essencialmente, tal como a sua denominação indica, dar a conhecer aos jogadores, através da
palavra do treinador, os aspectos conside-rados mais pertinentes da organização da equipa adversária. Esta
reunião versará, neste contexto, aspectos técnicos, tácticos, físicos e psicológicos evidenciados pelo seu modelo
de jogo.
1. Importância. A importância da reunião de reconhecimento da equipa adversária decorre do facto de se
consubstanciar, de forma específica, um ciclo de preparação para a competição, traduzido pelos conhecimen-
tos sobre a equipa adversária. Tal como referimos, quando os jogadores são advertidos para as características
do modelo de jogo da equipa em termos gerais, e dos adversários directos em particular, poderão percep-
cionar/analisar a situação de jogo mais rápida e eficazmente, influenciando, por consequência, de forma posi-
tiva a resposta adequada. A importância desta reunião é determinada igualmente pela harmonização dos
divergentes conhecimentos que os diferentes jogadores têm da equipa adversária, baseado em opiniões pes-
soais adquiridas ao longo da sua experiência e pelos meios de informação especializada e não especializada.
2. Objectivos. O objectivo da reunião de reconhecimento da equipa adversária é o de dar a conhecer, sem
sobre nem subestimar o valor dos jogadores e o seu modelo de jogo, analisando de forma sucinta os aspectos
gerais e específicos a partir dos quais se estabelece as suas bases fundamentais. Analisam-se, neste contexto,
as potencialidades da equipa adversária, por forma a minimizá-las, e as suas vulnerabilidades, para tirar par-
tido destas.

3. Meios. A reunião de reconhecimento da equipa adversária poderá ser realizada na cabina onde habitual-
mente os jogadores se equipam, ou numa sala apropriada para o efeito, dentro das instalações do clube. Os
meios específicos a utilizar na reunião de reconhecimento da equipa adversária são os audiovisuais (video-
cassetes), os quadros ou maquetes do terreno de jogo com peças móveis.
4. Princípios. A condução e a direcção da reunião de reconhecimento da equipa adversária, é da responsa-
bilidade do treinador principal que organizará e sistematizará a metodologia de exposição à equipa. Todavia,
A organização dinâmica do jogo de futebol 251

este poderá ser coadjuvado na sua acção pelos seus colaboradores, que poderão dirigir-se aos jogadores para
explicarem as características gerais e específicas do modelo de jogo da equipa adversária. Participam nesta
reunião de reconhecimento da equipa adversária todos os jogadores que constituem o plantel da equipa e a
equipa técnica (treinador principal e adjuntos). O momento ideal para a realização da reunião de reconhe-
cimento da equipa adversária situa-se a 3 ou 4 dias da competição. A duração da reunião não deverá ultra-
passar os 20 minutos, para que os jogadores concentrem a sua atenção nos aspectos e indicações transmitidos
pela exposição do treinador ou auxiliares. O princípio específico desta reunião baseia-se essencialmente, na
observação/análise da equipa adversária por parte do treinador.
5. Metodologia. A metodologia da reunião de reconhecimento da equipa adversária visará fundamentalmente
aspectos tácticos-estratégicos, na qual o treinador, tendo em atenção o nível de especificidade do discurso dev-
erá dirigir o pensamento dos jogadores para a caracterização da equipa adversária, incidindo essencialmente
nos seguintes aspectos: (1) na colocação de base dos jogadores no terreno de jogo (sistema de jogo 4:4:2, 4:3:3,
etc.), (2) na forma geral de organização tanto do ataque como da defesa (o método de jogo ofensivo - con-
tra/ataque, ataque rápido, ataque posicional, etc., e o método de jogo defensivo - defesa zona, defesa mista,
defesa zona pressionante, etc.), (3) nas diferentes acções técnico-tácticas individuais e colectivas e a sua uti-
lização durante o jogo (compensações, combinações tácticas, coerência de movimentação, etc.), (4) na
"filosofia" de jogo da equipa (agressividade, eficácia, entreajuda, ritmo, etc.), (5) nos jogadores que são fun-
damentais na organização da equipa, nas fases ofensiva e defensiva (coordenadores de jogo), (6) nas soluções
das situações de bola parada (esquemas tácticos), (7) nas atitudes e comportamentos sócio-psicológicos dos
jogadores e da equipa no seu conjunto em situações de adversidade e, (8) no tipo de relação com o árbitro e
árbitros assistentes.

7.5. Elaboração do programa de preparação para o ciclo de treino


Estabelecido numa primeira análise, o plano táctico-estratégico que engloba a orientação geral do
jogo da equipa, as adaptações dos métodos ofensivos e defensivos (em função das particularidades da equipa
adversária) e as acções que a possam surpreender, a constituição da equipa e a distribuição das missões tácticas
individuais e colectivas, o treinador deverá passar à concretização do referido plano, através da elaboração e apli-
cação do programa de preparação do respectivo ciclo de treino. Este programa (habitualmente semanal) com-
preende:
(1) O número de treinos a efectuar durante este ciclo.
(2) A sua duração e a gradação da intensidade do esforço.
(3) Os exercícios mais específicos e idênticos, isto é, os mais eficazes.
(4) A possibilidade de efectuar um jogo-treino que servirá de teste ao plano táctico e às missões tácticas a
desempenhar pelos diferentes elementos da equipa (etapa estratégica denominada de experimentação).

7.5.1. Número, duração, gradação e objectivos fundamentais das sessões


de treino durante um microciclo competitivo
A elaboração de um programa de preparação para o ciclo de treino passa primeiramente pela con-
cretização do número de treinos a realizar, a sua duração, a gradação da intensidade do esforço a que os
jogadores estarão sujeitos e, por último, aos objectivos fundamentais a que cada sessão de treino deve obedecer.
Todavia, é importante ter em mente que o factor predominante para qualquer programa de preparação da
equipa está dependente do tempo disponível entre a realização sucessiva de duas competições. Neste sentido,
para um microciclo competitivo com 6 dias de intervalo entre dois jogos, este deverá assumir as seguintes carac-
terísticas fundamentais:
1º Dia. Esta sessão de treino é essencialmente direccionada aos jogadores que não foram convocados para o
jogo, ou que não jogaram. Tem como dominante o factor técnico-táctico realizado num regime específico no
que concerne às capacidades físicas condicionantes, com uma intensidade e volume médios. Os restantes
jogadores poderão ter dia livre, ou realizar uma sessão de treino de recuperação fundamentalmente direc-
252 Guia prático de exercícios de treino

cionada aos aspectos fisiológicos, num regime de intensidade e volume diminutos.


2º Dia. Esta sessão de treino é fundamentalmente direccionada a todos os jogadores da equipa. Tem como
dominante o factor físico (qualidades específicas), realizadas sempre que possível num regime técnico-táctico
de execução, com uma intensidade média e um grande volume.
3º Dia. Este dia de preparação da equipa é especialmente concebido para um aumento máximo do volume e
de intensidade na execução dos exercícios propostos. Poderá ser construído sob a forma de duas sessões de
treino, fundamentalmente direccionados à dominante técnico-táctica individual (na parte da manhã), para
um grande volume e uma intensidade máxima e técnico-táctica colectiva (na parte da tarde), para um volume
má-ximo e uma intensidade média, em regime de melhoramento das capacidades físicas específicas (força
reactiva, velocidade de reacção, resistência, velocidade de execução, etc.).
4º Dia. O quarto dia de preparação da equipa poderá ser igualmente construído na base de duas sessões de
treino com objectivos divergentes. Neste sentido, na parte da manhã, procura-se prolongar os efeitos das
sessões de treino do dia anterior, através de um grande volume e com uma intensidade perto do máximo.
Numa dominante técnico-táctica colectiva num regime físico específico. Na parte da tarde, a sessão de treino
é fundamentalmente direccionada para a recuperação dos jogadores das três sessões a que foram submetidos
nas últimas 24 horas. Com efeito, o treino consubstancia-se num conjunto de exercícios de carácter físico
(recuperação fisiológica), executados a uma intensidade diminuta.
5º Dia. A única sessão de treino a realizar no quinto dia de preparação da equipa tem como objectivo funda-
mental o afinamento da organização ofensiva e defensiva da equipa e do seu plano táctico/estratégico. Neste
contexto, a sessão de treino deve ter como dominante o factor técnico-táctico num regime de grande ou
médio volume e de intensidade média.
6º Dia. A sessão de treino no sexto dia de preparação da equipa para a competição, deverá ter como objec-
tivos, para além do afinamento dos aspectos particulares da organização da equipa, como são por exemplo: o
treino das situações de bola parada (esquemas tácticos), deverá ter igualmente, um carácter lúdico por forma
a diminuir a pressão sobre os jogadores em função das suas responsabilidades e missões tácticas dentro da
equipa. O volume de treino deverá ser pequeno, enquanto que a intensidade é média. Os jogadores não con-
vocados para a competição deverão prolongar o seu treino numa perspectiva técnico-táctica (se o número de
jogadores disponíveis derem essa possibilidade).

Para um microciclo competitivo com 5 dias de intervalo entre dois jogos, este deverá assumir as
seguintes características fundamentais:
1º Dia. Esta sessão de treino apre-
senta basicamente os pressupostos
referidos para o primeiro dia de
preparação do microciclo anterior.
Com efeito, a sessão de treino visa o
melhoramento das capacidades téc-
nico-tácticas dos jogadores que não
competiram e a recuperação dos
outros jogadores.
2º Dia. Esta sessão de treino apre- Figura 81. Planeamento de um microciclo de treino com seis dias de intervalo entre duas
competições
senta basicamente os pressupostos
referidos para o segundo dia de preparação do microciclo anterior. Neste contexto, a sessão de treino visa o
melhoramento das capacidades físicas gerais e específicas de todos os jogadores da equipa, tanto quanto pos-
sível, num regime técnico-táctico de execução.
3º Dia. O terceiro dia de preparação da equipa é especialmente concebido para um aumento máximo da inten-
sidade e um grande volume na execução dos exercícios propostos. A sessão de treino é fundamentalmente
direccionada para a dominante técnico-táctica, em regime de melhoramento das capacidades físicas específi-
A organização dinâmica do jogo de futebol 253

cas (força de impulsão, velocidade de reacção, resistência, velocidade de execução, etc.).


4º Dia. O quarto dia de preparação tem como objectivo fundamental o afinamento da organização ofensiva e
defensiva da equipa e do seu plano táctico/estratégico. Neste contexto, a sessão de treino deve ter como do-
minante o factor técnico-táctico num regime de grande volume e intensidade.
5º Dia. Esta sessão de treino apresenta basicamente os pressupostos referidos para o sexto dia de preparação
do microciclo anterior. Com efeito, a sessão de treino visa não só a conservação das capacidades técnicas, tác-
ticas e físicas dos jogadores, como a diminuição da pressão psicológica sobre estes.

Para um microciclo competitivo com três jogos, deverá assumir as seguintes características funda-
mentais:
1º Dia. Esta sessão de treino apresen-
ta basicamente os pressupostos
referidos para o primeiro dia de
preparação do microciclo anterior.
Com efeito, a sessão de treino visa o
melhoramento das capacidades técni-
co-tácticas dos jogadores que não
competiram e a recuperação dos out-
ros jogadores.
2º Dia. O segundo dia de preparação
da equipa, apresenta basicamente os
pressupostos referidos para o quinto Figura 82. Planeamento de um microciclo de treino com cinco dias de intervalo entre duas
competições
dia de preparação do microciclo
anterior. Neste sentido, a sessão de treino visa não só a conservação das capacidades técnicas, tácticas e físi-
cas dos jogadores, como a diminuição da pressão psicológica sobre estes.
3º Dia. O terceiro dia de preparação da equipa apresenta basicamente os pressupostos referidos para o
primeiro dia de preparação do presente microciclo. Com efeito, a sessão de treino visa o melhoramento das
capacidades técnico-tácticas dos jogadores que não competiram e a recuperação dos outros jogadores.
4º Dia. O quarto dia de preparação tem como objectivo fundamental o afinamento da organização ofensiva e
defensiva da equipa e do seu plano táctico/estratégico. Neste contexto, a sessão de treino deve ter como domi-
nante o factor técnico-táctico num regime de grande volume e de intensidade média.
5º Dia. O quinto dia de preparação da equipa, apresenta basicamente os pressupostos referidos para o segun-
do dia de preparação do presente microciclo. Neste sentido, a sessão de treino visa não só a conservação das
capacidades técnicas, tácticas e físicas dos jogadores como a diminuição da pressão psicológica sobre estes.

7.5.2. A construção dos exercícios de treino para


o microciclo de preparação
da equipa
Nesta fase da
planificação estratégica,
procura-se essencialmente a
construção hipotética dos
exercícios que o treinador
considera potencialmente
capazes de desencadear, orga-
nizar e orientar a actividade
dos jogadores em direcção a
um objectivo válido, específi- Figura 83. Planeamento de um microciclo de treino com três competições
254 Guia prático de exercícios de treino

co e idêntico, quando se procura aprender, aperfeiçoar ou desenvolver um ou vários aspectos do rendimento


individual e colectivo da equipa, durante as diferentes sessões de treino estabelecidos pelo programa de
preparação. Com efeito, o fundamento metodológico do treino desportivo assenta, na repetição lógica, sis-
temática e organizada de diversos exercícios que determinam a linha de orientação e a profundidade das adap-
tações dos jogadores à especificidade do jogo de futebol, ou seja, à sua lógica interna. Assim, o exercício, ou os
exercícios são, em última análise, a estrutura de base de todo o processo responsável pela elevação, manutenção
e redução do rendimento dos jogadores e das
equipas, por forma a aumentar os seus limites de
adaptação, com a finalidade de atingir o máximo de
rendimento (sob um regime de economia de
esforço e de resistência à fadiga), um resultado
preestabelecido. Naturalmente o sucesso obtido em
treino e em competição está em relação directa com a eficácia do
próprio exercício. Parte-se pois, do pressuposto racional e objectivo

Foto cedida pelo O JOGO


que não existem exercícios inócuos e de que a melhor adaptação pro-
duzir-se-à somente em resposta ao melhor exercício. É neste sentido
que podemos considerar que o exercício, é o meio fundamental do Fotos 398/399. A orientação do treino por
parte do treinador
treinador, para que este possa definir, direccionar e modificar o proces-
so de formação e desenvolvimento, ou seja, de transformação dos jogadores, sem o qual não é possível que estes
respondam de forma adequada e eficaz às exigências que a competição em si encerra.

7.6. Experimentação do plano táctico-


estratégico
O processo de planificação
estratégica poderá conter uma etapa de exper-
imentação que se traduz efectivamente na
realização de um jogo de treino com uma
outra equipa por forma a testar-se o plano
táctico-estratégico elaborado. Com efeito, é
possível através dos pressupostos desta etapa
avaliar o grau de pertinência da planificação
convencionada que concorra para a con-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

cretização dos objectivos estabelecidos, ou


mesmo mo-dificá-la se for necessário.
Todavia, é importante ter em atenção alguns
Fotos 400/401/402. O exercício de treino como elemento aspectos particulares na organização e realiza-
orientador das adaptações dos jogadores
ção desta etapa de experimentação:
(1) A equipa escolhida deverá simular o mel-
hor possível as condições em que se irá disputar o jogo para o qual nos estamos a preparar. Neste contexto,
o seu modelo de jogo deve apresentar características seme-lhantes ao da equipa adversária.
(2) Uma vez que esta experimentação é realizada temporalmente muito perto da competição, é importante
que a carga física seja controlada para que não haja uma acumulação excessiva de fadiga, não permitindo con-
sequentemente, a recuperação dos jogadores antes da competição. Com efeito, para obviar este aspecto, pre-
conizam-se interrupções sistemáticas e espaçadas no tempo de jogo de treino por forma a que os jogadores
tenham a possibilidade de recuperar dos esforços produzidos e simultaneamente recebam informações por
parte do treinador. poder-se-á também realizar o jogo de treino diminuindo o tempo total, fazendo-o corre-
spon-der a 45 minutos.
(3) É necessário ter um cuidado muito especial no que se refere às eventuais cargas (faltas, infracções) que
A organização dinâmica do jogo de futebol 255

podem suceder durante o jogo de treino entre os jogadores, porque poderão originar lesões impeditivas destes
darem o seu contributo na competição.

7.7. A preparação da equipa nas horas que antecedem o jogo


A preparação da equipa nas horas que antecedem o jogo (normalmente entre as 36 e as 24 horas), é
constituída pelas seguintes etapas: a concentração para o jogo, o último treino da equipa antes do jogo, a reunião
de preparação para o jogo, o aquecimento, as últimas palavras momentos antes do jogo, a escolha do campo ou
do pontapé de saída e o regresso à calma.

7.7.1. A concentração para o jogo


A concentração é uma das formas de preparação da equipa nas horas que antecedem a competição,
na qual os jogadores convocados para o jogo se reúnem com o objectivo de se estabelecerem as condições mais
favoráveis a um isolamento da equipa e a uma preparação mental, intelectual e energética, específica para o con-
fronto. Basicamente a concentração realiza-se entre as 36 e as 24 horas antes da competição. Este período poderá
ser mais lato, estando dependente (no caso do jogo se realizar no terreno do adversário) do tempo ineren-te ao
deslocamento da equipa para o local onde se efectua o confronto. Todavia, as concentrações não devem ser lon-
gas porquanto aumentam as probabilidades de serem geradoras de tensões prejudiciais ao bom relacionamento
entre os diferentes elementos que constituem a equipa (jogadores, técnicos, massagistas, etc.), e consequente-
mente influenciarem de forma negativa o rendimento desta.

7.7.2. O último treino da equipa antes do jogo


Normalmente o último treino da equipa é realizado 24 horas antes da competição, ou na manhã do
próprio dia do jogo. No primeiro caso, os objectivos do último treino prendem-se essencialmente no afinar de
um conjunto de situações tácticas a desenvolver durante o jogo. Nas competições internacionais (liga dos
campeões, taça das taças, taça UEFA, etc.), é norma este treino decorrer à hora da competição, no terreno do
adversário por forma a provocar uma ambientação ao relvado, à luz do estádio, às dimensões do campo, etc.
Dever-se-á igualmente treinar com bolas que a equipa adversária utilize para os seus treinos e competição. No
segundo caso, realiza-se um pequeno treino, com uma intensidade diminuta, com o objectivo de despertar o
corpo dos jogadores para o esforço e a mente, por forma a reencontrar as sensações que provêm da execução
dos gestos técnico-tácticos correctamente executados. poder-se-á afinar algumas situações tácticas específicas,
como é o caso dos esquemas tácticos. Em certos momentos, em função da época
desportiva, este treino pode ser substituído por um passeio curto, através do qual se
criam condições para que os jogadores e treinadores conversem entre si.

7.7.3. Reunião de preparação para o jogo


A reunião de preparação para o jogo constitui-se como uma etapa fundamen-
tal de importância vital para a eficácia da planificação estratégica da equipa, e
encerra o seu ciclo de preparação antes da realização do confronto com a equipa
Foto cedida pelo jornal O JOGO

adversária. A referida reunião tem um carácter fundamentalmente teórico ver-


sando aspectos técnicos, tácticos, psicológicos e organizativos, respeitantes às
duas equipas (própria e adversária) em confronto.

1. Importância. Esta reunião constitui-se como um elemento chave no proces-


Fotos 403/404. O último so de preparação da equipa para o jogo, na qual o treinador intervém, pela últi-
treino antes da competição
ma vez, de forma sistemática antes da competição, sendo, neste sentido funda-
mental encontrar as ideias e as palavras justas ao momento. Com efeito, a
reunião de preparação para o jogo contribui substancialmente para a participação consciente, sobre o entendi-
mento, clarificação e sistematização da direcção geral do jogo da equipa e das missões tácticas individuais
256 Guia prático de exercícios de treino

atribuídas aos diferentes jogadores em particular.


Constitui assim, um momento no qual se procura reagru-
par num só pensamento, num mesmo objectivo onze von-
tades autónomas face à organização adversa. Tendo em
conta que a percepção e a solução mental dependem da
rapidez de actualização dos conhecimentos e da forma
como é accionada a táctica em função do adversário
(estratégia), a reflexão teórica consequente dos jogadores Foto 405. A reunião de preparação para o jogo
em função da equipa adversária, implica: i) que sejam
recapitulados os conhecimentos indispensáveis de base da equipa, e, ii) das particularidades tácticas do adver-
sário para que a sua atenção se possa fixar nas possíveis variantes de organização.

2. Objectivos. A reunião de preparação para o jogo caracterizada pela seriedade e solenidade, consubstancia-
se essencialmente no afinar e finalizar a compreensão por parte dos jogadores da forma como irá ser aplica-
do o plano estratégico. Com efeito, e segundo Teodorescu (1984, a reunião de preparação poderá evidenciar
os seguintes objectivos:
(1) Precisar de forma conclusiva as diferentes missões tácticas individuais e a forma segundo a qual os
jogadores irão colaborar com os seus companheiros que têm missões tácticas especiais a cumprir (durante
os esquemas tácticos defensivos, por exemplo: a formação da barreira e a sua coordenação com as infor-
mações do guarda-redes, marcar os postes da baliza e as zonas do 1º e do 2º postes durante a execução dos
pontapés de canto, etc.).
(2) Contribuir para ultrapassar o estado emotivo e para o estabelecimento no seio da equipa de um senti-
mento positivo, eliminando, neste sentido, influências perturbadoras.
(3) Apreciação final das características e das potencialidades dos adversários, sem as sobrestimar nem as
subestimar.
(4) Estimular as componentes volitivas e morais.
(5) Desenvolver algumas medidas que prevejam situações para o caso de se conseguir uma vantagem, ou
pelo contrário, uma desvantagem durante o jogo.
(6) Melhorar o nível de preparação teórica dos jogadores para esse jogo em especial e para os jogos
seguintes em geral.

3. Meios. A reunião de preparação para o jogo deverá ser levada a efeito num local apropriado devendo ser
calmo e agradável (habitual, no caso de jogos em casa, e poder-se-á utilizar por exemplo a sala do hotel aquan-
do dos jogos fora), durante o qual os jogadores estejam isolados, sem se preocuparem com outras actividades.
Durante a realização da reunião dever-se-ão utilizar quadros ou maquetas do campo de jogo com peças
móveis (que representam jogadores), para que seja possível uma fácil, clara e orientada representação mental
dos elementos da equipa sobre a exposição do treinador.

4. Princípios. Cabe ao treinador principal a condução e a direcção da reunião de preparação para o jogo.
Todavia, este poderá ser coadjuvado na sua acção pelos seus colaboradores que poderão dirigir-se aos
jogadores para explicarem e demonstrarem certos aspectos específicos, principalmente no que diz respeito à
equipa adversária. Com efeito, é preciso que fique claro, que toda a organização dos temas, quer no plano téc-
nico, táctico, físico, psicológico, etc., a sua sistematização e metodologia de exposição à equipa, é da total
responsabilidade do treinador. Participam nestas reuniões de preparação para o jogo fundamentalmente os
jogadores convocados pelo treinador para esse efeito e a equipa técnica (treinador principal e adjuntos). A
participação de outras pessoas para além destas (director do clube por exemplo) só é recomendável quando
este acompanha diariamente as diferentes actividades (treinos, reuniões, etc.) da equipa, independentemente
do valor da equipa adversária e da importância do jogo. Se este elemento, por razões imperativas, tiver que
A organização dinâmica do jogo de futebol 257

usar da palavra deverá fazê-lo (em função do tema) logo no princípio da reunião ou no final desta. A reunião
de preparação para o jogo situa-se no tempo entre as 24 e as 2 horas antes do começo do jogo. Basicamente,
a hora da reunião deverá ser a mesma durante todo o período competitivo. Todavia, a amplitude temporal
evidenciada é função de três aspectos essenciais:
(1) Da capacidade dos diferentes elementos que constituem a própria equipa se concentrarem e com-
preenderem as diferentes missões tácticas que irão desempenhar no jogo, bem como reflectirem o seu com-
portamento individual em função de um projecto colectivo (finalidade).
(2) Da dificuldade e complexidade do cumprimento dos objectivos estabelecidos para esse jogo. Com
efeito, quanto maior e fulcral for essa concretização (por exemplo: a equipa adversária ser do mesmo nível,
ou de um nível de eficácia superior), mais distante no tempo, em nossa opinião, a reunião deverá situar-
se. Isto é devido fundamentalmente a evitar situações de hiperexcitação até muito próximo do começo do
jogo.
(3) Dos tratamentos médicos que alguns jogadores, considerados chave, deverão realizar muitas horas
antes do jogo, para que produzam efeito. Neste contexto, haverá a necessidade do treinador indicar ao gabi-
nete médico qual será a constituição da equipa ou parte desta. Portanto, para que não haja "fugas de infor-
mação", nem indicadores pertinentes através dos quais os outros jogadores poderão fazer juízos errados, é
preferível, nestas circunstâncias, realizar a reunião de preparação para o jogo na véspera da competição.
O princípio específico da reunião de preparação para o jogo deverá basear-se nas soluções estudadas,
preparadas e treinadas durante o período de tempo que mediou até à competição. Todavia, não se exclui a
utilização de outras soluções já conhecidas, assimiladas e postas em prática pelos jogadores noutros jogos. Em
última análise, a essência do princípio específico enunciado procura evitar o risco irracional presente nalguns
jogadores através do qual se "inventa" uma série de soluções (utópicas) mais ou menos ardilosas, mas que
estão desenquadradas do contexto para o qual a reunião foi programada. Com efeito, é preciso ter presente
que esta reunião não substitui as falhas de preparação da equipa quer no plano quantitativo, quer no plano
qualitativo. Neste sentido, este princípio específico estabelece que a reunião de preparação para o jogo, deva
decorrer na realidade como uma etapa subsequente do ciclo de etapas de preparação da equipa para uma
determinada e específica competição. Concluindo, o princípio específico fundamental da reunião de
preparação para o jogo deve basear-se nas informações que reforcem a estabilidade psíquica dos jogadores e
da equipa, suprimindo simultaneamente, todas as informações e experiências que tornem os jogadores inse-
guros.

5. Metodologia. A metodologia da reunião de preparação para o jogo estabelece, à partida, duas vertentes
essenciais que se referem aos: i) aspectos organizativos da equipa e, ii) aos aspectos táctico-estratégicos.
A. Organizativos. O treinador dedicará os primeiros minutos (entre 2 a 4 minutos) da reunião para abor-
dar aspectos ligados: i) à hora e local de partida do jogo, ii) meio de transporte, iii) outras informações ref-
erentes ao jogo e, iv) convida igualmente os jogadores a pronunciar-se ou a pedirem esclarecimentos suple-
mentares, se for caso disso.
B. Táctico-estratégicos. Em relação a esta vertente da reunião, o treinador tem de solicitar a concentração
dos jogadores e da equipa para a competição, encontrando sempre as palavras e o tom mais adequado para
transmitir as suas convicções de forma clara. Neste contexto, o treinador deverá de forma metódica e sis-
tematizada dirigir o pensamento dos seus jogadores, influindo positivamente no seu comportamento, con-
vencendo-os com argumentos válidos e centrando-os basicamente em oito problemas essenciais:
(1) Curta introdução (entre 2 a 3 minutos) na qual fará comentários acerca da importância do jogo den-
tro do contexto competitivo em que a equipa está inserida e os reflexos que este terá em função dos dife-
rentes resultados possíveis do jogo (vitória, empate, derrota).
(2) Caracterizará (entre 2 a 3 minutos) seguidamente o árbitro do encontro, no que diz respeito à sua
forma pessoal de interpretar as Leis do jogo, como reage às situações de indisciplina dos jogadores, quais
os seus hábitos nos julgamentos das situações mais vantajosas do jogo (por exemplo: grande penalidade),
258 Guia prático de exercícios de treino

e por fim, outros aspectos que o treinador ache conveniente informar.


(3) Caracterizará de forma sucinta (entre 3 e 4 minutos) a equipa adversária, focando as suas particu-
laridades positivas e negativas no plano individual e colectivo, apresentando o modo como pressupõe
que este actuará, evidenciando:
A. O sistema de jogo que a equipa adversária optará, os diferentes jogadores (prováveis) e as suas
respectivas posições dentro desse dispositivo táctico.
B. O método de jogo mais utilizado quer no plano ofensivo, quer no plano defensivo.
C. A resolução das situações de bola parada (livres, pontapés de canto, etc.).
D. O comportamento disciplinar da equipa, consequentemente as relações que estabelecem com os
adversários, com o árbitro, etc. Para terminar a sua exposição sobre a equipa adversária o treinador
deverá resumir em três ou quatro frases os seus aspectos característicos principais.
(4) Debruça-se no plano estratégico concebido para a própria equipa (entre 4 e 5 minutos) precisando
de forma segura:
A. O sistema de jogo a utilizar.
B. A constituição da equipa (indicação dos jogadores).
C. Distribuição das missões tácticas gerais e específicas.
D. A organização do processo ofensivo e defensivo.
E. A resolução das situações de bola parada (esquemas tácticos - indicação dos jogadores com a
responsabilidade de os executar).
(5) Uma vez exposta a equipa adversária e a própria equipa, o treinador deverá de imediato (entre 3 a 4
minutos) compará-las (no plano teórico) e se o resultado for favorável deverá mobilizar os jogadores por
forma a que estes confirmem no terreno de jogo, através de atitudes e comportamentos técnico-tácticos
eficazes, essa relação favorável. Com efeito, quando se desenvolvem condições aparentemente favoráveis
para se conseguir uma vitória, sem necessitar pôr em campo todo o talento individual e colectivo da
equipa, pode-se estabelecer uma desmobilização e uma falta de concentração no jogo, o que é prejudi-
cial. Nestas circunstâncias, o treinador deverá pôr em evidência os seguintes aspectos: i) insistir para se
respeitar todos os adversários, ii) demonstrar que o erro é sempre possível e pode ter consequências
graves, iii) lutar contra o excesso de confiança, iv) privilegiar a noção de que "um jogo se ganha ou se
perde sobre um metro quadrado, ou num segundo decisivo, v) relembrar que seja qual for o adversário,
o número de pontos conseguidos no caso de vitória não varia, vi) atenuar os efeitos das opiniões
favoráveis dos jornalistas, sócios, dirigentes, etc., diminuindo esse excesso de confiança, vii) evidenciar
os pontos fortes e as lacunas dos adversários, viii) fazer nascer uma certa inquietude nos jogadores para
estes não estarem completamente seguros, ix) situar as perspectivas no caso de vitória e, x) relembrar no
final da exposição que as forças em presença são favoráveis à própria equipa desde que a prestação seja
correspondente ao seu valor, é esta a única condição. Se esta relação for desfavorável à própria equipa,
sublinhar-se-ão as possibilidades de ordem técnica, táctica, física ou psicológica que, tirando os
jogadores o máximo proveito delas, poderão, nestas circunstâncias, equilibrar essa relação (teórica) de
forças, assegurando o melhor resultado possível consubstanciado por um comportamento meritório.
Neste contexto, o treinador deverá, uma vez que a motivação é elevada, centrar a sua exposição mais nos
aspectos do plano táctico e as qualidades morais da equipa. Assim: i) não deverá insistir sobre a capaci-
dade do adversário, mas antes sobre as qualidades da própria equipa, ii) diminuir a motivação dos
jogadores por forma a que estes conservem a lucidez durante a totalidade do jogo, iii) diminuir a tensão
dos jogadores, através da utilização de piadas, iv) desdramatizar a situação, não colocando os jogadores
sobre a responsabilidade imperiosa de não perder, v) não aumentar a importância do resultado, vi) o
treinador deverá transmitir uma relativa serenidade não evidenciando estados de ansiedade e, vii) man-
ter uma força lúcida, mobilizadora da energia individual e colectiva.
(6) Breve previsão (entre 2 a 3 minutos) das diferentes hipóteses respeitantes ao comportamento da
equipa adversária perante um quadro situacional vantajoso, ou desvantajoso, demonstrando como a
A organização dinâmica do jogo de futebol 259

própria equipa deverá accionar para contrastar com essas modificações.


(7) Finda a exposição dos problemas inerentes à vertente táctico-estratégica, o treinador define os
jogadores suplentes e dá a palavra (entre 4 a 5 minutos) aos jogadores para se efectuarem precisões sobre
as missões tácticas gerais e específicas (tendo, neste sentido, oportunidade de testar a eficácia da sua
comunicação) e as sugestões sobre aspectos particulares de certas situações de jogo.
(8) Por último, o treinador insistirá (entre 2 a 3 minutos) nas atitudes e comportamentos técnico-tácti-
cos fundamentais para fazer face à equipa adversária, mobilizando fortemente a vontade dos jogadores,
a sua combatividade, disciplina e organização, fazendo prevalecer o optimismo e a crença de se con-
quistar um resultado consentâneo com os objectivos estabelecidos. Este último aspecto deverá ser relem-
brado pelo treinador através de frases sucintas, claras, audíveis e enérgicas, momentos antes da equipa
entrar para o terreno para efectuar o jogo.

Concluindo, importa igualmente referir que é necessário variar a forma e a locução da reunião. A uti-
lização de um modelo estereotipado e imutável irá contribuir para a concretização de um objectivo inverso ao
pretendido. É preciso ter presente que duas reuniões absolutamente idênticas com o mesmo grupo de jogadores,
realizadas com um certo intervalo de tempo, têm efeitos diferentes.

7.7.4. Aquecimento para o jogo


O aquecimento é o único acto realizado pelos jogadores que conjuga no mesmo momento a acção e
o pensamento destes, antes do começo do jogo, daí a sua importância na preparação da equipa para a com-
petição.

1. Objectivos. Os objectivos fundamentais do aquecimento são de ordem orgânica, neuromuscular e psicológi-


ca. Neste sentido, podemos resumir os objectivos do aquecimento para o jogo da seguinte forma:
A. Facilita a adaptação progressiva do organismo nomeadamente dos seus grandes sistemas: cardiopulmonar,
neuromuscular e articular, a um esforço intenso e prolongado.
B. Prepara os jogadores no plano psicológico para a competição, uma vez que o movimento tem um efeito
tranquilizador.
C. Evita na medida do possível, reduzir as possibil-
idades de lesões musculares e articulares.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

2. Aspectos metodológicos. Os aspectos metodológi-


cos do aquecimento para o jogo fundamentam-se em
quatro aspectos fundamentais:
A. Duração. Podendo ser mais ou menos prolonga-
da, normalmente situa-se entre os 20 e os 30 minutos.
B. Progressivo. A intensidade do esforço e a complexidade da
execução das acções, devem ser progressivamente incrementadas
ao longo do aquecimento.
Fotos 406/407. O aquecimento de carácter geral
C. Adaptado. O aquecimento deve ser específico em relação à
actividade competitiva a desenvolver.
D. Colectivo. Os exercícios inerentes ao aquecimento devem ser efectuados de forma colectiva, coordenados
e supervisionados pelo treinador. Concluindo, o aquecimento para além dos efeitos específicos que propor-
ciona, deverá ser igualmente aproveitado pelo treinador para verificar se a sua mensagem/convicção, proferi-
da na reunião de preparação para o jogo "passou" ou não para os jogadores. A partir da observação da atitude
dos jogadores, do seu empenhamento (excessivo ou diminuto) e da precisão da execução dos exercícios, o
treinador poderá avaliar o impacto daquilo que propôs. Embora esta observação seja muito subjectiva e muito
260 Guia prático de exercícios de treino

pessoal, as impressões que transmitem não enganam.


Sente-se que o grupo tem uma concentração superi-
or que conduz à vitória, através de uma prestação de
quali-dade e um empenhamento intenso.

4. Composição. Basicamente a composição do aqueci-


mento para o jogo consubstancia-se em duas partes
essenciais:
A. A parte geral (varia entre os 10 e os 15 minutos),
constituída por: i) corridas variadas (de frente, de
costas, de lado, etc.), com pequenas mudanças de
direcção, ii) alguns exercícios de força rápida, tal como:
Foto cedida pelo jornal O JOGO
saltitar, impulsões, multisaltos, iii) alguns exercícios de
velocidade curta com ou sem mudanças de direcção e,
iv) alongamentos dos grupos musculares inseridos fun-
Fotos 408/409/410. O aquecimento de damentalmente nos membros inferiores e na cintura
carácter específico pélvica.
B. A parte específica (varia entre os 10 e os 15 minu-
tos), constituído por exercícios que visam: i) a manutenção da posse da bola (5x5) em espaços reduzidos
(30x20 metros) com a condicionante de se jogar a 1 ou a 2 toques na bola, ii) a criação de situações de final-
ização e de situações de finalização (por exem-plo: cruzamento-remate) e, iii) exercícios simples de finaliza-
ção, a partir de vários ângulos em relação à ba-liza.

7.7.5. As últimas palavras antes do jogo


Nos momentos antes da equipa se dirigir para o terreno de jogo, o treinador deverá reunir a equipa,
de forma informal e através de uma locução forte (não confundir com emotiva), não superior a dois, três min-
utos, procurará atingir um triplo objectivo: i) informar com maior rigor a constituição e as posições tácticas dos
jogadores da equipa adversária, ii) reforçar, ajustar e sintetizar as ideias chave para se conseguir atingir os objec-
tivos preestabelecidos para o jogo e, iii) relembrar os ideais e os objectivos do clube nessa competição desporti-
va. Neste sentido, o treinador pretende galvanizar os jogadores de forma lúcida para a luta competitiva, crian-
do-se motivações excepcionais.

7.7.6. A escolha do campo ou do pontapé de saída


As Leis do jogo de futebol decorrem da lógica da igualdade de
oportunidades, para todos os jogadores e consequentemente para as
equipas em confronto. daí que, o começo do jogo seja
determinado pela Lei VIII, a qual determina que a
escolha do campo e o pontapé de saída será tirado à
Foto cedida pelo jornal O JOGO

sorte com uma moeda. A equipa favorecida terá o


direito de optar pela escolha do campo, ou pela exe-
cução do pontapé de saída. A presente opção não
deve ser encarada ao acaso, passando inevitavelmente
Fotos 411/412. As últimas palavras e a saudação aos sócios
por um pensamento e acção estratégica, que é pré-
determinado entre os membros da equipa e o capitão.
Nesta perspectiva:
(1) A escolha do campo, e em especial, quando se joga em casa, os jogadores crêem que a equipa ataca mel-
A organização dinâmica do jogo de futebol 261

hor sobre uma determinada baliza. Esta crença funda-


menta-se em diferentes razões, umas mais transcenden-
tais (tais como a tradição e a superstição) outras mais
realísticas, vejamos algumas:
A. Hábitos de treino (por exemplo: maior tempo na exe-
cução de exercícios de treino de finalização sobre essa
baliza).
B. Condições climatéricas (por exemplo: vento a favor, o pôr-do-sol prej-
Foto cedida pelo O JOGO
udicar a visão da bola por parte do guarda-redes, em especial, nos cruza-
Fotos 413/414. A escolha do campo ou do mentos).
pontapé de saída C. Condições do terreno de jogo (por exemplo: terreno molhado, espe-
cialmente na grande área adversária por forma a provocar mais situações
de contacto físico, deslizamento rápido da bola, provocar maiores dificuldades na acção do guarda-redes
não só no blocar da bola, como na sua velocidade de reagir às situa-ções de jogo).
(2) A escolha do pontapé de saída, ou seja, pela bola, deriva das seguintes razões:
A. A equipa procura desde o primeiro segundo da partida impor um tempo e um ritmo de jogo favorável
à própria equipa e desfavorável à equipa adversária.
B. Procurar tirar vantagens de alguma instabilidade psicológica da equipa adversária, ou aproveitar-se da
possível falta de concentração competitiva por parte desta (por exemplo: um mau aquecimento).
C. Aplicar uma resolução estereotipada a partir da situação de bola parada (esquema táctico) por forma a
criar de imediato uma oportunidade de criação de situação de finalização, ou mesmo de finalização com
elevadas probabilidades de êxito.

7.7.7. O regresso à calma


O regresso à calma é um momento importantíssimo a ser realizado logo após o jogo. Os seus objec-
tivos radicam-se em: (1) facilitar o relaxamento e a recuperação muscular, (2) reduzir progressivamente a activi-
dade orgânica (retorno à calma) e, (3) criar condições favoráveis à eliminação de produtos resultantes da fadi-
ga. A duração do regresso à calma varia entre 10 a 15 minutos, dependendo do grau de esforço despendido. A
intensidade e o ritmo de execução dos exercícios é diminuto e consta essencialmente de corrida lenta, alonga-
mentos musculares e de exercícios abdominais. Pode igualmente incluir banhos e massagens.

7.8. Reunião de análise do jogo


A reunião de análise do jogo constitui-se como a terceira reunião formal de carácter teórico entre a
equipa técnica e os jogadores que integram o plantel da equipa. Esta reunião enquadra-se na planificação
estratégica de preparação para um confronto específico e no melhoramento do rendimento dessa equipa.

1. Importância. A importância da reunião de análise do jogo deriva da sua dupla dimensão. Encerra, por um
lado, o ciclo de preparação da equipa para a competição já realizada e, abre, por outro, um novo ciclo de
preparação da equipa para o próximo confronto desportivo. Nestas circunstâncias, a reunião de análise do
jogo funciona como um meio de reflexão e análise sobre o passado (o que foi planeado e as soluções estab-
elecidas, o que foi treinado e o que aconteceu na realidade durante o jogo), e na perspectivação do futuro por
forma a operacionalizar e a precisar quais os aspectos que devem ser treinados e por via disso melhorados.

2. Objectivos. O objectivo fundamental da reunião de análise do jogo consubstancia-se essencialmente, por


um lado, nos aspectos ligados à generalização das experiências competitivas adquiridas, pelos jogadores e do
seu nível de preparação teórica, e por outro, na compreensão e diminuição das discrepâncias entre o mo-delo
de jogo da equipa na realidade e a planificação conceptual, isto é, do modelo de jogo preconizado pelo
treinador. Neste sentido, sendo a competição uma base segura de avaliação e controlo do nível do rendimen-
262 Guia prático de exercícios de treino

to da equipa, a reunião de análise do jogo constitui-se como um momento fundamental na confirmação ou


redefinição dos programas de acção estabelecidos, corrigindo-se (se for caso disso) os desvios ao modelo de
jogo a atingir. Para além do que foi referido, esta reunião terá como objectivos adicionais os seguintes quatro
aspectos:
(1) Melhorar a comunicação estabelecida entre o treinador e a sua equipa, fundamentalmente no que con-
cerne ao conjunto de ideias e pressupostos que orientam a resolução eficaz (segundo certas princípios de
jogo) das diferentes e complexas situações de jogo, quer no plano ofensivo como defensivo.
(2) Verifica-se qualitativa e quantitativamente as acções de preparação da equipa para a competição e o que
na realidade aconteceu durante o jogo. Evidenciam-se assim os aspectos positivos e negativos da equipa.
(3) Projectam-se esses aspectos positivos e negativos no programa futuro do ciclo de preparação da equipa
por forma a que esses aspectos sejam rentabilizados no primeiro caso e melhorados no segundo.
(4) Procurar manter intactos os pressupostos da integridade da equipa como colectivo, isto é, mantendo-
a coesa e unida perante a situação da vitória - evitando os excessos de confiança, e desdramatizando em
caso de derrota.

3. Meios. A reunião de análise do jogo poderá ser realizada nas próprias cabinas onde habitualmente os
jogadores se equipam, ou numa sala apropriada para o efeito, dentro das instalações do clube. Importa assim,
que logo após a reunião, os jogadores possam começar o primeiro treino do microciclo semanal de preparação
para o próximo jogo. Os meios específicos a utilizar na reunião da análise do jogo variam em função do tempo
e dos temas que o treinador decidiu conceder e abordar. Neste sentido, na actualidade os meios mais utiliza-
dos são os audiovisuais (videocassetes), os quadros ou maquetes do terreno de jogo com peças amovíveis e as
análises estatísticas efectuadas à equipa.

4. Princípios. A condução da reunião de análise do jogo, tal como foi referido para as restantes reuniões (de
preparação e de reconhecimento), deverá ser da responsabilidade do treinador principal, o qual organizará os
temas, a sua sistematização e metodologia de exposição à equipa. Poderá ser, eventualmente, coadjuvado pelos
seus colaboradores directos (adjuntos), como do gabinete médico e da direcção do clube. Participam nesta
reunião de análise do jogo todos os jogadores que constituem o plantel da equipa, independentemente de
terem ou não sido convocados, ou terem ou não jogado e a equipa técnica (treinador principal e adjuntos). A
participação de outros elementos está, neste contexto, condicionado pelos temas escolhidos pelo treinador e
que serão abordados na reunião. Com efeito, no caso do director do clube o tema rondará os problemas liga-
dos a eventuais quebras de disciplina de grupo, etc. No caso do médico, o tema ligar-se-á aos problemas didác-
ticos, ao tratamento de lesões, etc. Existe um momento concreto para a realização da reunião da análise do
jogo. Basicamente esta confina-se ao tempo que medeia entre a reunião de preparação para o jogo e a reunião
de reconhecimento do próximo adversário. Todavia, preconiza-se que esta reunião deva ser realizada antes do
início do primeiro treino do ciclo de preparação da equipa, sendo totalmente contra indicado, por um lado,
logo após o final do jogo, pois os estados emotivos podem alterar a realidade dos factos que a competição
encerra, não as reflectindo convenientemente, por outro lado, esta não deverá decorrer muito próximo da
reunião de reconhecimento do próximo adversário. Tal como para as reuniões de preparação e de recon-
hecimento do próximo adversário, é fundamental que os jogadores concentrem a sua atenção nos aspectos e
indicações transmitidos pela exposição do treinador ou auxiliares. Com efeito, para que essa concentração se
mantenha, é necessário que a reunião não ultrapasse os 20 minutos por forma a que estes não dispersem a
sua atenção sobre outros assuntos. O valor estabelecido poderá eventualmente diminuir de forma gradual em
função da grandeza dos desvios verificados entre o modelo de organização da equipa e o modelo de organi-
zação a atingir. Por último, a preparação qualitativa e quantitativa de uma equipa de futebol, determina com
carácter habitual, a necessidade de uma reunião de análise do jogo, independentemente do resultado da com-
petição e da concretização ou não dos objectivos estabelecidos para esse jogo.
Os aspectos específicos da reunião de análise do jogo baseia-se essencialmente, num profundo exame,
A organização dinâmica do jogo de futebol 263

por parte do treinador, do ciclo de preparação da equipa recordando (a partir dos registos dos treinos) tudo
o que foi executado e realizado em torno dessa finalidade. Determina-se assim o grau de validade desse pro-
grama de acção, verificando igualmente a qualidade da sua direcção táctica (a partir de registos vídeo).
Estabelece as relações entre o que é pré-determinado em termos de missões tácticas e em que medida estas
foram ou não cumpridas no plano individual e no plano de colaboração colectiva. Deste última vertente, o
treinador precisa ter em mente alguns problemas essenciais:
(1) Embora a definição de rendimento de uma equipa de futebol seja muito difícil, é fundamental ter-se
uma compreensão e concepção mínima do que isso significa, não confundindo com o êxito ou inêxito, em
função dos objectivos estabelecidos. É preciso lembrar que uma partida de futebol não é somente determi-
nada pela nossa equipa, mas também pela equipa adversária, pela eficácia interpretativa dos árbitros, e pelas
circunstâncias mais ou menos vantajosas do decurso da competição.
(2) Compreender que mesmo que o rendimento da equipa no seu plano colectivo possa ser elevado, poderá
ter havido jogadores cujo contributo para esse rendimento foi preponderante ou insignificante. O contrário
também é perceptível, isto é, alguns jogadores podem ter realizado rendimentos elevados, mas a equipa no
seu conjunto ter apresentado um rendimento diminuto.
(3) Em muitas ocasiões, nem mesmo a posterior observação e análise minuciosa do jogo, através de regis-
tos vídeo, responde cabal e definitivamente a todas as questões que derivam do rendimento realizado pela
equipa.
(4) Existem factores contextuais subjectivos que influenciam o treinador quando este valoriza o êxito ou
inêxito dos jogadores. Segundo Bauer e Ueberle (1982) são os seguintes: i) diferentes escalas de valoriza-
ção. Pode-se comparar o rendimento dos jogadores entre si, como o rendimento individual ao longo de
várias partidas e diferentes perspectivas de valorização. O treinador como observador tem uma perspecti-
va diferente do jogador. Logo, o que o treinador considera como fracasso, o jogador não o sente neces-
sariamente, e vice-versa; ii) a parcialidade da valorização do treinador: a imagem que o treinador tem do
jogador influi na percepção do seu comportamento na partida e na valorização do seu comportamento. Por
exemplo é mais fácil tolerar erros de um bom, do que de um mau jogador.

Por último, faz o levantamento dos casos de indisciplina por parte de algum jogador, perante os
adversários, companheiros, árbitro, etc. Revê os cartões (amarelos/vermelhos) apresentados aos seus
jogadores, discernindo aqueles que foram úteis ou não ao colectivo. Relativamente às lesões, tipifica-as por
forma a correlacioná-las com os factores de treino (especialmente o factor físico) e o seu grau de gravidade.
Por último, durante a reunião dever-se-á evitar sublinhar responsabilidades pessoais em caso de insucesso,
nem elogiar de forma exagerada o comportamento excepcional de um ou outro jogador.

5. Metodologia. A metodologia da reunião de análise do jogo estabelece, à partida, tal como a reunião de
preparação para o jogo, duas vertentes essenciais:
A. Organizativos. O treinador dedicará os primeiros minutos (entre 4 a 5) da reunião para abordar aspec-
tos ligados: i) ao número, à hora de começo e local onde se realizará os treinos estabelecidos para o ciclo
de preparação da equipa, ii) os objectivos gerais que se pretendem atingir no plano técnico, táctico, físico,
etc. e, iii) outras informações consideradas pertinentes.
B. Táctico-estratégicos. Em relação a esta vertente da reunião, o treinador deverá, de forma metódica e sis-
tematizada, dirigir o pensamento dos seus jogadores para os seguintes problemas essenciais:
(1) Curto comentário acerca da concretização ou não dos objectivos estabelecidos para esse jogo e os
reflexos que estes terão no futuro imediato e a longo prazo na equipa.
(2) Analisa o comportamento geral da equipa, evidenciando os aspectos positivos e negativos que esta-
belecem a "distância" da realidade organizativa da equipa e o modelo de jogo preconizado para o futuro.
(3) Refere as causas fundamentais, que em sua opinião, determinaram o resultado do jogo, seja esta pos-
itiva ou negativa, analisando a validade da direcção da preparação estratégica e da direcção táctica
264 Guia prático de exercícios de treino

(durante o jogo) para esse jogo.


(4) Tomará uma posição firme face às eventuais falhas disciplinares praticadas que ponham em causa a
coesão e a integridade do grupo de trabalho.
(5) Dará a palavra aos jogadores que queiram intervir sobre os aspectos em questão, tendo assim o
treinador a oportunidade de se inteirar sobre a opinião e as sugestões dos seus jogadores.
(6) Retira um conjunto de conclusões que devem ser curtas, claras e concisas, visando o carácter geral
das atitudes e dos comportamentos dos jogadores quer individual quer colectivamente.
(7) Por último, o treinador estabelecerá a direccionalidade do treino da equipa, em função da avaliação
efectuada na competição anterior, por forma a operacionalizar o novo ciclo de preparação, que nesse
mesmo dia se inicia, a partir dos aspectos preponderantes que devem ser rentabilizados e melhorados.

Concluindo, a estratégia tem a finalidade de fixar objectivos, tornando-os mais claros em si próprios
e das suas relações recíprocas, determinando em função destes uma série de acções pragmáticas com vista à sua
concretização. Dado que todas estas decisões (planos), assentam em suposições: i) que em alguns casos, não se
realizam, e, (2) algumas delas não podem ser mais detalhadas, nem tomadas antecipadamente, resulta que a
estratégia tem de ser secundada pela táctica, para que durante a competição se opte por decisões operativas
necessárias às modificações gerais e específicas que se impõem incessantemente.

A planificação táctica

1. Conceito de planificação táctica


A planificação táctica é definida pela aplicação prática, isto é, pelo carácter aplicativo e operativo da
planificação conce-ptual e da planificação estratégica, procurando utilizar de forma racional e oportuna durante
o jogo, as qualidades físicas, técnico-tácticas e psicológicas, individuais e colectivas, de todos os jogadores que
constituem a equipa, seleccionando-os, organizando-os e coordenando-os unitariamente com vista à con-
cretização dos objectivos preestabelecidos.

2. Natureza da planificação táctica


A natureza da planificação táctica exprime-se sob cinco vertentes fundamentais que importa desen-
volver:
2.1. Concepção unitária para o desenrolar do jogo. A planificação táctica não significa somente uma orga-
nização em função do espaço de jogo e das missões específicas dos jogadores, pressupõe, em última análise, a
existência de uma concepção unitária para o desenrolar do
jogo. A velocidade, a coordenação e a coerência dos desloca-
mentos dos jogadores, a sua orientação e ritmo, relação e con-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

tacto com os adversários, tanto nas fases ofensivas como defen-


sivas, determinam a ordem de execução das acções individuais
e colectivas, em que o espaço necessário e a sua distribuição no
tempo sejam variáveis, sequenciais, coerentes e organizados
Foto 415. O carácter aplicativo da planificação con-
com o objectivo de atingir a vitória. Resumidamente, a planifi- ceptual e esratégica do jogo
cação táctica impõe diferentes atitudes e comportamentos con-
substanciados num conjunto de combinações, cujos mecanismos assumem um carácter de uma disposição
universalmente válida, edificada sobre as particularidades do envolvimento (meio).
2.2. Inseparabilidade da acção técnica das intenções tácticas. As acções técnicas estão sempre associadas a
um raciocínio táctico, que constitui o principal factor que concretiza e materializa a concepção e as intenções
tácticas de uma equipa. A técnica e a táctica formam assim, uma unidade dialéctica, condicionando-se e influ-
A organização dinâmica do jogo de futebol 265

enciando-se reciprocamente. A capacidade de raciocinar, antes, durante


e depois da execução técnica consubstancia a base do sucesso individual

Foto cedida pelo jornal O JOGO


e colectivo. "Sendo o raciocínio táctico aquele que confere conteúdo tác-
tico às acções técnicas, a táctica representará a contribuição activa do fac-
tor consciência, tanto durante o jogo como no treino - preparação"
(Teodorescu, 1984).
2.3. Maximização e valorização das particularidades dos jogadores da
equipa. A planificação táctica exprime um processo através do qual a Foto 416. A táctica é a concepção
equipa tenta valorizar as particulari- unitária para o desenrolar do jogo
dades dos seus próprios jogadores.
Essa valorização é condicionada pela criação (através de acções individu-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

ais e colectivas) das condições e situa-ções de jogo favoráveis à sua real-


ização. Neste contexto, quando por exemplo uma equipa tem um jogador
com qualidades de finalizador deve-se partir do princípio que este deverá
utilizar todo o seu potencial técnico, táctico, físico e psicológico para
finalizar. Consequentemente, uma parte dos seus companheiros (cuja mis-
Foto 417. No jogo não existe separabili- são está de certa forma simplificada pelo facto de haver uma maior
dade entre acção e raciocínio táctico
apreensão por parte dos defesas na marcação a esse atacante), executará
uma série de acções adequadas, na qual o especialista participará essen-
cialmente na sua parte final.
2.4. Confrontação das expressões tácticas das equipas quando em
confronto directo. Construída ou impulsiva, baseada sobre a ofensi-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

va ou sobre a defensiva, deliberada ou prudente, reservada ou espec-


tacular, a planificação táctica é na prática o resultado complexo dos
valores e convicções (subsistema cultural) das equipas em confronto
directo, do sistema de jogo e das missões tácticas distribuídas aos Foto 418. A táctica maximiza as competên-
jogadores (subsistema estrutural), dos métodos de jogo ofensivo e cias específicas de cada jogador
defensivo utilizado (subsistema metodológico), dos princípios de
jogo que exprimem as linhas orientadoras em virtude das quais os jogadores resolvem mentalmente as situ-
ações de jogo (subsistema relacional), dos comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos de res-
olução motora das situações de jogo (subsistema técnico-táctico) e do método que analisa. Define e sistem-
atiza as diferentes operações inerentes à construção e desenvolvimento de uma equipa (subsistema táctico-
estratégico). Neste sentido, a direcção correcta da planificação táctica ofe-rece a possibilidade de obrigar a
equipa adversária a lutar em condições desfavoráveis e vantajosas para a própria equipa. Estas situações e
condições de jogo deverão ser criadas de tal forma que evidenciem as carências de preparação física, técnica,
táctica e psicológica dos adversários. O papel da táctica na obtenção da vitória cresce paralelamente ao valor
das equipas em disputa, em especial quando são sensivelmente equitativas.
2.5. Carácter aplicativo e operativo da planifi-
cação táctica. O carácter operativo da planifi-
Foto cedida pelo O JOGO

cação táctica visa durante o desenrolar do jogo


e em função de um conjunto de factores tais
como as modificações das condições climatéri-
cas (chuva, vento) as condições do terreno de
jogo (regular ou irregular), o resultado numéri-
co momentâneo do jogo (favorá-vel ou não aos objectivos da equipa),
Fotos 419/420. O jogo de futebol é sempre
do tempo de jogo (perto ou não do final) e das modificações pontuais a confrontação directa entre as expressões
da táctica da equipa adversária (subs-tituições, mudanças das funções tácticas das equipas
tácticas dos jogadores), determinam a aplicação durante o jogo de cer-
266 Guia prático de exercícios de treino

tas medidas especiais tomadas pelo treinador (substituições, mudanças das funções tácticas dos jogadores).
Estas procuram constantemente: i) melhorar a organização da equipa no terreno de jogo, ii) utilização de
acções técnico-tácticas com fins precisos, iii) melhorar a capacidade de colaboração entre os sectores da
equipa, ou entre 2 ou 3 jogadores que numa certa fase do jogo objectivam
conjunturas favoráveis à concretização dos objectivos preestabelecidos e,
iv) a capacidade de passar rapidamente de um sistema de jogo ou de um

Foto cedida pelo jornal O JOGO


método de jogo para outro durante a competição.

3. Objectivo da planificação táctica


Em última análise, a planificação táctica de uma equipa de futebol
consubstancia a base de resolução dos problemas metodológicos que
Foto 421. O carácter aplicativo e operativo surgem no terreno de jogo, sendo constituída pelo conjunto de todos os
da planificação táctica conhecimentos susceptíveis de dar uma certa direcção às diferentes
acções (individuais/colectivas, ofensivas/defensivas) da equipa, relativamente à concretização dos objectivos
preestabelecidos.

4. Meios da planificação táctica


Basicamente, os meios fundamentais da planificação táctica de uma equipa de futebol, exprimem-se
a partir de duas identidades essenciais e interdependentes:
4.1. Os jogadores que constituem a equipa. São os elementos que através da sua actividade mental e moto-
ra resolvem operacional e eficazmente as diferentes situações que o jogo em si encerra. As referidas soluções,
estabelecem-se a partir da maximização das capacidades técnicas, tácticas, físicas e psicológicas dos diferentes
jogadores, que suportam por sua vez, um conjunto de tarefas e missões tácticas que lhes são confiadas pelo
treinador. Este conjunto de directrizes devem exprimir-se, quer no plano cognitivo, isto é, são entendidos e
transformados pelos jogadores, quer no plano afectivo, isto é, deverão ser aplicados e realizados. No entanto,
e adicionalmente, os jogadores para além do cumprimento das tarefas e missões tácticas que lhes são dis-
tribuídas, devem em qualquer momento do jogo, se a situação assim
o exigir, assumir as tarefas e missões tácticas de outros companheiros
por forma a evitar compartimentos estanques dentro da equipa, que
Foto cedida pelo jornal O JOGO

aumentarão a permeabilidade da sua organização. Importa acrescen-


tar, ainda dentro deste contexto, as variadas resoluções técnico-tácti-
cas (opções) para as diferentes situações momentâneas de jogo que
devem igualmente fundamentar-se num pensamento autónomo onde
a criatividade e a improvisação são os elementos caracterizadores da
Foto 422. Os elementos da equipa são os que
resolvem operacionalmente as diferentes situ-
originalidade e da adaptabilidade das acções executadas.
ações de jogo 4.2. O treinador. Segue "à distância" de forma crítica aquilo que se
passa no terreno de jogo. Nestas circunstâncias, durante o decorrer do
jogo o treinador dá indicações (através de palavras ou sinais)
claras, concisas e completas, por forma a ajudar os seus jogadores,
a encorajá-los, exortando-os e se necessário admoestando-os.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

Tudo isto na procura de um ajustamento, o mais eficaz possível,


ou uma melhoria do rendimento da sua equipa em relação à
equipa adversária. Durante o intervalo do jogo, o treinador infor-
ma os jogadores sobre alguns acontecimentos pertinentes ocorri-
dos na primeira parte e as alterações a introduzir para se rentabi-
lizar a funcionalidade geral e específica da equipa na segunda
Foto 423. O treinador segue o desenvolvimento
parte. Por último, depois do jogo, o treinador partilha com toda a do jogo comparando mentalmente com o que
equipa o resultado positivo ou negativo e exprime breves ideias perspectivou
A organização dinâmica do jogo de futebol 267

sobre esta partida e a orientação do trabalho da equipa no futuro.

5. Limites da planificação táctica


A planificação táctica, que se fundamenta na resolução eficaz dos problemas estabelecidos pelas con-
stantes e variáveis situações de jogo, por forma a concretizar os objectivos preestabelecidos para um determina-
do confronto, tem como limites de aplicação as seguintes quatro vertentes fundamentais:
(1) A capacidade física, técnica, táctica e psicológica individual e colectiva dos jogadores que constituem a
própria equipa, devendo, neste sentido, a planificação táctica decorrer da compatibilidade com estes factores
de preparação, valorizando e potencializando as particularidades dos jogadores.
(2) A adaptação da planificação táctica da própria equipa às características do modelo de jogo da equipa
adversária, bem como à sua planificação táctica para esse confronto, por forma a garantir a possibilidade dos
jogadores se adaptarem às situações de jogo e as resolverem criativamente em seu favor, explorando as falhas
de preparação dos adversários.
(3) O nível de formação e desenvolvimento atingido pela própria equipa para um determinado confronto,
isto é, a qualidade dos pressupostos da preparação conceptual e estratégica da equipa.
(4) A preparação e a qualidade do treinador na direcção e orientação da sua equipa. No confronto entre duas
equipas do mesmo nível de rendimento, ou no confronto contra uma equipa com um rendimento ligeira-
mente superior à própria equipa, a capacidade e a qualidade do treinador em saber dirigir e orientar o jogo
pode ser decisiva para o resultado final da partida. Se o treinador comete erros nas suas decisões poderá orig-
inar uma derrota e, consequentemente, anular todo o trabalho de preparação da equipa. Noutro sentido, se o
treinador implementar durante a competição, um conjunto de alterações que tornem mais eficiente o com-
portamento individual e colectivo da sua
equipa, poderá contribuir de forma sub-
stancial para a vitória da equipa e assim
valorizar o trabalho de preparação.

6. O responsável pela planificação táctica


Cabe ao treinador analisar os
diferentes aspectos que decorrem durante a
situação competitiva e encontrar as soluções
mais eficientes, ou aquelas que ele pensa que
são as mais eficientes para a concretização
dos objectivos pré-determinados pela equipa.
Ora, se o treinador na preparação da sua
equipa para um determinado jogo passa con-
stantemente por um ciclo que procura:
(1) Uma planificação conceptual que se
traduz por um modelo de jogo, o qual
estabelece as linhas de orientação geral e
específica da organização da equipa.
(2) Uma planificação estratégica traduzida
no conhecimento de forma o mais profun- Figura 84. O treinador é o responsável pela planificação conceptual, estratégica e tác-
da possível das particularidades funda- tica da equipa
mentais da organização da equipa adver-
sária, através de informações e relatórios. Estabelece o plano táctico-estratégico, tentando operacionalizar efi-
cientemente a funcionalidade da sua equipa por forma a evidenciar as carências da equipa adversária e a min-
imizar os seus aspectos mais eficientes. Constrói para o período semanal de treino, um conjunto de exercícios
específicos que procuram "simular" a realidade da si-tuação competitiva que a sua equipa irá vivenciar.
268 Guia prático de exercícios de treino

Não seria lógico, nem conveniente deixar de ser o treinador, durante a competição, ou seja, no
momento crítico no qual surgem o maior número e a maior complexidade de problemas (que derivam essen-
cialmente do envolvimento social e emocional), a decidir pelos ajustamentos (planificação táctica) que lhe pare-
cem mais correctos, em função dos conhecimentos da sua própria equipa e da equipa adversária. A experiência,
nestas situações, é provavelmente a melhor "escola" mas isto não significa que todos os treinadores apresentam
uma elevada capacidade analítica de observar e analisar o jogo como resultado exclusivo da sua expe-riência.
Nestas circunstâncias cabe ao treinador, em nossa opinião, assumir toda a responsabilidade das altera-ções e
ajustamentos pontuais da sua equipa durante o decorrer do jogo - planificação táctica, não "descarregando"
sobre os seus próprios jogadores o encontrar dessas soluções. É evidente que estes desempenham um papel pre-
ponderante na pragmatização dessas soluções, todavia, a necessidade, a decisão e direcção do processo são, como
referimos, da total responsabilidade do treinador, estando este no seguimento destas alte-rações, atento às novas
condições criadas e às respostas da equipa adversária a essas mesmas modificações, ou seja, perante o "novo"
quadro situacional.

7. Etapas da planificação táctica


A sistematização e caracterização das diferentes etapas que constituem a planificação táctica, são tare-
fas de grande complexidade devido à sua ocasionalidade, isto é, ao contexto da realidade competitiva em que
esta evolui e à sua diversidade, que promove diferentes questões que determinam diferentes respostas para a sua
resolução. Com efeito, mesmo perante estes condicionalismos podemos estabelecer três etapas fundamentais
dentro da planificação táctica: direcção do jogo da equipa durante a competição, direcção da equipa durante o
intervalo do jogo, acções a ter em conta logo após o terminus do jogo.

7.1. Direcção da equipa durante a competição


A concretização dos objectivos estabelecidos para um determinado confronto é o resultado, por um
lado, da actuação eficaz dos jogadores que constituem a equipa, reflectindo o nível de preparação e evolução
desta, e por outro, da hábil direcção do jogo da equipa por parte do treinador, que em última análise, se con-
substancia como uma fonte de informação, estabelecendo as linhas de orientação geral e específica dos com-
portamentos técnico-tácticos dos jogadores. Esta direcção procura assim, estabilizar ou modificar o comporta-
mento dos jogadores, por forma a adequá-los em função dos variados contextos em que as situações de jogo
ocorrem. Neste contexto, dirigir e orientar a equipa durante a competição é uma das tarefas mais difíceis den-
tro das dife-rentes funções do treinador, mas é também, e simultaneamente, a mais valorizada pelos dirigentes
dos Clubes, sócios, jogadores, meios de informação, etc. Dirigir uma equipa de futebol durante a competição
consubstancia-se através da aplicação de medidas orientadas para a optimização dos comportamentos técnico-
tácticos individuais e colectivos, apresentando aspectos básicos fundamentais que devem ser considerados:
(1) Só é possível dirigir uma equipa quando, por parte dos jogadores, existe uma predisposição para se
deixarem dirigir.
(2) Só é possível dirigir uma equipa quando se utilizam medidas directivas apropriadas
acompanhadas por meios apropriados.
(3) Só é possível dirigir uma equipa quando se conhecem e se têm em conta as neces-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

sidades individuais e se consegue com que se mantenham dentro do quadro das neces-
sidades da equipa.
(4) Ouvir e observar, são as condições básicas para uma direcção eficaz. Ambas as ati-
tudes pressupõem da parte do treinador predisposição e conhecimentos.
Foto 424. A direcção da
equipa pelo treinador
A direcção da equipa inferma de imediato, numa primeira grande dificuldade,
durante a competição que deriva da necessidade de se ter de observar ambas as equipas simultaneamente.
Alguns treinadores concentram-se demasiado sobre as acções da sua própria equipa,
A organização dinâmica do jogo de futebol 269

perdendo, por um lado, a possibilidade de reagir a tempo às soluções postas em prática pela equipa adversária
e, por outro, a possibilidade de valorizar convenientemente o rendimento dos seus jogadores, pois esta val-
orização tem de ter em conta os adversários. Com efeito, devido à grande quantidade de factores que o treinador
tem que observar e analisar durante a competição, (pois só a partir deste reconhecimento é possível tomar even-
tuais decisões), é necessário que o treinador estabeleça um "guia" ou "roteiro" sequencial e automatizado que lhe
permita retirar as informações, consideradas por ele mais pertinentes, para que estabeleça uma decisão rápida e
segura. Daqui se infere a necessidade de o treinador presen-ciar o jogo num estado físico e intelectual óptimo,
julgando as diferentes situações de jogo a partir de rotinas de observação caracterizadas pela sua selectividade,
sistematização e rapidez, sem se envolver emocionalmente nelas, cumprindo esta tarefa com plena concentração
e objectividade. Em conformidade com o que foi referido, durante o jogo o treinador está perante um contexto
em constante modificação e evolução, o que determina da parte deste uma vigilância, isto é, uma observação
minuciosa na procura de descobrir algo de novo no jogo, que possa ser utilizado em benefício próprio e de inter-
vir através de indicações pontuais, ou estabelecer mudanças no plano de jogo da equipa. É da rapidez de obser-
vação/análise e da tomada de decisão (opção) do treinador que depende parte do êxito de uma equipa num
determinado confronto.
Nestas circunstâncias, sendo o treinador responsável pelos ajustamentos ou modificações do plano de
jogo da equipa, quer ao nível estrutural, metodológico, técnico-táctico e táctico-estratégico, deverá, durante o
confronto (primeira e segunda parte) direccionar o seu pensamento e a sua actuação para os seguintes aspectos
prioritários:
(1) Analisar sistematicamente o sistema de jogo, o método de jogo, os coordenadores de jogo, etc., no plano
ofensivo e defensivo, utilizado pela equipa adversária, verificando se são consonantes com as informações
dadas aos seus jogadores. Observar a conveniência, ou não, de ajustar ou modificar o plano de jogo da própria
equipa.
(2) Constatar o cumprimento do plano de jogo por parte da própria equipa, analisando a sua funcionalidade
geral e específica que fomentará um rendimento conducente, ou não, com os objectivos estabelecidos para
esse jogo;
(3) Dar informações para o terreno de jogo (expressas em palavras ou sinais previamente combinados) que
traduzem adaptações pontuais do plano de jogo, ou a relembrar a certos jogadores as suas tarefas e missões
tácticas concretas. Poder-se-á utilizar o capitão da equipa como elemento interlocutor entre o treinador e os
restantes jogadores. Promove-se assim, uma informação clara, concisa e completa, por forma a evitar a pos-
sibilidade de haver informações mal compreendidas, que durante o jogo, têm consequências mais graves que
a ausência de informação. Importa igualmente referir que as informações não devem ser constantes, devido
ao facto, de mais tarde ou mais cedo, os jogadores deixarem de ouvir as orientações do treinador, ou mais
grave ainda, deixarem de estar convenientemente concentrados nas situações de jogo. Responder de forma
clara e directa a questões que os jogadores possam colocar durante a competição.
(4) Dar feedbacks positivos aos jogadores mais emotivos e menos experientes, encorajando-os, exortando-os
sempre que a situação se proporcione. Deverá ser intransigente quando se verifica falta de empenhamento ou
desmoralização dos jogadores. Importa ter em mente, que os jogadores são muito sensíveis à crítica e aos gri-
tos do treinador durante a competição, especialmente, quando esta não tem como base objectiva ajudá-los,
mas sim de função justificadora do treinador perante os directores, sócios, público, etc.
(5) O treinador deve abster-se de demonstrações exageradas de alegria e tristeza. Não deverá insultar nem
entrar em conflito com os adversários, árbitro, fiscais-de-linha, nem utilizar sinais depreciativos. Nunca dev-
erá deixar de observar o jogo mesmo nos períodos mais críticos e deve evitar fazer comentários culpabilizan-
do ou ridicularizando comportamentos técnicos deste ou daquele jogador da sua equipa, mesmo quando estes
não o ouçam, lembrando que há suplentes no banco.
(6) “Reagir" às alterações introduzidas pelo treinador adversário (utilização das substituições, modificação do
posicionamento dos jogadores, alteração das missões tácticas, etc.), por forma a manter ou a melhorar as
adaptações da sua própria equipa, à "nova" funcionalidade da equipa adversária. Partindo da alteração verifi-
270 Guia prático de exercícios de treino

cada, o treinador deverá estar seguro e entendê-la perfeitamente estabelecendo uma ou outra alteração à
equipa de base (através de uma utilização dos jogadores considerados suplentes), modificar missões tácticas
específicas e distribui-las aos diferentes jogadores, estabelecendo numa ou noutra situação de jogo, outras
soluções tácticas por forma a surpreender o adversário.

A direcção e orientação de uma equipa, por parte do treinador, deve ter presente que uma partida de
futebol é constituída por momentos que se sucedem influenciando decisivamente o rendimento individual e
colectivo da equipa. Neste contexto, existem vários acontecimentos durante o transcurso da partida que se
podem sistematizar e analisar da seguinte forma: a sucessão, o momento e as circunstâncias em que os golos
acontecem, as lesões, as substituições como meio operacional da planificação táctica, a acção do juiz da partida
e a equipa adversária.

7.1.1. A sucessão, o momento e as circunstâncias em que os golos acontecem


A sucessão dos golos. Das análises realizadas durante os campeonatos do Mundo e da Europa, verificou-se que
75% das equipas que marcaram primeiro atingiram a vitória e somente 14% acabaram por perder a partida. Das
equipas que atingiram em primeiro lugar o segundo golo, 93% atingiram a vitória e somente 1% acabaram por
perder a partida. Estes dados são elucidativos da importância de se liderar o resultado do jogo pois, estabelece-
se como um elemento catalizador de uma "desorganização do rendimento das equipas, ou de um "libertador de
forças" inesperadas tanto dos jogadores como das equipas.
O momento em que se concretiza o golo. Durante o decorrer da partida existem "momentos chave" para se con-
cretizar o golo e para não sofrer golo. Considera-se "momento chave" quando o efeito psicológico (sobre a
equipa adversária, ou sobre a própria equipa) da marcação, ou do consentimento do golo, tem um impacto
maior no rendimento (diminuindo ou aumentando), que durante o restante tempo de jogo. Referimo-nos conc-
retamente aos golos marcados ou sofridos, nos primeiros ou nos últimos minutos de cada parte do encontro.
No primeiro caso, o impacto deve-se ao facto de muitas vezes a equipa ainda não ter o tempo suficiente para
impor o seu plano de jogo, e no segundo caso, não ter o tempo suficiente para reagir de forma consistente, pois,
o jogo está prestes a terminar.

As circunstâncias em que se consegue o golo. Muitas são as situações


Foto cedida pelo jornal O JOGO

em que uma equipa domina completamente a partida durante largo


tempo, consegue várias situações de jogo com elevadas probabilidades
de êxito, todavia, a equipa adversária consegue atingir o golo na única
acção ofensiva em que se aproximou da baliza. Quantas situações em
que um jogador remata à baliza a partir de uma distância e de um Foto 425. As equipas que marcaram primeiro
em 75% das situações atingiram a vitória
ângulo considerados "impossíveis" (se é que esta palavra existe em
futebol) e consegue um golo inesperado, tornando-o decisivo para o
rendimento individual e colectivo de uma e outra equipa. Jogadores que realizam
durante quase todo o jogo rendimentos elevados e, numa circunstância casual e de
infortúnio, cometem um erro do qual deriva não só o golo da equipa adversária,
Foto cedida pelo jornal O JOGO

como a alteração da corrente positiva do jogo da sua própria equipa, quer em ter-
mos ofensivos como defensivos.

7.1.2. As lesões que sucedem durante a partida


As lesões e os momentos em que estas acontecem podem ser elementos funda-
mentais na determinação da vitória e da derrota de uma das equipas em confron-
Foto 426. Todos os momen-
tos são bons para se con- to. Com efeito, a lesão inesperada de um determinado jogador de elevado nível téc-
cretizar o golo nico-táctico (por exemplo: coordenador de jogo) pode comprometer as aspirações
da sua equipa e, consequentemente, aumentar as possibilidades de vitória da equipa
A organização dinâmica do jogo de futebol 271

adversária. Estas situações agravam-se quando:


(1) A equipa não tem outro jogador do mesmo nível

Foto cedida pelo O JOGO


e com as mesmas capacidades técnico-tácticas, nem
no terreno de jogo, nem no banco dos suplentes.
(2) As alterações ao nível do plano de jogo irão
diminuir o potencial ofensivo e defensivo da equipa,
e por consequência, o seu rendimento global.
(3) Não se pode colocar outro jogador no campo por se terem esgo-
tado as substituições, e consequentemente, ter que se jogar em inferi-
oridade numérica durante o restante tempo de jogo.
Fotos 427/428. As circunstâncias em que se con- (4) O nível da lesão. Quanto maior for a sua gravidade maior será o
segue o golo é um acréscimo de motivação para
receio dos companheiros em executar comportamentos arriscados,
a equipa
limitando assim o seu rendimento.

7.1.3. As substituições como meio operacional da planificação táctica


As substituições podem ser consideradas como o meio mais operacional e objectivo da intervenção
do treinador, durante o decurso da competição, procurar modificar ou corrigir aspectos de carácter geral ou
pontual, indispensáveis ao plano de jogo da equipa. Todavia, esta acção
só será eficaz se for substituído o jogador certo, no momento oportuno,
pelo companheiro mais indicado, cujas funções tácticas são as mais
adaptadas às circunstâncias momentâneas do jogo.
As substituições são normalmente encaradas
(exceptuando quando estão relacionadas com lesões
Foto cedida pelo O JOGO

impeditivas do jogador conti-nuar no jogo) sob um


significado negativo, pois estes sentem, ou que fal-
haram na sua missão táctica, ou que outros factores
"incompreensíveis" provocaram a sua substituição. Fotos 429/430. As lesões e a gravidade destas
Neste sentido, o treinador deverá "educar" e "con- que sucedem durante o jogo
vencer" os jogadores que constituem a equipa, que a
substituição poderá consubstanciar um meio táctico
fundamental de melhoria do jogo da equipa, fazendo neste contexto, parte integral do plano táctico do jogo,
sendo utilizado no estrito benefício da equipa.
Nestas circunstâncias, sempre que se efectua uma substituição deverá existir um motivo real que o
aconselhe e o justifique. Com efeito, embora não se enquadrem a todas as situações possíveis, podemos estab-
elecer algumas orientações gerais para uma utilização racional e coerente da substituição de jogadores:
(1) Substituir o jogador que se lesionou durante o jogo.
(2) Substituir o jogador que está fatigado e não consegue recuperar, não cumprindo, consequentemente, as
missões tácticas que lhe foram confiadas.
(3) Substituir o jogador de elevado nível técnico-táctico, quando o
resultado do jogo não poderá ser posto em causa, por forma a
poupá-lo para os confrontos seguintes;
Foto cedida pelo jornal O JOGO

(4) Substituir o jogador que não consegue pôr em prática o que lhe
foi distribuído em termos de missões tácticas, sendo continuamente
ineficaz nas suas acções técnico-tácticas.
(5) Substituir o jogador que tem diferentes perspectivas tácticas do
treinador, convencendo-se que a "sua" forma de actuar serve mel-
Foto 431. A substituição é um meio fundamen-
hor o interesse colectivo. Se depois de uma breve conversa (antes, tal para corrigir ou melhorar o plano de jogo da
no intervalo, ou mesmo durante o decorrer do jogo), o jogador não equipa
272 Guia prático de exercícios de treino

quer entender as opiniões tácticas do treinador e insiste numa atitude e comportamento diferentes, em últi-
ma análise prejudiciais à actividade da equipa, então, o treinador deverá impor-se não restando qualquer
outra alternativa, senão substituí-lo.
(6) Substituir o jogador por razões tácticas operacionais por forma a reforçar a capacidade: i) ofensiva da
equipa na procura de modificar o resultado momentâneo do jogo e, ii) defensivo da equipa por forma a man-
ter o resultado momentâneo do jogo.
(7) Substituir o jogador que, após ter sido advertido disciplinarmente pelo árbitro continua a prevaricar,
estando na contingência de prejudicar a própria equipa se lhe for mostrado o cartão verme-lho.
(8) Substituir o jogador, quando o resultado do jogo já não poderá ser posto em causa, por forma a permitir
a aquisição do ritmo competitivo a um outro companheiro que vem de uma lesão mais ou menos prolonga-
da e necessita de se readaptar novamente à equipa.
(9) Substituir o jogador para entrar um especialista na resolução das situações de bola parada (esquemas tác-
ticos).

Por último, podemos ainda deter-nos ou debruçar-nos sobre dois aspectos da problemática das subs-
tituições: o momento em que estas se devem realizar e a sua classificação, em função dos objectivos que pretende
atingir. No primeiro caso, é fundamental escolher-se adequadamente o momento em que a substituição deverá
ser levada a efeito. Neste sentido, e teoricamente, o momento mais oportuno para a efectivação da subs-tituição
é quando a equipa detém a posse da bola, isto é, quando se encontra em processo ofensivo. As razões derivam
da possibilidade da equipa poder retardar o recomeço do jogo, para que o novo companheiro se posicione den-
tro do dispositivo táctico da equipa, por um lado, e verbalize, por outro, transmitindo um conjunto de infor-
mações dadas pelo treinador aos diferentes companheiros por forma que estes compreendam, o novo ajusta-
mento ou modificação do plano táctico da equipa. Apesar das referidas vantagens da substituição durante a fase
ofensiva da equipa, admite-se igualmente outras tantas vantagens na substituição de um ou outro jogador
durante a fase defensiva, em especial, quando esta se encontra sob uma grande pressão ofensiva da equipa adver-
sária. Procura-se, neste sentido, por um lado, quebrar o ritmo de jogo ofensivo adversário, diminuindo assim, o
elevado fluxo das acções dos jogadores e, por outro, obrigá-los a diminuir a sua concentração sobre a situação
momentânea de jogo, por forma a perder algum tempo na tentativa de perceber qual o objectivo táctico da subs-
tituição realizada, adaptando-se funcionalmente ao novo jogador.
No segundo caso, podemos classificar as substituições em função dos objectivos tácticos que se pre-
tendem atingir da seguinte forma:

(1) Uniformes. Quando o jogador que entra no campo apresenta qualidades técnico-tácticas e missões ou
tarefas tácticas similares ao companheiro que substituiu (por exemplo a troca de um ponta-de-lança, por
outro ponta-de-lança).
(2) Contraste. Quando um jogador entra no jogo apresenta qualidades técnico-tácticas e missões ou tarefas
tácticas totalmente diferentes do companheiro que substituiu (por exemplo a troca de um avançado por um
defesa).

Concluindo, o jogador suplente deverá passar por um período de aquecimento metodologicamente


correcto por forma a entrar no jogo com um ritmo competitivo aceitável. Se tal não for possível, devido às cir-
cunstâncias do encontro (por exemplo: lesão de um companheiro), o jogador deverá entrar no jogo gradual-
mente procurando que os diferentes sistemas fisiológicos (respiratório, circulatório e muscular) se adaptem às
condições de jogo. Em alguns encontros observa-se que todos os suplentes estão a aquecer no mesmo momen-
to. Isto acontece quando as circunstâncias decorrentes do jogo (resultado, lesões, ritmo ofensivo e defensivo da
equipa adversária, etc.), indiciam a necessidade da efectivação de uma substituição mas não definem de que tipo.
Neste contexto, o treinador procura assegurar que qualquer opção do "banco" esteja devidamente preparado para
entrar no jogo, suportando de imediato o ritmo competitivo. Noutros casos, porém, os treinadores aproveitan-
A organização dinâmica do jogo de futebol 273

do-se do temor evidenciado por alguns jogadores de serem substituídos, mandam todos os suplentes aquecerem
com o intuito de pressionarem os companheiros que estão em competição e, assim, influir positivamente nos
seus comportamentos técnico-tácticas na resolução vigorosa das diferentes situações de jogo que se lhes
deparam. Todavia, este tipo de actuação, por parte do treinador, poderá mais tarde ou mais cedo criar conflitos
entre os suplentes que sentem que estão a ser "usados" não para jogarem, mas para indicarem que o treinador
não está contente com a sua actuação e, simultaneamente, "forçarem" os seus companheiros a jogarem de forma
mais eficaz.

7.1.4. A acção do juiz da partida


Não há dúvidas que o árbitro pode decidir e influenciar de forma irredutível o resultado final de uma
partida, especialmente entre equipas de rendimento similar. O árbitro toma entre 100 a 140 decisões por jogo,
o que significa uma decisão de 45 em 45 segundos, durante a qual se perde em média 20 segundos de jogo e a
sua amplitude varia entre os 2 e os 150 segundos, no entanto, o árbitro observa e regista mais do que aquelas
que assinála. Tanto as equipas, como os jogadores que as constituem reagem de forma particular (organiza-
da/estudada ou não) às decisões do árbitro, sobretudo quando não as consideram justas, ou pior ainda, quando
não as conside-ram isentas de imparcialidade. Algumas equipas e os seus jogadores depois da decisão do árbi-
tro (correcta ou incorrecta): (1) durante um largo período de tempo, continuam a pressioná-lo com a intenção
de influenciar a lucidez do seu julgamento nas situações de jogo subsequentes, (2) outras porém, reagem logo
após a decisão do árbitro, mas acabam por aceitá-la voltando rapidamente ao jogo.
Em qualquer dos casos durante um certo período de tempo (maior ou menor) estes jogadores con-
centram-se mais no trabalho do árbitro do que no próprio jogo, o que em algumas situações lhes acarreta a
amostragem do cartão amarelo (advertência), ou verme-lho (expulsão). Seja qual for o cartão mostrado é sem-
pre prejudicial à equipa. Os cartões devem ser utilizados a favor desta, como sejam as interrupções de situações
altamente vantajosas para a equipa adversária. Concluindo, as diferentes decisões do árbitro podem ter uma
grande influencia no rendimento dos jogadores ou de toda a equipa. Logo, quando um jogador já tem uma
advertência (cartão amarelo) normalmente limita as suas possibilidades de acção, por forma a evitar sofrer a
segunda advertência jogando com mais "cuidado".

7.1.5. A equipa adversária


Foto cedida pelo jornal O JOGO

Um jogo de futebol constitui-se no confronto entre duas equipas com objectivos


perfeitamente antagónicos. Todavia, existem muitas pessoas que insistem em analisar o jogo
na perspectiva da sua equipa como se esta jogasse sozinha. Com efeito, por mais que se
queira, não se pode ignorar que se joga contra uma equipa adversária, que tem uma organi-
zação na qual contempla uma cultura, uma estrutura, um método, princípios do jogo, acções
técnico-tácticas e um plano táctico-estratégico. Para além dos aspectos referidos, existe ainda Foto 432. A
um conjunto de imponderáveis, aparentemente secundários, difíceis de sistematizar e carac- acção disciplinar
terizar cujo si-gnificado, muitas vezes, é subestimado com demasiada facilidade, embora a e regulador do
sua influência se fará sentir ao mais alto nível na organização e no rendimento do jogo da juiz da partida
equipa, podendo inclusive, modificar temporalmente quase todos os demais factores.
Basicamente existem três conceitos fundamentais na análise do jogo de uma equipa:
(1) Observar como a equipa mantém a posse da bola, ou se a perde de forma extemporânea.
(2) Observar se os jogadores executam decisões eficientes, deslocando-se para posições que possam contribuir
para um melhor apoio/cobertura ao companheiro de posse de bola.
(3) Observar se os diferentes jogadores comunicam encorajando-se uns aos outros, especialmente nas situa-
ções mais desfavoráveis.
274 Guia prático de exercícios de treino

7.2. Direcção da equipa durante o intervalo


O intervalo do jogo é o período de tempo que medeia o terminus da primeira parte e o começo da
segunda. É durante este período de 10 a 15 minutos que o treinador tem um conjunto de obrigações importantes
e decisivas para a equipa, tendo por objectivo: (1) estabelecer as
condições mais favoráveis à recuperação dos jogadores e, concomi-
tantemente, (2) informá-los sobre certos ajustamentos ou alterações,
por forma a manter ou a me-lhorar a eficácia da equipa durante a
segunda parte do jogo. Neste sentido, e dev-
ido ao curto tempo disponível, é fundamen-
tal sistematizar um conjunto de aspectos a

Foto cedida pelo jornal O JOGO


ter em conta na direcção e orientação da
equipa durante o intervalo do jogo, que
tanto os jogadores como o treinador devem
ter presentes: as atitudes após o apito do
Fotos 433/434. No jogo, muitas vezes só árbitro, relaxar/tranquilizar, vigilância médi-
se pode fazer aquilo que a outra equipa ca e a preparação técnico-táctica para a
permite
segunda parte.

7.2.1. Atitudes após o apito do árbitro


Logo que o árbitro apita para o intervalo, devem-se respeitar três atitudes fundamentais: (1) os
jogadores devem dirigir-se rapidamente para as cabinas, evitando falar com o público e com os jornalistas, (2)
o treinador deve-rá de imediato mandar aquecer o jogador, ou jogadores, se pretender fazer alguma substituição
logo no início da segunda parte e, (3) os jogadores deve-rão evitar e o treinador não deve permitir, discussões
entre os vários elementos da equipa sobre situações ocorridas durante o jogo.

7.2.2. Relaxar/tranquilizar
Os primeiros minutos do intervalo devem ser utilizados: (1) para fazer descansar os jogadores que se
colocam em posições que facilitem o repouso e a recuperação do esforço despendido. Quanto maior foi esse
esforço e quanto mais desfavorável foi o desenvolvimento do mesmo, mais importante se torna esta fase do
intervalo, (2) utilizar bebidas regenerativas (minerais, hidratos de carbono, etc.) e, (3) o treinador aproveitará os
primeiros três a quatro minutos de descanso para conferir os seus apontamentos e conferenciar com os seus
colaboradores (técnicos e médicos).

7.2.3. Vigilância médica


O período de relaxamento é igualmente aproveitado pelo corpo
clínico do Clube e pelo treinador: (1) para vigiar e atender as pequenas feri-
das, contusões, aplicar ligaduras, executar massagens pontuais, etc., (2) o
Foto cedida pelo jornal O JOGO

treinador questionará individualmente cada jogador sobre a existência de


problemas de carácter físico (lesões, cansaço, etc.) impeditivo de continuar no
jogo e, (3) em função das condições climatéricas e do terreno de jogo, poderá
haver a necessidade de trocar de equipamento e de botas (mudá-las, limpá-las, Foto 435. A atitude dos jogadores
etc.). perante os jornalistas, público etc.,
no intervalo e no terminus da parti-
7.2.4. Preparação técnico-táctica para a segunda parte da
Após os 3 a 5 minutos de descanso/relaxação o treinador passa à
fase de preparação técnico-táctica da equipa para a segunda parte. Metodologicamente, a presente preparação
técnico-táctica deve conter fra-ses curtas, instruções claras, reforçar afirmações, repetir ou reestruturar missões
tácticas. É preciso ter presente que as instruções centradas nos erros da primeira parte não têm qualquer efeito
A organização dinâmica do jogo de futebol 275

positivo no comportamento dos jogadores na segunda parte do jogo. Os jogadores necessitam de instruções cen-
tradas a partir das suas missões tácticas específicas. Se for necessário criticar, é fundamental que essa crítica este-
ja directamente ligada às instruções e conselhos. Estabelecem-se, entre outros, os seguintes princípios essenciais:
i) qualquer crítica, por mais necessária que seja, opõe-se à nossa necessidade de ser reconhecido, ii) ninguém
gosta que o critiquem, não importa se a crítica é justa ou não, iii) a pessoa que emite a crítica é sempre mal vista,
apesar de insistir que só quer melhorar e incrementar o rendimento dos jogadores, iv) elogiar e reconhecer tem
muito mais êxito que as críticas e, v) o treinador deverá reforçar a autoconfiança dos jogadores acentuando e
potencializando os seus comportamentos positivos". Neste contexto, o treinador:
(1) Deverá dar informações respeitantes à própria equipa e à equipa adversária, por forma a concretizar uma
melhor compreensão das situações mais marcantes no plano táctico da funcionalidade colectiva da equipa,
que aconteceram na primeira parte.
(2) A partir dessas informações deverá fazer ajustamentos ou modificações quer no plano individual, quer no
plano colectivo, como também na orientação geral da equipa na fase ofensiva e na fase defensiva. Estas infor-
mações são imprescindíveis porque, é preciso ter em atenção, que o resultado do jogo se decide na segunda
parte. Assim, é mais fácil fazer compreender aos jogadores não só as dificuldades ou facilidades objectivas que
esse confronto específico em si encerra, uma vez que já têm uma visão mais concreta e realista, pois experi-
mentaram 45 minutos de luta contra essa equipa, traduzida numa noção teórica (que deriva da reunião de
preparação para o jogo) e numa noção prática das situações que se sucederam no jogo. O treinador anuncia-
rá igualmente, a constituição da equipa que irá actuar na segunda parte do jogo.
(3) O treinador deverá relembrar que o jogo só acaba quando o árbitro dá por terminada a partida, até lá tudo
pode acontecer dentro de um certo número de probabilidades.

7.3. Acções a ter em conta logo após o terminus do jogo


As acções a ter em conta por parte do treinador logo após o terminus do jogo deverão ser as seguintes:
(1) Partilhar com toda a equipa o resultado do jogo.
(2) Intervir de forma curta para acalmar a tensão, desdramatizando no caso de uma derrota, ou evitando as
explosões exageradas de júbilo no caso de vitória.
(3) Rever lesões e casos particulares.
(4) Avaliar a eficácia da equipa tendo em consideração que o resultado final é "apenas" um indicador impor-
tante. Muitas vezes esse resultado não reflecte, nem de longe nem de perto, a realidade do rendimento con-
seguido. Por outras palavras, o treinador não deve confundir o rendimento com o êxito ou inêxito da equipa.

Finalizando, tanto a planificação estratégica como a planificação táctica são dirigidas para um mesmo
fim, nomeadamente a vitória. No entanto, a estratégia por si própria não poderá atingir esse objectivo, estab-
elecendo-se o seu êxito na preparação (favorável da equipa), vitoriosa da táctica. Quanto maior for o êxito
estratégico, menos duvidosa será a vitória no decurso da partida. Neste contexto, em nossa opinião, a diferença
que se estabelece entre a táctica e a estratégia, fundamenta-se no facto de a táctica ser utilizada logo após o
começo do jogo e até ao final deste. A estratégia insere-se em todas as fases de preparação da equipa, tendo em
Foto cedida pelo jornal O JOGO

conta o conhecimento das particularidades da equipa contrária. Assim, a táctica será a utilização concreta dos
meios de acção e a estratégia a arte de estabelecer as tácticas para o objectivo estabelecido. Do lado da concepção
- a estratégia, do lado da execução - a táctica
276 Guia prático de exercícios de treino

Foto 436. A planificação táctica de uma equipa de futebol consubstancia a base de resolução dos problemas metodológicos que surgem no terreno de
jogo, sendo constituída pelo conjunto de todos os conhecimentos susceptíveis de dar uma certa direcção às diferentes acções (individuais/colectivas,
ofensivas/defensivas) da equipa relativamente à concretização dos objectivos preestabelecidos

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