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FUTEBOL

A DIRECÇÃO DA EQUIPA DURANTE


A COMPETIÇÃO

JORGE CASTELO

A concretização dos objectivos estabelecidos para um determinado confronto é o resultado, por um lado, da actu-
ação eficaz dos jogadores que constituem a equipa, reflectindo o nível de preparação e evolução desta, e por outro, da hábil
direcção do jogo da equipa por parte do treinador, que em última análise, se consubstancia como uma fonte de informação,
estabelecendo as linhas de orientação geral e específica dos comportamentos técnico-tácticos dos jogadores. Esta direcção
procura assim, estabilizar ou modificar o comportamento dos jogadores, por forma a adequá-los em função dos variados con-
textos em que as situações de jogo ocorrem. Neste domínio, dirigir e orientar a equipa durante a competição é uma das tare-
fas mais difíceis dentro das diferentes funções do treinador, mas é também, e simultaneamente, a mais valorizada pelos diri-
gentes dos Clubes, sócios, jogadores, meios de informação, etc. Dirigir uma equipa de futebol durante a competição consub-
stancia-se através da aplicação de medidas orientadas para a optimização dos comportamentos técnico-tácticos individuais
e colectivos, apresentando aspectos básicos fundamentais que devem ser considerados:
> (1) Só é possível dirigir uma equipa quando, por parte dos jogadores, existe uma predisposição para se deixarem dirigir.
> (2) Só é possível dirigir uma equipa quando se utilizam medidas directivas apropriadas acompanhadas por meios apro-
priados.
> (3) Só é possível dirigir uma equipa quando se conhecem e se têm em conta as necessidades individuais e se consegue
com que se mantenham dentro do quadro das necessidades da equipa.
> (4) Ouvir e observar, são as condições básicas para uma direcção eficaz. Ambas as atitudes pressupõem da parte do
treinador predisposição e conhecimentos.

A direcção da equipa inferma de imediato, numa primeira grande dificuldade, que deriva da necessidade de se ter
de observar ambas as equipas simultaneamente. Alguns treinadores concentram-se demasiado sobre as acções da sua
própria equipa, perdendo, por um lado, a possibilidade de reagir a tempo às soluções postas em prática pela equipa adver-
sária e, por outro, a possibilidade de valorizar convenientemente o rendimento dos seus jogadores, pois esta valorização tem
de ter em conta os adversários. Com efeito, devido à grande quantidade
de factores que o treinador tem que observar e analisar durante a com-
petição (pois só a partir deste reconhecimento é possível tomar eventu-
ais decisões), é necessário que o treinador estabeleça um "guia" ou
"roteiro" sequencial e automatizado que lhe permita retirar as infor-
mações, consideradas por ele mais pertinentes, para que estabeleça
uma decisão rápida e segura. Daqui se infere a necessidade de o
treinador presenciar o jogo num estado físico e intelectual óptimo, jul-
gando as diferentes situações de jogo a partir de rotinas de observação
caracterizadas pela sua selectividade, sistematização e rapidez, sem se
envolver emocionalmente nelas, cumprindo esta tarefa com plena concentração e objectividade. Em conformidade com o que
foi referido, durante o jogo o treinador está perante um contexto em constante modificação e evolução, o que determina da
parte deste uma vigilância, isto é, uma observação minuciosa na procura de descobrir algo de novo no jogo, que possa ser
utilizado em benefício próprio e de intervir através de indicações pontuais, ou estabelecer mudanças no plano de jogo da
equipa. É da rapidez de observação/análise e da tomada de decisão (opção) do treinador que depende parte do êxito de uma
equipa num determinado confronto.
Nestas circunstâncias, sendo o treinador responsável pelos ajustamentos ou modificações do plano de jogo da
equipa, quer ao nível estrutural, metodológico, técnico-táctico e táctico-estratégico, deverá, durante o confronto (primeira e
segunda parte) direccionar o seu pensamento e a sua actuação para os seguintes aspectos prioritários:
> (1) Analisar sistematicamente o sistema de jogo, o método de jogo, os coordenadores de jogo, etc., no plano ofensivo e
defensivo, utilizado pela equipa adversária, verificando se são consonantes com as informações dadas aos seus jogadores.
Observar a conveniência, ou não, de ajustar ou modificar o plano de jogo da própria equipa.
> (2) Constatar o cumprimento do plano de jogo por parte da própria equipa, analisando a sua funcionalidade geral e
específica que fomentará um rendimento conducente, ou não, com os objectivos estabelecidos para esse jogo.
> (3) Dar informações para o terreno de jogo (expressas em palavras ou sinais previamente combinados) que traduzem
adaptações pontuais do plano de jogo, ou a relembrar a certos jogadores as suas tarefas e missões tácticas concretas.
Poder-se-á utilizar o capitão da equipa como elemento interlocutor entre o treinador e os restantes jogadores. Promove-se
assim, uma informação clara, concisa e completa, por forma a evitar a possibilidade de haver informações mal compreen-
didas, que durante o jogo, têm consequências mais graves que a ausência de informação. Importa igualmente referir que
as informações não devem ser constantes, devido ao facto, de mais tarde ou mais cedo, os jogadores deixarem de ouvir
as orientações do treinador, ou mais grave ainda, deixarem de estar convenientemente concentrados nas situações de jogo.
Responder de forma clara e directa a questões que os jogadores possam colocar durante a competição.
> (4) Dar feedbacks positivos aos jogadores mais emotivos e menos experientes, encorajando-os, exortando-os sempre
que a situação se proporcione. Deverá ser intransigente quando se verifica falta de empenhamento ou desmoralização dos
jogadores. Importa ter em mente, que os jogadores são muito sensíveis à crítica e aos gritos do treinador durante a com-
petição, especialmente, quando esta não tem como base objectiva ajudá-los, mas sim de função justificadora do treinador
perante os directores, sócios, público, etc.
> (5) O treinador deve abster-se de demonstrações exageradas de alegria e tristeza. Não deverá insultar nem entrar em
conflito com os adversários, árbitro, fiscais-de-linha, nem utilizar sinais depreciativos. Nunca deverá deixar de observar o
jogo mesmo nos períodos mais críticos e deve evitar fazer comentários culpabilizando ou ridicularizando comportamentos
técnicos deste ou daquele jogador da sua equipa, mesmo quando estes não o ouçam, lembrar que há suplentes no banco.
> (6) “Reagir" às alterações introduzidas pelo treinador adversário (utilização das substituições, modificação do posi-
cionamento dos jogadores, alteração das missões tácticas, etc.), por forma a manter ou a melhorar as adaptações da sua
própria equipa, à "nova" funcionalidade da equipa adversária. Partindo da alteração verificada, o treinador deverá estar
seguro e entendê-la perfeitamente estabelecendo uma ou outra alteração à equipa de base (através de uma utilização dos
jogadores considerados suplentes), modificar missões tácticas específicas e distribui-las aos diferentes jogadores, estab-
elecendo numa ou noutra situação de jogo, outras soluções tácticas por forma a surpreender o adversário.

A direcção e orientação de uma equipa, por parte do treinador, deve ter pre-
sente que uma partida de futebol é constituída por momentos que se sucedem influen-
ciando decisivamente o rendimento individual e colectivo da equipa. Neste contexto,
existem vários acontecimentos durante o transcurso da partida que se podem sistemati-
zar e analisar da seguinte forma: a sucessão, o momento e as circunstâncias em que os
golos acontecem, as lesões, as substituições como meio operacional da planificação tác-
tica, a acção do juiz da partida e a equipa adversária.

A sucessão, o momento e as circunstâncias em que os golos acontecem


A sucessão dos golos. Das análises realizadas durante os campeonatos do
Mundo e da Europa, verificou-se que 75% das equipas que marcaram primeiro atingiram
a vitória e somente 14% acabaram por perder a partida. Das equipas que atingiram em
primeiro lugar o segundo golo, 93% atingiram a vitória e somente 1% acabaram por
perder a partida. Estes dados são elucidativos da importância de se liderar o resultado
do jogo pois, estabelece-se como um elemento catalizador de uma "desorganização do rendimento das equipas, ou de um
"libertador de forças" inesperadas tanto dos jogadores como das equipas.
O momento em que se concretiza o golo. Durante o decorrer da partida existem "momentos chave" para se con-
cretizar o golo e para não sofrer golo. Considera-se "momento chave" quando o efeito psicológico (sobre a equipa adversária,
ou sobre a própria equipa) da marcação, ou do consentimento do golo, tem um impacto maior no rendimento (diminuindo ou
aumentando), que durante o restante tempo de jogo. Referimo-nos concreta-
mente aos golos marcados ou sofridos, nos primeiros ou nos últimos minutos
de cada parte do encontro. No primeiro caso, o impacto deve-se ao facto de
muitas vezes a equipa ainda não ter o tempo suficiente para impôr o seu plano
de jogo, e no segundo caso, não ter o tempo suficiente para reagir de forma con-
sistente, pois, o jogo está prestes a terminar.
As circunstâncias em que se consegue o
golo. Muitas são as situações em que uma equipa
domina completamente a partida durante largo tempo,
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consegue várias situações de jogo com elevadas prob-
abilidades de êxito, todavia, a equipa adversária con-
segue atingir o golo na única acção ofensiva em que se
aproximou da baliza. Quantas situações em que um
jogador remata à baliza a partir de uma distância e de
um ângulo considerados "impossíveis" (se é que esta palavra existe em futebol) e consegue um golo inesperado, tornando-
o decisivo para o rendimento individual e colectivo de uma e outra equipa. Jogadores que realizam durante quase todo o jogo
rendimentos elevados e, numa circunstância casual e de infortúnio, cometem um erro do qual deriva não só o golo da equipa
adversária, como a alteração da corrente positiva do jogo da sua própria equipa, quer em termos ofensivos como defensivos.

As lesões que sucedem durante a partida


As lesões e os momentos em que estas acontecem podem ser elementos fundamentais na determinação da vitória
e da derrota de uma das equipas em confronto. Com efeito, a lesão inesperada de um determinado jogador de elevado nível
técnico-táctico (por exemplo: coordenador de jogo) pode comprometer as aspirações da sua equipa e, consequentemente,
aumentar as possibilidades de vitória da equipa adversária. Estas situações
agravam-se quando:
(1) A equipa não tem outro jogador do mesmo nível e com as mesmas capaci-
dades técnico-tácticas, nem no terreno de jogo, nem no banco dos suplentes.
(2) As alterações ao nível do plano de jogo irão diminuir o potencial ofensivo
e defensivo da equipa, e por consequência, o seu
rendimento global.
(3) Não se pode colocar outro jogador no campo por
se terem esgotado as substituições, e consequente-
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mente, ter que se jogar em inferioridade numérica
durante o restante tempo de jogo.
(4) O nível da lesão. Quanto maior for a sua gravi-
dade maior será o receio dos companheiros em exe-
cutar comportamentos arriscados, limitando assim o
seu rendimento.

As substituições como meio operacional da planificação táctica


As substituições podem ser consideradas como o meio mais operacional e objectivo da intervenção do treinador,
durante o decurso da competição, procurar modificar ou corrigir aspectos de carácter geral ou pontual, indispensáveis ao
plano de jogo da equipa. Todavia, esta acção só será eficaz se for substituído o jogador certo, no momento oportuno, pelo
companheiro mais indicado, cujas funções tácticas são as mais adaptadas às circunstâncias momentâneas do jogo. As sub-
stituições são normalmente encaradas (exceptuando quando estão relacionadas com lesões impeditivas do jogador contin-
uar no jogo), sob um significado negativo, pois estes sentem, ou que falharam na sua missão táctica, ou que outros factores
"incompreensíveis" provocaram a sua substituição. Neste sentido, o treinador deverá "educar" e "convencer" os jogadores
que constituem a equipa, que a substituição poderá consubstanciar um meio táctico fundamental de melhoria do jogo da
equipa, fazendo neste contexto, parte integral do plano táctico do jogo, sendo utilizado no estrito benefício da equipa.
Nestas circunstâncias, sempre que se efectua uma substituição deverá existir um motivo real que o aconselhe e o
justifique. Com efeito, embora não se enquadrem a todas as situações possíveis, podemos estabelecer algumas orientações
gerais para uma utilização racional e coerente da substituição de jogadores:
> (1) Substituir o jogador que se lesionou durante o jogo.
> (2) Substituir o jogador que está fatigado e não consegue recuperar, não cumprindo, consequentemente, as missões tác-
ticas que lhe foram confiadas.
> (3) Substituir o jogador de elevado nível técnico-táctico, quando o resultado do jogo não poderá ser posto em causa, por
forma a poupá-lo para os confrontos seguintes.
> (4) Substituir o jogador que não consegue pôr em prática o que lhe foi distribuído em termos de missões tácticas, sendo
continuamente ineficaz nas suas acções técnico-tácticas.
> (5) Substituir o jogador que tem diferentes perspectivas tácticas do treinador, convencendo-se que a "sua" forma de actu-
ar serve melhor o interesse colectivo. Se depois de uma breve conversa (antes, no intervalo, ou mesmo durante o decor-
rer do jogo), o jogador não quer entender as opiniões tácticas do treinador e insiste numa atitude e comportamento difer-
entes, em última análise prejudiciais à actividade da equipa, então, o treinador deverá impôr-se não restando qualquer outra
alternativa, senão substituí-lo.
> (6) Substituir o jogador por razões tácticas operacionais por forma a
reforçar a capacidade: i) ofensiva da equipa na procura de modificar o
resultado momentâneo do jogo e, ii) defensivo da equipa por forma a
manter o resultado momentâneo do jogo.
> (7) Substituir o jogador que, após ter sido advertido disciplinarmente
pelo árbitro, continua a prevaricar estando na contingência de preju-
dicar a própria equipa se lhe for mostrado o cartão vermelho.
> (8) Substituir o jogador, quando o resultado do jogo já não poderá
ser posto em causa, por forma a permitir a aquisição do ritmo com-
petitivo a um outro companheiro que vem de uma lesão mais ou
menos prolongada e necessita de se readaptar novamente à equipa.
> (9) Substituir o jogador para entrar um especialista na resolução das
situações de bola parada (esquemas tácticos).

Por último, podemos ainda debruçar-nos sobre dois aspectos da problemática das substituições: o momento em
que estas se devem realizar e a sua classificação, em função dos objectivos que pretende atingir. No primeiro caso, é fun-
damental escolher-se adequadamente o momento em que a substituição deverá ser levada a efeito. Neste sentido, e teori-
camente, o momento mais oportuno para a efectivação da substituição é quando a equipa detém a posse da bola, isto é,
quando se encontra em processo ofensivo. As razões derivam da possibilidade da equipa poder retardar o recomeço do jogo,
para que o novo companheiro se posicione dentro do dispositivo táctico da equipa, por um lado, e verbalize, por outro, trans-
mitindo um conjunto de informações dadas pelo treinador aos diferentes companheiros por forma que estes compreendam,
o novo ajustamento ou modificação do plano táctico da equipa. Apesar das referidas vantagens da substituição durante a fase
ofensiva da equipa, admite-se igualmente outras tantas vantagens na substituição de um ou outro jogador durante a fase
defensiva, em especial, quando esta se encontra sob uma grande pressão ofensiva da equipa adversária. Procura-se, neste
sentido, por um lado, quebrar o ritmo de jogo ofensivo adversário, diminuindo assim, o elevado fluxo das acções dos
jogadores e, por outro, obrigá-los a diminuir a sua concentração sobre a situação momentânea de jogo, por forma a perder
algum tempo na tentativa de perceber qual o objectivo táctico da substituição realizada, adaptando-se funcionalmente ao
novo jogador.
No segundo caso, podemos classificar as substituições em função dos objectivos tácticos que se pretendem atin-
gir da seguinte forma:
> (1) Uniformes. Quando o jogador que entra no campo apresenta qualidades técnico-tácticas e missões ou tarefas tác-
ticas similares ao companheiro que substituiu (por exemplo a troca de um ponta-de-lança, por outro ponta-de-lança).
> (2) Contraste. Quando um jogador entra no jogo apresenta qualidades técnico-tácticas e missões ou tarefas tácticas
totalmente diferentes do companheiro que substituiu (por exemplo a troca de um avançado por um defesa).
Concluindo, o jogador suplente deverá passar por um período de aquecimento metodologicamente correcto por
forma a entrar no jogo com um ritmo competitivo aceitável. Se tal não for possível, devido às circunstâncias do encontro (por
exemplo: lesão de um companheiro), o jogador deverá entrar no jogo gradualmente procurando que os diferentes sistemas
fisiológicos (respiratório, circulatório e muscular), se adaptem às condições de jogo. Em alguns encontros observa-se que
todos os suplentes estão a aquecer no mesmo momento. Isto acontece quando as circunstâncias decorrentes do jogo (resul-
tado, lesões, ritmo ofensivo e defensivo da equipa adversária, etc.), indiciam a necessidade da efectivação de uma substitu-
ição mas não definem de que tipo. Neste contexto, o treinador procura assegurar que qualquer opção do "banco" esteja dev-
idamente preparado para entrar no jogo, suportando de imediato o ritmo competitivo. Noutros casos, porém, os treinadores
aproveitando-se do temor evidenciado por alguns jogadores de serem substituídos, mandam todos os suplentes aquecerem
com o intuito de pressionarem os companheiros que estão em competição e, assim, influir positivamente nos seus compor-
tamentos técnico-tácticas na resolução vigorosa das diferentes situações de jogo que se lhes deparam. Todavia, este tipo de
actuação, por parte do treinador, poderá mais tarde ou mais cedo criar conflitos entre os suplentes que sentem que estão a
ser "usados" não para jogarem, mas para indicarem que o treinador não está contente com a sua actuação e, simultanea-
mente, "forçarem" os seus companheiros a jogarem de forma mais eficaz.

A acção do juiz da partida


Não existem dúvidas que o árbitro pode decidir e influenciar de forma irredutível o resultado final de uma partida,
especialmente entre equipas de rendimento similar. O árbitro toma entre 100 a 140 decisões por jogo, o que significa uma
decisão de 45 em 45 segundos, durante a qual se perde em média 20 segundos de jogo e a sua amplitude varia entre os 2
e os 150 segundos, no entanto, o árbitro observa e regista mais do que aquelas que assinála. Tanto as equipas, como os
jogadores que as constituem reagem de forma particular (organizada/estudada ou não) às decisões do árbitro, sobretudo
quando não as consideram justas, ou pior ainda, quando não as consideram isentas de imparcialidade. Algumas equipas e
os seus jogadores depois da decisão do árbitro (correcta ou incorrecta): (1) durante um
largo período de tempo, continuam a pressioná-lo com a intenção de influenciar a lucidez
do seu julgamento nas situações de jogo subsequentes, (2) outras porém, reagem logo
após a decisão do árbitro, mas acabam por aceitá-la voltando rapidamente ao jogo.
Em qualquer dos casos durante um certo período de tempo (maior ou menor) estes
jogadores concentram-se mais no trabalho do árbitro do que no próprio jogo, o que algu-
mas situações lhes acarreta a amostragem do cartão amarelo (advertência), ou vermel-
ho (expulsão). Seja qual for o cartão mostrado é sempre prejudicial à equipa. Os cartões
devem ser utilizados a favor desta como sejam as interrupções de situações altamente
vantajosas para a equipa adversária. Concluindo, as diferentes decisões do árbitro podem
ter uma grande influencia no rendimento dos jogadores ou de toda a equipa. Logo, quan-
do um jogador já tem uma advertência (cartão amarelo) normalmente limita as suas pos-
sibilidades de acção, por forma a evitar sofrer a segunda advertência jogando com mais
"cuidado".

A equipa adversária
Um jogo de futebol constitui-se no confronto entre duas equipas com objectivos perfeitamente antagónicos. Todavia,
existem muitas pessoas que insistem em analisar o jogo na perspectiva da sua equipa como se esta jogasse sozinha. Com
efeito, por mais que se queira, não se pode ignorar que se joga contra uma equipa adversária, que tem uma organização na
qual contempla uma cultura, uma estrutura, um método, princípios do jogo, acções técnico-tácticas e um plano táctico-
estratégico. Para além dos aspectos referidos, existe ainda um conjunto de imponderáveis aparentemente secundários, difí-
ceis de sistematizar e caracterizar cujo significado, muitas vezes, é subestimado com demasiada facilidade, embora a sua
influência se fará sentir ao mais alto nível na organização e no rendimento do jogo da equipa, podendo inclusivé, modificar
temporalmente quase todos os demais factores. Basicamente existem três conceitos fundamentais na análise do jogo de uma
equipa:
(1) Observar como a equipa mantém a posse da bola, ou se a perde de forma extemporânea.
(2) Observar se os jogadores executam decisões eficientes, deslocando-se para posições que possam contribuir para um
melhor apoio/cobertura ao companheiro de posse de bola.
(3) Observar se os diferentes jogadores comunicam encorajando-se uns aos outros, especialmente nas situações mais
desfavoráveis.
Direcção da equipa durante o intervalo
O intervalo do jogo é o período de tempo que medeia o terminus da primeira parte e o começo da segunda. É
durante este período de 10 a 15 minutos que o treinador tem um conjunto de obrigações importantes e decisivas para a
equipa, tendo por objectivo: (1) estabelecer as condições mais favoráveis à recuperação dos jogadores e, concomitante-
mente, (2) informá-los sobre certos ajustamentos ou alterações, por forma a manter ou a melhorar a eficácia da equipa
durante a segunda parte do jogo. Neste sentido, e devido ao curto tempo disponível, é fundamental sistematizar um conjun-
to de aspectos a ter em conta na direcção e orientação da equipa durante o intervalo do jogo, que tanto os jogadores como
o treinador devem ter presentes: as atitudes após o apito do árbitro, relaxar/tranquilizar, vigilância médica e a preparação téc-
nico-táctica para a segunda parte.

Atitudes após o apito do árbitro


Logo que o árbitro apita para o intervalo, devem-se respeitar três atitudes fundamentais: (1) os jogadores devem
dirigir-se rapidamente para as cabinas, evitando falar com o público e com os jornalistas, (2) o treinador deverá de imediato
mandar aquecer o jogador ou jogadores, se pretender fazer alguma substituição logo no início da segunda parte e, (3) os
jogadores deverão evitar e o treinador não deve permitir, discussões entre os vários elementos da equipa sobre situações
ocorridas durante o jogo.

Relaxar/tranquilizar
Os primeiros minutos do intervalo devem ser utilizados: (1) para fazer descansar os jogadores que se colocam em
posições que facilitem o repouso e a recuperação do esforço despendido. Quanto maior foi esse esforço e quanto mais des-
favorável foi o desenvolvimento do mesmo, mais importante se torna esta fase do intervalo, (2) utilizar bebidas regenerativas
(minerais, hidratos de carbono, etc.) e, (3) o treinador aproveitará os primeiros três a quatro minutos de descanso para con-
ferir os seus apontamentos e conferenciar com os seus colaboradores (técnicos e médicos).

Vigilância médica
O período de relaxamento é igualmente aproveitado pelo corpo clínico do Clube e pelo treinador: (1) para vigiar e
atender as pequenas feridas, contusões, aplicar ligaduras, executar massagens pontuais, etc., (2) o treinador questionará indi-
vidualmente cada jogador sobre a existência de problemas de carácter físico (lesões, cansaço, etc.) impeditivo de continuar
no jogo e, (3) em função das condições climatéricas e do terreno de jogo, poderá haver a necessidade de trocar de equipa-
mento e de botas (mudá-las, limpá-las, etc.).

Preparação técnico-táctica para a segunda parte


Após os 3 a 5 minutos de descanso/relaxação o treinador passa à fase de preparação técnico-táctica da equipa
para a segunda parte. Metodologicamente, a presente preparação técnico-táctica deve conter frases curtas, instruções claras,
reforçar afirmações, repetir ou reestruturar missões tácticas. É preciso ter presente que as instruções centradas nos erros da
primeira parte não têm qualquer efeito positivo no comportamento dos jogadores na segunda parte do jogo. Os jogadores
necessitam de instruções centradas a partir das suas missões tácticas específicas. Se for necessário criticar, é fundamental
que essa crítica esteja directamente ligada às instruções e conselhos. Estabelecem-se, entre outros, os seguintes princípios
essenciais: i) qualquer crítica, por mais necessária que seja, opõe-se à nossa necessidade de ser reconhecido, ii) ninguém
gosta que o critiquem, não importa se a crítica é justa ou não, iii) a pessoa que emite a crítica é sempre mal vista, apesar de
insistir que só quer melhorar e incrementar o rendimento dos jogadores, iv) elogiar e reconhecer tem muito mais êxito que
as críticas e, v) o treinador deverá reforçar a autoconfiança dos jogadores acentuando e potencializando os seus comporta-
mentos positivos". Neste contexto, o treinador:
> (1) Deverá dar informações respeitantes à própria equipa e à equipa adversária, por forma a concretizar uma melhor
compreensão das situações mais marcantes no plano táctico da funcionalidade colectiva da equipa, que aconteceram na
primeira parte.
> (2) A partir dessas informações deverá fazer ajustamentos ou modificações quer no plano individual, quer no plano colec-
tivo, como também na orientação geral da equipa na fase ofensiva e na fase defensiva. Estas informações são impre-
scindíveis porque, é preciso ter em atenção, que o resultado do jogo se decide na segunda parte. Assim, é mais fácil fazer
compreender aos jogadores não só as dificuldades ou facilidades objectivas que esse confronto específico em si encerra,
uma vez que já têm uma visão mais concreta e realista, pois experimentaram 45 minutos de luta contra essa equipa,
traduzida numa noção teórica (que deriva da reunião de preparação para o jogo) e numa noção prática das situações que
se sucederam no jogo. O treinador anunciará igualmente, a constituição da equipa que irá actuar na segunda parte do jogo.
> (3) O treinador deverá relembrar que o jogo só acaba quando o árbitro dá por terminada a partida, até lá tudo pode acon-
tecer dentro de um certo número de probabilidades.

Acções a ter em conta logo após o terminus do jogo


As acções a ter em conta por parte do treinador logo após o terminus do jogo deverão ser as seguintes:
> (1) Partilhar com toda a equipa o resultado do jogo.
> (2) Intervir de forma curta para acalmar a tensão, desdramatizan-
do no caso de uma derrota, ou evitando as explosões exageradas de
júbilo no caso de vitória.
> (3) Rever lesões e casos particulares.
> (4) Avaliar a eficácia da equipa tendo em consideração que o resul-
tado final é "apenas" um indicador importante. Muitas vezes esse
resultado não reflecte, nem de longe nem de perto, a realidade do
rendimento conseguido. Por outras palavras, o treinador não deve con-
fundir o rendimento com o êxito ou inêxito da equipa.

Bibliografia
CASTELO, J., (1996). Futebol - A organização do jogo. Edição do autor. Lisboa
CASTELO, J., (1999) Futbol - estructura y dinamica del juego, INDE Publicaciones, Barcelona
CASTELO, J., (2003) Futebol - Guia prático de exercícios de treino. Visão e contextos. Lisboa
FUTEBOL
A ESTRUTURA DO JOGO

JORGE CASTELO

A organização de uma equipa de futebol é um processo elaborado para um fim preciso que, no caso vertente, passa
indubitavelmente pela optimização das acções conjuntas dos diferentes membros que constituem a equipa, na concretiza-
ção, o maior número de vezes possível, do objectivo de jogo - o golo, com o intuito de atingir a vitória.
Para que este facto seja viável, sustentável e durável, promove-se uma colocação específica da equipa dentro dos
limites estabelecidos pelas Leis do jogo. Esta ocupação exprime-se numa área mais ou menos alargada de jogo, que se
expande ou se comprime em torno dos seus dois eixos fundamentais - largura e profundidade. Neste particular, procura-se
racionalizar e optimizar as acções da equipa, estabelecendo espaços próprios a partir dos quais cada jogador individual ou
colectivamente, na fase ofensiva como defensiva e num tempo concreto de intervenção, responde de forma adequada aos
problemas levantados pelas condições de variabilidade situacional de jogo que derivam da sua lógica. Importa neste domínio
referir, que a dimensão posicionamento é, a par da constituição da equipa para a competição, as questões de fundo que mais
fascinam a larga maioria dos adeptos desta modalidade, bem como, dos jornalistas desportivos que o comentam e rescrevem.
Não é por acaso, que se promove longas discussões ácerca destes dois assuntos. Com efeito, independentemente de todos
os aspectos importantes e fundamentais que tornam este jogo mais espectacular, a verdade é que uma qualquer reflexão,
por mais ou menos profunda que seja, irá sempre ser direccionada fundamentalmente para estas duas questões. Ora, isto
acontece por termos uma percepção de base errada da lógica do jogo, na qual partimos sempre do princípio que o futuro é
consequência dos factos do passado. Esta visão só é admissível se nos enquadrarmos num ambiente estável. Todavia, o jogo
de futebol, é tudo menos um ambiente estável, queremos com isto dizer, que os acontecimentos que se desenvolvem na com-
petição são únicos e irrepetíveis porque a condições inicais nunca são as mesmas. Logo, devido à complexidade de analis-
armos os assuntos do futebol à luz de um ambiente variável e transitório, temos a tendência de nos refugiar naquilo que mel-
hor pensamos poder controlar num ambiente estável para poder explicar, à anteriori ou à posteriori, os acontecimentos vin-
douros ou passados, que derivam da competição desportiva.
Na mesma e precisa direcção, potenciam-se diferentes níveis de actividade especializada durante o desenvolvi-
mento do jogo, cujas responsabilidades de âmbito individual (jogadores) e de âmbito grupal (normalmente denominados de
sector defensivo, médio ou avançado) são determinadas por diferentes atribuições funcionais e operacionais. Estas
atribuições, por seu turno, são suportadas pelo plano estratégico-táctico pré-estabelecido antes da partida ou por alterações
efectuadas ao longo do desenvolvimento desta. Apesar da importância do plano de jogo, o que é deveras fundamental é que
a operacionalidade destas atribuições se exprimam numa eficaz interdependência dinâmica. Com efeito, a promoção de um
espaço de base próprio e individualizado, e a atribuição de um conjunto de missões tácticas de carácter geral e específico a
cada jogador, bem como, a sua articulação interna relativamente ao sector de jogo em que este se encontra e da equipa na
sua globalidade, visa, em última análise, atingir uma organização mais eficaz e eficiente no diálogo com a complexidade das
diferentes contextualidades situacionais que o jogo de futebol em si encerra. O aperfeiçoamento do subsistema estrutural na
organização da equipa procura evitar dispendios inúteis dos recursos intelectuais (decisórios) e energéticos no qual se evita
que dois ou mais jogadores da mesma equipa realizem num mesmo momento para a mesma situação de jogo, um mesmo
comportamento com as mesmas intenções tácticas. Evita-se assim, a sobreposição de funções cujo efeito negativo imedia-
to resulta no facto da equipa desenvolver a sua acção colectiva, de carácter ofensivo ou defensivo, com menos um ou mais
jogadores. Na realidade, o subsistema estrutural procura que a divergência ou convergência comportamental de todos
jogadores da equipa contribuam para o mesmo objectivo táctico solicitado. Neste sentido, o melhoramento da organização
da equipa, partindo do ponto de vista da sua estrutura, promove que cada jogador, em cada momento do jogo deverá refer-
enciar comportamentos de resposta articulando e adaptando as necessidades para a resolução da situação de jogo com os
compromissos por ele assumidos relativamente à equipa e em função dos objectivos tácticos-estratégicos momentâneos de
jogo.

1. Conceito

A estrutura que deriva da organização dinâmica de jogo de uma equipa de futebol, é definido pelo enquadramen-
to posicional dos jogadores no terreno de jogo e, paralelamente, pelas funções tácticas gerais e específicas distribuídas a
esses mesmos jogadores. Com efeito, a estrutura de uma equipa exprime-se por um dispositivo táctico, que determina o
arranjo posicional dos jogadores dentro do espaço de jogo, ajudando-os a compreenderem e a operacionalizarem as suas
funções tácticas e responsabilidades no plano individual e no plano colectivo, isto é, na sua interdependência comportamental
agindo como membros solidários dentro de uma equipa.

2. Natureza

A natureza da estrutura de jogo de uma equipa de futebol consubstancia-se basicamente por duas dimensões:
> (1) "estática" denominada de sistema de jogo ou dispositivo táctico, que representa o modo de colocação dos
jogadores sobre o terreno de jogo. Esta colocação de base fundamental (traduzida por diagramas, por exemplo: 4-4-2;
4-5-1; 4-3-3; etc.), restabelece a ordem e os equilíbrios nas várias zonas do campo, servindo de ponto de partida (refer-
enciais) para os deslocamentos relativos dos jogadores e para a coordenação das acções individuais e colectivas logo
que a bola entra em movimento.
> (2) "dinâmica" estabelecida pelas diferentes tarefas e missões tácticas distribuídas aos jogadores que compõem a
equipa que, em última análise, traduzem as regras e os limites orientadores dos seus comportamentos técnico-tácticos.

Nesta linha de raciocínio, podemos referir, que a natureza da estrutura do jogo exprime uma dupla dimensão do
mesmo fenómeno, isto é, duas faces da mesma moeda, envolvendo no mesmo sentido e no mesmo nível de importância o
posicionamento de base do jogador no espaço de jogo e as funções tácticas gerais e específicas, desenvolvidas a partir
desse posicionamento. Em conclusão a natureza da estrutura do jogo de uma equipa de futebol evidencia fundamentalmente
dois elementos de base que o constituem:
> 1. O sistema de jogo ou dispositivo táctico, representa o modo de colocação dos jogadores sobre o terreno de jogo,
para o qual a racionalização do espaço representa a sua orientação fundamental.
> 2. As diferentes funções distribuídas aos diferentes jogadores que compõem a equipa, para a qual a objectivação do
comportamento técnico-táctico destes, representa a sua orientação fundamental.

3. Importância

Ao longo dos tempos, o sistema de jogo na sua dimensão geométrica tem sido sobrevalorizado no momento da
apreciação do jogo, em detrimento de outros aspectos tão importantes, como é o caso dos métodos de jogo, dos princípios
de jogo, etc. A análise da natureza do sistema de jogo, através de uma pertinência geométrica, condena-o a não abrir senão
uma perspectiva unilateral, incapaz de abranger a realidade lógica do jogo. Muitas pessoas ainda julgam que a eficácia e o
rendimento de uma equipa passa somente pela aplicação deste ou daquele sistema de jogo, dispondo os jogadores de uma
forma mais ou menos ardilosa. No entanto, não existe nenhum sistema de jogo que possa compensar a insuficiência técni-
ca de um mau passe ou de uma má recepção, de falta de enquadramento de um conjunto de regras básicas de coordenação
dos comportamentos dos jogadores no terreno de jogo ou de incapacidade física para pôr em funcionamento todo o sistema
de elementos na procura de um objectivo comum - o golo. Neste sentido, equivocar-nos-íamos profundamente acerca do sen-
tido da nossa análise se a tomássemos por uma condição indispensável, logo, a sua importância depende concomitante-
mente das condições intrínsecas à sua aplicação.
Certamente que os sistemas de jogo contribuiram de forma plena para o desenvolvimento do jogo de futebol na
actualidade. Esta contribuição derivou da procura constante de se explorar e expor os adversários a novos e difíceis proble-
mas, que advenham de um posicionamento mais racional e adaptado às condições que perspectivamos a sua ocorrência no
desenrolar da competição desportiva. Todavia, importa colocar esta questão no seu verdadeirao grau de importância, estab-
elecendo para isso os seguintes dois raciocínios:
> 1. As equipas em confronto directo têm exactamente o mesmo número de jogadores (11). Em conformidade com este
número, todos os treinadores estarão de acordo, que um sistema de jogo deverá ter, no mínimo, 3 defesas, 3 médios e 1
avançado. Isto significa, total concordância em 8 dos 11 jogadores (incluindo o guarda-redes). Restam assim 3 cuja possi-
bilidade de jogarem num ou noutro sector de jogo da equipa determina a disposição final do sistema de jogo. Senão
vejamos: se estes três jogadores forem 1 defesa, 1 médio e 1 avançado o sistema ficará num 4-4-2. Se forem 2 defesas e
1 médio, o sistema ficará 5-4-1. Se forem 1 defesa e 2 médios ficará 4-5-1. Se forem 1 defesa e 2 avançados ficará 4-3-3.
> 2. As equipas poderão operacionalizar o mesmo sistema de jogo, por exemplo 4-3-3. Todavia, exprimem certamente, uma
interpretação diferenciada desta. Senão vejamos: um dos treinadores poderá orientar a sua equipa de forma que os
jogadores pertencentes ao sector defensivo se preocuparem mais com a marcação aos seus adversários directos ou na
vigilância dos espaços vitais de jogo, do que com a incorporação destes no processo ofensivo da equipa quando de posse
de bola. Enquanto que o outro treinador, encoraja os jogadores do sector defensivo a desenvolverem acções agressivas
sobre a baliza adversária ou na sua direcção. No final da partida, se o resultado do jogo for a derrota para uma das equipas,
isto não deverá significar que este resultado poderia ser diferente se fosse aplicado um outro sistema de jogo. A derrota
observada, é o corolário de um conjunto de factores no qual o que tem, certamente, mais peso é o trabalho colectivo da
equipa. Por outras palavras, a importância e o valor de um qualquer dispositivo táctico depende em larga medida da ati-
tude e da acção colectiva dos jogadores sobre o qual ele é aplicado.

Concluindo, a importância da estrutura do jogo deve-se ao facto deste, para além de estabelecer a colocação de
base dos jogadores no terreno de jogo, proporcionar igualmente a base racional da conjugação das acções dos jogadores,
permitindo canalizar a tomada de consciência por parte destes sobre os seus direitos e deveres, fundamentalmente no que
diz respeito às suas funções e limites. Todavia, isto não significa que cada jogador não encontre dentro desta concepção de
organização da equipa o "espaço" necessário para reflectir a sua própria personalidade, improvisação e criatividade, pois este
é um pressuposto integrante do subsistema estrutural.

4. Objectivos

A organização dinâmica de uma equipa de futebol no domínio estrutural quando adequadamente delineada evi-
dencia o posicionamento dos jogadores, ou seja, o seu espaço referencial de actividade dentro da equipa, bem como das
tarefas tácticas a desempenhar. Nesta medida, este procedimento estrutural deve atingir os seguintes cinco objectivos fun-
damentais:
> 1. Promove a eficácia e a eficiência da organização da equipa. Este melhoramento estrutral da equipa advem : (1) no
afinar da sua articulação e comunicação interna, (2) na racionalização do espaço de jogo, em função das diferentes con-
textualidades situacionais possíveis e, (3) na especialização e universalização das tarefas tácticas individuais e de
pequenos grupos (sectores).
> 2. Proporciona um sentido de direcção. A estrutura do jogo orienta os jogadores quanto à direcção a seguir, tendo em
atenção os diferentes ambientes futuros possíveis de acontecerem indicando e fixando as tarefas tácticas-chave para cada
jogador e sector de jogo da equipa.
> 3. Desenvolve uma cultura de responsabilidade, lealdade e solidariedade. Partindo da divisão e interligação das
diferentes tarefas tácticas atribuidas aos jogadores, estes desenvolvem aspectos de cultura de responsabilidade e soli-
dariedade fundamentais para a concretização dos objectivos da equipa.
> 4. Fornece um sistema de coordenação. A estrutura da equipa define relações de coordenação e responsabilidade dos
diferentes jogadores que evidenciam nas suas tarefas uma maior preponderância em certas situações de jogo (por exem-
plo: nos pontapés de canto, de livre, penalti, etc.), ou na própria coordenação das acções ofensivas e defensivas aceleran-
do ou reduzindo o ritmo destes processos, criando-se assim, as condições mais favoráveis à sua implementação eficaz.
Neste domínio, os coordenadores de jogo, caracterizados por um elevado raciocínio táctico e de grande capacidade de
execução técnica, tem como funções adaptar de forma creativa o plano táctico da equipa durante a competição.
> 5. Estabelece uma rede de informação e comunicação da equipa. A estrutura do jogo de uma equipa de futebol evi-
dencia igualmente uma rede formal e informal na qual fluem informaçõse pertinentes e oportunas dentro de um quadro
comunicacional tão importante que se processa dentro da organização da equipa.

5. Elementos de base

Relativamente aos elementos de base da estrutura do jogo iremos analisá-los sob duas vertentes: (1) o jogador
encarado como uma linha de força dentro do terreno de jogo e, (2) a estrutura de base da equipa encarada em função de
linhas e sectores constituídos por vários jogadores que exercem a sua acção de forma concertada e homogénea.

5.1. O jogador

A ocupação do terreno de jogo determina ligações, que por sua vez, definem linhas de força, ou seja, redes de
comunicação ou intercepção. Para que isto se verifique verdadeiramente, é necessário o respeito por uma certa distância
relativa entre os jogadores, nem demasiadamente longa, pois aumenta os riscos de intercepção da bola pela equipa adver-
sária, nem demasiadamente curta em que a progressão da bola em direcção à baliza adversária se faça com grandes difi-
culdades. Neste sentido, cada jogador em campo representa uma força que se manifesta pela:
> 1. Ocupação dinâmica de uma parte do espaço de jogo. Ao
analisarmos a área do terreno de jogo em função do total de
jogadores que dentro deste se movimentam, observamos em
média, um espaço de cerca de 325m2/por jogador. Nestas circun-
stâncias, dentro da estrutura da equipa cada jogador, independen-
temente da sua missão táctica específica, deverá ocupar e
dinamizar uma parte do terreno de jogo podendo exprimir individ-
ualmente a sua própria persona-lidade, não sendo mais "prisioneiro"
do seu posto, visto possuir um largo suporte de uma organização
<<<
estruturada e fundamentada numa cobertura permanente e recípro-
ca.
> 2. Acção sobre a bola. Em cada momento do jogo somente um jogador
dos 22 em campo poderá deter a posse de bola. Isto significa que cada
jogador ao intervir sobre esta direcciona o jogo num ou noutro sentido, isto
é, na concretização ou não dos objectivos do jogo. Simultânea e parale-
lamente, a cada intervenção sobre a bola por parte de um qualquer
jogador, observa-se uma interacção operatória entre este e os restantes
jogadores (companheiros e adversários) consubstanciado por um conjun-
to de complexas movimentações à volta ou em direcção à bola (apoio ou
cobertura do companheiro de posse de bola ou marcação do adversário >|<
com bola).
> 3. Relação com os companheiros. A cooperação representa
uma forma específica de sociabilidade do jogo de futebol. Qualquer
jogador dentro da equipa em função de um determinado objectivo
comum, deve ajudar os seus companheiros e comunicar com eles.
Para comunicar, é necessário estabelecer uma "linguagem comum",
por outras palavras, ter um sistema referencial comum que é funda-
mentado no estabelecimento e definição de princípios de jogo. A
comunicação realiza-se de uma forma instrumental - através da
bola, e comportamental - através das acções técnico-tácticas exe- >>>
cutadas. Assim, os jogadores deverão compreender as intenções e
projectos dos seus companheiros em cada situação de jogo e adop-
tar comportamentos conducentes a tirar o máximo de eficácia dessa situação, em função dos objectivos da equipa. As
peculiaridades e o carácter das acções sem bola dos jogadores representam a base do conceito de jogo de equipa. O
posicionamento escolhido pelo jogador nas várias situa-ções de jogo, reflecte a fase
qualitativa do pensamento criativo e de maturidade táctica, baseados na capacidade de
ler e valorizar rapidamente as situações, por forma a poder adoptar operacionalmente as
soluções mais eficazes à tarefa táctica da sua própria equipa.
> 4. Intercepção das ligações dos adversários. A presença do adversário constitui
outra das constantes do jogo o que determina o "jogar com e contra". O jogo deve ser
analisado e compreendido em termos de relações de força entre as equipas. Estas,
quando em fase ofensiva, tentam desequilibrar o sistema de forças do adversário e esta-

>>>
belecer as condições mais favoráveis à objectivação do golo. Pelo contrário, a equipa em
acção defensiva tenta a todo o momento manter o equilíbrio dinâmico do seu sistema,
procurando recuperar a posse da bola e proteger a sua baliza.
> 5. Constante adaptação à variabilidade das situações de jogo.
A variabilidade das situações momentâneas de jogo, determina a
constante adaptação dos comportamentos técnico-tácticos individu-
ais (resolução táctica presente) e dos comportamentos técnico-tác-
ticos colectivos (deslocamentos coordenados pela necessidade de ±
equilibrar a repartição de forças no terreno de jogo). Em síntese,
dentro destas diversas manifestações cada jogador concretiza uma
linha de força com múltiplas orientações em que o rendimento está
subordinado à sua situação no espaço de jogo relativamente: i) à
bola, ii) às balizas, iii) aos companheiros, e, iv) aos adversários.
> 6. Concretização do objectivo do jogo. Cada jogador representa uma identidade indivisível com uma vontade
própria, que transporta consigo uma mentalidade, uma capacidade e uma fina-lidade. Redimensionando esta questão no
seio de uma equipa, a integração de cada jogador realiza-se pela aceitação, por parte deste, de um conjunto de valores,
convicções e de um projecto comum assumindo, neste contexto,
uma consciência colectiva. De forma simultânea, cada jogador dev-
erá saber, o que a equipa espera dele e a melhor forma deste cor- >|<
responder a essas expectativas. Assim, cada jogador perante um
quadro de confrontação desportiva, deve entender, que em qualquer
momento do jogo (intervindo ou não sobre a bola) ele é parte inte-
grante de uma cadeia de acontecimentos, cuja importância é deter-
minada pelas suas decisões, ao contribuírem para a resolução dos
diferentes contextos situacionais do jogo, por forma a que se con-
cretize os objectivos estratégicos preestabelecidos ou os objectivos
tácticos momentâneos da equipa.

5.2. A estrutura de base da equipa

Uma equipa de futebol pressupõe a existência de um colectivo organizado e ligado do ponto de vista da finalidade,
dos objectivos e das intenções. Representa, segundo Teodorescu (1984) um "microssistema social numericamente estáv-
el e constituído por jogadores especializados"..."o que conduz ao aparecimento de lugares na equipa (defesas, médios,
etc.), bem como a constituição de subconjuntos, sectores ou linhas". Com efeito, a colocação de base da equipa sendo
suportado pelas acções individuais dos jogadores, organiza-se em função de linhas ou sectores constituídos por vários
jogadores que exercem a sua acção (quer ofensiva, quer defensiva) de forma concertada e homogénea, estabelecendo as
relações ou as ligações que estão na base das acções colectivas (missões tácticas colectivas) e, em última análise, das
acções da equipa no seu conjunto. Neste sentido, os jogadores que pertencem aos diferentes sectores da equipa, eviden-
ciam missões tácticas específicas cuja nomenclatura tradicional denomina de:
> 1. Guarda-redes. É o jogador que dentro da sua grande área goza de um estatuto diferente de todos os outros
jogadores, em termos de contacto com a bola e de protecção às suas acções técnico-tácticas. A responsabilidade
primária do guarda-redes é, evitar o golo na sua baliza.
> 2. Defesas. São os jogadores que formam o sector mais
perto da sua baliza, constituído normalmente por 3 a 5
jogadores, dois ou três defesas centrais, um defesa lateral
direito e um defesa lateral esquerdo. A responsabilidade
primária dos defesas é, proteger a sua baliza.
> 3. Médios. São os jogadores que formam o sector inter-
mediário, ou seja, entre o sector defensivo e o sector ata-
cante, constituído normalmente por 3 a 5 jogadores, dois ou
três médios centros, um médio esquerdo e um médio dire-
ito. A responsabilidade primária dos médios é, auxiliar os
defesas nas suas missões defensivas e os avançados nas
suas missões ofensivas.
> 4. Avançados. São os jogadores que formam o sector
atacante, constituído normalmente por 1 a 3 jogadores. A
responsabilidade primária dos avançados é marcar golos.

Esta nomenclatura indica somente o papel prepon-


derante dos jogadores, pois, a sua actividade real na actuali-
dade, ultrapassa em muito o limite das obrigações resultantes Figura 3. Base estrutural da equipa
destas denominações, desaparecendo assim as fronteiras de carácter rígído entre as
funções destes dentro da equipa. Existe assim, com maior frequência o intercâmbio (infiltração), de posições e de funções
dos jogadores. Esta perspectiva renuncia igualmente, à divisão por categorias (os criadores/distribuidores de jogo e os luta-
dores pela posse da bola), pois todos devem ser perigosos para a baliza adversária, sabendo construir, criar, rematar e,
simultaneamente, deverão recuperar a posse da bola e proteger a baliza. Segundo Kacani (1982), consoante a quantidade
e a qualidade do trabalho que desempenham no jogo os jogadores podem ser divididos em três categorias:
> (1) jogadores universais. São capazes de cumprir com a mesma eficácia tarefas das fases defensiva e ofensiva do
jogo, nas zonas de defesa e ataque, nos sectores do terreno de jogo próprio de ambos, conhecendo as exigências de
cada uma das funções a desempenhar.
> (2) jogadores semi-universais. São capazes de cumprir as tarefas de uma das fases do jogo (defensiva ou ofensiva),
na zona de defesa ou do ataque e nos sectores de terreno próprio de cada uma delas. Conhecem e dominam com ele-
vado nível de rendimento, as funções de uma destas fases do jogo.
> (3) especialistas. São jogadores com uma especialização delimitada, capazes de cumprir com eficácia as tarefas de
uma fase do jogo, num sector específico da zona ofensiva ou defensiva (por exemplo, o guarda-redes).

6. Níveis

Em conformidade com o que foi referido estabelecemos 2 níveis de análise da estrutura do jogo:
> 1. Bases de racionalização do espaço de jogo através: (1) do estudo da evolução dos sistemas de jogo utilizados
ao longo do tempo até à actualidade e, (2) da distribuição coerente e homogéneo dos 11 jogadores da equipa no espaço
de jogo constituindo-se sectores (ou linhas) formados por vários jogadores que exercem a sua função de forma con-
certada.
> 2. Bases de racionalização das missões tácticas dos jogadores que se estabelecem em função: (1) das poten-
cialidades individuais dos jogadores, (2) dos objectivos tácticos da equipa e, (3) do conhecimento mais ou menos por-
menorizado das circunstâncias em que determinado confronto irá decorrer, incluindo, naturalmente, as particularidades
fundamentais da equipa adversária.

7. Bibliografia
CASTELO, J., (1996). Futebol - A organização do jogo. Edição do autor. Lisboa
CASTELO, J., (1999) Futbol - estructura y dinamica del juego, INDE Publicaciones, Barcelona
CASTELO, J., (2003) Futebol - Guia prático de exercícios de treino. Visão e contextos. Lisboa
KACANI, L. (1982) Preparación técnico-táctica del futbolista según su posición en el campo, El Entrenador, nº12, 12:17
TEODORESCU, L., (1984) Problemas de teoria e metodologia nos desportos colectivos, Livros Horizonte, Lisboa
FUTEBOL
AS ACÇÕES COLECTIVAS DEFENSIVAS

JORGE CASTELO

1. Os deslocamentos defensivos

Definição
Os deslocamentos defensivos são comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos, desenvolvidos no
absoluto respeito dos princípios (gerais e específicos) da defesa, visando assegurar, em última análise, a cooperação e
coerência dinâmica da movimentação dentro do método defensivo, preconizado pela equipa para o cumprimento dos objec-
tivos fundamentais da defesa (defesa da baliza/recuperação da posse da bola).

Objectivos
Os deslocamentos defensivos objectivam, em última análise, um meio técnico-táctico fundamental para: (1) obrigar
o adversário de posse de bola a cometer erros, a optar pelas respostas tácticas menos convenientes e adaptadas à situação
momentânea de jogo, (2) criar um menor número de possibilidades ao processo ofensivo adversário, o que determina con-
sequentemente a previsibilidade dos seus comportamentos técnico-tácticos e, (3) mesmo durante a fase defensiva, a equipa
deverá manter uma certa iniciativa de jogo, ao obrigar os jogadores adversários a jogar sobre uma forte pressão técnico-tác-
tica e psicológica. Em síntese, os objectivos dos deslocamentos defensivos são os seguintes:
> 1. Ocupar, restringir e vigiar de forma eficiente os espaços vitais à progressão do processo ofensivo do adversário.
Qualquer que seja o sistema de jogo adoptado por uma equipa e a relação geométrica implícita nesse sistema, não per-
mitem ocupar, restringir e vigiar o espaço total de jogo. Assim, há a necessidade de se optar consciente e adaptadamente
pelos espaços mais importantes à persecução dos objectivos do ataque adversário. A ocupação e a vigilância desses
espaços vitais determina consequentemente a restrição do "tempo" para a execução técnico-táctica do processo ofensivo,
encaminhando-o para outros espaços (menos perigosos), tornando desta forma o jogo ofensivo mais previsível em termos
defensivos.
> 2. Marcação efectiva dos jogadores posicionados em espaços vitais e
que possam dar continuidade ao processo ofensivo adversário. A marcação
mais ou menos cerrada aos adversários que possam ser o elo de transmissão
do processo ofensivo, é um objectivo de extrema importância, determinando
igualmente a previsibilidade do jogo ofensivo. Devido às grandes variações
momentâneas das condições de jogo, os jogadores em processo defensivo pas-
sam por verdadeiros exames de maturidade táctica, marcando cerradamente 6
adversários que sejam elementos importantes nesse momento, ou seja, os que
naquela situação táctica são elo de ligação do processo ofensivo. Este objecti-
vo pressupõe igualmente, a permanente preocupação por parte dos defesas em
prever e deduzir que acções irão ser levadas a cabo, tanto pelos adversários,
como pelos companheiros. Esta capacidade dedutiva permite aos defesas
accionar preventivamente, para contrariar as acções dos adversários e ajudar
os comportamentos técnico-tácticos dos seus companheiros.
> 3. Equilibrar ou reequilibrar constante e automaticamente a repartição de forças do método defensivo, consoante as
situações momentâneas de jogo. Durante a recuperação e ocupação do dispositivo defensivo da equipa, observam-se com
uma certa liberdade e coerência, deslocamentos compensatórios de adaptação à variabilidade das situações momen-
tâneas de jogo, coordenando-se assim, a repartição de forças necessárias ao equilíbrio do sistema preconizado. As
respostas técnico-tácticas, e a variabilidade das condições momentâneas das situações de jogo, devem não só reflectir
uma eficaz adaptabilidade (plasticidade) a essa situação, como a consonância dessa resposta, em função dos objectivos
do jogo ou da táctica da equipa. As redes de intercepção não são automáticas, é sempre necessário que a equipa crie as
condições favoráveis à sua implementação e utilização, consoante as situações variáveis de jogo (conjuntura). O proces-
so ofensivo visa assegurar ligações em largura e profundidade, com o objectivo de aumentar as dificuldades de marcação,
procurando assim efectuar uma rápida e segura progressão da bola. O processo defensivo tenta contrariar estas acções
através da concentração, diminuindo assim as possibilidades da equipa se fragmentar e criar largos espaços de jogo entre
os defesas, estabelecendo uma certa distância, coerente e homogénea entre os vários sectores da equipa.

Classificação
Os deslocamentos defensivos podem ser divididos em:
> 1. Deslocamentos que visam a recuperação defensiva. Os deslocamentos que visam a recuperação defensiva
começam logo após a perda da posse da bola e duram até à ocupação do método defensivo. Durante este trajecto os
jogadores têm como quadro referencial dois aspectos fundamentais:
> (1) A linha de recuo. Recuperar o mais rapidamente possível tomando o caminho mais curto. Este deverá “desenhar”
uma recta desde o ponto onde se posiciona o jogador até ao poste mais perto da sua baliza. Durante este deslocamento
os defesas devem:
> A. Nunca perder o contacto visual com a bola.
> B. Marcar adversários que possam dar seguimento ao processo ofensivo.
> C. Marcar espaços por onde o processo ofensivo possa progredir.
> D. Deduzir continuamente quais as intenções tácticas da equipa adversária.
> (2) Até que posição recuperar. Há sempre um ponto em que o recuo defensivo termina. Este está dependente da
capacidade:
> A. Da equipa, em fase defensiva, pressionar mais ou menos distante da sua própria baliza.
> B. Técnico-táctica da equipa adversária progredir no terreno de jogo. Quando o jogador atinge a posição de recu-
peração, deve executar uma das seguintes cinco acções: i) pressionar o atacante de posse de bola, ii) fazer cobertu-
ra ao companheiro que marca o atacante de posse de bola, iii) marcar um atacante que esteja no centro da acção, iv)
ocupar um espaço importante para a segurança da própria baliza e, v) marcar o deslocamento de um atacante para
o espaço nas "costas" da defesa.
> (3) Nesta perspectiva, os jogadores em fase defensiva deverão ajustar a velocidade de recuo e a posição final deste
recuo em função das particularidades enunciadas. No entanto, o jogador ao recuperar, poderá executá-lo para:
> A. Posições de base dentro do método defensivo preconizado.
> B. Marcar um determinado adversário, onde quer que ele se encontre.
> C. Outra posição dentro do método defensivo, visto que a sua posição e função já foi ocupada por outro compan-
heiro.

Podemos distinguir duas formas de deslocamento que visam a recuperação defensiva:


> 1. A recuperação intensiva. Apresenta como atitude fundamental, os
jogadores concentrarem-se rapidamente em posições à frente da sua
própria baliza, ocupando espaços e formando um bloco homogéneo.
> 2. A recuperação em pressing. É a forma de recupera-ção mais uti-
lizada pelas equipas de alto rendimento. A atitude deste tipo de recuper-
ação fundamenta-se essencialmente numa forte pressão (ainda durante
o trajecto) sobre espaços e jogadores adversários que possam dar con-
tinuidade à progressão do processo ofensivo, tentando uma rápida recu-
peração da posse da bola. Para realizar este tipo de recuperação é
necessário: i) um grande espirito de sacrifício e solidariedade, ii) grande
disciplina em termos tácticos, iii) grande capacidade de leitura do jogo e, iv) grande capacidade físico-psicológica.

> 2. Deslocamentos para manter o equilíbrio ou reequilibrar a organização defensiva propriamente dita. A grande vari-
abilidade das situações momentâneas de jogo são determinadas fundamentalmente pela transitoriedade da posição da
bola, dos jogadores e dos espaços de jogo. Esta variabilidade determina a adaptação da organização da própria equipa,
consubstanciada pelos deslocamentos dos jogadores, coordenados pela necessidade de equilibrarem ou reequilibrarem a
repartição de forças no terreno de jogo. Todas as movimentações, longe de serem independentes umas das outras, influ-
enciam-se mútua e reciprocamente. Um jogador intervém sempre na orgânica do jogo, quer seja o adversário ou o com-
panheiro, facilitando ou contrariando o jogo colectivo pelos seus deslocamentos. Portanto, dentro da organização da equipa
deve existir um conjunto de regras e normas (princípios específicos), que permitam uma melhor selecção e articulação
orgânica das acções técnico-tácticas individuais e colectivas. Reflectem no seu interior uma solidariedade orgânica e reg-
ulativa desses mesmos comportamentos, que deve caracterizar-se por três aspectos fundamentais:
> A. Manter uma correcta colocação, em função do sistema utilizado, bem como das particularidades dos adversários.
> B. Atender ao facto dos deslocamentos efectuados não perturbarem a circulação dos outros companheiros, antes pelo
contrário as favoreçerem.
> C. Possibilitar a realização completa e oportuna dos procedimentos técnicos de defesa.

Meios
As condicionantes favoráveis para a realização dos deslocamentos defensivos podem ser analisados sob as
seguintes vertentes:
> 1. Gerais. A forma geral de organização - método de jogo, deverá ser um factor facilitador na execução das acções indi-
viduais e colectivas dos jogadores exprimindo:
> (1) Um bloco homogéneo em que os vários sectores da equipa se posicionam perto uns dos outros, concentrando-se
em espaços importantes para a protecção da baliza, assegurando ligações associativas fundamentais entre vários
jogadores.
> (2) Utilização de mudanças bruscas de ritmo e direcção, assumindo parte da iniciativa do ataque, mantendo sempre
uma pressão constante sobre espaços e adversários directos.
> (3) Utilização das acções técnico-tácticas de dobra.
> 2. Específicos. Os deslocamentos defensivos resultam da reacção da equipa logo após a perca da posse da bola. Esta
reacção baseia-se em dois tipos de comportamento, individual e colectivo, que se observam simultaneamente nos
jogadores em processo defensivo:
> (1) Marcação rigorosa e pressionante ao adversário de posse de bola pelo defesa mais próximo, com os seguintes
objectivos:
> A. Tentativa de entrar de novo na posse da bola.
> B. Impedir o relançamento imediato do processo ofensivo adversário, e em especial do contra-ataque.
> C. Ganhar o tempo suficiente para a recuperação e organização do método defensivo. Assim, o adversário de posse
de bola, qualquer que seja e por onde quer que se movimente, deve ser ri-gorosamente marcado de forma individual.
> (2) Por jogadores em deslocamento que visam a ocupação do dispositivo defensivo exige-se:
> A. Uma clara visão de jogo, percepcionando continuamente as movimentações dos adversários, companheiros e tra-
jectória da bola.
> B. Utilização de atitudes e comportamentos técnico-tácticos, que alterem os ângulos de ataque, com a intenção de
tornar o jogo ofensivo previsível (do ponto de vista defensivo), obrigando-os a jogar num certo sentido.
> C. Fazer continuamente sentir aos adversários directos a sua presença, mobilizando-lhes a atenção, tentando
desconcentrá-los, utilizando inclusivamente pequenos contactos físicos.
> D. A marcação contínua e coerente, principalmente sobre os
jogadores atacantes que poderão dar melhor seguimento ao
processo ofensivo. A pressão sobre os restantes adversários dev-
erá ser variável, obrigando-os a procurar saber constantemente
se estão ou não pressionados (factor psicológico).
> E. A entreajuda entre os jogadores da equipa em fase defensi-
va, deverá reflectir um significado especial de comunicação e
compreensão mútua. <<<
Princípios
Os princípios de orientação na execução dos deslocamentos defensivos devem assumir dois domínios fundamen-
tais:
> 1. Gerais. A variabilidade das situações momentâneas de jogo determina deslocamentos dos jogadores, exprimindo os
seguintes princípios de orientação:
> (1) Racionalização permanente do espaço de jogo: os deslocamentos dos jogadores são coordenados pela necessi-
dade de, a todo o momento, equilibrarem e racionalizarem o espaço de jogo onde evolui a organização defensiva.
> (2) Deslocamentos dos jogadores a ritmos e direcções variáveis:
> A. Obrigam os adversários a deslocarem-se para espaços menos perigosos.
> B. Visam permanentemente a protecção da baliza e dos caminhos possíveis à progressão do processo ofensivo
adversário.
> (3) O movimento da bola deve implicar um deslocamento relativo de todos os jogadores:
> A. Um jogador, em qualquer situação de jogo, jamais deverá estar parado.
> B. A mudança do ângulo de ataque deve reflectir cons-tantemente o deslocamento relativo do método defensivo indi-
vidual e colectivo de uma forma homogénea.
> 2. Específicos. O princípio fundamental da defesa é de rea-
gir rapidamente à situação de perda de posse de bola. Os
comportamentos técnico-tácticos de marcação devem iniciar-
se imediatamente após a perda da posse da bola e em qual-
quer zona do campo. Estes manifestam-se através de um posi-
cionamento em função: da bola, dos adversários, dos com-
<
panheiros e da baliza. Neste sentido, imediatamente após a
perda de posse de bola, os jogadores devem colocar-se entre
6
a bola e a baliza. Por último, há que ter presente
que uma defesa bem organizada, está normal-
mente em superioridade numérica (em termos
de centro do jogo) e somente a passividade de
alguns jogadores permite que os atacante gan-
<<<
hem o espaço e o tempo necessários, para atin-
girem os objectivos do ataque. << Foto 203

2. As compensações/desdobramentos defensivos

Definição
São acções técnico-tácticas individuais e colectivas, desenvolvidas no absoluto respeito dos princípios (gerais e
específicos) da defesa, que visam assegurar constantemente a ocupação racional do terreno, cobrindo ou ocupando
espaços, e assumindo posições e missões tácticas de companheiros, que num certo momento estão envolvidos na realiza-
ção de outras funções.

Objectivos
Em síntese, os objectivos das compensações/desdobramentos são os seguintes:
> 1. Ocupação racional do terreno de jogo.
> 2. Marcação do adversário de posse de bola, depois deste ter ultra-
passado o seu companheiro (execução da acção técnico-táctica de
dobra, com o reajustamento automático de todos os companheiros em
função da "nova" situação de jogo). Estes objectivos evidenciam os
seguintes aspectos: (1) excelente segurança defensiva, (2) criação de
superioridade numérica, (3) reciprocidade no trabalho colectivo, (4)
poucos espaços livres e, (4) criação de condições desfavoráveis ao
prosseguimento do processo ofensivo adversário.
>>>
Meios
Os meios fundamentais à execução das compensações/desdobramentos são os mesmos que foram referidos para
o processo ofensivo. Salienta-se, que o conjunto de acções dos jogadores de uma equipa, devem exprimir um bloco homogé-
neo, que reflicta fundamentalmente: (1) um grande sentido de jogo colectivo, (2) clara fixação dos conceitos de disciplina e
responsabilidade táctica e, (3) grande espírito de sacrifício.

Princípios
Os princípios fundamentais à execução das compensações/desdobramentos são os mesmos que foram referidos
para o processo ofensivo. Salienta-se, que devido às incessantes mudanças das condições de jogo, exigem-se deslocamen-
tos permanentes aos jogadores, racionalizando continuamente o espaço de jogo, em função: (1) da repartição equilibrada
das forças no terreno de jogo, (2) facilitação das acções de conjunto da sua própria equipa, (3) de evitar a compartimentação
de funções e missões específicas dos jogadores e, (4) estabelecimento de regras de compreensão mútua dos jogadores,
dentro do seio da equipa.

3. As dobras

Definição
As dobras são combinações tácticas que representam a coordenação das acções individuais de dois jogadores de
natureza defensiva, desenvolvidas no absoluto respeito dos princípios (gerais e específicos) defensivos, que visam assegu-
rar a reso-lução de uma tarefa parcial (temporária) específica do jogo.

Objectivos
O objectivo fundamental das dobras é a resolução táctica da situação de rotura momentânea da organização defen-
siva (numa certa fase do jogo), equilibrando-a temporariamente, através da contenção dos comportamentos técnico-tácticos
do adversário de posse de bola.

Meios
As dobras assentam fundamentalmente numa leitura correcta da
situação de jogo, consubstanciada em deslocamentos rápidos para o
centro da acção do jogo. Esta aproximação deverá pôr em evidência dois
aspectos importantes:
> (1) A velocidade de aproximação (abrandamento dessa velocidade
logo que o jogador adversário tenha a bola perfeitamente dominada).
> (2) O correcto ângulo de aproximação (pois condicionará o ângulo de
>>> passe ou remate do adversário).

Princípios
Em síntese, o princípio de orientação fundamental na execução das dobras é reagir rapidamente ao desequilíbrio
temporal da organização defensiva, através da marcação rigo-rosa e pressionante do adversário de posse de bola, fazendo
a contenção aos seus comportamentos técnico-tácticos, com os seguintes objectivos:
> (1) Tentar ganhar, numa primeira fase, o tempo suficiente para que os restantes companheiros reequilibrem colectiva-
mente a organização defensiva.
> (2) Defender a baliza conduzindo o adversário para espaços menos perigosos.
> (3) Tentar recuperar a posse da bola tirando parte da iniciativa ao adversário através de: i) uma posição de base correc-
ta (em permanente equilíbrio para poder reagir a qualquer iniciativa do adversário), ii) observação da bola (concentrando-
se somente nos movimentos desta), iii) paciencia (o tempo nestas situações concorre sempre a favor de defesa) e, iv) ter
a iniciativa.
4. A temporização

Definição
São acções técnico-tácticas individuais e colectivas de natureza defensiva, desenvolvidas no absoluto respeito dos
princípios gerais e específicos da defesa, que visam o retardamento da progressão do processo ofensivo adversário, com
vista ao cumprimento dos objectivos da defesa.

Objectivos
O objectivo fundamental da acção de temporização é assegurar o retardamento do processo ofensivo adversário,
por forma a ganhar o tempo necessário para que os companheiros se recoloquem
dentro do seu método defensivo de base: a equipa deverá reagir logo que se verifi-
ca a perda de posse de bola , observando-se dois tipos de comportamento:
> (1) Marcação rigorosa ao adversário de posse de bola:
> A. Impedir que o adversário relance o processo ofensivo e em especial que
este renuncie ao contra-ataque.
> B. Ganhar o tempo suficiente para que todos os jogadores se enquadrem no
método defensivo de base.
> (2) Marcação de todos os jogadores que possam dar con-
6
tinuidade ao processo ofensivo. Diminuir parte da vantagem (inicia-
tiva) do processo ofensivo adversário, obri-gando-os a jogar sobre
uma forte pressão técnico-táctica e psicológica com o objectivo de:
> A. Manter um ritmo de jogo mais conveniente para a sua própria
equipa.
> B. Manter o resultado numérico momentâneo do jogo.
> C. Recuperar fisicamente.

Meios
A acção de temporização defensiva, observa-se fundamentalmente no momento do relançamento do processo
ofensivo adversário, evitando-se que a equipa de posse de bola aproveite o momentâneo desequilíbrio em que se encontra
a equipa que tem de passar a defender, ou seja, no momento da mudança das atitudes e dos comportamentos técnico-tác-
ticos dos jogadores. De qualquer forma, a temporização defensiva pode ser observada em qualquer das fases pelas quais
passa o processo ofensivo, sendo objectivo desta acção essencialmente o mesmo: ganhar tempo, tirar para si parte da ini-
ciativa das situações momentâneas de jogo. O contínuo retardamento de qualquer uma das fases do processo ofensivo
adversário, obriga-os a pensar em como contrariá-los, fazendo uso de procedimentos técnico-tácticos e a ter respostas tác-
ticas não tão eficazes como desejariam e, por consequência, a cometer mais erros, tornando assim, o jogo ofensivo mais pre-
visivel para a defensiva. Este facto pressupõe a permanente preocupação (por parte dos defesas), em prever e deduzir quais
as intenções dos adversários, permitindo accionar-se preventivamente acções que as antecipem. Neste sentido, as situações
momentâneas de jogo devem reflectir uma eficaz adaptabilidade (plasticidade) através de respostas tácticas, utilizadas em
consonância com os objectivos tácticos momentâneos da equipa (jogar pelo lado da segurança ou do risco). Em última
análise, as acções de temporização defensiva asseguram uma atitude que implica o retardamento da acção ofensiva, tanto
no espaço como no tempo, na medida em que está ligado àquele e na medida em que as circunstâncias o permitam.

Princípios
Para que a acção de temporização defensiva efectivamente resulte, é necessária a conjugação de procedimentos,
ao nível:
> (1) Do jogador que marca o adversário de posse de bola cumpra os objectivos específicos determinados para o 1º
defesa (contenção), e, dos ou-tros companheiros que deverão marcar cerradamente os jogadores adversários, ou espaços
vitais que possam dar continuidade ao processo ofensivo.
> (2) Outro princípio fundamental que faz parte da acção de temporização defensiva, é a infracção às leis do jogo. Estas
poderão e deverão ser utilizadas quando não houver capacidade técnico-táctica de parar ou retardar o processo ofensivo
adversário. Desde que os objectivos tácticos da equipa e as situações momentâneas de jogo assim o exijam, é necessário
que os defesas, sem qualquer tipo de reserva, utilizem a infracção a favor da equipa.
5. Cortinas/écrans

Definição
São acções técnico-tácticas individuais e colectivas, desenvolvidas no absoluto respeito dos princípios (gerais e
específicos) da defesa e das leis do jogo, desenvolvidas por um ou mais jogadores que se posicionam por forma a perturbar
a acção dos atacantes, estabelecendo uma protecção eficiente da própria baliza e dos comportamentos do companheiro que
recupera a posse da bola.

Objectivos
Em síntese, os objectivos fundamentais das cortinas/écrans no processo defensivo são os seguintes:
> 1. Proteger os comportamentos técnico-tácticos de um compan-
heiro, aquando da recuperação da posse da bola:
> (1) Estas acções são especialmente visíveis na protecção
(cortina/écran) dada pelos defesas ao guarda-redes, no momento em
que este recupera a posse da bola.
> (2) Na ocupação de um espaço vital de jogo, aquando da marcação
dos esquemas tácticos, para evitar que o adversário ocupe esse mesmo
espaço e efectue ele próprio acções de cortina ou écran.
> 2. Protecção máxima da baliza. A protecção máxima da baliza é efec-
tuada através da formação de barreiras durante a execução de livres >|<
(directos ou indirectos) nas zonas predominantes de finalização, especial-
mente em ângulos frontais à baliza.

Meios
Estes comportamentos técnico-tácticos são o resultado da procura constante das condições favoráveis à situação
de recuperação de posse de bola e de protecção máxima da própria baliza. Para isso, é necessário utilizar acções técnico-
tácticos que consubstanciem a variação de ângulos e posições, relativas dos jogadores defesas em função dos atacantes,
com as seguintes intenções:
> (1) Interpôr-se entre o atacante e o seu companheiro, para que este encontre as condições mais favoráveis à recuper-
ação da posse da bola.
> (2) Interposição - formação de barreiras - entre a posição da bola e a baliza própria nas situações de livre. As barreiras
são formadas por jogadores em acção defensiva que se colocam uns ao lado dos outros, constituindo um bloco homogé-
neo que deverá manter-se até depois da execução do livre.

Princípios
Os procedimentos técnico-tácticos indivi-duais de protecção ao
jogador que recupera a posse da bola, devem caracterizar-se por desloca-
mentos rápidos e directos para o seio do centro do jogo, obrigando o ata-
cante a ter que percorrer uma maior distância, pois terá que contornar o
defesa, se quiser chegar primeiro à bola.

>|<
6. Os esquemas tácticos defensivos

Definição
São as soluções adaptadas para as situações de bola parada (livres, pontapés de baliza, de canto, etc.).
Representam a coordenação de acções individuais e colectivas de vários jogadores de natureza defensiva, que visam asse-
gurar as condições mais favoráveis à protecção máxima da baliza e à recuperação da posse da bola durante as partes fixas
do jogo.
Objectivos
Em síntese, o objectivo fundamental dos esquemas tácticos defensivos é o de assegurar as condições mais
favoráveis à protecção da baliza e à recuperação da posse da bola durante as partes fixas do jogo. De forma directa, entre
25 e os 50% das acções ofensivas a alto nível que culminaram em golo, têm por base a resolução de situações de bola para-
da. Se a esta percentagem somarmos as situações que derivam indirectamente dos esquemas tácticos, depois da sua exe-
cução, compreendemos a importância e a necessidade das equipas aquando em processo defensivo, procurarem:
> (1) Evitar cometer infracções às leis do jogo, especialmente na zona defensiva, pois diminui em muito as probabilidades
da equipa adversária conseguir o golo.
> (2) Planear e organizar as condições ideais de defesa em situações resultantes da marcação dos esquemas tácticos.
> (3) Prever as alterações possíveis, isto é, estabelecer um conjunto de cenários subsequentes à execução dos esquemas
tácticos, em termos defensivos (defesa da baliza) e ofensivos (uma vez recuperada a posse da bola atacar de ime-diato a
baliza adversária).

Durante o processo defensivo, e em especial nas zonas predominantemente defensivas, nem sempre é possí-vel
recuperar de imediato a posse da bola, tal como nem sempre é possível afastar de imediato a bola das zonas vitais do ter-
reno de jogo, e nem sempre é possível evitar que o atacante directo consiga rodar e orientar os seus comportamentos téc-
nico-tácticos em direcção à baliza adversária. Com efeito, os defesas não devem estar obcecados em concretizar um destes
objectivos defensivos, ao ponto de cometerem infracções às leis do jogo que determinam na maioria dos casos, situações
mais vantajosas do ponto de vista ofensivo. Neste sentido, os jogadores em processo defensivo, para além de evidenciarem
as suas qualidades técnico-tácticas na procura de diminuírem o tempo, o espaço e o número de opções tácticas do ataque
adversário, deverão evidenciar igualmente os seus atributos psicológicos de concentração, paciência, auto-disciplina, ou seja,
de maturidade táctica. Todavia, mesmo as equipas de elevados níveis de rendimento, irão mais cedo ou mais tarde, cometer
infracções às leis do jogo longe ou perto da sua zona defensiva, nos corredores laterais ou central. Com efeito, para uma mel-
hor compreensão do problema das situações de bola parada é
necessário encontrar as suas vantagens básicas: i) são executados com
a bola parada, não se pondo o problema do seu controlo, (2) não existe
pressão defensiva sobre o atacante de posse de bola, devido às leis do
jogo, (3) verifica-se uma mobilização de um grande número de ata-
cantes, posicionando-se em espaços vitais do terreno de jogo, (4) os ata-
cantes posicionam-se em espaços, por forma a maximizar as suas
capacidades, e, (5) a acção sincronizada dos movimentos de todos os
atacantes. A raiz do problema defensivo em evitar a elevada percent-
>|< agem da eficácia dos esquemas tácticos ofensivos, advém fundamental-
mente:
> (1) Do facto de a equipa não estar suficientemente organizada para fazer face à situação de bola parada e à situação
subsequente à sua efectivação.
> (2) Diminuição da concentração por parte dos defesas, devido à paragem momentânea do jogo, na qual alguns deles
argumentam com o árbitro ou com os adversários.
> (3) Os jogadores deslocam-se para a sua posição de base dentro do dispositivo fixo da equipa, e uma vez assumida
essa posição, pensam que o problema está resolvido, esquecendo-se das tarefas específicas dentro do esquema táctico
defensivo, modificando assim as suas respostas técnico-tácticas em função das alterações ou do desenvolvimento do
esquema táctico ofensivo.
(4) Uma utilização incorrecta da vantagem de em todas as situações de bola parada os defesas se encontrarem normal-
mente em superioridade numérica, em relação aos atacantes.

Meios
Os meios fundamentais para a concepção dos esquemas tácticos defensivos, devem assegurar os seguintes
aspectos básicos:
> 1. Organização. Os esquemas tácticos defensivos devem ser organizados, por forma a colocar os atacantes adversários
em condições desfavoráveis no desenvolvimento dos esquemas tácticos ofensivos, como nas situações subsequentes à
sua execução. Neste sentido, pressupõe sempre o estabelecimento de um dispositivo fixo, no qual os jogadores se posi-
cionam de forma pré-estabelecida. No entanto, deve igualmente ter um carácter espontâneo se os atacantes conseguirem
executá-lo rapidamente. Com efeito, dever-se-á requisitar os jogadores cujas particularidades, independentemente da sua
posição dentro do sistema táctico da equipa, melhor contribuam para uma eficiente defesa da baliza e recupe-ração da
posse da bola. Daí a necessidade de todos os jogadores saberem em detalhe a sua missão táctica específica na organi-
zação dos esquemas tácticos defensivos da equipa e desenvolverem concertadamente a sua acção.
> 2. Disciplina individual e colectiva. A eficácia e funcionalidade de uma equipa no seu conjunto depende do cumpri-
mento eficiente das suas missões tácticas específicas. Isto é sempre verdade, mas é premente nos esquemas tácticos
defensivos. Os jogadores que participam nos esquemas tácticos defensivos devem ter um claro conhecimento das acções
específicas da sua organização e das suas variantes (livres, pontapés de canto, lançamentos da linha lateral, grandes
penalidades, etc.), estar sempre preparados para assumir na eventualidade as missões específicas do companheiro.
> 3. Concentração. Os lapsos de concentração são o maior problema dos esquemas tácticos defensivos. O tempo
necessário para a execução das situações de bola parada é o suficiente para se poder reajustar a posição, as distâncias
e a concentração psíquica dos jogadores por forma a prepararem a sua resolução (procurar o adversário para marcar, ler
a situação e antecipar as soluções que os atacantes procuram efectuar). Todavia, se o dispositivo não estiver totalmente
concretizado, os defesas deverão efectuar um esquema táctico defensivo, tendo um carácter espontâneo.

Princípios
Os princípios fundamentais de orientação para a concepção dos esquemas tácticos, devem assegurar os seguintes
aspectos:

Nos livres directos ou indirectos


Potencialmente é um factor muito importante para a obtenção de golos:
> (1) No meio-campo do terreno de jogo. Os atacantes, nas situações de livre directo ou indirecto no meio-campo, procu-
ram repôr rapidamente a bola em jogo, por forma a aproveitar dois tipos de vantagem: i) possível lapso de concentração
por parte dos defesas e, ii) explorar o espaço de jogo livre à sua frente (leis do jogo). Em termos defensivos, um jogador
deverá colocar-se imediatamente entre a bola e a baliza, procurando concretizar os seguintes objectivos:
> A. Bloquear a trajectória directa da bola em direcção à baliza, por forma a que o atacante tenha que utilizar uma
linha diferente, ou seja, menos directa.
> B. Obrigar o atacante a executar uma acção técnico-táctica mais complexa, o que determinará igualmente uma
recepção mais difícil da bola por parte de um dos seus companheiros.
> C. Temporizar o ataque adversário, ganhando algum tempo, que deve ser utilizado na marcação dos atacantes posi-
cionados em profundidade e nos espaços vitais de jogo. Marcação pressionante dos atacantes que eventualmente
desenvolvam deslocamentos ofensivos de rotura.
> (2) a zona defensiva. O perigo dos livres (directos ou indirectos) aumenta à medida que estes são concedidos nas
proximidades da baliza. Neste sentido, é importante que se construa uma barreira para concretizar uma melhor protecção
da baliza, sendo esta uma peça importante e detalhada da organização da
equipa. Existem cinco questões fundamentais na construção de uma barreira:
> A. A rapidez de formação de uma barreira. A formação da barreira deve ser
tão rápida quanto possível, daí a necessidade de a sua construção ser previa-
mente planeada e treinada. Todos os jogadores que participam no esquema
táctico defensivo deverão ter um claro conhecimento quanto à sua posição,
quais as suas funções específicas, coordenando eficazmente o seu comporta-
mento com o dos restantes companheiros, estando sempre concentrados e
preparados para intervir sobre a bola, recuperando-a ou afastando-a do espaço
vital de jogo. É necessário salientar o facto de normalmente a barreira ser for-
mada sobre uma elevada pressão (tensão) e por vezes de grande confusão,
por um lado, pelos atacantes procuram criar um cenário convincente para os defesas, por
forma a que sejam levados a lerem incorrectamente a situação de jogo, e por outro lado,
pelos defesas que muitas vezes se preocupam mais em argumentar com o árbitro do que
em concentrar-se no esquema táctico defensivo.
> B. Quem coordena a posição da barreira. Normalmente a coordenação da posição da
barreira é feita pelo guarda-redes com a ajuda de um companhei-ro, que se coloca perto da
bola com as seguintes intenções:
> 1. Ganhar o tempo suficiente para que os companheiros formem a barreira e evitar que o livre seja executado
rapidamente.
> 2. Não deixar que a bola mude de posição para dar o correcto ponto referencial ao seu guarda-redes para posi-
cionamento da barreira num ângulo ideal.
> C. O número de jogadores que formam a barreira. O número de jogadores que formam a barreira depende essen-
cialmente dos seguintes factores:
> 1. Da distância da posição da bola em relação à baliza.
> 2. Do ângulo, ou seja, no corredor central, ou corredores late-rais.
> 3. Do conhecimento dos esquemas tácticos ofensivos da equipa adversária, no qual se inclui: a capacidade téc-
nico-táctica do atacante que o executa e a forma de sincronização estabelecida pelos atacantes da equipa adver-
sária.
> D. Os pressupostos na formação da barreira. Uma vez estabelecido o número de jogadores e os que irão formar
a barreira dever-se-á atender aos seguintes quatro pressupostos fundamentais:
> 1. Os jogadores que formam a barreira devem colocar-se uns ao lado dos ou-tros, constituindo um bloco
homogéneo e coeso, em que o afastamento das pernas deverá ser o suficiente para precaver a possibilidade de a
bola passar entre elas.
> 2. A formação da barreira deverá proteger um dos lados da baliza, enquanto o guarda-redes deve assumir uma
posição perto do meio da baliza de forma: a possibilitar a visão da bola, a impedir que a bola possa entrar pelo seu
lado, e, espreitar a possibilidade de intervir no lado da barreira.
> 3. Um dos jogadores coloca-se do lado de fora da trajectória directa entre a posição da bola e o poste da bal-
iza, por forma a evitar a execução de remates que possam "rodear" a barreira.
> 4. O posicionamento dos jogadores da barreira é realizada em função da sua altura. Assim, os jogadores mais
altos deverão colocar-se e proteger o ângulo da baliza contrária ao do posicionamento do guarda-redes.
> E. Em que momento a barreira deverá dissolver-se. A barreira deverá dissolver-se só depois da execução do
remate ou do passe (consoante o esquema táctico ofensivo), ou seja, depois de efectuado o primeiro toque na bola.
Nos livres indirectos um dos jogadores da barreira, normalmente o mais rápido é colocado por dentro desta, saindo
de imediato após o primeiro toque na bola procurando diminuir o tempo e o espaço de execução técnico-táctica ao
atacante de posse de bola. Por último, mesmo depois da formação da barreira continua haver a necessidade de se
trabalhar defensivamente. Com efeito, os restantes defesas de-verão marcar adversários e espaços vitais de jogo den-
tro da grande área e prever as condições essenciais à protecção dos comportamentos técnico-tácticos do guarda-
redes.
> (3) Livres indirectos dentro da grande área. Nestas circunstâncias, os defesas deverão assumir os seguintes dois
comportamentos:
> A. Cobrir o máximo possível da baliza através da formação da barreira com todos os jogadores, que muitas vezes
(devido às leis do jogo) terão que posicionar-se em cima da linha de golo. O guarda-redes deverá colocar-se à frente
e ao centro da barreira.
> B. Uma vez efectuado o primeiro toque na bola toda a barreira de forma coesa e homogénea deve convergir em
direcção à bola diminuindo assim o espaço e o tempo do atacante em rematar.

Figura 1. O número de jogadores que formam a barreira, em função da distância da baliza e do


ângulo
Nos pontapés de canto
A defesa dos pontapés de canto envolvem os mesmos princípios aplicados
para os livres. Neste sentido, dever-se-á atender aos seguintes pressupostos:
> (1) Posicionar um defesa à frente da trajectória da bola movendo-se activa-
mente de forma a:
> A. Perturbar o atacante na marcação do pontapé de canto.
> B. Obrigar o atacante a executar um cruzamento mais difícil.
> C. Marcar de imediato o atacante se o canto for curto, por forma a evitar que
este cruze para a grande área.
> (2) A posição do guarda-redes deve si-tuar-se no meio da baliza de forma:
> A. A observar a bola.
> B. A trajectória da bola.
> C. A situação dentro da grande área. Deverá igualmente evi-
tar que o seu possível deslocamento em direcção ao primeiro
poste não seja obstruído para poder intervir nesse espaço vital.
> (3) No primeiro poste. Os pontapés de canto mais perigosos
são os que são efectuados para o primeiro poste, daí a necessi-
dade de um especial cuidado no posicionamento dos defesas,
neste sentido, coloca-se:
> A. Um defesa que deverá assumir um posicionamento perto
do poste e da linha de golo.
> B. Dois defesas em que um destes assume um posiciona-
mento à frente do companheiro e o outro ao lado deste por
forma a reforçar a defesa neste espaço vital. Estes dois defe-
sas devem ter capacidades particulares de determinação em
atacar a bola (ser o primeiro a chegar) e de cabecear eficien-
temente, preo-cupando-se em marcar o espaço à sua frente.
> (4) No segundo poste. Posicionar um defesa perto do segundo poste e em cima da linha de golo. Este jogador dev-
erá ter o máximo de atenção não só nos cruzamentos para esse espaço, como as bolas que sejam desviadas do
primeiro poste para trás.
> (5) A defesa do resto da pequena área deve ser assumida através da colocação, no mínimo, de três jogadores que
marcam o espaço e os adversários aí posicionados ou que para aí possam deslocar-se.

Nos lançamentos de linha lateral


Se no futuro as modificações referentes às leis que regulamentam os lançamentos da linha lateral determinarem
que estes sejam executados com os pés, transformaram estas situações de bola parada (as mais frequentes no jogo de
futebol) num momento extremamente vantajoso em termos ofensivos. A amplitude do passe do atacante que executa o
lançamento da linha lateral e o ângulo relativamente à baliza adversária em que este se posiciona, traduz um aumento
acrescido das dificuldades defensivas na resolução destas situações de bola parada. Com efeito, por exemplo, em algu-
mas situações de jogo é preferível conceder um pontapé de canto do que um lançamento perto da linha final. Os esque-
mas tácticos defensivos nas situações de lançamento da linha lateral devem basear-se nos seguintes pressupostos:
> (1) Se o lançamento de linha lateral for executado perto da linha final, os defesas deverão assumir os mesmos objec-
tivos e pressupostos estabelecidos para o pontapé de canto.
> (2) Se o lançamento da linha lateral for efectuado no meio-campo:
> A. Colocação de um defesa na trajectória directa do lançamento com a baliza por forma a perturbar o atacante,
obrigá-lo a executar uma acção técnico-táctica mais complexa, ou forçá-lo a efectuar um passe de trajectória aérea
para dar mais tempo aos companheiros de se readaptarem à tarefa defensiva.
> B. Marcação agressiva e premente dos atacantes que se posicionem em profundidade ou que executem desloca-
mentos de rotura em direcção à grande área.
> C. Os restantes atacantes que possam receber a bola devem ser marcados com um pouco mais de espaço para
que o defesa possa reagir e acompanhar eficientemente o atacante, se este mudar de direcção.
Na grande penalidade
Na situação de grande penalidade quatro ou cinco defesas devem posicionar-se ao longo da meia-lua da grande
área por forma a concretizar os seguintes objectivos:
> (1) Repelir a bola no caso desta embater no poste ou na barra da baliza, ou pela defesa incompleta do guarda-redes.
> (2) Evitar ou perturbar a acção dos restantes atacantes na sua possível intervenção sobre a bola.

Logo após a execução do esquema táctico ofensivo a equipa em fase defensiva deverá estar preparada para
resolver eficientemente a situação que daí advenha. Assim, deverá logo que a bola seja rechaçada reagir rápida, coesa e
homogeneamente, subindo no terreno de jogo e assumindo as seguintes atitudes e comportamentos técnico-tácticos:
> A. Marcação agressiva do novo atacante de posse de bola.
> B. Reduzir o tempo e o espaço e por inerência aumentar a pressão defensiva sobre todos os atacantes.
> C. Procurar pôr adversários na posição de fora-de-jogo.
> D. Apoiar o companheiro que relança o processo ofensivo por forma a aproveitar os desequilíbrios da equipa adver-
sária.

Finalizando, os esquemas tácticos ofensivos envolvem um elevado número de atacantes para tirar o máximo de
rendimento destas situações de bola parada, alguns dos quais, a fim de poderem maximizar as suas potencialidades indi-
viduais, colocam-se em espaços de jogo muito diferentes daqueles em que exercem as suas missões tácticas de base. Neste
contexto, a organização dos esquemas tácticos defensivos não deverá visar somente a defesa da baliza, mas procurar igual-
mente tirar o máximo de vantagens logo após a recuperação da posse da bola, que advém do possível desequilíbrio em ter-
mos espaciais e também em termos numéricos, devido à elevada concentração de atacantes na grande área. Com efeito, é
importante estabelecer na organização dos esquemas tácticos defensivos, um conjunto de medidas, não pondo em causa o
objectivo prioritário da defesa da baliza, que visam a colocação de um ou dois jogadores em posições propícias à
preparação/relançamento do ataque, obrigando inclusivamente a equipa adversária a aplicar medidas preventivas que origi-
nam uma diminuição do número de atacantes envolvidos nos esquemas tácticos ofensivos. Todavia, os jogadores que não
estão directamente envolvidos nos esquemas tácticos defensivos (ou em alguns), devem ter o conhecimento destes com a
mesma exactidão e responsabilidade dos restantes companheiros, podendo a qualquer momento do jogo, em quaisquer cir-
cunstâncias, assumir uma missão mais preponderante (em termos defensivos) na organização dos esquemas tácticos defen-
sivos.

Bibliografia
CASTELO, J., (1996). Futebol - A organização do jogo. Edição do autor. Lisboa
CASTELO, J., (1999) Futbol - estructura y dinamica del juego, INDE Publicaciones, Barcelona
CASTELO, J., (2003) Futebol - Guia prático de exercícios de treino. Visão e contextos. Lisboa
HUGHES, C., (1990) The Winning Formula, Willian Collins Sons, London
FUTEBOL
AS ACÇÕES COLECTIVAS OFENSIVAS

JORGE CASTELO

Existem aspectos incontornáveis do jogo de futebol, pois derivam da sua lógica interna. Um destes aspectos ref-
ere-se à improbabilidade de um qualquer jogador durante uma partida deter a posse da bola por mais de 80 a 90 segundos.
Ora, partindo deste dado facilmente chegamos à conclusão que o restante tempo (mais ou menos 88 minutos), os jogadores
procuram criar condições que promovam eficazmente o desenvolvimento do processo ofensivo ou defensivo da sua equipa.
Com efeito, o enorme tempo em que os jogadores não estão directamente implicados na resolução das situações de jogo
detendo simultaneamente a bola, demonstra de forma clara a necessidade dos jogadores desenvolverem as suas capaci-
dades de leitura da contextualidade situacional de jogo, de decisão e de execução não tendo a posse da bola, canalizando-
a para o melhoramento do jogo colectivo da sua equipa, quer do ponto de vista ofensivo como defensivo, intervindo dentro
ou fora das unidades estruturais funcionais.
Consoante o nível de formação de uma equipa (tanto ofensiva como defensiva), reflecte uma organização ele-
mentar, que assenta fundamentalmente:
> 1. Nas acções técnico-tácticas individuais e colectivas que visam a coerência de movimentação dos jogadores dentro
do subsistema estrutural (sistema de jogo e tarefas tácticas) preconizado pela equipa e uma ocupação racional e con-
stante do espaço de jogo (deslocamentos ofensivos e defensivos, compensações/permutações).
> 2. Nas acções técnico-tácticas individuais e colectivas que visam a resolução temporária das situações momentâneas
de jogo (combinações tácticas, dobras, cortinas/ecrans e temporizações).
> 3. Nas soluções estereotipadas das partes fixas do jogo (esquemas tácticos ofensivos e defensivos).

1. Os deslocamentos ofensivos

Definição
Os deslocamentos ofensivos são comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos, desenvolvidos no abso-
luto respeito dos princípios (gerais e específicos) do ataque, que visam assegurar em última análise a coope-ração e a
coerência dinâmicas da movimentação, dentro do método ofensivo preconizado pela equipa, para o cumprimento dos objec-
tivos fundamentais do ataque (finalização-progressão manutenção).

Objectivo
Os deslocamentos ofensivos realizados pelos atacantes procuram, em última análise: (1) o controlo do ritmo e do
tempo de jogo, em função dos objectivos tácticos da equipa durante o desenrolar da partida e, (2) manter a iniciativa do jogo,
surpreender o adversário e cansá-lo fisicamente, obrigando-os a jogar sob uma grande pressão psicológica e a entrar con-
tinuamente em crise de raciocínio táctico. Nesta perspectiva, os deslocamentos ofensivos objectivam os três seguintes atrib-
utos:
> 1. Equilíbrio ou reequilibrio constantemente a repartição de forças do método ofensivo consoante as situações
de jogo. Qualquer que seja o sistema de jogo utilizado por uma equipa, a relação geométrica implícita desse dispositivo,
não permite ocupar o espaço total do jogo. Daí que, as mudanças incessantes das condições de jogo, determinem deslo-
camentos permanentes dos jogadores para equilibrar ou reequilibrar a repartição de forças no terreno de jogo. Assim a
dinâmica de uma equipa deve assegurar:
> (1) Deslocamentos constantes, respeitando-se sempre a relação de distância jogador-bola-companheiros-adversários,
isto é, que a equipa jogue num bloco homogéneo entre os vários jogadores e sectores, evitando-se que esta se disten-
da ao longo do terreno de jogo. Isto significa, que se concretiza automaticamente uma disposição geométrica em que
se equilibra ou reequilibra a organização, em função das situações momentâneas de jogo.
>> (2) A reconstituição das ligações associativas fundamentais de vários jogadores (apoio, cobertura e mobilidade), for-
mando unidades funcionais nas acções colectivas de ataque. Cria-se assim, um maior número de hipóteses ao jogador
de posse de bola, dando-lhe a possibilidade de uma opção mais conveniente à situação momentânea de jogo, não o
obrigando a excessos de individualismos, por falta de apoio ou cobertura dos companheiros da equipa
> 2. Criar, ocupar e utilizar de forma eficiente os espaços de jogo. Os jogadores em processo ofensivo, devem con-
sciencializar e valorizar constantemente a sua contribuição para o desenvolvimento eficaz da acção ofensiva. Assim, o jogo
sem bola não consiste só em executar um certo número de deslocamentos com vista a intervir sobre esta, mas também,
assegurar através dos seus deslocamentos, o "arrastamento" de um ou mais adversários, deixando livres de vigilância
determinados espaços de jogo mais favoráveis à persecução dos objectivos tácticos momentâneos do ataque. Como resul-
tado destes deslocamentos, visa-se igualmente, aumentar os intervalos entre os defesas, tanto no sentido longitudinal,
como no transversal, com o objectivo de descoordenar e desequilibrar a ocupação racional do espaço de jogo e, conse-
quentemente, o enfraquecimento do método defensivo adversário. Após a criação de espaços livres, é necessário ocupá-
los e utilizá-los de forma eficiente, sendo essenciais deslocamentos rápidos para o seio desses espaços, para os quais em
princípio deve ser direccionado o centro da acção ofensiva.
> 3. Colocação de jogadores livres de oposição (marcação) do adversário. O aumento da quantidade (distância) e da
qualidade (intensidade), dos deslocamentos dos jogadores em campo durante o jogo, determinou consequentemente o
aumento do seu "raio de acção". Por outras palavras, os jogadores deslocam-se mais frequentemente para criar e explo-
rar os espaços de jogo (quando de posse de bola), do que para restringir, marcar espaços e jogadores (quando não têm
a posse de bola). Daqui resulta, que as condicionantes da execução técnico-táctica, com ou sem a posse da bola, se tor-
nam cada vez mais pro-blemáticos para uma eficaz resolução da situação táctica. Este facto reflecte a constante preocu-
pação de colocar a cada instante, problemas cada vez mais difíceis de resolver (do ponto de vista defensivo), procurando
deslocamentos ofensivos que coloquem um ou vários jogadores livres de marcação, para que usufruam de condições
favoráveis em termos de espaço e tempo, para a reso-lução táctica das situações momentâneas de jogo, tendo presente,
que um jogador intervém sempre na orgânica do jogo, facilitando ou contrariando pelos seus deslocamentos, o jogo colec-
tivo. Neste sentido, ressalta a necessidade de execução de deslocamentos ofensivos múltiplos e rápidos, inseridos num
contexto que procure colocar jogadores em zonas vitais, e em condições mais vantajosas para a persecução dos objec-
tivos tácticos da equipa. Obviamente, os defesas preferem jogar contra atacantes que se mantenham em posições fixas.
Assim, quantas mais vezes os atacantes mudarem de posição, mais difícil se torna para os defesas coordenar a sua orga-
nização defensiva.

Classificação
Os deslocamentos ofensivos podem ser classificados sob dois domínios, quanto à forma e quanto ao tipo.
> 1. Formas. As formas dos deslocamentos ofensivos, resultam da relação que se estabelece entre a linha final e a tra-
jectória descrita pelo deslocamento do jogador no terreno de jogo. Assim, observam-se 4 formas de deslocamentos ofen-
sivos:
> (1) Perpendiculares ou directos. A trajectória do deslocamento do jogador é perpendicular à linha final do terreno de
jogo.
> (2) Diagonais ou indirectos. A trajectória do deslocamento do jogador é diagonal à linha final do terreno de jogo.
> (3) Paralelos ou simétricos. A trajectória do deslocamento do jogador é paralela à linha final do terreno de jogo.
> (4) Circulares-complexos. A trajectória do deslocamento do jogador é circular, ou não é perfeitamente definida, isto é,
apresenta várias mudanças de direcção.
> 2. Tipos. O tipo dos deslocamentos ofensivos, resultam da relação que se estabelece entre o deslocamento efectuado
e o objectivo próximo do ataque perspectivado pelo jogador. Assim, observam-se 4 tipos de deslocamentos ofensivos:
> (1) De apoio. Estas acções caracterizam-se fundamentalmente por deslocamentos de aproximação em relação ao
companheiro de posse de bola, no cumprimento de um dos objectivos do ataque, isto é, a manutenção da posse da bola.
Consequentemente, estes deslocamentos consubstanciam:
> A. O controlo do jogo em determinados momentos, temporizando a
acção ofensiva para surpreender o adversário, com mudanças de ritmo
e ângulo de ataque.
> B. A preparação de desequilíbrios na organização defensiva adver-
sária, em espaços e momentos apropriados.
> C. A diminuição ou aumento do ritmo de jogo, levando os adversários
4 a aceitar um certo tipo de cadência de jogo. Podemos distinguir três tipos
de deslocamentos ofensivos de apoio: frontal, lateral e à retaguarda.
> (2) De progressão. Estas acções caracterizam-se fundamentalmente
por deslocamentos de afastamento em relação ao companheiro de posse de bola, em direcção à baliza adversária, no
cumprimento de um dos objectivos do ataque, isto é, a progressão. Consequentemente estes deslocamentos consub-
stanciam:
> A. O desenvolvimento da acção ofensiva para zonas mais perto da baliza adversária, onde se verificam as condições
mais favoráveis à fase de finalização.
> B. A criação de instabilidade da organização defensiva adversária, na procura de aproveitamento dos espaços vitais
de uma forma simples e eficaz.
> C. O aumento do ritmo e da iniciativa do jogo ofensivo. Os deslocamentos de apoio e de progressão são a base fun-
damental de suporte às combinações tácticas. Podemos distinguir três tipos de deslocamentos ofensivos de pro-
gressão: perpendiculares, diagonal e paralela.
> (3) De rotura. Estas acções objectivam fundamentalmente a criação de situações de finalização, ou de rotura do méto-
do defensivo adversário. Neste sentido, estes deslocamentos são caracterizados pela aproximação ou afastamento do
companhei-ro de posse de bola, com o objectivo imediato de assegurar as condições mais favoráveis ao cumprimento
de um dos objectivos do ataque, isto é, a finalização.
Consequentemente, estes deslocamentos consubstanciam:
> A. O desenvolvimento de condições mais favoráveis para a exe-
cução de acções técnico-tácticas de remate.
B. A rotura momentânea das organização defensiva da equipa 3
adversária, em espaços e momentos apropriados.
> C. A criação de situações de surpresa para os adversários, obri-
gando-os a jogar sob uma grande pressão psicológica e técnico-
táctica. Podemos distinguir três tipos de deslocamentos ofensivos <<<
de rotura: perpendiculares, diagonais e paralelos.
> (4). De equilíbrio. Estas acções caracterizam-se fundamental-
mente por deslocamentos em direcção a espaços vitais, ou a jogadores adversários (que não estão directamente
envolvidos no processo defensivo da sua equipa) e visam o equilíbrio da organização ofensiva, em função das situações
de jogo. Consequentemente estes deslocamentos consubstanciam:
>. A O equilíbrio da organização ofensiva em função do espaço e do(s) adversário(s) que aí evoluem, evitando-se que
após a perda da posse da bola, haja a possibilidade da equipa adversária poder contra-atacar, estabelecendo-se de
imediato uma contínua estabilidade na organização da equipa.
> B. A reorganização rápida do ataque em caso de insucesso, através de uma maior homogeneidade e compactici-
dade do jogo ofensivo.

Meios
As condicionantes favoráveis para a realização dos deslocamentos ofensivos podem ser analisados sob as
seguintes vertentes:
> 1. Gerais. A forma geral de organização, ou seja, o método de jogo deverá ser um factor facilitador na execução das
acções dos jogadores, exprimindo: i) um bloco homogéneo, tanto no processo ofensivo como defensivo, ii) a criação de
espaços livres através de desmarcações coordenadas em largura e profundidade a 2, 3, ou mais jogadores, iii) mudanças
bruscas de ritmo e direcção e, iv) combinações tácticas fundamentais (simples, directas e indirectas). Contudo, é impor-
tante evidenciar dois aspectos que se relacionam directamente com a eficácia destas acções:
> (1) O deslocamento individual é sempre condicionado pelos deslocamentos colectivos, sendo importante uma sin-
cronização eficaz destas acções no seu conjunto.
> (2) O momento (tempo) em que se verificam as condições mais favoráveis, à resolução táctica da situação de jogo, é
demasiadamente curto sendo necessária uma plena concentração por parte dos jogadores.
> 2. Específicos. Os deslocamentos defensivos são o resultado da procura constante e harmónica entre o possuidor da
bola e os restantes companheiros:
> (1) No que respeita ao jogador de posse de bola exige-se:
> A. Uma clara visão do jogo, percepcionando continuamente as movimentações dos seus companheiros (percepção),
apercebendo-se rapidamente que decisão (resposta táctica) é mais adequada à situação momentânea de jogo
(decisão). Entregar a bola no melhor momento sincronizando a sua execução técnico-táctica com a do companheiro
a quem é dirigida a bola (execução).
> B. Utilização de acções técnico-tácticas que alterem os ângulos relativamente aos seus companheiros com as
seguintes intenções: i) mobilizar a atenção, e por conseguinte a desconcentração de um ou mais adversários, que mar-
cavam, na circunstância, os seus companhei-ros, ii) tornar o jogo imprevisível do ponto de vista defensivo, podendo a
todo o momento executar acções técnico-tácticas em direcção a um ou outro corredor ou sector de jogo e, iii) asse-
gurar a protecção da bola, de modo a ganhar o tempo necessário para permitir, o desencadeamento de deslocamen-
tos ofensivos por parte dos seus companheiros, criando por conseguinte, as condições mais favoráveis aos objectivos
momentâneos (manutenção-progressão-finalização).
> (2) No que respeita aos jogadores em deslocamento exige-se:
> A. Indicar através da direcção, a forma e o tipo de deslocamento quais as suas verdadeiras intenções tácticas, pois
o companheiro de posse de bola deverá decidir de acordo com estas.
> B. Plena concentração no jogo, sabendo quando, onde e como, deverá criar as condições mais vantajosas para a
concretização dos objectivos tácticos da equipa (decisão). Em consequência, ter espírito de sacrifício e colaboração,
permanecendo em constante movimento, realizando-o em local oportuno, no momento certo e de acordo com as pos-
sibilidades técnico-tácticas do jogador de posse de bola (execução).

Princípios
Os princípios de orientação na execução dos deslocamentos ofensivos devem assumir dois domínios fundamen-
tais:
> 1. Gerais. As mudanças incessantes das condições de jogo (tanto ofensivas como defensivas) devem determinar deslo-
camentos permanentes dos jogadores, exprimindo os seguintes princípios:
> (1) Racionalizar permanentemente o espaço de jogo:
> A. Os deslocamentos dos jogadores são coordenados pela necessidade de equilibrar e racionalizar a repartição de
forças no terreno de jogo.
> B. Todos os deslocamentos se influenciam mútua e reciprocamente e cada jogador intervém sempre na orgânica do
jogo (adversário ou companheiro), facilitando ou contrariando pelos seus deslocamentos, o jogo colectivo.
> C. A articulação das várias fases do jogo será tanto mais evoluída, quanto mais a sua expressão se traduza de forma
unitária e homogénea, não dando lugar a compartimentos estanques que só conduzem a equipa a uma maior per-
meabilidade na sua organização.
> (2) Execução de deslocamentos a ritmos (velocidade) e direcções variáveis pretendendo chamar atenção dos opos-
itores com o intuito de:
> A. Deslocar os adversários dos espaços mais perigosos.
> B. Atrair os adversários deixando livre de marcação os companheiros melhor posicionados.
> C. Visar permanentemente a baliza adversária, isto é, o objectivo do jogo - o golo.
> (3) Procurar que o movimento da bola implique um deslocamento relativo de todos os jogadores:
> A. Um jogador em qualquer situação de jogo jamais deverá estar parado.
> B. O espaço deixado livre pelo jogador deve ser imediatamente ocupado por um dos seus companheiros.
> C. Qualquer que seja, e onde quer que se situe, o jogador de posse de bola, logo que a passa, deve movimentar-se
(simultaneamente ao passe) no sentido de apoiar o companheiro de posse de bola, ou procurar romper o equilíbrio
defensivo adversário.
> D. Os deslocamentos ofensivos são sempre válidos mesmo quando o jogador não recebe a bola.
> 2. Específicos: reagir rapidamente à situação de recuperação de posse de bola:
> (1) As acções visando a libertação de marcação e procura de espaços livres, devem iniciar-se instantaneamente após
a recuperação da posse de bola. Assim, os jogadores deverão responder às seguintes questões: i) quem: todos os
jogadores da equipa, ii) quando: a partir do momento em que a equipa entra de posse de bola, iii) onde: em qualquer
zona do terreno de jogo e, iv) como: ocupando lugares apropriados para oferecer linhas de passe e ajudar o portador da
bola.
> (2) Os deslocamentos dos jogadores devem caracterizar-se pelo desenvolvimento de certos processos técnicos indi-
viduais, de carácter "explosivo", visando em última instância surpreender ou iludir o adversário: i) utilizando mudanças
rápidas de ritmo e direcção da corrida e, ii) utilizando pequenas e rápidas fintas de simulação, no sentido da corrida, isto
é, o jogador executa um deslocamento rápido e curto no sentido inverso àquele para onde pretende verdadeiramente
deslocar-se.

Concluindo, o futebol exige que a totalidade dos jogadores (a partir do momento em que a bola é recuperada) se
coloquem disponíveis por meio de deslocamentos, no sentido de oferecer os seguintes objectivos:
> 1. A manutenção da posse da bola (estas desenvolvem-se num quadro referencial, cujo núcleo é representado pelo
jogador de posse de bola, sendo orientados preferencialmente por forma a se aproximarem dele).
> 2. A progressão da acção ofensiva (estas desenvolvem-se num quadro referencial, cujo núcleo é constituído pelo
jogador de posse de bola, da baliza adversária, dos adversários e companhei-ros).
> 3. A rotura do sistema defensivo adversário (estas desenvolvem-se num quadro referencial, cujo núcleo é constituído
pelo jogador de posse de bola, pela organização defensiva adversária e a bali-za adversária.
> 4. O equilíbrio do método defensivo (estas desenvolvem-se num quadro referencial, cujo núcleo é constituído pelo
jogador de posse de bola, própria baliza e adversários, que não estão directamente implicados no processo defensivo da
sua equipa).

2. Compensações/desdobramentos ofensivos

Definição
São acções técnico-tácticas individuais e colectivas, desenvolvidas no absoluto respeito dos princípios (gerais e
específicos) do ataque, que visam assegurar constantemente a ocupação racional do terreno, assumindo posições e missões
tácticas dos companheiros, que num certo momento do jogo estão envolvidos na realização de outras funções.
As acções técnico-tácticas de compensação e de permutação, em termos pragmáticos consolidam os mesmos
objectivos. Contudo, numa análise mais aprofundada, das acções de ocupação e de racionalização do espaço de jogo e da
troca de missões tácticas específicas de cada jogador, verificamos que: a compensação é fundamentalmente consubstanci-
ada pela ocupação de um espaço de jogo deixado livre por um companheiro, que num certo momento se integrou directa-
mente no processo ofensivo. A permutação é fundamentalmente consubstanciada pelo facto, de depois de a acção ofensiva
terminar, o jogador que foi ajudado ter de retomar o mais rapidamente possível, não a sua posição e missão específica de
base, mas a posição e missão específica de base do jogador que o ajudou, cumprindo esta função com pleno sentido de
responsabilidade.

Objectivo
Em síntese os objectivos das compensações/permutações são os seguintes:
> 1. Ocupação racional do terreno de jogo. Quando a equipa se encontra em processo ofensivo, existe a tendência de
esta se desequilibrar defensivamente, devido à incursão e integração de certos jogadores das linhas mais atrasadas no
centro do jogo atacante, assegurando-lhe uma eficaz continuidade. Estes desequilíbrios defensivos reflectem-se pelo
pouco cuidado posto na vigi-lância dos espaços vitais do terreno de jogo. Dado que, o momento e a zona onde se irá ver-
ificar a perda da posse da bola, não é sempre previsível, há assim, a necessidade de assegurar, em todos os momentos
pelos quais o processo ofensivo se desenvolve, a vigilância ou até mesmo a ocupação dos espaços de jogo, pelos quais
a equipa adversária poderá progredir logo após a recuperação da posse da bola.
> 2. Contínua vigilância sobre os adversários. Quando a equipa está em processo defensivo, verifica-se que o sistema
subjacente determina a existência de um ou dois elementos que não estão directamente implicados neste processo, cuja
função é de preparar mentalmente o processo ofensivo a efectuar, logo após a recuperação da posse da bola. Assim, a
vigilância, ou mesmo a marcação pressionante sobre as atitudes e comportamentos técnico-tácticos destes jogadores, são
de vital importância para se evitar a possibilidade de se realizarem contra-ataques que possam por em causa o equilíbrio
imediato da organização defensiva, criando igualmente as condições mais favoráveis para a concretização do golo.
> 3. Repartição equilibrada do esforço dos jogadores. Devido à grande dinâmica do jogo de futebol actual, há a neces-
sidade de se encontrar um equilíbrio que permita resolver as situações momentâneas de jogo com pleno sentido colecti-
vo. Este facto salienta que os jogadores das linhas atrasadas, ao se incorporarem no processo ofensivo, não podem por
razões físicas e técnico-tácticas, recuperar imediatamente para a sua posição e funções específicas de base. Daí que, cada
jogador deverá encontrar, na sua equipa uma organização que exprima a possibilidade de qualquer elemento participar no
ataque, assumindo outras posições e funções consoante as necessidades da variabilidade das situações momentâneas
de jogo. Sabe desta forma que a sua posição e funções específicas de base estão a ser acautelados por outro compan-
heiro, podendo assim, terminada a acção ofensiva, recuperar para a sua posição e função específicas de base e, se for
caso disso, recuperar do esforço despendido.

Meios
A forma geral de organização, ou seja, o método de jogo ofensivo, deverá ser um factor faci-litador na organização
das acções dos jogadores, exprimindo um bloco homogéneo que reflicta: i) um grande sentido de jogo colectivo, ii) um grupo
de jogadores solidários com as suas funções específicas, iii) uma clara fixação dos conceitos de disciplina e responsabili-
dade táctica, iv) um grande espírito de sacrifício e, v) um correcto sentido de doseamento do esforço físico.

Princípios
As incessantes mudanças das condições de jogo determinam deslocamentos permanentes dos jogadores, expri-
mindo a racionalização constante do espaço, consoante as necessidades para a resolução táctica das situações momen-
tâneas de jogo:
> (1) Os deslocamentos dos jogadores são coordenados pela necessidade de equilibrar e racionalizar a repartição de
forças no terreno de jogo.
> (2) Todos os deslocamentos se influenciam mútua e reciprocamente, e cada jogador intervém sempre na orgânica do
jogo, (adversários ou companheiros), facilitando ou contrariando o jogo colectivo pelos seus deslocamentos.
> (3) A articulação das várias fases do jogo será tanto mais evoluída quanto mais a sua expressão se traduza de forma
unitária e homogénea, não dando lugar a compartimentos estanques que só conduzem a equipa a uma maior permeabil-
idade na sua organização.
> (4) No futebol deverá existir esta elementar compreensão: sempre que um companheiro ajuda, tem direito a que o aju-
dem também. Se um jogador deixa o seu lugar e funções específicas num determinado momento da partida, para ocupar
o lugar e as funções de um companheiro que se adiantou no terreno, deverá este último, o mais rapidamente possível (a
quando da perda da posse da bola, ou noutra situação particular), voltar não ao seu lugar e funções de base, mas antes
ocupar o lugar deixado livre pelo companheiro que o ajudou. Mudam assim momentaneamente de lugar e funções, mas
nunca de responsabilidades, organização e solidariedade. Em conclusão, estas acções técnico-tácticas deverão reflectir: i)
o entendimento mútuo dos jogadores, pois a reali-zação destes comportamentos não têm qualquer efeito prático se
levarem a equipa a reagrupamentos múltiplos dos jogadores e, ii) devem efectuar-se rápida e espontaneamente, pois con-
stituem um elemento dinâmico do jogo actual.

3. As combinações tácticas

Definição
As combinações tácticas representam a coordenação das acções individuais de natureza ofensiva, de dois ou três
jogadores, desenvolvidos no absoluto respeito dos princípios do ataque, (gerais e específicos). Visam a resolução de uma
tarefa parcial (temporária) específica do jogo, assegurando a criação de condições mais favoráveis (analogamente aos deslo-
camentos ofensivos), em termos numéricos, espaciais e temporais.

Objectivos
O objectivo fundamental das combinações tácticas, é a resolução táctica das situações momentâneas de jogo (nas
unidades funcionais), criando-se assim as condições mais favoráveis (em termos de numéricos, espaciais e temporais) à per-
secução dos objectivos do processo ofensivo (progressão/finalização). Esta acção coordenada de dois ou três jogadores visa
em última análise:
> 1. A colocação de jogadores (durante o processo ofensivo) em espaços vitais e livres de oposição.
> 2. Romper o equilíbrio ou manter o desequilíbrio da organização defensiva da equipa adversária.
> 3. A reorganização constante do método defensivo adversário, o que consequentemente determina um maior empen-
hamento físico e psíquico dos seus jogadores.

Classificação
As combinações tácticas podem ser classificadas em:
> 1. Combinações simples (combinações a 2 ou “passa-e-sai”): i) o portador da bola fixa a acção do adversário directo
(penetração), ii) executa um passe a um companheiro, que consub-
stancia um deslocamento ofensivo de apoio, seguido de um desloca-
mento imediato (passar e mover), para um espaço ou posição facilita-
dora e favorável para receber a bola.
> 2. Combinações directas (um-dois ou passa-e-sai): i) o portador da
bola fixa a acção do adversário directo (penetração), ii) execução de
um passe a um companheiro que consubstancia um deslocamento
ofensivo de apoio, seguido de um deslocamento imediato (passar e
mover) para um espaço ou posição facilitadora e favorável para a >>>
recepção da bola e, iii) devolução da bola ao portador inicial.
> 3. Combinações indirectas (combinações a 3 jogadores). A utiliza-
ção de combinações simples (a 2), é muitas vezes difícil de concretizar face às grandes concentrações de jogadores, ou à
falta de espaços livres. São assim fáceis de anular sempre que a cobertura defensiva é assegurada. De modo a garantir
um maior desequilíbrio na organização defensiva, integra-se mais um jogador, realizando uma combinação a 3 que abre
mais possibilidades. Em função da iniciativa (selecção de uma opção),
da circunstância (local da acção espaço) e da colocação ou posi-
cionamento sobre o terreno (posição relativa dos adversários baliza):
i) o portador da bola fixa a acção do adversário directa (penetração),
ii) executa um passe a um companhei-ro que realiza um deslocamen-
to ofensivo de apoio, seguido de um deslocamento imediato (passar e
mover) para um espaço ou posição facilitador e favorável para a
recepção da bola e, iii) devolução da bola, não ao portador inicial, mas
a um 3º jogador cuja situação favorável resulta de um benefício direc-
to (fruto da acção que desencadeou) e um benefício indirecto (fruto da
>>>
acção desenvolvida pelo primeiro portador da bola).

Meios
Os meios de suporte às combinações tácticas (especialmente no que se refere às simples e às directas), funda-
mentam-se essencialmente nos deslocamentos ofensivos de apoio. Portanto, os meios - gerais e específicos - enunciados
para os deslocamentos ofensivos, mantêm-se para as combinações tácticas, especialmente para as exigências referentes:
(1) ao método de jogo, (2) ao jogador de posse de bola, e, (3) ao jogador em deslocamento ofensivo.

Princípios
As combinações tácticas estudadas são condicionadas pela participação directa ou indirecta de todos os jogadores
da equipa. Todo e qualquer tipo de combinação táctica é complementada com a introdução de mudanças de ritmo e direcção,
as quais assumem consequências muito acentuadas no equilíbrio defensivo adversário: i) quer por resultarem em situações
em que o jogador de posse de bola fica livre de marcação (situação favorável à finalização por exemplo) e, ii) quer por per-
mitirem criar de imediato situações de superioridade numérica nas unidades funcionais da equipa. Por último, importa realçar
que a atitude e as acções descritas de passar e mover, são sempre válidas, mesmo quando não se recebe a bola.
4. Cortinas/écrans

Definição
São combinações tácticas especiais, desenvolvidas no absoluto respeito dos princípios (gerais e específicos) do
ataque e das leis do jogo, por um ou mais jogadores, que se posicionam por forma a perturbar a leitura táctica da situação,
e consequentemente do comportamento defensivo dos adversários directos.
As acções técnico-tácticas de cortinas e écrans, em termos pragmáticos consolidam os mesmos objectivos. No
entanto, numa análise mais profunda e objectiva, verificamos que os écrans diferem das cortinas porque consubstanciam um
maior tempo durante o qual, o(s) defesa(s) estão sujeito(s) aos efeitos desta acção técnico-táctica.

Objectivos
Em síntese os objectivos fundamentais destas acções são os seguintes:
> 1. Proteger os comportamentos técnico-tácticos do(s) companheiro(s). A organização geral da equipa, particular-
mente o seu método defensivo, poderá articular acções de marcação específica (temporal ou contínua), de um certo
número de jogadores atacantes, que pela sua elevada capacidade téc-
nico-táctica deverão (do ponto de vista defensivo) ser continuamente
vigiados ou mesmo cerradamente marcados. Assim, perante esta
organização defensiva adversária, os elementos da equipa atacante
deverão, sempre que possível, posicionar-se por forma a interpôr-se,
entre o adversário directo de marcação e o companheiro, para que
este se liberte desta pressão ganhando o tempo necessário, consub-
stanciado na:
> (1) Necessidade de um maior tempo de leitura da situação de jogo
>|<
(percepção), por parte do defesa, com o consequente momento de
hesitação por parte do mesmo.
> (2) Um tempo mais alargado de execução dos seus comportamentos técnico-tácticos, devido à necessidade de con-
tornar o atacante que se interpôs entre ele e o seu adversário directo de marcação.
> 2. Impossibilitar a visão da posição e da possível trajectória da bola. As grandes concentrações de jogadores num
certo espaço vital de jogo, obrigam os atacantes a executar as suas acções técnico-tácticas sob grande pressão, mas
determinam igualmente, dificuldades por parte dos defesas que estão colocados em espaços mais atrasados, em ver clara-
mente a posição da bola e a sua correcta ou possível trajectória (especialmente no que diz respeito ao guarda-redes).
Assim, os jogadores atacantes aproveitam este facto tirando, vantagens através:
> (1) Da libertação de um ou outro jogador que vindo de trás poderá penetrar com ou sem a posse da bola para posições
vitais, sem uma marcação adequada à perigosidade da situação.
> (2) Do erro de julgamento da posição e do possível trajecto da bola. Os defesas ao não verem partir a bola, reflectem
um tempo de julgamento (percepção) e de reacção (decisão) mais longo.
As cortinas e écrans são mais facilmente observadas durante a execução dos esquemas tácticos, pela colocação de um
ou mais jogadores à frente da bola encobrindo perfeitamente: i) o jogador que irá executar a acção técnico-táctica, ii) o
momento da partida da bola. Nos pontapés de canto, por exemplo, a colocação de um jogador à frente do guarda-redes
adversário (muitas vezes executando contínuas impulsões), e a incorporação de um ou mais jogadores na formação das
barreiras da equipa adversária nos pontapés livres, são os factos mais observáveis e evidentes da utilização destas com-
binações tácticas espe-ciais.
> 3. Desequilibrar o centro do jogo defensivo. As acções técnico-
tácticas de cortinas/écrans criam momentos de indecisão de
raciocínio táctico dos defesas, quando estes procuram: i) o seu adver-
sário directo de marcação e, ii) a posição e a possível trajectória real
da bola. Este facto, reflecte-se incondicionalmente no equilíbrio do
centro do jogo defensivo, pois os momentos de hesitação por parte
dos adversários, obrigam-nos a reagir mais tardiamente para a res-
olução táctica das situações momentâneas de jogo.

>|<
Meios
Do que foi exposto, e para além dos aspectos ligados ao método de jogo, é necessário evidenciar que estes com-
portamentos técnico-tácticos são resultado:
> 1. Da procura que os adversários (no seu conjunto ou particularmente, exemplo: guarda-redes), tenham uma visão pouco
clara das situações de jogo, obrigando-os a reagir mais tardiamente.
> 2. Da utilização de comportamentos técnico-tácticos que consubstanciem a variação dos ângulos e posições relativas
dos jogadores atacantes, em função dos defesas, com as seguintes intenções:
> (1) Interpôr-se entre o defesa e o seu companheiro, para que este se liberte dessa pressão, mobilizando assim a
atenção e desconcentrando os comportamentos técnico-tácticos do defesa.
> (2) Encobrir a posição real da bola e a sua possível trajectória tornando o jogo imprevisível (do ponto de vista defen-
sivo).
> (3) Assegurar a protecção da bola, de modo a ganhar o tempo suficiente para que se criem as condições favoráveis à
persecução dos objectivos tácticos do ataque.
> (4) Rentabilização dos esquemas tácticos, através da criação do aumento da dificuldades para certos jogadores adver-
sários, tanto no encobrimento do jogador que irá executar a acção técnico-táctica, como da partida e trajectória da bola.
> 3. Da correcta leitura do jogo e saber, quando, onde e como, efectuar as cortinas/écrans, tendo em conta que o seu
deslocamento deverá criar as condições mais vantajosas para a concretização dos objectivos tácticos da equipa.
Momentos existem em que estes deslocamentos podem originar aglomerações de jogadores atacantes podendo, por con-
sequência, um defesa marcar efectivamente mais que um atacante.
> 4. De deslocamentos rápidos e directos para o seio dessas situações momentâneas de jogo. Se durante esse trajec-
to o jogador for marcado, deverá utilizar pequenas e rápidas fintas de simulação, para evitar o arrastamento de mais um
adversário para o centro do jogo, aumentando assim, as dificuldades de resolução táctica da situação.

Princípios
A grande pressão sobre certos jogadores atacantes deverá originar acções que visam a li-bertação da marcação
dos companheiros. Estas acções desenvolvem-se num quadro referencial, cujo núcleo é representado pelo companheiro de
posse de bola e o adversário directo, tendo este quadro como princípio a interposição de um jogador atacante entre os dois
jogadores referidos. Este aspecto reflecte o princípio da exigência fundamental do futebol dos nossos dias, do qual se traduz
que em todos os momentos os jogadores devem estar disponíveis, no sentido de oferecerem o máximo de possibilidades de
resolução táctica ao companheiro de posse de bola, criando simultaneamente as condições mais desfavoráveis à marcação
dos atacantes e à visualização da bola e da sua possível trajectória. A maximização da eficiência dos esquemas tácticos,
devem incluir os dois objectivos enunciados para as cortinas/écrans, consubstanciado pela coerente e coordenada acção dos
jogadores envolvidos nestes esquemas.

5. Temporização

Definição
São acções técnico-tácticas individuais e colectivas, de natureza ofensiva desenvolvidas no absoluto respeito dos
princípios (gerais e específicos) do ataque, que visam assegurar as condições mais favoráveis ao cumprimento dos objec-
tivos tácticos momentâneos (temporários) da equipa.

Objectivo
O objectivo fundamental da acção de temporização é ganhar o tempo suficiente para assegurar o cumprimento dos
objectivos tácticos momentâneos (temporários) da equipa, que poderão ser:
> (1) O jogador de posse de bola consegue devido aos seus comportamentos técnico-tácticos atrair para si a atenção, de
um ou vários adversários, por forma a que estes diminuam a vigilância ou mesmo a marcação: i) aos seus companheiros,
que poderão ser solicitados pelo portador da bola em qualquer momento, e, ii) de espaços de jogo vitais, os quais exigem
o rápido deslocamento para o seio dessas zonas, para os quais devem ser dirigidos os passes.
> (2) Para que os companheiros se desloquem e se posicionem em espaços vitais de jogo (colocação no ataque), por con-
sequência mais favoráveis e vantajosos para o cumprimento dos objectivos do ataque, ou por outro lado, para que os com-
panheiro(s) saiam de posições irregulares do ponto de vista das leis do jogo (fora-de-jogo).
> (3) Manter a iniciativa do jogo, surpreender o adversário a cansá-lo fisicamente, obrigando-o a jogar sobre uma grande
pressão psicológica e a entrar em crise de raciocínio táctico.
> (4) Devido à grande dinâmica do jogo de futebol, observam-se continuamente movimentações que procuram estabele-
cer uma ocupação racional do espaço de jogo, no entanto, há momentos em que é necessário proporcionar um tempo mais
ou menos alargado para que haja uma reocupação clara do dispositivo táctico de base da equipa.
> (5) Proporcionar o restabelecimento físico de certos jogadores, que por pequenos choques com os adversários, ou por
uma elevada prestação nos momentos anteriores à situação presente de jogo, não estão nas melhores condições.
> (6) Manter a posse da bola para assegurar o resultado numérico momentâneo de jogo.
> (7) Quebrar o ritmo de jogo do adversário imprimindo um ritmo de jogo mais conveniente à sua própria equipa, ou por
último criar uma falsa noção de ritmo, que proporcione uma acentuação da iniciativa do ataque.

Meios
As condicionantes favoráveis para a realização das
cortinas/ecrans podem ser ana-lisados sob as seguintes vertentes:
1. Gerais. A temporização é fundamentalmente observada durante a
fase de construção do processo ofensivo. Assim o jogador de posse
de bola consoante, a análise: i) dos objectivos tácticos momentâneos
(temporais) da equipa e, ii) da variação das situações momentâneas
de jogo, que determinam a selecção de comportamentos técnico-tác- >>>
ticos, optando pela diminuição, ou aumento do ritmo do processo ofen-
sivo da sua equipa.
> 2. Específicos. Do exposto, a temporização resulta da procura constante em conciliar uma intenção táctica individual
(jogador de posse de bola) e uma intenção táctica colectiva (companhei-ros):
> (1) No que respeita ao jogador de posse de bola exige-se:
> A. Clara compreensão dos objectivos tácticos da equipa: i). Percepcionando as condições do sistema de jogo da
equipa, ii) observando se existem companheiros que não estejam em condições físicas (necessitem de assistência
médica), iii) se existe uma ocupação racional do sistema de jogo aceitável, não havendo assim grandes desequilíbrios
nos vários sectores e corredores de jogo e, iv) os prós e os contra, de assumir um aumento ou diminuição do ritmo
atacante da sua equipa, em função do resultado numérico do jogo.
> B. Clara visão da situação momentânea de jogo, utilizando acções técnico-tácticas que alterem os ângulos relati-
vamente, aos seus companheiros, com as seguintes intenções: i) mobilizar a atenção e por conseguinte a descon-
centração de um ou mais adversários, que marcavam na circunstância os seus companheiros, ii) tornar o jogo impre-
visível do ponto de vista defensivo, podendo a todo o momento, executar acções técnico-tácticas em direcção a um
ou outro corredor ou sector de jogo e, iii) assegurar a protecção da bola, esperando o momento mais favorável para a
resolução táctica, escolhendo, decidindo e executando, a acção técnico-táctica mais adequada (e não a mais fácil).
> (2) No que respeita aos jogadores em deslocamento, exige-se:
> A. Clara compreensão dos objectivos tácticos momentâneos da sua equipa e do companheiro de posse
de bola, para que haja uma intenção colectiva, consubstanciada num grande sentido de jogo colectivo. Fixam-se con-
ceitos de disciplina e responsabilidade táctica, os quais são o sentido de uma ocupação racional constante do espaço
de jogo e do doseamento do esforço físico.
> B. Concentração nas situações momentâneas de jogo, tendo um espírito de sacrifício e colaboração constantes,
para a criação de condições mais favoráveis à concretização dos objectivos tácticos da equipa.

Princípios
Os princípios de orientação na execução dos deslocamentos
ofensivos devem assumir dois domínios fundamentais:
> 1. Gerais. A variabilidade das situações momentâneas de jogo e dos
objectivos tácticos da equipa, determinam uma inferência dinâmica e
contínua, dos aspectos condicionantes e inerentes ao centro da acção
de jogo (situação), e a necessidade de uma atenção concentrada das
condicionantes que se encontram longe desse centro. Obriga assim,
os jogadores a fazerem um balanço mais global do jogo, dos interess- >|<
es momentâneos e fundamentais da equipa e do modo de os cumprir, mesmo que "pareça" que se tenham de utilizar
acções técnico-tácticas individuais e colectivas que não concretizam de imediato os objectivos do jogo de futebol.
> 2. Específicos. O jogador de posse de bola deve consubstanciar os seus comportamentos técnico-tácticos, através de
acções individuais até que estejam cumpridos parte dos objectivos que determinaram o seu comportamento. Estas acções
individuais, baseiam-se em procedimentos técnico-tácticos que visam a protecção-conservação da bola, (condução, drible,
finta e simulação), compreendendo a sua corresponsabilidade, em função das condicionantes que cada situação de jogo
e dos objectivos tácticos que em si se encerram. Cabe ao jogador optar pelas soluções que permitam concretizá-los simul-
taneamente.

6. Os esquemas tácticos ofensivos

Definição
São soluções estereotipadas, previamente estudadas e treinadas para as situações de bola parada (livres, pon-
tapés de saída, de canto, lançamento da linha lateral, etc.). Representam uma forma de combinação táctica, ou seja, a coor-
denação das acções indivi-duais de vários jogadores de natureza ofensiva, que visam assegurar as condições mais
favoráveis para a concretização imediata do golo durante as fases fixas do jogo.

Objectivos
Em síntese, o objectivo fundamental dos esquemas tácticos ofensivos é assegurar as condições mais favoráveis à
concretização imediata do golo: dos dados das análises do jogo de futebol, concluí-se que entre 25 e os 50% das situações
de finalização e de criação das situa-ções de finalização, têm por base as soluções tácticas a partir de bola parada. Mais
importante é o facto de os jogos importantes (entre equipas com os mesmos níveis de rendimento) serem cada vez mais
decididos através de golos que derivam de livres, lançamentos da linha lateral, pontapés de canto, pontapés de grande penal-
idade. Hughes (1980), refere que "entre 1966 e 1986 decorreram seis finais do Campeonato do Mundo, onde foram marca-
dos 27 golos, 13 dos quais foram conseguidos a partir de situações de bola parada e outros cinco foram marcados logo a
seguir a essa situação. As razões deste facto são perfeitamente compreensíveis, sendo basicamente três: i) nos jogos impor-
tantes a marcação é muito pressionante, não dando assim muito tempo e espaço para que se possa jogar, ii) quando existe
menos tempo e espaço para se jogar é difícil para os atacantes conseguiram deslocar-se para posições perigosas e, iii) nos
jogos com marcações muito cerradas existem normalmente mais faltas e consequentemente mais livres.
Daí a importância que é dada pelas equipas, no treino e na maximização da eficácia destas soluções, que ofere-
cem igualmente o tempo e a oportunidade de se reajustar em posições, distâncias entre os vários elementos, acertar mar-
cações e ocupar racionalmente o terreno de jogo, em função das situações. Deste facto, se pode retirar a importância atribuí-
da pelas equipas, à concepção do treino e à maximização da eficiência destas soluções. Esta eficácia, traduz-se fundamen-
talmente pela iniciativa que a equipa de posse de bola usufrui, surpreendendo os adversários e obrigando-os a cometer erros.
Nas situações de bola parada, o factor tempo dá a possibilidade e a oportunidade de os jogadores se posicionarem em
espaços que maximizem as suas potencialidades (técnicas-tácticas-físicas) específicas, na procura constante de os colocar
em condições favoráveis para a concretização imediata do golo. Segundo Hughes (1980) "existem cinco vantagens básicas
que determinam a eficácia destas situações:
> (1) São sempre executadas com a bola parada. Por conseguinte o
problema do controlo da bola é eliminado.
> (2) Os adversários têm sempre que se colocar a pelo menos 9,15
metros, por conseguinte não existe pressão sobre a bola.
> (3) Um grande número de atacantes (8 ou 9), podem deslocar-se
para posições perigosas para a equipa adversária.
> (4) Os jogadores colocam-se em posições pré-planeadas para max-
imizar as suas capacidades individuais.
> (5) O treino sistemático destas situações produz níveis elevados de >>>
sincronização dos movimentos.
Meios
Os meios fundamentais para a concepção dos esquemas tácticos, devem assegurar os seguintes aspectos:
> 1. Um dispositivo fixo, no qual os jogadores e a bola circulam de uma forma pré-estabelecida. No entanto, deve igual-
mente ter um carácter espontâneo e criador, relacionando o nível de organização ofensiva e defensiva, em função da situ-
ação momentânea de jogo. A sucessão de procedimentos técnico-tácticos dos jogadores deve ser lógica, coerente e de
acordo com um "cenário" de jogo convincente para a equipa adversária, sendo esta levada a ler incorrectamente a situ-
ação, e consequentemente a optar por medidas menos eficazes, ou seja, cometer erros.
> 2. A execução dos esquemas tácticos ofensivos exigem:
> A. No que diz respeito ao jogador que repõe a bola: (1) um claro conhecimento da solução táctica e das suas vari-
antes, (2) uma reposição de bola no momento certo, articulado com a movimentação dos seus companheiros, e, (3) uma
eficaz execução técnico-táctica de reposição da bola.
> B. No que respeita aos jogadores que participam directamente no esquema táctico: (1) claro conhecimento da solução
táctica e as suas variantes, (2) coordenação eficaz do objectivo do seu comportamento e dos seus companheiros, e, (3)
estar sempre preparado para a eventualidade de finalizar mesmo que no treino dessa solução táctica não tenha sido o
escolhido para o fazer.
> C. Os esquemas tácticos envolvem normalmente um grande número de jogadores para se tirar o máximo de rendi-
mento destas situações. Este facto determina, consequentemente, a aplicação de medidas preventivas para se minimizar
o eventual risco (no caso da execução deficiente destas soluções tácticas). Daqui se infere igualmente, a necessidades
dos jogadores que não estão directamente envolvidos nos esquemas tácticos, terem o conhecimento com a mesma
exactidão e responsabilidade, que os restantes companhei-ros.
> D. O tempo necessário para a execução dos esquemas tácticos ofensivos, é suficiente para se poderem reajustar as
posições, as distâncias e a concentração psíquica dos jogadores, de forma a se prepararem para a sua execução.
Normalmente nestas situações, o tempo concorre a favor do ataque, no entanto, não se deve perder a oportunidade de
se repor rapidamente a bola em jogo, mesmo que o dispositivo fixo não esteja ainda totalmente concretizado, desde que
se tire maiores vantagens de uma desconcentração (atenção), dos jogadores adversários e de uma organização defen-
siva precária.
> E. As diferenças fundamentais entre os esquemas tácticos ofensivos e as combinações tácticas segundo, Teodorescu
(1984) são as seguintes: i) maior complexidade, ii) só são utilizados nos momentos fixos do jogo, iii) maior rigidez e
estereótipo, iv) dispositivo fixo de circulação de jogadores e da bola, enquanto que as combinações tácticas têm um
carácter espontâneo e criador em função da fase do jogo.

As formas de se conseguirem mais situações de bola parada, segundo Hughes (1990), são as seguintes:
> (1) Passar a bola para o espaço nas "costas" da defesa adversária. Os passes para o espaço nas "costas" dos defesas
causam-lhes sempre problemas, porque partem para uma posição desconfortável, tendo que rodar em direcção à sua
própria baliza.
> (2) Através de cruzamentos. Os cruzamentos para as "costas" da defesa, espe-
cialmente para a zona central causam um desconforto enorme aos defesas. Na maio-
ria dos casos, estes ao deslocarem-se em direcção à sua própria baliza, jogam a bola
para lá da linha final.
> (3) Através de dribles. Os atacantes, ao optarem por uma situação de 1x1 na zona
ofensiva, poderão retirar grandes dividendos, através de situações (de pontapés livres
directos ou indirectos) muito vantajosas para a sua equipa.
> (4) Pressionando os defesas. Quando a bola é introduzida nas
"costas" da organização defensiva, os atacantes devem pressionar
constantemente os adversários (mesmo que estes cheguem primeiro 6
à bola), disputando com eles a bola, diminuindo-lhes o tempo e o
espaço para a poderem jogar. Esta limitação (em termos de tempo e
espaço), determina que a execução técnica tenha que ser perfeita,
logo, se os defesas não estão confiantes da sua capacidade, fre-
quentemente entram em pânico. Neste sentido, embora pareça estran-
ho, todos os defesas devem estar marcados por um atacante, os quais
mesmo não tendo a certeza de chegar primeiro à bola, devem tentar
disputá-la com o defesa adversário.
> (5) Rematando. Quanto mais uma equipa rematar, mais oportunidades tem de criar situações secundárias de remate.
Algumas advêm de ressaltos e outras de pontapés de canto. As equipas devem estar preparadas para rematar em qual-
quer oportunidade, sobre esta pressão os defesas têm mais probabilidades de cometer erros e originar mais situações de
bola parada.

Aplicando estas cinco formas positivas, aumentar-se-á o número de situações de bola parada. Todavia, isto não sig-
nifica que uma equipa deva ter como objectivo estas situações. O que é importante compreender é que estas situações, ao
reunirem condições favoráveis, irão aumentar as possibilidades de se atingir o golo.

Princípios
Os princípios fundamentais de orientação para a concepção dos esquemas tácticos ofensivos, devem assegurar
os seguintes aspectos:
> (1) Criar um "cenário" convincente, que permita mobilizar a atenção, e por conseguinte, a desconcentração de um ou
vários adversários. Os defesas, ao desconhecerem as acções individuais e colectivas que envolvem a concretização do
esquema táctico, podem ser induzidos em erros, centrando a sua atenção em outros elementos que lhes pareçam mais
prováveis de acontecer (surpresa). Torna-se assim o jogo ofensivo mais imprevisível para os defesas.
> (2) Para a concretização da solução táctica, os deslocamentos dos jogadores devem caracterizar-se pelo desenvolvi-
mento de procedimentos técnico-tácticos rápidos, com mudanças de direcção e utilizando pequenas fintas de simulação
do verdadeiro sentido da corrida.
> (3) A utilização de acções de protecção (cortinas/écrans), especialmente sobre: i) o guarda-redes, para aumentar a difi-
culdade de leitura da situação de jogo e, ii) jogador que irá executar a acção técnico-táctica, encobrindo a partida e tra-
jectória da bola.
> (4) Nas paragens momentâneas de jogo verifica-se uma menor concentração (atenção) dos jogadores. Isto determina,
que os jogadores escalonados para as várias soluções tácticas de bola parada, devem imediatamente ocupar as suas
posições dentro do dispositivo fixo, tentando rentabilizar uma possível reposição rápida da bola em jogo, beneficiando de
uma menor atenção dos jogadores adversários.
> (5) Colocação de jogadores em determinados espaços, com funções que maximizem as suas potencialidades individu-
ais, criando-se as condições mais favoráveis para a sua exteriorização.
> (6) Colocação dos defesas a uma certa distância (regulamentada pelas leis do jogo), a qual determina que o problema
da pressão não seja equacionado, logo, o jogador que repõe a bola poderá concentrar-se fundamentalmente no momen-
to mais favorável para a concretização da solução táctica.
> (7) Os esquemas tácticos devem utilizar-se poucas vezes durante o mesmo jogo, para que os adversários não se
habituem às intenções e às manobras tácticas dos jogadores nestas situações de jogo. Assim, dever-se-á introduzir uma
ou duas variantes na construção dos esquemas tácticos.
> (8) Dever-se-ão igualmente criar situações de "conflito" com os adversários e com o árbitro, (posição da bola, distância
da barreira, etc.), com o intuito de mobilizar a atenção dos adversários para outros pormenores de menos interesse.
> (9) Alguns treinadores são “obcecados” pela variedade na execução das situações de bola parada. A variedade não é
recomendada. Na maior parte das situações, a melhor variedade é a variedade sobre um tema base que é eficiente e man-
ter constantemente a equipa adversária na expectativa. Existe um preceito na organização das situações de bola parada,
"quanto mais directo e simples for executado, mais probabilidades de sucesso terá a situação" (Hughes, 1980, 1990).

Vejamos alguns princípios específicos na execução dos esquemas tácticos:

Lançamentos da linha lateral

As modificações referentes às Leis do jogo que regulamentam a execução dos lançamentos da linha lateral irão
consubstanciar que a situação de bola parada mais frequente do jogo de futebol venha a assumir, não somente uma simples
forma de recomeçar o jogo, mas sim, um momento extremamente vantajoso para o processo ofensivo. As vantagens acresci-
das desta situação de bola parada devem-se a dois factores essenciais:
> (1) A execução do lançamento da linha lateral, ao ser executado com os pés, determina uma maior amplitude e rapidez
na progressão do centro do jogo em direcção à baliza adversária, tendo igualmente um maior número de companheiros a
quem passar a bola e, por inerência, um maior número de opções ofensivas.
> (2) Os ângulos em que o atacante se posiciona, relativamente à baliza adversária, para executar o lançamento da linha
lateral pode ser mais propício à criação das condições imediatas à concretização do golo. Nestas circuns-tâncias, vejamos
alguns exemplos: os lançamentos perto da linha final assumem-se claramente como pontapés de canto, com a vantagem
(ofensiva) de serem executadas sob um ângulo mais fácil para cruzar, o que consequentemente, determina um ângulo de
contacto/ataque na bola de menor dificuldade para os companheiros que se deslocam para a grande área. Os lançamen-
tos da linha lateral no meio-campo podem assim atingir de imediato a baliza adversária, não havendo a necessidade de
repôr a bola em jogo para reiniciar a fase de construção do processo ofensivo.

Existem seis aspectos importantes na execução dos lançamentos de linha lateral:


> (1) Executá-lo rapidamente: se a concentração dos defesas diminui quando a bola sai do terreno de jogo, é importante
expô-los novamente à presença desta. Neste sentido, o lançamento da linha lateral deve ser executado rapidamente, o que
significa que o jogador mais perto deverá executar a acção. A única excepção a esta regra verifica-se quando se executa
o lançamento de linha lateral para/ou na zona ofensiva, necessitando-se de mais tempo para que os companheiros se
desloquem para posições mais avançadas, ou para entregar a bola ao especialista de passes longos para dentro da área.
> (2) Executar o lançamento da linha lateral para um companheiro sem marcação: o companheiro sem marcação poderá
iniciar o ataque mais rapidamente que qualquer outro jogador. Se por qualquer razão não existir ninguém na posição para
receber a bola nas melhores condições dever-se-á esperar que os companheiros se desmarquem.
> (3) Executar o lançamento da linha lateral em direcção à baliza adversária: o lançamento da linha lateral deverá, sem-
pre que possível, ser executado em direcção à baliza adversária. Existem todavia excepções a esta regra como é o caso
de a acção ser realizada na zona ofensiva.
> (4) Executar o lançamento da linha lateral por forma a que o companheiro possa recepcionar a bola facilmente: o lança-
mento da linha lateral é, para todos os efeitos, um passe. A bola deverá ser entregue com a mesma consideração que um
passe, ou seja, lançando-a para um espaço, e sob um ângulo, que possibilite ao receptor um controlo fácil da bola.
> (5) Criar o espaço suficiente para que o lançamento da linha lateral seja eficiente: os jogadores erram ao posicionar-se
muito perto do companheiro, ou ficam estáticos à espera da bola. Com efeito, estes devem deslocar-se, afastando-se ou
aproximando-se do companheiro que irá executar o lançamento, criando assim grandes dificuldades de marcação aos
defesas contrários.
> (6) Executado o lançamento o jogador deverá entrar rapidamente no jogo: uma vez executado o lançamento da linha
lateral, o jogador deve deslocar-se imediatamente para dentro do terreno de jogo, dando simultaneamente cobertura ao
companheiro de posse de bola e procurando criar superioridade numérica nessa zona do campo.

Livres directos ou indirectos

Potencialmente são um factor muito importante para a obtenção de golos. São mais os golos marcados como resul-
tado de livres, que de pontapés de canto conjuntamente com os lançamentos da linha lateral:
> (1) Os livres directos fora da zona ofensiva (3/3 da zona do campo). Têm uma possibilidade muito remota de se con-
seguir golo através de uma execução directa. Assim, o ênfase deve ser posto numa execução rápida, para retirar vantagem
de qualquer lapso de concentração por parte dos defesas. Nestas circunstâncias, logo que o livre é apontado pelo árbitro,
dois jogadores devem deslocar-se em direcção à bola e recomeçar o jogo prontamente, observando a possibilidade de
mudar o ângulo de ataque, enquanto os jogadores colocados em posições avançadas se deslocam para a baliza adver-
sária, tendo em atenção o fora-de-jogo.
> (2) Os livres dentro da zona ofensiva: a partir dos corredores laterais dever-se-á: i) cruzar a bola para as "costas" da
defesa, e, (2) pressionar os defesas. O cruzamento apresenta dois aspectos importantes:
> A. O primeiro refere-se fundamentalmente ao jogador que executa a acção:
> (1) A área alvo do cruzamento. É a área delimitada pela marca da grande penalidade e pela linha da pequena área.
> (2) O cruzamento. Existem três fases nesta acção: i) observação: perante a situação é fundamental verificar-se se é
possível cruzar de imediato, ou se se deve esperar por melhores condições para o fazer, ii) decisão. Em função da
observação, decidir que tipo de cruzamento executar e, iii) execução. Os melhores cruzamentos são aqueles que tor-
nam o trabalho dos defesas mais difícil. Isto significa que o cruzamento deve ser executado para as "costas" da defe-
sa, colocando a bola com velocidade e a meia-altura.
> B. O segundo consubstancia os aspectos fundamentais dos jogadores que se deslocam para a área alvo:
> (1) O deslocamento antes do cruzamento. Enquanto os defesas têm a tendência natural de se deslocarem em
direcção à bola, os atacantes deverão deslocar-se afastando-se destes. Isto põe de imediato um grande problema
defensivo, como ver a bola e o atacante simultaneamente? Nestas circunstâncias, os atacantes devem afastar-se dos
seus adversários directos dissimulando as suas intenções. Deslocam-se numa primeira fase em direcção à bola e rap-
idamente mudam de direcção e velocidade para o lado oposto, tornando assim o trabalho defensivo muito complexo.
> (2) O momento do deslocamento para o cruzamento. O deslocamento para a área alvo deve ser retardada o mais
possível para que o jogador não tenha que esperar pela vinda da bola. Idealmente o atacante e a bola devem chegar
à área alvo ao mesmo tempo.
> (3) O ângulo de deslocamento para o cruzamento. Quanto maior for o ângulo entre o deslocamento do jogador e a
trajectória da bola mais eficiente, será o contacto com a mesma.
> (4) O contacto com a bola. Se o deslocamento do atacante for executado no momento e num ângulo correctos, o
contacto com a bola torna-se a fase mais importante, a qual deve ser realizada na metade superior da bola, para asse-
gurar que esta não suba. Directamente ligado aos cruzamentos está o problema do cabeceamento.
> (3) Os livres dentro da zona ofensiva. A partir do corredor central, dever-se-á:
> A. Evitar em qualquer momento que o guarda-redes veja a bola.
> B. Utilizar dois ou mais jogadores para a execução do livre, para que o adversário não saiba quem vai marcar o livre.
Os atacantes aproximam-se da bola a partir de diferentes ângulos, podendo executar diferentes tipos de remate. O
jogador que não remata poderá executar uma cortina/écran para impedir que os defesas vejam a partida da bola.
Por último existem quatro factores importantes na execução do livre: i) compreender que acção técnica é mais efi-
ciente, ii) jogar a bola simples e directa, iii) jogar a bola com precisão, iv) determinação por parte dos atacantes em pressionar
os defesas contrários e, v) observar atentamente os jogadores adversários que não estão na barreira.

A grande penalidade

A importância da grande penalidade tem aumentado nos últimos anos, sendo normalmente usado para decidir
finais de jogos do Campeonato do Mundo, da Europa, etc. A eficácia da grande penalidade é o resultado da combinação de
três aspectos fundamentais:
> (1) Ideias claras sobre a execução da grande penalidade, baseado num treino específico e sistemático.
> (2) O correcto temperamento. O jogador ao executar a grande penalidade tem ser capaz de alhear-se de tudo à sua
volta, demonstrando serenidade e tranquilidade, convencendo-se em absoluto de que irá ter sucesso.
> (3) Correcta técnica. O jogador deverá concentrar-se confiante e positivamente na execução técnica. Existem duas téc-
nicas para a sua execução: i) colocação ou, ii) potência. Todavia, seja qual for a escolha, o jogador executá-la-á sem inde-
cisões.

O pontapé de canto

O pontapé de canto não é tão importante como os livres, sendo a são a fonte de numerosos golos. Existem dois
tipos básicos de pontapés de canto:
> (1) Cantos curtos. Objectivo fundamental é de concretizar superioridade numérica (2x1, 3x2) nessa área do terreno de
jogo, tomando vantagem das leis que obrigam os adversários a se posicionarem no mínimo a 9,15 me-tros da bola. Esta
vantagem é usada para arquitectar um posicionamento mais perigoso perto da baliza adversária e num ângulo mais cor-
recto, tentando desorganizar a defesa. Contudo, os cantos curtos não são a maior fonte de golos, não havendo grandes
vantagens em ter superioridade numérica nessa parte do terreno de jogo.
> (2) Cantos longos. Existem dois tipos de cantos que dependem fundamentalmente da trajectória da bola em direcção
à baliza adversária, e que podem ser: com "efeito" na bola por dentro e com "efeito" na bola por fora.

Bibliografia
CASTELO, J., (1996). Futebol - A organização do jogo. Edição do autor. Lisboa
CASTELO, J., (1999) Futbol - estructura y dinamica del juego, INDE Publicaciones, Barcelona
CASTELO, J., (2003) Futebol - Guia prático de exercícios de treino. Visão e contextos. Lisboa
HUGHES, C., (1990) The Winning Formula, Willian Collins Sons, London
FUTEBOL
AS ACÇÕES INDIVIDUAIS DEFENSIVAS

JORGE CASTELO

Neste âmbito iremos analisar as acções técnico-tácticas individuais defensivas, nas quais se destacam: (1) o
desarme, (2) a intercepção, (3) a carga, (4) o cabeceamento e, (5) a técnica do guarda-redes.

1. O desarme (tackle denominação na língua inglesa)

Definição
Entendemos por desarme, a acção técnico-táctica efectuado pelo defesa procurando interferir sobre a mesma
respeitando as Leis do jogo, na luta directa com o atacante que a detém a bola.

Objectivo
A acção técnico-táctica de desarme visa fundamentalmente: (1)
a recuperação da posse da bola ou, (2) a temporização do processo
ofensivo adversário, intervindo momentaneamente sobre a bola. Muitas
são as situações de jogo em que o defesa procura interromper atrasan-
do o desenvolvimento do processo ofensivo adversário, por forma a gan-
har o tempo suficiente para a sua equipa se reagrupar e organizar con-
~ venientemente adaptando-se à situação contextual de jogo. Neste
domínio, importa relembrar que a interrupção do processo ofensivo levar
a bola:
> 1. Para longe da zonas vitais de jogo, mais tempo os defesas terão para se reorganizar.
> 2. Para zonas menos povoadas de jogadores atacantes ou para os corredores laterais menor será o risco da situação
de jogo.

Execução
Para uma eficaz acção técnico-táctica de desarme, importa ter em consideração seis aspectos fundamentais:
> 1. Executar uma rápida aproximação relativamente ao atacante. O defesa para poder realizar a acção técnico-tác-
tica de desarme, deverá deslocar-se rapidamente em direcção ao atacante enquanto a bola estiver no seu trajecto para
este. Neste sentido, o defesa ao encurtar distâncias poderá colocar toda a pressão possível sobre o atacante, por forma
a influenciar a qualidade da sua recepção. Todavia, logo que o atacante recepciona a bola o defesa deverá diminuir a
velocidade com que vem animado evitando a possibilidade de ser ultrapassado de imediato.
> 2. Atender ao ângulo de aproximação relativamente ao atacante. Uma das condições essenciais para a execução
do desarme, é determinado pela importância de sempre que possível, o defesa aproximar-se do atacante adaptando um
ângulo que permita: (1) um posicionamento entre a bola e a sua baliza, (2) colocar o atacante sobre a pressão das lin-
has laterais ou finais do espaço de jogo ou (3) a ajuda de outros defesas por forma a criar condições de superioridade
numérica.
> 3. Assumir um posicionamento defensivo de base. Assim que seja possível, isto é, quando o atacante recepciona
a bola, o defesa deverá assumir a sua posição de base estando apto e preparado para intervir sobre a bola, logo que as
circunstâncias assim o permitam.
> 4. Promover uma correcta distância relativamente ao atacante. Em função de um conjunto de aspectos pertinentes,
tais como: (1) a capacidade do defesa em recuperar a posse da bola, (2) a capacidade do atacante em resolver situ-
ações de 1x1, (3) da forma como o atacante recepciona a bola, isto é, de frente ou de costas para o defesa, (4) do espaço
de jogo em que o atacante recebe a bola e, (5) das possíveis ajudas de outros colegas ou adversários, o defesa deverá
optar por uma correcta distância por forma a poder, em qualquer momento, decidir e executar eficazmente a acção de
desarme.
> 5. Observar continuamente a bola. O defesa não deve perder a noção da bola por forma a reagir de acordo com
esta e não ser ludibriado pelos falsos sinais, que normalmente nestas situações são emitidas pelo corpo do atacante.
> 6. Ser paciente. O defesa, em função de um enorme número de condições circunstânciais que rodeiam as situações
de 1x1 e o reduzido tempo para tomar uma decisão, deve ter o temperamento táctico que possibilite escolher o melhor
momento de assumir a iniciativa e a capacidade técnica de garantir a ganhar a posse da bola com elevada percentagem
de êxito.
> 7. Atacar decisivamente a bola para a ganhar. Neste âmbito, os defesas ao pressionam os atacantes de posse de
bola devem saber quando tentar recuperá-la ou quando devem somente vigiar o adversário. Existe um elemento funda-
mental nesta matéria, que os defesas devem relembrar: um atacante poderá ser dominado durante quase toda a parti-
da, todavia, basta uma vez só ultrapassar o defesa para que a sua equipa possa acabar o jogo com derrota. Isto signifi-
ca, que os defesas só devem ousar recuperar a posse da bola quando têm grandes possibilidades de a ganhar e quan-
do a oportunidade surgir devem-no fazer de forma decisiva.

Existem duas formas fundamentais de desarme:


> (1) O desarme frontal. Situação em que o defesa bloqueia a trajectória do atacante de posse de bola, na luta pela
conquista da mesma. Em termos técnicos a acção de desarme frontal deve respeitar os seguintes aspectos de base:
> 1. Colocação do pé de apoio o mais perto possível da bola.
> 2. Adopção de uma posição de base em que se verifica uma pequena flexão da articulação dos joelhos, por forma
a baixar o centro de gravidade do jogador e a aumentar a sua base de sustentação.
> 3. Execução do desarme atavés do contacto firme da parte interna do pé sobre a bola.
> (2) O desarme lateral. Na impossibilidade de bloquear de frente para o atacante de posse de bola a sua trajectória,
o defesa poderá procurar desarmá-lo lateralmente, utilizando para isso, dois tipos de execução técnica, em função da
situação de jogo:
> 1. Deslocando-se ou colocando-se ao lado do atacante, na procura do momento certo para intervir sobre a bola,
utilizando o contacto corporal e interpondo um dos membros inferio-res para desarmar.
> 2. Não sendo possível deslocar-se ou colocar-se ao lado do atacante, coloca-se um pouco atrás deste, procurando
o momento certo para, em queda (deslizando-carrinho), intervir sobre a bola. Esta forma de execução técnica deverá
ser utilizada em últimas circunstâncias, por duas razões: uma vez o corpo em queda/carrinho, o defesa jamais poderá
controlar devidamente o seu deslizamento (em especial nos terrenos molhados) provocando o choque ou que o ata-
cante tropece, podendo assim originar uma infracção às leis do jogo. Depois da execução técnica, o defesa encontra-
se no solo, sendo incapaz por breves momentos, de prosseguir a luta defensiva, se a acção executada for ineficaz, ou
relançar o processo ofensivo rapidamente, se recuperar a posse da bola. Neste sentido,
o defesa deverá manter sempre em aberto outras opções técnicas antes de se decidir
por esta.

A execução do desarme em carrinho (sliding tackle denominação na língua inglesa)


deve ter em atenção dois aspectos críticos:
> 1. O momento do desarme. O timing do desarme determina em grande medida a sua
eficácia. Assim, se a sua execução for antecipada, uma das seguintes duas situações
poderão ocorrer: (1) o atacante poderá ainda contornar a situação e ultrapassar o defe-
sa ou (2) o atacante beneficia da inevitável infracção às leis do jogo cometida pelo defe-
sa. Assim, quanto mais cedo o defesa denúnciar e executar a acção mais tempo o ata-
~ cante tem para lidar com a situação.
> 2. O membro inferior que deve ser usado para contactar a bola. Em termos ideais o membro inferior que dev-
erá contactar a bola é aquele que está mais longe desta, enquanto que o outro membro serve de apoio dando ampli-
tude e potência à acção. Também é possível usar o membro inferior que está mais perto da bola, todavia esta utiliza-
ção determina uma acção menos viril sendo mais observada para interromper por momentos o processo ofensivo
adversário do que para ganhar a posse da bola.

Concluindo, importa referir também a possibilidade de executar desarmes frontais em carrinho, os quais são mais
observados em caso extremos ou em situações de disputa de uma bola que parece perdida pelo atacante. Contudo, estas
acções para além da sua dificuldade de execução, levantam um enorme problema de integridade física para os dois
jogadores, especialmente quando o defesa e o atacante utilizam a mesma acção simultaneamente, pois o choque é
inevitável e as mazelas físicas, que daí podem derivar, também.

2. A intercepção

Definição
Entendemos por intercepção, a acção técnico-táctica que consiste em o jogador se apoderar da bola, ou em repeli-
la: i) quando esta é tocada em direcção à sua própria baliza (trata-se da intercepção de um remate), ou, (2) entre dois
adversários (trata-se da intercepção de um passe).

Objectivo
Analogamente ao desarme, a acção técnico-táctica de intercepção visa funda-
mentalmente a recuperação da posse da bola, ou a temporização do processo ofen-
sivo adversário, intervindo momentaneamente sobre esta.

Execução
A acção técnico-táctica de intercepção, contém fundamentos básicos difíceis
de sistematizar, porque pressupõe diferentes formas de actuação, consoante as qual-
idades do jogador e as situações momentâneas de jogo. Com efeito, a intercepção
sendo uma das formas fundamentais de recuperação da posse da bola, é um com-
portamento técnico-táctico cuja execução é suportado pela capacidade dos defesas
lerem correctamente as situações de jogo, antecipando no presente a situação de jogo
>|<
futura. Neste domínio, o dilema essencial de todo o jogador em acção defensiva, é o
de analisar e decidir quando tentar ou não interceptar a bola. Se a sua avaliação é correcta recupera-a e estabelece, simul-
taneamente, condições favoráveis ao relançamento do processo ofensivo da sua equipa, pois é normal nestas situações,
o jogador estar livre de marcação. Pelo contrário, se essa avaliação é incorrecta terá reflexos importantes de carácter pos-
itivo para o desenvolvimento do processo ofensivo adversário.

3. A carga

Definição
É a acção exercida por dois jogadores, que procuram o contacto físico - carga, em zonas do corpo permitidas pelas
leis do jogo, aquando da luta directa pela posse da bola.

Objectivo
Os defesas utilizam todos os argumentos técnicos legais para criar situações desvantajosas aos atacantes de
posse de bola, procurando intervir sobre esta, nem que seja momentaneamente para interromper o processo ofensivo
adversário. Com efeito, o facto de as leis do jogo permitirem um certo contacto físico - carga, na disputa da bola, coloca
sob forte pressão o jogador que a detém. Nestas circunstâncias, os defesas aumentam as dificuldades inerentes à pro-
tecção e conservação da bola por parte do atacante, se o carregarem legalmente, através do contacto físico, afastando-o
ou desequilibrando-o da situação de jogo. É este o objectivo essencial em que se baseia a acção técnico-táctica de carga.
Execução
As superfícies corporais de contacto permitidas pelas leis do jogo são: i) o ombro
contra ombro, e, (2) o ombro contra espádua. Contudo, aliado à restrição de só poderem
~ ser estas as superfícies corporais de contacto, a carga tem de ser obrigatoriamente real-
izada num tempo certo de disputa da bola. Assim, todas as cargas "fora ou dentro do
tempo" são consideradas legais ou ilegais em função dos critérios do árbitro. Para além
dos pressupostos legais atrás referidos, o pressuposto técnico de execução desta acção
baseia-se fundamentalmente no tempo certo de carga sobre o jogador de posse de bola,
que ocorre quando este se apoia na perna mais afastada, pelas seguintes razões:
6 i) torna-se mais difícil para este, recuperar o equilíbrio e, ii) normalmente a perna
mais afastada é a que protege ou conduz a bola. Assim, o jogador ao desequili-
brar-se terá menos hipóteses de controlar a bola.
~
4. Cabeceamento

Os aspectos prioritários da definição, objectivo e execução do cabecea-


mento, já foram desenvolvidos nas acções individuais ofensivas. Todavia, impor-
ta realçar os elementos que determinam a eficácia destas acções: (1)
6 a precisão do contacto com a bola, (2) manter o contacto visual com
esta, (3) gerar potência na acção e, (4) atacar a bola no ponto mais
alto possível da sua trajectória. Nesta medida, releva-se a importân-
~ cia dos seguintes aspectos nas situações de cabeceamento:
> 1. Chegar primeiro à bola. Sempre que um defesa está em
condições para atacar a bola, não deve esperar por nenhum outro
colega, devendo ele próprio assumir a responsabilidade da situação
e resolvê-la.

` >>>
> 2. Ir no tempo certo. O momento da impulsão para atacar a bola
concorre largamente para a ficácia da acção. Assim, não é por acaso,
que jogadores de estatura mais baixa, muitas vezes ganham duelos
aéreos a adversários com estatura superior.
> 3. Jogar a bola o mais longe possível. Ao concretizar-se este aspecto possibilita que a equipa tenha tempo para se
organizar.
> 4. Jogar a bola para o ar. Enquanto a bola estiver no ar (fora do alcançe de
qualquer jogador), cria-se condições para os defesas ajustarem as suas
posições para atacar a bola quando esta começar a descer. >>>
> 5. Jogar a bola no correcto ângulo. Isto significa, que o cabeceamento
deverá ter em atenção no envio da bola para um espaço onde existe poucos
adversários ou para zonas não vitais de jogo, como são os espaços perto das
linhas laterais.
> 6. Jogar a bola para fora das linhas do campo. Em algumas circunstân-
cias é preferível jogar a bola para fora por forma a clarificar a situação, dando
assim tempo para uma correcta reorganização da equipa.

5. A técnica do guarda-redes

Definição
Entendemos por técnica do guarda-redes todas as acções técnico-tácticas específicas executadas por este,
durante o processo defensivo da sua equipa.
Objectivo
As acções do guarda-redes compreendem formas que visam fundamentalmente a protecção da baliza - evitar o
golo.

Execução
No plano defensivo, o comportamento técnico-táctico do guarda-redes consubstancia-se sob duas vertentes fun-
damentais: i) seguir atentamente o processo ofensivo adversário e
partindo de um posicionamento privilegiado dentro do terreno de jogo
assumir a orientação verbal dos seus companheiros quer individual
quer colectivamente, no que diz respeito aos seus posicionamentos,
deslocamentos dos atacantes, sendo igualmente elemento preponder-
ante na formação de barreiras, estabelecendo-se assim uma relação <<<
de comunicação extremamente viva e contagiante, e, (2) uma vez que
o objectivo do jogo é o golo, normalmente cabe ao guarda-redes a
responsabilidade última de evitar que tal objectivo se concretize,
>>>
através das mais variadas acções técnico-tácticas, tais como, o apan-
har, o blocar, o recolher, o mergulhar, o afastar, o desviar a bola, etc.

Bibliografia
CASTELO, J., (1996). Futebol - A organização do jogo. Edição do autor. Lisboa
CASTELO, J., (1999) Futbol - estructura y dinamica del juego, INDE Publicaciones, Barcelona
CASTELO, J., (2003) Futebol - Guia prático de exercícios de treino. Visão e contextos. Lisboa
FUTEBOL
AS ACÇÕES INDIVIDUAIS OFENSIVAS

JORGE CASTELO

Cada modalidade desportiva comporta em si mesma um “bilhete de identidade” próprio, contendo a sua “impressão
digital” individualizada e intransmissível. Partindo desta analogia, facilmente nos apercebemos que cada modalidade tem uma
lógica, uma razão de ser e de existir, por outras palavras, cada atitude, cada comportamento observável em competição tem
um significado e uma razão que o determina. Se existe alguma qualidade que determina de imediato o fascínio do público, o
respeito dos adversários, a admiração dos colegas e o prazer intrínseco do próprio jogo, este é consequência da elevada
capacidade evidenciada pelos jogadores na resolução eficaz das diferentes situações contextuais de jogo, utilizando as mais
variadas acções motoras (“Skills” na designação em língua inglesa) específicas do futebol, encontrando sempre tempo sufi-
ciente para as executar. É por esta razão, que todo o jogador deverá explorar ao máximo as suas competências de cariz téc-
nico e táctico por forma a melhorar constantemente os seus níveis de execução.
Mesmo os jogadores de altíssimo nível, em cada período do seu processo anual de treino, devem-se submeter a
exercícios básicos, com o intuito de “renovar” ou refrescar” os programas motores de suporte a essas acções
técnicas.Costuma-se utilizar o adágio que formula "quem sabe (aprendeu) nunca esquece", isto só é verdade se o jogador
continuar a utilizar exercícios de treino que estabilizem a capacidade adquirida e desenvolvida ao longo do tempo, por forma
a responder eficazmente às situações específicas de treino e de competição. Quando com o decorrer do tempo, não se
exercita um certo tipo de comportamentos técnicos ou técnico-tácticos, promove-se o processo de esquecimento devido à
não utilização da informação retida na memória e às instruções para a sua execução (teoria da decadência do traço mnési-
co). Ora, o esquecimento consubstancia a diminuição da capacidade de realizar acções com os níveis de performance antes
alcançados, isto é, "quem não exercita esquece", ou por outras palavras, "quem sabe nunca esquece se exercitar". O que foi
referido significa que as adaptações e as alterações do organismo dos jogadores adquiridas ao longo do tempo através de
exercícios de treino específicos são transitórios, tanto no plano do desenvolvimento e da evolução (continuando a solicitação)
ou reversíveis (paragem da solicitação) diminuindo a capacidade de prestação desportiva.
Desta análise ressalta, que quando o jogador deixa de ter eficácia na aplicação da sua bagagem técnico-táctica ou
numa das acções que a constituem (por exemplo: o remate, o passe, a recepção, etc.), melhor poderá compreender a neces-
sidade de examinar e explorar os elementos críticos dessas acções motoras com o objectivo de descobrir ou para ultrapas-
sar o problema em questão. Todavia importa salientar, que esta apreciação e aplicação motora não deve ser baseada na ideia
de uma técnica gestual “perfeita” em que a sua eficácia simplesmente passaria pela forma do gesto executado. Esta visão
nada tem haver com a transitoriedade e variabilidade características das situações que o jogo de futebol em si encerra. A
eficácia comportamental dos jogadores, passa inapelavelmente, pela precisão das diferentes operações mentais subjacentes
à percepção e tomada de decisão, que suportam e geram as acções de resposta às situações-problema. Neste enquadra-
mento, quando se pretende atingir uma determinada capacidade técnica, não se deve somente imitar o gesto, mas sim, con-
struír e desenvolver estratégias e normas decisionais que permitam suportar acções adaptadas às situações-problema que
se desenvolvem durante o treino ou na competição do jogo de futebol.
Para um total de 90 minutos de jogo, cada jogador não detém a posse da bola por mais de 80 segundos (total por
jogo), intervindo sibre esta entre 30 e 50 vezes (variação determinada pelas funções tácticas dos jogadores dentro da orga-
nização da equipa). Os valores relativamente diminutos traduzidos pela frieza das análises do jogo (uma intervenção sobre
a bola entre 108 a 180 segundos), só vêm reforçar a importância que os jogadores e treinadores devem dar ao treino de situ-
ações de carácter técnico-táctico. Nesta perspectiva, cada jogador deve ter presente a sua contribuição no desenvolvimento
do processo ofensivo ou defensivo da equipa, explorando ao máximo a justeza das suas decisões (solução adaptada relati-
vamente à situação contextual de jogo) e de eficácia dos seus comportamentos (acções motoras realizadas).
Daqui podemos inferir, quanto é importante conceptualizar situações de treino que reflictam a criação de condições
o mais próximo possível da realidade do jogo. Pensamos que só desta forma é possível haver uma transferência de carácter
positivo entre os efeitos acumulados e pretendidos pela prática sistemática e organizada das situações de treino e a sua
repercusão na competiçõa desportiva. Com efeito, como podemos constactar é relativamente fácil controlar a bola, de a pas-
sar, de a rematar, etc., em que o jogador só tem de se concentrar na execução destas acções. Todavia, nas situações reais
de competição é fundamental seleccionar e executar a acção motora correcta em função da contextualidade situacional.
Estas circunstâncialismos obrigam o jogador a atender, entre outras:
> 1. Da trajectória e da velocidade com que a bola vem animada.
> 2. Da proximidade ou não de adversários.
> 3. Do posicionamento dos colegas, especialmente aqueles que possam estar colocados nas zonas vitais de jogo.
> 4. Da decisão relativamente aos objectivos tácticos a atingir com a sua execução.
> 5. Da relação entre os objectivos a atingir e o tempo existente para a execução da acção.

O desenvolvimento da acção técnica dos jogadores não se revêm somente na compreensão e performance indi-
vidual, mas também e fundamentalmente na sua contribuição para a resolução dos problemas do jogo colectivo. As acções
individuais ofensivas podem ser subdividi-las em: (1) as acções técnico-tácticas que têm por objectivo a conservação/pro-
gressão da bola: recepção, protecção e condução da bola, drible, finta e simulação e, (2) as
acções técnico-tácticas que têm por objectivo a comunicação/finalização: o passe e o remate.

1. A recepção/controlo da bola

Definição
Entendemos por recepção, a acção técnico-táctica efectuada por um jogador, visando
o controlo ou domínio da bola, que a recebe dos companheiros (passe) ou dos adversários
(intercepção). Em última análise, a recepção é determinada pelo primeiro toque na bola realiza-
do pelo jogador quando intervem sobre esta.

Objectivo
A recepção da bola é a acção sem a qual não se poderá rentabilizar o comportamento técnico-táctico do jogador
na resolução da situação contextual de jogo. Com efeito, uma eficaz recepção da bola permitirá:
> (1) ao jogador ter o tempo e o espaço suficientes para executar os seus comportamentos técnico-tácticos (mesmo quan-
do pressionado pelo defesa). A correcta e rápida recepção da bola possibilita ao jogador um ganho temporal para analis-
ar a situação à sua volta, decidir e executar a acção motora de resposta ao problema situacional. Simultaneamente, impos-
sibilita ao adversário que procure pressioná-lo o tempo suficiente para o fazer pondo-o assim, numa situação de desvan-
tagem.
> (2) uma melhor ligação com as acções técnico-tácticas subsequentes ao controlo da bola, assim, quanto melhor for a
recepção e controlo, melhor será a execução terminal da acção do jogador, que poderá ser um passe, um drible ou um
remate.

Execução
A acção técnico-táctica de recepção da bola é relativamente
mais fácil de explicar do que executar. Existe um reduzido número de
aspectos críticos (chave), os quais são válidos para qualquer tipo de
recepção da bola (com o pé, coxa, peito etc.), que importam compreen-
der e pôr em prática. Com efeito, podemos estabelecer quatro elementos
fundamentais que concorrem largamente para uma boa recepção da
bola: >|<
> (1) Deslocar-se em direcção à trajectória da bola. O primeiro aspecto chave que concorre largamente para o suces-
so desta acção é determinado pelo deslocamento da superfície corporal de recepção e controlo em direcção à trajectória
da bola, interceptando-a. Com efeito, é fundamental que os jogadores nunca esperem pela bola, pelo contrário, deverão
deslocar-se em sua direcção por forma: (1) a melhorar as condições de recepção, em especial quando algo de inespera-
do possa surgir, (2) aumentar o ritmo de jogo da equipa através da diminuição do tempo em que a bola viaja entre os
jogadores da mesma equipa e, (3) evitar que os adversários possam antecipar e intervir sobre esta.
> (2) Decidir antecipadamente com que superfície corporal se irá recepcionar e controlar a bola. Uma vez posici-
nado na trajectória da bola, o jogador deverá decidir, em função das condições em que esta vem animada (velocidade,
efeito, etc.), que parte do corpo deverá ser utilizada para a controlar. Quanto mais cedo esta decisão for tomada, mais
tempo o jogador terá para adoptar uma posição apropriada, seleccionar a superfície corporal de contacto e concentrar-se
na sua execução técnica. A importância de uma decisão antecipada sobre a forma e a superfície de recepção da bola,
pode ser facilmente observada em duas situações de jogo. A primeira, refere-se quando o atacante não estando à espera
de receber a bola, não tem o tempo suficiente para se preparar para a sua correcta recepção, tendo de exercutar acções
de recurso. A segunda, pode ser observada quando o atacante, depois de decidir que acção deverá executar, procura alter-
ar, nos últimos momentos, as condições de recepção da bola, tendo como consequência, na maioria dos casos, à sua
perda.
> (3) Escolher que tipo de recepção utilizar. O jogador, no infimo tempo de que ispõe, deverá conjugar: (1) o seu posi-
cionamento relativamente à bola e, (2) à solução táctica que tem em mente executar aquando da sua posse. Assim,
podemos estabelecer duas formas fundamentais de executar esta acção técnico-táctica:
> 1. A recepção em amortecimento. Nesta forma de recepção da bola procura-se reduzir a zero a velocidade com que
a bola vem animada ficando simultaneamente sob o domínio do atacante. Para isso acontecer, utiliza-se uma superfície
corporal relaxada. Esta forma de recepção é frequentemente usada em situações de grande pressão defensiva ou em
espaços reduzidos de jogo.
> 2. A recepção activa. Contrariamente ao que foi referido, esta forma de recepção da bola procura uma ligação mais
sequencial com as outras acções técnico-tácticas (passe, drible, simulação, condução, remate), imprimindo um ritmo de
jogo contínuo. Com efeito, a optar-se por este tipo de recepção procura-se que a bola seja controlada sem perder total-
mente a velocidade com que vem animada de forma que se adapte à contextualidade situacional e à solução táctica
encontrada pelo atacante, mantendo-se assim, um ritmo activo e continuo de jogo.
> (4) Ter confiança na execução desta acção técnico-táctica. A confiança determinada por uma correcta recepção da
bola melhora substancialmente as condições de eficácia de todos os aspectos do jogo. Assim, esta confiança é consub-
stanciada por um estado mental de relaxação que é determinada pelo conhecimento das suas reais capacidades. Ter con-
fiança na sua capacidade de recepcionar e controlar a bola é um dos pressupostos de um qualquer jogador de alto nível.
Por último, as recepções da bola podem ser observadas sem ou com a pressão do adversário directo, essencialmente em
duas situações de jogo: de frente ou de costas para este.

Concluindo, devido às contigências inerentes às diferentes situações de jogo, pode não ser possível respeitar e
aplicar os aspectos chave de uma correcta recepção da bola, nestes casos, o jogador deve estar preparado mental e técni-
camente para tirar o máximo de vantagens das circuntâncias, utilizando o conhecimento pormenorizado da situação e da sua
capacidade de os pôr em prática.

2. A condução da bola

Definição
Entendemos por condução, a acção técnico-táctica de um jogador que
visa o deslocamento controlado da bola no espaço de jogo.

Objectivo
É uma acção técnico-táctica imprescindível não só na progressão para
a baliza adversária, como para temporizar a acção ofensiva, possibilitando uma
movimentação táctica dos companheiros, com o objectivo de criar as condições
mais favoráveis ao desenvolvimento do processo ofensivo. <<<
Execução
Existem cinco elementos fundamentais que concorrem largamente para uma eficaz condução da bola:
> (1) A condução da bola é efectuada normalmente pelos membros inferiores, especialmente com os pés: i) a parte inter-
na do pé é a que oferece maior precisão (devido à grande superfície de contacto) mas é menos rápida (por ser necessário
rodar para fora a perna condutora no momento do toque), ii) condução de bola com o peito do pé, é bastante rápida porque
é mais contínua, mas torna-se de certo modo pouco precisa, por ser relativamente pequena a área de contacto com a bola
e, iii) a condução da bola realizada com a parte externa do pé (é rápida e eficiente, por ser grande a superfície de contac-
to na bola e fácil a sua adaptação). Estas três superfícies corporais de condução de bola, podem empregar-se durante o
mesmo deslocamento.
> (2) O contacto com a bola. Quando existe espaço livre à frente do atacante, menor deverão ser o número de contactos
sobre a bola, logo, cada contacto deverá permitir que esta esteja permanente-
mente à frente do atacante que se desloca à velocidade máxima. Quando o ata-
cante é pressionado pelo adversário deverá, durante a condução da bola, mantê-
la sempre perto dos pés (evitar ser desarmado), contactando-a permanente-
mente, de forma a protegê-la, podendo mudar de direcção (em função da situ-
ação de jogo).
> (3) A condução de bola deve ser executada com o pé condutor do lado opos-
to, ao do adversário, a fim de evitar que este possa desarmá-lo (protecção da
bola).
> (4) Observar o espaço de jogo à sua volta. Durante a condução da bola o
>>> jogador deve-rá levantar a cabeça, por forma a inteirar-se correctamente da situ-
ação de jogo à sua volta a qual determinará que opções técnico-tácticas deverá
tomar.
> (5) A decisão. Durante o deslocamento com bola o jogador deverá, constantemente e antes de cada contacto, decidir
sobre a continuidade, ou não, da acção. Não devendo existir dúvidas quanto à decisão a tomar.

3. A protecção da bola

4 Definição
Entendemos por protecção da bola, todo o comportamento do
atacante na sua posse (quer em movimento ou não), por forma a res-
guardá-la de qualquer intervenção do(s) adversário(s) directo(s).

Objectivo
Esta acção técnico-táctica, ao
>>>
procurar evitar que o defesa intervenha
4 sobre a bola, objectiva quatro aspectos fun-
damentais: (1) tem-
porizar o processo ofensivo, por forma a
que os companheiros (atacantes) forneçam
melhores opções tácticas de resolução da
situação de jogo, (2) ganhar tempo de jogo, >|< 4
no qual o atacante se coloca perto da ban-
deirola de canto e, beneficiando das linhas limites do campo, procu-
ra reter a bola o máximo de tempo possível, (3) quebrar o ritmo do
adversário, obrigando-o a entrar em crise de raciocínio táctico e, (4) >|<
em certas zonas específicas do terreno, provocar infracções às leis
4
do jogo (por parte dos adversários), possibilitando, nestas circun-
stâncias, beneficiar das vantagens inerentes às situações de bola parada. `
>|<
Execução
Existem três elementos fundamentais que o atacante de posse de bola deverá respeitar, para uma eficaz protecção
da bola:
> (1) Colocar sistematicamente a bola o mais longe possível do(s) adversário(s).
> (2) Interpor o seu corpo entre a bola e o(s) adversário(s), no qual um dos membros inferiores suporta o seu peso e
funciona como "pivot" (no caso na variação do ângulo em relação ao defesa), enquanto o outro contacta a bola com
pequenos toques, mantendo-a longe do(s) adversário(s).
> (3) Reagir constantemente às diferentes acções do(s) adversário(s) directo(s), va-riando ângulos e posições em
relação a este(s).

4. O drible - finta

Definição
Entendemos por drible ou finta, as acções técnico-tácticas de ultrapassar, o adversário directo, com a bola per-
feitamente controlada. A diferença entre estas duas acções técnico-tácticas, em nossa opinião, diz respeito ao contacto físi-
co, isto é, no drible o contacto físico com o adversário directo é mais premente, enquanto que na finta o jogador atacante
ladeia o adversário directo.

4 Objectivo
Este comportamento técnico-táctico é um elemento fundamental do futebol
na actualidade, devido à falta de espaços livres e às acções de marcação movi-
das pelos adversários em processo defensivo. Tanto o drible como a finta, são ele-
mentos muito pessoais e ori-ginais. Estes exigem uma grande virtuosidade técni-
ca e um sentido de improvisação elevado.

Execução
4 Existem cinco elementos importantes que
concorrem para a eficiente execução do drible:
> (1) A aproximação. A aproximação do atacante
em direcção ao defesa deve consubstanciar dois
objectivos: i) a linha de aproximação deverá ser a
mais directa possível, ii) a velocidade de aproxi-
mação de-verá ser máxima, observando-se uma

` diminuição dessa velocidade no momento final de


aproximação para que possa existir a possibili-
dade de mudar de direcção e de velocidade, na
ultrapassagem do adversário.
> (2) O controlo da bola. O drible envolve a ultra-
passagem do adversário directo, logo, a recepção
e o controlo da bola devem objectivar dois aspec-
tos: i) controlo da bola por forma a que o defesa
3 não possa desarmar e, ii) rodar com a bola ata-
cando de imediato o defesa.
> (3) Enganar e desequilibrar o adversário
directo. É importante para o atacante enganar o defesa, especialmente se este
tem cobertura defensiva, dependendo sempre da velocidade e da distância a que
o defesa se encontra. Quanto mais rápida for a aproximação, mais longe do defe-
sa se deverá executar o engano. O defesa ao reagir erradamente às intenções do
atacante, desequilibrar-se-á, sendo mais fácil a execução do drible.
> (4) Mudança de direcção. Normalmente os defesas eficientes só reagem aos
movimentos da bola, daí a importância da mudança de direcção para desequilibrar o adversário.
> (5) Mudança de velocidade. O tempo necessário para que o defesa retome o equilíbrio da sua posição, deve ser usado
para que o atacante ultrapasse rapidamente o defesa.

5. A simulação

Definição
Entendemos por simulação, a acção técnico-táctica individual, realiza-
da por qualquer segmento corporal, visando provocar o desequilíbrio momentâ-
neo ou ludibriar o adversário directo, isto é, simular que vai executar uma acção
para um lado mudando, bruscamente para outra direcção.
6
Objectivo
A importância crescente da execução das acções de
simulação em futebol advem fundamentalmente da necessidade
dos jogadores "ocultarem" dos adversários directos, em todos os
momentos, os seus verdadeiros objectivos.

6. O passe >>>

Definição
Entendemos por passe, a acção técnico-táctica de relação de comunicação material, estabelecida entre dois
jogadores da mesma equipa, sendo portanto, a acção de relação colectiva mais simples de observar e executar.

Objectivo
A acção técnico-táctica de passe é considerado o elemento
fundamental básico de colaboração entre os jogadores de uma mesma
equipa (os quais devem possuir uma ampla "bagagem técnica" de difer-
entes tipos de passe), imprescindível para a consecução dos objectivos
tácticos do ataque. O passe é, sem dúvida, a acção predominante no
jogo de futebol. Em 80% das situações nas quais o jogador está de
posse de bola, tem a intenção de a passar a outro companheiro. Nas <<<
restantes situações, dribla, finta, conduz, simula ou remata.

Execução
Segundo Hughes (1990) "nada destrói tão rapidamente a confiança de uma equipa como um passe impreciso, nada
constrói tão rapidamente a confiança de uma equipa como um passe preciso... não existe nenhum substituto para uma boa
acção técnica de passe e não existe nenhuma estratégia que resista a passes imprecisos". A execução técnico-táctica do
passe é baseada numa atitude que procura levar o centro do jogo rapidamente em direcção à baliza adversária, consub-
stanciando dois aspectos essenciais:
> (1) O aspecto táctico, ou seja, seleccionar o passe: é determinado pela análise da situação momentânea de jogo que
por si estabelecerá o objectivo táctico da execução do passe. Esta análise é baseada em cinco factores: i) a posição dos
companheiros, isto é, a existência ou não de atacantes posicionados ou preparados para explorar espaços vitais do ter-
reno de jogo, por forma a poderem concretizar o desenvolvimento ou a concretização do ataque, ii) a posição dos adver-
sários, que se consubstancia no nível de organização defensiva e a possibilidade de se poder tirar vantagem da sua pre-
cariedade, iii) a zona do terreno de jogo onde se calcula a relação entre o risco e a segurança da execução da acção téc-
nico-táctica (observa-se a diminuição percentual da execução desta acção à medida que o centro de jogo se aproxima da
baliza adversária). Neste sentido, 60% dos passes são executados no meio-campo, devendo-se ao facto destas zonas do
terreno de jogo se constituírem como espaços preferenciais para a preparação e construção das acções ofensivas.
Complementarmente, os jogadores quando perto da baliza adversária têm que encontrar e executar outros procedimentos
técnico-tácticos, tais como o drible/finta ou simulação, que consubstanciam a procura de criação de vantagens para a con-
cretização eficiente do processo ofensivo), iv) o conhecimento por parte do
jogador das suas próprias capacidades de execução do passe seleccionado
e, v) dos objectivos tácticos momentâneos da equipa, cujos pressupostos
compreendem um largo conjunto de factores tais como, o resultado numérico
momentâneo do jogo, do tempo de jogo, quebra do ritmo de jogo do adver-
sário, esperar que os companheiros se desloquem para certas posições que
determinem um elevado nível de organização ofensiva.
> (2) O aspecto técnico, ou seja, a execução do passe que é determinado >>>
pela execução propriamente dita desta acção. Neste sentido existem cinco
factores fundamentais para a execução do passe: i) simular. O atacante dev-
erá simular a sua verdadeira intenção táctica produzindo um conjunto de "falsos sinais", contribuindo assim para que os
defesas adoptem posicionamentos inadequados à situação de jogo, ii) tipo de passe a executar. O tipo de passe depende
largamente da intenção táctica pré-estabelecida pelo atacante. Assim este poderá ter uma amplitude longa ou curta, uma
trajectória alta ou rasa, ser executada com ou sem efeito, iii) o tempo de passe. Um passe executado no tempo correcto
põe o companheiro (receptor) numa posição de má-xima vantagem e, naturalmente torna o trabalho defensivo mais difícil
e complexo, iv) a potência do passe. Um passe eficaz atinge o alvo a uma velocidade que não cria problemas acrescidos
ao companheiro na recepção da bola, pois isto irá ter consequências marcantes não só na relação de comunicação entre
os dois jogadores, como na diminuição da fluidez e ritmo do processo ofensivo e, v) a precisão. Este factor determinará
se o companheiro (receptor) tem ou não que modificar a direccionalidade e o objectivo do seu comportamento para recep-
cionar a bola. "A precisão não é tudo no passe, mas tudo o resto não tem qualquer significado se o passe for impreciso"
(Hughes, 1990).

Todas as superfícies corporais podem ser utilizadas para a execução desta acção técnico-táctica, mas os mais uti-
lizados são: os pés (parte interna, externa e peito do pé), o peito, a cabeça, as mãos (pelo guarda-redes dentro da sua grande
área). O emprego da melhor superfície para passar a bola, será função da situação de jogo, da direcção, precisão e veloci-
dade que queiramos transmitir-lhe. Assim, quanto maior for a área de impacto, maior será a precisão do passe mas menor a
distância que a bola poderá percorrer. Logo, quanto menor for a superfície de contacto, menos preciso será a acção, mas
maior será a distância a que a bola pode ser lançada. Portanto, a parte do pé que oferece maior precisão é a parte interna e
a que permite lançar a bola a uma maior distância é o peito do pé, se não conside-rarmos a ponta do pé.

7. O lançamento da bola pela linha lateral

Definição
Acção técnica de reposição da bola em jogo, executado com as mãos, que deriva da
saída da bola pelas linhas laterais do terreno de jogo.

Objectivo
O lançamento de linha lateral consubstancia em todas as circunstâncias uma acção
técnico-táctica de passe, logo, assume os mesmos objectivos estabelecidos para esta acção. Em
virtude das possíveis modificações às Leis do jogo (que regulamentam o lançamento de linha
lateral), virem a determinar que este seja executado com os pés, consubstanciará duas vanta-
gens fundamentais para a equipa de posse de bola: i) maior amplitude e rapidez na progressão
do centro do jogo em direcção à baliza adversária e, ii) em certas situações de jogo, o ângulo de
lançamento da linha late-ral (em relação à baliza adversária) será mais propício à criação de
situações de finalização.

Execução
Os lançamentos da linha lateral são situações de ataque de inestimável valor por serem execuções muito simples
(com as mãos) de recomeço do jogo. Existem seis aspectos importantes na execução dos lançamentos de linha lateral:
> (1) Executar rapidamente o lançamento da linha lateral.
> (2) Executar o lançamento de linha lateral para um companheiro sem marcação.
> (3) Executar o lançamento de linha lateral em direcção à baliza adversária.
> (4) Executar o lançamento de linha lateral por forma que o companheiro possa recepcionar a bola facilmente.
> (5) Criar o espaço suficiente para que seja eficiente.
> (6) Executado o lançamento, o jogador deverá entrar rapidamente no jogo.

8. O cabeceamento

Definição
É a acção técnica de intervir sobre a bola com a cabeça.

Objectivo
Esta acção, pode, conforme a situação e os objectivos do jogo, estar ligado à recepção, ao passe, ao remate, à con-
dução da bola e à intercepção.

Execução
Existem quatro elementos básicos que concorrem largamente
para uma acção de cabeceamento eficaz:
> (1) Precisão do contacto. As superfícies preferenciais de contacto
com a bola são: i) a testa (é a superfície anatomicamente mais adap-
tada à bola e permite uma maior visão de jogo) e, ii) os parietais (não
permite tanta precisão como a testa, sendo usada como recurso em
função da situação de jogo).
> (2) Manter o contacto visual com a bola. É normal que os olhos
se fechem no momento do contacto com a bola, todavia, é importante
que estes se mantenham abertos até esse momento.
> (3) Gerar potência. Todo o corpo (pernas, tronco e pescoço) devem ajudar a suportar, estabilizar e a gerar potência para
a acção de cabeceamento. Neste sentido, é importante a ligeira inclinação do corpo para trás para que, ao ser impulsion-
ado para a frente em direcção à bola, gere uma maior potência no cabeceamento. As formas de cabeceamento podem ser:
com ou sem impulsão, com ou sem mergulho lateral ou frontal, e com ou sem oposição.
> (4) Atacar a bola. Saltar ou mergulhar para atacar a bola durante o seu trajecto evidencia dois aspectos fundamentais:
i) o chegar primeiro à bola e, ii) o aumento da potência do cabeceamento.

9. O remate

Definição
Entendemos por remate, toda a acção técnico-táctica exercida pelo jogador sobre a bola, com o objectivo de a intro-
duzir na baliza adversária.

Objectivo
O jogo de futebol é objectivado pela concretização do golo. Perseguir continuamente este objectivo, vencendo a
resistência organizada do adversário, é a tarefa mais importante que todos os jogadores de uma e de outra equipa preten-
dem cumprir com a maior frequência possível.

Execução
Existem seis aspectos fundamentais na execução das acções técnico-tácticas de remate:
> (1) Rematar logo que a oportunidade surja. Os jogadores perdem muitas oportunidades de remate (em qualquer nível
de rendimento), pelas seguintes razões: i) na procura de um melhor posicionamento em relação à baliza adversária, ii) pelo
facto de terem receio de não utilizar o pé dominante, iii) por procurarem passar a responsabilidade a um companheiro, iv)
terem medo de errar a baliza e, v) contacto físico.
> (2) Utilizar a técnica mais ajustada à situação de jogo. O tipo de execução téc-
4 nico-táctica de remate depende: i) da trajectória da bola (rasa ou alta), ii) da dis-
tância da baliza (necessidade de se empregar maior ou menor potência sobre a
bola) e, iii) da posição do guarda-redes (posicionando-se entre os postos, ou
deslocando-se em direcção ao atacante).
> (3) Rematar a partir de ângulos eficientes. Os remates executados sob ângu-
los reduzidos necessitam de procedimentos técnicos mais apurados
6 e precisos. Com efeito, a eficácia do remate mo-difica-se consoante
o ângulo sobre o qual este é executado.
> (4) Rematar raso e fora do alcance do guarda-redes. As acções
técnico-tácticas de remate mais eficazes são normalmente direc-
cionadas para o poste mais distante da posição do guarda-redes,
isto é, fora do alcance deste. Daí a necessidade de se seleccionar a
área de baliza mais vulnerável, rematando em trajectória
6 rasa, por forma a forçar o guarda-redes a mover-se da
sua posição de base para defender a bola.
> (5) Criar o espaço para rematar. As aglomerações de
jogadores nas imediações da baliza são frequentes, não
facilitando, nestas circunstâncias, a execução do remate.
Com efeito, os atacantes deverão executar deslocamen-
tos ofensivos de rotura, por forma a des-
6 organizar e "arrastar" os defesas para
outras posições menos eficientes e,
deste modo, criar o espaço suficiente
para o companheiro de posse de bola ter
o tempo necessário para rematar.
> (6)
6 Movimentar-se
logo após o
3 3 remate. Muitos

`3 golos são con-


seguidos devido
a defesas incom-
pletas do guarda-
redes, que ao tentar evitar que a bola entre na sua baliza, a desviam para o espaço
frontal de jogo, tornando fácil a execução de um novo remate (menor distância, melhor ângulo e menor organização defen-
siva).
> (7) Existem três situações nas quais os jogadores não devem rematar: i) quando o adversário está tão próximo que blo-
queará a trajectória da bola, ii) quando a distância é tão grande que a percentagem de sucesso é inaceitável e, iii) quan-
do o ângulo de remate é muito reduzido.

10. A técnica do guarda-redes

Definição
Entendemos por técnica do guarda-redes todas as acções técnico-tácticas específicas, executadas por este
durante o processo ofensivo da sua equipa.

Objectivo
As acções do guarda-redes compreendem formas que visam fundamentalmente o relançamento do ataque da sua
equipa.
Execução
O comportamento técnico-táctico do guarda-redes beneficia de um
estatuto especial dentro da mesma, que se consubstancia pela possibilidade de
fazer uso de todas as partes do corpo (desde que esteja dentro da sua grande
área), e em especial, de intervir com as mãos na bola. Objectiva assim uma mel-
hor protecção e conservação desta, não podendo ser pressionado na sua acção
pelos adversários. Neste sentido, o guarda-redes expressa a sua influência direc-
ta no ataque de 2 formas, que em termos pragmáticos se concretizam: (1) no
relançamento ou, (2) no desenvolvimento do processo ofensivo. Todavia, evi-
>>>
dencia-se o facto, de em alguns momentos do jogo os guarda-
redes (que encerram algumas particularidades espe-ciais - como a 6
envergadura, a capacidade de impulsão, etc.), subirem no terreno
de jogo e participarem nas situações de bola parada (em especial
nos que são executadas perto da baliza adversária - cantos, livres,
lançamentos, grandes penalidades, etc.), procurando finalizar a
acção ofensiva da sua equipa. Por último, a partir da sua posição
de base, o guarda-redes pode observar todo o espaço de jogo e,
conforme as circunstâncias do encontro, aumentar ou diminuir o
ritmo específico do mesmo, através de reposições ou desenvolvi-
mentos (rápidos ou lentos), consubstanciados por passes (longos >>>
ou curtos) para zonas ou companheiros que possam dar melhor
continuidade ao processo ofensivo.

Bibliografia
CASTELO, J., (1996). Futebol - A organização do jogo. Edição do autor. Lisboa
CASTELO, J., (1999) Futbol - estructura y dinamica del juego, INDE Publicaciones, Barcelona
CASTELO, J., (2003) Futebol - Guia prático de exercícios de treino. Visão e contextos. Lisboa
HUGHES, C., (1990) The Winning Formula, Willian Collins Sons, London
A CARACTERIZAÇÃO DO EXERCÍCIO
DE TREINO

JORGE CASTELO

Antes de ler este artigo tenha em consideração os seguintes avisos:


Se acredita, que qualquer exercício de treino tem sempre repercursões positivas relativamente a uma qualquer
modalidade desportiva, a um qualquer praticante, num qualquer momento no seu processo de formação ou durante o
processo anual de treino ... Então, faça um favor a si próprio e não leia este artigo.
Se acredita, que o melhoramento da prestação desportiva de um praticante ou de uma equipa de uma qualquer
modalidade desportiva pode ser realizado a partir do decalque de exercícios de treino que derivam da lógica de outra
modalidade ou especialidade desportiva ... Então, imagine que este artigo não existe e passe de imediato para outro.
Se acredita, que o efeito de transfere é um fenómeno positivo por natureza, a partir do qual a conceptualização, sis-
tematização e aplicação é efectuado sem ter em conta a lógica da modalidade desportiva e a capacidade momentânea
de prestação desportiva do praticante ... Então, continue a acreditar e não leia este artigo.
Se acredita na conceptualização de exercícios de treino, que procuram individualizar os factores de carácter técnico,
táctico, físico, psicológico, social, etc., procurando potenciar cada um destes de forma descontextualizada relativamente à
lógica da modalidade desportiva que pretendemos aprender ou aperfeiçoar, esperando que os seus efeitos parcelares
possam atingir um praticante ou uma equipa provocando elevados níveis de prestação desportiva ... Então, recicle este
artigo e protega a Mãe Natureza.
Se acredita, que uma qualquer modalidade desportiva não tem uma lógica individualizada e intransmissível, uma
razão de ser e de existir, no qual cada comportamento observável em competição tem um significado e uma razão que o
determina ... Então, não leia este artigo porque, para si, todas as modalidades desportivas desenvolvem-se na mesma
direcção.
Se acredita, que ser treinador desportivo ou professor de educação física é assimilar um corpo de conhecimentos,
acreditar neles em quaisquer circunstâncias, lutar evitando que qualquer outro conhecimento possa pôr em causa esses
conhecimentos ... Então, tem uma oportunidade única de provar a si próprio que irá resistir a não ler este artigo, por forma
a não perturbar os seus paradigmas.

Se após estes avisos persistir em ler este artigo ... Então, não alege que o não avisámos.

Para que os efeitos da aplicação regular, racional e metódica de exercícios de treino determinem adaptações fun-
cionais constantes, permanentes e duradoiras, que por si, se manifestam na elevação do rendimento desportivo dos prati-
cantes ou das equipas, qualquer que seja a modalidade desportiva em causa, estes deverão ser caracterizados pela sua
especificidade. Neste sentido, vejamos a opinião de vários autores da Teoria e Metodologia do Treino Desportivo. Para
Manno (1982) “os fenómenos de adaptação que estão na base da elevação do rendimento desportivo, estão ligados à especi-
ficidade do estímulo que no treino é, como sabemos, constituído principalmente pelo exercício”. Do mesmo modo Teodorescu
(1983) refere que “os exercícios devem reproduzir parcial ou integralmente, o conteúdo e a estrutura do jogo”. Este autor
demarca de forma clara a importância dos exercícios de treino corresponderem constantemente à realidade estrutural e orga-
nizativa de um determinado jogo desportivo colectivo. Por fim Bompa (1983) é peremptório ao afirmar que “a especificidade
é o elemento principal requerido para a obtenção do sucesso” o mesmo autor acrescenta que “as adaptações dos praticantes
não se limitam ao problema biológico, mas também se fazem sentir de forma precisa nos factores técnicos, tácticos e psi-
cológicos”. Desta forma, quando pretendemos que este praticante ou aquela equipa criem condições de adaptação por forma
a estabelecer um determinado nível de rendimento, isto só poderá advir, não somente da vontade e da liderança do treinador,
mas acima de tudo, da conceptualização de programas lógicos (inteligíveis) de treino que se praticam de forma regular e
metódica. Assim, a consecução de uma determinada prestação de rendimento é determinada, pela correcta prática dos exer-
cícios de treino que sejam específicos, ou melhor, que se identifiquem total ou parcialmente, com o que se procura atingir.
O exercício de treino tem conhecido ao longo dos anos e preponderantemente na actualidade alterações significa-
tivas quer no âmbito da concepção, no conteúdo, na estrutura e na sua organização. Ora, a especificidade dos meios de treino
são a orientação e a tendência fundamental do treino desportivo na actualidade. Este facto de inegável impacto, obriga a uma
reorganização das prioridades na conceptualização dos exercícios de treino, pois só assim, se poderá concretizar elevadas
prestações desportivas. Esta maior precisão e direccionalidade do treino, traduz-se igualmente na impossibilidade real de um
praticante proporcionar elevados níveis de performance em várias modalidades desportivas de forma simultânea e, inclusi-
vamente, em várias disciplinas do mesmo desporto.

1. Definição de especificidade do exercício de treino

Na perspectiva da Teoria e Metodologia do Treino Desportivo podemos definir, com um elevado grau de segurança,
a especificidade como uma qualidade complexa e constitutiva de uma subdivisão por-
menorizada a partir da globalidade dos exercícios de treino, que se destinguem uns dos outros

Foto publicada pela revista Training


por um carácter característico e por exercerem uma determinada função específica e objectiva
que só a estes é comum. A aplicação prática deste tipo de exercícios traduzem-se por pro-
priedades fundamentais, que são evidenciadas pelas prestações desportivas de elevado valor
por praticantes quando sujeitos à sua aplicação de forma correcta, sistemática e metódica. “A
especialização compreende todas as adaptações estáveis adquiridas pelo organismo do prat-
icante conseguidas através da especificidade das condições e dos contextos situacionais
próprios a cada modalidade ou especialidade desportiva. As características qualitativas e os Foto 1. A especificidade é
seus valores quantitativos constituem-se como manifestações visíveis do processo de adap- uma qualidade complexa que
traduz propriedades funda-
tação funcional que está na base do aperfeiçoamento do praticante” (Verchosanskij, 1988). mentais evidenciadas pelas
prestações desportivas de
elevado valor
2. A importância da especificidade do exercício de treino

Nos distintos domínios da nossa vida social e profissional, observa-se uma crescente
Foto publicada pela revista Training

tendência para a especialização. Esta tendência é, naturalmente visível na mesma propor-


cionalidade para as diferentes didácticas e metodologias, que fundamentam o processo de
treino das múltiplas modalidades desportivas ao mais alto nível de rendimento. Concretamente,
um grupo de praticantes de uma dada modalidade desportiva distinguem-se de outros prati-
cantes de outras modalidades, por um carácter que lhes é específico, e que só a estes é
comum e generalizável.
Ao partirmos do pressuposto, que o único meio de atingir um determinado estado de
Foto 2. A especificidade do treino é realizar quotidianamente exercícios, então é perfeitamente verosímil que as caracterís-
treino é função da especifici-
dade dos exercícios utiliza-
ticas evidenciadas pelo estado de treino do praticante, devem ser o resultado das adaptações
dos
determinadas exclusivamente pelas condições e pelos contextos situacionais específicos

Foto publicada pela revista Training


traduzidos pelos exercícios de treino utilizados. Podemos afirmar com um elevado nível de
probabilidade, que as sessões diárias de prática dos exercícios de treino, “preparam” o organ-
ismo na qual os mecanismos subcelulares são estimulados para transportar alterações adap-
tativas que caracterizam um determinado “estado de treino”. Com efeito, “qualquer escolha
específica, no que concerne ao exercício, obriga a célula a se adaptar de forma a preparar-se
para se proteger contra os efeitos desse exercício. Sendo assim provável, que o exercício
prepara a célula em direcção a uma verdadeira adaptação durante a sua fase de recuperação.
Esta sequência parece correcta porque a célula quando submetida ao exercício, estará Foto 3. A funcionalidade
específica dos diferentes sis-
primeiramente ocupada com os efeitos do exercício, sendo verdadeiramente na fase de recu- temas orgânicos do prati-
peração, que as energias da célula poderão ser eficazmente orientadas em direcção à realiza- cante, são condicionadas por
“pressões adaptativas”
ção das alterações adaptativas” (Edington, 1982). específicas, determinadas por
Em função do que foi referido, podemos afirmar que a especificidade do treino é exercícios específicos os
quais, por sua vez, implicam
função da especificidade dos exercícios utilizados. a existência de um treino
específico
Logo, uma correcta selecção e sistematização da direc-
Foto cedida pelo jornal O JOGO

cionalidade do treino traduz-se, necessariamente, por um aumento das capacidades


de resposta às situações que o treino e a competição contemplam. O rendimento
desportivo é função da especificidade dos exercícios de treino, por outras palavras,
um determinado exercício de treino pode ser mantido durante um período mais longo
de tempo e num nível de exigência mais elevada por um praticante com um determi-
Foto 4. Cada modalidade desportiva tem nado estado de preparação, em comparação com um outro praticante num nível infe-
uma lógica individualizada e intransmis-
sível, uma razão de ser e de existir, no
rior de preparação ou com um indivíduo não treinado. Neste contexto, tem-se igual-
qual cada comportamento observável em mente em consideração, que à partida, existem diferenças biológicas, fisiológicas,
competição tem um significado e uma
razão que o determina motoras e intelectuais entre uma mesma pessoa treinada e não treinada, pres-
supõem-se até, que essas diferenças explicam a maior parte das causas que deter-
minam um aumento da capacidade de prestação desportiva.
A funcionalidade específica dos diferentes sistemas orgânicos do praticante traduzidas pelas suas prestações
desportivas, são condicionadas por “pressões adaptativas” específicas, determinadas por exercícios específicos os quais, por
sua vez, implicam a existência de um treino específico. Neste âmbito, a crescente tendência e orientação fundamental da
Teoria e Metodologia do Treino Desportivo para uma elevada especialização, baseia-se no facto, desta ser essencial por
forma a potenciar e a maximizar os êxitos, e os altos rendimentos quer ao nível individual como colectivo. O organismo
responde aos estímulos externos com transformações de adaptação somente se estas são objectivamente necessárias. Com
efeito, um novo patamar de rendimento desportivo só poderá ser atingido pelos sistemas funcionais que têm capacidade de
satisfazer as exigências que daí derivam. Se estudarmos as características funcionais de
praticantes de diferentes níveis de rendimento é possível distinguir três tendências princi-
pais na dinâmica do grau de preparação condicional em função do rendimento desportivo
obtido (Verchosanskij, 1988):
1. A primeira tendência (A). Caracteriza-se por uma relação linear com o resultado
desportivo. Com efeito, incrementando-se a prática de exercícios de carácter específi-
co, observa-se um elevado grau de correlação com o melhoramento dos resultados
desportivos Figura 1. Dinâmica dos
índices funcionais relativos ao rendi-
2. A segunda tendência (B). Caracteriza-se por um ritmo crescente do incremento da mento desportivo (Verchosanskij,
1988)
capacidade funcional e a sua correlação com o significativo aumento do rendimento desportivo do praticante.
3. A terceira tendência (C). Caracteriza-se por um crescimento em desacelaração constante dos índices funcionais, em
correlação com o resultado desportivo que se debilitam gradualmente. Estas alterações funcionais influenciam, numa
primeira fase, o aumento dos resultados desportivos assumindo depois, um papel preponderante na aceleração crescente
dos índices específicos de capacidade especial do rendimento do praticante.

3. Condicionantes que determinam a especificidade do exercício de treino

Em virtude dos aspectos até agora referidos podemo-nos questionar das razões fundamentais que condicionam e
determinam a necessidade de se conceptualizar, e consequentemente submeter os praticantes e as equipas a exercícios de
treino de carácter especializado. Os argumentos que orientam a aplicação desta tendência no treino desportivo consubstan-
ciam-se na intercepção de dois aspectos essenciais da funcionalidade orgânica do ser humano: (1) as limitações do proces-
so de adaptação do organismo humano e, (2) a inexistência de mecanismos funcionais estritamente especializados.

3.1. Limitações do processo de adaptação do organismo humano

A adaptação funcional do organismo humano não pode ser encarado como um processo ilimitado (nem a curto
nem a largo prazo), pois tem um limite geneticamente determinado. Dito de outra forma, a exigência de um elevado grau de
especialização fundamenta-se, numa primeira análise, pelas limitadas possibilidades de adaptação do praticante, isto é, pela
relativa escassez de reservas funcionais de adaptação. Esta reserva funcional de adaptação é definida pela capacidade do
praticante reagir a exercícios de treino cuja lógica estrutural é determinada, por alterações adaptativas com intuito de con-
cretizar um novo nível funcional suportado, consequentemente, na base
de adaptações anteriores.
Devido a esta limitação adaptativa, a construção dos exercícios
fundamentais de treino devem procurar seleccionar constantemente, as
componentes essenciais e similares (análogas) dos diferentes contextos
que a estrutura da actividade competitiva de uma dada modalidade
desportiva em si encerra. Isto determina a necessidade de se criar, quer do ponto de
Foto cedida pelo jornal O JOGO

vista técnico, táctico, físico e psicológico uma estrutura única de treino, que articule
no seu seio exercícios modelares, isto é, que se estabeleçam como modelos elimi- Fotos 5 e 6. Uma correcta selecção da
nando, por um lado, consumos inúteis de energia e de tempo, e por outro, quando direccionalidade do treino traduz-se por
um aumento das capacidades de respos-
aplicados em condições similares (tipificação) os seus efeitos em termos de adap- ta às situações que o treino e a com-
petição contemplam
tação funcional e a sua relação com o desenvolvimento do rendimento desportivo do
praticante ou da equipa devam ser conhecidos (estandardização). Em última análise, fixando-se coerente e racionalmente o
número de parâmetros e os índices óptimos de prestação desportiva em que o praticante se deve especializar para cada
etapa da sua formação, aumenta-se as possibilidades e as potencialidades de uma adaptação funcional específica do organ-
ismo. Ora, ao tomarmos estes aspectos em consideração e interrelacionando-os com outros, observa-se os seguintes factos
no processo de treino:
1. A preparação especializada. A elevação da prestação desportiva do praticante ou da equipa numa dada modalidade
desportiva deve ser estruturada e organizada, em direcção às necessidades e exigências dominantes traduzidas pelo
seu enquadramento competitivo.
2. Classificação e características dos meios de treino fundamentais. No processo de treino coexistem meios de
treino que se podem classificar segundo o seu carácter: (1) específico. Têm como característica de base uma elevada
relação de significância com a actividade competitiva garantindo, à partida, uma transferência positiva para o desen-
volvimento de uma determinada prestação desportiva e, (2) inespecífico. Têm como característica fundamental uma
relação pouco significativa com a realidade competitiva da modalidade desportiva, logo a sua contribuição para se atin-
gir um determinado nível de prestação é realizada de forma “indirecta”.
3. No treino poderá existir a incompatibilidade dos meios. Devido à existência de meios de carácter específico e
inespecífico observa-se no treino a confrontação directa entre estes dois conteúdos. Daqui se deduz, devido ao facto de
as reservas de adaptação funcional terem um limite, que uma utilização frequente de exercícios inespecíficos : (1) irá
diminuir a concentração e o tempo de treino disponível para a realização de exercícios específicos, os quais, determinam
um maior desenvolvimento da capacidade desportiva do praticante e, (2) poderá igualmente estabelecer uma incompat-
ibilização entre os efeitos de treino dos exercícios inespecíficos sobre as estruturas de suporte à execução e desen-
volvimentos dos efeitos produzidos pelos exercícios específicos.
4. Compatibilização entre os meios específicos gerais e os meios específicos de treino. Para que não haja con-
tradições entre os diferentes efeitos de treino, é fundamental que os meios denominados de gerais sejam conceptualiza-
dos tendo em atenção a estrutura de rendimento inerente a cada modalidade desportiva. Isto significa, que os exercícios
de maior potencial de aprendizagem e aperfeiçoamento, isto é, aqueles mais próximos da realidade competitiva devem
ser suportados (devido ao fenómeno de transfere positivo) pelos exercícios específicos gerais.

Resulta desta reflexão, quer do ponto de vista prático como teórico, que os exercícios devem estabelecer-se como
meios potenciais de treino, sejam quais forem os níveis de formação do praticante (aprendizagem, aperfeiçoamento ou
desenvolvimento), simulando, ou melhor, modelando contextos situacionais que derivem especificamente da actividade com-
petitiva. Partindo deste pressuposto e sequentemente, através de uma constante repetição (frequência) de utilização deste
tipo de exercícios é possível aumentar-se a concentração da actividade do praticante no treino de carácter especializado por
forma: (1) a aproveitar eficazmente as limitadas reservas funcionais de adaptação e, (2) adequar correctamente o praticante
à sua modalidade desportiva, mantendo ou elevando os níveis de exigência no domínio da dificuldade, complexidade e vari-
abilidade dos factores técnicos, tácticos, físicos e psicológicos.

3.2. Inexistência de mecanismos funcionais estritamente especializados

Outro argumento a favor da especialização do processo de treino é-nos referido por Verchosanskij (1988), segun-
do este autor os praticantes não dispõem de um complexo de mecanismos funcionais estritamente especializados. Pelo con-
trário, estes mecanismos têm um espectro amplo e universal de possibilidades funcionais e de uma grande estabilidade face
aos estímulos exteriores. Assim, não existe nenhum mecanismo especial responsável pelo domínio técnico, táctico e físico.
Cada comportamento observável do praticante encerra, aquando das respostas motoras face à solicitação dos problemas
inerentes ao exercício de treino e à competição os mesmos sistemas funcionais complexos, que em última análise, assegu-
ram qualquer tipo ou forma de acção motora no âmbito desportivo.
Consequentemente, no processo de treino os diferentes sistemas funcionais especializam-se nesta ou naquela
direcção, dependendo do grau de especificidade dos exercícios de treino a que são submetidos. Nestes termos, quando o
praticante desenvolve uma capacidade de rendimento especial, este não está directamente relacionada à somação de difer-
entes parâmetros e índices de forma isolada, mas sim e sobretudo, à especialização funcional do organismo que reage ao
exercício de treino específico, em direcção ao rendimento da actividade competitiva própria de cada modalidade desportiva.
“As transformações provocadas por uma adaptação interessam sem excepção, a todos os sistemas funcionais do organismo.
Todavia, poder-se-à facilmente constatar que o ritmo de aperfeiçoamento funcional é mais rápido nos sistemas que são solic-
itados tanto no treino como na competição” (Verchosanskij, 1988).
Nesta dinâmica, a especialização do processo de treino determina a configuração de exercícios com um carácter
complexo no domínio técnico, táctico, físico e psicológico, tomando como referencial situações contextuais integradas ou par-
ciais, da actividade competitiva da modalidade desportiva que se quer aperfeiçoar ou desenvolver. Pretende-se, antes de
tudo, que os exercícios consubstanciam na sua intimidade um potencial de treino dos diferentes parâmetros e índices que
lhe são inerentes, cujo contributo para o comportamento final seja relativizado em função da contextualização da situação.
Tal como refere Martin (2001) “a especialização concentra-se na aquisição de um rendimento desportivo, que por si, assume
as aptidões necessárias para dominar as diferentes situações de uma modalidade desportiva de forma óptima e eficaz”

4. Concepção dos exercícios de treino de carácter especializado

As orientações metodológicas para a conceptualização de exercícios de treino de carácter especializado traduzem-


se, numa primeira etapa, por uma análise mental lógica: (1) de abstracção na qual se considera em separado aquilo que na
realidade o não está, assim destaca-se os elementos considerados mais importantes do todo e, (2) de generalização através
do qual se une os elementos específicos que se aplicam a um grande número de situações, isto é, representa o que há de
“uno” entre “muitos”. Com efeito, é através desta operação lógica de abstracção e generalização que se estabelecem as ideias
gerais ou genéricas das características que são comuns às diferentes modalidades desportivas, simplificando desta forma o
conhecimento da sua lógica interna e paralelamente lhe dar um alcance que se pretende ilimitado.
Em função desta primeira operação lógica dever-se-à, sequencialmente, efectuar uma racionalização exaustiva,
tanto quanto possível, do maior número de parâmetros (elementos) fundamentais que derivam do contexto competitivo e na
sequência desta operação objectivar metodologicamente os diferentes índices de carácter qualitativo e quantitativo óptimos
de prestação desportiva, por forma a identificar concretamente o “estado de treino” para cada etapa de preparação exigível
a um determinado praticante ou equipa. Aplicando, numa primeira análise, os conceitos de abstracção/generalização segui-
do de processos de racionalização/objectivação, a dinâmica consequente da optimização do processo de treino e natural-
mente dos exercícios que lhes estão na base, exprime-se de uma forma genérica sob duas vertentes metodológicas opera-
cionais: (1) a redução do número de exercícios de treino e, (2) o aumento significativo do número de repetições do mesmo
exercício de treino ou variantes deste.

4.1. A redução do número de exercícios de treino

Esta constatação deriva do facto de se aplicar processos de modelação do exercício de treino através dos quais
se procura correlacionar o exercício de treino com as exigências específicas da competição, com base nos índices mensu-
ráveis das componentes de rendimento. Segundo este raciocínio, quanto maior for o grau de correspondência entre os mod-
elos utilizados (exercícios de treino) e a competição de uma dada modalidade, melhores e mais eficazes serão os seus
efeitos, fundamentando-se assim a optimização do processo de treino. A conceptualização de exercícios de preparação
específica passam pela construção de modelos parciais ou integrais, que procuram representar, fielmente, a realidade com-
petitiva de uma dada modalidade desportiva. Estes modelos procuram assim, consubstanciar exercícios de treino que esta-
beleçam um elevado grau de concordância (identidade) com os contextos situacionais da competição, havendo sempre
espaço para a originalidade de quem ensina e a criatividade de quem treina. Desta forma, o desenvolvimento dos diferentes
factores de treino, como sejam as qualidades físicas, técnicas, tácticas e estratégicas, se efectuem conjuntamente, em climas
de elevada tensão psicológica, com o objectivo de a acelerar e a intensificar os processos de adaptação do praticante ou da
equipa. É através do processo da modelação, segundo Teodorescu (1987), os exercícios de treino passam primeiramente por
uma:
1. Tipificação. Implica a selecção e síntese das componentes essenciais e similares (análogas) das diferentes fases da
competição, quer do ponto de vista técnico, táctico, físico e psicológico, numa estrutura única (indivisibilidade dos factores
de treino), procurando eliminar os consumos inúteis de energia e de tempo.
2. Estandardização. Tem um carácter modelador do esforço e das acções técnico-tácticas desenvolvidas durante a com-
petição. Os exercícios estandardizados quando aplicados em condições similares os seus efeitos (eficiência/resultados)
são aproximadamente conhecidos.

Paralelamente a esta orientação tendencial do treino desportivo, procura-se uma utilização de materiais e equipa-
mentos “que permitam explorar a totalidade das reservas funcionais do organismo ou aproximar-se da perfeição técnica de
execução das acções motoras” (Platonov, 1988). A cada modalidade desportiva, corresponde um número suficiente de exer-
cícios de preparação específica que correspondem de forma mais ou menos idêntica à realidade competitiva. Todavia, é
importante sublinhar a exigência destes exercícios conservarem um elevado potencial de treino, especialmente quando são
dirigidos a praticantes de alto nível que deverão corresponder às condições de competição e mesmo em condições mais
adversas daquelas que aí se verificam.

4.2. O aumento significativo do número de repetições do


mesmo exercício de treino ou variantes deste

Esta constatação resulta da importância de se aplicarem exercícios conceptualizados a partir de uma estrutura e
organização que determinam uma eficácia máxima, e por essa razão deverão ser frequentemente repetidos por forma: (1) a
pressionar os mecanismos de adaptação funcional do praticante, (2) a manipular diferentes níveis de adaptação funcional
relativamente aos diferentes estados de preparação do praticante e, (3) a aprofundar eficientemente essa adaptação fun-
cional específica. Neste domínio a concepção do exercício de treino deverá estabelecer uma prática variável das condições
contextuais, através da manipulação de diferentes parâmetros de resposta motora, em função de um problema específico
colocado por cada exercício de treino. Parte-se do princípio que a estruturação de um contexto variável das condições de
prática contribui para a construção de esquemas motores mais genéricos, isto é, mais adaptáveis e ajustáveis às diferentes
situações que os exercícios de treino em si encerram. Desta forma, manipulando-se a sequência da prática de um número
de comportamentos motores similares num contexto de aperfeiçoamento ou desenvolvimento interfere-se no melhoramento
de outras acções. Assim, a conceptualização do exercício de treino, a organização da sessão de treino e o processo em que
o praticante se envolve durante a sua realização, são fontes potenciais de interferência contextual, definida como uma inter-
ferência funcional introduzida na prática de uma resposta motora resultante de um leque de opções e de decisões, por forma
a favorecer a sua aprendizagem ou aperfeiçoamento. Neste sentido aumenta-se:
1. A capacidade do praticante em memorizar informação relacionada com a resposta motora (reforça a resistência ao
esquecimento).
2. A capacidade de discriminação de pequenas e subtis variações da situação (identificação e retenção dos índices
pertinentes).
3. A possibilidade de potenciar o efeito de transfere positivo através da evocação de experiências anteriores (dimin-
uindo-se significativamente o tempo de aprendizagem e aperfeiçoamento da resposta motora).

5. Factores de que depende a especificidade do exercício de treino

Cada exercício de treino consubstancia uma resposta específica, quer no plano biológico, motor e cognitivo, que
resulta intrinsecamente do nível de exigência, isto é, da interrelação das suas componentes e condicionantes estruturais. Com
efeito, a correcta construção de um exercício de treino é função de duas vertentes indissociáveis e essenciais, que se esta-
belecem como as duas faces de uma mesma verdade: (1) o nível de preparação do praticante e, (2) o grau de identidade do
exercício de treino. A conjugação destas duas grandes vertentes determinam inquestionavelmente o nível, ou melhor, o grau
de profundidade de especialização do praticante à sua modalidade desportiva.

5.1. O nível de preparação do jogador

A lógica do processo de treino nos seus diferentes níveis de estruturação e programação, e mais concretamente o
exercício encarado como a sua unidade de base, resulta da aproximação da lógica interna da modalidade desportiva e da
lógica da aprendizagem e desenvolvimento do praticante. Estas duas lógicas (modalidade - praticante) são caracterizadas
pela sua relativa independência, uma vez que podem ser estudadas, reflectidas e analisadas separadamente, mas também,
pela sua interdependência, pois, necessitam uma da outra para potenciar a essência da identidade que as determinam.
Contudo, devido a uma necessidade operacional estas duas identidades acabam por gerar uma outra - o exercício de treino
desenvolvendo-se num ciclo existencial que:
1. “Nasce” da reflexão intelectual do treinador na procura dos melhores meios para elevar racionalmente as capacidades
desportivas dos seus praticantes ou da sua equipa.
2. “Vive” durante o tempo da sua aplicação na qual o praticante terá que respeitar as suas pres-crições e obrigações por
forma a potenciar um certo comportamento motor específico.
3. “Morre” logo após o terminus da sua execução, deixando no entanto, a sua sustentável existência traduzida nos efeitos
de origem interna que produzem no praticante a curto, médio ou longo prazo.
4. “Ressuscita” através da continua e sistemática aplicação do mesmo ou de outros exercícios de carácter mais com-
plexo que se desenvolvem na base dos primeiros.
5. “Auto-regenera-se” devido à necessidade de se estudar os seus efeitos (de carácter positivo ou negativo) por forma
a se compreender a que nível qualitativo e quantitativo se interveiu na elevação, manutenção ou redução da capacidade
de prestação desportiva do praticante.

Figura 3. O ciclo de existência do exercício de durante o processo de treino

Neste sentido, o exercício de treino não se consubstancia na atribuição de um valor absoluto a si próprio, este é
condicionado relativamente às capacidades momentâneas de quem o pratica. Isto significa, que a reacção orgânica ao exer-
cício é altamente individualizada tendo o treinador de forma simultânea ter em consideração dois critérios de apreciação: (1)
o carácter externo que se traduz nas informações sobre o exercício no que se refere às suas prescrições e obrigações e, (2)
o carácter interno que se traduz nas repercussões ou reacções no interior do organismo do praticante. Assim, o exercício de
treino pode ser considerado como a causa, enquanto que as adaptações funcionais e psicológicas que derivam da sua apli-
cação é considerada o efeito. Embora o exercício seja uma entidade exterior ao praticante, a sua aplicação deixa sempre um
traço no organismo que será tanto mais profundo, quanto mais específico e ajustável for às condições iniciais. É por esta
razão, que se deve considerar, que a aplicação de um mesmo exercício de treino em
momentos diferentes (no tempo), nem sempre reproduzem uma relação interna similar,
logo, a adaptação interna é função de um potencial individualizado no qual o seu efeito
somente pode ser estimado em termos gerais.
Nesta perspectiva, os efeitos do exercício de treino variam em função das
condições objectivas em que estas se realizam. Naturalmente em muitas circunstâncias

Foto cedida pelo jornal O JOGO


existe uma disparidade na explicação teórica entre a causa e o efeito. Isto acontece quando se con-
sidera que todos os efeitos observados derivam de causa conhecidas, ou seja, a teoria actual é sufi-
ciente para explicar todos os fenómenos. Daqui nasce a necessidade de se analisar conveniente-
Fotos 7 e 8. O nível de
mente por forma a atribuir a cada efeito a sua verdadeira causa. Quanto mais elevado o fenómeno preparação do jogador
no momento da apli-
ocupa no encadeamento das causas, tanto mais numerosas são as diferentes circunstancias que o
cação do exercício é
determinam. “Fora da teoria nada é visível para ver outra coisa é necessário mudar de teoria” condição fundamental
para que os seus
(Bernard, 1978). efeitos sejam condu-
O exercício de treino uma vez conceptualizado e aplicado comporta em si próprio um centes com os objec-
tivos programados
meio, que irá determinar a capacidade e o nível de prestação desportiva daquele que o executa.
Neste contexto, o meio é qualquer coisa que influencia o comportamento do praticante no sentido da limitação do campo das
suas possibilidades e capacidades. Logo, o mesmo meio de treino aplicado a diferentes praticantes ou ao mesmo praticante
em momentos diferentes da sua preparação, podem provocar diferentes níveis de adaptação, uma vez que este depende fun-
damentalmente da capacidade inicial (momentânea) de rendimento de cada um deles e em cada espaço temporal. Assim,
por exemplo, para praticantes que estão num estado de preparação avançado esse treino pode ser diminuto, isto é, não atinge
o limiar de adaptação, logo não pode reproduzir qualquer efeito enquanto para um principiante poderá ser demasiado eleva-
do e se for continuamente repetido, poderá originar um estado permanente de incapacidade de elevação da prestação
desportiva. É fundamentalmente por esta razão, que o treinador deva planear as exigências do exercício de treino de acordo
com as capacidades de rendimento de cada praticante.

5.1.1. O nível de preparação do praticante no momento de aplicação do exercício

O nível de preparação do praticante ou da equipa no momento da aplicação de um determinado exercício de treino,


é condição “sine qua non” para que os seus efeitos sejam conducentes com os objectivos pré-progamados. Tal como refere
Edington (1982) "um exercício provoca uma resposta específica em cada indivíduo e num momento específico temporal",
acrescenta ainda que "ao examinarmos os efeitos da actividade desportiva sobre o corpo humano, constatamos que as
exigências específicas de exercícios específicos determinam respostas biológicas específicas. Neste sentido, vários trabal-
hos de investigação vêm comprovar os seguintes aspectos dinâmicos:
1. A existência de fontes energéticas específicas para diferentes exercícios
específicos.
2. A existência de diferentes mecanismos do sistema nervoso central e periférico
encarregues de possibilitar a acção, tais como o recrutamento, a frequência e a sin-
cronização dos neurónios motores que influenciam de forma directa o controlo dos
órgãos efectores.
3. Os efeitos do treino são específicos em função da intensidade e duração do pro-
grama de treino.
Figura 3. As fontes energéticas 4. Programações e reprogramações específicas de esquemas motores de acção
específicas em função da intensidade e a
duração do exercício que se formam tendo em conta as experiências anteriores e que estão
armazenadas na memória, e em função da contextualidade da situação.
5. Os conceitos de exercício e de treino têm uma base a nível celular. Assim, "os órgãos e sistemas de órgãos sub-
metidos a esforço, desenvolvem-se funcional e morfologicamente, enquanto que os órgãos inactivos serão reduzidos à
sua estrutura e função" (Proença, 1990).

No estrito enquadramento do referido, há que compreender pro-


fundamente as possibilidades de aplicação de um determinado exercício
de treino, isto é, conhecer os seus efeitos específicos nos diferentes
domínios biológico, motor e intelectual por forma a adequá-lo correcta-
mente com os objectivos propostos. Neste sentido, podemos salientar que
os efeitos traduzidos por um determinado exercício de treino provocará
sempre: (1) diferentes respostas (efeitos) em diferentes praticantes (indi-
vidualização biológica) e, (2) diferentes respostas (efeitos) no mesmo prat-
icante em diferentes momentos do seu estado de preparação (adap-
tação). Finalizando, importa ainda estabelecer os seguintes aspectos fun-
damentais:
Figura 4. Cada exercício suporta os efeitos
1. Quanto mais perto o exercício estiver da capacidade momentânea
do exercício seguinte e simultaneamente diminui o poten-
do praticante tanto maior será a probabilidade deste provocar um cial de treino ao aproximar-se da capacidade de rendi-
mento máximo
aumento da sua capacidade de rendimento.
2. O potencial de treino dos exercícios utilizados diminuem com o aumento de capacidade de rendimento do praticante.
Logo, é importante inserir na preparação dos praticante ou da equipa formas coerentes de treino e espaçadas no tempo
alicerçando-se em diferentes exercícios com diferentes potenciais de treino.
3. A aceleração do rendimento do praticante só poderá ser alicerçado em diferentes meios com diferentes potenciais de
treino (por exemplo o exercício 1, 2, 3, ou 4).
4. A aplicação de um exercício mais eficaz (por exemplo exercício 4) só deverá ser utiliza-
do quando organismo está preparado no plano funcional para o suportar, pois isso acar-
retaria numa excessiva intensificação do treino, alterando a direcção natural do processo de
adaptação do praticante.

Mesmo os exercícios de preparação especial devem ser utilizados numa certa


sucessão coerente. Verchosanskij (1988), refere um exemplo relacionado com o treino da
Figura 5. Uma sequência
força muscular estabelecendo uma sequência lógica, por forma que os meios de treino
lógica de aplicação de meios para o precedentes criem sempre condições favoráveis para a utilização eficaz de outros exercí-
treino da força muscular
(Verchosanskij , 1988) cios de treino.

5.1.2. A especificidade e o efeito de transfere

Um exercício específico provocará uma determinada resposta específica num determinado praticante num tempo
específico. Isto significa que o efeito biológico final de um exercício de treino está em relação directa com a sua especifici-
dade. A especificidade do exercício de treino permite um mínimo de transfere de uma actividade para outra. Por exemplo, se
executarmos quotidianamente uma certa actividade específica, constatamos rapidamente que estamos "treinados" nessa
actividade. Contudo, ao executarmos uma nova actividade somos incapazes de competir com aqueles que já estavam treina-
dos nessa actividade. Um sinal dessa especificidade é revelado por algumas dores musculares que sentimos após as
primeiras tentativas nessa nova actividade. Os músculos doridos são os músculos mais específicos dessa nova actividade.
Esses músculos não funcionavam tão intensamente durante os períodos de treino da actividade precedente. Adverte-se
assim para o facto, de os processos de adaptação específica e de aumento de rendimento especializado serem prejudica-
dos quando predomina o treino de outros factores, mesmo tratando-se apenas de ocorrência temporária.

5.2. O grau de identidade do exercício de treino

Cada modalidade desportiva comporta em si mesma, uma identidade própria individualizada e intransmissível. Com
efeito, esta identidade apresenta na sua natureza (intimidade) uma actividade específica que está em correlação permanente
com as suas componentes (volume, intensidade, etc.,) e condicionantes estruturais (o regulamento, o espaço, o tempo, a téc-
nica etc.). Forma-se assim, uma cumplicidade lógica específica e multidimensional que só tem sentido e significado em si
mesma. Na mesma e precisa dimensão, cada exercício de treino terá um grau de identidade, inapelavelmente, se fundamenta
nos diferentes níveis de relação existente entre este e as condições objectivas em que se desenrola a competição nessa
actividade desportiva. Isto significa, que o grau de especificidade estabelece uma plataforma de relação, ou melhor, um grau
de significação (concordância) com a lógica da modalidade desportiva em causa.
Se compararmos a capacidade de resistência (adaptação específica) entre o melhor maratonista, nadador e ciclista
de fundo do Mundo, as suas diferenças irão situar-se fundamentalmente na estrutura da resposta motora predominante
(acção técnica), no sistema muscular (órgãos efectores) e nas fontes energéticas (anaeróbia e aeróbia) que a suportam. Com
efeito, as diferenças entre estes atletas não se estabelecem, por exemplo, na capacidade de absorção máxima de oxigénio
(Vo2 máx.), na concentração de ácido láctico ou na função cardiovascular, que apresentaram basicamente os mesmos ele-
vados valores durante a prática de cada um dos atletas na modalidade correspondente. A coincidência observável nestes
parâmetros biológicos, efectivamente demonstra a existência de uma resistência de base (adaptação inespecífica) de suporte
a uma adaptação específica, que só pode ser alcançada através da utilização de exercícios específicos da própria modali-
dade, isto é, que respeite a sua estrutura lógica. Se um qualquer dos atletas citados procurar, de um momento para o outro,
praticar uma das outras modalidades, não será de estranhar, que os níveis de rendimento alcançados serão insuficientes rel-
ativamente a um qualquer atleta mediano que pratica de forma regular essa mesma actividade. Isto significa, que os eleva-
dos parâmetros biológicos de adaptação específica do atleta à sua modalidade traduzem-se numa incapacidade de con-
cretizar prestações desportivas elevadas na modalidade desportiva que não lhe é familiar. Platonov (1988) refere basica-
mente as mesmas conclusões quando comparou
nadadores de elite com nadadores com a mesma idade e
morfologia, que praticavam essa modalidade num nível de
rendimento menos elevado. Através de um teste no ciclo-
ergométrico verificou-se que ambos os grupos de
nadadores apresentavam os mesmos valores de consumo
Foto cedida pelo jornal O JOGO

máximo e de débito de oxigénio.


Perspectivando outro ângulo do problema da especificidade, não é
necessário ser-se altamente especializado para se concluir que todas as
modalidades se exprimem por acções motoras (procedimentos técnicos) difer-
enciados. Neste domínio, tem todo o sentido evidenciarmos que essas acções
Fotos 9 e 10. Cada exercício de treino deverá
motoras são realizadas a partir de diferentes controlos e programações comportar um grau de identidade que se funda-
menta nos diferentes níveis de de relação entre
motoras, isto é, embora todos os procedimentos técnicos apresentem intrin- este e as condições objectivas em que desenrola
a competição
secamente as suas próprias exigências no que se refere à complexidade, dificuldade, do grau de incerteza consoante o con-
texto situacional etc., suportam-se em mecanismos cognitivos, em fontes energéticas e nos aspectos de ordem afectiva, os
quais por sua vez, são desencadeados numa profundidade e proporcionalidade diferenciada para cada caso, ou seja, para
cada acção motora. Naturalmente se compararmos um jogador de basquetebol e um atleta de salto em comprimento verifi-
camos que qualquer um necessita dos mecanismos de adaptação motora em virtude dos circunstancialismos da situação
competitiva em que estes estão inseridos. Todavia, o jogador de basquetebol necessitará de utilizar um maior número de
mecanismos de controlo motor devido à incerteza da situação, da necessidade de percepcionar e analisar as informações
pertinentes que ocorrem à sua volta, da necessidade de tomar decisões no tempo e no espaço correctos, de aspectos que
derivam do árbitro, do público etc. Enquanto no caso do atletismo o envolvimento não varia substancialmente, no basquete-
bol a variação é a própria essência da modalidade. Logo, o treinador conhecendo e percebendo a lógica interna da sua
modalidade deve conceptualizar exercícios de treino que criem condições objectivas de optimizar o comportamento do prat-
icante nas suas diferentes dimensões: técnico, táctico, físico e psicológico de forma integral que se exprime em acções
motoras consistentes relativamente aos contextos situacionais em que predomina esta variação. Isto significa, na opinião de
Pérez e Banuelos (1997) “que a acção motora deve ser regulada de forma a adaptar-se às perturbações que a situação com-
petitiva normalmente impõe”. Já Wallon (1959) referia que a chave não está “no praticante fixar-se num certo encadeamento
de acções musculares, mas sim em desenvolver uma autonomia para que este seja capaz de seleccionar acções muscu-
lares para resolver cada situação”. Concluindo, o mais importante não é aperfeiçoar o “gesto técnico”, mas sim a acção téc-
nica encarada não como um fim em si mesmo, mas como um meio para conseguir superar o adversário ou a si próprio.

5.2.1. A base operacional do exercício e a lógica da modalidade desportiva

Cada exercício de treino provoca efeitos em termos de uma adaptação funcional precisa e específica. Para que isto
aconteça, é necessário estabelecer-se uma correspondência exacta (analógica) entre a base estrutural e operacional do exer-
cício e a lógica da modalidade desportiva. Fundamentalmente no que refere:
1. À possibilidade de precisar o contexto situacional. Cada exercício de treino deverá simular diferentes contextos
situacionais por forma a obrigar o praticante a aplicar diferentes soluções
Foto publicada pela revista Painel

de carácter estratégico e táctico em função dos problemas que a com-


petição apresenta. No decurso destas soluções, o praticante deverá
responder com procedimentos técnicos específicos por forma a resolu-
cionar eficazmente esses mesmos problemas.
2. À possibilidade de modelar o exercício de treino. Cada exercício de
treino deverá correlacionar-se com as exigências específicas da com-
petição, respeitando-se neste sentido, a interacção dos diferentes
parâmetros de preparação. Assim, modelar significa igualmente regular a Foto 11. É fundamental precisar o contexto situa-
cional por forma a modelar correctamente o exercí-
dinâmica condicional (física) do exercício mantendo níveis de exigência cio de treino
elevados no que concerne à execução bem como à aplicação de carác-
ter activo/passivo e completas/incompletas por forma a estabelecer-se diferentes tipos de recuperação do praticante,
entre a aplicação de dois ou mais exercícios de treino.
3. À possibilidade de criar de condições ambientais (externas). Cada exercício de treino deverá recriar condições
ambientais óptimos e similares ao contexto competitivo, que se irão traduzir num maior domínio por parte do praticante,
dos factores de carácter psicológico e emocional.

É fundamental e compreensível, a essência desta analogia entre a lógica da modalidade desportiva que se quer
aperfeiçoar e desenvolver, e a construção e aplicação de
exercícios de treino cuja estrutura proporciona uma aprox-
imação, mais ou menos integral da realidade. Com efeito,
só assim se consegue assegurar um estrito e preciso
domínio dos efeitos de treino, ou por outras palavras, uma
adaptação específica do praticante ou da equipa, que se
exprime segundo uma precisa e correcta direcção. Nesta
perspectiva, quanto mais o exercício de treino reproduzir
parcial ou integralmente a lógica ou parte dessa lógica
(fases) interna da modalidade, maior será o seu grau de
identidade, por via de razão, quanto maior for este grau
Figura 6. As relações analógicas entre a lógica interna do jogo de futebol
maior será a especificidade do exercício. Finalizando as e a sua lógica didáctica
questões inerentes à importância da operacionalidade
entre o exercício de treino e a lógica da modalidade, importa referir a opinião de Queiroz (1986) o qual evidencia, sem mar-
gens para dúvidas, que a lógica didáctica do jogo de futebol só terá coerência e racionalidade (inteligibilidade) se se cor-
relacionar com a sua lógica interna. Isto significa, que a didáctica do jogo deverá conter em si mesma, um conjunto de meios
de treino que confrontam de modo específico o praticante ou a equipa com fases, formas e factores que caracterizam a lóg-
ica interna do jogo, tendo sempre em mente os diferentes níveis e estruturação e complexidade das situações de treino con-
soante os níveis de prestação desportiva atingidos pelos praticantes.

5.2.2. As relações de inteligibilidade entre o exercício


e a modalidade desportiva

As atitudes e as execuções motoras dos praticantes, em resposta aos diferentes contextos situacionais que a com-
petição em si determina, devem ser interpretadas numa dimensão de inteligibilidade. Com efeito, as acções motoras obser-
vadas, resultam de complicados processos cognitivos, sendo o “produto” de uma racionalização, e por via disso, inteligíveis.
Partindo da realidade deste pressuposto, a construção dos exercícios de treino deverão exprimir de forma global ou parcial,
essa inteligibilidade (do ponto de vista regulamentar, motor, intelectual e psicológico), sem a qual a prática por mais volumosa,
intensa, densa ou frequente que seja, não terá um efeito positivo (o exercício é a causa e a adaptação é o efeito). Assim, as
horas de dedicação, esforço, vontade, etc., nas muitas sessões de treino realizadas de acordo com a programação anual,
deixam de ter qualquer sentido e significado, quando a lógica dessa inteligibilidade não é respeitada, devido à conceptual-
ização inadequada de exercícios de treino a que os praticantes irão, posteriormente, ser submetidos. A recuperação do sen-
tido e significado do treino, só pode ser conquistada através de uma relação lógica e inteligível entre o exercício de treino, a
estrutura de modalidade desportiva e as capacidades iniciais do praticante.
Nestas circunstâncias, a inadequação do exercício de treino em relação à lógica da modalidade desportiva, bem
como à capacidade momentânea do praticante não é somente supérfluo como também negativa, pois determinará:
1. Elevados custos na mobilização dos diferentes recursos (informacionais, energéticos e afectivos) de suporte à efec-
tivação da acção.
2. Elevadas implicações na estabilização dos comportamentos motores em fase de aprendizagem, como naqueles que
já foram adquiridos e aperfeiçoados (desautomatização do comportamento).
3. Elevadas incapacidades do praticante ler correctamente os contextos situacionais que derivam da competição. Este
facto advém do praticante ser privado durante o treino da estimulação provocada pelos diferentes sinais pertinentes que
cada situação específica em si encerra.
4. Elevados desajustamentos cognitivos que suportam e fundamentam os processos de tomada de informação e de
tomada de decisão.

5.3. As relações intrínsecas entre os factores de que depende


a especificidade do exercício de treino

Dos dois factores de que depende a especificidade do exercício de treino - nível de preparação do praticante e o
grau de identidade do exercício de treino, importa evidenciar os seguintes quatro aspectos fundamentais:
1. Cada exercício de treino com carácter específico determinará a elevação da prestação desportiva. O praticante
estando sobre o domínio de uma programação de treino que inclua preferencialmente exercícios de treino com carácter
específico determinará a elevação da prestação desportiva. Não respeitar este aspecto, será negativo para a evolução
do praticante, não só, pelos elevados custos devido à utilização dos diferentes recursos para efectivar a acção, das impli-
cações que se verificam na estabilidade das respostas motoras, bem como dos desajustamentos de âmbito cognitivo
aquando da tomada de informação e decisão.
2. Cada exercício de treino objectiva um determinado nível de especificidade. Este nível de especificidade, depende
claramente, do grau de identidade entre o exercício de treino e a lógica interna da modalidade desportiva que se quer
aprender, aperfeiçoar ou desenvolver. Com efeito, o exercício de treino só pode ser considerado específico se conter na
sua lógica de exercitação, as vertentes estruturais que são inerentes à prática de uma dada actividade desportiva.
3. Cada exercício de treino provoca uma resposta específica. Essa resposta específica é função: (1) da capacidade
inicial do praticante, isto é, do momento específico da sua realização. Assim, o mesmo exercício de treino terá efeitos
específicos diferentes, consoante o nível de preparação do praticante ao longo do seu processo anual de treino, (2) da
individualização biológica que é diferente para cada praticante. Logo, o mesmo exercício de treino provocará efeitos difer-
entes em praticantes diferentes e, (3) da adaptação que não se resume somente ao factor biológico, mas também, ao
nível técnico, táctico e psicológico.
4. Cada exercício de treino deverá correlacionar as capacidades do praticante e a lógica da modalidade desporti-
va. Quanto mais o exercício consubstanciar uma melhor correlação entre as capacidades iniciais do praticante e o grau
de relação com as condições objectivas em que se desenrola a competição dessa actividade desportiva, maior será a
“pressão” exercida sobre os mecanismos biológicos, comportamentais e cognitivos que suportam as adaptações do prat-
icante. Na mesma medida, quanto maior for a capacidade de adaptação do praticante em responder eficaz e eficiente-
mente, aos diferentes contextos situacionais específicos de forma regular, metodológica e sistemática maior será a pos-
sibilidade deste atingir elevados níveis de prestação desportiva.

Finalizando, a especificidade não pode ser considerada como um fim em si própria, mas sim, como um pressuposto
fundamental na conceptualização e estruturação dos exercícios de treino cujo desenvolvimento suportará no futuro, modelos
de treino distintos que reproduzam total ou parcialmente, para cada modalidade desportiva em diferentes dimensões (por
exemplo: técnico, técnico-tácticos, de ambiente, etc.), construídos à semelhança (isomórfica ou analógica) da realidade com-
petitiva. Importa neste momento reflectir a especificidade do exercício de treino sob dois ângulos possíveis de análise: moto-
ra e biológica. No plano motor é certo que a especificidade e a generalidade da acção não são exclusivas, representam sim,
diferentes e complexos níveis de controlo e regulação motora. Assim, é fundamental compreender a complexidade de cada
uma delas na resposta aos contextos específicos impostos por cada exercício de treino. Tal como refere Pérez e Banuelos
(1997) “é muito difícil que o mesmo praticante realize duas vezes uma acção exactamente igual, este necessita, antes de tudo,
realizar constantes adaptações que se podem considerar novas variações sobre o mesmo tema... Esta capacidade pode ser
explicada pela existência de programas motores gerais”. Com efeito, a correcta e consciente conceptualização do exercício
de treino expressa-se sob contextos situacionais específicas, os quais determinam diferentes condições iniciais cujos efeitos
consubstanciam, por sua vez, um repertório de respostas motoras adaptadas aos circunstancialismos da situação. Só assim
é possível que o praticante construa ao longo da sua vida desportiva programas motores e regras (princípios) de acção que
pela sua “simples” modificação se poderão adaptar com relativa rapidez a uma nova situação-problema. Este facto possibil-
itará um armazenamento na memória de um menor número de programas motores sem perder os seus níveis de eficiência
eficácia. Noutro plano, a especificidade encarada como princípio biológico do treino ou como característica fundamental do
exercício, deverá estar aberta (atenta) às alterações por si produzidas hoje e que a evolução da estrutura das actividades
desportivas transportaram para o futuro. Pondo o acento tónico nesta questão, é um dado inquestionável, ou melhor, uma
certeza e uma convicção de que a especificidade dos meios de treino é a característica fundamental para o desenvolvimen-
to e a elevação da prestação desportiva do praticante ou da equipa. É através de uma análise sistemática do conteúdo de
carácter técnico, táctico, físico e psicológico que é possível construir um guião por forma a estabelecer diferentes níveis de
complexidade cuja progressão pedagógica terá que responder aos desafios estabelecidos por cada nível de capacidade
apresentado pelo praticante. Assim, a questão que se coloca é como se conceptualiza uma tecnologia didáctica que propor-
cione diferentes níveis de complexidade secundado por exercícios de treino com diferentes níveis de identidade por forma a
respeitar simultaneamente as capacidades iniciais (momentâneas) do praticante, isto é, atingir diferentes realidades ou difer-
entes níveis de formação, sem nunca desvirtuar a realidade lógica da modalidade. Esse é o grande esforço que o treinador
deve fazer quer do ponto de vista intelectual quer profissional.

6. Classificação dos exercícios de treino em


função da sua especificidade

Os exercícios são caracterizados pela sua especificidade. Com efeito, o seu conteúdo pode ser analisado na base
do seu grau de identidade (correspondência) mais aproximado ou mais longínquo, consoante o nível de relação entre estes
e as condições objectivas em que se desenrola a competição nessa actividade desportiva. Neste contexto, numa avaliação
preliminar e essencial podemos estabelecer dois grandes tipos de exercícios de treino: (1) os de preparação específica e, (2)
os de preparação geral.

6.1. Os exercícios de preparação específica

Os factos referenciados obrigam-nos a clarificar, em que medida se pode entender correctamente os diferentes
exercícios de treino no seu domínio específico e perspectivá-lo para uma visão mais ampla da Teoria e Metodologia do Treino
Desportivo numa determinada modalidade. Tomemos por exemplo uma sessão de treino no basquetebol. Imagine-se um
exercício de 3x3 sobre uma tabela, num espaço reduzido e mantendo-se válidos os regulamentos inerentes à modalidade.
Partindo destes pressupostos básicos, não temos dúvidas que o exercício tem um carácter específico. Esta especificidade
advém do facto do exercício fazer interagir na sua lógica de exercitação dos jogadores os factores estruturais fundamentais
do basquetebol, isto é, a sua lógica interna. Senão vejamos, o exercício é realizado num certo espaço, num certo tempo, com
procedimentos técnicos próprios da modalidade, estabelecendo compromissos comunicacionais de cooperação e oposição,
exprimindo uma dimensão táctico-estratégica com o objectivo de cada “equipa” encontrar colectivamente as melhores
soluções para ultrapassar os adversários e finalmente o exercício é realizado num clima com um determinado grau tensão
psicológica, por forma a acelerar e a intensificar os processos de adaptação específica. Com efeito, o referido exercício de
treino apresenta um determinado nível de complexidade, que por si, evidencia um determinado grau de identidade. Logo, a
sua conceptualização baseia-se na analogia(1) de uma situação contextual que efectivamente se relaciona com a realidade
competitiva do basquetebol. Neste caso, procura-se diminuir a complexidade da situação competitiva de jogo sem se desvir-
tuar o próprio jogo, isto é, a sua lógica interna. É por esta razão que no terminus de um certo período de tempo os jogadores
apresentam elevados níveis de adaptação específica que derivam nuclearmente da aplicação de exercícios de treino con-
struídos na base do princípio da modelação das situações competitivas fundamentais.
No seguimento da sessão de treino, imaginemos que os mesmos praticantes realizavam um exercício de saltos
sucessivos sobre várias barreiras (trabalho pliométrico) com o objectivo de potenciar a força explosiva dos membros inferi-
ores. Partindo dos aspectos em análise, o exercício de treino não tem um carácter de especificidade em relação ao bas-
quetebol, exactamente por não incorporar na sua lógica prática os factores inerentes ao espaço, ao tempo, aos procedimen-
tos técnicos, ao regulamentos, para além dos aspectos relacionados à comunicação, à estratégia e ao clima psico-emocional
do jogo. Poder-se-à afirmar, que este exercício é específico em função do melhoramento da capacidade de produção de força
de carácter explosivo. Todavia, à luz dos factores estruturais do basquetebol é um exercício que podemos denominar de “arti-
ficial”, “acessório”, “geral”, “complementar separado”, etc., que visa, em última análise, potenciar um determinado grupo do sis-
tema muscular. Neste caso, pretende-se que os praticantes sujeitos a este exercício possam usufruir de um transfere positi-
vo por forma a melhorar as condições que suportam a execução de acções técnico-tácticas de lançamento, de ressalto ofen-
sivo ou defensivo, etc. Todavia, é importante frisar que este exercício de treino nada representa face aos factores estruturais
da modalidade que se procura aprender, aperfeiçoar ou desenvolver. Assim, é nossa opinião, que os diferentes exercícios de
treino devem ser classificados pelas suas características lógicas relativamente às estruturas da modalidade desportiva em
análise, e não a partir de certas capacidades fisiológicas particulares que “possam” no futuro desempenhar um papel impul-
sionador ou potenciador das respostas motoras específicas dos praticantes.
Partindo desta clarificação, os exercícios de preparação específica são conceptualizados na base de uma estrutu-
ra e de uma natureza, que estabelece uma relação de correspondência dinâmica cujas: (1) atitudes, (2) comportamentos
motores, (3) regime de funcionamento orgânico do praticante e, (4) o respeito pelos regulamentos, devem ser similares ou
idênticos aos contextos competitivos que cada modalidade desportiva em si encerra. Daqui nasce a necessidade de estimar
(avaliar) e reproduzir índices essenciais por forma a consubstanciá-los como critérios de afinidade analógica entre estes exer-
cícios e as situações competitivas fundamentais. Com efeito, a actividade desportiva de alto rendimento,baseia-se num
processo de especialização progressivo que se traduz, por um aumento do volume de exercícios de preparação específica,
bem como do incremento do nível de exigências estabelecidas para cada situação de treino. Isto significa, à medida que o
praticante ou a equipa vão evoluindo, serão confrontados por processos de treino que recorrem, de forma cada vez mais
acentuada, a meios de carácter especializado. Importa assim reflectir, que os exercícios de preparação específica no proces-
so de evolução do rendimento desportivo do praticante, não podem constituir-se somente numa correspondência absoluta da
realidade competitiva. Mas sobretudo, no estabelecimento de diferentes níveis de identidade dessa realidade, por forma a ref-
erenciar diferentes graus de dificuldade e complexidade, os quais, são produto (1) da lógica interna da modalidade desporti-
va em análise, (2) da análise das capacidades momentâneas do praticante ou da equipa, (3) da sua evolução ao longo do
processo de treino e, (4) dos objectivos que se pretendem atingir num futuro próximo ou a longo prazo. Consequentemente,

(1) A identidade pode ter uma das seguintes dimensões:


1. Isomórfica quando podemos estabelecer uma correspondência "unívoca" entre os elementos referentes à lógica da modalidade desportiva em causa, e
os elementos da lógica do exercício no que concerne: às relações das suas componentes estruturais, às mesmas operações no domínio informacional,
energético, e afectivo, e às mesmas formas de organização. Bertrand e Guillement (1988) referem que o isomorfismo é uma qualidade que dois ou vários
sistemas possuem quando têm propriedades comuns ou semelhantes.
2. Analógica, quando existe uma associação, ou melhor uma certa semelhança, entre os elementos referentes à lógica da modalidade, e os elementos da
lógica do exercício. Com efeito, o raciocínio analógico é um pensamento que se baseia em relações de similitude entre objectos diferentes. Bertrand e
Guillement (1988) referem que "uma analogia implica uma certa semelhança entre dois objectos, assim, uma analogia assemelha-se à realidade que é
suposta representar, mas não se pode confundi-lo com a realidade". Concluindo, e segundo os mesmos autores (1988) "todos os isomorfismos são análo-
gos, mas todas as analogias não são isomorfismos".
os exercícios de preparação específica abarcam um largo espectro de situações, condições e efeitos quando se procura
reproduzir total ou parcialmente contextos situacionais que se relacionam de forma global ou reduzida com a realidade com-
petitiva. A reconstituição de um clima contextual de competição (total ou parcial) assegura, à partida, uma maior mobilização
de recursos (informacionais, energéticos e afectivos) do praticante, os quais, por sua vez, originam processos desportivos
mais profundos e marcantes.
No âmbito dos exercícios de preparação específica podemos evidenciar, independentemente da modalidade
desportiva em causa, dois tipos: (1) os exercícios de competição e, (2) os exercícios especiais.

6.1.1. Os exercícios de treino de competição

Os exercícios de treino de competição são em tudo semelhantes à essência e natureza da competição de uma
dada modalidade desportiva. Estes exercícios provocam uma adaptação mais complexa e contribuem com especial eficácia
para estabelecer a harmonia entre as várias componentes do treino ajustando os factores técnicos, tácticos, físicos e psi-
cológicos de preparação para as situações específicas da modalidade. Os exercícios de treino de competição desempen-
ham, neste contexto, um papel extremamente importante no treino, porque sem eles, é impossível reconstituir os requisitos
específicos que a modalidade impõe ao praticante e às equipas, e estimular assim, a consecução de um determinado nível
de treino. Podemos estabelecer dois tipos de exercícios de treino de competição (Matveiev, 1986):
1. Os exercícios de treino de competição propriamente ditos. São em tudo
idênticas às executadas nas condições reais de competição e de acordo com as
regras das mesmas. Com efeito, estas sessões coincidem no conteúdo da acção,
nos fundamentos estruturais e na orientação geral. Diferem da competição visto
que são realizadas durante o treino e orientam-se para a resolução das
Foto cedida pelo jornal O JOGO

tarefas de treino (por exemplo: jogo de treino entre duas equipas,


lançamento do dardo, etc.).
2. Os exercícios de treino de competição adaptados. São exercícios
cuja estrutura de base são concordantes com a competição, mas são
Fotos 12 e 13. Os exercícios de
preparação específica - exercícios de executados em condições com uma exigência diferente, com o objecti-
competição vo de reforçamento e aperfeiçoamento das acções competitivas cor-
rectas. Estes exercícios de treino são utilizadas essencialmente nas modalidades ou especialidades em que é impossív-
el reproduzir durante o treino, todas as particularidades dos comportamentos, pois, estes têm de ser executados em con-
sequência de situações muito variáveis (por exemplo: jogo de treino entre duas equipas num campo de dimensões
reduzidas, lançamento do dardo com um engenho ligeiramente mais pesado).

6.1.2. Os exercícios de treino especiais

Os exercícios de treino especiais caracterizam-se essencialmente pelo


seu carácter específico, tendo sempre algo de comum com os exercícios de treino
de competição, no entanto possibilitam um controlo mais efectivo do treino.
Foto cedida pelo jornal O JOGO

Têm como objectivos fundamentais o aperfeiçoamento da técnica, da táctica,


e das capacidades condicionais. Os exercícios de treino especiais são con-
cebidas fundamentalmente para assegurar:
1. Uma acção mais selectiva e mais significativa para determinados Fotos 14 e 15. Os exercícios de
preparação específica - exercícios de
parâmetros dos exercícios de treino.
treino especiais
2. Uma modelação de novas variantes das acções competitivas, isto é, na atempada criação de pré-requisitos do
domínio de formas aperfeiçoadas da técnica que correspondem a um novo nível de resultados.

6.2. Os exercícios de preparação geral

Os exercícios de preparação geral são caracterizados, contrariamente aos exercícios de preparação específica, por
não apresentarem semelhanças com os contextos situacionais que derivam da competição de uma dada modalidade
desportiva. Com efeito, os "exercícios de preparação geral contribuem para um determinado nível de preparação dos prati-
cantes através de uma acção indirecta" (Bompa, 1993). Neste âmbito, torna-se difícil de comprovar de uma forma precisa, a
influência directa dos exercícios gerais sobre o rendimento global do prat-
icante. Independentemente da dificuldade na prova da influência positiva
destes exercícios, muitos são os autores da Teoria e Metodologia do Treino
Desportivo que referem a impossibilidade dos exercícios de preparação
específica se desenvolverem de forma plena e eficaz, se o organismo não tiver sido previamente
submetido a exercícios de preparação geral. Adiantam igualmente, que uma preparação exclusi-
va sob a base da realização de exercícios específicos conduz o praticante
a uma diminuição dificilmente reversível de determinadas reservas fun- Foto cedida pelo O JOGO

cionais bem como perturbam os esquemas de acção motora. Nesta


direcção Harre (1981), considera que "na idade dos máximos rendimen-
tos, a estagnação ou uma reduzida elevação do rendimento, o apareci- Fotos 16, 17 e 18. Os exercícios de
preparação geral
mento frequente de lesões, se devem ao facto de no processo de treino,
se aplicarem relativamente poucos exercícios de carácter geral".

6.2.1. Os objectivos dos exercícios de preparação geral

Resumindo a opinião de vários autores, podemos sintetizar que os exercícios de preparação geral apresentam os
seguintes objectivos fundamentais:
1. Fomentar a preparação multilateral dos praticantes. A multilateralidade da preparação contribui para a melhoria da
coordenação motora, factor importante nas especialidades desportivas “complexas”. Nas etapas de formação do prati-
cante os exercícios de preparação geral, têm um papel importante, paralelamente (dentro de certos limites) com a
preparação especializada.
2. Activar os processos de recuperação do praticante. Após a realização de períodos de treino com elevados níveis
de volume e intensidade, os exercícios de preparação geral, poderão articular-se como factores de recuperação activa
diminuindo assim a possibilidade de aparecimento de estados de sobretreino, e concomitantemente, o aparecimento de
lesões e a frequência da sua incisão.
3. Concretizar uma base orgânica funcional. É esta base funcional que se deverá apoiar de forma sustentada os exer-
cícios de preparação específica. Neste sentido, os exercícios de preparação geral, face ao rendimento desportivo do prat-
icante, assumirão um carácter auxiliar de aperfeiçoamento do processo de treino.
4. Criar condições positivas na comutação entre vários exercícios de treino. Os exercícios de preparação geral são
muitas vezes utilizados como “pontes” entre exercícios de elevada complexidade realizadas nas diferentes unidades de
programação do processo de treino (sessões, microciclos, etc.). É importante manter uma certa variação entre os exercí-
cios de preparação geral e os exercícios de preparação específica a qual vai sendo alterada em função: (1) da idade do
praticante, (2) do seu nível de rendimento, (3) do período anual de preparação e, (4) da lógica interna da modalidade.
Neste sentido, em função de todos estes pressupostos o “peso” dos exercícios de preparação geral diminuem à medida
que o processo de especialização vai evoluindo.
5. Assegurar meios que determinem uma ampla preparação do praticante. Os exercícios de preparação geral podem
ter um efeito suficiente no desenvolvimento de todas as capacidades técnicas, tácticas, físicas e psicológicas enrique-
cendo assim a sua "reserva de acções motoras".
6. Diversificar um conjunto de meios de preparação geral. Esta diversidade tem um maior significado nas modali-
dades desportivas de carácter “fechado”. As modalidades cujo processo de treino se baseia constantemente em exercí-
cios de dominante competitiva (ginástica, atletismo por exemplo), poderá tornar-se monótono devido a uma exagerada
utilização dos mesmos, logo, os exercícios de preparação geral, neste âmbito apresentam-se como meios auxiliares de
treino.

6.2.2. Os exercícios específicos de preparação geral

A discrepância teórica e prática no que concerne ao valor efectivo da utilização dos exercícios de preparação geral
e os exercícios de preparação específica reforça claramente a necessidade de se especializar os exercícios de preparação
geral, orientada em função da estrutura de rendimento inerentes a cada modalidade desportiva. Assim, para que o tempo de
treino utilizado na realização de exercícios de preparação geral não seja inútil é fundamental que estes exprimam as partic-
ularidades lógicas e estruturais da especialidade desportiva, isto porque, o desenvolvimento da preparação geral baseada
em exercícios de treino descontextualizados da modalidade irão ter repercussões negativas no estado de treino do praticante
ou da equipa. Daqui deriva a necessidade de especializar-se a composição dos exercícios gerais de forma a poder utilizar
eficientemente as suas "transferências positivas". Segundo Matveiev (1986) os exercícios de preparação geral não podem
ser iguais em todas as modalidades desportivas, tal preparação depende da sua especificidade. Todavia, importa ter em
atenção que os exercícios deverão manter o seu objectivo multilateral não se convertendo em exercícios de preparação
específica no verdadeiro sentido da palavra. Também Harre (1981) refere que é necessário comprovar o valor e a importân-
cia dos exercícios de preparação geral na melhoria da prestação desportiva, quer do ponto de vista da especificidade de cada
modalidade desportiva, quer do ponto de vista da expressão da prestação (desporto de alto rendimento ou de formação) quer
igualmente nas diferentes estruturas de periodização do processo anual de treino.
Todos temos de concordar que correr não será a melhor forma de o praticante se preparar para nadar e vice-versa.
De igual forma praticar andebol não será o melhor meio de o jogador se preparar para jogar basquetebol. Adicionalmente se
compararmos praticantes de diferentes especialidades desportivas verificamos por exemplo, que um saltador em altura e um
jogador de futebol, ambos necessitam de uma elevada potência muscular, particularmente ao nível dos membros inferiores
que lhes permitam uma grande capacidade de impulsão. Todavia, o domínio técnico que é determinado pelas suas especial-
idades desportivas (atletismo e futebol), estabelece diferentes exercícios de treino que são específicos das modalidades em
questão, sem as quais nenhum deles poderá evoluir o seu rendimento desportivo. Na mesma dimensão todos também temos
de concordar que os exercícios específicos de preparação geral do atletismo não serão os melhores meios específicos de
preparação geral de uma outra modalidade individual e muito menos colectiva. Este redimensionamento das relações
intrínsecas entre o exercício de preparação geral e os exercícios de preparação específica estabelecem uma verdadeira “rev-
olução” não só nas ideias que lhes estão subjacentes, bem como à construção e operacionalização desses meios gerais, que
se retransformam tendo como referencial os diferentes parâmetros lógicos funcionais de cada modalidade desportiva. Nesta
perspectiva, importa evidenciar os seguintes pressupostos condicionais para a sua conceptualização:
1. Os exercícios específicos de preparação geral. São conceptualizados numa direcção que implica o entendimento
das questões ligadas à lógica interna da modalidade desportiva que queremos aprender, aperfeiçoar ou desenvolver.
2. Os exercícios específicos de preparação geral. São conceptualizados de forma simultânea com um determinado
nível de generalização e de especialização mas que não se podem confundir com os exercícios de preparação geral (não
específicos) e os exercícios específicos de preparação.
3. Os exercícios específicos de preparação geral. São conceptualizados tendo como núcleo central da sua construção
a orientação cognitiva, que determina a necessidade da variação contextual das situações de treino em que o praticante
ou a equipa tenham a necessidade de recolher e tratar informações pertinentes, bem como de encontrar as soluções
mentais dentro de um leque alargado de opções, que traduzem programas motores específicos similares ou integrais à
realidade competitiva de uma determinada modalidade desportiva. É nesta perspectiva que a inteligibilidade do treino
desportivo e consequentemente do exercício terá todo o sentido.
4. Os exercícios específicos de preparação geral. São conceptualizados por forma que os seus objectivos determinem
efeitos de preparação multilateral específica do praticante relativamente à sua modalidade desportiva que se traduz por
uma ampla preparação deste enriquecendo o leque de opções de domínio estratégico, táctico e técnico suportado em
componentes condicionais específicas em ambientes psico-emocionais próprios da realidade competitiva.
5. Os exercícios específicos de preparação geral. São conceptualizados por forma a estabelecer um elevado número
de meios diversificados cujos efeitos atingem várias estruturas e sistemas orgânicos do praticante com o intuito de ampli-
ar a sua base funcional de adaptação e paralelamente evitar situações de monotonia do treino traduzido pela prática e
repetição invariável dos mesmos exercícios de treino.
6. Os exercícios específicos de preparação geral. São conceptualizados por forma a estabelecer as condições
favoráveis de utilização do fenómeno de transfere positivo facilitando e acelerando, neste contexto, a aprendizagem e o
aperfeiçoamento dos exercícios especiais de preparação e os exercícios especiais de preparação geral. Em última
análise os exercícios específicos de preparação geral suportam o desenvolvimento coerente e sistemático dos exercícios
especiais que traduzem uma maior complexidade traduzido pelo seu maior grau de concordância com a realidade com-
petitiva da modalidade desportiva.
7. Os exercícios específicos de preparação geral. São conceptualizados não em virtude de uma visão de melhora-
mento e potenciamento das vias de produção energética (aeróbia e anaeróbia) do praticante, nem de uma visão condi-
cional dos mecanismos de produção de um qualquer tipo de força muscular, de uma qualquer velocidade, etc., mas sim,
partindo da contextualização parcial ou integral das situações competitivas de uma modalidade, compreendendo e fazen-
do interagir as formas de produção de energia e os aspectos condicionais específicos que suportam de forma interacti-
va as atitudes e os comportamentos motores de resposta adequada às soluções-problema estabelecidos.

Bibliografia:
BERTRAND, Y., GUILLEMENT, P. (1988) Organizações: uma abordagem sistémica, Instituto Piaget, Lisboa
BOMPA, T. (1993) Theory and methodology of training, Kendal/Hunt publishing company, USA
CASTELO, J. (1996) Futebol - a organização do jogo, Edição do autor, Lisboa
CASTELO, J. (2002) O exercício de treino desportivo. Edições FMH. Lisboa
EDINGTON, E. (1982) Methodologie de l´entrainement nº1, INSEP, Paris
HARRE, D. (1981) La teoria del desarrollo del estado de entrenamiento. Revista "Stadium"
MANNO, R. (1992) Fundamientos del entreinamiento. Paido Tribo. Barcelona
MATVÉIEV, L. (1986) Fundamentos do treino desportivo. Livros Horizonte, Lisboa
PÉREZ, L., e BANUELOS F., (1997).Rendimiento Deportivo. Claves pera la optimización de los aprendizajes. Editorial Gymnos. Madrid
PLATONOV, V.N., (1988) El entrenamiento deportivo, Teoria y Metodologia, Barcelona, Paido Tribo.
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TEODORESCU, L. (1987) Orientações e tendências da teoria e metodologia de treino nos jogos desportivos, Futebol em revista, 4ª
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VERCHOSHANSKIJ, J. (1988) Entrenamiento deportivo, planificación e programación, Ediciones Martínez Roca, Madrid
IDENTIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E MANIPULAÇÃO
DAS CONDICIONANTES ESTRUTURAIS DOS EXERCÍCIOS
DE TREINO DO FUTEBOL

Autor: Jorge Castelo

INTRODUÇÃO

As modalidades desportivas comportam em si mesma uma identidade própria, individualizada e intransmissível.


Cada modalidade desportiva moldada pelos seus regulamentos estabelece uma dinâmica própria, isto é, específica cujo con-
teúdo se poderá definir como a sua essência. Esta essência dá origem a uma série de atitudes, comportamentos motores e
solicitações de ordem psíquica que determinam o perfil das exigências impostas aos praticantes. Assim, cada atitude e cada
comportamento observável em treino ou na competição tem um significado próprio e uma razão que o determina. Logo, o
processo de aprendizagem e desenvolvimento de uma dada modalidade desportiva estabelece-se: (1) como um fim, pois
quanto mais extensa for a apropriação e a assimilação da sua lógica interna (conteúdo específico) mais complexas serão as
operações a realizar pelos praticantes e maiores as exigências de adaptação do seu comportamento à contextualidade das
situações possíveis de acontecerem. Contudo, a modalidade desportiva constitui-se igualmente, (2) como um meio, na medi-
da que é através da organização sistemática e racional de diferentes níveis de complexidade do seu conteúdo específico,
que o treinador se estabelece, na mesma medida, como um construtor do exercício e simultaneamente como um mediador
do confronto entre o nível de prestação momentânea dos praticantes e o nível de exigências inerentes ao conteúdo especí-
fico de treino. Com efeito, é no enquadramento da modalidade desportiva constituindo-se, simultaneamente, como um fim e
um meio, que o exercício de treino deverá facilitar o diálogo estabelecido entre o treinador e o praticante, pois este - o exer-
cício contém no seu seio um conjunto de valores que, se forem correctamente aprendidos e desenvolvidos, produzem mod-
ificações no comportamento motor dos praticantes, e em última análise, o melhoramento das suas prestações desportivas.
Nesta perspectiva quanto mais as diferentes modalidades são privadas de um esforço de reflexão na procura da
sua lógica funcional mais a sua teoria-conhecimento se ressente dos fundamentos necessários aos seus raciocínios aumen-
tando-se consequentemente, o espaço onde prolifera o acidental o casuístico. Se o êxito individual (praticante) ou colectivo
(equipa) está exclusivamente nas mãos do acaso, o mérito do praticante e do treinador está fora de causa. No sentido diame-
tralmente oposto, não podemos conter uma espécie de aprovação tácita cada vez que a nossa concepção se realiza, nem
um mal-estar intelectual quando se verifica que é falsa.

AS CONDICIONANTES ESTRUTURAIS DOS EXERCÍCIOS DE TREINO DO FUTEBOL

Importa desde já referenciar, que só os exercícios específicos de preparação geral e os exercícios de preparação
específica de jogo, podem estabelecer situações contextualizadas de ataque e defesa, através das quais se manipulam as
condicionantes estruturais, que possibilitam um desenho diferenciado dos exercícios, as quais consubstanciam contextuali-
dades situacionais mais ou menos próximas da lógica interna do jogo de futebol. Esta aproximação ou afastamento é pos-
sível através da manipulação dos diferentes constrangimentos relativamente ao tempo, espaço, número, regulamento, à
acção técnico-táctica, às relações numéricas e aos instrumentos utilizados.
1. Objectivos a atingir na sua aplicação
A manipulação das diferentes condicionantes estruturais, isolada ou em conjunto, deve ser realizada por forma a
atingir simultaneamente os seguintes dois objectivos:
> 1. Compatibilizar os diferentes graus de complexidade da lógica interna do futebol com: (1) as capacidades momen-
tâneas dos jogadores e, (2) a evolução que se pretende que estes atinjam relativamente ao modelo de jogo a implantar,
que é função da planificação conceptual da equipa, nomeadamente da aplicação dos seus programas de acção.
> 2. Especificar: (1) um tipo predominante de resposta técnico-táctica,
por exemplo: recepção/passe devido ao facto dos jogadores
não poderem dar mais de 1 toque na bola
quando intervêm sobre esta. (Objectivo:
aumentar a velocidade do processo de
decisão e execução técnico-táctica), (2) de
um conceito táctico concreto, por exemplo: o
jogador quando de posse de bola é obrigado a
utilizar o princípio da penetração ou sempre que
passar a bola a um colega deve de imediato dar-lhe
cobertura ofensiva. (Objectivo: reforçar o cumprimento de
um determinado princípio de jogo específico ou geral) e de, (3)
uma dimensão estratégica, por exemplo: atingir o golo dentro de
um certo tempo limite ou não podendo usar mais de 4 passes
desde o momento da recuperação da bola até à finalização. Figura 1. Neste exercício limita-se os espaços de intervenção dos
jogadores, o número de toques sobre a bola (1 a 2) e o número de
(Objectivo: acelerar o desenvolvimento e o terminus do proces- passes até à finalização (2 a 4).
so ofensivo da equipa).

2. Regras básicas para a sua aplicação aos métodos de treino


Existem duas regras fundamentais na utilização das condicionantes estruturais dos exercícios de treino, que todo
o treinador deverá equacionar:
> 1. A manipulação das condicionamentes estruturais do exercício devem ser o mais realistas possíveis. Neste domínio,
a aplicação dos diferentes constrangimentos estruturais devem ser: (1) coerentes relativamente à lógica interna do jogo
e, (2) adequadas à capacidade momentânea dos jogadores, sem os quais a sua aplicação não tem qualquer sentido. Isto
significa, que a aplicação “cega” de constrangimentos de diferentes ordens aos exercícios de treino não é compatível com
a possibilidade de se fomentar, acelerar e assimilar efeitos de carácter positivo no comportamento técnico-táctico dos
jogadores.
> 2. A alteração temporária das condicionantes estruturais devem ser formuladas em função do modelo de jogo a aplicar
e das necessidades observadas na equipa durante a competição. Com efeito, a utilização correcta destas condicionantes
estruturais devem reflectir os aspectos menos positivos da equipa relativamente às diferentes situações competitivas, bem
como formas pragmáticas de desenvolvimento individual e colectivo, respeitando-se o modelo de jogo que se pretende
implantar.

3. Elementos estruturais de base


As condicionantes estruturais, que
desenham diferentes exercícios dentro do
mesmo método de treino, são as seguintes:
(1) regulamentares, (2) espaciais, (3) técni-
co-tácticas, (4) temporais, (5) numéricas e,
(6) instrumentais. Para além da identificação
destas condicionantes, importa igualmente
estudar as diferentes condições essenciais
que cada uma poderá assumir, por forma a
compreendermos as diferentes possibili-
dades que se perspectivam pela sua apli-
cação.
3.1. A CONDICIONANTE REgULAMENTAR

Esta condicionante estrutural poderá apelar a três condições essenciais:


> 1. Simplificando o regulamento, através da eliminação de certas prescrições normativas de jogo (o fora de jogo, por
exemplo), criam-se condições vantajosas para dar continuidade às respostas técnico-tácticas dos jogadores (diminuição
do número de jogadores para a realização do exercício, do espaço de jogo etc.).
> 2. Mantendo o regulamento, por forma a consolidar as atitudes e comportamentos de resposta aos problemas evi-
denciados pelo exercício de treino, assegura-se assim, a sua estabilização e segurança, aproximando-a cada vez mais,
aos valores padrão de carácter competitivo.
3. Aumentando os constrangimentos relativa-
mente ao número de toques na bola por inter-
venção, no direccionamento das acções técni-
co-tácticas, das relações previlígiadas entre
jogadores da mesma equipa, pela ampliação
das consequências das interrupções de jogo,
etc., criam-se condicionalismos e prescrições
mais severos por forma a direccionar e poten-
ciar a análise, o raciocínio e a resposta técnico-
táctica para cada situação de treino por parte Figura 2. Situações de jogo reduzido
do jogador. (de Knut Dietrich - Futebol aprendizagem e prática pelo jogo)

3.2. A CONDICIONANTE ESPAÇO

Esta condicionante estrutural poderá apelar a quatro condições fundamentais:


> 1. Dimensões do espaço. Estabelecem-se basicamente três dimensões do espaço de jogo:
(A) Reduzido. As diferentes dimensões destes espaços de jogo, considera-
dos reduzidos, nunca devem ultrapassam no limite, 50 metros de compri-
mento (aproximadamente metade do campo de jogo).
(B) Próximo da competição. É constituído por espaços de jogo até 70 met-
ros de comprimento.
(C) Idêntico à competição. É constituido pelo espaço de jogo regulamenta-
do para a competição.
> 2. geometria do espaço. Paralelamente às dimensões do espaço de jogo,
utilizam-se diferentes geometrias, que vão desde o rectângulo (forma mais Figura 3. Diferentes formas e dimensões de
espaços de jogo reduzido
usual) ao quadrado, círculo, triângulo, etc. Estas diferentes geometrias visam
contextualizar diferentes decisões e comportamentos técnico-tácticos, relativamente às formas estabelecidas para o
espaço de jogo.
> 3. Utilização do espaço de jogo. Pode-se estabelecer quatro formas de utilização dos
espaços de jogo:
(A) Independente. Cada jogador atacante ou defesa exerce as suas acções, no respec-
tivo espaço, sem interferir no espaço do adversário.
(B) Comuns. Todos os jogadores poderão interferir sobre os diferentes espaços de jogo
em função das situações que se desenvolvem durante o exercício.
(C) Mistos. Só certos jogadores gozam da faculdade de poderem interferir em difer-
entes espaços de jogo, enquanto outros se mantêm predominantemente nos
respectivos espaços.
(D) Interditos. Dentro de cada um destes espaços (independentes, comuns e mis-
tos) pode-se simultaneamente estabelecer-se zonas interditas para todos, ou alguns
jogadores, com o intuito de alterar os níveis de dificuldade do exercício de treino, que
se concretiza pela necessidade de executar passes mais longos, de contrornar o
espaço interdito, etc.
Figura 4. Diferentes formas dos espaços de > 4. A divisão dos espaços de jogo. Podem estabelecer-se duas divisões do
jogo próximos da competição
espaço de jogo:
(A) Utilização do corredor central (relativamente à baliza). O corredor cen-
tral cria as melhores condições de inversão do ângulo de ataque e uma con-
cretização positiva do processo ofensivo. Este corredor poderá ainda ser sub-
divididos em dois ou três sectores, fazendo-os corresponder à organização
estrutural da equipa (defensivo, meio-campo e ofensivo).
(B) Utilização do corredor central e dos corredores laterais sob certas
condições
(C) Utilização do corredor central e dos dois corredores laterais (esquer-
do e direito), os quais condicionam fortemente os ângulos ofensivos (inver-
são do ataque e remate) e defensivos relativamente à baliza própria e adver-
sária.

3.3. A CONDICIONANTE TéCNICO-TáCTICA


Figura 5. Espaços de jogo idênticos à com-
petição
Esta condicionante estrutural poderá apelar a quatro condições funda-
mentais:
> 1. Utilizar uma, duas ou mais balizas. A utilização de um ou mais alvos (balizas) determina a possibilidade de se ori-
entarem as atitudes e os comportamentos técnico-tácticos dos jogadores, somente para atacar ou para defender de
forma compartimentada, mas também para atacar e defender simultaneamente em função do desenvolvimento do exer-
cício, uma ou mais balizas aumentando-se assim as possibilidades de concretização do objectivo.
> 2. Condicionar ou não a utilização do membro inferior dominante. A eficácia da execução técnico-táctica poderá
ser condicionada pela obrigatoriedade da utilização do membro inferior não predominante (por exemplo a utilização
exclusiva do pé esquerdo nos jogadores destros e vice-versa). A importância da utilização deste condicionamento esta-
belece-se pelo facto das regras emergentes para um dos lados, poder ser transferido para o lado oposto. Todavia, impor-
ta primeiro que o jogador tenha um bom nível de desempenho com um dos membros, incentivando-se posteriormente,
de forma pontual, a prática com o membro não dominante.
> 3. Estabelecer relações previlígiadas entre jogadores com difer-
entes missões tácticas dentro da organização da equipa, ou para
determinados espaços vitais de jogo (por exemplo: passar a bola
sempre a um dos pontas de lança, para espaços específicos de jogo
onde se encontram ou se deslocam certos companheiros, etc.).
> 4. Obrigar o direccionamento das acções técnico tácticas num
determinado sentido (por exemplo: em direcção à baliza adversária
ou utilizando condicionamentos - o apito, que provoquem a alter-
ação da direcção do processo ofensivo para certos espaços ou
alvos, etc.).

3.4. A CONDICIONANTE TEMPO

Esta condicionante estrutural poderá apelar a três condições fundamentais:


> 1. Produção energética. Nesta dimensão, o tempo de exercício pode ser consubstanciado relativamente às vias de
produção de energia, assim podemos evidenciar quatro direcções:
(A) Anaeróbio aláctico. No qual o exercício não deverá ultrapassar os 12 segundos, para uma intensidade máxima
de execução técnico-táctica.
(B) Anaeróbio láctico. No qual a duração pode atingir os 3 minutos para uma intensidade máxima ou submáxima de
execução técnico-táctica.
(C) Aeróbio, no qual a duração deve ser longa, e com uma intensidade submáxima de execução técnico-táctica.
(D) Mista, no qual se verifica a utilização de processos de origem aeróbia e anaeróbia consoante as exigências
momentâneas das situações de jogo, determinadas pelas diferentes tarefas do exercício de treino, no qual se verifi-
cam momentos de alta e baixa solicitação.
> 2. Táctico-estratégica. Esta condicionante deverá valorizar os objectivos intermédios ou finais do exercício, por exem-
plo: atingir o golo nos primeiros ou nos últimos 30 segundos do exercício, o número de recuperações ou de perdas de
posse de bola na unidade de tempo, conseguir 10 passes consecutivos entre os jogadores da mesma equipa, deter a
posse da bola num determinado tempo (momento) de exercício, etc. O estabelecimento destes objectivos determinam a
modificação do pensamento táctico-estratégico dos jogadores que individual e colectivamente procuram de imediato
atingi-lo.
> 3. Tempo de decisão técnico-táctica. Reduzindo ou aumentando o tempo de resolução das situações de jogo através
do:
(A) Condicionamento do número de toques na bola por intervenção. De uma forma geral, ao diminuirmos o número
de toques na bola por intervenção, diminui-se o tempo de decisão técnico-táctica, traduzindo-se num maior empen-
hamento nos processos de antecipação, por forma a dispôr de mais algum tempo para se decidir bem e executar mel-
hor.
(B) Condicionamento do número de acções de passe possíveis
para atingir o golo. Ao reduzir-se o número de passes possíveis
durante a fase ofensiva do exercício, potencia-se a utilização de
um jogo directo, mais propício para atacar de imediato a baliza
adversária, após a recuperação da posse da bola.
(C) Redução do tempo para a organização das fases de con-
strução do processo ofensivo e da criação de situações de final-
ização. Ao reduzir-se o tempo de organização do processo ofen-
sivo perspectivam-se progressões rápidas para as zonas onde a
finalização normalmente ocorre (após a recuperação da bola).

3.5. A CONDICIONANTE NúMERO

Esta condicionante estrutural poderá apelar a três condições fundamentais:


1. O número de toques na bola por intervenção. O número de toques possíveis de exercer sobre a bola durante as
diferentes intervenções dos jogadores, poderá assumir uma das seguintes quatro condições:
(A) Estabelece-se um número de toques fixo, que deverá ser sempre respeitado, independentemente da situação. Por
exemplo ao prescrevermos que o jogador deverá dar dois toques na bola, esta prescrição deverá ser sempre utiliza-
da, mesmo que a situação possa ser resolvida com um toque.
(B) Estabelece-se um número de toques limitado, no qual o jogador, em função das necessidades da situação de
jogo utiliza, aquele que é mais conveniente para a sua resolução. Por exemplo, quando se prescreve a possibilidade
de utilizar três toques, isto significa que o jogador poderá utilizar, um, dois, ou três toques para resolver uma determi-
nada situação momentânea de jogo, tendo assim um leque opcional alargado, mas simultâneamente limitado.
(C) Estabelece-se um número de toques misto, através do qual, para a execução de determinados comportamentos
técnico-tácticos existe um número fixo, enquanto que para outros não existe. Por exemplo, se o jogador, perante a situ-
ação de jogo, optar pelo passe, terá um toque para o executar, caso opte pelo drible, simulação ou remate terá três
toques. Outra situação poderá ser estabelecida pelas funções tácticas dos
jogadores dentro da organização da equipa. Assim, se for avançado só poderá
dar 1 toque, se for médio 2 e se for defesa 3. Poder-se-á igualmente estabele-
cer o número de toque na bola em função do espaço de jogo em que o jogador
se encontra quando a recebe. Por exemplo, se este se encontra na sua zona
defensiva poderá utilizar 3 toques, se se encontra na zona média 2 toques e na
zona ofensiva 1 toque.
(D) Não se estabelece nenhuma prescrição relativamente ao número de
toques por intervenção. Isto significa que o jogador não é condicionado na exe-
cução dos seus comportamentos técnico-tácticos relativamente ao número pos-
sível ou prescrito de toques por intervenção. Neste sentido, cada jogador, per-
ante cada situação de jogo, procura resolver da melhor forma, utilizando o
número de toques necessário e suficiente para a sua eficaz solução.
Analisemos as consequências da prescrição do número de toques, por intervenção sobre a bola, na realização de
exercícios específicos do jogo, em função das diferentes condições estabelecidas:
> 1. Ao reduzirmos ao minímo o número de toques sobre a bola (entre 1 e 2 toques), estabelecemos que se:
(A) Aumenta a velocidade de processamento da informação do contexto situacional existente e da tomada de decisão
do jogador.
(B) Incrementa o empenhamento dos processos de antecipação por forma a ganhar tempo para a resolução da situ-
ação (viver o futuro no presente). Obriga assim o jogador a ter uma solução mesmo antes de intervir sobre a bola.
(C) Acelera a execução técnico-táctica de resolução da situação de jogo, suportada por uma pré-programação moto-
ra da acção a realizar.
(D) Potencia a utilização de certos comportamentos técnico-tácticos em detrimento de outros. Assim por exemplo,
para um ou dois toques sobre a bola, potenciamos as acções de recepção/passe ou recepção/remate. As acções de
drible, simulação, protecção, etc., só podem ser utilizados quando se aumenta o número de toques na bola por inter-
venção. Nesta contextualidade o jogador terá de aproveitar todas as vantagens inerentes à execução de certas acções
técnico-tácticas, para compensar a impossibilidade de executar outras. Com efeito, se o jogador quiser conquistar um
espaço de jogo com a posse da bola, terá de passá-la e deslocar-se rapidamente para esse espaço, por forma a que
lhe devolvam a bola (combinação táctica directa), em vez de driblar um ou vários adversários para o conseguir.
(E) Aproxima a lógica do exercício às condições reais no qual decorrem as condições competitivas do jogo de fute-
bol.
(F) Eleva o ritmo de execução do exercício, em termos individuais e colectivos.
(G) Possibilita um constrangimento mental e emocional no treino, que se prolonga para a competição podendo prej-
udicá-la (aspecto negativo). Daí a importância de se terminarem estes exercícios, retirando a restricção de um número
reduzido de toques sobre a bola, pois esta situação prolongar-se-á, mesmo depois da sua anulação.
(H) Impossibilita o jogador de poder utilizar uma outra solução mais eficaz perante a situação de jogo, por necessi-
tar de um maior número de toques do que os que foram prescritos.
(I) Maior propensão a perdas e recuperações de posse de bola, pois à medida que se diminui o número de toques
sobre esta, estabelece-se uma dificuldade adicional à resolução da situação, diminuindo-se a eficácia técnico-táctica.

> 2. Ao obrigarmos os jogadores a cumprir um determinado número de toques (fixo) de intervenção sobre a bola,
estabelecemos que se:
(A) Aumenta a velocidade de execução técnico-táctica, em situações em que a pressão defensiva é elevada.
(B) Diminui a velocidade de execução técnico-táctica em situações em que não se manifesta pressão defensiva.
(C) Obrigam os jogadores a aprender e a desenvolver correctamente a gestão dos seus tempos individuais de posse
da bola.
(D) Dá oportunidade dos jogadores exprimirem a sua personalidade e a sua capacidade, ampliando o seu tempo de
decisão e execução, relativamente a cada situação de jogo.
(E) Concede a oportunidade do atacante de posse de bola assumir a responsabilidade individual de a conservar ou
de atingir o objectivo do excercício de treino.

> 3. A prescrição variável do número de toques na bola por intervenção estabelece os seguintes aspectos:
(A) Adapta o comportamento técnico-táctico à resolução da situação de jogo. Dá-se assim a iniciativa a quem tem a
posse da bola para decidir sobe qual a acção técnico-táctica que melhor serve o interesse da equipa.
(B) Aumenta o espiríto de iniciativa e surpresa do atacante, pois, tendo dois toques, só poderá passar ou rematar,
enquanto se tiver mais toques poderá conduzir, driblar, etc.
(C) Evita a possibilidade dos defesas esperarem por aquilo que é óbvio.
(D) Impede os defesas contarem permanentemente o número de toques do atacante e esperarem que este falhe, em
vez de assumirem a recuperação de posse de bola de forma activa.
(E) Obriga constantemente os diferentes atacantes a ter de confrontar o número de toques de que possuem com os
objectivos tácticos possíveis eeficázes para resolucionar a situação
(F) Alerta o atacante para o facto de ter de reconstruír constantemente a resposta táctica perante a contextualidade
do jogo, dependendo da sua função dentro da organização da equipa, do espaço de jogo em que este contacta com
a bola ou ambas simultaneamente.
> 4. Não prescrevendo o número de toques por intervenção (situação livre), estabelecemos os seguintes aspectos:
(A) Maior iniciativa individual de cada jogador, quando interfere sobre a bola.
(B) Utilização de toda uma bagagem de capacidade técnico-táctica do jogador.
(C) Expressão de uma personalidade interventiva e responsável no jogo.
(D) Maior espaço para expressar a sua capacidade de improvisação e criação.
(E) Impede o constrangimento psicológico de uma prescrição continua e sistemática, relativa ao número de toques
na bola por intervenção.
(F) Poderá assumir condições reais de competição (um ou dois toques), mas sem a condicionar. Isto significa, que a
aplicação de exercícios de treino condicionando o número de toques sobre a bola por intervenção, deixam um traço
associativo entre a solução mental e a solução motora dos jogadores, que se prolonga para outros exercícios mesmo
quando estes não o exijam.
(G) O desenvolvimento do exercício poderá não decorrer em função da lógica competitiva do jogo de futebol (aspec-
to negativo), pelo uso abusivo dos jogadores manterem elevados tempos de posse de bola.

> 5. O número de passes utilizados pelos jogadores. Partindo do mesmo racíocinio lógico, enunciado para o número
de toques, também se poderá prescrever um número fixo, um número limite ou sem limites de passes para se atingir o
objectivo do exercício de treino. De um modo geral, ao fixarmos um reduzido número de passes, aceleramos as
respostas tácticas colectivas para atingir um determinado objectivo, concretizando um jogo mais directo. Pelo contrário,
ao aumentarmos esse número de passes, objectiva-se a manutenção da posse da bola e um jogo mais indirecto.
6. O número de jogadores. Cada exercício poderá estabelecer uma igualdade, uma inferioridade ou uma superioridade
numérica das equipas ou grupo de jogadores, as quais podem ser:
(A) Totais (7 contra 5, por exemplo), por forma a potenciar as acções de carácter ofensivo (superioridade numérica
do ataque) e defensivo (superioridade numérica da defesa).
(B) Parciais (7 contra 7 por exemplo). Neste caso poder-se-á criar circunstancialmente em certas espaços de jogo
superioridades (2x1, 3x2, etc.,) ou inferioridades numéricas (no meio-campo, nos corredores laterais) por forma a criar
condições favoráveis a que uma das equipas consiga concretizar mais assiduamente um determinado objectivo inter-
médio ou final.

3.6. A CONDICIONANTE INSTRUMENTAL

Este factor estabelece as características e o número de instrumentos (bolas, balizas, sinalizadores, barreiras, etc)
utilizados de forma a responder eficazmente às situações contextuais de jogo. Os diferentes instrumentos utilizados poten-
cializam a possibilidade de atingir frequentemente os objectivos do próprio exercício de treino, como por exemplo utilizar
mais balizas e bolas etc., por forma que cada jogador esteja mais perto de usufruir de um elevado nível de êxito durante
a realização das tarefas inerentes ao exercício. Fazer conciliar aspectos de ordem técnico-táctica com aspectos físicos,
como por exemplo: saltar uma barreira após o contacto com a bola, tocar num sinalizador antes de rematar à baliza, etc.

4. Efeitos que derivam da sua aplicação


A aplicação destas condicionantes estruturais procuram, em última análise, proporcionar aos jogadores condições
para que estes executem práticas repetitivas e realistas de diferentes situações de jogo, bem como desenvolver as relações
essenciais colectivas, sob diferentes ordens de carácter numérico, espacial, temporal, regulamentar, etc. Assim, ao reduzir-se
o número de opções de carácter técnico (resposta motora), de carácter táctico (decisões mentais) e de carácter estratégico
(imprimindo um ritmo adaptado ao objectivo) leva-se os jogadores a:
> 1. Serem altamente solicitados durante a sua realização, intervindo constante e sistematicamente sobre a bola ou no
espaço de jogo onde esta se encontra. Nesta perspectiva, dá-se iniciativa e oportunidade para que os jogadores sejam
altamente interventivos e responsáveis na condução e concretização do exercício. Existe assim, a possibilidade de cada
jogador exprimir as suas capacidades individuais (eficácia, creatividade e improvisação) e de compreensão do jogo colec-
tivo, bem como de aprenderem e aperfeiçoarem mais rapidamente devido à execução de um maior número de acções téc-
nico-tácticas na unidade de tempo e de decisões mentais que as suportam.
> 2. Potenciarem uma forma de resposta e a uma forma de decisão predeterminada, em detrimento de outras possíveis
mas que não é oportuno treinar naquele momento. Assim, para além de se dar primazia a certas decisões e comporta-
mentos técnico-tácticos, também se pode referenciar a utilização de um determinado membro (direito ou esquerdo) ou
parte do corpo (parte interna ou externa do pé) para contactar a bola e ser usada para a jogar.
> 3. Criarem vantagens absolutas ou circunstânciais em termos numéricos, espaciais e temporáis, pois são estes
desiquilíbrios pontuais e sistemáticos que potenciam a concretização, mais ou menos complexa, dos objectivos predeter-
minados. Neste âmbito, estabelece-se a possibilidade de se criar condições vantajosas de continuidade das acções indi-
viduais e colectivas relativamente às situações de jogo verificadas. Assegurando-se simultaneamente, a estabilização e o
reforçamento da acção dos jogadores aproximando-os sempre que possível dos seus padrões competitivos.
> 4. Melhorarem a capacidade de execução das suas acções em certos espaços específicos de jogo, bem como a capaci-
dade táctica de saber intervir noutros espaços quando certas condições acontecem. Este facto possibilita assim, ordenar
coerente e sistematicamente o comportamento táctico dos jogadores solicitando-os de forma diferenciada quando certos
índices pertinentes se verificam.
> 5. Condicionarem os tempos de decisão e resposta técnico-táctica bem como o número de vezes que estes processos
são recrutados na unidade de tempo. Concomitantemente a estes processos é solicitada a antecipação, através do qual se
prevê e evoca programas motores de resposta possibilitando aos jogadores a tomada de decisões antes que os acontec-
imentos se concretizem. Com efeito, estes métodos de treino evidenciam a necessidade dos jogadores gerirem de forma
correcta e adaptada as suas previsões, decisões e acções de resposta.
> 6. Elevarem a cadência e o ritmo das diferentes fases ofensivas e defensivas do exercício, aproximando-as às condições
reais de competição, mas mantendo a frequência e o êxito de concretização dos objectivos ou possibilitando a utilização
paralela de uma multiplicidade de objectivos intermédios. Isto significa, que ao aumento da cadência de execução não dev-
erá corresponder a diminuição da eficácia decisional e comportamental dos jogadores. Assim, importa que o incremento
do ritmo da sucessão das situações de jogo se desenvolvam e se suportem paralelamente numa oscilação mínima de
eficácia na sua resolução. Na mesma linha de convergência, o aumento do ritmo do exercício não poderá pôr em causa
os factores de produção energética de suporte.

5. Constrangimentos a ter em conta devido à sua utilização


Embora estes constrangimentos sejam fundamentais, para potenciar atitudes e comportamentos individuais e
colectivos que se exprimem nas diferentes situações específicas de jogo, importa não exagerar na sua utilização por duas
razões básicas:
> 1. Restringirem psicológicamente os jogadores levando-os quando em situações competitivas a pensar e a executar de
forma errada e desadaptada perante a contextualidade da situação. Assim, importa suceder aos métodos de treino que uti-
lizam estas condicionantes os mesmos ou outros métodos sem restricções, porque os primeiros têm a tendência a pro-
longar-se no espírito dos jogadores mesmo depois do treinador determinar a sua anulação. Importa no entanto salientar,
que este aspecto não deve ser confundido coma as características objectivas determinadas pela própria natureza do mod-
elo de jogo estabelecido.
> 2. Evitarem a aprendizagem e desenvolvimento de outros comportamentos técnico-tácticos, devido colocar-se demasi-
ado ênfase numa questão particular da actividade mental e motora dos jogadores. Neste sentido, é necessário utilizar out-
ras formas de treino em que predomina equitativamente outros comportamentos técnico-tácticos, que embora não sejam
tão utilizados na resolução das diferentes situações que a competição em si encerra, não deixam de ser importantes tanto
no desenvolvimento integral do jogador, bem como para a evolução lógica do próprio jogo.

6. Fases da sessão de treino onde podem ser aplicados aos diferentes métodos de treino
As condicionantes estruturais dos exercícios, são normalmente aplicados em métodos de treino utilizados na parte
principal da sessão, durante a qual se cumpre as principais tarefas de aprendizagem ou aperfeiçoamento dos jogadores.
Todavia, devido à grande variedade de temas e objectivos possíveis de estabelecer para cada sessão de treino, é possível e
conveniente, que a sua aplicação se estruture em complemento relativamente aos diferentes métodos. Neste sentido, a apli-
cação das diferentes condicionantes estruturais aos diferentes métodos de treino devem ter conta o período de tempo logo
após a fase de preparação (normalmente denominado de aquecimento) dos jogadores para a sessão, no qual se exige ele-
vados níveis de motivação, concentração e aplicação em resposta aos problemas colocados pelas diferentes contextuali-
dades situacionais derivadas do jogo. Todavia, à medida que a sessão de treino se encaminha para o seu terminus é funda-
mental que os métodos de treino aplicados não utilizem constrangimentos, para além daqueles que derivam das condições
inerentes ao próprio jogo, por forma que os jogadores possam expressar, durante um determinado período da sessão, todo
o seu potencial.
Concluindo, durante o microciclo semanal de preparação da equipa é conveniente, à medida que nos aproximamos
da competição, se diminua a prescrição relativamente às diferentes condições que as condicionantes estruturais podem
assumir. Desta forma, os jogadores beneficiam de situações de treino próximas e idênticas à realidade competitiva. Todavia,
esta perspectiva não se aplica, nem deve ser confundida, no que se refere às condições objectivas do qual deriva o modelo
de jogo preconizado pela equipa. Neste sentido, as condições/perscrições de suporte ao modelo de jogo devem ser sempre
respeitadas de forma que a sua funcionalidade geral e específica não seja subitamente alterada, em especial num momen-
to tão sensível que deriva da proximidade da competição.

7. Bibliografia

CASTELO, J., (2002). O exercício de treino desportivo. FMH edições. Lisboa


CASTELO, J., (2003). Futebol - Guia prático de exercícios de treino. Visão e contextos. Lisboa
DIETRICH, K. (1978) Le football, apprentissage et pratique par le jeu, Vigot ed, Paris
QUEIROZ, C. (1986) Estrutura e organização dos exercícios de treino em futebol, F.P.F.
FUTEBOL
O PROCESSO OFENSIVO

JORGE CASTELO

"A relação antagónica entre o ataque e a defesa manifesta-se tanto individual (luta entre o atacante e o defesa),
como colectivamente (luta entre o ataque e a defesa). Cada elemento do jogo (atacante ou defesa), tenta romper o equilíbrio
existente (teoricamente) e criar vantagens que lhes assegurem o sucesso" (Teodorescu, 1984).

1. Conceito

O processo ofensivo representa uma das duas fases fundamentais do jogo de futebol, sendo objectivamente deter-
minado, "pela equipa que se encontra de posse de bola, com vista à obtenção do golo, sem cometer infracções às leis do
jogo" (Teodorescu, 1984). Quando determinada equipa está de posse de bola, para além de poder concretizar o objectivo do
jogo - o golo, poderá igualmente:
> 1. Controlar o ritmo específico do jogo, pois, em função da estratégia concebida para esse jogo, do resultado (numéri-
co) momentâneo e das circunstâncias do momento, poder-se-ão contrapor acções técnico-tácticas que acelerem ou dimin-
uam este ritmo.
> 2. Criar condições, por forma a surpreender a equipa adversária, através de mudanças contínuas de orientação das
acções técnico-tácticas e atempadamente fazer uma ocupação racional do espaço de jogo, em função dos objectivos tác-
ticos da equipa.
> 3. Obrigar os adversários a passarem por longos períodos sem a posse da bola, levando-os a entrar em crise de
raciocínio táctico e, consequentemente, a expô-los a respostas tácticas erradas em função dos contextos situacionais de
jogo.
> 4. Concretizar a recuperação física de companheiros, com o mínimo de risco, que devido a pequenos choques com o
adversário ou por uma elevada prestação para se recuperar a posse da bola, não se encontram nas melhores condições
para participarem de imediato no processo ofensivo da equipa.

2. Objectivos

A posse da bola não é um fim em si e torna-se utópico, se não for conscientemente considerada como o primeiro
passo indispensável no processo ofensivo, sendo condição "sine qua non" para a concretização dos seus objectivos funda-
mentais: a progressão/finali-zação e a manutenção da posse da bola.

2.1. Progressão/finalização
Imediatamente após a recuperação da posse da bola, o objectivo fundamental da equipa é o de progredir em
direcção à baliza adversária, de uma forma rápida e eficaz, evitando-se ao máximo a interrupção deste processo. A maxi-
mização destes objectivos pressupõem:
> 1. Contínua instabilidade da equipa adversária desequilibrando, por
consequência, a organização defensiva, criando-se constantemente
as condições mais favoráveis em termos de espaço, tempo e número,
à resolução táctica dos contextos situacionais de jogo.
>> 2. Orientação de todos ou a maioria das acções técnico-tácticas
individuais e colectivas, realizadas pelos jogadores em processo ofen-
sivo, na direcção da baliza adversária. 8
>>> 3. Criação de condições de jogo mais propícias, quando perto da
baliza adversária, à culminação positiva da acção ofensiva, através de
acções individuais de suporte à fase de finalização (desmarcação- >>>
remate), com vista à obtenção do golo. Perseguir continuamente este
objectivo vencendo a resistência organizada do adversário, é a tarefa mais importante e todos os jogadores de uma e outra
equipa têm de se esforçar por cumpri-la com a maior frequência possível.

2.2. Manutenção da posse da bola


A concretização deste objectivo significa evitar o risco irracional presente em alguns jogadores, que em diferentes
circunstâncias do jogo perdem, de forma extemporânea, a posse da bola pondo assim em causa todo um esforço colectivo,
que determinou a sua recuperação, bem como todos os procedimentos de carácter ofensivo executados até esse momento.
“Se as acções individuais ou as circulações tácticas utilizadas na construção e criação de situações de finalização não resul-
tam, recomenda-se que as mesmas se reiniciem não as transformando numa lotaria" (Teodorescu, 1984). Em função de um
conjunto de circunstancialismos inerentes ao próprio jogo, independentemente da dimensão estratégica e táctica da equipa
para essa partida, a resolução dos diferentes contextos situacionais devem prever a impossibilidade temporária de se pro-
gredir ou de se atacar a baliza adversária em condições que possibilitem um sucesso mínimo das acções técnicas e tácti-
cas dos jogadores. Neste sentido, não havendo ou não se percepcionando essas condições mínimas os jogadores devem
manter a posse da bola por forma a temporizar o processo ofensivo até que essa condições se reunam. Assim, a maximiza-
ção deste objectivo pressupõe a/o:
> 1. Necessidade de se resolver os diferentes contextos situacionais, avaliando-os em função do binómio risco/segurança.
Neste caso, o jogador de posse de bola deverá percepcionar e avaliar prognosticamente de forma realista, quais as van-
tagens e desvantagens, para os objectivos tácticos da sua equipa, da execução deste ou daquele comportamento. Assim,
dentro de um largo leque de opções, é preferível uma acção técnico-táctica "a mais" do que uma acção que entregue a
bola ao adversário. Logo, uma determinada acção técnico-táctica pode não constituir a solução mais adequada para uma
dada situação momentânea de jogo, mas permite à equipa manter a
posse da bola, que é sempre um aspecto positivo.
> 2. Sentido táctico dos jogadores, de em certas situações de jogo
terem que quebrar o ritmo de jogo do adversário imprimindo um ritmo
mais conveniente à sua própria equipa ou criar uma falsa noção de
ritmo que proporcione uma acentuação da iniciativa do ataque.
> 3. Manutenção da iniciativa do jogo, por forma a surpreender o ±
adversário, a cansá-lo fisicamente, obrigá-lo a jogar sobre uma grande
pressão psicológica e, por último, a criar condições para que se esta- <<<
beleça uma crise de raciocínio táctico.

3. Vantagens - desvantagens
A iniciativa e a surpresa criadas pelas acções ofensivas - o risco de estas poderem terminar pela concretização do
golo, constituem as grandes vantagens do ataque. Estas vantagens derivam do facto do processo ofensivo, utilizar uma maior
mobilidade por parte dos seus jogadores (podendo rodear e envolver), em relação às posições mais ou menos fixas e con-
centradas dos defesas. Em contrapartida, a desvantagem do processo ofensivo consta das dificuldades apresentadas pela
execução das acções técnico-tácticas específicas com bola - sugerem necessidade da sua protecção e conservação, contra
as acções agressivas de marcação dos adversários.
4. Etapas
Antes de analisarmos individualmente as diferentes etapas do processo ofensivo importa evidenciar dois aspectos
fundamentais:
> 1. O processo ofensivo começa antes da recuperação da posse da bola. Neste sentido, os jogadores que não inter-
venham directamente na fase defensiva da sua equipa, devem preparar mentalmente a acção ofensiva, na procura de
espaços vazios, que possam ser utilizados para o empreendimento do ataque e obrigar os seus adversários directos, a se
preocuparem mais com a defesa da sua própria baliza do que com o ataque à baliza adversária.
> 2. Durante o processo ofensivo. Independentemente da etapa ofensiva em que este processo se encontre e o nível
organizacional do sistema defensivo adversário, dois aspectos assumem fundamental importância:
> A. Os deslocamentos dos jogadores sem bola; cuja intenção táctica é de criar as situa-ções que contribuam con-
stantemente para: (1) um melhor apoio ao companheiro de posse de bola aumentando-lhe as possibilidades de res-
olução da situação táctica com o máximo de eficácia e, (2) a criação de desequilíbrios pontuais e temporários na orga-
nização defensiva adversária.
> B. Os jogadores de posse de bola: deverão evidenciar uma correcta visão, leitura e análise das situações tácticas de
jogo para: (1) jogar rapidamente visando aproveitar as solicitações dos companheiros melhor colocados, ou seja, em
espaços mais perigosos para a equipa adversária e, (2) assegurar a posse da bola esperando o momento mais favoráv-
el para a reso-lução táctica escolhendo, decidindo e executando a acção técnico-táctica mais adequada (e não a mais
fácil).

Numa análise estrutural do jogo de futebol, podemos estabelecer três etapas fundamentais do processo ofensivo:
a construção do processo ofensivo, a criação de situações de finalização e a finalização.

4.1. Construção do processo ofensivo


A construção do processo ofensivo procura assegurar, em última análise, o desloca-
mento da bola da zona de recuperação para as áreas vitais do terreno de jogo. Esta etapa
apresenta as seguintes características essenciais:
> 1. É a fase do ataque mais fácil e frequentemente observável despendendo-se igualmente
maior tempo para a sua concretização.
> 2. Consta de circulações, combinações e acções tácticas individuais e colectivas visando
a progressão da bola para as zonas propícias à finalização.
> 3. A circulação da bola pelos vários jogadores é realizada de uma forma contínua, fluente
e eficaz, evitando-se ao máximo a sua interrupção (perda da posse da bola).
> 4. Procura-se criar de forma continua ou pontual situações de instabilidade e conse-
quentemente desequilíbrios na organização defensiva adversária. <<<

4.2. Criação de situações de finalização


A criação de situações de finalização é a etapa do processo ofensivo, que visa fundamentalmente assegurar nas
zonas predominantes de finalização os pressupostos mais vantajosos para a concretização imediata do objectivo do jogo.
Esta etapa apresenta as seguintes características essenciais:
> 1. É nesta etapa do ataque que culminam as combinações "mais ricas" do ponto de vista táctico (binómio espaço/tempo),
pois, só assim é possível provocar as roturas necessárias à implementação da fase seguinte, isto é, a fase de finalização.
> 2. Esta etapa concentra-se num espaço de jogo onde afluem um grande número de jogadores, essencialmente em ati-
tude defensiva, requerendo por parte dos atacantes um maior risco e
uma maior eficácia na execução das acções técnico-tácticas individu-
ais e colectivas, por forma a desor-ganizar o processo defensivo em
determinados espaços vitais de jogo e em determinados ângulos rela-
tivamente à baliza.
> 3. É fundamental nesta etapa do processo ofensivo, que se 5
observem acções que exprimam uma grande mobilidade e flexibili-
dade de organização atacante da equipa, por forma a criar, explorar e
a ocupar espaços vitais de jogo.
> 4. Importa igualmente referir, que é nesta etapa do processo ofensivo que se procura e se provoca situações de jogo que
levem os defesas a errar e a cometer infracções às Leis do jogo. Em função da gravidade da infracção, existe sempre a
possibilidade da equipa atacante ter o tempo suficiente para se reorganizar em torno dessas situações de bola parada
(pontapé de canto, livres - directos ou indirectos, grande penalidade ou mesmo lançamentos de linha lateral), por forma a
criar condições vantajosas para a obtenção do golo. Estas soluções estereotipadas, estudadas e treinadas a partir das
fases fixas do jogo (esquemas tácticos), são as situações tácticas que contribuem com maior preponderância para a con-
cretização do golo. No caso das duas equipas em confronto directo apresentarem níveis de rendimento similar, estas situ-
ações tácticas são o factor “desequilibrador” que irá se repercutir no resultado final da partida.

4.3. Finalização
Esta fase do processo ofensivo é objectivada pela acção técnico-táctica individual (remate) que culmina todo o tra-
balho da equipa com vista à obtenção do golo. Esta etapa apresenta as
seguintes características essenciais:
> 1. Desenrola-se numa zona restrita do terreno de jogo, onde a
pressão dos adversários é elevada e o espaço de realização é dimin-
uta.
> 2. As condições de execução técnico-táctica exigem uma precisão e
um ritmo elevados, em que a espontaneidade, a determinação e a cria- >>>
tividade são as componentes mais evidentes desta etapa do ataque.
> 3. A responsabilidade do jogador que objectiva esta fase do jogo,
reside no facto de ter de valorizar individualmente aquilo que foi cons-
truído através do esforço colectivo.

5. Os métodos

Visam uma coordenação eficaz das acções dos jogadores que constituem a equipa, por forma a criar as condições
mais favoráveis para concretizar dos objectivos do ataque em consonância com os objectivos do jogo - o golo. Para atingir
este objectivo os métodos de jogo ofensivo procuram, dentro de uma panóplia de aspectos, concretizar os seguintes aspec-
tos:
> 1. Provocar uma contínua instabilidade na organização do método de jogo defensivo adversário.
> 2. Aplicar um ritmo mais ou menos elevado, que seja incompatível com as acções coordenadas dos adversários com
vista à sua desorganização.
> 3. Utilizar constantes deslocamentos em largura e profundidade, por forma a aumentar o número de linhas de passe e
naturalmente o incremento das opções tácticas em termos de apoio, progressão e rotura da organização defensiva adver-
sária. Nestas circunstâncias, dificultam-se as acções de marcação que se traduzem pela presença física do defesa sobre
o atacante com o intuito de o neutralizar.
> 4. Direccionar, sempre que possível, as acções técnico-tácticas individuais e colectivas para a baliza adversária ou para
espaços vitais do terreno de jogo. Esta condição coloca os defesas adversários sob uma forte pressão de carácter táctico
e psicológico.
> 5. Executar circulações tácticas, que representam formas superiores de coordenação da participação consciente dos
jogadores e das suas acções de carácter individual ou colectivo, com o intuito de elevar as taxas de sucesso, especial-
mente, nas fases de criação de situações de finalização e de remate à baliza.
> 6. Simplificar o processo ofensivo através do recurso a um reduzido número de jogadores que intervêm directamente
sobre a bola, executando comportamentos técnico-tácticos pelo lado do risco, o que determina um aumento da capacidade
de iniciativa, improvisação e criatividade dos jogadores.
> 7. Aproveitar o desequilíbrio momentâneo de carácter mental (atitude), motor (comportamento) e de organização espa-
cial da equipa que estava a atacar e tem de passar a defen-der.

Neste domínio podemos estabelecer três formas base através dos quais se expressam os diferentes métodos de
jogo ofensivo: o contra-ataque, o ataque rápido e o ataque posicional.
5.1. O contra-ataque
Analisaremos esta forma ofensiva de base tendo em consideração as suas características, as suas vantagens e
desvantagens.
A. Esta forma de organização ofensiva é caracterizada pelos seguintes aspectos:
> 1. Rápida transição das atitudes e comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos, da fase defensiva para a
fase ofensiva do jogo, logo após a recuperação da posse da bola.
> 2. Elevada velocidade de transição da zona do campo onde se efectuou a recuperação da posse da bola, às zonas
predominantes de finalização. Diminuindo assim, o tempo da fase de construção do processo ofensivo.
> 3. Máxima (a mais elevada) cadência-ritmo de circulação da bola e dos jogadores.
> 4. Simplicidade do processo ofensivo, implicando um reduzido número de jogadores que intervêm directamente sobre
a bola, executando comportamentos técnico-tácticos fundamentalmente pelo lado do risco.
> 5. Execução de respostas técnico-tácticas em condições favoráveis em termos de tempo e espaço, cuja direcção tem
como alvo a baliza adversária.
> 6. Impedir a equipa adversária, devido à velocidade deste método ofensivo, em dispôr do tempo necessário para poder
evoluir para uma organização mais estável e coesa do seu método defensivo.
> 7. Obriga a aplicação de métodos defensivos, em que os jogadores se posicionam e se concentram muito perto da
sua grande área. Este facto provoca na equipa adversária, quando em processo ofensivo, uma falsa sensação de
domínio de jogo levando os jogadores, a "subir" no terreno para colmatar o desequilíbrio existente e a recrutar um maior
número de jogadores para cumprirem o objectivo do ataque. Em consequência desta acção, criam-se grandes espaços
de jogo, entre a última linha defensiva e a baliza, espaços esses que deverão ser posteriormente utilizados para a apli-
cação eficaz do método ofensivo em questão.

B. Os aspectos favoráveis do contra-ataque são os seguintes:


> 1. Cria sucessivamente condições de instabilidade do processo defensivo adversário, devido à rápida transição de ati-
tudes e comportamentos da fase defensiva para a fase ofensiva e à elevada velocidade de transição da zona de recu-
peração da posse da bola para as zonas predomi-nantes de finalização. Procura-se assim, não se proporcionar à equipa
adversária, o tempo necessário para o estabelecimento de uma organização suficiente para contrapor às acções e inter-
acções dos atacantes.
> 2. Transmite à equipa adversária, quando eficazmente utilizado, um elevado nível de insegurança. Assim, decorrido
algum tempo observa-se, que um só atacante "prende" a atenção de dois ou mais adversários que, consequentemente
não poderão integrar-se no processo ofensivo da sua equipa.
> 3. Provoca um elevado desgaste técnico-táctico, físico e principalmente psicológico aos adversários, cuja função tác-
tica é marcar os atacantes que relançam e suportam fundamentalmente este método ofensivo.
> 4. Aumenta as dificuldades de marcação dos atacantes, pois a maioria dos deslocamentos neste método ofensivo,
executam-se de trás para a frente da linha da bola, o que torna as situações mais delicadas em termos defensivos.
> 5. Eleva a capacidade de iniciativa, improvisação e criatividade dos jogadores, que de-vido à sua grande liberdade de
acção podem explorar amplamente as suas capacidades individuais.
> 6. Usufrui de condições favoráveis em termos de espaço. A criação e utilização eficaz destes espaços leva a uma con-
stante modificação do ângulo de ataque, consequentemente provoca uma constante instabilidade da organização da
defesa adversária.

>>>

Figura 1. O método ofensivo “contra-ataque”


> 7. Dificulta ou mesmo impossibilita a equipa adversária a contra-atacar ou atacar ra-pidamente, logo após a recuper-
ação da posse da bola, visto haver um grande número de jogadores atrás da linha da bola, mantendo um rígido e eficaz
equilíbrio defensivo.

C. Os aspectos desfavoráveis do contra-ataque são os seguintes:


> 1. Possibilidade de se observar constantes e rápidas perdas da posse da bola, devido à elevada velocidade de exe-
cução técnico-táctica, assim uma falha individual pode comprometer de imediato a continuidade do processo ofensivo e
criar situações difíceis de resolução.
> 2. Elevado carácter individualizado das acções, pois em que quase todas as situações de jogo, os jogadores encon-
tram-se em igualdade ou inferioridade numérica. Daí a necessidade de os jogadores para além de serem rápidos, teram
que evidenciar elevados níveis de eficácia em situações de 1x1, ou 1x2.
> 3. Diminui a coesão e aumenta a permeabilidade da organização ofensiva, devido a não haver uma mútua cobertura
nas situações de jogo. Impossibilitando assim, que se jogue num bloco homogéneo e enfraquecendo o espírito e soli-
dariedade entre os jogadores.
> 4. Contribui para um rápido desgaste físico dos jogadores sobre quem recaem fundamentalmente a construção do
ataque da equipa, obrigando-os a reagir constantemente às situações de jogo.
> 5. Necessidade de se utilizar métodos defensivos em que se verifica uma grande concentração de jogadores perto
da sua própria baliza, o que: a) determina uma maior perigosidade na recuperação da posse da bola devido à distância
a que esta se encontra da sua baliza e, b) quando a equipa sai para o contra-ataque, observa-se um estiramento da
equipa em termos de profundidade (parece que se encontra “partida”) diminuindo a coesão e homogeneidade da equipa.
> 6. Impõe um elevado espírito de sacrifício e paciência, pois sem estes atributos, dificilmente haverá efectividade deste
método ofensivo.

5.2. O ataque-rápido
As características fundamentais do ataque rápido são as mesmas que foram referidas para o contra-ataque, a difer-
ença estabelece-se fundamentalmente no facto do contra-ataque procurar assegurar as condições mais favoráveis para
preparar a fase de finalização, antes da defesa contrária se organizar de forma efectiva. Enquanto que, o ataque rápido, terá
de preparar a fase de finalização já com a equipa adversária organizada eficientemente no seu método defensivo. Assim,
observa-se os mesmos pressupostos referidos para o contra-ataque, especialmente no que diz respeito, à rápida transição
da zona de recuperação da posse da bola para as zonas predominantes de finalização, com uma preparação mais demora-
da e laboriosa da etapa de criação e da de finalização.
As vantagens e as desvantagens deste método ofensivo, são fundamentalmente as mesmas que foram referidas
para o contra-ataque.

>>>

Figura 2. O método ofensivo “ataque rápido”

5.3. O ataque posicional


Analisaremos esta forma ofensiva de base tendo em consideração as suas características, as suas vantagens e
desvantagens.
A. Esta forma de organização ofensiva é caracterizada pelos seguintes aspectos:
> 1. Eleva-se o tempo de elaboração da fase de construção do processo ofensivo, em que a maior ou menor velocidade
de transição da zona de recuperação da posse da bola às zonas predominantes de finalização, é sempre consequência
do nível de organização da equipa em processo ofensivo e da equipa em processo defensivo.
> 2. Pressupõe-se a utilização de um grande número de jogadores e de acções técnico-tácticas para concretizar os
objectivos do ataque. Neste sentido, a equipa joga constantemente numa organização que evidencia um bloco homogé-
neo e compacto, devido a permanentes acções de cobertura ofensiva, especialmente, aos jogadores que intervêm direc-
tamente sobre a bola.
> 3. Impõe-se que as atitudes e os comportamentos individuais e colectivos dos jogadores nas situações momentâneas
de jogo, são resolvidas pelo lado do seguro, fundamentalmente na de construção do processo ofensivo. Sendo preferív-
el acções "a mais", ou seja, que não resolvam eficazmente a situação de jogo, do que acções que possam provocar a
perda da bola extemporaneamente.
> 4. Criam-se constantemente as condições mais favoráveis, em termos de tempo, de espaço e número, para uma sim-
ples, eficaz e segura resposta táctica, em função das situações de jogo.
> 5. Estabelece-se constantemente um equilíbrio dinâmico da organização do método ofensivo, devido à utilização de
acções técnico-tácticas de compensação e permutação, na procura permanente de uma ocupação racional do espaço
de jogo.
> 6. Possibilita-se a aplicação de métodos defensivo pressionantes que evidenciam a preocupação da recuperação da
posse da bola em zonas longe da sua própria baliza e que diminuam a profundidade do processo ofensivo adversário.
Em suma, retirar parte da iniciativa ao adversário, quando este se encontra de posse de bola.

B. Os aspectos favoráveis do ataque posicional são os seguintes:


> 1. Possibilita que a organização ofensiva reflicta continuamente um bloco homogéneo e compacto.
> 2. Diminui a possibilidade de se perder a posse da bola de uma forma extemporânea, ao se optar por soluções tácti-
cas pelo lado do seguro.
> 3. Estabelece que as falhas individuais possam ser prontamente corrigidas pelos companhei-ros, devido à contínua
execução de acções de cobertura ofensiva, construindo-se assim, um elevado grau de solidariedade.
> 4. Proporciona uma melhor divisão dos esforços produzidos pela equipa, não existindo a sobrecarga de uns jogadores
em detrimento de outros.
> 5. Permite muitas situações de superioridade numérica no centro do jogo ofensivo, devido ao deslocamento de um ou
mais jogadores para um certo espaço vital de jogo.
> 6. Pode determinar, devido ao tempo que normalmente este método ofensivo dura, que os adversários entrem em crise
de raciocínio táctico. Consequentemente, levá-los-á a julgar erradamente as situações de jogo e a optar por soluções
tácticas de elevado risco na tentativa de recuperar a posse da bola.

C. Os aspectos desfavoráveis do ataque posicional são os seguintes:


> 1. Possibilita, devido ao tempo necessário para a elaboração da fase de construção do ataque, que a equipa adver-
sária pode estabelecer uma organização defensiva consistente e homogénea em função da evolução do processo ofen-
sivo.
> 2. Implica por parte dos jogadores atacantes uma percepção e leitura constantes das situações de jogo e a antecipar
as acções técnico-tácticas dos defesas.

>>>

Figura 3. O método ofensivo “ataque posicional”


> 3. Requer a execução constante de acções que visam o reequilíbrio da organização da equipa (compensações-per-
mutações) durante a fase ofensiva.
> 4. Perspectiva a resolução táctica das situações de jogo pelo lado da segurança, daí que se observe que muitas
acções técnico-tácticas são direccionadas para o lado ou para trás. Em alguns casos, perde-se a possibilidade de se
aproveitar uma excelente situação de jogo para isolar um companheiro e resolver rapidamente a acção ofensiva.
> 5. Estabelece a possibilidade, devido ao processo ofensivo desenrolar-se frequentemente em espaços reduzidos, que
a equipa adversária se concentre nesses espaços facilitando as acções de marcação e por inerência dificulte a pro-
gressão do ataque.
> 6. Diminui a eficácia do método defensivo, se não se corrigir rapidamente os possíveis desequilíbrios na organização
da equipa, logo após a perda da posse da bola. este facto é significativo e compreensível, pois devido a um tempo de
posse de bola e a utilização de um número de jogadores mais alargado é normal que a organização da equipa tenha a
tendência para se desequilibrar defensivamente. Assim, logo após a perda da posse da bola a equipa está mais expos-
ta e vulnerável a acções ofensivas caracterizadas por uma elevada velocidade de execução.

6. Aspectos fundamentais

Qualquer método de jogo ofensivo fundamenta-se em diferentes pressupostos que direccionam e potencializam os
seus objectivos. Neste sentido, iremos analisar cinco aspectos essenciais do problema: (1) o equilíbrio defensivo, (2) a veloci-
dade de transição, (3) o relançamento do processo ofensivo, (4) os deslocamentos em largura e profundidade e, (5) a circu-
lação táctica. No entanto, importa reforçar a ideia de que os diferentes pressupostos mencionados, por si só ou conjunta-
mente, em nada contribuirão para a eficácia do processo ofensivo, se não forem judiciosamente suportados pelo trabalho de
todos os jogadores, criando-se um forte sentido e mentalidade colectiva. Com efeito, o futebol na actualidade, a acção isola-
da de um jogador conta muito pouco quando defronta uma organização defensiva colectiva, sendo raras as ocasiões, e quan-
do acontecem são muito específicas (por exemplo: as situações de bola parada), em que se pode observar uma resolução
técnico-táctica genial do atacante em ultrapassar toda uma rede colectiva defensiva bem estruturada e organizada. Logo, a
funcionalidade de uma equipa de futebol passa inabalavelmente pela interligação e o ajustamento dos comportamentos
simultâneos dos jogadores em função das contigências e do desenvolvimento contextual das situações de jogo.
Neste domínio, o trabalho de equipa na fase ofensiva do jogo, exprime-se pela constante execução das acções téc-
nico-tácticas em direcção da baliza adversária, nas diferentes acções de cobertura/apoio aos companheiros que intervêm
sobre a bola, à mobilidade permente dos jogadores que momentaneamente estão à frente da linha da bola, na tentativa do
alargamento do leque de opções de resposta à situação problemática de jogo e no enquadramento de todas estas acções
realizadas num elevado ritmo de actividade. Todavia, seja qual for o grau destas exigências, só podem ser levadas a cabo
pela existência de uma organização que possibilita a cada elemento (jogador) participar nas diferentes fases do processo
ofensivo, por forma a assegurar uma maior eficácia e continuidade deste, porque sabem antecipadamente, que a sua posição
e funções específicas de base dentro do sistema de jogo da equipa, estão a ser acautelados por um outro companheiro.
Deverá existir assim, uma compreensão elementar entre os jogadores de uma equipa: sempre que um companheiro ajuda
tem direito a que o ajudem também. Se um jogador deixa a sua posição e funções específicas de base num determinado
momento da partida, para ocupar a posição e as funções específicas de um outro companheiro, deverá este último, o mais
rapidamente possível voltar, não à sua posição e funções de base, mas antes ocupar o lugar deixado livre pelo companheiro
que o ajudou. Mudam assim momentâneamente de posição e funções específicas, mas nunca de responsabilidades, orga-
nização e solidariedade.
Torna-se assim fundamental e necessário, que cada jogador para além de tomar consciência da superfície do ter-
reno de jogo onde vai evoluir, dos seus limites, das suas funções específicas de base (missão táctica individual), deverá con-
hecer igualmente as missões dos seus companheiros e estar preparado para os ajudar numa dada situação de jogo, ou
assumir ele próprio essas mesmas funções. Em cada situação, os jogadores devem consciencializar e valorizar constante-
mente a sua contribuição para o desenvolvimento do processo ofensivo da sua equipa com carácter de disponibilidade total
pressupondo: (1) a avaliação das suas possibilidades de êxito, preparando mentalmente a sua acção futura, antecipando a
sua intenção e o seu comportamento em função da situação por ele prognosticado e, (2) a execução de uma resposta que
seja previsível aos olhos dos seus companheiros e imprevisível aos dos adversários, isto pressupõe a contínua tomada de
informações sobre o desenrolar possível das situações de jogo.
Concluindo, a resolução de cada situação de jogo deverá resultar da mútua responsabilidade de todos os
jogadores da equipa, dando a todos eles a possibilidade de decidirem e executarem entre várias opções a resposta táctica
a que lhes parecem ser a mais adaptada e ajustada relativamente à situação. Não tendo que decidir por uma única alterna-
tiva de resposta, que pode derivar da capacidade dos adversários, mas acima de tudo resulta, dos companheiros que não
criam condições para lhes proporcionar outras.

6.1. O equilíbrio ofensivo


O primeiro aspecto fundamental na organização de qualquer método ofensivo, é ter presente que a fase de ataque
começa antes do momento da recuperação da posse da bola. Com efeito, os jogadores que não intervenham directamente
nas acções que procuram concretizar essa recuperação, devem assumir
atitudes e comportamentos técnico-tácticos por forma a atingir os
seguintes objectivos:
> 1. Preparar mentalmente a acção ofensiva, ocupando e explorando
espaços vitais de jogo que possam ser utilizados para o empreendi-
mento do ataque.
> 2. Obrigar os seus adversários directos, a preocuparem-se mais na
defesa da sua própria baliza, que no ataque à baliza adversária e
6
<<< Equilíbrio
mesmo na organização do processo ofensivo da sua equipa.
ofensivo
> 3. Forçar a equipa adversária a atacar em inferioridade numérica,
uma vez que o equilíbrio defensivo é construído, na maior parte das
situações, na base da superioridade numérica.

6.2. A velocidade de transição


Um dos pressupostos essenciais de qualquer método de jogo ofensivo é a velocidade de transição (reconversão)
de dois aspectos fundamentais:
> 1. Das atitudes e dos comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos subjacentes à fase defensiva para a fase
ofensiva, logo após a recuperação da posse da bola. Neste sentido, ao
consumar-se a recuperação da posse da bola, toda a equipa deverá
reajustar os seus comportamentos técnico-tácticos individuais e colec-
tivos na resposta a quatro questões fundamentais: quem (todos os
jogadores da equipa), quando no momento imediato à recuperação da
posse da bola), onde (em qualquer espaço de jogo) e como (ocupan-
do espaços apropriados, estabelecer linhas de passe, utilizar
mudanças rápidas de ritmo e direcção e executando procedimentos
técnico-tácticos individuais e colectivos).
<<<
> 2. Na rápida transição do centro do jogo desde da zona de recuper-
ação da posse da bola em direcção aos espaços predominantes de
~
finalização. Diminuindo nesta perspectiva, o tempo da fase de con-
strução/elaboração do processo ofensivo por forma a que a organização defensiva adversária não tenha o tempo
necessário para poder evoluir para uma organização mais estável e coesa do seu método defensivo.

6.3. O relançamento do processo ofensivo


O relançamento do processo ofensivo estabelece-se como um
momento fundamental de qualquer método atacante preconizado pela
equipa. Os objectivos de um eficaz relançamento do processo ofensivo
radicam-se no/na:
> 1. Aproveitamento do momentâneo desequilíbrio em que se encon-
tra uma equipa que atacava e que tem que passar a defender. Este
facto é, na maior parte das situações, a chave para um ataque com
êxito.
> 2. Reacções imediatas de todos os jogadores através de movimen-
tações escalo-nadas em largura e profundidade, por forma a estabele- >>>
cer linhas de passe (opções tácticas) e a diminuir a possibilidade de se realizar acções de marcação.
> 3. Maximização das acções técnico-tácticas de relançamento deste processo, evitando-se a perca imediata da posse da
bola, que se traduziria, num curto intervalo de tempo, numa nova mudança de atitude dos jogadores (defensiva-ofensiva-
defensiva) e no desequilíbrio de toda a organização da equipa que esse momento evidencia. Daqui se infere, a necessi-
dade de assegurar a posse da bola para que a equipa encontre uma forma segura e eficaz, por um lado, mas tão rápida
quanto possível a progressão desta até às zonas predominantes de finalização, por outro.
> 4. Correcta leitura da situação de jogo, a qual consequentemente determina que forma de organização ofensiva irá
suceder-se - contra-ataque, ataque rápido, ou ataque posicional, tendo em atenção que o relançamento do processo é nor-
malmente realizado em situações de grande pressão sobre o jogador de posse de bola.

6.4. Deslocamentos em largura e profundidade


Qualquer método ofensivo consubstancia-se por constantes deslocamentos por parte dos jogadores sem a posse
da bola. Estes deslocamentos são realizados em diferentes ângulos e para diferentes espaços, nunca se perdendo o con-
tacto visual com a bola e tendo uma visão o mais ampla possível do terreno de jogo, na procura de exploração dos espaços
de jogo para a progressão da bola. Os deslocamentos em largura e profundidade devem concretizar os seguintes três objec-
tivos:
> 1. Criar um maior espaço de jogo, estabelecendo-se, por um lado, a possibilidade dos jogadores terem mais tempo para
executar os seus comportamentos técnico-tácticos, e por outro, obrigar os defesas a terem frequentemente de optar entre
marcar um espaço vital ou um adversário.
> 2. Proporcionar ao companheiro de posse de bola o máximo de alternativas de resolução técnico-táctica da situação
momentânea de jogo.
> 3. Dificultar o trabalho defensivo consubstanciado por uma deficiente marcação aos seus atacantes directos e a impos-
sibilidade de estabelecer um mútua cobertura defensiva.

6.5. A circulação táctica


O método de jogo ofensivo, qualquer que este seja, aplicado por uma equipa com um determinado nível de orga-
nização, reflecte de forma mais ou menos explicíta um conjunto diferenciado de circulações tácticas, que representam, em
última análise, formas superiores de coordenação das acções individuais e colectivas de vários jogadores, que visam essen-
cialmente assegurar a criação de contextualidades de jogo propícias à concretização de situações de finalização e de cul-
minação de todo um processo ofensivo com a acção técnico-táctica de remate. Estas etapas do processo ofensivo só
poderão ter uma elevada taxa de sucesso, através de uma coordenada orientação e regulação preestabelecida com a uti-
lização de meios de treino suficientemente exercitados (duração e inten-
sidade) no plano da estandardização, por um lado, e de variação situa-
cional, por outro.
Nesta perspectiva, a circulação táctica consubstancia uma
forma evoluída de regras (mais ou menos complexas) da participação `
consciente de todos os elementos da equipa no jogo colectivo, por forma
a ultrapassar os obstáculos postos pela equipa adversária e a criar situ-
ações eminentes de golo. É neste quadro conceptual, que os exercícios
cujo objectivo é o aperfeiçoamento e desenvolvimento das circulações <<<
tácticas iram de forma sistemática, coerente e eficaz rentabilizar as
acções técnico-tácticas específicas dos jogadores com ou sem a bola. O
estudo e a aplicação das circulações tácticas procuram maximizar cada comportamento individual, numa dinâmica e inten-
são colectiva fruto dos objectivos estratégico-tácticos da equipa em cada momento do jogo. Assim, as circulações tácticas
exprimem-se segundo quatro vertentes fundamentais: (1) uma circulação da bola em determinadas direcções que derivam
da execução de diferentes acções técnico-tácticas, (2) uma circulação de jogadores com ou sem a posse da bola expressos
por deslocamentos e desmarcações múltiplas e constantes, (3) uma variação sequencial da velocidade de execução dos pro-
cedimentos técnico-tácticos individuais e colectivos e, (4) uma articulação sectorial (defesas, médios e avançados) entre os
vários jogadores que constituem a equipa na concretização do golo, mas que mantêm sempre um equilíbrio dinâmico em
função da situação, no caso de se ter de reiniciar o processo ofensivo ou no máximo ter de novo recuperar-se a posse da
bola. Finalizando, qualquer circulação táctica deve ca-racterizar-se por um conjunto de atributos que na sua globalidade
determinam a eficiência e a eficácia destas acções:
> 1. Agressividade. As circulações tácticas devem ter como um dos seus atributos intrínsecos a propensão para atacar a
baliza e, simultaneamente, diminuir a resistência psicológica e moral da equipa adversária. Estes condições só são pos-
síveis devido à criação e desenvolvimento de uma coordenação colectiva consciente e dinâmica que procura impôr suces-
sivamente o objectivo último do jogo de futebol - o golo. Nesta perspectiva, a agressividade das circulações tácticas devem
conter basicamente três vertentes fundamentais de ordem técnica e táctica:
> A. Execução sucessiva e múltipla de deslocamentos ofensivos e desmarcações.
> B. Orientação permanente de todos os comportamentos técnico-tácticos executados na direcção da baliza adversária.
> C. Ataque constante aos espaços vitais de jogo através da criação e exploração des-ses espaços através dos mes-
mos ou diferentes jogadores pertencentes à equipa.
> 2. Reversibilidade. Este atributo ajusta-se às circulações tácticas no sentido destas estabelecerem mecanismos
automáticos por forma a responder adequadamente às seguintes três possibilidades:
> A. Inversão do desenvolvimento do processo. Os jogadores quando percepcionam a possibilidade de perder a
posse da bola se insistirem na utilização de um determinado sector ou corredor de jogo, no qual existe uma elevada
pressão defensiva da equipa adversária, o desenvolvimento da circulação táctica terá de contér mecanismos de inver-
são de carácter técnico-táctico e espacial por forma a mudar rápidamente o ângulo de ataque.
> B. Recomeço do processo. Os jogadores têm a noção que em qualquer momento do desenvolvimento da circulação
táctica esta poderá ser pontualmente interrompida devido ao incumprimento do regulamento do jogo por parte dos defe-
sas (infracções) ou pela execução ineficaz da acção técnico-táctica. Nestas circunstâncias, a circulação táctica não dev-
erá recomeçar desde o seu início, mas sim, coordenando-se as acções dos jogadores da equipa partir de um novo con-
texto situacional, que por si, poderá determinar uma circulação táctica diferente.
> C. Passagem controlada à fase defensiva do jogo. As circulações tácticas devem igualmente prever as situações
de perda de posse de bola, criando-se mecanismos de suporte a uma passagem controlada à fase defensiva do jogo.
Neste sentido, é fundamental estabelecer-se as condições mais vantajosas para uma rápida recuperação da posse da
bola ou no mínimo a impossibilidade dos atacantes adversários imprimirem uma elevada velocidade de transição desde
a zona de recuperação da posse da bola para as zonas propícias à finalização.
> 3. Acessibilidade. Outro dos atributos fundamentais das circulações tácticas é estas apresentarem um nível de acessi-
bilidade elevado, a qual poderá ser perspectivado segundo diferentes vertentes:
> A. Construção de um acesso mais fácil à concretização dos objectivos do processo ofensivo, isto é, o golo.
> B. Estabelecimento de condições no qual a criação, inovação e improvisação são predicados fundamentais do jogo
ofensivo.
> C. Possibilitar uma fácil aprendizagem consentânea com as capacidades momentâneas dos jogadores no plano da
compreensão e da prática.
> D. Reunir as condições para que um maior número de jogadores possam estar em condições para finalizarem o
processo ofensivo com elevadas possibilidades de êxito.

6.6. Estabelecimento de um tempo e ritmo de jogo


A variação do ritmo de jogo é hoje em dia e no futuro, um dos aspectos mais importantes na modificação estrutur-
al do futebol. A duração de cada acção ofensiva varia entre os 2 e os 150 segundos, tempo durante o qual a atitude e os com-
portamentos técnico-tácticos dos jogadores da equipa de posse de bola, são de a movimentar com precisão e o mais rapi-
damente possível (consoante a situação de jogo) para a baliza adversária e aí culminar o processo ofensivo através de
acções de finalização. Contudo, observa-se uma alternância frequente entre períodos de tempo (das acções ofensivas) cur-
tos e relativamente longos, com constantes mudanças de ritmo (em função do resultado numérico e da situação de jogo).
Esta alternância relaciona-se, por um lado, com o grau de risco ou de segurança em que as equipas nesta fase do jogo exe-
cutam as suas acções técnico-tácticas com o objectivo de chegar ao golo, e por outro, pelas equipas em processo defensi-
vo assumem uma atitude mais ou menos determinante e agressiva na tentativa de conquistar a posse da bola.
As equipas tentam impôr um tempo e um ritmo mais rápido que o seu adversário. Para o conseguirem, pressionam
e obrigam o adversário a entrar em crise de tempo e de raciocínio táctico. As equipas que estão submetidas a longos perío-
dos de jogo sem terem recuperado a posse da bola tornam-se ansiosas e arriscam-se por vezes em demasia na tentativa de
recuperar a bola, não discernindo correctamente as situações de jogo. Segundo Teodorescu (l98(4), o tempo e o ritmo de jogo
têm uma importância maior no ataque que na defesa (devido à iniciativa, determinada pela posse da bola) e, consiste no
maior ou menor número de acções individuais e colectivas, na velocidade de execução destas e na zona do terreno de jogo
em que estas se desenvolvem. Assim, podemos afirmar que no:
> 1. Tempo de jogo. Pretende-se que a equipa realize
durante o tempo regulamentar de jogo - 90 minutos -
um número máximo de acções individuais e colecti-
vas quer na fase ofensiva como na fase defensiva,
sendo estas relativas à unidade de tempo (duração de
um processo ofensivo ou defensivo). Por outras
palavras, pretende-se aumentar o número de vezes
que a equipa tem a posse da bola, consequentemente <<<
aumentar o tempo de posse de bola e simultanea- 6
mente diminuir o tempo em que a equipa se encontra
em processo defensivo. Logicamente estes pressupostos irão aumen-
tar as oportunidades de concretização da equipa e reduzir o número
de oportunidades cedidas para o mesmo fim, ao adversário. É neste
contexto que podemos dizer que o "tempo de jogo" é o número de
acções individuais e colectivas realizadas na unidade de tempo
durante um processo ofensivo ou defensivo. >>>
> 2. Ritmo de jogo. "Pretende-se que a equipa faça variar a sequên-
cia das acções individuais e colectivas durante o processo ofensivo,
de modo que seja variável a ordem com que são executadas, o espaço necessário para a sua execução, a velocidade de
execução de cada uma delas e a distribuição no tempo em que dura o ataque" (Teodorescu, l984). A capacidade de uti-
lização de um ritmo-variação sequencial de acções individuais e colectivas, adaptado às situações momentâneas de jogo,
determina o nível de maturidade técnico-táctica de uma equipa. Neste contexto, o ritmo pelo qual se desenvolve o proces-
so ofensivo ou processo defensivo exprime-se pela velocidade (tempo), orientação (espaço) e pela organização (acções
técnico-tácticas jogadores envolvidos etc.). Muitas vezes numa partida entre duas equipas de valor idêntico, a vitória é deci-
dida pela capacidade de uma das equipas impôr o seu ritmo de jogo.

Do exposto, podemos inferir que a velocidade (de execução e de raciocínio táctico) é o factor determinante e o
denominador comum da aplicação de um elevado ritmo de jogo. Todavia, é preciso ter presente três aspectos fundamentais:
(1) um ritmo elevado é consequência da variação ("pontos altos e baixos") da velocidade de execução dos comportamentos
técnico-tácticos individuais e colectivos, daí a importância de a equipa reagir no seu conjunto reconhecendo quando, onde e
como o aplicar de uma forma metódica e sistemática. Um maior ou menor ritmo de jogo, ao transportar igualmente o factor
surpresa, provocará desequilíbrios pontuais e temporários, tanto nas unidades estruturais funcionais da equipa adversária,
como inclusivé, em toda a sua organização defensiva, (2) ao aumento da velocidade corresponde normalmente o aumento
da probabilidade de execução ineficaz das acções técnico-tácticas que por si poderão incrementar o número de perdas de
posse de bola, neste contexto se infere, a necessidade de se estabelecer um ritmo, o mais conveniente possível, mantendo
os níveis de rendimento da equipa e, (3) o ritmo de jogo aplicado deverá determinar a impossibilidade do adversário se adap-
tar eficientemente às constantes e sequenciais mudanças de cadência da velocidade de execução motora /aumentando-se
ou diminuindo-se) em momentos oportunos (criação de condições desfavoráveis aos adversários).

7. Bibliografia
CASTELO, J., (1996). Futebol - A organização do jogo. Edição do autor. Lisboa
CASTELO, J., (1999) Futbol - estructura y dinamica del juego, INDE Publicaciones, Barcelona
CASTELO, J., (2003) Futebol - Guia prático de exercícios de treino. Visão e contextos. Lisboa
TEODORESCU, L., (1984) Problemas de teoria e metodologia nos desportos colectivos, Livros Horizonte, Lisboa

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