Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
JORGE CASTELO
A concretização dos objectivos estabelecidos para um determinado confronto é o resultado, por um lado, da actu-
ação eficaz dos jogadores que constituem a equipa, reflectindo o nível de preparação e evolução desta, e por outro, da hábil
direcção do jogo da equipa por parte do treinador, que em última análise, se consubstancia como uma fonte de informação,
estabelecendo as linhas de orientação geral e específica dos comportamentos técnico-tácticos dos jogadores. Esta direcção
procura assim, estabilizar ou modificar o comportamento dos jogadores, por forma a adequá-los em função dos variados con-
textos em que as situações de jogo ocorrem. Neste domínio, dirigir e orientar a equipa durante a competição é uma das tare-
fas mais difíceis dentro das diferentes funções do treinador, mas é também, e simultaneamente, a mais valorizada pelos diri-
gentes dos Clubes, sócios, jogadores, meios de informação, etc. Dirigir uma equipa de futebol durante a competição consub-
stancia-se através da aplicação de medidas orientadas para a optimização dos comportamentos técnico-tácticos individuais
e colectivos, apresentando aspectos básicos fundamentais que devem ser considerados:
> (1) Só é possível dirigir uma equipa quando, por parte dos jogadores, existe uma predisposição para se deixarem dirigir.
> (2) Só é possível dirigir uma equipa quando se utilizam medidas directivas apropriadas acompanhadas por meios apro-
priados.
> (3) Só é possível dirigir uma equipa quando se conhecem e se têm em conta as necessidades individuais e se consegue
com que se mantenham dentro do quadro das necessidades da equipa.
> (4) Ouvir e observar, são as condições básicas para uma direcção eficaz. Ambas as atitudes pressupõem da parte do
treinador predisposição e conhecimentos.
A direcção da equipa inferma de imediato, numa primeira grande dificuldade, que deriva da necessidade de se ter
de observar ambas as equipas simultaneamente. Alguns treinadores concentram-se demasiado sobre as acções da sua
própria equipa, perdendo, por um lado, a possibilidade de reagir a tempo às soluções postas em prática pela equipa adver-
sária e, por outro, a possibilidade de valorizar convenientemente o rendimento dos seus jogadores, pois esta valorização tem
de ter em conta os adversários. Com efeito, devido à grande quantidade
de factores que o treinador tem que observar e analisar durante a com-
petição (pois só a partir deste reconhecimento é possível tomar eventu-
ais decisões), é necessário que o treinador estabeleça um "guia" ou
"roteiro" sequencial e automatizado que lhe permita retirar as infor-
mações, consideradas por ele mais pertinentes, para que estabeleça
uma decisão rápida e segura. Daqui se infere a necessidade de o
treinador presenciar o jogo num estado físico e intelectual óptimo, jul-
gando as diferentes situações de jogo a partir de rotinas de observação
caracterizadas pela sua selectividade, sistematização e rapidez, sem se
envolver emocionalmente nelas, cumprindo esta tarefa com plena concentração e objectividade. Em conformidade com o que
foi referido, durante o jogo o treinador está perante um contexto em constante modificação e evolução, o que determina da
parte deste uma vigilância, isto é, uma observação minuciosa na procura de descobrir algo de novo no jogo, que possa ser
utilizado em benefício próprio e de intervir através de indicações pontuais, ou estabelecer mudanças no plano de jogo da
equipa. É da rapidez de observação/análise e da tomada de decisão (opção) do treinador que depende parte do êxito de uma
equipa num determinado confronto.
Nestas circunstâncias, sendo o treinador responsável pelos ajustamentos ou modificações do plano de jogo da
equipa, quer ao nível estrutural, metodológico, técnico-táctico e táctico-estratégico, deverá, durante o confronto (primeira e
segunda parte) direccionar o seu pensamento e a sua actuação para os seguintes aspectos prioritários:
> (1) Analisar sistematicamente o sistema de jogo, o método de jogo, os coordenadores de jogo, etc., no plano ofensivo e
defensivo, utilizado pela equipa adversária, verificando se são consonantes com as informações dadas aos seus jogadores.
Observar a conveniência, ou não, de ajustar ou modificar o plano de jogo da própria equipa.
> (2) Constatar o cumprimento do plano de jogo por parte da própria equipa, analisando a sua funcionalidade geral e
específica que fomentará um rendimento conducente, ou não, com os objectivos estabelecidos para esse jogo.
> (3) Dar informações para o terreno de jogo (expressas em palavras ou sinais previamente combinados) que traduzem
adaptações pontuais do plano de jogo, ou a relembrar a certos jogadores as suas tarefas e missões tácticas concretas.
Poder-se-á utilizar o capitão da equipa como elemento interlocutor entre o treinador e os restantes jogadores. Promove-se
assim, uma informação clara, concisa e completa, por forma a evitar a possibilidade de haver informações mal compreen-
didas, que durante o jogo, têm consequências mais graves que a ausência de informação. Importa igualmente referir que
as informações não devem ser constantes, devido ao facto, de mais tarde ou mais cedo, os jogadores deixarem de ouvir
as orientações do treinador, ou mais grave ainda, deixarem de estar convenientemente concentrados nas situações de jogo.
Responder de forma clara e directa a questões que os jogadores possam colocar durante a competição.
> (4) Dar feedbacks positivos aos jogadores mais emotivos e menos experientes, encorajando-os, exortando-os sempre
que a situação se proporcione. Deverá ser intransigente quando se verifica falta de empenhamento ou desmoralização dos
jogadores. Importa ter em mente, que os jogadores são muito sensíveis à crítica e aos gritos do treinador durante a com-
petição, especialmente, quando esta não tem como base objectiva ajudá-los, mas sim de função justificadora do treinador
perante os directores, sócios, público, etc.
> (5) O treinador deve abster-se de demonstrações exageradas de alegria e tristeza. Não deverá insultar nem entrar em
conflito com os adversários, árbitro, fiscais-de-linha, nem utilizar sinais depreciativos. Nunca deverá deixar de observar o
jogo mesmo nos períodos mais críticos e deve evitar fazer comentários culpabilizando ou ridicularizando comportamentos
técnicos deste ou daquele jogador da sua equipa, mesmo quando estes não o ouçam, lembrar que há suplentes no banco.
> (6) “Reagir" às alterações introduzidas pelo treinador adversário (utilização das substituições, modificação do posi-
cionamento dos jogadores, alteração das missões tácticas, etc.), por forma a manter ou a melhorar as adaptações da sua
própria equipa, à "nova" funcionalidade da equipa adversária. Partindo da alteração verificada, o treinador deverá estar
seguro e entendê-la perfeitamente estabelecendo uma ou outra alteração à equipa de base (através de uma utilização dos
jogadores considerados suplentes), modificar missões tácticas específicas e distribui-las aos diferentes jogadores, estab-
elecendo numa ou noutra situação de jogo, outras soluções tácticas por forma a surpreender o adversário.
A direcção e orientação de uma equipa, por parte do treinador, deve ter pre-
sente que uma partida de futebol é constituída por momentos que se sucedem influen-
ciando decisivamente o rendimento individual e colectivo da equipa. Neste contexto,
existem vários acontecimentos durante o transcurso da partida que se podem sistemati-
zar e analisar da seguinte forma: a sucessão, o momento e as circunstâncias em que os
golos acontecem, as lesões, as substituições como meio operacional da planificação tác-
tica, a acção do juiz da partida e a equipa adversária.
Por último, podemos ainda debruçar-nos sobre dois aspectos da problemática das substituições: o momento em
que estas se devem realizar e a sua classificação, em função dos objectivos que pretende atingir. No primeiro caso, é fun-
damental escolher-se adequadamente o momento em que a substituição deverá ser levada a efeito. Neste sentido, e teori-
camente, o momento mais oportuno para a efectivação da substituição é quando a equipa detém a posse da bola, isto é,
quando se encontra em processo ofensivo. As razões derivam da possibilidade da equipa poder retardar o recomeço do jogo,
para que o novo companheiro se posicione dentro do dispositivo táctico da equipa, por um lado, e verbalize, por outro, trans-
mitindo um conjunto de informações dadas pelo treinador aos diferentes companheiros por forma que estes compreendam,
o novo ajustamento ou modificação do plano táctico da equipa. Apesar das referidas vantagens da substituição durante a fase
ofensiva da equipa, admite-se igualmente outras tantas vantagens na substituição de um ou outro jogador durante a fase
defensiva, em especial, quando esta se encontra sob uma grande pressão ofensiva da equipa adversária. Procura-se, neste
sentido, por um lado, quebrar o ritmo de jogo ofensivo adversário, diminuindo assim, o elevado fluxo das acções dos
jogadores e, por outro, obrigá-los a diminuir a sua concentração sobre a situação momentânea de jogo, por forma a perder
algum tempo na tentativa de perceber qual o objectivo táctico da substituição realizada, adaptando-se funcionalmente ao
novo jogador.
No segundo caso, podemos classificar as substituições em função dos objectivos tácticos que se pretendem atin-
gir da seguinte forma:
> (1) Uniformes. Quando o jogador que entra no campo apresenta qualidades técnico-tácticas e missões ou tarefas tác-
ticas similares ao companheiro que substituiu (por exemplo a troca de um ponta-de-lança, por outro ponta-de-lança).
> (2) Contraste. Quando um jogador entra no jogo apresenta qualidades técnico-tácticas e missões ou tarefas tácticas
totalmente diferentes do companheiro que substituiu (por exemplo a troca de um avançado por um defesa).
Concluindo, o jogador suplente deverá passar por um período de aquecimento metodologicamente correcto por
forma a entrar no jogo com um ritmo competitivo aceitável. Se tal não for possível, devido às circunstâncias do encontro (por
exemplo: lesão de um companheiro), o jogador deverá entrar no jogo gradualmente procurando que os diferentes sistemas
fisiológicos (respiratório, circulatório e muscular), se adaptem às condições de jogo. Em alguns encontros observa-se que
todos os suplentes estão a aquecer no mesmo momento. Isto acontece quando as circunstâncias decorrentes do jogo (resul-
tado, lesões, ritmo ofensivo e defensivo da equipa adversária, etc.), indiciam a necessidade da efectivação de uma substitu-
ição mas não definem de que tipo. Neste contexto, o treinador procura assegurar que qualquer opção do "banco" esteja dev-
idamente preparado para entrar no jogo, suportando de imediato o ritmo competitivo. Noutros casos, porém, os treinadores
aproveitando-se do temor evidenciado por alguns jogadores de serem substituídos, mandam todos os suplentes aquecerem
com o intuito de pressionarem os companheiros que estão em competição e, assim, influir positivamente nos seus compor-
tamentos técnico-tácticas na resolução vigorosa das diferentes situações de jogo que se lhes deparam. Todavia, este tipo de
actuação, por parte do treinador, poderá mais tarde ou mais cedo criar conflitos entre os suplentes que sentem que estão a
ser "usados" não para jogarem, mas para indicarem que o treinador não está contente com a sua actuação e, simultanea-
mente, "forçarem" os seus companheiros a jogarem de forma mais eficaz.
A equipa adversária
Um jogo de futebol constitui-se no confronto entre duas equipas com objectivos perfeitamente antagónicos. Todavia,
existem muitas pessoas que insistem em analisar o jogo na perspectiva da sua equipa como se esta jogasse sozinha. Com
efeito, por mais que se queira, não se pode ignorar que se joga contra uma equipa adversária, que tem uma organização na
qual contempla uma cultura, uma estrutura, um método, princípios do jogo, acções técnico-tácticas e um plano táctico-
estratégico. Para além dos aspectos referidos, existe ainda um conjunto de imponderáveis aparentemente secundários, difí-
ceis de sistematizar e caracterizar cujo significado, muitas vezes, é subestimado com demasiada facilidade, embora a sua
influência se fará sentir ao mais alto nível na organização e no rendimento do jogo da equipa, podendo inclusivé, modificar
temporalmente quase todos os demais factores. Basicamente existem três conceitos fundamentais na análise do jogo de uma
equipa:
(1) Observar como a equipa mantém a posse da bola, ou se a perde de forma extemporânea.
(2) Observar se os jogadores executam decisões eficientes, deslocando-se para posições que possam contribuir para um
melhor apoio/cobertura ao companheiro de posse de bola.
(3) Observar se os diferentes jogadores comunicam encorajando-se uns aos outros, especialmente nas situações mais
desfavoráveis.
Direcção da equipa durante o intervalo
O intervalo do jogo é o período de tempo que medeia o terminus da primeira parte e o começo da segunda. É
durante este período de 10 a 15 minutos que o treinador tem um conjunto de obrigações importantes e decisivas para a
equipa, tendo por objectivo: (1) estabelecer as condições mais favoráveis à recuperação dos jogadores e, concomitante-
mente, (2) informá-los sobre certos ajustamentos ou alterações, por forma a manter ou a melhorar a eficácia da equipa
durante a segunda parte do jogo. Neste sentido, e devido ao curto tempo disponível, é fundamental sistematizar um conjun-
to de aspectos a ter em conta na direcção e orientação da equipa durante o intervalo do jogo, que tanto os jogadores como
o treinador devem ter presentes: as atitudes após o apito do árbitro, relaxar/tranquilizar, vigilância médica e a preparação téc-
nico-táctica para a segunda parte.
Relaxar/tranquilizar
Os primeiros minutos do intervalo devem ser utilizados: (1) para fazer descansar os jogadores que se colocam em
posições que facilitem o repouso e a recuperação do esforço despendido. Quanto maior foi esse esforço e quanto mais des-
favorável foi o desenvolvimento do mesmo, mais importante se torna esta fase do intervalo, (2) utilizar bebidas regenerativas
(minerais, hidratos de carbono, etc.) e, (3) o treinador aproveitará os primeiros três a quatro minutos de descanso para con-
ferir os seus apontamentos e conferenciar com os seus colaboradores (técnicos e médicos).
Vigilância médica
O período de relaxamento é igualmente aproveitado pelo corpo clínico do Clube e pelo treinador: (1) para vigiar e
atender as pequenas feridas, contusões, aplicar ligaduras, executar massagens pontuais, etc., (2) o treinador questionará indi-
vidualmente cada jogador sobre a existência de problemas de carácter físico (lesões, cansaço, etc.) impeditivo de continuar
no jogo e, (3) em função das condições climatéricas e do terreno de jogo, poderá haver a necessidade de trocar de equipa-
mento e de botas (mudá-las, limpá-las, etc.).
Bibliografia
CASTELO, J., (1996). Futebol - A organização do jogo. Edição do autor. Lisboa
CASTELO, J., (1999) Futbol - estructura y dinamica del juego, INDE Publicaciones, Barcelona
CASTELO, J., (2003) Futebol - Guia prático de exercícios de treino. Visão e contextos. Lisboa
FUTEBOL
A ESTRUTURA DO JOGO
JORGE CASTELO
A organização de uma equipa de futebol é um processo elaborado para um fim preciso que, no caso vertente, passa
indubitavelmente pela optimização das acções conjuntas dos diferentes membros que constituem a equipa, na concretiza-
ção, o maior número de vezes possível, do objectivo de jogo - o golo, com o intuito de atingir a vitória.
Para que este facto seja viável, sustentável e durável, promove-se uma colocação específica da equipa dentro dos
limites estabelecidos pelas Leis do jogo. Esta ocupação exprime-se numa área mais ou menos alargada de jogo, que se
expande ou se comprime em torno dos seus dois eixos fundamentais - largura e profundidade. Neste particular, procura-se
racionalizar e optimizar as acções da equipa, estabelecendo espaços próprios a partir dos quais cada jogador individual ou
colectivamente, na fase ofensiva como defensiva e num tempo concreto de intervenção, responde de forma adequada aos
problemas levantados pelas condições de variabilidade situacional de jogo que derivam da sua lógica. Importa neste domínio
referir, que a dimensão posicionamento é, a par da constituição da equipa para a competição, as questões de fundo que mais
fascinam a larga maioria dos adeptos desta modalidade, bem como, dos jornalistas desportivos que o comentam e rescrevem.
Não é por acaso, que se promove longas discussões ácerca destes dois assuntos. Com efeito, independentemente de todos
os aspectos importantes e fundamentais que tornam este jogo mais espectacular, a verdade é que uma qualquer reflexão,
por mais ou menos profunda que seja, irá sempre ser direccionada fundamentalmente para estas duas questões. Ora, isto
acontece por termos uma percepção de base errada da lógica do jogo, na qual partimos sempre do princípio que o futuro é
consequência dos factos do passado. Esta visão só é admissível se nos enquadrarmos num ambiente estável. Todavia, o jogo
de futebol, é tudo menos um ambiente estável, queremos com isto dizer, que os acontecimentos que se desenvolvem na com-
petição são únicos e irrepetíveis porque a condições inicais nunca são as mesmas. Logo, devido à complexidade de analis-
armos os assuntos do futebol à luz de um ambiente variável e transitório, temos a tendência de nos refugiar naquilo que mel-
hor pensamos poder controlar num ambiente estável para poder explicar, à anteriori ou à posteriori, os acontecimentos vin-
douros ou passados, que derivam da competição desportiva.
Na mesma e precisa direcção, potenciam-se diferentes níveis de actividade especializada durante o desenvolvi-
mento do jogo, cujas responsabilidades de âmbito individual (jogadores) e de âmbito grupal (normalmente denominados de
sector defensivo, médio ou avançado) são determinadas por diferentes atribuições funcionais e operacionais. Estas
atribuições, por seu turno, são suportadas pelo plano estratégico-táctico pré-estabelecido antes da partida ou por alterações
efectuadas ao longo do desenvolvimento desta. Apesar da importância do plano de jogo, o que é deveras fundamental é que
a operacionalidade destas atribuições se exprimam numa eficaz interdependência dinâmica. Com efeito, a promoção de um
espaço de base próprio e individualizado, e a atribuição de um conjunto de missões tácticas de carácter geral e específico a
cada jogador, bem como, a sua articulação interna relativamente ao sector de jogo em que este se encontra e da equipa na
sua globalidade, visa, em última análise, atingir uma organização mais eficaz e eficiente no diálogo com a complexidade das
diferentes contextualidades situacionais que o jogo de futebol em si encerra. O aperfeiçoamento do subsistema estrutural na
organização da equipa procura evitar dispendios inúteis dos recursos intelectuais (decisórios) e energéticos no qual se evita
que dois ou mais jogadores da mesma equipa realizem num mesmo momento para a mesma situação de jogo, um mesmo
comportamento com as mesmas intenções tácticas. Evita-se assim, a sobreposição de funções cujo efeito negativo imedia-
to resulta no facto da equipa desenvolver a sua acção colectiva, de carácter ofensivo ou defensivo, com menos um ou mais
jogadores. Na realidade, o subsistema estrutural procura que a divergência ou convergência comportamental de todos
jogadores da equipa contribuam para o mesmo objectivo táctico solicitado. Neste sentido, o melhoramento da organização
da equipa, partindo do ponto de vista da sua estrutura, promove que cada jogador, em cada momento do jogo deverá refer-
enciar comportamentos de resposta articulando e adaptando as necessidades para a resolução da situação de jogo com os
compromissos por ele assumidos relativamente à equipa e em função dos objectivos tácticos-estratégicos momentâneos de
jogo.
1. Conceito
A estrutura que deriva da organização dinâmica de jogo de uma equipa de futebol, é definido pelo enquadramen-
to posicional dos jogadores no terreno de jogo e, paralelamente, pelas funções tácticas gerais e específicas distribuídas a
esses mesmos jogadores. Com efeito, a estrutura de uma equipa exprime-se por um dispositivo táctico, que determina o
arranjo posicional dos jogadores dentro do espaço de jogo, ajudando-os a compreenderem e a operacionalizarem as suas
funções tácticas e responsabilidades no plano individual e no plano colectivo, isto é, na sua interdependência comportamental
agindo como membros solidários dentro de uma equipa.
2. Natureza
A natureza da estrutura de jogo de uma equipa de futebol consubstancia-se basicamente por duas dimensões:
> (1) "estática" denominada de sistema de jogo ou dispositivo táctico, que representa o modo de colocação dos
jogadores sobre o terreno de jogo. Esta colocação de base fundamental (traduzida por diagramas, por exemplo: 4-4-2;
4-5-1; 4-3-3; etc.), restabelece a ordem e os equilíbrios nas várias zonas do campo, servindo de ponto de partida (refer-
enciais) para os deslocamentos relativos dos jogadores e para a coordenação das acções individuais e colectivas logo
que a bola entra em movimento.
> (2) "dinâmica" estabelecida pelas diferentes tarefas e missões tácticas distribuídas aos jogadores que compõem a
equipa que, em última análise, traduzem as regras e os limites orientadores dos seus comportamentos técnico-tácticos.
Nesta linha de raciocínio, podemos referir, que a natureza da estrutura do jogo exprime uma dupla dimensão do
mesmo fenómeno, isto é, duas faces da mesma moeda, envolvendo no mesmo sentido e no mesmo nível de importância o
posicionamento de base do jogador no espaço de jogo e as funções tácticas gerais e específicas, desenvolvidas a partir
desse posicionamento. Em conclusão a natureza da estrutura do jogo de uma equipa de futebol evidencia fundamentalmente
dois elementos de base que o constituem:
> 1. O sistema de jogo ou dispositivo táctico, representa o modo de colocação dos jogadores sobre o terreno de jogo,
para o qual a racionalização do espaço representa a sua orientação fundamental.
> 2. As diferentes funções distribuídas aos diferentes jogadores que compõem a equipa, para a qual a objectivação do
comportamento técnico-táctico destes, representa a sua orientação fundamental.
3. Importância
Ao longo dos tempos, o sistema de jogo na sua dimensão geométrica tem sido sobrevalorizado no momento da
apreciação do jogo, em detrimento de outros aspectos tão importantes, como é o caso dos métodos de jogo, dos princípios
de jogo, etc. A análise da natureza do sistema de jogo, através de uma pertinência geométrica, condena-o a não abrir senão
uma perspectiva unilateral, incapaz de abranger a realidade lógica do jogo. Muitas pessoas ainda julgam que a eficácia e o
rendimento de uma equipa passa somente pela aplicação deste ou daquele sistema de jogo, dispondo os jogadores de uma
forma mais ou menos ardilosa. No entanto, não existe nenhum sistema de jogo que possa compensar a insuficiência técni-
ca de um mau passe ou de uma má recepção, de falta de enquadramento de um conjunto de regras básicas de coordenação
dos comportamentos dos jogadores no terreno de jogo ou de incapacidade física para pôr em funcionamento todo o sistema
de elementos na procura de um objectivo comum - o golo. Neste sentido, equivocar-nos-íamos profundamente acerca do sen-
tido da nossa análise se a tomássemos por uma condição indispensável, logo, a sua importância depende concomitante-
mente das condições intrínsecas à sua aplicação.
Certamente que os sistemas de jogo contribuiram de forma plena para o desenvolvimento do jogo de futebol na
actualidade. Esta contribuição derivou da procura constante de se explorar e expor os adversários a novos e difíceis proble-
mas, que advenham de um posicionamento mais racional e adaptado às condições que perspectivamos a sua ocorrência no
desenrolar da competição desportiva. Todavia, importa colocar esta questão no seu verdadeirao grau de importância, estab-
elecendo para isso os seguintes dois raciocínios:
> 1. As equipas em confronto directo têm exactamente o mesmo número de jogadores (11). Em conformidade com este
número, todos os treinadores estarão de acordo, que um sistema de jogo deverá ter, no mínimo, 3 defesas, 3 médios e 1
avançado. Isto significa, total concordância em 8 dos 11 jogadores (incluindo o guarda-redes). Restam assim 3 cuja possi-
bilidade de jogarem num ou noutro sector de jogo da equipa determina a disposição final do sistema de jogo. Senão
vejamos: se estes três jogadores forem 1 defesa, 1 médio e 1 avançado o sistema ficará num 4-4-2. Se forem 2 defesas e
1 médio, o sistema ficará 5-4-1. Se forem 1 defesa e 2 médios ficará 4-5-1. Se forem 1 defesa e 2 avançados ficará 4-3-3.
> 2. As equipas poderão operacionalizar o mesmo sistema de jogo, por exemplo 4-3-3. Todavia, exprimem certamente, uma
interpretação diferenciada desta. Senão vejamos: um dos treinadores poderá orientar a sua equipa de forma que os
jogadores pertencentes ao sector defensivo se preocuparem mais com a marcação aos seus adversários directos ou na
vigilância dos espaços vitais de jogo, do que com a incorporação destes no processo ofensivo da equipa quando de posse
de bola. Enquanto que o outro treinador, encoraja os jogadores do sector defensivo a desenvolverem acções agressivas
sobre a baliza adversária ou na sua direcção. No final da partida, se o resultado do jogo for a derrota para uma das equipas,
isto não deverá significar que este resultado poderia ser diferente se fosse aplicado um outro sistema de jogo. A derrota
observada, é o corolário de um conjunto de factores no qual o que tem, certamente, mais peso é o trabalho colectivo da
equipa. Por outras palavras, a importância e o valor de um qualquer dispositivo táctico depende em larga medida da ati-
tude e da acção colectiva dos jogadores sobre o qual ele é aplicado.
Concluindo, a importância da estrutura do jogo deve-se ao facto deste, para além de estabelecer a colocação de
base dos jogadores no terreno de jogo, proporcionar igualmente a base racional da conjugação das acções dos jogadores,
permitindo canalizar a tomada de consciência por parte destes sobre os seus direitos e deveres, fundamentalmente no que
diz respeito às suas funções e limites. Todavia, isto não significa que cada jogador não encontre dentro desta concepção de
organização da equipa o "espaço" necessário para reflectir a sua própria personalidade, improvisação e criatividade, pois este
é um pressuposto integrante do subsistema estrutural.
4. Objectivos
A organização dinâmica de uma equipa de futebol no domínio estrutural quando adequadamente delineada evi-
dencia o posicionamento dos jogadores, ou seja, o seu espaço referencial de actividade dentro da equipa, bem como das
tarefas tácticas a desempenhar. Nesta medida, este procedimento estrutural deve atingir os seguintes cinco objectivos fun-
damentais:
> 1. Promove a eficácia e a eficiência da organização da equipa. Este melhoramento estrutral da equipa advem : (1) no
afinar da sua articulação e comunicação interna, (2) na racionalização do espaço de jogo, em função das diferentes con-
textualidades situacionais possíveis e, (3) na especialização e universalização das tarefas tácticas individuais e de
pequenos grupos (sectores).
> 2. Proporciona um sentido de direcção. A estrutura do jogo orienta os jogadores quanto à direcção a seguir, tendo em
atenção os diferentes ambientes futuros possíveis de acontecerem indicando e fixando as tarefas tácticas-chave para cada
jogador e sector de jogo da equipa.
> 3. Desenvolve uma cultura de responsabilidade, lealdade e solidariedade. Partindo da divisão e interligação das
diferentes tarefas tácticas atribuidas aos jogadores, estes desenvolvem aspectos de cultura de responsabilidade e soli-
dariedade fundamentais para a concretização dos objectivos da equipa.
> 4. Fornece um sistema de coordenação. A estrutura da equipa define relações de coordenação e responsabilidade dos
diferentes jogadores que evidenciam nas suas tarefas uma maior preponderância em certas situações de jogo (por exem-
plo: nos pontapés de canto, de livre, penalti, etc.), ou na própria coordenação das acções ofensivas e defensivas aceleran-
do ou reduzindo o ritmo destes processos, criando-se assim, as condições mais favoráveis à sua implementação eficaz.
Neste domínio, os coordenadores de jogo, caracterizados por um elevado raciocínio táctico e de grande capacidade de
execução técnica, tem como funções adaptar de forma creativa o plano táctico da equipa durante a competição.
> 5. Estabelece uma rede de informação e comunicação da equipa. A estrutura do jogo de uma equipa de futebol evi-
dencia igualmente uma rede formal e informal na qual fluem informaçõse pertinentes e oportunas dentro de um quadro
comunicacional tão importante que se processa dentro da organização da equipa.
5. Elementos de base
Relativamente aos elementos de base da estrutura do jogo iremos analisá-los sob duas vertentes: (1) o jogador
encarado como uma linha de força dentro do terreno de jogo e, (2) a estrutura de base da equipa encarada em função de
linhas e sectores constituídos por vários jogadores que exercem a sua acção de forma concertada e homogénea.
5.1. O jogador
A ocupação do terreno de jogo determina ligações, que por sua vez, definem linhas de força, ou seja, redes de
comunicação ou intercepção. Para que isto se verifique verdadeiramente, é necessário o respeito por uma certa distância
relativa entre os jogadores, nem demasiadamente longa, pois aumenta os riscos de intercepção da bola pela equipa adver-
sária, nem demasiadamente curta em que a progressão da bola em direcção à baliza adversária se faça com grandes difi-
culdades. Neste sentido, cada jogador em campo representa uma força que se manifesta pela:
> 1. Ocupação dinâmica de uma parte do espaço de jogo. Ao
analisarmos a área do terreno de jogo em função do total de
jogadores que dentro deste se movimentam, observamos em
média, um espaço de cerca de 325m2/por jogador. Nestas circun-
stâncias, dentro da estrutura da equipa cada jogador, independen-
temente da sua missão táctica específica, deverá ocupar e
dinamizar uma parte do terreno de jogo podendo exprimir individ-
ualmente a sua própria persona-lidade, não sendo mais "prisioneiro"
do seu posto, visto possuir um largo suporte de uma organização
<<<
estruturada e fundamentada numa cobertura permanente e recípro-
ca.
> 2. Acção sobre a bola. Em cada momento do jogo somente um jogador
dos 22 em campo poderá deter a posse de bola. Isto significa que cada
jogador ao intervir sobre esta direcciona o jogo num ou noutro sentido, isto
é, na concretização ou não dos objectivos do jogo. Simultânea e parale-
lamente, a cada intervenção sobre a bola por parte de um qualquer
jogador, observa-se uma interacção operatória entre este e os restantes
jogadores (companheiros e adversários) consubstanciado por um conjun-
to de complexas movimentações à volta ou em direcção à bola (apoio ou
cobertura do companheiro de posse de bola ou marcação do adversário >|<
com bola).
> 3. Relação com os companheiros. A cooperação representa
uma forma específica de sociabilidade do jogo de futebol. Qualquer
jogador dentro da equipa em função de um determinado objectivo
comum, deve ajudar os seus companheiros e comunicar com eles.
Para comunicar, é necessário estabelecer uma "linguagem comum",
por outras palavras, ter um sistema referencial comum que é funda-
mentado no estabelecimento e definição de princípios de jogo. A
comunicação realiza-se de uma forma instrumental - através da
bola, e comportamental - através das acções técnico-tácticas exe- >>>
cutadas. Assim, os jogadores deverão compreender as intenções e
projectos dos seus companheiros em cada situação de jogo e adop-
tar comportamentos conducentes a tirar o máximo de eficácia dessa situação, em função dos objectivos da equipa. As
peculiaridades e o carácter das acções sem bola dos jogadores representam a base do conceito de jogo de equipa. O
posicionamento escolhido pelo jogador nas várias situa-ções de jogo, reflecte a fase
qualitativa do pensamento criativo e de maturidade táctica, baseados na capacidade de
ler e valorizar rapidamente as situações, por forma a poder adoptar operacionalmente as
soluções mais eficazes à tarefa táctica da sua própria equipa.
> 4. Intercepção das ligações dos adversários. A presença do adversário constitui
outra das constantes do jogo o que determina o "jogar com e contra". O jogo deve ser
analisado e compreendido em termos de relações de força entre as equipas. Estas,
quando em fase ofensiva, tentam desequilibrar o sistema de forças do adversário e esta-
>>>
belecer as condições mais favoráveis à objectivação do golo. Pelo contrário, a equipa em
acção defensiva tenta a todo o momento manter o equilíbrio dinâmico do seu sistema,
procurando recuperar a posse da bola e proteger a sua baliza.
> 5. Constante adaptação à variabilidade das situações de jogo.
A variabilidade das situações momentâneas de jogo, determina a
constante adaptação dos comportamentos técnico-tácticos individu-
ais (resolução táctica presente) e dos comportamentos técnico-tác-
ticos colectivos (deslocamentos coordenados pela necessidade de ±
equilibrar a repartição de forças no terreno de jogo). Em síntese,
dentro destas diversas manifestações cada jogador concretiza uma
linha de força com múltiplas orientações em que o rendimento está
subordinado à sua situação no espaço de jogo relativamente: i) à
bola, ii) às balizas, iii) aos companheiros, e, iv) aos adversários.
> 6. Concretização do objectivo do jogo. Cada jogador representa uma identidade indivisível com uma vontade
própria, que transporta consigo uma mentalidade, uma capacidade e uma fina-lidade. Redimensionando esta questão no
seio de uma equipa, a integração de cada jogador realiza-se pela aceitação, por parte deste, de um conjunto de valores,
convicções e de um projecto comum assumindo, neste contexto,
uma consciência colectiva. De forma simultânea, cada jogador dev-
erá saber, o que a equipa espera dele e a melhor forma deste cor- >|<
responder a essas expectativas. Assim, cada jogador perante um
quadro de confrontação desportiva, deve entender, que em qualquer
momento do jogo (intervindo ou não sobre a bola) ele é parte inte-
grante de uma cadeia de acontecimentos, cuja importância é deter-
minada pelas suas decisões, ao contribuírem para a resolução dos
diferentes contextos situacionais do jogo, por forma a que se con-
cretize os objectivos estratégicos preestabelecidos ou os objectivos
tácticos momentâneos da equipa.
Uma equipa de futebol pressupõe a existência de um colectivo organizado e ligado do ponto de vista da finalidade,
dos objectivos e das intenções. Representa, segundo Teodorescu (1984) um "microssistema social numericamente estáv-
el e constituído por jogadores especializados"..."o que conduz ao aparecimento de lugares na equipa (defesas, médios,
etc.), bem como a constituição de subconjuntos, sectores ou linhas". Com efeito, a colocação de base da equipa sendo
suportado pelas acções individuais dos jogadores, organiza-se em função de linhas ou sectores constituídos por vários
jogadores que exercem a sua acção (quer ofensiva, quer defensiva) de forma concertada e homogénea, estabelecendo as
relações ou as ligações que estão na base das acções colectivas (missões tácticas colectivas) e, em última análise, das
acções da equipa no seu conjunto. Neste sentido, os jogadores que pertencem aos diferentes sectores da equipa, eviden-
ciam missões tácticas específicas cuja nomenclatura tradicional denomina de:
> 1. Guarda-redes. É o jogador que dentro da sua grande área goza de um estatuto diferente de todos os outros
jogadores, em termos de contacto com a bola e de protecção às suas acções técnico-tácticas. A responsabilidade
primária do guarda-redes é, evitar o golo na sua baliza.
> 2. Defesas. São os jogadores que formam o sector mais
perto da sua baliza, constituído normalmente por 3 a 5
jogadores, dois ou três defesas centrais, um defesa lateral
direito e um defesa lateral esquerdo. A responsabilidade
primária dos defesas é, proteger a sua baliza.
> 3. Médios. São os jogadores que formam o sector inter-
mediário, ou seja, entre o sector defensivo e o sector ata-
cante, constituído normalmente por 3 a 5 jogadores, dois ou
três médios centros, um médio esquerdo e um médio dire-
ito. A responsabilidade primária dos médios é, auxiliar os
defesas nas suas missões defensivas e os avançados nas
suas missões ofensivas.
> 4. Avançados. São os jogadores que formam o sector
atacante, constituído normalmente por 1 a 3 jogadores. A
responsabilidade primária dos avançados é marcar golos.
6. Níveis
Em conformidade com o que foi referido estabelecemos 2 níveis de análise da estrutura do jogo:
> 1. Bases de racionalização do espaço de jogo através: (1) do estudo da evolução dos sistemas de jogo utilizados
ao longo do tempo até à actualidade e, (2) da distribuição coerente e homogéneo dos 11 jogadores da equipa no espaço
de jogo constituindo-se sectores (ou linhas) formados por vários jogadores que exercem a sua função de forma con-
certada.
> 2. Bases de racionalização das missões tácticas dos jogadores que se estabelecem em função: (1) das poten-
cialidades individuais dos jogadores, (2) dos objectivos tácticos da equipa e, (3) do conhecimento mais ou menos por-
menorizado das circunstâncias em que determinado confronto irá decorrer, incluindo, naturalmente, as particularidades
fundamentais da equipa adversária.
7. Bibliografia
CASTELO, J., (1996). Futebol - A organização do jogo. Edição do autor. Lisboa
CASTELO, J., (1999) Futbol - estructura y dinamica del juego, INDE Publicaciones, Barcelona
CASTELO, J., (2003) Futebol - Guia prático de exercícios de treino. Visão e contextos. Lisboa
KACANI, L. (1982) Preparación técnico-táctica del futbolista según su posición en el campo, El Entrenador, nº12, 12:17
TEODORESCU, L., (1984) Problemas de teoria e metodologia nos desportos colectivos, Livros Horizonte, Lisboa
FUTEBOL
AS ACÇÕES COLECTIVAS DEFENSIVAS
JORGE CASTELO
1. Os deslocamentos defensivos
Definição
Os deslocamentos defensivos são comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos, desenvolvidos no
absoluto respeito dos princípios (gerais e específicos) da defesa, visando assegurar, em última análise, a cooperação e
coerência dinâmica da movimentação dentro do método defensivo, preconizado pela equipa para o cumprimento dos objec-
tivos fundamentais da defesa (defesa da baliza/recuperação da posse da bola).
Objectivos
Os deslocamentos defensivos objectivam, em última análise, um meio técnico-táctico fundamental para: (1) obrigar
o adversário de posse de bola a cometer erros, a optar pelas respostas tácticas menos convenientes e adaptadas à situação
momentânea de jogo, (2) criar um menor número de possibilidades ao processo ofensivo adversário, o que determina con-
sequentemente a previsibilidade dos seus comportamentos técnico-tácticos e, (3) mesmo durante a fase defensiva, a equipa
deverá manter uma certa iniciativa de jogo, ao obrigar os jogadores adversários a jogar sobre uma forte pressão técnico-tác-
tica e psicológica. Em síntese, os objectivos dos deslocamentos defensivos são os seguintes:
> 1. Ocupar, restringir e vigiar de forma eficiente os espaços vitais à progressão do processo ofensivo do adversário.
Qualquer que seja o sistema de jogo adoptado por uma equipa e a relação geométrica implícita nesse sistema, não per-
mitem ocupar, restringir e vigiar o espaço total de jogo. Assim, há a necessidade de se optar consciente e adaptadamente
pelos espaços mais importantes à persecução dos objectivos do ataque adversário. A ocupação e a vigilância desses
espaços vitais determina consequentemente a restrição do "tempo" para a execução técnico-táctica do processo ofensivo,
encaminhando-o para outros espaços (menos perigosos), tornando desta forma o jogo ofensivo mais previsível em termos
defensivos.
> 2. Marcação efectiva dos jogadores posicionados em espaços vitais e
que possam dar continuidade ao processo ofensivo adversário. A marcação
mais ou menos cerrada aos adversários que possam ser o elo de transmissão
do processo ofensivo, é um objectivo de extrema importância, determinando
igualmente a previsibilidade do jogo ofensivo. Devido às grandes variações
momentâneas das condições de jogo, os jogadores em processo defensivo pas-
sam por verdadeiros exames de maturidade táctica, marcando cerradamente 6
adversários que sejam elementos importantes nesse momento, ou seja, os que
naquela situação táctica são elo de ligação do processo ofensivo. Este objecti-
vo pressupõe igualmente, a permanente preocupação por parte dos defesas em
prever e deduzir que acções irão ser levadas a cabo, tanto pelos adversários,
como pelos companheiros. Esta capacidade dedutiva permite aos defesas
accionar preventivamente, para contrariar as acções dos adversários e ajudar
os comportamentos técnico-tácticos dos seus companheiros.
> 3. Equilibrar ou reequilibrar constante e automaticamente a repartição de forças do método defensivo, consoante as
situações momentâneas de jogo. Durante a recuperação e ocupação do dispositivo defensivo da equipa, observam-se com
uma certa liberdade e coerência, deslocamentos compensatórios de adaptação à variabilidade das situações momen-
tâneas de jogo, coordenando-se assim, a repartição de forças necessárias ao equilíbrio do sistema preconizado. As
respostas técnico-tácticas, e a variabilidade das condições momentâneas das situações de jogo, devem não só reflectir
uma eficaz adaptabilidade (plasticidade) a essa situação, como a consonância dessa resposta, em função dos objectivos
do jogo ou da táctica da equipa. As redes de intercepção não são automáticas, é sempre necessário que a equipa crie as
condições favoráveis à sua implementação e utilização, consoante as situações variáveis de jogo (conjuntura). O proces-
so ofensivo visa assegurar ligações em largura e profundidade, com o objectivo de aumentar as dificuldades de marcação,
procurando assim efectuar uma rápida e segura progressão da bola. O processo defensivo tenta contrariar estas acções
através da concentração, diminuindo assim as possibilidades da equipa se fragmentar e criar largos espaços de jogo entre
os defesas, estabelecendo uma certa distância, coerente e homogénea entre os vários sectores da equipa.
Classificação
Os deslocamentos defensivos podem ser divididos em:
> 1. Deslocamentos que visam a recuperação defensiva. Os deslocamentos que visam a recuperação defensiva
começam logo após a perda da posse da bola e duram até à ocupação do método defensivo. Durante este trajecto os
jogadores têm como quadro referencial dois aspectos fundamentais:
> (1) A linha de recuo. Recuperar o mais rapidamente possível tomando o caminho mais curto. Este deverá “desenhar”
uma recta desde o ponto onde se posiciona o jogador até ao poste mais perto da sua baliza. Durante este deslocamento
os defesas devem:
> A. Nunca perder o contacto visual com a bola.
> B. Marcar adversários que possam dar seguimento ao processo ofensivo.
> C. Marcar espaços por onde o processo ofensivo possa progredir.
> D. Deduzir continuamente quais as intenções tácticas da equipa adversária.
> (2) Até que posição recuperar. Há sempre um ponto em que o recuo defensivo termina. Este está dependente da
capacidade:
> A. Da equipa, em fase defensiva, pressionar mais ou menos distante da sua própria baliza.
> B. Técnico-táctica da equipa adversária progredir no terreno de jogo. Quando o jogador atinge a posição de recu-
peração, deve executar uma das seguintes cinco acções: i) pressionar o atacante de posse de bola, ii) fazer cobertu-
ra ao companheiro que marca o atacante de posse de bola, iii) marcar um atacante que esteja no centro da acção, iv)
ocupar um espaço importante para a segurança da própria baliza e, v) marcar o deslocamento de um atacante para
o espaço nas "costas" da defesa.
> (3) Nesta perspectiva, os jogadores em fase defensiva deverão ajustar a velocidade de recuo e a posição final deste
recuo em função das particularidades enunciadas. No entanto, o jogador ao recuperar, poderá executá-lo para:
> A. Posições de base dentro do método defensivo preconizado.
> B. Marcar um determinado adversário, onde quer que ele se encontre.
> C. Outra posição dentro do método defensivo, visto que a sua posição e função já foi ocupada por outro compan-
heiro.
> 2. Deslocamentos para manter o equilíbrio ou reequilibrar a organização defensiva propriamente dita. A grande vari-
abilidade das situações momentâneas de jogo são determinadas fundamentalmente pela transitoriedade da posição da
bola, dos jogadores e dos espaços de jogo. Esta variabilidade determina a adaptação da organização da própria equipa,
consubstanciada pelos deslocamentos dos jogadores, coordenados pela necessidade de equilibrarem ou reequilibrarem a
repartição de forças no terreno de jogo. Todas as movimentações, longe de serem independentes umas das outras, influ-
enciam-se mútua e reciprocamente. Um jogador intervém sempre na orgânica do jogo, quer seja o adversário ou o com-
panheiro, facilitando ou contrariando o jogo colectivo pelos seus deslocamentos. Portanto, dentro da organização da equipa
deve existir um conjunto de regras e normas (princípios específicos), que permitam uma melhor selecção e articulação
orgânica das acções técnico-tácticas individuais e colectivas. Reflectem no seu interior uma solidariedade orgânica e reg-
ulativa desses mesmos comportamentos, que deve caracterizar-se por três aspectos fundamentais:
> A. Manter uma correcta colocação, em função do sistema utilizado, bem como das particularidades dos adversários.
> B. Atender ao facto dos deslocamentos efectuados não perturbarem a circulação dos outros companheiros, antes pelo
contrário as favoreçerem.
> C. Possibilitar a realização completa e oportuna dos procedimentos técnicos de defesa.
Meios
As condicionantes favoráveis para a realização dos deslocamentos defensivos podem ser analisados sob as
seguintes vertentes:
> 1. Gerais. A forma geral de organização - método de jogo, deverá ser um factor facilitador na execução das acções indi-
viduais e colectivas dos jogadores exprimindo:
> (1) Um bloco homogéneo em que os vários sectores da equipa se posicionam perto uns dos outros, concentrando-se
em espaços importantes para a protecção da baliza, assegurando ligações associativas fundamentais entre vários
jogadores.
> (2) Utilização de mudanças bruscas de ritmo e direcção, assumindo parte da iniciativa do ataque, mantendo sempre
uma pressão constante sobre espaços e adversários directos.
> (3) Utilização das acções técnico-tácticas de dobra.
> 2. Específicos. Os deslocamentos defensivos resultam da reacção da equipa logo após a perca da posse da bola. Esta
reacção baseia-se em dois tipos de comportamento, individual e colectivo, que se observam simultaneamente nos
jogadores em processo defensivo:
> (1) Marcação rigorosa e pressionante ao adversário de posse de bola pelo defesa mais próximo, com os seguintes
objectivos:
> A. Tentativa de entrar de novo na posse da bola.
> B. Impedir o relançamento imediato do processo ofensivo adversário, e em especial do contra-ataque.
> C. Ganhar o tempo suficiente para a recuperação e organização do método defensivo. Assim, o adversário de posse
de bola, qualquer que seja e por onde quer que se movimente, deve ser ri-gorosamente marcado de forma individual.
> (2) Por jogadores em deslocamento que visam a ocupação do dispositivo defensivo exige-se:
> A. Uma clara visão de jogo, percepcionando continuamente as movimentações dos adversários, companheiros e tra-
jectória da bola.
> B. Utilização de atitudes e comportamentos técnico-tácticos, que alterem os ângulos de ataque, com a intenção de
tornar o jogo ofensivo previsível (do ponto de vista defensivo), obrigando-os a jogar num certo sentido.
> C. Fazer continuamente sentir aos adversários directos a sua presença, mobilizando-lhes a atenção, tentando
desconcentrá-los, utilizando inclusivamente pequenos contactos físicos.
> D. A marcação contínua e coerente, principalmente sobre os
jogadores atacantes que poderão dar melhor seguimento ao
processo ofensivo. A pressão sobre os restantes adversários dev-
erá ser variável, obrigando-os a procurar saber constantemente
se estão ou não pressionados (factor psicológico).
> E. A entreajuda entre os jogadores da equipa em fase defensi-
va, deverá reflectir um significado especial de comunicação e
compreensão mútua. <<<
Princípios
Os princípios de orientação na execução dos deslocamentos defensivos devem assumir dois domínios fundamen-
tais:
> 1. Gerais. A variabilidade das situações momentâneas de jogo determina deslocamentos dos jogadores, exprimindo os
seguintes princípios de orientação:
> (1) Racionalização permanente do espaço de jogo: os deslocamentos dos jogadores são coordenados pela necessi-
dade de, a todo o momento, equilibrarem e racionalizarem o espaço de jogo onde evolui a organização defensiva.
> (2) Deslocamentos dos jogadores a ritmos e direcções variáveis:
> A. Obrigam os adversários a deslocarem-se para espaços menos perigosos.
> B. Visam permanentemente a protecção da baliza e dos caminhos possíveis à progressão do processo ofensivo
adversário.
> (3) O movimento da bola deve implicar um deslocamento relativo de todos os jogadores:
> A. Um jogador, em qualquer situação de jogo, jamais deverá estar parado.
> B. A mudança do ângulo de ataque deve reflectir cons-tantemente o deslocamento relativo do método defensivo indi-
vidual e colectivo de uma forma homogénea.
> 2. Específicos. O princípio fundamental da defesa é de rea-
gir rapidamente à situação de perda de posse de bola. Os
comportamentos técnico-tácticos de marcação devem iniciar-
se imediatamente após a perda da posse da bola e em qual-
quer zona do campo. Estes manifestam-se através de um posi-
cionamento em função: da bola, dos adversários, dos com-
<
panheiros e da baliza. Neste sentido, imediatamente após a
perda de posse de bola, os jogadores devem colocar-se entre
6
a bola e a baliza. Por último, há que ter presente
que uma defesa bem organizada, está normal-
mente em superioridade numérica (em termos
de centro do jogo) e somente a passividade de
alguns jogadores permite que os atacante gan-
<<<
hem o espaço e o tempo necessários, para atin-
girem os objectivos do ataque. << Foto 203
2. As compensações/desdobramentos defensivos
Definição
São acções técnico-tácticas individuais e colectivas, desenvolvidas no absoluto respeito dos princípios (gerais e
específicos) da defesa, que visam assegurar constantemente a ocupação racional do terreno, cobrindo ou ocupando
espaços, e assumindo posições e missões tácticas de companheiros, que num certo momento estão envolvidos na realiza-
ção de outras funções.
Objectivos
Em síntese, os objectivos das compensações/desdobramentos são os seguintes:
> 1. Ocupação racional do terreno de jogo.
> 2. Marcação do adversário de posse de bola, depois deste ter ultra-
passado o seu companheiro (execução da acção técnico-táctica de
dobra, com o reajustamento automático de todos os companheiros em
função da "nova" situação de jogo). Estes objectivos evidenciam os
seguintes aspectos: (1) excelente segurança defensiva, (2) criação de
superioridade numérica, (3) reciprocidade no trabalho colectivo, (4)
poucos espaços livres e, (4) criação de condições desfavoráveis ao
prosseguimento do processo ofensivo adversário.
>>>
Meios
Os meios fundamentais à execução das compensações/desdobramentos são os mesmos que foram referidos para
o processo ofensivo. Salienta-se, que o conjunto de acções dos jogadores de uma equipa, devem exprimir um bloco homogé-
neo, que reflicta fundamentalmente: (1) um grande sentido de jogo colectivo, (2) clara fixação dos conceitos de disciplina e
responsabilidade táctica e, (3) grande espírito de sacrifício.
Princípios
Os princípios fundamentais à execução das compensações/desdobramentos são os mesmos que foram referidos
para o processo ofensivo. Salienta-se, que devido às incessantes mudanças das condições de jogo, exigem-se deslocamen-
tos permanentes aos jogadores, racionalizando continuamente o espaço de jogo, em função: (1) da repartição equilibrada
das forças no terreno de jogo, (2) facilitação das acções de conjunto da sua própria equipa, (3) de evitar a compartimentação
de funções e missões específicas dos jogadores e, (4) estabelecimento de regras de compreensão mútua dos jogadores,
dentro do seio da equipa.
3. As dobras
Definição
As dobras são combinações tácticas que representam a coordenação das acções individuais de dois jogadores de
natureza defensiva, desenvolvidas no absoluto respeito dos princípios (gerais e específicos) defensivos, que visam assegu-
rar a reso-lução de uma tarefa parcial (temporária) específica do jogo.
Objectivos
O objectivo fundamental das dobras é a resolução táctica da situação de rotura momentânea da organização defen-
siva (numa certa fase do jogo), equilibrando-a temporariamente, através da contenção dos comportamentos técnico-tácticos
do adversário de posse de bola.
Meios
As dobras assentam fundamentalmente numa leitura correcta da
situação de jogo, consubstanciada em deslocamentos rápidos para o
centro da acção do jogo. Esta aproximação deverá pôr em evidência dois
aspectos importantes:
> (1) A velocidade de aproximação (abrandamento dessa velocidade
logo que o jogador adversário tenha a bola perfeitamente dominada).
> (2) O correcto ângulo de aproximação (pois condicionará o ângulo de
>>> passe ou remate do adversário).
Princípios
Em síntese, o princípio de orientação fundamental na execução das dobras é reagir rapidamente ao desequilíbrio
temporal da organização defensiva, através da marcação rigo-rosa e pressionante do adversário de posse de bola, fazendo
a contenção aos seus comportamentos técnico-tácticos, com os seguintes objectivos:
> (1) Tentar ganhar, numa primeira fase, o tempo suficiente para que os restantes companheiros reequilibrem colectiva-
mente a organização defensiva.
> (2) Defender a baliza conduzindo o adversário para espaços menos perigosos.
> (3) Tentar recuperar a posse da bola tirando parte da iniciativa ao adversário através de: i) uma posição de base correc-
ta (em permanente equilíbrio para poder reagir a qualquer iniciativa do adversário), ii) observação da bola (concentrando-
se somente nos movimentos desta), iii) paciencia (o tempo nestas situações concorre sempre a favor de defesa) e, iv) ter
a iniciativa.
4. A temporização
Definição
São acções técnico-tácticas individuais e colectivas de natureza defensiva, desenvolvidas no absoluto respeito dos
princípios gerais e específicos da defesa, que visam o retardamento da progressão do processo ofensivo adversário, com
vista ao cumprimento dos objectivos da defesa.
Objectivos
O objectivo fundamental da acção de temporização é assegurar o retardamento do processo ofensivo adversário,
por forma a ganhar o tempo necessário para que os companheiros se recoloquem
dentro do seu método defensivo de base: a equipa deverá reagir logo que se verifi-
ca a perda de posse de bola , observando-se dois tipos de comportamento:
> (1) Marcação rigorosa ao adversário de posse de bola:
> A. Impedir que o adversário relance o processo ofensivo e em especial que
este renuncie ao contra-ataque.
> B. Ganhar o tempo suficiente para que todos os jogadores se enquadrem no
método defensivo de base.
> (2) Marcação de todos os jogadores que possam dar con-
6
tinuidade ao processo ofensivo. Diminuir parte da vantagem (inicia-
tiva) do processo ofensivo adversário, obri-gando-os a jogar sobre
uma forte pressão técnico-táctica e psicológica com o objectivo de:
> A. Manter um ritmo de jogo mais conveniente para a sua própria
equipa.
> B. Manter o resultado numérico momentâneo do jogo.
> C. Recuperar fisicamente.
Meios
A acção de temporização defensiva, observa-se fundamentalmente no momento do relançamento do processo
ofensivo adversário, evitando-se que a equipa de posse de bola aproveite o momentâneo desequilíbrio em que se encontra
a equipa que tem de passar a defender, ou seja, no momento da mudança das atitudes e dos comportamentos técnico-tác-
ticos dos jogadores. De qualquer forma, a temporização defensiva pode ser observada em qualquer das fases pelas quais
passa o processo ofensivo, sendo objectivo desta acção essencialmente o mesmo: ganhar tempo, tirar para si parte da ini-
ciativa das situações momentâneas de jogo. O contínuo retardamento de qualquer uma das fases do processo ofensivo
adversário, obriga-os a pensar em como contrariá-los, fazendo uso de procedimentos técnico-tácticos e a ter respostas tác-
ticas não tão eficazes como desejariam e, por consequência, a cometer mais erros, tornando assim, o jogo ofensivo mais pre-
visivel para a defensiva. Este facto pressupõe a permanente preocupação (por parte dos defesas), em prever e deduzir quais
as intenções dos adversários, permitindo accionar-se preventivamente acções que as antecipem. Neste sentido, as situações
momentâneas de jogo devem reflectir uma eficaz adaptabilidade (plasticidade) através de respostas tácticas, utilizadas em
consonância com os objectivos tácticos momentâneos da equipa (jogar pelo lado da segurança ou do risco). Em última
análise, as acções de temporização defensiva asseguram uma atitude que implica o retardamento da acção ofensiva, tanto
no espaço como no tempo, na medida em que está ligado àquele e na medida em que as circunstâncias o permitam.
Princípios
Para que a acção de temporização defensiva efectivamente resulte, é necessária a conjugação de procedimentos,
ao nível:
> (1) Do jogador que marca o adversário de posse de bola cumpra os objectivos específicos determinados para o 1º
defesa (contenção), e, dos ou-tros companheiros que deverão marcar cerradamente os jogadores adversários, ou espaços
vitais que possam dar continuidade ao processo ofensivo.
> (2) Outro princípio fundamental que faz parte da acção de temporização defensiva, é a infracção às leis do jogo. Estas
poderão e deverão ser utilizadas quando não houver capacidade técnico-táctica de parar ou retardar o processo ofensivo
adversário. Desde que os objectivos tácticos da equipa e as situações momentâneas de jogo assim o exijam, é necessário
que os defesas, sem qualquer tipo de reserva, utilizem a infracção a favor da equipa.
5. Cortinas/écrans
Definição
São acções técnico-tácticas individuais e colectivas, desenvolvidas no absoluto respeito dos princípios (gerais e
específicos) da defesa e das leis do jogo, desenvolvidas por um ou mais jogadores que se posicionam por forma a perturbar
a acção dos atacantes, estabelecendo uma protecção eficiente da própria baliza e dos comportamentos do companheiro que
recupera a posse da bola.
Objectivos
Em síntese, os objectivos fundamentais das cortinas/écrans no processo defensivo são os seguintes:
> 1. Proteger os comportamentos técnico-tácticos de um compan-
heiro, aquando da recuperação da posse da bola:
> (1) Estas acções são especialmente visíveis na protecção
(cortina/écran) dada pelos defesas ao guarda-redes, no momento em
que este recupera a posse da bola.
> (2) Na ocupação de um espaço vital de jogo, aquando da marcação
dos esquemas tácticos, para evitar que o adversário ocupe esse mesmo
espaço e efectue ele próprio acções de cortina ou écran.
> 2. Protecção máxima da baliza. A protecção máxima da baliza é efec-
tuada através da formação de barreiras durante a execução de livres >|<
(directos ou indirectos) nas zonas predominantes de finalização, especial-
mente em ângulos frontais à baliza.
Meios
Estes comportamentos técnico-tácticos são o resultado da procura constante das condições favoráveis à situação
de recuperação de posse de bola e de protecção máxima da própria baliza. Para isso, é necessário utilizar acções técnico-
tácticos que consubstanciem a variação de ângulos e posições, relativas dos jogadores defesas em função dos atacantes,
com as seguintes intenções:
> (1) Interpôr-se entre o atacante e o seu companheiro, para que este encontre as condições mais favoráveis à recuper-
ação da posse da bola.
> (2) Interposição - formação de barreiras - entre a posição da bola e a baliza própria nas situações de livre. As barreiras
são formadas por jogadores em acção defensiva que se colocam uns ao lado dos outros, constituindo um bloco homogé-
neo que deverá manter-se até depois da execução do livre.
Princípios
Os procedimentos técnico-tácticos indivi-duais de protecção ao
jogador que recupera a posse da bola, devem caracterizar-se por desloca-
mentos rápidos e directos para o seio do centro do jogo, obrigando o ata-
cante a ter que percorrer uma maior distância, pois terá que contornar o
defesa, se quiser chegar primeiro à bola.
>|<
6. Os esquemas tácticos defensivos
Definição
São as soluções adaptadas para as situações de bola parada (livres, pontapés de baliza, de canto, etc.).
Representam a coordenação de acções individuais e colectivas de vários jogadores de natureza defensiva, que visam asse-
gurar as condições mais favoráveis à protecção máxima da baliza e à recuperação da posse da bola durante as partes fixas
do jogo.
Objectivos
Em síntese, o objectivo fundamental dos esquemas tácticos defensivos é o de assegurar as condições mais
favoráveis à protecção da baliza e à recuperação da posse da bola durante as partes fixas do jogo. De forma directa, entre
25 e os 50% das acções ofensivas a alto nível que culminaram em golo, têm por base a resolução de situações de bola para-
da. Se a esta percentagem somarmos as situações que derivam indirectamente dos esquemas tácticos, depois da sua exe-
cução, compreendemos a importância e a necessidade das equipas aquando em processo defensivo, procurarem:
> (1) Evitar cometer infracções às leis do jogo, especialmente na zona defensiva, pois diminui em muito as probabilidades
da equipa adversária conseguir o golo.
> (2) Planear e organizar as condições ideais de defesa em situações resultantes da marcação dos esquemas tácticos.
> (3) Prever as alterações possíveis, isto é, estabelecer um conjunto de cenários subsequentes à execução dos esquemas
tácticos, em termos defensivos (defesa da baliza) e ofensivos (uma vez recuperada a posse da bola atacar de ime-diato a
baliza adversária).
Durante o processo defensivo, e em especial nas zonas predominantemente defensivas, nem sempre é possí-vel
recuperar de imediato a posse da bola, tal como nem sempre é possível afastar de imediato a bola das zonas vitais do ter-
reno de jogo, e nem sempre é possível evitar que o atacante directo consiga rodar e orientar os seus comportamentos téc-
nico-tácticos em direcção à baliza adversária. Com efeito, os defesas não devem estar obcecados em concretizar um destes
objectivos defensivos, ao ponto de cometerem infracções às leis do jogo que determinam na maioria dos casos, situações
mais vantajosas do ponto de vista ofensivo. Neste sentido, os jogadores em processo defensivo, para além de evidenciarem
as suas qualidades técnico-tácticas na procura de diminuírem o tempo, o espaço e o número de opções tácticas do ataque
adversário, deverão evidenciar igualmente os seus atributos psicológicos de concentração, paciência, auto-disciplina, ou seja,
de maturidade táctica. Todavia, mesmo as equipas de elevados níveis de rendimento, irão mais cedo ou mais tarde, cometer
infracções às leis do jogo longe ou perto da sua zona defensiva, nos corredores laterais ou central. Com efeito, para uma mel-
hor compreensão do problema das situações de bola parada é
necessário encontrar as suas vantagens básicas: i) são executados com
a bola parada, não se pondo o problema do seu controlo, (2) não existe
pressão defensiva sobre o atacante de posse de bola, devido às leis do
jogo, (3) verifica-se uma mobilização de um grande número de ata-
cantes, posicionando-se em espaços vitais do terreno de jogo, (4) os ata-
cantes posicionam-se em espaços, por forma a maximizar as suas
capacidades, e, (5) a acção sincronizada dos movimentos de todos os
atacantes. A raiz do problema defensivo em evitar a elevada percent-
>|< agem da eficácia dos esquemas tácticos ofensivos, advém fundamental-
mente:
> (1) Do facto de a equipa não estar suficientemente organizada para fazer face à situação de bola parada e à situação
subsequente à sua efectivação.
> (2) Diminuição da concentração por parte dos defesas, devido à paragem momentânea do jogo, na qual alguns deles
argumentam com o árbitro ou com os adversários.
> (3) Os jogadores deslocam-se para a sua posição de base dentro do dispositivo fixo da equipa, e uma vez assumida
essa posição, pensam que o problema está resolvido, esquecendo-se das tarefas específicas dentro do esquema táctico
defensivo, modificando assim as suas respostas técnico-tácticas em função das alterações ou do desenvolvimento do
esquema táctico ofensivo.
(4) Uma utilização incorrecta da vantagem de em todas as situações de bola parada os defesas se encontrarem normal-
mente em superioridade numérica, em relação aos atacantes.
Meios
Os meios fundamentais para a concepção dos esquemas tácticos defensivos, devem assegurar os seguintes
aspectos básicos:
> 1. Organização. Os esquemas tácticos defensivos devem ser organizados, por forma a colocar os atacantes adversários
em condições desfavoráveis no desenvolvimento dos esquemas tácticos ofensivos, como nas situações subsequentes à
sua execução. Neste sentido, pressupõe sempre o estabelecimento de um dispositivo fixo, no qual os jogadores se posi-
cionam de forma pré-estabelecida. No entanto, deve igualmente ter um carácter espontâneo se os atacantes conseguirem
executá-lo rapidamente. Com efeito, dever-se-á requisitar os jogadores cujas particularidades, independentemente da sua
posição dentro do sistema táctico da equipa, melhor contribuam para uma eficiente defesa da baliza e recupe-ração da
posse da bola. Daí a necessidade de todos os jogadores saberem em detalhe a sua missão táctica específica na organi-
zação dos esquemas tácticos defensivos da equipa e desenvolverem concertadamente a sua acção.
> 2. Disciplina individual e colectiva. A eficácia e funcionalidade de uma equipa no seu conjunto depende do cumpri-
mento eficiente das suas missões tácticas específicas. Isto é sempre verdade, mas é premente nos esquemas tácticos
defensivos. Os jogadores que participam nos esquemas tácticos defensivos devem ter um claro conhecimento das acções
específicas da sua organização e das suas variantes (livres, pontapés de canto, lançamentos da linha lateral, grandes
penalidades, etc.), estar sempre preparados para assumir na eventualidade as missões específicas do companheiro.
> 3. Concentração. Os lapsos de concentração são o maior problema dos esquemas tácticos defensivos. O tempo
necessário para a execução das situações de bola parada é o suficiente para se poder reajustar a posição, as distâncias
e a concentração psíquica dos jogadores por forma a prepararem a sua resolução (procurar o adversário para marcar, ler
a situação e antecipar as soluções que os atacantes procuram efectuar). Todavia, se o dispositivo não estiver totalmente
concretizado, os defesas deverão efectuar um esquema táctico defensivo, tendo um carácter espontâneo.
Princípios
Os princípios fundamentais de orientação para a concepção dos esquemas tácticos, devem assegurar os seguintes
aspectos:
Logo após a execução do esquema táctico ofensivo a equipa em fase defensiva deverá estar preparada para
resolver eficientemente a situação que daí advenha. Assim, deverá logo que a bola seja rechaçada reagir rápida, coesa e
homogeneamente, subindo no terreno de jogo e assumindo as seguintes atitudes e comportamentos técnico-tácticos:
> A. Marcação agressiva do novo atacante de posse de bola.
> B. Reduzir o tempo e o espaço e por inerência aumentar a pressão defensiva sobre todos os atacantes.
> C. Procurar pôr adversários na posição de fora-de-jogo.
> D. Apoiar o companheiro que relança o processo ofensivo por forma a aproveitar os desequilíbrios da equipa adver-
sária.
Finalizando, os esquemas tácticos ofensivos envolvem um elevado número de atacantes para tirar o máximo de
rendimento destas situações de bola parada, alguns dos quais, a fim de poderem maximizar as suas potencialidades indi-
viduais, colocam-se em espaços de jogo muito diferentes daqueles em que exercem as suas missões tácticas de base. Neste
contexto, a organização dos esquemas tácticos defensivos não deverá visar somente a defesa da baliza, mas procurar igual-
mente tirar o máximo de vantagens logo após a recuperação da posse da bola, que advém do possível desequilíbrio em ter-
mos espaciais e também em termos numéricos, devido à elevada concentração de atacantes na grande área. Com efeito, é
importante estabelecer na organização dos esquemas tácticos defensivos, um conjunto de medidas, não pondo em causa o
objectivo prioritário da defesa da baliza, que visam a colocação de um ou dois jogadores em posições propícias à
preparação/relançamento do ataque, obrigando inclusivamente a equipa adversária a aplicar medidas preventivas que origi-
nam uma diminuição do número de atacantes envolvidos nos esquemas tácticos ofensivos. Todavia, os jogadores que não
estão directamente envolvidos nos esquemas tácticos defensivos (ou em alguns), devem ter o conhecimento destes com a
mesma exactidão e responsabilidade dos restantes companheiros, podendo a qualquer momento do jogo, em quaisquer cir-
cunstâncias, assumir uma missão mais preponderante (em termos defensivos) na organização dos esquemas tácticos defen-
sivos.
Bibliografia
CASTELO, J., (1996). Futebol - A organização do jogo. Edição do autor. Lisboa
CASTELO, J., (1999) Futbol - estructura y dinamica del juego, INDE Publicaciones, Barcelona
CASTELO, J., (2003) Futebol - Guia prático de exercícios de treino. Visão e contextos. Lisboa
HUGHES, C., (1990) The Winning Formula, Willian Collins Sons, London
FUTEBOL
AS ACÇÕES COLECTIVAS OFENSIVAS
JORGE CASTELO
Existem aspectos incontornáveis do jogo de futebol, pois derivam da sua lógica interna. Um destes aspectos ref-
ere-se à improbabilidade de um qualquer jogador durante uma partida deter a posse da bola por mais de 80 a 90 segundos.
Ora, partindo deste dado facilmente chegamos à conclusão que o restante tempo (mais ou menos 88 minutos), os jogadores
procuram criar condições que promovam eficazmente o desenvolvimento do processo ofensivo ou defensivo da sua equipa.
Com efeito, o enorme tempo em que os jogadores não estão directamente implicados na resolução das situações de jogo
detendo simultaneamente a bola, demonstra de forma clara a necessidade dos jogadores desenvolverem as suas capaci-
dades de leitura da contextualidade situacional de jogo, de decisão e de execução não tendo a posse da bola, canalizando-
a para o melhoramento do jogo colectivo da sua equipa, quer do ponto de vista ofensivo como defensivo, intervindo dentro
ou fora das unidades estruturais funcionais.
Consoante o nível de formação de uma equipa (tanto ofensiva como defensiva), reflecte uma organização ele-
mentar, que assenta fundamentalmente:
> 1. Nas acções técnico-tácticas individuais e colectivas que visam a coerência de movimentação dos jogadores dentro
do subsistema estrutural (sistema de jogo e tarefas tácticas) preconizado pela equipa e uma ocupação racional e con-
stante do espaço de jogo (deslocamentos ofensivos e defensivos, compensações/permutações).
> 2. Nas acções técnico-tácticas individuais e colectivas que visam a resolução temporária das situações momentâneas
de jogo (combinações tácticas, dobras, cortinas/ecrans e temporizações).
> 3. Nas soluções estereotipadas das partes fixas do jogo (esquemas tácticos ofensivos e defensivos).
1. Os deslocamentos ofensivos
Definição
Os deslocamentos ofensivos são comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos, desenvolvidos no abso-
luto respeito dos princípios (gerais e específicos) do ataque, que visam assegurar em última análise a coope-ração e a
coerência dinâmicas da movimentação, dentro do método ofensivo preconizado pela equipa, para o cumprimento dos objec-
tivos fundamentais do ataque (finalização-progressão manutenção).
Objectivo
Os deslocamentos ofensivos realizados pelos atacantes procuram, em última análise: (1) o controlo do ritmo e do
tempo de jogo, em função dos objectivos tácticos da equipa durante o desenrolar da partida e, (2) manter a iniciativa do jogo,
surpreender o adversário e cansá-lo fisicamente, obrigando-os a jogar sob uma grande pressão psicológica e a entrar con-
tinuamente em crise de raciocínio táctico. Nesta perspectiva, os deslocamentos ofensivos objectivam os três seguintes atrib-
utos:
> 1. Equilíbrio ou reequilibrio constantemente a repartição de forças do método ofensivo consoante as situações
de jogo. Qualquer que seja o sistema de jogo utilizado por uma equipa, a relação geométrica implícita desse dispositivo,
não permite ocupar o espaço total do jogo. Daí que, as mudanças incessantes das condições de jogo, determinem deslo-
camentos permanentes dos jogadores para equilibrar ou reequilibrar a repartição de forças no terreno de jogo. Assim a
dinâmica de uma equipa deve assegurar:
> (1) Deslocamentos constantes, respeitando-se sempre a relação de distância jogador-bola-companheiros-adversários,
isto é, que a equipa jogue num bloco homogéneo entre os vários jogadores e sectores, evitando-se que esta se disten-
da ao longo do terreno de jogo. Isto significa, que se concretiza automaticamente uma disposição geométrica em que
se equilibra ou reequilibra a organização, em função das situações momentâneas de jogo.
>> (2) A reconstituição das ligações associativas fundamentais de vários jogadores (apoio, cobertura e mobilidade), for-
mando unidades funcionais nas acções colectivas de ataque. Cria-se assim, um maior número de hipóteses ao jogador
de posse de bola, dando-lhe a possibilidade de uma opção mais conveniente à situação momentânea de jogo, não o
obrigando a excessos de individualismos, por falta de apoio ou cobertura dos companheiros da equipa
> 2. Criar, ocupar e utilizar de forma eficiente os espaços de jogo. Os jogadores em processo ofensivo, devem con-
sciencializar e valorizar constantemente a sua contribuição para o desenvolvimento eficaz da acção ofensiva. Assim, o jogo
sem bola não consiste só em executar um certo número de deslocamentos com vista a intervir sobre esta, mas também,
assegurar através dos seus deslocamentos, o "arrastamento" de um ou mais adversários, deixando livres de vigilância
determinados espaços de jogo mais favoráveis à persecução dos objectivos tácticos momentâneos do ataque. Como resul-
tado destes deslocamentos, visa-se igualmente, aumentar os intervalos entre os defesas, tanto no sentido longitudinal,
como no transversal, com o objectivo de descoordenar e desequilibrar a ocupação racional do espaço de jogo e, conse-
quentemente, o enfraquecimento do método defensivo adversário. Após a criação de espaços livres, é necessário ocupá-
los e utilizá-los de forma eficiente, sendo essenciais deslocamentos rápidos para o seio desses espaços, para os quais em
princípio deve ser direccionado o centro da acção ofensiva.
> 3. Colocação de jogadores livres de oposição (marcação) do adversário. O aumento da quantidade (distância) e da
qualidade (intensidade), dos deslocamentos dos jogadores em campo durante o jogo, determinou consequentemente o
aumento do seu "raio de acção". Por outras palavras, os jogadores deslocam-se mais frequentemente para criar e explo-
rar os espaços de jogo (quando de posse de bola), do que para restringir, marcar espaços e jogadores (quando não têm
a posse de bola). Daqui resulta, que as condicionantes da execução técnico-táctica, com ou sem a posse da bola, se tor-
nam cada vez mais pro-blemáticos para uma eficaz resolução da situação táctica. Este facto reflecte a constante preocu-
pação de colocar a cada instante, problemas cada vez mais difíceis de resolver (do ponto de vista defensivo), procurando
deslocamentos ofensivos que coloquem um ou vários jogadores livres de marcação, para que usufruam de condições
favoráveis em termos de espaço e tempo, para a reso-lução táctica das situações momentâneas de jogo, tendo presente,
que um jogador intervém sempre na orgânica do jogo, facilitando ou contrariando pelos seus deslocamentos, o jogo colec-
tivo. Neste sentido, ressalta a necessidade de execução de deslocamentos ofensivos múltiplos e rápidos, inseridos num
contexto que procure colocar jogadores em zonas vitais, e em condições mais vantajosas para a persecução dos objec-
tivos tácticos da equipa. Obviamente, os defesas preferem jogar contra atacantes que se mantenham em posições fixas.
Assim, quantas mais vezes os atacantes mudarem de posição, mais difícil se torna para os defesas coordenar a sua orga-
nização defensiva.
Classificação
Os deslocamentos ofensivos podem ser classificados sob dois domínios, quanto à forma e quanto ao tipo.
> 1. Formas. As formas dos deslocamentos ofensivos, resultam da relação que se estabelece entre a linha final e a tra-
jectória descrita pelo deslocamento do jogador no terreno de jogo. Assim, observam-se 4 formas de deslocamentos ofen-
sivos:
> (1) Perpendiculares ou directos. A trajectória do deslocamento do jogador é perpendicular à linha final do terreno de
jogo.
> (2) Diagonais ou indirectos. A trajectória do deslocamento do jogador é diagonal à linha final do terreno de jogo.
> (3) Paralelos ou simétricos. A trajectória do deslocamento do jogador é paralela à linha final do terreno de jogo.
> (4) Circulares-complexos. A trajectória do deslocamento do jogador é circular, ou não é perfeitamente definida, isto é,
apresenta várias mudanças de direcção.
> 2. Tipos. O tipo dos deslocamentos ofensivos, resultam da relação que se estabelece entre o deslocamento efectuado
e o objectivo próximo do ataque perspectivado pelo jogador. Assim, observam-se 4 tipos de deslocamentos ofensivos:
> (1) De apoio. Estas acções caracterizam-se fundamentalmente por deslocamentos de aproximação em relação ao
companheiro de posse de bola, no cumprimento de um dos objectivos do ataque, isto é, a manutenção da posse da bola.
Consequentemente, estes deslocamentos consubstanciam:
> A. O controlo do jogo em determinados momentos, temporizando a
acção ofensiva para surpreender o adversário, com mudanças de ritmo
e ângulo de ataque.
> B. A preparação de desequilíbrios na organização defensiva adver-
sária, em espaços e momentos apropriados.
> C. A diminuição ou aumento do ritmo de jogo, levando os adversários
4 a aceitar um certo tipo de cadência de jogo. Podemos distinguir três tipos
de deslocamentos ofensivos de apoio: frontal, lateral e à retaguarda.
> (2) De progressão. Estas acções caracterizam-se fundamentalmente
por deslocamentos de afastamento em relação ao companheiro de posse de bola, em direcção à baliza adversária, no
cumprimento de um dos objectivos do ataque, isto é, a progressão. Consequentemente estes deslocamentos consub-
stanciam:
> A. O desenvolvimento da acção ofensiva para zonas mais perto da baliza adversária, onde se verificam as condições
mais favoráveis à fase de finalização.
> B. A criação de instabilidade da organização defensiva adversária, na procura de aproveitamento dos espaços vitais
de uma forma simples e eficaz.
> C. O aumento do ritmo e da iniciativa do jogo ofensivo. Os deslocamentos de apoio e de progressão são a base fun-
damental de suporte às combinações tácticas. Podemos distinguir três tipos de deslocamentos ofensivos de pro-
gressão: perpendiculares, diagonal e paralela.
> (3) De rotura. Estas acções objectivam fundamentalmente a criação de situações de finalização, ou de rotura do méto-
do defensivo adversário. Neste sentido, estes deslocamentos são caracterizados pela aproximação ou afastamento do
companhei-ro de posse de bola, com o objectivo imediato de assegurar as condições mais favoráveis ao cumprimento
de um dos objectivos do ataque, isto é, a finalização.
Consequentemente, estes deslocamentos consubstanciam:
> A. O desenvolvimento de condições mais favoráveis para a exe-
cução de acções técnico-tácticas de remate.
B. A rotura momentânea das organização defensiva da equipa 3
adversária, em espaços e momentos apropriados.
> C. A criação de situações de surpresa para os adversários, obri-
gando-os a jogar sob uma grande pressão psicológica e técnico-
táctica. Podemos distinguir três tipos de deslocamentos ofensivos <<<
de rotura: perpendiculares, diagonais e paralelos.
> (4). De equilíbrio. Estas acções caracterizam-se fundamental-
mente por deslocamentos em direcção a espaços vitais, ou a jogadores adversários (que não estão directamente
envolvidos no processo defensivo da sua equipa) e visam o equilíbrio da organização ofensiva, em função das situações
de jogo. Consequentemente estes deslocamentos consubstanciam:
>. A O equilíbrio da organização ofensiva em função do espaço e do(s) adversário(s) que aí evoluem, evitando-se que
após a perda da posse da bola, haja a possibilidade da equipa adversária poder contra-atacar, estabelecendo-se de
imediato uma contínua estabilidade na organização da equipa.
> B. A reorganização rápida do ataque em caso de insucesso, através de uma maior homogeneidade e compactici-
dade do jogo ofensivo.
Meios
As condicionantes favoráveis para a realização dos deslocamentos ofensivos podem ser analisados sob as
seguintes vertentes:
> 1. Gerais. A forma geral de organização, ou seja, o método de jogo deverá ser um factor facilitador na execução das
acções dos jogadores, exprimindo: i) um bloco homogéneo, tanto no processo ofensivo como defensivo, ii) a criação de
espaços livres através de desmarcações coordenadas em largura e profundidade a 2, 3, ou mais jogadores, iii) mudanças
bruscas de ritmo e direcção e, iv) combinações tácticas fundamentais (simples, directas e indirectas). Contudo, é impor-
tante evidenciar dois aspectos que se relacionam directamente com a eficácia destas acções:
> (1) O deslocamento individual é sempre condicionado pelos deslocamentos colectivos, sendo importante uma sin-
cronização eficaz destas acções no seu conjunto.
> (2) O momento (tempo) em que se verificam as condições mais favoráveis, à resolução táctica da situação de jogo, é
demasiadamente curto sendo necessária uma plena concentração por parte dos jogadores.
> 2. Específicos. Os deslocamentos defensivos são o resultado da procura constante e harmónica entre o possuidor da
bola e os restantes companheiros:
> (1) No que respeita ao jogador de posse de bola exige-se:
> A. Uma clara visão do jogo, percepcionando continuamente as movimentações dos seus companheiros (percepção),
apercebendo-se rapidamente que decisão (resposta táctica) é mais adequada à situação momentânea de jogo
(decisão). Entregar a bola no melhor momento sincronizando a sua execução técnico-táctica com a do companheiro
a quem é dirigida a bola (execução).
> B. Utilização de acções técnico-tácticas que alterem os ângulos relativamente aos seus companheiros com as
seguintes intenções: i) mobilizar a atenção, e por conseguinte a desconcentração de um ou mais adversários, que mar-
cavam, na circunstância, os seus companhei-ros, ii) tornar o jogo imprevisível do ponto de vista defensivo, podendo a
todo o momento executar acções técnico-tácticas em direcção a um ou outro corredor ou sector de jogo e, iii) asse-
gurar a protecção da bola, de modo a ganhar o tempo necessário para permitir, o desencadeamento de deslocamen-
tos ofensivos por parte dos seus companheiros, criando por conseguinte, as condições mais favoráveis aos objectivos
momentâneos (manutenção-progressão-finalização).
> (2) No que respeita aos jogadores em deslocamento exige-se:
> A. Indicar através da direcção, a forma e o tipo de deslocamento quais as suas verdadeiras intenções tácticas, pois
o companheiro de posse de bola deverá decidir de acordo com estas.
> B. Plena concentração no jogo, sabendo quando, onde e como, deverá criar as condições mais vantajosas para a
concretização dos objectivos tácticos da equipa (decisão). Em consequência, ter espírito de sacrifício e colaboração,
permanecendo em constante movimento, realizando-o em local oportuno, no momento certo e de acordo com as pos-
sibilidades técnico-tácticas do jogador de posse de bola (execução).
Princípios
Os princípios de orientação na execução dos deslocamentos ofensivos devem assumir dois domínios fundamen-
tais:
> 1. Gerais. As mudanças incessantes das condições de jogo (tanto ofensivas como defensivas) devem determinar deslo-
camentos permanentes dos jogadores, exprimindo os seguintes princípios:
> (1) Racionalizar permanentemente o espaço de jogo:
> A. Os deslocamentos dos jogadores são coordenados pela necessidade de equilibrar e racionalizar a repartição de
forças no terreno de jogo.
> B. Todos os deslocamentos se influenciam mútua e reciprocamente e cada jogador intervém sempre na orgânica do
jogo (adversário ou companheiro), facilitando ou contrariando pelos seus deslocamentos, o jogo colectivo.
> C. A articulação das várias fases do jogo será tanto mais evoluída, quanto mais a sua expressão se traduza de forma
unitária e homogénea, não dando lugar a compartimentos estanques que só conduzem a equipa a uma maior per-
meabilidade na sua organização.
> (2) Execução de deslocamentos a ritmos (velocidade) e direcções variáveis pretendendo chamar atenção dos opos-
itores com o intuito de:
> A. Deslocar os adversários dos espaços mais perigosos.
> B. Atrair os adversários deixando livre de marcação os companheiros melhor posicionados.
> C. Visar permanentemente a baliza adversária, isto é, o objectivo do jogo - o golo.
> (3) Procurar que o movimento da bola implique um deslocamento relativo de todos os jogadores:
> A. Um jogador em qualquer situação de jogo jamais deverá estar parado.
> B. O espaço deixado livre pelo jogador deve ser imediatamente ocupado por um dos seus companheiros.
> C. Qualquer que seja, e onde quer que se situe, o jogador de posse de bola, logo que a passa, deve movimentar-se
(simultaneamente ao passe) no sentido de apoiar o companheiro de posse de bola, ou procurar romper o equilíbrio
defensivo adversário.
> D. Os deslocamentos ofensivos são sempre válidos mesmo quando o jogador não recebe a bola.
> 2. Específicos: reagir rapidamente à situação de recuperação de posse de bola:
> (1) As acções visando a libertação de marcação e procura de espaços livres, devem iniciar-se instantaneamente após
a recuperação da posse de bola. Assim, os jogadores deverão responder às seguintes questões: i) quem: todos os
jogadores da equipa, ii) quando: a partir do momento em que a equipa entra de posse de bola, iii) onde: em qualquer
zona do terreno de jogo e, iv) como: ocupando lugares apropriados para oferecer linhas de passe e ajudar o portador da
bola.
> (2) Os deslocamentos dos jogadores devem caracterizar-se pelo desenvolvimento de certos processos técnicos indi-
viduais, de carácter "explosivo", visando em última instância surpreender ou iludir o adversário: i) utilizando mudanças
rápidas de ritmo e direcção da corrida e, ii) utilizando pequenas e rápidas fintas de simulação, no sentido da corrida, isto
é, o jogador executa um deslocamento rápido e curto no sentido inverso àquele para onde pretende verdadeiramente
deslocar-se.
Concluindo, o futebol exige que a totalidade dos jogadores (a partir do momento em que a bola é recuperada) se
coloquem disponíveis por meio de deslocamentos, no sentido de oferecer os seguintes objectivos:
> 1. A manutenção da posse da bola (estas desenvolvem-se num quadro referencial, cujo núcleo é representado pelo
jogador de posse de bola, sendo orientados preferencialmente por forma a se aproximarem dele).
> 2. A progressão da acção ofensiva (estas desenvolvem-se num quadro referencial, cujo núcleo é constituído pelo
jogador de posse de bola, da baliza adversária, dos adversários e companhei-ros).
> 3. A rotura do sistema defensivo adversário (estas desenvolvem-se num quadro referencial, cujo núcleo é constituído
pelo jogador de posse de bola, pela organização defensiva adversária e a bali-za adversária.
> 4. O equilíbrio do método defensivo (estas desenvolvem-se num quadro referencial, cujo núcleo é constituído pelo
jogador de posse de bola, própria baliza e adversários, que não estão directamente implicados no processo defensivo da
sua equipa).
2. Compensações/desdobramentos ofensivos
Definição
São acções técnico-tácticas individuais e colectivas, desenvolvidas no absoluto respeito dos princípios (gerais e
específicos) do ataque, que visam assegurar constantemente a ocupação racional do terreno, assumindo posições e missões
tácticas dos companheiros, que num certo momento do jogo estão envolvidos na realização de outras funções.
As acções técnico-tácticas de compensação e de permutação, em termos pragmáticos consolidam os mesmos
objectivos. Contudo, numa análise mais aprofundada, das acções de ocupação e de racionalização do espaço de jogo e da
troca de missões tácticas específicas de cada jogador, verificamos que: a compensação é fundamentalmente consubstanci-
ada pela ocupação de um espaço de jogo deixado livre por um companheiro, que num certo momento se integrou directa-
mente no processo ofensivo. A permutação é fundamentalmente consubstanciada pelo facto, de depois de a acção ofensiva
terminar, o jogador que foi ajudado ter de retomar o mais rapidamente possível, não a sua posição e missão específica de
base, mas a posição e missão específica de base do jogador que o ajudou, cumprindo esta função com pleno sentido de
responsabilidade.
Objectivo
Em síntese os objectivos das compensações/permutações são os seguintes:
> 1. Ocupação racional do terreno de jogo. Quando a equipa se encontra em processo ofensivo, existe a tendência de
esta se desequilibrar defensivamente, devido à incursão e integração de certos jogadores das linhas mais atrasadas no
centro do jogo atacante, assegurando-lhe uma eficaz continuidade. Estes desequilíbrios defensivos reflectem-se pelo
pouco cuidado posto na vigi-lância dos espaços vitais do terreno de jogo. Dado que, o momento e a zona onde se irá ver-
ificar a perda da posse da bola, não é sempre previsível, há assim, a necessidade de assegurar, em todos os momentos
pelos quais o processo ofensivo se desenvolve, a vigilância ou até mesmo a ocupação dos espaços de jogo, pelos quais
a equipa adversária poderá progredir logo após a recuperação da posse da bola.
> 2. Contínua vigilância sobre os adversários. Quando a equipa está em processo defensivo, verifica-se que o sistema
subjacente determina a existência de um ou dois elementos que não estão directamente implicados neste processo, cuja
função é de preparar mentalmente o processo ofensivo a efectuar, logo após a recuperação da posse da bola. Assim, a
vigilância, ou mesmo a marcação pressionante sobre as atitudes e comportamentos técnico-tácticos destes jogadores, são
de vital importância para se evitar a possibilidade de se realizarem contra-ataques que possam por em causa o equilíbrio
imediato da organização defensiva, criando igualmente as condições mais favoráveis para a concretização do golo.
> 3. Repartição equilibrada do esforço dos jogadores. Devido à grande dinâmica do jogo de futebol actual, há a neces-
sidade de se encontrar um equilíbrio que permita resolver as situações momentâneas de jogo com pleno sentido colecti-
vo. Este facto salienta que os jogadores das linhas atrasadas, ao se incorporarem no processo ofensivo, não podem por
razões físicas e técnico-tácticas, recuperar imediatamente para a sua posição e funções específicas de base. Daí que, cada
jogador deverá encontrar, na sua equipa uma organização que exprima a possibilidade de qualquer elemento participar no
ataque, assumindo outras posições e funções consoante as necessidades da variabilidade das situações momentâneas
de jogo. Sabe desta forma que a sua posição e funções específicas de base estão a ser acautelados por outro compan-
heiro, podendo assim, terminada a acção ofensiva, recuperar para a sua posição e função específicas de base e, se for
caso disso, recuperar do esforço despendido.
Meios
A forma geral de organização, ou seja, o método de jogo ofensivo, deverá ser um factor faci-litador na organização
das acções dos jogadores, exprimindo um bloco homogéneo que reflicta: i) um grande sentido de jogo colectivo, ii) um grupo
de jogadores solidários com as suas funções específicas, iii) uma clara fixação dos conceitos de disciplina e responsabili-
dade táctica, iv) um grande espírito de sacrifício e, v) um correcto sentido de doseamento do esforço físico.
Princípios
As incessantes mudanças das condições de jogo determinam deslocamentos permanentes dos jogadores, expri-
mindo a racionalização constante do espaço, consoante as necessidades para a resolução táctica das situações momen-
tâneas de jogo:
> (1) Os deslocamentos dos jogadores são coordenados pela necessidade de equilibrar e racionalizar a repartição de
forças no terreno de jogo.
> (2) Todos os deslocamentos se influenciam mútua e reciprocamente, e cada jogador intervém sempre na orgânica do
jogo, (adversários ou companheiros), facilitando ou contrariando o jogo colectivo pelos seus deslocamentos.
> (3) A articulação das várias fases do jogo será tanto mais evoluída quanto mais a sua expressão se traduza de forma
unitária e homogénea, não dando lugar a compartimentos estanques que só conduzem a equipa a uma maior permeabil-
idade na sua organização.
> (4) No futebol deverá existir esta elementar compreensão: sempre que um companheiro ajuda, tem direito a que o aju-
dem também. Se um jogador deixa o seu lugar e funções específicas num determinado momento da partida, para ocupar
o lugar e as funções de um companheiro que se adiantou no terreno, deverá este último, o mais rapidamente possível (a
quando da perda da posse da bola, ou noutra situação particular), voltar não ao seu lugar e funções de base, mas antes
ocupar o lugar deixado livre pelo companheiro que o ajudou. Mudam assim momentaneamente de lugar e funções, mas
nunca de responsabilidades, organização e solidariedade. Em conclusão, estas acções técnico-tácticas deverão reflectir: i)
o entendimento mútuo dos jogadores, pois a reali-zação destes comportamentos não têm qualquer efeito prático se
levarem a equipa a reagrupamentos múltiplos dos jogadores e, ii) devem efectuar-se rápida e espontaneamente, pois con-
stituem um elemento dinâmico do jogo actual.
3. As combinações tácticas
Definição
As combinações tácticas representam a coordenação das acções individuais de natureza ofensiva, de dois ou três
jogadores, desenvolvidos no absoluto respeito dos princípios do ataque, (gerais e específicos). Visam a resolução de uma
tarefa parcial (temporária) específica do jogo, assegurando a criação de condições mais favoráveis (analogamente aos deslo-
camentos ofensivos), em termos numéricos, espaciais e temporais.
Objectivos
O objectivo fundamental das combinações tácticas, é a resolução táctica das situações momentâneas de jogo (nas
unidades funcionais), criando-se assim as condições mais favoráveis (em termos de numéricos, espaciais e temporais) à per-
secução dos objectivos do processo ofensivo (progressão/finalização). Esta acção coordenada de dois ou três jogadores visa
em última análise:
> 1. A colocação de jogadores (durante o processo ofensivo) em espaços vitais e livres de oposição.
> 2. Romper o equilíbrio ou manter o desequilíbrio da organização defensiva da equipa adversária.
> 3. A reorganização constante do método defensivo adversário, o que consequentemente determina um maior empen-
hamento físico e psíquico dos seus jogadores.
Classificação
As combinações tácticas podem ser classificadas em:
> 1. Combinações simples (combinações a 2 ou “passa-e-sai”): i) o portador da bola fixa a acção do adversário directo
(penetração), ii) executa um passe a um companheiro, que consub-
stancia um deslocamento ofensivo de apoio, seguido de um desloca-
mento imediato (passar e mover), para um espaço ou posição facilita-
dora e favorável para receber a bola.
> 2. Combinações directas (um-dois ou passa-e-sai): i) o portador da
bola fixa a acção do adversário directo (penetração), ii) execução de
um passe a um companheiro que consubstancia um deslocamento
ofensivo de apoio, seguido de um deslocamento imediato (passar e
mover) para um espaço ou posição facilitadora e favorável para a >>>
recepção da bola e, iii) devolução da bola ao portador inicial.
> 3. Combinações indirectas (combinações a 3 jogadores). A utiliza-
ção de combinações simples (a 2), é muitas vezes difícil de concretizar face às grandes concentrações de jogadores, ou à
falta de espaços livres. São assim fáceis de anular sempre que a cobertura defensiva é assegurada. De modo a garantir
um maior desequilíbrio na organização defensiva, integra-se mais um jogador, realizando uma combinação a 3 que abre
mais possibilidades. Em função da iniciativa (selecção de uma opção),
da circunstância (local da acção espaço) e da colocação ou posi-
cionamento sobre o terreno (posição relativa dos adversários baliza):
i) o portador da bola fixa a acção do adversário directa (penetração),
ii) executa um passe a um companhei-ro que realiza um deslocamen-
to ofensivo de apoio, seguido de um deslocamento imediato (passar e
mover) para um espaço ou posição facilitador e favorável para a
recepção da bola e, iii) devolução da bola, não ao portador inicial, mas
a um 3º jogador cuja situação favorável resulta de um benefício direc-
to (fruto da acção que desencadeou) e um benefício indirecto (fruto da
>>>
acção desenvolvida pelo primeiro portador da bola).
Meios
Os meios de suporte às combinações tácticas (especialmente no que se refere às simples e às directas), funda-
mentam-se essencialmente nos deslocamentos ofensivos de apoio. Portanto, os meios - gerais e específicos - enunciados
para os deslocamentos ofensivos, mantêm-se para as combinações tácticas, especialmente para as exigências referentes:
(1) ao método de jogo, (2) ao jogador de posse de bola, e, (3) ao jogador em deslocamento ofensivo.
Princípios
As combinações tácticas estudadas são condicionadas pela participação directa ou indirecta de todos os jogadores
da equipa. Todo e qualquer tipo de combinação táctica é complementada com a introdução de mudanças de ritmo e direcção,
as quais assumem consequências muito acentuadas no equilíbrio defensivo adversário: i) quer por resultarem em situações
em que o jogador de posse de bola fica livre de marcação (situação favorável à finalização por exemplo) e, ii) quer por per-
mitirem criar de imediato situações de superioridade numérica nas unidades funcionais da equipa. Por último, importa realçar
que a atitude e as acções descritas de passar e mover, são sempre válidas, mesmo quando não se recebe a bola.
4. Cortinas/écrans
Definição
São combinações tácticas especiais, desenvolvidas no absoluto respeito dos princípios (gerais e específicos) do
ataque e das leis do jogo, por um ou mais jogadores, que se posicionam por forma a perturbar a leitura táctica da situação,
e consequentemente do comportamento defensivo dos adversários directos.
As acções técnico-tácticas de cortinas e écrans, em termos pragmáticos consolidam os mesmos objectivos. No
entanto, numa análise mais profunda e objectiva, verificamos que os écrans diferem das cortinas porque consubstanciam um
maior tempo durante o qual, o(s) defesa(s) estão sujeito(s) aos efeitos desta acção técnico-táctica.
Objectivos
Em síntese os objectivos fundamentais destas acções são os seguintes:
> 1. Proteger os comportamentos técnico-tácticos do(s) companheiro(s). A organização geral da equipa, particular-
mente o seu método defensivo, poderá articular acções de marcação específica (temporal ou contínua), de um certo
número de jogadores atacantes, que pela sua elevada capacidade téc-
nico-táctica deverão (do ponto de vista defensivo) ser continuamente
vigiados ou mesmo cerradamente marcados. Assim, perante esta
organização defensiva adversária, os elementos da equipa atacante
deverão, sempre que possível, posicionar-se por forma a interpôr-se,
entre o adversário directo de marcação e o companheiro, para que
este se liberte desta pressão ganhando o tempo necessário, consub-
stanciado na:
> (1) Necessidade de um maior tempo de leitura da situação de jogo
>|<
(percepção), por parte do defesa, com o consequente momento de
hesitação por parte do mesmo.
> (2) Um tempo mais alargado de execução dos seus comportamentos técnico-tácticos, devido à necessidade de con-
tornar o atacante que se interpôs entre ele e o seu adversário directo de marcação.
> 2. Impossibilitar a visão da posição e da possível trajectória da bola. As grandes concentrações de jogadores num
certo espaço vital de jogo, obrigam os atacantes a executar as suas acções técnico-tácticas sob grande pressão, mas
determinam igualmente, dificuldades por parte dos defesas que estão colocados em espaços mais atrasados, em ver clara-
mente a posição da bola e a sua correcta ou possível trajectória (especialmente no que diz respeito ao guarda-redes).
Assim, os jogadores atacantes aproveitam este facto tirando, vantagens através:
> (1) Da libertação de um ou outro jogador que vindo de trás poderá penetrar com ou sem a posse da bola para posições
vitais, sem uma marcação adequada à perigosidade da situação.
> (2) Do erro de julgamento da posição e do possível trajecto da bola. Os defesas ao não verem partir a bola, reflectem
um tempo de julgamento (percepção) e de reacção (decisão) mais longo.
As cortinas e écrans são mais facilmente observadas durante a execução dos esquemas tácticos, pela colocação de um
ou mais jogadores à frente da bola encobrindo perfeitamente: i) o jogador que irá executar a acção técnico-táctica, ii) o
momento da partida da bola. Nos pontapés de canto, por exemplo, a colocação de um jogador à frente do guarda-redes
adversário (muitas vezes executando contínuas impulsões), e a incorporação de um ou mais jogadores na formação das
barreiras da equipa adversária nos pontapés livres, são os factos mais observáveis e evidentes da utilização destas com-
binações tácticas espe-ciais.
> 3. Desequilibrar o centro do jogo defensivo. As acções técnico-
tácticas de cortinas/écrans criam momentos de indecisão de
raciocínio táctico dos defesas, quando estes procuram: i) o seu adver-
sário directo de marcação e, ii) a posição e a possível trajectória real
da bola. Este facto, reflecte-se incondicionalmente no equilíbrio do
centro do jogo defensivo, pois os momentos de hesitação por parte
dos adversários, obrigam-nos a reagir mais tardiamente para a res-
olução táctica das situações momentâneas de jogo.
>|<
Meios
Do que foi exposto, e para além dos aspectos ligados ao método de jogo, é necessário evidenciar que estes com-
portamentos técnico-tácticos são resultado:
> 1. Da procura que os adversários (no seu conjunto ou particularmente, exemplo: guarda-redes), tenham uma visão pouco
clara das situações de jogo, obrigando-os a reagir mais tardiamente.
> 2. Da utilização de comportamentos técnico-tácticos que consubstanciem a variação dos ângulos e posições relativas
dos jogadores atacantes, em função dos defesas, com as seguintes intenções:
> (1) Interpôr-se entre o defesa e o seu companheiro, para que este se liberte dessa pressão, mobilizando assim a
atenção e desconcentrando os comportamentos técnico-tácticos do defesa.
> (2) Encobrir a posição real da bola e a sua possível trajectória tornando o jogo imprevisível (do ponto de vista defen-
sivo).
> (3) Assegurar a protecção da bola, de modo a ganhar o tempo suficiente para que se criem as condições favoráveis à
persecução dos objectivos tácticos do ataque.
> (4) Rentabilização dos esquemas tácticos, através da criação do aumento da dificuldades para certos jogadores adver-
sários, tanto no encobrimento do jogador que irá executar a acção técnico-táctica, como da partida e trajectória da bola.
> 3. Da correcta leitura do jogo e saber, quando, onde e como, efectuar as cortinas/écrans, tendo em conta que o seu
deslocamento deverá criar as condições mais vantajosas para a concretização dos objectivos tácticos da equipa.
Momentos existem em que estes deslocamentos podem originar aglomerações de jogadores atacantes podendo, por con-
sequência, um defesa marcar efectivamente mais que um atacante.
> 4. De deslocamentos rápidos e directos para o seio dessas situações momentâneas de jogo. Se durante esse trajec-
to o jogador for marcado, deverá utilizar pequenas e rápidas fintas de simulação, para evitar o arrastamento de mais um
adversário para o centro do jogo, aumentando assim, as dificuldades de resolução táctica da situação.
Princípios
A grande pressão sobre certos jogadores atacantes deverá originar acções que visam a li-bertação da marcação
dos companheiros. Estas acções desenvolvem-se num quadro referencial, cujo núcleo é representado pelo companheiro de
posse de bola e o adversário directo, tendo este quadro como princípio a interposição de um jogador atacante entre os dois
jogadores referidos. Este aspecto reflecte o princípio da exigência fundamental do futebol dos nossos dias, do qual se traduz
que em todos os momentos os jogadores devem estar disponíveis, no sentido de oferecerem o máximo de possibilidades de
resolução táctica ao companheiro de posse de bola, criando simultaneamente as condições mais desfavoráveis à marcação
dos atacantes e à visualização da bola e da sua possível trajectória. A maximização da eficiência dos esquemas tácticos,
devem incluir os dois objectivos enunciados para as cortinas/écrans, consubstanciado pela coerente e coordenada acção dos
jogadores envolvidos nestes esquemas.
5. Temporização
Definição
São acções técnico-tácticas individuais e colectivas, de natureza ofensiva desenvolvidas no absoluto respeito dos
princípios (gerais e específicos) do ataque, que visam assegurar as condições mais favoráveis ao cumprimento dos objec-
tivos tácticos momentâneos (temporários) da equipa.
Objectivo
O objectivo fundamental da acção de temporização é ganhar o tempo suficiente para assegurar o cumprimento dos
objectivos tácticos momentâneos (temporários) da equipa, que poderão ser:
> (1) O jogador de posse de bola consegue devido aos seus comportamentos técnico-tácticos atrair para si a atenção, de
um ou vários adversários, por forma a que estes diminuam a vigilância ou mesmo a marcação: i) aos seus companheiros,
que poderão ser solicitados pelo portador da bola em qualquer momento, e, ii) de espaços de jogo vitais, os quais exigem
o rápido deslocamento para o seio dessas zonas, para os quais devem ser dirigidos os passes.
> (2) Para que os companheiros se desloquem e se posicionem em espaços vitais de jogo (colocação no ataque), por con-
sequência mais favoráveis e vantajosos para o cumprimento dos objectivos do ataque, ou por outro lado, para que os com-
panheiro(s) saiam de posições irregulares do ponto de vista das leis do jogo (fora-de-jogo).
> (3) Manter a iniciativa do jogo, surpreender o adversário a cansá-lo fisicamente, obrigando-o a jogar sobre uma grande
pressão psicológica e a entrar em crise de raciocínio táctico.
> (4) Devido à grande dinâmica do jogo de futebol, observam-se continuamente movimentações que procuram estabele-
cer uma ocupação racional do espaço de jogo, no entanto, há momentos em que é necessário proporcionar um tempo mais
ou menos alargado para que haja uma reocupação clara do dispositivo táctico de base da equipa.
> (5) Proporcionar o restabelecimento físico de certos jogadores, que por pequenos choques com os adversários, ou por
uma elevada prestação nos momentos anteriores à situação presente de jogo, não estão nas melhores condições.
> (6) Manter a posse da bola para assegurar o resultado numérico momentâneo de jogo.
> (7) Quebrar o ritmo de jogo do adversário imprimindo um ritmo de jogo mais conveniente à sua própria equipa, ou por
último criar uma falsa noção de ritmo, que proporcione uma acentuação da iniciativa do ataque.
Meios
As condicionantes favoráveis para a realização das
cortinas/ecrans podem ser ana-lisados sob as seguintes vertentes:
1. Gerais. A temporização é fundamentalmente observada durante a
fase de construção do processo ofensivo. Assim o jogador de posse
de bola consoante, a análise: i) dos objectivos tácticos momentâneos
(temporais) da equipa e, ii) da variação das situações momentâneas
de jogo, que determinam a selecção de comportamentos técnico-tác- >>>
ticos, optando pela diminuição, ou aumento do ritmo do processo ofen-
sivo da sua equipa.
> 2. Específicos. Do exposto, a temporização resulta da procura constante em conciliar uma intenção táctica individual
(jogador de posse de bola) e uma intenção táctica colectiva (companhei-ros):
> (1) No que respeita ao jogador de posse de bola exige-se:
> A. Clara compreensão dos objectivos tácticos da equipa: i). Percepcionando as condições do sistema de jogo da
equipa, ii) observando se existem companheiros que não estejam em condições físicas (necessitem de assistência
médica), iii) se existe uma ocupação racional do sistema de jogo aceitável, não havendo assim grandes desequilíbrios
nos vários sectores e corredores de jogo e, iv) os prós e os contra, de assumir um aumento ou diminuição do ritmo
atacante da sua equipa, em função do resultado numérico do jogo.
> B. Clara visão da situação momentânea de jogo, utilizando acções técnico-tácticas que alterem os ângulos relati-
vamente, aos seus companheiros, com as seguintes intenções: i) mobilizar a atenção e por conseguinte a descon-
centração de um ou mais adversários, que marcavam na circunstância os seus companheiros, ii) tornar o jogo impre-
visível do ponto de vista defensivo, podendo a todo o momento, executar acções técnico-tácticas em direcção a um
ou outro corredor ou sector de jogo e, iii) assegurar a protecção da bola, esperando o momento mais favorável para a
resolução táctica, escolhendo, decidindo e executando, a acção técnico-táctica mais adequada (e não a mais fácil).
> (2) No que respeita aos jogadores em deslocamento, exige-se:
> A. Clara compreensão dos objectivos tácticos momentâneos da sua equipa e do companheiro de posse
de bola, para que haja uma intenção colectiva, consubstanciada num grande sentido de jogo colectivo. Fixam-se con-
ceitos de disciplina e responsabilidade táctica, os quais são o sentido de uma ocupação racional constante do espaço
de jogo e do doseamento do esforço físico.
> B. Concentração nas situações momentâneas de jogo, tendo um espírito de sacrifício e colaboração constantes,
para a criação de condições mais favoráveis à concretização dos objectivos tácticos da equipa.
Princípios
Os princípios de orientação na execução dos deslocamentos
ofensivos devem assumir dois domínios fundamentais:
> 1. Gerais. A variabilidade das situações momentâneas de jogo e dos
objectivos tácticos da equipa, determinam uma inferência dinâmica e
contínua, dos aspectos condicionantes e inerentes ao centro da acção
de jogo (situação), e a necessidade de uma atenção concentrada das
condicionantes que se encontram longe desse centro. Obriga assim,
os jogadores a fazerem um balanço mais global do jogo, dos interess- >|<
es momentâneos e fundamentais da equipa e do modo de os cumprir, mesmo que "pareça" que se tenham de utilizar
acções técnico-tácticas individuais e colectivas que não concretizam de imediato os objectivos do jogo de futebol.
> 2. Específicos. O jogador de posse de bola deve consubstanciar os seus comportamentos técnico-tácticos, através de
acções individuais até que estejam cumpridos parte dos objectivos que determinaram o seu comportamento. Estas acções
individuais, baseiam-se em procedimentos técnico-tácticos que visam a protecção-conservação da bola, (condução, drible,
finta e simulação), compreendendo a sua corresponsabilidade, em função das condicionantes que cada situação de jogo
e dos objectivos tácticos que em si se encerram. Cabe ao jogador optar pelas soluções que permitam concretizá-los simul-
taneamente.
Definição
São soluções estereotipadas, previamente estudadas e treinadas para as situações de bola parada (livres, pon-
tapés de saída, de canto, lançamento da linha lateral, etc.). Representam uma forma de combinação táctica, ou seja, a coor-
denação das acções indivi-duais de vários jogadores de natureza ofensiva, que visam assegurar as condições mais
favoráveis para a concretização imediata do golo durante as fases fixas do jogo.
Objectivos
Em síntese, o objectivo fundamental dos esquemas tácticos ofensivos é assegurar as condições mais favoráveis à
concretização imediata do golo: dos dados das análises do jogo de futebol, concluí-se que entre 25 e os 50% das situações
de finalização e de criação das situa-ções de finalização, têm por base as soluções tácticas a partir de bola parada. Mais
importante é o facto de os jogos importantes (entre equipas com os mesmos níveis de rendimento) serem cada vez mais
decididos através de golos que derivam de livres, lançamentos da linha lateral, pontapés de canto, pontapés de grande penal-
idade. Hughes (1980), refere que "entre 1966 e 1986 decorreram seis finais do Campeonato do Mundo, onde foram marca-
dos 27 golos, 13 dos quais foram conseguidos a partir de situações de bola parada e outros cinco foram marcados logo a
seguir a essa situação. As razões deste facto são perfeitamente compreensíveis, sendo basicamente três: i) nos jogos impor-
tantes a marcação é muito pressionante, não dando assim muito tempo e espaço para que se possa jogar, ii) quando existe
menos tempo e espaço para se jogar é difícil para os atacantes conseguiram deslocar-se para posições perigosas e, iii) nos
jogos com marcações muito cerradas existem normalmente mais faltas e consequentemente mais livres.
Daí a importância que é dada pelas equipas, no treino e na maximização da eficácia destas soluções, que ofere-
cem igualmente o tempo e a oportunidade de se reajustar em posições, distâncias entre os vários elementos, acertar mar-
cações e ocupar racionalmente o terreno de jogo, em função das situações. Deste facto, se pode retirar a importância atribuí-
da pelas equipas, à concepção do treino e à maximização da eficiência destas soluções. Esta eficácia, traduz-se fundamen-
talmente pela iniciativa que a equipa de posse de bola usufrui, surpreendendo os adversários e obrigando-os a cometer erros.
Nas situações de bola parada, o factor tempo dá a possibilidade e a oportunidade de os jogadores se posicionarem em
espaços que maximizem as suas potencialidades (técnicas-tácticas-físicas) específicas, na procura constante de os colocar
em condições favoráveis para a concretização imediata do golo. Segundo Hughes (1980) "existem cinco vantagens básicas
que determinam a eficácia destas situações:
> (1) São sempre executadas com a bola parada. Por conseguinte o
problema do controlo da bola é eliminado.
> (2) Os adversários têm sempre que se colocar a pelo menos 9,15
metros, por conseguinte não existe pressão sobre a bola.
> (3) Um grande número de atacantes (8 ou 9), podem deslocar-se
para posições perigosas para a equipa adversária.
> (4) Os jogadores colocam-se em posições pré-planeadas para max-
imizar as suas capacidades individuais.
> (5) O treino sistemático destas situações produz níveis elevados de >>>
sincronização dos movimentos.
Meios
Os meios fundamentais para a concepção dos esquemas tácticos, devem assegurar os seguintes aspectos:
> 1. Um dispositivo fixo, no qual os jogadores e a bola circulam de uma forma pré-estabelecida. No entanto, deve igual-
mente ter um carácter espontâneo e criador, relacionando o nível de organização ofensiva e defensiva, em função da situ-
ação momentânea de jogo. A sucessão de procedimentos técnico-tácticos dos jogadores deve ser lógica, coerente e de
acordo com um "cenário" de jogo convincente para a equipa adversária, sendo esta levada a ler incorrectamente a situ-
ação, e consequentemente a optar por medidas menos eficazes, ou seja, cometer erros.
> 2. A execução dos esquemas tácticos ofensivos exigem:
> A. No que diz respeito ao jogador que repõe a bola: (1) um claro conhecimento da solução táctica e das suas vari-
antes, (2) uma reposição de bola no momento certo, articulado com a movimentação dos seus companheiros, e, (3) uma
eficaz execução técnico-táctica de reposição da bola.
> B. No que respeita aos jogadores que participam directamente no esquema táctico: (1) claro conhecimento da solução
táctica e as suas variantes, (2) coordenação eficaz do objectivo do seu comportamento e dos seus companheiros, e, (3)
estar sempre preparado para a eventualidade de finalizar mesmo que no treino dessa solução táctica não tenha sido o
escolhido para o fazer.
> C. Os esquemas tácticos envolvem normalmente um grande número de jogadores para se tirar o máximo de rendi-
mento destas situações. Este facto determina, consequentemente, a aplicação de medidas preventivas para se minimizar
o eventual risco (no caso da execução deficiente destas soluções tácticas). Daqui se infere igualmente, a necessidades
dos jogadores que não estão directamente envolvidos nos esquemas tácticos, terem o conhecimento com a mesma
exactidão e responsabilidade, que os restantes companhei-ros.
> D. O tempo necessário para a execução dos esquemas tácticos ofensivos, é suficiente para se poderem reajustar as
posições, as distâncias e a concentração psíquica dos jogadores, de forma a se prepararem para a sua execução.
Normalmente nestas situações, o tempo concorre a favor do ataque, no entanto, não se deve perder a oportunidade de
se repor rapidamente a bola em jogo, mesmo que o dispositivo fixo não esteja ainda totalmente concretizado, desde que
se tire maiores vantagens de uma desconcentração (atenção), dos jogadores adversários e de uma organização defen-
siva precária.
> E. As diferenças fundamentais entre os esquemas tácticos ofensivos e as combinações tácticas segundo, Teodorescu
(1984) são as seguintes: i) maior complexidade, ii) só são utilizados nos momentos fixos do jogo, iii) maior rigidez e
estereótipo, iv) dispositivo fixo de circulação de jogadores e da bola, enquanto que as combinações tácticas têm um
carácter espontâneo e criador em função da fase do jogo.
As formas de se conseguirem mais situações de bola parada, segundo Hughes (1990), são as seguintes:
> (1) Passar a bola para o espaço nas "costas" da defesa adversária. Os passes para o espaço nas "costas" dos defesas
causam-lhes sempre problemas, porque partem para uma posição desconfortável, tendo que rodar em direcção à sua
própria baliza.
> (2) Através de cruzamentos. Os cruzamentos para as "costas" da defesa, espe-
cialmente para a zona central causam um desconforto enorme aos defesas. Na maio-
ria dos casos, estes ao deslocarem-se em direcção à sua própria baliza, jogam a bola
para lá da linha final.
> (3) Através de dribles. Os atacantes, ao optarem por uma situação de 1x1 na zona
ofensiva, poderão retirar grandes dividendos, através de situações (de pontapés livres
directos ou indirectos) muito vantajosas para a sua equipa.
> (4) Pressionando os defesas. Quando a bola é introduzida nas
"costas" da organização defensiva, os atacantes devem pressionar
constantemente os adversários (mesmo que estes cheguem primeiro 6
à bola), disputando com eles a bola, diminuindo-lhes o tempo e o
espaço para a poderem jogar. Esta limitação (em termos de tempo e
espaço), determina que a execução técnica tenha que ser perfeita,
logo, se os defesas não estão confiantes da sua capacidade, fre-
quentemente entram em pânico. Neste sentido, embora pareça estran-
ho, todos os defesas devem estar marcados por um atacante, os quais
mesmo não tendo a certeza de chegar primeiro à bola, devem tentar
disputá-la com o defesa adversário.
> (5) Rematando. Quanto mais uma equipa rematar, mais oportunidades tem de criar situações secundárias de remate.
Algumas advêm de ressaltos e outras de pontapés de canto. As equipas devem estar preparadas para rematar em qual-
quer oportunidade, sobre esta pressão os defesas têm mais probabilidades de cometer erros e originar mais situações de
bola parada.
Aplicando estas cinco formas positivas, aumentar-se-á o número de situações de bola parada. Todavia, isto não sig-
nifica que uma equipa deva ter como objectivo estas situações. O que é importante compreender é que estas situações, ao
reunirem condições favoráveis, irão aumentar as possibilidades de se atingir o golo.
Princípios
Os princípios fundamentais de orientação para a concepção dos esquemas tácticos ofensivos, devem assegurar
os seguintes aspectos:
> (1) Criar um "cenário" convincente, que permita mobilizar a atenção, e por conseguinte, a desconcentração de um ou
vários adversários. Os defesas, ao desconhecerem as acções individuais e colectivas que envolvem a concretização do
esquema táctico, podem ser induzidos em erros, centrando a sua atenção em outros elementos que lhes pareçam mais
prováveis de acontecer (surpresa). Torna-se assim o jogo ofensivo mais imprevisível para os defesas.
> (2) Para a concretização da solução táctica, os deslocamentos dos jogadores devem caracterizar-se pelo desenvolvi-
mento de procedimentos técnico-tácticos rápidos, com mudanças de direcção e utilizando pequenas fintas de simulação
do verdadeiro sentido da corrida.
> (3) A utilização de acções de protecção (cortinas/écrans), especialmente sobre: i) o guarda-redes, para aumentar a difi-
culdade de leitura da situação de jogo e, ii) jogador que irá executar a acção técnico-táctica, encobrindo a partida e tra-
jectória da bola.
> (4) Nas paragens momentâneas de jogo verifica-se uma menor concentração (atenção) dos jogadores. Isto determina,
que os jogadores escalonados para as várias soluções tácticas de bola parada, devem imediatamente ocupar as suas
posições dentro do dispositivo fixo, tentando rentabilizar uma possível reposição rápida da bola em jogo, beneficiando de
uma menor atenção dos jogadores adversários.
> (5) Colocação de jogadores em determinados espaços, com funções que maximizem as suas potencialidades individu-
ais, criando-se as condições mais favoráveis para a sua exteriorização.
> (6) Colocação dos defesas a uma certa distância (regulamentada pelas leis do jogo), a qual determina que o problema
da pressão não seja equacionado, logo, o jogador que repõe a bola poderá concentrar-se fundamentalmente no momen-
to mais favorável para a concretização da solução táctica.
> (7) Os esquemas tácticos devem utilizar-se poucas vezes durante o mesmo jogo, para que os adversários não se
habituem às intenções e às manobras tácticas dos jogadores nestas situações de jogo. Assim, dever-se-á introduzir uma
ou duas variantes na construção dos esquemas tácticos.
> (8) Dever-se-ão igualmente criar situações de "conflito" com os adversários e com o árbitro, (posição da bola, distância
da barreira, etc.), com o intuito de mobilizar a atenção dos adversários para outros pormenores de menos interesse.
> (9) Alguns treinadores são “obcecados” pela variedade na execução das situações de bola parada. A variedade não é
recomendada. Na maior parte das situações, a melhor variedade é a variedade sobre um tema base que é eficiente e man-
ter constantemente a equipa adversária na expectativa. Existe um preceito na organização das situações de bola parada,
"quanto mais directo e simples for executado, mais probabilidades de sucesso terá a situação" (Hughes, 1980, 1990).
As modificações referentes às Leis do jogo que regulamentam a execução dos lançamentos da linha lateral irão
consubstanciar que a situação de bola parada mais frequente do jogo de futebol venha a assumir, não somente uma simples
forma de recomeçar o jogo, mas sim, um momento extremamente vantajoso para o processo ofensivo. As vantagens acresci-
das desta situação de bola parada devem-se a dois factores essenciais:
> (1) A execução do lançamento da linha lateral, ao ser executado com os pés, determina uma maior amplitude e rapidez
na progressão do centro do jogo em direcção à baliza adversária, tendo igualmente um maior número de companheiros a
quem passar a bola e, por inerência, um maior número de opções ofensivas.
> (2) Os ângulos em que o atacante se posiciona, relativamente à baliza adversária, para executar o lançamento da linha
lateral pode ser mais propício à criação das condições imediatas à concretização do golo. Nestas circuns-tâncias, vejamos
alguns exemplos: os lançamentos perto da linha final assumem-se claramente como pontapés de canto, com a vantagem
(ofensiva) de serem executadas sob um ângulo mais fácil para cruzar, o que consequentemente, determina um ângulo de
contacto/ataque na bola de menor dificuldade para os companheiros que se deslocam para a grande área. Os lançamen-
tos da linha lateral no meio-campo podem assim atingir de imediato a baliza adversária, não havendo a necessidade de
repôr a bola em jogo para reiniciar a fase de construção do processo ofensivo.
Potencialmente são um factor muito importante para a obtenção de golos. São mais os golos marcados como resul-
tado de livres, que de pontapés de canto conjuntamente com os lançamentos da linha lateral:
> (1) Os livres directos fora da zona ofensiva (3/3 da zona do campo). Têm uma possibilidade muito remota de se con-
seguir golo através de uma execução directa. Assim, o ênfase deve ser posto numa execução rápida, para retirar vantagem
de qualquer lapso de concentração por parte dos defesas. Nestas circunstâncias, logo que o livre é apontado pelo árbitro,
dois jogadores devem deslocar-se em direcção à bola e recomeçar o jogo prontamente, observando a possibilidade de
mudar o ângulo de ataque, enquanto os jogadores colocados em posições avançadas se deslocam para a baliza adver-
sária, tendo em atenção o fora-de-jogo.
> (2) Os livres dentro da zona ofensiva: a partir dos corredores laterais dever-se-á: i) cruzar a bola para as "costas" da
defesa, e, (2) pressionar os defesas. O cruzamento apresenta dois aspectos importantes:
> A. O primeiro refere-se fundamentalmente ao jogador que executa a acção:
> (1) A área alvo do cruzamento. É a área delimitada pela marca da grande penalidade e pela linha da pequena área.
> (2) O cruzamento. Existem três fases nesta acção: i) observação: perante a situação é fundamental verificar-se se é
possível cruzar de imediato, ou se se deve esperar por melhores condições para o fazer, ii) decisão. Em função da
observação, decidir que tipo de cruzamento executar e, iii) execução. Os melhores cruzamentos são aqueles que tor-
nam o trabalho dos defesas mais difícil. Isto significa que o cruzamento deve ser executado para as "costas" da defe-
sa, colocando a bola com velocidade e a meia-altura.
> B. O segundo consubstancia os aspectos fundamentais dos jogadores que se deslocam para a área alvo:
> (1) O deslocamento antes do cruzamento. Enquanto os defesas têm a tendência natural de se deslocarem em
direcção à bola, os atacantes deverão deslocar-se afastando-se destes. Isto põe de imediato um grande problema
defensivo, como ver a bola e o atacante simultaneamente? Nestas circunstâncias, os atacantes devem afastar-se dos
seus adversários directos dissimulando as suas intenções. Deslocam-se numa primeira fase em direcção à bola e rap-
idamente mudam de direcção e velocidade para o lado oposto, tornando assim o trabalho defensivo muito complexo.
> (2) O momento do deslocamento para o cruzamento. O deslocamento para a área alvo deve ser retardada o mais
possível para que o jogador não tenha que esperar pela vinda da bola. Idealmente o atacante e a bola devem chegar
à área alvo ao mesmo tempo.
> (3) O ângulo de deslocamento para o cruzamento. Quanto maior for o ângulo entre o deslocamento do jogador e a
trajectória da bola mais eficiente, será o contacto com a mesma.
> (4) O contacto com a bola. Se o deslocamento do atacante for executado no momento e num ângulo correctos, o
contacto com a bola torna-se a fase mais importante, a qual deve ser realizada na metade superior da bola, para asse-
gurar que esta não suba. Directamente ligado aos cruzamentos está o problema do cabeceamento.
> (3) Os livres dentro da zona ofensiva. A partir do corredor central, dever-se-á:
> A. Evitar em qualquer momento que o guarda-redes veja a bola.
> B. Utilizar dois ou mais jogadores para a execução do livre, para que o adversário não saiba quem vai marcar o livre.
Os atacantes aproximam-se da bola a partir de diferentes ângulos, podendo executar diferentes tipos de remate. O
jogador que não remata poderá executar uma cortina/écran para impedir que os defesas vejam a partida da bola.
Por último existem quatro factores importantes na execução do livre: i) compreender que acção técnica é mais efi-
ciente, ii) jogar a bola simples e directa, iii) jogar a bola com precisão, iv) determinação por parte dos atacantes em pressionar
os defesas contrários e, v) observar atentamente os jogadores adversários que não estão na barreira.
A grande penalidade
A importância da grande penalidade tem aumentado nos últimos anos, sendo normalmente usado para decidir
finais de jogos do Campeonato do Mundo, da Europa, etc. A eficácia da grande penalidade é o resultado da combinação de
três aspectos fundamentais:
> (1) Ideias claras sobre a execução da grande penalidade, baseado num treino específico e sistemático.
> (2) O correcto temperamento. O jogador ao executar a grande penalidade tem ser capaz de alhear-se de tudo à sua
volta, demonstrando serenidade e tranquilidade, convencendo-se em absoluto de que irá ter sucesso.
> (3) Correcta técnica. O jogador deverá concentrar-se confiante e positivamente na execução técnica. Existem duas téc-
nicas para a sua execução: i) colocação ou, ii) potência. Todavia, seja qual for a escolha, o jogador executá-la-á sem inde-
cisões.
O pontapé de canto
O pontapé de canto não é tão importante como os livres, sendo a são a fonte de numerosos golos. Existem dois
tipos básicos de pontapés de canto:
> (1) Cantos curtos. Objectivo fundamental é de concretizar superioridade numérica (2x1, 3x2) nessa área do terreno de
jogo, tomando vantagem das leis que obrigam os adversários a se posicionarem no mínimo a 9,15 me-tros da bola. Esta
vantagem é usada para arquitectar um posicionamento mais perigoso perto da baliza adversária e num ângulo mais cor-
recto, tentando desorganizar a defesa. Contudo, os cantos curtos não são a maior fonte de golos, não havendo grandes
vantagens em ter superioridade numérica nessa parte do terreno de jogo.
> (2) Cantos longos. Existem dois tipos de cantos que dependem fundamentalmente da trajectória da bola em direcção
à baliza adversária, e que podem ser: com "efeito" na bola por dentro e com "efeito" na bola por fora.
Bibliografia
CASTELO, J., (1996). Futebol - A organização do jogo. Edição do autor. Lisboa
CASTELO, J., (1999) Futbol - estructura y dinamica del juego, INDE Publicaciones, Barcelona
CASTELO, J., (2003) Futebol - Guia prático de exercícios de treino. Visão e contextos. Lisboa
HUGHES, C., (1990) The Winning Formula, Willian Collins Sons, London
FUTEBOL
AS ACÇÕES INDIVIDUAIS DEFENSIVAS
JORGE CASTELO
Neste âmbito iremos analisar as acções técnico-tácticas individuais defensivas, nas quais se destacam: (1) o
desarme, (2) a intercepção, (3) a carga, (4) o cabeceamento e, (5) a técnica do guarda-redes.
Definição
Entendemos por desarme, a acção técnico-táctica efectuado pelo defesa procurando interferir sobre a mesma
respeitando as Leis do jogo, na luta directa com o atacante que a detém a bola.
Objectivo
A acção técnico-táctica de desarme visa fundamentalmente: (1)
a recuperação da posse da bola ou, (2) a temporização do processo
ofensivo adversário, intervindo momentaneamente sobre a bola. Muitas
são as situações de jogo em que o defesa procura interromper atrasan-
do o desenvolvimento do processo ofensivo adversário, por forma a gan-
har o tempo suficiente para a sua equipa se reagrupar e organizar con-
~ venientemente adaptando-se à situação contextual de jogo. Neste
domínio, importa relembrar que a interrupção do processo ofensivo levar
a bola:
> 1. Para longe da zonas vitais de jogo, mais tempo os defesas terão para se reorganizar.
> 2. Para zonas menos povoadas de jogadores atacantes ou para os corredores laterais menor será o risco da situação
de jogo.
Execução
Para uma eficaz acção técnico-táctica de desarme, importa ter em consideração seis aspectos fundamentais:
> 1. Executar uma rápida aproximação relativamente ao atacante. O defesa para poder realizar a acção técnico-tác-
tica de desarme, deverá deslocar-se rapidamente em direcção ao atacante enquanto a bola estiver no seu trajecto para
este. Neste sentido, o defesa ao encurtar distâncias poderá colocar toda a pressão possível sobre o atacante, por forma
a influenciar a qualidade da sua recepção. Todavia, logo que o atacante recepciona a bola o defesa deverá diminuir a
velocidade com que vem animado evitando a possibilidade de ser ultrapassado de imediato.
> 2. Atender ao ângulo de aproximação relativamente ao atacante. Uma das condições essenciais para a execução
do desarme, é determinado pela importância de sempre que possível, o defesa aproximar-se do atacante adaptando um
ângulo que permita: (1) um posicionamento entre a bola e a sua baliza, (2) colocar o atacante sobre a pressão das lin-
has laterais ou finais do espaço de jogo ou (3) a ajuda de outros defesas por forma a criar condições de superioridade
numérica.
> 3. Assumir um posicionamento defensivo de base. Assim que seja possível, isto é, quando o atacante recepciona
a bola, o defesa deverá assumir a sua posição de base estando apto e preparado para intervir sobre a bola, logo que as
circunstâncias assim o permitam.
> 4. Promover uma correcta distância relativamente ao atacante. Em função de um conjunto de aspectos pertinentes,
tais como: (1) a capacidade do defesa em recuperar a posse da bola, (2) a capacidade do atacante em resolver situ-
ações de 1x1, (3) da forma como o atacante recepciona a bola, isto é, de frente ou de costas para o defesa, (4) do espaço
de jogo em que o atacante recebe a bola e, (5) das possíveis ajudas de outros colegas ou adversários, o defesa deverá
optar por uma correcta distância por forma a poder, em qualquer momento, decidir e executar eficazmente a acção de
desarme.
> 5. Observar continuamente a bola. O defesa não deve perder a noção da bola por forma a reagir de acordo com
esta e não ser ludibriado pelos falsos sinais, que normalmente nestas situações são emitidas pelo corpo do atacante.
> 6. Ser paciente. O defesa, em função de um enorme número de condições circunstânciais que rodeiam as situações
de 1x1 e o reduzido tempo para tomar uma decisão, deve ter o temperamento táctico que possibilite escolher o melhor
momento de assumir a iniciativa e a capacidade técnica de garantir a ganhar a posse da bola com elevada percentagem
de êxito.
> 7. Atacar decisivamente a bola para a ganhar. Neste âmbito, os defesas ao pressionam os atacantes de posse de
bola devem saber quando tentar recuperá-la ou quando devem somente vigiar o adversário. Existe um elemento funda-
mental nesta matéria, que os defesas devem relembrar: um atacante poderá ser dominado durante quase toda a parti-
da, todavia, basta uma vez só ultrapassar o defesa para que a sua equipa possa acabar o jogo com derrota. Isto signifi-
ca, que os defesas só devem ousar recuperar a posse da bola quando têm grandes possibilidades de a ganhar e quan-
do a oportunidade surgir devem-no fazer de forma decisiva.
Concluindo, importa referir também a possibilidade de executar desarmes frontais em carrinho, os quais são mais
observados em caso extremos ou em situações de disputa de uma bola que parece perdida pelo atacante. Contudo, estas
acções para além da sua dificuldade de execução, levantam um enorme problema de integridade física para os dois
jogadores, especialmente quando o defesa e o atacante utilizam a mesma acção simultaneamente, pois o choque é
inevitável e as mazelas físicas, que daí podem derivar, também.
2. A intercepção
Definição
Entendemos por intercepção, a acção técnico-táctica que consiste em o jogador se apoderar da bola, ou em repeli-
la: i) quando esta é tocada em direcção à sua própria baliza (trata-se da intercepção de um remate), ou, (2) entre dois
adversários (trata-se da intercepção de um passe).
Objectivo
Analogamente ao desarme, a acção técnico-táctica de intercepção visa funda-
mentalmente a recuperação da posse da bola, ou a temporização do processo ofen-
sivo adversário, intervindo momentaneamente sobre esta.
Execução
A acção técnico-táctica de intercepção, contém fundamentos básicos difíceis
de sistematizar, porque pressupõe diferentes formas de actuação, consoante as qual-
idades do jogador e as situações momentâneas de jogo. Com efeito, a intercepção
sendo uma das formas fundamentais de recuperação da posse da bola, é um com-
portamento técnico-táctico cuja execução é suportado pela capacidade dos defesas
lerem correctamente as situações de jogo, antecipando no presente a situação de jogo
>|<
futura. Neste domínio, o dilema essencial de todo o jogador em acção defensiva, é o
de analisar e decidir quando tentar ou não interceptar a bola. Se a sua avaliação é correcta recupera-a e estabelece, simul-
taneamente, condições favoráveis ao relançamento do processo ofensivo da sua equipa, pois é normal nestas situações,
o jogador estar livre de marcação. Pelo contrário, se essa avaliação é incorrecta terá reflexos importantes de carácter pos-
itivo para o desenvolvimento do processo ofensivo adversário.
3. A carga
Definição
É a acção exercida por dois jogadores, que procuram o contacto físico - carga, em zonas do corpo permitidas pelas
leis do jogo, aquando da luta directa pela posse da bola.
Objectivo
Os defesas utilizam todos os argumentos técnicos legais para criar situações desvantajosas aos atacantes de
posse de bola, procurando intervir sobre esta, nem que seja momentaneamente para interromper o processo ofensivo
adversário. Com efeito, o facto de as leis do jogo permitirem um certo contacto físico - carga, na disputa da bola, coloca
sob forte pressão o jogador que a detém. Nestas circunstâncias, os defesas aumentam as dificuldades inerentes à pro-
tecção e conservação da bola por parte do atacante, se o carregarem legalmente, através do contacto físico, afastando-o
ou desequilibrando-o da situação de jogo. É este o objectivo essencial em que se baseia a acção técnico-táctica de carga.
Execução
As superfícies corporais de contacto permitidas pelas leis do jogo são: i) o ombro
contra ombro, e, (2) o ombro contra espádua. Contudo, aliado à restrição de só poderem
~ ser estas as superfícies corporais de contacto, a carga tem de ser obrigatoriamente real-
izada num tempo certo de disputa da bola. Assim, todas as cargas "fora ou dentro do
tempo" são consideradas legais ou ilegais em função dos critérios do árbitro. Para além
dos pressupostos legais atrás referidos, o pressuposto técnico de execução desta acção
baseia-se fundamentalmente no tempo certo de carga sobre o jogador de posse de bola,
que ocorre quando este se apoia na perna mais afastada, pelas seguintes razões:
6 i) torna-se mais difícil para este, recuperar o equilíbrio e, ii) normalmente a perna
mais afastada é a que protege ou conduz a bola. Assim, o jogador ao desequili-
brar-se terá menos hipóteses de controlar a bola.
~
4. Cabeceamento
` >>>
> 2. Ir no tempo certo. O momento da impulsão para atacar a bola
concorre largamente para a ficácia da acção. Assim, não é por acaso,
que jogadores de estatura mais baixa, muitas vezes ganham duelos
aéreos a adversários com estatura superior.
> 3. Jogar a bola o mais longe possível. Ao concretizar-se este aspecto possibilita que a equipa tenha tempo para se
organizar.
> 4. Jogar a bola para o ar. Enquanto a bola estiver no ar (fora do alcançe de
qualquer jogador), cria-se condições para os defesas ajustarem as suas
posições para atacar a bola quando esta começar a descer. >>>
> 5. Jogar a bola no correcto ângulo. Isto significa, que o cabeceamento
deverá ter em atenção no envio da bola para um espaço onde existe poucos
adversários ou para zonas não vitais de jogo, como são os espaços perto das
linhas laterais.
> 6. Jogar a bola para fora das linhas do campo. Em algumas circunstân-
cias é preferível jogar a bola para fora por forma a clarificar a situação, dando
assim tempo para uma correcta reorganização da equipa.
5. A técnica do guarda-redes
Definição
Entendemos por técnica do guarda-redes todas as acções técnico-tácticas específicas executadas por este,
durante o processo defensivo da sua equipa.
Objectivo
As acções do guarda-redes compreendem formas que visam fundamentalmente a protecção da baliza - evitar o
golo.
Execução
No plano defensivo, o comportamento técnico-táctico do guarda-redes consubstancia-se sob duas vertentes fun-
damentais: i) seguir atentamente o processo ofensivo adversário e
partindo de um posicionamento privilegiado dentro do terreno de jogo
assumir a orientação verbal dos seus companheiros quer individual
quer colectivamente, no que diz respeito aos seus posicionamentos,
deslocamentos dos atacantes, sendo igualmente elemento preponder-
ante na formação de barreiras, estabelecendo-se assim uma relação <<<
de comunicação extremamente viva e contagiante, e, (2) uma vez que
o objectivo do jogo é o golo, normalmente cabe ao guarda-redes a
responsabilidade última de evitar que tal objectivo se concretize,
>>>
através das mais variadas acções técnico-tácticas, tais como, o apan-
har, o blocar, o recolher, o mergulhar, o afastar, o desviar a bola, etc.
Bibliografia
CASTELO, J., (1996). Futebol - A organização do jogo. Edição do autor. Lisboa
CASTELO, J., (1999) Futbol - estructura y dinamica del juego, INDE Publicaciones, Barcelona
CASTELO, J., (2003) Futebol - Guia prático de exercícios de treino. Visão e contextos. Lisboa
FUTEBOL
AS ACÇÕES INDIVIDUAIS OFENSIVAS
JORGE CASTELO
Cada modalidade desportiva comporta em si mesma um “bilhete de identidade” próprio, contendo a sua “impressão
digital” individualizada e intransmissível. Partindo desta analogia, facilmente nos apercebemos que cada modalidade tem uma
lógica, uma razão de ser e de existir, por outras palavras, cada atitude, cada comportamento observável em competição tem
um significado e uma razão que o determina. Se existe alguma qualidade que determina de imediato o fascínio do público, o
respeito dos adversários, a admiração dos colegas e o prazer intrínseco do próprio jogo, este é consequência da elevada
capacidade evidenciada pelos jogadores na resolução eficaz das diferentes situações contextuais de jogo, utilizando as mais
variadas acções motoras (“Skills” na designação em língua inglesa) específicas do futebol, encontrando sempre tempo sufi-
ciente para as executar. É por esta razão, que todo o jogador deverá explorar ao máximo as suas competências de cariz téc-
nico e táctico por forma a melhorar constantemente os seus níveis de execução.
Mesmo os jogadores de altíssimo nível, em cada período do seu processo anual de treino, devem-se submeter a
exercícios básicos, com o intuito de “renovar” ou refrescar” os programas motores de suporte a essas acções
técnicas.Costuma-se utilizar o adágio que formula "quem sabe (aprendeu) nunca esquece", isto só é verdade se o jogador
continuar a utilizar exercícios de treino que estabilizem a capacidade adquirida e desenvolvida ao longo do tempo, por forma
a responder eficazmente às situações específicas de treino e de competição. Quando com o decorrer do tempo, não se
exercita um certo tipo de comportamentos técnicos ou técnico-tácticos, promove-se o processo de esquecimento devido à
não utilização da informação retida na memória e às instruções para a sua execução (teoria da decadência do traço mnési-
co). Ora, o esquecimento consubstancia a diminuição da capacidade de realizar acções com os níveis de performance antes
alcançados, isto é, "quem não exercita esquece", ou por outras palavras, "quem sabe nunca esquece se exercitar". O que foi
referido significa que as adaptações e as alterações do organismo dos jogadores adquiridas ao longo do tempo através de
exercícios de treino específicos são transitórios, tanto no plano do desenvolvimento e da evolução (continuando a solicitação)
ou reversíveis (paragem da solicitação) diminuindo a capacidade de prestação desportiva.
Desta análise ressalta, que quando o jogador deixa de ter eficácia na aplicação da sua bagagem técnico-táctica ou
numa das acções que a constituem (por exemplo: o remate, o passe, a recepção, etc.), melhor poderá compreender a neces-
sidade de examinar e explorar os elementos críticos dessas acções motoras com o objectivo de descobrir ou para ultrapas-
sar o problema em questão. Todavia importa salientar, que esta apreciação e aplicação motora não deve ser baseada na ideia
de uma técnica gestual “perfeita” em que a sua eficácia simplesmente passaria pela forma do gesto executado. Esta visão
nada tem haver com a transitoriedade e variabilidade características das situações que o jogo de futebol em si encerra. A
eficácia comportamental dos jogadores, passa inapelavelmente, pela precisão das diferentes operações mentais subjacentes
à percepção e tomada de decisão, que suportam e geram as acções de resposta às situações-problema. Neste enquadra-
mento, quando se pretende atingir uma determinada capacidade técnica, não se deve somente imitar o gesto, mas sim, con-
struír e desenvolver estratégias e normas decisionais que permitam suportar acções adaptadas às situações-problema que
se desenvolvem durante o treino ou na competição do jogo de futebol.
Para um total de 90 minutos de jogo, cada jogador não detém a posse da bola por mais de 80 segundos (total por
jogo), intervindo sibre esta entre 30 e 50 vezes (variação determinada pelas funções tácticas dos jogadores dentro da orga-
nização da equipa). Os valores relativamente diminutos traduzidos pela frieza das análises do jogo (uma intervenção sobre
a bola entre 108 a 180 segundos), só vêm reforçar a importância que os jogadores e treinadores devem dar ao treino de situ-
ações de carácter técnico-táctico. Nesta perspectiva, cada jogador deve ter presente a sua contribuição no desenvolvimento
do processo ofensivo ou defensivo da equipa, explorando ao máximo a justeza das suas decisões (solução adaptada relati-
vamente à situação contextual de jogo) e de eficácia dos seus comportamentos (acções motoras realizadas).
Daqui podemos inferir, quanto é importante conceptualizar situações de treino que reflictam a criação de condições
o mais próximo possível da realidade do jogo. Pensamos que só desta forma é possível haver uma transferência de carácter
positivo entre os efeitos acumulados e pretendidos pela prática sistemática e organizada das situações de treino e a sua
repercusão na competiçõa desportiva. Com efeito, como podemos constactar é relativamente fácil controlar a bola, de a pas-
sar, de a rematar, etc., em que o jogador só tem de se concentrar na execução destas acções. Todavia, nas situações reais
de competição é fundamental seleccionar e executar a acção motora correcta em função da contextualidade situacional.
Estas circunstâncialismos obrigam o jogador a atender, entre outras:
> 1. Da trajectória e da velocidade com que a bola vem animada.
> 2. Da proximidade ou não de adversários.
> 3. Do posicionamento dos colegas, especialmente aqueles que possam estar colocados nas zonas vitais de jogo.
> 4. Da decisão relativamente aos objectivos tácticos a atingir com a sua execução.
> 5. Da relação entre os objectivos a atingir e o tempo existente para a execução da acção.
O desenvolvimento da acção técnica dos jogadores não se revêm somente na compreensão e performance indi-
vidual, mas também e fundamentalmente na sua contribuição para a resolução dos problemas do jogo colectivo. As acções
individuais ofensivas podem ser subdividi-las em: (1) as acções técnico-tácticas que têm por objectivo a conservação/pro-
gressão da bola: recepção, protecção e condução da bola, drible, finta e simulação e, (2) as
acções técnico-tácticas que têm por objectivo a comunicação/finalização: o passe e o remate.
1. A recepção/controlo da bola
Definição
Entendemos por recepção, a acção técnico-táctica efectuada por um jogador, visando
o controlo ou domínio da bola, que a recebe dos companheiros (passe) ou dos adversários
(intercepção). Em última análise, a recepção é determinada pelo primeiro toque na bola realiza-
do pelo jogador quando intervem sobre esta.
Objectivo
A recepção da bola é a acção sem a qual não se poderá rentabilizar o comportamento técnico-táctico do jogador
na resolução da situação contextual de jogo. Com efeito, uma eficaz recepção da bola permitirá:
> (1) ao jogador ter o tempo e o espaço suficientes para executar os seus comportamentos técnico-tácticos (mesmo quan-
do pressionado pelo defesa). A correcta e rápida recepção da bola possibilita ao jogador um ganho temporal para analis-
ar a situação à sua volta, decidir e executar a acção motora de resposta ao problema situacional. Simultaneamente, impos-
sibilita ao adversário que procure pressioná-lo o tempo suficiente para o fazer pondo-o assim, numa situação de desvan-
tagem.
> (2) uma melhor ligação com as acções técnico-tácticas subsequentes ao controlo da bola, assim, quanto melhor for a
recepção e controlo, melhor será a execução terminal da acção do jogador, que poderá ser um passe, um drible ou um
remate.
Execução
A acção técnico-táctica de recepção da bola é relativamente
mais fácil de explicar do que executar. Existe um reduzido número de
aspectos críticos (chave), os quais são válidos para qualquer tipo de
recepção da bola (com o pé, coxa, peito etc.), que importam compreen-
der e pôr em prática. Com efeito, podemos estabelecer quatro elementos
fundamentais que concorrem largamente para uma boa recepção da
bola: >|<
> (1) Deslocar-se em direcção à trajectória da bola. O primeiro aspecto chave que concorre largamente para o suces-
so desta acção é determinado pelo deslocamento da superfície corporal de recepção e controlo em direcção à trajectória
da bola, interceptando-a. Com efeito, é fundamental que os jogadores nunca esperem pela bola, pelo contrário, deverão
deslocar-se em sua direcção por forma: (1) a melhorar as condições de recepção, em especial quando algo de inespera-
do possa surgir, (2) aumentar o ritmo de jogo da equipa através da diminuição do tempo em que a bola viaja entre os
jogadores da mesma equipa e, (3) evitar que os adversários possam antecipar e intervir sobre esta.
> (2) Decidir antecipadamente com que superfície corporal se irá recepcionar e controlar a bola. Uma vez posici-
nado na trajectória da bola, o jogador deverá decidir, em função das condições em que esta vem animada (velocidade,
efeito, etc.), que parte do corpo deverá ser utilizada para a controlar. Quanto mais cedo esta decisão for tomada, mais
tempo o jogador terá para adoptar uma posição apropriada, seleccionar a superfície corporal de contacto e concentrar-se
na sua execução técnica. A importância de uma decisão antecipada sobre a forma e a superfície de recepção da bola,
pode ser facilmente observada em duas situações de jogo. A primeira, refere-se quando o atacante não estando à espera
de receber a bola, não tem o tempo suficiente para se preparar para a sua correcta recepção, tendo de exercutar acções
de recurso. A segunda, pode ser observada quando o atacante, depois de decidir que acção deverá executar, procura alter-
ar, nos últimos momentos, as condições de recepção da bola, tendo como consequência, na maioria dos casos, à sua
perda.
> (3) Escolher que tipo de recepção utilizar. O jogador, no infimo tempo de que ispõe, deverá conjugar: (1) o seu posi-
cionamento relativamente à bola e, (2) à solução táctica que tem em mente executar aquando da sua posse. Assim,
podemos estabelecer duas formas fundamentais de executar esta acção técnico-táctica:
> 1. A recepção em amortecimento. Nesta forma de recepção da bola procura-se reduzir a zero a velocidade com que
a bola vem animada ficando simultaneamente sob o domínio do atacante. Para isso acontecer, utiliza-se uma superfície
corporal relaxada. Esta forma de recepção é frequentemente usada em situações de grande pressão defensiva ou em
espaços reduzidos de jogo.
> 2. A recepção activa. Contrariamente ao que foi referido, esta forma de recepção da bola procura uma ligação mais
sequencial com as outras acções técnico-tácticas (passe, drible, simulação, condução, remate), imprimindo um ritmo de
jogo contínuo. Com efeito, a optar-se por este tipo de recepção procura-se que a bola seja controlada sem perder total-
mente a velocidade com que vem animada de forma que se adapte à contextualidade situacional e à solução táctica
encontrada pelo atacante, mantendo-se assim, um ritmo activo e continuo de jogo.
> (4) Ter confiança na execução desta acção técnico-táctica. A confiança determinada por uma correcta recepção da
bola melhora substancialmente as condições de eficácia de todos os aspectos do jogo. Assim, esta confiança é consub-
stanciada por um estado mental de relaxação que é determinada pelo conhecimento das suas reais capacidades. Ter con-
fiança na sua capacidade de recepcionar e controlar a bola é um dos pressupostos de um qualquer jogador de alto nível.
Por último, as recepções da bola podem ser observadas sem ou com a pressão do adversário directo, essencialmente em
duas situações de jogo: de frente ou de costas para este.
Concluindo, devido às contigências inerentes às diferentes situações de jogo, pode não ser possível respeitar e
aplicar os aspectos chave de uma correcta recepção da bola, nestes casos, o jogador deve estar preparado mental e técni-
camente para tirar o máximo de vantagens das circuntâncias, utilizando o conhecimento pormenorizado da situação e da sua
capacidade de os pôr em prática.
2. A condução da bola
Definição
Entendemos por condução, a acção técnico-táctica de um jogador que
visa o deslocamento controlado da bola no espaço de jogo.
Objectivo
É uma acção técnico-táctica imprescindível não só na progressão para
a baliza adversária, como para temporizar a acção ofensiva, possibilitando uma
movimentação táctica dos companheiros, com o objectivo de criar as condições
mais favoráveis ao desenvolvimento do processo ofensivo. <<<
Execução
Existem cinco elementos fundamentais que concorrem largamente para uma eficaz condução da bola:
> (1) A condução da bola é efectuada normalmente pelos membros inferiores, especialmente com os pés: i) a parte inter-
na do pé é a que oferece maior precisão (devido à grande superfície de contacto) mas é menos rápida (por ser necessário
rodar para fora a perna condutora no momento do toque), ii) condução de bola com o peito do pé, é bastante rápida porque
é mais contínua, mas torna-se de certo modo pouco precisa, por ser relativamente pequena a área de contacto com a bola
e, iii) a condução da bola realizada com a parte externa do pé (é rápida e eficiente, por ser grande a superfície de contac-
to na bola e fácil a sua adaptação). Estas três superfícies corporais de condução de bola, podem empregar-se durante o
mesmo deslocamento.
> (2) O contacto com a bola. Quando existe espaço livre à frente do atacante, menor deverão ser o número de contactos
sobre a bola, logo, cada contacto deverá permitir que esta esteja permanente-
mente à frente do atacante que se desloca à velocidade máxima. Quando o ata-
cante é pressionado pelo adversário deverá, durante a condução da bola, mantê-
la sempre perto dos pés (evitar ser desarmado), contactando-a permanente-
mente, de forma a protegê-la, podendo mudar de direcção (em função da situ-
ação de jogo).
> (3) A condução de bola deve ser executada com o pé condutor do lado opos-
to, ao do adversário, a fim de evitar que este possa desarmá-lo (protecção da
bola).
> (4) Observar o espaço de jogo à sua volta. Durante a condução da bola o
>>> jogador deve-rá levantar a cabeça, por forma a inteirar-se correctamente da situ-
ação de jogo à sua volta a qual determinará que opções técnico-tácticas deverá
tomar.
> (5) A decisão. Durante o deslocamento com bola o jogador deverá, constantemente e antes de cada contacto, decidir
sobre a continuidade, ou não, da acção. Não devendo existir dúvidas quanto à decisão a tomar.
3. A protecção da bola
4 Definição
Entendemos por protecção da bola, todo o comportamento do
atacante na sua posse (quer em movimento ou não), por forma a res-
guardá-la de qualquer intervenção do(s) adversário(s) directo(s).
Objectivo
Esta acção técnico-táctica, ao
>>>
procurar evitar que o defesa intervenha
4 sobre a bola, objectiva quatro aspectos fun-
damentais: (1) tem-
porizar o processo ofensivo, por forma a
que os companheiros (atacantes) forneçam
melhores opções tácticas de resolução da
situação de jogo, (2) ganhar tempo de jogo, >|< 4
no qual o atacante se coloca perto da ban-
deirola de canto e, beneficiando das linhas limites do campo, procu-
ra reter a bola o máximo de tempo possível, (3) quebrar o ritmo do
adversário, obrigando-o a entrar em crise de raciocínio táctico e, (4) >|<
em certas zonas específicas do terreno, provocar infracções às leis
4
do jogo (por parte dos adversários), possibilitando, nestas circun-
stâncias, beneficiar das vantagens inerentes às situações de bola parada. `
>|<
Execução
Existem três elementos fundamentais que o atacante de posse de bola deverá respeitar, para uma eficaz protecção
da bola:
> (1) Colocar sistematicamente a bola o mais longe possível do(s) adversário(s).
> (2) Interpor o seu corpo entre a bola e o(s) adversário(s), no qual um dos membros inferiores suporta o seu peso e
funciona como "pivot" (no caso na variação do ângulo em relação ao defesa), enquanto o outro contacta a bola com
pequenos toques, mantendo-a longe do(s) adversário(s).
> (3) Reagir constantemente às diferentes acções do(s) adversário(s) directo(s), va-riando ângulos e posições em
relação a este(s).
4. O drible - finta
Definição
Entendemos por drible ou finta, as acções técnico-tácticas de ultrapassar, o adversário directo, com a bola per-
feitamente controlada. A diferença entre estas duas acções técnico-tácticas, em nossa opinião, diz respeito ao contacto físi-
co, isto é, no drible o contacto físico com o adversário directo é mais premente, enquanto que na finta o jogador atacante
ladeia o adversário directo.
4 Objectivo
Este comportamento técnico-táctico é um elemento fundamental do futebol
na actualidade, devido à falta de espaços livres e às acções de marcação movi-
das pelos adversários em processo defensivo. Tanto o drible como a finta, são ele-
mentos muito pessoais e ori-ginais. Estes exigem uma grande virtuosidade técni-
ca e um sentido de improvisação elevado.
Execução
4 Existem cinco elementos importantes que
concorrem para a eficiente execução do drible:
> (1) A aproximação. A aproximação do atacante
em direcção ao defesa deve consubstanciar dois
objectivos: i) a linha de aproximação deverá ser a
mais directa possível, ii) a velocidade de aproxi-
mação de-verá ser máxima, observando-se uma
5. A simulação
Definição
Entendemos por simulação, a acção técnico-táctica individual, realiza-
da por qualquer segmento corporal, visando provocar o desequilíbrio momentâ-
neo ou ludibriar o adversário directo, isto é, simular que vai executar uma acção
para um lado mudando, bruscamente para outra direcção.
6
Objectivo
A importância crescente da execução das acções de
simulação em futebol advem fundamentalmente da necessidade
dos jogadores "ocultarem" dos adversários directos, em todos os
momentos, os seus verdadeiros objectivos.
6. O passe >>>
Definição
Entendemos por passe, a acção técnico-táctica de relação de comunicação material, estabelecida entre dois
jogadores da mesma equipa, sendo portanto, a acção de relação colectiva mais simples de observar e executar.
Objectivo
A acção técnico-táctica de passe é considerado o elemento
fundamental básico de colaboração entre os jogadores de uma mesma
equipa (os quais devem possuir uma ampla "bagagem técnica" de difer-
entes tipos de passe), imprescindível para a consecução dos objectivos
tácticos do ataque. O passe é, sem dúvida, a acção predominante no
jogo de futebol. Em 80% das situações nas quais o jogador está de
posse de bola, tem a intenção de a passar a outro companheiro. Nas <<<
restantes situações, dribla, finta, conduz, simula ou remata.
Execução
Segundo Hughes (1990) "nada destrói tão rapidamente a confiança de uma equipa como um passe impreciso, nada
constrói tão rapidamente a confiança de uma equipa como um passe preciso... não existe nenhum substituto para uma boa
acção técnica de passe e não existe nenhuma estratégia que resista a passes imprecisos". A execução técnico-táctica do
passe é baseada numa atitude que procura levar o centro do jogo rapidamente em direcção à baliza adversária, consub-
stanciando dois aspectos essenciais:
> (1) O aspecto táctico, ou seja, seleccionar o passe: é determinado pela análise da situação momentânea de jogo que
por si estabelecerá o objectivo táctico da execução do passe. Esta análise é baseada em cinco factores: i) a posição dos
companheiros, isto é, a existência ou não de atacantes posicionados ou preparados para explorar espaços vitais do ter-
reno de jogo, por forma a poderem concretizar o desenvolvimento ou a concretização do ataque, ii) a posição dos adver-
sários, que se consubstancia no nível de organização defensiva e a possibilidade de se poder tirar vantagem da sua pre-
cariedade, iii) a zona do terreno de jogo onde se calcula a relação entre o risco e a segurança da execução da acção téc-
nico-táctica (observa-se a diminuição percentual da execução desta acção à medida que o centro de jogo se aproxima da
baliza adversária). Neste sentido, 60% dos passes são executados no meio-campo, devendo-se ao facto destas zonas do
terreno de jogo se constituírem como espaços preferenciais para a preparação e construção das acções ofensivas.
Complementarmente, os jogadores quando perto da baliza adversária têm que encontrar e executar outros procedimentos
técnico-tácticos, tais como o drible/finta ou simulação, que consubstanciam a procura de criação de vantagens para a con-
cretização eficiente do processo ofensivo), iv) o conhecimento por parte do
jogador das suas próprias capacidades de execução do passe seleccionado
e, v) dos objectivos tácticos momentâneos da equipa, cujos pressupostos
compreendem um largo conjunto de factores tais como, o resultado numérico
momentâneo do jogo, do tempo de jogo, quebra do ritmo de jogo do adver-
sário, esperar que os companheiros se desloquem para certas posições que
determinem um elevado nível de organização ofensiva.
> (2) O aspecto técnico, ou seja, a execução do passe que é determinado >>>
pela execução propriamente dita desta acção. Neste sentido existem cinco
factores fundamentais para a execução do passe: i) simular. O atacante dev-
erá simular a sua verdadeira intenção táctica produzindo um conjunto de "falsos sinais", contribuindo assim para que os
defesas adoptem posicionamentos inadequados à situação de jogo, ii) tipo de passe a executar. O tipo de passe depende
largamente da intenção táctica pré-estabelecida pelo atacante. Assim este poderá ter uma amplitude longa ou curta, uma
trajectória alta ou rasa, ser executada com ou sem efeito, iii) o tempo de passe. Um passe executado no tempo correcto
põe o companheiro (receptor) numa posição de má-xima vantagem e, naturalmente torna o trabalho defensivo mais difícil
e complexo, iv) a potência do passe. Um passe eficaz atinge o alvo a uma velocidade que não cria problemas acrescidos
ao companheiro na recepção da bola, pois isto irá ter consequências marcantes não só na relação de comunicação entre
os dois jogadores, como na diminuição da fluidez e ritmo do processo ofensivo e, v) a precisão. Este factor determinará
se o companheiro (receptor) tem ou não que modificar a direccionalidade e o objectivo do seu comportamento para recep-
cionar a bola. "A precisão não é tudo no passe, mas tudo o resto não tem qualquer significado se o passe for impreciso"
(Hughes, 1990).
Todas as superfícies corporais podem ser utilizadas para a execução desta acção técnico-táctica, mas os mais uti-
lizados são: os pés (parte interna, externa e peito do pé), o peito, a cabeça, as mãos (pelo guarda-redes dentro da sua grande
área). O emprego da melhor superfície para passar a bola, será função da situação de jogo, da direcção, precisão e veloci-
dade que queiramos transmitir-lhe. Assim, quanto maior for a área de impacto, maior será a precisão do passe mas menor a
distância que a bola poderá percorrer. Logo, quanto menor for a superfície de contacto, menos preciso será a acção, mas
maior será a distância a que a bola pode ser lançada. Portanto, a parte do pé que oferece maior precisão é a parte interna e
a que permite lançar a bola a uma maior distância é o peito do pé, se não conside-rarmos a ponta do pé.
Definição
Acção técnica de reposição da bola em jogo, executado com as mãos, que deriva da
saída da bola pelas linhas laterais do terreno de jogo.
Objectivo
O lançamento de linha lateral consubstancia em todas as circunstâncias uma acção
técnico-táctica de passe, logo, assume os mesmos objectivos estabelecidos para esta acção. Em
virtude das possíveis modificações às Leis do jogo (que regulamentam o lançamento de linha
lateral), virem a determinar que este seja executado com os pés, consubstanciará duas vanta-
gens fundamentais para a equipa de posse de bola: i) maior amplitude e rapidez na progressão
do centro do jogo em direcção à baliza adversária e, ii) em certas situações de jogo, o ângulo de
lançamento da linha late-ral (em relação à baliza adversária) será mais propício à criação de
situações de finalização.
Execução
Os lançamentos da linha lateral são situações de ataque de inestimável valor por serem execuções muito simples
(com as mãos) de recomeço do jogo. Existem seis aspectos importantes na execução dos lançamentos de linha lateral:
> (1) Executar rapidamente o lançamento da linha lateral.
> (2) Executar o lançamento de linha lateral para um companheiro sem marcação.
> (3) Executar o lançamento de linha lateral em direcção à baliza adversária.
> (4) Executar o lançamento de linha lateral por forma que o companheiro possa recepcionar a bola facilmente.
> (5) Criar o espaço suficiente para que seja eficiente.
> (6) Executado o lançamento, o jogador deverá entrar rapidamente no jogo.
8. O cabeceamento
Definição
É a acção técnica de intervir sobre a bola com a cabeça.
Objectivo
Esta acção, pode, conforme a situação e os objectivos do jogo, estar ligado à recepção, ao passe, ao remate, à con-
dução da bola e à intercepção.
Execução
Existem quatro elementos básicos que concorrem largamente
para uma acção de cabeceamento eficaz:
> (1) Precisão do contacto. As superfícies preferenciais de contacto
com a bola são: i) a testa (é a superfície anatomicamente mais adap-
tada à bola e permite uma maior visão de jogo) e, ii) os parietais (não
permite tanta precisão como a testa, sendo usada como recurso em
função da situação de jogo).
> (2) Manter o contacto visual com a bola. É normal que os olhos
se fechem no momento do contacto com a bola, todavia, é importante
que estes se mantenham abertos até esse momento.
> (3) Gerar potência. Todo o corpo (pernas, tronco e pescoço) devem ajudar a suportar, estabilizar e a gerar potência para
a acção de cabeceamento. Neste sentido, é importante a ligeira inclinação do corpo para trás para que, ao ser impulsion-
ado para a frente em direcção à bola, gere uma maior potência no cabeceamento. As formas de cabeceamento podem ser:
com ou sem impulsão, com ou sem mergulho lateral ou frontal, e com ou sem oposição.
> (4) Atacar a bola. Saltar ou mergulhar para atacar a bola durante o seu trajecto evidencia dois aspectos fundamentais:
i) o chegar primeiro à bola e, ii) o aumento da potência do cabeceamento.
9. O remate
Definição
Entendemos por remate, toda a acção técnico-táctica exercida pelo jogador sobre a bola, com o objectivo de a intro-
duzir na baliza adversária.
Objectivo
O jogo de futebol é objectivado pela concretização do golo. Perseguir continuamente este objectivo, vencendo a
resistência organizada do adversário, é a tarefa mais importante que todos os jogadores de uma e de outra equipa preten-
dem cumprir com a maior frequência possível.
Execução
Existem seis aspectos fundamentais na execução das acções técnico-tácticas de remate:
> (1) Rematar logo que a oportunidade surja. Os jogadores perdem muitas oportunidades de remate (em qualquer nível
de rendimento), pelas seguintes razões: i) na procura de um melhor posicionamento em relação à baliza adversária, ii) pelo
facto de terem receio de não utilizar o pé dominante, iii) por procurarem passar a responsabilidade a um companheiro, iv)
terem medo de errar a baliza e, v) contacto físico.
> (2) Utilizar a técnica mais ajustada à situação de jogo. O tipo de execução téc-
4 nico-táctica de remate depende: i) da trajectória da bola (rasa ou alta), ii) da dis-
tância da baliza (necessidade de se empregar maior ou menor potência sobre a
bola) e, iii) da posição do guarda-redes (posicionando-se entre os postos, ou
deslocando-se em direcção ao atacante).
> (3) Rematar a partir de ângulos eficientes. Os remates executados sob ângu-
los reduzidos necessitam de procedimentos técnicos mais apurados
6 e precisos. Com efeito, a eficácia do remate mo-difica-se consoante
o ângulo sobre o qual este é executado.
> (4) Rematar raso e fora do alcance do guarda-redes. As acções
técnico-tácticas de remate mais eficazes são normalmente direc-
cionadas para o poste mais distante da posição do guarda-redes,
isto é, fora do alcance deste. Daí a necessidade de se seleccionar a
área de baliza mais vulnerável, rematando em trajectória
6 rasa, por forma a forçar o guarda-redes a mover-se da
sua posição de base para defender a bola.
> (5) Criar o espaço para rematar. As aglomerações de
jogadores nas imediações da baliza são frequentes, não
facilitando, nestas circunstâncias, a execução do remate.
Com efeito, os atacantes deverão executar deslocamen-
tos ofensivos de rotura, por forma a des-
6 organizar e "arrastar" os defesas para
outras posições menos eficientes e,
deste modo, criar o espaço suficiente
para o companheiro de posse de bola ter
o tempo necessário para rematar.
> (6)
6 Movimentar-se
logo após o
3 3 remate. Muitos
Definição
Entendemos por técnica do guarda-redes todas as acções técnico-tácticas específicas, executadas por este
durante o processo ofensivo da sua equipa.
Objectivo
As acções do guarda-redes compreendem formas que visam fundamentalmente o relançamento do ataque da sua
equipa.
Execução
O comportamento técnico-táctico do guarda-redes beneficia de um
estatuto especial dentro da mesma, que se consubstancia pela possibilidade de
fazer uso de todas as partes do corpo (desde que esteja dentro da sua grande
área), e em especial, de intervir com as mãos na bola. Objectiva assim uma mel-
hor protecção e conservação desta, não podendo ser pressionado na sua acção
pelos adversários. Neste sentido, o guarda-redes expressa a sua influência direc-
ta no ataque de 2 formas, que em termos pragmáticos se concretizam: (1) no
relançamento ou, (2) no desenvolvimento do processo ofensivo. Todavia, evi-
>>>
dencia-se o facto, de em alguns momentos do jogo os guarda-
redes (que encerram algumas particularidades espe-ciais - como a 6
envergadura, a capacidade de impulsão, etc.), subirem no terreno
de jogo e participarem nas situações de bola parada (em especial
nos que são executadas perto da baliza adversária - cantos, livres,
lançamentos, grandes penalidades, etc.), procurando finalizar a
acção ofensiva da sua equipa. Por último, a partir da sua posição
de base, o guarda-redes pode observar todo o espaço de jogo e,
conforme as circunstâncias do encontro, aumentar ou diminuir o
ritmo específico do mesmo, através de reposições ou desenvolvi-
mentos (rápidos ou lentos), consubstanciados por passes (longos >>>
ou curtos) para zonas ou companheiros que possam dar melhor
continuidade ao processo ofensivo.
Bibliografia
CASTELO, J., (1996). Futebol - A organização do jogo. Edição do autor. Lisboa
CASTELO, J., (1999) Futbol - estructura y dinamica del juego, INDE Publicaciones, Barcelona
CASTELO, J., (2003) Futebol - Guia prático de exercícios de treino. Visão e contextos. Lisboa
HUGHES, C., (1990) The Winning Formula, Willian Collins Sons, London
A CARACTERIZAÇÃO DO EXERCÍCIO
DE TREINO
JORGE CASTELO
Se após estes avisos persistir em ler este artigo ... Então, não alege que o não avisámos.
Para que os efeitos da aplicação regular, racional e metódica de exercícios de treino determinem adaptações fun-
cionais constantes, permanentes e duradoiras, que por si, se manifestam na elevação do rendimento desportivo dos prati-
cantes ou das equipas, qualquer que seja a modalidade desportiva em causa, estes deverão ser caracterizados pela sua
especificidade. Neste sentido, vejamos a opinião de vários autores da Teoria e Metodologia do Treino Desportivo. Para
Manno (1982) “os fenómenos de adaptação que estão na base da elevação do rendimento desportivo, estão ligados à especi-
ficidade do estímulo que no treino é, como sabemos, constituído principalmente pelo exercício”. Do mesmo modo Teodorescu
(1983) refere que “os exercícios devem reproduzir parcial ou integralmente, o conteúdo e a estrutura do jogo”. Este autor
demarca de forma clara a importância dos exercícios de treino corresponderem constantemente à realidade estrutural e orga-
nizativa de um determinado jogo desportivo colectivo. Por fim Bompa (1983) é peremptório ao afirmar que “a especificidade
é o elemento principal requerido para a obtenção do sucesso” o mesmo autor acrescenta que “as adaptações dos praticantes
não se limitam ao problema biológico, mas também se fazem sentir de forma precisa nos factores técnicos, tácticos e psi-
cológicos”. Desta forma, quando pretendemos que este praticante ou aquela equipa criem condições de adaptação por forma
a estabelecer um determinado nível de rendimento, isto só poderá advir, não somente da vontade e da liderança do treinador,
mas acima de tudo, da conceptualização de programas lógicos (inteligíveis) de treino que se praticam de forma regular e
metódica. Assim, a consecução de uma determinada prestação de rendimento é determinada, pela correcta prática dos exer-
cícios de treino que sejam específicos, ou melhor, que se identifiquem total ou parcialmente, com o que se procura atingir.
O exercício de treino tem conhecido ao longo dos anos e preponderantemente na actualidade alterações significa-
tivas quer no âmbito da concepção, no conteúdo, na estrutura e na sua organização. Ora, a especificidade dos meios de treino
são a orientação e a tendência fundamental do treino desportivo na actualidade. Este facto de inegável impacto, obriga a uma
reorganização das prioridades na conceptualização dos exercícios de treino, pois só assim, se poderá concretizar elevadas
prestações desportivas. Esta maior precisão e direccionalidade do treino, traduz-se igualmente na impossibilidade real de um
praticante proporcionar elevados níveis de performance em várias modalidades desportivas de forma simultânea e, inclusi-
vamente, em várias disciplinas do mesmo desporto.
Na perspectiva da Teoria e Metodologia do Treino Desportivo podemos definir, com um elevado grau de segurança,
a especificidade como uma qualidade complexa e constitutiva de uma subdivisão por-
menorizada a partir da globalidade dos exercícios de treino, que se destinguem uns dos outros
Nos distintos domínios da nossa vida social e profissional, observa-se uma crescente
Foto publicada pela revista Training
Em virtude dos aspectos até agora referidos podemo-nos questionar das razões fundamentais que condicionam e
determinam a necessidade de se conceptualizar, e consequentemente submeter os praticantes e as equipas a exercícios de
treino de carácter especializado. Os argumentos que orientam a aplicação desta tendência no treino desportivo consubstan-
ciam-se na intercepção de dois aspectos essenciais da funcionalidade orgânica do ser humano: (1) as limitações do proces-
so de adaptação do organismo humano e, (2) a inexistência de mecanismos funcionais estritamente especializados.
A adaptação funcional do organismo humano não pode ser encarado como um processo ilimitado (nem a curto
nem a largo prazo), pois tem um limite geneticamente determinado. Dito de outra forma, a exigência de um elevado grau de
especialização fundamenta-se, numa primeira análise, pelas limitadas possibilidades de adaptação do praticante, isto é, pela
relativa escassez de reservas funcionais de adaptação. Esta reserva funcional de adaptação é definida pela capacidade do
praticante reagir a exercícios de treino cuja lógica estrutural é determinada, por alterações adaptativas com intuito de con-
cretizar um novo nível funcional suportado, consequentemente, na base
de adaptações anteriores.
Devido a esta limitação adaptativa, a construção dos exercícios
fundamentais de treino devem procurar seleccionar constantemente, as
componentes essenciais e similares (análogas) dos diferentes contextos
que a estrutura da actividade competitiva de uma dada modalidade
desportiva em si encerra. Isto determina a necessidade de se criar, quer do ponto de
Foto cedida pelo jornal O JOGO
vista técnico, táctico, físico e psicológico uma estrutura única de treino, que articule
no seu seio exercícios modelares, isto é, que se estabeleçam como modelos elimi- Fotos 5 e 6. Uma correcta selecção da
nando, por um lado, consumos inúteis de energia e de tempo, e por outro, quando direccionalidade do treino traduz-se por
um aumento das capacidades de respos-
aplicados em condições similares (tipificação) os seus efeitos em termos de adap- ta às situações que o treino e a com-
petição contemplam
tação funcional e a sua relação com o desenvolvimento do rendimento desportivo do
praticante ou da equipa devam ser conhecidos (estandardização). Em última análise, fixando-se coerente e racionalmente o
número de parâmetros e os índices óptimos de prestação desportiva em que o praticante se deve especializar para cada
etapa da sua formação, aumenta-se as possibilidades e as potencialidades de uma adaptação funcional específica do organ-
ismo. Ora, ao tomarmos estes aspectos em consideração e interrelacionando-os com outros, observa-se os seguintes factos
no processo de treino:
1. A preparação especializada. A elevação da prestação desportiva do praticante ou da equipa numa dada modalidade
desportiva deve ser estruturada e organizada, em direcção às necessidades e exigências dominantes traduzidas pelo
seu enquadramento competitivo.
2. Classificação e características dos meios de treino fundamentais. No processo de treino coexistem meios de
treino que se podem classificar segundo o seu carácter: (1) específico. Têm como característica de base uma elevada
relação de significância com a actividade competitiva garantindo, à partida, uma transferência positiva para o desen-
volvimento de uma determinada prestação desportiva e, (2) inespecífico. Têm como característica fundamental uma
relação pouco significativa com a realidade competitiva da modalidade desportiva, logo a sua contribuição para se atin-
gir um determinado nível de prestação é realizada de forma “indirecta”.
3. No treino poderá existir a incompatibilidade dos meios. Devido à existência de meios de carácter específico e
inespecífico observa-se no treino a confrontação directa entre estes dois conteúdos. Daqui se deduz, devido ao facto de
as reservas de adaptação funcional terem um limite, que uma utilização frequente de exercícios inespecíficos : (1) irá
diminuir a concentração e o tempo de treino disponível para a realização de exercícios específicos, os quais, determinam
um maior desenvolvimento da capacidade desportiva do praticante e, (2) poderá igualmente estabelecer uma incompat-
ibilização entre os efeitos de treino dos exercícios inespecíficos sobre as estruturas de suporte à execução e desen-
volvimentos dos efeitos produzidos pelos exercícios específicos.
4. Compatibilização entre os meios específicos gerais e os meios específicos de treino. Para que não haja con-
tradições entre os diferentes efeitos de treino, é fundamental que os meios denominados de gerais sejam conceptualiza-
dos tendo em atenção a estrutura de rendimento inerente a cada modalidade desportiva. Isto significa, que os exercícios
de maior potencial de aprendizagem e aperfeiçoamento, isto é, aqueles mais próximos da realidade competitiva devem
ser suportados (devido ao fenómeno de transfere positivo) pelos exercícios específicos gerais.
Resulta desta reflexão, quer do ponto de vista prático como teórico, que os exercícios devem estabelecer-se como
meios potenciais de treino, sejam quais forem os níveis de formação do praticante (aprendizagem, aperfeiçoamento ou
desenvolvimento), simulando, ou melhor, modelando contextos situacionais que derivem especificamente da actividade com-
petitiva. Partindo deste pressuposto e sequentemente, através de uma constante repetição (frequência) de utilização deste
tipo de exercícios é possível aumentar-se a concentração da actividade do praticante no treino de carácter especializado por
forma: (1) a aproveitar eficazmente as limitadas reservas funcionais de adaptação e, (2) adequar correctamente o praticante
à sua modalidade desportiva, mantendo ou elevando os níveis de exigência no domínio da dificuldade, complexidade e vari-
abilidade dos factores técnicos, tácticos, físicos e psicológicos.
Outro argumento a favor da especialização do processo de treino é-nos referido por Verchosanskij (1988), segun-
do este autor os praticantes não dispõem de um complexo de mecanismos funcionais estritamente especializados. Pelo con-
trário, estes mecanismos têm um espectro amplo e universal de possibilidades funcionais e de uma grande estabilidade face
aos estímulos exteriores. Assim, não existe nenhum mecanismo especial responsável pelo domínio técnico, táctico e físico.
Cada comportamento observável do praticante encerra, aquando das respostas motoras face à solicitação dos problemas
inerentes ao exercício de treino e à competição os mesmos sistemas funcionais complexos, que em última análise, assegu-
ram qualquer tipo ou forma de acção motora no âmbito desportivo.
Consequentemente, no processo de treino os diferentes sistemas funcionais especializam-se nesta ou naquela
direcção, dependendo do grau de especificidade dos exercícios de treino a que são submetidos. Nestes termos, quando o
praticante desenvolve uma capacidade de rendimento especial, este não está directamente relacionada à somação de difer-
entes parâmetros e índices de forma isolada, mas sim e sobretudo, à especialização funcional do organismo que reage ao
exercício de treino específico, em direcção ao rendimento da actividade competitiva própria de cada modalidade desportiva.
“As transformações provocadas por uma adaptação interessam sem excepção, a todos os sistemas funcionais do organismo.
Todavia, poder-se-à facilmente constatar que o ritmo de aperfeiçoamento funcional é mais rápido nos sistemas que são solic-
itados tanto no treino como na competição” (Verchosanskij, 1988).
Nesta dinâmica, a especialização do processo de treino determina a configuração de exercícios com um carácter
complexo no domínio técnico, táctico, físico e psicológico, tomando como referencial situações contextuais integradas ou par-
ciais, da actividade competitiva da modalidade desportiva que se quer aperfeiçoar ou desenvolver. Pretende-se, antes de
tudo, que os exercícios consubstanciam na sua intimidade um potencial de treino dos diferentes parâmetros e índices que
lhe são inerentes, cujo contributo para o comportamento final seja relativizado em função da contextualização da situação.
Tal como refere Martin (2001) “a especialização concentra-se na aquisição de um rendimento desportivo, que por si, assume
as aptidões necessárias para dominar as diferentes situações de uma modalidade desportiva de forma óptima e eficaz”
Esta constatação deriva do facto de se aplicar processos de modelação do exercício de treino através dos quais
se procura correlacionar o exercício de treino com as exigências específicas da competição, com base nos índices mensu-
ráveis das componentes de rendimento. Segundo este raciocínio, quanto maior for o grau de correspondência entre os mod-
elos utilizados (exercícios de treino) e a competição de uma dada modalidade, melhores e mais eficazes serão os seus
efeitos, fundamentando-se assim a optimização do processo de treino. A conceptualização de exercícios de preparação
específica passam pela construção de modelos parciais ou integrais, que procuram representar, fielmente, a realidade com-
petitiva de uma dada modalidade desportiva. Estes modelos procuram assim, consubstanciar exercícios de treino que esta-
beleçam um elevado grau de concordância (identidade) com os contextos situacionais da competição, havendo sempre
espaço para a originalidade de quem ensina e a criatividade de quem treina. Desta forma, o desenvolvimento dos diferentes
factores de treino, como sejam as qualidades físicas, técnicas, tácticas e estratégicas, se efectuem conjuntamente, em climas
de elevada tensão psicológica, com o objectivo de a acelerar e a intensificar os processos de adaptação do praticante ou da
equipa. É através do processo da modelação, segundo Teodorescu (1987), os exercícios de treino passam primeiramente por
uma:
1. Tipificação. Implica a selecção e síntese das componentes essenciais e similares (análogas) das diferentes fases da
competição, quer do ponto de vista técnico, táctico, físico e psicológico, numa estrutura única (indivisibilidade dos factores
de treino), procurando eliminar os consumos inúteis de energia e de tempo.
2. Estandardização. Tem um carácter modelador do esforço e das acções técnico-tácticas desenvolvidas durante a com-
petição. Os exercícios estandardizados quando aplicados em condições similares os seus efeitos (eficiência/resultados)
são aproximadamente conhecidos.
Paralelamente a esta orientação tendencial do treino desportivo, procura-se uma utilização de materiais e equipa-
mentos “que permitam explorar a totalidade das reservas funcionais do organismo ou aproximar-se da perfeição técnica de
execução das acções motoras” (Platonov, 1988). A cada modalidade desportiva, corresponde um número suficiente de exer-
cícios de preparação específica que correspondem de forma mais ou menos idêntica à realidade competitiva. Todavia, é
importante sublinhar a exigência destes exercícios conservarem um elevado potencial de treino, especialmente quando são
dirigidos a praticantes de alto nível que deverão corresponder às condições de competição e mesmo em condições mais
adversas daquelas que aí se verificam.
Esta constatação resulta da importância de se aplicarem exercícios conceptualizados a partir de uma estrutura e
organização que determinam uma eficácia máxima, e por essa razão deverão ser frequentemente repetidos por forma: (1) a
pressionar os mecanismos de adaptação funcional do praticante, (2) a manipular diferentes níveis de adaptação funcional
relativamente aos diferentes estados de preparação do praticante e, (3) a aprofundar eficientemente essa adaptação fun-
cional específica. Neste domínio a concepção do exercício de treino deverá estabelecer uma prática variável das condições
contextuais, através da manipulação de diferentes parâmetros de resposta motora, em função de um problema específico
colocado por cada exercício de treino. Parte-se do princípio que a estruturação de um contexto variável das condições de
prática contribui para a construção de esquemas motores mais genéricos, isto é, mais adaptáveis e ajustáveis às diferentes
situações que os exercícios de treino em si encerram. Desta forma, manipulando-se a sequência da prática de um número
de comportamentos motores similares num contexto de aperfeiçoamento ou desenvolvimento interfere-se no melhoramento
de outras acções. Assim, a conceptualização do exercício de treino, a organização da sessão de treino e o processo em que
o praticante se envolve durante a sua realização, são fontes potenciais de interferência contextual, definida como uma inter-
ferência funcional introduzida na prática de uma resposta motora resultante de um leque de opções e de decisões, por forma
a favorecer a sua aprendizagem ou aperfeiçoamento. Neste sentido aumenta-se:
1. A capacidade do praticante em memorizar informação relacionada com a resposta motora (reforça a resistência ao
esquecimento).
2. A capacidade de discriminação de pequenas e subtis variações da situação (identificação e retenção dos índices
pertinentes).
3. A possibilidade de potenciar o efeito de transfere positivo através da evocação de experiências anteriores (dimin-
uindo-se significativamente o tempo de aprendizagem e aperfeiçoamento da resposta motora).
Cada exercício de treino consubstancia uma resposta específica, quer no plano biológico, motor e cognitivo, que
resulta intrinsecamente do nível de exigência, isto é, da interrelação das suas componentes e condicionantes estruturais. Com
efeito, a correcta construção de um exercício de treino é função de duas vertentes indissociáveis e essenciais, que se esta-
belecem como as duas faces de uma mesma verdade: (1) o nível de preparação do praticante e, (2) o grau de identidade do
exercício de treino. A conjugação destas duas grandes vertentes determinam inquestionavelmente o nível, ou melhor, o grau
de profundidade de especialização do praticante à sua modalidade desportiva.
A lógica do processo de treino nos seus diferentes níveis de estruturação e programação, e mais concretamente o
exercício encarado como a sua unidade de base, resulta da aproximação da lógica interna da modalidade desportiva e da
lógica da aprendizagem e desenvolvimento do praticante. Estas duas lógicas (modalidade - praticante) são caracterizadas
pela sua relativa independência, uma vez que podem ser estudadas, reflectidas e analisadas separadamente, mas também,
pela sua interdependência, pois, necessitam uma da outra para potenciar a essência da identidade que as determinam.
Contudo, devido a uma necessidade operacional estas duas identidades acabam por gerar uma outra - o exercício de treino
desenvolvendo-se num ciclo existencial que:
1. “Nasce” da reflexão intelectual do treinador na procura dos melhores meios para elevar racionalmente as capacidades
desportivas dos seus praticantes ou da sua equipa.
2. “Vive” durante o tempo da sua aplicação na qual o praticante terá que respeitar as suas pres-crições e obrigações por
forma a potenciar um certo comportamento motor específico.
3. “Morre” logo após o terminus da sua execução, deixando no entanto, a sua sustentável existência traduzida nos efeitos
de origem interna que produzem no praticante a curto, médio ou longo prazo.
4. “Ressuscita” através da continua e sistemática aplicação do mesmo ou de outros exercícios de carácter mais com-
plexo que se desenvolvem na base dos primeiros.
5. “Auto-regenera-se” devido à necessidade de se estudar os seus efeitos (de carácter positivo ou negativo) por forma
a se compreender a que nível qualitativo e quantitativo se interveiu na elevação, manutenção ou redução da capacidade
de prestação desportiva do praticante.
Neste sentido, o exercício de treino não se consubstancia na atribuição de um valor absoluto a si próprio, este é
condicionado relativamente às capacidades momentâneas de quem o pratica. Isto significa, que a reacção orgânica ao exer-
cício é altamente individualizada tendo o treinador de forma simultânea ter em consideração dois critérios de apreciação: (1)
o carácter externo que se traduz nas informações sobre o exercício no que se refere às suas prescrições e obrigações e, (2)
o carácter interno que se traduz nas repercussões ou reacções no interior do organismo do praticante. Assim, o exercício de
treino pode ser considerado como a causa, enquanto que as adaptações funcionais e psicológicas que derivam da sua apli-
cação é considerada o efeito. Embora o exercício seja uma entidade exterior ao praticante, a sua aplicação deixa sempre um
traço no organismo que será tanto mais profundo, quanto mais específico e ajustável for às condições iniciais. É por esta
razão, que se deve considerar, que a aplicação de um mesmo exercício de treino em
momentos diferentes (no tempo), nem sempre reproduzem uma relação interna similar,
logo, a adaptação interna é função de um potencial individualizado no qual o seu efeito
somente pode ser estimado em termos gerais.
Nesta perspectiva, os efeitos do exercício de treino variam em função das
condições objectivas em que estas se realizam. Naturalmente em muitas circunstâncias
Um exercício específico provocará uma determinada resposta específica num determinado praticante num tempo
específico. Isto significa que o efeito biológico final de um exercício de treino está em relação directa com a sua especifici-
dade. A especificidade do exercício de treino permite um mínimo de transfere de uma actividade para outra. Por exemplo, se
executarmos quotidianamente uma certa actividade específica, constatamos rapidamente que estamos "treinados" nessa
actividade. Contudo, ao executarmos uma nova actividade somos incapazes de competir com aqueles que já estavam treina-
dos nessa actividade. Um sinal dessa especificidade é revelado por algumas dores musculares que sentimos após as
primeiras tentativas nessa nova actividade. Os músculos doridos são os músculos mais específicos dessa nova actividade.
Esses músculos não funcionavam tão intensamente durante os períodos de treino da actividade precedente. Adverte-se
assim para o facto, de os processos de adaptação específica e de aumento de rendimento especializado serem prejudica-
dos quando predomina o treino de outros factores, mesmo tratando-se apenas de ocorrência temporária.
Cada modalidade desportiva comporta em si mesma, uma identidade própria individualizada e intransmissível. Com
efeito, esta identidade apresenta na sua natureza (intimidade) uma actividade específica que está em correlação permanente
com as suas componentes (volume, intensidade, etc.,) e condicionantes estruturais (o regulamento, o espaço, o tempo, a téc-
nica etc.). Forma-se assim, uma cumplicidade lógica específica e multidimensional que só tem sentido e significado em si
mesma. Na mesma e precisa dimensão, cada exercício de treino terá um grau de identidade, inapelavelmente, se fundamenta
nos diferentes níveis de relação existente entre este e as condições objectivas em que se desenrola a competição nessa
actividade desportiva. Isto significa, que o grau de especificidade estabelece uma plataforma de relação, ou melhor, um grau
de significação (concordância) com a lógica da modalidade desportiva em causa.
Se compararmos a capacidade de resistência (adaptação específica) entre o melhor maratonista, nadador e ciclista
de fundo do Mundo, as suas diferenças irão situar-se fundamentalmente na estrutura da resposta motora predominante
(acção técnica), no sistema muscular (órgãos efectores) e nas fontes energéticas (anaeróbia e aeróbia) que a suportam. Com
efeito, as diferenças entre estes atletas não se estabelecem, por exemplo, na capacidade de absorção máxima de oxigénio
(Vo2 máx.), na concentração de ácido láctico ou na função cardiovascular, que apresentaram basicamente os mesmos ele-
vados valores durante a prática de cada um dos atletas na modalidade correspondente. A coincidência observável nestes
parâmetros biológicos, efectivamente demonstra a existência de uma resistência de base (adaptação inespecífica) de suporte
a uma adaptação específica, que só pode ser alcançada através da utilização de exercícios específicos da própria modali-
dade, isto é, que respeite a sua estrutura lógica. Se um qualquer dos atletas citados procurar, de um momento para o outro,
praticar uma das outras modalidades, não será de estranhar, que os níveis de rendimento alcançados serão insuficientes rel-
ativamente a um qualquer atleta mediano que pratica de forma regular essa mesma actividade. Isto significa, que os eleva-
dos parâmetros biológicos de adaptação específica do atleta à sua modalidade traduzem-se numa incapacidade de con-
cretizar prestações desportivas elevadas na modalidade desportiva que não lhe é familiar. Platonov (1988) refere basica-
mente as mesmas conclusões quando comparou
nadadores de elite com nadadores com a mesma idade e
morfologia, que praticavam essa modalidade num nível de
rendimento menos elevado. Através de um teste no ciclo-
ergométrico verificou-se que ambos os grupos de
nadadores apresentavam os mesmos valores de consumo
Foto cedida pelo jornal O JOGO
Cada exercício de treino provoca efeitos em termos de uma adaptação funcional precisa e específica. Para que isto
aconteça, é necessário estabelecer-se uma correspondência exacta (analógica) entre a base estrutural e operacional do exer-
cício e a lógica da modalidade desportiva. Fundamentalmente no que refere:
1. À possibilidade de precisar o contexto situacional. Cada exercício de treino deverá simular diferentes contextos
situacionais por forma a obrigar o praticante a aplicar diferentes soluções
Foto publicada pela revista Painel
É fundamental e compreensível, a essência desta analogia entre a lógica da modalidade desportiva que se quer
aperfeiçoar e desenvolver, e a construção e aplicação de
exercícios de treino cuja estrutura proporciona uma aprox-
imação, mais ou menos integral da realidade. Com efeito,
só assim se consegue assegurar um estrito e preciso
domínio dos efeitos de treino, ou por outras palavras, uma
adaptação específica do praticante ou da equipa, que se
exprime segundo uma precisa e correcta direcção. Nesta
perspectiva, quanto mais o exercício de treino reproduzir
parcial ou integralmente a lógica ou parte dessa lógica
(fases) interna da modalidade, maior será o seu grau de
identidade, por via de razão, quanto maior for este grau
Figura 6. As relações analógicas entre a lógica interna do jogo de futebol
maior será a especificidade do exercício. Finalizando as e a sua lógica didáctica
questões inerentes à importância da operacionalidade
entre o exercício de treino e a lógica da modalidade, importa referir a opinião de Queiroz (1986) o qual evidencia, sem mar-
gens para dúvidas, que a lógica didáctica do jogo de futebol só terá coerência e racionalidade (inteligibilidade) se se cor-
relacionar com a sua lógica interna. Isto significa, que a didáctica do jogo deverá conter em si mesma, um conjunto de meios
de treino que confrontam de modo específico o praticante ou a equipa com fases, formas e factores que caracterizam a lóg-
ica interna do jogo, tendo sempre em mente os diferentes níveis e estruturação e complexidade das situações de treino con-
soante os níveis de prestação desportiva atingidos pelos praticantes.
As atitudes e as execuções motoras dos praticantes, em resposta aos diferentes contextos situacionais que a com-
petição em si determina, devem ser interpretadas numa dimensão de inteligibilidade. Com efeito, as acções motoras obser-
vadas, resultam de complicados processos cognitivos, sendo o “produto” de uma racionalização, e por via disso, inteligíveis.
Partindo da realidade deste pressuposto, a construção dos exercícios de treino deverão exprimir de forma global ou parcial,
essa inteligibilidade (do ponto de vista regulamentar, motor, intelectual e psicológico), sem a qual a prática por mais volumosa,
intensa, densa ou frequente que seja, não terá um efeito positivo (o exercício é a causa e a adaptação é o efeito). Assim, as
horas de dedicação, esforço, vontade, etc., nas muitas sessões de treino realizadas de acordo com a programação anual,
deixam de ter qualquer sentido e significado, quando a lógica dessa inteligibilidade não é respeitada, devido à conceptual-
ização inadequada de exercícios de treino a que os praticantes irão, posteriormente, ser submetidos. A recuperação do sen-
tido e significado do treino, só pode ser conquistada através de uma relação lógica e inteligível entre o exercício de treino, a
estrutura de modalidade desportiva e as capacidades iniciais do praticante.
Nestas circunstâncias, a inadequação do exercício de treino em relação à lógica da modalidade desportiva, bem
como à capacidade momentânea do praticante não é somente supérfluo como também negativa, pois determinará:
1. Elevados custos na mobilização dos diferentes recursos (informacionais, energéticos e afectivos) de suporte à efec-
tivação da acção.
2. Elevadas implicações na estabilização dos comportamentos motores em fase de aprendizagem, como naqueles que
já foram adquiridos e aperfeiçoados (desautomatização do comportamento).
3. Elevadas incapacidades do praticante ler correctamente os contextos situacionais que derivam da competição. Este
facto advém do praticante ser privado durante o treino da estimulação provocada pelos diferentes sinais pertinentes que
cada situação específica em si encerra.
4. Elevados desajustamentos cognitivos que suportam e fundamentam os processos de tomada de informação e de
tomada de decisão.
Dos dois factores de que depende a especificidade do exercício de treino - nível de preparação do praticante e o
grau de identidade do exercício de treino, importa evidenciar os seguintes quatro aspectos fundamentais:
1. Cada exercício de treino com carácter específico determinará a elevação da prestação desportiva. O praticante
estando sobre o domínio de uma programação de treino que inclua preferencialmente exercícios de treino com carácter
específico determinará a elevação da prestação desportiva. Não respeitar este aspecto, será negativo para a evolução
do praticante, não só, pelos elevados custos devido à utilização dos diferentes recursos para efectivar a acção, das impli-
cações que se verificam na estabilidade das respostas motoras, bem como dos desajustamentos de âmbito cognitivo
aquando da tomada de informação e decisão.
2. Cada exercício de treino objectiva um determinado nível de especificidade. Este nível de especificidade, depende
claramente, do grau de identidade entre o exercício de treino e a lógica interna da modalidade desportiva que se quer
aprender, aperfeiçoar ou desenvolver. Com efeito, o exercício de treino só pode ser considerado específico se conter na
sua lógica de exercitação, as vertentes estruturais que são inerentes à prática de uma dada actividade desportiva.
3. Cada exercício de treino provoca uma resposta específica. Essa resposta específica é função: (1) da capacidade
inicial do praticante, isto é, do momento específico da sua realização. Assim, o mesmo exercício de treino terá efeitos
específicos diferentes, consoante o nível de preparação do praticante ao longo do seu processo anual de treino, (2) da
individualização biológica que é diferente para cada praticante. Logo, o mesmo exercício de treino provocará efeitos difer-
entes em praticantes diferentes e, (3) da adaptação que não se resume somente ao factor biológico, mas também, ao
nível técnico, táctico e psicológico.
4. Cada exercício de treino deverá correlacionar as capacidades do praticante e a lógica da modalidade desporti-
va. Quanto mais o exercício consubstanciar uma melhor correlação entre as capacidades iniciais do praticante e o grau
de relação com as condições objectivas em que se desenrola a competição dessa actividade desportiva, maior será a
“pressão” exercida sobre os mecanismos biológicos, comportamentais e cognitivos que suportam as adaptações do prat-
icante. Na mesma medida, quanto maior for a capacidade de adaptação do praticante em responder eficaz e eficiente-
mente, aos diferentes contextos situacionais específicos de forma regular, metodológica e sistemática maior será a pos-
sibilidade deste atingir elevados níveis de prestação desportiva.
Finalizando, a especificidade não pode ser considerada como um fim em si própria, mas sim, como um pressuposto
fundamental na conceptualização e estruturação dos exercícios de treino cujo desenvolvimento suportará no futuro, modelos
de treino distintos que reproduzam total ou parcialmente, para cada modalidade desportiva em diferentes dimensões (por
exemplo: técnico, técnico-tácticos, de ambiente, etc.), construídos à semelhança (isomórfica ou analógica) da realidade com-
petitiva. Importa neste momento reflectir a especificidade do exercício de treino sob dois ângulos possíveis de análise: moto-
ra e biológica. No plano motor é certo que a especificidade e a generalidade da acção não são exclusivas, representam sim,
diferentes e complexos níveis de controlo e regulação motora. Assim, é fundamental compreender a complexidade de cada
uma delas na resposta aos contextos específicos impostos por cada exercício de treino. Tal como refere Pérez e Banuelos
(1997) “é muito difícil que o mesmo praticante realize duas vezes uma acção exactamente igual, este necessita, antes de tudo,
realizar constantes adaptações que se podem considerar novas variações sobre o mesmo tema... Esta capacidade pode ser
explicada pela existência de programas motores gerais”. Com efeito, a correcta e consciente conceptualização do exercício
de treino expressa-se sob contextos situacionais específicas, os quais determinam diferentes condições iniciais cujos efeitos
consubstanciam, por sua vez, um repertório de respostas motoras adaptadas aos circunstancialismos da situação. Só assim
é possível que o praticante construa ao longo da sua vida desportiva programas motores e regras (princípios) de acção que
pela sua “simples” modificação se poderão adaptar com relativa rapidez a uma nova situação-problema. Este facto possibil-
itará um armazenamento na memória de um menor número de programas motores sem perder os seus níveis de eficiência
eficácia. Noutro plano, a especificidade encarada como princípio biológico do treino ou como característica fundamental do
exercício, deverá estar aberta (atenta) às alterações por si produzidas hoje e que a evolução da estrutura das actividades
desportivas transportaram para o futuro. Pondo o acento tónico nesta questão, é um dado inquestionável, ou melhor, uma
certeza e uma convicção de que a especificidade dos meios de treino é a característica fundamental para o desenvolvimen-
to e a elevação da prestação desportiva do praticante ou da equipa. É através de uma análise sistemática do conteúdo de
carácter técnico, táctico, físico e psicológico que é possível construir um guião por forma a estabelecer diferentes níveis de
complexidade cuja progressão pedagógica terá que responder aos desafios estabelecidos por cada nível de capacidade
apresentado pelo praticante. Assim, a questão que se coloca é como se conceptualiza uma tecnologia didáctica que propor-
cione diferentes níveis de complexidade secundado por exercícios de treino com diferentes níveis de identidade por forma a
respeitar simultaneamente as capacidades iniciais (momentâneas) do praticante, isto é, atingir diferentes realidades ou difer-
entes níveis de formação, sem nunca desvirtuar a realidade lógica da modalidade. Esse é o grande esforço que o treinador
deve fazer quer do ponto de vista intelectual quer profissional.
Os exercícios são caracterizados pela sua especificidade. Com efeito, o seu conteúdo pode ser analisado na base
do seu grau de identidade (correspondência) mais aproximado ou mais longínquo, consoante o nível de relação entre estes
e as condições objectivas em que se desenrola a competição nessa actividade desportiva. Neste contexto, numa avaliação
preliminar e essencial podemos estabelecer dois grandes tipos de exercícios de treino: (1) os de preparação específica e, (2)
os de preparação geral.
Os factos referenciados obrigam-nos a clarificar, em que medida se pode entender correctamente os diferentes
exercícios de treino no seu domínio específico e perspectivá-lo para uma visão mais ampla da Teoria e Metodologia do Treino
Desportivo numa determinada modalidade. Tomemos por exemplo uma sessão de treino no basquetebol. Imagine-se um
exercício de 3x3 sobre uma tabela, num espaço reduzido e mantendo-se válidos os regulamentos inerentes à modalidade.
Partindo destes pressupostos básicos, não temos dúvidas que o exercício tem um carácter específico. Esta especificidade
advém do facto do exercício fazer interagir na sua lógica de exercitação dos jogadores os factores estruturais fundamentais
do basquetebol, isto é, a sua lógica interna. Senão vejamos, o exercício é realizado num certo espaço, num certo tempo, com
procedimentos técnicos próprios da modalidade, estabelecendo compromissos comunicacionais de cooperação e oposição,
exprimindo uma dimensão táctico-estratégica com o objectivo de cada “equipa” encontrar colectivamente as melhores
soluções para ultrapassar os adversários e finalmente o exercício é realizado num clima com um determinado grau tensão
psicológica, por forma a acelerar e a intensificar os processos de adaptação específica. Com efeito, o referido exercício de
treino apresenta um determinado nível de complexidade, que por si, evidencia um determinado grau de identidade. Logo, a
sua conceptualização baseia-se na analogia(1) de uma situação contextual que efectivamente se relaciona com a realidade
competitiva do basquetebol. Neste caso, procura-se diminuir a complexidade da situação competitiva de jogo sem se desvir-
tuar o próprio jogo, isto é, a sua lógica interna. É por esta razão que no terminus de um certo período de tempo os jogadores
apresentam elevados níveis de adaptação específica que derivam nuclearmente da aplicação de exercícios de treino con-
struídos na base do princípio da modelação das situações competitivas fundamentais.
No seguimento da sessão de treino, imaginemos que os mesmos praticantes realizavam um exercício de saltos
sucessivos sobre várias barreiras (trabalho pliométrico) com o objectivo de potenciar a força explosiva dos membros inferi-
ores. Partindo dos aspectos em análise, o exercício de treino não tem um carácter de especificidade em relação ao bas-
quetebol, exactamente por não incorporar na sua lógica prática os factores inerentes ao espaço, ao tempo, aos procedimen-
tos técnicos, ao regulamentos, para além dos aspectos relacionados à comunicação, à estratégia e ao clima psico-emocional
do jogo. Poder-se-à afirmar, que este exercício é específico em função do melhoramento da capacidade de produção de força
de carácter explosivo. Todavia, à luz dos factores estruturais do basquetebol é um exercício que podemos denominar de “arti-
ficial”, “acessório”, “geral”, “complementar separado”, etc., que visa, em última análise, potenciar um determinado grupo do sis-
tema muscular. Neste caso, pretende-se que os praticantes sujeitos a este exercício possam usufruir de um transfere positi-
vo por forma a melhorar as condições que suportam a execução de acções técnico-tácticas de lançamento, de ressalto ofen-
sivo ou defensivo, etc. Todavia, é importante frisar que este exercício de treino nada representa face aos factores estruturais
da modalidade que se procura aprender, aperfeiçoar ou desenvolver. Assim, é nossa opinião, que os diferentes exercícios de
treino devem ser classificados pelas suas características lógicas relativamente às estruturas da modalidade desportiva em
análise, e não a partir de certas capacidades fisiológicas particulares que “possam” no futuro desempenhar um papel impul-
sionador ou potenciador das respostas motoras específicas dos praticantes.
Partindo desta clarificação, os exercícios de preparação específica são conceptualizados na base de uma estrutu-
ra e de uma natureza, que estabelece uma relação de correspondência dinâmica cujas: (1) atitudes, (2) comportamentos
motores, (3) regime de funcionamento orgânico do praticante e, (4) o respeito pelos regulamentos, devem ser similares ou
idênticos aos contextos competitivos que cada modalidade desportiva em si encerra. Daqui nasce a necessidade de estimar
(avaliar) e reproduzir índices essenciais por forma a consubstanciá-los como critérios de afinidade analógica entre estes exer-
cícios e as situações competitivas fundamentais. Com efeito, a actividade desportiva de alto rendimento,baseia-se num
processo de especialização progressivo que se traduz, por um aumento do volume de exercícios de preparação específica,
bem como do incremento do nível de exigências estabelecidas para cada situação de treino. Isto significa, à medida que o
praticante ou a equipa vão evoluindo, serão confrontados por processos de treino que recorrem, de forma cada vez mais
acentuada, a meios de carácter especializado. Importa assim reflectir, que os exercícios de preparação específica no proces-
so de evolução do rendimento desportivo do praticante, não podem constituir-se somente numa correspondência absoluta da
realidade competitiva. Mas sobretudo, no estabelecimento de diferentes níveis de identidade dessa realidade, por forma a ref-
erenciar diferentes graus de dificuldade e complexidade, os quais, são produto (1) da lógica interna da modalidade desporti-
va em análise, (2) da análise das capacidades momentâneas do praticante ou da equipa, (3) da sua evolução ao longo do
processo de treino e, (4) dos objectivos que se pretendem atingir num futuro próximo ou a longo prazo. Consequentemente,
Os exercícios de treino de competição são em tudo semelhantes à essência e natureza da competição de uma
dada modalidade desportiva. Estes exercícios provocam uma adaptação mais complexa e contribuem com especial eficácia
para estabelecer a harmonia entre as várias componentes do treino ajustando os factores técnicos, tácticos, físicos e psi-
cológicos de preparação para as situações específicas da modalidade. Os exercícios de treino de competição desempen-
ham, neste contexto, um papel extremamente importante no treino, porque sem eles, é impossível reconstituir os requisitos
específicos que a modalidade impõe ao praticante e às equipas, e estimular assim, a consecução de um determinado nível
de treino. Podemos estabelecer dois tipos de exercícios de treino de competição (Matveiev, 1986):
1. Os exercícios de treino de competição propriamente ditos. São em tudo
idênticas às executadas nas condições reais de competição e de acordo com as
regras das mesmas. Com efeito, estas sessões coincidem no conteúdo da acção,
nos fundamentos estruturais e na orientação geral. Diferem da competição visto
que são realizadas durante o treino e orientam-se para a resolução das
Foto cedida pelo jornal O JOGO
Os exercícios de preparação geral são caracterizados, contrariamente aos exercícios de preparação específica, por
não apresentarem semelhanças com os contextos situacionais que derivam da competição de uma dada modalidade
desportiva. Com efeito, os "exercícios de preparação geral contribuem para um determinado nível de preparação dos prati-
cantes através de uma acção indirecta" (Bompa, 1993). Neste âmbito, torna-se difícil de comprovar de uma forma precisa, a
influência directa dos exercícios gerais sobre o rendimento global do prat-
icante. Independentemente da dificuldade na prova da influência positiva
destes exercícios, muitos são os autores da Teoria e Metodologia do Treino
Desportivo que referem a impossibilidade dos exercícios de preparação
específica se desenvolverem de forma plena e eficaz, se o organismo não tiver sido previamente
submetido a exercícios de preparação geral. Adiantam igualmente, que uma preparação exclusi-
va sob a base da realização de exercícios específicos conduz o praticante
a uma diminuição dificilmente reversível de determinadas reservas fun- Foto cedida pelo O JOGO
Resumindo a opinião de vários autores, podemos sintetizar que os exercícios de preparação geral apresentam os
seguintes objectivos fundamentais:
1. Fomentar a preparação multilateral dos praticantes. A multilateralidade da preparação contribui para a melhoria da
coordenação motora, factor importante nas especialidades desportivas “complexas”. Nas etapas de formação do prati-
cante os exercícios de preparação geral, têm um papel importante, paralelamente (dentro de certos limites) com a
preparação especializada.
2. Activar os processos de recuperação do praticante. Após a realização de períodos de treino com elevados níveis
de volume e intensidade, os exercícios de preparação geral, poderão articular-se como factores de recuperação activa
diminuindo assim a possibilidade de aparecimento de estados de sobretreino, e concomitantemente, o aparecimento de
lesões e a frequência da sua incisão.
3. Concretizar uma base orgânica funcional. É esta base funcional que se deverá apoiar de forma sustentada os exer-
cícios de preparação específica. Neste sentido, os exercícios de preparação geral, face ao rendimento desportivo do prat-
icante, assumirão um carácter auxiliar de aperfeiçoamento do processo de treino.
4. Criar condições positivas na comutação entre vários exercícios de treino. Os exercícios de preparação geral são
muitas vezes utilizados como “pontes” entre exercícios de elevada complexidade realizadas nas diferentes unidades de
programação do processo de treino (sessões, microciclos, etc.). É importante manter uma certa variação entre os exercí-
cios de preparação geral e os exercícios de preparação específica a qual vai sendo alterada em função: (1) da idade do
praticante, (2) do seu nível de rendimento, (3) do período anual de preparação e, (4) da lógica interna da modalidade.
Neste sentido, em função de todos estes pressupostos o “peso” dos exercícios de preparação geral diminuem à medida
que o processo de especialização vai evoluindo.
5. Assegurar meios que determinem uma ampla preparação do praticante. Os exercícios de preparação geral podem
ter um efeito suficiente no desenvolvimento de todas as capacidades técnicas, tácticas, físicas e psicológicas enrique-
cendo assim a sua "reserva de acções motoras".
6. Diversificar um conjunto de meios de preparação geral. Esta diversidade tem um maior significado nas modali-
dades desportivas de carácter “fechado”. As modalidades cujo processo de treino se baseia constantemente em exercí-
cios de dominante competitiva (ginástica, atletismo por exemplo), poderá tornar-se monótono devido a uma exagerada
utilização dos mesmos, logo, os exercícios de preparação geral, neste âmbito apresentam-se como meios auxiliares de
treino.
A discrepância teórica e prática no que concerne ao valor efectivo da utilização dos exercícios de preparação geral
e os exercícios de preparação específica reforça claramente a necessidade de se especializar os exercícios de preparação
geral, orientada em função da estrutura de rendimento inerentes a cada modalidade desportiva. Assim, para que o tempo de
treino utilizado na realização de exercícios de preparação geral não seja inútil é fundamental que estes exprimam as partic-
ularidades lógicas e estruturais da especialidade desportiva, isto porque, o desenvolvimento da preparação geral baseada
em exercícios de treino descontextualizados da modalidade irão ter repercussões negativas no estado de treino do praticante
ou da equipa. Daqui deriva a necessidade de especializar-se a composição dos exercícios gerais de forma a poder utilizar
eficientemente as suas "transferências positivas". Segundo Matveiev (1986) os exercícios de preparação geral não podem
ser iguais em todas as modalidades desportivas, tal preparação depende da sua especificidade. Todavia, importa ter em
atenção que os exercícios deverão manter o seu objectivo multilateral não se convertendo em exercícios de preparação
específica no verdadeiro sentido da palavra. Também Harre (1981) refere que é necessário comprovar o valor e a importân-
cia dos exercícios de preparação geral na melhoria da prestação desportiva, quer do ponto de vista da especificidade de cada
modalidade desportiva, quer do ponto de vista da expressão da prestação (desporto de alto rendimento ou de formação) quer
igualmente nas diferentes estruturas de periodização do processo anual de treino.
Todos temos de concordar que correr não será a melhor forma de o praticante se preparar para nadar e vice-versa.
De igual forma praticar andebol não será o melhor meio de o jogador se preparar para jogar basquetebol. Adicionalmente se
compararmos praticantes de diferentes especialidades desportivas verificamos por exemplo, que um saltador em altura e um
jogador de futebol, ambos necessitam de uma elevada potência muscular, particularmente ao nível dos membros inferiores
que lhes permitam uma grande capacidade de impulsão. Todavia, o domínio técnico que é determinado pelas suas especial-
idades desportivas (atletismo e futebol), estabelece diferentes exercícios de treino que são específicos das modalidades em
questão, sem as quais nenhum deles poderá evoluir o seu rendimento desportivo. Na mesma dimensão todos também temos
de concordar que os exercícios específicos de preparação geral do atletismo não serão os melhores meios específicos de
preparação geral de uma outra modalidade individual e muito menos colectiva. Este redimensionamento das relações
intrínsecas entre o exercício de preparação geral e os exercícios de preparação específica estabelecem uma verdadeira “rev-
olução” não só nas ideias que lhes estão subjacentes, bem como à construção e operacionalização desses meios gerais, que
se retransformam tendo como referencial os diferentes parâmetros lógicos funcionais de cada modalidade desportiva. Nesta
perspectiva, importa evidenciar os seguintes pressupostos condicionais para a sua conceptualização:
1. Os exercícios específicos de preparação geral. São conceptualizados numa direcção que implica o entendimento
das questões ligadas à lógica interna da modalidade desportiva que queremos aprender, aperfeiçoar ou desenvolver.
2. Os exercícios específicos de preparação geral. São conceptualizados de forma simultânea com um determinado
nível de generalização e de especialização mas que não se podem confundir com os exercícios de preparação geral (não
específicos) e os exercícios específicos de preparação.
3. Os exercícios específicos de preparação geral. São conceptualizados tendo como núcleo central da sua construção
a orientação cognitiva, que determina a necessidade da variação contextual das situações de treino em que o praticante
ou a equipa tenham a necessidade de recolher e tratar informações pertinentes, bem como de encontrar as soluções
mentais dentro de um leque alargado de opções, que traduzem programas motores específicos similares ou integrais à
realidade competitiva de uma determinada modalidade desportiva. É nesta perspectiva que a inteligibilidade do treino
desportivo e consequentemente do exercício terá todo o sentido.
4. Os exercícios específicos de preparação geral. São conceptualizados por forma que os seus objectivos determinem
efeitos de preparação multilateral específica do praticante relativamente à sua modalidade desportiva que se traduz por
uma ampla preparação deste enriquecendo o leque de opções de domínio estratégico, táctico e técnico suportado em
componentes condicionais específicas em ambientes psico-emocionais próprios da realidade competitiva.
5. Os exercícios específicos de preparação geral. São conceptualizados por forma a estabelecer um elevado número
de meios diversificados cujos efeitos atingem várias estruturas e sistemas orgânicos do praticante com o intuito de ampli-
ar a sua base funcional de adaptação e paralelamente evitar situações de monotonia do treino traduzido pela prática e
repetição invariável dos mesmos exercícios de treino.
6. Os exercícios específicos de preparação geral. São conceptualizados por forma a estabelecer as condições
favoráveis de utilização do fenómeno de transfere positivo facilitando e acelerando, neste contexto, a aprendizagem e o
aperfeiçoamento dos exercícios especiais de preparação e os exercícios especiais de preparação geral. Em última
análise os exercícios específicos de preparação geral suportam o desenvolvimento coerente e sistemático dos exercícios
especiais que traduzem uma maior complexidade traduzido pelo seu maior grau de concordância com a realidade com-
petitiva da modalidade desportiva.
7. Os exercícios específicos de preparação geral. São conceptualizados não em virtude de uma visão de melhora-
mento e potenciamento das vias de produção energética (aeróbia e anaeróbia) do praticante, nem de uma visão condi-
cional dos mecanismos de produção de um qualquer tipo de força muscular, de uma qualquer velocidade, etc., mas sim,
partindo da contextualização parcial ou integral das situações competitivas de uma modalidade, compreendendo e fazen-
do interagir as formas de produção de energia e os aspectos condicionais específicos que suportam de forma interacti-
va as atitudes e os comportamentos motores de resposta adequada às soluções-problema estabelecidos.
Bibliografia:
BERTRAND, Y., GUILLEMENT, P. (1988) Organizações: uma abordagem sistémica, Instituto Piaget, Lisboa
BOMPA, T. (1993) Theory and methodology of training, Kendal/Hunt publishing company, USA
CASTELO, J. (1996) Futebol - a organização do jogo, Edição do autor, Lisboa
CASTELO, J. (2002) O exercício de treino desportivo. Edições FMH. Lisboa
EDINGTON, E. (1982) Methodologie de l´entrainement nº1, INSEP, Paris
HARRE, D. (1981) La teoria del desarrollo del estado de entrenamiento. Revista "Stadium"
MANNO, R. (1992) Fundamientos del entreinamiento. Paido Tribo. Barcelona
MATVÉIEV, L. (1986) Fundamentos do treino desportivo. Livros Horizonte, Lisboa
PÉREZ, L., e BANUELOS F., (1997).Rendimiento Deportivo. Claves pera la optimización de los aprendizajes. Editorial Gymnos. Madrid
PLATONOV, V.N., (1988) El entrenamiento deportivo, Teoria y Metodologia, Barcelona, Paido Tribo.
QUEIROZ, C. (1986) Estrutura e organização dos exercícios de treino em futebol, F.P.F.
TEODORESCU, L. (1983) Contributions au concept de jeu sportif collectif, Teaching team sports - Internationacongress - Scuela dello
sport, 19:37, Rome
TEODORESCU, L. (1987) Orientações e tendências da teoria e metodologia de treino nos jogos desportivos, Futebol em revista, 4ª
série, nº 23, pp. 37-45, junho
VERCHOSHANSKIJ, J. (1988) Entrenamiento deportivo, planificación e programación, Ediciones Martínez Roca, Madrid
IDENTIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E MANIPULAÇÃO
DAS CONDICIONANTES ESTRUTURAIS DOS EXERCÍCIOS
DE TREINO DO FUTEBOL
INTRODUÇÃO
Importa desde já referenciar, que só os exercícios específicos de preparação geral e os exercícios de preparação
específica de jogo, podem estabelecer situações contextualizadas de ataque e defesa, através das quais se manipulam as
condicionantes estruturais, que possibilitam um desenho diferenciado dos exercícios, as quais consubstanciam contextuali-
dades situacionais mais ou menos próximas da lógica interna do jogo de futebol. Esta aproximação ou afastamento é pos-
sível através da manipulação dos diferentes constrangimentos relativamente ao tempo, espaço, número, regulamento, à
acção técnico-táctica, às relações numéricas e aos instrumentos utilizados.
1. Objectivos a atingir na sua aplicação
A manipulação das diferentes condicionantes estruturais, isolada ou em conjunto, deve ser realizada por forma a
atingir simultaneamente os seguintes dois objectivos:
> 1. Compatibilizar os diferentes graus de complexidade da lógica interna do futebol com: (1) as capacidades momen-
tâneas dos jogadores e, (2) a evolução que se pretende que estes atinjam relativamente ao modelo de jogo a implantar,
que é função da planificação conceptual da equipa, nomeadamente da aplicação dos seus programas de acção.
> 2. Especificar: (1) um tipo predominante de resposta técnico-táctica,
por exemplo: recepção/passe devido ao facto dos jogadores
não poderem dar mais de 1 toque na bola
quando intervêm sobre esta. (Objectivo:
aumentar a velocidade do processo de
decisão e execução técnico-táctica), (2) de
um conceito táctico concreto, por exemplo: o
jogador quando de posse de bola é obrigado a
utilizar o princípio da penetração ou sempre que
passar a bola a um colega deve de imediato dar-lhe
cobertura ofensiva. (Objectivo: reforçar o cumprimento de
um determinado princípio de jogo específico ou geral) e de, (3)
uma dimensão estratégica, por exemplo: atingir o golo dentro de
um certo tempo limite ou não podendo usar mais de 4 passes
desde o momento da recuperação da bola até à finalização. Figura 1. Neste exercício limita-se os espaços de intervenção dos
jogadores, o número de toques sobre a bola (1 a 2) e o número de
(Objectivo: acelerar o desenvolvimento e o terminus do proces- passes até à finalização (2 a 4).
so ofensivo da equipa).
> 2. Ao obrigarmos os jogadores a cumprir um determinado número de toques (fixo) de intervenção sobre a bola,
estabelecemos que se:
(A) Aumenta a velocidade de execução técnico-táctica, em situações em que a pressão defensiva é elevada.
(B) Diminui a velocidade de execução técnico-táctica em situações em que não se manifesta pressão defensiva.
(C) Obrigam os jogadores a aprender e a desenvolver correctamente a gestão dos seus tempos individuais de posse
da bola.
(D) Dá oportunidade dos jogadores exprimirem a sua personalidade e a sua capacidade, ampliando o seu tempo de
decisão e execução, relativamente a cada situação de jogo.
(E) Concede a oportunidade do atacante de posse de bola assumir a responsabilidade individual de a conservar ou
de atingir o objectivo do excercício de treino.
> 3. A prescrição variável do número de toques na bola por intervenção estabelece os seguintes aspectos:
(A) Adapta o comportamento técnico-táctico à resolução da situação de jogo. Dá-se assim a iniciativa a quem tem a
posse da bola para decidir sobe qual a acção técnico-táctica que melhor serve o interesse da equipa.
(B) Aumenta o espiríto de iniciativa e surpresa do atacante, pois, tendo dois toques, só poderá passar ou rematar,
enquanto se tiver mais toques poderá conduzir, driblar, etc.
(C) Evita a possibilidade dos defesas esperarem por aquilo que é óbvio.
(D) Impede os defesas contarem permanentemente o número de toques do atacante e esperarem que este falhe, em
vez de assumirem a recuperação de posse de bola de forma activa.
(E) Obriga constantemente os diferentes atacantes a ter de confrontar o número de toques de que possuem com os
objectivos tácticos possíveis eeficázes para resolucionar a situação
(F) Alerta o atacante para o facto de ter de reconstruír constantemente a resposta táctica perante a contextualidade
do jogo, dependendo da sua função dentro da organização da equipa, do espaço de jogo em que este contacta com
a bola ou ambas simultaneamente.
> 4. Não prescrevendo o número de toques por intervenção (situação livre), estabelecemos os seguintes aspectos:
(A) Maior iniciativa individual de cada jogador, quando interfere sobre a bola.
(B) Utilização de toda uma bagagem de capacidade técnico-táctica do jogador.
(C) Expressão de uma personalidade interventiva e responsável no jogo.
(D) Maior espaço para expressar a sua capacidade de improvisação e criação.
(E) Impede o constrangimento psicológico de uma prescrição continua e sistemática, relativa ao número de toques
na bola por intervenção.
(F) Poderá assumir condições reais de competição (um ou dois toques), mas sem a condicionar. Isto significa, que a
aplicação de exercícios de treino condicionando o número de toques sobre a bola por intervenção, deixam um traço
associativo entre a solução mental e a solução motora dos jogadores, que se prolonga para outros exercícios mesmo
quando estes não o exijam.
(G) O desenvolvimento do exercício poderá não decorrer em função da lógica competitiva do jogo de futebol (aspec-
to negativo), pelo uso abusivo dos jogadores manterem elevados tempos de posse de bola.
> 5. O número de passes utilizados pelos jogadores. Partindo do mesmo racíocinio lógico, enunciado para o número
de toques, também se poderá prescrever um número fixo, um número limite ou sem limites de passes para se atingir o
objectivo do exercício de treino. De um modo geral, ao fixarmos um reduzido número de passes, aceleramos as
respostas tácticas colectivas para atingir um determinado objectivo, concretizando um jogo mais directo. Pelo contrário,
ao aumentarmos esse número de passes, objectiva-se a manutenção da posse da bola e um jogo mais indirecto.
6. O número de jogadores. Cada exercício poderá estabelecer uma igualdade, uma inferioridade ou uma superioridade
numérica das equipas ou grupo de jogadores, as quais podem ser:
(A) Totais (7 contra 5, por exemplo), por forma a potenciar as acções de carácter ofensivo (superioridade numérica
do ataque) e defensivo (superioridade numérica da defesa).
(B) Parciais (7 contra 7 por exemplo). Neste caso poder-se-á criar circunstancialmente em certas espaços de jogo
superioridades (2x1, 3x2, etc.,) ou inferioridades numéricas (no meio-campo, nos corredores laterais) por forma a criar
condições favoráveis a que uma das equipas consiga concretizar mais assiduamente um determinado objectivo inter-
médio ou final.
Este factor estabelece as características e o número de instrumentos (bolas, balizas, sinalizadores, barreiras, etc)
utilizados de forma a responder eficazmente às situações contextuais de jogo. Os diferentes instrumentos utilizados poten-
cializam a possibilidade de atingir frequentemente os objectivos do próprio exercício de treino, como por exemplo utilizar
mais balizas e bolas etc., por forma que cada jogador esteja mais perto de usufruir de um elevado nível de êxito durante
a realização das tarefas inerentes ao exercício. Fazer conciliar aspectos de ordem técnico-táctica com aspectos físicos,
como por exemplo: saltar uma barreira após o contacto com a bola, tocar num sinalizador antes de rematar à baliza, etc.
6. Fases da sessão de treino onde podem ser aplicados aos diferentes métodos de treino
As condicionantes estruturais dos exercícios, são normalmente aplicados em métodos de treino utilizados na parte
principal da sessão, durante a qual se cumpre as principais tarefas de aprendizagem ou aperfeiçoamento dos jogadores.
Todavia, devido à grande variedade de temas e objectivos possíveis de estabelecer para cada sessão de treino, é possível e
conveniente, que a sua aplicação se estruture em complemento relativamente aos diferentes métodos. Neste sentido, a apli-
cação das diferentes condicionantes estruturais aos diferentes métodos de treino devem ter conta o período de tempo logo
após a fase de preparação (normalmente denominado de aquecimento) dos jogadores para a sessão, no qual se exige ele-
vados níveis de motivação, concentração e aplicação em resposta aos problemas colocados pelas diferentes contextuali-
dades situacionais derivadas do jogo. Todavia, à medida que a sessão de treino se encaminha para o seu terminus é funda-
mental que os métodos de treino aplicados não utilizem constrangimentos, para além daqueles que derivam das condições
inerentes ao próprio jogo, por forma que os jogadores possam expressar, durante um determinado período da sessão, todo
o seu potencial.
Concluindo, durante o microciclo semanal de preparação da equipa é conveniente, à medida que nos aproximamos
da competição, se diminua a prescrição relativamente às diferentes condições que as condicionantes estruturais podem
assumir. Desta forma, os jogadores beneficiam de situações de treino próximas e idênticas à realidade competitiva. Todavia,
esta perspectiva não se aplica, nem deve ser confundida, no que se refere às condições objectivas do qual deriva o modelo
de jogo preconizado pela equipa. Neste sentido, as condições/perscrições de suporte ao modelo de jogo devem ser sempre
respeitadas de forma que a sua funcionalidade geral e específica não seja subitamente alterada, em especial num momen-
to tão sensível que deriva da proximidade da competição.
7. Bibliografia
JORGE CASTELO
"A relação antagónica entre o ataque e a defesa manifesta-se tanto individual (luta entre o atacante e o defesa),
como colectivamente (luta entre o ataque e a defesa). Cada elemento do jogo (atacante ou defesa), tenta romper o equilíbrio
existente (teoricamente) e criar vantagens que lhes assegurem o sucesso" (Teodorescu, 1984).
1. Conceito
O processo ofensivo representa uma das duas fases fundamentais do jogo de futebol, sendo objectivamente deter-
minado, "pela equipa que se encontra de posse de bola, com vista à obtenção do golo, sem cometer infracções às leis do
jogo" (Teodorescu, 1984). Quando determinada equipa está de posse de bola, para além de poder concretizar o objectivo do
jogo - o golo, poderá igualmente:
> 1. Controlar o ritmo específico do jogo, pois, em função da estratégia concebida para esse jogo, do resultado (numéri-
co) momentâneo e das circunstâncias do momento, poder-se-ão contrapor acções técnico-tácticas que acelerem ou dimin-
uam este ritmo.
> 2. Criar condições, por forma a surpreender a equipa adversária, através de mudanças contínuas de orientação das
acções técnico-tácticas e atempadamente fazer uma ocupação racional do espaço de jogo, em função dos objectivos tác-
ticos da equipa.
> 3. Obrigar os adversários a passarem por longos períodos sem a posse da bola, levando-os a entrar em crise de
raciocínio táctico e, consequentemente, a expô-los a respostas tácticas erradas em função dos contextos situacionais de
jogo.
> 4. Concretizar a recuperação física de companheiros, com o mínimo de risco, que devido a pequenos choques com o
adversário ou por uma elevada prestação para se recuperar a posse da bola, não se encontram nas melhores condições
para participarem de imediato no processo ofensivo da equipa.
2. Objectivos
A posse da bola não é um fim em si e torna-se utópico, se não for conscientemente considerada como o primeiro
passo indispensável no processo ofensivo, sendo condição "sine qua non" para a concretização dos seus objectivos funda-
mentais: a progressão/finali-zação e a manutenção da posse da bola.
2.1. Progressão/finalização
Imediatamente após a recuperação da posse da bola, o objectivo fundamental da equipa é o de progredir em
direcção à baliza adversária, de uma forma rápida e eficaz, evitando-se ao máximo a interrupção deste processo. A maxi-
mização destes objectivos pressupõem:
> 1. Contínua instabilidade da equipa adversária desequilibrando, por
consequência, a organização defensiva, criando-se constantemente
as condições mais favoráveis em termos de espaço, tempo e número,
à resolução táctica dos contextos situacionais de jogo.
>> 2. Orientação de todos ou a maioria das acções técnico-tácticas
individuais e colectivas, realizadas pelos jogadores em processo ofen-
sivo, na direcção da baliza adversária. 8
>>> 3. Criação de condições de jogo mais propícias, quando perto da
baliza adversária, à culminação positiva da acção ofensiva, através de
acções individuais de suporte à fase de finalização (desmarcação- >>>
remate), com vista à obtenção do golo. Perseguir continuamente este
objectivo vencendo a resistência organizada do adversário, é a tarefa mais importante e todos os jogadores de uma e outra
equipa têm de se esforçar por cumpri-la com a maior frequência possível.
3. Vantagens - desvantagens
A iniciativa e a surpresa criadas pelas acções ofensivas - o risco de estas poderem terminar pela concretização do
golo, constituem as grandes vantagens do ataque. Estas vantagens derivam do facto do processo ofensivo, utilizar uma maior
mobilidade por parte dos seus jogadores (podendo rodear e envolver), em relação às posições mais ou menos fixas e con-
centradas dos defesas. Em contrapartida, a desvantagem do processo ofensivo consta das dificuldades apresentadas pela
execução das acções técnico-tácticas específicas com bola - sugerem necessidade da sua protecção e conservação, contra
as acções agressivas de marcação dos adversários.
4. Etapas
Antes de analisarmos individualmente as diferentes etapas do processo ofensivo importa evidenciar dois aspectos
fundamentais:
> 1. O processo ofensivo começa antes da recuperação da posse da bola. Neste sentido, os jogadores que não inter-
venham directamente na fase defensiva da sua equipa, devem preparar mentalmente a acção ofensiva, na procura de
espaços vazios, que possam ser utilizados para o empreendimento do ataque e obrigar os seus adversários directos, a se
preocuparem mais com a defesa da sua própria baliza do que com o ataque à baliza adversária.
> 2. Durante o processo ofensivo. Independentemente da etapa ofensiva em que este processo se encontre e o nível
organizacional do sistema defensivo adversário, dois aspectos assumem fundamental importância:
> A. Os deslocamentos dos jogadores sem bola; cuja intenção táctica é de criar as situa-ções que contribuam con-
stantemente para: (1) um melhor apoio ao companheiro de posse de bola aumentando-lhe as possibilidades de res-
olução da situação táctica com o máximo de eficácia e, (2) a criação de desequilíbrios pontuais e temporários na orga-
nização defensiva adversária.
> B. Os jogadores de posse de bola: deverão evidenciar uma correcta visão, leitura e análise das situações tácticas de
jogo para: (1) jogar rapidamente visando aproveitar as solicitações dos companheiros melhor colocados, ou seja, em
espaços mais perigosos para a equipa adversária e, (2) assegurar a posse da bola esperando o momento mais favoráv-
el para a reso-lução táctica escolhendo, decidindo e executando a acção técnico-táctica mais adequada (e não a mais
fácil).
Numa análise estrutural do jogo de futebol, podemos estabelecer três etapas fundamentais do processo ofensivo:
a construção do processo ofensivo, a criação de situações de finalização e a finalização.
4.3. Finalização
Esta fase do processo ofensivo é objectivada pela acção técnico-táctica individual (remate) que culmina todo o tra-
balho da equipa com vista à obtenção do golo. Esta etapa apresenta as
seguintes características essenciais:
> 1. Desenrola-se numa zona restrita do terreno de jogo, onde a
pressão dos adversários é elevada e o espaço de realização é dimin-
uta.
> 2. As condições de execução técnico-táctica exigem uma precisão e
um ritmo elevados, em que a espontaneidade, a determinação e a cria- >>>
tividade são as componentes mais evidentes desta etapa do ataque.
> 3. A responsabilidade do jogador que objectiva esta fase do jogo,
reside no facto de ter de valorizar individualmente aquilo que foi cons-
truído através do esforço colectivo.
5. Os métodos
Visam uma coordenação eficaz das acções dos jogadores que constituem a equipa, por forma a criar as condições
mais favoráveis para concretizar dos objectivos do ataque em consonância com os objectivos do jogo - o golo. Para atingir
este objectivo os métodos de jogo ofensivo procuram, dentro de uma panóplia de aspectos, concretizar os seguintes aspec-
tos:
> 1. Provocar uma contínua instabilidade na organização do método de jogo defensivo adversário.
> 2. Aplicar um ritmo mais ou menos elevado, que seja incompatível com as acções coordenadas dos adversários com
vista à sua desorganização.
> 3. Utilizar constantes deslocamentos em largura e profundidade, por forma a aumentar o número de linhas de passe e
naturalmente o incremento das opções tácticas em termos de apoio, progressão e rotura da organização defensiva adver-
sária. Nestas circunstâncias, dificultam-se as acções de marcação que se traduzem pela presença física do defesa sobre
o atacante com o intuito de o neutralizar.
> 4. Direccionar, sempre que possível, as acções técnico-tácticas individuais e colectivas para a baliza adversária ou para
espaços vitais do terreno de jogo. Esta condição coloca os defesas adversários sob uma forte pressão de carácter táctico
e psicológico.
> 5. Executar circulações tácticas, que representam formas superiores de coordenação da participação consciente dos
jogadores e das suas acções de carácter individual ou colectivo, com o intuito de elevar as taxas de sucesso, especial-
mente, nas fases de criação de situações de finalização e de remate à baliza.
> 6. Simplificar o processo ofensivo através do recurso a um reduzido número de jogadores que intervêm directamente
sobre a bola, executando comportamentos técnico-tácticos pelo lado do risco, o que determina um aumento da capacidade
de iniciativa, improvisação e criatividade dos jogadores.
> 7. Aproveitar o desequilíbrio momentâneo de carácter mental (atitude), motor (comportamento) e de organização espa-
cial da equipa que estava a atacar e tem de passar a defen-der.
Neste domínio podemos estabelecer três formas base através dos quais se expressam os diferentes métodos de
jogo ofensivo: o contra-ataque, o ataque rápido e o ataque posicional.
5.1. O contra-ataque
Analisaremos esta forma ofensiva de base tendo em consideração as suas características, as suas vantagens e
desvantagens.
A. Esta forma de organização ofensiva é caracterizada pelos seguintes aspectos:
> 1. Rápida transição das atitudes e comportamentos técnico-tácticos individuais e colectivos, da fase defensiva para a
fase ofensiva do jogo, logo após a recuperação da posse da bola.
> 2. Elevada velocidade de transição da zona do campo onde se efectuou a recuperação da posse da bola, às zonas
predominantes de finalização. Diminuindo assim, o tempo da fase de construção do processo ofensivo.
> 3. Máxima (a mais elevada) cadência-ritmo de circulação da bola e dos jogadores.
> 4. Simplicidade do processo ofensivo, implicando um reduzido número de jogadores que intervêm directamente sobre
a bola, executando comportamentos técnico-tácticos fundamentalmente pelo lado do risco.
> 5. Execução de respostas técnico-tácticas em condições favoráveis em termos de tempo e espaço, cuja direcção tem
como alvo a baliza adversária.
> 6. Impedir a equipa adversária, devido à velocidade deste método ofensivo, em dispôr do tempo necessário para poder
evoluir para uma organização mais estável e coesa do seu método defensivo.
> 7. Obriga a aplicação de métodos defensivos, em que os jogadores se posicionam e se concentram muito perto da
sua grande área. Este facto provoca na equipa adversária, quando em processo ofensivo, uma falsa sensação de
domínio de jogo levando os jogadores, a "subir" no terreno para colmatar o desequilíbrio existente e a recrutar um maior
número de jogadores para cumprirem o objectivo do ataque. Em consequência desta acção, criam-se grandes espaços
de jogo, entre a última linha defensiva e a baliza, espaços esses que deverão ser posteriormente utilizados para a apli-
cação eficaz do método ofensivo em questão.
>>>
5.2. O ataque-rápido
As características fundamentais do ataque rápido são as mesmas que foram referidas para o contra-ataque, a difer-
ença estabelece-se fundamentalmente no facto do contra-ataque procurar assegurar as condições mais favoráveis para
preparar a fase de finalização, antes da defesa contrária se organizar de forma efectiva. Enquanto que, o ataque rápido, terá
de preparar a fase de finalização já com a equipa adversária organizada eficientemente no seu método defensivo. Assim,
observa-se os mesmos pressupostos referidos para o contra-ataque, especialmente no que diz respeito, à rápida transição
da zona de recuperação da posse da bola para as zonas predominantes de finalização, com uma preparação mais demora-
da e laboriosa da etapa de criação e da de finalização.
As vantagens e as desvantagens deste método ofensivo, são fundamentalmente as mesmas que foram referidas
para o contra-ataque.
>>>
>>>
6. Aspectos fundamentais
Qualquer método de jogo ofensivo fundamenta-se em diferentes pressupostos que direccionam e potencializam os
seus objectivos. Neste sentido, iremos analisar cinco aspectos essenciais do problema: (1) o equilíbrio defensivo, (2) a veloci-
dade de transição, (3) o relançamento do processo ofensivo, (4) os deslocamentos em largura e profundidade e, (5) a circu-
lação táctica. No entanto, importa reforçar a ideia de que os diferentes pressupostos mencionados, por si só ou conjunta-
mente, em nada contribuirão para a eficácia do processo ofensivo, se não forem judiciosamente suportados pelo trabalho de
todos os jogadores, criando-se um forte sentido e mentalidade colectiva. Com efeito, o futebol na actualidade, a acção isola-
da de um jogador conta muito pouco quando defronta uma organização defensiva colectiva, sendo raras as ocasiões, e quan-
do acontecem são muito específicas (por exemplo: as situações de bola parada), em que se pode observar uma resolução
técnico-táctica genial do atacante em ultrapassar toda uma rede colectiva defensiva bem estruturada e organizada. Logo, a
funcionalidade de uma equipa de futebol passa inabalavelmente pela interligação e o ajustamento dos comportamentos
simultâneos dos jogadores em função das contigências e do desenvolvimento contextual das situações de jogo.
Neste domínio, o trabalho de equipa na fase ofensiva do jogo, exprime-se pela constante execução das acções téc-
nico-tácticas em direcção da baliza adversária, nas diferentes acções de cobertura/apoio aos companheiros que intervêm
sobre a bola, à mobilidade permente dos jogadores que momentaneamente estão à frente da linha da bola, na tentativa do
alargamento do leque de opções de resposta à situação problemática de jogo e no enquadramento de todas estas acções
realizadas num elevado ritmo de actividade. Todavia, seja qual for o grau destas exigências, só podem ser levadas a cabo
pela existência de uma organização que possibilita a cada elemento (jogador) participar nas diferentes fases do processo
ofensivo, por forma a assegurar uma maior eficácia e continuidade deste, porque sabem antecipadamente, que a sua posição
e funções específicas de base dentro do sistema de jogo da equipa, estão a ser acautelados por um outro companheiro.
Deverá existir assim, uma compreensão elementar entre os jogadores de uma equipa: sempre que um companheiro ajuda
tem direito a que o ajudem também. Se um jogador deixa a sua posição e funções específicas de base num determinado
momento da partida, para ocupar a posição e as funções específicas de um outro companheiro, deverá este último, o mais
rapidamente possível voltar, não à sua posição e funções de base, mas antes ocupar o lugar deixado livre pelo companheiro
que o ajudou. Mudam assim momentâneamente de posição e funções específicas, mas nunca de responsabilidades, orga-
nização e solidariedade.
Torna-se assim fundamental e necessário, que cada jogador para além de tomar consciência da superfície do ter-
reno de jogo onde vai evoluir, dos seus limites, das suas funções específicas de base (missão táctica individual), deverá con-
hecer igualmente as missões dos seus companheiros e estar preparado para os ajudar numa dada situação de jogo, ou
assumir ele próprio essas mesmas funções. Em cada situação, os jogadores devem consciencializar e valorizar constante-
mente a sua contribuição para o desenvolvimento do processo ofensivo da sua equipa com carácter de disponibilidade total
pressupondo: (1) a avaliação das suas possibilidades de êxito, preparando mentalmente a sua acção futura, antecipando a
sua intenção e o seu comportamento em função da situação por ele prognosticado e, (2) a execução de uma resposta que
seja previsível aos olhos dos seus companheiros e imprevisível aos dos adversários, isto pressupõe a contínua tomada de
informações sobre o desenrolar possível das situações de jogo.
Concluindo, a resolução de cada situação de jogo deverá resultar da mútua responsabilidade de todos os
jogadores da equipa, dando a todos eles a possibilidade de decidirem e executarem entre várias opções a resposta táctica
a que lhes parecem ser a mais adaptada e ajustada relativamente à situação. Não tendo que decidir por uma única alterna-
tiva de resposta, que pode derivar da capacidade dos adversários, mas acima de tudo resulta, dos companheiros que não
criam condições para lhes proporcionar outras.
Do exposto, podemos inferir que a velocidade (de execução e de raciocínio táctico) é o factor determinante e o
denominador comum da aplicação de um elevado ritmo de jogo. Todavia, é preciso ter presente três aspectos fundamentais:
(1) um ritmo elevado é consequência da variação ("pontos altos e baixos") da velocidade de execução dos comportamentos
técnico-tácticos individuais e colectivos, daí a importância de a equipa reagir no seu conjunto reconhecendo quando, onde e
como o aplicar de uma forma metódica e sistemática. Um maior ou menor ritmo de jogo, ao transportar igualmente o factor
surpresa, provocará desequilíbrios pontuais e temporários, tanto nas unidades estruturais funcionais da equipa adversária,
como inclusivé, em toda a sua organização defensiva, (2) ao aumento da velocidade corresponde normalmente o aumento
da probabilidade de execução ineficaz das acções técnico-tácticas que por si poderão incrementar o número de perdas de
posse de bola, neste contexto se infere, a necessidade de se estabelecer um ritmo, o mais conveniente possível, mantendo
os níveis de rendimento da equipa e, (3) o ritmo de jogo aplicado deverá determinar a impossibilidade do adversário se adap-
tar eficientemente às constantes e sequenciais mudanças de cadência da velocidade de execução motora /aumentando-se
ou diminuindo-se) em momentos oportunos (criação de condições desfavoráveis aos adversários).
7. Bibliografia
CASTELO, J., (1996). Futebol - A organização do jogo. Edição do autor. Lisboa
CASTELO, J., (1999) Futbol - estructura y dinamica del juego, INDE Publicaciones, Barcelona
CASTELO, J., (2003) Futebol - Guia prático de exercícios de treino. Visão e contextos. Lisboa
TEODORESCU, L., (1984) Problemas de teoria e metodologia nos desportos colectivos, Livros Horizonte, Lisboa