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FIEL – FACULDADES INTEGRADAS EINSTEIN DE LIMEIRA

GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

VILMA MARIA ALVES GUERREIRO

A TERAPIA NO SILÊNCIO: A importância da formação do psicólogo em libras

LIMEIRA, SP
2021
VILMA MARIA ALVES GUERREIRO

A TERAPIA NO SILÊNCIO: A importância da formação do psicólogo em libras

Monografia apresentada às Faculdades


Integradas Einstein de Limeira –FIEL, como
exigência parcial, para obtenção do título de
Psicóloga.

Orientadora: Profa. Dra. Maria de Fátima Xavier.

LIMEIRA, SP
2021
FIEL – FACULDADES INTEGRADAS EINSTEIN DE LIMEIRA

TERMO DE APROVAÇÃO

A TERAPIA NO SILÊNCIO: A importância da formação do psicólogo em libras

Vilma Maria Alves Guerreiro

Orientadora: Profa. Dra. Maria de Fátima Xavier

Banca Examinadora: Profa. Dra. Ana Carolina C. Christovam


Profa. Esp. Beatriz Luiza Morgantini

Data de aprovação: 08/12/2021


Dedico esse trabalho a minha mãe Maria de Lourdes Alves
(in memorian), que sempre me apoiou e nunca perdeu a fé
nos meus sonhos.
AGRADECIMENTOS

A Deus que me presenteia todos os dias com energia da vida, que me dá força e coragem para

atingir meus objetivos.

Aos psicólogos participantes do presente estudo, por aceitarem dividir comigo suas vivências

nos atendimentos. Sem eles, esta pesquisa não seria possível.

À Dra. Maria de Fátima Xavier, minha orientadora, por todos os ensinamentos, pela condução

deste trabalho e pela amizade. Gratidão por sua aceitação e confiança ao caminhar comigo e

orientar-me no decorrer do meu Trabalho de Conclusão de Curso, sempre com muita paciência

de vários erros que cometia no decorrer sempre buscando o melhor em mim. Quem ouve suas

palavras não aprende apenas ciência, mas entende um pouco mais da vida. Você é um exemplo

de profissional! Obrigada!

Aos professores da Faculdades Einstein de Ensino, essencial no meu processo de formação

profissional pela dedicação, e por tudo que aprendi ao longo do curso.

A todos meus amigos do curso de graduação que compartilharam dos inúmeros desafios que

enfrentamos, sempre com espírito colaborativo.

A minha família e em especial meu marido, companheiro e amigo Thiago Guerreiro que sempre

esteve meu lado em todos os momentos me ajudando e me fortalecendo quando achava que não

conseguiria.
PONTO DE ENCONTRO

Talvez haja um lugar


Entre a voz e o silêncio,
Entre o grito e o olhar,
Onde haja música, feita de luz e cores,
Onde as mãos repousam
E os sons se tornam brisa,
Onde tudo se diz, sem palavras, sem gestos,
E o coração toca o coração,
A alma sente a alma.
Um ponto de encontro
Onde surdos e ouvintes se compreendam
Sem saírem de seus mundos.
Onde cada um saiba ouvir e ver
Mesmo que não haja palavras
Nem imagens.
Onde se abracem sem medo
E sem preconceitos.
Certamente essa esfera existe
Além do nosso olhar, do nosso ouvido,
Em algum lugar do nosso coração.
(Paulo Cesar Gonçalves)
RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo compreender a importância da formação em libras para
o profissional de psicologia, tendo em vista o atendimento à pessoa com deficiência auditiva,
de forma integral, e avaliar o quanto os serviços em saúde mental são acessíveis a essa
população, que se comunica por meio da língua de sinais, bem como as dificuldades e
limitações encontradas pelo psicólogo. A hipótese a ser verificada é que há uma limitação no
acesso ao atendimento psicológico das pessoas com deficiência auditiva, devido ao domínio da
língua de sinais pelo profissional psicólogo, impactando na garantia de inclusão desses
indivíduos. Para tanto, participaram desta pesquisa, 10 psicólogos sendo 8 do sexo feminino e
dois do masculino, na faixa etária de 29 a 53 anos que trabalham em Clínicas Particulares, UBS,
lecionando em Universidades Particulares e Academia da Força Aérea. Os dados foram
coletados por meio de uma entrevista semiestruturada, depois categorizados, analisados
quantitativamente e qualitativa por meio da análise de conteúdo das respostas dos voluntários.
Constatou-se que a formação insuficiente dos profissionais de psicologia para atender os surdos,
tem limitado a procura destes pelos serviços de saúde mental. Essa barreira é imposta pela
dificuldade na comunicação entre o psicólogo e o surdo. Observou-se que existe uma
consciência, dos profissionais participantes, da necessidade de qualificação e atualização
relativa à cultura e língua, desta população, para uma eficiência comunicacional e acolhimento
integral do surdo. Para que essa comunicação aconteça é imprescindível que o deficiente
auditivo compreenda e seja compreendido. Só assim, será garantido o acesso igualitário e
inclusivo dos surdos. Porém, o desconhecimento da Libras ainda é um desafio a ser superado,
e tem contribuído para o sofrimento psicológico do surdo, impactando no seu direito ao
atendimento psicológico inclusivo.

Palavras-Chave: Língua Brasileira de Sinais. Psicologia. Inclusão. Formação profissional.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 4
2 SURDEZ E LIBRAS............................................................................................................... 6
3 ACESSIBILDADE AO ATENDIMENTO PSICOLÓGICO DE PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA AUDITIVA....................................................................................................... 9
3.1 Implicações da formação do psicólogo para o atendimento a pessoas com deficiência
auditiva ......................................................................................................................................9
4 PSICOTERAPIA INCLUSIVA DANDO VOZ AO SILENCIADO....................................12
5 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 18
5.1 Objetivo geral .................................................................................................................. 18
5.2 Objetivos específicos ....................................................................................................... 18
5.3 Hipótese............................................................................................................................. 18
6 MÉTODO ............................................................................................................................. 19
6.1 Participantes ..................................................................................................................... 19
6.2 Instrumentos ..................................................................................................................... 20
6.3 Procedimento.................................................................................................................... 20
7 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................................22
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................31
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................33
APÊNDICES.............................................................................................................................36
ANEXO.....................................................................................................................................40
4

1 INTRODUÇÃO

Os surdos, enquanto grupo de uma cultura possui sua tradição. Entretanto pelo menos
em dois aspectos essa tradição parece ter um sentido diferente daquele que é atribuído a grupos
de ouvintes, em primeiro lugar, no modo como essa tradição é edificada pelos surdos, e em
segundo lugar, os elementos que compõem essa tradição que acabam presentes na sociedade
majoritária. Esses dois aspectos mencionados explicam, em grande parte, o modo como os
surdos têm sido predominantemente vistos e tratados pela sociedade, até os dias de hoje, bem
como as dificuldades que eles enfrentam para superar essa visão e tratamento psicológicos
dentre outros tão necessários para a saúde mental. (FERREIRA BRITO, 1988).

Uma das dificuldades encontradas pelo surdo é o acesso ao atendimento psicológico,


devido especialmente à dificuldade dos profissionais em entender a expressão de seus
sentimentos e emoções, por meio da língua de sinais. Ainda que a inclusão faça parte de vários
projetos atuais, o aprendizado de libras, que é indispensável ao trabalho terapêutico acessível,
também deve ser discutido. Segundo Piret (2007) como o intérprete não tem uma formação,
mesmo que ele consiga passar todos os relatos do paciente, pode prejudicar a análise
psicoterapêutica, além de comprometer o sigilo, garantido pelo Código de Ética Profissional do
Psicólogo.

Vale destacar que a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS,
2016), e as Associações de Surdos presentes nos Estados Unidos (1980) reivindicam e
promovem na sociedade, o ingresso do surdo na educação, e defendem o direito de exercerem
a cidadania como sujeitos sociais, além de destacarem a importância do acesso de pessoas
surdas nos ambientes de saúde. Entretanto, nota-se que esse o público ainda encontra
dificuldades no acesso ao atendimento psicoterápico.

Diante disso, surge a inquietação da pesquisadora a respeito do atendimento psicológico


de pessoas surdas no Brasil. Questiona-se, de fato ocorre uma efetiva comunicação entre o
profissional e o paciente, considerando que a língua de sinais, em várias instituições de ensino,
não faz parte da grade curricular obrigatória. É importante destacar que, ainda que silenciada,
a libras possibilita um acolhimento qualificado, e necessárias para a quebra da barreira de
comunicação para que esse grupo de indivíduos tenha um atendimento do profissional
psicólogo, mais humanizado e singular. Assim, concebendo o surdo como pessoa em
5

desenvolvimento, dotada de direitos, como um ser social, o psicólogo deve promover o acesso
irrestrito ao atendimento psicológico.

As questões que norteiam o desenvolvimento da presente pesquisa estão pautadas na


necessidade de atender as pessoas deficientes auditivas com maior adequação. Assim, as
problemáticas de pesquisa consistem em responder se a dificuldade de comunicação com os
profissionais da psicologia tem distanciado esse público do acesso aos serviços de saúde mental,
e se o atendimento à pessoa com deficiência auditiva é mais adequado na medida que o
profissional da área da psicologia, responsável por este atendimento, tem formação em libras.

Nessa direção, esta pesquisa é relevante, pois, tem como foco a psicologia inclusiva
como importante para funcionalidade do acompanhamento e acolhimento eficaz da pessoa com
deficiência auditiva. Sendo assim, o objetivo desta pesquisa foi compreender a importância da
formação em libras, para o profissional de psicologia, tendo em vista o atendimento à pessoa
com deficiência auditiva, de forma integral, e avaliar o quanto os serviços em saúde mental são
acessivos a esta população que se comunica por meio da língua de sinais.

Para tanto, utilizou-se uma pesquisa de campo, na qual se entrevistou profissionais


psicólogos com intuito de averiguar a percepção dos mesmos sobre o quanto os atendimentos
em saúde mental são acessíveis às pessoas com deficiência auditiva, bem como de que maneira
ocorre a comunicação do profissional com esta população. E por fim, entender se a formação
acadêmica oferece o devido preparo do profissional psicólogo para atender pessoas surdas. Os
dados obtidos por meio das entrevistas foram analisados de forma qualitativa e quantitativa.

Os conteúdos abordados neste trabalho foram organizados em tópicos, sendo assim, o


primeiro versa sobre a conceituação de surdez, o surgimento e as especificidades da Língua de
sinais (LIBRAS). Na sequência destaca-se a formação acadêmica e qualificação do psicólogo
para o atendimento psicológico de pessoas com deficiência auditiva, as estratégias adotadas
pelo psicólogo para dar voz ao silenciado, e logo adiante tem-se os objetivos gerais, específicos
e hipótese. Dando continuidade descreve-se o método com os subitens: participantes da
pesquisa, instrumento utilizado e procedimentos da pesquisa. Em seguida, são apresentados os
resultados e discussões oriundos das entrevistas realizadas com os psicólogos, discutidos com
a teoria e dados de outras pesquisas, destacadas na fundamentação teórica deste trabalho.
Depois encontra-se as considerações finais e as referências utilizadas.
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2 SURDEZ E LIBRAS

Segundo a Secretaria da Educação Especial (BRASIL, 2006), a surdez consiste na perda


maior ou menor da percepção normal dos sons. Verifica-se a existência de vários tipos de
pessoas com surdez, de acordo com os diferentes graus de perda da audição. Quando fala sobre
interferência da língua e fala, a perda da audição é definida através da referência em decibéis
(frequência de 500-1000-2000 hertz).
O parcialmente surdo (com deficiência auditiva – DA) pode ter uma surdez leve-
indivíduo que apresenta perda auditiva até quarenta decibéis. Essa deficiência impede que a
pessoa compreenda do mesmo modo todos os sons das palavras. Além disso, a voz fraca ou
distante não é ouvida. Desta maneira, o indivíduo é conhecido como desatento, onde precisa
com certa frequência a repetição das falas. Essa perda auditiva não impede a aquisição normal
da língua oral, mas pode ser a causa de algum problema articulatório na leitura ou escrita. A
surdez moderada– indivíduo que apresenta perda auditiva entre quarenta e setenta decibéis.
Esses limites se encontram no nível da percepção da palavra, sendo necessária uma voz de certa
intensidade para que seja percebida. É frequente o atraso da linguagem e as alterações
articulatórias, havendo, em alguns casos, maiores problemas linguísticos. Esse indivíduo tem
maior dificuldade de discriminação auditiva em ambientes ruidosos. (BRASIL, 2006).
É considerado surdo quando há uma surdez severa, o indivíduo que apresenta perda
auditiva entre setenta e noventa decibéis. Escuta alguns ruídos e pode perceber apenas a voz
forte. Já a surdez profunda – o indivíduo apresenta perda auditiva superior a noventa decibéis.
“A gravidade dessa perda é tal que priva das informações auditivas necessárias para perceber e
identificar a voz humana.” (BRASIL, 2006).
É importante notar que a surdez não se define apenas em uma deficiência sensorial, mas
por um conjunto de diversos fatores multidimensionais, uma vez que implicações sociais da
condição da surdez podem fazer com que o indivíduo não alcance a comunicação com a
sociedade em geral, podendo causar afastamento e até mesmo discriminação dessas pessoas.
Sendo assim, a conquista dessa linguagem é de extrema importância para o aumento de uma
identidade cultural, desenvolvimento intelectual, social e emocional do deficiente auditivo.
(VYGOTSKYI, 1998). Para tanto, o acesso à educação formal, nas escolas possibilita, o
desenvolvimento intelectual e a inserção social.
Quanto acesso a formação acadêmica dessa população, no Brasil, teve influência do
padre educador francês Hernest Huet. Como não haviam escolas para acolher os surdos da
época, ele dispunha de recursos que poderiam ajudar nesse processo. Sendo ignorado por
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muitos, já que não acreditavam que os surdos pudessem ser educados, requisitou a Dom Pedro
II um espaço que foi conquistado no dia 26 de setembro de 1857 no Rio de Janeiro, antigo
Instituto dos surdos – mudos e atual INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos, primeira
escola para surdos do país. (HONORA; FRIZANCO, 2009).
Como Huet foi educado na França, ele trouxe sua cultura para o Brasil, onde foi
inserindo sinais franceses aos sinais já utilizados pelos surdos brasileiros, fazendo essa junção
de línguas, dando origem à Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Porém, foi interrompida
devido a proibição mundial do uso da língua de sinais ocorrida no Congresso sobre surdez em
Milão, que, na época, defendeu a leitura labial, para surdos, como a comunicação mais
adequada. Isso impactou no desenvolvimento da língua de sinais no Brasil, uma vez que figuras
da época, como o Dr. Menezes Vieira, acreditavam que seria um “desperdício alfabetizar surdos
num país de analfabetos.” (HONORA; FRIZANCO, 2009, p. 27).

Após uma luta persistente pelo uso e uma crescente busca por legitimidade da língua de
sinais, a Libras voltou a ser aceita. Somente em 2002, foi reconhecida como idioma oficial no
Brasil, por meio da Lei n 10.436, de 24 de abril de 2002 (BRASIL, 2002), regulamentada pelo
Decreto 5.626/2005. (BRASIL, 2005).

É importante salientar que a língua de sinais não é acatada universalmente. Cada uma,
em cada país, tem sua organização gramatical, sendo assim, não é uma única língua, então, não
existe apenas uma língua de sinais. Toma-se como exemplo o próprio Oralismo. Este é
constituído da cultura de seu povo, por exemplo, Brasil e Portugal possuem a mesma língua
oral, porém, seus sinais são distintos e possuem atributos próprios. (HONORA; FRIZANCO,
2009).

Nesse sentido, a língua de sinais é uma combinação de configurações de mãos,


movimentos e de pontos de articulação, locais no espaço ou no corpo onde os sinais são feitos,
assim como expressões faciais atreladas ao movimento. A mão parada, por exemplo, pode ter
um significado totalmente diferente da mão realizando um determinado movimento. (GESSER,
2016).

Diante do exposto, vale enfatizar que é importante não só aprender os sinais, mas o
envolvimento e interesse dos profissionais psicólogos, visto que é necessário que ofereçam os
serviços psicológicos aos deficientes auditivos. Sendo assim, serem conscientes de seus deveres
profissionais para todos, sem distinção, enfrentando suas próprias inseguranças, limitações e
até mesmo conformismos. (PEREIRA; LOURENÇO, 2017. Dessa forma, é importante atentar
8

para as necessidades das pessoas com deficiência auditiva, acolher suas demandas, e, assim,
garantir a inclusão e acessibilidade aos dispositivos de saúde mental.
9

3 ACESSIBILDADE AO ATENDIMENTO PSICOLÓGICO DE PESSOAS COM


DEFICIÊNCIA AUDITIVA

A Lei 8.080/90, art. 5º, inciso III do Decreto 5.626/2005 (BRASIL, 2005), que garante
o direito a saúde para pessoas surdas ou que tenham qualquer perda auditiva, mostra-se
importante, em diferentes âmbitos. Desde os atendimentos até os equipamentos devem ser
considerados para que haja uma prevenção precoce dessa deficiência, bem como o tratamento.
Assim, inclui-se o atendimento em saúde mental.

Nesse sentido, o Conselho Regional de Psicologia da 16ª. Região -ES (CRP – 16), se
articula em favor da comunidade surda, e destaca a importância deste movimento. O projeto do
CRP da região do Espirito Santo busca levar a discussão ao Conselho Federal de Psicologia
(CFP), a fim de que haja uma resolução que garanta a acessibilidade, desta população, aos
atendimentos. (CRP-16, 2015).

Vale pontuar que os avanços nas políticas públicas para os surdos ainda dão passos
lentos, atravessam muitas dificuldades para serem implementados na sociedade, fazendo-se
necessárias constantes lutas para que a comunidade garanta seus direitos. (FERNANDES,
2019). Uma das formas de garantir tais direitos é por meio da capacitação dos profissionais,
que no caso do psicólogo possibilitará a acessibilidade e inclusão do deficiente auditivo aos
serviços psicológicos.

3.1 Implicações da formação do psicólogo para o atendimento a pessoas com deficiência


auditiva

No que diz respeito a formação do psicólogo, a Resolução de nº 5, de 15 de março de


2011 (BRASIL, 2011), institui, para os cursos de graduação em psicologia, as diretrizes
curriculares nacionais, destacando as normas para uma formação complementar dos discentes
de psicologia que deve constar no projeto pedagógico. Porém, não há uma especificação relativa
a formação do psicólogo para um atendimento inclusivo do surdo. O artigo 3º, no item III
assegura uma formação baseada no “reconhecimento da diversidade de perspectivas necessárias
para compreensão do ser humano e incentivo à interlocução com campos de conhecimento que
permitam a apreensão da complexidade e multideterminação do fenômeno psicológico.”
(BRASIL, 2011). Nessa perspectiva, é possível incluir, nesse item diversidade, a formação de
psicólogos pautada no compromisso de garantir a acessibilidade e inclusão do deficiente
auditivo, para tanto, deve constar nas matrizes curriculares dos cursos de psicologia.
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Isso posto, vale salientar que a disciplina de formação em Libras, oferecida em diversos
cursos de psicologia no Brasil, é optativa e ocorre por um curto período, cerca de um semestre.
Isso, segundo algumas pesquisas, aponta para um cenário de defasagem no ensino dessa língua,
justificando o baixo número de pesquisas com esse público, por parte de estudantes de
psicologia e repertório insuficiente para o atendimento dessa clientela. (NASCIMENTO;
TORRES, 2020; FREITAS, 2019).

Segundo Silva (2016), superar os desafios e questões éticas é de suma importância para
um atendimento igualitário. O autor alerta ainda que é comum psicólogos formados não terem
o domínio da língua de sinais e conhecimento da cultura desses indivíduos. Essa limitação de
comunicação do psicólogo, possivelmente dificultará o acesso aos serviços psicológicos de um
número expressivo de pessoas, já que de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2010), há no Brasil, atualmente, cerca de seis milhões de pessoas com
incapacidade de ouvir. Este dado indica a importância e a necessidade de preparação e
capacitação de todos os profissionais da saúde para o atendimento eficaz desse público.

Muitos profissionais estão cientes das dificuldades ao prestar um serviço de assistência


ao paciente surdo, devido essa barreira da comunicação. Mesmo utilizando gestos ou sinais que
esperam que os surdos conheçam, estes são considerados, muitas vezes, não aplicáveis para a
comunidade surda. (CARDOSO; RODRIGUES; BACHION, 2006).

A comunicação é, sem dúvida, o eixo da vida de um indivíduo que possui direitos de


voz, em todas as formas e manifestações. Além disso, o trato entre psicólogos e pacientes surdos
ocorreria em sigilo se a língua fosse aprendida pelo profissional. O paciente surdo também sofre
com transtornos, depressão, problemas familiares, ansiedade e deve ter o direito de se
comunicar de maneira plena e direta com o seu psicoterapeuta. (SILVA; CARMO, 2016).

A impossibilidade dessa comunicação direta é sanada com um intérprete no contexto da


atenção psicológica, o que indica a inclusão de uma terceira pessoa na relação. Isso pode afetar
o processo de vinculação, sigilo, confiabilidade e, assim, coloca em dúvida o próprio molde
terapêutico. Além disso, o surdo pode sentir-se inseguro, incomodado, constrangido, invadido
e desconfiado na presença de um intérprete. Esses aspectos podem impossibilitar a busca por
atendimento psicológico. Desse modo, o psicólogo pode se deparar com muitas implicações
éticas que podem impactar diretamente na demanda do paciente, fazendo-se necessário a
comunicação em LBS, pelo psicólogo. (SILVA; CARMO, 2016).
11

É importante destacar que o estudo de uma língua implica, de certa maneira, descobrir
um novo mundo e, deste modo, ter flexibilidade para enxergar as individualidades e
conhecimentos. Assim, conhecer uma língua não é exclusivamente uma lista de palavras e
frases em comum, mas sim uma postura de enxergar o mundo de maneira grandiosa, acolhendo
o outro para que ele possa ser visto com um olhar distinto, o olhar do outro, o olhar da pessoa
surda. (GOÉS, 2012). Sendo assim, quando se estuda uma língua, se exige amor e implicação,
uma vez que fazer o movimento de instruir-se em Libras é uma admirável forma de conhecer
outras relações, de edificar outras identidades e reafirmar as diferenças.

Portanto, a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS, 2016)


que foi fundada 1987, e completará, em 2021, 34 anos de existência, é uma entidade
filantrópica, sem fins lucrativos, que atende a comunidade brasileira com cursos de forma a
englobar pessoas surdas, professores de libras, familiares, entre outros profissionais da área.
Muitos desses cursos são gratuitos para que atinja grande parte da população menos favorecida.
Dessa forma, a sociedade assim como os psicólogos podem ter essa formação ou buscar
aperfeiçoamento para uma comunicação eficaz com os surdos.

Destaca-se o direito de pessoas surdas a acessarem todos os dispositivos de saúde,


porém, estes enfrentam dificuldades em se fazerem compreendidos pelos profissionais. Sendo
assim, faz-se necessário atentar-se para esse público, pois, também, carece de acompanhamento
e apoio no decorrer de seu desenvolvimento biopsicossocial. (BIANCHETTI, 1998).

Nesse sentido, a formação do psicólogo em Libras é mais que a possibilidade de se


comunicar com o indivíduo com deficiência auditiva, é acolhê-lo com empatia e, assim,
possibilitar o atendimento psicológico inclusivo.
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4 PSICOTERAPIA INCLUSIVA DANDO VOZ AO SILENCIADO

A terapia da fala surgiu com a ideia de que o indivíduo com deficiência auditiva deveria
ser enquadrado ao modelo ouvinte (ler e escrever). Os surdos eram considerados
impossibilitados e sofriam com esses e muitos outros julgamentos do passado. Era dito que esse
grupo nunca alcançaria êxito profissional, intelectual ou pessoal, em vários âmbitos sociais,
como, por exemplo, conseguir um bom emprego, ser independente, ter relacionamentos,
estudar, viver e ter acesso a uma psicoterapia. Por isso, é importante destacar a importância do
psicólogo saber libras. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA [CFP], 2009).

De acordo com Oliveira (2014), a psicologia faz o uso da escuta, como um dos principais
recursos no seu trabalho e quando se trata as pessoas surdas, a Libras é a comunicação que
ocorre na modalidade visual. Sendo assim, essa escuta ganhará a fala através de sinais, novas
dimensões que demandam diferentes formas de compreensão no campo da psicoterapia.

Dentro desse contexto o psicólogo precisará estar qualificado em libras para a realização
do atendimento. Nunes et al (2018) segue na mesma linha e pensamento de Oliveira (2014) ao
pontuar a importância de o profissional da psicologia estar habilitado em libras para viabilizar
a comunicação com os surdos, o que trará enormes benefícios práticos. E quando se fala no
processo psicoterápico com os surdos, o psicólogo precisa se atentar para os desafios e as
motivações envolvidas, nesta prática, e manter o interesse por essa demanda que precisa de um
olhar mais inclusivo.

Para Buzar (2015), o sofrimento psíquico das pessoas com deficiência auditiva pode ser
diminuído quando houver a escuta por intermédio da Libras, podendo ajudar no
desenvolvimento emocional dos surdos. Destaca que a psicoterapia é fundamental na promoção
do holding, que irá cuidar e favorecer o modelo psicoterápico além de uma comunicação mais
afetiva. Considera o processo da psicoterapia como favorecedor de uma via de promoção ao
sujeito surdo, no qual a comunicação pode diminuir seu sofrimento psíquico.

Mesmo diante de tantos apontamentos mostrando a importância do atendimento


psicológico para os surdos, percebe-se que a comunicação ainda é uma barreira pela falta de
preparo dos profissionais da saúde. Oliveira et al. (2019) fazem uma reflexão que apesar das
políticas públicas planejadas pelos serviços de saúde, essa comunicação faz parte de iniciativas
individuais dos profissionais que, muitas vezes, se interessam por essa população por conta de
alguma vivência com algum familiar surdo ou por motivos bem subjetivos. E com isso a
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comunidade surda, na sua maioria, acaba perdendo, pois, ainda se percebe que o atendimento
aos surdos é um processo em construção e, portanto, com muitas deficiências.

Partindo dessa premissa Masutti (2007), afirma que as línguas são elementos de poder,
e quando essas diferenças são ligadas a ideia da semelhança se desfaz forçando seus locutores
a repensarem na condição do outro. De forma mais específica, as diferenças mostram
identidades, estas por sua vez se organizam em grupos que reúnem e estabelecem em uma
reação de pertença.

Sendo um processo de desconstrução que o olhar do surdo incide sobre agir e pensar,
estabelecendo a língua de sinais como identidade de um grupo, mas também como uma alerta
de que há sociedade excludente, que se acovarda no discurso das alteridades (a oralização do
português) de seguir o curso de evolução da história, o discurso hegemônico.

Sendo assim, a maneira que o surdo olha pede traduções culturais, que se tornam
situações em que a conexão e encontro com o outro se dá a relação. A poesia do silêncio que é
um, silêncio estereotipado que se abriu na ausência de fala ou mudez, mas aquele silêncio que
imprime uma potência de sentidos incomum ao olhar requer sofisticadas e complexas traduções.
A interpretação, a passagem do som para o olhar e do olhar para o som, exige a leitura visual e
a escrita do movimento como parte de um projeto de desconstrução que prolonga o conceito de
escrita. (MASUTTI, 2007).

Diante disso, algumas pesquisas buscaram avaliar esse processo de acessibilidade do


surdo aos serviços de saúde mental, assim como as barreiras encontradas pelos profissionais
psicólogos. Além disso, investigaram as estratégias adotadas, nos atendimentos psicológicos.

O estudo de Oliveira et al. (2012), teve como objetivo avaliar as estratégias utilizadas
pelos psicólogos no atendimento a pessoa com deficiência auditiva. Participaram deste estudo
20 psicólogos que responderam um questionário. Os resultados indicaram que a maioria dos
psicólogos que atenderam surdos usaram o intérprete nos atendimentos, por não saberem
Libras. Concluíram que é necessário a formação em Libras para atendimento a este público de
forma mais adequada e eficaz, na medida em que constataram que a adesão ao tratamento
psicológico é baixa.

Nessa perspectiva a pesquisa de Chaveiro et al. (2010) buscou verificar como ocorre a
comunicação dos profissionais da saúde com a pessoa surda e pontuar os recursos de
relacionamento. A amostra foi composta por sete profissionais da saúde, sendo um dentista,
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dois fonoaudiólogos, dois fisioterapeutas e dois psicólogos, com idades variando de 33 a 55


anos. Para a coleta dos dados foi feita uma entrevista de maneira semiestruturada.

Os resultados foram agrupados em duas categorias temáticas: Comunicação entre


profissionais da saúde e pessoas surdas que utilizam a Língua de Sinais, e os recursos de
relacionamento com a pessoa surda. Observaram a importância da LIBRAS como instrumento
no atendimento do surdo. E como recurso destacaram o uso do tradutor intérprete da língua de
sinais. Segundo relatos dos participantes, a presença do intérprete é importante, mas não deixa
de ser uma variável que interfere na relação terapêutica e pode desencadear certo
constrangimento aos envolvidos. Destacam ainda as questões éticas de confidencialidade que o
tradutor intérprete deve respeitar e, ainda, conseguir traduzir exatamente o que a pessoa surda
está comunicando. (CHAVEIRO et al., 2010).

Os autores supracitados, averiguaram que os profissionais da saúde precisam aprender


LIBRAS para atender esse público e, desta forma, conseguirem compreender as
particularidades da língua e cultura desta comunidade. Apontaram, ainda, a importância da
capacitação em L. S. nos cursos de graduação. Os dados indicaram que a comunicação verbal
adotada pelos profissionais da saúde não é adequada para o estabelecimento do vínculo, o que
pode levar a diagnóstico equivocado da patologia e consequentemente ao tratamento
inadequado. Concluíram que o atendimento à pessoa surda, ainda é um grande desafio para os
profissionais da saúde e para o próprio surdo.

Casali (2012) trouxe resultados semelhantes procurando entender como é realizado os


atendimentos dos surdos, pelo psicólogo, nos serviços de saúde. Essa pesquisa teve como
objetivo identificar a acessibilidade do surdo aos atendimentos psicológicos, tempo de duração
da sessão, frequência, local de atendimento, as estratégias e recursos utilizados procurando
reconhecer as potencialidades e fraquezas do atendimento psicológico do paciente surdo. Para
tanto, participaram 3 Coordenadores da Atenção Básica do município de Itajaí, a coordenadora
de Saúde Mental e 6 psicólogos que já atenderam ou atendem os surdos no SUS. As
informações foram coletadas na entrevista através de gravação.

Constatou-se que a maioria dos atendimentos psicológicos foram triagens e avaliações


psicológicas. Já as dificuldades encontradas, durante os atendimentos, a maioria estava
relacionada a comunicação e interpretação. As estratégias usadas pelos psicólogos foram a
comunicação com o paciente em libras, uso de intérpretes ou mediação de parentes. As
abordagens empregadas foram a psicoterapia corporal Reichiana, a Sistêmica, a Cognitivo
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Comportamental, a Humanista e Psicoterapia Breve, as mesmas utilizadas para os ouvintes.


Essa pesquisa possibilitou refletir que enquanto não houver profissionais capacitados em
Libras, o intérprete será fundamental para que haja essa comunicação. Porém, alerta que a
adoção dele é de forma emergencial para que os atendimentos ocorram. Sendo assim, aponta a
importância do psicólogo saber Libras para viabilizar a comunicação no atendimento do surdo,
bem como ter formação na área de surdez para que possa ter uma compreensão mais ampla da
cultura e língua. (CASALI, 2012).

Segundo Santos e Assis (2015) por conta da falta de profissionais qualificados para
atender, pessoas com deficiência auditiva estas são excluídas do atendimento clínico
psicológico. Para entender melhor essas dificuldades, fez entrevistas com seis psicólogos que
atuavam no contexto hospitalar, sendo cinco do sexo feminino e um masculino, de distintas
abordagens de intervenção psicoterapêutica: duas com orientações Reichiana, três da Gestalt
terapia e uma da Cognitivo Comportamental.

Constatou que os profissionais entrevistados desconhecem, apesar de tantos anos de


profissão, noções básicas relativas ao atendimento a pessoa com deficiência auditiva. Assim,
constataram que na graduação houve uma capacitação precária para o atendimento deste
público, falta de interesse na formação em libras por conta do tempo, falta de conhecimento de
profissionais qualificados para encaminhamentos e desqualificação profissional.

De acordo com Santos et al. (2021), quatro estudantes do curso de Psicologia foram
entrevistados por dois psicólogos de uma instituição pública e dois de uma instituição particular.
Buscaram investigar a experiência de atender pessoas surdas durante a formação acadêmica.
Os participantes afirmaram não ter atendido pessoas surdas durante a graduação, nas
instituições educacionais. Alegaram não saber como atender esse público, mas apontaram que
poderiam usar estratégias como a escrita para viabilizar a comunicação e, ainda, encaminhar
para um profissional capacitado. Os dados indicaram que a falta da obrigatoriedade de cursar a
disciplina de libras, na graduação, impacta na qualificação do psicólogo para atender os surdos.
Além disso, constataram que a procura pelos serviços psicológicos ofertados pelas instituições
de ensino superior, pela população surda, é escassa.

A pesquisa de Korndorfer e Mall Man (2020) teve como objetivo avaliar o atendimento
psicológico dos surdos na cidade de Curitiba, promover uma reflexão sobre a formação dos
psicólogos que atendem os surdos, verificar as estratégias usadas e também a adoção de libras
para atender este público e averiguar limitações e possibilidades das abordagens no atendimento
16

psicológico do surdo. Os dados foram coletados através de entrevistas semiestruturada, e foram


entrevistados 5 psicólogos com mais de três anos de atuação, nas abordagens Sistêmica,
Psicanalítica e Junguiana. A pesquisa identificou que a maioria dos participantes não cursou
libras na graduação, porém, todos atuam junto à comunidade surda. Contudo, ressaltam que a
presença do intérprete no atendimento clínico, para alguns surdos, traz constrangimentos, pois,
a confiabilidade passará antes pelo intérprete antes de chegar ao psicoterapeuta e, isto, pode
gerar uma descontinuidade no atendimento. Constataram também que conhecer a cultura e a
história da comunidade surda é importante para um atendimento psicológico de qualidade.

O estudo de Cruz et al. (2021), teve como objetivo verificar as estratégias utilizadas na
escuta da subjetividade do surdo, no processo de psicoterapia. Constataram escassez de
informações e literatura sobre o tema, assim como instrumentos adotados no manejo clínico
dificultando a intervenção dos profissionais psicólogos e a busca pelo atendimento psicológico
por parte da comunidade surda. Concluíram que o acesso inclusivo dos surdos aos dispositivos
de saúde ainda é limitado por conta do despreparo dos profissionais, por não terem formação
em Libras e pela falta de intérprete para o cliente.

Nessa direção, Fortes (2012) buscou investigar a percepção de profissionais ouvintes da


área da saúde e dos sujeitos surdos em relação a estratégias utilizadas durante o atendimento.
Participaram 43 profissionais de saúde, que atuam em um hospital universitário de uma cidade
do interior do Rio Grande do Sul (RS), e por 24 sujeitos surdos que são estudantes e
profissionais da educação de uma escola especializada para os surdos e de organizações federais
de ensino superior de duas cidades do estado do Rio Grande do Sul. Para coleta de dados foram
aplicados dois questionários ambos em português, um para os profissionais de saúde ouvintes
e o outro para os surdos. Os surdos foram auxiliados pela pesquisadora que é fluente em Língua
de Sinais e de duas intérpretes que faziam a tradução das perguntas escritas favorecendo a
compreensão. Observaram que a estratégia mais utilizada pelos surdos é a escrita em português,
pois, esta facilita o entendimento. Já os profissionais de saúde apontaram que a mimica- gestos
facilitam a compreensão durante a comunicação. Com relação aos dificultadores da
compreensão das informações, os profissionais de saúde destacaram a Libras e os surdos a
língua oral (a fala). Os surdos apontaram como estratégias mais adequadas e que promovem
autonomia são a escrita em português e o intérprete, já os profissionais ouvintes pontuaram o
uso de prótese auditiva. Observa-se divergências entre os profissionais de saúde e os surdos,
participantes dessa pesquisa, quanto as estratégias de comunicação.
17

A pesquisa de Gonzales e Ribeiro (2018) objetivou entender como ocorre o atendimento


psicológico dos surdos, o quanto os psicólogos sabem Libras, investigar se o curso de graduação
em psicologia oferece formação ao graduando para atender esse público, e, finalmente, verificar
a percepção dos surdos sobre o atendimento psicológico e a simbolização do mesmo. A coleta
de dados foi feita por meio de um questionário para os deficientes auditivos e realizada uma
entrevista com os psicólogos que atuam na clínica psicológica atendendo surdos e ouvintes. A
partir dos resultados verificaram que a comunicação entre os surdos e os psicólogos é o
dificultador. Quanto aos psicólogos evidenciou-se a falta de formação adequada para atender
esse público, apontando que durante a graduação não houve este preparo. Diante disso,
concluiu-se que é importante a implementação de pesquisas que avaliem as solicitações dos
surdos e, ainda, a necessidade da preparação e qualificação dos profissionais psicólogos,
iniciada na graduação, progressiva e contínua, relativa à Língua de Sinais, para o atendimento
dos surdos.

Na pesquisa realizada por Silva e Carmo (2016), o objetivo foi avaliar os desafios
pertinentes ao atendimento psicológico a surdos que usam, para se comunicarem, a LBS.
Participaram da pesquisa psicólogos e pessoas surdas que utilizam a LBS. Para coleta de dados
foram realizadas duas entrevistas, uma em português e outra em LBS. Constataram que o acesso
ao atendimento psicológico, pelo surdo, ainda tem limitações importantes, assim como os
encontrados na sociedade que limitam sua autonomia. Apontaram que o uso do intérprete é
necessário, porém, traz interferências importantes que podem impactar no vínculo terapêutico
e possíveis implicações éticas. Destacaram a necessidade do psicólogo saber Libras para
garantir o atendimento adequado ao surdo, bem como a participação na discussão e formulação
de políticas públicas que garantem o atendimento psicológico desta população. O
desconhecimento da Língua de Sinais tem contribuído para o sofrimento psíquico do surdo,
devido às limitações impostas pela dificuldade na comunicação.
18

5 OBJETIVOS

5.1 Objetivo geral

Compreender a importância da formação em libras para o profissional de psicologia,


tendo em vista o atendimento à pessoa com deficiência auditiva, de forma integral, e avaliar o
quanto os serviços em saúde mental são acessíveis a essa população, que se comunica por meio
da língua de sinais, bem como as dificuldades e limitações encontradas pelo psicólogo.

5.2 Objetivos específicos

a) Verificar as estratégias de comunicação utilizadas pelos psicólogos no atendimento ao surdo;

b) Averiguar se o psicólogo tem formação ou capacitação para atendimento da pessoa surda.

c) Analisar se o atendimento psicológico é inclusivo, a partir da percepção do psicólogo.

5.3 Hipótese

Há uma limitação no acesso ao atendimento psicológico das pessoas com deficiência


auditiva, devido ao domínio da língua de sinais pelo profissional psicólogo, impactando na
garantia de inclusão desses indivíduos.
19

6 MÉTODO

Foi uma pesquisa de campo com análise quantitativa e qualitativa dos dados coletados
por meio de entrevista semiestruturada. Tal metodologia está embasada na construção de dados
organizados a partir de entrevistas, com ênfase para análise dos significados produzidos pelos
participantes acerca dos processos de inclusão do surdo para atendimentos psicoterapêuticos e
seus desafios.
A entrevista foi pautada em um roteiro geral para orientar a pesquisa. No entanto, a
atuação da entrevistadora não ficou restrita as perguntas pré-estabelecidas (MONZANI, 2004).
Sendo assim, abrangeu, também, o próprio contato com o entrevistado possibilitando ampliar
reflexões relacionadas ao tema de pesquisa.

6.1 Participantes

A pesquisa foi realizada com 10 psicólogos sendo 8 do sexo feminino e 2 do masculino,


com idade mínima de 29 anos e máxima de 53 anos. Com relação ao tempo de graduação em
psicologia variou de 4 anos a 25 anos. Já os que fizeram alguma especialização ou pós
graduação, apenas um dos entrevistados não fez, seis cursaram pós graduação latu sensu, dois
fizeram mestrado e um tem pós doutorado. Destes, 60% trabalham em clínica particular, 20%
na área da saúde (Unidade Básica de Saúde) e 20% leciona nas instituições (Universidade
Particular e Academia da Força Aérea de Pirassununga).

Quadro 1- Identificação dos psicólogos entrevistados

Tempo que Especialização/ Local de


Entrevistado(a): Sexo Idade
está formado Pós graduação trabalho
Entrevistada 1 Feminino 32 5 Latu sensu Clínica
Entrevistada 2 Feminino 34 7 Clínica
Entrevistada 3 Feminino 36 7 Latu sensu Clínica
Entrevistada 4 Feminino 29 4 Latu sensu Clínica
Entrevistado 5 Masculino 53 25 Pós Doutorado Institucional
Entrevistada 6 Feminino 36 12 Latu sensu Saúde
Entrevistada 7 Feminino 31 7 Latu sensu Saúde
Entrevistada 8 Feminino 50 7 Mestrado Institucional
Entrevistado 9 Masculino 42 10 Mestrado Clínica
Entrevistada 10 Feminino 35 9 Latu sensu Clínica
Fonte: a autora
20

6.2 Instrumentos

O instrumento utilizado foi um roteiro de entrevista elaborado pela pesquisadora


(Apêndice A), de modo a auxiliar no direcionamento da conversa e obtenção dos dados. Esse
roteiro é composto por questões abertas e fechadas relativas a dados de identificação, formação,
utilização da língua de sinais nos atendimentos aos surdos, capacitação e preparação para
atender essa população, dificuldades, limitações e a percepção dos psicólogos sobre o acesso
inclusivo aos cuidados em saúde mental.

6.3 Procedimento

Após aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa das


Faculdades Integradas Einstein de Limeira (CEP/FIEL), sob o parecer no. 4.703.303 e CAAE
no. 45689421.1.0000.5424 (Anexo A), a pesquisadora entrou em contato com os profissionais
psicólogos que atuam em consultórios, clínicas e UBS, através dos aplicativos de Whatsapp,
Facebook e Instagram, para apresentar a pesquisa, os objetivos, procedimentos e o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Apêndice B) e convidá-los para participarem deste
estudo.

Após o aceite em participar da pesquisa o TCLE foi enviado no e-mail do voluntário


para que fosse assinado e devolvido a pesquisadora por e-mail. Em seguida, agendou-se um
encontro entre pesquisadora e participante via videoconferência pelo aplicativo Google meet,
em dia e horário escolhido pelo voluntário. A entrevista teve duração de no máximo 50 minutos.

É importante destacar que os dados de identificação do sujeito foram omitidos,


garantindo, desta forma, o sigilo de seus dados pessoais assim como da instituição na qual
trabalha. Sendo assim, apenas os resultados obtidos por meio da entrevista serão divulgados
nos meios científicos.

Durante os encontros, a pesquisadora priorizou o bem-estar do participante, oferecendo


espaço para que pudesse expressar dúvidas, inseguranças ou desconforto a respeito da pesquisa,
podendo desistir da participação a qualquer momento, sem nenhum dano ou prejuízo. A
pesquisadora também garantiu a privacidade e a confidencialidade das informações fornecidas,
uma vez que os encontros não foram gravados, mas, registrados por meio de anotações pontuais
e necessárias para a compreensão das informações fornecidas pelo participante.
21

Após as entrevistas, a pesquisadora realizou um apanhado dos dados e de suas


percepções pessoais dos relatos. Posteriormente os dados foram tabulados e analisados tendo
como base a literatura científica.
22

7 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para atender os objetivos desta pesquisa, os dados obtidos por meio das entrevistas
foram inseridos em uma planilha para facilitar a análise de conteúdo das respostas dos
participantes. Dessa forma, os conteúdos das entrevistas foram agrupados em categorias e
avaliado a prevalência e frequência deles. Esses resultados estão apresentados nos gráficos, a
seguir, e a discussão pautada na literatura e pesquisas destacadas na fundamentação teórica
deste trabalho.

No Gráfico 1 pode-se averiguar o conhecimento relativo a Libras e se tiveram acesso a


esta língua durante a graduação em psicologia.

Gráfico 1: Resultados relativos ao conhecimento de libras e ter cursado libras na graduação de psicologia

Você conhece libras? Sua faculdade


ofereceu Curso de
libras?
SIM
50%

NÃO SIM
10% 90%

NÃO
40%
NÃO SIM SIM NÃO

Fonte: a autora

Conforme o gráfico acima, em relação ao conhecimento de libras, apenas um


desconhece essa língua, enquanto 90% disseram que conhecem. Sendo assim, segundo
Vygotsky (1998), a conquista dessa língua é de extrema importância para o aumento de uma
identidade cultural, desenvolvimento intelectual, social e emocional do deficiente auditivo.

Dos 90% que conhecem Libras, 40% informaram, ainda, que durante a graduação não
tiveram a disciplina Libras e isto dificultou despertar algum interesse e olhar para esse público,
porém, 50% dos voluntários estudaram Libras na graduação, como matéria optativa. De acordo
com eles, o fato de aprender Libras na faculdade despertou e aumentou o interesse em
23

aprofundarem o conhecimento da língua e também pelo público que a utiliza. Esses dados são
confirmados por Nascimento, Torres (2020) e Freitas (2019) ao destacarem que disciplina de
formação em Libras, é oferecida em diversos cursos de psicologia no Brasil, porém, é optativa
e ocorre em um semestre. Isso, aponta para um cenário de defasagem no ensino dessa língua, o
repertório insuficiente, dos psicólogos, para o atendimento e interesse dessa clientela. Nesse
sentido, os resultados da pesquisa de Santos e Assis (2015), indicaram que a capacitação em
Libras, na graduação, é precária para o atendimento dos surdos, que há uma falta de interesse
na formação em libras por conta do tempo, falta de conhecimento de profissionais qualificados
para encaminhamentos e desqualificação profissional.

Quanto a formação do psicólogo, a Resolução de nº 5, de 15 de março de 2011


(BRASIL, 2011) institui para os cursos de graduação em psicologia a formação em libras, nas
diretrizes curriculares nacionais, destacando as normas para uma formação complementar dos
discentes de psicologia que deve constar no projeto pedagógico. Porém, não há uma
especificação relativa a formação do psicólogo para um atendimento inclusivo do surdo. Isso é
confirmado pelos dados do estudo de Santos et al. (2021) ao indicarem que a falta da
obrigatoriedade de cursar a disciplina de libras, na graduação, impacta na qualificação do
psicólogo para atender os surdos.

Nesse sentido, a pesquisa korndorf (2020) identificou que a maioria dos participantes
não cursou libras na graduação, sendo confirmado pelos achados de Gonzales e Ribeiro (2018)
que evidenciaram a falta de formação adequada, durante a graduação, apontando necessidade
da preparação e qualificação dos profissionais psicólogos, iniciada na graduação, progressiva e
contínua, relativa à Língua de Sinais, para o atendimento dos surdos. Chaveiro et al. (2010),
apontaram para a importância da capacitação em Libras nos cursos de graduação.

Ainda investigando sobre a preparação dos entrevistados para atender de forma


adequada as pessoas surdas, o Gráfico 2 mostra quantos fizeram algum curso para o manejo da
demanda deste público.
24

Gráfico 2: Você fez alguma formação ou capacitação para atender pessoas surdas?

60%
; 50% ; 50%
50%

40%

30%

20%

10%

0%

SIM NÃO

Fonte: a autora

Em relação a qualificação do psicólogo para atender pessoas surdas 50% dos


participantes não fizeram nenhum curso preparatório, enquanto os demais buscaram se
especializar para acolher a demanda desta população. Quanto aos psicólogos que evidenciaram
a falta de formação adequada para atender esse público, durante a graduação, percebe-se que é
de extrema importância a necessidade da preparação e qualificação dos psicólogos, iniciadas
na graduação de maneira progressiva e contínua, para o atendimento dos surdos segundo
destaca Gonzales e Ribeiro (2018). No que diz respeito a formação em Libras, os voluntários
destacaram que é uma língua muito difícil de ser aprendida. Cardoso, Rodrigues e Bachion
(2006) apontam essa dificuldade dos profissionais na prestação do serviço de assistência ao
surdo, devido à dificuldade na comunicação. Pontuam que mesmo o psicólogo utilizando gestos
ou sinais, a compreensão é difícil, pois, não é uma língua simples, exigindo dedicação e
convivência com essa comunidade. Sendo assim, Pereira e Lourenço (2017) advertem que os
psicólogos precisam ser conscientes de seus deveres profissionais com todos, sem distinção,
enfrentando suas próprias inseguranças, limitações e até mesmo conformismos.

Com relação a motivação do profissional de psicologia se especializar para atender essa


comunidade, observa-se que o fato do aluno de psicologia não ter acesso a disciplina de Libras
na graduação, é um dificultador na busca pela formação continuada e qualificação profissional.
Sabe-se que a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS, 2016),
oferece cursos, que possibilitem essa formação e aperfeiçoamento para uma comunicação eficaz
com os surdos. Porém, vale destacar que a falta de incentivo para uma preparação e olhar
25

específico para esse público, na faculdade, faz com que esse desinteresse perpetue na atuação
profissional e, assim, a manutenção da desqualificação para o acolhimento dos surdos.

Dentre os que não tem formação, um entrevistado relatou que “não tinha parado pra
pensar nesse público, me sinto envergonhado de não saber me comunicar e atender essa
demanda.” Outro voluntário disse: “infelizmente é pouca procura para este atendimento
fazendo com que a maioria dos psicólogos não se interessem em se especializar na língua de
sinais.” Muitos profissionais estão cientes das dificuldades ao prestar um serviço de assistência
ao paciente surdo (CARDOSO; RODRIGUES; BACHION, 2006). Casali (2012) aponta que as
dificuldades encontradas estavam relacionadas a comunicação e interpretação.

Aqueles que fizeram capacitação em libras seja na graduação, em minicursos, a


distância, em pós-graduação e até cursos avançados, e tiveram contato com os surdos, isto,
colaborou, ainda mais, para o aprendizado. Convergindo com Nunes et al (2018) e Oliveira et
al. (2012) ao pontuarem a importância de o profissional da psicologia estar habilitado em libras
para viabilizar a comunicação com os surdos e oferecer um atendimento adequado e eficaz.
Concordando e complementando Silva e Carmo (2016) salientam para a importância da
participação na discussão e formulação de políticas públicas que garantem o atendimento
psicológico desta população.

Casali (2012) destaca a relevância da formação na área de surdez para que o psicólogo
possa ter uma compreensão mais ampla da cultura e língua. Nesse sentido, Fernandes (2019)
salienta que uma forma de garantir alguns direitos dos surdos é por meio da capacitação dos
profissionais, e, assim, possibilitará a acessibilidade e inclusão deste público.

Para entender o quanto esse direito do surdo de ter acesso aos serviços psicológicos, de
maneira adequada, está sendo respeitado, investigou-se como isto está ocorrendo, ou seja, quais
estratégias adotadas pelos voluntários desta pesquisa. Os dados estão dispostos no Gráfico 3.
26

Gráfico 3- Já atendeu ou atende pessoas surdas?

; 60%

; 40%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%


NÃO SIM

Fonte: a autora

Com relação ao questionamento relativo ao atendimento psicológico de pessoas com


deficiência auditiva, 40% já atenderam e 60% dos entrevistados informaram que não atenderam
surdos. Destacaram que por não terem formação em Língua de Sinais fica muito difícil a
comunicação, pois, a Libras não se aprende rapidamente, requer muita prática. Isso encontra
respaldo em Silva (2019) ao alertar que é muito comum psicólogos formados não terem o
domínio da língua de sinais e conhecimento da cultura desses indivíduos. Contudo, essa
limitação de comunicação do psicólogo, possivelmente dificultará o acesso aos serviços
psicológicos. Pontuam que os psicólogos precisam aprender libras para atender esse público e
assim compreenderem as particularidades da língua e cultura da comunidade surda.

Dentre os entrevistados que não atenderam pessoas com deficiência auditiva, uma
psicóloga disse que “se algum surdo procurar meu atendimento, faço encaminhamento ou tento
atender com a ajuda de parentes do surdo.” Segundo o estudo de Oliveira et al. (2012), dentre
as estratégias utilizadas pelos psicólogos no atendimento a pessoa com deficiência auditiva,
está o intérprete.

Quanto a busca pelos serviços psicológicos, alguns voluntários desta pesquisa, relataram
que a procura, por parte dos surdos, é escassa. Apontaram, também, que se houvesse procura
de seus serviços “procurariam atendê-los utilizando a leitura labial, a escrita, ajuda de parentes
e o intérprete, mas, este em último caso, devido ao sigilo e o vínculo com o paciente.” Isto
coincide com os dados da pesquisa de Fortes (2012) relativos as estratégias mais utilizadas
durante os atendimentos encontram-se a mímica/gestos, o intérprete e a escrita em português.
27

Quanto a adoção do intérprete, os relatos dos psicólogos reconhecem a importância do


mesmo, mas advertem para o fato do atendimento psicológico trabalhar o sigilo, vínculo e o
acolhimento de maneira integral, a presença do intérprete poderia interferir nessa conexão
paciente e terapeuta. Isso encontra respaldo em Korndorfer e Mall Man (2020) ao constatar que,
para alguns surdos, a presença dessa terceira pessoa traz constrangimentos, pois, a
confiabilidade passará primeiro pelo intérprete antes de chegar ao psicoterapeuta gerando uma
descontinuidade no atendimento. Concordando e complementando Silva e Carmo (2016)
destacam que o intérprete no atendimento pode deixar o paciente inseguro, incomodado,
constrangido e invadido. Dessa forma, poderia distanciar esses pacientes, apontando a
importância do profissional saber se comunicar através da Libras.

Nessa direção, Cardoso, Rodrigues e Bachion (2006) defendem o atendimento


psicológico sem o intérprete e a manutenção do sigilo, para tanto, o profissional precisa
aprender Libras. Entretanto, para garantir o acesso ao serviço psicológico, segundo o relato de
um dos participantes “a presença do intérprete quando o profissional não está capacitado é
necessário.” Nesse sentido, a pesquisa de Chaveiro et al. (2010) destaca que o intérprete é um
dos recursos importantes, mas não deixa de ser uma variável que pode interferir na relação
terapêutica e salienta a necessidade do uso da Libras,

Dos psicólogos entrevistados 40% atendem ou já atenderam pessoas surdas sem a


utilização do intérprete. Sendo assim, a ferramenta utilizada na sessão foi a Libras, aprendida
durante a faculdade e/ou por meio de cursos de capacitação. Uma das voluntárias desta pesquisa
informou que “90% de seus clientes são surdos e quando sabemos a língua de sinais o surdo se
sente mais respeitado e acolhido.” Tal relato é confirmado por Cardoso, Rodrigues e Bachion
(2006) ao advertirem que a comunicação é, sem dúvida, o eixo da vida na qual o indivíduo
possui direitos de voz. Pontuam que o paciente surdo também sofre com transtornos, depressão,
problemas familiares, ansiedade e deve ter o direito de se comunicar de maneira plena e direta
com seu psicoterapeuta.

Quanto ao questionamento sobre a percepção dos psicólogos entrevistados, nesta


pesquisa, relativo ao acesso inclusivo do surdo aos serviços psicológicos, os resultados podem
ser conferidos no Gráfico 4.
28

Gráfico 4: Considera que o surdo tem acesso inclusivo?

SIM
0%

NÃO
100%

SIM NÃO

Fonte: a autora

A resposta dos participantes foi negativa. Apontaram que os surdos não têm acesso aos
atendimentos na área da saúde, de maneira integral, devido à falta de formação dos profissionais
para atendê-los e a baixa procura deste público. Destacam, também, que esse público, do ponto
de vista mercadológico, não é atraente. Santos e Assis (2015) chama atenção para a falta de
profissionais psicólogos qualificados para atender pessoas com deficiência auditiva, excluindo-
os do atendimento psicológico. Pontuam que a aproximação desse público ocorrerá quando o
psicólogo estiver capacitado em Libras. Bianchetti (1998) destaca o direito de pessoas surdas
acessarem todos os dispositivos de saúde, pois enfrentam dificuldades de serem compreendidos
pelos profissionais, sendo necessário olhar para este público considerando seu desenvolvimento
biopsicossocial.

Na entrevista uma das psicólogas que atende esse público relatou o quanto o surdo
precisa desta escuta qualificada, pois, traz muitas emoções no campo social, trabalho e
relacionamento. Conta que um de seus pacientes relatou “como é difícil trabalhar em um local
onde ninguém se comunica com ele.” Disse que, geralmente, não é solicitado para realizar
atividades, mesmo estando sem nenhum afazer, ficando isolado, porém, é convocado para
fotografias nas quais faz um sinal em Libras, “como se todos no serviço se comunicassem em
libras.” Nesse sentido Góes (2012) adverte que, conhecer uma língua não é exclusivamente uma
lista de palavras e frases em comum, mas sim uma postura de enxergar o mundo de maneira
29

grandiosa, acolhendo o outro para que ele possa ser visto com um olhar distinto, o olhar do
outro, o olhar da pessoa surda. Entretanto, Masutti (2007) alerta para uma sociedade excludente,
que se acovarda no discurso das alteridades de seguir o curso de evolução da história, o discurso
hegemônico.

Sobre o atendimento inclusivo, Buzar (2015) pontua que o sofrimento psíquico dos
surdos pode diminuir quando houver a escuta por meio da Libras, podendo ajudar no
desenvolvimento emocional, sendo a psicoterapia fundamental para promoção da saúde. Ao
lado disso, a pesquisa de Korndorfer e Mall Man (2020) constatou a importância do psicólogo
conhecer a cultura e a história da comunidade surda para um atendimento psicológico de
qualidade, confirmado pelo estudo de Casali (2012).

Nunes et al (2018) segue na mesma linha e pensamento de Buzar (2015) ao pontuar a


importância de o profissional da psicologia estar habilitado em libras e, isto, trará enormes
benefícios no processo terapêutico com os surdos. Salienta que cabe ao psicólogo atentar para
os desafios e as motivações envolvidas nessa demanda que precisa de um olhar mais inclusivo.
Nesse sentindo Conselho Regional de Psicologia da 16ª. Região -ES (CRP – 16, 2015), se
articula em favor da comunidade surda, a fim de que haja uma resolução, elaborada pelo CFP,
que garanta a acessibilidade, desta população, aos atendimentos. (CRP-16, 2015). Por isso, o
CFP (2009) destaca a importância do psicólogo saber libras. Para Fernandes (2019), os avanços
nas políticas públicas para os surdos ainda dão passos lentos, atravessam muitas dificuldades
para serem implementados na sociedade, fazendo-se necessárias constantes lutas para que a
comunidade garanta seus direitos.

Nessa perspectiva, Oliveira et al. (2019) chamam a atenção para o fato de que mesmo
havendo políticas públicas planejadas pelos serviços de saúde, essa comunicação faz parte de
iniciativas individuais dos profissionais que, muitas vezes, se interessam por essa população
por conta de alguma vivência com algum familiar surdo ou por motivos bem subjetivos. E com
isso a comunidade surda, na sua maioria, acaba perdendo, pois, ainda se percebe que o
atendimento aos surdos é um processo em construção e, portanto, com muitas deficiências.

Apesar da Lei 8.080/90, art. 5º, inciso III do Decreto 5.626/2005 (BRASIL, 2005),
garantir o direito a saúde para pessoas surdas ou que tenham qualquer perda auditiva, em
diferentes âmbitos, uma entrevistada comenta que “o surdo está longe de ter acesso a saúde”, e
informa que conhece apenas um psiquiatra, em São Paulo, que usa libras no atendimento ao
30

surdo. Bianchetti (1998) destaca que o surdo tem o direito de acessar todos os dispositivos de
saúde, porém, estes enfrentam dificuldades em se fazerem compreendidos pelos profissionais.

Dentro desse contexto Nunes et al (2018) e Oliveira (2014) pontuam a importância de


o profissional da psicologia estar habilitado em libras para viabilizar a comunicação, e manter
o interesse por essa demanda que precisa de um olhar mais inclusivo. Nessa direção o estudo
de Cruz et al. (2021), observou que o acesso inclusivo dos surdos aos dispositivos de saúde
ainda é limitado por conta do despreparo dos profissionais, por não terem formação em Libras
e pela falta de intérprete para o cliente.

Para obter informações mais amplas sobre o tema pesquisado, neste estudo, fez-se uma
questão aberta que permitisse uma reflexão espontânea dos voluntários. Assim ofereceu-se um
espaço aos psicólogos para que pudessem expressar livremente, perguntando quais reflexões
esta temática elicia em você profissional psicólogo?

Os psicólogos destacaram que é um tema pouco discutido, no contexto da psicologia,


mas é necessário falar no momento e no futuro, não somente sobre a língua de sinais, que está
presente em nosso país, em vários ambientes e situações, assim como a pessoa surda. Porém, a
não compreensão da Libras e da cultura da comunidade surda, impossibilita auxiliar, acolher e
participar da vida dessas pessoas, em sua totalidade. Apontaram ainda, que é dever do
psicólogo cuidar da saúde mental de todos, para tanto, precisam estar aptos e preparados para
as diversas demandas que chegam aos serviços de saúde e, desta forma, ser um agente
facilitador. Nessa direção, uma participante relatou que se sente angustiada diante da “pouca
oportunidade do atendimento que os surdos têm na área da saúde.” Complementa dizendo que
se todos os cursos de graduação da área da saúde oferecessem Libras o acesso deste público ao
atendimento “ocorreria de maneira natural.” Tais relatos corroboram os dados de pesquisas e
dos teóricos que apontam a importância da formação e qualificação dos psicólogos e demais
profissionais da saúde, iniciada na graduação, para atendimento eficaz e inclusivo do deficiente
auditivo. (FERREIRA BRITO, 1980; BIANCHETTI, 1998; CFP, 2009; CHAVEIRO et al.,
2010; CASALI, 2012; OLIVEIRA et al., 2012; CRP-16, 2015; BUZAR, 2015; SANTOS;
ASSIS, 2015; NUNES et al, 2018; PEREIRA; LOURENÇO, 2017; GONZALES, 2018;
RIBEIRO 2018; FERNANDES, 2019; KORNDORFER, 2020; MALL MAN, 2020).
31

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho buscou-se compreender como ocorre o acesso dos surdos aos serviços de
atendimento psicológico e o quanto os psicólogos estão qualificados para atender este público.
Além disso, averiguou quais estratégias utilizadas pelos profissionais e de que forma estas
podem impactar no atendimento inclusivo

Os dados obtidos por meio das entrevistas evidenciaram a carência de psicólogos com
formação para atender os surdos, destacando-se a falta de incentivo das faculdades de
psicologia. De acordo com os voluntários desta pesquisa, alguns cursos de psicologia não
oferecem a disciplina Libras e aqueles que ofertam a matéria em suas grades, geralmente, é de
forma optativa. Isso aponta para a necessidade do cumprimento da resolução relativa a
formação do psicólogo (BRASIL, 2011), bem como um posicionamento do CFP, por meio de
resolução que orienta as graduações em psicologia a formação em Libras e, desta forma,
garantir o acesso inclusivo dos surdos aos dispositivos de saúde mental.

Os psicólogos expressaram suas dificuldades, suas motivações frente a prática clínica


com os surdos. Aqueles que atendem esse público, utilizam Libras para se comunicarem com o
paciente. Destacaram a importância dessa comunicação direta, sem a presença do intérprete,
para eficácia do atendimento, estabelecimento e manutenção do vínculo e, desta maneira,
possibilitar melhoras na qualidade de vida dessa população, por meio do acolhimento de sua
demanda.

Ademais, o processo de psicoterapia com o surdo é um processo de inclusão, na medida


que possibilita a ele um espaço que possa chamar de seu, onde possa se expressar. Assim, o uso
da Língua de Sinais pelo psicólogo e o conhecimento da cultura dessa comunidade, ampliam e
permitem a compreensão das informações fornecidas pelo surdo durante os atendimentos.

Além da adoção da Libras, o psicólogo pode utilizar outras estratégias como o intérprete,
a língua portuguesa escrita, entretanto, tais recursos são utilizados quando não há profissional
qualificado e de forma emergencial. Vale lembrar que as dificuldades dos profissionais em
estabelecer comunicação com o surdo podem gerar inseguranças quanto ao diagnóstico e
indicação de tratamento.

Esta pesquisa permitiu constatar que a formação insuficiente dos profissionais de


psicologia para atender os surdos, tem limitado a procura destes pelos serviços de saúde mental.
32

Essa barreira é imposta pela dificuldade na comunicação entre o psicólogo e o surdo. Para que
essa comunicação aconteça é imprescindível que o deficiente auditivo compreenda e seja
compreendido. Só assim, será garantido o acesso igualitário e inclusivo dos surdos.

Espera-se que este trabalho possibilite refletir sobre a importância de garantir ao sujeito
surdo um atendimento psicológico acolhedor e que considere sua singularidade. Aponta, ainda,
para uma prática psicológica que permita o surdo expressar suas angústias, pensamentos,
sentimentos, sintomas e necessidades, enquanto mediadora dos processos psíquicos, que seja
acessível e inclusivo.

Nessa direção, salienta-se que outras pesquisas sejam implementadas com intuito de
despertar o interesse dos psicólogos para atender essa demanda, assim como, o direcionamento
de estudos relativos ao atendimento psicológico deste público, se fazem necessários, já que as
publicações são escassas. Dessa forma, aprimorar o embasamento teórico e prático para um
atendimento psicológico humanizado, empático, singular e ético.
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VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM PSICÓLOGOS

1. Identificação:

Iniciais do nome: Idade: Data de nascimento:

Sexo: Tempo de formação/atuação profissional:


Data da entrevista:

2. Formação complementar:

Especialização ( ) sim ( ) não

Se sim qual?

Pós graduação:

( ) lato sensu

( ) mestrado

( ) doutorado

( ) pós doutorado

Destacar a área de concentração de estudo/ pesquisa da especialização indicada:

3. Qual instituição trabalha?

ROTEIRO DE ENTREVISTA
4.Você conhece Libras? O que ela representa para você?

5. Sua faculdade ofereceu Curso de Libras como disciplina na grade curricular do


curso de psicologia?
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6. Você fez alguma formação ou capacitação para atender pessoas surdas?

7. Já atendeu ou atende pessoas surdas? Quantas? Utilizou a língua brasileira de


sinais ou outras estratégias de comunicação? Quais?

8. Quais desafios, limitações e dificuldades no atendimento do deficiente auditivo?

9. Considera que o surdo tem acesso inclusivo aos cuidados em saúde mental, tanto
nos consultórios psicológicos, clínicas e UBS?

10. Quais reflexões esta temática elicia em você profissional psicólogo?


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APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (1ª via)

Faculdades Integradas Einstein de Limeira – FIEL

Termo de Esclarecimento
Você está sendo convidado(a) a participar, como voluntário(a) da pesquisa “A
TERAPIA NO SILÊNCIO: a importância da formação do psicólogo em libras”, pelas
pesquisadoras responsáveis Maria de Fatima Xavier da Silva e Vilma Maria Alves Guerreiro.
Esta pesquisa é relevante, pois, tem como foco a psicologia inclusiva como importante para
funcionalidade do acompanhamento e acolhimento eficaz da pessoa com deficiência auditiva.
Sendo assim, o objetivo é compreender a importância da formação em libras, para o profissional
de psicologia, tendo em vista o atendimento à pessoa com deficiência auditiva, de forma
integral, e avaliar o quanto os serviços em saúde mental são acessivos a esta população que se
comunica por meio da língua de sinais, assim como, verificar as dificuldades, limitações e
estratégias utilizadas no atendimento do surdo.

Caso você participe, será necessário responder a um roteiro de entrevista com


questões fechadas que você escolherá uma opção e abertas que permite você falar livremente.
Essas questões são relativas a dados de identificação, formação, utilização da língua de sinais
nos atendimentos aos surdos, capacitação e preparação para atender essa população,
dificuldades, limitações e sua percepção sobre o acesso inclusivo aos cuidados em saúde
mental. A entrevista será realizada por meio de videoconferência, via plataforma Google meet,
previamente agendada via telefone, WhatsApp ou e-mail diretamente com a pesquisadora
colaboradora, no dia e horário conveniente a você e a pesquisadora. Essa entrevista deve levar
aproximadamente 50 minutos, e pode ocorrer em mais de um encontro, por videoconferência,
caso seja necessário.

Não será realizado qualquer procedimento invasivo, o desconforto será mínimo e


pode ser minimizado com um intervalo, mas, se você continuar se sentindo desconfortável,
poderá desistir de sua participação sem que sofra nenhum tipo de prejuízo. Não há riscos
previsíveis à sua saúde ou à sua vida. Não há benefícios diretos a você, porém, os dados obtidos
podem contribuir para uma reflexão e percepção da importância de uma psicologia inclusiva
para pessoas surdas, por meio de uma comunicação adequada e direta com elas.

Você poderá obter quaisquer esclarecimentos antes, durante ou após a realização da


pesquisa. Ainda, você poderá não participar da pesquisa ou retirar seu consentimento a qualquer
momento, sem nenhum prejuízo. Por sua participação no estudo, você não receberá qualquer
valor em dinheiro, mas terá a garantia de que todas as despesas necessárias para a realização da
pesquisa, não serão de sua responsabilidade. Seu nome não aparecerá em qualquer etapa da
pesquisa, e caso as informações desta pesquisa sejam utilizadas para divulgação na literatura
científica, os seus dados não serão divulgados, em hipótese alguma, nem o nome da instituição
que você trabalha, garantindo sua segurança e privacidade.

Após ser esclarecido(a) sobre a pesquisa e a sua participação como voluntário(a),


e havendo uma confirmação livre e espontânea em aceitar participar como voluntário(a), você
deverá assinar ao final deste documento, em duas vias. Uma das vias ficará com você e a outra
via permanecerá com a pesquisadora responsável. Em caso de dúvida em relação a esse
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documento, você poderá procurar o Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Integradas
Einstein de Limeira, pelos Tel/Fax-CEP/FIEL (019) 3404-9594 e e-mail cep@einstein-
net.com.br (Rua Jatobá, 200 – Vila Queiroz – 13485-021 – Limeira/SP) e, ainda, você poderá
procurar os pesquisadores responsáveis pela pesquisa profa. Dra. Maria de Fátima Xavier da
Silva por meio do e-mail: fat-xavier@hotmail.com, telefone (19) 99677-3640 e Vilma Maria
Alves Guerreiro (19) 99144-3069, e-mail: vmalves0180@gmail.com.

Termo de consentimento livre, após esclarecimento.

Eu________________________________________________________,
concordo em participar da pesquisa supracitada. Obtive todas as informações necessárias para
decidir conscientemente sobre isso, podendo interromper, a qualquer momento, minha
participação no referido estudo, sem sofrer nenhum prejuízo ou perda. A explicação que recebi
esclarece os riscos e benefícios do estudo. Sei que meu nome não será divulgado, que não terei
despesas e não receberei dinheiro para participar desta pesquisa.

Limeira, _____ de _________________de 2021.

Assinatura do Participante Dra. Maria de Fátima Xavier da Silva


RG: ______________________ Pesquisadora Responsável
CPF:______________________ CPF: 346987791-20

Vilma Maria Alves Guerreiro


Pesquisadora Colaboradora
CPF: 306953498-80
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ANEXO
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