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CURSO DE PSICOLOGIA
O O L H AR F E N O M E N O L Ó G I C O - E X I S T E N C I AL S O B R E O
A D O E C I M E N T O P S Í Q U I C O C O N T E M P O R ÂN E O
Cabo Frio
2020.1
THIANA ANTUNES DE ALMEIDA
20151109421
O O L H AR F E N O M E N O L Ó G I C O - E X I S T E N C I AL S O B R E O
A D O E C I M E N T O P S Í Q U I C O C O N T E M P O R ÂN E O
Cabo Frio
2020.1
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
Rua Ibituruna, 108 – Maracanã
20271-020 – Rio de Janeiro – RJ
Tel.: (21) 2574-8888
A447 Almeida,
FICHA Thiana Antunes de.
CATALOGRÁFICA
O olhar fenomenológico-existencial sobre o adoecimento
psíquico contemporâneo / por Thiana Antunes de Almeida. –
2020.
69 f. ; 30 cm.
CDD 150.192
O O L H AR F E N O M E N O L Ó G I C O - E X I S T E N C I AL S O B R E O
A D O E C I M E N T O P S Í Q U I C O C O N T E M P O R ÂN E O
APROVADA EM ___/___/___
BANCA EXAMINADORA
Deus, obrigada por ser minha base nos momentos que pensei que ia cair.
Obrigada por dispor seus anjos ao meu redor a todo instante e por me trazer
inspiração do Espirito Santo para conclusão dessa etapa em minha vida.
Agradeço aos meus pais, Neila e José Eduardo, pela paciência nos meus
momentos de produção e pelas orações, incentivos e carinho, não somente nesse
processo, mas em toda minha vida.
À minha avó, Maria Delva que tornou esse sonho possível sempre me
incentivando a buscar a felicidade e vencer os desafios que a vida nos apresenta da
melhor forma.
Ao meu parceiro Davi que se manteve ao meu lado me animando para a
conclusão deste trabalho e revisando os textos.
Às minhas amigas, Bruna e Sulamita que participaram de todo meu progresso
na faculdade, compartilhando conhecimento, parceria, lágrimas e boas risadas.
Agradeço também à minha amiga Nara que trabalhou arduamente na revisão
dos meus textos.
Não poderia deixar de agradecer também à minha orientadora, Lígia Cláudia
Gomes Souza que sempre se dispõe a ajudar seus alunos com máxima dedicação.
Durante toda a faculdade se mostrou um exemplo de profissional e de pessoa para
mim.
À banca desta monografia, Prof.ª Me. Elina Eunice Montechiari Pietrani e a
Prof.ª Drª. Cristiany Rocha Azamôr que dedicaram parte do seu tempo para essa
avaliação.
Nenhuma época acumulou sobre o homem tão numerosos e diversos
conhecimentos como a nossa [...] Nenhuma época conseguiu tornar esse
saber tão pronta e facilmente acessível. Mas nenhuma época tampouco
soube menos o que é o homem (HEIDEGGER, 1997).
RESUMO
This monograph was prepared in order to identify the points of intersection between
the increase in cases of psychopathology and changes in social relationships through
bibliographic research. The Phenomenological-Existential basis was used to
understand psychic illness and phenomenological psychopathology. Going through
concepts such as responsibility, freedom and anguish. The positions of non-freedom
postulated by Kierkegaard were also important for this conclusion, as they present
possibilities of Dasein's postures as forms of deviation from responsibility towards the
inherent freedom of being. Furthermore, the different nomenclatures attributed to
society as a Disciplinary Society, Consumers, Liquids and, finally, Performance
Society were studied. Thus, tracing the current scenario and the consequences of
social changes in the subject's psychism. As the main psychopathologies discussed
here, they are related to mood disorders, psychosomatics and abuse of alcohol and
other drugs, which are shown to be more present nowadays. Emphasizing the
principles of phenomenology and existentialism, we concluded that changes in time,
the interiorization of phenomena by subjects, experimentation and consumption are
the main marks of the present in the influence of social psychism. The time, which
today seems to be less and less for the multitude of tasks that are presented to the
subjects can lead to an excessive concern with the future, which could be a way to
limit their horizon of possibilities in the face of the anguish generated. Not to
internalize, not to reflect or contemplate demonstrated the incapacity of the
contemporary subject to think for himself, about who he is, about his possibilities and
about the world around him, leading to empty relationships of meaning.
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8
1 ADOECIMENTO PSÍQUICO............................................................................. 11
1.1 FENOMENOLOGIA ......................................................................................... 12
1.2 EXISTENCIALISMO......................................................................................... 16
1.3 TEORIA FENOMENOLÓGICA-EXISTENCIAL E CONCEITOS ...................... 19
1.4 PSICOPATOLOGIA FENOMENOLÓGICA ..................................................... 24
2 RETRATO DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA ......................................... 27
2.1 HISTÓRICO DAS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS ......................................... 29
2.2 SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA PELA VISÃO DE BYUNG-CHUL HAN ... 35
3 O ADOECIMENTO PSÍQUICO NA SOCIEDADE ............................................ 42
3.1 A BUSCA COMPULSIVA PELA LIBERDADE ................................................ 44
3.2 PERDA DO EU E NARCISISMO ..................................................................... 46
3.3 SUPERFLUICIDADE ....................................................................................... 49
3.4 POSSIBILIDADES DA FUGA .......................................................................... 52
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 57
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 62
8
INTRODUÇÃO
Por meio das concepções de pensadores importantes para a teoria como Heidegger,
Kierkegaard e Sartre, foram expostos os conceitos necessários para a apreensão do
que é o adoecimento psíquico. Além disso, o capítulo expõe as diferenças
marcantes entre a psicopatologia clássica e a fenomenológica, fundamentais para o
embasamento do que seriam consideradas saúde e doença na Psicologia.
Os principais pontos do capítulo são a noção de que o sujeito é inseparável
do social e também a afirmativa de que apenas o próprio pode significar sua
existência e seus fenômenos cabendo a ele a responsabilidade por sua posição nas
relações com mundo interior e exterior.
Em continuidade ao tema proposto, o segundo capítulo contém um panorama
da sociedade contemporânea embasada, principalmente, pelos pensamentos de
Byung-chul Han, que se mostrou como um atualizador das teorias de sociólogos
como Foucault, Deleuze e Baudrillard. Também foram explicitados os pensamentos
de Bauman a respeito das mudanças da Sociedade dos Produtores para os Tempos
Líquidos em diálogo com a base contemporânea de Han.
Por fim, no capítulo três foi feita a união dos pensamentos expostos
anteriormente visando o esclarecimento do tema deste trabalho. O princípio dessa
junção seria responder de que forma as configurações sociais na atualidade têm
contribuído para o crescimento do número de sujeitos psicologicamente adoecidos.
A correlação da teoria Fenomenológica-Existencial com os pensamentos
sociológicos concluiu que existem diversos fatores atuais que influem diretamente no
psicológico dos indivíduos de diversas maneiras, alterando principalmente a maneira
como se relacionam com o meio.
11
1 ADOECIMENTO PSÍQUICO
1.1 FENOMENOLOGIA
Nesse sentido, percebe-se que o autor ao declarar “às coisas elas mesmas”,
parafraseando seu mestre Husserl, pretende demonstrar a necessidade de uma
nova acepção à máxima husserliana, a fim de aprimorá-la. Segundo Seibt (2018),
Husserl buscava desenvolver um caminho de retorno para as coisas de maneira
15
mais pura, em contrapartida, Heidegger defendia que o que devia ser novamente
buscado e estudado era o sentido do ser.
1.2 EXISTENCIALISMO
que seja concebida e se exerça como análise da existência, desde que por
’existência’ se entenda o modo de ser do homem no mundo. O
existencialismo é assim caracterizado, em primeiro lugar, pelo fato de
questionar o modo de ser do homem; e, dado que entende este modo de
ser como modo de ser no mundo, caracteriza-se em segundo lugar pelo fato
de questionar o próprio ‘mundo’, sem por isso pressupor o ser como já dado
ou constituído. A análise da existência não será então o simples
esclarecimento ou interpretação dos modos como o homem se relaciona
com o mundo, nas suas possibilidades cognoscitivas, emotivas e práticas,
mas também, e simultaneamente, o esclarecimentos e a interpretação dos
modos como o mundo se manifesta ao homem e determina ou condiciona
as suas possibilidades. A relação homem-mundo constitui assim o tema
único de toda filosofia existencialista (p. 127).
primeiro conceito remete às referências encontradas pelo Dasein para que possa se
mover.
angústia que lhe é própria diante da imensa responsabilidade por sua liberdade. Ao
temer sua realidade e encarar suas escolhas, o homem se abstém de reconhecer
sua infinidade de possibilidades.
Para além das interpretações teóricas da fenomenologia existencial há no
mundo atual a necessidade de categorização e interpretação dos adoecimentos de
natureza psíquica, dividindo o sujeito em DSM1 e CID2. Partindo da necessidade de
especificação do que seriam os transtornos mentais e do que seria considerado
saúde e doença formou-se o campo da psicopatologia, encarregado dos estudos
acerca dos possíveis adoecimentos de origem psíquica.
A princípio a psicopatologia era associada á psiquiatria, estudando o biológico
e a descrição de comportamentos. Com isso, os pensadores fenomenológicos,
existenciais e humanistas posicionaram-se com a proposta de uma nova visão sobre
os transtornos psíquicos, pontuando diferenças fundamentais entre estas maneiras
de compreender o sujeito em adoecimento.
1
Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais em inglês Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders.
2
Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde.
25
iniciativa de vigiar não parte somente de um poder estabelecido, mas de todos para
todos.
Passetti (1999) aponta que Deleuze identificou como mudanças da sociedade
disciplinar para a do controle a adaptação das instituições e mecanismos utilizados
para monitorar o povo, como a substituição de fábrica por empresa, a formação
permanente em detrimento da escola, e o controle contínuo no lugar de controle
pontual. Segundo Passeti (ibid.), essa sociedade se utilizou de um sistema
repressivo para repelir os atores sociais à participação neste cenário, tornando-os
úteis. O autor afirma ainda que aqui os indivíduos perdem sua individualidade,
tornando-se um banco de dados para serem utilizados e divididos em nichos de
atuação.
Segundo as análises de Costa (2004), a sociedade do controle é
A todo o momento o sujeito demanda algo para satisfazer o que acredita ser
sua necessidade naquele instante, em meio à enxurrada de opções que lhe são
oferecidas. Como se fosse uma corrida contra o tempo, ganha quem consumir mais.
Nesse quadro, o consumo se estende de objetos à informações, sentimentos e
pessoas.
sua essência vem sendo substituído pelo valor expositivo. É necessário chamar
atenção para agregar valor, assim, a introspecção, busca de conhecer a si mesmo e
edificar valores internos de nada vale se não for visto. Toda essa exibição
transformou até mesmo o semblante humano em mercadoria e segundo Han
(2019a),
a sociedade exposta é uma sociedade pornográfica; tudo está voltado para
fora, desvelado, despido, desnudo, exposto. O excesso de exposição
transforma tudo em mercadoria que está à mercê da corrosão imediata,
sem qualquer mistério (p.32).
Este valor expositivo vem a ser a essência do capitalismo atual, que submete
tudo e todos a uma exposição totalmente positivista, pois somente esta gera
relevância no cenário atual. Aquilo ou aquele que não expõe tudo de forma
conveniente cai em decadência. Esse aspecto atinge tão profundamente a
sociedade, que o individuo passa a objetificar o próprio corpo, buscando aprimorá-lo
e otimizá-lo, não para o próprio bem-estar, mas para usá-lo como objeto de
exposição, um produto. Parafraseando Sartre, Han (2019a), diz que “o corpo se
torna obsceno quando é reduzido a mera facticidade da carne’’ (p. 69), que assim se
torna quando não tem um direcionamento ou sentido.
Barreto (2019) discorre a respeito das análises de Han sobre a extrema
exposição da sociedade contemporânea que as coisas precisam primeiro ser
expostas, para depois “ser”. Assim, o valor primordial de algo ou alguém não se dá
por aquilo que é em sua essência, mas sim em como se expõe. Essa necessidade
de uma perfeita apresentação chega a interferir no próprio corpo representado em
fotografia digital, onde são corrigidas qualquer negatividade presente na imagem em
decorrência do envelhecer ou de qualquer outro fator que seria considerado
desagradável para a sociedade atual.
Diante de toda essa exposição, Han (2019a) discorre que o espaço público
acaba por se tornar uma espécie de palco, já que todos têm que se expor sempre
em sua melhor forma tornando o mundo uma espécie de mercado onde o que é
exposto, vendido e consumido são as intimidades. No que tange a intimidade, Han
afirma que este modelo de sociedade deixa de lado cerimônias e ritos sociais ao se
relacionar com o outro.
Fernandes (2017) compreendeu a partir dos pensamentos de Han que há nas
relações presentes um fator homogeneizante que só permite espaço para o igual,
40
para aquilo que o agrada e deseja, não deixando espaço para contra narrativas. O
autor esclarece que muitas dessas relações passam a ocorrer nas redes de
comunicação, e é nestes ambientes que a sociedade da transparência encontrou
estratégias para exercer o controle sobre o corpo social, alcançando de forma mais
virtual o controle em todos os espaços da sociedade.
Outro aspecto marcante da sociedade contemporânea, segundo Han (2019a),
é o fim do panóptico, que seria uma teoria de que somos vigiados e observados
levando os indivíduos a generalizar um comportamento típico ou adequado. O fim
deste tipo de panóptico dá lugar ao que Han (2019a) chama de panóptico digital,
onde a ideia de ser vigiado por um único centro é deixada de lado em detrimento da
ideia de ser vigiado por todos. Esse tipo de teoria visa o melhoramento dos atores
sociais, pois criando-se a ilusão de vigilância permanente estima-se que todos
tentarão agir de acordo com o aceitável para não serem julgados.
No panóptico digital os indivíduos participam de forma ativa e pessoal na
manutenção deste sistema ao expor a si mesmo voluntariamente, sem coação
externa e sem pudor, estabelecendo, de acordo com Han (2019a), um mecanismo
de supervisão democrática, onde o superior supervisiona o inferior e vice-versa,
“cada um e todos são expostos à visibilidade e ao controle” (p.109), resultando em
uma sociedade onde todos controlam e vigiam a todos.
Barretos (2019) argumenta que esse novo panóptico digital surgiu em
decorrência do fim da narrativa social. A autora pontua que este novo modo de
vigilância é mais eficaz por não partir de um centro, como era na sociedade
disciplinar, e por não possuir perspectiva. Outro fator que a autora elenca para
enfatizar a eficácia deste panóptico é a sensação de liberdade experienciada neste
modelo, o que permite que os participantes desta rede se comuniquem em grandes
volumes e em grande intensidade, pois há uma ilusão de que estão livres do
controle e vigilância.
Han (2019a) afirma que a lógica considerada por esta sociedade, é a de que
a permanente supervisão é necessária para atingir a transparência que elimina toda
sombra de questionamentos e não saberes. Por este motivo a transparência é aqui
considerada por Han como desconfiança e suspeita, e por isto se apoia tão
fortemente ao controle. Prosseguindo nessa lógica, a sociedade do desempenho
também exerce uma espécie de controle, mas aqui trata-se do controle de si mesmo
41
exigência social de que os sujeitos sejam produtivos e cada vez mais rápidos e,
talvez principalmente, pela angústia da responsabilidade por suas escolhas. Cada
vez mais inseguros com tanta liberdade, se movem em direção à uma postura de
relação com o mundo reconhecida como psicopatológica.
Boris e Barata (2017) pontuam a transição da angústia existencial, comum
frente às escolhas diárias, para a angústia ansiosa fruto do tempo atual explicitando
que
3.3 SUPERFLUICIDADE
onde o ponto final é o próprio sucesso, todos competem e muitos adoecem pelo
caminho e, como toda corrida, não há chance para a contemplação da paisagem.
Oliveira (2018) discorre que
CONSIDERAÇÕES FINAIS
amor profundo, a tristeza, a reflexão não são mais aceitos no panorama atual, pois
não há tempo para lidar com eles, não há tempo para encarar e contemplar tais
sentimentos. Desse modo, o sujeito desvia a todo instante de sua angústia
existencial, acabando por torná-la cada vez mais patológica.
O existir por si só gera sofrimento e angústia, pois são inevitáveis diante da
responsabilidade por suas escolhas dentro de uma liberdade da qual não pode
escapar. Quando o próprio não escolher é uma escolha, a angústia vem em sua
defesa como meio de expressão do estranhamento. O que a diferencia da patologia
seria o nível que essa angústia e o sofrimento se apresentam e a forma como o ser
se relaciona com eles.
Para a teoria Fenomenológica-existencial o adoecimento não é visto
necessariamente como algo incapacitante, deficiente ou que cause restrição, é
reconhecido como a forma do sujeito se posicionar no mundo, é o ser-doente. Com
isso, a abordagem se mostrou essencial para a expansão e melhor compreensão de
como é possível vislumbrar o ser no mundo e suas possibilidades de adoecimento.
Retomando sempre o ponto de que, apesar da gama de teorias que se formulam a
cada instante a respeito do homem e da sociedade, cada ser sempre será único.
Portanto, cada fenômeno, cada adoecimento, cada modo de se estar nas relações,
possui significado testemunhado somente por aquele que vive em sua constituição
singular. Por esse motivo não foi possível restringir a compreensão do adoecimento
à nomenclaturas carregadas de estigmas, como Depressão, Ansiedade, Borderline,
Burnout, entre outros dos infindáveis termos da psiquiatria clássica.
O Existencialismo permitiu reconhecer os transtornos, mas o principal para
essa base é compreender como o Dasein se relaciona com o mundo, como ele se
posiciona e qual seu modo de ser. Não necessariamente vê-lo como doente, mas
visualizar o fenômeno de seu sofrimento.
Aqui se configura uma noção de sofrimento psíquico por meio das posições
de não-liberdade, pela concepção de inautenticidade e pela compressão da relação
de familiaridade ou estranheza do sujeito com o mundo. Dentre as possibilidades, o
Dasein movimenta ou estagna de diferentes maneiras a sua liberdade de acordo
com as demandas do meio. Correlacionando ao cenário social foi possível notar a
influência das mudanças da sociedade no ritmo dessa relação do sujeito com ele
mesmo.
59
responsabilidades dos sujeitos e o peso delas sobre sua existência, não abre
espaço para que se reflita sobre o que deseja para si ou mesmo para que tenha
relações interiorizadas consigo e com o mundo.
Cada vez mais uniformizados, mesmo com suas diferenças, os sujeitos têm
se posicionado nas relações de maneira semelhante. Como o homem é inseparável
do mundo, ou seja, está sempre conectado e em relação com tudo que o rodeia,
sempre haverá influência mútua. Portanto, o sujeito recebe as informações que o
atravessam por todos os lados e escolhe, diante de suas possibilidades, como agir,
pensar e se posicionar nesse espaço.
A ascensão das mídias sociais como forma de controle social, a
hipervaloração do sucesso e da produtividade e o constante fluxo de informações,
rodeados pela necessidade de transparência e extrema fluicidade, alteram as
possibilidades que se dispõem no horizonte do sujeito. A união desses aspectos tem
apresentado indivíduos mais mecânicos que, assim como as máquinas, estão cada
vez mais limitados. O próprio ser se limita para que não desvie do caminho da
produção e do sucesso respondendo às demandas da sociedade.
Os sujeitos se apresentam vazios de sentidos, cada grupo levantando sua
bandeira com extremismo na tentativa de se autoafirmarem por faltar-lhes
referências que a libertação os tirou. A facilidade de acesso à informação maximiza
a transferência de dados e a transferência de possíveis referências. Para muitos a
referência é clara, seguir a sociedade, mas para outros, o peso da escolha pode
levar a respostas de posicionamento adoecido. A libertação dos impulsos maximizou
as possibilidades, dobrando a responsabilidade, as opções, as exigências. São
excessivas informações ao mesmo tempo, pois a sociedade vive em constante
mudança produzindo nossos modelos para seus indivíduos a cada segundo.
Afastando-se de uma visão pessimista das evoluções aqui apresentadas,
cabe ressaltar que os pontos considerados negativos sempre existiram em todos os
tempos sociais e eles apenas se transformam. Em certo momento o problema da
sociedade era o poder abusivo, ou pragas que assolavam a humanidade, hoje são
os adoecimentos psíquicos, entre outros fatores que sempre ocorreram, como as
diferenças socioeconômicas exorbitantes. Diante disso, cabe ao profissional de
psicologia posicionar-se nesse novo cenário, pois é preciso estar pronto e ciente dos
61
REFERÊNCIAS
COSTA, Rogério da. Sociedade de controle. São Paulo Perspec., São Paulo , v.
18, n. 1, p. 161-167, Mar. 2004 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
88392004000100019&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 22 Mai 2020.
FEIJOO, Ana Maria Lopez Calvo de. A existência para além do sujeito: a crise da
subjetividade moderna e suas repercussões para a possibilidade de uma clínica
psicológica com fundamentos fenomenológico-existenciais. Rio de Janeiro: Ifen,
2011.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 42. ed. Petrópolis, Rj:
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PESSANHA, José Américo Motta (Org.), Sartre. Coleção Os Pensadores. F. 57. São
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4714.2015v18n2p280.7.