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1-26, 2021 |
RESUMO
A pesquisa teve como objetivo constatar tipos possíveis de inovação oriundos das bibliotecas e que
sejam alinháveis à proposta de redução de impactos negativos na sociedade. Elucidou-se o conceito de
inovação social transformadora. Verificou-se como metas em políticas públicas do livro e leitura
abordam o termo biblioteca. Construiu-se uma representação do encontro da cultura de inovação em
bibliotecas com as demandas sociais para gerar inovações sociais. Aplicou-se o método de pesquisa
Análise de Conteúdo. O resultado e discussões da pesquisa possibilitaram refletir que bibliotecas
podem desenvolver inovações sociais focadas em produtos e serviços que contribuam para a redução
de impactos sociais negativos localmente, favorecendo os desenvolvimentos socioeconômico, humano
e sustentável. Baseado nisso, pode-se inferir que a hipótese apresentada no início deste estudo foi
validada. Conclui que as bibliotecas podem se envolver com a proposição de soluções para os
problemas das comunidades por meio de medidas que impactem positivamente nessas e busquem o
bem-estar de todos que habitam nelas.
Palavras–chave: Inovação Social; Cultura de Inovação; Biblioteca; Sustentabilidade; Desenvolvimento
Humano.
ABSTRACT
This paper aims to verify possible types of innovation proposed by libraries aligned to the goal of
reducing negative impacts on society. The concept of transformative social innovation was elucidated.
It was verified how goals in public policies for the books and reading promotion address the term
library. The encounter between libraries’ innovation culture and the social demands to generate social
innovations was graphically represented. The Content Analysis research method was applied. The
research findings made it possible to reflect that libraries can develop social innovations focused on
products and services that contribute to socioeconomic, human and sustainable developments. Thus,
it can be inferred that the hypothesis presented at the beginning of this study was validated. It
concludes that libraries can be involved in community problem-solving situations through actions that
positively impact on these communities and that seek the well-being of all who live in them.
Keywords: Social Innovation; Innovation Culture; Library; Sustainability; Human Development.
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1 INTRODUÇÃO
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do entorno, como esta investigação almeja. Desse modo, o problema da pesquisa se traduz
na seguinte questão: quais tipos de inovação social podem ser originadas das bibliotecas
para as comunidades ao se valorizar as pessoas como fonte para a construção de soluções
locais?
A hipótese da pesquisa é que bibliotecas podem desenvolver inovações sociais
focadas em produtos e serviços que contribuam para os desenvolvimentos
socioeconômico, humano e sustentável.
Teve-se como objetivo constatar tipos possíveis de inovação oriundos das
bibliotecas e que sejam alinháveis à proposta de redução de impactos negativos na
sociedade, e justifica a execução desta pesquisa o desejo de demonstrar as inovações
sociais como processos que fortificam a função das bibliotecas na sociedade e mobilizam
os sujeitos que formam os grupos sociais.
Em razão disso, elucidou-se o conceito de inovação social destacando o enfoque
transformador. Para a parte empírica do estudo, verificou-se como metas em políticas
públicas do livro e leitura abordam o termo ‘biblioteca’. Por fim, construiu-se uma
representação do encontro da cultura de inovação em bibliotecas com as demandas
sociais para gerar inovações sociais.
O estudo desenvolvido é de níveis exploratório e descritivo, de natureza
qualiquantitativa e realizado com base na pesquisa documental. Os dados da pesquisa
foram coletados por meio da técnica de análise categorial do método Análise de Conteúdo
(AC) e analisados por meio desse método.
O pressuposto teórico da pesquisa é evidenciado na seção seguinte, quando se
caracteriza a inovação social sob seu enfoque transformador como um caminho para
atingir os desenvolvimentos socioeconômico, humano e sustentável na sociedade.
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Nos primórdios no século XX, até por volta da década de 1980, as inovações tinham
uma conotação dominante: inovação tecnológica. Junto da abordagem econômica de
inovação introduzida na literatura por Joseph Schumpeter na década de 1930, a inovação
tecnológica ofuscou a proeminência e importância da noção de inovação aplicada a outras
perspectivas, como a social.
Polovko e Grinberga-Zalite (2019) relatam que a inovação social já exercia um
papel singular na sociedade quando inúmeras instituições sociais surgiram, como os
abrigos para os pobres e as cooperativas. E comparada à inovação tecnológica, que era
vista como a mais promissora, a inovação social, de dimensões sócio-política e humana,
ficou relegada ao segundo plano.
Pelo que referem Polovko e Grinberga-Zalite (2019), o interesse acadêmico pela
inovação social já havia começado por volta de 1860. Contudo, o interesse político nesse
tipo de inovação se firmou apenas décadas à frente, por volta de 1970, em decorrência
das oportunidades de desenvolvimento urbano e regional. Isso se deveu ao fato das
inovações sociais serem concebidas como apoio para as organizações de economia social,
movimentos de emancipação e, ainda, como princípio ético para empresas que buscavam
se adequar ao critério de responsabilidade social atinente ao mundo corporativo. Mas
hoje em dia, entretanto, as inovações sociais têm se tornado vetores do desenvolvimento
político-econômico dos países desenvolvidos modernos, sobretudo os europeus
(EUROPEAN COMMISSION, 2017; POLOVKO; GRINBERGA-ZALITE, 2019).
A literatura sobre inovação social remonta às concepções de algumas
personalidades do passado. Se há algum impasse nesse campo, ele consiste na atribuição
da “paternidade” da noção de inovação social. Alguns pesquisadores atribuem tal fato aos
sociólogos Max Weber e Émile Durkheim, enquanto outros a Joseph Schumpeter, que era
economista (EUROPEAN COMMISSION, 2013b).
Weber é o teórico que constatou relações da ordem social quando ações de
inovação foram desempenhadas em contextos organizacionais. Ele mobilizou ideias
atinentes à inovação social. Elas, posteriormente, anteciparam profundas mudanças
sociais. O pensamento de Weber foi no sentido de que “[...] pequenas mudanças no
trabalho das organizações sociais podem resolver muitos dos problemas sociais diários”
(POLOVKO; GRINBERGA-ZALITE, 2019, p. 157, tradução nossa). Depois, no caso de
Durkheim, o sociólogo defendeu em 1893 que regular a sociedade era importante porque
ajudava a desenvolver a divisão social do trabalho e, ao mesmo tempo, inovar na forma
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Ou ainda,
Melhor dizendo, se infere que a inovação social consiste num processo complexo
de práticas e iniciativas desenvolvidas no interior de macro e micro grupos sociais que,
por meio da geração de atividades, serviços, produtos, modelos e estratégias, têm
necessidades sociais específicas atendidas. As inovações sociais também objetivam criar
soluções alternativas e criativas, e estabelecer relações e colaborações sociais que tenham
como finalidade melhorar o bem-estar humano em sociedade.
García-Flores e Palma Martos (2019) refletiram em seu estudo sobre os diferentes
conceitos de inovação social propostos na literatura. Para eles, os termos ‘inovação’ e
‘social’ causam muita confusão, pois ambos são de aplicação muito vasta. Em tessitura,
Polovko e Grinberga-Zalite (2019) entendem que a ciência dispõe de noções restritas e
amplas de ‘social’ e ‘inovação’. Segundo esses autores, o ‘social’, visto a partir de uma
perspectiva ampliada, é similar a ‘público’ e se opõe aos fatores naturais e biológicos. Mas
de modo restrito, ele se relaciona com os aspectos sociológicos, mais propriamente
ligados ao meio social, às relações humanas.
Quanto a ‘inovação’, os mesmos pesquisadores assumem que, também de maneira
ampla, qualquer tipo de inovação tecnológica, econômica, política, psicológica, científica,
ecológica, cultural, pode ser social. Isso porque elas são produções oriundas da
observação dos fenômenos sociais e se destinam, ao fim, à vida pública. De outro lado, a
inovação social é entendida mais estritamente como mudanças na esfera social que levam
grupos de pessoas a experimentarem alterações em seus grupos, relações, instituições,
organizações e ambientes de atuação (POLOVKO; GRINBERGA-ZALITE, 2019). Esta
pesquisa se pauta mais especificamente nessa última concepção.
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3 METODOLOGIA
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4 RESULTADO E DISCUSSÕES
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Na categoria ‘Geração de valor’ (VLR), por sua vez, há 1 UR. Seu conteúdo se refere
a potencializar o desenvolvimento e uso das bibliotecas escolares na sociedade. Essa UR
advém do PNLLCHL2.
O consumo de produtos e a utilização de serviços devem ser significativos para as
partes interessadas. As bibliotecas podem considerar trabalhar sob essa ótica. Quando o
usuário da informação constitui o fim das atividades da Biblioteca, valores são gerados no
entremeio. O são porque se o tratamento técnico da informação, o SRI, o empréstimo e a
devolução de itens do acervo são processos que trazem em seus meandros o indivíduo
como a finalidade dos processos biblioteconômicos, a Biblioteca ganha. Ganha por
compreender melhor as necessidades de informação, individualidades e lacunas da
relação dos usuários com a Biblioteca. Sendo assim, essas unidades de informação podem
ofertar serviços personalizados e com valor agregado, a fim de que itens do acervo sejam
circulados. Isso possibilitaria promover a Biblioteca como grande “palco” das inovações
sociais ao circular itens do acervo que se ajustam a propostas específicas de inovação.
A categoria ‘Valorização das pessoas’ (PES) dispõem de apenas 1 UR. Seu
conteúdo está relacionado ao PNLLBRA e se refere a incentivar e fomentar a criação,
manutenção, modernização e expansão permanente de bibliotecas e espaços de leitura e
convivência.
A Gestão das bibliotecas pode adotar mecanismos de valorização dos
colaboradores. Trata de que esses sejam reconhecidos pelo serviço que prestam nos
balcões de empréstimo e devolução, pela orientação que dão quanto à localização de itens
no acervo, pela execução efetiva dos serviços de SRI, pelo marketing de produtos e
serviços de informação realizado, dentre outras possibilidades de reconhecimento de
atuação profissional.
Valorizar, em linhas gerais, se associa à inovação na medida que estimar as pessoas
na organização promove a manutenção dos elementos basilares da geração de inovação.
Os colaboradores da Biblioteca podem se empenhar mais e melhor para incentivar e
fomentar a criação, manutenção, modernização e expansão da Biblioteca como um todo.
A ideia de valorização das pessoas consta na literatura de Comportamento
Organizacional relacionada a temas como a cultura organizacional e a liderança. Tal ideia
é retratada por Robbins, Judge e Sobral (2014) como uma parte das variáveis que
interferem em indicadores comportamentais, como a satisfação e a produtividade,
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Figura 1 – Encontro da cultura de inovação em bibliotecas com as demandas sociais para gerar inovações
sociais.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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