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1 INTRODUÇÃO
O papel da biblioteca pública na sociedade consiste em apoiar e criar regimentos,
diretrizes para o exercício do papel social e cultural da comunidade em que ela esta inserida.
As rotinas e os serviços oferecidos pela mesma irão definir sua trajetória diante do público
assistido. Para que sua atuação seja algo presente na rotina dos indivíduos que a frequentam
ou desejam frequentar é necessário que a biblioteca remodele suas ações, ou seja, estabeleça
possibilidades além daquelas ligadas diretamente aos interesses do poder político e público.
Baseado na condição de que a biblioteca pública é um espaço social, cultural e de
memória objetiva-se neste trabalho abordá-la como um instrumento de manipulação do poder,
destacando as suas funções: o armazenamento de informações e o registro da memória da
sociedade. Ademais, refletir sobre a ideologia contida na seleção das obras que compõem seu
acervo, por exemplo, é um exercício que os bibliotecários normalmente não fazem. E desse
exemplo se observa que a biblioteca pode influenciar os indivíduos a terem um olhar, critico
ou não sobre os fatos da vida e a cultura que as cerca.
A formação de idéias e a busca informacional por parte dos indivíduos e grupos
sociais “[...] podem influenciar uma coletividade, em sua maneira de se identificar e de se
comportar diante de outros grupos sociais [...]” (BREITAS, 2010, p. 102). É a partir do poder
que circula nas esferas da biblioteca pública que encontramos a relevância do tema: “a
biblioteca como uma instituição social, cultural e de memória”, ou seja, enquanto instituição
social, cultural e de memória, ela incide diretamente nos modos de vida dos indivíduos.
O interesse por esse tema se deve as pesquisas realizadas no Projeto de Pesquisa “As
bibliotecas públicas do município do Rio de Janeiro: um recorte de sua atuação” desenvolvido
pela professora orientadora, bem como pelas análises relativas ao subprojeto de pesquisa
“Bibliotecas públicas do município do Rio de Janeiro e o desenvolvimento da sua função
social”, cadastradas no Grupo de Pesquisa “Bibliotecas Públicas: reflexões e práticas”, criado
em 2013 e certificado pelo Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq). Ambas as pesquisas têm o interesse maior de investigar as missões e as funções das
bibliotecas públicas do município do Rio de Janeiro, bem como os mecanismos de poder que
circulam por essas instituições, interferindo no processo de construção de identidades de
grupos sociais que se encontram próximos dessas bibliotecas.
Sendo assim, os projetos de pesquisas fazem parte do grupo que se interessam pela
emergência da aproximação das questões relativas às bibliotecas públicas e à sociedade e
visam o desenvolvimento de pesquisas acadêmicas com a finalidade de alargar as discussões
do campo. Dessa forma, para iniciar a discussão aqui proposta é necessário destacar que a
biblioteca pública vem sendo abordada como uma instituição que deve dar suporte a
educação, mas essa instituição atua de maneira transversal em diferentes áreas, por isso é
válido concebê-la como uma instituição social, cultural e de memória que influencia na
construção de identidades.
2 BIBLIOTECAS PÚBLICAS
Segundo Cunha e Cavalcante (2008, p. 52), entende-se por biblioteca pública aquela
“a que é posta à disposição da coletividade de uma região, município ou estado, e que é
financiada principalmente por dotações governamentais”. Ou seja, a biblioteca pública por ser
financiada por um órgão governamental e deverá enquadrar-se nas normas e padrões
estabelecidos pela esfera a qual pertence – municipal, estadual.
Outros autores do campo da Biblioteconomia atribuíram diferentes definições para
estas bibliotecas, mas o foco não é a sua definição em si, mas sim as suas missões e funções.
Sendo assim, vale citar o Manifesto da IFLA/UNESCO (1994, p.1) que serve como parâmetro
para as bibliotecas públicas do mundo inteiro e as define como “o centro local de informação,
tornando prontamente acessíveis aos seus utilizadores o conhecimento e a informação de
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todos os gêneros”. Além disso, o manifesto alerta que as missões dessas bibliotecas deverão
relacionar-se diretamente com a informação, a alfabetização, a educação e a cultura, e ainda
apresenta que elas devem possuir as seguintes missões:
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Cada sociedade ou grupo social possui o seu próprio desenvolvimento e para que
esse aperfeiçoamento aconteça, a cultura, a memória e a identidade são atravessadas por
mecanismos do poder. Os mecanismos de poder que se encontram presentes em todo o tecido
social, bem como nas bibliotecas especialmente as públicas, ‘ditam’ regras para os modos de
vida.
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A essa percepção de Stuart Hall (2005) pode-se inferir que as práticas sociais,
culturais e de memória são constantemente renovadas e isso altera seu caráter frente à
configuração social, política, econômica e cultural anterior, ou seja, aquela vigente antes da
segunda metade do século XX. O autor também nos alerta para um jogo na questão das
identidades – as políticas da fragmentação ou pluralização de identidades (HALL, 2005, p.
18).
No que tange o universo das bibliotecas, a acumulação de cultura advindas dos
grupos sociais e da sociedade se dá por meio do armazenamento dos registros do
conhecimento, ou seja, essas bibliotecas têm como missão e função a preservação do
conhecimento registrado. Esses conhecimentos, traços culturais e sociais são registrados nos
diferentes suportes documentais e reunidos pelas bibliotecas, no caso das públicas, elas devem
reunir os suportes documentais segundo uma demanda social, mas também respeitar as
recomendações do poder político e público.
O pensamento humano quando registrado embute em geral traços sociais, culturais e
de identidade próprios dos grupos sociais e influem na dinâmica da sociedade. Essas ideias e
resultados culturais registrados são constantemente modificados, pois refletem as
características das pessoas e do ambiente onde estão inseridas, bem como das relações e o
entrecruzamento desses traços. Essa constante transformação é elemento vital para o
desenvolvimento e para a formação do social, do cultural, da identidade, da memória e da
própria sociedade como um todo. Johnson (1997, p. 59) define cultura como:
O conjunto de símbolos, ideias e produtos materiais associados a um sistema social,
seja uma sociedade inteira ou uma família [...] A cultura possui aspectos materiais e
não materiais. A cultura material inclui tudo o que é feito, modelado ou transformado
como parte da vida social coletiva [...] A cultura não material inclui símbolos [...] bem
como as ideias que modelam e informam a vida de seres humanos em relações
recíprocas e os sistemas sociais dos quais participam. As mais importantes dessas
ideias são as atitudes, crenças, valores e normas.
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os usuários de uma biblioteca, bem como seu acervo estão imersos em um conjunto
de mudanças constantes e fazem parte do processo cultural. O poder público e a imagem
dessa instituição estão ligados a alguns aspectos, a se destacar a possibilidade de atingir a
potencialidade no que tange as ferramentas e os serviços de informação, que podem gerar
possibilidades novas e criativas no ambiente da biblioteca públicas.
Trabalhar com essa nova perspectiva que atribuímos aqui às bibliotecas públicas
pode ser a via pela qual saímos desse impasse que essas bibliotecas estão inseridas para torná-
las instiuiçoes que possibilitam os indivíduos maiores capacidade critica e autonomia no que
tange o consumo, uso e produção de informação e conhecimento.
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REFERÊNCIAS
ARRUDA, Guilhermina Melo. As práticas da biblioteca pública a partir das suas quatro
funções básicas. In.: Proceedings XIX Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e
Documentação, 1, PUCRS, 2000.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 10. Ed. Rio de Janeiro: DP&A,
2005.
MILANESI, Luís. A casa da invenção: biblioteca, centro de cultura. 3. ed. Ver. e aum. São
Caetano do Sul: Ateliê, 1997. 271 p.
MILANESI, Luís. O que é biblioteca. 4. ed. São Paulo: Brasilense, 1986. (Gol Primeiros
Passos). 107 p.
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