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Missão Calebe e o movimento juvenil para a ajuda humanitária: jovens em ação

CAMILE BISCOLA DO VALE1


THAISE CHAVES DE ARRUDA2

O Projeto Missão Calebe, surgiu no interior da Bahia, há aproximadamente dez anos


atrás, quando um grupo idealizou que podia contribuir pela sociedade, bastando para isso ter a
coragem e dedicação a missão idealizada. O resultado foi o começo de um projeto que só
nesse ano de dois mil e quinze, envolveu mais de 10 mil jovens na Bahia e Sergipe.
Segundo informações coletadas o projeto Missão Calebe é considerado um dos
maiores projetos de evangelismo envolvendo adolescentes e jovens dessa referida
comunidade. Esses jovens, durante suas férias, dedicam todos os dias com um único objetivo,
levar esperança e partilhar do amor de Deus com o próximo.
Adolescentes e jovens de todas as regiões do Brasil e de mais sete países da América
do Sul decidiram dedicar suas férias para realizar ações beneficentes. O programa acontece
nos meses de janeiro e julho, período de férias escolares. “No Brasil, quarenta e cinco mil
pessoas estão envolvidas no mês de julho.
Nos lugares em passam, os voluntários Calebes dão orientações sobre saúde por meio
de palestras e também um curso, denominado “Como Deixar de Fumar”, que tem como
princípio básico as informações em relação ao tabaco e orientações para evitar e efetivamente
extinguir o vício do cigarro. Também prestam serviços à comunidade, doando sangue,
limpando ruas e praças, construindo casas para pessoas sem recursos financeiros e fazendo
um trabalho de mobilização. Profissionais da área da saúde também fazem parte das equipes,
prestando atendimentos médicos e odontológicos. Além disso, são realizadas ações voltadas
para as crianças, como a Escola Cristã de Férias. Esse programa oferece atividades

1 Assistente Social, mestre em Gerontologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
– PUC-SP, docente do Curso de Graduação em Serviço Social pela Faculdade Tijucussu em São
Caetano do Sul – SP. Fone: 11-949444222 – Email:camilesocial@hotmail.com

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Psicóloga, especialista em Semiótica Psicanalítica Clinica da Cultura, COGEAE PUC-SP. Mestre
em Gerontologia Social, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, Atua na área
de Psicologia Social e Clínica.
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recreativas, jogos e brincadeiras com o objetivo não apenas de entreter, mas também de
ensinar.
Segundo Areli Barbosa, coordenador do projeto no Brasil e em sete países da América
do Sul, “o diferencial do projeto está no fato do jovem contribuir e criar um impacto nas
pessoas. “Estamos vivendo em um mundo egoísta. “Quando alguém decide se doar e ajudar o
outro, vemos a transformação das pessoas”.
Antes de irem a campo, cada voluntário Calebe, recebe um kit individual de apoio para
a devida capacitação, que ocorre sempre no mês de novembro e dezembro, para efetivamente
em janeiro e em julho respectivamente estarem preparados para a operacionalização do
projeto. Os custos das passagens são de responsabilidade do próprio voluntário Calebe. Estes
consideram a menor parte por eles custeada, pois acreditam que o mais valioso nesse projeto
são as vidas que serão influenciadas através do tempo de dedicação que oferecem como forma
de demonstrar um amor maior.
A IASD local fica responsável por acomodar os voluntários Calebes, podendo ser os
dormitórios na própria Igreja Adventista, ou em colégios públicos, ou colégio adventista
(quando houver na cidade) ou casa de membros da comunidade adventista na cidade que os
Calebes estiverem alojados.
Quanto à alimentação desses Calebes, existe uma equipe que dá todo o suporte para os
mesmos em campo, além de providência os recursos necessários para uma alimentação digna
e com qualidade, dando preferência a dieta lacto/ovo/vegetariana.

O que é ser jovem? Breves considerações


Cada vez mais o tema da juventude vem ocupando espaço na sociedade
contemporânea, tanto nos espaços acadêmicos de discussão e investigação como nas agendas
para o desenvolvimento de políticas públicas.
A sociedade, em seu percurso histórico, foi se construindo à medida que foi se
desenvolvendo, e, junto com esse desenvolvimento foi também elaborando conceitos e noções
que definiam e situavam as pessoas em seus lugares sociais.
A definição de juventude pode ser desenvolvida por uma série de pontos de partida:
como uma faixa etária, um período da vida, um contingente populacional, uma categoria
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social, uma geração. Mas todas essas definições se vinculam, de algum modo, à dimensão de
construção sócio-histórica. Há, portanto, uma correspondência com a faixa de idade, mesmo
que os limites etários não possam ser definidos rigidamente; é a partir dessa dimensão
também que ganha sentido a proposição de um recorte de referências etárias no conjunto da
população, para análises demográficas. Do mesmo modo, a noção de geração remete à ideia
de similaridade de experiências e questões dos indivíduos que nasceram num mesmo
momento histórico, e que vivem os processos das diferentes fases do ciclo de vida sob os
mesmos condicionantes das conjunturas históricas. É esta singularidade que pode também
fazer com que a juventude se torne visível e produza interferências como uma categoria
social. De todas as tendências e linhas de análise da juventude, opto por pensar o fenômeno juvenil a
partir da sua construção sócio-histórica. A fundamentação teórica dessa leitura e interpretação encontra
base nos princípios filosóficos do materialismo histórico e dialético que trazem embutidos, ainda, uma
teoria e método científico que se contrapõe à leitura de ciência proposta pelo positivismo lógico.

A partir da visão positivista (liberal) o homem é entendido segundo a ideia de “natureza


humana”, essencialista, um homem apriorístico, livre e dotado de potencialidades naturais. A visão
sócio-histórica entende o homem a partir da concepção de “condição humana”, ou seja, alguém que se
constrói na dialeticidade das relações. Um ser histórico com características que emergem de acordo
com as relações sociais contextualizadas no tempo e no espaço histórico em que ele vive. (OZELLA,
2003, p. 8).

Em outras palavras, na abordagem sócio-histórica concebe-se,

[...] o homem como ativo, social e histórico. A sociedade, como produção


histórica dos homens que, através do trabalho, produzem sua vida material.
As ideias, como representações da realidade material. A realidade material,
como fundada em contradições que se expressam nas ideias. E a história,
como o movimento contraditório constante do fazer humano, no qual, a
partir da base material, deve ser compreendida toda a produção de ideias.
(BOOK, 2001, Apud OZELLA, 2003, p. 8).
Na contemporaneidade muitos pesquisadores/autores discutem a categoria juventude
no plural e esta é uma forma coerente e defendida para definir esses grupos que estão
geograficamente formando o nosso contexto social. Para alguns sociólogos, como Groppo
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(2000) a juventude é atribuída como uma categoria social que se torna, ao mesmo tempo, uma
representação sócio-cultural e uma situação social.
Dayrell (2007) partindo de alguns estudiosos apresenta a juventude sendo tomada
como uma fase da vida. Para outros ela é vista como um conjunto social necessariamente
diversificado, em razão das diferentes origens de classe, que apontavam para uma diversidade
das formas de reprodução social e cultural. Podemos então pensar esse grupo, como algo
relativo que toma formas a partir dos comportamentos atribuídos por uma classe social, seja
ela de etnia, nacionalidade, gênero, sexualidade, religião, contexto histórico nacional e
regional.

Mas afinal o que leva esses jovens a dedicarem suas férias a uma causa humanitária?

O Projeto Missão Calebe chamou a atenção por se tratar de uma ação que envolve
jovens os quais vivem numa sociedade que apela para o consumo, a individualidade, enquanto
que esse grupo na contramão dessa mesma sociedade dedica suas férias, não ao lazer, mas a
ações humanitárias. Por outro lado, os meios acadêmicos não vem discutindo essa questão tão
importante na atualidade, tão pouco os meios midiáticos divulgam esse tipo de ação realizada
pelos jovens. Na verdade, os meios midiáticos na contemporaneidade quando o assunto se
desdobra para a categoria juventude toda a discussão volta-se para a violência, o uso de
drogas, ou ainda a cultura do fank ostentação ou do hap, ou seja temas que levantam o ibope,
que gera sensacionalismo, ou que não vislumbram as potencialidades dos jovens para a
transformação da sociedade.
Diante disso, a pesquisa pleiteia enfatizar qual o interesse desses jovens em contribuir
para a mudança de vida saudável dos sujeitos com os quais desenvolvem suas ações, o que os
levou a essa decisão, no que acreditam suas esperanças e expectativas em relação ao mundo e
a sociedade que vive.

A categoria juventude e o movimento de ação humanitária: breves considerações


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Na contemporaneidade a categoria juventude tem sido uma pauta de debates com


grande ênfase e relevância no Brasil. Podem-se apontar diversos motivos para esta atenção: a
densidade demográfica, as situações violentas, o impacto das novas tecnologias, os jovens
como sujeitos de direitos e as buscas de participação cidadã.
Por outro lado a historiografia existente mostra como os conceitos de “adolescência e
juventude” vêm se transformando ao longo do processo de constituição de nossa civilização.
Neste sentido, Sposito (1997, p. 37), se referindo à juventude, diz que “a própria definição da
categoria [...] encerra um problema sociológico, passível de investigação, na medida em que
os critérios que a constituem como sujeitos são históricos e culturais”.
Carrano (2000, p. 12), traz outra visão quando frisa que o mais adequado é
compreender a juventude como uma complexidade variável, “a partir da própria realidade dos
jovens, que se distinguem por seus modos de existir em determinados tempos e espaços
sociais. Compõem agregados sociais com características continuamente flutuantes” No Brasil,
atualmente, a juventude é definida na faixa etária de 15 a 29 anos, sendo o Plano Nacional de
Juventude um dos principais instrumentos de tal definição.
Atualmente acompanha-se que no Brasil há uma infinitude de movimentos sociais nos
quais os jovens se inserem, na luta por direitos. Por outro lado não se ouve falar de
movimento de jovens que lutam por causas humanitárias como é o caso dos jovens sujeitos da
pesquisa. Sabe-se que os movimentos sociais ao longo da sua história se constituem
basicamente para que os direitos sejam respeitados, pois estes já são consagrados legalmente.
Podemos afirmar que a ação desempenhada pelos jovens que pertencem ao Projeto Calebe
pode ser considerado como um movimento social? Acreditamos que sim, pois segundo Gohn
(2011, p. 336) do ponto de vista histórico, “os movimentos sempre existiram, e cremos que
sempre existirão”. Os movimentos representam forças sociais organizadas, congrega as
pessoas não como força-tarefa de ordem numérica, mas como campo fértil de atividades de
experiência social, e essas atividades são fontes geradoras de criatividade.
Corroboramos com o conceito de Gohn, pois o Projeto Calebe se aproxima dos
movimentos na definição da autora, uma vez que realizam diagnósticos sobre a realidade
social e constroem propostas para intervir na realidade. Por outro lado, constroem ações
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coletivas contra a exclusão e lutam pela inclusão social. “Constituem e desenvolvem o


chamado empowerment de atores da sociedade civil organizada à medida que criam sujeitos
sociais para essa atuação em rede”. (GOHN, 2011, p. 336).

Metodologia

A pesquisa tem caráter qualitativo, que é definido por Minayo (2007), da seguinte
forma:

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se


preocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ser
quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo
das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis. (MINAYO, 2007, p. 21-22)

Utilizamos a técnica da entrevista definida por Minayo (2007, p. 64 – grifo da autora),


ou seja: “[...] Entrevista é acima de tudo uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores,
realizada por iniciativa do entrevistador” e, conforme a caracterização por ela definida, as
entrevistas se deram na forma, “[...] semi-estruturada, que combina perguntas fechadas e
abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem
se prender à indagação formulada”.
Notadamente, através da adquiriu-se o relevo das histórias de vida e depoimentos
pessoais, isto é, as investigações ligadas à memória individual, compondo o que, na França, é
chamado de “Arquivos Orais” e que tem recebido em outros países o nome de “Informação
Viva”, conforme Queiroz (1991, p.73)3, que elucida:

A técnica das histórias de vida e depoimentos pessoais que utiliza o

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QUEIROZ, Maria Isaura Pereira. Variações sobre a técnica de gravador no registro da informação viva.
São Paulo: T.A Queiroz, 1991.p.73-77.
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gravador, não abarca um domínio muito extenso no tempo. [...] Porém seu
emprego, no que diz respeito ao tempo presente, constitui uma abertura às
investigações de todos os grupos e camadas sociais pouco atingidos pelos
registros escritos. [...] Mesmo as camadas sociais que manuseiam com
frequência a escrita, encerram na memória conhecimentos e lembranças que
se perdem no “lufa-lufa” cotidiano, e que uma vez gravados, enriquecem o
acervo de documentos do presente. (QUEIROZ, 1991, p. 74)

Assim, a “diferença entre o registro de informação viva e o registro através da escrita,


está em que à informação viva provém diretamente do informante e de suas motivações
específicas” (QUEIROZ, 1991, p. 74-75).
Verifica-se, com isso, segundo Queiroz (1991, p. 74-75), a riqueza de dados que esta
técnica permite alcançar, uma vez que, “além de colher aquilo que se encontra explícito no
discurso do informante, ela abre portas para o implícito, seja este o subjetivo, o inconsciente
coletivo ou o arquetipal”. Para a utilização desta técnica, a primeira exigência é a de
diminuição ao máximo de toda interferência por parte do pesquisador.
Embora esta intervenção seja limitada, ela existe; por isso, toda gravação, por mais
livre e espontânea, “deve ser considerada semidirigida”, mesmo quando adotada a “técnica da
liberdade”, ou seja, “o informante durante o decorrer das gravações passa a ter certa
autonomia em relação ao pesquisador, no que diz respeito à abordagem do tema e ao
fornecimento das informações; ele governa a escolha do que vai dizer o seu ritmo, a
ordenação dos assuntos, com o mínimo de influência exterior visível sobre o que diz e o que
faz saber”. Assim, “através desta técnica, pode-se também corrigir a própria visão do
pesquisador em relação ao problema que se propôs esclarecer” (QUEIROZ, 1991, p. 75-77).
A técnica será utilizada, portanto, a fim de preservar, na narração, a fala do entrevistado (uma
risada, uma pausa, uma tonalidade de voz diferente, etc...) e fornecer mais credibilidade ao
estudo.
Os sujeitos da pesquisa: de quem estamos falando?

Esta pesquisa conta até o presente momento com três jovens participantes, sendo duas
jovens e um jovem na faixa etária entre 17 e 23 anos respectivamente, sendo eles: Rebeca,
estudante, com pretensões para cursar Faculdade de medicina; Erick, 21 Anos cursa
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faculdade de Farmácia e trabalha na área de análises escritas e Hemile, trabalha como


fotógrafa free-lance. Acrescenta-se que estes jovens não fizeram qualquer objeção em
participar das entrevistas e mostraram-se dispostos em colaborar. Quanto á participação dos
mesmos no Projeto Missão Calebe atuaram na Capital-SP, e cidades do Interior como: Itobi,
São Roque e Pilar do Sul.

Resultados da pesquisa
No que diz respeito ao interesse em participar do projeto nos seus depoimentos os
jovens apontaram que,
No primeiro momento, foi porque muitos amigos meus iam, ai eu falei
assim, vou, vai ser muito legal, tipo, passar quinze dias no interior de São
Paulo, numa casa super despojada, está tudo pago, então eu vou lá me
alegrar. Mas no segundo momento, que eu parei para refletir mesmo, meu,
vai ser muito legal eu trabalhar em uma cidade que não tem igreja, por
poder ajudar aquela galera. É muito legal também estar no meio de amigos
e ajudar outros, foi o que me motivou de verdade para ir, de início foi uma
alegria, vamos lá viajar, mas no segundo momento quando eu tomei a
realidade do projeto, eu vi que era muito maior do que eu imaginava, e foi
muito melhor também e foi muito bom. (Hemile)

Um envolvimento prático, a proposta prática do Projeto Missão


Calebe, de você fazer algo de forma prática pelas pessoas, pela
comunidade isso me chamou muito a atenção. Baseado de que às
vezes a gente observa muito a teoria, talvez palestras, cursos que
muitas vezes chamam a nossa atenção, mas isso me chamou especial
atenção pela questão prática mesmo e ajudar as pessoas de uma forma
prática. (Erick)
Bom, eu não conhecia muito esse Projeto. Na verdade quem falou desse
Projeto para mim, foi o meu pai, da primeira vez que a gente foi e eu fiquei
com vontade porque eu já conhecia outras pessoas que tinham ido e falavam
que era uma experiência fora do comum e que era uma coisa não só para
você fazer para os outros, mas além de você estar ali tentando ajudar os
outros e passar a mensagem que você tem para eles, você mesmo se
fortifica e cresce com isso que você faz. (Rebeca)

Indagados sobre o objetivo do projeto narraram as seguintes questões:


O objetivo do Projeto Missão Calebe é de você ajudar de toda e qualquer
forma, não só espiritual a pessoa, mas também física, então a gente faz
reformas na cidade, nas praças, limpezas de praças, de meio comum
(praças, colégios públicos e também ajudar as pessoas espiritualmente). É
uma forma de ajudar a população no geral, não só para você falar da palavra
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de Deus, mas você ajudar de maneira física, que também é uma forma de
falar do amor de Deus. (Hemile)
É você ir até as pessoas e ajudar elas de alguma forma mesmo e de atuar
com estudo bíblico, uma ajuda alimentícia, financeira, um apoio emocional
as vezes, de você ir até a pessoa e fazer isso por ela. (Erick)
Bom, a gente se reúne lá e a gente tem alguns livros para entregar, alguns
folhetos e assim o objetivo é você ir batendo de porta em porta, quase uma
colportagem, mas sem as vendas e a gente pergunta se a pessoa quer uma
oração, se ela quer conversar, como ela está, se ela está bem, para tentar
saber um pouco da vida da pessoa e ai a gente entrega o que precisa
entregar para ela que é geralmente um livro um folheto e chama ela para
uma programação da igreja, geralmente alguma semana jovem ou alguma
coisa assim e é mais para você tentar, pelo pouquinho que você vai na casa
da pessoa, tentar ter uma intimidade com ela para entender o caso dela e das
próximas vezes que a gente voltava para dar um estudo bíblico, para estudar
as coisas da igreja com ela, as coisas da bíblia, é isso. (Rebeca)

Quanto aos motivos que os levaram durante o período de férias dedicarem-se ás causas
humanitária, narraram colmo sendo,

Um incentivo de gostar de ajudar as pessoas, eu sempre fui muito de ajudar


as pessoas nesse quesito e eu já fui e participei da colportagem também,
Colportei e achei bem legal e no Calebe eu fiquei mais feliz ainda porque
não envolve dinheiro, porque colportagem (Venda de livros adventistas
de porta em porta) é mais venda né, é o foco. E o Calebe não envolve
dinheiro então eu achei muito mais legal poder ajudar e eram só quinze dias
eram férias eu acho que foi muito legal por esse lado, por ser mais fácil e
muito mais espiritual e acolhedor, o Calebe. (Hemile)
Porque além de fazer muito bem para uma pessoa, faz muito bem para você
mesmo trabalhar nisso, porque você sente a presença de Deus, você sente a
presença ali de Deus de uma forma muito especial, que apenas a teoria não
dá para sentir e precisa de ser de uma forma mais prática, mais intensa de
uma forma melhor. (Erick)
Até hoje, eu fui em três Missões, é muito bom porque tipo como eu te falei,
não é só uma coisa para você fazer para os outros, tudo que você faz, você
vê em cada caso que tem muitas histórias, mas em cada caso você vê aonde
Deus está te protegendo, te livrando das coisas, usando você, pessoas tipo
falavam que as pessoas que batiam nas portas eram anjos que estavam ali,
justo na hora que ela precisava então era uma coisa que a gente ficava
maravilhada, uma coisa realmente fora do comum, era isso. Era esperar
chegar as férias para poder participar disso, fazer o bem para as pessoas e
ainda eu mesma melhorar e crescer do lado de Deus. (Rebeca)
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Do ponto de vista das suas expectativas e esperanças em relação ao mundo em suas


narrativas colocaram as seguintes questões:

Nenhuma, já acabou, já foi... Bom, eu tenho esperança ainda porque Deus


ainda está aqui né? O povo dele ainda está aqui e nós temos que trabalhar
por essa esperança também que vai dar tudo certo e que nós vamos para o
céu. Mas tem que ter um trabalho para tudo isso acontecer e o Calebe está aí
para isso e a igreja está ai ainda para isso. Porque não tem muita coisa boa
acontecendo na sociedade e só vai piorar. Mas no fundo eu ainda tenho
esperanças nessa sociedade, os filhos de Deus ainda estão aqui e coisas boas
ainda devem vir. (Hemile)

Que cada um viva essa experiência pessoalmente, não faz sentido a


gente observar distante, por missionários talvez, claro que tem
pessoas que tem esse chamado e que elas sigam né? Mas tem pessoas
também que olham admiram isso, mas não precisa ficar só na
admiração a gente pode viver de forma prática nas pequenas coisas
mesmo, eu acho que esse significado, a essência é a mesma. Talvez a
missão seja diferente de alguém que vai para outro país, mas a
essência que é viver o cristianismo de forma prática é a mesma, então
mesmo nas pequenas coisas, foi de muito valor para mim fazer isso,
ir na casa das pessoas, ver por exemplo uma senhora , eu me lembro
de um caso de uma senhora, que ela quase não saia de casa, ela só
saia de casa para ir para o médico, fazer a terapia dela e voltava e ai
quando a gente ofereceu para ela o estudo, ela falou: Eu quero, eu
quero. Então as vezes tem pessoas ali que a gente precisa chegar até
elas. Tinham pessoas que a gente começava a falar de Jesus e a
pessoa começava a abrir o coração, começava a falar que tem muitas
pessoas que precisam que a gente vá até elas. Essa senhora me
marcou muito porque, ela não podia fazer muita coisa, não podia sair,
não podia ir numa igreja, mas quando alguém chegou até ela, ela
aceitou e falou: eu quero. Ai a gente foi vários dias na casa dela, dai a
gente foi vários dias e um desses dias, a gente não encontrou ela, ai
foi outro, pegou o telefone dela. Ai depois eu preciso saber se a igreja
manteve o contato com ela. Mas eu lembro que ela demonstrou um
interesse que me tocou muito, porque era alguém que não podia e não
tinha acesso a uma igreja, mas quando a oportunidade do evangelho
chegou para ela, ela aceitou de primeira. (Erick)
Ah, as vezes a gente pensa assim que não tem esperanças para mais nada,
né? Mas tem que ter e a gente têm a esperança em Jesus, na volta dele, e a
gente precisa acreditar nisso. Às vezes a gente olha as pessoas na rua, nos
lugares e a gente pensa que não tem mais jeito, mas tem, e Ele ( Deus) está
voltando daqui a pouquinho para livrar a gente de tudo isso, essa é a minha
esperança. (Rebeca)
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Sobre fatos/situações que foram marcantes para eles no Projeto Missão Calebe
argumentaram as seguintes questões:

Acho que o que marcou, foi o fato da igreja. Lá a cidade não tinha uma
igreja fixa, se reuniam em uma loja, eles colocaram umas cadeiras lá, bem
legal, mas não era uma estrutura de uma igreja e nós fomos lá
movimentamos a igreja, foram vários estudos bíblicos e a gente voltamos há
uns três anos atrás novamente na cidade e já tinha uma igreja construída
com toda uma estrutura, a gente viu, eles agradeceram muito a gente porque
foi por meio de nós que aquela igreja foi comprado o terreno, foi feito uma
igreja física mesmo, uma construção e eles agradeceram muito a gente por
ter começado essa igreja, mesmo sem saber a gente influenciou muito isso
e foi muito legal a gente ver irmão ali, que a gente chegou na casa e não
conheciam nada e ver ali, frequentando orando com a gente, agradecendo,
super feliz com a nossa presença na cidade, acho que não tem um fato
marcante, se tem disso de você chegar na casa da pessoa, a pessoa está ali
esperando alguma coisa e chega você e ela pediu para Deus e vê que é você
a promessa de Deus naquele dia para ela é muito lindo, mas acho que no
total o que marcou foi isso a estrutura que nós começamos e depois
terminou a igreja. Uma igreja linda que foi construída para eles lá e cheia,
isso que é o mais legal. (Hemile)
Fatos marcantes foram muitos. Mas tem um que não foi nem comigo, foi
com a Larissa e com o Victor, mas quando eles falaram isso para mim eu
quis chorar. Eles bateram numa casa de uma mulher bem no momento que
ela estava chorando pela filha dela e quando eles bateram lá, ela já falou que
não acreditava naquilo, porque ela tinha acabado de orar para Deus mandar
uma resposta para ela e a resposta era eles, porque ela tinha acabado de orar
e eles bateram na porta da casa da mulher e é isso tipo, eles se tornaram
anjos para aquela mulher porque eles estavam levando um pouco de
esperança para ela e para a filha dela que sofria. (Rebeca).

Análise geral das narrativas

Interessante observar que nas narrativas dos jovens entrevistados a palavra ajuda
percorre os seus discursos do começo ao fim, denotando que estão para fazer caridade e não
na perspectiva de emancipar as pessoas com as quais no referido projeto. Outro fator a ser
frisado diz respeito de as pessoas os vêm como anjos salvadores, ou seja, a presença deles traz
certo conforto para aqueles que estão vivenciando situações de dificuldades e desta forma as
orações os confortam.
Na perspectiva de suas expectativas em relação ao mundo ou sociedade em que vivem
uma jovem colocou que as esperanças estão acabadas, enquanto que os demais um deles
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coloca que tal experiências vivida de forma pessoal e o outro coloca suas esperanças em
Jesus, pois acredita na volta dEle. São jovens praticantes da religião adventista e todas as suas
narrativas se baseiam nos ensinamentos bíblicos, pois, acreditam que por meio das orações
que realizam e pelo trabalho que desenvolvem as pessoas podem encontrar caminhos que os
levem a realizar outros objetivos nas suas vidas.
Os jovens que participam do Projeto Missão Calebe, desenvolvem uma ação
social, no entanto não a percebem como tal, mas sim pelo viés da religiosidade. Até mesmo o
abrir mão de férias para submeterem-se para eles significa que se sentem bem e uma forma de
“ajudar” os outros.

Considerações finais

O tema juventude, especialmente a partir dos anos 90, vem sendo motivo de
debates políticos e acadêmicos na cena brasileira. Um olhar investigador pode constatar um
número considerável de pesquisas que buscam compreender diferentes questões relacionadas
ao universo juvenil, como a relação do jovem com a escola, com o trabalho, com a cultura,
com a política, ou em relação à sexualidade, a religiosidade, a violência, etc. Embora os
jovens não percebam, o trabalho que desenvolvem significa um exercício de cidadania das
práticas sociais que realizam com os cidadãos com os quais intervém na realidade dos
mesmos. Esse processo participativo que desenvolvem junto aos sujeitos com os quais atuam
expressa vínculos diretos e inevitáveis das condições específicas e de condicionantes político,
pois, mobiliza a dinâmica social caracterizada por um conjunto de determinantes, não
somente políticos, mas e também sociais, considerando a vontade individual do cidadão de
participar, organizados, muitas vezes, em grupos de interesses, embora estes grupos
pertençam ao campo da religiosidade.
De fato, é comum se enfatizar que os jovens estariam buscando outras formas de
participação, recusando as propostas de libertação, por projetos que interpelem o Estado,
porque estariam mais motivados por políticas de identidades, como as de reconhecimento dos
direitos humanos. Este estudo teve como objetivo realizar uma pesquisa com jovens do
Projeto Missão Calebe e utilizou a metodologia da história oral, pois as pessoas que foram
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entrevistadas neste trabalho trouxeram sua experiência em suas narrativas elementos de sua
cultura, impregnados de seu próprio ponto de vista, forjado em convívio na dinâmica social,
ou seja, dados de algum modo objetivos, que podem ser analisados e estudados. Nesse
sentido, tendemos a tratar sonhos, expectativas, propostas, projetos, fabulações, trazidos por
nossos interlocutores, como fatos, passíveis de reflexão objetiva, indícios de possibilidades
alternativas na realidade social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARRANO, Paulo César Rodrigues. Juventude: as identidades são múltiplas. In: Juventude,
Educação e Sociedade. Revista da faculdade de educação da UFF. Rio de Janeiro: DP&A,
nº1, maio de 2000, 52-72.

DAYRELL, Juarez. A escola “faz” as juventudes? Reflexões em torno da socialização juvenil.


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GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais na contemporaneidade. In: Revista Brasileira
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GROPPO, Luís Antonio. Juventude: ensaios sobre a sociologia e história das juventudes
modernas. Rio de Janeiro: DIFEL, 2000.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. São Paulo:
Vozes, 2007.
OZELLA, Sergio. (Org.). Adolescências construídas: a visão da psicologia sócio-histórica.
São Paulo: Cortez, 2003.
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira. Variações sobre a técnica de gravador no registro da
informação viva. São Paulo: T. A. Queiroz, 1991. p. 73-77.
14

SPOSITO, Marília Pontes. Estudos sobre juventude em educação. In: Juventude e


Contemporaneidade. Revista Brasileira de Educação. Número Especial, 5 e 6. São Paulo:
ANPED, 1997.

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