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autora deste livro e a EDITORA GUANABARA KOOGAN LTDA. empenharam seus melhores esforços para assegurar que as
informações e os procedimentos apresentados no texto estejam em acordo com os padrões aceitos à época da publicação, e todos os
dados foram atualizados pela autora até a data da entrega dos originais à editora. Entretanto, tendo em conta a evolução das ciências
da saúde, as mudanças regulamentares governamentais e o constante fluxo de novas informações sobre terapêutica medicamentosa e
reações adversas a fármacos, recomendamos enfaticamente que os leitores consultem sempre outras fontes fidedignas, de modo a se
certificarem de que as informações contidas neste livro estão corretas e de que não houve alterações nas dosagens recomendadas ou
na legislação regulamentadora.
■ A autora e a editora envidaram todos os esforços no sentido de se certificarem de que a escolha e a posologia dos medicamentos
apresentados neste compêndio estivessem em conformidade com as recomendações atuais e com a prática em vigor na época da
publicação. Entretanto, em vista da pesquisa constante, das modificações nas normas governamentais e do fluxo contínuo de
informações em relação à terapia e às reações medicamentosas, o leitor é aconselhado a checar a bula de cada fármaco para qualquer
alteração nas indicações e posologias, assim como para maiores cuidados e precauções. Isso é particularmente importante quando o
agente recomendado é novo ou utilizado com pouca frequência.
■ A autora e a editora se empenharam para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores de direitos autorais de
qualquer material utilizado neste livro, dispondose a possíveis acertos posteriores caso, inadvertida e involuntariamente, a
identificação de algum deles tenha sido omitida.
■ Traduzido de:
ESSENTIALS OF MATERNITY, NEWBORN, AND WOMEŃ S HEALTH NURSING, FOURTH EDITION
Copyright © 2017 Wolters Kluwer.
Copyright © 2013, 2009, 2007 Wolters Kluwer Health | Lippincott Williams & Wilkins.
All rights reserved.
2001 Market Street
Philadelphia, PA 19103 USA
LWW.com
Published by arrangement with Lippincott Williams & Wilkins, Inc., USA.
Lippincott Williams & Wilkins/Wolters Kluwer Health did not participate in the translation of this title.
ISBN: 9781451193992
■ Direitos exclusivos para a língua portuguesa
Copyright © 2019 by
EDITORA GUANABARA KOOGAN LTDA.
Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional
Travessa do Ouvidor, 11 – Rio de Janeiro – RJ – CEP 20040040
Tels.: (21) 35430770 / (11) 50800770 | Fax: (21) 35430896
www.grupogen.com.br | faleconosco@grupogen.com.br
■ Imagem da capa: iStock / NataliaDeriabina
Produção digital: Geethik
■ Ficha catalográfica
R379e
4. ed.
Ricci, Susan Scott
Enfermagem maternoneonatal e saúde da mulher / Susan Scott Ricci. 4. ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2019.
: il. ; 28 cm.
Inclui índice
ISBN 9788527735711
1. Enfermagem obstétrica. 2. Enfermagem ginecológica. 3. Mulheres Saúde e higiene. I. Título.
1956978 CDD: 618.20231
CDU: 618.2083
Vanessa Mafra Xavier Salgado Bibliotecária CRB7/6644
Dedico este livro, com muito amor, ao meu marido, Glenn, por sua paciência inesgotável e pelo incentivo. Seu
apoio e senso de humor tornam tudo possível. E, ainda, aos meus filhos, Brian e Jennifer, e aos meus netos,
Alyssa, Leyton, Peyton, Wyatt, Michael, Rylan e Brody, que continuam a me inspirar ao longo de minha vida.
Vocês fazem todo esforço valer a pena.
Susan Scott Ricci
Sobre a autora
Susan Scott Ricci é graduada em Enfermagem pela Washington Hospital Center School of Nursing, com BSN e MSN
pela Catholic University of America (localizada em Washington, D.C.) e M.Ed. in Counseling pela University of
Southern Mississippi. Licenciada em Women’s Health Nurse Practitioner (ARNP) pela University of Florida,
recentemente obteve a certificação nacional de Certified Nurse Educator (CNE). Já trabalhou em inúmeras instituições de
saúde da mulher, incluindo clínicas de trabalho de parto e parto, pósparto, prénatal e planejamento familiar. Susan tem
mais de 30 anos de experiência na prática de enfermagem e na formação de profissionais de enfermagem nos programas
LPN, ADN e BSN. Está envolvida em várias organizações profissionais de enfermagem e é membro da Sigma Theta Tau
International Honor Society of Nursing, da National Association of OB/GYN Nurses, da Who’s Who in Professional
Nursing, da American Nurses Association e da Florida Council of MaternalChild Nurses.
Graças a sua vasta experiência prática e educacional, Susan Scott Ricci se concentra na prática da enfermagem baseada
em evidências e reduz a quantidade de informações “complementares” que são apresentadas aos estudantes, uma vez que
reconhece a tendência dos educadores de enfermagem de querer “abraçar o mundo” ao ensinar, em vez de ter como foco o
conteúdo que os estudantes realmente precisam saber para a prática segura da enfermagem. Com essa missão em mente,
ela direcionou sua energia para a elaboração deste livro.
Susan reconhece também que o tempo para o ensino está sendo reduzido à medida que o mundo da saúde se expande
exponencialmente. Por isso, identificou a necessidade urgente de apresentar fatos pertinentes do modo mais conciso
possível, a fim de promover a aplicação do conhecimento na prática de enfermagem.
Revisores
Vicki Aaberg, PhD, RN
Nursing Instructor
Seattle Pacific University
Seattle, Washington
Robin AdamsWeber, DNP, RN, WHNPBC
Associate Professor of Nursing
Women’s Health Nurse Practitioner
Malone University
Canton, Ohio
Nancy Ahern, PhD, RN
Associate Professor of Nursing
California State University
Fullerton, California
Louise Aurilio, PhD, RNBC, NEBC
Associate Professor
Youngstown State University
Youngstown, Ohio
Kathleen Beebe, PhD, RN
Associate Professor
Dominican University of California
San Francisco, California
Tammy Bryant, MSN, RN
Program Director/Nursing Instructor
Southern Regional Technical College
Thomasville, Georgia
Stephanie Butkus
Associate Professor
Kettering College of Medical Arts
Dayton, Ohio
Amanda Campbell, PhD, RN
Associate Professor
Tyler Junior College
Tyler, Texas
Yasmin Cavenagh, MSN, MPH, RN
Instructor
Resurrection University
Chicago, Illinois
Tracy Colburn, MSN, BSN, RN, CEFM
Assistant Professor
Lewis and Clark Community College
Godfrey, Illinois
Denise Condra, MSN, RN, FNPC
Associate Professor
Mount San Antonio College
Walnut, California
Patricia Davidson, MSN, RN
Clinical Associate Professor
University of Texas Health Science Center
San Antonio, Texas
Tamara Dennis, PhD, RNC
Associate Professor of Nursing
Abraham Baldwin Agricultural College
Tifton, Georgia
Barbara DerwinskiRobinson, MSNRNCWHBC
Associate Professor
Montana State University
Billings, Montana
Susan Dougherty, DNO, MS, RNC, WHNP
Assistant Professor
Augusta University
Augusta, Georgia
Judith Drumm, RN, DNSc
Associate Professor
Palm Beach Atlantic University
West Palm Beach, Florida
Brooke Flinders, MSN, RN, CNM
Assistant Professor
Miami University Hamilton
Miami, Florida
Helen Gordon, MS, RN, CNM
Assistant Professor
Duke University
Durham, North Carolina
Susan Hall, MSN, RNC
Nursing Instructor
WinstonSalem State University
WinstonSalem, North Carolina
Elva Hammarstrand, RN, BScN, MN
Nursing Instructor
Red Deer College
Winnipeg, Manitoba, Canada
Marie Hanna, RN, MS, WHNPC
Professor of Nursing
Suffolk County Community College
Selden, New York
Christina Harkins, MSN, RN
Assistant Professor
Lasalle University
Philadelphia, Pennsylvania
Sally Hartman, RNC, MSN, IBCLC, FACCE
Clinical Assistant Professor
Indiana Purdue University
Fort Wayne, Indiana
Mary Jane Hopkins, ARNP, BSN, MSN
Nursing Instructor
Indian River Community College
Fort Pierce, Florida
Carmen Kiraly, RN, MS, CWHNP
Assistant Professor
Suffolk County Community College
Brentwood, New York
Joan Kuhnly, MS, RN, IBCLC
Nursing Instructor
University of Connecticut
Storrs, Connecticut
Christine Kuoni, MSN
Assistant Professor
San Antonio College
San Antonio, Texas
Diwana Lowe, MSN, RNCOB
Associate Professor Retired
Georgia Perimeter College
Georgia State University
Atlanta, Georgia
Maria Marconi, RN, MS
Assistant Professor
University of Rochester
Rochester, New York
Lucy MartinezSchallmoser, PhD, RNC
Assistant Professor
Loyola University
Chicago, Illinois
Tammy McInerney, DNP, RN, NNPBC, CPNP
Assistant Professor
Delta College
University Center, Michigan
Anne Mitchell, PhD, RN, CNM
Assistant Professor
Oakland University
Rochester, Michigan
Anna Morris, MSN, RN
Assistant Professor
Northwestern State University
Natchitoches, Louisiana
Gretchen A. Nelson, BSN, MN, RNFA, FNPc
Nursing Faculty
Fresno City College
Fresno, California
Valerie O’Dell, DNP, RN, CNE
Associate Professor/MSN Program Director
Youngstown State University
Youngstown, Ohio
Ann Marie Paraszczuk, EdD, MS, RNC
Professor
Molloy College
Rockville Center, New York
Cynthia Payne, BSN, MS, NPBC, CNM
Assistant Professor
Georgia State at Perimeter College
Atlanta, Georgia
Audrey Perry, DNP, CNM, RN
Faculty Nurse Midwife
Reading Health School of Health Sciences
West Reading, Pennsylvania
Deborah A. Raines, PhD, EdS, RN, ANEF
Associate Professor
University at Buffalo: The State University of New York
Buffalo, New York
Anne Marie Rameika, MSN, FNP
Associate Professor
Community College of Rhode Island
Newport, Rhode Island
Frances Reynolds, MSN, RN
Assistant Professor of Nursing
Howard Community College
Columbia, Maryland
Margaret Riden, RN, MSN
Program Director
Blue Ridge Community and Technical College
Martinsburg, West Virginia
Aissa Yolanda Scott, MS, ARNP, CNM
Nurse Educator
Saint Petersburg College
Pinellas Park, Florida
Carol Siegmund, MSN, RN
Assistant Professor of Nursing
Leigh Carbon Community College
Schnecksville, Pennsylvania
Joyce Sizemore, MSN, RN
Professor of Nursing
Collin College
McKinney, Texas
Lauren Stehling, MSN/Ed, APRN, FNPBC
Family Nurse Practitioner/Professional Nursing Faculty
Baptist Health System School of Health Professions
San Antonio, Texas
Barbara Stoner, RN, MSN
Nursing Faculty
Arapahoe Community College
Littleton, Colorado
Diane Thulier, PhD, RN
Assistant Professor
University of Rhode Island
Kingston, Rhode Island
Lois Tschetter, EdD, RN, IBCLC, CNE
Associate Professor
South Dakota State University
Brookings, South Dakota
Becky Weatherly, MSN, RN
Assistant Professor
Touro University
Henderson, Nevada
Deborah Whittaker, EdD, RN, RNCMNN
Assistant Professor of Clinical Nursing
DeSales University
Center Valley, Pennsylvania
Angela Watkins, MSN, RN
Program Director
Calhoun Community College
Decatur, Alabama
Carol Wiggs, PhD, RN, CNM
Associate Professor
University of Texas Medical Branch
Galveston, Texas
Barbara Wilford, MSN, MBA, RN
Assistant Professor
Lorain County Community College
Elyria, Ohio
Barbara Wilson, PhD, RNC
Associate Professor
Arizona State University
Tempe, Arizona
Beth Youngblood, MSN, BSN
Associate Professor
Belmont University
Nashville, Tennessee
Prefácio
As mulheres estão cada vez mais aptas a fazer escolhas responsáveis em relação à sua saúde e à de seus filhos, mas, para
isso, precisam de incentivo e apoio dos profissionais de enfermagem que as atendem. Com o objetivo de oferecer uma
abordagem prática para a compreensão da saúde da mulher no contexto da maternidade e do cuidado ao recémnascido,
este livro enfatiza as questões reprodutivas da mulher e oferece informações essenciais para o atendimento dessas
pacientes e de seus familiares, bem como para ajudálos a tomar decisões de modo seguro e inteligente.
Cuidadosamente revisada, esta quarta edição foi atualizada com pesquisas baseadas em evidências e com o
aprofundamento de diversos assuntos, em especial os relacionados com os aspectos culturais e globais da maternidade.
ORGANIZAÇÃO
Cada capítulo deste livro revisa dimensões importantes da saúde da mulher ao longo da vida e aborda fatores de risco,
escolhas de estilo de vida que influenciam seu bemestar, intervenções apropriadas e tópicos de orientações de
enfermagem para preservar sua saúde e a de seu recémnascido. O texto está dividido em oito partes, como resumidas a
seguir.
Parte Um | Introdução à Enfermagem MaternoNeonatal e Saúde da Mulher
Funciona como base para iniciar o estudo da enfermagem em saúde maternoneonatal e da mulher, explorando questões e
tendências contemporâneas e a enfermagem baseada na comunidade.
Parte Dois | Saúde da Mulher ao Longo da Vida
Apresenta ao estudante aos tópicos específicos de saúde da mulher, incluindo estrutura e função do sistema reprodutivo,
preocupações reprodutivas comuns, infecções/doenças sexualmente transmissíveis, distúrbios das mamas e doenças
benignas, e cânceres do sistema genital feminino. Essa parte visa à manutenção da qualidade de vida, à redução do risco de
doenças e à parceria que deve haver entre a mulher e o profissional de saúde em atividades voltadas a sua saúde.
Parte Três | Gestação
Aborda temas relacionados com a gestação, como desenvolvimento fetal, genética e adaptação materna a esse período. A
conduta de enfermagem durante a gestação normal é apresentada em um capítulo separado, encorajando a aplicação de
conhecimentos básicos à prática de enfermagem. Esse capítulo sobre cuidados de enfermagem trata da avaliação materna e
fetal durante a gestação, das intervenções para promover o autocuidado e minimizar desconfortos comuns e das
orientações à paciente.
Parte Quatro | Trabalho de Parto e Parto
Iniciase com um capítulo sobre o trabalho de parto e o parto, incluindo as adaptações maternas e fetais. Em seguida, um
capítulo discute a participação da enfermeira nesse processo, o que inclui avaliação materna e fetal, medidas de conforto
farmacológicas e não farmacológicas e controle da dor, bem como as intervenções de enfermagem específicas em cada
estágio do trabalho de parto e do parto.
Parte Cinco | Período PósParto
Concentrase na adaptação materna durante o período pósparto, explorando tanto aspectos fisiológicos quanto
psicológicos. A adaptação paterna também é considerada. Essa parte também abrange a conduta de enfermagem
relacionada, incluindo avaliação do estado físico e emocional, promoção do conforto, assistência à eliminação,
aconselhamento sobre sexualidade e contracepção, promoção da nutrição, promoção da adaptação da família e
planejamento para a alta.
Parte Seis | RecémNascido
Abrange as adaptações fisiológicas e comportamentais do recémnascido saudável. Também investiga a conduta de
enfermagem para o lactente, incluindo avaliação imediata e intervenções específicas, bem como avaliação contínua, exame
físico e intervenções específicas durante o início do período neonatal.
Parte Sete | Gravidez de Risco
O foco passa a ser os cuidados durante a gestação, o parto e o pósparto de risco. Abordamse doenças preexistentes da
mulher, complicações relacionadas com a gestação, trabalho de parto de risco, emergências associadas ao trabalho de parto
e ao parto, assim como condições clínicas e complicações que afetam a mulher no pósparto. Apresentamse o tratamento
e a conduta de enfermagem para cada condição. Esta organização possibilita ao estudante construir uma base sólida sobre
o conteúdo normal ao estudar situações de risco.
Parte Oito | RecémNascido de Risco
O conteúdo continua a se concentrar em assuntos relativos a situações de risco. Exploramse temas relacionados com o
recémnascido que têm variações no peso ao nascer e na idade gestacional, condições congênitas e distúrbios adquiridos.
Apresentamse o tratamento e a conduta de enfermagem para cada condição clínica. Essa organização ajuda a consolidar a
compreensão do estudante sobre o material.
RECURSOS
Para fornecer um texto estimulante e didático, foram utilizados recursos, que se repetem ao longo do livro, como descritos
a seguir.
Palavraschave
São apresentadas no início de cada capítulo como uma lista de termos considerados essenciais para a compreensão do
capítulo. Cada uma aparece no texto em negrito, seguida de sua definição.
Objetivos de aprendizagem
São apresentados no início de cada capítulo para orientar o estudante a compreender o que é importante e por quê,
possibilitando a ele priorizar as informações para a aprendizagem. Também auxiliam o estudante a testar a si mesmo ou o
instrutor a avaliar os conhecimentos e as habilidades do estudante.
Reflexões
Constam no início de cada capítulo como frases inspiradoras e pensamentos oportunos e interessantes. Essas declarações
definem o cenário de cada capítulo e dão ao estudante informações valiosas sobre os cuidados de enfermagem de mulheres
e de recémnascidos.
Estudos de caso
Constam no início de cada capítulo, ao lado das Reflexões, apresentando situações reais com relevantes informações sobre
saúde materna, do recémnascido e da mulher com o objetivo de aperfeiçoar as habilidades de cuidado do estudante.
Perguntas sobre a situação proporcionam ao estudante uma oportunidade de avaliar criticamente o curso de ação
apropriado.
Boxe Prática baseada em evidências
A promoção consistente da prática baseada em evidências é uma característica fundamental do texto. Ao longo dos
capítulos, questões fundamentais abordadas por pesquisas atuais foram incorporadas nesse boxe, que cita estudos
relevantes para o conteúdo do capítulo.
Boxe Healthy People 2020
Ao longo do livro, os objetivos relevantes do Healthy People 2020 estão descritos nesse boxe. As orientações fornecidas
no boxe servem como guia para aprimoramento da saúde de mulheres, mães e recémnascidos.
Boxe Diretrizes de ensino
Importante ferramenta para alcançar a promoção da saúde e a prevenção da doença. Ao longo do livro, essas diretrizes
ampliam o conhecimento, fornecem informações oportunas e precisas, e têm como objetivo garantir a preparação do
estudante para orientar as mulheres sobre diversos assuntos.
Boxe Orientação sobre medicamentos
Resume as informações sobre os medicamentos comumente usados. As ações, indicações e implicações significativas para
a enfermagem apresentadas auxiliam o estudante a prestar os melhores cuidados às mulheres e a seus recémnascidos.
Boxe Exames laboratoriais e complementares comuns
Proporciona ao estudante a compreensão geral de como uma gama de distúrbios é diagnosticada. Em vez de ler as
informações várias vezes ao longo da narrativa, o leitor pode consultar o boxe quando necessário.
Boxe Plano de cuidados de enfermagem
Fornece exemplos concretos de cada etapa do processo de enfermagem,1 resume os conteúdos relacionados com o assunto
ou sistema, além de delinear um guia para a prestação de cuidados.
Quadro comparativo
Compara dois ou mais distúrbios ou outros conceitos que podem ser facilmente confundidos, fornecendo uma explicação
para esclarecêlos para o estudante.
Boxe Procedimento de enfermagem
Apresenta, em formato claro e conciso, o passo a passo dos principais procedimentos de enfermagem, bem como esclarece
quaisquer variações nesses procedimentos, quando for o caso.
Boxe Considere isto
Contém narrativas em primeira pessoa que envolvem o estudante em situações cotidianas vivenciadas pelos pacientes. O
tom pessoal evoca a empatia e ajuda o estudante a aperfeiçoar suas habilidades de cuidado. Cada boxe termina com uma
oportunidade de reflexão, estimulando o estudante a pensar criticamente sobre a situação.
Boxe Domínio de conceito
Novo nesta edição, auxilia o estudante na compreensão de tópicos potencialmente confusos.
Ícone Anote!
Chama a atenção do estudante para pontos que devem ser enfatizados ao longo do capítulo. Este recurso geralmente é
usado para frisar as informações referentes ao risco para a vida ou, de outro modo, extremamente importantes.
Tabelas, boxes, ilustrações e fotografias
Diversas tabelas e boxes resumem o conteúdochave ao longo do livro. Além disso, belas ilustrações e fotografias ajudam
o estudante a visualizar melhor o conteúdo estudado. Esses recursos possibilitam ao leitor acessar as informações de
modo rápido e fácil.
Boxe Conceitos fundamentais
Consta no fim de cada capítulo, fornecendo uma revisão rápida dos elementos essenciais estudados. Os tópicos apontados
ajudam o estudante a focar os aspectos fundamentais sobre o tema em questão.
Referências bibliográficas
Todas as referências utilizadas no desenvolvimento do texto são fornecidas ao fim de cada capítulo, capacitando o
estudante a explorar temas de interesse.
Seção Exercícios sobre o capítulo
Consta no fim de cada capítulo para auxiliar o estudante a revisar os conceitos essenciais, sendo composta por:
• Questões de múltipla escolha: elaboradas para testar a capacidade do estudante de aplicar o conteúdo do capítulo
• Exercícios de raciocínio crítico: desafiam o estudante a incorporar novos conhecimentos aos conceitos aprendidos
anteriormente e a chegar a uma conclusão satisfatória. Além disso, incentivam o leitor a pensar criticamente, resolver
problemas e considerar sua própria perspectiva sobre determinados tópicos
• Atividades de estudo: promovem a participação do estudante no processo de aprendizagem e maior
interação/aprendizagem por meio de atividades clínicas, online e comunitárias
• Estudos de caso e Avaliação: novos nesta edição, oferecem a oportunidade de o estudante conectar o aprendizado
teórico à pratica.
____________
1
O boxe Plano de cuidados de enfermagem contém diagnósticos de enfermagem aprovados pela NANDAI. O material referente
aos diagnósticos de enfermagem foi retirado de Nursing Diagnoses – Definitions and Classification 20122014 © 2009, 2007,
2005, 2003, 2001, 1998, 1996, 1994 NANDA International, e usado de acordo com a WileyBlackwell Publishing, uma empresa
da John Wiley & Sons, Inc., a fim de fazer julgamentos seguros e eficazes.
Material suplementar
Este livro conta com o seguinte material suplementar:
■ Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
■ Questões de revisão.
O acesso ao material suplementar é gratuito. Basta que o leitor se cadastre e faça seu login em
nosso site (www.grupogen.com.br), clicando em GENIO, no menu superior do lado direito.
É rápido e fácil. Caso haja alguma mudança no sistema ou dificuldade de acesso, entre em contato conosco
(gendigital@grupogen.com.br).
Sumário
Parte Um Introdução à Enfermagem MaternoNeonatal e Saúde da Mulher
1 Perspectivas sobre os Cuidados de Saúde MaternoNeonatal e da Mulher
2 Cuidados Comunitários Centrados na Família
Parte Dois Saúde da Mulher ao Longo da Vida
3 Anatomia e Fisiologia do Sistema Genital
4 Questões Comuns Relacionadas com a Reprodução
5 Doenças/Infecções Sexualmente Transmissíveis
6 Distúrbios das Mamas
7 Doenças Benignas do Sistema Genital Feminino
8 Cânceres do Sistema Genital Feminino
9 Violência e MausTratos
Parte Três Gestação
10 Desenvolvimento Fetal e Genética
11 Adaptação Materna durante a Gestação
12 Conduta de Enfermagem durante a Gestação
Parte QuatroTrabalho de Parto e Parto
13 Processo de Trabalho de Parto e Parto
14 Conduta de Enfermagem durante o Trabalho de Parto e o Parto
Parte CincoPeríodo PósParto
15 Adaptações PósParto
16 Conduta de Enfermagem durante o Período PósParto
Parte Seis RecémNascido
17 Transição do RecémNascido
18 Conduta de Enfermagem para o RecémNascido
Parte Sete Gravidez de Risco
19 Conduta de Enfermagem na Gravidez de Risco | Complicações Relacionadas com a Gestação
20 Conduta de Enfermagem na Gravidez de Risco | Condições de Saúde Específicas e Populações Vulneráveis
21 Conduta de Enfermagem no Trabalho de Parto e no Parto de Risco
22 Conduta de Enfermagem para a Puérpera de Risco
Parte Oito RecémNascido de Risco
23 Cuidados de Enfermagem para o RecémNascido com Necessidades Especiais
24 Conduta de Enfermagem para o RecémNascido de Risco | Condições Neonatais Congênitas e Adquiridas
Apêndice A Valores de Referência de Exames Laboratoriais
Apêndice B Evolução Clínica
Apêndice C Medidas de Dilatação do Colo do Útero
Apêndice D Tabelas de Conversão de Peso
Apêndice E Aleitamento Materno e Uso de Medicamentos
Perspectivas sobre os Cuidados de Saúde MaternoNeonatal e da
1 Mulher
PALAVRASCHAVE
Affordable Care Act (ACA)
Competência cultural
Cuidado centrado na família
Cultura
Doula
Enfermeiro obstetra Família
Gerenciamento de caso Mortalidade
Prática de enfermagem baseada em evidências
Taxa de mortalidade fetal
Taxa de mortalidade infantil
Taxa de mortalidade materna
Taxa de mortalidade neonatal
Termo de consentimento livre e informado
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Caracterizar os principais marcos na evolução do parto nos EUA.
2. Delinear os principais componentes, conceitos e influências associados à conduta de enfermagem de mulheres e de
suas famílias.
3. Comparar as definições anteriores de saúde e doença com as definições atuais.
4. Examinar os fatores que afetam a saúde maternoneonatal e da mulher.
5. Avaliar como a sociedade e a cultura influenciam a saúde das mulheres e de suas famílias.
6. Diferenciar as barreiras à obtenção de cuidados de saúde que afetam as mulheres e suas famílias.
7. Analisar as questões éticas e legais que possam surgir ao cuidar de mulheres e de suas famílias.
Sophia Nappo, de 38 anos de idade, grávida de seu terceiro filho, chega ao ambulatório de prénatal para
uma consulta de acompanhamento de rotina. Sua mãe, Betty, acompanhaa, porque o marido de Sophia
está fora da cidade. Sophia vive com o marido e dois filhos, de 4 e 9 anos de idade. Ela trabalha meio
período auxiliando no almoço das crianças da escola primária local. Quais fatores podem influenciar a saúde
de Sophia e de sua família?
Reflexões
A gravidez e o parto são como atravessar uma ponte estreita: as pessoas podem acompanhála até a ponte e podem
cumprimentála do outro lado, mas você percorre a ponte sozinha.
INTRODUÇÃO
A capacidade de uma pessoa de levar uma vida plena e participar integralmente da sociedade depende, em grande parte, de
sua condição de saúde. Isso é verdade, sobretudo para as mulheres, que geralmente são responsáveis não só por sua
própria saúde, mas também pela saúde de outros: seus filhos e seus familiares. Assim, é importante focar na saúde das
mulheres e de seus familiares. Os hábitos e as práticas estabelecidos durante a gravidez e na primeira infância podem ter
efeitos profundos sobre a saúde e as doenças de uma pessoa ao longo da vida. É essencial que a sociedade crie uma
população que se preocupe com suas mulheres e seus familiares e promova sólidos cuidados de saúde e escolhas de estilo
de vida.
Os cuidados com a gestante e com o recémnascido englobam uma gama de práticas tipicamente associadas ao parto.
Incluem os cuidados prestados às mulheres antes da gravidez, às gestantes e seus fetos e às puérperas, a promoção de
maternidade segura e os cuidados com o recémnascido, geralmente durante as primeiras 6 semanas após o parto. A meta
global dos cuidados maternoneonatais é promover e manter a saúde ótima das mulheres e de suas famílias.
Hoje, os profissionais de enfermagem têm uma oportunidade sem precedentes para melhorar a saúde e o bemestar das
mulheres e das famílias. Esses profissionais provavelmente atuarão em eventos desde o nascimento até a morte, bem
como nas emergências de saúde intercorrentes. A atuação de um profissional de enfermagem experiente, solidário e
tranquilizador muitas vezes torna positiva uma experiência de assistência de saúde. A prática de enfermagem habilidosa
depende de uma sólida base de conhecimento e de experiência clínica prestada de maneira holística e compassiva. Os
profissionais de enfermagem, ao aplicar seu conhecimento e sua sensibilidade, ajudam a atender às demandas de
assistência de saúde de seus pacientes durante todo o ciclo de vida, seja o paciente uma gestante, um feto, um parceiro ou
uma mulher com problemas de saúde. Os profissionais de enfermagem desempenham vários papéis ao ajudar os pacientes
a viverem vidas mais saudáveis, proporcionando cuidado direto, apoio emocional, conforto, informações, aconselhamento
e defesa. Os profissionais de enfermagem frequentemente estão “nas trincheiras”, defendendo questões polêmicas,
chamando a atenção da paciente para a importância dos cuidados de saúde e lidando com a falta de recursos, a falta de
acesso aos cuidados de saúde e o foco nos cuidados agudos, em vez de na orientação e na prevenção.
Este capítulo apresenta uma visão geral do atendimento de saúde às mulheres e às suas famílias, além de descrever os
principais fatores que afetam a saúde maternoneonatal e da mulher. Também aborda informações de saúde disponíveis
para as mulheres e suas famílias e melhorias nos diagnósticos e nos tratamentos. Os profissionais de enfermagem
precisam estar bem informados sobre esses conceitos e fatores para prestarem cuidados profissionais atualizados.
EVOLUÇÃO DA ENFERMAGEM MATERNONEONATAL
O cuidado de saúde prestado às mulheres mudou ao longo dos anos, em parte em decorrência da evolução dos métodos de
parto, das tendências sociais, das mudanças no sistema de saúde e nas leis federais e estaduais. Ao analisar os eventos
históricos, os profissionais de enfermagem conseguem compreender melhor a situação atual e o futuro da enfermagem
maternoneonatal e saúde da mulher (Boxe 1.1).
Perspectiva histórica
O parto na América colonial era uma experiência difícil e perigosa. Durante os séculos XVII e XVIII, as parturientes
muitas vezes morriam como resultado de exaustão, desidratação, infecção, hemorragia ou convulsões (Mintz, 2013).
Como a maioria das mulheres dava à luz entre cinco e oito filhos, suas chances ao longo da vida de morrer no parto
chegavam a uma em cada oito. A morte no parto era tão comum que muitas mulheres dos tempos coloniais tinham pavor
da gravidez. Além de suas ansiedades em relação à gravidez, a gestante ficava apreensiva também com a possibilidade de
morte do recémnascido. Aproximadamente 50% de todas as crianças morriam antes dos 5 anos (King et al., 2015), em
comparação com a taxa de mortalidade atual de 6,17 mortes/1.000 nascidos vivos (World Factbook, 2015).
Há alguns séculos, as “vovós parteiras” eram responsáveis pelo parto da maioria das mulheres. As habilidades como
parteira eram tradicionalmente passadas de uma mulher para outra nas famílias (de avós para as mães, de mães para filhas)
e também através do aprendizado com uma parteira mais experiente. Os médicos geralmente eram chamados apenas em
casos extremamente difíceis, e todos os partos ocorriam em casa (Simmons, Rothman, & Norman, 2013).
Nos primórdios do século XX, os médicos participavam de cerca de metade dos nascimentos nos EUA. As parteiras
muitas vezes atendiam às mulheres que não podiam pagar um médico. Muitas mulheres foram atraídas para os hospitais
porque isso ostentava riqueza, além de os hospitais fornecerem analgesia, o que não ocorria em partos domiciliares. Na
década de 1950, foram introduzidas práticas de “parto natural”, que defendiam o parto sem medicação e com foco em
técnicas de relaxamento (Rabor, Taghipour, & Najmabadi, 2015). Essas técnicas foram precursoras das aulas de
preparação para o parto e ajudaram a resgatar a participação do pai no trabalho de parto e no parto. O pai e a mãe podiam
participar tendo um papel ativo durante a gestação, o parto e a maternidade/paternidade (Figura 1.1).
Tendências atuais
Em muitos aspectos, as práticas de parto nos EUA formam um círculo, conforme se observa o retorno da parteira e
da doula (acompanhantes de parto sem formação na área da saúde). O conceito de mulheres ajudando outras mulheres
durante o parto não é novo: as mulheres que entravam em trabalho de parto e davam à luz em casa eram tradicionalmente
atendidas por parentes e por parteiras (Prática baseada em evidências 1.1). Nos EUA, o enfermeiro obstetra faz uma pós
graduação em cuidados na gravidez normal e no parto e é certificado pelo American College of Nurse Midwives
(ACNM).2 A doula é uma assistente de parto que dá suporte emocional, físico e educacional à parturiente e à sua família
durante o período de parto e pósparto. Muitos enfermeiros que trabalham em áreas de trabalho de parto e parto hoje são
certificados em sua especialidade, para que possam fornecer os melhores cuidados à parturiente e ao seu recémnascido.
As escolhas de parto muitas vezes baseiamse no que funciona melhor para a mãe, para a criança e para a família.
BOXE 1.1
CRONOLOGIA DO PARTO NOS EUA
1700 Os homens não faziam parto, porque isso era considerado
indecente.
As mulheres enfrentavam o parto não com alegria e êxtase,
mas com medo da morte.
As parteiras realizavam a maioria dos partos na casa da
gestante.
1800 As mulheres de classe média passam a trocar as parteiras
pelos médicos.
Do latim originase a palavra obstetra, que significa “estar ao
lado”.
A febre puerperal ocorria em proporções epidêmicas.
Pasteur demonstrou que os estreptococos eram a principal
causa da febre puerperal que matava as parturientes. A
primeira cesariana foi realizada em Boston em 1894.
A radiografia foi desenvolvida em 1895 e foi usada para avaliar
o tamanho da pelve para fins de parto.
1900 O “sono crepuscular” (uma forte dose de narcóticos e
amnésicos) era usado durante o parto nos EUA.
Os EUA ocupavam a 17ª posição, de 20 nações, na taxa de
mortalidade infantil.
Cerca de 50 a 75% de todas as mulheres deram à luz em
hospitais em 1940.
Começaram a ser utilizados berçários, porque as mães não
eram capazes de cuidar de seus filhos por vários dias após o
recebimento de gás clorofórmio.
Em 1933, o Dr. Grantley DickReed escreveu um livro
intitulado Childbirth without Fear (Parto sem Medo), que
reduziu o ciclo “medotensãodor” que as mulheres
apresentavam durante o trabalho de parto e o parto.
Em 1984, o Dr. Fernand Lamaze escreveu um livro
intitulado Painless Childbirth: The Lamaze Method (Parto
sem Dor: o Método Lamaze), que defendia técnicas de
distração e relaxamento para minimizar a percepção da dor.
Em 1966, a amniocentese foi realizada pela primeira vez para
avaliar o crescimento fetal.
Na década de 1970, a taxa de cesariana foi de cerca de 5%.
Até 2000, subiu para 34%, patamar em que se encontra
atualmente.
Durante as décadas de 1970 e 1980 houve uma tendência
crescente de retorno às origens – partos sem medicação e
sem intervenção.
No fim do século XX, foram projetados centros de parto
independente (LDRP), e o número de partos domiciliares
começou a aumentar.
Século Uma em cada três mulheres se submetem a parto cirúrgico
XXI (cesariana).
Os enfermeiros obstetras auxiliam casais em casa, nos
hospitais ou em instituições autônomas com partos naturais.
A pesquisa mostra que as parteiras são as auxiliares de
parto mais seguras para a maioria das mulheres, com
menores taxas de mortalidade infantil e materna e menos
intervenções invasivas, como episiotomia e cesarianas.
Aulas de preparação para o parto de todos os tipos multiplicam
se na maioria das comunidades.
De acordo com os últimos dados disponíveis, os EUA ocupam o
50º lugar do mundo em mortes maternas. A taxa de
mortalidade materna é de aproximadamente 11 em cada
100.000 nascidos vivos.1
De acordo com os últimos dados disponíveis, os EUA ocupam o
41º lugar do mundo em taxas de mortalidade infantil. A taxa
de mortalidade infantil é de aproximadamente 6 em cada
1.000 nascidos vivos.
FIGURA 1.1 Atualmente, os pais e os companheiros das gestantes são convidados a ter participação ativa na
gravidez e no trabalho de parto. A. Um casal pode participar junto das aulas de preparação para o parto. (Foto de
Gus Freedman.) B. Pais e companheiros podem ajudar as mulheres durante o trabalho de parto e o parto. (Foto de
Joe Mitchell.)
Prática baseada em evidências 1.1
Resposta das mulheres ao suporte contínuo ao trabalho de parto.
Ao longo da história, as mulheres ajudaram outras mulheres no trabalho de parto, oferecendo suporte
emocional, medidas de conforto, informações e defesa. No entanto, nos últimos anos, essa prática diminuiu,
e as instituições frequentemente aderem a rotinas específicas estritas, que podem fazer as mulheres se
sentirem “desumanizadas”.
ESTUDO
Foi realizado um estudo para avaliar os efeitos do cuidado intraparto contínuo, na relação de 1:1, nas
parturientes e em seus recémnascidos, em comparação com os cuidados habituais. Esse estudo também
avaliou as práticas e políticas de rotina no ambiente do parto que poderiam influenciar a autonomia, a
liberdade de movimento e a capacidade de lidar com o trabalho de parto da mulher; quem era o cuidador
(um funcionário da instituição ou não); e quando o suporte começou (no início ou ao término do trabalho de
parto). Foram examinados todos os ensaios clínicos randomizados publicados e inéditos que compararam o
apoio contínuo durante o trabalho de parto com os cuidados habituais. Um autor e um assistente de
pesquisa utilizaram métodos padronizados para a coleta e análise dos dados e extraíram os dados de modo
independente. Os autores de ensaios clínicos forneceram informações adicionais. Os pesquisadores usaram
o risco relativo para dados categóricos e a diferença da média ponderada para dados contínuos. Foram
examinados 21 trabalhos de 15 países, envolvendo 15.061 mulheres.
Achados
As mulheres que receberam apoio contínuo intraparto tiveram maior chance ter um parto vaginal
espontâneo (que inclui o parto sem utilização de fórceps nem vacuoextrator e sem realização de cesariana).
Também tiveram leve diminuição na duração do trabalho de parto e precisaram de menos analgesia durante
esse período. Essas mulheres também relataram maior satisfação com seu trabalho de parto e experiência
de parto. Em geral, o suporte fornecido por alguém que não um funcionário da instituição iniciado no
começo do trabalho de parto mostrouse mais efetivo.
Implicações para a enfermagem
Baseado nessa pesquisa, fica claro que as mulheres em trabalho de parto se beneficiam do suporte
individualizado durante o parto. Os enfermeiros podem usar as informações obtidas com esse estudo para
orientar as mulheres em relação à importância de ter o suporte de uma pessoa durante o trabalho de parto
e o parto. Os enfermeiros também podem atuar como defensores da paciente nas instituições em que
trabalham, a fim de promover um ambiente que encoraje a permanência das pessoas que dão suporte à
gestante durante o parto. O foco da enfermagem precisa ser individualizado, solidário e colaborativo com a
família durante o parto. Em suma, os enfermeiros devem colocar as necessidades da mãe e de sua família
em primeiro lugar na prestação do continuum de cuidados.
Embora o estudo tenha constatado que o suporte é mais efetivo quando prestado por alguém que não
seja um membro da equipe de saúde, ter o suporte de alguém é essencial. Atribuir ao mesmo enfermeiro a
prestação de cuidados ao casal durante todo o parto também promove uma relação 1:1, que ajuda a
atender às necessidades do casal e promove a sensação de segurança. Ao atender às necessidades do
casal, o enfermeiro está melhorando a experiência do parto da gestante e de seu companheiro.
Hodnett, E. D., Gates, S., Hofmeyr, G. J., Sakala, C., & Weston, J. (2013). Continuous support for women
during childbirth. Cochrane Database of Systematic Reviews, 7(2), CD003766.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ENFERMAGEM MATERNONEONATAL E
DA SAÚDE DA MULHER
O atendimento de enfermagem maternoneonatal e saúde da mulher presta cuidados baseados em evidências para a paciente
no contexto da unidade familiar. Esse cuidado envolve a implementação de um plano interdisciplinar colaborativo para
assegurar a continuidade de cuidados custoefetivos, de boa qualidade e focados no resultado. Envolve, ainda, cuidados
gerenciados, centrados na família e baseados em evidências.
Cuidado centrado na família
O cuidado centrado na família consiste na prestação de cuidados de saúde seguros, satisfatórios e de alta qualidade,
focalizados e adaptados às necessidades físicas e psicossociais da família. Baseiase na confiança mútua e na colaboração
entre a mulher, a família e o médico. É uma abordagem de parceria entre as famílias e seus cuidadores, que reconhece a
força e a integridade da família. Estes são os princípios básicos do cuidado centrado na família:
• O parto é considerado um evento normal e saudável na vida de uma família
• O parto afeta toda a família, e os relacionamentos mudarão
• As famílias são capazes de tomar decisões sobre seu próprio cuidado se receberem informações adequadas e suporte
profissional (Young, 2014).
A filosofia do cuidado centrado na família reconhece a família como a constante. A saúde e o funcionamento da
família influenciam a saúde da paciente e de outros membros da família. Os familiares se apoiam entre si bem além do
breve período de tempo que o profissional de saúde passa com eles, como durante o processo de gestação ou durante a
doença de uma criança. O parto é considerado um evento normal da vida, em vez de um procedimento clínico.
O cuidado centrado na família exige que a o enfermeiro leve em conta as crenças da paciente e de seus familiares e
daqueles que apoiam sua cultura. Isso envolve ouvir as necessidades da família e passar o papel de autoridade do
profissional de enfermagem para a família, a fim de empoderálos a tomar suas próprias decisões no contexto de um
ambiente acolhedor. Devese aplicar uma perspectiva familiar verdadeira no cuidado à maternidade, e os novos pais devem
ser vistos como uma unidade familiar, não como um caso clínico. Enfermeiros que prestam cuidados centrados na família
identificam, respeitam e se preocupam com as diferenças, os valores, as preferências e as necessidades expressas dos
pacientes; aliviam a dor e o sofrimento; coordenam o cuidado contínuo; escutam, informam com clareza, comunicam e
educam os pacientes; compartilham a tomada de decisão e o manejo; e atuam como defensores contínuos de seus pacientes
(Denham et al., 2016).
No cuidado centrado na família, o suporte e o respeito pela singularidade e pela diversidade das famílias são
essenciais, juntamente com o incentivo e com a valorização dos pontos fortes e das competências dos familiares. É
importante criar oportunidades para que os familiares demonstrem suas habilidades e capacidades. Os familiares podem,
também, adquirir novas habilidades e capacidades para manter uma sensação de controle. O cuidado centrado na família
promove autodeterminação, capacidade de tomada de decisão, controle e autoeficácia maiores dos familiares, aumentando
assim a sensação de empoderamento da paciente e de seus familiares. Ao implementar o cuidado centrado na família, o
profissional de enfermagem busca informações do cuidador. Essas sugestões e conselhos são incorporados ao plano de
cuidado da paciente, enquanto o enfermeiro orienta e ensina aos familiares as intervenções apropriadas. Atualmente, os
enfermeiros fazem parceria com vários especialistas para prestar um atendimento de alta qualidade e custoefetivo, e uma
parceria a ser apreciada com a família da paciente. O profissional de enfermagem empodera a mãe com a liberdade de
escolha, baseada no conhecimento das alternativas. Isso significa que o plano de parto da mãe será honrado em um
ambiente em que suas escolhas sejam respeitadas. Os enfermeiros precisam estabelecer uma parceria com as mulheres e
suas famílias para obter melhores cuidados e resultados de qualidade (Beal, Dalton & Maloney, 2015).
O impacto do cuidado centrado na família pode ser visto nos modelos de prestação de cuidados para as mulheres. Os
familiares ficam juntos após o parto, não separados como outrora. Desde a década de 1980 até o presente, o maior acesso
aos cuidados a todas as mulheres (independentemente de sua condição financeira) e o remodelamento dos hospitais
tiveram como foco a manutenção das famílias unidas durante o parto (Clark, Beatty, & Reibel, 2015). O remodelamento
dos hospitais inclui salas de trabalho de parto, parto e recuperação que incorporam as três atividades em um só ambiente, e
espaços de trabalho de parto, parto, recuperação e pósparto (LDRP) que incorporam todas as quatro atividades em um só
ambiente, para que as famílias não precisem deslocarse de um lugar para outro durante o parto (Figura 1.2).
Cuidados baseados em evidências
A prática baseada em evidências (PBE) é uma abordagem para resolução de problemas durante a tomada de decisões
clínicas de enfermagem (Hanrahan et al., 2015). Envolve a coleta, a interpretação e a integração de evidências derivadas de
pesquisa validadas a partir de vários recursos, como achados de pesquisas, evidências internas de gerenciamento de
resultados ou de processos de aprimoramento de processos e preferências do paciente. Os enfermeiros precisam encontrar
uma maneira de integrar as melhores evidências disponíveis e “traduzilas” para a prática clínica de modo a alcançar os
melhores resultados compatíveis com o objetivo dos cuidados de saúde – melhorar a experiência do atendimento, melhorar
a saúde das mães e dos recémnascidos/lactentes e reduzir os custos dos cuidados de saúde (Hain & Kear, 2015).
A prática de enfermagem baseada em evidências envolve o uso de pesquisas para estabelecer um plano de cuidados e
implementálo. Esse modelo de prática de enfermagem inclui a utilização das melhores evidências atuais na tomada de
decisões sobre o cuidado. O uso generalizado de PBE pode resultar em diminuição na variação dos cuidados e, ao mesmo
tempo, em aumento da qualidade.
FIGURA 1.2 Proporcionar oportunidades para que o irmão mais velho interaja com seu novo irmão é um
componente importante do cuidado de enfermagem centrado na família.
Os achados das pesquisas científicas ajudam os enfermeiros a ficarem atualizados em suas especialidades clínicas,
além de ajudar na escolha das intervenções mais efetivas. Muitas das organizações profissionais, como, por exemplo, a
Association of Women’s Health, Obstetric and Neonatal Nurses (AWHONN), a American Nurses Association (ANA) e a
National League for Nursing (NLN), elaboraram diretrizes clínicas baseadas em evidências para a prestação mais segura e
mais efetiva de cuidados de enfermagem centrados na família. Os enfermeiros devem procurar ativamente essas diretrizes
baseadas em evidências para assegurar a excelência de sua prática diária. Quando a PBE é realizada em um contexto de
cuidado e em uma cultura organizacional de suporte, pode ser alcançada a mais alta qualidade de atendimento, com os
melhores resultados para a paciente. O relatório emblemático da Health and Medicine Division (HMD) (2011), The Future
of Nursing: Leading Change, Advancing Health, listou a PBE como uma competência necessária para melhorar a
qualidade e a segurança do atendimento ao paciente. Assim, não é mais uma opção incorporar a PBE em nossa prática,
mas uma necessidade!
Cuidados gerenciados
Os cuidados de saúde modernos se concentram em um plano interdisciplinar de atendimento projetado para atender às
necessidades físicas, desenvolvimentais, educacionais, espirituais e psicossociais de um paciente. Esse tipo de cuidado
colaborativo interdisciplinar é chamado de gerenciamento de caso, um processo de investigação, planejamento, aplicação,
coordenação, acompanhamento e avaliação das opções e serviços necessários para atender às necessidades de saúde de um
indivíduo utilizando os recursos disponíveis e a comunicação para promover resultados custoefetivos. A excelência
operacional, a qualidade do atendimento e o desempenho financeiro sólido estão cada vez mais fundamentalmente ligados
ao desempenho dos cuidados de saúde. O gerenciamento de caso de qualidade para todas as famílias contribui para menos
complicações, além de reduções no tempo de internação e nos custos. O gerenciamento de caso é um processo contínuo
que exige pensamento crítico em relação ao modo como a assistência é prestada e seus efeitos sobre toda a progressão dos
cuidados de um paciente. Ele tem em sua essência os valores de coordenação dos cuidados, gerenciamento do uso e defesa
da paciente em todo o continuum da assistência (Summers, 2016) e envolve os seguintes componentes:
• Defesa, comunicação e gerenciamento de recursos
• Cuidado abrangente focado na paciente ao longo do processo
• Cuidado coordenado com uma abordagem interdisciplinar (Treadwell et al., 2015).
Quando o profissional de enfermagem exerce efetivamente sua função de gestor de caso, a satisfação da paciente e da
família aumenta, a fragmentação da assistência diminui e é possível medir os resultados para um grupo homogêneo de
pacientes.
Lembrese de Sophia e de sua mãe, Betty, que foram descritas no início do capítulo. Sophia e seu marido
estão planejando realizar um parto natural e deixar os outros filhos assistirem ao parto. Enquanto Sophia
espera para ser chamada para sua consulta, Betty diz: “As coisas mudaram muito desde quando eu
engravidei. É incrível como as coisas são feitas hoje em dia.” Explique como as coisas mudaram nos
cuidados de saúde maternoneonatal, com foco no conceito de cuidado centrado na família.
METAS DE ESTADO DE SAÚDE
Outrora a saúde era definida simplesmente como a ausência de doença; a saúde era medida pelo monitoramento das taxas
de mortalidade e morbidade de um grupo. Contudo, no século XX, o foco da saúde deslocouse para prevenção de
doenças, promoção da saúde e bemestar. A Organização Mundial da Saúde (WHO, 2015a) define a saúde como “um
estado de completo bemestar físico, mental e social, não meramente a ausência de doença ou debilidade”. A definição de
saúde é complexa; não envolve apenas a ausência de doença ou uma análise de estatísticas de morbidade e mortalidade.
Healthy People 2020
Em 1979, um relatório do órgão equivalente ao Ministério da Saúde nos EUA intitulado Healthy People apresentou um
programa de prevenção para a nação, que identificava as ameaças evitáveis à saúde mais significativas dos EUA.
O Healthy People é um conjunto de metas e objetivos para 10 anos, destinados a orientar a promoção nacional da saúde e
os esforços de prevenção de doenças para melhorar a saúde de todos os norteamericanos. A iniciativa atual é o Healthy
People 2020, que é uma programação norteamericana para a promoção da saúde e para a prevenção de doenças em todo o
país, de modo a melhorar a saúde e o bemestar de mulheres, lactentes, crianças e famílias (U.S. Department of Health &
Human Services [USDHHS], 2015a). Dez indicadores específicos de saúde são usados para avaliar o progresso feito na
área da saúde pública e coordenar os esforços nacionais de melhoria da saúde. O Healthy People 2020 destaca os
principais indicadores de saúde do século XXI que precisam ser abordados. Também descreve as principais metas para
aumentar a qualidade e os anos de vida saudável e eliminar as disparidades de saúde entre os grupos étnicos, orientando
sobre as escolhas de estilo de vida e condições ambientais que contribuem para mais da metade de todas as mortes
prematuras nos EUA. O Healthy People 2020 identifica as metas nacionais de saúde específicas relacionadas com a saúde
materna, do lactente e da criança.
Melhorar o bemestar de mães, lactentes e crianças é uma importante meta de saúde pública para os EUA. Seu bem
estar determina a saúde da próxima geração e pode ajudar a prever futuros desafios de saúde pública para as famílias, as
comunidades e o sistema de saúde. Os objetivos da área de saúde materna, do lactente e da criança abordam uma gama de
condições, comportamentos de saúde e indicadores de sistema de saúde que afetam a saúde, o bemestar e a qualidade de
vida das mulheres, crianças e famílias (USDHHS, 2015a).
A determinação do estado de saúde não é um processo simples ou conveniente. Por exemplo, alguns indivíduos com
doenças crônicas não se consideram doentes se conseguem controlar a sua condição por meio do autocuidado. Um método
tradicional usado nos EUA para medir a saúde é examinar dados de mortalidade e morbidade. Coletamse e analisamse
informações para fornecer uma descrição objetiva da saúde norteamericana.
Healthy People 2020 • 1.1
Principais preocupações com a saúde no século XXI
• Atividade física
• Sobrepeso e obesidade
• Tabagismo
• Uso abusivo de substâncias psicoativas
• Comportamento sexual responsável
• Saúde mental
• Lesões e violência
• Qualidade ambiental
• Imunizações
• Acesso aos cuidados de saúde
Objetivos do Healthy People com base em dados de http://www.healthypeople.gov.
Healthy People 2020 • 1.2
Metas norteamericanas de saúde maternoinfantil e da criança
• Reduzir as taxas de mortalidade fetal e infantil
• Reduzir a taxa de mortalidade materna
• Reduzir a taxa de mortalidade no primeiro ano de vida dos portadores da síndrome de Down
• Reduzir a incidência de doenças maternas e de complicações da gravidez
• Reduzir o número de cesarianas em mulheres de baixo risco (a termo, feto único, apresentação cefálica)
• Reduzir o número de recémnascidos com baixo peso (BPN) e com muito baixo peso ao nascer (MBP)
• Reduzir o número de nascimentos prétermo
• Aumentar a proporção de gestantes que recebem atendimento prénatal adequado e precoce
• Aumentar a abstinência de bebidas alcoólicas, cigarro e drogas ilícitas nas gestantes
• Aumentar a proporção de gestantes que comparecem a ciclos de aulas de preparação para o parto
• Aumentar a proporção de mulheres que alcançam o ganho ponderal recomendado durante a gravidez
• Aumentar a proporção de mulheres em idade fértil que ingerem pelo menos 400 μg de ácido fólico a
partir de alimentos fortificados ou suplementos dietéticos
• Reduzir a proporção de mulheres em idade fértil que apresentam baixa concentração eritrocitária de
folato
• Aumentar a proporção de mulheres que dão à luz um feto vivo que receberam assistência pré
concepcional e apresentaram os comportamentos fundamentais de saúde préconcepcional
recomendados
• Reduzir a proporção de mulheres entre 18 e 44 anos que apresentam comprometimento da fertilidade
(ou seja, uma barreira física impedindo a gravidez ou a condução da gestação até seu termo)
• Reduzir a recidiva pósparto de tabagismo nas mulheres que param de fumar durante a gestação
• Aumentar a proporção de parturientes que comparecem a consultas de cuidados pósparto com um
profissional de saúde
• Aumentar a proporção de recémnascidos/lactentes que são colocados para dormir em decúbito dorsal
• Aumentar a proporção de recémnascidos/lactentes que recebem aleitamento materno
• Aumentar a proporção de empregadores que têm programas de apoio à lactação no local de trabalho
• Reduzir a proporção de recémnascidos amamentados pela mãe que recebem suplementação com
fórmula nos dois primeiros dias de vida
• Aumentar a proporção de nascimentos vivos que ocorrem em instituições que prestam os cuidados
recomendados às lactantes e aos seus filhos
• Reduzir a ocorrência de síndrome alcoólica fetal
• Reduzir a proporção de crianças com diagnóstico feito pelo “teste do pezinho” que apresentem retardo
do desenvolvimento que exija serviços de educação especial
• Reduzir a proporção de recémnascidos de baixo peso (menos de 2.500 g) com paralisia cerebral
• Reduzir a ocorrência de defeitos do tubo neural
• Aumentar a proporção de crianças com necessidades especiais de saúde que recebem seus cuidados
em sistemas centrados na família, abrangentes e coordenados
• Aumentar a realização do “teste do pezinho” adequado no recémnascido e o seu acompanhamento
• Aumentar a proporção de recémnascidos de muito baixo peso em hospitais terciários ou centros
perinatais especializados
Objetivos do Healthy People 2020 com base em dados de http://www.healthypeople.gov.
Mortalidade
A mortalidade é a incidência ou o número de pessoas que morreram em um período específico. Essa estatística é
apresentada como taxas por 100.000 e é calculada a partir de uma amostragem de atestados de óbito. O National Center for
Health Statistics, filiado ao USDHHS, coleta, analisa e divulga os dados sobre as taxas de mortalidade dos EUA.
Mortalidade materna
A taxa de mortalidade materna é o número anual de mortes de mulheres por qualquer causa relacionada ou agravada
pela gravidez ou pelo seu tratamento (excluindo causas acidentais ou incidentais) durante a gestação e no parto ou até 42
dias após o término da gestação, independentemente da duração e do local da gravidez. Foi descrita como uma razão de
mortes por 100.000 nascidos vivos, em um dado ano.
Nos EUA, a taxa de mortalidade materna é mista, dependendo da origem étnica. As mulheres afroamericanas têm
taxas de mortalidade materna três a quatro vezes maiores do que as de qualquer outro grupo étnico: cerca de 36 a cada
100.000 afroamericanas morrem em decorrência do parto, em comparação com taxas muito mais baixas em mulheres
brancas (11,7) e mulheres de outras raças (17,6) (Centers for Disease Control and Prevention [CDC], 2015a). O governo
federal se comprometeu a melhorar os resultados de cuidados maternoinfantis e, assim, reduzir as taxas de mortalidade
para as mulheres e crianças ao endossar o programa Healthy People 2020. Contudo, os dados da OMS (WHO, 2015d)
mostram que os EUA ocupam o 50o lugar de aproximadamente 240 nações no mundo em termos de mortalidade materna,
com taxas mais elevadas do que quase todos os países europeus, assim como vários países da Ásia e do Oriente Médio.
Essa estatística coloca os EUA perto da parte inferior do quartil superior dos países desenvolvidos. Para um país que
gasta mais do que qualquer outro em cuidados com a saúde e muito mais com a assistência ao parto do que qualquer outra
área de internação – US$ 86 bilhões ao ano –, isso é um retorno muito ruim para os investimentos (International Center
for Research on Women, 2015).
Durante as últimas décadas, a mortalidade e a morbidade diminuíram drasticamente, como resultado da maior ênfase
dada à higiene, à boa alimentação, à prática de exercícios físicos e ao acompanhamento prénatal para todas as mulheres.
No entanto, as mulheres ainda apresentam taxas significativas de complicações. Os EUA são um dos países mais
avançados na área da saúde e tecnologia, além de terem o maior gasto per capita com saúde do mundo, embora as taxas de
mortalidade tenham aumentado constantemente ao longo dos anos. Os EUA são um dos oito países do planeta com
aumento progressivo da mortalidade materna. Os outros países incluem o Afeganistão, a Grécia, a África e a América
Central (Kassebaum et al., 2014). Essas taxas de mortalidade atuais indicam a necessidade de melhoria. Por exemplo:
• Duas ou três mulheres morrem nos EUA todos os dias por complicações na gravidez; mais de 30% das gestantes (1,8
milhão de mulheres por ano) apresentam algum tipo de doença ou lesão durante o parto (Abel, 2015)
• Os EUA ocupam a 50a posição (em outras palavras, abaixo de 49 outros países) nas taxas de mortalidade materna
(mortes por 100.000 nascidos vivos) (WHO, 2015d)
• A maioria das complicações relacionadas com a gravidez é passível de prevenção. As cinco principais causas de
mortalidade relacionada com a gravidez são embolia pulmonar (20%), hemorragia (17%), préeclâmpsia e eclâmpsia
(16%), infecção (13%) e miocardiopatia (8%) (Chescheir, 2015).
As taxas de mortalidade e morbidade materna de afroamericanas têm sido 3 a 4 vezes superiores às das brancas
(Creanga et al., 2015). Essa grande disparidade racial persiste há mais de 60 anos, e as mulheres afroamericanas correm
risco pelo menos dobrado de morte relacionada com a gravidez quando comparado ao das mulheres brancas. Essa
diferença marcante na taxa de mortalidade relacionada com a gravidez é a maior disparidade na área da saúde materna e
infantil. Os pesquisadores não entendem completamente o que leva a essa disparidade, mas algumas causas suspeitas de
aumentarem as taxas de mortalidade materna nas mulheres das minorias étnicas incluem baixo nível socioeconômico,
assistência de saúde limitada ou inexistente, viés dos profissionais de saúde (que fomenta desconfiança) e qualidade dos
cuidados disponíveis na comunidade. As barreiras de idioma e legais também explicam por que algumas imigrantes não
recebem bons cuidados prénatais. A falta de cuidados durante a gravidez é um importante fator contribuinte para um
resultado ruim. O cuidado prénatal comprovadamente evita as complicações da gravidez e promove o nascimento de
crianças saudáveis; mas nem todas as mulheres recebem a mesma qualidade e quantidade de cuidados de saúde durante sua
gravidez. A mortalidade relacionada com a gravidez está aumentando nos EUA. A meta do Healthy People 2020 para as
mortes maternas é de 11,4 por 100.000 nascidos vivos (USDHHS, 2015a). As gestantes afroamericanas apresentaram
graus mais elevados de hipertensão arterial e níveis de hemoglobina mais baixos na admissão, além de procurem
assistência prénatal muito mais tarde, em média, do que as mulheres brancas, quando o fazem (Creanga et al., 2015).
O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) observou que a disparidade nas taxas de mortalidade materna
entre mulheres negras e brancas é uma das maiores disparidades raciais entre os indicadores de saúde pública. A
eliminação das disparidades raciais e étnicas na área da saúde maternoinfantil exige mais esforços na área de prevenção de
doenças, promoção da saúde e prestação de cuidados adequados e oportunos (CDC, 2015a). O CDC solicitou mais
pesquisas e monitoramento para entender e lidar com as disparidades raciais, juntamente com o aumento dos recursos
financeiros destinados ao atendimento prénatal e pósparto. São necessárias pesquisas para identificar as causas e projetar
iniciativas para reduzir essas disparidades; o CDC está solicitando ao Congresso norteamericano que expanda os
programas que prestam cuidados prénatal e pósconcepção para mulheres carentes.
Mortalidade fetal
A taxa de mortalidade fetal, ou taxa de morte fetal, referese ao número de mortes intrauterinas espontâneas de fetos em
qualquer momento da gestação por 1.000 nascidos vivos. Os fetos que morrem em fases tardias da gravidez (> 20
semanas de gestação) muitas vezes são chamados de natimortos. A taxa de mortalidade fetal pode ser atribuída a fatores
maternos (p. ex., desnutrição, doença ou dilatação cervical prematura) ou fatores fetais (p. ex., alterações cromossômicas
ou má fixação da placenta).
A mortalidade fetal é um problema importante, embora muitas vezes negligenciado, de saúde pública. Referese à
morte intrauterina espontânea a qualquer momento durante a gravidez. A taxa de mortalidade fetal nos EUA é de 6,2 por
1.000 nascidos vivos (CDC, 2015b). A meta do Healthy People 2020 é reduzila para 5,6 óbitos fetais (USDHHS, 2015a).
Grande parte da preocupação pública em relação à perda reprodutiva concentrouse na taxa de mortalidade infantil, porque
pouco se sabe sobre a taxa de mortalidade fetal. No entanto, o impacto da mortalidade fetal nas famílias nos EUA é
considerável, porque fornece uma visão global da qualidade da saúde materna e prénatal.
Mortalidade neonatal e infantil
A taxa de mortalidade neonatal é o número de mortes de crianças que ocorrem nos primeiros 28 dias de vida por 1.000
nascidos vivos. Os EUA ocupam agora o 41o lugar no mundo em termos de mortalidade neonatal, a taxa de crianças
mortas com menos de 1 mês de idade. A taxa de mortalidade neonatal é de 4,5 por 1.000 nascidos vivos (USDHHS,
2015b; World Bank, 2015). A meta do Healthy People 2020 é reduzila para 4,1 (USDHHS, 2015a). A cada ano, a morte
de 2 milhões de recémnascidos é ligada a complicações durante o parto ou durante o primeiro mês de vida, e o ônus recai
injustamente sobre os pobres. Estratégias baseadas em evidências são urgentemente necessárias para reduzir o ônus de
mortes relacionadas com o processo do parto (CDC, 2015c). A confiabilidade das estimativas de mortalidade neonatal
depende da exatidão e da integridade das informações e do registro de nascimentos e mortes. A subnotificação e a
classificação incorreta são comuns, especialmente para as mortes que ocorrem no início da vida.
A taxa de mortalidade perinatal engloba as taxas de mortalidades neonatais tardias ou precoces e é definida como o
número de natimortos e mortes na primeira semana de vida por 1.000 nascidos vivos, também é um útil indicador do
estado de saúde. Atualmente, tentase melhorar as estimativas de natimortalidade, um importante componente da
mortalidade perinatal (WHO, 2015b). A taxa de mortalidade perinatal é uma soma total da:
• Taxa de mortalidade fetal: a morte de um feto antes da expulsão ou extração da mãe. A morte fetal é determinada pela
ausência de sinais de vida após o parto
• Taxa de mortalidade neonatal: o número de neonatos que morrem antes de atingir os 28 dias de vida, para cada 1.000
nascidos vivos em um determinado ano.
A taxa de mortalidade infantil é o número de mortes ocorridas nos primeiros 12 meses de vida. Também é
documentada como o número de óbitos de crianças menores de 1 ano de idade por 1.000 nascidos vivos. As taxas de
mortalidade neonatal e de mortalidade pósneonatal (que abrange os 11 meses restantes do primeiro ano de vida) estão
refletidas na taxa de mortalidade infantil. A taxa de mortalidade infantil é utilizada como um índice da saúde geral de um
país. Atualmente, cerca de dois terços das mortes de recémnascidos/lactentes nos EUA ocorrem antes dos 28 dias. Um
terço ocorre no período entre 28 dias e menos de 1 ano de vida (USDHHS, 2015a). Em geral, essa estatística é uma das
medidas mais significativas da saúde materna e infantil. Nos EUA, a taxa de mortalidade infantil é de 6,17 (World Fact
Book, 2015). A meta do Healthy People 2020 é reduzila para 6,0 (USDHHS, 2015a).
Apesar do rápido declínio da mortalidade infantil nos países industrializados durante o século XXI, a taxa de
mortalidade infantil nos EUA diminuiu apenas marginalmente. Disparidades raciais e étnicas nas taxas de mortalidade
infantil têm persistido e aumentado, assim como os percentuais de partos prétermo e com baixo peso ao nascer. A
mortalidade infantil é um problema complexo e multifatorial, que se mostrou resistente aos esforços de intervenção
(McGill, 2015).
Nos EUA a taxa de mortalidade infantil varia muito de um estado para outro, bem como entre os grupos étnicos. Os
EUA têm um dos maiores PIB (produto interno bruto) do mundo e são conhecidos por suas capacidades tecnológicas,
embora continuem ficando para trás em preservar a vida da criança quando comparados a outros países industrializados
(CDC, 2015d). As principais causas de morte infantil precoce nos EUA incluem problemas que ocorrem ao nascimento ou
imediatamente depois. Prematuridade, baixo peso ao nascer, anomalias congênitas, síndrome de morte súbita infantil
(SMSI) e síndrome de angústia respiratória (Oza et al., 2015) são alguns deles.
Anote!
Os lactentes afroamericanos, nativos americanos e inuítes têm consistentemente apresentado maiores taxas de
mortalidade infantil do que outros grupos étnicos (Kail & Cavanaugh, 2016).
As anomalias congênitas ainda são a principal causa de mortalidade infantil nos EUA. O baixo peso ao nascer e a
prematuridade são indicadores importantes de saúde infantil e preditores significativos de mortalidade infantil (Wang et
al., 2015). A elevada incidência de baixo peso ao nascer (< 2.500 g) nos EUA é um motivo importante para a taxa de
mortalidade infantil norteamericana ser mais elevada do que a de outros países (Redding et al., 2015).
Após o nascimento, outras estratégias de promoção da saúde conseguem melhorar significativamente a saúde e as
chances de sobrevida de uma criança. O aleitamento materno comprovadamente reduz as taxas de infecção em recém
nascidos e melhora sua saúde a longo prazo (King et al., 2015). Enfatizar a importância de colocar uma criança em
decúbito dorsal ao dormir reduzirá a incidência de SMSI. Encorajar as mães a participar de grupos de apoio para evitar a
depressão pósparto e aprender boas práticas de cuidados com a criança melhorará a saúde das mães e de seus filhos.
Morbidade
A morbidade indica um estado de doença ou condição. Muitas mulheres engravidam com uma doença crônica, uma
infecção ou anemia ou hábitos de vida (tabagismo e etilismo) prejudiciais ao bemestar do feto. Qualquer um ou todos
esses fatores podem levar a um resultado sombrio.
Morbidade e mulheres
As mulheres de hoje enfrentam não só as doenças de origem genética, mas também as doenças que surgem de maus
hábitos pessoais. Embora as mulheres representem 51% da população, só recentemente os pesquisadores e a comunidade
médica se voltaram para suas necessidades especiais de saúde. Um importante estudo identificou uma necessidade urgente
de melhorar o acesso das mulheres a planos e serviços de saúde, enfatizar a prevenção e investir em mais pesquisas sobre
a saúde da mulher (National Women’s Law Center [NWLC], 2010). Esse estudo identificou 26 indicadores de acesso das
mulheres aos serviços de saúde, aferindo o quanto as mulheres recebem cuidados preventivos de saúde e participam de
atividades de promoção da saúde (Boxe 1.2). O boletim deu aos EUA como um todo a classificação “insatisfatória” e
nenhuma unidade federativa recebeu uma classificação “satisfatória”. Conforme descrito no 2010 National Report
Card do NWLC, os EUA alcançaram diversos parâmetros desde 2010: o rastreamento de câncer colorretal aumentou; o
número de consultas anuais ao odontologista aumentou; as taxas de mortalidade por doença da artéria coronária
diminuíram consideravelmente; e há também um declínio constante no número de mulheres que fumam e que fazem
mamografias. Os outros parâmetros não foram alcançados pelos EUA. Outros achados abaixo do padrão incluíram os
seguintes:
• Nenhum estado concentrou suficiente atenção nas medidas preventivas, como o abandono do tabagismo, a prática de
exercícios físicos, a nutrição e o rastreamento de doenças
• Muitas mulheres não têm plano de saúde: em nível nacional, cerca de uma em cada cinco mulheres não tem plano de
saúde
• Nenhum estado abordou adequadamente as necessidades de saúde das mulheres nas áreas de saúde reprodutiva, saúde
mental e violência contra as mulheres
• Foram feitas poucas pesquisas em relação às condições de saúde que influenciam basicamente as mulheres e que
afetam as mulheres de modo diferente dos homens (NWLC, 2010).
A aprovação do Affordable Care Act (ACA), bem como do Healthy People 2020, é bastante promissora para a saúde
das mulheres. Esperase que a ênfase no acesso a cuidados preventivos de saúde tenha um impacto positivo na abordagem
das áreas de deficiência identificadas no 2010 Report Card. É essencial que as mulheres aproveitem os novos benefícios,
as expansões e as melhorias incluídas na nova lei. Os enfermeiros têm um papel fundamental no monitoramento da
implementação do ACA para garantir que todas as mulheres recebam os cuidados de saúde que precisam e merecem.
A situação de saúde das mulheres em todos os EUA precisa ser melhorada. Muitos estados não cumpriram as metas
do Healthy People 2020 para o estado de saúde satisfatório; os estados estão se adequando lentamente às mudanças
políticas que podem melhorar a saúde das mulheres. Desde 2010, mais estados têm feito mudanças positivas em suas
políticas, mas ainda há uma grande distância a percorrer. Muito mais precisa ser feito para melhorar o acesso a planos,
profissionais e serviços de saúde e para aumentar o acesso aos serviços de saúde reprodutiva. Além disso, as mulheres
precisam de ajuda para alcançar a segurança econômica que, se obtida, melhorará muito a sua saúde e a de suas famílias. O
boletim do NWLC revelou problemas e suas possíveis soluções para a criação de uma nação de mulheres saudáveis, para
o benefício delas mesmas, de suas famílias e de suas comunidades. Cabe a todas as mulheres defender a melhora da
própria saúde, escrevendo uma carta aos seus representantes do Congresso exigindo que implementem políticas de saúde
que promovam a saúde de todas as mulheres. Essa ação política é vital, visto que a saúde de todas as mulheres no país
está em jogo.
BOXE 1.2
INDICADORES DA SAÚDE DA MULHER NOS EUA
• Taxa de mortalidade por câncer de pulmão
• Diabetes melito
• Taxa de mortalidade por doença cardíaca
• Consumo excessivo episódico de álcool etílico
• Conclusão do ensino médio
• Pobreza
• Diferença salarial
• Taxa de síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS)
• Taxa de mortalidade materna
• Incidência de infecção por clamídia
• Taxa de mortalidade por câncer de mama
• Taxa de mortalidade por doença cardíaca
• Tabagismo
• Sobrepeso
• Atividades de lazer que não incluem atividade física
• Comer cinco porções diárias de frutas e verduras
• Rastreamento colorretal
• Mamografias
• Esfregaços de Papanicolaou
• Prénatal no primeiro trimestre de gestação
• Acesso a plano de saúde
Adaptado de National Women’s Law Center. (2010). Making the grade on women’s health: A national state
bystate report card. Retirado de http://hrc.nwlc.org/states/nationalreportcard.
Principais problemas de saúde das mulheres
A doença cardiovascular (DCV) é a principal causa de morte de mulheres, independentemente da raça ou do grupo étnico.
Mais de 500.000 mulheres morrem anualmente nos EUA por DCV – cerca de uma morte por minuto (Alexander et al.,
2014). É mais provável que as mulheres que sofrem um infarto do miocárdio morram do que os homens. O infarto do
miocárdio nas mulheres frequentemente é mais difícil de diagnosticar do que nos homens, em decorrência de seus
sintomas vagos e variados. Ainda existe a crença de que a doença cardíaca seja uma “doença de homem” e, portanto, o
infarto do miocárdio pode não ser considerado no diagnóstico diferencial quando a mulher chega ao prontosocorro.
Os profissionais de enfermagem precisam olhar além da óbvia “dor torácica em caráter de opressão”, sintoma clássico
que denuncia um infarto do miocárdio no homem. Os sintomas podem ser atípicos: dispneia em vez de dor torácica. As
causas de doenças cardíacas diferem entre homens e mulheres de várias outras maneiras – por exemplo, menopausa
(associada a aumento significativo de eventos coronários); história de préeclâmpsia; diabetes melito, níveis sanguíneos
elevados de colesterol e hipertrofia ventricular esquerda; tabagismo, inclusive tabagismo passivo; hipertensão gestacional;
síndrome do ovário policístico; inflamação dos vasos sanguíneos e episódios repetidos de perda e ganho de peso (aumento
das taxas de morbidade e mortalidade por coronariopatia) (Manson & Bassuk, 2015). Enfermeiros têm um papel
importante no empoderamento das mulheres a adotarem um estilo de vida saudável e evitar que se tornem estatísticas de
mortalidade.
CÂNCER
O câncer é a segunda principal causa de morte de mulheres (American Cancer Society [ACS], 2015a). As mulheres
correm risco de 1 em cada 3 de desenvolver câncer ao longo da vida, e 1 de cada 4 mortes é causada por câncer
(Alexander et al., 2014). Embora grande parte da atenção esteja focada no câncer do sistema genital, o câncer de pulmão é
a principal causa de morte em mulheres (ACS, 2015b). Em grande parte, isso é decorrente do hábito de fumar e do
tabagismo passivo. O câncer de pulmão não apresenta sinais e sintomas iniciais, o que torna a detecção precoce quase
impossível. Assim, o câncer de pulmão tem a menor taxa de sobrevida de qualquer tipo de câncer: mais de 90% das
pessoas com câncer de pulmão morrem em decorrência dele (Islami et al., 2015).
O câncer de mama ocorre em 1 a cada 8 (12%) mulheres ao longo da vida. Estimouse que, em 2015, cerca de 231.840
novos casos de câncer de mama invasivos seriam diagnosticados nas mulheres nos EUA. Estimouse que 40.290 mulheres
morreriam da doença em 2015 (ACS, 2015c). A taxa de câncer de mama nas mulheres brancas é mais elevada do que nas
afroamericanas, mas estas são mais propensas a ter câncer de mama antes dos 40 anos de idade e a morrer em decorrência
dele em qualquer idade. As causas dessa desigualdade são complexas e refletem mais as disparidades sociais e econômicas
do que as diferenças biológicas associadas à raça. As disparidades socioeconômicas incluem desigualdades no trabalho, na
riqueza, na renda, na escolaridade, na moradia e no padrão geral de vida, bem como nas barreiras à prevenção de alta
qualidade, na detecção precoce e nos serviços de tratamento de câncer (ACS, 2015d).
As mulheres que vivem na América do Norte têm a maior taxa de câncer de mama do mundo. A partir de 2015
existirão mais de 3 milhões de sobreviventes de câncer de mama nos EUA. É o tumor maligno mais comum em mulheres,
perdendo apenas para o câncer de pulmão como causa de morte por câncer em mulheres (ACS, 2015c). Embora história
familiar positiva de câncer de mama, envelhecimento e irregularidades no ciclo menstrual em idade precoce sejam
importantes fatores de risco, outros fatores de risco incluem sobrepeso e obesidade, não ter filhos, uso de contraceptivos
orais, consumo excessivo de etanol, dieta rica em gordura e terapia de reposição hormonal prolongada (ACS, 2015c). As
taxas de câncer de mama caíram recentemente, possivelmente devido à diminuição do uso de terapia de reposição
hormonal prolongada, que ocorreu depois que o relatório Women’s Health Initiative foi publicado, em 2002, e o Million
Women Study em 2003 (Mirkin et al., 2015). No entanto, a detecção precoce e o tratamento ainda oferecem a melhor
chance de cura; do mesmo modo, reduzir o risco de câncer diminuindo os riscos evitáveis ainda é o melhor plano de
prevenção.
QUESTÕES DE GRAVIDEZ E SAÚDE
As gestantes não são, de modo algum, imunes a qualquer um dos problemas de saúde mencionados anteriormente. Muitas
mulheres engravidam com condições de saúde que podem incluir hipertensão arterial, obesidade, doença cardiovascular
(DCV), diabetes melito, doenças autoimunes, anemia, asma brônquica, IST/DST, depressão ou câncer. Embora a maioria
das gestantes seja jovem e razoavelmente saudável, a incidência de muitos problemas de saúde crônicos em mulheres
jovens e a obesidade infantil estão aumentando secundariamente à epidemia de obesidade nos EUA. A obesidade por si só
aumenta o risco da ocorrência de coágulos sanguíneos, partos cirúrgicos, parto prétermo, macrossomia, diabetes melito,
hipertensão gestacional e infecções pósparto (DeJoy & Bittner, 2015).
A saúde da mulher é uma questão complexa. Nenhuma política de saúde isolada será capaz de mudar as desanimadoras
condições estaduais. Embora o progresso da ciência e da tecnologia tenha ajudado a reduzir a incidência de várias doenças
e a melhorar as taxas de sobrevida, os problemas de saúde das mulheres continuam tendo impacto em nossa sociedade.
Por meio de eliminação ou redução de alguns dos fatores de risco e causas de doenças e enfermidades prevalentes, a
sociedade e a ciência poderiam minimizar alguns problemas crônicos de saúde. Focar nas causas e nos efeitos de doenças
específicas poderia ajudar a resolver os problemas de saúde da atualidade de muitas mulheres.
FATORES QUE AFETAM A SAÚDE MATERNONEONATAL E DA MULHER
Desde a concepção, as crianças são moldadas por uma miríade de fatores, como a genética e o meio. Como membros de
uma família, elas também são membros de uma população, uma comunidade, uma cultura e uma sociedade específicas. À
medida que aprendem e crescem, são afetadas por influências múltiplas, complexas e em constante mudança ao seu redor.
Por exemplo, mudanças demográficas drásticas nos EUA levaram a mudanças em grupos populacionais majoritários e
minoritários. A globalização levou a um foco internacional na saúde. O acesso e os tipos de cuidados de saúde disponíveis
mudaram em decorrência da modificação na prestação e no financiamento de cuidados de saúde. Além disso, os EUA
ainda estão às voltas com questões como imigração, pobreza, falta de moradia e violência. O atendimento prénatal é
importante para monitorar a gravidez, detectar e tratar precocemente as complicações, prevenir doenças por meio de
imunização e boa nutrição, além de promover estilos de vida saudáveis após o parto. Todos esses serviços são necessários
para um resultado saudável da gravidez (McFarlane, 2015).
Esses fatores podem afetar a pessoa positivamente, promovendo o crescimento e o desenvolvimento saudáveis, ou
negativamente, aumentando os riscos à saúde da pessoa. Os profissionais de enfermagem, especialmente aqueles que
trabalham com mulheres e suas famílias, precisam entender como essas influências afetam a qualidade dos cuidados de
enfermagem e os resultados de saúde. É essencial que os profissionais de enfermagem analisem o impacto dessas
variáveis para obter o conhecimento e as habilidades necessários para planejar cuidados efetivos, conseguindo assim os
melhores resultados possíveis.
Família
A família é considerada a unidade social básica da nossa sociedade. A maneira como as famílias são definidas mudou
(Tabela 1.1). O United States Bureau of the Census (2015) define a família como um grupo de duas ou mais pessoas
relacionadas por nascimento, casamento ou adoção e convivência. As definições anteriores da família enfatizavam os laços
jurídicos ou as relações genéticas de pessoas que vivem na mesma casa com funções específicas.
A família influencia fortemente o desenvolvimento e a saúde de seus membros. Por exemplo, as crianças aprendem as
atividades, as crenças e os valores de saúde de sua família. A estrutura da família, os papéis adotados pelos familiares e as
mudanças sociais que afetam a vida da família podem influenciar a mulher e o estado de saúde do recémnascido. As
famílias são únicas: cada uma tem diferentes visões e precisa de métodos distintos de apoio (Figura 1.3).
Mudanças nos papéis dos pais ao longo do tempo
Os papéis dos pais têm evoluído ao longo do tempo devido a mudanças sociais e econômicas, bem como a mudanças
familiares. Tradicionalmente, o papel de provedor era atribuído ao pai, e a mãe desempenhava o papel de educadora. No
entanto, com mais mulheres no mercado de trabalho e mais famílias com dois genitores que trabalham, hoje ambos os pais
muitas vezes são provedores e educadores. A expansão tecnológica também tem afetado os papéis tradicionais, tornando
possível que alguns pais trabalhem em casa e, portanto, mantenham o papel de provedor, cumprindo ao mesmo tempo as
funções de educador e gestor de saúde. Além de os homens assumirem maiores responsabilidades relacionadas com os
cuidados com a casa e com o lactente ou a criança, o número de famílias monoparentais e de famílias de crianças cuidadas
por avós está aumentando. Uma em cada três crianças nascidas nos EUA é de uma família monoparental (Federal
Interagency Forum on Child and Family Statistics [FIFCFS], 2015).
Enquanto as mães têm serviços que facilitam a transição do trabalho para a experiência de maternidade e então de volta
para o trabalho, os pais raramente recebem a mesma assistência. Conforme os pais começam a preencher um papel mais
holístico, a sociedade já percebeu que eles têm um tremendo impacto na vida de seus filhos a partir de uma idade precoce.
Portanto, é importante que os homens recebam a mesma assistência que as mulheres durante os períodos de transição,
como licençapaternidade e horários de trabalho mais flexíveis (FIFCFS, 2015). Fornecer serviços de assistência ajuda e
empodera os homens a serem melhores pais na vida de seus filhos.
Ser pai/mãe é um dos trabalhos mais desafiadores que uma pessoa pode desempenhar. No entanto, não existe um
manual que ensine como ser bemsucedido nessa tarefa. Os profissionais de enfermagem precisam incentivar a
participação de ambos os genitores, convidando a mãe e o pai a entrar na sala de parto, aprender seus nomes, direcionar as
perguntas a eles e ouvir suas respostas. Ao garantir que os dois genitores se sintam envolvidos e importantes desde os
primeiros sinais da gravidez, durante o parto e depois, os profissionais de enfermagem melhoram o desenvolvimento
cognitivo e socioemocional do filho. O bemestar da família ajuda a formar uma base para a maternidade/paternidade
positiva e para o bemestar da criança (Newland, 2015).
Tabela 1.1 Exemplos das estruturas familiares da sociedade
atual.
Essas famílias tendem a
enfrentar desafios por
causa de restrições
econômicas, sociais e
pessoais; uma pessoa
atua como dona de casa,
cuidadora e provedora
financeira
Popular em algumas culturas,
como a latinoamericana e
a asiática
Provavelmente ainda
precisam de apoio de suas
famílias em relação a
questões financeiras,
emocionais e escolares
FIGURA 1.3 Os profissionais de enfermagem precisam levar em conta a dinâmica das famílias na prestação de
cuidados de saúde. Há muitas estruturas familiares diferentes, que influenciam as necessidades da paciente. A. A
família nuclear tradicional é composta por pai e mãe e seus filhos biológicos ou adotivos. B. A família estendida
inclui a família nuclear, além de outros familiares, como avós, tias, tios e primos. C. As famílias homoparentais são
formadas por duas pessoas do mesmo sexo em um relacionamento sério, com ou sem filhos.
Lembrese de Sophia, a gestante descrita no início do capítulo. Identifique os papéis parentais assumidos
por ela. Como esses papéis são diferentes dos exercidos pela mãe dela quando tinha a idade de Sophia?
Genética
A genética (o estudo da hereditariedade e de suas variações) tem implicações em todas as fases da vida e em todos os tipos
de doenças. Os traços biológicos do recémnascido ou do lactente, incluindo sexo, raça, algumas características
comportamentais, bem como a ocorrência de determinadas doenças ou enfermidades, estão diretamente ligados à herança
genética. Novas tecnologias em biologia molecular e bioquímica conduziram a melhor compreensão dos mecanismos
envolvidos na transmissão hereditária, incluindo os associados a doenças genéticas. Esses avanços estão levando a
melhores exames diagnósticos e opções de tratamento.
Sexo
O sexo é determinado quando os cromossomos sexuais se juntam. O sexo de uma pessoa pode influenciar muitos
aspectos, como as características físicas e os atributos pessoais, as atitudes e os comportamentos. Algumas doenças ou
enfermidades são mais comuns em um determinado sexo; por exemplo, a escoliose é mais comum em mulheres e o
daltonismo em homens (Snustad, 2015).
Raça
O termo raça referese às características físicas que distinguem os membros de determinado grupo, como a cor da pele, a
estrutura óssea ou o tipo de sangue. Algumas características físicas que são normais em uma raça específica podem ser
consideradas um sinal de distúrbio em outras raças. Por exemplo, as pregas epicânticas (pregas verticais de pele que
cobrem parcial ou totalmente o canto interno do olho) são normais em crianças asiáticas, mas podem ocorrer na síndrome
de Down ou na agenesia renal em outras raças. Além disso, determinadas malformações e doenças são encontradas mais
comumente em raças específicas. Por exemplo, a anemia falciforme ocorre mais frequentemente em grupos populacionais
da África e do Mediterrâneo; a fibrose cística é mais comum em indivíduos de grupos populacionais do noroeste da
Europa (Donaldson et al., 2015).
A conscientização é importante na orientação dos casais em risco genético em relação aos benefícios de programas de
rastreamento e na busca proativa de aconselhamento genético préconcepção para considerar as opções que podem incluir o
diagnóstico genético préimplantação (o uso da tecnologia de fertilização in vitro para rastreamento de embriões não
afetados). O diagnóstico genético préimplantação foi desenvolvido como uma alternativa ao diagnóstico prénatal para
casais com histórico familiar de doença genética (Cunningham, Goldsmith & Skirton, 2015). A falta de engajamento por
minorias étnicas pode simplesmente refletir falta de conscientização genética. Os enfermeiros podem assumir a liderança
em ajudar os casais a adquirir a conscientização necessária que irá empoderálos na tomada de decisões inteligentes
relacionadas com a reprodução.
Sociedade
A sociedade tem um grande impacto sobre a saúde das mulheres e de suas famílias. Influências importantes incluem
papéis sociais, condição socioeconômica, a mídia e a natureza global da sociedade em expansão. Cada uma delas pode
influenciar o autoconceito de uma pessoa, o local em que ela vive, o estilo de vida que leva e, portanto, a sua saúde.
Papéis sociais
A sociedade muitas vezes prescreve padrões específicos de comportamentos: determinados comportamentos são
permitidos e outros são proibidos. Esses papéis sociais muitas vezes são um fator importante no desenvolvimento do
autoconceito. Os papéis sociais influenciam a ideia que uma pessoa tem sobre si mesma. Geralmente são desempenhados
em grupos com os quais o indivíduo tem contato próximo diário, como a família, a escola, o local de trabalho ou grupos
de amigos.
Condição socioeconômica
Outra influência dominante sobre a saúde é a condição socioeconômica da pessoa, a sua posição relativa na sociedade. Isso
inclui os níveis econômico, ocupacional e educacional da família. O baixo nível socioeconômico exerce, tipicamente,
influência negativa sobre a saúde do indivíduo. As despesas de saúde continuam aumentando, assim como as mensalidades
dos planos de saúde. A família pode não ser capaz de pagar por alimentação, saúde e habitação, e as refeições podem ser
desequilibradas, irregulares ou insuficientes. A moradia pode estar superlotada ou sofrer falta de saneamento. Algumas
famílias podem não ter condições financeiras ou não estão cientes da importância dos cuidados preventivos. Como
resultado, podem estar expostas a riscos à saúde, como o envenenamento por chumbo, ou podem não ser imunizadas
contra doenças transmissíveis.
Meios de comunicação
As redes sociais e os meios de comunicação de massa há tempos têm influenciado o comportamento humano. Até
recentemente, a troca de informações utilizando os diversos meios de comunicação era lenta e limitada. Hoje, como as
notícias são transmitidas 24 horas por dia, as informações se propagam rapidamente. Embora todos façam parte de uma
rede social, cada pessoa conhece apenas vagamente os amigos dos seus amigos e a rede mundial subsequente à qual todos
estão eletronicamente conectados (OeldorfHirsch & Sundar, 2015).
Os meios de comunicação de massa (os veículos por meio dos quais as informações chegam a um grande número de
pessoas, por exemplo, televisão, internet, rádio, filmes e jornais) costumam abordar tópicos relacionados à saúde, e para
algumas mulheres podem ser fontes importantes de informações sobre sua saúde. Os meios de comunicação podem
influenciar o comportamento das mulheres, dependendo das mensagens enviadas. Uma das maiores influências é a
propaganda de medicamentos na televisão. Uma frase frequente no fim da propaganda como: “Pergunte ao seu médico se
este medicamento é adequado para você” cria uma poderosa sugestão para a mulher solicitar esse medicamento específico
quando ela se consulta com seu médico, se os sintomas parecerem coincidir com os descritos na propaganda.
Questões relacionadas com promoção da saúde, contágio, difusão da doença e bemestar geral são preocupações
epidemiológicas clássicas abordadas pelas redes sociais e pelos meios de comunicação de massa. Frequentemente, os
meios de comunicação retratam um mundo em que os comportamentos não saudáveis, como agressão física, sexo sem
proteção adequada, tabagismo e etilismo, são glamorosos e isentos de riscos. Essas mensagens não realistas podem ser
prejudiciais para as escolhas de saúde das mulheres jovens. É essencial que os profissionais de enfermagem enfrentem
esses mitos para dissipálos.
POBREZA
A pobreza é uma medida baseada nos proventos de uma família. O limiar de pobreza é a quantia em dólares que o United
States Census Bureau usa para determinar se uma família está vivendo na pobreza. Se a renda da família ou do indivíduo
estiver abaixo do limite, então se diz que essa pessoa ou família está vivendo na pobreza.
Apesar dos muitos ganhos econômicos globais que foram feitos durante o século passado, a pobreza continua
crescendo e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. Grandes lacunas continuam surgindo entre as oportunidades
econômicas e as condições oferecidas às mulheres e aos homens. A distribuição desproporcional do ônus da pobreza recai
sobre as mulheres, o que prejudica a sua saúde. No entanto, a pobreza, particularmente a das mulheres, é maior do que a
deficiência monetária. As mulheres continuam atrás dos homens no controle do dinheiro, crédito e garantia. Outras
modalidades de empobrecimento podem incluir deficiências na alfabetização, escolaridade, habilidades, oportunidades de
emprego, mobilidade e representação política, bem como as pressões de tempo e de energia ligadas às suas
responsabilidades. Esses fatores de pobreza podem afetar a saúde da mulher (WHO, 2015c).
SAÚDE GLOBAL DAS MULHERES
A luta para garantir a saúde das mulheres em todo o mundo está em curso, uma vez que a saúde de uma nação está
diretamente relacionada à saúde materna e infantil. O estado de saúde materno ruim nos países em desenvolvimento ainda
é praticamente negligenciado. As mulheres de todo o mundo, particularmente da Ásia e da África, continuam enfrentando
enormes obstáculos em suas tentativas de receber os serviços de saúde reprodutiva, incluindo contracepção, cuidados
obstétricos de emergência e serviços de aborto seguro (McFarlane, 2015).
Globalmente, estimase que 600.000 mulheres morram a cada ano de causas relacionadas com a gravidez (United
Nations International Children’s Emergency Fund [UNICEF], 2015), mas o foco apenas nas questões de saúde
relacionadas com a gravidez proporciona compreensão incompleta da saúde das mulheres na comunidade global.
Aproximadamente 800 mulheres morrem todos os dias de causas evitáveis relacionadas à gravidez e ao parto; 99% dessas
mulheres morrem em países em desenvolvimento. Hoje, mais de 50% das mortes maternas ocorrem em apenas seis
países: Índia, Nigéria, Paquistão, Afeganistão, Etiópia e República Democrática do Congo (WHO, 2015d). Nos países em
desenvolvimento, as cinco principais causas diretas de morte materna são hemorragia, sepse, hipertensão gestacional,
aborto inseguro e trabalho de parto obstruído. As quatro principais causas diretas de morte materna nos EUA são
hipertensão arterial (préeclâmpsia e eclâmpsia), hemorragia, placenta prévia e abortos (WHO, 2015d). A saúde e o bem
estar da mulher dependem de muitas questões mais amplas, de natureza econômica, política e social. Esses fatores
importantes muitas vezes são ignorados, mas os efeitos adversos na saúde da mulher permeiam as camadas econômicas de
todas as sociedades, ricas e pobres.
Distorções nas percepções, atitudes e práticas relacionadas com as mulheres persistem em todo o mundo. Essas
distorções não são limitadas aos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Infelizmente, mulheres de países
desenvolvidos também sofrem com o preconceito de gênero. A grande variância nos salários das mulheres em relação aos
dos homens e a relutância em empoderar politicamente as mulheres são alguns dos exemplos. Em todo o mundo,
persistem as grandes disparidades entre o acesso feminino e masculino à educação, ao emprego e a salários. Embora as
mulheres sejam as principais produtoras de alimentos do mundo e trabalhem mais horas do que os homens, as mulheres
ganham apenas 10% da renda mundial e possuem menos de 1% das propriedades do mundo. As mulheres representam
quase dois terços dos 800 milhões de adultos analfabetos do mundo. Mesmo em regiões com altas taxas de alfabetização
feminina, os salários das mulheres ainda são mais baixos do que os dos homens, mesmo para trabalhos de valor igual.
Essas discrepâncias não são baseadas na competência, mas em preconceito (United Nations, 2016).
Os líderes mundiais que participaram da Global Summit of Women, em 2015, concordaram em continuar a promover a
igualdade e eliminar a discriminação de sexo/gênero que ainda prevalece. Eles concordaram em explorar maneiras por
meio das quais as mulheres consigam (1) remodelar o mundo dos negócios, (2) reconstruir as comunidades, (3) redefinir a
liderança global, (4) garantir o direito livre e igualitário de possuir e herdar bens, (5) recriar futuros sustentáveis, (6)
expandir as oportunidades econômicas das mulheres globalmente e (7) restaurar a paz mundial (GlobeWomen, 2015).
Melhorias drásticas na saúde foram alcançadas em todo o mundo desde o início dos anos 1990. O avanço exigirá uma
ação coletiva global – uma tarefa intimidadora, dado o atual clima da política de saúde reprodutiva mundial e a insegurança
econômica internacional. Ainda assim, as mulheres nunca se esquivaram de um desafio. Colaboração global, ação política,
recursos, liderança, pesquisa e evidências são elementos necessários para melhorar a saúde de todas as mulheres e suas
famílias.
Os sucessos atuais poderiam ser explicados pelos avanços científicos fornecidos pelos sistemas de saúde, pelo
crescimento econômico e pelo acesso ampliado à educação e aos serviços de saúde. No entanto, a pobreza contínua, as
baixas oportunidades de educação para meninas e as más decisões de saúde pública ainda impedem que cerca de um bilhão
de pessoas em países de baixa e média rendas compartilhem plenamente desses ganhos em saúde.
O progresso para mulheres em relação aos homens tem sido lento. Um exemplo é o estado precário da saúde das
meninas na Índia e na China, os dois únicos países do mundo em que é mais provável que as meninas morram antes dos 5
anos de idade. O progresso insatisfatório nesses países pode ser explicado pelo infanticídio feminino e pela discriminação
contra as meninas quando se trata de receber vacinas, assistência médica para doenças agudas e nutrição adequada (WHO,
2015e).
A meta do Healthy People 2020 é “melhorar a saúde pública e fortalecer a segurança nacional dos EUA por meio de
estratégias globais de detecção, resposta, prevenção e controle de doenças (USDHHS, 2015a)”. A saúde da população dos
EUA pode ser afetada por ameaças à saúde pública ou por eventos em todo o mundo. À medida que o mundo e suas
economias se tornam cada vez mais globalizados, incluindo substanciais viagens internacionais e comércio, é essencial
pensar em saúde em um contexto global. Raramente uma semana se passa sem uma notícia sobre o surgimento de uma
doença infecciosa ou outra ameaça à saúde em algum lugar do mundo. Globalmente, as taxas de mortalidade por condições
relacionadas ao “estilo de vida”, como diabetes melito, obesidade, doenças cardíacas, doenças mentais, abuso de
substâncias psicoativas e lesões, estão aumentando. A comunidade mundial precisa trabalhar em conjunto para elaborar
estratégias para enfrentar as principais ameaças à saúde.
A melhora na saúde das mulheres em nível mundial tem de ser fundamentada nos princípios dos direitos humanos e da
igualdade dos sexos. Aplicada de modo culturalmente sensível, os profissionais de enfermagem precisam promover o
empoderamento das mulheres na tomada de suas próprias decisões de saúde, a fim de melhorar a sua saúde geral. A chave
para mudar o estilo de vida das mulheres, possibilitandolhes fazer escolhas informadas, é que os profissionais de
enfermagem facilitem e trabalhem em parceria com todas as mulheres para acessar informações sobre saúde e melhorar
seus conhecimentos. O reconhecimento de que todas as mulheres são membros vitais e iguais da sociedade acabará
levando a redução das taxas de morbidade e mortalidade maternas em todo o mundo, redução na taxa de transmissão do
vírus da imunodeficiência adquirida (HIV/AIDS) e extinção da violência contra as mulheres em uma escala
verdadeiramente global.
FALTA DE MORADIA
As famílias com crianças são o segmento que mais cresce da população semteto. Essas famílias comumente são vítimas
de violência e têm problemas de saúde mental. A população semteto é encontrada em grandes centros urbanos e cidades
de médio porte, bem como no subúrbio e em áreas rurais.
A falta de abrigo pode ter um impacto negativo sobre a saúde e o bemestar de várias maneiras, incluindo:
• Problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão ou comportamento agressivo
• Problemas de saúde e lesões crônicas
• Morte prematura e incapacidade
• Deficiências nutricionais, que afetam o crescimento e o desenvolvimento fetais
• Comportamentos como o uso de substâncias psicoativas ilegais ou relações sexuais desprotegidas com múltiplos
parceiros
• Acesso limitado aos serviços de saúde, como cuidados preventivos, prénatais ou odontológicos.
Violência
A violência pode ocorrer em qualquer ambiente e pode envolver qualquer indivíduo. A violência contra as mulheres é uma
grande preocupação de saúde com consequências a longo prazo para a saúde e sociais. Afeta milhares de vidas e custa
milhares de dólares ao sistema de saúde. Globalmente, 603 milhões de mulheres vivem em países onde a violência
praticada por parceiros íntimos ainda não é considerada crime. Até 70% das mulheres no mundo relatam ter sofrido
violência física e/ou sexual em algum momento de suas vidas (United Nations, 2016a). A violência afeta famílias,
mulheres e crianças de todas as idades, etnias, raças, níveis de escolaridade e níveis socioeconômicos. A gravidez é, com
frequência, o momento em que a violência física começa ou se agrava, resultando em desfechos sombrios para a mãe e
para a criança. O enfermeiro é responsável pela avaliação e pelo acompanhamento de qualquer abuso.
A violência no ambiente doméstico, conhecida como violência por parceiro íntimo, afeta muitas vidas nos EUA. O
U.S. Bureau of Justice Office on Violence against Women (2015) estima que mais de 1 milhão de crimes violentos sejam
cometidos por excônjuges, namorados ou namoradas a cada ano; cerca de 85% das vítimas são mulheres. Essa violência é
conhecida como abuso por parceiro íntimo, violência familiar, espancamento de mulheres, abuso conjugal ou abuso por
parceiros, mas, independentemente do termo usado, seus efeitos são generalizados. A violência de qualquer tipo contra
mulheres pode ter múltiplas consequências para a saúde, incluindo físicas, reprodutivas e psicológicas (Davies et al.,
2015).
Os enfermeiros são mais úteis a suas pacientes se não tentarem resgatálas, mas ajudálas a desenvolver seus pontos
fortes e de apoio, empoderandoas a ajudar a si mesmas. Todos os enfermeiros precisam incluir uma ferramenta de
triagem como a “RADAR” em cada consulta da paciente (Bartlett Regional Hospital, n.d.; U.S. Prevention Services Task
Force [USPSTF], 2015; Boxe 1.3).
Comunidade
Comunidade engloba uma gama de conceitos, desde o país onde reside uma pessoa até a vizinhança ou grupo específico. A
comunidade circundante influencia muitos aspectos da saúde e do bemestar geral de uma pessoa. A qualidade de vida na
comunidade tem grande influência sobre a capacidade de um indivíduo de desenvolverse e tornarse um membro
funcional da sociedade. As influências da comunidade incluem a escola, que é uma comunidade por si só, e os grupos de
amigos. O apoio e a assistência oferecidos às mulheres e suas famílias de outras áreas da comunidade, como programas
escolares e centros comunitários, conseguem melhorar a saúde geral e o bemestar do indivíduo.
Cultura
Cultura é a visão do mundo e um conjunto de tradições seguido por um grupo social específico transmitido para a geração
seguinte. É essencial para as mulheres e suas famílias. A cultura de uma pessoa influencia não só a socialização, mas
também suas experiências relacionadas com a saúde e as práticas de saúde específicas (Aggleton, Parker, & Thomas,
2015). A cultura é um fenômeno complexo que envolve muitos componentes, como crenças, valores, linguagem, tempo,
espaço pessoal e visão de mundo, todos fatores que moldam as ações e o comportamento de uma pessoa. As pessoas
aprendem esses padrões de comportamentos culturais de suas famílias e comunidades por meio de um processo
chamado aculturação, que envolve a aquisição de conhecimentos e internalização de valores. A cultura é aprendida
primeiro na família, depois na escola e, depois, na comunidade e em outras organizações sociais. A cultura influencia
todos os aspectos do desenvolvimento e se reflete na gravidez e nas crenças e práticas de educação infantil destinadas a
promover a adaptação saudável (Galanti, 2015).
BOXE 1.3
RADAR
R – Rastrear rotineiramente todas as pacientes à procura de sinais de maustratos
A – Analisar sentimentos e avaliar os maustratos
D – Documentar seus achados
A – Avaliar a segurança de sua paciente
R – Revisar as opções e fazer encaminhamentos
Adaptado de Bartlett Regional Hospital. (n.d.). Domestic violence assessment tool. Retirado
de http://www.hospitalsoup.com/public/brhdvprotocol.pdf; U.S. Prevention Services Task Force [USPSTF].
(2015). Screening for intimate partner violence and abuse of elderly and vulnerable adults: U.S. Prevention
Services Task Force recommendation statement. Disponível
em: http://www.uspreventiveservicestaskforce.org/uspstf12/ipvelder/ipvelderfinalrs.htm; e Caring Unlimited.
(2015). Domestic abuse: Utilizing RADAR. Disponível em: http://www.caringunlimited.org/whatisdomestic
violence/forserviceproviders/formentalhealthandsubstanceabusepractitionerssocialworkers/utilizing
radar.
Com a mudança dos padrões demográficos de hoje, os enfermeiros têm de ser capazes de assimilar o conhecimento
cultural em suas intervenções para que possam cuidar de mulheres, crianças e famílias com diferenças culturais. Os
enfermeiros precisam estar cientes da gama de tradições culturais, valores e ética. Competência cultural é a capacidade
de aplicar o conhecimento sobre a cultura da paciente para que os cuidados de saúde prestados possam ser adaptados para
atender às suas necessidades. A competência cultural é o processo pelo qual os indivíduos e os sistemas respondem de
modo respeitoso e efetivo às pessoas de todas as culturas, idiomas, classes, raças, etnias, religiões, incapacidades, sexo,
orientação sexual e outros fatores de diversidade de modo a reconhecer, afirmar e valorizar o patrimônio dos indivíduos,
famílias e comunidades e proteger e preservar a dignidade de cada um. Profissionais de enfermagem precisam adquirir
conhecimento, habilidades e atitudes para fornecer cuidados efetivos às diversas populações (Blanchet Garneau & Pepin,
2015). Eles precisam aprender sobre grupos culturais gerais, etnias e práticas de saúde; como afetam as mulheres e a sua
saúde; e as mudanças demográficas da população. Isso irá ajudálas a ver a cultura como um ponto de congruência e não
como uma potencial fonte de conflito com as pacientes.
Grupos culturais
Uma sociedade inclui tipicamente grupos dominantes e minoritários. O grupo dominante, muitas vezes o maior grupo, é o
que tem a maior autoridade para controlar os valores e as sanções da sociedade (Phillips et al., 2015). Como resultado, a
cultura dominante ou majoritária exerce o maior impacto na saúde. Nos EUA, os grupos culturais minoritários
permanecem em suas próprias comunidades e mantêm algumas de suas tradições e valores enquanto se integram à
sociedade. Uma cultura pode conter muitas subculturas e também podem ocorrer diferenças geográficas; por exemplo, os
hispânicos que vivem em Nova York podem ser bastante diferentes dos hispânicos que vivem na Flórida. Estar consciente
dessas diferenças é essencial na prestação de cuidados culturalmente competentes. Quanto mais conhecimento o
enfermeiro tiver sobre uma cultura específica, mais acurada e completa será a avaliação cultural. Por exemplo, se os
enfermeiros não souberem que muitos hispânicos procuram curandeiros tradicionais,
como curandros, masjistas, sobodoes, y(j)erberos e esperititas, eles não saberão como fazer perguntas específicas e
adequadas para detectar se a paciente usa os serviços desses terapeutas alternativos e suas práticas (Taber, Leyva, &
Persoskie, 2015).
Os enfermeiros precisam estar cientes dos valores e práticas de saúde que são passados de uma geração para a
seguinte. Por exemplo, a crença em curandeiros relacionase com o modo como a cultura interpreta a doença e a saúde.
Algumas dessas partes da cultura podem ter maiores influências sobre a saúde de um indivíduo.
Anote!
Os profissionais de enfermagem podem ter influência permanente sobre a percepção e o uso de serviços de saúde do
indivíduo. Ao compreender como a cultura da família e da mulher influencia as suas práticas de saúde, os profissionais de
enfermagem podem melhorar as práticas tradicionais da família, e as diferentes práticas culturais podem tornarse fontes
de força em vez de áreas de conflito.
Anote!
O estado de saúde de um recémnascido pode afetar sua saúde e seu desenvolvimento a longo prazo.
Nutrição
A nutrição fornece ao corpo as calorias e os nutrientes necessários para sustentar a vida e promover o crescimento, assim
como os elementos essenciais necessários para manter a saúde e evitar doenças. As deficiências ou excessos nutricionais
são problemas comuns nos EUA, como evidenciado pelo persistente problema da anemia por deficiência de ferro e pela
incidência crescente de obesidade (DeBruyne, Pinna, & Whitney, 2015). A ingestão inadequada de alimentos, as práticas
ou hábitos alimentares sociais e culturais nutricionalmente insalubres, a disponibilidade de alimentos processados e
nutricionalmente inadequados, a falta de orientação nutricional em casa e na escola, bem como a existência de doenças que
interferem na ingestão, na digestão e na absorção dos alimentos são fatores que podem afetar a nutrição do indivíduo.
Em nenhum outro momento da vida a nutrição é mais importante do que durante o desenvolvimento fetal e o primeiro
ano de vida. A nutrição adequada é essencial para a formação de tecidos, o desenvolvimento neurológico, o crescimento
ósseo e o estado geral de saúde a longo prazo. Durante a gravidez, a mulher precisa de mais calorias para sustentar o
crescimento e o desenvolvimento fetais, bem como para atender as próprias necessidades; o aporte adequado de ácido
fólico é importante para evitar defeitos do tubo neural (Figura 1.4). A nutrição e seus efeitos sobre o estado de saúde são
integrados ao longo desta obra (ver Capítulo 11).
FIGURA 1.4 Gestante ingerindo refeição saudável para garantir nutrição adequada.
Escolhas de estilo de vida
As escolhas de estilo de vida que afetam a saúde de um indivíduo incluem alimentação, prática de exercícios físicos,
tabagismo, uso de substâncias psicoativas ou etilismo e métodos para lidar com o estresse. A maioria dos problemas de
saúde que surgem hoje é decorrente do estilo de vida do indivíduo. As más escolhas no início da vida podem afetar a
qualidade de vida conforme um indivíduo envelhece. Além disso, essas más escolhas influenciam o aumento da incidência
de doenças crônicas. O mesmo conceito de fazer más escolhas pode ser aplicado à gestante e à saúde e ao bemestar do
recémnascido/lactente. Manter um nível saudável de atividade por meio de exercícios e passatempos é importante para
adultos e crianças.
Exposição ambiental
As gestantes são expostas a muitos e variados produtos químicos ambientais. Evidências científicas documentam que a
exposição generalizada a produtos químicos ambientais em níveis que são encontrados na vida diária pode ter um impacto
adverso sobre a saúde reprodutiva desenvolvimental ao longo da vida (YinHsiu et al., 2015).
No útero, o feto pode ser afetado pela falta de nutrição materna, por exposição a produtos químicos ambientais, por
infecções maternas ou pelo consumo de álcool etílico, tabaco e substâncias psicoativas pela gestante. Os enfermeiros que
atendem gestantes devem estar cientes dos riscos para o feto apresentados por determinados medicamentos, produtos
químicos e agentes dietéticos, bem como doenças maternas. Esses agentes, denominados teratógenos, podem estar ligados
a partos prétermo e defeitos congênitos em crianças. No entanto, nem todos os fármacos ou agentes têm efeitos no feto;
são necessárias pesquisas para identificar as correlações entre os teratógenos e outras variáveis.
Estresse e enfrentamento
Desastres como os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, os assassinatos na Columbine High School, o furacão
Sandy em New Jersey ou o furacão Katrina em Nova Orleans podem ter um impacto significativo sobre o bemestar de
mulheres, crianças e famílias. Estressores como a guerra, o terrorismo, a violência e os desastres naturais podem diminuir
a capacidade de enfrentamento de uma pessoa. A exposição a eventos traumáticos e à violência pode ter efeitos
prolongados sobre o desenvolvimento e a condição psicossocial do indivíduo.
Contudo, a exposição ao estresse não se limita a catástrofes ou acontecimentos traumáticos. O estresse também pode
incluir áreas como finanças inadequadas, crises familiares, sistemas de apoio inadequados ou violência doméstica. Como
em desastres e eventos traumáticos, os efeitos desses estressores podem influenciar drasticamente a condição de saúde de
uma mulher ou de uma família.
Lembrese de Sophia, a gestante de 38 anos que chegou à clínica para uma consulta de prénatal. Ao falar
com o enfermeiro, Sophia menciona que seus filhos estão muito envolvidos em atividades. Ela diz: “Meu
marido está ocupado no trabalho, então eu faço a maior parte das coisas. Às vezes parece que os
funcionários do drivethrough me conhecem pelo nome! Meu marido ajuda nos fins de semana, mas durante
a semana sobra tudo para mim.” Quais fatores podem estar influenciando a saúde de Sophia? Como esses
fatores poderiam influenciar a saúde de sua família?
Contenção de gastos com cuidados de saúde
O sistema de saúde funciona dentro de uma economia de mercado, oferecendo bens e serviços que demandam um custo
aos consumidores e pacientes de cuidados de saúde. Não há discordância de que os custos dos cuidados de saúde
aumentaram além da capacidade financeira da maioria dos norteamericanos. O aumento dos custos tem sido atribuído a
fatores como os avanços tecnológicos, a inflação, o aumento das necessidades de uma população cada vez mais idosa, a
maior expectativa de vida e os custos de responsabilidade médica. O advento do cuidado gerenciado (managed care) levou
à tendência de tentar reduzir os custos dos cuidados de saúde, mas não tem sido muito efetivo (Hall et al., 2015). O
propósito do cuidado gerenciado é controlar os custos atribuindo taxas fixas para os serviços, monitorando a necessidade
de procedimentos, como exames e operações cirúrgicas, e ressaltando os cuidados preventivos. Um desses mecanismos é a
revisão de utilização, que é empregada para limitar o reembolso de cuidados médicos determinados como clinicamente
necessários. Esses esforços levaram a internações hospitalares mais curtas e a maior sensibilização por parte dos
enfermeiros sobre os custos de suprimentos e serviços. O desafio geral é manter a qualidade do atendimento e reduzir seu
custo. Por exemplo, se uma gestante diabética precisa ir a um endocrinologista, ela não tem escolha a não ser pagar pelos
serviços necessários ou ficar sem o atendimento. No ambiente de cuidado gerenciado da atualidade, a mulher precisa
passar por seu “médico do atendimento primário” para receber o encaminhamento para um especialista. Muitas vezes, o
profissional do atendimento primário é quem faz essa escolha por ela, em vez de ela tomar a decisão por conta própria.
Embora a contenção de custos seja importante para reduzir os gastos com saúde, esses esforços não devem reduzir a
qualidade ou a segurança dos cuidados prestados. Os cuidados preventivos (lembrese do velho ditado: “é melhor prevenir
do que remediar”) comprovadamente reduzem bastante os custos. As mamografias, o rastreamento de câncer do colo do
útero, o atendimento prénatal, os programas de abandono do tabagismo e as imunizações são alguns exemplos de
cuidados preventivos que produzem resultados positivos e reduzem os custos globais com saúde. Usar os avanços
tecnológicos para diagnosticar e tratar doenças precocemente salva vidas, além de economizar dinheiro. Embora o ACA
amplie a cobertura de seguro para cobrir exames preventivos, ainda existem diferenças na disponibilidade dessa cobertura
em muitos estados (Sabik, Tarazi, & Bradley, 2015).
Os enfermeiros podem ser líderes na prestação de cuidados de qualidade em um ambiente com limitação de recursos,
enfatizando para suas pacientes a importância de um estilo de vida e escolhas alimentares saudáveis, buscando
intervenções precoces para pequenos problemas antes que se tornem importantes e aprendendo sobre questões relacionadas
com a saúde que afetam suas pacientes. Assim, elas podem selecionar a melhor opção para si e suas famílias. Serviços de
prevenção e orientação em saúde são os pilares para a prestação de cuidados de saúde materna, neonatal e da mulher de
qualidade.
Acesso aos cuidados de saúde
O sistema de saúde continua mudando. Nos EUA, as alterações no sistema de saúde resultam de pressão proveniente de
vários pontos. Essas mudanças refletem mudanças nas realidades social e econômica e os resultados do progresso
biomédico e tecnológico ao longo das últimas décadas. Os efeitos são sentidos por todos os indivíduos que procuram
cuidados de saúde de qualquer modalidade. Observase mudança no sistema de prestação de cuidados de saúde, que passou
de um contexto de alta tecnologia para um com limitação nos recursos e no acesso aos serviços. A maneira de alocar os
limitados recursos de saúde continua sendo o foco.
Um importante fator que influencia o acesso aos cuidados de saúde é o plano de saúde. As pessoas sem plano de saúde
não conseguem, tipicamente, procurar cuidados de saúde para intervenções de manutenção e prevenção. Os “assalariados”
podem não ganhar o suficiente para pagar um plano de saúde ou de assistência médica; os trabalhadores em tempo parcial
nem sempre são beneficiados com um plano de saúde. Na maioria dos estados norteamericanos, um homem e uma mulher
da mesma idade e condições de saúde pagam taxas diferentes pelo mesmo plano de saúde individual, uma prática chamada
de classificação por gênero. As mulheres pagam uma taxa muito maior pela mesma cobertura do que os homens nos
EUA, desigualdade que diminuiu com a plena promulgação do ACA em 2014 (Starrs, 2015).
O ACA, que teve início totalmente em 2014, visa tornar o seguro de saúde acessível a muitos americanos que antes
não tinham seguro de saúde. Obriga as agências de seguro de saúde a cobrir uma ampla gama de serviços de saúde
preventivos sem custo para a pessoa. Idealmente, no futuro, as pessoas começarão a olhar para seus profissionais de saúde
como parceiros no bemestar, em vez de profissionais que tratam de doenças.
Foco em cuidados preventivos
A ênfase na redução de custos também levou à ênfase nos cuidados e serviços preventivos. O ACA de 2014 acrescentou
serviços preventivos para mulheres. Pesquisas sugerem que um melhor acesso a serviços preventivos pode ser mantido a
um custo razoável para o sistema de saúde, e que alguns serviços podem reduzir os custos com saúde. Para que o ACA
seja realmente transformador para a saúde das mulheres, sua promessa de remover barreiras de custo para as consultas de
mulheres saudáveis tem de ser plenamente cumprida (Fitzgerald et al., 2015). A orientação antecipatória é vital durante
cada contato de saúde com as mulheres e suas famílias. A orientação dos familiares inclui tudo, desde manter a casa
segura até maneiras de evitar doenças.
Continuum da estratégia de atendimento
O continuum da estratégia de atendimento é custoefetivo e fornece serviços eficientes e eficazes. Esse continuum se
estende desde as instituições de cuidados agudos – como hospitais – a unidades ambulatoriais – como unidades de saúde
básicas, policlínicas, unidades de reabilitação, instituições de cuidados comunitários, instituições de longa permanência e
domicílios. Por exemplo, a internação hospitalar está agora integrada a um continuum que possibilita à paciente terminar o
tratamento em casa ou em outros ambientes comunitários, sendo rehospitalizada por curtos períodos por causa de doenças
ou tratamentos específicos (Stanhope & Lancaster, 2014). O ACA oferece meios para que o sistema de prestação de
cuidados de saúde seja centrado no paciente com acompanhamento individual; melhora a qualidade e integra o cuidado em
todos os ambientes e com todos os profissionais de saúde. Ele enfatiza a expansão dos serviços baseados na comunidade e
na coordenação dos cuidados, enquanto a pessoa passa de um ambiente para outro, para atender às mudanças nas
necessidades de cuidados de saúde (Mansur & Thompson, 2015).
Aprimoramentos no diagnóstico e no tratamento
Devido aos enormes melhoramentos feitos na tecnologia e na biomedicina, os distúrbios e as doenças estão sendo
diagnosticados e tratados mais cedo. A década de 1990 testemunhou o estabelecimento de uma conexão notável e produtiva
entre a genética e vários processos fisiopatológicos. Por exemplo, os fetos de mulheres com hiperplasia suprarrenal
congênita, doença genética que resulta na deficiência de enzima do metabolismo de esteroide e pode levar a anormalidades
anatômicas desfigurantes, estão começando a receber tratamento antes do nascimento. Além disso, muitos defeitos
genéticos são identificados, de modo que o aconselhamento e o tratamento podem ocorrer mais cedo. Graças a esses
diagnósticos e tratamentos melhores, os enfermeiros podem agora cuidar de pessoas que sobreviveram a situações que
anteriormente eram fatais, que estão vivendo bem além da expectativa de vida para uma doença específica ou convivendo
com deficiências crônicas (Dumas & Turner, 2015). Por exemplo, antigamente, as mulheres com uma cardiopatia
congênita não viviam o suficiente para engravidar. No entanto, com as novas técnicas cirúrgicas para corrigir os defeitos,
muitas delas sobrevivem e engravidam, progredindo ao longo da gravidez sem problemas significativos.
Embora sejam positivos e emocionantes, esses avanços e tendências também representam novos desafios para a saúde
da comunidade. Por exemplo, conforme melhoram os cuidados de saúde para recémnascidos prematuros e aumentam as
taxas de sobrevida, a incidência de doenças crônicas a longo prazo, como a disfunção das vias respiratórias ou o atraso no
desenvolvimento neuropsicomotor, também aumenta. Como resultado, os enfermeiros são desafiados a atender pacientes
em todas as etapas ao longo do continuum saúdedoença.
Empoderamento dos consumidores de cuidados de saúde
Como resultado da influência do cuidado gerenciado, do foco na prevenção, de uma população mais orientada e dos
avanços tecnológicos, os indivíduos e as famílias têm assumido maior responsabilidade pela sua própria saúde. O
consumismo dos serviços de saúde acrescenta uma voz importante à atual reforma do sistema de saúde dos EUA, à
medida que as pessoas se tornam informadas, proativas e exigem escolhas na prestação de seus cuidados de saúde. Os
consumidores de cuidados de saúde querem ter uma participação maior na gestão da saúde e da doença. As famílias
querem informações sobre doenças e querem participar da tomada de decisões sobre as opções de tratamento. Como
defensores dos pacientes que valorizam o cuidado centrado na família, os enfermeiros são fundamentais para promover
esse empoderamento. Para isso, eles devem respeitar as opiniões e preocupações da família, abordar todos os problemas e
preocupações, considerar os familiares como participantes importantes e sempre incluir a mulher e sua família no processo
de tomada de decisão.
BARREIRAS AOS CUIDADOS DE SAÚDE
As mulheres são grandes consumidoras de serviços de saúde; em muitos casos, organizam não só os seus próprios
cuidados, mas também os de seus familiares. Em comparação com os homens, as mulheres têm mais problemas de saúde,
maior expectativa de vida e necessidades de saúde reprodutiva mais significativas (McFarlane, 2015). O acesso aos
cuidados pode ser prejudicado por rendimentos mais baixos e maiores responsabilidades (“malabarismos” para conciliar o
trabalho e a família). A falta de recursos financeiros ou de transporte, a má distribuição geográfica dos profissionais de
saúde, a ausência de creches, as barreiras linguísticas ou culturais, o horário de funcionamento das clínicas e as atitudes
inapropriadas dos profissionais de saúde muitas vezes desencorajam as pacientes a procurar cuidados de saúde (Tucker
Edmonds, Mogul, & Shea, 2015).
Barreiras financeiras
As barreiras financeiras são um dos fatores mais importantes que limitam o atendimento. O parto é a principal razão para
internação nos EUA. Tanto para as seguradoras privadas quanto para o Medicaid,4 os encargos com a maternidade e com o
recémnascido são superiores a qualquer outra condição. Nos hospitais dos EUA, o parto vaginal e a cesariana são
dispendiosos. Muitas mulheres têm planos de saúde limitados ou não os têm, e não se podem dar ao luxo de pagar por
cuidados de maternidade. Em comparação com outros grupos raciais e étnicos, as mulheres afroamericanas tendem a ser
mais jovens, mais propensas a ter um parto cirúrgico, a ter partos prétermo, a ficar mais tempo no hospital e a ter gastos
mais altos com o Medicaid. As mulheres afroamericanas apresentam uma taxa mais alta de resultados adversos da
gravidez do que as mulheres brancas ou hispânicas. As disparidades raciais nos resultados adversos da gravidez não
representam apenas um potencial sofrimento humano evitável, mas também custos econômicos evitáveis (Catov et al.,
2015). Embora o Medicaid cubra o prénatal na maioria dos estados, o processo de documentação e inscrição pode ser tão
burocrático que muitas mulheres não se registram. Muitas famílias não têm plano de saúde, não têm cobertura dos
serviços que precisam ou não podem pagar pelos serviços.
Transporte
A ida às consultas e o retorno para casa podem ser um desafio para as pacientes que não dirigem ou que não têm carro, ou
que não conseguem usar o transporte público (se houver transporte público na área). O atendimento prénatal tem o
potencial de melhorar os resultados perinatais e diminuir as disparidades de saúde, contudo, muitas mulheres não
conseguem ter acesso a esse atendimento. Pode ser difícil para essas pacientes realizar todas as consultas prénatais
recomendadas, especialmente se tiverem outros filhos pequenos que precisem ser cuidados para que elas compareçam à
consulta. Esses desafios reduzem o comparecimento às consultas e aos acompanhamentos agendados.
Idioma e cultura
O idioma é como as pessoas se comunicam umas com as outras para melhorar a sua compreensão ou o seu conhecimento.
Se o profissional de saúde não for capaz de falar o mesmo idioma que a paciente ou não houver um intérprete treinado
disponível, formase uma barreira. As queixas da paciente podem ser mal interpretadas ou ignoradas, ou sua importância
pode ser mal interpretada. A barreira do idioma pode impedir que a paciente tenha acesso aos cuidados necessários, como
cuidados prénatais ou preventivos.
As barreiras de conhecimento (p. ex., a falta de compreensão da importância do prénatal ou da promoção da saúde da
criança), o conhecimento insatisfatório em saúde, as atitudes relacionadas ao gênero, as crenças de saúde, a retenção de
informações e as barreiras espirituais (p. ex., algumas modalidades de tratamento são proibidas pelas religiões) também
representam barreiras para receber cuidados de saúde.
Conhecimento insatisfatório em saúde
O conhecimento em saúde é definido como a capacidade dos indivíduos de obter, processar e compreender as informações
e serviços básicos de saúde necessários para tomar decisões de saúde adequadas (Health and Medicine Division (HMD),
2016). Também inclui a capacidade de compreender instruções nas bulas de medicamentos de venda controlada, nos
cartões de marcação de consulta, folhetos educativos, instruções do profissional de saúde, formulários de consentimento
livre e informado e a capacidade de lidar com sistemas complexos de saúde.
As populações vulneráveis a terem conhecimento insatisfatório em saúde incluem adultos mais velhos, imigrantes,
minorias e populações de baixa renda. O conhecimento insatisfatório em saúde é uma importante fonte de ineficiência
econômica no sistema de saúde dos EUA. Estimase que o custo para a economia dos EUA seja de aproximadamente US$
106 a 238 bilhões por ano (CDC, 2015f).
O conhecimento insatisfatório em saúde está associado a resultados de saúde precários, maior número de idas ao
prontosocorro, taxas mais altas de morbidade e mortalidade e menor uso de serviços preventivos de saúde. Enfermeiros
têm o potencial de impactar e modificar esses resultados. Eles podem usar ferramentas de rastreamento para avaliar o
conhecimento em saúde de um paciente, além de identificar características que indicam conhecimento insatisfatório em
saúde. Fazer com que os pacientes repitam verbalmente as instruções e demonstrem que o procedimento de tratamento
específico necessário para o cuidado contínuo é essencial. Apenas entregar a um paciente uma folha de papel com
instruções escritas para uma medicação vital ou um procedimento de tratamento não significa atuar como defensor desse
paciente (French, 2015).
Sistema de prestação de cuidados de saúde
O próprio sistema de prestação de cuidados de saúde pode criar barreiras. Nos EUA, 58% das famílias com empregos
formais têm algum tipo de plano de saúde, mas milhões de americanos permanecem sem seguro (Holden, Chen, &
Dagher, 2015). Esse sistema de pagamento prospectivo baseado em grupos de diagnóstico limita os cuidados de saúde que
a família pode receber. Isso também inclui reembolsos via Medicaid. Devido aos esforços de contenção de gastos, a
tendência é dar alta à puérpera o mais rapidamente possível do hospital e prestar cuidados em casa ou por meio de serviços
da comunidade. Em geral, as pacientes ficam no hospital ou na maternidade menos de 48 horas após o parto vaginal;
assim, a maioria dos cuidados pósparto ocorre em casa e na comunidade. As visitas domiciliares por enfermeiros para
fornecer apoio em casa às mães e aos recémnascidos são necessárias para que famílias de alto risco evitem que problemas
de saúde se tornem crônicos com efeitos a longo prazo (Aston et al., 2015). Embora os planos de seguros globais possam
melhorar o acesso aos serviços de prevenção, eles podem limitar o acesso a cuidados especiais – que afetam muito os
pacientes com doenças crônicas ou de longa duração.
O horário de funcionamento da clínica precisa atender às necessidades dos pacientes, não às dos profissionais de saúde
que lá trabalham. Pode ser necessário atendimento à noite ou no fim de semana para conciliar o horário de trabalho dos
pacientes. Os funcionários da clínica devem avaliar a disponibilidade e a acessibilidade dos serviços que oferecem.
Infelizmente, alguns profissionais de saúde apresentam atitudes negativas para com as famílias pobres ou de culturas
diferentes, o que pode impedir que esses pacientes procurem cuidados de saúde. Longos atrasos, exames apressados e
comentários rudes pelos funcionários desencorajam o retorno dos pacientes.
Considere isto
Eu era uma trabalhadora imigrante de 17 anos, grávida, que necessitava de cuidados prénatais. Embora o
meu inglês não fosse bom, eu era capaz de mostrar à recepcionista meu “barrigão” e pedir serviços. Tudo
em que a recepcionista parecia estar interessada era um número de seguro social e plano de saúde – eu
não tinha nenhum dos dois. Ela começou a me fazer perguntas pessoais sobre quem era o pai da criança e
comentou sobre quão jovem eu parecia ser. Em seguida, a recepcionista “mandou” em voz alta que eu me
sentasse e esperasse uma resposta de alguém que estava lá atrás, mas, pelo que eu vi, ela nunca falou
com ninguém. Pareceume que todos estavam olhando para mim enquanto eu procurava uma cadeira vazia
na sala de espera. Depois de ficar sentada em silêncio por mais de 1 hora sem qualquer atenção ou
resposta, eu saí.
Reflexões: Por que ela saiu antes de receber qualquer serviço de saúde? Como ela deve ter se sentido
durante a espera? Você voltaria a essa clínica? Por que sim ou por que não?
QUESTÕES LEGAIS E ÉTICAS EM SAÚDE MATERNONEONATAL E DA
MULHER
O direito e a ética são interrelacionados e afetam todos os cuidados de saúde. Os profissionais de enfermagem precisam
entender o seu âmbito de atuação, os padrões de atendimento, as políticas da instituição ou da agência e as leis estaduais.
Todos os enfermeiros são responsáveis por conhecer as informações atuais sobre a ética e as leis relacionadas com a sua
prática.
A Association of Women’s Health, Obstetric and Neonatal Nurses (AWHONN) (2009) publica seus Standards for
Professional Nursing Practice in the Care of Women and Newborns (Padrões para a Prática Profissional de Enfermagem
no Atendimento de Mulheres e Recémnascidos), os quais estão resumidos a seguir:
• Padrão I: avaliação inicial – o enfermeiro coleta dados sobre a saúde da mulher e do recémnascido no âmbito de
cuidados centrados na mulher e na família
• Padrão II: diagnóstico – o enfermeiro formula diagnósticos de enfermagem por meio da análise de dados de avaliação
para identificar e diferenciar as transições fisiológicas e de desenvolvimento normais das variações fisiopatológicas e
outras questões clínicas
• Padrão III: identificação de resultados – o enfermeiro individualiza os resultados esperados para a mulher e para o
recémnascido
• Padrão IV: planejamento – o enfermeiro desenvolve um plano de cuidados que inclui intervenções e alternativas para
atingir os resultados esperados para a mulher e para o recémnascido
• Padrão V: implementação – o enfermeiro implementa as intervenções identificadas no plano de cuidado da mulher ou
do recémnascido
• Padrão VI: avaliação subsequente – o enfermeiro avalia o progresso da mulher e do recémnascido em direção aos
resultados esperados
• Padrão VII: qualidade da atuação – o enfermeiro avalia e implementa sistematicamente medidas para melhorar a
qualidade, a segurança e a efetividade da prática de enfermagem
• Padrão VIII: educação – o enfermeiro adquire e mantém o conhecimento e as competências que refletem uma prática
baseada em evidências
• Padrão IX: avaliação da prática profissional – o enfermeiro avalia a sua própria atuação profissional em relação a
informações de cuidados baseados em evidências, padrões e diretrizes profissionais, estatutos, regras e regulamentos
atuais
• Padrão X: ética – as decisões e as ações do enfermeiro a favor das mulheres, dos fetos e dos recémnascidos são
determinadas de modo ético e guiadas por um processo de tomada de decisão ética
• Padrão XI: coleguismo – o enfermeiro interage e contribui para o desenvolvimento profissional de seus pares, colegas
e outros profissionais de saúde
• Padrão XII: colaboração e comunicação – o enfermeiro colabora e comunicase com as mulheres, seus familiares, a
comunidade e os outros profissionais de saúde na prestação de cuidados seguros
• Padrão XIII: pesquisa – o enfermeiro produz e/ou integra evidências para validar o conhecimento interprofissional na
prestação de cuidados às mulheres e recémnascidos
• Padrão XIV: recursos e tecnologia – o enfermeiro considera fatores relacionados com a segurança, a efetividade, a
tecnologia e os gastos na prestação de cuidados às mulheres e aos recémnascidos
• Padrão XV: liderança – o profissional de enfermagem deve agir como modelo, agente de mudança, consultor e mentor
para todas as mulheres, suas famílias e outros profissionais de saúde.
Várias áreas são especialmente importantes para o atendimento de saúde de mulheres e suas famílias. Elas incluem o
aborto, o uso abusivo de substâncias psicoativas, o tratamento intrauterino, o conflito maternofetal, a pesquisa com
célulastronco, o banco de sangue de cordão umbilical, o consentimento informado e a confidencialidade.
Aborto
O aborto tem sido um procedimento clínico legal nos EUA há mais de três décadas, mas ainda é uma questão jurídica,
social e política muito debatida e volátil.5 Já era uma questão antes mesmo de Roe versus Wade, a decisão da Suprema
Corte norteamericana de 1973 que legalizou o aborto. A Suprema Corte determinou que uma mulher, em consulta com o
seu médico, tem o direito constitucionalmente protegido de realizar um aborto nos estágios iniciais da gravidez – isto é,
antes da viabilidade – sem que haja interferência do governo. Quase 50% das gestações das mulheres norteamericanas não
são intencionais; cerca de 4 em cada 10 delas são interrompidas por aborto. Vinte e dois por cento de todas as gestações
(excluindo os abortos espontâneos) terminam em aborto (Guttmacher Institute, 2015).
Toda vez que o aborto é debatido em nível nacional, a Hyde Amendment é citada. A Hyde Amendment, que leva o
nome de seu autor, o republicano Henry Hyde (RIllinois), estabelece limites aos abortos financiados pelo governo
federal. Ao negar cobertura de aborto para mulheres de baixa renda no Medicaid, a Hyde Amendment limitou as escolhas
de mulheres de baixa renda em relação aos seus direitos reprodutivos.
Existem modalidades clínicas e cirúrgicas para interromper uma gravidez, dependendo de quão avançada ela esteja.
Um aborto fármacoinduzido por ingestão de mifepristona e prostaglandinas é bem estabelecido e seguro quando realizado
de acordo com as diretrizes, com uma taxa de sucesso de até 97%. Uma intervenção cirúrgica pode ser realizada até a
14a semana de gestação; a intervenção farmacológica pode ser realizada até a 9a semana de gestação (Hickey & Moore,
2015).
Em setembro de 2000, a United States Food and Drug Administration (FDA) aprovou a comercialização de
mifepristona nos EUA, como uma alternativa ao aborto cirúrgico. O aborto farmacológico com mifepristona ou com um
medicamento semelhante representa 38% de todos os abortos realizados fora do hospital e cerca de 25% dos abortos antes
de 9 semanas de gestação (Guttmacher Institute, 2015). Todas as mulheres que passam por um aborto precisam de apoio
emocional, um ambiente estável para se recuperar e assistência imparcial durante o processo.
A questão do aborto separa as pessoas em dois campos: próescolha e próvida. O grupo próescolha apoia o direito de
qualquer mulher de tomar decisões sobre suas funções reprodutivas com base em suas próprias convicções morais e
éticas. O grupo próvida argumenta com veemência que o aborto é um assassinato e priva o feto do direito fundamental à
vida. Ambos os lados continuarão debatendo esse assunto muito sensível pelos próximos anos.
O aborto é uma questão complexa. As controvérsias não estão só na arena pública: muitos profissionais de
enfermagem vivem o conflito entre suas convicções pessoais e seu dever profissional. Os profissionais de enfermagem
são ensinados a dar suporte às suas pacientes e a interagir com uma atitude imparcial em todas as circunstâncias, mesmo
quando suas convicções pessoais e políticas diferem das de suas pacientes. Com todos os avanços na assistência ao
aborto, isso aponta para maior envolvimento da equipe de enfermagem. Embora esse seja um bom augúrio para o cuidado
centrado na mulher, a carga sobre os profissionais de enfermagem tende a aumentar cada vez mais. Isso pode ter efeito
adverso sobre os atributos afetivos ou emoções desses profissionais (McLemore, Levi, & James, 2015).
Os profissionais de enfermagem precisam esclarecer seus valores e crenças pessoais sobre essa questão e precisam ser
capazes de prestar cuidados imparciais antes de assumir a responsabilidade por pacientes que possam estar em posição de
considerar o aborto. Sua decisão de cuidar, ou de se recusar a cuidar, de determinada paciente afeta a unidade da equipe,
influencia as decisões pessoais e desafia o conceito ético do direito (King et al., 2015).
O Código de Ética para Enfermeiros da ANA defende o direito de um profissional de enfermagem recusarse a cuidar
de uma paciente que tenha realizado um aborto caso se oponha eticamente ao procedimento (Fowler & Lachman,
2015).6 Os enfermeiros precisam informar seus valores e crenças a seus chefes antes que a situação ocorra, para que se
possa procurar outros profissionais. A comunicação aberta e a aceitação das crenças de outras pessoas podem promover
um ambiente de trabalho confortável.
Uso abusivo de substâncias psicoativas
O uso abusivo de substâncias psicoativas por qualquer pessoa é um problema, mas no caso das gestantes, o uso abusivo
de substâncias psicoativas pode causar parto prematuro, descolamento da placenta, ganho de peso insatisfatório, baixo
peso ao nascer, natimortalidade, aborto espontâneo, vários problemas comportamentais e cognitivos em crianças expostas
e lesão fetal, e, portanto, tem implicações legais e éticas. Nos EUA, muitas leis estaduais exigem que as evidências de
exposição prénatal a substâncias psicoativas sejam notificadas, o que pode levar a acusações de negligência e abuso
infantil contra a gestante. Já foi constatado que o encarceramento ou a ameaça de encarceramento não reduz o número de
casos de uso abusivo de álcool ou substâncias psicoativas. As leis que criminalizam o uso abusivo de drogas ilícitas
durante a gravidez geralmente impedem as mulheres de procurar cuidado prénatal que possa fornecerlhes acesso a
aconselhamento, encaminhamento e monitoramento apropriados (AWHONN, 2015). Essa abordagem punitiva ao agravo
fetal levanta questões éticas e legais sobre o grau de controle do governo que é apropriado para o interesse da segurança da
criança. Todas as gestantes e mulheres em idade fértil devem ser examinadas periodicamente à procura de sinais de uso
abusivo de álcool, tabaco e substâncias psicoativas (legais e ilegais). Os enfermeiros devem empregar uma abordagem
flexível para o atendimento de mulheres com problemas de drogadição, e devem encorajálas a usar todos os recursos
disponíveis na comunidade. As mulheres devem ser orientadas pelos profissionais de enfermagem sobre os riscos do uso
de substâncias psicoativas antes da concepção, antes do parto e após o parto, de modo tranquilo e imparcial (AWHONN,
2015). Às gestantes que fazem uso abusivo de substâncias psicoativas deve ser garantido o acesso a serviços preventivos,
de apoio e de recuperação que atendam às suas necessidades especiais. O enfermeiro pode ser fundamental na viabilização
do encaminhamento de gestantes e puérperas para programas comunitários que podem ajudar a garantir sua recuperação
completa e uma vida melhor para elas e seus filhos.
Tratamento intrauterino
A evolução no diagnóstico prénatal pode fazer com que sejam diagnosticadas anomalias fetais graves, que anteriormente
resultariam em um resultado fatal ou no desenvolvimento de incapacidade grave, apesar dos cuidados pósnatais ideais. O
tratamento intrauterino agora pode ser oferecido nesses casos específicos e também no tratamento de uropatia obstrutiva
fetal, transfusões intrauterinas devido à anemia fetal, reparo da espinha bífida e transplante de célulastronco. Tratase de
um procedimento que envolve a abertura do útero durante a gravidez, a realização de uma cirurgia e a devolução do feto ao
útero. Embora os riscos para o feto e para a mãe sejam grandes, a terapia fetal pode ser usada para corrigir lesões
anatômicas (Mathis, Raio, & Baud, 2015). Alguns argumentam que a tecnologia médica não deve interferir na natureza e,
portanto, essa intervenção não deve ocorrer. Outros argumentam que a intervenção cirúrgica melhora a qualidade de vida
da criança. Para muitas pessoas, esses são temas de debate e de discussão intelectual; contudo, para os profissionais de
enfermagem, tais procedimentos podem ser parte de sua rotina diária.
Os enfermeiros desempenham um importante papel de apoio no cuidado e na defesa de pacientes e suas famílias.
Conforme cresce o uso de tecnologias, surgirão com mais frequência situações que testam o sistema de crenças de um
profissional de enfermagem. Incentivar discussões abertas para tratar de questões emocionais e diferenças de opinião entre
os membros da equipe é saudável e aumenta a tolerância a diferentes pontos de vista.
Conflito maternofetal
No atendimento de enfermagem à gestante, os princípios éticos da beneficência e da autonomia fornecem o arcabouço
fundamental que orienta o manejo de todas as gestantes. Como o feto também precisa ser considerado, a autonomia pode
se tornar uma questão complexa, dando origem ao que às vezes é chamado de conflito maternofetal.
O cuidado fetal tornase problemático quando o que é necessário para beneficiar um membro da díade causará danos
inaceitáveis ao outro. Mesmo quando uma condição fetal não representa uma ameaça à saúde da mãe, o cuidado do feto
sempre implicará algum grau de risco para a mãe, sem benefício terapêutico direto para ela. Os princípios éticos da
beneficência (ser benéfico) e da não maleficência (não fazer mal) podem entrar em conflito.
Como a mãe e o feto estão biologicamente ligados, ambos, ou nenhum, têm de ser tratados do mesmo modo. Seria
antiético recomendar a terapia fetal como clinicamente indicada para ambos os pacientes. Ainda assim, quando recebem
uma recomendação para terapia fetal, as gestantes, na maioria dos casos, consentirão com o tratamento que promove a
saúde fetal. Quando as gestantes recusam o tratamento, os profissionais de saúde precisam lembrar que a determinação
ética contra prejudicar um paciente a fim de beneficiar o outro é praticamente absoluta.
O uso de ordens judiciais para forçar o tratamento de gestantes levanta muitas questões éticas. As ordens judiciais
forçam as gestantes a perder sua autonomia, de modo diferente do que ocorre com homens competentes ou mulheres não
grávidas. Existe uma inconsistência em permitir que adultos competentes recusem tratamento em todos os casos, exceto na
gravidez. O American Congress of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) defende o aconselhamento e a orientação
para convencer a mãe a seguir o conselho de seu médico e condena o uso da coerção de uma gestante, porque isso viola a
intenção do processo de consentimento livre e informado. Diante de um desacordo contínuo com uma gestante, o médico
deve recorrer ao comitê de ética da instituição. A judicialização quase nunca é justificada (Campbell, 2015).
Pesquisa com célulastronco
A meta da pesquisa com célulastronco é o alívio do sofrimento humano, o que eticamente é bom. Os benefícios da
pesquisa com célulastronco incluem o fornecimento de terapias para a doença de Parkinson, para a regeneração de tecidos
doentes do corpo, para o reparo de lesões da medula espinal e para a cultura de órgãos necessários para transplante.
As necessidades terapêuticas dos pacientes, juntamente com os benefícios potenciais dessa terapia, precisam ser
equilibradas no sentido de garantir padrões científicos rigorosos e procedimentos de consentimento efetivos relacionados à
pesquisa com célulastronco. As preocupações éticas que envolvem a pesquisa com célulastronco variam de acordo com a
origem das célulastronco. As célulastronco (ou estaminais) adultas são encontradas em adultos e podem substituir
células velhas pela reprodução de células novas, como células sanguíneas e hepáticas. Os transplantes de medula óssea
(TMO) são exemplos da utilização de células estaminais adultas no tratamento médico. As célulastronco embrionárias são
derivadas da massa celular interna do embrião jovem. As célulastronco, que podem se transformar em qualquer tipo de
célula do corpo, têm sido apontadas como uma potencial cura para tudo, desde o diabetes melito do tipo 1 até o acidente
vascular encefálico. Isso é bastante controverso; no entanto, as célulastronco embrionárias vêm de embriões humanos
descartados, mas também são bastante promissoras. A controvérsia não está na questão de se as célulastronco devem ser
usadas, mas sim qual fonte de célulastronco deve ser usada, e como elas são obtidas (Devolder, 2015).
A controvérsia gira em torno da utilização de célulastronco embrionárias, porque o processo de obtenção dessas
células resulta na destruição do embrião. Algumas pessoas acham que a destruição do embrião humano constitui
assassinato e rejeitam essa prática por motivos religiosos. Os pontos de vista sobre quando começa a vida e se o embrião é
considerado uma pessoa com status moral estão no cerne das deliberações éticas relacionadas com o uso de célulastronco
embrionárias. A decisão tem de ser tomada com base em valores pessoais e aspectos éticos.
Banco de sangue de cordão umbilical
O sangue do cordão umbilical, o sangue remanescente no cordão umbilical por ocasião do nascimento, pode ser coletado
no momento do nascimento e ser uma fonte de célulastronco para um indivíduo que precisa de um transplante de medula
óssea mais tarde. Os extraordinários avanços científicos e tecnológicos da medicina contemporânea constantemente levam
à implementação de novos tratamentos. O sangue do cordão umbilical é uma potencial fonte abundante de célulastronco
hematopoéticas primitivas e progenitoras disponíveis para aplicações clínicas. O sangue do cordão umbilical pode ser
usado como uma fonte alternativa para o transplante de medula óssea e a sua utilização está evoluindo para uma nova área
de tratamento para pacientes pediátricos e adultos que apresentam doenças hematológicas, defeitos imunológicos e doenças
genéticas específicas (Meierrhenry et al., 2015).
Inicialmente, foram desenvolvidos bancos privados para armazenar as célulastronco do cordão umbilical de recém
nascidos, cobrando uma taxa, para o potencial uso futuro pela mesma criança ou por um membro da família, caso ele
desenvolva uma doença posteriormente. Hoje, os bancos de sangue de cordão umbilical públicos armazenam, sem custos,
célulastronco que podem ser usadas por qualquer pessoa que necessite deles, de modo semelhante aos bancos de sangue
públicos. Os bancos de cordão umbilical são essenciais como fornecedores de tecido do cordão umbilical, tanto para
tratamento médico quanto para pesquisas científicas com célulastronco. Embora a criação de bancos de cordão umbilical
seja considerada por alguns como uma prática bemsucedida, é percebida como eticamente arriscada por outros.
As gestantes devem estar cientes de que as célulastronco do sangue do cordão umbilical atualmente não podem ser
utilizadas para tratar erros inatos de metabolismo ou outras doenças genéticas no mesmo indivíduo do qual o cordão foi
coletado, porque o sangue do cordão tem a mesma mutação genética. O sangue do cordão umbilical coletado de um recém
nascido que mais tarde desenvolve leucemia infantil não pode ser usado para tratar a leucemia pelo mesmo motivo.
O fato de os bancos de cordão umbilical privados oferecerem seus serviços como “seguro biológico” a fim de obter o
consentimento informado dos pais (assegurando que o tecido será disponibilizado se o filho precisar dele no futuro)
levanta a questão de saber se o consentimento é dado livremente ou sob coação. Outra consideração que tem de ser feita
em relação aos bancos de cordão umbilical privados está relacionada com a propriedade do material armazenado. Os
conflitos entre os princípios morais e os interesses econômicos (muitos médicos têm seus próprios bancos de sangue
privados) causam dilemas na prática clínica de armazenamento e uso do sangue do cordão umbilical, especialmente em
bancos privados (Guilcher, Fernandez, & Joffe, 2015).
Tanto a ACOG (2012) quanto a American Academy of Pediatrics (AAP, 2010) emitiram declarações contrárias ao uso
de bancos com fins lucrativos e criticaram suas táticas de publicidade. Em vez disso, recomendaram que os pais doem o
sangue do cordão para bancos públicos, o que o torna disponível gratuitamente para quem precisa. Globalmente, outras
organizações têm feito o mesmo. Bancos de sangue de cordão umbilical privados suscitam uma questão de regulação legal
especial. Essa prática promete o armazenamento seguro de material biológico, pressupondo que poderá ser útil em
determinado momento no futuro para o próprio doador (ou por um parente próximo do doador), para a cura de doenças
sanguíneas graves (Elmoazzen & Holovati, 2015). Atualmente, recomendase que o pinçamento e o corte tardios do cordão
umbilical constituam a melhor prática baseada em evidências. Assim, a coleta de célulastronco do sangue do cordão
umbilical não deve alterar o momento de pinçamento do cordão umbilical. Enfermeiros que prestam cuidados prénatais a
gestantes precisam ter maior conscientização e conhecimento sobre as opções de armazenamento em banco de sangue do
sangue e do tecido do cordão umbilical, a fim de apresentar informações a pais expectantes que sejam precisas, baseadas
em evidências e sem tendenciosidade (viés).
Termo de consentimento livre e informado
O propósito do termo de consentimento livre e informado nos cuidados de saúde é garantir que a autonomia do paciente
seja respeitada nas decisões sobre seus cuidados de saúde. Representa o acordo feito por um paciente que será submetido a
uma cirurgia ou tratamento médico ou que participará de um ensaio clínico depois de ser informado e de ter compreendido
os riscos envolvidos. É um documento válido em todos os 50 estados norteamericanos e decorre do direito legal e ético
que um indivíduo tem de decidir o que é feito com seu corpo e do dever ético do médico de se certificar de que os
indivíduos estejam envolvidos nas decisões sobre sua própria saúde (Boyd, 2015).
A doutrina do consentimento informado protege os direitos da paciente de consentir ou recusar voluntariamente
qualquer tratamento, procedimento ou intervenção médica com base em informações sobre os riscos, benefícios e
alternativas de cuidado. Isso inclui o fornecimento de informações baseadas em evidências suficientes para tomar uma
decisão que reflita a autodeterminação, a autonomia e o controle. O consentimento ou a recusa da paciente é mais do que
uma doutrina jurídica a ser obedecida para obter a assinatura da paciente, é um processo de troca de informações e
envolvimento dos pacientes na tomada de decisão (Grady, 2015).
Fazer escolhas informadas durante o parto pode ser complexo e multifacetado. O processo envolve a integração de
informações baseadas em evidências com as necessidades de saúde, os valores, as crenças e as preferências pessoais.
Assim, os profissionais de saúde são obrigados a informar adequadamente as pacientes sobre os procedimentos planejados
e ter a certeza de sua permissão antes de realizálos. Os direitos e a autonomia da paciente precisam ser considerados,
porque pacientes desinformadas não são capazes de tomar decisões ponderadas.
Quatro componentes principais do consentimento informado
O consentimento informado tem quatro componentes principais: divulgação, compreensão, competência e voluntariedade
(Cornock, 2015).7 Ocorre antes do início do procedimento ou cuidado específico e aborda as exigências legal e ética de
informar a paciente sobre o procedimento. O médico ou o enfermeiro obstetra são responsáveis por informar a paciente
sobre o procedimento e obter o consentimento, fornecendo uma descrição detalhada do procedimento ou do tratamento,
seus potenciais riscos e benefícios e métodos alternativos disponíveis. As responsabilidades do enfermeiro relacionadas
com o termo de consentimento informado incluem:
• Garantir que o termo de consentimento informado tenha sido assinado pela paciente
• Atuar como testemunha do processo de assinatura
• Determinar se a paciente compreendeu o que está assinando fazendolhe perguntas pertinentes
• Nos EUA, em algumas unidades federativas, os menores maduros e emancipados podem consentir com seus próprios
cuidados de saúde; determinados cuidados podem ser prestados aos adolescentes sem a devida notificação dos pais,
incluindo contracepção, aconselhamento gestacional, cuidados prénatais, exames e tratamento de infecções
sexualmente transmissíveis (incluindo a infecção pelo HIV), tratamento de drogadição e aconselhamento e tratamento
de transtornos mentais e os cuidados de saúde necessários em decorrência de lesão relacionada com um crime
(Dickens & Cook, 2015).
Embora nos EUA as leis variem de estado para estado, certos elementoschave estão associados ao termo de
consentimento informado (Boxe 1.4). Os profissionais de enfermagem precisam estar familiarizados com as leis
específicas do estado onde atuam, bem como com as políticas e procedimentos da instituição de saúde em que trabalham.
Tratar pacientes sem que o termo de consentimento informado tenha sido assinado pode resultar em acusações de
agressão, e o profissional e/ou a instituição de saúde podem ser responsabilizados por quaisquer danos. Em geral, apenas
as pessoas maiores de idade (com mais de 18 anos) podem assinar legalmente o termo de consentimento informado,
exceto em caso de um menor emancipado (a pessoa que não está mais sujeita ao controle dos pais, como, por exemplo,
aqueles que já são casados) (Arnold & Boggs, 2016).
A maioria dos cuidados prestados em uma instituição de saúde é coberta pela autorização inicial para tratamento que é
assinada quando o indivíduo se torna um paciente ou pelo consentimento para tratamento que é assinado na admissão a um
hospital ou outra unidade de saúde. Alguns procedimentos, no entanto, podem exigir um processo específico de
consentimento informado: cirurgia de grande ou pequeno porte; procedimentos invasivos, como amniocentese ou
monitoramento fetal interno; tratamentos que coloquem a paciente em maior risco, como quimioterapia ou radioterapia;
procedimentos ou tratamentos que envolvam pesquisa e fotografias da paciente.
O termo de consentimento informado também se baseia no pressuposto de competência (todos os adultos são
competentes, a menos que o tribunal decida em contrário) e capacidade (capacidade de compreender as alternativas e
consequências do tratamento e escolher a melhor opção). Os profissionais de enfermagem precisam ter cuidado ao
determinar a capacidade de uma paciente que tenha recebido medicamentos que alterem sua capacidade cognitiva para
tomar decisões sobre os cuidados. Pode ser necessário adiar ou suspender os fármacos temporariamente para restaurar a
capacidade da paciente de tomar decisões de saúde.
BOXE 1.4
ELEMENTOS ESSENCIAIS DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E INFORMADO (NOS EUA)
• A pessoa que toma a decisão tem de ser maior de idade na unidade federativa em questão, com plenos
direitos civis e competente (ter a capacidade de tomar a decisão)
• A informação é apresentada de modo simples, conciso e adequado ao nível de escolaridade e
linguagem do indivíduo responsável pela tomada de decisão
• A decisão tem de ser voluntária, sem coerção nem constrangimento
• É necessário ter uma testemunha do processo de consentimento informado
• A testemunha precisa assinar o termo de consentimento
Adaptado de US Department of Health and Human Services [USDHHS]. (2015). Informed consent.
Disponível em: http://www.hhs.gov/ohrp/policy/consent/index.html; Nursing Midwifery Council. (2015). The
code: Professional standards of practice and behavior for nurses and midwives. Retirado
de http://www.nmcuk.org/Documents/NMCPublications/revisednewNMCCode.pdf.
Se a paciente não for capaz de dar o seu consentimento, a pessoa mais próxima dela poderá dálo para o tratamento de
emergência. Em caso de emergência, pode ser obtido um consentimento verbal, por telefone. Duas testemunhas também
precisam estar ouvindo simultaneamente e assinar o termo de consentimento informado, indicando que o consentimento
foi recebido via telefone. O processo de consentimento informado ideal seria alcançado se um profissional de saúde e um
profissional de enfermagem experiente colaborassem para o bem do paciente (Cornock, 2015).
Recusa de tratamento médico
No Brasil, todos os pacientes têm o direito de recusar tratamento de saúde com base no artigo 15 do Código Civil. De
modo ideal, a assistência médica sem o consentimento informado deve ser usada somente quando a vida da paciente está
em perigo. Os pacientes podem recusar um tratamento se ele entrar em conflito com suas crenças religiosas ou culturais
(Khoury, 2015). Um exemplo seria uma pessoa que seja testemunha de Jeová. Os indivíduos dessa fé têm fortes crenças
baseadas em passagens da Bíblia que são interpretadas como proibitivas do “consumo” de sangue. Suas crenças os
impedem de aceitar transfusões de sangue total ou de seus componentes primários. Graças aos recentes avanços e ao uso
de hemostatos biológicos que ajudam a coagular e a reduzir a perda de sangue, cirurgias de grande porte podem ser
realizadas com segurança em uma pessoa que seja testemunha de Jeová e se recuse a receber transfusão de sangue. Esses
hemostatos diminuem a perda de sangue na cirurgia (Carr, 2015). Nesses casos, é importante orientar a paciente e a
família sobre a importância do tratamento recomendado, sem coagir nem forçála a concordar. Às vezes, é alcançado um
meiotermo entre as crenças religiosas ou culturais da família e as recomendações da equipe de saúde. A comunicação e a
orientação são cruciais nessa situação.
Confidencialidade
Os enfermeiros enfrentam um grande desafio para respeitar a confidencialidade dos pacientes em um mundo onde a
informação é rapidamente compartilhada e onde as informações sobre a doença podem gerar constrangimento.8 Eles têm o
dever de cuidar dos pacientes. Esse dever inclui manter a privacidade e a confidencialidade. Com a criação do Health
Insurance Portability and Accountability Act (HIPAA), de 1996, a confidencialidade das informações de saúde agora é
obrigatória por lei. A principal intenção da lei é proteger a cobertura do plano de saúde para os trabalhadores e suas
famílias quando eles mudam ou perdem seus empregos. Outro aspecto da lei exige que o USDHHS estabeleça padrões
nacionais para a transmissão eletrônica de informações de saúde. As regulamentações do HIPAA foram instituídas para
proteger a privacidade dos indivíduos, salvaguardando os registros de saúde individualmente identificáveis, incluindo os
alojados em mídias eletrônicas. A proteção dos prontuários se estende não apenas a clínicas de saúde, mas também a
outras instituições correlatas, como farmácias, laboratórios e seguradoras de saúde. Cada profissional de saúde que lida
com as informações de saúde da paciente precisa garantir o acesso seguro e limitado às informações (Price, 2015). Por
exemplo, nenhuma informação que identifique claramente uma paciente pode estar em exibição pública, incluindo
informações do prontuário da paciente. Na área da saúde materna e neonatal, as informações são compartilhadas apenas
com a paciente, o parceiro legal, os pais, os responsáveis legais ou indivíduos determinados por escrito pela paciente ou
pelos pais da criança. Essa lei promove a segurança e a privacidade das informações de saúde e de cuidados de saúde a
todos os pacientes. As informações da paciente devem ser sempre mantidas em sigilo no contexto da lei estadual, bem
como das políticas da instituição.
Hoje, as mídias sociais fornecem uma rica fonte de erros para expor informações confidenciais de pacientes. Ações
como solicitar a amizade de pacientes no Facebook™, comunicar sobre cuidados com o paciente com identificadores e
postar fotos inapropriadas representam violações das políticas do HIPAA e/ou do empregador, resultando em advertência
ou demissão (Scruth et al., 2015).
Existem exceções à confidencialidade. Por exemplo, a suspeita de maustratos físicos ou abuso sexual e ferimentos
causados por uma arma de fogo ou arma branca ou ato criminoso têm de ser notificados às autoridades competentes. Os
casos de abuso são relatados às autoridades de bemestar apropriadas, ao passo que atos criminosos são relatados à
polícia.9 O médico também tem de seguir as leis de saúde pública relacionadas com a notificação compulsória de
determinadas doenças infecciosas ao departamento de saúde local (p. ex., tuberculose, hepatite, HIV e outras infecções
sexualmente transmissíveis). Por fim, há o dever de alertar terceiros quando houver ameaça específica a uma pessoa
identificável. É obrigatório o equilíbrio entre a confidencialidade e a divulgação exigida pela lei. Se as informações de
cuidados de saúde precisarem ser divulgadas por lei, a paciente tem de ser informada de que isso será feito (Price, 2015).
IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM
O sistema de saúde está integrado na estrutura política e social da nossa sociedade. Os profissionais de enfermagem
devem compreender as questões sociais, jurídicas e éticas do cuidado de saúde para que possam ter participação ativa no
atendimento das necessidades de saúde das mulheres e suas famílias. Os profissionais de enfermagem estão em uma
posição única, porque muitas vezes são os primeiros a terem contato com a paciente no sistema de saúde. Os profissionais
de enfermagem precisam ter uma participação proativa na defesa e no empoderamento de suas pacientes. Por exemplo, os
profissionais de enfermagem podem ajudar as mulheres a aumentar o controle sobre os fatores que influenciam a saúde,
melhorando assim seu estado de saúde. Uma mulher pode ser empoderada por meio do desenvolvimento de habilidades
não apenas para lidar com seu ambiente, mas também para mudálo. Os profissionais de enfermagem também podem
assumir esse papel de orientação às famílias ajudandoas a melhorar o seu estado geral de saúde e os resultados de saúde.
Os profissionais de enfermagem precisam ter uma sólida base de conhecimentos sobre os fatores que afetam a saúde
materna, neonatal e da mulher e as barreiras à saúde da mulher. Podem usar essas informações para fornecer instruções
antecipatórias, orientação de saúde e orientações mais específicas às mulheres e suas famílias. Também é útil na
identificação de grupos de alto risco, para que as intervenções possam ser iniciadas precocemente, antes da ocorrência de
problemas.
Ao cuidarem de mulheres e de suas famílias, os profissionais de enfermagem atuam no âmbito do processo de
enfermagem, que é aplicável a todas as instituições de saúde. A enfermagem na saúde materna, neonatal e da mulher está
sempre mudando, conforme a globalização e o intercâmbio de informações associado se expandem. Os profissionais de
enfermagem precisam manterse atualizados sobre as novas tecnologias e tratamentos e integrar intervenções de alta
qualidade baseadas em evidências ao cuidado que prestam.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
No tocante à saúde maternoneonatal e da mulher, os profissionais de enfermagem prestam cuidados
usando uma filosofia focalizada na família e no uso de práticas baseadas em evidências em um
ambiente de gerenciamento de casos para proporcionar cuidados de qualidade e custoefetivos
O Healthy People 2020 apresenta um conjunto norteamericano de metas e objetivos de saúde para
adultos e crianças, focalizado na promoção da saúde e na prevenção de doenças
Um método para determinar o estado de saúde global de mulheres e crianças é por meio de dados
estatísticos, como as taxas de mortalidade e de morbidade
A taxa de mortalidade infantil é a mais baixa da história dos EUA, mas ainda é maior do que a de
outros países industrializados. Essa alta taxa pode ser decorrente do elevado número de recém
nascidos de baixo peso (CDC, 2015d)
A família é considerada a unidade social básica da sociedade norteamericana. A família influencia o
desenvolvimento e a saúde de seus membros, porque estes aprendem atividades, crenças e valores de
saúde com ela
A cultura influencia todos os aspectos do desenvolvimento e se reflete na gravidez e nas crenças e
práticas de educação infantil destinadas a promover a adaptação saudável
Outros fatores que afetam a saúde das mulheres e de suas famílias incluem o estado de saúde e o
estilo de vida, a contenção de custos da assistência de saúde, a melhora do diagnóstico e do
tratamento e o empoderamento do consumidor de cuidados de saúde. As finanças, o transporte, o
idioma, a cultura e o sistema de saúde podem atuar como barreiras aos cuidados de saúde
Os avanços da ciência e da tecnologia têm levado ao aumento dos dilemas éticos na área da saúde
No Brasil, todos os pacientes têm o direito de recusar tratamento de saúde com base no artigo 15 do
Código Civil
Os enfermeiros precisam conhecer bem as leis relacionadas com o atendimento de mulheres e suas
famílias, bem como das políticas específicas de sua instituição de saúde
Referências bibliográficas e leitura sugerida
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Exercícios sobre o capítulo
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. Ao preparar uma apresentação para um grupo de mulheres locais sobre os problemas de saúde da
mulher, o que o enfermeiro inclui como a principal causa de morte de mulheres nos EUA?
a. Câncer de mama
b. Complicações no parto
c. Lesão resultante de violência
d. Doença cardíaca
2. Qual fator provavelmente será responsável pela falha da gestante em receber os cuidados prénatais
adequados nos EUA?
a. Crença de que esses cuidados não são necessários na gravidez normal
b. Negação da gravidez
c. Falta de plano de saúde para cobrir as despesas
d. Incapacidade de confiar nas práticas de medicina convencionais
3. Ao cuidar de um adolescente, em qual situação o enfermeiro compartilha as informações com os pais,
independentemente da unidade federativa dos EUA em que o cuidado seja prestado?
a. Aconselhamento de gravidez
b. Depressão
c. Contracepção
d. Tuberculose
4. A defesa da paciente, o gerenciamento do uso e a coordenação do cuidado descrevem qual dos
seguintes?
a. Cuidados de enfermagem primários
b. Gerenciamento de caso
c. Assistência centrada na família
d. Assistência centrada na paciente
5. Os enfermeiros nos EUA que trabalham em serviços de maternidade precisam conhecer várias culturas
e serem culturalmente competentes no cuidado com mulheres e suas famílias, porque:
a. Todos os membros de uma cultura específica são homogêneos
b. Existem diferenças fisiológicas entre culturas distintas
c. O cuidado pode ser individualizado para diferentes preferências culturais
d. Grupos culturais não dominantes são formados por novos imigrantes
6. O enfermeiro está preparando uma palestra sobre a população semteto. Quais fatores contribuem para
o aumento dessa população? Selecione todos que se apliquem.
a. Diminuição do número de pessoas que vivem em situação de pobreza
b. Desemprego
c. Exposição a maustratos ou negligência
d. Cortes em programas públicos de bemestar social
e. Estabelecimento de centros de crise comunitários
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. Como enfermeiro de uma unidade de saúde para pessoas de baixa renda, financiada pelo governo
federal e que atende mulheres, você se sente cada vez mais frustrado com o número de faltas nas
consultas do ambulatório de prénatal. Algumas pacientes comparecem à primeira consulta de prénatal
e não retornam para o acompanhamento. O enfermeiro percebe que algumas simplesmente esquecem
as consultas agendadas, mas a maioria sequer telefona para notificar o consultório. Muitas pacientes
são de alto risco, portanto estão colocando em risco a própria saúde e a saúde do feto.
a. Que mudanças poderiam ser úteis para resolver essa situação?
b. Delineie o que o enfermeiro pode dizer em sua próxima reunião de equipe para resolver o
problema de pacientes que comparecem a uma consulta e depois não retornam.
c. Quais estratégias o enfermeiro poderia usar para melhorar o atendimento e a notificação?
d. Descreva quais técnicas culturais e de atendimento à paciente podem ser necessárias.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Pesquise uma política de saúde, um projeto de lei ou questão atual que esteja sendo debatida na
comunidade, no estado ou nacionalmente que diga respeito à saúde e ao bemestar das mulheres e
suas famílias. Resuma os principais fatos e argumentos contra e a favor e elabore um relatório oral
sobre seus achados.
2. No seu grupo clínico, debata o seguinte questionamento: o acesso aos cuidados de saúde deve ser um
direito ou um privilégio? Esteja preparado para defender sua resposta.
3. Visite um centro de saúde da comunidade local que ofereça serviços a mulheres de várias culturas e
suas famílias. Entreviste a equipe em relação a todas as barreiras aos cuidados de saúde que tenham
sido identificadas. Verifique o que os funcionários têm feito para minimizar essas barreiras.
ESTUDO DE CASO
Maize, uma mulher hispânica de 64 anos, procurou a Clínica da Mulher reclamando de um corrimento
vaginal pruriginoso e desconfortável. Maize não aparecia na clínica há anos, desde que ela teve seu último
filho décadas atrás. Ela nunca terminou o ensino médio e estava trabalhando como empregada de um motel
na região. Por não ter plano de saúde, Maize tinha o hábito de tomar remédios caseiros para tratar qualquer
problema de saúde. Antes de sua consulta hoje, ela estava tentando tratar esse problema.
O profissional de saúde examinou Maize e receitou supositórios vaginais para tratar uma micose. Ela
recebeu instruções verbais e por escrito antes de sair. Maize balançou a cabeça concordando que estava
entendendo como deveria ser o tratamento. Poucos dias depois, o enfermeiro da clínica recebeu um
telefonema de Maize afirmando que ela “teria que viver com essa condição, porque o remédio que ela
estava tomando tinha “um gosto ruim”, estava fazendoa engasgar ao tentar engolir, e ela não achava que
estava funcionando!”
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 1 | Perspectivas sobre os Cuidados de Saúde MaternoNeonatal e da
Mulher
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é D. A principal causa de morte em mulheres é a doença cardíaca, responsável por mais de meio
milhão de mortes a cada ano. A maioria das mulheres, no entanto, acredita que o câncer de mama deve ser sua
principal preocupação. A taxa de mortalidade por câncer de mama é pequena em comparação à de mortalidade por
doença cardiovascular. Cerca de 350 mortes por ano ocorrem em virtude de complicações no parto. As taxas de lesão
resultante de violência são muito menores do que a quantidade de mulheres que morrem anualmente por causa de
doenças cardíacas.
2. A resposta correta é C. A falta de um plano de saúde adequado é uma barreira importante ao acesso a atendimento
prénatal apropriado. Dos milhões de norteamericanos que não têm plano de saúde, a maioria é do sexo feminino.
Sem plano de saúde, muitas mulheres têm limitação nas opções para receber assistência prénatal. As estatísticas
demonstrarão desfechos melhores caso seja realizado atendimento prénatal, e a maioria das gestantes gostaria de ter
acompanhamento médico para um melhor desfecho. Muitas mulheres procuram atendimento já no início da gestação,
exceto as adolescentes que escondem a gravidez ou que não sabem que estão grávidas. Uma boa parte das mulheres
recebe assistência prénatal de qualidade, e assim o desfecho é positivo. A desconfiança em relação às práticas
médicas convencionais pode influenciar algumas mulheres de culturas diferentes, uma vez que suas práticas culturais
de saúde são distintas.
3. A resposta correta é D. Nos EUA, em vários estados são prestados cuidados à gestação, aconselhamento
contraceptivo e tratamento de doenças mentais para adolescentes sem o envolvimento dos pais. Essas leis não
incluem a prestação de cuidados para doenças transmissíveis, como a tuberculose, que exigem o consentimento e a
notificação dos pais.
4. A resposta correta é B. Esses três itens compõem os valores fundamentais do gerenciamento de caso. O
gerenciamento de caso é um processo colaborativo de avaliação inicial, planejamento, aplicação, coordenação,
acompanhamento e avaliação posterior das opções e serviços necessários para atender às demandas de saúde de um
indivíduo por meio de comunicação e recursos disponíveis, a fim de promover resultados de qualidade e custo
efetivos. O atendimento primário realmente é focalizado na paciente, mas não no gerenciamento do uso. O cuidado
centrado na família voltase para os familiares para atender às necessidades deles, não apenas as da paciente. O
cuidado centrado na paciente não considera o gerenciamento do uso, apenas a coordenação do cuidado para essa
paciente específica.
5. A resposta correta é C porque cada cultura apresenta numerosos valores, crenças, tradições e modos diferentes de
receber cuidados de saúde. Os profissionais de enfermagem que atendem populações diferentes precisam conhecer
essas variações para mais bem atender às demandas de cada paciente. A alternativa A é incorreta porque os pacientes
são indivíduos inseridos em suas culturas, mas não são iguais nessa cultura. A alternativa B é incorreta porque a
fisiologia humana não é fundamentada em cultura, mas em genética e ambiente. A alternativa D é incorreta porque as
minorias étnicas nos EUA não são constituídas apenas por novos imigrantes e muitos indivíduos nasceram nos EUA
e viveram toda a sua vida neste país.
6. As respostas corretas são B, C e D. Os fatores que contribuem para a falta de moradia incluem aspectos econômicos,
como o aumento da pobreza, a falta de habitação acessível, a diminuição da disponibilidade de subsídios para aluguel,
o desemprego e os cortes nos programas de bemestar público. As crises pessoais, como divórcio, violência
doméstica e uso abusivo de substâncias psicoativas, também influenciam. A desinstitucionalização das pessoas com
doenças mentais tem desempenhado papel importante, especialmente porque não foram criados centros comunitários
e casas para ajudar essas pessoas em momentos de crise.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. Que mudanças poderiam ser úteis para resolver essa situação?
Muitas pacientes têm empregos que pagam por hora trabalhada. Se não trabalham, não recebem, portanto não
podem comparecer à clínica durante seu horário de trabalho. Disponibilizar horários à noite e aos sábados
melhora a adesão às consultas médicas.
b. Delineie o que o enfermeiro poderia dizer na próxima reunião de equipe para resolver o problema de
pacientes que comparecem a uma consulta e depois não retornam.
A aceitação e um tom de apoio são frequentemente estabelecidos no primeiro encontro e pode ser necessário
examinar como isso é comunicado às pacientes em seu primeiro contato com os funcionários da clínica. Ofereça
sugestões de como a equipe pode estabelecer um tom positivo e acolhedor para que as pacientes retornem para a
continuidade dos cuidados.
c. Quais estratégias o enfermeiro poderia usar para melhorar o atendimento e a notificação?
Disponibilize um membro da equipe para ligar para cada paciente a fim de lembrála de sua consulta no dia
seguinte e oferecer toda a assistência necessária para levála até o local da consulta. Designe um membro da
equipe para ser a pessoa que faz um trabalho além do usual, que fará visitas domiciliares para acompanhar as
pacientes que habitualmente faltam às consultas.
d. Descreva quais técnicas culturais e de atendimento à paciente podem ser necessárias.
Oriente os funcionários em relação aos padrões culturais das pacientes atendidas. Com base na cultura em
questão, elabore políticas e procedimentos culturalmente apropriados.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. As respostas variarão dependendo da sua localidade e do período de tempo pesquisado.
2. Dependendo da estrutura de referência dos estudantes, alguns pensarão que se trata de um direito e que o governo
deve fornecêlo a todos os cidadãos. Outros acharão que deveria ser um privilégio e ser pago pela pessoa, não pelo
governo. Não há resposta certa ou errada, mas esse assunto pode desencadear uma animada discussão em sala de
aula. (No Brasil, o acesso aos cuidados de saúde é um dever do Estado e um direito de todos.)
3. As mulheres não têm plano de saúde para pagar pelos serviços, não têm transporte para chegar aos serviços, têm
barreiras de idioma e culturais, o horário de atendimento das instituições conflita com seus horários de trabalho e as
atitudes dos profissionais de saúde são negativas.
ESTUDOS DE CASO
1. Qual é o verdadeiro problema nesse caso?
Resposta: Baixo letramento em saúde e falta de conhecimentos quanto à via certa de administração dos fármacos em
decorrência do nível baixo de escolaridade e de ser imigrante.
2. Houve alguma consideração quanto ao nível de letramento em saúde dessa paciente?
Resposta: Embora tenham sido fornecidas instruções verbais e por escrito, não foram formuladas perguntas quanto
ao seu entendimento real das instruções. A falta de letramento em saúde implica ônus significativo para o sistema de
saúde.
3. Essa é uma reação típica quando as instruções de saúde não são compreendidas? Esse problema é
comum? Resposta: Sim, quando há dificuldade de compreensão, os pacientes usam doses ou vias de administração
inadequadas dos fármacos, ou as receitas não são seguidas por causa da falta de entendimento e dos custos. Com
frequência, os pacientes, especialmente os com baixo nível de escolaridade e imigrantes, têm pouco entendimento da
complexidade do sistema de atenção à saúde.
4. Como o profissional de enfermagem poderia resolver o problema, de maneira que Maria seja beneficiada com o
tratamento?
Resposta: O enfermeiro precisa pedir a Maria para retornar, de forma a passar tempo com ela para demonstrar como
administrar o fármaco; usar um intérprete que fale espanhol para repetir as instruções fornecidas; fornecer à paciente
uma segunda prescrição ou amostras; e marcar um encontro de acompanhamento depois de alguns dias, de modo a
assegurar que os fármacos tenham sido administrados corretamente. Também é importante pedir a Maize para repetir
as instruções fornecidas e demonstrar como os fármacos devem ser introduzidos.
____________
1
N.R.T.: Segundo o Ministério da Saúde, a mortalidade materna no Brasil caiu 58% entre 1990 e 2015 – de 143 para 62 óbitos
maternos por 100 mil nascidos vivos. Todavia, os números variam de uma região do país para outra (portalms.saude.gov.br).
Adaptado de Centers for Disease Control and Prevention [CDC]. (2015e). Pregnancyrelated deaths. Retirado
de http://www.cdc.gov/reproductivehealth/MaternalInfantHealth/PregnancyrelatedMortality.htm; King, T. L., Brucker, M. C.,
Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Gegor, C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s midwifery (5th ed.). Burlington, MA: Jones & Bartlett
Learning; e MacLean, M. (2015). Midwives in 19th century America. Retirado
de http://www.womenhistoryblog.com/2014/06/19thcenturymidwives.html.
2
N.R.T.: No Brasil, o enfermeiro obstetra tem seu exercício profissional regulamentado pela Lei Federal nº 7.498/86 e pelo
DecretoLei nº 94.406/87. O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) criou o Cadastro Nacional de Especialistas em
Enfermagem Obstétrica, tornando obrigatório o registro do título de especialista em enfermagem obstétrica para aqueles que
atuem em serviços de atenção obstétrica e neonatal, ou em domicílio, na realização de parto normal sem distocia, e determinou
que os Conselhos Regionais isentem de pagamento de taxa o registro do título. Para efetivarem o registro do título, os
profissionais devem procurar o Conselho Regional de Enfermagem (Coren) de sua região no prazo máximo de 1 ano, contado a
partir da data da publicação da Resolução Cofen nº 439/2012, que regulamentou o tema.
3
N.R.T.: No Brasil existe jurisprudência favorável às famílias homoparentais, inclusive o direito à adoção de crianças.
Adaptada de Krueger, P. M., Jutte, D. P., Franzini, L., Elo, I., & Hayward, M. D. (2015). Family structure and multiple domains of
child wellbeing in the United States: a crosssectional study. Population Health Metrics, 13(1), 6; Edelman, C. L., & Mandle, C.
L. (2014). Health promotion throughout the lifespan (8th ed.). St. Louis, MO: Mosby Elsevier; Brown, S. L., Manning, W. D., &
Stykes, J. B. (2015). Family structure and child wellbeing: Integrating family complexity. Journal of Marriage and
Family, 77(1), 177–190; e Dempsey, D. (2015). Familiarly queer? Samesex relationships and family formation. In: G, Heard & D,
Arunachalam (Eds.). Family Formation in 21st Century Australia (pp. 225–240). Netherlands: Springer.
4
N.R.T.: O Medicaid é um programa norteamericano de assistência de saúde financiado por impostos federais, estaduais e
municipais para a população de baixa renda.
5
N.R.T.: No Brasil o aborto é permitido em caso de gravidez decorrente de estupro, gravidez que coloque a vida da mulher em
risco e no caso de feto anencéfalo. O aborto legal exige consentimento da mulher. A única exceção é se a continuidade da
gravidez oferecer risco à vida e a gestante estiver impossibilitada de manifestar seu consentimento. Ver
também www.cofen.gov.br.
6
N.R.T: No Brasil, o Código de Ética do Professional diz no Capítulo III, artigo 73 que é proibido provocar aborto, ou cooperar
em prática destinada a interromper a gestação, exceto nos casos permitidos pela legislação vigente. “Parágrafo único. Nos casos
permitidos pela legislação, o profissional deverá decidir de acordo com a sua consciência sobre sua participação, desde que seja
garantida a continuidade da assistência.”
7
N.R.T.: ver no site https://portal.cfm.org.br a recomendação CFM nº 1/2016 que dispõe sobre o processo de obtenção de
consentimento livre e esclarecido na assistência médica no Brasil (https://portal.cfm.org.br).
8
N.R.T.: A Resolução do Cofen 564/2017 aprovou a reformulação do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. O artigo
12 diz que o profissional de enfermagem deve absterse de revelar informações confidenciais de que tenha conhecimento em razão
de seu exercício profissional, mas o artigo 52 diz que o profissional de enfermagem deve manter sigilo sobre fato de que tenha
conhecimento em razão da atividade profissional, exceto nos casos previstos na legislação ou por determinação judicial ou com o
consentimento escrito da pessoa envolvida ou de seu representante ou responsável legal.
9
N.R.T.: No Brasil, desde 2014 as portarias que tratam da notificação de violências estabelecem que os casos de tentativa de
suicídio e violência sexual são de notificação imediata no âmbito municipal, e devem seguir o fluxo de compartilhamento entre
as esferas de gestão do SUS estabelecido pela Secretaria de Vigilância em Saúde/MS. A notificação compulsória imediata deve
ser realizada pelo(a) profissional de saúde ou responsável pelo serviço assistencial que prestar o primeiro atendimento ao
paciente, em até 24 horas após o atendimento, pelo meio mais rápido disponível.
Questões múltipla escolha
1. Ao programar uma palestra sobre a história do parto e cuidados maternos, qual das seguintes
opções a enfermeira deveria incluir na descrição dos cuidados que eram prestados durante o
século 18?
A. A maioria dos partos ocorria em casa, com a ajuda de parteiras
B. Os estreptococos foram identificados como a principal causa de febre puerperal
C. Eram usadas doses maciças de narcóticos durante o trabalho de parto
D. Livros de preparação para o parto tornaramse prontamente disponíveis
Concluir questão
2. Uma enfermeira precisa assegurar que foi assinado o formulário de consentimento informado
para prestar assistência a uma criança. Que aspecto seria mais importante que a enfermeira
considerasse a respeito desse formulário?
A. Determinar se os pais são competentes
B. Determinar se a criança foi emancipada
C. Nos EUA seria conhecer as leis do estado em que o atendimento está sendo prestado. O
mesmo não ocorre no Brasil.
D. Entrar em contato com os pais antes de prestar um atendimento de emergência
Concluir questão
3. Uma enfermeira está trabalhando em um ambulatório de um bairro pobre. Que intervenção de
enfermagem provavelmente seria mais benéfica às mulheres e seus filhos atendidos nesse
ambulatório?
A. Orientar os pais em relação aos cuidados preventivos
B. Fornecerlhes exemplares dos medicamentos para o tratamento
C. Advertilos sobre questões de segurança em casa
D. Promover hábitos saudáveis de sono e descanso
Concluir questão
4. Como enfermeira que trabalha em uma clínica de saúde da família, você está ciente de que a
taxa de mortalidade infantil é maior entre os recémnascidos que:
A. Têm peso elevado ao nascer
B. Têm baixo peso ao nascer
C. Recebem alimentação com fórmula à base de soja
D. São primogênitos
Concluir questão
A enfermeira está cuidando de um menino latinoamericano de 5 anos e de sua família. Qual
5.
ação mais bem demonstra competência cultural?
A. Coordenação dos cuidados pela mãe
B. Promover um bom atendimento desconsiderando o poder da oração
C. Pedir ao pai que aprove os cuidados
D. Perguntar sobre modalidades complementares utilizadas
Concluir questão
6. Ao se comunicar com uma cliente que fala um idioma diferente, a melhor prática para a
enfermeira é:
A. Ficar perto da cliente e falar em voz alta
B. Falar alto e devagar
C. Providenciar um intérprete para se comunicar com a cliente
D. Falar com um familiar a respeito da condição da cliente
Concluir questão
7. A enfermeira de um posto de saúde municipal está atendendo uma menina de 1 ano e sua mãe
solteira. Qual ação seria mais importante inicialmente?
A. Observar a interação mãe/filha
B. A prioridade é a avaliação
C. Discutir crenças familiares
D. Avaliar o nível cognitivo da criança
Concluir questão
8. Uma enfermeira informa a uma cliente de 19 anos que esta está grávida. A cliente declara
imediatamente que pretende fazer um aborto. Qual seria a resposta mais adequada da
enfermeira a ela?
A. “Não conheço médicos que façam o procedimento.”
B. “Você tem certeza de que quer fazer isso?”
C. “Você já avisou ao pai da criança?”
D. “Vou reunir as informações que você vai precisar.”
Concluir questão
9. Qual é a principal causa de mortalidade infantil nos EUA?
A. Prematuridade
B. Baixo peso ao nascer
C. Anomalias congênitas
D. Síndrome de angústia respiratória do recémnascido
Concluir questão
10. Uma nova mãe está nervosa em relação à síndrome de morte súbita infantil (SMSI) e pede à
enfermeira instruções sobre como colocar o recémnascido para dormir. A enfermeira diz que
a mãe deve:
A. Colocar o recémnascido em decúbito dorsal, em vez de ventral
B. Colocar o recémnascido em decúbito lateral
C. Colocar o recémnascido em decúbito ventral, com o rosto virado para o lado
D. Deixar o recémnascido na mesma cama que os pais
Concluir questão
11. Como membro da equipe que atende clientes no centro comunitário local, a enfermeira pode
atuar de modo mais efetivo como:
A. Gerente de caso
B. Gerente de orientação
C. Gerente de controle de qualidade
D. Avaliadora de caso
Concluir questão
12. As orientações prénatais em uma clínica incluem ênfase nas consultas prénatais de rotina,
pois a maioria das complicações relacionadas com a gestação:
A. Pode ser mais bem controlada
B. É previsível
C. Pode ser tratada mais precocemente
D. É evitável
Concluir questão
13. Como enfermeira do prontosocorro, você tem testemunhado mulheres que chegam em
trabalho de parto com complicações. Sendo assim, você reconhece que um fator importante
que contribui para um desfecho ruim para muitas dessas clientes é:
A. Falta de escolaridade
B. Desemprego
C. Falta de alimentação adequada
D. Falta de cuidados
Concluir questão
14. Como enfermeira da clínica de saúde pública local, você reconhece que ______ é um
problema importante, mas que muitas vezes é negligenciado.
A. A mortalidade infantil
B. A mortalidade fetal
C. A mortalidade neonatal
D. A mortalidade materna
Concluir questão
15. Uma cliente do Oriente Médio não tomará uma decisão sem a aprovação do marido. A
enfermeira deve reconhecer que este é um exemplo de:
A. Diferença cultural
B. Submissão religiosa
C. Preferência familiar
D. Valores antiquados
Concluir questão
16. Uma cliente chega para a consulta prénatal de rotina. Contudo, ao exame, a enfermeira
percebe vários hematomas em diferentes estágios de cicatrização. Sua ação mais apropriada
seria:
A. Enviar a cliente para um abrigo de mulheres
B. Ligar para as autoridades
C. Documentar os achados
D. Relatar seus achados ao médico
Concluir questão
17. Uma enfermeira começou a trabalhar em uma nova clínica, que atende refugiados locais. É
importante que ela reconheça:
A. Sua falta de compreensão dos costumes norteamericanos
B. Sua origem étnica
C. Seu idioma
D. Suas diferenças culturais
Concluir questão
18. Sabese que as deficiências nutricionais são um problema comum nos EUA. Uma condição
adversa persistente que a enfermeira deve rastrear em todas as clientes em atendimento pré
natal é:
A. Anemia por deficiência de ferro
B. Hipocolesterolemia
C. Hipoglicemia
D. Anemia perniciosa
Concluir questão
19. Em uma consulta prénatal de rotina, a enfermeira está preocupada que a cliente seja usuária
de substâncias psicoativas. Para garantir o bom atendimento a ela, a enfermeira deve:
A. Denunciar a cliente aos serviços de proteção à criança
B. Encaminhar a cliente para os serviços comunitários disponíveis
C. Documentar as suspeitas no prontuário da cliente
D. Encaminhar a cliente a um programa de internação
Concluir questão
20. Depois de uma aula de preparação para o parto, a enfermeira reconhece que são necessárias
orientações adicionais quando uma participante declara:
A. “Vamos doar o sangue do cordão umbilical para o banco de sangue para ajudar outras
pessoas.”
B. “Vamos guardar o sangue do cordão umbilical, caso nosso bebê precise dele mais tarde.”
C. “Vamos armazenar o sangue do cordão umbilical na instituição local.”
D. “Decidimos não assinar o consentimento informado para guardar o sangue do cordão
umbilical.”
Concluir questão
Cuidados Comunitários Centrados na Família
2
PALAVRASCHAVE
Competência cultural
Comunidade
Enfermagem comunitária
Enfermagem em saúde comunitária
Enfermagem em saúde pública
Epidemiologia
População
Prevenção primária
Prevenção secundária
Prevenção terciária
Promoção da saúde
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Definir as principais palavras utilizadas neste capítulo.
2. Examinar os principais componentes e elementos dos cuidados de saúde comunitários centrados na família.
3. Explicar os motivos para o aumento da ênfase em cuidados comunitários.
4. Diferenciar a enfermagem comunitária da enfermagem nas unidades de atendimento agudo.
5. Integrar os diferentes níveis de prevenção em enfermagem comunitária, fornecendo exemplos de cada um.
6. Citar exemplos de questões culturais que possam ser enfrentadas na prestação de cuidados comunitários.
7. Descrever as forças dinâmicas que contribuem para a diversidade cultural, a fim de adaptar a prestação de cuidados
culturalmente competentes às mulheres e aos seus familiares.
8. Elaborar estratégias para a integração de elementos de terapias alternativas/complementares e práticas científicas de
cuidados de saúde.
9. Identificar os vários cenários nos quais os cuidados comunitários podem ser prestados às mulheres e às suas
famílias.
10. Delinear os diversos papéis e funções assumidos pelo enfermeiro de saúde comunitária.
11. Demonstrar a capacidade de usar habilidades de comunicação terapêutica ao interagir com as mulheres e suas
famílias.
12. Avaliar o processo de orientações de saúde no que se refere às mulheres e aos seus familiares.
13. Determinar a importância do planejamento de alta e do manejo de casos clínicos na prestação de cuidados
comunitários.
Maria estava em casa com seu primeiro filho, nascido há alguns dias. Ela havia acabado de trocar a fralda
dele e o colocou de bruços para dormir quando o enfermeiro de saúde comunitária chegou para uma visita
pósparto. Como o enfermeiro não falava espanhol e Maria não falava inglês, a comunicação foi quase toda
feita por gestos. Depois de examinar Maria, o enfermeiro pegou o recémnascido e o colocou em decúbito
dorsal no berço. Como o enfermeiro poderia ter se preparado para essa visita domiciliar? Que mensagem o
enfermeiro transmitiu ao mudar a posição do recémnascido? Que ações o enfermeiro tomou que poderiam
diminuir a confiança da mãe? Quais ações o enfermeiro deveria tomar para melhorar a confiança da mãe?
Reflexões
Para reconhecer a diversidade dos outros e respeitála, os enfermeiros primeiro precisam ter consciência de quem são.
INTRODUÇÃO
As mulheres e seus familiares recebem a maior parte de seus cuidados de saúde na comunidade, tanto na saúde quanto na
doença. Durante os últimos anos, o sistema de prestação de cuidados de saúde mudou dramaticamente. O sistema de
pagamento prospectivo do Medicare1 para hospitais, introduzido nos EUA em 1983, substituiu o reembolso dos gastos por
um sistema de valores fixos, que incentivou os hospitais a controlarem os custos. Esse foco na contenção de custos fez
com que as pessoas passassem menos tempo hospitalizadas. As pacientes recebem alta “mais doentes e mais
precocemente” de seus leitos hospitalares (Hansen, 2015). O sistema de saúde respondeu passando de estratégias de
tratamento reativas em hospitais para uma abordagem proativa na comunidade. Isso resultou em ênfase crescente na
promoção da saúde e prevenção de doenças na comunidade.
Os enfermeiros desempenham um papel importante na saúde e no bemestar de uma comunidade. Eles não só atendem
às necessidades de saúde do indivíduo, mas também implementam intervenções que influenciam a comunidade como um
todo. Os enfermeiros atuam em vários cenários em uma comunidade, como clínicas da saúde da família e consultórios
médicos, abrigos, igrejas, secretarias de saúde, centros comunitários de saúde e domicílios. Eles promovem a saúde dos
indivíduos, das famílias, de grupos, de comunidades e de populações e também um ambiente que apoia a saúde.
Este capítulo descreve os conceitos de comunidade e de enfermagem comunitária, abordando os vários ambientes nos
quais esses cuidados são prestados às mulheres e aos seus familiares. Também destaca os principais papéis e funções dos
enfermeiros comunitários, enfatizando sua função como educadores na promoção e manutenção da saúde.
CUIDADO CENTRADO NA FAMÍLIA
O cuidado centrado na família referese à parceria de colaboração entre o indivíduo, a família e as cuidadoras, que existe
para determinar objetivos, compartilhar informações, oferecer apoio e formular planos de saúde. De modo geral, é
entendido como uma abordagem em que as pacientes e suas famílias são consideradas parte integrante da tomada de
decisão e dos processos de prestação de cuidados de saúde (McGurk, 2015; Pate & Andrews, 2015). O suporte de
enfermagem à família pode ser implementado de muitas maneiras. Por exemplo, o suporte informativo visa fornecer
comunicação de apoio, disponibilizando à família informações compreensíveis sobre a condição, o tratamento, o
desenvolvimento e os cuidados de seu ente querido; sobre as respostas e necessidades comportamentais e emocionais; e o
que esperar em relação à sua condição. O suporte emocional inclui ouvir, exibir comportamentos compassivos e
preocuparse com maneiras de ajudar a família a lidar com a doença de seus membros e com outros aspectos de suas vidas
que são afetados pela doença. O suporte de apreciação, também chamado de suporte de estima, objetiva melhorar, reforçar
e apoiar o papel da família. Por fim, o suporte instrumental inclui a prestação de assistência de qualquer tipo, como
modificações financeiras, temporais, ocupacionais ou ambientais. Em suma, o suporte de enfermagem às famílias inclui
fornecer uma relação de apoio e informações contínuas; ajudar a manter o papel da família, oferecendo encorajamento,
comentários positivos e estima; dar apoio emocional; e prestar cuidados de enfermagem competentes. Para proporcionar
cuidados de qualidade centrados na família, os enfermeiros precisam de recursos adequados, formação apropriada e apoio
dos gestores e de outras áreas da saúde (Roberts, 2015).
A filosofia do cuidado centrado na família reconhece a família como a constante: a saúde de todos os familiares e suas
capacidades funcionais influenciam a saúde da paciente e de outros membros da família. Os conceitos essenciais do
cuidado centrado na família incluem:
• Fornecer dignidade e respeito às escolhas da paciente e da família
• Compartilhar informações de saúde importantes e acuradas
• Incentivar as pacientes e suas famílias a participar da tomada de decisão sobre os cuidados a serem prestados
• Colaborar com as pacientes, os familiares e outros profissionais de saúde na prestação de cuidados (Nichols, Crow, &
Balakas, 2015).
O cuidado centrado na família funciona bem em todas as áreas da saúde, dos cuidados preventivos aos cuidados de
longa duração. Além disso, aumenta a confiança de todos os envolvidos em suas capacidades e ajuda a preparar o
indivíduo para assumir a responsabilidade por suas próprias necessidades de cuidados de saúde. É vital que o enfermeiro
mensure o conhecimento que a família já tem sobre a saúde ou a doença da paciente. A essência dos cuidados centrados na
família é o compromisso de trabalhar com pacientes como parceiros e não apenas como pacientes, como era anteriormente.
O uso da abordagem centrada na família está associado a desfechos positivos, como diminuição da ansiedade, melhora
do controle da dor, recuperação mais rápida e melhora da confiança e das habilidades de resolução de problemas. A
comunicação entre a equipe de saúde e a família também é melhorada, resultando em maior satisfação tanto dos
profissionais de saúde quanto dos consumidores de cuidados de saúde (famílias). Os pais devem estar envolvidos no
cuidado e na tomada de decisões em relação ao recémnascido, e as separações devem ser minimizadas. As necessidades
do recémnascido devem ser antecipadas, respeitadas e abordadas na unidade obstétrica. Informações e comunicação
francas, claras e consistentes devem ser mantidas (Flagg, 2015). É importante que os profissionais de enfermagem
mantenham uma atitude de neutralidade em relação a tudo o que for ouvido ou presenciado, a fim de melhorar a confiança
e manter uma comunicação aberta com todos os familiares. O profissional de enfermagem precisa lembrarse de que a
paciente é uma especialista em sua própria saúde; portanto, deve trabalhar dentro da estrutura da paciente ao planejar
intervenções de promoção da saúde. Praticar o cuidado verdadeiramente centrado na família empodera a família, fortalece
seus recursos e ajuda a mulher ou a criança a sentiremse mais seguras em todo o processo.
CUIDADOS COMUNITÁRIOS
A comunidade é definida como um grupo específico de pessoas, muitas vezes vivendo em uma região geográfica
definida, que compartilham interesses comuns, interagem entre si e funcionam coletivamente dentro de uma estrutura
social definida para abordar preocupações comuns (Stanhope & Lancaster, 2014). As características comuns de uma
comunidade podem ser direitos e privilégios comuns como cidadãos de uma determinada cidade ou laços comuns de
identidade, valores, normas, cultura, língua ou apoio social. As mulheres são cuidadoras de crianças, pais, cônjuges e
vizinhos e prestam um importante apoio social nesses papéis.
Uma pessoa pode fazer parte de muitas comunidades durante o curso da vida diária. Os exemplos podem incluir a
comunidade da área em que mora (casa, apartamento, abrigo), gênero, local de trabalho (organização ou domicílio), idioma
falado (espanhol, chinês, inglês), escolaridade, cultura (italiana, afroamericana, indígena), carreira (enfermeiro,
empresária, dona de casa), lugar de culto (igreja ou sinagoga) e vínculo com organizações (clube de jardinagem,
Associação Cristã de Moços, grupo de apoio, associação de pais e professores, organizações juvenis, equipes de
atletismo).
A população é um grupo de indivíduos que compartilham características pessoais ou ambientais. Tipicamente, a
característica mais comum é a localização geográfica. Populações são compostas por seres humanos em ambientes sociais
e físicos complexos. O aprimoramento das populações humanas continua sendo o objetivo dos cuidados de enfermagem
comunitária. Exemplos de populações incluem enfermeiros que trabalham no turno da noite, mulheres mais velhas tendo
sua primeira gestação, recémnascidos de alto risco ou nativos norteamericanos.
Nos cuidados comunitários, a comunidade é a unidade de serviço. Os profissionais da saúde estão preocupados não só
com os pacientes que chegam para ser atendidos, mas também com a população maior de pacientes potenciais ou em
situação de risco.
Enfermagem em saúde comunitária
A enfermagem em saúde comunitária centrase na prevenção de doenças e melhora da saúde das populações e
comunidades. Os enfermeiros comunitários trabalham em ambientes geográfica e culturalmente distintos. Atendem às
necessidades de saúde atuais e potenciais de uma população ou comunidade. Esses enfermeiros promovem e preservam a
saúde de uma população e não estão limitados a determinados grupos etários ou diagnósticos. A enfermagem em saúde
pública é uma área especializada da enfermagem em saúde comunitária.
A epidemiologia (o estudo das causas, da distribuição e do controle de doenças em populações) pode ajudar a
determinar como estão a saúde e as necessidades de saúde de uma população, além de auxiliar no planejamento de serviços
de saúde. Os enfermeiros de saúde comunitária realizam investigações epidemiológicas para ajudar a analisar e a
desenvolver políticas de saúde e iniciativas comunitárias de saúde. Estas últimas podem ser voltadas à comunidade como
um todo ou a uma populaçãoalvo específica, com necessidades particulares. O Healthy People 2020: Improving the
Health of Americans é um exemplo norteamericano de iniciativa nacional de saúde que foi elaborada a partir do processo
epidemiológico. O Healthy People fornece os objetivos com base científica para 10 anos, destinados a melhorar a saúde de
todos os americanos. O Healthy People 2020 garante que os profissionais de saúde avaliem o indivíduo, bem como a
comunidade. Enfatiza o vínculo existente entre a saúde do indivíduo e a saúde da comunidade (Lundy & Janes, 2016).
Esse programa identifica duas metas principais: melhorar a qualidade e a expectativa de vida de indivíduos de todas as
idades e diminuir as disparidades de saúde entre as diferentes populações. Os objetivos relevantes do Healthy People
2020 estão destacados ao longo desta obra; o Healthy People 2020 está
disponível online em http://www.healthypeople.gov. Esses objetivos fornecem uma ferramenta para todos os profissionais
de saúde mudarem o foco na doença e na cura para o foco na promoção da saúde e na prevenção de doenças para
populações inteiras.
O foco das iniciativas de saúde da atualidade está nas pessoas e em suas necessidades por meio do fortalecimento de
suas capacidades de moldar suas próprias vidas. A ênfase passou da dependência dos profissionais de saúde para o
envolvimento e a responsabilidade pessoais, o que dá aos profissionais de enfermagem a oportunidade de interagir com os
indivíduos em inúmeras funções de autoajuda. O enfermeiro da comunidade pode ser a força primária na identificação dos
desafios e na implementação de mudanças na saúde futura da mulher e do recémnascido.
Enfermagem comunitária
No passado, as únicas especialidades na comunidade para o enfermeiro eram o enfermeiro de saúde comunitária e o
enfermeiro de saúde pública. Essas duas áreas agora são subconjuntos da que é considerada enfermagem comunitária. As
necessidades de saúde da sociedade e a demanda dos consumidores exigem serviços comunitários e focados na
comunidade. A mudança da perspectiva de “cura” orientada para a doença em hospitais para um foco na promoção da
saúde e em cuidados primários de saúde em ambientes comunitários mudou drasticamente as oportunidades de emprego
para os enfermeiros na atualidade. Essa mudança na ênfase aos cuidados e tratamento primário e manejo ambulatorial
provavelmente vai continuar. Como resultado, podese esperar o crescimento do número de empregos em inúmeros
ambientes comunitários para os profissionais de enfermagem com boa formação. Com a mudança estratégica mundial de
prestação de cuidados de saúde de instituições de atendimento secundário para ambientes de atendimento primário, mais
profissionais de enfermagem recémqualificados estão trabalhando no atendimento primário, o que torna essencial a
exposição a inúmeras funções disponíveis para os profissionais de enfermagem para o desenvolvimento da futura força de
trabalho (Clark & Paraska, 2015).
O Bureau of Labor Statistics, do U.S. Department of Labor, Occupational Employment Statistics (2015), encontrou as
seguintes tendências nos cenários de emprego para o enfermeiro:
• 57% dos enfermeiros trabalham em hospitais
• 34% trabalham fora do ambiente hospitalar, em ambientes comunitários
• O número de enfermeiros empregados em instituições comunitárias continua crescendo, sobretudo em decorrência do
aumento do número de enfermeiros que trabalham em organizações de atendimento domiciliar (home care) e cuidado
gerenciado (managed care).
Os ambientes de enfermagem comunitária incluem atendimento ambulatorial, atendimento domiciliar de saúde, saúde
ocupacional, saúde escolar e instituições de hospice (unidades de cuidados paliativos) (Tabela 2.1). A prática clínica na
comunidade também inclui gerenciamento de caso, pesquisa, melhoria da qualidade e planejamento de alta. Os enfermeiros
experientes e com boa formação podem ser empregados nas áreas de desenvolvimento pessoal, elaboração de programas e
educação comunitária.
Intervenções de enfermagem comunitária
As intervenções de enfermagem envolvem qualquer tipo de tratamento que o enfermeiro realize para melhorar os
desfechos da paciente. A prática da enfermagem na comunidade utiliza o processo de enfermagem e é semelhante à prática
no hospital, pois a avaliação, a realização de procedimentos, a administração de medicamentos, a coordenação de serviços
e equipamentos, as orientações específicas de pacientes e familiares e as orientações sobre os cuidados são parte do
cuidado prestado por enfermeiros comunitários. O Boxe 2.1 destaca as intervenções de enfermagem mais utilizadas na
prática de enfermagem comunitária.
Tabela 2.1 Ambientes comunitários de
atendimento.
Ambiente Descrição
Cuidados ambulatoriais Consultórios médicos
Organizações de manutenção da saúde
(HMO)2
Hospitaldia/centro cirúrgico
Centros autônomos de cuidados de
urgência
Clínicas de planejamento familiar
Centros de mamografia móvel
Serviço de saúde pública Clínicas de saúde maternoinfantil
Clínicas de planejamento familiar
Programas de infecções sexualmente
transmissíveis
Clínicas de imunização
Programas para drogadição
Penitenciárias e prisões
Serviços de atendimento Atendimento da gestante/neonato de alto
domiciliar (home care) risco
Atendimento da mãe/recémnascido
Cuidados de enfermagem especializados
Hospice (cuidados paliativos)
Unidades de longa Cuidados de enfermagem especializados
permanência
Lares para idosos
Hospices (unidades de cuidados paliativos)
Instituições de vida assistida para pessoas
com necessidades especiais
Outros ambientes Enfermeiro de instituições religiosas
comunitários
Acampamentos de verão
Programas de educação patrocinados pela
comunidade
Programas de saúde escolar
Programas de saúde ocupacional
Desafios da enfermagem comunitária
Apesar dos benefícios alcançados ao cuidar das famílias em suas próprias casas e comunidades, também existem desafios.
As pacientes recebem alta das unidades de atendimento agudo muito precocemente em seu curso de recuperação e têm
mais necessidades de cuidados de saúde do que no passado. Como resultado, os cuidados de enfermagem e procedimentos
em casa e na comunidade estão se tornando mais complexos e demorados. Considere o exemplo de uma mulher que tenha
desenvolvido infecção sistêmica, abscesso pélvico e trombose venosa profunda em uma perna depois de uma cesariana e
que esteja recebendo alta do hospital. O foco principal do cuidado do enfermeiro nessa situação seria administrar heparina
e antibióticos por via intravenosa em vez de orientála sobre os cuidados com a criança e as consultas de acompanhamento.
No passado, essa mulher teria permanecido hospitalizada para tratamento, mas a terapia de infusão intravenosa domiciliar
atualmente é mais barata e possibilita à paciente receber alta mais cedo.
Essa exigência no horário do enfermeiro pode limitar o tempo gasto em medidas de prevenção, orientações e questões
psicossociais da família. Pode ser necessário mais tempo para ajudar as famílias a lidarem com essas questões e
preocupações. Como existem muitos pacientes para serem atendidos, os enfermeiros podem ter dificuldades em
permanecer durante o tempo necessário e conseguir atender às restrições de tempo ditadas pelas instituições de saúde. Os
enfermeiros precisam planejar as tarefas a serem realizadas (Boxe 2.2).
Os profissionais de enfermagem que trabalham na comunidade têm menos recursos disponíveis do que os que
trabalham em unidades de atendimento agudo. Muitas vezes precisam tomar as decisões sozinhos. Para ser bemsucedido
na realização do plano adequado de cuidados, o enfermeiro tem de apresentar excelentes habilidades de avaliação e a
capacidade de se comunicar de modo efetivo com a família. O enfermeiro interessado em trabalhar em instituições
comunitárias precisa ser capaz de aplicar o processo de enfermagem em um ambiente menos estruturado ou controlado do
que em unidades de atendimento agudo. É essencial que consiga assimilar informações bem além das necessidades físicas
e psicossociais imediatas da paciente no ambiente controlado das unidades de atendimento agudo, ou seja, precisa
enfrentar ameaças do ambiente, escolhas de estilo de vida, questões familiares, diferentes padrões culturais, encargos
financeiros, problemas de transporte, perigos ocupacionais, barreiras de comunicação, recursos limitados e aceitação e
adesão aos regimes de cuidados.
Embora as oportunidades de emprego em ambientes comunitários sejam abundantes, muitas posições exigem um grau
de bacharelado. Tipicamente, as agências de atendimento domiciliar exigem experiência médicocirúrgica prévia em
unidades de atendimento agudo, porque esses profissionais de enfermagem precisam atuar de modo razoavelmente
independente no ambiente doméstico.
O enfermeiro também precisa estar familiarizado e respeitar as diferentes culturas e níveis socioeconômicos, mantendo
a objetividade ao lidar com essas diversidades e demonstrando compreensão e valorização das diferenças culturais. As
intervenções devem ser individualizadas, a fim de abordar a diversidade cultural, social e econômica entre as pacientes em
seu próprio ambiente (Lundy & Janes, 2016).
BOXE 2.1
INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM COMUNITÁRIA
• Rastreamento de saúde – detectar doenças não reconhecidas ou na fase préclínica nos indivíduos,
para que possam ser encaminhados para diagnóstico e tratamento definitivo (p. ex., mamografia ou
esfregaço de Papanicolaou, avaliação da visão e da audição)
• Programas de educação em saúde – auxiliar as pacientes na tomada de decisões de saúde em relação
ao autocuidado, ao uso de recursos de saúde e a questões sociais de saúde, como as leis de proibição
do tabagismo e do uso de capacete em motocicletas (p. ex., orientação para o parto ou autoexame das
mamas, programas de conscientização em relação às substâncias psicoativas)
• Administração de medicamentos – preparo, administração e avaliação da efetividade de medicamentos
prescritos e de venda livre (p. ex., terapia de reposição hormonal em mulheres na menopausa)
• Teleconsulta – identificação do problema a ser abordado; ouvir e oferecer apoio, informação ou
orientação; documentar conselhos/instruções dadas às preocupações levantadas pelo solicitante (p. ex.,
consulta à mãe com um recémnascido com cólica, interação com um pai cujo filho apresenta febre ou
vômitos)
• Encaminhamento ao sistema de saúde – passar informações sobre a localização, os serviços oferecidos
e a forma de contatar as instituições (p. ex., encaminhar uma mulher para receber uma prótese de
mama após mastectomia)
• Orientação – orientar um indivíduo ou um grupo em relação à medicação, ao processo de doença, às
mudanças de estilo de vida, aos recursos da comunidade ou aos achados de pesquisas em relação ao
seu ambiente (p. ex., aula de preparação para o parto, aulas de suporte básico de vida para os pais)
• Aconselhamento nutricional – demonstrar a correlação direta entre nutrição e doença enquanto se
concentra na necessidade de modificar a dieta para promover o bemestar
• Identificação de risco – reconhecer as características pessoais ou do grupo que predisponham o
indivíduo a desenvolver um problema de saúde específico e modificálos ou eliminálos (p. ex.,
aconselhamento genético de uma gestante em idade avançada com risco de ter uma criança com
síndrome de Down; rastreamento genético de familiares à procura de fibrose cística ou doença de
Huntington)
Adaptado de Murphy, J. W. (2015). Communitybased interventions. New York, NY: Springer; e Lundy, K.
S., & Janes, S. (2016). Community health nursing: Caring for the public’s health (3rd ed.). Burlington, MA:
Jones & Bartlett Learning.
BOXE 2.2
PLANEJAMENTO DAS VISITAS DE ATENDIMENTO DOMICILIAR
• Revisar intervenções anteriores para eliminar as malsucedidas
• Verificar o relatório da visita domiciliar anterior para validar intervenções
• Comunicarse com o enfermeiro da visita anterior para fazer perguntas e esclarecer dúvidas
• Elaborar um plano de intervenção com base nos dados recebidos (p. ex., preferência da paciente de
colocação de cateter IV ou ordem dos líquidos)
• Priorizar as necessidades da paciente de acordo com seu potencial de riscos ao estado de saúde dela
• Usar a hierarquia de necessidades de Maslow para expor um plano de cuidados
• Abordar primeiro as questões fisiológicas potencialmente fatais (p. ex., um processo infeccioso teria
precedência sobre a anorexia)
• Elaborar metas que reflitam os níveis de prevenção primária, secundária e terciária
• Prevenção primária – garantir que a paciente tenha ingestão adequada de líquidos para evitar
desidratação
• Prevenção secundária – administrar a terapia medicamentosa prescrita para conter e tratar um
processo infeccioso existente
• Prevenção terciária – instruir a(o) paciente com acidente vascular encefálico sobre como realizar
exercícios de modo a minimizar a incapacidade física
• Ter em mente a disposição da(o) paciente de aceitar as intervenções e orientações
• Verificar o foco da(o) paciente e como ela(e) encara as próprias necessidades
• Abordar os problemas da(o) paciente que poderiam interferir na intervenção (p. ex., se a(o) paciente
sente dor, a tentativa de orientar sobre seus cuidados será em vão; a dor tem de ser aliviada antes que a
pessoa se sinta disposta a aprender algo)
• Programar o horário da visita para evitar interferências em outras atividades da(o) paciente
• Agendar todas as visitas em horários convenientes para a(o) paciente, se possível (p. ex., se a(o)
paciente tem uma novela favorita para assistir, tentar agendar em um horário diferente desse evento, se
possível)
• Reagendar a visita domiciliar se a(o) paciente precisar cancelar a visita atual repentinamente
• Estar ciente quanto à segurança do enfermeiro nos bairros e tomar precauções para protegêlo
• Descrever as atividades de enfermagem a serem concluídas durante a visita agendada
• Conhecer a política e os procedimentos da agência de saúde para as visitas domiciliares
• Considerar a agenda e as outras visitas agendadas naquele dia
• Pesquisar as melhores práticas baseadas em evidências a serem utilizadas no atendimento domiciliar
para validar suas decisões de intervenção
• Obter os materiais/suprimentos necessários antes de fazer a visita
• Reunir todo o equipamento necessário para qualquer procedimento com antecedência
• Providenciar os equipamentos que podem ser necessários caso ocorra algum problema (p. ex., trazer
um equipo e um cateter IV adicionais para garantir que o procedimento possa ser realizado sem atraso)
• Determinar os critérios a serem utilizados para avaliar a efetividade da visita domiciliar
• Rever as metas de desfecho para determinar a efetividade da intervenção
• Avaliar o estado de saúde da paciente para validar a melhora
• Monitorar as mudanças no comportamento da(o) paciente em relação às atividades de promoção da
saúde e prevenção de doenças (p. ex., verificar/observar se a(o) paciente demonstra a técnica correta
de lavagem das mãos após instrução e reforço durante a visita domiciliar)
Adaptado de de Chesnay, M., & Anderson, B. (2015). Caring for the vulnerable (4th ed.). Burlington, MA:
Jones & Bartlett Learning; Lundy, K. S., & Janes, S. (2016). Community health nursing: Caring for the
public’s health (3rd ed.). Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning; e Denham, S. A., Eggenberger, S.,
Young, P., & Krumwiede, N. (2015). Familyfocused nursing care. Philadelphia, PA: F. A. Davis Company.
A missão dos enfermeiros é importante, mas simples: tratar com dignidade e compaixão todas as pessoas que estão
sob seus cuidados. Imagine por um momento como seria estar doente e não conseguir se comunicar com seus cuidadores –
não entender o que eles estão dizendo ou ficar muito alarmado quando ouvir informações em termos que são ofensivos ou
inadequados em sua cultura. Um atendimento de qualidade depende de uma comunicação de qualidade, por isso, a
utilização de intérpretes de idiomas pode fazer uma grande diferença em todas as situações (Purnell, 2015).
Alteração nas responsabilidades da enfermagem hospitalar para a enfermagem
comunitária
Os cuidados comunitários, especialmente o atendimento domiciliar, constituem um serviço que cresce rapidamente nos
EUA (Adams, 2015). Têm se mostrado um rentável método de prestação de cuidados. O aumento da renda disponível e a
elevação da longevidade das pessoas com condições crônicas e debilitantes de saúde também contribuíram para a contínua
mudança dos cuidados de saúde para a configuração comunitária e domiciliar. A tecnologia tem avançado, tornando
possível o melhor acompanhamento de pacientes em ambientes comunitários e em casa e também a realização de
procedimentos complicados em casa, como a administração intravenosa de antibióticos e a diálise renal. Há uma
necessidade de facilitar o cuidado comunitário efetivo, estendendo os serviços de hospitais e de profissionais de saúde
para a comunidade, fornecendo acesso móvel à informação através de uma internet segura. O projeto de tecnologias
futuras para dar suporte a cuidados de saúde complexos no ambiente doméstico continua em rápido progresso (Vizard,
2015).
Níveis de prevenção na enfermagem comunitária
O conceito de prevenção é parte fundamental da prática de enfermagem comunitária. A ênfase na prestação de cuidados de
saúde em ambientes comunitários moveuse para além dos cuidados preventivos de saúde primária (p. ex., exame
preventivo da criança saudável, exames físicos de rotina, cuidados prénatais e tratamento de doenças agudas comuns) e
agora abrange os cuidados secundário e terciário.
PREVENÇÃO PRIMÁRIA
O conceito de prevenção primária envolve a prevenção da doença ou condição antes que ela ocorra, por meio de
atividades de promoção da saúde, proteção ambiental e proteção específica contra doença ou lesão. Seu foco é a promoção
da saúde para reduzir a vulnerabilidade da pessoa a qualquer doença, por meio do reforço da capacidade individual de
resistir a estressores físicos, ambientais e emocionais (Lundy & Janes, 2016).
A prevenção primária engloba uma vasta gama de áreas, incluindo nutrição, boa higiene, saneamento, imunizações,
proteção contra os raios ultravioleta, aconselhamento genético, uso de capacetes em bicicletas, corrimãos em banheiras,
orientações sobre substâncias psicoativas para crianças em idade escolar, moradia adequada, interrupção do tabagismo,
planejamento familiar e uso de cintos de segurança (Stanhope & Lancaster, 2014). A prevenção de doenças é muitas vezes
difícil de pôr em prática. Entre os desafios, cabe destacar o sucesso da prevenção que é invisível em muitos casos, porque,
muitas vezes requer mudança persistente de comportamento e não produz resultados imediatos. O papel do enfermeiro é
ajudar as pessoas a mudarem seu estilo de vida para alcançar um estado de saúde ideal e evitar doenças. Enfermeiros
podem abordar isso usando a promoção da saúde baseada em evidências; identificando intervenções eficazes construídas
com base nos resultados da pesquisa e aplicálas para melhorar a saúde e o bemestar de indivíduos, agregados e
comunidades (Figura 2.1).
FIGURA 2.1 Níveis de prevenção em enfermagem comunitária. A. Na prevenção primária, o enfermeiro fornece
orientações a uma mulher a respeito do autoexame das mamas, se ela for considerada de alto risco. B. Na
prevenção secundária, a mulher realiza mamografia para detecção precoce de problemas de mama. C. Na
prevenção terciária, pósmastectomia, o enfermeiro auxilia a paciente em seus exercícios de fortalecimento
muscular.
A cada ano, cerca de 1/1.000 crianças norteamericanas nascem com defeitos do tubo neural, a parte do feto em
crescimento que se tornará o encéfalo e a medula espinal, que pode causar déficit mental e físico importante ou morte. É a
segunda anomalia congênita grave mais comum no mundo (atrás apenas das malformações cardíacas). Defeitos do tubo
neural (DTN) são mais comuns em brancos e hispânicos do que em afroamericanos (National Coalition for Health
Professional Education in Genetics [NCHPEG], 2015). A prevenção de DTN é um exemplo de prevenção primária. A
suplementação com ácido fólico diariamente 3 meses antes e 3 meses após a concepção reduz o risco de DTN. O American
College of Obstetricians & Gynecologists [ACOG] (2013) recomenda que todas as mulheres tomem uma dose inicial de
400 μg de ácido fólico diariamente para prevenir DTN. O enriquecimento obrigatório com ácido fólico para todas as
gestantes continua a ser uma intervenção eficaz de saúde pública (Williams et al., 2015). A orientação antecipatória para
os pais com crianças em relação à prevenção do envenenamento e à segurança durante as brincadeiras é outro exemplo de
prevenção primária.
PREVENÇÃO SECUNDÁRIA
A prevenção secundária consiste na detecção precoce e no tratamento de condições adversas de saúde. Esse nível de
prevenção visa interromper a doença, diminuindo assim sua duração e gravidade para devolver à pessoa o estado normal
de funcionamento. Os rastreamentos de saúde são o esteio da prevenção secundária. Testes de gravidez, aferições da
pressão arterial, monitoramento dos níveis sanguíneos de colesterol, pesquisa de sangue oculto nas fezes, exames das
mamas, rastreamento por meio de mamografia, exames de audição e visão e esfregaço de Papanicolaou (Pap) são
exemplos desse nível de prevenção. Essas intervenções não evitam o problema de saúde, mas são destinadas à detecção
precoce e ao tratamento imediato para evitar complicações (Clark & Paraska, 2015).
Um bom exemplo é a osteoporose, uma doença comum dos ossos na qual pode ocorrer redução da produção óssea e/ou
aumento da perda óssea. A osteoporose causa morbidade e mortalidade significativas em mulheres. Sua prevalência e os
custos para a sociedade são enormes e sua incidência está aumentando à medida que a população envelhece. Embora a
osteoporose seja passível de prevenção, é uma doença silenciosa que não se torna aparente até que ocorra uma fratura. O
rastreamento para identificar as mulheres em risco e a instituição da farmacoterapia como prevenção secundária ajudará a
reduzir a incidência de fraturas e a reduzir a mortalidade e a morbidade. Se a condição não puder ser curada e surgirem
outras complicações e incapacidade, então será necessária a prevenção terciária.
PREVENÇÃO TERCIÁRIA
A prevenção terciária é projetada para reduzir ou limitar a progressão de uma doença irreversível ou invalidez
permanente. O objetivo da prevenção terciária é devolver os indivíduos ao seu potencial máximo (Prince et al., 2015). A
intervenção terciária ocorrerá somente se a condição resultar em incapacidade permanente. As medidas de prevenção
terciária são favoráveis e restauradoras. Por exemplo, os esforços de prevenção terciária se concentrariam em minimização
e manejo dos efeitos de uma doença crônica, como a doença vascular cerebral ou os efeitos crônicos de infecções
sexualmente transmissíveis (p. ex., infecção por herpesvírus, infecção pelo vírus da imunodeficiência humana [HIV] e
sífilis não tratada). Outro exemplo seria a interação com mulheres que apresentam consequências a longo prazo da
violência. A orientação da(o) paciente é a base de todos os programas de manejo de doenças. O foco do enfermeiro seria
maximizar os pontos fortes da mulher por meio de orientação, a fim de ajudála a se recuperar do trauma e da perda, e
criar sistemas de apoio.
Atuação do enfermeiro nos cuidados preventivos comunitários
Todos os profissionais de saúde são importantes na promoção da saúde, na proteção da saúde e na prevenção de doenças.
Grande parte da enfermagem comunitária envolve a prevenção, a identificação precoce e o tratamento imediato dos
problemas de saúde e o monitoramento de ameaças que poderiam causar problemas de saúde. Os enfermeiros comunitários
prestam cuidados de saúde às mulheres e aos seus familiares nos três níveis de prevenção. Esse cuidado frequentemente
envolve lutar por serviços para atender às necessidades dos pacientes.
Questões culturais na enfermagem comunitária
Os EUA contêm um misto populacional em constante mutação de inúmeros e diferentes grupos culturais que chegam
diariamente de todos os cantos do mundo. Há mais imigrantes nos EUA do que em outra nação. O U.S. Census Bureau
(2015a) relata que a população estrangeira nos EUA atingirá 78 milhões de pessoas até 2060, compondo 19% da
população total.
Anote!
Mais de um milhão de imigrantes chegam aos EUA a cada ano. Mais da metade deles está em idade fértil. A América
Latina é responsável por mais de 50% dos imigrantes para os EUA. Até o ano de 2050, pessoas de origem africana,
asiática e latina comporão metade da população dos EUA (U.S. Census Bureau, 2015b).
Essa crescente diversidade tem implicações significativas no sistema de saúde. Há muitos anos, os profissionais de
enfermagem lutam com os problemas associados à prestação de cuidados de saúde ideais, que atendam às necessidades das
mulheres e de suas famílias de diferentes culturas e etnias. Além de mostrar competência em habilidades técnicas, os
enfermeiros também precisam tornarse competentes em cuidar de pacientes de diferentes origens étnicas e raciais. A
adaptação às diferentes crenças e práticas culturais demanda flexibilidade e aceitação dos pontos de vista dos outros. Os
enfermeiros precisam escutar atentamente seus pacientes e conhecer suas crenças sobre saúde e bemestar. Para prestar
cuidados culturalmente apropriados a diversas populações, os enfermeiros precisam conhecer, entender e respeitar os
comportamentos de saúde influenciados pela cultura. O Capítulo 1 apresenta uma discussão mais detalhada do impacto da
cultura sobre a saúde das mulheres, das crianças e das famílias.
Os enfermeiros precisam pesquisar e entender as características, os valores e as crenças culturais dos vários povos a
quem atendem, para que preconceitos e estereótipos não levem a uma assistência desprovida de sensibilidade. A orientação
temporal, o espaço pessoal, a orientação familiar (patriarcal, matriarcal ou igualitária) e o idioma são conceitos culturais
importantes. Embora a localização possa ser diferente nos cuidados comunitários, esses princípios se aplicam tanto aos
pacientes internados quanto aos ambulatoriais. A competência cultural e a adaptação cultural são consideradas
componentes importantes da prestação de cuidados de saúde de qualidade em sociedades multiculturais. Incluem não
apenas o tratamento da doença, mas também medidas de prevenção primária, secundária e terciária aplicadas pelos
profissionais de saúde, bem como a promoção da saúde para todas as diversas culturas.
Assistência de enfermagem culturalmente competente
A competência cultural é definida como o conhecimento, a vontade e a capacidade de adaptar os cuidados de saúde para
melhorar sua aceitabilidade e sua efetividade em pacientes de diferentes culturas. Os enfermeiros precisam compreender
perspectivas, tradições, valores, práticas e sistemas familiares de indivíduos, famílias, comunidades e populações
culturalmente diversas por eles atendidos, bem como conhecer as complexas variáveis que afetam a conquista da saúde e
do bemestar (Martin et al., 2016). A competência cultural é um processo dinâmico durante o qual os enfermeiros obtêm e
aplicam as informações culturais. Os enfermeiros precisam demonstrar empatia pelos pacientes e por seus familiares. Eles
devem desenvolver aceitação imparcial das diferenças culturais nos pacientes, usando a diversidade como uma força que
os empodera a atingir metas mutuamente aceitáveis de saúde. Os enfermeiros precisam integrar as crenças e práticas
culturais de suas pacientes às prescrições de saúde para eliminar ou atenuar as disparidades de saúde e proporcionar a
satisfação à paciente. A competência cultural é um processo de aprendizagem dinâmico ao longo da vida. É fundamental
compreender o processo para avaliar os padrões culturais e os fatores que influenciam as diferenças individuais e de grupo
na prevenção de generalizações e estereótipos (Purnell, 2015). Essa conscientização cultural faz com que o enfermeiro veja
o quadro todo e melhora a qualidade e o desfecho dos cuidados de saúde. A competência cultural não surge de repente; tem
de ser desenvolvida ao longo de uma série de passos (Boxe 2.3).
É necessário que todos os enfermeiros tenham um nível de competência cultural para ampliarem seus conhecimentos
sobre diversas culturas e mudarem suas atitudes e valores ao trabalhar com pacientes de diferentes culturas.
A competência cultural não significa substituir a identidade cultural de uma pessoa pela de outra, ignorando a
variabilidade nos grupos culturais, ou mesmo apreciando as culturas atendidas. Em vez disso, enfermeiros qualificados em
competência cultural mostram respeito pelas diferenças, vontade de aprender e vontade de aceitar múltiplas visões do
mundo. Boa parte do processo de desenvolvimento de competência cultural envolve a reavaliação dos valores pessoais e da
influência desses valores sobre suas crenças, que afetam atitudes e ações. No núcleo da abordagem direcionada para o
paciente e da competência cultural está a importância de ver o paciente como uma pessoa única (Beard et al., 2015). É
importante que todos os enfermeiros incorporem as práticas de saúde e de cura tradicionais do paciente à medicina
convencional, fazendo perguntas como “Você tem preferências de tratamento que gostaria que eu incluísse em seu plano de
cuidados?”. Alguns pacientes preferem determinados alimentos ou bebidas quando estão doentes. Além disso, durante
períodos de jejum e celebrações religiosas, as dietas podem ser diferentes e precisam ser consideradas durante o processo
de determinação do curso adequado de tratamento. Alguns pacientes podem ter uma ideia diferente sobre o que está
causando a doença. A espiritualidade, a cultura e a experiência são questões importantes na compreensão e no tratamento
da doença do paciente.
BOXE 2.3
ETAPAS NO DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIA CULTURAL
Conscientização cultural
• Conscientizarse, apreciar e sensibilizarse com os valores, as crenças, os costumes e os
comportamentos que moldaram a cultura das pessoas
• Examinar a herança sociocultural pessoal para obter insights valiosos
• Reconhecer a influência da cultura dos pacientes no estado de saúde deles
• Examinar tendenciosidades e preconceitos pessoais em relação a outras culturas
• Conscientizarse das diferenças entre suas experiências pessoais e as da paciente
Conhecimento cultural
• Aplicar o conhecimento de fatores sociais e culturais nas múltiplas experiências
• Buscar recursos que melhorem a compreensão dos diferentes grupos socioculturais
• Familiarizarse com os diferentes grupos culturais/étnicos, visões de mundo, crenças, práticas, estilos de
vida e estratégias de resolução de problemas
Habilidades culturais
• Aplicar as melhores práticas baseadas em evidências relevantes na prestação de cuidados
culturalmente competentes
• Aprender como realizar uma avaliação cultural competente
• Avaliar os valores, crenças e práticas culturais únicas de cada paciente, sem se basear apenas nos fatos
escritos sobre grupos culturais específicos
• Defender a justiça social para eliminar as disparidades de saúde em populações diversas
Encontro cultural
• Promover desfechos de saúde seguros e de qualidade para indivíduos de culturas distintas
• Adaptar as práticas e terapias de cuidado de modo que sejam compatíveis com os valores e crenças dos
pacientes
• Respeitar a identidade sociocultural dos pacientes de modo imparcial durante as interações
• Aprender palavraschave ou frases do idioma dos pacientes para melhorar a comunicação
• Envolverse em interações interculturais com pessoas de diversas origens culturais, como assistir a
serviços religiosos ou cerimônias e participar de eventos importantes da família
• Participar do maior número possível de encontros culturais para evitar estereótipos culturais
Adaptado de Waugh, E., Szafran, O., Triscott, J. C., & Parent, R. (2015). Cultural competency skills for
health professionals. Alberta, Canada: Brush Education, Inc.; Purnell, L. D. (2015). Culturally competent
health care (3rd ed.). Philadelphia, PA: F. A. Davis Company; e Martin, M. L., Heron, S., MorenoWalton,
L., & Jones, A. W. (2016). Diversity and Inclusion in Quality Patient Care. Switzerland: Springer
International Publishers.
Barreiras à competência cultural
As barreiras à competência cultural podem ser agrupadas em duas categorias: as relacionadas com o profissional de saúde
e as relacionadas com os sistemas. A doença é moldada culturalmente, pois o modo como percebemos, experimentamos e
lidamos com a doença baseiase em nossas explicações individuais sobre a enfermidade. A conscientização e a apreciação
de como isso poderia influenciar – em vez do mero conhecimento sobre as práticas culturais ou crenças de grupos étnicos
específicos – ajudam os enfermeiros a lidar efetivamente com as questões culturais (Lundy & Janes, 2016). Quando um
profissional de saúde não conhece as práticas e crenças culturais de um paciente ou quando as crenças do profissional
diferem das do paciente, o profissional pode não estar preparado para responder quando o paciente toma decisões de
cuidados de saúde inesperadas. Podem ocorrer barreiras relacionadas com o sistema se agências que não foram projetadas
para a diversidade cultural quiserem que todos os pacientes se encaixem nas normas e nos regulamentos estabelecidos e
tentarem encaixar todos no mesmo molde.
Considere isto
Nossa missão levou uma equipe de profissionais de enfermagem às montanhas rurais da Guatemala para
oferecer serviços de saúde a pessoas que nunca os haviam recebido. Um dia, uma mãe preocupada trouxe
sua filha de 10 anos à clínica da missão e me perguntou se havia alguma coisa que eu pudesse fazer pelo
punho direito da filha. Ela havia sofrido uma fratura há 1 ano, que não havia consolidado adequadamente.
Enquanto olhava para o punho deformado da menina, perguntei se ele havia sido imobilizado para ajudar
no alinhamento, sabendo a resposta que ia receber. O intérprete me disse que essa jovem nunca iria casar
nem ter filhos por causa dessa lesão. Fiquei perplexa com a previsão do futuro daquela menina feita pelo
intérprete. Ele, mais tarde, me explicou que se a menina não pudesse fazer tortas de farinha de milho para
o marido por causa de sua incapacidade física, ela não seria digna de tornarse a esposa de alguém e,
portanto, provavelmente viveria com seus pais o resto da vida.
Durante a semana da missão, lembreime de não impor meus valores culturais às mulheres de quem
estava cuidando e de aceitar os seus costumes culturais de modo imparcial. Esses autolembretes
silenciosos me serviram bem durante a semana, porque eu desejava aprender sobre seu estilo de vida e
seus costumes.
Reflexões: Como a jovem de 10 anos deve estar se sentindo ao ser rejeitada por uma incapacidade
física da qual não teve culpa? O que poderia ter acontecido se eu tivesse imposto meu sistema de valores a
essa paciente? Quão efetiva eu teria sido em ajudála se ela não se sentisse aceita? Esse incidente partiu
meu coração, uma jovem seria privada de uma vida familiar satisfatória por causa da sequela da fratura no
punho. Esse é apenas mais um exemplo de depreciação do sexo feminino que acontece em todo o planeta
– uma tragédia – e ainda parte da cultura da paciente, em que os enfermeiros não devem interferir.
Uso da medicina complementar e alternativa
Nos EUA, o governo federal formou o National Center for Complementary and Alternative Medicine (NCCAM) para
conduzir e apoiar a pesquisa e fornecer orientação e informação sobre medicina complementar e alternativa (MCA) aos
profissionais de saúde e ao público.
O uso da MCA não é exclusivo de um grupo étnico ou cultural específico: o interesse em terapias de MCA continua
crescendo em todo o território norteamericano e influenciará o cuidado de muitos pacientes. Pessoas de todas as esferas
da vida e de todas as áreas da comunidade usam a MCA. Em geral, as mulheres fazem mais uso da MCA do que os
homens, assim como as pessoas com maior escolaridade. Nos EUA, cerca de 40% dos adultos (cerca de 4 em cada 10) e
aproximadamente 12% das crianças (cerca de 1 em 9) são usuários de alguma modalidade de MCA. Orar especificamente
por motivos de saúde é a terapia de MCA mais utilizada (National Center for Complementary and Alternative Medicine
[NCCAM], 2015). Sabese que a MCA, incluindo homeopatia, acupuntura, fitoterapia e hidroterapia, também está sendo
cada vez mais usada por parteiras no momento do parto (Hall, Griffiths, & McKenna, 2015).
Tipos de MCA
A MCA inclui diversas práticas, produtos e sistemas de cuidados de saúde que não são atualmente considerados parte da
medicina convencional (NCCAM, 2015). A medicina complementar é usada em conjunto com a medicina convencional,
como o uso de aromaterapia para reduzir o desconforto após uma cirurgia ou para reduzir a dor durante um procedimento
ou durante o início do trabalho de parto. A medicina alternativa é usada no lugar da medicina convencional, como ao se
ingerir uma dieta natural especial para controlar náuseas e vômitos ou para tratar o câncer em vez de submeterse a
cirurgia, quimioterapia ou radioterapia recomendada por um médico convencional. A medicina integrativa combina
terapias médicas convencionais e terapias de MCA para as quais haja evidências científicas de segurança e efetividade
(NCCAM, 2015).
MEDICINA INTEGRATIVA
A medicina integrativa inclui acupuntura, reflexologia, toque terapêutico, meditação, ioga, massagem, fitoterapia,
suplementos nutricionais, homeopatia, medicina natural (naturopatia) e muitas mais utilizadas para a promoção da saúde e
do bemestar (TreisterGoltzman & Peleg, 2015).
A filosofia da medicina integrativa se concentra em tratar a pessoa como um todo, não apenas a doença, e combina a
medicina ocidental convencional com tratamentos complementares. O objetivo é tratar o corpo, a mente e o espírito, tudo
ao mesmo tempo. A história nos ensinou que, na ciência, a aplicação dos resultados nunca é determinada por um único
estudo, mas sim pelo peso das evidências. A medicina é apoiada em uma base que começa com boas observações clínicas,
relatos de casos e interpretações cuidadosas. A replicação desses resultados por cientistas, que é a verdadeira característica
da ciência válida, determina se essas observações clínicas são importantes e aplicáveis. Embora algumas das terapias
utilizadas não sejam convencionais, um princípio orientador na medicina integrativa é a utilização de terapias com algumas
evidências de alta qualidade que as apoiem (King et al., 2015). O enfermeiro deve evitar o julgamento e incentivar a
família a pesquisar todas as abordagens baseadas em evidências que apoiem desfechos favoráveis à saúde. A Tabela
2.2 descreve as terapias e tratamentos de MCA selecionados.
Teorias de MCA
As bases teóricas de práticas de saúde alternativas e complementares propõem que a saúde e a doença são complexas
interações de mente, corpo e espírito. Supõese, então, que muitos aspectos das experiências de saúde da paciente não
estejam sujeitos a métodos científicos tradicionais. Esse campo não se presta facilmente a um estudo científico ou de
pesquisa e, portanto, não é facilmente abraçado por muitos cientistas respeitados (Jaiswal et al., 2015). Muito do que é
considerado como medicina alternativa vem do mundo oriental, da medicina popular e de práticas religiosas e espirituais.
Não há teoria unificadora básica para os inúmeros tratamentos ou modalidades, exceto (como observado anteriormente)
que a saúde e a doença são consideradas complexas interações de corpo, mente e espírito.
Implicações da MCA para a enfermagem
Por causa do maior interesse em MCA e de sua larga utilização, eficácia controversa e cada vez mais pesquisas apoiando
as evidências, os enfermeiros precisam ser sensíveis e conhecer o suficiente para responder a muitas das perguntas que as
pacientes fazem e para orientálas de modo seguro e objetivo (Ernst, 2015). Os enfermeiros têm a oportunidade única de
fornecer serviços que propiciem essa abordagem holística. Precisam conhecer todos os aspectos da MCA, incluindo os
custos, o conhecimento da paciente e as interações medicamentosas, se quiserem promover estratégias holísticas para suas
pacientes e os familiares delas.
Tabela 2.2 Terapias complementares e alternativas
específicas.
Abordagem Descrição
terapêutica
Aromaterapia Uso de óleos essenciais para estimular o sentido do
olfato a fim de equilibrar o corpo, a mente e o
espírito
Homeopatia Baseada na teoria de que “o semelhante cura o
semelhante”; ajuda a restaurar o equilíbrio natural
do corpo
Acupressão Restauração do equilíbrio por meio da compressão de
pontos apropriados, de modo que as capacidades
de autocura possam ocorrer
Feng shui Arte chinesa de organização; os objetos são
posicionados no ambiente de modo a induzir
harmonia com o chi (energia)
Imaginação Uso de imagens positivas e conscientemente
orientada escolhidas, juntamente com relaxamento profundo,
para reduzir o estresse e ajudar a pessoa no
enfrentamento
Reflexologia Uso de massagem profunda em determinados pontos
do pé ou da mão para sondar e reequilibrar as
partes do corpo que correspondem a cada ponto
Toque Equilíbrio da energia por meio de centralização,
terapêutico invocação da intenção de curar e movimentação
das mãos desde a cabeça até os pés, a alguns
centímetros da pele
Fitoterapia Uso terapêutico de plantas para cura e tratamento de
doenças e condições
Cura espiritual Orações, cânticos, assistência, imposição das mãos,
rituais e meditação para auxiliar na cura
Quiropraxia Abordagem terapêutica que visa eliminar estímulos
irritantes do sistema nervoso para restaurar a
função adequada (p. ex., manipulação da coluna
vertebral em caso de queixas musculoesqueléticas)
Massagem Massagem ou fricção do corpo para diminuir a dor,
terapêutica produzir relaxamento e/ou melhorar a circulação a
essa parte do corpo
Adaptada de TreisterGoltzman, Y., & Peleg, R. (2015). Trends in
publications on complementary and alternative medicine in the medical
literature. Journal of Complementary & Integrative Medicine. doi:
10.1515/jcim20140055; Ernst, E. (2015). How nurses can be misled
about complementary and alternative medicine. Journal of Advanced
Nursing, 71(2), 235–236; Hall, H. G., Griffiths, D., & McKenna, L. G.
(2015). Complementary and alternative medicine: Interaction and
communication between midwives and women. Women and Birth.
doi:10.1016/j.wombi.2014.12.003; e King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J.
M., Fahey, J. O., Gegor, C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s
midwifery (5th ed.). Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning.
O crescente uso da MCA durante a gravidez e o parto pode ser interpretado como uma resposta das mulheres à
necessidade de autonomia e participação ativa em sua saúde. Estudos já mostraram que a massagem, a acupuntura, as
vitaminas e a fitoterapia são os métodos de MCA mais frequentemente utilizados durante a gravidez (Nursing &
Midwifery Council, 2015).
Muitas pacientes que usam MCA não revelam esse fato aos profissionais de saúde. Portanto, um dos papéis mais
importantes do enfermeiro durante a fase de avaliação do processo de enfermagem é incentivar suas pacientes a comunicar
o uso dessas terapias para eliminar a possibilidade de interações prejudiciais e contraindicações com tratamentos médicos
em curso. Durante a avaliação das pacientes, devem ser feitas perguntas específicas sobre quaisquer medicamentos de
venda livre que elas estejam tomando, incluindo vitaminas, sais minerais e fitoterápicos. As pacientes também devem ser
questionadas a respeito de tratamentos que estejam realizando sem prescrição do médico do atendimento primário.
Ao cuidar de pacientes e suas famílias que pratiquem MCA, os profissionais de enfermagem precisam:
• Ser culturalmente sensíveis aos tratamentos não convencionais
• Reconhecer e respeitar os diferentes estilos de vida, crenças e atitudes
• Manter a mente aberta, lembrando que os tratamentos convencionais não funcionam para todos os pacientes
• Aceitar a MCA e integrála se ela trouxer conforto sem danos
• Fornecer informações acuradas, não opiniões infundadas
• Aconselhar os pacientes sobre como eles podem monitorar melhor sua condição usando a MCA
• Desencorajar práticas somente se forem prejudiciais à saúde dos pacientes
• Instruir os pacientes a pesar os riscos e os benefícios do uso da MCA
• Evitar confronto ao questionar o paciente sobre a MCA
• Ser reflexivos, imparciais e ter a mente aberta em relação à MCA.
O uso de MCA é generalizado, especialmente por mulheres que desejem aliviar as náuseas e os vômitos do início da
gravidez. Pirulitos ou chá de gengibre, pulseiras magnéticas (Seaband®) e vitamina B6 são frequentemente usados para
tratar o enjoo matinal (Brucker & King, 2016). Embora possam não causar efeitos nocivos durante a gravidez, a maioria
das substâncias ingeridas atravessa a placenta e tem o potencial de atingir o feto; por isso, os enfermeiros devem enfatizar
a todas as gestantes que devem ser cautelosas ao usarem a MCA.
As mulheres que correm risco de osteoporose estão buscando alternativas para a terapia de reposição hormonal desde
que o estudo Women’s Health Initiative levantou dúvidas sobre o benefício do estrogênio. Algumas das alternativas
terapêuticas para a osteoporose incluem isoflavonas de soja, creme de progesterona com flavonóis de Epimedium
koreanum Nakai (fitoterápico), magnetoterapia, tai chi e protetores de quadril (Mukhtar & Jackson, 2015). Além disso, as
mulheres na menopausa podem procurar terapias de MCA para o fogacho. Mais uma vez, apesar de muitas declarações, a
maioria dessas terapias não foi submetida a testes científicos e, assim, poderia ser prejudicial para as mulheres.
Se a paciente estiver considerando o uso ou estiver usando terapias de MCA, sugira que ela consulte seu médico antes
de ingerir qualquer substância “natural”. Ofereça à paciente as seguintes instruções:
• Ter em mente que “natural” não necessariamente significa “seguro”
• Procurar atendimento médico quando estiver doente
• Sempre informar ao profissional de saúde se estiver tomando fitoterápicos ou usando outros tratamentos
• Certificarse de que a embalagem de qualquer produto contenha uma lista de todos os ingredientes e as quantidades de
cada um
• Estar ciente de que o uso frequente ou contínuo de grandes doses de uma preparação de MCA não é aconselhável e que
podem ocorrer danos se as terapias forem misturadas (p. ex., a vitamina E, o alho e o ácido acetilsalicílico têm
propriedades anticoagulantes)
• Pesquisar a MCA utilizando recursos como livros, sites e artigos (NCCAM, 2015).
Todos os profissionais de enfermagem, especialmente os que trabalham na comunidade, precisam pesquisar os prós e
os contras da MCA e estar preparados para discutir e ajudar suas pacientes a dar sentido a tudo isso. Expandir a
consciência por meio da compreensão e respeitar as diversas culturas e a MCA farão com que os enfermeiros prestem o
melhor tratamento às pacientes e a seus familiares que recebam cuidados comunitários.
AMBIENTES DA ENFERMAGEM COMUNITÁRIA
A enfermagem comunitária ocorre em vários ambientes, incluindo consultórios médicos, clínicas, secretarias de saúde,
unidades de prontoatendimento, centros ambulatoriais, igrejas, abrigos e na casa dos pacientes. Os profissionais de
enfermagem prestam cuidados preventivos, cuidados em caso de doença e cuidados crônicos. Trabalham para promover,
preservar e melhorar a saúde das mulheres e de sua família nesses ambientes.
Devido aos avanços tecnológicos, contenção de custos e períodos de internação hospitalar mais curtos, atualmente o lar
é um ambiente de cuidados comum para as mulheres e sua família. A assistência domiciliar é voltada às necessidades da
paciente e da família. Utilizamse os cuidados de enfermagem domiciliares prolongados quando é necessário um cuidado
por períodos maiores, que pode ser prestado por hora (várias horas por dia) ou em regime de tempo integral, com a
presença do cuidador no local. Podem ser utilizadas visitas periódicas de enfermagem para intervenções intermitentes,
como a administração intravenosa de antibióticos, o acompanhamento de orientações à paciente e o monitoramento. Os
objetivos dos cuidados de enfermagem domiciliares incluem a promoção, a restauração e a manutenção da saúde da
paciente.
O atendimento domiciliar se concentra em minimizar os efeitos da doença ou incapacidade, além de fornecer à paciente
os meios para cuidar desses problemas em casa. Os enfermeiros que realizam atendimento domiciliar são prestadores de
cuidados diretos, orientadores, defensores e gestores de caso.
Cuidado prénatal
O cuidado prénatal precoce e adequado está associado a melhores desfechos na gravidez (March of Dimes, 2015). O pré
natal adequado é um processo abrangente no qual todos os problemas associados à gravidez são identificados e tratados.
Os componentes básicos do prénatal incluem avaliação de risco precoce e continuada, promoção da saúde, intervenções
clínicas e psicossociais e acompanhamento. No contexto comunitário, existem vários serviços para prestar cuidados de
saúde à gestante (Boxe 2.4).
Nem todas as mulheres conhecem os recursos comunitários disponíveis para elas. A maioria dos serviços de saúde
pública está disponível para consulta, os hospitais locais têm “linhas diretas” para perguntas e as bibliotecas públicas têm
recursos relacionados com a gravidez, bem como acesso à internet. O enfermeiro pode ser muito útil em indicar recursos a
todas as mulheres, independentemente de sua condição econômica.
Já foi constatado que cuidados tecnologicamente avançados melhoram os desfechos maternos e infantis. O atendimento
de alto risco regionalizado, recomendado pela American Academy of Pediatrics no fim da década de 1970, objetivava
promover a uniformidade em todo o país, cobrindo o atendimento prénatal de gestantes de alto risco e recémnascidos de
alto risco. A tecnologia avançada encontrada nos centros regionais perinatais de nível III e os programas comunitários de
vigilância prénatal resultaram em melhores taxas de mortalidade ajustada ao risco. Recomendamse sistemas
regionalizados de cuidados perinatais, em associação a telemedicina, para garantir que cada mãe e cada recémnascido
alcancem resultados ótimos. A telemedicina é quando um profissional de saúde utiliza telecomunicações de áudio e vídeo
interativas em tempo real para prestar serviços de saúde a um paciente em um local distante de onde está o profissional de
saúde para fins de avaliação, diagnóstico e tratamento (Ivey et al., 2015). Por exemplo, o monitoramento fetal e a
ultrassonografia têm sido tradicionalmente utilizados em hospitais para monitorar o progresso de muitas gestações de alto
risco. No entanto, com o aumento do custo da internação, muitos serviços foram transferidos para ambulatórios e
domicílios. A intenção era reduzir os custos dos cuidados de saúde e monitorar as mulheres com complicações da gravidez
em casa, e não no hospital. Os exemplos de serviços oferecidos no ambiente doméstico podem incluir:
BOXE 2.4
SERVIÇOS COMUNITÁRIOS DE CUIDADOS DE SAÚDE MATERNA NOS EUA
• Clínicas prénatais públicas estaduais fornecem o acesso aos cuidados de acordo com um cronograma
de pagamento em escala flutuante ou os serviços podem ser pagos pelo Medicaid
• Clínicas comunitárias financiadas pelo governo federal tipicamente oferecem inúmeros serviços, que
podem incluir prénatal, atendimento pediátrico, atendimento do adulto e serviços odontológicos. Utiliza
se um cronograma de pagamento em escala flutuante ou os serviços podem ser pagos pelo Medicaid
• Os serviços de saúde no ambulatório de hospitais oferecem serviços de saúde maternoinfantil.
Frequentemente estão associados a um hospitalescola em que alunos da faculdade de medicina,
estagiários e residentes de obstetrícia/ginecologia se revezam passando pelos serviços da clínica para
cuidar de pacientes durante o seu processo de formação
• Consultórios particulares de obstetrícia/ginecologia estão disponíveis para as mulheres com plano de
saúde à procura de cuidados durante a gravidez. Alguns médicos particulares atendem pacientes do
Medicaid, bem como pacientes particulares
• Clínicas comunitárias gratuitas oferecem serviços maternoinfantis em algumas comunidades para
mulheres com recursos econômicos limitados (desabrigadas, desempregadas)
• Casas de parto autônomas oferecem acompanhamento prénatal para as gestantes de baixo risco, bem
como aulas de preparação para orientar os casais sobre o processo do parto. A maioria dessas casas
de parto aceita planos de saúde privados e os serviços de reembolso do Medicaid
• Os serviços de obstetrícia estão disponíveis em muitas comunidades, em que parteiras prestam serviços
de saúde às mulheres. Elas costumam aceitar uma infinidade de planos de pagamento, que variam de
pagamento via plano de saúde privado a reembolso do Medicaid
• O WIC fornece comida, aconselhamento nutricional e acesso a serviços de saúde para as mulheres,
lactentes e crianças de baixa renda. O WIC é um programa financiado pelo governo federal norte
americano e é administrado por cada estado. Todas as pessoas que recebem o Aid to Families with
Dependent Children (AFDC), valerefeição ou Medicaid são automaticamente elegíveis para o WIC.
Estimase que 10 milhões de pessoas recebam benefícios do WIC mensalmente. O WIC atende 53% de
todas as crianças nascidos nos EUA (USDA Food and Nutrition Service, 2015)
• Os cursos de preparação para o parto oferecem às gestantes e seus parceiros uma série de aulas com
orientações em preparação para o parto. As mulheres o fazem durante o seu último trimestre de
gravidez. Algumas aulas são gratuitas e outras são cobradas
• Os grupos locais da La Leche League fornecem suporte de mãe para mãe com estratégias de resolução
de problemas de amamentação, nutrição e cuidados com o recémnascido.3 Todas as mulheres que
tenham interesse em amamentar são convidadas a participar das reuniões, que normalmente são
realizadas na casa de um membro da La Leche League
• Hidratação venosa para o tratamento de infecções ou combate da desidratação
• Monitoramento dos níveis tensionais de mulheres com hipertensão arterial gestacional
• Monitoramento uterino de gestantes em alto risco de parto prematuro
• Monitoramento fetal para avaliar o bemestar fetal
• Ultrassonografia portátil para determinar o perfil biofísico e avaliar o bemestar do feto.
Como resultado, os cuidados domiciliares têm o potencial de reduzir os custos em relação ao atendimento hospitalar.
Cuidados no trabalho de parto e no parto
A gestação envolve inúmeras opções: fraldas de pano ou descartáveis, amamentar ou usar mamadeira, médico ou parteira,
onde dar à luz (em uma casa de parto, em casa ou em um hospital). Decidir onde dar à luz depende da situação de risco da
gravidez. Para a gestante de alto risco em decorrência de fatores clínicos e sociais, o hospital é considerado o local mais
seguro para o parto. Potenciais complicações podem ser resolvidas porque estão disponíveis tecnologia médica,
profissionais qualificados e serviços neonatais. Para as mulheres de baixo risco, uma casa de parto independente ou o
parto em casa são opções válidas.
A escolha entre casa de parto, parto domiciliar ou em maternidade depende das preferências da mulher, sua condição
de risco, sua situação financeira e da distância até um hospital. Algumas mulheres escolhem um parto completamente
natural, sem medicamentos e sem intervenção médica, enquanto outras se sentem mais confortáveis em um ambiente em
que haja medicamentos e pessoal treinado caso seja necessário. Apresentar os fatos à mulher possibilitandolhe escolher,
em colaboração com seu médico, é papel do enfermeiro. A segurança da paciente é primordial; contudo, ao mesmo tempo,
o enfermeiro precisa proteger o direito da mulher de selecionar dentre as opções de parto. Os enfermeiros devem
promover o cuidado centrado na família em todos os ambientes de maternidade (Prática baseada em evidências 2.1).
Casa de parto
A casa/sala de parto é um meiotermo entre o parto domiciliar e o hospitalar. As casas de parto oferecem um ambiente
caseiro, mas com a proximidade de um hospital em caso de complicações. As parteiras muitas vezes são as únicas
prestadoras de cuidado em casas de parto autônomas, com médicos obstetras como retaguarda em caso de emergência. As
casas de parto geralmente têm menos restrições e diretrizes a serem seguidas pelas famílias e possibilitam maior liberdade
na tomada de decisões sobre o trabalho de parto. As taxas de cesariana e os custos são muito mais baixos do que os de um
hospital. Um estudo mostra que o cuidado abrangente da parteira em uma casa de parto utilizando as mesmas orientações
médicas que no tratamento padrão dos hospitais reduz as intervenções médicas sem comprometer a saúde materna e
infantil (Arcia, 2015). O tempo de alta normal após o parto nas casas de parto geralmente é medido em horas (4 a 24
horas), e não de 24 a 48 horas, como é o caso nos hospitais.
As casas de parto têm como objetivo proporcionar um ambiente caseiro relaxante e promover uma “cultura de
normalidade”. Gravidez e parto são eventos de vida normais e saudáveis para a maioria das mulheres. Nas casas de parto,
as parteiras e os funcionários seguem o modelo de bemestar no parto, o que significa que eles fornecem cuidados
contínuos de suporte, e intervenções são realizadas apenas quando clinicamente necessárias. Atualmente, o número de
casas de parto estabelecidas está em ascensão. É nessas casas de parto que as parteiras aprendem sobre normalidade,
adquirindo as habilidades necessárias para apoiar as mulheres ao longo do trabalho de parto em vez de tentar controlálo.
O clima de economia da atualidade pode resultar no uso mais eficiente dos recursos, possivelmente “normalizando” o
nascimento (ACOG, 2015). A gama de serviços para a família expectante muitas vezes inclui atendimento prénatal,
orientações para o parto, cuidados durante o parto e o pósparto, incluindo acompanhamento domiciliar e planejamento
familiar (Figura 2.2). Uma das características da casa de parto autônoma é que possibilita fornecer cuidado efetivamente
centrado na família, abordando a gravidez e o nascimento como um evento familiar natural e incentivando todos os
membros da família a participar. Muitas vezes essas casas de parto fornecem orientações, incentivando as famílias a se
informarem e a serem autossuficientes no cuidado de si e de suas famílias (Sporek, 2015).
As casas de parto são uma alternativa para as mulheres que se sentem desconfortáveis com um parto em casa, mas que
não querem dar à luz em um hospital. As vantagens das casas de parto incluem uma abordagem obstétrica não
intervencionista, a liberdade para comer e movimentarse durante o trabalho de parto, a capacidade de dar à luz em
qualquer posição e o direito de ter qualquer número de familiares e amigos assistindo ao parto. As desvantagens são que
algumas dessas casas de parto têm rígidos critérios de seleção, que podem impedir que mães saudáveis usem as casas de
parto; muitas têm regras rígidas em relação ao transporte da mãe para o hospital (p. ex., trabalho de parto prolongado,
ruptura de membranas) e muitas não têm pediatra na equipe para atender o recémnascido se ele tiver necessidades
especiais após o nascimento (Gardner, 2015).
Prática baseada em evidências 2.1
Parto domiciliar após parto hospitalar | Escolhas e reflexões das mulheres.
As mulheres deram à luz no ambiente doméstico desde o início dos tempos; ter o parto realizado em uma
instituição de saúde tornouse o padrão somente a partir do início do século XX. O número de mulheres nos
EUA que optam pelo parto domiciliar vem crescendo. Pouco se sabe sobre as mulheres que escolhem o
parto domiciliar após terem vivenciado o parto hospitalar; por isso, o objetivo desta pesquisa foi explorar as
razões pelas quais essas mulheres escolheram um parto domiciliar e suas percepções sobre ambas as
experiências de parto.
ESTUDO
O projeto da pesquisa teve como base uma descrição qualitativa, em que grupos de foco foram conduzidos
com mulheres que tiveram partos hospitalares e, posteriormente, optaram pelo parto domiciliar, e suas
percepções sobre ambas as experiências de parto. Cinco grupos de foco foram conduzidos (N = 20),
gravados e transcritos na íntegra. Análises qualitativas de conteúdo foram aplicadas às narrativas das
mulheres.
Achados
Surgiram cinco tópicos das narrativas do grupo de foco. (1) Escolhas e empoderamento: com o parto
domiciliar, as mulheres sentiram que tinham opções reais em vez de opções percebidas, proporcionando
lhes sentimentos de poder e controle sobre seus corpos. (2) Intervenções e interrupções: as mulheres
acreditavam que algumas intervenções feitas no ambiente hospitalar não eram benéficas para o processo
de parto, e havia numerosas interrupções em seus partos hospitalares. (3) Desrespeito e rejeição: as
mulheres acreditavam que no parto hospitalar os profissionais de saúde estavam mais focados no útero em
trabalho de parto do que nelas mesmas; algumas mulheres foram rejeitadas por seus médicos ao optarem
pelo parto domiciliar. (4) Espaço para o parto: o parto domiciliar proporcionou um ambiente calmo e
tranquilo cercado de amigos e familiares. (5) Conexão: as mulheres se sentiram conectadas a seus médicos
e familiares em casa. A maioria das mulheres sentiase insatisfeita com o parto hospitalar, o que influenciou
a decisão de escolher um parto domiciliar para a próxima gestação.
Implicações para a enfermagem
Este estudo aborda vários tópicos que influenciaram as mulheres a escolherem um parto domiciliar em vez
de um parto hospitalar. Muitos dos tópicos se concentram no controle que as mulheres têm de sua própria
experiência de parto no ambiente domiciliar, em contraste com o ambiente hospitalar, o que inclui
intervenções desnecessárias e várias interrupções que afetaram negativamente a experiência de parto das
mulheres. Enfermeiros que trabalham em unidades de trabalho de parto e parto dentro de hospitais
precisam estar cientes desses cinco tópicos e trabalhar para mudar seus ambientes de parto para que seja
uma experiência mais positiva para a mulher. Os achados deste estudo podem servir como um catalisador
para a mudança com comentários adicionais do grupo de foco feitos após a alta. O feedback da paciente é
necessário para atender continuamente às suas necessidades.
Adaptado de Bernhard, C., Zielinski, R., Ackerson, K., & English, J. (2014). Home birth after hospital birth:
Women’s choices and reflections. Journal of Midwifery & Women’s Health, 59(2), 160–166.
FIGURA 2.2 As casas de parto visam proporcionar um ambiente caseiro relaxante e promover uma cultura de
normalidade, oferecendo ao mesmo tempo uma gama de serviços de saúde para a família expectante. (Fotos de
Gus Freedman.)
Parto domiciliar
Os partos domiciliares continuam a constituir apenas uma pequena porcentagem de todos os partos nos EUA, em parte
devido às preocupações com a segurança. A literatura é mista em relação à segurança dos partos domiciliares, mas os
profissionais de saúde devem respeitar a escolha da mulher quanto ao ambiente de parto, seu direito de escolha e sua
autonomia. Muitas mulheres optam por ter um parto em casa para que possa ser um evento familiar. Sentirse segura e no
controle pode ajudar no processo de parto, uma vez que a mulher se sente mais confortável em seu próprio ambiente e
confiante em sua capacidade de enfrentamento (Jokinen & Johnson, 2015).
Durante séculos, as mulheres deram à luz em casa. Muitas mulheres se sentem mais confortáveis e relaxadas quando o
parto é realizado em seu próprio ambiente. As mulheres que não querem intervenção médica e desejam um parto centrado
na família muitas vezes optam pelo parto domiciliar. Os partos domiciliares são recomendados para gestantes consideradas
de baixo risco de complicações durante o trabalho de parto e o parto (ACOG, 2015). O parto em casa é vantajoso porque:
• É mais barato
• Possibilita à mulher vivenciar o trabalho de parto e o parto na privacidade, no conforto e na familiaridade do seu lar,
cercada por seus entes queridos
• Possibilita à mulher manter o controle sobre todos os aspectos que influenciam o trabalho de parto (p. ex., posições,
vestuário e pessoal de apoio)
• Minimiza a interferência e as intervenções desnecessárias, fazendo com que o trabalho de parto evolua normalmente
• Fornece cuidado contínuo e individualizado pela parteira durante todo o processo do parto
• Promove o desenvolvimento de uma relação de confiança com o enfermeiro obstetra (American Pregnancy Association
[APA], 2015).
O parto domiciliar tem algumas desvantagens, incluindo a limitada disponibilidade de medicação para dor e o perigo
para a mãe e o feto se surgir uma emergência (p. ex., descolamento prematuro da placenta, ruptura uterina, prolapso de
cordão ou feto em sofrimento). O atraso em chegar ao hospital poderia pôr em risco a vida da criança ou da mãe. Devese
estabelecer um plano reserva que envolva um obstetra e um hospital próximo em prontidão em caso de emergência. As
evidências disponíveis sugerem que o parto domiciliar planejado é seguro para mulheres com baixo risco de complicações
e que são atendidas por parteiras devidamente qualificadas e certificadas pelo American Midwifery Certification Board
(AMCB), com acesso a transferência atempada para o hospital, se necessário (Grunebaum et al., 2015).
Cuidados pósparto e com o recémnascido
As recentes reformas no financiamento dos cuidados de saúde têm reduzido significativamente o tempo de internação das
parturientes. Como resultado, os enfermeiros comunitários desempenham um papel importante na ampliação dos cuidados
para além do ambiente hospitalar. Quando as novas mães recebem alta do hospital, a maioria ainda sente desconforto
perineal e cólicas uterinas. Podem ainda sentir dor por causa da episiotomia. Estão cansadas e podem apresentar
constipação intestinal. Podem sentirse incertas em relação à alimentação e aos cuidados com o recémnascido. A
prevalência de condições precoces de saúde mental no pósparto também é alta. Os enfermeiros estão em posição
privilegiada para identificar as mães em risco. Um estudo recente descobriu que problemas de choro excessivo em recém
nascidos/lactentes, idade avançada, níveis mais baixos de escolaridade, problemas com amamentação e mães solteiras “de
primeira viagem” sem apoio de parceiros eram preditores de sofrimento materno no período pósparto (Aston et al.,
2015). Essas novas mães precisam estar cientes dos recursos da comunidade, como a consulta por telefone a enfermeiros,
clínicas ambulatoriais, visitas domiciliares, grupos de apoio no bairro onde moram e fóruns online para novos pais.
Teleconsulta
Muitos hospitais oferecem serviços de teleconsulta aos enfermeiros da maternidade. A mãe que recebe alta recebe o
número de telefone da unidade de enfermagem no dia da alta e é instruída a ligar se tiver alguma dúvida ou preocupação.
Como os enfermeiros da unidade estão familiarizados com a sua história de parto e com o recémnascido, eles estão em
boa posição para ajudála na adaptação ao seu novo papel. Embora esse serviço geralmente seja gratuito, nem todas as
famílias reconhecem o problema precocemente ou usam esse valioso recurso de informação.
Ambulatório
O ambulatório é outro local da comunidade em que a família que teve um filho pode obter serviços. Geralmente, a mãe fez
o prénatal antes do parto e, portanto, estabeleceu uma relação com a equipe de enfermagem desse local. A equipe do
ambulatório geralmente está disposta a responder a quaisquer perguntas que a mãe possa fazer sobre a sua saúde ou a do
seu recémnascido. As consultas geralmente incluem um exame da mãe e do recémnascido e instruções sobre os cuidados
com o cordão umbilical, cuidados pósparto e com o recémnascido e nutrição da mãe e do recémnascido.
Visitas domiciliares pósparto
As visitas domiciliares oferecem serviços semelhantes aos oferecidos em uma visita programada ao ambulatório, mas
também dão ao enfermeiro a oportunidade de avaliar a adaptação e a dinâmica da família e do ambiente doméstico. Nos
EUA, durante a última década, as internações hospitalares duram em média 24 a 48 h ou menos para partos vaginais e 72 a
96 h para cesarianas (CDC, 2015a). A legislação federal norteamericana que entrou em vigor em 1998 proíbe as
seguradoras de saúde de restringir internações hospitalares para as mães e recémnascidos para menos de 2 dias para
partos vaginais ou 4 dias para cesarianas (CDC, 2015a). Esses períodos de internação encurtados têm reduzido o tempo
disponível para orientar as mães sobre como cuidar de si mesmas e de seus recémnascidos. Os programas de visita
domiciliar, em geral, buscam promover a saúde/desenvolvimento da criança, evitar maustratos/negligência infantis,
melhorar o bemestar materno e a capacidade da mãe de prestar cuidados ao recémnascido/lactente.
O cuidado pósparto no ambiente doméstico geralmente inclui:
• Monitoramento do bemestar físico e emocional dos familiares (Figura 2.3)
• Identificação de complicações potenciais ou em desenvolvimento para a mãe e o recémnascido
• Avaliação dos comportamentos característicos da depressão pósparto
• Apresentação à família, quando necessário, de serviços sociais da comunidade e programas de habitação e
governamentais
• Revisão de ajustes de função e suporte à comunidade disponível
• Orientação relacionada a contracepção e onde obtêla na comunidade
• Preenchimento da lacuna entre a alta e o acompanhamento ambulatorial das mães e de seus recémnascidos (Lundy &
Janes, 2016).
O uso de tecnologia para complementar o cuidado de enfermagem domiciliar pode melhorar o cuidado. A tecnologia
em suas muitas formas pode ajudar a empoderar os pacientes enquanto eles permanecem no conforto de suas próprias
casas. Exemplos de tecnologia incluem conversas telefônicas entre pacientes e enfermeiros para realizar rastreamento de
sinais/sintomas, dar orientação, monitorar sinais vitais e orientar quanto ao uso de fármacos; mensagens de texto via
celular sobre promoção da saúde; videoconferência; ou grupos de apoio online locais para compartilhar informações com
outras novas mães (Vo et al., 2015).
FIGURA 2.3 A enfermeira faz uma visita domiciliar pósparto para avaliar a mulher e seu recémnascido. Durante a
visita, a enfermeira ajuda a mãe com a amamentação.
Grupos de apoio para novas mães
Os grupos de apoio para novas mães são tipicamente grupos locais liderados por uma facilitadora com experiência prévia
em maternidade, aleitamento materno e cuidados com os recémnascidos/lactentes. Habitualmente esses grupos são
compostos por 6 a 12 mães que compartilham informações sobre técnicas de amamentação, padrões de sono infantil,
questões de cuidados infantis, problemas de imagem corporal e como integrar o recémnascido/lactente à unidade familiar.
Grupos de apoio geralmente se reúnem semanalmente e oferecem uma via de apoio que incentiva a divulgação e fornece
contato com outras novas mães que estejam passando pela mesma jornada e enfrentando os mesmos desafios.
Fóruns e blogs online relacionados com a maternidade
Os grupos de apoio de comunidades online oferecem um lugar anônimo para trocar informações e conselhos. Pesquisas
anteriores sugeriram que esses grupos fornecem um fórum seguro e imparcial para as novas mães compartilharem
experiências e interagirem de modo anônimo. São vistos como um espaço seguro e favorável no qual as novas mães
conseguem entender melhor o seu novo papel. Eles oferecem uma forma viável de orientação para novos pais e
proporcionam momentos de risos, memórias, pensamentos profundos e lembranças dos dias prématernidade. Os motivos
para as novas mães buscarem blogs e fóruns online incluem sentimentos de comunidade ou aceitação, desejo de ser uma
boa mãe, apoio emocional e necessidade de obter conselhos práticos sobre a criação dos filhos (Johnson, 2015).
Atendimento domiciliar do recémnascido de alto risco
Por causa da redução na duração da internação hospitalar, os recémnascidos de alto risco também estão sendo cuidados
em ambientes comunitários. Os cuidados de alta tecnologia antigamente eram prestados apenas no hospital. Agora, porém,
o aumento do custo de cuidados complexos e as influências do cuidado gerenciado (managed care) trouxeram cuidados de
alta tecnologia para o ambiente domiciliar. As famílias tornaramse “sistemas de saúde”, fornecendo cuidados
domiciliares físicos, emocionais, sociais e de desenvolvimento quando os filhos são dependentes de tecnologia. Os
candidatos adequados para cuidados em casa incluem prematuros que continuam precisando de oxigênio, recémnascidos
de baixo peso que precisem de fórmulas nutricionais ou hipercalóricas ou métodos de alimentação auxiliares (p. ex.,
nutrição enteral) ou crianças com hidrocefalia ou paralisia cerebral. O atendimento domiciliar com cuidadores preparados
poderia contribuir para a detecção precoce de problemas residuais/recorrentes importantes passíveis de tratamento.
Estudos sugerem que melhorar o atendimento domiciliar ao recémnascido/lactente de alto risco nos primeiros meses após
a alta, um período crítico para o crescimento, tem o potencial de reduzir as incidências e as sobrecargas de suas
necessidades de saúde ao longo da vida (Cheng et al., 2015). Pode ser usada uma gama de equipamentos, incluindo
ventilação mecânica, monitores eletrônicos de apneia, equipamentos domiciliares de oxigênio, equipamento de infusão
intravenosa, nebulizadores respiratórios, fototerapia e equipamentos de aspiração.
Todos os familiares precisam trabalhar em conjunto para prestar cuidados durante as 24 h do dia. Os pais precisam
negociar com as seguradoras o reembolso de equipamentos como tendas de oxigênio, CPAP, cateteres e camas especiais;
têm de ser capazes de solucionar problemas com o equipamento e de gerenciar os estoques de suprimentos e
equipamentos. Além disso, têm de ser capazes de avaliar a criança à procura de problemas, determinar qual é o problema,
decidir quando chamar o enfermeiro, o farmacêutico ou o fisioterapeuta, e interpretar e implementar as prescrições. O uso
domiciliar de tecnologias exige que os enfermeiros se concentrem no sistema de atendimento domiciliar da família para
prestar o cuidado completo ao recémnascido.
Os enfermeiros podem desempenhar um papel fundamental na assistência às famílias, preparandoas e aumentando a
sua confiança em cuidar de seus filhos em casa. Essa adaptação começa antes da alta hospitalar. Os familiares são
participantes ativos do plano de transição para as residências. Reconhecer as necessidades dos pais e abordar cada tópico
no plano de alta irá facilitar a transição para casa.
A avaliação da preparação da família é essencial. As seguintes áreas devem ser exploradas:
• Conhecimento dos pais: avaliar o conhecimento da família a respeito do posicionamento e manuseio do recémnascido,
nutrição, higiene, padrões de eliminação, crescimento e desenvolvimento, imunizações necessárias e reconhecimento
de doenças. Fazer perguntas de modo sensível ajudará o enfermeiro na identificação de déficits de conhecimento, para
que eles possam ser reforçados no plano de orientações do enfermeiro
• Cuidados pósparto: determinar as preocupações da mãe nas áreas de imagem corporal, perda de peso, necessidades
de sono/descanso, desconforto, fadiga e adaptação à sua nova função. Fazer perguntas abertas sobre essas áreas
ajudará o enfermeiro a extrair mais informações a serem incluídas no plano de orientações. Segmentar as áreas de
preocupação da paciente ajudará o enfermeiro a focar nas orientações necessárias para facilitar a transição para o seu
novo papel como mãe
• Sistemas de apoio: avaliar o apoio físico e emocional à nova mãe, fazendo perguntas sobre a disponibilidade de sua
família imediata, outros parentes e outros entes queridos que prestam ajuda. Em caso de falta de apoio, podem ser
feitos encaminhamentos para programas comunitários para os pais, creches ou outros recursos da comunidade
necessários para ajudar essa família. A exploração dessas áreas vitais por meio de questionamento sensível tem como
objetivo transmitir a preocupação do enfermeiro para com a criança e a família enquanto obtém uma avaliação
completa das necessidades de aprendizagem da família.
Uma vez avaliado o estado de preparação, o enfermeiro pode intervir quando necessário. Por exemplo, se os
responsáveis não se acharem preparados para operar aparelhos, tecnologias, medicamentos ou terapia desenvolvimental, o
enfermeiro pode então demonstrar o cuidado à família. O enfermeiro fornece instruções e experiência prática em um
ambiente de apoio até que a confiança da família aumente. O enfermeiro também pode ajudar a família a antecipar os
problemas mais comuns que poderiam ocorrer (p. ex., aconselhandoos a evitar a falta de abastecimento, a ter medicação
ou fórmula especial suficiente para durar todo o fim de semana e a manter carregadas as baterias reservas dos aparelhos ou
da bomba de oxigênio portátil). O desfecho da avaliação e intervenção do estado de preparação é que a segurança da
criança seja estabelecida e mantida.
A assistência às famílias que usam equipamentos de atendimento domiciliar complexos exige cuidados com o bem
estar físico e emocional da criança e dos familiares, bem como o fornecimento de soluções aos problemas que possam
ocorrer. Os profissionais de enfermagem que atuam no atendimento domiciliar precisam identificar, mobilizar e adaptar os
inúmeros recursos da comunidade para apoiar a família na obtenção da melhor assistência possível no ambiente doméstico.
A preparação das famílias antes da alta hospitalar, com os enfermeiros do atendimento domiciliar mantendo e reforçando
esse foco, aliviará o ônus de gerenciar equipamentos de alta tecnologia em casa.
Cuidados de saúde da mulher
O período fértil das mulheres equivale a cerca de metade de sua vida útil. Esse não é um período estático, mas engloba
várias fases significativas. À medida que se modificam suas metas, mudam também as necessidades de cuidados de saúde
da mulher. Por causa dessas demandas variáveis, o cuidado comunitário abrangente é essencial.
Os serviços de saúde comunitários para mulheres têm recebido maior ênfase durante as últimas décadas simplesmente
por motivos econômicos. As mulheres usam mais os serviços de saúde do que os homens, tomam até 90% de todas as
decisões de cuidados de saúde e representam a maioria da população (CDC, 2015b). As mulheres são responsáveis por 66
centavos de cada dólar gasto com cuidados de saúde; sete das dez cirurgias mais realizadas nos EUA são específicas para
mulheres (Alexander et al., 2014). Exemplos de serviços de saúde comunitários das mulheres que podem ser
ambulatoriais ou hospitalares incluem:
• Centros de rastreamento que oferecem mamografia, esfregaços de Papanicolaou, densitometria óssea, aconselhamento
genético, ultrassonografia, exames de mama, avaliações completas de risco para a saúde, exames laboratoriais
(hemograma completo, níveis sanguíneos de colesterol, provas de atividade tireóidea, glicemia de jejum para pesquisa
de diabetes melito, níveis de hormônio foliculoestimulante [FSH]) e eletrocardiograma (ECG)
• Centros educacionais que oferecem palestras de saúde da mulher, instrução sobre o autoexame das mamas e esfregaço
de Papanicolaou e computadores para pesquisa
• Centros de aconselhamento que oferecem vários grupos de apoio: genético, psicoterapia, drogadição, abuso sexual e
violência doméstica
• Centros de bemestar que oferecem técnicas de redução do estresse, massagem terapêutica, imaginação guiada,
hipnose, interrupção do tabagismo, redução de peso, tai chi, ioga e aulas de ginástica/exercícios para mulheres
• Centros de cura alternativa/integral que oferecem acupuntura, aromaterapia, biofeedback, toque terapêutico,
tratamentos faciais, reflexologia e fitoterápicos
• Centros de varejo que oferecem equipamentos especiais para locação e compra, como próteses de mama.
As mulheres têm muitas opções de serviços, instituições e profissionais de saúde. No passado, a maioria das mulheres
recebia serviços de cuidados de saúde de médicos, como obstetras, ginecologistas e médicos da família; contudo,
atualmente as parteiras e os profissionais de enfermagem estão prevalecendo na prestação de cuidados à mulher saudável.
Os enfermeiros que trabalham em ambientes comunitários precisam estar familiarizados com os muitos problemas de
saúde comumente encontrados nas mulheres de suas comunidades. Todos os enfermeiros que trabalham com mulheres de
qualquer idade em ambientes comunitários, incluindo local de trabalho, escolas, consultórios e clínicas médicas, devem ter
compreensão completa do âmbito dos cuidados com a saúde da mulher e devem estar preparados para intervir de modo
adequado a fim de evitar problemas e promover a saúde.
PAPÉIS E FUNÇÕES DO ENFERMEIRO DE SAÚDE COMUNITÁRIA
Muitos enfermeiros constatam que a mudança do ambiente hospitalar para o comunitário é um desafio. Com a troca das
responsabilidades de cuidados hospitalares para cuidados comunitários, ocorrem mudanças na assistência de enfermagem.
Os enfermeiros que trabalham em ambientes comunitários compartilham muitas das mesmas funções e responsabilidades
que seus colegas de ambientes hospitalares, mas existem algumas diferenças. Por exemplo, no atendimento domiciliar ou
comunitário, o enfermeiro presta cuidados diretos à paciente, mas gasta mais tempo no papel de educador, comunicador e
gestor do que o enfermeiro que trabalha em unidades de cuidados agudos. No atendimento domiciliar, o enfermeiro passa
muito tempo na função de supervisão ou gestão. Independentemente de onde atue (hospital ou ambulatório) o enfermeiro,
os princípios de cuidado holístico ainda são universalmente aplicados.
Comunicador
A comunicação terapêutica efetiva com mulheres, crianças e famílias é fundamental para a prestação de cuidados de
enfermagem de qualidade. A comunicação centrada na família e na paciente aumenta a satisfação com os cuidados de
enfermagem e auxilia na melhora dos conhecimentos e habilidades de cuidados de saúde (Arnold & Boggs, 2015). A
importância da comunicação gira em torno de sua efetividade e do clima no qual ocorre a comunicação. Confiança,
respeito e empatia são três fatores necessários para criar e promover a comunicação terapêutica efetiva entre as pessoas.
Comunicação verbal e não verbal
Ao interagir com seus pacientes, os profissionais de enfermagem usam continuamente a comunicação verbal ao longo do
dia. São necessárias boas habilidades de comunicação verbal para a avaliação de enfermagem e orientações de excelência.
A comunicação não verbal, também conhecida como linguagem corporal, é composta por comportamento afetivo ou
expressivo, e pode ser demonstrada por atender aos outros e pela escuta ativa. Quando a paciente e seus familiares sentem
que estão sendo ouvidos, estabelecemse confiança e um bom relacionamento.
Lembrese de Maria, que recentemente recebeu alta do hospital com seu filho recémnascido. Como o
enfermeiro se comunicou com ela? Será que as ações do enfermeiro durante a visita promoveram o
desenvolvimento de uma relação de confiança entre Maria e o enfermeiro? O que poderia ter sido feito para
promover a confiança?
Anote!
Pessoas de todas as idades desejam ser ouvidas sem interrupções (Bloomfield, 2015).
A escuta ativa é fundamental para o processo de comunicação. Ouvir com atenção (escutar) pode revelar medos ou
preocupações que o enfermeiro pode não descobrir por meio do questionamento. Se a pessoa não ouvir, informações
essenciais podem não ser obtidas. A escuta ativa é importante na prestação de cuidados de enfermagem abrangentes.
Pesquisas mostram que o contato com um enfermeiro que demonstra escuta empática e ativa exerce efeito calmante e
curativo nos pacientes (Arnold & Boggs, 2015). Se a paciente ou a família sentir que o enfermeiro não está ouvindo, ela
pode relutar em compartilhar mais informações. Durante a interação, determine se a comunicação verbal da paciente é
congruente com a sua comunicação não verbal.
Comunicação com as famílias
Ao se comunicar com os familiares, seja honesto. Os familiares desejam ser valorizados e também devem ser parceiros da
equipe de saúde. Possibilite aos familiares verbalizar preocupações e perguntas. Explique o uso de equipamentos e a
sequência correta dos procedimentos. Ajude os familiares a entender os efeitos a longo prazo, bem como a curto prazo, de
um tratamento de saúde.
Como trabalhar com um intérprete
Tentar se comunicar com a família cujos membros não falam o idioma do país pode ser uma situação muito frustrante para
os profissionais de saúde. A identificação oportuna das necessidades relacionadas ao idioma de um paciente no primeiro
ponto de contato pode viabilizar a prestação de serviços apropriados à linguagem e contribuir para a qualidade do
atendimento, para obter melhores resultados e a satisfação do paciente (Kamimura et al., 2015). A ajuda de um intérprete é
valiosa e um componente essencial para as orientações à paciente e aos seus familiares. Trabalhar com um intérprete,
pessoalmente ou por telefone, demanda a coordenação de esforços de ambas as partes. Essa coordenação é importante para
que tanto a família como o intérprete entendam a informação a ser comunicada. Trabalhando em equipe, o enfermeiro
questiona ou informa e o intérprete transmite a informação de modo completo e exato. O Healthy People 2020 também
aborda o tópico das diferenças de linguagem (ver Healthy People 2020). Nos EUA, muitos serviços de saúde aderem ao
Language Line Services, que é uma empresa de interpretação sob demanda que oferece interpretação de 170 idiomas via
telefone. Muitos outros intérpretes, tradutores e ferramentas de tradução online estão disponíveis.
Lembrese de Maria, a mulher com o recémnascido que está recebendo cuidados domiciliares (home care).
Na segunda visita à casa de Maria, o enfermeiro levou um intérprete de língua espanhola, que explicou o
motivo de colocar o recémnascido para dormir em decúbito dorsal e demonstrou a Maria várias outras
posições úteis para alimentar e segurar o recémnascido. Maria estava sorrindo quando o enfermeiro saiu e
perguntando quando ele voltaria. O que fez a diferença em seu relacionamento durante a segunda visita?
Que intervenções demonstram um cuidado culturalmente competente?
Healthy People 2020 • 2.1
Objetivo de ECBP11 (Programas Educacionais e Baseados na Comunidade)
Aumentar a proporção de departamentos de saúde locais que tenham programas comunitários de
promoção da saúde e prevenção de doenças cultural e linguisticamente apropriados estabelecidos.
Importância para a enfermagem
Trabalhar com profissionais e indivíduos de várias culturas para elaborar materiais e programas de
promoção da saúde culturalmente apropriados. Garantir que sejam fornecidos materiais didáticos no idioma
apropriado.
Objetivo de ECBP10 (Programas Educacionais e Baseados na Comunidade)
Aumentar o número de organizações comunitárias (incluindo as secretarias de saúde locais, serviços de
saúde indígenas, organizações não governamentais e agências estatais) que prestam serviços de
prevenção primária baseados na população nas seguintes áreas: lesão, doença mental, tabagismo, uso
abusivo de substâncias psicoativas, gravidez indesejada, nutrição e atividade física.
Importância para a enfermagem
Os programas educativos e comunitários são fundamentais na prevenção de doenças e lesões, melhorando
e aumentando a qualidade de vida. Os programas e estratégias de orientação e comunitários são projetados
para alcançar as pessoas fora dos ambientes tradicionais de saúde. Esses ambientes incluem escolas,
locais de trabalho e agências de saúde. As atividades comunitárias de promoção da saúde são iniciadas por
um departamento ou organização de saúde; os organizadores têm a responsabilidade de envolver a
comunidade. A compreensão da visão das pessoas saudáveis em comunidades saudáveis só é possível se
a comunidade, em toda a sua diversidade cultural, social e econômica, for uma parceira autêntica na
mudança das condições de saúde.
Objetivos do Healthy People com base em dados de http://www.healthypeople.gov.
Comunicação com pacientes surdas e seus familiares
Quase 1 em cada 6 norteamericanos tem perda auditiva. Naqueles com idade superior a 65 anos, a razão sobe para 1 em
cada 3.4 Até o fim deste século, haverá aproximadamente 360 milhões de pessoas em todo o mundo com algum déficit
auditivo. Estudos mostram que os surdos têm um estado de saúde pior do que aqueles que ouvem normalmente, o que é
atribuído a problemas de acesso à saúde e de comunicação com os profissionais de saúde (Emond et al., 2015). Os
profissionais de saúde são obrigados a oferecer auxílios e serviços auxiliares para estabelecer uma comunicação eficaz
com seus pacientes. A prestação de assistência a pessoas com déficit auditivo em ambientes de cuidados de saúde é
extremamente importante porque, sem a assistência de auxílios e serviços auxiliares, os profissionais de saúde correm o
risco de não entender os sintomas do paciente, diagnosticar incorretamente seu problema de saúde e prescrever tratamentos
inadequados ou até mesmo prejudiciais (Alselai & Alrashed, 2015).
Healthy People 2020 • 2.2
Objetivo de HC/HIT2 (Comunicação em Saúde/Tecnologia de Informação em Saúde)
Aumentar a proporção de pessoas que relatam que seus profissionais de saúde têm habilidades de
comunicação satisfatórias.
Importância para a enfermagem
Apoie a decisão compartilhada tomada entre pacientes e profissionais da saúde, para que todos adiram ao
plano de tratamento. Forneça princípios sólidos na concepção de programas e intervenções que resultem
em comportamentos mais saudáveis para a paciente e a família. Vincule a continuidade dos cuidados na
comunidade e em casa para promover os melhores desfechos de saúde.
Objetivos do Healthy People com base em dados de http://www.healthypeople.gov.
As gestantes com déficit auditivo muitas vezes são negligenciadas, principalmente devido à falta de compreensão sobre
como cuidar melhor de mulheres com diferentes necessidades de comunicação. Os enfermeiros têm função fundamental na
troca de informações e precisam reservar um tempo para entender as necessidades das mulheres com déficit auditivo, a
fim de atuar como defensores e ajudar a superar as barreiras que podem ser criadas pela surdez. Para cumprir esse papel,
os enfermeiros precisam compreender os problemas enfrentados pelas mulheres com déficit auditivo e seus parceiros no
acesso aos serviços de maternidade (Velonaki et al., 2015).
Para pacientes com déficits auditivos, os enfermeiros devem determinar o método desejado de comunicação: leitura
labial, língua brasileira dos sinais (Libras), outro método como o CART (Communication Access Realtime Translation;
tradução em tempo real para acesso à comunicação) que pode ser visualizado em um tablet, laptop ou smartphone ou
alguma combinação desses. Se o enfermeiro não for proficiente em Libras e a paciente ou a família usarem esse método,
então é essencial conseguir um intérprete de Libras se não houver outro adulto da família presente para a tradução. Nos
EUA, de acordo com a lei federal, é obrigatório proporcionar às pacientes surdas e aos familiares surdos comunicação
efetiva com os profissionais de saúde (Oliveira et al., 2015).
Prestador de cuidados diretos
O enfermeiro comunitário presta, tipicamente, cuidados físicos menos diretos do que o enfermeiro nas unidades de
atendimento agudo. Muitas vezes, o enfermeiro observa a paciente ou a cuidadora executando tarefas de cuidados físicos.
Habilidades de avaliação impecáveis são especialmente importantes no contexto de cuidados comunitários. O enfermeiro
comunitário muitas vezes está atuando autonomamente e, após a coleta de dados, muitas vezes decide iniciar, continuar,
alterar ou encerrar cuidados físicos de enfermagem. A avaliação vai além da avaliação física da paciente e deve incluir o
meio ambiente e a comunidade.
O enfermeiro presta cuidados diretos à paciente no período perinatal, começando com a primeira consulta com um
profissional de saúde, passando pela gravidez e pelo parto. Além disso, o enfermeiro presta cuidados diretos que
envolvem as seguintes áreas:
• Contracepção
• Aborto
• Infertilidade
• Rastreamento de infecções sexualmente transmissíveis
• Avaliação do risco e cuidados préconcepção.
Orientador
Devido à redução na duração e no número de hospitalizações, fornecer orientações à paciente e à família é um papel
fundamental dos enfermeiros comunitários. Muitas vezes, as orientações começam no ambiente comunitário,
especialmente no domicílio. Na configuração comunitária, muitas vezes as orientações à paciente são focadas em ajudar a
paciente e sua família a alcançar a independência.
Independentemente do tipo de ambiente, os profissionais de enfermagem estão em posição única para ajudar as
pacientes e seus familiares a gerenciar a própria saúde. Eles precisam estar bem informados sobre tópicos como a sua
condição, o plano de tratamento de saúde e quando e como entrar em contato com os profissionais de saúde. Com o pouco
tempo disponível em todas as áreas da saúde, os enfermeiros precisam se concentrar nos objetivos de aprendizagem e em
começar a orientar na primeira oportunidade (Peter et al., 2015).
Anote!
Não há prescrição mais valiosa do que o conhecimento. (C. Everett Koop, MD, ExSurgeon General5 dos EUA.)
A orientação da paciente ocorre quando os enfermeiros compartilham informações, conhecimentos e habilidades com
as pacientes e seus familiares, empoderandoos a assumir a responsabilidade pela própria saúde. Por meio da orientação à
paciente, ela e seus familiares conseguem superar os sentimentos de impotência e desamparo e ganhar a confiança e a
capacidade de serem membros ativos em seu plano de cuidados.
No geral, as orientações à paciente e aos familiares possibilitam a tomada de decisões informadas, garantem a
existência de habilidades básicas de saúde, promovem o reconhecimento de situações problemáticas, promovem respostas
adequadas aos problemas e fazem com que as perguntas sejam respondidas. Quando são iniciadas orientações completas e
estruturadas no ambiente hospitalar, elas podem ser continuadas no ambiente doméstico, o que pode diminuir as
reinternações hospitalares. Uma lista de verificação (checklist) para a alta baseada em evidências descreve os processos
necessários para uma alta segura e ideal e um cronograma recomendado de quando completar cada etapa, começando no
primeiro dia de internação. Uma lista de verificação inclui (1) indicação para admissão no hospital; (2) cuidados primários
em casa; (3) segurança da medicação; (4) planos de acompanhamento; (5) encaminhamentos para atendimento domiciliar;
(6) comunicação com profissionais de saúde da comunidade e (7) orientação à paciente (Coleman et al., 2015). Pode
desempenhar um papel importante em ajudar os enfermeiros a fornecer orientações formais precocemente às pacientes e
aos familiares que estejam recebendo alta para casa com um novo dispositivo, para que possam ser prestados cuidados
seguros no ambiente doméstico (Ulin et al., 2015). As orientações à paciente e aos familiares são uma prioridade e são
abordadas no Healthy People 2020.
Anote!
Para lidar efetivamente com a doença, para compreender e participar nas decisões sobre os planos de tratamento e para
manter e melhorar a saúde após o tratamento, as pacientes e seus familiares precisam ter conhecimentos e habilidades
relevantes para suas condições (Joint Commission, 2015).
Etapas da orientação da paciente e dos familiares
A orientação à paciente é um componente crucial do cuidado de enfermagem. As etapas da orientação da paciente e dos
familiares são semelhantes às do processo de enfermagem: o enfermeiro precisa investigar, planejar, implementar, avaliar
e, por fim, documentar as orientações. Uma vez que o enfermeiro alcança um nível de conforto e experiência em cada uma
dessas etapas, elas se fundem e se tornam parte do cotidiano da prática de enfermagem. As orientações à paciente
começam com o primeiro encontro da paciente e prosseguem ao longo da alta e além. Para assegurar o sucesso, a
reavaliação após cada passo ou qualquer alteração no processo é essencial.
COMO MELHORAR A APRENDIZAGEM
Os enfermeiros estão em uma excelente posição para promover um ambiente propício ao aprendizado. Por exemplo, é
inteiramente apropriado dizer à paciente: “Muitas pessoas têm problema para ler e lembrar das informações deste folheto
(encarte, manual). Isso acontece com você?” Após o reconhecimento do problema, o enfermeiro fica livre para ajustar as
técnicas de comunicação verbal e os materiais escritos para ajudar na aprendizagem e para comunicar essa necessidade a
toda a equipe interdisciplinar de saúde.
Os enfermeiros implementam técnicas de orientação individualizadas, baseadas em informações de avaliação e metas
identificadas. Em geral, as seguintes técnicas podem facilitar a aprendizagem:
• Falar lentamente e repetir as informações muitas vezes
• Falar em estilo coloquial, usando um linguajar simples e não técnico
• Apresentar as informações de maneira fragmentada, usando etapas lógicas
• Priorizar as informações e ensinar “habilidades de sobrevivência” em primeiro lugar
• Usar recursos visuais, como imagens, vídeos e modelos
• Ensinar usando uma abordagem prática interativa.
Se a paciente ou a família tiverem poucas habilidades em conhecimentos de saúde, a aprendizagem poderá ser
estimulada com o uso de imagens ou ilustrações, fitas de vídeos e áudio ou códigos de cores (como em frascos de
medicamentos ou ilustrando etapas de um procedimento). Além disso, as orientações podem incluir um membro da família
de “reserva”.
DOCUMENTAÇÃO DAS ORIENTAÇÕES E APRENDIZAGEM
A documentação dos cuidados com o paciente e de sua orientação é uma parte essencial da prática profissional de todos os
enfermeiros e é o único meio disponível para garantir que o plano de orientações e os objetivos tenham sido concluídos. A
documentação tem quatro propósitos principais:
1. Em primeiro lugar, o prontuário da paciente serve como uma ferramenta de comunicação que toda a equipe
interdisciplinar pode usar para acompanhar o que a paciente e sua família já aprenderam e o que ainda precisam
aprender.
2. Em seguida, fornece testemunho das orientações que a família recebeu caso surjam questões jurídicas.
3. Em terceiro lugar, verifica as normas estabelecidas pela Joint Commission, pelos Centers for Medicare and Medicaid
Services e por outros órgãos de acreditação que regem os profissionais de saúde responsáveis por atividades de
orientação à paciente.
4. Por fim, informa às seguradoras de saúde quais bens e serviços foram fornecidos para fins de reembolso.
As orientações desempenham um papel essencial na promoção da prática segura de automanejo. Para garantir que as
pacientes e seus familiares alcancem as capacidades necessárias, as orientações a eles têm de ser baseadas na competência.
Ao elaborar e aplicar um programa/palestra de orientação com base em competências, cada enfermeiro precisa identificar
as competências essenciais a serem ensinadas, os métodos ideais de ensino, o melhor método para avaliar o desempenho e
a documentação das evidências de aprendizado (Embo et al., 2015).
Planejador de alta e gestor de caso
Devido à curta duração das internações hospitalares e à mudança das pacientes com necessidades complexas de saúde para
ambientes comunitários, o planejamento de alta e o gerenciamento de casos têm se tornado importantes funções da
enfermagem na comunidade (Stanhope & Lancaster, 2014). O planejamento da alta envolve a elaboração e a
implementação de um plano abrangente para a alta segura da paciente de uma unidade de saúde e para a continuidade de
cuidados seguros e efetivos na comunidade e em casa. A gestão de caso centrase na coordenação dos serviços de saúde,
equilibrando a qualidade e os custos. Muitas vezes, as pacientes que necessitam de cuidados comunitários, especialmente
de atendimento domiciliar, têm necessidades clínicas complexas que demandam uma equipe interdisciplinar para atender às
suas necessidades físicas, psicológicas, clínicas, nutricionais, de enfermagem, de desenvolvimento e educativas. O
enfermeiro tem participação importante na iniciação e na manutenção do vínculo entre os membros da equipe e a paciente,
a fim de garantir que a paciente e sua família recebam cuidados abrangentes e coordenados.
Defensor da paciente e gestor de recursos
A defesa da paciente é outro importante papel do enfermeiro comunitário, que visa garantir que as necessidades da
paciente e da família sejam atendidas. A defesa também ajuda a garantir que a paciente e sua família tenham à sua
disposição recursos e serviços de saúde adequados. Por exemplo, a gestante em repouso domiciliar pode precisar de ajuda
para cuidar de seus outros filhos, realizar as tarefas domésticas ou comparecer a suas consultas. As mulheres com
necessidades clínicas complexas podem necessitar de assistência financeira via Medicaid ou de programas do Medicaid
(programas estatais que usam recursos dos governos federal e estadual para pagar o tratamento de indivíduos com
determinadas condições clínicas). Também podem precisar de ajuda na obtenção de equipamentos necessários, serviços
adicionais e transporte. Os enfermeiros comunitários precisam de conhecimento básico dos recursos comunitários,
estaduais e federais para garantir que as pacientes e seus familiares tenham acesso aos recursos necessários.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
O cuidado centrado na família reconhece o conceito da família como a constante. As capacidades
funcionais e de saúde afetam a saúde da paciente e de outros membros da família. O cuidado centrado
na família reconhece e respeita as forças familiares e a individualidade, incentiva as referências de
apoio à família e facilita a colaboração. Garante a prestação de cuidados de saúde flexíveis, acessíveis
e ágeis, incorporando as necessidades de desenvolvimento e a implementação de políticas para dar
apoio emocional e financeiro às mulheres e a seus familiares
A prestação de cuidados de saúde passou das unidades de atendimento agudo para a comunidade,
com ênfase na promoção da saúde e na prevenção de doenças (Lundy & Janes, 2016). A enfermagem
em saúde comunitária centrase na prevenção de problemas de saúde e na melhoria da saúde das
populações e comunidades, atendendo às necessidades de saúde atuais e potenciais da população ou
comunidade, e promovendo e preservando a saúde de uma população, independentemente da idade
ou do diagnóstico. Os enfermeiros de saúde comunitária realizam investigações epidemiológicas para
ajudar a analisar e a desenvolver políticas de saúde e iniciativas comunitárias de saúde
Os enfermeiros comunitários se concentram na prestação de cuidados pessoais a indivíduos e famílias
na comunidade. Concentramse na promoção e na preservação da saúde, bem como na prevenção de
doenças ou lesões. Ajudam as mulheres e suas famílias a lidar com agravos e enfermidades.
Concentramse em minimizar barreiras, possibilitando que a paciente desenvolva seu pleno potencial
A enfermagem comunitária utiliza o processo de enfermagem no atendimento de pacientes em
ambientes comunitários e envolve níveis de prevenção primária, secundária e terciária. As intervenções
de enfermagem em ambientes comunitários incluem rastreamento de saúde, orientações,
administração de medicamentos, teleconsulta, encaminhamentos ao sistema de saúde, instruções,
aconselhamento nutricional e identificação de riscos
Os enfermeiros que trabalham na comunidade precisam desenvolver competência cultural. As etapas
para alcançar competência cultural incluem autoconscientização cultural, conhecimento cultural,
habilidades culturais e encontros culturais
Os ambientes de atuação da enfermagem comunitária incluem consultórios, ambulatórios, secretarias
de saúde, unidades de prontoatendimento, o domicílio da paciente, igrejas e abrigos (p. ex., abrigos
para vítimas de violência doméstica, abrigos para população de rua e abrigos para vítimas de
desastres). Os enfermeiros prestam cuidados de bemestar, cuidados a doenças episódicas e cuidados
crônicos às mulheres e seus familiares
As situações de cuidados de saúde domiciliar (home care) aumentaram em decorrência do menor
tempo de internação e de medidas de contenção de custos, juntamente com o aumento da renda e da
longevidade dos indivíduos com condições de saúde crônicas e debilitantes. A tecnologia também tem
melhorado, tornando possível que as pacientes sejam monitoradas e submetidas a procedimentos
complicados em casa (Vizard, 2015)
Os papéis e as funções do enfermeiro comunitário incluem comunicador, prestador de cuidados diretos,
educador, planejador de alta e gestor de caso, e defensor e gestor de recursos
A comunicação aberta e honesta é essencial para os enfermeiros comunitários. Pode ser necessário
assegurar comunicação efetiva por meio de um intérprete. Manter a confidencialidade e proporcionar
privacidade são fundamentais
O conhecimento da família sobre a saúde ou a doença da paciente é vital. Os enfermeiros que
trabalham na comunidade desempenham um papel importante na orientação das mulheres e de seus
familiares
O planejamento de alta fornece um plano abrangente para a alta segura da paciente de uma unidade
de saúde e para a continuidade de cuidados seguros e efetivos na comunidade. O gerenciamento de
caso centrase na coordenação de serviços de saúde, equilibrando qualidade e custos. O planejamento
de alta e o gerenciamento de casos contribuem para a melhoria da transição do hospital para a
comunidade de mulheres, seus familiares e da equipe de saúde
Os enfermeiros comunitários atuam como gestores de recursos para ajudar a garantir que a paciente e
sua família tenham à sua disposição os recursos necessários e os serviços de saúde adequados
Referências bibliográficas e leitura sugerida
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5.
Exercícios sobre o capítulo
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. Um enfermeiro comunitário está envolvido em atividades de prevenção secundária. Quais atividades
poderiam ser incluídas? Selecione todos que se apliquem.
a. Pesquisa de sangue oculto nas fezes
b. Triagem auditiva
c. Programa de interrupção do tabagismo
d. Determinação do nível sanguíneo de colesterol
e. Programa de higiene
f. Teste de gravidez
2. Uma mulher é submetida a uma colonoscopia em um centro de cirurgia ambulatorial independente. O
que o enfermeiro identificaria como uma grande desvantagem associada a essa instituição comunitária?
a. Aumento do risco de infecção em contraste com o ambiente hospitalar
b. Aumento dos custos do cuidado de saúde em contraste com o ambiente hospitalar
c. Necessidade de transferência em caso de complicações
d. Maior interrupção do funcionamento familiar
3. Ao desenvolver o plano de orientações para uma paciente grávida em trabalho de parto prematuro que
está recebendo alta, o que o enfermeiro faz primeiro?
a. Decide quais procedimentos e medicamentos a paciente precisará em casa
b. Determina as necessidades de orientação da paciente e o estilo dessas orientações
c. Pergunta à paciente se ela já teve parto prematuro
d. Informa à paciente quais são os objetivos da sessão de orientações
4. Qual ação do enfermeiro demonstraria melhor sua competência cultural?
a. Estar bem versado nos costumes e crenças de sua própria cultura
b. Demonstrar abertura em relação aos valores e crenças de outras culturas
c. Aplicar, na prática, conhecimento sobre diferentes culturas
d. Atuar no estabelecimento de políticas para lidar com culturas diversas
5. Os enfermeiros que trabalham com um intérprete devem enfatizar a necessidade de o intérprete:
a. Elaborar o conteúdo que está sendo interpretado
b. Esclarecer a desinformação com suas próprias palavras
c. Parafrasear o que está sendo dito para reduzir o tempo
d. Manter a confidencialidade do conteúdo interpretado
6. Qual fator o enfermeiro identificaria como o que menos provavelmente contribuirá para o aumento na
utilização de cuidados comunitários?
a. Concentrarse em cuidados curativos voltados para a doença
b. Aumentar a renda disponível do consumidor
c. Avanços tecnológicos para atendimento domiciliar
d. Enfatizar o atendimento primário e o tratamento
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. Uma mulher de 63 anos de idade, da Arábia Saudita, adoeceu gravemente durante uma visita aos
EUA. A previsão é de que ela precisará ficar hospitalizada por muito tempo. Descreva os passos que o
enfermeiro deverá seguir para se comunicar e para fornecer extensivas orientações de saúde a essa
mulher e à sua família.
2. Uma gestante recebe alta do hospital após uma internação por causa de trabalho de parto prematuro. A
parturiente deve permanecer em repouso absoluto e receberá atendimento domiciliar de uma instituição
local que ajudará a ela e à sua família e monitorará seu estado de saúde. Como enfermeiro domiciliar
designado para atender essa gestante, o que sua avaliação de enfermagem deve incluir?
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Acompanhe um enfermeiro que trabalha em uma instituição comunitária, como uma clínica de saúde da
mulher, casa de parto, atendimento domiciliar ou departamento de saúde. Identifique o papel que o
enfermeiro desempenha na saúde das mulheres e das famílias nesses ambientes e na comunidade.
2. Organize uma visita a um centro de saúde da comunidade que ofereça serviços para grupos culturais
variados. Entreviste a equipe em relação às estratégias utilizadas para superar as barreiras de
comunicação e as diferentes práticas de cuidados de saúde para as mulheres e suas famílias nesses
grupos.
3. Identifique pelo menos três cenários de prática comunitária em que o enfermeiro possa praticar o
cuidado centrado na família.
ESTUDO DE CASO
A enfermeira de uma escola está bastante angustiada por causa do grande número de estudantes sendo
atendidos recentemente na clínica de saúde do ensino médio com doenças/infecções sexualmente
transmissíveis (DST/IST). Hoje mesmo ela atendeu uma estudante de 14 anos com dor pélvica secundária a
uma infecção por gonorreia não tratada. A enfermeira quer iniciar intervenções de atenção primária,
secundária e terciária para resolver este problema.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 2 | Cuidados Comunitários Centrados na Família
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. As respostas corretas são A, B, D e F. A prevenção secundária inclui a detecção e o tratamento precoces. As
atividades incluiriam pesquisa de sangue oculto nas fezes, audiometria, determinação do nível sanguíneo de colesterol
e testes de gravidez. Programas de abandono do tabagismo e de higiene são exemplos de atividades de prevenção
primária.
2. A resposta correta é C. As vantagens dos centros cirúrgicos ambulatoriais incluem a diminuição do risco de infecção,
dos custos, da separação da família e da perturbação da rotina familiar. A principal desvantagem associada a esses
locais é a incapacidade de acomodar pernoites, se necessário em decorrência de complicações. A mulher precisaria ser
transferida para um hospital para cuidados continuados.
3. A resposta correta é B. Sempre avalie antes as necessidades de aprendizagem da paciente e o estilo preferido de
ensino.
4. A resposta correta é C. Conhecer as diversas variações culturais nas práticas de cuidados de saúde ajuda o
profissional de enfermagem a aplicálas em sua prática clínica cotidiana. Essa sensibilidade cultural e sua aplicação
tornam o profissional de enfermagem culturalmente competente. Conhecer a própria cultura não promove a tolerância
e a aceitação de pessoas de culturas diferentes. Somente quando o enfermeiro adquire conhecimento sobre outras
culturas se torna culturalmente competente. Estar aberto a diferentes costumes e crenças culturais é apenas o começo
para se tornar culturalmente competente; a aplicação do conhecimento é essencial. Atuar no estabelecimento de
políticas sem vêlas aplicadas na instituição de saúde não quebrará as barreiras ao cuidado. O que está escrito nas
políticas de saúde pode não estar sendo usado na prática clínica. Assim, qualquer um pode consultar as políticas, mas
sem mudar suas atitudes e ações.
5. A resposta correta é D porque todas as informações do atendimento de saúde estão protegidas pelo sigilo
profissional. A alternativa A é incorreta porque o intérprete não deve acrescentar sua interpretação às informações
fornecidas pelo paciente ao médico. A alternativa B é incorreta pelo mesmo motivo de a alternativa A ser errada –
interpretações individuais podem ser equivocadas e erros podem ser cometidos que colocam em risco o paciente. A
alternativa C é incorreta porque o significado de uma fala pode ser adulterado por uma terceira pessoa.
6. A resposta correta é A. A ênfase atual está na promoção da saúde e na prevenção de doenças. Assim sendo, ocorreu
uma ascensão dos cuidados baseados na comunidade em virtude do afastamento de uma perspectiva de cura orientada
à doença em direção a atitudes de promoção da saúde, com ênfase no atendimento primário e no tratamento e manejo
ambulatoriais. Os avanços na tecnologia têm possibilitado melhor monitoramento de pacientes em instituições da
comunidade e a capacidade de realizar procedimentos complicados fora do ambiente de cuidados intensivos.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. Em primeiro lugar, o enfermeiro precisa determinar quem é a figura de autoridade e o(s) responsável(is) primário(s)
pela paciente, bem como o sistema de apoio da família. Determine os valores culturais, religiosos ou espirituais que a
família gostaria que fossem incorporados aos cuidados da paciente e o idioma falado em casa e pela paciente.
Verifique as necessidades alimentares especiais ou o que a família deseja que seja incorporado às práticas de saúde ou
profissionais específicas. Além disso, o enfermeiro precisa avaliar as necessidades de aprendizagem da paciente e da
família dela, tendo em mente o impacto da cultura sobre essas necessidades.
2. Áreas importantes a serem avaliadas incluem o estado gestacional da paciente e a condição fetal, a condição física e
as necessidades clínicas, o ambiente familiar, outros familiares, como os demais filhos, e a avaliação das
necessidades de orientação e aprendizagem da família. O enfermeiro precisa garantir que a paciente possa ser cuidada
em casa. Outras áreas de avaliação incluem o modo como a família está lidando com a necessidade de cuidado da
paciente e de repouso no leito prescrito. Por exemplo, eles parecem sobrecarregados? Há outras crianças na casa que
precisam de assistência e cuidados? Como é a interação familiar e que tipo de apoio e recursos estão disponíveis? É
fundamental avaliar se o ambiente é seguro e afetuoso, e quais recursos necessários estão disponíveis, assim como
quaisquer equipamentos e medicamentos que possam ser necessários. Identifique os cuidadores principais e incluaos
na avaliação e no desenvolvimento do plano de cuidados.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Essa atividade de acompanhamento proporcionará ao estudante a exposição a inúmeros papéis e situações que os
profissionais de enfermagem enfrentam em instituições de saúde específicas.
2. Essa visita seria muito educativa para que o estudante de enfermagem visse o que está acontecendo no mundo real,
quando confrontado com as barreiras culturais no contexto dos cuidados de saúde. A esperança é que os funcionários
de instituições de saúde da comunidade aceitem esses estudantes e compartilhem suas estratégias. Os estudantes
podem utilizar essas estratégias posteriormente em sua prática clínica.
3. Dependendo do site selecionado, as respostas variarão, mas a maioria deles oferece inúmeros recursos para aprender
sobre diferentes culturas e ferramentas comunitárias disponíveis que poderiam ser úteis para enfermeiros que buscam
informações para entender melhor as famílias sob seus cuidados.
ESTUDO DE CASO
1. Qual intervenção primária seria apropriada para evitar a incidência alta de DSTs?
Resposta: A orientação para todos os estudantes dos níveis fundamental e médio, antes que se tornem sexualmente
ativos, é a melhor abordagem de prevenção primária das DSTs. Debates sobre abstinência sexual, gravidez, DSTs
(com fotografias), complicações, dicas para desenvolver autoestima elevada e limitações a longo prazo devem ser
incluídos nos encontros educativos. Se o profissional de enfermagem conseguir fazer com que os estudantes mais
jovens entendam precocemente as consequências negativas, talvez seja possível evitar DSTs.
2. Qual população de estudantes seria abordada para prevenção secundária?
Resposta: A populaçãoalvo de estudantes visados seria os que correm risco alto de desenvolver DST porque são
sexualmente ativos ou vivem em comunidades com problemas estruturais e sociais. A triagem desses estudantes de
alto risco seria apropriada como abordagem de prevenção secundária.
3. Quais recursos externos o enfermeiro escolar precisa contemplar como abordagem de prevenção
terciária? Resposta: As medidas de prevenção terciária consistem em assegurar ajuda médica para tratar doenças já
existentes nos estudantes. O enfermeiro precisaria firmar uma parceria com médicos ginecologistas/obstetras da rede
pública para poder encaminhálos para tratamento.
4. Qual dos três níveis de prevenção é o mais efetivo e menos dispendioso?
Resposta: A prevenção primária tem como objetivo evitar DST por meio de educação, antes que ocorram quaisquer
doenças. A prevenção tem o objetivo de evitar o primeiro episódio de DST; isto é muito melhor que arcar com os
custos de tratar um estudante com sequelas crônicas.
____________
1
N.R.T.: Medicare é um programa de seguridade social dos EUA administrado pelo governo federal desde 1966. Garante acesso à
assistência de saúde a pessoas com 65 anos de idade ou mais, pessoas com doença renal em estágio terminal, pessoas com
esclerose lateral amiotrófica e pessoas com necessidades especiais.
2
N.R.T: HMO são organizações norteamericanas que oferecem cobertura de saúde com prestadores contratados. São diferentes
dos planos de saúde porque a remuneração é menor, mas existe a garantia de um número fixo de encaminhamentos.
3
N.R.T.: No Brasil, existe o grupo Amigas do Peito, que é uma ONG formada em 1980. Ver mais em www.amigasdopeito.org.br.
Adaptado de Community Health Network. (2015). Maternity services. Retirado de http://www.ecommunity.com/ob; La Leche
League. (2015). Breastfeeding resources. Retirado de http://www.llli.org/resources.html; e USDA Food and Nutrition Service.
(2015). WIC fact sheet. Retirado de http://www.fns.usda.gov/wic/factsheets.htm.
4
N.R.T.: Segundo dados do IBGE, em 2010, no Brasil, 9,8 milhões de brasileiros tinham déficit auditivo (5,2% da população
brasileira). Quase 1 milhão são crianças e jovens até 19 anos de idade.
5
N.R.T.: Surgeon General seria o equivalente a ministro da Saúde no Brasil.
Questões múltipla escolha
1. Uma cliente com hipertensão arterial diz à enfermeira que gostaria de usar um agente
fitoterápico para diminuir a pressão arterial, em vez de tomar a medicação antihipertensiva
prescrita. A enfermeira deve:
A. Aconselhar a cliente a conversar com seu médico em relação à substituição de sua
medicação por agentes fitoterápicos
B. Dizer à cliente que se ela usar um agente fitoterápico terá de verificar a pressão arterial
diariamente
C. Dizer à cliente que ela nunca deve usar fitoterápicos, porque eles são perigosos
D. Mostrar à cliente como mensurar a pressão arterial, para que ela possa monitorála
atentamente
Concluir questão
2. A enfermeira está atualizando o prontuário de uma mulher que recentemente deu à luz um
recémnascido saudável pesando 3.200 g. Qual das ações a seguir poderia pôr em risco a
privacidade do prontuário dessa mulher?
A. Fechar os arquivos antes de se afastar do computador
B. Trocar o nome do usuário e a senha mensalmente
C. Deixar que outra enfermeira use o mesmo nome do usuário e senha da enfermeira
D. Imprimir informações confidenciais para a transmissão
Concluir questão
3. A enfermeira está atendendo uma gestante cuja família é composta por imigrantes. Que
intervenção seria prioritária para ajudála a alcançar um desfecho bemsucedido?
A. Perguntar como esses familiares chegaram à consulta
B. Indagar sobre a capacidade da família de comprar medicamentos
D. Comunicarse usando termos compreensíveis
D. Encaminhálos a programas de ajuda estadual e municipal
Concluir questão
4. Uma gestante com enjoos matinais perguntou à enfermeira como poderia reduzilos ou aliviá
los. Depois de receber orientações e informações, qual das seguintes afirmativas indica que a
cliente compreendeu o que lhe foi transmitido?
A. “Só tenho que beber menos chá de gengibre do que eu costumava beber.”
B. “Vou discutir com meu médico se é uma boa ideia que eu use SeaBands® (braceletes de
acupressão).”
C. “Minha mãe me disse que tomou vitaminas para reduzir os enjoos e que elas não fizeram
mal.”
D. “Eu realmente não acho que tem algo de errado em tomar algumas vitaminas.”
Concluir questão
5. Uma gestante de 40 anos diz à enfermeira que gostaria de dar à luz em uma casa de parto,
porque quer que vários amigos e familiares estejam lá e porque terá mais liberdade nesse
local. Qual seria o fator mais importante mencionado pela enfermeira ao discutir essa opção
com a cliente?
A. As casas de parto nem sempre têm pediatras na equipe, caso o recémnascido tenha
necessidades especiais
B. As casas de parto permitem que a cliente coma e se movimente durante o trabalho de
parto
C. As casas de parto permitem que a cliente dê à luz em qualquer posição
D. As casas de parto limitam a quantidade de amigos e familiares que podem assistir ao
nascimento
Concluir questão
6. A enfermeira de um abrigo para mulheres está aconselhando uma cliente vítima de maus
tratos. Que tipo de prevenção o tratamento envolve?
A. Terciária
B. Primária
C. Secundária
D. Baseada na comunidade
Concluir questão
7. Um recémnascido prétermo está para receber alta para casa em oxigenoterapia e
alimentação enteral. Qual declaração dos pais indica que eles precisam de orientações e
preparação adicional para essa transição?
A. “Nossos pais se revezarão à noite para que possamos dormir um pouco.”
B. “Vamos nos certificar de que temos fórmula de alimentação em volume suficiente para
passar o fim de semana.”
C. “Sabemos como verificar se o tubo de alimentação está entupido.”
D. “Nosso plano de saúde pagará por todos os equipamentos que precisaremos para o
tratamento.”
Concluir questão
8. A enfermeira está participando de um programa de prevenção de envenenamento. Essa
atividade é um exemplo de que tipo de intervenção de enfermagem baseada na comunidade?
A. Encaminhamento ao sistema de saúde
B. Rastreamento em saúde
C. Programa de educação em saúde
D. Aconselhamento nutricional
Concluir questão
9. Como parte de um programa de orientação para gestantes e seus parceiros, a enfermeira
descreve as várias modalidades disponíveis para o parto. A enfermeira determina que o
programa foi bemsucedido quando o grupo relaciona qual das seguintes alternativas como
relacionada com o parto domiciliar?
A. “Há procedimentos de rastreamento muito rígidos que têm de ser seguidos.”
B. “O parto domiciliar provavelmente é a modalidade mais cara de parto.”
C. “As mulheres que dão à luz em casa têm controle sobre todos os aspectos do trabalho de
parto.”
D. “Diversos tipos de analgésicos estão prontamente disponíveis para a gestante.”
Concluir questão
10. A enfermeira está atendendo um jovem casal que espera seu primeiro filho, mas cujos
familiares não moram nas redondezas. O apoio de enfermagem pode envolver todos os
seguintes, exceto:
A. Apoio instrumental
B. Apoio familiar
C. Apoio emocional
D. Apoio de apreciação
Concluir questão
11. O foco da enfermeira participante da estratégia de saúde da família está voltado
majoritariamente para:
A. Prevenção de doenças
B. Coleta de informações epidemiológicas
C. Prestação de cuidados de enfermagem nas escolas locais
D. Fornecimento de apoio aos funcionários das clínicas locais
Concluir questão
12. O cuidado de saúde baseado na comunidade impõe desafios únicos à enfermeira. É
importante que ela tenha excelentes habilidades de _____ para lidar com esses desafios.
A. Memória
B. Discernimento cultural
C. Documentação
D. Avaliação
Concluir questão
Ao discutir um problema de saúde com uma cliente, a enfermeira reconhece que a pedra
13.
angular de todos os programas de gerenciamento de doenças é:
A. O tratamento rápido
B. A cooperação da cliente
C. A detecção precoce
D. A orientação da cliente
Concluir questão
14. Um jovem casal se prepara para deixar o hospital e ir para casa após o nascimento de seu
filho. Como enfermeira que prepara seu plano de cuidados, você pode demonstrar que
reconhece as diferenças culturais do casal ao perguntar:
A. “Vocês têm algum tratamento de sua preferência que gostariam de incluir no plano de
cuidados?”
B. “Vocês entendem por que o plano de tratamento deve ser seguido com cuidado?”
C. “Vocês concordam em fazer exatamente o que o médico está pedindo?”
D. “Se vocês tiverem alguma dificuldade, se lembram para quem deverão ligar?”
Concluir questão
15. Um jovem casal deseja usar a aromaterapia durante o trabalho de parto e o parto de seu filho.
A enfermeira percebe que é necessário mais orientação depois que eles declaram o seguinte:
A. “Entendemos que alguns óleos não devem ser usados durante a gestação.”
B. “Pediremos sugestões ao nosso médico.”
C. “Usaremos apenas as substâncias com os melhores odores no momento do parto.”
D. “Faremos nossa própria mistura personalizada.”
Concluir questão
16. Durante uma consulta prénatal, a enfermeira suspeita que a cliente esteja usando medicina
complementar e alternativa sem informar ao médico. A enfermeira deve:
A. Perguntar quais são suas fontes de informação, para garantir que são acuradas
B. Repreender a cliente por prejudicar a si mesma e ao feto
C. Documentar suas suspeitas no prontuário da cliente
D. Incentivar a cliente a informar ao médico
Concluir questão
17. Em um esforço para diminuir os crescentes custos com a saúde, mais cuidados de
enfermagem estão se direcionando para o ambiente domiciliar. A enfermeira de cuidados
domiciliares é responsável por todos os seguintes, exceto:
A. Prestação de cuidados diretos
B. Prescrição dos medicamentos necessários
C. Orientação
D. Defesa da cliente
Concluir questão
18. Um casal está tentando decidir onde quer ter seu bebê: em casa, em uma maternidade ou no
hospital. Qual das afirmações a seguir indica à enfermeira que o casal precisa de mais
informações para decidir?
A. “Ok, nós entendemos que este é um parto de baixo risco.”
B. “Minha mãe me teve em casa, então também consigo ter esse bebê em casa.”
C. “Moramos a apenas 5 km do hospital, de modo que teremos tempo suficiente para chegar
lá se for necessário.”
D. “Entendemos que a situação pode mudar e que precisamos ter um plano B elaborado.”
Concluir questão
19. A família se decidiu pelo parto domiciliar com uma parteira. Qual das afirmações a seguir
indica para a enfermeira de saúde domiciliar que eles consideraram todas as opções?
A. “Nossa parteira trabalha em conjunto com um médico e com o hospital local, no caso de
surgirem quaisquer complicações ou preocupações.”
B. “Moramos tão longe do hospital que não podemos pagar o combustível para chegar até
lá.”
C. “Minhas gestações anteriores foram de baixo risco.”
D. “Não gostamos das regras da maternidade local. Eles são muito rígidos.”
Concluir questão
20. Você é membro de um grupo que faz visitas domiciliares após o parto. Qual das seguintes não
seria necessariamente uma responsabilidade de sua visita?
A. Avaliar o bemestar emocional da família
B. Identificar potenciais complicações
C. Visitar um recémnascido saudável para iniciar a imunização dele
D. Vincular a família aos serviços da comunidade, quando necessário
Concluir questão
21. Há muitas habilidades que uma enfermeira bemsucedida precisa desenvolver para estar
preparada para ajudar sua cliente. Uma habilidade muito importante que envolve a
comunicação é:
A. Estar preparada para responder a todas as perguntas e preocupações
B. A escuta reflexiva
C. Parafrasear comentários
D. A escuta ativa
Concluir questão
22. A enfermeira está avaliando os conhecimentos em saúde da gestante durante uma consulta
prénatal. Qual(is) dos seguintes a enfermeira identificaria como fator(es) que impacta(m) os
conhecimentos em saúde da mulher? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Falta de familiaridade com as informações
B. O fato de a cliente estar ou não empregada
C. Nível de angústia emocional da mulher
D. Complexidade das informações
Concluir questão
23. Existem múltiplas opções de instituições da comunidade em que suas clientes podem
procurar atendimento. Como enfermeira delas, você está ciente de que essas opções podem
incluir: (Selecione todas que se aplicam.)
A. Hospice
B. Hospital
C. Saúde domiciliar
D. Saúde escolar
Concluir questão
24. Você é uma enfermeira que trabalha em uma instituição de saúde domiciliar e seu supervisor
lhe pediu para desenvolver alguns programas de ensino que enfatizem os cuidados de
prevenção secundária. Qual(is) dos seguintes tópicos pode(m) ser incluído(s)? (Selecione
todos que se aplicam.)
A. Exames físicos de rotina
B. Avaliações da pressão arterial
C. Autoexames de mama
D. Esfregaços de Papanicolaou
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Anatomia e Fisiologia do Sistema Genital
3
PALAVRASCHAVE
Colo do útero
Endométrio
Estrogênio
Hormônio foliculoestimulante (FSH)
Hormônio luteinizante (LH)
Mamas
Menarca
Menstruação
Ovários
Ovulação
Pênis
Progesterona
Pudendo feminino (vulva)
Testículos
Tubas uterinas
Útero
Vagina
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Comparar a estrutura e a função dos principais órgãos genitais femininos externos e internos.
2. Descrever as fases do ciclo menstrual, os principais hormônios envolvidos e as mudanças que ocorrem em cada fase.
3. Classificar as estruturas genitais masculinas externas e internas e a função de cada uma na regulação hormonal.
Linda, de 49 anos de idade, começou a menstruar quando tinha 12 anos. Seus ciclos menstruais sempre
foram regulares, mas agora ela está apresentando ciclos irregulares, mais intensos e mais longos. Ela se
pergunta se há algo errado ou se isso é normal.
Reflexões
Todos os profissionais de enfermagem devem cuidar do corpo humano e respeitálo, visto que é uma máquina de precisão
admirável.
INTRODUÇÃO
O sistema genital é um conjunto de órgãos responsáveis pela reprodução. Os cientistas argumentam que o sistema genital
está entre os sistemas mais importantes em todo o corpo. Sem a capacidade de se reproduzir, uma espécie entra em
extinção. O sistema genital feminino produz as células reprodutivas femininas (os oócitos) e contém um órgão (útero) no
qual ocorre o desenvolvimento do feto. O sistema genital masculino produz as células reprodutivas masculinas
(espermatozoides) e contém um órgão (pênis) que deposita os espermatozoides dentro da mulher. Os profissionais de
enfermagem precisam ter um conhecimento profundo da anatomia e da fisiologia dos sistemas genitais masculino e
feminino para serem capazes de avaliar a saúde desses sistemas, promover a saúde do sistema genital, cuidar de condições
que possam afetar os órgãos genitais e fornecer orientações à paciente sobre o sistema genital. Este capítulo analisa os
sistemas genitais feminino e masculino e o ciclo menstrual no que se refere à reprodução.
ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA GENITAL FEMININO
O sistema genital feminino é composto por órgãos genitais internos e externos. É constituído pelos ovários e ovidutos
pareados, pelo útero, pela vagina, pela genitália externa e pelas glândulas mamárias. Todas essas estruturas evoluíram para
as importantes funções da ovulação, fertilização de um oócito por um espermatozoide, suporte do embrião e do feto em
desenvolvimento e nascimento e cuidado de um recémnascido.
Órgãos genitais femininos externos
Os órgãos genitais femininos externos são coletivamente chamados de vulva ou pudendo feminino (segundo a
Terminologia Anatômica). A vulva protege os óstios uretral e vaginal e é muito sensível ao toque, para aumentar o prazer
da mulher durante a excitação sexual (Patton & Thibodeau, 2016). As estruturas que compõem o pudendo feminino
(vulva) incluem o púbis, os lábios maior e menor do pudendo, o clitóris e o prepúcio, as estruturas no vestíbulo e o
períneo (Figura 3.1).
Monte do púbis
O monte do púbis é a proeminência carnuda arredondada e elevada, formada por tecido adiposo, que se situa sobre a
sínfise púbica. A pele desse tecido adiposo é coberta por pelos púbicos grossos e crespos após a puberdade. O monte do
púbis protege a sínfise púbica durante a relação sexual.
Lábios do pudendo
Os grandes lábios (ou lábios maiores do pudendo, segundo a Terminologia Anatômica), que são relativamente grandes e
carnudos, são comparáveis ao escroto no sexo masculino. Contêm glândulas sudoríparas (denominadas glândulas
sudoríferas na Terminologia Anatômica) e sebáceas (secretoras de óleo); após a puberdade, são cobertos de pelos. Sua
função é proteger a abertura vaginal e fornecer amortecimento durante a atividade sexual. Os pequenos lábios (ou lábios
menores do pudendo, segundo a Terminologia Anatômica) consistem em uma delicada prega interna de pele, sem pelos;
podem ser muito pequenos ou ter até 5 cm de largura. Encontramse imediatamente no interior dos lábios maiores do
pudendo e circundam as aberturas da vagina e da uretra. Os lábios menores do pudendo crescem para baixo a partir da
parte anterointerna do lábio maior de cada lado. Esses lábios envolvem a abertura vaginal e se estendem para cima para
formar proteção em torno do clitóris e da uretra. São muito vascularizados e inervados. Lubrificam o pudendo feminino,
ficam tumefeitos em resposta à estimulação e são muito sensíveis.
FIGURA 3.1 A. Órgãos genitais femininos externos. B. Aspecto normal das estruturas externas. (Foto de B. Proud.)
Clitóris e prepúcio do clitóris
O clitóris é uma pequena massa cilíndrica de tecido erétil e nervos. É extremamente sensível e é análogo à cabeça do
pênis. Entretanto, diferentemente do pênis, a função do clitóris é puramente erógena. A maioria dos componentes do
clitóris situase sob a pele e o tecido conjuntivo da vulva. Está localizado na junção anterior dos pequenos lábios ou lábios
menores do pudendo. Acima e abaixo dele existem pregas. A união das pregas acima do clitóris forma o prepúcio do
clitóris, uma estrutura semelhante a um capuz que recobre todo o clitóris; a junção abaixo do clitóris forma o frênulo do
clitóris.
Anote!
O prepúcio do clitóris é o local da mutilação genital ou circuncisão feminina, um ritual cultural ainda praticado em alguns
países, incluindo os EUA. É reconhecido internacionalmente como uma violação dos direitos humanos contra as mulheres.
Irrigação sanguínea abundante confere ao clitóris uma cor rosada. Como o pênis, o clitóris é muito sensível ao toque, à
estimulação e à temperatura e pode tornarse ereto. Em relação ao seu pequeno tamanho, de 9 a 11 cm, apresenta irrigação
sanguínea e inervação significativas. Há mais terminações nervosas livres sensitivas no clitóris do que em qualquer outra
parte do corpo, que é, obviamente, a parte mais eroticamente sensível da genitália para a maior parte das mulheres. Sua
função é proporcionar a estimulação sexual (Pauls, 2015).
Anote!
O termo clitóris vem da palavra grega “chave”. Em tempos antigos, acreditavase que o clitóris fosse a chave para a
sexualidade da mulher.
Vestíbulo da vagina
O vestíbulo da vagina é uma área oval cercada pelos pequenos lábios ou lábios menores do pudendo lateralmente. Está
localizado internamente aos pequenos lábios e externamente ao hímen e é perfurado por seis aberturas. Abremse no
vestíbulo a uretra a partir da bexiga, a vagina e dois conjuntos de glândulas. A abertura para a vagina é chamada de introito
e a área em forma de meialua atrás da abertura é chamada de fúrcula. Por meio de pequenos canais ao lado do introito, a
glândula vestibular maior, quando estimulada, secreta muco, que fornece lubrificação para o ato sexual. As glândulas
vestibulares maiores estão localizadas em cada lado da abertura da uretra. Elas secretam um pouco de muco para manter a
abertura úmida e lubrificada para a eliminação da urina (Velkey et al., 2015).
O óstio da vagina é cercado pelo hímen. O hímen é um tecido elástico resistente e perfurado, recoberto pela mucosa
que reveste todo o introito vaginal. Em uma mulher virgem, o hímen pode cobrir totalmente a abertura, mas habitualmente
envolve o óstio como um anel resistente. Como o grau de tensão varia entre as mulheres, o hímen pode romperse na
primeira tentativa de relação sexual, ou pode ser tão macio e maleável que não ocorre laceração. Em uma mulher que não
seja virgem, o hímen geralmente aparece como pequenos fragmentos de tecido ao redor da abertura vaginal, mas a
existência ou não do hímen não descarta nem confirma experiência sexual (Acien & Acien, 2015).
Anote!
Esforços físicos intensos, uso de absorventes internos ou lesões nessa área podem modificar o aspecto do hímen em
meninas e mulheres que nunca tiveram uma relação sexual.
Períneo
O períneo é a parte mais posterior dos órgãos genitais femininos externos. Essa região externa está localizada entre a
vulva e o ânus. O períneo é composto por pele, músculo e fáscia. O períneo pode ser lacerado ou incisado durante o parto
e pode precisar ser reparado com suturas. A incisão da área perineal para fornecer mais espaço para a parte que se
apresenta é chamada de episiotomia. Embora ainda seja um procedimento obstétrico comum, o uso da episiotomia tem
diminuído nos últimos 25 anos. O procedimento deve ser utilizado seletivamente, em vez de rotineiramente. A episiotomia
pode causar desconforto, traumatismo perineal pósparto e incontinência fecal (King et al., 2015).
Órgãos genitais femininos internos
Os órgãos genitais femininos internos são a vagina, o útero, as tubas uterinas (trompas de Falópio) e os ovários (Figura
3.2). Essas estruturas se desenvolvem e atuam de acordo com as influências hormonais específicas que afetam a
fertilidade e a gravidez.
Vagina
A vagina é um canal muito distensível e está situada em frente ao reto e por trás da bexiga. É um órgão fibromuscular
tubular, revestido por mucosa que se encontra em uma série de pregas transversais chamadas rugas vaginais. As rugas
vaginais possibilitam a extrema dilatação do canal durante o trabalho de parto e o parto. A vagina é o canal que liga os
órgãos genitais externos (vulva) ao colo do útero. Recebe o pênis e os espermatozoides ejaculados durante a relação sexual
e serve como passagem de saída para o sangue menstrual e para o feto durante o parto. As paredes anterior e posterior
normalmente se tocam, de modo que não há espaço na vagina, exceto quando aberta (p. ex., durante um exame pélvico ou
na relação sexual). Na mulher adulta, a cavidade vaginal tem 7 a 10 cm de comprimento. Os músculos que controlam o seu
diâmetro circundam o terço inferior da vagina. Os dois terços superiores da vagina encontramse acima desses músculos e
podem ser facilmente esticados. Durante os anos férteis da mulher, o revestimento da mucosa da vagina tem aspecto
corrugado e é resistente à colonização bacteriana. Antes da puberdade e após a menopausa (quando a mulher não está
tomando estrogênio), a mucosa é lisa em decorrência dos níveis mais baixos de estrogênio (Farage, Miller, & Maibach,
2015).
FIGURA 3.2 Órgãos genitais femininos internos. A. Vista lateral. B. Vista anterior. (Fonte: Anatomical Chart
Company. [2001]. Atlas of human anatomy. Springhouse, PA: Springhouse.)
A vagina tem um ambiente ácido, que constitui uma proteção contra infecções ascendentes. A antibioticoterapia, o uso
de duchas, os sprays de higiene do períneo e os desodorantes vaginais comprometem o equilíbrio ácido no ambiente
vaginal e podem predispor a infecções.
Útero
O útero é um órgão muscular piriforme invertido localizado na parte superior da vagina. Encontrase atrás da bexiga e na
frente do reto. Está ancorado em sua posição por oito ligamentos, embora não esteja firmemente preso ou aderido a
qualquer parte do esqueleto. A bexiga cheia inclina o útero para trás; o reto dilatado o inclina para a frente. A posição do
útero é modificada pela ação da gravidade ou por mudança de postura. O útero tem o tamanho e o formato de uma pera
invertida. É o local onde ocorre a menstruação, o recebimento de um oócito fertilizado, o desenvolvimento do feto durante
a gestação e a contração para ajudar na expulsão do feto e da placenta. Antes da primeira gravidez, tem aproximadamente 3
cm de comprimento, 2 cm de largura e 1 cm de espessura. Depois de uma gestação, o útero permanece maior do que antes
da gravidez. Após a menopausa, tornase menor e atrofia.
A parede do útero é relativamente espessa e composta por três camadas: endométrio (camada mais interna),
miométrio (camada muscular do meio) e perimétrio (camada serosa exterior que recobre o corpo do útero). O endométrio é
a camada mucosa que reveste a cavidade uterina em mulheres não grávidas. Sua espessura varia de 0,5 a 5 mm e conta
com um suprimento abundante de glândulas e vasos sanguíneos (Tambouret & Wilbur, 2015). O miométrio compõe a
maior porção do útero e é composto de músculo liso ligado por tecido conjuntivo a diversas fibras elásticas. Durante a
gestação, o miométrio superior sofre hipertrofia acentuada, mas há poucas mudanças no conteúdo muscular do colo do
útero.
As subdivisões anatômicas do útero incluem a porção convexa acima das tubas uterinas (o fundo do útero); a porção
central (o corpo do útero) entre o fundo e o colo do útero; e o colo do útero, o qual se abre para a vagina.
COLO DO ÚTERO
O colo do útero, a parte inferior do útero, abrese para a vagina e tem um canal que possibilita a penetração dos
espermatozoides no útero e a saída da secreção menstrual. É composto por tecido conjuntivo fibroso. Durante o exame
pélvico, a parte do colo do útero que se projeta para a extremidade superior da vagina pode ser visualizada. Tal como a
vagina, essa parte do colo do útero é recoberta por mucosa, que é lisa, firme e em forma de anel, com uma abertura central
visível chamada de óstio do útero (Figura 3.3). Antes do parto, o óstio do útero é uma pequena abertura regular oval. Após
o parto, a abertura é convertida em uma fenda transversal que se assemelha a lábios (Figura 3.4). Exceto durante a
menstruação ou a ovulação, o colo do útero geralmente funciona como uma boa barreira contra bactérias. O colo do útero
tem um meio alcalino que protege o espermatozoide do ambiente ácido da vagina.
FIGURA 3.3 Aspecto do colo do útero normal. Observação: este é o colo do útero de uma mulher multípara. (Foto de
B. Proud.)
FIGURA 3.4 A. Óstio do colo do útero de uma mulher nulípara. B. Óstio do colo do útero de uma mulher multípara.
O canal do colo do útero é revestido por glândulas secretoras de muco. Esse muco é espesso e impenetrável para os
espermatozoides até imediatamente antes de os ovários liberarem um oócito (ovulação ou oocitação). Na ovulação, a
consistência do muco muda para que os espermatozoides consigam nadar através dele, possibilitando a fertilização. Ao
mesmo tempo, as glândulas secretoras de muco do colo do útero se tornam capazes de armazenar os espermatozoides
vivos durante 2 ou 3 dias. Esses espermatozoides podem posteriormente se movimentar ao longo do corpo até as tubas
uterinas para fertilizar o oócito; assim, a relação sexual 1 ou 2 dias antes da ovulação pode levar à gravidez. Como
algumas mulheres não ovulam de modo consistente, a gravidez pode ocorrer em momentos diferentes após o último ciclo
menstrual. Durante a gravidez, o colo do útero é a barreira mecânica vital que resiste às cargas compressivas e de tração
geradas pelo crescimento fetal. O canal do colo do útero é muito estreito para o feto passar durante a gravidez, mas
durante o parto ele se dilata para possibilitar a passagem do neonato.
CORPO DO ÚTERO
O corpo do útero é uma estrutura com muitos músculos, que se alarga para sustentar o feto durante a gravidez. O
revestimento interno do corpo do útero (endométrio) sofre alterações cíclicas em decorrência da alteração dos níveis de
hormônios secretados pelos ovários: é mais espesso durante a parte do ciclo menstrual em que se esperaria que um oócito
fertilizado entrasse no útero e é mais estreito logo após a menstruação. Se não ocorrer fertilização durante esse ciclo, a
maior parte do endométrio descama e ocorre hemorragia, resultando no período menstrual. Se houver fertilização, o
embrião se prende à parede do útero, embutindose no endométrio (cerca de 1 semana após a fertilização). Esse processo é
chamado de implantação (Patton & Thibodeau, 2015). A menstruação, então, cessa durante as 40 semanas (280 dias) de
gestação. Durante o trabalho de parto, as paredes musculares do corpo do útero se contraem para empurrar o feto ao longo
do colo do útero e da vagina.
Tubas uterinas
As tubas uterinas, também conhecidas como ovidutos, são estruturas cilíndricas ocas que se estendem por 5 a 7 cm a
partir das bordas superiores do útero em direção aos ovários. Cada tuba uterina tem cerca de 7 a 10 cm e aproximadamente
0,7 cm de diâmetro. A extremidade de cada um dos alargamentos das tubas tem a forma de funil, proporcionando uma
grande abertura para o ovo cair quando é liberado do ovário. Fímbrias (extensões oscilantes semelhantes aos cílios de
células) revestem a tuba uterina e os músculos da parede da tuba. As tubas uterinas conduzem o oócito do ovário até o
útero e os espermatozoides do útero ao ovário. Esse movimento é realizado por meio da ação das fímbrias e da contração
peristáltica. Se houver espermatozoides na tuba uterina em decorrência de relações sexuais ou inseminação artificial, a
fertilização do oócito poderá ocorrer na porção distal da tuba. Se o oócito for fertilizado, vai se dividir ao longo de um
período de 4 dias, enquanto se move lentamente pela tuba uterina até o útero, onde implantase no revestimento do útero.
Ovários
Os ovários são um par de glândulas semelhantes a amêndoas com casca e são os órgãos da produção de gametas na
mulher. Ficam localizados na cavidade pélvica abaixo e de cada lado do umbigo. Geralmente são oblongos, de cor pérola e
têm uma superfície irregular. São homólogos aos testículos. Cada ovário pesa 2 a 5 g e mede cerca de 4 cm de
comprimento, 2 cm de largura e 1 cm de espessura (Jones & Lopez, 2014). Os ovários não estão ligados às tubas uterinas,
mas estão suspensos nas proximidades por vários ligamentos, que ajudam a mantêlos na posição. O desenvolvimento e a
liberação do oócito e a secreção dos hormônios estrogênio e progesterona são as duas funções primárias do ovário. Os
ovários conectam o sistema genital ao sistema de glândulas endócrinas do corpo, já que produzem os oócitos e secretam,
de modo cíclico, os hormônios sexuais femininos estrogênio e progesterona. Depois que um oócito se matura, ele passa
para as tubas uterinas.
Mamas
As duas glândulas mamárias, ou mamas, são órgãos acessórios do sistema genital feminino, especializadas em secretar
leite após a gestação. Elas estão localizadas sobre os músculos peitorais maiores e estendemse da 2a à 6a costela e do
esterno à axila. Cada mama tem um mamilo localizado perto de sua extremidade, o qual é rodeado por uma área circular de
pele pigmentada denominada aréola. Cada mama é composta por aproximadamente nove lobos (o número pode variar de 4
a 18), que contêm glândulas (alveolares) e um ducto (lactífero) que leva ao mamilo e se abre para o exterior (Figura 3.5).
Os lóbulos são separados por tecidos conjuntivos denso e adiposo, o que também ajuda a suportar o peso das mamas
(Kandeel, 2014).
Durante a gestação, o estrogênio e a progesterona placentários estimulam o desenvolvimento das glândulas mamárias.
Graças a essa atividade hormonal, as mamas podem duplicar de tamanho durante a gravidez. Ao mesmo tempo, o tecido
glandular substitui o tecido adiposo das mamas.
Após o parto e a expulsão da placenta, os níveis de hormônios placentários (progesterona e lactogênio placentário)
caem rapidamente, e a ação da prolactina (hormônio produtor de leite) não é mais inibida. A prolactina estimula a
produção de leite alguns dias após o parto; nesse ínterim, é secretado um líquido amareloescuro chamado colostro. O
colostro contém mais minerais e proteínas, mas menos açúcar e gordura, do que o leite materno maduro. A secreção de
colostro pode continuar por cerca de 1 semana após o parto, com conversão gradual ao leite maduro. O colostro é rico em
anticorpos maternos, especialmente a imunoglobulina A (IgA), que oferece proteção ao recémnascido contra patógenos
entéricos.
Resposta sexual feminina
A resposta sexual em homens e mulheres é governada principalmente pelo sistema nervoso em vez de pelos hormônios. A
resposta sexual começa em um estado de neutralidade sexual e o desejo sexual da pessoa é mais uma resposta recíproca do
que uma resposta espontânea (Housman & Odum 2016). O ciclo sexual geralmente tem cinco fases: desejo, excitação,
platô, orgasmo e resolução:
FIGURA 3.5 Anatomia das mamas. (Foto de B. Proud.)
1. Desejo: começa com um desejo de intimidade sexual, também conhecido como libido.
2. Excitação: tanto homens como mulheres têm uma consciência sexual intensificada. Quando uma mulher é
sexualmente excitada, seu encéfalo coordena um ciclo de resposta sexual padronizada que consiste no aumento da
frequência cardíaca, da frequência respiratória, da pressão arterial e do nível geral de excitação (Sherwood, 2016).
Com a estimulação sexual, os tecidos do clitóris e das mamas e em torno do óstio da vagina se enchem de sangue e
os tecidos eréteis incham. Ao mesmo tempo, a vagina começa a se expandir e se alongar para acomodar o pênis.
Como parte de toda a reação vasocongestiva, os lábios maior e menor do pudendo ficam tumefeitos e escurecem.
Conforme a estimulação sexual se intensifica, as glândulas vestibulares secretam muco para umedecer e lubrificar os
tecidos para facilitar a introdução do pênis. Os hormônios também desempenham um papel fundamental na resposta
sexual feminina. Níveis adequados de estrogênio e testosterona têm de existir para que o encéfalo detecte o aporte de
estímulos excitatórios. Pesquisas indicam que o estrogênio preserva a função vascular dos órgãos genitais femininos
e influencia a sensibilidade genital. Acreditase também que promovam o fluxo sanguíneo para essas áreas durante a
estimulação. A testosterona é necessária para estimular o desejo sexual nas mulheres. Achados de pesquisas recentes
também sugerem que a terapia com testosterona melhora o desejo sexual, a excitação, a frequência do orgasmo e a
satisfação nas mulheres (Davis, 2013).
3. Platô: ocorre aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial, do nível de tensão muscular e da frequência
respiratória. Durante essa fase, a ereção peniana se intensifica e a vagina se contrai ao redor do pênis. A estimulação
contínua do clitóris e do pênis com o movimento leva à próxima fase da resposta sexual – o orgasmo.
4. Orgasmo: as mulheres sentem contrações rítmicas dos músculos pélvicos e das paredes vaginais. Nos homens, a
ejaculação ocorre durante o orgasmo. Tanto o homem quanto a mulher experimentam um pico de prazer sexual no
orgasmo. Tipicamente, a mulher se sente quente e relaxada após um orgasmo. Pouco tempo após o orgasmo, os dois
mecanismos fisiológicos que provocaram a resposta sexual – a vasocongestão e a contração muscular – se dissipam
rapidamente. O orgasmo varia de pessoa para pessoa e de tempos em tempos na mesma pessoa. O orgasmo é uma
intensa sensação de prazer alcançada pela estimulação de zonas erógenas. As mulheres não têm um período refratário
após cada orgasmo e podem, portanto, experimentar orgasmos múltiplos. A resposta sexual do clitóris e o orgasmo
feminino não são afetados pelo envelhecimento (Minkin, 2016). Alguns orgasmos são intensos, alguns são tranquilos
e outros são suaves (Wheatley & Puts, 2015). Após a conclusão da relação sexual, o encéfalo e o corpo retornam a
um estado não estimulado, denominado resolução sexual. Durante esta fase, ocorre a diminuição da frequência
cardíaca, da pressão arterial e da respiração; os músculos relaxam. Com frequência, tanto o homem quanto a mulher
ficam fadigados.
CICLO REPRODUTIVO FEMININO
O ciclo reprodutivo feminino é um processo complexo que envolve uma série intrincada de secreções e reações químicas
para produzir o potencial de fertilidade e nascimento. O ciclo reprodutivo feminino é um termo geral que inclui o ciclo
ovariano, o ciclo endometrial (uterino), as alterações hormonais que os regulam e as alterações cíclicas nas mamas. O
endométrio, os ovários, a hipófise e o hipotálamo estão envolvidos nas alterações cíclicas que ajudam a preparar o corpo
para a fertilização. A ausência de fertilização resulta em menstruação, a descamação mensal do revestimento uterino.
A menstruação (descamação do endométrio) marca o início e o fim do ciclo menstrual. A menopausa é a cessação natural
dos ciclos menstruais.
O ciclo menstrual resulta de um eixo hipotalâmicohipofisárioovariano funcional e de uma sequência precisa de
hormônios que levam à ovulação. O ciclo ovariano, durante o qual ocorre a ovulação, e o ciclo endometrial, durante o qual
ocorre a menstruação, são divididos pela ovulação. A ovulação ocorre quando o oócito é liberado do seu folículo; depois
de sair do ovário, o oócito entra na tuba uterina e vai em direção ao útero. Se um espermatozoide fertilizar o oócito durante
a sua jornada, a gravidez ocorrerá (Figura 3.6).
Ciclo ovariano
O ciclo ovariano é uma série de eventos associados ao desenvolvimento de um oócito nos ovários. Enquanto os homens
fabricam espermatozoides diariamente, muitas vezes até uma idade avançada, as mulheres nascem com um número
predeterminado de oócitos que são liberados dos ovários gradualmente ao longo dos anos férteis. No ovário feminino
existem 1 milhão de oócitos ao nascimento, e cerca de 200 a 400 mil folículos ainda existem por ocasião da puberdade.
Tipicamente, uma mulher libera um oócito por mês ao longo de uma vida fértil de aproximadamente 40 anos. Isso
representa a perda de 400 a 500 folículos. Aos 35 anos, ela terá menos de 100.000 folículos e, na menopausa, sua reserva
de folículos estará quase esgotada (Jones & Lopez, 2014). O ciclo ovariano começa quando as células foliculares (o oócito
e as células circundantes) dilatam e iniciase o processo de maturação. O folículo em maturação dessa fase é chamado de
folículo ovárico vesicular. O ovário seleciona muitos folículos a cada mês, mas habitualmente apenas um deles amadurece
para alcançar a ovulação. O ciclo ovariano consiste em três fases: a fase folicular, a ovulação e a fase lútea.
FIGURA 3.6 Resumo do ciclo menstrual tendo como base um ciclo menstrual de 28 dias (médio).
Fase folicular
Esta fase é assim chamada porque é quando os folículos do ovário crescem e formam um oócito maduro. O objetivo desta
fase é produzir um oócito para fertilização. Começa no primeiro dia do ciclo menstrual e continua até a ovulação,
aproximadamente 10 a 14 dias mais tarde. A fase folicular não tem duração consistente por causa das variações no tempo
de desenvolvimento folicular. Essas variações são responsáveis pelas diferenças na duração do ciclo menstrual (Sherwood,
2016). O hipotálamo é o iniciador dessa fase. O aumento dos níveis de estrogênio secretado pelas células foliculares em
maturação e o crescimento contínuo das células do folículo dominante induzem à proliferação do endométrio e do
miométrio. Esse espessamento da mucosa uterina suporta o oócito implantado em caso de gravidez.
Incitada pelo hipotálamo, a hipófise libera hormônio foliculoestimulante (FSH), que estimula o ovário a produzir 5 a
20 folículos imaturos. Cada folículo abriga um oócito imaturo. O folículo que é direcionado para amadurecer totalmente se
romperá em breve e expulsará um oócito maduro no processo de ovulação. Uma salva nos níveis de hormônio
luteinizante (LH) liberado pela adenohipófise é, na verdade, responsável por afetar o desenvolvimento final e a
subsequente ruptura do folículo maduro.
Ovulação
Na ovulação, um folículo maduro se rompe em resposta à salva de LH, liberando um oócito maduro. Nenhum
evento isolado causa ovulação. Habitualmente, isso ocorre no 14o dia de um ciclo de 28 dias. Quando ocorre a ovulação,
há queda nos níveis de estrogênio. Tipicamente, a ovulação ocorre cerca de 10 a 12 h após a salva de LH e 24 a 36 h após
os níveis de estrogênio atingirem seu máximo (King et al., 2015). As extremidades distais das tubas uterinas se tornam
ativas próximo do período da ovulação e criam correntes que ajudam a transportar o oócito para o útero. O tempo de vida
do oócito maduro é de cerca de apenas 24 h; a menos que encontre um espermatozoide em sua jornada nesse período, ele
vai morrer.
Durante a ovulação, o colo do útero produz um muco claro, elástico e escorregadio, que é projetado para capturar os
espermatozoides, nutrilos e ajudálos a atravessar o colo do útero e chegar até o oócito para a fertilização. As
manifestações da ovulação também incluem sangramento vaginal intermenstrual, aumento da secreção vaginal, que dá à
mulher uma “sensação de umidade”, aumento da libido e da vontade de ter relações sexuais, discreto aumento da
temperatura corporal basal e cólicas no baixo ventre.
A única constante, independentemente de o ciclo da mulher ter 28 ou 120 dias, é que a ovulação ocorre 14 dias antes
da menstruação (Housman & Odum, 2016).
Anote!
Cerca de uma em cada cinco mulheres pode sentir dor em um dos lados do abdome na época da liberação do oócito. Esta
dor no meio do ciclo menstrual é denominada mittelschmerz.
Fase lútea
A fase lútea começa com a ovulação e dura até a fase menstrual do ciclo seguinte. Tipicamente, ocorre entre o 15o e o
28o dias de um ciclo de 28 dias. Depois que o folículo se rompe e o oócito é liberado, ele se fecha e forma um corpo lúteo.
O corpo lúteo secreta concentrações crescentes do hormônio progesterona, que interage com o endométrio para preparar
para a implantação. No início da fase lútea, a progesterona induz as glândulas endometriais a secretar glicogênio, muco e
outras substâncias. Essas glândulas se tornam tortuosas e têm grandes lumens, em decorrência do aumento da atividade
secretora. A progesterona secretada pelo corpo lúteo faz com que a temperatura do corpo suba discretamente até o início
do período seguinte. Aumento discreto na temperatura costuma ocorrer 1 a 2 dias após a ovulação; a temperatura
permanece elevada até 3 dias antes do início da menstruação seguinte (Housman & Odum, 2016). Esse aumento na
temperatura pode ser plotado em um gráfico e dá uma indicação de quando ocorreu a ovulação. Se não houver fertilização,
o corpo lúteo começará a degenerar e, consequentemente, os níveis de hormônios ovarianos diminuirão. Conforme os
níveis de estrogênio e progesterona diminuem, o endométrio involui. Em um ciclo de 28 dias, a menstruação começa
aproximadamente 14 dias após a ovulação se não ocorrer gravidez. O FSH e o LH geralmente estão em seus níveis mais
baixos durante a fase lútea e mais altos durante a fase folicular.
Ciclo endometrial (uterino)
O ciclo endometrial ocorre em resposta às mudanças hormonais cíclicas. As quatro fases do ciclo endometrial são
proliferativa, secretora, isquêmica e menstrual.
Fase proliferativa
A fase proliferativa do ciclo endometrial corresponde à fase folicular do ciclo ovariano. Começa com o aumento das
glândulas endometriais em resposta aos níveis crescentes de estrogênio. Os vasos sanguíneos dilatam e a espessura do
endométrio aumenta drasticamente de 0,5 para 5 mm de altura, aumentando em oito vezes a espessura em preparação para
a implantação do oócito fertilizado (Oyelowo & Johnson, 2016). O muco cervical se torna fino, transparente e elástico e
mais alcalino, apresentandose mais favorável para o espermatozoide a fim de aumentar a oportunidade de fertilização. A
fase proliferativa começa em torno do quinto dia do ciclo menstrual e dura o tempo da ovulação. Essa fase depende da
estimulação do estrogênio resultante dos folículos ovarianos e coincide com a fase folicular do ciclo ovariano.
Fase secretora
A fase secretora começa na ovulação, cerca de 3 dias antes da menstruação seguinte. Sob a influência da progesterona
liberada pelo corpo lúteo após a ovulação, o endométrio tornase mais espesso e mais vascularizado (crescimento das
artérias espirais) e glandular (secreção de mais glicogênio e lipídios). Essas drásticas mudanças ocorrem em preparação
para a implantação, se ela vier a ocorrer. Essa fase dura tipicamente do 15o dia (após a ovulação) até o 28o dia e coincide
com a fase lútea do ciclo ovariano. Se não ocorrer fertilização até o 23o dia do ciclo menstrual, o corpo lúteo começará a
degenerar e, consequentemente, os níveis de hormônios ovarianos diminuirão. Conforme os níveis de estrogênio e
progesterona diminuem, o endométrio involui.
Domínio de conceito
Fase proliferativa versus fase secretora do ciclo uterino
Durante a fase proliferativa, os folículos ovarianos produzem mais estrogênio, e o endométrio se
prepara para uma possível fertilização com crescimento acentuado. A fase secretora começa no
momento da ovulação. Se não ocorrer fertilização do oócito, o corpo lúteo começará a degenerar
e, consequentemente, os níveis de hormônios ovarianos diminuirão, resultando, por fim, em
menstruação.
Fase isquêmica
Se não ocorrer fertilização, começará a fase isquêmica. Os níveis de estrogênio e progesterona caem bruscamente durante
essa fase, conforme o corpo lúteo começa a degenerar. Ocorrem alterações no endométrio, com espasmos das arteríolas,
resultando em isquemia da camada basal. A isquemia leva à descamação do endométrio até a camada basal, e começa o
fluxo menstrual.
Fase menstrual
A fase menstrual começa com a ruptura das artérias espiraladas secundariamente a isquemia, liberando sangue para o
útero, e começa a descamação do revestimento endometrial. Se a fecundação não ocorrer, o corpo lúteo degenerará. Como
resultado, os níveis de estrogênio e de progesterona caem e o revestimento endometrial espessado descama da parede
uterina e desce pela vagina. O início do fluxo menstrual marca o fim de um ciclo menstrual e o início de um novo. A
maioria das mulheres relata que o sangramento menstrual ocorre por média de 3 a 7 dias. O volume de fluxo menstrual
varia, mas o volume médio é de 30 mℓ, variando de 20 a 75 mℓ por ciclo (Thornhill & Gangestad, 2015).
Menstruação
Menstruação é um termo derivado da palavra latina mensis, que significa “mês”. Tratase de processo fisiológico normal e
previsível mediante o qual o revestimento interno do útero (endométrio) é expelido do corpo. Tipicamente, isso ocorre
uma vez ao mês. A menstruação tem muitos efeitos sobre as meninas e mulheres, incluindo questões emocionais e de
autoimagem. Nos EUA, a idade média da menarca (primeira menstruação) é de 12,8 anos, com variação entre 8 e 18
anos. A genética é o fator mais importante na determinação da idade em que a menstruação começa, mas a localização
geográfica, a alimentação, o peso, o estado geral de saúde, a nutrição, as práticas culturais e sociais, a escolaridade da
menina, a atitude, o ambiente familiar e as crenças são igualmente importantes (Krieger et al., 2015).
Os eventos puberais que antecedem a primeira menstruação têm uma progressão ordenada: telarca, o
desenvolvimento de brotos mamários; adrenarca, o aparecimento dos pelos pubianos e axilares, seguido por estirão de
crescimento; e menarca (que ocorre cerca de 2 anos após o início do desenvolvimento das mamas). Nas meninas púberes
saudáveis, o período menstrual varia em intensidade do fluxo e pode ser de ocorrência irregular até 2 anos após a menarca.
Após esse período, devese estabelecer um ciclo menstrual regular. A maioria das mulheres terá 300 a 400 ciclos
menstruais ao longo de sua vida (King et al., 2015). Os ciclos menstruais regulares normais variam em frequência e perda
de sangue (Kandeel, 2014). Menstruações irregulares podem estar associadas a ovulação irregular, síndrome dos ovários
policísticos, condições climáticas, estresse, doenças e desequilíbrios hormonais (Senie, 2014).
Lembrese de Linda, apresentada no início do capítulo. Que perguntas precisam ser feitas para avaliar sua
condição? Que exames laboratoriais podem ser antecipados para confirmar seu fluxo mais intenso?
Embora a menstruação seja um processo normal, várias culturas ao redor do mundo a encaram de maneiras muito
diferentes, considerandoa desde um momento sagrado a um período “impuro”. A cultura popular em torno de assuntos
relacionados com a menstruação tem implicações consideráveis para a expressão dos sintomas e da atitude de procurar
tratamento. Descobertas recentes implicam a necessidade de orientação para ajudar as adolescentes a controlarem os sinais
e sintomas menstruais e aumentarem a conscientização dos benefícios de tratálos. Como as informações relacionadas com
a menstruação vêm das mães, da família e da cultura social, mulheres jovens impressionáveis podem formar atitudes
negativas em relação a seus ciclos mensais. O enfermeiro, por meio da orientação formal, pode ajudar na elaboração de
boas atitudes menstruais em jovens e na construção de uma imagem mais positiva desse processo fisiológico natural
(Clark & Paraska, 2014).
Anote!
Os conhecimentos acerca da menstruação aumentaram significativamente e as atitudes mudaram. O que antes era
discutido apenas de portas fechadas hoje é discutido abertamente.
Considere isto
Estávamos casados há 2 anos quando meu marido e eu decidimos começar uma família. Comecei a
lembrar das minhas aulas de biologia do ensino médio e tentei me lembrar da ovulação e de seus sinais.
Também usei a internet para encontrar as respostas que estava procurando. Conforme eu estava lendo,
tudo começou a acontecer. Durante a ovulação, o muco cervical da mulher aumenta e ela tem a sensação
de estar molhada por vários dias no meio do ciclo. O muco também se torna distensível durante esse
período. Além disso, a temperatura do corpo aumenta discretamente e depois cai se não ocorrer
concepção. Munida desses conhecimentos, comecei a verificar a minha temperatura diariamente antes de
me levantar e comecei a monitorar a consistência do meu muco cervical. Percebi que o monitoramento
desses dois sinais da ovulação poderia me ajudar a descobrir o melhor momento para engravidar. Após 6
meses de tentativas sem resultados, eu me perguntava o que estava fazendo de errado. Será que eu
realmente compreendi a atividade reprodutiva do meu corpo?
Reflexões: Que sugestões adicionais o enfermeiro poderia oferecer a essa mulher em sua jornada para
a concepção? Que recursos da comunidade podem estar disponíveis para ajudar esse casal? Como o
conhecimento do sistema genital pode ajudar o enfermeiro a cuidar de casais que estão tentando
engravidar?
Hormônios do ciclo menstrual
O ciclo menstrual envolve uma complexa interação de hormônios. Os hormônios predominantes incluem hormônio
liberador de gonadotrofinas, FSH, LH, estrogênio, progesterona e prostaglandinas. O Boxe 3.1 resume os hormônios do
ciclo menstrual.
Hormônio liberador de gonadotrofina
O hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) é secretado pelo hipotálamo de maneira pulsátil ao longo do ciclo
reprodutivo. Pulsa lentamente durante a fase folicular e aumenta durante a fase lútea. O GnRH induz à liberação de FSH e
LH para ajudar na ovulação.
Hormônio foliculoestimulante
O FSH é secretado pela adenohipófise e é o principal responsável pela maturação do folículo ovariano. A secreção de
FSH é maior e mais importante durante a primeira semana da fase folicular do ciclo reprodutivo.
Hormônio luteinizante
O LH é secretado pela adenohipófise e é necessário tanto para a maturação final dos folículos préovulatórios quanto para
a luteinização do folículo rompido. Como resultado, a secreção de estrogênio diminui e a de progesterona continua.
Assim, os níveis de estrogênio caem 1 dia antes da ovulação e os níveis de progesterona começam a subir.
Estrogênio
O estrogênio é secretado pelos ovários e é crucial para o desenvolvimento e a maturação do folículo. O estrogênio é
predominante no fim da fase proliferativa, precedendo diretamente a ovulação. Após a ovulação, os níveis de estrógeno
caem bruscamente conforme a progesterona sobrepuja. No ciclo endometrial, o estrogênio induz à proliferação das
glândulas do endométrio. O estrogênio também faz com que o útero aumente de tamanho e de peso em decorrência do
aumento de glicogênio, aminoácidos, eletrólitos e água. A irrigação sanguínea também é expandida.
BOXE 3.1
RESUMO DOS HORMÔNIOS DO CICLO MENSTRUAL
• O LH aumenta e estimula o folículo a produzir estrogênio
• Conforme o estrogênio é produzido pelo folículo, os níveis de estrogênio aumentam, inibindo a produção
de LH
• A ovulação ocorre depois que uma salva de LH danifica as células produtoras de estrogênio, resultando
em declínio nos níveis de estrogênio
• A salva de LH resulta no estabelecimento do corpo lúteo, que produz estrogênio e progesterona
• Os níveis de estrogênio e progesterona aumentam, suprimindo a produção de LH
• A falta de LH promove a degeneração do corpo lúteo
• A cessação do corpo lúteo indica que houve declínio dos níveis de estrogênio e progesterona
• A diminuição dos hormônios ovarianos termina seu efeito negativo sobre a secreção de LH
• O LH é secretado e começa um novo ciclo menstrual
Progesterona
A progesterona é secretada pelo corpo lúteo. Os níveis de progesterona aumentam imediatamente antes da ovulação e
atingem seu nível máximo 5 a 7 dias após a ovulação. Durante a fase lútea, a progesterona induz tumefação e secreção
aumentada do endométrio. Esse hormônio muitas vezes é chamado de hormônio da gravidez, por causa de seu efeito
calmante (reduz as contrações uterinas) sobre o útero, possibilitando que a gravidez seja mantida.
Prostaglandinas
As prostaglandinas são mediadoras primárias dos processos inflamatórios do corpo e são essenciais para a função
fisiológica normal do sistema genital feminino. Constituem um grupo estreitamente relacionado de ácidos graxos
oxigenados produzidos pelo endométrio, com inúmeros efeitos por todo o corpo. Embora tenham efeitos reguladores e, às
vezes, sejam chamadas de hormônios, as prostaglandinas tecnicamente não são hormônios porque são produzidas por
todos os tecidos, em vez de por glândulas especiais (Jones & Lopez, 2014). As prostaglandinas aumentam durante a
maturação folicular e desempenham um papel fundamental na ovulação, liberando o oócito do folículo ovárico vesicular.
Níveis elevados de prostaglandinas são encontrados no sangue menstrual. Pesquisas atuais sugerem que a patogênese da
cólica/dor menstrual é causada pela prostaglandina F2a (PGF2a), um potente estimulante do miométrio e vasoconstritor,
no endométrio secretor. Níveis elevados de prostaglandinas são encontrados no líquido endometrial de mulheres com
dismenorreia (dor durante a menstruação) e correlacionamse bem com o grau de dor. Os antiinflamatórios não esteroides
(AINEs) foram introduzidos como a escolha primária de tratamento para cólicas menstruais (Nguyen et al., 2015).
Perimenopausa
A transição para a menopausa ou perimenopausa e a menopausa são marcadores biológicos da transição da idade adulta
para a meiaidade. Nada disso é um sintoma ou doença, mas a maturação natural do sistema genital.
Durante a perimenopausa (2 a 8 anos antes da menopausa), as mulheres apresentam mudanças físicas associadas à
diminuição dos níveis de estrogênio, que podem incluir manifestações vasomotoras de fogacho, ciclos menstruais
irregulares, transtornos do sono, esquecimento, irritabilidade, transtornos do humor, ganho ponderal e distensão
abdominal, menstruações irregulares, cefaleias, diminuição da lubrificação vaginal, sudorese noturna, fadiga, atrofia
vaginal e depressão (McNamara, Batur, & DeSapri, 2015). As manifestações vasomotoras (fogacho e sudorese noturna)
são as queixas que mais comumente levam as mulheres a procurar tratamento. Várias terapias podem ser consideradas
para ajudar a controlar essas queixas. A escolha de um método de tratamento adequado para o manejo desses sintomas
exige avaliação cuidadosa da razão risco/benefício de cada alternativa, bem como a preferência de cada paciente (Schuiling
& Likis, 2016).
Menopausa
A menopausa é uma parte universal e irreversível do processo de envelhecimento geral que envolve o sistema genital de
uma mulher, depois da qual ela já não menstrua. Essa fase natural da vida da mulher marca o fim de sua capacidade
reprodutiva. A idade média da menopausa natural – definida como 1 ano sem um ciclo menstrual – é de 50 a 51 anos
(Alexander et al., 2014). Esse período é frequentemente chamado de climatério ou perimenopausa, embora mais
recentemente tenha sido usado o termo transição para a menopausa (Hoyt & Falconi, 2015). À medida que a expectativa
média de vida das mulheres aumenta, o número de mulheres que alcança e convive com a menopausa aumenta. A maioria
das mulheres tem a expectativa de passar mais de um terço de suas vidas após a menopausa. O período geralmente é
marcado por atrofia das mamas, do útero, das tubas uterinas e dos ovários (Crawford, 2015).
Muitas mulheres passam pela menopausa sem manifestações clínicas indesejáveis. Essas mulheres permanecem ativas
e com boa saúde, com pouca interrupção em suas rotinas diárias. Outras apresentam manifestações vasomotoras, que dão
origem a sensações de calor, frio, transpiração, cefaleia, insônia e irritabilidade. Um estudo recente descobriu que as
mulheres que apresentavam sintomas da menopausa relataram uma qualidade de vida relacionada à saúde
significativamente menor e um comprometimento do trabalho significativamente alto quando comparadas às mulheres sem
sintomas da menopausa (Coney, 2015).
Até recentemente, a terapia hormonal era o esteio da farmacoterapia na menopausa, mas os resultados recentes dos
estudos Women’s Health Initiative Trial e Heart and Estrogen Replacement Study (HERS) tornaram controversa a
prescrição da terapia hormonal. Muitas mulheres se voltaram para soluções não tradicionais para controlar as
manifestações da menopausa. Remédios de medicina complementar e alternativa (MCA) comumente utilizados para o
tratamento dos sintomas da menopausa incluem Cimicifuga racemosa, Angelica sinensis, Hypericum
perforatum (hipérico), Humulus lupulus, Dioscorea villosa (inhamesilvagem), ginseng, óleo de prímula, prática de
exercícios físicos e acupuntura. As evidências de eficácia e segurança da maioria das opções de MCA para alívio das
manifestações da menopausa são limitadas, e a maioria dos relatos de eficácia não tem suporte para o uso delas (Wicks &
Mahady, 2015). O enfermeiro pode desempenhar um papel importante em ajudar as mulheres na menopausa, orientandoas
e aconselhandoas sobre a multiplicidade de opções disponíveis para a prevenção de doenças e tratamentos para as
manifestações da menopausa durante esse período de mudança em suas vidas. A menopausa deve ser uma oportunidade
para as mulheres lutarem por uma vida longa e saudável, e o enfermeiro pode ajudar a tornar essa oportunidade uma
realidade. (Consulte o Capítulo 4 para obter mais informações sobre a menopausa.)
Lembrese de Linda, que estava passando por mudanças em seus ciclos menstruais. Quais hormônios
poderiam estar mudando e quais sistemas eles poderiam influenciar? Que abordagem o enfermeiro deve
usar para esclarecer a Linda o que está acontecendo com ela?
ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA GENITAL MASCULINO
O sistema genital masculino, como o feminino, é constituído pelos órgãos que possibilitam a reprodução. Os órgãos
masculinos são especializados em produzir e manter as células sexuais masculinas, ou espermatozoides; em transportálas,
juntamente com os líquidos de apoio, até o sistema genital feminino; e em secretar o hormônio masculino testosterona. Os
órgãos do sistema genital masculino incluem o pênis, o escroto, dois testículos (onde são produzidos os espermatozoides
e a testosterona) e órgãos acessórios (epidídimo, ducto deferente, glândulas seminais, ducto ejaculatório, uretra, glândulas
bulbouretrais e próstata).
Órgãos genitais masculinos externos
O pênis e o escroto formam a genitália externa do homem (Figura 3.7).
FIGURA 3.7 Órgãos genitais masculinos externos. (Foto de B. Proud.)
Pênis
O pênis é o órgão que realiza a cópula e possibilita a saída dos espermatozoides e da urina. Durante a excitação sexual, o
pênis fica ingurgitado de sangue e é inserido na vagina da mulher durante a relação sexual. A pele do pênis é fina e sem
pelos. O prepúcio é uma prega circular de pele que se estende por sobre a glande, a menos que tenha sido removida por
circuncisão logo após o nascimento. O meato urinário, localizado na extremidade do pênis, atua como a abertura da uretra
para o meio externo (Figura 3.8). O pênis é composto principalmente por tecido erétil. A maior parte do corpo do pênis é
constituída por três espaços cilíndricos (seios) de tecido erétil. Os dois maiores, os corpos cavernosos, estão lado a lado.
O terceiro seio, o corpo esponjoso, envolve a uretra. A ereção ocorre quando impulsos nervosos do sistema nervoso
autônomo dilatam as artérias do pênis, possibilitando que o sangue arterial flua para os tecidos eréteis do órgão.
Escroto
O escroto é uma estrutura sacular de pele fina que envolve e protege os testículos. Também atua como um sistema de
controle climático para os testículos, porque eles precisam permanecer um pouco mais frios do que a temperatura do corpo
para possibilitar o desenvolvimento normal dos espermatozoides. O escroto é coberto de pelos no início da puberdade. O
músculo cremaster da parede escrotal se relaxa ou se contrai para possibilitar que os testículos fiquem mais longe do
corpo para reduzir a temperatura ou que sejam puxados para mais perto do corpo para aquecimento ou proteção (Patton &
Thibodeau, 2015). Um septo medial divide o escroto em duas câmaras, cada uma delas envolvendo um testículo.
FIGURA 3.8 Meato urinário. (Foto de B. Proud.)
Órgãos genitais masculinos internos
As estruturas internas incluem os testículos, o sistema ductal e as glândulas acessórias (Figura 3.9).
FIGURA 3.9 Vista lateral dos órgãos genitais masculinos internos. (Fonte: Anatomical Chart Company. [2001]. Atlas
of human anatomy. Springhouse, PA: Springhouse.)
Testículos
Os testículos são estruturas ovais do tamanho de azeitonas grandes que se encontram no escroto; o testículo esquerdo
geralmente pende um pouco mais baixo do que o direito. Essas duas estruturas semelhantes a uma noz no homem são
análogas aos ovários na mulher. Os testículos têm duas funções: produzir espermatozoides e sintetizar testosterona (o
principal hormônio sexual masculino). Os espermatozoides são produzidos nos túbulos seminíferos dos testículos. Como
ocorre no sistema genital feminino, a adenohipófise libera as gonadotrofinas, FSH e LH. Esses hormônios estimulam os
testículos a produzir testosterona, o que auxilia na manutenção da espermatogênese, aumenta a produção de
espermatozoide pelos túbulos seminíferos e estimula a produção de líquido seminal (Jones & Lopez, 2014). O epidídimo,
que se assenta contra os testículos, é um tubo espiral de cerca de 6 m de comprimento. Ele coleta os espermatozoides dos
testículos e fornece espaço e ambiente para que os espermatozoides amadureçam (Figura 3.10).
Sistema ductal
O ducto deferente é uma estrutura filamentar que transporta os espermatozoides do epidídimo. Um desses ductos vai de
cada testículo até a parte de trás da próstata e entra na uretra para formar os ductos ejaculatórios. Outras estruturas, como
vasos sanguíneos e nervos, também se deslocam junto com cada ducto deferente e, juntos, formam o funículo espermático.
A uretra é o tubo terminal dos sistemas genital e urinário, que serve como passagem para o sêmen (líquido que contém
espermatozoides) e a urina. Ela passa através da próstata e do pênis e se abre para o meio externo.
Glândulas acessórias
As glândulas seminais, que produzem o líquido seminal nutritivo, e a próstata, que produz o líquido prostático alcalino,
estão ligadas ao ducto ejaculatório, que leva à uretra. O par de glândulas seminais, estruturas retorcidas semelhantes a um
saco, se encontra posterior e na base da bexiga urinária, em frente ao reto. Elas secretam um líquido alcalino que contém
frutose e prostaglandinas. A frutose fornece energia para os espermatozoides em sua jornada para encontrar o oócito; as
prostaglandinas ajudam na mobilidade do espermatozoide.
A próstata encontrase na pelve, logo abaixo da bexiga, e circunda a parte média da uretra. Habitualmente do tamanho
de uma noz, essa glândula aumenta com a idade. A próstata e as glândulas seminais acima dela produzem o líquido que
nutre os espermatozoides. Esse líquido é responsável pela maior parte do volume do sêmen, a secreção na qual os
espermatozoides são expelidos durante a ejaculação. Outro líquido que compõe o sêmen provém dos ductos deferentes e
das glândulas mucosas da cabeça do pênis.
As glândulas bulbouretrais são duas pequenas estruturas do tamanho de ervilhas, localizadas inferiormente à próstata.
Elas são constituídas por vários tubos cujos revestimentos epiteliais secretam um líquido semelhante ao muco. Esse
líquido é liberado em resposta à estimulação sexual e lubrifica a cabeça do pênis, preparandoa para a relação sexual. Além
disso, neutraliza a acidez da uretra para proteger os espermatozoides durante sua jornada para fora do corpo durante a
ejaculação. Dizse que sua existência é constante, mas as glândulas bulbouretrais diminuem gradualmente de tamanho com
o avanço da idade.
FIGURA 3.10 Estruturas internas de um testículo.
Resposta sexual masculina
Independentemente do tipo de estimulação sexual, a resposta fisiológica em homens e mulheres é semelhante e,
geralmente, segue um padrão de cinco fases, conforme descrito anteriormente:
1. Desejo: começa com um desejo de intimidade sexual. Também conhecido como libido.
2. Excitação: o homem sente excitação sexual através de pensamentos ou estímulos sexuais físicos que causam
mudanças específicas, como aceleração da frequência cardíaca, elevação da pressão arterial, aumento do tamanho dos
testículos e do fluxo de sangue para o pênis, criando uma ereção.
Platô: é a fase entre a excitação e o orgasmo, na qual a cabeça do pênis aumenta de tamanho e fica com uma
3. coloração mais arroxeada; as glândulas secretam sêmen na uretra; há dificuldade para evitar a ejaculação (orgasmo).
4. Orgasmo: é uma resposta total do corpo. A tensão acumulada durante as duas fases anteriores é liberada Ela
desencadeia uma série de espasmos musculares nos membros inferiores, no estômago, nos braços, no dorso e no
pênis. As sensações são intensas e prazerosas. A ejaculação do sêmen ocorre neste momento.
5. Resolução: o corpo retorna ao estado fisiológico não estimulado. O fluxo sanguíneo flui para fora do pênis e a ereção
desaparece; ocorre uma sensação geral de relaxamento e os testículos e o escroto retornam ao seu tamanho normal
(Housman & Odum, 2016).
O comportamento sexual envolve a participação de nervos autônomos e somáticos e a integração de numerosos locais
do sistema nervoso central (SNC) na medula espinal. A porção peniana do processo que leva à ereção representa apenas
um dos componentes. A ereção peniana é uma integração de processos fisiológicos complexos que envolvem SNC,
sistema nervoso periférico (SNP) e sistemas hormonais e vasculares (Sherwood, 2016). Com a estimulação sexual, as
artérias que irrigam o pênis se dilatam e aumentam o fluxo sanguíneo para os tecidos eréteis. Ao mesmo tempo, o tecido
erétil comprime as veias do pênis, reduzindo a drenagem do fluxo sanguíneo desse local. O sangue se acumula, fazendo
com que o pênis dilate e se alongue, produzindo ereção. Como nas mulheres, o ápice da estimulação sexual é o orgasmo,
uma prazerosa sensação de liberação fisiológica e psicológica.
O orgasmo é acompanhado pela emissão (movimentação dos espermatozoides dos testículos e dos líquidos das
glândulas acessórias) para a uretra, onde os espermatozoides e os líquidos são misturados para formar o sêmen. À medida
que a uretra se enche de sêmen, a base do pênis ereto se contrai, o que aumenta a pressão. Essa pressão força o sêmen,
pela uretra, para o exterior (ejaculação). Durante a ejaculação, os ductos dos testículos, o epidídimo e o ducto deferente se
contraem e causam a expulsão dos espermatozoides para a uretra, onde eles se misturam aos líquidos seminais e
prostáticos. Essas substâncias, juntamente com o muco secretado pelas glândulas acessórias, formam o sêmen, que é
liberado pela uretra.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
O sistema genital feminino produz as células reprodutivas femininas (oócitos) e contém um órgão
(útero) no qual o feto se desenvolve. O sistema genital masculino produz as células reprodutivas
masculinas (espermatozoides) e contém um órgão (pênis) que deposita os espermatozoides na mulher
Os órgãos genitais femininos internos consistem em vagina, útero, tubas uterinas e ovários. Os órgãos
genitais femininos externos constituem o pudendo feminino (vulva). Estes incluem o monte do púbis, os
lábios maior e menor do pudendo, o clitóris e o prepúcio, estruturas no vestíbulo e o períneo
As mamas são órgãos acessórios do sistema genital feminino, especializados em secretar leite após a
gestação
A principal função do ciclo menstrual é estimular o crescimento de um folículo para liberar um oócito e
preparar um local para a implantação, caso ocorra a fertilização
A menstruação, a descamação mensal da mucosa uterina, marca o início e o fim do ciclo, se não
ocorrer fertilização
O ciclo ovariano é uma série de eventos associados ao desenvolvimento de um oócito nos ovários
Na ovulação, um folículo maduro se rompe em resposta à salva de LH, liberando um oócito maduro
O ciclo endometrial é dividido em quatro fases: a fase folicular ou proliferativa, a fase lútea ou secretora,
a fase isquêmica e a fase menstrual
O ciclo menstrual envolve uma complexa interação de hormônios. Os hormônios predominantes
incluem hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), FSH, LH, estrogênio, progesterona e
prostaglandinas
Os órgãos do sistema genital masculino incluem o pênis, o escroto, os dois testículos (onde são
produzidos os espermatozoides e a testosterona) e os órgãos acessórios (epidídimo, ducto deferente,
glândulas seminais, ductos ejaculatórios, uretra, glândulas bulbouretrais e próstata)
Referências bibliográficas e leitura sugerida
Acién, M., & Acién, P. (2015). Normal embryological development of the female genital tract. In Female genital tract congenital
malformations (pp. 3–14). London: Springer.
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Exercícios sobre o capítulo
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. Os hormônios predominantes da adenohipófise que controlam o ciclo menstrual incluem:
a. Hormônio tireoestimulante (TSH)
b. Hormônio foliculoestimulante (FSH)
c. Hormônio liberador de corticotropina (CRH)
d. Hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH)
2. Qual glândula está localizada em cada lado da uretra feminina e secreta muco para manter a abertura
úmida e lubrificada para urinar?
a. Glândula bulbouretral
b. Glândula vestibular maior
c. Glândula vestibular menor
d. Glândula seminal
3. Que evento ocorre durante a fase proliferativa do ciclo menstrual?
a. Começa o fluxo menstrual
b. O endométrio fica mais espesso
c. Ocorre a ovulação
d. A secreção de progesterona atinge seu máximo
4. Que hormônio é produzido em níveis elevados para preparar o endométrio para a implantação logo
após a ovulação pelo corpo lúteo?
a. Estrogênio
b. Prostaglandinas
c. Prolactina
d. Progesterona
5. A maturação e o armazenamento dos espermatozoides no sistema genital masculino ocorrem no(as):
a. Testículos
b. Ducto deferente
c. Epidídimo
d. Glândulas seminais
6. O enfermeiro está se preparando para dar uma palestra para um grupo de mulheres de meiaidade em
relação às manifestações vasomotoras mais comumente apresentadas durante a menopausa e
possíveis modalidades de tratamento disponíveis. As manifestações vasomotoras comuns incluem
quais das seguintes opções?
a. Fadiga crônica e confusão mental
b. Esquecimento e irritabilidade
c. Sudorese noturna e fogacho
d. Diminuição da resposta e do apetite sexuais
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. A enfermeira de uma escola foi convidada a dar uma aula de biologia para o segundo ano do ensino
médio sobre menstruação. A professora notou que os alunos não entendem esse evento mensal e
queria desfazer alguns mitos sobre o assunto. Após a enfermeira explicar os fatores que influenciam a
menstruação, uma menina perguntou: “Alguma mulher pode engravidar se tiver relações sexuais
enquanto está menstruada?”
a. Como a enfermeira deve responder a essa pergunta?
b. Qual fator relacionado com o ciclo menstrual não foi esclarecido?
c. Que outros assuntos levantados por essa questão poderiam ser discutidos?
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Educação sexual deve ser ensinada nas escolas públicas? Em caso afirmativo, quais tópicos devem ser
abordados? Debata os prós e os contras da educação sexual e, em seguida, delineie quais tópicos
devem ser abordados.
2. Responda as perguntas a seguir como uma frase: “Quando eu era mais novo(a), falar sobre assuntos
sexuais com meus pais era… porque… Agora a situação é..?
3. Arrole os principais hormônios e sua função no ciclo menstrual.
4. O ciclo ovariano descreve a série de eventos associados ao desenvolvimento do _________ nos
ovários.
5. Os espermatozoides e o hormônio masculino testosterona são produzidos em quais das seguintes
estruturas? Selecione todos os que se apliquem.
a. Ducto deferente
b. Pênis
c. Escroto
d. Ductos ejaculatórios
e. Próstata
f. Testículos
g. Túbulos seminíferos
h. Glândulas bulbouretrais
ESTUDO DE CASO
Uma mulher de 53 anos procurou o profissional de enfermagem para realização de seu exame anual. Ela
teve uma histerectomia há 20 anos devido a prolapso do útero e tem se mantido saudável até agora. Ela
relatou uma longa lista de sintomas que a incomodavam, mas até recentemente os associava ao processo
de envelhecimento. Ela disse ao profissional de enfermagem que estava tendo insônia, havia ganhado
gordura no abdome, apesar de não consumir calorias adicionais, estava sentindo dor à relação sexual e
fogacho que estavam aumentando em frequência durante o dia e a noite. Ela vem fazendo uso
de Cimicifuga racemosa (fitoterápico) para esses sintomas angustiantes nos últimos meses, mas não tem
tido nenhum alívio. Ela está preocupada que algo terrível esteja errado com ela, uma vez que o fitoterápico
não está amenizando seus sintomas e eles parecem estar piorando.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 3 | Anatomia e Fisiologia do Sistema Genital
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é B. O FSH é secretado pela adenohipófise para iniciar o desenvolvimento dos folículos
ovarianos, que secretam estrogênio no ciclo ovariano. A alternativa A está incorreta: o TSH estimula a tireoide e tem
participação limitada no ciclo menstrual. A alternativa C está incorreta: o CRH é liberado pelo hipotálamo, não pela
adenohipófise. A alternativa D está incorreta: o GnRH é liberado pelo hipotálamo para estimular a liberação de FSH
e LH pela adenohipófise.
2. A resposta correta é C. As glândulas vestibulares menores (glândulas parauretrais, ou glândulas de Skene) estão
localizadas próximo do meato uretral, secretando muco e lubrificandoo durante a micção e as relações sexuais. A
alternativa A está incorreta: as glândulas bulbouretrais (glândulas de Cowper) estão localizadas nas laterais da uretra
masculina, não na uretra feminina. A alternativa B está incorreta: as glândulas vestibulares maiores (glândulas de
Bartholin) estão localizadas nas laterais do óstio da vagina e secretam muco alcalino, que aumenta a viabilidade dos
espermatozoides masculinos. A alternativa D está incorreta: as glândulas seminais são estruturas saculares
localizadas na base da bexiga urinária masculina que secretam um líquido alcalino que aumenta a viabilidade dos
espermatozoides.
3. A resposta correta é B. Sob a influência do estrogênio, o revestimento uterino (endométrio) se espessa e cresce na
antecipação para a implantação do concepto se ocorreu fertilização ou descama durante a menstruação.
4. A resposta correta é D. A progesterona é o hormônio dominante após a ovulação, atuando na preparação do
endométrio para a implantação. A alternativa A está incorreta: os níveis de estrogênio declinam após a ovulação, uma
vez que auxiliam na maturação dos folículos ovarianos antes da ovulação. Os níveis de estrogênio são mais elevados
durante a fase proliferativa do ciclo menstrual. A alternativa B está incorreta: a produção de prostaglandinas aumenta
durante a maturação folicular e é essencial durante, mas não após, a ovulação. A alternativa C está incorreta: a
prolactina é inibida pelos altos níveis de estrogênio e progesterona durante a gestação; quando os níveis desses
hormônios diminuem ao nascimento, ocorre aumento da prolactina para promover a lactação.
5. A resposta correta é C. A função do epidídimo é armazenar e maturar os espermatozoides maduros até que ocorra a
ejaculação. A alternativa A está incorreta: os testículos produzem espermatozoides e enviamnos para o epidídimo
para armazenamento e continuidade na maturação. A alternativa B está incorreta: a principal função dos ductos
deferentes é “comprimir” rapidamente os espermatozoides de seu local de armazenamento (epidídimo) para a uretra.
A alternativa D está incorreta: a função das glândulas seminais é secretar um líquido alcalino rico em frutose e
prostaglandinas para ajudar a fornecer um ambiente favorável à mobilidade e ao metabolismo dos espermatozoides.
6. A resposta correta é C porque as manifestações vasomotoras da menopausa são, em geral, descritas como sudorese
noturna e fogachos. As alterações vasomotoras são as manifestações de menopausa mais frequentemente relatadas
pelas pacientes. Esses sinais/ sintomas estão associados a deficiência de estrogênio. Com frequência, esses
sinais/sintomas podem ser controlados por mudanças do estilo de vida. A alternativa A é incorreta porque esses
sinais/sintomas não estão diretamente relacionados a menopausa e podem ter muitas outras etiologias como anemia
ou demência. A alternativa B é incorreta porque podem ser manifestações de várias outras patologias, tais como
acidente vascular encefálico, deficiência de sono ou fase inicial da doença de Alzheimer. A alternativa D é incorreta,
dado o fato de que o hormônio testosterona exerce mais influência na resposta e no impulso sexuais, mas níveis
decrescentes de estrogênio podem exercer efeitos indiretos. A redução do apetite não está diretamente relacionada
com a menopausa e pode ter várias outras causas.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. Como a enfermeira deve responder a essa pergunta?
A enfermeira deve explicar à estudante que a concepção só ocorre durante a época da ovulação, que se dá no
meio do ciclo menstrual, e não durante a menstruação. Explicações adicionais poderiam delinear as fases do
ciclo menstrual e como cada fase contribui para a preparação do revestimento endometrial se ocorrer a
concepção. Se não ocorrer a concepção, há descamação da mucosa endometrial “preparada”, que é eliminada
durante a menstruação.
b. Qual fator relacionado com o ciclo menstrual não foi esclarecido?
Aparentemente a estudante não entendeu o conceito de ovulação e a potencial união do espermatozoide com o
óvulo. Na ovulação, ocorrem alterações corporais que ajudam os espermatozoides a fecundar o óvulo liberado do
ovário. É somente durante esse período no meio do ciclo que os espermatozoides conseguem encontrar o óvulo e
iniciar uma gravidez.
c. Que outros assuntos levantados por essa questão poderiam ser discutidos?
Infecções/doenças sexualmente transmissíveis e proteção de barreira; abstinência até o casamento e
responsabilidade individual; responsabilidades e desfechos de se tornar um pai ou uma mãe jovem; autoestima e
orgulho de seu corpo; objetivos educacionais e de carreira futuros.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Esta resposta vai variar dependendo do site que o estudante selecionar e do assunto que ele pesquisar. Com um pouco
de sorte, vários assuntos diferentes serão apresentados e a discussão em sala será animada.
2. As respostas serão individualizadas, não generalizadas.
3. Os principais hormônios envolvidos com o ciclo menstrual são o hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH),
responsável pelo controle dos hormônios reprodutivos e pela duração do ciclo; o hormônio foliculoestimulante
(FSH), que estimula o ovário a produzir estrogênio e os folículos no ovário que amadurecerão; o hormônio
luteinizante (LH), que induz o óvulo maduro a irromper do ovário e estimular a produção do corpo lúteo; o
estrogênio, que induz o crescimento e o espessamento do revestimento endometrial; a progesterona, que prepara o
revestimento do endométrio para a implantação; e as prostaglandinas, que ajudam a liberar o óvulo maduro no
folículo de Graaf.
4. óvulo
5. As respostas corretas são F (testículos) e G (túbulos seminíferos). Os espermatozoides são produzidos nos túbulos
seminíferos dos testículos. A alternativa A está incorreta: o ducto deferente é um canal semelhante a um cordão que
transporta os espermatozoides do epidídimo e não participa na produção de espermatozoides. A alternativa B está
incorreta: o pênis é um órgão de cópula e serve como ponto de saída dos espermatozoides, mas não atua na sua
produção ou na produção de testosterona. A alternativa C está incorreta: o escroto serve como o sistema de controle
de temperatura para os testículos para possibilitar o desenvolvimento normal dos espermatozoides, mas não tem
participação direta na sua produção. A alternativa D está incorreta: os ductos ejaculatórios secretam fluido para ajudar
a nutrir os espermatozoides, mas não atuam em seu desenvolvimento. A alternativa E está incorreta: a próstata
produz o líquido que nutre os espermatozoides, mas não participa na produção deles. A alternativa H está incorreta:
as glândulas bulbouretrais (glândulas de Cowper) secretam um líquido mucoso que fornece lubrificação durante o ato
sexual.
ESTUDO DE CASO
1. Qual explicação deveria ser oferecida a essa mulher quanto à causa do seu sofrimento?
Resposta: À medida que os níveis de estrogênio diminuem no período conhecido como climatério, esses
sinais/sintomas são muito comuns, e a maioria das mulheres apresenta fogacho e atrofia vaginal.
2. Qual é o entendimento atual sobre o uso de fitoterápicos para os sintomas da menopausa?
Resposta: Estudos científicos recentes não validaram a eficácia da maioria dos produtos fitoterápicos. Alguns desses
produtos naturais têm alegações não confirmadas quanto ao seu valor terapêutico, mas estas não estão baseadas em
evidências científicas.
3. Qual tratamento poderia ser sugerido para essa mulher? Resposta: Reposição de estrogênio é o tratamento mais
efetivo para atrofia vaginal e fogacho. Como a paciente não faz parte do grupo de alto risco (ou seja, não tem história
de câncer), esse tratamento pode ser apropriado ao caso.
4. Qual é o princípio adotado atualmente quanto ao tratamento hormonal da menopausa?
Resposta: A reposição de estrogênio deve ser administrada com a menor dose efetiva e durante o menor tempo
possível para evitar quaisquer riscos.
Questões múltipla escolha
1. Depois de ministrar uma aula de educação em saúde relacionada com o ciclo reprodutivo
feminino, a enfermeira determina que o ensino foi efetivo quando o grupo identifica qual fase
como pertencente ao ciclo ovariano?
A. Fase folicular
B. Fase proliferativa
C. Fase secretora
D. Fase isquêmica
Concluir questão
2. Qual hormônio a enfermeira citaria como sendo responsável primariamente pela maturação
do folículo ovariano?
A. Hormônio foliculoestimulante (FSH)
B. Hormônio luteinizante (LH)
C. Hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH)
D. Estrogênio
Concluir questão
3. Ao descrever o papel do escroto como o “sistema de controle de temperatura” dos testículos,
a enfermeira incluiria uma descrição de qual dos seguintes?
A. Prepúcio
B. Músculos cremaster
C. Testículos
D. Ducto deferente
Concluir questão
4. A enfermeira descreve uma área em forma de meialua atrás da abertura vaginal, identificando
esta estrutura como o(a):
A. Prepúcio
B. Introito
C. Hímen
D. Fúrcula
Concluir questão
5. Depois de ministrar uma aula sobre o sistema genital feminino, a enfermeira determina que o
ensino foi bemsucedido quando a turma identifica qual das seguintes como uma função
primária dos ovários?
A. Secreção de muco que fornece lubrificação para a relação sexual
B. Transporte do óvulo até o endométrio
C. Secreção de estrogênio e progesterona
D. Localização para implantação do óvulo fertilizado
Concluir questão
6. Ao orientar um grupo de gestantes em relação à produção de leite materno, a enfermeira
descreve o colostro e comparao ao leite materno maduro. Qual dos seguintes a enfermeira
incluiria na descrição comparativa?
A. Seu baixo conteúdo mineral
B. Seu alto teor de açúcar
C. Seu alto teor de anticorpos maternos
D. Seu teor limitado de proteína
Concluir questão
7. A enfermeira descreve os componentes do sêmen, indicando que a maior parte de seu volume
é fornecida pelas vesículas seminais e pelo(a):
A. Ducto deferente
B. Próstata
C. Glândulas mucosas penianas
D. Glândulas bulbouretrais
Concluir questão
8. Uma mulher que apresenta sinais e sintomas da menopausa pergunta à enfermeira sobre
remédios fitoterápicos para o gerenciamento dessas manifestações. Qual resposta da
enfermeira seria mais adequada?
A. “Os remédios fitoterápicos têm se mostrado bastante confiáveis no alívio dos sintomas da
menopausa.”
B. “Você deve evitar os remédios fitoterápicos e solicitar ao seu médico uma terapia de
reposição hormonal.”
C. “A maioria das informações sobre fitoterapia é baseada em relatos de pessoas que a
utilizaram, não em estudos científicos.”
D. “Seus sinais e sintomas não são graves o suficiente para justificar qualquer tipo de
tratamento ou terapia.”
Concluir questão
9. A enfermeira pede que a turma identifique o local de produção dos espermatozoides. Os
alunos estão corretos quando identificam o(s)/a(s):
A. Cordão espermático
B. Ducto deferente
C. Vesículas seminais
D. Túbulos seminíferos
Concluir questão
10. É importante que a enfermeira reconheça que existem diferenças culturais que influenciarão o
cuidado da cliente. Algumas culturas praticam a mutilação genital feminina, que envolve a
remoção do(a)(s):
A. Clitóris
B. Pequenos lábios (lábios menores do pudendo)
C. Hímen
D. Fúrcula
Concluir questão
11. Depois de discutir a prevenção de infecções com uma cliente, a enfermeira reconhece que a
cliente entendeu ao reconhecer que o(a)(s) ______ ajuda a proteger contra infecções vaginais.
A. Fluxo menstrual
B. Ambiente alcalino
C. Rugas
D. Ambiente ácido
Concluir questão
12. Depois de ministrar uma aula de reprodução na escola local, a enfermeira de saúde pública
percebe que são necessárias aulas adicionais quando a turma identifica que as camadas do
útero incluem o:
A. Endométrio
B. Epimétrio
C. Miométrio
D. Perimétrio
Concluir questão
13. Ao descrever as estruturas internas, a enfermeira identificar a cérvice como:
A. Vagina
B. Colo do útero
C. Clitóris
D. Fúrcula
Concluir questão
14. É importante que os casais que desejam praticar formas naturais de controle da natalidade
entendam que as glândulas secretoras de muco do colo do útero podem armazenar
espermatozoides vivos por até:
A. 48 h
B. 36 h
C. 24 h
D. 12 h
Concluir questão
15. A enfermeira explicou à sua cliente que o ________ do corpo do útero pode variar com as
mudanças nos níveis hormonais na ausência de gravidez.
A. Endométrio
B. Miométrio
C. Perimétrio
D. Epimétrio
Concluir questão
16. Uma enfermeira está reunindo material educativo para as clientes que desejam aprender
sobre como engravidar. Parte dessa informação explicará que a fertilização ocorre:
A. No útero
B. Nas tubas uterinas (trompas de Falópio)
C. Nos ovários
D. Na vagina
Concluir questão
17. Uma jovem mãe está expressando frustração de não ser capaz de amamentar seu bebê. Uma
possível causa seria a falta do hormônio:
A. Estrogênio
B. Luteinizante
C. Ocitocina
D. Prolactina
Concluir questão
18. A enfermeira está trabalhando com um jovem casal que está tentando conceber. Ela
reconhece que a cliente e seu marido compreendem os conceitos básicos do ciclo
reprodutivo quando eles identificam que a ovulação normalmente ocorre no ____ dia de um
ciclo de 28 dias.
A. 14o
B. 20o
C. 16o
C. 16o
D. 10o
Concluir questão
19. A enfermeira entende que o endométrio está preparado para a implantação do óvulo pelo
corpo lúteo, que secreta:
A. Testosterona
B. Estrogênio
C. Progesterona
D. Hormônio luteinizante
Concluir questão
20. Durante o exame da cliente, a enfermeira questiona a mulher quanto à DUM. Isso indica:
A. O último dia do seu último período menstrual
B. O primeiro dia do seu último período menstrual
C. A duração de seus períodos menstruais
D. O nível de dor menstrual
Concluir questão
21. Uma cliente está apresentando possíveis manifestações de menopausa. A enfermeira
reconhece que os sinais e sintomas da menopausa estão relacionados com:
A. Atividades autonômicas
B. Hipersecreção de hormônios
C. Atividades psiquiátricas
D. Atividades vasomotoras
Concluir questão
22. Ao descrever os órgãos genitais femininos externos, qual(is) das seguintes opções a
enfermeira incluiria? (Selecione todas que se aplicam.)
A. Vestíbulo
B. Lábios maiores do pudendo
C. Períneo
D. Vagina
Concluir questão
23. Uma cliente está retornando com uma terceira infecção vaginal no período de 6 meses.
Durante a avaliação de saúde, a enfermeira deve perguntar se a cliente utiliza: (Selecione
todas que se aplicam.)
A. Desodorantes
B. Ervas
C. Iogurte
D. Duchas vaginais
Concluir questão
24. A cliente é surpreendida quando a enfermeira explica como o ciclo reprodutivo envolve os
hormônios liberados pelas seguintes estruturas: (Selecione todas que se aplicam.)
A. Ovários
B. Hipotálamo
C. Placenta
D. Hipófise
Concluir questão
25. A enfermeira reconhece que os principais hormônios envolvidos no ciclo menstrual são o(a):
(Selecione todos que se aplicam.)
A. GnRH
B. FSH
C. Prolactina
D. LH
Concluir questão
Questões Comuns Relacionadas com a Reprodução
4
PALAVRASCHAVE
Aborto
Abstinência sexual
Acetato de medroxiprogesterona
Amenorreia
Anel vaginal
Capuz cervical
Coito interrompido
Conscientização da fertilidade
Contracepção
Contracepção de emergência (CE)
Contraceptivos orais (CO)
Diafragma
Dismenorreia
Dispareunia
Dispositivo intrauterino (DIU)
Endometriose
Esponja contraceptiva
Esterilização
Implante
Infertilidade
Laqueadura tubária
Método sintotérmico
Método de amenorreia lactacional (MAL)
Método do muco cervical
Osteoporose
Preservativos
Sangramento uterino anormal (SUA)
Síndrome prémenstrual (SPM)
Sistema transdérmico
Tabela dos dias férteis (TDF)
Temperatura corporal basal (TCB)
Transição para a menopausa
Vasectomia
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Examinar questões comuns relacionadas com a reprodução em termos de sinais/sintomas, exames complementares e intervenções apropriadas.
2. Identificar fatores de risco e delinear orientações apropriadas à paciente necessárias em distúrbios reprodutivos comuns.
3. Comparar e estabelecer diferenças entre os métodos contraceptivos distintos disponíveis e sua efetividade geral.
4. Analisar os aspectos fisiológicos e psicológicos da transição para a menopausa.
5. Delinear a conduta de enfermagem necessária para mulheres que apresentam distúrbios reprodutivos comuns.
Izzy, de 27 anos de idade, procurou seu médico com queixa de dor pélvica intensa de caráter progressivo associada aos ciclos mensais. Ela precisou afastarse do
trabalho e “doparse” com analgésicos para suportar a dor. Além disso, tenta engravidar há mais de 1 ano sem conseguir.
Reflexões
Quando as mulheres expõem suas vulnerabilidades, é essencial responder de modo imparcial.
INTRODUÇÃO
A boa saúde ao longo vida começa com a pessoa. As mulheres de hoje têm expectativa de vida de até 80 anos e precisam ser proativas na manutenção da sua própria qualidade de vida.
Elas precisam tomar medidas para reduzir o risco de doenças e necessitam tornarse parceiras ativas de seu médico para identificar problemas precocemente, quando o tratamento é mais
bemsucedido (Diretrizes de ensino 4.1). Os profissionais de enfermagem podem ajudar as mulheres a manter sua qualidade de vida, auxiliandoas a estabelecer maior sintonia com seu
corpo e seus sinais, e podem usar o momento da avaliação como uma oportunidade para prestar orientações e aconselhamento. Os profissionais de enfermagem estão em uma excelente
posição para oferecer informações às mulheres para manter um estilo de vida saudável e ajudar a modificar comportamentos deletérios.
Diretrizes de ensino 4.1
Dicas para tornarse parceira ativa no manejo da própria saúde
• Tornarse uma consumidora bem informada. Ler, questionar e pesquisar
• Conhecer a história familiar e os fatores de risco importantes
• Manter um estilo de vida saudável e adotar a moderação como meta
• Agendar consultas médicas e exames complementares regulares para detectar precocemente quaisquer condições/doenças
• Solicitar ao profissional de saúde uma explicação completa de qualquer tratamento a ser realizado
• Procurar uma segunda opinião médica se achar que precisa de mais informações
• Saber quando procurar atendimento médico por estar conscientizada dos sinais/sintomas da doença.
Este capítulo aborda questões relacionadas com a reprodução que podem surgir na prática cotidiana do enfermeiro ao atender mulheres, incluindo os distúrbios menstruais, a
infertilidade, a contracepção, o aborto e a transição para a menopausa.
DISTÚRBIOS MENSTRUAIS
Para muitas mulheres, os ciclos menstruais mensais causam pouca ou nenhuma alteração na vida cotidiana. Com poucos sintomas com os quais se preocupar, os ciclos menstruais são
regulares, iniciando e terminando quase na mesma época todos os meses. Para outras mulheres, no entanto, o ciclo menstrual provoca sinais/sintomas físicos e emocionais que as levam
a consultar o médico. As seguintes condições relacionadas com a menstruação serão discutidas nesta seção: amenorreia, dismenorreia, sangramento uterino anormal (SUA), síndrome
prémenstrual (SPM), transtorno disfórico prémenstrual (TDPM) e endometriose. Para compreender os distúrbios menstruais, o enfermeiro deve conhecer os termos usados para
descrevêlos (Boxe 4.1).
BOXE 4.1
PREFIXOS E SUFIXOS USADOS PARA DESCREVER OS DISTÚRBIOS MENSTRUAIS
• meno = relacionado com a menstruação
• metro = tempo
• oligo = pouco
• a = sem, nenhum ou ausência de
• ragia = excesso ou anormal
• dis = não ou dor
• reia = fluxo
Amenorreia
Amenorreia quer dizer ausência de menstruação. É normal antes da puberdade, durante a gravidez, após o parto e após a menopausa. O útero, o revestimento endometrial, os ovários, a
hipófise e o hipotálamo precisam funcionar corretamente e em harmonia para que o ciclo menstrual ocorra. As duas categorias de amenorreia são a primária e a secundária. A amenorreia
primária é definida como:
1. Ausência de menstruação até os 14 anos de idade, sem crescimento e desenvolvimento das características sexuais secundárias ou
2. Ausência de menstruação até os 16 anos de idade, com desenvolvimento normal de características sexuais secundárias (Schuiling & Likis, 2016).
Das mulheres que vivem nos EUA 98% menstruam pela primeira vez até os 15 anos de idade (Krieger et al., 2015). Os achados em estudos recentes indicam que a idade da
menstruação tem diminuído desde o século XX (King et al., 2015). Após a menarca os ciclos menstruais demoram até 2 anos para se tornarem ciclos ovulatórios regulares. A
amenorreia secundária é a ausência de menstruação regular por três ciclos ou menstruações irregulares durante 6 meses em mulheres que antes menstruavam regularmente.
Os enfermeiros devem considerar as causas de amenorreia como pertencentes a uma de quatro áreas anatômicas: área de saída do útero e da vagina, ovários, hipófise e sistema
nervoso central. As condições relacionadas com a área de saída são obstrutivas e podem ser descobertas durante o exame físico, enquanto as condições ovarianas, hipofisárias e do
sistema nervoso central envolvem disfunção do eixo hipotálamohipófiseovário que controla os processos neuroendócrinos necessários para o ciclo menstrual normal e, em geral, são
descobertos por exames laboratoriais (King et al. 2015).
Etiologia
A amenorreia primária tem múltiplas causas:
• Ganho ou perda ponderal extremos
• Anomalias congênitas do sistema genital
• Estresse por um evento importante na vida
• Excesso de exercícios físicos
• Transtornos alimentares (anorexia nervosa ou bulimia)
• Doença de Cushing
• Síndrome do ovário policístico (SOP)
• Hipotireoidismo
• Síndrome de Turner: desenvolvimento defeituoso das gônadas (ovários ou testículos)
• Hímen imperfurado
• Doença crônica: diabetes melito, doenças da tireoide, depressão
• Gestação
• Fibrose cística
• Cardiopatia congênita (cianótica)
• Tumores nos ovários ou nas glândulas suprarrenais.
As causas da amenorreia secundária podem incluir:
• Gestação
• Amamentação
• Estresse emocional
• Tumores na hipófise, nos ovários ou nas glândulas suprarrenais
• Depressão
• Hipertireoidismo ou hipotireoidismo
• Desnutrição
• Hiperprolactinemia
• Rápido ganho ou perda ponderal
• Quimioterapia ou radioterapia na região pélvica
• Prática de exercícios vigorosos, como corrida de longa distância
• Insuficiência renal
• Colite
• Quimioterapia, irradiação
• Uso de ansiolíticos ou antidepressivos
• Necrose hipofisária pósparto (síndrome de Sheehan)
• Menopausa precoce (Kovanci & Schutt, 2015).
Conduta terapêutica
A intervenção terapêutica depende da causa da amenorreia. O tratamento da amenorreia primária envolve a correção de quaisquer distúrbios subjacentes e reposição hormonal para
estimular o desenvolvimento das características sexuais secundárias. Se a causa for um tumor hipofisário, as opções serão farmacoterapia, ressecção cirúrgica ou radioterapia. Poderá ser
necessário cirurgia para corrigir quaisquer anomalias estruturais do sistema genital. Os agonistas da dopamina são efetivos no tratamento da hiperprolactinemia. Na maioria dos casos,
esse tratamento restaura a função endócrina ovariana e a ovulação normais (Goswani, 2015). As intervenções terapêuticas para a amenorreia secundária podem incluir:
• Progesterona cíclica, quando a causa for a anovulação, ou contraceptivos orais (CO)
• Bromocriptina para tratar hiperprolactinemia
• Aconselhamento nutricional para tratar anorexia, bulimia ou obesidade
• Hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), quando a causa for insuficiência hipotalâmica
• Reposição dos hormônios da tireoide, quando a causa for hipotireoidismo (Creatsas & Creatsa, 2015).
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem para a menina ou a mulher que apresentam amenorreia inclui anamnese e exame físico completos e vários exames laboratoriais (determinação dos níveis
sanguíneos de alguns hormônios) e complementares para ajudar a identificar a causa subjacente.
ANAMNESE E EXAME FÍSICO
A anamnese (que também é chamada de histórico de saúde) meticulosa e o exame físico são necessários para determinar a etiologia. A anamnese deve incluir perguntas sobre a história
menstrual da mulher, doenças, internações e cirurgias prévias, história obstétrica, uso de medicamentos prescritos e de venda livre, mudanças de estilo de vida recentes ou pregressas e
história da doença atual, com avaliação de quaisquer mudanças no corpo.
O exame físico deve começar com uma avaliação global do estado nutricional e da saúde geral da mulher. Uma abordagem sensível e delicada no exame ginecológico é fundamental
para mulheres jovens. Devem ser verificados índice de massa corporal (IMC), altura e peso, além dos sinais vitais. Hipotermia, bradicardia, hipotensão e teor reduzido de gordura
subcutânea são achados em mulheres com anorexia nervosa. Os pelos faciais e a acne podem ser evidências do excesso de andrógenos secundários a um tumor. A existência ou não de
pelos pubianos e axilares pode indicar hipossecreção suprarrenal e ovariana ou retardo da puberdade. Um exame físico geral poderá revelar alterações inesperadas que estão indiretamente
relacionados com a amenorreia. Por exemplo, hepatoesplenomegalia que sugere doença sistêmica crônica ou aumento da glândula tireoide pode apontar para um distúrbio da tireoide, e
uma possível causa de amenorreia (Tharpe, Farley, & Jordan, 2016). O exame das mamas também merece atenção especial visto que o desenvolvimento das mamas é um indicador
confiável da produção de estrogênio. Os estágios de Tanner do desenvolvimento mamário também devem ser verificados. Os estágios de Tanner incluem:
• Estágio I: elevação apenas da papila
• Estágio II: brotos mamários palpáveis e aumento das aréolas aproximadamente aos 11 anos de idade
• Estágio III: elevação do contorno mamário, aumento das aréolas aproximadamente aos 12 anos de idade
• Estágio IV: aréolas formam elevação secundária na mama aproximadamente aos 13 anos de idade
• Estágio V: contorno da mama igual ao da mulher adulta, aréola acompanha o contorno da mama (Moses, 2015b).
As informações obtidas na anamnese e no exame físico conseguem descartar determinadas hipóteses diagnósticas, contudo, primeiras impressões podem ser enganadoras e resultar
em erros de julgamento. O melhor é seguir uma abordagem sistemática e metódica para identificar a etiologia da amenorreia.
EXAMES LABORATORIAIS E COMPLEMENTARES
Exames laboratoriais comuns que poderiam ser solicitados para determinar a causa da amenorreia incluem:
• Cariótipo (poderia ser positivo para síndrome de Turner)
• Ultrassonografia para detectar cistos ovarianos
• Teste quantitativo de gonadotrofina coriônica humana (hCG) para descartar gravidez
• Provas de função tireóidea para determinar se existem distúrbios da tireoide
• Nível sanguíneo de prolactina (nível elevado poderia indicar tumor hipofisário)
• Nível sanguíneo de hormônio foliculestimulante (FSH) (nível elevado poderia indicar insuficiência ovariana)
• Nível sanguíneo de hormônio luteinizante (LH) (nível elevado poderia indicar disfunção gonadal)
• 17cetosteroides (nível elevado poderia indicar tumor suprarrenal) (Pagana, Pagana & Pagana, 2015).
Conduta de enfermagem
O aconselhamento e a orientação são intervenções primárias e papéis adequados à enfermagem. Aborde as diversas causas de amenorreia, a relação com a identidade sexual, a possível
infertilidade e a possibilidade de um tumor ou uma doença potencialmente fatal. Há cada vez mais evidências de que a perda da regularidade menstrual é um fator de risco para o
desenvolvimento posterior de osteoporose e de fraturas de quadril, a restauração da regularidade dos ciclos menstruais é essencial (Carlson, 2015). Além disso, informe a paciente o
propósito de cada exame complementar, como ele é realizado e quando os resultados estarão disponíveis para serem discutidos com ela. Ouvir com sensibilidade, entrevistar e apresentar
opções de tratamento são atitudes fundamentais para ganhar a cooperação e a compreensão da paciente.
O aconselhamento nutricional também é vital para o manejo dessa doença, especialmente se a mulher apresentar alterações sugestivas de transtorno alimentar. A relação dos
transtornos alimentares com a disfunção menstrual foi identificada em estudos de pesquisa. Para todas as mulheres com transtornos alimentares é preconizada avaliação meticulosa da
história menstrual. A intervenção oportuna é importante porque a duração mais curta da doença está associada a desfechos melhores (Golden et al., 2015). Embora nem todas as causas
possam ser tratadas por meio de mudanças de estilo de vida, enfatize a manutenção de um estilo de vida saudável (Diretrizes de ensino 4.2).
Diretrizes de ensino 4.2
Dicas para manter uma vida saudável
• Equilibrar gasto energético com aporte de energia para manter peso corporal na faixa ideal
• Modificar a dieta para manter peso ideal e evitar sobrepeso
• Evitar a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas e substâncias que modifiquem o humor ou sedativos
• Evitar tabagismo (cigarros) para prevenir doença cardiovascular e câncer de pulmão
• Identificar áreas de estresse emocional e procurar ajuda para resolvêlas
• Equilibrar trabalho, atividades recreativas e repouso para reduzir ansiedade e estresse na vida
• Manter uma atitude positiva em relação ao diagnóstico e prognóstico
• Submeterse a cuidados contínuos para monitorar quaisquer condições clínicas
• Manter a densidade óssea por meio de:
• Ingestão de cálcio (1.200 a 1.600 mg/dia)
• Vitamina D (600 a 1.000 UI/dia)
• Prática de exercícios físicos com sustentação de peso (30 minutos ou mais/dia)
• Hormonoterapia para mulheres de baixo risco.
Adaptado de Centers for Disease Control and Prevention. (2015a). Healthy eating for a healthy weight. Retirado
de http://www.cdc.gov/healthyweight/healthy_eating/; e Housman, J., & Odum, M. (2016). Alters & Schiff’s essential concepts for healthy living (7th ed.).
Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning.
Dismenorreia
Dismenorreia nada mais é que ciclos menstruais dolorosos. É comum na adolescência. Essa condição também é chamada de dor perimenstrual cíclica. Em geral, a dor começa no
primeiro dia de sangramento e dura 48 a 72 horas (Creatsas & Creatsa, 2015). O termo dismenorreia é derivado dos elementos mórficos gregos dis (que significa “difícil, doloroso ou
anormal”) e reia (que significa “fluxo”). Com base nos resultados de grandes estudos epidemiológicos, estimase que ocorra em mais de 50% das mulheres que menstruam. É a
principal causa de absenteísmo no trabalho e na escola, exercendo efeitos adversos na qualidade de vida das mulheres jovens (Joshi et al., 2015). Outra pesquisa recente relacionou
tabagismo precoce (antes dos 13 anos de idade) com aumento do risco de apresentar dismenorreia crônica (Weinberger, Smith, Allen et al., 2015). Contrações uterinas ocorrem durante o
ciclo menstrual de todas as mulheres, mas em algumas essas cólicas são frequentes e muito intensas. Têm um impacto importante na qualidade de vida, na produtividade laboral e na
utilização dos serviços de saúde pelas mulheres. A dismenorreia é classificada como primária (espasmódica) ou secundária (congestiva) (Calis et al., 2015).
Etiologia
Dismenorreia primária consiste em sangramento menstrual acompanhado de dor sem patologia subjacente detectável. É causada por aumento da produção de prostaglandina pelo
endométrio em um ciclo ovulatório. Esse hormônio provoca a contração do útero, e os níveis tendem a ser maiores em mulheres com dor menstrual intensa do que nas mulheres que
sentem dor menstrual leve ou não sentem dor. A dismenorreia é provocada pela produção excessiva de prostaglandina. Esses níveis são mais elevados durante os primeiros 2 dias de
menstruação, quando os sintomas alcançam seu máximo (Maurice & Rosenzweig, 2015). Isso resulta em aumento das contrações uterinas rítmicas pela constrição dos pequenos vasos
da parede uterina. Essa condição geralmente começa alguns anos após o início dos ciclos ovulatórios na menarca.
A dismenorreia secundária é consequente a uma doença pélvica ou uterina. Pode ser causada por endometriose, adenomiose, mioma, infecção pélvica, sistema intrauterino (DIU),
estenose do colo do útero ou anomalias congênitas do útero ou da vagina. A adenomiose envolve o crescimento do endométrio para dentro da musculatura uterina. A endometriose
envolve a implantação ectópica de tecido endometrial em outras partes da pelve. Ocorre mais comumente na terceira ou na quarta década de vida e afeta 10% das mulheres em idade
fértil. A dor tende a piorar, em vez de melhorar, com o passar do tempo (American College of Obstetricians & Gynecologists [ACOG], 2015a). A endometriose é a causa mais comum
de dismenorreia secundária e está associada a dor não só durante a menstruação, dispareunia, dor lombar, sangramento irregular ou profuso, distensão abdominal, náuseas e vômitos e
infertilidade (ACOG, 2015a). O tratamento visa remover a doença subjacente.
Lembrese de Izzy, do início do capítulo. Sua queixa de dor pélvica é comum em mulheres?
Conduta terapêutica
A meta do tratamento é proporcionar alívio adequado da dor do modo que a mulher consiga desempenhar suas atividades habituais. O tratamento atual se baseia principalmente em
cirurgia e agentes supressores ovarianos (contraceptivos orais, progestinas, antagonistas de GnRh, sistema intrauterino liberador de levonorgestrel e agentes androgênicos). O tratamento
hormonal está, com frequência, associado a efeitos colaterais indesejáveis e recorrência dos sinais/sintomas quando é interrompido. A dismenorreia intensa pode ser angustiante,
afetando adversamente as atividades sociais e ocupacionais. Os tratamentos variam de remédios de venda livre a controle hormonal. No entanto, é difícil alcançar o alívio satisfatório da
dor em alguns casos e as pacientes estão procurando cada vez mais opções alternativas. Terapias complementares como acupuntura (agulhas são usadas para estimular determinados
pontos do corpo com o propósito de equilibrar o fluxo de energia) e acupressão (o uso dos dedos das mãos e das mãos para estimular pontos específicos e manter o equilíbrio
energético) estão se tornando cada vez mais populares e a base de evidências de seu uso está aumentando (Wicks & Mahady, 2015).
As intervenções terapêuticas visam aliviar a dor e elaborar estratégias de enfrentamento que promovam um estilo de vida produtivo. As medidas gerais de manejo incluem orientação
e tranquilização da paciente. O tratamento é de suporte e deve ser guiado pelas necessidades individuais. As medidas geralmente incluem tratamento de infecções, se existentes;
supressão do endométrio em caso de suspeita de endometriose, pela administração de contraceptivos orais de doses baixas; administração de inibidores de prostaglandinas para reduzir a
dor; administração de acetato de medroxiprogesterona para suprimir a ovulação, o que adelgaça o revestimento endometrial do útero com subsequente redução do conteúdo de líquido do
útero durante a menstruação e instituição de mudanças de estilo de vida (Schuiling & Likis, 2016). A Tabela 4.1 lista as opções de tratamento para a dismenorreia.
Avaliação de enfermagem
Como acontece quando há qualquer queixa ginecológica, anamnese meticulosa direcionada e exame físico são necessários para fazer o diagnóstico de dismenorreia primária ou
secundária. Na dismenorreia primária, a anamnese tipicamente revela dor do tipo cólica própria da menstruação e o exame físico é completamente normal. Na dismenorreia secundária, a
anamnese revela cólicas que começam depois dos 25 anos de idade associadas a anormalidade pélvica, relato de infertilidade, fluxo menstrual intenso, ciclos menstruais irregulares e
pequena resposta aos antiinflamatórios não esteroides (AINEs) e/ou contraceptivos orais (Elnashar, 2015).
HISTÓRIA PATOLÓGICA PREGRESSA E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
É importante dar atenção à história patológica pregressa (HPP), incluindo todas as doenças crônicas e a história familiar de problemas ginecológicos. Determine o uso de medicamentos
e substâncias psicoativas, como medicamentos prescritos, contraceptivos, esteroides anabolizantes, tabaco, maconha, cocaína ou outras drogas ilícitas. O histórico sexual detalhado é
essencial para investigar inflamação e cicatrizes (aderências) secundárias à doença inflamatória pélvica (DIP). As mulheres com história pregressa de DIP, doenças/infecções
sexualmente transmissíveis (DST/IST), baixo consumo de frutas e legumes, depressão, nível de estresse elevado, múltiplos parceiros sexuais ou prática de sexo desprotegido estão em
maior risco (Tharpe et al., 2016).
Durante a entrevista inicial, o enfermeiro pode fazer algumas das seguintes perguntas para avaliar o relato de dismenorreia da mulher:
• Com que idade seus ciclos menstruais começaram?
• Seus ciclos sempre foram dolorosos ou a dor começou recentemente?
• Em que período de seu ciclo você sente dor?
• Como você descreveria a dor que sente?
• Você tem vida sexual ativa?
• Que impacto seu ciclo tem em suas atividades físicas e sociais?
• Quando foi o primeiro dia do seu último ciclo menstrual?
• O fluxo do seu último ciclo menstrual foi de volume normal?
• Seus ciclos tendem a ser intensos ou durar mais do que 5 dias?
• Seus ciclos geralmente são regulares e previsíveis?
• O que você tem feito para aliviar o desconforto? É efetivo?
• Houve progressão na intensidade dos sintomas?
• Você tem outros sintomas?
Tabela 4.1 Opções de tratamento para a dismenorreia.
Agentes anti Os AINEs impedem a
inflamatórios não síntese de
esteroides (AINEs) prostaglandinas por
meio da inibição da
conversão da COX1
e COX2, reduzindo
as cólicas
Atenção aos sinais de
hemorragia
gastrintestinal
O mesmo que acima
Contraceptivos Diminuem a síntese de
hormonais prostaglandinas;
tratamento de
segunda linha
Cloridrato de raloxifeno; São necessárias
citrato de tamoxifeno pesquisas para
validar a efetividade,
as doses, os efeitos
colaterais e as
contraindicações
Terapias Dá sensação de
complementares controle sobre a vida
Tiamina (vitamina B)
Vitamina E (tocoferóis)
Magnésio
Ácidos graxos ômega3
(óleo de peixe)
Mudanças de estilo de
vida
Prática diária de
exercícios
Ingestão limitada de
alimentos salgados
Perda ponderal
Abandono do tabagismo
Técnicas de
relaxamento
Adaptada de Calis, K. A., Popat, V., Dang, D. K., & Kalantaridou, S. N.
(2015). Dysmenorrhea. eMedicine. Reproduzida
de http://emedicine.medscape.com/article/253812overview; King, T. L.,
Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Gegor, C. L., & Varney, H.
(2015). Varney’s midwifery (5th ed.). Burlington, MA: Jones and Bartlett
Learning; Schuiling, K. D., & Likis, F. E. (2016). Women’s gynecologic
health (3rd ed.). Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning.
Avalie as manifestações clínicas da dismenorreia. As mulheres afetadas relatam espasmos agudos e intermitentes de dor, em geral na região suprapúbica. A dor pode irradiarse para
a parte de trás das pernas ou para a região lombar. A dor geralmente surge horas após o início da menstruação e atinge seu máximo conforme o fluxo se torna mais intenso durante o
primeiro ou o segundo dia do ciclo (King et al., 2015). Manifestações sistêmicas de náuseas, vômitos, diarreia, fadiga, febre, cefaleia ou tontura são bastante comuns. É importante
pesquisar se a paciente também apresenta distensão abdominal, retenção de água, ganho de peso, cefaleia, dor muscular, dor abdominal, compulsão alimentar ou dor à palpação das
mamas.
EXAME FÍSICO
O exame físico realizado pelo médico gira em torno do exame pélvico bimanual. Esse exame é feito durante a fase não menstrual do ciclo. Explique à mulher o que ela deve esperar,
sobretudo se esse for seu primeiro exame pélvico. Prepare a mulher na sala de exames, oferecendolhe um roupão para colocar e cobrindo o abdome com um lençol para manter a
privacidade na mesa de exame. Permaneça na sala durante o exame para auxiliar o médico com os procedimentos ou amostras e para tranquilizar a mulher.
EXAMES LABORATORIAIS E COMPLEMENTARES
Os exames complementares comuns que podem ser solicitados para determinar a causa da dismenorreia podem incluir:
• Hemograma completo para descartar anemia
• Exame de urina para descartar infecção urinária
• Teste de gravidez (nível de hCG) para descartar gravidez
• Cultura do colo do útero para descartar a possibilidade de DST/IST
• Velocidade de hemossedimentação (VHS) para detectar processo inflamatório
• Pesquisa de sangue oculto nas fezes para excluir hemorragia ou distúrbios gastrintestinais
• Ultrassonografia pélvica e/ou endovaginal para detectar massas ou cistos pélvicos
• Laparoscopia e/ou laparotomia diagnóstica para visualizar patologias que possam contribuir para os sintomas (Tharpe et al., 2016).
Que exames complementares podem ser solicitados para diagnosticar a causa da dor pélvica de Izzy?
Conduta de enfermagem
Orientar a paciente sobre os eventos normais do ciclo menstrual e da etiologia de sua dor é fundamental para alcançar um bom resultado. Explicar como funciona o ciclo menstrual
normal vai ensinar à mulher os termos corretos a serem usados para que ela consiga comunicar seus sintomas de modo mais acurado e ajudar a acabar com os mitos. Forneça a ela
gráficos ou tabelas mensais para registrar a menstruação, o início da dor, o momento do uso de medicação, o alívio proporcionado e as estratégias de enfrentamento utilizadas. Isso
envolve a mulher em seu cuidado e fornece informações objetivas para que o tratamento possa ser modificado, se necessário.
O enfermeiro deve explicar em pormenores o esquema posológico e os efeitos colaterais da terapia medicamentosa selecionada. Os medicamentos comumente prescritos incluem
AINEs, como ibuprofeno ou naproxeno. Esses medicamentos aliviam a dismenorreia, diminuindo a pressão intrauterina e inibindo a síntese de prostaglandinas, reduzindo, assim, a dor
(SkidmoreRoth, 2015). A meta primária do tratamento da dismenorreia com AINE é anteciparse à produção de prostaglandinas; assim, é essencial iniciar a medicação profilaticamente
e utilizar doses suficientes para suprimir ao máximo a produção de prostaglandinas. Se o alívio da dor não for conseguido em dois a quatro ciclos, poderá ser iniciada a administração de
um contraceptivo combinado oral de baixa dose. As orientações e os aconselhamentos à paciente devem incluir informações sobre como tomar os comprimidos, os efeitos colaterais e os
sinais de perigo a serem vigiados.
Incentive a mulher a utilizar uma bolsa de água quente ou compressa quente para aliviar as cólicas menstruais. As mudanças de estilo de vida adicionais que a mulher pode fazer para
restaurar o senso de controle e a participação ativa em seus cuidados estão listadas no boxe Diretrizes de ensino 4.3.
Diretrizes de ensino 4.3
Dicas para manejo da dismenorreia
• Fazer exercícios físicos para aumentar os níveis de endorfinas e suprimir a liberação de prostaglandinas
• Limitar a ingestão de alimentos salgados para evitar a retenção de líquidos
• Aumentar o consumo de água para que ela atue como diurético natural
• Aumentar a ingestão de fibras (frutas e vegetais) para evitar a constipação intestinal
• Usar bolsas de água quente ou banhos quentes para aumentar o conforto
• Tomar banhos quentes de chuveiro para promover o relaxamento
• Ingerir bebidas quentes, como cháverde descafeinado
• Manter as pernas elevadas enquanto deitada ou deitar de lado com os joelhos flexionados
• Utilizar técnicas de manejo do estresse para reduzir o estresse emocional
• Praticar técnicas de relaxamento para melhorar a capacidade de lidar com a dor
• Parar de fumar e diminuir o consumo de álcool, o que causa vasoconstrição.
Adaptado de Calis, K. A., Popat, V., Dang, D. K., & Kalantaridou, S. N. (2015). Dysmenorrhea. eMedicine. Retirado
de http://emedicine.medscape.com/article/253812overview; Smith, R. P., & Kaunitz, A. M. (2015). Painful menstrual periods: Beyond the basics. UpToDate.
Retirado de http://www.uptodate.com/contents/painfulmenstrualperiodsdysmenorrheabeyondthebasics; e ACOG. (2015d). Dysmenorrhea: Painful periods.
FAQ046. Retirado de www.acog.org/~/media/For Patients/faq046.ashx.
Sangramento uterino anormal
Os distúrbios da menstruação se manifestam em uma gama de apresentações. Sangramento uterino anormal (SUA) um termo genérico que descreve qualquer desvio da menstruação
normal ou de um ciclo menstrual normal padrão. Pode ocorrer em mulheres de qualquer idade. As principais características são a regularidade, a frequência, o volume ou a intensidade
do fluxo e a duração do fluxo, mas cada uma delas pode apresentar grande variabilidade.
O SUA é um distúrbio que ocorre com mais frequência no início e no final dos anos férteis. SUA é definido como sangramento endometrial indolor, prolongado, excessivo e
irregular que não pode ser atribuído a doença estrutural ou sistêmica subjacente (Creatsas & Creatsa, 2015). Está frequentemente associado a ciclos anovulatórios, comuns durante o
primeiro ano após a menarca, e está associado a imaturidade do eixo hipotálamohipófiseovariano. Também ocorre à medida que as mulheres se aproximam da menopausa e passam a
apresentar ciclos menstruais irregulares.
A fisiopatologia do SUA está relacionada com distúrbio hormonal. Com a anovulação, os níveis de estrogênio aumentam como de costume na fase inicial do ciclo menstrual. Como
não há ovulação, o corpo lúteo nunca se forma e não é produzida progesterona. O endométrio passa para um estado de hiperproliferação, por fim superando seu suprimento de
estrogênio. Isso causa descamação irregular do endométrio e sangramento excessivo (King et al., 2015). Se o sangramento for forte e suficientemente frequente, pode resultar em
anemia. O SUA é semelhante a vários outros tipos de distúrbios hemorrágicos uterinos e, às vezes, está superposto a essas condições. Eles incluem:
• Menorragia (ciclos menstruais anormalmente longos, intensos e prolongados)
• Oligomenorreia (ciclos menstruais com intervalos de mais de 35 dias)
• Metrorragia (sangramento entre os ciclos menstruais, sangramento irregular)
• Menometrorragia (sangramento uterino excessivo entre os ciclos menstruais e durante a menstruação)
• Polimenorreia (ciclos menstruais demasiadamente frequentes).
Etiologia
As possíveis causas de SUA são:
• Adenomiose
• Gestação
• Desequilíbrio hormonal
• Mioma (ver Capítulo 7)
• Pólipos ou câncer endometrial
• Endometriose
• Sistemas intrauterinos (SIU)
• Síndrome do ovário policístico (SOP)
• Obesidade mórbida
• Adenomiose
• Corticoterapia
• Hipotireoidismo
• Discrasias sanguíneas/distúrbio da coagulação
• Processos malignos e hiperplasia
• Pólipos uterinos.
Conduta terapêutica
O tratamento do SUA depende da causa da hemorragia, da idade da paciente e de a paciente desejar ou não engravidar posteriormente. Quando conhecida, a causa subjacente da doença é
tratada. Caso contrário, a meta do tratamento é normalizar o sangramento, corrigir a anemia, prevenir ou diagnosticar câncer precocemente e restaurar a qualidade de vida (Schuiling &
Likis, 2016).
As opções de tratamento para SUA incluem contraceptivos combinados, progestógenos, AINEs, ácido tranexâmico (antifibrinolítico), análogos de GnRH, danazol e sistema
intrauterino liberador de levonorgestrel (SIULNG) (Bitzer et al., 2015).
O manejo do SUA pode incluir farmacoterapia ou inserção de um sistema intrauterino secretor de hormônio. Os contraceptivos orais são utilizados para a regulação do ciclo
menstrual, bem como para a contracepção. Eles ajudam a evitar os riscos associados à estimulação estrogênica prolongada e sem oposição do endométrio. O tratamento com AINEs e
progestina (sistema intrauterino liberador de progesterona ou acetato de medroxiprogesterona) diminui significativamente a perda de sangue menstrual (SkidmoreRoth, 2015). As
categorias de fármacos utilizados no tratamento do SUA são:
• Estrógenos: causam espasmo das artérias uterinas para diminuir o sangramento
• Progestinas: prescritas para estabilizar o endométrio estimulado pelo estrogênio
• Contraceptivos orais: regulam o ciclo e suprimem o endométrio
• AINEs: inibem as prostaglandinas nos ciclos menstruais ovulatórios
• Sistema intrauterino liberador de progesterona: suprime o crescimento endometrial
• Androgênios: criam um ambiente rico em androgênios/pobre em estrogênios que inibe o crescimento do endométrio
• Agentes antifibrinolíticos (ácido tranexâmico): evitam degradação da fibrina para reduzir o sangramento
• Terapia de reposição de ferro: repõe as reservas de ferro perdidas durante o sangramento intenso.
Se a paciente não responder ao tratamento farmacológico, as intervenções cirúrgicas poderiam incluir dilatação e curetagem, ablação do endométrio ou histerectomia. Cirurgia deve
ser considerada quando o tratamento farmacológico não foi bemsucedido, não pôde ser tolerado ou foi contraindicado (Kho & Mathur, 2015). A ablação endometrial pode ser realizada
em vez de histerectomia, mas os dois procedimentos podem causar infertilidade e não seriam opções para a mulher que deseja engravidar. As técnicas utilizadas para ablação
incluem laser, excisão eletrocirúrgica, congelamento, infusão de líquido aquecido ou ablação por balão térmico. A maioria das mulheres apresenta redução do fluxo menstrual após a
ablação endometrial; e até metade delas deixa de menstruar. As mulheres mais jovens são menos propensas do que as mais velhas a responder à ablação endometrial. Evidências
científicas recentes confirmam que até 25% das pacientes tratadas com ablação endometrial precisam de outra ablação ou de histerectomia para interromper o SUA. A histerectomia deve
ser considerada um último recurso para o SUA (ACOG, 2015b).
Avaliação de enfermagem
Devese realizar anamnese meticulosa para diferenciar o SUA de outras condições que possam causar sangramento vaginal, como a gravidez e as condições com ela relacionadas
(descolamento prematuro de placenta, gravidez ectópica, aborto ou placenta prévia), condições sistêmicas – como doença de Cushing, discrasias, doença hepática, doença renal ou doença
da tireoide – e doenças do sistema genital, como infecções, tumores ou traumatismo (Schuiling & Likis, 2016).
Avalie as manifestações clínicas do SUA, que geralmente incluem sangramento vaginal entre as menstruações, ciclos menstruais irregulares (em geral com intervalos inferiores a 28
dias), infertilidade, alterações do humor, fogachos, aumento da sensibilidade vaginal, fluxo menstrual variável (que vai desde fluxo escasso a profuso), obesidade, acne, estresse,
anorexia, doença tireoidiana e diabetes melito. Podem existir sinais de síndrome dos ovários policísticos, porque essa síndrome está associada à estimulação de estrogênio sem oposição,
níveis elevados de andrógenos e resistência à insulina, sendo uma causa comum de anovulação (Tharpe et al., 2016).
Verifique a pressão arterial e a frequência cardíaca em posição ortostática; na anemia, pode ocorrer queda da pressão arterial ou da frequência cardíaca. O médico, com o auxílio do
enfermeiro, realiza um exame pélvico para identificar quaisquer anormalidades estruturais.
Os exames complementares/laboratoriais comuns que podem ser solicitados para determinar a causa do SUA incluem:
• Hemograma completo para detectar anemia
• Tempo de protrombina para detectar discrasias sanguíneas
• Teste de gravidez para descartar aborto espontâneo ou gravidez ectópica
• Nível sanguíneo de hormônio tireoestimulante (TSH) para rastrear hipotireoidismo
• Ultrassonografia transvaginal para medir o endométrio
• Ultrassonografia pélvica para detectar quaisquer anormalidades estruturais
• Biopsia do endométrio para verificar se há doença intrauterina
• Dilatação e curetagem para avaliação diagnóstica.
Conduta de enfermagem
Oriente a paciente sobre os ciclos menstruais normais e as possíveis razões para o seu padrão anormal. Informe a mulher sobre as opções de tratamento. Não basta incentivar a mulher a
“conviver com isso”. Instrua a paciente sobre todas as medicações prescritas e os possíveis efeitos colaterais. Por exemplo, se forem prescritos estrogênios em altas doses, a mulher
poderá sentir náuseas. Orientea a tomar antieméticos conforme prescrito e incentivea a fazer refeições pequenas e frequentes para aliviar as náuseas. O acompanhamento e a avaliação
adequados são essenciais para as mulheres que não respondem ao tratamento farmacológico. Veja o boxe Plano de cuidados de enfermagem 4.1 | Visão geral de uma mulher com
sangramento uterino disfuncional.
Domínio de conceito
Tratamentos da síndrome prémenstrual
As opções terapêuticas possíveis para a SPM incluem redução do aporte de cafeína, suplementos de vitaminas e minerais, diuréticos e AINEs.
Agentes comprovadamente úteis para as mulheres com SPM são antidepressivos e ansiolíticos. Outros medicamentos usados são diuréticos e
AINEs.
Anote!
Complicações como infertilidade podem resultar de falta de ovulação, anemia grave em decorrência da menstruação prolongada ou intensa, depressão e constrangimento secundários ao
sangramento irregular e abundante e câncer do endométrio em associação ao acúmulo prolongado de mucosa endometrial sem sangramento menstrual (Hoyt & Falconi, 2015).
Plano de cuidados de enfermagem 4.1
Visão geral de uma mulher com sangramento uterino disfuncional
Stacy, uma mulher obesa de 52 anos, foi ao ginecologista com queixa de sangramento menstrual irregular intenso. Seus ciclos menstruais eram
razoavelmente regulares até cerca de 4 meses. Desde então, tornaramse imprevisíveis, excessivos e prolongados. Stacy relata que se sente cansada o
tempo todo, não consegue dormir e sentese infeliz e ansiosa. Ela tem medo de estar com câncer.
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: medo relacionado com os sinais e sintomas atuais, possivelmente indicando condição potencialmente fatal
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente reconhecerá seus medos, como evidenciado por declarações de que o medo e a ansiedade diminuíram após a explicação do diagnóstico.
Identificação reduzir o medo e a ansiedade
• Diferenciar ansiedade de medo para determinar as intervenções apropriadas
• Verificar o hemograma completo e avaliar possível anemia secundária ao sangramento excessivo, a fim de determinar se a fadiga está contribuindo para a
ansiedade e o medo. A fadiga ocorre porque a capacidade de transporte de oxigênio do sangue é reduzida
• Tranquilizar a paciente informando que os sintomas podem ser gerenciados para ajudar a resolver suas preocupações atuais
• Fornecer informações factuais à paciente e explicar o que ela pode esperar, para ajudála a identificar seus medos e a lidar com sua condição
• Proporcionar controle dos sintomas, para reduzir as preocupações associadas à causa do sangramento
• Orientar a paciente sobre as manifestações precoces do medo e da ansiedade, a fim de auxiliar no reconhecimento imediato e minimizar a escalada da
ansiedade
• Avaliar as estratégias de enfrentamento utilizadas no passado pela paciente e reforçar o uso de estratégias efetivas para ajudar a controlar a ansiedade e o
medo
• Instruir a paciente sobre métodos de relaxamento, como exercícios de respiração profunda e imagens, para fornecer a ela métodos adicionais para controlar a
ansiedade e o medo
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: conhecimento deficiente em relação à transição para a menopausa e seu manejo
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente demonstrará compreensão de seus sintomas, evidenciada por fazer escolhas de estilo de vida que promovam a saúde, verbalizar práticas de cuidados
de saúde adequados e aderir a medidas e cumprir com o tratamento.
Intervenções: fornecer orientações à paciente
• Avaliar a compreensão da paciente em relação à transição para a menopausa e seu tratamento, a fim de fornecer uma base para as orientações e para o
desenvolvimento de um plano de cuidados à paciente
• Rever as instruções sobre os procedimentos prescritos e recomendações para o autocuidado, obtendo feedback frequente da paciente para validar a
compreensão adequada da informação
• Fazer a ligação entre os ciclos anovulatórios e o acúmulo excessivo de revestimento do útero em mulheres na transição para a menopausa, a fim de ajudar a
paciente a compreender a etiologia da hemorragia
• Fornecer material escrito com ilustrações para promover a aprendizagem e ajudar a paciente a visualizar o que está ocorrendo em seu corpo durante a
transição para a menopausa
• Informar a paciente sobre a disponibilidade de recursos da comunidade e fazer os encaminhamentos adequados e necessários para fornecer orientação e
apoio adicional
• Documentar detalhes das orientações e aprendizagem para possibilitar a continuidade dos cuidados e orientação, se necessário
Síndrome prémenstrual
A síndrome prémenstrual (SPM) é um conjunto de sinais/sintomas recorrentes que se dão durante a fase lútea ou a última metade do ciclo menstrual e que desaparecem com o início
da menstruação. A maioria das mulheres apresenta, durante seus anos férteis, várias manifestações prémenstruais que podem modificar seu comportamento e comprometer seu bem
estar. As mulheres têm 400 a 500 ciclos menstruais durante seus anos férteis e como os sintomas de desconforto prémenstrual atingem seu ápice 4 a 7 dias antes da menstruação,
mulheres com sintomas constantes podem passar até 10 anos de suas vidas em um estado de comprometimento funcional físico e/ou psicológico. Assim, isso constitui um problema de
saúde importante para as mulheres (Tacani et al., 2015). O American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) define a síndrome prémenstrual (SPM) como “a ocorrência
cíclica de sinais e sintomas suficientemente intensos para interferir em alguns aspectos da vida e consistente e previsivelmente relacionados com a menstruação” (ACOG, 2015c). A
mulher com SPM pode ter uma ampla gama de sinais/sintomas aparentemente não relacionados; por essa razão, é difícil definir, e mais difícil ainda diagnosticar a SPM. A SPM afeta
milhões de mulheres durante seus anos férteis. Aproximadamente 80% das mulheres apresentam flutuações cíclicas do humor, do sono e da sensação de bemestar relacionadas com seus
ciclos menstruais (King et al., 2015). A causa exata da SPM não é conhecida. Acreditase que esteja relacionada com a interação dos eventos hormonais com a função de um
neurotransmissor, especificamente a serotonina. No entanto, nem todas as mulheres respondem aos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS, fluoxetina, paroxetina,
sertralina), o que implica possível envolvimento de outros mecanismos (SkidmoreRoth, 2015).
Segundo a definição da American Psychiatric Association, o transtorno disfórico prémenstrual (TDPM) é uma variante mais grave da SPM que afeta 5 a 8% das mulheres na pré
menopausa. Especialistas costumam explicar a diferença entre a SPM e o TDPM fazendo uma analogia com a diferença entre cefaleia tensional leve e enxaqueca. Os fatores de risco
identificados que predispõem a SPM/TDPM são idade entre 25 e 35 anos, história pessoal de transtorno psiquiátrico, história familiar de TDPM, hábitos de vida não saudáveis e eventos
de vida estressantes (Santamaria & Lago, 2015). O TDPM interfere de modo significativo nas atividades ocupacionais, escolares e sociais e nas relações com outras pessoas.
Conduta terapêutica
O tratamento da SPM é, com frequência, frustrante, tanto para as pacientes quanto para os profissionais de saúde. Esperase que os desfechos clínicos melhorem em decorrência do
recente consenso sobre os critérios de diagnóstico da SPM e do TDPM, dados de ensaios clínicos e disponibilidade de diretrizes clínicas baseadas em evidências.
O manejo da SPM ou do TDPM exige uma abordagem multidimensional, porque não é provável que essas condições tenham uma causa única, e parecem afetar vários sistemas no
corpo da mulher; por isso, não é provável que respondam a uma única modalidade terapêutica (Naeimi, 2015). Para reduzir o impacto negativo dos transtornos prémenstruais, é
necessário orientação, juntamente com tranquilização e instrução antecipatória, para que as mulheres sintam que têm algum controle sobre sua condição.
Anote!
Como não existem exames complementares que consigam determinar de modo fidedigno a existência de SPM ou TDPM, a própria mulher precisa decidir se necessita de ajuda durante
esse período do mês. Ela precisa seguir várias terapias e tornarse uma participante ativa em seu plano de tratamento para encontrar o melhor nível de alívio dos sintomas.
As intervenções terapêuticas para a SPM e o TDPM abordam os sintomas, porque a causa exata dessa condição ainda não é conhecida. Os tratamentos podem incluir suplementos
vitamínicos, alterações na dieta, exercícios, mudanças de estilo de vida e medicamentos (Boxe 4.2). Os medicamentos utilizados no tratamento do TDPM incluem antidepressivos e
ansiolíticos, diuréticos, antiinflamatórios, analgésicos, andrógenos sintéticos, contraceptivos orais ou agonistas da GnRH para regular a menstruação (King & Brucker, 2011). Ao
contrário da abordagem terapêutica de depressão, os antidepressivos não precisam ser administrados diariamente, podendo ser efetivos quando usados de modo cíclico, apenas na fase
lútea ou mesmo limitados à duração dos sintomas mensais.
BOXE 4.2
OPÇÕES DE TRATAMENTO PARA SPM E TDPM
• Mudanças de estilo de vida
• Reduzir o estresse
• Exercitarse 3 a 5 vezes/semana
• Ingerir dieta balanceada e aumentar a ingestão de água
• Diminuir a ingestão de cafeína
• Parar de fumar e limitar a ingestão de álcool
• Participar de um grupo de apoio de SPM
• Suplementos vitamínicos e minerais
• Multivitamínico diariamente
• Vitamina E, 400 unidades/dia
• Cálcio, 1.200 a 1.600 mg/dia
• Magnésio, 200 a 400 mg/dia
• Medicamentos
• AINEs tomados 1 semana antes da menstruação
• Contraceptivos orais (baixa dose)
• Antidepressivos (ISRS)
• Ansiolíticos (durante a fase lútea)
• Diuréticos para remover o excesso de líquido
• Progestinas
• Agonistas de GnRH
• Danazol (hormônio andrógeno que inibe a produção de estrógeno)
Adaptado de Walsh, S., Ismaili, E., Naheed, B., & O’Brien, S. (2015). Diagnosis, pathophysiology and management of premenstrual syndrome. The Obstetrician &
Gynaecologist DOI:10.1111/tog.12180; King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Gegor, C. L., & Varney, H. (2015) Varney’s midwifery. Burlington, MA:
Jones & Bartlett Learning; e Htay, T. T., & Aung, K. (2015). Premenstrual dysphoric disorder. eMedicine. Retirado
de http://emedicine.medscape.com/article/293257overview.
TERAPIAS COMPLEMENTARES E ALTERNATIVAS
Nenhum tratamento é universalmente reconhecido como efetivo, e muitas pacientes frequentemente recorrem a abordagens terapêuticas não convencionais. Muitas mulheres usam
suplementos alimentares e fitoterápicos para melhorar sua saúde menstrual e para tratar seus distúrbios hemorrágicos, embora existam poucas pesquisas que demonstrem sua eficácia.
Tratamentos alternativos para TDPM incluem suplementos de cálcio, Vitex agnus castus (fitoterápico), Hypericum perforatum (fitoterápico) e terapia
cognitiva/comportamental/relaxamento (Wicks & Mahady, 2015). Algumas outras terapias alternativas incluem ioga, magnésio, vitamina B6, óleo de prímula, Vitex agnus castus, gingko
biloba, Viburnum, Taraxacum officinale, Urtica dioica, Arctium lappa (bardana), Rubus idaeus (framboesa) e Scutellaria (Tremellen & Pearce, 2015). Embora a eficácia dessas terapias
alternativas não tenha sido validada por pesquisas, é importante que o enfermeiro esteja ciente dos produtos alternativos que muitas mulheres optam por usar.
Avaliação de enfermagem
Embora haja pouco consenso na literatura médica e entre os pesquisadores sobre o que constitui a SPM e o TDPM, os sintomas físicos e psicológicos são muito reais. A amplitude de
sintomas que comprometem ou incapacitam uma mulher é muito variável.
Mais de 150 sinais/sintomas são atribuídos à síndrome prémenstrual, mas os mais proeminentes e mais constantemente descritos são irritabilidade, desejo por determinados
alimentos, oscilações de humor, crises de choro, depressão, transtornos do sono, cefaleia, dorsalgia, fadiga, distensão abdominal, edema facial, edema abdominal, edema dos membros
inferiores, tensão e disforia (estado de inquietação e ansiedade intensas) (Tacani et al., 2015). Para determinar o diagnóstico de SPM, obtenha uma descrição dos sintomas cíclicos que
ocorrem antes do período menstrual da mulher. A mulher deve anotar em gráficos seus sintomas diariamente durante dois ciclos. Esses dados ajudarão a demonstrar o agrupamento dos
sintomas em torno da fase lútea da ovulação, com resolução após o início do sangramento. Peça à mulher que leve a lista de sintomas para a próxima consulta. Os sintomas podem ser
categorizados usandose o seguinte acrônimo:
• A – ansiedade: dificuldade para dormir, tensão, alterações de humor e inabilidade para tarefas básicas
• A – Ânsias: desejo por doces, alimentos com bastante sal, chocolate
• D – depressão: sentimentos de baixa autoestima, raiva, nervosismo súbito
• H – hidratação: ganho de peso, distensão abdominal, mastalgia
• O – outros: fogacho ou sudorese fria, náuseas, alteração do ritmo intestinal, dor, dismenorreia, erupção de acnes (Naeimi, 2015).
Os critérios diagnósticos do ACOG para a SPM consistem em apresentar pelo menos um dos seguintes sintomas somáticos e afetivos durante os 5 dias antes da menstruação nos
últimos três ciclos:
• Sintomas afetivos: depressão, explosões de raiva, irritabilidade, ansiedade
• Sintomas somáticos: mastalgia, distensão abdominal, edema, cefaleia
• Sintomas aliviados do 4o ao 13o dia do ciclo menstrual (ACOG, 2015c).
No TDPM, os principais sinais/sintomas são transtornos de humor, como depressão, ansiedade, tensão e raiva ou irritabilidade persistente. Manifestações físicas, como cefaleia,
dores articulares e musculares, falta de energia, edema e sensibilidade nas mamas, também ocorrem (Htay, 2015). Estimase que até 75% das mulheres em idade fértil apresentem
sinais/sintomas prémenstruais que atendam aos critérios do ACOG para a SPM e que até 5% preencham os critérios diagnósticos para TDPM (Pearlstein, 2015).
De acordo com a American Psychiatric Association, a mulher precisa ter pelo menos cinco dos sintomas típicos para ser diagnosticada com TDPM (Pearlstein, 2015). Esses
sintomas precisam ocorrer durante a semana antes e alguns dias após o início da menstruação e têm de incluir um ou mais dos quatro primeiros sintomas:
• Labilidade emocional: tristeza, choro, irritabilidade
• Ansiedade e tensão
• Raiva ou irritabilidade persistente ou significativa
• Humor deprimido, sentimentos de desesperança
• Dificuldade de concentração
• Dificuldades para dormir
• Aumento ou diminuição do apetite
• Aumento ou diminuição do desejo sexual
• Fadiga crônica
• Cefaleia
• Constipação intestinal ou diarreia
• Edema e dor à palpação das mamas (Htay, 2015).
Conduta de enfermagem
Oriente a paciente sobre o manejo da SPM ou do TDPM. Aconselhea mostrando que as mudanças no estilo de vida muitas vezes resultam em melhora significativa dos sintomas, sem
farmacoterapia. Encoraje as mulheres a ingerir uma dieta equilibrada que inclua alimentos ricos em nutrientes para evitar a hipoglicemia e alterações de humor associadas. Incentive
todas as mulheres a realizar exercícios aeróbicos 3 vezes/semana para promover sensação de bemestar, diminuir a fadiga e reduzir o estresse. Administre cálcio (1.200 a 1.600
mg/dia), magnésio (400 a 800 mg/dia) e vitamina B6 (50 a 100 mg/dia), conforme prescrito. Em alguns estudos, esses nutrientes diminuíram a intensidade dos sintomas de SPM. Os
AINEs podem ser úteis para os sintomas físicos dolorosos e a espironolactona (Aldactone®) pode reduzir o edema e a retenção de água. Fitoterápicos como Vitex agnus castus, óleo de
prímula e Sadenosilmetionina (SAMe, um suplemento dietético usado para melhorar o humor) podem ser recomendados; embora não prejudiciais, nem todos os fitoterápicos têm
evidências clínicas ou de pesquisa suficientes para comprovar sua segurança ou eficácia. Os tratamentos nutricionais incluem uma dieta com baixo teor de sal, álcool, cafeína e açúcar
(Schuiling & Likis, 2016).
Um estudo recente propõe a suplementação com cálcio (1.600 mg/dia) e vitamina D (400 UI/dia) em adolescentes e mulheres em um esforço para evitar a SPM, mas precisam ser
realizadas novas pesquisas, que utilizem uma população maior, para confirmar os achados (Santamaria & Lago, 2015).
Explique à paciente a relação entre a variação cíclica do estrogênio e as alterações nos níveis de serotonina e como as diferentes estratégias de tratamento ajudam a manter os níveis
de serotonina, melhorando, assim, os sintomas. É importante excluir outras condições que possam causar comportamento errático ou disfórico. Se o esquema inicial de tratamento não
funcionar, explique à mulher que ela deverá voltar para ser submetida a mais exames. O aconselhamento comportamental e o manejo do estresse podem ajudar as mulheres a recuperar o
controle durante esses períodos de estresse. Tranquilizar a mulher informando que existem vários recursos da comunidade/grupos de apoio que fornecem suporte e ajuda pode ser
fundamental para que ela aceite esse distúrbio mensal. O enfermeiro pode ser uma influência muito tranquilizadora para muitas mulheres com SPM ou TDPM. Uma abordagem holística,
incluindo modificações do estilo de vida, farmacoterapia, fitoterapia e terapia comportamental cognitiva, é mais benéfica para a redução dos sinais/sintomas, para a melhora da
funcionalidade diária e para a qualidade de vida. Consulte o boxe Prática baseada em evidências 4.1.
Anote!
Adolescentes e mulheres com SPM que apresentam manifestações emocionais mais significativas devem ser avaliadas para TDPM, porque podem precisar de tratamento com
antidepressivos.
Endometriose
Endometriose é uma das doenças ginecológicas mais comuns, afetando mais de 6 milhões de mulheres nos EUA, cerca de 10% da população feminina adulta (Kapoor et al., 2015).
Nessa doença, por razões desconhecidas, pedaços de tecido endometrial ativos encontramse fora de seu local normal, a cavidade uterina. Esse tecido endometrial é comumente
encontrado nos ovários, nas tubas uterinas, na superfície externa do útero, nos intestinos, na área entre a vagina e o reto (septo retovaginal) e na lateral da parede pélvica (Figura 4.1). Os
locais em que o tecido se insere são chamados implantes ou lesões. O tecido endometrial encontrado fora do útero responde aos hormônios liberados durante o ciclo menstrual da mesma
maneira que o revestimento endometrial do útero.
Prática baseada em evidências 4.1
O efeito do extrato de germe de trigo nos sintomas da síndrome prémenstrual.
ESTUDO
A SPM é um dos distúrbios mais comuns nas mulheres e compromete o trabalho e os relacionamentos sociais. Várias modalidades terapêuticas já foram propostas,
inclusive fitoterápicos. Os fitoterápicos estão entre as opções mais empregadas por causa de seu baixo preço, segurança, não invasividade e indução de menos
efeitos colaterais em comparação com os medicamentos convencionais. O germe de trigo contém magnésio, zinco, cálcio, selênio, potássio, fósforo, cromo e
vitaminas A, E, C, B12 e B6, niacina e ácido fólico. Tendo em vista as propriedades do germe de trigo, esse estudo visava determinar os efeitos do extrato de germe
de trigo nos sintomas da SPM.
Achados
Esse estudo clínico triplocego foi realizado com 84 mulheres que fizeram registros diários sobre seus sintomas durante 2 meses consecutivos enquanto faziam uso
de cápsulas de 400 mg de extrato de germe de trigo ou placebo 3 vezes/dia, desde o dia 16 até o dia 5 do ciclo menstrual seguinte. O estudo descobriu que o
germe de trigo reduziu significativamente a intensidade dos sintomas físicos (64%), psicológicos (64%) e gerais (65%) em comparação com o placebo no primeiro
mês de tratamento. Não foram observadas complicações em nenhum dos grupos.
Implicações para a enfermagem
Com base nos resultados do estudo, parece que o uso do extrato de germe de trigo reduz a intensidade dos sintomas gerais, psicológicos e físicos da SPM nas
mulheres que o ingeriam no meio do ciclo. Tendo em vista os efeitos positivos do consumo das vitaminas B6 e E, de cálcio e de magnésio nos estudos anteriores
para redução das manifestações clínicas da SPM, faz sentido que o germe de trigo, que contém todos esses compostos, ajude a aliviar os sintomas da SPM. Os
enfermeiros podem sugerir o uso de modalidades não tradicionais para mulheres que os solicitarem e citar os resultados desse estudo para validar a
recomendação.
Adaptado de Ataollahi, M., Akbari, S. A. A., Mojab, F., & Alavi Majd, H. (2015). The effect of wheat germ extract on premenstrual syndrome symptoms. Iranian
Journal of Pharmaceutical Research: IJPR, 14(1), 159–166.
FIGURA 4.1 Lugares mais comuns de formação de endometriose. (Ilustração fornecida por Anatomical Chart Co.)
No início do ciclo menstrual, em que o revestimento do útero é descamado e o sangramento menstrual começa, esses implantes anormalmente localizados aumentam de tamanho e
também sangram. Em suma, a mulher com endometriose apresenta várias “minimenstruações” em todo o seu abdome, onde quer que esse tecido endometrial esteja localizado. Além do
sangramento extrauterino cíclico, ocorrem fibrose e formação de aderências em toda a pelve. Os sinais/sintomas começam precocemente na adolescência e, tipicamente, desaparecem
após a menopausa.
Lembrese de Izzy, com sua dor pélvica progressiva e suas preocupações sobre infertilidade. Depois de um exame pélvico, o médico suspeita que ela tenha
endometriose.
Etiologia e fatores de risco
Atualmente não se sabe por que o tecido endometrial é transplantado e cresce em outras partes do corpo. Existem várias teorias, mas até o momento nada foi provado cientificamente. No
entanto, foram identificados vários fatores que aumentam o risco de desenvolvimento de endometriose em uma mulher:
• Processo de envelhecimento
• História familiar de endometriose em uma parente de primeiro grau
• Ciclo menstrual curto (menos de 28 dias)
• Fluxo menstrual longo (mais de 1 semana)
• Alto consumo de gordura na dieta
• Menarca antes dos 12 anos de idade
• Poucas (uma ou duas) ou nenhuma gestação (Johnson, Reid, & Hunter, 2015).
Conduta terapêutica
A conduta terapêutica da paciente com endometriose precisa levar em consideração os seguintes fatores: gravidade dos sinais/sintomas, desejo de fertilidade, grau de doença e metas
terapêuticas da paciente. O objetivo da terapia é suprimir os níveis de estrogênio e progesterona, que fazem com que o endométrio cresça. O tratamento atual da endometriose se baseia
principalmente em cirurgia e agentes supressores ovarianos (contraceptivos orais, progestinas, antagonistas de GnRh e agentes androgênicos). Aproximadamente 50% das mulheres com
endometriose sentem alívio da dor com os tratamentos farmacológicos ou cirúrgicos atuais (NICHD, 2015). O tratamento pode incluir retirada cirúrgica do tecido endometrial ectópico
ou medicamentos como AINEs, contraceptivos orais, medroxiprogesterona, testosterona sintética, agonistas de GnRH etc. Terapias alternativas também podem ser usadas, inclusive
acupuntura e suplementos de vitaminas, minerais e óleo de peixe (Elnashar, 2015). Inicialmente essas intervenções ajudam a controlar os sintomas, contudo, muitas têm efeitos adversos
significativos e isso limita a duração da terapia (Tabela 4.2).
Avaliação de enfermagem
O enfermeiro encontra mulheres com endometriose em vários locais: unidades básicas de saúde, escolas, clínicas, hospitaldia e hospitais. É essencial que os profissionais de saúde não
banalizem nem descartem as preocupações dessas mulheres, pois o reconhecimento precoce é crucial para preservar a fertilidade. A diversidade dos sinais/sintomas iniciais e um baixo
índice de suspeita contribuem para as mulheres com endometriose não serem diagnosticadas precocemente.
Tabela 4.2 Opções de tratamento para a endometriose.
Opções Comentário
terapêuticas
Intervenção
cirúrgica
Cirurgia Remoção de implantes/lesões usando laser,
conservadora cauterização ou pequenos instrumentos cirúrgicos
Essa intervenção reduzirá a dor e possibilitará
que a gravidez ocorra no futuro
Cirurgia definitiva Histerectomia abdominal, com ou sem salpingo
ooforectomia bilateral. Eliminará a dor, mas
deixará a mulher incapaz de engravidar no futuro
Tratamento
farmacológico
AINEs Tratamento de primeira linha para reduzir a dor;
tomados no início, logo que os sintomas pré
menstruais são sentidos
Contraceptivos Suprimem a resposta hormonal cíclica do tecido
orais endometrial
Progestógenos Utilizados para eliminar as células endometriais e,
assim, destruílas
Antiestrógenos Suprimem a produção de estrogênio da mulher,
interrompendo, assim, o ciclo menstrual e
evitando o crescimento de endométrio
Análogos do Suprimem a endometriose, produzindo
hormônio pseudomenopausa temporária
liberador de
gonadotrofina
(GnRHa)
Adaptada de Kapoor, D. W., Alderman, E., Hiraoka, M. K., & Davila, G.
W. (2015). Endometriosis. eMedicine. Retirada
de http://emedicine.medscape.com/article/271899overview; Elnashar, A.
(2015). Emerging treatment of endometriosis. Middle East Fertility Society
Journal. doi:10.1016/j.mefs.2014.12.002. Retirada
de http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1110569014200562;
King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Gegor, C. L., &
Varney, H. (2015). Varney’s midwifery (5th ed.). Burlington, MA: Jones
and Bartlett Learning.
ANAMNESE
Obtenha um histórico de saúde (anamnese) e a descrição dos sinais e sintomas para determinar os fatores de risco. A endometriose é frequentemente assintomática, mas pode ser uma
condição grave e debilitante. Em geral, é crônica e progressiva. Pergunte especificamente sobre menarca, história de problemas menstruais, detalhes das gestações e dificuldades para
engravidar. Avalie a paciente à procura das seguintes manifestações clínicas:
• Infertilidade
• Dorsalgia
• Dor antes e durante o período menstrual
• Dor durante ou após a relação sexual
• Dor à micção
• Depressão
• Fadiga
• Defecação dolorosa
• Dor pélvica crônica
• Hipermenorreia (aumento do fluxo menstrual)
• Aderências pélvicas
• Menstruações irregulares e mais frequentes
• Sangramento vaginal prémenstrual (Schuiling & Likis, 2016).
Os dois sinais/sintomas mais comuns são infertilidade e dor pélvica. A endometriose ocorre em 38% das mulheres inférteis e em 71 a 87% das mulheres com dor pélvica crônica
(Kapoor et al., 2015). Cerca de 30 a 40% das mulheres com essa doença são inférteis, o que a torna uma das três principais causas de infertilidade feminina (Brown & Farquhar, 2015).
Quais são os dois sintomas mais comuns nas mulheres com endometriose? Izzy apresenta sintomas típicos? Como enfermeiro, qual seria seu papel na investigação
diagnóstica de Izzy?
EXAME FÍSICO E EXAMES COMPLEMENTARES
O exame pélvico tipicamente se correlaciona com a extensão da endometriose. O achado mais comum é a dor inespecífica à palpação da pelve. O achado característico consiste em
massas nodulares dolorosas à palpação nos ligamentos uterossacrais, na região posterior do útero ou no fundo de saco posterior (escavação retouterina, segundo a Terminologia
Anatômica). O diagnóstico definitivo só é feito durante uma cirurgia (Signorile & Baldi, 2015).
Depois de coletar uma história abrangente e realizar um exame pélvico completo, o profissional de saúde pode suspeitar de endometriose, mas o único método diagnóstico possível é
por imagem. A ultrassonografia pélvica ou transvaginal é utilizada para avaliar a estrutura dos órgãos pélvicos. No entanto, é necessária uma laparoscopia para diagnosticar a
endometriose. A laparoscopia é a visualização direta dos órgãos internos com um instrumento com fonte de luz inserido por meio de incisão abdominal. A biopsia do tecido implantado,
realizada nesse momento, e o exame microscópico confirmam o diagnóstico.
O enfermeiro pode oferecer uma explicação completa da condição, mostrando por que os exames são necessários para diagnosticar a endometriose. Ele pode agendar os exames de
imagem e a laparoscopia.
Conduta de enfermagem
Além das intervenções descritas anteriormente, o enfermeiro deve incentivar a paciente a adotar hábitos de vida saudáveis no que diz respeito a dieta, exercício, sono e manejo do
estresse. Encaminhamentos para grupos de apoio e recursos da internet podem ajudar a mulher a entender essa condição e a lidar com a dor crônica. Várias organizações fornecem
informações sobre diagnóstico e tratamento da endometriose e oferecem apoio às mulheres e seus familiares. Os profissionais de enfermagem estão em uma posição excelente para
melhorar os desfechos das pacientes ao auxiliálas a tomar decisões informadas a respeito do tratamento. Um diagnóstico imediato assegura cuidados apropriados (Boxe 4.3).
INFERTILIDADE
A infertilidade é definida como a incapacidade de conceber um filho após 1 ano de relações sexuais regulares não protegidas por recursos de contracepção (RESOLVE, 2015). A
infertilidade secundária é a incapacidade de conceber após uma gravidez anterior. Muitas pessoas tomam a capacidade de conceber e gerar uma criança como certa, mas a infertilidade
afeta mais de 6 milhões de norteamericanos, ou até 20% da população em idade fértil, e mais de 186 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a American Society for
Reproductive Medicine (ASRM, 2015). A infertilidade é um problema generalizado, que tem impacto emocional, social e econômico nos casais. Embora a infertilidade masculina seja a
causa de mais de 50% dos casos, a infertilidade do casal ainda é um ônus social da mulher. Ela influencia os relacionamentos, causa tensão e raiva entre os parceiros e pode resultar em
disfunção sexual grave e fim do relacionamento. O enfermeiro precisa reconhecêla e compreender suas causas e opções de tratamento para que possa ajudar os casais a discernir as
possibilidades, bem como as limitações dos tratamentos atuais. O enfermeiro tem um papel essencial em apoiar o casal ao longo desses estressantes tratamentos. Os casais muitas vezes
confiam em seu enfermeiro e podem ser muito beneficiados com uma discussão simpática e sensata. Estudos recentes descobriram que as mulheres desejam ser tratadas com respeito e
dignidade e receber informações e apoio adequados. A infertilidade já foi considerada uma inadequação, mas agora é classificada como doença no United States Regulatory Americans
with Disabilities Act (Turchi, 2015). As mulheres querem que seu sofrimento seja reconhecido e querem sentirse cuidadas e ter confiança nos profissionais de saúde em situações nas
quais os resultados são incertos. O aspecto compassivo do profissional de enfermagem é um componente essencial ao atender às necessidades especiais desses casais (Whitman, 2015).
A prevenção da infertilidade por meio da orientação também deve ser incorporada em qualquer interação da paciente com o enfermeiro.
BOXE 4.3
ORGANIZAÇÕES E RECURSOS DA WEB PARA AUXILIAR PACIENTES COM ENDOMETRIOSE NO BRASIL
• Hospital Pedro Ernesto (UERJ): tratamento gratuito (http://www.hupe.uerj.br/especial/clinica/gineco.htm ou ginecologia@lampada.uerj.br)
• Centro de Endometriose de São Paulo: tratamento gratuito (www.endometriosesp.com.br)
• Ministério da Saúde (http://portal.saude.gov.br)
• Sociedade Brasileira de Endoscopia Ginecológica e Endometriose (http://www.sobenge.com.br)
• Associação Brasileira de Endometriose (http://www.endometriose.org.br)
• Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (http://www.sbendometriose.com.br)
Depois de realizar vários exames complementares, Izzy é diagnosticada com endometriose. Ela pergunta a você sobre as chances de engravidar e de livrarse da
dor. Quais opções de tratamento você lhe apresentaria? Que informações poderia fornecer sobre a futura fertilidade de Izzy?
Considerações culturais
A infertilidade não é apenas uma condição fisiológica, mas uma circunstância que pode desencadear uma crise de vida com repercussões psicológicas, familiares, sociais e culturais.
Entre as culturas, o fato de um casal ter filhos é uma norma aceita; a incapacidade de conceber pode ser considerada uma violação dessa norma cultural. Nesse contexto, a infertilidade
representa uma crise para o casal. A maneira pela qual as diferentes culturas, etnias e grupos religiosos percebem e gerenciam a infertilidade pode ser muito diferente. Por exemplo,
muitos afroamericanos acreditam que as técnicas de reprodução assistida não são naturais e que retiram a natureza espiritual ou divina da criação a partir da concepção. Por essa razão,
podem procurar ajuda espiritual ao tentar engravidar, em vez de ir ao médico. A cultura latinoamericana acredita que as crianças validam o casamento, de modo que as famílias são
tipicamente grandes. Como na cultura afroamericana, os hispânicos são muito espiritualizados e podem considerar a infertilidade como um teste de fé e procurar aconselhamento
espiritual. Decepcionar o cônjuge é uma grande inquietação para as mulheres afroamericanas, enquanto evitar o estigma da infertilidade é a principal preocupação de mulheres
americanas de origem asiática (Inhorn & Patrizio, 2015).
A religião muitas vezes influencia os fatores culturais. Por isso, também pode ser considerada ao se buscar tratamento para a infertilidade. Na religião judaica ortodoxa a procriação é
considerada um “mitzvá”, um mandamento para ter filhos. Todavia, até mesmo judeus ortodoxos aceitam o uso de contraceptivos para evitar concepção quando esta não é desejada.
Judeus conservadores e reformistas não impõem restrições à contracepção. Os católicos romanos têm uma visão muito restritiva sobre o uso de tecnologias de reprodução assistida, na
sua ideia de que a procriação não pode ser separada do relacionamento entre os pais. Assim, Deus quer que a vida humana comece com o “ato conjugal”, não artificialmente. A maioria
dos ensinos religiosos fala da importância da procriação, portanto, a infertilidade pode impactar a identidade da pessoa e das relações do casal que deseja ter filhos. Consequentemente,
existe risco de crise de identidade bem como de fé (Dombo & Flood, 2015). O enfermeiro precisa conhecer a formação cultural e religiosa da paciente e saber como elencar as opções, se
houver alguma, de tratamento de reprodução a serem escolhidas. O enfermeiro precisa incluir essa noção em seu aconselhamento aos casais inférteis.
Etiologia e fatores de risco
A reprodução demanda a interação dos sistemas genitais feminino e masculino, que envolve (1) liberação de um oócito préovulatório normal, (2) produção de espermatozoides
adequados, (3) transporte normal dos gametas para a porção ampular da tuba uterina (onde ocorre a fecundação), e (4) subsequente transporte do embrião em clivagem para a cavidade
endometrial para implantação e desenvolvimento (Puscheck & Woodward, 2015).
Considere isto
Estávamos casados há 3 anos e queríamos começar uma família, mas, para nossa grande consternação, nada aconteceu após 1 ano de tentativas. Eu tive alguns
ciclos menstruais irregulares e, por fim, fui diagnosticada com endometriose e comecei a usar Clomid® por três ciclos. Após esse tempo sem conseguir engravidar,
procurei um especialista em fertilidade. O médico removeu com laser o tecido endometrial ectópico, injetou dióxido de carbono nas minhas tubas uterinas para se
certificar de que elas estavam desobstruídas e me pediu que usasse clomifeno novamente, mas até agora não engravidei. Por fim, 2 anos mais tarde, fomos
colocados em uma lista de espera para fertilização in vitro, e oramos para que tivéssemos o dinheiro para o procedimento quando fôssemos escolhidos. Nesse
momento, eu me sentia um fracasso como mulher. Decidimos então que era mais importante para nós sermos pais do que era, para mim, engravidar, por isso
consideramos a adoção. Tentamos por mais 1 ano, sem nenhum resultado.
Fomos à agência de adoção para preenchermos a papelada a fim de iniciar o processo. Nosso sangue foi retirado e esperamos por uma hora, perguntando o
tempo todo por que estava demorando tanto para que os resultados saíssem. Por fim, o enfermeiro apareceu e entregoume um pedaço de papel com a palavra
“positivo”. Comecei a chorar de alegria, porque estava grávida e nossa longa jornada de infertilidade finalmente chegara ao fim.
Reflexões: Para muitas mulheres, o sonho de ter um filho não é facilmente realizado. A infertilidade pode afetar a autoestima, romper relacionamentos e resultar
em depressão. Esse casal passou por muitos anos de frustração na tentativa de ter uma família. Que tipo de ajuda pode ser oferecido aos casais durante esse
período? O que pode ser dito para consolar uma mulher que se sente um fracasso?
Vários fatores conhecidos e desconhecidos influenciam a fertilidade. A infertilidade feminina é detectada em cerca de 40% dos casos, e a masculina em outros 40%. Os 20%
restantes estão em uma categoria de infertilidade combinada (tanto fatores masculinos quanto femininos) ou inexplicada. Nas mulheres, disfunção ovariana (40%) e patologias das tubas
uterinas/pelve (40%) são os fatores contribuintes primários para a infertilidade (ASRM, 2015).
Os fatores de risco para a infertilidade em mulheres incluem:
• Baixo peso ou sobrepeso (pode alterar a função hormonal)
• Desequilíbrios hormonais que levam à ovulação irregular
• Miomas uterinos
• Obstruções tubárias
• Estenose do colo do útero
• Redução da qualidade do oócito
• Anormalidades cromossômicas
• Anomalias congênitas do útero
• Doenças do sistema imune
• Doenças crônicas, como diabetes melito, doenças da tireoide, asma brônquica
• DST/IST
• Gravidez ectópica
• Idade superior a 27 anos
• Endometriose
• Síndrome de Turner
• Transtornos alimentares
• História pregressa de DIP
• Tabagismo e etilismo
• Múltiplos abortos
• Anormalidades menstruais
• Exposição a agentes quimioterapêuticos
• Estresse psicológico (Senie, 2014).
Os fatores de risco para a infertilidade em homens incluem:
• Exposição a substâncias tóxicas (chumbo, mercúrio, raios X, quimioterapia)
• Tabagismo ou uso de maconha
• Etilismo inveterado
• Uso de medicamentos para úlceras ou psoríase
• Exposição dos órgãos genitais a altas temperaturas (banheiras quentes ou saunas)
• Reparo de hérnia
• Obesidade (associada à diminuição da qualidade dos espermatozoides)
• Síndrome de Cushing
• Prática frequente de ciclismo ou corrida de longa distância
• DST/IST
• Criptorquidia
• Caxumba após a puberdade (Puscheck & Woodward, 2015).
Conduta terapêutica
Como já foi mencionado, as principais causas de infertilidade são femininas (anovulação, lesão tubária, endometriose e insuficiência ovariana), masculinas (contagem baixa de
espermatozoides ou ausência de espermatozoides no sêmen ejaculado e disfunção erétil) ou idiopáticas (Jin, 2015). Apresentamse os resultados dos exames ao casal e sugeremse
diferentes opções de tratamento. A maioria dos casos de infertilidade é tratada com medicamentos ou cirurgia. As opções terapêuticas incluem modificações do estilo de vida, como
perda de peso corporal e abandono do tabagismo; uso de clomifeno para promover ovulação; injeções de hormônios para promover ovulação; inseminação intrauterina e fertilização in
vitro. Podem ser usados vários fármacos que melhoram a ovulação e relações sexuais programadas para a mulher com problemas de ovulação. A mulher deve entender os benefícios do
fármaco e seus efeitos colaterais antes de consentir em tomálo. Dependendo do tipo e da dosagem do fármaco utilizado, algumas mulheres podem ter fetos múltiplos. Se os órgãos
genitais da mulher estiverem danificados, podese realizar uma cirurgia para reparálos. Outros casais podem optar, ainda, por abordagens de alta tecnologia de inseminação artificial
(Figura 4.2), fertilização in vitro (FIV; Figura 4.3) e doação de óvulos, ou podem conseguir uma doação temporária de útero (“barriga de aluguel”)1(Jin, 2015). A Tabela 4.3 apresenta
opções de tratamento específicas para a infertilidade.
Avaliação de enfermagem
Os casais inférteis sofrem enorme pressão e muitas vezes mantêm o problema em segredo, considerandoo muito íntimo. Casais são frequentemente assolados por sentimentos de
inadequação e culpa, e muitos estão sujeitos a pressões de familiares e amigos. Conforme o problema se torna mais crônico, eles podem começar a culpar um ao outro, o que instala
consequente discórdia conjugal. Procurar ajuda muitas vezes é um passo muito difícil para eles, e pode ser necessário muita coragem para discutir algo sobre o qual eles se sentem
profundamente envergonhados ou chateados. O enfermeiro que trabalha em uma instituição que atende a essa especialidade precisa estar ciente dos conflitos e dos problemas que o casal
apresenta e tem de ser muito sensível às suas necessidades.
FIGURA 4.2 Inseminação artificial. Os espermatozoides são depositados junto ao colo do útero (A) ou injetados diretamente na cavidade uterina (B).
FIGURA 4.3 Etapas da fertilização in vitro. A. Ovulação B. Coleta dos óvulos (neste caso, por via intraabdominal). C. Fertilização dos óvulos e crescimento no meio de
cultura. D. Inserção dos óvulos fertilizados no útero.
Tabela 4.3 Opções de tratamento para infertilidade.
Fármacos para a fertilidade
Tecnologias de reprodução assistida*
Recomendado para
mulheres com mais de
40 anos e para aquelas
com óvulos de má
qualidade
Têm surgido questões
médicolegais sobre
quem são os
“verdadeiros pais” da
criança
*Consideradas quando as outras opções tiverem sido esgotadas.
Adaptada de American Society for Reproductive Medicine. (2015).
Frequently asked questions about infertility. Retirada
de http://www.asrm.org/detail.aspx?id=2322; Jin, J. (2015). Treatments for
infertility. JAMA, 313(3), 320321; Puscheck, E. E., & Woodward, T. L.
(2015). Infertility. eMedicine. Retirada
de http://emedicine.medscape.com/article/274143overview.
Devese coletar a história patológica pregressa do casal, juntamente com um exame físico. Os dados necessários para a avaliação da infertilidade são muito delicados e de natureza
pessoal, de modo que o enfermeiro precisa realizar uma abordagem muito profissional durante a entrevista.
A infertilidade tem inúmeras causas e fatores contribuintes. Por isso, é importante usar o processo de eliminação, determinando quais problemas não existem para compreender
melhor os que existem. Na primeira consulta, descrevese um plano de investigação e coletamse antecedentes de saúde completos. Essa primeira consulta obriga muitos casais a
enfrentar a realidade de que sua gravidez desejada pode não ocorrer naturalmente. Alivie um pouco da ansiedade associada aos exames diagnósticos explicando a cronologia e as razões
de cada exame.
Avaliação dos fatores masculinos de infertilidade
A avaliação inicial do homem deve incluir antecedentes reprodutivos e um espermograma. Do ponto de vista masculino, três coisas precisam acontecer para que a concepção ocorra: o
número de espermatozoides tem de ser adequado; esses espermatozoides têm de ser saudáveis e maduros; e os espermatozoides têm de ser capazes de penetrar e fertilizar o óvulo.
Homens normais têm mais de 20 milhões de espermatozoides por mililitro, com mais de 50% de motilidade (World Health Organization [WHO], 2015). O espermograma é o mais
importante indicador da fertilidade masculina. O homem deve absterse de atividade sexual durante 24 a 48 horas antes de fornecer a amostra. Para o exame do sêmen, solicitase ao
homem que produza uma amostra ejaculando em um recipiente de coleta, que deve ser entregue ao laboratório para análise no prazo de 1 a 2 horas. Quando a amostra é levada para o
laboratório, analisamse volume, viscosidade, além de número, viabilidade, motilidade e forma dos espermatozoides. Se os parâmetros do sêmen forem normais, não serão necessários
outros exames no homem (Puscheck & Woodward, 2015).
Um estudo recente mostra que a tensão social e o estresse são maiores para os casais sem uma etiologia clara para a infertilidade. Esses resultados potencializam as tensões sexuais,
pessoais e sociais negativas clinicamente significativas pela percepção de um diagnóstico de infertilidade pelos homens (Cavallini, 2015). O enfermeiro precisa estar muito consciente
desse impacto sobre os homens e abordálo.
O exame físico rotineiramente inclui:
• Avaliação da adequação das características sexuais masculinas, como distribuição dos pelos do corpo, existência de pomo de Adão (proeminência laríngea, segundo a Terminologia
Anatômica) e desenvolvimento muscular
• Exame do pênis, da bolsa escrotal, dos testículos, dos epidídimos e dos ductos deferentes à procura de anomalias (p. ex., nódulos, irregularidades, varicocele)
• Avaliação da normalidade do desenvolvimento da genitália externa (testículos pequenos)
• Realização de toque retal para verificar se há sensibilidade ou edema da próstata (Dohle, 2015).
Avaliação dos fatores femininos de infertilidade
A avaliação inicial da mulher deve incluir uma história completa dos fatores associados à ovulação e aos órgãos pélvicos. Os exames complementares para determinar a infertilidade
feminina incluiriam:
• Avaliação da função ovariana
• Kits de previsão da ovulação utilizados na metade do ciclo
• Nível urinário de LH
• Teste de estimulação com citrato de clomifeno
• Avaliação dos órgãos pélvicos
• Esfregaço de Papanicolaou (PAP) para descartar câncer ou inflamação do colo do útero
• Cultura do colo do útero para descartar a possibilidade de DST/IST
• Ultrassonografia para avaliar as estruturas pélvicas
• Histerossalpingografia para visualizar defeitos estruturais
• Laparoscopia para visualizar estruturas pélvicas e diagnosticar endometriose (Dadhich, Ramasamy, & Lipshultz, 2015).
Exames laboratoriais e complementares
Os procedimentos diagnósticos necessários durante a investigação da infertilidade devem ser guiados pelos antecedentes do casal. Geralmente se procede dos testes menos invasivos para
os mais invasivos.
KITS DE PREVISÃO DA OVULAÇÃO DE USO CASEIRO
Os kits de previsão da ovulação contêm anticorpos monoclonais específicos para o LH e utilizam o teste ELISA para determinar a concentração de LH na urina. A mudança significativa
na cor da linha de base indica o pulso de LH e, presumivelmente, o dia mais fértil do mês para a mulher.
TESTE DE ESTIMULAÇÃO COM CITRATO DE CLOMIFENO
O teste de estimulação com citrato de clomifeno é usado para avaliar a reserva ovariana da mulher (capacidade de seus óvulos de serem fertilizados). Os níveis de FSH são mensurados
nos dias 3 e 10 do ciclo depois de a mulher tomar 100 mg de citrato de clomifeno nos dias 5 a 9 do ciclo. Se o nível de FSH estiver acima de 15, o resultado será considerado anormal, e
a probabilidade de concepção com os próprios óvulos é muito baixa (Schuiling & Likis, 2016).
HISTEROSSALPINGOGRAFIA
A histerossalpingografia é o padrãoouro na avaliação da perviedade (desobstrução) das tubas uterinas (trompas de Falópio). A obstrução das tubas uterinas é uma das causas mais
comuns de infertilidade (fator feminino). A ultrassonografia e a ressonância magnética (RM) são exames usados nessa avaliação. Na histerossalpingografia, injetamse lentamente 3 a 10
mℓ de contraste radiopaco por meio de um cateter introduzido no canal endocervical, de modo que o útero e as tubas possam ser visualizados durante a uoroscopia e a radiografia. Se as
tubas estiverem desobstruídas, o contraste ascenderá e distenderá o útero e as tubas e extravasará para a cavidade peritoneal (Figura 4.4) (Hemingway & Trew, 2015).
LAPAROSCOPIA
Habitualmente a laparoscopia é realizada no início do ciclo menstrual. Não faz parte da avaliação de rotina da infertilidade. É realizada quando são encontradas anomalias na
ultrassonografia ou na histerossalpingografia. Por causa dos riscos adicionais da cirurgia, da necessidade de anestesia e dos custos operacionais, é realizada somente quando há
indicações bem definidas. Durante o procedimento, inserese um endoscópio por meio de uma pequena incisão na parede abdominal anterior. A visualização da cavidade peritoneal de
uma mulher infértil pode revelar endometriose, aderências pélvicas, oclusão tubária, miomas ou ovários policísticos (Kodaman, 2015).
Conduta de enfermagem
O enfermeiro desempenha um papel importante no tratamento de casais inférteis. É um instrutor crucial a respeito dos cuidados preventivos de saúde. Inúmeros fatores de risco
potencialmente modificáveis estão associados ao comprometimento da fertilidade em mulheres, que precisam estar cientes desses riscos para instituir mudanças. O enfermeiro é mais
efetivo quando oferece atendimento e tratamento de modo profissional e considera o casal como indivíduos que merecem ser valorizados e respeitados. O enfermeiro tem de ser
respeitoso e consciente de que muitas mulheres procuram ajuda espiritual para seus problemas de infertilidade, além das modalidades médicas tradicionais (King et al., 2015). O foco do
enfermeiro tem de ser a pessoa como um todo, não apenas os resultados dos vários exames de infertilidade. Durante todo o processo, o papel do enfermeiro é fornecer informação,
orientação antecipatória, manejo do estresse e aconselhamento. O sofrimento do casal geralmente é muito intenso, e o enfermeiro precisa ser capaz de reconhecer a ansiedade e prestar
apoio emocional. Pode ser necessário o encaminhamento do casal para um endocrinologista ou cirurgião especialista em reprodução, dependendo do problema identificado.
FIGURA 4.4 Inserção de contraste para histerossalpingografia. O meio de contraste delineia o útero e as tubas uterinas em uma radiografia para demonstrar sua perviedade.
Não há uma maneira de evitar a infertilidade por si só, porque muitos fatores estão envolvidos na concepção. O enfermeiro pode colaborar para a orientação de homens e mulheres a
respeito dos fatores que contribuem para a infertilidade. O enfermeiro também pode delinear os riscos e benefícios dos tratamentos, para que o casal possa tomar uma decisão informada.
Enquanto os casais lidam com a infertilidade, frequentemente buscam empatia, orientação e suporte dos profissionais de enfermagem. Quando compreende os conflitos e as experiências
vividas pelas mulheres e pelos casais com infertilidade, o enfermeiro consegue ajustar sua abordagem para melhor atender às demandas deles de modo que a gravidez e a experiência do
parto dessas mulheres sejam curativas, transformadoras e positivas.
Com os avanços da genética e da medicina reprodutiva, vem também uma miríade de questões éticas, sociais e culturais que influenciam as decisões do casal. Com isso em mente,
proporcione uma oportunidade para o casal tomar decisões informadas em um ambiente não tendencioso e imparcial. É importante encorajar os casais a permanecerem otimistas em todo
o processo de investigação e tratamento. Utilizando a orientação e a defesa antecipatória, ajude e apoie os casais ao longo do diagnóstico e tratamento da infertilidade (Ying & Loke,
2015).
As finanças e a cobertura do plano de saúde muitas vezes ditam a escolha do tratamento. Ajude os casais a descobrir a cobertura do plano de saúde e ajudeos a avaliar os custos dos
vários procedimentos, explicando o que cada um vai oferecer em relação a seus problemas de infertilidade. Fazer com o casal uma lista de prioridades de exames complementares e
potenciais opções de tratamento o ajudará a planejar sua estratégia financeira.
Muitos casais inférteis não estão preparados para a verdadeira montanharussa emocional de dor e perda que acompanha os tratamentos de infertilidade. As preocupações financeiras
e o enfrentamento como casal são duas importantes áreas de estresse quando o tratamento é realizado. Durante o tratamento da infertilidade, que pode levar meses ou mesmo anos, é
essencial desenvolver uma abordagem holística para o cuidado de enfermagem. O manejo do estresse e a redução da ansiedade precisam ser abordados. O Boxe 4.4 apresenta alguns
locais no Brasil que oferecem tratamento de infertilidade (gratuito e semigratuito).
BOXE 4.4
ORGANIZAÇÕES E RECURSOS DA WEB PARA AUXILIAR O CASAL COM INFERTILIDADE NO BRASIL (CLÍNICAS, HOSPITAIS E PROGRAMAS
GRATUITOS E SEMIGRATUITOS)
• Hospital Pérola Byington, mantido pelo governo estadual de SP (http://www.hospitalperola.com.br). É possível congelar óvulos, mas este serviço só é oferecido
para mulheres com câncer que precisam passar por quimioterapia. Também oferece tratamento gratuito para mulheres que precisam de óvulos doados. Entre os
critérios, a mulher não pode ter completado 40 anos, não pode ter passado por três ou mais cesárias e não deve ser portadora de doença crônica grave, como
cardiopatia e diabetes descompensado, além de doença infecciosa que impossibilite a utilização do laboratório, como hepatites B e C ou HIV
• Hospital Materno Infantil de Brasília (http://www.saude.df.gov.br/hmib)
• Hospital Fêmina (https://www.ghc.com.br)
• Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (https://sbra.com.br)
• Setor de reprodução humana da USP. São atendidos pacientes do SUS via encaminhamento (reproduc@fmrp.usp.br)
• Maternidade Escola Januário Cicco da UFRN, Natal (http://www.ebserh.gov.br/web/mejcufrn)
• Hospital das Clínicas da UFMG, Minas Gerais (http://www.ebserh.gov.br/web/hcufmg)
CONTRACEPÇÃO
A contracepção engloba qualquer método que impeça a concepção ou o parto, incluindo contraceptivos orais, esterilização da mulher e preservativos masculinos, que são os métodos
mais populares nos EUA (Alan Guttmacher Institute, 2015a). Outros tipos de contraceptivos são discutidos mais adiante neste capítulo.
Nos EUA, existem aproximadamente 68 milhões de mulheres em idade fértil, entre 15 e 44 anos. Ao longo desses anos, podem ser usados vários métodos contraceptivos. Os
estudos já demonstraram que 98% das mulheres sexualmente ativas nos EUA admitem ter usado pelo menos um método contraceptivo. No entanto, apesar do uso generalizado de
contraceptivos, quase 50% de todas as gestações nos EUA não ocorrem intencionalmente, o que representa uma taxa de gravidez não planejada maior do que em qualquer outro país
ocidental (Centers for Disease Control [CDC], 2015b). Conforme descrito no relatório State of the World Population 2014, do United Nations Population Fund (UNFPA), mais de 7
bilhões de pessoas habitam o planeta Terra atualmente, e mais de 80 milhões de pessoas serão adicionadas ao mundo a cada ano; destas, mais de metade será concebida de modo não
planejado.
Além de gestações indesejadas, que podem resultar em aborto, alguns contraceptivos também ajudam a evitar a transmissão de doenças/infecções sexualmente transmissíveis e do
vírus da imunodeficiência humana (HIV). O relatório do UNFPA também mostra que cerca de 50.000 pessoas são infectadas pelo HIV nos EUA a cada ano. Grande parte desse
sofrimento poderia ser evitada pelo acesso e uso consistente de métodos contraceptivos seguros, eficientes, adequados e modernos para todos que os quisessem, bem como por
orientações adequadas sobre os benefícios e as instruções de uso (UNFPA, 2015). Além disso, as alterações climáticas (variações extremas de temperatura e elevação do nível do mar)
interagirão com o crescimento populacional de modo a exercer pressão adicional sobre sistemas de saúde já fragilizados, e agravarão a vulnerabilidade aos efeitos adversos à saúde das
mudanças climáticas. Os danos causados ao meio ambiente pela sociedade moderna talvez sejam um dos riscos de saúde mais injustos do nosso tempo (UNFPA, 2015).
Atualmente, o controle voluntário da fertilidade é de vital importância para a sociedade moderna. De uma perspectiva global, os países atualmente enfrentam uma crise de
crescimento rápido da população, que começou a ameaçar a sobrevivência humana. No ritmo atual, a população do mundo dobrará em 40 anos. Em vários dos países mais desfavorecidos
socioeconomicamente, a população dobrará em menos de 20 anos (UNFPA, 2015).
Healthy People 2020 • 4.1
Objetivos Importância para a enfermagem
FP1 Aumentar a proporção deReduziria o número de gestações não
gestações intencionais planejadas e de meninas que
abandonam os estudos. Isso, por sua
vez, reduziria o número de mães
solteiras que precisam de suporte
financeiro governamental
FP2 Reduzir a proporção deO conhecimento de métodos
mulheres que engravidam enquantocontraceptivos e a acessibilidade
em uso de um método deresultam em melhor adesão e
contracepção reversível prevenção de gestações indesejadas
FP3 Aumentar a proporção deIsso aumentaria a acessibilidade à
ambulatórios públicos decontracepção e evitaria gestações
planejamento familiar que ofereçamindesejadas
toda a gama de métodos de
contracepção aprovados pela FDA,
incluindo a contracepção de
emergência
FP7 Aumentar a proporção deA acessibilidade a recursos de
pessoas sexualmente ativas quereprodução pode fornecer prevenção
receberam serviços de saúdeda gravidez e orientação preventiva
reprodutiva
Objetivos do Healthy People com base em dados
de http://www.healthypeople.gov.
Tipos de métodos contraceptivos
Os métodos contraceptivos podem ser divididos em quatro tipos: comportamentais, de barreira, hormonais e permanentes. As mulheres precisam decidir qual método é mais apropriado
para atender às suas necessidades contraceptivas, que mudam ao longo dos seus ciclos de vida. O enfermeiro pode orientálas e ajudálas durante o processo de seleção. Esta seção
descreverá os métodos anticoncepcionais mais comuns disponíveis.
Em uma época em que muitas mulheres desejam adiar a gravidez e evitar as DST/IST, as escolhas são difíceis. Diversos métodos de contracepção estão disponíveis na atualidade, e
muitos mais serão oferecidos em um futuro próximo. O método contraceptivo ideal para muitas mulheres teria de apresentar as seguintes características: facilidade de uso, segurança,
efetividade, efeitos colaterais mínimos, “naturalidade”, método não hormonal e de reversibilidade imediata (SamraLatif & Wood, 2015). Atualmente, nenhum método contraceptivo
oferece isso tudo. O Boxe 4.5 descreve os métodos contraceptivos disponíveis. A Tabela 4.4 fornece um resumo detalhado de cada tipo, incluindo informações sobre taxas de falha,
vantagens, desvantagens, proteção contra DST/IST e sinais de perigo.
Abstinência sexual
A abstinência sexual (não ter relação sexual vaginal ou anal) é uma das formas menos dispendiosas de contracepção e é usada há milhares de anos. Basicamente, a gravidez não ocorre
se o espermatozoide for mantido fora da vagina. Também reduz o risco de contrair HIV/
AIDS e outras DST/IST, a menos que líquidos corporais sejam trocados por meio do sexo oral; contudo, algumas infecções, como herpes e papilomavírus humano (HPV), podem ser
transmitidas pelo contato pele a pele. No entanto, isoladores dentais podem ser usados para evitar a transmissão. Há muitas opções agradáveis para a estimulação sexual sem o coito
propriamente dito (“preliminares”), como beijos, masturbação, massagem erótica, fantasia sexual, brinquedos sexuais (p. ex., vibradores) e sexo oral.
Muitas pessoas têm fortes convicções em relação a manter a abstinência sexual, com base em crenças religiosas e morais. Existem razões, muitas boas e pessoais, para se optar pela
abstinência. Para alguns, é um modo de vida, enquanto para outros é uma escolha temporária. Algumas pessoas escolhem a abstinência sexual porque querem:
• Esperar até que sejam mais velhas
• Aguardar um relacionamento duradouro
• Evitar a gravidez ou DST/IST
• Aliviar sentimentos de depressão e ansiedade
• Atender a expectativas religiosas ou culturais.
BOXE 4.5
MÉTODOS CONTRACEPTIVOS
Métodos reversíveis
• Comportamentais
• Abstinência sexual
• Métodos de conscientização da fertilidade (MCF)
• Coito interrompido
• Método de amenorreia lactacional (MAL)
• De barreira
• Preservativo (masculino e feminino)
• Diafragma
• Capuz cervical
• Esponja contraceptiva
• Hormonais
• Contraceptivo oral
• Anticoncepcional injetável
• Sistema transdérmico (adesivo)
• Anel vaginal
• Anticoncepcional implantável
• Dispositivo intrauterino (DIU)
• Contraceptivo de emergência
Permanentes
• Laqueadura tubária ou Essure® para mulheres
• Vasectomia para homens
Métodos de conscientização da fertilidade
A conscientização da fertilidade engloba qualquer método contraceptivo natural que não exija hormônios, compostos farmacêuticos, barreiras físicas ou cirurgia para evitar a gravidez.
Os métodos de conscientização da fertilidade (MCF) usam sinais e sintomas físicos que mudam com as flutuações hormonais durante o ciclo menstrual de uma mulher para predizer sua
fertilidade. A ovulação ocorre em 1 dia durante cada ciclo menstrual, portanto, é mais provável que relações sexuais nos dias que antecedem a ovulação resultem em gravidez.
Coletivamente, os dias potencialmente férteis (incluindo o dia da ovulação) são denominados “janela fértil”. A conscientização da fertilidade é um método de produção de fertilidade
melhor que os contraceptivos. Menos de 1% das mulheres nos EUA que usam contracepção usam esses métodos (King et al., 2015). O tema unificador dos MCF é que uma mulher
consegue reduzir a chance de gravidez abstendose de relações sexuais ou usar métodos de barreira durante os períodos de fertilidade. Esses métodos exigem que os casais tenham um
papel ativo na prevenção da gravidez por meio de seus comportamentos sexuais e as mulheres precisam ter ciclos menstruais regulares para serem efetivos. Os casais concordam em
praticar determinadas técnicas, fazem cálculos e estão atentos aos períodos “férteis” e “seguros” de um ciclo menstrual mensal. A utilização desses métodos de controle da natalidade
demanda compromisso forte dos dois parceiros. As mudanças fisiológicas normais causadas pelas flutuações hormonais durante o ciclo menstrual podem ser observadas e colocadas em
um gráfico. Essas informações podem, então, ser utilizadas para evitar ou promover a gravidez.
Tabela 4.4 Resumo dos métodos contraceptivos.
Pode desalojarse
quando a
mulher está
por cima do
homem
durante o ato
sexual
Esterilização
permanente
Adaptada de Raymond, E. G., & Cleland, K. (2015). Emergency contraception. New England Journal of Medicine, 372(14), 1342–1348; King, T. L., Brucker, M. C.,
Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Gegor, C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s midwifery. Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning; Ilic, K. (2015). Emergency contraception. In
Medicines for women (pp. 203–225). Springer International Publishing; SamraLatif, O. M., & Wood, E. (2015). Contraception. eMedicine. Retirada
de http://emedicine.medscape.com/article/258507overview; Schuiling, K. D., & Likis, F. E. (2016). Women’s gynecologic health (3rd ed.). Burlington, MA: Jones &
Bartlett Learning.
Os métodos de conscientização da fertilidade dependem das seguintes premissas:
• Um único óvulo é liberado do ovário 14 dias antes do ciclo menstrual seguinte. Ele vive por aproximadamente 24 horas
• As mulheres que usam esse método precisam ter ciclos menstruais regulares para que ele seja efetivo
• Os espermatozoides conseguem sobreviver por até 5 dias após a relação sexual. Assim, o período “inseguro” do ciclo menstrual é de aproximadamente 6 dias: 3 dias antes e 3 dias
após a ovulação. Como as alterações do corpo começam a ocorrer antes da ovulação, a mulher pode conscientizarse delas e não ter relações sexuais nesses dias ou usar outro método
para evitar a gravidez
• O momento exato da ovulação não pode ser determinado, então são adicionados 2 a 3 dias ao seu início e ao seu final para evitar a gravidez.
As técnicas utilizadas para determinar a fertilidade incluem o método do muco cervical, o método da temperatura basal do corpo (TBC), o método sintotérmico, o método da tabela
dos dias férteis e o método dos 2 dias (Everett, 2014). Os métodos baseados na conscientização da fertilidade são moderadamente efetivos, mas são “implacáveis” se não forem
realizados conforme prescritos. A conscientização da fertilidade pode ser usada em combinação com métodos de barreira ou de abstinência do coito durante os dias férteis se a gravidez
não for desejada.
MÉTODO DO MUCO CERVICAL
O muco cervical é uma secreção vaginal gelatinosa proveniente do colo do útero. O método do muco cervical é utilizado para avaliar as características do muco cervical. A consistência
do muco cervical muda durante o ciclo menstrual e desempenha um papel vital na fertilização do óvulo. Estudos realizados pela OMS indicam que 93% das mulheres, independentemente
de seu nível de escolaridade, são capazes de identificar e distinguir as secreções cervicais consideradas férteis e inférteis (Planned Parenthood, 2015a). Nos dias que antecedem a
ovulação, o muco cervical fértil ajuda a atrair os espermatozoides para cima e para dentro das tubas uterinas, onde a fertilização geralmente ocorre. Também ajuda a manter a sobrevida
dos espermatozoides. Conforme a ovulação se aproxima, o muco se torna mais abundante, claro, escorregadio e liso, podendo ser esticado entre dois dedos sem se romper. Sob a
influência do estrogênio, esse muco parece a clara de ovo. Essa propriedade é chamada de filância (spinnbarkeit) (Figura 4.5). Após a ovulação, o muco cervical se torna espesso e seco
sob a influência da progesterona.
Também se pode avaliar a posição do colo do útero para confirmar mudanças no muco cervical na ovulação. Perto da ovulação, o colo do útero é macio e está alto/fundo na vagina, o
óstio do colo do útero está discretamente aberto e o muco cervical é abundante e escorregadio (Bieber et al., 2015). Esse método funciona porque a mulher se torna consciente das
alterações de seu corpo que acompanham a ovulação. Quando ela as percebe, abstémse de relações sexuais ou usa outro método para evitar a gravidez. Cada mulher é única, de modo
que o período fértil do mês de cada uma é exclusivo, portanto tem de ser avaliado e determinado individualmente.
FIGURA 4.5 Elasticidade (fenômeno de spinnbarkeit) é o muco cervical que pode ser esticado entre as lâminas sem se romper.
MÉTODO DA TEMPERATURA CORPORAL BASAL
A temperatura corporal basal (TCB) é a menor temperatura alcançada ao despertar. A mulher avalia a temperatura oral antes de levantarse e a registra em um gráfico. As
temperaturas préovulação são suprimidas pelo estrogênio, enquanto as temperaturas pósovulação são aumentadas sob a influência da ação termoindutora da progesterona. As
temperaturas tipicamente sobem 1 ou 2 dias depois da ovulação e permanecem elevadas durante cerca de 2 semanas (quando geralmente começa o sangramento pontual). Se utilizar esse
método isoladamente, a mulher deverá evitar relações sexuais desprotegidas até que a temperatura corporal basal mantenhase elevada por 3 dias. Os profissionais de enfermagem devem
instruir as mulheres que usam o método da temperatura corporal basal que é importante lembrar que doenças e o uso de substâncias, inclusive álcool etílico, podem elevar a temperatura
corporal e resultar em leitura falsamente alta. Para obter melhores resultados, outros métodos de conscientização da fertilidade devem ser usados em conjunto com a determinação da
TCB (Figura 4.6).
MÉTODO SINTOTÉRMICO
O método sintotérmico baseiase em uma combinação de técnicas para reconhecer a ovulação, incluindo temperatura corporal basal, mudanças no muco cervical, alterações na posição e
na consistência do colo do útero e outros sintomas da ovulação, como aumento da libido, dor abdominal baixa por causa da ovulação de meio de ciclo (mittelschmerz); sensação de
plenitude ou dor à palpação na pelve e maior sensibilidade das mamas (Planned Parenthood, 2015a). Combinar todos esses preditores aumenta a consciência de quando ocorre a ovulação
e aumenta a efetividade desse método. Um teste caseiro preditor para a ovulação também é encontrado na maioria das farmácias. Ele mede os níveis de LH para identificar 1 dia antes ou
o dia da ovulação. Esses testes são amplamente utilizados para regimes de fertilidade e infertilidade.
FIGURA 4.6 Gráfico da temperatura corporal basal. A. A temperatura da mulher cai um pouco no ponto médio do ciclo menstrual e então sobe acentuadamente, uma indicação de
ovulação. Perto do fim do ciclo (dia 24), a temperatura começa a diminuir, o que indica que os níveis de progesterona estão caindo e que ela não engravidou. B. A temperatura da
mulher sobe no meio do ciclo e permanece nesse nível elevado após o tempo normal do seu fluxo menstrual, sugerindo que ocorreu a gravidez. C. Não há queda préovulatória nem
aumento da temperatura em qualquer momento do ciclo. Este é o padrão típico de uma mulher que não ovula.
MÉTODO DA TABELA DOS DIAS FÉRTEIS E MÉTODO DOS 2 DIAS
A tabela dos dias férteis (TDF) e o método dos 2 dias são os métodos naturais de contracepção desenvolvidos pelo Georgetown University Medical Center’s Institute for Reproductive
Health. Ambos os métodos fornecem às mulheres instruções simples e claras para identificar os dias férteis. As mulheres com ciclos menstruais entre 26 e 32 dias podem usar a TDF
para não engravidar, evitando relações sexuais desprotegidas entre o 8o e o 19o dia de seus ciclos. A maioria das usuárias do método rítmico (“tabelinha”) utiliza o CycleBeads® como
recurso auxiliar. Um ensaio clínico internacional da TDF mostrou que o método tem mais de 95% de efetividade quando utilizado corretamente (Wright, Iqteit, & Hardee, 2015). A TDF
identifica a “janela fértil” de 12 dias do ciclo menstrual de uma mulher. Esses 12 dias levam em conta o tempo de vida do óvulo da mulher (cerca de 24 horas) e a viabilidade dos
espermatozoides (cerca de 5 dias), além da variação na cronologia real da ovulação de um ciclo para outro. No método de 2 dias, a mulher observa se há ou não secreção cervical,
examinando o papel higiênico ou a calcinha ou monitorando suas sensações físicas. Todos os dias, a mulher faz duas perguntas simples: “Eu observei secreção vaginal ontem?” e “Eu
observei secreção vaginal hoje?”. Se a resposta a alguma dessas perguntas for positiva, ela deve considerarse fértil e evitar relações sexuais desprotegidas. Se as respostas forem
negativas, é improvável que ela engravide a partir de relações sexuais desprotegidas naquele dia (King et al., 2015).
Para ajudar a mulher a manter o controle dos dias em que deve evitar relações sexuais desprotegidas, utilizase um cordão com 32 contas com códigos de cores (CycleBeads®), com
cada conta representando 1 dia do ciclo menstrual. Começando na conta vermelha, que representa o primeiro dia do seu ciclo menstrual, a mulher move um pequeno anel de borracha
uma conta por dia. As contas marrons são os dias em que a gravidez é improvável; as contas brancas representam seus dias férteis (Stanford, 2015). Esse método tem sido utilizado em
países subdesenvolvidos para mulheres com baixa escolaridade (Figura 4.7).
Coito interrompido
No coito interrompido, o homem controla sua ejaculação durante a relação sexual e ejacula fora da vagina. É um dos métodos mais antigos e mais utilizados no mundo de evitar
gravidez e também é um dos métodos menos efetivos (Creatsas, 2015). O problema desse método é que as primeiras gotas do ejaculado verdadeiro contêm a maior concentração de
espermatozoides e, se algum líquido préejaculatório escapar da uretra antes do orgasmo, isso poderá resultar em concepção. Esse método exige que a mulher confie muito na cooperação
e no julgamento do homem. Os profissionais de enfermagem poderiam discutir os métodos de contracepção de emergência disponíveis com esse casal ou usar um método mais efetivo
de contracepção.
FIGURA 4.7 O CycleBeads® ajuda as mulheres a usar a tabela dos dias férteis.
Método de amenorreia lactacional
O método de amenorreia lactacional (MAL) é um método temporário efetivo de contracepção usado por lactantes. Fundamentase nas alterações fisiológicas associadas ao aleitamento
para contracepção. A amamentação contínua geralmente pode adiar a ovulação e, assim, evitar a gravidez. A amamentação estimula o hormônio prolactina, necessário para a produção do
leite, e também inibe a liberação de outro hormônio, a gonadotrofina, necessário para a ovulação.
A amamentação pode ser bastante efetiva como método contraceptivo durante os primeiros 6 meses após o parto somente se:
• A mulher não menstruar desde que deu à luz
• O lactente tiver menos de 6 meses de idade
• A mulher amamentar o lactente pelo menos 6 vezes/dia, nas duas mamas
• A mulher amamentar o lactente “em livre demanda” pelo menos a cada 4 horas
• A mulher não substituir uma refeição de leite materno por outros alimentos
• A mulher amamentar durante a noite pelo menos a cada 6 horas.
O bombeamento ou a expressão manual do leite podem reduzir a efetividade do método. Não confiar nesse método depois de 6 meses (Planned Parenthood, 2015a).
Os profissionais de enfermagem podem ajudar os casais a tomar uma decisão sobre as opções de planejamento familiar disponíveis no período pósparto por meio de apresentação
das vantagens e desvantagens de cada um, levando em consideração as demandas do período pósparto. As opções a serem consideradas incluem amenorreia lactacional, o uso de
contraceptivo oral combinado, implantes, sistemas intrauterinos, métodos injetáveis, métodos de barreira, contracepção de emergência e esterilização (Hughes, 2015).
Métodos de barreira
Os contraceptivos de barreira são formas de controle de natalidade que evitam a gravidez impedindo que o espermatozoide chegue ao óvulo. As barreiras mecânicas incluem
preservativos, diafragma, capuz cervical e esponja contraceptiva. Esses dispositivos são colocados sobre o pênis ou o colo do útero para obstruir fisicamente a passagem dos
espermatozoides pelo colo do útero. As barreiras químicas chamadas espermicidas podem ser usadas juntamente com dispositivos de barreira mecânica. Estão disponíveis na forma de
cremes, géis, espuma, supositórios e películas vaginais. Eles destroem quimicamente o espermatozoide na vagina. Esses contraceptivos são chamados métodos de barreira porque não só
proporcionam uma barreira física para o espermatozoide, mas também protegem contra as DST/IST. Desde que a epidemia de HIV/AIDS começou, no início da década de 1980, esses
métodos tornaramse extremamente populares. Registraramse progressos na reação da sociedade ao uso do preservativo como um dispositivo de prevenção de doenças, não apenas
como contraceptivo (Haddad, PhilpottJones, & Schonfeld, 2015).
Muitos desses métodos de barreira contêm látex. A alergia ao látex foi reconhecida pela primeira vez no final da década de 1970; desde então, tornouse um importante problema de
saúde, com o aumento crescente de pessoas afetadas. De acordo com a American Academy of Allergy, Asthma and Immunology (AAAAI) (2015), 6% da população em geral, 10% dos
trabalhadores da área da saúde e 50% dos pacientes com espinha bífida são sensíveis ao látex de borracha natural. Os profissionais de saúde que trabalham em ambientes médicos e
odontológicos, bem como grupos específicos de pessoas, incluindo aqueles com espinha bífida, mielodisplasia e alergias alimentares (p. ex., banana, kiwi, abacate, entre outros
alimentos), correm maior risco de sensibilização (Kim, 2015). O boxe Diretrizes de ensino 4.4 fornece dicas para pessoas com alergia ao látex.
Diretrizes de ensino 4.4
Dicas para pessoas alérgicas ao látex
• Os sinais/sintomas da alergia ao látex incluem:
• Erupção cutânea, prurido, urticária
• Prurido ou ardor nos olhos
• Mucosas dos órgãos genitais edemaciadas
• Dispneia, dificuldade de respirar, sibilos
• Choque anafilático
• O uso ou contato com preservativos de látex, capuz cervical e diafragmas é contraindicado para homens e mulheres com alergia ao látex
• Se a mulher for alérgica ao látex, o parceiro masculino pode colocar um preservativo natural sobre o de látex
• Se o homem sentir irritação no pênis após o uso do preservativo, poderá experimentar diferentes marcas ou colocar o preservativo de látex sobre um
preservativo natural
• Usar preservativos de poliuretano em vez dos de látex
• Usar preservativos femininos, pois são feitos de poliuretano
• Mudar para outro método anticoncepcional que não seja feito com látex, como contraceptivos orais, sistemas intrauterinos, medroxiprogesterona,
conscientização da fertilidade e outros métodos que não sejam de barreira. No entanto, esses métodos não protegem contra DST/IST.
Adaptado de American Academy of Allergy, Asthma and Immunology. (2015). Latex allergy: Tips to remember. Retirado de http://www.aaaai.org/conditionsand
treatments/library/allergylibrary/latexallergy.aspx; Kim, J. S. (2015). Latex allergy. In Allergy and clinical immunology (pp. 288–293). Chichester: John Wiley &
Sons. doi: 10.1002/9781118609125.ch32; e Occupational Health and Safety Administration. (2015). Latex allergy. Retirado
de http://www.osha.gov/SLTC/latexallergy.
PRESERVATIVOS
Os preservativos são métodos contraceptivos de barreira feitos tanto para homens quanto para mulheres. O preservativo masculino é feito de látex, poliuretano ou de uma membrana
natural, e pode ser revestido com um espermicida. Os preservativos masculinos estão disponíveis em várias cores, texturas, tamanhos, formas e espessuras. Quando usado corretamente,
o preservativo masculino é colocado sobre o pênis ereto antes de entrar na vagina e é usado durante toda a relação sexual (Figura 4.8). Serve como uma barreira à gravidez, retendo o
líquido seminal e os espermatozoides e oferecendo proteção contra as DST/IST. No entanto, os preservativos não são barreiras perfeitas, porque podem ocorrer ruptura e deslizamento.
A contracepção de emergência póscoito pode precisar ser utilizada para evitar gravidez. Além disso, os preservativos sem látex envolvem maior risco de gravidez e doenças sexualmente
transmissíveis do que os de látex (Everett, 2014).
O preservativo feminino é uma bolsa de poliuretano utilizada dentro da vagina. É constituída por um anel exterior e outro interior que é inserido na vagina e mantido no lugar pelo
osso púbico. Algumas mulheres se queixam de que o preservativo feminino é complicado de usar e faz barulho durante a relação sexual. Os preservativos femininos são prontamente
disponíveis, baratos, e podem ser levados discretamente pela mulher. O preservativo feminino foi o primeiro método controlado pela mulher que oferece proteção contra a gravidez e
algumas doenças sexualmente transmissíveis. O enfermeiro pode desempenhar um papel fundamental em orientar as pacientes a iniciarem e manterem o uso do preservativo feminino,
um método pouco utilizado para prevenção de HIV/IST e da gravidez nos EUA. Programar uma breve sessão de educação juntamente com amostras grátis ajudaria muito a promover o
uso desse dispositivo para evitar a transmissão das IST bem como a gravidez (Boyd et al., 2015).
DIAFRAGMA
O diafragma é uma cúpula macia de látex rodeada por uma mola de metal. Usado em conjunto com um gel ou creme espermicida, é inserido na vagina para revestir o colo do útero
(Figura 4.9). O diafragma pode ser inserido até 4 horas antes da relação sexual, mas tem de ser deixado no local por pelo menos 6 horas depois. Os diafragmas estão disponíveis em
vários tamanhos e estilos. O diafragma está disponível apenas por prescrição médica e tem de ser colocado pelo profissional de saúde. As mulheres podem precisar de um diafragma de
tamanho diferente após gravidez, cirurgia abdominal ou pélvica, ou perda ou ganho de peso de 10 quilos ou mais. Como regra geral, os diafragmas devem ser trocados a cada 1 a 2 anos.
Recentemente, um diafragma de tamanho único usado com geleia contraceptiva foi lançado e sua efetividade foi estudada. O diafragma de tamanho único foi considerado seguro e tão
efetivo quanto o diafragma de dimensões individualizadas com bases em uma amostra populacional de > 400 mulheres que participaram no estudo de pesquisa (Schwartz et al., 2015). O
diafragma constitui uma barreira física e química aos espermatozoides (Tharpe et al., 2016).
Os diafragmas são métodos não hormonais controlados pela usuária necessários apenas no momento da relação sexual, mas não são efetivos a menos que usados corretamente. As
mulheres precisam receber instruções completas sobre o uso do diafragma e devem praticar colocandoo e retirandoo antes de deixar o consultório médico (Figura 4.10).
Os resultados de um estudo em múltiplas unidades de saúde durante 2 anos indicam que as taxas de efetividade do diafragma contornado de tamanho único são semelhantes às taxas
dos diafragmas tradicionais, mas também propiciam a liberação prolongada e controlada do microbicida antiHIV dapivirina. Isso o tornaria um dispositivo de prevenção com múltiplos
propósitos (Schwartz et al., 2015). A maior diferença desse novo dispositivo é que é comercializado em tamanho único e não exige exame ginecológico prévio para determinar as
dimensões do colo do útero. Além disso, libera um microbicida antiHIV que potencialmente consegue prevenir a transmissão do HIV. A maioria das mulheres do estudo conseguiu
inserilo e removêlo corretamente e verificar a posição correta do dispositivo simplesmente seguindo as instruções (Schwartz et al., 2015).
FIGURA 4.8 A. Preservativo masculino. B. Colocação de um preservativo masculino. Deixar um espaço na ponta ajuda a garantir que o preservativo não se rompa com a
ejaculação. C. Preservativo feminino. D. Técnica de inserção.
FIGURA 4.9 Amostras de diafragma usadas para medição.
CAPUZ CERVICAL
O capuz cervical é menor do que o diafragma e recobre apenas o colo do útero; é mantido no lugar por sucção. O capuz é feito de silicone ou látex e é utilizado com um espermicida
(Figura 4.11). FemCap® é a única apresentação comercial de capuz cervical disponível atualmente nos EUA e tem três tamanhos (Planned Parenthood, 2016). O capuz pode ser inserido
até 36 horas antes da relação sexual e oferece proteção por 48 horas. Deve ser mantido na vagina durante 6 horas após o final da relação sexual e deve ser trocado a cada ano de uso.
Também pode ser necessário reajustálo quando a mulher passa por experiências de gravidez, aborto ou alterações de peso corporal. Cerca de um terço da cúpula do capuz é preenchido
com espermicida. O espermicida não deve ser aplicado ao aro, porque isso pode interferir na vedação que precisa ser formada em torno do colo do útero. O capuz está disponível apenas
por prescrição médica e tem de ser colocado por um profissional de saúde. As contraindicações ao uso de capuz cervical incluem câncer de colo de útero, infecção urinária recente,
alergia ao látex, prolapso de órgão pélvico e história pregressa de síndrome de choque tóxico. O uso do capuz cervical durante a menstruação aumenta o risco de síndrome de choque
tóxico e, portanto, deve ser evitado (Schuiling & Likis, 2016).
FIGURA 4.10 Colocação de um diafragma. A. Para inserilo, dobreo ao meio, separe os lábios do pudendo com uma das mãos, e então insirao para cima e para trás na
vagina. B. Para posicionálo, certifiquese de que o diafragma recubra o colo do útero de modo seguro. C. Para removêlo, enganche um dedo sobre a parte superior do aro do
diafragma e tragao para baixo e para fora.
FIGURA 4.11 O capuz cervical é colocado sobre o colo do útero e usado com um gel espermicida, o mesmo usado com o diafragma.
ESPONJA CONTRACEPTIVA
A esponja contraceptiva é um dispositivo não hormonal que não necessita de prescrição médica. É um método de barreira que inclui um agente espermicida. Quando foi retirada do
mercado, em 1995, a esponja era o contraceptivo feminino de venda livre mais popular na América (Everett, 2014). O fabricante, Wyeth, parou de produzila em vez de atualizar seu
parque fabril depois que a Food and Drug Administration (FDA) encontrou deficiências, mas a efetividade e a segurança do dispositivo nunca foram questionadas. Depois de receber
nova aprovação da FDA em 2009, a esponja contraceptiva passou a ser novamente comercializada para as mulheres.
É um dispositivo côncavo suave que impede a gravidez, cobrindo o colo do útero e liberando espermicida. A esponja contraceptiva de poliuretano saturada com nonoxinol9 (1.000
mg) libera 125 mg de espermicida ao longo de 24 horas de utilização. Ao contrário do diafragma, pode ser utilizada durante mais de uma relação sexual em um período de 24 horas sem
a inserção de espermicida adicional. A esponja contraceptiva não exige colocação nem prescrição médica (Zieman, 2015). Embora seja menos efetiva do que vários outros métodos e não
ofereça proteção contra doenças/infecções sexualmente transmissíveis, tem conseguido muitas usuárias entre as mulheres que apreciam a espontaneidade com a qual ela pode ser utilizada
e sua grande disponibilidade. Quando comparada com o diafragma em um estudo recente, constatouse que a esponja é menos efetiva que o diafragma na prevenção de gravidez. As taxas
de abandono também foram mais altas em 12 meses (Sharma & Walmsley, 2015).
Para utilizar a esponja contraceptiva, primeiro a mulher a molha com água e, então, inserea na vagina com o dedo, utilizando um cordão circular de fixação. Pode ser inserida até 24
horas antes da relação sexual e deve ser deixada no local durante pelo menos 6 horas após o coito. A esponja contraceptiva oferece proteção por até 12 horas, mas não deve ser deixada
por mais de 30 horas após a inserção para evitar o risco de síndrome do choque tóxico (Moses, 2015c).
Métodos hormonais
Várias opções estão disponíveis para as mulheres que querem proteção a longo prazo, mas não permanente, contra a gravidez. Esses métodos de contracepção atuam alterando os
hormônios no corpo das mulheres. Eles contam com estrogênio e progestina ou somente com progestina para impedir a ovulação. Quando usados de modo consistente, são confiáveis e
evitam gestação. Os métodos hormonais incluem contraceptivos orais, injetáveis, implantes, anéis vaginais e sistemas transdérmicos (adesivos).
CONTRACEPTIVOS ORAIS
Já em 1937, os cientistas reconheciam que a injeção de progesterona inibia a ovulação em coelhos e fornecia contracepção. O primeiro contraceptivo hormonal, denominado Enovid, foi
aprovado pela FDA em maio de 1960. Continha altos níveis de estrogênio para impedir a ovulação. Desde essa época, os contraceptivos orais evoluíram com redução gradativa do teor
de estrogênio e, atualmente, este é combinado com muitas progestinas diferentes. Sangramentos de escape foram descritos nos primeiros ensaios clínicos em mulheres e foi introduzido
o estrógeno no controle do ciclo. Isso estabeleceu os fundamentos para os contraceptivos orais combinados modernos, que contêm estrógeno e progesterona (Stewart & Black, 2015).
O desenvolvimento da contracepção hormonal marcou um passo revolucionário na mudança social que melhora a vida de mulheres e famílias em todo o mundo. Desde que o
primeiro contraceptivo oral foi introduzido, a contracepção hormonal passou por várias fases de avanço. Hoje, os regimes de anticoncepcionais orais são mais seguros e mais toleráveis,
com eficácia igual ou melhor do que as formulações mais antigas. Reduções progressivas da dose de estrogênio ajudaram a aliviar alguns dos efeitos colaterais indesejados do
contraceptivo oral (Craik & Melvin, 2015). Hoje em dia, mais de 30 combinações de contraceptivos orais estão disponíveis nos EUA. A alteração mais notável em mais de 50 anos de
melhora dos contraceptivos orais foi a redução da dose de estrogênio para valores tão baixos quanto 10 mcg e o advento de novas progestinas.
Os contraceptivos orais são o método mais popular de contracepção não cirúrgica, usados por cerca de 25 milhões de mulheres nos EUA (Figura 4.12) (SamraLatif & Wood, 2015).
Ao contrário dos contraceptivos orais que as mulheres ingeriam décadas atrás, as novas fórmulas com doses baixas implicam menores riscos à saúde.
Os contraceptivos orais, embora mais comumente prescritos para a contracepção, têm sido muito utilizados no tratamento de uma gama de condições e trazem muitos benefícios para
a saúde, como:
• Redução da incidência de câncer ovariano e endometrial
• Prevenção e tratamento da endometriose
• Diminuição da incidência de acne e hirsutismo
• Diminuição da incidência de gravidez ectópica
• Diminuição da incidência de DIP aguda e possível proteção contra DIP
• Redução da incidência de doença fibrocística da mama
• Diminuição dos sinais/sintomas da perimenopausa
• Redução do risco de desenvolvimento de miomas uterinos
• Manutenção da densidade mineral óssea
• Melhora dos sintomas da asma
• Aparecimento tardio de esclerose múltipla e artrite
• Aumento da regularidade do ciclo menstrual
• Menor incidência de câncer colorretal
• Diminuição do número de mortes relacionadas com a gestação, ao impedir a gravidez
• Redução da anemia por deficiência de ferro, por tratar a menorragia
• Redução da incidência de dismenorreia ((Evans & Sutton, 2015).
FIGURA 4.12 Contraceptivo oral.
A ação primária dos contraceptivos orais é a supressão da ovulação, acrescentando estrogênio e progesterona ao corpo de uma mulher, mimetizando, assim, uma gravidez. Esse nível
hormonal “sobrepuja” o GnRH, que, por sua vez, inibe o FSH e o LH e, assim, inibe a ovulação. O muco cervical se torna mais espessado, e isso dificulta o movimento dos
espermatozoides para o útero. A implantação é inibida pela supressão da maturação do endométrio e por alterações das secreções uterinas (Everett, 2014).
Os contraceptivos orais combinados são prescritos como comprimidos monofásicos, que fornecem dosagens fixas de estrogênio e progesterona, ou como comprimidos multifásicos.
Os comprimidos multifásicos (p. ex., contraceptivos orais bifásicos e trifásicos) alteram a quantidade de estrogênio e de progestina em cada parte do ciclo. Para manter os níveis
hormonais adequados para a contracepção e reforçar a adesão ao esquema, os anticoncepcionais orais devem ser ingeridos na mesma hora todos os dias.
Os contraceptivos orais que contêm progestina são, às vezes, denominados minipílulas. Os contraceptivos que só contêm progestina têm vantagens e desvantagens em comparação
com os contraceptivos combinados orais. O esquema posológico é simples e fixo, não existindo comprimidos de cores diferentes nem intervalos sem comprimidos. Esses produtos são
apropriados para as mulheres que não toleram o estrogênio encontrado nos contraceptivos combinados orais, por exemplo, uma mulher com mais de 35 anos de idade que fuma cigarros.
São prescritos para mulheres que não podem tomar estrogênio. Funcionam principalmente pelo espessamento do muco cervical, que impede a penetração dos espermatozoides e torna o
endométrio desfavorável para a implantação. Os comprimidos de progestina têm de ser ingeridos no mesmo horário a cada 24 horas. Sangramento de escape e maior risco de gravidez
tornaram esses anticoncepcionais orais menos populares do que os contraceptivos orais combinados (Craik & Melvin, 2015).
Os esquemas prolongados de contraceptivos orais têm sido utilizados para o tratamento de distúrbios menstruais e endometriose há alguns anos, mas agora estão atraindo maior
atenção. Pesquisas sobre o desejo das mulheres de reduzir seus ciclos menstruais de 12 para 4 por ano foram respondidas com um sonoro “sim!” (Zorbas, Economopoulos, & Vlahos,
2015). Pesquisas confirmam que o uso prolongado de contraceptivos orais ativos tem o mesmo perfil de segurança que os regimes convencionais de 28 dias. O uso contínuo ou em
longos ciclos de contraceptivos orais oferece benefícios em termos de sinais/sintomas menstruais e recorrência dos sinais/sintomas da endometriose (Zieman, 2015). O esquema
prolongado consiste em 84 dias consecutivos de uso da associação hormonal, seguidos por 7 dias de placebo. A mulher tem quatro episódios de interrupçãomenstruação por ano. O
Seasonale® e o Seasonique®, contraceptivos orais combinados, estão no mercado norteamericano para as mulheres que optam por reduzir o número de ciclos menstruais. Em 2009, os
fabricantes do Seasonique® lançaram o LoSeasonique®. Este consiste em 84 comprimidos de cor de laranja, contendo 0,1 mg de levonorgestrel e 0,02 mg de etinilestradiol, e 7
comprimidos de cor amarela, contendo 0,01 mg de etinilestradiol. O perfil de risco é semelhante ao dos produtos correlatos; no entanto, o risco de sangramento de escape é maior
(SamraLatif & Wood, 2015).
Lybrel® é o primeiro contraceptivo oral aprovado pela FDA com 365 dias de dosagem combinada. Ele contém uma dose diária combinada dos hormônios levonorgestrel e
etinilestradiol (90 e 20 mcg, respectivamente). Fornece às mulheres maior exposição hormonal anual (13 semanas adicionais de ingestão de hormônio por ano) do que os contraceptivos
orais cíclicos convencionais, que contêm a mesma dose de estrogênios sintéticos e força semelhante de progestinas (SamraLatif & Wood, 2015). Não há exigências fisiológicas de
sangramento vaginal cíclico por interrupção dos hormônios enquanto a mulher está usando anticoncepcionais orais (SkidmoreRoth, 2015).
Cada vez mais evidências se acumulam e indicam que o acesso livre aos contraceptivos orais é seguro e efetivo e que as mulheres estão interessadas em obtêlos dessa maneira.
Visto que metade de todas as gestações não é planejada – um percentual que permanece inalterado há décadas – é necessário inovação para reduzir essa estatística. Embora a ideia da
venda livre de contraceptivos orais possa parecer revolucionária nos EUA, o acesso livre já é uma realidade em mais de 100 países do mundo e isso já ocorre há décadas. O ACOG apoia
o acesso sem receita médica a contraceptivos orais, contudo, numerosos grupos sociais e profissionais se opõem a essa medida (Foster et al., 2015). Mesmo após o apoio do ACOG,
não é provável que as mulheres norteamericanas encontrem um contraceptivo oral de venda livre na farmácia em futuro próximo apesar de sua custoefetividade e impacto na redução
das gestações não planejadas.
O equilíbrio entre os benefícios e os riscos dos contraceptivos orais tem de ser determinado para cada mulher quando ela está sendo avaliada para esse tipo de contraceptivo. É um
contraceptivo bastante efetivo quando tomado corretamente, mas pode agravar muitas condições clínicas, especialmente em mulheres tabagistas. O Quadro comparativo 4.1 enumera as
vantagens e as desvantagens dos contraceptivos orais. Não são necessários anamnese completa e exame pélvico, incluindo esfregaço de Papanicolaou, antes que o medicamento seja
prescrito, mas aconselhase acompanhamento médico regular. As mulheres também devem ser informadas de que a efetividade dos contraceptivos orais é diminuída quando a mulher
está tomando antibióticos; assim, ela precisará usar um método alternativo ou secundário durante esse período para evitar a gravidez.
O enfermeiro deve fornecer muitas informações às usuárias de contraceptivos orais antes que elas deixem a unidade de saúde. Elas precisam ser capazes de identificar os primeiros
sinais e sintomas que possam indicar um problema.
Anote!
Ver os sinais de alerta que exigem retorno ao médico no Boxe 4.6.
Quadro comparativo 4.1
Vantagens e desvantagens dos contraceptivos orais.
Vantagens Desvantagens
Regulam e encurtam o ciclo Não oferecem proteção contra DST/IST
menstrual
Diminuem as cólicas e o Impõem um risco discretamente aumentado
sangramento de câncer de mama
Reduzem a anemia
Reduzem o risco de câncer Risco pequeno de trombose venosa e
de ovário e de câncer embolia pulmonar
colorretal
Diminuem a doença benigna Aumentam o risco de enxaqueca
da mama
Reduzem o risco de
cânceres de endométrio,
colorretal e ovariano
Melhoram acne e reduzem a Aumentam o risco de infarto do miocárdio,
incidência de cefaleia acidente vascular encefálico e
menstrual hipertensão arterial em mulheres
tabagistas
Minimizam os sintomas da Podem aumentar o risco de depressão
perimenopausa
Reduzem a incidência de A usuária tem de ingerir o contraceptivo oral
artrite reumatoide diariamente
Melhoram os sintomas de Alto custo para algumas mulheres
SPM
Protegem contra perda da
densidade óssea e
reduzem o risco de
osteoporose
Adaptado de Jick, S. (2015). Oral contraceptives and the risk of venous
thromboembolism. In Medicines for Women (pp. 181–201). Springer
International Publishing; Zieman, M. (2015). Managing contraception on
the go (13th ed.). New York: Ardnet Media; e Everett, S. (2014). Handbook
of contraception and sexual health (3rd ed.). New York: Routledge.
ANTICONCEPCIONAL INJETÁVEL
A contracepção injetável inclui apresentações comerciais com progestina e combinações de estrógeno e progestina que proporcionam controle da natalidade seguro e altamente efetivo
durante até 3 meses. Os agentes injetáveis estão amplamente disponíveis e têm uma participação importante no planejamento familiar em todo o planeta. Esses agentes constituem um
método bemdefinido, conveniente, reversível e não relacionado com o coito de controle da natalidade.
DepoProvera® é o nome comercial norteamericano de uma modalidade injetável de contraceptivo que contém somente progesterona (150 mg/1 mℓ) administrado a cada 12 semanas.
Existe uma apresentação subcutânea (104 mg/0,65 mℓ) que é administrada a cada 12 horas. Estes são os únicos agentes injetáveis comercializados nos EUA. DepoProvera® suprime a
ovulação e a produção dos hormônios FSH e LH pela hipófise, aumentando a viscosidade do muco cervical e causando a atrofia do endométrio. Uma única injeção de 150 mg nas
nádegas atua como os outros produtos que contêm apenas progestina para evitar a gravidez durante 3 meses por vez (Figura 4.13). O principal efeito colateral do DepoProvera® é a
alteração do ciclo menstrual.
BOXE 4.6
SINAIS/SINTOMAS PRECOCES DE COMPLICAÇÕES EM USUÁRIAS DE CONTRACEPTIVOS ORAIS
• Dor abdominal pode indicar problemas de fígado ou vesícula biliar
• Dor torácica ou dispneia pode indicar embolia pulmonar
• Cefaleia pode indicar hipertensão arterial ou acidente vascular encefálico iminente
• Problemas oculares podem indicar hipertensão arterial ou infarto do miocárdio
• Dor intensa nas pernas pode indicar evento tromboembólico
Adaptado de Everett, S. (2014). Handbook of contraception and sexual health (3rd ed.). New York: Routledge.
FIGURA 4.13 Contraceptivo injetável.
Ensaios clínicos recentes têm levantado preocupações quanto à possibilidade de que o acetato de medroxiprogesterona (DepoProvera®) reduza a densidade mineral óssea. Essa
evidência levou o fabricante e a FDA a emitirem um alerta sobre o uso prolongado (> 2 anos) de DepoProvera® e a perda de massa óssea (Wolfe & Cansino, 2015). Não está
inteiramente claro se essa perda da densidade mineral óssea é reversível, porque não há estudos prospectivos a longo prazo em usuárias atuais e do passado. É altamente recomendado
que densitometrias ósseas sejam realizadas durante a administração de medroxiprogesterona (Curtis, 2014).
SISTEMAS TRANSDÉRMICOS
A administração transdérmica de hormônios contraceptivos evita o metabolismo hepático de primeira passagem, possibilitando o uso de uma dose total menor de hormônio quando
comparada à dos produtos orais que são metabolizados no fígado. Um sistema transdérmico está disponível nos EUA e no Brasil. Consiste em um adesivo do tamanho de uma caixa de
fósforos contendo hormônios, que são absorvidos através da pele quando o adesivo é colocado na parte inferior do abdome, na parte externa do braço, nas nádegas ou na parte superior
do tronco (evitando as mamas). O adesivo é aplicado semanalmente durante o período de 3 semanas, seguido por 1 semana sem adesivo, durante a qual ocorre a menstruação. O adesivo
fornece níveis contínuos de progesterona e estrogênio. A absorção transdérmica possibilita que o fármaco entre diretamente na corrente sanguínea, evitando a rápida inativação pelo
fígado conhecida como metabolismo de primeira passagem. Como o estrogênio e a progesterona são metabolizados pelas enzimas do fígado, acreditavase que evitar o metabolismo de
primeira passagem reduziria os efeitos adversos. No entanto, evidências recentes sugerem que o risco de trombose venosa e embolia é maior com o adesivo e que há risco de
queimaduras na pele caso a paciente seja submetida a ressonância magnética, mas é ainda menor do que o risco de tromboembolismo venoso durante a gestação (Nelson, 2015). Estudos
adicionais estão em andamento para se entender a importância clínica destes últimos achados, mas nesse ínterim os enfermeiros precisam concentrarse continuamente na avaliação do
risco e devem estar preparados para discutir os achados das pesquisas atuais com as pacientes.
Já foi constatado que a adesão ao regime de adesivo transdérmico de contracepção é significativamente maior que a adesão aos contraceptivos orais. Além disso, a pesquisa sugere
que mulheres com sobrepeso e obesidade com peso superior a 90 kg devem ser orientadas sobre a efetividade potencialmente diminuída do adesivo e aumento da incidência de
tromboembolismo venoso e ganho ponderal (Pocius & Dutton, 2015). O sistema transdérmico fornece a terapia hormonal combinada com um perfil de efeito colateral semelhante ao dos
contraceptivos orais (Figura 4.14).
ANÉI S VAGINAIS
Aprovado pela FDA em 2001, o anel vaginal contém estrógeno e progesterona. O anel vaginal contraceptivo NuvaRing® é um anel flexível, macio e transparente que é inserido pela
usuária por um período de 3 semanas de uso contínuo, seguido por 1 semana sem anel para possibilitar a menstruação (Figura 4.15). O etinilestradiol e o etonogestrel são rapidamente
absorvidos através do epitélio vaginal e resultam em concentração sérica constante. Como os hormônios são liberados diretamente na vagina, é necessária uma dose diária menor de
hormônios do que a dos contraceptivos orais. Estudos já mostraram que a eficácia e a segurança do anel são equivalentes às dos contraceptivos orais. As pacientes relatam grande
satisfação com o anel vaginal e citam menos efeitos colaterais sistêmicos do que as usuárias de anticoncepcionais orais. O anel proporciona controle efetivo do ciclo e alívio dos
sintomas em mulheres com menorragia, dismenorreia e síndrome dos ovários policísticos. As complicações do uso de anéis vaginais incluem erosão da parede vaginal, expulsão do anel,
interferência no coito, odor desagradável do anel e interrupção prematura devido a desconforto vaginal (Khan & Krupanidhi, 2015). Pode ser inserido pela mulher e não precisa ser
ajustado. A mulher o comprime e insereo na vagina, atrás do osso púbico, até onde possível, mas a colocação precisa não é essencial. Os hormônios são absorvidos através da mucosa
vaginal. O anel é deixado no lugar durante 3 semanas e, depois, removido e descartado. A efetividade e os eventos adversos são semelhantes aos observados com os contraceptivos orais
combinados. As pacientes precisam ser aconselhadas sobre a inserção oportuna do anel e o que fazer em caso de expulsão acidental. Estudos recentes sugerem que um anel vaginal
contendo etonogestrel e etinilestradiol usado em um regime de liberação prolongada é um método anticoncepcional seguro, que oferece bom controle do ciclo e pode ser uma opção para
as mulheres que tenham intolerância gástrica ou outros efeitos colaterais pelo uso de contraceptivos hormonais orais (King et al., 2015).
FIGURA 4.14 Adesivo transdérmico.
FIGURA 4.15 Anel vaginal.
ANTICONCEPCIONAIS IMPLANTÁVEIS
O implante é um método de liberação subdérmica a intervalos regulares que fornece progestina sintética, que inibe a ovulação. Uma vez no local, oferece 3 anos de contracepção
contínua e bastante efetiva. Como os comprimidos contêm somente progestina, os implantes inibem a ovulação e tornam mais espesso o muco cervical para que os espermatozoides não
consigam penetrar. Nos EUA e no Brasil já é comercializado um implante subcutâneo de etonogestrel (progestina). O implante tem 4 cm de comprimento, 2 mm de diâmetro e contém
68 mg de etonogestrel. O implante é radiopaco e sua efetividade é superior a 99% (King et al., 2015). Os efeitos colaterais também são semelhantes aos de comprimidos que contêm
somente progestina: sangramento irregular, cefaleia, ganho de peso, sensibilidade nas mamas e depressão. A fertilidade é restaurada rapidamente após sua remoção. Os implantes
demandam um pequeno procedimento cirúrgico tanto para a inserção quanto para a remoção. Os implantes não oferecem proteção contra as DST/IST.
Os efeitos colaterais hormonais não são exclusivos dos implantes, mas tendem a ser um problema com todos os contraceptivos hormonais. O aconselhamento préinserção é
essencial para preparar a mulher para quaisquer efeitos secundários. O aconselhamento especializado deve abordar o principal efeito responsável pela descontinuação de seu uso: o
sangramento irregular inicial e a possibilidade de amenorreia com o uso prolongado (Craik & Rowlands, 2015).
DISPOSITIVO INTRAUTERINO
Os dispositivos intrauterinos são classificados como hormonais ou não hormonais. Os dois tipos evitam a gravidez por meio de inibição da motilidade e da viabilidade dos
espermatozoides e modificação da velocidade de transporte do oócito maduro na tuba uterina. O dispositivo intrauterino (DIU) é um pequeno objeto plástico em forma de T colocado no
interior do útero para proporcionar contracepção (Figura 4.16). Ele evita a gravidez, tornando o endométrio do útero hostil à implantação de um óvulo fertilizado, causando uma reação
inflamatória inespecífica e inibindo a união do espermatozoide com o óvulo (Wildemeersch & Jandi, 2015). O DIU hormonal faz com que a menstruação fique menos intensa, mais curta
e menos dolorosa, o que o torna um método útil para mulheres com fluxos intensos e dolorosos. Os implantes contêm cobre ou progesterona para aumentar sua efetividade. Um ou dois
fios (monofilamento) se projetam para a vagina de maneira que a usuária possa verificar o posicionamento do DIU.
Atualmente, três contraceptivos intrauterinos estão disponíveis nos EUA: o sistema intrauterino com cobre ParaGardTCu380A®, o sistema intrauterino liberador de levonorgestrel
(LNGIUS), comercializado como Mirena® e o DIULNG comercializado como Skyla®. O ParaGardTCu380A® está aprovado pela FDA para 10 anos de uso e é não hormonal. Seu
mecanismo de ação é baseado na liberação de íons cobre, que por si sós são espermicidas. Além disso, o dispositivo exerce ação inflamatória que leva a um ambiente uterino hostil. O
TCu380A® também é aprovado pela FDA para uso como contraceptivo de emergência. O Mirena® fornece concepção intrauterina durante 5 anos, mas é comprovadamente efetivo por
até 7 anos. Skyla®(sistema intrauterino liberador de levonorgestrel) foi aprovado pela FDA há 3 anos para prevenção de gravidez. Ambos os dispositivos liberam uma dose baixa de
progesterona, causando o adelgaçamento do endométrio e o espessamento do muco cervical, que inibe a entrada dos espermatozoides no sistema genital superior. Seu uso resulta em
substancial redução do fluxo menstrual e da dismenorreia, sugerindo que seja uma alternativa viável à histerectomia e à ablação endometrial em mulheres com menorragia (Atkin et al.,
2015). Uma vantagem desses sistemas intrauterinos impregnados com hormônios é que eles são relativamente isentos de manutenção: as usuárias precisam conscientemente interromper
seu uso para engravidar, em vez de tomar uma decisão diária para evitar a concepção (Alan Guttmacher Institute, 2015a).
FIGURA 4.16 A. Contraceptivo intrauterino. B. DIU posicionado no útero.
Os contraceptivos intrauterinos são um método seguro, bastante efetivo e de uso prolongado, embora reversível. Expandir o acesso à contracepção intrauterina é uma medida
importante para reduzir a taxa de gravidez indesejada nos EUA. O enfermeiro deve considerar incluíla em sua conversa com as candidatas adequadas, entre estas nulíparas, adolescentes,
imediatamente após o parto ou pósaborto e aquelas que desejam a contracepção de emergência, e como uma alternativa à esterilização permanente. As barreiras à obtenção de
dispositivos de contracepção intrauterina, tais como a exigência de rastreamento do câncer do colo do útero antes da inserção, teste de rotina para gonorreia e infecção por Chlamydia em
mulheres de baixo risco, ou o agendamento da inserção somente durante a menstruação são desnecessárias. A inserção de contraceptivo intrauterino pode ser feita em qualquer dia do
ciclo menstrual, desde que seja confirmado que a paciente não está grávida (Cheng & Van Leuven, 2015). O Boxe 4.7 destaca os sinais de alerta das potenciais complicações do DIU.
CONTRACEPÇÃO DE EMERGÊNCIA
A gravidez não planejada é uma grande questão de saúde, econômica e social para as mulheres. Aproximadamente um terço de todas as gestações não planejadas termina em aborto
(CDC, 2015b). Usar um contraceptivo de emergência fornece uma segunda chance à mulher de evitar uma gravidez indesejada. A contracepção de emergência (CE) reduz o risco de
gravidez após a relação sexual desprotegida ou falha do método contraceptivo, como o rompimento do preservativo (Raymond & Cleland, 2015). É usada nas primeiras 72 horas após a
relação desprotegida para evitar a gravidez. Quanto mais cedo o contraceptivo de emergência for tomado, mais efetivo ele será. Reduz o risco de gravidez em uma única relação sexual
desprotegida em quase 80% (SamraLatif & Wood, 2015). Os métodos disponíveis nos EUA são comprimidos contendo somente levonorgestrel (Figura 4.17); associações de estrogênio
e progesterona para uso oral ou a inserção de um sistema intrauterino liberador de cobre até 7 dias após a relação sexual desprotegida. O acetato de ulipristal (comercializado como
Ella®) é um modulador seletivo do receptor de progesterona que, quando ingerido como dose única de 30 mg, é um contraceptivo de emergência novo, seguro e efetivo, que pode ser
utilizado a partir do primeiro dia até 5 dias após a relação sexual desprotegida. O contraceptivo de emergência mais antigo contendo somente progesterona, o levonorgestrel, é tomado
como dois comprimidos de 0,75 mg com intervalo de 12 horas um do outro (Next Choice®; Watson Pharmaceuticals Inc., Morristown, NJ, EUA) ou como um comprimido único de 1,5
mg (Plan B OneStep™; Watson Pharmaceuticals Inc.). É aprovado por apenas 72 horas após a relação sexual desprotegida (Mulligan, 2015).
BOXE 4.7
ALERTAS DE POTENCIAIS COMPLICAÇÕES ÀS USUÁRIAS DE DISPOSITIVOS INTRAUTERINOS
• Atraso na menstruação, gravidez, sangramento profuso ou em borra de café
• Dor abdominal, dor durante a relação sexual
• Exposição a infecção, corrimento vaginal anormal
• Indisposição, febre, calafrios
• Comprimento do fio do DIU mais curto ou mais longo ou ausente
Adaptado de King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Gegor, C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s midwifery. Burlington, MA: Jones & Bartlett
Learning.
FIGURA 4.17 Kit contraceptivo de emergência.
O acesso de menores de idade a contracepção de emergência é motivo de controvérsia. Nos EUA, até 2013 os anovulatórios orais só podiam ser comprados com receita médica e,
mesmo quando liberada a venda sem receita médica, o acesso foi limitado com base na idade da pessoa. Em 2013, nos EUA, vários tribunais de justiça e a FDA foram favoráveis ao
acesso sem prescrição médica à contracepção de emergência para todas as mulheres, independentemente da idade. Até o momento da publicação desta obra, o governo federal norte
americano ainda não tinha recorrido dessa decisão, contudo, muitos estados impuseram restrições ao acesso à contracepção de emergência (Casey & Isaacs, 2015). A única
contraindicação ao uso de um dos métodos de contracepção de emergência é a gestação confirmada (provas de implantação).
Embora o acesso a contracepção de emergência tenha aumentado graças ao fato de não ser mais necessário ter receita médica, ainda existem muitas barreiras à conscientização do
público e o número de gestações involuntárias continua aumentando. Por causa da falta de conscientização da contracepção de emergência e da política de uso, esta não é tão amplamente
usada como seria justificado pela incidência de coito sem proteção. Os profissionais de enfermagem precisam orientar suas pacientes para promover maior conscientização desse segundo
método. A Tabela 4.5 apresenta as medicações orais e os regimes intrauterinos recomendados.
Os principais pontos a abordar em relação à contracepção de emergência são:
• A contracepção de emergência não oferece proteção contra doenças sexualmente transmissíveis ou futuras gestações
• A contracepção de emergência não deve ser utilizada no lugar dos métodos habituais de controle de natalidade, porque é menos efetiva
• A contracepção de emergência pode retardar a menstruação seguinte, portanto, deve ser pesquisada gravidez se não ocorrer menstruação 3 semanas após o uso de contracepção de
emergência
• Relatar qualquer dor abdominal intensa ao profissional de saúde imediatamente
• A contracepção de emergência consiste em anticoncepcionais regulares administrados por via oral em doses elevadas
• A contracepção de emergência é contraindicada durante a gravidez (Ilic, 2015).
Tabela 4.5 Opções de contracepção de emergência
póscoito.
Adaptada de King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O.,
Gegor, C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s midwifery. Burlington, MA:
Jones & Bartlett Learning; Ilic, K. (2015). Emergency contraception.
In Medicines for women (pp. 203–225). Springer International Publishing.
Anote!
Ao contrário do que diz a crença popular, a contracepção de emergência não induz aborto e não está relacionada com mifepristona (RU486), a chamada pílula abortiva aprovada pela
FDA em 2000.
A mifepristona induz quimicamente o aborto por meio de bloqueio dos receptores de progesterona do corpo necessários para a manutenção da gravidez. A contracepção de
emergência simplesmente impede que ocorra a criação de embriões e a implantação no útero. Não há evidências de que tenha qualquer efeito sobre um óvulo já implantado. Os efeitos
colaterais são náuseas e vômitos.
Esterilização
Esterilização é um método de contracepção permanente, seguro e altamente eficaz para aqueles que estão certos de que não querem ter filhos ou já os têm em número suficiente.
Vasectomia é o único tipo de contracepção masculina que é altamente confiável. Nos EUA, aproximadamente 600.000 oclusões tubárias e 200.000 vasectomias são realizadas por ano e
mais de 220 milhões são realizadas em todo o planeta (ACOG, 2013). É o método de planejamento familiar mais amplamente utilizado no planeta, tanto em países desenvolvidos como
em países em desenvolvimento. A esterilização se refere a procedimentos cirúrgicos destinados a tornar a pessoa infértil. Nos EUA existem métodos laparoscópicos, abdominais e
histeroscópicos de esterilização feminina e a maioria desses procedimentos é realizada fora dos hospitais. Tratase de um modo seguro e efetivo de controle permanente da natalidade.
Nos EUA, ainda é o segundo modo mais comumente utilizado de contracepção em geral e é o método mais utilizado entre as mulheres casadas e entre aquelas com mais de 30 anos de
idade (McKay & Schunmann, 2015). Mais mulheres do que homens são submetidas à esterilização cirúrgica. De acordo com o CDC (2015b), cerca de 18% das mulheres são submetidas
à esterilização, em comparação com 7% dos homens nos EUA. A esterilização deve ser considerada um fim permanente da fertilidade, porque a cirurgia de reversão é difícil, cara e nem
sempre bemsucedida. Como esses métodos são considerados irreversíveis, todos os casais devem ser orientados apropriadamente sobre o caráter irreversível da esterilização e sobre a
disponibilidade de métodos reversíveis, de longa duração e extremamente efetivos de contracepção antes de tomarem uma decisão.
LAQUEADURA TUBÁRIA
A laqueadura tubária pode ser realizada após o parto, depois de um aborto ou como um procedimento independente, não relacionado com a gravidez. Minilaparotomias e laparoscopias
são as duas técnicas mais comuns. Na laparoscopia o abdome é preenchido com gás dióxido de carbono de modo que a parede do abdome se afasta das tubas uterinas e possibilita a
visualização das mesmas. Elas são pinçadas e seladas com um instrumento de cauterização ou com anéis, bandas ou clipes ou cortadas e amarradas (Figura 4.18).
CONTRACEPTIVO PERMANENTE
Essure® é um método de controle da natalidade permanente e não hormonal com 99% de efetividade.2 Esse método é indicado para mulheres que não desejam mais engravidar. Oferece
diversas vantagens em relação à ligadura de tubas uterinas convencional: não são necessárias anestesia geral nem incisões, aumentando, assim, a segurança, reduzindo os custos e
melhorando o acesso à esterilização. Uma mola minúscula (Essure®) é introduzida e liberada nas tubas uterinas via colo do útero. A mola promove o crescimento do tecido nas tubas
uterinas e, ao longo de um período de 3 meses, bloqueia o crescimento das tubas. O acúmulo de tecido cria uma barreira que impede que os espermatozoides alcancem o oócito
secundário maduro, evitando, assim, a concepção (Thurkow, 2015). Esse produto é implantado via histeroscopia sob anestesia local em consultório. A esterilização não ocorre
imediatamente após o procedimento, portanto, as mulheres precisam ser orientadas a usar contracepção adicional durante 3 meses até ser comprovada a oclusão permanente das tubas
uterinas.
FIGURA 4.18 Laparoscopia para esterilização tubária.
VASECTOMIA
A esterilização masculina é realizada por meio de um procedimento cirúrgico conhecido como vasectomia. Nos EUA, mais de 500.000 homens são vasectomizados por ano (Mcfarlane,
2015). Geralmente se dá sob anestesia local, no consultório de um urologista, e a maioria dos homens pode retornar ao trabalho e às atividades normais em 1 ou 2 dias. O procedimento
envolve a realização de uma pequena incisão no escroto e secção dos ductos deferentes, que transportam os espermatozoides dos testículos ao pênis (Figura 4.19). As complicações da
vasectomia são raras e leves. Os riscos imediatos incluem infecção, hematoma e dor. Após a vasectomia, o sêmen não contém espermatozoides. Porém, isso não é imediato; o homem
precisa fazer espermogramas seriados 8 a 16 semanas após uma vasectomia até que duas amostras comprovem a ausência de espermatozoides. Quando a amostra comprovar
azoospermia, a esterilidade do homem é confirmada (Whitaker, 2015).
Conduta de enfermagem na escolha do método contraceptivo
A escolha de um método contraceptivo é muito pessoal e envolve vários fatores. O que faz uma mulher escolher um método contraceptivo em detrimento de outro? Ao fazer escolhas
contraceptivas, os casais precisam equilibrar sua vida sexual, seus objetivos reprodutivos e a saúde e segurança de cada parceiro. A busca por uma escolha que satisfaça os três objetivos
é um desafio. Um método que funciona para uma adolescente sexualmente ativa pode não satisfazer suas necessidades mais tarde na vida. Várias considerações influenciam o
contraceptivo escolhido por uma pessoa:
FIGURA 4.19 Vasectomia. A. Local das incisões de vasectomia. B. O ducto deferente é seccionado com uma tesoura cirúrgica. C. As extremidades seccionadas dos ductos
deferentes são cauterizadas para assegurar o bloqueio da passagem dos espermatozoides. D. Sutura final da pele.
• Motivação
• Custo
• Crenças culturais e religiosas (Boxe 4.8)
• Conveniência
• Efetividade
• Efeitos colaterais
• Desejo de ter filhos no futuro
• Segurança do método
• Nível de conforto com a sexualidade
• Proteção contra DST/IST
• Interferência na espontaneidade.
Para que um contraceptivo seja efetivo, a mulher precisa entender como ele funciona, tem de ser capaz de usálo corretamente e de modo consistente, além de sentirse confortável e
confiar nele. Se a paciente não for capaz de tomar um comprimido diariamente, considere um método usado 1 vez/semana (adesivos transdérmicos), uma vez a cada 3 semanas (anel
transvaginal) ou uma vez a cada 3 meses (injeção de acetato de medroxiprogesterona [DepoProvera®]). Outra opção seria um dispositivo intrauterino de progesterona, que dura de 3 a 5
anos e reduz de modo significativo o fluxo menstrual.
Independentemente do método escolhido, as necessidades da paciente devem ser primordiais na discussão. O enfermeiro pode orientar a paciente sobre quais métodos estão
disponíveis e suas vantagens e desvantagens, eficácia, custo e segurança. O conhecimento da efetividade do contraceptivo é crucial para a tomada de uma decisão informada. O casal
precisa compreender os prós e contras dos métodos contraceptivos considerados. A escolha pode ser influenciada pela compreensão da probabilidade de gravidez de cada método e os
fatores que influenciam a efetividade. O aconselhamento pode ajudar a mulher a escolher um método contraceptivo que seja eficaz e se encaixe em suas preferências e estilo de vida.
BOXE 4.8
OPÇÕES DE PLANEJAMENTO FAMILIAR E ABORTO SEGUNDO A RELIGIÃO
• Catolicismo romano: abstinência e planejamento familiar natural; condenação do aborto
• Judaísmo (ortodoxo): aceita o planejamento familiar e o aborto no primeiro trimestre. Judaísmo conservador e reformista aceita planejamento familiar e aborto
• Islamismo: aceita o planejamento familiar; aborto só por motivos sérios
• Protestantismo: firmemente a favor do planejamento familiar; misto em relação ao aborto
• Budismo: longa experiência com planejamento familiar e aborto
• Hinduísmo: aceita o planejamento familiar e o aborto
• Religiões dos nativos americanos: aceitam o planejamento familiar e o aborto
• Religiões chinesas: o taoísmo e o confucionismo aceitam ambos
Adaptado de McFarland, M. R., & WehbeAlamah, H. B. (2015) Leininger’s cultural care diversity and universality: A worldwide nursing theory (3rd ed.). Burlington,
MA: Jones & Bartlett Learning; e McFarlane, D. R. (2015). Global population and reproductive health. Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning.
Avaliação de enfermagem
Ao avaliar qual método contraceptivo pode atender às necessidades da paciente, o enfermeiro poderia perguntar:
• Algum dos métodos interfere em suas crenças religiosas?
• Esse método interferirá em seu prazer sexual?
• Você está ciente dos vários métodos disponíveis atualmente?
• O custo é uma consideração importante ou o seu seguro de saúde cobre isso?
• Seu parceiro está influenciando sua escolha por esse método?
• Você está em um relacionamento estável e monogâmico?
• Você já ouviu falar algo preocupante sobre algum desses métodos?
• Você se sente confortável em tocar seu próprio corpo?
• Quais são seus planos futuros no tocante a ter filhos?
Embora a decisão em relação a um contraceptivo seja muito pessoal (entre a mulher e seu parceiro), o enfermeiro pode ajudar nesse processo coletando a história de saúde e o exame
físico completo e orientando a mulher e seu parceiro com relação aos exames laboratoriais e complementares necessários. As áreas de foco durante a avaliação de enfermagem são as
seguintes:
• Antecedentes de saúde: tabagismo, câncer do sistema genital, diabetes melito, enxaqueca, hipertensão arterial, doença tromboembólica, alergias, fatores de risco para doença
cardiovascular
• Antecedentes familiares: câncer, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, acidente vascular encefálico, diabetes melito
• Antecedentes obstétricos/ginecológicos: distúrbios menstruais, uso atual de contraceptivo, DST/IST prévia, DIP, vaginite, atividade sexual
• Antecedentes pessoais: uso de tampões e produtos de higiene feminina, planos de ter filhos, conforto em tocar a si mesma, número de parceiros sexuais e o envolvimento deles na
decisão
• Exame físico: altura, peso corporal, pressão arterial, exame das mamas, palpação da tireoide, exame pélvico
• Exames complementares: exame de urina, hemograma completo, esfregaço de Papanicolaou, esfregaço vaginal para verificar se há doenças sexualmente transmissíveis, sorologia
para HIV/AIDS, perfil lipídico, glicemia.
A Figura 4.20 apresenta um exemplo de registro de planejamento familiar que pode ser utilizado durante a avaliação. Após a coleta dos dados de avaliação mencionados
anteriormente, considere os fatores clínicos para ajudar a decidir se a mulher é uma candidata a todos os métodos ou se algum deles deve ser eliminado. Por exemplo, se ela relata que
tem múltiplos parceiros sexuais e antecedentes de infecções pélvicas, não seria uma boa candidata a um dispositivo intrauterino. Os métodos de barreira (preservativo masculino ou
feminino) de contracepção podem ser recomendados para essa paciente, para oferecer proteção contra doenças/infecções sexualmente transmissíveis.
FIGURA 4.20 Registro de consulta de planejamento familiar.
Diagnósticos de enfermagem
Alguns diagnósticos de enfermagem que poderiam ser apropriados de acordo com a avaliação do enfermeiro durante o processo de tomada de decisão são:
• Conhecimento deficiente em relação a:
• Métodos disponíveis
• Efeitos colaterais/segurança
• Uso correto do método escolhido
• Mitos anteriores nos quais acreditava
• Risco de infecção relacionado com:
• Relação sexual desprotegida
• Antecedentes de DST/IST
• Métodos que oferecem proteção.
Os diagnósticos de enfermagem aplicáveis ao contraceptivo seriam:
• Comportamentos de procura por cuidados de saúde relacionados com:
• Percepção da necessidade de limitar o número de filhos
• Saúde geral em relação aos contraceptivos
• Risco de manutenção não efetiva da saúde relacionado com:
• Desconhecimento dos diversos métodos contraceptivos
• Desconhecimento do comportamento sexual de alto risco que resultou na DST/IST
• Medo, relacionado com:
• Falta de compreensão do procedimento correto a ser utilizado
• Gravidez indesejada se não for usado corretamente
• Saúde geral, em termos dos efeitos colaterais a longo prazo.
Intervenções de enfermagem
A contracepção é uma questão importante para todos os casais. O método usado deve ser decidido em conjunto pela mulher e seu parceiro. Facilite esse processo, estabelecendo uma
relação de confiança com a paciente e fornecendo informações precisas e imparciais sobre todos os métodos disponíveis. Como profissional de enfermagem, é preciso refletir
honestamente sobre seus sentimentos em relação aos contraceptivos, possibilitando que os sentimentos da paciente sejam o mais importante. Esteja ciente das questões práticas
envolvidas no uso dos contraceptivos e evite fazer suposições, tomar decisões pela mulher e fazer julgamentos sobre ela e sua situação. Para isso, é importante manterse atualizada
sobre os mais recentes métodos disponíveis e transmitir essa informação às pacientes. Encorajeas a assumir o controle da própria vida, partilhando informações que lhes possibilite
planejar seu futuro.
As diretrizes a seguir são úteis no aconselhamento e na orientação da paciente ou do casal em relação aos contraceptivos:
• Incentivar a paciente/o casal a participar da escolha de um método
• Fornecer orientações à paciente. A paciente (o casal) deve tornarse uma usuária informada antes que o método seja escolhido. A orientação deve ser direcionada ao nível da paciente,
para que seja compreendida. Forneça orientações passo a passo e uma oportunidade para a prática de determinados métodos (capuz cervical, diafragmas, anéis vaginais e
preservativos). Veja o boxe Diretrizes de ensino 4.5 e a Figura 4.21
• A paciente precisa assinar os formulários de consentimento informado necessários para colocação de contraceptivos intrauterinos, colocação de implantes, realização de aborto ou de
esterilização. O consentimento informado implica que a paciente está fazendo uma escolha voluntária e informada; recebeu informações completas sobre o método, incluindo seus
riscos; e está livre para mudar de ideia antes de usar o método ou de ser submetida ao procedimento (Schuiling & Likis, 2016)
• Discutir as contraindicações de cada contraceptivo específico
• Considerar as crenças culturais e religiosas da paciente ao prestar o atendimento
• Abordar mitos e equívocos sobre os métodos em consideração em sua discussão inicial dos métodos contraceptivos.
Diretrizes de ensino 4.5
Dicas para o uso de capuzes cervicais, diafragmas, anéis vaginais e preservativos
Técnica de inserção/remoção do capuz cervical
• É importante participar do processo de adaptação
• Para inserir o capuz, apertar os dois lados, comprimir a cúpula do capuz, inserilo na vagina e colocar sobre o colo do útero
• Usar um dedo para palpar toda a circunferência para se certificar de que não haja lacunas entre a borda do capuz e o colo do útero
• Depois de um minuto ou dois, apertar a cúpula e puxar delicadamente para verificar se há indícios de sucção. O capuz deve resistir à tração e não deslizar
facilmente
• Para remover o capuz, pressionar o dedo indicador contra a borda e pinçar o capuz ligeiramente para romper a sucção. Retirar cuidadosamente o capuz
• A mulher deve praticar a inserção e a remoção do capuz cervical três vezes para validar sua proficiência com este dispositivo
Orientação e aconselhamento à paciente em relação ao capuz cervical
• Preencher cerca de um terço da cúpula do capuz com creme ou gel espermicida. Não colocar espermicida no aro, porque isso pode interferir na vedação
• Esperar cerca de 30 minutos após a inserção antes de ter relações sexuais, para assegurar que se formou uma vedação entre a borda do capuz e o colo do
útero
• Deixar o capuz cervical no local por um período mínimo de 6 horas após a relação sexual. Ele pode ser deixado no local por até 48 horas sem adição de mais
espermicida
• Não utilizar durante a menstruação, por causa do potencial de síndrome do choque tóxico. Usar um método alternativo, como preservativos, nesse período
• Substituir o capuz cervical após 1 ano de uso
• Antes da inserção, verificar se o capuz cervical não tem fissuras, orifícios ou rasgos
• Depois de usar o capuz cervical, laválo com água e sabão, secar bem e guardar em seu recipiente
Técnica de inserção/remoção do diafragma
• Sempre urinar antes de inserir o diafragma
• Inspecionar o diafragma à procura de furos ou lacerações, segurandoo contra uma fonte de luz, ou enchendoo com água e verificando se há vazamentos
• Colocar aproximadamente uma colher de sopa de gel ou creme espermicida na cúpula e em torno da borda do diafragma
• O diafragma pode ser inserido até 6 horas antes da relação sexual
• Selecionar a posição mais confortável para a inserção:
• Agachada
• Com a perna para cima, apoiando a perna não dominante em um banquinho
• Em decúbito dorsal na cama
• Sentada na beira de uma cadeira
• Segurar o diafragma entre o polegar e os dedos e comprimilo de modo a formar um “oito”
• Inserir o diafragma na vagina, dirigindoo para baixo, tanto quanto for possível
• Colocar a borda dianteira do diafragma atrás do púbis, de modo que a borracha se ajuste bem à parede frontal da vagina
• Palpar o colo do útero através do diafragma para se certificar de que esteja devidamente colocado
• Para retirar o diafragma, introduzir o dedo para cima e na lateral e movêlo ligeiramente para o lado para soltálo
• Puxar o diafragma para baixo e para fora da vagina
Orientação e aconselhamento à paciente em relação ao diafragma
• Evitar o uso de produtos à base de óleo, como óleo de bebê, porque eles amolecem a borracha
• Lavar o diafragma com água e sabão após o uso e secar bem
• Colocar o diafragma de volta na caixa de armazenamento
• O diafragma pode exigir ajuste após perda ou ganho de peso ou parto
• O diafragma não deve ser usado por mulheres com alergia ao látex
Técnica de inserção/remoção do anel vaginal e aconselhamento
• Cada anel é utilizado durante um ciclo menstrual, que consiste em 3 semanas de uso contínuo seguidas por 1 semana sem anel para possibilitar a
menstruação
• Não é necessário ajuste – o tamanho único se ajusta para todas
• O anel é comprimido e inserido na vagina, atrás do púbis, o mais para trás possível
• A colocação precisa não é essencial
• É necessário utilizar um método contraceptivo de reserva durante 7 dias se o anel for expelido por mais de 3 horas durante o período de 3 semanas de uso
contínuo
• O anel vaginal é deixado no lugar durante 3 semanas, sendo então removido e descartado
• O anel vaginal não é recomendado para mulheres com prolapso uterino ou falta de tônus muscular vaginal (Schuiling & Likis, 2016)
Técnica de inserção/remoção do preservativo masculino e aconselhamento
• Manter o preservativo sempre em sua embalagem original até a hora de usar
• Armazenar em local fresco e seco
• Devem ser utilizados preservativos com espermicida, sempre que estiverem disponíveis
• Verificar a data de validade antes de usar
• Usar um novo preservativo a cada ato sexual
• O preservativo é colocado sobre o pênis ereto antes da inserção na vagina
• Colocar o preservativo na cabeça do pênis e desenrolálo ao longo do corpo do pênis
• Deixar um espaço vazio de 1 cm na extremidade para coletar o sêmen
• Evitar o uso de produtos à base de óleo, pois podem causar ruptura do preservativo
• Após a relação sexual, retirar o preservativo com o pênis ainda ereto
• Jogar fora o preservativo após o uso
Técnica de inserção/remoção do preservativo feminino e aconselhamento
• Praticar o uso e a inserção antes da primeira utilização durante uma relação sexual
• O preservativo pode ser colocado até 8 horas antes da relação sexual
• O preservativo deve ser utilizado uma única vez
• Pode ser comprado sem prescrição médica – o tamanho único se ajusta a todas
• Não usar anéis durante a colocação para evitar lacerações; unhas longas também podem rasgar o preservativo
• Pode ser usado um espermicida lubrificante, se desejado
• Inserir o anel interno no alto na vagina, contra o colo do útero
• Colocar o anel externo do lado de fora da vagina
• Certificarse de que o pênis ereto está no interior do preservativo feminino
• Retirar o preservativo após o coito. Não derramar o sêmen ejaculado
Educação e aconselhamento de mulheres em uso de contraceptivos injetáveis
• Consumir uma dieta rica em cálcio e vitamina D para evitar perda da densidade mineral óssea
• Conhecer as condições que precisam ser relatadas ao médico:
• Cefaleia importante
• Menorragia
• Depressão
• Dor abdominal intensa
• Verificar se existe infecção no local da injeção
Também é importante esclarecer equívocos comuns sobre a contracepção e a gravidez. Esclarecer equívocos possibilitará que ocorra um novo aprendizado e melhor resposta da
paciente, e que todos os métodos sejam explorados e, por fim, selecionados. Alguns equívocos comuns incluem:
• O aleitamento materno protege contra a gravidez
• A gravidez pode ser evitada se o parceiro masculino “retirar” o pênis antes de ejacular (coito interrompido)
• A gravidez não ocorre durante a menstruação
• A ducha vaginal após o sexo evita a gravidez
• A gravidez não acontece durante a primeira experiência sexual
• O contraceptivo oral protege contra DST/IST
• Algumas mulheres já estão “velhas” para engravidar
• Se o orgasmo feminino não for alcançado, a concepção é improvável
• A menstruação irregular impede a gravidez.
Ao discutir em detalhes cada um dos métodos de controle de natalidade, enfatize informações específicas de cada método descrito. Inclua informações sobre como determinado
método atua para evitar a gravidez em circunstâncias normais de utilização; os benefícios para a saúde global não relacionados com a contracepção; as vantagens e desvantagens de cada
método; o custo de cada método específico; os sinais de perigo que precisam ser comunicados ao médico; e a frequência necessária de consultas para cada método.
FIGURA 4.21 A enfermeira demonstra a inserção de um anel vaginal durante as orientações à paciente.
Além disso, delineie os fatores que colocam a paciente em risco de falha do método. Os contraceptivos podem falhar por alguma das muitas razões. Use a Tabela 4.6 para fornecer
orientações à paciente sobre algumas das razões para a falha do método contraceptivo. Auxilie as pacientes que optaram pela abstinência ou por métodos baseados na percepção da
fertilidade na definição dos dias em que podem ou não ter relações sexuais. Isso as ajuda a estabelecer limites ou fronteiras sexuais. Ajudeas a desenvolver habilidades de comunicação
e negociação que lhes possibilitem ser bemsucedidas. Apoiar, incentivar e respeitar a escolha da abstinência por um casal é vital para o enfermeiro.
Depois que a paciente escolher um método de contracepção, é importante abordar os seguintes tópicos:
• Enfatizar que é sempre necessário usar um segundo método como reserva
• Fornecer instruções orais e escritas sobre o método escolhido
• Discutir a necessidade de proteção contra IST se não estiver usando um método de barreira
• Informar a paciente sobre a disponibilidade de contracepção de emergência.
Nos últimos anos, foi obtido avanço constante nas pesquisas de contracepção. Os contraceptivos hormonais e não hormonais melhoraram a vida das mulheres ao reduzir as diferentes
condições de saúde que contribuíam para morbidade. Todavia, os contraceptivos disponíveis atualmente não são adequados para todas as usuárias e ainda existe a necessidade de
expandir as opções de contraceptivos. Esperase que o advento de novos métodos no futuro próximo que gerem benefícios adicionais para a saúde continue a ajudar as mulheres e os
casais a atender suas necessidades de planejamento familiar.
ABORTO
Aborto é definido como a expulsão de um embrião ou feto antes que ele seja viável (Alexander et al., 2014). O aborto pode ser um procedimento clínico ou cirúrgico. O propósito do
aborto é interromper uma gravidez. Mais de 40% de todas as mulheres interromperão uma gestação por meio de aborto em algum momento de suas vidas reprodutivas. Nos EUA, e em
todo o planeta, mais de 1/5 de todas as gestações conhecidas terminam em aborto (McFarlane, 2015). O aborto cirúrgico é o procedimento mais realizado nos EUA (cerca de 1,3 milhão
por ano) e talvez seja o mais comum do mundo (Alan Guttmacher Institute, 2015b). Ambos os tipos de aborto, fármacoinduzido e cirúrgico, são seguros e legalizados nos EUA; o
aborto é considerado um direito constitucional da mulher, com base no direito fundamental à privacidade. Oitenta e nove por cento dos abortos ocorrem nas primeiras 12 semanas de
gravidez (Alan Guttmacher Institute, 2015b).
Tabela 4.6 Problemas contraceptivos e
necessidades de orientação.
Problema de falha do Orientação que a paciente necessita
contraceptivo
Não seguiu corretamente Ingerir o comprimido na mesma hora todos
as orientações de uso os dias
do anticoncepcional
Usar preservativos corretamente e verificar
sua condição antes de usar
Certificarse de que o diafragma ou capuz
cervical cubra o colo do útero
completamente
Verificar mensalmente o posicionamento do
DIU
Uso inconsistente do Os contraceptivos precisam ser usados
anticoncepcional regularmente para obter efetividade
máxima
Só é necessária uma relação sexual
desprotegida para engravidar
Cerca de 2 a 5% dos preservativos se
rompem ou rasgam durante o uso
Preservativo se rompeu Verificar a data de validade
durante a relação
Armazenar os preservativos de modo
sexual
apropriado
Usar apenas lubrificantes à base de água
Verificar se há lacerações causadas por
unhas compridas
Usar espermicidas para diminuir a
possibilidade de gravidez
Procurar contraceptivos de emergência pós
coito
Uso de antibióticos ou Usar métodos contraceptivos alternativos
outros fitoterápicos em durante a antibioticoterapia e durante 7
conjunto com o dias após seu término. Começar a usá
contraceptivo oral los no primeiro dia de uso de antibióticos
Crença de que é É possível engravidar em quase todos os
impossível engravidar dias do ciclo menstrual
durante a menstruação
ou de que está segura
“só dessa vez”
Desde que o famoso caso da Suprema Corte dos EUA Roe vs. Wade legalizou o aborto em 1973, o debate continua sobre como e quando os abortos são realizados. Cada estado tem
leis que regulam alguns aspectos da realização do aborto; muitos impõem restrições – como o consentimento dos pais ou demandas de notificação, aconselhamento obrigatório e períodos
de espera – e limites de financiamento para o aborto. Cada estado aborda essas questões de modo independente, e as leis que são aplicadas ou executadas são uma decisão legislativa e
uma função do sistema político. Embora os opositores do aborto continuem sendo parte muito importante dos debates atuais, recentemente passaram a reorientar sua atenção em relação
à “legislação regulatória” entre os estados para reduzir a quantidade de abortos não clinicamente necessários (Kreitzer, 2015).
Aborto cirúrgico
Existem dois tipos de aborto cirúrgico disponíveis: aspiração a vácuo ou dilatação e esvaziamento do útero. O método escolhido é baseado na idade gestacional. Tratase de um
procedimento ambulatorial feito sob anestesia local. O colo do útero é dilatado antes da cirurgia e, em seguida, os produtos da concepção são removidos por evacuação por sucção. O
útero pode ser delicadamente raspado por curetagem para se certificar de que esteja vazio. Todo o procedimento dura aproximadamente 10 minutos. O risco global de complicações é
inferior a 1% no caso de interrupção cirúrgica (Upadhyay et al., 2015). Os principais riscos e complicações no primeiro trimestre de gravidez são infecção, hemorragia ou retenção de
tecido, perfuração uterina, retenção de produtos da concepção ou laceração do colo do útero (Udoh et al., 2015). Para as mulheres Rhnegativas, é indicada a administração
de imunoglobulina antiD antes de iniciar a interrupção farmacológica ou cirúrgica da gravidez.
Aborto fármacoinduzido
Nos EUA, os abortos fármacoinduzidos são realizados por via vaginal ou oral. Nos EUA, três fármacos são usados atualmente para interromper gestações durante o primeiro trimestre.
O primeiro é o metotrexato (agente antineoplásico), seguido por misoprostol (prostaglandina sintética) administrado via supositório vaginal ou por via oral 3 a 7 dias depois. O
metotrexato induz o aborto devido à sua toxicidade para o tecido trofoblástico, o embrião em desenvolvimento. O misoprostol atua provocando contrações uterinas, o que ajuda a expelir
os produtos da concepção. Esse método tem uma taxa de sucesso de 90 a 98% na realização de um aborto (Patil & Edelman, 2015).
A segunda opção usada para induzir o aborto no primeiro trimestre da gravidez envolve a utilização de mifepristona (antagonista da progesterona) seguida 48 horas depois por
misoprostol (prostaglandina sintética), que causa contrações do útero e a expulsão do conteúdo uterino. Atualmente, o método mais utilizado para aborto nos EUA é a administração de
mifepristona associada ao misoprostol. Outro método frequentemente usado inclui uma combinação de metotrexato com misoprostol (Schuiling & Likis, 2016). A mifepristona, nome
genérico para RU486, é vendida nos EUA sob os nomes comerciais Mifeprex® e Early Option®. A mifepristona é uma antiprogestina, ou seja, bloqueia a ação da progesterona,
necessária para a manutenção da gravidez. Esse método tem 95% de efetividade quando utilizado nos 49 dias após o último ciclo menstrual (Patil & Edelman, 2015).
Outro fármaco utilizado é o misoprostol (Cytotec®), análogo da prostaglandina que amolece o colo do útero e provoca contrações uterinas, resultando na expulsão do conteúdo
uterino. Não existe um protocolo padrão para o uso do misoprostol isoladamente para a interrupção da gravidez em estágio inicial. Esse fármaco não é aprovado pela FDA para essa
finalidade (King et al., 2015). As complicações de abortos incluem expulsão incompleta do conteúdo uterino, infecção uterina e sangramento profuso (Ganatra, Guest, & Berer, 2015).
A avaliação de uma mulher com gravidez indesejada deve ser realizada com sensibilidade cautelosa. É essencial explorar os sentimentos da mulher sobre a gravidez antes de
parabenizála ou consolála. O encontro deve ser guiado pelos sentimentos da paciente, não pelas pressuposições e valores do enfermeiro.
O aborto é uma questão muito emocional e profundamente pessoal. Dê apoio e informações acuradas. Se, por motivos pessoais, religiosos ou éticos você se sentir incapaz de
participar ativamente do cuidado de uma mulher que fez um aborto, você ainda tem a responsabilidade profissional de assegurar que ela receba os cuidados de enfermagem e de ajudar no
que ela precisar. Isso pode exigir uma transferência para outro setor ou troca de funcionários. Os profissionais de enfermagem precisam ter em mente que todas as mulheres têm o
direito de ter acesso a informações imparciais e factuais sobre as escolhas disponíveis em relação à saúde reprodutiva a partir das quais elas possam tomar decisões informadas sobre sua
saúde reprodutiva.
TRANSIÇÃO PARA A MENOPAUSA
A menopausa é um processo natural que ocorre na vida de todas as mulheres como parte do envelhecimento normal. O elemento mórfico meno é derivado da palavra grega para “mês”,
e pausa é derivado da palavra grega para “pausar” ou “parada”. Menopausa é o termo técnico para o momento em que a menstruação e a fertilidade cessam (King et al., 2015). Mudança
de vida. Fim da fertilidade. Início da liberdade. Não importa como as pessoas a definam, a menopausa é uma experiência única e pessoal para cada mulher. A expressão transição para
a menopausa se refere à transição da mulher da fase reprodutiva de sua vida ao seu último período menstrual. Esse período é também chamado de perimenopausa. É o final dos ciclos
menstruais e da capacidade de engravidar. A idade média da menopausa natural – definida como o período de 1 ano sem menstruar – é de 51,4 anos de idade. A idade média da
menopausa natural mantevese constante nas últimas centenas de anos, apesar das melhorias na nutrição e na saúde (Alexander et al., 2014). Com a expectativa de vida feminina atual de
84 anos, esse evento ocorre no meio da vida adulta da mulher. Muitas mulheres passam pela transição para menopausa com poucos sintomas ou sem sintomas, enquanto outras
apresentam sintomas significativos ou até mesmo incapacitantes.
Anote!
O ser humano é praticamente a única espécie que vive por mais tempo do que dura sua capacidade reprodutiva.
A menopausa marca o fim de uma era para muitas mulheres, encerrando sua capacidade de reproduzirse. Algumas mulheres acham que o avançar da idade, a alteração nos papéis e
essas mudanças fisiológicas são eventos esmagadores que provocam depressão e ansiedade (Woods & Mitchell, 2015). A menopausa não se dá isoladamente. A meiaidade muitas vezes
é vivida como uma época de mudança e reflexão. A mudança ocorre em muitas arenas: os filhos estão saindo ou voltando para casa, as pressões de emprego se intensificam conforme a
carreira profissional avança ou são necessárias decisões, os pais idosos demandam mais cuidados ou a morte de um dos pais pode ter grande impacto, e os parceiros estão enfrentando
ou passando por suas próprias crises de meiaidade. As mulheres precisam enfrentar todas essas mudanças, além de enfrentar a menopausa. O manejo dessas mudanças estressantes
pode ser muito desafiador para muitas mulheres à medida que elas fazem a transição para a meiaidade.
A mulher nasce com cerca de 2 milhões de óvulos, mas só cerca de 400 amadurecem totalmente para serem liberados durante o ciclo menstrual. A quantidade absoluta de óvulos no
ovário é um dos principais determinantes da fertilidade. Ao longo da vida antes da menopausa, há um declínio na quantidade de óvulos imaturos (Wood, 2015). Ninguém entende esse
esgotamento, mas isso não ocorre de modo isolado. Os óvulos em processo de maturação são rodeados por folículos que produzem dois hormônios principais: estrogênio, na forma de
estradiol, e progesterona. A maturação cíclica do óvulo é dirigida pelo hipotálamo. O hipotálamo de agra uma cascata de neurohormônios que atuam na hipófise e nos ovários, como um
gerador de impulsos para a reprodução. Esse eixo hipotálamohipófiseovário começa a romperse muito antes que haja qualquer sinal de que a menopausa é iminente. Alguns cientistas
acreditam que o gerador de impulsos no hipotálamo simplesmente degenera; outros especulam que o ovário se torna mais resistente ao hormônio hipofisário FSH e simplesmente “é
desligado” (Schuiling & Likis, 2016). O ato final nesse processo bem orquestrado é a amenorreia.
Com a aproximação da menopausa, mais e mais ciclos menstruais se tornam anovulatórios. Esse período de tempo, geralmente de 2 a 8 anos antes da cessação da menstruação, é
denominado perimenopausa (McNamara, Batur, & DeSapri, 2015). Na perimenopausa os ovários começam a falhar, produzindo períodos irregulares e episódios ocasionais de fogacho.
Quando a menopausa finalmente ocorre, não há mais óvulos viáveis. Os níveis de estrogênio caem em 90% e a estrona, produzida nos adipócitos, substitui o estradiol como principal
forma de estrogênio no corpo. O principal hormônio produzido pelos ovários durante os anos férteis é o estradiol; o estrogênio encontrado em mulheres após a menopausa é a estrona. O
estradiol é biologicamente muito mais ativo do que a estrona (Hoyt & Falconi, 2015). Além disso, os níveis de testosterona diminuem com a menopausa.
A transição para a menopausa, com seu declínio dramático nos níveis de estrogênio, afeta não só os órgãos genitais, mas também outros sistemas do corpo:
• Cerebral: fogacho, transtornos do sono, problemas de humor e memória
• Cardiovascular: baixos níveis de lipoproteína de alta densidade (HDL) e aumento do risco de doença cardiovascular
• Esquelético: rápida perda da densidade óssea, que aumenta o risco de osteoporose
• Mamário: substituição dos tecidos ductais e glandulares por gordura
• Geniturinário: ressecamento vaginal, incontinência urinária de esforço, cistite
• Gastrintestinal: menor absorção de cálcio dos alimentos, aumentando o risco de fraturas
• Tegumentar: pele seca e fina e diminuição dos níveis de colágeno
• Forma do corpo: mais gordura abdominal; circunferência da cintura maior do que a circunferência do quadril.
Conduta terapêutica
A transição para a menopausa deve ser tratada individualmente. No passado, apesar da grande diversidade de sintomas e riscos, a reação tradicional era prescrever um tratamento único
para todas: a terapia de reposição hormonal. Hoje, a comunidade médica está mudando seu pensamento por causa do Women’s Health Initiative (WHI) e do Heart and
Estrogen/Progestin Replacement Study FollowUp (HERS II), que relataram que a terapia de reposição hormonal (TRH) a longo prazo aumentou os riscos de infarto do miocárdio,
acidente vascular encefálico e câncer de mama; em suma, os riscos globais de saúde da terapia de reposição hormonal ultrapassam seus benefícios (Kyvernitakis et al., 2015). Além
disso, a hormonoterapia não protegeu contra o desenvolvimento de doença da artéria coronária (DAC) nem preveniu a evolução da DAC, como era divulgado anteriormente.
Uma pesquisa recente examinou a cronologia da hormonoterapia em relação a DAC em mulheres e constatou que a instituição mais precoce de hormonoterapia foi associada a menos
DAC em mulheres com menopausa natural, mas não com menopausa cirúrgica. Um estudo Cochrane Review constatou que a hormonoterapia para as mulheres após a menopausa tem
pouco efeito benéfico na prevenção da DAC, mas aumenta o risco de acidente vascular cerebral e de eventos tromboembólicos venosos (Boardman et al., 2015). Como esperado, esse
estudo e outros forçaram os médicos a reavaliar suas terapias habituais e adequar o tratamento à história, às necessidades e aos fatores de risco de cada paciente. No entanto, um estudo
atual mostrou que a incidência de fratura em mulheres na transição para a menopausa e na pósmenopausa aumentou significativamente nos 3 anos após a publicação dos resultados do
WHI e do HERS II. Essa tendência ocorreu após o declínio na utilização da terapia hormonal, concomitantemente ao aumento na utilização de outros agentes osteomodificadores
(Bakour & Williamson, 2015). Há evidências consideráveis de que a terapia com estrogênio ou hormônio reduza o risco de fraturas osteoporóticas após a menopausa, tanto da coluna
vertebral quanto do quadril (Mirkin et al., 2015).
Existem várias opções de tratamento, mas os fatores na história da paciente são essenciais para determinar o tratamento. As mulheres precisam buscar os resultados mais atuais das
pesquisas e colaborar com seu médico no tratamento correto da menopausa. Os seguintes fatores devem ser considerados no manejo:
• A razão risco/benefício é maior em mulheres mais jovens que começam a terapia de reposição hormonal não muito tempo depois da menopausa
• A terapia de reposição hormonal é aprovada pela FDA para duas indicações: alívio dos sinais/sintomas vasomotores e prevenção da osteoporose
• Pesquisas sugerem que a terapia de reposição hormonal possa ser benéfica para evitar o diabetes melito, melhorar o humor ou evitar problemas do sistema urinário
• O uso de terapia de reposição hormonal muito além da menopausa traz riscos mais elevados, o que, para algumas mulheres, pode ser compensado pelos benefícios (Bakour &
Williamson, 2015).
Muitas mulheres consideram terapias não hormonais, como bisfosfonatos e moduladores seletivos dos receptores de estrogênio (MSRE). Considere exercícios físicos com
sustentação de peso, cálcio, vitamina D, controle do tabagismo, e evite o consumo de bebidas alcoólicas para tratar ou evitar a osteoporose. Os exames de mama e as mamografias anuais
são essenciais. Cremes de estrogênio de uso local podem ser utilizados para a atrofia vaginal. Considere fitoterápicos para os sinais/sintomas, embora nenhum deles tenha sido validado
por estudos rigorosos (Bakour & Williamson, 2015).
Recentemente, o ACOG revisou as diretrizes sobre tratamento das manifestações clínicas da menopausa. As recomendações do ACOG incluem hormonoterapia sistêmica (com
estrógeno ou estrógeno mais progestina) e é a abordagem mais efetiva para os sintomas vasomotores; a menor dose efetiva pela menor duração é o melhor regime; doença
tromboembólica e câncer de mama são riscos da hormonoterapia sistêmica combinada e a terapia local com estrógeno é preconizada quando só há sintomas vaginais atróficos (2014).
Embora numerosos sintomas já tenham sido atribuídos à menopausa (Boxe 4.9), alguns deles são mais relacionados com o processo de envelhecimento do que com a deficiência de
estrogênio. Algumas das condições mais comuns da menopausa e seu manejo são discutidos a seguir.
Manejo do fogacho e da sudorese noturna
O surgimento do fogacho e da sudorese noturna (também conhecidos como sinais/sintomas vasomotores) coincide com um período da vida que também é marcado por mudanças
dinâmicas na função hormonal e reprodutiva que se interconectam com o processo de envelhecimento, alterações no metabolismo, comportamentos de estilo de vida e saúde em geral
(Wood, 2015). O fogacho e a sudorese noturna são manifestações clássicas de deficiência de estrogênio e a queixa predominante de mulheres na perimenopausa. O fogacho é uma
sensação transitória e repentina de calor que se espalha por todo o corpo, principalmente no pescoço, no rosto e no tórax. É causado pela instabilidade vasomotora. Essa instabilidade
provoca dilatação periférica inapropriada de vasos sanguíneos superficiais, resultando na sensação de calor. Quase 85% das mulheres na menopausa apresentam fogacho (Alexander et
al., 2014). O fogacho é um sinal precoce e agudo de deficiência de estrogênio. O fogacho pode ser leve ou muito intenso, e cada episódio pode durar 2 a 30 minutos, podendo ocorrer tão
frequentemente como a cada hora a até várias vezes por semana. Em média, as mulheres apresentam fogacho por um período de 6 meses a 2 anos, mas os sinais/sintomas podem durar
até 10 anos ou mais. Os sintomas vasomotores intensos podem ter efeitos deletérios significativos na qualidade de vida. Os fatores que de agram manifestações vasomotoras incluem
consumo de cafeína e álcool etílico, consumo de bebidas quentes e alimentos condimentados, ambiente quente, depressão, estresse e ansiedade (Avis et al., 2015).
BOXE 4.9
SINAIS/SINTOMAS COMUNS DA MENOPAUSA
• Fogacho na cabeça e no pescoço
• Ressecamento dos olhos e da vagina
• Mudanças de personalidade
• Ansiedade e/ou depressão
• Perda da libido
• Diminuição da lubrificação
• Ganho ponderal e retenção de água
• Sudorese noturna
• Alterações atróficas – perda da elasticidade dos tecidos vaginais
• Fadiga
• Irritabilidade
• Baixa autoestima
• Insônia
• Incontinência de esforço
• Palpitações cardíacas
Adaptado de Coney, P. (2015). Menopause. Emedicine. Retirado de http://emedicine.medscape.com/article/264088overview; Kessenich, C. R. (2015). Inevitable
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Existem muitas opções disponíveis para o tratamento do fogacho. O tratamento tem de ser baseado na intensidade dos sinais/sintomas, na história patológica pregressa e nos valores
e preocupações da paciente. Embora o padrãoouro no tratamento do fogacho seja o estrogênio, isso não é recomendado para todas as mulheres que têm fatores de alto risco.
TERAPIAS TRADICIONAIS PARA O CONTROLE DO FOGACHO
A seguir estão terapias tradicionais para o controle do fogacho:
• Opções farmacológicas
• Terapia de reposição hormonal, a menos que contraindicada
• Terapia com androgênio (potencializa o estrogênio)
• Combinações de estrogênio e androgênio
• Terapia com progestina (injeção de acetato de medroxiprogesterona a cada 3 meses)
• Adesivo de clonidina (agonista alfaadrenérgico central) colocado 1 vez/semana
• Gabapentina (anticonvulsivante) diminui o fogacho
• Propranolol (bloqueador betaadrenérgico)
• Paroxetina: medicamento não hormonal aprovado pela FDA
• Auxiliares do sono a curto prazo: zolpidem, urazepam
• Gabapentina: anticonvulsivante
• ISRS: venlafaxina e paroxetina têm se mostrado promissoras (King & Brucker, 2016).
TERAPIAS COMPLEMENTARES E ALTERNATIVAS PARA CONTROLE DO FOGACHO
Muitas mulheres estão escolhendo tratamentos alternativos para o manejo dos sinais/sintomas da menopausa. Hormônios bioidênticos têm a capacidade de ligarse aos receptores no
corpo humano e funcionam da mesma maneira que os hormônios naturais da mulher. Eles mimetizam os três estrogênios (estradiol, estriol e estrona), assim como progesterona,
testosterona, desidroepiandrosterona (DHEA), tiroxina e cortisol. Os hormônios bioidênticos não são, no entanto, hormônios naturais. Os estrogênios são obtidos por meio de um
processo químico a partir da soja (Glycine max) e a progesterona é obtida do inhameselvagem (Dioscorea villosa). No entanto, tal como acontece com os hormônios convencionais, os
hormônios bioidênticos estão disponíveis apenas mediante a prescrição de um médico. Por causa de sua origem natural, as mulheres acreditam que os tratamentos alternativos sejam
mais seguros. O interesse em fitoestrógenos surgiu por causa da baixa prevalência de fogacho em mulheres asiáticas, o que foi atribuído à sua dieta rica em fitoestrógenos. Estudos
recentes descobriram que Cimicifuga racemosa, as combinações de fitoterápicos e a maior ingestão de soja não reduziram a frequência nem a intensidade do fogacho ou da sudorese
noturna da menopausa.
Outros remédios para aliviar os sinais/sintomas da menopausa poderiam incluir trevovermelho (Trifolium pratense), agripalma (Leonurus cardiaca), ginseng, raiz de salsaparrilha
(Smilax regelii), raiz de valeriana (Valeriana officinalis), Ltriptofano, cálcio, magnésio e comprimidos de algas (Ismail et al., 2015). Mais uma vez, as pesquisas até agora têm sido
céticas sobre a sua eficácia, mas muitas mulheres relatam alívio dos sinais/sintomas, e seu uso disparou. Embora alguns benefícios possam advir da sua utilização, as evidências da
eficácia de produtos alternativos na menopausa não têm respaldo científico. Pequenos ensaios clínicos preliminares demonstraram a segurança de alguns dos produtos não
farmacológicos. O enfermeiro deve estar ciente da suposta ação desses agentes, bem como de quaisquer efeitos adversos ou interações medicamentosas.
A seguir são descritas mudanças de estilo de vida e terapia de medicina complementar e alternativa para controle dos fogachos:
• Mudanças de estilo de vida
• Reduzir a temperatura ambiente; usar ventiladores
• Usar roupas em camadas, para fácil remoção
• Limitar o consumo de cafeína e etanol
• Beber de 8 a 10 copos de água diariamente
• Parar de fumar ou reduzir a quantidade
• Evitar o consumo de bebidas quentes e comidas picantes
• Ingerir cálcio (1.200 a 1.600 mg) e vitamina D (400 a 600 UI)
• Exercitarse diariamente, mas não antes de dormir
• Manter peso corporal saudável
• Identificar os fatores de estresse e aprender a gerenciálos
• Manter um diário para identificar deflagradores de fogacho
• Fitoestrógenos: isoflavonas, ligantes, coumestróis
• Cimicifuga racemosa
• Camomila: leve sedativo para aliviar a insônia
• Progesterona transdérmica (sem estrogênio)
• Hormônios bioidênticos compostos
• Tentar técnicas de relaxamento, respiração profunda e meditação
• Acupuntura reduz a frequência de fogacho
• Vitamina E: 100 mg/dia
• Desidroepiandrosterona (DHEA)
• Vitex agnuscastus (agnocasto): equilibra a progesterona e o estrogênio
• Angelica sinensis: atua como forma de fitoestrógeno
• Ginseng: teoricamente, melhora a memória
• Hipérico: reduz a depressão e a fadiga
• Inhameselvagem (Dioscorea villosa): alivia os sinais/sintomas da menopausa
• Raiz de valeriana: induz sono e relaxamento (Wood, 2015).
Manejo das alterações urogenitais
A transição para a menopausa pode ser uma época física e emocionalmente desafiadora para as mulheres. Além da carga psicológica de deixar para trás a fase fértil da vida e o estigma
de um corpo em “envelhecimento”, as dificuldades sexuais decorrentes das alterações urogenitais afligem a maior parte das mulheres, mas muitas vezes não são abordadas. O desejo
sexual é afetado por fatores endócrinos e psicossociais. As alterações hormonais da menopausa são relevantes às causas de disfunção sexual durante o envelhecimento reprodutivo. A
frequência das relações sexuais cai conforme as mulheres entram na meiaidade. Embora a disponibilidade e a atuação dos parceiros provavelmente influenciem, os sinais/sintomas da
menopausa, como o ressecamento vaginal, também são importantes (Comhaire & Depypere, 2015).
A atrofia vaginal durante a menopausa se deve ao declínio dos níveis de estrogênio. Essas alterações incluem adelgaçamento das paredes vaginais, elevação do pH, irritação, aumento
da suscetibilidade à infecção, dispareunia (relações sexuais dolorosas ou difíceis), perda da lubrificação com o coito, ressecamento vaginal e diminuição do desejo sexual relacionado
com essas alterações. A diminuição dos níveis de estrogênio também pode influenciar a função sexual da mulher. A reação tardia do clitóris, a diminuição da lubrificação vaginal, a
resposta circulatória diminuída durante a estimulação sexual e as contrações reduzidas durante o orgasmo estão ligadas aos baixos níveis de estrogênio (Coney, 2015).
O manejo dessas alterações poderia incluir o uso de comprimidos vaginais de estrogênio (Vagifem®) ou Premarin® em creme; Estring®, um anel vaginal liberador de estrogênio que
dura meses; adesivos de testosterona; e cremes hidratantes e lubrificantes de venda livre (Astroglide®) (King et al., 2015). A perspectiva positiva sobre a sexualidade e um parceiro que a
apoie também são necessários para tornar a experiência sexual agradável e gratificante. Os profissionais de saúde podem melhorar a saúde sexual e a qualidade de vida de mulheres na
menopausa por meio de orientação sobre seus sintomas e oferecimento de escolhas de controle dos mesmos.
Anote!
A saúde sexual é um aspecto importante da vida humana. Ao manter a mente aberta, ouvir as mulheres e fornecer opções de tratamento baseadas em evidências, o enfermeiro pode
ajudar a melhorar a qualidade de vida das mulheres após a menopausa.
Prevenção e manejo da osteoporose
A osteoporose tem sido reconhecida como um importante problema de saúde pública mundial. Com o envelhecimento da população mundial, tanto nos EUA quanto no restante do
planeta, a prevalência de osteoporose deve aumentar de modo significativo. A osteoporose é o estado de diminuição da densidade óssea. Essa é uma doença esquelética sistêmica
caracterizada por baixa massa óssea e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, com consequente aumento da fragilidade óssea e suscetibilidade a fraturas (National Osteoporosis
Foundation [NOF], 2015a).
De acordo com informações recentes da NOF (2015a), a osteoporose é um importante problema de saúde, que afeta 10 milhões de mulheres e 2 milhões de homens nos EUA. Outros
34 milhões de norteamericanos têm baixa massa óssea. A cada ano, cerca de 1,5 milhão de indivíduos nos EUA sofrem uma fratura por fragilidade óssea secundária à osteoporose, o
que resulta em um custo anual de US$ 18 bilhões. Em 2025, os especialistas preveem que a osteoporose será responsável por cerca de 3 milhões de fraturas e US$ 26 bilhões em custos
a cada ano (NOF, 2015a). Com o rápido envelhecimento da população dos EUA, o problema da osteoporose está alcançando proporções epidêmicas. Setenta e cinco milhões das pessoas
nascidas no período entre 1945 e 1964 estão entrando na fase de sua vida em que correm maior risco de osteoporose. Metade de todas as mulheres e um terço de todos os homens
sofrerá uma fratura por fragilidade óssea durante sua vida. A osteoporose continua sendo subdiagnosticada e subtratada, porque muitas vezes não é reconhecida até que a primeira fratura
ocorra.
As mulheres são muito afetadas pela osteoporose após a menopausa. A osteoporose é uma condição na qual a massa óssea diminui a tal ponto que as fraturas ocorrem com
traumatismo mínimo. A perda óssea começa na terceira ou na quarta década de vida da mulher e acelera rapidamente após a menopausa (Alexander et al., 2014). Essa condição coloca
muitas mulheres sob cuidados de longa duração, com consequente perda da independência. A Figura 4.22 apresenta as alterações ósseas associadas à osteoporose.
FIGURA 4.22 Alterações esqueléticas associadas à osteoporose. (John Radcliffe Hospital/Photo Researcher Inc.)
A maioria das mulheres com osteoporose não sabe que tem a doença até sofrer uma fratura, geralmente do punho ou do quadril. Os fatores de risco incluem:
• Aumento da idade
• Estado pósmenopausa sem reposição hormonal
• Estrutura óssea pequena e fina
• Baixa densidade mineral óssea
• Origem branca ou asiática com estrutura óssea pequena
• Comprometimento da acuidade visual, que aumenta o risco de queda
• Artrite reumatoide
• História familiar de osteoporose
• Sedentarismo
• Relato de tratamento com:
• Antiácidos com alumínio
• Heparina
• Uso prolongado de esteroides (> 3 meses)
• Fármacos para reposição tireóidea
• Tabagismo e etilismo
• Baixa ingestão de cálcio e vitamina D
• Consumo excessivo de cafeína
• História pessoal de fratura não traumática
• Anorexia nervosa ou bulimia (NOF, 2015a).
Atualmente, não existe um método para medir diretamente a massa óssea. Utilizase, então, a mensuração da densidade mineral óssea (DMO). A DMO é uma determinação
bidimensional do teor médio de mineral em um corte de osso. As avaliações da DMO são feitas no quadril, no colo do fêmur e na coluna vertebral. Existe correlação significativa entre a
DMO e a fratura: conforme diminui a densidade mineral óssea, aumenta o risco de fratura (Sullivan et al., 2015). Os testes de rastreamento para determinar a densidade óssea não são
bons preditores para mulheres jovens que poderiam correr risco de desenvolver essa condição. A densitometria óssea por DEXA (absorciometria de duplo feixe de raios X, DXA ou
DEXA) é o exame que calcula o conteúdo mineral ósseo na coluna e no quadril. É muito acurada, de realização rápida e relativamente barata. A DEXA é o padrãoouro para a
identificação de osteoporose por meio da medição da densidade mineral óssea (U.S. Preventive Services Task Force, 2015).
A fratura de quadril é a mais devastadora das fraturas por fragilidade secundárias à osteoporose. É seguida por diversas consequências clínicas, sociais e econômicas. Das mulheres
com mais de 50 anos, em média 24% morrem no primeiro ano após a fratura de quadril (Wang et al., 2015). A preocupação em torno da osteoporose não existe somente por causa da
incidência da fratura, mas também por causa do potencial de incapacidade por toda a vida secundária à fratura de quadril. Estimase que a incidência de fratura de quadril dobre até 2025
e quase dobre novamente até 2050. Para as mulheres, esse é um aumento projetado de 240% (NOF, 2015a).
O melhor manejo para essa doença dolorosa, debilitante e potencialmente fatal é a prevenção.
As mulheres podem modificar muitos fatores de risco ao:
• Realizar exercícios físicos diariamente envolvendo sustentação de peso, como caminhadas, para aumentar a atividade dos osteoblastos
• Aumentar a ingestão de cálcio e vitamina D
• Evitar fumar e consumir bebidas alcoólicas em excesso (mais de duas doses por dia)
• Discutir a saúde óssea com um médico
• Quando for apropriado, solicitar densitometria óssea e tomar medicação, se necessário (NOF, 2015b).
Os medicamentos que podem ajudar na prevenção e no manejo da osteoporose incluem:
• Terapia de reposição hormonal (Premarin®)
• Moduladores seletivos de receptores de estrogênio (MSRE) (raloxifeno [Evista®])
• Suplementos de vitamina D (antiácido) e cálcio
• Agonista/antagonista de estrogênio [modulador seletivo de receptor de estrogênio [MSRE])
• Bisfosfonatos (Actonel®, Fosamax®, Boniva® ou Reclast®)
• Paratormônio (Forteo®)
• Calcitonina (Miacalcin®) (King & Brucker, 2016).
Prevenção e manejo das doenças cardiovasculares
Apesar da redução drástica da taxa de mortalidade anual por DCV e da taxa de mortalidade cardiovascular total anual de mulheres norteamericanas a partir de 2000, a doença
cardiovascular ainda é a principal causa de morte de mulheres, sendo responsável por uma em cada três mortes nos EUA. Provavelmente, isso se deve a taxas aumentadas de obesidade,
sedentarismo, diabetes melito e hipercolesterolemia (Chomistek et al., 2015). Mais mulheres morrem de doença cardíaca e acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico (AVE) do que
das cinco causas de morte seguintes combinadas, incluindo o câncer de mama. Meio milhão de mulheres morre anualmente nos EUA por causa de doença cardiovascular (DCV). O
acidente vascular encefálico é responsável por cerca de 20% dos óbitos (Alexander et al., 2014). Isso se traduz em aproximadamente uma morte a cada minuto. Enquanto a taxa de
mortalidade por DCV dos homens diminuiu desde os anos 1980, a taxa de mortalidade por DCV das mulheres subiu. Isso resultou em uma diferença de mortalidade por DCV
relacionada com o sexo, com as mulheres tendo maior taxa de mortalidade do que os homens desde 1984. A falta de conscientização do risco de doenças cardiovasculares pelas mulheres
e por seus médicos contribui para essa diferença na mortalidade feminina por DCV. Campanhas de conscientização, como a Heart Truth® e seu símbolo Red Dress®, parecem ter
melhorado o reconhecimento do risco de doenças cardiovasculares nas mulheres. Além disso, foram elaboradas orientações específicas para as mulheres para evitar e reduzir as doenças
cardiovasculares. Embora o atual entendimento do papel da menopausa na DCV seja controverso, estudos sugerem que a menopausa não agrava as doenças cardiovasculares
independentemente da idade, e a terapia de reposição hormonal (TRH) não é efetiva para a prevenção secundária da DCV (Hale & Shufelt, 2015).
Durante a primeira metade da vida de uma mulher, o estrogênio parece ser uma substância protetora para o sistema cardiovascular, ao regularizar, relaxar e dilatar os vasos
sanguíneos. O estrogênio também ajuda a aumentar os níveis sanguíneos de HDL e reduzir os níveis sanguíneos de lipoproteína de baixa densidade (LDL), contribuindo para manter as
artérias sem acúmulo de placas. Mas, à medida que os níveis de estrogênio caem conforme as mulheres envelhecem e passam pela menopausa, a incidência de doenças cardiovasculares
aumenta dramaticamente. É mais provável que as mulheres apresentem manifestações cardiovasculares atípicas em comparação com os homens. Isso pode resultar em retardo do
diagnóstico ou diagnóstico incorreto e tratamento subótimo. Esses sintomas podem incluir:
• Angina (dor torácica)
• Dispneia
• Fadiga crônica
• Tontura
• Edema de mãos e pés
• Arritmia cardíaca
• Desconforto gástrico
• Dor intensa no dorso e nos ombros.
A menopausa não é o único fator que aumenta o risco de DCV da mulher. Fatores de estilo de vida e da história patológica pregressa, como os seguintes, são importantes:
• Tabagismo
• Obesidade
• Dieta hiperlipídica
• Sedentarismo
• Níveis sanguíneos elevados de colesterol
• História familiar de DCV
• Hipertensão arterial
• Corpo em forma de maçã
• Diabetes melito.
Dois dos principais fatores de risco para doença da artéria coronária (DAC) são a hipertensão arterial e a dislipidemia. Ambas são modificáveis e podem ser evitadas por mudanças
no estilo de vida e, se necessário, controladas por medicação. Por isso, a prevenção é essencial. Além disso, as mulheres que apresentam menopausa precoce perdem a proteção conferida
ao sistema cardíaco pelo estrógeno endógeno e correm maior risco de aterosclerose mais extensa. As principais estratégias preventivas incluem dieta saudável, aumento da atividade
física, prática de exercícios físicos, abandono do tabagismo, redução do consumo de bebidas alcoólicas e perda de peso corporal.
Os enfermeiros, sobretudo aqueles que cuidam de mulheres durante seus anos férteis, estão em posição única para fornecer orientações e apoio à saúde cardiovascular a longo prazo
das mulheres. O aumento da conscientização das DCV nas mulheres é uma função essencial dos enfermeiros. A boa notícia é que a DCV é, em grande parte, evitável. Como a DCV é
um quadro crônico que evolui ao longo do tempo, as intervenções de modificação do estilo de vida da prevenção primária são mais efetivas se iniciadas antes do aparecimento das
manifestações da doença. A abordagem da importância das modificações de estilo de vida tem de ser iniciada precocemente e deve ser reforçada desde o início da vida fértil da mulher
jovem até a menopausa. Os enfermeiros estão em uma posição ideal para orientar em relação à importância de uma boa nutrição, peso saudável e exercício diário antes que a DCV se
torne clinicamente evidente.
Avaliação de enfermagem
A transição para a menopausa é parte universal e irreversível do processo de envelhecimento geral que envolve o sistema genital de uma mulher. Apesar de não ser uma doença, a
transição para a menopausa realmente coloca as mulheres em maior risco de desenvolvimento de muitas condições do envelhecimento. Os enfermeiros podem ajudar a mulher a
conscientizarse de seu risco de doenças após a menopausa, assim como das estratégias para evitálas. O enfermeiro pode contribuir para avaliar os fatores de risco e planejar
intervenções em colaboração com a paciente. Isso poderia incluir:
• Rastreamento de osteoporose, DCV e risco de câncer
• Aferição da pressão arterial para identificar hipertensão arterial
• Determinação dos níveis sanguíneos de colesterol para identificar o risco de hiperlipidemia
• Mamografia para detectar lesões cancerosas
• Esfregaço de Papanicolaou para identificar câncer do colo do útero
• Exame pélvico para identificar cânceres ou massas endometriais
• Toque retal para avaliar se há câncer de cólon
• Densitometria óssea como exame inicial na menopausa para identificar osteopenia (diminuição da massa óssea), que pode levar à osteoporose
• Avaliação do estilo de vida para planejar estratégias para evitar doenças crônicas:
• Ingestão de gordura, colesterol e sódio
• Controle do peso corporal
• Ingestão de cálcio
• Tabagismo, etilismo e consumo excessivo de cafeína
• Quantidade e tipo de rotinas de exercícios diários.
Conduta de enfermagem
Não existe uma “pílula mágica” para o manejo da menopausa. O enfermeiro pode aconselhar as mulheres sobre os riscos que correm e ajudálas a evitar doenças e condições debilitantes
com orientações específicas de manutenção da saúde. As mulheres devem tomar suas próprias decisões, mas o enfermeiro deve certificarse de que estejam munidas com os fatos para
fazêlo de modo inteligente. O enfermeiro pode oferecer uma explicação completa sobre o processo da menopausa, incluindo os resultados de pesquisas mais recentes, para ajudar as
mulheres a entender e tomar decisões sobre esse evento inevitável.
Se a mulher decidir usar terapia hormonal para controlar os sinais/sintomas da menopausa, depois de ter sido completamente orientada, ela precisará de reavaliação frequente. Não há
regras rápidas e seguras para atender às necessidades específicas de uma mulher. O enfermeiro pode fornecer expectativas realistas sobre o tratamento para reduzir a ansiedade e a
preocupação da mulher.
Também é útil enfatizar o valor dos amigos em prestar apoio e compartilhar informações e recursos. Muitas vezes, apenas falar sobre as dificuldades emocionais, como a morte de
um dos pais ou relacionamentos problemáticos, ajuda a resolver problemas. Isso também mostra à mulher que suas respostas emocionais são válidas.
O estilo de vida saudável e as técnicas de manejo do estresse são vitais para a saúde e para a longevidade, e é importante mantêlos na programação da paciente quando se discute a
menopausa (North American Menopause Society, 2015). As intervenções baseadas em evidências incluem modificações de estilo de vida, terapias de manejo do risco e intervenções
farmacológicas preventivas, como as seguintes:
• Participar ativamente da manutenção da saúde
• Exercitarse regularmente para evitar doenças cardiovasculares e osteoporose
• Ingerir suplementos de cálcio e comer adequadamente para evitar a osteoporose
• Parar de fumar para evitar doenças cardíacas e pulmonares
• Reduzir a ingestão de cafeína e bebidas alcoólicas para evitar a osteoporose
• Monitorar a pressão arterial, os níveis sanguíneos de lipídios e o diabetes melito (tratamento farmacológico)
• Ingerir ácido acetilsalicílico (AAS) em baixas doses para evitar coágulos sanguíneos
• Reduzir a ingestão de gordura, colesterol e sódio para evitar doenças cardiovasculares
• Manter peso corporal saudável em relação ao biotipo
• Realizar o autoexame das mamas para estar ciente de sua condição
• Controlar o estresse para evitar depressão (Worel & Hayman, 2015).
Essas abordagens de vida podem parecer antiquadas, mas podem evitar complicações relacionadas com a menopausa, como DCV, osteoporose e depressão. As dicas para uma vida
saudável funcionam bem, mas a paciente precisa estar motivada para aderir a estas.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Estabelecer bons hábitos de saúde e evitar comportamentos de risco no início da vida evitará doenças crônicas na vida adulta
A SPM tem mais de 150 sintomas e pelo menos duas síndromes diferentes já foram reconhecidas: síndrome prémenstrual (SPM) e transtorno disfórico pré
menstrual (TDPM)
A endometriose é uma condição na qual fragmentos de tecido endometrial ativo estão localizados fora do seu local normal, a cavidade uterina
A infertilidade é um problema generalizado, que tem impacto emocional, social e econômico nos casais
Mais de 50% de todas as gestações indesejadas ocorrem em mulheres que relatam o uso de algum método de controle de natalidade durante o mês em que
ocorreu a concepção
Os métodos hormonais incluem contraceptivos orais, injetáveis, implantes, anéis vaginais e sistemas transdérmicos (adesivos)
Estudos recentes mostraram que os contraceptivos orais de liberação prolongada e de ciclo estendido têm o mesmo perfil de segurança que os esquemas
convencionais de 28 dias (Zieman, 2015)
Atualmente, três contraceptivos intrauterinos estão disponíveis nos EUA: o sistema intrauterino com cobre, o sistema intrauterino liberador de levonorgestrel
(LNGSIU), e outro DIULNG (King et al., 2015)
Os contraceptivos orais, a esterilização e os preservativos masculinos são os métodos de contracepção mais populares nos EUA e no mundo (Alan Guttmacher
Institute, 2015a)
A menopausa, com seu declínio significativo dos níveis de estrogênio, afeta não só os órgãos genitais, mas também outros sistemas do corpo
A maioria das mulheres com osteoporose não sabe que tem a doença até sofrer uma fratura, geralmente do punho ou do quadril (NOF, 2015a)
Meio milhão de mulheres morre anualmente nos EUA por causa de DCV. O acidente vascular encefálico é responsável por cerca de 20% dos óbitos
(Alexander et al., 2014)
Os enfermeiros devem ter como objetivo adotar uma abordagem holística à saúde sexual de mulheres desde a menarca até a menopausa
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Exercícios sobre o capítulo
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. Um casal é considerado infértil depois de quantos meses tentando engravidar?
a. 6 meses
b. 12 meses
c. 18 meses
d. 24 meses
2. Um casal relata que o preservativo se rompeu enquanto eles mantinham uma relação sexual na noite passada. O que você aconselharia para evitar a gravidez?
a. Injetar um agente espermicida na vagina da mulher imediatamente
b. Obter contraceptivos de emergência e tomálos imediatamente
c. Realizar uma ducha vaginal com uma solução de vinagre e água quente à noite
d. Tomar um laxante forte agora e novamente na hora de dormir
3. Qual dos seguintes contraceptivos combinados foi aprovado pela FDA para uso contínuo prolongado?
a. Seasonale® (etinilestradiol + levonorgestrel)
b. Triphasil® (etinilestradiol + levonorgestrel)
c. Ortho Evra® (etinilestradiol + norelgestromina)
d. Mirena® (levonorgestrel)
4. Qual das seguintes medidas ajuda a evitar a osteoporose?
a. Suplementação com ferro
b. Dormir 8 horas por noite
c. Comer somente carnes magras
d. Caminhar diaraimente
5. Qual das seguintes atividades aumenta o risco de doença cardiovascular na usuária de contraceptivos orais?
a. Ingerir uma dieta rica em fibras
b. Tabagismo
c. Ingerir multivitamínicos diariamente
d. Consumo de bebidas alcoólicas
6. O enfermeiro está preparandose para dar uma palestra a um grupo de mulheres de meiaidade em relação aos sinais/sintomas vasomotores mais frequentes
durante a menopausa e as possíveis modalidades de tratamento disponíveis. Qual das seguintes seria uma manifestação vasomotora da menopausa?
a. Ganho de peso
b. Densidade óssea
c. Fogacho
d. Doença cardíaca
7. Ao longo da vida, a atividade mais proativa da mulher para promover a sua saúde seria:
a. Prática consistente de exercícios físicos
b. Socialização com os amigos
c. Tempo de relaxamento sozinha
d. Consumo de água
8. Qual comentário feito por uma mulher indicaria que o diafragma não é o melhor dispositivo anticoncepcional para ela?
a. “Meu marido diz que evitar a gravidez é minha função”
b. “Eu tenho dificuldade de lembrar de tomar minhas vitaminas diariamente”
c. “Os hormônios causam câncer, e eu não quero tomálos”
d. “Eu não me sinto confortável em me tocar lá embaixo”
9. A causa mais comum de anormalidade menstrual em uma mulher em idade fértil é:
a. Gravidez ectópica
b. Coagulopatia
c. Carcinoma
d. Anovulação
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. A Srta. London, de 25 anos, chega à clínica de planejamento familiar solicitando a inserção de um dispositivo intrauterino (DIU), porque os “comprimidos
anticoncepcionais dão câncer”. Ao rever seus antecedentes, você nota que ela esteve no ambulatório de infecções sexualmente transmissíveis três vezes no
ano anterior por causa de infecções vaginais e foi hospitalizada por doença inflamatória pélvica (DIP) no mês passado. Quando você pergunta a ela sobre seus
antecedentes sexuais, ela relata ter relações sexuais com múltiplos parceiros e nem sempre usar proteção.
a. O DIU é o método mais apropriado para ela? Por que sim ou por que não?
b. Que mitos/equívocos você abordará em sua sessão de aconselhamento?
c. Delineie a discussão sobre sexo seguro que você pretende ter com ela.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Elabore um plano de orientação para uma adolescente com síndrome prémenstrual e dismenorreia.
2. Acompanhe um enfermeiro que trabalha no planejamento familiar pela manhã. Que perguntas o enfermeiro faz para determinar qual tipo de método de
planejamento familiar é melhor para cada mulher? Quais orientações devem ser dadas com cada método? Quais são os cuidados de acompanhamento
necessários? Compartilhe seus achados com seus colegas durante uma reunião clínica.
3. Navegue na internet e localize três opções a serem consultadas por casais inférteis que forneçam suporte e recursos.
4. A esterilização é o método mais prevalente de contracepção utilizado por casais nos EUA. Contate um urologista e um ginecologista local para saber mais sobre
o processo envolvido e os custos da esterilização masculina e da feminina. Qual procedimento representa um risco menor para a pessoa e custa menos?
5. Faça uma visita a uma farmácia local para conferir a variedade e o custo dos preservativos masculinos e femininos. Quantas marcas diferentes você encontrou?
Qual foi a variação de preço?
6. Quais são os benefícios não anticoncepcionais dos contraceptivos orais combinados? Selecione todas as opções que se apliquem.
a. Proteção contra o câncer de ovário
b. Proteção contra o câncer de endométrio
c. Proteção contra o câncer de mama
d. Redução da incidência de gravidez ectópica
e. Prevenção de cistos ovarianos funcionais
f. Redução da trombose venosa profunda
g. Redução do risco de câncer colorretal
ESTUDO DE CASO
L. H. é uma mulher branca, de 66 anos de idade, que procura o ambulatório para seu exame ginecológico anual. Ela informa estar razoavelmente saudável exceto
por hipertensão arterial controlada por medicação. Ela já passou pela menopausa e acredita estar bem, mas tem alguns questionamentos e preocupações. Sua
preocupação primária é o ressecamento vaginal e a dor durante as relações sexuais. Lubrificantes e hidratantes de venda livre não melhoraram a condição. Ela
nunca fez uso de hormonoterapia porque seus episódios de fogacho não eram significativos, mas agora pergunta se deve começar a usar hormônio para aliviar o
ressecamento vaginal.
AVALIAÇÃO
A história familiar da paciente L. H. inclui uma tia que teve câncer de mama aos 60 anos de idade e sua mãe que morreu de infarto do miocárdio com 71 anos. L. H.
não fuma e bebe uma taça de vinho diariamente ao jantar. A última densitometria óssea revelou osteopenia, e no exame ginecológico foram encontradas alterações
atróficas extensivas dos tecidos vulvovaginais. Os sinais vitais estavam dentro dos limites normais, seu peso era 64 kg e sua altura 1,57 m. A paciente disse que já
foi mais alta, porque suas calças antes pareciam mais compridas e agora precisou fazer a bainha.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 4 | Questões Comuns Relacionadas com a Reprodução
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é B. A infertilidade é definida como a incapacidade do casal de conceber após 12 meses de relações sexuais sem proteção. A alternativa A está incorreta: 6 meses
não é tempo suficiente para diagnosticar a infertilidade em um casal que não esteja fazendo controle de natalidade. A alternativa C está incorreta: 18 meses está 6 meses além do
tempo necessário para diagnosticar a infertilidade, de acordo com a definição. A alternativa D está incorreta: 24 meses é o dobro do tempo necessário para diagnosticar a
infertilidade.
2. A resposta correta é B. Se os contraceptivos de emergência forem tomados nas 72 horas seguintes à relação sexual desprotegida, a gravidez será impedida pela inibição da
implantação. Na manhã seguinte, ainda há tempo para tomar o contraceptivo de emergência e não engravidar. A alternativa A está incorreta: seria tarde demais para usar um agente
espermicida para evitar a gravidez, visto que os espermatozoides já teriam se deslocado para o sistema genital feminino. A alternativa C está incorreta: a ducha com vinagre e água
quente 24 horas após a relação sexual desprotegida não modificará a evolução dos acontecimentos; nesse momento já é tarde demais para evitar uma gravidez, embora essa
combinação não seja efetiva em momento algum. A alternativa D está incorreta: um laxante estimulará a defecação, mas não influenciará o sistema genital, onde ocorre a
fecundação.
3. A resposta correta é A. O Seasonale® (associação de etinilestradiol e levonorgestrel) é um dos vários contraceptivos orais a longo prazo aprovados pela FDA, sendo projetado para
fornecer 84 dias de proteção contínua. Embora qualquer contraceptivo oral possa ser tomado continuamente, isso não é aprovado pela FDA. A alternativa B está incorreta: o
Triphasil® (etinilestradiol + levonorgestrel) não foi aprovado pela FDA para uso contínuo; deve ser deixado por 3 semanas e então removido por 1 semana para possibilitar ciclos
mensais. A alternativa C está incorreta: a FDA não aprovou o uso contínuo desse sistema transdérmico (Ortho Evra®); o dispositivo é colocado na pele durante 3 semanas e
removido durante 1 semana. A alternativa D está incorreta: esse dispositivo implantável (Mirena®) protege por 5 anos, mas não é um contraceptivo combinado; ele libera apenas
progesterona sintética, não estrogênio.
4. A resposta correta é D. Os exercícios físicos com sustentação de peso são uma excelente medida preventiva para preservar a integridade óssea, principalmente da coluna vertebral e
dos quadris. Deambular fortalece o sistema esquelético e evita a degradação, que resulta em osteoporose. A alternativa A está incorreta: o ferro não impede a degradação dos ossos;
embora o ferro suplementado se acumule no sangue e evite a anemia, tem efeito limitado nos ossos. A alternativa B está incorreta: ficar na posição horizontal durante o sono não é
útil para formar ossos. A sustentação de peso pelos ossos longos ajuda a manter sua densidade, o que impede a perda de matriz óssea. A alternativa C está incorreta: o ganho de
proteínas pela ingestão de carnes magras ajuda o corpo a formar tecidos e músculos, mas tem efeito limitado sobre a manutenção da integridade óssea ou sobre a prevenção da perda
de densidade óssea.
5. A resposta correta é B porque fumar causa constrição dos vasos sanguíneos, aumentando a resistência vascular periférica e elevando a pressão arterial. Essas alterações vasculares
aumentam as chances de doenças cardiovasculares, pois impõem pressão adicional sobre o coração, que precisa bombear o sangue contra uma resistência vascular aumentada. A
alternativa A está incorreta, uma vez que as fibras seriam um acréscimo positivo à alimentação e ajudariam nos padrões de eliminação e a evitar esforços para defecar, que
estressam o coração. A alternativa C está incorreta, porque as vitaminas não causam estreitamento do lúmen dos vasos, o que impõe carga adicional sobre o coração. A alternativa
D está incorreta, visto que o álcool etílico provoca vasodilatação e reduz a pressão arterial. Dizse que o consumo de bebidas alcoólicas com moderação é bom para o coração.
6. A resposta correta é C. As duas únicas manifestações vasomotoras arroladas no texto são sudorese noturna e ondas de calor (fogacho). As outras (fadiga, confusão mental,
esquecimento, irritabilidade, perda da libido e do apetite) podem ser consequentes à menopausa, mas não são classificadas como manifestações vasomotoras.
7. A resposta correta é A. A prática de exercícios físicos é saudável para o coração, para o peso corporal e para o aspecto emocional. O lema “Mantenhase em movimento” é a base
para uma vida saudável, uma vez que ajudará a manter o peso ideal, a aprimorar a circulação e a melhorar o humor. A alternativa B está incorreta: a socialização não envolve
necessariamente atividade física e não seria proativa na preservação da saúde. A alternativa C está incorreta: passar um tempo tranquilo sozinho, embora necessário para reduzir o
estresse, reduz o movimento físico e pode resultar em depressão e ganho de peso. A alternativa D está incorreta: a água, embora necessária para hidratar o corpo, não manterá a
circulação, não evitará o ganho de peso nem melhorará o aspecto emocional do indivíduo. O exercício físico alcançará esses três objetivos.
8. A resposta correta é D. Esse dispositivo contraceptivo vaginal de barreira consiste em uma taça de borracha em forma de cúpula com um aro flexível que precisa ser inserido na
vagina antes da relação sexual. A cúpula do diafragma recobre o colo do útero e o creme ou gel espermicida aplicado ao aro impede que os espermatozoides penetrem no colo do
útero. As mulheres que usam esse método de contracepção precisam ser capazes de inserir o dispositivo na vagina antes de cada relação sexual para que seja efetivo. Se a mulher se
sentir desconfortável em “tocar” a si mesma, esse não será um método bemsucedido, e outro sistema deverá ser utilizado.
9. A resposta correta é D porque tipicamente há sangramento uterino anormal quando não ocorre ovulação durante o ciclo menstrual mensal. Anovulação crônica causa vários padrões
de sangramento anormal. A alternativa A está incorreta porque ocorreria amenorreia secundariamente à gestação. A alternativa B está incorreta porque haveria outras manifestações
clínicas em caso de distúrbio sistêmico da coagulação. A alternativa C é incorreta porque a maioria dos cânceres uterinos ocorre após a menopausa, não em mulheres em idade
fértil.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. O DIU é o método mais apropriado para ela? Por que sim ou por que não?
Neste caso, com base na história pregressa de DST/ IST, DIP e vários parceiros, ela não é uma candidata para o DIU. Esse método aumentará seu risco de novas infecções
ascendentes, o que pode dificultar sua fertilidade futura. A menos que suas escolhas de estilo de vida mudem radicalmente, ela está se colocando em risco. Ela deve ser
incentivada a utilizar métodos anticoncepcionais de barreira.
b. Que mitos/equívocos você abordará em sua sessão de aconselhamento?
Essa paciente afirma que não está interessada em usar anticoncepcionais orais porque eles causam câncer. Isso não é verdade, e é necessário fornecer uma explicação sobre os
fatores de risco para o câncer, juntamente com uma discussão sobre os comprimidos com doses mais baixas de estrogênio prescritos na atualidade. Os impactos positivos não
relacionados com a contracepção, como a redução nos cânceres de ovário e colorretal e a regulação do ciclo menstrual, também devem ser abordados.
c. Delineie a discussão sobre sexo seguro que você pretende ter com ela:
• Relacionamento monogâmico reduz a incidência de DST/IST
• Métodos de barreira (preservativos, capuz cervical, diafragma) protegem contra a gravidez e DST/IST
• Sexo oral usando barreira dental (dental dam) reduz o risco de DST/IST
• “Selinho” sem feridas nos lábios ou lesões de pele reduz o risco de DST/IST
• Informações à paciente sobre a relação entre a DIP e a infertilidade são importantes
• Tratamento imediato de qualquer corrimento vaginal deve ser incentivado.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Plano de orientações para uma adolescente com síndrome prémenstrual:
1. Defina a condição em termos simples para melhorar a compreensão da adolescente
2. Cite dados estatísticos sobre sua incidência para que ela saiba que se trata de uma condição comum
3. Atribua a ela a tarefa de rastrear os sinais e sintomas que mais a incomodam
4. Estude cuidadosamente os padrões/tendências dos sinais e sintomas para explicar o que está ocorrendo
5. Discuta uma abordagem abrangente global para o manejo de seus sinais e sintomas:
a. Mudanças na dieta
i. Resista à compulsão prémenstrual por carboidratos
ii. Reduza a ingestão de cafeína, pois essa substância tende a aumentar a tensão nervosa
iii. As vitaminas B6, A e E têm se mostrado promissoras em pesquisas
b. Exercícios aeróbicos ao longo do mês ajudam na redução da dor
c. Tratamento farmacológico, se as mudanças de estilo de vida não aliviarem os sinais e sintomas
i. Antidepressivos
ii. Ansiolíticos
iii. Contraceptivos orais
2. Tipicamente, o enfermeiro do planejamento familiar perguntará à paciente sobre quaisquer crenças socioculturais, espirituais e religiosas que influenciarão a decisão. O estilo de
vida e os rendimentos também desempenham papel importante na escolha do método de planejamento familiar. De modo ideal, essa deve ser uma decisão tomada por ambos os
parceiros, mas raramente o parceiro se envolve no assunto. As orientações importantes incluem os riscos, os benefícios, os efeitos colaterais e a eficácia de cada método,
juntamente com instruções sobre como usálo corretamente. Devemse salientar informações sobre os cuidados de acompanhamento.
3. Existem numerosos sites, muitos deles patrocinados por instituições de saúde que lidam com a infertilidade.
4. Os preços serão mais elevados na região metropolitana do que nas regiões rurais do município. Os estudantes descobrirão que a mulher submetida a laqueadura tubária corre maior
risco do que o homem submetido a vasectomia. Os custos podem variar, mas a esterilização masculina geralmente é bem menos arriscada e menos dispendiosa.
5. Os estudantes encontrarão várias marcas comerciais de preservativos masculinos e apenas uma marca de preservativo feminino. Os preços do preservativo masculino (3 unidades)
podem variar de R$ 3,00 a mais de R$ 8,00, dependendo do fabricante. O preservativo feminino (1 unidade) custa aproximadamente R$ 11,00. É preciso lembrar que no Brasil os
preservativos femininos e masculinos são fornecidos gratuitamente nos postos de saúde públicos.
6. As respostas A, B, D, E e G são corretas: pesquisas têm confirmado menor incidência desses cânceres e condições. As alternativas C e F estão incorretas: as pesquisas não
mostraram redução, e alguns estudos têm, na verdade, encontrado aumento da incidência de câncer de mama e trombose venosa profunda.
ESTUDO DE CASO
1. Qual é a queixa atual principal dessa paciente? Qual é a causa do problema?
2. Na história pessoal ou na história familiar dessa paciente, existe algum dado preocupante?
3. Com base em seu peso e sua altura, há algum problema relacionado com a saúde?
Resposta: L. H. tem atrofia vulvovaginal significativa, que não melhorou com lubrificantes de venda livre e, provavelmente, só melhorará com reposição de estrogênio. Esse é um
achado comum na menopausa. A paciente tinha história familiar desfavorável de câncer e doença cardiovascular. Os resultados de sua densitometria óssea mostraram osteopenia e a
paciente corre risco de desenvolver osteoporose.
Plano de cuidados
1. Quais problemas de saúde o enfermeiro deve abordar com essa paciente depois do seu exame?
2. Quais medidas de promoção da saúde são necessárias para reduzir seu risco de osteoporose?
a. Aumentar a ingestão de cálcio
b. Praticar exercícios físicos com pesos
c. Assegurar mecânica corporal apropriada
3. Quais fármacos poderiam ser prescritos para essa paciente?
4. Quando essa paciente retornaria para uma consulta de seguimento?
Resposta: O enfermeiro deve conversar sobre produtos vaginais à base de estrogênio, inclusive creme, comprimidos e anel vaginal para tratar a atrofia vaginal da paciente. Caberia
à paciente decidir que tipo de estrogênio ela gostaria de usar. Esses tratamentos produzem efeitos vaginais locais (não sistêmicos), que podem aumentar seu risco com base em sua
história familiar. Também é importante conversar sobre o impacto na intimidade sexual e sobre o acompanhamento para detectar hipertensão arterial e uso de fármacos. Por fim,
deve ser incluída uma conversa sobre exercícios e considerações nutricionais.
Para melhorar ou manter a saúde, o enfermeiro deve recomendar o consumo de 1.200 a 1.600 mg de cálcio e de 600 a 1.000 UI de vitamina D por meio da dieta e/ ou suplementos. A
paciente também deve ser instruída a caminhar diariamente, aumentando gradativamente a distância percorrida. Os exercícios físicos com pesos e a melhora da mecânica corporal
também devem ser incluídos nessa discussão. O enfermeiro deve sugerir um cardápio com alimentos ricos em cálcio e vitamina D, em vez de usar suplementos.
A paciente L. H. também é candidata ao tratamento farmacológico para osteoporose. Os riscos e benefícios devem ser conversados. O fármaco inicial prescrito poderia ser um
bifosfonato. A paciente deve retornar em 1 ano e repetir a densitometria óssea em 2 anos para avaliar sua resposta ao tratamento.
____________
1
N.R.T.: No Brasil, só uma parente (até o quarto grau) pode fazer a doação temporária de útero, e é proibido remunerar essa doação.
2
N.R.T.: No Brasil, a Anvisa proibiu o uso de Essure® em 2017, por ser considerado de risco máximo. Com isso, o produto não pode mais ser importado, vendido, distribuído, usado ou divulgado
no país.
Questões múltipla escolha
1. Qual dos seguintes sintomas a enfermeira esperaria que uma mulher com dismenorreia relatasse?
A. Dor pélvica crônica
B. Sangramento menstrual volumoso e por períodos anormalmente longos
C. Disforia
D. Dor suprapúbica intensa intermitente
Concluir questão
2. A enfermeira está avaliando um casal que procurou a unidade básica de saúde porque não consegue ter filhos. Ao avaliar a mulher, qual fator a
enfermeira identificaria como uma condição que aumenta o risco de infertilidade?
A. Endometriose
B. 25 anos de idade
C. Dismenorreia
D. Tubas uterinas desobstruídas
Concluir questão
3. Um casal escolheu a conscientização da fertilidade como método de contracepção. A enfermeira explica que o período não seguro do ciclo
menstrual seria qual dos seguintes?
A. Cinco dias após o primeiro dia do ciclo menstrual
B. Na metade do ciclo menstrual normal
C. Seis dias antes do início da menstruação
D. Três dias antes e 3 dias depois da ovulação
Concluir questão
4. Uma mulher opta por usar um diafragma para a contracepção. Que instrução seria mais importante que a enfermeira fornecesse?
A. “Troque o diafragma a cada 6 meses.”
B. “Ajuste seu diafragma se você perder 4,5 kg ou mais.”
C. “Mantenha o diafragma no lugar por até 4 h após a relação sexual.”
D. “Molhe o diafragma na água antes de inserilo.”
Concluir questão
5. Depois de orientar uma mulher que escolheu o anel vaginal como o método de contracepção, a enfermeira determina que a cliente necessita de
mais orientações quando esta afirma qual das seguintes alternativas?
A. “Vou comprimir o anel, inserindoo o mais para trás possível.”
B. “Não tenho que me preocupar tanto com a colocação exata.”
C. “Vou inserir um novo anel na mesma hora e dia de cada semana.”
D. “Quando eu remover o anel, vou descartálo.”
Concluir questão
6. Uma mulher está em uso de metotrexato e misoprostol para interromper uma gravidez no primeiro trimestre. Ao elaborar o plano de orientações
a esta cliente, a enfermeira entende que o misoprostol:
A. Provoca contrações uterinas para expulsar o conteúdo uterino
B. Dilata o colo do útero
C. Atua como uma toxina para o tecido trofoblástico
D. Bloqueia a ação da progesterona sobre o endométrio
Concluir questão
7. Uma enfermeira está planejando dar uma palestra em um centro comunitário local para um grupo de mulheres de meiaidade sobre a
osteoporose. Qual das seguintes ela não pode se esquecer de incluir como medida efetiva na redução do risco de osteoporose?
A. Diminuir a ingestão de vitamina D
B. Aderir a um programa diário de exercícios com sustentação de peso
C. Beber pelo menos um copo de vinho por dia
D. Limitar a ingestão de colesterol e gorduras saturadas
Concluir questão
8. Uma enfermeira está avaliando a cliente para determinar a possível causa de sua dismenorreia. A enfermeira está ciente de que a etiologia mais
comum para a dismenorreia secundária é o(a):
A. Endometriose
B. Multiparidade
C. Desequilíbrio hormonal
D. Perimenopausa
Concluir questão
9. Sua cliente se queixa de ciclos menstruais irregulares, sangramento entre as menstruações, alterações de humor, ondas de calor (fogacho) e dor
ao contato vaginal. Após um exame, você suspeita de sangramento uterino disfuncional. Qual das seguintes seria uma abordagem inadequada
para ajudála?
A. Solicitar uma ultrassonografia para verificar as estruturas pélvicas internas
B. Solicitar hemograma completo e tempo de protrombina (TP)
C. Dizer à cliente que ela deve aprender a conviver com os sintomas
D. Solicitar um teste de gravidez para descartar gravidez ectópica
Concluir questão
10. A síndrome prémenstrual (SPM) afeta milhões de mulheres durante seus anos férteis. Como enfermeira, você percebe que aproximadamente
______ das mulheres nos EUA relatam sintomas incapacitantes.
A. 55%
B. 25%
C. 40%
D. 10%
Concluir questão
11. Os sintomas da síndrome prémenstrual (SPM) e do transtorno disfórico prémenstrual (TDPM) podem ser categorizados usando a ferramenta
ACDHO. A enfermeira reconhece que o C representa:
A. Choro
B. Constipação intestinal
C. Compulsão alimentar
D. Cólicas
Concluir questão
12. A enfermeira está ajudando a cliente a entender o possível diagnóstico de endometriose. A enfermeira cita que esse diagnóstico é confirmado de
modo definitivo por um(a):
A. Esfregaço de Papanicolaou
B. Exame bimanual
C. Ultrassonografia pélvica
D. Laparoscopia pélvica
Concluir questão
13. Ao atender um casal que lida com a infertilidade, é importante que a enfermeira leve em consideração:
A. Questões culturais
B. Restrições do plano de saúde
C. Orçamento familiar
D. Limites emocionais
Concluir questão
14. A enfermeira de saúde pública está dando uma palestra para a comunidade sobre os métodos baseados na conscientização da fertilidade. Ela
percebe que os casais não estão entendendo quando um deles decide usar:
A. O método da temperatura corporal basal
B. O método de observação do muco cervical para detectar a ovulação
C. O método do coito interrompido
D. O método sintotérmico
Concluir questão
15. Ao orientar uma cliente em relação ao uso da esponja contraceptiva, é importante que ela entenda que deixar a esponja no local por mais de 30 h
pode levar:
A. À doença inflamatória pélvica
B. À síndrome do choque tóxico
C. A infecções sexualmente transmissíveis
D. À inflamação do colo do útero
Concluir questão
16. A cliente já ouviu falar de esquemas contraceptivos orais prolongados e deseja obter mais informações. A enfermeira explica que esses
esquemas consistem no uso de ____ dias consecutivos de associação de hormônios, seguidos por ____ dias de placebo.
A. 70; 6
B. 84; 7
C. 56; 5
D. 42; 4
Concluir questão
17. A enfermeira considera que a aula sobre anticoncepcionais no dormitório da faculdade foi efetiva quando as alunas compreendem que a
efetividade dos contraceptivos orais (CO) pode ser diminuída em caso de uso de:
A. Suplementos vitamínicos
B. Remédios para resfriado
C. Antibióticos
D. Antihistamínicos
Concluir questão
18. A cliente está interessada em usar um contraceptivo injetável que suprima as secreções da hipófise. A enfermeira lhe fornece literatura e discute
qual dos seguintes com ela?
A. Medroxiprogesterona
B. Estrogênio + progestina
C. Etinilestradiol + norelgestromina
D. Etinilestradiol + levonorgestrel
Concluir questão
19. Um jovem casal está explorando suas opções contraceptivas e está curioso sobre o uso de um dispositivo intrauterino (DIU). Como sua
enfermeira, você explica que existem dois tipos, um que usa hormônios e outro que usa:
A. Cobre
B. Magnésio
C. Potássio
D. Silicone
Concluir questão
20. Uma cliente chega à clínica e está interessada em utilizar contracepção de emergência. A enfermeira explica que, para ser efetivo, o método tem
de ser usado nas primeiras 72 h após a relação sexual desprotegida. Isso ocorre porque:
A. A contracepção de emergência é mais efetiva do que o controle de natalidade regular
B. A contracepção de emergência pode induzir aborto de um embrião recémimplantado
C. A contracepção de emergência pode ajudar a prevenir as IST/DST
D. A contracepção de emergência simplesmente impede, a princípio, a formação de um embrião e a implantação no útero
Concluir questão
21. Uma moça de 16 anos é levada à clínica por sua mãe porque não menstrua há 8 meses. Qual dos seguintes achados pode alertar a enfermeira da
possibilidade de que a anorexia nervosa esteja contribuindo para a amenorreia da cliente? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Redução da gordura subcutânea
B. Evidências de características sexuais secundárias
C. Bradicardia
D. Hipotensão
Concluir questão
22. A enfermeira está elaborando uma palestra para um grupo de mulheres adultas jovens sobre a síndrome prémenstrual (SPM). Qual(is) das
seguintes ela incluiria como possível(is) opção(ões) de tratamento? (Selecione todas que se aplicam.)
A. Redução do consumo de cafeína
D. Fármacos antipsicóticos
C. Suplementos vitamínicos e minerais
D. Diminuição do consumo de água
Concluir questão
23. Qual(is) das alterações nos sistemas corporais a enfermeira associaria à menopausa? (Selecione todas que se aplicam.)
A. Ondas de calor (fogacho)
B. Pele úmida e macia
C. Diminuição da densidade óssea
D. Aumento da gordura abdominal
Concluir questão
24. Uma mulher chega à clínica com sua filha de 15 anos, que se queixa de amenorreia. Qual(is) dos seguintes é(são) indício(s) da causa dessa
amenorreia? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Falta de exercício
B. Gravidez
C. Hipotireoidismo
D. Ganho de peso rápido e extremo
Concluir questão
25. A cliente manifesta queixas de possível TDPM. De acordo com a American Psychiatric Association, quais são os sinais e sintomas típicos dessa
doença? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Labilidade emocional
B. Diarreia
C. Transtornos do sono
D. Disúria
Concluir questão
Doenças/Infecções Sexualmente Transmissíveis
5
PALAVRASCHAVE
Candidíase genital/vulvovaginal (CVV)
Doença inflamatória pélvica (DIP)
Doença/infecção sexualmente transmissível (DST/IST)
Gonorreia
Sífilis
Tricomoníase
Vaginose bacteriana
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Avaliar a disseminação e o controle das doenças/infecções sexualmente transmissíveis.
2. Identificar os fatores de risco e delinear as orientações apropriadas à paciente necessárias nas doenças/infecções sexualmente transmissíveis mais comuns.
3. Descrever como os contraceptivos podem atuar na prevenção de doenças/infecções sexualmente transmissíveis.
4. Analisar os aspectos fisiológicos e psicológicos das doenças/infecções sexualmente transmissíveis.
5. Delinear a conduta de enfermagem necessária para mulheres com infecções sexualmente transmissíveis.
Sandy, de 19 anos de idade, não conseguia imaginar como essas “coisas” apareceram “lá embaixo”, em sua área genital, na semana passada. A adolescente
estava com vergonha de contar a alguém, então foi ao serviço de saúde da faculdade para descobrir do que se tratava.
Reflexões
A autoaceitação incondicional das pacientes é vital para reduzir comportamentos de risco e promover a paz de espírito.
INTRODUÇÃO
As doenças/infecções sexualmente transmissíveis (DST/IST) são doenças do sistema genital causadas por microrganismos transmitidos pela relação sexual por via vaginal, anal ou oral
(Centers for Disease Control and Prevention [CDC], 2015a). As DST/IST representam um desafio significativo para a saúde em todo o mundo e são uma séria ameaça não só à saúde
sexual das mulheres, mas também à saúde geral e ao bemestar de milhões de pessoas em todo o mundo (ver a classificação das DST/IST no Boxe 5.1). As DST/IST constituem uma
epidemia de grande magnitude. Estimase que 65 milhões de pessoas vivam com uma DST/IST incurável, 18.000 morram de síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS)
anualmente e outras 20 milhões sejam infectadas a cada ano (CDC, 2015a). A incidência de DST/IST continua subindo e custa aos EUA 18 bilhões de dólares anualmente (CDC,
2015a).
Biologicamente, as DST/IST têm preferência de sexo, apresentando maior risco e causando mais complicações nas mulheres que nos homens. Nos EUA, as mulheres correspondem
a dois terços dos cerca de 20 milhões de novos casos de DST/IST por ano. Depois de apenas uma única exposição, as mulheres têm propensão duas vezes maior do que os homens de
contrair infecções pelos patógenos que causam gonorreia, infecção por clamídia, hepatite B e sífilis. Todos os dias, mais de um milhão de pessoas são infectadas com DST/IST que
podem levar a morbidade, mortalidade e aumento do risco de aquisição do vírus da imunodeficiência humana (HIV) (FernándezRomero et al., 2015). As DST/IST contribuem para
câncer do colo do útero, infertilidade, gravidez ectópica, dor pélvica crônica e morte. Determinadas infecções podem ser transmitidas in utero para o feto ou para o recémnascido
durante o parto (Tabela 5.1).
Informações adicionais sobre a conduta terapêutica das DST/IST podem ser encontradas no Capítulo 20.
BOXE 5.1
CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS/INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS DO CDC
• Infecções caracterizadas por corrimento vaginal
• Candidíase vulvovaginal
• Tricomoníase
• Vaginose bacteriana
• Infecções caracterizadas por cervicite
• Clamídia
• Gonorreia
• Infecções caracterizadas por úlceras genitais
• Herpes genital simples
• Sífilis
• DST/IST imunopreveníveis
• Hepatite A
• Hepatite B
• Papilomavírus humano (HPV)
• Ectoparasitoses
• Pediculose púbica
• Escabiose
Adaptado de Centers for Disease Control and prevention [CDC]. (2015 k). STD treatment guidelines. Retirado
de http://www.cdc.gov/std/treatment/2010/default.htm.
Tabela 5.1 Doenças/infecções sexualmente transmissíveis e
efeitos no feto ou no recémnascido.
DST/IST Efeitos sobre feto ou recémnascido
Clamídia Pode ser infectado durante o trabalho de parto
Infecções oculares (conjuntivite neonatal), pneumonia,
baixo peso ao nascer (BPN), parto prematuro, morte
fetal
Gonorreia Pode ser infectado durante o trabalho de parto
Rinite, vaginite, uretrite, inflamação dos locais de
monitoramento fetal, corioamnionite, prematuridade,
retardo do crescimento intrauterino (RCIU)
A oftalmia neonatal pode levar a cegueira e septicemia
(incluindo artrite e meningite)
Herpes Pode ocorrer contaminação durante o parto
genital
Déficit mental, cegueira, crises convulsivas, parto
prematuro, baixo peso ao nascer (BPN), morte
HIV/AIDS Nascimento prétermo, baixo peso ao nascimento,
estado de positividade para HIV, morte fetal
intrauterina, aborto espontâneo
Sífilis Pode ser transmitida in utero
Pode resultar em morte fetal ou infantil
Os sintomas da sífilis congênita incluem úlceras de pele,
erupções cutâneas, febre, choro enfraquecido ou
rouco, hepatoesplenomegalia, icterícia e anemia,
várias deformações
Tricomoníase Ruptura prematura das membranas, parto prematuro,
BPN
Verrugas Pode desenvolver verrugas na garganta (papilomatose
genitais laríngea); condição incomum, mas potencialmente
fatal
Adaptada de Burnett, E., Loucks, T. L., & Lindsay, M. (2015). Perinatal
outcomes in HIV positive women with concomitant sexually transmitted
infections. Infectious Diseases in Obstetrics & Gynecology. doi:
10.1155/2015/5084822015(508482; Centers for Disease Control and
Prevention [CDC]. (2015s). HIV among pregnant women, infants, and
children. Retirado
de http://www.cdc.gov/hiv/risk/gender/pregnantwomen/facts/; e Anderson,
B., & CuUvin, S. (2015). HIV and pregnancy. UpToDate. Retirado
de http://www.uptodate.com/contents/hivandpregnancybeyondthe
basics.
COMPONENTES CULTURAIS E PSICOLÓGICOS DAS DOENÇAS/INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS
Os enfermeiros devem sempre abordar o bemestar psicossocial da mulher em caso de diagnóstico de alguma DST/IST. A mulher pode ter medo ou vergonha de contar a seu parceiro e
pedirlhe que procure tratamento. Em alguns casos, a mulher teme dizer ao parceiro porque isso pode resultar em mais violência. O enfermeiro pode mostrar empatia pelos sentimentos
da mulher e sugerir formas específicas de falar com o parceiro que ajudarão a diminuir a ansiedade e os esforços para controlar a infecção (Reidy et al., 2016). O enfermeiro que
implementa estratégias de prevenção das DST/IST também precisa reconhecer o possível papel da violência no aumento do risco das mulheres como uma barreira para a prática do sexo
seguro. A pesquisa sugere a existência de uma associação forte entre violência doméstica e DST/IST. Ambas precisam ser abordadas para reduzir a propagação das DST/IST. Mesmo
breves intervenções nas instituições de saúde são exequíveis e podem salvar vidas de mulheres vítimas de violência em suas vidas (Durevall & Lindskog, 2015).
As DST/IST não respeitam sexo, classe, raça, etnia ou barreiras sociais – todos os indivíduos são vulneráveis se expostos ao microrganismo infeccioso. O problema das DST/IST
ainda não foi abordado adequadamente em uma escala global. Até que isso seja feito, os números em todo o mundo continuarão aumentando. O enfermeiro que trabalha com mulheres
de culturas diversas precisa estar ciente dos métodos efetivos de prevenção das DST/IST (Boxe 5.2).
Dado o elevado valor que algumas culturas dão à virgindade e à fidelidade, o diagnóstico de uma DST/IST pode ser devastador para a mulher e sua família. Até mesmo sugerir um
teste para DST/IST pode aparecer inadequado ou ofensivo. Quando uma paciente precisar ser testada para DST/IST, é essencial explicar a necessidade do cuidado e não revelar a outros
membros da família que eles foram realizados. Ao adotarem uma abordagem multicultural para o controle de IST, os profissionais de enfermagem conseguem lidar com atitudes e
comportamentos culturais e religiosos específicos que influenciam a exposição às IST (Thomas et al., 2015). Para maximizar o impacto das intervenções comportamentais e dos
programas de redução de riscos, o enfermeiro precisa ajustálos às diferenças sociais e culturais das diversas populações. Os enfermeiros têm um papel crucial no suporte às mulheres
de diversas culturas nos serviços de saúde sexual e como profissionais de saúde confiáveis em vários tipos de unidades de saúde.
DOENÇAS/INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS E ADOLESCENTES
As IST ocorrem de modo desproporcional nos adolescentes. Estimase que dois terços de todas as DST/IST ocorram em pessoas com menos de 25 anos de idade. Nos EUA, 47% dos
alunos do ensino médio relatam ser sexualmente ativos. Esses dados reforçam as recomendações existentes sobre educação sexual e prevenção de DST/IST direcionadas para
adolescentes antes da primeira relação sexual (Liu et al., 2015).
BOXE 5.2
DOENÇAS/INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS NAS DIVERSAS CULTURAS
A adaptação cultural é uma etapa importante no processo de implementação de intervenções de promoção de saúde que, comprovadamente efetivas em uma
cultura, estão sendo aplicadas em outra cultura. Os profissionais de enfermagem que trabalham com mulheres de diversas culturas precisam estar cientes dos
métodos efetivos de prevenção das DST/IST.
Em um estudo recente do CDC, maior eficácia da intervenção preventiva foi observada em estudos direcionados especificamente para mulheres de diferentes
culturas que usavam materiais específicos para o sexo ou para a cultura, forneciam treinamento prático do uso de preservativos e da negociação do sexo seguro e
usavam encenação para ensinar habilidades de negociação. A incidência de DST/IST foi reduzida significativamente (Thomas et al., 2015). Para realmente
maximizar o impacto das intervenções comportamentais e programas de redução de riscos, os profissionais de enfermagem precisam adaptarse às diferenças
sociais e culturais de qualquer grupo populacional que atendam.
Nos EUA as minorias raciais ainda apresentam disparidades significativas em todas as DST/IST de notificação compulsória, mas os afroamericanos são o
grupo mais afetado. As taxas de gonorreia dos afroamericanos são superiores às de qualquer outro grupo racial ou étnico e são 15 vezes maiores do que as dos
brancos (Kraft et al., 2015). Os profissionais de enfermagem não podem ignorar as disparidades raciais gritantes nas taxas de DST/IST. Uma pesquisa mostrou
que as barreiras socioeconômicas aos cuidados de saúde de qualidade e a maior prevalência de DST/IST nas minorias étnicas contribuem para essa ameaça
generalizada. É imperativo que a equipe de saúde trabalhe em conjunto para melhorar o acesso à prevenção efetiva das DST/IST e aos serviços de tratamento
nas comunidades locais para quem mais precisa. Ao adotarem uma abordagem multicultural para o controle de IST, os profissionais de enfermagem conseguem
lidar com atitudes e comportamentos culturais específicos que podem impactar a exposição às IST e intervir para reduzilas.
Fatores de risco
Por causa de fatores biológicos e comportamentais, os adolescentes correm risco especialmente elevado de contrair DST/IST e ter sequelas graves e a longo prazo. Essas sequelas
podem mudar suas vidas, podendo se desenvolver a partir de infecções não diagnosticadas e não tratadas. A cada ano, 5 milhões de casos de DST/IST ocorrem em adolescentes (CDC,
2015a). Nos EUA, os adolescentes sexualmente ativos apresentam altas taxas de DST/IST. Alguns grupos correm maior risco, incluindo jovens afroamericanos, vítimas de abuso
sexual, jovens desabrigadas, homens jovens que fazem sexo com homens, além de jovens lésbicas, homossexuais, bissexuais e transexuais (LGBT). Os fatores de alto risco em
adolescentes incluem ter novos ou múltiplos parceiros sexuais e não usar preservativo por vários motivos. A inexperiência com preservativos também pode levar a mais acidentes com
preservativos, como a ruptura causada pelo armazenamento em local quente, a abertura da embalagem com os dentes, unhas compridas para colocar preservativos, uso de preservativo
de tamanho errado ou a incapacidade de segurar o preservativo ao retirálo. Além disso, alguns adolescentes não desejam revelar que mantêm atividade sexual. Se surgirem
sinais/sintomas de uma DST/IST, eles podem erroneamente percebêlos como sendo normais, consequentemente atrasando o tratamento médico. DST/IST não tratadas podem causar
doença inflamatória pélvica (DIP, que pode provocar infertilidade), desfechos adversos da gravidez e cânceres anogenitais e do colo de útero. Além disso, a existência de outras
DST/IST aumenta a probabilidade de transmitir e contrair HIV (Smith, 2015).
Anote!
Estimase que nos EUA 25% dos adolescentes irão contrair uma DST/IST antes de acabar o ensino médio (CDC, 2015a).
Fatores biológicos e comportamentais colocam os adolescentes em alto risco. Devido à anatomia feminina, as adolescentes são mais suscetíveis a DST/IST do que os homens.
Durante a adolescência e o início da vida adulta, as células epiteliais colunares das mulheres são especialmente sensíveis à invasão por microrganismos sexualmente transmissíveis,
como Chlamydia e Neisseria gonorrhoeae. Isso ocorre porque essas células se estendem sobre a superfície vaginal do colo do útero, onde não têm a proteção do muco cervical. Essas
células recuam para um local mais protegido conforme as mulheres envelhecem. Do ponto de vista comportamental, adolescentes e jovens adultos tendem a pensar que são invencíveis e
negam os riscos de seu comportamento. Esse comportamento de risco os expõe a DST/IST e infecção por HIV/AIDS. Os adolescentes frequentemente têm relações sexuais
desprotegidas, mantêm relacionamentos por períodos curtos e enfrentam muitos obstáculos que os impedem de usar o sistema de saúde. Ver as preferências dos pacientes adolescentes
em relação à notificação de parceiros sexuais sobre DST/IST no boxe Prática baseada em evidências 5.1.
Objetivo do Healthy People 2020
O Healthy People 2020 (U.S. Department of Health & Human Services [USDHHS], 2010) fornece os objetivos com base científica para 10 anos, destinados a melhorar a saúde de
todos os norteamericanos. Por três décadas, o Healthy People estabeleceu modelos e monitorou o progresso ao longo do tempo. Um objetivo específico do Healthy People 2020 que se
aplica a este capítulo é promover comportamentos sexuais saudáveis, fortalecer a capacidade da comunidade e aumentar o acesso a serviços de qualidade para evitar as DST/IST e suas
complicações.
Uma característica importante do Healthy People 2020 é sua ênfase na responsabilidade. As pessoas precisam aceitar a responsabilidade por suas escolhas de estilo de vida e
comportamentos. Essa responsabilidade pessoal é especialmente importante para os adolescentes sexualmente ativos, já que eles têm a maior taxa de DST/IST em decorrência de más
escolhas. As infecções por Chlamydia e Neisseria gonorhoeae são as IST bacterianas mais frequentemente notificadas nos EUA e sua prevalência é mais alta em mulheres com 15 a 24
anos de idade. Infecção por papilomavírus humano (HPV), tricomoníase e infecção por herpesvírus (HSV) também são comuns nos adolescentes (Jones, 2015). O objetivo do Healthy
People 2020 de “aumentar a proporção de pessoas sexualmente ativas com idades entre 15 e 19 anos que usam preservativos, tanto para evitar a gravidez quanto para proporcionar uma
barreira de proteção contra doenças” aborda esse foco da responsabilidade pessoal (USDHHS, 2010).
Prática baseada em evidências 5.1
Preferências dos pacientes adolescentes em relação à notificação de parceiros sexuais sobre doenças/infecções sexualmente transmissíveis.
ESTUDO
Existe uma epidemia de DST/IST entre os adolescentes. Barreiras importantes à abordagem dessa epidemia são a notificação inadequada dos parceiros sexuais
sobre os resultados positivos para DST/IST e as taxas insuficientes de testes e tratamento dos parceiros. Todavia, as atitudes dos adolescentes em relação à
notificação e ao tratamento dos parceiros sexuais não são bem compreendidas. O objetivo desse estudo era explorar qualitativamente as barreiras e as
preferências de notificação e tratamento do parceiro em adolescentes (de ambos os sexos) testados para DST/IST em um ambiente de prontosocorro e explorar a
aceitabilidade de a equipe do prontosocorro notificar seus parceiros sexuais. Este é um estudo qualitativo e descritivo cujos participantes eram 40 adolescentes (18
do sexo masculino, 22 do sexo feminino) com 14 a 21 anos de idade que procuraram o prontosocorro com queixas relacionadas a DST/IST. Os dados foram
apreciados por meio de análise de arcabouço.
Achados
Entre as barreiras à notificação do parceiro estão medo de represália ou perda do relacionamento, falta de compreensão ou preocupação das consequências de
uma infecção sexualmente transmitida, estigmas sociais e constrangimento. Os participantes relataram duas barreiras primárias à realização de testes de DST/IST
e tratamento por seus parceiros: falta de transporte até a unidade de saúde e medo do parceiro de os resultados dos testes serem positivos. A maioria dos
participantes concordou com a proposta de um profissional de saúde notificar por telefone seus parceiros sexuais da exposição à DST/IST.
Implicações para a enfermagem
Visto que existem várias barreiras à abordagem da epidemia de DST/IST nos adolescentes, uma possível intervenção de enfermagem seria auxiliar na notificação
dos parceiros sexuais e no tratamento para reduzir a propagação dessas doenças. Os adolescentes nem sempre têm habilidades de comunicação e maturidade de
desenvolvimento para abordar um assunto difícil como DST/IST com seus parceiros sexuais. A notificação do parceiro sobre a exposição à DST/IST é crucial para
a redução das taxas de DST/IST em adolescentes. Os profissionais de enfermagem podem ajudar por meio do processo de notificação de DST/IST para prevenir a
disseminação e reduzir futuras complicações.
Adaptado de Reed, J. L., Huppert, J. S., Gillespie, G. L., Taylor, R. G., Holland, C. K., Alessandrini, E. A. et al. (2015). Adolescent patient preferences surrounding
partner notification and treatment for sexually transmitted infections. Academic Emergency Medicine, 22(1), 61–66.
Healthy People 2020 • 5.1
Objetivos do Healthy People 2020 em Importância para a
relação às DST/IST enfermagem
STD1 Reduzir a proporção de adultos Prestar cuidados a todas as
jovens com infecções por Chlamydia jovens respeitando o sigilo
trachomatis
Avaliar os comportamentos
STD3 Aumentar a proporção de sexuais e os riscos de DST/IST
mulheres sexualmente ativas com durante consultas de rotina,
idades entre 21 e 24 anos inscritas nos aproveitando todas as
planos Medicaid que são rastreadas oportunidades para orientar em
para infecções genitais por clamídia relação aos riscos de DST/IST e
durante o ano de avaliação sua redução
STD4 Aumentar a proporção de Ser direto e imparcial e adequar
mulheres sexualmente ativas com a abordagem à paciente
idades entre 21 e 24 anos ou menos
Encorajar as mulheres a
inscritas em planos de saúde comerciais
minimizar o número de parceiros
que são rastreadas para infecções por
sexuais ao longo da vida Orientar
clamídia genital durante o ano de
em relação à importância do uso
avaliação
correto e consistente do
STD6 Reduzir as taxas de gonorreia preservativo
STD7 Reduzir a transmissão domiciliar
persistente de sífilis primária e
secundária
STD9 (Desenvolvimental) Reduzir a
proporção de mulheres com
papilomavírus humano (HPV)
STD10 Reduzir a proporção de jovens
adultas com herpes genital, causado
pelo herpesvírus simples do tipo 2
Objetivos do Healthy People com base em dados de http://www.healthypeople.gov.
A ênfase na responsabilidade pessoal do Healthy People 2020 confere aos adolescentes uma função na qualidade de suas vidas e na duração da vida saudável que podem ter ao fazer
as escolhas certas e engajarse em comportamentos não arriscados.
Avaliação de enfermagem
Muitos profissionais de saúde não avaliam o comportamento sexual do adolescente e os riscos de DST/IST, não fazem rastreamento de infecções assintomáticas durante as consultas de
rotina nem aconselham os adolescentes sobre a redução do risco de DST/IST. Os profissionais de enfermagem precisam se lembrar de que desempenham um papel fundamental na
detecção, na prevenção e no tratamento das DST/IST em adolescentes. Nos EUA os adolescentes podem consentir com a realização de testes e tratamento confidencial de DST/IST.
A Tabela 5.2 discute as manifestações clínicas das DST/IST comuns em adolescentes.
Healthy People 2020 • 5.2
Objetivos do Healthy People Importância para a enfermagem
2020 em relação a DST/IST e
adolescentes
STD1 Reduzir a proporção de Orientar as adolescentes de que a
adolescentes com infecções abstinência é a única maneira de
por Chlamydia trachomatis realmente evitar DST/IST
STD3 Aumentar a proporção de Encorajar os adolescentes a postergar
adolescentes sexualmente ativas a idade de início das relações sexuais
inscritas em planos do Medicaid o máximo possível. Para as
que são rastreadas para infecções adolescentes que já tiveram relações
por clamídia genital durante o ano sexuais, devese incentivar a
de avaliação abstinência neste momento
STD4 Aumentar a proporção de Incentivar as adolescentes a minimizar
adolescentes inscritas em planos o número de parceiros sexuais ao
de saúde comerciais que são longo da vida
rastreadas por infecções por
Incentivar as adolescentes a sempre
clamídia genital durante o ano de
usar preservativos se realizarem
avaliação
qualquer ato sexual
STD5 Reduzir a proporção de
Proporcionar um ambiente aberto e
adolescentes que já necessitaram
confidencial para que as adolescentes
de tratamento para doença
relatem os sinais/sintomas e procurem
inflamatória pélvica (DIP)
tratamento mais cedo
Objetivos do Healthy People com base em dados de http://www.healthypeople.gov.
Tabela 5.2 Doenças/infecções sexualmente transmissíveis comuns.
Pode levar a tratada, então é
doença administrada
inflamatória uma combinação
pélvica, (p. ex.,
gravidez ceftriaxona e
ectópica e doxiciclina)
infertilidade Os parceiros
Os sinais/sintomas sexuais também
de infecção necessitam de
retal incluem avaliação,
secreção, exames e
prurido anal e tratamento
defecação
dolorosa
ocasional com
sangue fresco
A pesquisa de
anticorpos
IGG/IGM também
é realizada
Infecção latente
• Ausência de
sintomas
• Não é mais
contagiosa
• Muitas
pessoas, se
não forem
tratadas, não
apresentarão
outros sinais e
sintomas
Algumas pessoas
evoluem para
sífilis terciária
ou tardia
Infecções terciárias
• Tumores de
pele, ossos e
fígado
• Sinais/sintomas
de
acometimento
do SNC
• Sinais/sintomas
CV
• Geralmente
não é
reversível
nessa fase
úmidos, (amarelo, verde
como ou cinza, fétido)
toalhas, Dispareunia
roupas
Irritação ou prurido
molhadas ou
na área genital
assento de
vaso sanitário
Solução antimitótica
de podofilina a
0,5%
Solução de
podofilox a 5%
5fluoruracila
(creme)
Ácido tricloroacético
(TCA)
Pequenas verrugas
podem ser
removidas por:
• Congelamento
(criocirurgia)
• Eletrocautério
• Excisão com
laser
Grandes verrugas
que não
respondem ao
tratamento
podem ser
removidas
cirurgicamente
Adaptada de Centers for Disease Control and prevention [CDC]. (2015k). STD treatment guidelines. Retirado de http://www.cdc.gov/std/treatment/2010/default.htm; e
King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Gegor, C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s midwifery (5th ed.). Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning.
Conduta de enfermagem
A prevenção das DST/IST na adolescência é essencial. Os profissionais de saúde têm uma oportunidade única para fornecer aconselhamento e orientação a seus pacientes. Os
adolescentes são menos dispostos a ser francos com os enfermeiros e seu retorno é menos provável se não tiverem certeza a respeito da confidencialidade. O enfermeiro que trabalha
com adolescentes precisa transmitir a sua vontade de discutir hábitos sexuais. Quaisquer interações com a paciente precisam ser diretas e imparciais.
O enfermeiro pode fornecer orientação efetiva e promover a saúde sexual, de modo que as infecções primárias ou de repetição possam ser evitadas. Os adolescentes suportam
encargos desproporcionais quando se trata de DST/IST, de modo que são necessárias orientações para ajudálos a proteger seu futuro reprodutivo. Ações específicas a serem tomadas
incluem:
• Incentivar a paciente a concluir os antibióticos prescritos (o tratamento específico para cada tipo de DST/IST é discutido adiante)
• Adaptar o estilo e o conteúdo de qualquer mensagem ao nível de desenvolvimento da paciente
• Identificar os fatores de risco e comportamentos de risco e orientar a paciente a desenvolver ações individualizadas específicas de prevenção
• Ensinar aos adolescentes sobre seu desenvolvimento sexual para reforçar a compreensão das modificações que ocorrem em seus corpos – o papel dos hormônios e das emoções que
sentem
• Incentivar a adolescente a adiar o início das relações sexuais pelo maior tempo possível; contudo, se ela optar por ter relações sexuais, explique a necessidade do uso de métodos de
barreira, como o preservativo masculino ou feminino (Diretrizes de ensino 5.1). Para as adolescentes que já tiveram relações sexuais, o médico pode incentivar a abstinência neste
momento. Se as adolescentes forem sexualmente ativas, devem ser encaminhadas para clínicas de adolescentes e as opções de contracepção devem ser explicadas. Nas unidades sem
ambulatório específico para adolescentes, o enfermeiro deve sentirse confortável discutindo sexualidade, segurança e contracepção com as adolescentes. Incentiveas a minimizar o
número de parceiros sexuais ao longo da vida, a usar métodos de barreira de modo consistente e correto e a se conscientizar da conexão entre o uso de substâncias psicoativas e
bebidas alcoólicas e o uso incorreto dos métodos de barreira. A Tabela 5.3 discute as barreiras ao uso do preservativo e os meios para superálas.
Diretrizes de ensino 5.1
Uso adequado do preservativo
• Usar preservativos de látex para criar uma barreira mecânica às DST/IST e à gravidez
• Usar um novo preservativo a cada relação sexual. Nunca reutilizar um preservativo
• Manusear o preservativo com cuidado para evitar danos causados por objetos pontiagudos, como unhas e dentes
• Certificarse de que o preservativo tenha sido armazenado em local fresco e seco, longe da luz solar direta. Não guardar os preservativos na carteira ou no
automóvel ou em qualquer lugar em que eles seriam expostos a temperaturas extremas
• Não usar um preservativo se ele parecer frágil, pegajoso ou com descoloração. Estes são sinais de que está velho
• Colocar o preservativo antes de qualquer contato genital porque espermatozoides são encontrados no líquido préejaculatório
• Colocar o preservativo quando o pênis estiver ereto. Assegurarse de que ele seja colocado de modo que se desenrole prontamente
• Segurar a ponta do preservativo ao desenrolar. Certificarse de que haja um espaço na ponta para o acúmulo do sêmen, mas certificarse de não aprisionar
ar em sua ponta
• Certificarse de manter lubrificação adequada durante o coito. Se forem utilizados lubrificantes externos, use apenas lubrificantes à base de água com
preservativos de látex, como o gel KY®. Lubrificantes à base de óleo ou vaselina, como cremes para o corpo, óleo de massagem ou óleo de cozinha, podem
enfraquecer os preservativos de látex
• Retirar o pênis enquanto ele ainda estiver ereto e segurar firmemente o preservativo contra a base do pênis
Adaptado de Kimberlin, D. W. (Ed.). (2015). Red Book Online: Report of the committee on infectious diseases (30th ed.). Retirado
de http://redbook.solutions.aap.org/; e Public Health Agency of Canada. (2015). Canadian guidelines on sexually transmitted infections. Retirado
de http://www.phacaspc.gc.ca/stdmts/stiits/pdf/401mtsprisenchargeeng.pdf.
Lembrese de Sandy, apresentada no início do capítulo. Como a ansiedade dela deve ser tratada pelo enfermeiro? Quais perguntas específicas o enfermeiro deve
fazer a Sandy para determinar a possível origem da infecção em sua área genital?
INFECÇÕES CARACTERIZADAS POR CORRIMENTO VAGINAL
Vaginite é um termo genérico que indica inflamação e infecção da vagina. A vaginite tem centenas de causas, mas na maioria dos casos a causa é uma infecção por um destes três
microrganismos:
• Candida, um fungo
• Trichomonas, um protozoário
• Gardnerella, uma bactéria.
O complexo equilíbrio de microrganismos na vagina é essencial para a manutenção da saúde. Mudanças sutis no ambiente vaginal podem possibilitar que microrganismos com
potencial patológico proliferem, causando sinais e sintomas infecciosos.
Tabela 5.3 Parâmetros canadenses: barreiras à utilização
de preservativos e meios de contornálas.
Barreira percebida Estratégia de intervenção
Diminuição do • Incentivar a paciente a tentar
prazer sexual
• Colocar uma gota de lubrificante à base de água
(sensibilidade)
ou uma gota de saliva no interior da ponta do
Observação: preservativo ou na glande do pênis antes de
barreira muitas colocar o preservativo
vezes citada
• Experimentar um preservativo de látex fino ou
por pessoas
de uma marca diferente ou com mais
que nunca
lubrificação
usaram um
preservativo
Diminuição da • Incorporar o uso do preservativo nas
espontaneidade preliminares da relação sexual
do ato sexual
• Lembrar à paciente que a paz de espírito pode
aumentar o prazer para si e para o parceiro
Embaraçoso, • Lembrar ao paciente que ele é “viril” o suficiente
juvenil, para proteger a si mesmo e aos outros
“afeminado”
Ajuste ruim (muito • Preservativos menores e maiores estão
pequeno ou disponíveis
muito grande,
escorrega,
desconfortável)
Necessidade de • Reforçar a natureza protetora da retirada rápida
retirada e sugerir substituição por outras atividades
imediata após a sexuais póscoito
ejaculação
Medo de • Com a relação sexual prolongada, o lubrificante
rompimento do desaparece e o preservativo começa a atritar.
preservativo Ter um lubrificante solúvel em água disponível
pode levar a para reaplicar
uma atividade
sexual menos
vigorosa
Atividade sexual • O uso de preservativos durante a felação tem
não envolvendo sido defendido; os preservativos não lubrificados
penetração podem ser melhores para essa finalidade, em
decorrência do gosto do lubrificante
Outros métodos de barreira, como isoladores
•
dentais ou um preservativo não lubrificado,
podem ser cortados ao meio para formar uma
barreira; estes têm sido defendidos para uso
durante certas formas de atividade sexual não
envolvendo penetração (p. ex., sexo oral e
anolingual)
Alergia ao látex • Existem preservativos masculinos e femininos
de poliuretano
• Um preservativo de pele natural pode ser usado
em conjunto com o preservativo de látex para
proteger o homem ou a mulher do contato com
o látex
Adaptada de Public Health Agency of Canada. (2015). Canadian guidelines
on sexually transmitted infections. Retirado de http://www.phac
aspc.gc.ca/stdmts/stiits/pdf/401mtsprisenchargeeng.pdf.
O papel do enfermeiro no manejo da vaginite é na prevenção primária e na orientação da paciente, a fim de limitar a recorrência dessas infecções. A prevenção primária começa com
a mudança de comportamentos sexuais que colocam as mulheres em risco de infecção. Além de avaliar as mulheres à procura de sinais e sintomas comuns e fatores de risco, o
enfermeiro pode ajudar as mulheres a evitar a vaginite ou sua repetição ensinandoas a tomar as precauções destacadas no boxe Diretrizes de ensino 5.2.
Diretrizes de ensino 5.2
Prevenção da vaginite
• Não usar duchas higiênicas para não modificar o ambiente vaginal
• Usar preservativos para evitar a propagação do microrganismo
• Evitar roupas íntimas apertadas e de náilon e roupas apertadas em geral
• Após defecar, limpar a genitália de frente para trás
• Lavar apenas com barras de sabão hipoalergênico; evitar o uso de sabões líquidos ou gel de banho
• Evitar o uso de talcos, banhos de espuma e sprays vaginais perfumados
• Usar calcinhas de algodão limpas
• Trocar roupas de banho molhadas o mais rápido possível
• Familiarizarse com os sinais e sintomas de vaginite
• Optar por um estilo de vida saudável
Candidíase genital ou vulvovaginal
A candidíase genital ou vulvovaginal (CVV) é uma das causas mais comuns de corrimento vaginal. É também conhecida como monilíase ou micose. Não é considerada uma
DST/IST, já que a Candida é um constituinte normal da vagina e tornase patológica apenas quando o ambiente vaginal tornase alterado. Estimase que 75% das mulheres terão pelo
menos um episódio de CVV e 40 a 50% terão dois ou mais episódios ao longo da vida (CDC, 2015b).
Conduta terapêutica
O tratamento da candidíase inclui um dos seguintes medicamentos:
• Miconazol, creme ou supositório
• Clotrimazol, pastilha ou creme
• Terconazol, creme ou supositório intravaginal
• Fluconazol, comprimido oral (Prabhu & Gardella, 2015).
A maioria desses fármacos é administrada por via intravaginal, sob a forma de creme, comprimido ou óvulos utilizados durante 3 a 7 dias. Se for prescrito fluconazol, ingerese um
comprimido de 150 mg em dose única.
As preparações tópicas de compostos azólicos são efetivas no tratamento da CVV, promovendo alívio dos sinais e sintomas e culturas negativas em 80 a 90% das mulheres que
terminam o tratamento (CDC, 2015b). Se a CVV não for tratada de modo efetivo durante a gestação, o recémnascido pode apresentar monilíase oral (também conhecida como
“sapinho”) se o parto for por via vaginal; essa infecção tem de ser tratada com uma preparação azólica local após o nascimento.
Avaliação de enfermagem
Avalie a anamnese da paciente à procura de fatores predisponentes de CVV, que incluem:
• Gestação
• Uso de contraceptivos orais com alto teor de estrogênio
• Uso de antibióticos de amplo espectro
• Diabetes melito
• Obesidade
• Uso de esteroides e imunossupressores
• Infecção pelo HIV
• Uso de roupas apertadas e restritivas e roupas íntimas de náilon
• Traumatismo da mucosa vaginal por agentes químicos irritantes ou ducha.
Avalie se a paciente apresenta as manifestações clínicas da candidíase genital/vulvovaginal. Os sinais e sintomas típicos, que podem piorar um pouco antes da menstruação, incluem:
• Prurido
• Corrimento vaginal (espesso, branco, semelhante a coalhada)
• Dor vaginal
• Sensação de queimação vulvar
• Eritema na área vulvovaginal
• Dispareunia
• Disúria externa.
A Figura 5.1 mostra a aparência típica da CVV.
O exame com espéculo revela placas brancas nas paredes vaginais. O pH vaginal permanece dentro da faixa normal. O diagnóstico definitivo é feito por meio de um esfregaço a
fresco, que revela hifas filamentosas e esporos característicos de fungo quando à microscopia óptica.
Conduta de enfermagem
Oriente as seguintes medidas preventivas para a mulher com CVV frequente:
• Reduzir a ingestão de açúcares simples e refrigerantes
• Usar calcinhas brancas, 100% algodão
FIGURA 5.1 Candidíase vulvovaginal. (Ilustração fornecida por Anatomical Chart Co.)
• Evitar usar calças apertadas ou roupas de exercícios com Spandex®
• Tomar duchas no chuveiro, em vez de banhos de banheira
• Lavarse com sabão neutro, sem perfume, e secar delicadamente a região genital
• Evitar o uso de banhos de espuma ou produtos de banho perfumados
• Lavar as roupas íntimas em detergente sem cheiro e água quente
• Secar as roupas íntimas com um secador (regulado para calor baixo) para matar o fungo que adere ao tecido
• Remover roupas de banho molhadas prontamente
• Manter boa higiene corporal
• Evitar sprays/desodorantes vaginais
• Evitar usar meiacalça (ou abrir o gancho da meiacalça para possibilitar a circulação de ar)
• Usar papel higiênico branco e sem cheiro e limparse de frente para trás
• Evitar o uso de duchas (que removem o muco vaginal protetor)
• Evitar o uso de tampões superabsorventes (usar absorventes íntimos comuns em seu lugar).
Tricomoníase
Tricomoníase é outra infecção vaginal comum que provoca corrimento, mas nem sempre é sexualmente transmitida. O microrganismo consegue sobreviver em superfícies
úmidas/molhadas e em ralos e banheiras que não são limpos/mantidos de modo satisfatório. A mulher pode ser muito sintomática ou assintomática. Os homens são portadores
assintomáticos. Embora essa infecção seja localizada, há cada vez mais evidências de parto prematuro, ruptura prematura de membranas, fetos com baixo peso ao nascer, endometrite
pósparto e infertilidade em mulheres com essa vaginite. A elevada prevalência global dessa infecção e a frequência de outras IST concomitantes tornam a tricomoníase uma grande
preocupação de saúde pública. Vale mencionar que a pesquisa já mostrou que a tricomoníase aumenta o risco de transmissão de HIV em homens e mulheres (Smith & Ramos, 2015).
O Trichomonas vaginalis é um protozoário ovoide parasita unicelular, que pode ser observado à microscopia óptica fazendo um movimento oscilante espasmódico. Nos EUA, estimase
que 3,7 milhões de pessoas tenham a infecção, mas apenas cerca de 30% desenvolvem os sinais e sintomas da tricomoníase. A infecção é mais comum em mulheres do que em homens,
e as mulheres de mais idade são mais propensas do que as mais jovens de serem infectadas (CDC, 2015c).
Conduta terapêutica
Uma dose única de 2 g de metronidazol oral ou tinidazol para ambos os parceiros é um tratamento comum para essa infecção. Parceiros sexuais de mulheres com tricomoníase devem
ser tratados para evitar a recorrência da infecção.
Avaliação de enfermagem
Avalie se a paciente apresenta as manifestações clínicas da tricomoníase, que incluem:
• Corrimento amarelo/verde ou cinza abundante, espumoso ou com bolhas
• Prurido vaginal e dor vulvar
• Dispareunia
• Colo do útero que sangra ao contato
• Disúria
• Odor vaginal descrito como fétido
• Eritema vaginal ou vulvar
• Petéquias no colo do útero.
A Figura 5.2 mostra a aparência típica da tricomoníase. O diagnóstico é confirmado quando um Trichomonas móvel flagelado é visualizado à microscopia óptica. Além disso, um
valor de pH vaginal maior do que 4,5 é um achado comum. Os testes para tricomoníase aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) em mulheres incluem o teste rápido
para Trichomonas OSOM (Genzyme Diagnostics, Cambridge, MA), a tecnologia de fluxo capilar imunocromatográfico e o Affirm VPIII (Becton Dickinson, San Jose, CA), uma sonda
de ácido nucleico que pesquisa se existe T. vaginalis, Gardnerella vaginalis e Candida albicans. Cada um destes testes, realizados em secreções vaginais, tem sensibilidade maior que
83% e especificidade maior que 97%. Todos são considerados exames à beira do leito (pointofcare, POC) (CDC, 2015c).
Conduta de enfermagem
Instrua a paciente a evitar a atividade sexual até que ela e seu parceiro estejam curados (ou seja, quando o tratamento tiver sido concluído e ambos estiverem sem sinais e sintomas) e
também a evitar o consumo de bebidas alcoólicas durante o tratamento, uma vez que a mistura dos medicamentos e do etanol provoca náuseas e vômitos graves (CDC, 2015c). Além
disso, é importante fornecer informações sobre a causa e a transmissão da infecção, os efeitos sobre os órgãos reprodutivos e a fertilidade futura, além da necessidade de comunicação e
tratamento do parceiro. Testes de acompanhamento não são indicados se os sinais e sintomas desaparecerem com o tratamento.
FIGURA 5.2 Tricomoníase. (Ilustração fornecida por Anatomical Chart Co.)
Vaginose bacteriana
A terceira infecção mais comum da vagina é a vaginose bacteriana, causada pelo bacilo gramnegativo G. vaginalis. É a causa mais prevalente de corrimento vaginal ou odor
desagradável, mas até 50% das mulheres são assintomáticas. A vaginose bacteriana é uma doença/infecção sexualmente associada, caracterizada por alterações na flora vaginal em que
os lactobacilos da vagina são substituídos por concentrações elevadas de bactérias anaeróbias. A vaginose bacteriana é assim denominada porque bactérias são os agentes etiológicos e
não existe resposta inflamatória associada. O desequilíbrio bacteriano está associado a contato sexual, mas geralmente não é propagado por atividade sexual. A causa da alteração
microbiana não é totalmente compreendida, mas está associada a ter múltiplos parceiros sexuais, usar duchas higiênicas e à ausência de lactobacilos vaginais (CDC, 2015d). As
pesquisas sugerem que a vaginose bacteriana esteja associada a trabalho de parto prematuro, ruptura prematura das membranas, corioamnionite, endometrite pósparto e doença
inflamatória pélvica (DIP) (CDC, 2015d).
Conduta terapêutica
O tratamento para a vaginose bacteriana inclui metronidazol oral ou clindamicina em creme. O tratamento do parceiro não tem sido benéfico na prevenção da recorrência porque a
transmissão sexual da vaginose bacteriana ainda não foi comprovada (CDC, 2015d).
Avaliação de enfermagem
Avalie se a paciente apresenta manifestações clínicas de vaginose bacteriana. Os principais sinais e sintomas são corrimento vaginal ralo, branco e homogêneo e odor de “peixe
estragado” característico, muitas vezes reconhecidos apenas após a relação sexual. A Figura 5.3 mostra a aparência típica da vaginose bacteriana.
Para diagnosticar a vaginose bacteriana, três dos quatro critérios seguintes têm de ser atendidos:
• Corrimento vaginal ralo e de coloração brancoacinzentada que adere à mucosa vaginal
• pH vaginal > 4,5
• “Teste de odor” positivo (a secreção é misturada com uma gota de hidróxido de potássio 10% em uma lâmina, produzindo odor característico de peixe estragado)
• Achado de células indicadoras (células epiteliais recobertas por bactérias aderidas a sua superfície) no exame a fresco (CDC, 2015d).
Conduta de enfermagem
Os profissionais de enfermagem atuam na prevenção primária e na orientação a fim de limitar a recorrência dessas infecções. A prevenção primária começa com a mudança de
comportamentos de higiene que colocam as mulheres em risco de infecção. Além de avaliar as mulheres à procura de sinais, sintomas e fatores de risco comuns (uso recente de
antibióticos, diminuição da produção de estrogênio, uso de duchas e atividade sexual com um novo parceiro), os profissionais de enfermagem podem ajudálas a evitar a vaginite ou sua
repetição, ensinandoas a tomar as precauções destacadas no boxe Diretrizes de ensino 5.2.
INFECÇÕES CARACTERIZADAS POR CERVICITE
Cervicite é um termo abrangente que implica inflamação ou infecção do colo do útero. É usado para descrever tudo, desde erosões assintomáticas a um colo inflamado que sangra ao
contato e produz secreção purulenta contendo microrganismos que não são encontrados habitualmente na vagina. A cervicite geralmente é causada por Neisseria
gonorrhoeae ou Chlamydia, assim como por outras bactérias patogênicas e vários vírus. O tratamento da cervicite deve ser direcionado para o microrganismo causal específico.
FIGURA 5.3 Vaginose bacteriana. (Ilustração fornecida por Anatomical Chart Co. Fotografia de Sweet, R. L., & Gibbs, R. S. [2005]. Atlas of infectious diseases of the female genital
tract. Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins.)
Clamídia
A infecção por clamídia é a DST/IST bacteriana mais comumente relatada nos EUA. O CDC (2015e) estima que mais de 3 milhões de novos casos ocorram a cada ano; o maior
preditor da infecção é a idade. As taxas de infecção mais elevadas são de pessoas com 15 a 19 anos de idade, principalmente porque as suas relações sexuais frequentemente não são
planejadas e, às vezes, são decorrentes de estupro, e acontecem tipicamente antes que elas tenham a experiência e as habilidades necessárias para se proteger. As taxas são mais elevadas
nesse grupo, independentemente da demografia ou da localização (CDC, 2015e). Os jovens têm mais a perder ao contrair DST/IST, porque vão sofrer as consequências a longo prazo e
podem não alcançar seu potencial reprodutivo completo. Os fatores de risco mais comumente associados à infecção por Chlamydia são idade menor que 25 anos, troca recente do
parceiro sexual ou múltiplos parceiros sexuais, condições socioeconômicas desfavoráveis, sexo em troca de dinheiro, raça não branca, ser solteiro e não utilização de métodos
contraceptivos de barreira (Struble, 2015).
A infecção assintomática é comum em homens (50%) e mulheres (70%). Os homens apresentam basicamente uretrite. Nas mulheres, a infecção por clamídia está associada a
cervicite, síndrome uretral aguda, salpingite, dor pélvica crônica, disúria, gravidez ectópica, DIP e infertilidade (Simmons, 2015). A infecção por clamídia é responsável por metade dos
1 milhão de casos reconhecidos de DIP nos EUA a cada ano. Os custos do tratamento ultrapassam 800 milhões de dólares por ano. O CDC recomenda testes para clamídia anuais em
todas as mulheres sexualmente ativas com 25 anos ou menos, mulheres de mais idade com fatores de risco para infecções por clamídia (aquelas que têm um novo parceiro sexual ou
múltiplos parceiros sexuais) e todas as gestantes (CDC, 2015e).
A Chlamydia trachomatis é a bactéria responsável pela infecção. É um parasita intracelular que não consegue produzir sua própria energia e depende do hospedeiro para sobreviver.
Muitas vezes, é difícil de detectar, e isso pode causar problemas para as mulheres devido às consequências a longo prazo da infecção não tratada. A infecção por clamídia não tratada
tem sido associada ao aumento da incidência e da gravidade das sequelas, como DIP e infertilidade nas mulheres. Após uma única infecção por Chlamydia, o risco de desenvolvimento
de DIP é estimado em aproximadamente 20 a 50% dos casos, e o risco de desenvolvimento de infertilidade tubária é estimado em aproximadamente 10 a 20% (Amoako & Balen,
2015). Além disso, a falta de tratamento proporciona maior oportunidade para que a infecção seja transmitida aos parceiros sexuais. Estimase que 100.000 gestantes apresentem essa
IST. Quando a infecção por Chlamydia não é tratada, ocorrem ruptura prematura das membranas ovulares (amniorrexe prematura), trabalho de parto prematuro e endometrite pósparto
(Collins, 2015). Os recémnascidos de mães infectadas podem desenvolver conjuntivite, que ocorre em 1 a 12% de todos os neonatos. A oftalmia neonatal é uma conjuntivite aguda
mucopurulenta que ocorre no primeiro mês de nascimento. É essencialmente uma infecção adquirida durante o parto vaginal. Os agentes infecciosos mais frequentes envolvidos são C.
trachomatis e Neisseria gonorrhoeae (Moore & MacDonald, 2015).
Conduta terapêutica
Habitualmente são prescritos antibióticos para o tratamento dessas DST/IST. As opções de tratamento do CDC para a infecção por clamídia incluem doxiciclina (100 mg, por via oral
[VO], 2 vezes/dia durante 7 dias) ou azitromicina (1 g, VO, em dose única). Por causa da coinfecção comum por clamídia e Neisseria gonorrhoeae, frequentemente prescrevese um
esquema combinado de ceftriaxona com doxiciclina ou azitromicina (CDC, 2015e). As orientações adicionais do CDC para o manejo das pacientes incluem o rastreamento anual de
todas as mulheres sexualmente ativas com idades entre 20 e 25 anos, o rastreamento de todas as pessoas de alto risco e o tratamento de qualquer pessoa diagnosticada com uma infecção
gonocócica com antibióticos efetivos contra Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia (CDC, 2015e).
Exceto em gestantes, o teste para comprovação da cura (repetir o teste 3 a 4 semanas após completar o tratamento) não é recomendado para as mulheres tratadas com os esquemas
recomendados ou alternativos, a menos que a adesão ao tratamento seja questionável, os sinais e sintomas persistam ou haja suspeita de reinfecção. As gestantes devem ser testadas
novamente 3 a 6 meses após a infecção inicial, de preferência no terceiro trimestre da gravidez por causa do risco aumentado de reinfecção (King et al., 2015).
Avaliação de enfermagem
Avalie a história patológica pregressa à procura de fatores de risco significativos para infecção por clamídia, que podem incluir:
• Ser adolescente
• Múltiplos parceiros sexuais
• Ter um novo parceiro sexual
• Envolverse em relações sexuais sem o uso de um contraceptivo de barreira (preservativo)
• Utilizar contraceptivos orais
• Estar grávida
• História pregressa de outra DST/IST (Schuiling & Likis, 2016).
Avalie se a paciente apresenta manifestações clínicas de infecção por clamídia. A maioria das mulheres (70%) é assintomática (CDC, 2015e). Se a paciente for sintomática, as
manifestações clínicas incluem:
• Corrimento vaginal mucopurulento
• Uretrite
• Bartolinite
• Endometrite
• Salpingite
• Sangramento uterino disfuncional.
O diagnóstico pode ser feito por meio de testes de urina ou de amostras coletadas da endocérvix ou da vagina. A cultura, a imunofluorescência direta, o ensaio imunoenzimático ou
os métodos de amplificação de ácido nucleico por reação da cadeia de polimerase ou reação da cadeia da ligase (sonda de DNA, como GenProbe® ou Pace2®) são muito sensíveis e
específicos, quando usados em esfregaços uretrais e cervicovaginais. Eles também podem ser utilizados com sensibilidade e especificidade satisfatórias em amostras de urina de
primeiro jato (King et al., 2015). Os testes da reação da cadeia são os mais sensíveis e custoefetivos. Visto que a maioria das infecções por Chlamydia é assintomática, o CDC
recomenda o rastreamento de todas as mulheres com parceiro sexual novo e rastreamento anual para mulheres com 25 anos de idade ou menos (CDC, 2015e).
A clamídia é uma importante causa evitável de infertilidade e outros efeitos adversos à saúde reprodutiva. Existem intervenções preventivas efetivas para reduzir a carga de clamídia
e suas sequelas, mas elas são subutilizadas. Embora muitos programas de prevenção estejam disponíveis, podem ser feitas melhorias na conscientização em relação à clamídia, no
aumento da cobertura dos serviços de rastreamento e na melhora dos serviços aos parceiros. Além disso, os enfermeiros podem concentrar seus esforços em alcançar grupos raciais/
étnicos desproporcionalmente acometidos. Para romper o ciclo de transmissão da clamídia nos EUA, os profissionais de saúde devem incentivar o rastreamento anual de infecção por
clamídia em todas as mulheres sexualmente ativas com menos de 25 anos de idade, maximizar a utilização dos serviços efetivos de tratamento de parceiros e avaliar novamente as
mulheres e homens infectados 3 meses após o tratamento (CDC, 2015e).
Gonorreia
Gonorreia é uma infecção bacteriana séria e potencialmente muito grave. É a segunda infecção mais notificada nos EUA e é, em todo o planeta, um problema urgente, porque
atualmente consegue desenvolver rapidamente resistência a múltiplas classes de antibióticos. A gonorreia é muito contagiosa e é de notificação compulsória às autoridades de saúde. A
gonorreia aumenta o risco de DIP, infertilidade, gravidez ectópica e aquisição e transmissão do HIV (CDC, 2015f). Está rapidamente se tornando cada vez mais resistente à cura. Nos
EUA, mais de 820 mil novos casos de gonorreia ocorrem a cada ano, com 570 mil deles acometendo pessoas jovens com 15 a 24 anos de idade (CDC, 2015f). Em comum com todas
as outras IST, é uma infecção que pode acometer qualquer pessoa, independentemente de raça, credo, sexo, idade ou orientação sexual.
A causa da gonorreia é um diplococo gramnegativo intracelular aeróbio, a N. gonorrhoeae. O local de infecção é o epitélio colunar endocervical. A gonorreia é transmitida quase
exclusivamente pela atividade sexual. Em gestantes, a gonorreia está associada a corioamnionite, trabalho de parto prematuro, ruptura prematura das membranas e endometrite pósparto
(Piszczek, Jean, & Khaliq, 2015). Também pode ser transmitida para o recémnascido na forma de oftalmia neonatal por contato direto com Neisseria gonorrhoeae no colo do útero. A
oftalmia neonatal é muito contagiosa e, se não tratada, leva à cegueira em recémnascidos.
Conduta terapêutica
Gonorreia (blenorragia) pode ser curada com tratamento correto. Atualmente, o CDC preconiza terapia dupla (ou seja, usando dois fármacos ao mesmo tempo) para a gonorreia. A
terapia farmacológica dupla é recomendada para prevenir o aparecimento de resistência medicamentosa e também é efetiva contra Chlamydia. O tratamento de eleição para infecções
gonocócicas não complicadas consiste em uma dose de 250 mg intramuscular de ceftriaxona mais uma dose única de azitromicina (1 g VO) ou doxiciclina (100 mg, VO, 2 vezes/dia
durante 7 dias) (Kohlhoff & Hammerschlag, 2015; Wong, 2015). As gestantes não devem ser tratadas com quinolonas ou tetraciclinas. As gestantes com teste positivo para gonorreia
devem ser tratadas com a mesma terapia dupla recomendada acima (CDC, 2015f). Nos EUA, para evitar a oftalmia neonatal gonocócica, devese instilar um agente profilático nos olhos
de todos os recémnascidos; esse procedimento é exigido por lei na maioria dos estados. Recomendase eritromicina ou tetraciclina em pomada oftálmica em aplicação única (CDC,
2015f). Se o tratamento prescrito for obedecido, a realização de um teste posterior para documentar a erradicação da gonorreia não é mais recomendada. Em vez disso, sugerese a
reavaliação em 3 meses para identificar se há reinfecção (CDC, 2015f).
Avaliação de enfermagem
Avalie a história patológica pregressa da paciente à procura de fatores de risco, que podem incluir baixo nível socioeconômico, viver em área urbana, ser solteira, uso inconsistente de
métodos contraceptivos de barreira, idade inferior a 25 anos e múltiplos parceiros sexuais. Avalie se a paciente apresenta as manifestações clínicas da gonorreia, lembrando que 70%
das mulheres infestadas por Neisseria gonorrhoeae são totalmente assintomáticas (Wong, 2015). Como a frequência de mulheres assintomáticas é alta, elas são consideradas um
importante fator na disseminação da gonorreia. Se houver manifestações clínicas, elas podem incluir:
• Corrimento vaginal anormal
• Disúria
• Cervicite
• Sangramento vaginal anormal
• Abscesso de Bartholin
• Linfadenopatia local
• DIP
• Conjuntivite neonatal
• Dor de garganta leve (no caso de gonorreia faríngea)
• Infecção retal (prurido, dolorimento, sangramento, secreção)
• Perihepatite (King et al., 2015).
Às vezes, a gonorreia local é autolimitante (não há disseminação adicional), mas geralmente os microrganismos ascendem pelo canal endocervical até o endométrio do útero, mais
adiante para as tubas uterinas, alcançando a cavidade peritoneal. Quando o peritônio e os ovários são envolvidos, a condição é conhecida como DIP (discutida mais adiante neste
capítulo). A formação de cicatrizes nas tubas uterinas é permanente. Este dano é uma das principais causas de infertilidade e é um possível fator que contribui para a gravidez ectópica
(Heller, 2015).
Se a gonorreia não for tratada, as Neisseria gonorrhoeae podem alcançar a corrente sanguínea e provocar uma infecção gonocócica disseminada. Esse modo grave de infecção pode
invadir as articulações (artrite), o coração (endocardite), o encéfalo (meningite) e o fígado (hepatite tóxica). A Figura 5.4 mostra a aparência típica da gonorreia.
O CDC recomenda o rastreamento de todas as mulheres em risco de gonorreia. As gestantes devem ser rastreadas na primeira consulta prénatal e, novamente, com 36 semanas de
gestação. Testes de hibridação de ácidos nucleicos (GenProbe®) são utilizados para o diagnóstico. Se houver a suspeita de gonorreia, a mulher deve ser testada para clamídia, porque a
coinfecção também é extremamente comum (45%) (CDC, 2015f).
FIGURA 5.4 Gonorreia. (De Gorbach, S. L. et al. [2004]. Infectious Diseases. Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins.)
Conduta de enfermagem para a infecção por clamídia e por gonorreia
A prevalência de infecção por clamídia e por gonorreia está aumentando dramaticamente. Essas infecções podem ter efeitos prolongados na vida das pessoas. A saúde sexual é uma
importante parte da saúde física e mental de uma pessoa e o enfermeiro tem a obrigação profissional de enfrentála. Seja particularmente sensível ao abordar as DST/IST, porque as
mulheres muitas vezes estão envergonhadas, se sentindo culpadas ou com raiva, ou podem até mesmo ter medo de contar ao parceiro sobre o diagnóstico (ver a seção anterior sobre os
impactos culturais e psicológicos do diagnóstico de DST/IST). Ainda existe um estigma social associado à ocorrência de DST/IST, de modo que as mulheres precisam ter certeza sobre
a confidencialidade (sigilo).
Os conhecimentos do enfermeiro sobre a infecção por clamídia e a gonorreia devem incluir estratégias de tratamento, fontes de referência e medidas preventivas. O enfermeiro deve
ser hábil em orientar e aconselhar a paciente, sentindose à vontade para conversar e aconselhar as mulheres diagnosticadas com essas infecções. É essencial fornecer orientações sobre
os fatores de risco para essas infecções. Os grupos de alto risco incluem mulheres solteiras, com menos de 25 anos de idade, afroamericanas, que já tiveram DST/IST, com novos ou
múltiplos parceiros sexuais, que fazem uso inconsistente de contracepção de barreira e que vivem em comunidades com altas taxas de infecção (Comkornruecha, 2013). A avaliação
envolve a história patológica pregressa, incluindo a história sexual abrangente. É essencial determinar o número de parceiros sexuais e o uso de práticas de sexo seguro. Reveja os
sinais e sintomas prévios e atuais. Enfatize a importância de buscar tratamento e informar os parceiros sexuais. O modelo de quatro níveis PLISSIT (Boxe 5.3) pode ser usado para
determinar as intervenções para várias mulheres, porque pode ser adaptado ao nível de conhecimento, à habilidade e à experiência do enfermeiro. É de extrema importância a disposição
para ouvir e demonstrar interesse e respeito de maneira imparcial.
Além de atender às necessidades de saúde das mulheres com infecções por clamídia e gonorreia, o enfermeiro é responsável por orientar a população em relação ao aumento da
incidência destas infecções. Essa informação deve incluir comportamentos de alto risco associados a essas infecções, sinais e sintomas e as modalidades de tratamento disponíveis.
Informe que essas DST/IST podem levar à infertilidade e a sequelas a longo prazo. Ensine práticas sexuais mais seguras para pessoas em relacionamentos não monogâmicos. Conheça
as respostas físicas e psicossociais para essas DST/IST a fim de evitar a transmissão e as consequências incapacitantes. Os enfermeiros também precisam informar suas pacientes
gestantes que devem evitar quinolonas ou tetraciclinas para prevenir os riscos associados a alteração irreversível da coloração dos dentes e hipoplasia do esmalte do dente no recém
nascido (Kohlhoff & Hammerschlag, 2015).
BOXE 5.3
MODELO PLISSIT
Permissão (Permission): dar à mulher permissão para falar sobre sua experiência
Informações limitadas (Limited Information): as informações dadas à mulher em relação à DST/IST
• Informações factuais para acabar com os mitos sobre a DST/IST
• Medidas específicas para evitar a transmissão
• Maneiras para revelar as informações a seus parceiros
• Consequências físicas se as infecções não forem tratadas
Sugestões específicas (Specific Suggestions): uma tentativa de ajudar as mulheres a mudar seu comportamento para evitar a recorrência e a transmissão
adicional da DST/IST
Tratamento intensivo (Intensive Therapy): envolve encaminhar a mulher ou o casal ao tratamento adequado em outro lugar, de acordo com suas circunstâncias de
vida
Adaptado de Annon, J. S. (1976). The PLISSIT model: A proposed conceptual scheme for the behavioral treatment of sexual problems. Journal of Sex Education
Therapy, 2, 1–15.
Anote!
Para que a epidemia de infecção por clamídia e gonorreia seja combatida, os profissionais de enfermagem precisam desempenhar um importante papel na linha de frente.
INFECÇÕES CARACTERIZADAS POR ÚLCERAS GENITAIS
Nos EUA, a maioria das pacientes jovens e sexualmente ativas que têm úlceras genitais também apresenta herpes genital, sífilis ou cancroide. A frequência de cada condição difere de
acordo com a região geográfica e a população de pacientes; no entanto, o herpes genital é a mais prevalente das doenças (CDC, 2015g). Mais de uma dessas doenças pode ocorrer em
uma paciente com úlceras genitais. Essas três doenças foram associadas a aumento do risco de infecção pelo HIV. Nem todas as úlceras genitais são causadas por DST/IST.
Herpes simples genital
Herpes genital é uma infecção viral recorrente e vitalícia que pode ser transmitida durante toda a vida da pessoa portadora do vírus. O CDC (2015h) estima que 1 em cada 6 pessoas nos
EUA tenha infecção genital por HSV, com 776.000 pessoas sendo infectadas a cada ano. Cerca de 22% das gestantes estão infectadas por HSV. A consequência mais devastadora do
herpes genital materno é a doença herpética neonatal, que ocorre em 1 de cada 3.200 nascimentos nos EUA e apresenta uma elevada taxa de mortalidade (James & Kimberlin, 2015).
O herpes genital é mais comum nas mulheres (1 em cada 5) do que nos homens (1 em cada 9) em parte por causa do contato prolongado com o sêmen durante a relação sexual
vaginal. Dois sorotipos de HSV já foram identificados: HSV1 e HSV2. HSV1 está associado principalmente com herpes oral e o HSV2 está associado sobretudo a herpes genital.
Contudo, os dois tipos podem provocar episódios nos dois locais. Aproximadamente 80% dos indivíduos com herpes genital são assintomáticos e não sabem que estão infectados pelo
vírus (Leone, 2015).
O HSV é transmitido pelo contato com mucosas ou soluções de continuidade na pele com lesões visíveis ou não visíveis. A maioria das infecções por herpes genital é transmitida
por pessoas que não sabem que estão infectadas. Muitas pessoas têm infecções leves ou não reconhecidas, mas ainda eliminam o herpesvírus intermitentemente. O HSV é transmitido
basicamente pelo contato direto com uma pessoa infectada que está liberando o vírus. O beijo, o contato sexual (inclusive sexo oral) e o parto vaginal são meios de transmissão do
HSV.
Ter relações sexuais com um parceiro infectado implica risco de contrair o HSV. Depois do surto primário, o vírus permanece quiescente nas células nervosas pelo resto da vida,
resultando em surtos periódicos. Surtos recorrentes de herpes genital são desencadeados por fatores como estresse emocional, menstruação, exposição à luz ultravioleta, doença,
cirurgia, fadiga, traumatismo genital, imunossupressão e relações sexuais, contudo mais de 50% das recorrências se dão sem uma causa precipitante. As mulheres imunocomprometidas
têm episódios mais frequentes e mais graves do que os hospedeiros normais. Herpes genital durante a gestação pode levar a aborto espontâneo, parto prematuro, microcefalia, baixo
peso ao nascer, microftalmia, coriorretinite e/ou infecção neonatal por HSV (Silasi et al., 2015).
Conviver com o herpes genital pode ser difícil, devido à natureza errática e recorrente da infecção, da localização das lesões, das causas desconhecidas das recorrências e da
ausência de cura. Após o diagnóstico, as pacientes têm preocupações ligadas não à natureza física da doença, mas às consequências sociais, incluindo a transmissão e o impacto sobre
sua vida sexual. Além disso, o estigma associado a essa infecção pode afetar os sentimentos da pessoa em relação a si mesma e sua interação com os parceiros. As potenciais
consequências psicossociais podem incluir angústia emocional, isolamento, medo de ser rejeitada pelo parceiro, medo de transmitir a doença, perda da confiança e alteração nas relações
interpessoais (Alexander et al., 2014).
Além do aumento da incidência de herpes genital, tem havido aumento das infecções neonatais por HSV, que estão associadas a taxas elevadas de mortalidade e morbidade. O risco
de infecção neonatal com o episódio materno primário é entre 30 e 50%. O risco é inferior a 1% na infecção materna recorrente (CDC, 2015h).
Conduta terapêutica
Não existe cura, mas o tratamento medicamentoso antiviral ajuda a reduzir ou suprimir os sintomas, a eliminação de vírus e os episódios recorrentes. Avanços no tratamento com
aciclovir (400 mg, VO, 3 vezes/dia durante 7 a 10 dias), fanciclovir (250 mg, VO, 3 vezes/dia durante 7 a 10 dias) ou valaciclovir (1 g, VO, 2 vezes/dia durante 7 a 10 dias) resultaram
em melhor qualidade de vida para as pessoas infectadas pelo HSV. No entanto, esses fármacos não erradicam o vírus latente nem afetam o risco, a frequência ou a gravidade das
recidivas após a suspensão do fármaco (CDC, 2015h). A terapia supressiva é recomendada para indivíduos com seis ou mais recorrências por ano. A evolução natural da doença é a
redução das recidivas com o passar do tempo. A segurança da terapia antiviral durante a gestação não foi determinada.
A conduta terapêutica envolve também a orientação em relação à história natural da doença, ao risco de transmissão sexual e perinatal, bem como à utilização de métodos para evitar
a sua propagação. As diretrizes a seguir podem ajudar o enfermeiro na prestação de informações quando ele dispõe de pouco tempo: (1) disponibilizar para a paciente todo o material
educativo disponível; (2) ter outra pessoa da equipe que possa passar mais tempo com as mulheres que precisarem de mais informações; (3) orientar a paciente para sites bons e
acurados, como o do Ministério da Saúde, para que ela obtenha informações adicionais; (4) conhecer os números de telefone dos grupos de apoio de herpes em sua região; (5) orientar a
paciente a absterse de qualquer atividade sexual até que as lesões provocadas pelo HSV desapareçam; (6) realizar uma boa higiene das mãos para evitar a propagação; (7) explicar que
não há cura para a infecção pelo HSV e que a prática de sexo seguro (uso de preservativo e isoladores dentais) a cada ato sexual é essencial para evitar a transmissão; (8) incentivar
todas as pacientes a informarem seus parceiros sexuais atuais que têm herpes genital e informarem os futuros parceiros antes de iniciar a prática de relação sexual. Por fim, muitos
especialistas recomendam uma abordagem imparcial e simpática. O enfermeiro pode afirmar em termos claros que ter herpes não muda a essência da pessoa nem a torna menos
interessante (Myers et al., 2015).
Avaliação de enfermagem
Avalie a mulher à procura de fatores de risco, que podem incluir relações sexuais desprotegidas, múltiplos parceiros sexuais, nível socioeconômico mais baixo, história pregressa de
DST/IST e aumento da idade (Moses, 2015). Avalie se a paciente apresenta manifestações clínicas de infecção por HSV. As manifestações clínicas podem ser divididas em episódio
primário e infecções recorrentes. O primeiro episódio ou episódio primário é geralmente o mais grave, com um período prolongado de eliminação viral. A infecção primária pelo HSV
provoca uma doença sistêmica caracterizada por múltiplas lesões vesiculares dolorosas, secreção mucopurulenta, superinfecção por Candida, febre, calafrios, malestar, disúria,
cefaleia, irritação genital, dor inguinal e linfadenopatia. As lesões no episódio primário do herpes estão frequentemente localizadas na vulva, na vagina e no períneo. As vesículas se
rompem, liberam seu conteúdo, formam uma crosta, secam e, por fim, desaparecem sem formação de cicatriz (Figura 5.5). Esse processo de eliminação do vírus demora habitualmente
até 2 semanas para ser concluído.
FIGURA 5.5 Herpes simples genital. (Ilustração fornecida pela Anatomical Chart Co. Fotografia cortesia de Stephen Ludwig, MD.)
Episódios recorrentes de infecção podem ser observados 5 a 8 vezes por ano e geralmente são muito mais leves, com menos lesões e menor duração do que o evento primário.
Formigamento, prurido, dor, lesões genitais unilaterais e resolução mais rápida das lesões são características das infecções recorrentes. O herpes recorrente é uma doença localizada,
caracterizada por lesões típicas de HSV no local de entrada viral inicial. As lesões de herpes recorrentes são menos numerosas e menos dolorosas e desaparecem mais rapidamente
(King et al., 2015).
O diagnóstico de HSV muitas vezes se baseia em sinais e sintomas clínicos e é confirmado por cultura viral do líquido da vesícula. A pesquisa de anticorpos IgG/IgM é realizada
frequentemente para fins de rastreamento. O esfregaço de Papanicolaou é um exame complementar insensível e inespecífico para HSV e não deve ser usado para o diagnóstico. As
mulheres devem ser testadas para todas as IST comuns, sobretudo se tiverem parceiros novos. Idealmente, a mulher iniciará um diálogo aberto com o parceiro sexual sobre o risco de
transmissão e a necessidade de práticas sexuais mais seguras.
Sífilis
Sífilis é uma infecção bacteriana complexa e curável, causada pelo espiroqueta Treponema pallidum. Com frequência é considerada uma doença do passado, praticamente erradicada nos
EUA nos dias atuais, mas sua incidência está aumentando em determinadas populações (homens homossexuais, homens bissexuais, homens que fazem sexo com homens e mulheres
afroamericanas no sul dos EUA). Estimase que 12 milhões de pessoas em todo o planeta sejam infectadas a cada ano (Ramsey, 2015). É uma doença sistêmica grave que pode levar a
incapacidade e morte se não for tratada. A sífilis tem um ciclo de vida complexo durante o qual episódios de doença clínica ativa são alternados com períodos de latência. Cerca de 2,1
milhões de gestantes têm sífilis ativa a cada ano. Sífilis congênita pode ocorrer quando uma gestante com sífilis transmite diretamente a infecção para o feto. Sem rastreamento e
tratamento, 69% dessas mulheres têm um desfecho adverso de suas gestações (Angoori, 2015). As taxas de sífilis nos EUA estão aumentando, especialmente em jovens adultos e afro
americanos em áreas urbanas e no sul do país (CDC, 2015i). A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2015d) estima que as taxas de sífilis materna e subsequente mortalidade e
morbidade neonatais facilmente ultrapassem as taxas de outras infecções neonatais, especialmente nas classes socioeconômicas mais baixas, nas culturas indígenas e afroamericanas e
nos trabalhadores do comércio do sexo. Ainda é uma das DST/IST mais importantes, tanto por causa de seu efeito biológico na aquisição e transmissão do HIV quanto por seu impacto
na saúde infantil (Tipple & Taylor, 2015). Todas as gestantes devem ser examinadas à procura de sífilis na primeira consulta prénatal e o exame deve ser repetido no terceiro trimestre.
No caso de mulheres de grupos de alto risco, a repetição do teste sorológico pode ser necessária no terceiro trimestre e por ocasião do nascimento (CDC, 2015j).
Os espiroquetas da sífilis penetram rapidamente nas mucosas íntegras ou em lesões microscópicas na pele. Em algumas horas, penetram no sistema linfático e na corrente sanguínea
e provocam infecção sistêmica muito antes do aparecimento da lesão primária. O local de entrada pode ser vaginal, retal ou oral (Klein, McLaud, & Rogers, 2015). Os espiroquetas da
sífilis conseguem atravessar a placenta após 9 semanas de gestação. Uma em cada 10 mil crianças nascidas nos EUA tem sífilis congênita (CDC, 2015i). As consequências da infecção
materna para o recémnascido incluem aborto espontâneo, baixo peso ao nascer, prematuridade, natimortalidade, restrição do crescimento intrauterino e insuficiência de múltiplos
órgãos (incluindo coração, pulmões, baço, fígado e pâncreas), bem como danos estruturais ao osso, envolvimento do sistema nervoso e déficit mental (Chen et al., 2015).
Conduta terapêutica
Felizmente, existe tratamento efetivo para a sífilis. A terapia com dose única é preferida pela facilidade do uso: azitromicina (1 g, VO, dose única) ou ceftriaxona (250 mg, por via
intramuscular [IM], dose única) ou ciprofloxacino (500 mg, VO, 2 vezes/dia durante 3 dias) ou eritromicina base (500 mg, VO, 3 vezes/dia durante 7 dias) podem ser prescritos.
Ciprofloxacino é contraindicado para gestantes e lactantes. Penicilina G benzatina (2,4 milhões de unidades, IM, 1 vez/semana durante 3 semanas) também pode ser usada para fins de
tratamento, mas pode ser difícil obter a adesão da paciente (King et al., 2015). As formulações utilizadas, a dosagem e a duração do tratamento dependem do estágio e das
manifestações clínicas da doença (CDC, 2015j). Outros fármacos, como a doxiciclina, podem ser prescritos se a paciente for alérgica à penicilina.
As mulheres devem ser reavaliadas 6 e 12 meses após o tratamento para sífilis primária ou secundária com teste sorológico adicional. As mulheres com sífilis latente devem ser
acompanhadas clínica e sorologicamente aos 6, 12 e 24 meses (Lawrence et al., 2015).
Avaliação de enfermagem
A sífilis provoca muitos sinais e sintomas inespecíficos que podem não ser notados pelos profissionais de saúde ou podem simplesmente ser indistinguíveis de outras doenças mais
comuns. Infelizmente, os casos não diagnosticados e não tratados de sífilis podem resultar em complicações potencialmente fatais, tais como hepatite, acidente vascular cerebral e lesão
do sistema nervoso (Klein et al., 2015). Avalie se a paciente apresenta manifestações clínicas da sífilis. Se não for tratada, a sífilis é uma infecção que perdura por toda a vida,
progredindo em estadiamento ordenado. As cinco fases de infecção da sífilis são: (1) primária, (2) secundária, (3) latente precoce, (4) latente tardia e (5) terciária. Os estágios primário,
secundário e latente precoce são considerados os mais infecciosos: o risco estimado de transmissão por pessoa é de 60%. Além disso, nesses estágios o feto corre maior risco de
contrair a infecção materna (Klein et al., 2015).
Domínio de conceito
Transmissão de sífilis na gravidez
Embora algumas DST/IST, como gonorreia e herpesvírus, sejam passadas para o recémnascido quando ele atravessa o canal de parto, a sífilis é
transmitida através da placenta a qualquer momento da gravidez. Isso significa que o feto corre risco durante toda a gravidez, a menos que a
gestante seja diagnosticada e tratada de modo apropriado.
A sífilis primária é caracterizada por um cancro (úlcera indolor) no local de entrada das bactérias, que desaparece em 1 a 6 semanas, mesmo sem intervenção (Figura 5.6).
Espiroquetas móveis são encontrados no exame de campo escuro do exsudato da úlcera. Além disso, há linfadenopatia bilateral indolor durante esse período extremamente infeccioso. A
pessoa está extremamente contagiosa quando existem cancros. Se não for tratada, a infecção progride para o estágio secundário.
A sífilis secundária aparece 2 a 6 meses após a exposição inicial com manifestações gripais e uma erupção maculopapular no tronco e nas regiões palmares e plantares. A alopecia e
a linfadenopatia são comuns durante essa fase. Além das erupções cutâneas, a sífilis secundária pode manifestarse com febre, faringite, perda de peso e fadiga (Peterman et al., 2015).
A fase secundária da sífilis dura cerca de 2 anos. Uma vez que o estágio secundário retroceda, começam os períodos de latência (precoce e tardio). Esses estágios são caracterizados
pela ausência de manifestações clínicas da doença, embora a sorologia seja positiva. Essa fase pode durar até 20 anos. Se não for tratada, ocorre a sífilis terciária ou tardia, com doença
cardíaca e neurológica potencialmente fatal que destrói lentamente o coração, com inflamação da aorta, dos olhos, do encéfalo, do sistema nervoso central e da pele.
FIGURA 5.6 Cancro da sífilis primária. (De Sweet, R. L., & Gibbs, R. S. [2005]. Atlas of infectious diseases of the female genital tract. Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins.)
As pacientes com um diagnóstico de HIV ou outra DST/IST devem ser rastreadas para sífilis e todas as gestantes devem ser rastreadas em sua primeira consulta prénatal. A
pesquisa sorológica da sífilis pode ser feita com testes treponêmicos e não treponêmicos. Os testes não treponêmicos mensuram os níveis de imunoglobulina M (IgM) e
imunoglobulina G (IgG). Embora esses testes sejam menos específicos, são comumente utilizados no rastreamento primário, porque são rápidos de executar e baratos. Os testes não
treponêmicos mais comumente utilizados são o teste rápido de reagina plasmática (RPR) e o VDRL (Venereal Disease Research Laboratory). Os testes treponêmicos detectam
imunoglobulinas A (IgA), IgM e IgG, anticorpos específicos contra os treponemas, o que confere maior acurácia a esses testes. Os testes treponêmicos atuais incluem o EIA, o teste de
absorção de anticorpo antitreponêmico fluorescente (FTAABS), o teste de aglutinação de partículas de T. pallidum (TPPA) e o ensaio de hemaglutinação para T. pallidum (TPHA)
(Schuiling & Likis, 2016).
Um diagnóstico presuntivo pode ser feito por meio de duas provas sorológicas:
• Testes não treponêmicos (VDRL e RPR)
• Testes treponêmicos (FTAABS e TPPA). Exames microscópicos de campo escuro e testes de imunofluorescência direta do exsudato ou tecido da lesão são os métodos definitivos
para o diagnóstico precoce da sífilis (CDC, 2015k).
Conduta de enfermagem para herpes e sífilis
As úlceras genitais do herpes ou da sífilis podem ser devastadoras para a mulher. O enfermeiro pode ser fundamental em ajudála a passar por esse momento difícil. O encaminhamento
para um grupo de apoio pode ser útil. Aborde os aspectos psicossociais dessas DST/IST com as mulheres, discutindo as habilidades de enfrentamento apropriadas, a aceitação da
natureza vitalícia da condição (herpes) e as opções de tratamento e reabilitação. O enfermeiro pode ajudar a amenizar a angústia, a morbidade e a mortalidade associadas às DST/IST
por meio de cuidados seguros, acurados, sensíveis e solidários. O boxe Diretrizes de ensino 5.3 destaca pontos de orientação apropriados à paciente com úlceras genitais.
Diretrizes de ensino 5.3
Assistência às pessoas com úlceras genitais
• Absterse de relações sexuais durante o período prodrômico e enquanto houver lesões
• Lavar as mãos com água e sabão depois de tocar as lesões para evitar a autoinoculação
• Adotar medidas que promovam alívio, como não usar roupas apertadas, vestir roupas íntimas de algodão, urinar na água se a micção for dolorosa, tomar
banhos de assento mornos e secar as lesões ao ar livre com um secador de cabelo (regulado para morno)
• Evitar temperaturas extremas, como compressas de gelo ou almofadas quentes na área genital, bem como a aplicação de cremes, sprays ou géis de
esteroides
• Usar preservativos com todos os parceiros novos ou não infectados
• Informar os profissionais de saúde de sua condição
Doença inflamatória pélvica
A doença inflamatória pélvica (DIP) é uma condição grave comum da saúde reprodutiva cujas taxas permanecem inaceitavelmente elevadas em adolescentes e mulheres adultas jovens
nos EUA. Referese ao processo inflamatório do sistema genital feminino superior e das estruturas vizinhas. As tubas uterinas, os ovários ou o peritônio podem ser envolvidos e
também pode existir endometriose. A DIP resulta de uma infecção polimicrobiana ascendente do sistema genital feminino superior, frequentemente causada por infecção por clamídia
ou gonorreia não tratada (Figura 5.7). Anualmente, nos EUA, o CDC (2015l) estima que mais de 1 milhão de mulheres apresentem um episódio de DIP aguda. Até 10 a 15% dessas
mulheres se tornam inférteis em decorrência da DIP. Uma grande proporção das gestações ectópicas, dos abscessos pélvicos e dos casos de dor pélvica crônica que ocorrem a cada ano
se deve a consequências da doença inflamatória pélvica (CDC, 2015l). Tratase de um grave problema de saúde nos EUA, que custa cerca de US$ 10 bilhões anualmente em internações
e procedimentos cirúrgicos (Gilbert, 2015). Todas as mulheres sexualmente ativas correm risco de DIP, mas os fatores de risco comuns incluem idade menor do que 25 anos, moradia
em áreas centrais das cidades, múltiplos parceiros sexuais, relações sexuais com um parceiro novo, inserção de um dispositivo intrauterino (DIU) nas 6 semanas anteriores ao episódio
de DIP, ducha vaginal, DST/IST prévia na mulher ou em seu parceiro, não utilização de contraceptivos de barreira e episódio prévio de DIP. As mulheres de origem africana ou afro
caribenha também têm prevalência mais elevada da condição (Simmons, 2015). As complicações incluem fibrose, cicatrizes, perda da função das tubas uterinas, gravidez ectópica,
abscesso pélvico, infertilidade, episódios recorrentes ou crônicos da doença, dor abdominal crônica, aderências pélvicas e depressão (Simmons, 2015). Devido à gravidade das
complicações da DIP, um diagnóstico acurado é essencial.
FIGURA 5.7 Doença inflamatória pélvica. Chlamydia ou N. gonorrhoeae propagamse da vagina para o útero e, em seguida, para as tubas uterinas e os ovários.
Conduta terapêutica
O tratamento com antibióticos de largo espectro geralmente é necessário para cobrir infecções por Chlamydia, N. gonorrhoeae e/ou anaeróbios. As recomendações atuais do CDC
(Blank, 2015) são as seguintes: ceftriaxona (250 mg em injeção IM única) mais doxiciclina (100 mg, VO, 2 vezes/dia durante 14 dias) com ou sem metronidazol (500 mg, VO, 2
vezes/dia durante 14 dias) ou cefoxitina (2 g, IM, em dose única) e probenecida (1 g, VO, administrada ao mesmo tempo em dose única) mais doxiciclina (100 mg, VO, 2 vezes/dia
durante 14 dias) com ou sem metronidazol (500 mg, VO, 2 vezes/dia durante 14 dias). A DIP na gestação é rara, mas pode ser usada uma combinação de cefotaxima, azitromicina e
metronidazol durante 14 dias. Tetraciclinas e quinolonas devem ser evitadas durante a gravidez (King et al., 2015). A paciente é tratada ambulatorialmente com um antibiótico injetável
de dose única ou é hospitalizada e recebe antibióticos por via intravenosa. A decisão de internar a mulher é baseada no julgamento clínico e na gravidade de seus sintomas (p. ex.,
doença grave com febre alta, suspeita de abscesso tuboovariano, paciente imunocomprometida ou apresentando vômito por período prolongado). O tratamento então inclui antibióticos
intravenosos, ingestão aumentada de líquido para melhorar a hidratação, repouso e controle da dor. A fim de evitar o desenvolvimento de dor pélvica crônica, é necessário
acompanhamento para confirmar se o processo infeccioso foi encerrado.
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem da mulher com DIP envolve uma história patológica pregressa meticulosa e a avaliação do quadro clínico, do exame físico e dos exames complementares.
HISTÓRIA PATOLÓGICA PREGRESSA E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Conheça a história patológica pregressa da paciente para determinar os fatores de risco para DIP, que podem incluir:
• Adolescente ou adulto jovem
• Mulher de outras etnias que não branca
• Múltiplos parceiros sexuais
• Início recente da atividade sexual
• História patológica pregressa de DIP ou DST/IST
• Relação sexual em idade precoce
• Alcoolismo ou drogadição
• Relação sexual com um parceiro que tenha uretrite não tratada
• Inserção recente de DIU
• Nuliparidade
• Tabagismo
• Interrupção recente da gestação
• Não utilização de preservativos de modo consistente
• Não utilização de contraceptivos
• Duchas vaginais
• Prostituição.
Avalie se a paciente apresenta manifestações clínicas de DIP, tendo em mente que, por causa da grande variedade dessas manifestações, o diagnóstico clínico pode ser difícil. Para
reduzir o risco de não ser feito o diagnóstico, o CDC estabeleceu critérios para o diagnóstico de DIP. Os critérios mínimos (todos precisam ser encontrados) são dor à palpação da parte
inferior do abdome, dor à palpação dos anexos e dor à mobilização do colo do útero durante o exame ginecológico. Os critérios adicionais que apoiam o diagnóstico de DIP são:
• Corrimento mucopurulento anormal do colo do útero ou da vagina
• Temperatura oral acima de 38,3°C
• Dor à mobilização do colo de útero
• Velocidade de hemossedimentação elevada (processo inflamatório)
• Nível elevado de proteína C reativa (processo inflamatório)
• Infecção por N. gonorrhoeae ou C. trachomatis (bactéria causal) documentada
• Leucócitos no esfregaço vaginal em meio salino
• Sangramento menstrual prolongado ou aumentado
• Dismenorreia
• Disúria
• Dor aguda em baixo ventre
• Dispareunia (dor à relação sexual)
• Náuseas
• Vômitos (CDC, 2015l).
EXAME FÍSICO E EXAMES LABORATORIAIS E COMPLEMENTARES
Verificar se a paciente apresenta febre (geralmente acima de 38,3°C) ou corrimento vaginal. Palpar o abdome, observando se há dor à palpação do útero ou dos ovários. A laparoscopia
é o critério padrão atual para o diagnóstico de DIP. Nenhum exame é altamente específico ou sensível para a doença, mas alguns exames laboratoriais que podem ser solicitados para
apoiar o diagnóstico incluem a velocidade de hemossedimentação (VHS), a proteína C reativa e a sonda de DNA e a cultura para Chlamydia e Neisseria gonorrhoeae (Simmons, 2015).
Conduta de enfermagem
Se a mulher com DIP for hospitalizada, devese manter a hidratação venosa, se necessário, e administrar analgésicos em esquema SOS. A posição de semiFowler facilita a drenagem
pélvica. Um elementochave para o tratamento da DIP é a orientação para evitar a recorrência. Dependendo da instituição de saúde (hospital ou ambulatório) em que o enfermeiro se
depare com a mulher com diagnóstico de DIP, uma avaliação de risco deve ser feita para determinar quais intervenções são adequadas para evitar a recorrência. Para ganhar a
cooperação da mulher, explique os vários exames complementares necessários. Discuta as implicações da DIP e os fatores de risco para a infecção; o parceiro sexual da paciente deve
ser incluído, se possível. A orientação sexual deve incluir a prática de sexo seguro, a limitação do número de parceiros sexuais, o uso consistente de contraceptivos de barreira, a
orientação para evitar duchas vaginais, a consideração de outro método contraceptivo se a paciente tiver um DIU e múltiplos parceiros sexuais e completar o curso de antibióticos
prescritos (Shepherd, 2015). É importante explicar as sequelas graves que podem ocorrer se a condição não for tratada ou se a mulher não aderir ao plano de tratamento. Peça a ela que
faça com que seu parceiro realize avaliação e tratamento para evitar a repetição da infecção. Preste apoio imparcial, reforçando a importância dos métodos contraceptivos de barreira e os
cuidados de acompanhamento. O boxe Diretrizes de ensino 5.4 apresenta mais informações em relação à prevenção da DIP.
Diretrizes de ensino 5.4
Prevenção da doença inflamatória pélvica
• Aconselhar as adolescentes e as mulheres sexualmente ativas a insistir que seus parceiros usem preservativos
• Desencorajar a realização de ducha vaginal de rotina, pois isso pode levar ao crescimento excessivo de bactérias
• Incentivar o rastreamento regular de DST/IST
• Enfatizar a importância de cada parceiro sexual receber tratamento com antibióticos
INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS IMUNOPREVENÍVEIS
Algumas DST/IST podem ser efetivamente prevenidas por meio da vacinação préexposição. As vacinas para determinadas DST/IST, incluindo HIV e HSV, estão em fase de
desenvolvimento ou de ensaios clínicos. No entanto, atualmente as vacinas estão disponíveis apenas para a prevenção da hepatite A, da hepatite B e da infecção por HPV. Os esforços
de vacinação concentramse em grande parte na integração dessas vacinas disponíveis nas atividades de prevenção e tratamento das DST/IST (CDC, 2015g).
Papilomavírus humano
O HPV é a causa mais comum de infecção viral nos EUA. HPV é tão comum que quase todos os homens e mulheres sexualmente ativos contraem pelo menos um tipo de HPV em
algum momento de suas vidas (CDC, 2015m). As verrugas genitais ou condilomas (palavra de origem grega para “verrugas”) são causadas pelo HPV. Estimativas conservadoras
indicam que, nos EUA, aproximadamente 79 milhões de pessoas tenham infecções por HPV produtivas, e que 14 milhões de norteamericanos adquiramnas anualmente (CDC,
2015m). Ensaios clínicos confirmaram que o HPV é a causa de praticamente todos os casos de câncer do colo do útero, que é o quarto câncer mais comum nas mulheres nos EUA,
depois do câncer de pulmão, de mama e colorretal. Nos EUA, todos os anos, mais de 12 mil mulheres são diagnosticadas com câncer de colo do útero, e cerca de 4.000 delas morrem
por essa doença. Cerca de 1% dos homens e mulheres norteamericanos sexualmente ativos têm verrugas genitais em algum momento da vida (American Cancer Society [ACS], 2015).
A oncogênese mediada pelo HPV é responsável por até 95% dos carcinomas espinocelulares do colo do útero e por quase todas as neoplasias préinvasivas do colo do útero (CDC,
2015m). Mais de 40 tipos de HPV podem infectar o sistema genital. Os tipos 16, 18, 31, 35, 39, 45, 51, 52, 58, 59 e 68 estão associados à displasia do colo do útero e podem
contribuir para o desenvolvimento de câncer anal, do colo do útero e peniano (ACS, 2015). O HPV é mais prevalente em mulheres jovens, com idades entre 20 e 24 anos, seguidas de
perto pela faixa etária de 15 a 19 anos (Gearhart, Randall, Buckley, & Buckley, 2016).
Anote!
O risco de infecção por HPV ao longo da vida é estimado como sendo de até 50% em indivíduos sexualmente ativos.
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem da mulher com HPV inclui uma história patológica pregressa detalhada e a avaliação das manifestações clínicas, do exame físico e dos exames
complementares. Uma mulher com lesões causadas por HPV podem ter sinais/sintomas como corrimento vaginal profuso e irritativo, prurido, dispareunia ou sangramento após relação
sexual. Ela também pode relatar “nódulos” nos lábios do pudendo. A inspeção física da genitália externa é importante quando existir a suspeita de lesões causadas por HPV ou estas
forem observadas.
HISTÓRIA PATOLÓGICA PREGRESSA E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
É importante avaliar a história patológica pregressa da paciente à procura de fatores de risco para o HPV, que incluem ter múltiplos parceiros sexuais, idade (15 a 25 anos), sexo com
um homem que teve múltiplas parceiras sexuais e primeira relação sexual aos 16 anos ou antes (Mohanty & Ghosh, 2015). Os fatores de risco que contribuem para o desenvolvimento
de câncer do colo do útero incluem tabagismo, fazer pouco ou nenhum exame de rastreamento para o câncer do colo do útero, ter múltiplos parceiros sexuais, imunossupressão, uso
prolongado de contraceptivos (mais de 2 anos), outra DST/IST concomitante, gestação, deficiências nutricionais e ter iniciado as atividades sexuais precocemente (Gearhart, Higgins,
Randall, & Buckley, 2016).
Avalie se a paciente apresenta manifestações clínicas de HPV. A maioria das infecções por HPV é assintomática, não reconhecida ou subclínica. As verrugas genitais visíveis
geralmente são causadas por HPV dos tipos 6 ou 11. Além dos órgãos genitais externos, as verrugas genitais podem ocorrer no colo do útero e na vagina, na uretra, no ânus e na boca.
Dependendo das dimensões e da localização, as verrugas genitais podem ser dolorosas, friáveis (facilmente fragmentadas ou esfaceladas) e pruriginosas, embora a maioria seja
tipicamente assintomática (Figura 5.8). As cepas de HPV associadas às verrugas genitais são consideradas de baixo risco para o desenvolvimento de câncer do colo do útero, mas
outros tipos de HPV (16, 18, 31, 33 e 35) têm sido fortemente associados ao câncer do colo do útero (CDC, 2015m).
FIGURA 5.8 Verrugas genitais. (Ilustração fornecida por Anatomical Chart Co. Fotografia de Gorbach, S. L. et al. [2004]. Infectious Diseases. Philadelphia, PA: Lippincott Williams &
Wilkins.)
EXAME FÍSICO E EXAMES LABORATORIAIS E COMPLEMENTARES
Clinicamente, as verrugas visíveis são diagnosticadas à inspeção. As verrugas são pápulas carnudas com uma superfície rugosa e granular. As lesões podem crescer muito durante a
gestação, afetando a micção, a defecação, a mobilidade e a descida do feto (CDC, 2015m). Grandes lesões, semelhantes a couveflor, existem em agrupamentos coalescentes e sangram
facilmente.
Atualmente, os esfregaços de Papanicolaou (exame preventivo) são realizados a cada 3 a 5 anos no caso de mulheres de baixo risco. Esse padrão de cuidado, que preconiza
rastreamento menos frequente de câncer de colo de útero do que no passado, torna crítico que as mulheres compreendam por que estão fazendo os testes e como proceder para fazêlos.
Esses exames regulares detectarão as alterações celulares associadas ao HPV. A FDA aprovou recentemente um teste de HPV como acompanhamento para as mulheres que têm um
resultado de esfregaço de Papanicolaou ambíguo. Além disso, este teste de HPV pode ser um incremento útil ao esfregaço de Papanicolaou para o rastreamento geral de mulheres com
30 anos ou mais. Esse exame complementar consegue determinar a cepa específica do HPV, o que é útil na discriminação entre os tipos de HPV (de baixo e alto riscos). Podese obter
uma amostra para análise com um sistema de coleta em meio líquido, como o Thinprep®. Esse teste consegue identificar 13 dos tipos de alto risco do HPV associados ao
desenvolvimento do câncer de colo do útero e consegue detectar tipos de HPV de alto risco, mesmo antes de existirem quaisquer alterações visíveis conclusivas nas células cervicais. Se
o teste for positivo para tipos de alto risco de HPV, a mulher deve ser encaminhada para colposcopia, que é um exame visual do colo de útero usando ampliação e soluções corantes
simples como ácido acético e solução de Lugol. Algumas vezes é acompanhado por uma biopsia para confirmar a anormalidade no colo de útero (Decker, McLachlin, & Lotocki, 2015).
Ao exame físico, determinase que Sandy tem verrugas genitais. O enfermeiro descobre que Sandy tem comportamento de alto risco com um estranho com quem
ela tem “ficado” recentemente na faculdade. Ela não imaginava que ele poderia transmitir uma DST/IST para ela porque ele parecia “limpo”. Ela se pergunta como
poderia ter verrugas genitais. Qual informação deve ser dada a Sandy em relação às DST/IST em geral? Quais informações específicas sobre o HPV devem ser
enfatizadas?
Conduta terapêutica
Atualmente não há tratamento médico ou cura para o HPV. Em vez disso, a conduta terapêutica é direcionada com veemência para a prevenção, por meio da utilização de vacina contra o
HPV e de orientações e tratamento das lesões e verrugas causadas pelo HPV. A FDA aprovou três vacinas contra o HPV para evitar o câncer do colo do útero: Cervarix®, Gardasil® e
Gardasil 9®.
O Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP) do CDC recomendou que a vacina seja administrada rotineiramente a meninas e meninos de 11 e 12 anos de idade. Essa
recomendação criou um verdadeiro bombardeio de muitos genitores que pensaram que essa vacina conferiria uma falsa sensação de segurança e resultaria em promiscuidade. Os
profissionais de enfermagem encontram resistência dos genitores e precisam apresentar a eles os fatos sobre a efetividade das vacinas e da prevenção do câncer de colo de útero. A
ACIP também aprova o uso de uma vacina contra o HPV para meninas e meninos com 9 anos de idade e recomenda que as mulheres entre as idades de 13 e 26 anos recebam a série de
vacinação, que consiste em três injeções durante 6 meses. As três são vacinas profiláticas contra o HPV concebidas primordialmente para a prevenção do câncer do colo do útero. A
vacina Cervarix® é efetiva contra HPV dos tipos 16, 18, 31, 33 e 45, os cinco tipos que mais comumente causam câncer, incluindo a maioria das causas de adenocarcinoma que não
podem ser rastreadas adequadamente. A vacina Gardasil® é efetiva contra HPV dos tipos 16, 18 e 31, que frequentemente causam câncer espinocelular. Além disso, a vacina Gardasil® é
efetiva contra HPV dos tipos 6 e 11, causa das verrugas genitais e da papilomatose respiratória. O determinante mais importante do impacto da vacina em reduzir o câncer do colo do
útero é a duração da sua eficácia. Até o momento, a eficácia comprovada da vacina Cervarix® é de 6,4 anos e a da vacina Gardasil® é de 5 anos (CDC, 2015n). A vacina Gardasil 9® é
efetiva contra os tipos 6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58. De acordo com a FDA, a nova vacina Gardasil 9® consegue prevenir potencialmente cerca de 90% dos cânceres de colo de
útero, de vulva, de vagina e de ânus (Gearhart, Higgins, Randall, & Buckley, 2016). As vacinas profiláticas contra o HPV são seguras, bem toleradas e muito eficazes na prevenção de
infecções persistentes e de doenças do colo do útero associadas aos tipos de HPV em mulheres jovens. No entanto, a eficácia e a segurança a longo prazo precisam ser determinadas no
futuro (Castle & Schmeler, 2015).
A vacina é administrada por via intramuscular em três doses separadas de 0,5 mℓ. A primeira dose pode ser administrada a qualquer paciente entre 9 e 26 anos de idade antes da
infecção pelo HPV. A segunda dose é administrada 2 meses após a primeira e a terceira dose é administrada 6 meses após a dose inicial. Pode ser utilizada a região deltoide do braço ou
a área anterolateral da coxa. Os efeitos colaterais mais comuns da vacina incluem dor, desmaio, vermelhidão e tumefação no local da injeção, fadiga, cefaleia, dor muscular e articular e
desconforto gastrintestinal. Os eventos adversos graves relatados ao CDC incluem coágulos sanguíneos no coração, nos pulmões ou nas pernas, síndrome de GuillainBarré e menos de
30 mortes (CDC, 2015n). A maioria das pacientes apresentava fatores de risco aos quais podem ser atribuídos esses eventos adversos e não à vacina isoladamente (CDC, 2015n).
Se a mulher não receber a prevenção primária com vacina, então a prevenção secundária focalizará nas orientações sobre a importância de realizar o esfregaço de Papanicolaou
regularmente. Para mulheres com mais de 30 anos de idade, inclui também um teste de HPV para determinar se a mulher tem um vírus latente de alto risco que poderia levar a
alterações cervicais précancerosas. Por fim, as opções de tratamento para lesões cervicais précancerosas ou verrugas genitais causadas pelo HPV são inúmeras e podem incluir:
• Ácido tricloroacético (TCA) tópico a 80 a 90%
• Crioterapia com nitrogênio líquido
• Imiquimode a 5% tópico em creme
• Podofilina a 10 a 25% tópica
• Vaporização com laser de dióxido de carbono
• Podofilox a 0,5%, solução ou gel aplicado pela paciente
• Excisão cirúrgica simples
• Procedimento de excisão eletrocirúrgica por alça (LEEP, loop electrosurgical excision procedure)
• Terapia intralesional com interferona (King et al., 2015).
O objetivo do tratamento das verrugas genitais é removêlas e induzir períodos assintomáticos. O tratamento das verrugas genitais deve ser guiado pela preferência das pacientes e
pelos recursos disponíveis. Não foi encontrado um tratamento único que seja ideal para todas as pacientes e a maioria das modalidades de tratamento parece ter eficácia comparável.
Como as verrugas genitais podem proliferar e tornarse friáveis durante a gestação, elas devem ser removidas utilizando um agente local. A cesariana não é indicada quando o único
objetivo for evitar a transmissão da infecção por HPV ao recémnascido, a menos que a abertura inferior da pelve esteja obstruída por verrugas (Gearhart, Higgins, Randall, & Buckley,
2016).
Conduta de enfermagem
A infecção por HPV tem muitas implicações para a saúde da mulher, mas a maioria das mulheres não tem conhecimento do HPV e de sua participação no câncer do colo do útero. A
idade média de iniciação sexual é no início da adolescência e, portanto, é importante abordar essa população para o uso da vacina contra o HPV/câncer do colo do útero.
As principais funções da enfermagem são orientar em relação à prevenção da infecção por HPV e promoção de vacinas e testes de rastreamento, a fim de reduzir as taxas de
morbidade e mortalidade associadas ao câncer do colo do útero causado pela infecção por HPV. Oriente todas as mulheres que a única maneira de evitar o HPV é absterse de qualquer
contato genital com outro indivíduo. Embora o efeito dos preservativos na prevenção da infecção por HPV não seja conhecido, o uso do preservativo de látex tem sido associado a
menor incidência de câncer do colo do útero. Oriente as mulheres sobre a correlação entre HPV e câncer do colo do útero. Explique que, na maioria dos casos, não há sinais ou
sintomas de infecção por HPV. Encorajar com veemência todas as mulheres jovens entre 9 e 26 anos de idade (e no caso de crianças e adolescentes entre 9 e 18 anos de idade, seus
genitores) a considerar a vacinação contra HIV. Promova a importância de realizar regularmente o esfregaço de Papanicolaou a todas as mulheres. Para aquelas com mais de 30 anos,
sugira um teste de HPV para descartar a existência de uma cepa latente de HPV de alto risco.
A orientação e o aconselhamento são aspectos importantes da conduta em mulheres com verrugas genitais. Oriente a mulher que:
• Mesmo depois que as verrugas genitais forem removidas, o HPV permanece no corpo e a excreção viral continua
• A probabilidade de transmissão aos futuros parceiros e a duração da infectividade após o tratamento para verrugas genitais não são conhecidas
• O ressurgimento das verrugas genitais nos primeiros meses após o tratamento é comum e geralmente indica recorrência, em vez de reinfecção (CDC, 2015m).
A menos que haja uma política de saúde nacional, uma abordagem multifacetada e em múltiplos níveis será necessária para conseguir atingir taxas elevadas de vacinação contra
HPV nos EUA. Os profissionais de enfermagem precisam focar na educação de seus pacientes sobre as indicações da vacina de HPV e trabalhar nas abordagens de comunicação mais
efetiva com os genitores sobre a segurança e os benefícios da vacinação e os riscos associados com a não vacinação das crianças.
Sandy está recebendo tratamento para o HPV e está ansiosa para que essas “coisas” desapareçam e nunca mais voltem. Qual orientação é necessária para evitar
que Sandy transmita DST/IST a quaisquer futuros parceiros sexuais?
Hepatites A e B
A hepatite é uma infecção viral aguda sistêmica que pode ser transmitida por via sexual. Os agentes associados a hepatite ou inflamação do fígado são os vírus das hepatites A, B, C,
D, E e G. A hepatite A é uma inflamação do fígado causada por infecção pelo vírus da hepatite A (HAV). A hepatite A é extremamente contagiosa e se propaga primariamente por via
orofecal de uma pessoa para outra ou pela ingestão de água ou alimentos contaminados. A hepatite A também pode ser transmitida pela relação sexual. A transmissão de pessoa para
pessoa por via orofecal (ou seja, a ingestão de algo que tenha sido contaminado pelas fezes de uma pessoa infectada) é o principal meio de transmissão do HAV nos EUA (CDC,
2015o). A maioria das infecções resulta do contato pessoal com um membro da família ou parceiro sexual infectado. A infecção por HAV provoca doença autolimitada, que não resulta
em infecção crônica ou doença hepática crônica, mas pode ser facilmente transmitida aos outros dentro da mesma família.
O vírus da hepatite B (HBV) é transmitido por líquidos corporais infectados (saliva, sangue, sêmen, sangue menstrual, secreções vaginais) e por atividades que envolvam contato
percutâneo (ou seja, lesão perfurante através da pele) ou de mucosa com sangue ou líquidos corporais (p. ex., sêmen, saliva) infecciosos. A transmissão também ocorre por meio de
relações sexuais com um parceiro infectado; o uso de drogas ilícitas injetáveis envolvendo o compartilhamento de agulhas, seringas ou equipamento de preparação dessas drogas; o
parto da mãe infectada, contaminando o filho; o contato com sangue ou feridas abertas de uma pessoa infectada; a exposição a agulhas ou instrumentos cortantes; ou o
compartilhamento de itens como aparelhos de barbear ou escovas de dentes com uma pessoa infectada. O HBV não é transmitido por alimentos ou água, compartilhamento de talheres,
amamentação, contato pele com pele, tosse ou espirros (CDC, 2015p).
A OMS estima que, em todo o mundo, cerca de 2 bilhões de pessoas tenham sido infectadas pelo HBV e que mais de 240 milhões apresentem infecções hepáticas crônicas em
decorrência disso. Em todo o mundo, a taxa de mortalidade da hepatite B (780 mil por ano) é maior do que a de outras DST/IST, com exceção do HIV (WHO, 2015a). Os fatores de
risco para a infecção incluem ter múltiplos parceiros sexuais, a prática de sexo anal receptivo desprotegido e história pregressa de outras DST/IST (CDC, 2015p). O meio mais efetivo
para evitar a transmissão da hepatite A ou B é a imunização préexposição. Existem vacinas para a prevenção das hepatites A e B, sendo que os dois vírus podem ser transmitidos por
via sexual. Todas as pessoas que procuram tratamento para uma DST/IST devem ser consideradas candidatas à vacinação contra o HBV. Algumas pessoas (p. ex., os homens que fazem
sexo com homens e usuários de drogas ilícitas injetáveis) devem ser consideradas para a vacinação contra hepatite A (CDC, 2015p).
Conduta terapêutica
Ao contrário das outras IST, as hepatites A e B podem ser prevenidas por meio da vacinação. A infecção pelo HAV geralmente é autolimitada e não resulta em infecção crônica. A
infecção pelo HBV pode resultar em graves danos permanentes ao fígado. O tratamento geralmente é de suporte. Não existe tratamento específico para a infecção aguda por HBV.
Avaliação de enfermagem
Avalie se a paciente apresenta manifestações clínicas das hepatites A e B. A hepatite A provoca manifestações gripais, como malestar, fadiga, anorexia, náuseas, prurido, febre e dor
no quadrante superior direito do abdome. As manifestações da hepatite B são semelhantes às da hepatite A, mas com menor envolvimento cutâneo e febre. O diagnóstico de hepatite A
não pode ser feito com base somente nas manifestações clínicas e demanda provas sorológicas. O achado de anticorpos IgM antiHAV é diagnóstico de infecção aguda. A hepatite B é
detectada por um teste de sangue que procura por anticorpos e proteínas produzidas pelo vírus e é diagnosticada positivamente pelo achado de antígeno de superfície da hepatite B
(HBsAg) (Pyrsopoulos & Reddy, 2015).
Conduta de enfermagem
Os enfermeiros devem incentivar todas as mulheres a serem rastreadas para hepatite ao realizar seu exame de Papanicolaou anual, ou antes, se for identificado comportamento de alto
risco. Os enfermeiros também devem encorajar as mulheres a passar por um rastreamento para hepatite B (HBV) em sua primeira consulta prénatal e repetir o rastreamento no último
trimestre para mulheres com comportamentos de alto risco para cumprir as recomendações da USPSTF (2015). Os enfermeiros também podem explicar que a vacina contra a hepatite B
é dada a todas as crianças após o nascimento nos postos de saúde. A vacina é composta por uma série de três injeções dadas no prazo de 6 meses. A vacina mostrou ser segura e bem
tolerada pela maioria dos receptores (CDC, 2015p). A vacina contra a hepatite A é fortemente encorajada para crianças entre 12 e 23 meses de idade, aqueles acima de 1 ano de idade
que viajam para países com alta prevalência de hepatite A (como Américas Central e do Sul, México, Ásia, África e Europa Oriental), homens que fazem sexo com homens, pessoas
que usam drogas ilícitas e aqueles com doença hepática crônica (CDC, 2015o). Para outros, a série de vacinas contra a hepatite A (duas doses em 6 meses) pode ser iniciada quando a
pessoa correr risco de infecção.
Hepatite C
A hepatite C é causada pelo vírus da hepatite C (HCV) que agride o fígado e provoca inflamação do mesmo. Estimase que aproximadamente 3% da população mundial esteja infectada
pelo HCV e que existam mais de 170 milhões de carreadores crônicos do HCV que correm risco de desenvolver cirrose hepática e/ou câncer hepático (WHO, 2015e). Embora o HCV
não seja transmitido sexualmente, merece uma breve menção aqui porque o uso de drogas por via injetável expõe as mulheres ao risco de contraílo. Gestantes infectadas pelo HCV têm
2 a 8% de risco de transmissão do vírus para o recémnascido, mas o mecanismo e a cronologia da transmissão vertical ainda não foram plenamente compreendidos. Embora a
transmissão típica do HCV não seja sexual, também pode ser transmitido desse modo. Os portadores do vírus são orientados a sempre manter relações sexuais com proteção. As
mulheres que correm alto risco incluem aquelas com histórico de uso de drogas por via injetável, profissionais de saúde e aquelas que receberam transfusão de sangue antes de 1992
(Dhawan, 2015). A prevalência da infecção por HCV em gestantes é de aproximadamente 1%. A maioria das mulheres infectadas não sabe que tem o HCV porque não está clinicamente
doente. A transmissão perinatal do HCV é relativamente rara, exceto em mulheres imunocomprometidas (p. ex., portadoras de HIV/AIDS). O diagnóstico oportuno da infecção por HIV
e por HCV é crucial para iniciar o tratamento, com a melhor opção sendo o tratamento da infecção por HCV antes da gravidez (Snijdewind et al., 2015).
As infecções pelos vírus da hepatite ainda são um importante desafio de saúde pública. Esses vírus acometem desde recémnascidos até os adultos mais velhos. Assim, enfermeiros
de todas as disciplinas encontram pacientes infectados por vírus da hepatite. Como tal, os enfermeiros têm uma oportunidade única de prevenir novas infecções por meio de educação
dos pacientes e melhora dos desfechos dos indivíduos já infectados.
DOENÇA CAUSADA PELO VÍRUS ZIKA
O vírus Zika é transmitido aos seres humanos basicamente pela picada de um mosquito infectado do gênero Aedes. Os sinais/sintomas mais comuns da infecção pelo vírus Zika são
febre, erupção cutânea, cefaleia, dor óssea, dor à compressão das articulações e conjuntivite. Tipicamente, o acometimento é brando e os sinais/sintomas duram de alguns dias a 1
semana após a picada do mosquito. Até 80% das pessoas infectadas pelo vírus não apresentam sinais/sintomas (CDC, 2016). O vírus é encontrado no Caribe, bem como em partes das
Américas Central e do Sul. Há relatos de que o vírus se propagou por meio de transfusões de sangue, contato sexual, além de poder ser transmitido da gestante para seu feto. Tem sido
ligado a um defeito congênito grave denominado microcefalia. O CDC, a OMS e outras organizações científicas estão trabalhando para compreender esse possível vínculo.
Em 2016, a OMS declarou a infecção pelo vírus Zika uma emergência de saúde pública de interesse internacional. O CDC preconiza a abstinência de contato sexual (oral, anal ou
vaginal) com pessoas que tenham viajado para regiões com infecções ativas. As gestantes também são desencorajadas a viajar para regiões com infecções ativas (2016). Até o momento
da publicação deste livro, não há vacina para prevenir a infecção pelo vírus Zika nem medicação para tratar a infecção por esse vírus. As medidas de prevenção incluem material de
construção de melhor qualidade, uso de repelentes, uso de blusas com mangas compridas e calças compridas, uso regular de ar condicionado, uso de telas antiinseto (mosquiteiro) nas
janelas, evitar viajar para locais infestados por mosquitos e esforços em níveis estadual e municipal para controle do mosquito.
ECTOPARASITOSES
Os ectoparasitas são uma causa comum de erupção cutânea e prurido em todo o mundo, acometendo pessoas de todas as idades, etnias e grupos socioeconômicos. Habitações
aglomeradas, viagens internacionais, imigração, atraso no diagnóstico e no tratamento e orientação insatisfatória do público contribuem para a prevalência de ectoparasitas tanto em
nações industrializadas quanto não industrializadas. Cerca de 300 milhões de casos de ectoparasitas são notificados em todo o mundo a cada ano (CDC, 2015g). Essas infecções
incluem escabiose e pediculose pubiana. Como esses parasitas são facilmente transmitidos de uma pessoa para outra durante a intimidade sexual, as pacientes devem ser examinadas
cuidadosamente ao receberem cuidados para outras DST/IST.
A escabiose é uma dermatite intensamente pruriginosa causada por um ácaro. Estimase que a prevalência global seja de aproximadamente 100 milhões de casos a cada ano (Monsel
& Chosidow, 2015). De modo geral, a transmissão ocorre por transmissão pele a pele. A fêmea do ácaro se refugia sob a pele e deposita seus ovos, que eclodem. As lesões começam
como uma pequena pápula que se torna vermelha, erodida e, às vezes, forma crostas. O diagnóstico se fundamenta na anamnese e no achado de sulcos lineares nos espaços interdigitais
das mãos, nas pregas dos cotovelos, nas axilas, nas nádegas e na genitália (Mutasim, 2015). Pode ocorrer infestação agressiva em indivíduos imunodeprimidos debilitados ou
desnutridos, mas as pessoas saudáveis não costumam sofrer sequelas. O tratamento da escabiose inclui agentes escabicidas tópicos como permetrina ou benzoato de benzila, um agente
escabicida oral como ivermectina e um antibiótico se houver infecção secundária.
Os piolhos são insetos parasitas que podem ser encontrados na cabeça, no corpo ou na região púbica das pessoas. Os pacientes com pediculose púbica geralmente procuram
tratamento por causa do prurido, por causa da erupção cutânea causada pela irritação da pele consequente à coçadura ou porque percebem piolhos ou lêndeas em seus pelos pubianos,
pelos axilares, pelos do abdome e da coxa, e às vezes, nas sobrancelhas, nos cílios e na barba. A infestação geralmente é assintomática até depois de 1 semana ou perto disso, quando as
picadas causam prurido e a coçadura resulta em infecções secundárias (Figura 5.9). O diagnóstico se baseia na história e no achado de lêndeas (ovos amarelos pequenos, brilhantes e
ovais, semelhantes a gotas de orvalho) presas nos pelos ou piolhos (inseto amarelado, oval e sem asas) (Guenther & Maguiness, 2015).
O tratamento tem dois aspectos: fármacos e medidas de controle ambiental. Os fármacos usados incluem agentes pediculicidas tópicos como xampus de permetrina e agentes orais
como ivermectina. As roupas de cama e o vestuário devem ser lavados com água quente e secados com ar quente na secadora; realizar limpeza a seco ou colocar as roupas em sacos
plásticos e selálos durante 2 semanas para descontaminálas. Os parceiros sexuais devem ser igualmente tratados, bem como os membros da família que vivem em contato próximo
com a pessoa infectada.
FIGURA 5.9 Pediculose pubiana. Um pequeno piolho vivo marrom é visto na base dos pelos (seta). (De Goodheart, H. [2009]. Goodheart’s photoguide of common skin disorders.
Philadelphia, PA: lippincott Williams & Wilkins.)
O cuidado de enfermagem à mulher com pediculose ou escabiose envolve uma abordagem de três partes: erradicar a infestação com medicamentos, retirar as lêndeas e evitar a
propagação ou a recorrência por meio do manejo ambiental. O CDC recomenda regimes de piretrinas e permetrinas. Com frequência, também é adicionada ivermectina por via oral. Os
profissionais de enfermagem devem orientar os pacientes a respeito desses produtos (Diretrizes de ensino 5.5). Os profissionais de enfermagem podem seguir essas diretrizes para
prevenir a infestação das unidades de saúde.
Diretrizes de ensino 5.5
Tratamento e minimização da disseminação da escabiose e da pediculose pubiana
• Usar o medicamento de acordo com as instruções do médico
• Remover as lêndeas com um pente de dentes finos
• Não compartilhar objetos de uso pessoal com outras pessoas nem aceitar objetos de uso pessoal de terceiros
• Lavar objetos, roupas e roupas de cama com água quente
• Aspirar meticulosamente os tapetes para evitar a recorrência da infestação
VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA
Muitos avanços já foram feitos na prevenção da transmissão do vírus da imunodeficiência humana (HIV) e no manejo de HIV/AIDS desde que o vírus foi descoberto no início da
década de 1980. Desde essa época, a AIDS já provocou a morte de mais de 40 milhões de pessoas (WHO, 2015b). Uma das descobertas mais importantes foi o tratamento
antirretroviral, que consegue reduzir a replicação do vírus e os sinais/sintomas, tornando a AIDS uma condição crônica em vez de uma doença rapidamente terminal. Apesar dos
avanços, a infecção pelo HIV ainda é um desafio importante em termos de saúde pública.
Globalmente, cerca de 35 milhões de pessoas estão infectadas ou convivem com o HIV, das quais 22,5 milhões estão na África Subsaariana. Além disso, estimase que 2,5 milhões
de crianças em todo o mundo vivam com o HIV; destas, 2,3 milhões estão na África Subsaariana (WHO, 2015b).
Nos EUA estimase que 1,2 milhão de pessoas estejam atualmente infectadas pelo HIV e quase 1 em cada 6 não saiba disso. A cada ano estimase que ocorram 50 mil novos casos
de infecção pelo HIV. Tipicamente, a cada 10 minutos 1 pessoa nos EUA é infectada pelo HIV (CDC, 2015q). Em termos de epidemiologia, taxa de mortalidade e aspectos sociais,
legais, éticos e políticos, o HIV/AIDS é uma crise de saúde pública e tem gerado mais preocupação do que qualquer outra doença infecciosa na história da medicina moderna. O curso
da infecção pelo HIV é caracterizado principalmente pela latência. Infelizmente, acaba ocorrendo imunossupressão profunda e a doença é letal. Mais de 650 mil pessoas já morreram de
AIDS nos EUA desde a década de 1980 (CDC, 2015q).
O HIV/AIDS continua superando o avanço científico, o investimento de recursos, a prevenção e os esforços de tratamento nos últimos 25 anos. O impacto econômico do HIV/AIDS
apresenta enormes desafios. Enquanto a causalidade entre pobreza e HIV não é clara, é certo que a infecção pelo HIV arrasta famílias e indivíduos para a pobreza. Embora muitas
doenças criem despesas significativas que podem resultar em pobreza, o HIV/AIDS está entre as piores, porque suas vítimas ficam doentes por um período prolongado de tempo antes
de morrer e muitas dessas pessoas são chefes de família assalariados. De acordo com a OMS, quanto mais baixa a condição socioeconômica da pessoa, piores são os desfechos de
saúde dela. Uma intervenção para corrigir essa constatação consiste em ajudar o desenvolvimento vocacional e o empoderamento econômico das mulheres, visto que a doença persiste
por anos (Conyers et al., 2015). Até o momento, não há cura para essa infecção viral fatal.
O HIV é transmitido pelo contato sexual íntimo, pelo compartilhamento de agulhas para uso de drogas ilícitas injetáveis, da mãe para o feto durante a gestação ou pela amamentação
e pela transfusão de sangue ou hemoderivados. Os homens que fazem sexo com homens representam a maior proporção de novas infecções, seguidos por homens e mulheres infectados
por meio de relações heterossexuais (CDC, 2015q). Entre os grupos raciais/étnicos nos EUA, os afroamericanos correm o maior risco de contrair HIV/AIDS e representam 45% dos
novos casos de infecção pelo HIV. A comunidade afroamericana continua sendo assolada pela infecção pelo HIV/AIDS, apesar dos grandes investimentos realizados para reduzir a
incidência nesse grupo. Os esforços para produzir programas culturalmente apropriados e efetivos continuam frustrando as autoridades, e o HIV/AIDS tornouse uma pandemia nesse
grupo racial/étnico. É necessária maior conscientização do HIV/AIDS por meio de campanhas usando a mídia para ocorrer redução dos comportamentos de risco (Nunn et al., 2015).
O número de mulheres infectadas pelo HIV e AIDS tem aumentado progressivamente em todo o mundo. Atualmente, as mulheres representam um em cada quatro (25%) novos
casos de infecção por HIV nos EUA. As mulheres afroamericanas representam a maioria das mulheres com infecção por HIV e dos novos casos de infecção. A maioria das mulheres é
infectada durante relação heterossexual (Kaiser Family Foundation, 2015). A OMS estima que mais de 25 milhões de mulheres vivam com HIV/AIDS em todo o mundo, representando
aproximadamente 50% dos 40 milhões de adultos com HIV/AIDS (CDC, 2015r). O HIV acomete desproporcionalmente mulheres afroamericanas e hispânicas: juntas, elas
representam menos de 25% de todas as mulheres dos EUA, mas representam mais de 82% dos casos de AIDS em mulheres (CDC, 2015r). Nos EUA, as mulheres afroamericanas
sofrem desproporcionalmente com a epidemia pelo HIV/AIDS, uma vez que contraem novas infecções pelo HIV cerca de 15 vezes mais que as mulheres brancas (CDC, 2015r). As
mulheres são especialmente vulneráveis à transmissão heterossexual do HIV, em decorrência da substancial exposição da mucosa ao líquido seminal. Este fato biológico amplifica o
risco de transmissão do HIV quando combinado à alta prevalência de sexo não consensual, sexo sem proteção (preservativo) e comportamentos desconhecidos e/ou de alto risco de seus
parceiros (CDC, 2015r). Portanto, a infecção pelo HIV/AIDS está incidindo sobretudo em mulheres jovens. Essa mudança acabará aumentando a incidência de HIV, porque as mulheres
disseminam o vírus não apenas pelo contato sexual, mas também pela amamentação e pelo parto.
A AIDS é um comprometimento da função imunológica causada pelo HIV, um retrovírus. Para que a pessoa seja infectada tem de ser transferida uma carga de vírus razoável. O
vírus não consegue sobreviver fora do corpo humano e não é transmitido por lágrimas ou suor. A infecção pelo HIV está associada a ativação continuada do sistema imune e isso
explica a depleção dos linfócitos CD4 e a evolução para AIDS. A pessoa infectada desenvolve infecções oportunistas ou neoplasias malignas que se tornam fatais. A progressão da
infecção pelo HIV para AIDS ocorre em média 11 anos após a infecção (Bharaj & Chahar, 2015). As modalidades de transmissão do HIV incluem:
• Relação sexual com parceiro infectado sem uso de preservativos
• Transfusões de sangue de doadores infectados ou transplante de órgãos de doadores infectados
• Picadas de agulha contendo sangue contaminado (acidente de trabalho) ou compartilhamento de agulhas com pessoas infectadas
• Transmissão vertical da mãe para o feto durante a gravidez, durante o parto ou durante o aleitamento.
Já se passaram mais de 30 anos desde que o HIV/AIDS começou a afetar nossa sociedade. Desde então, 50 milhões de pessoas foram infectadas pelo vírus, sendo que a AIDS é a
quarta principal causa de morte no mundo (CDC, 2015q). As taxas de morbidade e mortalidade do HIV continuam chamando a atenção da comunidade médica. Embora tenha havido
melhora drástica tanto na morbidade quanto na mortalidade com o uso da terapia antirretroviral altamente ativa (HAART), a incidência de infecção pelo HIV continua aumentando.
Anote!
Mais de 90% dos indivíduos infectados pelo HIV em todo o mundo não sabem que estão infectados e, portanto, correm o risco de transmitilo por via sexual a outros (CDC, 2015q).
Os efeitos fetais e neonatais de contrair o HIV por meio da transmissão perinatal são devastadores e, por fim, fatais. A mãe infectada pode transmitir o HIV ao recémnascido antes
ou durante o parto e pela amamentação. A maioria dos casos de transmissão do HIV de mãe para filho, a causa de mais de 90% das infecções pediátricas adquiridas em todo o mundo,
ocorre no final da gestação ou durante o parto. As taxas de transmissão variam de 25% em populações não amamentadas e não tratadas de países industrializados a cerca de 40% entre
as populações amamentadas e não tratadas de países em desenvolvimento (Castel, Magnus, & Greenberg, 2015). Apesar da redução drástica na transmissão perinatal, centenas de fetos
serão infectados pelo HIV no nascimento.
HIV e adolescentes
Os efeitos do HIV e da AIDS em adolescentes e adultos jovens é motivo de preocupação crescente, mas é difícil obter dados acurados devido às diferentes maneiras como essa
população procura serviços de saúde. Alguns adolescentes continuam sendo atendidos por pediatras e serviços para adultos, mas muitos não têm acesso aos cuidados de saúde. As
infecções pelo HIV estão aumentando em adolescentes e adultos jovens com idades entre 13 e 24 anos. Cerca de 25% dos casos de DST/IST notificados nos EUA a cada ano são em
adolescentes. Nos EUA, mais de 2 milhões de crianças e adolescentes (10 a 19 anos de idade) estão infectados pelo HIV e muitos não recebem os cuidados e o suporte que precisam
para conservar sua saúde. Isso é particularmente importante porque o risco de transmissão do HIV aumenta substancialmente se um dos parceiros tiver uma DST/IST (WHO, 2015c).
Nos EUA, pelo menos um adolescente é infectado pelo HIV a cada hora. Como leva em média 11 anos para os sinais e sintomas da AIDS aparecerem quando a infecção pelo HIV não é
tratada, é óbvio que muitos adultos com AIDS foram infectados na adolescência.
Os enfermeiros podem desempenhar um papel fundamental na prevenção e no controle da infecção pelo HIV, promovendo aconselhamento para redução de risco e oferecendo testes
de HIV de rotina para adolescentes. A maioria dos jovens sexualmente ativos não acredita que corra risco de contrair o HIV e nunca foi testada. A obtenção da história sexual e a
criação de uma atmosfera que promova orientação imparcial do risco são componenteschave do atendimento ao adolescente. Tendo em vista o número cada vez maior de pessoas com
HIV/AIDS e as oportunidades perdidas para o teste de HIV, o CDC (2015q) recomenda o teste de HIV universal e de rotina para todas as mulheres com 13 a 64 anos de idade atendidas
em unidades de saúde.
Manifestações clínicas
A infecção pelo HIV passa por três fases distintas: a soroconversão aguda, a infecção assintomática e, em seguida, a progressão para AIDS. Quando uma pessoa é inicialmente
infectada pelo HIV, existe um período de infecção primária aguda que dura cerca de 3 semanas. A carga viral cai rapidamente, porque o sistema imunológico do hospedeiro consegue
combater essa infecção inicial. O aparecimento da infecção primária aguda ocorre 2 a 6 semanas após a exposição. Os sinais e sintomas incluem febre, faringite, erupção cutânea e
mialgia. A maioria das pessoas não associa essa condição gripal à infecção pelo HIV. Após a exposição inicial, há um período de 3 a 12 meses antes da soroconversão. A pessoa é
considerada contagiosa durante esse período.
Após a fase aguda, a pessoa infectada tornase assintomática, mas o HIV começa a reproduzirse. Embora não haja sinais nem sintomas, o sistema imune é comprometido. Uma
pessoa normal tem contagem de 450 a 1.200 células T CD4 por microlitro. Quando a contagem de células T CD4 alcança 200 ou menos, considerase que a pessoa tenha AIDS. O
sistema imunológico começa uma batalha constante contra essa invasão viral, mas com o tempo perde terreno. Os vírus se localizam nas células T, e estas conseguem armazenar várias
fases do vírus. O aparecimento e a gravidade da doença se correlacionam diretamente com a carga viral: quanto mais HIV houver, pior a pessoa se sente. Conforme se desenvolve a
imunossupressão profunda, ocorrerá infecção oportunista, qualificando a pessoa para o diagnóstico de AIDS. A partir de então, a AIDS acaba se desenvolvendo, em algum momento,
em todos os HIVpositivos.
Atualmente a OMS recomenda a introdução precoce da terapia antirretroviral (ART) para adultos e adolescentes, a administração de fármacos antirretrovirais (ARV) mais
convenientes para os pacientes e o uso prolongado de antirretrovirais para reduzir o risco de transmissão vertical do HIV. Os ARV devem ser iniciados quando a contagem de células
CD4 estiver abaixo de 350 por microlitro. Recomendações adicionais incluem a iniciação da terapia antirretroviral (TAR) seja qual for a contagem de linfócitos CD4 ou estágio clínico
quando a pessoa apresentar coinfecção ativa por tuberculose ou hepatite B com hepatopatia grave, gestantes com cônjuge sorodiscordante e crianças com menos de 5 anos de idade
(Bennett & Gilroy, 2015).
Diagnóstico
Existem vários tipos de imunoensaios aprovados para detectar HIV. Esses imunoensaios detectam antígenos, anticorpos ou RNA. O ensaio imunossorvente ligado a enzima (ELISA) é
usado como testes de rastreamento inicial para determinar a existência do HIV. Quando o resultado do ELISA é positivo, um teste confirmatório (Western blot) é realizado. Além disso,
existem vários testes rápidos baseados no uso de anticorpos.1 Atualmente são utilizadas duas categorias de métodos de rastreamento: testes rápidos e exames confirmatórios. Os testes
rápidos possibilitam o rastreamento no local de atendimento e resultados na hora. Os cinco testes rápidos para detectar anticorpos antiHIV aprovados pela FDA são: (1) OraQuick
Advance® (usa sangue total); (2) UniGold Recombigen® (usa sangue total); (3) Reveal G3 Rapid® (usa soro ou plasma); (4) Multispot® (usa soro ou plasma); e (5) Clearview Stat
Pak® e Clearview StatPak Complete® (usa sangue total). Um resultado positivo é acompanhado por um dos dois testes confirmatórios: Western blot (WB) ou imunofluorescência
(IFA) (Shafiee et al., 2015).
Os testes rápidos para HIV produzem resultados em 10 a 20 minutos e também diminuem o risco do trabalhador de saúde da exposição ocupacional, eliminando a necessidade de
coletar o sangue. A iniciativa Advancing HIV Prevention do CDC, lançada em 2003, fez com que o aumento da realização de testes fosse uma prioridade nacional. O CDC recomenda o
rastreamento de todos os habitantes com 13 a 64 anos de idade em todas as unidades de saúde (CDC, 2015r).
Menos da metade dos adultos com idades entre 18 e 64 anos já foi submetida a um teste de HIV, de acordo com o CDC. A agência estima que 25% dos milhões de indivíduos
infectados pelo HIV nos EUA não saibam que estão infectados. Isso significa que eles não estão recebendo o tratamento que pode prolongar suas vidas e podem estar inadvertidamente
infectando outras pessoas. Além disso, mesmo quando a pessoa faz o teste, 1 em cada 3 não volta para buscar seus resultados depois de um período de espera de 2 semanas. O CDC
espera que a nova abordagem de “consulta única” para a realização de testes de HIV mude esse padrão.
As pessoas que estão infectadas pelo HIV mas não o sabem não podem tirar proveito do tratamento que consegue mantêlas saudáveis e prolongar sua vida, nem podem proteger
seu parceiro sexual ou colegas que usam drogas ilícitas de serem infectados. O indivíduo saber se é positivo ou negativo para HIV confere grandes benefícios na tomada de decisões
saudáveis.
Testes rápidos de HIV nos pontos de atendimento estão se tornando poderosas ferramentas de rastreamento em vários ambientes de cuidados de saúde, já que oferecem não apenas a
oportunidade de rastrear o HIV, mas também de orientar a pessoa em relação a fatores de risco e discutir os resultados de seus exames, tudo em uma consulta. A maioria usa uma gota
de sangue obtida por punção digital ou um cotonete com saliva coletada da boca. Os resultados estão tipicamente prontos em 10 a 20 minutos. Se o teste de confirmação (WB ou IFA)
for positivo, a pessoa está infectada pelo HIV e é capaz de transmitir o vírus a outras pessoas. Anticorpos antiHIV são detectáveis em pelo menos 95% das pessoas nos primeiros 3
meses após a infecção (CDC, 2015q).
Conduta terapêutica
Os objetivos do tratamento farmacológico da infecção pelo HIV/AIDS são os seguintes:
• Diminuir a carga viral abaixo do nível de detecção
• Restaurar a capacidade do organismo de combater patógenos
• Melhorar a qualidade de vida da paciente
• Reduzir as taxas de morbidade e mortalidade pelo HIV (Bennett & Gilroy, 2015).
A terapia antirretroviral altamente ativa (HAART), que reúne pelo menos três fármacos antirretrovirais, melhorou dramaticamente o prognóstico do HIV/AIDS. Muitas vezes,
iniciase a HAART logo após a infecção, quando o sistema imunológico da pessoa ainda está intacto. O padrão atual da HAART é uma combinação de três agentes, mas alguns
pacientes podem receber um quarto ou quinto agente.
A terapia atual para evitar a transmissão do HIV para o recémnascido inclui um esquema de três partes:
1. A mãe utiliza um agente antirretroviral oral da 14a à 34a semana de gestação, que é continuado durante toda a gestação
2. Durante o trabalho de parto, administrase um agente antirretroviral por via intravenosa até ocorrer o parto
3. Administrase um xarope antirretroviral ao recémnascido nas primeiras 12 horas após o parto.
Os drásticos avanços recentes do tratamento antirretroviral transformaram uma doença que costumava ser uma sentença de morte em uma condição crônica e administrável para
indivíduos que vivem em países nos quais a terapia antirretroviral está disponível. No entanto, apesar dos avanços no tratamento, apenas uma minoria dos norteamericanos HIV
positivos que tomam medicamentos antirretrovirais estão sendo beneficiados porque eles não aderem ao regime prescrito. A terapia antirretroviral bemsucedida exige adesão quase
perfeita a um complexo esquema de medicação; a adesão não perfeita leva à resistência aos fármacos (King et al., 2015).
A adesão é difícil, por causa da complexidade do esquema e da duração vitalícia do tratamento. Um esquema antirretroviral típico é constituído por três ou mais medicamentos
ingeridos 2 vezes/dia. A adesão é ainda mais difícil por causa dos efeitos colaterais desagradáveis, como náuseas e diarreia. As mulheres no início da gestação já sentem estes efeitos e
a medicação antirretroviral só os agrava.
Conduta de enfermagem
O enfermeiro pode desempenhar um papel importante no cuidado de mulheres soropositivas ao ajudálas a aceitar a possibilidade de uma vida útil encurtada, a lidar com as reações dos
outros a uma doença estigmatizante e a desenvolver estratégias para manter sua saúde física e emocional. São extremamente importantes a orientação sobre as mudanças
comportamentais que a pessoa pode fazer para evitar a propagação do HIV aos outros e o encaminhamento para os recursos comunitários adequados, como programa HIV/AIDS,
programas de drogadição, serviços de saúde mental e serviço social. Veja os aspectos gerais da mulher HIVpositiva no boxe Plano de cuidados de enfermagem 5.1.
Orientações sobre o tratamento medicamentoso
O objetivo da terapia antirretroviral é suprimir a replicação viral, de modo que a carga viral se torne indetectável por meio de exames complementares. Isso é feito para preservar a
função imunológica e adiar a progressão da doença. Contudo, o tratamento é um desafio, em decorrência dos efeitos colaterais de náuseas e vômitos, diarreia, alteração do paladar,
anorexia, flatulência, constipação intestinal, cefaleia, anemia e fadiga. Embora nem todos apresentem a totalidade dos efeitos colaterais, a maioria das pessoas tem alguns. As pesquisas
atuais não documentaram a segurança a longo prazo da exposição do feto aos agentes antirretrovirais durante a gestação, mas a coleta de dados está em andamento.
Ajude a reduzir o desenvolvimento de farmacorresistência e, portanto, falhas no tratamento por meio da identificação das barreiras à adesão; identificar essas barreiras pode ajudar a
mulher a superálas. Algumas barreiras comuns existem porque a mulher:
• Não compreende a relação entre a resistência aos fármacos e a não adesão ao tratamento
• Tem medo de revelar que é HIVpositiva ao ser vista tomando a medicação
• Ainda não aceitou emocionalmente o diagnóstico de infecção pelo HIV
• Não compreende o esquema posológico ou horário
• Sofre efeitos colaterais desagradáveis frequentes
• Sentese ansiosa ou deprimida (Dubin, 2015).
Oriente a mulher em relação à terapia medicamentosa prescrita e enfatize que é muito importante realizar o tratamento conforme prescrito. Ofereça sugestões sobre como lidar com a
anorexia, as náuseas e os vômitos ao:
• Não ingerir alimentos sólidos e líquidos juntos
• Comer creamcrackers ao levantar
• Fazer seis pequenas refeições por dia
Plano de cuidados de enfermagem 5.1
Visão geral de uma mulher HIVpositiva
Annie, uma mulher afroamericana de 28 anos de idade, é HIVpositiva. Ela contraiu o HIV por meio do contato sexual desprotegido. Ela não tem tomado
corretamente seus medicamentos antirretrovirais e chegou hoje relatando que está cansada e que não se sente bem.
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: risco de infecção relacionada com a condição HIVpositiva e adesão inconsistente à terapia antirretroviral
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente ficará sem infecções oportunistas, como evidenciado pela temperatura dentro de parâmetros aceitáveis e pela ausência de sinais e sintomas de
infecções oportunistas.
Intervenções: minimizar o risco de infecções oportunistas
• Determinar a contagem de células CD4 e a carga viral para determinar a progressão da doença (contagem de células CD4 < 500/ ℓ e carga viral > 10.000
cópias/ℓ= aumento do risco de infecções oportunistas)
• Avaliar o hemograma para identificar infecções (o achado de > 10.000 leucócitos/mm3 é sugestivo de infecção)
• Examinar a cavidade oral e as mucosas à procura de placas brancas dolorosas na boca para identificar possível infecção fúngica
• Ensinar a paciente a monitorar os sinais e sintomas gerais de infecção, como febre, fraqueza e fadiga, para assegurar a identificação precoce
• Fornecer informações explicando a importância de evitar contato com pessoas com infecções, quando possível, para minimizar o risco de exposição a
infecções
• Orientar em relação à importância de comparecer às suas consultas para que a contagem das células CD4 e a carga viral possam ser monitoradas para
alertar o médico sobre o estado de seu sistema imunológico
• Ensinála a reduzir a exposição a infecções por:
• Higienização meticulosa das mãos
• Cozinhar bem carnes, ovos e vegetais
• Usar calçados em todos os momentos, especialmente quando ao ar livre
• Incentivar um equilíbrio de descanso com as atividades ao longo do dia para evitar esforço excessivo
• Reforçar a importância de manter a terapia antirretroviral prescrita para evitar a progressão da doença e resistência
• Se necessário, encaminhar Annie a um nutricionista para ajudála a entender o que constitui uma dieta bem equilibrada, com suplementos para promover a
saúde e evitar infecções
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: déficit de conhecimento relacionado com a infecção pelo HIV e possíveis complicações
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente demonstrará maior compreensão da infecção pelo HIV, conforme evidenciado por verbalizar práticas de cuidados de saúde apropriadas e aderir ao
tratamento e reduzir seu risco de exposição e de progressão da doença.
Intervenções: fornecer orientações à paciente
• Avaliar a compreensão da infecção pelo HIV e seu tratamento, para fornecer uma base para as orientações
• Estabelecer uma relação de confiança e ser honesta com Annie. Incentivála a falar sobre seus medos e o impacto da doença, a fim de aliviar suas
preocupações. Incentivála a discutir as razões para sua não adesão ao tratamento
• Adotar uma abordagem imparcial, acessível, confidencial e culturalmente sensível, para promover a autoestima de Annie e fazêla sentirse uma prioridade
• Explicar as medidas, incluindo práticas de sexo seguro e opções de controle de natalidade, a fim de evitar a transmissão da doença. Determinar a vontade da
paciente de praticar sexo seguro para proteger os outros, para determinar a necessidade de mais orientações
• Discutir os sinais e sintomas de progressão da doença e possíveis infecções oportunistas, a fim de promover a detecção precoce para uma intervenção rápida
• Conversar com a paciente sobre os recursos da comunidade disponíveis e fazer os encaminhamentos adequados, conforme necessário, para fornecer
orientação e apoio adicionais
• Incentivar Annie a comparecer às consultas agendadas, a fim de assegurar o acompanhamento e possibilitar a detecção precoce de potenciais problemas
• Utilizar suplementos hiperproteicos para fornecer proteínas e calorias de modo rápido e fácil
• Ingerir alimentos apetitosos (p. ex., sorvete) quando outros não o forem.
Promoção da adesão ao tratamento
Aderir ao tratamento medicamentoso é um enorme desafio para muitas pessoas infectadas pelo HIV. A adesão tornase difícil quando os mesmos comprimidos que supostamente devem
impedir a doença fazem com que a pessoa fique doente. Náuseas e diarreia são apenas dois dos possíveis efeitos colaterais. Muitas vezes, é difícil melhorar a qualidade de vida da
paciente quando tanta medicação oral é necessária. A associação de medicamentos é um desafio para muitas pessoas e manter a adesão ao tratamento ao longo dos anos é extremamente
difícil. Ressalte a importância de seguir a terapia antirretroviral prescrita, explicando que ela ajuda a evitar a replicação dos retrovírus e a posterior progressão da doença e também a
diminuir o risco de transmissão perinatal do HIV. Além disso, forneça materiais escritos que descrevam dieta, exercícios, medicamentos e sinais e sintomas de complicações e
infecções oportunistas. Reforce essas informações a cada consulta.
Prevenção da infecção pelo HIV
Apesar das informações disponíveis em relação à infecção pelo HIV e AIDS, há ainda grande ansiedade e medo do desconhecido. É vital assumir um papel de liderança em orientar a
população sobre os comportamentos de risco na luta para controlar essa doença. O núcleo da prevenção do HIV é reduzir o número de contatos sexuais e utilizar preservativos. São
bons conselhos para muitas mulheres, mas algumas simplesmente não têm poder nem escolhas econômicas e sociais ou controle sobre sua vida para colocar esses conselhos em prática.
Reconheça esse fato e aborde os fatores que dão às mulheres mais controle sobre sua vida, fornecendo orientação antecipatória, dando amplas oportunidades para a prática de técnicas
de negociação e habilidades de recusa em um ambiente seguro, e incentivando o uso de preservativos femininos para se proteger contra esse vírus mortal. A prevenção é essencial para
reverter as tendências atuais de infecção.
Prestação de cuidados durante a gestação e o parto
Devese oferecer orientação e pesquisa de infecção pelo HIV a todas as gestantes o mais cedo possível na gestação a fim de diagnosticar aquelas infectadas e para que o tratamento
possa ser iniciado mais precocemente. Uma vez que a gestante é identificada como HIVpositiva, ela deve ser informada sobre o risco de infecção perinatal. Evidências atuais indicam
que se não for instituída terapia antirretroviral, 25% das crianças nascidas de mães com HIV serão infectadas por este vírus (CDC, 2015q). No entanto, se a mulher receber a terapia
antirretroviral combinada durante a gestação, o risco de transmissão de HIV ao recémnascido cai para menos de 2% (Castel, Magnus, & Greenberg, 2015). Além disso, o HIV pode
ser transmitido ao lactente por meio da amamentação. Assim, todas as gestantes infectadas pelo HIV devem ser aconselhadas a evitar o aleitamento materno e a usar fórmula. A
infecção materna recente com HIV pode aumentar o risco de transmissão pela amamentação para o dobro de uma mulher com infecção anteriormente estabelecida, provavelmente como
resultado da alta carga viral associada à infecção recente (Koletzko, 2015).
Além disso, a mulher precisa de instruções sobre maneiras de melhorar o seu sistema imunológico, seguindo estas orientações durante a gestação:
• Dormir o suficiente todas as noites (7 a 9 horas)
• Evitar infecções (p. ex., ficar longe de multidões, realizar uma boa higiene das mãos)
• Diminuir o estresse em sua vida
• Consumir a cota adequada de proteínas e vitaminas
• Aumentar a ingestão de líquidos para 2 litros por dia para manterse hidratada
• Planejar períodos de descanso ao longo do dia para evitar a fadiga.
Conforme dito anteriormente, apesar da redução drástica na transmissão perinatal, centenas de fetos serão infectados pelo HIV no nascimento. O nascimento de cada criança
infectada é uma oportunidade perdida de prevenção. Para minimizar a transmissão perinatal do HIV, é essencial identificar a infecção pelo HIV na mulher, de preferência antes da
gestação; fornecer informações sobre a prevenção de doenças; e incentivar as mulheres infectadas a seguirem a terapia medicamentosa prescrita.
Fornecimento de encaminhamentos adequados
A mulher infectada pelo HIV pode ter dificuldades em lidar com as atividades normais da vida diária, já que ela tem menos energia e diminuição da resistência física. Ela pode ser
oprimida pelos encargos financeiros dos tratamentos médicos e farmacológicos (nos EUA),2 pelas respostas emocionais a uma condição com risco à vida e, se ela for gestante, pela
preocupação com o futuro de seu filho. É necessária uma abordagem de manejo de caso para lidar com a complexidade de suas necessidades durante esse período. Seja um ouvinte
compreensivo e faça os encaminhamentos adequados a serviços de nutrição, aconselhamento, cuidados com a casa, cuidado espiritual e grupos de apoio locais. Muitas organizações
comunitárias já desenvolveram programas para resolver os inúmeros problemas relacionados com o HIV/AIDS. A Tabela 5.4 fornece um resumo dos efeitos perinatais das DST/IST
durante a gestação.
Tabela 5.4 Efeitos maternos e fetais das DST/IST.
RPM = ruptura prematura das membranas amnióticas; RCIU = retardo do
crescimento intrauterino. Adaptada de Centers for Disease Control and
prevention [CDC]. (20145j). STD & pregnancy – CDC fact sheet. Retirado
de http://www.cdc.gov/std/pregnancy/stdfactpregnancy.htm; King, T. L.,
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PREVENÇÃO DE DOENÇAS/INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS
A orientação sobre práticas de sexo seguro e o consequente aumento no uso de preservativos podem desempenhar um papel vital na redução das taxas de DST/IST em todo o mundo.
Claramente, o conhecimento e a prevenção são as melhores defesas contra as DST/IST. A prevenção e o controle das DST/IST estão baseados nos seguintes conceitos (American
College of Obstetricians & Gynecologists [ACOG], 2015; U.S. FDA, 2015):
1. Orientação e aconselhamento de pessoas que correm risco sobre o comportamento sexual mais seguro
2. Recomendação de imunização préexposição para prevenir hepatite B e HPV
3. Ensinar às pessoas que os preservativos de látex oferecem alguma proteção e reduzem o risco de infecção
4. Identificação dos indivíduos infectados assintomáticos e dos indivíduos sintomáticos que provavelmente não procurariam diagnóstico e tratamento
5. Diagnóstico e tratamento efetivos dos indivíduos infectados
6. Avaliação, tratamento e aconselhamento dos parceiros sexuais de pessoas com uma DST/IST.
Os profissionais de enfermagem desempenham um papel fundamental na identificação e na prevenção das DST/IST. Tratase de uma oportunidade única de orientar a população
sobre este grave problema de saúde pública, informando os métodos de transmissão e os sintomas associados a cada estado, seguindo as diretrizes de tratamento do CDC atualizadas e
oferecendo às suas pacientes medidas estratégicas de prevenção para reduzir a propagação de DST/IST. Os profissionais de enfermagem têm uma tarefa de enormes dimensões que
consiste em assegurar que todas as mulheres tenham bons conhecimentos de DST/IST por meio de informações sobre a transmissão, os sinais/sintomas, os fatores de risco, o potencial
de efeitos adversos, o rastreamento e as recomendações terapêuticas das DST/IST. De posse desse conhecimento, as mulheres podem tomar decisões plenamente informadas sobre a
aceitação do rastreamento e adesão ao tratamento e às orientações de acompanhamento.
Não é fácil discutir a prevenção das DST/IST quando globalmente se está falhando nisso. O conhecimento sobre como evitar cada via de transmissão existe, mas a incidência de
DST/IST continua subindo. Os desafios à prevenção das DST/IST incluem a falta de recursos e a dificuldade de mudar comportamentos que contribuem para a sua disseminação.
Independentemente dos fatores desafiadores envolvidos, os profissionais de enfermagem precisam continuar orientando e atendendo às necessidades de todas as mulheres para
promover a sua saúde sexual. O sucesso do tratamento e da prevenção das DST/IST é impossível sem orientação. Abordagens de orientação bemsucedidas incluem passar mensagens
claras e acuradas que sejam adequadas à idade e culturalmente sensíveis.
As estratégias de prevenção primária incluem a orientação de todas as mulheres, especialmente as adolescentes, em relação ao risco da atividade sexual precoce, ao número de
parceiros sexuais e às DST/IST. A abstinência sexual é o ideal, mas muitas vezes não é praticada e, portanto, deve ser incentivada a utilização de métodos contraceptivos de barreira
(preservativos) (ver Diretrizes de ensino 5.1).
A prevenção secundária envolve a necessidade de exames ginecológicos anuais com esfregaço de Papanicolaou para todas as mulheres sexualmente ativas, independentemente da
idade. Muitas mulheres com DST/IST são assintomáticas, por isso os exames de rastreamento regulares são fundamentais para a detecção precoce. Compreender a relação entre as
condições socioeconômicas e os padrões de autocuidado sexual e reprodutivo precários é importante na prevenção de doenças e estratégias de promoção da saúde.
Todo modo de prevenção bemsucedido demanda mudança de comportamento. O papel da enfermagem no ensino e na prestação de cuidados de saúde de qualidade é uma evidência
valiosa de que a chave para reduzir a propagação de DST/IST é a mudança de comportamento. O enfermeiro que trabalha nessas áreas de especialidade tem a responsabilidade de
orientar a si próprio, às suas pacientes e familiares e à comunidade sobre as DST/IST e fornecer cuidados compassivos e solidários às pacientes. Algumas estratégias que os
enfermeiros podem usar para evitar a propagação de DST/IST estão detalhadas no Boxe 5.4.
Modificação do comportamento
Pesquisas confirmam que a mudança de comportamento realmente resulta em diminuição de novos casos de DST/IST, mas precisa abranger todos os níveis – governos, organizações
comunitárias, escolas, igrejas, pais e pessoas físicas (WHO, 2015d). A educação precisa abordar os seguintes tópicos: modos de prevenção da infecção; promoção do uso de
preservativo; direcionamento para as populações vulneráveis como adolescentes, profissionais do sexo, homens que fazem sexo com homens e usuários de drogas injetáveis; modos de
prevenção da transmissão das infecções; sinais/sintomas das DST/IST e tratamento. Nesse ponto da epidemia de DST/IST, o enfermeiro não tem tempo para debater os méritos
relativos da prevenção versus tratamento: ambos são subutilizados e subfinanciados, e um leva ao outro. Mas abordar seriamente a prevenção e focar nas estratégias descritas
anteriormente trará uma mudança positiva por parte de todos.
BOXE 5.4
ESTRATÉGIAS DE ENFERMAGEM SELECIONADAS PARA EVITAR A PROPAGAÇÃO DE INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS
• Fornecer informações básicas sobre a transmissão das DST/IST
• Delinear comportamentos sexuais mais seguros para as pessoas em situação de risco de DST/IST
• Encaminhar as pacientes para os recursos da comunidade apropriados, a fim de reduzir o risco
• Fazer rastreamento de pessoas assintomáticas à procura de DST/IST
• Identificar barreiras ao teste de DST/IST e removêlas
• Oferecer imunização préexposição para DST/IST passível de prevenção por vacina
• Falar com sinceridade sobre os resultados dos testes e opções disponíveis
• Aconselhar e tratar os parceiros sexuais das pessoas com DST/IST
• Orientar os administradores escolares, pais e adolescentes em relação às DST/IST
• Apoiar atividades de desenvolvimento de jovens para reduzir seus comportamentos sexuais de risco
• Promover o uso de métodos de barreira (preservativos, diafragma) para evitar a propagação de DST/IST
• Ajudar as pacientes a adquirir habilidades para negociar o sexo seguro
• Discutir a redução do número de parceiros sexuais para reduzir o risco
Considere isto
Eu estava me lembrando de meus tempos de faculdade, em que vivia despreocupada, quando o mais importante era ter uma vida ativa com meus colegas e sair
com os rapazes. Fui criada por pais muito rígidos e nunca fui autorizada a namorar em casa. Quando fui morar sozinha para fazer faculdade em outro estado,
percebi que não precisava mais seguir os conselhos e regras desatualizados dos meus pais. De repente, meus pensamentos do passado foram interrompidos pelo
psicólogo perguntando sobre o que eu sentia em relação ao fato de ser HIVpositiva. O que havia para dizer nesse momento? Eu me diverti bastante, mas nunca
imaginei que isso me assombraria pelo resto da vida, que agora será consideravelmente menor. Eu só queria poder voltar no tempo e ouvir os conselhos dos meus
pais, que de algum modo agora não me parecem mais tão desatualizados.
Reflexões: Todo mundo já lembrou de dias melhores e se perguntou como a vida teria mudado se tivéssemos feito escolhas melhores ou tomado decisões
diferentes. É uma pena que às vezes só tenhamos uma chance de tomar boas decisões. O que você teria mudado em sua vida se recebesse uma segunda
chance? Há alguma mudança que você possa fazer para ter um presente melhor?
Contracepção
A disseminação de DST/IST pode ser evitada pelo acesso a contraceptivos de barreira seguros, eficientes e apropriados. O uso correto e consistente dos preservativos é essencial na
prevenção da disseminação de DST/IST. Os profissionais de enfermagem podem desempenhar um papel importante em ajudar as mulheres a identificar o risco de DST/IST e a adotar
medidas preventivas por meio da dupla proteção que os contraceptivos oferecem. Tradicionalmente, o planejamento familiar e os serviços de IST são entidades separadas. Os serviços
de planejamento familiar têm abordado as necessidades de contracepção da mulher, sem considerar o seu risco de DST/IST ou o de seu parceiro; enquanto isso, os serviços de DST/IST
têm sido fortemente direcionados para os homens, ignorando suas necessidades contraceptivas.
Muitas mulheres correm risco significativo de gravidez indesejada e DST/IST, mas com essa separação de serviços, há uma avaliação limitada de se elas precisam de dupla proteção
– ou seja, a proteção simultânea contra DST/IST e gravidez indesejada. Essa falta de integração dos serviços representa uma oportunidade perdida para identificar muitas mulheres em
situação de risco e oferecerlhes aconselhamento em relação à dupla proteção. Os enfermeiros podem desempenhar um papel fundamental em influenciar as pacientes a iniciar e manter
o uso do preservativo feminino, um método pouco utilizado para prevenção das DST/IST e gravidez (Alexander et al., 2015).
Os profissionais de enfermagem podem expandir seus escopos em qualquer ambiente, discutindo a dupla proteção conferida pelo uso isolado de um preservativo masculino ou
feminino ou pelo uso de um preservativo com um contraceptivo que não seja de barreira. Como os métodos de barreira não são os meios mais efetivos de controle da fertilidade, eles
não são tipicamente recomendados como método isolado para a dupla proteção. Infelizmente, os métodos de prevenção da gravidez mais efetivos – esterilização, métodos hormonais e
sistemas intrauterinos – não protegem contra as DST/IST. O uso de método duplo protege contra as DST/IST e contra a gravidez.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Evitar comportamentos sexuais de risco preserva a fertilidade e previne doenças crônicas na vida adulta
Estimase que 65 milhões de pessoas vivam com uma DST/IST incurável e outras 15 milhões sejam infectadas a cada ano (CDC, 2015a)
A maneira mais confiável de evitar a transmissão de DST/IST é a abstinência de relações sexuais (ou seja, oral, vaginal ou anal) ou a manutenção de um
relacionamento a longo prazo, mutuamente monogâmico, com um parceiro não infectado
Os métodos de contracepção de barreira são recomendados porque aumentam a proteção contra o contato com secreção uretral, secreções mucosas e
lesões do colo do útero ou do pênis
A alta taxa de transmissão de DST/IST assintomáticas exige que se orientem as mulheres de alto risco em relação à natureza da transmissão e como
reconhecer infecções
Os profissionais de enfermagem devem realizar uma boa higiene das mãos e seguir as precauções padrão para proteger a si e aos seus pacientes de
DST/IST
Os profissionais de enfermagem estão em uma posição importante para promover a saúde sexual das mulheres. Devem conscientizar suas pacientes e a
comunidade das implicações perinatais e das sequelas vitalícias das DST/IST
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Exercícios sobre o capítulo
QUESTÔES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. O papel primário do profissional de enfermagem em relação às doenças/infecções sexualmente transmissíveis consiste em:
a. Notificação dos parceiros sexuais
b. Detecção e educação
c. Orientação sexual
d. Diagnóstico e tratamento
2. Uma adolescente de 16 anos de idade procura o ambulatório para assistência de rotina e recebe o diagnóstico de gonorreia. A adolescente pergunta ao
enfermeiro porque o tratamento é necessário se ela não apresenta sinais e/ou sintomas. O profissional de enfermagem deve explicar as possíveis
complicações da doença se não for instituído tratamento:
a. Esterilidade, defeitos congênitos e abortos espontâneos
b. A necessidade de realização de cesariana em futuras gestações
c. Erupções cutâneas e perda auditiva
d. Infecções sistêmicas disseminadas
3. Qual dos seguintes métodos contraceptivos oferece proteção contra infecções sexualmente transmissíveis (DST/IST)?
a. Contraceptivos orais
b. Abstinência
c. Preservativo de látex
d. Dispositivo intrauterino (DIU)
4. Ao orientar em relação à transmissão do vírus da imunodeficiência humana (HIV), o enfermeiro explica que o vírus não é transmitido por:
a. Aperto de mãos
b. Compartilhamento de agulhas por usuários de drogas ilícitas
c. Relações sexuais
d. Amamentação
5. Uma mulher portadora do papilomavírus humano (HPV) apresentará qual achado na avaliação de enfermagem?
a. Corrimento vaginal abundante e purulento
b. Aglomerados de verrugas genitais
c. Úlcera indolor única
d. Múltiplas vesículas na genitália
6. O plano do enfermeiro de orientações para a alta da mulher com doença inflamatória pélvica (DIP) deve reforçar qual das seguintes complicações
potencialmente fatais?
a. Infertilidade involuntária
b. Dor pélvica crônica
c. Depressão
d. Gravidez ectópica
7. Para confirmar o diagnóstico de sífilis primária, o enfermeiro observaria qual das seguintes opções na genitália externa?
a. Erupção cutânea muito variável
b. Corrimento vaginal amareloesverdeado
c. Úlcera endurecida e indolor
d. Formação localizada de goma
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. Sally, de 17 anos de idade, chega à clínica de adolescentes dizendo que sente dor e tem uma “sujeira” entre suas pernas. O enfermeiro levaa para a sala de
exames e faz algumas perguntas sobre seus sintomas. Sally afirma que teve inúmeras vesículas genitais cheias de líquido, que se romperam e se tornaram
úlceras com crostas. Além disso, ela sentia dor ao urinar e dor em todo o corpo. Sally informa que teve relações sexuais com vários homens quando estava
bêbada em uma festa há algumas semanas, mas pensou que eles estavam “limpos”.
a. De qual DST/IST o enfermeiro suspeitaria?
b. O enfermeiro deve dar atenção imediata a qual das queixas de Sally?
c. Qual deve ser o objetivo do enfermeiro ao orientar Sally sobre as DST/IST?
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Consulte o site do Ministério da Saúde e selecione uma DST/IST específica de interesse. Estudea minuciosamente e compartilhe seus achados com seu
grupo clínico.
2. Contate o departamento de saúde local e solicite as estatísticas atuais sobre três DST/IST. Peçalhes que compare o número atual de casos notificados com o
relatório do ano passado. O número de casos de DST/IST aumentou ou diminuiu? Quais podem ser algumas das razões para essa mudança no número de
casos notificados?
3. Solicite permissão para estagiar em uma clínica de DST/IST local a fim de acompanhar um enfermeiro por algumas horas. Descreva o papel de
aconselhamento às pacientes e quais informações específicas são enfatizadas.
4. Duas DST/IST comuns que aparecem associadas e são comumente tratadas em conjunto, independentemente da identificação da condição secundária, são
______________ e ______________.
5. As verrugas genitais podem ser tratadas com quais das seguintes opções? Selecione todas que se apliquem.
a. Penicilina
b. Podofilina
c. Imiquimode
d. Crioterapia
e. Terapia antirretroviral
f. Aciclovir
ESTUDO DE CASO
Grace, uma universitária de 25 anos de idade, saiu aborrecida de sua consulta ginecológica no ambulatório da universidade. Os resultados de seu exame
preventivo (esfregaço de Papanicolaou) foram “anormais” e ela precisaria fazer outros exames para descartar a possibilidade de câncer de colo de útero. Ela já
tinha ouvido falar sobre esse tipo de câncer, mas não pensava que pudesse ocorrer em uma mulher de sua idade, então procurou informações na internet. Seus
achados a surpreenderam e preocuparam. Ela descobriu que a cada ano são detectados aproximadamente 13.000 novos casos de câncer de colo de útero e que
mais de 4.000 mulheres morrem por causa dessa doença. Esse valor é o dobro das mortes por HIV/AIDS. Ela também constatou que 93% dos cânceres de colo de
útero são causados por um vírus.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 5 | Doenças/Infecções Sexualmente Transmissíveis
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é B porque a função do profissional de enfermagem seria de avaliação por meio de anamnese e orientação da paciente sobre como prevenir outras infecções
sexualmente transmissíveis no futuro. A alternativa A é incorreta porque um funcionário do departamento de saúde local desempenharia essa função e não o profissional de
enfermagem. A alternativa C seria incorreta porque está além da competência do profissional de enfermagem aconselhar as pacientes em assuntos da esfera sexual. A alternativa D
é incorreta porque também estaria fora da competência do profissional de enfermagem. O profissional de enfermagem poderia orientar as pacientes em relação aos exames
complementares que poderiam ser solicitados e sobre as opções terapêuticas disponíveis, mas não poderia solicitálos nem os implementar.
2. A resposta correta é A porque as três complicações podem ser causadas por gonorreia não tratada. A alternativa B é incorreta porque o fato de contrair uma infecção sexualmente
transmissível não predispõe a paciente a parto cirúrgico. Não existe correlação entre essas circunstâncias. A alternativa C é incorreta porque a gonorreia não provoca o
aparecimento de lesões cutâneas nem compromete a acuidade auditiva. A alternativa D é incorreta porque gonorreia provoca tipicamente infecção pélvica, mas raramente provoca
infecção sistêmica.
3. A resposta correta é C. Esse método cria uma barreira mecânica de modo que as bactérias e os vírus não conseguem ter acesso aos órgãos genitais internos e proliferar. A
alternativa A está incorreta: o uso de contraceptivos orais não fornece barreira nem proteção. Esse método oferece proteção contra a gravidez inibindo a ovulação, mas não contra
as DST/IST. A alternativa B está incorreta: um parceiro infectado ainda é capaz de transmitir a infecção por meio dos fluidos préejaculatórios, que podem conter DST/IST ativa.
A alternativa D está incorreta: o DIU não oferece barreira contra a penetração de bactérias ou vírus nos órgãos genitais internos. Como se trata de um dispositivo interno, o fio que
emerge do óstio do útero pode, na verdade, facilitar a infiltração da DST/IST no útero de mulheres suscetíveis.
4. A resposta correta é A. O HIV não é transmitido por meio do contato casual entre duas pessoas. O HIV é transmitido por meio de relações sexuais desprotegidas, aleitamento
materno, contato com sangue ou compartilhamento de agulhas ou brinquedos sexuais. A alternativa B está incorreta: o HIV pode ser transmitido por meio do compartilhamento de
material de injeção, pois o usuário pode entrar em contato com sangue HIVpositivo. A alternativa C está incorreta: a relação sexual (vaginal, anal ou oral desprotegida) apresenta
o maior risco de transmissão do HIV. A alternativa D está incorreta: o recémnascido pode ser contaminado pelo HIV por meio do leite materno infectado (transmissão vertical).
As mulheres HIVpositivas são aconselhadas a não amamentar para proteger o lactente.
5. A resposta correta é B. O papilomavírus humano (HPV) causa verrugas na região genital. O HPV é um vírus de DNA de crescimento lento, pertencente ao grupo do papiloma. Os
tipos 6 e 11 geralmente causam verrugas genitais visíveis. Outros tipos de HPV da região genital (16, 18, 31, 33 e 35) estão associados a displasias vaginal, anal e cervical. A
alternativa A está incorreta: a secreção purulenta não é típica de infecção pelo HPV, mas, sim, de DST/IST por clamídia ou gonococos. A alternativa C está incorreta: úlcera
indolor única seria indicativa de sífilis primária, não de infecção por HPV. A alternativa D está incorreta: múltiplas vesículas indicariam episódio de herpes, não infecção por HPV.
A mulher também sentiria formigamento, prurido e dor na área afetada.
6. A resposta correta é D. Uma gestação tubária rota em decorrência de gravidez ectópica pode causar choque hipovolêmico potencialmente fatal. Sem intervenção cirúrgica imediata,
pode resultar em morte. A alternativa A está incorreta: a infertilidade involuntária pode ser traumática, mas não implica risco para a vida. A alternativa B está incorreta: a dor
pélvica crônica secundária a aderências é desagradável, mas tipicamente não ameaça a vida da pessoa. A alternativa C está incorreta: a depressão pode ser causada por dor crônica
ou infertilidade involuntária, mas não é potencialmente fatal.
7. A resposta correta é C. O cancro clássico na sífilis primária pode ser descrito como lesão semelhante a úlcera endurecida e indolor no local da exposição. A alternativa A está
incorreta: erupção cutânea extremamente variável é característica da sífilis secundária, não da forma primária. A alternativa B está incorreta: isso é mais descritivo de infecção
vaginal por Trichomonas em vez de sífilis primária, que se manifesta com um cancro na genitália externa. A alternativa D está incorreta: a formação localizada de goma nas
membranas mucosas, como os lábios ou o nariz, é característica da sífilis tardia, associada à neurossífilis e à sífilis cardiovascular.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. De qual DST/IST o enfermeiro suspeitaria?
Com base na descrição das lesões genitais, o enfermeiro suspeitaria de herpes genital. Tipicamente, as lesões herpéticas começam como pápulas eritematosas que depois se
tornam vesículas. As vesículas se rompem e deixam lesões ulceradas que então formam crostas. Isso é essencialmente o que Sally descreve em sua história.
b. O enfermeiro deve dar atenção imediata a qual das queixas de Sally?
Como acontece com qualquer DST/IST, o tratamento deve visar à promoção do conforto, à promoção da cura, à prevenção de infecções secundárias e à redução da
disseminação da doença. Devese obter uma amostra de lesão genital para diagnóstico definitivo. Devese analisar uma amostra de urina à procura de bactérias para descartar
uma infecção vesical. Dar informações sobre a DST/IST específica é importante para promover a compreensão. As informações relativas ao tratamento com fármacos
antivirais são fundamentais para reduzir a disseminação viral. Podem ser necessários banhos de assento e analgésicos leves para o alívio da dor.
c. Qual deve ser o objetivo do enfermeiro ao orientar Sally sobre as DST/IST?
Embora o aciclovir ou outra medicação antiviral consiga reduzir os sinais e sintomas do herpes, o enfermeiro precisa salientar que esse tratamento não cura a doença. Os
fármacos antivirais suprimem a replicação viral, mas não erradicam esses vírus. Essa DST/IST perdura por toda a vida, e a paciente pode apresentar numerosos episódios. O
enfermeiro deve orientar Sally informando que essa condição é administrável, mas ela terá de ser capaz de identificar fatores de estresse que possam desencadear uma recidiva
e reduzilos. Fatores desencadeadores comuns incluem: alterações hormonais, como a ovulação durante o ciclo menstrual; exposição prolongada à luz solar; sofrimento
emocional; falta de sono; e excesso de trabalho. O objetivo final é assegurar que Sally saiba como prevenir a transmissão do herpesvírus e que mudanças em seu
comportamento precisam ocorrer imediatamente para proteger sua saúde.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. As discussões variarão, dependendo de qual site os estudantes escolherem e qual DST/IST decidirem pesquisar. Esperase que cada estudante traga informações adicionais para a
discussão e compartilhe “achados” interessantes com seus colegas.
2. As estatísticas variarão dependendo de onde o estudante vive. Essa pesquisa ajudará o aluno a saber o que está acontecendo em sua localidade e quais medidas preventivas estão
sendo usadas para reduzir a incidência de DST/IST.
3. O aconselhamento do enfermeiro que atende uma paciente com DST/IST deve incluir paciência e sensibilidade. O enfermeiro deve ser imparcial e deve enxergar a paciente como
alguém que precisa tanto de tratamento quanto de orientações. O enfermeiro deve aconselhar a paciente a respeito de comportamentos de risco e prevenção de transmissão de
doenças.
4. Infecção por Chlamydia e gonorreia.
5. As respostas corretas são B, C e D. Os três tratamentos ajudam a reduzir a carga viral na lesão verrucosa. O tratamento pode reduzir, mas não necessariamente erradicar a
infecção. A alternativa A está incorreta: a penicilina é um agente bacteriostático e não é efetiva contra os vírus. A alternativa E está incorreta: a terapia antirretroviral é prescrita
para infecções pelo HIV. A alternativa F está incorreta: o aciclovir é prescrito tipicamente para tratar infecções por herpesvírus.
ESTUDO DE CASO
1. Qual vírus é a causa mais comum de câncer de colo uterino?
Resposta: Papilomavírus humano (HPV) é o vírus responsável pela maioria das infecções e displasias do colo uterino.
2. A paciente teve relações sexuais com apenas dois homens. Sempre usou preservativos com seu primeiro namorado, mas nem sempre o fez com o segundo. Ela poderia ter
contraído esse vírus de um desses homens? Resposta: Mais de 50% dos norteamericanos contraem HPV na infância e, deste modo, as chances são de que ela tenha mantido
relações sexuais com dois homens que adquiriram a infecção no passado.
3. Nenhum dos namorados tinha sinais de infecção, mas ainda assim ela contraiu o vírus. Explique como isso é possível.
Resposta: A maioria dos portadores de HPV é assintomática, como era o caso dessa paciente, de forma que não é surpreendente que seus parceiros sexuais não soubessem que
estavam infectados por HPV.
Grace recebeu os resultados dos seus exames há algumas semanas. Felizmente, foram negativos para câncer de colo uterino, embora estivesse infectada por HPV. Ela prometeu
ser mais cuidadosa no futuro. Contudo, a menos que estabeleça uma relação monogâmica estável, explique por que ela continua em risco de readquirir a infecção novamente.
4. A vacina contra esse vírus está disponível e é recomendada para moças e rapazes na faixa etária entre 11 e 26 anos. Por que você acha que essa é a faixa etária indicada para a
vacinação?
Resposta: As relações sexuais são iniciadas em idade muito precoce hoje em dia e, para que a vacina seja efetiva, ela precisa ser aplicada antes da exposição ao HPV. Como não é
possível prever quando começarão a ter relações sexuais, é melhor adotar uma abordagem proativa.1
____________
1
N.R.T.: Conforme citado nas Portarias 008/1996 e 488/1998 da Secretaria de Vigilância Sanitária, somente conjuntos diagnósticos com registro da Vigilância Sanitária e submetidos a testes de
análise prévia poderão ser comercializados no Brasil.
2
N.R.T.: No Brasil, o tratamento da AIDS é gratuito e fornecido pelo Ministério da Saúde.
1
N.R.T.: No Brasil a vacina contra HPV é fornecida gratuitamente pelo Ministério da Saúde para meninas de 9 a 14 anos de idade e meninos de 11 a 14 anos de idade.
Questões múltipla escolha
1. A enfermeira está ministrando uma aula sobre doenças sexualmente transmissíveis a uma turma do ensino médio. Qual dos seguintes é um
equívoco que precisa ser esclarecido em relação ao uso do preservativo?
A. Os preservativos de látex protegem melhor contra doenças
B. Colocar o preservativo pouco antes do orgasmo
C. Os preservativos não devem ser guardados na carteira
D. Usar lubrificantes à base de água em caso de uso de preservativos de látex
Concluir questão
2. A enfermeira está atendendo uma menina de 14 anos que teme estar com uma infecção sexualmente transmissível. Qual das avaliações a seguir
seria mais indicativa de tricomoníase?
A. Descarga vaginal esverdeada
B. Incontinência urinária
C. Sinais e sintomas de gripe
D. Lesões na vulva
Concluir questão
3. Uma mulher chega à clínica queixandose de prurido intenso e corrimento vaginal com textura semelhante a requeijão. Ao exame, observamse
placas brancas na parede vaginal. A enfermeira suspeita de qual das seguintes opções?
A. Vaginose bacteriana
B. Tricomoníase
C. Candidíase vulvovaginal
D. Infecção por Chlamydia
Concluir questão
4. Um recémnascido foi diagnosticado com oftalmia neonatal. A enfermeira entende que esse neonato foi exposto a qual infecção?
A. Sífilis
B. Gonorreia
C. Candida albicans
D. Vírus da imunodeficiência humana
Concluir questão
5. Ao descrever os métodos de transmissão do herpesvírus simples a um grupo de universitários, qual método teria menor probabilidade de ser
incluído?
A. Parto normal
B. Beijo
C. Contato sexual
D. Compartilhamento de agulhas contaminadas
Concluir questão
6. A enfermeira está se preparando para administrar tratamento farmacológico a uma mulher diagnosticada com sífilis. A medicação seria:
A. Doxiciclina
B. Miconazol
C. Metronidazol
D. Penicilina G
Concluir questão
7. Ao orientar uma mulher diagnosticada com úlceras genitais, qual das seguintes opções a enfermeira incluiria?
A. Absterse de usar preservativos durante a relação sexual
B. Aplicar compressas de gelo à área para o conforto
C. Secar as lesões com um secador de cabelo em potência máxima
D. Lavar as mãos com água e sabão depois de tocar as lesões
Concluir questão
8. Uma enfermeira do departamento de saúde da faculdade está elaborando uma campanha para orientar os estudantes em relação ao HPV. Ela
salienta que a prevenção primária inclui qual das seguintes opções?
A. Administrar vacina contra o HPV
B. Orientar em relação à importância de realizar com regularidade o esfregaço de Papanicolaou
C. Orientar em relação ao teste de HPV em mulheres com mais de 30 anos
D. Recomendar o tratamento das verrugas genitais
Concluir questão
9. Uma mulher HIVpositiva em tratamento farmacológico chega à clínica e diz: “Não tenho apetite e, quando eu como, fico com dor de estômago.”
Que sugestão seria menos efetiva?
A. “Coma bolachas secas quando se sentir enjoada.”
B. “Experimente consumir algumas bebidas e alimentos ricos em proteína.”
C. “Beba líquidos ao comer qualquer coisa.”
D. “Tente fazer refeições pequenas e espaçadas ao longo do dia.”
Concluir questão
10. Qual das medidas a seguir utilizada pela enfermeira seria mais efetiva na prevenção das IST?
A. Fazer com que os indivíduos mudem seus comportamentos
B. Orientações para promover a saúde sexual
C. Aumentar a disponibilidade de recursos
D. Interferir no modo de transmissão
Concluir questão
11. Durante um exame de rotina, a enfermeira suspeita que uma adolescente esteja mantendo relações sexuais desprotegidas. Para estimular a
discussão, a enfermeira deve:
A. Conversar de modo imparcial com a adolescente, mas ser direta
B. Alertar os pais
C. Dar palestras à adolescente sobre os perigos do sexo sem proteção
D. Encaminhar a adolescente ao Conselho Tutelar
Concluir questão
12. A enfermeira reconhece que uma das causas mais comuns de corrimento vaginal é a:
A. Infecção por Chlamydia
B. Sífilis
C. Gonorreia
D. Candidíase
Concluir questão
13. A cliente foi diagnosticada com tricomoníase. A enfermeira reconhece que um dos tratamentos de escolha é o(a):
A. Nistatina
B. Penicilina G
C. Metronidazol
D. Fluconazol
Concluir questão
14. O CDC identificou que a IST bacteriana mais comum nos EUA é a:
A. Gonorreia
B. Sífilis
C. Infecção por Chlamydia
D. Vaginose
Concluir questão
15. Uma cliente apresenta queixas sugestivas de uma infecção gonocócica. Após confirmação do diagnóstico por exame laboratorial, a enfermeira
entende que a cliente também deve ser tratada para:
A. Sífilis
B. Infecção por Chlamydia
C. HPV
D. Candidíase
Concluir questão
16. A enfermeira enfatiza a importância de realizar com regularidade o esfregaço de Papanicolaou e exames físicos de rotina em virtude do fato de
que _______ das mulheres são assintomáticas quando infectadas por clamídia.
A. 70%
B. 50%
C. 30%
D. 90%
Concluir questão
17. Uma cliente manifesta possíveis sinais e sintomas de HSV. Qual dos seguintes não seria usado pela enfermeira para confirmar o diagnóstico?
A. Exame físico
B. Sinais clínicos
C. Cultura viral
D. Esfregaço de Papanicolaou
Concluir questão
18. Como enfermeira da unidade básica de saúde local, você reconhece que as IST muitas vezes podem resultar em DIP. Quando uma cliente com
história de IST de repetição chega à clínica com queixas de cólicas abdominais intensas e sangramento vaginal, a preocupação imediata é
garantir que ela não tem:
A. Infecção urinária secundária
B. DIP
C. Endometriose
D. Gravidez ectópica
Concluir questão
19. Como enfermeira da clínica de cuidados de saúde da faculdade, você reconhece a importância de orientar os estudantes de que o papilomavírus
humano foi confirmado como a causa de praticamente todos os casos de:
A. Câncer de útero
B. Câncer de colo do útero
C. Câncer de ovário
D. Câncer vaginal
Concluir questão
20. Depois de uma discussão sobre a vacina contra o HPV, a enfermeira reconhece que obteve bom êxito quando os estudantes compreendem que:
A. Só precisarão de uma injeção para a proteção ao longo da vida toda
B. Precisarão de uma injeção a cada 5 anos
C. Precisarão de três injeções em um período de 6 meses
D. Precisarão de duas injeções em um período de 3 meses
Concluir questão
21. Ao orientar as clientes sobre os perigos das infecções/doenças sexualmente transmissíveis, é importante que elas entendam que algumas IST
podem levar a danos em outros órgãos se não tratadas. A IST que pode resultar em danos ao fígado é:
A. HBV
B. HAV
C. HCV
D. HPV
Concluir questão
22. A enfermeira deve incentivar todas as novas clientes que chegam para a consulta prénatal inicial a incluir o rastreamento à procura de:
A. HBV
B. HAV
C. HCV
D. HPV
Concluir questão
23. A cliente é solteira, admite não usar preservativos durante as relações sexuais e teve múltiplos parceiros durante o último ano. Qual(is) dos
seguintes sinais/sintomas alertaria(m) a enfermeira de uma possível infecção gonocócica? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Disúria
B. Sangramento uterino anormal
C. Leve irritação na garganta
D. Secreção vaginal anormal
Concluir questão
24. Ao preparar uma palestra sobre IST para estudantes do ensino médio, a enfermeira deve enfatizar qual(is) dos seguintes como grupos de alto
risco? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Mulheres com idade inferior a 25 anos
B. Mulheres em uso consistente de métodos anticoncepcionais de barreira
C. Mulheres solteiras
D. Mulheres com múltiplos ou novos parceiros sexuais
Concluir questão
25. Uma cliente de 24 anos manifesta várias queixas. Ela admite ter tido uma relação sexual desprotegida. Qual(is) dos achados a seguir indica(m)
uma possível DIP? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Constipação intestinal
B. Dor à palpação dos anexos
C. Dor à mobilização do colo do útero
D. Dor à palpação da parte inferior do abdome
Concluir questão
Distúrbios das Mamas
6
PALAVRASCHAVE
Alterações fibrocísticas da mama
Aumento das mamas
Autoexame da mama (AEM)
Câncer de mama
Carcinoma
Cirurgia com preservação da mama
Doença benigna da mama
Ectasia ductal
Fibroadenomas
Hormonoterapia (terapia endócrina)
Implantes mamários
Mamografia
Mastectomia radical modificada
Mastectomia simples
Mastite
Quimioterapia
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Identificar a incidência, os fatores de risco, os métodos de rastreamento e as modalidades de tratamento para
condições benignas da mama.
2. Avaliar os motivos de realizar aumento das mamas, inclusive os benefícios e riscos potenciais.
3. Delinear estratégias de prevenção do câncer de mama por meio de mudanças de estilo de vida e rastreamento de
saúde.
4. Analisar a incidência, os fatores de risco, as modalidades de tratamento e as considerações de enfermagem
relacionadas com o câncer de mama.
5. Desenvolver um plano de orientações para ensinar o autoexame da mama a um grupo de mulheres de alto risco.
Nancy não tem conseguido dormir bem desde que palpou um nódulo em sua mama esquerda há 1 mês,
logo após seu aniversário de 60 anos. Ela sabe que corre alto risco porque sua mãe morreu de câncer de
mama, mas não tem coragem de ir ao médico.
Reflexões
Foque em reduzir a ansiedade, o medo, a dor e a solidão sentidos por todas as mulheres diagnosticadas com um distúrbio
na mama.
INTRODUÇÃO
As mamas são glândulas sudoríparas modificadas e estão localizadas sobre os músculos peitorais (principais músculos da
parede do tórax). Do ponto de vista fisiológico, a mama é um órgão especializado na produção de leite para nutrir a prole.
Cada mama se estende aproximadamente da segunda costela até a sexta costela. As mamas femininas estão intimamente
ligadas à feminilidade na cultura norteamericana. As mamas da mulher atuam como marcadores físicos da transição entre
uma fase da vida e outra. Embora a principal função das mamas seja a lactação, elas são vistas como um símbolo de
beleza e sexualidade.
Este capítulo discute as avaliações, os procedimentos de rastreamento e o tratamento de doenças benignas e malignas
específicas da mama. Os enfermeiros desempenham um papel fundamental em ajudar as mulheres a manter a saúde das
mamas por meio da orientação e do rastreamento. Um bom conhecimento de técnicas de detecção precoce, diagnóstico e
opções de tratamento é essencial.
DOENÇAS BENIGNAS DA MAMA
Uma doença benigna da mama é qualquer anormalidade não cancerosa da mama. Apesar de não ser uma ameaça à vida, as
doenças benignas podem causar dor e desconforto, e são responsáveis por numerosas consultas aos médicos do
atendimento primário. A compreensão plena dos distúrbios benignos da mama possibilita que o enfermeiro avalie de modo
apropriado os sinais/sintomas, determine quais lesões da mama demandam tratamento e identifique as mulheres que
correm risco aumentado de câncer de mama.
Dependendo do tipo de doença benigna da mama, o tratamento pode ou não ser necessário. Embora esses transtornos
sejam benignos, o trauma emocional que as mulheres sofrem é enorme. Medo, ansiedade, descrença, sentimentos de
impotência e depressão são apenas algumas das reações que a mulher pode apresentar quando ela descobre um nódulo na
mama. Muitas mulheres acreditam que todos os nódulos são cancerosos. Na verdade, mais de 80% dos nódulos detectados
são benignos e não exigem tratamento (Alexander et al., 2014). Paciência, apoio e orientação são componentes essenciais
dos cuidados de enfermagem.
As doenças benignas da mama mais encontradas nas mulheres incluem alterações fibrocísticas da mama,
fibroadenomas e mastite. Embora esses distúrbios da mama sejam considerados benignos, as alterações fibrocísticas das
mamas representam um risco de câncer, com ocorrência de massas prolíficas e alterações hiperplásicas no interior das
mamas. De modo geral, os fibroadenomas e a mastite implicam pouco risco de câncer (Seetharam & Rodrigues, 2015).
A Tabela 6.1 resume as condições benignas da mama.
Alterações fibrocísticas da mama
As alterações fibrocísticas da mama, também conhecidas como doença benigna da mama (DBM), representam inúmeras
alterações nos tecidos glandulares e estruturais da mama. Como essa condição acomete 50 a 60% de todas as mulheres em
algum momento da vida, é mais acuradamente definida como uma “alteração” em vez de uma “doença”. As alterações
fibrocísticas são causadas pelo crescimento excessivo de tecidos fibrosos nos tecidos conjuntivos que dão suporte às
mamas. Com frequência, isso é acompanhado por cistos preenchidos com líquido, que contribuem para a sensação nodular
percebida pelas mulheres. Ao contrário das lesões malignas da mama, os cistos se movem livremente quando são palpados
e os sinais/sintomas diminuem quando os níveis de estrogênio e progesterona caem (Sabel, 2015). As alterações
fibrocísticas não aumentam o risco de câncer de mama para a maioria das mulheres, exceto quando a biopsia de mama
mostra “atipia” ou células mamárias anormais. O motivo de preocupação para muitas mulheres com alterações
fibrocísticas é que os exames de mama e a mamografia tornamse mais difíceis de interpretar por causa dos múltiplos
cistos existentes; assim, lesões cancerosas precoces podem não ser detectadas (American Cancer Society [ACS], 2015a).
Tabela 6.1 Resumo das doenças benignas da mama.
Condição da Secreção Local Características/Idade Dor à Diagnóstico e
mama do da paciente palpação tratamento
mamilo
15 a 30 anos de idade
Aumentar a
ingestão de
líquido
Adaptada de Alexander, L. L., LaRosa, J. H., Bader, H., & Garfield, S. (2014). New dimensions in
women’s health (6th ed.). Sudbury, MA: Jones & Bartlett; American Cancer Society [ACS].
(2015a). Noncancerous breast conditions. Retirada
de http://www.cancer.org/Healthy/FindCancerEarly/WomensHealth/Non
CancerousBreastConditions/noncancerousbreastconditionsfibrocysticchanges; e Bope, E. T., &
Kellerman, R. D. (2015). Conn’s current therapy 2015. Philadelphia, PA: Saunders Elsevier.
As alterações fibrocísticas da mama são mais comuns em mulheres com idades entre 20 e 50 anos. A condição é rara
nas mulheres em período após a menopausa e que não fazem reposição hormonal. De acordo com a ACS (2015a), as
alterações fibrocísticas da mama afetam pelo menos metade de todas as mulheres em algum momento da vida e são o
transtorno mamário mais comum hoje em dia.
Conduta terapêutica
O manejo dos sinais e sintomas das alterações fibrocísticas da mama começa com o autocuidado. Dieta e alterações do
estilo de vida ajudam a reduzir o desconforto de algumas mulheres. Outras medidas incluem o uso de um sutiã com
suporte, o consumo de analgésicos de venda livre e a limitação do consumo de sal que pode provocar acúmulo de líquido
(Files, Allen, & Pruthi, 2015). Em casos graves, fármacos (incluindo bromocriptina, tamoxifeno ou danazol) podem ser
usados para reduzir a influência do estrogênio sobre o tecido mamário. No entanto, já foram documentados vários efeitos
colaterais indesejáveis, incluindo masculinização. A aspiração ou remoção cirúrgica dos nódulos da mama reduzirá a dor e
a tumefação porque extirpa a massa expansiva.
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem consiste em anamnese, exame físico e exames complementares.
ANAMNESE
Pergunte à mulher sobre as manifestações clínicas comuns, que incluem mamas dolorosas à palpação e com nódulos, em
especial durante a semana antes da menstruação. As alterações no tecido mamário provocam dor em decorrência da
irritação dos nervos por edema no tecido conjuntivo e da fibrose pela compressão do nervo. A dor é cíclica e,
frequentemente, desaparece após o início da menstruação. A dor é descrita como uma sensação de plenitude difusa e
incômoda. As massas ou os nódulos geralmente aparecem nas duas mamas e são frequentemente encontrados nos
quadrantes superiores externos. Algumas mulheres também apresentam secreção mamilar espontânea transparente a
amarelada quando a mama é comprimida ou manipulada.
EXAME FÍSICO
É melhor examinar a mama da mulher 1 semana após a menstruação, quando o inchaço diminuiu. O exame é realizado
usando o método de triplo toque, em que o profissional de saúde utiliza três polpas digitais (indicador, médio e anular) e
faz círculos sobrepostos do tamanho de uma moeda de 10 centavos para palpar o tecido mamário, com três níveis de
pressão: leve, média e forte (Jarvis, 2015). Devese observar se as mamas apresentam fibrose ou espessamento dos
tecidos normais da mama, o que ocorre nas fases iniciais. Os cistos se formam nas fases posteriores, e à palpação são
sentidos como vários cristais lisos, pequenos e bem delineados ou como aveia triturada sob a pele (Figura 6.1). Ao exame
físico das mamas, algumas características podem ser úteis na diferenciação com um cisto de uma lesão cancerosa. As
lesões cancerosas geralmente são fixas e indolores e podem causar retração da pele. Os cistos tendem a ser móveis e
dolorosos à palpação e não causam retração da pele no tecido circundante.
EXAMES LABORATORIAIS E COMPLEMENTARES
A mamografia pode ser útil na distinção de alterações fibrocísticas do câncer de mama. A ultrassonografia é um
complemento útil à mamografia para avaliação da mama, uma vez que ajuda a diferenciar massa cística de outra sólida
(Dixon & Macaskill, 2015). A ultrassonografia produz imagens das mamas enviando ondas sonoras através de um gel
aplicado às mamas. Também se pode fazer uma punção aspirativa por agulha fina para diferenciar entre tumor sólido, cisto
ou processo maligno. A punção aspirativa por agulha fina é orientada por ultrassom até a massa. Em um método chamado
biopsia estereotáxica, um computador mapeia a localização exata da massa usando mamografias feitas em dois ângulos, e
o mapa é utilizado para guiar a agulha.
Conduta de enfermagem
O enfermeiro que atende a mulher com alterações fibrocísticas da mama pode orientála em relação à doença, fornecer
dicas para o autocuidado (Diretrizes de ensino 6.1), sugerir mudanças de estilo de vida e, a fim de monitorar alterações,
demonstrar como realizar o autoexame da mama (AEM) mensalmente após a menstruação. O boxe Plano de cuidados de
enfermagem 6.1 apresenta um plano de cuidados para a mulher com alterações fibrocísticas da mama.
FIGURA 6.1 A. Alterações fibrocísticas da mama. B. Cistos mamários. C. Este estudo macroscópico mostra que a
maior parte do tecido anormal é fibroso. Os cistos são relativamente discretos neste exemplo. D. O estudo
microscópico mostra tecido fibroso denso contendo ductos dilatados revestidos por epitélio hiperplásico. (as
imagens A e B são de The Anatomical Chart Company [2006]. Atlas of Pathophysiology. Springhouse, PA:
Springhouse Corporation. As imagens C e D são cortesia de Mcconnell, Thomas h. [2014]. The Nature of Disease
Pathology for the Health Professions, 2nd edition. Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins.)
Diretrizes de ensino 6.1
Como aliviar os sinais e sintomas de alterações fibrocísticas da mama
• Usar um sutiã com sustentação extra para evitar a pressão indevida sobre os ligamentos das mamas,
a fim de reduzir o desconforto
• Fazer uso de anticoncepcionais orais, conforme prescrito pelo médico, para estabilizar os níveis
hormonais mensais
• Ingerir uma dieta hipolipídica, rica em frutas, vegetais e grãos, para manter um estilo de vida
nutricional saudável e o peso ideal
• Aplicar calor às mamas para ajudar a reduzir a dor via vasodilatação
• Ingerir diuréticos, conforme prescrito pelo médico, para combater a retenção de líquido e a tumefação
das mamas
• Reduzir a ingestão de sal para reduzir a retenção de líquido e a tumefação das mamas
• Ingerir medicamentos de venda livre, como o ácido acetilsalicílico ou o ibuprofeno, para reduzir a
inflamação e o desconforto
• Ingerir doses terapêuticas de tiamina e vitamina E. Uma pesquisa constatou que essa terapia é útil
para algumas mulheres, embora não tenha conseguido demonstrar os benefícios diretos
• Ingerir os medicamentos, conforme prescrito (p. ex., bromocriptina, tamoxifeno ou danazol)
• Conversar com o médico sobre a possibilidade de aspiração ou remoção cirúrgica dos nódulos da
mama
• Evitar bebidas cafeinadas (café, chá, refrigerantes) que tendem a deflagrar o desconforto mamário.
Plano de cuidados de enfermagem 6.1
Aspectos gerais de uma mulher com alterações fibrocísticas da mama
Sheree Rollins é uma mulher de 37 anos que foi à clínica para sua consulta de rotina. Durante o
exame, ela disse: “Às vezes, minhas mamas ficam muito pesadas e doem muito. Eu notei duas
nodulações em minha mama na semana passada, pouco antes de menstruar. Isso é normal?
Agora parece que elas desapareceram. Isso é preocupante?” O exame clínico da mama revelou
dois nódulos pequenos (do tamanho de uma ervilha), móveis e discretamente dolorosos à
palpação em cada mama, bilateralmente. Não havia retração da pele. A mamografia anterior
revelou alterações fibrocísticas da mama.
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: dor relacionada com alterações no tecido mamário
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente demonstrará diminuição na dor na mama, conforme evidenciado por uma classificação de dor
de 1 ou 2 em uma escala de 0 a 10 e a declaração de que a dor diminuiu.
Intervenções: aliviar a dor
• Pedir à paciente que classifique a dor usando uma escala numérica para determinar uma linha de
base
• Discutir com a paciente todas as medidas utilizadas para aliviar a dor, a fim de determinar a efetividade
delas
• Incentivar o uso de um sutiã com boa sustentação para ajudar a reduzir o desconforto
• Instruir a paciente a tomar analgésicos de venda livre para promover o alívio da dor
• Aconselhar a paciente a aplicar compressas quentes ou deixar que a água quente do chuveiro caia
sobre suas mamas para promover vasodilatação e subsequente alívio da dor
• Dizer à paciente que reduza a ingestão de sal para diminuir o risco de retenção de líquido e edema,
que exacerbam a dor
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: conhecimento deficiente em relação às alterações fibrocísticas da
mama e medidas apropriadas de cuidado
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente verbalizará compreensão da condição, conforme evidenciado por declarações sobre a causa
das alterações da mama e escolhas apropriadas para as mudanças de estilo de vida, e demonstração das
medidas de autocuidado.
Intervenções: fornecer orientações à paciente
• Avaliar o conhecimento da paciente em relação às alterações fibrocísticas da mama para estabelecer
uma linha de base para as orientações
• Explicar o papel das alterações dos níveis hormonais mensais e descreva os sinais e sintomas para
promover a compreensão dessa condição
• Ensinar a paciente a realizar o autoexame após seu período menstrual para monitorar mudanças
• Incentivar a paciente a relatar todas as mudanças imediatamente para garantir a detecção precoce
dos problemas
• Sugerir que a paciente fale com seu ginecologista sobre o uso de contraceptivos orais para ajudar a
estabilizar os níveis hormonais mensais
• Revisar as escolhas de estilo de vida, como ingerir uma dieta pobre em gordura, rica em frutas,
vegetais e grãos, e aderir às recomendações de rastreamento para promover a saúde
• Discutir medidas para alívio da dor, a fim de minimizar o desconforto associado às alterações da mama
Fibroadenomas
Fibroadenomas são tumores mamários benignos sólidos comuns que ocorrem em cerca de 25% de todas as mulheres e são
responsáveis por cerca de metade de todas as biopsias de mama. São a massa mais comum em mulheres com idades entre
15 e 25 anos (Seetharam & Rodrigues, 2015). São considerados lesões hiperplásicas associadas a uma anormalidade do
desenvolvimento e a uma involução em vez de uma neoplasia. Os fibroadenomas podem ser estimulados por estrogênio
externo, progesterona, lactação e gestação (Schuiling & Likis, 2016). São compostos tanto de tecido fibroso quanto
glandular, têm aparência redonda ou oval, consistência de borracha, firme e lisa, são móveis e podem ser dolorosos à
palpação. Geralmente são unilaterais, mas podem ocorrer em ambas as mamas (Alexander et al., 2014). Os fibroadenomas
gigantes representam aproximadamente 4% dos casos. Essas massas frequentemente têm mais de 5 cm e ocorrem mais
comumente em gestantes ou lactantes. Essas grandes lesões regridem de tamanho quando a estimulação hormonal diminui
(Janardhan, Venkateshwar, & Rao, 2015). Os fibroadenomas raramente estão associados ao câncer.
Conduta terapêutica
O tratamento pode incluir um período de “observação atenta” porque muitos fibroadenomas param de crescer ou diminuem
de tamanho espontaneamente, sem qualquer tratamento. Outros tumores precisam ser removidos cirurgicamente se não
regredirem ou se permanecerem inalterados. A crioablação, uma alternativa à cirurgia, também pode ser usada para
remover o tumor. Nesse procedimento, um gás extremamente frio e guiado por ultrassonografia é canalizado para o tumor.
O tumor congela e morre. A tendência atual é no sentido de uma abordagem terapêutica mais conservadora após avaliação
cuidadosa e monitoramento contínuo.
Avaliação de enfermagem
Pergunte à mulher sobre as manifestações clínicas dos fibroadenomas. À palpação, esses nódulos são firmes, de
consistência de borracha, bem circunscritos, livremente móveis, podendo ser ou não dolorosos à palpação.
Habitualmente, os fibroadenomas de mama são um achado incidental durante exames clínicos ou autoexames e estão
localizados no quadrante superior externo da mama. Pode haver mais de um (Figura 6.2). Várias outras lesões mamárias
têm características semelhantes, de modo que cada mulher com massa na mama deve ser avaliada para descartar a
possibilidade de câncer. Um exame clínico das mamas por um profissional de saúde é essencial. Além disso, são
realizados exames de imagem (mamografia e/ou ultrassonografia) e alguma modalidade de biopsia, na maioria das vezes
aspiração com agulha fina, biopsia por agulha calibrosa ou biopsia estereotáxica. A biopsia com agulha calibrosa retira um
pequeno cilindro de tecido da massa mamária, maior do que na biopsia aspirativa por agulha fina. Se mais tecido precisar
ser avaliado, utilizase o método ABBI (advanced breast biopsy instrument). Usando uma faca circular rotativa, esse
instrumento retira um cilindro maior de tecido para exame. O ABBI remove mais tecido do que qualquer outro método,
exceto a biopsia cirúrgica (ACS, 2015a).
FIGURA 6.2 A. Fibroadenoma. (Ilustração fornecida por Anatomical Chart Co.) B. Vista em compressão local de
massa lisa marinada que se comprovou representar um fibroadenoma. A ultrassonografia mostrou massa sólida.
Conduta de enfermagem
O enfermeiro deve instruir a paciente a retornar para reavaliação em 6 meses, realizar mensalmente o AEM e retornar
anualmente para um exame clínico da mama. Estudos recentes sugerem que as mulheres com densidade mamária alta e
doença proliferativa benigna da mama correm risco bastante elevado de futuro câncer de mama. Mulheres com densidade
mamária baixa correm baixo risco, independentemente de seu diagnóstico histopatológico benigno (Slanetz, Freer, &
Birdwell, 2015). Isso é mais um motivo para as mulheres serem monitoradas atentamente.
Mastite
Mastite é a infecção ou inflamação do tecido conjuntivo na mama que ocorre basicamente em lactantes ou mulheres com
mamas ingurgitadas. A prevalência nas lactantes pode chegar a 33% (Faguy, 2015). A mastite é dividida em dois tipos:
lactacional ou não lactacional. Os microrganismos causais habituais da mastite são Staphylococcus aureus, Haemophilus
influenzae e espécies de Haemophilus e Streptococcus, cuja fonte é a flora do lactente. Tipicamente, a mastite em lactantes
ocorre nas primeiras 2 a 3 semanas de lactação, embora possa ocorrer em qualquer estágio da lactação. Um ou mais ductos
drenam mal ou ficam bloqueados, resultando em crescimento bacteriano no leite retido (Pluchinotta, 2015). O único fator
predisponente baseado em evidências que pode levar à mastite é o desenvolvimento de estase de leite. No entanto, outros
fatores associados incluem mamilos lesionados ou fissurados, especialmente aqueles colonizados com Staphylococcus
aureus; mamadas irregulares ou perdidas; não possibilitar que a criança esvazie uma mama totalmente antes de passálo
para a outra; má pega e transferência de leite; doença da mãe ou do seu filho; excesso de leite; sutiã apertado; bloqueio do
poro do mamilo ou ducto; estresse e fadiga maternos (Miller & Kennedy, 2015).
A mastite não lactacional pode ser provocada pela ectasia ductal, que ocorre quando os ductos lactíferos se tornam
congestionados com secreções e fragmentos celulares, resultando em inflamação periductal. Pode ser dividida em lesões
de mama centrais (periareolares) e periféricas. As infecções periareolares consistem em inflamação ativa em torno dos
ductos mamários subareolares não dilatados – uma condição chamada de mastite periductal. Os abscessos mamários não
lactacionais periféricos são menos comuns do que os abscessos periareolares e estão frequentemente associados a uma
doença subjacente, como diabetes melito, artrite reumatoide, tratamento com esteroides, mastite lobular granulomatosa e
traumatismo (Faguy, 2015). As mulheres com esses tipos de abscessos apresentam secreção mamilar esverdeada, retração
do mamilo e dor não associada ao ciclo menstrual.
Conduta terapêutica
A remoção eficaz do leite, a medicação para a dor e a antibioticoterapia têm sido os pilares do tratamento. O tratamento
dos dois tipos de mastite envolve o uso de antibióticos orais (geralmente uma penicilina resistente à penicilinase ou uma
cefalosporina), compressas mornas sobre a área inflamada da mama, amamentação continuada e paracetamol para dor e
febre (King et al., 2015).
Avaliação de enfermagem
Avalie a anamnese da paciente à procura de fatores de risco para mastite, que incluem má higienização das mãos,
anormalidades ductais, rachaduras e fissuras nos mamilos, redução das defesas maternas decorrentes da fadiga, roupas
apertadas, falta de apoio para as mamas pendentes, incapacidade de esvaziar as mamas corretamente durante a
amamentação ou falta de amamentação.
O diagnóstico de mastite é feito clinicamente com base no achado de uma área localizada e unilateral de eritema com
febre associada. Avalie se a paciente apresenta as manifestações clínicas da mastite, que incluem manifestações gripais de
malestar, náuseas, cefaleia, leucocitose, febre, fadiga e calafrios. O exame físico das mamas revela aumento da
temperatura local, área tumefeita de uma mama, vermelhidão, dor e tumefação. O mamilo geralmente apresenta fissuras e
a mama está distendida pelo leite (Figura 6.3). Na lactante a ingurgitação significativa pode ser diferenciada da mastite,
porque a ingurgitação é bilateral com envolvimento generalizado de toda a mama. Podese realizar uma ultrassonografia
para diferenciar os tipos de mastite ou abscessos, mas tipicamente o diagnóstico é feito com base na anamnese e no
exame.
FIGURA 6.3 Mastite. (De Sweet, R. L., & Gibbs, R. S. [2009]. Infectious diseases of the female genital tract.
Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins.)
Conduta de enfermagem
Oriente a mulher em relação à etiologia da mastite e incentivea a continuar amamentando, enfatizando que fazêlo é
seguro para seu filho. Instrua a todas as mães que amamentam a verificar se os medicamentos são seguros antes de ingeri
los. Os fármacos administrados às mães podem acumularse no corpo do lactente e modificar a flora intestinal dele,
causando diarreia. As mães devem ser alertadas sobre isso, a fim de reduzir sua ansiedade. Depois de determinar que o
fármaco é seguro, o enfermeiro deve orientála a tomar a medicação conforme prescrito, até o fim. O esvaziamento ou o
bombeamento continuado da mama melhoram o desfecho, diminuem a duração dos sinais e sintomas e reduzem a
incidência de abscesso. Assim, recomendase manter o aleitamento mesmo que a lactante apresente mastite (King et al.,
2015).
Embora 80% dos resultados da biopsia de mama sejam benignos, é necessário aumentar a vigilância por causa do risco
de desenvolvimento de câncer. O cronograma de acompanhamento recomendado é por exames de imagem (mamografia ou
ultrassonografia) e um exame clínico das mamas por um cirurgião 6, 12 e 24 meses após um achado benigno na biopsia da
mama (Tharpe, Farley, & Jordan, 2016). As instruções para a mulher com mastite são detalhadas no boxe Diretrizes de
ensino 6.2.
Diretrizes de ensino 6.2
Cuidados com a mastite
• Ingerir a medicação conforme a prescrição para reduzir a inflamação e a infecção
• Manter o aleitamento conforme o tolerado para manter o fluxo de leite
• Começar o aleitamento na mama mais afetada, para possibilitar que ela seja esvaziada primeiro
• Massagear as mamas antes e durante a amamentação para incentivar a extração do leite
• Usar um sutiã confortável com boa sustentação 24 horas por dia
• Aumentar o consumo de líquido para manter a hidratação
• Massagear delicadamente a mama em direção ao mamilo várias vezes ao dia
• Variar a posição do recémnascido/lactente durante o aleitamento – embalando, em decúbito lateral,
como se segurasse uma bola de futebol americano e encostando o abdome do recémnascido/lactente
no abdome da mãe
• Certificarse de que a boca do lactente esteja corretamente posicionada no mamilo para não causar
desconforto
• Praticar boas técnicas de higienização das mãos para reduzir o risco de transferência bacteriana
• Aplicar compressas quentes sobre a mama afetada ou tomar um banho quente antes de amamentar
• Mudar com frequência de posição durante o aleitamento para melhorar o fluxo de leite
• Descansar e manter nutrição adequada para sustentar ou melhorar o sistema imunológico
• Instruir a paciente a procurar o médico dela se a febre retornar, se ocorrerem calafrios ou se os
sinais/sintomas piorarem.
Adaptado de American Cancer Society [ACS]. (2015a). Noncancerous breast conditions. Retirado
de http://www.cancer.org/healthy/findcancerearly/womenshealth/noncancerousbreastconditions/non
cancerousbreastconditionsintro; King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Gegor, C. L., &
Varney, H. (2015). Varney’s midwifery (5th ed.), Berlington, MA: Jones & Bartlett Learning; e Tharpe, N.
L., Farley, C. L., & Jordan, R. G. (2016). Clinical practice guidelines for midwifery & women’s health. (4th
ed.), Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning.
DOENÇAS MALIGNAS DA MAMA
O câncer de mama é uma doença neoplásica na qual as células normais do corpo se tornam malignas (National Cancer
Institute [NCI], 2015a). É o câncer mais comum em mulheres e a segunda causa de morte por câncer (o câncer de pulmão
é a primeira) das mulheres norteamericanas. O câncer de mama representa um em cada três cânceres diagnosticados nos
EUA (ACS, 2015a). Um novo caso é descoberto a cada 2 minutos. Estimase que uma em cada oito mulheres
desenvolverá a doença em algum momento da vida. A taxa de mortalidade das pessoas com câncer de mama é de 1 em 36
(NCI, 2015a).
Mais de 200.000 casos de câncer de mama invasivo são diagnosticados nos EUA a cada ano (ACS, 2015a). O câncer
de mama também ocorre nos homens, mas apenas 1% de todas as pessoas com diagnóstico anual de câncer de mama são
homens. Cerca de 2.000 homens são diagnosticados com câncer de mama a cada ano, com uma taxa de mortalidade de
aproximadamente 1 em cada 4 (Khan, Allerton, & Petitt, 2015). Como os homens não são examinados rotineiramente para
a doença, o diagnóstico muitas vezes é tardio. A manifestação clínica mais comum do câncer de mama masculino é massa
mamária subareolar, de consistência firme e indolor. Qualquer massa suspeita na mama do homem deve ser submetida a
biopsia diagnóstica. Se for diagnosticado um processo maligno, o tratamento típico é a mastectomia com avaliação dos
linfonodos axilares.
Acreditase que a causa do câncer de mama, embora não seja bem compreendida, seja uma complexa interação de
fatores ambientais, genéticos e hormonais. O câncer de mama é uma doença progressiva, em vez de sistêmica, o que
significa que a maioria dos cânceres evolui de um tamanho pequeno com baixo potencial metastático para um tamanho
maior e com alto potencial metastático. O estágio e as dimensões do tumor e o envolvimento dos linfonodos são preditores
importantes de potencial metastático (Arora et al., 2015).
Fisiopatologia
O câncer não é apenas uma doença, mas um grupo de doenças que resulta de um crescimento celular desregulado. Sem a
regulação, as células se dividem e crescem descontroladamente, até que acabam formando um tumor. Extensas pesquisas
determinaram que todo câncer resulta de alterações na estrutura de DNA ou dos cromossomos que provocam a mutação de
genes específicos. A maioria das mutações genéticas que causam câncer é adquirida esporadicamente, o que significa que
ocorrem por acaso e não são necessariamente resultantes de mutações hereditárias (Shannon & Chittenden, 2015).
Acreditase que o desenvolvimento do câncer seja de natureza clonal, o que significa que cada célula é derivada de outra
célula. Se uma célula desenvolver uma mutação, qualquer célulafilha dessa célula apresentará a mesma mutação, e esse
processo continua até que se forma um tumor maligno.
Considere isto
Estava chovendo muito e eu estava dirigindo sozinha por ruas escuras e molhadas, indo fazer meu exame
de ultrassonografia de mama marcado para as 8 horas. Tinha acabado de fazer minha mamografia anual e
o radiologista pensou ter visto algo suspeito na minha mama direita. Eu estava indo confirmar ou descartar
suas suspeitas, e não conseguia manter o foco na estrada à frente. Nos últimos dias, eu me senti um caso
perdido, temendo o pior. Eu ficava o tempo todo pensando no que eu faria se…? Quais mudanças eu faria
em minha vida e como reagiria quando informada? Já passei por tanta agitação pessoal desde que o
médico me disse que precisaria fazer “mais exames”…
Reflexões: Essa mulher está preocupada e emocionalmente devastada antes mesmo de ter um
diagnóstico conclusivo. Essa é uma reação típica a um distúrbio de mama? Por que as mulheres temem o
pior? Muitas mulheres usam a negação para mascarar seus sentimentos e uma forte esperança de que o
médico tenha cometido um erro ou interpretado mal sua mamografia. Como você reagiria se você ou sua
irmã, namorada ou mãe fosse confrontada com uma doença de mama?
O câncer de mama começa nas células epiteliais que revestem os ductos mamários no interior da mama. A velocidade
de crescimento depende de influências hormonais, principalmente de estrogênio e progesterona. As duas categorias
principais do câncer de mama são o não invasivo e o invasivo. O câncer de mama não invasivo ou in situ é aquele que não
se estende além do ducto, lóbulo ou ponto de origem para o tecido mamário circundante. Por outro lado, o câncer de mama
invasivo ou infiltrativo se propaga para o tecido mamário circundante, com o potencial de metástase. Muitos
pesquisadores acreditam que a maioria dos cânceres invasivos provavelmente se origine como cânceres não invasivos
(Cuzick & Thorat, 2015).
O câncer da mama é considerado uma doença extremamente variável. Embora o processo de metástase seja um
fenômeno complexo e pouco compreendido, evidências sugerem que a neovascularização do tumor tem participação
importante na agressividade biológica do câncer da mama (Toi et al., 2015). O câncer da mama produz muitas metástases
para quase todos os órgãos do corpo, mas sobretudo para os ossos, os pulmões, os linfonodos, o fígado e o encéfalo. Os
primeiros sítios de metástases geralmente são locais ou regionais, envolvendo a parede torácica ou os linfonodos
supraclaviculares axilares ou os ossos (ACS, 2015a).
Carcinoma ductal invasivo
O câncer de mama mais comum é, sem dúvida, o carcinoma ductal invasivo, que representa 85% de todos os casos (ACS,
2015c). O carcinoma é um tumor maligno que ocorre no tecido epitelial, que tende a infiltrarse e que dá origem a
metástases. A incidência desse tipo de câncer alcança seu máximo na sexta década de vida (> 60 anos de idade). Ele se
propaga rapidamente para os linfonodos axilares e outros linfonodos, mesmo quando pequeno. O carcinoma ductal
invasivo pode assumir várias formas histológicas – bem diferenciada e de crescimento lento, pouco diferenciada e
infiltrativa ou altamente maligna e indiferenciada, com inúmeras metástases. Esse tipo comum de câncer de mama começa
nos ductos, rompe a parede do ducto e invade o tecido adiposo mamário. Esse tipo de câncer de mama representa 75% de
todos os cânceres de mama (Stopeck, Chalasani, & Thompson, 2015).
Carcinoma lobular invasivo
Os carcinomas lobulares invasivos, que se originam nas unidades lobulares terminais dos ductos mamários, representam
10% de todos os casos de câncer de mama. A incidência máxima é nas mulheres com 40 a 50 anos de idade. Apresentase
como uma área de espessamento mal definido em vez de massa palpável. O tumor está frequentemente localizado no
quadrante superior externo da mama; no momento em que é descoberto, o prognóstico geralmente é ruim (Selvi, 2015).
Outros carcinomas invasivos
Outros tipos invasivos de câncer incluem o carcinoma tubular (29%), que é bastante incomum e ocorre tipicamente em
mulheres com 55 anos ou mais. O carcinoma coloide (2 a 4%) ocorre em mulheres com 60 a 70 anos de idade e é
caracterizado pelo achado de grandes acúmulos de muco intercalados com ilhotas de células tumorais. O carcinoma
medular representa 5 a 7% dos tumores malignos da mama. Frequentemente ocorre em mulheres mais jovens (< 50 anos
de idade) e evolui para grandes massas tumorais. O câncer de mama inflamatório (< 4%) muitas vezes se manifesta com
edema, vermelhidão e aumento da temperatura da pele e está associado a mau prognóstico. A doença de Paget (2 a 4%)
originase no mamilo e tipicamente ocorre com o carcinoma ductal invasivo (Bope & Kellerman, 2015).
Estadiamento do câncer de mama
O câncer de mama é classificado em três estágios, com base:
1. No tamanho dos tumores
2. No grau de envolvimento dos linfonodos
3. Nas evidências de metástase.
Os objetivos do estadiamento de um tumor são determinar a probabilidade de o tumor ter metastatizado, decidir sobre
um curso adequado de tratamento e avaliar o prognóstico da paciente. A Tabela 6.2 dá detalhes e características de cada
estágio (ver também a Figura 6.4) A taxa de sobrevida global de 10 anos para a mulher com câncer de mama no estágio I é
de 80 a 90%; para a mulher no estágio II, é de cerca de 50%. A perspectiva não é tão boa para as mulheres com doença
nos estágios III ou IV (Alexander et al., 2014).
Não há um modo completamente acurado de saber se o câncer já micrometastatizou para órgãos distantes, mas alguns
testes podem ajudar a determinar se o câncer se disseminou. Podese realizar uma cintigrafia óssea para avaliar os ossos.
A ressonância magnética (RM) pode ser usada para detectar metástases no fígado, na cavidade abdominal, nos pulmões ou
no encéfalo.
Fatores de risco
Estimase que 80% das mulheres que desenvolvem um câncer de mama não tenham fatores de risco documentados (Bope
& Kellerman, 2015). Acreditase que o câncer de mama se desenvolva em resposta a vários fatores relacionados:
envelhecimento, sexo (99% dos casos ocorrem em mulheres), maternidade tardia ou não ter filhos, influências genéticas;
mutações genéticas BRCA1 e BRCA2; história pregressa de exposição à radiação ionizante; alta densidade da mama;
obesidade após a menopausa; história familiar de câncer; fatores hormonais (menarca precoce antes dos 12 anos,
menopausa tardia após os 50 anos de idade, primeira gestação a termo com mais de 30 a 35 anos de idade); terapia de
reposição hormonal com estrogênio e progestina; e ingestão de duas ou mais doses de bebida alcoólica por dia (ACS,
2015b). Outros fatores poderiam contribuir para o câncer de mama, mas não foram comprovados cientificamente.
Tabela Estadiamento do câncer de mama.
6.2
Estágio Características
0 In situ, tipo inicial de câncer de mama
I Tumor localizado, < 2,5 cm de diâmetro
II Tumor de 2,5 a 5 cm de diâmetro; disseminação para os
linfonodos axilares
III Tumor de 5 cm ou mais; disseminação para outros linfonodos
e tecidos
IV Câncer com metástase para outros órgãos do corpo
Adaptada de American Cancer Society [ACS]. (2015h). How is breast
cancer staged? Retirada
de http://www.cancer.org/Cancer/BreastCancer/DetailedGuide/breast
cancerstaging.
Em 1970, o risco de desenvolver câncer de mama durante a vida de uma mulher era de 1 em 10; desde então, o risco
tem aumentado gradualmente (NCI, 2015b). Este discreto aumento da incidência pode ser explicado de vários modos:
melhor detecção e disponibilidade de ferramentas de rastreamento, que identificaram mais casos; mulheres vivendo até
uma idade mais avançada, quando seu risco aumenta; e mudanças de estilo de vida das mulheres norteamericanas (têm
sua primeira gestação em idade mais avançada, têm menos filhos e usam a terapia hormonal para os sinais e sintomas da
menopausa). A idade é um fator de risco significativo. Visto que as taxas de câncer de mama aumentam com a idade, as
estimativas de risco em idades específicas são mais significativas do que as estimativas de risco ao longo da vida. As
chances estimadas de uma mulher ser diagnosticada com câncer de mama entre as idades de 30 e 70 anos estão detalhadas
na Tabela 6.3.
Os fatores de risco para o câncer da mama podem ser divididos naqueles que não podem ser alterados (fatores de risco
não modificáveis) e aqueles que podem ser alterados (fatores de risco modificáveis). Os fatores de risco não modificáveis
(ACS, 2015b) incluem:
• Sexo (feminino)
• Envelhecimento (> 50 anos de idade)
• Mutações genéticas (genes BRCA1 e BRCA2)
FIGURA 6.4 Estágios I a IV do câncer de mama.
Tabela 6.3 Risco estimado de câncer de mama em faixas etárias
específicas.
30 a 39 1 em 233
anos
40 a 49 1 em 69
anos
50 a 59 1 em 42
anos
60 a 69 1 em 29
anos
Adaptada de American Cancer Society [ACS]. (2015i). How many women
get breast cancer? Retirada
de http://www.cancer.org/cancer/breastcancer/overviewguide/breast
canceroverviewkeystatistics.
• História pessoal de câncer de ovário ou de cólon
• Densidade mamária aumentada eleva o risco em 3 a 5 vezes
• História familiar de câncer de mama
• História pessoal de câncer de mama (aumento de 3 a 4 vezes no risco de recorrência)
• Raça/etnia (maior em mulheres brancas, mas as mulheres afroamericanas têm maior probabilidade de morrer de
câncer)
• Biopsia de mama anormal prévia (hiperplasia atípica)
• Exposição torácica à radiação (a radiação danifica o DNA)
• Irradiação prévia da mama (12 vezes o risco normal)
• Menarca precoce (< 12 anos) ou menopausa tardia (> 55 anos), o que representa aumento da exposição ao estrogênio
durante a vida útil.
Os fatores de risco modificáveis relacionados com o estilo de vida (ACS, 2015b) incluem:
• Não ter filhos ou não têlos até depois dos 30 anos de idade: isso aumenta o risco de câncer de mama pela não redução
dos ciclos menstruais
• Uso de estrogênios e progesterona após a menopausa: o estudo Women’s Health Initiative (2002) relatou aumento dos
riscos da terapia de reposição hormonal a longo prazo (> 5 anos)
• Não amamentar por até 1 ano após a gravidez: aumenta o risco de câncer de mama por não reduzir o número total de
ciclos menstruais ao longo da vida
• Etilismo: aumenta o nível sanguíneo de estrogênio
• Tabagismo: exposição aos agentes cancerígenos encontrados nos cigarros
• Obesidade e ingestão de dieta com alto teor de gordura: os adipócitos produzem e armazenam estrogênio, de modo que
mais adipócitos produzem maiores níveis de estrogênio
• Sedentarismo e não praticar exercícios físicos: aumenta a gordura corporal, que abriga estrogênio.
As taxas de incidência de câncer de mama são mais elevadas em mulheres brancas não hispânicas em comparação com
mulheres afroamericanas, na maioria das faixas etárias. No entanto, as mulheres afroamericanas têm taxa de incidência
mais elevada antes dos 40 anos de idade e são mais propensas a morrer de câncer de mama em todas as idades (ACS,
2015b). Parte dessa diferença é decorrente de fatores sociais, como pobreza e acesso limitado aos cuidados de saúde.
Alguns estudos também encontraram diferenças genéticas no tipo de câncer de mama que se desenvolve em mulheres afro
americanas e brancas. No entanto, pouco se sabe em relação a se outros fatores de risco têm impacto distinto em mulheres
de etnias diferentes. Resultados de um novo estudo sugerem que os fatores de risco são semelhantes em ambas as etnias
(ACS, 2015b).
A existência de fatores de risco, especialmente vários deles, exige monitoramento contínuo e avaliação cuidadosa para
promover a detecção precoce. Embora os fatores de risco sejam considerações importantes, muitas mulheres com câncer
de mama recémdiagnosticado não têm fatores de risco conhecidos. Embora a mamografia de rotina e o autoexame sejam
uma abordagem prudente para mulheres de alto risco, essas precauções podem salvar vidas por possibilitar a detecção
precoce de lesões cancerosas.
O consumo de uma dieta hipolipídica, com muitas frutas, verduras, legumes e grãos integrais, fornece todas as
vitaminas e os nutrientes de que o corpo precisa e comprovadamente reduz de modo significativo o risco de desenvolver
vários tipos de câncer. Uma dieta vegetariana também pode reduzir sua recorrência: dietas ricas em fibras e ricas em frutas
e vegetais e evitar o consumo de bebidas açucaradas, de alimentos densos em calorias e de carnes processadas reduzem a
recorrência de câncer de mama (Catsburg et al., 2015). Eles estudaram a efetividade de uma dieta rica em vegetais e com
baixo teor de gordura, visando aumentar significativamente as concentrações circulantes de carotenoides a partir de fontes
alimentares, na redução de eventos de câncer de mama adicionais e morte precoce em mulheres com câncer de mama
invasivo em estágio inicial. Tratase de uma prescrição para a prevenção do câncer que tem apenas efeitos colaterais
benéficos: redução dos níveis sanguíneos de colesterol, perda de peso e menor risco de doenças cardíacas. A adesão a uma
dieta vegetariana que limite o consumo de carne vermelha está associada a risco reduzido de câncer de mama, sobretudo
após a menopausa (Catsburg et al., 2015).
O rastreamento de câncer de mama começa com a anamnese e o exame físico de rotina. Os enfermeiros devem
aproveitar todas as oportunidades para ensinar e enfatizar a meta do rastreamento do câncer de mama: a detecção precoce
reduz a taxa de mortalidade. O rastreamento ou a triagem inclui AEM, exame das mamas pelo médico e mamografia.
Diagnóstico
Muitos exames podem ser solicitados para fazer um diagnóstico acurado de um nódulo de mama maligno. Estes incluem:
• Mamografia para fins diagnósticos ou mamografia digital
• Mamografia por ressonância magnética (MRM)
• Aspiração por agulha fina
• Biopsia estereotáxica
• Biopsia do linfonodo sentinela
• Estado dos receptores hormonais
• Termografia
• Estado da ploidia do DNA
• Índices de proliferação celular
• Marcador genético HER2/neu (Han et al., 2015).
Mamografia
A mamografia se tornou um exame de rastreamento aceito que é aprovado pela maioria das organizações de oncologia e é
ressarcido pela maioria dos planos de saúde. A mamografia tem dois propósitos: rastreamento e diagnóstico. A
mamografia consiste em radiografias da mama nua enquanto ela é comprimida entre duas placas de plástico. Esse
procedimento é uma ferramenta de rastreamento utilizada para identificar e caracterizar massa na mama e detectar tumor
maligno mais precocemente. Ainda é o método de rastreamento padrãoouro para as mulheres com risco médio de câncer
de mama. É um exame relativamente barato, exige apenas pequena dose de radiação e identifica de modo confiável os
tumores malignos, em especial aqueles pequenos demais para serem palpados. Também pode ser usado para investigar
nódulos da mama e outras manifestações. A mamografia consiste tipicamente em quatro incidências, duas por mama
(Figura 6.5). Consegue detectar lesões tão pequenas quanto 0,5 cm (o tamanho médio de um tumor identificado por uma
mulher por meio do AEM ocasional é de aproximadamente 2,5 cm) (Rifkin & Lazris, 2015).
FIGURA 6.5 Mamografia. A. Incidência superoinferior da mama. B. Incidência lateral da mama.
A mamografia para fins diagnósticos é realizada quando existem achados clínicos suspeitos em um exame de mama ou
quando foi encontrada anormalidade em uma mamografia. A mamografia para fins diagnósticos utiliza incidências
adicionais da mama afetada, bem como ampliação. A mamografia para fins diagnósticos fornece ao radiologista detalhes
adicionais para tornar o diagnóstico mais específico. Atualmente, a mamografia digital está sendo usada para diagnosticar
lesões mamárias.
A maioria das mulheres considera a mamografia, que dura 10 minutos, desconfortável, mas não dolorosa. No boxe
Diretrizes de ensino 6.3 constam dicas para a paciente seguir antes de ser submetida a esse exame.
Diretrizes de ensino 6.3
Preparação para a mamografia
• Programar o exame para imediatamente após a menstruação, quando as mamas estão menos
doloridas
• Não usar desodorante nem talco no dia do exame, uma vez que podem aparecer no filme de raios X
como pontos de cálcio
• O paracetamol ou o ácido acetilsalicílico conseguem aliviar qualquer desconforto após o exame
• Remover todas as joias do pescoço, porque o metal pode causar distorções na imagem (filme)
• Escolher uma instituição que seja credenciada pelo American College of Radiology para garantir a
certificação apropriada dos funcionários.1
A U.S. Preventive Services Task Force (USPSTF) mudou suas recomendações para o rastreamento do câncer de mama
em 2009, resultando em considerável controvérsia. A USPSTF recomenda agora a realização a cada 2 anos da mamografia
de rastreamento para as mulheres com idades entre 50 e 74 anos. Anteriormente, as mulheres com 40 anos ou mais eram
aconselhadas a realizar a mamografia de rastreamento. A entidade afirmou que a decisão de começar o rastreamento
regular e bienal por mamografia antes dos 50 anos deve ser individual e levar em consideração o contexto da paciente,
incluindo seus valores quanto aos benefícios e malefícios específicos. Além disso, a USPSTF concluiu que as evidências
atuais são insuficientes para avaliar os benefícios e danos adicionais da mamografia em mulheres com 75 anos ou mais.
Por fim, a USPSTF não recomenda a realização do AEM, porque as evidências científicas não apoiam essa prática como
um método de rastreamento válido para as mulheres, visto que a sua sensibilidade varia de 12 a 41%, menor do que o
exame clínico das mamas feito por um profissional de saúde e pela mamografia, além de ser dependente da idade. Nos
EUA, a USPSTF está, no momento, atualizando suas diretrizes de recomendação sobre rastreamento de câncer de mama e
pode retornar à recomendação de realização de mamografia para fins diagnósticos a cada 1 a 2 anos para mulheres com 40
anos de idade ou mais (USPSTF, 2015).
A American Cancer Society (ACS) tem diretrizes diferentes das da USPSTF para mulheres assintomáticas e sem
história familiar de câncer de mama. A ACS ainda recomenda a mamografia anual e exames clínicos da mama para as
mulheres a partir de 40 anos de idade e não recomenda interrompêlos em nenhuma idade. Eles também preconizam o
exame das mamas por um médico a intervalos de aproximadamente 3 anos para mulheres com 20 a 30 anos e anualmente
para mulheres com mais de 40 anos de idade. O AEM é uma opção para as mamas a partir dos 20 anos de idade (ACS,
2015d).
O American Congress of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) recomenda que a mamografia de rastreamento seja
oferecida anualmente a mulheres a partir dos 40 anos. As diretrizes anteriores do ACOG recomendavam a mamografia a
cada 1 ou 2 anos a partir dos 40 anos de idade e anualmente a partir dos 50 anos. O ACOG continua recomendando
exames clínicos anuais da mama para mulheres com 40 anos ou mais e a cada 1 a 3 anos para as mulheres com idades
entre 20 e 39 anos. Além disso, incentiva “a autoconscientização das mamas” para mulheres com 20 anos de idade ou mais
(ACOG, 2015).
Essas informações conflitantes geram confusão nas mulheres que tentam obter decisões sobre o rastreamento do
câncer da mama. O enfermeiro pode apresentar as últimas pesquisas baseadas em evidências para ajudar as mulheres a
tomar decisões informadas com base em sua idade, estado de saúde geral e antecedentes familiares de câncer. (Ver um
resumo útil na Tabela 6.4.) Na verdade, as agências reguladoras não fornecem uma “direção” clara a ser dada às mulheres;
em essência, elas deixam a decisão para a mulher e seu médico. O risco associado é o atraso na detecção de uma lesão de
mama precoce, quando a mulher poderia ser tratada e ter sua vida salva.
Mamografia por ressonância magnética
A mamografia por ressonância magnética (MRM) é um procedimento relativamente novo, que poderia possibilitar a
detecção precoce, porque consegue detectar lesões menores e fornecer mais detalhes. É uma ferramenta de alta acurácia
(com sensibilidade > 90% para o carcinoma invasivo), mas cara. A infusão de contraste é usada para avaliar a velocidade
com que o mesmo penetra inicialmente no tecido mamário. A base da alta sensibilidade do MRM é a angiogênese do
tumor (crescimento dos vasos), que acompanha a maioria dos cânceres de mama, até mesmo os mais recentes. As lesões
malignas tendem a apresentar aumento do realce nos primeiros 2 minutos (Bhatti et al. 2015). Atualmente, a MRM é
usada como um complemento à mamografia e ao exame clínico da mama porque é cara, mas resultados de pesquisas
recentes relatam que é mais acurada do que a mamografia para avaliação do tamanho das lesões mamárias (Poulos, 2015).
Tabela 6.4 Recomendações de rastreamento da USPSTF, da
ACS e do ACOG.
U.S. Preventive Em 2009, a USPSTF mudou suas recomendações
Services Task para o rastreamento do câncer de mama de
Force mulheres assintomáticas ou sem história familiar
de câncer de mama. Antes era recomendada a
mamografia de rastreamento para mulheres com
40 anos de idade ou mais. As recomendações
atualizadas incluem mamografia de rastreamento
bienal para mulheres com idades entre 50 e 74
anos e a não realização do AEM, porque as
evidências científicas não apoiam essa prática
como método de rastreamento válido para as
mulheres, já que sua sensibilidade varia de 12 a
41%, o que é menor do que o exame clínico da
mama realizado por um médico e pela
mamografia, além de ser dependente da idade. As
recomendações anteriores estão sendo revisadas
atualmente (2015)
A USPSTF declara que a decisão da mulher de
começar a realizar a mamografia de rastreamento
regular e bienal antes dos 50 anos de idade deve
ser individual e levar em consideração o contexto
da paciente, incluindo seus valores quanto aos
benefícios e malefícios específicos. A USPSTF
relata também que as evidências atuais não são
suficientes para avaliar os benefícios adicionais e
aspectos nocivos da mamografia de rastreamento
em mulheres de 75 anos ou mais (USPSTF, 2015)
American As diretrizes da ACS diferem das da USPSTF para
Cancer mulheres assintomáticas ou sem história familiar
Society de câncer de mama. A ACS ainda recomenda a
mamografia anual e exames clínicos da mama
para as mulheres a partir de 40 anos de idade e
não recomenda interrompêlos em nenhuma
idade. As diretrizes sugerem que o AEM possa ser
opcional para as mulheres com 20 anos de idade
ou mais (ACS, 2015d)
American O ACOG recomenda que a mamografia de
Congress of rastreamento seja oferecida anualmente para as
Obstetricians mulheres a partir dos 40 anos. As diretrizes
and anteriores recomendavam a mamografia a cada 1
Gynecologists ou 2 anos a partir dos 40 anos de idade e
anualmente a partir dos 50 anos. O exame clínico
das mamas ainda é preconizado uma vez ao ano,
mas o AEM é opcional e não é recomendado com
veemência (ACOG, 2015)
Biopsia aspirativa com agulha fina ou biopsia com agulha cilíndrica
A biopsia aspirativa por agulha fina é feita para identificar um tumor sólido, um cisto ou uma neoplasia maligna. É um
procedimento simples, que pode ser realizado com ou sem anestesia. Uma pequena agulha (calibre 23 a 27) conectada a
uma seringa de 10 mℓ ou mais é inserida no tumor da mama e é aplicada aspiração para retirar o conteúdo. O aspirado é
então enviado ao laboratório de citologia para avaliar se há células anormais.
A biopsia com agulha cilíndrica (core biopsy) assemelhase muito à biopsia com agulha fina, exceto pelo fato de que
uma agulha mais calibrosa é empregada para retirar pequenos cilindros de tecidos da área anormal da mama. A biopsia
com agulha cilíndrica é mais demorada que a biopsia com agulha fina, contudo, mais tecido é coletado para exame.
Biopsia estereotáxica
Essa ferramenta diagnóstica é usada para direcionar e identificar lesões impalpáveis detectadas na mama pela mamografia.
Esse procedimento é menos dispendioso do que a biopsia excisional. O procedimento é realizado em um local
especialmente equipado e geralmente leva cerca de uma hora. As mulheres ficam em decúbito ventral e precisam ficar
paradas durante aproximadamente 20 minutos enquanto a biopsia é realizada. Quando o posicionamento adequado da
massa na mama é confirmado por mamografias digitais, aplicase anestesia local na mama e utilizase uma pistola de
biopsia com mola para obter duas ou três amostras de biopsia do tecido. Depois de terminado o procedimento, a área da
biopsia é limpa e é aplicada uma compressa esterilizada.
Biopsia de linfonodo sentinela
A condição dos linfonodos axilares é um indicador importante do prognóstico no câncer de mama em estágio inicial. A
existência ou não de células malignas nos linfonodos é muito significativa: quanto mais nódulos linfáticos envolvidos e
mais agressivo for o câncer, mais potente precisará ser a quimioterapia, tanto em termos de toxicidade do fármaco quanto
em duração do tratamento (Tsujimoto, 2015). Na biopsia de linfonodos sentinelas, o médico pode determinar se o câncer
de mama se propagou para os linfonodos axilares sem ter de fazer a dissecção tradicional dos linfonodos axilares. A
experiência já mostrou que os ductos linfáticos da mama tipicamente drenam para um linfonodo antes de drenar para o
restante dos linfonodos no braço. O primeiro linfonodo é chamado de linfonodo sentinela.
Esse procedimento pode ser realizado com anestesia local. Injetase um contraste azul radioativo 2 horas antes da
biopsia para identificar o linfonodo sentinela aferente. O cirurgião habitualmente remove de 1 a 3 linfonodos e os envia ao
patologista para determinar se há células cancerosas. A biopsia do linfonodo sentinela é realizada, em geral, antes da
mastectomia para garantir que o câncer não se disseminou. Remover apenas o linfonodo sentinela pode possibilitar que as
mulheres com câncer de mama evitem muitos dos efeitos colaterais (linfedema) associados à dissecação tradicional dos
linfonodos axilares. Esse procedimento está associado a morbidade menor do que a dissecção de linfonodos axilares, que
resulta em estadiamento mais acurado, melhor controle do tumor axilar e melhor sobrevida. É considerado um padrão de
cuidado para a avaliação inicial da propagação metastática para a cadeia axilar de linfonodos (Chatterjee, Serniak, &
Czerniecki, 2015).
Estado dos receptores hormonais
O epitélio mamário normal tem receptores hormonais e responde especificamente aos efeitos estimulantes do estrogênio e
da progesterona. A maioria dos cânceres de mama conserva os receptores de estrogênio; nestes, o estrogênio mantém o
controle proliferativo sobre as células malignas. Portanto, é útil conhecer a condição dos receptores hormonais do câncer
para prever quais mulheres responderão à manipulação hormonal. O estado dos receptores hormonais revela se o
crescimento do tumor é estimulado pelo estrogênio e pela progesterona. Após a menopausa, as mulheres tendem a ser
RE+, e antes da menopausa tendem a ser RE– (Kalinsky et al., 2015). Para determinar o estado do receptor hormonal,
obtémse uma amostra de tecido do câncer da mama durante uma biopsia ou remoção cirúrgica de um tumor durante a
mastectomia ou nodulectomia, que é examinada por um citologista.
Conduta terapêutica
As mulheres diagnosticadas com câncer de mama têm muitas opções terapêuticas à sua disposição. Em geral, os
tratamentos se dividem em duas categorias: local e sistêmico. As opções locais são cirurgia e radioterapia. As opções
sistêmicas efetivas incluem quimioterapia, terapia hormonal e imunoterapia (Prática baseada em evidências 6.1).
Os planos terapêuticos baseiamse em múltiplos fatores, com os primários sendo a característica invasiva ou não
invasiva do câncer, seu tamanho e estadiamento, o número de linfonodos axilares cancerígenos, a condição dos receptores
hormonais e a capacidade de obter margens cirúrgicas claras (ACS, 2015e). A combinação de opções cirúrgicas e terapia
adjuvante é frequentemente recomendada.
Outra consideração na tomada de decisões em relação a um plano de tratamento é o teste genético para as mutações
genéticas BRCA1 e BRCA2. Esse teste tornouse disponível em 1995 e consegue identificar as mulheres que correm risco
significativamente aumentado de câncer de mama, de ovário e de endométrio. Ao longo da vida, as mulheres com
mutações BRCA1 e BRCA2 correm um risco de 75% de desenvolver câncer de mama e de 30% de desenvolver câncer de
ovário. A maioria dos casos de câncer de mama e câncer de ovário é de natureza esporádica, mas acreditase que
aproximadamente 10% dos cânceres de mama e de ovário resultem de herança genética (Li et al., 2015). É necessário
DNA (obtido de amostra de sangue ou saliva) para pesquisa de mutação. A amostra é enviada para o laboratório para
análise. De modo geral, os resultados demoram 1 mês. O teste positivo para a mutação BRCA1 ou BRCA2 modifica
significativamente as decisões de saúde. Em alguns casos, antes de o teste genético estar disponível, a nodulectomia
associada a radioterapia ou a mastectomia eram as opções mais recomendadas. No entanto, se a mulher apresentar uma
mutação BRCA1, é mais provável que seja oferecida a ela a opção de realizar uma mastectomia bilateral profilática e
possível ooforectomia bilateral. Um estudo recente constatou que as evidências atuais não apoiam a ideia de que a
sobrevida das portadoras da mutação BRCA1 ou BRCA2 no cenário adjuvante seja pior; as diferenças, se ocorrerem, são
provavelmente pequenas quando comparadas a mulheres que não são portadoras da mutação BRCA1 ou BRCA2 (van den
Broek et al., 2015).
Prática baseada em evidências 6.1
Poliquimioterapia versus quimioterapia sequencial para câncer de mama metastático.
ESTUDO
A poliquimioterapia (administração de vários agentes por vez) pode causar destruição maior de células
tumorais se a dose do fármaco não for prejudicada, enquanto a monoquimioterapia sequencial (o mesmo
agente administrado de modo sequencial) possibilita maior intensidade de dose e tempo de tratamento,
potencialmente significando maior benefício de cada agente. Além disso, o uso sequencial de agentes
isolados poderia provocar menos toxicidade e comprometimento da qualidade de vida, mas não se sabe se
isso poderia prejudicar o tempo de sobrevida. O propósito desse estudo era avaliar o efeito da
poliquimioterapia em comparação com os mesmos agentes administrados de modo sequencial a mulheres
com câncer de mama metastático.
Achados
Foram selecionados estudos controlados randomizados de poliquimioterapia comparada com os mesmos
fármacos administrados de modo sequencial em mulheres com câncer de mama metastático em situações
de primeira, segunda ou terceira linha. Foram identificados doze estudos relatando nove comparações
terapêuticas (2.317 pacientes randomizadas). Os achados concluíram que a monoquimioterapia sequencial
tem efeito positivo sobre a sobrevida sem evolução do tumor, enquanto a poliquimioterapia é acompanhada
de uma taxa de resposta mais elevada e de risco maior de neutropenia febril no câncer de mama
metastático. Não houve diferença no tempo de sobrevida total entre essas estratégias terapêuticas, mas
quando os fármacos foram administrados um por vez, transcorreu mais tempo antes de os tumores
crescerem de novo. Todavia, a poliquimioterapia provou citorredução maior do tumor. De modo geral, esse
estudo apoia as recomendações das diretrizes internacionais para usar monoterapia sequencial a menos
que ocorra progressão rápida da doença.
Implicações para a enfermagem
Embora não seja totalmente conclusivo em seus achados, os enfermeiros precisam estar cientes dos
resultados desse estudo para conseguirem aconselhar as mulheres quando as duas terapias forem
consideradas. Esse estudo sugere que são necessárias informações acuradas sobre as duas terapias para
todas as mulheres com câncer de mama metastático a fim de que elas tomem uma decisão informada. Os
enfermeiros precisam lembrar que o câncer de mama metastático não é curável atualmente, embora a
quimioterapia possa ser efetiva. A sobrevida é de aproximadamente 2 anos, contudo, muitas mulheres
vivem muito mais. O tipo de tratamento escolhido deve levar em consideração a otimização da sobrevida, a
minimização dos efeitos colaterais e a qualidade de vida.
Adaptado de Dear, R. F., McGeechan, K, Jenkins, M. C., Barratt, A., Tattersall, M. H. N, & Wilcken, N.
(2015). Combination versus sequential single agent chemotherapy for metastatic breast cancer. Cochrane
Database of Systematic Reviews, 2013 (3), Art. No.: CD008792. DOI: 10.1002/14651858.CD008792.pub2.
A descoberta de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 de suscetibilidade para o câncer de mama e de ovário pode ter
repercussões emocionais tanto para a mulher testada quanto para suas parentes.
Os testes genéticos podem provocar intenso sofrimento psicológico. A angústia está relacionada com história familiar
de câncer, relacionamentos, estratégias de enfrentamento, padrões de comunicação e condição de mutação (Wevers et al.,
2015). O enfermeiro poderia explorar essas questões, a fim de preparar a paciente antes dos testes de BRCA1/BRCA2 e
apoiála ao longo das mudanças na dinâmica familiar após a divulgação dos resultados. Além disso, muitas mulheres veem
suas mamas como intrínsecas à sua feminilidade, autoestima e sexualidade, de modo que o risco de perdêlas pode
provocar extrema ansiedade (Alexander et al., 2014). O enfermeiro precisa atender às necessidades físicas, espirituais e
emocionais das mulheres tratadas, bem como de suas famílias, uma vez que essa mutação é herdada de modo autossômico
dominante. Os profissionais de enfermagem devem identificar o estilo de enfrentamento da paciente, porque este tem
impacto na probabilidade de ela sofrer angústia após o diagnóstico. As mulheres que são emocionalmente extrovertidas
e/ou têm “espírito de luta” costumam sofrer níveis mais baixos de angústia emocional. Com base na genética mendeliana,
as mulheres com mutações BRCA1 e BRCA2 correm risco 5 a 20 vezes maior de desenvolver câncer de mama e de ovário
(Caple & Schub, 2015).
Opções cirúrgicas
Em geral, a primeira opção terapêutica para uma mulher diagnosticada com câncer de mama é a cirurgia. Algumas
mulheres com tumores maiores que 5 cm ou câncer de mama inflamatório passam por quimioterapia neoadjuvante ou
radioterapia para reduzir o tumor antes de tentar a remoção cirúrgica (Debled et al., 2015). As opções cirúrgicas dependem
do tipo e da extensão do câncer. Tipicamente as opções são cirurgia com preservação da mama (mastectomia associada a
radioterapia) ou mastectomia associada ou não a reconstrução. A taxa de sobrevida global da mastectomia e radioterapia é
aproximadamente a mesma que da mastectomia radical modificada (ACS, 2015f). As pesquisas já mostraram que as taxas
de sobrevida das mulheres submetidas à mastectomia em comparação com aquelas submetidas à cirurgia com preservação
da mama seguida por radioterapia são iguais. No entanto, a nodulectomia não é uma opção para algumas mulheres,
incluindo:
• Aquelas com câncer em dois ou mais locais que não possam ser removidos por uma incisão
• Aquelas cuja cirurgia não resultará em margem de tecido limpo
• Aquelas com colagenoses ativas (lúpus ou esclerodermia) que tornam os tecidos corporais especialmente sensíveis aos
efeitos colaterais da radioterapia
• Aquelas submetidas a radioterapia prévia da mama afetada
• Aquelas cujos tumores têm mais de 5 cm (National Comprehensive Cancer Network [NCCN], 2015).
Essas decisões são tomadas em conjunto pela mulher e por seu cirurgião. Se for escolhida a mastectomia, tanto por
causa das características do tumor quanto pela preferência da paciente, então a discussão precisa incluir a reconstrução da
mama e a biopsia dos linfonodos regionais versus a biopsia de linfonodo sentinela. As técnicas incluem mastectomia
simples associada a biopsia do linfonodo sentinela ou mastectomia radical associada a biopsia dos linfonodos regionais. A
remoção de numerosos linfonodos implica alto risco de linfedema.
CIRURGIA COM PRESERVAÇÃO DA MAMA
A cirurgia com preservação da mama, o procedimento menos invasivo, é a excisão local ampla (ou nodulectomia) do
tumor, com uma margem de 1 cm de tecido normal. A nodulectomia é frequentemente utilizada para tumores localizados
em estágio inicial. O objetivo da cirurgia com preservação da mama é remover a massa suspeita, com tecido livre de
células malignas, para evitar a recorrência. Os resultados são menos drásticos e emocionalmente menos perturbadores do
que a mastectomia para a mulher. As mulheres submetidas à cirurgia de conservação da mama recebem radioterapia após a
nodulectomia com o objetivo de erradicar as células cancerosas microscópicas residuais, a fim de limitar a recidiva
locorregional. Quando não é necessário quimioterapia adjuvante, a radioterapia tipicamente começa 2 a 4 semanas após a
cirurgia para possibilitar a cicatrização da incisão da nodulectomia. A radioterapia é administrada em toda a mama em
doses diárias, durante um período de várias semanas (Corradini et al., 2015).
Também pode ser realizada a biopsia de linfonodo sentinela, visto que os linfonodos que drenam a mama estão
localizados basicamente na axila. Teoricamente, se o câncer de mama metatastizar para outras partes do corpo, ele
provavelmente o fará pelo sistema linfático. Se forem encontradas células malignas nos linfonodos, é necessário
tratamento sistêmico mais agressivo.
MASTECTOMIA
A mastectomia simples consiste na remoção de todo o tecido da mama, do mamilo e da aréola. Os linfonodos axilares e os
músculos peitorais são poupados. Esse procedimento seria realizado para um tumor grande ou múltiplos tumores que não
metatastizaram para estruturas adjacentes nem para o sistema linfático.
A mastectomia radical modificada é outra opção cirúrgica; propicia a reconstrução da mama e resulta em maior
mobilidade e menos linfedema (Alexander et al., 2014). Esse procedimento envolve a remoção de tecido da mama e de
alguns linfonodos axilares positivos. A cirurgia com preservação da mama não aumenta o risco futuro de morte por
doença recorrente quando comparada à mastectomia (Schuiling & Likis, 2016).
Em conjunto com a mastectomia, pode ser necessário realizar a remoção dos linfonodos axilares para reduzir o risco
de metástases a distância e melhorar a chance de sobrevida prolongada da mulher. Quando a biopsia de linfonodo sentinela
é positiva, pode ser necessário remover 10 a 20 linfonodos axilares. As complicações associadas à extirpação cirúrgica dos
linfonodos axilares incluem danos aos nervos durante a intervenção, causando parestesia temporária na face superior do
braço; formação de seroma (acúmulo de líquido) seguido por infecção da ferida; restrições na mobilidade do braço
(algumas mulheres precisam de fisioterapia) e linfedema (edema relacionado com linfonodos). Em muitas mulheres, o
linfedema pode ser evitado ao:
• Não coletar sangue, inserir cateteres intravenosos nem aferir a pressão arterial (pode causar traumatismo e possível
infecção) no braço de onde forem retirados os linfonodos
• Procurar atendimento médico imediatamente se o braço afetado inchar
• Usar luvas ao realizar atividades que possam causar lesões, como jardinagem
• Vestir uma luva de compressão bem ajustada para promover o retorno venoso.
As mulheres mastectomizadas precisam decidir se farão uma nova cirurgia para reconstruir a mama. Se a mulher optar
pela cirurgia reconstrutiva, o ideal é que seja realizada imediatamente após a mastectomia. A mulher também precisa
determinar se quer que o cirurgião utilize implantes salinos ou tecidos naturais de seu abdome (método do retalho
miocutâneo do músculo reto transverso do abdome – TRAM) ou de seu dorso (método com retalho do músculo latíssimo
do dorso – LAT).
Se for desejada cirurgia reconstrutiva, a decisão final sobre o método será determinada pela anatomia da mulher (p.
ex., existem gordura e músculo suficientes para possibilitar a reconstituição natural?) e por seu estado geral de saúde.
Ambos os procedimentos exigem um período de recuperação prolongado.
Algumas mulheres optam pela não reconstrução e muitas optam por usar próteses mamárias. Algumas próteses são
usadas no sutiã e outras se encaixam contra a pele ou em bolsos especiais nas roupas.
A cirurgia reconstrutiva é uma decisão individual e muito complexa. É fundamental apresentar todas as opções à
mulher, deixando que ela tome a decisão. O enfermeiro pode desempenhar um papel importante nesse caso, apresentando
os fatos à mulher para que ela possa tomar uma decisão ponderada que atenda à sua situação em especial. A cirurgia de
reconstrução da mama pode ajudar a restaurar o aspecto e o toque da mama após uma mastectomia. A reconstrução da
mama, por um cirurgião plástico, pode ser realizada imediatamente após a mastectomia ou posteriormente. A reconstrução
da mama pode ser realizada com implantes de mama (preenchidos com solução salina ou silicone); retalhos de tecido
natural (usando gordura do tecido subcutânea ou músculo do próprio corpo) ou uma combinação de ambos. Os efeitos
colaterais ou complicações incluem risco de ruptura, endurecimento dos tecidos em torno do implante, infecção e dor. Os
enfermeiros precisam informar às pacientes sobre esses problemas potenciais e assegurarse que elas compreendam antes
de consentir em fazer a reconstrução da mama. Ver na Figura 6.6 exemplos antes e depois da mastectomia e da
reconstrução da mama.
AUMENTO DA MAMA
A mamoplastia de aumento é um procedimento cirúrgico comum nas mulheres. Implantes mamários são colocados por
vários motivos, desde estética até cirurgia reconstrutora após uma mastectomia. Implantes preenchidos com solução salina
ou silicone são usados para fins estéticos e nas cirurgias reconstrutoras. A colocação anatômica exata dos implantes
mamários pode variar, contudo, a localização é tipicamente subglandular (sobre o músculo peitoral) ou subpeitoral (sob o
músculo peitoral). Os implantes mamários não são dispositivos perenes, mas a maioria é garantida por aproximadamente
10 anos em caso de ruptura. A mamoplastia de aumento não é isenta de riscos. As complicações potenciais incluem
contratura capsular, ondulações (rippling), ruptura do implante, infecção ou hematoma. A contração da cápsula ocorre
quando tecido fibrótico se forma, contraise e endurece em torno do implante. As ondulações ocorrem mais
frequentemente quando rugas se formam no implante ou são uma complicação de contratura (Mugea, 2015).
O exame das mamas de mulheres submetidas a cirurgia reconstrutora é realizado da mesma forma que nas mamas
naturais. De modo geral, as mamas com implantes têm, à palpação, consistência mais firme que o tecido mamário normal
em decorrência da formação de uma faixa ou cápsula fibrótica em torno do implante. Se a paciente tiver implantes
mamários, devese pressionar firmemente para dentro nas bordas dos implantes para sentir as costelas abaixo dos
mesmos.
Terapia adjuvante
A terapia adjuvante consiste nas medidas de suporte ou adicionais após a cirurgia. A terapia adjuvante inclui terapia local
(p. ex., irradiação) e terapia sistêmica (quimioterapia, hormonoterapia e imunoterapia).
FIGURA 6.6 Fotografias que mostram antes e depois de mastectomia e reconstrução da mama.
RADIOTERAPIA
A radioterapia utiliza raios de alta energia para destruir as células cancerosas que podem ter ficado na mama, na parede
torácica ou nas axilas depois da extirpação cirúrgica. Habitualmente, administramse doses seriadas de radiação durante 5
dias por semana, no local do tumor, durante 6 a 8 semanas após a cirurgia. Cada sessão leva apenas alguns minutos, mas a
dose é cumulativa. As mulheres submetidas à cirurgia de preservação da mama receberão radiação em toda a mama após a
mastectomia, com o objetivo de erradicar as células cancerosas microscópicas residuais, a fim de reduzir a chance de
recorrência (Chu et al., 2015).
Efeitos colaterais. Os efeitos colaterais da radioterapia convencional incluem inflamação, edema local, anorexia,
tumefação e sensação de peso na mama; alterações na pele parecidas com uma queimadura solar na área tratada e fadiga.
As alterações no tecido mamário e na pele geralmente desaparecem em cerca de 1 ano na maioria das mulheres (Lara et
al., 2015). Esse tipo de tratamento pode ser administrado de várias maneiras: radiação de feixe externo, que administra
uma dose cuidadosamente focada de radiação a partir de uma máquina externa ao corpo, ou por radiação interna, na
qual pellets diminutos que contêm materiais radioativos são colocados no tumor.
Vários avanços ocorreram na área de radioterapia para mulheres com câncer de mama em estágio inicial e eles
resultaram em redução dos efeitos colaterais. A posição de tratamento para a radiação externa mudou de decúbito dorsal
para ventral, com o braço do lado afetado elevado acima da cabeça, de modo que a mama tratada pende por uma abertura
da maca de tratamento. O decúbito ventral melhora a distribuição da dose na mama e possibilita diminuição da dose
administrada ao coração, ao pulmão, à parede torácica e à outra mama (NCCN, 2015).
A braquiterapia de alta dose é outro avanço que representa uma alternativa ao tratamento de radioterapia convencional.
Utilizase um cateterbalão para introduzir sementes radioativas na mama após a extirpação desta. As sementes
administram uma dose concentrada diretamente no local da cirurgia, algo importante, já que a maioria das recorrências de
câncer na mama ocorre no local da nodulectomia ou perto dele (Chang et al., 2015). Isso possibilita que uma elevada dose
de radiação seja administrada em um pequeno volumealvo, com uma dose mínima chegando ao tecido normal circundante.
Esse procedimento leva de 4 a 5 dias, em oposição às 4 a 6 semanas exigidas pela radioterapia convencional; também
elimina a necessidade de adiar a radioterapia para possibilitar a cicatrização da ferida. Atualmente a braquiterapia é
utilizada como radioterapia primária após a cirurgia com preservação da mama em mulheres selecionadas, como uma
alternativa para a irradiação de toda a mama (Guinot et al., 2015). Os efeitos colaterais da braquiterapia incluem
vermelhidão ou secreção em torno de cateteres, febre e infecção. A limpeza diária do local de inserção do cateter com um
sabonete neutro e a aplicação de uma pomada antibiótica minimizam o risco de infecção.
A radioterapia de intensidade modulada (IMRT) é outra abordagem terapêutica nova que reduz a dose na áreaalvo,
poupando as estruturas normais circundantes. Utilizase a tomografia computadorizada para criar um modelo
tridimensional da mama. Com base nesse modelo, produzse uma série de feixes de intensidade modulada para a
distribuição desejada da dose a fim de reduzir a exposição à radiação das estruturas subjacentes. Assim, minimizase a
toxicidade aguda (Muralidhar, Soubhagya, & Ahmed, 2015). As pesquisas para avaliar o impacto de todos esses avanços
na radioterapia ainda estão em andamento.
QUIMIOTERAPIA
A quimioterapia referese à utilização de medicamentos tóxicos para todas as células que interferem na capacidade da
célula de reproduzirse. É particularmente efetiva contra as células malignas, mas afeta todas as células que se dividem
rapidamente, especialmente aquelas da pele, dos folículos pilosos, da boca, do sistema digestório e da medula óssea. O
câncer de mama é uma doença sistêmica na qual já existem micrometástases em outros órgãos por ocasião do diagnóstico.
Os agentes quimioterápicos realizam uma “varredura” sistêmica do organismo para reduzir as chances de tumores
distantes começarem a crescer.
A quimioterapia é indicada para mulheres com tumores maiores que 1 cm, linfonodos positivos ou um tipo agressivo
de câncer. A quimioterapia é prescrita em ciclos, sendo que cada período de tratamento é seguido por um período de
repouso. O tratamento geralmente dura de 3 a 6 meses, dependendo da dose utilizada e do estado de saúde da mulher.
Diferentes classes de fármacos afetam diferentes aspectos da divisão celular e são usados em combinações ou
“coquetéis”. Os agentes quimioterapêuticos ativos e mais prescritos para o câncer da mama incluem agentes alquilantes,
antraciclinas, antimetabólitos e alcaloides da vinca. Cinquenta ou mais agentes quimioterapêuticos podem ser prescritos
para o câncer de mama; no entanto, a combinação de fármacos parece ser mais efetiva do que a monoterapia (ACS,
2015g). Ver o boxe Prática baseada em evidências 6.1.
Efeitos colaterais. Os efeitos colaterais da quimioterapia dependem dos agentes utilizados, da intensidade da dose, da
posologia, do tipo e da extensão do câncer e do estado físico e emocional da paciente. Os enfermeiros precisam se manter
atualizados de modo a conhecer novos tratamentos e seus efeitos colaterais. Esse conhecimento é crucial para prestar
cuidados baseados em evidências a mulheres com câncer de mama que recebem esses tratamentos (Bourdeanu & Lui,
2015). No entanto, os efeitos colaterais típicos incluem náuseas e vômitos, diarreia ou constipação intestinal, queda de
cabelo, perda de peso, estomatite, fadiga e imunossupressão. O mais grave é a supressão da medula óssea
(mielossupressão). Isso provoca aumento do risco de infecção, hemorragia e contagem de hemácias reduzida, o que pode
levar à anemia. Habitualmente os efeitos colaterais podem ser controlados por meio de medicações de suporte adequadas,
como antieméticos. Além disso, fatores estimulantes do crescimento, como a epoetina alfa e o filgrastim, ajudam a
impedir que as contagens de células sanguíneas caiam muito. As contagens muito baixas interromperiam ou retardariam o
uso da quimioterapia.
Uma opção sistêmica agressiva quando outras opções falharam ou quando existe uma forte possibilidade de uma
recidiva ou doença metastática é a quimioterapia de altas doses com transplante de medula óssea e/ou de célulastronco.
Esse tratamento envolve a supressão da medula óssea antes da administração de níveis tóxicos de agentes
quimioterapêuticos. A medula óssea é congelada e depois devolvida à paciente após a conclusão da quimioterapia em altas
doses. Os ensaios clínicos ainda estão pesquisando essa terapia experimental (King et al., 2015).
HORMONOTERAPIA
Uma das funções normais do estrogênio é estimular o crescimento e a divisão das células saudáveis nas mamas. No
entanto, em algumas mulheres com câncer da mama, essa função normal contribui para o crescimento e a divisão das
células cancerosas.
O objetivo da hormonoterapia é bloquear ou contrapor o efeito do estrogênio. O estrogênio desempenha um papel
central na patogênese do câncer e o tratamento com privação de estrogênio é comprovadamente efetivo. Aproximadamente
dois terços das mulheres com diagnóstico de câncer de mama em estágio inicial têm doença sensível a hormônios (receptor
de estrogênio positivo e/ou receptor de progesterona positivo) e a hormonoterapia adjuvante é crucial na redução do risco
de recorrência e melhora da sobrevida (Gradishar, 2015). Várias classes de fármacos são usadas para interferir ou
bloquear os receptores de estrogênio. Essas classes incluem os moduladores seletivos dos receptores de estrogênio
(MSRE), os infrarreguladores dos receptores de estrogênio, os inibidores da aromatase, o hormônio liberador do
hormônio luteinizante, a progestina e os modificadores da resposta biológica (King et al., 2015). As recomendações atuais
para a maioria das mulheres com câncer de mama RE+ consistem na ingestão de um medicamento semelhante a hormônio
– conhecido como agente antiestrogênico MSRE – diariamente por até 5 anos após o tratamento inicial. Certas áreas do
corpo feminino (mamas, útero, ovários, pele, vagina e encéfalo) contêm células especializadas chamadas receptores de
hormônio, que possibilitam que o estrogênio entre na célula e estimulea a dividirse. Os MSRE ligamse a esses mesmos
receptores e agem como chaves, “desligando” o sinal para o crescimento dentro da célula (King et al., 2015). O MSRE
mais conhecido é o tamoxifeno (20 mg/dia durante 5 anos). Embora o tamoxifeno funcione bem na prevenção da
propagação do câncer, também está associado a aumento da incidência de câncer endometrial, embolia pulmonar, trombose
venosa profunda, fogacho, corrimento vaginal, sangramento vaginal, acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico
(AVE) e formação de catarata (Jager et al., 2015).
Outro MSRE é o fármaco antiosteoporose raloxifeno, que tem mostrado resultados promissores. Apresenta efeitos
antiestrogênicos na mama e no útero. Em estudos recentes com mulheres após a menopausa que corriam alto risco para
câncer de mama, o raloxifeno funcionou tão bem quanto o tamoxifeno na prevenção do câncer de mama, mas com menos
efeitos adversos graves. Ambos os fármacos reduzem o risco de câncer pela metade (Bevers, 2015). Foi originalmente
comercializado apenas para prevenção e tratamento da osteoporose, mas agora é usado como terapia adjuvante do câncer da
mama.
Outra classe de agentes usados na hormonoterapia, os inibidores da aromatase, inibe a conversão de androgênios em
estrogênios. Os inibidores de aromatase incluem o letrozol (2,5 mg/dia), o exemestano (25 mg/dia) e o anastrozol (1
mg/dia, durante 5 anos), todos administrados por via oral. Habitualmente esses agentes são prescritos para mulheres com
câncer de mama avançado. Em estudos clínicos recentes em mulheres pósmenopáusicas com câncer da mama, os
inibidores da aromatase de terceira geração foram superiores ao tamoxifeno para o tratamento da doença metastática
(Bevers, 2015).
Efeitos colaterais. Os efeitos colaterais associados a essas hormonoterapias incluem fogachos, dor óssea, redução da
densidade óssea, insônia, ganho ponderal, depressão, fadiga, náuseas, tosse, dispneia e cefaleia (Breast Cancer
Organization, 2015). As mulheres com câncer hormôniosensível conseguem viver por longos períodos sem outra
intervenção além da manipulação hormonal, mas as questões de qualidade de vida precisam ser abordadas no equilíbrio
entre o tratamento e os efeitos colaterais.
IMUNOTERAPIA
A imunoterapia, utilizada como suplemento à cirurgia, representa uma tentativa de estimular as defesas naturais do
organismo para reconhecer e atacar as células cancerosas. O trastuzumabe (2 a 4 mg/kg de peso corporal por infusão
intravenosa) é o primeiro anticorpo monoclonal aprovado pela FDA para o tratamento do câncer de mama (National
Comprehensive Cancer Network, 2015). Alguns tumores produzem quantidades excessivas de proteína HER2/neu, a qual
regula o crescimento das células cancerígenas. Os cânceres da mama que superexpressam a proteína HER2/neu estão
associados a uma forma mais agressiva da doença e a um prognóstico pior. O trastuzumabe bloqueia o efeito dessa
proteína para inibir o crescimento das células cancerosas. Pode ser usado sozinho ou em combinação a outros tipos de
quimioterápicos para pacientes com doença de mama metastática. Embora a imunoterapia pareça promissora contra o
câncer, dados recentes sugerem que o sucesso será maior se for combinada com outras abordagens terapêuticas, como a
radioterapia (Leavy, 2015).
Efeitos colaterais. Os efeitos adversos do trastuzumabe incluem toxicidade cardíaca, trombose vascular, insuficiência
hepática, febre, calafrios, náuseas, vômito e dor com a primeira infusão (SkidmoreRoth, 2015).
Domínio de conceito
Tamoxifeno versus trastuzumabe no tratamento do câncer de mama
Tamoxifeno é um modulador seletivo do receptor de estrogênio (RE) que é prescrito para evitar
propagação adicional do câncer de mama em mulheres com câncer de mama RE+. O
trastuzumabe é um anticorpo monoclonal usado no tratamento do câncer de mama e é
considerado imunoterapia.
Conduta de enfermagem para a paciente com câncer de mama
Quando uma mulher é diagnosticada com câncer de mama, ela enfrenta um tratamento que modifica a
forma do corpo, tem efeitos colaterais e não implica certeza de cura. Os enfermeiros podem apoiar as
mulheres a partir do momento do diagnóstico, durante os tratamentos e durante o período de
acompanhamento após a conclusão dos tratamentos cirúrgico e adjuvante. É essencial disponibilizar um
tempo para que a paciente faça perguntas e discutir todos os preparativos necessários para o tratamento.
Visto que os conhecimentos em relação às doenças da mama continuam melhorando, os tratamentos
continuam mudando.
Embora o objetivo do tratamento continue sendo a melhora da sobrevida, o foco na prevenção está
aumentando. As medidas de prevenção do câncer de mama se concentram em avaliar e reduzir os fatores
de risco. As abordagens para reduzir o risco de câncer de mama incluem modificações do estilo de vida
(dieta e exercícios físicos), quimioprevenção (moduladores seletivos do receptor de estrogênio [MSRE] e
inibidores da aromatase [IAs]) e cirurgia profilática (salpingoooforectomia bilateral e mastectomia profilática
bilateral) (Euhus & Diaz, 2015). Os enfermeiros podem ter um impacto na detecção precoce das doenças
da mama, no tratamento e no manejo dos sinais e sintomas. As mulheres com um diagnóstico de câncer
muitas vezes experimentam emoções negativas, de modo que uma resposta empática do enfermeiro pode
ajudar a aliviar sua angústia (Alexander et al., 2014). O enfermeiro que está envolvido desde o início no
plano de tratamento da mulher consegue efetivamente oferecer apoio ao longo de toda a experiência.
O trabalho em equipe é importante no rastreamento da mama e no atendimento da mulher com
distúrbios da mama. O tratamento muitas vezes é fragmentado entre o hospital e os centros de tratamento
da comunidade, o que pode ser emocionalmente traumático para a mulher e sua família. Os avanços no
diagnóstico e no tratamento das doenças da mama fazem com que as diretrizes de tratamento estejam
constantemente mudando, exigindo que todos os profissionais de saúde mantenhamse atualizados.
Enfermeiros beminformados conseguem fornecer apoio e informação e, mais importante, a continuidade
dos cuidados para a mulher em tratamento por um problema na mama.
O enfermeiro desempenha um papel particularmente importante na prestação de apoio psicológico e de
orientações de autocuidado a mulheres com câncer de mama. Os enfermeiros podem influenciar tanto física
quanto emocionalmente na recuperação, que são dois aspectos importantes do cuidado que ajudam na
melhora da qualidade de vida e da capacidade de sobrevida da mulher. O papel do enfermeiro deve
estenderse além de ajudar as pacientes. Disseminar conhecimentos de prevenção e rastreamento é uma
parte importante na contínua luta contra o câncer. A comunidade deve ver o enfermeiro como orientador e
importante fonte de informações confiáveis. Isso ajuda a melhorar os desfechos clínicos e alcançar altos
níveis de satisfação da paciente.
Apesar das novas diretrizes emitidas por várias agências governamentais a respeito do AEM, o exame
clínico das mamas realizado por um profissional de saúde é essencial para a boa saúde da mama em todas
as mulheres. Ver o Boxe 6.1 para mais informações.
Lembrase de Nancy, do início do capítulo? Sua resposta foi típica de muitas mulheres ao descobrir um
nódulo em sua mama? Nancy confessa a descoberta do nódulo e suas preocupações a você. Quais
conselhos você daria a ela?
Avaliação
O câncer de mama em estágio inicial não apresenta sinais nem sintomas. O primeiro sinal de câncer de
mama muitas vezes é uma anormalidade vista em uma mamografia de rastreamento antes que a mulher ou
o profissional de saúde a consigam palpar. É comum que a paciente esteja assintomática e saudável. No
entanto, a paciente pode apresentar um nódulo na mama, que geralmente é indolor, fixo e endurecido, com
bordas irregulares. Se existir um distúrbio na mama, devese fazer a anamnese completa direcionada e
explorar os fatores de risco da mulher para o câncer de mama. Devese também verificar se existem
manifestações clínicas de câncer de mama, como mudanças no aspecto e no contorno da mama, que se
tornam evidentes com o avanço do câncer (ACS, 2015d). Essas alterações incluem:
• Mudanças continuadas e persistentes na mama
• Nódulo ou espessamento em uma mama
• Irritação persistente nos mamilos
• Tumefação ou assimetria incomum na mama
• Nódulo ou inchaço na axila
• Alterações na cor ou na textura da pele
• Retração, dor à palpação ou secreção do mamilo.
Realize um exame da mama para confirmar as manifestações clínicas e os achados da anamnese e a
avaliação de fatores de risco. O exame clínico da mama envolve tanto a inspeção quanto a palpação (Boxe
6.1). As características úteis ao avaliar massas palpáveis na mama estão descritas na Tabela 6.5. Se um
nódulo pode ser palpado, o câncer já existe há algum tempo.
BOXE 6.1
EXAME CLÍNICO DA MAMA FEITO PELO PROFISSIONAL DE SAÚDE
Se a mulher for considerada de alto risco, o enfermeiro então a orientará a realizar o AEM para melhorar
sua conscientização em relação às mamas.
Objetivo: avaliar as mamas procurando achados anormais
• Inspecionar tamanho, simetria e textura e cor da pele das mamas. É comum que a mama esquerda
seja um pouco maior do que a direita. Inspecionar os mamilos e as aréolas. Pedir à paciente que se
sente na borda da mesa de exame, com os braços apoiados nas laterais
• Inspecionar as mamas à procura de massas, retração, depressões ou equimoses
• A paciente coloca as mãos nos quadris
• Em seguida, levanta os braços acima da cabeça, de modo que a axila também possa ser inspecionada
• Depois, a paciente fica de pé, coloca as mãos nos quadris e inclinase para a frente
• Palpar as mamas usando as pontas dos três primeiros dedos e fazer um movimento em rotação sobre
a mama. Auxiliar a paciente a ficar em decúbito dorsal, com os braços acima da cabeça. Colocar um
travesseiro ou uma toalha sob a cabeça da paciente, para ajudar a espalhar as mamas. Três padrões
podem ser utilizados para a palpação das mamas:
1. Espiral
2. Fatias em forma de torta
3. Faixas verticais
• Comprimir o mamilo delicadamente entre o polegar e o dedo indicador para avaliar se há massas e
espremer para verificar se há secreção
• Palpar a região axilar à procura de dor ou linfadenopatia. Pedir à paciente que se sente e se mova até
a borda da mesa de exame. Enquanto segura o braço dela, palpar para baixo a partir da axila,
palpando em direção às costelas, logo abaixo da mama.
Adaptado de Ball, J. W., Dains, J. E., Flynn, J. A., Soloman, B. S., & Stewart, R. W. (2015). Seidel’s
guide to physical examination (8th ed.). St. Louis, MO: Elsevier Saunders.
Tabela 6.5 Características das massas de mama
benignas versus malignas.
Massas de mama Massas de mama malignas
benignas
• Frequentemente • Difíceis de palpar
dolorosas
• Firmes, com • Indolores
consistência de
borracha
• Bilaterais • Irregulares (mal delineadas)
• Com secreção • Imóveis, fixas à parede torácica
mamilar induzida
• Com margens • Com depressões na pele
regulares (bem
delineadas)
• Sem depressões na • Com retração do mamilo
pele
• Sem retração do • Unilaterais
mamilo
• Móveis, não fixadas à • Com secreção sanguinolenta,
parede torácica serossanguinolenta ou serosa pelo
mamilo
• Com secreção mamilar espontânea
• Sem secreção
sanguinolenta
Esteja ciente do impacto que o câncer de mama tem sobre o estado emocional da mulher, sua
capacidade de enfrentamento e qualidade de vida. O câncer de mama pode fazer com que as mulheres
apresentem tristeza, vulnerabilidade, sensação de perda de controle, alteração da integridade e da imagem
corporais, raiva, comprometimento dos relacionamentos, medo da mortalidade, necessidade de recolocar
suas prioridades na vida e culpa. No entanto, apesar dos potenciais desfechos negativos, muitas mulheres
têm uma perspectiva positiva para o seu futuro e adaptamse às modalidades de tratamento com uma boa
qualidade de vida (Kleban & Glaser, 2015). Acompanhe atentamente a adaptação psicossocial da paciente
ao diagnóstico e ao tratamento e seja capaz de identificar aquelas que precisam de intervenção psicológica
maior. Ao dar conselhos práticos, o enfermeiro pode ajudar a mulher a ajustar sua imagem corporal alterada
e aceitar as mudanças em sua vida.
Como os familiares têm uma participação importante no apoio à mulher ao longo do diagnóstico e do
tratamento do câncer de mama, avalie o sofrimento emocional de ambos os parceiros durante o curso do
tratamento e, se necessário, faça um encaminhamento para suporte psicológico. Por meio da identificação
de tensões interpessoais, os efeitos colaterais psicossociais negativos do tratamento do câncer podem ser
minimizados.
Diagnóstico de enfermagem
Os diagnósticos de enfermagem apropriados para a mulher com diagnóstico de câncer de mama podem
incluir:
• Distúrbios na imagem corporal relacionados com:
• Perda de parte do corpo (mama)
• Perda da feminilidade
• Perda de cabelo devido à quimioterapia
• Medo, relacionado com:
• Diagnóstico de câncer
• Prognóstico da doença
• Conhecimento deficiente em relação a:
• Opções de tratamento do câncer
• Decisões relacionadas com a cirurgia reconstrutiva
• AEM.
Intervenções de enfermagem
Oferecer informações, apoio e cuidados peroperatórios às mulheres diagnosticadas com câncer de mama
que estejam em tratamento. Implementar estratégias de promoção da saúde e prevenção de doenças para
minimizar o risco de desenvolver câncer de mama e promover resultados ideais.
Lembrase de Nancy, que descobriu um nódulo na mama? Você se oferece para ir com ela ao médico.
Depois de um exame físico completo e vários exames complementares, os resultados são positivos para
câncer de mama. Quais opções de tratamento Nancy tem e quais fatores precisam ser considerados na
seleção dessas opções?
Orientações à paciente
Ajudar a mulher e seu parceiro a priorizarem as numerosas informações fornecidas para que possam tomar
decisões informadas. Explicar em detalhes todas as opções de tratamento, para que a paciente e sua
família possam compreendêlas. Ao preparar um pacote individualizado de informações e revisálo com a
mulher e seu parceiro (se aplicável), o enfermeiro pode ajudar a mulher a compreender seu tipo específico
de câncer, os exames complementares e as opções de tratamento que ela pode escolher e os objetivos do
tratamento. Por exemplo, os enfermeiros desempenham um papel importante na orientação das mulheres
em relação à hormonoterapia, observando as experiências da mulher no tratamento e comunicando essas
observações aos profissionais de saúde para que sejam feitos ajustes na dosagem, além de contribuir para
o conhecimento de base da terapia endócrina para o câncer de mama.
Prestar informações é um papel fundamental do enfermeiro no cuidado da mulher com diagnóstico de
câncer de mama. Essas informações podem ser passadas por meio do aconselhamento por telefone,
contato individualizado e pan etos. O aconselhamento por telefone às mulheres e aos seus parceiros pode
ser um método eficaz para melhorar o manejo dos sintomas e a qualidade de vida. Oriente as mulheres
como conviver com o risco, mantendo a qualidade de vida e participando de grupos de apoio (Strayer &
Schub, 2014).
Apoio emocional
O diagnóstico de câncer afeta todos os aspectos da vida de uma mulher e de sua família. A natureza
ameaçadora da doença e os sentimentos de incerteza em relação ao futuro podem levar a ansiedade e
estresse. Fale sobre as necessidades da mulher quanto a:
• Informação em relação ao diagnóstico e ao tratamento
• Cuidados físicos enquanto se submete aos tratamentos
• Contato com pessoas que a apoiem
• Orientação em relação à doença, opções e medidas de prevenção
• Discussão e apoio de um enfermeiro compassivo e competente.
Tranquilize a paciente e sua família, informando que o diagnóstico de câncer de mama não significa
necessariamente morte iminente, diminuição na atratividade da pessoa ou na sexualidade. Incentive a
mulher a expressar seus medos e preocupações. Esteja disponível para ouvir e responder às preocupações
da mulher de modo aberto, para ajudála em direção à recuperação. Todos os aspectos do cuidado devem
incluir a sensibilidade aos esforços pessoais da paciente em enfrentar e curarse. Algumas mulheres podem
envolverse em organizações ou instituições de caridade que apoiam pesquisas sobre o câncer, participar
de caminhadas contra o câncer de mama para sensibilização das pessoas ou tornarse voluntárias
da Reach to Recovery para ajudar os outros. Cada mulher enfrenta o câncer de sua própria maneira e todos
estes esforços podem ser motivadores positivos para a cura.
Para ajudar as mulheres a lidar com o diagnóstico de câncer de mama, a ACS lançou o
programa Reach to Recovery, há mais de 30 anos. Sobreviventes do câncer de mama especialmente
treinadas dão às mulheres e a suas famílias a oportunidade de expressar seus sentimentos, verbalizar seus
medos e obter respostas. Voluntárias em fase de recuperação podem, quando apropriado, fornecer
informações sobre próteses temporárias e permanentes, bem como listas dos locais na comunidade onde
esses artigos podem ser obtidos. Mais importante ainda, os voluntários do programa Reach to
Recovery oferecem compreensão, apoio e esperança por meio de visitas domiciliares ou por telefone, pois
são a prova de que as pessoas podem sobreviver ao câncer de mama e ter uma vida produtiva.2
Cuidados pósoperatórios
Para a mulher que passou por uma cirurgia para remover um nódulo maligno na mama ou para a
extirpação de toda a mama, o cuidado de enfermagem de excelência no período pósoperatório é essencial.
Informe à mulher o que esperar em termos de sinais e sintomas e quando eles costumam ocorrer durante o
tratamento e após a cirurgia. Isso possibilita que as mulheres antecipem essas manifestações de modo
proativo e empreguem estratégias de manejo para melhorar sua experiência com o câncer. No período pós
operatório são preconizados os cuidados imediatos, o controle da dor, os cuidados com o braço afetado, o
tratamento das feridas, os cuidados com a mobilidade, os cuidados respiratórios, os cuidados emocionais,
os encaminhamentos e as necessidades educacionais.
Cuidados no pósoperatório imediato
Avalie o estado respiratório da paciente, auscultando os pulmões e observando o padrão respiratório. Avalie
a circulação; determine os sinais vitais, a cor e a temperatura da pele. Observe o estado neurológico da
paciente, avaliando se está lúcida e orientada. Monitore o volume e a cor da secreção da ferida. Monitore a
perviedade, o líquido correto e a velocidade de infusão dos cateteres intravenosos. Avalie o volume, a cor e
a consistência da drenagem do dreno torácico.
Manejo da dor
Administre analgésicos, conforme necessário. Tranquilize a mulher de que a dor será controlada. Ensinea
a comunicar a intensidade da sua dor em uma escala de 0 a 10, sendo 10 a pior dor imaginável. Avalie o
nível de dor da paciente com frequência e antecipe a dor antes de ajudála a deambular.
Cuidados com o braço operado
Eleve o braço operado sobre um travesseiro para promover a drenagem linfática. Certifiquese de que não
sejam realizadas intervenções nesse braço, incluindo a coleta de amostras de sangue para exames
laboratoriais, colocação de cateteres intravenosos, mensuração da pressão arterial e assim por diante.
Coloque um sinal em cima do leito para alertar outras pessoas para não tocar no braço afetado.
Tratamento da ferida
Observe a ferida frequentemente e esvazie os reservatórios de drenagem, conforme necessário. Peça à
paciente que relate qualquer evidência de infecção precoce, como febre, calafrios ou qualquer área de
vermelhidão ou inflamação ao longo da linha de incisão. Informe também a ela que relate qualquer aumento
na quantidade de drenagem, odor fétido ou deiscência no local da incisão.
Cuidados com a mobilidade
Realize exercícios ativos de amplitude de movimento do braço, conforme prescrito. Incentive a realização de
atividades de autocuidado para o sucesso da reabilitação. Realize curativos e cuidados com a drenagem;
explique os cuidados durante o procedimento.
Cuidados respiratórios
Ajude a paciente a mudar de decúbito, tossir e respirar profundamente a cada 2 horas. Explique que isso
ajudará a expandir o colapso alveolar nos pulmões, promover eliminação mais rápida dos agentes
inalatórios do corpo e prevenir a ocorrência de pneumonia e atelectasia pósoperatórias.
Cuidado emocional e encaminhamentos
Incentive a paciente a participar dos próprios cuidados. Avalie suas estratégias de enfrentamento no pré
operatório. Explique as possíveis preocupações com a imagem corporal após a alta. No Brasil, as unidades
do INCA têm equipes para dar apoio psicológico e material às pacientes, além do INCAvoluntário.3
Necessidades de conhecimento
Forneça informações de acompanhamento a respeito da terapia adjuvante. Explique que a radioterapia é
iniciada algumas semanas após a cirurgia. Converse sobre a quimioterapia, seus efeitos colaterais e ciclos,
o atendimento domiciliar durante o tratamento e as estratégias futuras de monitoramento. Explique a
hormonoterapia, incluindo antiestrogênicos ou inibidores da aromatase. Ensine exercícios progressivos para
os braços para minimizar o linfedema. Explique que é necessário vigilância contínua para detectar a
recorrência do câncer ou um novo foco primário e que a paciente habitualmente consulta o médico a cada 6
meses.
Nancy foi submetida a uma mastectomia seguida por radioterapia e quimioterapia. Quais são os cuidados
de acompanhamento necessários? Como o enfermeiro pode ajudar Nancy a lidar com seu futuro incerto?
Quais recursos da comunidade podem ajudála?
Implementação de estratégias de promoção da saúde e de prevenção da doença
No passado, as mulheres pressupunham que pouco se podia fazer para reduzir o risco de desenvolver
câncer de mama, mas desde a década de 1970 avanços significativos foram feitos no diagnóstico e no
tratamento do câncer de mama. As taxas de mortalidade diminuíram desde 1990, sobretudo em mulheres <
50 anos de idade. A incidência decrescente do câncer de mama e as taxas de mortalidade mais baixas têm
sido atribuídas à detecção precoce, ao aprimoramento do tratamento e à pesquisa (Sestak & Cuzick, 2015).
No entanto, as pesquisas constataram que as escolhas que as mulheres fazem em relação a rastreamento
do câncer da mama, dieta, exercícios físicos e outras práticas de saúde têm impacto profundo sobre o risco
de câncer. Na luta contra o câncer, os enfermeiros muitas vezes assumem vários papéis como orientadores,
conselheiros, defensores e modelos. Os enfermeiros podem oferecer orientações sobre:
• Prevenção
• Detecção precoce
• Rastreamento
• Eliminação de mitos e medos
• Técnicas de AEM, se necessário
• Situação de risco individual e estratégias para a redução do risco.
É importante conhecer as práticas baseadas em evidências mais atuais e estar ciente de como a mídia
apresenta as informações. Ofereça estratégias de prevenção no contexto da vida de uma mulher. Ao
aconselhar as mulheres, é necessário considerar fatores como estilo de vida, condição financeira e vários
papéis. Defenda estilos de vida saudáveis e escolhas acertadas para prevenir o câncer. Os enfermeiros,
como todos os profissionais de saúde, devem oferecer orientações a partir de uma perspectiva abrangente,
que reconhece as necessidades específicas de cada indivíduo. Os enfermeiros precisam não só ser
proficientes nos cuidados físicos pósoperatórios da paciente mastectomizada, mas também demonstrar
habilidades avançadas relacionadas com as necessidades de orientação dela e de sua família e garantir
que o cuidado seja prestado de modo individualizado e centrado na paciente. Os enfermeiros precisam de
habilidades avançadas para atender às necessidades de assistência social e psicológica da mulher e sua
família durante esse grande evento da vida (Fallowfield & Jenkins, 2015).
O câncer de mama é uma experiência assustadora para todas as mulheres, mas é particularmente difícil
para as afroamericanas, visto que é a segunda causa de morte por câncer nesse grupo. Embora a
incidência do câncer de mama seja maior em mulheres brancas, as afroamericanas têm maior taxa de
mortalidade por câncer de mama em todas as idades e menor taxa de sobrevida do que em qualquer outro
grupo racial ou étnico. As estatísticas indicam que a diferença está aumentando (ACS, 2015e).
Como uma nuvem negra que paira sobre suas cabeças, com pouca consideração para com a vítima, o
câncer de mama persegue as mulheres em todos os lugares aonde elas vão. Muitas mulheres têm como
sequelas do tratamento novos riscos de saúde e efeitos prolongados da terapia (p. ex., limitação da
mobilidade, comprometimento da memória, atividade social diminuída e necessidade de suporte). Muitas
têm uma amiga ou parente que está lutando contra a doença, enquanto outras viram suas mães e irmãs
morrerem dessa temível doença. Aquelas com fatores de risco vivem com ainda mais ansiedade e medo.
Nenhuma mulher quer ouvir essas palavras arrepiantes: “A biopsia deu positivo. Você tem câncer de
mama.” Forneça às mulheres informações sobre detecção e fatores de risco, informeas sobre as novas
diretrizes de rastreamento, instruaas sobre o AEM e delineie mudanças na dieta que possam reduzir o
risco de câncer de mama.
A conscientização é o primeiro passo para a mudança de hábitos. Elevar o nível de conscientização em
relação ao câncer de mama é de suma importância, e os enfermeiros podem ter uma participação
importante na promoção da saúde, prevenção de doenças e orientação.
Rastreamento do câncer de mama
Os três componentes da detecção precoce são AEM, exame das mamas por profissional de saúde e mamografia. A ACS
(2015d) emitiu diretrizes para o rastreamento do câncer de mama que, pela primeira vez, ofereceram orientações
específicas para as mulheres e maior esclarecimento do papel dos exames de mama (ver Tabela 6.4). As diretrizes de
rastreamento da ACS são revisadas a cada 5 anos, para incluir novos achados e avanços científicos.
As mulheres estão expostas a múltiplas fontes de informação sobre a prevenção do câncer, e muitas delas não são
confiáveis. Discuta os benefícios, os riscos e as potenciais limitações do AEM, do exame clínico da mama e da
mamografia com cada mulher e ajuste as informações a seus fatores de risco específicos (ACS, 2015b). Com base nas
novas diretrizes, faça julgamentos clínicos quanto à adequação de recomendar o AEM e reavalie a necessidade de ensinar o
procedimento a todas as mulheres. Por outro lado, o foco pode estar em incentiválas a fazer mamografias regularmente
(dependendo, é claro, dos fatores de risco específicos da mulher).
Autoexame da mama
O AEM é uma técnica que possibilita que a mulher detecte quaisquer alterações em suas mamas. O AEM, que já foi
considerado essencial para a detecção precoce do câncer de mama, agora é considerado opcional. Em vez disso, enfatizase
a conscientização das mamas. A conscientização das mamas consiste em familiarizar a mulher com a consistência normal
das mamas e do tecido subjacente. A ênfase agora é a conscientização pelas mulheres das alterações da mama, e não
apenas a detecção do câncer. As pesquisas já mostraram que o AEM é pouco importante na detecção do câncer de mama
em comparação com a autoconscientização. No entanto, fazer o autoexame é um modo de a mulher conhecer a consistência
normal de suas mamas, para que ela possa notar quaisquer alterações que ocorram (ACS, 2015d).
Se for o caso, há duas etapas para a realização do AEM: inspeção visual e palpação. A parte visual deve ser feita em
três posições diferentes: com os braços atrás da cabeça, com os braços para baixo nas laterais e em inclinação para frente.
Oriente a mulher a procurar:
• Alterações na forma, no tamanho, no contorno ou na simetria
• Descoloração ou ondulações, proeminências/nódulos na pele
• Feridas ou descamação da pele
• Secreção ou depressões no mamilo.
Na segunda parte, o médico palpa as mamas da mulher em um dos três padrões específicos: espiral, “fatias” em forma
de torta ou faixas verticais (para cima e para baixo). Ao usar qualquer um dos três padrões, a mulher deve usar um
movimento de fricção circular (em círculos do tamanho de uma moeda de 10 centavos), sem levantar os dedos. O
examinador avalia não só as mamas, mas também o espaço entre a mama e a axila, a própria axila e na área acima da
mama até a clavícula e sobre o ombro. As polpas dos dedos indicador, médio e anular da mão direita são usadas para
avaliar a mama esquerda; as polpas dos dedos indicador, médio e anular da mão esquerda são usadas para avaliar a mama
direita. Instrua a mulher a usar três diferentes graus de pressão:
• Leve (mover a pele sem mover o tecido subjacente)
• Média (palpar até o tecido subjacente)
• Forte (palpar até as costelas).
Nutrição
A nutrição é fundamental na promoção da saúde e na prevenção de doenças. O câncer é considerado uma doença crônica
que pode ser influenciada em muitos estágios pela nutrição. Esses fatores influenciam a prevenção, a progressão e o
tratamento da doença (Shrivastava, Shrivastava, & Ramasamy, 2015). Sobrepeso e obesidade são um fator de risco para o
câncer de mama após a menopausa. O sobrepeso tem sido associado a risco aumentado de câncer de mama na pós
menopausa; crescentes evidências sugerem também que a obesidade esteja associada a prognóstico reservado em mulheres
diagnosticadas com câncer de mama em estágio inicial. Dezenas de estudos demonstram que mulheres com sobrepeso ou
obesidade por ocasião do diagnóstico do câncer de mama estão em maior risco de recorrência do câncer e morte em
comparação com mulheres mais magras. Algumas evidências sugerem que as mulheres que ganham peso após o
diagnóstico de câncer de mama também correm maior risco de desfechos insatisfatórios (Wright et al., 2015). O Healthy
People 2020 identificou o sobrepeso ou a obesidade como sendo um dos 10 principais indicadores de saúde e uma
preocupação para a saúde (U.S. Department of Health and Human Services, 2010). Quase 65% das mulheres com idade
superior a 20 anos apresentam sobrepeso, das quais 33,4% são obesas (Carlson, 2015). Uma dieta mediterrânea rica em
frutas, verduras e carboidratos ricos em fibras e pobre em gorduras animais parece oferecer proteção contra o câncer de
mama, bem como o controle de peso. As mulheres que seguiram essas diretrizes alimentares diminuíram seu risco de
câncer de mama. Além disso, evidências substanciais já mostraram que a obesidade (índice de massa corporal [IMC] >
30) está ligada aos desfechos do câncer de mama e riscos mais altos de morte (Chan & Norat, 2015).
O Women’s Health Initiative Dietary Modification Trial (Brasky et al., 2015) foi projetado para estudar uma dieta
com pouca gordura, uma abordagem nutricional para a prevenção de doenças crônicas. Foi constatada a redução marginal
estatisticamente significativa na incidência de câncer de mama nas mulheres do grupo com dieta de baixo teor de gordura e
também foi refutado que “a ingestão de alimentos saudáveis para o coração” evita eventos cardíacos futuros nas mulheres.
O American Institute for Cancer Research, que realiza uma extensa pesquisa, fez as seguintes recomendações para
reduzir o risco de uma mulher desenvolver câncer de mama:
• Realizar exercícios físicos de intensidade moderada diariamente e atividades físicas vigorosas semanalmente
• Ingerir pelo menos cinco porções de frutas e vegetais diariamente
• Não fumar nem usar produtos de tabaco
• Manter um IMC máximo de 25 e limitar o ganho de peso a não mais do que 5,5 kg a partir dos 18 anos de idade
• Consumir sete ou mais porções diárias de carboidratos complexos, como grãos integrais e cereais
• Limitar a ingestão de alimentos processados e açúcar refinado
• Limitar o consumo de bebidas açucaradas e alimentos calóricos
• Evitar o uso de suplementos dietéticos que provavelmente não melhorarão o prognóstico
• Restringir a ingestão de carne vermelha para cerca de 90 g por dia
• Limitar a ingestão de alimentos gordurosos, especialmente os de origem animal
• Restringir a ingestão de alimentos salgados e o uso de sal no cozimento (Swisher et al., 2015).
A comunidade médica também está começando a estudar o papel dos fitoquímicos na saúde. A variabilidade geográfica
única do câncer de mama em todo o mundo e a baixa taxa de câncer de mama em países da Ásia em comparação com os
países ocidentais impeliram esse interesse. Essa área de pesquisa parece esperançosa para as mulheres que procuram
prevenir o câncer de mama, bem como para aquelas que se recuperam dele. Embora o mecanismo não seja claro,
determinados alimentos apresentam propriedades anticancerígenas e estimulam o sistema imunológico. Alimentos ricos
em fitoquímicos incluem:
• Cháverde e chá de ervas
• Alho
• Grãos integrais e legumes
• Cebola e alhoporó
• Soja e derivados da soja
• Produtos com tomate (tomates cozidos)
• Frutas (cítricas, damasco, abóbora, frutas silvestres)
• Vegetais de folhas verdes (espinafre, couve, alface)
• Vegetais coloridos (cenoura, abóboraamarela, tomate)
• Vegetais crucíferos (brócolis, repolho, couveflor)
• Sementes de linhaça (Bahadoran, Karimi, & Abedini, 2015).
Adote uma abordagem holística ao abordar as necessidades nutricionais de mulheres com câncer de mama. Incorpore a
avaliação nutricional na apreciação global de todas as mulheres. Precisam ser desenvolvidas e utilizadas ferramentas de
avaliação nutricional culturalmente sensíveis para aprimorar esse processo. Fornecer exemplos de alimentos adequados
associados aos hábitos alimentares atuais da mulher, relacionar o estado de saúde atual com a ingestão nutricional e
colocar as modificações propostas dentro de um quadro pessoal realista são abordagens que aumentam a vontade da
mulher de incorporar as mudanças necessárias ao seu comportamento nutricional. Seja capaz de interpretar os resultados
das pesquisas e mantenhase atualizado em relação às influências nutricionais, para que possa transmitir essas informações
fundamentais para o público.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Muitas mulheres acreditam que todos os nódulos são cancerosos. Na verdade, mais de 80% dos
nódulos detectados são benignos e não exigem tratamento (Alexander et al., 2014)
As doenças benignas da mama mais encontradas nas mulheres incluem mamas fibrocísticas,
fibroadenomas e mastite (Bope & Kellerman, 2015)
As pesquisas atuais sugerem que as mulheres com doença fibrocística da mama ou outras condições
benignas da mama são mais propensas a desenvolver câncer de mama mais tarde apenas se a
biopsia de mama revelar “atipia” ou células mamárias anormais (ACS, 2015a)
Os fibroadenomas são tumores benignos sólidos comuns da mama, que podem ser estimulados por
estrogênio externo, progesterona, lactação e gestação
A mastite é uma infecção do tecido conjuntivo da mama, que ocorre principalmente em lactantes ou
mulheres com mamas ingurgitadas; é dividida nos tipos lactacional ou não lactacional
O tratamento dos dois tipos de mastite envolve o uso de antibióticos orais (geralmente uma penicilina
resistente à penicilinase ou uma cefalosporina) e paracetamol para dor e febre (Miller & Kennedy,
2015)
O câncer de mama é o mais comum em mulheres e a segunda causa de mortes por câncer (o de
pulmão é o primeiro) nas mulheres norteamericanas (ACS, 2015a)
O câncer da mama produz muitas metástases para quase todos os órgãos do corpo, mas sobretudo
para os ossos, os pulmões, os linfonodos, o fígado e o encéfalo
A etiologia do câncer de mama não é conhecida, mas acreditase que se desenvolva em resposta a
vários fatores relacionados: envelhecimento, maternidade tardia ou não ter filhos, alta densidade da
mama, história familiar de câncer, menopausa tardia, obesidade e fatores hormonais
Os tratamentos para o câncer de mama são de duas categorias: locais e sistêmicos. As opções locais
são a cirurgia e a radioterapia. As opções sistêmicas efetivas incluem quimioterapia, terapia hormonal
e imunoterapia
As mulheres geralmente percebem suas mamas como intrínsecas a sua feminilidade, autoestima e
sexualidade, de modo que o risco de perder a mama pode provocar extrema ansiedade
Os enfermeiros podem influenciar tanto física quanto emocionalmente na recuperação, que são dois
aspectos importantes do cuidado que ajudam na melhora da qualidade de vida e da capacidade de
sobrevida da mulher
Fornecer informações atualizadas e prestar apoio emocional são papéis centrais do enfermeiro no
cuidado à mulher com diagnóstico de câncer de mama
Referências bibliográficas e leitura sugerida
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Exercícios sobre o capítulo
QUESTÔES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. O autoexame envolve tanto a palpação do tecido mamário quanto:
a. A palpação dos linfonodos cervicais
b. A compressão firme dos mamilos da mama
c. A visualização de ambas as mamas à procura de alterações
d. A mamografia para avaliar o tecido mamário
2. Qual dos seguintes é o fator de risco mais forte para câncer de mama?
a. Idade avançada e ser do sexo feminino
b. Multiparidade
c. Mutações genéticas nos genes BRCA1 e BRCA2
d. História familiar de câncer de cólon
3. O procedimento de biopsia que rastreia os radioisótopos e colore de azul o local do tumor do sistema
linfático aos linfonodos axilares é a:
a. Biopsia estereotáxica
b. Biopsia do linfonodo sentinela
c. Dissecção axilar com biopsia
d. Biopsia avançada de mama
4. A reação adversa potencial mais grave da quimioterapia é a:
a. Trombocitopenia
b. Trombose venosa profunda
c. Alopecia
d. Mielossupressão
5. Qual sugestão seria útil para a paciente que apresenta alterações fibrocísticas dolorosas da mama?
a. Aumentar a ingestão de cafeína
b. Ingerir um analgésico leve quando necessário
c. Reduzir o consumo de vegetais folhosos
d. Usar um sutiã maior do que seu tamanho
6. O câncer de mama localizado é denominado:
a. Primário
b. In situ
c. Metastatizado
d. Localizado
7. Uma mulher de 25 anos de idade apresenta massa assintomática na mama. Qual das seguintes opções
é verdadeira em relação ao diagnóstico e ao tratamento dela?
a. Todas as massas mamárias devem ser consideradas prémalignas
b. A massa na mama deve ser extirpada cirurgicamente de imediato
c. A ultrassonografia é geralmente solicitada para determinar o diagnóstico
d. Visto que é assintomática, basta tranquilizar a paciente nesse momento
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. A Sra. Gordon, 48 anos, chega à clínica comunitária de mulheres onde você trabalha como enfermeiro.
Ela está muito triste e chorando. Ela lhe diz que encontrou nódulos na mama: “Eu sei que é câncer e
que eu vou morrer.” Quando você pergunta a ela sobre seu problema, ela diz que não examina as
mamas mensalmente e que não realizou mamografias nos últimos anos porque “elas são muito caras”.
Ela também descreve a dor intermitente que sente.
a. Quais perguntas específicas você faria a essa paciente para obter uma ideia mais clara do
problema?
b. Qual orientação é necessária para essa paciente em relação à saúde da mama?
c. Quais instituições da comunidade são necessárias para atender às necessidades futuras dessa
paciente?
2. Ruth Davis, 51 anos, chegou ao prontosocorro com um olhar ansioso no rosto. Ela disse ao enfermeiro
que sua mama direita está eliminando secreção verde, e que sente nela um desconforto intermitente.
Ela não consegue entender como isso pode estar acontecendo, já que nunca teve secreção mamilar
nem dor.
a. De qual condição benigna da mama o enfermeiro poderia suspeitar com base em sua descrição? b.
Quais informações específicas o enfermeiro deve fornecer à Sra. Davis sobre a ectasia ductal?
c. O que poderia ser incluído no tratamento típico dessa condição benigna da mama?
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Discuta com um grupo de mulheres o que suas mamas simbolizam para elas e para a sociedade. Será
que elas simbolizam algo diferente para cada uma?
2. Quando uma mulher apresenta um distúrbio de mama, quais sentimentos ela poderia ter e como o
enfermeiro pode ajudála a resolvêlos?
3. Entreviste a mulher que apresenta alterações fibrocísticas da mama e descubra como ela lida com essa
condição.
4. Uma infecção do tecido conjuntivo da mama que frequentemente ocorre na lactante é
________________.
ESTUDO DE CASO
Uma mulher obesa de 67 anos de idade procura seu médico após alguns anos de ausência por causa de
massa na mama direita que ela palpou 4 semanas antes e que parece estar aumentando de tamanho. Ela
também percebeu a perda involuntária de 4,5 kg nos últimos 6 meses e ocasional desconforto no quadrante
superior direito do abdome. Ela também informa que se sente cansada nos últimos meses, mas racionalizou
que “estava ficando velha”.
AVALIAÇÃO
Ela tem uma história familiar de câncer de mama e de câncer de cólon na família imediata, e os genitores
morreram de câncer (a mãe morreu de câncer de mama e o pai morreu de câncer de cólon). Sua tia
também teve câncer de mama, mas está em remissão após o tratamento. Ela não consegue lembrar
quando fez um esfregaço de Papanicolaou ou uma mamografia pela última vez. Ela admite que não
comparece às suas consultas médicas de acompanhamento porque toma conta dos netos e que sua dieta
não é boa porque os netos preferem fast food e refrigerantes em vez de comida caseira. Assim, ela acaba
comendo o que eles desejam.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 6 | Distúrbios das Mamas
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é C. Ocorrem mudanças visíveis na pele da mama (ondulações, alterações no contorno, secreção
mamilar), que podem ser vistas na inspeção em frente a um espelho. A alternativa A está incorreta: o câncer de mama
se dissemina primeiro para os linfonodos axilares, não para os linfonodos cervicais. A palpação dos linfonodos
axilares é justificada, não a dos linfonodos cervicais. A alternativa B está incorreta: a secreção mamilar espontânea é
mais indicativa de câncer de mama do que a secreção produzida pela compressão do mamilo. A alternativa D está
incorreta: a mamografia não é parte do autoexame da mama, que a mulher faz na privacidade do seu lar.
2. A resposta correta é A. A incidência de câncer de mama aumenta com a idade, especialmente depois dos 50 anos.
Apenas 1% dos cânceres de mama ocorre em homens. A alternativa B está incorreta: ter filhos interrompe o ciclo
menstrual e diminui o risco de câncer de mama da mulher. A alternativa C está incorreta: apenas 7% das mulheres
têm uma mutação genética que resulta em câncer de mama, ao passo que nos 93% restantes é uma ocorrência
esporádica. A alternativa D está incorreta: o câncer de cólon não é um fator de risco para câncer de mama.
3. A resposta correta é B. Essa alternativa descreve o procedimento para a realização de uma biopsia de linfonodos
sentinela. A alternativa A está incorreta: não há utilização de contraste e a biopsia é realizada retirandose tecido da
massa da mama, não o linfonodo. A alternativa C está incorreta: esse procedimento consiste na remoção cirúrgica
efetiva dos linfonodos axilares, não apenas em uma biopsia, e não é utilizado contraste nesse procedimento. A
alternativa D está incorreta: a biopsia avançada de mama não usa contraste e envolve coletar uma amostra de tecido da
massa de mama, não os linfonodos da região axilar.
4. A resposta correta é D. Quando a medula óssea é suprimida em decorrência da quimioterapia, a mulher apresenta
tendência a sangramento (contagem baixa de plaquetas), limitação na imunidade (contagem baixa de leucócitos) e
anemia (contagem baixa de eritrócitos). Essa mielossupressão pode se tornar fatal. A alternativa A está incorreta: um
decréscimo na contagem de plaquetas circulantes pode causar tendências hemorrágicas se o corpo sofrer um
traumatismo, mas não é tão ameaçador como ter todas as células da medula óssea deprimidas. A alternativa B está
incorreta: ter coágulos sanguíneos nas veias profundas não é tipicamente uma resposta frequente à quimioterapia,
enquanto a mielossupressão é muito comum. A alternativa C está incorreta: perder o cabelo, embora emocional e
esteticamente traumatizante, não é um evento potencialmente fatal, e o cabelo vai crescer novamente após o término
do tratamento.
5. A resposta correta é B. O desconforto geralmente é leve e os analgésicos irão aliviálo na maioria dos casos. A
alternativa A está incorreta: as mulheres são aconselhadas a reduzir o consumo de cafeína para diminuir a estimulação
do tecido mamário, não a aumentar. A alternativa C está incorreta: as mulheres são aconselhadas a aumentar a
ingestão de vegetais folhosos, não reduzila, uma vez que isso seria parte de uma dieta saudável e equilibrada. A
alternativa D está incorreta: as mulheres são aconselhadas a usar um sutiã com apoio firme para reduzir o estiramento
sobre o tecido mamário, e não um sutiã que não ofereça apoio algum.
6. A resposta correta é B porque define uma lesão pequena que não se propagou além do seu local de origem. As
alternativas A, C e D não são termos usados para descrever uma lesão cancerosa localizada.
7. A resposta correta é C porque a ultrassonografia pode diferenciar massa sólida de cisto. Além disso, o aparecimento
na ultrassonografia de massa homogênea e bem delimitada pode ser suficiente para fazer o diagnóstico de
fibroadenoma. A alternativa A é incorreta porque até 80% das massas nas mamas são benignas, sobretudo em
mulheres jovens. A alternativa B é incorreta porque não é necessário extirpar cirurgicamente massa mamária em
mulheres com menos de 30 anos de idade – basta observação. A alternativa D é incorreta porque é importante
identificar o tipo de massa e se há risco aumentado de desenvolvimento de câncer de mama.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. Quais perguntas específicas você faria a essa paciente para obter uma ideia mais clara do problema?
O enfermeiro precisa avaliar os fatores de risco dessa paciente para câncer de mama perguntando sobre:
• Sua história familiar de câncer de mama ou de ovário
• Sua história patológica pregressa
• Sua história ginecológica (menarca, paridade, planejamento familiar)
• Seu histórico de problemas mamários (doenças benignas anteriores)
• Seus hábitos de vida, que podem estar associados ao câncer (p. ex., tabagismo, ingestão elevada de
gordura, etilismo).
b. Qual orientação é necessária para essa paciente em relação à saúde da mama?
O enfermeiro precisa tranquilizar a paciente de que a maioria das lesões mamárias é de natureza benigna, mas
que esse problema precisará ser investigado.
O fato de a dor ser cíclica sugere que o problema consista em alterações fibrocísticas das mamas, não em câncer,
mas ela precisará realizar mais exames. Enfatize a importância de realizar o autoexame de mama mensalmente,
realizar mamografias anualmente e agendar consultas ginecológicas com exame das mamas anualmente para
ajudar a controlar sua saúde.
c. Quais instituições da comunidade são necessárias para atender às necessidades futuras dessa paciente?
No mês de outubro de cada ano, muitas instituições de saúde homenageiam o mês do National Breast Cancer
oferecendo mamografias grátis ou com custos reduzidos. O enfermeiro precisa informar a paciente disso e
incitála a fazer uma mamografia para manter sua saúde. No Brasil as mulheres podem procurar os postos de
saúde para realizar gratuitamente esses exames.
2.
a. De qual condição benigna da mama o enfermeiro poderia suspeitar com base em sua descrição?
Com base no relato e na descrição dos sinais e sintomas, o enfermeiro provavelmente suspeitaria da condição
mamária benigna denominada ectasia ductal.
b. Quais informações específicas o enfermeiro deve fornecer à Sra. Davis sobre a ectasia ductal?
As informações fornecidas devem incluir: a ectasia ductal é uma doença dos ductos na zona subareolar que
ocorre nas mamas em processo de envelhecimento; as manifestações incluem ducto dilatado palpável, secreção
pegajosa verde espessa do mamilo, dor, prurido e inflamação; não há associação ao câncer.
c. O que poderia ser incluído no tratamento típico dessa condição benigna da mama?
O tratamento para a ectasia ductal consiste em tranquilização e apoio. Embora não haja cura para a ectasia
ductal, prescrevemse antibióticos para os episódios inflamatórios agudos. A mulher deve ser orientada a lavar a
mama para minimizar o risco de infecção. Orientea a lavar bem as mãos e a realizar medidas de higiene
pessoal. Instruíla a usar um sutiã firme, embora não apertado, ajudará a reduzir o desconforto.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. As mamas têm inúmeros significados e simbolizam várias coisas para as mulheres. Para algumas delas, as mamas
simbolizam sua feminilidade e a capacidade de amamentar seu filho, e separamnas biologicamente do homem. Para a
sociedade, as mamas femininas podem ser encaradas como um símbolo sexual e denotam sensualidade. Diferentes
culturas enxergam as mamas da mulher de modo distinto, o que dita se é conveniente ou não que a mulher as exponha
para a amamentação.
2. Os sentimentos podem incluir medo de câncer, ansiedade, desamparo, vergonha, negação ou depressão. O enfermeiro
pode ajudála a lidar com esses sentimentos, fornecendolhe fatos e assegurandolhe que a maioria das doenças da
mama é benigna. Oriente a mulher durante os exames complementares necessários para confirmar sua condição.
3. As modificações de estilo de vida que conseguem reduzir o desconforto de alterações fibrocísticas da mama poderiam
incluir consumir contraceptivos orais; ingerir uma dieta pobre em gordura, rica em frutas e verduras; evitar a ingestão
de cafeína; reduzir a ingestão de sal; usar um sutiã bem ajustado e com bom apoio a maior parte do tempo; e
consumir analgésicos de venda livre para reduzir o desconforto leve.
4. mastite
ESTUDO DE CASO
1. Com base na queixa principal dessa paciente, qual seria o motivo de sua dor lombar atual?
2. Quanto à sua história de saúde familiar, o que poderia influenciar seus sintomas atuais?
3. De que forma seus hábitos nutricionais ruins e seu peso inadequado poderiam impactar suas condições gerais de
saúde?
Resposta: O câncer de mama realmente metastatiza para os ossos e esse poderia ser o motivo de a dorsalgia dessa
paciente não ter melhorado com o uso de antiinflamatórios. Como a paciente tinha parentes de primeiro grau com
câncer, seu risco de ter câncer também era alto. Estudos sobre nutrição e obesidade e suas relações com o câncer
sugerem que a ingestão alta de alimentos processados (fast food) e o consumo reduzido de frutas e vegetais, além da
obesidade, aumentem o risco de desenvolver câncer.
Plano de cuidados
1. Quais exames complementares poderiam ser solicitados para esclarecer o diagnóstico?
2. Quais modalidades de tratamento estão disponíveis, caso seja confirmado câncer metastático?
3. Quais instruções de promoção da saúde são necessárias para essa paciente?
4. Como o enfermeiro pode assegurar um clima favorável a que a paciente converse sobre seus
sentimentos? Resposta: Mamografia (exame da mama na qual a paciente percebeu um nódulo), RM e cintilografia
óssea poderiam ser solicitados para detectar quaisquer “focos hipercaptantes” ou lesões metastáticas em seus ossos,
assim como no fígado, que são os órgãos comumente afetados pelas metástases. Dependendo da extensão das
metástases, poderiam ser prescritas quimioterapia e radioterapia. Aconselhamento nutricional e alterações do estilo de
vida para perder peso e melhorar as condições de saúde são duas áreas de promoção da saúde, que precisam ser
abordadas com essa paciente. Explicações detalhadas sobre tratamentos, seus efeitos colaterais e prognóstico também
devem ser fornecidas, de forma a garantir que a paciente compreenda o que foi dito. Medo e ansiedade são
sentimentos comuns em todas as pessoas com diagnóstico de câncer, de forma que o enfermeiro precisa ser sincero e
apoiar a paciente, oferecendolhe tempo para expressar seus medos.
____________
1
N.R.T.: No Brasil, a unidade que faz a mamografia tem de seguir o Programa de Certificação de Qualidade em Mamografia
(Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem).
2
N.R.T.: No Brasil, a Área de Ações Voluntárias do Instituto Nacional de Câncer (INCAvoluntário) é responsável por planejar e
coordenar as atividades de pessoas que atuam voluntariamente em prol dos pacientes e seus parentes. Para mais informações,
consultar o site www.inca.gov.br/incavoluntario. Para mais informações sobre próteses de mama após mastectomia por causa de
câncer de mama, ver o site do INCA (www.inca.gov.br).
3
N.R.T.: Para mais informações sobre o cuidado emocional e os encaminhamentos no Brasil, ver o site do INCA
(www.inca.gov.br). Encoraje a paciente a procurar grupos locais de apoio para sobreviventes de câncer de mama, por exemplo
no site da Femama (https://www.femama.org.br).
Questões múltipla escolha
1. Depois de orientar uma mulher em relação ao autoexame das mamas, que declaração indica
que a orientação foi bemsucedida?
A. “Vou fazer o exame cerca de 1 semana depois de ter menstruado.”
B. “Vou examinar minhas mamas a cada 2 semanas.”
C. “Não preciso verificar debaixo do braço se não encontrar nódulos nas mamas.”
D. “Vou palpar minhas mamas usando o polegar e o dedo indicador.”
Concluir questão
2. Na mulher com qual das idades a seguir a enfermeira esperaria ter maior probabilidade de
encontrar alterações fibrocísticas da mama?
A. 25 anos
B. 15 anos
C. 35 anos
D. 55 anos
Concluir questão
3. Ao preparar um plano de orientações para uma mulher com mastite, qual das seguintes
opções a enfermeira incluiria?
B. Interromper o aleitamento materno para evitar a transmissão para o lactente
C. Limitar a ingestão de líquido para minimizar a tumefação
A. Evitar o uso de um sutiã com apoio firme para não comprimir a mama inflamada
D. Aplicar compressas quentes na mama afetada
Concluir questão
4. Ao rever a história de uma mulher, a enfermeira identifica qual destes como um fator que
aumenta o risco da cliente de câncer de mama?
A. História de câncer de cólon
B. Idade de 39 anos
C. Raça asiática
D. Menarca aos 14 anos
Concluir questão
5. Qual das seguintes a enfermeira incluiria no plano de orientações à mulher que fará
mamografia preventiva?
A. “Agende o procedimento para pouco antes de menstruar.”
B. “Não use desodorante no dia, pois ele pode interferir na obtenção de imagens.”
C. “Você pode usar colar, mas precisa tirar relógio e brincos.”
D. “Você precisa tomar um analgésico narcótico para quaisquer desconfortos posteriores.”
Concluir questão
6. Uma cliente com câncer de mama está prestes a receber imunoterapia. A enfermeira esperaria
que a cliente recebesse qual das seguintes opções?
A. Tamoxifeno
B. Trastuzumabe
C. Raloxifeno
D. Anastrozol
Concluir questão
7. Uma mulher será submetida a mastectomia radical modificada. Qual das seguintes
alternativas a enfermeira incluiria ao descrever essa cirurgia para a cliente?
A. A cirurgia preservará os músculos peitorais e linfonodos axilares
B. A cirurgia resultará em uma parede anterior do tórax com aparência côncava
C. A cirurgia removerá o tecido mamário, os linfonodos axilares e alguns músculos do tórax
D. A cirurgia incluirá uma excisão ampla do tumor, juntamente com uma margem de 1 cm de
tecido normal
Concluir questão
8. Como parte de uma palestra sobre o câncer de mama a um grupo de mulheres locais, a
enfermeira descreve a necessidade de detecção precoce por meio do rastreamento. Que
recomendação ela enfatizaria?
A. Mamografias a cada 3 anos para mulheres com idades entre 20 e 39 anos
B. Exame clínico da mama a cada 2 anos para mulheres com mais de 30 anos de idade
C. Autoexame da mama pelo menos anualmente para mulheres com mais de 20 anos de
idade
D. Mamografias anuais para mulheres com mais de 40 anos de idade
Concluir questão
9. A cliente chega ao consultório preocupada depois de encontrar um pequeno nódulo na
mama. A enfermeira tenta tranquilizála de que o nódulo não indica automaticamente um
câncer. A enfermeira explica que _____ dos nódulos descobertos são doenças benignas da
mama.
A. 60%
B. 70%
C. 80%
D. 90%
Concluir questão
10. Uma cliente lactante de 27 anos queixase de um nódulo sólido e indolor na mama esquerda.
Ao exame, você nota que o nódulo é móvel e discretamente doloroso à compressão. Você
suspeita que se trata de:
A. Um fibroadenoma
B. Um ducto de leite inflamado
C. Uma mastite
D. Um cisto benigno
Concluir questão
11. Em uma palestra para novas mães, você observa que as participantes precisam de mais
orientações quando uma delas faz o seguinte comentário:
A. “Tenho que parar de amamentar por causa da mastite.”
B. “Posso usar compressas mornas para aliviar o desconforto.”
C. “Amamentar a cada 4 h parece ajudar.”
D. “Tenho utilizado uma bomba de mama após amamentar meu bebê.”
Concluir questão
12. Sua cliente foi diagnosticada com carcinoma de mama in situ. Você explica o que isso
significa:
A. O câncer alastrouse para os tecidos circundantes
B. O câncer não é invasivo e não se estendeu além do ponto de origem
C. O câncer está localizado estritamente no sistema ductal
D. O câncer se espalhou para o sistema linfático
Concluir questão
13. Ao explicar as diversas classificações do carcinoma, você explica que qual das seguintes
alternativas não é uma consideração?
A. Evidências de metástase
B. Tamanho dos tumores
C. Extensão do envolvimento dos linfonodos
D. Idade da cliente
Concluir questão
14. A enfermeira reconhece que os estudantes compreendem como diminuir os fatores de risco
para o desenvolvimento de câncer quando eles:
A. Voltam a fumar
B. Optam por uma dieta com baixo teor de gordura, rica em vegetais
C. Consomem pelo menos uma dose de bebida alcoólica por dia
D. Esperam até depois dos 30 anos para ter seu primeiro filho
Concluir questão
15. Uma jovem cliente deseja saber seu risco de desenvolver câncer de mama. Ela tem
antecedentes familiares positivos para esse câncer. Como sua enfermeira, você sugere que
ela se submeta a qual exame diagnóstico?
A. Mamografia digital
B. Estado de ploidia de DNA
C. Marcador genético BRCA1
D. Biopsia por agulha fina
Concluir questão
16. Novas tecnologias estão melhorando o rastreamento de clientes e o diagnóstico de anomalias
que muitas vezes passavam despercebidas usando as técnicas anteriores. Como enfermeira
preocupada com suas clientes, você reconhece que a mamografia digital tem se mostrado
mais efetiva no acompanhamento de todas as clientes, exceto:
A. Daquelas com mais de 50 anos de idade
B. Daquelas com menos de 50 anos de idade
C. Daquelas que estão na pré ou perimenopausa
D. Daquelas com mamas densas
Concluir questão
17. Ao preparar a cliente para a braquiterapia, a enfermeira explica que os possíveis efeitos
colaterais incluem todos, exceto:
A. Infecção
B. Vermelhidão ao redor do cateter
C. Febre
D. Inflamação
Concluir questão
18. Para neutralizar os efeitos mielossupressores da quimioterapia, a enfermeira reconhece que a
cliente também pode receber:
A. Filgrastim
B. Letrozol
C. Anastrozol
D. Trastuzumabe
Concluir questão
19. O médico acaba de informar à cliente que sua biopsia de mama deu positiva para carcinoma.
Uma de suas primeiras responsabilidades como enfermeira é ajudar:
A. Nos problemas psiquiátricos
B. No tratamento
C. Nas orientações
D. A informar a cliente de suas opções
Concluir questão
20. Como enfermeira de um centro de oncologia, você reconhece que o grupo étnico com maior
taxa de mortalidade por câncer de mama nos EUA é o de indivíduos de origem:
A. Hispânica
B. Caucasiana
C. Indígena
D. Afroamericana
Concluir questão
21. Para ajudar a detectar potenciais processos de doença nas mamas, a enfermeira deve ensinar
o(a):
A. Autoexame das mamas
B. Necessidade de mamografia
C. Autoconscientização das mamas
D. Necessidade de exame clínico
Concluir questão
22. Durante a realização de um exame clínico da mama em uma cliente, a enfermeira inspeciona
as mamas com a cliente em várias posições. Coloque as posições a seguir em sua sequência
correta.
A. Braços ao longo do corpo
B. Mãos colocadas sobre os quadris
C. Braços elevados sobre a cabeça
D. Mãos nos quadris, enquanto em pé
Concluir questão
23. O exame da mama de uma mulher revela uma pequena massa. Qual(is) das seguintes
características levaria(m) a enfermeira a suspeitar que a massa é maligna? (Selecione todas
que se aplicam.)
A. Ondulações na pele
B. Rigidez à palpação
C. Indolor
D. Móvel
Concluir questão
24. Ao se preparar para uma aula sobre o câncer de mama, a enfermeira deve explicar que
qual(is) dos seguintes é(são) considerado(s) fator(es) de risco não modificável(is)? (Selecione
todos que se aplicam.)
A. Gene BRCA1
B. Menarca aos 11 anos
C. Deixar de amamentar seus filhos
D. Ser uma mulher de 52 anos
Concluir questão
25. O American Institute for Cancer Research (AICR) recomenda que qual(is) dos seguintes
reduz(em) o risco da mulher de desenvolver carcinoma de mama? (Selecione todos que se
aplicam.)
A. Consumir pelo menos cinco porções de frutas e verduras diariamente
B. Restringir a ingestão de carne vermelha a cerca de 120 g por dia
C. Limitar a ingestão de alimentos processados
D. Limitar o uso de sal
Concluir questão
Doenças Benignas do Sistema Genital Feminino
7
PALAVRASCHAVE
Cisto ovariano Cistocele
Enterocele
Exercícios dos músculos do assoalho pélvico (exercícios de Kegel)
Incontinência urinária
Miomas uterinos
Pessários
Pólipos
Prolapso de órgãos pélvicos (POP)
Prolapso uterino
Retocele
Síndrome dos ovários policísticos (SOP)
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Caracterizar os principais distúrbios do relaxamento pélvico em termos de etiologia, tratamento e intervenções de
enfermagem.
2. Delinear a conduta de enfermagem necessária para os distúrbios genitais benignos mais comuns em mulheres.
3. Avaliar a incontinência urinária em termos de patologia, manifestações clínicas, opções de tratamento e efeitos na
qualidade de vida.
4. Comparar os vários tumores benignos quanto a seus sinais e sintomas e manejo.
5. Analisar o impacto emocional da síndrome do ovário policístico e o papel do enfermeiro como conselheiro,
orientador e defensor.
Liz, uma mulher de 26 anos de idade, com sobrepeso, chegou à clínica com hirsutismo e acne facial e disse
ao enfermeiro que estava preocupada com seus ciclos menstruais irregulares. Ela também disse que
recentemente o cabelo do topo de sua cabeça parece estar caindo. Quais exames complementares o
enfermeiro pode antecipar a essa paciente? Como o enfermeiro pode preparar Liz para esses?
Reflexões
As mulheres podem influenciar seu processo de envelhecimento fazendo escolhas de estilo de vida sábias desde o início.
INTRODUÇÃO
A incidência de várias doenças pélvicas benignas aumenta à medida que as mulheres envelhecem. Por exemplo, as
mulheres podem apresentar distúrbios do assoalho pélvico relacionados com o relaxamento das estruturas pélvicas ou a
incontinência urinária. Esses transtornos geralmente se desenvolvem depois de anos de desgaste dos músculos e tecidos
que suportam o assoalho pélvico, como o que ocorre com a gravidez, a tosse crônica, os esforços, a cirurgia ou,
simplesmente, o envelhecimento. Além de distúrbios do assoalho pélvico, a mulher também pode ter várias neoplasias
benignas do aparelho genital, como pólipos cervicais, miomas uterinos (liomiomas), cistos ovarianos, fístulas genitais e
cistos de Bartholin. Este capítulo fornece uma visão geral das várias condições que comprometem o assoalho pélvico e
neoplasias benignas, discutindo a avaliação, o tratamento e as estratégias de prevenção de cada uma. Também aborda a
mutilação genital feminina no contexto de ser uma prática nociva que afeta a saúde de meninas e mulheres.
DISTÚRBIOS DO ASSOALHO PÉLVICO
Os distúrbios do assoalho pélvico, como o prolapso de órgãos pélvicos ou o prolapso genital e a incontinência urinária e
fecal, são comuns em mulheres idosas. Pesquisadores financiados pelos National Institutes of Health (NIH, 2015a)
relataram que mais de um terço das mulheres nos EUA apresentam um distúrbio do assoalho pélvico e quase 25% das
mulheres nos EUA têm um ou mais distúrbios sintomáticos do assoalho pélvico. O estudo relatou que a frequência dos
distúrbios do assoalho pélvico aumenta com a idade, acometendo mais de 40% das mulheres entre 60 e 79 anos de idade, e
cerca de 50% das mulheres com 80 anos ou mais. A análise do NIH é a primeira a documentar a extensão dos distúrbios
do assoalho pélvico em uma amostra nacionalmente representativa, um conjunto de problemas de saúde que causa
desconforto físico e limita as atividades.
Os distúrbios do assoalho pélvico causam morbidade física e psicológica significativa, podendo comprometer as
interações sociais, o bemestar emocional e a qualidade de vida geral das mulheres. Como os distúrbios do assoalho
pélvico pioram com a idade, o problema cresce conforme a população envelhece. O termo “assoalho pélvico” descreve o
grupo de músculos que formam uma alça ou rede através da pelve. Esses músculos, juntamente com os tecidos
circundantes, mantêm os órgãos pélvicos (útero, bexiga urinária e alças intestinais) no lugar de modo que consigam
funcionar corretamente. Esses distúrbios resultam de enfraquecimento do tecido conjuntivo e do suporte muscular de
órgãos pélvicos decorrentes de vários fatores: gravidez, parto vaginal, obesidade, levantamento de pesos, tosse crônica
consequente a tabagismo, esforço aumentado durante defecação secundário a constipação intestinal, irradiação da pelve por
causa de câncer e deficiência de estrogênio (American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG, 2015a). A
anatomia feminina é suscetível ao comprometimento do assoalho pélvico em decorrência da disposição vertical de suas
estruturas. A pelve óssea tem uma curva lombar exagerada e inclinada para baixo em relação a ela. A bexiga apoiase
sobre a sínfise e os órgãos posteriores repousam sobre o sacro e o cóccix. A pelve envolve os órgãos, mas a postura
ortostática da mulher causa efeito de afunilamento e pressão constante para baixo.
Prolapso de órgãos pélvicos
O prolapso de órgãos pélvicos (POP) (do latim prolapsus, “deslizar para fora”) referese à descida anormal ou herniação
dos órgãos pélvicos de seus locais de inserção originais ou de sua posição normal na pelve. O POP ocorre quando as
estruturas da pelve se deslocam ou se projetam para o canal vaginal ou o exterior. Esse distúrbio compromete a micção, a
defecação e a atividade sexual das mulheres. Os egípcios foram os primeiros a descrever o prolapso dos órgãos genitais.
Hipócrates, em 400 a.C., fez referência à colocação de metade de uma romã na vagina para tratar o prolapso. Um distúrbio
exclusivo das mulheres, o POP raramente resulta em morbidade grave ou mortalidade, mas pode afetar as atividades
diárias e a qualidade de vida da mulher (Brown, 2015). É difícil determinar a incidência do POP, porque a doença muitas
vezes é assintomática e muitas mulheres não procuram tratamento. No entanto, estimase que até 75% de todas as
mulheres que tiveram um parto vaginal apresentem POP (ACOG, 2015a). A cada ano, mais de 250.000 mulheres são
submetidas a cirurgias para reparar o prolapso, a um custo de mais de US$ 1 bilhão somente com hospitalização e
honorários médicos (Maher & Haya, 2015). Visto que existe a expectativa de que a população de adultos mais velhos
duplique até 2030, distúrbios do assoalho pélvico e suas manifestações clínicas vão se tornar mais prevalentes
(Mukwege et al., 2015).
A obesidade está associada a prevalência elevada de distúrbios do assoalho pélvico. A obesidade também pode agravar
os sinais e sintomas do prolapso genital, a incontinência fecal, a disfunção sexual, a incontinência urinária de esforço e
aumentar o risco de pólipos endometriais e miomas sintomáticos. A redução de peso corporal melhora os desfechos
reprodutivos, diminui as manifestações da incontinência urinária, melhora a disfunção sexual, e reduz a taxa de morbidade
após a cirurgia ginecológica. No entanto, com as escolhas alimentares e de estilo de vida atuais das mulheres, a perda de
peso sustentada e substancial é difícil de ser alcançada por muitas delas (Ramalingam & Monga, 2015).
O tratamento e o diagnóstico do POP são desafiadores e problemáticos.
Tipos de prolapso de órgãos pélvicos
Os quatro tipos mais comuns de prolapso pélvico ou genital são cistoceles, retocele, enterocele e prolapso uterino (Figura
7.1):
• Cistocele: ocorre quando a parede posterior da bexiga se projeta para baixo através da parede vaginal anterior
• Retocele: ocorre quando o reto se “afunda” e empurra a parede vaginal posterior
• Enterocele: ocorre quando o intestino delgado se projeta contra a parede vaginal posterior (especialmente comum
durante o esforço para defecar)
• Prolapso uterino: ocorre quando o útero desce através do assoalho pélvico até dentro do canal vaginal. As multíparas
correm maior risco de apresentar prolapso uterino. A extensão do prolapso uterino é classificada em termos de
estágios:
• Estágio 0: não há descida de estrutura pélvica durante o esforço para defecar
• Estágio I: o órgão prolapsado descendente está mais do que 1 cm acima do anel himenal
• Estágio II: o órgão prolapsado se estende aproximadamente 1 cm abaixo do anel himenal
• Estágio III: o órgão prolapsado se estende 2 a 3 cm abaixo do anel himenal
• Estágio IV: a vagina está completamente evertida ou o órgão prolapsado está mais de 3 cm abaixo do anel himenal
(Riss & Koch, 2015).
Etiologia
O suporte anatômico dos órgãos pélvicos é fornecido principalmente pelo complexo do músculo levantador do ânus e as
inserções de tecido conjuntivo da fáscia dos órgãos pélvicos. A disfunção de um ou ambos os componentes pode levar à
perda de suporte e, por fim, ao prolapso de órgãos pélvicos. Os músculos do assoalho pélvico enfraquecidos também
impedem o fechamento completo da uretra, resultando em perda de urina durante o esforço físico. Esse problema não se
restringe a mulheres idosas: a incontinência urinária foi documentada em mulheres de idades variadas, incluindo mulheres
jovens (menos de 25 anos de idade) (Walters, 2015).
Muitos fatores de risco para o prolapso de órgãos pélvicos já foram aventados, mas a verdadeira causa provavelmente
é multifatorial. As causas poderiam incluir:
• Efeito constante da gravidade por causa da postura humana ortostática
• Atrofia dos tecidos de suporte com o envelhecimento e com o declínio dos níveis de estrogênio
• Enfraquecimento do assoalho pélvico relacionado com o traumatismo durante o parto
• Intervenções cirúrgicas no sistema genital, incluindo histerectomia
• Parto instrumentalizado (com fórceps, vacuoextrator)
• Multiparidade
• Parto rápido e sem controle
• História familiar de POP
FIGURA 7.1 Tipos de prolapsos pélvicos. A. Normal. B. Retocele e cistocele. C. Enterocele. D. Prolapso uterino.
• Primiparidade precoce
• Doenças do tecido conjuntivo
• Recémnascido pesando mais de 4.500 g
• Irradiação pélvica
• Aumento da pressão abdominal secundário a:
• Levantamento de crianças ou objetos pesados
• Esforço devido a constipação intestinal crônica
• Problemas respiratórios ou tosse crônica
• Obesidade (RodriguezMias et al., 2015).
Conduta terapêutica
As opções de tratamento para o prolapso de órgãos pélvicos dependem dos sinais e sintomas e de seu efeito na qualidade
de vida da mulher. Considerações importantes ao decidir sobre as opções não cirúrgicas ou cirúrgicas incluem a
intensidade dos sinais e sintomas, as preferências da mulher, o estado de saúde da mulher, a idade e a adequação para a
cirurgia, bem como a existência de outras condições pélvicas (incontinência urinária ou fecal). Medidas conservadoras
como exercícios para a musculatura do assoalho pélvico ou exercícios de Kegel suplementados por intervenções no estilo
de vida como perda de peso corporal, evitar esforços (redução do levantamento de pesos, tratamento de tosse e constipação
intestinal) são preconizadas como opções terapêuticas de primeira linha. Os exercícios para a musculatura do assoalho
pélvico têm como meta o aumento da força e da resistência dos suportes do assoalho pélvico, evitar ou retardar o
agravamento do prolapso de órgãos pélvicos e aliviar os sinais/sintomas do prolapso de órgãos pélvicos. Os exercícios
para a musculatura do assoalho pélvico, antes e depois da cirurgia, podem ajudar as mulheres a retardar ou evitar a
necessidade de cirurgia e já foi constatado que melhoram os desfechos da cirurgia.
Quando a cirurgia está sendo considerada, a natureza do procedimento e o provável desfecho precisam ser
minuciosamente explicados e discutidos com a mulher e seu parceiro. As opções de tratamento para o prolapso de órgãos
pélvicos incluem exercícios dos músculos do assoalho pélvico, terapia de reposição de estrogênio, modificações dietéticas
e de estilo de vida, uso de um pessário (dispositivo intravaginal removível que dá sustentação aos órgãos pélvicos) e
cirurgia (Prática baseada em evidências 7.1).
Prática baseada em evidências 7.1
Treinamento dos músculos do assoalho pélvico versus nenhum tratamento ou tratamentos de
controle inativos para a incontinência urinária em mulheres.
ESTUDO
O extravasamento involuntário de urina (incontinência urinária) ocorre em mulheres de todas as idades,
sobretudo mulheres mais velhas que vivem em asilos ou casas de repouso. Algumas mulheres apresentam
extravasamento de urina durante a prática de exercícios físicos ou quando tossem ou espirram
(incontinência urinária de esforço) e isso pode resultar de enfraquecimento dos músculos do assoalho
pélvico como sequela de parto vaginal. Outras mulheres apresentam extravasamento de urina antes de
chegar ao banheiro quando surge uma necessidade urgente e irresistível de urinar (incontinência urinária de
urgência). Isso pode ser causado por contração involuntária da musculatura da bexiga urinária. A
incontinência urinária mista é uma combinação de incontinência urinária de esforço e incontinência urinária
de urgência. O treinamento da musculatura do assoalho pélvico é uma abordagem fisioterapêutica
supervisionada e inclui exercícios de contração muscular para fortalecer o assoalho pélvico. Tratase de um
tratamento frequentemente prescrito para interromper o extravasamento de urina. Também existem outros
tratamentos disponíveis que podem ser usados isoladamente ou em combinação com os exercícios para
fortalecer o assoalho pélvico.
Os exercícios para fortalecer o assoalho pélvico são uma abordagem terapêutica conservadora para as
mulheres com incontinência urinária. Essa revisão sistemática avaliou os efeitos dos exercícios para
fortalecer o assoalho pélvico quando comparados aos efeitos de nenhum tratamento, placebo ou outros
tratamentos de controle inativos para incontinência urinária nas mulheres.
Esse estudo foi realizado para comparar os efeitos dos exercícios para fortalecer o assoalho pélvico com
nenhum tratamento, placebo ou outros tratamentos de controle inativos no manejo das mulheres com
incontinência urinária.
Achados
Foram utilizados estudos randomizados ou quase randomizados. Vinte e um estudos (1.281 mulheres)
atenderam aos critérios de elegibilidade para inclusão, ou seja, mulheres com incontinência urinária de
esforço, incontinência urinária de urgência ou incontinência urinária mista e compararam os exercícios para
fortalecer o assoalho pélvico combinados a nenhum tratamento, a placebo ou a outros tratamentos de
controle inativos.
Essa revisão sistemática encontrou apoio para a recomendação generalizada de que o TMAP deve ser
incluído em programas de tratamento conservador de primeira linha para mulheres com incontinência
urinária de esforço ou de qualquer tipo. Existem evidências de alta qualidade de que, nas mulheres com
incontinência de esforço, o treinamento da musculatura do assoalho pélvico está associado a melhora ou
cura.
Implicações para a enfermagem
No geral, de acordo com esse estudo, há evidências suficientes para apoiar a recomendação generalizada
de que o TMAP deve ser incluído em um programa de tratamento conservador de primeira linha para
mulheres com incontinência urinária de esforço, de urgência ou mista. Estudos prévios validaram que os
exercícios para fortalecer o assoalho pélvico realmente ajudam a aumentar o tônus dos músculos que
controlam a micção. Os enfermeiros podem continuar a instruir as mulheres com incontinência a realizar o
treinamento dos músculos do assoalho pélvico diariamente para melhorar seu controle urinário e sua
qualidade de vida.
Adaptado de Dumoulin, C., HaySmith, E. J., Mac HabeeSequin, G. M., & Mercier, J. (2015). Pelvic floor
muscle training verses no treatment, or inactive control treatments, for urinary incontinence in
women. Neurourology & Urodynamics, 34(4), 300–308.
EXERCÍCIOS DOS MÚSCULOS DO ASSOALHO PÉLVICO OU
EXERCÍCIOS DE KEGEL
Os exercícios dos músculos do assoalho pélvico fortalecem os músculos do assoalho pélvico que dão sustentação aos
órgãos internos e evitam prolapsos adicionais. Os exercícios para os músculos do assoalho pélvico geralmente são aceitos
como tratamento de primeira linha para a incontinência urinária de esforço e urgência e também são amplamente utilizados
para a incontinência anal. Nos últimos 30 anos, muitas pesquisas comprovaram os benefícios dos exercícios para a
musculatura do assoalho pélvico no tratamento de incontinência urinária e do prolapso de órgãos pélvicos (McClurg,
Gerrard, & Hove, 2015). O objetivo dos exercícios pélvicos é melhorar o volume muscular, que resultará em uma
contração muscular mais forte. Os exercícios dos músculos do assoalho pélvico podem limitar a progressão do prolapso
leve e aliviar os sinais e sintomas do prolapso leve, incluindo a lombalgia e a sensação de pressão pélvica. No entanto,
eles não são úteis no prolapso uterino grave.
TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL
A terapia de reposição hormonal (TRH) (por via oral, por via transdérmica, por anel vaginal ou creme vaginal em baixas
doses) pode melhorar o tônus, a espessura natural e a vascularização dos tecidos de suporte antes e durante a menopausa,
aumentando a perfusão sanguínea e a elasticidade da parede vaginal. A TRH tem muitos efeitos benéficos, assim como
riscos. É essencial que os efeitos benéficos sejam avaliados em relação aos riscos antes de essa abordagem terapêutica ser
iniciada.
Anote!
Antes de considerar a terapia hormonal, é preciso fazer uma anamnese meticulosa para avaliar o risco de complicações
para a mulher (p. ex., câncer endometrial, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral ou encefálico, câncer de mama,
embolia pulmonar e trombose venosa profunda). Por causa desses riscos, devemse administrar estrogênios, com ou sem
progesterona, na menor dose efetiva e pelo menor período de tempo consistente com os objetivos de tratamento e riscos
de cada mulher (ACOG, 2015a).
MODIFICAÇÕES DIETÉTICAS E DE ESTILO DE VIDA
Modificações dietéticas e de estilo de vida ajudam a evitar o relaxamento pélvico e os problemas crônicos na idade mais
avançada. Mudanças específicas do estilo de vida incluiriam evitar constipação intestinal, irritantes vesicais, levantamento
de peso e exercícios de alto impacto, além de estimular perda ponderal e abandono do tabagismo. Os hábitos alimentares
podem agravar o prolapso porque provocam constipação intestinal e, consequentemente, esforço crônico para defecar. As
fezes da mulher com constipação intestinal são duras e ressecadas, e, tipicamente, ela precisa fazer força para defecar.
Esse esforço para eliminar fezes de consistência dura aumenta a pressão intraabdominal, o que, com o passar do tempo,
leva a prolapso dos órgãos pélvicos. Modificações na dieta podem ajudar a estabelecer um ritmo intestinal regular, sem
desconforto, e a eliminar a flatulência e a distensão abdominal. A reeducação alimentar para promover perda de peso
também pode precisar ser instituída em caso de sobrepeso.
PESSÁRIOS
Pessários vaginais são dispositivos sintéticos inseridos na vagina para dar suporte à bexiga e a outros órgãos pélvicos,
como uma medida corretiva para incontinência urinária e/ou prolapso de órgãos pélvicos (Figura 7.2). Hoje em dia quase
todos os pessários são feitos de silicone atóxico, que oferece muitas vantagens. Os pessários de silicone são flexíveis e
têm vida útil longa; não têm odor e não absorvem secreção; são biologicamente inertes, não são alergênicos nem
carcinogênicos; podem ser fervidos ou autoclavados para esterilização. Como a maioria dos pessários é feita de silicone, o
estilo e o tamanho do pessário são as principais considerações ao selecionar um (Colyar, 2015). Embora existam muitos
tipos e formatos, o pessário mais usado é um anel firme que exerce pressão contra a parede da vagina e a uretra para
ajudar a reduzir a perda de urina e dar suporte ao prolapso de vagina ou útero. Pessários são uma opção terapêutica de
baixo risco com a vantagem de serem custoefetivos e minimamente efetivos, além de proporcionarem alívio imediato dos
sinais/sintomas.
FIGURA 7.2 Exemplos de pessários. A. Várias formas e tamanhos de pessários estão disponíveis. B. Inserção de
um tipo de pessário.
As indicações de utilização do pessário incluem o prolapso uterino ou a cistocele, especialmente em mulheres idosas,
para as quais a cirurgia é contraindicada, em mulheres mais jovens com prolapso que planejam ter mais filhos e nas
mulheres com prolapso acentuado que preferem usar um pessário em vez de fazer uma cirurgia (Ralph & Tamussino,
2015). Muitas mulheres usam pessários por um curto período de tempo e ficam assintomáticas. O uso a longo prazo pode
levar à pressão por necrose e ao desenvolvimento de fístulas em algumas mulheres; nessa situação, outros métodos de
apoio devem ser explorados. Os pessários são ajustados por tentativa e erro; a mulher muitas vezes precisa tentar vários
tamanhos ou estilos. O pessário maior, que a mulher consegue usar confortavelmente, geralmente é o mais efetivo. A
mulher deve ser orientada a relatar qualquer desconforto ou dificuldade de urinar ou defecar enquanto estiver usando um
pessário e deve também comparecer a consultas de acompanhamento dos cuidados para verificar a posição.
Os enfermeiros precisam estar cientes do isolamento pessoal, do constrangimento e das implicações sociais e culturais
que a incontinência urinária pode causar, bem como das experiências subjetivas de usar um pessário. Com o apoio
adequado, os pessários vaginais podem proporcionar às mulheres a liberdade de levar uma vida social ativa e engajada.
INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS
As intervenções cirúrgicas para prolapso de órgãos pélvicos ou genitais são projetadas para corrigir defeitos específicos,
sendo que as metas são a restauração da anatomia normal e a preservação funcional. Aproximadamente 260.000
procedimentos cirúrgicos para incontinência de esforço são realizados nos EUA a cada ano (Kirby, TanKim, & Nager,
2015). A cirurgia não é uma opção para todas as mulheres. As mulheres que correm alto risco de sofrer prolapso
recorrente após o reparo cirúrgico ou que têm obesidade mórbida, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou
condições clínicas para as quais a anestesia geral seria arriscada não são boas candidatas à correção cirúrgica (Alexander et
al., 2015), devendose discutir com elas estratégias de tratamento não invasivas.
As intervenções cirúrgicas podem incluir colporrafia anterior ou posterior (reparo de cistocele ou retocele) e
histerectomia vaginal (para prolapso uterino). Isso pode ser realizado por via laparoscópica, com o útero sendo retirado
através da vagina. A colporrafia anterior e posterior pode ser efetiva para o prolapso de primeiro grau. Esse procedimento
cirúrgico “aperta” a parede vaginal anterior e posterior, reparando assim uma cistocele ou retocele. A fáscia pubocervical
(tecido de apoio entre a vagina e a bexiga) é dobrada e suturada para trazer a bexiga e a uretra à posição apropriada
(Nilsson, 2015).
A histerectomia vaginal é o tratamento de escolha para o prolapso uterino porque remove o útero que está “trazendo” a
bexiga para baixo e o reto com ela. Pode ser combinada com um reparo anterior e posterior se houver cistocele ou retocele.
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem para mulheres com prolapso de órgãos pélvicos inclui anamnese completa, exame físico e
vários exames laboratoriais e complementares.
HISTÓRIA PATOLÓGICA PREGRESSA E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
A anamnese e a avaliação geral da paciente são importantes para descartar patologias e investigar outros fatores que
poderiam influenciar a escolha e o sucesso das medidas de controle. A avaliação dos sistemas de órgãos como
funcionalidade intestinal, urinária e sexual, história patológica pregressa (clínica e cirúrgica), existência ou não de
comprometimento físico ou mental e estilo de vida é especialmente importante, sobretudo em mulheres mais velhas. As
circunstâncias sociais e os sistemas de suporte, o desejo de tratamento e as expectativas da paciente terão implicações nas
opções de controle.
A causa do prolapso é multifatorial. O parto vaginal, o avanço da idade, o trabalho pesado, a desnutrição e o aumento
do índice de massa corporal são os fatores de risco mais consistentes (RodriguezMias et al., 2015). A avaliação dos
fatores de risco (esforço crônico para defecar, histerectomia, envelhecimento normal e anormalidades do tecido
conjuntivo) na anamnese da mulher auxiliará o médico no diagnóstico e no tratamento do prolapso de órgãos pélvicos. A
anamnese deve incluir perguntas sobre:
• História obstétrica da mulher (número de gestações, peso dos recémnascidos, intervalo entre as gestações)
• Doença respiratória crônica (tosse crônica)
• Menopausa
• Antecedentes de peso (perda ou ganho)
• Constipação intestinal (frequência e cronicidade)
• Idade
• História ocupacional (p. ex., trabalho braçal pesado ou trabalho de escritório leve)
• Avaliação nutricional
• História familiar (parente com POP)
• Incontinência urinária
• Cirurgias pélvicas anteriores.
Avalie se existem manifestações clínicas de prolapso de órgãos pélvicos. O POP é frequentemente assintomático, mas
quando os sinais e sintomas ocorrem, eles muitas vezes estão relacionados com o local e o tipo de prolapso. Os sinais e
sintomas comuns a todos os tipos de prolapsos são sensação de peso, nódulo na vagina ou algo “descendo”. As mulheres
com POP podem apresentar apenas um único sinal ou sintoma, como abaulamento vaginal ou sensação de pressão pélvica,
ou várias queixas, inclusive muitos sinais e sintomas relacionados com bexiga, intestino e pelve. Os sinais e sintomas
associados ao POP estão resumidos no Boxe 7.1.
As mulheres manifestam diferentes graus de descenso uterino. O prolapso uterino é o tipo mais preocupante de
relaxamento pélvico, porque muitas vezes está associado a defeitos concomitantes nos compartimentos anterior, posterior
e lateral da vagina (Lazarou & Grigorescu, 2015).
EXAME FÍSICO
O exame ginecológico realizado pelo médico inclui inspeção genital externa para visualizar qualquer protrusão óbvia do
útero, da bexiga, da uretra ou da parede vaginal que ocorre na abertura vaginal. Habitualmente, a mulher é solicitada a
realizar a manobra de Valsalva (fazer força para baixo), enquanto o examinador observa que órgão prolapsa primeiro e o
grau em que isso ocorre. É importante observar qualquer perda de urina durante o exame. A mulher é solicitada a contrair
os músculos pubococcígeos (exercícios dos músculos do assoalho pélvico); o médico insere dois dedos na vagina para
avaliar a força e a simetria da contração. Uma vez que o prolapso de órgãos pélvicos ou genitais pode causar sinais e
sintomas urinários, como incontinência, a função da bexiga deve ser avaliada pela determinação do volume residual pós
micção com um cateter. Se houver mais de 100 mℓ de urina retida, a mulher deverá ser encaminhada para avaliação e teste
urodinâmicos.
BOXE 7.1
SINTOMAS ASSOCIADOS AO PROLAPSO DE ÓRGÃOS PÉLVICOS
• Sinais e sintomas urinários
• Incontinência de esforço
• Polaciúria (diurna e noturna)
• Incontinência de urgência e esforço
• Hesitação
• Fluxo fraco ou prolongado
• Sensação de esvaziamento incompleto
• Sinais e sintomas intestinais
• Dificuldade para defecar
• Incontinência de flatos ou fezes líquidas ou sólidas
• Urgência de defecação
• Sensação de defecação incompleta
• Protrusão ou prolapso retal após a defecação
• Sinais e sintomas sexuais
• Incapacidade de ter relações sexuais frequentes
• Dispareunia
• Ausência de satisfação sexual ou orgasmo
• Incontinência durante a atividade sexual
• Outros sinais e sintomas locais
• Sensação de pressão ou peso na vagina
• Dor na vagina ou períneo
• Lombalgia após longos períodos em posição ortostática
• Protuberância palpável na cúpula vaginal
• Dificuldade de andar em decorrência de protrusão na vagina
• Dificuldade de inserir ou manter um absorvente íntimo posicionado
• Hipertrofia, escoriação, ulceração e sangramento da mucosa cervicovaginal
• Sensação de pressão ou dor abdominal
Adaptado de American College of Obstetricians and Gynecologists [ACOG]. (2015a) Pelvic support
problems. ACOG Educational Pamphlet. Retirado
de http://www.acog.org/~/media/For%20Patients/faq012.pdf?dmc=1&ts=20140128T1159591406; e
Lazarou, G., & Grigorescu, B. A. (2015). Pelvic organ prolapse. eMedicine. Retirado
de http://emedicine.medscape.com/article/276259overview.
EXAMES LABORATORIAIS E COMPLEMENTARES
Exames laboratoriais comuns que podem ser solicitados para determinar a causa do prolapso de órgãos pélvicos incluem
exame de urina para descartar infecção bacteriana, cultura de urina para identificar o microrganismo específico, se
existente, visualização da perda de urina durante o exame pélvico e medição do volume de urina pósmicção.
Conduta de enfermagem
Ajude a mulher a entender a natureza da condição, as opções de tratamento e os prováveis desfechos. As considerações de
enfermagem podem incluir:
• Descrever a anatomia normal e as causas do prolapso pélvico
• Avaliar como essa condição afetou a vida da mulher
• Descrever as opções, incluindo as vantagens e as desvantagens de cada uma
• Permitir que a paciente tome a decisão que seja a correta para ela
• Fornecer orientações
• Agendar atividades préoperatórias necessárias
• Tranquilizar a paciente quanto à solução para seus sinais e sintomas
• Orientações à comunidade em relação ao prolapso genital.
O boxe Plano de cuidados de enfermagem 7.1 fornece uma visão geral dos cuidados para a mulher com POP.
ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO
Existem poucos dados disponíveis sobre as maneiras de prevenir os distúrbios do assoalho pélvico, mas o profissional de
enfermagem precisa, primeiro, compreender sua incidência, seus fatores de risco, sua prevalência, suas implicações
clínicas e suas opções terapêuticas para poder se tornar um cuidador efetivo da mulher. A compreensão do enfermeiro não
apenas melhora sua capacidade de tratar essa população crescente de pacientes, mas também ajuda na elaboração de
estratégias preventivas para as mulheres que apresentam essa condição.
As abordagens incluem mudanças de estilo de vida que reduzem os fatores de risco modificáveis, como perder peso,
evitar trabalhos pesados e aliviar a constipação intestinal. Explore com a mulher que fatores em seu estilo de vida podem
ser modificados para reduzir seu risco de desenvolver prolapso de órgãos pélvicos (prevenção primária) ou melhorar sua
qualidade de vida depois de receber tratamento (prevenção secundária).
Plano de cuidados de enfermagem 7.1
Aspectos gerais de uma mulher com prolapso de órgãos pélvicos (POP)
Katherine, uma multípara de 62 anos, foi ao ginecologista com queixas de sensação de peso
crônica e dor intensa na pelve, além de dor lombar, constipação intestinal e perda de urina. Seus
sinais e sintomas pioram quando ela fica em pé por períodos prolongados. Ela não menstrua há
pelo menos uma década. Ela lhe diz: “Eu não estou tomando nenhum desses hormônios da
menopausa.” Ela também informa que se sente muito insegura e constrangida por causa do
extravasamento de urina e restringiu suas atividades fora de casa.
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: mudanças da imagem corporal relacionadas com o relaxamento do
assoalho pélvico e dificuldades de eliminação.
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente informará melhora da imagem corporal após manejo do prolapso de órgão pélvico e melhora
do controle miccional.
Intervenções: fornecer manejo da dor
• Fazer uma anamnese meticulosa, incluindo experiências embaraçosas contínuas, métodos de controle
da urina utilizados, o que funcionou, o que não funcionou, quaisquer alterações na prática sexual
relacionadas a isso e os efeitos dessas condições nas suas atividades de vida diária, a fim de fornecer
uma linha de base e possibilitar uma abordagem sistemática para lidar com elas
• Avaliar a frequência, a intensidade, os fatores precipitantes e os fatores agravantes/de alívio para
identificar as características dos padrões de eliminação urinária da paciente, a fim de planejar as
intervenções apropriadas
• Orientar a paciente em relação a todas as medicações prescritas (dosagem correta, via, efeitos
colaterais e precauções) para melhorar a compreensão do tratamento pela paciente e promover sua
adesão
• Avaliar os padrões de eliminação problemáticos para identificar os fatores subjacentes a partir dos
quais planejar estratégias de prevenção adequadas
• Incentivar a paciente a aumentar a ingestão de líquido e fibras e aumentar a atividade física diária para
promover o peristaltismo
• Auxiliar a paciente a estabelecer padrões intestinais regulares, separando um período de tempo diário
para a defecação, a fim de promover a função intestinal regular e a defecação
• Orientar a paciente a evitar o uso rotineiro de laxantes para reduzir o risco de agravamento da
constipação intestinal
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: déficit de conhecimento em relação às causas dos distúrbios
estruturais e opções de tratamento.
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente demonstrará compreensão da condição atual e dos tratamentos, conforme evidenciado pela
identificação das opções de tratamento atual, fazendo escolhas de estilo de vida que promovam a saúde,
verbalizando práticas de cuidados de saúde adequadas e aderindo ao plano de tratamento.
Intervenções: fornecer orientações à paciente
• Avaliar o que a paciente sabe a respeito do prolapso dos órgãos pélvicos e suas opções de
tratamento para fornecer uma linha de base para suas orientações
• Revisar as informações fornecidas em relação aos procedimentos cirúrgicos e recomendações para
um estilo de vida saudável, obtendo feedback com frequência para confirmar que a paciente
compreendeu as orientações
• Discutir a associação entre o prolapso do útero, bexiga e reto e os sinais e sintomas para ajudar a
paciente a compreender a etiologia de seus sinais e sintomas e a dor
• Pedir à paciente que verbalize e discuta informações relacionadas com diagnóstico, procedimento
cirúrgico, rotina préoperatória e regime pósoperatório para garantir a compreensão adequada e dar
tempo para corrigir ou esclarecer quaisquer informações errôneas ou equívocos
• Fornecer material escrito com ilustrações para promover a aprendizagem e ajudar a paciente a
visualizar o que aconteceu ao seu corpo em decorrência de envelhecimento, ganho de peso, parto e
gravidade
• Discutir os prós e contras da terapia de reposição hormonal, prevenção da osteoporose e eventos
cardiovasculares comuns após a menopausa para possibilitar que a paciente tome uma decisão
informada em relação às terapias para a menopausa
• Informar a paciente sobre os recursos disponíveis na comunidade e fazer os encaminhamentos
adequados, conforme necessário, para fornecer orientações e apoio adicionais
• Registrar os detalhes das orientações e aprendizado para possibilitar a continuidade dos cuidados e
orientações adicionais, se necessário
INCENTIVO AO TREINAMENTO DOS MÚSCULOS DO ASSOALHO
PÉLVICO
Incentive a mulher a realizar exercícios dos músculos do assoalho pélvico diariamente (Diretrizes de ensino 7.1).
Converse sobre os resultados de pesquisas atuais e oriente a mulher em relação à terapia com estrogênio, possibilitando
que ela tome sua própria decisão sobre a possibilidade de usar hormônios. Ainda existem controvérsias sobre os
benefícios versus os riscos de tomar hormônios, de modo que a mulher precisa considerar essa opção com cuidado
(ACOG, 2015a).
Diretrizes de ensino 7.1
Exercícios para fortalecer o assoalho pélvico
• Contrair os músculos do reto como se estivesse tentando evitar a emissão de flatos
• Interromper e reiniciar o fluxo urinário para ajudar a identificar o músculo pubococcígeo
• Contrair o músculo pubococcígeo até uma contagem de três e, em seguida, o relaxar
• Contrair e relaxar o músculo pubococcígeo rapidamente 10 vezes
• Tentar contrair todo o assoalho pélvico e fazer força para baixo 10 vezes
• Repetir os exercícios dos músculos do assoalho pélvico pelo menos 5 vezes/dia
INCENTIVO ÀS MODIFICAÇÕES DIETÉTICAS E DE ESTILO DE VIDA
Instrua as pacientes a aumentar a ingestão de fibras e líquido para evitar a constipação intestinal. Uma dieta rica em fibras,
associada ao aumento na ingestão de líquidos, alivia a constipação intestinal, aumentando o volume das fezes e
estimulando o peristaltismo. Essa dieta é realizada por meio da substituição de alimentos refinados, com baixo teor de
fibras, por alimentos ricos em fibras. A ingestão diária recomendada de fibras para as mulheres é de 25 g (Meyer, 2015).
Além de aumentar a quantidade de fibras da dieta, incentive também a mulher a beber oito copos de 240 mℓ de líquido por
dia e realizar exercícios aeróbicos de baixo impacto regulares, os quais promovem o tônus muscular e estimulam o
peristaltismo.
Oriente a paciente em relação a outras mudanças de estilo de vida que ajudarão com o prolapso, como:
• Alcançar o peso ideal para reduzir a pressão intraabdominal e a pressão sobre os órgãos pélvicos, incluindo a pressão
na bexiga
• Usar um cinto ou suporte abdominal para apoiar os músculos que circundam os órgãos pélvicos
• Evitar levantar objetos pesados para reduzir o risco de aumento da pressão intraabdominal, o que pode empurrar os
órgãos pélvicos para baixo
• Evitar exercícios aeróbicos de alto impacto, correr ou saltar repetidamente, para minimizar o risco de aumento da
pressão intraabdominal, o que coloca pressão sobre os órgãos
• Deixar de fumar para minimizar o risco de “tosse crônica do fumante”, que aumenta a pressão intraabdominal e
empurra os órgãos pélvicos para baixo.
ORIENTAÇÕES PARA O USO DO PESSÁRIO
Oriente a mulher em relação ao uso do pessário. Discuta as complicações, como parte das instruções. Embora o pessário
seja um dispositivo seguro, ele não deixa de ser um corpo estranho na vagina. Por isso, os efeitos colaterais mais comuns
do pessário são aumento da secreção vaginal, infecções urinárias, vaginite e odor desagradável. O odor pode ser reduzido
por duchas com vinagre diluído ou peróxido de hidrogênio. Após a menopausa, as mulheres apresentam mucosa vaginal
fina e são suscetíveis à ulceração vaginal pelo uso do pessário. Aconselhe a mulher a usar um creme de estrogênio para
tornar a mucosa vaginal mais resistente à erosão e para reforçar suas paredes.
A mulher precisa ser capaz de gerir a utilização do pessário, sozinha ou com o auxílio de um ajudante. As
recomendações mais comuns para os cuidados com o pessário incluem a sua remoção 2 vezes/semana e a limpeza com
água e sabão, o uso de um lubrificante para a inserção e a realização de exames de acompanhamento regular a cada 6 a 12
meses após um período inicial de adaptação.
Além da limpeza, a paciente precisa recolocar corretamente o dispositivo em sua cavidade vaginal e também precisa
estar disposta a participar de todos os aspectos dos cuidados com o pessário, para que essa opção de tratamento seja bem
sucedida. Todas as mulheres que escolhem essa opção têm de ser orientadas em relação aos cuidados com seu pessário,
para que se sintam confortáveis com todos os aspectos antes de deixar a unidade de saúde. As consultas devem possibilitar
um tempo adequado para as mulheres compartilharem preocupações, ansiedades e medos que cercam a transição para a
vida com um pessário.
CUIDADOS PEROPERATÓRIOS
Prepare a mulher para a cirurgia, reforçando os riscos e benefícios da cirurgia e descrevendo a evolução pósoperatória.
Explique que ela utilizará um cateter de demora por até 1 semana e que ela pode não ser capaz de urinar em decorrência da
tumefação local depois da retirada do cateter. Forneça instruções para os cuidados domiciliares com o cateter de demora. A
mulher deve limpar a área perineal diariamente com sabão neutro e água, especialmente onde o cateter penetra no meato
urinário. Se a mulher utilizar uma bolsa de perna durante as horas de vigília, instruaa a esvaziála e mantêla
frequentemente abaixo do nível da bexiga para evitar o refluxo. Os mesmos princípios se aplicam à bolsa do cateter de
demora quando do seu esvaziamento.
Durante o período de recuperação, instrua a paciente a evitar, por várias semanas, atividades que causem aumento da
pressão abdominal, tais como fazer esforço para defecar, espirrar e tossir. Além disso, aconselhea a não levantar objetos
pesados nem esforçarse para empurrar objetos. Explique à mulher que emolientes fecais e laxantes suaves podem ser
prescritos para evitar a constipação intestinal e o esforço durante a defecação. Será recomendado evitar relações sexuais
vaginais até que a área cirúrgica esteja cicatrizada, em 6 semanas.
Incontinência urinária
A incontinência urinária é definida pela International Continence Society (2015) como a perda involuntária de urina que
representa um problema de higiene ou um problema social para o indivíduo. Essa condição acomete mais de 15 milhões de
mulheres nos EUA (Walters, 2015), mas é subnotificada. Estimase que 50% de todas as mulheres sofram de
incontinência urinária em algum momento de sua vida, com a intensidade variando de leve a significativa (Files, Mayer, &
Chutka, 2015). Os custos psicossociais e a morbidade são ainda mais difíceis de quantificar. O constrangimento e a
depressão são comuns. A mulher afetada pode reduzir suas interações sociais, evitar saídas de casa e absterse de atividade
sexual (Su, Sun, & Jiann, 2015). É uma condição mais comum do que o diabetes melito e a doença de Alzheimer, doenças
que recebem muita atenção da mídia. Apesar do considerável impacto da incontinência urinária na qualidade de vida, é
improvável que as mulheres verbalizem a falta de controle vesical, e pouquíssimas procuram ajuda ou tratamento para
problemas de incontinência. A seguir estão várias explicações possíveis que tentam justificar por que as pacientes não
falam sobre seus problemas de controle vesical: A paciente pode:
• Sentir que a incontinência urinária é inevitável e não há tratamento
• Sentir que a incontinência urinária é uma parte “normal” do envelhecimento
• Acreditar que a incontinência urinária é parte de “ser mulher”. As mulheres tendem a “aceitar” sinais e sintomas
urinários, como a incontinência urinária, mais do que os homens
• Sentirse constrangida e tentar negar que se trata de um problema real
• Pensar que a única opção terapêutica é cirúrgica
• Considerar a incontinência urinária um problema de higiene, não uma condição clínica.
Anote!
A incontinência pode ser prevenida, tratada e, frequentemente, curada. No entanto, muitas mulheres acreditam que a
perda da função vesical é uma parte normal e esperada do envelhecimento.
A incontinência pode ter efeitos de longo alcance. Algumas mulheres apresentam ansiedade, depressão, isolamento
social, constrangimento, insônia, medo, sensação de estar suja, preocupação, vulnerabilidade e vergonha, assim como
limitação da capacidade de viajar para locais longe de casa ou ter vida social e comprometimento da autoestima e da
dignidade. A incontinência urinária pode fazer com que a mulher pare de trabalhar, de viajar, de socializarse e de desfrutar
de relações sexuais. Além disso, a incontinência pode criar um tremendo fardo para os cuidadores, sendo um motivo
comum para a admissão a uma unidade de longa permanência. Depressão e níveis elevados de estresse são achados típicos
nessas mulheres (Kwak, Kwon, & Kim, 2015).
As mulheres muitas vezes tentam lidar com a incontinência urinária por meio de modificações no estilo de vida, como
usar absorventes de proteção, evitar determinadas atividades, urinar com frequência e modificar a dieta/ingestão de
líquido. As mulheres com incontinência urinária geralmente estão mais angustiadas por causa das implicações sociais, e
muitas fazem grandes esforços para esconder seus sintomas. Em algumas culturas, a incontinência urinária é abominada
até o ponto de as mulheres serem rejeitadas por suas comunidades. Sensação de controle, normalidade e autoestima são
questões centrais na convivência com a incontinência urinária. Em geral, com o tempo e com o agravamento dos sinais e
sintomas, as mulheres buscam avaliação e tratamento médico (Waetjen et al., 2015).
Os tipos de incontinência urinária são definidos com base nos seus sinais/sintomas iniciais. Os três tipos mais comuns
de incontinência urinária são a incontinência de urgência (bexiga hiperativa causada por contrações do músculo detrusor),
incontinência urinária de esforço (função inadequada do esfíncter urinário) e incontinência mista (envolve tanto a
incontinência de esforço quanto a de urgência) (King et al., 2015). O Quadro comparativo 7.1 detalha esses tipos de
incontinência urinária.
Fisiopatologia e etiologia
A continência urinária envolve vários fatores, incluindo funcionamento efetivo da bexiga, músculos do assoalho pélvico
adequados, controle neural pelo encéfalo e integridade das conexões neurais que promovem o controle voluntário. O colo
da bexiga e a parte proximal da uretra atuam como um esfíncter. Durante a micção, o esfíncter relaxa e a bexiga esvazia. A
capacidade de controlar a micção demanda a atuação integrada de diversos componentes do sistema urinário inferior, que
precisa estar estruturalmente íntegro e funcionando normalmente.
A incontinência pode desenvolverse caso os músculos da bexiga se tornem hiperativos em decorrência de músculos
esfincterianos enfraquecidos, se os músculos da bexiga se tornarem demasiadamente fracos para se contrair corretamente
ou se os sinais do sistema nervoso para as estruturas urinárias forem interrompidos. Um importante fator feminino que
contribui para a continência urinária é o nível de estrogênio, pois esse hormônio ajuda a manter o tônus do esfíncter da
bexiga. Em mulheres na perimenopausa ou na menopausa, a incontinência pode ser um problema, pois os níveis de
estrogênio começam a diminuir e ocorrem alterações geniturinárias. Em termos simples, a bexiga é o “reservatório”, a
uretra é a “vedação” e o músculo elevador do ânus é a “porteira” que evita o e fluxo de urina ao dar suporte à uretra e à
bexiga para que elas não desçam. Quando qualquer uma dessas três estruturas não estiver funcionando normalmente, a
incontinência ocorrerá.
Quadro comparativo 7.1
Incontinência urinária de urgência versus de esforço.
Incontinência urinária Incontinência urinária de
de urgência esforço
Os fatores que contribuem para a incontinência urinária incluem:
• Ingestão de líquido, especialmente bebidas alcoólicas, refrigerantes e bebidas com cafeína
• Constipação intestinal: altera a posição dos órgãos pélvicos e impõe pressão sobre a bexiga
• Esvaziamento habitual “preventivo”: pode condicionar a bexiga a aguentar apenas pequenos volumes de urina
• Menopausa e depleção de estrogênio
• Doença crônica, como acidente vascular cerebral ou encefálico, esclerose múltipla ou diabetes melito
• Tabagismo: a nicotina aumenta as contrações do músculo detrusor
• Avanço da idade: alterações anatômicas relacionadas com o envelhecimento oferecem menos assoalho pélvico
• Gravidez e parto: danos às estruturas pélvicas durante o parto
• Obesidade: aumenta a pressão abdominal (Schuiling & Likis, 2016).
Conduta terapêutica
As opções de tratamento dependem do tipo de incontinência urinária. Em geral, o procedimento menos invasivo e com
menos riscos representa a primeira escolha para o tratamento. A cirurgia é realizada apenas se outros métodos falharem.
Há uma crença generalizada de que a incontinência urinária é um problema inevitável do envelhecimento e que pouco ou
nada pode ser feito para aliviar os sinais e sintomas ou revertêlos. Nada poderia estar mais longe da verdade. As atitudes
devem mudar para que as mulheres se sintam confortáveis em buscar ajuda para essa situação embaraçosa.
Para muitas mulheres com incontinência urinária de urgência, o simples encorajamento e as intervenções de estilo de
vida podem ajudar. A promoção de peso corporal saudável pode ajudar a reduzir a incontinência relacionada com
obesidade. No entanto, se forem necessárias mais do que simples medidas de estilo de vida, os tratamentos eficazes
podem incluir:
• Treinamento vesical para estabelecer intervalos de micção normal (a cada 3 a 5 horas)
• Exercícios dos músculos do assoalho pélvico para fortalecer a musculatura do assoalho pélvico
• Pessário para dar suporte às estruturas pélvicas que enfraqueceram
• Farmacoterapia para reduzir a vontade de urinar. Agentes anticolinérgicos, como oxibutinina ou tolterodina, podem ser
prescritos. Os efeitos colaterais mais comuns dos agentes anticolinérgicos são boca seca, borramento visual,
constipação intestinal, náuseas, tontura e cefaleia (King et al., 2015).
Para as mulheres com incontinência urinária de esforço, o tratamento nem sempre é curativo, mas consegue minimizar
o impacto dessa condição na sua qualidade de vida. Algumas opções de tratamento para a incontinência urinária de esforço
podem incluir:
• Perder peso, se necessário
• Evitar a constipação intestinal
• Abandonar o tabagismo
• Realizar exercícios dos músculos do assoalho pélvico para fortalecer o assoalho pélvico
• Utilizar pessários
• Utilizar cones vaginais com peso para melhorar o tônus dos músculos do assoalho pélvico
• Aplicar injeção periuretral (injeção de colágeno para formar uma protuberância que aproxime as paredes uretrais para
alcançar vedação melhor)
• Fazer uso de medicamentos, como duloxetina, para aumentar as contrações do esfíncter uretral durante a fase de
retenção do ciclo de micção
• Recorrer à terapia de reposição hormonal para melhorar o tônus do esfíncter da bexiga
• Submeterse a cirurgia para corrigir o prolapso genital e melhorar o tônus da uretra e da bexiga.
Considere isto
A vida pode ser complicada e embaraçosa, às vezes quando menos esperamos. Conheci um homem na
igreja que parecia interessado em mim. Ele me chamou para tomarmos um café após os cultos de domingo.
Passei os últimos 10 anos sozinha e essa perspectiva parecia excitante para mim. Conversamos por horas
durante o café e parecíamos ter muito em comum, especialmente porque ambos tínhamos perdido nossos
cônjuges por causa de câncer. Ele me convidou para fazer dança de salão, que era uma atividade que
ambos havíamos desfrutado no passado com nossos cônjuges. Não saí de casa e permaneci fisicamente
inativa por muito tempo, então não percebi como meu corpo havia mudado com a idade.
Foi durante a primeira dança que notei uma sensação de molhado entre minhas pernas, que eu era
incapaz de controlar. Consegui continuar e fingir que estava tudo bem, mas então me dei conta de que
podia ser algo sobre o que meus amigos tinham falado – a incontinência de esforço. Não ser capaz de
controlar a urina é muito constrangedor e complica sua vida, mas eu me convenci de que ela não ia me
controlar!
Reflexões: A gravidade e o parto exercem seu efeito sobre os órgãos genitais da mulher, empurrando
os para baixo. Essa mulher não vai deixar a incontinência de esforço reduzir suas atividades, o que
demonstra uma boa atitude. O que pode ser feito em relação aos embaraçosos acidentes? Há alguma
estratégia preventiva que ela poderia ter usado anteriormente?
Avaliação de enfermagem
A avaliação da mulher que apresenta incontinência urinária inclui anamnese, exame físico, exames laboratoriais e,
possivelmente, testes urodinâmicos. O início, a frequência, a intensidade e o padrão de incontinência devem ser
determinados, bem como sinais e sintomas associados, como polaciúria, disúria, urgência e noctúria. A incontinência pode
ser quantificada perguntando à mulher se ela usa um absorvente e quantas vezes ele é trocado. Uma revisão dos
medicamentos atuais da mulher, incluindo medicamentos de venda livre, deve ser incluída na anamnese.
O médico deve realizar um exame físico completo, que deve incluir avaliação neurológica e exames pélvicos e retais.
Devese observar se existe prolapso de órgãos pélvicos associado, porque isso pode contribuir para problemas miccionais
da mulher e pode ter um impacto no diagnóstico e no tratamento. Fazse um exame retal para avaliar o tônus do esfíncter e
a sensibilidade perineal. Um “teste de esforço com tosse” pode ser realizado pedindo à paciente para tossir com a bexiga
urinária cheia e, subsequentemente, observando se ocorre extravasamento de urina. Esse teste também ajuda a avaliar a
capacidade da paciente de controlar a micção.
Realizase um exame de urina para procurar hematúria, piúria, glicosúria ou proteinúria. Fazse uma cultura de urina
se houver piúria ou bacteriúria. O resíduo pósmicção deve ser medido com ultrassonografia pélvica ou diretamente com
cateter. Se o resíduo exceder o limite estabelecido, utilizamse então testes urodinâmicos para diagnosticar a incontinência.
Conduta de enfermagem
A incontinência pode ser devastadora e pode causar problemas psicossociais e de isolamento. O enfermeiro pode
incentivar as mulheres com sinais e sintomas incômodos a procurar ajuda. Discuta as opções de tratamento com a
paciente, incluindo os benefícios e os potenciais resultados e incentivea a escolher o tratamento para a continência que
mais bem se adapte ao seu estilo de vida. Forneça orientações sobre bons hábitos vesicais e estratégias para reduzir a
incidência ou a gravidade da incontinência (Diretrizes de ensino 7.2). Forneça também apoio e incentivo para garantir a
adesão às diretrizes. Lembrese de que o envelhecimento aumenta o risco de incontinência, mas a incontinência não é uma
parte inevitável do envelhecimento. Revise a anatomia e a fisiologia do sistema urinário e ofereça explicações simples para
ajudar a mulher a lidar com as alterações urinárias. A escuta terapêutica é importante. Esteja ciente de que é preciso
coragem para a mulher revelar uma condição constrangedora.
Diretrizes de ensino 7.2
Manejo da incontinência urinária
• Não beber líquidos em excesso (ou seja, limite o total diário a 1,5 ℓ), mas não diminuir a ingestão de
líquido
• Reduzir a ingestão de líquidos e alimentos irritantes vesicais e que precipitem a urgência, como
chocolate, cafeína, refrigerantes, bebidas alcoólicas, adoçantes artificiais, alimentos condimentados,
suco de laranja, tomate e melancia
• Aumentar a quantidade de fibras e líquidos em sua dieta para reduzir a constipação intestinal
• Controlar os níveis sanguíneos de glicose para evitar a poliúria
• Tratar a tosse crônica
• Remover todas as barreiras que atrasem a chegada ao banheiro
• Praticar boa higiene perineal, utilizando água e sabão neutro. Limpar o períneo da frente para trás
para evitar infecções urinárias
• Conscientizarse dos efeitos adversos dos fármacos
• Ingerir os medicamentos prescritos
• Continuar fazendo exercícios para os músculos do assoalho pélvico
Adaptado de Files, J. A., Mayer, A. P., & Chutka, D. S. (2015). Urinary incontinence: Not just a midlaugh
crisis. Journal of Women’s Health, 24(1), 107– 108; McClurg, D., Gerrard, J., & Hove, R. T. (2015).
Reducing the incidence of incontinence. British Journal of Midwifery, 23(1), 17–20; e Vasavada, S. P.,
Carmel, M. E., & Rackley, R. (2015). Urinary incontinence. eMedicine. Retirado
de http://emedicine.medscape.com/article/452289overview.
Anote!
Mudanças simples na dieta e no estilo de vida, combinadas a um programa adequado de fortalecimento muscular do
assoalho pélvico, muitas vezes promovem melhoras significativas para mulheres de todas as idades.
TUMORES BENIGNOS
Os tumores benignos mais comuns do sistema genital incluem os pólipos cervicais, endocervicais e endometriais; os
miomas uterinos (liomiomas); as fístulas genitais; os cistos de Bartholin e os cistos ovarianos.
Pólipos
Pólipos são tumores pequenos, geralmente benignos. A incidência de malignidade em pólipos cervicais é de 1 em 1.000.
A malignidade é mais comum em mulheres na perimenopausa ou pósmenopausa (Nelson, Papa, & Ritchie, 2015). A
causa do crescimento dos pólipos não é bem compreendida, mas frequentemente é decorrente de infecção. Os pólipos
podem estar associados a inflamação crônica, resposta local anormal ao aumento dos níveis de estrogênio ou congestão
local dos vasos do colo do útero (Stewart, 2016). Podem ocorrer pólipos únicos ou múltiplos. Eles são mais comuns em
mulheres multíparas. Os pólipos podem aparecer em qualquer parte, mas são mais comuns no colo e no corpo do útero
(Figura 7.3).
Os pólipos cervicais muitas vezes aparecem após a menarca. Ocorrem em 2 a 5% das mulheres, e cerca de 2% desses
pólipos apresentam alterações cancerosas (Schuiling & Likis, 2016). Os pólipos endocervicais são comumente
encontrados em mulheres multíparas com idades entre 40 e 60 anos. São mais comuns do que os pólipos cervicais, com
pedúnculo de largura e comprimento variados. Os pólipos endometriais são tumores benignos ou crescimento excessivo
localizado do endométrio. A maioria dos pólipos endometriais é solitária e raramente ocorre em mulheres com menos de
20 anos de idade. A incidência desses pólipos aumenta progressivamente com a idade, alcança seu máximo na quinta
década de vida e diminui gradualmente após a menopausa. São encontrados em até 25% das mulheres com sangramento
anormal (Lieng, 2015).
FIGURA 7.3 Pólipos cervicais, endocervicais e endometriais.
Conduta terapêutica
O tratamento dos pólipos geralmente consiste em remoção ambulatorial simples com pequenas pinças, remoção durante a
histeroscopia ou dilatação e curetagem. A base do pólipo pode ser removida por vaporização a laser. Como muitos pólipos
estão infectados, podemse prescrever antibióticos após a remoção como medida preventiva ou para tratar sinais precoces
de infecção.
Embora os pólipos raramente sejam cancerosos, depois da cirurgia devese enviar uma amostra a um laboratório de
patologia para descartar a possibilidade de processo maligno. A biopsia do colo do útero revela tipicamente células
levemente atípicas e sinais de infecção. Os pólipos raramente reaparecem depois de serem removidos. Sugerese a
realização a intervalos regulares do esfregaço de Papanicolaou para mulheres com pólipos cervicais, a fim de detectar
quaisquer futuros crescimentos anormais malignos.
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem para a mulher com pólipos inclui ajudar no exame físico e preparar a amostra coletada para ser
enviada ao patologista.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Avalie se existem manifestações clínicas dos pólipos. A maioria dos pólipos endocervicais é vermelhocereja, enquanto a
maioria dos pólipos cervicais é brancoacinzentada (Heller, 2015). Os pólipos cervicais e endocervicais muitas vezes são
assintomáticos, mas podem provocar sinais e sintomas leves, como sangramento (após relação sexual ou ducha, entre as
menstruações) ou secreção vaginal anormal. A manifestação clínica mais comum dos pólipos endometriais é a metrorragia
(sangramento uterino irregular, acíclico).
EXAME FÍSICO E EXAMES LABORATORIAIS E COMPLEMENTARES
Tipicamente, os pólipos do colo do útero são diagnosticados quando o colo do útero é visualizado por meio de um
espéculo durante o exame ginecológico anual da mulher (Nelson, Papa, & Ritchie, 2015). Os pólipos endometriais não são
detectados no exame físico, mas sim com ultrassonografia ou histeroscopia (introdução de pequena câmera através do colo
uterino para visualizar a cavidade uterina).
Conduta de enfermagem
A conduta de enfermagem para os pólipos envolve explicar a condição e os motivos para sua remoção, além de fornecer
instruções de cuidados de acompanhamento. O enfermeiro também auxilia o médico com o procedimento de remoção.
Miomas uterinos
Miomas uterinos, também conhecidos como liomiomas, são tumores benignos compostos por músculo liso e tecido
conjuntivo fibroso no útero. Ao contrário do câncer, os miomas costumam crescer mais lentamente, respondendo aos
níveis atuais de estrogênio, e suas células não rompem nem invadem outras partes do corpo. Os miomas (liomiomas) são
classificados de acordo com sua posição no útero e na camada uterina mais envolvida (Figura 7.4):
• Subserosos: encontramse sob a camada mais externa “peritoneal” do útero e crescem fora do útero. Os miomas estão
conectados ao útero por uma haste ou pedúnculo
• Intramurais: crescem na parede do útero e são o tipo mais comum
• Submucosos: crescem a partir de imediatamente abaixo da superfície interna do útero (endométrio) para a cavidade
uterina (King et al., 2015).
Os miomas são dependentes de estrogênio e, assim, crescem rapidamente durante os anos férteis, quando os níveis de
estrogênio são elevados, mas diminuem durante a menopausa, quando os níveis de estrogênio declinam. Acreditase que
esses tumores benignos se desenvolvam em até 70% de todas as mulheres com mais de 30 anos de idade, mas até 50%
delas são assintomáticas (Stewart, 2015). É difícil precisar, porque os miomas podem não causar sintomas, e, assim,
muitas mulheres não sabem que os têm.
FIGURA 7.4 Miomas subserosos, intramurais e submucoso.
Os miomas são a indicação mais comum para histerectomia nos EUA. A incidência máxima ocorre por volta dos 45
anos, e eles são três vezes mais prevalentes em mulheres afroamericanas do que em brancas (Stewart, 2015).
Etiologia
Embora a causa dos miomas não seja conhecida, já foram identificados vários fatores predisponentes, incluindo:
• Idade (últimos anos férteis)
• Predisposição genética
• Etnia afroamericana
• Hipertensão arterial
• Nuliparidade
• Obesidade (Alexander et al., 2014).
Conduta terapêutica
O tratamento depende das dimensões dos miomas e dos sinais/sintomas da mulher, que podem incluir sangramento
menstrual doloroso ou volumoso, sensação de plenitude na parte inferior da pelve, poliuria, dispareunia (dor durante as
relações sexuais), lombalgia e infertilidade (NIH, 2015b). Existem várias opções de tratamento, que vão desde o
acompanhamento até a cirurgia.
TRATAMENTO CONSERVADOR
Os objetivos do tratamento conservador são reduzir os sinais, os sintomas e/ou o tamanho do tumor. Isso pode ser
conseguido com medicamentos para a dor para tratar dores leves ou ocasionais de miomas; anticoncepcionais para
controlar menstruações intensas; ou com agonistas do hormônio liberador da gonadotrofina (GnRH), como leuprolida,
nafarrelina ou gosserrelina, que interrompem a ovulação e a produção de estrogênio, ou com baixas doses de mifepristona,
um antagonista da progesterona. Ambos provocam regressão e reduzem o tamanho dos tumores, sem cirurgia, mas o
tratamento prolongado é caro e não é tolerado pela maioria das mulheres. Os efeitos colaterais dos agonistas do GnRH
incluem fogacho, cefaleia, alterações de humor, ressecamento vaginal, malestar musculoesquelético, perda óssea e
depressão (King et al., 2015). O tratamento prolongado com mifepristona pode resultar em hiperplasia endometrial, o que
aumenta o risco de malignidade do endométrio. Quando a terapia é interrompida, os miomas tipicamente reaparecem.
A embolização da artéria uterina (EAU) é uma opção na qual esferas de álcool polivinílico são injetadas em vasos
sanguíneos específicos por meio de um cateter para bloquear a circulação para o mioma, fazendoo encolher e promovendo
resolução dos sinais e sintomas. O procedimento é realizado por um radiologista intervencionista, que faz uma pequena
incisão na virilha, introduz um cateter fino na artéria principal que conduz até o útero e injeta pequenas partículas de
plástico ou esponja de gelatina até a artéria que irriga o mioma. Essas partículas interrompem o fluxo sanguíneo, fazendo
com que o mioma diminua de tamanho ou desapareça por completo ao longo do tempo. A embolização da artéria uterina
tem vantagens a curto prazo em relação à cirurgia. A médio e longo prazos, os benefícios foram semelhantes, com exceção
de maior taxa de reintervenção após a embolização da artéria uterina (Hehenkamp, Huirne, & Brolmann, 2015). Continua
sendo necessário um tratamento que seja não invasivo e que preserve a fertilidade.
TRATAMENTO CIRÚRGICO
Para as mulheres com miomas grandes ou menorragia grave, preferese a cirurgia em relação ao tratamento conservador. O
tratamento cirúrgico pode envolver miomectomia, cirurgia a laser ou histerectomia.
Miomectomia. A miomectomia envolve a remoção apenas do mioma. É realizada por via laparoscópica, por meio de uma
incisão abdominal ou por via vaginal. A vantagem é que apenas o mioma é removido. A fertilidade não é comprometida,
porque esse procedimento deixa as paredes musculares do útero intactas. A miomectomia alivia os sinais e sintomas, mas
não afeta o processo subjacente; portanto, os miomas voltam a crescer, sendo necessários tratamentos adicionais no
futuro.
Cirurgia a laser. A cirurgia a laser (ou eletrocauterização) envolve a destruição de pequenos miomas com laser. A terapia
com laser pode ser feita usando abordagem vaginal ou laparoscópica. O tratamento a laser preserva o útero, mas o
processo pode causar cicatrizes e aderências, prejudicando a fertilidade (Shigetomi et al., 2015). Os miomas podem
retornar após esse procedimento. Ainda há controvérsias em relação a se o tratamento a laser enfraquece a parede uterina
e, portanto, poderia contribuir para a ruptura uterina no futuro.
Histerectomia. A histerectomia é a remoção cirúrgica do útero. É o tratamento mais efetivo para miomas sintomáticos
sem recorrência. Após a cesariana, é o segundo procedimento cirúrgico mais realizado em mulheres nos EUA.
Aproximadamente 600.000 histerectomias são realizadas anualmente nos EUA (Centers for Disease Control and
Prevention [CDC], 2015). As três principais condições associadas às histerectomias são os miomas, a endometriose e o
prolapso uterino (CDC, 2015). A histerectomia para remover miomas elimina tanto os sinais e sintomas quanto o risco de
recorrência, mas elimina também a capacidade da mulher de ter filhos. Três tipos de cirurgias de histerectomia estão
disponíveis: histerectomia vaginal, histerectomia vaginal assistida por laparoscopia e histerectomia abdominal.
Na histerectomia vaginal, o útero é removido por meio de uma incisão na região posterior da vagina. As vantagens
incluem menor tempo de internação hospitalar e de recuperação e ausência de cicatrizes abdominais. As desvantagens
incluem espaço cirúrgico limitado e má visualização dos outros órgãos pélvicos.
Na histerectomia vaginal assistida por laparoscopia, o útero é removido com o auxílio de um laparoscópio, por meio
do qual as estruturas no abdome e na pelve são visualizadas. Fazemse pequenas incisões na parede abdominal para
possibilitar que o laparoscópio adentre o local cirúrgico. As vantagens incluem melhor campo operatório, menos dor,
menor custo e tempo de recuperação mais curto. As desvantagens incluem possibilidade de lesão à bexiga e incapacidade
de remover úteros dilatados e tecido cicatricial.
Na histerectomia abdominal, o útero e outros órgãos pélvicos são removidos por meio de uma incisão no abdome.
Esse procedimento possibilita que o cirurgião visualize todos os órgãos pélvicos, sendo tipicamente utilizado quando se
suspeita de doença maligna ou quando o útero é muito grande. As desvantagens incluem necessidade de anestesia geral,
período de internação e de recuperação mais longo, mais dor, custo mais elevado e cicatriz visível no abdome.
As complicações da histerectomia variam conforme a técnica e a via cirúrgicas. As complicações mais frequentes
incluem infecção, lesões tromboembólicas venosas, geniturinárias e gastrintestinais e hemorragia (Goldman et al., 2015).
Essas complicações podem ser reduzidas ou minimizadas por avaliações e observações perspicazes. Um resumo das
opções de tratamento para os miomas uterinos é apresentado na Tabela 7.1.
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem para a mulher com miomas uterinos inclui antecedentes de saúde completos, exame físico e
exames laboratoriais e complementares.
ANAMNESE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
A anamnese deve incluir perguntas sobre o ciclo menstrual da mulher, incluindo alterações do padrão menstrual (p. ex.,
dor ou sensação de pressão, fatores agravantes e de alívio), antecedentes de infertilidade e quaisquer antecedentes de
aborto espontâneo, o que pode indicar lesão uterina expansiva. Pergunte se alguma parente teve miomas, pois existe
predisposição familiar. Avalie as manifestações clínicas dos miomas uterinos. Os sinais e sintomas dos miomas dependem
do tamanho e da localização, podendo incluir:
• Dor pélvica crônica
• Lombalgia
• Anemia ferropriva secundária a sangramento
• Distensão abdominal
• Constipação intestinal
• Infertilidade (em caso de tumores grandes)
• Dismenorreia
• Aborto
• Ciatalgia
Tabela 7.1 Resumo das opções de tratamento para os miomas
uterinos.
Possível impacto negativo
na fertilidade
• Dispareunia
• Polaciúria, urgência urinária, incontinência urinária
• Sangramento vaginal irregular (menorragia)
• Sensação de peso na região pélvica.
EXAME FÍSICO E EXAMES LABORATORIAIS E COMPLEMENTARES
O exame bimanual realizado pelo médico detecta tipicamente um útero grande e de contornos irregulares. O útero pode ser
palpável se o mioma for muito grande. A ultrassonografia é solicitada para confirmar o diagnóstico.
Conduta de enfermagem
O nível de apoio que o enfermeiro pode fornecer às mulheres com miomas depende do tipo de tratamento oferecido e da
escolha feita por elas. Os enfermeiros devem ser capazes de explicar todas as opções atuais de tratamento e as implicações
de um diagnóstico de mioma. Muitas mulheres nunca ouviram falar de miomas antes, então precisam ser informadas de
que eles são comuns e benignos. Se for prescrita medicação, é essencial explicar os possíveis efeitos colaterais e por que a
medicação só pode ser tomada por um período limitado. Se a paciente optar por cirurgia, devem ser fornecidas
informações verbais e escritas sobre o procedimento e os cuidados subsequentes (Boxe 7.2).
Uma mulher submetida a histerectomia para tratamento de mioma precisa, com frequência, de cuidados especiais e
pode se beneficiar de apoio préoperatório e pósoperatório prestado pelos profissionais de enfermagem. Cuidados de
enfermagem personalizados, adaptados às demandas individuais da paciente, melhoram as estratégias de enfrentamento da
paciente e aliviam as diferentes sequelas psicológicas adversas após cirurgia ginecológica. As mulheres precisam lidar
com várias dificuldades de ajuste psicológico relacionadas com mudanças da autoimagem, da autoestima, da perda da
feminilidade ou da identidade e com disfunção sexual. A incidência das complicações póscirúrgicas pode ser bastante
reduzida pela prestação de cuidados de enfermagem peroperatórios centrados na paciente.
Fístulas genitais
As fístulas genitais são uma condição subestimada em todo o planeta e têm consequências devastadoras para as mulheres.
As fístulas genitais são aberturas anormais entre um órgão genital e outro órgão, como o sistema urinário ou o digestório.
A fístula pode resultar de anomalia congênita, complicações cirúrgicas, abscessos das glândulas de Bartholin (glândulas
vestibulares maiores, segundo a Terminologia Anatômica), irradiação ou processo maligno, mas a maioria das fístulas que
ocorre em todo o mundo está relacionada com traumatismo obstétrico e mutilação genital feminina (Spurlock, 2015).
Durante o trabalho de parto vaginal, a bexiga é deslocada para cima em direção ao abdome, e a parede anterior da vagina, a
base da bexiga e a uretra são comprimidas entre a cabeça do feto e o púbis posteriormente. Quando o trabalho de parto é
obstruído ou prolongado, essa compressão sem alívio causa isquemia, o que provoca a necrose por pressão e a
subsequente formação de uma fístula.
Os tipos mais comuns de fístulas são:
• Vesicovaginais: comunicação entre a bexiga e o sistema genital
• Uretrovaginais: comunicação entre a uretra e a vagina
• Retovaginais: comunicação entre o reto ou colo sigmoide e a vagina.
As consequências diretas desses danos incluem a incontinência urinária e a incontinência fecal se o reto estiver
envolvido. Essa condição trágica tem atormentado as mulheres desde o início dos tempos (Taylor & Rakinic, 2015). Outra
causa importante de traumatismo genital que leva ao desenvolvimento de fístulas genitais é a mutilação genital feminina.
Essa prática cultural, principalmente realizada na África e na Ásia, está recebendo atenção em todo o mundo como parte da
agenda de saúde pública internacional, no sentido de reduzir sua incidência. Os motivos para a persistência dessa prática
incluem rito de passagem, preservação da castidade, assegurar o valor no mercado matrimonial, religião, higiene, aumento
da fertilidade e aumento do prazer sexual dos homens (Nour, 2015). Por causa da migração, os profissionais de saúde cada
vez mais se confrontam com a gama de efeitos uroginecológicos negativos que resultam dessa prática. Os enfermeiros
precisam ter uma compreensão mais profunda da história, das crenças culturais, das complicações clínicas e dos métodos
de reconstrução cirúrgica para prestar cuidados culturalmente competentes para esse grupo especial de mulheres. Essas
práticas culturais serão abordadas em detalhes no Capítulo 9.
BOXE 7.2
INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM PARA A MULHER SUBMETIDA À HISTERECTOMIA
Cuidados préoperatórios
• Instruir a paciente e sua família sobre o procedimento e cuidados posteriores
• Fornecer intervenções para reduzir a ansiedade (decorrente das ameaças percebidas ao autoconceito e
aspecto funcional da mulher) e o medo da alteração na imagem corporal, complicações e dor. Preparar
a mulher de modo que ela saiba o que esperar durante toda a experiência peroperatória. Explicar os
procedimentos de controle da dor pósoperatória que serão utilizados. Identificar precocemente a mulher
em alto risco para reduzir o seu estresse
• Ensinar como mudar de decúbito, respirar profundamente e tossir antes da cirurgia para evitar a
atelectasia no período pósoperatório e as complicações respiratórias, como pneumonia
• Incentivar a mulher a verbalizar seus sentimentos. Algumas mulheres igualam sua feminilidade à sua
capacidade reprodutiva, e a perda do útero poderia evocar um luto
• Completar todas as prescrições préoperatórias em tempo hábil para possibilitar o descanso
Cuidados pósoperatórios
• Fornecer medidas de conforto
• Administrar analgésicos imediatamente ou usar uma bomba com analgesia controlada pela paciente
• Administrar antieméticos para controlar náuseas e vômitos, de acordo com a prescrição
• Trocar a roupa de cama e as vestes da paciente com frequência para promover a higiene
• Mudar a paciente de decúbito com frequência e usar travesseiros de apoio para promover o conforto e o
manejo da dor
• Avaliar a incisão, os curativos e o sangramento vaginal e relatar se o sangramento for excessivo
(encharcar um absorvente íntimo em 1 hora)
• Monitorar a eliminação e proporcionar aumento na ingestão de líquidos e fibras para evitar a constipação
intestinal e o esforço para defecar
• Incentivar a deambulação ativa e os exercícios de amplitude de movimento enquanto no leito para evitar
tromboflebite e estase venosa
• Monitorar os sinais vitais para detectar complicações precoces
• Ficar à vontade para discutir com a paciente questões relacionadas com a sexualidade
Planejamento da alta
• Aconselhar a paciente a reduzir seu nível de atividades para evitar a fadiga, o que pode inibir a
cicatrização
• Aconselhar a paciente a descansar quando ela estiver cansada e a aumentar seu nível de atividades
lentamente
• Orientar a paciente em relação à necessidade de repouso pélvico (não fazer sexo vaginal) durante 6
semanas
• Instruir a paciente a evitar trabalhos pesados ou esforço físico por cerca de 6 semanas, para evitar
aumento da pressão intraabdominal, o que pode enfraquecer as suturas
• Orientar a paciente em relação aos sinais e sintomas de infecção
• Aconselhar a mulher a tomar banho de chuveiro em vez de banhos de banheira, para reduzir o risco de
infecção
• Encorajar a paciente a ingerir uma dieta saudável, com aumento da ingestão de líquidos para evitar a
desidratação e o desequilíbrio hidreletrolítico
• Instruir a paciente a trocar o absorvente íntimo com frequência para evitar infecções
• Explicar e agendar consultas de acompanhamento dos cuidados, conforme necessário
• Fornecer informações em relação aos recursos comunitários de apoio/ajuda
Conduta terapêutica
Muitas fístulas pequenas cicatrizam sem tratamento, mas grandes fístulas muitas vezes exigem reparo cirúrgico. A
cirurgia pode ser adiada até que o edema ou a inflamação nos tecidos circundantes tenha se dissipado. A correção cirúrgica
das fístulas está associada a elevada taxa de sucesso se for realizada no momento adequado; contudo, fístulas maiores e de
longa duração têm prognóstico pior (Jellison & Raz, 2015).
Avaliação de enfermagem
A anamnese deve incluir perguntas sobre quaisquer alterações nos padrões vesicais e intestinais da mulher. Avalie se
existem sinais e sintomas comuns de fístulas, que estão relacionados com o tipo de fístula. Se a abertura envolver o reto,
fezes e flatos sairão pela vagina. Se envolver a bexiga, pode verter urina da vagina. Dependendo da localização e do
tamanho da fístula, a mulher pode ou não sentir desconforto. O médico pode detectar essas aberturas anormais por meio
da inspeção e palpação durante o exame pélvico. Exames laboratoriais ou complementares geralmente não são solicitados
quando essa condição é encontrada.
Conduta de enfermagem
Forneça orientação e apoio. Ofereça informações que ajudem a mulher a conhecer sua condição e, com a
intervenção apropriada, melhorem sua qualidade de vida. Comece assegurandose de que a mulher entenda sua anatomia e
por que ela está tendo esses sintomas. Forneça uma explicação completa das opções de tratamento, para que ela possa
tomar uma decisão informada. Seja sensível ao sentimento de vergonha e medo da mulher em relação à sua incontinência;
esses sentimentos podem ser o motivo pelo qual ela demorou a procurar tratamento. Aborde todas as necessidades da
mulher, tanto físicas quanto emocionais.
Cistos de Bartholin
O cisto de Bartholin é uma estrutura sacular, tumefeita e preenchida por líquido. Ocorre quando um dos canais das
glândulas de Bartholin é obstruído. O cisto pode ser infectado e um abscesso pode desenvolverse na glândula. As
glândulas de Bartholin são duas estruturas glandulares secretoras de muco, com ductos de abertura localizados
bilateralmente na base dos pequenos lábios (lábios menores do pudendo, segundo a Terminologia Anatômica), perto da
abertura da vagina, que fornecem a lubrificação durante a excitação sexual. Normalmente, essas glândulas não podem ser
palpadas nem visualizadas a menos que estejam infectadas. Os cistos de Bartholin são os tumores císticos mais comuns na
vulva, ocorrendo em aproximadamente 2% das mulheres em algum momento de suas vidas (Reif et al., 2015).
Conduta terapêutica
O tratamento pode ser conservador ou cirúrgico, dependendo dos sinais e sintomas, do tamanho do cisto e se ele está ou
não infectado. Pequenos cistos assintomáticos não demandam tratamento. Banhos de assento, juntamente com analgésicos,
são utilizados para reduzir o desconforto. Prescrevemse antibióticos se as glândulas estiverem infectadas. O objetivo do
tratamento de um cisto ou abscesso é criar um trajeto fistuloso do ducto dilatado até o exterior da vulva por meio de
incisão e drenagem. No entanto, os cistos ou abscessos tendem a recidivar se essa opção for usada.
Outras opções de tratamento além da incisão e drenagem são a colocação de um cateter Word® ou um tubo de plástico
com pequenos laços fixado no local para evitar o fechamento e possibilitar a drenagem. Também é possível a utilização de
um laser de dióxido de carbono para remover o cisto. Depois de o cateter Word® ser inserido, a ponta do balão é
insuflada, sendo deixada no local durante 4 a 6 semanas. O tubo de plástico é removido em cerca de 3 semanas. Ambos os
procedimentos são alternativas seguras e efetivas à cirurgia (Prabhu & Gardella, 2015). O tratamento da gestante com
cisto de Bartholin depende da intensidade dos sinais e sintomas e de existir ou não infecção. A cirurgia pode ser adiada até
depois de a mulher dar à luz, se não houver sinais e sintomas.
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem para a mulher com cisto de Bartholin inclui anamnese detalhada, exame físico e exames
laboratoriais e complementares.
ANAMNESE
A anamnese deve incluir perguntas sobre as práticas sexuais da mulher e as medidas de proteção utilizadas. Avalie se
existem sinais e sintomas comuns dos cistos de Bartholin. A mulher pode ser assintomática se o cisto for pequeno (menos
de 5 cm) e não infectado. Se houver infecção, os sinais e sintomas incluem vários graus de dor, principalmente ao andar
ou sentar; edema unilateral; vermelhidão ao redor da glândula; e dispareunia. A inflamação significativa pode causar sinais
e sintomas sistêmicos. Ocorre a formação de abscessos quando o líquido cístico tornase infectado. De modo geral, o
abscesso se desenvolve rapidamente (em um período de 2 a 3 dias) e pode romper espontaneamente. O relato de alívio
súbito da dor após secreção profusa é muito sugestivo de ruptura espontânea (Schuiling & Likis, 2016).
EXAME FÍSICO E EXAMES LABORATORIAIS E COMPLEMENTARES
O diagnóstico de cistos ou abscessos de Bartholin é feito principalmente durante o exame físico no qual é encontrada
massa protrusa dolorosa à palpação nos lábios do pudendo. Em mulheres com mais de 40 anos, existe risco aumentado de
malignidade, tipicamente sarcomas, o que representa 2% de todas as neoplasias malignas vulvares invasivas.
Caracterizamse por crescimento rápido, alto potencial metastático, recorrências frequentes, comportamento agressivo e
taxa de mortalidade alta (Chokoeva et al., 2015). Devem ser coletadas amostras do líquido purulento do abscesso e do
colo do útero para pesquisa de Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis, para descartar doença/infecção
sexualmente transmissível.
Conduta de enfermagem
Os enfermeiros precisam conhecer e estar bem informadas em relação aos cistos vulvares e às opções de tratamento. A
mulher pode estar ciente de um cisto vulvar em decorrência da dor ou pode não ter se dado conta de sua ocorrência se ele
for assintomático. O cisto de Bartholin pode ser um achado incidental durante um exame ginecológico de rotina. Explique
a causa do cisto e auxilie na coleta de material para as culturas, se necessário. Forneça encorajamento e apoio.
Cistos ovarianos
O cisto ovariano é uma bolsa cheia de líquido que se forma no ovário (Figura 7.5). Esses crescimentos muito comuns são
benignos em 90% das vezes e são assintomáticos em muitas mulheres. Os cistos são descobertos incidentalmente durante
uma ultrassonografia ou exame ginecológico de rotina. Os cistos ovarianos ocorrem em 30% das mulheres com
menstruações regulares, 50% das mulheres com menstruações irregulares e em 7% das mulheres após a menopausa
(Templeman, 2015). Quando os cistos crescem muito e comprimem as estruturas vizinhas, as mulheres geralmente
procuram ajuda médica.
FIGURA 7.5 Cisto ovariano. (Ilustração fornecida por Anatomical Chart Co.)
Tipos de cistos ovarianos
Os cistos ovarianos benignos mais comuns são os cistos foliculares, os cistos de corpo lúteo (luteínicos), os cistos
tecaluteínicos e a síndrome dos ovários policísticos (SOP).
CISTOS FOLICULARES
Pequenos cistos foliculares são encontrados com frequência nos ovários de meninas prépuberais e mulheres em idade
fértil e, na maioria dos casos, não têm importância clínica. De modo geral, são autolimitados e desaparecem
espontaneamente. Os cistos foliculares são causados pela incapacidade do folículo ovariano de romperse no momento da
ovulação. Os cistos foliculares raramente crescem mais do que 5 cm de diâmetro; a maioria regride e não exige tratamento.
Eles podem ocorrer em qualquer idade e são raros após a menopausa. São detectados por ultrassonografia endovaginal.
CISTOS DE CORPO LÚTEO
Os cistos de corpo lúteo (luteínicos) se formam quando o corpo lúteo tornase cístico ou hemorrágico e não degenera após
14 dias. Esses cistos podem causar dor e atrasar o ciclo menstrual seguinte. A ultrassonografia pélvica ajuda a fazer o
diagnóstico. Tipicamente, esses cistos aparecem após a ovulação e desaparecem sem intervenção.
CISTOS TECALUTEÍ NICOS
Níveis anormalmente elevados de gonadotrofina coriônica humana (hCG) por tempo prolongado estimulam o
desenvolvimento de cistos tecaluteínicos. Embora raros, esses cistos estão associados à mola hidatiforme, ao
coriocarcinoma, à síndrome dos ovários policísticos e ao tratamento com clomifeno.
SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é a condição endócrina mais comum nas mulheres em idade fértil. É uma
condição heterogênea que envolve a presença de múltiplos cistos foliculares inativos no ovário, que interferem na função
ovariana. É uma doença multifacetada. O ponto central de sua patogênese é a hiperandrogenemia e a hiperinsulinemia, que
são os alvos de tratamento (King et al., 2015). Está associada à obesidade, à hiperinsulinemia, a níveis elevados de
hormônio luteinizante (ligado à ovulação), a níveis elevados de andrógenos (virilização), ao hirsutismo (crescimento de
pelos com padrão masculino), à apneia obstrutiva do sono, à atresia folicular (falha do crescimento ovariano), ao
crescimento ovariano e à formação de cistos, à anovulação (a incapacidade de ovular), à infertilidade, ao diabetes melito do
tipo 2, à apneia do sono, à amenorreia (períodos menstruais ausentes ou irregulares), à síndrome metabólica (caracterizada
por obesidade abdominal, circunferência da cintura > 89 cm), à dislipidemia (nível de triglicerídios > 150 mg/dℓ, nível de
colesterol de lipoproteína de alta densidade < 50 mg/dℓ ), à elevação da pressão arterial, a um estado próinflamatório
caracterizado por nível elevado de proteína C reativa e a um estado prótrombótico caracterizado por níveis elevados de
PAI1 e fibrinogênio. Estudos recentes também indicam que a SOP está associada a aumento do risco de miomas uterinos,
depressão, desfechos adversos da gravidez e complicações neonatais. Metanálise recente constatou que as mulheres com a
síndrome do ovário policístico correm um risco significativamente mais elevado de desenvolver diabetes gestacional,
hipertensão arterial gestacional, préeclâmpsia e parto prétermo, além de apresentarem taxa mais elevada de cesariana,
quando comparadas com os controles (Kyrou, Weickert, & Randeva, 2015). Com uma prevalência estimada de 5 a 10% de
todas as mulheres, a SOP é a causa mais comum de infertilidade passível de tratamento e é responsável por 70% dos casos
de infertilidade anovulatória e por até 20% dos casos de infertilidade dos casais (NIH, 2015c).
Anote!
Deve ser dada atenção especial a essa condição, porque as mulheres afetadas correm risco aumentado de problemas de
saúde a longo prazo, como doença cardiovascular, hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes melito do tipo 2 (metade de
todas as mulheres), infertilidade e câncer (endométrio, mama e ovário) (Moran, Norman, & Teede, 2015).
Inicialmente, a SOP era chamada de síndrome de SteinLeventhal em homenagem a seus pesquisadores, mas agora é
reconhecida como uma síndrome anabólica. Infelizmente, menos de dois terços das mulheres estão conscientes do seu
diagnóstico ou do alto risco concomitante para o desenvolvimento de diabetes melito do tipo 2 e de doença cardiovascular
relacionados com a síndrome metabólica. Sua etiologia não está claramente compreendida, mas estudos sugerem um
componente genético (autossômico dominante). As mulheres com a síndrome do ovário policístico apresentam
anormalidades do metabolismo de androgênios e estrógeno e no controle da produção de androgênios. Além disso, elas
apresentam resistência periférica à insulina e hiperinsulinemia e obesidade (Trikudanathan, 2015). Todas essas
manifestações têm de ser abordadas durante toda a vida com ênfase na prevenção dos riscos cardiometabólicos no plano de
tratamento.
Conduta terapêutica
O tratamento é centrado nas manifestações clínicas e deve ser iniciado precocemente para prevenir/limitar as complicações
a longo prazo, tais como síndrome metabólica, diabetes melito, carcinoma de endométrio e infertilidade (Ganie,
Chakraborty, & Rehman, 2015). Contraceptivos orais, agentes hipoglicemiantes orais e estatinas são algumas das terapias
comumente prescritas para os sinais/sintomas dessa complexa condição hormonal. Perda de peso corporal e cirurgia
também são medidas não farmacológicas benéficas.
O tratamento dos cistos ovarianos é voltado para a diferenciação de um cisto benigno de um tumor ovariano maligno
sólido. A ultrassonografia transvaginal é útil para distinguir cistos preenchidos por líquido de massas sólidas. Pode ser
necessário laparoscopia para remover o cisto se ele for grande e estiver pressionando as estruturas circundantes. Para
cistos pequenos, é adequado monitorar com ultrassonografias repetidas a cada 3 a 6 meses (Lucidi, 2015). Os
contraceptivos orais são frequentemente prescritos para suprimir os níveis de gonadotrofinas, o que pode ajudar a resolver
os cistos. Medicação para a dor também é prescrita, se necessário.
O tratamento clínico da SOP tem como objetivo corrigir os distúrbios metabólicos, a anovulação, o hirsutismo e as
irregularidades menstruais. Isso inclui tanto tratamento farmacológico quanto não farmacológico, aliados a modificações
no estilo de vida. Os objetivos do tratamento visam reduzir a produção e os níveis de andrógenos circulantes, proteger o
endométrio contra os efeitos dos estrogênios sem oposição, apoiar alterações do estilo de vida para alcançar o peso
corporal ideal, reduzir o risco de doenças cardiovasculares, evitar os efeitos da hiperinsulinemia sobre o risco de doenças
cardiovasculares e diabetes melito e induzir a ovulação para conseguir a gravidez, se desejada (ver o boxe Prática baseada
em evidências 7.2). As modalidades de tratamento para a SOP estão destacadas no Boxe 7.3.
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem para a mulher com SOP inclui anamnese completa, exame físico e exames laboratoriais e
complementares.
ANAMNESE
A anamnese deve incluir perguntas sobre os sintomas da mulher, como o início, a localização, a frequência, as
características, a intensidade e os fatores que agravam e aliviam o desconforto. Verifique quando foi o último ciclo
menstrual e se os ciclos são regulares. Pergunte sobre a saúde em geral e todas as alterações recentemente notadas, como
mudança na circunferência abdominal sem ganho de peso concomitante. Avalie se existem sinais e sintomas comuns de
cistos ovarianos. Os achados podem incluir:
• Hirsutismo (face e queixo, lábio superior, aréola, abdome inferior e períneo)
• Alopecia (região frontal e coroa da cabeça)
• Virilização (hipertrofia do clitóris, engrossamento da voz, aumento da massa muscular, atrofia da mama, calvície de
padrão masculino)
• Irregularidade menstrual e infertilidade (menorragia, anovulação)
• Ovários policísticos (12 ou mais folículos nos ovários)
Obesidade (ocorre em mais de 50% das mulheres com SOP; ocorre na região abdominal, com aumento da razão
• cinturaquadril)
• Resistência à insulina (a hiperinsulinemia crônica leva ao diabetes melito do tipo 2)
• Síndrome metabólica (elevação dos níveis sanguíneos de colesterol, de triglicerídios e da lipoproteína de baixa
densidade (LDL); risco de doença cardiovascular)
• Aumento do risco de câncer de endométrio, ovário e mama
• Impacto psicológico (depressão, frustração, ansiedade, transtornos alimentares)
• Acne (face e ombros) (Lucidi, 2015).
EXAME FÍSICO E EXAMES LABORATORIAIS E COMPLEMENTARES
O exame físico inclui inspeção, ausculta e palpação do abdome, pois grandes massas de ovário podem causar mudanças
visíveis no abdome. Realizase um exame pélvico completo para avaliar a localização, o tamanho, a forma, a textura, a
mobilidade e a sensibilidade de qualquer massa palpável.
Prática baseada em evidências 7.2
Não é apenas físico: os efeitos psicossociais adversos da SOP nas adolescentes.
ESTUDO
A prevalência de depressão e de outros transtornos psicológicos nas mulheres com a SOP é alta e variável
em numerosos estudos. As mulheres com a SOP, em especial, correm risco aumentado de fobia social e
tentativas de suicídio. Os motivos de uma prevalência mais elevada de transtornos psicológicos nas
mulheres com a SOP são, provavelmente, complexos. Alguns pesquisadores sugerem que as
manifestações físicas apresentadas pelas mulheres com a SOP sejam a provável causa da angústia
psicológica. Todavia, as evidências não são consistentes. Embora acne, hirsutismo e obesidade tenham sido
correlacionados com a maior angústia psicológica em alguns estudos, nenhum vínculo foi demonstrado em
outros estudos. É provável que múltiplos fatos contribuam para a elevada prevalência de transtornos
psicológicos nas mulheres com a SOP.
Esse estudo ajuda a explicar o fato de que esse distúrbio ginecológico de origem endócrina pode estar
associado a numerosas manifestações psicológicas (p. ex., depressão, ansiedade, insatisfação com a
imagem corporal, transtornos alimentares e sexuais e baixa qualidade de vida). A meta do estudo foi
abordar a prevalência de transtornos psicológicos e determinantes de bemestar.
Achados
A maioria esmagadora da literatura científica sobre a SOP focou na abordagem clínica para analisar a
patologia e apenas alguns estudos investigaram os fatores psicológicos predisponentes. A revisão da
literatura revelou vários transtornos psicológicos que acompanham essa síndrome com atenção limitada
sendo dada a eles para auxiliar as mulheres a lidarem com a SOP. Tipicamente, os sinais/sintomas
associados à síndrome do ovário policístico, inclusive amenorreia, oligomenorreia, hirsutismo, obesidade,
infertilidade, anovulação e acne, podem provocar manifestações de depressão, afastamento do contato
social, constrangimento, redução da autoestima, ansiedade, transtornos da imagem corporal, transtornos
alimentares, desajustes conjugais e sociais e comprometimento da função sexual.
Implicações para a enfermagem
A SOP está associada intimamente a transtornos psicológicos com implicações importantes que exigem
identificação e tratamento dos mesmos. A prevalência elevada desses transtornos psicológicos nessa
população sugere que a avaliação inicial de todas as mulheres com a síndrome do ovário policístico também
deve incluir a avaliação de sua saúde mental. O suporte psicológico propiciado pelos profissionais de
enfermagem deve ser uma parte importante do manejo das mulheres com a SOP. Isso não deve sugerir
que não é necessário tratamento clínico para a SOP, mas uma cooperação próxima entre suporte
psicológico e tratamento clínico para melhorar a situação das mulheres acometidas por essa síndrome. Os
aspectos físicos e psicossociais do manejo da SOP são indissolúveis. Atingir as metas de controle físico (p.
ex., perda de peso corporal, redução das manifestações de hiperandrogenismo) pode aliviar alguns dos
efeitos psicossociais angustiantes e aumentar a autoestima.
Adaptado de Lee, J. S. (2015). It’s not just physical: The adverse psychosocial effects of polycystic ovary
syndrome in adolescents. Women’s Healthcare, 3(1), 20–28.
Os exames complementares incluem teste de gravidez para descartar a possibilidade de gravidez ectópica. Os testes
para gonorreia e infecção por clamídia são justificados se houver suspeita de abscesso ovariano. Podese solicitar
ultrassonografia para diferenciar cistos ovarianos funcionais ou simples de um tumor sólido. Exames adicionais podem
ser realizados de acordo com os achados.
BOXE 7.3
MODALIDADES DE TRATAMENTO PARA A SOP
• Anovulatórios orais para tratar a irregularidade menstrual e a acne
• Depilação mecânica (depilar com lâmina, cera, pinça ou eletrólise) para o hirsutismo
• Metformina, que melhora a absorção de gordura e de insulina pelas células musculares para tratar a
hiperinsulinemia; tiazolinedionas para diminuir a resistência à insulina
• Agentes de indução da ovulação (clomifeno) para tratar a infertilidade
• Alterações do estilo de vida (p. ex., perda de peso, exercício, dieta balanceada com baixo teor de
gordura)
• Encaminhamento para grupos de apoio para ajudar a melhorar o estado emocional e reforçar a
autoestima
Adaptado de King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Gegor, C. L., & Varney, H.
(2015). Varney’s Midwifery (5th ed.), Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning; Kyrou, I., Weickert, M. O.,
& Randeva, H. S. (2015). Diagnosis and management of polycystic ovary syndrome (PCOS).
In Endocrinology and Diabetes (pp. 99–113). London, England: Springer Publishers; e Lucidi, R. S. (2015).
Polycystic ovarian syndrome. EMedicine. Retirado de http://emedicine.medscape.com/article/256806
overview.
Lembrase de Liz, a paciente com irregularidades menstruais, pelos faciais e acne? Seu nível sanguíneo de
glicose está elevado, foram palpados múltiplos cistos em seus ovários durante o exame ginecológico e
exames laboratoriais encontraram níveis sanguíneos elevados de lipídios e de lipoproteínas. Quais
orientações o enfermeiro deve fornecer a Liz em relação ao seu diagnóstico de SOP? Que medicamentos
podem ser prescritos para corrigir seus valores laboratoriais anormais?
Conduta de enfermagem
Os cuidados de enfermagem devem incluir orientações em relação à doença, opções de tratamento, preparação para exames
complementares e encaminhamento para a cirurgia, se necessário. Preste apoio e encorajamento durante o período de
diagnóstico para aliviar a ansiedade da paciente e de sua família. Tranquilize a mulher de que a maioria dos cistos
ovarianos é benigna, mas também aborde a importância dos cuidados de acompanhamento. Ouça as preocupações da
mulher sobre sua aparência, infertilidade e crescimento de pelos faciais. Ofereça sugestões para ajudar a mulher a sentirse
melhor em relação a si mesma e a sua saúde.
Os enfermeiros podem exercer um impacto positivo em mulheres com SOP por meio de aconselhamento e orientação.
Forneça apoio às mulheres que lidam com a autoimagem negativa em decorrência das manifestações físicas da SOP. Por
meio da orientação, ajude a mulher a entender a síndrome e seus fatores de risco associados, a fim de evitar problemas de
saúde a longo prazo. Incentive a mulher a fazer mudanças positivas em seu estilo de vida. Faça os encaminhamentos para
grupos de apoio locais da comunidade para ajudar a mulher a promover suas habilidades de enfrentamento.
Liz retorna à clínica 1 mês depois para a reavaliação de sua SOP. Ela utilizou metformina para reduzir a
resistência à insulina, seguiu um programa de exercícios físicos e reduziu o consumo de calorias para
perder peso, mas ainda se queixa dos pelos faciais e da acne. Que intervenções podem ser úteis para
resolver esse problema? Há medicamentos que podem ser prescritos para regular a menstruação e aliviar o
hirsutismo?
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Os distúrbios do assoalho pélvico, como o prolapso genital e a incontinência urinária e fecal, são
condições prevalentes em mulheres idosas. Eles causam morbidade física e psicológica significativa,
com prejuízo evidente para as interações sociais, o bemestar emocional e a qualidade de vida geral
da mulher
Os quatro tipos mais comuns de prolapso genital são a cistocele, a retocele, a enterocele e o prolapso
uterino
O propósito dos exercícios dos músculos do assoalho pélvico é aumentar o volume muscular, o que
resultará em contração mais forte. Esses exercícios podem limitar a progressão do prolapso leve e
aliviar os sinais e sintomas do prolapso leve, incluindo a lombalgia e a sensação de pressão pélvica
A incontinência urinária consiste na perda involuntária de urina suficiente para ser um problema social
ou de higiene. Ocorre em cerca de 15 milhões de mulheres nos EUA
Os três tipos mais comuns de incontinência urinária são a incontinência de urgência (bexiga hiperativa
causada por contrações do músculo detrusor), incontinência urinária de esforço (função inadequada
do esfíncter urinário) e incontinência mista (envolve tanto a incontinência de esforço quanto a de
urgência)
Os tumores benignos mais comuns do sistema genital incluem os pólipos cervicais, endocervicais e
endometriais; os miomas uterinos (liomiomas); as fístulas genitais; os cistos de Bartholin e os cistos
ovarianos
A SOP consiste em múltiplos cistos foliculares inativos no ovário, que interferem na função ovariana.
O hiperandrogenismo, a resistência à insulina e a anovulação crônica caracterizam a SOP. Deve ser
dada atenção especial a essa condição, porque as mulheres afetadas correm maior risco de
problemas de saúde a longo prazo, como doença cardiovascular, hipertensão arterial, dislipidemia,
infertilidade, diabetes melito do tipo 2 e câncer (endométrio, mama e ovário)
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Exercícios sobre o capítulo
QUESTÔES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. Ao avaliar uma paciente com miomas uterinos, que dados subjetivos você esperaria encontrar na
anamnese?
a. Enxaquecas cíclicas
b. Infecções urinárias
c. Dor pélvica crônica
d. Constipação intestinal crônica
2. As opções de tratamento disponíveis para as mulheres com prolapso genital são:
a. Pessários e exercícios dos músculos do assoalho pélvico
b. Dispositivos externos de fixação pélvica
c. Ganho de peso e ioga
d. Roupa íntima reforçada
3. Qual das seguintes modificações dietéticas e de estilo de vida o enfermeiro poderia recomendar para
ajudar a prevenir o relaxamento pélvico conforme as mulheres envelhecem?
a. Ingerir uma dieta rica em fibras para evitar a constipação intestinal e o esforço à defecação
b. Evitar ficar sentada por períodos prolongados; levantar e caminhar com frequência
c. Limitar os exercícios físicos para evitar o desenvolvimento excessivo dos músculos
d. Distanciar em 1 ano os partos, para poupar o útero
4. As mulheres com SOP correm risco aumentado de desenvolvimento de qual dos seguintes problemas
de saúde a longo prazo?
a. Osteoporose
b. Lúpus
c. Diabetes melito do tipo 2
d. Enxaqueca
5. Os efeitos colaterais apresentados por mulheres que fazem uso de agonistas do GnRH para o
tratamento de miomas se assemelham aos da:
a. Anorexia nervosa
b. Osteoartrite
c. Depressão
d. Menopausa
6. Ao fazer a anamnese de uma mulher de 65 anos de idade, qual manifestação clínica descrita pela
paciente levaria o enfermeiro a suspeitar de prolapso de órgão pélvico?
c. Dor abdominal crônica
b. Sensação de peso ou tração na vagina
c. Cólica uterina e dorsalgia
d. Ganho de peso corporal e edema maleolar
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. Faith, uma multípara de 42 anos de idade, chega à clínica de atendimento da mulher com queixa de dor
pélvica, menorragia e corrimento vaginal. Ela diz que está com esses problemas há vários meses. No
exame, o útero está aumentado de tamanho e tem formato irregular. Seus exames de sangue revelam
anemia.
a. Qual condição pode estar afetando Faith, com base em seus sinais e sintomas?
b. Quais opções de tratamento estão disponíveis para lidar com essa condição?
c. Que intervenções de orientação o enfermeiro deve discutir com Faith?
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Prepare uma sessão de orientações para ensinar as mulheres a fazer exercícios dos músculos do
assoalho pélvico para prevenir a incontinência de esforço e o relaxamento do assoalho pélvico.
2. Em um pequeno grupo, discuta as questões pessoais, sociais e sexuais que podem afetar a mulher
com prolapso genital. Como essas questões afetam a socialização? Como um grupo de apoio pode
ajudar?
3. Liste os sinais e sintomas que a mulher com miomas uterinos pode apresentar. Discuta como esses
sinais e sintomas podem simular uma condição mais assustadora e por que a mulher pode tardar em
procurar tratamento.
4. Uma bexiga que se projeta para a vagina é um(a) _____________.
5. Um reto que se projeta para a vagina é um(a) _____________.
ESTUDO DE CASO
Elizabeth, uma mulher de 52 anos de idade, procura o ambulatório de ginecologia para conversar sobre um
“problema pessoal horrível que está arruinando sua vida”. Ela está muito angustiada e deseja conversar
com o enfermeiro em particular. Há alguns meses ela estava passeando com seu cão quando sentiu
urgência retal súbita e pensou que iria expelir flatos, mas, em vez disso, expeliu fezes. Nos últimos meses, a
incontinência fecal se agravou, em intensidade e frequência, provocando extrema tensão. Para evitar
constrangimento, ela tem faltado ao trabalho e declinado convites sociais. Atualmente, ela usa fraldas
descartáveis.
AVALIAÇÃO
Exceto isso, Elizabeth é saudável e atualmente não faz uso de medicação prescrita por médico. Ela teve
cinco partos vaginais com três episiotomias. O índice de massa corporal dela é 27, apresenta discreta
incontinência urinária de esforço e retocele de baixo grau com redução discreta do tônus do esfíncter anal.
O exame ginecológico revelou prolapso de órgão pélvico. O toque retal descartou a possibilidade de
impactação fecal e massa no reto. Também foi obtido um relato detalhado dos episódios de incontinência
urinária.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 7 | Doenças Benignas do Sistema Genital Feminino
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é C. A pressão exercida contra estruturas adjacentes e a distensão do músculo uterino com o
crescimento progressivo do mioma provocam dor. A alternativa A está incorreta: a enxaqueca não é causada por
miomas em crescimento, mas por uma alteração na vasculatura do crânio. A alternativa B está incorreta: a pressão da
bexiga que causa incontinência urinária de urgência seria secundária ao relaxamento da estrutura pélvica, não a
miomas uterinos. A alternativa D está incorreta: a constipação intestinal seria mais comum na mulher que apresenta
prolapso de órgãos pélvicos do que naquela com miomas, visto que os miomas geralmente envolvem o útero, não o
reto.
2. A resposta correta é A. Tanto os pessários quanto os exercícios de Kegel ajudam a sustentar e fortalecer o assoalho
pélvico para devolver os órgãos pélvicos à sua posição anatômica correta. A alternativa B está incorreta: um
dispositivo de fixação externa não seria uma solução aceitável a longo prazo; também seria invasivo e colocaria a
mulher em risco de infecção. A alternativa C está incorreta: o ganho de peso corporal geralmente não é uma
intervenção saudável para as mulheres conforme elas envelhecem. O peso adicional aumentaria a pressão sobre os
órgãos pélvicos e agravaria o problema. A ioga é relaxante e pode reduzir o nível de estresse da mulher, mas não
corrige o prolapso genital. A alternativa D está incorreta: o uso de roupa íntima reforçada poderia aumentar a pressão
intraabdominal e forçar ainda mais a descida dos órgãos pélvicos.
3. A resposta correta é A. A prevenção de constipação intestinal e dos esforços para defecar diminuiria a pressão sobre
os órgãos pélvicos. A alternativa B está incorreta: ficar sentada por longos períodos não influencia o movimento de
órgãos pélvicos. A gravidade cria uma força para baixo em todos os órgãos, independentemente da posição, sentada
ou em pé. A alternativa C está incorreta: o exercício físico ajudará a tonificar os músculos do corpo e a fortalecer o
assoalho pélvico. A alternativa D está incorreta: a multiparidade contribui para o prolapso de órgãos pélvicos, em vez
de evitálo. O intervalo de tempo entre os partos de somente 1 ano influenciaria negativamente a musculatura do
assoalho pélvico e seria um fator contribuinte para o prolapso.
4. A resposta correta é C. A resistência à insulina é caracterizada por incapacidade da insulina em penetrar nas células
de modo adequado, resultando em hiperinsulinemia, uma característica da síndrome dos ovários policísticos (SOP).
Os fatores que contribuem para isso incluem a obesidade, a inatividade física e os maus hábitos alimentares. Essa
pessoa corre risco de desenvolver diabetes melito do tipo 2 secundário à resistência à insulina. A alternativa A está
incorreta: a osteoporose se desenvolve em mulheres idosas por causa da queda dos níveis de estrogênio e cálcio, e
não em virtude da SOP. A alternativa B está incorreta: o lúpus é uma doença autoimune e não está relacionado com a
SOP. A alternativa D está incorreta: a enxaqueca não está associada à SOP, mas a alterações nos vasos cranianos.
5. A resposta correta é D. Os efeitos colaterais dos agonistas de GnRH são os mesmos sinais/sintomas da menopausa
em um estado de hipoestrogenismo que incluem fogachos, cefaleia, depressão, osteopenia, perda da libido e insônia.
GnRH faz a paciente “entrar na menopausa” durante seu uso, mas não por períodos prolongados. Os efeitos são
revertidos assim que a medicação é interrompida. Durante a administração do medicamento não há estimulação
estrogênica e os tumores diminuem de tamanho.
6. A resposta correta é B porque quando ocorre prolapso dos órgãos pélvicos para a área vaginal, a maioria das
pacientes se queixa de sensação de peso, nódulo na vagina ou sensação de “algo caindo”. As manifestações clínicas
dependem do tipo e do local do prolapso. As alternativas A, C e D são incorretas porque nenhuma delas está
diretamente relacionada com prolapso de órgãos pélvicos.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. Qual condição pode estar afetando Faith, com base em seus sinais e sintomas?
Os sinais e sintomas são sugestivos de miomas uterinos. Ela apresenta um perfil típico.
b. Quais opções de tratamento estão disponíveis para lidar com essa condição?
Se Faith deseja preservar sua fertilidade, ela pode ser tratada clinicamente com contraceptivos orais, hormônios
liberadores de gonadotrofinas, mifepristona ou uma miomectomia. Se ela não deseja mais ter filhos, aconselha
se a realização de histerectomia vaginal.
c. Que intervenções de orientação o enfermeiro deve discutir com Faith?
O enfermeiro precisa ter certeza de que Faith entenda no que consiste a doença e como ela pode ser tratada e
deve fornecer informações para ajudála a tomar uma decisão em relação ao tratamento. Além das modalidades
de tratamento para os miomas, sua anemia por deficiência de ferro precisa ser corrigida com formulações de
ferro e mudanças na dieta para aumentar a ingestão de ferro e vitamina C.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Dê uma explicação de como esse discreto exercício pode ajudar a aumentar o volume muscular. Mostre uma
fotografia do local onde estão localizados esses músculos do assoalho pélvico. O relaxamento do assoalho pélvico
vem com o processo de envelhecimento na mulher, em decorrência do parto, do ganho de peso e da força da
gravidade. A maneira mais fácil para instruir a mulher a como realizar os exercícios de Kegel é fazêla exercitar o
músculo pubococcígeo iniciando e interrompendo o fluxo de urina. Solicite a ela que contraia o músculo
pubococcígeo até uma contagem de 3 e então o relaxe. Essa manobra deve ser feita pelo menos 10 vezes todos os
dias.
2. Os sinais e sintomas que acompanham o prolapso de órgãos pélvicos podem incluir incontinência de esforço,
polaciúria e urgência urinária, sensação de plenitude vesical após a micção, constipação intestinal, sensação de
plenitude retal, relações sexuais dolorosas e pressão pélvica. Esses sinais e sintomas combinados tendem a fazer com
que a mulher se isole da sociedade e de seu parceiro por causa do embaraço decorrente do odor, do desconforto e do
extravasamento de urina. A mulher não se sentiria no controle de suas funções corporais e, portanto, se sentiria
vulnerável na maioria das circunstâncias sociais ou íntimas. Participar de um grupo de apoio de mulheres que
apresentam problemas semelhantes lhe possibilitaria expressar seus sentimentos e encontrar suporte nos outros.
Sugestões sobre o que funciona ou não e como lidar com essa situação seriam muito úteis.
3. Os sinais e sintomas mais comuns em mulheres com miomas uterinos incluem dor lombar, menorragia, anemia,
dispareunia, dismenorreia, distensão abdominal e sensação de peso na região pélvica. A mulher pode demorar a
procurar tratamento porque teme que tenha câncer e, portanto, pode estar em negação como mecanismo de proteção.
Muitas mulheres associam o sangramento vaginal irregular e a dor ao diagnóstico de câncer.
4. cistocele
5. retocele
ESTUDO DE CASO
1. Quais são os riscos associados à incontinência fecal? O que Elizabeth tem?
2. A condição dessa paciente é comum nas mulheres de sua idade? Em caso afirmativo, por quê?
3. Quais seriam as opções terapêuticas úteis para a condição de Elizabeth?
Resposta: Os fatores de risco para incontinência fecal são idade avançada, procedimentos anorretais, obesidade,
incontinência urinária, partos vaginais e episiotomias ou lacerações vaginais associadas, prolapso dos órgãos pélvicos
e sexo feminino. Incontinência fecal não é uma doença, mas uma manifestação de algum distúrbio pélvico subjacente,
inclusive prolapso dos órgãos pélvicos (POP). Essa condição não é fatal, mas pode comprometer bastante a qualidade
de vida do indivíduo. As opções de tratamento incluem intervenções cirúrgicas e conservadoras, inclusive agentes que
aumentam o bolo fecal para melhorar a consistência das fezes, exercícios de fortalecimento dos músculos do assoalho
pélvico e antidiarreicos.
Plano de cuidados
1. Qual estratégia de promoção da saúde específica o enfermeiro pode adotar para atenuar os sintomas da paciente?
2. De que forma o enfermeiro pode fortalecer as estratégias de enfrentamento de Elizabeth?
3. Quais alterações da dieta poderiam ser úteis para essa paciente?
4. De que forma o enfermeiro pode prestar cuidados de saúde centrados na paciente?
Resposta: Como Elizabeth tem IMC alto, redução do peso seria uma intervenção útil para reduzir a pressão intra
abdominal sobre seus órgãos pélvicos. Obesidade é um fator de risco para incontinência fecal. O enfermeiro pode
conversar sobre formas de reduzir o peso por meio de dieta e exercícios. As estratégias de enfrentamento devem
incluir uma conversa sobre produtos disponíveis para controlar incontinência, apoio emocional e psicológico à
paciente, uso de tampões anais, cuidados com a pele, controle do odor, treinamento intestinal, recomendações sobre
como lavar as roupas e instruções para preservar sua dignidade. As alterações da dieta poderiam incluir a elaboração
de um diário de ingestão de alimentos e líquidos para determinar se algum item está aumentando a frequência das
evacuações, instruções para que a paciente altere a ingestão de um item de cada vez e o consumo de alimentos que
aumentem o volume fecal para melhorar a consistência das fezes formadas. O tratamento deve ser individualizado. As
informações fornecidas a Elizabeth devem ser em um formato que ela possa compreender, de modo que possa
participar das decisões referidas ao seu tratamento.
Questões múltipla escolha
1. A enfermeira deve saber que, ao avaliar uma mulher com retocele, qual das seguintes opções
seria encontrada?
A. “Afundamento” do reto, que se apoia ou “empurra” a parede posterior da vagina
B. Protrusão da parede da bexiga contra a parede anterior da vagina
C. Abaulamento do intestino delgado contra a parede posterior da vagina
D. Movimento descendente do útero através do assoalho pélvico e da vagina
Concluir questão
2. Ao avaliar uma cliente com prolapso de órgãos pélvicos, a enfermeira observa que o útero
está cerca de 1 cm abaixo do anel himenal. Ela explica à cliente que este é considerado o:
A. Estágio 0
B. Estágio I
C. Estágio II
D. Estágio III
Concluir questão
3. Ao orientar uma cliente em relação a mudanças na dieta e no estilo de vida para ajudar no
prolapso de órgãos pélvicos, qual das seguintes opções a enfermeira incluiria?
A. Limitar a ingestão de fibras para menos de 25 g por dia
B. Comer mais alimentos processados e refinados
C. Realizar exercícios isométricos
D. Beber pelo menos 2.000 mℓ de líquido por dia
Concluir questão
4. O prolapso de órgãos pélvicos de uma mulher na pósmenopausa está sendo tratado com um
pessário. Qual dos seguintes seria mais importante que a enfermeira fizesse?
A. Certificarse de que ela tem prescrição médica para uma preparação com estrogênio em
creme
B. Ensinar a mulher a retirar o pessário 2 vezes/semana para limpeza
C. Aconselhar a mulher a usar um lubrificante ao inserilo
D. Pedir à mulher que compareça a uma consulta para acompanhamento em cerca de 6 a 12
meses
Concluir questão
5. A enfermeira está desenvolvendo uma palestra sobre incontinência urinária para um grupo de
mulheres da comunidade. Qual dos seguintes itens ela tem menos propensão a incluir na
discussão?
A. A incontinência urinária pode ser prevenida
B. A incontinência urinária é um aspecto normal do envelhecimento
C. A incontinência urinária pode ser tratada
D. A incontinência urinária muitas vezes pode ser curada
Concluir questão
6. Qual dos seguintes a enfermeira tem maior probabilidade de encontrar em uma mulher com
pólipos endometriais?
A. Sangramento vaginal anormal
B. Corrimento vaginal
C. Metrorragia
D. Massa brancoacinzentada
Concluir questão
7. Sua cliente será submetida a uma histerectomia por via vaginal para reparar um prolapso
uterino de estágio IV. Você percebe que ela precisa de mais orientações quando ela afirma:
A. A bolsa de perna será coberta por minhas roupas quando eu estiver em casa
B. “Não vou para casa com um cateter de Foley.”
C. Meu marido aceita que ficarei 6 semanas de repouso pélvico
D. Já peguei os emolientes fecais
Concluir questão
8. A enfermeira está reunindo informações para uma cliente a fim de ajudála a compreender que
a incontinência urinária é uma condição tratável. A enfermeira percebe que um equívoco em
que comumente se acredita é que a incontinência urinária:
A. É uma condição clínica
B. É tratável
C. É um problema de higiene
D. Sempre acontece depois de múltiplos partos
Concluir questão
9. Você está trabalhando com uma cliente que foi diagnosticada com incontinência urinária de
urgência relacionada com contrações do músculo detrusor. Parte do material educativo
sugerindo mudanças de estilo de vida deve incluir que as contrações musculares podem ser
aumentadas pelo(a):
A. Diarreia
B. Perda súbita de peso
C. Ingestão de água diminuída
D. Tabagismo
Concluir questão
10. Uma cliente de 36 anos decidiu usar tratamento conservador para seus miomas. Como
enfermeira, você sabe que qual das seguintes opções não seria um tratamento possível?
A. Tolterodina
B. Leuprolida
C. Nafarelina
D. Goserelina
Concluir questão
11. O cirurgião está recomendando a remoção cirúrgica dos miomas de útero de sua cliente; no
entanto, ela e seu marido ainda desejam ter filhos. Você forneceria informações sobre qual
procedimento para ajudála a preservar sua fertilidade?
A. Miomectomia
B. Eletrocauterização
C. Dilatação e curetagem
D. Laparoscopia
Concluir questão
12. Sua cliente está em trabalho de parto por mais de 36 h e agora manifesta queixas de perda de
urina pela vagina. Ao exame, como sua enfermeira, você procura por uma:
A. Fístula vesicovaginal
B. Fístula por incontinência urinária de urgência
C. Fístula uterovaginal
D. Fístula retovaginal
Concluir questão
13. Durante um exame físico de rotina, observase que a cliente tem um cisto de Bartholin. A
enfermeira reconhece a necessidade de solicitar exames laboratoriais para descartar:
A. Câncer
B. Infecção fúngica
C. Infecção urinária
D. IST/DST
Concluir questão
14. Um jovem casal chegou ao consultório com preocupações relacionadas com uma possível
infertilidade. O exame físico e a anamnese completa da mulher revelaram diabetes melito do
tipo 2, obesidade, apneia do sono e hipertensão arterial. Como sua enfermeira, você suspeita
de:
A. Menstruação irregular
B. Síndrome dos ovários policísticos
C. Liomiomas
D. Desequilíbrio hormonal
Concluir questão
15. A cliente chega à clínica para exames diagnósticos a fim de avaliar sua síndrome do ovário
policístico. Um desses exames deve incluir qual das seguintes opções?
A. Hemograma completo com TP, TTP
B. Lipidograma
C. Níveis hormonais
D. Teste de gravidez
Concluir questão
16. Uma cliente chega ao consultório com queixas de dor intensa no abdome inferior. A
ultrassonografia revela um cisto no ovário. Como sua enfermeira, você explica que os cistos
ovarianos são benignos em ______ dos casos.
A. 90%
B. 70%
C. 50%
D. 30%
Concluir questão
17. Os pessários têm sido utilizados ao longo dos tempos como um meio não cirúrgico para o
tratamento do prolapso genital. Na história antiga, as mulheres costumavam utilizar frutas. Os
pessários da atualidade são constituídos principalmente por:
A. Borracha
B. Silicone
C. Porcelana
D. Metal
Concluir questão
18. Como enfermeira que trabalha com clientes geriátricos, você reconhece um achado comum
que pode contribuir para várias queixas relacionadas com os órgãos pélvicos. Este achado
comum é a:
A. Diarreia
B. Constipação intestinal
C. Incontinência urinária
D. Dor pélvica
Concluir questão
19. A cliente chegou à clínica queixandose de que “as coisas parecem não estar bem lá
embaixo”. Depois de discutir a situação com ela, a enfermeira identificou qual(is) dos
seguintes fatores que sugere(m) que a mulher tem alto risco de prolapso genital? (Selecione
todos que se aplicam.)
A. Tocotraumatismo
B. Idade avançada por ocasião do primeiro parto
C. Esforço excessivo para defecar por causa de constipação intestinal crônica
D Obesidade
E. Recémnascido com peso inferior a 4.500 g
Concluir questão
20. Depois de orientar uma cliente a como realizar os exercícios de Kegel, ela descreve as etapas
dos mesmos. Qual(is) dos seguintes é(são) componente(s) correto(s) dos exercícios de
Kegel? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Contrair os músculos do reto, como se tentasse impedir a eliminação de flatos
B. Parar e reiniciar o fluxo de urina para identificar o músculo pubococcígeo
C. Contrair o músculo pubococcígeo, contar até três e, então, relaxar
D. Contrair e relaxar rapidamente o músculo pubococcígeo 10 vezes
E. Tentar contrair todo o assoalho pélvico e manter a contração, repetindo 10 vezes
Concluir questão
21. Uma mulher está recebendo tolterodina como parte de seu plano de tratamento para a
incontinência urinária de urgência. A enfermeira a instrui a estar alerta para a possibilidade de
qual(is) efeito(s) colateral(is)? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Xerostomia
B. Náuseas
C. Tonteira
D. Diarreia
E. Borramento visual
Concluir questão
22. Ao descrever a síndrome dos ovários policísticos (SOP) para uma cliente, qual(is) das
seguintes áreas a enfermeira precisaria abordar? (Selecione todas que se aplicam.)
A. Hiperinsulinemia
B. Níveis elevados de andrógenos
C. Hiperplasia folicular
D. Anovulação
E. Níveis diminuídos de hormônio luteinizante
Concluir questão
23. Sua cliente chegou ao ambulatório com várias queixas indicando que ela pode ter miomas no
útero. Qual(is) das seguintes queixas pode(m) ser incluída(s)? (Selecione todas que se
aplicam.)
A. Dor lombar
B. Diarreia
C. Dispareunia
D. Menorragia
E. Distensão abdominal
Concluir questão
24. Uma enfermeira está se preparando para uma pequena discussão em grupo sobre o prolapso
genital. Qual(is) das seguintes seria(m) sugestão(ões) de mudança de estilo de vida que a
enfermeira poderia incluir na discussão? (Selecione todas que se aplicam.)
A. Manutenção do peso corporal atual
B. Aumento da ingestão de fibra
C. Aumento do consumo de líquidos
D. Incentivo para correr 3 vezes/semana
E. Micção frequente
Concluir questão
25. Como enfermeira, um de seus objetivos deve ser encorajar mudanças de estilo de vida para
ajudar suas clientes a evitar várias doenças benignas e passíveis de tratamento. Algumas
sugestões incluem: (Selecione todas que se aplicam.)
A. Dieta pobre em gordura
B. Exercício físico regular
C. Sono adequado
D. Ingestão de dieta rica em frutas e vegetais
E. Ingestão adequada de líquido
Concluir questão
Cânceres do Sistema Genital Feminino
8
PALAVRASCHAVE
Câncer de endométrio
Câncer de ovário
Câncer de vagina
Câncer de vulva
Câncer do colo do útero
Colposcopia
Conização do colo do útero (biopsia em cone)
Crioterapia
Displasia do colo do útero
Papilomavírus humano
Teste de Papanicolaou
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Avaliar os principais fatores de risco modificáveis para os cânceres do sistema genital.
2. Analisar os métodos de rastreamento e as modalidades de tratamento para os cânceres do sistema genital feminino.
3. Delinear a conduta de enfermagem necessária para as neoplasias malignas do sistema genital mais comuns em
mulheres.
4. Examinar as mudanças de estilo de vida e os rastreamentos em saúde que podem reduzir o risco ou prevenir o câncer
do sistema genital.
5. Avaliar pelo menos três recursos de sites disponíveis para a mulher com diagnóstico de câncer do sistema genital.
6. Avaliar o sofrimento psicológico sentido pelas mulheres que recebem o diagnóstico de câncer e esquematizar as
informações que podem ajudar em seu enfrentamento.
Carmella é uma mulher obesa, de 55 anos de idade, que procurou o médico por causa de sangramento
vaginal. Ela está na menopausa e se pergunta por que está menstruando novamente. Sua história
patológica pregressa inclui infertilidade e hipertensão arterial. Há 3 anos, ela foi submetida a mastectomia
por causa de câncer de mama e utiliza tamoxifeno para prevenir a recorrência do câncer de mama desde
sua cirurgia. Quais fatores de risco na história de Carmella a predispõem ao câncer do sistema genital?
Quais informações adicionais são necessárias para fazer um diagnóstico?
Reflexões
A palavra câncer pode evocar medo em quem a ouve. Mas, quando se trata de um órgão genital, esse medo muitas vezes
é amplificado.
INTRODUÇÃO
O câncer é a segunda principal causa de morte de mulheres nos EUA, superado apenas pelas doenças cardiovasculares
(Centers for Disease Control and Prevention [CDC], 2015a). A doença cardiovascular é, e deve continuar sendo, um foco
importante dos esforços em saúde da mulher. No entanto, isso não deve ofuscar o fato de que muitas mulheres entre os 35
e 74 anos de idade estão desenvolvendo câncer e morrendo em decorrência dele (National Cancer Institute [NCI], 2015a).
As mulheres correm risco de 1 em cada 3 de desenvolver câncer ao longo da vida, e 1 de cada 4 mortes é causada por
câncer (Alexander et al., 2014). As afroamericanas apresentam as maiores taxas de mortalidade por doenças cardíacas e
câncer (CDC, 2015a). A American Cancer Society (ACS) estima que em 2018 ocorrerão 1.735.350 novos casos
diagnosticados de câncer e 609.640 mortes por causa de câncer nos EUA. Evidências científicas sugerem que
aproximadamente um terço das mortes por câncer que ocorreram em 2015 estavam relacionadas com obesidade,
inatividade física e alimentação inadequada; portanto, poderiam ter sido evitadas. Determinados cânceres estão
relacionados com agentes infecciosos, como o vírus da hepatite B (HBV), o papilomavírus humano (HPV), o vírus da
imunodeficiência humana (HIV) e o Helicobacter pylori (H. pylori), que podem ser evitados por meio de alterações
comportamentais, vacinas ou antibióticos (Herrington, Coates, & Duprex, 2015). Além disso, muitos dos mais de 2
milhões de cânceres de pele diagnosticados anualmente poderiam ser evitados pela proteção da pele contra os raios solares
e por não fazer bronzeamento artificial. Queimaduras solares, sobretudo se ocorrerem repetidamente na infância, podem
resultar em melanoma. A maioria dos melanomas é tratada com sucesso se forem diagnosticados precocemente, mas não
há tratamento efetivo para o melanoma metastático (Balk, 2015).
Estimase que, nos EUA, metade de todas as mortes prematuras, um terço das incapacidades agudas e metade das
incapacidades crônicas sejam evitáveis, incluindo alguns tipos de câncer (NCI, 2015b). Os profissionais de enfermagem
precisam concentrar suas energias no rastreamento, na orientação e na detecção precoce para reduzir esses números. Como
o risco de câncer está fortemente associado ao estilo de vida e ao comportamento, programas de rastreamento são de
particular importância para a detecção precoce. Há evidências de que a prevenção e a detecção precoce reduziram as taxas
de mortalidade por câncer e impediram cânceres do sistema genital (CDC, 2015b).
Este capítulo começa com uma visão geral do processo de enfermagem no cuidado das mulheres com câncer do
sistema genital. Em seguida, descrevemse os cânceres específicos do sistema genital: de ovário, de endométrio, de colo
do útero, da vagina e da vulva. O capítulo discute o papel dos profissionais de enfermagem ao longo do diagnóstico, da
intervenção e dos cuidados de acompanhamento. O manejo do câncer demanda uma abordagem multidisciplinar, incluindo
especialistas em oncologia cirúrgica e clínica e radioterapia. Os profissionais de enfermagem podem fornecer orientações e
apoio à paciente enquanto ela encontra seu caminho no labirinto dos cuidados de saúde.
Conduta de enfermagem para a mulher com câncer do sistema genital
A palavra câncer causa medo e pavor. Esses sentimentos podem ser agravados quando o câncer envolve o
sistema genital da mulher. O diagnóstico de câncer do sistema genital pode ter um impacto profundo sobre
a sexualidade da mulher, pois influencia a essência de sua identidade como mulher. A perda da parte genital
do corpo, assim como a possível perda da fertilidade, pode ter efeito significativo sobre a mulher e seu
parceiro. Os profissionais de enfermagem precisam se lembrar disso ao aconselhar a mulher e seu parceiro
em relação ao tratamento do câncer e efeitos colaterais e às mudanças nos papéis de gênero e
sexualidade.
Logo que a mulher é diagnosticada com um câncer do sistema genital, surgem duas necessidades
primárias: informação e apoio emocional. Quando o diagnóstico é feito, a mulher tipicamente tem muitas
perguntas, como “O que vai acontecer comigo?” “Como isso vai mudar a minha vida?” e “Será que vou
sobreviver?”. Os enfermeiros podem desempenhar um papel importante em ajudar as mulheres a encontrar
respostas para suas perguntas e direcionálas aos recursos de que necessitam. No Brasil, uma fonte
confiável é o Instituto Nacional de Câncer (INCA), e seu site (www.inca.gov.br) é muito informativo. Eles
podem ser acessados pela internet ou pelo telefone.
O enfermeiro também desempenha um papel fundamental em oferecer apoio emocional, determinar
fontes apropriadas de apoio e ajudar a mulher a usar estratégias efetivas de enfrentamento. Uma pesquisa
recente descobriu que o apoio social de familiares, amigos e colegas de trabalho da mulher é um dos
preditores mais fortes de como ela vai enfrentar a doença (Garner et al., 2015). As implicações para os
profissionais de enfermagem que trabalham com mulheres após um diagnóstico de câncer incluem avaliar
os conceitos da mulher e sua disponibilidade de apoio; respeitar as necessidades variadas de apoio
informacional; fornecer um ambiente clínico de apoio; orientar médicos, familiares e amigos em relação às
respostas não apoiadoras dentro do contexto cultural; e confirmar o controle e equilíbrio das necessidades
de apoio da mulher. Os profissionais de enfermagem estão em ótima posição para oferecer orientação
antecipatória às mulheres, desde o diagnóstico até o final do tratamento (Shirvani & Alhani, 2015). Mulheres
sem uma rede de apoio social podem precisar de encaminhamento para o serviço social ou podem precisar
ser encaminhadas para grupos de apoio para receber o apoio emocional de que necessitam.
Além disso, as pacientes com câncer têm uma forte necessidade de ter esperança. As estratégias que
inspiram a esperança podem incluir a escuta ativa, o toque, a presença e a ajuda às pacientes para que
elas superem as barreiras de comunicação. Muitas vezes, não é o que os enfermeiros dizem ou fazem, mas
apenas a sua presença que conta.
Avaliação
A avaliação da mulher com câncer do sistema genital envolve anamnese meticulosa e exame físico. Além
disso, vários exames laboratoriais e complementares são realizados na investigação de uma neoplasia
maligna.
Anamnese e exame físico
Entreviste a mulher cuidadosamente para determinar todos os fatores atuais ou pregressos que possam
aumentar o risco de câncer, como menarca precoce, menopausa tardia, doenças/infecções sexualmente
transmissíveis (DST/IST), uso de agentes hormonais ou infertilidade. Descubra se a mulher tem história
familiar de câncer. É muito importante a história patológica pregressa da mulher, especialmente sua história
ginecológicoobstétrica. Devem ser feitas perguntas sobre seu estilo de vida e comportamentos, incluindo
comportamentos de risco, como se envolver em relações sexuais desprotegidas ou com múltiplos parceiros.
Descubra se ela realizou os procedimentos de rastreamento de rotina ou recomendados.
Pergunte se a mulher apresentou quaisquer sinais e/ou sintomas, como sangramento vaginal anormal,
corrimento ou desconforto vaginal. Muitas vezes os sinais e sintomas do câncer são vagos e inespecíficos, e
a mulher pode atribuílos a outro problema, como envelhecimento, estresse ou má alimentação.
Realize um exame físico completo, incluindo uma revisão dos sistemas do corpo e um exame
ginecológico. Observe se há lesões ou massas na área perineal. Observe se há massas à palpação do
abdome ou ao realizar o exame ginecológico.
Exames laboratoriais e complementares
Alguns dos exames laboratoriais e complementares usados para ajudar a diagnosticar o câncer do sistema
genital são discutidos no boxe Exames laboratoriais e complementares comuns 8.1.
Diagnósticos de enfermagem e intervenções relacionadas
Após a conclusão de uma avaliação minuciosa, o enfermeiro pode identificar vários diagnósticos de
enfermagem, incluindo:
• Conhecimento deficiente
• Distúrbio na imagem corporal
• Ansiedade
• Medo
• Dor.
Os objetivos, as intervenções e a avaliação de enfermagem para as mulheres com câncer do sistema
genital são baseados nos diagnósticos de enfermagem. O conteúdo do boxe Plano de cuidados de
enfermagem 8.1 pode ser usado como um guia para o planejamento dos cuidados de enfermagem às
mulheres com câncer do sistema genital. Ele deve ser individualizado com base nos sinais e sintomas e nas
necessidades da mulher.
Os enfermeiros tradicionalmente têm atuado como defensores na área de cuidados de saúde e devem
continuar na vanguarda das orientações em saúde e diagnóstico, atuando como líderes na luta contra o
câncer. Mais de meio milhão de mulheres nos EUA serão diagnosticadas com câncer só neste ano, e mais
da metade morrerá por causa disso (Siegel, Miller, & Jemal, 2015). A população precisa saber não só que
essas mortes são evitáveis, mas que muitos dos cânceres em si também o são. Os profissionais de saúde
precisam trabalhar para melhorar a disponibilidade e a qualidade dos serviços de rastreamento do câncer,
tornandoos acessíveis às pacientes carentes e socioeconomicamente desfavorecidas. Por meio de um
esforço unificado dos profissionais de saúde, especialistas em políticas públicas de saúde, agências
governamentais, companhias de seguros de saúde, meios de comunicação, instituições educacionais e das
próprias mulheres, com consistência e continuidade, os enfermeiros podem oferecer atendimento de
qualidade a todas as mulheres com câncer.
Orientações para prevenir o câncer
Globalmente, ocorrem quase 13 milhões de novos casos de câncer e 8 milhões de mortes por câncer a
cada ano. A causa mais importante de câncer é o tabaco, que provoca 30% das mortes por câncer. Estima
se que os fatores dietéticos, inclusive obesidade, sejam responsáveis por cerca de 25% das mortes por
câncer e o álcool etílico seja responsável por aproximadamente 6% das mortes por câncer. Todos esses
fatores associados com câncer são passíveis de prevenção (Key, 2015). O enfermeiro precisa fornecer à
paciente informações para ajudar a evitar doenças e melhorar a qualidade de vida. Oriente as mulheres em
relação à importância de realizar rastreamento consistente e oportuno para identificar o câncer
precocemente. Enfatize a importância de realizar o exame ginecológico anualmente. Ressalte também a
necessidade de exames de acompanhamento, conforme prescrito. Forneça informações às pacientes se
forem necessários novos exames complementares. O enfermeiro também desempenha um papel
fundamental na promoção da conscientização, prevenção e controle do câncer. Defenda a melhora na
disponibilidade de serviços de rastreamento do câncer e trabalhe para fornecer orientações ao público
sobre os fatores de risco para o câncer.
Exames laboratoriais e complementares comuns 8.1
• Níveis elevados de
marcadores não são
específicos para o
câncer de ovário, pois
eles podem estar
elevados em outros
tipos de câncer
Adaptado de American Cancer Society [ACS]. (2015b). American Cancer Society guidelines
for the early detection of cancer. Retirado
de http://www.cancer.org/Healthy/FindCancerEarly/CancerScreeningGuidelines/american
cancersocietyguidelinesfortheearlydetectionofcancer; Centers for Disease Control and
Prevention [CDC]. (2015b). Cancer prevention and control. Retirado
de http://www.cdc.gov/cancer/dcpc/prevention/other.htm; e National Cancer Institute [NCI].
(2015c). General cancer prevention. Retirado
de http://www.cancer.gov/cancertopics/prevention#General+Cancer+Prevention+Information.
Plano de cuidados de enfermagem 8.1
Aspectos gerais de uma mulher com câncer do sistema genital
Molly, uma mulher magra de 28 anos de idade, chega à unidade pública de saúde queixandose
de corrimento vaginal aquoso fino e sangramento em borra de café após a relação sexual. Molly
diz que teve múltiplos parceiros sexuais desde os 15 anos de idade. Ela teve resultados
anormais no esfregaço de Papanicolaou “há um tempo”, mas não retornou à clínica para
acompanhamento. Suspeitase de câncer do colo do útero.
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: ansiedade relacionada com incerteza do diagnóstico, possível
diagnóstico de câncer e desfecho final, como evidenciado pelo relato da paciente de sinais e sintomas e as
declarações de estar preocupada e sem saber o que ela faria
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente demonstrará medidas para lidar com a ansiedade, conforme evidenciado por declarações
reconhecendo a ansiedade, o uso de estratégias positivas de enfrentamento e a verbalização de que a
ansiedade diminuiu.
Intervenções: reduzir a ansiedade
• Incentivar a paciente a expressar seus sentimentos e preocupações para reduzir sua ansiedade
e para determinar as intervenções apropriadas
• Avaliar o significado do diagnóstico para a paciente, esclarecendo equívocos e fornecendo
informações realistas confiáveis para melhorar a compreensão de sua condição, reduzindo
posteriormente a sua ansiedade
• Avaliar o estado psicológico da paciente para determinar o grau de sofrimento emocional relacionado
com o diagnóstico e as opções de tratamento
• Identificar e abordar as preocupações verbalizadas, fornecendo informações sobre o que
esperar para diminuir a incerteza sobre o desconhecido
• Avaliar os mecanismos de enfrentamento utilizados pela paciente no passado e sua eficácia para
promover a utilização de estratégias positivas
• Ensinar à paciente os sinais precoces de ansiedade e ajudála a reconhecêlos (p. ex., taquicardia,
sudorese ou sentirse ruborizada) para minimizar a escalada da ansiedade
• Fornecer um reforço positivo para que a condição da paciente possa ser gerenciada para aliviar sua
ansiedade
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente demonstrará compreensão do diagnóstico, conforme evidenciado por fazer escolhas de estilo
de vida que promovam a saúde, verbalizar práticas de cuidados de saúde apropriadas, descrever a
condição, uma vez diagnosticada, e aderir a medidas que obedeçam ao tratamento.
Intervenções: fornecer orientações à paciente
• Avaliar o conhecimento atual da paciente sobre o seu diagnóstico e esquema terapêutico
proposto para estabelecer uma base a partir da qual desenvolver um plano de orientações
• Rever os fatores associados que contribuem para o desenvolvimento de câncer do sistema genital,
incluindo comportamentos de estilo de vida, para fomentar a compreensão da etiologia do câncer do
colo do útero
• Revisar as informações sobre tratamentos e procedimentos e recomendações para um estilo de vida
saudável, obtendo feedback frequente para confirmar a compreensão adequada das orientações
• Discutir estratégias, incluindo o uso de preservativos e a limitação do número de parceiros
sexuais, para reduzir o risco de transmissão de doenças/infecções sexualmente transmissíveis,
incluindo o HPV, que está associado ao câncer do colo do útero
• Incentivar a paciente a obter tratamento imediato de infecções vaginais ou do colo do útero para
minimizar o risco de câncer de colo do útero
• Incentivar a paciente a fazer um teste de Papanicolaou e/ou teste de HPV anualmente para
possibilitar o rastreamento e a detecção precoce
• Descrever as medidas de tratamento utilizadas para fornecer à paciente os conhecimentos que
podem ser necessários
• Fornecer material escrito com figuras para possibilitar que a paciente rememore o que está
acontecendo e a ajude a visualizar o que está ocorrendo em seu corpo
• Informar à paciente sobre os recursos comunitários disponíveis e fazer os encaminhamentos
adequados, conforme necessário, para fornecer orientações e apoio adicional
• Registrar os detalhes das orientações e aprendizado para possibilitar a continuidade dos cuidados e
orientações adicionais, se necessário
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: imagem corporal perturbada relacionada com suspeita de câncer do
sistema genital e com impacto sobre a sexualidade da paciente e sensação de individualidade, conforme
evidenciado pela declaração de estar preocupada em não ser a mesma
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente verbalizará ou demonstrará autoestima positiva em relação à imagem corporal, conforme
evidenciado por declarações positivas em relação a si mesma, à sua sexualidade e à participação em
atividades com os outros.
Intervenções: promover uma imagem corporal saudável
• Avaliar o uso da autocrítica pela paciente para determinar seu estado atual de enfrentamento e
adaptação
• Determinar se a mudança na imagem corporal da paciente contribuiu para o isolamento social, a fim
de fornecer um direcionamento para os cuidados
• Fornecer oportunidades para a paciente explorar seus sentimentos em relação a questões de
sexualidade, incluindo comportamentos pregressos que podem têla colocado em risco, para
minimizar os sentimentos de culpa sobre sua condição
• Reconhecer os sentimentos da paciente em relação a possíveis mudanças em seu corpo e
sexualidade e sua doença, para promover a confiança e possibilitar que a paciente expresse
sentimentos e preocupações
• Facilitar o contato com outras pacientes com o mesmo tipo de câncer, para promover o
compartilhamento de sentimentos e diminuir a sensação de isolamento
• Fazer encaminhamentos a grupos de apoio e de aconselhamento comunitário, conforme necessário,
para auxiliar a paciente na obtenção de uma imagem positiva de si mesma
O enfermeiro pode ser fundamental para ajudar as mulheres a identificar e mudar os comportamentos
que as colocam em risco de vários tipos de câncer do aparelho reprodutivo (Diretrizes de ensino 8.1). Não
limite suas intervenções a apenas fornecer orientações preventivas: informe a mulher das consequências de
não fazer nada sobre sua condição e quais desfechos de longo alcance podem ficar sem tratamento. Por
exemplo, saliente a importância de consultar um profissional de saúde caso surja algum dos sinais e
sintomas adiante:
• A eliminação de sangue à defecação é considerada anormal
• Secreção vaginal anormal ou prurido vulvar crônico
• Distensão abdominal persistente ou constipação intestinal
• Sangramento vaginal irregular
• Dor lombar persistente, não relacionada com ortostatismo
• Lesões vulvares elevadas ou com alteração da coloração
• Sangramento após a menopausa
• Dor ou sangramento após a relação sexual.
Orientações à paciente a respeito de seu diagnóstico
Forneça informações sobre os exames que podem ser necessários para confirmar ou descartar o
diagnóstico. Analise com a mulher o que ela sabe sobre o seu diagnóstico e sua compreensão a respeito da
condição. Não é incomum que a mulher ouça o diagnóstico e, em seguida, sintase oprimida pela ideia de
ter câncer, bloqueando tudo o que for dito depois disso. Responda a quaisquer perguntas que ela possa ter.
Vá devagar e repita as informações conforme necessário. Use materiais escritos para explicar e reforçar as
orientações. Forneça informações sobre o seu estado e as terapias recomendadas. Por exemplo, se estiver
sendo planejada uma cirurgia, discuta questões pósoperatórias, como os cuidados com a incisão, a dor e o
nível de atividade. Instrua a paciente em relação às atividades de manutenção da saúde após o tratamento
e informe ela e sua família sobre os recursos de apoio disponíveis.
Diretrizes de ensino 8.1
Como reduzir o risco de câncer
• Não fumar; o tabagismo está ligado ao desenvolvimento de câncer de pulmão
• Consumir bebidas alcoólicas com moderação (não mais do que uma dose por dia)
• Manterse fisicamente ativa todos os dias
• Ingerir uma dieta saudável
• Manterse atualizada com as imunizações
• Usar um preservativo a cada relação sexual
• Alcançar e manter peso corporal saudável
• Ingerir os medicamentos preventivos, se necessário
• Fazer os testes de rastreamento recomendados:
• Índice de massa corporal (IMC) para identificar obesidade
• Mamografia a cada 1 a 2 anos a partir dos 40 anos de idade
• Esfregaço de Papanicolaou a cada 1 a 3 anos se sexualmente ativa e com idade entre 21 e 65
anos
• Verificar os níveis séricos de colesterol anualmente a partir dos 45 anos de idade
• Aferir a pressão arterial pelo menos a cada 2 anos
• Realizar testes para diabetes em caso de hipertensão arterial ou hipercolesterolemia
• Pesquisar DST/IST, se sexualmente ativa
Adaptado de Agency for Healthcare Research and Quality. (2014). Cancer screening and treatment in
women: Recent findings. Retirado
de http://www.ahrq.gov/research/findings/factsheets/women/cancerwom/; American Cancer Society
[ACS]. (2015b). American Cancer Society guidelines for the early detection of cancer. Retirado
de http://www.cancer.org/Healthy/FindCancerEarly/CancerScreeningGuidelines/americancancer
societyguidelinesfortheearlydetectionofcancer; Mayo Clinic. (2015). Cancer prevention: 7 steps to
reduce your risk. Retirado de http://www.mayoclinic.org/cancerprevention/art20044816; National
Cancer Institute [NCI]. (2015c). General cancer prevention. Retirado
de http://www.cancer.gov/cancertopics/prevention#General+Cancer+Prevention+Information; e World
Health Organization. (2015). Cancer prevention and control. Retirado
de http://www.who.int/nmh/a5816/en/.
Apoio emocional
Uma vez estabelecido o diagnóstico, forneça apoio emocional à mulher e sua família. É importante validar
os sentimentos da paciente e fornecer esperança realista, utilizando uma abordagem imparcial e habilidades
de comunicação terapêutica durante todas as interações. O enfermeiro pode ser inestimável ao ajudar as
mulheres que estão lidando com a incerteza de seu futuro, proporcionando uma comunicação positiva e
apoio. Os profissionais de enfermagem precisam focar as questões físicas, psicossociais e econômicas,
desde o diagnóstico e, se aplicável, até o fim da vida (passando pelo tratamento) de todas as mulheres que
atendem. Individualize o cuidado com base nas tradições e crenças culturais da paciente, conforme
explicado na seção seguinte.
COMO ASSEGURAR CUIDADOS PARA O CÂNCER CULTURALMENTE COMPETENTES
A diversidade cultural nos EUA está crescendo. Conforme as diversas culturas interagem, inevitavelmente
acontecem conflitos. Esses conflitos podem afetar o desfecho dos cuidados de saúde. A prestação de
cuidados para o câncer culturalmente competentes consegue melhorar os resultados e diminuir as
disparidades no atendimento. Para que os profissionais de enfermagem atendam às necessidades de
populações etnicamente diversas, eles precisam ser culturalmente sensíveis, capazes de apreciar
diferenças nas crenças e práticas de saúde e muito flexíveis no modo como abordam os cuidados de saúde.
Os profissionais de enfermagem é que precisam adaptarse, expandirse e aprender.
Os enfermeiros têm a oportunidade de aprender sobre diversas culturas, religiões e tradições religiosas
que apoiam as pacientes e suas famílias durante a sua jornada contra o câncer e enquanto enfrentam uma
grave doença que limita sua vida. As práticas de cuidados de enfermagem devem englobar todas as
pacientes com quem os enfermeiros entram em contato. Ao ter melhor compreensão dos diversos grupos
étnicos, eles podem ganhar a confiança de pacientes que procuram assistência oncológica, que vai desde a
detecção até o diagnóstico e tratamento, possivelmente abrangendo também os cuidados paliativos e de fim
da vida.
Esteja ciente dos aspectos culturais, da religião, dos antecedentes de migração, do grau de aculturação,
das condições de vida, da escolaridade e do estado legal da paciente, porque cada um desses fatores pode
afetar a compreensão do seu diagnóstico e do desfecho final. A reação da mulher a um diagnóstico de
câncer e suas decisões sobre o tratamento são influenciadas pelos valores culturais do indivíduo e de como
a comunidade enxerga o câncer. O diagnóstico de câncer tem profundas implicações físicas, psicossociais e
culturais. A comunicação transcultural consciente e a competência cultural são vitais para que todos os
profissionais de enfermagem prestem cuidados iguais para todas as pacientes com câncer. Os enfermeiros
precisam entender as disparidades e a influência dessas disparidades nos resultados de saúde. As
mulheres com câncer refletem as mudanças demográficas que estão ocorrendo nos EUA e representam o
aumento progressivo das diferenças de cultura, religião, estado socioeconômico, raça e estilo de vida. Os
enfermeiros, ao incorporarem e aprenderem essas diferenças, tornamse profissionais melhores (Surbone,
2015).
Em algumas culturas, dar a notícia de uma doença grave como o câncer é considerado um flato
desrespeitoso e descortês. Por exemplo, alguns europeus visualizam essa informação como desumana; a
cultura asiática vê o diagnóstico de câncer como desnecessariamente cruel. Os chineses, por respeito a
seus familiares idosos, recusam discussões sobre uma doença grave, para evitar causar ansiedades
desnecessárias (Lofters, 2015). Integre esse conhecimento em seus cuidados para garantir uma
abordagem culturalmente competente.
Anote!
Quando for feito um diagnóstico de câncer, a avaliação dos pontos fortes e fracos da pessoa do ponto de vista cultural
ajudará o enfermeiro a prestar cuidados culturalmente competentes.
Conforme a vida se torna cada vez mais multilíngue, multicultural e multirreligiosa, aprender sobre os
valores e crenças culturais das pacientes tornase um desafio. Esteja disposto a aprender sobre as
preferências da paciente, pois isso promove o cuidado e a atenção.
APOIO À GESTANTE COM CÂNCER
A gravidez complicada pelo câncer é relativamente rara, ocorrendo em uma a cada 1.000 gestações
(CancerNet, 2015a). A incidência está aumentando, uma vez que as mulheres das sociedades ocidentais
tendem a adiar a gravidez até a terceira e a quarta décadas de vida. Esse fenômeno será encontrado com
mais frequência no futuro. As neoplasias malignas mais frequentemente diagnosticadas durante a gravidez
são o câncer de mama, o câncer de colo do útero, as doenças hematológicas (linfoma e leucemia aguda) e
o melanoma. O câncer de mama é o câncer diagnosticado mais frequentemente em gestantes, ocorrendo
em uma de cada 3.000 gestantes. Os tumores menos comuns são os gastrintestinais, urológicos e
pulmonares (Amant et al., 2015).
Teoricamente, as alterações no sistema imune da mãe durante a gravidez podem aumentar o risco de
malignidade, porque a imunidade mediada por células, que está suprimida nas gestantes, normalmente
protege contra neoplasias malignas (Kim & Chu, 2015). Algumas pesquisas sugeriram aumento da taxa de
progressão e diminuição no tempo de sobrevida em mulheres que desenvolvem câncer de mama e do colo
do útero e, em seguida, ficam grávidas, mas isso não foi confirmado por estudos de pesquisa. Com a
colaboração de equipes multiprofissionais, o tratamento para o câncer durante a gravidez com desfecho
fetal normal é viável (Andersson et al., 2015).
O câncer de ovário durante a gravidez é raro, porque a doença ocorre tipicamente em mulheres mais
velhas. Como a maioria das gestantes recebe cuidados médicos frequentes, incluindo exames
ginecológicos, a maioria dos cânceres de ovário em gestantes é encontrada em estágios iniciais, o que traz
um bom prognóstico para a mãe e o recémnascido. A existência de ascite indica doença avançada (de
Haan, Verheecke, & Amant, 2015).
O câncer de endométrio é a neoplasia mais comum do sistema genital feminino, com a maior incidência
entre os processos malignos uterinos. Raramente está associado à gravidez. Tipicamente, o
adenocarcinoma relacionado com gravidez é endometrioide, focal, bem diferenciado e minimamente
invasivo. O tratamento ativo do câncer de endométrio é incompatível com a continuação da gravidez. Como
o rastreamento de rotina para câncer de endométrio atualmente não é recomendado para a população em
geral, poucos casos seriam detectados na população relativamente jovem das gestantes (Cancer in
Pregnancy, 2015a). O câncer do colo do útero é mais comum na população de gestantes do que outras
doenças malignas genitais, o que pode afetar o estado de saúde da mulher e a gravidez. Aproximadamente
30% das mulheres com diagnóstico de câncer de colo de útero estão em seus anos férteis, enquanto 3%
dos cânceres de colo de útero são diagnosticados durante a gravidez (Cancer in Pregnancy, 2015b). O
manejo do câncer do colo do útero durante a gravidez depende dos seguintes fatores:
• Fase da doença (e tamanho do tumor)
• Estado dos linfonodos
• Subtipo histológico do tumor
• Tempo de gestação
• Desejo da paciente de continuar a gravidez
• Desejo da paciente de engravidar futuramente.
Em mulheres com doença em estágio inicial e ausência de envolvimento dos linfonodos que são
diagnosticadas durante os dois primeiros trimestres de gravidez, há uma tendência crescente em preservar
a gravidez, enquanto se aguarda a maturidade fetal. O parto (quando a maturidade fetal é alcançada) deve
ser realizado via cesariana (ACS, 2015c). As decisões de tratamento são influenciadas pelo estágio do
câncer, pelo tipo histológico, pelo estágio da gravidez e pelos desejos da paciente. É essencial levar em
consideração a segurança e o bemestar materno e fetal. A interrupção da gravidez não é indicada para
todos os casos. A preservação da gravidez em tumores diagnosticados durante o início da gestação é
factível em casos cuidadosamente selecionados. A discussão com a paciente e sua família é essencial, e o
tratamento tem de ser individualizado (ACS, 2015c).
Os enfermeiros que cuidam de pacientes jovens com câncer do colo do útero precisam conhecer as
opções cirúrgicas que preservam a fertilidade, quais pacientes são candidatas a essas cirurgias e as opções
de tecnologia de reprodução assistida futuras. O enfermeiro precisa ser capaz de coordenar os cuidados
para essas pacientes com oncologistas ginecológicos e endocrinologistas especializados em reprodução, a
fim de promover os desfechos ideais.
As mulheres com diagnóstico de doença maligna durante a gravidez precisam enfrentar a realidade da
doença e seu impacto sobre a sua fertilidade futura e conviver com o risco de recorrência. O prognóstico de
uma gestante com câncer é, com frequência, o mesmo de outras mulheres da mesma idade com o mesmo
tipo de câncer (Cancer.Net, 2015a). Os desejos da gestante e de sua família são de extrema importância na
tomada de decisões sobre a continuidade da gravidez e a realização do tratamento do câncer. Algumas
mulheres decidem interromper a gravidez para o bem da própria saúde; outras passarão pelo tratamento
durante a gravidez para preservar a vida do nascituro. Independentemente da decisão da mulher, os
profissionais de enfermagem devem oferecer apoio, esperança e orientação durante o tratamento, o parto e
depois.
CÂNCER DE OVÁRIO
O câncer de ovário é o crescimento neoplásico maligno do ovário (Figura 8.1). Tratase do nono tipo de câncer mais
comum nas mulheres e a quinta causa mais comum de morte por câncer de mulheres nos EUA. É responsável por mais
mortes do que qualquer outro câncer do sistema genital (ACS, 2015d). O risco de a mulher apresentar câncer de ovário
invasivo ao longo de sua vida é cerca de 1 em 75. Sua chance de morrer de câncer de ovário invasivo ao longo da vida é de
cerca de 1 em 100 (ACS, 2015d). Esse tipo de câncer se desenvolve principalmente em mulheres mais velhas. Cerca de
metade das mulheres diagnosticadas com câncer de ovário tem 63 anos de idade ou mais. É mais comum em mulheres
brancas que em afroamericanas (ACS, 2015d).
A variável mais importante que influencia o prognóstico é a extensão da doença. A sobrevida depende do estágio do
tumor, do grau de diferenciação, dos achados macroscópicos na cirurgia, da quantidade de tumor residual após a cirurgia e
da efetividade de qualquer tratamento adjuvante pósoperatório. Muitas mulheres com câncer de ovário sofrerão
recorrência, apesar dos melhores esforços para erradicar o câncer por meio de cirurgia, radioterapia ou quimioterapia para
eliminar as células tumorais residuais. A probabilidade de sobrevida a longo prazo em caso de recorrência é mínima
(Matsumoto, Onada, & Yaegashi, 2015). As taxas de sobrevida em 5 anos (a porcentagem de mulheres que vivem pelo
menos 5 anos após o diagnóstico) são apresentadas na Tabela 8.1, de acordo com o estágio.
FIGURA 8.1 Câncer de ovário. (Ilustração fornecida por Anatomical Chart Co.)
Tabela Taxas de sobrevida em 5 anos do câncer de ovário.
8.1
Estágio Taxa de sobrevida relativa em 5 anos
I 80 a 94%
II 57 a 76%
III 34 a 45%
IV 18%
Adaptada de American Cancer Society [ACS]. (2015o). Survival rates for
ovarian cancer by stage. Retirada
de http://www.cancer.org/cancer/ovariancancer/detailedguide/ovarian
cancersurvivalrates.
Fisiopatologia
O câncer de ovário, cuja causa é desconhecida, pode originarse de diferentes tipos de células. A maioria dos cânceres de
ovário se origina do epitélio ovariano. Atualmente, novos fatos sugerem que a tuba uterina tenha uma participação crucial
na patogênese do câncer de ovário. Evidências crescentes sugerem que o câncer de ovário seroso se origine da extremidade
distal (fímbrias) da tuba uterina, enquanto o ovário só é envolvido em um estágio posterior. Estes representam 50 a 60%
de todos os cânceres de ovário epiteliais. Com base nesse achado, a salpingectomia pósreprodutiva merece consideração
como intervenção profilática que pode conferir proteção contra uma doença frequentemente letal (Poole et al., 2015).
Os tumores geralmente se apresentam como massas sólidas que se espalharam além do ovário e já semearam o
peritônio antes do diagnóstico. A compreensão detalhada da patogênese verdadeira da origem desse câncer poderia resultar
no desenvolvimento de novas terapia mais efetivas, bem como de novos biomarcadores na detecção precoce.
Rastreamento e diagnóstico
Tipicamente, as mulheres com câncer de ovário são diagnosticadas em um estágio avançado, quando o câncer já se
disseminou para a cavidade peritoneal, tornando difícil a extirpação cirúrgica completa. Setenta e cinco por cento dos
cânceres do ovário não são diagnosticados até que o câncer tenha avançado para o estágio III ou IV, principalmente porque
ainda não há um exame de rastreamento adequado. A sobrevida de 5 anos para mulheres diagnosticadas nesse estágio é de
30%, em contraste com 90% de sobrevida de 5 anos das mulheres diagnosticadas em um estágio inicial (Wright et al.,
2015). A United States Preventive Services Task Force (USPSTF) (2015), juntamente com o American College of
Obstetricians and Gynecologists (ACOG) e a American Medical Association (AMA), revisaram recentemente as
evidências referentes ao rastreamento do câncer de ovário e não recomendaram o rastreamento de mulheres com risco
médio. Todavia, mulheres com risco aumentado relacionado com mutações BRCA1 e BRCA2 ou história familiar de
câncer de ovário devem ser consideradas para aconselhamento genético e avaliação adicional do risco delas (Cliby et al.,
2015).
Dois genes, BRCA1 e BRCA2, são ligados aos cânceres hereditários de mama e ovário. Podem ser realizados exames
de sangue para avaliar o DNA nos leucócitos, a fim de detectar mutações nos genes BRCA. Esses marcadores genéticos
não predizem se a pessoa vai desenvolver câncer. Em vez disso, fornecem informações sobre o risco de desenvolver
câncer: uma mulher BRCApositiva tem até 80% de chance de desenvolver câncer de mama e 40% de chance de
desenvolver câncer de ovário (Liede, Sun, & Narod, 2015).
Para auxiliar no rastreamento, os pesquisadores desenvolveram um índice de sinais e sintomas do câncer de ovário,
que inclui dor pélvica e abdominal, polaciúria e urgência urinária, aumento do volume abdominal e dificuldade para comer
(sensação de plenitude). Todavia, esses sintomas não são muito úteis na detecção precoce da doença porque tendem a
passar despercebidos, resultando em demora para fazer o diagnóstico. Quando a manifestação desses sintomas desencadeia
uma avaliação médica à procura de câncer de ovário, a doença é diagnosticada em apenas 1 em cada 100 mulheres. O NCI
relata que o atual índice de sinais e sintomas tem “baixo valor preditivo positivo”, especialmente para a doença em estágio
inicial (2015d).
Ainda não foram desenvolvidas diretrizes clínicas específicas para o rastreamento do câncer de ovário, de modo que a
doença muitas vezes não é diagnosticada até que tenha produzido metástases. A USPSTF não recomenda o rastreamento de
rotina para câncer de ovário com CA125 sérico e ultrassonografia transvaginal, pois a detecção precoce teria pequeno
efeito, na melhor das hipóteses, sobre a taxa de mortalidade. O CA125 é um marcador tumoral biológico associado ao
câncer de ovário. Embora seus níveis estejam elevados em muitas mulheres com câncer de ovário, o CA125 não é
específico para esse tipo de câncer, e seus níveis podem estar elevados em outras neoplasias malignas também (câncer de
pâncreas, fígado, colo, mama e pulmão). Apesar do achado de que o CA125 e outros marcadores séricos aumentam antes
do aparecimento clínico do câncer do ovário, o desenvolvimento de um programa de rastreamento bemsucedido para
mulheres assintomáticas com câncer do ovário provou ser surpreendentemente difícil. Atualmente, ele não é sensível o
suficiente para servir como ferramenta de rastreamento isolada (Ebell et al., 2015). A USPSTF (2015) relata que não há
evidências de que qualquer exame de rastreamento, incluindo o CA125, a ultrassonografia ou o exame ginecológico,
reduza a taxa de mortalidade por câncer do ovário. Assim, não recomenda o rastreamento de rotina para câncer de ovário.
Conduta terapêutica
As opções de tratamento para o câncer do ovário variam dependendo do estágio e da gravidade da doença. Habitualmente,
realizase uma laparoscopia (exploração abdominal com um endoscópio) para fins de diagnóstico e estadiamento, bem
como para a avaliação do tratamento. No estágio I, o câncer está limitado aos ovários. No estágio II, o crescimento
envolve um ou ambos os ovários, com extensão pélvica. O câncer de estágio III se espalhou para os linfonodos e para
outros órgãos ou estruturas na cavidade abdominal. No estágio IV, o câncer produziu metástases para locais distantes
(Alexander et al., 2014). A Figura 8.2 mostra os prováveis locais metastáticos do câncer de ovário.
A intervenção cirúrgica continua sendo o pilar do tratamento do câncer de ovário. A cirurgia geralmente inclui
histerectomia abdominal total, salpingoooforectomia bilateral, biopsias peritoneais, omentectomia (excisão de todo ou de
parte do omento, que é uma lâmina de gordura coberta pelo peritônio que protege as estruturas abdominais) e coleta de
amostras de linfonodos paraaórticos pélvicos para avaliar a extensão do câncer (Nick et al., 2015). Como a maioria das
mulheres é diagnosticada com câncer de ovário em estágio avançado, comumente se realiza tratamento agressivo
envolvendo cirurgia citorredutora (redução das dimensões do câncer). Essa intervenção cirúrgica envolve a ressecção de
todos os tumores visíveis do peritônio, realização de biopsia peritoneal, coleta de linfonodos e ressecção de todos os
órgãos genitais e do omento. Mostrouse que essa cirurgia agressiva melhora as taxas de sobrevida a longo prazo.
FIGURA 8.2 Metástases comuns do câncer de ovário. (Ilustração fornecida por Anatomical Chart Co.)
Radioterapia adjuvante pode ser justificada. A quimioterapia é recomendada para todos os estágios de câncer de
ovário. A quimioterapia intraperitoneal, combinada com cirurgia, tem produzido resultados encorajadores em termos de
sobrevida global com níveis aceitáveis de morbidade e mortalidade. Apesar de todas essas terapias, o único consenso em
relação ao tratamento para a forma avançada da doença é que a cirurgia e a quimioterapia são válidas e que o tratamento
atual é efetivo em muitas mulheres (Helm, 2015a).
Avaliação de enfermagem
O câncer de ovário é considerado a pior de todas as neoplasias ginecológicas, principalmente porque se desenvolve
lentamente e permanece oculto e sem sinais e/ou sintomas até que o câncer esteja muito avançado. Já foi descrito como a
“doença negligenciada” ou “assassino silencioso”, porque as mulheres e os profissionais de saúde costumam ignorar ou
racionalizar os primeiros sintomas. Por exemplo, as mulheres podem atribuir os problemas gastrintestinais ao estresse e a
mudanças da meiaidade. No entanto, essas queixas vagas podem preceder os sintomas mais evidentes em meses. Os
sinais e sintomas precoces mais comuns incluem distensão abdominal, saciedade precoce, fadiga, dor abdominal vaga,
polaciúria, diarreia ou constipação intestinal, malestar e perda ou ganho de peso inexplicado. Os sinais e sintomas
posteriores incluem anorexia, dispepsia, ascite, massa abdominal palpável, dor pélvica e dorsalgia (Goldstein et al., 2015).
Obtenha um relato completo dos sinais e sintomas da mulher, incluindo aparecimento, duração e frequência. Reveja a
anamnese da mulher à procura de fatores de risco como:
• Nuliparidade
• Menarca precoce (antes dos 12 anos)
• Menopausa tardia (após os 55 anos)
• Idade mais avançada após a menopausa
• Dieta hiperlipídica
• Obesidade
• Ovulação persistente ao longo do tempo
• Parente de primeiro grau com câncer de ovário
• Genética – mulheres de ascendência judia asquenaze
• Utilização de talco perineal ou sprays de higiene
• Mais de 30 anos na primeira gravidez
• Mutações de BRCA1 e BRCA2 positivas
• História pessoal de câncer de mama, bexiga ou cólon
• Terapia de reposição hormonal por mais de 10 anos
• Infertilidade (CDC, 2015c).
Realize um exame físico completo. Inspecione o abdome, observando se há distensão. Palpeo. Esteja alerta para
massa ou dor à palpação. Antecipe mais testes para confirmar o diagnóstico.
Conduta de enfermagem
As complexidades do câncer de ovário tornam a abordagem multidisciplinar necessária para o controle ótimo. Por causa da
natureza sutil e do alto risco de recorrência e mortalidade dessa condição, a maioria das mulheres acha que se trata de uma
experiência emocionalmente desgastante e devastadora. Esperança é essencial para as mulheres no momento do
diagnóstico; elas querem acreditar que podem ser curadas e que serão capazes de continuar sua vida como de costume com
os entes queridos, amigos e parentes. Ainda assim, o diagnóstico de câncer recémrecebido faz com que as mulheres
oscilem entre a esperança e o desespero, entre as expectativas positivas de ficarem curadas e os assustadores sentimentos
da doença assumindo o controle. Os enfermeiros são recursos inestimáveis em inspirar as pacientes a encontrar esperança
na vida quando diagnosticadas com câncer. A conduta de enfermagem precisa concentrarse em medidas para promover a
detecção precoce, orientar a mulher sobre a doença e seus tratamentos e fornecer apoio emocional. Os enfermeiros devem
mostrar uma atitude positiva que comunique compreensão e confiança.
Detecção precoce
O enfermeiro precisa garantir que as mulheres estejam cientes dos fatores de risco para o câncer de ovário. Instigue as
mulheres a não ignorar sinais e sintomas aparentemente inócuos como sendo apenas “parte do envelhecimento”. Encoraje
as a descrever queixas inespecíficas nas consultas com seu médico.
Avalie a história patológica pregressa e a história familiar da mulher à procura de fatores de risco e incentive o teste
genético para as mulheres com familiares afetadas. Delineie as diretrizes de rastreamento para as mulheres com síndrome
de câncer hereditário e informe as mulheres de alto risco sobre as estratégias de rastreamento adequadas.
Instigue as mulheres a realizar exames ginecológicos bimanuais anuais e uma ultrassonografia transvaginal para
possibilitar a identificação de tumores ovarianos em seus estágios iniciais. Após a menopausa, massa em um ovário não é
um cisto: os cistos fisiológicos só podem surgir a partir de um folículo que não se rompeu ou da degeneração cística do
corpo lúteo. O câncer de ovário nem sempre é silencioso e pode provocar vários sintomas gastrintestinais vagos. Embora
não seja preconizado o rastreamento de toda a população, os profissionais de enfermagem precisam saber quais os fatores
que fazem as mulheres correrem o alto risco, além de escutar com atenção as queixas das pacientes para detectar esse tipo
de câncer antes de ele atingir um estágio avançado.
Anote!
Um pequeno “cisto” de ovário encontrado na ultrassonografia de uma mulher assintomática após a menopausa deve
levantar suspeitas. Qualquer massa ou ovário palpado em uma mulher após a menopausa deve ser considerado maligno
até que se prove o contrário (Helm, 2015b).
Orientações à paciente
A orientação é um dos principais focos dos cuidados de enfermagem. Essas orientações envolvem a redução de riscos e a
promoção da saúde. Oriente a mulher a respeito das estratégias de redução de riscos; por exemplo, a gravidez, o uso de
contraceptivos orais e a amamentação reduzem o risco de câncer de ovário. Instrua as mulheres a evitar o uso de talco
e sprays de higiene em seus órgãos genitais. Analise os riscos ao longo da vida relacionados com os
genes BRCA1 e BRCA2 e as opções disponíveis se o teste da mulher for positivo para esses genes. Ajude a promover a
conscientização da comunidade sobre o câncer de ovário, orientando o público sobre comportamentos de redução de risco.
Ver a pesquisa sobre fator de risco de câncer ginecológico (Prática baseada em evidências 8.1).
Instrua a mulher a respeito da importância de estilos de vida saudáveis. Ressalte a importância de manter o peso
corporal saudável para reduzir o risco. Encoraje as mulheres a ingerir dieta hipolipídica. Os fatores associados a risco
reduzido de câncer de ovário incluem uso de contraceptivos orais durante 3 anos ou mais, gravidez e aleitamento materno
antes dos 30 anos de idade, laqueadura tubária bilateral e ooforectomia (Memorial Sloan Kettering Cancer Center, 2015).
Para a mulher diagnosticada com câncer de ovário, descreva com termos simples os exames, as modalidades
terapêuticas e o acompanhamento necessário. Por exemplo, se a mulher será submetida a uma cirurgia, o enfermeiro
precisa fornecer orientações abrangentes sobre o que esperar antes, durante e após a cirurgia. Delineie as opções de
tratamento e as implicações das escolhas. Ajude a mulher e sua família a decifrar a infinidade de informações relacionadas
com preparação, testes e tratamentos. Oriente a mulher em relação às medidas adicionais, como a radioterapia ou a
quimioterapia, incluindo como lidar com os efeitos adversos mais comuns do tratamento.
Apoio à paciente e à sua família
O diagnóstico de câncer de ovário, como de qualquer tipo de câncer, pode ser avassalador. Além disso, os tratamentos e
seus efeitos podem ser muito estressantes, tanto física quanto emocionalmente. Forneça apoio individualizado às mulheres
que enfrentam o tratamento para o câncer de ovário. O câncer de ovário envolve o sistema genital, que tem impacto direto
na visão da mulher a respeito de si mesma. Incentive uma discussão aberta da sexualidade e do impacto do câncer. Ouça e
apoie a mulher e sua família enquanto eles tentam lidar com essa doença. Estando cientes das necessidades individuais das
mulheres e suas diferentes estratégias de enfrentamento, os enfermeiros podem melhorar o apoio às mulheres em situação
vulnerável. Incentive o uso de estratégias de enfrentamento adequadas para possibilitar a melhora na qualidade de vida.
Tente restaurar a esperança da mulher com câncer de ovário e aborde a adesão ao tratamento. Os enfermeiros não devem
esquecer dos cuidadores familiares que precisam de ajuda no manejo das emoções relacionadas com o prognóstico, no
equilíbrio de suas necessidades e as necessidades da paciente, sem esquecer o trabalho e a tomada de decisões, quando
existe incerteza. Se for o caso, incentive a participação em ensaios clínicos para oferecer esperança a todas as mulheres.
Continue oferecendo apoio à mulher e a seus familiares enquanto eles experimentam tristeza e luto.
Prática baseada em evidências 8.1
A estimulação ovariana para fertilização in vitro aumenta o risco de câncer ginecológico? Uma
revisão sistemática e metanálise.
ESTUDO
Fármacos estimuladores da ovulação são usados em larga escala para vários tipos de subfertilidade desde
o início da década de 1960 e seu uso aumentou nos últimos anos. O emprego de técnicas de reprodução
assistida está aumentando, mas ainda há controvérsias sobre a possível ligação entre fármacos
estimuladores da ovulação e câncer no sistema genital. Mulheres subférteis são, com frequência, expostas
a esses agentes, que podem ser administrados em altas doses durante longos períodos por causa do
tratamento de subfertilidade. Existe incerteza a respeito da segurança desses agentes e o risco potencial de
indução de câncer por causa de seu uso. O objetivo desse estudo era avaliar o risco de cânceres no
sistema genital em mulheres previamente tratadas com fármacos estimuladores da ovulação por causa de
infertilidade.
Achados
Foram realizadas revisão sistemática e metanálise. Estudos clínicos que examinaram a associação entre
estimulação ovariana para fertilização in vitro e cânceres ginecológicos foram incluídos. Doze estudos de
coorte com 178.396 mulheres submetidas a fertilização in vitro foram incluídos também. A metanálise não
encontrou associações significativas entre estimulação ovariana para fins de fertilização in vitro e aumento
do risco de câncer de ovário, endométrio, de colo do útero e da mama. A estimulação ovariana para fins de
fertilização in vitro, portanto, não aumenta o risco ginecológico, seja de câncer de mama e de endométrio
hormôniodependente ou de câncer de colo do útero e de ovário hormônioindependente. Esse estudo não
encontrou evidências convincentes de aumento do risco de câncer do sistema genital associado ao
tratamento farmacológico para infertilidade.
Implicações para a enfermagem
Os enfermeiros podem usar as informações desse estudo para tranquilizarem mulheres com infertilidade e
que foram submetidas a tratamentos de fertilização in vitro no passado que não terão seu risco de câncer
no sistema genital aumentado no futuro. Quando as mulheres estão tentando decidir sobre o tratamento de
fertilidade com fármacos, isso pode gerar muita ansiedade nelas e em seus parceiros. O conhecimento de
que o tratamento de fertilização in vitro não aumentará o risco de câncer no sistema genital quando
envelhecerem pode reduzir a ansiedade em relação a sua decisão.
Adaptado de Li, Y., Zhao, J., Zhang, Q., & Wang, Y. (2015). Does ovarian stimulation for IVF increase
gynecological cancer risk? A systematic review and metaanalysis. Reproductive BioMedicine Online. doi:
10.1016/j.rbmo.2015.03.008.
CÂNCER DE ENDOMÉTRIO
Câncer de endométrio (também conhecido como câncer de útero) é o crescimento neoplásico maligno da mucosa uterina. É
a quarta neoplasia maligna ginecológica mais comum e representa 6% de todos os cânceres em mulheres nos EUA, ou 1
em cada 37 mulheres. O NCI (2015e) estimou que seriam diagnosticados 54.870 novos casos em mulheres em 2015 e que
cerca de 10.170 delas morreriam. O câncer de endométrio é responsável por mais de 75.000 mortes de mulheres ao ano em
todo o planeta (Siegel et al., 2015). É raro antes dos 55 anos, mas, conforme as mulheres envelhecem, o risco de câncer
de endométrio aumenta. Cerca de 80% dessas doenças malignas são carcinomas de endométrio. Como o câncer de
endométrio geralmente é diagnosticado nos estágios iniciais, tem prognóstico melhor do que o câncer de colo do útero ou
ovário (ACS, 2015e).
A incidência e a prevalência crescentes de câncer de endométrio podem ser explicadas pelo aumento da expectativa de
vida, pelo aumento da ingestão calórica, pelo aumento das taxas de obesidade, pela infertilidade, pela nuliparidade (nunca
ter tido filhos), pela idade mais avançada da primeira gravidez e pelo uso prolongado de estrógenos sem progestina na
terapia de reposição hormonal. A proteção contra câncer de endométrio inclui aumento da paridade, atividade física diária,
uso de contraceptivos orais combinados e idade aumentada da mulher na última gravidez (Schmid et al., 2015).
Considere isto
Eu sentia que era uma mulher de sorte, porque estava em remissão de câncer de mama há 12 anos e tinha
recebido o dom da vida para compartilhar com minha amada família. Recentemente, fiquei doente, com
problemas de estômago: dor, indigestão, flatulência e náuseas. Meu médico me tratou como se fosse
doença por refluxo gastresofágico, mas os sintomas persistiram. Fui então encaminhada para um
gastroenterologista, um urologista e um ginecologista, que solicitaram uma ultrassonografia, cujo resultado
foi negativo. Recebi garantias dos três médicos de que não havia nada de errado comigo. Conforme o
tempo passava, sentia mais dor, mais sintomas e mais frustração. Seis meses depois de consultar esses
três especialistas, uma nova ultrassonografia revelou que eu tinha câncer de ovário e precisava de uma
cirurgia o mais rápido possível. Realizei uma histerectomia completa, e meu cirurgião descobriu que eu
estava em estágio III. Desde então, fui submetida a quimioterapia e participei de um estudo clínico para o
câncer que não foi bemsucedido para mim; agora estou enfrentando o fato de que vou morrer em breve.
Reflexões: Essa mulher tentou de tudo para salvar sua vida, mas, infelizmente, o tempo se esgotou
para ela e seu câncer de ovário avançado. As mulheres diagnosticadas com câncer de mama correm risco
significativo de desenvolver câncer de ovário posteriormente. Da sequência de médicos que ela consultou, é
preciso refletir sobre por que nenhum solicitou exames mais meticulosos, dados os seus antecedentes de
câncer de mama. Estamos assombrados com a pergunta: Se eles tivessem solicitado, ela estaria em
estágio III agora? Nunca saberemos.
Fisiopatologia
Acreditase que dois mecanismos estejam envolvidos no desenvolvimento do câncer de endométrio. O relato de exposição
ao estrogênio (sem progesterona associada) é a causa em aproximadamente 80% das mulheres. Os cânceres de endométrio
espontâneos e não relacionados com o estrogênio ou a hiperplasia endometrial representam os outros 20% dos casos.
Existe um aumento da incidência de mulheres recebendo terapia de reposição de estrogênio (sem progestina) e das taxas de
obesidade (o tecido adiposo converte androstenediona em estrona, aumentando assim os níveis circulantes de estrogênio)
que contribuem para o câncer de endométrio (Temple, 2015).
O câncer de endométrio pode originarse de um pólipo ou em um padrão multifocal difuso. O padrão de propagação
depende em parte do grau de diferenciação celular. Os tumores bem diferenciados tendem a limitar a sua difusão para a
superfície do endométrio. A propagação metastática ocorre em um padrão característico e mais comumente envolve os
pulmões, os linfonodos inguinais e supraclaviculares, o fígado, os ossos, o encéfalo e a vagina (NCI, 2015f). O
crescimento tumoral inicial é caracterizado por hemorragia friável e espontânea. Mais tarde, o crescimento do tumor é
caracterizado por invasão do miométrio e crescimento para o colo do útero (Figura 8.3).
O adenocarcinoma do endométrio é tipicamente precedido por hiperplasia. O carcinoma in situ é encontrado apenas na
superfície do endométrio. O carcinoma do tipo I, o mais comum, começa como hiperplasia endometrial e evolui para
carcinoma. O uso de estrogênio sem progesterona para a terapia de reposição hormonal leva a aumento do risco de câncer
de endométrio. O tipo I é geralmente encontrado em um estágio mais precoce, e os resultados do tratamento são mais
favoráveis.
Ao contrário do carcinoma de endométrio do tipo I, o carcinoma do tipo II aparece espontaneamente, está associado a
um tipo de célula pouco diferenciado e tem prognóstico ruim. Representa menos de 10% de todos os cânceres de
endométrio, mas é responsável pela maioria das mortes por câncer de endométrio. Esse tipo não é relacionado com
estrogênio nem com hiperplasia endometrial (ACS, 2015f).
FIGURA 8.3 Progressão do câncer de endométrio. (Imagem 1 fornecida por Anatomical Chart Co.)
Lembrase de Carmella, a mulher com sangramento pósmenopausa? Após a menopausa, qualquer
sangramento é anormal e exige avaliação mais aprofundada. Qual exame o enfermeiro pode antecipar que
será prescrito para confirmar o diagnóstico? Qual seria o papel do enfermeiro durante esse teste?
Rastreamento e diagnóstico
Atualmente, não existe teste de rastreamento específico para detectar câncer de endométrio. O rastreamento para o câncer
de endométrio não é feito rotineiramente, porque não é prático nem tem boa relação custobenefício. A ACS (2015f)
recomenda que as mulheres sejam informadas sobre os riscos e os sinais e sintomas do câncer de endométrio no início da
menopausa e sejam fortemente encorajadas a relatar qualquer sangramento (vermelhovivo ou em borra de café)
inesperado ao seu médico. O exame ginecológico frequentemente é normal nos estágios precoces da doença. Podem
ocorrer alterações na dimensão, no formato ou na consistência do útero ou nas suas estruturas de suporte circundantes
quando a doença está mais avançada.
Durante as duas últimas décadas, o papel da ultrassonografia na avaliação da hemorragia pósmenopausa mudou
significativamente, de pouca ou nenhuma função para o papel importante de hoje. Numerosos estudos demonstraram que a
ultrassonografia é pelo menos tão sensível quanto a biopsia do endométrio para o câncer de endométrio e que a
ultrassonografia consegue descartar com segurança o câncer sem a necessidade de biopsia em algumas mulheres com
sangramento pósmenopausa. A profundidade do miométrio também é um fator diagnóstico importante. Em particular,
numerosos estudos já mostraram que as mulheres com espessura endometrial de 4 mm ou menos têm probabilidade
extremamente baixa de câncer de endométrio e, portanto, não precisam se submeter à biopsia endometrial. A
ultrassonografia também pode ajudar na escolha de uma técnica de biopsia adequada. Na mulher com sangramento pós
menopausa e endométrio espesso, uma ultrassonohisterografia pode determinar se o endométrio está difusamente espesso
ou se existem áreas focais de espessamento. Em caso de espessamento difuso, uma biopsia endometrial é apropriada.
Quando existem uma ou mais áreas focais de espessamento, é provável que a biopsia histeroscópica seja a melhor escolha.
Tipicamente, a ultrassonografia não invasiva é feita antes de ser tentada uma biopsia endometrial invasiva (Dueholm et al.,
2015).
A ultrassonografia transvaginal pode ser realizada para avaliar a cavidade do endométrio e medir a espessura do
revestimento endometrial. Pode ser usada para detectar hiperplasia do endométrio. Se o endométrio medir menos de 4 mm,
então a paciente é de baixo risco para malignidade. Grandes estudos prospectivos já demonstraram que a espessura
endometrial ≤ 4 mm na ultrassonografia transvaginal em mulheres na pósmenopausa com sangramento implica risco
baixo de malignidade. Assim, para as pacientes pósmenopausa com sangramento, a biopsia não é indicada quando a
espessura endometrial for ≤ 4 mm, evitando assim diagnósticos invasivos (Wong et al., 2015).
A biopsia de endométrio é um procedimento ambulatorial e uma das primeiras etapas no diagnóstico de câncer de
endométrio nas mulheres com sangramento pósmenopausa. A biopsia é realizada com um cateter de aspiração
endometrial, que é introduzido através do colo de útero até a cavidade uterina, e são coletadas amostras de tecido. A
sensibilidade e a especificidade da biopsia tendem a ser na faixa de 95% para detecção de câncer de endométrio ou outras
patologias (King et al., 2015).
Conforme indicado anteriormente, o estadiamento é o processo de observar todas as informações que os médicos têm
sobre o tumor para determinar a capacidade de o câncer se espalhar. O estágio de um câncer de endométrio é o fator mais
importante na escolha do plano de tratamento. Ele pode se espalhar localmente para outras partes do útero
ou regionalmente para os linfonodos regionais. Os linfonodos regionais são encontrados na pelve e mais longe, ao longo
da aorta. Finalmente, o câncer pode espalharse (metatastizar) para linfonodos ou órgãos distantes, como pulmão, fígado,
osso, encéfalo e outros.
No estágio I, o tumor está confinado ao corpo do útero. No estágio II, se espalhou para o colo do útero, mas não para
fora do útero. No estágio III, já se propagou local e regionalmente. No estágio IV, invadiu a mucosa da bexiga e a do
intestino, com metástases distantes para os pulmões, fígado e ossos (International Federation of Gynecology and
Obstetrics, 2015).
Conduta terapêutica
Tipicamente, o estágio da doença orienta o tratamento. Geralmente envolve cirurgia com terapia adjuvante, com base nos
achados histopatológicos. Mais frequentemente, a cirurgia envolve a remoção do útero (histerectomia) e das tubas uterinas
e dos ovários (salpingoooforectomia). A remoção das tubas uterinas e dos ovários é recomendada porque as células
tumorais se espalham precocemente para os ovários, e as células cancerosas quiescentes poderiam ser estimuladas a
crescer pelo estrogênio ovariano. Nos cânceres mais avançados, a radioterapia e a quimioterapia são utilizadas como
coadjuvantes para a cirurgia. Os intervalos de vigilância de rotina para cuidados de acompanhamento são tipicamente a
cada 3 a 4 meses nos dois primeiros anos, visto que 85% das recorrências acontecem nos primeiros 3 anos após o
diagnóstico (Brennan et al., 2015).
Avaliação de enfermagem
Faça uma anamnese completa da mulher, verificando a sua queixa principal. Mais comumente, o principal sinal inicial do
câncer de endométrio é o sangramento vaginal indolor e anormal. Obtenha a história menstrual e pergunte se a paciente
está fazendo uso de hormônios. Verifique também se existe história pessoal ou familiar de câncer de mama, de ovário ou
de cólon. Essas informações cruciais ajudarão na identificação das mulheres que correm alto risco de câncer de
endométrio.
Anote!
Qualquer episódio de sangramento vermelhovivo que ocorra após a menopausa deve ser investigado. O sangramento
uterino anormal raramente é decorrente de malignidade uterina na mulher jovem, mas após a menopausa deve ser
considerado suspeito.
Revise também a história patológica pregressa da mulher à procura de fatores de risco, incluindo:
• Nuliparidade
• Obesidade (mais de 25 kg acima do peso ideal)
• Doença hepática
• Infertilidade
• Diabetes melito
• Hipertensão arterial
• História pregressa de irradiação pélvica
• Síndrome do ovário policístico (SOP)
• Menarca precoce (antes dos 12 anos)
• Dieta hiperlipídica
• Uso prolongado de estrogênio exógeno (sem progesterona associada) com o útero intacto
• Hiperplasia endometrial
• História familiar de câncer de endométrio
• História patológica pregressa de câncer de cólon hereditário sem polipose
• História patológica pregressa de câncer de mama, do cólon ou do ovário
• História patológica pregressa de miomas uterinos
• Início tardio da menopausa (após 52 anos)
• Uso de tamoxifeno
• Anovulação crônica (Moses, 2015).
Avalie se a mulher apresenta manifestações adicionais, como dispareunia, dor lombar, corrimento genital purulento,
disúria, dor pélvica, perda de peso e alteração dos ritmos vesical e intestinal. Essas manifestações sugerem doença
avançada.
Realize um exame físico ou, conforme o caso, auxilie no exame ginecológico. Observe se há corrimento vaginal.
Observe qualquer mudança no tamanho, no formato ou na consistência do útero ou das estruturas vizinhas ou nos relatos
de dor da paciente durante o exame. Antecipe a necessidade de ultrassonografia transvaginal para identificar a hiperplasia
endometrial (geralmente superior a 4 mm) e biopsia do endométrio para identificar células malignas.
Conduta de enfermagem
Certifiquese de que a mulher tenha compreendido todas as opções de tratamento. Solucione quaisquer dúvidas que a
mulher expressar, inclusive questões sobre sexualidade. Certifiquese de que as consultas de acompanhamento estejam
programadas adequadamente. Encaminhe a paciente a um grupo de apoio. Ofereça à mulher e aos familiares explicações e
apoio emocional ao longo de todo o processo.
Oriente a paciente sobre as medidas preventivas ou cuidados de acompanhamento, se ela tiver sido tratada de câncer.
As orientações podem ser a ferramenta mais importante atualmente disponível para a detecção precoce do câncer de
endométrio. Muitos fatores de risco para o câncer de endométrio são modificáveis ou tratáveis, incluindo obesidade,
hipertensão arterial e diabetes melito. Orientar as mulheres em relação aos fatores de risco e modos de diminuir os riscos
é essencial para que as mulheres possam conhecer seu próprio risco e possam tornarse parceiras na luta contra o câncer
ginecológico (Diretrizes de ensino 8.2).
Diretrizes de ensino 8.2
Medidas de prevenção e acompanhamento do câncer de endométrio
• Agendar exames ginecológicos regulares após os 21 anos de idade
• Procurar o médico para avaliação precoce de qualquer sangramento anormal após a menopausa
• Manter uma dieta hipolipídica ao longo da vida
• Exercitarse diariamente
• Controlar o peso corporal para desencorajar estados hiperestrogênicos, que predispõem à hiperplasia
endometrial
• A gravidez serve como um fator de proteção, reduzindo o estrogênio
• Perguntar ao seu médico sobre o uso de contraceptivos que combinem estrogênio e progestina
• Quando forem usados contraceptivos orais combinados para facilitar a eliminação regular do
revestimento uterino, tomar medidas de redução de riscos
• Conhecer os fatores de risco para o câncer de endométrio e fazer as modificações necessárias
• Comunicar qualquer um dos seguintes sinais e sintomas imediatamente:
• Sangramento vivo ou em borra de café após relação sexual
• Sangramento que dure mais de 1 semana
• Reaparecimento do sangramento após 6 meses ou mais sem menstruar
• Após o tratamento do câncer, agendar consultas de acompanhamento para os anos seguintes
• Após o tratamento do câncer, comunicarse frequentemente com o seu médico a respeito de sua
condição
• Após a cirurgia, manter o peso saudável
A biopsia endometrial de Carmella revela adenocarcinoma do endométrio. Seu médico recomendou cirurgia
e radioterapia adjuvante. Quanto tempo Carmella vai precisar de acompanhamento após a cirurgia? Que
mudanças de estilo de vida o enfermeiro precisa abordar com Carmella?
CÂNCER DO COLO DO ÚTERO
O câncer do colo do útero é a malignidade encontrada no colo uterino. É a terceira neoplasia maligna mais comum em
mulheres nos EUA, sendo os mais comuns os cânceres de endométrio e de ovário. A ACS estima que em 2018 serão
diagnosticados aproximadamente 13.240 casos de câncer invasivo do colo do útero nos EUA e que cerca de 4.170 dessas
mulheres morrerão por conta desse câncer. Alguns pesquisadores estimam que o câncer não invasivo do colo do útero
(carcinoma in situ) é cerca de quatro vezes mais comum do que o câncer invasivo do colo do útero. A taxa de sobrevida
em 5 anos para todos os estágios do câncer de colo do útero é de 72% (ACS, 2015g). O câncer do colo do útero é 5 a 8
vezes mais comum em mulheres com infecção pelo HIV ou com AIDS do que naquelas que não são portadoras desse
vírus. Nos EUA, é mais provável que mulheres hispânicas tenham câncer de colo de útero, seguidas pelas afro
americanas, asiáticas, oriundas das ilhas do Pacífico e brancas. O câncer de colo de útero ainda é uma doença associada a
disparidade socioeconômica. As elevadas taxas de mortalidade das minorias indicam a existência de barreiras ao acesso à
assistência de saúde das pessoas vivendo em condições de pobreza. As mulheres hispânicas também apresentam as taxas
mais altas de pobreza, acesso insatisfatório à assistência de saúde e barreiras de idioma e culturais. As barreiras ao
rastreamento e à prevenção do câncer do colo do útero incluem a procrastinação, o medo de descobrir que têm câncer e o
constrangimento de fazer um teste de Papanicolaou. Além disso, a maioria tem pouco ou nenhum conhecimento sobre o
HPV e sua relação com o câncer (Strohl et al., 2015).
A incidência e as taxas de mortalidade do câncer do colo do útero têm diminuído sensivelmente nas últimas décadas,
com a maior parte da redução atribuída ao esfregaço vaginal, que detecta o câncer do colo do útero e lesões précancerosas.
O esfregaço vaginal é um procedimento utilizado para a obtenção de células do colo do útero para o rastreamento
citológico. O câncer do colo do útero é um dos cânceres mais tratáveis quando detectado precocemente (ACS, 2015g).
O Healthy People 2020 identifica vários objetivos que abordam o câncer do colo do útero (boxe Healthy People 2020 8.1)
(U.S. Department of Health & Human Services, 2015). O câncer do colo do útero tende a ocorrer na meiaidade. A
maioria dos casos é encontrada em mulheres com menos de 50 anos de idade. Raramente ocorre em mulheres com menos
de 20 anos. Muitas mulheres idosas não se dão conta de que o risco de desenvolver câncer do colo do útero ainda existe
conforme envelhecem. Nos EUA, a probabilidade de uma mulher desenvolver câncer do colo do útero é de
aproximadamente 1 em 120, mas essa estatística depende da idade; a maior incidência é em mulheres de 40 a 49 anos de
idade (Sawaya et al., 2015).
Fisiopatologia
O câncer do colo do útero começa com alterações anormais no revestimento celular ou superfície do colo do útero.
Tipicamente, essas alterações ocorrem na junção escamocolunar do colo do útero. Aqui, as células epiteliais secretoras
cilíndricas (colunares) encontram as células epiteliais achatadas protetoras (escamosas) da parte exterior do colo do útero e
da vagina, no que é chamado de zona de transformação. A substituição contínua das células epiteliais colunares por células
epiteliais escamosas nessa área faz com que essas células fiquem vulneráveis a tomar o material genético estranho ou
anormal (ACS, 2015h). A Figura 8.4 mostra a fisiopatologia do câncer do colo do útero.
A infecção pelo HPV tem de existir para que ocorra o câncer de colo de útero. As infecções pelo HPV ocorrem em
uma elevada porcentagem de mulheres sexualmente ativas, contudo, uma resposta imune bemsucedida resulta em controle
viral ou eliminação do HPV. A maioria das pessoas que têm HPV é assintomática e, portanto, não percebe que tem o
vírus. Mais de 90% dos cânceres do colo do útero espinocelulares contêm DNA de HPV, e o vírus agora é reconhecido
como um fator causal do desenvolvimento do câncer do colo do útero e seu precursor, a displasia do colo do útero
(crescimento desordenado de células anormais). Visto que apenas uma pequena proporção de infecções pelo HPV evolui
para câncer, outros fatores estão necessariamente envolvidos no processo de carcinogênese.
Healthy People 2020 • 8.1
Objetivos Importância para a enfermagem
C3 Reduzir a taxa de morte • Ajudará a melhorar as taxas de
por câncer de mama mortalidade e a qualidade de vida para
feminino as mulheres, além de reduzir os custos
de saúde relacionados com o tratamento
C4 Reduzir a taxa de
de doenças malignas
mortalidade por câncer do
colo do útero • Ajudará a promover o rastreamento e a
detecção precoce. O National Institutes
C10 Reduzir o câncer do
of Health (2015) relatou que 50% das
colo do útero invasivo
mulheres diagnosticadas com câncer do
C11 Reduzir o câncer de colo do útero invasivo nunca fizeram um
mama feminino em estágio esfregaço vaginal e 10% não o fizeram
terminal nos últimos 5 anos
C15 Aumentar a proporção • Aumentará a conscientização em relação
de mulheres que recebem à prevenção e ao rastreamento do
rastreamento para o câncer câncer em nível local e nacional para
do colo do útero com base melhorar e promover a saúde de todas
nas diretrizes mais recentes as mulheres
C17 Aumentar a proporção • Reduzirá a quantidade de novos casos
de mulheres que realizam de câncer, assim como a doença, a
rastreamento para o câncer incapacidade e a morte causada pelo
de mama com base nas câncer
diretrizes mais recentes
• Refletirá a importância de promover o
C18 Aumentar a proporção rastreamento baseado em evidências do
de mulheres que foram câncer do colo do útero e de mama nas
aconselhadas sobre o menores taxas de mortalidade
rastreamento para o câncer
com mamografia e esfregaço
vaginal, de acordo com as
diretrizes atuais
C20 Aumentar a proporção
de pessoas que participam
de comportamentos que
reduzam sua exposição à
radiação ultravioleta (UV) e
evitam queimaduras solares
Observação: Todos os objetivos para o câncer projetam melhora de 10% a partir da linha de base em
2020. Objetivos do Healthy People com base em dados de http://www.healthypeople.gov.
FIGURA 8.4 Câncer do colo do útero. (Ilustração retirada de The Anatomical Chart Company. [2009]. Atlas of
Pathophysiology [3rd ed.]. Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins.)
Rastreamento e diagnóstico
O rastreamento do câncer do colo do útero é muito efetivo, porque o achado de uma lesão precursora, a neoplasia
intraepitelial do colo do útero, ajuda a determinar se são necessários mais exames. As lesões começam como displasia e
evoluem de modo previsível durante um longo período, possibilitando uma ampla oportunidade para a intervenção em um
estágio précanceroso. A progressão da displasia de baixo grau para alto grau demora em média 9 anos; a progressão da
displasia de alto grau para câncer invasivo demora até 2 anos. Postulouse que três fatores principais influenciam a
progressão da displasia de baixo grau para alto grau. Estes incluem o tipo e a duração da infecção viral, com o tipo de
HPV de alto risco e a infecção persistente prevendo maior risco de progressão; condições do hospedeiro que
comprometem a imunidade, como multiparidade ou mau estado nutricional; e fatores ambientais, como tabagismo, uso de
contraceptivos orais ou deficiências de vitaminas. Além disso, vários fatores ginecológicos, incluindo a idade da menarca,
a idade da primeira relação sexual e o número de parceiros sexuais, aumentam significativamente o risco de câncer do colo
do útero (Broadman & Matthews, 2015).
O uso generalizado do esfregaço vaginal levou à economia de dezenas de milhares de vidas de mulheres e diminuiu as
mortes por câncer do colo do útero. A realização do exame citopatológico de rotina de todas as mulheres sexualmente
ativas tem sido um dos métodos de rastreamento primário para a detecção precoce de irregularidades cervicais relacionadas
com o HPV, mostrandose crucial para a prevenção do câncer do colo do útero.
Apesar do seu excelente histórico de sucesso como ferramenta de rastreamento para o câncer do colo do útero (que
detecta cerca de 90% das alterações cancerígenas precocemente), o exame de esfregaço vaginal convencional tem uma taxa
de falsonegativo de 20%. Anormalidades de alto grau não detectadas pelo rastreamento humano são frequentemente
detectadas por instrumentos computadorizados (NCI, 2015g). Assim, foram desenvolvidas muitas tecnologias para
melhorar a sensibilidade e a especificidade do esfregaço vaginal, incluindo:
• ThinPrep: nessa técnica em meio líquido, a amostra do colo do útero é colocada em um frasco de solução
conservante, em vez de em uma lâmina de vidro
• Repetição do rastreamento de amostras cervicais automatizado assistido por computador (Autopap): tecnologia de
tomada de decisão baseada em algoritmo identifica lâminas que devem ser reavaliadas por citopatologistas pela seleção
de amostras que ultrapassam certo limiar para a probabilidade de células anormais
• Tipagem do DNA do HPV (captura híbrida): esse sistema usa a associação entre determinados tipos de HPV (16, 18,
31, 33, 35, 45, 51, 52 e 56) e o desenvolvimento do câncer do colo do útero. Ele é capaz de identificar os tipos de
HPV de alto risco e melhora a detecção e o tratamento
• Tecnologia assistida por computador (Cytyc CDS1000, AutoCyte, AcCell): esses instrumentos computadorizados
conseguem detectar células anormais que às vezes passam despercebidas pelos tecnólogos (CDC, 2015d).
A alta taxa de resultados falsonegativos também pode ser decorrente de outros fatores, incluindo erros na coleta de
amostras do colo do útero, na preparação da lâmina e na preparação da paciente. Embora em termos nacionais o
rastreamento cervical baseado no exame citológico tenha sido útil na identificação de células cervicais anormais, a
sensibilidade do exame citológico para lesões precursoras de alto grau é limitada. Além disso, o adenocarcinoma e seus
precursores com frequência não são detectados no exame citológico. A percepção atual de que a infecção pelo HPV é o
agente causal do câncer de colo de útero e seus precursores levou ao desenvolvimento de testes moleculares para a
detecção do HPV. Atualmente existem fortes evidências que apoiam a pesquisa de HPV como medida preventiva de câncer
de colo de útero. É evidente que o HPV pode ser detectado no exame de urina e isso poderia se tornar uma ferramenta útil
no rastreamento do câncer de colo de útero e nos esforços de monitoramento do HPV. Os enfermeiros precisam se manter
atualizados com os avanços mais recentes de pesquisa, assim como com as fraquezas e forças de vários métodos de
rastreamento (Fontenot, 2015).
Embora as organizações médicas profissionais discordem quanto à frequência recomendada para o rastreamento do
câncer do colo do útero, o ACOG (2015) recomenda que este deve começar a ser feito aos 21 anos de idade
(independentemente do histórico sexual), já que as mulheres abaixo dessa idade estão em risco muito baixo de câncer.
Além disso, a ACOG aconselha a realização de esfregaços de Papanicolaou a cada 3 anos para as mulheres com 21 a 29
anos de idade e a cada 3 anos para mulheres com 30 a 65 anos de idade. O esfregaço de Papanicolaou deve ser associado a
pesquisa de HPV a cada 5 anos no caso das mulheres entre 30 e 65 anos de idade. O rastreamento do câncer de colo de
útero pode ser interrompido após os 65 anos de idade, desde que as mulheres tenham um histórico adequado de
rastreamento. As mulheres histerectomizadas não devem ser rastreadas. As mulheres que foram vacinadas contra o HPV
devem ser rastreadas segundo as mesmas diretrizes das mulheres que não foram vacinadas. Além disso, as mulheres
devem ter uma compreensão clara dos resultados dos esfregaços vaginais e das diretrizes de acompanhamento. As
mulheres de alto risco devem continuar fazendo o esfregaço vaginal anualmente durante toda a sua vida (Tabela 8.2).
Os resultados do esfregaço vaginal são classificados de acordo com o Sistema de Bethesda (Boxe 8.1), que fornece
uma terminologia de diagnóstico uniforme que possibilita a comunicação entre o laboratório e o médico. As informações
fornecidas pelo laboratório são divididas em três categorias: adequação da amostra, categorização geral dos achados
citológicos e interpretação/resultado (ACS, 2015h).
Tabela 8.2 Diretrizes do Papanicolaou.
Primeiro O rastreamento do câncer de colo do útero deve começar aos 21
teste anos de idade. Mulheres com menos de 21 anos de idade não
devem ser testadas
21 a 30 anos O esfregaço de Papanicolaou deve ser feito a intervalo de 3 anos. A
de idade pesquisa de HPV não deve ser realizada nesse grupo etário a
menos que seja necessária após um resultado anormal no
esfregaço de Papanicolaou
30 a 65 anos O esfregaço de Papanicolaou mais um teste de HPV deve ser
de idade realizado a intervalos de 5 anos. Essa é a abordagem preferida,
mas fazer um esfregaço de Papanicolaou a cada 3 anos também é
uma conduta aceitável
65 anos de Mulheres com resultados normais dos exames regulares do colo do
idade ou útero não devem ser testadas para câncer de colo do útero. As
mais mulheres com história pregressa de graves lesões précancerosas
no colo do útero devem continuar os testes durante pelo menos 20
anos após esse diagnóstico, mesmo se ultrapassar a idade de 65
anos
Vacinação As mulheres que foram vacinadas contra HPV devem seguir as
contra recomendações de rastreamento para seu grupo etário
HPV
Adaptada de American Cancer Society [ACS]. (2015b). American Cancer Society
guidelines for the early detection of cancer. Retirada
de http://www.cancer.org/healthy/findcancerearly/cancerscreeningguidelines/american
cancersocietyguidelinesfortheearlydetectionofcancer.
Conduta terapêutica
O tratamento para o esfregaço vaginal anormal depende da gravidade dos resultados e da história patológica pregressa da
mulher. As escolhas terapêuticas envolvem destruir o máximo possível de células afetadas. Graças ao advento da terapia
com múltiplas modalidades para o câncer de colo de útero, muitas mulheres se tornarão sobreviventes a longo prazo com
necessidade de cuidados abrangentes de monitoramento. Obesidade e tabagismo são comorbidades significativas que
podem complicar a prestação de cuidados às sobreviventes do câncer de colo de útero. Os profissionais de enfermagem
podem focar suas intervenções na modificação desses fatores de risco para aumentar a qualidade de vida das sobreviventes
do câncer de colo de útero. O Boxe 8.2 descreve as opções de tratamento.
Usando o Sistema de Bethesda, foram desenvolvidas as diretrizes de manejo a seguir para resultados anormais de
esfregaço vaginal (Papanicolaou) pela NCI para fornecer orientação aos médicos e pacientes:
• ASCUS: repetir o esfregaço vaginal em 4 a 6 meses ou encaminhar para colposcopia
• ASCH: encaminhar para colposcopia com solicitação de teste para HPV
• Células glandulares atípicas (CGA) e adenocarcinoma in situ (AIS): colposcopia imediata; o acompanhamento baseia
se nos resultados.
BOXE 8.1
SISTEMA DE BETHESDA PARA CLASSIFICAÇÃO DOS ESFREGAÇOS DE PAPANICOLAOU
Tipo de amostra: esfregaço vaginal convencional vs. em base líquida
Adequação da amostra: satisfatória ou insatisfatória para avaliação
Categorização geral: (opcional)
• Negativo para lesão intraepitelial ou malignidade
• Anormalidade em células epiteliais. Veja interpretação/resultado
Análise automática: se a lâmina foi examinada por dispositivo automático ou não
Exames complementares: fornecem breve descrição dos métodos de ensaio e relatam os resultados de
modo que o médico possa entender
Interpretação/Resultado:
• Negativo para lesão intraepitelial ou malignidade
• Microrganismos: Trichomonas vaginalis; fungos; vaginose bacteriana; herpesvírus simples (HSV)
• Outros achados não neoplásicos: alterações celulares reativas associadas a inflamação, radiação,
dispositivos intrauterinos, atrofia
• Outros: células endometriais em mulher > 40 anos de idade
• Alterações nas células epiteliais:
• Células escamosas
• Células escamosas atípicas
• De significado indeterminado (ASCUS)
• Não é possível descartar a possibilidade de HSIL (ASCH)
• Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL)
• Abrange HPV/displasia leve/CIN1
• Lesão intraepitelial escamosa de alto grau (HSIL)
• Abrange displasias moderada e grave CIS/CIN2 e CIN3
• Com características que levam a suspeita de invasão
• Carcinoma espinocelular
• Células glandulares: atípicas
• Células endocervicais, endometriais ou glandulares
• Células endocervicais – favorecem a existência de neoplasia
• Células glandulares – favorecem a existência de neoplasia
• Adenocarcinoma endocervical in situ
• Adenocarcinoma
• Endocervical, endometrial, extrauterino
• Outras neoplasias malignas (especificar)
Notas de instrução e sugestões: (opcional)
Adaptado de American Society of Cytopathology. (2015). The Bethesda System for reporting cervical
cytology: Definitions, criteria and explanatory notes. Retirado de http://www.cytopathology.org/the
bethesdasystemforreportingcervicalcytologydefinitionscriteriaandexplanatorynotes3rdedition/;
National Cancer Institute [NCI]. (2015 k). Cervical cancer prevention. Retirado
de http://www.cancer.gov/cancertopics/pdq/prevention/cervical/Patient/page3; e Schuiling, K. D., & Likis, F.
E. (2016). Women’s gynecologic health (3rd ed.). Sudbury, MA: Jones & Bartlett.
Colposcopia é um exame microscópico do sistema genital inferior utilizando um instrumento de ampliação chamado
colposcópio. Podem ser visualizados padrões específicos de células que se correlacionam bem com determinados achados
histológicos.
BOXE 8.2
OPÇÕES DE TRATAMENTO PARA O CÂNCER DO COLO DO ÚTERO
• Crioterapia: destrói o tecido do colo do útero anormal por congelamento com nitrogênio líquido,
Freon®ou óxido nitroso. Estudos mostram taxa de cura de 90% (NCI, 2015g). A cura leva até 6
semanas, e a paciente pode apresentar corrimento vaginal aquoso abundante durante 3 a 4 semanas
• Conização (biopsia em cone): remoção de uma secção em forma de cone de tecido do colo do útero.
A base do cone é formada pela ectocérvix (parte externa do colo do útero), e a ponta ou vértice do cone
localizase no canal endocervical. A zona de transformação está contida na amostra de cone. A
conização é também um tratamento e pode ser usada para remover completamente quaisquer pré
cânceres e o câncer em fase muito precoce. Utilizamse dois métodos para as conizações:
• LEEP (excisão eletrocirúrgica por alça, loop electrosurgical excision procedure) ou LLETZ
(exérese da zona de transformação por grande alça, large loop excision of the transformation zone): o
tecido anormal do colo do útero é removido com um fio aquecido por uma corrente elétrica. Para esse
procedimento, utilizase um anestésico local. É realizado no consultório médico, em cerca de 10 minutos.
Cólicas leves e sangramento podem persistir por várias semanas após o procedimento
• Conização a frio: utilizase um bisturi cirúrgico ou um laser em vez de um fio aquecido para remover o
tecido. Esse procedimento exige anestesia geral e é feito em ambiente hospitalar. Após o procedimento,
cólicas e sangramento podem persistir por algumas semanas
• Tratamento com laser: destrói o tecido do colo do útero lesionado, usando um feixe concentrado de luz
de alta energia para vaporizálo. Após o procedimento, a mulher pode apresentar corrimento castanho
aquoso durante algumas semanas. Muito efetivo na destruição de précânceres e na prevenção da
evolução para câncer
• Histerectomia: remoção cirúrgica do útero e do colo do útero
• Radioterapia: aplicações internas de radiação ao colo do útero ou radioterapia externa, que inclui os
vasos linfáticos da pelve
• Quimioirradiação: sessão semanal com cisplatina concomitante à radioterapia. As pesquisas a respeito
dessa modalidade terapêutica estão em andamento (ACS, 2015h)
Avaliação de enfermagem
Fazer anamnese meticulosa e exame físico da mulher. Investigar a história patológica pregressa à procura de fatores de
risco, como:
• Idade precoce na primeira relação sexual (nos primeiros 12 meses após a menarca)
• Nível socioeconômico mais baixo
• Parceiros masculinos promíscuos
• Relação sexual desprotegida
• História familiar de câncer do colo do útero (mãe ou irmãs)
• Relações sexuais com homens não circuncidados
• A mãe fez uso de dietilestilbestrol (DES)
• Infecções por herpes genital ou clamídia crônica
• Múltiplos parceiros sexuais
• Tabagismo
• Estados imunodeprimidos
• Infecção pelo HIV
• Uso de contraceptivos orais
• Displasia moderada em esfregaço vaginal nos últimos 5 anos
• Infecção por HPV (CDC, 2015e).
Questione a mulher a respeito dos sinais e sintomas. Clinicamente, o primeiro sinal é um sangramento vaginal
anormal, geralmente após uma relação sexual. Também esteja alerta para relatos de desconforto vaginal, corrimento fétido
e disúria. Em alguns casos, a mulher encontrase assintomática, com a detecção ocorrendo no exame ginecológico anual e
no esfregaço vaginal.
Realize um exame físico. Inspecione a área perineal à procura de corrimento vaginal ou verrugas genitais. Execute ou
auxilie no exame ginecológico, incluindo a coleta de esfregaço vaginal, conforme indicado (Procedimento de enfermagem
8.1).
Anote!
Suspeite de câncer do colo do útero avançado em mulheres com dor pélvica, nas costas ou nas pernas, perda de peso,
anorexia, fraqueza, fadiga e fraturas.
Prepare a mulher para mais exames complementares, se indicado, como uma colposcopia. Nesse exame, a mulher é
colocada na posição de litotomia, e o colo do útero é lavado com uma solução de ácido acético. O ácido acético faz com
que as células anormais fiquem brancas, que é referido como acetobranco. Essas áreas brancas são então biopsiadas e
enviadas ao patologista para avaliação. Embora esse teste não seja doloroso, tem efeitos colaterais menores (pequenas
hemorragias, cólicas e risco de desenvolver infecção após a biopsia) e pode ser realizado com segurança no ambulatório ou
no consultório. As mulheres podem ficar apreensivas ou preocupadas com isso, porque esse exame é feito para identificar
e confirmar o potencial de crescimento de células anormais. Alguns médicos solicitam que a mulher seja prémedicada
com um analgésico leve, como o ibuprofeno, antes de ser submetida ao procedimento.
PROCEDIMENTO DE ENFERMAGEM 8.1
Como auxiliar na coleta de um esfregaço vaginal
Objetivo: obter células do colo do útero para rastreamento citológico
1. Explicar o procedimento à paciente (Figura A)
2. Orientar a paciente a urinar
3. Lavar bem as mãos
4. Reunir o material necessário, mantendo sua esterilização (Figura B)
5. Posicionar a paciente, de modo que os joelhos pendam para fora (apoiados nos estribos)
6. Cobrir a paciente com um lençol para garantir sua privacidade, recobrindo o abdome, mas deixando a
área perineal exposta
7. Abrir as embalagens, quando necessário
8. Incentivar a paciente a relaxar
9. Fornecer apoio à paciente enquanto o médico coleta a amostra abrindo os lábios do pudendo; inserindo
o espéculo; inserindo a escova citológica e esfregando a endocérvice; e inserindo a espátula plástica e
raspando o colo do útero (Figuras C a H).
10. Transferir a amostra para o recipiente (Figura I) ou lâmina. Se for utilizada uma lâmina, espargir o
fixador segurando a lâmina a aproximadamente 30,5 cm de distância
11. Colocar lubrificante estéril na ponta do dedo do médico quando indicado, para o exame bimanual
12. Lavar bem as mãos
13. Rotular a amostra de acordo com a política da instituição
14. Lavar o material reutilizável e eliminar os resíduos de modo adequado (Figura J)
15. Lavar bem as mãos
16. Ajudar a paciente a se levantar após o término do exame
Adaptado de King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Gegor, C. L., & Varney, H.
(2015). Varney’s midwifery (5th ed.). Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning; e Schuiling, K. D., & Likis,
F. E. (2016). Women’s gynecologic health (3rd ed.). Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning.
Conduta de enfermagem
O papel do enfermeiro envolve a prevenção primária, orientando as mulheres sobre os fatores de risco e os modos de
prevenir a displasia do colo do útero. As taxas de câncer do colo do útero têm diminuído nos EUA por causa do uso
generalizado do teste de esfregaço vaginal, que pode detectar lesões précancerosas do colo do útero antes que se
transformem em câncer.
Domínio de conceito
Prevenção do câncer do colo do útero
Os pontoschave a serem lembrados na prevenção do câncer de colo de útero são abandono do
tabagismo, limitação do consumo de bebidas alcoólicas e encorajamento das adolescentes a
postergar o início da atividade sexual.
Gardasil® e Cervarix® são vacinas aprovadas pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA para proteger
meninas e mulheres do HPV e, assim, prevenir o câncer do colo do útero. As vacinas previnem a infecção por quatro tipos
de HPV: HPV 6, 11, 16 e 18. Esses tipos são responsáveis por 70% dos cânceres do colo do útero e 90% das verrugas
genitais (NCI, 2015h). Os ensaios clínicos indicam que a vacina tem alta eficácia na prevenção da infecção persistente por
HPV, lesões precursoras do câncer do colo do útero, lesões precursoras de cânceres vaginal e vulvar e verrugas genitais
(NCI, 2015h). A vacina é administrada por via intramuscular, e o cronograma recomendado é uma série de três doses,
com a segunda e a terceira doses administradas 2 e 6 meses após a primeira dose. A idade recomendada para a vacinação
de mulheres é de 9 a 26 anos (Castle & Schmeler, 2015). As vacinas protegem contra a infecção por esses tipos de HPV
durante 6 a 8 anos. Não se sabe se a proteção dura mais tempo. As vacinas não protegem as mulheres que já estejam
infectadas pelo HPV (NCI, 2015h). No entanto, a vacina não substitui o rastreamento de rotina do câncer do colo do útero,
e as mulheres vacinadas devem fazer o esfregaço vaginal conforme recomendado.
Concentre as orientações de prevenção primária nos seguintes pontos:
• Identificar comportamentos de alto risco em pacientes e orientálas sobre como reduzir esses comportamentos
• Tomar medidas para evitar as DST/IST
• Evitar a atividade sexual precoce
• Usar fielmente os métodos de contracepção de barreira
• Evitar fumar e beber
• Receber a vacina contra HPV
• Instruir as mulheres sobre a importância do rastreamento do câncer do colo do útero por meio do esfregaço vaginal
anual. Delinear a preparação adequada antes de realizar esse exame (Diretrizes de ensino 8.3). Reforçar as diretrizes
específicas para o rastreamento
• Interferir na avaliação visual da amostra (Schuiling & Likis, 2016).
Diretrizes de ensino 8.3
Estratégias para otimizar o teste de esfregaço vaginal
• Agendar a consulta para a realização do esfregaço vaginal cerca de 2 semanas (10 a 18 dias) após o
primeiro dia da sua última menstruação, para aumentar a chance de obter a melhor amostra de células
do colo do útero, sem menstruação
• Absterse de relações sexuais nas 48 horas anteriores ao exame, porque materiais adicionais, como
espermatozoides, podem obscurecer a amostra
• Não usar duchas nas 48 horas anteriores ao exame para não eliminar células do colo do útero que
podem ser anormais
• Não usar tampões, espumas anticoncepcionais, geleias, cremes vaginais ou medicamentos vaginais
nas 72 horas anteriores ao exame, porque eles poderiam encobrir ou obscurecer a amostra de células
do colo do útero
• Cancelar o esfregaço vaginal em caso de sangramento vaginal, porque as células sanguíneas
interferem na avaliação visual da amostra
O enfermeiro também pode defender sua paciente certificandose de que o esfregaço vaginal seja enviado a um
laboratório credenciado para interpretação. Isso reduz o risco de resultados falsonegativos. A identificação e o tratamento
das lesões précancerosas iniciais são cruciais para a prevenção do câncer de colo de útero. As medidas de prevenção
devem incluir a orientação das mulheres de que o risco de infecção pode ser reduzido pela postergação do início da
atividade sexual, pela redução do número de parceiros sexuais, pelo uso constante de preservativos e pela abstinência de
tabagismo.
A prevenção secundária foca a redução ou a limitação da zona de displasia do colo do útero. A prevenção terciária se
concentra em minimizar a incapacidade ou a propagação do câncer do colo do útero. Explique em detalhes todos os
procedimentos que possam ser necessários. Incentive a paciente que tenha sido submetida a qualquer tratamento do colo
do útero a permitir que a área pélvica fique em repouso por aproximadamente 1 mês. Discuta esse período de repouso com
a paciente e seu parceiro, para ganhar sua cooperação. Delineie alternativas ao coito vaginal, como fazer carícias, dar as
mãos e beijarse. Relembre a mulher sobre quaisquer procedimentos de acompanhamento importantes e ajudea a agendá
los, se necessário.
A prevenção terciária do câncer de colo de útero envolve o diagnóstico e o tratamento de casos confirmados de câncer.
O tratamento consiste, tipicamente, em cirurgia, radioterapia e, com frequência, quimioterapia. Cuidados paliativos são
prestados às pacientes que já atingiram um estágio incurável da doença. O enfermeiro, sabendo que a paciente e seus
familiares já foram informados do prognóstico dela, está em posição para apoiálos quando o impacto do diagnóstico for
finalmente absorvido.
Ao longo do processo, forneça apoio emocional à mulher e a sua família. Durante o processo de tomada de decisão, a
mulher pode sentirse oprimida pelo diagnóstico e por todas as informações que estão sendo apresentadas. Encaminhe a
mulher e sua família para os recursos da comunidade apropriados e grupos de apoio, conforme indicado. É essencial que
todas as mulheres recebam as informações corretas sobre práticas sexuais seguras, sejam informadas sobre o papel
preventivo da vacinação contra o HPV e sejam informadas sobre o papel do esfregaço vaginal como medida de
rastreamento secundária ao câncer do colo do útero. As demandas emocionais da paciente que recebe o diagnóstico de
câncer serão mais bem atendidas por uma personalidade amigável e uma atitude empática em vez de simpatia e
comunicação habilidosa. Os enfermeiros de todas as instituições estão em uma posição poderosa para atuarem como
defensores de práticas de cuidados de saúde seguras para mulheres, por meio da orientação individual, comunitária e
nacional.
CÂNCER DE VAGINA
Câncer de vagina é o crescimento de tecido maligno raro que ocorre na vagina. Apenas cerca de 1% de cada 1.100
mulheres desenvolverá câncer de vagina ao longo de suas vidas. Em 2018, a ACS estima que aproximadamente 5.170
novos casos de câncer de vagina serão diagnosticados nos EUA e cerca de 1.330 mulheres morrerão por causa desse
câncer. O NCI (2015i) estimou que seriam diagnosticados 4.000 novos casos em mulheres em 2015 e que cerca de 900
delas morreriam. A incidência máxima de câncer de vagina ocorre entre 60 e 65 anos de idade. O prognóstico do câncer de
vagina depende muito do estágio da doença e do tipo de tumor. A taxa de sobrevida global em 5 anos para o carcinoma
espinocelular é de cerca de 42%; para o adenocarcinoma, essa taxa é de cerca de 78% (NCI, 2015i). O câncer de vagina
pode ser efetivamente tratado; quando detectado precocemente, é curável.
Fisiopatologia
A etiologia do câncer de vagina não foi identificada. As doenças malignas da vagina são cânceres vaginais primários ou
formas metastáticas de órgãos adjacentes ou distantes. Cerca de 80% dos cânceres de vagina são metastáticos,
principalmente do colo uterino e do endométrio. Esses cânceres invadem diretamente a vagina. Os cânceres de locais
distantes que metastatizam para a vagina através do sistema sanguíneo ou linfático são tipicamente provenientes do cólon,
dos rins, da pele (melanoma) ou da mama. Os tumores da vagina ocorrem comumente na parede posterior e espalhamse
para o colo do útero ou para a vulva (NCI, 2015i).
O carcinoma espinocelular que começa no revestimento epitelial da vagina representa cerca de 85% dos cânceres de
vagina. Esse tipo de câncer geralmente ocorre em mulheres com mais de 50 anos de idade. O carcinoma espinocelular
evolui lentamente, durante um período de anos, geralmente no terço superior da vagina. Tende a espalharse precocemente
por meio de invasão direta da bexiga e das paredes do reto. Também metastatiza por meio do sistema sanguíneo e
linfático. Os 15% restantes são adenocarcinomas, que diferem do carcinoma espinocelular por aumento nas metástases
pulmonares e envolvimento dos linfonodos supraclaviculares e pélvicos (ACS, 2015j).
FIGURA 8.5 Câncer de vulva. (The Anatomical Chart Company. [2009]. Atlas of Pathophysiology [3rd ed.].
Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins.)
Conduta terapêutica
O tratamento do câncer de vagina depende do tipo de células envolvidas e do estágio da doença. Se o câncer estiver
localizado, podemse utilizar radioterapia e/ou cirurgia a laser. Caso tenha se espalhado, pode ser necessário cirurgia
radical, como histerectomia, ou remoção da parte superior da vagina com dissecção dos linfonodos pélvicos, além de
radioterapia.
Avaliação de enfermagem
Comece a anamnese e o exame físico analisando os fatores de risco. Embora os fatores de risco diretos para o
desenvolvimento inicial do câncer de vagina ainda não tenham sido identificados, os fatores de risco associados incluem
idade avançada (mais de 60 anos de idade), irradiação pélvica anterior, exposição intrauterina ao DES, traumatismo
vaginal, história pregressa de verrugas genitais (infecção por HPV), infecção pelo HIV, câncer do colo do útero,
corrimento vaginal crônico, tabagismo e baixo nível socioeconômico (ACS, 2015k).
Questione a mulher se ela tem algum sintoma. A maioria das mulheres com câncer de vagina é assintomática. Aquelas
com sinais e sintomas apresentam sangramento vaginal indolor (muitas vezes depois da relação sexual), corrimento
vaginal anormal, dispareunia, disúria, constipação intestinal e dor pélvica (NCI, 2015i). Durante o exame físico, observe
se existe corrimento vaginal óbvio ou verrugas genitais ou alterações na aparência da mucosa vaginal. Antecipe uma
colposcopia com biopsia de lesões suspeitas para confirmar o diagnóstico.
Conduta de enfermagem
A conduta de enfermagem para esse tipo de câncer é semelhante à de outros cânceres do sistema genital, com ênfase no
aconselhamento de sexualidade e encaminhamento para grupos de apoio locais. As mulheres submetidas a cirurgia radical
precisam de aconselhamento intensivo sobre a natureza da cirurgia, os riscos, as potenciais complicações, as alterações na
aparência física e na função fisiológica e alterações na sexualidade. Os enfermeiros devem focar seus cuidados na
orientação da paciente, no manejo da dor e dos sintomas da paciente, na comunicação com a paciente e seus familiares e na
coordenação dos cuidados em todo o espectro do atendimento.
CÂNCER DE VULVA
O câncer de vulva é uma neoplasia maligna na genitália feminina externa, inclusive o clitóris, os lábios vaginais e o
introito vaginal (Figura 8.5). O câncer de vulva representa aproximadamente 5% de todas as neoplasias malignas genitais
femininas. Nos EUA, as mulheres têm uma chance em 333 de desenvolver câncer de vulva em algum momento de suas
vidas. É o quarto câncer ginecológico mais comum, depois do câncer de endométrio, de ovário e do colo do útero (NCI,
2015j). A ACS estima que, em 2018, aproximadamente 6.190 cânceres de vulva serão diagnosticados nos EUA e
aproximadamente 1.200 mulheres morrerão por causa desse câncer. Quando detectado precocemente, é altamente curável.
Tipicamente, o câncer de vulva pode estar avançado por ocasião do diagnóstico, embora seja um câncer que pode ser visto
pela paciente como uma lesão/tumoração na região genital.
O câncer de vulva é mais comumente encontrado em mulheres idosas, por volta de 65 a 75 anos, mas a incidência em
mulheres com menos de 35 anos aumentou nas últimas décadas. A taxa de sobrevida global em 5 anos quando os
linfonodos não estão envolvidos é de 90%, mas cai para 50 a 70% quando os linfonodos foram invadidos (ACS, 2015m).
Fisiopatologia
O câncer de vulva pode ser classificado em dois grupos de acordo com os fatores predisponentes: o primeiro está
correlacionado com infecção por HPV e ocorre mais frequentemente em mulheres mais jovens. O segundo grupo não está
associado a infecção pelo HPV e ocorre em mulheres mais velhas sem distúrbios cancerosos. Aproximadamente 80% dos
tumores de vulva são carcinomas espinocelulares. Esse tipo de câncer se forma lentamente ao longo de vários anos e
geralmente é precedido por alterações précancerosas. Essas alterações précancerosas são denominadas neoplasia
intraepitelial vulvar (NIV). Os dois principais tipos de NIV são o clássico (indiferenciado) e o simples (diferenciado). O
NIV clássico, o mais comum, está associado à infecção por HPV (verrugas genitais causadas pelos tipos 16, 18, 31, 33,
35, 45 e 54) e ao tabagismo (Alkatout et al., 2015). Tipicamente ocorre em mulheres entre 30 e 40 anos de idade. Em
contraste com o NIV clássico, o NIV simples geralmente ocorre após a menopausa e não está associado ao HPV, mas à
irritação crônica ao longo do tempo (Cancer.Net, 2015b).
Rastreamento e diagnóstico
O exame anual da vulva é a maneira mais efetiva de prevenir o câncer de vulva. A inspeção cuidadosa da vulva durante os
exames ginecológicos anuais de rotina continua sendo a técnica de diagnóstico mais produtiva. O uso liberal de biopsias de
qualquer lesão vulvar suspeita geralmente é necessário para fazer o diagnóstico e guiar o tratamento. No entanto, muitas
mulheres não procuram avaliação de cuidados de saúde por meses ou anos depois de perceber uma protuberância anormal
ou lesão. As principais queixas iniciais das mulheres com câncer de vulva incluem dispareunia, longa história de prurido,
ulcerações na genitália externa, edema vulvar, sangramento vulvar e queixas urinárias (Alkatout et al., 2015). O
diagnóstico de câncer de vulva é feito por meio de uma biopsia da lesão suspeita, que geralmente é encontrada no lábio
maior do pudendo.
Anote!
A maioria das mulheres com câncer de vulva se queixa de prurido vulvar ou apresenta um nódulo. Os nódulos devem ser
biopsiados, mesmo que a mulher esteja assintomática.
Conduta terapêutica
O tratamento varia dependendo da extensão da doença. Pode ser usada cirurgia a laser, criocirurgia ou incisão
eletrocirúrgica. As lesões maiores podem precisar de uma cirurgia mais extensa e enxerto de pele. O tratamento tradicional
do câncer de vulva era a vulvectomia radical, mas técnicas mais conservadoras estão sendo usadas para melhorar os
resultados psicossexuais e reduzir a morbidade, sem comprometer a sobrevida (Forner, Dakhil, & Lampe, 2015).
Avaliação de enfermagem
Tipicamente, nenhum sinal ou sintoma clínico específico único prenuncia essa doença, de modo que o diagnóstico muitas
vezes é significativamente tardio. Portanto, é importante rever a história patológica pregressa da mulher à procura de
fatores de risco, como:
• Exposição ao HPV do tipo 16
• Idade acima de 50 anos
• Infecção pelo HIV
• NIV
• Líquen escleroso (dermatose inflamatória crônica)
• Melanoma ou nevos atípicos
• Exposição ao HSV do tipo 2
• Múltiplos parceiros sexuais
• Tabagismo
• Herpes simples
• História pregressa de câncer de mama
• Imunossupressão
• Hipertensão arterial
• Diabetes melito
• Obesidade (ACS, 2015n).
Na maioria dos casos, a mulher relata prurido, ardor e edema vulvares persistentes que não melhoram com o uso de
cremes ou pomadas. História pregressa de condiloma, gonorreia e infecção por herpesvírus simples são alguns dos
fatores de maior risco para NIV. O diagnóstico de carcinoma de vulva muitas vezes é tardio. As mulheres deixam de
procurar tratamento por média de 6 meses a contar do início dos sintomas. Além disso, atraso no diagnóstico muitas vezes
ocorre depois de a paciente chegar a seu médico. Em muitos casos, uma biopsia da lesão não é realizada até que o
problema não responda a diversos tratamentos tópicos. Durante o exame físico, observe qualquer massa ou espessamento
da região vulvar. Na maioria das vezes, observase um nódulo ou massa vulvar. A lesão vulvar geralmente é elevada e
pode ser carnuda, ulcerada, leucopláquica (parecida com placas brancas) ou verrucosa. O câncer pode aparecer em qualquer
lugar da vulva, embora em cerca de 75% dos casos ele surja principalmente nos lábios (Vargo & Beriwal, 2015). Menos
comumente, a mulher pode apresentar sangramento, corrimento, disúria e dor vulvar.
Conduta de enfermagem
As mulheres com câncer vulvar devem compreender claramente a sua doença, as opções de tratamento e o prognóstico.
Para alcançar esse objetivo, forneça informações e estabeleça uma comunicação eficaz com a paciente e sua família. Atue
como educadora e defensora.
Ensine a mulher sobre comportamentos de vida saudáveis, como parar de fumar, e medidas para reduzir fatores de
risco. Por exemplo, instrua a mulher a como examinar sua área genital, estimulandoa a fazêlo mensalmente entre os
períodos menstruais. Diga a ela para procurar mudanças na aparência (p. ex., manchas esbranquiçadas ou avermelhadas na
pele), alterações na sensibilidade (p. ex., áreas da vulva que se tornam pruriginosas ou dolorosas) ou desenvolvimento de
nódulos, nevos (p. ex., mudanças no tamanho, no formato ou na coloração), sardas, cortes ou feridas na vulva. Instigue a
mulher a relatar essas mudanças ao médico (ACS, 2015m).
Oriente a mulher a respeito de medidas preventivas, como não usar roupas apertadas nem perfumes e corantes na
região vulvar. Também a oriente a respeito do uso de métodos de barreira de controle de natalidade (p. ex., preservativos)
para reduzir o risco de contrair HIV, HSV e HPV. Outras medidas preventivas incluem postergar a primeira relação sexual,
evitar manter relações sexuais com múltiplos parceiros, não fumar ou abandonar o tabagismo caso seja uma fumante e
vacinarse contra HPV. No Brasil, a vacina é distribuída gratuitamente pelo SUS para meninas com 9 a 14 anos de idade,
meninos com 11 a 14 anos de idade, pessoas transplantadas com 9 a 26 anos de idade e pessoas HIVpositivas
(ver portalms.saude.gov.br/saudedeaz/hpv).
Para a mulher diagnosticada com câncer de vulva, forneça informações e apoio. Discuta possíveis mudanças na
sexualidade se for realizada uma cirurgia radical. Incentivea a comunicarse abertamente com seu parceiro. Encaminhea
aos recursos comunitários apropriados e a grupos de apoio. Ao longo de suas carreiras, todos os enfermeiros devem entrar
em contato com mulheres com o potencial de terem câncer, mulheres que já têm sinais ou sintomas suspeitos de câncer,
mulheres que já estão recebendo tratamento para câncer ou pacientes com câncer em estágio terminal. O enfermeiro deve
participar de todos os aspectos do cuidado em oncologia, desde o diagnóstico até os cuidados paliativos. Cada enfermeiro
tem como obrigação manterse informado sobre os avanços recentes no campo da oncologia para atuar de modo efetivo e
conseguir orientar as pacientes e seus familiares.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
As mulheres têm risco de um em três de desenvolver câncer ao longo da vida, e uma em cada quatro
mortes é causada pelo câncer; assim, os enfermeiros precisam concentrarse em rastrear e orientar
todas as mulheres, independentemente dos fatores de risco
O enfermeiro desempenha um papel fundamental em oferecer apoio emocional, determinar fontes
apropriadas de apoio e ajudar a mulher a usar estratégias eficazes de enfrentamento diante de um
diagnóstico de câncer do sistema genital. Embora o câncer do sistema genital seja raro durante a
gravidez, a vigilância da mulher e os exames de rastreamento de rotina devem continuar sendo
realizados
A sexualidade e a cultura da mulher estão inextricavelmente interligadas. É essencial que os
enfermeiros que trabalham com mulheres de culturas diferentes reconheçam isso e permaneçam
sensíveis às grandes mudanças que ocorrerão quando for anunciado o diagnóstico de câncer
O câncer de ovário é o oitavo tipo de câncer mais comum entre as mulheres e a quarta causa mais
comum de morte por câncer entre mulheres nos EUA, sendo responsável por mais mortes do que
qualquer outro câncer do sistema genital
O câncer de ovário tem sido descrito como “doença negligenciada” ou “assassino silencioso”, porque
as mulheres e os médicos costumam ignorar ou racionalizar seus primeiros sinais e sintomas.
Tipicamente é diagnosticado em estágios avançados
A incidência de câncer do colo do útero e as taxas de mortalidade diminuíram sensivelmente nas
últimas décadas, com a maior parte da redução sendo atribuída ao esfregaço vaginal, que detecta o
câncer do colo do útero e as lesões précancerosas
O papel do enfermeiro envolve a prevenção primária do câncer do colo do útero por meio da
orientação das mulheres em relação aos fatores de risco e às vacinas preventivas para evitar a
displasia do colo do útero
Cerca de 80% dos cânceres de vagina diagnosticados são metastáticos, principalmente do colo
uterino e do endométrio. Esses cânceres invadem diretamente a vagina. O diagnóstico de câncer de
vulva muitas vezes é significativamente tardio, porque não existe um sinal ou sintoma clínico único
característico que o denuncie. A manifestação mais comum é prurido vulvar persistente que não
melhora com a aplicação de cremes ou pomadas
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Exercícios sobre o capítulo
QUESTÔES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. Ao descrever o câncer de ovário a um grupo local de mulheres, o enfermeiro afirma que o câncer de
ovário muitas vezes não é diagnosticado precocemente porque:
a. A doença evolui muito lentamente
b. Os estágios iniciais provocam sinais e sintomas muito vagos
c. A doença geralmente é diagnosticada apenas na necropsia
d. As pacientes não buscam tratamento para a dor pélvica aguda
2. Uma mulher na pósmenopausa relata que começou a menstruar novamente. O que o enfermeiro deve
fazer?
a. Instruir a paciente a manter um diário menstrual pelos meses seguintes
b. Dizer a ela que não precisa se preocupar, uma vez que esse é um evento comum, mas não é grave
c. Solicitar a ela que comece a realizar duchas de água quente para promover a cura
d. Antecipar que o médico avaliará a espessura de seu endométrio
3. Qual das seguintes opções o enfermeiro identificaria como a necessidade psicossocial prioritária para
as mulheres diagnosticadas com câncer do sistema genital?
a. Resultados de pesquisas
b. Segurar as mãos
c. Bom humor
d. Oferecer esperança
4. Ao orientar um grupo de mulheres em relação ao rastreamento e à detecção precoce do câncer do colo
do útero, o enfermeiro incluiria qual das seguintes opções como sendo a mais efetiva?
a. Pesquisa de sangue oculto nas fezes
b. Exame de sangue para dosagem de CA125
c. Esfregaço de Papanicolaou e teste de HPV
d. Retossigmoidoscopia
5. Depois de ensinar um grupo de alunos sobre cânceres do sistema genital, o instrutor de enfermagem
determina que o ensino foi bemsucedido quando os alunos identificam qual das seguintes opções
como sendo o tipo mais letal de câncer do sistema genital feminino?
a. Da vulva
b. Do ovário
c. Do endométrio
d. Do colo do útero
6. O enfermeiro está tentando tranquilizar sua paciente obesa sobre a descoberta de um cisto ovariano
após seu exame ginecológico. Qual das seguintes opções é verdadeira em relação aos cistos
ovarianos? Eles:
a. São encontrados com frequência na doença renal policística
b. Sempre são dolorosos e precisam ser extirpados cirurgicamente
c. São precursores de carcinoma de ovário
d. São parte de uma síndrome que inclui hipertensão arterial e diabetes melito
7. Qual dos seguintes é considerado o fator de risco mais forte para câncer de vulva?
a. Deficiência de vitamin B12
b. Vírus EpsteinBarr
c. Papilomavírus humano (HPV)
d. Adenovírus
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. Uma mulher branca, sexualmente ativa, de 27 anos, procura o ambulatório de planejamento familiar e
solicita informações sobre os vários métodos disponíveis de contracepção. Ao fazer sua anamnese, o
enfermeiro descobre que ela começou a ter relações sexuais aos 15 anos e teve múltiplos parceiros
sexuais desde então. Ela fuma dois maços de cigarros por dia. Como está desempregada há alguns
meses, seu plano de saúde expirou. Ela nunca realizou qualquer atendimento ginecológico
anteriormente.
a. Com base em seus antecedentes, quais são os fatores de risco para o câncer do colo do útero?
b. Que recomendações você faria a ela e por quê?
c. Quais são as necessidades de orientação dessa paciente em relação à manutenção da saúde?
2. Uma mulher nulípara de 60 anos chega ao ambulatório de oncologia ginecológica após seu médico
palpar massa anexial em seu ovário direito. Durante a anamnese, o enfermeiro descobre que ela
apresenta distensão abdominal leve e perda de peso nos últimos meses, mas, fora isso, sentiase bem.
Ela foi diagnosticada com câncer de mama há 15 anos e foi submetida a mastectomia e radioterapia.
Ela ocasionalmente tem usado talco em sua área perineal nos últimos 20 anos. A ultrassonografia
transvaginal revela massa complexa no anexo direito. Ela foi submetida a histerectomia abdominal total,
salpingoooforectomia bilateral e biopsia de linfonodo. O exame histopatológico confirma o diagnóstico
de câncer de ovário em estágio III com metástase abdominal e linfonodos positivos.
a. Essa paciente tem o perfil típico de uma mulher com esse diagnóstico?
b. O que em sua anamnese poderia ter aumentado seu risco de câncer de ovário?
c. O que o enfermeiro pode fazer para aumentar a conscientização de todas as mulheres em relação
a esse tipo de câncer?
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Durante seu estágio no setor de cirurgia, entreviste uma paciente submetida a cirurgia por câncer
genital. Peçalhe que recorde os sinais e sintomas que a levaram ao médico. Pergunte a ela que
pensamentos, sentimentos e emoções passaram por sua mente antes e depois de seu diagnóstico. Por
fim, perguntelhe como essa experiência vai mudar a vida dela no futuro.
2. Visite um centro de tratamento de oncologia e radioterapia para saber mais sobre as diversas
modalidades de tratamento disponíveis para os cânceres do sistema genital. Compare os vários
métodos de tratamento e relate seus achados à sua classe.
3. Acesse na internet um site de um órgão em que possa pesquisar um assunto de interesse sobre
cânceres ginecológicos (por exemplo, Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa], Centro Latino
Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde [Bireme], Conselho Federal de
Enfermagem [Cofen], Conselho Federal de Medicina [CFM] e Ministério da Saúde [MS]. Quão correto e
quão atual é o conteúdo? Qual é o nível do conteúdo? Compartilhe sua avaliação com seus colegas.
5. Dois genes, BRCA1 e BRCA2, são ligados aos cânceres hereditários ________________ e
________________.
ESTUDO DE CASO
Jill, uma mulher obesa de 38 anos de idade, com histórico de infertilidade e sangramento vaginal irregular,
retorna ao ginecologista para uma consulta de acompanhamento. Ela se submeteu a uma curetagem na
semana anterior por causa de sangramento vaginal profuso. O médico lhe disse que o laudo da patologia do
material coletado durante a curetagem era de adenocarcinoma de endométrio. Ela ficou chocada com o
diagnóstico por ser jovem.
AVALIAÇÃO
O enfermeiro coleta o histórico de Jill, que inclui ciclos menstruais irregulares desde sua menarca. O IMC
dela é 32. Ela faz uso de medicação para diabetes melito e hipertensão arterial. Quando ela era adolescente
recebeu o diagnóstico de síndrome do ovário policístico. O exame ginecológico revela aumento das
dimensões do útero. Ela procurou assistência médica várias vezes por causa de seu sangramento vaginal
irregular, mas ela foi medicada com fármacos até ser realizada uma curetagem após meses de tratamento
farmacológico malsucedido.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 8 | Cânceres do Sistema Genital Feminino
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é B. Tipicamente o câncer de ovário não exibe características gritantes. Muitas manifestações são
inespecíficas e podem facilmente ser explicadas e justificadas como alterações relacionadas com o processo de
envelhecimento. A alternativa A está incorreta: o câncer de ovário é agressivo e se dissemina precocemente. A
alternativa C está incorreta: não é necessário que a mulher morra para que o câncer de ovário seja diagnosticado. A
alternativa D está incorreta: a maioria das mulheres com dor aguda consulta seu médico, mas a dor aguda é um
sintoma tardio do câncer.
2. A resposta correta é D. Qualquer sangramento depois da menopausa levanta a suspeita de câncer endometrial. Esse
evento merece avaliação imediata, o que incluiria biopsia endometrial. A alternativa A está incorreta: depois da
menopausa as mulheres não menstruam, a menos que estejam fazendo terapia de reposição hormonal. A alternativa B
está incorreta: qualquer sangramento após a menopausa é anormal e necessita de avaliação para determinar sua causa.
A exceção seria a mulher que faz terapia de reposição hormonal e ainda menstrua mensalmente. A alternativa C está
incorreta: as duchas de água morna não seriam recomendadas para a mulher que apresenta sangramento após a
menopausa, uma vez que não seriam terapêuticas nem justificadas. É essencial determinar a etiologia do sangramento
em borra de café ou sangramento vermelhovivo.
3. A resposta correta é A. As mulheres precisam de informações claras para fazer escolhas informadas a respeito do
tratamento e dos cuidados posteriores. Essas informações ajudarão a reduzir a ansiedade e a escolher o melhor curso
de ação para elas. A alternativa B está incorreta: fornecer ajuda é importante se de modo adequado, mas prestar
informações claras sobre o que esperar e opções de tratamento será mais eficaz em atender às suas necessidades
psicossociais. A alternativa C está incorreta: a tentativa de animar a paciente não é necessariamente terapêutica em
face a um prognóstico grave. A alternativa D está incorreta: oferecer esperança é importante, mas propiciar
informações claras seria mais importante.
4. A resposta correta é C. O esfregaço de Papanicolaou é feito especificamente para detectar células anormais do colo do
útero que poderiam ser cancerígenas. A alternativa A está incorreta: a pesquisa de sangue oculto nas fezes pode ser
útil na detecção de sangue no sistema digestório e poderia levar a um diagnóstico de câncer colorretal, não de câncer
do colo do útero. A alternativa B está incorreta: essa glicoproteína não é específica para o câncer do colo do útero,
mas seus níveis podem estar elevados nos cânceres de pâncreas, fígado, cólon, mama e pulmão. A alternativa D está
incorreta: a retossigmoidoscopia é usada para visualizar o cólon sigmoide a fim de identificar cânceres, pólipos ou
bloqueios. Não é diagnóstica de câncer de colo do útero.
5. A resposta correta é a B. O câncer de ovário geralmente só é diagnosticado em estágios avançados, quando o
prognóstico e as taxas de sobrevida são ruins. A alternativa A está incorreta: o câncer vulvar geralmente é
reconhecido mais cedo e, quando tratado em seus estágios iniciais, é curável. A alternativa C está incorreta: o câncer
de endométrio geralmente pode ser detectado em decorrência do sangramento pósmenopausa; se for detectado
precocemente, pode ser tratado por cirurgia para remover o útero ou a fonte do câncer. A alternativa D está incorreta:
o câncer do colo do útero, se detectado precocemente e tratado, pode ser eliminado. Quando o tratamento é instituído
precocemente, a taxa de mortalidade não é elevada.
6. A resposta correta é D porque cistos de ovário são encontrados com frequência na síndrome do ovário policístico
(SOP), que se caracteriza por hipertensão arterial e diabetes melito, bem como amenorreia, obesidade e
hiperlipidemia. Cistos de ovário não estão associados a doença do rim policístico, portanto, a alternativa A é
incorreta. A alternativa B é incorreta porque a maioria dos cistos de ovário é indolor. A alternativa C é incorreta
porque os cistos de ovário não são precursores de carcinoma de ovário.
7. A resposta correta é C porque HPV não apenas está associado a câncer de colo de útero, mas também é um
importante fator de risco de desenvolvimento de câncer de vulva. A alternativa A é incorreta porque deficiência de
vitamina B não é um fator de risco para desenvolvimento de câncer de vulva, mas pode manifestarse como
neuropatia, diarreia e demência. A alternativa B é incorreta porque esse vírus está associado a mononucleose, hepatite
e risco aumentado de linfomas na paciente que recebe transplante. A alternativa D é incorreta porque adenovírus é a
causa de faringite e conjuntivite, não de câncer de vulva.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. Com base em seus antecedentes, quais são os fatores de risco para o câncer do colo do útero?
Essa paciente corre alto risco para várias condições, incluindo doenças/infecções sexualmente transmissíveis,
bem como câncer do colo do útero por causa dos seguintes fatores de risco: tabagismo, início precoce da
atividade sexual, múltiplos parceiros e não realização de esfregaços de Papanicolaou prévios.
b. Que recomendações o enfermeiro faria a ela e por quê?
Agende uma consulta para um esfregaço de Papanicolaou e instruaa a comparecer. Isso pode salvar a vida dela.
A ACS recomenda com veemência o rastreamento do câncer do colo do útero para todas as mulheres
sexualmente ativas nos 3 anos seguintes ao início da atividade sexual ou aos 21 anos de idade. Essa paciente não
passou por avaliação alguma e tem comportamento de alto risco.
c. Quais são as necessidades de orientação dessa paciente em relação à manutenção da saúde?
O tabagismo e os múltiplos parceiros sexuais desde muito jovem se correlacionam fortemente a displasia e
câncer do colo do útero e aumentam o risco. Essa paciente precisa fazer um esfregaço de Papanicolaou
anualmente, parar de fumar, usar métodos de proteção de barreira e reduzir o número de parceiros sexuais. O
enfermeiro deve encaminhála aos serviços sociais da comunidade para que ela consiga um emprego e,
consequentemente, um plano de saúde para dar seguimento às atividades de manutenção da saúde. O enfermeiro
deve salientar a importância de mudanças comportamentais de estilo de vida que ela precisa fazer para preservar
sua saúde.
2.
a. Essa paciente tem o perfil típico de uma mulher com esse diagnóstico?
Sim, a paciente tem as manifestações típicas de uma mulher com câncer epitelial de ovário. Ela foi diagnosticada
com câncer de ovário avançado, que se disseminou para outros órgãos abdominais e linfonodos por ocasião do
diagnóstico. Ela essencialmente não apresentou sinais e/ou sintomas preocupantes antes de seu diagnóstico. Sua
taxa de sobrevida em 5 anos é ruim, por causa da condição avançada do câncer.
b. O que em sua anamnese poderia ter aumentado seu risco de câncer de ovário?
A paciente já havia sido diagnosticada com câncer de mama, o que a coloca em risco aumentado de câncer de
ovário. Além disso, ela não engravidou para interromper seus ciclos menstruais, o que seria útil na redução de
seu risco de desenvolver câncer de ovário. Por fim, a paciente tem uma história de exposição a talco perineal, o
que aumenta o risco por causa de sua semelhança com o amianto.
c. O que o enfermeiro pode fazer para aumentar a conscientização de todas as mulheres em relação a esse
tipo de câncer?
A orientação da comunidade pode ser muito efetiva na melhora da conscientização a respeito dessa condição. As
orientações devem se concentrar nas informações pertinentes a respeito das medidas de redução de risco, opções
de rastreamento para mulheres de alto risco, bem como a importância dos exames anuais. Além disso, os
enfermeiros devem se manter atualizados em relação às pesquisas sobre o câncer de ovário e devem ser capazes
de divulgar essas informações em feiras de saúde e grupos de apoio à mulher.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Dependendo do tipo de câncer do sistema genital que o estudante escolher, as respostas podem variar.
Tipicamente, os sinais e sintomas descritos são vagos, e a mulher pode demorar para procurar assistência médica.
Suas emoções préoperatórias geralmente são medo, negação e ansiedade em relação ao desconhecido. Seus
sentimentos pósoperatórios podem incluir alívio, preocupação, depressão e ansiedade novamente. Seu futuro pode
parecer brilhante se o câncer for detectado precocemente, mas pode ser desolador se for avançado.
2. Dependendo de onde o estudante vive e dos recursos da comunidade que estão disponíveis, as respostas podem
variar. O objetivo dessa visita de campo é familiarizar o estudante com os recursos da comunidade e possibilitar que
ele visualize os equipamentos utilizados no tratamento do câncer. Os centros de tratamento de câncer são muito
especializados e a maioria deles oferece inúmeras modalidades terapêuticas. É importante que os estudantes saibam o
que está disponível em suas comunidades e estejam bem informados para que possam fazer os encaminhamentos
corretos.
3. A maioria dos sites veicula informações direcionadas ao público leigo, a respeito dos diversos tipos de câncer. A
maioria deles orienta os leitores a buscarem orientação de profissional de saúde sobre seus sintomas ou situação
específica.
4. ovário.
5. de mama e de ovário
ESTUDO DE CASO
1. Quais fatores de risco para câncer de endométrio Jill tem?
2. Esse diagnóstico não é comum na idade de Jill? Explique sua resposta.
3. Quais opções de tratamento Jill deveria considerar depois do seu diagnóstico?
Resposta: Os fatores de risco para câncer de endométrio são idade superior a 50 anos, história de síndrome do
ovário policístico (SOPC), IMC alto, exposição prolongada a estrogênios, nuliparidade e diabetes melito. Jill tem
vários desses fatores de risco, exceto idade. Nas mulheres nulíparas jovens, o câncer de endométrio é um problema
diagnóstico e terapêutico difícil. O perfil da paciente típica é de uma mulher com mais de 50 anos de idade, mas o
câncer de endométrio também pode ser diagnosticado antes. Relatos recentes descreveram mulheres com SOPC que
desenvolveram câncer de endométrio em idade mais precoce. Nas faixas etárias mais baixas, o diagnóstico
frequentemente é tardio, quando a conservação do útero não é possível. As opções de tratamento poderiam ser
cirurgia com quimioterapia adjuvante, radioterapia ou terapia hormonal. A paciente também necessita de psicoterapia
para entrar na “menopausa precoce”. A história de infertilidade causada por histerectomia total antes de 40 anos de
idade pode gerar estresse e ela poderia não ter acompanhamento psicológico.
Plano de cuidados
Durante o procedimento cirúrgico de Jill, a histopatologia indicou adenocarcinoma grau III com acometimento dos
linfonodos pélvicos. Jill foi submetida a histerectomia total com salpingoooforectomia bilateral e também fez três ciclos
de quimioterapia.
1. Quais instruções de promoção da saúde o enfermeiro pode fornecer quando Jill retornar para sua consulta pós
operatória?
2. De que forma o enfermeiro pode ajudar Jill durante esse período desafiador?
3. Qual é o fato mais importante desse estudo de caso? Resposta: As instruções de promoção da saúde devem incluir
perda de peso e aumento do nível de atividade e prática de exercícios. Acreditase que a atividade física modifique o
risco de recidiva do câncer porque reduz a obesidade – um fator de risco conhecido para a maioria dos cânceres.
Alguns estudos científicos demonstraram que o consumo de uma dieta pobre em gorduras saturadas e rica em frutas e
vegetais está associado a um risco menor de desenvolver cânceres em geral. Adotar uma atitude apoiadora escutando
as preocupações de Jill a cada consulta é importante para ajudála a passar por esse período difícil. Ajudar a paciente
a coordenar suas consultas de acompanhamento depois da cirurgia também contribui para atenuar a ansiedade da
paciente. O fato mais importante desse estudo de caso é que o câncer de endométrio deve ser mantido em mente,
quando se avaliam mulheres com SOPC e queixa de sangramento uterino anormal, mesmo que não se encaixem no
perfil típico desse tumor. O primeiro passo para estabelecer o diagnóstico é estar ciente dessa possibilidade.
Questões múltipla escolha
1. Em uma mulher na pósmenopausa com sangramento vaginal anormal, que exame
complementar a enfermeira espera que o médico solicite a fim de determinar se é necessária
uma biopsia endometrial?
A. Ultrassonografia transvaginal
B. CA125
C. Esfregaço de Papanicolaou
D. Mamografia
Concluir questão
2. Ao descrever a incidência de cânceres do sistema genital em gestantes, qual das seguintes
opções a enfermeira incluiria?
A. O câncer de ovário é detectado muito mais tarde na gestante, por causa das mudanças
hormonais que estão ocorrendo
B. O câncer do colo do útero é mais comum na população de gestantes do que os outros
cânceres do sistema genital
C. Muitos casos de câncer de endométrio são detectados em gestante por causa do aumento
na vigilância
D. Os cânceres do sistema genital em geral são mais comuns em gestantes
Concluir questão
3. A enfermeira analisa o prontuário de uma mulher diagnosticada com câncer de ovário no
estádio II. Esse estádio da doença:
A. É limitado ao ovário
B. Se espalhou para os linfonodos e outros órgãos do abdome
C. Envolve um ou ambos os ovários e se estende até a pelve
D. Originou metástases para locais distantes
Concluir questão
4. Ao rever a história de uma mulher diagnosticada com câncer endometrial, a enfermeira
identificaria qual dos seguintes como um fator que aumenta seu risco?
A. Parto vaginal de quatro crianças
B. Menarca aos 14 anos
C. Menopausa aos 47 anos
D. Uso de tamoxifeno
Concluir questão
Ao preparar uma palestra sobre o rastreamento do câncer de colo do útero, a enfermeira
5.
incluiria qual das seguintes recomendações?
A. Esfregaço de Papanicolaou inicial aos 18 anos
B. Interrupção do exame de esfregaço de Papanicolaou entre 30 e 70 anos se os três últimos
resultados foram normais
C. Esfregaço de Papanicolaou anual utilizando o método da lâmina de vidro até 30 anos de
idade
D. Esfregaço de Papanicolaou a cada 2 a 3 anos nas mulheres com idade acima de 70 anos
Concluir questão
6. A enfermeira está ajudando uma mulher a marcar consulta para coleta de esfregaço de
Papanicolaou. A data da última menstruação da mulher foi 2 de maio. Que data seria mais
apropriada para a consulta?
A. 17 de maio
B. 7 de maio
C. 09 de maio
D. 30 de maio
Concluir questão
7. Qual das afirmações a seguir sobre o câncer vaginal é a correta?
A. Os adenocarcinomas são o tipo celular mais comumente associado
B. Os cânceres espinocelulares se desenvolvem rapidamente e se disseminam tardiamente
C. A metástase pulmonar é comum nos adenocarcinomas da vagina
D. Os carcinomas espinocelulares são mais comuns em mulheres na quinta década de vida
Concluir questão
8. Qual dos seguintes a enfermeira mais comumente encontraria em uma mulher com câncer
vulvar?
A. Massa carnuda, ulcerada nos grandes lábios
B. Prurido vulvar que responde a cremes
C. Sangramento vulvar
D. Disúria
Concluir questão
9. A enfermeira prepara a mulher com anormalidade no esfregaço de Papanicolaou para
avaliação diagnóstica adicional. Qual dos seguintes a enfermeira esperaria que fosse feito?
A. Tipagem do DNA do HPV
B. Ultrassonografia transvaginal
C. Biopsia do endométrio
D. Colposcopia
Concluir questão
10. Uma enfermeira está tentando ajudar sua cliente a lidar com o câncer do colo do útero recém
diagnosticado, mas a cliente não quer discutir o assunto. A enfermeira precisa entender que
isso pode ser:
A. Por causa da aceitação do diagnóstico
B. Porque ela quer que sua família esteja ao seu lado para discutir o assunto
C. Porque ela não vê a necessidade de discutir o assunto
D. Por causa dos aspectos culturais
Concluir questão
11. Sua cliente foi diagnosticada com câncer do colo do útero durante o segundo trimestre de
gestação. Ela decide adiar o tratamento até depois do nascimento do bebê. Você a prepara
para o parto, explicando que este provavelmente será:
A. Vaginal
B. Por cesariana
C. Pelo método de escolha da cliente
D. Induzido na 37a semana de gestação
Concluir questão
12. Uma cliente acaba de ser diagnosticada com câncer de ovário. Como enfermeira, você
reconhece que esse é o _____ câncer mais comum entre as mulheres.
A. Quinto
B. Sétimo
C. Nono
D. Terceiro
Concluir questão
13. Os métodos de rastreamento que a enfermeira pode recomendar a uma cliente para
determinar se existe a possibilidade de ela ter câncer de ovário incluem:
A. CA125 sérico
B. Avaliação do gene BRCA
C. Atualmente não há métodos de rastreamento de rotina
D. Ultrassonografia
Concluir questão
14. Uma cliente na pósmenopausa será submetida a ultrassonografia pélvica para avaliar seus
sentimentos vagos de plenitude e desconforto. Qual dos seguintes deve ser considerado
suspeito pela enfermeira?
A. Mioma endometrial volumoso
B. Pólipo endometrial pequeno
C. Cisto ovariano pequeno
D. Parede uterina atrófica
Concluir questão
15. Ao realizar uma entrevista com uma cliente de 38 anos, a enfermeira reconhece qual fator
como colocando a cliente em maior risco de câncer de endométrio?
A. Sua idade
B. História pregressa de curetagem
C. Uso de terapia de reposição hormonal com estrogênio sem progesterona
D. Antecedentes familiares de câncer
Concluir questão
16. Ao preparar uma literatura para compartilhar fatos sobre o câncer de colo do útero, um fato
importante pode ser:
A. Raramente ocorre em mulheres com mais de 60 anos
B. A maior incidência de câncer de colo do útero é nas mulheres com 40 a 49 anos de idade
C. É 10 vezes mais comum em mulheres HIVpositivas ou com AIDS
D. A detecção precoce de uma colposcopia melhora as chances de sobrevida
Concluir questão
17. Após ministrar uma aula a estudantes universitários, você reconhece que eles entendem
quais medidas podem ser tomadas para ajudar a evitar o câncer do colo do útero pela
seguinte declaração:
A. As IST/DST não causam câncer
B. O uso adequado de anticoncepcionais orais ajuda a reduzir a chance de desenvolver
câncer
C. Mais de 90% dos cânceres espinocelulares do colo do útero contêm o DNA do HPV
D. Usar um preservativo é uma boa maneira de diminuir a chance de desenvolver câncer
Concluir questão
18. Uma cliente está tentando entender como poderia ter câncer do colo do útero se todos os
seus esfregaços de Papanicolaou anteriores foram negativos. Você está ciente de que o
esfregaço de Papanicolaou convencional tem uma taxa de falsonegativo de ____.
A. 10%
B. 5%
C. 20%
D. 15%
Concluir questão
19. Como enfermeira de um centro de tratamento oncológico, as clientes que chegam com um
diagnóstico de câncer vaginal têm uma chance de _____ de apresentar outra forma de câncer.
A. 70%
B. 60%
C. 80%
D. 50%
Concluir questão
20. Embora a infecção por HPV seja mais comumente associada ao câncer do colo do útero,
como enfermeira você está ciente de que essa infecção também está associada ao:
A. Câncer vaginal
B. Câncer de vulva
C. Câncer de útero
D. Câncer de ovário
Concluir questão
21. Uma mulher caucasiana de 67 anos chega à clínica queixandose de que começou a
menstruar novamente depois de 15 anos de menopausa. Depois de discutir a situação com
ela, a enfermeira reconhece que esse sangramento levanta a suspeita de:
A. Câncer vaginal
B. Câncer de ovário
C. Câncer do colo do útero
D. Câncer endometrial
Concluir questão
22. A enfermeira deve se concentrar em rastrear e orientar todas as mulheres que,
independentemente de seus fatores de risco, correm risco de _______ de desenvolver câncer
ao longo da vida.
A. Um em cada cinco
B. Um em cada três
C. Um em cada sete
D. Um em cada nove
Concluir questão
23. É importante que a enfermeira saiba que o ______ é descrito como um “assassino silencioso”
e que também esteja alerta para todos os possíveis indícios ou queixas que suas clientes
possam descrever que seriam indicativos do câncer para detectálo em seus estádios iniciais.
A. Câncer de ovário
B. Câncer vaginal
C. Câncer de endométrio
D. Câncer de colo do útero
Concluir questão
24. A enfermeira pode desempenhar o papel fundamental de ______ para ajudar suas clientes
diagnosticadas com qualquer tipo de carcinoma.
A. Oferecer informações abrangentes
B. Ser uma defensora
C. Ser a gerente de caso
D. Oferecer apoio emocional
Concluir questão
25. Ao avaliar uma mulher, qual(is) das seguintes opções levaria(m) a enfermeira a suspeitar de
câncer de colo do útero? (Selecione todas que se aplicam.)
A. Secreção vaginal com odor fétido
B. Disúria
C. Sangramento vermelhovivo após a menopausa
D. Sangramento vaginal após uma relação sexual
Concluir questão
Violência e MausTratos
9
PALAVRASCHAVE
Abuso de menor
Abuso sexual
Ciclo de violência
Estupro
Estupro em encontro (date rape)
Estupro por pessoa conhecida
Incesto
Mutilação genital feminina (MGF)
Síndrome da mulher espancada
Tráfico de pessoas
Transtorno de estresse póstraumático (TEPT)
Violência por parceiro íntimo (VPI)
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Examinar a incidência de violência contra mulheres.
2. Caracterizar o ciclo de violência e as intervenções adequadas.
3. Avaliar os vários mitos e fatos relacionados com a violência.
4. Analisar a dinâmica do estupro e do abuso sexual.
5. Selecionar os recursos disponíveis para as mulheres vítimas de maustratos.
6. Delinear o papel do profissional de enfermagem que cuida de mulheres vítimas de maustratos.
Dorothy chegou à clínica de prénatal com queixa de cefaleia recorrente. Ela já havia passado pela clínica duas vezes naquela
semana, mas insistiu que precisava ser atendida naquele dia e começou a chorar. Quando o enfermeiro a chamou para a sala de
exame, o celular de Dorothy tocou. Ela se apressou para atender e respondeu à pessoa do outro lado da linha que estava fazendo
compras. Quando o enfermeiro perguntou se ela passava situações de medo em casa, Dorothy respondeu “às vezes”. Quais dicas
levaram o enfermeiro a fazer essa pergunta? Qual é a frequência desse problema com as mulheres?
Reflexões
Depois de sofrer violência, a mulher pode decidir ficar como está ou pode encontrar apoio e libertarse.
INTRODUÇÃO
Imagine se você fosse vítima de agressão, estupro,1 escravidão sexual, tortura, agressão verbal, mutilação e até morte só por causa de seu gênero.
Raramente é reconhecida a magnitude da violência contra as mulheres e as crianças do sexo feminino. Muitas dessas mulheres são brutalizadas
desde a infância até a morte simplesmente por causa de seu gênero. Esses maustratos constituem a violação dos direitos humanos mais
disseminada no mundo atualmente, porém ainda não reconhecida em muitos locais do planeta.
A violência de gênero é um importante problema mundial de saúde pública e de direitos humanos que muitas vezes passa despercebido e não é
denunciado. É uma causa comum de morbidade física, psicológica e emocional. Ocorre em todos os países, independentemente do grupo social,
econômico, religioso ou cultural. Esses maustratos são perpetrados independentemente de raça, etnia, idade, nível socioeconômico, religião,
orientação sexual e fronteiras geográficas. Todos os segmentos da sociedade apresentam sequelas desse problema. Por causa das relações de poder
desiguais entre homens e mulheres, as mulheres são agredidas nas suas famílias, em suas comunidades ou nos países onde vivem. As causas são
multidimensionais e são de natureza social, econômica, cultural, política e religiosa. A gravidez é um momento de vulnerabilidade única para a
vitimização por violência por parceiro íntimo (VPI) por causa das mudanças nas necessidades físicas, sociais, emocionais e econômicas da mulher
durante esse período. Embora a verdadeira prevalência da violência durante a gravidez não seja clara, pesquisas sugerem que ela seja significativa
e, muitas vezes, persista no período pósparto. A violência de gênero é um dos maiores desafios à saúde e ao bemestar das mulheres. Tratase de
uma preocupação de saúde angustiante em todo o planeta com graves repercussões para indivíduos, famílias e sociedades (Berthold, 2015).
A violência perpetrada por mulheres contra parceiros masculinos recebe pouca atenção. Embora as mulheres sejam vítimas de violência mais
frequentemente que os homens, a prevalência de violência contra os homens também é uma preocupação de saúde pública significativa. Um de cada
quatro homens já foi vítima de estupro, violência física e/ou perseguição de um parceiro íntimo em suas vidas (National Coalition Against
Domestic Violence, 2015).
Embora as mulheres possam ser violentas nos relacionamentos com os homens e também em parcerias do mesmo sexo, o ônus esmagador da
violência por parceiro íntimo é suportado por mulheres nas mãos de homens. Quase três em cada 10 mulheres e 1 em cada 10 homens nos EUA já
foram vítimas de estupro, violência física e/ou perseguição por um parceiro com impacto relacionado com a VPI (WHO, 2015a).
De todos os avanços que as mulheres norteamericanas fizeram nos últimos 100 anos, eliminar a violência contra si não foi um deles. A
violência contra a mulher é um problema crescente e, em muitos países, ainda é aceita como parte do comportamento normal. De acordo com o
Federal Bureau of Investigation (FBI) (2015), até 50% de todas as mulheres nos EUA sofrem algum tipo de violência física ao longo da vida. Na
América do Norte, 40 a 60% dos homicídios de mulheres são cometidos por parceiros íntimos (FBI, 2015). Recentemente, o FBI ampliou sua
definição de estupro. Conforme aparece em seu site, o estupro consiste em “penetração, não importa quão pequena, da vagina ou do ânus com
qualquer parte do corpo ou objeto, ou a penetração oral, pelo órgão sexual de outra pessoa, sem o consentimento da vítima”. Essa definição mais
ampla afetará drasticamente a maneira como o estupro é rastreado e notificado em todo o país (FBI, 2015).
O financiamento federal para o problema está sendo direcionado para programas locais, mas não chega às vítimas suficientemente rápido. Por
exemplo, os EUA têm três vezes mais abrigos para animais do que para as vítimas de violência (Bouchet & Braswell, 2015). Em muitos casos, a
vítima escapa de seu agressor para ser rejeitada por um abrigo local porque ele está lotado. O número de mulheres nessa condição é
impressionante: nos EUA, uma mulher é espancada a cada 12 segundos (CDC, 2015a).
Os profissionais de enfermagem desempenham um papel importante na avaliação de mulheres que sofreram algum tipo de violência. Os
profissionais de enfermagem têm uma ética central de cuidado e propósitos de intervenção precoce e promoção da saúde de seus pacientes para
melhorar sua saúde e seu bemestar. Muitas vezes, depois que a mulher é agredida, ela se queixa de doenças físicas que lhe darão a oportunidade de
ir para uma instituição de saúde. Esse é o momento ideal para que as mulheres sejam avaliadas à procura de sinais de agressão. Como os
enfermeiros são considerados confiáveis e sensíveis em relação a assuntos muito pessoais, as mulheres muitas vezes se sentem à vontade e
abordam essas questões. Como enfermeiro, o flato de rastrear mulheres atendidas em instituições de saúde muitas vezes é o primeiro passo para
que a vítima comece a pensar em um futuro melhor. Lembrese de que suas palavras têm um peso para a paciente que procura ajuda, apoio e
encorajamento.
Anote!
O enfermeiro terá contato com a violência e o abuso sexual em algum momento, não importa em qual instituição de saúde esteja trabalhando. Ele
precisa estar pronto para fazer as perguntas certas e agir de acordo com as respostas, já que esse tipo de ação pode salvar a vida da paciente.
Este capítulo aborda diversos tipos de violência de gênero: VPI, mutilação genital feminina, tráfico de pessoas e abuso sexual. Todos têm
consequências devastadoras e dispendiosas para toda a sociedade.
VIOLÊNCIA POR PARCEIRO ÍNTIMO
Violência por parceiro íntimo (VPI) é a ameaça ou a ocorrência real de violência física ou sexual ou de maustratos psicológicos/emocionais.
Pesquisas sugerem que a violência física em relacionamentos íntimos muitas vezes é acompanhada por violência psicológica, além de estar
associada a abuso sexual em um terço a mais da metade dos casos (CDC, 2015b). Os parceiros íntimos incluem indivíduos que estão namorando,
coabitando ou em relacionamento conjugal, ou aqueles que estiveram em tais relações no passado. Alguns dos termos comuns usados para
descrever a VPI são agressão doméstica, abuso de cônjuge, violência doméstica, violência de gênero, espancamento e estupro. A VPI afeta uma
porcentagem dolorosamente elevada da população e tem repercussões físicas, psicológicas, sociais e econômicas (Figura 9.1).
Como o enfermeiro pode ser o primeiro profissional de saúde a avaliar e identificar os sinais de VPI, ele é capaz de impactar profundamente a
decisão da mulher de procurar ajuda. Assim, é importante que o enfermeiro consiga identificar os maustratos e ajudar a vítima. A VPI pode deixar
cicatrizes psicológicas significativas. O profissional de enfermagem bemtreinado pode contribuir de modo positivo para a saúde mental e
emocional da vítima.
Incidência
As estimativas de violência sexual, perseguição e VPI em geral, ao longo da vida e em 1 ano, são alarmantes para norteamericanos adultos, com a
VPI isoladamente afetando mais de 12 milhões de pessoas a cada ano. Na média, vinte pessoas por minuto são vítimas de estupro, violência física
ou perseguição por um parceiro íntimo nos EUA. As mulheres são desproporcionalmente afetadas. O custo estimado da violência nos EUA
ultrapassa 70 bilhões de dólares a cada ano. Estimase que, a cada ano, a VPI resulte em 2.500 mortes e 3 milhões de mulheres feridas (CDC,
2015c).
As mulheres correm risco de violência em quase todas as fases da vida. Idosas, jovens, bonitas, atraentes, casadas, solteiras: nenhuma está
totalmente segura contra o risco de VPI. Maridos ou amantes atuais ou antigos são responsáveis por mais da metade das mortes de mulheres
assassinadas nos EUA. A VPI contra as mulheres causa ferimentos mais graves e mortes do que acidentes automobilísticos, estupros e assaltos em
conjunto. A VPI é dispendiosa. O custo da VPI se aproxima de 4,4 trilhões de dólares por ano para financiar cuidados médicos e cirúrgicos,
aconselhamento, assistência à criança, ônus sobre o sistema de justiça, encarceramento, honorários advocatícios e perda de produtividade no
trabalho (Lomborg, 2015).
FIGURA 9.1 A violência por parceiro íntimo tem importantes repercussões físicas, psicológicas, sociais e econômicas. Um importante papel do
profissional de saúde é identificar situações de maustratos ou potenciais maustratos o mais rápido possível e dar suporte à vítima.
A VPI é generalizada e não respeita os limites de orientação sexual, etnia e classe social. A intimidação de outra pessoa por meio de flatos
abusivos e palavras não é uma questão de gênero. A violência nesses relacionamentos pode não ser denunciada por medo de perseguição ou
ridicularização. Os esforços da comunidade médica para combater a violência entre parceiros íntimos muitas vezes negligenciam lésbicas, gays,
bissexuais e transgêneros (LGBT). As mulheres heterossexuais são o alvo primário do rastreamento de VPI e intervenção, apesar da prevalência
semelhante de VPI em LGBT e seus efeitos prejudiciais à saúde (Cannon & Buttell, 2015). Talvez por causa das múltiplas barreiras que as vítimas
LGBT de maustratos enfrentam e da invisibilidade do problema no contexto dos serviços de VPI, o papel do enfermeiro como seu defensor é
ainda mais essencial.
Nos EUA, pouco se sabe sobre a prevalência de VPI, violência íntima e perseguição por parceiro íntimo na comunidade LGBT. As pesquisas
documentam que as taxas de VPI na comunidade LGBT é igual ou maior que as taxas observadas nos indivíduos heterossexuais. Os fatores de
risco também são semelhantes aos documentados em indivíduos heterossexuais, além de abandono e procura de ajuda e processo de recuperação
(Edwards, Sylaska, & Neal, 2015). Os achados atuais também parecem indicar algumas disparidades nas percepções do que constitui abuso em
casais heterossexuais e homossexuais (Russell & Chapleau, 2015). O Violence against Women Act foi revisado recentemente. Agora inclui
violência por parceiros do mesmo sexo – um sinal importante de que as atitudes estão mudando e melhorando para as pessoas homossexuais que
buscam abrigos e ajuda. Existe esperança visto que os indivíduos e a sociedade estão começando a perceber que a violência entre parceiros do
mesmo sexo é um problema real.
Contexto histórico
Até meados da década de 1970, nossa sociedade tendia a legitimar o poder e o controle do homem sobre a mulher. Os sistemas jurídico e judicial
dos EUA consideravam que intervir em conflitos familiares era errado e uma violação do direito da família à privacidade. A VPI frequentemente
era tolerada e, até mesmo, socialmente aceitável. Felizmente, as atitudes e as leis mudaram para proteger as mulheres e punir os agressores.
No Healthy People 2020, existem 13 objetivos mensuráveis de prevenção de violência que são mostrados no boxe Healthy People 2020 9.1 a
seguir. Além dos treze objetivos arrolados, existem sete objetivos desenvolvimentais que focalizam a prevenção da violência sexual ao longo da
vida e a prevenção de diferentes formas de VPI, inclusive violência física e sexual, abuso emocional e perseguição pelo parceiro atual ou anterior.
Características da violência por parceiro íntimo
Embora sejam necessárias mais pesquisas nessa área, os estudos descobriram determinados fatores de risco nos homens para a VPI. Esses fatores
podem ser divididos em quatro categorias diferentes: individuais, de relacionamento, de comunidade e sociais. Os específicos de cada categoria
estão listados na Tabela 9.1.
Continuidade da violência de uma geração para outra
A violência é um comportamento aprendido que, sem intervenção, é autoperpetuador. É um problema de saúde cíclico. Os efeitos da violência a
longo prazo sobre as vítimas e as crianças podem ser profundos. É mais provável que crianças que testemunham um pai agredindo a mãe ou vice
versa se tornem delinquentes ou mesmo agressores, já que veem os maustratos como parte integrante de uma relação íntima. Assim, um
relacionamento abusivo entre pai e mãe pode perpetuar relacionamentos abusivos futuros. A violência na infância e na adolescência está ligada à
percepção da criança da família como um ambiente hostil e de violência contra as mulheres como uma medida corretiva e à percepção de que são
aceitáveis insultos, xingamentos e humilhação pelo parceiro (Song et al., 2015). Se considerarmos a violência contra crianças e cônjuges, as
repercussões psicológicas são enormes, provenientes do paradoxo de a vítima ser maltratada por um membro da família com quem ela esperaria ter
um relacionamento solidário, amoroso e respeitoso. As pesquisas já constataram que as crianças que testemunham a VPI correm risco de
desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, transtorno de estresse póstraumático (TEPT), problemas de desenvolvimento, insucesso escolar,
violência contra os outros e baixa autoestima (Cater et al., 2015).
Healthy People 2020 • 9.1
112,4
IVP41 Reduzir lesões autoinflingidas intencionais não 124,9
fatais por 100.000 habitantes (2008)
IVP43 Aumentar o número de estados que 16 50
correlacionam os dados sobre mortes violentas estados estados
Importância para a enfermagem
• Aumentará a qualidade de vida e os anos de vida saudável de homens e
mulheres
• Eliminará as disparidades de saúde das vítimas de violência
• A meta é ter maior adesão por meio de rastreamento de violência por
parceiro íntimo por profissionais de saúde
• Atender a esses objetivos refletirá a importância da detecção precoce, da
intervenção e da avaliação
• É necessário eliminar as disparidades de saúde de LGBT e aumentar os
esforços para melhorar sua saúde, para assegurar que essas pessoas
possam ter vida longa
Objetivos do Healthy People com base em dados de http://www.healthypeople.gov.
Adaptado de U.S. Department of Health and Human Services [(USDHHS], (2015b). Healthy People.gov.
Retirado de www.healthypeople.gov/2020/default.aspx.
Tabela 9.1 Mitos e fatos comuns a respeito da violência.
Mitos Fatos
O espancamento de A violência ocorre em todas as classes socioeconômicas
mulheres ocorre
apenas nas classes
socioeconômicas mais
baixas
O uso abusivo de A violência é um comportamento aprendido e pode ser mudado. O consumo de substâncias
substâncias psicoativas e álcool pode agravar algo que já é ruim
psicoativas provoca a
violência
Os homens têm o direito Antigamente o sistema legal patriarcal garantia aos homens o direito de castigar fisicamente as
de disciplinar suas esposas e os filhos. Nós não vivemos mais sob esse sistema. Esposas e filhos não são mais
companheiras. considerados propriedades dos homens e a violência contra eles é um crime em todo o território
Espancamento não é dos EUA
crime
Apenas uma pequena Uma em cada quatro mulheres será vítima de violência
porcentagem das
mulheres é vítima de
violência
A violência por parceiro O espancamento é um padrão de coerção e controle que uma pessoa exerce sobre a outra. É
íntimo (VPI) é, repetido usando várias táticas, inclusive intimidação, ameaças, lesão física, privação econômica,
tipicamente, uma isolamento e abuso sexual. As várias formas de abuso praticadas pelos agressores ajudam a
ocorrência isolada e manter o poder e o controle das vítimas
única
As mulheres permanecem no relacionamento abusivo porque sentem que não têm opções
As mulheres podem
facilmente optar por
deixar um
relacionamento
abusivo
Apenas homens com Os agressores muitas vezes parecem normais e não parecem sofrer de transtornos de personalidade
problemas de saúde ou outras modalidades de doença mental
mental cometem
violência contra as
mulheres
As gestantes estão Uma em cada cinco mulheres é agredida fisicamente durante a gravidez. Os efeitos da violência
protegidas dos maus sobre os desfechos do feto incluem parto prematuro, sofrimento fetal, baixo peso ao nascimento e
tratos impostos por maustratos infantis
seus parceiros
As mulheres provocam As mulheres podem estar dispostas a culparse pelo mau comportamento de alguém, mas ninguém
seus parceiros até que merece ser espancado
eles as agridam
As tendências violentas A polícia, o sistema de justiça e a sociedade estão começando a tornar a VPI socialmente inaceitável
ocorrem há gerações e
são aceitas
A VPI é uma questão Há tanta VPI na população LGBT quanto em relações heterossexuais, com a violência psicológica
apenas heterossexual adicional de exposição (quando um dos parceiros ameaça revelar a outras pessoas a preferência
sexual do indivíduo, em um esforço para manter o poder e o controle)
Adaptada de Domestic Violence Organization.(2015a). Common myths and why they are wrong. Retirada
de http://www.domesticviolence.org/commonmyths/; Tahoe Safe Alliance. (2015). Myths about intimate partner violence in the
LGBTQUA community. Retirada de http://tahoesafealliance.org/forlgbqtia/lgbtqiamyths/; e Medicine Net. (2015b). Domestic
violence. Retirada
de http://www.medicinenet.com/domestic_violence/page4.htm#what_are_the_causes_or_risk_factors_for_intimate_partner_violence.
Os maustratos na infância são um grave problema de saúde, estão associados a uma gama de condições físicas e levam a altas taxas de
morbidade psiquiátrica e problemas sociais na idade adulta. As consequências da violência vão além do sofrimento físico e mental das vítimas e de
suas famílias e têm um impacto negativo nas escolas, na vizinhança, nos negócios e nos sistemas de justiça e de saúde. As mulheres física ou
sexualmente abusadas quando crianças têm risco aumentado de vitimização e medo do crime, má saúde geral e, além disso, enfrentam condições
adversas de saúde mental, como depressão, ansiedade e baixa autoestima quando adultas (Barrios et al., 2015).
Em muitos dos casos, quando o pai/mãe é agredido, as crianças também são maltratadas. Nos EUA, aproximadamente uma em cada oito
crianças sofre maustratos a cada ano.2 Estimase que custo econômico ao longo da vida para a sociedade dos maustratos infantis seja de 124
bilhões de dólares (Jackson & Deye, 2015). Crianças pequenas que sofrem violência em suas famílias representam um grupo vulnerável (sem
empoderamento). Em termos de desenvolvimento, as crianças pequenas têm habilidades verbais e formação emocional relativamente limitadas.
Além disso, o ambiente se torna um local de clandestinidade e intimidação, bem como de disponibilidade emocional reduzida do principal cuidador
da criança. Em conjunto, esses fatores restringem muito a capacidade e a oportunidade de verbalização das crianças pequenas (Jackson & Deye,
2015). A exposição à violência tem um impacto negativo sobre o bemestar físico, emocional e cognitivo das crianças. O ciclo continua em outra
geração por meio das respostas aprendidas e do modo de agir violento. Embora haja sempre exceções, a maioria das crianças privadas de suas
necessidades físicas, psicológicas e espirituais básicas não desenvolve personalidades saudáveis. Elas crescem com sentimentos de medo,
problemas comportamentais, uso abusivo de substâncias psicoativas, dificuldades de relacionamento, inadequação, ansiedade, raiva, hostilidade e
culpa. Muitas vezes não apresentam habilidades de enfrentamento, culpam os outros, demonstram controle precário de seus impulsos, têm
comportamento delinquente precoce e, em geral, têm problemas com a autoridade instituída (Huang et al., 2015). A não ser que esse ciclo seja
rompido, mais da metade se tornam agressores (CDC, 2015e).
Ciclo de violência
Em um relacionamento de maustratos, o ciclo de violência é composto por três fases distintas: a de acúmulo de tensão, a de espancamento agudo e
a de lua de mel (Lawrence, 2015). O comportamento cíclico começa com um período de discussão de acúmulo de tensão, evolui para a violência e,
depois, instalase um período de reconciliação ou calmaria. Esse ciclo de violência aumenta em frequência e intensidade, repetindose inúmeras
vezes. O ciclo pode envolver um período de tempo longo ou curto. A fase de lua de mel diminui gradualmente e, por fim, desaparece
completamente. Os maustratos nos relacionamentos tipicamente se aceleram e tornamse mais perigosos ao longo do tempo. O agressor já não
sente a necessidade de desculparse e entrar em uma fase de lua de mel conforme a mulher se torna cada vez mais impotente no relacionamento.
FASE 1 | ACÚMULO DE TENSÃO
Durante a primeira e habitualmente mais longa fase do ciclo, a tensão entre o casal aumenta. O consumo excessivo de álcool, o ciúme ou outros
fatores podem levar a xingamentos, hostilidade e atrito. A mulher pode sentir que seu parceiro está reagindo mais negativamente, que ele está no
limite e que reage com veemência a qualquer frustração trivial. A mulher, muitas vezes, aceita o aumento da raiva de seu parceiro como
legitimamente direcionado para ela. Ela internaliza o que percebe como sendo sua responsabilidade para evitar que a situação “exploda”. Em sua
mente, se ela fizer bem o seu trabalho, ele permanecerá calmo. Mas se ela falhar, a violência resultante será culpa dela.
FASE 2 | ESPANCAMENTO AGUDO
A segunda fase do ciclo é a explosão da violência. O agressor perde o controle, tanto física quanto emocionalmente. Esse é o momento em que a
vítima pode ser espancada ou morta. Depois de um episódio de espancamento, a maioria das vítimas se considera com sorte de os maustratos não
terem sido piores, não importa quão graves sejam os seus ferimentos. Costumam negar a gravidade de seus ferimentos e recusamse a procurar
tratamento médico.
FASE 3 | RECONCILIAÇÃO/CALMARIA (LUA DE MEL)
A terceira fase do ciclo é um período de comportamento calmo, amoroso e contrito por parte do agressor. Ele pode sentirse verdadeiramente
arrependido pela dor que impôs à sua parceira. Tenta compensar o seu comportamento brutal e acredita que pode controlarse e jamais seria capaz
de fazer mal à mulher que ama. A vítima quer acreditar que seu parceiro realmente pode mudar. Ela se sente responsável, pelo menos em parte,
pelo incidente e sentese responsável pelo bemestar de seu parceiro (Boxe 9.1).
Tipos de maustratos
Os agressores podem usar o que for preciso para controlar uma situação – da violência emocional e humilhação à agressão física. As vítimas
muitas vezes toleram maustratos emocionais, físicos, financeiros e sexuais. Muitas permanecem em relacionamentos abusivos porque acreditam
que merecem os maustratos.
Violência emocional
A violência emocional inclui:
• Prometer, jurar ou ameaçar bater na vítima
• Forçar a vítima a praticar flatos degradantes ou humilhantes
BOXE 9.1
CICLO DE VIOLÊNCIA (VÍTIMA MULHER E AGRESSOR HOMEM)
• Fase 1 | Acúmulo de tensão: ocorre agressão verbal ou leve. Quase qualquer assunto, como limpeza ou dinheiro, pode
desencadear o acúmulo de tensão. Existe uma ruptura na comunicação. A vítima tenta acalmar o agressor. As vítimas se
sentem “pisando em ovos” no trato com os agressores
• Fase 2 | Espancamento agudo: caracterizado por descarga incontrolável de tensão. A violência raramente é desencadeada
por um comportamento da vítima: ela é espancada, não importa qual seja sua resposta. O início do episódio de violência é
imprevisível e está além do controle da vítima
• Fase 3 | Reconciliação/calmaria (lua de mel): primeiro, o agressor está envergonhado por causa de seu comportamento. O
agressor tenta minimizar o abuso e culpar o parceiro. O agressor tornase amoroso, gentil e apologético e expressa culpa. Em
seguida, o agressor trabalha para fazer a vítima sentirse responsável. Esse comportamento amoroso fortalece o vínculo entre
os parceiros e, provavelmente, convence a vítima, mais uma vez, de que não é necessário terminar o relacionamento
Adaptado de Domestic Violence Organization. (2015b) Cycle of violence. Retirado de http://www.domesticviolence.org/cycleof
violence/; Domestic Violence Roundtable. (2015). The cycle of domestic violence. Retirado
de http://www.domesticviolenceroundtable.org/domesticviolencecycle.html; e National Stress Clinic. (2015). Domestic abuse:
Understanding and breaking the cycle of violence. Retirado de http://www.nationalstressclinic.com/domesticabuseunderstanding
andbreakingthecycleofviolence/.
• Ameaçar bater em crianças, animais de estimação ou amigos próximos
• Humilhar a mulher com xingamentos e insultos
• Ameaçar deixar a mulher e seus filhos
• Isolarse de familiares e amigos
• Destruir bens valiosos
• Controlar cada movimento da vítima.
Violência física
A violência física inclui:
• Bater ou agarrar a vítima com força o suficiente para deixar marcas
• Jogar objetos na vítima
• Esbofetear, cuspir, morder, queimar, empurrar ou asfixiar a vítima
• Chutar ou perfurar a vítima, ou batêla contra objetos
• Atacar a vítima com faca, arma de fogo, corda ou fio elétrico
• Controlar a ida da vítima com ferimentos à unidade de saúde.
Maustratos financeiros
Os maustratos financeiros incluem:
• Impedir que a mulher consiga um emprego
• Sabotar o trabalho atual da mulher
• Controlar o modo como todo o dinheiro é gasto
• Deixar de contribuir financeiramente.
Abuso sexual
O abuso sexual inclui:
• Forçar a mulher a ter relação sexual vaginal, oral ou anal contra a sua vontade
• Morder seios ou órgãos sexuais da vítima
• Introduzir objetos na vagina da vítima
• Forçar a mulher a praticar flato sexual que ela considere degradante ou humilhante
• Forçar a vítima a praticar flatos sexuais com outras pessoas ou animais.
Mitos e fatos relacionados com a violência por parceiro íntimo
A Tabela 9.2 lista muitos dos mitos relacionados com a VPI. Os profissionais de saúde devem tomar medidas para dissipálos.
Perfil dos maustratos
Vítimas
Ironicamente, as vítimas raramente se descrevem como agredidas. Na síndrome da mulher agredida, a mulher sofreu agressão física ou sexual
deliberada e repetida por um parceiro íntimo. Ela está apavorada e sentese presa, indefesa e sozinha. Reage a qualquer expressão de raiva ou
ameaça com comportamento de evasão e retirada. Algumas mulheres acreditam que os maustratos sejam causados por uma falha de personalidade
ou inadequação em si (p. ex., a incapacidade de fazer o homem feliz). Esses sentimentos de fracasso são reforçados e explorados por seus
parceiros. Depois de ouvirem repetidamente que são “ruins”, algumas mulheres começam a acreditar. Muitas vítimas sofreram maustratos quando
crianças e podem ter baixa autoestima, saúde precária, TEPT, depressão, insônia, baixo nível de escolaridade ou histórico de tentativas de suicídio,
lesões ou uso abusivo de substâncias psicoativas e álcool (Barrios et al., 2015).
Agressores
Os agressores provêm de todas as esferas da vida e muitas vezes se sentem inseguros, impotentes e desamparados, sentimentos que não estão
alinhados com a imagem de valentão que gostariam de projetar. O agressor expressa seus sentimentos de inadequação por meio da violência ou
agressão para com os outros (Lawson, 2015).
A violência tipicamente ocorre em casa e geralmente é direcionada para a parceira íntima do homem ou para as crianças que ali vivem. Os
agressores se recusam a compartilhar o poder e optam pela violência para controlar suas vítimas. Eles geralmente maltratam as crianças ou exibem
comportamentos antissociais. Podem deixar de assumir responsabilidades ou culpar os outros por seus próprios problemas. Também podem ter um
histórico de problemas de uso abusivo de substâncias psicoativas, problemas com o sistema de justiça, poucos relacionamentos íntimos, ser
sensíveis a críticas, ter tendência a guardar rancor, envolverse em lutas de poder, ser emocionalmente desregulados, não ter discernimento, ter
tendência a sentirse incompreendidos, maltratados ou vitimizados, ter histórico de doença mental, prisões, relacionamentos conturbados, ciúme
obsessivo, comportamentos controladores, comportamento normalmente violento, história de emprego errático e problemas financeiros (Lawson,
2015).
Violência contra gestantes
Muitos acreditam que a gravidez seja um momento de celebração e planejamento para o futuro da criança por nascer, mas em um relacionamento
conturbado a gestação pode ser um momento de escalada da violência. O preditor mais forte de maustratos durante a gravidez é a ocorrência prévia
de maustratos. A violência contra gestantes parece ser mais prevalente que as doenças rotineiramente investigadas durante os cuidados prénatais,
tais como préeclâmpsia e diabetes melito (Lévesque & Chamberland, 2015). Para as mulheres que já foram agredidas, espancamentos e violência
durante a gravidez são “parte da rotina”.
As mulheres correm maior risco de violência durante a gestação. Achados recentes em pesquisas indicam que ter filhos não protege as
mulheres da VPI. Ao contrário, a VPI parece durar mais tempo se as mulheres têm filhos, e isso também parece ocorrer mesmo após o término do
relacionamento com o agressor (Mauri et al., 2015). As gestantes são vulneráveis durante esse período e os agressores podem tirar proveito disso.
Estimase que 325 mil gestantes sejam agredidas por seus parceiros a cada ano (CDC, 2015a). Os maustratos durante a gravidez representam
riscos especiais e dinâmicos. Vários fatores podem levar à agressão durante a gravidez, incluindo:
Tabela 9.2 Mitos e fatos comuns sobre o estupro.
Mitos Fatos
As mulheres que Pode levar vários anos para que elas se recuperem
são emocional e fisicamente do estupro
estupradas
superam isso
rapidamente
A maioria das A maioria das mulheres nunca conta isso a ninguém.
vítimas de Na verdade, quase dois terços das vítimas nunca
estupro conta relatam a agressão à polícia
a alguém
sobre isso
Depois que o A vítima se sente vulnerável, traída e insegura depois
estupro do estupro
termina, a
sobrevivente
pode voltar a
sentirse
segura
Se a mulher não Uma mulher pode ser forçada e dominada pela
quer ser maioria dos homens
violentada, a
agressão não
acontece
As mulheres que Poucas mulheres queixamse falsamente de um
se sentem estupro. É muito traumatizante ser uma vítima
culpadas
depois de
fazer sexo
dizem que
foram
estupradas
As vítimas devem Apenas 1% dos estupradores são presos e
denunciar a condenados. Levando em conta os estupros não
violência ao notificados e as chances de prisão e condenação
sistema pela justiça, apenas 6% dos estupradores
policial e passarão 1 dia na cadeia. Em outras palavras, 15
judicial em cada 16 estupradores não são punidos
As mulheres se As mulheres nunca devem culparse por terem sido
culpam pelo vítimas de violência de outra pessoa
estupro,
acreditando
que fizeram
algo para
provocálo
Quando se trata Os homens são fisicamente capazes de parar em
de sexo, os qualquer momento durante a atividade sexual. O
homens estupro não é um flato de paixão impulsivo e
podem ser descontrolado – tratase de um flato de violência
provocados premeditado
até “um ponto
de não
conseguir
parar”
Mulheres que Nenhuma vítima deseja ser agredida sexualmente, e
usam roupas o que ela veste é irrelevante
apertadas e
curtas estão
“pedindo por
isso”
As mulheres têm Realidade e fantasia são diferentes
fantasias de
Sonhos não têm nada a ver com a brutal violação do
estupro e
estupro
querem ser
estupradas
Apenas mulheres Qualquer pessoa pode ser estuprada. Crianças,
atraentes são idosos e pessoas com deficiências mentais e
estupradas físicas são alvos fáceis de estupro por causa de
sua vulnerabilidade
Medicamentos Inicialmente, a medicação pode ajudar, mas é
podem ajudar necessário psicoterapia
as mulheres a
esquecer o
estupro
Adaptada de Centers for Disease Control and Prevention [CDC].
(2015f). Understanding sexual violence. Retirada
de http://www.cdc.gov/violenceprevention/pdf/svfactsheet2013a.pdf; Rape
Crisis. (2015). Common myths about rape. Retirada
de http://www.rapecrisis.org.uk/commonmyths2.php; Women Against
Violence Against Women [WAVAW]. (2015). Rape myths. Retirada
de http://www.wavaw.ca/mythbusting/rapemyths/; e WELLWVU The
Student’s Center of Health. (2015). Rape myths and facts. Retirada
de: https://well.wvu.edu/articles/rape_myths_and_facts
• Incapacidade do casal de lidar com os estressores da gravidez
• Idade jovem no momento da gravidez
• Ambos os parceiros com escolaridade inferior ao ensino médio
• Desemprego de um ou ambos os parceiros
• Violência na família de origem
• Coabitação e estado civil solteiro
• Parceiro masculino que considera a mulher como sua propriedade sexual
• Uso abusivo de álcool pelo parceiro
• Ressentimento em relação à interferência do feto em crescimento e à mudança na forma física da mulher
• Dúvidas sobre a paternidade ou a fidelidade da gestante durante a gravidez
• Percepção de que a criança será um concorrente
• Atenção de fora que a gravidez traz para a mulher
• Gravidez não desejada
• Novo interesse da mulher em si mesma e em seu filho
• Insegurança e ciúmes em relação à gravidez e às responsabilidades que ela traz
• Encargos financeiros relacionados com as despesas com a gravidez e perda de rendimento
• Estresse pela transição do papel de homem adulto para pai de uma criança
• Alterações físicas e emocionais da gravidez que tornam a mulher vulnerável
• Isolamento prévio de familiares e amigos, o que limita o sistema de apoio do casal.
Os maustratos durante a gravidez ameaçam o bemestar da mãe e do feto. A violência física pode envolver ferimentos na cabeça, na face, no
pescoço, no tórax, nas mamas e no abdome. As consequências para a saúde mental também são significativas. Vários estudos têm confirmado a
relação entre os maustratos e os problemas de saúde mental, especialmente a depressão e o TEPT; a má qualidade de vida; o aumento da angústia,
do medo, da ansiedade e do desgaste; e o aumento do uso de tabaco, álcool e/ou substâncias psicoativas (Lawson, 2015). Para a gestante, muitas
dessas condições se manifestam frequentemente durante o período pósparto.
Anote!
Frequentemente, o medo de danos ao feto motiva a mulher a sair de um relacionamento abusivo.
As mulheres agredidas durante a gravidez correm o risco de:
• Lesões para si e para o feto
• Depressão
• Transtorno do pânico
• Morte fetal e materna
• Ansiedade crônica
• Aborto
• Natimorto
• Má nutrição
• Insônia
• Descolamento prematuro da placenta
• Ruptura uterina
• Ganho ou perda excessiva de peso
• Tabagismo e uso abusivo de substâncias psicoativas
• Não realização de cuidados prénatais ou atraso nos cuidados
• Trabalho de parto prematuro
• Maior taxa de partos cirúrgicos
• Corioamnionite
• Vaginite
• Doenças/infecções sexualmente transmissíveis (DST/IST)
• Infecções urinárias
• Recémnascidos prematuros e de baixo peso ao nascer (AWHONN, 2015).
Os sinais de maustratos podem surgir durante a gravidez e incluir falta de assiduidade às consultas prénatais, medos irrealistas, flutuações de
peso, dificuldade com o exame ginecológico e não adesão ao tratamento. Veja o boxe Prática baseada em evidências 9.1 para uma intervenção
utilizada para as gestantes que sofrem VPI.
Descobrir os maustratos em gestantes requer uma abordagem consistente e direta de cada paciente pelo enfermeiro. Avaliações múltiplas
podem melhorar as notificações, possibilitando que o enfermeiro estabeleça uma relação de confiança com a mulher e identifique mudanças em seu
comportamento. Após descobrir que a gestante sofre maustratos, as intervenções devem incluir avaliação da segurança, apoio emocional,
aconselhamento, encaminhamento para serviços comunitários e cuidados prénatais contínuos para evitar efeitos adversos à saúde (Hewitt, 2015).
Violência contra idosas
A VPI afeta mulheres de todas as idades, mas muitas vezes a literatura focaliza as mulheres em idade fértil, ignorando os problemas de idosas
vítimas de maustratos. Os maustratos contra idosos (ou seja, abuso e negligência) são definidos como ações intencionais que provocam dano, ou
criam um risco sério de dano a um idoso vulnerável, in igidas por um cuidador ou por outra pessoa que mantém um relacionamento de confiança
com os idosos. Todos os 50 estados norteamericanos têm leis que exigem que os profissionais de saúde relatem maustratos à pessoa idosa ou
vulnerável. As estimativas sugerem que de 500 mil a 2 milhões de casos de maustratos e negligência ocorram anualmente nos EUA. Estimase
que um em cada dez adultos mais velhos sofram maustratos, mas apenas um em cada cinco a um em cada vinte e quatro é notificado.3 A pesquisa
sugere que as mulheres mais velhas sofrem mais maustratos que os homens mais velhos e que quanto mais velho for o idoso, mais provável que
sofra maustratos. Existe a expectativa de que os maustratos contra idosos aumentem à medida que a população envelhece (Wang et al., 2015). Os
tipos de maustratos vividos pela idosa podem incluir maustratos físicos, negligência, violência emocional, abuso sexual e maustratos
financeiros/exploração (National Center on Elder Abuse, 2015).
Prática baseada em evidências 9.1
Efetividade das visitas domiciliares na redução da VPI nas famílias que vivenciam esse abuso | Revisão sistemática.
ESTUDO
A VPI contra mulheres é um problema social importante em todo o planeta com substanciais consequências para a saúde, tanto
da mãe como da criança. As visitas domiciliares realizadas por profissionais de enfermagem a famílias que correm risco de maus
tratos parecem ser intervenções promissoras para reduzir a VPI. Nessa revisão sistemática, a efetividade das visitas domiciliares
foi avaliada como intervenção para reduzir a VPI sofrida pelas mães.
Achados
Foi realizada uma revisão sistemática de 1.258 artigos, e dezenove deles atenderam aos critérios de inclusão e foram examinados
detalhadamente. Dezesseis relataram taxas mais baixas de agressão física associadas às visitas domiciliares por profissionais de
enfermagem e três estudos não constataram redução significativa da VPI. Essa revisão sistemática constatou que as visitas
domiciliares que oferecem suporte às mulheres vítimas de maustratos durante suas gestações parecem ser efetivas na redução
da incidência de VPI (além de interromper a VPI). Todavia, não se sabe se esses resultados são efetivos a longo prazo.
Implicações para a enfermagem
Ao realizarem visitas domiciliares, os profissionais de enfermagem podem estabelecer uma relação de confiança com as
pacientes. Por meio de abordagem dos fatores que aumentam o risco geral de VPI, tais como estresse e outros fatores
contribuintes, a VPI pode ser reduzida e o ciclo de violência pode ser interrompido. Um benefício importante das intervenções
domiciliares é que são bemsucedidas no atendimento a gestantes jovens de alto risco que notoriamente não comparecem às
consultas de prénatal tradicionais durante esse estágio vulnerável de suas vidas. Os profissionais de enfermagem podem
observar o ambiente domiciliar e, assim, detectar fatores de risco e planejar intervenções para corrigilos.
Adaptado de Prosman, G. J., Wong, S. H., van der Wouden, J. C., & LagroJanssen, A. L. (2015). Effectiveness of home visiting
in reducing partner violence for families experiencing abuse: A systematic review. Family Practice, 32(3), 247–256. (Online:
5/6/15.)
Embora uma lesão possa levar a mulher idosa ao sistema de saúde, as sequelas físicas e emocionais da VPI podem ser mais sutis e incluir
depressão, insônia, dor crônica, dificuldade em confiar nos outros, baixa autoestima, pensamentos de suicídio, uso abusivo de substâncias,
problemas de raiva, dor torácica atípica ou outros tipos de manifestações somáticas. Pesquisas sugerem que a idosa costuma sofrer maustratos a
longo prazo, desenvolve estratégias não saudáveis de enfrentamento (uso abusivo de substâncias psicoativas, manter a família unida a todo o custo
e consequências à saúde física/mental) e arca com a culpa de seus filhos adultos, embora desenvolva capacitação interior para lidar com os maus
tratos (Policastro & Finn, 2015).
A detecção acurada e a investigação de maustratos em mulheres idosas são deveres essenciais de todo enfermeiro. Os profissionais de
enfermagem mantêm contato frequente com os idosos vítimas de maustratos e isso propicia a oportunidade de ter uma participação significativa na
detecção, na notificação e na intervenção nesses casos. Como parte de um rastreamento minucioso, o enfermeiro deve determinar o que a paciente
tem feito para tentar resolver os maustratos e a efetividade dessas estratégias. As ações tomadas pelo paciente, além de revelar os maustratos
sofridos aos profissionais de enfermagem, poderiam incluir aceitação passiva, chamar a polícia, buscar aconselhamento ou outras medidas. Além
disso, reservar um tempo para estabelecer um relacionamento com a mulher idosa constrói um sentimento de confiança, segurança e transparência.
O enfermeiro precisa ouvir atentamente e de modo imparcial. Julgar ou criticar a vítima por suas decisões pode levar à impressão de que ela merece
os maustratos ou é a culpada. Por fim, o enfermeiro deve tentar manterse atualizado em seus conhecimentos dos recursos de encaminhamento
para auxiliar a mulher idosa que sofre maustratos. Alguns desses recursos podem ser abrigos, transporte, serviços médicos, emprego, serviços
sociais e grupos de apoio locais. Uma resposta coordenada e abrangente à VPI é essencial para reduzir suas sequelas.
Conduta de enfermagem para as vítimas de violência por parceiro íntimo
O enfermeiro se depara com milhares de vítimas de maustratos a cada ano nas instituições em que atua, mas muitas não são detectadas. Visto que
a avaliação da violência aumentou nos últimos anos, os profissionais de enfermagem precisam saber não só como rastrear a ocorrência de
violência, mas também como reagir de uma maneira que seja útil, sincera, imparcial e adequada do ponto de vista jurídico. Esse desejo exige que
os profissionais de enfermagem vão além da mera descrição da violência e tenham uma resposta orientada para a ação e baseada em evidências, que
inclui planejamento de segurança e encaminhamentos. Há várias ações que o enfermeiro pode empreender para ajudar as vítimas. O reconhecimento
precoce e a intervenção podem reduzir significativamente as taxas de morbidade e mortalidade associadas à VPI. Para interromper o ciclo de
violência, o enfermeiro precisa saber como avaliar e identificar a VPI e implementar ações apropriadas.
Avaliação
O rastreamento de rotina à procura de VPI é a primeira maneira de detectar maustratos. O enfermeiro deve construir uma relação de confiança
ouvindo, mostrando interesse nas preocupações da mulher e criando uma atmosfera de abertura. Comunicar que a apoia por meio de uma atitude
imparcial e dizer à mulher que ninguém merece ser maltratado são os primeiros passos para o estabelecimento de confiança e de um
relacionamento. Em vez de ver as mulheres vítimas de maustratos como “reclamonas crônicas”, enfermeiros astutos precisam estar vigilantes em
busca de pistas sutis de maustratos. É essencial aprender como investigar a ocorrência de maustratos. Algumas diretrizes básicas de avaliação são
dadas a seguir.
RASTREAR MAUSTRATOS EM TODAS AS CONSULTAS A INSTITUIÇÕES DE SAÚDE
O rastreamento de indícios de violência leva apenas alguns minutos e pode ter um efeito extremamente positivo sobre o desfecho da mulher
agredida. Qualquer mulher pode ser vítima; nenhum sinal marca a mulher como uma vítima de maustratos, mas as seguintes informações são
úteis:
• Lesões: equimoses no tórax e no abdome, cicatrizes por traumatismo não penetrante, lacerações leves ou feridas por arma na face, na cabeça e
no pescoço
• Sequelas de lesão: cefaleia, perda auditiva, causada por ruptura da membrana timpânica, artralgia, sinusite, marcas de dentes, tufos de cabelo
faltando, traumatismo dentário, dor pélvica, lesões nas mamas ou nos órgãos genitais
• O relato de como ocorreu a lesão não é consistente com o problema apresentado
• Problemas de saúde mental: depressão, ansiedade, uso abusivo de substâncias psicoativas, transtornos alimentares, ideação suicida ou
tentativas de suicídio, raiva do profissional de saúde e TEPT
• Uso frequente de ansiolíticos ou sedativos
• Demora em procurar assistência médica e padrões de lesões repetidas
• Equimoses no braço, no pescoço e na face, no abdome ou nas mamas
• Comentários sobre violência emocional ou física de “um amigo”
• DST/IST ou doença inflamatória pélvica
• Parecer nervosa, envergonhada ou evasiva quando questionada
• Consultas frequentes à instituição de saúde por doenças crônicas relacionadas com estresse, como dor torácica, cefaleia, dor nas costas ou dor
pélvica, insônia, lesões, ansiedade e distúrbios gastrintestinais
• Comportamento do parceiro na consulta à instituição de saúde: parece excessivamente solícito ou superprotetor, não quer deixar a mulher
sozinha com o profissional de saúde, responde às perguntas por ela e tenta controlar a situação (Ghandour, Campbell, & Lloyd, 2015).
Dorothy retorna à clínica prénatal 1 mês depois, com anemia, ganho de peso inadequado, hematomas no rosto e no pescoço e
sangramento no segundo trimestre. Dessa vez, o companheiro a levou e ficou com ela na consulta. Quais perguntas o enfermeiro
deve fazer para avaliar a situação? Qual é o local apropriado para essas perguntas? Quais responsabilidades legais o enfermeiro
tem em relação às suas observações?
ISOLAR A PACIENTE DA FAMÍLIA IMEDIATAMENTE
Se forem detectados maustratos, isole imediatamente a mulher para proporcionar privacidade e evitar potencial retaliação por parte do agressor.
Perguntar sobre os maustratos na frente do agressor pode desencadear um episódio de violência durante a entrevista ou em casa. Os modos de
garantir a segurança da mulher seriam levar a vítima para uma área longe do agressor para fazer perguntas. A avaliação pode ocorrer em qualquer
local – sala de raios X, sala de ultrassonografia, elevador, banheiro feminino, laboratório – que seja privado e esteja longe do agressor.
Se forem detectados maustratos, o enfermeiro pode fazer o seguinte para melhorar a relação enfermeiropaciente:
• Orientar a mulher sobre a conexão entre a violência e seus sintomas
• Ajudar a mulher a reconhecer o que aconteceu com ela e a começar a lidar com a situação
• Oferecerlhe referências para que ela possa receber ajuda que lhe possibilitará começar a recuperarse.
Dorothy, descrita no início do capítulo, tem comparecido ao ambulatório com queixas somáticas vagas nas últimas semanas e
admite que às vezes sente medo em casa. Ela diz ao enfermeiro que seu parceiro não quer que ela trabalhe, mesmo que ele
esteja desempregado e apenas consiga uns “bicos”. Quais indícios em sua avaliação podem indicar os maustratos? Quais sinais
físicos o enfermeiro pode observar?
FAZER PERGUNTAS DIRETAS OU INDIRETAS SOBRE OS MAUSTRATOS
A violência contra a mulher é muitas vezes invisível, desconhecida e omitida nas famílias. Perguntas para rastrear maustratos devem ser rotineiras
e tratadas como qualquer outra questão. Muitos profissionais de enfermagem se sentem desconfortáveis ao fazer perguntas dessa natureza, mas
abordar o assunto é importante, mesmo que a resposta venha depois. Abrir a possibilidade para que as mulheres expressem os maustratos sofridos
envia uma mensagem clara de que a violência nunca deve ser tolerada nem escondida, mas também transmite a mensagem de que o enfermeiro se
preocupa com o que a mulher está passando e quer oferecer melhor resposta prática inicial. Simplesmente saber que alguém está informado sobre
os maustratos oferece à vítima algum alívio e pode ajudála a denunciálos.
Faça as perguntas difíceis de modo empático e não ameaçador. Mantenhase imparcial em todas as respostas e interações. Escolha o tipo de
pergunta que deixa a mulher mais confortável. Perguntas diretas e indiretas produzem os mesmos resultados. “O seu companheiro bateu em você?”
ou “Você já esteve ou está agora em um relacionamento que envolva maustratos?” são perguntas diretas. Se essa abordagem a faz sentirse
desconfortável, tente perguntas indiretas: “Nós atendemos muitas mulheres com lesões ou queixas como a sua e muitas vezes elas estão sendo
maltratadas. É isso o que está acontecendo com você?” ou “Muitas mulheres em nossa comunidade sofrem maustratos de seus parceiros. Algo
assim está acontecendo com você?”. Em qualquer uma dessas abordagens, o enfermeiro precisa manter uma atitude de aceitação imparcial de
quaisquer respostas que a mulher der. O modelo RFVA é um protocolo de rastreamento que o enfermeiro pode usar para investigar maustratos
(Boxe 9.2).
AVALIAR A SEGURANÇA IMEDIATA
É essencial ajudar a mulher por meio de avaliação de sua segurança e da segurança de seus filhos. Para fazêlo, fale com a mulher em particular e
faça as seguintes perguntas:
• Ela se sente segura para voltar para casa depois do seu atendimento?
• Ela precisa imediatamente de um lugar seguro para ela ou para seus filhos?
• Ela tem um plano de fuga se houver risco para sua segurança?
• Ela precisa conhecer uma saída alternativa do prédio onde está sendo atendida?
• Quem são as pessoas com que ela poderia entrar em contato se precisasse de ajuda ou suporte?
BOXE 9.2
MODELO RFVA
RASTREIE todas as suas pacientes à procura de sinais de violência perguntando:
• No ano passado, você foi agredida fisicamente por alguém?
• Você sente que está no controle de sua vida?
• No ano passado, alguém a obrigou a ter relações sexuais?
• Você pode me contar sobre os maustratos que está sofrendo?
• Em geral, como você descreveria o seu relacionamento com seu cônjuge?
FAÇA perguntas diretas de modo imparcial:
• Comece normalizando o tópico para a mulher
• Estabeleça contato visual permanente com a mulher
• Mantenhase calmo, evite reações emocionais ao que ela lhe diz
• Nunca culpe a mulher, mesmo que ela se culpe
• Não descarte ou minimize o que ela diz, mesmo que ela o faça
• Espere pacientemente por cada resposta. Não a apresse com a próxima pergunta
• Não use linguagem formal, técnica nem jargão
• Evite perguntas capciosas, vá direto ao ponto
• Use uma abordagem de aceitação, não ameaçadora
VALIDE os sentimentos da paciente dizendo a ela que:
• Você acredita no que ela contou
• Você não a culpa pelo que aconteceu
• É corajoso da parte dela lhe dizer isso
• Há ajuda disponível para ela
• Falar com você é um bom sinal e um primeiro grande passo
AVALIE, oriente e encaminhe essa paciente perguntandolhe:
• Qual tipo de violência ela sofreu?
• Ela agora está em perigo?
• Como ela está se sentindo agora?
• Será que ela sabe que existem consequências da violência?
• Ela conhece os recursos comunitários disponíveis para ajudála?
Adaptado de USDHHS. (2015c). Screening for domestic violence in health care settings. Office of the Assistant Secretary for
Planning and Evaluation. Retirado de http://aspe.hhs.gov/hsp/13/dv/pb_screeningdomestic.cfm; Association of Women’s Health,
Obstetric and Neonatal Nurses [AWHONN]. (2015). Intimate partner violence. Journal of Obstetric, Gynecologic & Neonatal
Nursing, 44(3), 405–408.; e Canadian Domestic Homicide Prevention Initiative. (2015). Risk assessment, risk management and
safety planning. Retirado de http://www.learningtoendabuse.ca/cdhpi/riskassessmentriskmanagementandsafetyplanning.
A ferramenta de avaliação do perigo (Boxe 9.3) ajuda as mulheres e os profissionais de saúde a avaliar o potencial de comportamento homicida
em um relacionamento abusivo em curso. É baseada em uma pesquisa que mostrou vários fatores de risco para homicídios relacionados com maus
tratos:
• Aumento da frequência ou da intensidade dos maustratos
• Existência de armas de fogo
• Abuso sexual
• Uso abusivo de substâncias
• Precipitado por discussões e brigas
• Comportamento habitualmente violento fora de casa
• Comportamento controlador (p. ex., tarefas diárias, amigos, trabalho, dinheiro)
• Violência física durante a gravidez
• Ameaças ou tentativas de suicídio (vítima ou agressor)
• Maustratos infantis (Sugg, 2015).
DOCUMENTAR E RELATAR SEUS ACHADOS
Se durante a entrevista forem relatados maustratos, a documentação acurada é fundamental, porque constitui evidência perante a justiça. A
documentação precisa incluir detalhes sobre a frequência e a intensidade dos maustratos, a localização, a extensão e o desfecho das lesões e
quaisquer tratamentos ou intervenções. Ao documentar, utilize citações diretas e seja muito específico: “Ele me sufocou.” Descreva quaisquer
ferimentos visíveis e use um mapa do corpo (esboço do corpo da mulher) para mostrar onde as lesões estão localizadas. Tire fotografias (após a
vítima assinar o termo de consentimento informado) ou documente a recusa se a mulher não quiser ser fotografada. Imagens ou diagramas podem
valer mais que mil palavras. A Figura 9.2 mostra um exemplo de documentação da VPI.
Nos EUA a lei, em muitos estados, exige que os profissionais de saúde alertem a polícia de quaisquer lesões que envolvam facas, armas de
fogo ou outras armas letais ou que representem emergências potencialmente fatais. Se a avaliação revelar suspeita ou indicação real de maustratos,
os enfermeiros podem explicar que precisam, por lei, notificar a ocorrência.
Diagnóstico de enfermagem
Quando houver suspeita ou confirmação de violência, o enfermeiro precisará formular diagnósticos de enfermagem com base na avaliação
concluída. Os possíveis diagnósticos de enfermagem relacionados com a violência contra a mulher poderiam incluir:
• Conhecimento deficiente em relação à compreensão do ciclo de violência e da disponibilidade de recursos
• Ansiedade relacionada com a ameaça ao autoconceito, crise situacional de maustratos
• Baixa autoestima situacional, relacionada com interações familiares negativas
• Impotência relacionada com o estilo de vida de desamparo
• Enfrentamento pessoal e familiar comprometido relacionado com os padrões de maustratos.
BOXE 9.3
FERRAMENTA DE AVALIAÇÃO DO PERIGO
Vários fatores de risco têm sido associados a risco aumentado de homicídios por homens e mulheres em relacionamentos
violentos. Ninguém pode prever o que vai acontecer no seu caso, mas gostaríamos que você estivesse ciente do perigo de
homicídio em situações de maustratos e que você visse como muitos dos fatores de risco se aplicam à sua situação. (“Ele” se
refere ao seu marido, companheiro, exmarido, exparceiro ou quem seja o agressor físico atual.)
____ 1. A violência física aumentou em intensidade ou frequência no ano passado?
____ 2. Ele tem uma arma de fogo?
____ 3. Você o deixou depois de viverem juntos durante o ano passado?
____ 4. Ele está desempregado?
____ 5. Ele já usou uma arma de fogo contra você ou ameaçou com uma arma letal?
____ 6. Ele ameaçou matála?
____ 7. Ele escapou de ser preso por violência doméstica?
____ 8. Você tem um filho que não é dele?
____ 9. Ele já te forçou a ter relações sexuais quando você não queria?
____ 10. Ele já tentou sufocála?
____ 11. Ele usa drogas ilegais? Por drogas ilegais entendemse estimulantes, metanfetaminas, fenciclidina, cocaína, crack.
____ 12. Ele é alcoólico ou tem problemas com o consumo de bebidas alcoólicas?
____ 13. Ele controla a maioria ou todas as suas atividades diárias? Por exemplo: ele diz de quem você pode ser amiga, quando
você pode ver sua família, quanto dinheiro você pode gastar ou quando você pode pegar o carro?
____ 14. Ele tem ciúmes de você de modo violento e constante? (p. ex., ele te diz “Se eu não posso ter você, ninguém pode.”)
____ 15. Você foi agredida por ele durante a gestação?
____ 16. Ele já ameaçou ou tentou cometer suicídio?
____ 17. Ele ameaçou machucar seus filhos?
____ 18. Você acredita que ele seja capaz de matála?
____ 19. Ele segue ou espiona você, deixa recados ou mensagens ameaçadoras na secretária eletrônica, destrói sua
propriedade ou liga para você quando você não quer falar com ele?
____ 20. Alguma vez você já ameaçou ou já tentou cometer suicídio?
____ Total de respostas “sim”
Obrigada. Por favor, fale com seu enfermeiro, seu advogado ou psicólogo sobre o que a ferramenta de avaliação do
perigo significa em relação à sua situação.
Fonte: March of Dimes Danger Assessment questionnaire. De Campbell, J. (1986). Nursing assessment for risk of homicide with
battered women. Advances in Nursing Science, 8(4), 36–51.
Intervenções
A reação dos profissionais de enfermagem à mulher espancada pode ter um efeito profundo na disposição dela de revelar o que sente ou de pedir
ajuda. Algumas reações ajudam a comunicação bemsucedida nessas circunstâncias e incluiriam:
• Escutar (ouvir com atenção): “Estou ouvindo e compreendo o que você está dizendo.” Ser ouvida com atenção pode ser uma experiência
empoderadora para uma mulher que sofreu maustratos
• Comunicar sua convicção na pessoa: “Isso foi realmente muito assustador”
• Validar a decisão de revelar o ocorrido: “É realmente muito difícil falar sobre isso hoje”
• Enfatizar que a violência é inaceitável: “Você não merece ser tratada dessa maneira”.
Se forem identificados maustratos, o enfermeiro poderá realizar intervenções que aumentarão a segurança da mulher e melhorarão sua saúde.
O objetivo da intervenção é que a vítima possa ter controle sobre sua vida. Preste cuidados sensíveis e previsíveis em um ambiente acolhedor.
Ofereça explicações passo a passo dos procedimentos. Forneça materiais educativos sobre violência. Possibilite que a vítima participe ativamente
de seu cuidado e tenha controle sobre todas as decisões de saúde. Regule o ritmo de suas intervenções de enfermagem e possibilite que a mulher
assuma o controle. Comunique apoio por meio de uma atitude imparcial. Documente cuidadosamente todos os seus achados da avaliação e
intervenções de enfermagem.
A abordagem de saúde pública para prevenção de violência demanda aporte e coordenação de diferentes setores, inclusive saúde, educação,
serviço social, justiça e política. A meta da saúde pública é melhorar a saúde de toda a comunidade ou de toda a sociedade. Dependendo de quando
no ciclo de violência o enfermeiro encontra a mulher agredida, os objetivos podem dividirse em três grupos:
Domínio de conceito
Prioridades nas intervenções nos casos de violência por parceiro íntimo
Embora seja importante que a mulher, em uma situação de violência, seja colocada em segurança, é ainda mais
importante que ela recupere a sensação de controle sobre a própria vida. É a perda de controle que impede que uma
mulher saia de uma situação de violência.
FIGURA 9.2 Formulário da documentação de violência por parceiro íntimo. (Reproduzida de Home Healthcare Nurse, 17, Cassidy K, How to
assess and intervene in domestic violence situations, 644–72, Copyright 1999, com permissão de Lippincott Williams & Wilkins.)
• Prevenção primária: visa romper o ciclo de maustratos por meio de iniciativas educacionais comunitárias por enfermeiros, médicos, policiais,
professores e clérigos
• Prevenção secundária: concentrase em rastrear indivíduos de alto risco e em lidar com as vítimas e os agressores em estágios iniciais, com o
objetivo de impedir a progressão dos maustratos
• Prevenção terciária: atividades direcionadas para ajudar as mulheres e crianças submetidas a maustratos graves a recuperaremse e tornarem
se membros produtivos da sociedade e reabilitar os agressores para interromper o ciclo de violência. Essas atividades são tipicamente
demoradas e dispendiosas.
A ferramenta modificada desenvolvida por Holtz e Furniss (1993) – o ABCDES – fornece uma estrutura para a prestação de intervenções de
enfermagem sensíveis a mulheres maltratadas (Boxe 9.4). As intervenções de enfermagem específicas para a mulher agredida incluem orientála
sobre os serviços da comunidade, oferecendo apoio emocional e um plano de segurança.
ORIENTAR A MULHER EM RELAÇÃO AOS SERVIÇOS DA COMUNIDADE
No Brasil, desde 2005, existe a Central de Atendimento à Mulher, o Ligue 180, que é uma das políticas de combate à violência doméstica. Os
profissionais de enfermagem devem estar preparados para ajudar a mulher a tirar proveito dessas oportunidades. A ligação é gratuita e a central
funciona 24 horas por dia.
O Ligue 180 fornece orientações alternativas para que a mulher se proteja do agressor. Ela é informada de seus direitos legais e dos tipos de
estabelecimento que pode procurar. A Joint Commission on the Accreditation of Hospitals and Health care Organizations (JCAHO), a American
Medical Association (AMA), o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) e a United States Preventive Services Task Force
(USPSTF) recomendam rastreamento rotineiro de VPI, psicoterapia e encaminhamentos em todas as unidades de saúde (USDHHS, 2015c).
FORNECER APOIO EMOCIONAL
Fornecer tranquilidade e apoio à vítima de maustratos é fundamental se o episódio de agressão tiver acabado de ocorrer. Os efeitos físicos,
psicológicos e emocionais da VPI nas mulheres e nos seus filhos podem ser graves e duradouros. Os enfermeiros em todas as instituições de saúde
podem ajudar as vítimas a ter a sensação de poder pessoal e proporcionarlhes um ambiente seguro e de apoio. A ação apropriada pode ajudar as
vítimas a expressar seus pensamentos e sentimentos de modo construtivo, gerenciar o estresse e seguir em frente com sua vida. As intervenções
adequadas são:
BOXE 9.4
ABCDES DOS CUIDADOS PRESTADOS ÀS VÍTIMAS DE MAUSTRATOS
• A: é reconfortante para a mulher saber que ela não está sozinha (do inglês Alone). O isolamento imposto pelo agressor a
impede de saber que outras pessoas estão na mesma situação e que os profissionais de saúde podem ajudála
• B: expressar a crença (do inglês Belief) de que a violência contra a mulher não é aceitável em nenhuma situação e que não é
culpa dela. Demonstre, por meio de ações e palavras, que você acredita no que ela está contando
• C: confidencialidade, porque a mulher pode acreditar que se os maustratos forem denunciados o agressor vai retaliar.
Entrevistea em particular, sem a presença de seu parceiro ou de familiares. Assegure à mulher que você não vai liberar as
informações sem a permissão dela
• D: documentação, que inclui o seguinte:
• Declaração clara sobre os maustratos, nas palavras da própria mulher
• Descrições acuradas das lesões e a história delas
• Informações sobre o primeiro, o pior e o mais recente incidente de maustratos
• Fotografias das lesões (com o consentimento da mulher)
• E: esclarecimentos sobre o ciclo de violência e o aumento de sua intensidade
• Oriente sobre os maustratos e seus efeitos na saúde
• Ajudea a entender que ela não está sozinha
• Ofereça apoio e encaminhamento aos recursos da comunidade apropriados
• Mostre cartazes e folhetos para promover a conscientização em relação a esse problema de saúde pública
• S: segurança, o aspecto mais importante da intervenção, para assegurar que a mulher tenha os recursos e um plano de ação
a seguir quando ela decidir ir embora.
Adaptado de Centers for Disease Control & Prevention [CDC]. (2015a). Understanding intimate partner violence: Fact
sheet. Retirado de http://www.cdc.gov/violenceprevention/pub/ipv_factsheet.html; Human Rights Watch. (2015). Abused and
expelled. Retirado de http://www.hrw.org/sites/default/files/reports/morocco0214_ForUpload.pdf; e Ghandour, R. M., Campbell, J.
C., & Lloyd, J. (2015). Screening and counseling for intimate partner violence: A vision for the future. Journal of Women’s
Health, 24(1), 57–61.
• Fortalecer a sensação de controle da mulher sobre sua vida ao:
• Ensinar estratégias de enfrentamento para gerenciar o estresse
• Ajudar com as atividades da vida diária para melhorar seu estilo de vida
• Possibilitar que ela tome tantas decisões quantas for capaz
• Orientála sobre os sintomas do TEPT e suas causas
• Incentivar a mulher a estabelecer metas realistas para si mesma ao:
• Ensinar habilidades de resolução de problemas
• Incentivar atividades sociais para se conectar com outras pessoas
• Fornecer apoio e possibilitar que a mulher lamente suas perdas ao:
• Ouvir e esclarecer suas reações ao evento traumático
• Discutir o choque, a descrença, a raiva, a depressão e a aceitação
• Explicar à mulher que:
• Os maustratos nunca são aceitáveis. Ela não pediu e não os merece
• Ela não está sozinha e há ajuda disponível
• Os maustratos são um crime e ela é uma vítima
• Álcool, substâncias psicoativas, problemas de dinheiro, depressão ou inveja não causam violência, mas essas coisas podem dar ao agressor
uma justificativa para a perda de controle e a agressão
• As ações do abusador não são culpa dela
• Você acredita no relato de maustratos
• Tomar a decisão de deixar um relacionamento abusivo pode ser muito difícil e leva tempo.
OFERECER UM PLANO DE SEGURANÇA
A escolha de sair da situação tem de ser da vítima. O enfermeiro não pode escolher uma vida para a vítima; pode somente oferecer escolhas. Sair é
um processo, não um evento. As vítimas podem tentar deixar seus agressores até sete ou oito vezes antes de serem bemsucedidas.
Frequentemente, a tentativa final de sair pode resultar na morte da vítima. As mulheres que planejam sair de um relacionamento abusivo devem ter
um plano de segurança, se possível (Diretrizes de ensino 9.1).
Diretrizes de ensino 9.1
Plano de segurança para sair de um relacionamento abusivo
• Ao sair de um relacionamento abusivo, leve os seguintes itens:
• Carteira de motorista ou de identidade com foto
• Carteira de trabalho
• Sua certidão de nascimento e a de seus filhos
• Números de telefone do serviço social ou abrigo de mulheres
• Escritura ou contrato de arrendamento da sua casa ou apartamento
• Quaisquer documentos ou ordens judiciais
• Uma muda de roupa para você e seus filhos
• Contracheques, cheques, cartões de crédito e dinheiro
• Cartões do plano de saúde
• Se você precisar sair de uma situação de violência doméstica repentinamente, ligue para as autoridades para obter ajuda
para pegar esses itens
• Desenvolva um “plano de atividades” para a fuga e ensaieo
• Não use cartões telefônicos – eles deixam um “rastro” que pode ser seguido
Adaptado de Burnett, L. B., & Adler, J. (2015). Domestic violence. eMedicine. Retirado
de http://emedicine.medscape.com/article/805546overview; Murray, C. E., Horton, G. E., Johnson, C. H., Notestine, L., Garr,
B., Pow, A. M., et al. (2015). Domestic violence service providers’ perceptions of safety planning: A focus group study. Journal
of Family Violence, 30(3), 381–392; e Chang, J. C. (2015). Domestic violence: Epidemiology and risk factors. Clinical
Gynecology (2nd ed., pp. 94–101). Cambridge, UK: Cambridge University Press.
Os profissionais de enfermagem precisam lembrar que sua função é orientar e salvar. A mulher tomará a melhor decisão que ela considere
apropriada nesse momento. O enfermeiro pode ser o recurso mais efetivo no ambiente estressante da vítima. O simples fato de permitir que a
vítima fale pode ser a intervenção mais valiosa. O impacto da presença e o suporte do enfermeiro permanecerão com a mulher, seja qual for a
decisão que ela tomar.
VIOLÊNCIA SEXUAL
A violência sexual é tanto um problema de saúde pública quanto uma violação dos direitos humanos. A violência sexual inclui a VPI, o tráfico de
pessoas, o incesto, a mutilação genital feminina, a prostituição forçada, a escravidão, a exploração, a negligência, o infanticídio e a agressão sexual.
Ocorre em todo o mundo e afeta cerca de um terço das mulheres ao longo da vida (BagwellGray, Messing, & BaldwinWhite, 2015). Uma vez a
cada 2 minutos, 30 vezes por hora, 1.871 vezes/dia, meninas e mulheres são estupradas nos EUA. Uma em cada cinco mulheres e 1 em cada 71
homens sofrerá abuso sexual ao longo da vida (Rape, Abuse, and Incest National Network [RAINN], 2015a). Há notificações de estupro contra
mulheres a partir de 6 meses de idade até os 93 anos, mas este ainda é um dos crimes violentos mais subnotificados dos EUA. Uma mulher é
violentada a cada 2 minutos em algum lugar dos EUA (RAINN, 2015a. O National Center for Prevention and Control of Sexual Assault estima que
dois terços dos abusos sexuais não serão notificados (CDC, 2015f). Ao longo da vida, as mulheres podem sofrer mais de um tipo de violência.
A violência sexual pode ter inúmeros efeitos devastadores a curto e longo prazos. As mulheres podem apresentar sinais/sintomas psicológicos,
físicos e cognitivos diários. Esses podem incluir dor pélvica crônica, cefaleia, dorsalgia, infecções sexualmente transmissíveis, gravidez,
ansiedade, negação, medo, retração, transtornos do sono, culpa, nervosismo, fobias, abuso de substâncias psicoativas, depressão, disfunção sexual
e estresse póstraumático. Muitas contemplam a possibilidade de suicídio (CDC, 2015f). A experiência traumática não só prejudica a sensação de
segurança no mundo da mulher, mas também pode diminuir sua autoestima e sua capacidade de continuar sua formação escolar, ganhar dinheiro e
ser produtiva, ter filhos e, se tiver filhos, nutrilos e protegêlos. Em geral, as mulheres sexualmente agredidas apresentam menor funcionalidade
como adultas (MacGregor et al., 2015).
Anote!
A violência sexual tem sido chamada de “tragédia da juventude”. Mais da metade dos estupros (54%) de mulheres ocorre antes dos 18 anos
(Medicine Net, 2015a).
Características dos agressores
Os agressores, bem como suas vítimas, provêm de todas as esferas sociais e de todas as etnias; não há um perfil típico. Mais da metade deles tem
menos de 25 anos e a maioria é casada e tem vida sexual “normal”. Por que os homens estupram? Nenhuma teoria fornece uma explicação
satisfatória. Visto que poucos agressores são presos e condenados, ainda não foi definido um perfil. O que se sabe é que muitos agressores têm
dificuldades para lidar com as tensões da vida diária. Esses homens ficam irados e têm sentimentos de impotência. Eles sentem ciúmes com
facilidade; não veem as mulheres como iguais; frequentemente têm temperamento explosivo; têm a necessidade de assegurar sua masculinidade e
não lidam bem com o estresse. Eles cometem a agressão sexual como uma expressão de poder e controle (Kilmartin, 2015).
Abuso sexual
O abuso sexual ocorre quando a mulher é forçada a ter contato sexual de qualquer tipo (vaginal, oral ou anal) sem o seu consentimento. As
estimativas atuais indicam que uma em cada cinco meninas é abusada sexualmente; a faixa etária na qual a ocorrência desses abusos é maior é de 8
a 12 anos de idade. Em todas as idades ao longo da vida, as mulheres são mais propensas a serem abusadas sexualmente por pai, irmão, familiar,
vizinho, namorado, marido, parceiro ou exparceiro do que por um estranho ou agressor anônimo. O abuso sexual não respeita barreiras
econômicas nem culturais (de Jong et al., 2015). O casamento não constitui um acordo tácito de obediência cega às demandas do cônjuge.
O abuso sexual infantil caracterizase por qualquer tipo de contato sexual que envolva uma criança com menos de 18 anos de idade. Pode
incluir despir, nudez, masturbação, carícias, penetração digital, desempenho forçado de flatos sexuais com o agressor e relações sexuais (Dutton,
2015). O abuso sexual na infância tem impacto ao longo da vida em seus sobreviventes. Existem evidências fortes de que a agressão sexual na
infância ou na adolescência é um fator de risco sério de doença mental (Brooker & Durmaz, 2015). As mulheres que foram abusadas sexualmente
durante a infância correm risco aumentado de sofrer novo abuso. Isso ocorre porque o abuso precoce diminui a autoestima e a capacidade de
protegerse e de estabelecer limites firmes. O abuso sexual infantil é um trauma que influencia o modo como as vítimas estabelecem relações,
lidam com as adversidades, lidam com os problemas diários, relacionamse com seus filhos e colegas, protegem sua saúde e vivem. Veja o boxe
Prática baseada em evidências 9.2, que descreve um estudo sobre o abuso sexual na infância. Estudos já mostraram que quanto mais vitimização
uma mulher sofre, maior é a probabilidade de que ela seja novamente vitimada (Brenner & BenAmitay, 2015).
Prática baseada em evidências 9.2
Abuso sexual por irmãos: um estudo exploratório das consequências a longo prazo para a autoestima e considerações
de psicoterapia.
Atualmente, os profissionais de saúde reconhecem que o abuso sexual de crianças no âmbito familiar é um problema significativo
e disseminado com repercussões até a vida adulta. Apesar desse avanço, a pesquisa relacionada ao incesto interfamiliar focou
primariamente o incesto paifilha, ignorando em grande parte a agressão sexual por irmãos, embora isso seja mais comum que o
incesto parental. Obviamente, o incesto entre irmãos é um problema pandêmico que demanda mais atenção por parte dos
profissionais de saúde.
ESTUDO
Esse estudo aborda a experiência de abuso sexual por irmãos na infância e como isso influencia negativamente o nível de
autoestima na vida adulta. Cem universitários constituíram a amostra: 67% eram mulheres e 33% eram homens com uma
representação cultural diversa. A idade dos universitários variou de 20 a 59 anos. Foi usada uma enquete com duas seções. A
primeira seção abordou a prevalência e a gravidade do abuso sexual por irmãos, enquanto a segunda abordou a autoestima
(usando a escala Rosenberg SelfEsteem). A fidedignidade e a validade dessa ferramenta refletiram um coeficiente alfa de
Cronbach de 0,82.
Achados
Esse estudo apoiou a probabilidade de que o abuso sexual por irmãos pode ser a forma mais comum de abuso sexual infantil nos
EUA. Apesar da aparente prevalência dessa forma de abuso sexual, é perturbador quão pouco foi feito para abordar a
complexidade desse problema. No abuso sexual por irmãos, tanto os sobreviventes como os agressores sofrem o impacto
duradouro desses flatos nas suas interações sociais, na escola, no trabalho e na vida familiar quando se tornam adultos. Além da
baixa autoestima, outros transtornos da saúde mental apresentados incluem manifestações de estresse póstraumático,
transtornos alimentares, episódios de raiva, autolesão, queixas somáticas e ideação suicida. Muitas pessoas se engajam em
comportamentos de risco como sexo sem proteção, consumo abusivo de substâncias psicoativas e álcool etílico e violência em
relacionamentos. Obviamente, ignorar o problema de abuso sexual entre irmãos tem um efeito negativo na sensação de bem
estar quando essas crianças se tornam adultos.
Implicações para a enfermagem
Um dos aspectos mais importantes é estabelecer confiança nesses pacientes e criar um ambiente seguro. Uma função importante
dos profissionais de enfermagem é a prevenção primária de abuso sexual entre irmãos por meio de educação dos genitores.
Quando os genitores compreendem como promover relacionamentos positivos entre pais e filhos e interações positivas dos
irmãos, o risco de abuso sexual em toda a família tende a ser reduzido. Os profissionais de enfermagem podem ter um papel de
liderança por meio de promoção de programas estruturados de educação dos genitores em suas comunidades e
encaminhamentos para redes nacionais de suporte das famílias.
Adaptado de Morrill, M. (2014). Sibling sexual abuse: An exploratory study of long term consequences for selfesteem and
counseling considerations. Journal of Family Violence, 29(2), 205–213.
As intervenções para crianças ou mulheres vítimas de abuso sexual devem incluir o encaminhamento para o serviço de saúde mental. O
acompanhamento de quaisquer problemas de saúde (p. ex., queixas geniturinárias) deve ser organizado com o pediatra da criança ou com o médico
assistente da mulher. Se houver na comunidade um centro de referência de maustratos, encaminhe a vítima para lá para cuidados de
acompanhamento, de acordo com o protocolo local.
As consequências clínicas do abuso sexual exigem profilaxia e tratamento das DST/IST, contracepção de emergência e tratamento de eventuais
lesões que resultaram dos abusos. As vítimas com sangramento pósagressão precisam de avaliação emergencial e tratamento de emergência por
um ginecologista para reparo de lesão genital. Os aspectos psicossociais do abuso sexual também precisam ser abordados, porque o
acompanhamento psicoterapêutico adequado é essencial para o bemestar emocional futuro da vítima.
Incesto
Incesto é definido como atividade sexual entre pessoas cujo parentesco é tão próximo que o casamento delas seja proibido por motivos culturais ou
jurídicos (Dorland’s Medical Dictionary, 2015). A incidência exata de abuso sexual infantil não é conhecida. Tal abuso sexual não apenas é
crime,4 mas também sintoma de disfunção familiar grave e irreversível. O incesto na infância envolve qualquer tipo de contato sexual entre uma
criança e outra pessoa que viole os tabus sociais dos papéis familiares; as crianças ainda não conseguem entender essas atividades e não são
capazes de dar seu consentimento informado. Mulheres adultas com história pregressa de incesto apresentam uma síndrome clínica que inclui baixa
autoestima, dificuldade em manter relacionamentos íntimos, disfunção sexual, flashbacks e pesadelos, vitimização repetida, bem como
suicidalidade, sintomatologia depressiva, transtornos alimentares e abuso de substâncias psicoativas (Harkins, 2015). Os sobreviventes do incesto
muitas vezes são enganados, coagidos ou manipulados. Todos os adultos parecem ser poderosos para as crianças. Os perpetradores podem ameaçar
as vítimas para que elas tenham medo de revelar os abusos ou podem dizerlhes que os abusos são culpa delas. Muitas vezes, essas ameaças
silenciam as vítimas.
Relações incestuosas colocam em perigo não só o desenvolvimento intelectual e moral da criança, mas também sua saúde. Muitas crianças não
pedem ajuda porque não querem expor o seu “segredo”. Por essa razão, apenas a ponta do iceberg é estatisticamente visível: ferimentos graves,
danos internos, DST/IST ou gravidez. O incesto pode ter efeitos graves em suas vítimas a longo prazo, que podem incluir distúrbios alimentares,
problemas sexuais na vida adulta, dificuldades nas relações interpessoais, ansiedade, TEPT, culpa intensa e vergonha, baixa autoestima, depressão
e comportamento autodestrutivo (National Center for Victims of Crime [NCVC], 2015a).
Independentemente de a vítima de incesto sofrer um incidente isolado de abuso ou ataques contínuos durante um período prolongado, a
recuperação pode ser dolorosa e difícil. O processo de recuperação começa com a admissão dos abusos e com o reconhecimento de que precisa de
ajuda e serviços. Os recursos para as vítimas de incesto incluem livros, grupos de autoajuda, workshops, programas de terapia e possivelmente
remédios legais. Além de ouvir e acreditar nas vítimas de incesto, o enfermeiro precisa procurar maneiras de evitar que as futuras gerações sofram
esses abusos e de continuar o ciclo de abusos na própria família e nos relacionamentos. Os profissionais de enfermagem têm a capacidade e a
responsabilidade de atuar em um sistema interdisciplinar responsável para avaliação e tratamento continuado de famílias incestuosas. Eles podem
desempenhar sua função de proteção das crianças e, ao mesmo tempo, fornecer encaminhamento necessário para o serviço social e para os serviços
de proteção à criança e ao adolescente. A formação dessa parceria com o serviço social e de justiça ajuda a proteger a criança de futuros abusos e
garantir um ambiente seguro para a criança crescer e se desenvolver.
Anote!
O abuso sexual infantil é um trauma que pode afetar todos os aspectos da vida da vítima.
Estupro
O estupro é uma expressão da violência, não um flato sexual. O estupro distorce uma das formas mais íntimas de interação humana. Não é um flato
de luxúria nem uma liberação exagerada de paixão: é um ataque agressivo e violento ao corpo e à integridade da vítima. Os estupradores têm várias
motivações, mas basicamente os motivos são raiva, manifestação de poder, crueldade eroticizada e relação sexual oportunista (Keygnaert,
Vettenburg, & Temmerman, 2015). Estupro é um termo jurídico que é usado pelos profissionais de saúde. Denota a penetração peniana da vagina,
da boca ou do reto de um homem ou de uma mulher sem o seu consentimento.5Pode ou não incluir o uso de uma arma. O abuso de menor é a
atividade sexual entre um adulto e uma pessoa menor de 18 anos de idade; considerase que ocorreu mesmo quando houver permissão da pessoa
menor de idade (RAINN, 2015b).6 Nove em cada 10 vítimas de estupro são do sexo feminino (Alexander et al., 2014). São necessários aplicação
das leis, orientação e empoderamento da comunidade para evitar o estupro.
Considere isto
Aos 53 anos de idade, levanteime e olhei para mim mesma no espelho. A imagem olhando para mim foi a de uma mulher
assustada de meiaidade, covardemente escondendo seu passado. Eu havia sofrido abuso sexual pelo meu pai por muitos anos
quando criança e nunca contei a ninguém. Minha mãe sabia de tudo, mas sentiase impotente para fazêlo parar. Eu casei assim
que saí da escola para escapar e senti que vivia uma “vida normal e feliz” com meu marido e três filhos. Meus filhos saíram de
casa e foram morar longe e meu marido morreu recentemente de um infarto do miocárdio repentino. Agora estou tendo sonhos e
pensamentos sobre o abuso sexual do passado e sinto medo novamente.
Reflexões: Essa mulher reprimiu seu passado de abuso pela maior parte de sua vida e agora sua dolorosa experiência veio à
tona. O que pode ser feito para chegar até ela neste momento? Será que nenhum profissional de saúde percebeu os “sinais de
alerta” que são comuns a mulheres que sofreram abuso sexual na infância durante todos esses anos?
Muitas pessoas acreditam que o estupro geralmente ocorra em uma noite escura quando um estranho ataca uma mulher promíscua que está
usando um vestido provocante. Acreditam que os estupradores são pessoas sedentas por sexo que buscam gratificação sexual. Os mitos do estupro
são crenças destrutivas em relação à agressão sexual (ou seja, seu âmbito, causas, contexto e consequências), que negam, minimizam ou justificam
o comportamento sexualmente agressivo dos homens em relação às mulheres. A recuperação de uma vítima de estupro é, com frequência,
complicada pela falha do público de acreditar na vítima e fazer justiça (Klaus, Buczkowski, & Wiktorska, 2015). Os mitos do estupro servem para
culpar as vítimas e inocentar os criminosos. Estes mitos e fatos são apresentados na Tabela 9.3.
Estupro por pessoa conhecida
No estupro por pessoa conhecida, a pessoa é forçada a ter relações sexuais com alguém conhecido. O estupro por um colega de trabalho, um
professor, um amigo do marido ou um chefe é considerado um estupro por pessoa conhecida. O estupro em encontro, a agressão que ocorre dentro
de um relacionamento de namoro ou casamento sem o consentimento de um dos participantes, é uma forma de estupro por pessoa conhecida. O
estupro por pessoa conhecida e o estupro em encontro geralmente ocorrem nos campi universitários. Uma em cada quatro universitárias já foi
estuprada, ou seja, foi forçada, física ou verbalmente, ativa ou implicitamente, a envolverse em uma atividade sexual (Wilson & Miller, 2015).
Essas formas de estupro são física e emocionalmente devastadoras para as vítimas. Uma pesquisa indicou que as sobreviventes do estupro por
pessoa conhecida relatam níveis semelhantes de depressão, ansiedade, complicações nos relacionamentos posteriores e dificuldade de alcançar os
níveis de satisfação sexual préestupro aos relatados por sobreviventes de estupro por pessoa estranha. O estupro por pessoa conhecida ainda é um
tema controverso, porque há falta de acordo sobre a definição de consentimento. Apesar da violação e da realidade do trauma físico e emocional, as
vítimas do estupro por pessoa conhecida muitas vezes não identificam sua experiência como uma agressão sexual. Em vez de focar a violação da
agressão sexual, elas muitas vezes culpamse pelo ataque (RAINN, 2015c).
Tabela 9.3 Quatro fases da recuperação do estupro.
Fase Resposta da sobrevivente
Fase aguda Choque, medo, descrença, raiva, vergonha, culpa,
(desorganização) sentimentos de impureza, insônia, pesadelos e
choro
Fase de ajuste Externamente parece recomposta e retorna ao
externo trabalho ou escola; recusase a discutir o
(negação) estupro e nega a necessidade de
aconselhamento
Reorganização A negação e a supressão não funcionam e a
sobrevivente tenta fazer ajustes de vida
mudando de casa ou de emprego; usa o
distanciamento emocional para lidar com a
situação
Integração e A sobrevivente começa a sentirse segura e
recuperação começa a confiar nos outros. Pode tornarse
uma defensora de outras vítimas de estupro
Adaptada de National Center for Victims of Crime [NCVC]. (2015b). The
trauma of victimization. Retirada de http://victimsofcrime.org/helpforcrime
victims/gethelpbulletinsforcrimevictims/traumaofvictimization#ptsd;
Rape, Abuse, and Incest National Network [RAINN]. (2015d). Recovery
from sexual assault. Retirada de http://www.rainn.org/get
information/sexualassaultrecovery; e The Advocacy Center (2015). The
path toward recovery for survivors of sexual violence. Retirada
de http://advocacycenter.syr.edu/students/pathofrecovery/.
Embora o estupro por pessoa conhecida e o estupro em encontro nem sempre envolvam substâncias psicoativas, um estuprador pode usar
álcool etílico ou outras substâncias para sedar a vítima. Em 1996, o governo federal norteamericano aprovou uma lei tornando crime dar a uma
pessoa uma substância psicoativa com a intenção de estuprála. Mesmo com pena de pesadas multas e até 20 anos de prisão, o uso da droga de
estupro está aumentando (USDHHS, 2015a). As substâncias psicoativas usadas para propiciar o estupro também são conhecidas como “drogas
recreativas”, porque muitas vezes são usadas em boates, festas de fraternidade e raves que duram a noite toda. A mais comum é o unitrazepam
(também conhecido como “boa noite, Cinderela” e “pílula do esquecimento”). É comercializado como líquido ou comprimidos que se dissolvem
rapidamente no líquido, sem deixar cheiro, gosto ou cor. Esse benzodiazepínico é 10 vezes mais forte que o diazepam (Valium®). Os efeitos podem
ser sentidos em 30 minutos e incluem perda de memória por até 8 horas. O gamahidroxibutirato (GHB, chamada de “ecstasy líquido”) provoca
euforia, sensação de estar fora do corpo, sonolência, aumento da libido e perda de memória. Os efeitos do GHB surgem em aproximadamente 15
minutos e podem durar 3 a 4 horas. Tratase de um pó branco ou líquido e pode causar perda de memória, depressão e coma. A terceira droga de
estupro, a cetamina ou quetamina, atua no sistema nervoso central rapidamente separando a percepção da sensação. A combinação da cetamina com
outras substâncias psicoativas pode ser fatal. As drogas usadas para propiciar estupro podem ser muito perigosas, e as mulheres podem protegerse
contra elas de várias maneiras (Diretrizes de ensino 9.2).
Diretrizes de ensino 9.2
Como se proteger das drogas de estupro
• Evitar festas em que serão servidas bebidas alcoólicas
• Nunca deixar o copo de bebida sem supervisão
• Não aceitar bebidas de ninguém
• Aceitar apenas bebidas de um barman ou em garrafas fechadas
• Se deixar um copo com bebida sozinho, jogar fora e não beber o conteúdo
• Não beber nada com gosto ou odor estranho
• Não ingerir bebidas de uma tigela de ponche ou de um barril
• Se achar que a bebida está “batizada”, ligar para a emergência
Recuperação do estupro
As sobreviventes de estupro levam muito tempo para se recuperar de sua experiência traumática. Algumas mulheres nunca se recuperam nem
procuram aconselhamento profissional, mas a maioria consegue lidar com a situação. O estupro é visto como uma crise situacional com a qual a
sobrevivente não está preparada para lidar, porque é um evento imprevisto. As sobreviventes passam tipicamente por quatro fases de recuperação
após um estupro (Tabela 9.4).
Uma proporção significativa de mulheres estupradas também apresenta manifestações de TEPT. O TEPT se desenvolve quando ocorre um
acontecimento fora do alcance da experiência humana normal que provoca angústia importante na pessoa. Os sintomas do TEPT são divididos em
três grupos:
1. Intrusão (revivescência do trauma, incluindo pesadelos, flashbacks, pensamentos recorrentes)
2. Evitação (evita estímulos relacionados com o trauma, retraimento social, entorpecimento emocional)
3. Hiperativação (aumento da excitação emocional, resposta de sobressalto exagerada, irritabilidade).
Nem toda mulher agredida desenvolve TEPT pleno ou mesmo uma forma leve de TEPT. Os sintomas geralmente começam nos 3 meses
seguintes ao incidente, mas, ocasionalmente, surgem apenas anos mais tarde. Precisam durar mais de 1 mês para serem considerados TEPT. A
condição varia de pessoa para pessoa. Algumas mulheres se recuperam em alguns meses, enquanto outras têm sintomas por muito mais tempo. Em
algumas pessoas, a doença tornase crônica (Darnell et al., 2015; Friedman, 2015).
Tabela 9.4 Fatores de risco para a violência por parceiro íntimo em
homens.
Depressão Instabilidade conjugal
Baixo rendimento Dominação masculina na
escolar família
Testemunhar violência Coabitação
quando criança
Baixa renda e/ou Ter parceiros sexuais
desemprego extraconjugais
Sofrer violência quando
criança
Ânsia por poder e
controle em todos os
relacionamentos
Raiva e hostilidade Descarregar
agressividade em
outras pessoas
enquanto cresce
Adaptada de CDC. (2015d). Intimate partner violence: Risk and protective factors. Retirada
de http://www.cdc.gov/violenceprevention/intimatepartnerviolence/riskprotectivefactors.html;
The Christian Broadcasting Network [CBN]. (2015). 12 traits of an abuser. Retirado
de http://www.cbn.com/family/marriage/petherbridge_abusertraits.aspx; e Ghandour, R. M.,
Campbell, J. C., & Lloyd, J. (2015). Screening and counseling for intimate partner violence:
A vision for the future. Journal of Women’s Health, 24(1), 57–61.
Conduta de enfermagem para vítimas de estupro
Os médicos, juntamente com os SANE (Sexual Assault Nurse Examiners), podem ser um diferencial nas vidas das sobreviventes ao
compreenderem os fatos, os efeitos dessa violência na saúde física e mental, ao saberem onde encontrar informações para si mesmos e para as
pacientes e como cuidar de modo apropriado das sobreviventes. Nos EUA, os SANE são enfermeiros que recebem treinamento especial para
realizar exames de vítimas de estupro para coletar evidências de agressão sexual. Além da coleta de evidências para fins forenses, esses
enfermeiros também providenciam acesso à intervenção de crise, pesquisa de DST/IST e contracepção de emergência (International Association of
Forensic Nurses, 2015).
As pesquisas já constataram que as sobreviventes de estupro passam por um trauma profundo e complexo. A terapia pósexposição tem sido
usada para ajudar as vítimas a confrontar as memórias relacionadas ao trauma, os sentimentos e os estímulos que evocam medo e ansiedade
(Nacasch, Rachamim, & Foa, 2015). Devese fornecer um ambiente seguro e confortável à sobrevivente para um exame forense. Os cuidados de
enfermagem à sobrevivente de estupro devem concentrarse no fornecimento de cuidados de suporte, coleta e documentação de provas, investigação
de DST/IST, prevenção da gravidez e investigação de TEPT. Uma vez concluídos o tratamento inicial e a coleta de provas, os cuidados de
acompanhamento devem englobar aconselhamento, tratamento médico e intervenção em crise. Há evidências crescentes de que a intervenção
precoce e o aconselhamento imediato acelerem a recuperação das sobreviventes de estupro. Intervenção precoce significa intervenções
implementadas nas primeiras horas, dias ou semanas após o evento traumático (Bryant, 2015). O boxe Plano de cuidados de enfermagem 9.1
destaca um exemplo de plano de cuidados a uma vítima de estupro.
Anote!
Muitas sobreviventes de estupro procuram o serviço de urgência do hospital se não houver um centro específico de atendimento a vítimas de
estupro. Infelizmente, muitos médicos e enfermeiros do prontosocorro têm pouco treinamento em como tratar sobreviventes de estupro ou em
coletar provas. Para piorar a situação, a vítima precisa esperar horas em salas de espera públicas, de modo que a sobrevivente pode deixar o
hospital sem receber tratamento ou fornecer as provas necessárias para prender e condenar os agressores.
PRESTAÇÃO DE CUIDADOS DE SUPORTE
Estabelecer uma relação terapêutica e de confiança ajuda a sobrevivente a descrever sua experiência. Leve a mulher a uma área segura isolada,
longe da família, de amigos e outros pacientes e funcionários, para que ela possa abrirse e ser honesta quando questionada sobre a agressão.
Forneça uma muda de roupa, o acesso a um chuveiro e produtos de higiene pessoal e uma área de espera privada para a família e amigos.
COLETA E DOCUMENTAÇÃO DAS EVIDÊNCIAS
A vítima deve ser instruída a trazer toda a roupa, especialmente as peças íntimas, usada no momento da agressão para a unidade de saúde. Ela não
deve tomar banho ou ducha antes de apresentarse para o exame. Tipicamente, um enfermeiro especialmente treinado coletará as evidências.
PESQUISA DE DOENÇAS/INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS
Como parte da avaliação, é feito um exame ginecológico para coleta de secreções vaginais a fim de afastar a possibilidade de DST/IST. Este exame
é emocionalmente muito estressante para a maioria das mulheres e deve ser realizado com muito cuidado e sensibilidade.
PREVENÇÃO DE GRAVIDEZ
Um elemento essencial no atendimento de sobreviventes de estupro consiste em oferecerlhes a prevenção da gravidez. Após a relação sexual
desprotegida, incluindo o estupro, a gravidez pode ser evitada por meio de um contraceptivo de emergência, às vezes chamado de contracepção pós
coito. Os anticoncepcionais de emergência consistem em altas doses dos mesmos contraceptivos orais que milhões de mulheres ingerem
diariamente. O esquema de emergência consiste em uma dose nas 72 a 120 horas seguintes à relação sexual desprotegida. A contracepção de
emergência impede a ovulação, a fertilização ou a implantação. Não interrompe uma gravidez estabelecida e não deve ser confundida com a
mifepristona (RU486), fármaco aprovado pela Food and Drug Administration para o aborto nos primeiros 49 dias de gestação. A contracepção de
emergência é mais efetiva se for ingerida nas primeiras 12 horas após o estupro; tornase menos efetiva a cada 12 horas depois disso.
PESQUISA DE TEPT
O enfermeiro pode começar a avaliar o quanto a sobrevivente sofre de TEPT fazendo as seguintes perguntas:
• Para avaliar se existem pensamentos intrusivos:
• Pensamentos perturbadores e pesadelos com o trauma a incomodam?
• Você se sente como se estivesse realmente revivendo o trauma?
• Você se aborrece ao ser exposta a qualquer coisa que relembre esse evento?
• Para avaliar se existe comportamento de evitação:
• Você se pega tentando evitar pensar no trauma?
• Você se afasta de situações que a lembram do evento?
• Você tem dificuldades em lembrar exatamente o que aconteceu?
• Você se sente paralisada emocionalmente?
• Para avaliar se existem manifestações clínicas:
• Você está tendo problemas para dormir?
• Você já se sentiu irritada ou teve explosões de raiva?
• Você tem palpitações e sudorese?
• Você sente dor muscular e dor por todo o corpo? (NCVC, 2015b).
Plano de cuidados de enfermagem 9.1
Aspectos gerais de uma mulher vítima de estupro
Lucia, uma universitária de 20 anos, foi admitida no prontosocorro depois que a polícia a encontrou quando um
transeunte ligou para a emergência para relatar uma agressão. Ela disse: “Fui estuprada há algumas horas, enquanto
estava voltando para casa pelo parque.” A avaliação revela: inúmeros cortes e equimoses de vários tamanhos no rosto,
nos braços e nas pernas; lábio tumefeito e cortado; olho direito tumefeito e ferido; jaqueta e camisa rasgada e com
sangue; cabelo emaranhado com grama e detritos; sinais vitais dentro de parâmetros aceitáveis; paciente chorosa,
segurando sua roupa e tremendo; equimoses e lacerações perineais.
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: síndrome de trauma/estupro, relacionado com relato de agressão sexual recente.
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente demonstrará habilidades de enfrentamento adequadas em relação aos efeitos do estupro, conforme evidenciado por
sua capacidade de discutir o evento, verbalizar seus sentimentos e medos e exibir as ações apropriadas para retornar ao seu
nível funcional précrise.
Intervenções: promover habilidades de enfrentamento adequadas
• Ficar com a paciente para promover sensação de segurança
• Explicar os procedimentos a serem seguidos de acordo com a política da instituição para ajudar a aliviar o medo da paciente
em relação ao desconhecido
• Auxiliar no exame físico direcionado à coleta de amostra para obter provas úteis a processos judiciais
• Administrar medicação profilática conforme prescrito para evitar gravidez e doenças/infecções sexualmente transmissíveis
• Prestar cuidados às feridas conforme prescrito para evitar infecções
• Auxiliar a paciente com as medidas de higiene necessárias para promover a autoestima
• Possibilitar que a paciente descreva os eventos, tanto quanto possível, para incentivar o desabafo dos sentimentos em
relação ao incidente; escutar ativamente e oferecer apoio imparcial para facilitar o enfrentamento e demonstrar compreensão
da situação e dos sentimentos da paciente
• Ajudar a paciente a identificar habilidades de enfrentamento positivas e forças pessoais usadas no passado para auxiliar na
tomada de decisão efetiva
• Auxiliar a paciente no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento adicionais e ensinar técnicas de relaxamento à
paciente para ajudála a lidar com a crise atual e a ansiedade
• Contatar o psicólogo que atende os casos de estupro da instituição para ajudar a paciente a lidar com a crise
• Agendar consulta de acompanhamento com o psicólogo para fornecer cuidados continuados e promover a continuidade
deles
• Incentivar a paciente a entrar em contato com uma amiga, parceira ou familiar, a fim de acompanhála até sua casa para
prestar apoio
• Fornecer à paciente o número do telefone de um serviço de aconselhamento ou de grupos de apoio da comunidade para
ajudála a lidar e a obter apoio contínuo
• Fornecer orientações por escrito em relação às consultas de acompanhamento, cuidados e exames para garantir a
compreensão adequada
Graças aos conhecimentos acumulados sobre o TEPT relacionado com o estupro, há ajuda disponível na maioria dos centros de crise de estupro
e trauma. Criaramse grupos de apoio em que as sobreviventes podem reunirse regularmente para compartilhar experiências para ajudar a aliviar
os sintomas do TEPT. Para algumas sobreviventes, a medicação prescrita com a psicoterapia é a melhor combinação para aliviar a dor. Assim
como no tratamento de qualquer outra doença, na primeira oportunidade, a mulher deve ser encorajada a falar sobre a experiência traumática. Esse
desabafo proporciona a chance de receber apoio e conforto necessários, bem como uma oportunidade para começar a se dar conta da experiência.
Para diminuir os sintomas do TEPT, as sobreviventes precisam trabalhar em duas frentes: aceitar o passado e aliviar o estresse do presente
(Bryant, 2015).
Para conseguir melhor compreensão das repercussões da vitimização criminal como abuso sexual, os profissionais de enfermagem precisam
começar a aceitar a realidade de que o crime é uma ação aleatória e desprovida de sentido e que pode acontecer com qualquer pessoa
independentemente das precauções tomadas. Os profissionais de enfermagem também precisam compreender que a vida da pessoa é totalmente
comprometida quando ele ou ela se torna vítima de um crime. Para ajudar as vítimas a confiar de novo na sociedade e recuperar a sensação de
equilíbrio e valor próprio, os profissionais de enfermagem precisam educar todos os indivíduos que entrarão em contato com as vítimas e os
sobreviventes a serem sensíveis às necessidades deles.
Mutilação genital feminina
A MGF, também conhecida como circuncisão feminina, é definida como um procedimento que envolve qualquer lesão da genitália externa feminina
por motivos culturais ou não terapêuticos. Implica graves repercussões para a saúde de meninas e mulheres. A comunidade internacional considera
essa prática uma violação dos direitos humanos (Gayle & Rymer, 2015). Consiste na remoção cirúrgica de parte ou partes da genitália de lactentes
do sexo feminino, meninas e mulheres, incluindo o clitóris (tipo I), o clitóris e os pequenos lábios (tipo II) e o clitóris, os pequenos lábios, os
grandes lábios e depois a sutura do tecido remanescente, conhecida como infibulação ou fibulação, para deixar apenas uma pequena abertura para
urinar, menstruar, ter relações sexuais e para o parto (tipo III). Há um tipo IV, que engloba todas as outras mutilações da região genital feminina,
como perfurações, cortes e raspagem do tecido vaginal, incisões no clitóris e vagina e queimar, promover cicatrizes ou cauterizar os tecidos com o
objetivo de apertar ou estreitar a vagina (Nour, 2015).
A MGF é uma prática mundial que afeta milhões de mulheres e meninas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) (2015b) e o
UNICEF, 140 milhões de mulheres são vítimas da MGF. Cerca de 130 milhões de meninas entre o primeiro ano de vida e os 15 anos de idade são
submetidas à MGF a cada ano. Os países que realizam essa prática incluem 30 países africanos e partes do Oriente Médio e da Ásia. Estimase que
a prevalência em países como Sudão e Egito seja de até 99% (Johnsdotter, 2015). As origens exatas da prática da MGF não são conhecidas.
Embora a MGF possa estar interligada à cultura, não é obrigatória em nenhuma religião. Essa prática é anterior ao islamismo e ao cristianismo
(Gruenbaum & Wirtz, 2015). Em algumas culturas, está associada à beleza feminina e muitas vezes significa um rito de passagem da infância para
a idade adulta. A mutilação feminina é realizada para diminuir o desejo sexual da mulher e garantir sua castidade até o casamento e a recepção do
dote do noivo em perspectiva (Farage et al., 2015). Por fim, a realidade de ser condenada à exclusão social pela comunidade e a possibilidade de
ser impedida de casarse cria uma enorme pressão social para ser submetida à MGF, pressão que supera os conhecidos danos físicos e emocionais
dessa prática (Nour, 2015).
As complicações variam, dependendo do tipo de mutilação e do modo como foi realizada. É frequentemente realizada sem anestesia, sob
condições não estéreis. As ferramentas usadas na mutilação variam de lâminas de barbear a facas até pedaços de vidro ou tampas de latas. As
complicações incluem infertilidade, dismenorreia, dispareunia, disfunção sexual, infecção, hemorragia pósprocedimento, estenose vaginal, vaginite
crônica, doença inflamatória pélvica, infecções urinárias crônicas, incontinência, fístulas genitais, abscessos recorrentes, transmissão de HIV e
hepatite durante o procedimento, dor intensa e choque após o procedimento, dificuldade em andar ou usar escadas consequente à formação
substancial de tecido fibrótico, retenção urinária, incapacidade de ter orgasmo e dificuldades em dar à luz. As complicações a longo prazo da MGF
incluem dor crônica, dispareunia e trabalho de parto e parto difíceis. A complicação a longo prazo mais comum é a formação de cistos dermoides
de inclusão no clitóris e fusão dos lábios do pudendo. Eles aumentam de tamanho (até o tamanho de uma toranja) e podem dificultar a deambulação
e a posição sentada, além de provocar angústia psicológica por causa da deformidade física. A gama de efeitos psicológicos varia de transtornos
alimentares, insônia, depressão, TEPT a negativos efeitos sobre a autoestima e a identidade das mulheres (Creighton, 2015).
Com a imigração, para outros países, de pessoas das regiões onde a MGF é culturalmente praticada, é cada vez mais provável que os
profissionais de enfermagem encontrem mulheres afetadas pela MGF e por suas complicações. A pressão psicológica e o trauma de estar dividida
entre duas culturas e sentimentos diferentes podem pesar fortemente sobre as mulheres em um novo cenário em que a prática da MGF é estranha e
proibida. Os profissionais de enfermagem precisam de orientações atualizadas sobre as mulheres com MGF, para que possam prestar os cuidados
adequados a essa população para esse problema muito sensível de saúde. Profissionais bem informados são a melhor ferramenta para a prestação
de cuidados culturalmente sensíveis a essa população. Os profissionais de enfermagem estão em uma posição única para contatar e educar as
mulheres que foram mutiladas ou que correm risco de mutilação. Para proteger essas mulheres é preciso ter uma compreensão profunda da prática
de MGF, suas implicações culturais e religiosas e os efeitos psicossociais.
Anote!
A partir de uma perspectiva ocidental, a MGF é difícil de compreender. Como não é discutida abertamente nas comunidades que a praticam, as
mulheres que se submeteram a ela a aceitam sem questionar e pressupõem que seja feita em todas as meninas (Gruenbaum & Wirtz, 2015).
Contexto histórico
As justificativas para realizar o ritual refletem os valores ideológicos e culturais de cada comunidade que o pratica. Alguns consideram um rito de
passagem para a idade adulta, outros o usam como um meio de preservar a virgindade até o casamento. Nas culturas em que é praticado, é uma
parte importante da identidade de gênero definida culturalmente. Em todos os casos, todos os motivos são culturais e tradicionais e não se baseiam
em textos religiosos (Research Action and Information Network for the Bodily Integrity of Women [RAINBO], 2015). Visto que a MGF não tem
efeitos benéficos para a saúde e, com frequência, provoca traumas emocionais e físicos duradouros nas mulheres, existe justificativa para
interromper essa prática com base nos direitos humanos. Desde 1997 aumenta a pressão internacional para acabar com a prática de MGF quando a
OMS, a UNICEF e a UNFPA fizeram uma declaração conjunta orientando os governos a proibir essa prática (Borsand et al., 2015). O Boxe
9.5 lista os tipos de procedimentos de MGF.
Conduta de enfermagem à paciente submetida a mutilação genital feminina
Por causa da crescente migração, os enfermeiros de todo o mundo têm cada vez mais contato com mulheres submetidas a esses procedimentos,
portanto precisam conhecer o seu impacto sobre a saúde reprodutiva das mulheres. Ajudar mulheres submetidas a um procedimento de MGF exige
boas habilidades de comunicação e muitas vezes um intérprete, já que muitas podem não falar o idioma do país em que se encontram. Os
profissionais de enfermagem são treinados para prestar cuidado integral e culturalmente sensível, independentemente das circunstâncias das
pacientes. Os profissionais de enfermagem precisam ter em mente que a prática da MGF é considerada normal em muitas culturas e a sua não
realização seria considerada impensável. O profissional de enfermagem tem a oportunidade de orientar as pacientes, fornecendo informações
acuradas e experiências positivas de saúde. É essencial que o profissional de enfermagem conheça e aceite seus sentimentos em relação a essa
prática antes de atender as pacientes. Algumas orientações são:
• Deixe a paciente saber que você está preocupada e interessada e que deseja ajudar
• Fale claramente e devagar, usando termos simples e acurados
• Use o termo ou nome para essa prática que o destinatário usa, e não “mutilação genital feminina”
• Use imagens e diagramas para ajudar a mulher a entender o que você está dizendo
• Seja paciente enquanto a paciente responde às perguntas
• Inclua homens nas sessões de orientação porque eles são determinantes nessa prática
• Repita o que você compreendeu das declarações da paciente
• Sempre olhe e fale diretamente com a paciente, não com o intérprete
• Não faça julgamentos sobre a prática cultural
• Tenha respeito pelas mulheres mais velhas que foram submetidas a MGF
• Encoraje a paciente a expressarse livremente
• Mantenha sigilo absoluto
• Preste cuidados que sejam condizentes com a cultura de cada mulher.
BOXE 9.5
QUATRO TIPOS PRINCIPAIS DE PROCEDIMENTOS DE MUTILAÇÃO GENITAL FEMININA
Tipo I: excisão do prepúcio com a excisão total ou parcial do clitóris
Tipo II: excisão do clitóris e excisão total ou parcial dos pequenos lábios
Tipo III (infibulação): excisão total ou parcial de todos os órgãos genitais externos e sutura/estreitamento da abertura vaginal
Tipo IV: punção, perfuração ou incisão do clitóris ou lábios
• Estiramento do clitóris e/ou dos lábios
• Cauterização por queimadura do clitóris e dos tecidos circundantes
• Raspagem ou secção do orifício vaginal
• Introdução de substância corrosiva na vagina
• Colocação de ervas na vagina para estreitála
Adaptado de World Health Organization [WHO]. (2015b). Female genital mutilation. Retirado
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Women [RAINBO]. (2015). Caring for women with circumcision: Fact sheet for physicians. Retirado
de http://www.rainbo.org/factsheet.html.
Em suma, a MGF é uma forma de violência contra as mulheres e, somente por meio de educação e empoderamento das mulheres, é possível
modificar essa prática. Visto que essa prática muitas vezes define uma mulher e se torna parte de sua identidade, os profissionais de enfermagem
precisam compreender isso para poderem auxiliar as mulheres que foram submetidas a MGF. Apenas por meio de educação intensa será possível
salvar a próxima geração de mulheres dessa prática hedionda.
Tráfico de pessoas
As Nações Unidas definem o tráfico de pessoas como o recrutamento, o transporte, a transferência, o abrigo ou o recebimento de pessoas por meio
de ameaças ou uso de força, rapto, fraude ou artimanhas para obter o consentimento de uma pessoa ao controle de outra para fins de exploração
(United Nations Office on Drugs and Crime, 2015).
Uma menina de apenas 14 anos de idade foi mantida em cativeiro em um pequeno trailer, onde ela era forçada a ter relações sexuais com até 30
homens por dia. Em sua mesa de cabeceira estava um urso de pelúcia, que a lembrava de sua infância no México, de onde ela foi raptada e forçada
à escravidão sexual.
Esse cenário descreve o tráfico de pessoas, a escravização de imigrantes por dinheiro na América. Nos EUA, a cada ano, milhares de
estrangeiros e cidadãos norteamericanos, muitos deles crianças, são forçados ou coagidos à prostituição ou a várias modalidades de trabalho
(Weitzer, 2015). O tráfico humano é tanto um problema global quanto um problema doméstico. Os EUA são um grande receptor de pessoas
traficadas. O tráfico de pessoas é um modo moderno de escravatura que afeta cerca de 1 milhão de pessoas em todo o mundo e cerca de 20 mil
pessoas nos EUA anualmente (U.S. Department of State, 2015). Mulheres e crianças são as principais vítimas do tráfico de pessoas, muitas no
comércio do sexo, como descrito anteriormente, e outras pela servidão doméstica por trabalho forçado. A pobreza e a falta de oportunidades
econômicas tornam as mulheres e as crianças potenciais vítimas de traficantes ligados a organizações criminosas internacionais. Elas são
vulneráveis a falsas promessas de oportunidades de emprego em outros países. Muitas daquelas que aceitam essas ofertas do que parecem ser
fontes legítimas se encontram em situações em que seus documentos são destruídos, elas e suas famílias são ameaçadas fisicamente ou ficam
reféns de uma dívida que não têm possibilidade de pagar.
O tráfico de pessoas é extremamente rentável: uma estimativa coloca os lucros globais em aproximadamente US$ 35 bilhões anualmente. Entre
as empresas ilegais, o tráfico de pessoas só perde para o tráfico de drogas ilícitas e está empatado com a indústria ilegal de armas em sua
capacidade de produzir dólares (Aronowitz & Koning, 2015).
Os EUA são um país de destino lucrativo para os traficantes. Esses lucros contribuem para o desenvolvimento de empreendimentos criminosos
organizados em todo o mundo. De acordo com os resultados do Victims of Trafficking and Violence Protection Act de 2000:
• As vítimas são principalmente mulheres e crianças que não têm educação, emprego e oportunidades econômicas em seus próprios países
• Os traficantes prometem às vítimas empregos como babás, empregadas domésticas, dançarinas, operárias, funcionárias de vendas ou modelo
nos EUA
• Os traficantes transportam as vítimas de seus países para destinos desconhecidos, longe de seus sistemas de apoio
• Uma vez lá, os traficantes as coagem usando o estupro, a tortura, a fome, a prisão, ameaças ou a força física para forçar as vítimas a praticar
prostituição, pornografia, trabalho forçado ou servidão involuntária.
Essas vítimas estão expostas a riscos de saúde sérios e numerosos, como estupro, lesões físicas como queimaduras com cigarro, fraturas,
contusões; tortura, infecção por HIV/AIDS, doenças/infecções sexualmente transmissíveis, câncer de colo uterino, violência, ambientes de trabalho
perigosos, desnutrição e drogadição (Greenbaum et al., 2015). A saúde é uma das necessidades mais prementes dessas vítimas, mas nos EUA não
existe assistência integral para imigrantes sem documentos. Os enfermeiros e outros profissionais de saúde que se deparam com vítimas do tráfico
muitas vezes não o percebem, e oportunidades de intervenção são perdidas. Apesar de não haver um sinal que possa demonstrar com certeza
quando alguém está sendo traficado, os profissionais de saúde devem estar cientes de vários indicadores. É importante estar alerta para as vítimas
de tráfico em qualquer ambiente e reconhecer os sinais (Boxe 9.6).
As intervenções de enfermagem no caso de vítimas de tráfico incluem:
• Conquistar a confiança da pessoa; esta é a principal prioridade
• Tirar um tempo para escutar e criar um vínculo
BOXE 9.6
IDENTIFICAÇÃO DAS VÍTIMAS DE TRÁFICO HUMANO (EXEMPLO DE ABORDAGEM USADA NOS EUA)
Olhar além do óbvio e se perguntar se essa pessoa:
• É uma mulher ou criança com problemas de saúde?
• É uma cidadã estrangeira e que não fala inglês?
• Não tem documentos de imigração?
• Deu uma explicação inconsistente de uma lesão?
• Reluta em dar qualquer informação sobre si própria, sua lesão, casa ou trabalho?
• Tem medo da figura de autoridade ou “responsável”, se presente? (O “responsável” pode não querer deixar a vítima sozinha
com o profissional de saúde)
• Mora com o empregador?
Exemplos de perguntas a serem feitas à potencial vítima de tráfico humano:
• Você pode deixar seu trabalho ou situação se quiser?
• Você pode entrar e sair quando quiser?
• Você já foi ameaçada ao tentar sair?
• Alguém já ameaçou ferir sua família caso você saia?
• Quais são suas condições de trabalho e de vida?
• Você tem que pedir permissão para ir ao banheiro, comer ou dormir?
• Sua porta é trancada para que você não possa sair?
• O que a trouxe aos EUA? Seus planos são os mesmos agora?
• Você pode deixar seu trabalho atual ou situação em casa?
• Quem está com seus documentos de imigração? Por que você não está com eles?
• Você é paga pelo trabalho que faz?
• Há momentos em que você sente medo?
• Como sua situação pode ser mudada?
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112506.
• Fazer o rastreamento em um lugar com privacidade para garantir confidencialidade e segurança
• Tranquilizar a vítima em potencial
• Buscar interações individualizadas, pois são as ideais
• Perguntar especificamente sobre a segurança da paciente
• Oferecer histórias reformuladas
• Manterse calmo e equilibrado
• Compreender o risco que essas vítimas estão correndo ao revelar seu tormento
• No mínimo, sempre documentar sua suspeita em suas observações
• Telefonar para obter orientação.7
O tráfico de pessoas é uma violação dos direitos humanos. Poucos crimes são mais repugnantes do que o tráfico sexual de vítimas indefesas e
inocentes. Os enfermeiros são um dos poucos grupos de profissionais que provavelmente interagem com vítimas de tráfico humano enquanto elas
ainda estão em cativeiro. Eles têm a oportunidade de rastrear, identificar, intervir e resgatar essas vítimas. Se você suspeitar de uma situação de
tráfico, notifique a polícia local e uma organização regional de serviço social que tenha experiência em lidar com vítimas de tráfico. É imperativo
chegar a essas vítimas e interromper o ciclo de maustratos, seguindo suas suspeitas.8 Os profissionais de enfermagem também podem atuar nas
comunidades onde trabalham para aumentar a conscientização por meio de educação comunitária sobre tráfico de pessoas e revelar essa realidade
cruel para os habitantes dos EUA.
RESUMO
As causas da violência contra as mulheres são complexas. Antigamente, a violência contra as mulheres era invisível, natural e trivial. Muitos riam
quando ouviam a noção de que a VPI ou violência comunitária devia ser considerada uma violação dos direitos humanos. O aumento da
conscientização e a elaboração de programas, práticas e políticas baseadas em evidências para evitar a VPI e a agressão sexual são essenciais para
interromper o comportamento violento antes que esse comece. Muitas delas sofrem algum tipo de violência ao longo da vida, e isso pode ter um
efeito debilitante sobre sua saúde e relacionamentos futuros. Os profissionais de enfermagem têm as habilidades, a experiência profissional e a
perspectiva de serem uma parte importante dos esforços abrangentes de prevenção de violência nas comunidades. A violência é um problema de
saúde pública que pode ser prevenido se múltiplos setores compreenderem os padrões de violência e implementarem estratégias de prevenção para
reduzir essa violência (Copelon, 2015).
A violência frequentemente deixa um “legado de dor” para as gerações futuras. Os enfermeiros podem capacitar (empoderar) as mulheres e
incentiválas a seguir em frente e assumir o controle de sua vida. Quando as mulheres vivem em paz e em segurança, livres de violência, têm um
enorme potencial para contribuir para suas comunidades e a sociedade nacional e global. Os profissionais de enfermagem podem ter um papel
importante para a criação de uma comunidade sem violência. Contudo, primeiro precisam estar beminformados. Eles precisam insistir que as
agências de saúde aceitem essa responsabilidade e trabalhar em conjunto para atender as vítimas de abuso. Esse é o momento certo para os
profissionais de enfermagem atuarem e garantir incursões sérias para melhorar a saúde e o bemestar de todas as mulheres do planeta.
A violência contra a mulher não é normal, legal ou aceitável e nunca deve ser tolerada ou justificada. Pode e deve ser interrompida por toda a
comunidade mundial. A educação e a prevenção precoces constituem as melhores esperanças para criar futuros saudáveis e fomentar uma sociedade
global sem violência.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
A violência contra as mulheres é um grande problema social e de saúde pública, pois viola o próprio ser da mulher e causa
diversas sequelas à sua saúde física e mental
Toda mulher corre o risco de tornarse uma vítima de violência
Vários objetivos do Healthy People 2020 se concentram em reduzir a taxa de agressões físicas e o número de estupros e
tentativas de estupro
Os maustratos podem ser de natureza mental, física ou sexual, ou uma combinação destas
O ciclo de violência inclui três fases: acúmulo de tensão, espancamento agudo e lua de mel
Muitas mulheres sofrem de TEPT após abuso sexual. O TEPT pode inibir a capacidade de adaptação ou de enfrentamento
saudável da sobrevivente
A gravidez pode precipitar ou exacerbar a violência contra a mulher
A MGF é praticada em todo o mundo e os profissionais de enfermagem precisam informarse sobre ela, sem julgar essa
prática cultural
O tráfico de pessoas é uma violação dos direitos humanos. O profissional de enfermagem que suspeitar de tráfico deve
denunciálo, para interromper o ciclo de maustratos contra crianças pequenas e mulheres
O papel do profissional de enfermagem no atendimento das vítimas de violência é estabelecer um relacionamento; abrir
linhas de comunicação; aplicar o processo de enfermagem para avaliar e rastrear todas as pacientes em todos os
contextos; e implementar e intervir quando for apropriado
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Exercícios sobre o capítulo
QUESTÔES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. O principal objetivo da intervenção ao atender mulheres vítimas de violência é o seguinte:
a. Marcar um encontro com um profissional da saúde mental para a vítima
b. Convencêlas a definir um plano de segurança para ser usado ao sair de casa
c. Ajudálas a desenvolver coragem e apoio financeiro para deixar o abusador
d. Capacitálas e melhorar sua autoestima para recuperar o controle de sua vida
2. A primeira fase do ciclo de maustratos é caracterizada:
a. Pela mulher provocando o agressor, o que ocasiona o espancamento
b. Pelo acúmulo de tensão e agressões verbais ou físicas leves
c. Por um período de lua de mel que tranquiliza a vítima, fazendoa esquecerse da agressão
d. Por um episódio agudo de agressão física
3. As mulheres que se recuperam de relacionamentos abusivos precisam aprender maneiras de melhorar:
a. Seu nível de escolaridade, obtendo um diploma universitário
b. Seu poder aquisitivo, para que possam mudar para um bairro melhor
c. Sua autoestima e habilidades de comunicação, para melhorar a assertividade
d. Suas habilidades de relacionamento, para que estejam mais bem preparadas para lidar com seus parceiros
4. Qual das seguintes afirmações empoderaria as vítimas de maustratos a agir?
a. “Você merece coisa melhor do que isso”
b. “Seus filhos merecem crescer em uma família com pai e mãe”
c. “Tente descobrir o que você faz para provocar os maustratos e fazer com que não ocorram mais”
d. “Dê ao seu parceiro mais tempo para que ele se dê conta do que está fazendo”
5. Se uma mulher acredita que está sendo perseguida quando dirige seu carro, uma boa medida de segurança é:
a. Dirigir até uma delegacia ou sede dos bombeiros
b. Seguir por ruas pouco movimentadas para despistar os perseguidores
c. Sacudir uma arma de fogo para intimidar os perseguidores
d. Abaixar a janela do carro e confrontar os perseguidores
6. Os profissionais de enfermagem têm um papel importante no rastreamento e na avaliação de abuso/violência por parceiro
íntimo. Qual das seguintes opções é correta?
a. A maioria das pacientes reluta muito em oferecer informações sobre assuntos particulares
b. Quaisquer perguntas sobre violência por parceiro íntimo devem ser respondidas na presença dos parceiros
c. Para viabilizar a revelação de informações, garantir à paciente que as declarações dela não serão registradas
d. A melhor declaração a ser feita para a vítima de violência é: “Você não merece isso”
7. O que o enfermeiro deve fazer se uma vítima de violência por parceiro íntimo optar por não oferecer informações sobre seu
relacionamento abusivo durante a consulta?
a. Confrontar a vítima com as evidências físicas e os sinais reveladores da violência
b. Entrar em contato com os familiares para conversar sobre o relacionamento abusivo
c. Chamar a delegacia de polícia local para perguntar se houve chamados por causa de distúrbios domésticos
d. Respeitar o direito da paciente de autodeterminação e disponibilizar recursos
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. A Sra. Boggs tem três crianças com menos de 5 anos de idade e está grávida de 6 meses de seu quarto filho. Ela fez
repetidas consultas não agendadas com queixas somáticas vagas em relação às crianças, bem como a si mesma, mas
perdeu várias consultas prénatais regulares. Às vezes, ela usava óculos escuros para encobrir lesões ao redor dos olhos.
Como enfermeiro, você sente que há algo errado, mas ela parece não querer discutir isso com você. Ela parece triste, e as
crianças ficam o tempo todo grudadas a ela.
a. Delineie a conversa quando você aborda o assunto de maustratos com a Sra. Boggs
b. Qual é o seu papel como enfermeiro no cuidado de uma família quando existe a suspeita de maustratos?
c. Que considerações éticas/legais são importantes para o planejamento da assistência a essa família?
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Acesse http://agenciabrasil.ebc.com.br. Discuta o que você descobriu neste site e suas reações a isso.
2. Pesquise as estatísticas sobre a violência contra as mulheres em seu país/estado. Descubra o número de agressões sexuais
relatadas e quais estratégias as autoridades utilizam para reduzir esse escore.
3. Participe de uma palestra de orientação para universitários em uma faculdade local para ouvir sobre medidas para proteger a
segurança das mulheres no campus. Descubra o número de agressões sexuais relatadas e quais estratégias a faculdade
utiliza para reduzir esse escore.
4. Ofereçase para passar uma noite de fim de semana na central da linha direta de emergência da delegacia local para
observar o número e a natureza das chamadas recebidas de denúncias de violência doméstica. Entreviste o operador para
saber a frequência e as tendências dessas chamadas.
5. Identifique três recursos comunitários que poderiam ser úteis para a vítima de violência. Identifique os serviços prestados e as
origens.
ESTUDO DE CASO
Uma gestante de 23 anos de idade procura o ambulatório de prénatal pela terceira vez no mês com muitas queixas vagas,
inclusive insônia, dores difusas pelo corpo, falta de apetite, fadiga e constipação intestinal. Esta é sua primeira gravidez e não foi
planejada. Os achados no exame ginecológico e nos exames laboratoriais estão dentro dos limites da normalidade. Sua história
patológica pregressa inclui ansiedade e depressão. De acordo com a paciente, ela não bebe nem fuma. Ela não trabalha fora de
casa.
AVALIAÇÃO
O enfermeiro observa uma mulher jovem bemvestida, agradável, mas ansiosa. De modo geral, o marido (estão casados há 1 ano)
vem com ela às consultas ambulatoriais, mas hoje não veio. A paciente tende a evitar o contato visual com o enfermeiro quando
ele faz perguntas sobre seus sintomas. Os sinais vitais da paciente e a frequência cardíaca fetal estão dentro dos limites da
normalidade. O enfermeiro observa várias equimoses nos braços e nas coxas da paciente. Quando questionada sobre as marcas,
a paciente olha para o outro lado.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 9 | Violência e MausTratos
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é D. Dar às mulheres a capacidade de estar no controle de suas vidas lhes possibilita fazer as mudanças necessárias para
proteger a si e a seus filhos. Enquanto elas se sentirem como vítimas, agirão pouco em prol de mudanças. A alternativa A está incorreta: ser
vítima de maustratos/abuso sexual não é uma doença mental, mas envolve estar em circunstâncias em que a coragem e a autoestima podem
estar oprimidas. A alternativa B está incorreta: deixar o agressor é um processo, não uma ação abrupta, e é necessário muita preparação antes
de tomar essa atitude. A alternativa C está incorreta: o enfermeiro não tem os recursos para fornecer apoio financeiro às mulheres vítimas de
maustratos, mas pode fazer encaminhamentos a instituições da comunidade que poderiam ajudar na formação profissional.
2. A resposta correta é B. A tensão cresce no agressor, e ele demonstra aumento da raiva e comportamento violento, sem qualquer provocação da
mulher. Essa fase de tensão dá início ao ciclo de violência. A alternativa A está incorreta: tipicamente a mulher não provoca o comportamento
violento do agressor, mas ele a culpa por sua falta de controle sobre a raiva. A alternativa C está incorreta: na fase de lua de mel, a fase final
do ciclo de violência, o agressor diz que está arrependido, que a ama e que isso nunca mais acontecerá. A alternativa D está incorreta: na fase
de explosão do ciclo de violência, o agressor ataca fisicamente a mulher. Essa etapa segue a fase de acúmulo de tensão.
3. A resposta correta é C porque se sentir melhor em relação a si mesma, ser assertiva e ser capaz de negociar diminuem o risco de se tornar
uma vítima de maustratos novamente. A alternativa A está incorreta: ir para a faculdade não assegurará que ela não será vítima de maus
tratos no futuro. A alternativa B está incorreta: ela pode morar em um bairro nobre e sofisticado na ocasião da agressão; mudar de localidade
não impedirá que ela se torne vítima de maustratos novamente. A alternativa D está incorreta: o problema pode não estar relacionado de modo
algum com suas habilidades de relacionamento, mas pode estar relacionado com uso abusivo de substâncias psicoativas ou história de maus
tratos de seu parceiro.
4. A resposta correta é A. Essa declaração promove melhora na autoestima, que pode ter sido destruída por seu agressor no relacionamento.
Também indica para a mulher que ela tem muito a oferecer e que não deve aceitar esse comportamento abusivo. A vítima pode nunca ter
ouvido isso antes; seu agressor pode têla convencido de que ela merecia a violência. A alternativa B está incorreta: muitas crianças que vivem
em lares violentos também sofrem maustratos e são extremamente estressadas. Nenhuma criança deve viver sob tais circunstâncias
estressantes; uma família com pai e mãe não é saudável se um deles for um agressor. A alternativa C está incorreta: na maioria dos casos, a
mulher não desencadeia os maustratos; em vez disso, o agressor tem falta de controle sobre a sua raiva e não precisa ser provocado para
atacar. Não há necessariamente uma relação de causa e efeito entre o comportamento da mulher e a violência. A alternativa D está incorreta: ao
longo do tempo, os maustratos tipicamente pioram, em vez de diminuir; assim, dar ao parceiro mais tempo não fará com que ele se
conscientize.
5. A resposta correta é A porque o órgão da comunidade ajudará a mulher perseguida e notificará o representante da lei. A alternativa B é
incorreta porque a mulher se expõe a um ambiente inseguro e se isola de potencial ajuda de outras pessoas. A alternativa C colocaria a mulher
em risco imediato se o homem que a persegue também estiver armado. Pode ocorrer lesão física em caso de tiroteio. A alternativa D exporia a
mulher a perigo imediato e abuso sexual ou estupro potencial se confrontasse o perseguidor. Afastarse do perseguidor seria uma conduta
melhor e mais segura.
6. A resposta correta é D porque informa a paciente que os maustratos não são aceitáveis em nenhuma circunstância e não são provocados por
suas ações. Na verdade, constituem agressão em decorrência do desejo do companheiro de exercer controle sobre ela. A alternativa A é
incorreta porque muitas mulheres vítimas de maustratos expõem sua situação para o profissional de enfermagem se for questionada de
maneira não ameaçadora. A alternativa B é incorreta porque colocaria a vítima de maustratos em perigo se o agressor percebesse que outras
pessoas sabiam de suas ações. A vítima correria maior risco de maustratos adicionais, lesão ou morte. A alternativa C é incorreta porque
seriam necessárias provas dos maustratos se o caso fosse levado para a justiça. Quaisquer declarações obtidas na avaliação de enfermagem
devem ser documentadas para constituir o caso de violência por parceiro íntimo.
7. A resposta correta é D porque a paciente tem o direito de não revelar seu relacionamento abusivo para o profissional de enfermagem. Muitas
pacientes não estão preparadas para fazêlo e não devem ser coagidas. Com frequência, é preciso estabelecer um vínculo de confiança antes de
a paciente expor sua situação. A alternativa A é incorreta porque a paciente tem o direito de não revelar essa informação para o profissional de
enfermagem e nunca deve ser forçada a fazêlo. A alternativa B é incorreta porque seria uma violação do sigilo da paciente informar os
familiares sobre as suspeitas do profissional de enfermagem. A alternativa C é incorreta porque a paciente não deseja revelar sua situação de
maustratos – é uma violação do sigilo notificar a polícia sem o conhecimento da paciente.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. Delineie a conversa quando você aborda o assunto de maustratos com a Sra. Boggs.
Visto que você suspeita de maustratos, pergunte diretamente se ela se sente segura em sua casa; isso pode iniciar a conversa e
possibilitar que a Sra. Boggs fale sobre a situação. Se ela negar que há um problema, tranquilizea dizendo que você se importa, que você
teme pela segurança dela e que ela merece mais. Abrir espaço para a discussão é o primeiro passo para a mudança.
b. Qual é o seu papel como enfermeiro no cuidado de uma família quando existe a suspeita de maustratos?
Informe à Sra. Boggs que você estará lá para ouvila quando ela estiver pronta para falar sobre sua situação e que ela merece mais do que
isso. Se ela não estiver disposta a fazêlo nesse momento, continue fazendo as perguntas de rastreamento de maustratos em todas as
consultas subsequentes. Dar a ela o número de telefone da linha direta (Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher, ligação gratuita,
24 horas por dia, de segunda a domingo) para casos de violência doméstica pode ser útil.
c. Que considerações éticas/legais são importantes para o planejamento da assistência a essa família?
Se você notar que a Sra. Boggs sofreu maustratos recentemente, é obrigatório por lei relatálos. Você também precisa documentar
quaisquer ferimentos para fortalecer esse caso se ele for a julgamento. A documentação precisa também pode ser usada como justificativa
para várias outras ações, como ordens de restrição, remuneração e pagamentos de seguro e previdência. Você tem a responsabilidade ética
e legal de relatar os maustratos e ajudar a mulher; não a ignore e nem considere o assunto como “uma disputa familiar particular”.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Esse site inclui postagens de mulheres em relacionamentos abusivos. Ele pode ajudar os estudantes a compreender a extensão da violência em
nossa sociedade e pode leválos a pressionar os legisladores para aprovar leis mais rigorosas para proteger as vítimas de maustratos. Ver
também o site Portal Brasil.
2. Esse exercício tem por objetivo ajudar os estudantes a colocar em perspectiva a violência por parceiro íntimo e determinar se vivem em um
ambiente seguro. Eles também podem descobrir quais intervenções poderiam reduzir a violência doméstica.1
3. A equipe de segurança do campus universitário muitas vezes apresenta programas de segurança para mulheres sobre como se proteger contra
estupros e agressões sexuais. Essas informações são úteis a qualquer mulher, quer ela viva no campus ou não.
4. Essa atividade deve proporcionar uma experiência reveladora sobre a frequência de chamadas relacionadas com a violência por parceiro íntimo
e quanto tempo os policiais gastam lidando com isso.
5. Entre os recursos a que uma vítima de violência pode recorrer no Brasil, incluemse:
i. Lei Federal no 11.340, de 07 de agosto de 2006, a denominada Lei Maria da Penha, para combate à violência doméstica e familiar contra
a mulher.
ii. Política Judiciária Nacional de Enfrentamento à Violência Doméstica, publicada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por meio da
Portaria no15/2017, que define diretrizes e ações de prevenção e combate à violência contra as mulheres e garante a adequada solução de
conflitos que envolvam mulheres em situação de violência, nos termos da legislação nacional vigente e das normas internacionais de
direitos humanos sobre a matéria.
iii. Delegacias especializadas no atendimento das mulheres.
ESTUDO DE CASO
1. Com base em suas consultas frequentes e na diversidade dos sintomas sem anormalidades ao exame do abdome, o que o enfermeiro deveria
considerar?
2. O que torna essa paciente suscetível à violência por parceiro íntimo (VPI)?
3. Se a paciente estiver sofrendo abuso sexual, quais são as consequências disso para sua saúde?
Resposta: Essa gestante está tentando chamar a atenção para sua situação de insegurança em seu lar, comparecendo frequentemente à clínica
referindo sintomas vagos. Sua linguagem corporal é típica de uma vítima de maustratos, porque ela evita contato visual e suas respostas são
vagas. Algumas estimativas sugeriram que a VPI afete cerca de 30% das mulheres norteamericanas de todas as classes socioeconômicas e
níveis de escolaridade, sem consideração de idade ou etnia. Também foi estimado que a prevalência de VPI na gravidez seja de 23% e que isso
possa começar ou se agravar na gestação. As gestantes ficam muito vulneráveis durante a gestação, porque seus companheiros podem
considerálas mais fracas e sentir ciúmes se acreditarem que as atenções são desviadas deles para o feto. As consequências da VPI para a
saúde são lesões físicas, DSTs, doença inflamatória pélvica (DIP), gestações indesejadas, nascimento prematuro, recémnascidos de baixo
peso, autoestima baixa, depressão, transtornos de ansiedade, abuso de drogas ilícitas e até mesmo morte.
Plano de cuidados
1. Qual seria a conduta do enfermeiro em relação a essa paciente?
2. Qual informação o enfermeiro precisa obter antes de questionar essa paciente?
3. Qual recurso importante é vital que a paciente vítima de abuso tenha conhecimento para buscar ajuda?
4. Qual mensagem o enfermeiro precisa transmitir a qualquer vítima de maustratos?
Resposta: A melhor conduta para essa paciente é avaliar a segurança dela no relacionamento íntimo. Uma explicação dos diversos tipos de
maustratos seria importante para instruir a paciente quanto ao que seria violência sexual, violência física, perseguição, agressão psicológica e
controle da saúde reprodutiva ou sexual. O enfermeiro deve conhecer diversos recursos disponíveis na comunidade e os requisitos locais para
notificação de VPI. As autoridades policiais ou os órgãos de combate à violência doméstica da localidade podem ser recursos importantes. A
mensagem estratégica que todas os enfermeiros devem transmitir às vítimas de abuso é: elas não merecem este tipo de comportamento e não
devem tolerálo.
____________
1
N.R.T.: De acordo com o Código Penal Brasileiro, artigo 213 (na redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009), estupro é constranger alguém, mediante
violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com esse alguém se pratique outro flato libidinoso.
2
N.R.T.: No Brasil, o Disque 100, canal do Ministério de Direitos Humanos, recebeu 144.580 denúncias de violações de direitos de crianças e adolescentes
em 2016. São 396 ocorrências por dia ou 16 a cada hora.
3
N.R.T.: Dados do Ministério dos Direitos Humanos, colhidos por meio do Disque 100, revelam que houve mais de 33.000 denúncias de abusos contra
pessoas acima de 60 anos, em 2017, em todo o Brasil.
4
N.R.T.: No Brasil, o incesto não é considerado crime e não é contemplado no Código Penal. O Código Civil, artigo 183, descreve o incesto como
impedimento ao casamento.
5
N.R.T.: No Brasil, a Lei nº 12.015/2009 do Código Penal modificou a definição de estupro, que antes só se aplicava à mulher.
6
N.R.T.: No Brasil, os artigos 217A e 218 do Código Penal abordam o assunto, chamandoo de estupro de vulnerável e corrupção de menor.
7
N.R.T.: No Brasil, ligue para 100 ou 180.
8
N.R.T.: Uma pesquisa inédita produzida pela Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça (SNJ/MJ), em parceria com o Escritório das Nações
Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e o Centro Internacional de Desenvolvimento de Políticas de Migração (ICMPD, em inglês), revelou pela primeira
vez detalhes sobre tráfico de pessoas nos 11 estados de fronteira do Brasil. Essa pesquisa mostra que pelo menos 475 pessoas, no período de 2005 a 2011,
foram identificadas como vítimas do tráfico de pessoas. A maioria delas consistiu em mulheres entre 18 e 29 anos e adolescentes.
1
N.R.T.: Vale a pena acessar o site da Fiocruz e ler sobre o estudo Violência por parceiro íntimo: perfil dos atendimentos em serviços de urgência e
emergência nas capitais dos estados brasileiros.
Questões múltipla escolha
1. Qual dos seguintes a enfermeira incluiria na preparação de uma apresentação para um grupo da comunidade local
sobre maustratos por parceiro íntimo?
A. Os maustratos em relações homossexuais podem não ser denunciados pelo medo de perseguição
B. Os maustratos afetam principalmente mulheres jovens e solteiras
C. Até os anos 1990, a sociedade tendeu a legitimar o controle das mulheres pelos homens
D. É pouco provável que crianças que testemunham maustratos de um dos pais se tornem espancadoras
Concluir questão
2. Ao ensinar um grupo de estudantes sobre o ciclo de violência, qual comportamento a enfermeira descreveria
como fadado a desaparecer conforme a violência aumenta ao longo do tempo?
A. Pedidos de desculpa pela dor e pelos maustratos
B. Hostilidade excessiva e atrito
C. Perda de controle
D. Negação da gravidade das lesões
Concluir questão
3. Como parte de um programa local de conscientização da universidade, uma enfermeira está entrevistando vários
participantes para saber suas opiniões em relação ao estupro. Qual afirmação a levaria a determinar que são
necessárias orientações em relação ao assunto?
A. “A mulher pode evitar ser estuprada. Se ela não quiser que isso aconteça, então não vai acontecer.”
B. “A maioria das vítimas de estupro nunca relata o episódio à polícia nem fala com ninguém sobre isso.”
C. “O que uma mulher usa não determina se ela vai ou não ser estuprada.”
D. “As mulheres estupradas precisam de vários anos para se recuperar emocional e fisicamente.”
Concluir questão
4. Ao prestar cuidados a uma vítima de maustratos, qual das seguintes medidas a enfermeira adotaria?
A. Tomar as decisões pela mulher
B. Fornecer uma visão geral dos procedimentos a serem realizados
C. Assumir a liderança em fornecer intervenções rapidamente
D. Permitir que a mulher participe de seus cuidados
Concluir questão
5. A enfermeira está ministrando uma aula sobre a prevenção do estupro a um grupo de mulheres adultas jovens e
descreve os vários tipos de drogas usados para propiciálo. Que droga a enfermeira descreveria como
responsável por uma separação entre a percepção e a sensação?
A. Flunitrazepam
B. Quetamina
C. Gamahidroxibutirato (GHB)
D. Diazepam
Concluir questão
6. Em uma consulta de acompanhamento, uma mulher que foi vítima de estupro afirma que se juntou a um grupo de
defesa de sobreviventes de estupro. A enfermeira interpreta isso como uma indicação de que a mulher está em
qual fase de recuperação?
A. Desorganização
B. Negação
C. Integração e recuperação
D. Reorganização
Concluir questão
7. Ao avaliar uma mulher que sofreu circuncisão por motivos culturais quando tinha 9 anos, a enfermeira observa
que o prepúcio e uma parte do clitóris foram removidos. Ela identifica isso como qual tipo de procedimento de
mutilação genital feminina?
A. Tipo II
B. Tipo I
C. Tipo III
D Tipo IV
Concluir questão
8. A enfermeira deve reconhecer que um traço comum entre as vítimas de síndrome da mulher espancada é a crença
de que os maustratos são decorrentes de qual das seguintes concepções?
A. A situação nunca melhorará
B. Ela pode sair dessa situação a qualquer momento
C. A mulher reconhece que é uma vítima
D. A mulher é, de algum modo, inadequada
Concluir questão
9. Ao estabelecer um relacionamento com a cliente, é importante que a enfermeira permaneça imparcial, esteja alerta
em busca de indícios sutis de maustratos e não classifique a cliente como sendo uma:
A. Queixosa crônica
B. Hipocondríaca
C. Propensa a acidentes
D. Pessoa que quer atenção
Concluir questão
10. Como enfermeira da unidade básica de saúde de uma cidade do interior, você teve sucesso utilizando o modelo
RFVA para avaliação de clientes em possíveis situações de maustratos. Qual dos seguintes não é incluído no
modelo RFVA?
A. Perguntar se há evidências de maustratos
B. Validar os sentimentos da cliente
C. Rastrear todas as clientes à procura de violência
D. Orientar a cliente em relação aos recursos comunitários disponíveis para ajudála
Concluir questão
11. Para auxiliar corretamente uma vítima de maustratos, é importante que a enfermeira ______.
A. Resuma os detalhes
B. Converse com a vítima sobre os detalhes
C. Documente os detalhes
D. Confronte o agressor sobre os detalhes
Concluir questão
12. Como enfermeira que atende mulheres vítimas de maustratos, você reconhece que uma das melhores
intervenções que pode oferecer é:
A. Apresentar queixa contra o agressor imediatamente
B. Enviar a vítima diretamente para um abrigo para que permaneça segura
C. Enfrentar o agressor
D. Fortalecer a sensação de controle da mulher sobre a própria vida
Concluir questão
13. Uma de suas clientes é uma sobrevivente de estupro e parece estar lidando muito bem com isso. No entanto, em
uma consulta de rotina vários meses depois, ela afirma que tem pesadelos e flashbacks. Como enfermeira, você
está preocupada porque ela está mostrando nesse momento sinais de:
A. Culpa esmagadora
B. Transtorno de estresse póstraumático
C. Evitação de crise
D. Recuperação continuada
Concluir questão
14. Uma preocupação com qualquer vítima de estupro é a chance de engravidar. Como enfermeira, você entende que
a contracepção de emergência será mais efetiva se tomada:
A. Nas primeiras 12 h após o estupro
B. Nas primeiras 24 h após o estupro
C. Nas primeiras 36 h após o estupro
D. Nas primeiras 48 h após o estupro
Concluir questão
15. Uma jovem refugiada procura a clínica onde você trabalha para cuidados médicos. Ao exame, você descobre que
ela sofreu mutilação genital feminina quando mais nova. Você reconhece que essa prática é baseada
principalmente em:
A. Sua religião
B. Sua escolha
C. Sua cultura
D. Punição
Concluir questão
16. É importante que as clientes entendam que existem vários(as) ______ que pregam contra a confidencialidade e
que algumas lesões, queixas e/ou situações têm de ser denunciadas.
A. Leis
B. Políticas do consultório
C. Regulamentações da HIPAA
D. Considerações éticas
Concluir questão
17. É importante que a enfermeira reconheça que a violência é um comportamento _____ que pode ser alterado com a
intervenção.
A. Hereditário
B. Patológico
C. Aprendido
D. Psiquiátrico
Concluir questão
18. Você acabou de encerrar uma apresentação sobre a violência por parceiro íntimo em uma reunião de um grupo
local. Então, percebe que são necessárias mais orientações quando ouve uma das senhoras comentar:
A. “As drogas ilícitas e as bebidas alcoólicas podem efetivamente piorar muito a situação.”
B. “Não é mais apenas homens contra mulheres, mas pode ser qualquer pessoa contra qualquer um que seja
íntimo dela.”
C. “Ouvi dizer que estar grávida agrava a situação.”
D. “Isso foi interessante, mas nunca vai acontecer nesta região. Isso só acontece no lado pobre da cidade.”
Concluir questão
19. A enfermeira deve estar ciente de que as mulheres correm maior risco de violência:
A. Durante a gravidez
B. Durante o inverno
C. Em dias de pagamento
D. Se deixarem o abusador
Concluir questão
20. É importante que a enfermeira nunca pareça ______ uma vítima de maustratos.
A. Parcial com
B. Suspeitar de
C. Criticar
D. Frustrarse com
Concluir questão
21. Uma cliente chega à clínica com queixa de dor no pescoço e nas costas. Seu parceiro parece ansioso e
superprotetor. Como a enfermeira pode lidar com esse exame?
A. Fazer perguntas à cliente a respeito de maustratos na frente de seu parceiro
B. Ficar a sós com a cliente para garantir a privacidade antes de questionar sobre possíveis maustratos
C. Ignorar as ações do parceiro
D. Questionar o parceiro em relação às suas ações
Concluir questão
22. Qual(is) dos seguintes a enfermeira identificaria como indicativo(s) de violência emocional? (Selecione todos que
se aplicam.)
A. Chamar a vítima por apelidos degradantes
B. Ameaçar bater na vítima
C. Controlar como o dinheiro da família é gasto
D. Jogar objetos na vítima
E. Não permitir que a vítima procure cuidados para uma lesão
F. Forçar a vítima a realizar um ato degradante
Concluir questão
23. Ao atender uma mulher agredida, a enfermeira usa a estrutura ABCDES para prestar intervenções. Qual(is) dos
seguintes é(são) componente(s) dessa estrutura? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Garantir que a mulher não está sozinha nessa situação
B. Manter a confidencialidade das informações relatadas
C. Documentar claramente a percepção da enfermeira dos maustratos
D. Expressar a crença de que pode haver uma razão para a violência
E. Orientar em relação ao ciclo da violência e sua escalada
F. Planejar ações e recursos para a segurança para quando a mulher decidir ir embora
Concluir questão
24. A enfermeira está ajudando uma mulher que foi vítima de violência por parceiro íntimo a preparar um plano para
sair do relacionamento. Qual(is) das seguintes instruções a enfermeira inclui? (Selecione todas que se aplicam.)
A. “Certifiquese de ter algum tipo de identificação, como uma carteira de identidade com foto ou de motorista.”
B. “Leve a escritura da casa ou o contrato de aluguel do seu apartamento com você.”
C. “Não se preocupe com suas roupas, apenas saia.”
D. “Não se preocupe com quaisquer ordens judiciais, você pode obter outras cópias.”
E. “Tenha em mão alguns cartões telefônicos que poderão ser usados para fazer as ligações necessárias.”
F. “Elabore um plano específico para sair e depois coloqueo em prática.”
Concluir questão
25. Ao conversar com uma cliente sobre os ferimentos dela, a enfermeira reconhece vários fatores de risco que
poderiam indicar violência por parceiro íntimo. Qual(is) dos seguintes fatores pode(m) ser incluído(s)? (Selecione
todos que se aplicam.)
A. Idade jovem
B. Pobreza aparente
C. Discussão sobre o consumo excessivo de bebidas alcoólicas no final de semana
D. Depressão
E. Bom emprego
F. Terceira idade
Concluir questão
Desenvolvimento Fetal e Genética
10
PALAVRASCHAVE
Aconselhamento genético
Alelo
Blastocisto
Cariótipo
Cordão umbilical
Estágio embrionário
Estágio fetal
Estágio préembrionário
Fenótipo
Fertilização
Genes
Genética
Genoma
Genômica
Genótipo
Heterozigoto
Homozigoto
Monossomias
Mórula
Mutação
Placenta
Poliploidia
Teratógeno
Trissomias
Trofoblasto
Zigoto
Zona pelúcida
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Caracterizar o processo de fertilização, implantação e diferenciação celular.
2. Examinar as funções da placenta, do cordão umbilical e do líquido amniótico.
3. Delinear o desenvolvimento fetal normal desde a concepção até o nascimento.
4. Comparar os diversos padrões de herança, incluindo aqueles não tradicionais.
5. Analisar exemplos de questões éticas e legais que cercam o teste genético.
6. Pesquisar o papel do enfermeiro no aconselhamento genético e nas atividades relacionadas com a genética.
Robert e Kate Shafer acabam de receber a boa notícia de que o teste de gravidez de Kate foi positivo. Foi
uma longa e ansiosa jornada de 3 anos tentando começar uma família. Embora ambos estejam extasiados
com a perspectiva de tornaremse pais, também estão preocupados com a possibilidade de um problema
genético, visto que Kate tem 41 anos de idade. Qual poderia ser o primeiro passo do casal em relação às
questões genéticas? Como enfermeiro, quais indícios poderiam causar preocupação?
Reflexões
É impossível ser enfermeiro sem sentir admiração pela vida. Os enfermeiros precisam apenas testemunhar o milagre da
vida para recuperar seu deslumbramento.
INTRODUÇÃO
A reprodução humana é uma das áreas mais íntimas da vida de um indivíduo. A concepção ocorre quando um óvulo
saudável da mulher é liberado do ovário, passa pela tuba uterina aberta e começa sua jornada em sentido descendente. Os
espermatozoides são depositados na vagina e nadam cerca de 18 cm até encontrar o óvulo na parte mais externa da tuba
uterina, a área onde ocorre a fertilização. Esse processo leva cerca de 1 hora (Sermon & Viville, 2014). Quando um
espermatozoide penetra a membrana externa do óvulo, uma nova célula viva é formada, que é diferente das células dos
genitores. Logo, os dois núcleos se fundirão, reunindo cerca de 25.000 genes para orientar o desenvolvimento humano.
Os profissionais de enfermagem que atendem gestantes e suas famílias precisam ter conhecimentos básicos da
concepção e do desenvolvimento prénatal para que consigam identificar problemas ou variações e possam iniciar as
intervenções apropriadas se algum problema ocorrer. Este capítulo apresenta uma visão geral do desenvolvimento fetal,
começando pela concepção. Também discute as influências hereditárias sobre o desenvolvimento fetal e o papel do
enfermeiro no aconselhamento genético.
DESENVOLVIMENTO FETAL
O desenvolvimento do feto durante a gestação é medido em número de semanas após a fertilização. Uma gestação humana
média dura cerca de 280 dias, ou 40 semanas, a partir da data da última menstruação (DUM). Tradicionalmente, tem sido
calculada como 10 meses lunares ou, em termos de calendário moderno, 9 meses. Contudo, a fertilização do óvulo pelo
espermatozoide geralmente ocorre (considerando um ciclo menstrual médio de 28 dias) 14 dias após a DUM. Assim, a
duração média real de uma gestação humana (período de gestação) é de 280 dias – 14 dias = 266 dias.
Os três estágios do desenvolvimento fetal durante a gestação são:
1. Estágio préembrionário: da fecundação até a segunda semana
2. Estágio embrionário: do final da segunda semana até a oitava semana
3. Estágio fetal: do final da oitava semana até o nascimento.
A circulação fetal é um aspecto importante do desenvolvimento fetal, estendendose ao longo dos três estágios.
Estágio préembrionário
O estágio préembrionário começa com a fertilização, também chamada de concepção. A fertilização é a união do óvulo e
do espermatozoide, sendo o ponto de partida da gestação. O desenvolvimento durante essa fase ocorre organizadamente de
modo cefalocaudal, de proximal para distal e de geral para específico. A fertilização ocorre tipicamente cerca de 2 semanas
após a última menstruação normal em um ciclo de 28 dias (Mader & Windelspecht, 2015). A fertilização exige a interação
oportuna entre a liberação do óvulo maduro na ovulação e a ejaculação de muitos espermatozoides saudáveis e móveis, que
precisam sobreviver ao hostil ambiente vaginal através do qual devem deslocarse até encontrar o óvulo. Tudo
considerado, na melhor das hipóteses, o ato da concepção é difícil. Apenas dizer que ele ocorre quando o espermatozoide
se une ao óvulo é simplificar demais, pois essa união exige uma interação complexa entre a preparação hormonal e a
superação de um grande número de barreiras naturais. O ser humano é realmente um surpreendente desfecho desse
elaborado processo.
Antes da fertilização, o óvulo e o espermatozoide passam pelo processo de meiose. O oócito primário (também
denominado ovócito primário) completa a primeira divisão da meiose antes da ovulação. O oócito secundário (ou ovócito
secundário) começa a segunda divisão da meiose pouco antes da ovulação. Espermatócitos primários e secundários sofrem
meiose enquanto ainda estão nos testículos. A gametogênese é o processo pelo qual os gametas (oócito ou espermatozoide)
são produzidos para iniciar o desenvolvimento de um novo indivíduo. Os gametas precisam ter um número haploide de
cromossomos (um conjunto único, ou seja, 23) de modo que, quando se juntarem para formar o zigoto, seja estabelecido o
número diploide humano normal de cromossomos (combinação de dois conjuntos, ou seja, 46) (Figura 10.1). Esse menor
número de cromossomos encontrados nos oócitos e nos espermatozoides é crucial porque esses gametas se combinam para
formar um novo indivíduo com 46 cromossomos.
Embora cada mililitro de sêmen ejaculado contenha mais de 200 milhões de espermatozoides, apenas um é capaz de
adentrar o óvulo e fertilizálo. Todos os outros são bloqueados pela camada de proteína clara chamada zona pelúcida. Ela
desaparece em cerca de 5 dias. Uma vez que o espermatozoide alcance a membrana plasmática, o óvulo retoma a meiose e
produz um núcleo com a metade do número de cromossomos (23). Quando o núcleo do óvulo e o núcleo do
espermatozoide entram em contato, eles perdem suas respectivas membranas nucleares e combinam seus cromossomos
maternos e paternos. Como cada núcleo contém um número haploide de cromossomos (23), essa união restaura o número
diploide (46). O zigoto resultante começa o processo de uma nova vida.
A informação genética do espermatozoide e do óvulo estabelece as características físicas únicas do indivíduo. O sexo
também é determinado na fecundação e depende de o óvulo ser fertilizado por um espermatozoide carregando um
cromossomo Y ou X. Aproximadamente 50% dos espermatozoides carreiam o cromossomo X enquanto os outros 50%
carreiam o cromossomo Y. Um zigoto XX tornase uma mulher, e um zigoto XY tornase um homem (Figura 10.2). É por
isso que é cientificamente correto dizer que o sexo da criança é determinado pelo pai e não pela mãe.
FIGURA 10.1 A formação de gametas pelo processo de meiose é conhecida como
gametogênese. A. Espermatogênese. Uma espermatogônia dá origem a quatro espermatozoides. B. Oogênese. De
cada oogônia, são produzidos um oócito maduro e três células abortivas. Os cromossomos são reduzidos à metade
do número característico das células corporais gerais da espécie em questão. Nos seres humanos, o número nas
células do corpo é 46, e no espermatozoide maduro e no oócito secundário é 23.
FIGURA 10.2 Herança de gênero. Cada óvulo contém 22 cromossomos autossômicos e um cromossomo X. Cada
espermatozoide contém 22 cromossomos autossômicos e um cromossomo X ou um cromossomo Y. O gênero do
zigoto é determinado no momento da fertilização pela combinação dos cromossomos sexuais do espermatozoide
(X ou Y) e do óvulo (X).
A fertilização ocorre no terço externo da ampola da tuba uterina. Quando o óvulo é fecundado pelo espermatozoide
(agora chamado zigoto), muitos processos ocorrem imediatamente. A mitose, ou clivagem, ocorre enquanto o zigoto é
lentamente transportado para a cavidade uterina por movimentos musculares das tubas (Figura 10.3). Após uma série de
quatro clivagens, as 16 células aparecem como uma bola sólida de células, ou mórula, que significa “pequena amora”. A
mórula continua a se dividir e se transforma em um blastocisto enquanto se desloca em direção ao útero. A mórula alcança
a cavidade uterina cerca de 72 horas após a fertilização (Mueller, Hassel, & Grealy, 2015).
Também podem ocorrer múltiplos fetos no momento da fertilização, quando mais de um óvulo é fertilizado. Gêmeos
idênticos (também chamados de gêmeos monozigóticos) se formam quando um óvulo fertilizado se divide e se desenvolve
em dois (ou eventualmente mais de dois) fetos. Os fetos geralmente compartilham uma placenta. Os gêmeos idênticos têm
os mesmos genes, então geralmente são iguais na aparência e são do mesmo sexo. Gêmeos fraternos (também chamados
de gêmeos dizigóticos) se desenvolvem quando dois óvulos separados são fertilizados por dois espermatozoides
diferentes. Cada gêmeo geralmente tem sua própria placenta. Os gêmeos fraternos (como outros irmãos) compartilham
cerca de 50% de seus genes, de modo que podem ser de sexos diferentes. Geralmente não se parecem mais do que irmãos
ou irmãs nascidos de diferentes gestações. Os gêmeos fraternos são mais comuns do que os gêmeos idênticos
(ver Capítulo 19 para mais detalhes).
FIGURA 10.3 Mitose das células do estoma.
Com a divisão celular adicional, a mórula se divide em células especializadas que mais tarde formam as estruturas
fetais. No interior da mórula, surge um espaço não centralizado preenchido por líquido, que a transforma em uma bola oca
de células chamada de blastocisto (Figura 10.4). A superfície interna do blastocisto formará o embrião e o âmnio. A
camada externa de células em torno da cavidade do blastocisto é chamada de trofoblasto. Eventualmente, o trofoblasto se
torna uma das membranas embrionárias, o cório, e ajuda a formar a placenta.
Nesse momento, o blastocisto em desenvolvimento precisa de mais nutrientes e oxigênio para manter o crescimento. O
trofoblasto adere à superfície do endométrio para nutrição adicional. Normalmente, a implantação ocorre na parte superior
do útero (fundo), local que apresenta irrigação sanguínea abundante. Essa área também contém fibras musculares fortes,
que comprimem os vasos sanguíneos depois que a placenta se desprende da parede interna do útero. Além disso, o
revestimento é mais espesso nesse local, de modo que a placenta não consegue aderir tão fortemente que consiga
permanecer no lugar após o nascimento. O processo de conexão e formação da placenta é denominado implantação. Do
ponto de vista médico, a gravidez só ocorre após a implantação bemsucedida (Jones & Lopez, 2014). A Figura
10.5 mostra o processo de fertilização e de implantação.
De modo concomitante ao desenvolvimento do trofoblasto e à implantação, ocorre diferenciação adicional da massa
celular interna. Algumas das células se tornam o próprio embrião, e outras dão origem às membranas que o rodeiam e o
protegem. As três camadas de células embrionárias formadas são:
1. Ectoderma: forma o sistema nervoso central, os sentidos especiais, a pele e as glândulas
2. Mesoderma: forma o esqueleto e os sistemas urinário, circulatório e genital
3. Endoderma: forma o sistema respiratório, o fígado, o pâncreas e o sistema digestório.
Essas três camadas são formadas concomitantemente às membranas embrionárias. Todos os tecidos, órgãos e sistemas
de órgãos se desenvolvem a partir dessas três camadas de células germinativas primárias (ElMazny, 2014). O Boxe
10.1 resume o desenvolvimento préembrionário.
FIGURA 10.4 A. O óvulo humano fertilizado (zigoto) alcança o estágio de blastocisto. O zigoto contém 20 a 30
células. Uma blastocele preenchida por líquido está começando a formarse. B. Implantação. Imagem estilizada
mostra uma vista frontal do útero, com um blastocisto prestes a implantarse no endométrio do útero. (Imagens de
LifeART image copyright © 2011 Lippincott Williams & Wilkins. Todos os direitos reservados.)
FIGURA 10.5 Fertilização e transporte tubário do zigoto. Desde a fecundação até a implantação, o zigoto percorre a
tuba uterina, passando por divisão mitótica rápida (clivagem). Durante a jornada em direção ao útero, o zigoto
passa por vários estágios, incluindo a mórula e o blastocisto.
Apesar das atividades intensas e drásticas que ocorrem internamente para criar a vida humana, muitas mulheres não
sabem que a gestação começou. Várias semanas se passarão antes que ocorra um dos primeiros sinais presuntivos de
gravidez: a não ocorrência da menstruação.
BOXE 10.1
RESUMO DO DESENVOLVIMENTO PRÉEMBRIONÁRIO
• A fecundação ocorre na ampola da tuba uterina
• A união do espermatozoide com o óvulo forma um zigoto (46 cromossomos)
• A divisão celular por clivagem continua até formar uma mórula (massa de 16 células)
• A massa celular interna é chamada de blastocisto, que forma o embrião e o âmnio
• A massa celular externa é chamada de trofoblasto, que forma a placenta e o cório
• A implantação ocorre de 7 a 10 dias após a concepção no endométrio
Estágio embrionário
O estágio embrionário de desenvolvimento começa no 15o dia após a concepção e continua até a 8a semana. As estruturas
básicas de todos os principais órgãos do corpo e as principais características externas são concluídas durante esse período,
inclusive os órgãos internos. A Tabela 10.1 e a Figura 10.6 resumem o desenvolvimento embrionário.
As membranas embrionárias (Figura 10.7) começam a formarse em torno do momento da implantação. O cório é
constituído por células trofoblásticas e um revestimento mesodérmico. O cório tem projeções digitiformes (vilosidades
coriônicas) em sua superfície. O âmnio se origina a partir da camada germinativa ectoderma durante as primeiras fases do
desenvolvimento embrionário. É uma membrana protetora fina que contém líquido amniótico. Ao lado do âmnio, um saco
gestacional se desenvolve como uma segunda cavidade por volta do 8o ou 9o dia após a concepção. O saco gestacional
auxilia na transferência de oxigênio e nutrientes maternos para o embrião durante a segunda e a terceira semana de
gestação, quando o desenvolvimento da circulação uteroplacentária está em curso. À medida que a gestação avança, o saco
gestacional se atrofia, sendo incorporado ao cordão umbilical. À medida que o embrião cresce, o âmnio se expande até
tocar o cório. Essas duas membranas fetais formam uma bolsa cheia de líquido amniótico, ou bolsa de águas, que protege
o embrião flutuante (Jordan et al., 2014).
Tabela 10.1 Desenvolvimento embrionário e fetal.
Semana 3
Início do desenvolvimento do encéfalo, da medula espinal e do coração;
início do desenvolvimento do sistema digestório; formase o tubo neural,
que mais tarde se torna a medula espinal; brotos de pernas e braços
surgem e crescem para fora do corpo
Semana 4
O encéfalo se diferencia; os brotos dos membros crescem e
desenvolvemse mais
Semana 5
Coração agora se contrai em ritmo regular; início das estruturas dos olhos
e orelhas; alguns nervos cranianos são visíveis; músculos são inervados
Semana 6
Início da formação dos pulmões; circulação fetal estabelecida; fígado
produz hemácias; desenvolvimento do encéfalo; formamse o esqueleto
primitivo e o sistema nervoso central; ondas cerebrais detectáveis
Semana 7
Retificação do tronco; formamse mamilos e folículos capilares; cotovelos
e dedos dos pés são visíveis; pernas se movem; diafragma formado;
boca com lábios e brotos dentários primitivos
Semana 8
Rotação dos intestinos. Características faciais continuam se
desenvolvendo; desenvolvimento cardíaco completo; assemelhase a um
ser humano; a placenta já se mostra funcional; as pálpebras estão
formadas e crescendo, mas ainda não separadas
Semanas 9 a 12
A diferenciação sexual continua; brotamento de todos os 20 dentes
temporários; sistema digestório mostra atividade; cabeça representa
quase a metade do tamanho do feto. Face e pescoço estão bem
formados; sistema urogenital com desenvolvimento completo; hemácias
são produzidas no fígado; a urina começa a ser produzida e excretada;
sexo fetal pode ser determinado até a 12a semana; membros são longos
e finos; os dedos estão bem formados; o feto se move, chuta e deglute
Semanas 13 a 16
Pelos finos chamados lanugem são encontrados na cabeça; a pele do
feto é quase transparente; os ossos tornamse mais rígidos; o feto faz
movimentos ativos; a boca faz movimentos de sucção; o líquido amniótico
é deglutido; a genitália externa é reconhecível; surgem as unhas das
mãos e dos pés; o peso quadruplica; o movimento fetal é detectado pela
mãe
Semanas 17 a 20
Ocorre crescimento rápido do encéfalo; batimentos cardíacos fetais
podem ser ouvidos com o estetoscópio; os rins continuam excretando
urina no líquido amniótico; vérnix caseoso, uma película gordurosa
branca, recobre o feto; surgem sobrancelhas e cabelo; depositase
gordura marrom para ajudar a manter a temperatura; os dedos das mãos
e dos pés têm unhas; os músculos estão bem desenvolvidos
Semanas 21 a 24
Cílios e sobrancelhas estão bem formados; o feto apresenta reflexos de
preensão palmar e Moro; alvéolos estão se formando nos pulmões; a
pele é translúcida e avermelhada; as pálpebras permanecem fechadas;
os pulmões começam a produzir surfactante
Semanas 25 a 28
O feto alcança o comprimento de cerca de 38 cm; desenvolvimento
rápido do encéfalo; as pálpebras se abrem e se fecham; sistema nervoso
controla algumas funções; as impressões digitais estão definidas; a
gordura subcutânea é visível sob a pele; a formação do sangue desloca
se do baço para a medula óssea; o feto geralmente adota a posição de
cabeça para baixo; o feto responde à luz e ao som; o feto consegue abrir
e fechar os olhos e chupar o polegar
Semanas 29 a 32
Aumento rápido no teor de gordura corporal; maior controle do sistema
nervoso central sobre as funções do corpo; ocorrem movimentos
respiratórios rítmicos; os pulmões não estão totalmente maduros; já
existe o reflexo pupilar à luz; o feto armazena ferro, cálcio e fósforo
Semanas 33 a 38
Os testículos estão no escroto do feto masculino; a lanugem começa a
desaparecer; existência de reflexo de preensão palmar forte; aumento da
gordura corporal; lóbulos da orelha formados e firmes; unhas alcançam a
ponta dos dedos das mãos; pequenos brotos mamários são encontrados
em ambos os sexos; a mãe fornece ao feto anticorpos contra doenças; o
feto é considerado a termo em 38 semanas; o feto preenche o útero e se
move para a posição de cabeça para baixo
Adaptada de March of Dimes. (2015c). How your baby grows. Retirada
de http://www.marchofdimes.com/pregnancy/yourbody_babygrowth.html;
Jones, R. E., & Lopez, K. H. (2014). Human reproductive biology (4th ed.).
Waltham, MA: Elsevier; Jordan, R. G., Engstrom, J., Marfell, J., & Farley,
C. L. (2014). Prenatal and postnatal care: A womancentered approach.
Ames, Iowa: Wiley Blackwell.
FIGURA 10.6 Desenvolvimento embrionário. A. Embrião de 4 semanas. B. Embrião de 5 semanas. C. Embrião de 6
semanas.
FIGURA 10.7 A. O embrião está flutuando no líquido amniótico, cercado pelas membranas fetais de proteção
(âmnio e cório). B. Ultrassonografia longitudinal de um útero gravídico na 11a semana mostrando o saco
gestacional intrauterino (pontas de seta pretas) e a cavidade amniótica (AC) preenchida por líquido amniótico; o
feto é visto em corte longitudinal com a cabeça (H) e cóccix (C) bem evidenciados. O miométrio (MY) do útero pode
ser identificado. (A Figura B é cortesia de L Scoutt.)
O líquido amniótico envolve o embrião e aumenta de volume conforme a gestação avança, alcançando cerca de 1 l a
termo. O líquido amniótico é derivado de duas fontes: dos líquidos transportados do sangue materno através do âmnio e da
urina fetal. Seu volume muda constantemente, conforme o feto deglute líquido e excreta urina. Volumes suficientes de
líquido amniótico ajudam a manter uma temperatura corporal constante para o feto, possibilitam o crescimento e o
desenvolvimento simétrico, amortecem impactos ao feto, possibilitam que o cordão umbilical mantenhase relativamente
livre de compressão e promovem a movimentação do feto para melhorar o desenvolvimento musculoesquelético. O líquido
amniótico é composto por 98% de água e 2% de matéria orgânica. É discretamente alcalino e nele flutuam albumina, ureia,
ácido úrico, creatinina, bilirrubina, lecitina, esfingomielina, células epiteliais, vérnix caseoso e pelos finos chamados
lanugem. O líquido amniótico é essencial para o crescimento e o desenvolvimento fetais, especialmente o desenvolvimento
dos pulmões fetais. Ele é dinâmico e está em constante mutação conforme o líquido se move através da membrana
placentária (Zhang & Ducsay, 2014).
O volume de líquido amniótico é importante para determinar o bemestar fetal. O feto flutua gradualmente durante a
gestação. A taxa de variação do volume do líquido amniótico depende da idade gestacional. Durante o estágio fetal, o
incremento é de 10 mℓ/semana; entre a 19a e a 25a semana de gestação, aumenta para 50 a 60 mℓ /semana. O volume é
máximo na 34a semana de gestação, quando começa a sofrer redução gradual até o termo. As alterações no volume de
líquido amniótico podem estar associadas a problemas com o feto. O oligoidrâmnio, redução do líquido amniótico (menos
de 500 mℓ por ocasião do termo) está associado a insuficiência uteroplacentária, anormalidades renais fetais e maior risco
de parto cirúrgico e fetos de baixo peso ao nascimento. Líquido amniótico em excesso (> 2.000 m ℓ a termo), o
chamado polidrâmnio, está associado a diabetes melito materno, defeitos do tubo neural, desvios cromossômicos e
malformações do sistema nervoso central e/ou do sistema digestório que impeçam a deglutição normal de líquido
amniótico pelo feto (Moore, 2015).
Enquanto a placenta está se desenvolvendo (fim da segunda semana), o cordão umbilical é também formado a partir do
âmnio. É a linha vital da mãe para o embrião em desenvolvimento. Contém uma grande veia e duas pequenas artérias. A
geleia de Wharton (um tecido conjuntivo especializado) envolve esses três vasos sanguíneos do cordão umbilical para
evitar a compressão, o que cortaria o suprimento fetal de sangue e nutrientes. A termo, a média de comprimento do cordão
umbilical é de 55,9 cm, com cerca de 2,5 cm de largura (King et al., 2015).
As células precursoras da placenta – os trofoblastos – aparecem pela primeira vez 4 dias após a fertilização como a
camada externa das células do blastocisto. Esses trofoblastos primitivos do blastocisto se diferenciam em todas as células
que formam a placenta. Quando totalmente desenvolvida, a placenta funciona como a interface entre a mãe e o feto em
desenvolvimento. Mais comumente, a placenta se desenvolve no fundo do útero. Tão precocemente quanto 3 dias após a
concepção, os trofoblastos produzem gonadotrofina coriônica humana (hCG), um hormônio que garante que o endométrio
seja receptivo à implantação do embrião. Durante as semanas seguintes, a placenta começa a produzir os hormônios que
controlam a fisiologia básica da mãe, de modo que o feto é suprido com oxigênio e com os nutrientes necessários para o
crescimento. A placenta é o órgão humano menos bem compreendido e, provavelmente, um dos mais importantes. A
placenta também protege o feto de ataques do sistema imunológico da mãe, remove as escórias do feto, induz a mãe a
trazer mais alimento para a placenta e, próximo do momento do parto, produz hormônios que preparam os órgãos fetais
para a vida fora útero A placenta possibilita que a circulação materna atenda às demandas bioenergéticas do feto em
desenvolvimento, enquanto ele cresce no ambiente protegido do útero (Fisher, 2015).
Teoricamente, em nenhum momento da gestação o sangue da mãe se mistura com o sangue fetal, pois não há contato
direto; camadas de tecido fetal sempre separam o sangue materno do sangue fetal. Esses tecidos fetais são chamados
de barreira placentária. Os materiais podem ser trocados apenas por meio de difusão. As artérias uterinas maternas
fornecem nutrientes à placenta, que por sua vez fornece nutrientes para o feto em desenvolvimento; as veias uterinas da
mãe retiram as escórias fetais. A estrutura da placenta geralmente está completa até a 12a semana. Durante sua existência
transitória, a placenta desempenha funções que, após o parto, serão desempenhadas por diversos órgãos, inclusive os
pulmões, o fígado, o intestino, os rins e as glândulas endócrinas.
A placenta não é apenas um órgão de transferência, ela também produz hormônios. Os hormônios placentários
exercem efeitos substanciais no metabolismo materno, inicialmente aumentando as reservas energéticas dela e, depois,
liberandoas para apoiar o crescimento fetal nos estágios mais avançados da gravidez e na lactação após o parto. Alguns
dos hormônios produzidos são necessários para a gravidez normal:
• hCG: preserva o corpo lúteo e sua produção de progesterona, de modo que o revestimento endometrial do útero é
mantido, o que constitui a base para os testes de gravidez
• Lactogênio placentário (hPL) ou somatomamotropina coriônica humana (HCS): modula o metabolismo fetal e
materno, participa no desenvolvimento das mamas maternas para a lactação e diminui a utilização de glicose materna,
o que aumenta a disponibilidade de glicose para o feto
• Estrogênio (estriol): causa aumento das mamas, do útero e da genitália externa da mulher; estimula a contratilidade do
miométrio
• Progesterona (progestina): mantém o endométrio, diminui a contratilidade do útero, estimula o metabolismo materno
e o desenvolvimento das mamas, fornece nutrientes para o concepto (o produto da concepção após a fertilização nas
fases iniciais de crescimento e diferenciação)
• Relaxina: age sinergicamente com a progesterona para manter a gestação, causa relaxamento dos ligamentos pélvicos e
apaga o colo do útero, em preparação para o parto (Freemark, 2015).
A placenta funciona como uma ligação entre a mãe e o feto, não uma barreira. Quase tudo o que a mãe ingere
(alimentos, bebidas alcoólicas e medicamentos/drogas ilícitas) passa para o concepto em desenvolvimento. Por isso é tão
importante aconselhar as gestantes a não usar fármacos não prescritos pra ela, não ingerir bebidas alcoólicas nem tabaco,
porque eles podem ser prejudiciais ao concepto. Embora seja comum o uso de medicamentos prescritos durante a
gravidez, os riscos teratogênicos para os seres humanos não foram determinados em mais de 90% dos fármacos aprovados
pela FDA para uso nos EUA nas últimas décadas (Dutta, 2015).
Durante o estágio embrionário, o concepto cresce rapidamente conforme todos os órgãos e estruturas estão se
formando. Durante esse crítico período de diferenciação, o embrião em crescimento é mais suscetível a danos de origem
externa, incluindo teratógenos (substâncias que provocam defeitos congênitos, como álcool etílico e medicamentos/drogas
ilícitas), infecções (como rubéola ou citomegalovirose), radiação e deficiências nutricionais.
Teratógenos
Teratógeno é qualquer substância, organismo, agente físico ou estado de deficiência presente durante a gestação capaz de
induzir estrutura ou função pósnatal anormal pela interferência no desenvolvimento embrionário e fetal normal (March of
Dimes, 2015a). Teratógenos são substâncias que podem provocar defeitos físicos ou funcionais no embrião ou no feto
humano após a exposição da gestante às mesmas. As substâncias teratogênicas afetam o feto ou o embrião de várias
maneiras, provocando deformidades físicas, distúrbios no desenvolvimento comportamental ou emocional da criança e
redução do quociente de inteligência (QI) da criança. Os teratógenos também podem impactar as gestações e provocar
complicações como trabalho de parto prétermo e abortos espontâneos. A suscetibilidade a agentes teratogênicos é
dependente da cronologia de exposição e do estágio de desenvolvimento do embrião ou do feto. Os teratógenos são
classificados em quatro tipos: agentes físicos, condições metabólicas, infecção e fármacos/agentes químicos.
Alguns teratógenos perigosos para os recémnascidos são:
• Radiação ionizante: resulta em desenvolvimento anormal do encéfalo, retardo mental e leucemia nas crianças
• Mercúrio orgânico: provoca lesões do sistema neural, retardo mental, comprometimento comportamental e cognitivo e
cegueira no recémnascido
• Exposição ao chumbo: pode provocar abortos espontâneos, retardo do desenvolvimento fetal, aumento do risco de
morte fetal ou desenvolvimento mental ou físico anormal da criança
• Toxoplasma: provoca aborto espontâneo ou natimortalidade, subdesenvolvimento do encéfalo fetal, cegueira e
convulsões
• Treponema pallidum (bactéria causadora da sífilis): provoca morte fetal, aborto espontâneo, hepatoesplenomegalia e
sífilis congênita
• Vírus da rubéola: provoca desenvolvimento anormal do encéfalo do feto
• Citomegalovírus: provoca desenvolvimento insatisfatório do encéfalo fetal, cegueira, surdez, icterícia e disfunção do
baço e do fígado
• Vírus varicelazóster: provoca subdesenvolvimento dos membros, malformações do encéfalo ou dos olhos
• Herpesvírus: provoca morte fetal, microcefalia, pneumonia e meningoencefalite herpéticas
• Condições maternas: obesidade, diabetes melito, hipotireoidismo, hipertireoidismo e fenilcetonúria
• Fármacos: talidomida (malformações dos membros), álcool etílico (síndrome alcoólica fetal), inibidores da enzima
conversora da angiotensina (ECA) (agentes antihipertensivos) (prematuridade, restrição do crescimento intrauterino
[RCIU]); cocaína (descolamento da placenta, prematuridade, microcefalia); e tetraciclina (coloração marromamarelada
dos dentes) (Dutta, 2015).
Estágio fetal
A gestação dura em média 280 dias a partir do primeiro dia da DUM. O estágio fetal é o período que compreende o final
da oitava semana até o nascimento. É o período mais longo do desenvolvimento prénatal. Durante esse estágio, o embrião
está maduro o suficiente para ser chamado de feto. Embora todos os principais sistemas já existam em sua forma básica,
ocorre significativo crescimento e refinamento de todos os sistemas de órgãos durante o período fetal (ver Tabela 10.1).
A Figura 10.8 ilustra um feto com idade entre 12 e 15 semanas.
FIGURA 10.8 Desenvolvimento fetal: feto de 12 a 15 semanas.
Circulação fetal
A circulação fetal difere da circulação do adulto pela existência de determinados vasos e shunts (desvios). Esses shunts se
fecham após o nascimento e a maioria desses vasos será observada na forma de resquícios na circulação do adulto. A
função desses shunts é direcionar o sangue venoso rico em oxigênio para a circulação sistêmica e garantir que o sangue
venoso depletado de oxigênio não passe pela circulação pulmonar subdesenvolvida. O desenvolvimento dos pulmões só se
completa após o nascimento. Antes disso, a função dos pulmões é desempenhada pela placenta, que é o órgão de
transferência de oxigênio durante a vida fetal (Finnemore & Groves, 2015).
A circulação fetal durante a vida uterina difere da circulação de uma criança ou de um adulto. No ambiente
extrauterino, a oxigenação ocorre nos pulmões, e o sangue oxigenado retorna dos pulmões pelas veias pulmonares para o
lado esquerdo do coração, para ser ejetado pelo ventrículo esquerdo para a circulação sistêmica. Em contrapartida, a
oxigenação da circulação fetal ocorre na placenta, e os pulmões fetais não são funcionais no tocante à transferência de
oxigênio e de dióxido de carbono. Para que o sangue oxigenado proveniente da placenta alcance a circulação sistêmica do
feto, ele precisa passar por uma série de derivações (shunts).
Assim, a circulação fetal envolve a circulação do sangue da placenta para o feto, e deste para a placenta. Um sistema
de circulação fetal funcionando corretamente é essencial para o feto. Antes que esse sistema se desenvolva, nutrientes e
oxigênio se difundem da placenta através do celoma extraembrionário e do saco vitelino. À medida que o embrião cresce,
sua necessidade de nutrientes aumenta, e a quantidade de tecido facilmente alcançada pela difusão aumenta. Assim, a
circulação precisa desenvolverse de modo rápido e acurado (Jones & Lopez, 2014).
Três derivações (shunts) também são encontradas durante a vida fetal:
1. Ducto venoso: liga a veia umbilical à veia cava inferior
2. Canal arterial: conecta o tronco da artéria pulmonar à aorta
3. Forame oval: abertura anatômica entre os átrios direito e esquerdo.
Anote!
A circulação fetal leva o sangue oxigenado para áreas vitais (p. ex., coração, encéfalo) e, ao mesmo tempo, não passa por
áreas menos importantes (p. ex., pulmões, fígado). A placenta essencialmente desempenha as funções dos pulmões e do
fígado durante a vida fetal. Como resultado, não são necessários grandes volumes de sangue oxigenado.
O sangue com o maior teor de oxigênio é fornecido ao coração, à cabeça, ao pescoço e aos membros superiores fetais,
enquanto o sangue com o teor mais baixo de oxigênio é desviado para a placenta.
O sangue oxigenado é transportado da placenta ao feto por meio da veia umbilical. Cerca de metade desse sangue
passa pelos capilares hepáticos, e o restante flui pelo ducto venoso para a veia cava inferior. O sangue da veia cava é
principalmente desviado do forame oval para o átrio esquerdo, em seguida para o ventrículo esquerdo, para a aorta
ascendente e para a cabeça e a parte superior do corpo. Isso possibilita que a circulação coronariana fetal e o encéfalo
recebam o sangue mais oxigenado.
O sangue desoxigenado da veia cava superior flui para o átrio direito, o ventrículo direito e, em seguida, para a artéria
pulmonar. Por causa da resistência vascular pulmonar elevada, apenas uma pequena porcentagem (5 a 10%) do sangue da
artéria pulmonar flui para os pulmões; a maior parte é desviada pelo canal arterial pérvio e, daí, para a aorta descendente
(American Heart Association [AHA], 2015). Os pulmões do feto são essencialmente não funcionais, porque estão
preenchidos por líquido, tornandoos resistentes ao influxo sanguíneo. Eles recebem apenas sangue suficiente para a
nutrição adequada. Por fim, duas artérias umbilicais levam o sangue não oxigenado da aorta descendente de volta para a
placenta.
No nascimento, ocorre mudança drástica no padrão de circulação fetal. O forame oval, o canal arterial, o ducto venoso
e os vasos umbilicais não são mais necessários. Com a primeira respiração do recémnascido, os pulmões se insuflam, o
que resulta em aumento do fluxo sanguíneo para os pulmões a partir do ventrículo direito. Esse aumento eleva a pressão
no átrio esquerdo, fazendo com que um retalho unidirecional do lado esquerdo do forame oval (denominado septum
primum) pressione a abertura, criando uma separação funcional entre os dois átrios. O fluxo sanguíneo para os pulmões
aumenta, pois o sangue que entra no átrio direito não é mais capaz de desviarse do ventrículo direito. Como resultado, o
ventrículo direito bombeia o sangue para a artéria pulmonar e para os pulmões. Tipicamente, o forame oval está
funcionalmente fechado 1 a 2 horas após o nascimento. Ele está fisiologicamente fechado em 1 mês por depósitos de
fibrina que vedam a abertura. O fechamento definitivo ocorre até o sexto mês de vida.
O ducto venoso, que liga a veia cava inferior à veia umbilical, geralmente se fecha com o clampeamento do cordão
umbilical e a inibição do fluxo sanguíneo pela veia umbilical. Essa estrutura fetal se fecha até o final da primeira semana
de vida. O canal arterial se contrai parcialmente em resposta aos níveis mais elevados de oxigênio arterial que ocorrem
após as primeiras respirações. Esse fechamento impede que o sangue da aorta entre na artéria pulmonar. O fechamento
funcional do canal arterial no recémnascido a termo geralmente ocorre nas primeiras 72 horas após o nascimento. O
fechamento permanente ocorre na terceira a quarta semanas de vida (Yudkowitz, 2015). Frequentemente, um sopro
funcional ou inocente é auscultado pelo enfermeiro do berçário quando há atraso no fechamento das derivações fetais, mas
ele geralmente não está associado a lesão cardíaca. A transição bemsucedida da circulação fetal para a circulação pósnatal
exige fluxo sanguíneo pulmonar aumentado, fechamento do shunt intracardíaco (forame oval) e dos shunts extracardíacos
(ducto venoso e ducto arterial). Todas essas alterações por ocasião do nascimento deixam o recémnascido com o padrão
de circulação típico do adulto e o débito do ventrículo direito se torna igual ao do ventrículo esquerdo. A Figura
10.9 mostra a circulação fetal.
GENÉTICA
Genética é o estudo de cada gene e seu papel na hereditariedade (Snustad, 2015). Genômica, uma ciência relativamente
nova, é o estudo de todos os genes, incluindo as interações entre eles, bem como as interações entre os genes e o
ambiente. A genômica atua em condições complexas, como doenças cardíacas e diabetes melito. Outra área de pesquisa
emergente é a farmacogenômica, o estudo das influências genéticas e genômicas na farmacodinâmica e na farmacoterapia.
Enquanto a farmacogenética descreve variações genéticas interindividuais e sua influência na eficácia e nos efeitos
colaterais dos fármacos, a farmacogenômica examina as interações dos fármacos com todo o genoma. A meta principal da
farmacogenética e da farmacogenômica é a previsão individualizada dos efeitos medicamentosos desejáveis e indesejáveis.
A genética do indivíduo influencia questões do bemestar e da saúde durante todo o ciclo de vida dele. O desafio para os
profissionais de saúde é encontrar o vínculo entre a constituição genética do indivíduo e as doenças (Brazeau, 2015).
De acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (2015a), defeitos congênitos e distúrbios genéticos
ocorrem em 1 em cada 33 crianças nascidas nos EUA e causam 1 em cada 5 mortes de lactentes. A cada 5 minutos nasce
alguém com um defeito congênito nos EUA e quase 120.000 recémnascidos apresentam distúrbios a cada ano.
Tradicionalmente, a genética tem sido associada à tomada de decisões relacionadas com a gestação e ao cuidado de
crianças portadoras de doenças genéticas. Atualmente, os avanços genéticos e tecnológicos estão expandindo nossa
compreensão de como as mudanças genéticas afetam doenças humanas, como o diabetes melito, o câncer, a doença de
Alzheimer e outras doenças multifatoriais predominantes em adultos. As tecnologias genéticas atuais ainda não
possibilitam a percepção inequívoca do futuro de uma criança, mas os cientistas estão mais próximos de determinar as
características genéticas de um feto meses antes de o espermatozoide encontrar o oócito secundário maduro. A
reconstrução genômica revelaria o risco de doença futura e os traços genéticos no primeiro trimestre da gravidez. As
pesquisas recentes relatam que a préimplantação com conhecimento de todo o genoma pode viabilizar o diagnóstico
abrangente de doenças com uma base genética conhecida nos embriões (Kumar et al., 2015). O rastreamento neonatal é,
talvez, a aplicação mais utilizada da genética na assistência perinatal e neonatal. A nossa capacidade de diagnosticar
doenças genéticas é mais avançada do que a de curar ou tratar as doenças. No entanto, o diagnóstico acurado levou à
melhora no tratamento e nos desfechos das pessoas acometidas por esses transtornos.
FIGURA 10.9 Circulação fetal. As setas indicam o sentido do fluxo sanguíneo. Pela veia umbilical circula sangue
rico em oxigênio da placenta para o fígado e pelo ducto venoso. Daí, o fluxo sanguíneo segue para a veia cava
inferior e para o átrio direito do coração. Um pouco do sangue é desviado através do forame oval para o lado
esquerdo do coração, onde é encaminhado para o encéfalo e os membros superiores. O restante do sangue flui
para o ventrículo direito e para a artéria pulmonar. Uma pequena porção do sangue vai para os pulmões não
funcionais, enquanto o sangue remanescente é desviado pelo canal arterial para a aorta a fim de irrigar o restante
do corpo.
Anote!
A genética tem o potencial de revolucionar os cuidados de saúde no que diz respeito aos programas nacionais de
rastreamento, aos testes de predisposição, à detecção de doenças genéticas e à farmacogenética.
A genética faz parte da assistência perinatal há décadas. O desenvolvimento rápido e a implementação de tecnologia
genética avançada em situações prénatais incluem a capacidade de rastrear e diagnosticar uma gama mais ampla de
doenças e condições do feto em idades gestacionais mais precoces. As ultrassonografias e o rastreamento do soro materno
tornaramse elementos de rotina do prénatal. O rastreamento preconcepcional de portadores de doenças como a doença de
TaySachs está em vigor entre as populações de alto risco, como os judeus Asquenaze. A amniocentese e a coleta de
amostras das vilosidades coriônicas são exames complementares que podem confirmar a existência de uma anomalia
genética em um feto em desenvolvimento, mas são técnicas invasivas. A pesquisa da translucência nucal, determinada por
meio de ultrassonografia, pode sugerir a existência da trissomia do 21 (síndrome de Down) se for encontrado aumento da
espessura da nuca (Khalil & Coates, 2015).
A pesquisa de doenças genéticas antes que surjam sinais/sintomas, a confirmação de um diagnóstico na pessoa que
apresenta sinais/sintomas e a prescrição de um tipo de medicamento ou a dose do mesmo ainda estão em seus primórdios.
Atualmente, os testes genéticos raramente são ressarcidos pelos planos de saúde porque ainda são considerados como em
estágio de pesquisa. Essa situação mudará nos próximos anos à medida que forem descobertas mais associações entre
genômica e saúde.
Atualmente, o enfermeiro é obrigado a ter habilidades e conhecimentos básicos em genética, testes genéticos e
aconselhamento genético, para que possa assumir novos papéis e fornecer informações e apoio às mulheres e a seus
familiares. Os papéis para o enfermeiro de maternidade nos cuidados de saúde genética têm se expandido
significativamente, conforme a educação e o aconselhamento genético tornaramse um padrão de cuidado. Hoje, o
enfermeiro pode oferecer aconselhamento preconcepcional às mulheres em situação de risco de transmissão de uma doença
genética. Além disso, pode prestar cuidados prénatais a mulheres com distúrbios ligados à genética que necessitam de
atendimento especializado ou pode participar do rastreamento de crianças por defeitos congênitos e transtornos genéticos.
Os profissionais de enfermagem que atuam em unidades de assistência prénatal precisam fornecer informações acuradas
às pacientes de modo que elas compreendam os benefícios e as limitações do rastreamento. A apresentação oportuna das
informações e a identificação dos recursos disponíveis ajudarão os enfermeiros a minimizar a confusão do casal e
proporcionará suporte às pacientes durante o rastreamento prénatal. Os enfermeiros em todos os níveis devem participar
de avaliações de risco para doenças e transtornos genéticos, explicando o risco genético e os testes genéticos, e apoiando
as decisões informadas de saúde e as oportunidades para a intervenção precoce (Farrell, Nutter, & Agatisa, 2015). Os
enfermeiros têm a responsabilidade social e profissional de garantir o fornecimento de informações acuradas e atualizadas
para as pacientes e suas famílias sobre a tecnologia em rápida evolução. Isso se aplica, sobretudo, aos profissionais de
enfermagem que valorizam e apoiam a tomada de decisão bem informada centrada na paciente e na família. Para obter
mais informações adequadas para a orientação das pacientes, os profissionais de enfermagem podem acessar a seguinte
página do CDC sobre genômica: http://www.cdc.gov/genomics/public/index.htm/.
Já é evidente que a genômica exercerá um efeito profundo sobre a saúde e a doença em todos os níveis. A tecnologia
moderna possibilita o rastreamento e o diagnóstico prénatais de condições como defeitos do tubo neural, aneuploidias
cromossômicas (ou seja, trissomias do 13, do 18 e do 21), defeitos congênitos e inúmeros distúrbios hereditários
monogênicos (ou seja, doença de TaySachs, fibrose cística, doença de Huntington, distrofia muscular de Duchenne,
hemofilia). No futuro, conforme avança a era de cuidados de saúde personalizados, o enfermeiro será responsável por
garantir que os princípios científicos, os padrões éticos e a responsabilidade profissional na prática da genética e da
genômica sejam integrados à prática de enfermagem. O enfermeiro está cada vez mais assumindo esse papel, conforme
adquire o conhecimento e as habilidades necessários. A participação da enfermagem na pesquisa em genética genômica
será a conexão com a prática assistencial e o compromisso de assegurar que os novos conhecimentos sejam “traduzidos”
em cuidados competentes, seguros, eficazes e baseados em evidências (Latendresse & Deneris, 2015).
Avanços na genética e na tecnologia genética
Projeto Genoma Humano
A publicação da primeira sequência do genoma humano foi considerada uma das mais ambiciosas e bemsucedidas
colaborações de pesquisa internacional na biologia moderna. O Projeto Genoma Humano (PGH) foi um esforço
internacional de 13 anos para produzir o sequenciamento completo do genoma humano. Foi iniciado em 1990 pelo
Department of Energy e National Institutes of Health, tendo sido concluído em maio de 2003. Os objetivos do PGH foram
mapear, sequenciar e determinar a função de todos os genes humanos, o que levou a avanços no campo da genética e dos
testes genéticos (Kumar, Kingsley, & DiStefano, 2015). O genoma de um indivíduo representa o seu código genético, que
determina o genótipo (os pares de genes herdados dos pais; a constituição genética específica) e
o fenótipo (características externas observadas em um indivíduo). O perfil genético de um indivíduo pode ajudar a
orientar a tomada de decisões sobre prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças. Tratase de uma mudança
significativa no modo de encarar a genética – em vez de abordar distúrbios raros, as informações genéticas serão usadas
em todos os aspectos da assistência à saúde (Wilson & Nicholls, 2015).
A principal meta do PGH foi traduzir os resultados em novas estratégias para a prevenção, o diagnóstico e o
tratamento de doenças e distúrbios genéticos. Duas principais conclusões do projeto foram que todos os seres humanos
são 99,9% idênticos no nível do ácido desoxirribonucleico (DNA) e que cerca de 30.000 genes compõem o genoma
humano (International Human Genome Sequencing Consortium, 2015).
Testes, diagnósticos e terapias genéticos
Os recentes avanços no conhecimento e na tecnologia genética têm influenciado todas as áreas da saúde. Esses avanços
aumentaram o número de intervenções de saúde que podem ser realizadas em relação às doenças genéticas. Atualmente,
por exemplo, podese fazer o diagnóstico genético muito precocemente na gestação (Prática baseada em evidências 10.1).
Os testes genéticos conseguem agora identificar condições présintomáticas em crianças e adultos. A terapia genética pode
ser usada para substituir ou reparar genes defeituosos ou inexistentes, trocandoos por genes normais. A terapia gênica
tem sido usada para vários distúrbios, incluindo fibrose cística, melanoma, diabetes melito, infecção por HIV e hepatite. A
terapia gênica oferece a possibilidade de atacar, de modo acurado e específico, determinadas anormalidades genéticas por
meio de correção, acréscimo ou reposição de genes. Essa capacidade adiciona uma nova dimensão de escolhas terapêuticas
viáveis (Cicalese & Aiuti, 2015). Existe o potencial para a criação de maior inteligência e estatura por meio da intervenção
gênica. Pesquisas recentes utilizando a terapia gênica são promissoras para a geração de células produtoras de insulina
para curar o diabetes melito; já se pode imaginar o controle da doença a longo prazo. Atualmente, investigase a reposição
de células beta das ilhotas pancreáticas para diabéticos de modo a manter de maneira confiável e automática os níveis
sanguíneos de glicose em uma faixa limitada como o pâncreas normal faz (Johannesson et al., 2015). No futuro, agentes
gênicos poderão substituir fármacos, a cirurgia geral poderá ser substituída por cirurgia gênica, e a intervenção gênica
poderá substituir a radioterapia. Estudos recentes bemsucedidos em relação ao tratamento de doenças oculares e
deficiências imunológicas hereditárias são particularmente encorajadores e aumentaram as esperanças de que a terapia
gênica humana como opção de tratamento padrão finalmente se tornará uma realidade. Progressos contínuos sugerem que
uma gama de doenças será atendida pela terapia gênica no futuro (Lundstrom, 2015).
As aplicações atuais e potenciais do PGH na área da saúde incluem diagnóstico rápido e mais específico de doenças,
com centenas de testes genéticos disponíveis em pesquisas ou na prática clínica; detecção precoce da predisposição
genética para a doença; menor ênfase no tratamento dos sintomas de uma doença, com mais ênfase nas suas causas
fundamentais; novas classes de fármacos; prevenção de condições ambientais que possam provocar a doença; e aumento
ou substituição de genes defeituosos por meio da terapia gênica. Esse novo conhecimento e essa nova tecnologia genética,
juntamente com a comercialização desse conhecimento, mudarão tanto a compreensão profissional quanto familiar das
doenças genéticas. As aplicações reprodutivas atuais, contudo, permanecem restritas principalmente à prevenção da
transmissão de um ou mais genes de risco, mas não incluem tratamento ou cura. Antecipase que essa restrição poderia
persistir por anos. Como tal, as questões científicas e éticas associadas com as aplicações reprodutivas continuarão a
influenciar a tomada de decisões dos indivíduos que correm risco.
Prática baseada em evidências 10.1
Efeito do aumento das informações, da elucidação de valores e da retirada de barreiras financeiras
para o uso de testes genéticos prénatais: um estudo clínico randomizado.
As diretrizes da solicitação de testes genéticos prénatais têm focado a identificação das mulheres que
correm risco aumentado de dar à luz a fetos com anormalidades cromossômicas. O uso de testes genéticos
prénatais para a tomada de decisões clínicas está aumentando de modo exponencial. A complexidade
atual desse assunto traz preocupação sobre a potencial erosão da escolha informada. É difícil assegurar se
as pacientes e suas famílias realmente compreendem o assunto e as implicações dos resultados.
Atualmente, existem testes genéticos para mais de 2.500 doenças, com quase 2.300 disponíveis para uso
na tomada de decisões clínicas. O propósito desse estudo randomizado foi promover a tomada de decisões
baseada em preferências e avaliar as opções de testes prénatais que as mulheres têm quando são
plenamente informadas sobre essas opções.
ESTUDO
Das 1.932 mulheres rastreadas, 1.297 foram consideradas elegíveis e 744 participaram do estudo. A seguir,
elas foram randomizadas em dois grupos: intervencionista e controle. As mulheres apresentavam diferenças
de etnia, idioma e escolaridade e tinham 20 semanas de gestação ou menos. As mulheres no grupo de
intervenção tiveram acesso a um guia de suporte computadorizado e interativo dos testes prénatais e
foram informadas de que o estudo pagaria por quaisquer testes que não fossem ressarcidos pelo plano de
saúde. As mulheres no grupo de controle receberam cuidados habituais, mas nenhuma intervenção
adicional nem suporte financeiro para ressarcir os testes prénatais. A meta era determinar quais escolhas
as mulheres fariam após receberem informações plenas sobre os benefícios e os riscos dos testes pré
natais.
Achados
Após as mulheres receberem informações completas sobre os testes prénatais e terem a oportunidade de
levar em conta seus valores e preferências, é menos provável que se submetam a exames invasivos e mais
provável que evitem pesquisas de aneuploidia (ou seja, trissomias do 13, do 18 e do 21). A implementação
plena das diretrizes de teste prénatal pode resultar em tomadas de decisão prénatais mais informadas e
baseadas em preferências.
Implicações para a enfermagem
Com base nos achados desse estudo, os enfermeiros podem utilizar aconselhamento padrão além de
informações interativas computadorizadas para reforçar as informações sobre os testes genéticos antes da
tomada de decisões. O panorama dos testes genéticos está mudando constantemente e é bom ter
pacientes e familiares bem informados que possam tomar as decisões certas sobre sua situação. Ao utilizar
tecnologia computadorizada para ajudar na orientação das pacientes e de seus familiares sobre uma
decisão vital que afete seu futuro, os profissionais de enfermagem estão fornecendo informações baseadas
em evidências a eles. Os profissionais de enfermagem têm como obrigação conhecer os testes genéticos
disponíveis de modo que possam ajudar seus pacientes a se tornarem consumidores informados da
assistência de saúde baseada em genética.
Adaptado de Kuppermann, M., Pena, S., Bishop, J. T., Nakagawa, S., Gregorich, S. E., Sit, A., et al.
(2015). Effect of enhanced information, values clarification, and removal of financial barriers on use of
prenatal genetic testing: A randomized clinical trial. Obstetrical & Gynecological Survey, 70(1), 7–9.
Questões éticas, jurídicas e sociais da tecnologia genética
Os potenciais benefícios desses achados são vastos, bem como o potencial para uso indevido. Esses avanços desafiam
todos os profissionais de saúde a considerar as muitas implicações éticas, legais e sociais da genética nas vidas humanas.
Em um futuro próximo, o perfil de risco individual com base no material genético único de um indivíduo será utilizado
para adaptar a prevenção, o tratamento e o gerenciamento contínuo das condições de saúde. Esse perfil levantará questões
associadas à privacidade e à confidencialidade relacionadas com a discriminação no local de trabalho e com o acesso ao
seguro de saúde do paciente. Questões de autonomia são igualmente problemáticas conforme a sociedade pense em como
lidar com as injustiças que inevitavelmente surgirão quando o risco de dada doença puder ser determinado anos antes que
ela efetivamente ocorra. Os enfermeiros desempenharão um papel importante no desenvolvimento de políticas e fornecerão
orientação e apoio nessa arena; para isso, precisam de uma compreensão básica da genética, incluindo a herança e os seus
padrões.
Herança
DNA e informações genéticas
O núcleo no interior de cada célula é o fator que controla todas as atividades celulares, pois contém cromossomos –
filamentos longos contínuos de DNA – que transportam a informação genética. Cada cromossomo é constituído por genes.
Os genes são as unidades individuais de hereditariedade de todos os traços e estão organizados em longos segmentos de
DNA que ocupam um local específico em um cromossomo e determinam uma característica particular de um organismo.
O DNA armazena informação genética e codifica as instruções para a síntese de proteínas específicas necessárias para
manter a vida. O DNA é uma duplafita que assume a forma de uma duplahélice. As partes laterais da duplahélice são
constituídas por um açúcar, a desoxirribose, e um grupo fosfato, ocorrendo em grupos alternados. As conexões cruzadas,
ou degraus da escada, são ligadas aos lados e são feitas de quatro bases nitrogenadas: adenina, citosina, timina e guanina.
A sequência de pares de bases que formam cada degrau da escada é chamada de código genético (Travers &
Muskhelishvili, 2015) (Figura 10.10).
Cada gene tem um segmento de DNA com um conjunto específico de instruções para a produção de proteínas
necessárias pelas células corporais para o funcionamento adequado. Os genes controlam os tipos de proteínas produzidas e
a taxa em que são produzidas (Snustad, 2015). Qualquer alteração na estrutura ou na localização do gene leva a
uma mutação, que pode alterar o tipo e a quantidade de proteína produzida (Figura 10.11). Os genes nunca atuam
isoladamente; sempre interagem com outros genes e com o meio. São organizados e alinhados em uma formação linear
específica ao longo de um cromossomo.
Genótipos e alelos
O genótipo, a composição genética específica de um indivíduo, geralmente sob a forma de DNA, é a informação
hereditária codificada internamente. Referese ao alelo específico, que é uma de duas ou mais versões alternativas de um
gene em dada posição ou locus em um cromossomo que transmite a mesma característica daquele gene. Por exemplo, cada
ser humano tem um gene que controla a altura, mas há variações desses genes, chamados alelos, que codificam para uma
altura específica. Outro exemplo: um gene que controla a cor do olho pode ter um alelo que produz olhos azuis ou um
alelo que produz olhos castanhos. O genótipo, em conjunto com a variação do meio, que influencia o indivíduo, determina
o fenótipo, ou as características exteriores observadas em um indivíduo. Um ser humano herda dois genes, um de cada
progenitor. Portanto, um alelo vem da mãe, e outro, do pai. Esses alelos para a característica podem ser os mesmos
(homozigotos) ou diferentes (heterozigotos). Por exemplo, WW significa homozigoto dominante; ww significa
homozigoto recessivo. Heterozigotos seriam indicados como Ww. Se os dois alelos diferem, como Ww, o dominante
geralmente será expresso no fenótipo do indivíduo.
FIGURA 10.10 O DNA é composto de quatro bases químicas. Fitas de DNA fortemente enroladas são embaladas
em unidades chamadas cromossomos, situadas no núcleo da célula. As subunidades de trabalho do DNA são
conhecidas como genes. (National Institutes of Health and National Cancer Institute. [1995]. Understanding gene
testing [NIH Pub. No. 963905]. Washington, DC: U.S. Department of Human Services.)
FIGURA 10.11 Quando um gene contém uma mutação, a proteína codificada por esse gene será anormal. Algumas
alterações de proteína são insignificantes, enquanto outras são incapacitantes. (National Institutes of Health and
National Cancer Institute. [1995]. Understanding gene testing [NIH Pub. No. 963905]. Washington, DC: U.S.
Department of Human Services.)
Cromossomos
Os seres humanos tipicamente têm 46 cromossomos. Isso inclui 22 pares de cromossomos não sexuais ou autossômicos e
um par de cromossomos sexuais (dois cromossomos X em mulheres e um cromossomo X e um Y em homens). O
descendente recebe um cromossomo de cada um dos 23 pares de cada pai.
A análise pictórica do número, da forma e do tamanho dos cromossomos de um indivíduo é chamada de cariótipo.
Essa análise normalmente utiliza leucócitos sanguíneos e as células fetais do líquido amniótico. Os cromossomos são
numerados do maior para o menor, de 1 a 22, e os cromossomos sexuais são designados pelas letras X ou Y. Um cariótipo
feminino é designado como 46, XX, e um cariótipo masculino é designado como 46, XY. A Figura 10.12 ilustra um
exemplo de padrão de cariótipo.
Mutações genéticas
A regulação e a expressão dos milhares de genes humanos são processos muito complexos, sendo o resultado de muitas
interações complicadas dentro de cada célula. Alterações na estrutura genética, na função, na transcrição, na translação e na
síntese de proteínas podem influenciar a saúde do indivíduo (Jones & Lopez, 2014). As mutações genéticas envolvem
mudança permanente na sequência de DNA.
As mutações genéticas podem ser herdadas, espontâneas ou adquiridas. As mutações genéticas herdadas são passadas
de pai para filho no óvulo e no espermatozoide, e são transmitidas para todas as células do corpo dessa criança, quando
elas se reproduzem. A fibrose cística é um exemplo de mutação herdada. Pode ocorrer mutação espontânea em óvulos ou
espermatozoides individuais no momento da concepção. Uma pessoa que tem uma nova mutação espontânea tem o risco de
passála para seu filho. Um exemplo de mutação espontânea seria a síndrome de Marfan. Mutações adquiridas ocorrem
nas células do corpo que não o óvulo ou o espermatozoide. Envolvem mudanças no DNA que ocorrem após a concepção,
durante a vida da pessoa. As mutações adquiridas são repassadas às célulasfilhas quando elas se reproduzem. Essas
modificações podem ser causadas por fatores ambientais tais como radiação ultravioleta do sol ou podem ser consequente
a erro nas cópias do DNA durante a divisão celular (National Institutes of Health [NIH], 2015a). Algumas mutações não
têm nenhum efeito significativo, enquanto outras podem ter um tremendo impacto sobre a saúde do indivíduo. Várias
doenças genéticas, como o câncer, a doença falciforme, a fenilcetonúria (FCN) e a hemofilia, podem resultar dessas
mutações.
Padrões de herança para doenças genéticas
Os padrões de herança demonstram como uma doença genética pode ser transmitida aos descendentes. A doença genética é
aquela causada por uma anomalia no material genético ou no genoma do indivíduo. O diagnóstico de um transtorno
genético geralmente é baseado em sinais e sintomas clínicos ou laboratoriais de confirmação da existência de um gene
alterado associado ao transtorno. O diagnóstico preciso pode ser auxiliado pelo reconhecimento do padrão de herança
dentro de uma família. O padrão de herança também é vital para entender quando ensinar e aconselhar as famílias sobre os
riscos em futuras gestações. Algumas condições genéticas são provocadas por mutações em um único gene. Essas
condições são, tipicamente, herdadas em um de vários padrões bem definidos, dependendo do gene envolvido. Alguns
transtornos genéticos ocorrem em vários membros da família, enquanto outros podem ocorrer em apenas um único
familiar. A doença genética é causada pelo material genético completo ou parcialmente alterado, ao passo que uma doença
familiar é mais comum em parentes do indivíduo afetado, mas pode ser causada por influências ambientais, e não por
alterações genéticas.
FIGURA 10.12 Padrão de cariótipo. A. Cariótipo feminino normal. B. Cariótipo masculino normal.
Transtornos monogênicos
Os princípios da doença genética hereditária de doenças de um único gene são os mesmos princípios que regem a herança
de outros traços, como a cor dos olhos e do cabelo. São conhecidos como leis da hereditariedade de Mendel, nome dado
em homenagem ao trabalho genético de Gregor Mendel, um naturalista austríaco. Esses padrões ocorrem devido a um
único gene defeituoso, sendo chamados de distúrbios monogênicos ou, às vezes, mendelianos. Se o defeito ocorrer no
cromossomo autossômico, o transtorno genético é chamado de autossômico; se o defeito for no cromossomo X, a doença
genética é dita ligada ao X. Os defeitos também podem ser classificados como dominantes ou recessivos. As doenças
monogênicas incluem os padrões autossômico dominante, autossômico recessivo, dominante ligado ao X e recessivo
ligado ao X.
TRANSTORNOS DE HERANÇA AUTOSSÔMICA DOMINANTE
Os transtornos hereditários autossômicos dominantes ocorrem quando um único gene no estado heterozigótico é capaz de
produzir o fenótipo. Em outras palavras, o gene anormal ou mutante obscurece o gene normal, e o indivíduo manifestará
os sinais e sintomas do distúrbio. A pessoa afetada geralmente tem um pai afetado e tem 50% de chance de passar o gene
anormal para cada um de seus filhos (Figura 10.13). Os indivíduos afetados estão presentes em cada geração. Os homens
e familiares que são fenotipicamente normais (não apresentam sinais ou sintomas da doença) não transmitem a doença aos
seus descendentes. Mulheres e homens são igualmente afetados, e o homem pode passar a doença para o filho. Essa
transmissão de homemhomem é importante para distinguir a herança autossômica dominante da herança ligada ao X.
Existem vários graus de manifestação entre os indivíduos de uma família. Portanto, um pai com uma versão leve pode ter
um filho com uma versão mais grave. Os tipos comuns de alterações genéticas que seguem o padrão autossômico
dominante de hereditariedade incluem a neurofibromatose (distúrbios genéticos que afetam o desenvolvimento e o
crescimento das células e tecidos neurais), a doença de Huntington (doença genética que afeta o sistema nervoso
caracterizada por movimentos involuntários anormais e demência progressiva), a acondroplasia (doença genética que
resulta em crescimento desordenado e corpo de proporções anormais) e a doença renal policística (doença genética que
envolve o crescimento de vários grupos de cistos em cachos de uva cheios de líquido nos rins, bilateralmente, que
eventualmente se compactam e substituem o tecido renal funcional).
FIGURA 10.13 Herança autossômica dominante.
FIGURA 10.14 Herança autossômica recessiva.
TRANSTORNOS DE HERANÇA AUTOSSÔMICA RECESSIVA
Os transtornos hereditários autossômicos recessivos ocorrem quando são necessárias duas cópias do gene mutante ou
anormal no estado homozigótico para produzir o fenótipo. Em outras palavras, são necessários dois genes anormais para o
indivíduo manifestar os sinais e sintomas do distúrbio. Esses distúrbios geralmente são menos comuns do que as doenças
autossômicas dominantes (NIH, 2015a). Ambos os pais da pessoa afetada devem ser portadores heterozigóticos do gene
(são clinicamente normais, mas carregam o gene), e seus descendentes têm 25% de chance de serem homozigotos (50% de
chance de receber o gene mutante de cada um dos pais, portanto 25% de chance de herdar dois genes mutantes). Se a
criança for clinicamente normal, existe uma possibilidade de 50% de que ela seja portadora (Figura 10.14). Os indivíduos
afetados geralmente estão presentes em apenas uma geração da família. Mulheres e homens são igualmente afetados, e o
homem pode passar a doença para o filho. A chance de que algum dos pais seja portador do gene mutante é aumentada se
o casal for consanguíneo (tiver um ancestral comum). Os tipos comuns de alterações genéticas que seguem o padrão de
herança autossômica recessiva incluem a fibrose cística (doença genética que envolve uma disfunção generalizada das
glândulas exócrinas), a fenilcetonúria (distúrbio que envolve a deficiência de uma enzima hepática que leva à
impossibilidade de processar o aminoácido essencial fenilalanina), a doença de TaySachs (distúrbio decorrente da
atividade insuficiente da enzima hexosaminidase A, necessária para a degradação de certos ácidos graxos nas células
encefálicas e nervosas) e a doença das células falciformes (doença genética em que as hemácias carregam um tipo ineficaz
de hemoglobina, em vez da hemoglobina adulta normal).
TRANSTORNOS DE HERANÇA LIGADA AO X
Os transtornos de herança ligada ao X são aqueles associados a genes alterados presentes no cromossomo X. Eles
diferem das doenças autossômicas. Se um homem herda um gene alterado ligado ao X, ele vai expressar a condição. Como
o homem tem apenas um cromossomo X, todos os genes do seu cromossomo X serão expressos (o cromossomo Y não
carrega alelo normal para compensar o gene alterado). Como as mulheres herdam dois cromossomos X, elas podem ser
homozigóticas ou heterozigóticas para qualquer alelo. Portanto, as doenças ligadas ao X nas mulheres são expressas de
modo semelhante aos transtornos autossômicos.
Domínio de conceito
Crianças do sexo masculino no padrão de herança da distrofia muscular de Duchenne
O gene da distrofia muscular de Duchenne é ligado ao X e isso significa que o filho do sexo
masculino que herda esse gene será afetado pela doença e não será portador. Uma filha não será
afetada pela doença.
A maior parte das doenças ligadas ao X demonstra um padrão recessivo de herança. Os homens são mais afetados do
que as mulheres. Um homem tem apenas um cromossomo X, e todos os genes no seu cromossomo X serão expressos,
enquanto a mulher normalmente precisará de ambos os cromossomos X para transmitir a doença. Não há transmissão
homemhomem (já que nenhum cromossomo X do homem é transmitido para a prole masculina), mas qualquer homem
que seja afetado terá filhas portadoras. Se a mulher for portadora, há 50% de chance de que seus filhos sejam afetados e
50% de chance de que suas filhas sejam portadoras (Figura 10.15). Os tipos comuns de doenças genéticas que seguem
padrões recessivos de herança ligada ao X incluem a hemofilia (doença genética que envolve a deficiência de um dos
fatores de coagulação do sangue), o daltonismo e a distrofia muscular de Duchenne (transtorno envolvendo fraqueza
muscular progressiva e emaciação).
A herança dominante ligada ao X estará presente se mulheres portadoras heterozigóticas manifestarem sinais e
sintomas da doença. Todas as filhas e nenhum dos filhos de um homem afetado têm a condição, enquanto descendentes
dos sexos masculino e feminino de uma mulher afetada têm 50% de chance de herdar e manifestar a condição (Figura
10.16). Os transtornos dominantes ligados ao X são raros. O mais comum é o raquitismo (distúrbio que envolve
amolecimento ou enfraquecimento dos ossos) hipofosfatêmico (resistente à vitamina D). A síndrome do X frágil é outra
condição dominante ligada ao X que provoca uma gama de alterações do desenvolvimento, inclusive dificuldades de
aprendizado e comprometimento cognitivo. Uma característica das condições dominantes ligadas ao X é que os pais não
conseguem passar os traços ligados ao X para os filhos do sexo masculino (não há transmissão de homem para homem).
Transtornos de herança multifatorial
Acreditase que os transtornos de herança multifatorial sejam causados por vários fatores genéticos (poligênicos) e
ambientais. Muitas malformações congênitas comuns, como o lábio leporino, a fenda palatina, a espinha bífida, a estenose
pilórica, o pé torto, a displasia do desenvolvimento do quadril e os defeitos cardíacos, são atribuídas à herança
multifatorial. Uma combinação de genes dos dois progenitores, juntamente com fatores ambientais desconhecidos, produz
a característica ou condição. Um indivíduo pode herdar predisposição para uma anomalia ou doença específica. As
anomalias ou doenças variam em gravidade, e muitas vezes a tendência sexual está presente. Por exemplo, a estenose
pilórica é vista com mais frequência em homens, enquanto a displasia do desenvolvimento do quadril tem probabilidade
muito maior de ocorrer em mulheres. Condições multifatoriais tendem a ocorrer nas famílias, mas o padrão de herança
não é tão previsível quanto o de distúrbios de um único gene. A probabilidade de recorrência também é inferior à de
transtornos de um único gene, mas o grau de risco está relacionado com o número de genes em comum com o indivíduo
afetado. Quanto mais próximo o grau de parentesco, mais genes um indivíduo tem em comum com o familiar afetado, o
que resulta em maior probabilidade de que a descendência do indivíduo tenha um defeito semelhante. Na herança
multifatorial, a probabilidade de que gêmeos idênticos sejam afetados não é de 100%, indicando que existem fatores não
genéticos envolvidos.
FIGURA 10.15 Herança recessiva ligada ao X.
FIGURA 10.16 Herança dominante ligada ao X.
Padrões de herança não tradicionais
Estudos moleculares revelaram que algumas doenças genéticas são herdadas de formas que não seguem os padrões típicos
de herança dominante, recessiva, ligada ao X ou multifatorial. Exemplos de padrões de herança não tradicionais incluem a
herança mitocondrial e o imprinting genômico. Conforme a ciência da genética molecular avança e se sabe mais sobre os
padrões de herança, podese descobrir ou detectar que outros padrões não tradicionais de herança são relativamente
comuns.
Anormalidades cromossômicas
Em alguns casos de doenças genéticas, a anormalidade ocorre devido a problemas com os cromossomos. As
anormalidades cromossômicas surgem quando há alteração do complemento normal de 46 cromossomos (modificação do
cariótipo), geralmente durante a divisão celular, seja por aumento ou diminuição no número de cromossomos.
Cerca de 1 em cada 150 fetos nascidos vivos nasce com uma anomalia cromossômica (March of Dimes, 2015a). Esta
muitas vezes causa grandes defeitos, porque envolve acréscimo ou falta de genes. As anomalias congênitas e o déficit
intelectual frequentemente estão associados a anormalidades cromossômicas. Essas alterações ocorrem em cromossomos
autossômicos, bem como sexuais, e podem resultar de alterações no número de cromossomos ou mudanças em sua
estrutura.
Anormalidades numéricas
As anormalidades cromossômicas numéricas muitas vezes resultam da não disjunção ou da falha do par de cromossomos
em separarse durante a divisão celular, a meiose ou a mitose. Algumas anormalidades cromossômicas numéricas são
compatíveis com o desenvolvimento a termo, e a maior parte resulta em aborto espontâneo. Um tipo de anomalia
cromossômica numérica é a poliploidia. A poliploidia provoca um aumento no número de conjuntos de cromossomos
haploides (23) de uma célula. A triploidia referese a três conjuntos completos de cromossomos de uma única célula (em
seres humanos, um total de 69 cromossomos por célula); a tetraploidia se refere a quatro conjuntos completos de
cromossomos de uma única célula (em seres humanos, um total de 92 cromossomos por célula). A poliploidia geralmente
resulta em um aborto espontâneo no início da gestação, sendo incompatível com a vida.
Algumas alterações numéricas apoiam o desenvolvimento a termo, pois o cromossomo no qual a anormalidade está
presente contém relativamente poucos genes (como os cromossomos 13, 18, 21 ou X). Duas anormalidades comuns de
números de cromossomos são as monossomias ou as trissomias. Nas monossomias, existe apenas uma cópia de um
cromossomo específico, em vez do par usual (um cromossomo inteiro específico está ausente). Nesses casos, todos os
fetos abortam espontaneamente no início da gestação. A sobrevivência é vista apenas em formas mosaicas desses
transtornos. Nas trissomias, há três cromossomos específicos, em vez dos dois habituais (um cromossomo específico
inteiro é adicionado). As trissomias podem estar presentes em todas as células ou podem manifestarse sob a forma de
mosaicismos. As trissomias mais comuns incluem a trissomia do 21 (síndrome de Down), a do 18 e a do 13.
TRISSOMIA DO 21
A síndrome de Down é um exemplo de trissomia. A causa da síndrome de Down é um dos três tipos de divisão celular
anormal envolvendo o cromossomo 21. As três anormalidades resultam em material genético extra do cromossomo 21,
responsável pelas características e problemas de desenvolvimento da síndrome de Down. As três variações genéticas que
podem causar a síndrome de Down incluem a trissomia do cromossomo 21, em que a criança tem três cópias do
cromossomo 21 – em vez dos dois exemplares habituais – em todas as suas células; o mosaico, em que as crianças têm
algumas células com uma cópia extra do cromossomo 21; e a translocação, em que parte do cromossomo 21 se anexa
(transloca) a outro cromossomo, antes ou no momento da concepção. Mais de 90% dos casos de síndrome de Down são
causados pela trissomia do 21 (March of Dimes, 2015b) (Figura 10.17).
A síndrome de Down afeta 1 em cada 691 fetos nascidos vivos. Nos EUA, a cada ano nascem 6.000 crianças com
síndrome de Down. O risco desta e de outras trissomias aumenta com a idade materna. O risco de ter um filho com
síndrome de Down é de 1 em 1.250 para uma mulher aos 25 anos, 1 em 1.000 aos 30 anos, 1 em 400 aos 35 anos, 1 em
100 aos 40 anos e 1 em 30 aos 45 anos (March of Dimes, 2015b). As crianças com síndrome de Down têm características
que geralmente são identificadas no momento do nascimento (Figura 10.18). Essas características comuns incluem:
FIGURA 10.17 Cariótipo de uma criança com síndrome de Down.
• Orelhas pequenas de implantação baixa cujo pavilhão auditivo pode apresentar uma discreta dobra
• Hiperflexibilidade
• Hipotonia muscular
• Mãos e pés pequenos
• Pescoço curto
• Olhos bem espaçados com inclinação para cima
• Presilha do tipo ulnar no segundo dígito
• Prega palmar profunda (denominada prega simiesca)
• Perfil facial achatado
• Baixa estatura na infância e na idade adulta
• Pequenas manchas brancas, em forma de lua crescente, na íris
• Boca aberta com protrusão da língua
• Dedos das mãos largos e curtos (National Down Syndrome Society [NDSS], 2015a).
As perspectivas para as crianças com síndrome de Down são muito mais promissoras do que eram anos atrás. A maior
parte delas tem deficiência intelectual que varia de leve a moderada. Com intervenção precoce e educação especial, muitas
aprendem a ler e escrever, e participam das diversas atividades da infância (Grieco et al., 2015). A expectativa de vida dos
indivíduos com síndrome de Down aumentou muito nos últimos anos, com a duração média de vida se aproximando das
pessoas sem síndrome de Down (NDSS, 2015b).
FIGURA 10.18 A. Características faciais típicas de uma criança com síndrome de Down. B. Linha simiesca, uma
prega horizontal na palma das mãos de crianças com síndrome de Down.
TRISSOMIA DO 18 E TRISSOMIA DO 13
Duas outras trissomias comuns são a trissomia do 18 e a trissomia do 13. A trissomia do 18 e a trissomia do 13 são,
respectivamente, a segunda e a terceira trissomias autossômicas mais diagnosticadas em recémnascidos vivos. Essas
condições estão associadas a elevada taxa de mortalidade infantil, com mais mortes antes do término do primeiro ano de
vida (Trisomy 18 Foundation, 2015).
A trissomia do 18 (síndrome de Edward) ocorre em uma de cada 2.500 gestações nos EUA, aproximadamente 1 em
6.000 recémnascidos vivos (Trisomy 18 Foundation, 2015). No prénatal, vários achados são visíveis na
ultrassonografia: crescimento intrauterino retardado (CIUR), polidrâmnio ou oligoidrâmnio, malformações cardíacas,
artéria umbilical única e diminuição da movimentação fetal. Além disso, a trissomia do 18 foi associada a uma diminuição
nos níveis séricos maternos de alfafetoproteína (MSAFP) e hCG. A maior parte dos recémnascidos afetados é do sexo
feminino, com uma proporção de 4:1 para o sexo masculino. Os recémnascidos afetados têm 47 cromossomos (três
cromossomos 18) e são caracterizados por deficiência intelectual grave, deficiência de crescimento do crânio
(microcefalia), baixa implantação das orelhas, malformações faciais, tamanho pequeno para a idade gestacional,
convulsões, pálpebras caídas, membranas interdigitais nos dedos, defeitos cardíacos e renais congênitos, pés em mata
borrão e hipotonia grave (National Organization for Rare Disorders [NORD], 2015a). As crianças com trissomia do 18
apresentam múltiplas anomalias graves; a expectativa de vida é muito reduzida e vai pouco além de alguns meses.
A trissomia do 13, ou síndrome de Patau, afeta 1 em cada 10.000 nascidos vivos (Support Organization for Trisomies
[SOFT], 2015). Há 47 cromossomos (três cromossomos 13). Acreditase que a idade materna também seja um fator
causal dessa doença genética. As anormalidades mais comumente associadas à trissomia do 13 são a microcefalia, os
defeitos cardíacos, a microftalmia, as malformações renais, as anomalias do sistema nervoso central, os pés em mata
borrão, os defeitos do tubo neural, a onfalocele, o lábio leporino e a fenda palatina, a criptorquidia, a polidactilia (Figura
10.19), a deficiência intelectual grave, a hipotonia grave e as convulsões. A expectativa de vida é de apenas alguns dias
para a maior parte das crianças com trissomia do 13 (NORD, 2015b). Os cuidados a essas crianças são de suporte.
Anomalias de estrutura
As anomalias cromossômicas de estrutura geralmente ocorrem quando uma parte de um ou mais cromossomos é quebrada
ou perdida e durante o processo de reparação as extremidades quebradas são religadas incorretamente. As anormalidades
de estrutura geralmente fazem com que haja muito ou pouco material genético. A estrutura alterada do cromossomo pode
assumir várias formas. As deleções ocorrem quando uma porção do cromossomo está ausente, resultando em perda
daquele material cromossômico. As duplicações ocorrem quando uma porção do cromossomo é duplicada e um segmento
cromossômico extra está presente. Os achados clínicos variam dependendo da quantidade de material cromossômico
envolvida. As inversões ocorrem quando uma porção do cromossomo quebra em dois pontos e é virada de cabeça para
baixo e recolocada; por isso, o material genético é invertido.
FIGURA 10.19 A criança com trissomia do 13 tem dígitos supranumerários (polidactilia).
A anormalidade de estrutura mais clinicamente significativa é a translocação. Ela ocorre quando uma parte de um
cromossomo é transferida para outro cromossomo e existe um rearranjo anormal.
As anormalidades de estrutura podem ser equilibradas ou desequilibradas. As anormalidades equilibradas envolvem o
rearranjo do material genético, de modo que globalmente não há ganho nem perda. Os indivíduos que herdam uma
anormalidade estrutural equilibrada geralmente são fenotipicamente normais, mas estão em maior risco de abortos
espontâneos e de ter descendentes cromossomicamente anormais. Exemplos de rearranjos estruturais que podem ser
equilibrados incluem as inversões, as translocações e os cromossomos em anel. As anormalidades estruturais
desequilibradas são semelhantes às anormalidades numéricas, porque há ganho ou perda de material genético. As
anormalidades estruturais desequilibradas podem abranger vários genes e resultar em consequências clínicas graves.
SÍNDROME DO MIADO DO GATO
A síndrome do miado do gato (cri du chat) é um raro distúrbio genético no qual falta (deleção) uma parte variável do
braço curto do cromossomo 5. Foi chamada assim por causa do som que os recémnascidos emitem (semelhante ao miado
de um gato), que é decorrente de um defeito na laringe. Acreditase que a incidência da doença seja de cerca de 1 em
50.000 nascidos vivos (NORD, 2015d). Além do som agudo emitido no primeiro ano de vida parecido com o de um gato,
também são encontrados déficit intelectual e psicomotor significativo, microcefalia, atraso na fala, baixo peso ao
nascimento e crescimento lento, hipotonia, retardo do desenvolvimento, afastamento excessivo dos olhos (hipertelorismo),
mandíbula pequena, implantação baixa das orelhas e várias malformações de órgãos. As manifestações clínicas variam
muito de um caso para outro dependendo das dimensões e da localização exatas do material genético deletado.
Não há tratamento específico para essa síndrome. Graças às intervenções modernas, a criança consegue sobreviver até
a idade adulta: 75% das mortes ocorrem durante os primeiros meses de vida, e quase 90% ocorrem no primeiro ano. A
morte ocorre em 6 a 8% do total da população afetada com a síndrome. Pneumonia, pneumonia por aspiração, defeitos
cardíacos congênitos e angústia respiratória são as causas mais comuns de morte (Chen, 2015a). Os pais devem ser
encaminhados para aconselhamento genético.
SÍNDROME DO X FRÁGIL
A síndrome do X frágil, também conhecida como síndrome de MartinBell, é uma anormalidade estrutural envolvendo o
cromossomo X, o qual apresenta soluções de continuidade e hiatos. É uma forma comum de deficiência intelectual e
transtorno do espectro do autismo. A síndrome geralmente é diagnosticada aos 3 anos de idade por estudos moleculares de
DNA. Estimativas conservadoras relatam que a síndrome do X frágil afeta aproximadamente 1 em cada 5.000 homens e 1
em cada 8.000 mulheres (CDC, 2015c). Tipicamente, a mulher que se torna portadora será levemente afetada. O homem
que recebe o cromossomo X que tem um local frágil apresenta os efeitos plenos da síndrome. A síndrome do X frágil se
caracteriza por déficit intelectual, hiperatividade, macrocefalia, face alongada, déficit de atenção, movimento involuntário
das mãos, estrabismo, hipotonia, atraso na fala, comportamento inflexível, comportamento semelhante ao do autista,
dificuldade em manter contato visual, defensividade tátil, dedos hiperflexíveis e ecolalia (repetição contínua de palavras ou
frases). É a modalidade mais comum de incapacidade intelectual masculina (NORD, 2015e).
Apesar da morbidade associada a incapacidade intelectual e problemas cognitivos/comportamentais/neuropsicológicos,
a expectativa de vida do indivíduo com síndrome do X frágil não é afetada. Esta síndrome não é incluída atualmente nos
painéis de rastreamento neonatal nos EUA porque não atende aos padrões de recomendação. Não há cura para essa
síndrome. Habitualmente, o indivíduo necessita de terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e fisioterapeuta, bem como
educação especial e aconselhamento.
Anormalidades nos cromossomos sexuais
As anormalidades cromossômicas também podem envolver cromossomos sexuais. Esses casos geralmente são menos
graves em seus efeitos clínicos do que as anormalidades cromossômicas autossômicas. As anormalidades nos
cromossomos sexuais são específicas ao gênero e envolvem um cromossomo sexual ausente ou extra. Afetam o
desenvolvimento sexual e podem causar infertilidade, anormalidades de crescimento e, possivelmente, problemas
comportamentais e de aprendizagem. Muitos indivíduos afetados levam uma vida essencialmente normal. Exemplos são a
síndrome de Turner (nas mulheres) e a síndrome de Klinefelter (em homens).
SÍNDROME DE TURNER
A síndrome de Turner é uma anormalidade comum do cromossomo sexual na qual não existe parte ou todo o cromossomo
X. Afeta cerca de 1 em cada 2.000 recémnascidas vivas em todo o planeta (March of Dimes, 2015a). É extremamente
variável e pode diferir muito de uma pessoa para outra. A maioria dos casos de síndrome de Turner não é hereditária. As
manifestações clínicas incluem linha de implantação posterior do cabelo baixa e pescoço alado, baixa estatura,
anormalidades esqueléticas, anormalidades renais, osteoporose, problemas cardíacos, tórax em escudo com mamilos muito
espaçados, linfedema, catarata, escoliose, edema podálico, características sexuais secundárias subdesenvolvidas, defeitos
cardíacos e infertilidade (NORD, 2015c). Apenas cerca de um terço dos casos são diagnosticados no período neonatal; os
dois terços restantes são diagnosticados no início da adolescência, quando ocorre amenorreia primária. Não existe cura
para essa síndrome. Tipicamente administrase hormônio do crescimento; também pode ser utilizada terapia hormonal de
reposição para induzir puberdade e estimular o crescimento. A maioria das mulheres com síndrome de Turner tem
inteligência normal e costuma ter uma vida essencialmente normal (NIH, 2015b).
SÍNDROME DE KLINEFELTER
A síndrome de Klinefelter é uma anomalia cromossômica sexual que ocorre apenas em homens. Cerca de 1 em cada 500 a
1.000 homens nasce com a síndrome de Klinefelter (Chen, 2015b). Nessa síndrome, existe um cromossomo X extra
(XXY). O material genético extra provoca o desenvolvimento anormal dos testículos, resultando em diminuição da
produção de espermatozoides e hormônios do sexo masculino. As manifestações clínicas podem incluir:
• Déficit mental leve
• Testículos pequenos não produzem concentrações adequadas de testosterona
• Infertilidade
• Dificuldades de aprendizagem
• Retardo do desenvolvimento da fala e da linguagem
• Braços e pernas longos
• Hipertrofia do tecido mamário (ginecomastia)
• Pelos faciais e corporais escassos
• Diminuição do desejo sexual (libido) (NORD, 2015f).
Nenhum tratamento consegue corrigir essa anomalia genética, mas a terapia de reposição de testosterona pode
melhorar os sinais e sintomas decorrentes da deficiência hormonal. Podese fazer uma cirurgia para reduzir a
ginecomastia. A maioria dos homens com síndrome de Klinefelter (XXY) é diagnosticada no final da puberdade. A
infertilidade é comum e a expectativa de vida é normal (Chen, 2015b).
Avaliação e aconselhamento genéticos
Aconselhamento genético é o processo pelo qual os pacientes ou familiares em situação de risco para uma doença
hereditária são avisados das consequências e da natureza da doença, da probabilidade de desenvolvêla ou transmitila. São
apresentadas as opções de manejo e planejamento familiar, a fim de evitála, impedila ou amenizála. Há muito tempo os
enfermeiros estão na vanguarda do aconselhamento genético de seus pacientes. Os conhecimentos obtidos a partir do PGH
estão transformando o modelo de cuidados de saúde com implicações para a enfermagem no aconselhamento, na prática e
na pesquisa em genética (Lopes, de Omena Bomfim, & FlóriaSantos, 2015). A pessoa deve ser encaminhada para
aconselhamento genético por um de vários motivos. O Boxe 10.2 enumera as pessoas que podem beneficiarse do
aconselhamento genético. Em muitos casos, os geneticistas e conselheiros genéticos fornecem informações às famílias
sobre as doenças genéticas. No entanto, um experiente médico da família, um pediatra ou um enfermeiro que tenha
recebido treinamento especial em genética também podem fornecer essas informações.
Considere isto
Enquanto esperava o conselheiro genético entrar na sala, minha mente estava cheia de inúmeros medos e
dúvidas. O que significa realmente uma “amniocentese inconclusiva”? E se eu estiver grávida de um filho
com problemas? Como eu iria lidar com uma criança especial na minha vida? Se eu tivesse ido ao posto de
saúde mais cedo, quando achei que estava grávida, mas ainda estava na fase de negação... Por que eu
não parei de beber e fumar quando descobri que estava grávida? Se eu tivesse começado a tomar os
comprimidos de ácido fólico quando eles foram prescritos... Por que não investiguei minha história familiar
para saber de todas as condições genéticas ocultas? E em relação à minha irmã que tem um filho com
síndrome de Down? Onde eu estava com a cabeça? Acho que eu poderia jogar o jogo do “e se” para
sempre e nunca chegaria a respostas. Já é tarde demais para fazer alguma coisa em relação a isso? Tenho
37 anos de idade e estou sozinha... Comecei a orar em silêncio quando o conselheiro abriu a porta...
Reflexões: Essa mulher está revendo suas últimas semanas, procurando por respostas para os seus
maiores medos. Exames inconclusivos podem induzir um tormento emocional em muitas mulheres
enquanto elas esperam pela confirmação dos resultados. Esses pensamentos e medos são comuns a
muitas mulheres que enfrentam potenciais doenças genéticas? Que intervenções de apoio o enfermeiro
poderia oferecer?
BOXE 10.2
PACIENTES QUE PODEM BENEFICIARSE DO ACONSELHAMENTO GENÉTICO
• Gestantes ou mulheres que planejem engravidar após os 35 anos
• Idade paterna de 50 anos ou mais
• Pais, parentes próximos ou filho anterior com uma doença hereditária, anomalias congênitas, distúrbios
metabólicos, distúrbios do desenvolvimento ou anormalidades cromossômicas
• Consanguinidade ou incesto
• Anormalidade encontrada no rastreamento da gestante, incluindo alfafetoproteína, rastreamento triplo,
amniocentese ou ultrassonografia
• Natimortos com anomalias congênitas
• Dois ou mais abortos
• Exposição a fármacos, medicamentos, radiação, substâncias químicas ou infecções
• Preocupações com defeitos genéticos que ocorram com frequência em seu grupo étnico ou racial (p.
ex., os afrodescendentes correm maior risco de ter uma criança com anemia falciforme)
• Rastreamento neonatal anormal
• Casais com antecedentes familiares de doenças ligadas ao X
• Portadores de doenças autossômicas recessivas ou dominantes
• Criança que nasce com uma ou mais malformações importantes em um sistema de órgãos vitais
• Criança com anomalias de crescimento
• Crianças com retardo do desenvolvimento, déficit mental, cegueira ou surdez
Adaptado de March of Dimes. (2015d). Genetic counseling. Retirado
de http://www.marchofdimes.com/pregnancy/geneticcounseling.aspx; National Human Genome Research
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diagnosis. eMedicine. Retirado de http://emedicine.medscape.com/article/273415
overview#;aw2aab6b3.
A consulta genética envolve a avaliação de um indivíduo ou de uma família. Seus objetivos são confirmar, diagnosticar
ou descartar condições genéticas; identificar questões de manejo clínico; calcular e comunicar os riscos genéticos à
família; discutir questões éticas e legais; e fornecer e organizar apoio psicossocial. Os conselheiros genéticos servem
como educadores e fontes de consulta para outros profissionais de saúde e para o público em geral.
O momento ideal para o aconselhamento genético é antes da concepção. O aconselhamento preconcepcional dá aos
casais a oportunidade de identificar e reduzir os potenciais riscos da gestação, planejar em caso de riscos conhecidos e
estabelecer o cuidado prénatal mais precoce. Infelizmente, muitas mulheres demoram a procurar atendimento prénatal até
o segundo ou o terceiro trimestre, após o momento crucial da organogênese. Portanto, é importante que o aconselhamento
preconcepcional seja oferecido a todas as mulheres que buscam cuidados de saúde ao longo de seus anos férteis,
especialmente se estiverem pensando em ter filhos. Isso exige que os profissionais de saúde assumam um papel proativo.
O rastreamento e o aconselhamento genéticos podem levantar questões éticas e morais graves para um casal. Os
resultados dos testes genéticos prénatais podem levar à decisão de interromper a gestação, mesmo que os resultados não
sejam conclusivos, mas indiquem forte possibilidade de que a criança terá uma anormalidade. A gravidade da anomalia
pode não ser conhecida, e algumas pessoas podem achar antiética a decisão de abortar. Outra situação difícil, que fornece
um exemplo das questões éticas e morais que cercam o rastreamento e o aconselhamento genéticos, envolve distúrbios que
afetam apenas um gênero da prole. A mãe pode descobrir que é portadora de um gene de uma doença para a qual não
existe teste de rastreamento prénatal. Nestes casos, o casal pode optar pela interrupção da gestação quando o feto é do
sexo afetado, embora haja uma chance de 50% de que a criança não herde a doença. Nessas situações, a escolha é do casal,
sendo necessário dar suporte e informação de modo não tendencioso, sem julgamentos.
O aconselhamento genético é particularmente importante se uma anomalia congênita ou doença genética for
diagnosticada no período prénatal, ou se a criança nasceu com uma anomalia congênita ou doença genética potencialmente
fatal. Nesses casos, as famílias precisam urgentemente de informações para que possam tomar decisões imediatas. Se o
diagnóstico com implicações genéticas for feito posteriormente na vida, se um casal com uma história familiar de
transtorno genético ou um filho anterior com uma doença genética estiver planejando uma família, ou se houver suspeita
de exposição a teratógenos, a urgência da informação não é tão grande. Nessas situações, a família precisa de tempo para
refletir sobre todas as suas opções. Isso pode envolver várias reuniões, durante um longo período.
O aconselhamento genético envolve a coleta de informações sobre a história do nascimento, a história patológica
pregressa e o estado de saúde atual, bem como a história familiar de anomalias congênitas, déficit intelectual, doenças
genéticas, história reprodutiva, saúde geral e as causas de morte. A história familiar detalhada é essencial, e na maioria
dos casos inclui a elaboração de um heredograma, que é semelhante a uma árvore genealógica (Figura 10.20). Idealmente,
as informações de três gerações são coletadas, mas, se a história familiar for complicada, podem ser necessárias
informações de parentes mais distantes. As famílias que recebem aconselhamento genético podem beneficiarse de saber
com antecedência que essas informações serão necessárias; elas podem precisar discutir essas questões privadas e
sensíveis com seus familiares para obter os dados necessários. Quando necessário, os familiares podem solicitar
prontuários dos pacientes, especialmente daqueles que tenham uma doença genética, para ajudar a garantir a acurácia das
informações. Às vezes, um heredograma revela informações confidenciais não conhecidas por todos os membros da
família, como uma adoção, uma criança concebida por meio de fertilização in vitro ou um marido que não é o pai biológico
de uma criança. Portanto, manter a confidencialidade é extremamente importante. Após a análise cuidadosa dos dados
obtidos, o encaminhamento a um conselheiro genético é apropriado quando houver indicação.
FIGURA 10.20 O heredograma é um diagrama elaborado com símbolos que demonstram as ligações entre os
familiares, concentrandose em informações clínicas e de saúde de cada parente.
Os conhecimentos em genética médica aumentaram dramaticamente durante as últimas décadas. Não só é possível
detectar doenças específicas com mutações genéticas, mas também é possível pesquisar a predisposição genética para
várias doenças ou condições e determinadas características físicas. Isso leva a questões éticas, morais e sociais complexas.
Manter a privacidade e a confidencialidade da paciente e prestar cuidados de modo não discriminatório são essenciais,
mantendo a sensibilidade às diferenças culturais. É essencial respeitar a autonomia da paciente e apresentar as informações
de modo não tendencioso, sem julgamentos.
PAPÉIS E RESPONSABILIDADES DA ENFERMAGEM
Os profissionais de enfermagem estão na vanguarda do atendimento aos pacientes e participarão plenamente nas atividades
baseadas na genética e na genômica. Os profissionais de enfermagem têm, portanto, um papel crucial na defesa da
orientação, do aconselhamento e do apoio às pacientes e seus familiares que estão tomando decisões sobre a assistência à
saúde baseadas em dados gênicos (Association of Genetic Nurses and Counselors [AGNC], 2015). O enfermeiro tende a
interagir com pacientes de vários modos relacionados com a genética: coletar a história familiar, agendar exames
genéticos, explicar os propósitos dos exames de rastreamento e complementares, responder a perguntas, fornecer
informações e apoio psicossocial a indivíduos e famílias e abordar preocupações levantadas pelos familiares. O enfermeiro
muitas vezes é o primeiro profissional de saúde a atender a paciente com problemas preconcepcionais e prénatais. Os
profissionais de enfermagem desempenham um papel importante no início do processo de aconselhamento preconcepcional
e no encaminhamento da mulher e de seu parceiro para exames genéticos, quando indicado.
Os enfermeiros que trabalham com famílias envolvidas com o aconselhamento genético têm tipicamente certas
responsabilidades. Estes incluem:
• Usar habilidades de entrevista e de escuta ativa para identificar preocupações genéticas
• Conhecer a terminologia genética básica e os padrões de herança
• Explicar os conceitos básicos de probabilidade e suscetibilidade ao transtorno
• Proteger a privacidade e a confidencialidade da informação genética dos pacientes
• Fornecer o formulário de consentimento informado para facilitar as decisões sobre os testes genéticos
• Discutir os custos dos serviços de genética e os benefícios e riscos da utilização do seguro de saúde para pagar por
serviços de genética, incluindo os potenciais riscos de discriminação
• Reconhecer e definir questões éticas, legais e sociais
• Fornecer informações acuradas sobre os riscos e benefícios dos testes genéticos
• Usar métodos culturalmente apropriados para transmitir a informação genética
• Monitorar as reações emocionais dos pacientes depois de receber a análise genética
• Fornecer informações sobre grupos de apoio locais apropriados
• Conhecer as suas próprias limitações e fazer encaminhamentos adequados (Sermon & Viville, 2014).
Uma história familiar acurada e meticulosa é uma parte essencial do aconselhamento antes da concepção. Os
enfermeiros podem coletar a anamnese de uma paciente durante o atendimento inicial em qualquer local de atendimento. O
objetivo é reunir informações da paciente e de sua família para saber se ela tem um traço genético, uma doença hereditária
ou uma predisposição hereditária (International Society of Nurses in Genetics, 2015). Em um nível básico, todos os
enfermeiros devem ser capazes de coletar a história familiar para ajudar a identificar as pessoas que correm risco de
doenças genéticas e, em seguida, solicitar encaminhamento, quando apropriado. O Boxe 10.3 apresenta exemplos de
questões de avaliação focadas que podem ser usadas. Com base nas informações coletadas durante a anamnese, o
enfermeiro precisa decidir se é necessário um encaminhamento a um geneticista ou se precisa ser realizada uma avaliação
mais aprofundada. Famílias com questões genéticas identificadas precisam de cuidados clínicos únicos, incluindo o
manejo de doenças agudas, o rastreamento de complicações a longo prazo, discussões sobre a etiologia da doença,
conexões com redes de suporte social e esclarecimento sobre os riscos de recorrência, testes de prénatal e opções de
tratamento. Podem ser solicitados testes prénatais para avaliar os riscos e defeitos genéticos, a fim de identificar
distúrbios genéticos. Esses exames são descritos no boxe Exames laboratoriais e complementares comuns 10.1.
Lembrase de Robert e Kate Shafer? Com base nas informações de sua história genética, eles foram
encaminhados a um especialista em genética. Que exames prénatais poderiam ser prescritos para avaliar o
risco de doenças genéticas? Qual seria o papel do enfermeiro em relação ao aconselhamento genético?
Conversar com os membros da família que foram recentemente diagnosticados com uma doença genética ou que
tiveram uma criança que nasceu com anomalias congênitas é muito difícil. Muitas vezes, o profissional de enfermagem é o
primeiro da equipe de saúde a ter contato com esses pais, e será quem prestará os cuidados de acompanhamento. Os
transtornos genéticos são situações importantes que mudam a vida e, possivelmente, envolvem risco à vida. A informação
genética é muito técnica, e o campo está passando por avanços tecnológicos significativos. O enfermeiro precisa conhecer
quem vai beneficiarse do aconselhamento genético e tem de ser capaz de discutir o papel do conselheiro genético com as
famílias. O objetivo é garantir que as famílias em situação de risco estejam cientes de que o aconselhamento genético está
disponível antes de tentar ter outro filho.
BOXE 10.3
AVALIAÇÃO DE SAÚDE FOCADA | HISTÓRIA GENÉTICA
• Qual foi a causa e a idade da morte dos membros falecidos da família?
• Há alguma consanguinidade entre os parentes?
• Existem quaisquer doenças graves ou condições crônicas? Se a resposta for positiva, qual foi a idade de
início?
• Algum familiar do sexo feminino tem histórico de abortos, natimortos ou diabetes melito?
• Algum familiar do sexo feminino tem história de etilismo ou uso de substâncias psicoativas/drogas ilícitas
durante a gestação?
• Quais eram as idades das familiares durante a gestação, especialmente se mais de 35 anos?
• Algum familiar apresenta déficit intelectual ou retardo do desenvolvimento?
• Algum familiar apresenta distúrbio metabólico conhecido ou suspeito, como fenilcetonúria?
• Qual é a idade materna de ambos os pais nesta gravidez?
• Algum familiar tem um transtorno da afetividade, como o transtorno bipolar?
• Algum parente próximo foi diagnosticado com algum tipo de câncer?
• Qual é a sua origem étnica (explore a relação com doenças específicas)?
• Algum familiar tem distúrbio cromossômico conhecido ou suspeito?
• Algum familiar apresenta transtorno neurológico progressivo?
Adaptado de Edelman, C. L., Kudzma, E. C., & Mandle, C. L. (2014). Health promotion throughout the
lifespan (8th ed.). St. Louis, MO: Mosby Elsevier; Snustad, D.P. (2015). Principles of genetics (7th ed.).
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testing options: First trimester and noninvasive prenatal testing. Journal of Midwifery & Women’s
Health, 60(1), 24–36; e Genetic Alliance. (2015). Family health history. Retirado
de http://geneticalliance.org/programs/genesinlife/fhh.
Com base nos resultados de seus testes genéticos, constatase que Robert e Kate correm risco moderado
de ter uma criança com uma doença genética autossômica recessiva. O casal pergunta ao enfermeiro o que
tudo isso significa. Que informações o enfermeiro deve fornecer em relação aos conceitos de probabilidade
e suscetibilidade a doenças a esse casal? Como o enfermeiro pode ajudar o casal a tomar decisões
conscientes em relação ao seu futuro reprodutivo?
O enfermeiro desempenha um papel fundamental na prestação de apoio emocional à família que passa por esse
momento difícil. A genética permeia todos os aspectos dos cuidados de saúde. Hoje, todos são favoráveis a cuidados de
qualidade e baseados em evidências. Os enfermeiros que têm uma compreensão da genética e genômica apresentam a
fundamentação para prestar cuidados de qualidade baseados em evidências, especialmente com aconselhamento de
acompanhamento depois que o casal ou a família foi encaminhado ao especialista em genética.
Anote!
O enfermeiro precisa estar ativamente engajado com a paciente e seus familiares e ajudálos a considerar os fatos, os
valores e o contexto em que estão tomando decisões. O enfermeiro precisa manter uma postura aberta e honesta com as
famílias enquanto discute essas escolhas sensíveis e emocionais.
O enfermeiro deve fornecer apoio e orientações continuamente às pacientes e a seus familiares. Isso inclui lidar com o
ônus da doença, ajudar as pacientes e os familiares a adaptaremse a uma condição na família, e assegurar a compreensão
adequada dos riscos genéticos e as escolhas diagnósticas prénatais e reprodutivas disponíveis. O enfermeiro está em uma
posição ideal para ajudar as famílias a rever o que foi discutido durante as sessões de aconselhamento genético e responder
a quaisquer perguntas adicionais que possam ter. O encaminhamento para órgãos competentes, grupos de apoio e recursos,
como uma assistente social, um capelão ou um especialista em bioética, é outro papel fundamental ao atender famílias com
suspeita ou diagnóstico de doenças genéticas.
Exames laboratoriais e complementares comuns 10.1
Exames prénatais para avaliar o risco de transtornos genéticos
Adaptado de Latendresse, G. & Deneris, A. (2015). An update on current prenatal
testing options: First trimester and noninvasive prenatal testing. Journal of Midwifery
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Asian Perspective, (pp. 1–13, 4th ed.). Haryana, India: Elsevier.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
A fertilização, que ocorre no terço externo da ampola da tuba uterina, leva à formação de um zigoto. O
zigoto sofre clivagem e acaba se implantando no endométrio cerca de 7 a 10 dias após a concepção
Três camadas de células embrionárias são formadas: ectoderma, que forma o sistema nervoso central,
os sentidos especiais, a pele e as glândulas; mesoderma, que forma os sistemas esquelético, urinário,
circulatório e genital; e o endoderma, que forma o sistema respiratório, o fígado, o pâncreas e o
sistema digestório
O líquido amniótico envolve o embrião e aumenta de volume conforme a gestação avança, alcançando
cerca de 1 l a termo
Em nenhum momento durante a gestação há qualquer conexão direta entre o sangue do feto e o
sangue da mãe, para que não haja mistura de sangue
A placenta protege o feto de ataques do sistema imunológico da mãe, remove as escórias do feto,
induz a mãe a trazer mais alimento para a placenta e, próximo do momento do parto, produz hormônios
que maturam os órgãos fetais em preparação para a vida fora útero
O objetivo da circulação fetal é levar sangue oxigenado às áreas vitais (coração e encéfalo), enquanto o
desvia de áreas menos vitais (pulmões e fígado)
Os seres humanos têm 46 pares de cromossomos, encontrados em todas as células do corpo, com
exceção do espermatozoide e do óvulo, que têm apenas 23 cromossomos. Cada pessoa tem uma
constituição genética única, ou genótipo
A pesquisa do Projeto Genoma Humano proporcionou melhor compreensão da contribuição genética
para as doenças
As doenças genéticas podem resultar de anomalias nos padrões de herança ou de anormalidades
cromossômicas envolvendo o número ou a estrutura cromossômica
A herança autossômica dominante ocorre quando um único gene no estado heterozigoto é capaz de
produzir o fenótipo. A herança autossômica recessiva ocorre quando são necessárias duas cópias do
gene mutante ou anormal no estado homozigótico para produzir o fenótipo. As doenças de herança
ligadas ao X são aquelas associadas a genes alterados existentes no cromossomo X. Podem ser
dominantes ou recessivas
Em alguns casos de doença genética, ocorre uma anomalia cromossômica. As anomalias
cromossômicas não seguem os padrões simples de herança. Essas alterações ocorrem em
cromossomos autossômicos, bem como sexuais, e podem resultar de alterações no número de
cromossomos ou mudanças em sua estrutura
O aconselhamento genético envolve a avaliação de um indivíduo ou de uma família. Sua finalidade é
confirmar, diagnosticar ou descartar a possibilidade de condições genéticas, identificar questões de
manejo clínico, calcular e comunicar os riscos genéticos à família, discutir questões éticas e legais, e
auxiliar no fornecimento e na organização do apoio psicossocial
Questões éticas, jurídicas e sociais que podem surgir em relação ao teste genético incluem a
privacidade e a confidencialidade da informação genética, quem deve ter acesso às informações
genéticas pessoais, o impacto psicológico e a estigmatização devido a diferenças genéticas individuais,
o uso das informações genéticas na tomada de decisões relacionadas com reprodução e direitos
reprodutivos, e se o teste deve ser realizado se não houver cura disponível
O rastreamento e o aconselhamento antes da concepção podem levantar questões éticas e morais
graves a um casal. Os resultados dos testes genéticos prénatais podem levar à decisão de interromper
a gestação
Os profissionais de enfermagem desempenham um papel importante no início do processo de
aconselhamento antes da concepção e no encaminhamento das mulheres e de seus parceiros para
obter mais informações genéticas, quando indicado. Muitas vezes, o enfermeiro é quem tem o primeiro
contato com essas mulheres e será o único a prestar cuidados de acompanhamento
Os profissionais de enfermagem precisam ter uma sólida compreensão de quem se beneficiará do
aconselhamento genético e precisam ser capazes de discutir o papel do conselheiro genético com as
famílias, garantindo que as famílias em situação de risco estejam cientes de que o aconselhamento
genético está disponível antes de tentar ter outro filho
Os profissionais de enfermagem desempenham um papel essencial no apoio emocional e
encaminhamento para órgãos competentes, grupos de apoio e recursos ao cuidar de famílias com
suspeita ou diagnóstico de doenças genéticas. Podem auxiliar as pacientes nas suas decisões,
encaminhandoas para um assistente social, um capelão ou um especialista em ética
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Zhang, L., & Ducsay, C. A. (2014). Advances in fetal and neonatal physiology. New York, NY: Spring Publishers.
Exercícios sobre o capítulo
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. Depois de ensinar um grupo de alunos como ocorre a fecundação, o professor determina que o ensino
foi bemsucedido quando o grupo identifica o local habitual da fertilização como sendo:
a. O fundo do útero
b. O endométrio do útero
c. A parte superior da tuba uterina
d. O tecido folicular do ovário
2. Trabalhando em uma clínica de saúde reprodutiva, o enfermeiro está ciente de que o objetivo do
Projeto Genoma Humano era:
a. Ligar genes anormais específicos a doenças específicas para um melhor tratamento
b. Mapear, sequenciar e determinar a função de todos os genes humanos
c. Entender as causas de doenças para revolucionar os cuidados de saúde
d. Determinar o impacto de certos cromossomos na prevenção de doenças
3. O enfermeiro está aconselhando um casal, e um dos cônjuges tem uma doença autossômica
dominante. Eles expressam preocupações sobre o risco de transmissão da doença. Qual é a melhor
resposta do enfermeiro em relação ao risco de a criança ter a doença?
a. “A chance de ter a doença é de 1 em 4 (25%)”
b. “O risco é de 12,5%, ou 1 chance em 8”
c. “A chance é de 100%”
d. “O risco é de 50%, ou 1 chance em 2”
4. Qual é o primeiro passo para determinar o risco de um casal para uma doença genética?
a. Observar o paciente e sua família ao longo do tempo
b. Realizar testes psicológicos meticulosos
c. Obter uma história familiar detalhada
d. Completar uma extensa lista de exclusão
5. O enfermeiro está trabalhando em uma clínica de saúde da mulher. O aconselhamento genético seria
mais adequado para a mulher que:
a. Teve seu primeiro aborto espontâneo com 10 semanas de gestação
b. Tem 30 anos e está planejando engravidar
c. Tem um parente próximo com síndrome de Down
d. Está com 18 semanas de gestação, com resultados normais no rastreamento triplo
6. A síndrome de Klinefelter é causada por não disjunção que resulta em um genótipo:
a. YYY
b. XYY
c. XXX
d. XXY
7. A síndrome de Down resulta:
a. Da ausência de um cromossomo na posição 21
b. Da existência de um cromossomo extra na posição 21
c. Da ausência dos dois cromossomos na posição 21
d. De crossing over dos cromossomos na posição 21
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. O Sr. e a Sra. Martin desejam ter filhos, mas não conseguem chegar a um acordo em relação a algo
importante: o Sr. Martin deseja que a esposa faça um teste para determinar se ela é portadora do traço
de fibrose cística (FC). Ele tinha um irmão com FC e viu seus pais lutarem com as dificuldades e as
despesas para cuidar dele durante muitos anos, e não quer passar por isso em sua própria família. O
Sr. Martin descobriu que é portador do gene da FC. A Sra. Martin não quer fazer o teste porque, uma
vez que a criança esteja em seus braços, ela será bemvinda, e o restante não importa.
a. Que informação/orientação esse casal deve considerar antes de decidir se quer fazer o teste?
b. Como você pode ajudar esse casal em seu processo de tomada de decisão?
c. Qual é o seu papel nessa situação se você não concordar com a decisão deles?
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Veja o vídeo Miracle of Life (Milagre da Vida) na internet, que mostra a concepção e o desenvolvimento
fetal. Quais são as suas impressões? O título desse vídeo é realista?
2. Desenhe seu heredograma, identificando padrões de herança. Compartilhe com sua família para validar
se está tudo correto. O que você descobriu sobre sua história familiar?
3. Escolha um dos vários testes de rastreamento prénatal (alfafetoproteína, amniocentese, biopsia de
vilosidade coriônica ou translucência nucal) e pesquiseo em profundidade. Encene com outro
estudante de enfermagem como você explicaria a sua finalidade, o procedimento e os potenciais
achados a um casal que corre risco de uma anormalidade fetal.
ESTUDO DE CASO
Uma mulher afroamericana de 27 anos de idade procura o ambulatório de assistência prénatal com o
marido. Eles estão casados há 2 anos e estão planejando engravidar. Eles desejam informações sobre
anemia falciforme e outras anormalidades da hemoglobina. Eles questionam se existem testes prénatais
para essa condição e se podem ser testados para determinar se são portadores da doença. Além disso,
eles querem compreender os riscos para seus futuros filhos caso sejam portadores do traço falciforme. Eles
conheciam algumas pessoas com anemia falciforme no templo religioso que frequentavam e se
perguntavam se todas as pessoas com esse distúrbio eram afetadas da mesma maneira.
AVALIAÇÃO
O enfermeiro coleta, então, dados da história familiar para determinar se algum parente do casal tem essa
doença ou manifestações clínicas dela. Eles podem não estar cientes das várias manifestações da doença,
mas podem descrever comportamentos e observações de vários membros da família. É, então, oferecida
uma explicação do procedimento de rastreamento para determinar se são portadores do traço da doença
falciforme.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 10 | Desenvolvimento Fetal e Genética
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é C, porque os cientistas já determinaram que a concepção/fecundação ocorre na parte superior da
tuba uterina (trompa de Falópio). A alternativa A está incorreta, porque este é o lugar em que ocorre a implantação
após a fertilização ter acontecido. A alternativa B está incorreta, porque este se trata do revestimento interno do útero,
onde ocorre a implantação, não onde ocorre a fertilização do óvulo pelo espermatozoide. A alternativa D está
incorreta, porque os espermatozoides não saem da tuba uterina até o ovário, mas se encontram com o óvulo para fins
de fertilização na tuba uterina.
2. A resposta correta dessa questão é B porque a meta do Projeto Genoma Humano, que foi iniciado em 1990, era
mapear, sequenciar e identificar as funções de todos os genes humanos de modo a aprimorar os testes genéticos e
obter melhor compreensão das doenças humanas. A ligação dos genes a doenças, a compreensão das causas
subjacentes das doenças e a determinação do impacto de determinados cromossomos na prevenção são desfechos
potenciais do Projeto Genoma Humano, mas não são as metas originais deste.
3. A resposta correta é D. A herança autossômica dominante ocorre quando um único gene no estado heterozigoto
consegue produzir o fenótipo. A pessoa afetada geralmente tem um dos pais afetado e 50% de chance de transmitir o
gene anormal para cada um de seus filhos.
4. A resposta correta é C, porque desvendar a história familiar de um indivíduo possibilita a identificação de doenças
genéticas anteriores que apresentam alto risco de recorrência nas gerações subsequentes. A alternativa A está
incorreta, porque observar a paciente e sua família seria caro e improdutivo no diagnóstico de uma doença genética; a
observação precisa ser feita nas diversas gerações subsequentes para produzir resultados. A alternativa B está
incorreta, porque o teste psicológico não é capaz de descobrir predisposições genéticas para doenças. A alternativa D
está incorreta, porque excluir as numerosas condições genéticas seria uma tarefa demorada e tediosa.
5. A resposta correta é C. A história familiar é essencial na identificação de distúrbios genéticos. O relato de um filho
anterior, pais ou parente próximo com uma doença hereditária, anomalias congênitas, distúrbios metabólicos,
distúrbios do desenvolvimento ou anormalidades cromossômicas pode indicar risco aumentado de doenças genéticas;
portanto, o encaminhamento para aconselhamento genético é apropriado.
6. A resposta correta é D: XXY.
7. A resposta correta é B porque um cromossomo extra é encontrado na posição 21, tornandoa uma trissomia do 21.
Nesta trissomia, o recémnascido tem três cópias do cromossomo 21, em vez das duas cópias habituais em todas as
suas células. As outras três respostas são incorretas porque não há ausência de cromossomos na posição 21 e essa
síndrome não resulta de crossover dos cromossomos.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. Que informação/orientação esse casal deve considerar antes de decidir se quer fazer o teste?
O enfermeiro precisa abordar os fatos sobre a herança genética:
• Fibrose cística é uma doença recessiva que afeta 1 em cada 2.500 recémnascidos
• É predominantemente encontrada em recémnascidos brancos e é menos comum em outras raças
• Como se trata de uma doença recessiva, a Sra. Martin é obrigatoriamente portadora do gene, visto que o
passou para seus filhos
• Se a Sra. Martin é uma portadora, sua chance de ter um filho com fibrose cística é de uma em quatro
(25%)
• O risco é o mesmo a cada novo filho
• Informações sobre as características da fibrose cística.
b. Como você pode ajudar esse casal em seu processo de tomada de decisão?
Comece fornecendo todos os fatos em relação à natureza do risco hereditário. Além disso, descreva todas as
opções para que o casal possa tomar uma decisão informada. As opções incluem:
• O casal não faz os testes genéticos e assume o risco
• Se a Sra. Martin for portadora do gene para fibrose cística, então o casal poderia optar por não ter filhos ou
adotar uma criança
• O feto pode ser submetido ao teste prénatal para determinar se ambos os seus genes carregam a mutação
para fibrose cística. Se assim for, o casal poderia optar por interromper a gravidez1
• Usar um óvulo ou espermatozoide de um doador que não carrega o gene para fibrose cística
• Fazer um encaminhamento para uma instituição de reprodução assistida para que o casal receba orientações
a respeito das alternativas para maximizar seus desfechos
• Ser realista com esse casal a respeito de não poder dar garantia alguma de que outra doença genética não
ocorrerá
• Discutir os custos envolvidos nos exames genéticos e de fertilização in vitro, que provavelmente não serão
cobertos pelo plano de saúde.
c. Qual é o seu papel nessa situação se você não concordar com a decisão deles?
Como enfermeiro, sua função é apresentar os fatos e deixar que o casal tome suas próprias decisões sobre o que
deseja fazer. Ele, não o enfermeiro, precisará conviver com a decisão que tomar. O seu papel é respeitar e apoiar
o que quer que esse casal decida fazer.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. O vídeo intitulado Miracle of life (“Milagre da vida”) é uma exibição maravilhosa da concepção ao desenvolvimento
fetal e nascimento. Um fotógrafo foi capaz de fotografar os espermatozoides “nadando” e o óvulo sendo liberado do
ovário. Em seguida, fotografou o desenvolvimento embrionário e o feto em desenvolvimento até o nascimento. É
realista e apresenta a verdadeira maravilha da vida. O título representa bem as imagens.
2. Os estudantes devem desenhar sua própria árvore genealógica para identificar seu histórico de saúde. Essa
informação é importante para determinar as condições genéticas e doenças hereditárias. Ao identificar sua
ascendência de saúde, talvez a motivação para escolhas de estilo de vida mais sábias possa vir à tona.
3. Os resultados variam de acordo com o teste de rastreamento fetal escolhido. Um exemplo poderia ser a determinação
da translucência nucal do feto. O objetivo do teste consiste em identificar doenças genéticas e/ou anomalias físicas. O
procedimento envolve a medição ultrassonográfica do líquido na nuca entre a 10a e a 14a semana de gestação. Uma
medida de translucência nucal de 3 mm ou mais é extremamente sugestiva de anormalidades fetais, e recomendase a
realização de um teste genético diagnóstico. O estudante que simula um enfermeiro discutindo esse exame deve
apoiar os futuros pais, mas expondo dados a eles. Os estudantes podem inverter os papéis, simulando outro teste de
rastreamento fetal para discussão.
ESTUDO DE CASO
1. Qual resposta o enfermeiro deveria dar a esse casal quanto a esse problema genético?
2. Qual é a probabilidade de os filhos desse casal apresentarem o traço ou a doença?
3. Quem deve fazer exames para detectar essa doença hereditária?
Resposta: Uma explicação do que é essa doença genética deveria incluir o seguinte: a doença falciforme caracteriza
se por manifestações fisiopatológicas de anemia hemolítica crônica com obstruções venosas, que acarretam lesões
isquêmicas dos tecidos e episódios de dor. Os órgãos que correm risco mais alto são baço, rins e medula óssea, na
qual a pressão de oxigênio é baixa e o fluxo sanguíneo é reduzido. A doença falciforme tem padrão
hereditário autossômico recessivo. Se uma mulher tem traço falciforme e seu marido não, há uma chance de 50% em
cada gestação de que o feto herde o traço. Se a esposa e seu marido têm traço falciforme, os riscos de que o feto
tenha doença falciforme é de 25%, mas a chance de que tenha traço falciforme é de 50%. Todos os indivíduos de
ascendência africana devem fazer teste para doença ou traço falciforme, porque esta condição é mais prevalente nesta
população.
Plano de cuidados
1. Qual teste de triagem deve ser solicitado para esse casal de forma a avaliar sua condição?
2. Quais riscos poderiam ser exacerbados durante a gestação de uma paciente com traço falciforme?
3. Quais decisões esse casal deveria tomar depois de receber os resultados dos exames?
4. Qual é o papel que o enfermeiro deve desempenhar no aconselhamento genético desse casal?
Resposta: A eletroforese da hemoglobina é solicitada para determinar o padrão genético. Mulheres com traço
falciforme correm risco aumentado de infecções urinárias durante a gravidez e também podem desenvolver anemia
ferropriva com necessidade de suplemento de ferro. As decisões que esse casal precisa tomar dependem dos
resultados dos seus exames. Se ambos forem portadores do traço falciforme, o risco de transmitir esse distúrbio
hereditário é muito maior, que se apenas um dos genitores tivesse o traço. Eles precisam considerar seu risco e
determinar como ele poderia afetar seus filhos que venham a ter. O papel do enfermeiro é instruir o casal quanto a
esse distúrbio hereditário e como ele se manifesta e afeta sua família. Obter uma história bem detalhada ajuda a
reconhecer os problemas médicos, conceitos, entendimento e expectativas do casal. O enfermeiro deve ter
conhecimentos detalhados de genética para oferecer a essa família os melhores cuidados de saúde padronizados
durante toda sua experiência ao longo do ciclo familiar.
__________
1
N.R.T.: No Brasil, esta não seria uma justificativa para aborto.
Questões múltipla escolha
1. Uma mulher na 15a semana de gestação pergunta à enfermeira qual é a aparência do feto
nesse momento. Qual resposta da enfermeira seria mais acurada?
A. O feto está recoberto com uma película branca e gordurosa chamada verniz caseoso
B. O feto tem 15 cm de comprimento
C. As unhas dos dedos dos pés e das mãos já podem ser vistas
D. Estão ocorrendo movimentos respiratórios rítmicos
Concluir questão
2. Após dar uma aula sobre as várias estruturas formadas pelas membranas embrionárias, a
enfermeira determina que o ensino foi bemsucedido quando a classe identifica qual estrutura
como sendo formada pelo mesoderma?
A. Pulmões
B. Orelhas
C. Ossos
D. Estômago
Concluir questão
3. Ao descrever as características do líquido amniótico para uma gestante, o que a enfermeira
incluiria?
A. Geralmente é um líquido ácido
B. É composto principalmente por substâncias orgânicas
C. Limita o movimento fetal no útero
D. O volume varia gradualmente durante a gestação
Concluir questão
4. Qual hormônio da placenta a enfermeira identifica como tendo um papel fundamental na
estimulação da contratilidade do miométrio?
A. Progesterona
B. Estrogênio
C. Relaxina
D. Gonadotrofina coriônica humana
Concluir questão
5. Ao preparar uma palestra para um grupo de estudantes sobre a circulação fetal, que estrutura
a enfermeira explicaria como sendo a principal responsável por assegurar que o sangue
oxigenado chegue ao encéfalo do feto?
A. Ducto venoso
B. Canal arterial
C. Forame oval
D. Veia umbilical
Concluir questão
6. Uma mulher será submetida à cariotipagem. Qual das seguintes alternativas a enfermeira
utilizaria para explicar a ela esse exame?
A. Uma imagem do código genético de uma pessoa
B. A análise por imagem do número, do formato e do tamanho dos cromossomos da mulher
C. A composição dos pares de genes herdados dos genitores
D. A representação das características observáveis de um indivíduo
Concluir questão
7. Qual das seguintes designações a enfermeira identificaria como homozigoto dominante?
A. Bb
B. XX
C. BB
D. XY
Concluir questão
8. Depois de dar uma aula sobre os padrões de herança autossômica dominante e recessiva, a
enfermeira determina que a turma precisa de orientações adicionais quando os alunos
identificam qual condição como um exemplo de doença autossômica dominante?
A. Neurofibromatose
B. Doença de TaySachs
C. Acondroplasia
D. Doença de Huntington
Concluir questão
9. Uma gestante é submetida à biopsia das vilosidades coriônicas como parte de uma avaliação
do risco de doenças genéticas. Qual dos seguintes a enfermeira incluiria ao descrever esse
exame para a mulher?
A. “Inserese uma agulha diretamente no vaso umbilical do feto para coleta de sangue para a
realização de vários exames.”
B. “Um pequeno volume de líquido amniótico será retirado e coletado para análise.”
C. “A ultrassonografia transvaginal mede o líquido no espaço entre a pele e a coluna
vertebral.”
D. “Um pequeno pedaço de tecido da placenta fetal será removido e analisado.”
Concluir questão
10. O hormônio que assegura a implantação do embrião no início da concepção é o(a):
A. Estrogênio
B. Gonadotrofina coriônica humana (hCG)
C. Progesterona
D. Hormônio luteinizante
Concluir questão
11. Uma enfermeira que trabalha em um berçário de recémnascidos detecta um sopro ao
auscultar o tórax de um bebê de 24 h de idade. Reconhecese que esse sopro geralmente é
decorrente do(a):
A. Forame oval disfuncional
B. Defeito congênito
C. Coto do cordão umbilical anexado
D. Atraso no fechamento do shunt fetal
Concluir questão
12. No decorrer do atendimento prénatal adequado, a enfermeira deve incluir a avaliação do
risco:
A. De necessidades nutricionais infantis
B. Da dinâmica familiar
C. De condições e distúrbios genéticos
D. Das diferenças culturais
Concluir questão
13. Depois de uma aula sobre genética, a enfermeira percebe que os estudantes entenderam o
básico quando eles dizem:
A. “Meu genoma é meu código genético.”
B. “Meus pais me deram bons fenótipos.”
C. “Suas características externas mostram alguns genótipos interessantes.”
D. “Um objetivo secundário de determinar meu genoma é encontrar novos tratamentos.”
Concluir questão
14. Depois de uma aula sobre genes, você observa que o aprendizado da turma foi bemsucedido
quando ela reconhece o seguinte como não sendo um tipo de mutação genética?
A. Química
B. Hereditária
C. Espontânea
D. Adquirida
Concluir questão
15. Um casal deseja se submeter a testes genéticos para a doença de Huntington. Como sua
enfermeira, você reconhece que essa doença é um:
A. Distúrbio hereditário autossômico recessivo
B. Distúrbio hereditário autossômico dominante
C. Distúrbio hereditário ligado ao X
D. Distúrbio hereditário dominante ligado ao X
Concluir questão
16. Existem algumas malformações congênitas comuns que podem ocorrer e que se sabe que
são causadas por múltiplos fatores genéticos e ambientais. Uma dessas é o(a):
A. Fibrose cística
B. Daltonismo
C. Espinha bífida
D. Hemofilia
Concluir questão
17. Um teste genético revelou que o feto de um casal mostra a possibilidade de mosaicismo. Ao
aconselhar esse casal, você explica que isso significa que:
A. Essa anomalia genética é um traço recessivo de origem familiar
B. Esse traço genético geralmente é transmitido da mãe para a criança
C. Esse traço genético geralmente ocorre quando ambos os pais têm o traço recessivo em
seu DNA e o passam para seus descendentes
D. Ocorreu uma anomalia genética após a fertilização e durante a divisão celular mitótica
Concluir questão
18. Algumas anomalias cromossômicas de número muitas vezes ocorrem por causa de uma falha
no par de cromossomos em se separar corretamente durante a divisão celular. Um tipo é
chamado de poliploidia. Como enfermeira, você reconhece que esse tipo geralmente resulta
em:
A. Síndrome de Down
B. Aborto espontâneo precoce
C. Síndrome de Edward
D. Síndrome de Patau
Concluir questão
19. Existe a possibilidade de que ocorra uma anormalidade numérica nos pares de
cromossomos, resultando em diversas anomalias. Um tipo comum de trissomia em geral
envolve os pares de cromossomos a seguir, exceto o:
A. 10
B. 13
C. 18
D. 21
Concluir questão
20. Uma mulher de 41 anos de idade que acabou de descobrir que está grávida solicita o teste
genético de seu feto. Ela está preocupada porque, por causa de sua idade, seu feto corre um
risco aumentado de:
A. Síndrome de Patau
B. Fibrose cística
C. Distrofia muscular
D. Síndrome de Down
Concluir questão
21. Uma cliente deu à luz um bebê com síndrome de Patau, ou trissomia do 13. Como enfermeira,
você aconselha o casal afirmando que o cuidado dessa criança é:
A. De apoio
B. Terapêutico
C. A longo prazo
D. Complicado
Concluir questão
22. Ao preparar uma palestra sobre doenças genéticas, os participantes devem entender após
seu término que o tipo mais comum de atraso no sexo masculino devese à:
A. Síndrome de Down
B. Síndrome de cri du chat (síndrome do miado do gato)
C. Síndrome do X frágil
D. Síndrome de Patau
Concluir questão
23. Uma mãe chegou à clínica com sua filha de 13 anos para descobrir por que ela ainda não
menstrua. Após exame detalhado e anamnese, fazse um teste genético para descartar qual
anormalidade?
A. Síndrome de Klinefelter
B. Síndrome de Turner
C. Síndrome do X Frágil
D. Síndrome de cri du chat (síndrome do miado do gato)
Concluir questão
24. É importante que a enfermeira inclua uma discussão sobre teratógenos em suas orientações
prénatais para ajudar a evitar deformidades ou anormalidades. Os teratógenos podem incluir
qual(is) das seguintes opções? (Selecione todas que se aplicam.)
A. Determinados medicamentos
B. Produtos químicos cáusticos
C. Álcool etílico
D. Suplementos multivitamínicos
Concluir questão
25. A enfermeira descreve a fase préembrionária do desenvolvimento fetal para um grupo de
estudantes. Coloque os acontecimentos em sua sequência adequada para essa fase.
A. Formação do zigoto
B. Clivagem
C. Formação do blastocisto
D. Implantação
E. Formação da mórula
Concluir questão
Adaptação Materna durante a Gestação
11
PALAVRASCHAVE
Anemia fisiológica da gravidez
Balotamento
Contrações de Braxton Hicks
Ingestão dietética de referência (IDR)
Linha nigra
Percepção dos primeiros movimentos fetais
Pica
Sinal de Chadwick
Sinal de Goodell
Sinal de Hegar
Trimestre
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Diferenciar entre os sinais subjetivos (presuntivos), objetivos (prováveis) e diagnósticos (positivos) de gravidez.
2. Descrever as alterações fisiológicas maternas que ocorrem durante a gestação.
3. Resumir as necessidades nutricionais da gestante e do feto.
4. Caracterizar as alterações emocionais e psicológicas que ocorrem durante a gestação.
Marva, de 17 anos de idade, procurou o ambulatório queixandose de intoxicação alimentar e dizendo que
precisava de uma consulta médica de urgência. Quando o enfermeiro lhe fez perguntas adicionais sobre sua
condição, Marva informou que estava enjoada e que se sentia “muito cansada” há vários dias. Ela parou de
comer para evitar mais náuseas e vômitos.
Reflexões
Quando uma mulher descobre que está grávida, ela precisa lembrarse de proteger e nutrir o feto fazendo escolhas sábias.
INTRODUÇÃO
A gestação é um evento normal da vida, que envolve adaptações físicas e psicológicas consideráveis para a mãe. A
gestação é dividida em três trimestres de 13 semanas cada (Edelman, Kudzma, & Mandle, 2014). Em cada trimestre,
ocorrem diversas adaptações que facilitam o crescimento do feto. As mais óbvias são as mudanças físicas para acomodar o
feto em crescimento, mas as gestantes passam também por alterações psicológicas conforme se preparam para a
maternidade. Todos os profissionais de enfermagem que atendem gestantes precisam ter conhecimentos meticulosos
dessas numerosas alterações e adaptações.
SINAIS E SINTOMAS DE GRAVIDEZ
Tradicionalmente, os sinais e sintomas de gravidez foram agrupados nas seguintes categorias: presuntivos, prováveis e
positivos (Boxe 11.1). Os únicos sinais que determinam uma gravidez com 100% de acurácia são os positivos.
Quais informações adicionais são necessárias para completar a avaliação de Marva, a jovem de 17 anos
com náuseas e vômitos? Quais exames complementares podem ser feitos para confirmar a suspeita do
enfermeiro de que Marva está grávida?
Sinais subjetivos
Os sinais subjetivos ou presuntivos são aqueles que a mãe consegue perceber. O sinal presumível mais óbvio de gravidez
é a ausência de menstruação. Por si só, a ausência de um ciclo menstrual não é sinal confiável de gravidez, mas, se for
acompanhada de náuseas consistentes, fadiga, aumento da sensibilidade mamária e polaciúria, a gravidez é muito provável.
Mudanças presumíveis são os indicadores menos confiáveis de gravidez, pois todas podem ser causadas por outras
condições que não uma gestação (Shields, 2015). Por exemplo, a amenorreia pode ser causada por menopausa precoce,
disfunção endócrina, desnutrição, anemia, diabetes melito, corrida de longa distância, câncer ou estresse. Náuseas e
vômitos podem ser causados por distúrbios gastrintestinais, intoxicação alimentar, infecções agudas ou transtornos
alimentares. A fadiga pode ser causada por anemia, estresse ou infecções virais. O aumento da sensibilidade mamária pode
resultar de mastite cística crônica, alterações prémenstruais ou uso de contraceptivos orais. A polaciúria pode ter várias
outras causas além da gravidez, como infecção, cistocele, distúrbios estruturais, tumores pélvicos ou tensão emocional
(Tharpe et al., 2016).
Considere isto
Jim e eu decidimos começar nossa família, por isso parei de tomar o anticoncepcional há 3 meses. Certa
manhã, quando saí da cama para levar o cachorro para fora, sentime enjoada e tonta. Eu esperava não
estar com gripe. No final da semana, estava me sentindo muito cansada e comecei a tirar sonecas à tarde.
Além disso, parecia estar indo ao banheiro com mais frequência, apesar de não beber muito líquido.
Quando minhas mamas começaram a formigar e doer, decidi fazer uma consulta com meu médico para ver
qual “doença” eu tinha contraído.
Depois de ouvir a minha lista de queixas físicas, o enfermeiro do consultório me perguntou se eu poderia
estar grávida. Meus olhos se arregalaram: de algum modo eu não tinha feito a conexão entre os meus
sintomas e uma possível gravidez. Comecei a tentar lembrar quando foi minha última menstruação, que
tinha sido há 2 meses. Foi feito um teste de gravidez que, para minha surpresa, deu positivo!
Reflexões: Muitas mulheres param de tomar o contraceptivo em uma tentativa de engravidar, mas não
se dão conta dos primeiros sinais de gravidez. Essa mulher estava apresentando vários sinais precoces de
gravidez, como polaciúria, fadiga, náuseas matinais e aumento da sensibilidade mamária. Qual conselho o
enfermeiro pode dar a essa mulher para aliviar seus sintomas? Quais orientações adicionais relacionadas
com a gestação seriam apropriadas nesse momento?
BOXE 11.1
SINAIS E SINTOMAS DE GRAVIDEZ
Adaptado de Bope, E. T., & Kellerman, R. D. (2015). Conn’s current
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de http://emedicine.medscape.com/article/262591overview; e Jordan, R.
G., Engstrom, J., Matrfell, J., & Farley, C. L. (2014). Prenatal and postnatal
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Sinais objetivos
Sinais físicos
Os sinais objetivos ou prováveis de gravidez são aqueles que podem ser detectados no exame físico por um profissional de
saúde. Os sinais prováveis comuns de gravidez incluem o amolecimento do segmento inferior do útero ou istmo (sinal de
Hegar), o amolecimento do colo do útero (sinal de Goodell) e coloração roxoazulada da mucosa vaginal e do colo do útero
(sinal de Chadwick). Outros sinais prováveis incluem alterações do formato e do tamanho do útero, aumento do abdome,
contrações de Braxton Hicks e balotamento (o examinador empurra o colo do útero com o dedo indicador durante o
exame pélvico e sente um rebote do feto flutuante).
Testes de gravidez
Aliados a estes sinais físicos, os resultados dos testes de gravidez também são considerados um sinal provável de
gravidez. O teste de gravidez caseiro tornouse disponível nos EUA no final de 1977. O teste caseiro é bem aceito pelo
público em geral por causa de sua conveniência, custo e confidencialidade. Vários testes de gravidez estão disponíveis
(Tabela 11.1). Os testes variam em sensibilidade, especificidade e acurácia. São influenciados pela duração da gestação,
pela concentração da amostra e pela existência de sangue, bem como de alguns fármacos. A gonadotrofina coriônica
humana (hCG) é detectável no soro em aproximadamente 5% das pacientes 8 dias após a concepção e em mais de 98% das
pacientes após 11 dias (Shields, 2015). Pelo menos 25 testes de gravidez caseiros diferentes são atualmente
comercializados nos EUA. A maioria deles informa uma “acurácia de 99%” e declara estar de acordo com as diretrizes da
U.S. Food and Drug Administration (FDA), ou fazem outras declarações semelhantes na embalagem ou bula do produto.
A declaração de acurácia de 99% em referência à diretriz da FDA é enganosa, na medida em que não tem qualquer
influência sobre a capacidade do teste de gravidez caseiro de detectar o início da gestação (Shields, 2015). As limitações
destes testes precisam ser compreendidas para que a detecção da gravidez não seja significativamente retardada. A
detecção precoce possibilita o início do prénatal, possíveis mudanças de medicação e mudanças de estilo de vida para
promover uma gestação saudável.
A hCG, uma glicoproteína, é o marcador bioquímico mais precoce para a gravidez. Muitos testes de gravidez são
baseados no reconhecimento da hCG ou de sua subunidade beta. Os níveis normais de hCG na gestação geralmente
dobram a cada 48 a 72 horas até alcançar seu nível máximo, aproximadamente 60 a 70 dias após a fertilização. Nesse
momento, diminuem até um platô em 100 a 130 dias de gestação. O tempo de duplicação da hCG tem sido utilizado pelos
médicos como um marcador para diferenciar gestações normais de anormais. Os baixos níveis estão associados a gravidez
ectópica e níveis mais elevados do que o normal são sugestivos de gravidez molar ou gestações múltiplas (Zinaman,
Johnson, & Marriott, 2015).
Tabela 11.1 Testes de gravidez específicos.
Adaptada de Jordan, R. G., Engstrom, J., Matrfell, J., & Farley, C. L.
(2014). Prenatal and postnatal care: A womancentered approach. Ames,
Iowa: WileyBlackwell; King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J.
O., Gegor, C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s midwifery. (5th ed.),
Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning; e Shields, A. D. (2015).
Pregnancy diagnosis. eMedicine. Retirado
de http://emedicine.medscape.com/article/262591overview.
Anote!
Essa elevação da hCG corresponde ao período de enjoos matinais que dura aproximadamente 6 a 12 semanas no início
da gestação.
Embora os sinais prováveis sugiram uma gravidez e sejam mais confiáveis do que os sinais presuntivos, ainda não são
100% confiáveis para confirmar a gestação. Por exemplo, tumores uterinos, pólipos, infecção e congestão pélvica podem
causar alterações no formato, no tamanho e na consistência do útero. Embora os testes de gravidez sejam usados para
confirmar o diagnóstico de gravidez, quando os sinais físicos ainda não são conclusivos, eles não são totalmente
confiáveis, pois além da gestação outras condições (p. ex., câncer de ovário, coriocarcinoma, mola hidatiforme) também
podem elevar os níveis de hCG.
Sinais positivos
Em geral, nas 2 semanas seguintes à ausência de menstruação, surgem sintomas subjetivos suficientes para que a mulher
possa estar razoavelmente certa de que está grávida. No entanto, um profissional de saúde experiente pode confirmar suas
suspeitas identificando sinais positivos de gravidez que podem ser diretamente atribuídos ao feto. Os sinais positivos de
gravidez confirmam que um feto está crescendo no útero. A visualização do feto na ultrassonografia, a palpação dos
movimentos fetais e a ausculta dos batimentos cardíacos fetais são os sinais de certeza de uma gravidez.
Se o teste de gravidez for positivo, a consulta deve incluir uma estimativa da idade gestacional de modo que possa ser
fornecido aconselhamento apropriado. Além disso, as pacientes devem receber informações sobre os sinais e sintomas
normais da gravidez em seus estágios iniciais e devem ser orientadas a relatar quaisquer preocupações ao obstetra para
avaliação adicional. Quando a gravidez tiver sido confirmada, o profissional de saúde fará um agendamento de consultas
prénatais para avaliar a mulher e seu feto durante toda a gestação. A avaliação e as orientações começam nas primeiras
consultas e continuam durante toda a gestação (ver Capítulo 12).
Lembrase de Marva, que achava que estava com intoxicação alimentar? Seu teste de gravidez deu
positivo. Ao ser questionada pelo enfermeiro, ela reconheceu que estava há 2 meses sem menstruar e que
teve relações sexuais sem proteção com seu namorado. Qual é o papel do enfermeiro com Marva neste
momento? Quais orientações podem ser dadas a Marva enquanto ela aguarda sua primeira consulta pré
natal?
ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS DURANTE A GESTAÇÃO
Todos os sistemas do corpo da mulher mudam durante a gestação para atender as demandas do feto em crescimento. Essas
mudanças ocorrem com uma rapidez surpreendente. As mudanças físicas da gestação podem ser desconfortáveis, embora
cada mulher reaja de modo único.
Adaptações do sistema genital
A fim de acomodar o ser humano que cresce dentro da mulher, ocorrem alterações significativas em todo o corpo dela
durante a gestação. Muitas dessas alterações têm um papel protetor para a homeostase materna e são essenciais para
atender às demandas tanto da mãe quanto do feto. Muitas dessas adaptações são reversíveis após a mulher dar à luz, mas
algumas persistem por toda a vida.
Útero
As dimensões do útero aumentam de modo constante e previsível durante a gravidez. Durante os primeiros meses de
gestação, o estrogênio estimula o crescimento do útero, de modo que este sofre um aumento significativo de tamanho,
peso, comprimento, largura, profundidade, volume e capacidade total durante a gestação. O peso do útero aumenta de 70 g
para cerca de 1.100 a 1.200 g ao termo da gravidez; sua capacidade aumenta de 10 para 5.000 m ℓ ou mais ao termo
(King et al., 2015). A espessura das paredes uterinas chega a 1,5 cm ou menos. O formato do útero passa de piriforme
para um globo sólido no primeiro trimestre da gravidez e, depois, expandese até se tornar um receptáculo oco.
O crescimento uterino ocorre em virtude tanto da hiperplasia quanto da hipertrofia das células do miométrio, que não
aumentam em número, mas aumentam em tamanho. No início da gestação, o crescimento uterino é decorrente da
hiperplasia de células de músculo liso uterinas no interior do miométrio; no entanto, o principal componente do
crescimento do miométrio ocorre após a metade da gestação, devido à hipertrofia das células de músculo liso causada pelo
estiramento mecânico do tecido uterino pelo feto em crescimento (Osol & Moore, 2014). Os vasos sanguíneos se
alongam, aumentam, dilatam e emitem novos ramos para apoiar e nutrir o crescimento do tecido muscular. O aumento do
peso uterino é acompanhado por aumento substancial do fluxo sanguíneo uterino, necessário para perfundir o músculo
uterino e acomodar o feto em crescimento. Conforme a gestação avança, 80 a 90% do fluxo sanguíneo uterino vão para a
placenta, sendo o restante distribuído entre o endométrio e o miométrio. Durante a gestação, o diâmetro da principal artéria
uterina aproximadamente dobra de tamanho. Esse alargamento de um vaso de pequeno calibre para grande calibre aumenta
a capacidade dos vasos uteroplacentários de acomodar o aumento do volume sanguíneo necessário para o suprimento da
placenta (Osol & Moore, 2014).
A contratilidade uterina também aumenta. Contrações espontâneas, irregulares e indolores, chamadas contrações de
Braxton Hicks, começam durante o primeiro trimestre da gestação. Essas contrações continuam durante toda a gestação,
tornandose especialmente notáveis durante o último mês, quando adelgaçam (afinam) o colo do útero antes do nascimento
(ver o Capítulo 12 para mais informações).
A parte inferior do útero (istmo) não sofre hipertrofia e tornase cada vez mais fina conforme a gestação avança,
formando assim o segmento inferior do útero. As alterações na parte inferior do útero ocorrem durante as primeiras 6 a 8
semanas de gestação, provocando alguns dos resultados típicos, incluindo um sinal de Hegar positivo. Esse
amolecimento e essa compressibilidade do segmento inferior do útero resultam em anteflexão uterina exagerada durante os
primeiros meses de gestação, o que aumenta a frequência miccional (Heffner & Schust, 2014).
O útero permanece na cavidade pélvica durante os primeiros 3 meses de gestação e depois ascende progressivamente
para o abdome (Figura 11.1). À medida que o útero cresce, pressiona a bexiga e provoca o aumento da frequência de
micção, apresentado durante o início da gestação. Além disso, no terceiro trimestre de gestação, o útero pode inclinarse
para trás, comprimindo a veia cava inferior quando a gestante está em decúbito dorsal. Isso resulta em compressão dessa
veia, o que reduz o retorno venoso e diminui o débito cardíaco e a pressão arterial, com o aumento do estresse ortostático.
Isso ocorre quando a mulher passa de uma posição reclinada para sentada ou em pé. Essa alteração hemodinâmica aguda,
chamada de síndrome de hipotensão em decúbito dorsal, faz com que a gestante apresente fraqueza, tontura, náuseas,
vertigens ou síncope (Figura 11.2). Essas alterações são revertidas quando a gestante está em decúbito lateral, porque há
deslocamento do útero para a esquerda e para longe da veia cava.
FIGURA 11.1 O útero em crescimento no abdome.
FIGURA 11.2 Síndrome de hipotensão em decúbito dorsal.
O útero, que começa a gestação como um órgão piriforme, tornase ovoide porque seu comprimento aumenta mais do
que a largura. Na 20a semana de gestação, o fundo do útero (a parte superior do útero) encontrase na altura do umbigo e
mede 20 cm. A medição mensal da altura da parte superior do útero em centímetros, que corresponde ao número de
semanas de gestação, costuma ser feita para estimar a data da gestação.
Anote!
A altura do fundo do útero geralmente pode ser correlacionada com as semanas de gestação, com maior acurácia entre a
18a e a 32a semana. Obesidade, polidrâmnio e miomas uterinos interferem na acurácia dessa correlação.
O fundo do útero alcança seu nível mais alto, no processo xifoide, por volta da 36asemana de gestação. Entre a 38a e a
40a semana, a altura do fundo do útero diminui à medida que o feto começa a descer e encaixarse na pelve. Conforme ele
empurra o diafragma, muitas mulheres experimentam falta de ar. Na 40a semana, a cabeça do feto começa a descer e
encaixarse na pelve, o que é denominado descida. Para a mulher que está grávida pela primeira vez, a descida geralmente
ocorre cerca de 2 semanas antes do início do trabalho de parto; para a mulher que está passando por sua segunda ou outra
gestação subsequente, geralmente ocorre no início do trabalho de parto. Embora a respiração tornese mais fácil por causa
dessa descida, a compressão da bexiga urinária aumenta, fazendo com que as gestantes voltem a apresentar polaciúria,
como no primeiro trimestre da gestação.
Colo do útero
Entre a 6a e a 8a semana de gestação, o colo do útero começa a amolecer (sinal de Goodell) devido à vasocongestão e à
influência do estrogênio. Com o amolecimento do colo do útero, as glândulas endocervicais aumentam em tamanho e
número e produzem mais muco cervical. Sob a influência da progesterona, formase um tampão de muco espesso, que
bloqueia o canal cervical e protege o óstio de invasão bacteriana. Mais ou menos ao mesmo tempo, o aumento da
vascularização do colo do útero provoca o aparecimento do sinal de Chadwick, cianose ou coloração azularroxeada. O
amadurecimento do colo do útero (amolecimento, apagamento e aumento da distensibilidade) começa cerca de 4 semanas
antes do parto. Os tecidos conjuntivos do colo do útero sofrem modificações bioquímicas em preparação para o trabalho
de parto, que resultam em alterações em sua elasticidade e resistência. Essas alterações são mediadas por vários fatores,
incluindo inflamação, estiramento do colo do útero, compressão pela apresentação fetal e liberação de hormônios, como
ocitocina, relaxina, óxido nítrico e prostaglandinas (Myers et al., 2015).
Vagina
Durante a gestação, a vascularidade aumenta devido à influência do estrogênio, resultando em congestão pélvica e
hipertrofia da vagina em preparação para a distensão necessária para o parto. A mucosa vaginal fica mais espessada, o
tecido conjuntivo começa a soltarse, o músculo liso começa a hipertrofiar e a cúpula vaginal começa a aumentar (Bope &
Kellerman, 2015). As secreções vaginais se tornam mais ácidas, brancas e espessas. A maioria das gestantes apresenta
aumento de uma secreção vaginal esbranquiçada, chamada leucorreia, durante a gestação. Isso é normal, exceto quando é
acompanhada por prurido e irritação, possivelmente sugerindo vaginite por Candida albicans, que é uma ocorrência muito
comum nesse ambiente rico em glicogênio (King et al., 2015). Candidíase vulvovaginal sintomática acomete 15% das
gestantes (Krapf, 2015). É uma condição fúngica benigna, embora desconfortável para a gestante, e que pode ser
transmitida para o recémnascido por ocasião do parto. Os recémnascidos desenvolvem candidíase oral (comumente
conhecida como sapinho), que se manifesta como placas brancas nas mucosas da boca. Tratase de uma condição
autolimitada e é tratada com agentes antifúngicos locais.
Ovários
O aumento da irrigação sanguínea para os ovários faz com que eles se hipertrofiem, aproximadamente, da 12a à
14a semana de gestação. Os ovários não são palpáveis após esse período porque o útero preenche a cavidade pélvica. A
ovulação cessa durante a gestação, por causa dos níveis elevados de estrogênio e progesterona, que bloqueiam a secreção
de hormônio foliculoestimulante (FSH) e de hormônio luteinizante (LH) pela adenohipófise. Os ovários estão muito
ativos na produção dos hormônios para sustentar a gestação até aproximadamente a 7a semana, quando o corpo lúteo
regride e a placenta assume o papel principal na produção de progesterona.
Mamas
As mamas aumentam de tamanho, tornamse mais sensíveis e crescem ao longo da gestação sob a influência do estrogênio
e da progesterona. As mamas se tornam muito vascularizadas e as veias tornamse visíveis sob a pele. Os mamilos ficam
maiores e mais eretos. Eles e a aréola se tornam profundamente pigmentados, e os tubérculos de Montgomery (glândulas
sebáceas areolares) tornamse proeminentes. Essas glândulas sebáceas mantêm os mamilos lubrificados para a
amamentação.
As mudanças que ocorrem no tecido conjuntivo das mamas, juntamente com o enorme crescimento, resultam em
estrias em cerca de metade de todas as gestantes (Jordan et al., 2014). Inicialmente, elas são linhas que variam do rosa ao
roxo na pele, mas que eventualmente se tornam prateadas. Embora se tornem menos visíveis com o tempo, nunca
desaparecem completamente.
Um líquido cremoso e amarelado chamado colostro pode ser liberado da mama, quando comprimida, no terceiro
trimestre. Esse líquido nutre o recémnascido durante os primeiros dias de vida (consulte os Capítulos 15 e 16 para mais
informações). A Tabela 11.2 resume as adaptações do sistema genital.
Adaptações dos sistemas corporais gerais
Além das alterações no sistema genital, a gestante apresenta também alterações em virtualmente todos os outros sistemas
do corpo, em resposta ao feto em desenvolvimento.
Sistema digestório
O sistema digestório iniciase na cavidade oral e termina no reto. Durante a gestação, as gengivas tornamse hiperemiadas,
tumefeitas e friáveis, além de tenderem a sangrar facilmente. Essa mudança é influenciada pelo estrogênio e pela
proliferação aumentada de vasos sanguíneos e circulação para a boca. Além disso, a saliva produzida na boca se torna mais
ácida. Algumas mulheres se queixam de salivação excessiva (ptialismo), que pode ser causada pela redução na deglutição
inconsciente pela mulher quando ela está com náuseas. Tipicamente o ptialismo desaparece de modo espontâneo, embora
em algumas mulheres perdure por toda a gravidez. Algumas mulheres obtêm alívio temporário quando mascam chicletes
ou chupam balas duras (King et al., 2015). A placa dental, o tártaro (cálculo dental) e os depósitos de restos celulares
aumentam durante a gestação e estão associados à gengivite. O aumento da produção de hormônios femininos durante a
gestação contribui para o desenvolvimento de gengivite e periodontite, porque a permeabilidade vascular e o edema nos
tecidos estão aumentados. Já foi descrito que até 50 a 70% das gestantes têm algum grau de gengivite durante a gestação
em decorrência de alterações hormonais que promovem a inflamação (Anil et al., 2015). Estudos mais antigos
correlacionavam a doença periodontal com o parto prétermo; a préeclâmpsia e o risco de baixo peso ao nascimento; a
natimortalidade e a sepse neonatal de início precoce, mas resultados de pesquisas mais recentes indicam que não há
redução no número de partos prétermo com o tratamento da doença periodontal durante a gestação (Trivedi, Lal, &
Singhal, 2015).
Tabela Resumo das adaptações do sistema genital.
11.2
Órgão Adaptações
genital
Útero Aumento de até 20 vezes o tamanho em não gestantes
Capacidade aumenta 2.000 vezes para acomodar o feto em
desenvolvimento
O peso aumenta de 60 g para aproximadamente 900 g a termo
O crescimento uterino ocorre em virtude tanto da hiperplasia
quanto da hipertrofia das células do miométrio
O aumento da força e da elasticidade possibilita que o útero se
contraia e expulse o feto durante o parto
Colo do Aumento de massa, teor de água e vascularização
útero
Passa de uma estrutura relativamente rígida a uma estrutura
macia e elástica que possibilita que o feto seja expelido
Sob a influência da progesterona, é formado um tampão de
muco espesso, que bloqueia a abertura cervical e protege o
feto em desenvolvimento de invasão bacteriana
Vagina Aumento da vascularidade em decorrência da influência do
estrogênio, resultando em congestão e hipertrofia pélvicas
Aumento da espessura da mucosa, em conjunto com aumento
da secreção vaginal para evitar infecções bacterianas
Ovários O aumento da irrigação sanguínea para os ovários faz com que
eles se hipertrofiem, aproximadamente, da 12a à 14a semana
de gestação. Eles produzem hormônios ativamente para
suportar a gestação até a 7a semana, quando a placenta
assume a produção de progesterona
Mamas As alterações da mama começam logo após a concepção; elas
aumentam de tamanho e pigmentação areolar
Os tubérculos areolares ampliamse e tornamse mais
proeminentes, e os mamilos ficam mais eretos
Os vasos sanguíneos tornamse mais proeminentes e o fluxo
sanguíneo para as mamas dobra
Domínio de conceito
Friabilidade gengival na gravidez
O sangramento gengival durante a gravidez resulta dos níveis elevados de estrogênio que
provocam proliferação dos vasos sanguíneos. Isso levaria a aumento dos vasos sanguíneos nas
gengivas e aumento da chance de sangramento.
O relaxamento da musculatura lisa e a diminuição do peristaltismo estão relacionados com a influência da
progesterona. Níveis elevados de progesterona causam relaxamento da musculatura lisa, o que resulta em retardo do
esvaziamento gástrico e diminuição do peristaltismo. O tempo de trânsito do alimento pelo sistema digestório pode ser
muito maior, de modo que mais água do que o normal é reabsorvida, levando a distensão abdominal e constipação
intestinal. A constipação intestinal também pode ser decorrente do consumo de alimentos com baixo teor de fibras,
redução da ingestão de líquido, uso de suplementos de ferro, diminuição do nível de atividade física e deslocamento
intestinal secundário ao útero em crescimento. A constipação intestinal, o aumento da pressão venosa e a pressão do útero
grávido contribuem para a formação de hemorroidas.
O esvaziamento gástrico mais lento, combinado ao relaxamento da cárdia, possibilita o refluxo, que provoca pirose. A
pirose parece ser um problema universal das gestantes. É causada pela regurgitação do conteúdo do estômago para a parte
superior do esôfago e pode estar associada ao relaxamento generalizado de todo o sistema digestório. De modo geral, os
antiácidos de venda livre aliviam os sintomas, mas devem ser tomados com o conhecimento do médico e somente
conforme orientado.
O tempo de esvaziamento da vesícula biliar é prolongado em decorrência do relaxamento da musculatura lisa induzido
pela progesterona. Pode ocorrer hipercolesterolemia, aumentando o risco de formação de cálculos biliares. Outros fatores
de risco para doença da vesícula biliar incluem obesidade, etnia hispânica e maior idade materna (Heuman, Mihas, &
Allen, 2015).
Aproximadamente 80% das gestantes apresentam náuseas e vômitos, mais conhecidos como enjoos matinais. De modo
geral, essa condição é autolimitada, contudo, pode provocar muita angústia na gestante e interferir nas atividades laborais e
nas atividades sociais, bem como interromper o sono. Recentemente, a FDA aprovou a associação de succinato de
doxilamina (10 mg) e cloridrato de piridoxina (10 mg) como primeiro medicamento para tratar especificamente o enjoo
matinal da gravidez (Pope, Maltepe, & Koren, 2015). Embora ocorra com mais frequência na parte da manhã, o enjoo
persiste o dia todo em algumas mulheres. A incidência mais elevada dos enjoos matinais ocorre entre a 6a e a 12a semana
de gestação. A base fisiológica dos enjoos matinais ainda é motivo de debate. Têm sido associados aos altos níveis de
hCG, altos níveis de estrogênios circulantes, prostaglandinas, redução da acidez gástrica, avanço da idade materna,
desaceleração do peristaltismo, fatores genéticos e redução do tônus e da motilidade do sistema digestório (King et al.,
2015).
Sistema cardiovascular
As alterações cardiovasculares ocorrem logo no início da gestação para atender à demanda por mais sangue e mais
oxigênio do útero e da placenta em crescimento. As alterações incluem aumento da frequência cardíaca (25%); aumento do
débito cardíaco em 30% a 50% que atinge seu máximo na 25a à 30a semana de gravidez; redução da resistência periférica
total; aumento do volume sanguíneo; aumento do volume plasmático que resulta em anemia fisiológica. Talvez a alteração
cardíaca mais impressionante que ocorra durante a gestação seja o aumento do volume sanguíneo.
VOLUME DE SANGUE
O volume sanguíneo aumenta em cerca de 1.500 mℓ, ou até 50% acima dos níveis em não gestantes, até a 32a semana de
gestação, e posteriormente permanece mais ou menos constante (Foo et al., 2015). O aumento é constituído por 1.000
mℓ de plasma mais 450 mℓ de hemácias. Começa na 10a à 12a semana, com picos da 32a à 34asemana, e diminui um pouco
na 40a semana.
Anote!
O aumento do volume sanguíneo correlacionase diretamente com o peso fetal, apoiando o conceito da placenta
como shunt arteriovenoso no compartimento vascular materno.
Esse aumento do volume sanguíneo é necessário para fornecer a hidratação adequada aos tecidos fetais e maternos,
suprir o fluxo sanguíneo para perfundir o útero hipertrofiado e obter uma reserva para compensar a perda de sangue
durante o parto e o pósparto. A expansão do volume sanguíneo materno ocorre em maior proporção do que o aumento da
massa eritrocitária, resultando em anemia fisiológica e hemodiluição. Os critérios de anemia fisiológica incluem
hemoglobina igual ou inferior a 10 g, contagem de eritrócitos de 3,5 milhões/mm3 e morfologia eritrocitária normal com
palidez central (Sabina et al., 2015). Esse aumento também é necessário para atender às demandas metabólicas
automáticas da mãe e à necessidade de aumentar a perfusão de outros órgãos, especialmente os rins da gestante, já que ela
está excretando suas escórias metabólicas e as do feto.
DÉBITO CARDÍACO E FREQUÊNCIA CARDÍACA
O débito cardíaco, o produto do volume sistólico pela frequência cardíaca, é uma medida da capacidade funcional do
coração. Aumenta de 30 a 50% em relação à frequência em não gestantes por volta da 32a semana de gestação e cai para
um aumento de cerca de 20% na 40a semana de gestação. O aumento do débito cardíaco está associado a aumento do
retorno venoso e a maior débito do ventrículo direito, em especial na posição de decúbito lateral esquerdo (Bope &
Kellerman, 2015). A frequência cardíaca aumenta em 10 a 15 bpm entre a 14a e a 20a semana de gestação, o que persiste
até o termo. Há discreta hipertrofia ou dilatação do coração durante a gestação. Isso provavelmente ocorre para acomodar o
aumento do volume sanguíneo e do débito cardíaco. O coração trabalha mais e bombeia mais sangue para suprir as
necessidades de oxigênio do feto, bem como as da mãe. Tanto a frequência cardíaca quanto o retorno venoso são
aumentados durante a gestação, contribuindo para o aumento do débito cardíaco encontrado ao longo da gestação. Uma
gestante com cardiopatia preexistente pode tornarse sintomática e começar a descompensar quando o volume sanguíneo
alcançar seu máximo. É necessário monitoramento atento da 28a à 35a semana de gestação.
PRESSÃO ARTERIAL
A pressão arterial, especialmente a pressão diastólica, diminui discretamente durante a gestação, em decorrência da
vasodilatação periférica provocada pela progesterona. Geralmente alcança seu nível mais baixo no meio da gestação e,
posteriormente, elevase até os níveis prégestacionais por ocasião do termo. Durante o primeiro trimestre, a pressão
arterial geralmente permanece ao nível prégestacional. Durante o segundo trimestre, a pressão arterial cai para 5 a 10
mmHg e depois retorna aos níveis do primeiro trimestre (Gaillard & Jaddoe, 2015). Qualquer aumento significativo da
pressão arterial durante a gestação deve ser investigado, para descartar a possibilidade de hipertensão arterial gestacional.
Hipertensão gestacional é um diagnóstico clínico definido pelo aparecimento recente de hipertensão arterial (PA sistólica
igual ou superior a 140 mmHg e/ou PA diastólica igual ou superior a 90 mmHg) após a 20asemana de gestação.
COMPONENTES DO SANGUE
O número de hemácias também aumenta durante a gestação até um nível de 25 a 33% maior do que os valores em não
gestantes, dependendo do ferro disponível. Esse aumento é fundamental para transportar o oxigênio adicional necessário
durante a gestação. Embora exista aumento do número de hemácias, há maior aumento no volume plasmático em
decorrência de fatores hormonais e da retenção de sódio e água. Como o aumento de plasma é superior ao aumento da
produção de hemácias, os valores normais de hemoglobina e de hematócrito diminuem. Esse estado de hemodiluição é
chamado de anemia fisiológica da gravidez. As variações no volume eritrocitário são decorrentes do aumento da
eritropoetina circulante e da produção acelerada de hemácias. O aumento da eritropoetina nos dois últimos trimestres é
estimulado pela progesterona, pela prolactina e pelo lactogênio placentário (Jones & Lopez, 2014).
Por causa das exigências do feto em crescimento e do aumento do volume sanguíneo materno, as necessidades de ferro
aumentam durante a gestação. Os tecidos fetais prevalecem sobre os tecidos da mãe em relação ao uso das reservas de
ferro. Com a produção acelerada de hemácias, é necessário ferro para a formação da hemoglobina, o componente das
hemácias que transporta o oxigênio.
Anote!
Muitas mulheres engravidam com reservas de ferro insuficientes, portanto necessitam de suplementação para atender às
demandas extras da gestação.
Tanto os níveis de fibrina quanto de fibrinogênio plasmático aumentam, juntamente com vários fatores de coagulação
do sangue. Esses fatores tornam a gestação um estado de hipercoagulabilidade. Essas alterações, juntamente com a estase
venosa secundária ao acúmulo venoso que ocorre no final da gestação após longos períodos na posição ortostática com a
pressão exercida pelo útero sobre as grandes veias pélvicas, contribuem para retorno venoso diminuído, acúmulo venoso e
edema postural. Esses fatores também aumentam o risco de trombose venosa da gestante (DeLoughery, 2015).
Sistema respiratório
O útero em crescimento e o aumento da produção do hormônio progesterona fazem com que os pulmões funcionem de
modo diferente durante a gestação. O consumo de oxigênio reflete o aumento do metabolismo materno, aumentando entre
20 e 30% por ocasião do termo da gravidez. Nesse período, o espaço disponível para alojar os pulmões diminui à medida
que o útero exerce pressão sobre o diafragma e faz com que ele se mova 4 cm acima de sua posição normal. O útero
crescente muda o tamanho e o formato da cavidade torácica, mas o movimento diafragmático aumenta, a circunferência do
tórax aumenta em 5 a 7,5 cm, e o diâmetro transverso aumenta em 2,5 cm, o que possibilita um maior volume corrente,
como evidenciado pela respiração mais profunda (o volume corrente ou o volume de ar inalado aumenta em 30 a 40% (de
500 a 700 mℓ ) à medida que a gravidez progride). Esse aumento resulta em hiperventilação materna e hipocapnia. Em
decorrência dessas alterações, a respiração da gestante se torna mais diafragmática do que abdominal. Concomitantemente
ao aumento do volume corrente, há um aumento de 30 a 40% no consumo de oxigênio materno devido às crescentes
exigências de oxigênio do feto, da placenta e dos órgãos maternos.
Alterações anatômicas e fisiológicas da gravidez predispõem ao aumento das taxas de morbidade e mortalidade
maternas e aumentam os riscos de um desfecho abaixo do ideal para o feto. A frequência e a importância das condições
respiratórias agudas e crônicas em gestantes têm aumentado nos últimos anos. Por causa dessas alterações, as gestantes
com asma, pneumonia ou outras doenças respiratórias são mais suscetíveis à descompensação precoce (Mehta et al.,
2015).
A gestante respira mais rápida e profundamente porque ela e o feto precisam de mais oxigênio. O consumo de
oxigênio aumenta durante a gestação, mesmo quando a resistência das vias respiratórias e a complacência pulmonar
permanecem inalteradas. As alterações nas estruturas do sistema respiratório ocorrem para preparar o corpo para o útero
hipertrofiado e para o volume pulmonar aumentado (Alexander et al., 2014). Conforme os músculos e as cartilagens da
região torácica relaxam, o tórax se alarga, com a conversão da respiração de abdominal para torácica. Isso resulta em
aumento de 50% no volume de ar por minuto. Todas essas alterações estruturais são temporárias e retornam ao seu estado
prégestacional no final da gestação.
O aumento da vascularidade do sistema respiratório é influenciado pelo aumento dos níveis de estrogênio, levando à
congestão. Os crescentes níveis de hormônios sexuais e a sensibilidade aumentada aos alergênios influenciam a mucosa
nasal, precipitando epistaxe (sangramento nasal) e rinite. Esse acúmulo de sangue resulta em congestão nasal e nos seios
paranasais e muda o tom e as características da voz da mulher (Jordan et al., 2014).
Sistema urinário
As alterações hormonais durante a gravidez possibilitam o aumento do fluxo sanguíneo para os rins. O sistema urinário
precisa lidar com os efeitos do volume intravascular e extracelular materno aumentado e com as escórias metabólicas, bem
como com a excreção das escórias fetais. A mudança estrutural predominante no sistema urinário durante a gestação é a
dilatação da pelve renal e do útero. Alterações da estrutura renal ocorrem em decorrência das influências hormonais do
estrogênio e da progesterona, da compressão pelo útero hipertrofiado e do aumento no volume sanguíneo materno. Como
o coração, os rins trabalham mais durante a gestação. As alterações na função renal ocorrem para acomodar a sobrecarga
de trabalho, enquanto mantêm estáveis o equilíbrio eletrolítico e a pressão arterial. À medida que mais sangue flui para os
rins, a taxa de filtração glomerular (TFG) aumenta, resultando em aumento do fluxo e do volume de urina, em aumento do
aporte de substâncias aos rins e na filtração e na excreção de ureia, ácido úrico, creatinina, água e solutos (Cox & Reid,
2015).
Anatomicamente, os rins se hipertrofiam durante a gestação. Cada rim aumenta de tamanho (aproximadamente de 1 a
1,5 cm) e de peso em decorrência dos efeitos hormonais que provocam aumento da tonicidade e diminuição da motilidade
da musculatura lisa. A pelve renal tornase dilatada. Os ureteres (especialmente o ureter direito) se alongam, se alargam e
se tornam mais curvos acima da borda pélvica já na 10a semana de gestação (Thadhani & Maynard, 2015). Acreditase que
a progesterona seja responsável por causar essas duas alterações por causa de sua influência relaxante na musculatura lisa.
Em decorrência da elevação do débito cardíaco e dos níveis de relaxina, o fluxo sanguíneo para os rins aumenta em 50
a 80%, o que provoca diminuição da resistência eferente e aferente. Isso, por sua vez, resulta em aumento da taxa de
filtração glomerular em até 40 a 60% a partir do segundo trimestre, resultando em hiperfiltração. Essa elevação continua
até o parto. Essa alteração tem implicações clínicas importantes para o uso de medicação porque fármacos excretados por
via renal podem precisar de doses mais altas e administração mais frequente para que sejam alcançados níveis sanguíneos
terapêuticos durante a gravidez (Larson, 2015).
A atividade dos rins normalmente aumenta quando a pessoa se deita, e diminui quando em repouso. Essa diferença é
amplificada durante a gestação, que é um dos motivos de a gestante sentir a necessidade de urinar com frequência
enquanto tenta dormir. Na fase mais avançada da gestação, o aumento da atividade renal é ainda maior no decúbito lateral
do que no decúbito dorsal. O decúbito lateral alivia a compressão da veia cava que transporta o sangue proveniente das
pernas pelo útero aumentado de tamanho. Subsequentemente, o retorno venoso para o coração aumenta, provocando
aumento do débito cardíaco. O aumento do débito cardíaco resulta em elevação da perfusão renal e da filtração glomerular.
Como regra geral, as alterações fisiológicas se maximizam até o final do segundo trimestre e depois começam a retornar
ao nível prégestacional. No entanto, as alterações anatômicas demoram até 3 meses após o parto para desaparecer (King et
al., 2015).
Sistema musculoesquelético
As mudanças no sistema musculoesquelético são progressivas, resultantes da influência dos hormônios, do crescimento
fetal e do ganho ponderal materno. A gestação é caracterizada por alterações na postura e na marcha. Até a 10a à
12a semana de gestação, os ligamentos que estabilizam as articulações sacroilíacas e a sínfise púbica começam a amolecer
se e distender. As junções entre as articulações ampliamse e tornamse mais móveis (Bope & Kellerman, 2015). O
relaxamento das articulações alcança seu máximo até o início do terceiro trimestre. O objetivo dessas alterações é
aumentar o tamanho da cavidade pélvica e facilitar o parto.
As alterações posturais da gravidez – hiperlordose lombar e extensão da parte superior da coluna vertebral para
compensar o abdome em expansão – associadas ao afrouxamento das articulações sacroilíacas podem resultar em
lombalgia. O centro de gravidade da gestante se desloca para frente, exigindo realinhamento das curvaturas da coluna
vertebral. Acreditase que os fatores que contribuem para essas mudanças posturais incluam a alteração do centro de
gravidade associada à gravidez, a influência do hormônio gestacional relaxina nas articulações pélvicas e o aumento
progressivo do peso corporal e a posição do feto em crescimento.
Ocorre acentuação da curva lombossacral normal (hiperlordose) e o desenvolvimento de uma curvatura compensatória
na área cervicotorácica para ajudar a gestante a manter o equilíbrio (Figura 11.3). Além disso, o relaxamento e o aumento
da mobilidade das articulações ocorrem por causa dos hormônios progesterona e relaxina, que levam à característica
“marcha anserina” que as gestantes apresentam a termo. O ganho ponderal pode agravar esse desconforto, acentuando as
curvaturas lombar e torácica (Kouhkan et al., 2015).
Tegumento
Existem várias alterações cutâneas associadas a gravidez. O aumento da atividade das glândulas hipófise e suprarrenais
maternas, juntamente com a contribuição das glândulas endócrinas fetais em desenvolvimento, o aumento crescente dos
níveis de cortisona, o metabolismo acelerado e a produção aumentada de progesterona e estrógenos são responsáveis pela
maioria das alterações cutâneas na gravidez (Tyler, 2015). Até 90% das mulheres apresentarão sinais de hiperpigmentação
durante a gravidez e, tipicamente, são generalizados e leves. A pele das gestantes sofre hiperpigmentação, principalmente
em decorrência dos níveis aumentados dos hormônios estrogênio, progesterona e estimulador de melanócitos. Essas
alterações ocorrem principalmente nos mamilos, nas aréolas, no umbigo, no períneo e nas axilas. Embora muitas
alterações tegumentares desapareçam após o parto, algumas apenas se tornam menos acentuadas. Muitas gestantes
expressam preocupação com estrias, alterações na coloração da pele e queda de cabelo. Infelizmente, pouco se sabe sobre
como evitar essas mudanças.
FIGURA 11.3 Alterações posturais. A. Durante o primeiro trimestre. B. Durante o terceiro trimestre.
As alterações na coloração da pele não são incomuns. O aumento da pigmentação, que ocorre nas mamas e nos órgãos
genitais, também é observado na face, formando a “máscara gravídica”, também chamada de melasma facial. Ocorre em
até 70% das gestantes. Existe uma predisposição genética para o melasma, que é agravado pelo sol e tende a repetirse em
gestações subsequentes. Essa pigmentação marrom e irregular é observada na testa e nas regiões malares das gestantes de
cabelos escuros. A maior parte da pigmentação facial esmaece conforme os hormônios diminuem no final da gestação,
mas parte pode permanecer. A pele no meio do abdome pode apresentar uma linha pigmentada chamada linha nigra, que
se estende do umbigo à região púbica (Figura 11.4).
As estrias gravídicas são faixas avermelhadas irregulares que aparecem no abdome, nas mamas e nas nádegas em até
90% das gestantes. As estrias são mais proeminentes no 6o ao 7o mês de gestação. São decorrentes da genética e da
redução da resistência do tecido conjuntivo, que ocorre por causa dos níveis elevados de esteroides suprarrenais e do
estiramento das estruturas ocasionado pelo crescimento (Tyler, 2015). São mais comuns em mulheres jovens, gestantes
com fetos macrossômicos e naquelas com índice de massa corporal mais elevado. As mulheres não brancas e aquelas com
história pregressa de estrias nas mamas ou nas coxas ou com história familiar de estrias gravídicas também correm maior
risco. Alguns cremes e loções, como manteiga de cacau e azeite de oliva, são apregoados como sendo capazes de evitar as
estrias na gravidez, contudo, a pesquisa atualmente não valida essas afirmações. Um estudo realizado por Trenti
Clementoni e Lavagno (2015) constatou que os tratamentos com laser realmente melhoraram a pigmentação, o volume e o
aspecto (textura) das estrias gravídicas em mais de 50% das mulheres que participaram do estudo.
FIGURA 11.4 Linha nigra.
ALTERAÇÕES CUTÂNEAS DE ORIGEM VASCULAR
As alterações vasculares durante a gravidez que se manifestam no tegumento incluem varicosidades nos membros
inferiores, na vulva e no períneo. As veias varicosas são, com frequência, decorrentes de distensão, instabilidade e má
circulação secundárias a permanecer em pé ou sentada por tempo prolongado e da compressão das veias pélvicas pelo
útero gravídico, impedindo o retorno venoso completo. As intervenções para reduzir o risco de desenvolver varicosidades
incluem:
• Elevar as pernas quando sentar ou deitar
• Não ficar em pé ou sentada por tempo prolongado, mudando de posição com frequência
• Deitar em decúbito lateral esquerdo
• Deambular diariamente para exercitarse
• Não usar roupas apertadas ou meias na altura do joelho
• Usar meias elásticas se as varicosidades forem uma condição preexistente à gravidez.
Outra manifestação cutânea que se acredita ser secundária às alterações vasculares e aos altos níveis de estrogênio é o
aparecimento de pequenos vasos sanguíneos chamados de aranhas vasculares. As aranhas vasculares podem aparecer no
pescoço, no tórax, no rosto e nos braços. São especialmente evidentes em mulheres brancas e tipicamente desaparecem
após o parto. O eritema palmar consiste em uma área rosada bem delineada na superfície palmar das mãos. Essa alteração
tegumentar também está relacionada com os níveis de estrogênio elevados (Trupin, 2015).
CABELO E UNHAS
Algumas mulheres também percebem diminuição do crescimento do cabelo durante a gestação. Os folículos pilosos
normalmente passam por uma fase de crescimento e por uma fase de repouso. A fase de repouso é seguida por queda de
cabelo; os fios de cabelo são posteriormente substituídos por fios novos. Durante a gestação, menos folículos pilosos
entram na fase de repouso. Após o parto, o corpo compensa com uma subsequente queda de cabelo por vários meses. As
unhas tipicamente crescem mais rápido durante a gestação. As gestantes apresentam aumento da fragilidade, separação
distal do leito ungueal, coloração esbranquiçada e sulcos transversais nas unhas, mas a maioria dessas condições
desaparece no período pósparto (King et al., 2015).
Sistema endócrino
O sistema endócrino sofre muitas mudanças durante a gestação porque as alterações hormonais são essenciais para atender
às necessidades do feto em crescimento. As alterações hormonais são importantes no controle da transferência de glicose,
aminoácidos e lipídios maternos para o feto. Embora o estrogênio e a progesterona sejam os principais hormônios
envolvidos nas alterações da gestação, outras glândulas endócrinas e hormônios também são alterados durante a gestação.
TIREOIDE
A glândula tireoide aumenta discretamente e tornase mais ativa durante a gestação, em decorrência de aumento da
vascularidade e de hiperplasia. Esse incremento da atividade resulta em elevação na secreção de hormônios pela tireoide,
começando durante o primeiro trimestre da gestação; os níveis reduzem gradualmente algumas semanas após o parto e
retornam aos limites normais. O hormônio tireóideo materno é transferido para o feto logo após a concepção e é essencial
para o desenvolvimento do encéfalo, para a neurogênese e para os processos organizacionais do feto antes da 20a semana,
quando a produção da tireoide fetal é baixa. No entanto, mesmo depois que a tireoide fetal está produzindo mais hormônio,
grande parte da tiroxina (T4) necessária para o desenvolvimento continua sendo fornecida pela mãe. Níveis baixos de
hormônios tireóideos maternos, como no caso de insuficiência da tireoide, hipotireoidismo ou ingestão baixa ou
inadequada de iodo, podem comprometer o desenvolvimento neurológico fetal (Pearce, 2015). À medida que aumenta a
secreção de hormônios tireóideos, a taxa metabólica basal (o oxigênio consumido pelo corpo durante uma unidade de
tempo, em mililitros por minuto) aumenta progressivamente até 25%, juntamente com a frequência cardíaca e o débito
cardíaco (Medici et al., 2015).
HIPÓFISE
Durante a gravidez ocorrem importantes alterações endócrinas e metabólicas por causa da secreção hormonal fisiológica
pela placenta. A glândula hipófise se adapta a essas alterações e todos os eixos secretórios são influenciados. Durante a
gestação, a hipófise aumenta de tamanho; há retorno ao tamanho normal após o parto.
O lobo anterior da hipófise (adenohipófise) é constituído por tecido glandular e produz vários hormônios. A liberação
desses hormônios é regulada pela liberação e pela inibição dos hormônios produzidos pelo hipotálamo. Alguns desses
hormônios da adenohipófise induzem outras glândulas a secretar seus hormônios. O aumento dos níveis sanguíneos de
hormônios produzidos pelas glândulasalvo finais (p. ex., o ovário ou a tireoide) inibe a liberação de hormônios da adeno
hipófise. As alterações nos níveis dos hormônios hipofisários são discutidas nos parágrafos seguintes.
A secreção de LH e a de FSH são inibidas durante a gestação, provavelmente em decorrência da hCG produzida pelo
corpo lúteo e pela placenta e do aumento da secreção de prolactina pela adenohipófise. Os níveis permanecem diminuídos
até depois do parto.
Os níveis de hormônio tireoestimulante (TSH) caem durante o primeiro trimestre da gestação, mas habitualmente se
normalizam durante o restante da gravidez. Acreditase que o TSH diminuído seja um dos fatores, em conjunto com os
níveis elevados de hCG, associados aos enjoos matinais, náuseas e vômitos do primeiro trimestre de gestação.
O hormônio do crescimento (GH) é anabólico e promove a síntese de proteína. Estimula a maioria das células do
corpo a crescer em tamanho e dividirse, facilitando o uso de gorduras como fonte de energia e a conservação da glicose.
Durante a gestação, há diminuição no número de células produtoras de GH e uma redução correspondente dos níveis
sanguíneos de GH. Acreditase que a ação do lactogênio placentário humano (HPL) diminua a necessidade e o uso do GH.
Durante a gestação, a prolactina é secretada em pulsos e aumenta em 10 vezes para promover o desenvolvimento das
mamas e o processo de lactação. Os altos níveis de progesterona secretados pela placenta inibem a influência direta da
prolactina nas mamas durante a gestação, suprimindo assim a lactação. No parto, logo que a placenta é expelida e há queda
dos níveis de progesterona, a lactogênese pode começar. A prolactina, liberada pela adenohipófise em resposta a sucção
do recémnascido, é o principal sinal hormonal responsável pela estimulação das mamas (Crowley, 2015).
Os níveis de hormônio estimulador de melanócitos (MSH), que também é produzido pela adenohipófise, aumentam
durante a gestação. Durante muitos anos, acreditouse que esse aumento era responsável por muitas alterações cutâneas da
gestação, sobretudo as da pigmentação da pele (p. ex., escurecimento das aréolas, melasma e linha nigra). No entanto,
atualmente acreditase que as alterações na pele são decorrentes do estrogênio (e, possivelmente, da progesterona), assim
como da elevação dos níveis de MSH.
Os hormônios ocitocina e antidiurético (HAD), secretados pela neurohipófise, são, na verdade, sintetizados no
hipotálamo. Eles migram ao longo das fibras nervosas para a neurohipófise e são armazenados até que sejam estimulados
a serem liberados para a circulação geral. A ocitocina é liberada pela neurohipófise e sua produção aumenta gradualmente
à medida que o feto amadurece (Kim, Bennett, & Terzidou, 2015). A ocitocina é responsável pelas contrações uterinas,
antes e após o parto. As camadas musculares do útero (miométrio) tornamse mais sensíveis à ocitocina próximo do
termo. Próximo do fim de uma gestação a termo, os níveis de progesterona declinam e as contrações que antes eram
reprimidas pela progesterona começam a ocorrer com mais frequência e com maior intensidade. Acreditase que essa
alteração dos níveis hormonais seja um dos desencadeadores do trabalho de parto.
A ocitocina é responsável pelo estímulo das contrações uterinas que desencadeiam o trabalho de parto. As contrações
resultam em adelgaçamento e dilatação do colo do útero. Também exercem pressão, ajudando o feto a descer para a pelve
para o parto. Após o parto, a secreção de ocitocina persiste, promovendo a contração do miométrio e ajudando os vasos
sanguíneos uterinos a se contraírem, diminuindo o sangramento vaginal após o parto. A ocitocina também é responsável
pela ejeção do leite durante a amamentação. A estimulação das mamas pela sucção ou pelo contato físico induz a secreção
de ocitocina pela neurohipófise. A ocitocina provoca a contração das células mioepiteliais da glândula mamária da
lactante.
As mulheres sentem dor em caráter de cólica e desconforto abdominal após o parto porque o útero contrai e retorna às
suas dimensões prégestacionais. Essa dor é causada por contrações involuntárias e, em geral, durante alguns dias após o
parto. A cólica e o desconforto são mais notáveis em mulheres que já tiveram outros filhos. O aleitamento materno
sinaliza a liberação de ocitocina, que estimula o útero a se contrair e exacerba a intensidade da cólica e do desconforto pós
parto.
A vasopressina, também conhecida como HAD, inibe ou impede a formação de urina por meio de vasoconstrição, que
resulta em aumento da pressão arterial. A vasopressina também apresenta efeito antidiurético e tem participação
importante na regulação do equilíbrio hídrico (Cheng, 2015).
PÂNCREAS
O pâncreas é um órgão exócrino, que fornece enzimas digestivas e tampões, e um órgão endócrino. O pâncreas endócrino
é composto pelas ilhotas de Langerhans, grupos de células espalhados pelo órgão, cada um contendo quatro tipos de
células. Um dos tipos de células é a beta, que produz insulina. A insulina diminui os níveis sanguíneos de glicose,
aumentando a taxa de captação e a utilização de glicose pela maioria das células do corpo. O feto em crescimento precisa
de quantidades significativas de glicose, aminoácidos e lipídios. Mesmo durante o início da gestação o feto precisa das
reservas de glicose materna. Idealmente, as alterações hormonais da gestação ajudam a atender as necessidades do feto
sem desequilibrar o metabolismo da mãe.
A secreção de insulina da gestante atua de modo “oferta versus demanda”. Conforme aumenta a demanda para
satisfazer as necessidades da gestação, mais insulina é secretada. A insulina materna não atravessa a placenta, de modo
que o feto precisa produzir insulina para manter o controle da glicose. (O Boxe 11.2 fornece informações sobre gravidez,
glicose e insulina.)
BOXE 11.2
GRAVIDEZ, INSULINA E GLICOSE
• Durante o início da gestação, os níveis sanguíneos de glicose materna diminuem por causa da intensa
demanda fetal por glicose. O feto também está captando aminoácidos e lipídios da mãe, diminuindo a
capacidade dela de sintetizar glicose. A glicose materna é desviada através da placenta para ajudar no
crescimento do embrião/feto no início da gestação, portanto, os níveis maternos declinam.
Consequentemente, as concentrações de glicose materna diminuem para um nível que poderia ser
considerado “hipoglicêmico” em uma mulher que não estivesse grávida
• Durante o início da gestação, há também decréscimo da produção de insulina e dos níveis de insulina da
mãe. O pâncreas é responsável pela produção de insulina, que facilita a entrada de glicose nas células.
Embora a glicose e outros nutrientes atravessem facilmente a placenta, a insulina não o faz. Por
conseguinte, o feto precisa produzir insulina para facilitar a entrada de glicose nas suas células
• Após o primeiro trimestre, o hPL oriundo da placenta e os esteroides (cortisol) oriundos do córtex
suprarrenal antagonizam a insulina. O hPL atua como antagonista da insulina materna, portanto mais
insulina tem de ser secretada para neutralizar os níveis crescentes de hPL e cortisol durante a última
metade da gravidez
• Acreditase também que a prolactina, o estrogênio e a progesterona se oponham à insulina. Como
resultado, é menos provável que a glicose penetre nas células maternas e é mais provável que
atravesse a placenta chegando até o feto
Adaptado de Cunningham, F. G., Leveno, K. J., Bloom, S. L., Spong, C. Y., Dashe, J. S., Hoffman, B. L., et
al. (2014). William’s Obstetrics (24th ed.). New York, NY: McGraw Hill Education.
O metabolismo materno da glicose durante a gravidez é diferente do metabolismo prégestacional para possibilitar o
atendimento das demandas energéticas da gestante e do feto em crescimento. Durante a primeira metade da gravidez, um
percentual significativo da glicose materna é desviado para o feto em crescimento e, consequentemente, os níveis
sanguíneos de glicose maternos são baixos. Os níveis de hPL e de outros antagonistas hormonais se elevam durante a
segunda metade da gravidez. Portanto, a gestante precisa produzir mais insulina para superar a resistência conferida por
esses hormônios. A resistência à insulina (a incapacidade da insulina de aumentar a captação e utilização de glicose)
durante a gestação é consequente à adaptação fisiológica necessária para fornecer glicose ao feto em desenvolvimento. O
transtorno do metabolismo materno pode induzir adaptações estruturais e funcionais durante o desenvolvimento fetal (Nas,
Breyer, & Tuu, 2015).
Se a mãe tiver células beta normais nas ilhotas pancreáticas, habitualmente ela conseguirá atender às demandas extras
de insulina. No entanto, se a gestante não tiver um número suficiente de células beta, não conseguirá produzir insulina
suficiente e desenvolverá intolerância à glicose. Se a mulher apresentar intolerância à glicose, não será capaz de atender às
crescentes demandas, e seu nível sanguíneo de glicose aumentará.
GLÂNDULAS SUPRARRENAIS
A gestação não provoca grandes alterações no tamanho das glândulas suprarrenais propriamente ditas, mas existem
algumas mudanças em sua secreção e atividade. Uma das principais alterações é o aumento significativo na secreção de
cortisol, que regula o metabolismo de carboidratos e proteínas e é útil em momentos de estresse. Embora a gravidez seja
considerada uma condição normal, é um período de estresse para o corpo feminino. A taxa de secreção de cortisol pelas
glândulas suprarrenais da gestante não aumenta, mas a taxa de depuração diminui. Os níveis de cortisol se elevam em
resposta à elevação dos níveis de estrogênio durante a gestação, e retornam aos níveis normais nas 6 semanas seguintes ao
parto (Banerjee & Williamson, 2015). Durante o estresse da gestação, o cortisol:
• Ajuda a manter o nível plasmático de glicose por meio de clivagem de outras fontes de energia que não carboidratos,
como aminoácidos e ácidos graxos, para produzir glicogênio. O glicogênio, armazenado no fígado, é facilmente
clivado em glicose quando necessário, para que esta esteja disponível em épocas de estresse
• Degrada proteínas para reparar tecidos e produzir enzimas
• Tem ações antiinsulina, antiinflamatória e antialérgica
• É necessário para produzir os precursores da epinefrina, que a medula suprarrenal produz e secreta (Jones & Lopez,
2014).
Os níveis de aldosterona, também secretada pelas glândulas suprarrenais, aumentam durante a gestação. Normalmente
a aldosterona regula a absorção de sódio pelos túbulos renais distais. Durante a gestação, a progesterona possibilita que o
sal seja “eliminado” pela urina. A aldosterona é um regulador essencial da homeostase hidreletrolítica e desempenha um
papel central na regulação da pressão arterial. As alterações hormonais durante a gestação, entre elas o aumento da
produção de progesterona e aldosterona, promovem a necessária expansão do volume plasmático da gestante como um
mecanismo de acomodação para o crescimento do feto. A produção de aldosterona pelas glândulas suprarrenais já se
mostra aumentada na 15a semana de gestação (Rossier, Baker, & Studer, 2015).
SECREÇÃO DE PROSTAGLANDINAS DURANTE A GESTAÇÃO
As prostaglandinas não são proteínas nem hormônios esteroides; são mediadores químicos, ou hormônios “locais”.
Embora os hormônios circulem no sangue e influenciem tecidos distantes, as prostaglandinas atuam localmente nas células
adjacentes. Acreditase que as membranas fetais do saco amniótico – âmnio e cório – participem na produção de
prostaglandinas. Vários tecidos maternos e fetais, bem como o próprio líquido amniótico, são considerados fontes de
prostaglandinas, mas os detalhes sobre sua composição e suas fontes são limitados. Existe a crença geral de que as
prostaglandinas atuem no amolecimento do colo do útero e na iniciação e/ou manutenção do trabalho de parto, mas o
mecanismo exato ainda não foi definido. Existe a teoria que quando os níveis de progesterona caem no termo da gravidez
ocorre aumento da produção de prostaglandinas, propiciando as contrações uterinas e aumentando a sensibilidade
miometrial à ocitocina que é necessária para o processo de trabalho de parto (King et al., 2015). A influência das
prostaglandinas, juntamente com a ocitocina, no miométrio uterino predomina para promover a atividade contrátil do
útero.
SECREÇÃO PLACENTÁRIA
A placenta é um órgão que evita a troca direta entre o sangue do feto e o sangue da mãe. A placenta não é apenas um órgão
de transmissão. Consegue sintetizar enzimas e proteínas e produz gorduras e carboidratos que servem como fonte de
energia armazenada. A placenta também funciona como glândula endócrina, produzindo e secretando hormônios. A
placenta tem uma característica apresentada por nenhum outro órgão endócrino: a capacidade de sintetizar proteínas e
hormônios esteroides. Bem no início da gestação, a placenta começa a produzir os seguintes hormônios:
• hCG
• hPL
• Relaxina
• Progesterona
• Estrogênio.
A Tabela 11.3 resume a função desses hormônios.
Sistema imunológico
O sistema imunológico é composto por órgãos e células especializadas cuja principal finalidade é defender o corpo contra
substâncias estranhas (antígenos) que possam causar lesão tecidual ou doenças. Os mecanismos de imunidade inata e de
imunidade adaptativa interagem para evitar, controlar e erradicar os antígenos estranhos no corpo.
Acentuação geral da imunidade inata (resposta inflamatória e fagocitose) e supressão da imunidade adaptativa
(resposta protetora contra um antígeno estranho específico) ocorrem durante a gestação. Essas alterações ajudam a evitar
que o sistema imunológico da mãe rejeite o feto (corpo estranho), aumentam o risco da gestante de desenvolver
determinadas infecções (como as urinárias) e influenciam a evolução de condições crônicas, como as doenças autoimunes.
Algumas condições crônicas pioram (diabetes melito), enquanto outras parecem estabilizarse (asma) durante a gestação,
mas isso é individualizado e imprevisível. Em geral, a função imunológica em gestantes é semelhante à das mulheres não
gestantes. A Tabela 11.4 resume as adaptações dos sistemas gerais do corpo à gestação.
Marva retorna para sua primeira consulta prénatal e diz ao enfermeiro que todo o seu corpo está “fora dos
eixos”. Ela está se sentindo mal e sobrecarregada. Descreva as mudanças corporais que Marva pode
esperar a cada trimestre para ajudála a entender as adaptações que estão ocorrendo. Quais orientações o
enfermeiro pode dar a Marva para ajudála a compreender as alterações da gestação?
Tabela 11.3 Hormônios placentários.
Hormônio Descrição
Gonadotrofina • Responsável pela manutenção do corpo lúteo
coriônica humana materno, o qual secreta progesterona e
(hCG) estrogênio, com a síntese ocorrendo antes da
implantação
• Produção de células trofoblásticas fetais até
que a placenta esteja suficientemente
desenvolvida para assumir essa função
• Base para os testes precoces de gravidez,
porque aparece na corrente sanguínea
materna logo após a implantação
• A produção de hCG atinge seu máximo em 8
semanas e, depois, diminui gradualmente
hPL (também • Preparação das glândulas mamárias para a
conhecido como lactação e participação no processo de
somatomamotropina disponibilização da glicose para o crescimento
coriônica humana fetal por meio de alteração do metabolismo
[hCS]) materno de carboidratos, gordura e proteínas
• Antagonista da insulina, porque diminui a
sensibilidade dos tecidos ou modifica a
capacidade de utilização da insulina
• Aumento das concentrações de ácidos graxos
livres circulantes para atender às
necessidades metabólicas maternas e
diminuição do metabolismo de glicose
materno, a fim de facilitar o crescimento fetal
Relaxina • Secreção pela placenta, bem como pelo corpo
lúteo durante a gestação
• Acreditase que atue sinergicamente com a
progesterona para manter a gestação
• Aumento da flexibilidade da sínfise púbica,
possibilitando que a pelve se expanda durante
o parto
• Dilatação do colo do útero, facilitando a
entrada do feto no canal vaginal; acreditase
que suprima a liberação de ocitocina pelo
hipotálamo, retardando assim o aparecimento
das contrações do trabalho de parto
Progesterona • Muitas vezes chamada de “hormônio da
gestação”, devido ao papel fundamental que
desempenha na manutenção do endométrio
do útero
• Apoia o endométrio para proporcionar um
ambiente propício para a sobrevida fetal
• Produzida pelo corpo lúteo durante as
primeiras semanas de gestação e, depois,
pela placenta até o termo
• Inicialmente provoca espessamento do
revestimento uterino na antecipação da
implantação do oócito fertilizado. A partir daí,
mantém o endométrio, inibe a contratilidade
uterina e auxilia no desenvolvimento das
mamas para a lactação
Estrogênio • Promove o aumento das dimensões dos
órgãos genitais, do útero e das mamas, e
aumenta a vascularidade, causando
vasodilatação
• Relaxamento dos ligamentos pélvicos e
articulações
• Associado a hiperpigmentação, alterações
vasculares na pele, aumento da atividade das
glândulas salivares e hiperemia das gengivas
e mucosas nasais
• Auxilia no desenvolvimento do sistema ductal
das mamas, em preparação para a lactação
Adaptada de Cunningham, F. G., Leveno, K. J., Bloom, S. L., Spong, C. Y.,
Dashe, J. S., Hoffman, B. L. et al. (2014). William’s Obstetrics (24th ed.).
New York, NY: McGraw Hill Education; Edelman, C. L., Kudzma, E.C., &
Mandle, C. L. (2014). Health promotion throughout the lifespan (8th ed.).
St. Louis, MO: Mosby Elsevier; e Shields, A. D. (2015). Pregnancy
diagnosis. eMedicine. Retirada
de http://emedicine.medscape.com/article/262591overview
EVOLUÇÃO DAS NECESSIDADES NUTRICIONAIS DA GESTAÇÃO
O peso corporal e a qualidade da dieta da mãe, mesmo antes da gravidez, influenciam o ambiente uterino, o peso ao
nascimento e a saúde subsequente do recémnascido até a vida adulta. A alimentação saudável durante a gestação
possibilita o ganho ponderal gestacional ideal e a redução das complicações, que estão associados a desfechos de
nascimento positivos. Durante a gestação, as necessidades nutricionais maternas mudam para atender às demandas da
gestação. A alimentação saudável ajuda a garantir que nutrientes adequados estejam disponíveis para a mãe e para o feto.
A ingestão de alimentos durante a gestação exerce efeitos diretos sobre o bemestar fetal e o desfecho do nascimento.
A ingestão inadequada está associada, por exemplo, a parto prétermo, baixo peso ao nascimento e anomalias congênitas.
O aporte nutricional excessivo está ligado à macrossomia fetal (mais de 4.000 g), resultando em parto difícil, hipoglicemia
neonatal, obesidade continuada na mãe, potencial de obesidade infantil e os componentes de síndrome metabólica (Ojha et
al., 2015).
Visto que as demandas de diversos nutrientes aumentam durante a gestação, as gestantes devem ingerir um suplemento
vitamínico e mineral diariamente. Rotineiramente, prescrevemse polivitamínicos prénatais como salvaguarda contra uma
dieta inferior à ideal. Em particular, ferro e ácido fólico têm de ser suplementados, porque a demanda durante a gestação
geralmente é grande demais para ser suprida pela dieta. Com exceção do ácido fólico, há poucas evidências científicas que
apoiam a prescrição de suplementos vitamínicos para gestantes saudáveis, mas esse parece ser o padrão de cuidado atual.
Suplementos vitamínicos são prescritos quase universalmente nos EUA (Jordan et al., 2014). O ferro e o ácido fólico são
necessários para formar novas células sanguíneas para o volume aumentado de sangue materno e para evitar a anemia. O
ferro é essencial para o crescimento e o desenvolvimento do encéfalo do feto e para a prevenção da anemia materna. O
aumento do aporte de ácido fólico é essencial antes da gravidez e nas primeiras semanas de gestação para evitar defeitos
no tubo neural fetal. Para a maioria das gestantes, a ingestão dietética de referência (IDR) é de 27 mg de sulfato ferroso
e 400 a 800 mg de ácido fólico por dia (American College of OB/GYN [ACOG], 2015a); (Hankey, 2015); and (U.S.
Preventive Services Task Force [USPSTF], 2015). Para mulheres com antecedentes de um feto com defeito do tubo
neural, muitas vezes prescrevese uma dose mais elevada de ácido fólico.
Tabela 11.4 Resumo das adaptações gerais dos sistemas do
corpo.
Sistema Adaptação
Digestório Boca e faringe: as gengivas tornamse hiperemiadas,
tumefeitas e friáveis, além de tenderem a sangrar
facilmente. Aumenta a produção de saliva
Esôfago: diminuição da pressão e do tônus do
esfíncter esofágico inferior, o que aumenta o risco
de pirose
Estômago: redução do tônus e da mobilidade com
retardo do tempo de esvaziamento gástrico que
aumenta o risco de refluxo gastresofágico e
vômitos. Redução da acidez gástrica e da
produção de histamina, que melhora os
sinais/sintomas da úlcera péptica
Intestinos: diminuição da motilidade e do tônus
intestinais, com aumento do tempo de trânsito, o
que eleva o risco de constipação intestinal e
flatulência
Vesícula biliar: diminuição do tônus e da motilidade, o
que aumenta o risco de formação de cálculos
biliares
Cardiovascular Volume de sangue: aumento significativo do plasma
(50%) e do número de hemácias (25 a 33%) em
relação aos valores em não gestantes; causa
hemodiluição, que se reflete em baixo hematócrito
e nível de hemoglobina baixo
Débito cardíaco e frequência cardíaca: o débito
cardíaco aumenta em 30 a 50% em relação ao
valor em não gestantes até a 32a semana de
gestação. O aumento do débito cardíaco está
associado a aumento do retorno venoso e a maior
débito do ventrículo direito, em especial na posição
de decúbito lateral esquerdo. A frequência
cardíaca aumenta em 10 a 15 bpm entre a 14a e a
20a semana de gestação, e esse aumento
persistirá até o termo
Pressão arterial: a pressão diastólica tipicamente
diminui 10 a 15 mmHg até atingir seu nível mais
baixo na metade da gestação, mas depois retorna
gradualmente aos valores basais prégestacionais
até o termo
Componentes do sangue: o número de hemácias
aumenta durante a gestação até um nível 25 a
33% maior do que os valores em não gestantes
Tanto os níveis de fibrina quanto de fibrinogênio
plasmático aumentam, juntamente com vários
fatores de coagulação do sangue. Esses fatores
tornam a gestação um estado de
hipercoagulabilidade
Respiratório O aumento das dimensões do útero desloca o
diafragma 4 cm acima da sua posição habitual.
Conforme os músculos e as cartilagens da região
torácica relaxam, o tórax se alarga, com a
conversão da respiração de abdominal para
torácica. Isso resulta em aumento de 50% no
volume de ar por minuto. O volume corrente
(volume de ar inspirado) aumenta gradualmente
até 30 a 40% (de 500 para 700 mℓ) conforme a
gestação avança
Renal/urinário A pelve renal tornase dilatada. Os ureteres
(especialmente o ureter direito) se alongam,
alargamse e tornamse mais curvos acima da
borda pélvica
O tônus vesical diminui e a capacidade vesical duplica
até o termo
A TFG aumenta 40 a 60% durante a gestação
O fluxo sanguíneo para os rins aumenta até 50 a
80%, em decorrência do aumento do débito
cardíaco
Musculoesquelético A distensão do abdome com o crescimento do feto
inclina a pelve para a frente, deslocando o centro
de gravidade. A gestante compensa isso com a
acentuação da coluna vertebral (hiperlordose)
O relaxamento e o aumento da mobilidade das
articulações ocorrem por causa dos hormônios
progesterona e relaxina, que levam à
característica “marcha anserina” que as gestantes
apresentam até o termo
Tegumentar A hiperpigmentação da pele é a alteração mais
comum durante a gestação. As áreas mais
comuns incluem as aréolas, a pele genital, as
axilas, a face interna das coxas e a linha nigra
As estrias gravídicas são faixas avermelhadas
irregulares que aparecem no abdome, nas mamas
e nas nádegas em cerca de metade das gestantes
A pele do meio do abdome pode apresentar uma
linha pigmentada chamada linha nigra, que se
estende do umbigo até a região púbica
O melasma (“máscara gravídica”) ocorre em até 70%
das gestantes. É caracterizado por áreas
irregulares de pigmentação na face, mais
comumente nas regiões malares, no queixo e no
nariz
Endócrino Controla a integridade e a duração da gestação,
mantendo o corpo lúteo graças à secreção de
hCG; à produção de estrogênio, progesterona,
hPL e outros hormônios e fatores de crescimento
pela placenta; à liberação de ocitocina (pela neuro
hipófise), prolactina (pela adenohipófise) e
relaxina (pelos ovários, pelo útero e pela placenta)
Imunológico Acentuação geral da imunidade inata (resposta
inflamatória e fagocitose) e supressão da
imunidade adaptativa (resposta protetora contra
um antígeno estranho específico) ocorrem durante
a gestação. Essas alterações ajudam a evitar que
o sistema imunológico da mãe rejeite o feto (corpo
estranho), aumentam o risco da gestante de
desenvolver determinadas infecções e influenciam
a evolução de condições crônicas, como as
doenças autoimunes
Existem numerosas recomendações nutricionais conflitantes para a gestante e sobre o que é bom ou ruim comer. No
geral, as seguintes diretrizes são úteis:
• Aumentar o consumo de frutas e legumes
• Substituir as gorduras saturadas por insaturadas
• Metade do prato deve ser de frutas e legumes
• Escolher grãos integrais em vez de grãos refinados
• Escolher alimentos ricos em fibras para prevenir constipação intestinal
• Evitar o consumo de gorduras hidrogenadas ou parcialmente hidrogenadas
• Não ingerir bebidas alcoólicas
• Consumir pastas e laticínios com teor reduzido de gordura, em vez de integrais
• Ingerir pelo menos duas porções de peixe por semana, sendo uma delas um peixe oleoso
• Beber pelo menos 2 l de água diariamente (USDA, 2015).
Nos meses antes da concepção, as escolhas alimentares são fundamentais. Os alimentos e as vitaminas consumidos
podem garantir que a mulher e seu feto tenham os nutrientes essenciais para o início da gestação.
Embora a maioria das mulheres reconheça a importância de uma alimentação saudável durante a gestação, algumas têm
dificuldade em seguila. Muitas mulheres dizem que têm pouco tempo e energia para se dedicarem ao planejamento e à
preparação da refeição. Outra barreira a uma alimentação saudável são as mensagens conflitantes de várias fontes,
resultando em falta de informações claras, confiáveis e relevantes. Além disso, muitas mulheres estão comendo menos,
em um esforço para controlar seu peso, colocandose em maior risco de ingestão inadequada de nutrientes.
Exigências nutricionais durante a gestação
Do ponto de vista nutricional, a gestação é um dos períodos mais exigentes da vida de uma mulher. Esse período envolve
rápida divisão celular e desenvolvimento dos órgãos. A oferta adequada de nutrientes é essencial para possibilitar esse
substancial crescimento fetal. A saúde materna ótima por meio de boas práticas nutricionais durante a gravidez reduz o
risco de desenvolvimento fetal subótimo.
A maioria das mulheres geralmente se sente motivada a comer adequadamente durante a gestação por causa do feto. O
Food and Nutrition Board of the National Research Council fez recomendações para a ingestão de nutrientes pelas pessoas
que vivem nos EUA. As IDR são mais abrangentes do que as recomendações nutricionais anteriores emitidas pelo Food
and Nutrition Board of the National Research Council. Elas substituíram as recomendações anteriores porque não estão
limitadas a evitar doenças de deficiência. Na verdade, as IDR incorporam conceitos atuais sobre o papel dos nutrientes e
componentes alimentares na redução do risco de doenças crônicas, distúrbios do desenvolvimento e outros problemas
correlatos. As IDR podem ser usadas para planejar e avaliar dietas para pessoas saudáveis (Kruger & Butte, 2015).
Essas recomendações dietéticas também incluem informações para as gestantes e lactantes, pois o crescimento dos
tecidos fetais e maternos exige o aumento das quantidades de componentes alimentares essenciais. Por exemplo, as IDR
atuais sugerem o aumento materno na ingestão de proteínas de 60 a 80 g/dia, de ferro de 18 a 27 g/dia e de ácido fólico de
400 a 800 mg/dia, associado ao aumento de 300 calorias/dia em relação à ingestão recomendada de 1.800 a 2.200
calorias/dia para mulheres não gestantes (Storck, 2015; Walsh & McAuliffe, 2015) (Tabela 11.5).
Dieta sem glúten durante a gravidez
Recentemente, os alimentos sem glúten se tornaram populares, fomentando um mercado crescente da indústria de
alimentos. As gestantes podem perder nutrientes importantes se adotarem dietas sem glúten como muitas estão fazendo
atualmente. Muitas pessoas acreditam que esses produtos são mais saudáveis do que os similares convencionais. Mas essa
dieta sem glúten realmente promove a saúde da gestante ou é apenas mais uma tendência? O glúten se tornou um vilão
porque frequentemente é encontrado em muitos alimentos processados e não saudáveis. Alguns alimentos sem glúten
contêm mais gordura, inclusive gordura saturada, e sódio, mas têm menos minerais e vitaminas que seus equivalentes com
glúten (Pellegrini & Agostoni, 2015). Evitar por completo alimentos processados e dar ênfase ao consumo de frutas,
vegetais, proteína magra e grãos integrais constituem uma dieta saudável bem equilibrada.
O consumo de uma dieta sem glúten dificulta a obtenção da cota recomendada de folato, vitamina B, ferro, cálcio,
fibras e grãos que todas as gestantes precisam. É por isso que, a menos que haja motivos clínicos (p. ex., doença celíaca,
alergia ao glúten) para a eliminação do glúten da dieta, não há motivos científicos para retirar grãos integrais e ricos em
nutrientes da dieta (Neifeld, 2015).
Tabela 11.5 Recomendações dietéticas para a gestante e a
lactante.
Adaptada de American Pregnancy Association (2015). Pregnancy
nutrition. Retirada
de http://americanpregnancy.org/pregnancyhealth/pregnancynutrition.html;
Ural, S. H. (2015). Prenatal nutrition. eMedicine. Retirada
de http://emedicine.medscape.com/article/259059overview; e Lutz, C. A.,
Mazur, E., & Litch, N. (2014). Nutrition and diet therapy (6th ed.).
Philadelphia, PA: F.A. Davis.
USDA e MyPlate
Para que a gestante atenda às IDR recomendadas, ela deve comer de acordo com o guia alimentar MyPlate do U.S.
Department of Agriculture (USDA) (Figura 11.5). O guia alimentar MyPlate do USDA substituiu o Pyramid em 2011
como principal programa símbolo da alimentação saudável do governo norteamericano. O MyPlate tem um apelo visual
de fácil compreensão que ajuda os consumidores a adotar hábitos alimentares saudáveis, incentivandoos a elaborar um
prato saudável, de acordo com a Dietary Guidelines for Americans, de 2015 (USDA & USDHHS, 2015), que é a base para
a política federal de nutrição (USDA and U.S. Department of Health and Human Services [USDHHS], 2015). Essa nova
ferramenta servirá como base para as orientações dietéticas e pode ser adaptada para atender às necessidades individuais
das mulheres.
FIGURA 11.5 Guia alimentar MyPlate para a gestação.
MyPlate fornece orientações para ajudar a implementar essas diretrizes alimentares. O USDA projetou uma ferramenta
digital interativa para planejamento da dieta chamada Daily Food Plan for Moms, que ajuda as gestantes a personalizarem
sua ingestão de nutrientes. Um resumo das novas diretrizes é o seguinte:
• Ingerir alimentos de todos os grupos, utilizando o controle das porções
• Aumentar a ingestão de vitaminas, minerais e fibras alimentares
• Reduzir o consumo de gorduras saturadas, gorduras trans e colesterol
• Consumir níveis adequados de ácido fólico sintético por meio de suplementos ou alimentos enriquecidos
• Aumentar a ingestão de frutas, verduras e grãos integrais
• Equilibrar a ingestão de calorias com a prática de exercícios físicos para manter o peso saudável ideal (USDA, 2015).
Um plano alimentar que segue o MyPlate deve fornecer nutrientes suficientes para uma gravidez saudável. Exceto o
ferro, o ácido fólico e o cálcio, a maioria dos nutrientes que a gestante precisa pode ser obtida ao fazer escolhas
alimentares saudáveis. No entanto, geralmente é prescrito um suplemento de vitaminas e minerais.
Anote!
Boas fontes de ácido fólico incluem vegetais verdeescuros, como brócolis, alfaceromana e espinafre; feijão; feijão
fradinho; frutas cítricas; amendoim e fígado.
Preocupações com os alimentos durante a gravidez
ADOÇANTES ARTIFICIAIS
Os adoçantes artificiais são substitutos do açúcar de mesa. Eles são muitas vezes mais doces que o açúcar natural e não
contêm calorias. A pesquisa científica já demonstrou a segurança dos seis adoçantes de baixa caloria atualmente aprovados
para uso em alimentos nos EUA e na Europa (estévia, acessulfame potássico, aspartame, neotame, sacarina e sucralose),
se ingeridos em quantidades aceitáveis diariamente. Todavia, existe debate contínuo sobre a possibilidade de os adoçantes
artificiais representarem uma ameaça para a saúde (QurratulAin & Khan, 2015).
A segurança dos adoçantes artificiais consumidos durante a gestação ainda é motivo de controvérsia. Alguns médicos
aconselham que as gestantes evitem o consumo de todos os adoçantes não nutritivos, enquanto outros sugerem que eles
podem ser usados com moderação (Hankley, 2015). O debate sobre o assunto continua até que mais pesquisas possam ser
concluídas.
PEIXES, FRUTOS DO MAR E NÍVEIS DE MERCÚRIO
Peixes e mariscos são uma parte importante de uma dieta saudável, pois contêm proteínas de alta qualidade, são pobres em
gordura saturada e contêm ácidos graxos ômega3. No entanto, quase todos os peixes e frutos do mar contêm traços de
mercúrio e alguns contêm altos níveis de mercúrio, que podem prejudicar o desenvolvimento do feto se ingeridos em
grandes quantidades por gestantes. A exposição humana ao mercúrio ocorre basicamente pelo consumo de peixe
contaminado pelo mercúrio liberado na atmosfera. A U.S. Environmental Protection Agency (EPA) e o United Nations
Environment Program identificaram as usinas de energia movidas a carvão como sendo a fonte de 50 a 75% da poluição
atmosférica de mercúrio nos EUA e no mundo. Uma vez no ar, a chuva transfere as partículas de mercúrio para os cursos
de água, onde ele é convertido para a forma neurotóxica metilmercúrio por meio de um processo microbiano. Os plânctons
absorvem o metilmercúrio; como os peixes menores comem o plâncton e os peixes predadores maiores consomem os
peixes menores, o metilmercúrio se bioacumula na cadeia alimentar até chegar aos seres humanos. A exposição ao
mercúrio na gravidez tem sido associada a complicações na gestante e problemas de desenvolvimento nos lactentes. Com
exceção da exposição ambiental, o mercúrio provavelmente é decorrente do consumo de peixes predatórios. Seria prudente
aconselhar todas as gestantes a evitar esses problemas potenciais e minimizar os riscos.
Todos os peixes contêm metilmercúrio, independentemente do tamanho ou da localização geográfica das águas nas
quais foram pescados, embora o tamanho e o tipo de peixe, bem como a localização geográfica das águas, possam
influenciar os valores inferiores ou superiores de metilmercúrio. Além disso, como o metilmercúrio persiste nos tecidos
dos peixes, nenhum método de limpeza ou cozimento reduz os teores de mercúrio em uma refeição com peixes
contaminados (Nelson, 2015).
Com isso em mente, a FDA e a EPA estão aconselhando as mulheres que podem engravidar, as gestantes e as lactantes
a fazer o seguinte:
• Evitar o consumo de peixes com níveis moderados a elevados de mercúrio (p. ex., durante 6 a 12 meses antes da
concepção e durante a gestação)
• Evitar comer tubarão, peixeespada, cavala, peixerelógio, atum ahi e peixebatata, porque são ricos em mercúrio
• Ingerir até 360 g (duas refeições médias) semanais de peixe com baixos níveis de mercúrio, como camarão, atum em
lata, salmão, bacalhau e bagre
• Verificar os alertas locais sobre a segurança dos peixes apanhados por familiares e amigos em lagos, rios e zonas
costeiras da região (FDA, 2015).
LISTERIOSE E GRAVIDEZ
Outra preocupação relacionada com a alimentação da gestante é o consumo de alimentos contaminados pelo bacilo gram
positivo Listeria. Listeria é um gênero de bactéria encontrado no solo, na água e, às vezes, nas plantas. Este bacilo é
comumente encontrado em alimentos processados e preparados e em leite cru ou não pasteurizado. A listeriose está
associada a altas taxas de morbidade e mortalidade. Embora ele exista em todo o nosso meio, a maioria das infecções
por Listeria nos seres humanos resulta da ingestão de alimentos contaminados. A listeriose durante a gestação geralmente
se manifesta como doença febril comum na mãe, mas pode ser fatal para o feto e o recémnascido. Não existem exames
laboratoriais fidedignos para diagnóstico precoce. A listeriose pode ser transmitida para o feto por meio da placenta,
mesmo que a mãe não apresente sinais da doença. Pode levar a parto prétermo, aborto, natimorto e altas taxas de
mortalidade neonatal (Allerberger & Huhulescu, 2015). O Food Safety and Inspection Service e a FDA (2015) dão os
seguintes conselhos às gestantes:
• Não comer cachorrosquentes, carne enlatada ou frios, a menos que sejam aquecidos até estarem bem quentes
• Não utilizar o líquido das embalagens de cachorroquente em outros alimentos, utensílios e superfícies de preparação de
alimentos e lavar as mãos após o manuseio de cachorrosquentes, carnes enlatadas e frios
• Não comer queijos frescos, como feta, brie, camembert e gorgonzola
• É seguro comer queijos duros, queijos semifrescos, como muçarela, queijo pasteurizado processado fatiado e
patês, cream cheese e queijo cottage
• Não ingerir alimentos com carnes e patês refrigerados
• É seguro ingerir alimentos com carnes e patês enlatados ou de embalagens longa vida
• Não comer frutos do mar defumados refrigerados, a menos que sejam ingredientes de um prato cozido, como uma
caçarola. Exemplos de frutos do mar defumados refrigerados incluem salmão, truta, peixe branco, bacalhau, atum e
cavala. Esses peixes defumados refrigerados são encontrados na seção de refrigerados ou vendidos em seções que
fatiam frios de supermercados e mercearias
• É seguro comer conservas de peixe, como salmão e atum, ou marisco defumado em embalagens longa vida
• Não beber leite cru (não pasteurizado) nem ingerir alimentos que contenham leite não pasteurizado
• Utilizar artigos perecíveis refrigerados que sejam précozidos ou prontos para comer o quanto antes
• Utilizar um termômetro para frigorífico de modo a garantir que o refrigerador permaneça sempre a cerca de 5°C ou
abaixo disso
• Não comer saladas préprontas, como salada de presunto, de frango, de ovos, de atum ou de frutos do mar
• Limpar a geladeira regularmente.
Ganho ponderal materno
O ganho ponderal durante a gestação não é tão importante quanto o que a gestante come. Uma mulher pode perder peso
extra após a gravidez, mas nunca será capaz de compensar um estado nutricional insatisfatório durante a gestação. As
diretrizes anteriores recomendavam o ganho ponderal que seria ideal para a criança, mas as novas diretrizes levam em
conta também o bemestar materno (Tabela 11.6).
Tabela 11.6 Distribuição normal do ganho ponderal durante a
gestação.
Componente Peso (g ou mℓ)
Peso do recém 3.400
nascido
Aumento do 1.800
volume
sanguíneo
Útero 900
Tecido mamário 900
hipertrofiado
Placenta 680
Volume de 1.800
líquido materno
Tecido adiposo 3.200
materno
Líquido 900
amniótico
Ganho ponderal 13.600
total aproximado
Adaptada de American College of Obstetricians and Gynecologists [ACOG].
(2015b). Weight gain guidelines by ACOG for pregnancy. Retirada
de http://www.womenshealthcaretopics.com/weight_gain_during_pregnancy.htm;
e Lutz, C. A., Mazur, E., & Litch, N. (2014). Nutrition and diet therapy (6th ed.).
Philadelphia, PA: F. A. Davis.
Em 2009, a Health and Medicine Division revisou as recomendações sobre o ganho ponderal materno durante a
gestação. As revisões levaram em conta que atualmente as mulheres americanas (1) têm mais gestações múltiplas, (2)
estão engravidando mais tarde, (3) estão excedendo o ganho ponderal ideal durante a gravidez e (4) tendem a apresentar
mais sobrepeso e obesidade quando engravidam. As novas recomendações são baseadas no índice de massa corporal
(IMC) da gestante da seguinte maneira (Boxe 11.3):
• Baixo peso (IMC < 18,5): variação do ganho ponderal = 12,7 a 18 kg
• Peso normal (IMC = 18,5 a 24,9): variação do ganho ponderal = 11,3 a 15,8 kg
• Sobrepeso (IMC = 25 a 29,9): variação do ganho ponderal = 6,8 a 11,3 kg
• Obesidade (IMC = 30 ou mais): variação do ganho ponderal = 4,9 a 9 kg.
A mulher que está abaixo do peso ideal antes da gestação ou que apresenta baixo padrão de ganho ponderal deve ser
cuidadosamente monitorada, porque corre risco de dar à luz um recémnascido com baixo peso (< 2.500 g).
Frequentemente, essas mulheres simplesmente precisam de conselhos sobre o que comer para ganhar peso. Incentive a
mulher a comer lanches hipercalóricos, como nozes, manteiga de amendoim, milkshakes, queijos, frutas, iogurte e
sorvetes. Qualquer mulher que tenha IMC prégestacional inferior a 18,5 é considerada de alto risco e deve ser
encaminhada para o nutricionista (Sharma et al., 2015).
Por outro lado, as mulheres que engravidam com sobrepeso (IMC > 25 a 29) correm risco de ter um feto com
sobrepeso ao nascer, resultando em desproporção cefalopélvica e, potencialmente, em parto cirúrgico. Dois terços das
mulheres em idade fértil nos EUA têm sobrepeso ou obesidade e correm risco de numerosos desfechos adversos da
gravidez, além de parto cirúrgico. Alguns pesquisadores já sugeriram que o ambiente uterino pode influenciar o
desenvolvimento potencial de obesidade subsequente na prole. Em um estudo recente, até mesmo a perda de 10% do peso
corporal antes da concepção se acompanhou de um risco pelo menos 10% menor de préeclâmpsia, diabetes gestacional,
parto prétermo, macrossomia e natimortalidade (Schummers et al., 2015). A restrição alimentar durante a gestação não é
recomendada, mesmo para mulheres obesas. A restrição rígida da ingestão calórica está associada à redução do peso do
recémnascido. Por causa da expansão do volume sanguíneo materno e do desenvolvimento dos tecidos fetais e
placentários, um pouco de ganho ponderal é essencial para uma gestação saudável. As mulheres que ganham mais que o
peso recomendado durante a gestação e que não conseguem perder esse peso 6 meses após o parto correm risco muito
maior de serem obesas quase uma década mais tarde (American College of Obstetricians and Gynecologists [ACOG],
2015a). As mulheres com sobrepeso quando engravidam não devem ganhar mais do que 6,8 a 11,3 kg durante a gestação,
dependendo de seu estado nutricional e do grau de obesidade (American College of Obstetricians and Gynecologists
[ACOG], 2015a).
BOXE 11.3
ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (IMC)
O IMC é uma estimativa acurada da gordura corporal total. É considerado um bom método para avaliar o
sobrepeso e a obesidade nas pessoas. O IMC é o cálculo da razão entre o peso e a altura; pode ser
determinado dividindose o peso de uma mulher em quilogramas pela sua altura em metros ao quadrado.
O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) (2015) classifica o IMC da seguinte maneira:
• Baixo peso: < 18,5
• Peso saudável: 18,5 a 24,9
• Sobrepeso: 25 a 29,9
• Obesidade: 30 ou mais.
Use este exemplo para calcular o IMC:
Mary mede 1,65 m de altura e pesa 68,18 kg.
1. Calcular o quadrado da altura em metros: 1,65 × 1,65 = 2,72
2. Calcular o IMC: 68,18 kg ÷ 2,72 = 25.
Adaptado de Centers for Disease Control and Prevention [CDC]. (2015). BMI for adults: Body mass index
calculator. Retirado de http://www.cdc.gov/nccdphp/dnpa/bmi/calcbmi.htm.
A melhor maneira de avaliar se a gestante está consumindo calorias suficientes é acompanhar seu padrão de ganho
ponderal. Todas as gestantes devem visar ao ganho ponderal constante durante a gestação. Se estiverem ganhando peso de
modo gradual e constante, então estarão consumindo calorias suficientes. No entanto, consumir uma quantidade adequada
de calorias não garante que seus nutrientes sejam suficientes. É essencial avaliar tanto a quantidade quanto a qualidade dos
alimentos ingeridos.
Para as mulheres com peso prégestacional dentro da faixa da normalidade, o ganho ponderal deve ser de
aproximadamente 1,6 a 2,3 kg durante o primeiro trimestre da gravidez. Para as mulheres com peso abaixo do ideal, o
ganho ponderal deve ser de pelo menos 2,3 kg. Para as mulheres com sobrepeso, o ganho ponderal deve ser de
aproximadamente 900 g. Grande parte do peso corporal ganho durante o primeiro trimestre de gravidez é causado pelo
crescimento do útero e pela expansão do volume sanguíneo.
Durante o segundo e o terceiro trimestres da gravidez, o seguinte padrão é preconizado: no caso de mulheres cujo peso
prégestacional estava dentro da faixa de peso normal, o ganho ponderal deve ser de 450 g por semana. Para as mulheres
com baixo peso, o ganho ponderal deve ser de pouco mais de 450 g por semana. Para as mulheres com sobrepeso, o ganho
ponderal deve ser de cerca de 300 g por semana (Hankley, 2015).
Promoção da nutrição
Por meio de orientações, o enfermeiro pode desempenhar um papel importante em garantir uma nutrição adequada às
gestantes. Durante a consulta prénatal inicial, o médico realiza uma avaliação completa das práticas alimentares típicas da
mulher e aborda quaisquer condições que possam causar alimentação inadequada, como náuseas e vômitos ou falta de
acesso a alimentação adequada. A fim de promover uma boa nutrição, o profissional de enfermagem deve avaliar e
reforçar as informações relacionadas com a dieta em todas as consultas prénatais. Uma gestação normal e uma dieta bem
equilibrada geralmente fornecem a maioria dos nutrientes recomendados, com exceção do ferro e do ácido fólico, os quais
precisam ser suplementados por meio de polivitamínicos prescritos no período prénatal. (Ver Diretrizes de ensino 11.1.)
Diretrizes de ensino 11.1
Orientações para promover a nutrição ideal durante a gestação
• Seguir o guia alimentar MyPlate do USDA e selecionar vários alimentos de cada grupo
• Ganhar entre 6,8 e 18 kg de modo gradual e constante, dependendo do peso prégestacional, como
se segue:
• Baixo peso (IMC > 18,5): variação do ganho ponderal = 12,7 a 18 kg
• Peso normal (IMC = 18,5 a 24,0): variação do ganho ponderal = 11,3 a 15,8 kg
• Sobrepeso (IMC = 25 a 29): variação do ganho ponderal = 6,8 a 11,3 kg
• Obesidade (IMC = 30 ou mais): variação do ganho ponderal = 4,9 a 9 kg (HDM, 2009)
• Ingerir polivitamínicos/suplementação mineral prénatal diariamente
• Evitar dietas de redução de peso durante a gestação
• Não “pular” refeições, fazer três refeições com um ou dois lanches por dia
• Limitar o consumo de refrigerantes e bebidas ricas em cafeína
• Evitar o uso de diuréticos durante a gestação
• Não restringir o consumo de sal, a menos que instruída a fazêlo pelo seu médico
• Praticar atividade física razoável diariamente
Considerações nutricionais especiais
Muitos fatores têm uma participação importante na formação dos hábitos alimentares de uma pessoa. Esses fatores
precisam ser levados em conta para que o aconselhamento nutricional seja realista e adequado. O enfermeiro precisa
conhecer esses fatores para garantir orientações e atendimento individualizados.
Variações e restrições culturais
O alimento é importante para todos os grupos culturais. Muitas vezes, é parte de celebrações e rituais. Ao atender
mulheres de culturas diversas, o enfermeiro precisa adaptar as orientações nutricionais norteamericanas para satisfazer as
necessidades nutricionais de suas pacientes dentro da estrutura cultural delas. As escolhas e variações alimentares nas
diferentes culturas podem incluir o seguinte:
• Grupo dos pães, cereais, arroz e massas:
• Pão francês (bolillo para os mexicanos)
• Cuscuz
• Linhaça
• Hau juan
• Grupo dos legumes:
• Agave
• Repolhochinês (bok choy)
• Jicama
• Quiabo
• Castanhasdeágua (Eleocharis dulcis)
• Grupo das proteínas:
• Pasta de feijão
• Morcela
• Legumes
• Mariscos
• Grupo das frutas:
• Catalpa
• Laranja kinkan
• Bananadaterra
• Mandioca
• Sapoti
• Leite e laticínios:
• Leite de búfala
• Soro de leite
• Leite de soja (Academy of Nutrition and Dietetics [AND], 2015a).
Intolerância à lactose
A melhor fonte de cálcio é o leite e os laticínios, mas, para as mulheres com intolerância à lactose, são necessárias
adaptações. As mulheres com intolerância à lactose não têm a enzima (lactase) necessária para a degradação da lactose em
seus componentes de açúcares simples, a glicose e a galactose. Sem lactase suficiente, a lactose não é digerida no intestino
delgado e provoca desconforto abdominal, gases e diarreia. A intolerância à lactose é especialmente comum nas mulheres
de ascendência africana, asiática e do Oriente Médio (Szilagyi, 2015).
Podem ser necessárias outras fontes de cálcio ou a substituição desses alimentos. Estes podem incluir amendoins,
amêndoas, sementes de girassol, salmão, brócolis, couve e melaço (McIndoo, 2015). Além disso, incentive a mulher a
ingerir produtos sem lactose, suco de laranja enriquecido com cálcio ou leite de soja (Prática baseada em evidências 11.1).
Prática baseada em evidências 11.1
Intervenções para náuseas e vômitos no início da gestação.
Náuseas, ânsia de vômito e vômitos nos primeiros meses de gestação são muito comuns e podem gerar
muito desconforto para as mulheres. Existem muitas opções terapêuticas para as mulheres com enjoo
matinal, inclusive fármacos convencionais e terapias complementares e alternativas. Devido ao fato de a
preocupação com o uso de fármacos influenciar adversamente o desenvolvimento do feto, essa revisão teve
por objetivo examinar se esses tratamentos são efetivos e seguros.
ESTUDO
O propósito desse estudo foi avaliar a efetividade e a segurança de todas as intervenções para as náuseas
e os vômitos nos primeiros estágios da gravidez (até a 20a semana de gravidez). Trinta e sete estudos
envolvendo 5.049 mulheres atenderam aos critérios de inclusão. Esses estudos cobriram muitas
intervenções, inclusive acupressão, estimulação auricular, acupuntura, gengibre, camomila, óleo de limão,
óleo de hortelã, vitamina B6e vários fármacos antieméticos.
As evidências relacionadas à efetividade sobre a acupressão do ponto P6, a acupressão auricular e a
estimulação auricular do ponto P6 foram limitadas. A acupuntura (ponto P6 ou tradicional) não exerceram
efeitos benéficos nas gestantes. O consumo de gengibre pode ser benéfico para as mulheres, mas as
evidências da efetividade são limitadas e inconstantes, embora dois estudos recentes apoiem o uso de
gengibre em vez de placebo. Existem apenas evidências limitadas provenientes de estudos para apoiar o
uso de agentes farmacológicos, inclusive vitamina B6 e antihistamínicos para aliviar náuseas e vômitos
leves ou moderados. Há poucas informações sobre os desfechos adversos maternos e fetais e sobre os
desfechos psicológicos, socais ou econômicos. A qualidade metodológica dos estudos incluídos foi mista.
Achados
Essa revisão não encontrou evidências de alta qualidade para referendar quaisquer conselhos sobre as
intervenções a serem usadas. Alguns dos estudos mostraram efeitos benéficos no alívio das náuseas e dos
vômitos das gestantes, mas os efeitos foram, de modo geral, inconstantes e limitados. Os estudos foram
realizados de um modo que reflete alto risco de viés e, portanto, foi difícil tirar conclusões firmes. A maioria
dos estudos apresentou maneiras diferentes de mensurar náuseas e vômitos, portanto, não seria possível
observar esses achados juntos. Poucos estudos relataram desfechos adversos maternos e fetais e havia
pouquíssimas informações sobre a efetividade dos tratamentos em termos de melhorar a qualidade de vida
das gestantes.
Implicações para a enfermagem
Tendo em vista a elevada prevalência de náuseas e vômitos durante os estágios iniciais da gravidez, as
mulheres e os profissionais de enfermagem que cuidam delas precisam de orientação clara e baseada em
evidências revisadas sistematicamente sobre as intervenções efetivas e seguras. Atualmente, nos EUA, o
único medicamento para o enjoo matinal aprovado pela FDA é uma combinação de doxilamina e piridoxina,
mas provoca sonolência. As mulheres, portanto, devem evitar atividades que exijam lucidez plena como
dirigir um veículo automotivo. Até o momento, não há evidências de alta qualidade que apoiem uma
intervenção específica em detrimento de outras. Isso não é o mesmo que dizer que as intervenções
estudadas não são efetivas, mas não há evidências fortes suficientes para uma determinada intervenção.
As recomendações feitas pelos profissionais de enfermagem às gestantes em relação ao enjoo matinal
devem permanecer gerais e individualizadas com base nos achados desse estudo.
Adaptado de Matthews, A., Haas, D. M., O’Mathúna, D. P., Dowswell, T., & Doyle, M. (2014). Interventions
for nausea and vomiting in early pregnancy. Cochrane Database of Systematic Reviews, (3), CD007575.
Vegetarianismo
As dietas vegetarianas estão se tornando cada vez mais prevalentes nos EUA. As pessoas escolhem uma dieta vegetariana
por diversos motivos, incluindo questões ambientais, direitos dos animais, crenças filosóficas, religiosas e de saúde
(Dunlevy, 2015). Os vegetarianos optam por não comer carne, aves e peixe. Suas dietas consistem principalmente de
alimentos de origem vegetal, como legumes, verduras, grãos integrais, nozes e sementes. Os vegetarianos são
classificados em grupos definidos pelos tipos de alimentos que ingerem. Os ovolactovegetarianos não ingerem carne
vermelha, peixe e frango, mas comem ovos, leite e laticínios, além de alimentos de origem vegetal. Os lactovegetarianos
consomem leite e laticínios, juntamente com alimentos à base de plantas; não ingerem ovos, carne, peixe nem aves. Os
veganos eliminam todos os alimentos derivados de animais, incluindo leite, ovos e queijo, e comem apenas alimentos de
origem vegetal (Foster & Samman, 2015).
A preocupação com qualquer tipo de vegetarianismo, especialmente durante a gestação, é que a dieta pode ser
inadequada no tocante aos nutrientes. Outros riscos de padrões alimentares vegetarianos durante a gestação podem incluir
o baixo ganho ponderal gestacional, a anemia ferropriva, o comprometimento na utilização de proteína e a diminuição na
absorção de minerais (Piccoli et al., 2015). A dieta pode ser tão restritiva que a gestante não ganha peso nem ingere o
suficiente de um ou mais dos grupos alimentares. Em geral, quanto mais restrita for uma dieta, maior é a probabilidade de
deficiência de nutrientes.
Dietas vegetarianas bem equilibradas que incluem laticínios fornecem ingestão calórica e nutricional adequada e não
exigem suplementação especial; no entanto, as dietas veganas não incluem qualquer tipo de carne, ovos ou laticínios. As
gestantes vegetarianas precisam dar atenção especial à sua ingestão de proteínas, ferro, cálcio e vitamina B12. As sugestões
incluem:
• Proteínas: soja, feijões, lentilhas, nozes, grãos e sementes
• Ferro: várias alternativas para a carne, juntamente com alimentos ricos em vitamina C
• Cálcio: soja, suco de laranja enriquecido com cálcio e tofu
• Vitamina B12: alimentos enriquecidos com soja e um suplemento de vitamina B12.
A Academy of Nutrition and Dietetics (2015b) usou uma revisão baseada em evidências para mostrar que dietas
vegetarianas bem planejadas são apropriadas para pessoas em todas as fases do ciclo de vida, incluindo gestação, lactação,
início da infância, infância e adolescência, e para atletas.
Pica
Pica (alotriofagia) é um termo usado para descrever o transtorno alimentar no qual a pessoa deseja intensamente comer
substâncias não alimentares. Muitas mulheres sentem ânsias incomuns por determinados alimentos durante a gestação.
Isso é perfeitamente normal. Às vezes, porém, as mulheres anseiam por substâncias que não têm valor nutricional e
podem até ser perigosas para si e para seu feto. Pica é a ingestão compulsiva de substâncias não alimentares. É derivada
do termo latino para pega, um pássaro conhecido por consumir grande variedade de substâncias não alimentares. Ao
contrário do pássaro, no entanto, as gestantes que desenvolvem pica apresentam tipicamente um ou dois desejos
específicos.
A causa exata desse transtorno alimentar não é conhecida. Muitas teorias têm sido propostas para explicálo, mas
nenhuma foi comprovada cientificamente. A incidência de pica é difícil de determinar, uma vez que é subnotificada. Nos
EUA, é mais comum nas mulheres afroamericanas, em comparação com outras etnias, mas esse transtorno alimentar não
se limita a área geográfica, raça, credo ou cultura. Nos EUA, também é comum em mulheres de áreas rurais e com história
familiar dessa condição. As substâncias comumente ingeridas incluem terra, barro e goma de roupas. As pessoas também
ingerem palitos de fósforo queimados, pedras, carvão, naftalina, gelo, amido de milho, pasta de dente, sabão, areia, gesso,
borra de café, fragmentos de tinta, bicarbonato de sódio e cinza de cigarro (Jyothi, 2015).
As três principais substâncias consumidas por mulheres com esse transtorno alimentar são terra ou argila (geofagia),
gelo (pagofagia) e amido de milho ou mandioca (amilofagia). As implicações nutricionais incluem:
• Terra: substitui fontes nutritivas e provoca anemia ferropriva
• Argila: provoca constipação intestinal, pode conter substâncias tóxicas e causar parasitose
• Gelo: pode causar anemia ferropriva, fraturas de dentes, queimaduras por resfriamento
• Amido: substitui alimentos ricos em ferro, leva à deficiência de ferro e substitui o metabolismo de proteínas, privando
o feto dos aminoácidos necessários para o bom desenvolvimento (American Pregnancy Association, 2015).
As manifestações clínicas da anemia frequentemente precedem a identificação da pica, porque o médico raramente
aborda esse transtorno do comportamento, e a mulher não costuma citar tais informações (King et al., 2015). Como
algumas mulheres não consideram seu comportamento algo incomum, prejudicial ou que mereça ser relatado, o secretismo
que envolve esse hábito dificulta a pesquisa e o diagnóstico. Devido às implicações clínicas, a pica deve ser discutida com
todas as mulheres gestantes, como medida preventiva. O tema pode ser parte de uma discussão geral sobre os desejos, e o
enfermeiro deve enfatizar os efeitos nocivos descritos anteriormente.
Suspeitase de pica quando a gestante apresenta anemia, embora sua ingestão seja apropriada. Questione sua ingestão
alimentar habitual e inclua questões sobre a ingestão de substâncias não alimentares. Considere as potenciais
consequências negativas para a gestante e seu feto, e tome as medidas adequadas.
ADAPTAÇÕES PSICOSSOCIAIS DURANTE A GESTAÇÃO
A gravidez é um momento único na vida da mulher. É um momento de alterações drásticas em seu corpo e sua aparência,
bem como de mudança em sua condição social. Todas essas alterações ocorrem simultaneamente. Concomitantemente às
alterações fisiológicas nos sistemas do corpo ocorrem alterações psicossociais entre a gestante e os membros da família,
enquanto enfrentam importantes mudanças em seus papéis e estilo de vida.
Respostas emocionais maternas
A maternidade, talvez mais do que qualquer papel na sociedade, adquiriu uma importância especial para as mulheres. As
mulheres são ensinadas que devem encontrar realização e satisfação no papel da “sempre generosa, sempre doadora e
abnegada mãe”. A gravidez e a transição para a maternidade são experiências críticas na vida das mulheres, provocando
uma ampla gama de emoções intensas (Einstein, 2015). Com expectativas tão altas, muitas gestantes experimentam várias
emoções ao longo de sua gestação. A abordagem dessas emoções pela mulher é influenciada por sua estrutura emocional,
sua base sociológica e cultural, pela aceitação ou rejeição da gravidez, se foi planejada, se o pai é conhecido e por sua rede
de suporte (Alexander et al., 2014).
Apesar das abrangentes emoções relacionadas com a gravidez, muitas mulheres apresentam respostas semelhantes.
Essas respostas geralmente incluem ambivalência, introversão, aceitação, mudanças de humor e mudanças na imagem
corporal.
Ambivalência
A percepção da gravidez pode resultar em respostas flutuantes, possivelmente nas extremidades opostas do espectro. Por
exemplo, independentemente de a gravidez ter sido planejada, a mulher pode sentirse orgulhosa e animada com a notícia
e, ao mesmo tempo, temerosa e ansiosa das implicações. As reações são influenciadas por vários fatores, incluindo a
maneira como a mulher foi criada, sua situação familiar atual, as características do relacionamento com o pai biológico da
criança e suas esperanças para o futuro. Algumas mulheres expressam preocupação em relação à cronologia da gestação,
desejando que as metas e os objetivos de vida tivessem sido alcançados antes de engravidar. Outras podem questionar
como o recémnascido ou lactente influenciará sua carreira ou seus relacionamentos com amigos e familiares. Esses
sentimentos podem causar conflitos e confusão em relação à gravidez.
A ambivalência (ter sentimentos conflitantes ao mesmo tempo) é um sentimento universal e é considerado normal ao
se preparar para uma mudança de vida e novas funções. As gestantes geralmente sentem essa ambivalência durante o
primeiro trimestre. Habitualmente, a ambivalência evolui para aceitação até o segundo trimestre, quando a movimentação
fetal é sentida. A personalidade da mulher, sua capacidade de adaptarse à evolução das circunstâncias e as reações de seu
companheiro afetarão sua adaptação à gravidez e sua aceitação da maternidade iminente.
Introversão
A introversão (concentrarse em si mesma) é comum durante o início da gestação. A mulher pode retirarse e tornarse
cada vez mais preocupada com ela mesma e seu feto. Como resultado, pode participar menos do mundo exterior e pode
parecer para sua família e seus amigos uma pessoa com atitude passiva.
Esse comportamento introspectivo é uma adaptação psicológica normal à maternidade para a maioria das mulheres. A
introversão parece aumentar durante o primeiro e o terceiro trimestres de gestação, quando o foco da mulher está nos
comportamentos que garantirão um desfecho seguro e saudável para a gravidez. O companheiro precisa estar ciente desse
comportamento e deve ser informado em relação às medidas para manter o foco na família e apoiála.
Aceitação
Durante o segundo trimestre, as alterações físicas do feto em crescimento, incluindo o aumento da circunferência
abdominal e a movimentação fetal, conferem realidade e veracidade à gestação. Há muitos sinais tangíveis de que existe
alguém distinto da gestante. A gestante sente os movimentos fetais e ouve os batimentos cardíacos fetais. Pode ver a
imagem do feto em uma tela de ultrassonografia e sentir partes distintas, reconhecendo os padrões independentes de sono
e vigília. Ela se torna capaz de identificar o feto como um indivíduo separado e aceita isso.
Muitas mulheres verbalizarão sentimentos positivos em relação à gravidez e conceituarão o feto. A mulher aceita sua
nova imagem corporal e fala sobre a nova vida dentro de si. Durante as consultas prénatais, é importante incentivar
conversas sobre os sentimentos da mulher e oferecer apoio e encorajamento.
Mudanças de humor
A labilidade emocional é característica na maioria das gestantes. Em um momento a mulher pode sentir grande alegria, e
em curto espaço de tempo ela pode sentir choque e descrença. Frequentemente, as gestantes começam a chorar sem
qualquer motivo aparente. Algumas sentem como se estivessem em uma “montanharussa emocional”. Esses extremos de
emoção podem dificultar que companheiros e familiares se comuniquem com a gestante sem colocar a culpa em si mesmos
pelas mudanças de humor dela. Explicações claras sobre como ocorrem as mudanças de humor comuns durante a gestação
são essenciais.
Mudança na imagem corporal
A maneira como a gestação afeta a imagem corporal de uma mulher varia muito de pessoa para pessoa. Algumas mulheres
se sentem como se nunca tivessem sido tão bonitas, enquanto outras passam a gestação com sobrepeso e sentindose
desconfortáveis. Para algumas mulheres, a gestação é um alívio por não terem que se preocupar com o peso, enquanto,
para outras, só agrava seus temores de engordar. As mudanças na imagem corporal são normais, mas podem ser muito
estressantes para a gestante. Oferecer explicações completas e iniciar conversas sobre as mudanças corporais esperadas
pode ajudar a família a lidar com elas.
Processo de tornarse mãe
Reva Rubin (1984) identificou as tarefas maternas que uma mulher precisa realizar para incorporar o papel de mãe em sua
personalidade. Realizálas ajuda a gestante a desenvolver seu autoconceito como mãe e a formar um relacionamento
mutuamente gratificante com seu filho. Essas tarefas estão listadas no Boxe 11.4.
BOXE 11.4
PROCESSO DE TORNARSE MÃE
• Garantir uma gestação e um parto seguros
• Foco primário da atenção da mulher
• Primeiro trimestre: a mulher se concentra em si mesma, não no feto
• Segundo trimestre: a mulher desenvolve grande apego ao feto
• Terceiro trimestre: a mulher tem preocupação consigo e com o feto como uma unidade
• Participação em atividades de autocuidado positivas relacionadas com dieta, exercício e bemestar
geral
• Assegurar que a criança seja aceita pelos outros
• Primeiro trimestre: aceitação da gravidez por si mesma e pelos outros
• Segundo trimestre: necessidade da família de relacionarse com o feto como membro da família
• Terceiro trimestre: aceitação incondicional, sem rejeição
• Buscar a aceitação de si mesma no papel de mãe para o filho (“formação de um vínculo”)
• Primeiro trimestre: a mãe aceita a ideia da gravidez, mas não o feto
• Segundo trimestre: ao sentir a movimentação fetal, a mãe reconhece o feto como uma entidade
separada dentro dela
• Terceiro trimestre: a mãe anseia por segurar a criança e fica cansada de estar grávida
• Aprender a doarse
• Primeiro trimestre: a gestante identifica o que precisa abandonar para assumir o novo papel
• Segundo trimestre: a gestante se identifica com a criança, aprende a adiar seus próprios desejos
• Terceiro trimestre: a gestante questiona sua capacidade de tornarse uma boa mãe para seu filho
Adaptado de Rubin, R. (1984). Maternal identity and the maternal experience. New York, NY: Springer.
Gravidez e sexualidade
A sexualidade é uma parte importante da saúde e do bemestar. O comportamento sexual se modifica conforme a gestação
avança, influenciado por fatores biológicos, psicológicos e sociais. A maneira como a gestante sente e experimenta seu
corpo durante a gestação pode afetar sua sexualidade. Mudanças na forma da mulher, estado emocional, atividade fetal,
alterações no tamanho da mama, compressão da bexiga e outros desconfortos da gestação resultam em aumento das
demandas físicas e emocionais. Isso pode provocar estresse no relacionamento sexual entre a gestante e seu companheiro.
Conforme ocorrem as mudanças da gravidez, muitos companheiros se tornam confusos, ansiosos e com medo de o
relacionamento ser afetado.
O desejo sexual das gestantes muda durante a gestação. Durante o primeiro trimestre, a mulher pode estar menos
interessada em sexo por causa da fadiga, das náuseas e do medo de perturbar o desenvolvimento embrionário precoce. No
segundo trimestre, pode aumentar seu interesse por causa da estabilidade da gravidez. Durante o terceiro trimestre, o
tamanho aumentado da mulher pode provocar desconforto durante a atividade sexual (Bope & Kellerman, 2015).
As potenciais complicações do sexo durante a gestação incluem trabalho de parto prematuro, doença inflamatória
pélvica, hemorragia préparto na placenta prévia e embolia gasosa venosa. Geralmente, as relações sexuais são
consideradas seguras durante a gestação. Habitualmente, a abstinência só é recomendada para mulheres que correm risco
de trabalho de parto prematuro ou de hemorragia préparto por causa da placenta prévia (Boynton, 2015).
A saúde sexual da mulher está intimamente ligada à autoimagem. Devem ser discutidas as posições sexuais que
aumentam o conforto conforme a gestação avança, bem como modos alternativos de expressão sexual sem coito, como
abraçar, acariciar e manusear. Dar permissão para falar e, em seguida, tratar a sexualidade como um assunto normal pode
ajudar a melhorar a experiência sexual durante a gestação e, por fim, o relacionamento do casal. Se as vias de comunicação
estiverem abertas em relação à sexualidade durante a gestação, todos os medos e mitos que o casal tenha poderão ser
dissipados.
Gravidez e o companheiro
Os cuidados de enfermagem relacionados com o parto têmse expandido de uma ênfase estritamente nas necessidades de
saúde física da mãe e da criança para um foco mais amplo nas necessidades sociais e emocionais da família. Uma
característica importante dessa abordagem centrada na família é o recente movimento no sentido de promover a formação
do vínculo mãefilho. Para alcançar uma prática verdadeiramente centrada na família, a enfermagem precisa assumir um
compromisso comparável a compreender e atender às necessidades do companheiro na família que surge. Estudos recentes
sugerem que a potencial contribuição do companheiro para o desenvolvimento global da criança foi malentendida ou
desvalorizada, e que a capacidade do companheiro e sua vontade de assumir um papel mais ativo no cuidado da criança
podem ter sido subestimadas.
As reações à gravidez e as mudanças físicas e psicológicas do companheiro da gestante variam muito. Alguns gostam
do papel de educador, enquanto outros se sentem alienados e buscam conforto ou companhia em outro lugar. Alguns
futuros pais podem ver a gestação como prova de sua masculinidade e assumir o papel dominante, ao passo que outros
podem ver seu papel como mínimo, deixando a gravidez completamente a cargo da mulher. Cada companheiro expectante
reage de modo único.
Emocional e psicologicamente, os companheiros das gestantes podem sofrer menos alterações visíveis do que as
mulheres, mas a maioria dessas alterações permanece não expressada e desvalorizada (Davies, 2015). Esses companheiros
também têm uma infinidade de ajustes e preocupações. Fisicamente, podem ganhar gordura no abdome e sentir náuseas e
outros distúrbios gastrintestinais – reação denominada síndrome de couvade, que é uma resposta simpática à gravidez de
sua parceira. Também sentem ambivalência durante o início da gestação, com extremos de emoções (p. ex., o orgulho e a
alegria contra uma enorme sensação de responsabilidade iminente).
Durante o segundo trimestre de gestação, os companheiros passam pela etapa de aceitação de seu papel de chefes de
família, cuidadores e ajudadores. Eles aceitam a realidade do feto quando seu movimento é sentido e sentemse confusos
ao tratar das mudanças de humor e introspecção da mulher. Durante o terceiro trimestre, o companheiro expectante se
prepara para a realidade desse novo papel e negocia qual será sua função durante o processo de trabalho de parto e o parto.
Muitos expressam preocupação sobre ser a principal pessoa de apoio durante o trabalho de parto e preocupamse com o
modo como vão reagir quando confrontados com sua parceira em dor. Os companheiros de gestantes compartilham muitas
das ansiedades de suas parceiras. No entanto, é incomum revelarem essas ansiedades à companheira gestante ou ao
médico. Muitas vezes, a maneira como o companheiro expectante responde durante o terceiro trimestre depende do estado
do casamento ou relacionamento. Quando o casamento ou a parceria está em crise, o aumento iminente na responsabilidade
até o fim da gestação leva a um afastamento do companheiro expectante. Muitas vezes, isso se manifesta com as seguintes
atitudes: trabalhar até tarde, ficar fora até tarde com os amigos ou iniciar relacionamentos novos ou superficiais. No
casamento estável ou sólido, o companheiro expectante que pode ter lutado para encontrar seu lugar na gravidez agora
encontra tarefas concretas para fazer, como, por exemplo, pintar o berço, montar o assento do carro ou fazer aulas de
Lamaze.
Gravidez e os irmãos
A reação de um irmão à gestação depende da idade. Algumas crianças podem expressar emoção e expectativa, enquanto
outras podem ter reações negativas. Uma criança pequena pode regredir no treinamento do uso do vaso sanitário ou pedir
para usar a mamadeira novamente. A criança mais velha em idade escolar pode ignorar a nova adição à família e envolver
se em atividades fora para evitar o novo membro. A introdução de uma criança na família muitas vezes é o início da
rivalidade entre irmãos, o que resulta do medo de mudanças na segurança da relação da criança com seus pais (Jordan et
al., 2014). A preparação dos irmãos para o nascimento previsto é imperativa e tem de ser projetada de acordo com a idade
e com as experiências de vida do irmão em casa. O reforço constante do amor e do carinho ajudará a reduzir o medo do
filho mais velho das mudanças e suas preocupações em ser substituído pelo novo membro da família.
Se possível, os pais devem incluir os irmãos na preparação para o nascimento da nova criança, a fim de ajudálos a
sentirse como se tivessem um papel importante a desempenhar (Figura 11.6). Os pais devem também continuar a dar
atenção ao irmão mais velho após o nascimento, para reduzir o comportamento regressivo ou agressivo para com o recém
nascido.
A gravidez é uma época tumultuada, não só em termos das mudanças corporais mas também das tarefas que precisam
ser feitas, como a escolha do obstetra, a preparação para o novo membro da família em questão de meses e fazer
modificações de estilo de vida para promover a melhor evolução possível da gestação. Vamos explorar mais este assunto
no Capítulo 12.
FIGURA 11.6 Pais preparando a irmã para o nascimento de uma nova criança.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
A gravidez é um evento de vida normal, que envolve consideráveis adaptações físicas, psicossociais,
emocionais e de relacionamento
Os sinais e sintomas da gravidez foram agrupados em subjetivos (presuntivos) e
experimentados individualmente pela mulher; objetivos (prováveis) e observados pelo médico; e
positivos, que não deixam dúvidas
Fisiologicamente, quase todos os sistemas do corpo da mulher mudam durante a gestação com uma
rapidez surpreendente, a fim de acomodar as necessidades do feto em crescimento. A maioria dessas
alterações é influenciada por alterações hormonais
A placenta é um tipo único de glândula endócrina; tem uma característica apresentada por nenhum
outro órgão endócrino: a de sintetizar proteínas e hormônios esteroides
Em conjunto com as alterações fisiológicas nos sistemas do corpo da mulher, ocorrem alterações
psicossociais entre a mãe e os membros da família conforme eles enfrentam mudanças significativas
em seus papéis e estilo de vida
As respostas emocionais à gestação comumente experimentadas pela mulher incluem ambivalência,
introversão, aceitação, mudanças de humor e mudanças na imagem corporal
As reações do companheiro expectante à gestação e às mudanças físicas e psicológicas na mulher
variam muito
A reação de um irmão à gestação depende da idade. A introdução de uma nova criança na família
muitas vezes é o início da rivalidade entre irmãos, o que resulta do medo estabelecido da criança de
mudanças na segurança de sua relação com os pais. Por isso, a preparação dos irmãos para o
nascimento previsto é imperativa
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Exercícios sobre o capítulo
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. Quais fatores se modificariam durante a gestação se o hormônio progesterona fosse reduzido ou
suspenso?
a. A gengiva da mulher se tornaria vermelha e inchada e sangraria com facilidade
b. O útero se contrairia mais e o peristaltismo aumentaria
c. Os enjoos matinais aumentariam e seriam prolongados
d. A secreção de prolactina pela hipófise seria inibida
2. Qual dos seguintes é um sinal ou sintoma presuntivo de gravidez?
a. Inquietação
b. Humor alterado
c. Polaciúria
d. Lombalgia
3. Ao solicitar um exame de sangue para gravidez, qual hormônio o enfermeiro esperaria que o teste
mensurasse?
a. Gonadotrofina coriônica humana (hCG)
b. Lactogênio placentário humano (HPL)
c. Hormônio foliculoestimulante (FSH)
d. Hormônio luteinizante (LH)
4. Durante a gestação, qual dos seguintes alimentos a gestante deve reduzir ou evitar o consumo?
a. Carne crua ou mariscos crus
b. Frutas e legumes frescos lavados
c. Grãos integrais e cereais
d. Proteínas e ferro de fontes de carne
5. Um sentimento expresso pela maioria das mulheres ao saber que está grávida é:
a. Aceitação
b. Depressão
c. Ciúme
d. Ambivalência
6. Reva Rubin identificou quatro grandes tarefas que a gestante se compromete ao formar um
relacionamento mutuamente gratificante com seu filho. O que é “a formação de vínculo”?
a. Garantir gestação, trabalho de parto e parto seguros
b. Buscar aceitação dessa criança pelos outros
c. Buscar aceitação de si mesma como mãe para a criança
d. Aprender a doarse à criança
7. Uma gestante próxima do termo comparece ao ambulatório para ser examinada. A gestante se queixa
de episódios de dispneia. O enfermeiro sabe que essa queixa pode ser explicada da seguinte maneira:
a. O feto precisa de mais oxigênio agora que suas dimensões são maiores
b. O fundo de útero está alto e está empurrando o diafragma para cima
c. A gestante está apresentando uma reação alérgica por causa de níveis elevados de histamina
d. A concentração da pressão parcial do oxigênio é mais baixa no terceiro trimestre da gravidez
8. Qual das seguintes opções de peixe/frutos do mar deve ser limitada na dieta das gestantes por causa
dos elevados teores de mercúrio?
a. Salmão
b. Bacalhau
c. Camarão
d. Peixeespada
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. Ao entrevistar uma mulher em sua primeira consulta prénatal, o enfermeiro pergunta sobre seus
sentimentos. A mulher responde: “Estou assustada e confusa. Não sei se quero estar grávida ou não.
Estar grávida significa mudar toda a nossa vida e, agora, ter alguém para cuidar por todo o tempo. Eu
não tenho certeza se seria uma boa mãe. Além disso, tenho um pouco de medo de todas as mudanças
que acontecem com meu corpo. Isso é normal? Estou certa?”.
a. Como o enfermeiro deve responder a essa pergunta?
b. Quais informações específicas são necessárias para apoiar a paciente durante a gestação?
2. Sally, de 23 anos de idade, está na 9a semana gestacional. Em sua consulta, ela diz: “Estou tão
cansada que mal consigo ir para casa depois do trabalho. Então, quando chego em casa, não tenho
energia nem para fazer o jantar.” Ela diz que sente enjoos matinais, frequentemente se atrasa para o
trabalho e passa a maior parte do dia no banheiro. Os exames laboratoriais atuais de Sally estão
normais.
a. Que explicação o enfermeiro pode dar a Sally sobre seus desconfortos?
b. Que intervenções o enfermeiro pode oferecer a Sally?
3. A chegada de uma nova criança na família afeta seus irmãos. Quais estratégias o enfermeiro pode
discutir quando a mãe pergunta como lidar com isso?
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Vá à maternidade do seu departamento de saúde local e entreviste várias mulheres em relação aos
seus sentimentos e às mudanças corporais que ocorreram desde que elas engravidaram. Com base em
seus achados, classifiqueos apropriadamente de acordo com os trimestres de gestação.
2. Pesquise na internet informações sobre as mudanças psicológicas que ocorrem durante a gestação.
Compartilhe as informações dos sites que você encontrou com seu grupo de discussão clínica.
3. Durante a gestação, o volume plasmático aumenta em 50%, mas o aumento de volume eritrocitário é
de apenas 25 a 33%. Essa desproporção manifestase como _____________________.
4. Quando a gestante, no terceiro trimestre, deita em decúbito dorsal e sente tontura e sensação de
desmaio, a causa é o(a) _____________________.
ESTUDO DE CASO
Uma gestante de 22 anos de idade procura o ambulatório de obstetrícia com relato de inapetência,
constipação intestinal e dor abdominal há 4 dias. Ela se encontra no primeiro trimestre de sua primeira
gravidez e chegou aos EUA recentemente proveniente da Índia. A mãe da gestante a acompanha e
responde por ela na maioria das vezes. Após muito questionamento, a mãe revela que a gestante come
terra frequentemente e que isso é uma prática comum na Índia.
AVALIAÇÃO
O exame físico revela uma mulher jovem, de aspecto cansado, com sinais vitais normais, mucosas pálidas e
úmidas e abdome moderadamente distendido. Os ruídos intestinais são lentos e fracos. A frequência
cardíaca fetal está dentro da normalidade.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 11 | Adaptação Materna durante a Gestação
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é B. A progesterona é um hormônio essencial para manter a gravidez e evitar o trabalho de parto
prematuro. A progesterona diminui a resistência vascular sistêmica no início da gestação, levando à queda dos níveis
de pressão arterial. Provoca o relaxamento do útero e da musculatura lisa gastrintestinal, resultando em esvaziamento
gástrico retardado e relaxamento do útero. Esse mecanismo de relaxamento é essencial para reduzir as contrações
uterinas.
2. A resposta correta é C. A polaciúria ocorre no início da gestação em virtude da pressão exercida pelo útero em
expansão sobre a bexiga. Este é um dos sinais presumíveis de gravidez. A inquietação ou humor alterado não é um
sinal de gravidez. À medida que os níveis dos hormônios aumentam durante a gestação, o humor pode mudar, mas
isso não é indicativo de gravidez. A dor lombar é frequentemente sentida por muitas mulheres durante o terceiro
trimestre de gestação pela mudança em seu centro de gravidade, mas esse não é um sinal presuntivo de gravidez.
3. A resposta correta é A. A hCG é produzida pelo trofoblasto (camada mais externa do blastocisto em
desenvolvimento) e mantém o corpo lúteo ovariano (remanescente do folículo ovariano após a ovulação),
conservando os níveis de progesterona e estrogênio elevados até que a placenta possa assumir essa função. A hCG é
secretada logo após a concepção para sinalizar que a fertilização ocorreu. Se não houver fertilização, a hCG não é
detectada. Assim, é a base para os testes de gravidez. O hPL é o hormônio secretado pela placenta para preparar as
mamas para a lactação. É também um antagonista à insulina, competindo por locais receptores que forçam uma
elevação na secreção de insulina para atender às demandas do corpo. O FSH é secretado pela adenohipófise para
estimular o ovário a amadurecer um óvulo para a ovulação. Não é detectado durante os testes de gravidez. O LH é
secretado pela hipófise. Um aumento dos níveis de LH ocorre imediatamente antes da ovulação e é responsável pela
liberação do óvulo. Não é a base para os testes de gravidez.
4. A resposta correta é A. O consumo de carne crua pode aumentar o risco de a gestante contrair toxoplasmose, infecção
parasitária que pode ser transmitida para o feto. Embora a toxoplasmose possa passar despercebida na gestante, pode
causar aborto ou resultar no nascimento de uma criança com a doença. Mariscos crus podem conter níveis elevados
de mercúrio, que podem danificar o sistema nervoso central do feto. Alguns alimentos crus ou malcozidos também
podem estar contaminados por Listeria, que pode resultar em aborto, natimorto ou doença grave no recémnascido.
Alimentos crus ou malcozidos devem ser evitados durante a gestação.
5. A resposta correta é D. O sentimento de ambivalência é vivido pela maioria das mulheres quando elas questionam sua
capacidade de ser mãe. Os sentimentos oscilam entre a felicidade em relação à gravidez e a ansiedade e o medo com a
perspectiva de novas responsabilidades e um novo membro na família. A aceitação geralmente se desenvolve durante
o segundo trimestre da gestação, depois que a mãe sente os movimentos do feto e a criança se torna real para ela. A
depressão não é um sentimento universal vivido pela maioria das mulheres, a menos que ela tenha um histórico
subjacente de depressão. O ciúme não é um sentimento experimentado por todas as gestantes. Pode ocorrer nos
parceiros, porque a atenção está sendo desviada deles para a gestação e para o recémnascido.
6. A resposta correta é C. Buscar aceitação de si mesma como mãe para o filho é a base para o estabelecimento de uma
relação mutuamente gratificante entre a mãe e a criança. A “ligação” é um processo que muda durante a gestação,
começando com a aceitação da gravidez pela mãe e, em seguida, da criança como uma entidade separada. Garantir a
passagem segura pela gestação, pelo trabalho de parto e pelo parto centrase inicialmente na mãe e em sua
preocupação consigo mesma. À medida que a gestação avança, o feto é reconhecido e a preocupação com a sua
segurança se torna uma prioridade. A relação maternoinfantil ainda não é a preocupação da mãe. Buscar a aceitação
dessa criança pelos outros inclui o mundo em torno da mãe e como eles integrarão essa nova criança em seu mundo.
A relação maternoinfantil não é o foco nessa tarefa. Aprender a dar de si mesma para o próprio filho se concentra
em adiar a gratificação materna, focando nas necessidades da criança antes das necessidades da mãe.
7. A resposta correta é B por causa das alterações anatômicas que influenciam a respiração. O útero gravídico em
crescimento desloca o diafragma para cima e força toda a cavidade torácica a compensar por meio de aumento de suas
dimensões (para possibilitar a inspiração de mais ar). A maioria das mulheres apresenta dispneia no último mês de
gravidez. A alternativa A é incorreta porque a placenta funciona como um “pulmão” para o feto em crescimento e a
troca de oxigênio e dióxido de carbono ocorre nela e não via sistema respiratório materno. A alternativa C é incorreta
porque não existe resposta histamínica na gravidez normal provocando alergia. A alternativa D é incorreta porque a
pressão parcial de oxigênio aumenta ao longo da gravidez, em vez de diminuir.
8. A resposta correta é D porque o peixeespada contém, tipicamente, níveis elevados de mercúrio em comparação com
outras espécies de peixe, e seu consumo deve ser evitado durante a gravidez. As alternativas A, B e C são peixes e
frutos do mar que já foram avaliados e são considerados de baixo teor de mercúrio.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. Como o enfermeiro deve responder a essa pergunta?
Os sentimentos que a paciente está descrevendo são de ambivalência, que é muito comum quando uma mulher
descobre que está grávida. O enfermeiro precisa explicar isso para a paciente, enfatizando que é comum que as
mulheres se questionem em relação à gravidez, porque a gestação parece “irreal” para elas durante esse período
inicial. A movimentação fetal ajuda a tornar a gravidez uma realidade.
b. Quais informações específicas são necessárias para apoiar a paciente durante a gestação?
O enfermeiro pode apoiar essa mulher durante esse momento prestando apoio emocional e validando os vários
sentimentos ambivalentes que ela está experimentando. O marido (companheiro) e/ou familiares também podem
fornecer suporte para ela.
2.
a. Que explicação o enfermeiro pode dar a Sally sobre seus desconfortos?
O enfermeiro pode explicar em termos simples que o novo embrião precisa de uma grande quantidade de sua
glicose e seus nutrientes para crescer e, assim, seu nível de energia será afetado durante o início da gestação; por
isso ela está se sentindo cansada com frequência. O enfermeiro também pode informála de que seu nível de
energia aumentará no segundo trimestre e que ela provavelmente não se sentirá como se tivesse sido “sugada”.
b. Que intervenções o enfermeiro pode oferecer a Sally?
As intervenções para ajudar Sally a lidar com a fadiga durante o início da gestação incluiriam que ela planejasse
períodos de descanso ao longo do dia e se certificasse de dormir bem todas as noites. Tirar cochilos nos fins de
semana para revigorála também pode ajudar. Além disso, conseguir ajuda na preparação das refeições seria
benéfico.
3.
a. Quais estratégias o enfermeiro pode discutir quando a mãe pergunta como lidar com isso?
As estratégias para integrar uma nova criança na unidade familiar incluiriam envolver o irmão mais velho no
planejamento do quarto para o novo irmão, responder às perguntas dele ou dela sobre o novo membro da família
durante a gestação, usar livros específicos para a idade para informar o irmão a respeito do crescimento e
desenvolvimento do feto e organizar um tempo reservado especialmente para estar com esse irmão antes e
depois de o novo filho chegar em casa.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Dependendo das informações obtidas da anamnese, cada sintoma e/ou sentimento pode ser colocado em uma lista e
associado ao trimestre apropriado. Por exemplo, fadiga, sensibilidade mamária, aumento da frequência urinária,
ambivalência = primeiro trimestre. Aumento do nível de energia, redução da frequência urinária, movimento fetal =
segundo trimestre. Dor nas costas, polaciúria, introspecção = terceiro trimestre.
2. O estudante deve selecionar cerca de três sites e apresentar seus endereços durante uma reunião de discussão de casos
clínicos ou em um grupo, com descrição completa do que cada site tem a oferecer.
3. anemia fisiológica da gravidez
4. compressão da veia cava pelo útero grávido
ESTUDO DE CASO
1. Quais problemas de saúde os comportamentos de pica geralmente causam?
2. Com base na avaliação física, quais seriam os problemas que essa paciente poderia ter?
3. Quais exames complementares poderiam ser esperados?
Resposta: Os problemas de saúde em relação a transtorno alimentar (pica, alotriofagia) incluem nutrição inadequada
em consequência da substituição dos alimentos nutritivos por itens não alimentícios (p. ex., barro); anemia
ferropriva; constipação intestinal e intoxicação por chumbo. Com base na avaliação, essa paciente pode ter anemia
ferropriva (fadiga e palidez das mucosas) e constipação intestinal (ritmo intestinal alentecido e pequeno volume de
fezes de consistência endurecida). Os exames complementares apropriados poderiam incluir hemograma completo
para detectar anemia e dosagens do ferro sérico e da capacidade total de ligação do ferro (CTLF) para confirmar
deficiência de ferro. O nível de chumbo pode ser dosado quando há suspeita de intoxicação por este metal pesado.
Plano de cuidados
1. Como o enfermeiro deveria abordar esse comportamento de risco com essa paciente?
2. Qual efeito a anemia ferropriva poderia ter na gravidez?
3. Qual encaminhamento seria necessário para corrigir sua nutrição inadequada?
4. De que forma sua constipação intestinal poderia ser tratada?
Resposta: O enfermeiro deve ter uma atitude acolhedora e imparcial ao lidar com esse comportamento de risco à
saúde. Possivelmente, esse clima neutro e não ameaçador encoraja a paciente a revelar mais informações sobre seu
transtorno alimentar. A anemia da gravidez está associada a recémnascido de baixo peso, prematuridade, reservas
baixas de ferro nos recémnascidos e aumento da suscetibilidade às infecções. O encaminhamento para o nutricionista
poderia ajudar a instruir a paciente quanto à ingestão nutricional adequada de forma a melhorar as condições de saúde
do recémnascido. As instruções para atenuar o problema de constipação intestinal poderiam incluir ingestão
adequada de líquido, prática regular de exercícios físicos e ingestão de alimentos ricos em fibras.
Questões múltipla escolha
1. Depois de ensinar a um grupo de estudantes os sinais de gravidez, qual das seguintes
declarações do grupo como sendo um sinal positivo de gravidez indicaria a necessidade de
instruções adicionais?
A. Será possível determinar a frequência cardíaca fetal à ausculta
B. A mulher terá amenorreia
C. Haverá um sinal de Hegar positivo
D. A cliente perceberá os primeiros movimentos fetais
Concluir questão
2. Qual das seguintes afirmativas a enfermeira incluiria no plano de orientações a uma gestante
em relação às mudanças no útero?
A. O crescimento uterino ocorre em virtude do aumento do número de células no útero
B. O útero passa de um órgão piriforme para um formato ovalado
C. O útero se torna um órgão abdominal até o segundo mês de gestação
D. O útero atinge sua altura máxima no abdome na 39a semana de gestação
Concluir questão
3. Durante uma consulta prénatal de rotina, a gestante relata corrimento vaginal branco e
espesso. Qual das seguintes atitudes a enfermeira deve tomar?
A. Dizer à mulher que isso é totalmente normal
B. Perguntar à mulher se ela está sentindo prurido ou irritação
C. Aconselhar a gestante em relação à necessidade de cultura de material do corrimento
D. Examinar o corrimento à procura de evidências de ruptura de membranas
Concluir questão
4. Durante uma consulta prénatal de rotina, a gestante diz: “Tenho notado um pequeno
sangramento nas gengivas desde que engravidei. Isso é normal?”. A enfermeira fundamenta a
resposta na compreensão de qual das seguintes opções?
A. Os elevados níveis de progesterona, que causam relaxamento da musculatura lisa
B. A pressão venosa aumentada, que leva a aumento da friabilidade gengival
C. A influência do estrogênio e a proliferação dos vasos sanguíneos
D. Os efeitos do refluxo em razão do relaxamento da cárdia
Concluir questão
5. Antes de engravidar, a frequência cardíaca média de uma mulher é 72 bpm. A cliente está na
15a semana de gestação. A enfermeira espera que a frequência cardíaca dessa mulher seja de
aproximadamente:
A. 90 bpm
B. 95 bpm
C. 100 bpm
D. 85 bpm
Concluir questão
6. A enfermeira orienta uma gestante em relação ao aleitamento materno afirmando que a
estimulação da mama por meio da sucção ou do toque promove a secreção de qual
hormônio?
A. Hormônio foliculoestimulante
B. Ocitocina
C. Hormônio antidiurético
D. Cortisol
Concluir questão
7. O peso prégestacional de uma mulher está dentro da faixa normal. Durante o segundo
trimestre de gestação, a enfermeira poderia determinar que a mulher está ganhando peso
adequadamente quando este aumenta em quanto a cada semana?
A. 300 g
B. 680 g
C. 450 g
D. 900 g
Concluir questão
8. O marido de uma gestante diz à enfermeira que a esposa está cada vez mais preocupada com
ela e com o feto. A mulher está no primeiro trimestre de gestação. A enfermeira interpreta isso
como qual das seguintes opções?
A. Introversão
B. Ambivalência
C. Aceitação
D. Labilidade emocional
Concluir questão
9. Ao descrever o estado de hipercoagulabilidade da gestante, qual das opções a seguir a
enfermeira identificaria como tendo menor probabilidade de estar relacionada?
A. Aumento da contagem de hemácias
B. Aumento dos níveis de fibrina
C. Aumento dos fatores de coagulação
D. Aumento do fibrinogênio plasmático
Concluir questão
10. Qual das seguintes a enfermeira identificaria como mudança fisiológica normal no sistema
renal decorrente da gestação?
A. Diminuição da taxa de filtração glomerular
B. Redução no tamanho dos rins
C. Encurtamento dos ureteres
D. Dilatação da pelve renal
Concluir questão
11. Uma cliente vai ao ambulatório porque acha que está grávida. Ao exame, a enfermeira observa
que o colo do útero e a mucosa vaginal parecem ter coloração roxoazulada. Isso é
comumente chamado de:
A. Sinal de Hegar
B. Sinal de Chadwick
C. Sinal de Goodell
D. Sinal de Braxton
Concluir questão
12. Uma mãe chega com a filha de 17 anos à clínica para descobrir por que ela não menstrua há
alguns meses. O exame confirma que a jovem está grávida, com uma altura do fundo do útero
de aproximadamente 24 cm. Isso pode indicar que ela está com aproximadamente quantas
semanas de gestação?
A. 22
B. 20
C. 24
D. 18
Concluir questão
13. Ao organizar uma aula de preparação para o parto que discutirá as alterações hormonais
durante a gestação, é importante incluir qual das seguintes informações?
A. A maioria das alterações hormonais é permanente após o término da gestação
B. Antiácidos de venda livre podem ser usados para tratar o refluxo de ácido, com a
autorização do obstetra
C. Utilizar a terapia de reposição hormonal pode melhorar o desconforto das mudanças
D. Utilizar fitoterápicos ajudará a aliviar o desconforto
Concluir questão
14. Ao discutir as muitas mudanças que o corpo da mulher experimenta durante a gestação, a
enfermeira pode incluir que o volume total de sangue aumentará em aproximadamente quanto
na 30a semana?
A. 1.000 mℓ
B. 500 mℓ
C. 1.500 mℓ
D. 2.000 mℓ
Concluir questão
15. Uma cliente se queixa de falta de ar. Para garantir que não estão se desenvolvendo
complicações, mensurase o volume corrente. Em razão da gestação, o médico esperaria
encontrar quais alterações no volume?
A. Aumento de 40%
B. Aumento de 20%
C. Redução de 20%
D. Redução de 40%
Concluir questão
16. Como enfermeira, você sabe que ocorrem alterações hormonais durante a gestação. Quais
hormônios são inibidos nesse período?
A. FSH e T4
B. T4 e GH
C. LH e MSH
D. FSH e LH
Concluir questão
17. Ao explicar como os hormônios afetam a gestação, qual deles você descreveria como o
responsável por estimular as contrações uterinas durante o parto?
A. Progesterona
B. Ocitocina
C. Estrogênio
D. Prolactina
Concluir questão
18. Durante a gestação, uma das ações da progesterona é possibilitar que o sódio seja eliminado
na urina. Como enfermeira, que hormônio você esperaria que aumentasse para ajudar a
combater essa perda?
A. Hormônio antidiurético
B. Glicogênio
C. Aldosterona
D. Cortisol
Concluir questão
19. Uma mulher de 23 anos chega à clínica para sua primeira consulta prénatal. Após o exame
revelar ausência de problemas e uma gestação de potencial baixo risco, você discute as
necessidades nutricionais para ela e para o feto em crescimento. Com base nas
recomendações do Institute of Medicine, você sugere à cliente que adote a ingestão de qual
das seguintes alternativas diariamente?
A. 30 mg de ferro ferroso
B. 20 mg de ferro ferroso
C. 10 mg de ferro ferroso
D. 40 mg de ferro ferroso
Concluir questão
20. Em um exame de hematócrito de rotina durante uma consulta prénatal, você percebe que a
cliente está ligeiramente anêmica. Ao discutir isso com o casal, o marido sugere que ela pode
estar comendo coisas incomuns. Como enfermeira, você reconhece que a cliente deve ser
avaliada por qual dos distúrbios a seguir?
A. Plano alimentar vegano
B. Pica
C. Desejos alimentares
D. Alergia alimentar
Concluir questão
21. A enfermeira determinou que, com base no exame físico da cliente, ela tem alto risco de
desenvolver varizes. Qual(is) das orientações a seguir a enfermeira pode fornecer à cliente
para ajudar a evitar isso? (Selecione todas que se aplicam.)
A. Elevar os pés e pernas
B. Fazer uma caminhada diária
C. Usar meias elásticas na altura do joelho
D. Usar meiascalças elásticas
E. Sentarse em uma banheira com água quente, pelo menos 3 vezes/semana
Concluir questão
22. Depois de uma aula conversando sobre as muitas mudanças que o corpo feminino apresenta
durante a gestação, você nota que a turma é capaz de identificar com sucesso qual(is) dos
seguintes hormônios como sendo secretado(s) pela placenta? (Selecione todos que se
aplicam.)
A. hCG
B. Testosterona
C. Cortisol
D. Relaxina
E. Estrogênio
Concluir questão
23. Você está reunindo informações para uma palestra de nutrição para nulíparas. Algumas das
diretrizes a serem incluídas nessas informações são: (Selecione todas que se aplicam.)
A. Aumentar o consumo de frutas, legumes e grãos integrais
B. Consumir pelo menos 1 ℓ de água por dia
C. Não ingerir bebidas alcoólicas
D. Diminuir a ingestão de gorduras saturadas, gorduras trans e colesterol
E. Aumentar a ingestão calórica
Concluir questão
24. Sua cliente, que é intolerante à lactose, está preocupada em relação à ingestão de cálcio
suficiente em sua dieta. Qual(is) dos alimentos a seguir você poderia sugerir que ela inclua
em sua dieta para aumentar a ingestão de cálcio? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Amendoins
B. Cenouras
C. Amêndoas
D. Brócolis
E. Melaço
Concluir questão
25. Uma mulher de 27 anos acabou de receber a confirmação de que está grávida. Ela diz que, a
partir da confirmação, passou a seguir um plano alimentar vegano. Você explica que ela deve
prestar atenção especial à ingestão de qual(is) dos seguintes para garantir uma nutrição
adequada para si e para o feto? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Folato
B. Proteína
C. Ferro
D. Vitamina B12
E. Cálcio
Concluir questão
Conduta de Enfermagem durante a Gestação
12
PALAVRASCHAVE
Alfafetoproteína
Amniocentese
Biopsia de vilosidades coriônicas (BVC)
Cuidados preconcepcionais
Gesta
Gestações de alto risco
Linha nigra
Orientação perinatal
Para
Parto natural
Perfil biofísico (PBF)
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Relacionar as informações comumente coletadas na consulta prénatal inicial.
2. Determinar um plano de vida reprodutivo adequado de acordo com o perfil de risco do casal.
3. Selecionar as avaliações realizadas em consultas de acompanhamento prénatal.
4. Avaliar os exames solicitados para determinar o bemestar maternofetal, incluindo a conduta de enfermagem para
cada um.
5. Delinear a conduta de enfermagem adequada para promover o autocuidado materno e minimizar os desconfortos
comuns da gestação.
6. Examinar os principais componentes das orientações perinatais.
Linda e seu marido, Rob, estão ansiosos para começar uma família no próximo ano. Eles estão
profissionalmente estáveis e seguros financeiramente. Decidiram consultar um enfermeiro obstetra que
trabalha em um hospital local e foram à consulta preconcepcional. Eles saíram da consulta apreensivos com
todas as informações que receberam sobre como ter uma gestação saudável.
Reflexões
O segredo para lidar com pessoas é simples: mostrar simpatia e interesse sinceros por elas. Os enfermeiros precisam usar
essa habilidade com frequência.
INTRODUÇÃO
A gravidez é uma época de muitas mudanças fisiológicas e psicológicas, que podem influenciar positiva ou negativamente
a mulher, o feto e sua família. Equívocos, informações inadequadas e perguntas não respondidas sobre a gestação, o parto
e a paternidade são comuns. O objetivo final de qualquer gestação é o nascimento de um recémnascido saudável. O
enfermeiro desempenha um papel importante em ajudar a gestante e seu companheiro a alcançar esse objetivo. Avaliação e
orientações contínuas são essenciais.
Este capítulo descreve a conduta de enfermagem necessária durante a gestação. Começa com uma breve discussão
sobre os cuidados preconcepcionais e, em seguida, descreve a avaliação na primeira consulta prénatal e nas consultas
seguintes. O capítulo discute os exames comumente solicitados para avaliar o bemestar maternofetal, inclusive a conduta
de enfermagem específica relacionada com cada exame. O capítulo também identifica estratégias importantes para
minimizar os desconfortos comuns da gravidez e promover o autocuidado. Por fim, o capítulo discute orientações
perinatais, incluindo as orientações para o parto, as opções de parto, as opções de cuidados médicos, a preparação para o
aleitamento materno ou por mamadeira e a preparação final para o parto.
CUIDADOS PRECONCEPCIONAIS
A fim de assegurar que estão no melhor estado de saúde possível antes da gravidez, o ideal é que os casais que estejam
pensando em ter um filho agendem uma consulta com seu médico para receber aconselhamento preconcepcional.
Os cuidados preconcepcionais envolvem a promoção da saúde e do bemestar da mulher e seu companheiro antes da
gestação. Os objetivos dos cuidados preconcepcionais são identificar e modificar os riscos biomédicos, comportamentais e
sociais à saúde da mulher ou ao desfecho da gravidez por meio de intervenções de prevenção e manejo (Centers for
Disease Control and Prevention [CDC], 2015a).
Os cuidados preconcepcionais são preconizados em todo o mundo como uma ferramenta para melhorar os desfechos
perinatais. Os cuidados preconcepcionais devem ocorrer sempre que um profissional de saúde atende uma mulher em
idade fértil. Os cuidados primários de todas as mulheres em idade fértil pelos profissionais de enfermagem devem incluir
uma avaliação rotineira das metas reprodutivas e do planejamento delas. As mulheres com potencial de engravidar devem
ser avaliadas quantos aos riscos preconcepcionais e orientadas sobre a importância da saúde materna para garantir
gestações sem intercorrências. As mulheres podem ser motivadas a abordar os riscos de saúde modificáveis ao
aprenderem como sua saúde atual afetará uma futura gravidez. Quando a mulher não planeja engravidar a curto prazo, os
cuidados preconcepcionais devem focar no aconselhamento anticoncepcional (Callegari, Ma, & Schwartz, 2015). Em todas
as mulheres, devem ser revisados a história patológica pregressa, a história familiar, o exame físico, os exames
laboratoriais, o plano de reprodução, a nutrição, os suplementos, o peso corporal, a prática de exercícios físicos, a
vacinação e a prevenção de lesões. É essencial incentivar o consumo de 400 a 800 mg de ácido fólico por dia, dependendo
do perfil de risco, bem como uma dieta adequada e a prática de exercícios físicos. As mulheres devem receber vacina
antigripal se estiverem planejando engravidar durante a temporada de gripe; assim como vacinas contra a rubéola e a
varicela, se não houver evidências de imunidade para esses vírus; e vacinas contra o tétano/difteria/coqueluche, se não
foram vacinadas quando adultas. Ofereça intervenções específicas para reduzir as taxas de morbidade e mortalidade tanto
para a mulher que foi identificada com doenças crônicas ou exposta a teratógenos ou substâncias ilícitas quanto para seu
filho. Algumas intervenções melhoram efetivamente o desfecho da gravidez quando fornecidas como cuidados
preconcepcionais. Pesquisas recentes sugerem que os eventos que ocorrem na decídua uterina, mesmo antes de a mulher
saber que está grávida, podem ter um impacto significativo sobre o crescimento fetal e o desfecho da gestação. Além
disso, um sistema imune íntegro otimiza o desenvolvimento e a função da placenta e é essencial para a sobrevida fetal
(Regal, Gilbert, & Burwick, 2015). Novas descobertas mostram que o embrião é muito sensível aos sinais provenientes
dos gametas, do tecido trofoblástico e do estilo de vida materno periconcepcional. Além disso, fatores ambientais
anteriores e posteriores à concepção têm enorme impacto no embrião em desenvolvimento e provocam problemas de saúde
a longo prazo. Existem cada vez mais evidências de que os fatores ambientais durante o desenvolvimento embrionário
podem provocar alteração irreversível nos marcadores epigenéticos e induzem várias doenças na vida adulta, tais como
distúrbios cardiovasculares, neurológicos e metabólicos Com isso em mente, mudar o foco para o período periconcepção e
para os primeiros estágios da gestação deve fornecer benefícios significativos para a saúde da mãe e da criança. O objetivo
geral deve ser usar efetivamente cada gestação como uma oportunidade para prestar cuidados de saúde às duas vidas
(SteeggersTheunissen & Steegers, 2015).
O CDC (2015b) formulou 10 diretrizes para os cuidados preconcepcionais (Boxe 12.1).
Fatores de risco para desfechos gestacionais adversos
O cuidado preconcepcional é tão importante quanto o cuidado prénatal para reduzir os desfechos adversos da gestação,
como as taxas de mortalidade materna e infantil, o parto prétermo e o baixo peso ao nascimento. Os desfechos adversos
da gravidez constituem um grande desafio de saúde pública: 13% dos recémnascidos são prematuros, 8,3% apresentam
baixo peso ao nascimento, 1 em cada 33 tem defeitos congênitos graves; e 32% das mulheres sofrem complicações na
gravidez (CDC, 2015c). Os fatores de risco para estes desfechos adversos da gestação são predominantes nas mulheres
em idade fértil, como demonstrado pelas seguintes estatísticas:
BOXE 12.1
DEZ DIRETRIZES PARA OS CUIDADOS PRECONCEPCIONAIS
• Recomendação 1. Responsabilidade individual ao longo da vida: toda mulher, todo homem e todo casal
devem ser encorajados a ter um plano durante sua idade fértil
• Recomendação 2. Conscientização do público: aumentar a conscientização do público a respeito da
importância dos comportamentos de saúde e dos serviços preconcepcionais, por meio de informações e
ferramentas adequadas às várias idades, orientações (incluindo conhecimentos em saúde) e contextos
culturais/linguísticos
• Recomendação 3. Consultas preventivas: como parte das consultas ambulatoriais, fazer a avaliação de
risco e prestar aconselhamento educacional e de promoção à saúde a todas as mulheres em idade fértil,
a fim de reduzir os riscos à reprodução e melhorar os resultados da gestação
• Recomendação 4. Intervenções para os riscos identificados: aumentar a proporção de mulheres que
recebem intervenções como acompanhamento ao rastreamento de risco preconcepcional, com foco em
intervenções de alta prioridade (ou seja, aquelas com evidências de efetividade e de maior impacto
potencial)
• Recomendação 5. Cuidado interconcepção: use o período interconcepção para fornecer intervenções
intensivas adicionais às mulheres que tiveram uma gestação prévia que teve um desfecho adverso (ou
seja, morte infantil, aborto, defeitos congênitos, baixo peso ao nascer ou parto prétermo)
• Recomendação 6. Checkup prégestacional: oferecer, como um componente da assistência à
maternidade, uma consulta prégestacional para casais e pessoas que planejam engravidar
• Recomendação 7. Cobertura de seguro de saúde para as mulheres de baixa renda: aumentar a
cobertura do seguro de saúde público e privado para as mulheres de baixa renda para melhorar o
acesso aos cuidados preventivos, antes e durante a gestação
• Recomendação 8. Programas e estratégias de saúde pública: integrar os componentes da saúde
preconcepcionais aos programas de saúde pública locais e relacionados existentes, incluindo a ênfase
em intervenções interconcepção para mulheres com desfechos prévios adversos
• Recomendação 9. Pesquisa: aumentar a base de evidências e promover o uso das evidências para
melhorar a saúde preconcepcional
• Recomendação 10. Aprimorar o monitoramento: maximizar a vigilância em saúde pública e os
mecanismos de pesquisa correlatos para monitorar a saúde preconcepcional.
Adaptado de Centers for Disease Control and Prevention. (2015b). Preconception care recommendations.
Retirado de http://www.cdc.gov/preconception/hcp/recommendations.html.
• 10% das mulheres fumam durante a gestação, contribuindo para a dependência do feto à nicotina
• 7,6% consomem bebidas alcoólicas durante a gestação, levando ao espectro alcoólico fetal
• 70% das mulheres não consomem suplementos de ácido fólico, aumentando o risco de defeitos do tubo neural nos
recémnascidos. O consumo de ácido fólico reduz a incidência dos defeitos do tubo neural em dois terços
• 35% das mulheres são obesas ao engravidar, o que aumenta o risco de desenvolver hipertensão arterial, diabetes melito
e doença tromboembólica, além de aumentar a necessidade de cesariana
• 3% tomam medicamentos prescritos ou de venda livre que são teratógenos conhecidos (substâncias nocivas para o feto
em desenvolvimento)
• 5% das mulheres têm condições clínicas preexistentes que podem influenciar negativamente a gestação se não forem
controladas (CDC, 2015d).
Todos esses fatores representam riscos à gestação e podem ser tratados com intervenções precoces se a mulher
procurar por cuidados de saúde. Os fatores de risco específicos de desfechos adversos da gestação que se enquadram em
uma ou mais dessas categorias estão arrolados no Boxe 12.2.
O período de maior sensibilidade ambiental e consequente risco ao desenvolvimento do embrião ocorre entre o 17o e o
56o dia após a concepção. A primeira consulta prénatal, que geralmente ocorre 1 mês ou mais de amenorreia, pode ocorrer
tarde demais para influenciar os desfechos reprodutivos associados à organogênese anormal secundária a estilos de vida
insatisfatórios. Em alguns casos, como na gestação não planejada, as mulheres podem atrasar a procura por cuidados de
saúde porque negam que estão grávidas. Assim, as práticas preventivas comumente usadas podem ser instituídas tarde
demais para evitar morbidade e mortalidade associadas a anomalias congênitas e baixo peso ao nascer. É necessária uma
estratégia preventiva mais global para reduzir as elevadas taxas de complicações da gravidez em todas as populações.
Assegurar que o cuidado maternoneonatal seja uma prioridade política em nível internacional continua sendo crucial para
atingir a meta de melhor saúde para todas as famílias. Todos os casais devem assumir a responsabilidade pela elaboração
de um plano de vida reprodutiva e compartilhálo com seus profissionais de saúde nas consultas (Darmstadt, Shiffman, &
Lawn, 2015).
Qual é o objetivo de casais como Linda e Rob irem para o aconselhamento preconcepcional? Quais são os
objetivos dos cuidados preconcepcionais para este casal? Qual suporte psicológico pode ser oferecido pelos
profissionais de enfermagem a esse casal nesse estágio?
Conduta de enfermagem
Nos EUA, as taxas de mortalidade materna, de gestações indesejadas, de recémnascidos de baixo peso e de recém
nascidos prematuros continuam subindo, tornando a necessidade de cuidados preconcepcionais uma prioridade para todos
os profissionais de enfermagem. Tradicionalmente as mulheres pensavam que os cuidados preconcepcionais consistiam
em uma única consulta antes da mulher engravidar; entretanto, efeitos benéficos máximos são obtidos quando a mulher e
seu parceiro recebem cuidados durante toda a sua vida fértil. A atuação do enfermeiro é crucial na identificação dos fatores
de risco e no encorajamento de comportamentos mais saudáveis que melhoram potencialmente os desfechos maternos e
perinatais. Os cuidados preconcepcionais envolvem uma anamnese meticulosa e o exame físico da mulher e do seu
companheiro. As principais áreas são:
BOXE 12.2
FATORES DE RISCO PARA DESFECHOS GESTACIONAIS ADVERSOS
• Isotretinoínas. A utilização de isotretinoínas (p. ex., Accutane®) durante a gestação para o tratamento
da acne pode resultar em consumo abusivo de etanol. Em nenhum momento da gestação a ingestão
de etanol é segura. Os danos podem ocorrer precocemente, antes de a mulher se dar conta de que está
ou pode estar grávida. A síndrome alcoólica fetal e outros defeitos congênitos relacionados com o
consumo de etanol podem ser evitados se a mulher parar de ingerir etanol antes da concepção
• Fármacos anticonvulsivantes. Determinados fármacos anticonvulsivantes são teratógenos conhecidos
(p. ex., ácido valproico). As recomendações sugerem que antes da concepção, as mulheres que usam
esses medicamentos e que estão pensando em engravidar devem receber uma dose mais baixa deles
• Diabetes melito (preconcepcional). Há um aumento de três vezes na prevalência de defeitos
congênitos nos filhos de mulheres com diabetes melito dos tipos 1 e 2. Esse risco é substancialmente
reduzido por meio do manejo adequado do diabetes melito
• Deficiência de ácido fólico. Já foi comprovado que o consumo diário de suplementos vitamínicos
contendo ácido fólico (400 mg) reduz em dois terços a ocorrência de defeitos do tubo neural
• Hepatite B. A vacinação é recomendada para homens e mulheres que correm risco de contrair o vírus
da hepatite B (HBV). A prevenção da infecção pelo HBV em mulheres em idade fértil evita a transmissão
da infecção para a criança e elimina o risco de infecção pelo HBV e sequelas, incluindo insuficiência
hepática, carcinoma hepático, cirrose hepática e morte
• HIV/AIDS. Se for identificada infecção pelo HIV antes da concepção, pode ser administrado o tratamento
antirretroviral oportuno e as mulheres (ou casais) podem receber informações adicionais que podem
ajudar a prevenir a transmissão vertical
• Soronegatividade para rubéola. A vacinação contra rubéola promove soropositividade protetora e
impede a síndrome da rubéola congênita
• Obesidade. Os desfechos perinatais adversos associados à obesidade materna incluem defeitos do
tubo neural, parto prétermo, diabetes melito, realização de cesariana e doença hipertensiva e
tromboembólica. A perda de peso e a ingestão nutricional adequadas antes da gestação reduzem esses
riscos
• Doenças/infecções sexualmente transmissíveis (DST/IST). A infecção por Chlamydia
trachomatis e Neisseria gonorrhoeae apresenta uma correlação significativa com gestação ectópica,
infertilidade e dor pélvica crônica. DST/IST durante a gestação pode resultar em morte fetal ou
incapacidades físicas e de desenvolvimento substanciais, incluindo déficit mental e cegueira. O
rastreamento e o tratamento precoces impedem esses desfechos adversos
• Tabagismo. A prematuridade, o baixo peso ao nascer e outros desfechos perinatais adversos
associados ao tabagismo materno durante a gestação podem ser evitados se as mulheres pararem de
fumar antes ou durante o início da gestação. Visto que apenas 20% das mulheres conseguem controlar
a dependência do tabaco durante a gestação, recomendase deixar de fumar antes de engravidar
Adaptado de Centers for Disease Control and Prevention. (2015a). Preconception care and health care.
Retirado de http://www.cdc.gov/preconception/hcp/; March of Dimes. (2015a). Pregnancy complications.
Retirado de http://www.marchofdimes.com/pregnancy/pregnancycomplications.aspx; National Institutes of
Health. (2015). Health problems in pregnancy. Retirado
de http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/healthproblemsinpregnancy.html; Senie, R. T. (2014). Epidemiology
of women’s health. Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning.
• Situação vacinal da mulher
• Condições clínicas subjacentes, como problemas cardiovasculares e respiratórios ou doenças genéticas
• Dados ginecológicos, como exame ginecológico, uso ou não de contraceptivos e episódios anteriores de DST/IST
• Sexualidade e práticas sexuais, como práticas de sexo seguro e problemas de imagem corporal
• História nutricional e condições atuais de nutrição
• Práticas de estilo de vida, incluindo atividades ocupacionais e recreativas
• Problemas psicossociais, como níveis de estresse e exposição a maustratos e violência
• Uso de fármacos e substâncias psicoativas, incluindo tabaco, álcool etílico, medicamentos prescritos e de venda livre e
drogas ilícitas
• Sistema de apoio, incluindo os familiares, os amigos e a comunidade.
A Figura 12.1 mostra um exemplo de ferramenta de rastreamento preconcepcional.
Essas informações fornecem uma base para o planejamento de atividades de promoção da saúde e orientações. Por
exemplo, para ter um impacto positivo sobre a gestação:
• Certifiquese de que as imunizações da mulher estejam atualizadas
• Crie um plano de vida reprodutiva para abordar e delinear suas necessidades reprodutivas
Colete uma história completa de ambos para identificar quaisquer condições clínicas ou genéticas que exijam
• tratamento ou encaminhamento para especialistas
FIGURA 12.1 Exemplo de ferramenta de rastreamento preconcepcional. (Usada com permissão. Copyright March of
Dimes.)
• Identifique episódios prévios de DST/IST e relato de práticas sexuais de alto risco para que possam ser modificadas
• Faça uma história nutricional combinada a aconselhamento nutricional
• Reúna informações sobre as práticas de exercícios físicos e estilo de vida, a fim de incentivar a prática diária de
exercícios físicos para manter o bemestar e o peso corporal
• Enfatize a importância de consumir ácido fólico para prevenir defeitos do tubo neural
• Incentive a mulher a alcançar o peso corporal ideal antes de engravidar
• Avalie o ambiente de trabalho e identifique as mudanças necessárias para promover a saúde
• Aborde problemas de uso de substâncias psicoativas, incluindo tabagismo e medicamentos/drogas ilícitas
• Identifique as vítimas de violência e ajudeas a buscar auxílio
• Gerencie as condições crônicas, como diabetes melito e asma
• Oriente o casal em relação aos riscos ambientais, incluindo metais e fitoterápicos
• Ofereça aconselhamento genético para identificar portadores
• Sugira a disponibilidade de sistemas de apoio, se necessário (Hurst & Linton, 2015; Templeton, 2015).
Os enfermeiros podem atuar como defensores e orientadores, criando comunidades saudáveis e de apoio para as
mulheres e seus companheiros na fase fértil de suas vidas. É importante estabelecer uma parceria de colaboração com a
mulher e seu companheiro, o que lhes possibilita analisar a sua própria saúde e sua influência sobre a saúde de seu futuro
filho. Forneça informações para possibilitar que a mulher e seu companheiro tomem uma decisão informada sobre ter uma
criança, mas tenha em mente que essa decisão cabe exclusivamente ao casal.
Anote!
Como todas as mulheres em idade fértil, da menarca à menopausa, se beneficiam de cuidados preventivos, os cuidados
preconcepcionais devem ser uma parte integrante desse continuum (Boggess & Berggren, 2015).
Com base na orientação do enfermeiro obstetra, Linda e Rob decidiram mudar vários aspectos de seu estilo
de vida e hábitos alimentares antes de ter um filho. Ambos querem perder peso, parar de fumar e aumentar
a ingestão de frutas e legumes. Como essas mudanças de estilo de vida e dieta beneficiam a futura
gestação de Linda? Quais outras áreas podem precisar ser revistas para se preparar para uma futura
gestação?
PRIMEIRA CONSULTA PRÉNATAL
Em caso de suspeita de gravidez e, em alguns casos, de gravidez provisoriamente confirmada por um teste caseiro, a
mulher deve procurar assistência prénatal para promover um desfecho saudável. Embora a “janela” mais oportuna
(preconcepcional) para melhorar os desfechos da gestação possa ter sido perdida, a conduta de enfermagem adequada a
partir da concepção e continuando durante a gestação pode ter um impacto positivo sobre a saúde da gestante e de seu feto.
O processo de avaliação começa nessa consulta prénatal inicial e continua durante toda a gestação. A primeira consulta
é um momento ideal para o rastreamento de fatores que podem colocar a mulher e seu feto em risco de problemas, como
parto prétermo. A consulta inicial é também o momento ideal para começar a orientar a paciente em relação às mudanças
que afetarão sua vida.
Os cuidados prénatais podem ser prestados de uma das duas formas: individualmente ou em grupo. A prestação de
cuidados individualizada é o modelo tradicional no qual a mulher procura seu obstetra em intervalos especificados durante
a gravidez e todas as consultas são individuais. O modelo de prestação de cuidados prénatais em grupo envolve a reunião
de até doze mulheres com idades gestacionais semelhantes com o obstetra durante 10 sessões de aproximadamente 90 a
120 minutos cada. O modelo de prestação de cuidados prénatais em grupo promove melhores desfechos que a prestação
de cuidados prénatais individualizada devido a maior interação gestanteobstetra, maior suporte social e empoderamento
percebido aumentado (Tracy, 2014). Ver boxe Prática basea da em evidências 12.1.
A International Association of Diabetes and Pregnancy Study Groups (IADPSG) publicou recentemente
recomendações para o diagnóstico e a classificação da hiperglicemia na gestação. Recomendações específicas para o
diagnóstico de distúrbios hiperglicêmicos na gestação incluem:
• Na primeira consulta prénatal devem ser determinados os valores da glicose plasmática em jejum, da HbA1c ou da
glicose plasmática aleatória de todas as mulheres ou de todas as mulheres de alto risco conforme seus fatores de risco,
seu peso corporal e sua história familiar. Os limiares para o diagnóstico de diabetes melito franco durante a gestação
são mostrados no Boxe 12.3
• Se o resultado da glicemia não confirmar o diagnóstico de diabetes melito, diabetes melito gestacional deve ser
pesquisado entre a 24a e a 28a semana de gestação com o teste de tolerância à glicose oral (determinação da glicemia 2
horas após o consumo de 75 g de glicose (American Diabetes Association [ADA], 2015).
Dadas as más escolhas alimentares, tendências sedentárias, obesidade e aumento das tensões da vida nos EUA e a
crescente imigração de populações de alto risco (hispânicos, afroamericanos, pessoas do Sudeste Asiático, árabes, afro
caribenhos, mediterrâneos e indígenas), a incidência de diabetes gestacional está crescendo. O American College of
Obstetricians and Gynecologists (ACOG), a American Diabetes Association (ADA) e a Organização Mundial da Saúde
(OMS) têm recomendado o rastreamento na primeira consulta prénatal para mulheres com mais de 25 anos de idade,
sobrepeso, síndrome do ovário policístico, história pregressa de diabetes gestacional e antecedentes familiares positivos de
diabetes (Satyan et al., 2015). Já foram estabelecidas as diretrizes globais para o rastreamento, o diagnóstico e a
classificação, que oferecem o potencial para interromper o ciclo de diabetes melito e obesidade causado pela hiperglicemia
durante a gestação. A normoglicemia é a meta em todos os aspectos da gestação e oferece os benefícios de reduzir as
complicações em curto e longo prazo do diabetes melito.
Prática baseada em evidências 12.1
Os efeitos dos cuidados prénatais em grupo na idade gestacional, no peso do recémnascido e na
morte fetal.
ESTUDO
Embora as taxas de mortalidade infantil nos EUA tenham diminuído nas últimas décadas, as taxas de
nascimento prétermo (< 27 semanas de gestação) e baixo peso do recémnascido (< 2.500 g) aumentaram.
O acesso a cuidados prénatais de qualidade comprovadamente melhorou os desfechos das gestantes e
dos fetos e ajudou a reduzir a mortalidade infantil, os nascimentos prétermo e os recémnascidos de baixo
peso. O modelo de cuidados prénatais em grupo foi teorizado como promotor de desfechos de parto
melhores que os cuidados prénatais tradicionais (individualizados) por causa da maior interação paciente
profissional de saúde, do maior suporte social, do aumento do empoderamento percebido e da maior
exposição a habilidades e informações úteis sobre a gravidez, o parto e os cuidados com o recémnascido.
Esse estudo comparou os desfechos do parto de mulheres que receberam dois tipos de cuidados pré
natais. O objetivo desse estudo foi examinar os efeitos dos cuidados prénatais em grupo em comparação
com os cuidados prénatais individualizados em termos de idade gestacional, peso do recémnascido e
morte fetal. Amostras de 6.155 mulheres foram divididas em dois grupos – cuidados prénatais
individualizados e cuidados prénatais em grupo em cinco locais. A amostra incluiu mulheres que receberam
cuidados prénatais em um dos cinco locais que ofereciam tanto cuidados individualizados como em grupo.
Achados
Os resultados indicaram que as mulheres que receberam cuidados prénatais em grupo, em comparação
com as mulheres que receberam cuidados prénatais tradicionais (individualizados), apresentaram idades
gestacionais significativamente maiores (b = 0,35, IC 95% [0,29, 0,41]) e pesos maiores ao nascimento (b =
28,6, IC 95% [4,8, 52,3]). Os resultados também indicaram que a prestação de cuidados prénatais em
grupo foi associada a chances significativa e substancialmente menores de recémnascidos de muito baixo
peso e morte fetal.
Implicações para a enfermagem
No momento, de acordo com as diretrizes, existe apoio para a prestação de cuidados prénatais
centralizados em grupo sempre que possível. Os resultados indicaram efeitos, em grande parte benéficos,
dos cuidados prénatais em grupo em termos de desfechos do parto. As reformas da política de saúde
visando à redução dos desfechos adversos no parto podem considerar os cuidados prénatais em grupo
uma alternativa promissora. Os enfermeiros devem continuar incentivando todas as mulheres a obter
cuidados prénatais (em grupo ou tradicionais) como parte de seu plano de vida reprodutiva, a fim de
melhorar os desfechos da gestação e dos futuros filhos. Tendo em vista as evidências dos efeitos benéficos
de centralizar os cuidados prénatais e as implicações financeiras da implementação disseminada, é crucial
passar essa informação para as autoridades de saúde estaduais e municipais para o aprimoramento das
políticas de saúde materna e perinatal.
Adaptado de TannerSmith, E., SteinkaFry, K., & Lipsey, M. (2014). The effects of centering pregnancy
group prenatal care on gestational age, birth weight, and fetal demise. Maternal & Child Health
Journal, 18(4), 801809.
O aconselhamento e as orientações à gestante e ao seu companheiro são fundamentais para garantir desfechos
saudáveis para a mãe e seu filho. As gestantes e seus companheiros frequentemente têm perguntas, informações errôneas
ou conceitos errados sobre o que comer, ganho de peso, desconfortos físicos, consumo de substâncias psicoativas e etanol,
sexualidade e processo de parto. O enfermeiro precisa reservar um tempo para responder às perguntas e fornecer
orientações antecipatórias durante a gestação e fazer os encaminhamentos adequados a entidades da comunidade e atender
às necessidades dessas pacientes. Para tratar dessas questões e promover o bemestar das gestantes e seus fetos,
estabeleceramse metas nacionais de saúde específicas (Healthy People 2020 12.1).
BOXE 12.3
LIMIARES PARA O DIAGNÓSTICO DE DIABETES MELITO FRANCO DURANTE A GESTAÇÃO
Os limiares para o diagnóstico de diabetes melito franco durante a gestação são:
• Glicemia de jejum: 126 mg/dℓ
• Hemoglobina A1c: pelo menos 6,5%
• Glicose plasmática aleatória: 200 mg/dℓ
Anamnese abrangente
Durante a consulta inicial, é feita uma anamnese abrangente, incluindo idade, história menstrual, história obstétrica
abrangente, história patológica pregressa (clínica e cirúrgica), rastreamento psicológico, história familiar, rastreamento
genético, hábitos alimentares, estilo de vida e práticas de saúde, uso de fármacos e substâncias psicoativas, e história de
exposição a DST/IST (Moses, 2015a). Muitas vezes, o uso de um formulário de história prénatal (Figura 12.2) é a
melhor maneira de documentar os dados coletados (Prática baseada em evidências 12.2).
Healthy People 2020 • 12.1
Objetivos Importância para a enfermagem
MICH10 Aumentar a proporção Contribuirá para a redução das taxas de
de gestantes que recebem doença perinatal, invalidez e morte,
atendimento prénatal adequado ajudando a identificar possíveis fatores de
e precoce em 10% em relação risco e a implementar medidas para diminuir
aos objetivos do HP 2010 os fatores que contribuem para desfechos
ruins
MICH12 (Desenvolvimental) Contribuirá para uma experiência de parto
Aumentar a proporção de positiva, já que as mulheres estarão
gestantes que assistem a várias preparadas para o que vão enfrentar;
aulas de preparação para o também ajudará na redução da dor e da
parto ansiedade
MICH13 (Desenvolvimental) Reduzirá os riscos associados ao peso, para
Aumentar a proporção de melhores desfechos perinatais para a mãe e
mulheres que conseguem o seu filho
ganho de peso recomendado
durante a gestação
MICH16 Aumentar a proporção O risco de morte maternoinfantil e de
de mulheres que dão à luz um complicações relacionadas com a gestação
feto vivo que receberam serviços pode ser reduzido pelo aumento do acesso
de cuidados preconcepcionais e a cuidados preconcepcionais de qualidade.
praticaram comportamentos de Isso irá melhorar os desfechos de parto
saúde preconcepcionais saudável e a identificação e o tratamento
essenciais recomendados: precoces de condições de saúde
• Ingeriram multivitamínicos/
ácido fólico antes da
gestação
• Não fumaram antes da
gestação
• Não ingeriram bebidas
alcoólicas antes da gestação
• (Desenvolvimental)
Utilizaram contraceptivo para
planejar a gravidez
Adaptado de U.S. Department of Health and Human Services. (2010). Healthy
People 2020. Retirado
de http://www.healthypeople.gov/2020/topicsobjectives2020/objectiveslist.aspx?
topicId=26
A anamnese inicial inclui, tipicamente, perguntas sobre três áreas principais: o motivo para a procura por cuidados; a
história clínica, cirúrgica e pessoal da paciente, incluindo a história familiar dela e do companheiro; e a história
reprodutiva da paciente. Durante a anamnese, o profissional de enfermagem e a paciente estabelecem a base de uma relação
de confiança e desenvolvem em conjunto um plano de cuidados para a gestação. Eles ajustam esse plano, o máximo
possível, ao estilo de vida da paciente e focam basicamente na orientação sobre bemestar geral durante a gestação. O
objetivo final da primeira consulta prénatal é coletar dados básicos sobre a mulher e seu companheiro e detectar fatores de
risco que precisem ser abordados para promover uma gestação saudável (King et al., 2015). Ver boxe Healthy People
2020 12.1.
Motivo da procura por cuidados
Com frequência a mulher procura o ambulatório de prénatal por causa da suspeita de gravidez. Ela pode relatar que não
menstruou quando deveria ou que teve um resultado positivo em um teste de gravidez caseiro. Pergunte à mulher a data da
sua última menstruação normal (DUM). Também pergunte sobre quaisquer sinais presuntivos ou prováveis de gravidez
que possam estar ocorrendo. Tipicamente, fazse um teste de urina ou sangue para verificar se há indícios de
gonadotrofina coriônica humana (hCG) que confirmem a gravidez.
História patológica pregressa
Questione a história patológica pregressa (clínica e cirúrgica) da mulher. Essa informação é importante porque algumas
condições prévias (p. ex., infecções urinárias) podem ser recorrentes ou agravadas durante a gestação. Além disso,
doenças crônicas, como diabetes melito ou doença cardíaca, podem aumentar o risco de complicações durante a gestação
para a mulher e seu feto. É importante questionar se já houve algum episódio de alergia a medicamentos, alimentos ou
substâncias do ambiente. Questione quaisquer problemas de saúde mental, como depressão ou ansiedade. Reúna
informações semelhantes sobre a família da mulher e de seu companheiro.
A história pessoal da mulher também é importante. Pergunte sobre sua ocupação, possível exposição a teratógenos,
nível de exercício e atividade física, padrões de lazer (incluindo o uso de substâncias psicoativas como etanol, tabaco e
drogas ilícitas), uso de terapias alternativas e complementares, padrões de sono, hábitos alimentares e estilo de vida em
geral. Cada um destes elementos pode ter um impacto sobre o desfecho da gestação. Por exemplo, se a pessoa fuma
durante a gestação, a nicotina do cigarro causa vasoconstrição na mãe, resultando em redução da perfusão placentária.
Como resultado, o recémnascido pode ser pequeno para a idade gestacional (PIG). O recémnascido também sofrerá
abstinência de nicotina no período pósparto imediato. Além disso, não foi determinado um nível seguro de consumo de
etanol durante a gestação. Muitos fetos expostos a níveis elevados de álcool etílico durante a gestação desenvolvem
síndrome alcoólica fetal, um conjunto de deformidades e incapacidades.
FIGURA 12.2 Exemplo de formulário de história prénatal. (Usada com permissão. Copyright Briggs Corporation,
2001.)
Prática baseada em evidências 12.2
Educação e suplementação dietética prénatal para aumentar o aporte de energia e proteína.
ESTUDO
O ganho ponderal gestacional está associado positivamente com o crescimento fetal e os estudos
observacionais de suplementação alimentar relataram aumento do ganho de peso gestacional e do
crescimento fetal. Durante a gestação, o feto se desenvolve com base na nutrição da gestante. O aporte
inadequado durante a gravidez pode resultar em desnutrição e desfechos insatisfatórios para o feto. O
objetivo desse estudo foi avaliar os efeitos da educação durante a gravidez para aumentar o aporte de
energia e proteína ou a suplementação de energia e proteína e os efeitos nos desfechos de saúde para a
gestante e o recémnascido.
Achados
A revisão incluiu 17 ensaios clínicos randomizados envolvendo 9.030 mulheres. Os quatro achados
principais são: (1) o fornecimento de orientação nutricional resultou em aumento do aporte de proteína
pelas gestantes e consequente redução do número de partos prétermo e de recémnascidos de baixo
peso; (2) o fornecimento de suplementos energéticos e proteicos equilibrados às gestantes foi associado a
redução das mortes de fetos durante o trabalho de parto e aumento do peso dos recémnascidos; (3) os
suplementos proteicos não beneficiaram as gestantes nem reduziram o risco potencial de recémnascidos
pequenos para a idade gestacional; e (4) os suplementos proteicos isocalóricos não se mostraram benéficos
em termos de aumentar o peso dos recémnascidos e de aumento de tempo de gestação das mães.
Implicações para a enfermagem
Essa revisão fornece evidências encorajadoras de que a educação nutricional prénatal com a meta de
aumentar o aporte de energia e proteína na população materna parece ser efetiva na redução do risco de
parto prétermo, de recémnascidos de baixo peso, no aumento da circunferência cefálica do recém
nascido, no aumento do peso dos recémnascidos cujas mães estão subnutridas e no aumento do aporte
proteico. Ainda há questionamentos aos benefícios da suplementação proteica alta. Os profissionais de
enfermagem continuam a fornecer orientação nutricional baseada em evidências às gestantes com o
propósito de atingir desfechos saudáveis.
Adaptado de Ota, E., Hori, H., Mori, R., TobeGai, R., & Farrar, D. (2015). Antenatal dietary education and
supplementation to increase energy and protein intake. Cochrane Database of Systematic Reviews, (6),
CD000032. doi: 10.1002/14651858.CD000032.pub3.
História reprodutiva
A história reprodutiva da mulher inclui as histórias menstrual, obstétrica e ginecológica. Tipicamente, essa história
começa com uma descrição do ciclo menstrual da mulher, incluindo a idade da menarca, o número de dias do seu ciclo, as
características típicas do fluxo menstrual e qualquer desconforto experimentado. A utilização de contracepção também é
importante, incluindo quando a mulher utilizou qualquer contraceptivo pela última vez.
Estabelecer uma idade gestacional acurada é uma das avaliações mais importantes para a gestante, que tem valor social
e clínico. Para as mulheres e suas famílias, essa data estimada do nascimento (DEN) representa o momento tão esperado
da chegada do filho e é um período de tempo em torno do qual muitas atividades econômicas e sociais estão sendo
planejadas. Essa data orienta a cronologia da realização de exames maternos e fetais específicos durante a gestação, a
verificação de parâmetros de crescimento fetal e oferece prazos bemestabelecidos para intervenções específicas no manejo
de complicações prénatais. Na verdade, as decisões essenciais – como o gerenciamento do trabalho de parto prematuro, a
cronologia da indução do trabalho de parto no caso de ser ultrapassado o limite máximo da gestação e a identificação da
restrição do crescimento fetal, são baseadas na idade gestacional presumida do feto, calculada retrogradamente a partir da
DEN (Bond, 2015).
Pergunte à mulher a data da última menstruação para determinar a DEN. Vários métodos podem ser utilizados para
estimar a data de nascimento. Podese usar a regra de Nagele para determinar a DEN (Boxe 12.4). Usando essa regra, 3
meses são subtraídos do mês da DUM e, depois, são adicionados 7 dias ao primeiro dia da DUM. Em seguida, adiciona
se 1 ao ano, quando necessário. Uma alternativa é adicionar 7 dias e, em seguida, adicionar 9 meses = ano quando
necessário. Essa data tem margem de erro de mais ou menos 2 semanas. Por exemplo, se a mulher relata que a DUM foi
14 de outubro de 2015, 3 meses (julho) são subtraídos e 7 dias (21) são adicionados; em seguida, adicionase 1 ano
(2016). A DEN da mulher é de 21 de julho de 2014.
Por causa das variações normais nos ciclos menstruais das mulheres, das diferenças na duração normal de gestação
entre os grupos étnicos e dos erros nos métodos de datação, não existe uma data exata. Em geral, considerase normal um
nascimento 2 semanas antes ou depois da DEN. A regra de Nagele é menos acurada se os ciclos menstruais da mulher
forem irregulares, se a mulher conceber durante a amamentação ou antes de seu ciclo menstrual regular ter sido
restabelecido após o parto, se estiver ovulando embora apresente amenorreia ou depois de ela interromper os
contraceptivos orais (Schuiling & Likis, 2016).
BOXE 12.4
A REGRA DE NAGELE PARA CALCULAR A DEN
1. Utilize o primeiro dia do último período menstrual14/10/2015
normal 14/07/2015
2. Subtraia 3 do número de meses 21/07/2015
3. Adicione 7 ao número de dias 21/07/2016
4. Corrija o ano, adicionando 1 a ele
5. DEN (+ ou – 2 semanas) = 21 de julho de 2016
Também pode ser utilizada uma calculadora ou disco gestacional ou de nascimento para estimar a data de nascimento
(Figura 12.3). Alguns obstetras usam a ultrassonografia para determinar com mais acurácia a idade gestacional e a data da
gestação. A ultrassonografia é tipicamente o método mais preciso para datar uma gestação.
Tipicamente, uma história obstétrica fornece informações sobre as gestações anteriores da mulher, incluindo quaisquer
problemas encontrados durante gestação, trabalho de parto, parto e pósparto. Essas informações fornecem indícios de
problemas que podem ocorrer na gestação atual. Alguns termos usados comumente para descrever e documentar a história
obstétrica incluem Gesta; Gesta I (primigesta); Gesta II (secundigesta); Multigesta e Para (Tabela 12.1).
Outros sistemas podem ser utilizados para documentar a história obstétrica de uma mulher. Estes sistemas muitas
vezes desdobram a categoria Para em mais detalhes (Boxe 12.5).
As informações sobre a história ginecológica da gestante são importantes. Questione sobre quaisquer cirurgias do
sistema genital que a mulher já fez. Por exemplo, uma cirurgia no útero pode afetar a capacidade do mesmo de se contrair
de modo efetivo durante o parto. O relato de gravidez tubária aumenta o risco de a mulher ter outra gravidez tubária.
Pergunte também sobre práticas de sexo seguro e episódios de DST/IST.
Exame físico
O próximo passo no processo de avaliação é o exame físico, que detecta quaisquer problemas físicos que podem afetar o
desfecho da gestação. O exame físico inicial fornece a base para avaliar as mudanças durante as consultas futuras.
Preparo da gestante
Instrua a paciente a despirse e vestir um roupão. Também peça a ela que urine e, ao fazêlo, colete uma amostra de urina.
Tipicamente, esta é uma amostra de jato médio de urina, que é enviada ao laboratório para detectar uma possível infecção
urinária.
Comece o exame físico avaliando os sinais vitais, incluindo a pressão arterial, a frequência respiratória, a temperatura
e o pulso arterial. Mensure também a altura e o peso da paciente. Anormalidades como pressão arterial elevada sugerem
hipertensão arterial prégestacional, o que demanda avaliação mais aprofundada. Anormalidades nas frequências de pulso e
respiratória exigem investigação mais aprofundada à procura de possível doença cardíaca ou respiratória. Se a mulher
pesar menos de 45,5 kg ou mais de 91 kg ou teve um ganho de peso repentino, relate esses achados ao obstetra; pode ser
necessário tratamento médico ou aconselhamento nutricional.
FIGURA 12.3 DEN usando um disco gestacional. O primeiro dia do último ciclo menstrual normal da mulher foi
1o de outubro. Usando o disco gestacional, sua DEN aproximada seria em 8 de julho do ano seguinte. (Usada com
permissão. Copyright March of Dimes, 2015.)
Tabela 12.1 Termos relacionados com a gestação.
Termo Definição
Gravidez O estado de estar grávida
Gesta O número total de vezes que uma mulher engravidou,
independentemente de a gestação ter sido interrompida
ou terem nascido fetos múltiplos
Nuligesta A mulher que nunca engravidou
Primigesta A mulher grávida pela primeira vez
Secundigesta A mulher grávida pela segunda vez
Multigesta Uma mulher grávida pelo menos pela terceira vez
Para O número de vezes que uma mulher deu à luz um feto com
pelo menos 20 semanas de idade gestacional (viável ou
não), contando nascimentos múltiplos como um evento
único
Paridade Referese ao número de gestações, e não ao número de
fetos, que foram até o ponto de viabilidade,
independentemente do desfecho
Nulípara É a mulher que não produziu uma prole viável
(Para 0)
Primípara É a mulher que deu à luz uma vez após uma gestação de
pelo menos 20 semanas
Multípara A mulher que completou duas ou mais gestações de pelo
menos 20 semanas que resultaram em uma prole viável
Avaliação metódica
De modo geral, a avaliação metódica completa é realizada pelo médico. Todos os sistemas do corpo são avaliados.
Algumas das principais áreas são discutidas aqui. Ao longo da avaliação, não se esqueça de cobrir a paciente de modo
adequado para garantir sua privacidade e evitar que ela fique com frio.
CABEÇA E PESCOÇO
A cabeça e o pescoço são examinados à procura de agravos prévios e sequelas. É preciso verificar se há limitações na
amplitude de movimento. Durante a palpação verificase se há hipertrofia ou tumefação dos linfonodos. Observase
também se existe edema da mucosa nasal ou hipertrofia do tecido gengival na boca, que são respostas típicas ao aumento
dos níveis de estrogênio durante a gestação. Verificar se a glândula tireoide está aumentada à palpação. Um aumento
discreto é normal, mas aumento significativo pode indicar hipertireoidismo, exigindo investigação adicional.
BOXE 12.5
TERMOS RELACIONADOS COM A HISTÓRIA OBSTÉTRICA | GTPAV OU TPAV
Gesta = gestações, T = partos a termo, P = prematuros, A = abortos, V = vivos
• Gesta: a gestação atual é incluída na contagem
• T: número de gestações a termo com partos entre a 38a e a 42a semana
• P: o número de gestações prétermo que terminaram com mais de 20 semanas ou com viabilidade, mas
antes de completar 37 semanas
• A: o número de gestações que terminaram antes de 20 semanas ou da viabilidade
• V: o número de crianças vivas atualmente.
Veja este exemplo:
Mary Johnson está grávida pela quarta vez. Ela teve um aborto em uma gestação de 8 semanas. Ela tem
uma filha que nasceu de uma gestação de 40 semanas e um filho nascido com 34 semanas. A história
obstétrica de Maria seria documentada conforme segue:
• Gesta IV, Para II
• Método TPAV: 1112 (T = 1 [filha nasceu com 40 semanas], P = 1 [filho nasceu com 34 semanas], A = 1
[aborto com 8 semanas], V = 2 [dois filhos vivos])
TÓRAX
Ausculte as bulhas cardíacas, observando qualquer anormalidade. Podese auscultar um sopro sistólico leve causado pelo
aumento do volume sanguíneo. Antecipe um aumento da frequência cardíaca em 10 a 15 batimentos por minuto (bpm)
(começando entre a 14ae a 20a semana de gestação) secundário ao aumento do débito cardíaco e do volume sanguíneo. O
corpo se adapta ao aumento do volume sanguíneo por meio de dilatação periférica para manter a pressão arterial. A
progesterona provoca vasodilatação periférica.
Ausculte o murmúrio vesicular nos dois hemitórax; não devem existir ruídos adventícios. Além disso, observe a
simetria do movimento do tórax e os padrões de respiração torácica. O estrogênio promove o relaxamento dos ligamentos
e das articulações das costelas, com consequente aumento do diâmetro anteroposterior do tórax. É de se esperar um
discreto aumento da frequência respiratória para acomodar o aumento do volume corrente e do consumo de oxigênio.
Inspecione e palpe as mamas e os mamilos, avaliando sua coloração e simetria. A elevação dos níveis de estrogênio e
progesterona e da irrigação sanguínea faz com que as mamas pareçam mais cheias e nodulares, com aumento da
sensibilidade ao toque. Os vasos sanguíneos se tornam mais visíveis e as mamas aumentam de tamanho. Estrias
gestacionais podem ser visíveis em mulheres com mamas grandes. A pigmentação dos mamilos e das aréolas se torna
mais escura, juntamente com hipertrofia dos tubérculos de Montgomery (glândulas areolares segundo a Terminologia
Anatômica). O colostro (secreção amarelada que antecede o leite materno maduro) é tipicamente excretado no terceiro
trimestre da gestação.
Anote!
Use essa oportunidade para reforçar e orientar o autoexame se a mulher tiver uma história de alto risco.
ABDOME
A aparência do abdome depende do número de semanas gestacionais. O abdome aumenta progressivamente à medida que o
feto cresce. Inspecione o abdome à procura de estrias, cicatrizes e avalie seu formato e suas dimensões. A inspeção pode
revelar estrias gestacionais e a linha nigra, uma fina linha pigmentada pretoacastanhada que vai do umbigo à sínfise
púbica, dependendo da idade gestacional. Palpe o abdome, que deve ser arredondado e indolor. Podese observar
diminuição no tônus muscular devido à influência da progesterona.
Tipicamente, medese a altura do fundo do útero quando o útero deixa a pelve para avaliar o crescimento fetal. Na
12 semana de gestação, o fundo de útero pode ser palpado na sínfise púbica. Na 16a semana de gestação, está no ponto
a
médio entre a sínfise e o umbigo. Com 20 semanas, o fundo de útero pode ser palpado na altura do umbigo e mede cerca
de 20 cm a partir da sínfise púbica. Na 36a semana, o fundo de útero está logo abaixo do apêndice xifoide e mede cerca de
36 cm. O útero mantém o formato globular/ovoide durante toda a gestação (Bope & Kellerman, 2015).
MEMBROS
Inspecione e palpe as duas pernas à procura de edema postural, verificando os pulsos arteriais e se há veias varicosas. Se
houver edema no início da gestação, é necessária uma avaliação mais aprofundada para descartar hipertensão arterial
gestacional. Durante o terceiro trimestre, o edema postural é um achado normal. Pergunte à mulher se ela sente dor na
panturrilha, que piora quando ela deambula. Isso poderia indicar trombose venosa profunda (TVP). Altos níveis de
estrogênio durante a gestação aumentam o risco de TVP.
Exame ginecológico
O exame ginecológico fornece informações sobre os órgãos genitais internos e externos. Além disso, auxilia na avaliação
de alguns dos sinais presumíveis e prováveis de gestação e possibilita a determinação da adequação da pelve. Durante o
exame ginecológico, o profissional de enfermagem deve permanecer na sala de exame para auxiliar o médico com a coleta,
a fixação e a rotulagem de quaisquer amostras coletadas. Também proporcione conforto e apoio emocional à mulher, que
pode estar ansiosa. Durante todo o exame, explique o que está acontecendo e por que, e responda a quaisquer perguntas, se
necessário.
GENITÁLIA EXTERNA
Depois que a paciente estiver na posição de litotomia e adequadamente coberta, a genitália externa é inspecionada
visualmente. À inspeção não devem ser encontrados lesões, corrimento, hematomas, varicosidades e inflamação. Podese
coletar material para cultura de modo a descartar DST/IST neste momento.
GENITÁLIA INTERNA
Em seguida, examinase a genitália interna com o auxílio de um espéculo. O colo do útero deve estar liso, longo, espesso
e fechado. Devido ao aumento da congestão pélvica, o colo do útero estará amolecido (sinal de Goodell), o istmo uterino
estará amolecido (sinal de Hegar) e o colo do útero e a mucosa vaginal terão uma coloração azulada (sinal de Chadwick).
Tipicamente, o útero é piriforme e móvel, com uma superfície lisa. Suas células sofrerão hipertrofia e hiperplasia de
modo a aumentar ao longo da gestação para acomodar o crescimento fetal.
Durante o exame ginecológico, podese coletar amostra para um esfregaço de Papanicolaou. Material para outros tipos
de cultura, como o rastreamento de gonorreia e infecção por clamídia, pode também ser coletado. Assegurese de que
todas as amostras obtidas sejam rotuladas de modo correto e enviadas para o laboratório para avaliação. Fazse um exame
retal à procura de lesões, massas, prolapso ou hemorroidas.
Uma vez completado o exame da genitália interna e removido o espéculo, realizase um exame bimanual para estimar o
tamanho do útero e confirmar a idade gestacional e palpar os ovários. Os ovários devem ser pequenos e indolores, sem
massas. Na conclusão do exame bimanual, o médico reinsere cuidadosamente o dedo indicador na vagina e o dedo médio
no reto para avaliar a força e a regularidade da parede vaginal posterior.
TAMANHO, FORMATO E MEDIDAS DA PELVE
O tamanho e o formato da pelve da mulher podem afetar a capacidade de ter um parto vaginal. O formato da pelve é,
tipicamente, classificado como um de quatro tipos: ginecoide, androide, antropoide e platipeloide. Consulte no Capítulo
13 uma discussão aprofundada do tamanho e do formato da pelve.
A determinação das medidas pélvicas internas possibilita a definição dos diâmetros reais das aberturas superior e
inferior por onde o feto irá passar. Isso é extremamente importante se a mulher nunca deu à luz por via vaginal. É
desnecessário fazer as medidas pélvicas para a mulher que já passou por um parto vaginal (a menos que ela tenha sofrido
algum tipo de traumatismo no local), pois o parto vaginal demonstra que a pelve é adequada para a passagem do feto.
Avaliamse três medidas: conjugada diagonal (diâmetro diagonal segundo a Terminologia Anatômica), conjugada
verdadeira (diâmetro verdadeiro segundo a Terminologia Anatômica) e tuberosidade isquiática (túber isquiático, segundo a
Terminologia Anatômica) (Figura 12.4). A conjugada diagonal é a distância entre a superfície anterior da proeminência do
sacro e a superfície anterior da margem inferior da sínfise púbica (Bope & Kellerman, 2015). Essa medida, que
geralmente é de 12,5 cm ou mais, representa o diâmetro anteroposterior da abertura superior da pelve pelo qual a cabeça
do feto passa em primeiro lugar. A conjugada diagonal é a medida mais útil para estimar o tamanho da pelve, porque
ocorre um desajuste com a cabeça fetal se essa medida for muito pequena.
A conjugada verdadeira, também chamada de conjugada obstétrica, é a medida da face anterior da proeminência sacra
até a face posterior da margem inferior da sínfise púbica. Esse diâmetro não pode ser medido diretamente, mas é estimado
pela subtração de 1 a 2 cm da conjugada diagonal. O diâmetro conjugado verdadeiro médio é de pelo menos 11,5 cm
(Cunningham et al., 2014). Essa medida é importante porque é o menor diâmetro anteroposterior por meio do qual a
cabeça do feto precisa passar ao moverse pela abertura superior da pelve.
O diâmetro da tuberosidade isquiática é o diâmetro transversal da abertura inferior da pelve. Essa medida é feita fora
da pelve, no aspecto mais inferior das tuberosidades isquiáticas. Um diâmetro de 10,5 cm ou mais é considerado adequado
para a passagem da cabeça fetal (Tharpe, Farley, & Jordan, 2016).
Exames complementares
Habitualmente vários exames são solicitados durante a consulta inicial para obter dados básicos, possibilitando a detecção
precoce e a intervenção imediata caso ocorram quaisquer problemas. Os exames que geralmente são solicitados para todas
as gestantes incluem os de urina e os de sangue. A urina é analisada à procura de albumina, glicose, cetonas e cilindros
bacterianos. Os exames de sangue geralmente incluem hemograma (hemoglobina, hematócrito, contagem de hemácias,
leucócitos e plaquetas), tipagem sanguínea e fator Rh, glicemia de jejum para mulheres de alto risco, pesquisa de
anticorpos contra rubéola, sorologia para hepatite B (anticorpos antiHBs), sorologia para HIV, VDRL (Venereal Disease
Research Laboratory) ou teste rápido para reagina plasmática (RPR) e esfregaços cervicais para detectar DST/IST
(Exames laboratoriais e complementares comuns 12.1). Além disso, muitos consultórios e clínicas têm equipamentos de
ultrassonografia disponíveis para confirmar uma gestação intrauterina e avaliar o crescimento fetal inicial.
A necessidade de exames laboratoriais adicionais é determinada por anamnese da gestante, achados do exame físico,
estado de saúde atual e fatores de risco identificados na entrevista inicial. Podem ser oferecidos exames adicionais (p. ex.,
rastreamento de doenças genéticas, níveis sanguíneos de chumbo, sarampo e assim por diante); contudo, a decisão final de
fazer ou não esses exames é da gestante e de seu companheiro. Oriente a paciente e o companheiro dela em relação aos
exames, incluindo sua justificativa. Além disso, apoieos no processo de tomada de decisão, independentemente de você
concordar com a decisão do casal. As decisões do casal sobre seus cuidados de saúde são baseadas no princípio ético da
autonomia, que garante ao indivíduo o direito de tomar decisões em relação ao seu próprio corpo.
Lembrase de Linda e Rob, o casal que deseja começar uma família? Dez meses após sua consulta
preconcepcional, Linda liga para marcar a primeira consulta prénatal. Quais são as principais áreas a serem
abordadas nessa primeira consulta prénatal? Quais intervenções podem ser apontadas para Linda
implementar a fim de assegurar um recémnascido saudável? Que apoio emocional poderia ser necessário
para Linda em seu primeiro trimestre de gestação?
FIGURA 12.4 Medidas pélvicas. A. Conjugada diagonal (linha contínua) e conjugada verdadeira (linha
pontilhada). B. Diâmetro da tuberosidade isquiática.
Exames laboratoriais e complementares comuns 12.1
Exame Justificativa
Hemograma completo Avalia os níveis de hemoglobina (12 a 14 g) e o
hematócrito (42% ± 5%) e contagem de
hemácias (4,2 a 5,4 milhões/mm3) para
detectar anemia; identifica o nível de
leucócitos do sangue (5.000 a 10.000/mm3),
que se estiver elevado pode indicar uma
infecção; determina a contagem de
plaquetas (150.000 a 450.000/mℓ3) para
avaliar a capacidade de coagulação
Tipagem sanguínea Determina o tipo de sangue e o fator Rh da
mulher para descartar precocemente
problemas de incompatibilidade de sangue;
a mãe Rhnegativa provavelmente receberá
RhoGAM® na 28a semana de gestação e
novamente 72 horas após o parto, se ela for
Rhsensível
Sorologia para rubéola Detecta anticorpos para o vírus da rubéola. Se
a titulação for de 1:8 ou menos, a mulher
não é imune; é necessário imunização após
o nascimento e a mulher é aconselhada a
evitar contato com pessoas com erupções
cutâneas não diagnosticadas
Sorologia para hepatite B Determina se a mãe tem hepatite B, detectando
anticorpos (antiHBs) contra o antígeno de
superfície da hepatite B (HBsAg) no sangue
Sorologia para HIV
Detecta anticorpos antiHIV; se positivo, exige a
realização de exames mais específicos,
aconselhamento e tratamento durante a
gestação com fármacos antirretrovirais para
evitar a transmissão para o feto
Rastreamento de Detecta DST/IST (como sífilis, herpes,
DST/IST: VDRL gonorreia, HPV), para que o tratamento
(Venereal Disease possa ser iniciado precocemente a fim de
Research Laboratory) evitar a transmissão para o feto
ou teste rápido para
reagina plasmática
(RPR) ou por
esfregaços cervicais,
culturas ou
identificação visual de
lesões suspeitas
Esfregaços cervicais Detectam anomalias como câncer ou infecções
de colo uterino (Papanicolaou), como
gonorreia, clamídia ou estreptococo do
grupo B, para que o tratamento possa ser
iniciado se positivo
Adaptado de Fischbach, F., & Dunning, M. B. (2014). A manual of
laboratory and diagnostic tests (9th ed.). Philadelphia, PA: Lippincott
Williams & Wilkins; Ferri, F. F. (2014). Ferri’s best test: A practical guide to
laboratory medicine and diagnostic imaging (3rd ed.). Philadelphia, PA:
Elsevier Health Sciences.
CONSULTAS DE ACOMPANHAMENTO
É importante realizar cuidados prénatais contínuos para um desfecho bemsucedido da gestação. A programação
recomendada para as consultas de acompanhamento para a gestante saudável é a seguinte:
• A cada 4 semanas até a 28a semana (7 meses)
• A cada 2 semanas entre a 29a e a 36a semana
• Todas as semanas a partir da 37a semana até o nascimento.
Em cada consulta prénatal subsequente:
• Verificar o peso e a pressão arterial, que são comparados aos valores basais
• Solicitar exame de urina à procura de proteína, glicose, cetonas e nitritos
• Medir altura do fundo do útero para avaliar o crescimento fetal
• Avaliar os movimentos fetais para determinar o bemestar fetal
• Verificar a frequência cardíaca fetal (deve estar entre 110 e 160 bpm).
Em cada consulta de acompanhamento, responda perguntas, forneça instrução e orientação antecipatória, reveja as
orientações nutricionais e avalie a paciente quanto à adequação do tratamento vitamínico prénatal. Ao longo da gestação,
incentive o companheiro da mulher a participar, se possível.
Intervalos entre as consultas de acompanhamento e avaliações
Até a 28a semana de gestação, as consultas de acompanhamento envolvem a avaliação da pressão arterial e do peso da
paciente. São solicitados exames de urina à procura de proteína e glicose. Avaliamse a altura do fundo do útero e a
frequência cardíaca fetal a cada visita ao consultório.
Ainda há controvérsias sobre o melhor procedimento para o rastreamento e o diagnóstico de diabetes gestacional.
Todas as estratégias envolvem um teste de tolerância à glicose oral, mas ainda não existe consenso sobre quantos gramas
de glicose (50, 75 ou 100) a gestante deve ingerir e quanto tempo depois a coleta de sangue deve ser feita. Uma revisão
Cochrane recente concluiu que não há evidências suficientes para possibilitar a avaliação de qual é o melhor método para
identificar mulheres com diabetes gestacional (Farrar et al., 2015). O rastreamento de diabetes gestacional é mais bem
feito entre a 24a e a 28a semana de gestação, a menos que o rastreamento seja necessário no primeiro trimestre por motivos
de alto risco (obesidade, idade materna superior a 25 anos, história familiar de diabetes melito, história pregressa de
diabetes gestacional ou mulher de um determinado grupo étnico: hispânico, indígena norteamericano, asiático ou
afroamericano) (U.S. Preventive Services Task Force [USPSTF], 2015). Entre a 24a e a 28a semana de gestação,
determinase o nível sanguíneo de glicose após uma sobrecarga por via oral de 50 g de glicose, seguida 1 hora depois pela
determinação da glicose plasmática. Se o resultado for superior a 130 (ADA) a 140 (ACOG) mg/dℓ , realizamse mais
testes, como um teste de tolerância à glicose de 3 horas com sobrecarga de 100 g, para determinar se há diabetes
gestacional (Farrar et al., 2015). Como a resistência à insulina aumenta à medida que a gestação avança, testar nesse
momento da gestação resulta em uma taxa mais elevada de resultados anormais.
Durante esse período, reveja os desconfortos comuns da gestação, avalie as queixas da paciente e responda às
perguntas dela. Reforce a importância de manter uma boa nutrição e tomar as vitaminas prénatais, além de exercitarse
diariamente.
Entre a 29a e a 36a semana de gestação, realizamse todas as avaliações das consultas anteriores, juntamente com a
avaliação de edema. Dáse especial atenção à existência e à localização do edema durante o último trimestre. As gestantes
costumam apresentar edema postural nos membros inferiores pela constrição dos vasos sanguíneos secundária ao útero
gravídico pesado. Edema periorbital, edema das mãos e edema prétibial (edema na parte anterior da perna) são anormais e
poderiam ser sinais de hipertensão arterial gestacional. É importante inspecionar e palpar os dois membros, ouvir os
relatos de anéis apertados e observar se há edema periorbital. Achados anormais em qualquer uma dessas áreas precisam
ser relatados.
Se a mãe for Rhnegativa, avaliase a titulação de anticorpos. Administrase RhoGAM®, se indicado. O RhoGAM® é
utilizado para prevenir o desenvolvimento de anticorpos contra hemácias Rhpositivas sempre que se souber ou se
suspeitar de que células fetais entraram na circulação materna, como depois de um aborto espontâneo ou amniocentese. Se
o feto for Rhpositivo, também é recomendada a profilaxia na 28asemana de gestação e após o nascimento (King et al.,
2015). A paciente também é avaliada quanto ao risco de parto prétermo. Em toda consulta, pergunte se ela está tendo
algum dos sinais e sintomas mais comuns de trabalho de parto prematuro (p. ex., contrações uterinas, dorsalgia difusa,
sensação de pressão na região pélvica ou coxas, aumento da secreção vaginal, cólicas menstruais, sangramento vaginal).
Se a mulher já teve um parto prétermo, ela corre risco de ter outro, o que justifica um acompanhamento atento. Se a
gestante relatar sinais e sintomas de trabalho de parto prétermo, a avaliação inicial inclui: revisão do prontuário prénatal
à procura de fatores de risco, avaliação de sinais/sintomas relatados (contrações uterinas, sinais vitais, frequência cardíaca
fetal, exame ginecológico para verificar se há dilatação e apagamento do colo do útero e as condições das membranas
corioamnióticas e cultura de urina para diagnosticar bacteriuria assintomática (Jordan et al., 2014). Se for positivo para
trabalho de parto prétermo, solicitase que a gestante repouse e são prescritos fármacos para interromper as contrações
uterinas.
Aconselhe a mulher em relação à escolha de um pediatra para o recémnascido, se ela ainda não o fez. Ao realizar a
avaliação das mamas, o enfermeiro deve conversar e orientar a paciente sobre aleitamento materno e alimentação com
mamadeira. A American Academy of Pediatrics (AAP) realmente encoraja o aleitamento materno para todas as puérperas,
mas a decisão final ainda é da mãe. O enfermeiro pode orientar a puérpera a procurar sites e organizações como Amigas do
Peito para obter mais informações que a ajudem a tomar a decisão de amamentar seu filho. Reforce a importância do
monitoramento da movimentação fetal diariamente como um indicador do bemestar fetal. Reavalie os níveis de
hemoglobina e o hematócrito à procura de anemia.
Entre a 37a e a 40a semana de gestação, fazemse as mesmas avaliações realizadas nas semanas anteriores. Além disso,
verificase se há infecção por estreptococos do grupo B, Neisseria gonorrhoeae e clamídia. Avaliamse a apresentação e a
posição fetal (via manobras de Leopold). Reveja os sinais e sintomas de trabalho de parto e envie uma cópia do registro de
prénatal para o setor de trabalho de parto do hospital para consulta futura. Reveja o desejo da paciente de planejamento
familiar após o nascimento, bem como a sua decisão de amamentar ou usar mamadeira. Relembre a paciente de que um
assento de carro infantil é exigido por lei e tem de ser usado para levar o recémnascido do hospital ou da casa de parto
para casa.
Altura do fundo do útero
A altura do fundo do útero é a distância (em centímetros), medida com uma fita métrica, da parte superior do osso púbico
até o fundo do útero, com a paciente deitada em decúbito dorsal com os joelhos ligeiramente fletidos (Figura 12.5). A
medição feita desse modo é denominada método de McDonald. A altura do fundo do útero aumenta tipicamente à medida
que a gestação avança; reflete o crescimento fetal e fornece uma estimativa aproximada da idade gestacional.
FIGURA 12.5 Medida da altura do fundo do útero.
Entre a 12a e a 14a semana de gestação, o fundo de útero pode ser palpado acima da sínfise púbica. O fundo do útero
alcança o nível do umbigo aproximadamente na 20asemana de gestação e mede 20 cm. A medida do fundo do útero deve
ser aproximadamente igual ao número de semanas de gestação até a 36a semana. Por exemplo, uma altura de 24 cm sugere
um feto com 24 semanas de gestação. Após a 36asemana, a altura do fundo do útero diminui devido ao encaixe da cabeça
do feto na pelve e não corresponde mais à semana de gestação.
Esperase que a altura do fundo do útero aumente progressivamente ao longo da gestação, refletindo o crescimento
fetal. No entanto, se a curva de crescimento se achata ou permanece estável, isso indica restrição do crescimento fetal. Se a
medida da altura do fundo do útero estiver 4 cm acima da idade gestacional estimada, isso justifica uma avaliação mais
aprofundada caso não tenha sido diagnosticada uma gestação multifetal ou se não foi descartada a possibilidade de poli
hidrâmnio (Weber & Kelley, 2014).
Determinação dos movimentos fetais
A percepção dos movimentos fetais começa, tipicamente, no segundo trimestre da gravidez e ocorre mais cedo nas
mulheres multíparas do que nas nulíparas. A primeira percepção dos movimentos fetais pela mãe é, com frequência,
descrita como uma vibração delicada. Esses movimentos fetais percebidos mais frequentemente estão relacionados com o
movimento e as sobreposições do tronco e dos membros ou virada do feto (Moses, 2015b). A percepção materna do
movimento fetal é um importante método de rastreamento do bemestar fetal, porque a movimentação fetal diminuída está
associada a várias doenças da gestação e a um desfecho negativo da gestação. A movimentação fetal diminuída pode
indicar asfixia e restrição de crescimento fetal. Se comprometido, o feto reduz sua necessidade de oxigênio diminuindo sua
atividade. Acreditase que a movimentação fetal reduzida represente uma compensação do feto ao ambiente com hipoxia
crônica devido a inadequações no aporte placentário de oxigênio e nutrientes (Fretts, 2014). A diminuição da
movimentação fetal também pode estar relacionada com outros fatores, como o uso materno de depressores do sistema
nervoso central, os ciclos de sono fetal, a hidrocefalia, a agenesia renal bilateral, a natimortalidade, a disfunção placentária
e a luxação bilateral do quadril (Heazell, 2015).
A contagem dos movimentos fetais é um método usado pela gestante para quantificar os movimentos do filho.
Todavia, ainda há controvérsias em relação ao número ótimo de movimentos fetais e a duração ideal da contagem dos
movimentos fetais. Foram desenvolvidas muitas variações para a determinação do movimento fetal, também chamadas de
contagem dos movimentos fetais, mas o método mais comum é descrito a seguir. A determinação do movimento fetal é
um método não invasivo de rastreamento e pode ser facilmente ensinado a todas as gestantes. Todas as técnicas demandam
a participação e a cooperação da paciente.
Instrua a paciente a contar os movimentos fetais, os motivos para fazêlo e a importância da redução dos movimentos
fetais. Incentive a paciente a realizar a contagem em um ambiente descontraído e em uma posição confortável, como semi
Fowler ou decúbito lateral. Forneça à paciente informações detalhadas sobre a contagem dos movimentos fetais e destaque
a necessidade da consistência no monitoramento (aproximadamente na mesma hora todos os dias) e da importância de
informar o médico imediatamente de qualquer redução nos movimentos. Fornecer à paciente gráficos para a contagem dos
movimentos fetais ajuda a promover a adesão às suas orientações. Ainda não foram estabelecidos valores para o
movimento fetal que indiquem bemestar fetal, portanto, a gestante precisa se conscientizar de redução do número de
movimentos quando avaliada pela última vez. O método mais frequentemente utilizado é “contar até 10” enquanto a
gestante focaliza sua atenção nos movimentos de seu feto e anota quanto tempo demorou para documentar 10 movimentos.
Se demorar mais de 2 horas, a gestante deve entrar em contato com o obstetra para avaliação adicional. Atualmente, a
contagem de chutes fetais nos cuidados prénatais parece ser subutilizada e os enfermeiros precisam ensinar essa técnica
para as gestantes durante as consultas prénatais.
Determinação da frequência cardíaca fetal
A determinação da frequência cardíaca fetal é essencial para o acompanhamento do feto durante a gestação. Auscultar a
frequência cardíaca fetal com o Doppler portátil em cada consulta prénatal ajuda a confirmar que o ambiente intrauterino
ainda é favorável ao feto em crescimento. O objetivo de avaliar a frequência cardíaca fetal é determinar a frequência e o
ritmo. A faixa de frequência cardíaca fetal normal vai de 110 a 160 bpm. No boxe Procedimento de enfermagem 12.1
constam os passos para determinar a frequência cardíaca fetal.
Orientações em relação aos sinais de perigo da gestação
É importante orientar a paciente sobre os sinais de perigo durante a gestação que exigem avaliação mais aprofundada.
Explique que ela deve contatar o obstetra imediatamente se tiver algum dos seguintes:
• Durante o primeiro trimestre: sangramento vermelhovivo ou em borra de café (aborto); dor à micção (infecção);
vômitos persistentes graves (hiperêmese gravídica); febre > 37,7°C (infecção); e dor abdominal inferior, associada a
tontura e acompanhada por dor no ombro (gestação ectópica rota)
• Durante o segundo trimestre: contrações uterinas regulares (trabalho de parto prematuro); dor na panturrilha,
frequentemente exacerbada pela dorsiflexão do tornozelo (coágulo em veia profunda); jorro ou extravasamento súbito
de líquido pela vagina (ruptura prematura das membranas amnióticas) e ausência de movimentos fetais durante mais de
12 horas (possível sofrimento ou morte fetal)
• Durante o terceiro trimestre: ganho de peso repentino; edema periorbital ou facial; intensa dor abdominal ou cefaleia
associada a alterações visuais (hipertensão arterial gestacional e/ou préeclâmpsia) e diminuição dos movimentos fetais
diários durante mais de 24 horas (possível morte). Qualquer um dos sinais e sintomas descritos anteriormente também
pode ocorrer neste último trimestre (March of Dimes, 2015a).
PROCEDIMENTO DE ENFERMAGEM 12.1
Determinação da frequência cardíaca fetal
Objetivo: avaliar o bemestar do feto
1. Ajude a mulher a subir na mesa de exame e coloquea deitada
2. Cubraa com um lençol para garantir a privacidade e, em seguida,
exponha seu abdome
3. Palpe o abdome para determinar a situação, a posição e a apresentação
fetais
4. Localize a parte posterior do feto (a posição ideal para ouvir o ritmo
cardíaco)
5. Aplique gel lubrificante no abdome na área onde a parte posterior estiver
localizada
6. Ligue o aparelho Doppler portátil e coloqueo no ponto em que está o
dorso do feto
7. Ouça o som dos batimentos cardíacos amplificados, movendo o aparelho
discretamente de um lado para outro conforme necessário para obter o
som mais alto. Avalie a frequência de pulso da mulher e comparea ao
som amplificado. Se as frequências parecerem a mesma, reposicione o
aparelho Doppler
8. Após identificar a frequência cardíaca fetal, conte o número de
batimentos durante 1 minuto e anote os resultados
9. Limpe o gel remanescente do abdome da gestante e do aparelho
10. Registre a frequência cardíaca no prontuário da gestante; a variação
normal é de 110 a 160 bpm
11. Forneça informações à mulher sobre o bemestar fetal com base nos
achados
Contrações precoces
Um dos sinais de alerta que devem ser enfatizados é a contração precoce, que pode evoluir para parto prétermo. A mulher
não deve confundir essas contrações prematuras precoces com as contrações de Braxton Hicks, que não são dores de parto
verdadeiras porque desaparecem ao deambular ou descansar. Muitas vezes desaparecem quando a gestante dorme. As
contrações de Braxton Hicks geralmente são sentidas no abdome, em vez de na região lombar, como ocorre com as
contrações prematuras verdadeiras. Os sinais de trabalho de parto prétermo que a gestante pode apresentar incluem
contrações uterinas a cada 10 minutos ou mais frequentemente, alteração da secreção vaginal, sensação de pressão pélvica,
lombalgia surda, cólicas pélvicas e diarreia (NagtalonRamos, 2014).
Todas as gestantes precisam ser capazes de reconhecer os primeiros sinais de contração para evitar o trabalho de parto
prematuro, que é um importante problema de saúde pública nos EUA. Aproximadamente 12% de todos os nascidos vivos
– ou 1 em cada 9 recémnascidos – nascem antes do termo. Nos EUA, a taxa de nascimentos prematuros aumentou em
36% nos últimos 25 anos.1 A cada ano, ocorrem 15 milhões de partos prematuros em todo o planeta (March of Dimes,
2015b). Estes recémnascidos prétermo (nascidos de uma gestação de menos de 37 semanas) podem ter repercussões para
a saúde para toda a vida, como déficit intelectual, doença pulmonar crônica, paralisia cerebral, transtornos epilépticos e
cegueira (March of Dimes, 2015c). O trabalho de parto prematuro pode acontecer em qualquer gestação, a qualquer
momento. Em muitos casos, pode ser interrompido com medicamentos se for reconhecido precocemente, antes de ter
ocorrido dilatação significativa do colo do útero. Se a gestante sentir cólicas parecidas com as menstruais a cada 10
minutos, acompanhados por dorsalgia difusa, deve parar o que está fazendo e deitarse em decúbito lateral esquerdo por 1
hora e beber dois ou três copos de água. Se os sintomas piorarem ou não desaparecem depois de 1 hora, deve contatar o
obstetra.
AVALIAÇÃO DO BEMESTAR FETAL
Durante o período préparto, vários exames são realizados rotineiramente para monitorar o bemestar fetal e detectar
possíveis problemas. Quando é identificada uma gestação de alto risco, podem ser realizados exames préparto adicionais,
para promover desfechos maternos, fetais e neonatais positivos. As gestações de alto risco incluem aquelas que são
complicadas por condições maternas ou fetais (coincidentes com a gestação ou próprias dela) que põem em risco a saúde
da mãe e colocam o feto em risco de insuficiência uteroplacentária, hipoxia e morte (CDC, 2015d). Entretanto, a
realização de exames fetais adicionais deve ocorrer somente quando os resultados obtidos guiarem condutas futuras, seja
para tranquilização, realização mais frequente dos exames, internação ou necessidade de parto imediato (Brown, 2015).
Ultrassonografia
Desde o seu aparecimento no final da década de 1950, a ultrassonografia tornouse uma ferramenta de diagnóstico muito
útil em obstetrícia. Escâneres em tempo real conseguem produzir uma imagem contínua do feto em um monitor. Um
transdutor que emite ondas sonoras de alta frequência é apoiado no abdome da mãe e é movimentado para visualizar o feto
(Figura 12.6). Podemse avaliar os batimentos cardíacos fetais e quaisquer malformações no feto. A partir da imagem na
tela do monitor, podese fazer medidas com acurácia.
A ultrassonografia obstétrica é um componente padronizado dos cuidados preconcepcionais que é usado para
identificar complicações da gravidez e para estabelecer com acurácia a idade gestacional com o propósito de melhorar os
desfechos da gravidez. Como a ultrassonografia é um exame não invasivo, é considerada uma ferramenta acurada, custo
efetiva e segura, mas não é uma prática baseada em evidências para mulheres de baixo risco. Fornece informações
importantes sobre a atividade fetal, o crescimento fetal e a idade gestacional, avalia o bemestar fetal e determina a
necessidade de exames intrauterinos invasivos (Maeda, 2015).
Não existem regras bem definidas a respeito do número de ultrassonografias que devem ser feitas durante a gestação.
Uma gestante de baixo risco não precisa necessariamente de nenhum, mas na maioria das unidades de saúde esses exames
são solicitados rotineiramente como parte dos cuidados prénatais. A ultrassonografia transvaginal pode ser realizada no
primeiro trimestre da gravidez para descartar a possibilidade de gravidez ectópica (implantação de um oócito secundário
fertilizado em outro local que não a cavidade uterina) ou gravidez molar (mola hidatiforme é um tumor benigno que se
desenvolve no útero) e confirmar a pulsação cardíaca do embrião. Uma segunda ultrassonografia abdominal é realizada por
volta da 18a à 20a semana de gestação à procura de malformações congênitas, para excluir gestações multifetais e verificar
a idade gestacional e o crescimento do feto. O terceiro exame abdominal pode ser feito por volta da 34a semana para
avaliar o tamanho e o crescimento fetais e verificar a posição da placenta (Everett & Peebles, 2015). A ultrassonografia é
usada para confirmar a localização da placenta durante a amniocentese e proporcionar visualização durante a biopsia de
vilosidade coriônica (BVC). Além disso, uma ultrassonografia é solicitada sempre que houver suspeita de anormalidades.
Durante os últimos anos, a tecnologia da ultrassonografia avançou significativamente. Agora está disponível para os
pais expectantes a ultrassonografia 3D/4D. Ao contrário das imagens bidimensionais tradicionais, que observam o feto em
desenvolvimento a partir de um ângulo (criando assim imagens “planas”), as imagens tridimensionais fornecem uma visão
do feto a partir de três ângulos diferentes. Em seguida, um software capta essas três imagens e as reúne para produzir uma
imagem 3D. Como a quarta dimensão é o tempo e o movimento, na ultrassonografia 4D os pais conseguem observar os
movimentos de seu feto em três dimensões.
A conduta de enfermagem durante a realização da ultrassonografia se concentra em orientar a gestante a respeito do
exame e assegurarlhe que ela não sentirá as ondas sonoras. Não é necessário preparação especial da paciente antes de
realizar a ultrassonografia, embora no início da gestação possa ser necessário que a mulher esteja com a bexiga cheia.
Informea que ela pode sentir algum desconforto em decorrência da compressão da bexiga cheia durante o exame, mas isso
vai durar pouco tempo. Diga à paciente que o gel condutor usado no abdome durante exame inicialmente é frio.
Estudos de fluxo com Doppler
A avaliação abrangente do bemestar fetal envolve o monitoramento do crescimento fetal, da função placentária, da pressão
venosa central e da função cardíaca. A avaliação ultrassonográfica do feto por meio de técnicas 2D, Doppler colorido e
Doppler pulsado forma a base do diagnóstico prénatal de anomalias estruturais, anormalidades do ritmo cardíaco e
alteração da circulação fetal (Pruetz, VotavaSmith, & Miller, 2015). Os estudos de fluxo com Doppler podem ser
utilizados para medir a velocidade do fluxo sanguíneo por meio da ultrassonografia. Os estudos de fluxo com Doppler
conseguem detectar comprometimento fetal em gestações de alto risco. O teste não é invasivo e não tem contraindicações.
As imagens coloridas produzidas ajudam a identificar anormalidades do fluxo diastólico nos vasos umbilicais. A
velocidade dos eritrócitos fetais pode ser determinada medindo a variação da frequência da onda de som refletida fora das
células. Assim, os estudos de fluxo com Doppler conseguem detectar o movimento dos eritrócitos nos vasos (Everett &
Peebles, 2015). Em gestações complicadas por hipertensão arterial ou restrição do crescimento fetal, o fluxo arterial
diastólico pode não existir ou até mesmo ser invertido (Alfirevic, Stampalija, & Medley, 2015). Os estudos de fluxo com
Doppler também podem ser utilizados para avaliar o fluxo sanguíneo em outros vasos sanguíneos fetais, como a aorta e os
vasos do encéfalo. Continuam sendo feitas pesquisas para determinar as indicações para estudos de fluxo com Doppler
para melhorar os desfechos da gestação. A conduta de enfermagem da gestante que faz esses exames é semelhante à
descrita para a ultrassonografia.
FIGURA 12.6 Ultrassonografia. A. Aparelho de ultrassonografia sendo utilizado no abdome da paciente. B. Imagem
do monitor.
Análise da alfafetoproteína
A alfafetoproteína (AFP) é uma glicoproteína produzida inicialmente pelo saco vitelino e pelo intestino fetal, e depois
predominantemente pelo fígado fetal. Em um feto, o nível sérico da AFP se eleva até aproximadamente a 15a semana e, em
seguida, cai progressivamente. Em gestações normais, a AFP do soro fetal penetra no líquido amniótico (em
microgramas) por meio da micção fetal, secreções gastrintestinais fetais e transudação através das membranas fetais
(âmnio e placenta). Há aproximadamente 30 anos, os níveis elevados de AFP no soro materno ou no líquido amniótico
foram pela primeira vez correlacionados com a ocorrência de defeitos no tubo neural do feto. Esse teste de rastreamento de
biomarcador agora é recomendado para todas as gestantes, junto com outros exames de rastreamento prénatal,
dependendo do perfil de risco (ACOG, 2015b; Alexander et al., 2014).
A AFP é encontrada no líquido amniótico em baixas concentrações entre a 10a e a 14a semana de gestação e pode ser
detectada no soro materno por volta da 12a à 14asemana de gestação (Callahan, 2016). Se houver um defeito de
desenvolvimento, como falha do fechamento do tubo neural, mais AFP escapa do feto para o líquido amniótico. A AFP
então entra na circulação materna atravessando a placenta, e o nível no soro materno pode ser medido. O tempo ideal para
o rastreamento da AFP é entre a 16a e a 18a semana de gestação. Atualmente, esse teste de rastreamento de biomarcador é
recomendado para todas as gestantes, junto com outros exames de rastreamento prénatal, dependendo do perfil de risco
(ACOG, 2015b; Alexander et al., 2014). Para garantir a acurácia desse exame de rastreamento, são necessárias
informações corretas sobre a idade gestacional, o peso materno, a raça, o número de fetos e a dependência de insulina. Se
forem fornecidas informações maternas incorretas ou se a amostra de sangue não for coletada no período de tempo
apropriado, podem ocorrer resultados falsopositivos, aumentando a ansiedade da mulher. Subsequentemente, podem ser
solicitados exames adicionais com base em uma interpretação errônea, resultando em custos financeiros e emocionais
adicionais à gestante.
Diversas situações podem levar à elevação da AFP no soro materno, inclusive defeito do tubo neural (ausência de
fechamento), subestimativa da idade gestacional, existência de vários fetos, malformações gastrintestinais, baixo peso ao
nascimento, oligohidrâmnio, idade materna, diabetes melito e diminuição de peso materno (King et al., 2015). Observam
se níveis de AFP no soro materno inferiores aos esperados quando a idade gestacional do feto é superestimada ou em
casos de morte fetal, mola hidatiforme, aumento do peso materno, diabetes melito do tipo 1 materno e feto com trissomia
do 21 (síndrome de Down) ou trissomia do 18 (síndrome de Edward) (Khalil & Coates, 2015).
A determinação da AFP no soro materno é minimamente invasiva, exigindo apenas uma punção venosa para coleta da
amostra de sangue. A AFP já foi combinada a outros exames de rastreamento de biomarcadores para determinar o risco de
defeitos do tubo neural e síndrome de Down.
A conduta de enfermagem para a determinação dos níveis de AFP consiste em preparar a mulher para esse exame de
rastreamento coletando informações acuradas sobre a DUM, o peso corporal, a raça e a idade gestacional. A determinação
acurada da janela de idade gestacional entre 16 e 18 semanas ajuda a assegurar que os resultados estejam corretos.
Explique também que o exame envolve a coleta de uma amostra de sangue.
Exames de rastreamento de marcadores
A utilização do soro materno é um método não invasivo efetivo de identificar o risco fetal de aneuploidia (trissomias do
13, do 18 e do 21) e de defeitos do tubo neural. O rastreamento prénatal para a síndrome de Down no início do segundo
trimestre com vários marcadores séricos maternos já existe há mais de 15 anos. Anormalidades dos níveis dos marcadores
no soro materno e das medidas do embrião/feto durante o rastreamento prénatal no primeiro trimestre da gravidez podem
sinalizar determinados distúrbios cromossômicos e anomalias no embrião/feto, além de complicações específicas da
gravidez. A proteína plasmática A associada a gravidez (PAPPA) é um regulador crucial do fator de crescimento
semelhante a insulina (essencial para o desenvolvimento fetal normal). As concentrações dessa proteína aumentam no
sangue materno à medida que a idade gestacional avança. Esse biomarcador é determinado rotineiramente para
rastreamento de síndrome de Down no primeiro trimestre da gravidez. Níveis séricos maternos baixos de PAPPA, na
11a à 13a semana de gestação, estão associados a natimortalidade, morte infantil, nascimento préterno, préeclâmpsia e
anomalias cromossômicas (Kalousová, Muravská, & Zima, 2014; Patil, Panchanadikar, & Wagh, 2014). Vários exames de
sangue de rastreamento podem ser solicitados para determinar o risco de defeitos envolvendo um tubo neural aberto e
síndrome de Down: o teste triplo (AFP, hCG e estriol não conjugado) ou teste quádruplo, que inclui os marcadores do
teste triplo com o acréscimo de um quarto marcador, a inibina A (glicoproteína secretada pela placenta). O teste quádruplo
é usado para aprimorar a acurácia do rastreamento para síndrome de Down em mulheres com menos de 35 anos de idade.
Baixos níveis da proteína inibina A indicam a possibilidade de síndrome de Down (ACOG, 2015b). Esses biomarcadores
são apenas exames de rastreamento e identificam as mulheres que precisam de mais procedimentos definitivos (ou seja,
ultrassonografia, amniocentese e aconselhamento genético) para fazer um diagnóstico de defeito no tubo neural
(anencefalia, espinha bífida e encefalocele) ou síndrome de Down no feto. A maioria dos exames de rastreamento é
realizada entre a 15a e a 22a semana de gestação (16a à 18a semana é o período ideal), exceto pelo DNA fetal livre de
células (cffDNA) que pode ser realizado em torno da 9aà 10a semana de gestação (Dempsey & Overton, 2015).
Nesses exames de rastreamento múltiplos, um nível sérico materno baixo de AFP, níveis de estriol não conjugado e
um nível elevado de hCG sugerem a possibilidade de síndrome de Down. Níveis elevados de AFP no soro materno estão
associados a defeitos envolvendo tubo neural aberto, defeitos da parede ventral, algumas anomalias renais, gestação
múltipla, determinadas doenças de pele, morte fetal e anormalidade da placenta. A combinação de múltiplos marcadores
atualmente disponível com o melhor desempenho no rastreamento é a junção da AFP, estriol (E3) não conjugado, hCG e
inibina A, juntamente com a idade materna (o chamado teste quádruplo). Com essa combinação, a taxa de detecção é de
80%, com uma taxa de falsopositivo de 5% (Hixson et al., 2015).
Vários fatores influenciam a interpretação do resultado do nível sérico materno de alfafetoproteína. O mais importante
é a acurácia da determinação da idade gestacional. Uma variação de 2 semanas pode ser enganadora e levar a uma
interpretação errada. O peso materno (> 114 kg), a etnia, o tabagismo materno, o sexo do feto, o número de gestações, o
número de partos e o diabetes melito insulinodependente materno também podem alterar os níveis séricos maternos de
AFP e precisam ser levados em conta ao interpretar os resultados (Latendresse & Deneris, 2015). Os estudos de pesquisa
recentes indicam que a avaliação prénatal de DNA fetal livre de células (cffDNA) tem resultados falsonegativos
significativamente menores e de valores preditivos positivos altos para detecção de trissomias do que os testespadrão
(Greeley, Kessler, & Vohra, 2015).
Conduta de enfermagem
A interpretação acurada dos exames e a determinação dos riscos são dependentes da datação acurada da gravidez e do
relato de características maternas relevantes. Por isso é tão importante para os profissionais de enfermagem, se for
relatado um resultado anormal de exame, confirmar a idade gestacional e notificar quaisquer fatores maternos
significativos relevantes para a acurácia do teste. Além disso, os profissionais de enfermagem têm uma participação
grande na orientação dos casais em relação aos testes. O rastreamento prénatal tornouse padrão nesse período. No
entanto, para muitos casais o rastreamento gera confusão e ansiedade, além da incerteza em relação aos resultados.
Forneça uma explicação completa do exame, reforçando as informações dadas pelo médico. Dê aos casais uma descrição
dos riscos e benefícios da realização desses exames, enfatizando que são apenas para fins de rastreamento. Relembre o
casal que um diagnóstico definitivo não é feito sem exames adicionais, como a amniocentese. Responda a quaisquer
perguntas sobre esses exames de rastreamento prénatal e respeite a decisão do casal se eles optarem por não fazêlos.
Muitos casais podem optar por não fazer por não considerarem a realização de um aborto, independentemente dos
resultados do exame.
Translucência nucal
O exame da translucência nucal (ultrassonografia) também é feito no primeiro trimestre, entre a 11a e a 14a semana.
Possibilita a detecção e o diagnóstico precoce de algumas anomalias cromossômicas e estruturais fetais. Com o passar dos
anos, tornouse evidente que o aumento da translucência nucal é um marcador de anormalidades cromossômicas e também
está associado a um amplo espectro de anomalias estruturais, síndromes genéticas e alto risco de aborto e morte fetal
(Rayburn, Jolley, & Simpson, 2015). A ultrassonografia é usada para identificar um aumento na translucência da nuca,
que é decorrente do acúmulo de líquido subcutâneo na parte posterior do pescoço do feto. O aumento da translucência
nucal está associado a anormalidades cromossômicas como as trissomias do 21, do 18 e do 13. Crianças com trissomias
tendem a ter mais colágeno e tecido conjuntivo elástico, possibilitando o acúmulo. Além disso, hérnia diafragmática,
defeitos cardíacos e anormalidades esqueléticas e neurológicas fetais têm sido associadas ao aumento da medida da
translucência nucal (Evans, Andriole, & Evans, 2015). Consulte o Capítulo 10 para obter mais informações.
Amniocentese
A amniocentese transabdominal envolve a punção do saco amniótico para coletar uma amostra de líquido amniótico para
análise. O líquido contém células fetais, que são examinadas para detectar anormalidades cromossômicas e vários defeitos
metabólicos hereditários no feto antes do nascimento. Além disso, a amniocentese é utilizada para confirmar uma anomalia
fetal quando outros exames de rastreamento detectaram um possível problema.
A amniocentese é realizada no segundo trimestre, geralmente entre a 15a e a 18asemana de gestação. Nessa idade, o
volume de líquido é suficiente (aproximadamente 150 mℓ) e a razão entre células viáveis e células não viáveis é maior
(Hehir, Dalrymple, & Malone, 2015). A amniocentese consegue diagnosticar mais de 40 anomalias cromossômicas
diferentes, erros inatos do metabolismo e defeitos do tubo neural. Pode substituir uma probabilidade genética pela certeza
do diagnóstico, possibilitando que a mulher e seu companheiro tomem uma decisão informada sobre a opção do aborto
terapêutico.
A amniocentese pode ser realizada em qualquer um dos três trimestres da gestação. Uma amniocentese precoce
(realizada entre a 11a e a 14a semana) é feita para detectar anomalias genéticas. No entanto, tem sido associada a um
elevado risco de aborto espontâneo e extravasamento de líquido amniótico pósprocedimento em comparação com a
biopsia de vilosidade coriônica por via transabdominal (King et al., 2015).
No segundo trimestre, o procedimento é realizado entre a 15a e a 20a semana para detectar anormalidades
cromossômicas, avaliar a condição fetal quando a mulher foi sensibilizada por sangue Rhpositivo, diagnosticar infecções
intrauterinas e investigar o nível de AFP no líquido amniótico quando o nível sérico materno de AFP estiver elevado
(March of Dimes, 2015d).
No terceiro trimestre, a amniocentese é mais comumente indicada para determinar a maturidade pulmonar fetal após a
a
35 semana de gestação, por meio da análise da razão lecitina/esfingomielina e para avaliar a condição do feto com
isoimunização Rh. A Tabela 12.2 arrola os achados da análise do líquido amniótico e suas implicações.
Procedimento
A amniocentese é realizada após um exame de ultrassonografia ter identificado um bolsão adequado de líquido amniótico
sem partes fetais, cordão umbilical ou placenta (Figura 12.7). O médico insere uma agulha pudenda ou espinal longa, de
calibre 22 e 12,5 cm de comprimento, na cavidade amniótica e aspira o líquido amniótico, que é colocado em um tubo de
ensaio âmbar ou revestido para protegêlo da luz. Quando o volume desejado de líquido for aspirado, removese a agulha e
aplicase uma leve pressão ao local. Se não houver evidências de hemorragia, aplicase uma gaze esterilizada no local de
entrada da agulha. As amostras são, então, enviadas ao laboratório imediatamente para avaliação pelo citologista.
Tabela 12.2 Análise do líquido amniótico e implicações.
Creatinina
Acima de 2 Diminuição pode indicar feto
mg/dℓ no feto imaturo (menos de 37
maduro semanas)
Adaptada de Cunningham, F., Leveno, K., Bloom, S., Spong, K., Dashe, J.
S., Hoffman, B. L., et al. (2014). William’s obstetrics (24th ed.). New York,
NY: McGrawHill Education; March of Dimes.
(2015d). Aminocentesis. Retirada
de http://www.marchofdimes.com/pregnancy/amniocentesis.aspx; Springer,
S. C. (2015). Prenatal diagnosis and fetal therapy. eMedicine. Retirada
de http://emedicine.medscape.com/article/936318overview.
FIGURA 12.7 Técnica para amniocentese: inserção de agulha.
O exame direto de uma amostra de células fetais produz um diagnóstico definitivo, em vez de um “forte palpite”
diagnóstico baseado em exames de rastreamento indiretos. É uma ferramenta diagnóstica de grande valor, mas os riscos
incluem desconforto na parte inferior do abdome e cólicas (que podem durar até 48 horas após o procedimento), aborto
espontâneo (1 em 200), infecção materna ou fetal, corioamnionite pósamniocentese de início insidioso, hemorragia
maternofetal, extravasamento de líquido amniótico em 2 a 3% das gestantes após o procedimento e maiores taxas de
aborto fetal nas amniocenteses precoces (< 15 semanas de gestação) em comparação com amniocenteses tardias
(Akolekar et al., 2015). Os resultados do exame podem demorar até 3 semanas. Atualmente, as mulheres estão optando
por exames prénatais não invasivos em vez de se submeterem a exames invasivos como amniocentese ou coleta de
amostras de vilosidades coriônicas, apesar de os primeiros não serem 100% corretos. As gestantes com resultados
tranquilizadores nos exames não invasivos e achados normais nas ultrassonografias parecem satisfeitas com o risco de
aborto relacionado com o procedimento (Biswas & Choolani, 2015). O número de procedimentos invasivos realizados
diminuiu graças à disponibilidade de exames prénatais não invasivos; existe a previsão de que esses substituirão
completamente os procedimentos invasivos no futuro.
Conduta de enfermagem
Ao preparar a mulher para uma amniocentese, explique o procedimento e suas potenciais complicações; incentivea a
urinar antes do procedimento para evitar o risco de perfuração da bexiga. Informe que geralmente é feito monitoramento
fetal durante 20 minutos para avaliar o bemestar do feto e obter dados básicos para comparação após a conclusão do
procedimento. Avalie e registre os sinais vitais maternos.
Após o procedimento, ajude a mulher a ficar em uma posição confortável e administre RhoGAM® por via
intramuscular (IM) se a mulher for Rhnegativa para prevenir possível sensibilização pelo sangue fetal. Avalie os sinais
vitais maternos e a frequência cardíaca fetal a cada 15 minutos por 1 hora após o procedimento. Observe o local da punção
para sangramento ou drenagem. Instrua a paciente a descansar depois de voltar para casa e lembrea de relatar ao médico
febre, perda de líquido amniótico, sangramento vaginal ou contrações uterinas ou quaisquer mudanças na atividade fetal
(aumento ou diminuição).
Quando chegarem os resultados do exame, esteja disponível para oferecer apoio, especialmente se for encontrada uma
anomalia fetal. Também prepare a mulher e o companheiro dela para a necessidade de aconselhamento genético.
Conselheiros genéticos treinados podem fornecer informações técnicas acuradas e ajudar os casais a interpretar os
resultados da amniocentese para que possam tomar decisões que sejam corretas para eles como uma família.
Biopsia de vilosidades coriônicas
A biopsia de vilosidades coriônicas é um procedimento invasivo que envolve a introdução de uma agulha de calibre 18
através da parede abdominal ou a introdução de um cateter de aspiração através do colo do útero sob orientação
ultrassonográfica. Esse exame é realizado para coletar uma amostra das vilosidades coriônicas da placenta para
investigação prénatal de distúrbios cromossômicos como síndrome de Down ou fibrose cística, deficiências enzimáticas e
determinação do sexo fetal e para identificação de distúrbios ligados ao sexo como hemofilia, anemia falciforme e doença
de TaySachs (Greeley et al., 2015). As vilosidades coriônicas são projeções digitiformes que recobrem o embrião e
ancoramno ao revestimento do útero antes de a placenta se desenvolver. Como as vilosidades coriônicas são de origem
embrionária, a amostra fornece informações sobre o desenvolvimento do feto. A BVC pode ser utilizada para detectar
vários transtornos genéticos, com exceção dos defeitos do tubo neural (Latendresse & Deneris, 2015).
Houve um ímpeto para a elaboração de procedimentos de diagnóstico prénatal que sejam realizados mais no início da
gestação, para que os casais possam tomar uma decisão mais precoce de interromper a gestação se uma anomalia for
confirmada. O diagnóstico prénatal precoce por BVC tem sido proposto como uma alternativa à amniocentese de rotina,
que acarreta menos riscos se for feita na gestação um pouco mais avançada. Além disso, os resultados dos testes de BVC
estão disponíveis antes dos da amniocentese: geralmente dentro de 48 horas.
Procedimento
A BVC geralmente é realizada 10 a 13 semanas após a DUM. Antes disso as vilosidades coriônicas podem não estar
suficientemente desenvolvidas para fornecer amostras adequadas de tecido e o risco de defeitos nos membros é maior
(Khalil & Coates, 2015). Em primeiro lugar, fazse uma ultrassonografia para confirmar a idade gestacional e a
viabilidade. Então, sob orientação ultrassonográfica contínua, realizase a BVC utilizando um acesso transcervical ou
transabdominal. No acesso transcervical, a mulher é colocada na posição de litotomia e introduzse um cateter estéril pelo
colo do útero inserindoo na placenta, aspirandose então uma amostra das vilosidades coriônicas. Esse acesso demanda
que a paciente esteja com a bexiga cheia para empurrar o útero e a placenta a uma posição que seja mais acessível ao
cateter. A bexiga cheia também ajuda na melhor visualização das estruturas. No acesso transabdominal, inserese uma
agulha espinal de calibre 18 através da parede abdominal até o tecido placentário e aspirase uma amostra das vilosidades
coriônicas. Independentemente do acesso utilizado, a amostra é enviada para o laboratório para análise citogenética.
As potenciais complicações após a BVC incluem sangramento vaginal e cólicas (mais comuns), hematomas, aborto
espontâneo, anomalias dos membros, ruptura das membranas amnióticas, infecção, corioamnionite e hemorragia materno
fetal (March of Dimes, 2015e). A taxa de perda da gravidez ou de aborto espontâneo relacionada com o procedimento é de
aproximadamente 0,5 a 1,0%, que é a mesma taxa da amniocentese. Além disso, as mulheres que são Rhnegativas devem
receber imunoglobulina (RhoGAM®) para evitar a isoimunização (Jordan et al., 2014).
Conduta de enfermagem
Explique à gestante que o procedimento vai durar cerca de 15 minutos. Inicialmente, fazse uma ultrassonografia para
localizar o embrião e avaliamse os sinais vitais antes de começar. Certifiquese de que ela tenha sido informada sobre os
riscos relacionados com o procedimento, incluindo a sua incidência. Se foi prevista uma BVC por acesso transabdominal,
aconselhea a encher a bexiga ingerindo mais água. Informea de que será inserida uma agulha na parede abdominal dela e
que serão coletadas amostras. Uma vez coletadas as amostras, a agulha será retirada e as amostras serão enviadas ao
laboratório para avaliação genética.
Para a BVC por acesso transcervical, informe à gestante que será colocado um espéculo na vagina sob orientação
ultrassonográfica. Em seguida, a vagina será limpa e um pequeno cateter será inserido através do colo do útero. As
amostras obtidas pelo cateter são então enviadas ao laboratório.
Depois de qualquer um dos procedimentos, ajude a mulher a ficar em uma posição confortável e a limpar qualquer
excesso de lubrificante ou secreções da área. Instruaa em relação aos sinais que deve observar e relatar, como febre,
cólicas e sangramento vaginal. Incentivea a não realizar qualquer atividade extenuante nas próximas 48 horas. Avalie se
há alteração na frequência cardíaca fetal e administre RhoGAM® à mulher Rhnegativa não sensibilizada após o
procedimento.
Cardiotocografia basal
A cardiotocografia sem estresse é o exame prénatal mais realizado atualmente na prática obstétrica. A cardiotocografia
basal fornece uma medida indireta da função uteroplacentária. Ao contrário da contagem de movimentos fetais que a mãe
faz sozinha, esse procedimento exige equipamento especializado e pessoal treinado. O fundamento da cardiotocografia
basal é que o feto normal produz padrões de ritmo cardíaco fetal característicos em resposta aos movimentos fetais. No
feto saudável, há aceleração do ritmo cardíaco fetal com o movimento fetal. Atualmente, recomendase a realização da
cardiotocografia basal 2 vezes/semana (após a 28a semana de gestação) para gestantes com diabetes melito e outras
doenças de alto risco, como restrição do crescimento intrauterino, préeclâmpsia, gestação póstermo, doença renal e
gemelaridade (Cunningham et al., 2014). A cardiotocografia basal é um exame não invasivo que exige que as contrações
não tenham iniciado. É rápido de realizar e não tem efeitos colaterais conhecidos.
Procedimento
Antes do procedimento, a paciente faz uma refeição para estimular a atividade fetal. Em seguida, é colocada em decúbito
lateral esquerdo para evitar a síndrome de hipotensão em decúbito dorsal. Um dispositivo eletrônico externo de
monitoramento fetal é aplicado ao seu abdome. O dispositivo consiste em duas cintas, cada uma com um sensor. Um dos
sensores registra a atividade uterina, enquanto o segundo registra a frequência cardíaca fetal. A paciente recebe um
“marcador de eventos”, com um botão que ela pressiona cada vez que percebe o movimento fetal. Quando o botão é
pressionado, a fita de registro do monitoramento fetal é marcada para identificar a ocorrência do movimento fetal. O
procedimento geralmente dura cerca de 20 a 30 minutos.
Conduta de enfermagem
Antes da cardiotocografia basal, explique o procedimento e peça à gestante para urinar. Coloquea em uma posição de
semiFowler e aplique as duas cintas de monitoramento externo. Documente a data e a hora que o exame foi iniciado, as
informações da paciente, o motivo para o exame e os sinais vitais maternos. Obtenha valores de base do monitoramento
fetal por 15 a 30 minutos.
Durante o exame, observe os sinais de atividade fetal com aceleração simultânea da frequência cardíaca fetal. A
cardiotocografia basal é interpretada como reativa ou não reativa. Uma cardiotocografia basal “reativa” inclui pelo menos
duas acelerações da frequência cardíaca fetal em relação à linha de base de ao menos 15 bpm, durante no mínimo 15
segundos, em um período de registro de 20 minutos. Se o exame não atender a esses critérios após 40 minutos, ele é
considerado não reativo. Uma cardiotocografia “não reativa” é caracterizada pela ausência de duas acelerações da
frequência cardíaca fetal usando o critério de 15 por 15, em um intervalo de tempo de 20 minutos. Um exame não reativo
tem sido correlacionado com incidência mais elevada de sofrimento fetal durante o trabalho de parto, morte fetal e
restrição do crescimento intrauterino. Devese considerar a realização de exames adicionais, como um perfil biofísico
(King et al., 2015).
Após o procedimento da cardiotocografia basal, ajude a gestante a sair da mesa, ofereça líquidos e deixea usar o
banheiro. Tipicamente, o médico conversa sobre os resultados do exame com a gestante nesse momento. Forneça
orientações a respeito dos sinais e sintomas que ela deve relatar. Se estão sendo realizadas cardiotocografias seriadas,
agende o próximo exame.
Perfil biofísico
O perfil biofísico (PBF) usa a ultrassonografia em tempo real e a cardiotocografia basal para possibilitar a avaliação de
vários parâmetros do bemestar fetal. Inclui o monitoramento ultrassonográfico dos movimentos fetais, do tônus fetal e da
respiração fetal e a avaliação ultrassonográfica do volume de líquido amniótico, com ou sem a avaliação da frequência
cardíaca fetal. O PBF é realizado em um esforço para identificar fetos que correm risco de desfecho ruim, de modo que
possam ser realizadas avaliações adicionais do bemestar ou o trabalho de parto pode ser induzido ou uma cesariana
realizada para acelerar o nascimento. Os objetivos primários do PBF são reduzir a taxa de natimortalidade e detectar a
hipoxia cedo o suficiente para possibilitar o parto em tempo de evitar o dano fetal permanente decorrente da asfixia fetal.
Esses parâmetros, juntamente com a cardiotocografia, constituem o perfil biofísico. Cada parâmetro é controlado por uma
estrutura diferente no encéfalo fetal: o tônus fetal é controlado pelo córtex; os movimentos fetais, pelo córtex e pelos
núcleos motores; os movimentos respiratórios fetais, pelas áreas próximas do quarto ventrículo; e a cardiotocografia, pela
parte posterior do hipotálamo e pelo bulbo. O líquido amniótico é decorrente do volume de urina fetal. Algumas
instituições não realizam a cardiotocografia, a menos que outros parâmetros do perfil estejam anormais (King et al.,
2015). O PBF baseiase no conceito de que um feto que sofre hipoxia perde alguns parâmetros comportamentais na ordem
inversa a que foram adquiridos durante seu desenvolvimento (ordem normal de desenvolvimento: tônus com 8 semanas;
movimento com 9 semanas; respiração com 20 semanas e reatividade da frequência cardíaca fetal com 24 semanas).
Pontuação e interpretação
O PBF é um teste pontuado integrado por cinco componentes, cada um valendo 2 pontos, se presente. Se for usada a
cardiotocografia, é possível uma pontuação total de 10. Reservamse 30 minutos para o exame, embora habitualmente
sejam necessários menos de 10 minutos. Os critérios a seguir têm de ser atingidos para obter uma pontuação de 2; abaixo
disso é pontuado com 0 (Moses, 2015c):
• Movimentos corporais: três ou mais movimentos bem definidos dos membros ou do tronco
• Tônus fetal: um ou mais exemplos de extensão e flexão total de um membro ou do tronco
• Respiração fetal: um ou mais movimentos respiratórios fetais de mais de 30 segundos
• Volume de líquido amniótico: um ou mais bolsões de líquido com 2 cm
• Cardiotocografia basal: cardiotocografia basal normal = 2 pontos; cardiotocografia basal anormal = 0 ponto.
A interpretação da pontuação do PBF pode ser complicada, dependendo de diversas variáveis fetais e maternas. Como
a indicação do PBF se dá em decorrência de um achado não tranquilizador em exames de monitoramento fetal prévios, o
PBF pode ser utilizado para quantificar a interpretação e as intervenções podem ser iniciadas, se apropriado. Podese
alcançar uma pontuação máxima de 10 e o teste é finalizado depois de todas as variáveis terem sido observadas. Para o
teste ser considerado anormal e receber uma pontuação de zero pela ausência de movimentos fetais, tônus fetal ou
movimentos respiratórios fetais, deverá ter decorrido um período não inferior a 30 minutos. Devido à excelente
sensibilidade da cardiotocografia basal para a acidemia fetal, foi proposto que esse marcador agudo isolado pode ser
utilizado para avaliação fetal em combinação com a avaliação do volume de líquido amniótico, um marcador crônico. Essa
combinação, também conhecida como PBF modificado, tem demonstrado excelentes taxas de falsonegativo quando
comparada ao PBF completo. Além disso, um estudo recente relatou que os escores do PBF se correlacionam de modo
razoavelmente satisfatório com os escores de Apgar realizados após o parto (Nisa et al., 2015).
Um dos fatores importantes é o volume de líquido amniótico, analisado em conjunto com os resultados da
cardiotocografia basal. O líquido amniótico é composto principalmente por urina fetal. Conforme a função placentária
diminui, a perfusão de órgãos fetais, como os rins, diminui. Isso pode levar à redução do líquido amniótico. Em caso de
oligohidrâmnio (diminuição do líquido amniótico), existe a possibilidade de comprometimento fetal préparto ou
intraparto (Lakshmi & Jyothsna, 2015).
Em geral, uma pontuação de 8 a 10 é considerada normal se o volume de líquido amniótico for adequado. Uma
pontuação de 6 ou abaixo disso gera suspeita, possivelmente indicando um feto comprometido; é necessária uma
investigação mais aprofundada do bemestar fetal.
Como o PBF é uma avaliação ultrassonográfica do comportamento fetal, exige mais equipamentos e pessoal mais bem
treinado do que as outras modalidades de teste. O custo é muito maior do que o de exames menos sofisticados. Possibilita
o tratamento conservador e impede a intervenção prematura ou desnecessária. Há menos resultados falsopositivos do que
com a cardiotocografia basal isoladamente (Callahan, 2016).
Conduta de enfermagem
A conduta de enfermagem concentrase basicamente em fornecer apoio à gestante e responder às suas perguntas. Aguarde
a conclusão da cardiotocografia basal antes de agendar o PBF, e explique por que mais exames são necessários. Informe à
mulher que a ultrassonografia será feita no setor de diagnóstico por imagem.
CONDUTA DE ENFERMAGEM PARA OS DESCONFORTOS COMUNS DA
GESTAÇÃO
A maioria das mulheres experimenta desconfortos comuns durante a gestação e pede conselhos ao enfermeiro sobre como
minimizálos. No entanto, outras mulheres não relatarão suas preocupações, a menos que solicitadas a fazêlo. Portanto, o
enfermeiro precisa abordar os desconfortos comuns que ocorrem em cada trimestre em toda consulta prénatal e fornecer
medidas realistas para ajudar a paciente a lidar com eles (Diretrizes de ensino 12.1). O boxe Plano de cuidados de
enfermagem 12.1 aplica o processo de enfermagem no atendimento da mulher que sente algum dos desconfortos da
gestação.
Diretrizes de ensino 12.1
Orientação sobre como lidar com os desconfortos da gestação
Polaciúria ou incontinência urinária
• Tentar fazer exercícios do assoalho pélvico para melhorar o controle sobre a perda de urina
• Urinar quando sentir que a bexiga está cheia
• Evitar o consumo de bebidas com cafeína, que estimulam a micção
• Reduzir a ingestão de líquido após o jantar para reduzir a micção noturna
Fadiga
• Tentar dormir uma noite inteira, sem interrupções
• Ingerir uma dieta saudável e equilibrada
• Programar um cochilo no início da tarde diariamente
• Quando se sentir cansada, descansar
Náuseas e vômitos
• Não ficar em jejum
• Ingerir biscoitos de água e sal/torradas na cama, antes de levantar
• Fazer várias pequenas refeições ao longo do dia
• Evitar escovar os dentes imediatamente após comer para evitar reflexo faríngeo (reflexo do vômito)
• Pulseiras de acupressão podem ser usadas diariamente
• Beber líquido entre as refeições e não durante as refeições
• Evitar alimentos gordurosos, fritos ou aqueles com odor forte, como repolho ou couvede
bruxelas Dorsalgia
Dorsalgia
• Evitar ficar em pé ou sentada na mesma posição durante períodos prolongados
• Colocar uma bolsa térmica (regulagem baixa) na região lombar
• Apoiar a região lombar com travesseiros quando estiver sentada
• Usar mecânica corporal adequada para levantar qualquer objeto
• Evitar flexão excessiva, levantamento de peso ou caminhar sem períodos de repouso
• Usar sapatos de salto baixo com suporte para os arcos dos pés; evitar saltos altos
• Ficar de pé com os ombros para trás para manter a postura correta
Cãibras nas pernas
• Elevar as pernas acima do nível do coração com frequência ao longo do dia
• Se sentir cãibra, esticar as duas pernas e flexionar os pés em direção ao corpo
• Perguntar ao seu médico se pode tomar suplementos de cálcio adicionais, que podem reduzir os
espasmos nas pernas
Veias varicosas
• Caminhar diariamente para melhorar a circulação para os membros
• Elevar as pernas acima do nível do coração em repouso
• Não ficar na mesma posição por longos períodos de tempo
• Não usar meias apertadas
• Não cruzar as pernas por longos períodos quando sentada
• Usar meias elásticas para promover melhor circulação
Hemorroidas
• Estabelecer um horário regular diariamente para defecar
• Evitar constipação intestinal e esforço durante a defecação
• Evitar esforço excessivo para defecar bebendo bastante líquido e ingerindo alimentos ricos em fibras e
exercitandose diariamente
• Fazer banhos de assento mornos e compressas frias com hamamélis para promover alívio
Constipação intestinal
• Aumentar a ingestão de alimentos ricos em fibras e beber pelo menos 8 copos de 240 mℓ de líquido
por dia
• Ingerir ameixas ou suco de ameixa que são laxantes naturais
• Consumir líquidos mornos (chá) pela manhã para estimular a peristalse intestinal
• Exercitarse diariamente (caminhada rápida) para promover a peristalse intestinal
• Reduzir o consumo de queijo
Pirose/Indigestão
• Evitar alimentos condimentados ou gordurosos e fazer pequenas refeições frequentes
• Dormir com vários travesseiros, de modo que a cabeça fique elevada
• Parar de fumar e evitar bebidas com cafeína para reduzir a estimulação
• Não deitar durante pelo menos 3 horas após as refeições
• Tentar beber pequenos goles de água para reduzir a sensação de queimação
• Evitar alimentos que funcionam como gatilhos – alimentos gordurosos, frutas cítricas, refrigerantes e
chocolate
• Ingerir antiácidos com moderação se a sensação de queimação for intensa
Contrações de Braxton Hicks
• Lembrar que essas contrações são normais. Tentar mudar de posição ou praticar exercícios leves para
ajudar a reduzir essa sensação
• Beber mais líquidos, se possível
Desconfortos do primeiro trimestre
Durante os primeiros 3 meses de gestação, o corpo da mulher passa por inúmeras mudanças. Algumas sentem muito
desconforto, enquanto outras têm pouco. Esses desconfortos são causados pelas mudanças que estão ocorrendo no
organismo e desaparecem conforme a gestação avança.
Polaciúria ou incontinência urinária
Polaciúria e/ou incontinência urinária é comum no primeiro trimestre, pois o útero em expansão comprime a bexiga. Essa
também é uma queixa comum durante o terceiro trimestre, especialmente quando a cabeça do feto se encaixa na pelve. No
entanto, o desconforto tende a melhorar no segundo trimestre, quando o útero se torna um órgão abdominal e se afasta da
região da bexiga.
Após a infecção e o diabetes gestacional terem sido descartados como fatores causadores do aumento da frequência
urinária, sugira que a mulher diminua a ingestão de líquidos 2 a 3 horas antes de deitar e limite a ingestão de bebidas
cafeinadas. O aumento da micção é normal, mas incentive a paciente a relatar qualquer dor ou sensação de queimação à
micção. Explique também que esse aumento da frequência urinária melhora quando ela entra em seu segundo trimestre,
reaparecendo apenas no terceiro trimestre. Ensinar a mulher a realizar exercícios de treinamento da musculatura do
assoalho pélvico, formalmente denominados exercícios de Kegel, para aumentar o suporte do útero, da bexiga urinária, do
intestino delgado e do reto durante o dia para ajudar a fortalecer o tônus da musculatura perineal. Isso fomenta o controle
urinário e reduz a possibilidade de incontinência.
Plano de cuidados de enfermagem 12.1
Aspectos gerais de uma mulher que sente desconfortos comuns da gestação
Alicia, 32 anos, G1 P0, está na 10a semana gestacional e chegou à clínica para uma consulta.
Durante a entrevista, ela diz: “Estou sempre correndo para ir o banheiro urinar e estou tão enjoada
que eu estou tendo dificuldades para comer”. Ela nega sensação de queimação ou dor ao urinar.
Os sinais vitais estão dentro dos limites aceitáveis.
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente irá relatar diminuição das queixas urinárias, como evidenciado por diminuição no número de
vezes que vai ao banheiro urinar, e também que sente que a bexiga está vazia após a micção e que fez
os exercícios de Kegel.
Intervenções: promover padrões normais de eliminação urinária
• Avaliar os padrões habituais de eliminação urinária da paciente para estabelecer uma linha de base
para comparação
• Obter uma amostra de urina para análise, a fim de descartar infecções ou glicosúria
Revisar com a paciente a base fisiológica para o aumento da frequência urinária durante a gestação,
•
informála de que a frequência deve diminuir durante o segundo trimestre e que o aumento
provavelmente retornará durante o terceiro trimestre, a fim de promover a compreensão do problema
• Incentivar a paciente a urinar logo que sentir a sensação de plenitude, para minimizar o risco de
retenção urinária
• Sugerir à paciente evitar bebidas com cafeína, para não estimular a necessidade de urinar
• Encorajar a paciente a beber o volume adequado de líquido durante o dia todo; no entanto, pedir a ela
que reduza a ingestão de líquidos antes de deitar para reduzir a micção noturna
• Incentivar a paciente a manter a área perineal limpa e seca para evitar irritações e escoriações
decorrentes de qualquer extravasamento de urina
• Instruir a paciente a fazer exercícios de Kegel para aumentar o tônus muscular perineal e controlar o
extravasamento de urina
• Orientar a paciente em relação aos sinais e sintomas de infecção urinária e incentivála a relatálos
caso eles ocorram para garantir a detecção precoce e a intervenção rápida
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: nutrição desequilibrada, menos do que as necessidades corporais,
relacionada com náuseas e vômitos.
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente irá ingerir quantidades adequadas de nutrientes para o bemestar maternofetal, como
evidenciado pelo padrão de ganho de peso aceitável, e fará declarações que indicam aumento da
ingestão de alimentos com diminuição no número de episódios de náuseas e vômitos.
Intervenções: promover nutrição adequada
• Avaliar o peso e comparar com o da linha de base para determinar os efeitos das náuseas e vômitos
na ingestão nutricional
• Revisar a ingestão típica da paciente ao longo de 24 horas para determinar os padrões de ingestão e
nutricionais, para que as sugestões possam ser individualizadas
• Encorajar a paciente a fazer 5 ou 6 pequenas refeições frequentes ao longo do dia, para evitar que o
estômago fique vazio
• Sugerir que ela mastigue bolachas secas, torradas, cereais ou queijo ou beba um pouco de limonada
antes de se levantar para minimizar as náuseas
• Encorajar a paciente a levantar lentamente da cama pela manhã e a evitar movimentos bruscos para
reduzir a estimulação do centro do vômito
• Aconselhar a paciente a beber líquido entre as refeições, em vez de às refeições, para evitar a
hiperdistensão do abdome e o consequente aumento da pressão abdominal
• Incentivar a paciente a aumentar a sua ingestão de alimentos ricos em vitamina B6, como carnes,
aves, banana, peixe, vegetais de folhas verdes, amendoim, passas, nozes e grãos integrais, conforme
tolerado, para garantir a ingestão adequada de nutrientes
• Aconselhar a paciente a evitar alimentos gordurosos, fritos ou muito condimentados e a evitar odores
fortes, incluindo alimentos como couve, para minimizar o desconforto gastrintestinal
• Encorajar a paciente a evitar o uso de roupas apertadas ou restritivas para minimizar a pressão sobre
o abdome em expansão
• Programar uma consulta com o nutricionista, se necessário, para auxiliar no planejamento da dieta
Fadiga
A fadiga assola todas as gestantes, principalmente no primeiro e no terceiro trimestres (os níveis mais altos de energia
ocorrem tipicamente durante o segundo trimestre), mesmo que durmam o mesmo número de horas habitual à noite. Na
maioria das vezes, a fadiga do primeiro trimestre está relacionada com as diversas mudanças físicas (p. ex., aumento do
consumo de oxigênio, aumento dos níveis de progesterona e relaxina, aumento da demanda metabólica) e com as
alterações psicossociais da gestação (p. ex., alterações de humor, múltiplas exigências). O cansaço no terceiro trimestre
pode ser causado por transtornos do sono pelo aumento do peso (muitas mulheres não conseguem encontrar uma posição
confortável para dormir devido ao abdome aumentado), desconfortos físicos, como pirose, e insônia devido às alterações
de humor, ansiedade pelas múltiplas funções e diminuição do exercício físico (Rigby, 2015).
Uma vez descartadas anemia, infecção e discrasias sanguíneas como fatores contribuintes para a fadiga da paciente,
aconselhea a organizar o trabalho, o cuidado com as crianças e outras demandas de sua vida para possibilitar períodos de
descanso adicionais. Trabalhe com a paciente para elaborar um cronograma realista de descanso. Usar travesseiros para
apoiar a paciente em decúbito lateral alivia a pressão sobre os grandes vasos sanguíneos que fornecem oxigênio e
nutrientes ao feto durante o repouso (Figura 12.8). Recomende também o uso de técnicas de relaxamento, forneça
orientações se necessário e sugira aumentar o nível de exercício diário.
FIGURA 12.8 Uso de travesseiros para apoiar a paciente na posição em decúbito lateral.
Náuseas e vômitos
Estimase que entre 70 e 80% das gestantes apresentem náuseas e vômitos. Nos EUA, isso se traduz em cerca de 4
milhões de mulheres. Isso ocorre com mais frequência nos países ocidentais e nas populações urbanas e é raro em
populações africanas, indígenas norteamericanas, inuítes e na maioria das populações asiáticas (Callahan, 2016). O
problema é, geralmente, limitado ao tempo, com o aparecimento na quinta semana depois da última menstruação, atingindo
seu máximo entre a 8a e a 12a semana de gestação e desaparecendo na 16a à 18a semana. Apesar do uso popular do
termo enjoo matinal, as náuseas e vômitos gestacionais persistem ao longo do dia na maioria das mulheres afetadas.
Encontrouse que estão limitados à parte da manhã em menos de 2% das mulheres (Tyler & NagtalonRamos, 2015). As
alterações fisiológicas que causam náuseas e vômitos não são conhecidas, mas as pesquisas sugerem que os níveis
anormalmente elevados de estrogênio, progesterona e hCG e deficiência de vitamina B6são fatores contribuintes. As
náuseas e os vômitos geralmente duram até o segundo trimestre e geralmente estão associados a um desfecho positivo da
gestação, em termos de menores taxas de abortos, malformações congênitas e partos prétermo (Cunningham et al., 2014).
Em resumo, a etiologia das náuseas e vômitos durante a gestação é fisiológica; assim, a avaliação da condição incide sobre
sua gravidade e o tratamento é, sobretudo, de apoio.
Náuseas e vômitos durante a gravidez podem ter efeitos físicos e psicológicos importantes e podem ter efeitos
adversos no cônjuge, nos familiares e, até mesmo, nos colegas de trabalho da gestante. De modo geral, o ônus imposto à
mulher é minimizado porque isso é considerado parte normal da gravidez e, portanto, não justifica investigação,
diagnóstico, manejo e suporte emocional. Consequentemente, não é levado a sério porque é tão comum e de duração
limitada, levando algumas mulheres a se sentirem frustradas e culpadas por estarem se queixando. Os profissionais de
enfermagem precisam reconhecer, abordar e dar suporte às gestantes.
O objetivo do tratamento é melhorar os sinais e sintomas, minimizando os riscos para a mãe e para o feto. O manejo
do tratamento varia de modificações dietéticas simples à terapia medicamentosa. Para ajudar a aliviar as náuseas e os
vômitos, aconselhe a gestante a fazer refeições pequenas e frequentes, de consistência branda e com pouca gordura (5 ou 6
vezes/dia), para evitar que o estômago fique completamente vazio. Outras sugestões incluem comer creamcrackers, cereais
matinais ou queijo ou beber limonada antes de sair da cama de manhã e aumentar a ingestão de alimentos ricos em
vitamina B6, como carnes, aves, banana, peixe, vegetais de folhas verdes, amendoim, passas, nozes e grãos integrais, ou
garantir que a gestante esteja recebendo quantidade suficiente de vitamina B6, tomando suas vitaminas prénatais
prescritas.
O tratamento medicamentoso das náuseas e vômitos durante a gravidez é limitado. Recentemente, a agência Food and
Drug Administration (FDA) aprovou a associação doxilaminapiridoxina para uso na gravidez, que parece ser
razoavelmente bemsucedida com base nas revisões atuais (Slaughter et al., 2014). Outros medicamentos que poderiam ser
levados em consideração incluem difenidramina, dimenidrinato, meclizina, proclorperazina, prometazina ou ondansetrona.
Outras sugestões úteis para lidar com as náuseas e os vômitos incluem:
• Sair da cama de manhã muito lentamente
• Evitar movimentos bruscos
• Evitar deflagradores que estimulem ou exacerbem as náuseas – cheiros fortes de alimentos
• Ingerir uma refeição rica em proteínas antes de deitar à noite, para evitar que o estômago fique vazio
• Comer gengibre (até 1 g por dia em doses divididas; cápsulas de 250 mg, 4 vezes/dia), que aumenta o tônus e o
peristaltismo do sistema digestório
• Abrir uma janela para remover os odores dos alimentos sendo preparados
• Ingerir mais proteínas do que carboidratos e mais líquidos do que sólidos
• Limitar a ingestão de líquidos ou sopas durante as refeições (bebaos entre as refeições)
• Evitar o consumo de frituras e alimentos cozidos com gordura, óleos ou carnes gordas, porque tendem a irritar o
estômago
• Evitar o consumo de alimentos muito condimentados, como os cozidos com alho, cebola, pimentão e pimenta
• Beber um pouco de bebida gaseificada sem cafeína (ginger ale), se nauseada
• Tentar usar pulseiras de acupressão aprovadas pela FDA para as náuseas
• Evitar usar roupas apertadas ou restritivas, que podem comprimir o abdome em expansão
• Evitar o estresse (Bope & Kellerman, 2015; Jordan et al., 2014; King et al., 2015).
Aumento da sensibilidade mamária
Devido à elevação dos níveis de estrogênio e progesterona, que fazem com que a camada de gordura das mamas se espesse
e a quantidade de ductos e glândulas aumente durante o primeiro trimestre da gestação, a sensibilidade mamária de muitas
mulheres aumenta. É importante dar explicação completa à mulher sobre os motivos para o desconforto mamário. Vestir
um sutiã maior, com um bom apoio, pode ajudar a aliviar esse desconforto. Aconselhea a usar um sutiã firme, mesmo
durante a noite. Conforme as mamas aumentam de tamanho, aconselhea a mudar o tamanho do sutiã para garantir um
apoio adequado.
Constipação intestinal
Constipação intestinal ocorre em até 38% das gestações (Verghese, Futaba, & Latthe, 2015). A elevação dos níveis de
progesterona durante a gestação leva a diminuição da contratilidade do sistema digestório, movimento mais lento das
substâncias pelo intestino grosso e consequente aumento da absorção de água. Todos esses fatores levam à constipação
intestinal. A falta de exercícios físicos ou uma quantidade demasiadamente pequena de fibras ou líquidos na dieta também
promove constipação intestinal. Além disso, o intestino grosso é comprimido mecanicamente pelo útero em ampliação,
piorando o desconforto. O ferro e o cálcio nas vitaminas prénatais também podem contribuir para a constipação intestinal
durante o primeiro e o terceiro trimestres.
Explique como a gestação agrava os sintomas da constipação intestinal e ofereça as seguintes sugestões:
• Comer frutas frescas ou secas diariamente
• Comer mais frutas e vegetais crus, incluindo suas cascas
• Ingerir cereais e pães integrais, como cereais matinais com passas ou feitos com grãos integrais
• Praticar atividade física todos os dias
• Realizar exercícios para fortalecer os músculos do assoalho pélvico, exercícios de alongamento e ioga diariamente
• Fazer refeições em intervalos regulares
• Estabelecer um horário do dia para defecar e elevar os pés em um banquinho para evitar esforço
• Beber 6 a 8 copos de água diariamente
• Diminuir o consumo de carboidratos refinados
• Beber líquidos quentes ao levantar para estimular a motilidade intestinal
• Diminuir o consumo de refrigerantes adoçados
• Evitar ingerir grandes quantidades de queijo.
Se as sugestões acima não forem efetivas, sugerir que a gestante use um laxante formador de bolo fecal,
como Psillium.
Congestão nasal, sangramento gengival, epistaxe (sangramentos nasais)
A elevação dos níveis de estrogênio causa edema das mucosas das cavidades nasais e orais. Aconselhe a gestante a beber
mais água para hidratar as mucosas ou a usar um umidificador de vapor frio em seu quarto à noite. Se ela precisa assoar o
nariz para aliviar a congestão nasal, aconselhea a fazêlo delicadamente, uma narina de cada vez. Aconselhea a evitar o
uso de descongestionantes nasais e aerossóis.
Se ocorrer uma hemorragia nasal, aconselhe a gestante a afrouxar a roupa em volta do pescoço, sentarse com a cabeça
inclinada para frente, comprimir as narinas com o polegar e o indicador por 10 a 15 minutos e aplicar uma compressa de
gelo à ponte de seu nariz.
Se a gestante apresentar sangramento nas gengivas, incentivea a praticar uma boa higiene oral, usar escova de cerdas
macias e usar fio dental diariamente. Bochechar água morna com sal pode aliviar o desconforto. Se o problema gengival
persistir, instruaa a procurar o dentista.
Desejos
O desejo por comida referese a um desejo intenso de consumir um alimento específico. A ânsia por determinados
alimentos e bebidas pode surgir durante o primeiro trimestre, mas não parece refletir qualquer necessidade fisiológica.
Alimentos com alto teor de açúcar ou sódio muitas vezes são os desejados. Às vezes, algumas mulheres anseiam por
substâncias não comestíveis, como barro, amido de milho, sabão em pó, bicarbonato de sódio, sabonete, lascas de tinta,
poeira, gelo ou cera. Conforme explicado no Capítulo 11, esse desejo por substâncias não alimentares, denominado pica,
pode indicar deficiência alimentar grave de minerais ou vitaminas, ou pode ter raízes culturais (Jyothi, 2015).
Leucorreia
O aumento da secreção vaginal começa durante o primeiro trimestre e continua durante toda a gestação. As alterações
fisiológicas subjacentes à leucorreia surgem dos altos níveis de estrogênio, que causam aumento da vascularidade e
hipertrofia das glândulas do colo do útero, bem como das células vaginais (Cunningham et al., 2014). O resultado é o
aumento progressivo da secreção vaginal durante a gestação.
Aconselhe a gestante a manter a área perineal limpa e seca, lavando a área com água e sabonete neutro durante o banho
diário. Recomende também que ela evite usar meiacalça e outras roupas de nái lon apertadas que impeçam a circulação de
ar para a área genital. Incentive o uso de roupas íntimas de algodão e sugira o uso de camisola em vez de pijama para
possibilitar o maior fluxo de ar. Também instrua a gestante a evitar o uso de duchas íntimas e absorventes internos.
Desconfortos do segundo trimestre
A sensação de bemestar tipicamente caracteriza o segundo trimestre para a maioria das mulheres. Nesse período, o
cansaço, as náuseas e os vômitos diminuem e as alterações desconfortáveis do terceiro trimestre estão a alguns meses de
distância. Nem toda gestante sente os mesmos desconfortos durante esse período, por isso as avaliações e intervenções de
enfermagem têm de ser individualizadas.
Dorsalgia
Dor musculoesquelética ocorre com frequência nas gestantes e puérperas. Metade das mulheres relata dorsalgia em algum
momento durante a gestação. Isso pode impactar bastante a qualidade de vida das mulheres e ter repercussões
socioeconômicas por causa de faltas ao trabalho. A dor pode ser lombar ou sacroilíaca. A dor também pode ocorrer apenas
durante a noite. Acreditase que a dorsalgia seja decorrente de vários fatores, que incluem o deslocamento do centro de
gravidade causado pelo útero em ampliação, o aumento da frouxidão articular devido à elevação dos níveis de relaxina, o
estiramento dos ligamentos (que são estruturas sensíveis à dor) e as alterações circulatórias relacionadas com a gestação.
O tratamento envolve aplicação de calor e gelo, paracetamol, massagens, postura adequada, sapatos com bom apoio e
um programa adequado de exercícios de fortalecimento muscular e condicionamento cardiorrespiratório. As gestantes
também podem aliviar a dorsalgia colocando um pé sobre um banquinho ao permanecer em pé por longos períodos de
tempo e colocando um travesseiro entre as pernas quando deitadas (Plastaras & Appasamy, 2015). Depois de explorar
outras causas de dorsalgia, como contrações uterinas, infecções urinárias, úlceras ou distúrbios osteomusculares nas
costas, as instruções a seguir podem ser úteis:
• Manter a postura correta, com a cabeça alinhada e os ombros para trás
• Usar sapatos de salto baixo, com um bom apoio para o arco plantar
• Ao ficar em pé por períodos prolongados, colocar um pé sobre um banquinho ou uma caixa
• Usar uma boa mecânica corporal ao levantar objetos
• Ao sentarse, colocar apoios para os pés e travesseiros nas costas
• Tentar exercícios de báscula ou oscilação pélvica para fortalecer as costas (ACOG, 2015c).
Os movimentos de báscula ou oscilação pélvica são realizados para aliviar a pressão sobre a região lombar durante a
gestação, pelo alongamento dos músculos lombares. Os movimentos podem ser realizados com a gestante sentada, em pé
ou com quatro apoios. Para fazêlo com quatro apoios, a gestante coloca as mãos diretamente sob os ombros e os joelhos
sob os quadris. As costas devem estar em uma posição neutra, com a cabeça e o pescoço alinhados com as costas retas. A
mulher então força a região lombar para cima e mantém essa posição por alguns segundos, então relaxa até a posição
neutra. Essa ação de forçar para cima é repetida muitas vezes ao longo do dia, para evitar a dor nas costas (Rigby, 2015).
Cãibras nas pernas
Muitas mulheres sentem cãibras nas pernas durante a gestação. Elas se tornam mais comuns conforme a gestação avança e
são especialmente problemáticas durante a noite. Ocorrem principalmente nos segundo e terceiro trimestres e podem estar
relacionadas com a pressão exercida pelo útero grávido nos nervos pélvicos e vasos sanguíneos. Durante a gestação, até
50% das mulheres podem ser afetadas por cãibras nas pernas e até 25% podem ser afetadas pela síndrome das pernas
inquietas (King et al., 2015). Junto com a falta de exercício físico, a dieta também pode ser um fator importante quando a
gestante não estiver ingerindo uma quantidade suficiente de certos minerais, como o cálcio e o magnésio. O estiramento
repentino dos músculos das pernas também pode levar a cãibras nas pernas (Kondhare & Khodgire, 2015).
Incentive a gestante a alongar delicadamente o músculo dorsiflexionando o tornozelo e levando o pé para cima, em
direção ao corpo. Colocar uma toalha quente e úmida ao redor do músculo da perna também pode ajudar a relaxálo.
Aconselhe a paciente a não esticar as pernas colocando os pés em ponta e a não andar excessivamente. Ressalte a
importância de usar sapatos de salto baixo e meias elásticas e a levantar lentamente de uma posição sentada. Se as cãibras
nas pernas forem decorrentes de deficiência de sais minerais, a condição pode ser corrigida pela ingestão de mais
alimentos ricos nesses nutrientes. Também instrua a mulher a realizar exercícios de alongamento da panturrilha: peça que
fique a 90 cm da parede e inclinese em direção a ela, apoiando seus antebraços contra a parede, mantendo os calcanhares
no chão. Isso pode ajudar a reduzir as cãibras se for feito antes de ir para a cama.
Elevar as pernas ao longo do dia ajudará a aliviar a pressão e minimizará o estiramento. Usar meias elásticas e evitar
fletir os dedos dos pés pode ajudar a aliviar o desconforto da perna. Também instrua a paciente a não ficar parada em pé
por um período prolongado ou cruzar as pernas. Se ela precisar permanecer em pé por períodos prolongados, sugira que
mude de posição pelo menos a cada duas horas, deambulando ou sentando, para reduzir o risco de cãibras nas pernas.
Incentivea a beber oito copos de 240 m ℓ de líquido durante todo o dia para garantir a hidratação adequada. Fazer
caminhadas diárias também pode ajudar a reduzir as cãibras nas pernas, porque a deambulação melhora a circulação para
os músculos.
Varicosidades na vulva e nas pernas
As varicosidades na vulva e nas pernas estão associadas ao aumento da estase venosa, causada pela pressão do útero
grávido sobre os vasos pélvicos e a vasodilatação resultante do aumento dos níveis de progesterona. A progesterona relaxa
as paredes venosas, o que dificulta o regresso do sangue ao coração a partir dos membros; isso pode resultar em acúmulo
venoso. A predisposição genética, o sedentarismo, a obesidade e o tônus muscular são também fatores contribuintes.
Incentive a paciente a usar meias elásticas e ensinea como colocálas corretamente. Aconselhea a elevar as pernas
acima do coração deitada em decúbito dorsal por 10 minutos antes de sair da cama pela manhã, promovendo assim o
retorno venoso antes de colocar a meia. Instrua a paciente a evitar cruzar as pernas e a evitar o uso de meias na altura do
joelho. Elas causam constrição dos vasos e músculos das pernas e contribuem para a estase venosa. Também incentive a
paciente a elevar as pernas acima do nível do coração por 5 a 10 minutos, pelo menos 2 vezes/dia (Figura 12.9); a usar
sapatos de salto baixo; e a evitar ficar em pé ou sentada por períodos prolongados, mudando frequentemente de posição.
Se a paciente tiver varizes vulvares, sugira que ela aplique compressas de gelo à área enquanto estiver deitada.
Hemorroidas
As hemorroidas são varizes do reto, que podem ser externas (externamente ao esfíncter anal) ou internas (internamente ao
esfíncter) (ACOG, 2015d). Ocorrem em virtude da vasodilatação induzida pela progesterona e pela pressão do útero
aumentado sobre a parte inferior do intestino grosso e reto. As hemorroidas são mais comuns em mulheres com
constipação intestinal, ingestão reduzida de líquidos ou maus hábitos alimentares, tabagistas ou naquelas com história
prévia de hemorroidas (Zielinski, Searing, & Deibel, 2015).
Instrua a paciente em relação a medidas para prevenir a constipação intestinal, incluindo aumentar a ingestão de fibras
e beber pelo menos 2 l de líquido por dia. Recomende o uso de anestésicos tópicos (p. ex., pomadas de lidocaína, bálsamo
do peru, hamamélis) para reduzir a dor, o prurido e a tumefação, se permitido pelo obstetra. Oriente a paciente em relação
a medidas de conforto locais, como banhos de assento com água morna, compressas com hamamélis ou compressas frias.
Para minimizar o risco de esforço ao defecar, sugira que a gestante eleve os pés em um banquinho. Também incentivea a
não ficar sentada ou em pé por tempo prolongado (ACOG, 2015d).
FIGURA 12.9 Mulher com as pernas elevadas enquanto trabalha.
Flatulência associada a distensão abdominal
Flatulência e dor associada a não eliminação de flatos são outros resultados da redução da motilidade gastrintestinal. As
alterações fisiológicas que resultam em constipação intestinal (motilidade gastrintestinal reduzida e dilatação secundária
aos efeitos da progesterona) também podem resultar em aumento da flatulência. Conforme o útero expansivo comprime o
intestino, há retardo no avanço do alimento pelo intestino, o que possibilita mais tempo para que as bactérias do colo
formem gás. A mulher geralmente relata aumento da eliminação de gás retal, distensão abdominal ou eructação. Instrua a
mulher a evitar alimentos formadores de gás, como feijões, couves e cebolas, bem como alimentos com teor elevado de
açúcar branco. Adicionar mais fibras à dieta, aumentar a ingestão de líquidos e praticar mais exercícios físicos também
ajudam a reduzir a flatulência. Além disso, a redução do volume de ar deglutido ao mascar goma de mascar reduz a
formação de gases. A posição genupeitoral também pode aliviar o desconforto associado aos flatos não emitidos. Reduzir
a ingestão de bebidas gaseificadas, queijos e balas também ajuda a reduzir a flatulência durante a gestação (Almansa, De
Vault, & Houghton, 2015).
Desconfortos do terceiro trimestre
Conforme as mulheres entram no terceiro trimestre, muitas experimentam retorno de alguns dos desconfortos do primeiro
trimestre, como fadiga, aumento da frequência urinária, leucorreia e constipação intestinal. Esses desconfortos são
secundários ao útero cada vez maior comprimindo as estruturas adjacentes, ao aumento progressivo dos níveis hormonais
e às demandas metabólicas do feto. Além desses desconfortos, muitas mulheres apresentam dispneia, pirose e indigestão,
distensão abdominal e contrações de Braxton Hicks.
Dispneia
Dispneia é uma queixa comum das gestantes. Alterações fisiológicas e hemodinâmicas podem resultar em dispneia
significativa nesses casos. Em algumas mulheres, a dispneia durante atividades diárias habituais pode ser um sinal de
doenças cardíacas e pulmonares e pode estar associada a desfechos cardíacos e perinatais ruins. Nesses casos, a detecção
precoce pode prevenir efeitos adversos. O aumento progressivo das dimensões do útero impede a expansão pulmonar
plena no final da gestação. À medida que o útero cresce para cima, no segundo e terceiro trimestres, a expansão do
diafragma é limitada. Pode ocorrer dispneia quando a gestante encontrase em decúbito dorsal e a compressão da veia cava
pelo útero grávido reduz o retorno venoso para o coração (Tara et al., 2015).
Explique à gestante que a dispneia é normal e vai melhorar quando o feto se encaixar na pelve (descida). Instruaa a
ajustar a posição do corpo para possibilitar a máxima expansão do tórax e a evitar grandes refeições, que aumentam a
pressão abdominal. Elevar a cabeceira da cama com blocos ou colocar travesseiros atrás das costas é muito útil. Em
circunstâncias normais, deitar com a cabeça elevada, mantendo incursões respiratórias lentas e profundas, alivia a
dispneia. Além disso, frise bem que o decúbito lateral para a esquerda desloca o útero de cima da veia cava e melhora a
respiração. Fazer com que a gestante periodicamente fique de pé e alongue os braços acima do nível da cabeça e inspire
profundamente ajuda a aliviar a dispneia. Aconselhe também a gestante a evitar esforços físicos que precipitem a dispneia,
a descansar após os esforços físicos e a evitar o superaquecimento em climas quentes. Se ela ainda estiver fumando,
incentivea a parar.
Pirose e indigestão
A pirose e a indigestão ocorrem quando níveis elevados de progesterona causam relaxamento da cárdia, possibilitando que
alimentos e o ácido gástrico refluam do estômago para o esôfago. Ocorre irritação da mucosa do esôfago, provocando a
sensação de queimação conhecida como pirose. Essa sensação ocorre em até 70% das mulheres em algum momento da
gestação, com frequência aumentada no terceiro trimestre (King et al., 2015). A dor pode irradiarse para o pescoço e para
a garganta. Piora quando a gestante se deita, inclina o corpo para frente depois de comer ou usa roupas apertadas. A
indigestão (desconforto abdominal vago após as refeições) resulta de comer demais ou muito rápido; de comer quando
tensa, cansada ou ansiosa; de ingerir alimentos muito gordurosos ou picantes e de ingerir alimentos hipercalóricos ou que
tenham sido mal preparados ou processados (NagtalonRamos, 2014). Além disso, o estômago é deslocado para cima e
comprimido pelo útero aumentado no terceiro trimestre, limitando assim a sua capacidade de esvaziarse rapidamente. A
comida se “acumula”, causando pirose e indigestão.
Reveja a ingestão habitual da paciente e sugira que ela limite a ingestão ou evite alimentos gordurosos ou que
produzam gases e grandes refeições. Instrua a gestante a prestar atenção à cronologia do desconforto. Em geral, tratase de
pirose quando a dor ocorre 30 a 45 minutos depois de uma refeição. Estimule a paciente a manter uma postura correta e a
permanecer na posição sentada 1 a 3 horas após a refeição, para evitar o refluxo de ácido gástrico (por gravidade) para o
esôfago. Incentive a paciente a fazer refeições pequenas e frequentes, comer devagar, mastigando bem para evitar a
ingestão excessiva de ar, o que pode levar a aumento da pressão gástrica. Instruaa a evitar alimentos que funcionam como
gatilhos, como bebidas com cafeína, alimentos gordurosos e formadores de gás, frutas cítricas, alimentos condimentados,
chocolate, café, álcool e menta ou hortelãpimenta. Esses itens estimulam a liberação de ácido gástrico, o que pode causar
refluxo para o esôfago. Recomende que a gestante não faça refeições tarde da noite, refeições volumosas, nem mastigue
gomas de mascar. Não deitar durante 3 horas após comer. Por fim, elevar a cabeceira do leito em 10 a 30°.
Edema postural
O edema resulta do aumento da permeabilidade capilar causada pelos níveis hormonais elevados e da elevação do volume
sanguíneo. O sódio e a água são retidos e a sede aumenta. O edema ocorre mais frequentemente ao longo do dia em áreas
do corpo mais baixas, como as pernas e os pés, devido à gravidade; melhora depois de uma noite de sono. O clima quente
ou permanecer em pé ou sentado por tempo prolongado agrava o edema. O edema generalizado, que aparece na face, nas
mãos e nos pés, pode indicar préeclâmpsia se acompanhado de tontura, borramento visual, cefaleia, dor no quadrante
superior do abdome ou náuseas (Rigby, 2015). Esse edema deve ser relatado ao médico. Sugestões adequadas para
minimizar o edema postural incluem:
• Elevar os pés e as pernas acima do nível do coração periodicamente ao longo do dia
• Usar meias elásticas quando permanecer em pé ou sentada por períodos prolongados
• Mudar de posição com frequência ao longo do dia
• Caminhar em ritmo razoável para ajudar os músculos das pernas a se contraírem e, assim, promover o retorno venoso
• Ao fazer uma viagem de carro longa, parar para dar uma caminhada a cada 2 horas
• Quando em pé, apoiar flora no calcanhar, flora nos dedos dos pés para estimular a circulação
• Deitarse em decúbito lateral esquerdo de modo que o útero gravídico não comprima a veia cava, possibilitando o
retorno venoso
• Evitar alimentos ricos em sódio, como frios, batatas fritas e bacon
• Evitar usar meias na altura do joelho
• Beber de 6 a 8 copos de água por dia para repor o líquido perdido pela transpiração
• Evitar o consumo elevado de açúcar e gorduras, porque eles causam retenção de água.
Contrações de Braxton Hicks
As contrações de Braxton Hicks são contrações irregulares e indolores que ocorrem sem dilatação do colo do útero.
Tipicamente se intensificam no terceiro trimestre da gestação, em preparação para o parto. Na verdade, as contrações de
Braxton Hicks existem desde o início da gestação, mas podem ter passado despercebidas. Acreditase que aumentem o
tônus do músculo uterino para ajudar no trabalho de parto (Grant, Strevens, & Thornton, 2015).
Tranquilize a paciente de que essas contrações são normais. Instruaa a diferenciar as contrações de Braxton Hicks das
contrações de trabalho de parto. Explique que as contrações verdadeiras costumam ficar cada vez mais prolongadas e mais
fortes, mais próximas uma da outra e ocorrendo em intervalos regulares. De modo geral, a deambulação faz com que as
contrações de trabalho de parto verdadeiras aumentem, enquanto tende a fazer com que as de Braxton Hicks diminuam em
intensidade e desapareçam. Aconselhe a paciente a manterse bem hidratada e a dormir em decúbito lateral esquerdo para
ajudar a aliviar o desconforto. Sugira que ela use técnicas respiratórias, como as de Lamaze, para aliviar o desconforto.
CONDUTA DE ENFERMAGEM PARA PROMOVER O AUTOCUIDADO
A gestação é considerada um período de saúde, não de doença. As atividades de promoção e manutenção da saúde são
fundamentais para um desfecho ideal para a gestante e seu feto. As gestantes costumam ter muitas dúvidas sobre as
mudanças que ocorrem durante a gestação: como essas mudanças afetam a sua rotina, como trabalhar, viajar, fazer
exercícios ou ter relações sexuais, como as mudanças influenciam suas atividades de autocuidado típicas, como tomar
banho, cuidados perineais ou dentais e se essas mudanças são sinais de problema.
Considere isto
Às vezes, é de se perguntar por que as mulheres passam por aquilo que passam. Durante minha primeira
gestação, passei os primeiros 2 meses enjoada. Eu sentia ondas de náuseas do momento em que saía da
cama até a metade da manhã. Nem preciso dizer que eu não era a pessoa mais feliz do mundo. Depois do
terceiro mês, a minha vida parecia melhorar e, afinal, eu estava começando a pensar que estar grávida não
era assim tão ruim. Como pude ser tão boba. A seguir, durante meus últimos 2 meses de gestação, outra
onda de desconforto chegou – a pirose e a constipação intestinal – um golpe duplo! Agora eu tinha medo de
comer qualquer coisa que pudesse provocar indigestão ácida e também pudesse permanecer no meu corpo
por muito tempo. Eu literalmente tinha me tornado a “rainha das fibras” para combater esses dois desafios.
Nem preciso dizer que meu “sofrimento” valeu a pena, pois no final veio nossa menina de olhos brilhantes.
Reflexões: Apesar dos vários desconfortos relacionados com a gestação, a maioria das mulheres não
mudaria o seu resultado final. A maioria das mulheres experimenta esses desconfortos? Quais sugestões
poderiam ser dadas para reduzilos?
Anote!
As gestantes podem ter ouvido histórias ou ter sido avisadas por outras pessoas do que fazer e do que não fazer durante a
gestação, levando a muitos equívocos e muita desinformação.
O enfermeiro pode desempenhar um papel importante no fornecimento de direcionamento e orientações antecipatórias
para promover a responsabilidade de autocuidado da gestante, ajudando a esclarecer equívocos e corrigindo quaisquer
desinformações. É importante instruir a paciente a identificar as ameaças à segurança representadas pelo seu estilo de vida
ou ambiente e propor maneiras de modificálas para evitar um desfecho negativo. O aconselhamento também deve incluir
maneiras saudáveis de preparar alimentos, orientação para evitar medicamentos (a menos que tenham sido prescritos pelo
médico) e assessoria na identificação de teratógenos dentro de seu ambiente ou no trabalho e como reduzir o seu risco de
exposição. A gestante pode cuidar de si mesma e do feto se suas preocupações forem antecipadas e identificadas pelo
enfermeiro e forem incorporadas às sessões de orientação em cada consulta prénatal.
Higiene pessoal
A higiene é essencial para a manutenção da boa saúde. A limpeza da pele remove sujeira, bactérias, suor, células mortas da
pele e secreções corporais. Aconselhe as gestantes a lavar as mãos e sob as unhas com frequência ao longo do dia para
reduzir a contagem bacteriana nesses locais. Durante a gestação, as glândulas sebáceas (e sudoríparas) da mulher tornam
se mais ativas sob a influência dos hormônios; a sudorese é mais abundante. Isso pode tornar necessário o uso de um
desodorante mais forte e tomar banho com mais frequência. As glândulas cervicais e vaginais também produzem mais
secreções durante a gestação. Os banhos frequentes ajudam a manter a área seca e promovem melhor higiene. Incentive o
uso de roupas íntimas de algodão para possibilitar maior circulação de ar. Tomar um banho de banheira no início da
gestação é permitido, porém, mais perto do termo, quando o centro de gravidade da mulher muda, é mais seguro tomar
duchas para prevenir o risco de escorregar.
Banheiras e saunas
Alerte as gestantes a evitarem banhos quentes em banheira, saunas, banheira de hidromassagem e bronzeamento artificial.
O calor pode provocar taquicardia fetal, bem como elevar a temperatura materna. A exposição a bactérias em banheiras que
não tenham sido adequadamente limpas é outra razão para evitálas durante a gestação.
Cuidados perineais
Em decorrência das influências hormonais, as glândulas no colo do útero e na vagina tornamse mais ativas durante a
gestação. Esse aumento na atividade resulta na produção de mais secreção vaginal, especialmente no último trimestre.
Aconselhe as gestantes a tomar banho com frequência e usar roupas íntimas 100% algodão para minimizar os efeitos
dessas secreções. Alerte as gestantes a não realizar duchas vaginais, já que aumentam o risco de infecção; também não
devem usar absorventes de uso diário, que bloqueiam a circulação de ar e promovem a umidade. Explique que devem
ainda evitar sabonetes perfumados, loções, sprays perineais e detergentes para roupa fortes, para ajudar a prevenir
irritações e possíveis infecções.
Cuidados odontológicos
As alterações fisiológicas que ocorrem nas gestantes podem influenciar de modo adverso a saúde bucal. Elevações dos
níveis de estrogênio e progesterona fomentam a resposta inflamatória e, consequentemente, modificam o tecido gengival.
Durante a gravidez, a incidência de gengivite e periodontite aumenta (Anil et al., 2015). A gravidez é um período durante o
qual as mulheres são muito receptivas a mensagens sobre saúde. A gravidez não é mais uma contraindicação ao tratamento
dentário. A gravidez também é uma época propícia para os profissionais de enfermagem ajudarem as mulheres a
compreender que uma boa saúde bucal é importante para uma gestação saudável e pode diminuir o risco de cáries dentárias
nos filhos. Quando as mulheres encaram a saúde bucal como prioridade para si mesmas, é mais provável que deem
prioridade à saúde bucal de seus filhos.
A doença periodontal é um fator que contribui para as condições sistêmicas, como doenças cardíacas, doenças
respiratórias, diabetes melito, desfechos adversos da gestação (parto prétermo, feto com baixo peso ao nascimento e fetos
pequenos para a idade gestacional), anemia e acidente vascular cerebral ou encefálico (Trivedi, Lal, & Singhal, 2015). As
pesquisas já comprovaram que os níveis elevados de estrogênio e progesterona durante a gestação tornam as mulheres
mais sensíveis aos efeitos da placa dentária bacteriana. Esta pode causar gengivite, uma infecção oral caracterizada por
tumefação e sangramento gengivais (ACOG, 2013). Escovar os dentes e usar fio dental 2 vezes/dia ajuda a reduzir as
bactérias na boca. Aconselhe a mulher a consultar seu dentista no início da gestação para resolver quaisquer cáries e fazer
uma limpeza completa para evitar uma possível infecção posteriormente na gravidez. Aconselhea a evitar exposição aos
raios X, informando ao dentista que está grávida. Se forem necessárias radiografias, o abdome deve ser protegido com um
avental de chumbo.
Pesquisadores têm relatado associação entre prematuridade e periodontite, infecção oral que se espalha além dos
tecidos da gengiva invadindo as estruturas de suporte dos dentes. A periodontite é caracterizada por sangramento gengival,
perda da inserção dentária, perda de suporte ósseo e mau hálito devido à formação de pus. Infelizmente, como essa
infecção é crônica e frequentemente é indolor, as mulheres muitas vezes não percebem que as têm e isso pode resultar em
parto prétermo. Dependendo do estudo, 35 a 100% das mulheres durante a gravidez apresentam gengivite (Trivedi et al.,
2015). Os profissionais de enfermagem devem avaliar a saúde bucal de todas as gestantes por meio de história da saúde
bucal, examinando a boca das gestantes à procura de sangramento ou edema gengival, cáries dentárias não tratadas, lesões
da mucosa e sinais de infecção e documentação de achados no prontuário prénatal.
As diretrizes adicionais que o enfermeiro deve abordar em relação à manutenção da saúde dental incluem:
• Procurar atendimento odontológico profissional durante o primeiro trimestre para avaliação e cuidados
• Assegurar que a higiene oral é segura durante a gravidez
• Durante a gestação, tratar a dor de dente e infecções dentárias imediatamente
• Escovar os dentes 2 vezes/dia, durante 2 minutos, especialmente antes de dormir, com creme dental fluorado e
bochechar bem. Usar escova de dente com cerdas macias e não se esquecer de escovar na linha da gengiva para
remover os restos de comida e a placa dentária para manter a gengiva saudável
• Usar fio dental diariamente e depois bochechar bem com água
• Comer alimentos saudáveis, especialmente aqueles ricos em vitaminas A, C e D e cálcio
• Evitar lanches açucarados
• Se não for possível escovar os dentes, mascar chiclete sem açúcar por 10 minutos após uma refeição
• Após o vômito, lavar a boca imediatamente com bicarbonato de sódio (1/4 colher de chá) e água quente (1 xícara) para
neutralizar o ácido (National Maternal and Child Oral Health Resource Center, 2015).
Cuidados com as mamas
Como as mamas aumentam significativamente e se tornam mais pesadas durante a gestação, saliente a necessidade de usar
um sutiã firme e com bom apoio, com alças largas, para sustentar o peso das mamas. Instrua a gestante a comprar um
sutiã de tamanho maior no segundo trimestre, por causa do aumento do tamanho das mamas. Aconselhea a evitar o uso de
sabão na área dos mamilos, pois pode ressecálos em demasia. Incentivea a lavar a área do mamilo durante o banho
somente com água, para mantêlo limpo. As glândulas areolares (localizadas na parte areolar do mamilo) secretam uma
substância lubrificante que mantém os mamilos úmidos e desencoraja o crescimento de bactérias, portanto, não há
necessidade de utilizar álcool nem outros antissépticos nos mamilos.
Se a mãe optou por amamentar, a preparação do mamilo é desnecessária, a menos que seus mamilos sejam invertidos e
não se tornem eretos quando estimulados. Podese usar conchas de mama durante os últimos 2 meses para resolver esse
problema (Alexander et al., 2014).
Por volta da 16a semana de gestação, começa a secreção de colostro, que pode ser percebida pela umidade no sutiã.
Aconselhe a gestante a colocar absorventes de mama ou um pano de algodão no sutiã e a trocálo com frequência para
evitar o acúmulo, que poderia levar a escoriações.
Vestuá rio
Muitas roupas contemporâneas são largas e cheias de camadas, de tal modo que a mulher não precise comprar um guarda
roupa totalmente novo para se adaptar à gestação. Algumas gestantes podem continuar usando roupas apertadas. Saliente
que as roupas frouxas serão mais confortáveis para a paciente e sua cintura em expansão.
Aconselhe a gestante a evitar o uso de roupas apertadas e cintas que comprimam o abdome em crescimento. Incentive
a a evitar meias na altura do joelho, que podem dificultar a circulação dos membros inferiores e aumentar o risco de
desenvolver trombose venosa profunda. Sapatos de salto baixo minimizarão a inclinação da pelve e possível dorsalgia. O
uso de roupas em camadas que podem ser removidas conforme as temperaturas oscilam pode ser mais confortável,
especialmente a termo, quando a gestante pode sentirse sobreaquecida.
Exercícios
O estilo de vida sedentário está associado a aumento das doenças crônicas, tais como doença cardiovascular, diabetes
melito do tipo 2, osteoporose e câncer. A proporção de gestantes com sobrepeso ou obesidade está aumentando em todo o
planeta, portanto, a prática de exercícios físicos é essencial para reduzir esses riscos e promover uma gravidez saudável. O
exercício é bem tolerado pela mulher saudável durante a gestação. Promove sensação de bemestar; melhora a circulação;
ajuda a reduzir constipação intestinal, distensão abdominal e edema; pode ajudar a prevenir ou tratar o diabetes
gestacional; promove tônus, força e resistência muscular; pode melhorar a capacidade da mulher de lidar com o trabalho de
parto; aumenta o nível de energia; melhora a postura; ajuda a dormir e promove o relaxamento e o descanso; e alivia o
desconforto lombar, que muitas vezes surge conforme a gestação avança (Barakat, Lucia, & Ruiz, 2015). No entanto, a
duração e a dificuldade dos exercícios devem ser modificadas durante a gestação, devido à diminuição na eficiência do
desempenho com a idade gestacional. Algumas mulheres continuam esforçandose para manter seu nível prévio de
exercício, mas a maioria constata que, conforme o corpo se modifica e a área abdominal aumenta, a rotina de exercícios
físicos tem de ser modificada. A modificação também ajuda a reduzir o risco de lesão em decorrência da frouxidão das
articulações e do tecido conjuntivo secundária aos efeitos hormonais (Petrov, Glantz, & Fagevik Olsen, 2015).
FIGURA 12.10 Exercícios físicos durante a gestação.
A prática de exercícios físicos durante a gestação é contraindicada nos casos trabalho de parto prematuro, ganho de
peso inferior à expectativa, anemia, edema de face e mão, dor, hipertensão arterial, ameaça de aborto, tontura, dispneia,
gestação múltipla, diminuição da atividade fetal, doença cardíaca e palpitações (Rigby, 2015).
Nos EUA, as diretrizes federais de atividade física preconizam pelo menos 150 minutos de exercícios físicos de
intensidade moderada por semana durante a gravidez (Figura 12.10) (Dietz, 2015). Acreditase que a gestação seja um
período único para a modificação de comportamentos e que os hábitos saudáveis mantidos ou adotados durante a gestação
podem melhorar a saúde da mulher para o resto de sua vida. O sobrepeso adquirido durante a gestação, que algumas
mulheres nunca perdem, é um grande problema de saúde pública (Truong et al., 2015). O exercício físico ajuda a mulher
evitar o ganho ponderal excessivo durante a gestação.
A prática de exercícios físicos durante a gestação ajuda na recuperação da saúde após o parto. Os benefícios a longo
prazo dos exercícios físicos iniciados no começo da gestação incluem a melhora da postura, o controle do peso e a melhora
do tônus muscular. O exercício também ajuda na prevenção da osteoporose após a menopausa, reduz o risco de
hipertensão arterial e diabetes melito e ajuda a manter o peso ao nascer do feto dentro do intervalo normal (Barakat et al.,
2015). No boxe Diretrizes de ensino 12.2 são destacadas as recomendações para a prática de exercícios físicos durante a
gestação.
Sono e repouso
Dormir o suficiente ajuda a pessoa a sentirse melhor e promove níveis de desempenho ideais durante o dia. O corpo
libera sua maior concentração de hormônio do crescimento durante o sono, ajudando o organismo a reparar os tecidos
danificados e a crescer. Além disso, com o aumento das demandas metabólicas durante a gestação, a fadiga é um desafio
constante para muitas gestantes, especialmente durante o primeiro e o terceiro trimestres. As seguintes sugestões ajudam a
promover um sono adequado:
• Manter horários regulares para ir para a cama e acordar
• Fazer refeições em horários regulares para manter a consistência dos sinais externos do corpo
• Tirar um tempo para descansar e relaxar antes de dormir
• Estabelecer uma rotina ou padrão no horário de ir para a cama e seguila
• Criar um ambiente de sono adequado, reduzindo a luz e diminuindo a temperatura do quarto
• Ir para a cama quando se sentir cansada; se o sono não vier, leia um livro até que esteja sonolenta
• Reduzir a ingestão de cafeína no final do dia
• Limitar a ingestão de líquido após o jantar para minimizar as idas ao banheiro
• Exercitarse diariamente para melhorar a circulação e o bemestar
• Utilizar uma posição de Sims modificada para melhorar a circulação dos membros inferiores
• Evitar o decúbito dorsal após o quarto mês de gestação, o que pode comprometer a circulação para o útero
• Evitar a flexão excessiva dos joelhos, o que promove a estase venosa nas pernas e nos pés
• Manter a ansiedade e as preocupações fora do quarto. Separar uma área específica da casa ou hora do dia para elas.
Diretrizes de ensino 12.2
Orientações para promover a prática de exercícios durante a gestação
• Consumir líquido antes, durante e após o exercício
• Consultar seu médico antes de iniciar uma nova rotina de exercícios
• Evitar exercitarse em climas quentes e úmidos ou quando estiver com febre
• Parar o exercício se apresentar sangramento vaginal, tontura, dor torácica, cefaleia, fraqueza
muscular, dor ou edema na panturrilha, contrações uterinas, diminuição da movimentação fetal ou
extravasamento de líquido por via vaginal
• Exercitarse 3 ou 4 vezes/semana, em vez de esporadicamente
• Praticar caminhada rápida, natação, ciclismo ou exercícios aeróbicos de baixo impacto, considerados
atividades ideais
• Evitar ficar superaquecida durante o exercício
• Usar tênis confortáveis que proporcionem suporte forte para os tornozelos e os arcos dos pés
• Esportes de contato devem ser evitados durante a gravidez
• Incluir relaxamento e alongamento antes e após o programa de exercícios físicos
• Reduzir a intensidade dos treinos no final da gestação
• Evitar movimentos bruscos, com saltos ou de alto impacto
• Evitar deitar (em decúbito dorsal) após o quarto mês, por causa do efeito hipotensivo
• Utilizar a inclinação da pelve e o balanço pélvico para aliviar a dor nas costas
• Começar com 5 a 10 minutos de exercícios de alongamento
• Levantarse lentamente após uma sessão de exercício, para evitar tontura
• Evitar atividades como esqui, surfe, mergulho e hóquei no gelo
• Nunca se exercitar até a exaustão
Adaptado de Kader, M., & NaimShuchana, S. (2014). Physical activity and exercise during
pregnancy. European Journal of Physiotherapy, 16(1), 2–9; American College of Obstetricians &
Gynecologists. (2015e). Exercise during pregnancy. Retirado de https://www.acog.org/Search?
Keyword=exercise+guidelines; American Pregnancy Association. (2014b). Pregnancy exercise
guidelines. Retirado de http://americanpregnancy.org/pregnancyhealth/exerciseguidelines.html.
Atividade sexual e sexualidade
A sexualidade é uma parte importante da saúde e do bemestar. A gestação é caracterizada por intensas modificações
biológicas, psicológicas e sociais. Essas mudanças têm efeitos diretos e indiretos, conscientes e inconscientes sobre a
sexualidade da mulher. A mulher sofre alterações drásticas em sua fisiologia, aparência e corpo, assim como em seus
relacionamentos. A resposta sexual da mulher durante a gestação varia amplamente. Os sintomas comuns como fadiga,
náuseas, vômitos, dor torácica e aumento da frequência urinária podem reduzir seu desejo de intimidade sexual. No
entanto, muitas mulheres relatam um maior desejo sexual, devido ao aumento nos níveis de estrogênio. A satisfação
sexual geralmente não muda durante a gestação em comparação com os padrões prégestacionais, apesar de um declínio na
atividade sexual durante o terceiro trimestre. A discussão sobre as mudanças esperadas na sexualidade deve ser feita
rotineiramente, a fim de melhorar a percepção dos casais de possíveis modificações sexuais induzidas pela gestação. É
evidente que, apesar de algumas dificuldades relacionadas com a atividade sexual durante a gravidez, sua necessidade e sua
importância são reconhecidas pelos participantes.
Anote!
As flutuações no desejo sexual são normais e constituem uma reação muito individualizada durante toda a gestação.
Os ajustes físicos e emocionais da gestação podem causar mudanças na imagem corporal, fadiga, alterações de humor
e atividade sexual. Mudanças no corpo da mulher, estado emocional, atividade fetal, alterações no tamanho da mama,
compressão da bexiga e outros desconfortos comuns da gestação resultam em aumento das demandas físicas e emocionais.
Estes podem provocar estresse no relacionamento sexual da gestante com seu companheiro. No entanto, a maioria das
mulheres se ajusta bem às alterações e experimenta um relacionamento sexual satisfatório. A pesquisa indica que a
manutenção das relações sexuais é segura quando as gestantes não apresentam ruptura das membranas corioamnióticas,
sangramento ou placenta prévia, contudo, as mulheres mantêm relações sexuais menos frequentemente à medida que a
gravidez avança (ACOG, 2015f).
Muitas vezes, as gestantes perguntam se a relação sexual é permitida durante a gestação ou se há momentos
específicos em que devem absterse delas. Essa é uma boa oportunidade para orientar as pacientes a respeito do
comportamento sexual durante a gestação e também de perguntar sobre suas expectativas e experiências em relação à
sexualidade e possíveis mudanças. É também um bom momento para o enfermeiro lidar com o impacto das mudanças
associadas à gestação no desejo e comportamento sexual. Os casais podem desfrutar mais da atividade sexual porque não
existe o medo de engravidar e não há interferência na espontaneidade pelo uso de métodos de controle da natalidade. Um
aumento da congestão pélvica e lubrificação secundária à influência do estrogênio pode exacerbar o orgasmo de muitas
mulheres. Algumas mulheres têm diminuição do desejo por causa de imagem corporal negativa, medo de prejudicar o feto
ao se envolver em relações sexuais, e fadiga, náuseas e vômitos (Boynton, 2015). O uso de preservativos pode ser
recomendado para diminuir a liberação de prostaglandinas no sêmen, que pode estimular contrações. Alguns casais podem
precisar de ajuda para se adaptar às várias mudanças trazidas pela gestação.
Tranquilize a gestante e seu companheiro de que a atividade sexual é permitida durante a gestação a menos que haja:
• Sangramento vaginal
• Placenta prévia
• Risco de parto prétermo
• Insuficiência do colo do útero
• Ruptura prematura de membranas
• Infecção (Rigby, 2015).
Informe o casal de que o feto não será prejudicado pela relação sexual. Sugira posições alternativas que podem ser
mais confortáveis (p. ex., a mulher por cima ou o casal de lado), especialmente durante os estágios finais da gestação.
Algumas das mudanças físicas da gestação podem afetar o relacionamento de um casal, como, por exemplo, a halitose, que
pode ser decorrente da desidratação, mas pode ser aliviada por meio da ingestão extra de líquido e melhor higiene oral. As
gestantes podem ter aumento da sensibilidade mamária e alterações de pele que podem fazer com que se sintam pouco
atraentes para seu companheiro. Além disso, ambos podem estar preocupados com o aumento da secreção vaginal e
precisam saber o que é normal e o que pode ser um sinal de infecção. Os enfermeiros devem fazer as gestantes se sentirem
confortáveis em falar sobre seus medos, incentivandoas a ter orgulho de seu corpo em mudança.
Muitas mulheres sentem uma necessidade maior de intimidade durante a gestação, e devem comunicar essa
necessidade ao companheiro (Halford, Petch, & Creedy, 2015). Enfatize para o casal que a intimidade e o carinho não
precisam culminar em uma relação sexual, e que outras formas de expressão sexual, como a masturbação mútua, a
massagem nos pés, ficar de mãos dadas, beijar e abraçar podem ser muito gratificantes (Halford et al., 2015).
O sexo na gestação é normal. A pesquisa sugere que a sexualidade prégestacional é importante na manutenção da
sexualidade durante a gravidez e após o parto (Yildiz, 2015). Existem pouquíssimas contraindicações e riscos para a
relação sexual em gestações de baixo risco comprovadas, portanto, essas pacientes devem ser tranquilizadas. Em gestações
complicadas por placenta prévia ou por aumento do risco de parto prétermo, faltam evidências para apoiar a abstinência,
mas essa é uma recomendação benigna razoável, dadas as catastróficas consequências teóricas (Yeniel & Petri, 2014).
As mulheres apresentam numerosos sintomas, sentimentos e sensações físicas durante a gestação. Ter um
relacionamento sexual satisfatório durante a gestação é certamente possível, mas demanda comunicação honesta para
determinar o que funciona melhor para eles e um bom relacionamento com seu médico, para garantir a segurança (March
of Dimes, 2015f).
Emprego
Quase 75% das gestantes nos EUA continuam trabalhando fora de casa até o último mês de gravidez (Jordan et al., 2014).
É quase unânime que a mulher pode continuar trabalhando até o parto se não tiver complicações durante a gestação e o
local de trabalho não apresentar quaisquer riscos especiais (Zolotor & Carlough, 2014). As ocupações perigosas incluem
trabalhadoras da área da saúde, funcionárias de creches, técnicas de laboratório, químicas, pintoras, cabeleireiras,
assistentes veterinárias e carpinteiras (Guidotti, 2014). Os empregos que exigem trabalhos braçais, como levantar peso,
subir escadas, carregar objetos pesados e ficar em pé por períodos prolongados colocam a gestante em risco se não forem
instituídas modificações.
Avalie os fatores ambientais e ocupacionais que colocam a gestante e seu feto em risco de lesão. Questione sobre o
ambiente de trabalho dela. Pergunte sobre a possível exposição a teratógenos (substâncias com potencial para alterar a
forma ou função do feto de modo permanente) e as condições físicas do trabalho: A gestante é exposta a temperaturas
extremas? Ela precisa ficar por longos períodos em uma posição fixa? A descrição do ambiente de trabalho é importante
na prestação de orientações antecipatórias à mulher. Saliente a importância de realizar períodos de descanso ao longo do
dia, pois as cargas de trabalho físico intensivo constantes aumentam a probabilidade de baixo peso ao nascer e trabalho de
parto e parto prétermo (Cunningham et al., 2014).2
Devido às inúmeras alterações fisiológicas e psicossociais associadas à gestação, o empregador precisa fazer
acomodações especiais para reduzir o risco de exposições perigosas e cargas de trabalho pesadas à gestante. O empregador
precisa fornecer uma cobertura adequada para que a mulher possa fazer pausas de descanso; retirar a mulher de quaisquer
áreas em que possa ser exposta a substâncias tóxicas; e evitar atribuições que exijam trabalho pesado, trabalho físico
árduo, ficar em pé continuamente ou moverse constantemente. Algumas recomendações para o trabalho durante a gestação
constam no boxe Diretrizes de ensino 12.3.
Viagens
A gestação não restringe a capacidade da mulher de viajar de carro ou de avião. No entanto, as gestantes devem seguir
algumas orientações de segurança para minimizar o risco para si e para seus fetos. De acordo com a ACOG (2015g), as
gestantes podem viajar com segurança, embora o segundo trimestre seja, talvez, a melhor época para viajar, porque a
chance de complicações é menor. A gestante que considera fazer viagens internacionais deve avaliar os problemas que
poderiam ocorrer durante a viagem, bem como a qualidade dos cuidados médicos disponíveis no destino.
No terceiro trimestre, a gestante deve ser aconselhada a adiar viagens ao exterior por causa de preocupações com o
acesso a cuidados médicos em caso de problemas como hipertensão arterial, flebite ou trabalho de parto prematuro (CDC,
2015e). Ela deve ser aconselhada a consultar seu médico antes de tomar decisões de viagem.
Diretrizes de ensino 12.3
Orientações ocupacionais para a gestante
• Planejar dois períodos de 10 a 15 minutos de descanso em uma jornada de 8 horas
• Certificarse de que haja um lugar disponível para descanso, de preferência em decúbito lateral, com
um banheiro prontamente disponível
• Evitar trabalhos que exijam cargas de trabalho extenuantes; se isso não for possível, solicitar então a
modificação das funções de trabalho (tarefas mais leves) para reduzir sua carga de trabalho
• Passar da posição ortostática para sentada ou viceversa pelo menos a cada 2 horas
• Certificarse de que esteja autorizada a descansar sem que seja penalizada por isso, se necessário,
para garantir um desfecho saudável
• Certificarse de que o ambiente de trabalho não tenha substâncias tóxicas
• Verificar se existe no ambiente de trabalho fumaça de cigarro, para que o tabagismo passivo não seja
uma preocupação
• Minimizar os trabalhos pesados, se associados à flexão anterior de tronco
Anote!
As manifestações clínicas que indicam a necessidade de atenção médica imediata durante a viagem incluem sangramento
vaginal, eliminação de tecido ou coágulos, dor abdominal ou cólicas, contrações, ruptura das membranas amnióticas,
edema ou dor excessiva nas pernas, cefaleia ou problemas visuais (Leggat & Zuckerman, 2015).
Aconselhe a gestante a considerar o potencial de lesões e traumas relacionados com a viagem, e ensine a ela maneiras
de prevenir que estes ocorram. O boxe Diretrizes de ensino 12.4 oferece dicas para uma viagem segura de avião e ao
exterior.
Ao viajar de carro, o principal risco é um acidente automobilístico. Os acidentes automobilísticos são responsáveis por
mais de 50% de todos os traumatismos se dão durante as gestações e 82% de mortes fetais ocorrem durante esses
acidentes (Eshaghabadi & Barati, 2015). O impacto e o momentum podem levar à separação traumática da placenta da
parede do útero. Isso pode resultar em choque e hemorragia maciça. As sugestões que o enfermeiro pode oferecer para
promover a segurança durante a viagem terrestre incluem:
Diretrizes de ensino 12.4
Orientações para promover segurança em viagens de avião e ao
exterior
• Carregar uma cópia do prontuário de prénatal se a viagem for prolongada, no caso de haver uma
emergência clínica longe de casa
• Quando viajar, levar um dicionário estrangeiro que inclua palavras ou frases para as emergências mais
comuns da gestação
• Viajar com pelo menos uma pessoa em todos os momentos, para a segurança pessoal
• Verificar com o obstetra antes de receber as vacinas necessárias para viagens ao exterior; algumas
podem ser prejudiciais ao feto
• Quando em um país estrangeiro, evitar frutas frescas, vegetais e água local
• Evitar o consumo de leite que não seja pasteurizado
• Ingerir apenas carne que seja bempreparada, para evitar a exposição à toxoplasmose
• Pedir um assento no corredor e andar pelo avião a cada 2 horas
• Ao sentarse em voos longos, fazer exercícios de contração da panturrilha para melhorar a circulação
para os membros inferiores
• Estar ciente dos problemas típicos enfrentados pelas viajantes grávidas, como fadiga, pirose,
indigestão, constipação intestinal, corrimento vaginal, cãibras nas pernas, polaciúria e hemorroidas
• Sempre usar meias elásticas durante o voo para evitar o desenvolvimento de coágulos sanguíneos
• Beber muita água para manterse bem hidratada durante todo o voo
• Adiar viagens, se os riscos superarem os benefícios
Adaptado de American College of Obstetricians and Gynecologists. (2015e). Travel during pregnancy:
FAQ 055. Retirado de http://www.acog.org/~/media/for%20patients/faq055.ashx; Centers for Disease
Control and Prevention. (2015e). Pregnant travelers. Retirado
de http://wwwnc.cdc.gov/travel/yellowbook/2014/chapter8advisingtravelerswithspecific
needs/pregnanttravelers.
• Usar sempre o cinto de segurança de três pontos, não importa o quão curta seja a viagem, para evitar a ejeção ou
lesões graves pela colisão
• Colocar alças de ombro não acolchoadas corretamente; elas devem cruzar entre as mamas e sobre a parte superior do
abdome, abaixo do útero (Figura 12.11)
• Se não houver disponibilidade de cintos de segurança (ônibus ou vans), viajar no banco de trás do veículo
• Usar um cinto de segurança que cruze sobre a pelve, abaixo do útero
• Desativar o airbag, se possível. Se não for possível, mover o assento o mais longe possível do painel do carro, para
minimizar o impacto sobre o abdome
• Não usar telefone celular enquanto estiver dirigindo, para evitar distrações
• Não dirigir quando estiver muito cansada no primeiro e no terceiro trimestres
• Não dirigir tarde da noite, quando a visibilidade pode estar comprometida
• Direcionar um volante inclinável para longe do abdome (CDC, 2015e).
FIGURA 12.11 Colocação correta do cinto de segurança durante a gestação.
Vacinas e medicamentos
As vacinas são um dos maiores feitos da saúde pública do século XXI, sendo responsáveis por redução significativa das
taxas de morbidade e mortalidade de muitas doenças causadas por bactérias e vírus (Senie, 2014). De modo ideal, as
pacientes devem receber todas as vacinas da infância antes da concepção, para proteger o feto de qualquer risco de
anomalias congênitas. Se a paciente for a uma consulta preconcepcional, discuta as vacinas contra sarampo, caxumba e
rubéola (MMR, tríplice viral), hepatite B e difteria/tétano (a cada 10 anos); administreas neste momento, se necessário.
O risco para o feto em desenvolvimento da vacinação da mãe durante a gestação é virtualmente teórico. As
imunizações de rotina não são, habitualmente, indicadas durante a gestação. No entanto, não existem evidências de risco da
vacinação de gestantes com vírus inativos ou vacinas bacterianas ou toxoides. Várias outras vacinas não foram
devidamente estudadas e, assim, é preciso avaliar os riscos teóricos da vacinação e comparálos com os riscos da doença
para a mãe e o feto (CDC, 2015f).
Anote!
Aconselhe a gestante a evitar vacinas de vírus vivos (tríplice viral e varicela) e a mulher que deseja engravidar para não
fazêlo nos 30 dias seguintes à aplicação de uma dessas vacinas, devido ao risco teórico de transmissão para o feto (CDC,
2015f).
As diretrizes do CDC para a administração de vacinas são destacadas no Boxe 12.6.
BOXE 12.6
DIRETRIZES DO CDC PARA A ADMINISTRAÇÃO DE VACINAS DURANTE A GESTAÇÃO
Vacinas que devem ser consideradas, salvo indicação em contrário
• Hepatite B
• Antigripal (inativada) injetável
• Tétano/difteria (Tdap)
• Meningite
• Raiva
Vacinas contraindicadas durante a gestação
• Antigripal (vacina com vírus vivo, atenuado) por spray nasal
• Sarampo
• Caxumba
• Rubéola
• Varicela
• BCG (tuberculose)
• Meningite
• Febre tifoide
Adaptado de Centers for Disease Control and Prevention. (2015f). Vaccines for pregnant women. Retirado
de http://www.cdc.gov/vaccines/adults/recvac/pregnant.html; March of Dimes. (2015h). Vaccinations during
pregnancy. Retirado de http://www.marchofdimes.com/pregnancy/vaccinationsduringpregnancy.aspx.
BOXE 12.7
CLASSIFICAÇÃO DA FDA REFERENTE AO RISCO DOS FÁRMACOS PARA A GESTAÇÃO
• A seção Gravidez fornecerá informações relevantes para o uso de fármacos por gestantes, tais como
posologia e riscos potenciais para o feto em desenvolvimento, e demandará conhecimento sobre a
existência ou não de registro que coleta e mantém dados sobre como as gestantes são afetadas quando
usam determinado fármaco ou produto biológico. Nos EUA, as informações no rótulo dos fármacos
sobre a existência de quaisquer registros na gravidez eram recomendadas previamente, mas não eram
exigidas até o momento
• A seção Lactação fornecerá informações sobre o uso do fármaco durante o aleitamento, tais como
concentração do fármaco no leite materno e os efeitos potenciais no lactente
• A seção Potencial reprodutor de homens e mulheres incluirá informações sobre testes de gravidez,
contracepção e infertilidade e suas relações com o fármaco. As informações foram incluídas nos rótulos,
mas até o momento não foi definido um local consistente para estas
Retirado de http://www.fda.gov/NewsEvents/Newsroom/PressAnnouncements/ucm425317.htm.
Pouco se sabe sobre os efeitos do uso da maioria dos medicamentos durante a gravidez. Menos de 10% dos
medicamentos aprovados pela FDA desde 1980 têm informações suficientes para determinar o risco de provocarem
defeitos congênitos (CDC, 2015g). Por causa dessa falta de evidências, é melhor que as mulheres evitem o uso de
medicamentos durante a gravidez. Incentiveas a pelo menos discutir com seu médico os medicamentos e fitoterápicos em
uso atual, para que possam ser informadas sobre quaisquer possíveis riscos de continuar tomandoos durante a gestação.
Em geral, se a mulher está tomando medicamentos para convulsões, hipertensão arterial, asma brônquica ou depressão, os
benefícios de continuar o medicamento durante a gestação superam os riscos para o feto. O perfil de segurança de alguns
medicamentos pode mudar de acordo com a idade gestacional do feto. A embriogênese já se completou ao final do
primeiro trimestre da gravidez e todos os órgãos fetais estão completos. Portanto, para provocar malformação, a exposição
à substância precisa ter ocorrido nas primeiras 12 semanas de gravidez (Gadot & Koren, 2015).
A FDA desenvolveu um sistema de classificação de fármacos que aparece nos rótulos e bulas de medicamentos. Essas
categorias de risco estão resumidas no Boxe 12.7. Sempre aconselhe as mulheres a confirmálas com o obstetra para obter
orientações.
Uma preocupação comum de muitas gestantes envolve o uso de medicamentos de venda livre e agentes fitoterápicos.
Muitas mulheres consideram estes produtos benignos simplesmente porque estão disponíveis para venda sem receita
médica (King et al., 2015). Embora os fitoterápicos geralmente sejam considerados alternativas “naturais” a outros
medicamentos, podem ser tão potentes quanto alguns medicamentos prescritos. Uma das principais preocupações em
relação à fitoterapia é a falta de consistência na potência dos ingredientes ativos entre os diferentes lotes do produto,
tornando difícil saber sua potência exata ao ler o rótulo. Além disso, muitas ervas contêm substâncias químicas que
atravessam a placenta e podem causar danos ao feto.
O enfermeiro é frequentemente questionado em relação à segurança dos medicamentos de venda livre e fitoterápicos.
Infelizmente, muitos medicamentos não foram avaliados em estudos controlados, e é difícil fazer recomendações gerais
para estes produtos. Portanto, devese orientar as gestantes a perguntar ao obstetra antes de usar qualquer medicamento.
Perguntas sobre o uso de fitoterápicos e de medicamentos de venda livre fazem parte da entrevista prénatal inicial.
CONDUTA DE ENFERMAGEM PARA PREPARAR A GESTANTE E SEU
COMPANHEIRO PARA O TRABALHO DE PARTO, O PARTO E A
MATERNIDADE/PATERNIDADE
A gravidez e o parto são experiências únicas para todas as mulheres. As mulheres e suas famílias têm expectativas
diferentes com base em seus conhecimentos, suas experiências, seus sistemas de crença, suas culturas e suas histórias
sociais e familiares. Essas diferenças devem ser compreendidas e respeitadas pelos profissionais de enfermagem, e deve
se cuidar para que sejam adaptadas de modo a atender às demandas individuais das mulheres e de suas famílias. O
conhecimento das necessidades, dos valores, da cultura, das preferências e das expectativas durante o parto dessas
mulheres ajuda os profissionais de enfermagem a prestarem cuidados de alta qualidade para elas. O parto é agora uma
experiência muito diferente do parto de antigamente. No passado, as mulheres eram literalmente “colocadas para dormir”
com anestésicos e acordavam com uma criança. A maioria das mulheres não se lembrava dos detalhes e tinha um papel
passivo no parto enquanto o médico retirava o recémnascido. Na década de 1950, as pacientes começaram a insistir em ter
um papel mais ativo em sua saúde e os casais desejavam estar juntos durante o extraordinário evento do parto. A partir de
1970, o pai ou outro ente querido permaneciam com a mãe durante o trabalho de parto e o parto. Os pais de hoje querem
ser vistos como indivíduos que fazem parte de um casal em trabalho de parto. Se os pais são deixados de fora, tendem a
sentirse impotentes; isso pode resultar em um sentimento de pânico e pode colocar em risco a sua capacidade de apoiar a
parceira (Schytt & Bergstrom, 2014).
Nas várias culturas em todo o planeta existem crenças relacionadas à gravidez e ao parto. A percepção da mulher de
sua condição é crucial para o processo de tomada de decisão porque seus comportamentos pessoais podem modificar
significativamente os riscos relacionados à gravidez. As gestantes de diversas culturas têm várias crenças em relação à
dieta, ao comportamento relacionado com os cuidados prénatais e ao uso de fitoterápicos durante a gravidez e o puerpério.
Os enfermeiros precisam conhecer essas crenças culturais de modo a incorporálas à sua atuação profissional, enquanto
aquelas que implicam risco para a saúde devem ser desencorajados de modo respeitoso (M’soka, Mabuza, & Pretorius,
2015).
As orientações para o parto começaram porque as gestantes exigiram maior participação no parto, em vez de
simplesmente passar o controle para o médico. A enfermagem desempenhou um papel fundamental na promoção dessa
mudança, fornecendo informações e apoiando as pacientes e seus familiares, promovendo um papel mais ativo na
preparação para o parto que se aproxima.
As aulas tradicionais de orientação para o parto focalizavam o desenvolvimento e a prática de técnicas para uso no
controle da dor e na facilitação do trabalho de parto. Recentemente, o foco dessas orientações se ampliou: agora engloba
não apenas a preparação para o parto, mas também a preparação para o aleitamento materno, cuidados com a criança,
transição para os novos papéis dos pais, habilidades de relacionamento, promoção da saúde da família e sexualidade
(Varner, 2015). O termo usado para descrever essa gama de temas é orientação perinatal. Assuntos comumente
abordados nas orientações perinatais incluem:
• Anatomia e fisiologia da reprodução
• Crescimento e desenvolvimento fetais
• Exercícios físicos maternos prénatais
• Alterações fisiológicas e emocionais durante a gestação
• Sexo durante a gestação
• Crescimento e desenvolvimento do lactente
• Hábitos nutricionais e alimentares saudáveis durante a gestação
• Teratógenos e seu impacto sobre o feto
• Sinais e sintomas de trabalho de parto
• Preparação para o trabalho de parto e o parto (para os pais, irmãos e outros membros da família)
• Opções para o parto
• Nutrição infantil, incluindo a preparação para a amamentação
• Cuidados com a criança, incluindo segurança, reanimação cardiopulmonar (RCP) e primeiros socorros
• Planejamento familiar (March of Dimes, 2015a).
Aulas de preparação para o parto
As aulas de preparação para o parto orientam a gestante e sua pessoa de apoio em relação à gestação, ao parto e à
parentalidade. Nos EUA, as aulas são oferecidas nas comunidades locais ou online e geralmente são ministradas por
instrutores de parto certificados. A maioria das aulas de preparação para o parto apoia o conceito de parto natural (um
parto sem medicamentos para alívio da dor), de modo que a mulher pode estar no controle ao longo da experiência tanto
quanto possível. As classes diferem em sua abordagem às técnicas específicas de conforto e padrões respiratórios. Os três
métodos de parto mais comuns são Lamaze (psicoprofilático), Bradley (marido como treinador) e DickRead (parto
natural).
Método Lamaze
Lamaze é um método psicoprofilático (“prevenção mental”) de preparação para o trabalho de parto que promove o uso de
técnicas respiratórias e de relaxamento específicas. Dr. Fernand Lamaze, um obstetra francês, popularizou esse método de
preparação para o parto na década de 1960. Lamaze acreditava que era importante dominar o medo por meio do
conhecimento e apoio. Também acreditava que as gestantes precisavam modificar a percepção do sofrimento durante o
parto. Essa mudança de percepção ocorreria ao aprender reflexos condicionados que, em vez de sinalizar dor, sinalizariam
o trabalho de produzir uma criança e, portanto, conduziriam a mulher pelo trabalho de parto acordada, consciente e no
controle de seu próprio corpo (Lamaze International, 2015). Lamaze acreditava que todas as mulheres têm o direito de dar
à luz com pouca ou nenhuma medicação, mantendo sua dignidade, minimizando sua dor, maximizando sua autoestima e
apreciando o milagre do nascimento.
As aulas de Lamaze incluem informações sobre exercícios de tonificação, exercícios e técnicas de relaxamento e
métodos de respiração para o trabalho de parto. As técnicas respiratórias são utilizadas no trabalho de parto para aumentar
o relaxamento e reduzir a percepção de dor da gestante. O objetivo é que as gestantes se conscientizem do seu próprio
ritmo confortável de respiração, a fim de manter o relaxamento e a oxigenação adequada ao feto. As técnicas de respiração
a seguir são uma estratégia efetiva de focalização da atenção para reduzir a dor:
• A respiração ritmada envolve técnicas utilizadas para diminuir a resposta ao estresse e, portanto, diminuir a dor. Esse
tipo de respiração implica a autorregulação por parte da gestante. A gestante começa com uma respiração de “limpeza”
no início e no final de cada contração. Essa respiração de limpeza simboliza a liberação da mente de preocupações e
inquietações. Essa respiração melhora a oxigenação e coloca a mulher em um estado relaxado
• A respiração em ritmo lento está associada ao relaxamento e deve ser a metade da frequência respiratória normal (de 6
a 9 incursões respiratórias por minuto). Esse tipo de respiração é o padrão mais relaxado e é recomendado durante o
trabalho de parto. Pode ser usada respiração abdominal ou torácica. Em geral, é melhor inspirar pelo nariz e expirar
pelo nariz ou pela boca, o que for mais confortável para a gestante
• A respiração com ritmo modificado pode ser usada em momentos de maior trabalho ou estresse durante o trabalho de
parto para aumentar a vigília ou focar a atenção, ou quando a respiração com ritmo lento já não for mais efetiva na
manutenção do relaxamento da gestante. A frequência respiratória da gestante aumenta, mas não pode exceder o dobro
da frequência normal. A respiração com ritmo modificado é uma respiração torácica silenciosa, cuja frequência é
aumentada ou diminuída de acordo com a intensidade da contração. O tempo de inspiração e o tempo de expiração são
iguais. Essa técnica respiratória deve ser praticada durante a gestação para uso ótimo durante o trabalho de parto
• A respiração com ritmo padronizado é semelhante à respiração com ritmo modificado, mas com um padrão rítmico.
Usa vários padrões, com ênfase na expiração em intervalos regulares. Diferentes padrões podem ser utilizados, como
4/1, 6/1, 4/1. O ritmo 4/1 envolve quatro inspirações com a parte superior do tórax seguidas por uma expiração
(liberação de ar como ao soprar uma vela). Podem ser escolhidos padrões aleatórios para uso, desde que os princípios
básicos de frequência e relaxamento sejam respeitados.
Os casais tipicamente praticam esses padrões respiratórios durante os últimos meses da gestação, até que se sintam
confortáveis para usálos. Adicionamse ainda pontos focais (fixação visual em um determinado objeto),
a effleurage (massagem abdominal leve feita pela mulher ou pelo parceiro), a massagem e a imaginação (jornada da mente
para um lugar relaxante) para ajudar no relaxamento. O enfermeiro deve incentivar a mulher a respirar em um nível
confortável que lhe possibilite enfrentar a situação. O enfermeiro deve permanecer em silêncio durante os períodos de
imaginação e visualização de ponto focal, para evitar que a gestante perca a concentração.
Método Bradley
O método de Bradley utiliza exercícios variados e respiração abdominal lenta e controlada para promover relaxamento. O
Dr. Robert Bradley, um obstetra de Denver, defendeu uma experiência de trabalho de parto e parto completamente sem
medicação. Esse método enfatiza as sensações prazerosas do parto, ensinando a mulher a concentrarse nessas sensações
enquanto “se conecta” ao próprio corpo (Bradley Method, 2014). Em 1965, Bradley escreveu o livro Husbandcoached
childbirth (tradução livre: Parto com a participação ativa do marido), que defendia a participação ativa do marido durante
o trabalho de parto.
A mulher é condicionada a trabalhar em harmonia com seu corpo, usando o controle respiratório e a respiração
abdominopélvica profunda para promover o relaxamento geral do corpo durante o parto. Esse método enfatiza que o parto
é um processo alegre e natural; enfatiza a participação do companheiro durante a gestação, o trabalho de parto, o parto e o
período neonatal. Assim, as técnicas de treinamento são voltadas para o companheiro e não para a gestante. O
companheiro é orientado em técnicas de massagem/conforto para serem usadas na gestante durante o processo de trabalho
de parto e parto.
Método DickRead
Em 1944, Grantly DickRead, um ginecologista britânico, escreveu Childbirth without fear (tradução livre: Parto sem
medo). Ele acreditava que a atitude da mulher em relação ao seu processo de parto exercia uma influência considerável
sobre a facilidade de seu trabalho de parto. Acreditava que o medo é o agente primário produtor da dor em um trabalho de
parto sem anormalidades. Ele acreditava que o medo fomenta um estado de tensão, criando um efeito antagônico sobre os
músculos do útero, o que resulta em dor. Um ambiente reservado, calmo e escurecido, onde as gestantes podem se sentir
seguras, pode promover a liberação da ocitocina, o hormônio responsável pelas contrações uterinas, e acreditase que
promova também a liberação das endorfinas (hormônios que aliviam a dor). Quando isso não ocorre, as mulheres podem
apresentar a síndrome medotensãodor, inviabilizando o progresso do trabalho de parto e provocando níveis aumentados
de dor (Westbury, 2015). DickRead procurou interromper o padrão circular de medo, tensão e dor durante o trabalho de
parto e o parto. Ele promoveu a crença de que o grau de medo pode ser reduzido com o aumento da compreensão da
resposta fisiológica normal do trabalho de parto (Alexander et al., 2014).
DickRead acreditava que as orientações prénatais são essenciais para o alívio da dor e que os fatores emocionais
durante o trabalho de parto interferiam na progressão normal do trabalho de parto. A mulher alcança o relaxamento e reduz
a dor armandose com o conhecimento do parto normal e utilizando a respiração abdominal durante as contrações.
Conduta de enfermagem e orientações para o parto
As orientações para o parto não focam tanto nos métodos, mas na maestria. O objetivo geral de qualquer que seja o
método é promover a formação de um locus de controle interno que possibilite a cada mulher preparar seu corpo para o
processo do nascimento. À medida que a mulher obtém sucesso e benefícios tangíveis dos exercícios ensinados, começa a
reformular suas crenças e ganha conhecimento prático, e terá o ímpeto para se envolver no uso consciente das técnicas
(Figura 12.12). O enfermeiro desempenha um papel fundamental em apoiar e incentivar o uso das técnicas ensinadas nas
aulas de preparação para o parto por cada casal.
O trabalho de parto de cada mulher é único, de modo que é importante que o enfermeiro não generalize nem estereotipe
as mulheres. Os apoios mais efetivos que o enfermeiro pode oferecer a um casal usando métodos de preparo para o parto
são o incentivo e a presença. Essas medidas de enfermagem precisam ser adaptadas a cada mulher ao longo do processo de
trabalho de parto. Dizer frases encorajadoras como “muito bom” ou “você consegue” ajuda a aprimorar os esforços da
gestante e, ao mesmo tempo, promove o empoderamento dela. É importante usar o contato visual para envolver a atenção
total da mulher se ela parecer oprimida ou parecer perder o controle durante a fase de transição do trabalho de parto.
O enfermeiro desempenha um papel importante em melhorar o relacionamento do casal, respeitando a participação do
companheiro e demonstrando preocupação para com as necessidades dele durante o trabalho de parto. Oferecerse para
ficar com a mulher para lhe dar uma pausa periodicamente lhe possibilita satisfazer as suas necessidades e, ao mesmo
tempo, ainda participar ativamente. Ofereça orientações antecipatórias ao casal e ajude em momentos críticos do trabalho
de parto. Demonstre ao companheiro muitas das técnicas de enfrentamento e louve o seu uso bemsucedido, o que melhora
a autoestima. Concentrese em seus pontos fortes e elementos positivos da experiência de trabalho de parto. Felicitar o
casal por um trabalho bemfeito é primordial.
Durante o trabalho de parto, é fundamental demonstrar cordialidade e projetar uma atitude amigável. Frequentemente,
o toque do enfermeiro pode ajudar a evitar uma crise ao tranquilizar a mãe de que ela está indo bem.
FIGURA 12.12 Casal praticando as técnicas ensinadas em uma aula de preparação para o parto.
Opções de ambientes de parto e prestadores de cuidados
A partir do momento em que a mulher descobre que está grávida, inúmeras decisões a esperam – onde seu filho vai
nascer, qual ambiente de parto é melhor e quem vai ajudar no parto. A maioria das mulheres está bem e saudável e pode
considerar toda a gama de ambientes de parto – hospital, casa de parto ou domicílio – e prestadores de cuidados. Devem
ser dadas informações sobre cada um para garantir a decisão mais informada.
Ambientes de parto
HOSPITAIS
Os hospitais são o local mais comum para o parto nos EUA. Se a mulher tiver ou correr alto risco de desenvolver uma
condição clínica importante, ela provavelmente precisa planejar dar à luz em um hospital, sob os cuidados de um obstetra.
Dar à luz em um hospital é vantajoso por vários motivos. Os hospitais estão mais bem equipados para diagnosticar e tratar
as mulheres e os recémnascidos com complicações, há pessoal treinado disponível se necessário e não é preciso
transporte se surgir uma complicação durante o trabalho de parto ou parto. As desvantagens incluem a atmosfera de alta
tecnologia, as políticas e restrições que podem limitar quem pode estar com a mulher e o modelo clínico de atendimento.
Dentro do hospital, no entanto, existem opções em relação ao local do parto. A sala de parto convencional se
assemelha a uma sala de operação, na qual o obstetra retira o recémnascido da mulher, cujas pernas estão apoiadas em
estribos. A mulher é então transferida para a área de recuperação em uma maca e então novamente para a unidade de pós
parto. A suíte de parto é a outra opção no ambiente hospitalar. Na suíte de parto, a gestante e seu companheiro
permanecem em um só lugar para o trabalho de parto, o parto e a recuperação. A suíte de parto é um quarto particular
decorado para parecer o máximo possível com o ambiente familiar. Por exemplo, a cama pode ser adaptada possibilitando
diferentes posições de parto, e pode haver uma cadeira de balanço ou poltrona para o companheiro da gestante. Apesar da
atmosfera aconchegante, o quarto está equipado com equipamentos de emergência obstétrica para reanimação e
monitoramento eletrônico fetal no caso de serem necessários (Figura 12.13A). Esses ambientes proporcionam uma
experiência de parto mais personalizada, em um ambiente menos formal e intimidador do que a sala de parto convencional.
CASA DE PARTO
Uma casa de parto independente oferece às parturientes um ambiente confortável onde podem receber cuidados com níveis
apropriados de intervenção. Uma casa de parto (Figura 12.13B) pode ser uma boa escolha para a mulher que deseja um
atendimento mais personalizado do que em um hospital, mas não se sente confortável com um parto em casa. Em
contraste com o ambiente institucional dos hospitais, a maioria das casas de parto tem um ambiente familiar, e muitas
estão, na verdade, localizadas em casas adaptadas. Algumas são de propriedade de hospitais e estão afiliadas a eles. As
casas de parto são projetadas para atender mulheres consideradas de baixo risco para complicações obstétricas. Permitese
e encorajase que as mulheres deem à luz na posição mais confortável para elas. O cuidado nas casas de parto muitas vezes
é prestado por parteiras e é mais relaxado, sem cateteres intravenosos de rotina, monitoramento fetal e protocolos
restritivos. Uma desvantagem das casas de parto é a necessidade de transportar a gestante para um hospital rapidamente se
surgir uma emergência, porque não há equipamentos de emergência. Em um estudo que comparou ambientes mais
acolhedores com ambientes institucionais convencionais, o autor concluiu que parecia haver alguns benefícios para os
ambientes mais acolhedores, embora o maior apoio dos cuidadores seja mais importante (Alliman, Jolles, & Summers,
2015).
PARTO DOMICILIAR
Nos EUA, as taxas de parto domiciliar planejado têm aumentado desde a década de 1970, com uma em cada 49 mulheres
brancas não hispânicas dando à luz fora do ambiente hospitalar hoje em dia (Zielinski, Ackerson, & Low, 2015). A
maioria das mulheres que opta pelo domicílio acredita que o parto é um processo natural que demanda pouca intervenção
médica (Lewis, 2015). Pesquisas mostraram que as mulheres acreditam que os partos domiciliares planejados aumentam a
privacidade, o conforto e a conveniência; estão associados a taxas reduzidas de intervenções médicas; e facilitam o
envolvimento da família em um ambiente descontraído e tranquilo (Budin, 2015).
A segurança dos partos domiciliares é motivo de debate contínuo nos EUA. O American College of NurseMidwives
(ACNM), a American Public Health Association (APHA) e a OMS afirmam que o parto em casa (planejado previamente)
é seguro desde que a gestante atenda a determinados critérios, como gestação de baixo risco, feto único, apresentação
cefálica no termo e ausência de condições preexistentes (Declercq & Stotland, 2015).3 Os partos domiciliares podem ser
seguros se houver atendentes qualificados e experientes e um sistema de transferência de emergência se ocorrerem
complicações graves. Muitas mulheres escolhem o ambiente domiciliar por um forte desejo de controlar o nascimento de
seu filho e dar à luz cercadas por familiares. A maioria dos cuidadores no parto domiciliar são parteiras que prestam
cuidados continuados à mulher durante a gestação. As desvantagens incluem a necessidade de transportar a gestante para o
hospital durante ou após o parto se surgir um problema e o limitado controle da dor no ambiente doméstico.
FIGURA 12.13 A. Suíte de parto em um hospital. B. Sala de parto em uma casa de parto.
Prestadores de cuidado
Embora a maioria das gestantes nos EUA ainda seja acompanhada por um obstetra, um número crescente está escolhendo
um enfermeiro obstetra para atendêlas. A diferença é uma questão de graduação. Os obstetras têm de terminar uma
residência de 4 anos em ginecologia e obstetrícia, além da faculdade de medicina. O enfermeiro obstetra participa de um
programa de formação certificado pela Accreditation Commission for Midwifery Education (ACME) e passa por um
exame de certificação nacional para receber a designação profissional de enfermeiro obstetra.4 Os enfermeiros obstetras
geralmente atendem mulheres de baixo risco em várias circunstâncias. Em 2010, era necessário fazer uma pósgraduação
em obstetrícia para o enfermeiro atuar em partos eutócicos nos EUA. As parteiras geralmente atendem gestantes de baixo
risco em várias circunstâncias. São capacitadas a fazer prescrições, prestar cuidados prénatais, assistência ao parto,
prestar cuidados pósparto, cuidados ao recémnascido e cuidados à mulher ao longo de sua vida. O médico da família
também presta cuidados de maternidade, cuidados à mulher e cuidados ao recémnascido. Muitas mulheres dão à luz em
maternidades ou em casas de parto. Os obstetras podem lidar com gestações de alto risco e partos de emergência; podem
administrar ou prescrever medicamentos para alívio da dor; e são assistidos por uma equipe de suporte em ambiente
hospitalar. Nos EUA, as parteiras prestam cuidados em hospitais, casas de parto e em domicílios. Acreditam que o parto é
um evento natural e aceitam grandes variações do que é considerado normal durante o parto, o que leva a menos
intervenções durante o processo de parto. As parteiras profissionais realizam aproximadamente 8% dos partos nos EUA
(American College of NurseMidwives, 2015). Elas realmente lidam com partos de alto risco e de emergência, porque
muitos desses casos nem sempre são previsíveis – tipicamente existe um obstetra “alcançável” para ajudálas nesses
casos.5
Além do obstetra, algumas gestantes contratam uma doula para estar com elas durante o processo de gestação. Doula é
uma palavra grega que significa “serva da mulher”. A doula é uma leiga treinada para prestar incentivo, apoio emocional e
físico e informações à mulher e aos seus familiares no final da gestação, no trabalho de parto, no parto e no pósparto. A
doula proporciona apoio contínuo à mulher durante o trabalho de parto, mas não realiza nenhum procedimento técnico.
Preparação para aleitamento materno ou uso da mamadeira
As gestantes são confrontadas com a decisão sobre qual método de alimentação escolher. Oriente a gestante sobre as
vantagens e desvantagens de cada método, possibilitando que ela e seu companheiro tomem uma decisão informada sobre
o melhor método para a sua situação. Fornecer essas informações à gestante e ao seu companheiro aumentará a
probabilidade de uma experiência bemsucedida, independentemente do método de alimentação escolhido. Como parte das
intervenções baseadas em evidências/promoção de saúde, os profissionais de enfermagem devem encorajar e orientar todas
as mulheres a amamentar seus filhos.
Aleitamento materno
Existem evidências científicas substanciais que documentam os benefícios do aleitamento materno para a saúde do recém
nascido. As evidências atuais citadas pela AAP mostraram melhores desfechos para os lactentes que receberam leite
materno em relação a otite média, infecções das vias respiratórias inferiores, gastrenterite, dermatite atópica, asma infantil,
obesidade infantil, diabetes melito dos tipos 1 e 2, leucemia infantil, síndrome da morte súbita do lactente e
desenvolvimento cognitivo e para as suas mães em relação ao câncer de mama, câncer de ovário e diabetes melito do tipo
2. A AAP preconiza o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de vida e a manutenção do aleitamento durante 1 ano
e por tanto tempo quanto for mutuamente desejado (2012). Além disso, a falta de aleitamento materno tem um impacto
negativo sobre o sistema de saúde, aumentando o número de consultas, internações hospitalares, taxa de obesidade e
custos de cuidados de saúde. A maioria dos pesquisadores concorda que a duração do aleitamento materno guarda
correlação negativa com o risco de sobrepeso. O aleitamento materno é uma estratégia custoefetiva, natural e efetiva de
prevenção da obesidade infantil. Um estudo recente estima que seriam economizados 13 bilhões de dólares por ano e
seriam evitadas 1.000 mortes a cada ano se 90% dos lactentes dos EUA recebessem apenas leite materno até os 6 meses
de idade (Office on Women’s Health, 2014).
O leite humano fornece um equilíbrio ideal de nutrientes para o recémnascido (ACOG, 2015h). O aleitamento
materno é vantajoso pelos seguintes motivos:
• O leite materno é de fácil digestão e econômico e não exige preparação
• Promove o vínculo entre a mãe e o filho
• O custo é menor do que o da fórmula comprada
• A ovulação é suprimida (no entanto, este não é um método de controle de natalidade confiável)
• O risco de câncer de ovário e a incidência de câncer de mama antes da menopausa são reduzidos
• Gastamse calorias extras, o que promove a perda de peso de modo gradual, sem restrição alimentar
• Ocitocina é liberada para promover involução uterina mais rápida, com menos sangramento
• Mamar ajuda a desenvolver os músculos da mandíbula do lactente
• A absorção de lactose e de sais minerais pelo recémnascido é melhor
• As propriedades imunológicas do leite materno ajudam a prevenir infecções no lactente
• A composição do leite materno se adapta para atender às necessidades do lactente
• Com a ingestão adequada, o bebê não apresenta problemas de constipação intestinal
• É menos provável a ocorrência de alergias alimentares no lactente que recebe leite materno
• A incidência de otite média e infecções nas vias respiratórias altas do lactente é reduzida
• É menos provável que lactentes que recebem leite materno sejam superalimentados, reduzindo assim o risco de
obesidade na idade adulta
• Os recémnascidos que recebem aleitamento materno são menos propensos a vômitos (AAP, 2015; ACOG, 2015h;
American Academy of Family Physicians, 2015; Women, Infant & Children [WIC], 2015).
Podese dizer que a lactação e o aleitamento materno são tão naturais que ocorrerão espontaneamente, mas esse não é o
caso. Aprender a amamentar demanda prática, apoio do companheiro e dedicação e paciência por parte da mãe; pode ser
necessário trabalhar em estreita colaboração com um consultor de lactação para ser bemsucedida e sentirse confortável
durante a amamentação. (A Figura 12.14 mostra as diferentes posições que podem ser adotadas para o aleitamento
materno.) Os profissionais de enfermagem podem encorajar o aleitamento materno para todas as mulheres com exceção
das mulheres HIVpositivas que não estão recebendo tratamento, daquelas com tuberculose ativa, das usuárias de drogas
ilícitas ou daquelas em uso de quimioterapia para câncer.
O aleitamento materno também tem alguns efeitos colaterais. Estas incluem desconforto mamário, mamilos doloridos,
mastite, ingurgitamento, estase de leite, ressecamento vaginal e diminuição da libido (Alekseev, Vladimir, & Nadezhda,
2015). A causa mais comum de dor no mamilo é a pega imprópria; este desconforto é penetrante, imediato e de curta
duração, ocorrendo tipicamente logo que o lactente começa a mamar e cedendo gradualmente durante a amamentação.
Algumas mães sentem que o aleitamento é inconveniente ou embaraçoso, limita outras atividades, limita o envolvimento
com o companheiro, aumenta sua dependência por estar presa ao filho o tempo todo e restringe a ingestão de bebidas
alcoólicas e o uso de substâncias psicoativas. Os enfermeiros podem ajudar as mães a lidar com o medo da dependência e
com os sentimentos de obrigação enfatizando os aspectos positivos do aleitamento materno e incentivando experiências de
criação de vínculo com o filho. Podem também ajudar as mulheres a se preparar para o aleitamento e para mantêlo após
retomarem suas atividades laborais.
PREPARAÇÃO PARA O ALEITAMENTO MATERNO
Não é necessária a preparação dos mamilos durante o período prénatal, a menos que eles sejam invertidos e não se tornem
eretos quando estimulados. Avalie isso colocando o dedo indicador e o polegar acima e abaixo da aréola e comprimindo
atrás do mamilo. Se ele se achata ou inverte, aconselhe a paciente a usar conchas de mama durante os dois últimos meses
de gestação. As conchas de mama exercem pressão contínua ao redor da aréola, empurrando o mamilo através de uma
abertura central na concha interna (La Leche League International, 2014). As conchas são usadas por dentro do sutiã.
Inicialmente, as conchas são usadas durante 1 hora e, em seguida, a mulher aumenta progressivamente o tempo de uso
para até 8 horas diárias. A paciente mantém esse esquema até após o parto e, em seguida, usa a concha 24 horas por dia
até que a criança “pegue” a mama com facilidade (La Leche League International, 2014). Além disso, sugira que a mulher
use um sutiã de amamentação 24 horas por dia.
Encorajar a parturiente/puérpera a solicitar uma especialista em amamentação no hospital, se o parto ocorrer nesse tipo
de instituição. As especialistas em amamentação são profissionais de saúde que se especializam no manejo clínico do
aleitamento materno.6 Algumas têm seus próprios grupos de apoio ao aleitamento materno. Além disso, incentive a mulher
a frequentar um grupo de apoio à amamentação (p. ex., Amigas do Peito), forneça a ela fontes de informação sobre
alimentação infantil e sugira que ela leia um bom livro sobre lactação. Todas essas atividades ajudarão no processo de
tomada de decisão e serão inestimáveis caso ela escolha amamentar o recémnascido. As mulheres, ao retornarem para
suas atividades laborais, podem usar bombas de sucção e armazenar o leite no freezer para uso futuro.
Mamadeira
Pesquisas recentes indicam que os lactentes alimentados com fórmula nos primeiros 6 meses têm maior incidência de otite
média, diabetes melito, asma, dermatite atópica, refluxo, diarreia, cólica, constipação intestinal e infecções das vias
respiratórias inferiores (Schram, 2014). É importante informar as mães e seus companheiros disso.
O uso da mamadeira não consiste apenas em “abrir, encher e alimentar”. Os pais precisam de informação sobre os
tipos de fórmulas, sobre a preparação e o armazenamento da fórmula, sobre as mamadeiras e sobre as posições para
alimentação. Recomendase que os lactentes normais a termo recebam fórmula à base de leite de vaca convencional; o
pediatra deve orientar essa escolha. Se a criança apresentar alguma reação (diarreia, vômitos, dor abdominal, excesso de
gases) à primeira fórmula, devese tentar outra. Às vezes, substituise por uma fórmula à base de soja. Em termos de
preparação da fórmula e seu uso, devemse ressaltar as seguintes diretrizes:
FIGURA 12.14 Posições para o aleitamento materno. A. Posição de embalar – a cabeça do recémnascido/lactente
está apoiada no antebraço da mãe para a amamentação. B. Posição de embalar cruzada ou transitional – o
recémnascido/lactente é segurado com o braço oposto ao da mama. C. Posição da bola de futebol – o recém
nascido/lactente é apoiado na lateral do quadril, quase sob o braço da mãe. D. Posição deitada de lado – o recém
nascido/lactente é colocado paralelamente à mãe que está em decúbito lateral para amamentar. E. Posição
reclinada ou recostada – o recémnascido/lactente é colocado em decúbito ventral sobre o abdome da mãe para
amamentar. (De Office on Women’s Health, U.S. Department of Health and Human Services, 2014. Disponível
em: http://www.womenshealth.gov/breastfeeding/learningtobreastfeed.html.)
• Obter equipamentos adequados (seis mamadeiras de 120 mℓ, oito mamadeiras de 240 mℓ e bicos)
• A consistência é importante. Optar por um bico que seja confortável para o lactente
• Avaliar com frequência os bicos à procura de fragmentos de borracha soltos na abertura
A preparação correta da fórmula é fundamental para a saúde e o desenvolvimento da criança. A fórmula está disponível
• em três modalidades: pronta para consumo, concentrada e em pó
• Ler as orientações da fórmula cuidadosamente antes de misturar
• A diluição correta da fórmula é importante para evitar desequilíbrio hídrico. No caso de fórmulas prontas para uso,
não é necessário diluição. Para fórmulas concentradas, diluir em partes iguais de água. Para fórmulas em pó, misturar
uma colher de pó para cada 60 mℓ de água
• Se o suprimento de água for seguro, não é necessário esterilização
• As mamadeiras e os bicos devem ser lavados em água quente com sabão, utilizando uma escova de garrafa
• A fórmula deve ser servida à temperatura ambiente
• Se o abastecimento de água não for confiável, a água deve ser fervida por 5 minutos antes de usar
• A fórmula não deve ser aquecida em forno de microondas, porque o aquecimento não é regular
• A fórmula pode ser preparada 24 horas antes do uso e guardada na geladeira.
Ensine a mulher e outros cuidadores a alimentar o lactente em uma posição semiereta, segurandoo nos braços. Essa
posição possibilita o contato face a face entre a criança e o cuidador. Aconselhe o cuidador a segurar a mamadeira de modo
que o bico seja mantido cheio de fórmula para evitar a deglutição de ar em excesso. Instrua o cuidador a alimentar o
recémnascido a cada 3 a 4 horas e a adaptar os intervalos de alimentação às necessidades do lactente. Arrotos frequentes
da criança (a cada 30 mℓ ingeridos) ajudam a impedir que o gás se acumule no estômago. Alerte o cuidador a não apoiar a
mamadeira na criança, o que pode levar à asfixia.
A alimentação com mamadeira deve espelhar o aleitamento materno, tanto quanto possível. Embora a nutrição seja
importante, os componentes emocionais e de interação da alimentação também o são. Incentive o cuidador a aproximar a
criança de seu corpo e a posicionálo de modo que a cabeça dele fique em uma posição confortável. Incentive também a
comunicação com o lactente durante as mamadas. Os profissionais de enfermagem devem conhecer os diferentes tipos de
fórmula infantil disponíveis para fornecer orientação às mães que fizeram a opção informada de não amamentar ou que
interromperam o aleitamento.
Anote!
Avise o cuidador sobre o perigo de colocar a criança na cama com uma mamadeira. Isso pode levar a “cáries de
mamadeira”, porque o açúcar da fórmula fica em contato com os dentes em desenvolvimento do lactente por períodos
prolongados.
Preparação final para o trabalho de parto e o parto
O enfermeiro desempenhou um papel de orientação/apoio para o casal durante a gestação e agora precisa ajudar a prepará
los para o “grande evento”, certificandose de que eles tenham tomado decisões conscientes e completado a seguinte lista:
• Frequentaram aulas de preparação para o parto e praticaram técnicas de respiração
• Escolheram o local para o parto e fizeram todos os arranjos necessários
• Sabem o que esperar durante o trabalho de parto e o parto
• Visitaram o local onde será realizado o parto
• Fizeram uma mala para levar para o local onde será realizado o parto quando o trabalho de parto começar
• Organizaram o cuidado dos irmãos e/ou animais de estimação durante o trabalho de parto
• Foram instruídos sobre os sinais e sintomas do trabalho de parto e o que fazer quando eles ocorrerem
• Sabem o que fazer em caso de ruptura de membranas amnióticas antes de entrar em trabalho de parto
• Sabem como contatar o obstetra quando o trabalho de parto começar
• Comunicaram suas necessidades e desejos em relação ao manejo da dor
• Discutiram a possibilidade de uma cesariana se ocorrerem complicações
• Discutiram possíveis nomes para o recémnascido
• Selecionaram um método de alimentação (aleitamento materno ou mamadeira) que os deixe confortáveis
• Tomaram a decisão a respeito da circuncisão se tiverem um menino
• Compraram um assento infantil de segurança para o carro em que levarão o recémnascido para casa
• Escolheram um pediatra
• Têm os itens necessários para a ida do recémnascido para casa:
• Roupas infantis em diversos tamanhos
• Sutiãs de amamentação
• Berço infantil com espaços entre as ripas de 5 cm ou menos
• Fraldas (de pano ou descartáveis)
• Mamadeiras e bicos de mamadeira, se for esta a opção
• Termômetro infantil
• Escolheram um método de planejamento familiar para uso após o nascimento.
Em cada consulta prénatal, o enfermeiro teve a oportunidade de conversar e reforçar aos pais a importância de
estarem preparados para o nascimento da criança. Cabe agora aos pais usarem as orientações do enfermeiro e colocálas
em ação para estarem prontos para o parto que se aproxima.
Uma enquete nacional recente intitulada Listening to Mothers III: Pregnancy and Birth revelou preocupações com o
uso exagerado de determinadas práticas de cuidados nas maternidades e a disposição das gestantes de tomar decisões
informadas. Achados cruciais apontam para a necessidade de melhora da qualidade, engajamento dos consumidores e
tomada de decisão compartilhada (Declercq, Sakala, Corry, Applebaum, & Herrlick, 2014). Esses achados representam
um desafio para os profissionais de enfermagem que cuidam de gestantes para explicar com detalhes todos os
procedimentos, juntamente com suas bases racionais, e realmente escutar o que a gestante deseja de modo a tornar positivo
o desfecho do parto.
Todo enfermeiro tem a responsabilidade de transmitir seu conhecimento a todas as mulheres e seus familiares – o que
começa antes de tudo com aprender sobre o assunto. As evidências são claras de que as mulheres têm melhores desfechos
quando enfermeiros intervêm apenas quando necessário no processo de parto. É fundamental que enfermeiros
personalizem o atendimento a todas as mulheres com base em suas necessidades, seus desejos e seu estado de saúde. O
foco é necessariamente na orientação das mulheres e de suas famílias quanto ao valor do parto e seus efeitos duradouros
sobre a família. Além disso, o enfermeiro precisa providenciar um local para o parto que seja seguro, seja no hospital, na
casa de parto ou no domicílio da gestante. Isso inclui, mas não está limitado a, fornecer suporte contínuo no trabalho de
parto, possibilitando às mulheres a liberdade para se movimentar e ficar em posições de sua escolha, oferecendo nutrição
para o corpo e espírito da mulher, usando modalidades não farmacológicas de alívio da dor sempre que possível e
garantindo um trabalho em equipe colaborativo e ininterrupto. O apoio contínuo ao parto é uma estratégia não
farmacológica e baseada em evidências, associada à redução das taxas de cesariana (Baum, Crawford, & Humphrey
Shelton, 2015).
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Os cuidados preconcepcionais envolvem a promoção da saúde e do bemestar da mulher e seu
companheiro antes da gestação. O objetivo dos cuidados preconcepcionais é identificar quaisquer
áreas, como problemas de saúde, hábitos de vida ou preocupações sociais, que possam afetar
desfavoravelmente a gestação
A anamnese meticulosa e o exame físico são realizados na consulta prénatal inicial
Um aspecto fundamental da conduta de enfermagem durante o período préparto é aconselhar e
orientar as gestantes e seus companheiros para promover desfechos saudáveis para todos os
envolvidos
A regra de Nagele pode ser usada para estabelecer a data estimada do parto. Usando essa regra,
subtraia 3 meses da DUM, adicione 7 dias ao primeiro dia da DUM e então corrija o ano, adicionando 1
a ele. Essa data tem margem de erro de 2 semanas, para mais ou para menos
O formato da pelve é, tipicamente, classificado como um de quatro tipos: ginecoide, androide,
antropoide e platipeloide. O tipo ginecoide é a pelve feminina típica e é o melhor formato para um parto
vaginal
Cuidados prénatais contínuos são importantes para um desfecho bemsucedido. O esquema
recomendado é a cada 4 semanas até a 28a semana (7 meses); a cada 2 semanas da 29a à
36a semana; e todas as semanas a partir da 37a semana até o nascimento
A altura do fundo do útero é medida quando o útero emerge da pelve, a fim de avaliar o crescimento
fetal
O fundo do útero alcança o nível do umbigo aproximadamente na 20a semana de gestação e mede 20
cm. A medição do fundo do útero deve ser aproximadamente igual ao número de semanas de gestação
até a 36a semana
Em cada consulta, perguntase à gestante se ela apresenta quaisquer sinais ou sintomas comuns de
trabalho de parto prematuro, que podem incluir contrações uterinas, dorsalgia discreta, pressão na
região pélvica ou coxas, aumento da secreção vaginal, cólicas semelhantes às menstruais e
sangramento vaginal
O rastreamento prénatal tornouse padrão nas consultas de prénatal para detectar defeitos do tubo
neural e anomalias genéticas
O enfermeiro deve abordar desconfortos comuns que ocorrem em cada trimestre em todas as
consultas prénatais e deve fornecer medidas realistas para ajudar a paciente a lidar efetivamente com
eles
A gestante consegue cuidar melhor de si mesma e de seu feto se suas preocupações forem previstas
pelo enfermeiro e incorporadas às sessões de orientação em cada consulta prénatal
Devese suplementar ferro e ácido fólico, porque durante a gestação a demanda é geralmente grande
demais para ser atendida apenas pela dieta
Durante a gestação, a dieta equilibrada é fundamental para uma criança saudável
As orientações perinatais ampliaram seu foco para incluir a preparação para a gestação e a adaptação
da família aos novos papéis parentais. As orientações para o parto começaram por causa da crescente
pressão das pacientes que queriam participar mais de sua experiência de parto
Três métodos comuns de orientações para o parto são os métodos de Lamaze (psicoprofilático),
Bradley (parto com ajuda do companheiro) e DickRead (parto natural)
A grande maioria das mulheres nos EUA está bem e saudável e pode considerar toda a gama de
ambientes para o parto: hospital, casa de parto ou ambiente doméstico
Todas as gestantes precisam ser capazes de reconhecer os primeiros sinais de contrações para evitar
o trabalho de parto prematuro
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Exercícios sobre o capítulo
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. Qual dos seguintes achados de perfil biofísico indica má oxigenação para o feto?
a. Dois bolsões de líquido amniótico
b. Braços e pernas bem flexionados
c. Frequência cardíaca fetal não reativa
d. Movimentos respiratórios fetais observados
2. O enfermeiro ensina a paciente gestante a realizar exercícios de Kegel como uma maneira de:
a. Evitar lacerações perineais
b. Estimular contrações do trabalho de parto
c. Aumentar o tônus da musculatura pélvica
d. Perder rapidamente o peso ganho com a gestação
3. Durante uma consulta, uma paciente na 30a semana de gestação diz ao enfermeiro: “Senti algumas
cólicas leves, bastante irregulares. O que isso significa?”. As cólicas provavelmente:
a. Indicam o início dos primeiros estágios do trabalho de parto
b. São um achado estranho, que indica que a paciente está prestes a ter um aborto espontâneo
c. Estão relacionadas com hiperhidratação da gestante
d. São contrações de Braxton Hicks, que ocorrem durante a gestação
4. O enfermeiro está preparando seu plano de orientações para uma mulher que acabou de ter sua
gravidez confirmada. Qual das seguintes orientações deve ser incluída? Selecione todas as opções que
se apliquem.
a. Prevenir a constipação intestinal, tomando um laxante diariamente
b. Equilibrar a ingestão calórica, aumentandoa em 300 calorias por dia
c. Continuar a rotina de caminhada diária, tal como antes da gestação
d. Administrar vacinas contra tétano, sarampo, caxumba e rubéola
e. Evitar banhos de banheira agora que está grávida, para prevenir infecções vaginais
f. A atividade sexual é permitida desde que as membranas amnióticas estejam intactas
g. Aumentar o consumo de leite para atender às necessidades de ferro
5. A DUM de uma paciente foi 10 de agosto. Usando a regra de Nagele, o enfermeiro calcula que a DEN
será qual das seguintes opções?
a. 23 de junho
b. 10 de julho
c. 30 de julho
d. 17 de maio
6. Qual das seguintes opções não é verdadeira em relação ao aleitamento materno?
a. Os recémnascidos/lactentes que recebem leite materno apresentam mais obesidade e alergias
b. O leite materno é perfeitamente adaptado às demandas nutricionais dos recémnascidos/lactentes
c. O leite materno contém anticorpos maternos que estimulam a imunidade do recémnascido/lactente
d. O aleitamento materno reforça a criação do vínculo com o recémnascido/lactente
7. A prática de boa higiene oral é importante durante a gravidez. Como enfermeiro que oferece orientação
antecipatória às gestantes, qual condição pode resultar da doença periodontal se não houver bons
cuidados dentários?
a. Gravidez póstermo
b. Recémnascido grande para a idade gestacional
c. Câncer de sistema genital em estágio avançado
d. Recémnascido prétermo ou de baixo peso
8. A orientação antecipatória sobre atividade sexual durante a gravidez inclui: Selecione todas as opções
que se apliquem.
a. A atividade sexual é contraindicada durante a gravidez
b. A maioria das mulheres não deseja intimidade física após o primeiro trimestre da gravidez
c. A atividade sexual pode continuar até o final do segundo trimestre da gravidez
d. A relação sexual é proibida se houver histórico de trabalho de parto prematuro
e. O desejo sexual das mulheres muda durante a gravidez
f. Os casais podem tentar várias posições ao longo da gravidez
9. Qual das seguintes opções seria considerada fator de risco para o bemestar psicológico durante a
gravidez? Selecione todas as opções que se apliquem.
a. Sistema de suporte limitado (amigos e família) b. Personalidade introvertida em algum período
durante a gravidez
c. Ambivalência em algum período durante a gravidez
d. Altos níveis de estresse em decorrência de discórdia familiar
e. História de gravidez de alto risco prévia com complicações
f. Depressão antes da gravidez e uso de medicação
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. Mary Jones chega ao Centro de Saúde da Mulher, onde você trabalha como enfermeira. Ela está em
seu primeiro trimestre de gestação e diz que suas principais queixas são náuseas e fadiga, até o ponto
de ela querer dormir a maior parte do tempo e fazer apenas uma refeição diária. Ela parece pálida e
cansada. Suas mucosas estão pálidas. Ela relata que dorme 8 a 9 horas de sono por noite, mas ainda
assim não consegue ficar acordada e alerta no trabalho. Ela lhe diz que sabe que não está comendo
como deveria, mas que não tem fome. Sua hemoglobina e seu hematócrito estão baixos.
a. Quais dados subjetivos e objetivos você tem para fazer a sua avaliação?
b. Qual é a sua impressão sobre essa mulher?
c. Quais intervenções de enfermagem seriam adequadas para essa paciente?
d. Como você avaliará a efetividade de suas intervenções?
2. Monica, uma estudante do ensino médio afroamericana de 16 anos de idade, comparece a sua
primeira consulta prénatal. Sua DUM foi há 2 meses e ela afirma que está enjoada desde então. Ela
mede 1,68 m e pesa 50 kg. Ao completar sua avaliação dietética, o enfermeiro pergunta sobre seu
consumo de leite e laticínios. Monica relata que não gosta e não quer ganhar muito peso “para não
estragar o corpo”.
a. Além das avaliações obstétricas de rotina, quais avaliações adicionais poderiam ser necessárias
para essa adolescente?
b. Quais orientações dietéticas devem ser fornecidas a essa adolescente de acordo com a
anamnese?
c. O que deve ser monitorado nas consultas prénatais subsequentes?
3. Maria, uma mulher hispânica de 27 anos de idade, em seu último trimestre de gestação (34 semanas),
queixase com o enfermeiro de constipação intestinal e que se sente péssima a maior parte do tempo.
Ela relata que começou a tomar laxantes, mas eles não ajudam muito. Quando questionada sobre seus
hábitos alimentares, ela responde que come feijão e arroz e bebe chá na maioria das refeições. Ela diz
que tentou limitar a ingestão de líquido para não precisar ir tanto ao banheiro, porque ela não quer
perder nenhuma de suas novelas diurnas na televisão.
a. De quais informações adicionais o enfermeiro precisaria para avaliar a queixa da paciente?
b. Quais intervenções seriam apropriadas para Maria?
c. Quais adaptações Maria precisaria fazer para aliviar a constipação intestinal?
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Visite uma casa de parto e comparea a um hospital tradicional em termos de restrições, tipo de
tratamento para a dor disponível e custos.
2. Organizese para acompanhar um enfermeiro obstetra durante 1 dia e ver sua atuação no trabalho com
a família que está tendo um filho.
3. Veja os recursos disponíveis para estudantes e selecione dois dos sites sugeridos que correspondam
ao conteúdo desse capítulo. Observe o públicoalvo, a validade das informações oferecidas e seu apelo
para os casais que estão esperando filhos. Apresente seus achados.
4. Solicite permissão para participar de uma aula de preparação para o parto em sua localidade e ajude
uma mulher sem companheiro a praticar exercícios de respiração ritmada. Apresente as informações
que você aprendeu e pense sobre como pode aplicálas ao atender uma mulher em trabalho de parto.
5. Uma mulher leiga com formação especializada e experiência em ajudar as mulheres durante o parto é
uma __________________________.
ESTUDO DE CASO
Uma adolescente de 19 anos de idade chega à unidade básica de saúde. Essa era sua primeira consulta
prénatal embora ela estivesse com 8 meses de gravidez. A explicação da gestante para não ter procurado
o ambulatório antes foi a seguinte: “Era verão e tudo estava indo bem até minhas costas começarem a doer
há 2 dias.”
AVALIAÇÃO
Os sinais vitais dela estavam na faixa de normalidade. O peso corporal era de 79,4 kg. No exame físico, o
dorso estava normal e a palpação não provocou dor. A altura do fundo de útero era de 36 cm, a frequência
cardíaca fetal era de 150 bpm e o exame de urina foi negativo para sangue, glicose e leucócitos. O exame
ginecológico revelou colo de útero longo, espesso e fechado. Como essa era a primeira consulta, não havia
outros exames laboratoriais que costumam ser solicitados no prénatal. Quando questionada de novo sobre
quando a lombalgia parecia ser mais intensa, a gestante informou que trabalhava como atendente e ao final
do turno de trabalho ela mal conseguia andar até sua casa.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 12 | Conduta de Enfermagem durante a Gestação
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é C. A frequência cardíaca fetal não reativa é um dos achados do perfil biofísico que indicam má
oxigenação para o feto.
2. A resposta correta é C. Os exercícios de Kegel ajudam a reforçar e fortalecer os músculos do assoalho pélvico
(melhora do tônus muscular). Podem ajudar a evitar a incontinência urinária de esforço em mulheres após o parto.
Esses exercícios não fortalecem o lado externo da região perineal de modo a impedir lacerações, mas os músculos
internos do assoalho pélvico. Os exercícios de Kegel nada têm a ver com o início do trabalho de parto em fetos pós
termo. A queda dos níveis de progesterona e o aumento das prostaglandinas, não o exercício físico, aceleram o
trabalho de parto. Os exercícios de Kegel não queimam calorias.
3. A resposta correta é D. O útero está constantemente em contração durante a gestação, mas as contrações são
irregulares e geralmente não são sentidas pela mulher, nem causam dilatação do colo do útero. As contrações de
Braxton Hicks não indicam o início do trabalho de parto, uma vez que não existem quaisquer alterações mensuráveis
no colo do útero. Sua ocorrência é normal ao longo da gestação, não um mau sinal de aborto iminente. O estado de
hidratação da mulher não está relacionado com as contrações de Braxton Hicks; elas ocorrem independentemente de
seu estado hídrico.
4. As respostas corretas são B, C, E e F porque todas as recomendações são apropriadas para gestações normais.
Gestantes devem evitar o uso de medicamentos, portanto, o profissional de enfermagem não recomendaria o uso
diário de laxante. O aumento do consumo de líquido, a prática de exercícios físicos e o consumo de fibras são opções
melhores para prevenir constipação intestinal. As vacinações apresentadas são contraindicadas para gestantes pelo
CDC.1 Desfechos adversos poderiam ocorrer se as gestantes recebessem essas vacinas. Leite não é uma boa fonte de
ferro. Tipicamente, ferro e ácido fólico são suplementados nas vitaminas prescritas no período prénatal e o consumo
de alimento de qualidade (p. ex., carnes magras, cereais, feijões cozidos, espinafre, brócolis e germe de trigo) é
incentivado para prevenir anemia.
5. A resposta correta é D. Usando a regra de Nagele, subtraemse 3 meses e adicionamse 7 dias, somandose 1 ano à
data da última menstruação.
6. A resposta correta é A porque, de acordo com as pesquisas, o aleitamento materno previne a ocorrência de obesidade
na infância e na vida adulta e lactentes amamentados por suas mães apresentam menos alergias que os lactentes
alimentos com fórmulas infantis. As alternativas B, C e D são afirmações verdadeiras em relação ao aleitamento
materno. Essas respostas representam as vantagens do aleitamento materno.
7. A resposta correta é D porque infecções na boca causadas por higiene oral insatisfatória se propagam para o sistema
circulatório materno e atravessam a placenta para a circulação fetal com consequente inibição do crescimento e do
desenvolvimento do feto. O ambiente uterino é comprometido e parto prematuro é um risco. A alternativa A é
incorreta porque infecções maternas tendem a criar um ambiente hostil para o feto, resultando em parto prematuro,
em vez de gestação prolongada. A alternativa B é incorreta porque ocorre justamente o contrário, ou seja, o
crescimento fetal é comprometido por infecções maternas. A alternativa C é incorreta porque as pesquisas ainda não
estabeleceram uma associação entre doença periodontal e qualquer tipo de câncer do sistema genital.
8. As respostas corretas são E e F porque o desejo sexual sofre modificações durante a gravidez em decorrência dos
hormônios, dos níveis de energia, do relacionamento, da imagem corporal, do receio de machucar o feto e de crenças
culturais. De modo geral, a maioria dos casais que desejam manter relações sexuais durante a gravidez opta por
posições que sejam mais confortáveis para a gestante. As alternativas A a D são incorretas porque a atividade sexual
pode ser mantida durante toda a gravidez a menos que haja uma contraindicação clínica.
9. As respostas corretas são A, D, E e F porque todos esses fatores influenciam o desfecho da gravidez de modo
negativo e a capacidade de enfrentamento desses fatores também pode ser comprometida. Esses fatores seriam
“sinais de alerta” na história da paciente e poderiam ser necessários aconselhamento e orientação durante essa
gravidez. As alternativas B e C são emoções normais que são experimentadas pela maioria das gestantes – não são
indícios de problemas.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. Quais dados subjetivos e objetivos você tem para fazer a sua avaliação?
Dados subjetivos: relata sentir fadiga extrema; dorme 8 a 9 horas por noite; come mal.
Dados objetivos: palidez e aparência cansada; mucosas pálidas, hemoglobina e hematócrito baixos.
b. Qual é a sua impressão sobre essa mulher?
Ela está em seu primeiro trimestre de gestação, quando a fadiga é uma queixa normal em razão do desvio da
glicose materna para o feto em desenvolvimento. Além disso, ela está anêmica (hemoglobina e hematócrito
baixos), por causa de seus hábitos alimentares ou, talvez, de transtorno alimentar (pica). É importante que o
enfermeiro relate esses achados ao obstetra para investigação da causa.
c. Quais intervenções de enfermagem seriam adequadas para essa paciente?
Tranquilizea de que a fadiga é uma queixa comum da gestação no primeiro trimestre, mas os maus hábitos
alimentares estão contribuindo para isso. Ela está anêmica e precisa melhorar sua dieta e aumentar a ingestão de
ferro e vitamina C. Mary também precisa aumentar a ingestão de fibras para evitar a constipação intestinal. O
médico pode prescrever um suplemento de ferro para tratar a anemia da gestante. Solicite que a paciente faça um
diário alimentar, que deve ser levado na próxima consulta para revisão. Um encaminhamento para
aconselhamento nutricional seria apropriado.
d. Como você avaliará a efetividade de suas intervenções?
Para avaliar a adesão ao uso do suplemento de ferro, pergunte a ela a coloração das fezes. Se forem escuras,
então ela está tomando o ferro; se não, provavelmente não está. Pergunte quais mudanças na dieta ela tem feito
para melhorar sua nutrição, revisando seu diário alimentar e fazendo sugestões para aumentar o consumo de
alimentos ricos em ferro. Também reveja a importância de uma boa nutrição para um desfecho positivo dessa
gestação. Solicite uma nova dosagem da hemoglobina e hematócrito para monitorar a anemia.
2.
a. Além das avaliações obstétricas de rotina, quais avaliações adicionais poderiam ser necessárias para essa
adolescente?
Calcule o índice de massa corporal (IMC) de Monica de acordo com seu peso e sua altura (IMC = 17,8, o que a
coloca em alto risco de não ganhar peso suficiente durante a gestação). Pergunte a Monica se ela faz uso abusivo
de substâncias psicoativas ou bebidas alcoólicas, o que pode ter impacto negativo sobre a gestação. Solicite um
recordatório de 24 horas, que pode revelar baixa ingestão de calorias e cálcio. Verifique quem prepara suas
refeições e compra os alimentos na casa dela; peça que essa pessoa a acompanhe à clínica na próxima consulta
para receber orientações alimentares. Explore os motivos de ela não beber leite e informea a respeito de outras
fontes de cálcio que ela poderia utilizar para substituir o leite, como o iogurte.
b. Quais orientações dietéticas devem ser fornecidas a essa adolescente de acordo com a anamnese?
• Reforce a importância do ganho de peso para a saúde do seu filho
• Incentivea a fazer três refeições por dia e mais três lanches ricos em fibras
• Examine com ela o Guia da Pirâmide Alimentar para mostrar as opções de cada grupo que ela precisa
consumir diariamente
• Solicite que ela leve um sanduíche com pão integral e manteiga de amendoim e geleia para a escola, a fim
de se certificar de que faça um bom almoço diariamente
• Instruaa a limitar a ingestão de refrigerantes e bebidas com cafeína
• Incentivea a beber suco de laranja enriquecido com cálcio no café da manhã diariamente
• Reforce para ela a importância de tomar sua vitamina prénatal diariamente
• Enviea para casa com materiais escritos para que ela revise.
c. O que deve ser monitorado nas consultas prénatais subsequentes?
Aumente a frequência das consultas prénatais para uma a cada 2 semanas, a fim de monitorar o ganho de peso
nos próximos meses. Encaminhe Monica e sua mãe para a nutricionista para uma orientação alimentar mais
completa. Solicite um recordatório de 24 horas em cada consulta prénatal para fornecer uma base para
instruções e reforço.
3.
a. De quais informações adicionais o enfermeiro precisaria para avaliar a queixa da paciente?
• Solicite a Maria um recordatório alimentar de 24 horas para avaliar que outros alimentos ela come
• Pergunte a Maria se ela já tinha esse problema antes de engravidar
• Pergunte a Maria se ela toma suplementos de ferro, além de sua vitamina prénatal
• Pergunte a Maria a quantidade e que tipo de líquidos ela ingeriu nas últimas 24 horas
• Pergunte a Maria se ela realiza algum exercício de modo consistente.
b. Quais intervenções seriam apropriadas para Maria?
O enfermeiro precisa discutir com ela os motivos da constipação intestinal: útero gravídico comprimindo as
alças intestinais, peristaltismo reduzido e relaxamento da musculatura lisa em decorrência da progesterona,
ingestão deficitária de fibras e líquidos e limitação nos exercícios físicos. Para reduzir o problema, Maria
precisará fazer alterações na alimentação, na ingestão de líquidos e nos exercícios físicos.
c. Quais adaptações Maria precisaria fazer para aliviar a constipação intestinal?
Maria precisará consumir alimentos ricos em fibras (frutas e verduras) e aumentar a ingestão de líquidos para
2.000 m ℓ /dia para superar a constipação intestinal. Além disso, ela precisará fazer algum exercício, talvez
caminhadas. Por fim, ela precisará parar de tomar laxantes estimulantes e mudar para formadores de bolo fecal,
se o aumento na ingestão de alimentos ricos em fibras e líquidos não funcionar.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1 a 4. As respostas para as atividades de 1 a 4 são extremamente individualizadas.
5. doula
ESTUDO DE CASO
1. Quais informações adicionais são necessárias para firmar o diagnóstico?
2. Com base na avaliação, qual seria a causa provável de sua dor lombar?
3. Quais exames laboratoriais poderiam ser incluídos em sua avaliação prénatal rotineira, mas ainda não foram
realizados?
Resposta: Seria importante saber qual era seu peso antes de engravidar, de forma a comparálo com seu peso atual.
Se a paciente tivesse ganhado muito peso durante essa gravidez, isso poderia ser um fator contribuinte para sua dor
lombar baixa. A dor lombar baixa também pode ser um sintoma de parto prematuro, mas nesse caso a paciente não
percebeu quaisquer contrações e o exame físico não detectou alterações da cérvice uterina. Em geral, dor lombar
baixa na região lombossacral ocorre no último trimestre e aumenta em intensidade à medida que a gestação avança
com elevação do peso do útero gravídico e relaxamento dos ligamentos sacroilíacos. A lordose normal da gravidez
distende os músculos lombares e provoca dor. Os exames laboratoriais de rotina podem incluir hemograma completo
(HC), tipo sanguíneo e fator Rh, triagem de anticorpos, pesquisa do antígeno de superfície do vírus da hepatite B,
testes de triagem para HIV e sífilis, triagem para diabetes e exame simples de urina ou teste da fita urinária para
detectar proteinúria.
Plano de cuidados
1. Quais instruções de saúde o enfermeiro deve fornecer a essa paciente?
2. Quais medidas de alívio específicas ajudam a atenuar esse problema?
3. Quais alterações em seu ambiente de trabalho poderiam ser recomendadas?
4. Como o enfermeiro poderia abordar a falta de assistência prénatal dessa paciente?
Resposta: Como essa é a primeira consulta de prénatal, até agora a paciente não foi beneficiada por quaisquer
instruções de saúde durante toda a sua gestação. Como a paciente está no último trimestre da sua gravidez, o foco
deve ser o preparo para o trabalho de parto e parto, providências para o parto no hospital local e encaminhamento
para os recursos disponíveis na comunidade. As medidas específicas para atenuar a lombalgia poderiam ser instruir a
paciente a adotar decúbito lateral esquerdo para desviar o peso da região lombar; adotar mecânica corporal adequada
ao levantar peso, abaixandose em vez de inclinando o corpo para a frente, de forma que os membros inferiores (e
não a região lombar) sustentem o peso e façam o maior esforço e usar calçados com saltos baixos. Ficar de pé por
períodos muitos longos pode contribuir para a dor lombar baixa, de forma que períodos regulares de descanso podem
ser necessários em seu ambiente de trabalho, de forma a atenuar sua dor. Como essa paciente já se encontra no
8o mês de gestação, o enfermeiro deve recomendar enfaticamente que ela compareça às consultas semanais de pré
natal, sem adotar uma atitude de crítica em relação ao seu comportamento anterior. Julgar e acusar não são
intervenções terapêuticas nem oferecem um ambiente acolhedor a qualquer paciente. Também é importante ressaltar a
importância do cuidado prénatal para a saúde da gestante e do feto. Demonstrar cuidado e interesse pleno pelo bem
estar da gestante e do seu filho pode estimular a gestante a comparecer às consultas agendadas.
____________
1
N.R.T.: Os dados da pesquisa Nascer no Brasil: inquérito nacional sobre parto e nascimento divulgados em 01/12/2016, na
Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), revelaram taxa de prematuridade brasileira (11,5%), sendo 74% desses
prematuros tardios (34 a 36 semanas gestacionais).
2
N.R.T.: No Brasil, a CLT e o Ministério do Trabalho têm normas específicas que protegem a gestante.
3
N.R.T.: No Brasil, a articulação entre o saber da parteira tradicional e o saber biomédico foi uma das estratégias adotadas no
esforço de reduzir a taxa de mortalidade materna para ao menos um terço dos valores de 1990, conforme compromisso assumido
no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e do Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal,
de 2004. Essa articulação foi possível pela ampliação do Programa Trabalhando com Parteiras Tradicionais (PTPT), iniciado no
ano 2000.
4
N.R.T.: O obstetriz é o profissional que se forma pelo curso de Obstetrícia – o único no Brasil é oferecido pela USP. Ele realiza
partos normais de baixo risco e faz atendimento prénatal. O diferencial da profissão é conduzir o momento do parto de forma
ainda mais humanizada. O enfermeiro com especialização em Obstetrícia é chamado de enfermeiro obstetra. Também só atua em
prénatal e partos vaginais de baixo risco. Seu diferencial em relação ao obstetriz é que, por sua graduação ser um pouco mais
ampla, o enfermeiro pode atuar em diversas áreas, como UTI, prontosocorro, pediatria.
5
N.R.T.: Ver no portal do COFEN as Resoluções nº 339/2008, que normatiza a atuação e a responsabilidade civil do enfermeiro
obstetra nos centros de parto normal e/ou casas de parto, e nº 439/2012, que dispõe sobre a obrigatoriedade do registro do título
de especialista em enfermagem obstétrica.
6
N.R.T.: Sugerimos consulta ao site https://www.amamentareh.com.br.
1
N.R.T.: Verificar no site do Ministério da Saúde as imunizações preconizadas no Brasil para as gestantes.
Questões múltipla escolha
1. Uma gestante chega à clínica para consulta. É a sua terceira gestação. Ela teve um aborto
com 12 semanas e deu à luz um menino, agora com 3 anos de idade, na 32a semana de
gestação. Usando o sistema GTPAV, a enfermeira documentaria a história obstétrica dessa
gestante da seguinte maneira:
A. 31021
B. 30111
C. 21212
D. 20111
Concluir questão
2. Uma mulher está na 20a semana de gestação. A enfermeira esperaria palpar o fundo do útero
em qual dos seguintes locais?
A. Sínfise púbica
B. Entre a sínfise púbica e o umbigo
C. Na altura do umbigo
D. Logo abaixo da cartilagem xifoide
Concluir questão
3. Mensurase o diâmetro diagonal da pelve de uma gestante. Qual medida sugeriria um
problema em potencial?
A. 12,0 cm
B. 12,5 cm
C. 13,0 cm
D. 13,5 cm
Concluir questão
4. Uma mulher está no início do segundo trimestre de gestação. A enfermeira instruiria a
gestante a retornar para uma consulta de acompanhamento a cada:
A. 3 semanas
B. 4 semanas
C. 2 semanas
D. 1 semana
Concluir questão
5. Depois de ensinar a uma gestante como contar os movimentos fetais, a enfermeira determina
que as orientações foram bemsucedidas quando a cliente faz qual das seguintes
declarações?
A. “Vou fazer a contagem 1 vez/semana de manhã, que é quando não estou apressada para
ir trabalhar.”
B. “Vou me sentar confortavelmente em uma cadeira ou deitar de lado ao fazer a contagem.”
C. “Não espero que ocorram mais de três movimentos em 1 h.”
D. “Vou fazer a contagem enquanto estiver sentada assistindo ao jogo de basquete do meu
filho.”
Concluir questão
6. Ao prestar cuidados préconcepcionais a uma cliente, qual medicação a enfermeira
identificaria como segura para a gestante continuar utilizando?
A. Isotretinoína
B. Lítio
C. Famotidina
D. Varfarina
Concluir questão
7. Depois de orientar uma gestante sobre modos de minimizar a flatulência e a distensão
abdominal durante a gestação, qual declaração da mulher indica a necessidade de
orientações adicionais?
A. “Vou tentar beber mais líquidos para ajudar na digestão.”
B. “Vou ficar longe de alimentos como a couve e a couve de Bruxelas.”
C. “Vou aumentar meu tempo diário de caminhada.”
D. “Vou trocar a goma de mascar por balas de hortelã.”
Concluir questão
8. Ao descrever o papel da doula a um grupo de gestantes, qual das seguintes opções a
enfermeira incluiria?
A. A doula se concentra principalmente em prestar apoio contínuo durante o trabalho de
parto
B. A doula é uma enfermeira com formação profissional contratada para prestar apoio físico
e emocional
C. A doula pode realizar quaisquer procedimentos clínicos necessários
D. A doula é capaz de lidar com partos de alto risco e emergências
Concluir questão
9. Na preparação para uma palestra prénatal, é importante incluir uma discussão sobre os
potenciais fatores de risco. Qual dos seguintes seria abordado?
A. A importância de um estilo de vida saudável
B. O uso de medicamentos de venda livre com teratógenos
C. A história familiar de complicações na gestação
D. A importância de tomar suplementos vitamínicos e minerais adequados
Concluir questão
10. Você está liderando uma discussão entre casais que estão pensando em ter um filho. Como
enfermeira, você salienta que o aconselhamento préconcepcional ajuda a identificar riscos e
incentiva sua modificação pelo casal antes da concepção. Você considera que a discussão foi
bemsucedida quando os casais percebem que o maior risco para o embrião está:
A. Entre 17 e 56 dias após a concepção
B. Entre 4 e 17 dias após a concepção
C. Entre 4 e 17 h após a concepção
D. Entre 17 e 56 h após a concepção
Concluir questão
11. Na primeira consulta prénatal de todas as clientes que chegam à clínica onde você trabalha,
são solicitados exames de sangue apropriados. Você percebe que a hemoglobina A1 c acima
de qual nível é preocupante para diabetes melito e justifica a solicitação de exames
adicionais?
A. 6,0%
B. 5,5%
C. 6,5%
D. 5,0%
Concluir questão
12. Na primeira consulta prénatal, a cliente informa que sua DUM foi 16 de novembro de 2011.
Você determina que a data estimada para o parto (DEP) é:
A. 13 de agosto de 2012
B. 3 de agosto de 2012
C. 01 de setembro de 2012
D. 23 de agosto de 2012
Concluir questão
13. Encorajar consultas prénatais de rotina é uma função importante da enfermeira a fim de
garantir que as clientes evitem complicações ou dificuldades ao longo da gestação e do parto.
Todas as clientes devem ser rastreadas para diabetes gestacional em qual momento da
gestação?
A. Entre a 20ª e a 24ª semanas
B. Entre a 24ª e a 28ª semanas
C. Entre a 29ª e a 32ª semanas
D. Entre a 15ª e a 19ª semanas
Concluir questão
14. Uma potencial complicação para a mãe e para o feto é a incompatibilidade Rh; portanto, a
avaliação deve incluir a tipagem sanguínea. Se a mãe for Rhnegativa, seu título de anticorpos
deverá ser avaliado. Se o tratamento com RhoGAM® for indicado, quando terá de ser
administrado?
A. Na 32ª semana
B. Na 36ª semana
C. Apenas ao nascimento
D. Na 28ª semana
Concluir questão
15. Sua cliente está ansiosa e quer fazer uma ultrassonografia a cada consulta. Você explica que
isso não é necessário e agenda uma segunda ultrassonografia para quando ela estiver entre:
A. A 15ª e a 17ª semanas de gestação
B. A 18ª e a 20ª semanas de gestação
C. A 21ª e a 23ª semanas de gestação
D. A 24ª e a 26ª semanas de gestação
Concluir questão
16. Há uma preocupação de que sua cliente não esteja ingerindo ácido fólico suficiente. Qual
teste pode ser utilizado para avaliar o feto à procura de potenciais defeitos do tubo neural?
A. Teste triplo
B. Estudo de fluxo com Doppler
C. Análise da alfafetoproteína
D. Amniocentese
Concluir questão
17. Uma gestante de 41 anos e seu marido estão esperando ansiosamente os resultados de vários
exames de sangue para avaliar o feto por possível síndrome de Down, defeitos do tubo neural
e espinha bífida. As orientações à cliente devem incluir qual das seguintes opções?
A. Serão necessários mais exames para confirmar qualquer diagnóstico
B. Os exames de sangue são definitivos
C. Deverá ser iniciado tratamento quando os resultados do exame chegarem
D. Os testes de rastreamento podem ser repetidos para confirmar os resultados
Concluir questão
18. Um jovem casal está preocupado que seu feto nasça com anemia falciforme. Você explica que
os traços recessivos desse tipo de anemia podem ser determinados usando qual teste?
A. Biopsia das vilosidades coriônicas
B. Amniocentese
C. Tipagem sanguínea
D. Coleta percutânea de sangue do cordão umbilical
Concluir questão
19. Você está se preparando para liberar uma cliente que foi submetida a uma coleta percutânea
de sangue do cordão umbilical no início do dia. Você lembra a ela dos sinais a serem
observados que podem indicar infecção e relembra a necessidade de:
A. Permanecer em repouso por 48 h
B. Contar os movimentos fetais, conforme as instruções
C. Submergir em uma banheira de água quente se ocorrerem cólicas
D. Dormir sentada por uma noite
Concluir questão
20. A utilização da ultrassonografia em tempo real possibilita que o médico obtenha que tipo de
informação sobre o feto?
A. Anormalidades cromossômicas
B. Efetividade do tratamento dos defeitos do tubo neural
C. Perfil biofísico
D. Tamanho e forma da placenta
Concluir questão
21. A consulta prénatal inicial deve incluir uma avaliação completa das histórias patológica
pregressa e atual da gestante. Parte dessa avaliação deve incluir a história de imunização.
Você orienta a gestante a evitar qual dos seguintes tipos de vacina durante a gestação?
A. Vacinas de vírus inativado
B. Vacina bacteriana
C. Toxoide
D. Vacinas de vírus vivo
Concluir questão
22. Uma gestante na 26a semana de gestação chega para uma consulta de acompanhamento.
Qual(is) das avaliações a seguir, além de medir a altura do fundo do útero e a frequência
cardíaca fetal, a enfermeira esperaria realizar? (Selecione todas que se aplicam.)
A. Determinação do peso corporal
B. Aferição da pressão arterial
C. Exame de urina
D. Dosagem da glicemia
E. Avaliação de edema
Concluir questão
23. A enfermeira está preparando um plano de orientações para uma gestante a respeito dos
sinais e sintomas que devem ser relatados imediatamente ao seu médico. Qual(is) dos
seguintes a enfermeira incluiria? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Cefaleia com alterações visuais no terceiro trimestre
B. Perda súbita de líquido durante o segundo trimestre
C. Polaciúria no terceiro trimestre
D. Dor na parte inferior do abdome associada a dor no ombro no primeiro trimestre
E. Náuseas e vômitos durante o primeiro trimestre
Concluir questão
24. Sua cliente está no segundo trimestre de gestação e o médico recomendou que ela fizesse
uma amniocentese. Você explica que o procedimento é utilizado para diagnosticar qual(is) das
seguintes opções? (Selecione todas que se aplicam.)
A. Anormalidades cromossômicas
B. Incompatibilidade Rh
C. Infecção pelo HIV
D. Erros inatos do metabolismo
E. Defeitos do tubo neural
Concluir questão
25. Sua cliente está se queixando na consulta prénatal de que não consegue encontrar sapatos
que sejam confortáveis. A avaliação das pernas da mulher revela edema postural. Você sugere
que ela tome a(s) seguinte(s) medida(s) para ajudar a reduzir o edema: (Selecione todas que
se aplicam.)
A. Usar meias elásticas na altura do joelho
B. Elevar os pés e as pernas quando estiver sentada ou deitada
C. Evitar o consumo de alimentos ricos em sódio, açúcar e gorduras
D. Beber 6 a 8 copos de água por dia
E. Quando deitada, ficar em decúbito lateral direito
Concluir questão
Processo de Trabalho de Parto e Parto
13
PALAVRASCHAVE
Altura da apresentação
Apagamento
Apresentação
Atitude
Descida
Dilatação
Doula
Duração
Frequência
Insinuação
Intensidade
Moldagem
Posição
Situação
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Relacionar os sinais premonitórios de trabalho de parto.
2. Comparar e estabelecer as diferenças entre o trabalho de parto verdadeiro e o trabalho de parto falso.
3. Categorizar os fatores essenciais que influenciam o trabalho de parto e o parto.
4. Analisar os movimentos cardinais do trabalho de parto.
5. Avaliar as respostas maternas e fetais ao trabalho de parto e ao parto.
6. Classificar as fases do trabalho de parto e os principais eventos de cada fase.
7. Caracterizar as alterações fisiológicas/psicológicas normais que ocorrem durante as quatro fases do trabalho de parto.
8. Formular o conceito de dor relacionandoo com a mulher em trabalho de parto.
Kathy e Chuck têm aguardado ansiosamente o nascimento de seu primeiro filho, por um tempo que lhes
parece uma eternidade. Quando Kathy finalmente sentiu contrações em seu abdome, ela e Chuck correram
para a maternidade. Depois que a enfermeira obstetra terminou uma anamnese completa e o exame físico,
ela informou a Kathy e seu marido que ela teve um “falso trabalho de parto” e que eles deveriam voltar para
casa até que ela estivesse em trabalho de parto verdadeiro.
Reflexões
Apoio físico e emocional intenso promove uma experiência de parto positiva e memorável.
INTRODUÇÃO
O processo de trabalho de parto e o parto envolvem mais do que dar à luz uma pessoa. Ocorrem diversos eventos
fisiológicos e psicológicos que culminam no nascimento de uma criança e na formação ou expansão de uma família. Este
capítulo descreve o trabalho de parto e o parto como um processo. Aborda o início do trabalho de parto, os sinais
premonitórios do trabalho de parto (incluindo os verdadeiros e os falsos), os principais fatores que influenciam o trabalho
de parto e o parto, as respostas materna e fetal ao processo de trabalho de parto e as quatro fases do trabalho de parto.
Neste capítulo também identificamse os fatores essenciais relacionados a cada fase do trabalho de parto.
INÍCIO DO TRABALHO DE PARTO
Trabalho de parto é um evento fisiológico que engloba um conjunto sequencial e integrado de modificações no miométrio,
na decídua e no colo do útero que ocorre gradativamente durante um período de dias a semanas É difícil determinar
exatamente por que o trabalho de parto começa e o que o desencadeia. Embora várias teorias tenham sido propostas para
explicar o início e a manutenção do trabalho de parto, nenhuma delas foi comprovada cientificamente. Acreditase que o
trabalho de parto seja influenciado por uma cascata de eventos, incluindo estiramento do útero causado pelo feto e pelo
volume de líquido amniótico, supressão da progesterona com dominância de estrogênio, sensibilidade aumentada à
ocitocina e aumento da liberação de prostaglandinas.
Uma teoria sugere que o trabalho de parto é iniciado por uma alteração na razão estrogênio:progesterona. Durante o
último trimestre da gestação, os níveis de estrogênio aumentam e os de progesterona diminuem. Essa alteração resulta em
aumento do número de junções comunicantes do miométrio. As junções comunicantes são proteínas que conectam as
membranas celulares e facilitam a coordenação entre as contrações uterinas e o estiramento do miométrio (Norwitz, 2015).
Embora as evidências fisiológicas do papel da ocitocina em iniciar o trabalho de parto sejam inconclusivas, o número
de receptores de ocitocina no útero aumenta no final da gestação. Isso promove maior sensibilidade à ocitocina. O
estrogênio, cujos níveis também estão subindo, aumenta a sensibilidade do miométrio à ocitocina. A elevação dos níveis
de ocitocina no sangue materno, em conjunto com a elevação nos níveis de cortisol fetal, que sintetiza prostaglandinas,
iniciam as contrações uterinas. A ocitocina também auxilia na estimulação da síntese de prostaglandinas por meio dos
receptores na decídua. As prostaglandinas promovem contrações adicionais, amolecimento do colo do útero, indução das
junções comunicantes e sensibilização do miométrio, resultando em dilatação do colo do útero (abertura ou alargamento
do óstio do útero) progressiva. As contrações uterinas têm duas funções principais: dilatar o colo do útero e “empurrar” o
feto através do canal de parto (Funai & Norwitz, 2015).
SINAIS PREMONITÓRIOS DO TRABALHO DE PARTO
Antes do início do trabalho de parto, o corpo da gestante passa por várias mudanças em preparação para o nascimento do
feto. As mudanças que ocorrem muitas vezes levam a sinais e sintomas característicos que sugerem que o trabalho de
parto está próximo. Esses sinais e sintomas premonitórios podem variar, e nem todas as mulheres experimentam todos
eles.
Alterações do colo do útero
Antes do início do trabalho de parto, ocorrem amolecimento e possível dilatação do colo do útero, com a descida da
apresentação fetal para a pelve. Essas alterações podem ocorrer de 1 mês a 1 hora antes do real início do trabalho de parto.
Conforme o trabalho de parto se aproxima, o colo do útero passa de uma estrutura alongada para um segmento delgado
curto. As fibras colágenas do colo do útero sofrem rearranjo enzimático e tornamse fibras menores e mais flexíveis, que
facilitam a absorção de água, resultando em um colo mais macio e distensível. Essas mudanças são consequência dos
efeitos das prostaglandinas e da pressão das contrações de Braxton Hicks. O amadurecimento e o amolecimento do colo do
útero são essenciais para o apagamento e a dilatação do colo do útero, refletindo o aumento da degradação do colágeno que
antes era inibida pela progesterona (Grant, Strevens, & Thornton, 2015).
Descida
A descida ocorre quando a apresentação fetal começa a descer para a pelve materna. O útero “desce” e se desloca para uma
posição mais anterior. O formato do abdome se modifica como resultado da mudança no útero. Com essa descida, a
gestante geralmente observa que sua respiração fica muito mais fácil e que há diminuição do refluxo gastresofágico. No
entanto, pode queixarse de aumento da pressão pélvica, cãibras nas pernas, edema postural nos membros inferiores e
desconforto na região lombar. Pode notar um aumento da secreção vaginal e da frequência miccional. Em primíparas, a
descida pode ocorrer 2 semanas ou mais antes do início do trabalho de parto, enquanto nas multíparas pode não ocorrer até
que o trabalho de parto comece (Cheng & Caughey, 2015a).
Aumento do nível de energia
Algumas mulheres relatam aumento súbito em sua energia antes do trabalho de parto. Isso às vezes é chamado de
nidificação, porque muitas mulheres concentram essa energia em se preparar para o parto, limpar, cozinhar, preparar o
quarto do filho e passar mais tempo com as outras crianças da família. O aumento do nível de energia geralmente ocorre
24 a 48 horas antes do início do trabalho de parto. Acreditase que seja decorrente do aumento na liberação de epinefrina
causado pela redução da progesterona (Jordan et al., 2014).
Saída do tampão sanguinolento
No início ou antes do trabalho de parto, o tampão mucoso que preenche o canal cervical durante a gestação é expelido, em
decorrência do amolecimento do colo do útero e do aumento da pressão exercida pela apresentação fetal. Esses capilares
cervicais rompidos liberam um pouco de sangue, que se mistura com o muco resultando em secreções róseas conhecidas
como tampão sanguinolento.
Contrações de Braxton Hicks
As contrações de Braxton Hicks, que podem ser sentidas durante a gestação, tornamse mais fortes e mais frequentes.
Essas contrações consistem tipicamente em sensação de retesamento ou tração na parte superior do útero. Ocorrem
basicamente no abdome e na região inguinal e espalhamse gradualmente para baixo antes do relaxamento. Em
contrapartida, as contrações do trabalho de parto verdadeiro são mais comumente sentidas na região lombar. Essas
contrações ajudam a mover o colo do útero de uma posição posterior para anterior. Também ajudam na maturação e no
amolecimento do colo do útero. No entanto, as contrações são irregulares e diminuem com a deambulação, com a micção,
com a ingestão de alimentos, com o aumento da ingestão de líquidos ou com a mudança de posição.
As contrações de Braxton Hicks geralmente duram cerca de 30 segundos, mas podem persistir por até 2 minutos.
Conforme o parto se aproxima e o útero se torna mais sensível à ocitocina, a frequência e a intensidade dessas contrações
aumentam. No entanto, se as contrações durarem mais de 30 segundos e ocorrerem em frequência superior a 4 a 6 vezes
por hora, aconselhe a mulher a entrar em contato com seu médico para que ela possa ser avaliada por um possível trabalho
de parto prematuro, especialmente se estiver com menos de 38 semanas de gestação.
Anote!
Um recémnascido com 34 a 36 semanas completas de idade gestacional é identificado como “prétermo tardio” e
apresenta muitos dos mesmos problemas de saúde que outros recémnascidos prétermo (Horgan, 2015).
Ruptura espontânea das membranas amnióticas
A ruptura das membranas amnióticas e coriônicas com perda de líquido amniótico antes do início do trabalho de parto é
denominada ruptura prematura de membranas fetais (RPMF) ou corioamniorrexe prematura. Ocorre em 8 a 10% das
mulheres com gestações a termo e a maioria delas entra em trabalho de parto espontaneamente em 24 horas (King et al.,
2015). A ruptura das membranas pode resultar em um jato súbito ou em extravasamento constante de líquido amniótico.
Embora muito líquido amniótico seja perdido quando ocorre a ruptura, este é produzido de modo contínuo para assegurar a
proteção do feto até o nascimento.
Após a ruptura do saco amniótico, não há mais barreira de proteção contra infecções e uma infecção ascendente pode
ocorrer. Além disso, se a insinuação não tiver ocorrido, existe o perigo de prolapso do cordão umbilical com a súbita
liberação de líquido e pressão com a ruptura das membranas. Devido à possibilidade dessas complicações, aconselhe a
gestante a notificar o obstetra e buscar avaliação.
Considere isto
Eu sempre me vi como uma mulher digna e me comportava de modo a demonstrálo, pois assim fui criada.
Minha mãe e minha avó sempre me ensinaram que eu deveria manter uma boa aparência, vestirme bem e
não fazer nada que me fizesse passar vergonha em público. Vivi de acordo com as expectativas delas até a
ocorrência de um incidente no final da minha primeira gestação. Lembrome de que, de acordo com minha
idade gestacional, já tinha ultrapassado a data estimada para o parto; era verão e eu estava com muito
calor. Decidi ir até o mercado comprar um sorvete. Enquanto andava pelos corredores do supermercado, de
repente minha bolsa estourou e o líquido desceu pelas minhas pernas, formando uma poça no chão. Como
não queria passar vergonha e lembrei que a minha mãe sempre disse que devo manter sempre as
aparências, eu estiquei rapidamente o braço e “acidentalmente” derrubei um frasco grande de picles que
estava na prateleira bem em cima da poça de líquido amniótico. Enquanto eu caminhava apressadamente
para longe daquela bagunça sem meu sorvete, ouvi pelo altofalante da loja: “Funcionário da limpeza, favor
comparecer ao corredor 13”.
Reflexões: Tendemos a viver de acordo com aquilo que nos é ensinado; neste caso, essa mulher sentiu
necessidade de disfarçar que sua bolsa tinha rompido. Em muitas mulheres a ruptura das membranas
amnióticas ocorre antes do início do trabalho de parto; por isso, não é incomum que isso aconteça em
público. Quais são os riscos após a ruptura das membranas? Que medidas a gestante deve tomar para
minimizar esses riscos? Como o enfermeiro confirma que as membranas dessa gestante estão mesmo
rompidas?
TRABALHO DE PARTO VERDADEIRO VERSUS TRABALHO DE PARTO
FALSO
O trabalho de parto falso é uma condição que ocorre durante as últimas semanas de algumas gestações; são sentidas
contrações uterinas irregulares, mas o colo do útero não é afetado. Em contrapartida, o trabalho de parto verdadeiro é
caracterizado por contrações que ocorrem em intervalos regulares, que aumentam em frequência, duração e intensidade. As
contrações verdadeiras provocam dilatação progressiva do colo do útero e apagamento do mesmo. A Tabela 13.1 resume
as diferenças entre o trabalho de parto verdadeiro e o falso. Falso trabalho de parto, trabalho de parto prodrômico e
contrações de Braxton Hicks são os termos utilizados para denominar as contrações que não contribuem de modo
mensurável para o parto, que é o objetivo final. A diferenciação entre trabalho de parto verdadeiro e trabalho de parto falso
é uma habilidade de avaliação essencial para a enfermagem e que é aprimorada com a experiência.
Tabela 13.1 Diferenças entre o trabalho de parto verdadeiro e o
falso.
Adaptada de Cunningham, F. G., Leveno, K. J., Bloom, S. L., Spong, C. Y.,
Dashe, J. S., Hoffman, B. L., et al. (2014). Williams’ obstetrics (24th ed.).
New York, NY: McGrawHill Education; King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs,
J. M., Fahey, J. O., Gegor, C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s
midwifery (5th ed.), Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning.; e Tharpe,
N. L., Farley, C. L., & Jordan, R. (2016). Clinical practice guidelines for
midwifery & women’s health (4th ed.). Sudbury, MA: Jones & Bartlett.
Muitas gestantes temem ser enviadas do hospital para casa por causa de falso trabalho de parto. Todas as gestantes
ficam ansiosas quando sentem as contrações, mas devem ser informadas de que o trabalho de parto pode ser um processo
longo, especialmente no caso de primeira gestação. Incentive a mulher a pensar no falso trabalho de parto ou nos “sinais
prétrabalho de parto” como algo positivo, porque fazem parte de todo um contínuo que é o trabalho de parto. Na primeira
gestação, o colo do útero pode levar até 20 horas para se dilatar completamente (Cunningham et al., 2014).
Lembrase de Kathy e Chuck, o casal ansioso que chegou ao hospital cedo demais? Kathy tinha certeza de
que estava em trabalho de parto e agora está confusa. Que explicações e orientações antecipatórias devem
ser oferecidas a esse casal? Qual termo descreveria as contrações que ela apresentou?
FATORES QUE INFLUENCIAM O PROCESSO DE TRABALHO DE PARTO
Tradicionalmente, os fatores críticos que afetam o processo de trabalho de parto e parto são os seguintes:
1. Via de passagem (canal do parto)
2. Feto e placenta (“passageiros”)
3. Força (contrações)
4. Posição (materna)
5. Resposta psicológica.
Esses fatores críticos são comumente aceitos e discutidos pelos profissionais de saúde. No entanto, cinco outros
fatores também influenciam o processo de trabalho de parto:
1. Filosofia (pouca tecnologia, mais humanização)
2. Parceiros (pessoas que prestam apoio)
3. Paciência (cronologia natural)
4. Preparação da gestante (base de conhecimentos em relação ao parto)
5. Manejo da dor (medidas de conforto).
Esses cinco fatores adicionais são úteis para o planejamento da assistência à família em trabalho de parto. Esses
fatores focados na paciente são uma tentativa de fomentar o manejo do trabalho de parto utilizando mais humanização,
paciência, suporte, conhecimento e controle da dor.
Via de passagem
A via de passagem de parto é o trajeto que o feto precisa percorrer para um parto vaginal. Em comparação com os outros
primatas, o parto é notavelmente difícil nos seres humanos, porque a cabeça do recémnascido é grande em relação às
dimensões da pelve materna. É composta pela pelve materna e pelos tecidos moles. Dos dois, no entanto, a pelve óssea
materna é mais importante, porque é relativamente inflexível (com exceção do cóccix). Tipicamente, a pelve é examinada e
medida durante o primeiro trimestre da gravidez, muitas vezes na primeira consulta com o obstetra, para identificar
quaisquer anormalidades que poderiam dificultar um parto vaginal sem intercorrências. À medida que a gestação avança,
os hormônios relaxina e estrogênio fazem com que os tecidos conjuntivos se tornem mais relaxados e elásticos, e as
articulações se tornem mais flexíveis para preparar a pelve materna para o parto. Além disso, os tecidos moles contribuem
habitualmente para o trabalho de parto.
Pelve óssea
A pelve óssea materna pode ser dividida em partes verdadeira (menor) e falsa (maior). A pelve falsa (ou superior ou
maior) é constituída pelas partes superiores alargadas dos dois ossos ilíacos com suas concavidades e as asas da base do
sacro. A pelve falsa é separada da verdadeira por uma linha imaginária traçada a partir do promontório do sacro na parte
posterior até o aspecto superior da sínfise púbica na parte anterior da pelve. Essa linha imaginária é chamada de linha
terminal. A pelve falsa encontrase acima dessa linha imaginária; a pelve verdadeira encontrase abaixo dela (Figura 13.1).
A pelve verdadeira é a passagem óssea pela qual o feto precisa descer. É composta de três planos: a abertura superior da
pelve, a cavidade pélvica (pelve média) e a abertura inferior da pelve.
ABERTURA SUPERIOR DA PELVE
A abertura superior da pelve possibilita a entrada na pelve verdadeira. É delimitada pelo promontório do sacro na parte
posterior, pelo ílio nas laterais e pela face superior da sínfise púbica anteriormente (Jones & Lopez, 2014). A abertura
superior da pelve é mais larga na face transversal (lateralmente) do que na face anteroposterior.
CAVIDADE PÉLVICA
A cavidade pélvica (pelve média) ocupa o espaço entre as aberturas superior e inferior da pelve. É por esse espaço curvo
que o feto precisa passar para chegar ao ambiente externo. Conforme o feto passa por essa pequena área, seu tórax é
comprimido, fazendo com que o líquido e o muco do pulmão sejam expelidos. Isso remove o líquido que ocupa o espaço,
possibilitando que o ar entre nos pulmões com a primeira respiração do recémnascido.
ABERTURA INFERIOR DA PELVE
A abertura inferior da pelve é limitada pela tuberosidade isquiática, borda inferior da sínfise púbica e ponta do cóccix. Em
comparação com a abertura superior da pelve, a abertura inferior é mais ampla anteroposteriormente. A abertura inferior
da pelve precisa ser ampla o suficiente para possibilitar a passagem do feto. Para garantir a adequação da abertura inferior
da pelve ao parto vaginal, avaliamse as seguintes medidas pélvicas:
• Diâmetro diagonal (segundo a Terminologia Anatômica) da abertura superior da pelve (distância entre a face anterior
do promontório do sacro e a face anterior da margem inferior da sínfise púbica)
• Diâmetro transverso ou da tuberosidade isquiática da abertura inferior da pelve (distância na face medial e mais
inferior das tuberosidades isquiáticas, ao nível do ânus; habitualmente se utiliza a medida de um palmo (22 cm) ou de
um punho cerrado para obter essa medida)
• Diâmetro verdadeiro ou obstétrico (distância estimada a partir do valor do diâmetro diagonal; subtraise 1,5 cm do
diâmetro diagonal).
Para mais informações sobre as medidas pélvicas, consulte o Capítulo 12.
Se a medida do diâmetro diagonal for de pelo menos 11,5 cm e o diâmetro verdadeiro for igual ou superior a 10 cm
(1,5 cm a menos do que o diâmetro diagonal, ou cerca de 10 cm), então a pelve é suficientemente grande para possibilitar
o parto vaginal de um feto de tamanho normal.
FIGURA 13.1 Pelve óssea.
Formato da pelve
Além das dimensões, o formato da pelve da mulher é um fator determinante para o parto vaginal. Cada plano da pelve tem
um formato que é definido pelos diâmetros anteroposterior e transverso. A pelve é classificada em quatro formatos
principais: ginecoide, antropoide, androide e platipeloide (Figura 13.2).
PELVE GINECOIDE
O formato ginecoide é considerado como a pelve feminina verdadeira, e aproximadamente 40% das mulheres apresentam
esse formato; é muito menos comum em homens (Fischer & Mitteroecker, 2015). O parto vaginal é mais favorável com
esse tipo de pelve, porque sua abertura superior é arredondada e a abertura inferior é ampla. Esse formato oferece os
diâmetros ideais nos três planos da pelve. Esse tipo de pelve possibilita a rotação interna fetal precoce e completa durante
o trabalho de parto.
PELVE ANTROPOIDE
A pelve antropoide é comum em homens e mais comum em mulheres não brancas. Aproximadamente 25% das mulheres
têm pelve androide (Marani & Koch, 2014). A abertura superior da pelve é oval e o sacro é longo, resultando em uma
pelve profunda (mais ampla anteroposteriormente do que lateralmente). O parto vaginal é mais favorável com esse formato
de pelve do que com os formatos androide ou platipeloide (Tharpe, Farley, & Jordan, 2016).
PELVE ANDROIDE
A pelve androide é considerada a pelve de formato masculino e caracteristicamente afunilado. Aproximadamente 20% das
mulheres têm pelve androide (Cunningham et al., 2014). A abertura superior da pelve tem o formato de coração e os
segmentos posteriores são reduzidos em todos os planos pélvicos. A descida da cabeça fetal para a pelve é lenta e
frequentemente o feto não consegue rodar. O prognóstico para o trabalho de parto é ruim, subsequentemente resultando em
cesariana.
PELVE PLATIPELOIDE
A pelve platipeloide ou plana é o tipo menos comum de estrutura pélvica em homens e mulheres, com incidência
aproximada de 3% (King et al., 2015). A cavidade pélvica é rasa, mas se alarga na abertura inferior, dificultando a descida
do feto pela cavidade pélvica. O prognóstico para o trabalho de parto é ruim, ocorrendo frequentemente parada da evolução
na abertura superior da pelve. Não é favorável ao parto vaginal, a menos que a cabeça do feto consiga passar pela abertura
superior da pelve. As mulheres com esse tipo de pelve geralmente precisam de cesariana.
Um princípio importante é que a maioria das pelves não pertence claramente a um dos tipos, mas ocorrem
naturalmente como tipos mistos. Muitas mulheres têm uma combinação desses quatro tipos básicos de pelve, sem que
duas pelves sejam exatamente iguais. Independentemente do formato da pelve, o feto pode nascer por via vaginal se o
tamanho e o posicionamento forem compatíveis. A parte mais estreita do feto tenta alinharse com a dimensão mais
reduzida da pelve (p. ex., parte biparietal com os diâmetros interespinhosos, o que significa que o feto geralmente tende a
girar até a porção mais ampla da pelve).
FIGURA 13.2 Formatos de pelve. A. Ginecoide. B. Androide. C. Antropoide. D. Platipeloide.
Tecidos moles
Os tecidos moles da passagem consistem em colo do útero, músculos do assoalho pélvico e vagina. No apagamento, o
colo do útero se torna mais delgado para possibilitar que a apresentação fetal desça para a vagina.
Anote!
O processo de apagamento e dilatação do colo do útero é semelhante ao processo de tirar uma camisa de gola alta pela
cabeça.
Os músculos do assoalho pélvico ajudam o feto a rodar anteriormente conforme ele avança pelo canal do parto. Os
tecidos moles da vagina se expandem para acomodar o feto durante o parto.
Passageiros
O feto (com a placenta) é o “passageiro”. A cabeça (tamanho e ocorrência de moldagem), a atitude (grau de flexão do
corpo), a situação (relação entre as partes do corpo), a apresentação (primeira parte do corpo), a posição (correlação com a
pelve materna), a altura de apresentação e a insinuação fetais são fatores importantes, que têm impacto sobre o desfecho
final do processo de parto.
Cabeça fetal
A cabeça fetal é a maior estrutura fetal, tornandoa um importante fator para o trabalho de parto e o parto. Muitas vezes é
encontrada uma variação considerável na dimensão e no diâmetro do crânio do feto.
Comparada à de um adulto, a cabeça do feto é grande em relação ao restante do corpo, sendo habitualmente
responsável por 25% da área de superfície corporal (Martin, Fanaroff, & Walsh, 2014). Os ossos que compõem a face e a
base do crânio são fundidos e essencialmente fixos. No entanto, os ossos que formam o restante do crânio (dois ossos
frontais, dois ossos parietais e um osso occipital) não são fundidos, mas moles e flexíveis, com espaços entre as lâminas
ósseas. Essas aberturas, que são espaços membranosos entre os ossos do crânio, são chamadas de suturas. As interseções
dessas suturas são denominadas fontanelas (fontículos, segundo a Terminologia Anatômica). As suturas são importantes
porque possibilitam que os ossos cranianos se sobreponham a fim de ajustar o formato da cabeça (alongando) quando as
contrações uterinas ou a pelve óssea materna exercerem pressão sobre ela. Alguns diâmetros se encurtam, enquanto outros
se alongam conforme a cabeça é moldada durante o processo de trabalho de parto e parto. Essa maleabilidade do crânio
fetal reduz as dimensões do crânio do feto em 0,5 a 1 cm (King et al., 2015). Após o nascimento, as suturas se fecham
conforme os ossos crescem e o encéfalo alcança o seu crescimento pleno.
A forma alterada (alongada) do crânio fetal ao nascer em decorrência da sobreposição dos ossos cranianos é conhecida
como moldagem. Junto com a moldagem, também pode haver acúmulo de líquido no couro cabeludo (bossa
serossanguinolenta) ou acúmulo de sangue sob o couro cabeludo (céfalohematoma), distorcendo ainda mais a forma e a
aparência da cabeça fetal. A bossa serossanguinolenta pode ser descrita como o edema do couro cabeludo na parte que se
apresenta. Esse inchaço cruza as linhas de sutura e desaparece dentro de 3 a 4 dias. O céfalohematoma consiste no
acúmulo de sangue entre o periósteo e o osso que ocorre algumas horas após o nascimento. O céfalohematoma não cruza
as linhas de sutura e, geralmente, é reabsorvido durante as 6 a 8 semanas seguintes (Collins & Reed, 2014).
Anote!
Os pais podem ficar preocupados com a distorção da cabeça de seu recémnascido. No entanto, garanta que a forma
oblonga é apenas temporária, o que geralmente é o necessário para reduzir sua ansiedade.
As suturas também auxiliam na identificação da posição da cabeça do feto durante o exame de toque vaginal. A Figura
13.3 mostra um crânio fetal. Durante o exame ginecológico, a palpação dessas suturas pelo examinador revela a posição da
cabeça do feto e o grau de rotação que ocorreu.
As fontanelas anterior e posterior também são úteis para ajudar a identificar a posição da cabeça do feto. Possibilitam
a moldagem do crânio e são importantes quando da avaliação do recémnascido. A fontanela anterior é a famosa “moleira”
do recémnascido. É um espaço em forma de losango que mede entre 1 e 4 cm. Permanece aberta durante 12 a 18 meses
após o nascimento para possibilitar o crescimento do encéfalo (Verklan & Walden, 2014). A fontanela posterior
corresponde à anterior, mas está localizada na parte de trás da cabeça do feto e é triangular. Essa fontanela se fecha 8 a 12
semanas após o nascimento e apresenta, na média, 1 a 2 cm em seu maior diâmetro (Weber & Kelley, 2014).
Os diâmetros do crânio do feto são uma consideração importante durante os processos de trabalho de parto e o parto.
Esses diâmetros são medidos entre os vários marcos do crânio. Os diâmetros incluem occipitofrontal, occipitomental,
suboccipitobregmático (Figura 13.4) e biparietal (ver Figura 13.3). Os dois diâmetros mais importantes que podem afetar
o processo de parto são o suboccipitobregmático (aproximadamente 9,5 cm a termo) e o biparietal (cerca de 9,25 cm a
termo). O diâmetro suboccipitobregmático, medido a partir da base do occipital ao centro da fontanela anterior,
corresponde ao menor diâmetro anteroposterior do crânio do feto. O diâmetro biparietal é o maior diâmetro transversal do
crânio fetal: é a distância entre os dois ossos parietais. Em uma apresentação cefálica (de cabeça), que ocorre em 95% de
todos os partos a termo, se o feto se apresenta em uma posição flexionada com o queixo apoiado no tórax, encontramse
as menores e melhores dimensões do crânio para um parto vaginal. Se a cabeça do feto não estiver totalmente flexionada
no momento do parto, o diâmetro anteroposterior aumenta. Esse aumento da dimensão pode impedir a entrada do crânio
fetal na pelve materna.
FIGURA 13.3 Crânio fetal.
FIGURA 13.4 Diâmetros do crânio fetal.
Atitude fetal
A atitude fetal é outra consideração importante relacionada ao “passageiro”. A atitude fetal referese à postura (flexão ou
extensão) das articulações e à relação das partes fetais entre si. No início do trabalho de parto, a atitude fetal mais comum
é com todas as articulações flexionadas – o dorso do feto se mostra arredondado, o queixo toca o tórax, as coxas estão
flexionadas em direção ao abdome e os joelhos estão flexionados (Figura 13.5). Essa posição fetal normal é a mais
favorável ao parto vaginal, com apresentação dos menores diâmetros fetais à pelve.
Quando o feto chega à pelve com atitudes anormais (não fletida ou estendida), sua posição não fletida pode aumentar o
diâmetro da apresentação fetal conforme ela avança através da pelve, aumentando a dificuldade do parto. Uma atitude em
extensão tende a levar a maiores diâmetros do crânio do feto, o que pode dificultar o parto.
Situação fetal
A situação fetal referese à relação entre o eixo mais longo (coluna vertebral) do feto e o eixo longo (coluna vertebral) da
mãe. Existem três situações fetais principais: longitudinal (a mais comum), transversal (Figura 13.6) e oblíqua.
FIGURA 13.5 Atitude fetal: flexão completa. Observe que o menor diâmetro se apresenta à pelve.
A situação longitudinal ocorre quando o eixo longitudinal do feto está paralelo ao da mãe (coluna fetal lado a lado com
a coluna da mãe). A posição transversal ocorre quando o eixo longitudinal do feto está perpendicular ao eixo longo da mãe
(coluna do feto transversalmente ao abdome materno, cruzando sua coluna). Na situação oblíqua, o eixo longitudinal do
feto está inclinado em relação à abertura superior da pelve (óssea) e não se consegue palpar nenhuma parte fetal. De modo
geral, a situação oblíqua é transitória e ocorre durante a conversão entre as outras situações (longitudinal e transversa).
Um feto em situação transversal ou oblíqua não é capaz de nascer por via vaginal (Cunningham et al., 2014).
Apresentação fetal
A apresentação fetal referese à parte do corpo do feto que chega primeiro à abertura superior da pelve (a “parte que se
apresenta”). Essa é a parte fetal que se encontra sobre a abertura superior da pelve ou óstio do útero. Saber qual parte fetal
está vindo primeiro no parto é fundamental para planejar e iniciar as intervenções apropriadas.
As três apresentações fetais mais comuns são: cefálica (cabeça primeiro), pélvica (pelve primeiro) e de ombro
(escápula primeiro). A maioria dos recémnascidos (95%) vem ao mundo em uma apresentação cefálica; as apresentações
pélvicas representam 3% dos nascimentos a termo; e as apresentações de ombro representam aproximadamente 2%
(Tharpe et al., 2016).
FIGURA 13.6 Situação fetal. A. Longitudinal. B. Transversal.
Na apresentação cefálica, a parte que se apresenta geralmente é o occipúcio da cabeça fetal (Figura 13.7). Essa
apresentação é também chamada de apresentação de vértice. As variações da apresentação de vértice incluem as
apresentações em bregma, fronte e face.
APRESENTAÇÃO PÉLVICA
Ao termo, aproximadamente 97% dos fetos giram ativamente para a apresentação cefálica. É determinada por palpação
abdominal (Hofmeyr, 2015). A apresentação pélvica ocorre quando as nádegas ou os pés do feto entram primeiro na pelve
materna e o crânio fetal entra por último. Essa apresentação anormal exibe vários desafios no momento do parto.
Primeiramente, a maior parte do feto (crânio) sai por último e pode “engancharse” ou prenderse à pelve. Além disso, o
cordão umbilical pode ser comprimido entre o crânio fetal e a pelve materna depois de o tórax fetal ter nascido, porque a
cabeça é a última a sair. Ademais, ao contrário do crânio fetal duro, as nádegas são moles e não tão efetivas como
dilatador do colo do útero durante o trabalho de parto, em comparação com a apresentação cefálica. Por fim, existe a
possibilidade de traumatismo à cabeça em consequência da falta de oportunidade para a moldagem.
Os tipos de apresentação pélvica são determinados pelo posicionamento das pernas do feto (Figura 13.8). Na
apresentação pélvica franca (50 a 70%), as nádegas se apresentam primeiro, com ambas as pernas estendidas em direção à
face. Na apresentação pélvica total ou completa (5 a 10%), o feto está sentado com as pernas cruzadas sobre o colo do
útero. Na apresentação podálica ou incompleta (10 a 30%), uma ou ambas as pernas se apresentam. As apresentações
pélvicas estão associadas a prematuridade, placenta prévia, multiparidade, anormalidades uterinas (miomas) e algumas
anomalias congênitas, como hidrocefalia (Hofmeyr, 2015). A apresentação pélvica franca pode resultar em parto vaginal,
mas as apresentações pélvicas completas, podálica e incompleta geralmente exigem a realização de cesariana.
APRESENTAÇÃO DE OMBRO
A apresentação de ombro ou distocia de ombro ocorre quando os ombros do feto se apresentam em primeiro lugar, com a
cabeça oculta entre eles. Clinicamente, os sinais de distocia de ombro aparecem enquanto a parturiente está fazendo força
para baixo (esforço expulsivo), na medida em que a cabeça do recémnascido avança lentamente através do canal do parto
e emerge no períneo e depois retorna à vagina. São comumente referidos como “sinal da tartaruga”. As chances de uma
apresentação de ombro são de 1 em 300 nascimentos (Cunningham et al., 2014). O feto está em posição transversal, com
o ombro como a parte que se apresenta. As condições associadas à distocia do ombro incluem a placenta prévia, a
prematuridade, o número elevado de partos, a ruptura prematura de membranas, a gestação múltipla ou as anomalias
fetais. Se a apresentação de ombro for identificada antes do início do trabalho de parto, habitualmente será necessário um
parto cesáreo, mas a decisão dependerá da idade gestacional, do tamanho do feto, da posição da placenta e da ruptura das
membranas (Sharshiner & Silver, 2015).
FIGURA 13.7 Variações da apresentação fetal cefálica. A. Vértice. B. Bregma. C. Fronte. D. Face.
FIGURA 13.8 Apresentações pélvicas. A. Pélvica franca. B. Pélvica completa. C. Pélvica podálica com prolapso de
um pé. D. Pélvica podálica com prolapso de dois pés.
Posição fetal
A posição fetal descreve a relação entre um determinado ponto da parte do feto que se apresenta a um determinado ponto
da pelve materna (King et al., 2015). Os marcos anatômicos das partes do feto que se apresentam incluem o osso occipital
(O), que designa a apresentação cefálica; o queixo (mento [M]), que designa uma apresentação de vértice; as nádegas
(sacro [S]), que designam uma apresentação pélvica; e a escápula (acrômio [A]), que designa uma apresentação de ombro.
Além disso, a pelve materna é dividida em quatro quadrantes: anterior direito, anterior esquerdo, posterior direito e
posterior esquerdo. Esses quadrantes designam se a apresentação fetal está direcionada para frente, para trás, para a
esquerda ou para a direita da pelve. A posição fetal é determinada em primeiro lugar identificando a parte que se apresenta
e, em seguida, o quadrante materno para o qual a apresentação fetal está voltada (Figura 13.9). A posição é indicada por
uma abreviatura de três letras, como se segue:
• A primeira letra representa a parte específica da apresentação fetal: O para occipúcio, S para sacro (nádegas), M para
mento (queixo). A para acrômio e D para dorso (referese às costas do feto) ao denotar a posição fetal em
apresentações de ombro (Cheng & Caughey, 2015a)
• A segunda letra define a localização da parte que se apresenta em relação à porção anterior (A) ou posterior (P) da
pelve materna. Se a parte que se apresenta está voltada para a lateral da pelve materna, a apresentação fetal é dita
transversal (T)
• A terceira letra define se a parte que se apresenta está inclinada para o lado esquerdo (E) ou direito (D) da pelve
materna.
FIGURA 13.9 Exemplos de posições fetais na apresentação de vértice. A situação é longitudinal em todas as
ilustrações. A atitude é de flexão. Observe que as ilustrações maiores são a vista anterior da gestante. As menores
são a vista com a mulher em decúbito dorsal reclinado.
Por exemplo, se o occipúcio estiver voltado para o quadrante anterior esquerdo da pelve, então a posição é denominada
occipitoanterior esquerda e é registrada como OAE.
Anote!
A posição OAE atualmente é a mais frequente (e mais favorável) para o parto, seguida pela posição occipitoanterior direita
(OAD). O posicionamento fetal possibilita que a cabeça do feto contorne os diâmetros da pelve materna. As posições OAE
e a OAD são ideais para um parto vaginal.
A posição occipitoposterior pode levar a um parto longo e difícil, e as outras posições podem ou não ser compatíveis
com o parto vaginal.
Altura da apresentação fetal
A altura da apresentação fetal referese à relação entre a parte que se apresenta e as espinhas isquiáticas pélvicas
maternas. A altura da apresentação fetal é medida em centímetros e é representada como um sinal de menos (–) ou de mais
(+), dependendo da sua localização abaixo ou acima das espinhas isquiáticas. Tipicamente, as espinhas isquiáticas são a
parte mais estreita da pelve e o ponto natural de medição do progresso do parto.
A altura zero (0) é designada quando a apresentação fetal está na altura das espinhas isquiáticas maternas. Quando a
apresentação fetal está acima das espinhas isquiáticas, a distância é registrada com alturas negativas. Quando a
apresentação fetal está abaixo das espinhas isquiáticas, a distância é registrada com alturas positivas. Por exemplo, se a
parte que se apresenta está 1 cm acima das espinhas isquiáticas, é documentada como sendo uma altura de –1; se a
apresentação fetal estiver 1 cm abaixo das espinhas isquiáticas, é documentada como sendo uma altura +1.
Uma maneira fácil de entender esse conceito é pensar em termos de cumprimento de meta, que nesse caso é o parto. Se
o feto estiver se movendo para baixo (passando as espinhas isquiáticas) e indo em direção a cumprir a meta de parto, então
a altura é positiva e os números em centímetros aumentam de +1 a +4. Se o feto não passou pelas espinhas isquiáticas,
então a altura é negativa e os números em centímetros crescem de –1 a –4. Quanto mais longe a apresentação fetal estiver
do exterior, maior é o número negativo (–4 cm). Quanto mais perto a apresentação fetal estiver do exterior, maior é o
número positivo (+4 cm). A Figura 13.10 mostra as alturas da apresentação fetal.
Insinuação fetal
A insinuação (ou encaixe) fetal indica a entrada do maior diâmetro da parte fetal que se apresenta (habitualmente a cabeça
do feto) no menor diâmetro da pelve materna (Alexander et al., 2014). Dizse que o feto está “encaixado” na pelve quando
a parte que se apresenta chega à altura 0. A insinuação é determinada pelo exame ginecológico.
FIGURA 13.10 Alturas da apresentação fetal.
O maior diâmetro da cabeça fetal é o biparietal. Estendese de uma proeminência parietal à outra. É um importante fator
para a passagem pela pelve materna. Em primigestas, a insinuação tipicamente ocorre 2 semanas antes do termo, enquanto
nas multíparas a insinuação pode ocorrer várias semanas antes do início do trabalho de parto ou pode não ocorrer até o
início do trabalho de parto.
Anote!
O termo flutuante é usado quando a insinuação não ocorreu, porque a parte que se apresenta está livremente móvel acima
da abertura superior da pelve.
Movimentos cardinais do trabalho de parto
O feto passa por muitas mudanças de posição conforme se desloca pela via de passagem. Essas mudanças de posição são
conhecidas como movimentos cardinais do trabalho de parto. São movimentos intencionais, específicos e muito precisos
que possibilitam que o menor diâmetro da cabeça do feto passe pelo diâmetro correspondente da estrutura pélvica materna.
Embora os movimentos cardinais sejam conceituados como separados e sequenciais, tipicamente são concomitantes
(Figura 13.11).
INSINUAÇÃO
A insinuação ocorre quando o maior diâmetro transversal da cabeça no vértice (diâmetro biparietal) passa pela abertura
superior da pelve (geralmente altura de apresentação 0). A cabeça geralmente entra na pelve com a sutura sagital alinhada
com o diâmetro transverso.
FIGURA 13.11 Movimentos cardinais do trabalho de parto.
DESCIDA
A descida é o movimento descendente da cabeça do feto até que esta esteja na abertura superior da pelve. A descida ocorre
intermitentemente com as contrações e é provocada por uma ou mais das seguintes forças:
• Pressão do líquido amniótico
• Pressão direta do fundo do útero sobre as nádegas ou a cabeça do feto (dependendo de qual parte está localizada na
parte superior do útero)
• Contração dos músculos abdominais (segundo estágio)
• Extensão e retificação do corpo fetal.
A descida fetal ocorre durante todo o trabalho de parto, terminando com o parto. Nesse momento, a parturiente sente
desconforto, mas é incapaz de isolar esse movimento fetal específico de seu desconforto geral.
FLEXÃO
A flexão ocorre conforme o vértice encontra a resistência do colo do útero, das paredes da pelve ou do assoalho pélvico.
Como resultado, o queixo é posto em contato com o tórax fetal, e o diâmetro que se apresenta é modificado de
occipitofrontal para suboccipitobregmático (9,5 cm), levando à apresentação do menor diâmetro de crânio fetal às
dimensões pélvicas maternas.
ROTAÇÃO INTERNA
Depois da insinuação, conforme a cabeça desce, sua parte inferior (geralmente o occipúcio) encontra resistência de um
lado do assoalho pélvico. Como resultado, a cabeça roda cerca de 45° anteriormente em relação à linha média, sob a
sínfise. Esse movimento é conhecido como rotação interna. A rotação interna alinha o diâmetro anteroposterior da cabeça
com o diâmetro anteroposterior da abertura inferior da pelve. Alinha o eixo longo da cabeça fetal com o eixo longo da
pelve materna. A parte mais larga da pelve materna é o diâmetro anteroposterior, portanto o feto precisa rodar para se
acomodar à pelve.
EXTENSÃO
Com a descida adicional e flexão completa da cabeça, a nuca (base do occipúcio) fica sob a sínfise. A resistência do
assoalho pélvico faz com que a cabeça do feto se estenda, de modo que possa passar por baixo do arco púbico.
A extensão ocorre depois de a rotação interna estar completa. A cabeça emerge graças à extensão sob a sínfise púbica,
juntamente com os ombros. A fontanela anterior, a testa, o nariz, a boca e o queixo saem de modo sucessivo.
ROTAÇÃO EXTERNA OU RESTITUIÇÃO
Depois que a cabeça saiu e está livre de resistência, ela gira, fazendo com que o occipúcio se mova cerca de 45° de volta à
sua posição original para a esquerda ou para a direita (restituição). A sutura sagital retoma então sua relação de ângulo reto
com o diâmetro transverso (biacromial) dos ombros (ou seja, a cabeça se realinha à posição do dorso no canal de parto).
A rotação externa da cabeça fetal possibilita que os ombros rodem internamente para se ajustar à pelve materna.
EXPULSÃO
A expulsão do restante do corpo ocorre de modo mais suave após a saída da cabeça e das partes anterior e posterior dos
ombros (Cheng & Caughey, 2015a). Ver a Figura 13.3, que mostra um crânio fetal.
Força
O estímulo primário do trabalho de parto é a contração uterina. As contrações uterinas causam dilatação e apagamento
completos do colo do útero durante o primeiro estágio do trabalho de parto. O estímulo secundário do trabalho de parto
envolve o uso da pressão intraabdominal (contrações musculares voluntárias) exercida pela parturiente quando ela
empurra e faz força para baixo durante o segundo estágio do trabalho de parto.
Contrações uterinas
As contrações uterinas são involuntárias e, por conseguinte, não podem ser controladas pela parturiente,
independentemente de serem espontâneas ou induzidas. As contrações uterinas são rítmicas e intermitentes, com um
período de descanso entre elas. Essa pausa possibilita que a parturiente e os músculos uterinos descansem. Além disso,
essa pausa restaura o fluxo sanguíneo para o útero e para a placenta, temporariamente reduzido durante cada contração
uterina.
Essas contrações são responsáveis pelo adelgaçamento e pela dilatação do colo do útero, além de impulsionar a
apresentação fetal para o segmento inferior do útero. O canal do colo do útero diminui de 2 cm do comprimento para uma
estrutura semelhante a um papel fino; esse apagamento é descrito em termos percentuais, de 0 a 100%. Em primigestas, o
apagamento começa tipicamente antes do início do trabalho de parto e geralmente começa antes da dilatação; em
multíparas, no entanto, tanto o apagamento quanto a dilatação podem não começar até que o trabalho de parto aconteça
(Figura 13.12). Ao exame clínico, podese encontrar o seguinte:
• Um canal cervical com 2 cm de comprimento seria descrito como 0% apagado
• Um canal cervical com 1 cm de comprimento seria descrito como 50% apagado
• Um canal cervical com 0 cm de comprimento seria descrito como 100% apagado.
A dilatação é dependente da pressão da parte que se apresenta e da contração e retração do útero. O diâmetro do óstio
do útero aumenta de menos de 1 cm para cerca de 10 cm para possibilitar o parto. Quando o colo do útero está totalmente
dilatado, já não é palpável ao exame de toque vaginal. As descrições podem incluir o seguinte:
• Óstio do útero fechado: dilatação de 0 cm
• Óstio do útero entreaberto: dilatação de 5 cm
• Óstio do útero totalmente aberto: dilatação de 10 cm.
Durante o início do trabalho de parto, as contrações uterinas são descritas como leves, duram cerca de 30 segundos e
ocorrem aproximadamente a cada 5 a 7 minutos. Conforme o trabalho de parto evolui, as contrações duram mais tempo
(60 segundos), ocorrem com maior frequência (de 2 a 3 minutos de intervalo) e são descritas como de intensidade
moderada a alta. Cada contração tem três fases: incremento (acúmulo de contração), pico (ponto de maior intensidade) e
decremento (relaxamento das fibras musculares uterinas; Figura 13.13).
As contrações uterinas são monitoradas e avaliadas de acordo com três parâmetros:
1. Frequência: referese à frequência com que as contrações ocorrem, sendo medida do início de uma contração até o
início da contração seguinte
2. Duração: referese a quanto tempo a contração dura, sendo determinada do início de uma contração ao seu final
3. Intensidade: referese à força de contração determinada pela palpação manual ou medida por um cateter interno de
pressão intrauterina. O cateter é posicionado na cavidade uterina através do colo do útero após as membranas terem
rompido. O cateter descreve a intensidade pela mensuração da pressão do líquido amniótico dentro do útero, em
milímetros de mercúrio. Não é recomendado para uso rotineiro em mulheres em trabalho de parto que sejam de baixo
risco, devido ao potencial risco de infecção e lesão à placenta ou ao feto. Em metanálise envolvendo mais de 2.000
parturientes, os pesquisadores encontraram aumento do número de partos cirúrgicos e verificaram que não há
vantagem em usar cateteres de monitoramento da pressão intrauterina interna em comparação com monitoramento
externo durante a estimulação do trabalho de parto (Milton, Chelmow, & Ramus, 2015).
Pressão intraabdominal
O aumento da pressão intraabdominal (contrações musculares voluntárias) comprime o útero e aumenta a potência das
forças expulsivas das contrações uterinas (Grant et al., 2015). A coordenação dessas energias em uníssono promove o
nascimento do feto e a expulsão das membranas fetais e da placenta do útero. A interferência nessas energias (como
quando a parturiente é muito sedada ou está extremamente ansiosa) pode comprometer a efetividade dessas energias.
FIGURA 13.12 Apagamento e dilatação do colo do útero. A dilatação do colo do útero é expressada em
centímetros. A. Colo do útero não apagado ou dilatado. B. 50% do colo do útero apagado. C. 100% do colo do
útero apagado. D. Colo do útero totalmente dilatado (10 centímetros de dilatação).
FIGURA 13.13 As três fases de uma contração uterina.
Posição materna
O posicionamento para o trabalho de parto e o parto normais mudou. Até aproximadamente 250 anos atrás, as mulheres
eram representadas em quadros e descritas em ensaios como dando à luz na posição sentada com os quadris flexionados,
de cócoras ou, menos comumente, em pé ou de joelhos. Essas posições mantinham a flexão na articulação do quadril e
retificavam um pouco a pelve (Nieuwenhuijze et al., 2014). Nos últimos 250 anos, por motivos pouco claros, evoluiuse
para as posições de decúbito dorsal e de litotomia, que foram atribuídas à medicina ocidental. A medicalização do parto
reduziu a oportunidade da parturiente adotar uma posição espontânea preferida em vez de o decúbito dorsal. Historiadores
médicos dizem que a evolução foi para facilitar o uso do fórceps, para promover o poder do homem sobre a mulher e para
a conveniência após a administração da anestesia (Marani & Koch, 2014).
Apenas recentemente o posicionamento materno durante o parto foi objeto de pesquisas bem controladas. Evidências
científicas já mostraram que posições inertes em decúbito dorsal durante o trabalho de parto não são saudáveis (Gizzo et
al., 2014). No entanto, apesar dessa evidência em contrário, muitas mulheres ainda ficam imóveis em decúbito dorsal
durante o trabalho de parto. Alguns dos motivos da persistência dessa prática incluem as convicções de que:
• As mulheres em trabalho de parto precisam conservar energia e não se cansar
• O enfermeiro não pode acompanhar o paradeiro da gestante que deambula livremente
• É a preferência do profissional de saúde
• O feto pode ser mais bem monitorado nessa posição
• O decúbito dorsal facilita o toque vaginal e o ajuste das restrições externas
• O leito é “onde se deve estar” em um ambiente hospitalar
• A posição é mais conveniente para o profissional de saúde que fará o parto
• As parturientes estão “conectadas a coisas” que impedem seu movimento (Hanson & VandeVusse, 2014).
Embora muitas instituições afirmem que todas as gestantes podem adotar uma posição de conforto durante a sua
experiência de trabalho de parto, muitas delas ficam em decúbito dorsal durante esse período. As gestantes devem ser
incentivadas a assumir qualquer posição que seja confortável para elas. Em um estudo recente, randomizado e controlado,
o uso de uma bola no formato de amendoim (bola amendoim) durante o trabalho de parto reduziu a duração do trabalho de
parto e aumentou a taxa de partos vaginais. A bola em formato de amendoim foi associada a uma incidência
significativamente menor de partos cirúrgicos (cesarianas). Ela pode ser uma intervenção de enfermagem potencialmente
bemsucedida e ajudar na progressão do trabalho de parto e no apoio ao parto vaginal para parturientes sob anestesia
epidural (Tussey et al., 2015).
Anote!
Se a única mobília existente é uma cama, é isso o que a mulher vai usar. Quartos equipados com cadeiras confortáveis,
pufes e outros móveis para o parto possibilitam que a mulher escolha entre várias posições e se sinta livre para se
movimentar durante o trabalho de parto.
Mudar de posição e movimentarse durante o trabalho de parto oferece vários benefícios. A posição materna pode
influenciar o tamanho e os contornos da pelve. A mudança de posição e a deambulação influenciam as articulações da
pelve, o que pode facilitar a descida e a rotação do feto. O agachamento aumenta os diâmetros das aberturas superior e
inferior da pelve, enquanto ficar em posição ajoelhada remove a pressão sobre a veia cava materna e ajuda o feto a rodar
de uma posição posterior para uma anterior para facilitar o parto (Budin, 2015). O uso de qualquer posição vertical ou
lateral, em comparação com as posições em decúbito dorsal ou de litotomia, poderá:
• Reduzir a duração do primeiro estágio do trabalho de parto
• Reduzir a duração do segundo estágio do trabalho de parto
• Reduzir o número de partos assistidos (vacuoextrator e fórceps)
• Reduzir o número de episiotomias e lacerações perineais
• Contribuir para diminuir os padrões anormais de frequência cardíaca fetal
• Aumentar o conforto/reduzir os pedidos de medicação para dor
• Aumentar a sensação de controle por parte da parturiente
• Alterar o formato e o tamanho da pelve, o que auxilia na descida do feto
• Auxiliar a gravidade a mover o feto para baixo (Cox & King, 2015).
Usar as pesquisas disponíveis pode resultar em melhores desfechos, mais profissionalismo e prática baseada em
evidências para as práticas relacionadas com a maternidade. As diretrizes do National Institute for Health and Care
Excellence (NICE) recomendam que as parturientes sejam desencorajadas a permanecer em decúbito dorsal ou semidorsal
durante o trabalho de parto. Elas devem ser encorajadas a adotar qualquer posição na qual se sintam confortáveis, porque o
decúbito dorsal está associado a trabalho de parto mais prolongado, aumento dos partos cirúrgicos, aumento da dor e
incidência aumentada de anormalidades da frequência cardíaca fetal. A Cochrane apoia a orientação atual de posições do
NICE (Camorcia, 2015).
Resposta psicológica
A gestação pode ser uma das experiências mais marcantes da vida da mulher. A experiência do parto vai além dos aspectos
fisiológicos: influencia a autoconfiança, a autoestima, a perspectiva de vida, os relacionamentos e os filhos da mulher. Seu
estado de espírito (psique) durante todo o processo é fundamental para trazer um desfecho positivo para ela e sua família.
Os fatores que promovem uma experiência de parto positiva incluem:
• Informações claras sobre os procedimentos
• Apoio; não estar sozinha
• Sensação de domínio, autoconfiança
• Confiança na equipe de saúde
• Reação positiva à gestação
• Controle pessoal da respiração
• Preparação para a experiência de parto.
Ter um bom conhecimento de si mesma e receber apoio significativo de terceiros muitas vezes pode ajudar a mulher a
gerenciar bem o trabalho de parto. Tipicamente o conhecimento de estar segura e protegida promove uma sensação de
controle e capacidade de suportar os desafios da experiência de dar à luz. A ansiedade e o medo, no entanto, diminuem a
capacidade da mulher de lidar com os desconfortos do trabalho de parto. As catecolaminas maternas secretadas em
resposta à ansiedade e o medo podem inibir o fluxo sanguíneo uterino e a perfusão placentária. Em contrapartida, o
relaxamento pode acelerar o processo natural de trabalho de parto (Leonard, 2015). Prepararse mentalmente para o parto é
importante para que a mulher consiga colaborar com as forças naturais do trabalho de parto, e não lutar contra elas.
Filosofia
Nem todo mundo vê o parto do mesmo modo. Existe um continuum filosófico no modo de enxergar o trabalho de parto,
que vai do conceito de trabalho de parto como um processo mórbido até o conceito de processo normal. Uma filosofia
pressupõe que as gestantes não conseguem controlar a experiência do parto de modo adequado e, portanto, precisam de
acompanhamento e manejo constante de especialistas. A outra filosofia pressupõe que as mulheres são capazes e dotadas
de razão, podendo participar ativamente de sua experiência de parto.
Atualmente, o sistema de saúde dos EUA parece estar inclinandose à filosofia antiga, aplicando intervenções
tecnológicas para a maioria das gestantes que ingressa no sistema hospitalar. Para muitas mulheres, dar à luz em um
hospital no século XXI se tornou uma “intervenção intensiva” – concebida para iniciar, continuar e concluir o trabalho de
parto por meio de intervenção médica, em vez de possibilitar o desenrolar normal do processo de parto. Os avanços nos
cuidados médicos melhoraram a segurança para as mulheres com gestação de alto risco. No entanto, o uso rotineiro de
terapia intravenosa, monitoramento eletrônico fetal, indução e anestesia epidural não necessariamente melhorou os
desfechos de parto para todas as mulheres (Leonard, 2015). Talvez seja apropriada uma filosofia intermediária, de
intervenção quando as circunstâncias o exigirem, enquanto se pesam os riscos e benefícios antes de fazêlo.
Durante a década de 1970, a maternidade centrada na família foi elaborada em resposta à reação do consumidor à
despersonalização do parto. A esperança deslocouse da filosofia de “tecnologismo” para a personalização com o propósito
de humanizar o parto. Atualmente, o termo parto centrado na família é mais apropriado para designar abordagens com
baixa tecnologia e alta humanização, solicitadas por muitas mulheres em idade fértil que consideram o parto um processo
normal.
Os enfermeiros obstetras defendem partos centrados na família, e sua participação no processo de parto está associada
à redução das intervenções desnecessárias quando em comparação ao procedimento conduzido por obstetras. Os
enfermeiros obstetras incentivam um processo normal de parto, em que a parturiente usa seus próprios instintos e sinais
corporais durante o trabalho de parto. Em suma, os enfermeiros obstetras empoderam as mulheres no ambiente de parto
(Casey et al., 2015).
Não importa qual a filosofia seguida, o ideal é que todos os envolvidos no processo de nascimento – do profissional
de saúde à mãe – compartilhem da mesma filosofia para o processo.
Parceiros
As mulheres querem receber apoio e cuidados atenciosos durante o trabalho de parto e o parto. Os cuidadores podem
transmitir apoio emocional ao oferecer a sua presença contínua e palavras de encorajamento. Em todo o mundo, poucas
mulheres são deixadas totalmente sozinhas no trabalho de parto: a norma para a maioria das culturas é fornecer apoio
emocional, físico ou espiritual durante o parto. De acordo com enquete Listening to Mothers Initiative III survey da
Childbirth Connection, quase todas as mulheres (99%) relataram ter recebido algum tipo de cuidados solidários durante o
trabalho de parto (Edmonds, Cwiertniewicz, & Stoll, 2015). Um parceiro carinhoso pode usar massagens, toque leve,
acupressão, ficar de mãos dadas, carícias e relaxamento; pode ajudar a parturiente a comunicar suas necessidades aos
funcionários e pode fornecer uma presença reconfortante contínua. Tudo isso traz algum grau de conforto para a
parturiente (Capogna, 2015). Embora a presença de um ente querido no momento do parto forneça um apoio emocional
especial, o parceiro pode ser alguém que ofereça suporte à parturiente ao longo da experiência. Para muitas mulheres, os
ingredientes essenciais para um parto seguro e satisfatório incluem uma sensação de empoderamento e o sucesso em lidar
com a experiência ou transcendêla, além de ter encorajamento sólido e positivo de um companheiro.
Em todo o mundo, as mulheres costumam apoiar outras mulheres no parto. Doula é uma palavra grega que significa
“serva” ou “cuidadora”. Atualmente, descreve a mulher que oferece apoio emocional e prático à gestante ou ao casal antes,
durante e após o parto. A doula acredita em “ser mãe da mãe”, mas o suporte clínico continua sendo trabalho do
enfermeiro obstetra ou da equipe de saúde (Ahlemeyer & Mahon, 2015). A presença contínua de uma mulher treinada
reduz a necessidade de medicação para alívio da dor, o uso de extração a vácuo ou fórceps e a necessidade de cesariana. O
apoio contínuo também foi associado a discreta redução da duração do trabalho de parto. A doula, que é uma companheira
experiente do trabalho de parto, oferece apoio emocional e físico e orientações à parturiente e ao seu parceiro durante toda
a experiência de trabalho de parto e parto.
Um estudo recente realizado nos EUA descobriu que os cuidados de enfermagem diminuem a probabilidade de
avaliações negativas da experiência de parto, de sentimentos de tensão durante o trabalho de parto e de o trabalho de parto
ser considerado pior do que o esperado. Também foram relatados menos traumatismos perineais, redução nas dificuldades
da maternidade e diminuição na probabilidade de interromper precocemente o aleitamento materno. O apoio contínuo dos
enfermeiros incluía tranquilização, encorajamento, elogios e explicações (Iravani et al., 2015).
Tendo em vista as muitas vantagens do apoio intraparto, as parturientes devem sempre ter a opção de receber o apoio
de parceiros, seja de enfermeiros, doulas, entes queridos ou familiares. Seja quem for o(a) parceiro(a) de apoio, ele(a)
deve fornecer presença contínua, além de conforto e encorajamento práticos à parturiente. O objetivo integrado de dar
suporte às parturientes é criar uma experiência positiva para ela e, ao mesmo tempo, preservar a saúde física e psicológica
dela.
Paciência
O processo de parto é demorado. Se fosse dado mais tempo para que as mulheres passassem pelo trabalho de parto
naturalmente, sem intervenção, a taxa de cesariana provavelmente seria reduzida. Em um estudo, o apoio contínuo
fornecido pelos enfermeiros obstetras durante o trabalho de parto reduziu a duração do trabalho de parto e o número de
cesarianas; esse modelo de apoio deve estar disponível para todas as mulheres (Cox & King, 2015). A literatura sugere
que adiar as intervenções pode propiciar o período de tempo suficiente para que o trabalho de parto evolua e reduzir a
necessidade de intervenções cirúrgicas (American College of Obstetricians and Gynecologists [ACOG], 2014b; Society
for MaternalFetal Medicine [SMFM], 2014).
O Healthy People 2020 tem dois objetivos relacionados com cesarianas nos EUA:
1. Reduzir a taxa de cesarianas nas mulheres de baixo risco (a termo, com feto único, em apresentação cefálica) que
estão tendo seu primeiro filho dos atuais 26,5% para 23,9% dos nascidos vivos
2. Reduzir a taxa de cesarianas nas mulheres que já foram submetidas a cesariana dos atuais 90,8% para 81,7% dos
nascidos vivos (U. S. Department of Health and Human Services, 2010).
Estamos muito longe de alcançar esses objetivos – a taxa atual de cesariana nos EUA, 32,7% (cerca de um em cada
três nascimentos), é a mais elevada desde que esses dados começaram a ser coletados a partir das certidões de nascimento
em 1989. A taxa de natalidade por cesariana está associada a aumento das taxas de morbidade e mortalidade materno
fetais, bem como a prolongamento da internação e aumento dos custos com cuidados de saúde (Centers for Disease
Control and Prevention [CDC], 2014a).
É difícil prever como um trabalho de parto evoluirá e, portanto, igualmente difícil determinar quanto tempo vai durar.
Não existe nenhuma maneira de estimar a provável potência e frequência das contrações uterinas, o quanto o colo do útero
vai amolecer e dilatar e o quanto a cabeça fetal se moldará para se ajustar ao canal de parto. Não é possível saber de
antemão se as complexas rotações fetais necessárias para um trabalho de parto eficiente ocorrerão de modo apropriado.
Todos esses fatores são incógnitas quando a gestante entra em trabalho de parto.
Indução do trabalho de parto
Na área da saúde, há uma tendência a tentar manipular o processo de trabalho de parto por meios clínicos, com a ruptura
artificial das membranas (amniotomia) e a aceleração do trabalho de parto com ocitocina (Kriebs, 2015). A taxa de indução
do parto dobrou nos EUA desde a década de 1990 (Moses, 2015).
Aproximadamente uma em cada quatro gestantes tem seu trabalho de parto induzido ou acelerado com fármacos
estimulantes do útero ou são submetidas à ruptura artificial de membranas para acelerar o seu progresso; as induções
precoces a termo (na 37a e na 38a semana) também aumentaram. Podese realizar uma amniotomia (ruptura artificial das
membranas fetais) para acelerar ou induzir o trabalho de parto quando as membranas não se romperam espontaneamente.
Isso possibilita que a cabeça do feto entre em contato mais direto com o colo do útero para dilatálo. Esse procedimento é
realizado com a cabeça do feto na altura –2 ou mais baixa, com o colo do útero dilatado em pelo menos 3 cm. Também é
utilizada ocitocina sintética (Pitocin®) para induzir ou acelerar o trabalho de parto pela estimulação das contrações uterinas.
É administrada uma infusão secundária no acesso intravenoso primário com uma bomba de infusão titulada de acordo com
a atividade uterina.
A indução eletiva do trabalho de parto está sendo praticada ativamente nos EUA, apesar dos conhecidos riscos
associados. Ela pode levar ao nascimento muito precoce do feto, ao trabalho de parto longo, à exposição a um
medicamento de alto risco com seus potenciais efeitos colaterais, à realização de cesariana desnecessária e à morbidade
materna e neonatal. A indução eletiva engloba uma cascata de intervenções correlatas, como a obtenção de acesso
intravenoso, monitoramento fetal eletrônico contínuo, confinamento ao leito, amniotomia, agentes farmacológicos
estimulantes do trabalho de parto, analgésicos parenterais e anestesia regional, cada um com seu próprio conjunto de
complicações e potenciais riscos. Esses riscos se aplicam a todas as gestantes submetidas ao procedimento; no entanto,
para as nulíparas com menos de 41 semanas de gestação com um colo de útero desfavorável, o principal risco é a
realização de cesariana após a indução de parto malsucedida, com o potencial de morbidade materna e neonatal e aumento
dos custos de saúde. Quando é realizada uma cesariana, é mais provável que os partos subsequentes também sejam
cirúrgicos (Caughey, 2014). Evidências convincentes indicam que a indução eletiva do trabalho de parto pode aumentar o
risco de cesariana, especialmente em nulíparas (Le Ray et al., 2015). A indução eletiva do trabalho de parto em nulíparas
está associada a aumento da taxa de cesariana, hemorragia pósparto, reanimação neonatal e hospitalizações mais
prolongadas, sem melhora do desfecho neonatal (Glavind & Uldbjerg, 2015). A crença é que muitas cesarianas poderiam
ser evitadas se fosse permitido que as mulheres ficassem mais tempo em trabalho de parto e que o processo de parto
natural concluísse o trabalho de parto. O tempo de espera mais longo (usando a intervenção da paciência) geralmente
resulta em menos intervenções.
O ACOG atribuiu o drástico aumento nas induções em parte à pressão das mulheres, conveniência para os médicos e
questões relacionadas à responsabilidade legal. Outro motivo para o aumento das induções inclui a disponibilidade de
melhores agentes para promover relaxamento do colo do útero e uma atitude mais relaxada em relação a indicações
secundárias de indução. A instituição recomenda uma “abordagem cautelosa” em relação à indução eletiva até que ensaios
clínicos possam confirmar o uso mais liberal das induções ao trabalho de parto (ACOG, 2014b). As indicações clínicas
atuais para induzir o trabalho de parto incluem:
• Ruptura espontânea das membranas amnióticas e coriônicas sem início do trabalho de parto
• Feto grande que provavelmente não conseguirá avançar na pelve materna
• Restrição do crescimento fetal quando é necessária intervenção externa
• Gestação de mais de 42 semanas
• Hipertensão arterial, diabetes melito ou doença pulmonar materna
• Infecção uterina (March of Dimes, 2015).
Quando a parturiente sente vontade de fazer força para baixo, começam os esforços expulsivos. A maioria das
mulheres responde muito bem às mensagens de seu corpo sem ser orientada pelo enfermeiro. Uma abordagem indireta
mais natural possibilita que a mulher espere e faça força para expulsar quando sentir vontade. Ter paciência e deixar a
natureza seguir seu curso reduzirá a incidência de estresse fisiológico na mãe, o que resulta em menos traumatismo ao seu
tecido perineal.
Preparação da gestante | Orientação perinatal
As orientações prénatais básicas podem ajudar as gestantes a lidar com o processo de trabalho de parto e a sentiremse no
controle da experiência de dar à luz. A literatura indica que, se a gestante estiver preparada antes da experiência de trabalho
de parto e parto, é mais provável que o trabalho de parto se mantenha normal ou natural (sem a necessidade de intervenção
médica) (Byrne et al., 2014). Há também cada vez mais evidências indicando que a gestante bem preparada, com suporte
adequado do trabalho de parto, tem menor probabilidade de precisar de analgesia ou anestesia e é improvável que precise
de cesariana (Hoang, 2014).
As orientações prénatais informam a gestante sobre a experiência de parto e melhoram a sensação de controle. Desse
modo, a gestante consegue ter participação ativa durante a experiência de trabalho de parto e parto (Jordan et al., 2014).
As pesquisas também sugerem que a preparação prénatal influencia os desfechos psicossociais intraparto e pósparto
(Budin, 2014). Por exemplo, as orientações prénatais abrangendo palestras de informação com os pais tiveram um efeito
significativo sobre a ansiedade e os ajustes pósparto. Em um estudo recente de mulheres hispânicas que frequentavam um
programa comunitário de educação prénatal, os pesquisadores constataram que muitas mulheres apresentavam angústia
devido ao que não sabem a respeito da gravidez, resultando em um anseio por aprender e compreender mais. Todavia, elas
não desejam sacrificar sua identidade cultural (Fitzgerald, Cronin, & Boccella, 2015). Em outro estudo com casais somali,
a maioria não ia às aulas de prénatal porque a religião deles não permite que homens e mulheres estudem no mesmo local
e é proibido aos homens observar fotografias e vídeos de mulheres nuas (Wojnar, 2015). Se o ambiente educacional pré
natal fosse mais respeitoso com as crenças dos casais somali, o comparecimento melhoraria. Esses achados têm
implicações importantes para os profissionais de enfermagem que dão aulas a gestantes de diversas culturas. As
orientações prénatais devem ser consideradas oportunidades para fortalecer as famílias, fornecendo orientações
preventivas e melhorando as competências para a vida dos membros da família. Em suma, as orientações prénatais
ajudam a promover famílias saudáveis durante a transição para a parentalidade e além dela (Woods & Chesser, 2015).
Há cada vez mais evidências de que as gestantes usam ervas para induzir trabalho de parto e também durante o
trabalho de parto para aliviar a dor. O desejo de ter controle sobre a própria saúde tem sido citado como o motivo mais
forte para as mulheres usarem fitoterápicos. Algumas das ervas usadas incluem Caulophyllum thalictroides, também
conhecida como blue cohosh, que é usada para induzir contrações uterinas; Cimicifuga racemosa e Caulophyllum
thalictroides, Rubus idaeus (framboesa), óleo de rícino e óleo de prímula para promover amadurecimento do colo do útero
e indução de trabalho de parto, e Chanlibao (CLB, fitoterápico chinês) para encurtar o segundo estágio do trabalho de
parto por meio de fortalecimento das contrações (Ramasubramaniam et al., 2015). Constatouse que o uso de fitoterápicos
durante o trabalho de parto foi benéfico para algumas mulheres ao abrandar o trabalho de parto sem efeitos colaterais, mas
não há estudos clínicos que comprovem a segurança e a efetividade dos fitoterápicos.
Anote!
Aprender sobre o trabalho de parto e o parto possibilita que as gestantes e seus parceiros expressem suas necessidades e
preferências, aumentando a sua confiança e melhorando a comunicação entre eles e a equipe.
Manejo da dor
O trabalho de parto e o parto, embora sejam processos fisiológicos normais, podem causar muita dor. A dor durante o
trabalho de parto é uma experiência quase universal. Controlar o desconforto uterino sem prejudicar o feto e o trabalho de
parto é o foco principal do manejo da dor durante o parto. A dor é uma experiência subjetiva que envolve uma complexa
interação de influências fisiológicas, psicossociais, espirituais, culturais e ambientais (Van der Gucht & Lewis, 2015). Os
valores culturais e os comportamentos aprendidos influenciam a percepção e a resposta à dor, assim como a ansiedade e o
medo, os quais tendem a exacerbar a sensação de dor (Jones, 2015). O desafio para os profissionais de saúde é encontrar a
combinação certa de métodos de manejo de dor/enfrentamento de modo a mantêla aceitável, ao mesmo tempo que o efeito
negativo sobre o feto é minimizado e se mantêm a fisiologia normal do trabalho de parto, o vínculo maternoinfantil, a
amamentação e a percepção da parturiente em relação ao trabalho de parto (King et al., 2015). O Capítulo 14 apresenta
uma ampla discussão do manejo da dor durante o trabalho de parto e o parto.
RESPOSTAS FISIOLÓGICAS AO TRABALHO DE PARTO
O trabalho de parto é o processo pelo qual o canal de parto é preparado para possibilitar a passagem do feto da cavidade
uterina para o meio exterior. Durante a gestação, a progesterona secretada pela placenta suprime as contrações espontâneas
do útero normal, mantendo o feto no útero. Além disso, o colo do útero permanece de consistência firme e não
complacente. A termo, no entanto, ocorrem alterações no colo do útero, que se torna mais amolecido. Além disso, as
contrações uterinas tornamse mais frequentes e regulares, sinalizando o início do trabalho de parto.
O processo de trabalho de parto envolve uma série de contrações musculares uterinas rítmicas, involuntárias e
geralmente bastante desconfortáveis. As contrações promovem encurtamento, apagamento e dilatação do colo do útero,
além da ruptura das membranas fetais. Contrações uterinas com 30 mmHg ou mais de intensidade promovem a dilatação
do colo do útero. Em seguida, acompanhadas por contrações reflexas e voluntárias dos músculos abdominais (movimentos
de empurrar), as contrações uterinas resultam na expulsão do feto (Grant et al., 2015). Durante o trabalho de parto, a
parturiente e o feto passam por várias adaptações fisiológicas.
Respostas maternas
Várias respostas fisiológicas ajudam a parturiente a adaptarse ao processo de trabalho de parto. Esse processo influencia
vários sistemas do corpo da parturiente, que reagem por meio de inúmeros mecanismos compensatórios. As respostas
fisiológicas maternas incluem:
• A frequência cardíaca aumenta em 10 a 20 bpm
• O débito cardíaco aumenta em 12 a 31% durante o primeiro estágio do trabalho de parto e em 50% durante o segundo
estágio
• A pressão arterial aumenta em até 35 mmHg durante as contrações uterinas em todos os estágios do trabalho de parto
• A contagem de leucócitos do sangue aumenta para 25.000 a 30.000/mm3, talvez em decorrência do traumatismo
tecidual
• A frequência respiratória aumenta e mais oxigênio é consumido, por causa do aumento do metabolismo
• A motilidade gástrica e a absorção de alimentos diminuem, o que aumenta o risco de náuseas e vômitos durante o
estágio de transição do trabalho de parto
• O esvaziamento e o pH gástricos diminuem, aumentando o risco de vômitos com aspiração
• A temperatura corporal sobe um pouco, possivelmente devido a aumento na atividade muscular
• Ocorrem dores/cãibras musculares em virtude da sobrecarga do sistema musculoesquelético
• A taxa de metabolismo basal aumenta e os níveis sanguíneos de glicose diminuem por causa do estresse do trabalho de
parto (Cheng & Caughey, 2015a).
A capacidade da gestante de adaptarse ao estresse do trabalho de parto é influenciada pelo seu estado psicológico e
físico. Entre os muitos fatores que afetam a sua capacidade de enfrentamento estão:
• Experiências de parto prévias e seus desfechos (complicações e desfecho dos partos anteriores)
• Experiência da gestação atual (planejada versus não planejada, desconfortos experimentados, idade, estado de risco
gestacional, doença crônica, ganho de peso)
• Considerações culturais (valores e crenças em relação ao estado de saúde)
• Sistema de suporte (presença e apoio de um parceiro querido durante o trabalho de parto)
• Preparação para o parto (participação em aulas de preparação para o parto e prática de técnicas de respiração
controlada)
• Exercícios durante a gestação (músculos tonificados; capacidade de ajudar com os esforços expulsivos)
• Expectativas em relação à experiência de parto (considerar o parto como um evento importante ou estressante)
• Nível de ansiedade (a ansiedade excessiva pode interferir no progresso do trabalho de parto)
• Medo do trabalho de parto e de perder o controle (o medo pode aumentar a percepção da dor, exacerbando ainda mais o
temor)
• Fadiga e cansaço (não está pronta para o desafio/duração do trabalho de parto) (King et al., 2015).
Respostas fetais
Embora o foco durante o trabalho de parto seja a avaliação das adaptações maternas, também ocorrem várias adaptações
fisiológicas no feto. O feto passa pelo trabalho de parto junto com a mãe. Se o feto for saudável, o estresse do trabalho de
parto geralmente não tem efeitos adversos. O enfermeiro precisa estar atento a qualquer anormalidade na adaptação do feto
ao trabalho de parto. As respostas fetais ao trabalho de parto incluem:
• Acelerações e pequenas desacelerações periódicas da frequência cardíaca fetal relacionadas com o movimento fetal,
com a pressão uterina e com as contrações uterinas
• Diminuição da circulação e da perfusão para o feto, secundária às contrações uterinas (um feto saudável consegue
compensar essa diminuição)
• Aumento da pressão arterial de dióxido de carbono (PCO2)
• Diminuição dos movimentos respiratórios fetais durante o trabalho de parto
• Diminuição da pressão de oxigênio fetal, associada à diminuição da pressão parcial de oxigênio (PO2) (Verklan &
Walden, 2014).
Anote!
As alterações respiratórias durante o trabalho de parto ajudam a preparar o feto para a respiração extrauterina
imediatamente após o nascimento.
ESTÁGIOS DO TRABALHO DE PARTO
O trabalho de parto é tipicamente dividido em quatro estágios: dilatação, expulsivo, expulsão da placenta e restauração.
A Tabela 13.2 resume os principais acontecimentos de cada estágio.
O primeiro estágio é o mais longo: começa com a primeira contração verdadeira e termina com a dilatação completa
(abertura) do colo do útero. Como esse estágio dura bastante tempo, é dividido em três fases, de acordo com a dilatação
progressiva do colo do útero.
O segundo estágio do trabalho de parto, ou estágio expulsivo, começa quando o colo do útero está totalmente dilatado
e termina com a expulsão do feto. O estágio expulsivo pode durar de alguns minutos a horas. As contrações ocorrem
tipicamente a cada 2 a 3 minutos, com uma duração de 60 a 90 segundos, e são fortes à palpação. A parturiente geralmente
se concentra nos esforços expulsivos durante essa fase.
O terceiro estágio, ou expulsão da placenta, iniciase depois da expulsão do feto e termina com a separação e a
expulsão da placenta. As contrações uterinas contínuas fazem tipicamente com que a placenta seja expelida em 5 a 30
minutos. Se o recémnascido estiver estável, o vínculo entre a parturiente e o recémnascido ocorre durante esse estágio
por meio de toque, sustentação e contato físico.
O quarto estágio, ou estágio de restauração ou pósparto imediato, dura de 1 a 4 horas após o nascimento. Nesse
período, o corpo da parturiente começa a estabilizarse depois do intenso esforço do trabalho de parto e da eliminação dos
produtos da concepção. O quarto estágio muitas vezes não é reconhecido como um estágio do trabalho de parto verdadeiro,
mas como um período crítico de transição fisiológica materna, bem como um momento de criação de vínculo da nova
família. Durante esse estágio é realizado monitoramento cuidadoso da parturiente e do recémnascido (Green, 2015).
Primeiro estágio
Durante o primeiro estágio do trabalho de parto, a mudança fundamental subjacente ao processo é a dilatação progressiva
do colo do útero. Essa dilatação é avaliada subjetivamente pelo toque vaginal e é expressada em centímetros. O primeiro
estágio termina quando o colo do útero está dilatado em 10 cm de diâmetro e é grande o suficiente para possibilitar a
passagem de uma cabeça fetal de tamanho médio. A ruptura das membranas fetais, ou bolsa das águas, ocorre
habitualmente durante o primeiro estágio, mas pode ter ocorrido anteriormente ou pode até mesmo só ocorrer quando da
expulsão do feto. Para a primigesta, o primeiro estágio do trabalho de parto dura cerca de 12 horas. No entanto, esse
período de tempo pode variar amplamente; para a multípara, costuma durar apenas a metade disso.
Tabela Estágios e fases do trabalho de parto.
13.2
Fase ativa (4 a
7 cm de
dilatação)
• Dilatação do
colo do
útero de 4 a
7 cm
Apagamento
• do colo do
útero: de 40
a 80%
• Nulípara:
duração de
até 6 h;
multípara:
duração de
até 4 h
• Frequência
das
contrações:
a cada 2 a 5
min
• Duração da
contração:
45 a 60 s
• Intensidade
da
contração:
moderada à
palpação
Fase de
transição(8
a 10 cm de
dilatação)
• Dilatação do
colo do
útero de 8 a
10 cm
• Apagamento
do colo do
útero: de 80
a 100%
• Nulípara:
duração de
até 1 h;
multípara:
duração de
até 30 min
Frequência
• das
contrações:
a cada 1 a 2
min
• Duração da
contração:
60 a 90 s
• Intensidade
da
contração:
forte à
palpação
Adaptada de Cheng, Y. W., & Caughey, A. B. (2015a). W., & Caughey, A. B. (2011). eMedicine.
Retirada de http://emedicine.medscape.com/article/260036overview; Cunningham, F. G.,
Leveno, K. J., Bloom, S. L., Spong, C. Y., Dashe, J. S., Hoffman, B. L., et al. (2014). Williams’
obstetrics (24th ed.). New York, NY: McGrawHill Education; e King, T. L., Brucker, M. C.,
Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Gegor, C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s midwifery (5th ed.).
Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning.
Durante o primeiro estágio do trabalho de parto, as gestantes geralmente percebem a dor visceral das cólicas
abdominais difusas e as contrações uterinas. A dor durante o primeiro estágio do trabalho de parto é primariamente
decorrente da dilatação do colo do útero e do segmento inferior do útero e da distensão (alongamento) dessas estruturas
durante as contrações. O primeiro estágio é dividido em três fases: latente ou inicial, ativa e de transição.
Fase latente ou inicial
A fase latente ou inicial do trabalho de parto dá origem aos familiares sinais e sintomas do trabalho de parto. Essa fase
começa com o surgimento das contrações regulares e termina com o início da rápida dilatação do colo do útero. O
apagamento do colo do útero ocorre durante essa fase e o colo do útero se dilata de 0 para 3 cm.
As contrações geralmente ocorrem a cada 5 a 10 minutos, duram 30 a 45 segundos e são descritas como leves à
palpação pelo enfermeiro. A intensidade é avaliada pressionandose o fundo de útero durante uma contração para ver se
pode ser modificado pelos dedos da mão do enfermeiro. A capacidade de endentar o fundo de útero no ponto máximo da
contração indicaria, tipicamente, uma contração leve. O apagamento do colo é de 0 a 40%. A maioria das gestantes fala
muito durante esse período, descrevendo as contrações como de intensidade semelhante às cólicas menstruais. As
gestantes podem permanecer em casa durante esse período, entrando em contato com o obstetra para informálo do início
do trabalho de parto.
Para a nulípara, a fase latente dura tipicamente cerca de 9 horas; para a multípara, cerca de 6 horas (Cheng & Caughey,
2015a). Durante essa fase, as gestantes estão apreensivas, mas animadas com o início de seu trabalho de parto após o
longo período de gestação.
Lembrase do casal que foi enviado da maternidade de volta para casa? Três dias depois, Kathy acordou
com uma sensação de umidade e intenso desconforto nas costas, que se espalhava pelo abdome. Ela
decidiu dar uma caminhada, mas as contrações não diminuíram. Em vez disso, continuaram a ocorrer a
intervalos de poucos minutos e aumentaram de intensidade. Ela e Chuck decidiram voltar à maternidade do
hospital. Houve uma diferença na localização do desconforto de Kathy dessa vez? Que mudanças o
enfermeiro da triagem encontrará em Kathy caso se trate de um trabalho de parto verdadeiro?
Fase ativa
A fase ativa do trabalho de parto engloba o período de tempo desde o aumento da velocidade de dilatação do colo do útero
(final da fase latente do trabalho de parto) até a finalização da dilatação do colo do útero. A dilatação do colo do útero
começa a ocorrer mais rapidamente durante a fase ativa. O colo do útero habitualmente se dilata de 4 a 7 cm, ocorrendo
apagamento de 40 a 80%. Essa fase pode durar até 6 horas na nulípara e 4,5 horas na multípara (Leap & Hunter, 2015). O
feto desce mais para a pelve. As contrações se tornam mais frequentes (a cada 2 a 5 minutos) e prolongadas (45 a 60
segundos). O desconforto da parturiente se intensifica (contrações moderadas a fortes à palpação). A parturiente fica mais
focada e se concentra mais em si mesma, envolvida no sério trabalho de parto. Ela limita as interações com as pessoas do
quarto. Se a parturiente e seu parceiro tiverem frequentado aulas de preparação para o parto, começarão a usar as técnicas
de relaxamento e de respiração ritmada que aprenderam para lidar com as contrações. A taxa de dilatação típica da nulípara
é de 1,2 cm/h, enquanto na multípara é de 1,5 cm/h (Cunningham et al., 2014).
Fase de transição
A fase de transição é a última fase do primeiro estágio do trabalho de parto. Durante essa fase, a dilatação do colo do útero
desacelera, progredindo de 8 para 10 cm, com apagamento de 80 a 100%. A fase de transição é a mais difícil para a
parturiente e, felizmente, a mais breve, com duração de aproximadamente 1 hora no primeiro parto e possivelmente 15 a
30 minutos nos partos sucessivos (Tharpe et al., 2016). Durante a fase de transição, as contrações são mais fortes (a
consistência do útero se torna dura à palpação), mais dolorosas, mais frequentes (a cada 1 a 2 minutos) e duram mais
tempo (60 a 90 segundos). A velocidade média de descida fetal é de 1 cm/h em nulíparas e 2 cm/h em multíparas. A
pressão sobre o reto é grande e há um forte desejo de contrair os músculos abdominais e fazer força para baixo.
Outros sintomas maternos durante a fase de transição incluem náuseas e vômitos, tremores nas extremidades, dor nas
costas, aumento da apreensão e irritabilidade, movimentos inquietos, aumento na liberação de secreção sanguinolenta pela
vagina, incapacidade de relaxar, sudorese, sensação de perda de controle e sensação de opressão (a mulher pode dizer:
“não aguento mais”) (Cunningham et al., 2014).
Ao examinar Kathy, a enfermeira descobre que a gestante está com 4 cm de dilatação e 50% do colo
apagado, com ruptura das membranas amnióticas. Esses achados de avaliação colocam Kathy em qual
fase e estágio do trabalho de parto?
Segundo estágio
O segundo estágio do trabalho de parto (período expulsivo) começa com o apagamento e a dilatação completa (10 cm) do
colo do útero e termina com o nascimento do feto. Enquanto o estágio anterior do trabalho de parto consistiu basicamente
no adelgaçamento e na abertura do colo do útero, esse estágio consiste no deslocamento do feto ao longo do canal de parto
e para fora do corpo da parturiente. Os movimentos cardinais do trabalho de parto ocorrem durante a fase inicial da
descida passiva, no segundo estágio do trabalho de parto.
As contrações ocorrem a cada 2 a 3 minutos, duram 60 a 90 segundos e são descritas como fortes à palpação. A
duração média do segundo estágio do trabalho de parto em uma nulípara é de aproximadamente 1 hora; a duração é de
menos da metade desse tempo para as multíparas. Durante esse estágio expulsivo, a parturiente geralmente se sente mais
no controle e menos irritável e agitada. Ela está focada nos esforços expulsivos. De modo geral, a urgência da parturiente
de fazer força para baixo é sentida quando existe contato direto com o assoalho pélvico. Os receptores de estiramento na
parede da vagina, no reto e no períneo comunicam a pressão do feto descendo no canal de parto e isso, juntamente com o
aumento da pressão abdominal, provoca a urgência avassaladora de fazer força para baixo nas parturientes (Camorcia,
2015).
Esforços expulsivos
O segundo estágio do trabalho de parto apresenta duas fases (pélvica e perineal), relacionadas com a existência e as
características do desejo materno de impulsionar o feto e com as condições obstétricas relacionadas com a descida fetal. A
fase inicial do segundo período é denominada fase pélvica, porque é nessa fase que a cabeça fetal está se acomodando à
pelve, rodando e avançando no sentido descendente. A fase tardia é denominada fase perineal, porque é nesse momento
que a cabeça do feto está na parte mais baixa da pelve e está distendendo o períneo. A ocorrência de um forte desejo de
fazer força para baixo caracteriza a fase tardia do segundo estágio e também tem sido chamada de fase de impulsão ativa
(Cheng & Caughey, 2015b).
A fase perineal tardia ocorre quando a parturiente sente uma enorme vontade de fazer força para baixo conforme a
cabeça do feto desce e distende o períneo. O períneo se torna abaulado e há aumento na liberação de tampão sanguinolento.
A cabeça fetal tornase evidente na abertura vaginal, mas desaparece entre as contrações. Quando a parte superior da
cabeça já não regride entre as contrações, dizse que a cabeça está coroada. O feto gira enquanto manobra para sair.
Atualmente, as evidências mostram que o trabalho de parto na verdade evolui mais lentamente do que pensávamos no
passado. Muitas mulheres poderiam precisar de um pouco mais de tempo durante o trabalho de parto para dar à luz por via
vaginal em vez de ser feito um parto cirúrgico (ACOG, 2014c). O segundo estágio geralmente dura até 3 horas na
primípara e até 1 hora nos partos subsequentes (Figura 13.14).
ESFORÇOS EXPULSIVOS ESPONTÂNEOS VERSUS ESFORÇOS
EXPULSIVOS DIRECIONADOS
Há duas maneiras de conduzir o segundo estágio do trabalho de parto: os esforços expulsivos espontâneos (obedecendo à
urgência espontânea da parturiente) e os esforços expulsivos direcionados (esforços expulsivos orientados pelo cuidador).
Os esforços expulsivos espontâneos representam o modo natural de manejo do segundo estágio do trabalho de parto. No
entanto, nos últimos tempos e em decorrência da analgesia peridural, os médicos frequentemente recorrem aos esforços
expulsivos direcionados, sem levar em conta as repercussões negativas que esse método tem sobre a mulher e seu feto.
Há cada vez mais evidências de que o manejo do segundo estágio, particularmente os esforços expulsivos, é um fator
de risco modificável nos desfechos perinatais a longo prazo (ACOG, 2014b). A pesquisa apoia abordagens fisiológicas
espontâneas para os cuidados durante o segundo estágio do trabalho de parto, entretanto, muitas mulheres em ambientes
hospitalares ainda recebem orientação de profissionais de enfermagem para realizar a manobra de Valsalva (prender a
respiração) prolongada enquanto fazem força para baixo assim que o colo do útero está totalmente dilatado.
Tradicionalmente, as gestantes eram ensinadas a prender a respiração e contar até 10, inspirar novamente, fazer força para
baixo novamente e repetir esse processo várias vezes durante uma contração. Já foi constatado que esse estilo vigoroso e
sustentado de esforços expulsivos provoca alterações hemodinâmicas na parturiente e interfere nas trocas de oxigênio entre
ela e o feto. Além disso, está associado a danos ao assoalho pélvico: quanto mais intenso for o esforço, maiores são os
danos ao assoalho pélvico.
Na prática clínica, os profissionais da saúde às vezes resistem em adiar o início dos esforços expulsivos para depois
de o segundo estágio do trabalho de parto ter começado, por causa da crença de que isso prolongará o trabalho de parto. O
adiamento dos esforços expulsivos da parturiente durante o segundo estágio do trabalho de parto até ela sentir a urgência
de fazêlo possibilita o uso ótimo da energia materna, não tem efeitos prejudiciais para a parturiente e resulta em melhora
da oxigenação fetal (Osborne & Hanson, 2014). Pesquisas mostram que adiar os esforços expulsivos para até 90 minutos
após a dilatação completa do colo do útero resulta em uma importante diminuição do intervalo de tempo que as
parturientes passam fazendo força para baixo, sem prolongamento significativo do tempo total do segundo estágio do
trabalho de parto (King et al., 2015). As pesquisas não apoiam a política de orientar a parturiente a fazer esforço para
baixo durante o trabalho de parto (esforços expulsivos) e algumas evidências sugerem que isso seja prejudicial. Por isso,
essa prática deve ser abandonada (Brodric, 2014). O protocolo mais recente da Association of Women’s Health, Obstetric
and Neonatal Nurses (AWHONN, 2014) recomenda um método de glote aberta em que o ar é liberado enquanto a
parturiente faz o esforço expulsivo, para evitar o acúmulo de pressão intratorácica. Isso também apoia os esforços
expulsivos involuntários da parturiente (Holvey, 2014). Defendese a adoção de uma abordagem fisiológica e controlada
pela parturiente dos esforços expulsivos (King et al., 2015).
Os comportamentos demonstrados pelas parturientes durante esse período incluem a colaboração com os esforços
expulsivos; utilizar o seu próprio padrão e técnica de esforço expulsivo em resposta às sensações que experimenta; fazer
força para baixo com a glote aberta de acordo com as contrações; esforços expulsivos com variações na intensidade e na
duração; esforços expulsivos com intensidade progressiva; e usar várias posições, de modo a aumentar o progresso e o
conforto. Essa abordagem contrasta com o manejo empregado atualmente, que utiliza limites de tempo arbitrários e
esforços expulsivos direcionados. Os profissionais de enfermagem que atuam no atendimento a mulheres no terceiro
estágio do trabalho de parto precisam elaborar uma abordagem baseada em evidências que reconheça e reforce a capacidade
inata das mulheres de dar à luz e evitar o direcionamento do comportamento de esforço expulsivo (Reed, 2015).
A promoção da descida passiva é uma estratégia alternativa para o manejo do segundo estágio do trabalho de parto
quando a parturiente recebeu anestesia epidural. Usando essa abordagem, o feto desce e nasce sem que a parturiente
precise colaborar com os esforços expulsivos.
FIGURA 13.14 Sequência de parto, desde o coroamento até a saída total do recémnascido. A. Início do
coroamento da cabeça fetal. Observe o abaulamento do períneo. B. Fim do coroamento. Observe que a cabeça
fetal está aparecendo, com a face para baixo. Esta é a posição OA normal. C. Conforme a cabeça se estende, pode
se observar que o occipício (parte inferoposterior da cabeça) está voltado para a lateral direita da mãe – posição
OAD. D. Movimento cardinal de extensão. E. Os ombros passaram. Observe como a cabeça foi girada de modo a
estar alinhada com os ombros – o movimento cardinal de rotação externa. F. O corpo facilmente segue os
ombros. G. O recémnascido é segurado pela primeira vez. (© B. Proud.)
Terceiro estágio
O terceiro estágio do trabalho de parto começa com a saída do recémnascido e termina com a separação e a expulsão da
placenta. Consiste em duas fases: a separação e a expulsão da placenta. Em todo o planeta, aproximadamente 800
mulheres morrem a cada dia de causas que podem ser prevenidas relacionadas ao parto. A causa isolada mais comum é
sangramento profuso que pode matar a puérpera em questão de horas se os cuidados não forem instituídos de imediato. O
manejo imediato e efetivo é crucial para salvar as vidas dessas mulheres e medidas preventivas podem ser iniciadas no
terceiro estágio do trabalho de parto. Ainda existe controvérsia em relação à adoção de manejo ativo ou manejo expectante
do terceiro estágio do trabalho de parto. Ver boxe Prática baseada em evidências 13.1.
Dequitação da placenta
Depois que a criança nasce, o útero continua se contraindo vigorosamente e consegue então se retrair, diminuindo
consideravelmente de tamanho. Essas contrações fazem com que a placenta se desprenda da parede uterina. Os sinais de
dequitação a seguir indicam que a placenta está pronta para sair:
• O fundo do útero movese para cima na cavidade abdominal
• O cordão umbilical se alonga
• Repentinamente sangue escorre pela abertura vaginal
• O útero muda de formato, tornandose globular.
A expulsão espontânea da placenta ocorre de uma de duas maneiras: a face fetal (lado cinzaclaro) se apresenta
primeiro (chamado de mecanismo de Schultz, face lisa e brilhante) ou a face materna (de coloração vermelhoescura) se
apresenta primeiro (denominado mecanismo de Duncan).
Expulsão da placenta
Após o desprendimento da placenta da parede uterina, as contrações uterinas continuam até fazer com que a placenta seja
expelida em 2 a 30 minutos, a menos que haja tração externa leve para auxiliar. Após a expulsão da placenta, o útero é
massageado pelo obstetra ou pelo enfermeiro obstetra até que sua consistência se torne firme, para que os vasos
sanguíneos uterinos se contraiam, minimizando a possibilidade de hemorragia. A perda normal de sangue é de
aproximadamente 500 mℓ no parto vaginal e 1.000 mℓ na cesariana. A perda de mais de 1.000 mℓ de sangue é considerada
grave (Pavord & Maybury, 2015).
Se a placenta não for eliminada espontaneamente, o médico auxilia na sua remoção por meio de extração manual. Após
a expulsão, o médico inspeciona se a placenta está íntegra e o enfermeiro confirma se todas as suas partes estão presentes.
Se alguma parte ainda estiver ligada à parede do útero, isso coloca a parturiente em risco de hemorragia pósparto, pois se
torna um elemento que ocupa espaço físico e interfere na capacidade do útero de se contrair de modo pleno e efetivo.
Quarto estágio
O quarto estágio (período de Greenberg) começa com a conclusão da expulsão da placenta e das membranas e termina com
a adaptação fisiológica inicial e a estabilização da parturiente (1 a 4 horas após o nascimento). Esse estágio inicia o
período pósparto. A parturiente geralmente se sente em paz e excitada, está bem acordada e inicialmente fica muito
falante. O processo de criação de vínculo começa com a inspeção do recémnascido e com o desejo de segurálo e
amamentálo. O fundo do útero da parturiente deve estar firme e bem contraído. Tipicamente está localizado na linha
média, entre o umbigo e a sínfise púbica, mas depois se eleva lentamente até a altura do umbigo durante a primeira hora
após o parto (Jordan et al., 2014). Se a consistência do útero se tornar pastosa, é preciso massagem para mantêlo firme.
Os lóquios (secreção vaginal) são vermelhos, misturados a pequenos coágulos, e o fluxo é moderado. Se a parturiente foi
submetida a uma episiotomia durante o segundo estágio do trabalho de parto, esta deve estar intacta, com as bordas
aproximadas e limpas, sem evidências de vermelhidão ou edema.
Prática baseada em evidências 13.1
Manejo ativo em comparação com manejo expectante de mulheres em trabalho de parto.
ESTUDO
Após a saída do feto, o útero continua se contraindo e isso promove o descolamento da placenta da parede
do útero. A seguir, a placenta é expelida sem intervenção externa. Isso é denominado manejo expectante
do terceiro estágio do trabalho de parto. O manejo ativo do terceiro estágio do trabalho de parto envolve a
administração profilática de um agente uterotônico (para contrair o útero), o clampeamento precoce do
cordão umbilical (antes do desaparecimento das pulsações do cordão umbilical) e a aplicação de tração ao
cordão umbilical associada a contrapressão sobre o útero para expelir a placenta. O manejo ativo foi
realizado para tentar reduzir a hemorragia pósparto, um importante fator contribuinte para a mortalidade
materna. O objetivo desse estudo foi comparar a efetividade do manejo ativo em comparação com o manejo
expectante do terceiro estágio do trabalho de parto.
Achados
Foram analisados sete estudos envolvendo 8.247 mulheres. Por causa da heterogeneidade clínica da
amostra, efeitos aleatórios foram usados na análise. O manejo ativo mostrou uma redução significativa da
perda sanguínea primária superior a 500 m ℓ e subsequente anemia. Todavia, reduziu o peso do recém
nascido e elevou os níveis de pressão arterial da mãe. No todo, a qualidade das evidências foi baixa e mais
dados são necessários para conferir fidedignidade aos achados.
Implicações para a enfermagem
Embora essa revisão não tenha evidências de alta qualidade, o manejo ativo do terceiro estágio do trabalho
de parto reduziu o risco de hemorragia pósparto, mas foram identificados efeitos adversos. As mulheres
devem receber informações sobre os benefícios e os danos dos dois métodos para poderem fazer escolhas
informadas. Tendo em vista as preocupações com o clampeamento precoce do cordão umbilical e os efeitos
adversos potenciais dos agentes uterotônicos, é importante observar cuidadosamente os componentes do
terceiro estágio do manejo e empreender as modificações necessárias para obter os melhores desfechos.
Adaptado de Begley, C. M., Gyte, G. M, Devane, D., McGuire, W., & Weeks, A. (2015). Active versus
expectant management for women in the third stage of labor. Cochrane Database of Systematic
Reviews, 2015, 3, CD007412.
O foco durante esse estágio é monitorar atentamente a parturiente para evitar hemorragias, distensão da bexiga e
trombose venosa. Habitualmente, a parturiente está com sede e com fome durante esse período e pode pedir comida e
bebida. Sua bexiga está hipotônica e, portanto, a parturiente tem percepção limitada para reconhecer que está com a bexiga
cheia ou urinar. Geralmente monitoramse os sinais vitais, o volume e a consistência da secreção vaginal (lóquios) e o
fundo do útero a cada 15 minutos durante pelo menos 1 hora. A mulher vai sentir desconfortos que lembram cãibras
durante esse período, devido à contração do útero.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
O trabalho de parto é uma interação complexa e multifacetada da gestante com o feto. Assim, é difícil
determinar exatamente por que o trabalho de parto começa e o que o desencadeia
Antes do início do trabalho de parto, o corpo da gestante passa por várias mudanças, muitas vezes
levando a sinais e sintomas característicos que sugerem que o trabalho de parto está próximo. Essas
mudanças incluem alterações do colo do útero, descida do feto, aumento dos níveis de energia,
eliminação de tampão sanguinolento, contrações de Braxton Hicks e ruptura espontânea das
membranas amnióticas
O trabalho de parto falso ocorre durante as últimas semanas de algumas gestações. São sentidas
contrações uterinas irregulares, mas o colo do útero não é afetado
Os fatores essenciais para o trabalho de parto e o parto são os seguintes: via de passagem (canal de
parto), passageiros (feto e placenta), força (contrações), posição (materna), resposta psicológica,
filosofia (baixa tecnologia, alta humanização), parceiros (cuidadores que dão suporte), paciência
(cronologia natural), preparação da gestante (base de conhecimentos em relação ao parto) e controle
da dor (medidas de conforto)
O tamanho e o formato da pelve da mulher são fatores determinantes para um parto vaginal. A pelve
feminina é classificada de acordo com quatro formatos principais: ginecoide, antropoide, androide e
platipeloide
O processo de trabalho de parto é composto por uma série de contrações musculares uterinas rítmicas,
involuntárias e geralmente bastante desconfortáveis que provocam encurtamento (apagamento) e
abertura (dilatação) do colo do útero, além da ruptura das membranas fetais. Os parâmetros relevantes
das contrações uterinas são a frequência, a duração e a intensidade
Os diâmetros do crânio fetal variam consideravelmente, com alguns diâmetros se encurtando e outros
se alongando conforme a cabeça é moldada durante o processo de trabalho de parto e parto
A dor durante o trabalho de parto é uma experiência quase universal para as gestantes. Ter um forte
conhecimento de si mesma e receber apoio significativo de terceiros muitas vezes pode ajudar as
gestantes a gerenciar bem o trabalho de parto e reduzir a sensação de dor
É importante que as gestantes se preparem mentalmente para o parto, para que possam trabalhar em
associação às forças naturais do trabalho de parto e não contra elas
À medida que evolui o trabalho de parto, ocorrem diversas respostas fisiológicas que ajudam a
gestante em sua adaptação ao processo de trabalho de parto
O trabalho de parto é tipicamente dividido em quatro estágios, com diferentes durações
Durante o primeiro estágio, a mudança fundamental subjacente ao processo é a dilatação progressiva
do colo do útero. É dividido em três fases: latente, ativa e de transição
O segundo estágio do trabalho de parto vai da dilatação completa (10 cm) e do apagamento do colo do
útero até o nascimento da criança
O terceiro estágio inclui o desprendimento e a dequitação da placenta. Consiste em duas fases: a
separação e a expulsão da placenta
O quarto período começa depois da expulsão da placenta e das membranas e termina com a
adaptação fisiológica inicial e a estabilização da parturiente (1 a 4 horas)
Referências bibliográficas e leitura sugerida
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Exercícios sobre o capítulo
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. Para determinar a frequência das contrações, o enfermeiro determinaria qual das seguintes opções?
a. Do início de uma contração até o início da contração seguinte
b. Do início de uma contração até o final da mesma contração
c. Do pico de uma contração até o pico da contração seguinte
d. Do final de uma contração até o início da contração seguinte
2. Que situação fetal é mais propícia para um parto vaginal espontâneo?
a. Transversa
b. Longitudinal
c. Perpendicular
d. Oblíqua
3. Qual das observações a seguir sugere que esteja ocorrendo o desprendimento da placenta?
a. O útero para de se contrair completamente
b. As pulsações do cordão umbilical param
c. O útero assume um formato globular
d. A pressão arterial materna cai
4. Enquanto o enfermeiro explica a diferença entre o trabalho de parto verdadeiro e o falso em sua aula
de parto, ele afirma que a principal diferença entre eles é:
a. O nível de desconforto é maior no trabalho de parto falso
b. Ocorrem alterações cervicais progressivas no trabalho de parto verdadeiro
c. Há sensação de náuseas no trabalho de parto falso
d. Há mais movimento fetal no trabalho de parto verdadeiro
5. O período mais curto, porém mais intenso, do trabalho de parto é o:
a. Período latente
b. Período ativo
c. Período de transição
d. Período de expulsão da placenta
6. Uma gestante em trabalho de parto é admitida à sala de trabalho de parto e parto com 6 cm de
dilatação. Em qual período da primeira fase do trabalho de parto ela se encontra?
a. Latente
b. Ativo
c. Transição
d. Precoce
7. Qual avaliação indicaria que a gestante se encontra em trabalho de parto verdadeiro?
a. As membranas se romperam e o líquido é claro
b. A apresentação fetal está encaixada e não flutuante
c. O colo do útero está com 4 cm de dilatação e 90% apagado
d. As contrações duram 30 segundos e ocorrem a cada 5 a 10 minutos
8. Intervenções que são subutilizadas na promoção de parto normal. Selecione todas as opções que se
apliquem.
a. Nutrição oral e líquidos no trabalho de parto
Glote aberta enquanto a parturiente faz força para baixo (esforço expulsivo) no segundo estágio do
b.
trabalho de parto
c. Contato da pele da mãe com a pele do recémnascido após o parto para fomentar o vínculo entre
eles
d. Amniotomia (ruptura artificial das membranas amnióticas e coriônicas) rotineira
e. Indução de trabalho de parto com ocitocina sintética administrada por via intravenosa
f. Episiotomia rotineira para abreviar o trabalho de parto
9. A preparação fisiológica para o trabalho de parto seria demonstrada por:
a. Redução das contrações de Braxton Hicks sentidas pelas gestante
b. Ganho ponderal e aumento de apetite da gestante
c. Dor quando o feto se encaixa na pelve verdadeira
d. Aceleração da frequência cardíaca fetal e aumento dos movimentos do feto
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. Cindy, uma primigesta de 20 anos de idade, liga para a maternidade onde você trabalha como
enfermeiro e relata que acha que está em trabalho de parto, porque está sentindo as dores de parto. A
data prevista para o parto dela é nessa semana. Ela recebeu cuidados prénatais de enfermeiros
obstetras durante a gestação.
a. De que informações adicionais você precisa para responder de modo adequado?
b. Que sugestões/recomendações você faria a ela? c. Que orientações precisam ser dadas à
gestante para orientála na tomada de decisão?
d. Por quais outros sinais premonitórios de trabalho de parto o enfermeiro poderia perguntar?
e. Quais manifestações seriam encontradas se Cindy estivesse em trabalho de parto verdadeiro?
2. Você foi designado para ministrar uma palestra de orientação para mulheres no terceiro trimestre de
gestação da comunidade, a fim de preparálas para o parto que se aproxima. Prepare um esboço de
temas que devem ser abordados.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Durante uma reunião de discussão de casos clínicos, compartilhe com outros estudantes de
enfermagem como as forças essenciais do trabalho de parto influenciaram na duração e no processo
de parto de uma parturiente que ficou sob seus cuidados.
2. Os movimentos cardinais do trabalho de parto incluem quais dos seguintes? Selecione todas as opções
que se apliquem.
a. Extensão e rotação
b. Descida e insinuação
c. Apresentação e posição
d. Atitude e situação
e. Flexão e expulsão
3. Entreviste uma parturiente da unidade maternoinfantil que deu à luz nas últimas horas. Peçalhe que
descreva sua experiência e analise os fatores psicológicos que podem ter influenciado seu processo de
trabalho de parto.
4. Na ilustração a seguir, identifique os parâmetros de contração uterina marcando um “X” nos pontos em
que o enfermeiro mediria a duração da contração.
ESTUDO DE CASO
Moritza tem 20 anos de idade e procura o ambulatório de prénatal com o namorado para consulta na
39asemana de gestação. Esta é a primeira gravidez dela e ela não compareceu a algumas das consultas de
prénatal. Até o momento, a gravidez transcorreu sem eventos dignos de nota, mas ela está preocupada
com o trabalho de parto iminente e como ela saberá quando ir para a maternidade. Ela se sente
despreparada para o trabalho de parto e admite que tem medo da dor, porque muitas de suas amigas e
seus familiares compartilharam histórias de “horror” sobre o trabalho de parto. Moritza também admite que
tem medo da punção venosa que será feita na maternidade. Ela deseja um parto vaginal fisiológico.
AVALIAÇÃO
Moritza foi cuidadosa consigo mesma durante a gravidez e só ganhou 10 kg. Ela não compareceu a
nenhuma das aulas de preparação para o parto oferecidas gratuitamente pelo departamento de saúde,
portanto, tem muitas perguntas sobre o trabalho de parto e o parto. A frequência cardíaca do feto é 140
bpm, o feto está ativo à palpação e a gestante não apresenta edema postural nos membros inferiores. O
exame de urina foi negativo para glicose e proteína. Hoje o peso dela é 65 kg.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 13 | Processo de Trabalho de Parto e Parto
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é A. A frequência é medida desde o início de uma contração até o início da contração seguinte. A
duração de uma contração é medida do início de uma contração ao término da mesma contração. A intensidade de
duas contrações é medida comparandose o pico de uma contração ao pico da contração seguinte. O intervalo de
repouso é medido do final de uma contração ao início da contração seguinte.
2. A resposta correta é B. A situação longitudinal coloca o feto em posição vertical, o que seria mais propício para um
parto vaginal espontâneo. A situação transversal não possibilita um parto vaginal, porque o feto está em posição
perpendicular à coluna materna. A situação perpendicular descreve a situação transversa, que não seria propícia para
um parto espontâneo. A situação oblíqua não possibilitaria um parto vaginal espontâneo, porque o feto não caberia na
pelve materna nessa posição.
3. A resposta correta é C. Depois de a placenta se desprender da parede uterina, o formato do útero passa de discoide
para globular. O útero continua se contraindo durante todo o processo de separação da placenta e o cordão umbilical
continua pulsando durante vários minutos após ter ocorrido a separação da placenta. A pressão arterial materna não é
afetada pela separação da placenta, porque o volume de sangue materno aumentou drasticamente durante a gestação
para compensar a perda de sangue durante o parto.
4. A resposta correta é B. Ocorrem alterações progressivas no colo do útero no trabalho de parto verdadeiro. Isso não
acontece no trabalho de parto falso.
5. A resposta correta é C. A fase de transição do primeiro estágio do trabalho de parto se dá quando as contrações
ocorrem com 1 a 2 minutos de intervalo e a dilatação final está acontecendo. A fase de transição é a mais difícil e,
felizmente, a mais curta para a gestante, com duração de aproximadamente 1 hora no primeiro nascimento e, talvez,
15 a 30 minutos nos partos sucessivos. Muitas mulheres não são capazes de lidar bem com a intensidade desse curto
período, ficam agitadas e solicitam medicamentos para a dor. Durante a fase latente, as contrações são leves. A
mulher está em trabalho de parto prematuro e consegue lidar com as contrações esporádicas. Essa fase pode durar
horas. A fase ativa envolve contrações moderadas que possibilitam um breve período de descanso entre elas,
capacitando a gestante a enfrentar a próxima contração. Essa fase pode durar horas. A fase de expulsão da placenta
ocorre durante o terceiro estágio do trabalho de parto. Após a separação da placenta da parede uterina, contrações
uterinas continuadas fazem com que a placenta seja expelida. Embora essa fase possa durar de 5 a 30 minutos, a
intensidade da contração é menor do que a da fase de transição.
6. A resposta correta é B. A dilatação do colo do útero de 6 cm indica que a mulher está na fase ativa do primeiro
estágio do trabalho de parto. Nessa fase, o colo do útero se dilata de 3 para 7 cm, com apagamento de 40 a 80%.
Durante a fase latente, o colo do útero se dilata de 0 para 3 cm. Durante a fase de transição, a dilatação do colo do
útero é de 8 para 10 cm. O primeiro estágio do trabalho de parto é dividido em três fases: latente, ativa e de transição.
Não existe fase precoce.
7. A resposta correta é C. O trabalho de parto verdadeiro é caracterizado por contrações que ocorrem em intervalos
regulares, que aumentam em frequência, duração e intensidade. Essas contrações provocam dilatação e apagamento
progressivos do colo do útero. Assim, um colo do útero com dilatação de 4 cm e apagamento de 90% indica um
trabalho de parto verdadeiro. A ruptura das membranas pode ocorrer antes do início do trabalho de parto, no início do
trabalho de parto ou em qualquer momento durante o trabalho de parto e, assim, não é indicativa de trabalho
verdadeiro. O encaixe ocorre quando a apresentação fetal chega à altura de apresentação 0; isso ocorre tipicamente 2
semanas antes do termo em primigestas e várias semanas antes do início do trabalho do parto ou apenas no início do
trabalho de parto em multíparas. As contrações de trabalho de parto verdadeiras duram 30 a 60 segundos e ocorrem
aproximadamente a cada 4 a 6 minutos.
8. As respostas corretas são A, B e C porque todas são intervenções baseadas em evidências que são apropriadas em
termos fisiológicos e não colocam a puérpera e o recémnascido em risco. O consumo de alimentos sólidos e líquidos
sem resíduos proporciona hidratação e nutrição e traz conforto às parturientes. O jejum durante o trabalho de parto
aumenta a produção de ácido gástrico. A manutenção da glote aberta enquanto a parturiente faz força para baixo torna
mais natural essa manobra. O contato pele a pele promove a criação do vínculo entre a mãe e o recémnascido. As
alternativas incorretas seriam D, E e F porque são métodos artificiais de acelerar o processo de trabalho de parto que
colocam a parturiente e o recémnascido em risco. Amniotomia pode se associar a prolapso do cordão umbilical e
desacelerações da frequência cardíaca fetal. A episiotomia está associada a aumento de ocorrência de lacerações de
terceiro e quarto graus, desconforto e retardo da cicatrização. A indução do trabalho de parto com ocitocina pode
provocar contrações tetânicas e hipoxia fetal.
9. A resposta correta é C porque, à medida que o trabalho de parto se aproxima, o feto desce para a pelve verdadeira da
gestante em preparação para o parto. A gestante tem sensação de peso na parte inferior da pelve e apresenta polaciúria
quando o feto adota a posição na pelve verdadeira. A alternativa A é incorreta porque ocorre aumento das contrações
uterinas à medida que o trabalho de parto se instala. A alternativa B é incorreta porque a maioria das mulheres
apresenta perda ponderal e redução do apetite perto do início do trabalho de parto. A alternativa D é incorreta porque
o feto encontrase em um espaço limitado próximo ao termo e tem pouco espaço para se mover. A frequência cardíaca
fetal permaneceria dentro da faixa da normalidade de 110 a 160 bpm, a menos que ocorra algum problema.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. De que informações adicionais você precisa para responder de modo adequado?
• Questione qual a frequência e a duração das contrações
• Pergunte há quanto tempo ela sente as “dores de parto”
• Questione sobre quaisquer outros sinais que ela possa ter apresentado, como eliminação do tampão mucoso
sanguinolento, descida do feto, dor nas costas, ruptura de membranas e assim por diante
• Pergunte se a deambulação tende a aumentar ou diminuir a intensidade das contrações
• Pergunte quando foi a última vez que ela sentiu um movimento fetal
• Pergunte a que distância ela está da maternidade
• Pergunte se ela tem uma pessoa de apoio em casa com ela.
b. Que sugestões/recomendações você faria a ela?
• Orientea a ficar no conforto do lar o maior tempo possível
• Aconselhea a deambular tanto quanto possível para ver o efeito sobre as contrações. Além disso, digalhe
para beber líquidos para se hidratar
• Revise as medidas não farmacológicas de conforto que ela pode tentar em casa
• Diga a ela para se manter em contato com a equipe da maternidade, informandoa sobre como está.
c. Que orientações precisam ser dadas à gestante para orientála na tomada de decisão?
• Ensinea a calcular a frequência e a duração das contrações
• Orientea a esperar até que as contrações ocorram com 5 minutos de intervalo ou que as membranas se
rompam para vir à maternidade
• Digalhe para vir à maternidade quando ela não for mais capaz de conversar durante uma contração
• Reforce todas as orientações ao seu parceiro de apoio.
d. Por quais outros sinais premonitórios de trabalho de parto o enfermeiro poderia perguntar?
• Ela já experimentou a sensação de que o feto está descendo?
• Seu nível de energia se alterou (aumentou) no último dia ou próximo disso?
• Ela percebeu a descida de um tampão mucoso sanguinolento pela vagina?
• Ela teve episódios de diarreia nas últimas 48 horas?
• A sua “bolsa de águas” se rompeu ou ela detectou alguma perda de líquido?
e. Quais manifestações seriam encontradas se Cindy estivesse em trabalho de parto verdadeiro?
Haveria dilatação e apagamento progressivos do colo do útero se estivesse ocorrendo um trabalho de parto
verdadeiro. A dor da contração também não seria aliviada com a caminhada e começaria nas costas e irradiaria
em torno do abdome em direção à porção anterior. As contrações também ocorreriam regularmente, tornandose
mais próximas, geralmente com 4 a 6 min de intervalo, e durariam de 30 a 60 s. Se ela estiver experimentando
um falso trabalho de parto, um leve apagamento do colo do útero pode ser observado, mas sem dilatação.
2. Os tópicos a abordar no programa de orientações à comunidade incluem:
• Informações sobre os estágios do trabalho de parto, incluindo o que esperar
• Explicação dos riscos e benefícios de quaisquer procedimentos de intervenção que possam ser realizados
durante o processo de trabalho de parto
• Informações sobre as medidas de alívio da dor disponíveis
• Métodos de envolvimento e participação durante o processo de trabalho de parto e parto pelo parceiro/
doula/familiar
• Informações sobre as variáveis que podem modificar ou influenciar a evolução do trabalho de parto,
incluindo as orientações préoperatórias para uma cesariana.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Nessa conversa devem ser descritos o feto, a força de contração, a via de passagem, a posição e a resposta
psicológica das gestantes que passam pelo trabalho de parto designadas para os estudantes e como cada um desses
fatores afeta a duração e os estágios do trabalho de parto.
2. As respostas A, B e E estão corretas. Os movimentos fundamentais do feto no trabalho de parto incluem somente o
encaixe, a descida, a flexão, a rotação interna, a extensão, a rotação externa e a expulsão. As outras opções descrevem
as várias posições fetais.
3. Essa discussão variará de acordo com a experiência de trabalho de parto e parto das mulheres. Os fatores
psicológicos que poderiam ser abordados podem incluir experiências anteriores de nascimento, idade, desconfortos da
gestação, crenças culturais, expectativas para essa experiência de nascimento, preparação para o parto, e eficácia e
participação do sistema de apoio.
4. Para a duração, o “X” é colocado no início de uma contração e no final da mesma contração.
ESTUDO DE CASO
1. Quais são os sinais prodrômicos de trabalho de parto que Moritza deveria conhecer?
2. Quando Moritza deveria ser instruída a ir para o hospital?
3. Quais são os prós e contras de instalar rotineiramente um acesso IV durante o trabalho de parto?
Resposta: Os sinais e sintomas comuns sugestivos de progressão fisiológica ao trabalho de parto são os seguintes:
sensação de pressão na parte inferior da pelve, que pode indicar descida do feto; eliminação do tampão mucoso (rolha
de Schroeder) associada a alterações do colo uterino; aumento das contrações de Braxton Hicks, intermitentes quando
a paciente fica de repouso; ruptura das membranas amnióticas; secreção mucosa vaginal aumentada e percepção
materna de aumento da disposição física. Moritza deve ser instruída a ficar em casa enquanto as membranas
amnióticas estiverem intactas, não houver sangramento, o feto se movimentar normalmente e ela se sentir confortável
durante suas tarefas de casa. Quando as contrações ocorrerem a intervalos de 3 a 5 minutos, persistirem, no mínimo,
por 1 minuto e estiverem neste ritmo há, no mínimo, 1 hora, ou a paciente não conseguir mais caminhar
confortavelmente, então ela deve pensar em ir para o hospital. Durante o trabalho de parto, a infusão de soluções IV é
prescrita para repor nutrição e hidratação que antes eram negadas durante o trabalho de parto. O acesso venoso pode
ser necessário para gestantes de alto risco e deve ser usado. Como essa paciente é considerada de baixo risco, devese
permitir que ela coma pequenas porções de alimento e beba pequenos goles de líquidos durante seu trabalho de parto.
Plano de cuidados
1. De quais instruções adicionais Moritza precisa para prepararse para seu trabalho de parto?
2. Qual é o papel que seu namorado pode desempenhar quando ela entrar em trabalho de parto?
3. Como o enfermeiro descreveria para Moritza o parto fisiológico normal?
4. Quais fatores podem impedir o nascimento fisiológico? Resposta: O enfermeiro deve revisar com Moritza os quatro
estágios do trabalho de parto, descrevendo as características de cada um e o que ela deve esperar de cada estágio. Seu
namorado pode ajudála com medidas de conforto, como trazer roupas secas, massagear suas costas e darlhe
estímulos durante todo o processo do trabalho de parto. O nascimento fisiológico normal poderia ser caracterizado
pelos seguintes elementos: início espontâneo do trabalho de parto; expulsão vaginal do feto e da placenta;
sangramento mínimo; contato direto da mãe com o recémnascido logo depois do parto; e preservação da família
unida depois do nascimento. Entre os fatores que podem interferir no nascimento fisiológico estão indução artificial
do trabalho de parto; ambiente pouco favorável ao trabalho de parto (inclusive familiares, amigos e equipe); privação
nutricional (alimentos e líquidos durante o trabalho de parto); episiotomia; cesariana e separação da unidade familiar
depois do nascimento, impedindo o período de criação de vínculo entre a puérpera e o recémnascido.
Questões múltipla escolha
1. Uma gestante chega ao prontosocorro porque acha que está em trabalho de parto. A
enfermeira determina que a cliente está em trabalho de parto verdadeiro quando a avaliação
das contrações revela qual das seguintes opções?
A. Contrações que enfraquecem quando a mulher muda de posição
B. Contrações que irradiam das costas para a parte inferior do abdome
C. Contrações que ocorrem em um padrão irregular
D. Contrações que duram cerca de 20 a 30 segundos
Concluir questão
2. Ao rever a história de uma mulher em trabalho de parto, a enfermeira observa que a cliente
tem a pelve em forma de funil. A enfermeira identifica essa forma pélvica como qual das
seguintes?
A. Androide
B. Ginecoide
C. Antropoide
D. Platipeloide
Concluir questão
3. Ao ensinar a um grupo de estudantes a respeito das estruturas do crânio do feto, a
enfermeira descreve a fontanela anterior (ou fontículo anterior, segundo a Terminologia
Anatômica). Qual das seguintes características ela incluiu?
A. Forma triangular
B. Localizada na parte posterior da cabeça do feto
C. Tamanho de aproximadamente 2 a 3 cm
D. Fechase 8 a 12 semanas após o nascimento
Concluir questão
4. A avaliação revela que o comprimento do colo do útero da mulher é de aproximadamente 1
cm. A enfermeira documentaria isso como:
A. 0% apagado
B. 75% apagado
C. 50% apagado
D. 100% apagado
Concluir questão
5. Um feto está na posição STE. A enfermeira interpreta isso como indicação de qual das
seguintes partes como a apresentação fetal?
A. Cabeça fetal
B. Queixo
C. Ombro
D. Nádegas
Concluir questão
6. A enfermeira está medindo uma contração desde o início até o final do relaxamento da
mesma, documentando isso como qual dos seguintes itens?
A. Intensidade da contração
B. Duração da contração
C. Frequência da contração
D. Pico da contração
Concluir questão
7. Qual das seguintes atitudes seria menos efetiva na promoção de um desfecho positivo para a
gestante em trabalho de parto?
A. Promover à gestante sensação de controle
B. Fornecer informações claras sobre os procedimentos
C. Deixar que a gestante passe um tempo sozinha
D. Incentivar a gestante a usar técnicas de relaxamento
Concluir questão
8. Na primeira hora após o nascimento, a enfermeira esperaria encontrar o fundo do útero da
puérpera:
A. Entre o umbigo e a sínfise púbica
B. Um dedo abaixo do umbigo
C. 2 cm acima do umbigo
D. Na altura do umbigo
Concluir questão
9. A enfermeira observa que a cabeça do feto está na abertura vaginal e não regride entre as
contrações. Ela interpreta esse achado como qual dos seguintes?
A. Coroamento
B. Encaixe
C. Descida
D. Restituição
Concluir questão
10. Ao explicar a uma classe o motivo de o trabalho de parto começar, a enfermeira comenta que
existem várias teorias propostas para isso, embora nenhuma tenha sido comprovada
cientificamente. Qual das seguintes é uma delas?
A. Variação na razão estrogênio/progesterona
B. Redução no número de receptores de ocitocina
C. Redução no nível de estrogênio
D. Redução das prostaglandinas, resultando em contrações do miométrio
Concluir questão
11. Uma cliente liga para a clínica pedindo para ser avaliada. Ela afirma que, quando foi se deitar
na noite passada, o feto estava alto no abdome, mas esta manhã parece que desceu. Depois
de fazer várias perguntas, você explica que isso provavelmente é decorrente do(a):
A. Início do trabalho de parto
B. Placenta prévia
C. Descida fetal
D. Ruptura de membranas
Concluir questão
12. Conforme a cliente se aproxima de sua data estimada para o parto, é importante ressaltar que
ela deve procurar avaliação após a ruptura espontânea das membranas, decorrente do(a):
A. Potencial parto rápido do feto
B. Potencial placenta prévia
C. Aumento do risco de infecção
D. Aumento do risco de apresentação pélvica
Concluir questão
13. Qual dos seguintes hormônios a enfermeira espera que faça com que o tecido conjuntivo
pélvico se torne mais relaxado e elástico, em preparação para o trabalho de parto?
A. Progesterona
B. Relaxina
C. Ocitocina
D. Prolactina
Concluir questão
14. Um novo pai está alarmado com o formato da cabeça de seu recémnascido. Você o lembra de
que isso é decorrente:
A. Da extrema pressão sofrida pela cabeça na cúpula vaginal
B. De um defeito congênito
C. De um trabalho de parto prolongado
D. Da sobreposição dos ossos cranianos nas linhas de sutura
Concluir questão
15. Durante o exame, o médico menciona que o feto tem boa atitude. Você explica aos pais que
isso significa o que?
A. A postura do feto para o parto envolve flexão de todas as articulações
B. O feto está cooperando com o trabalho de parto
C. A cabeça do feto está se apresentando primeiro
D. O feto está em uma postura com os braços ao lado do corpo e as pernas estendidas
Concluir questão
16. Uma jovem de 19 anos chega ao hospital em trabalho de parto avançado. O exame revela que
o feto está em posição pélvica franca. Você explica à cliente que isso significa o que?
A. O feto está sentado de pernas cruzadas sobre o colo do útero
B. Uma perna está se apresentando
C. As nádegas se apresentam primeiro, com ambas as pernas estendidas contra o rosto
D. Um braço está se apresentando
Concluir questão
17. Ao exame, a enfermeira determina que o feto está com altura da apresentação –1. Ela explica
que isso significa que está:
A. 1 cm abaixo das espinhas isquiáticas
B. 1 cm acima das espinhas isquiáticas
C. 1 cm abaixo do púbis
D. 1 cm acima do púbis
Concluir questão
18. Ao discutir o trabalho de parto com a cliente e seu parceiro, eles perguntam qual a melhor
posição para dar à luz. Você lhes fornece informações sobre uma pesquisa que mostrou que
qual das seguintes é melhor?
A. Na posição mais confortável para a mãe
B. Em decúbito dorsal, com os pés em estribos
C. Na posição agachada
D. Na posição de semiFowler
Concluir questão
19. Você foi convidada a apresentar informações a um grupo de líderes da comunidade a respeito
dos problemas de saúde da mulher. Ao preparar sua palestra, você inclui quais objetivos
do Healthy People 2020?
A. Incentivar as mulheres que já realizaram cesariana a sempre realizarem uma
B. Reduzir a taxa de cesarianas no caso de nascimentos de baixo risco
C. Certificarse de que o atendimento prénatal inclua imunizações
D. Garantir que todos os casais recebam aconselhamento préconcepção
Concluir questão
20. Um jovem casal está ansioso para o nascimento de seu filho. Ao discutir as opções, você
explica que a indução eletiva do trabalho de parto em nulíparas está associada aos seguintes
fatores, exceto:
A. Aumento das taxas de cesariana
B. Períodos de internação mais curtos
C. Hemorragia pósparto
D. Reanimação neonatal
Concluir questão
21. Como enfermeira da unidade de trabalho de parto e parto, você reconhece que a cliente está
bem preparada e tem um bom suporte ao trabalho de parto quando ela demonstra todas,
exceto qual das seguintes opções?
A. Menor probabilidade de necessidade de analgesia
B. Menor probabilidade de necessidade de anestesia
C. Improbabilidade de precisar de cesariana
D. Precisa de alguém para controlar a situação
Concluir questão
22. Ao monitorar uma mulher em trabalho de parto, qual dos seguintes itens não é esperado que
ocorra?
A. Aumento do débito cardíaco em 50% durante a primeira etapa
B. Aumento da frequência cardíaca em 10 a 20 bpm
C. Aumento da frequência respiratória
D. Aumento da pressão arterial em até 35 mmHg
Concluir questão
23. Uma cliente está na fase de transição do trabalho de parto. Qual(is) dos seguintes itens a
enfermeira tem maior probabilidade de encontrar? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Forte desejo de empurrar
B. Apreensão misturada com excitação
C. Contrações que ocorrem a cada 3 min
D. Irritabilidade com inquietação
E. Dilatação do colo do útero de 6 cm
Concluir questão
24. Após ministrar uma aula sobre o parto, você reconhece que os estudantes compreenderam o
que foi apresentado após escolherem corretamente qual(is) dos seguintes fatores como
passível(is) de afetar o processo de trabalho de parto? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Local (place)
B. Participação
C. Potência (força da contração)
D. Passageiro
E. Paciência
Concluir questão
25. Liste os movimentos cardinais de trabalho de parto a seguir na ordem correta.
A. Encaixe
B. Flexão
C. Rotação interna
D. Extensão
E. Expulsão
Concluir questão
Conduta de Enfermagem durante o Trabalho de Parto e o Parto
14
PALAVRASCHAVE
Acelerações
Alterações periódicas da linha de base
Analgesia/anestesia neuraxial
Artefato
Coroamento
Desaceleração
Episiotomia
Linha de base da frequência cardíaca fetal
Manobras de Leopold
Monitoramento eletrônico fetal (MEF)
Variabilidade da linha de base
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Examinar as medidas utilizadas para avaliar o estado da mãe durante o trabalho de parto e o parto.
2. Diferenciar as vantagens e desvantagens do monitoramento fetal interno e externo, incluindo a utilização adequada de
cada um.
3. Escolher as intervenções de enfermagem apropriadas para lidar com padrões de frequência cardíaca fetal não
tranquilizadores.
4. Delinear o papel do profissional de enfermagem na avaliação fetal.
5. Avaliar as várias estratégias de promoção do conforto e alívio da dor usadas durante o trabalho de parto.
6. Resumir os dados de avaliação coletados no momento da admissão à unidade perinatal.
7. Relacionar as avaliações continuadas envolvidas em cada estágio do trabalho de parto e do parto.
8. Analisar o papel do enfermeiro durante o processo de trabalho de parto e parto.
Sheila, em trabalho de parto ativo, foi admitida à unidade de trabalho de parto e parto. Ela progrediu para a
fase de transição (dilatação de 8 cm) e está sentindo cada vez mais desconforto. Ela começou a usar um
padrão respiratório de ritmo padronizado, mas agora está se debatendo no leito do hospital.
Reflexões
Enfermeiros sábios nem sempre são os que ficam calados, mas os que sabem quando calar durante o milagre do
nascimento.
INTRODUÇÃO
O processo de trabalho de parto e parto inclui eventos que mudam a vida de muitas mulheres. Os enfermeiros precisam ser
respeitosos, acessíveis, incentivadores, solidários e profissionais ao lidar com todas as parturientes. A conduta de
enfermagem para o trabalho de parto e o parto envolve a avaliação, as medidas de conforto, o apoio emocional, as
informações e instruções, a defesa e o apoio ao parceiro. Prestar a mais alta qualidade de assistência à maternidade
depende de o enfermeiro valorizar a experiência de parto e reconhecer que se trata de uma experiência que muda a vida das
mulheres e de suas famílias; a prática de enfermagem acolhedora engloba habilidades técnicas e comportamentos
compassivos; dar assistência que protege, promove e apoia o parto fisiológico; proporcionar os melhores cuidados
baseados em evidências e reconhecer a disparidade de saúde e a diversidade cultural em todas as mulheres atendidas para
melhorar a sua experiência de parto ao longo do tempo, entre as instituições e nas diversas áreas da saúde. Um dos
componentes da assistência baseada em evidências e da assistência centrada na mulher consiste nas preferências da
paciente para orientar os cuidados durante o processo do parto. Em um estudo recente foram avaliadas as demandas e as
expectativas das mulheres durante o trabalho de parto e o parto. Sete tópicos emergiram: demandas fisiológicas (nutrição,
ambiente local, higiene, conforto e privacidade); necessidades psicológicas (empatia e ativismo, suporte emocional e
encorajamento constantes); demanda por informações (sobre o trabalho de parto e as políticas do hospital); necessidades
de comunicação (médico e acompanhante do parto); demandas relacionadas a autoestima (sensação de valor, confiança,
participação nas decisões); necessidades em relação a segurança (tranquilização de temores) e demandas clínicas (analgesia
e prevenção de intervenções desnecessárias durante o trabalho de parto e o parto) (Iravani et al., 2015). É importante que
os profissionais de enfermagem identifiquem as expectativas e as necessidades das mulheres que estão sob seus cuidados
de modo a empoderálas para participar plenamente da experiência do parto.
A saúde das mães e de seus filhos é de fundamental importância, tanto como um reflexo do estado de saúde atual de
um grande segmento de nossa população como um preditor da saúde da próxima geração. O United States Department of
Health and Human Services [USDHHS] (2010) aborda a saúde materna em dois objetivos: reduzir a taxa de mortalidade
materna e diminuir as doenças e complicações maternas decorrentes da gestação (complicações durante o trabalho de parto
e o parto hospitalizado). Além disso, outros dois objetivos incluem aumentar a proporção de gestantes que recebe
atendimento prénatal adequado e precoce. A meta em desenvolvimento visa aumentar a proporção de gestantes que
frequentam uma série de aulas de preparação para o parto. (Ver Capítulo 12 para mais informações sobre esses objetivos.)
Este capítulo fornece informações sobre a conduta de enfermagem durante o trabalho de parto e o parto. Inicialmente
discutemse os elementos essenciais para uma análise aprofundada da situação materna e fetal durante o trabalho de parto e
o parto. Seguese uma descrição detalhada dos principais métodos para promover o conforto e proporcionar o controle da
dor durante o processo de trabalho de parto e parto. O capítulo termina juntando todas as informações com uma discussão
sobre os cuidados de enfermagem específicos para cada estágio do trabalho de parto, incluindo os dados que precisam ser
obtidos na avaliação de admissão, os métodos para analisar o progresso do trabalho de parto durante seu primeiro estágio
e as principais medidas de enfermagem que incidem sobre a avaliação materna e fetal e o alívio da dor em todos os
estágios do trabalho de parto.
AVALIAÇÃO MATERNA DURANTE O TRABALHO DE PARTO E O PARTO
Durante o trabalho de parto e o parto, utilizamse diversas técnicas para avaliar o estado materno. Essas técnicas
proporcionam uma fonte contínua de dados para determinar a resposta da gestante e seu progresso no trabalho de parto.
Assim:
• Avalie os sinais vitais maternos, incluindo temperatura, pressão arterial, frequência cardíaca, frequência respiratória e
dor, que são os componentes primários do exame físico e da avaliação continuada
• Também reveja o prontuário do atendimento prénatal para identificar fatores de risco que possam contribuir para
diminuição na circulação uteroplacentária durante o parto
• Se não houver sangramento vaginal na admissão, realizase um exame de toque vaginal para avaliar a dilatação do colo
do útero, sendo monitorada periodicamente conforme necessário para acompanhamento do progresso
• Avalie a dor materna e a efetividade das estratégias de seu manejo em intervalos regulares durante o trabalho de parto e
o parto.
Exame de toque vaginal
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda exames vaginais a intervalos de 4 horas para avaliação rotineira e
identificação de retardo no trabalho de parto ativo (2014). Embora nem todos os enfermeiros realizem exames de toque
vaginal nas gestantes em trabalho de parto nas diferentes instituições em que trabalham, a maioria dos que atuam em
hospitais comunitários o fazem porque os médicos não estão habitualmente presentes nas salas de trabalho de parto e
parto. Como a maioria dos recémnascidos nos EUA nasce em hospitais comunitários, o enfermeiro realiza exames de
toque vaginal juntamente com os enfermeiros obstetras e os médicos (American Hospital Association, 2015).
Anote!
O exame de toque vaginal é uma habilidade de avaliação que leva tempo e experiência para ser desenvolvida; somente a
execução na prática clínica com frequência fará com que o nível de habilidade do examinador melhore.
O objetivo do exame de toque vaginal é avaliar a quantidade de dilatação do colo uterino, o percentual de apagamento
do colo do útero e a condição das membranas, além de reunir informações sobre a apresentação, a posição, a altura da
apresentação, o grau de flexão da cabeça fetal e a existência de tumefação ou moldagem do crânio fetal (Figura 14.1).
Prepare a gestante informandoa sobre o procedimento, quais informações serão obtidas com o exame, como ela pode
ajudar no processo, como ele será realizado e quem o realizará.
A gestante tipicamente fica em decúbito dorsal durante o exame de toque vaginal. Esse exame é realizado com cuidado,
preocupandose com o conforto da gestante. Caso se trate do exame de toque vaginal inicial para verificar o estado das
membranas, utilizase água como lubrificante.
Depois de calçar luvas estéreis, o examinador insere seus dedos indicador e médio no introito vaginal. Em seguida,
palpa o colo do útero para avaliar sua dilatação, apagamento e posição (p. ex., posterior ou anterior). Se o colo do útero
apresentar algum grau de abertura, podese avaliar a parte fetal que se apresenta, a posição fetal, a altura da apresentação e
a existência de moldagem. Além disso, podese avaliar as membranas, que são descritas como intactas, protrusas ou
rompidas.
Na conclusão do exame de toque vaginal, os resultados são conversados com a gestante e seu parceiro para atualizálos
do andamento do trabalho de parto. Além disso, os achados são documentados eletronicamente ou por escrito e
comunicados ao obstetra responsável pelo caso.
FIGURA 14.1 Exame de toque vaginal para determinar o grau de dilatação e apagamento do colo do útero.
Dilatação e apagamento do colo do útero
A dilatação (abertura) e o grau de apagamento (adelgaçamento) do colo do útero são importantes parâmetros avaliados
durante o exame de toque vaginal, em que o colo do útero é palpado com o dedo enluvado. Embora esse achado seja um
pouco subjetivo, examinadores experientes tipicamente chegam a resultados semelhantes. A largura da abertura do colo do
útero determina a dilatação; o comprimento do colo avalia o apagamento. O apagamento e a dilatação são utilizados para
avaliar as alterações cervicais, como se segue:
• Apagamento:
• 0%: o canal cervical tem 2 cm de comprimento
• 50%: o canal cervical tem 1 cm de comprimento
• 100%: o canal cervical está fechado
• Dilatação:
• 0 cm: o óstio do útero está fechado
• 5 cm: o óstio do útero está dilatado em 50%
• 10 cm: o óstio do útero está totalmente dilatado e pronto para a passagem do feto.
As informações fornecidas por esse exame servem como base para determinar em que estágio do trabalho de parto a
mulher está e qual deve ser o cuidado que ela receberá a seguir.
Descida fetal e apresentação fetal
Além dos achados de dilatação e apagamento do colo do útero, o exame de toque vaginal também pode determinar a
descida fetal (altura da apresentação) e qual é a apresentação fetal. Durante esse exame, utilizase o dedo indicador
enluvado para palpar o crânio fetal (em caso de apresentação de vértice) ou as nádegas (em caso de apresentação pélvica)
pela abertura do colo do útero. Avaliase a altura da apresentação em relação às espinhas isquiáticas maternas e a
apresentação fetal. Essas espinhas não são protrusões salientes, mas proeminências rombas na cavidade pélvica. As
espinhas isquiáticas servem como pontos de referência e são consideradas a altura da apresentação zero. Se a apresentação
fetal for palpada acima das espinhas isquiáticas maternas, atribuise um número negativo; se for palpada abaixo delas,
atribuise um número positivo, indicando quantos centímetros abaixo da altura da apresentação zero a parte está (ver
o Capítulo 13 para uma discussão mais detalhada).
O que se espera durante o trabalho de parto é a descida fetal progressiva (–5 a +4), ou seja, movimento descendente de
modo oportuno das alturas de apresentação negativas para a altura da apresentação zero, até as alturas da apresentação
positivas. Se a descida fetal progressiva não ocorrer, pode existir desproporção entre a pelve materna e o feto, o que
precisa ser investigado.
Ruptura das membranas
A integridade das membranas pode ser determinada durante o exame de toque vaginal. Tipicamente, se intactas, as
membranas serão palpadas como uma protuberância macia que é mais proeminente durante a contração. Se as membranas
se romperam, a gestante pode ter relatado um jato repentino de líquido. A ruptura das membranas também pode ocorrer
como um fluxo lento de líquido. Quando as membranas rompem, o foco prioritário deve ser avaliar a frequência cardíaca
fetal (FCF) para identificar uma desaceleração, que pode indicar compressão do cordão umbilical secundária ao seu
prolapso. Se as membranas estiverem rompidas quando a gestante chegar ao hospital, o médico deve verificar quando a
ruptura ocorreu. A ruptura de membranas prolongada aumenta o risco de infecção para a gestante e para o feto em
decorrência da ascensão dos microrganismos patológicos vaginais. Os sinais de infecção intrauterina aos quais se deve
estar alerta incluem a febre materna, a taquicardia fetal e materna, o mau cheiro da secreção vaginal e o aumento na
contagem de leucócitos.
Para confirmar a ruptura das membranas corioamnióticas, coletase uma amostra da vagina, que é testada com swab de
nitrazina (corante amarelo que se torna azul na presença de líquido amniótico) para determinação do pH do líquido. O
líquido vaginal é flácido, enquanto o líquido amniótico é alcalino e tinge o papel de nitrazina de azul. Às vezes, porém,
podem ocorrer resultados falsopositivos, especialmente em mulheres que apresentam grande quantidade de tampão
sanguinolento, porque o sangue é alcalino. As membranas provavelmente estão intactas se o papel de nitrazina permanecer
de amarelo a verdeoliva, com pH entre 5 e 6. Por outro lado, provavelmente estão rompidas se o papel de nitrazina se
tornar azulesverdeado a azulescuro, com pH variando de 6,5 a 7,5 (Tharpe, Farley, & Jordan, 2016).
Se o teste de nitrazina for inconclusivo, podese usar um teste adicional para confirmar a ruptura das membranas,
chamado de teste de cristalização (fern test). Nesse teste, coletase uma amostra de líquido vaginal, que é colocada em uma
lâmina de microscópio e deixada secar. Utilizando um microscópio, examinase a lâmina à procura de um padrão de
cristalização característico que indica a presença de líquido amniótico.
Avaliação das contrações uterinas
O estímulo primário do trabalho de parto são as contrações uterinas, que são involuntárias. As contrações uterinas
aumentam a pressão intrauterina, tensionando o colo do útero. Essa tensão leva à dilatação e ao afinamento do colo do
útero, o que por sua vez força o feto a passar pelo canal do parto. As contrações uterinas normais têm uma fase de
contração (sístole) e outra de relaxamento (diástole). A contração se assemelha a uma onda, movendose para baixo em
direção ao colo do útero e para cima em direção ao fundo do útero. Cada contração começa com um acúmulo (incremento),
gradualmente alcançando um pico (intensidade máxima) e depois relaxando (decréscimo). Cada contração é seguida por
um intervalo de repouso, que termina quando começa a contração seguinte. No auge da contração (pico), todo o útero está
se contraindo, com a maior intensidade na região do fundo do útero. Seguese então uma fase de relaxamento, que ocorre
simultaneamente em todo o útero.
As contrações uterinas durante o parto são monitoradas pela palpação e por equipamento eletrônico. A avaliação das
contrações inclui a frequência, a duração, a intensidade e o tônus uterino de repouso (ver Capítulo 13 para uma discussão
mais detalhada). Contrações uterinas de 30 mmHg ou mais de intensidade iniciam a dilatação do colo do útero. Durante o
trabalho de parto ativo, sua intensidade geralmente alcança 50 a 80 mmHg. O tônus de repouso normalmente está entre 5 e
10 mmHg no início do trabalho de parto e entre 12 e 18 mmHg no trabalho de parto ativo (Hiersch et al., 2015).
Para avaliar a intensidade da contração palpando o fundo do útero, o examinador deve colocar as pontas dos dedos no
fundo do útero e descrever a sensação: semelhante à ponta do nariz (leve), semelhante ao queixo (moderada) ou à fronte
(forte). A palpação da intensidade é um julgamento subjetivo da capacidade de compressão da parede uterina; atribuise a
ela um termo descritivo (leve, moderada ou forte) (Figura 14.2).
Anote!
É necessária prática clínica frequente para ganhar acurácia na avaliação da intensidade das contrações uterinas.
O segundo método utilizado para avaliar a intensidade das contrações uterinas é o monitoramento eletrônico, quer
interno ou externo. Ambos os métodos proporcionam medida razoável da intensidade das contrações uterinas. Embora às
vezes o monitor fetal externo seja utilizado para estimar a intensidade das contrações uterinas, essa não é uma ferramenta
de avaliação tão acurada.
FIGURA 14.2 Enfermeira palpa o fundo do útero da gestante durante uma contração.
Realização das manobras de Leopold
As manobras de Leopold são um método para determinar a apresentação, a posição e a situação do feto por meio de
quatro etapas específicas. Esse método envolve a inspeção e a palpação do abdome materno como modo de rastreamento
de má apresentação fetal. Esperase uma situação longitudinal, e a apresentação pode ser cefálica, pélvica ou de ombro.
Cada manobra responde a uma pergunta:
• Manobra 1: Que parte fetal (cabeça ou nádegas) está localizada no fundo do útero (parte de cima do útero)?
• Manobra 2: Para qual lado da mãe as costas do feto estão voltadas? (Os batimentos cardíacos fetais são mais bem
auscultados nas costas do feto)
• Manobra 3: Qual é a apresentação fetal?
• Manobra 4: A cabeça do feto está flexionada e encaixada na pelve?
As manobras de Leopold são descritas no boxe Procedimento de enfermagem 14.1. Ver também o Capítulo 12.
AVALIAÇÃO DO FETO DURANTE O TRABALHO DE PARTO E O PARTO
A avaliação fetal determina o bemestar do feto ou os sinais que indicam comprometimento. Avaliamse as características
do líquido amniótico, mas a avaliação fetal se concentra primariamente na determinação do padrão de FCF. A análise do
sangue do cordão umbilical e a estimulação do couro cabeludo fetal são avaliações adicionais, realizadas conforme
necessário caso os padrões de FCF sejam questionáveis.
Análise do líquido amniótico
O líquido amniótico deve ser claro quando as membranas estiverem rompidas. A ruptura das membranas corioamnióticas
pode ser espontânea ou artificial por meio de amniotomia (um gancho de plástico descartável denominado amniótomo é
usado para perfurar o saco amniótico). O líquido amniótico turvo ou de odor fétido indica infecção. Um líquido
esverdeado pode indicar que o feto eliminou mecônio em decorrência de hipoxia transitória, gestação prolongada,
compressão do cordão umbilical, restrição do crescimento intrauterino (RCIU), hipertensão arterial, diabetes ou
corioamnionite; no entanto, considerase uma ocorrência normal se o feto estiver em uma apresentação pélvica. Se for
determinado que o líquido amniótico meconial é decorrente de hipoxia fetal, as equipes obstétrica e pediátrica trabalham
juntas para evitar a síndrome de aspiração de mecônio. Isso exigiria a aspiração após o nascimento da cabeça, antes de a
criança respirar e, talvez, a aspiração traqueal direta após o nascimento se o índice de Apgar for baixo. Em alguns casos,
utilizase uma amnioinfusão (introdução de soro fisiológico estéril aquecido ou solução de lactato de Ringer no útero) para
diluir o mecônio moderado a intenso liberado no útero para ajudar na prevenção da síndrome de aspiração de mecônio.
PROCEDIMENTO DE ENFERMAGEM 14.1
Realização das manobras de Leopold
Objetivo: determinar a apresentação, a posição e a situação fetal
1. Coloque a gestante em decúbito dorsal e fique de pé ao lado dela.
2. Realize a primeira manobra para determinar a apresentação fetal.
a. De frente para a cabeça da gestante, coloque as duas mãos sobre o abdome para determinar a
posição fetal no fundo do útero.
b. Palpe as nádegas, que são macias e irregulares (indica uma apresentação cefálica); palpe a cabeça,
que é rígida, lisa e arredondada (indica uma apresentação pélvica).
3. Realize a segunda manobra para determinar a posição fetal.
a. Ainda de frente para a gestante, mova as mãos para baixo pelas laterais do abdome para palpar em
qual dos lados estão as costas (são rígidas e lisas à palpação).
b. Continue palpando para determinar em qual dos lados os membros estão localizados (nódulos
irregulares, com chutes e movimentos).
4. Realize a terceira manobra para confirmar a apresentação fetal.
a. Mova as mãos para baixo pelas laterais do abdome até encontrar o segmento inferior do útero e
palpe a área logo acima da sínfise púbica.
b. Afaste o polegar dos dedos a um palmo de distância e segure a parte que se apresenta aproximando
os dedos.
c. Palpe a parte que se apresenta. Se for a cabeça, será redonda, firme e flutuante; se forem as
nádegas, serão macias e irregulares.
5. Realize a quarta manobra para determinar a atitude fetal.
a. Virese de modo a ficar de frente para os pés da paciente e use as pontas dos três primeiros dedos
de cada mão para palpar o abdome.
b. Mova os dedos um em direção ao outro aplicando pressão para baixo em direção à sínfise púbica.
Se você palpar uma área rígida no lado oposto das costas do feto, o feto está em flexão, porque você
está palpando o queixo. Se a área rígida estiver no mesmo lado das costas, o feto está em extensão,
porque a área palpada é o occipúcio.
Além disso, observe como suas mãos se movem. Se elas se aproximam com facilidade, a cabeça do feto
não desceu para a abertura superior da pelve da gestante. Se as mãos não se aproximam e param por
causa da resistência, a cabeça fetal está encaixada na abertura superior da pelve da gestante (Walker &
Sabrosa, 2014).
Análise da FCF
A análise da FCF é uma das principais ferramentas de avaliação utilizadas para determinar indiretamente o estado de
oxigenação fetal. A avaliação da FCF pode ser feita de modo intermitente usando um fetoscópio (um estetoscópio
modificado ligado a um capacete) ou um dispositivo Doppler (ultrassonografia) ou continuamente com um monitor fetal
eletrônico colocado externa ou internamente. O objetivo do monitoramento da FCF é reduzir a mortalidade/morbidade por
meio de identificação oportuna de agravos hipóxicos fetais e eliminação ou modificação desses agravos ou possibilitar o
nascimento seguro do feto antes de ocorrer lesão irreversível por asfixia (Hastings, 2015).
Monitoramento intermitente da FCF
O monitoramento intermitente da FCF envolve a ausculta por meio de um fetoscópio ou um aparelho Doppler portátil que
emite ondas de ultrassonografia que ricocheteiam no coração fetal, produzindo ecos ou cliques que refletem a sua
frequência (Figura 14.3). Tradicionalmente, um fetoscópio era utilizado para avaliar a FCF, mas foi constatado que um
dispositivo Doppler portátil tem sensibilidade superior à do fetoscópio. A ausculta intermitente da FCF é uma opção
aceitável para parturientes de baixo risco, embora seja subutilizada no ambiente hospitalar. Recentemente várias
organizações profissionais propuseram o uso de ausculta intermitente como meio de promoção de partos fisiológicos
(Wisner, 2015), deste modo, atualmente é usada em alguns ambientes clínicos. Ver boxe Prática baseada em evidências
14.1 para mais informações.
Anote!
O aparelho Doppler para detectar a FCF tem um custo relativamente baixo, sendo usado em hospitais, em partos
domiciliares e em maternidades rotineiramente. Muitos profissionais de enfermagem os utilizam em seus locais de
trabalho.
O monitoramento intermitente da FCF possibilita que a gestante se movimente durante o primeiro estágio do trabalho
de parto. Como ela não está conectada a um monitor fetal eletrônico estacionário, fica livre para se movimentar e mudar de
posição à vontade. No entanto, o monitoramento intermitente não fornece um registro contínuo da FCF e não documenta
como o feto responde ao estresse do trabalho de parto (a menos que a avaliação seja feita durante a contração). A melhor
maneira de avaliar o bemestar fetal seria começando a ouvir a FCF no final da contração (não após uma), de modo que
possam ser detectadas desacelerações tardias. Contudo, a pressão do dispositivo durante uma contração é desconfortável e
pode impedir a gestante de usar seus padrões de respiração ritmada.
FIGURA 14.3 Enfermeira usando um aparelho Doppler portátil para avaliar a frequência cardíaca fetal.
A ausculta intermitente da FCF pode ser usada para detectar a FCF de base e o ritmo, além das alterações da linha de
base. No entanto, não consegue detectar a variabilidade e os tipos de desacelerações, como o monitoramento eletrônico
fetal (MEF) o faz (Wisner, 2015). Durante a ausculta intermitente para estabelecer uma linha de base, a FCF é avaliada
por um minuto após uma contração. A partir de então, a menos que haja um problema, auscultar por 30 segundos e
multiplicar o valor por dois é suficiente. Se a gestante apresentar mudança na condição durante o trabalho de parto, as
avaliações por auscultação devem ser mais frequentes. As mudanças na condição incluem ruptura de membranas ou
aparecimento de sangramento. Além disso, as avaliações mais frequentes ocorrem após períodos de deambulação, exame
de toque vaginal, administração de medicamentos para a dor ou outros eventos clinicamente importantes (King et al.,
2015).
Prática baseada em evidências 14.1
Monitoramento fetal durante o parto.
ESTUDO
O monitoramento eletrônico fetal (MEF) é um método muito empregado de avaliar as condições fetais
durante o trabalho de parto e se tornou um componente central dos cuidados intraparto. Atualmente, o MEF
é o método mais frequentemente usado para avaliar o feto durante o trabalho de parto, sem evidências
significativas que sugiram efeitos benéficos. Os médicos dispendem energia e tempo valiosos tentando
caracterizar e distinguir diferentes tipos de desaceleração da FCF, embora a maioria desses tipos
comprovadamente mostre pouca associação com acidose fetal. O propósito dessa revisão foi determinar se
o MEF contínuo melhorou os desfechos perinatais em comparação com a ausculta intermitente.
Achados
Uma revisão Cochrane de 13 estudos, que incluíram mais de 37.000 mulheres, constatou que o MEF
contínuo não promoveu melhora significativa da taxa de mortalidade perinatal (taxa de risco = 0,86; intervalo
de confiança = 0,59 a 1,23) ou taxa de paralisia cerebral (taxa de risco = 1,75; intervalo de confiança = 0,84
a 3,63) em comparação com a ausculta intermitente. Contudo, houve um aumento significativo de
cesarianas (taxa de risco = 1,63; intervalo de confiança = 1,29 a 2,07) e partos vaginais instrumentalizados
(taxa de risco = 1,15; intervalo de confiança = 1,01 a 1,33).
Implicações para a enfermagem
Apesar da falta de evidências científicas que apoiem o uso rotineiro de MEF para reduzir desfechos
perinatais adversos, seu uso é quase universal no ambiente hospitalar e, muito provavelmente, contribuiu
para a elevação das taxas de cesarianas. Os profissionais de enfermagem estão em uma posição única
para influenciar o método de monitoramento usado no trabalho de parto, oferecendo a ausculta intermitente
às parturientes de baixo risco e solicitando aos obstetras que incluam essa opção de monitoramento. A
interação significativa da ausculta intermitente pode ajudar os profissionais de enfermagem a restabelecer o
contato com as parturientes e com a essência da prática de enfermagem.
Adaptado de Cahill, A. G., & Spain, J. (2015). Intrapartum fetal monitoring. Clinical Obstetrics and
Gynecology, 58(2), 263–268.
A FCF é mais claramente ouvida nas costas do feto. Em uma apresentação cefálica, a FCF é mais bem auscultada no
quadrante inferior do abdome materno. Na apresentação pélvica, é auscultada na altura da cicatriz umbilical materna ou
acima dela (Figura 14.4). Com a progressão do trabalho de parto, a localização da FCF vai mudar conforme o feto desce
para a pelve materna para o nascimento. Para garantir que a frequência cardíaca materna não seja confundida com a FCF,
palpase o pulso radial da gestante ao mesmo tempo que a FCF é auscultada pelo abdome.
No caso de parturientes de baixo risco, a FCF e as características das contrações devem ser avaliadas a intervalos de
15 a 30 minutos durante o trabalho de parto ativo e a cada 5 a 15 minutos durante os esforços expulsivos, bem como antes
e após quaisquer exames vaginais, ruptura das membranas corioamnióticas, medicação administrada e deambulação no
quarto (Freeman, 2015).
FIGURA 14.4 Locais para ausculta da frequência cardíaca fetal de acordo com a posição do feto. A. Occipitoanterior
esquerda (OAE). B. Occipitoanterior direita (OAD). C. Occipitoposterior esquerda (OPE). D. Occipitoposterior direita
(OPD). E. Sacroanterior esquerda (SAE).
O boxe Procedimento de enfermagem 12.1 lista em detalhes as etapas para a utilização de um aparelho Doppler para
avaliação da FCF. Em suma, aplicase um pouco de gel hidrossolúvel no abdome da gestante ou na sonda de
ultrassonografia antes de auscultar com o aparelho Doppler, a fim de promover a transmissão da onda sonora.
Habitualmente, a FCF é mais bem auscultada nos quadrantes abdominais inferiores da gestante; se a FCF não for
encontrada rapidamente, pode ser útil localizar o dorso do feto realizando as manobras de Leopold.
Embora o método intermitente de determinação da FCF possibilite que a gestante se movimente durante o trabalho de
parto, as informações obtidas não fornecem um panorama completo do bemestar fetal em todos os momentos. Isso leva a
questionar qual é a condição fetal durante os momentos em que não está sendo avaliada. Para as gestantes consideradas de
baixo risco de complicações, esse período sem avaliação não é um problema. No entanto, para a gestante de alto risco não
diagnosticada, pode ser aterrorizante.
DIRETRIZES PARA A AVALIAÇÃO DA FCF
As organizações profissionais estadunidenses estabeleceram diretrizes gerais para avaliação da frequência cardíaca,
baseadas nas evidências existentes. O American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), o Institute for
Clinical Systems Improvement (ICSI) e a Association of Women’s Health, Obstetric and Neonatal Nurses (AWHONN)
publicaram orientações destinadas a auxiliar os médicos no atendimento de pacientes em trabalho de parto. Suas
recomendações são apoiadas por grandes estudos controlados. As seguintes diretrizes para a avaliação da FCF foram
recomendadas:
• Avaliação inicial contínua durante 10 a 20 minutos ao ser admitida à área de trabalho de parto/parto
• Avaliação do risco prénatal e de trabalho de parto em todas as gestantes
• Realização de ausculta intermitente a cada 30 minutos durante o trabalho de parto ativo na gestante de baixo risco e a
cada 15 minutos na gestante de alto risco
• Durante o segundo estágio do trabalho de parto, a cada 15 minutos no caso de parturientes de baixo risco e a cada 5
minutos no caso de parturientes de alto risco, e durante os esforços expulsivos (Agency for Healthcare Research and
Quality [AHRQ, 2014]; Association of Women’s Health, Obstetric and Neonatal Nurses [AWHONN], 2015; Institute
for Clinical Systems Improvement [ICSI], 2015a).
RESULTADOS BASEADOS EM EVIDÊNCIAS | MONITORAMENTO
ELETRÔNICO FETAL VERSUS AUSCULTA INTERMITENTE
Em vários estudos clínicos randomizados que comparam a ausculta intermitente com o monitoramento eletrônico, tanto em
gestantes de alto quanto de baixo risco, não foi encontrada diferença na morte fetal intraparto. No entanto, em todos os
estudos foi consistentemente mantida uma relação enfermeiropaciente de 1:1 durante o trabalho de parto (ICSI, 2015a).
Isso sugere que é essencial que haja um número adequado de funcionários em caso de monitoramento intermitente da FCF
para garantir desfechos ideais para a mãe e para o feto. Não há evidências suficientes para indicar situações específicas em
que o monitoramento eletrônico contínuo da FCF possa resultar em melhores desfechos quando comparado à avaliação
intermitente. No entanto, em gestações que envolvem risco aumentado de morte perinatal, paralisia cerebral ou
encefalopatia neonatal, e quando a ocitocina é usada para indução ou aceleração, recomendase que seja usado o MEF
contínuo em detrimento da ausculta fetal intermitente (Society of Obstetricians and Gynecologists of Canada, 2015).
Monitoramento eletrônico fetal contínuo
O monitoramento eletrônico fetal (MEF) detecta o pulso fetal por meio de um dispositivo Doppler que percebe e analisa
os movimentos dos tecidos usando ultrassom. O dispositivo tem um transdutor que é capaz de enviar e receber ondas
ultrassônicas. As ondas ultrassônicas atravessam o gel de acoplamento acústico, depois os tecidos corporais e acabam
sendo refletidas pelos tecidos. Os ecos refletidos rápidos são analisados e o software na máquina determina a FCF. O
MEF é o método preconizado de acompanhamento do feto durante o parto nas gestações de alto risco. Apesar dos
questionamentos em relação a sua eficácia e da controvérsia sobre o aumento das taxas de partos cirúrgicos associados ao
seu uso, a tococardiografia (TCG) contínua ainda é o método predominante de monitoramento fetal atual (Nageotte, 2015).
As indicações para instituir monitoramento fetal contínuo durante o trabalho de parto estão documentadas nas diretrizes do
National Institute for Health and Care Excellence (NICE). Essas incluem parturientes recebendo infusão por via
intravenosa (IV) de ocitocina; parturientes recebendo analgesia epidural e várias condições relacionadas com
comprometimento da saúde fetal ou materna – ruptura prolongada das membranas corioamnióticas (> 24 horas),
hipertensão arterial moderada (> 150/100 mmHg), retardo confirmado no primeiro ou no segundo estágio do trabalho de
parto e a existência de mecônio (National Institute for Health and care Excellence [NICE], 2014).
No MEF utilizase um aparelho para produzir um traçado contínuo de FCF. Quando o dispositivo de monitoramento
está posicionado, é produzido um som a cada batimento cardíaco. Além disso, é produzido um registro gráfico do padrão
de FCF. O objetivo primário do MEF é fornecer informações sobre a oxigenação fetal e evitar lesões fetais que poderiam
ocorrer em resultado do prejuízo na oxigenação fetal durante o trabalho de parto. O objetivo do MEF é detectar
precocemente alterações na FCF, antes que se tornem prolongadas e profundas. A hipoxia fetal é demonstrada por
alteração do padrão de frequência cardíaca, que é incontestavelmente a etiologia mais comum de lesão e morte fetais que
pode ser evitada por vigilância materna ideal durante o parto e por intervenções precoces (Cox & King, 2015).
Os métodos atuais de MEF contínuo foram introduzidos nos EUA durante a década de 1970, especificamente para uso
em gestantes consideradas de alto risco. No entanto, a utilização desses métodos aumentou gradualmente, e, por fim, eles
passaram a ser utilizados em outras gestantes além daquelas em risco elevado. Esse aumento do uso tornouse
controverso, porque se suspeita que esteja associado à constante elevação nas taxas de realização de cesariana, sem
diminuição associada da incidência de paralisia cerebral (OmoAghoja, 2015). Muitos estudos sugerem que, quando
comparado à ausculta intermitente padronizada, o uso do MEF contínuo intraparto parece aumentar o número de partos
prétermo e cirúrgico, mas não tem efeitos significativos na redução da incidência de morte ou dano neurológico intraparto
a longo prazo. Quando a gestante é admitida à unidade de trabalho de parto, instalase um monitor fetal, sendo a FCF
monitorada continuamente. Um impulso para isso é a natureza contenciosa da sociedade atual, mas os benefícios não
foram comprovados cientificamente. Ao MEF foi dada importância excessiva nos casos que acabam na justiça. Antes de
considerar supostos erros nos eventos do parto, é necessário ter melhor compreensão da neurobiologia desenvolvimental e
das limitações dos biomarcadores atuais (Freeman, 2015). Até o presente momento, o MEF contínuo não é um método
baseado em evidências para determinar as condições de saúde fetal.
Com o MEF, há um registro contínuo da FCF: não existem intervalos sem avaliação, como há na ausculta
intermitente. O conceito de auscultar e avaliar cada batimento cardíaco do feto para possibilitar uma intervenção precoce
parece lógico. Em contrapartida, no entanto, a utilização do monitoramento contínuo pode limitar a movimentação da mãe
e levála a permanecer em decúbito dorsal, o que reduz a perfusão placentária. Apesar das críticas, o MEF continua sendo
um método acurado para determinar a condição de saúde do feto, fornecendo uma impressão momento a momento do
estado da FCF.
Vários grupos dentro da comunidade médica têm criticado o uso do monitoramento fetal contínuo a todas as gestantes,
sejam de alto ou de baixo risco. As preocupações com a eficiência e a segurança do MEF de rotina no trabalho de parto
levaram a reuniões de especialistas nos EUA para recomendar que esse monitoramento seja limitado a gestações de alto
risco. No entanto, seu uso em gestações de baixo risco continua no mundo todo (Maso et al., 2015). Esse continua sendo
um importante tema de pesquisas.
O MEF contínuo pode ser realizado externamente (indiretamente) com o equipamento conectado à parede abdominal
materna, ou internamente (diretamente) com o equipamento ligado ao feto. Ambos os métodos proporcionam uma
impressão contínua da FCF, mas diferem em sua especificidade. A eficácia do controle eletrônico fetal depende da
interpretação exata dos traçados, independentemente do método usado (externo versus interno).
MONITORAMENTO CONTÍNUO EXTERNO
No monitoramento externo, ou indireto, aplicamse dois transdutores de ultrassonografia, cada um dos quais está ligado a
uma cinta em torno do abdome da gestante. Eles são semelhantes aos transdutores do aparelho de Doppler portátil. Um
transdutor é denominado tocotransdutor, um dispositivo sensível à pressão que é aplicada contra o fundo do útero. Esse
transdutor detecta alterações na pressão uterina e converte a pressão registrada em um sinal eletrônico que é registrado em
papel especial (Farine, 2015). O tocotransdutor é colocado sobre o fundo uterino na área de maior contratilidade para
monitorar as contrações uterinas. O outro transdutor de ultrassonografia registra a FCF basal, a variabilidade a longo
prazo, as acelerações e as desacelerações. Ele é posicionado sobre o abdome da gestante, na linha média entre a cicatriz
umbilical e a sínfise púbica. O diafragma do transdutor de ultrassom é movido para um dos lados do abdome até obter um
som forte e, em seguida, é conectado à segunda cinta elástica. Esse transdutor converte os movimentos cardíacos fetais em
bipes e os registra em papel milimetrado (Figura 14.5).
Fornecemse bons dados contínuos a respeito da FCF. O monitoramento externo pode ser usado enquanto as
membranas ainda estão intactas e o colo do útero ainda não está dilatado, mas também pode ser usado em caso de
membranas rompidas e colo do útero dilatado. É um exame não invasivo que pode detectar mudanças relativas na pressão
abdominal entre o tônus de repouso e as contrações uterinas. O monitoramento externo também determina a duração e a
frequência aproximada das contrações, proporcionando um registro permanente da FCF (Casanova, 2015).
Contudo, o monitoramento externo pode restringir os movimentos da gestante. Também não é capaz de detectar a
variabilidade a curto prazo. Podem ocorrer perturbações de sinal devido a obesidade materna, má apresentação fetal e
movimentos do feto, bem como pelos artefatos. O termo artefato é usado para descrever variações irregulares ou ausência
de FCF no registro de monitoramento fetal em decorrência de limitações mecânicas do monitor ou interferência elétrica.
Por exemplo, o monitor pode captar transmissões de rádio da faixa do cidadão, usada por caminhoneiros nas estradas
próximas, e traduzilas em um sinal. Além disso, podem ocorrer lacunas na tira do monitor periodicamente, sem qualquer
explicação.
FIGURA 14.5 Aparelho de monitoramento eletrônico fetal externo contínuo aplicado à gestante em trabalho de
parto.
MONITORAMENTO CONTÍNUO INTERNO
O monitoramento contínuo interno geralmente é indicado para gestantes ou fetos considerados de alto risco. As possíveis
condições incluem gestação múltipla, movimentação fetal diminuída, FCF anormal à ausculta, RCIU, febre materna, pré
eclâmpsia, trabalho de parto disfuncional, parto prétermo ou condições clínicas (como diabetes melito ou hipertensão
arterial). Envolve a colocação de um eletrodo em espiral na parte fetal que se apresenta, geralmente a cabeça, para avaliar a
FCF, e um transdutor de pressão internamente dentro do útero para registrar as contrações uterinas (Figura 14.6). O
eletrodo fetal em espiral é considerado o método mais acurado para detectar características e padrões cardíacos fetais, pois
envolve a recepção de um sinal diretamente do feto (Nageotte, 2015). Em algumas instituições de saúde, enfermeiros
especializados treinados podem colocar o eletrodo em espiral na cabeça fetal quando as membranas estiverem rompidas
para avaliar a FCF, mas não colocam o cateter de pressão intrauterina no útero. O monitoramento interno não precisa
incluir ambos os dispositivos (o cateter de pressão intrauterina e o eletrodo no couro cabeludo). Um eletrodo no couro
cabeludo do feto pode ser utilizado para monitorar o ritmo cardíaco fetal sem monitoramento da pressão intrauterina
materna.
FIGURA 14.6 Monitoramento eletrônico fetal contínuo interno.
Tanto a FCF quanto a duração e o intervalo das contrações uterinas são registrados em papel milimetrado. Esse
método possibilita a avaliação da frequência cardíaca basal e das alterações no ritmo e padrão.
Quatro critérios específicos devem ser atendidos para que esse tipo de monitoramento seja utilizado:
• Ruptura de membranas
• Dilatação do colo do útero de pelo menos 2 cm
• Apresentação fetal baixa o suficiente para possibilitar a colocação do eletrodo no couro cabeludo
• Disponibilidade de profissional qualificado para inserir o eletrodo espiral (ICSI, 2015b).
Comparado com o monitoramento externo, o monitoramento interno contínuo consegue detectar acuradamente as
mudanças e a variabilidade (variação a partir da linha de base) a curto prazo (momento a momento) e as arritmias
cardíacas fetais. Além disso, as alterações na posição e os movimentos maternos não interferem na qualidade do traçado.
Determinação dos padrões de FCF
Por causa dos custos crescentes de processos judiciais relacionados à asfixia durante o parto e a complexidade progressiva
das populações obstétricas, tornouse obrigatório que todos os enfermeiros responsáveis pelo atendimento de parturientes
sejam treinados de modo adequado na interpretação e na documentação dos traçados de tococardiografia, além de
conhecerem muito bem as diretrizes das intervenções baseadas na avaliação do traçado e da situação clínica geral. Os
parâmetros de avaliação da FCR incluem a frequência cardíaca de base e sua variabilidade, a presença de acelerações,
desacelerações periódicas ou episódicas e as mudanças e tendências de padrões de FCF ao longo do tempo. O enfermeiro
precisa ser capaz de interpretar os vários parâmetros para determinar se o padrão de ritmo cardíaco fetal é de categoria I,
que é fortemente preditivo de estado acidobásico fetal normal no momento da observação e não necessita de
intervenção; categoria II, que não é preditivo de estado acidobásico fetal anormal, mas demanda avaliação e
monitoramento contínuo; ou categoria III, que é preditivo de estado acidobásico fetal anormal no período da observação e
requer avaliação e intervenções imediatas, como administrar oxigênio à mãe, mudála de posição, interromper os fármacos
para aceleração do trabalho de parto e/ou tratar a hipotensão materna (Freeman, 2015). A Tabela 14.1 resume essas
categorias.
LINHA DE BASE DA FCF
A linha de base da frequência cardíaca fetal referese à FCF média que ocorre durante um segmento de 10 minutos que
não inclui variações periódicas ou episódicas da frequência, como uma taquicardia ou bradicardia. É avaliada quando a
gestante não tem contrações e o feto não está passando por mudanças episódicas na FCF. A linha de base da FCF normal
varia entre 110 e 160 bpm (National Institute of Child Health and Human Development [NICHD], 2015). A FCF de linha
de base normal pode ser obtida por ausculta, ultrassonografia ou Doppler, ou por um eletrodo fetal interno direto contínuo.
Tabela 14.1 Interpretação dos padrões de FCF.
Categoria I: Preditiva de estado acidobásico fetal normal e não
normal requer intervenção:
• Frequência cardíaca de base (110 a 160 bpm)
• Variabilidade moderada da linha de base
• Existência ou não de acelerações
• Existência ou não de desacelerações precoces
• Ausência de desacelerações tardias ou variáveis
• Pode ser monitorado com ausculta intermitente
durante o parto
Categoria II: Não preditiva de estado acidobásico fetal anormal,
indeterminado mas demanda avaliação e monitoramento
continuado:
• Ocorrência de taquicardia fetal (> 160 bpm)
• Bradicardia (< 110 bpm), não acompanhada de
ausência de variabilidade da linha de base
• Variabilidade de linha de base ausente, não
acompanhada por desacelerações recorrentes
• Variabilidade mínima ou importante
• Desacelerações tardias recorrentes com
variabilidade moderada da linha de base
• Desacelerações recorrentes variáveis
acompanhadas de variabilidade mínima ou
moderada da linha de
base; overshoots ou shoulders (acelerações
variáveis associadas a desacelerações variáveis)
• Desacelerações prolongadas > 2 min, mas < 10
min
Categoria III: Preditiva de estado acidobásico fetal anormal e
anormal requer intervenção:
• Ocorrência de bradicardia fetal (< 110 bpm)
• Desacelerações tardias recorrentes
• Desacelerações variáveis recorrentes – redução
de seu número ou desaparecimento das mesmas
• Padrão sinusoidal (linha de base plana, ondulada)
Adaptada de Association of Women’s Health, Obstetric and Neonatal
Nurses [AWHONN]. (2015). Fetal heart monitoring: Principles and
practices. Washington, D.C.: AWHONN; Cibils, L. A. (2014). Electronic
fetalmaternal monitoring: Antepartum/intrapartum (2nd ed.). New York,
NY: Springer Publishers; Hersh, S., Megregian, M., & Emeis, C. (2014).
Intermittent auscultation of the fetal heart rate during labor: An opportunity
for shared decision making. Journal of Midwifery & Women’s Health, 59,
344–349; e Martin, R. J., Fanaroff, A. A., & Walsh, M. C. (2014). Neonatal
perinatal medicine (10th ed.). Philadelphia, PA: Elsevier Health Sciences.
A bradicardia fetal ocorre quando a FCF mantémse abaixo de 110 bpm por 10 minutos ou mais (Maso et al., 2015).
Pode ser a resposta inicial à asfixia de um feto saudável. As causas da bradicardia fetal podem incluir hipoxia fetal,
hipoglicemia materna prolongada, acidose fetal, administração de analgésicos à mãe, hipotermia, agentes anestésicos
(epidurais), hipotensão materna, hipotermia fetal, compressão prolongada do cordão umbilical e bloqueio atrioventricular
(BAV) fetal congênito (Nageotte, 2015). A bradicardia pode ser benigna se for um evento isolado, mas é considerada um
mau sinal quando acompanhada por diminuição da variabilidade da linha de base e desacelerações tardias.
A taquicardia fetal consiste em uma FCF de linha de base superior a 160 bpm com duração de 10 minutos ou mais
(NICHD, 2015). Pode representar uma resposta compensatória inicial à asfixia. Outras causas de taquicardia fetal incluem
hipoxia fetal, febre materna, desidratação materna, amnionite, fármacos (p. ex., cocaína, anfetaminas, nicotina),
hipertireoidismo materno, ansiedade materna, anemia fetal, prematuridade, infecção fetal, hipoxia crônica, anomalias
congênitas, insuficiência cardíaca fetal e arritmias fetais. A taquicardia fetal é considerada um mau sinal se acompanhada
por diminuição da variabilidade e desacelerações tardias (Yuan, 2015).
VARIABILIDADE DA LINHA DE BASE
A variabilidade da linha de base é definida como flutuações irregulares na linha de base da FCF; é medida como a
amplitude do ponto máximo ao ponto mínimo, em batimentos por minuto (Sholapurkar, 2015). Representa a interação dos
sistemas nervosos simpático e parassimpático. A interação constante (efeito de ação e reação) dos sistemas parassimpático
e simpático na FCF provoca mudança momento a momento da FCF. Como a variabilidade é, em essência, o resultado
combinado da função dos ramos do sistema nervoso autônomo, sua ocorrência implica que os dois ramos estão
trabalhando e recebendo oxigênio suficiente (Timmins & Clark, 2015). Assim, a variabilidade é uma das características
mais importantes da FCF. A variabilidade é descrita nestas quatro categorias:
• Faixa de flutuação indetectável
• Faixa de flutuação observada < 5 bpm
• Faixa de flutuação entre 6 e 25 bpm
• Faixa de flutuação > 25 bpm.
A variabilidade ausente ou mínima geralmente é causada por acidemia fetal secundária a insuficiência uteroplacentária,
compressão do cordão umbilical, feto prétermo, hipotensão materna, hiperestimulação uterina, descolamento prematuro
da placenta ou arritmia fetal. As intervenções para melhorar o fluxo sanguíneo uteroplacentário e a perfusão pelo cordão
umbilical incluem posicionar a gestante em decúbito lateral, aumentar a velocidade de infusão de líquidos IV para
melhorar a circulação materna, administrar oxigênio (8 a 10 ℓ/min por máscara), considerar o monitoramento fetal interno,
documentar os achados e relatálos ao médico. Pode ser necessária preparação para o parto cirúrgico se não ocorrer
alteração alguma depois de tentadas as intervenções.
A variabilidade moderada indica que os sistemas nervosos autônomo e central do feto estão bem desenvolvidos e bem
oxigenados. É considerada um bom sinal de bemestar fetal e está correlacionada com ausência de acidose metabólica
significativa (Figura 14.7).
A variabilidade acentuada ocorre quando há flutuação de mais de 25 batimentos na linha de base da FCF. Suas causas
incluem prolapso ou compressão de cordão umbilical, hipotensão materna, hiperestimulação uterina e descolamento
prematuro da placenta. As intervenções incluem determinar a causa, se possível, posicionar em decúbito lateral, aumentar
a taxa de infusão de líquidos IV, administrar oxigênio (8 a 10 ℓ/min por máscara), interromper a infusão de ocitocina,
observar mudanças no traçado, considerar o monitoramento fetal interno, comunicar um padrão anormal ao médico e
prepararse para um parto cirúrgico se não forem observadas mudanças no padrão (Freeman, 2015).
A variabilidade da FCF é um importante indicador clínico, sendo preditiva do equilíbrio acidobásico fetal e da
perfusão tecidual cerebral. É influenciada pelo estado de oxigenação fetal, débito cardíaco e efeitos de fármacos (King et
al., 2015). Como o sistema nervoso central é insensível à hipoxia e à acidose, a FCF diminui até que surja um padrão de
linha de base sem flutuação. A perda da variabilidade pode estar associada a um desfecho ruim.
Anote!
O MEF externo não consegue avaliar de modo acurado a variabilidade. Portanto, se o monitoramento externo mostrar uma
linha de base que está se tornando uniforme, devese considerar o uso de um eletrodo interno em espiral para obter um
panorama mais acurado do estado de saúde fetal.
FIGURA 14.7 Exemplos de tiras de monitoramento fetal. A. Variabilidade a longo prazo (média ou
moderada). B. Variabilidade mínima. C. Variabilidade moderada. D. Variabilidade acen tuada.
ALTERAÇÕES PERIÓDICAS DA LINHA DE BASE
As alterações periódicas da linha de base são mudanças temporárias e recorrentes feitas em resposta a um estímulo,
como uma contração. A FCF pode apresentar padrões de aceleração ou desaceleração em resposta à maior parte dos
estímulos. As acelerações fetais são elevações transitórias abruptas na FCF acima da linha de base que perduram menos
de 30 segundos do início ao ponto máximo. Estão associadas à estimulação do sistema nervoso simpático. São claramente
visíveis, com elevações na FCF de mais de 15 bpm acima da linha de base; sua duração é superior a 15 segundos, mas
inferior a 2 minutos (NICHD, 2015). Geralmente são consideradas tranquilizadoras e não exigem intervenções. As
acelerações denotam movimentação e bemestar fetal e são a base para o teste sem estresse.
Domínio de conceito
Reação à alteração da FCF causada por sofrimento fetal durante o trabalho de parto
Durante possível sofrimento fetal associado a perda da variabilidade, desacelerações tardias e
taquicardia fetais, a simples mudança da posição da parturiente não constitui medida adequada.
O enfermeiro deve notificar o obstetra imediatamente.
A desaceleração consiste na queda transitória na FCF provocada pela estimulação do sistema nervoso parassimpático.
As desacelerações são descritas por sua forma e associação com a contração uterina. São classificadas somente como
precoces, tardias e variáveis (Figura 14.8).
As desacelerações precoces são claramente visíveis e geralmente simétricas; caracterizamse por uma diminuição
gradual na FCF em que o nadir (ponto mais baixo) ocorre no pico da contração. Raramente diminuem mais do que 30 a 40
bpm abaixo da linha de base. Tipicamente, o aparecimento, o nadir e a recuperação da desaceleração ocorrem ao mesmo
tempo que o início, o pico e a recuperação da contração. São mais frequentemente vistas durante a fase ativa de qualquer
trabalho de parto normal, durante os esforços expulsivos, o coroamento e a extração a vácuo. Acreditase que sejam
decorrentes da compressão da cabeça fetal que resulta em uma resposta vagal reflexa com uma desaceleração resultante na
FCF durante as contrações uterinas. As desacelerações precoces não são indicativas de sofrimento fetal e não requerem
intervenção.
As desacelerações tardias são quedas transitórias, visualmente aparentes e geralmente simétricas da FCF, que ocorrem
após o pico da contração. A FCF não retorna aos valores de base até bem depois de a contração ter terminado. Ocorre um
atraso entre o momento da desaceleração e o nadir da contração uterina. As desacelerações tardias estão associadas à
insuficiência uteroplacentária, que ocorre quando o fluxo sanguíneo dentro do espaço intervilositário é diminuído, a ponto
de haver depressão do miocárdio ou hipoxia fetal (Martin, Fanaroff, & Walsh, 2014). As condições que podem diminuir a
perfusão uteroplacentária com resultantes desacelerações incluem a hipotensão materna, a hipertensão gestacional, o
envelhecimento prematuro da placenta secundário ao diabetes e pósmaturidade, a hiperestimulação via infusão de
ocitocina, o tabagismo materno, a anemia e a doença cardíaca. Estes implicam algum grau de hipoxia fetal. As
desacelerações tardias recorrentes ou intermitentes são sempre de categoria II (indeterminadas) ou categoria III
(anormais), independentemente da grandeza da desaceleração. Os episódios agudos com variabilidade moderada têm maior
probabilidade de serem corrigidos, enquanto os episódios crônicos com perda da variabilidade têm menor probabilidade
(Martin, Fanaroff, & Walsh, 2014). No Boxe 14.1 são destacadas as intervenções para padrões de categoria III.
FIGURA 14.8 Desacelerações. A. Precoce. B. Variável. C. Tardia.
As desacelerações variáveis se manifestam como quedas abruptas claramente visíveis abaixo da linha de base na FCF;
elas têm uma forma imprevisível na linha de base da FCF, possivelmente não demonstrando qualquer relação consistente
com as contrações uterinas. A forma das desacelerações variáveis pode ser em U, V ou W, ou pode não se assemelhar a
outros padrões (Cahill & Spain, 2015). As desacelerações variáveis geralmente ocorrem de modo abrupto, com uma
desaceleração rápida. É o padrão de desaceleração mais comumente encontrado na gestante em trabalho de parto, sendo
geralmente transitório e corrigível (Ugwumadu, 2015). As desacelerações variáveis estão associadas à compressão do
cordão umbilical. No entanto, são classificadas como sendo de categoria II ou III, de acordo com a alteração associada na
variabilidade da linha de base (ICSI, 2015a). O padrão de desaceleração variável consistentemente relacionado com as
contrações, com um retorno lento à linha de base da FCF, exige acompanhamento e avaliação adicionais.
As desacelerações prolongadas são declínios abruptos na FCF de pelo menos 15 bpm que duram mais de 2 minutos,
mas menos de 10 (NICHD, 2015). A frequência normalmente cai para menos de 90 bpm. Muitos fatores estão associados
a esse padrão, incluindo a compressão prolongada do cordão umbilical, o descolamento prematuro da placenta, o prolapso
de cordão umbilical, a posição materna em decúbito dorsal, o exame de toque vaginal, a coleta de sangue fetal, as
convulsões maternas, a anestesia regional ou a ruptura uterina (ACOG & SMFM 2014). As desacelerações prolongadas
podem ser tratadas por meio da identificação e correção da causa subjacente.
BOXE 14.1
INTERVENÇÕES PARA PADRÕES DE CATEGORIA III
• Notifique o médico sobre o padrão e obtenha prescrições adicionais, certificandose de documentar
todas as intervenções e seus efeitos sobre o padrão de FCF
• Interrompa a ocitocina ou outros agentes uterotônicos, conforme descrito pelo protocolo da instituição,
se estiverem sendo administrados
• Coloque a paciente em decúbito lateral esquerdo ou direito, com o joelho no tórax ou em quatro apoios,
para aumentar a perfusão placentária ou aliviar a compressão do cordão umbilical
• Administre oxigênio via máscara facial não reinalante para melhorar a oxigenação fetal
• Aumente a taxa de infusão de líquidos IV para melhorar o volume intravascular e corrigir a hipotensão
arterial materna
• Avalie a paciente por quaisquer causas contribuintes subjacentes
• Tranquilize a paciente de que as intervenções são para efetuar mudança no padrão
• Modifique a força expulsiva no segundo estágio do trabalho de parto para melhorar a oxigenação fetal
• Documente todas as intervenções e quaisquer alterações nos padrões de FCF
• Preparese para um parto cirúrgico rápido se o padrão não for corrigido em 30 minutos
Adaptado de American College of Obstetricians and Gynecologists [ACOG]. (2014). Safe prevention of the
primary cesarean delivery. Obstetric Care Consensus 1, Obstetrics & Gynecology, 123, 693–711; Freeman,
R. K. (2015). Intrapartum fetal heart rate monitoring. Protocols for highrisk pregnancies: An evidence
based approach (pp. 418–422, 6th ed.). John Wiley & Sons; e Cahill, A. G., & Spain, J. (2015). Intrapartum
fetal monitoring. Clinical Obstetrics and Gynecology, 58(2), 263–268.
O padrão sinusoidal é descrito como tendo um padrão claramente visível de onda senoidal plana na linha de base da
FCF, com uma frequência de ciclo de 3 a 5 bpm que persiste durante mais de 20 minutos. É atribuído a uma perturbação
no controle da FCF pelo sistema nervoso central (SNC) e ocorre quando há um grau extremo de hipoxia secundária a
anemia fetal e hipovolemia. É sempre considerado um padrão de categoria III. Para corrigilo, pode ser necessária uma
transfusão fetal intrauterina (Nageotte, 2015).
A obtenção de combinações de padrões de FCF pelo MEF durante o trabalho de parto não é rara. Os padrões de
categoria II e III são mais importantes se forem mistos, persistirem por longos períodos ou tiverem desacelerações tardias
prolongadas frequentes, variabilidade ausente ou mínima, taquicardia ou bradicardia e desacelerações variáveis abaixo de
60 bpm prolongadas. A probabilidade de comprometimento fetal é maior se os padrões de categoria II e III estiverem
associados a variabilidade da linha de base diminuída ou padrões de contração anormal (ICSI, 2015a).
Outros métodos de avaliação fetal
Em situações que sugerem uma possibilidade de comprometimento fetal, como padrões de FCF de categoria II ou III,
podem ser utilizados testes auxiliares adicionais, como a análise do sangue do cordão umbilical e a estimulação do couro
cabeludo fetal, para confirmar os resultados da FCF e auxiliar no planejamento das intervenções.
Anote!
Nos últimos anos, o uso da amostragem de couro cabeludo do feto diminuiu, sendo substituído por técnicas que fornecem
informações semelhantes. Já foi constatado que tem baixo valor preditivo positivo (VPP) para hipoxia intraparto e revisões
sistemáticas recentes não notificaram evidências de benefício em termos de redução das taxas de cesariana
(Chandraharan, 2014).
Análise do sangue do cordão umbilical
A mortalidade e a morbidade infantil e neonatal, incluindo a paralisia cerebral, muitas vezes são atribuídas à acidose fetal,
tal como definido por um valor de pH baixo no sangue do cordão durante o nascimento. A análise acidobásica do sangue
do cordão umbilical retirado ao nascimento é um método objetivo de avaliar a condição do recémnascido, identificando a
presença de hipoxia e acidemia intraparto. Esse teste é considerado um bom indicativo da oxigenação e da condição
acidobásica fetal ao nascimento (Martin, Fanaroff, & Walsh, 2014). A média da variação normal do pH vai de 7,2 a 7,3.
Os valores de pH são úteis para o planejamento de intervenções ao recémnascido com baixa pontuação no Apgar de 5
minutos ao nascer, restrição significativa do crescimento fetal, padrões de categoria II e III durante o trabalho de parto,
prolapso do cordão umbilical, ruptura uterina, febre materna, descolamento prematuro da placenta, líquido amniótico
meconial e parto póstermo (Gujral & Nayar, 2015). As intervenções necessárias para o recémnascido comprometido
podem incluir o fornecimento de um ambiente extrauterino ideal, líquidos, oxigênio, medicamentos e outros tratamentos.
Estimulação do couro cabeludo fetal
Um método indireto utilizado para avaliar a oxigenação do feto e o equilíbrio acidobásico a fim de identificar uma hipoxia
fetal é a estimulação do couro cabeludo fetal ou a estimulação vibroacústica. Se o feto não tiver reservas adequadas de
oxigênio, o dióxido de carbono se acumula, levando à acidemia e à hipoxemia. Esses estados metabólicos são refletidos
em padrões anormais de FCF, bem como em inatividade fetal. A estimulação fetal é realizada para promover o movimento
fetal esperando que as acelerações da FCF acompanhem o movimento.
O movimento fetal pode ser estimulado com um estimulador vibroacústico (laringe artificial) aplicado ao abdome da
gestante e ligado por 3 a 5 segundos para produzir som e vibração ou colocando um dedo enluvado no couro cabeludo fetal
e aplicando pressão firme. Um feto bem oxigenado responderá movimentandose quando estimulado (por estímulos táteis
ou por ruídos), em conjunto com uma aceleração no ritmo cardíaco de 15 bpm acima da linha de base com duração inferior
a 15 segundos. Essa aceleração na FCF reflete um pH superior a 7 e um feto com SNC intacto. A estimulação do couro
cabeludo fetal não é realizada se o feto for prematuro ou se a gestante tiver infecção intrauterina, diagnóstico de placenta
prévia (o que pode levar à hemorragia) ou febre (o que aumenta o risco de infecção ascendente) (King et al., 2015). Se não
houver resposta aceleratória do feto com a estimulação do couro cabeludo e nem com a estimulação vibroacústica, é
necessária avaliação fetal adicional.
Os profissionais de enfermagem têm um papel essencial na avaliação das condições maternas e fetais durante o
trabalho de parto, na vigilância continuada, na iniciação de medidas corretivas, quando indicadas, e na reavaliação. Um
atributo vital da vigilância pela enfermagem é que se trata de um processo sistemático de avaliação, intervenção e
reavaliação.
PROMOÇÃO DE CONFORTO E CONTROLE DA DOR DURANTE O
TRABALHO DE PARTO
A dor durante o trabalho de parto é uma experiência universal, embora sua intensidade possa variar. A dor do trabalho de
parto é uma experiência diferente para cada mulher por causa de vários fatores contribuintes, a saber, fisiológicos,
emocionais, sociais e culturais. Ainda que o trabalho de parto e o parto sejam vistos como processos naturais, podem
produzir dor e desconforto significativos. As causas físicas da dor durante o trabalho de parto incluem a distensão do colo
do útero, a hipoxia do músculo uterino devido à diminuição na perfusão durante as contrações, a pressão sobre a uretra, a
bexiga e o reto, e a distensão dos músculos do assoalho pélvico (Leonard, 2015).
A dor durante o trabalho de parto é um fenômeno fisiológico. A etiologia da dor durante o primeiro estágio do trabalho
de parto está associada a isquemia do útero durante as contrações. No segundo estágio do trabalho de parto, a dor é
provocada pelo estiramento da vagina e do períneo e pela compressão das estruturas pélvicas. A percepção de dor da
gestante pode ser influenciada por suas experiências anteriores com dor, fadiga, antecipação da dor, genética, sistema de
apoio positivo ou negativo, presença e incentivo do profissional de saúde, ambiente de trabalho de parto e parto,
expectativas culturais, nível de estresse emocional e ansiedade. A percepção da intensidade e das características da dor
durante o trabalho de parto se modifica à medida que o trabalho de parto progride e isso está associado a alterações
comportamentais na parturiente (Liu, Fernando, & Mon, 2015).
As técnicas utilizadas para controlar a dor no trabalho de parto variam de acordo com a área geográfica e a cultura. Por
exemplo, algumas mulheres dos Apalaches (cordilheira que se estende do Canadá ao estado do Alabama) acreditam que
colocar um machado ou uma faca sob a cama da parturiente pode ajudar a “cortar a dor do parto”; assim, a gestante dessa
etnia pode querer fazêlo no ambiente hospitalar (Bowers, 2015). Gestantes asiáticas, latinas e judias ortodoxas podem
solicitar que as próprias mães, e não seus maridos, fiquem com elas durante o parto; os maridos não participam
ativamente do processo de nascimento. Gestantes de origem Cherokee, Hmong e japonesa muitas vezes permanecem em
silêncio durante o trabalho de parto e não se queixam de dor, porque expressála não é apropriado em suas culturas. Nunca
interprete o silêncio da gestante como ausência de dor. O conceito de dor e a expressão de dor durante o trabalho de parto
têm significados diferentes para mulheres de culturas diferentes. Entre os pontos que o enfermeiro precisa levar em conta
quando atende mulheres de culturas diferentes estão o uso de um intérprete qualificado para a comunicação sobre a dor,
oferecer e dar suporte (alívio da dor) de modo culturalmente aceitável e avaliação frequente da dor (Wojnar & Narruhn,
2016).
A imigração para outro país é um processo estressante de reajuste e mudanças. A comunicação verbal efetiva e a
compreensão de indícios sociais não verbais são cruciais quando se atendem pessoas de diferentes culturas. Famílias de
diferentes culturas chegam às unidades de trabalho de parto e parto com as mesmas necessidades e desejos de todas as
famílias. Dêlhes o mesmo respeito e acolhimento mostrados a todas as famílias. Certifiquese de que tenham uma
experiência de parto de alta qualidade: defenda seus valores religiosos, étnicos e culturais, e integreos ao cuidado.
Hoje em dia, as gestantes têm muitas escolhas não farmacológicas e farmacológicas seguras para o controle da dor
durante o trabalho de parto, que podem ser usadas separadamente ou em combinação. As abordagens farmacológicas são
direcionadas para a eliminação da sensação física de dor durante do trabalho de parto, enquanto as abordagens não
farmacológicas são direcionadas principalmente para a prevenção do sofrimento.
O enfermeiro está em uma posição ideal para proporcionar informações claras, equilibradas e concisas às mulheres em
idade fértil em relação a medidas farmacológicas e não farmacológicas que efetivamente aliviam a dor. Os padrões de
controle da dor descritos pela Joint Commission exigem que a dor seja avaliada em todas as gestantes admitidas em uma
unidade de saúde. A atenção à dor que ocorre durante o trabalho de parto e o parto deve ser uma prioridade dos cuidados
de todos os profissionais de enfermagem (Jones et al., 2015). Uma ferramenta de avaliação da dor denominada Coping
with Labor Algorithm usa o ciclo “Planejar, Fazer, Verificar e Atuar” do formato FOCUS em parturientes. Essa
ferramenta constitui um meio de documentação da dor e correlaciona a dor com as intervenções de enfermagem
(Roberts et al., 2010). Assim, é importante que os profissionais de enfermagem estejam bem informados sobre as mais
recentes pesquisas científicas em relação às modalidades de alívio da dor no trabalho de parto. Desse modo, o enfermeiro
se certifica de que a parturiente tenha informações acuradas e imparciais sobre medidas eficazes de alívio da dor, a fim de
assegurar que ela determine o que consiste um nível aceitável de dor para ela no trabalho de parto e para possibilitar que
ela escolha seu método preferido de alívio da dor.
Medidas não farmacológicas
As medidas não farmacológicas podem incluir apoio contínuo ao trabalho de parto, hidroterapia, hipnose, deambulação e
mudanças de posição da parturiente, estimulação elétrica transcutânea dos nervos (TENS), acupuntura e acupressão,
técnicas envolvendo focalização da atenção e visualização mental, toque terapêutico e massagem, técnicas respiratórias
e effleurage. A maioria desses métodos se baseia na teoria das “comportas da dor”; essa teoria sugere que a estimulação
física local pode interferir nos estímulos álgicos, fechando um hipotético portão na medula espinal, bloqueando assim os
sinais de dor e impedindo que eles cheguem ao encéfalo (McGeary, Swanholm, & Gatchel, 2015). Há tempos o padrão de
cuidado do enfermeiro da unidade de trabalho de parto tem sido primeiro fornecer ou estimular várias medidas não
farmacológicas antes de passar para as intervenções farmacológicas.
As medidas não farmacológicas geralmente são simples, seguras e baratas. Muitas dessas medidas são ensinadas nas
aulas de preparação para o parto, e as gestantes devem ser encorajadas a experimentar vários métodos antes do trabalho de
parto real. Diversas medidas precisam ser praticadas previamente para obter melhores resultados e ser coordenadas com o
parceiro/treinador. O enfermeiro fornece apoio e incentivo à mulher e ao seu parceiro, usando métodos não
farmacológicos. Embora as gestantes não consigam controlar conscientemente as contrações, podem dominar o modo
como respondem a elas, aumentando assim a sensação de controle. Ver boxe Prática baseada em evidências 14.2 para mais
informações.
Apoio contínuo ao trabalho de parto
O apoio contínuo ao trabalho de parto consiste em oferecer presença constante à parturiente, prestando apoio emocional,
medidas de conforto, defesa, informações e aconselhamento, e apoio ao parceiro. Tratase de uma estratégia baseada em
evidências e não farmacológica associada a redução das taxas de cesariana (Jackson & Gregory, 2015). A família da
parturiente, a parteira, o enfermeiro, a doula ou qualquer outra pessoa próxima da parturiente pode proporcionar essa
presença contínua. A acompanhante pode ajudar a mulher a deambular, a reposicionarse e a usar técnicas respiratórias.
Também pode ajudar com o uso da acupuntura, massagem, musicoterapia ou toque terapêutico. Durante o curso natural do
parto, a capacidade funcional da parturiente é limitada pela dor, e ela muitas vezes tem dificuldades para tomar decisões. A
acompanhante pode ajudar a parturiente a tomálas, com base no que ela sabe sobre o plano de parto e os desejos pessoais
da mulher.
Pesquisas confirmaram o valor do apoio contínuo versus intermitente no trabalho de parto em termos de menos partos
cirúrgicos, partos cesáreos e pedidos de medicação para dor. O suporte contínuo ao trabalho de parto exerce
comprovadamente efeitos benéficos na mãe e no recémnascido basicamente por causa da redução da ansiedade durante a
experiência do trabalho de parto. A maioria das mulheres expressou maior satisfação com suas experiências de dar à luz
(Iravani et al., 2015).
Anote!
A presença humana é de valor imensurável para fazer com que a parturiente se sinta segura.
Hidroterapia
A hidroterapia é uma medida não farmacológica que pode envolver uma ducha ou a imersão em uma banheira comum ou
de hidromassagem. Quando a ducha é o método selecionado de hidroterapia, a parturiente permanece em pé ou se senta em
uma cadeira de banho sob um chuveiro com água morna, deixando a água deslizar suavemente sobre seu abdome e suas
costas. Se for escolhida uma banheira de hidromassagem, a parturiente submerge na água morna para promover
relaxamento e alívio do desconforto. Quando a parturiente entra na água tépida, o calor e a flutuabilidade ajudam a liberar
a tensão muscular e podem promover uma sensação de bemestar (Taghavi, Barband, & Khaki, 2015). A água morna
fornece estimulação calmante dos nervos cutâneos, promovendo vasodilatação, reversão da resposta nervosa simpática e
redução das catecolaminas (Dalal, 2015). As contrações geralmente são menos dolorosas em água morna, pois o calor e a
flutuabilidade da água exercem um efeito relaxante. Uma pesquisa recente detectou que as mulheres submetidas à
hidroterapia apresentaram redução significativa nas taxas de parto cirúrgico, um segundo estágio do trabalho de parto mais
curto, redução da necessidade de analgésicos e menor incidência de traumatismo perineal (Taghavi, Barband, & Khaki,
2015). A pesquisa concluiu que a hidroterapia durante o trabalho de parto auxilia significativamente nesse processo,
minimiza o uso de medicamentos analgésicos, oferece alívio rápido e de curta duração da dor e alívio da ansiedade,
devendo ser considerada um auxílio seguro e efetivo ao parto (Taghavi, Barband, & Khaki, 2015).
Prática baseada em evidências 14.2
Efetividade de aromaterapia e biofeedback na promoção do desfecho do trabalho de parto durante
o parto de primigestas.
ESTUDO
A dor do trabalho de parto é descrita como a dor mais intensa que as mulheres já sentiram em toda a sua
vida. Quando se considera a analgesia durante o trabalho de parto, existem várias opções e cada uma tem
vantagens e desvantagens diferentes dependendo das expectativas e preferências da parturiente. Muitas
parturientes gostariam de não usar medicamentos ou métodos invasivos para controle da dor por causa do
impacto negativo potencial nos fetos durante o trabalho de parto. A dor intensa deflagra uma resposta de
estresse que pode ter efeitos deletérios na mãe e no feto. O propósito desse estudo foi avaliar o efeito de
aromaterapia (óleos essenciais de plantas são massageados na pele e inalados) e biofeedback (a
parturiente era solicitada a vivenciar os sons cardíacos fetais e a variação nas contrações e
conscientemente regulálas) na promoção dos desfechos do trabalho de parto.
Achados
Seiscentas mulheres nulíparas foram escolhidas aleatoriamente e designadas para um grupo que recebeu
aromaterapia (n = 200), para um grupo que recebeu biofeedback (n = 200) ou para um grupocontrole (n =
200). Os pesquisadores classificaram a dor usando uma escala analógica visual de dor durante o trabalho
de parto. Sessenta e nove por cento de casos no grupo da aromaterapia expressaram que esta foi útil,
aliviou a dor e promoveu bemestar emocional durante o trabalho de parto. Biofeedback também foi efetivo
na redução da dor e da duração do trabalho de parto em comparação com o grupocontrole.
Implicações para a enfermagem
Os resultados desse estudo indicaram que o uso de aromaterapia e biofeedback como métodos não
farmacológicos foram efetivos na redução da percepção de dor e da duração do trabalho de parto das
parturientes. Como intervenções de enfermagem não farmacológicas, são de fácil administração, custo
efetivas, inofensivas e atraentes para as parturientes sem aparentes efeitos adversos maternos ou
neonatais.
Adaptado de Janula, R., & Mahipal, S. (2015). Effectiveness of aromatherapy and biofeedback in
promotion of labor outcome during childbirth among primigravidas. Health Science Journal, 9(1), 1–5.
Diversas opções de hidroterapia estão disponíveis, de banheiras comuns a banheiras de hidromassagem e duchas,
combinadas a baixa iluminação e música. Muitos hospitais oferecem duchas e banheiras de hidromassagem a parturientes
para alívio da dor. No entanto, nos EUA a hidroterapia é mais comumente praticada nas casas de parto gerenciadas por
parteiras. A recomendação para iniciar a hidroterapia é que a gestante esteja em trabalho de parto (mais de 5 cm de
dilatação) para evitar a desaceleração das contrações em decorrência do relaxamento muscular. As membranas amnióticas
podem estar intactas ou rompidas. A parturiente é encorajada a ficar na banheira ou no chuveiro enquanto se sentir
confortável. A temperatura da água não deve exceder a temperatura corporal.
A hidroterapia é uma opção efetiva de manejo da dor para muitas parturientes. As mulheres que passam por uma
gestação saudável podem optar por recebêla. Os potenciais riscos associados à hidroterapia incluem hipertermia,
hipotermia, alterações da frequência cardíaca materna, taquicardia fetal e parto subaquático não planejado. Os benefícios
incluem redução da dor, alívio da ansiedade e promoção de sensação de controle durante o trabalho de parto (Nutter,
2016).
Deambulação e mudanças de posição
A deambulação e as mudanças de posição durante o trabalho de parto são outra medida de conforto extremamente útil.
Historicamente, as gestantes têm adotado várias posições durante o trabalho de parto, raramente usando o decúbito dorsal
até a primeira metade do século XX. Os médicos preferem o decúbito dorsal durante o trabalho de parto, mas sem
evidências que demonstrem sua adequação. Uma recente revisão sistemática da base de dados Cochrane relata que há
evidências de que a deambulação e as posições ortostáticas no primeiro estágio do trabalho de parto reduzem sua duração e
não parecem estar associadas a aumento na quantidade de intervenções nem a efeitos negativos no bemestar das
parturientes e dos fetos. Na posição ortostática a gravidade direciona o peso do feto e do líquido amniótico para baixo,
dilatando sucessivamente o colo do útero e o canal de parto. Constatouse que as contrações uterinas se mostraram mais
bem espaçadas, mais fortes e mais eficientes na dilatação do colo do útero quando a parturiente fica em posição ortostática
em comparação ao decúbito dorsal (Cox & King, 2015). No primeiro estágio do trabalho de parto, as parturientes devem
ser encorajadas a assumir qualquer posição que lhes for mais confortável (Cheng & Caughey, 2015a).
Mudar de posição com frequência (mais ou menos a cada 30 minutos) – sentar, deambular, ficar ajoelhada, em pé,
deitada, em quatro apoios e usar uma bola suíça – ajuda a aliviar a dor (Figura 14.9). As mudanças de posição também
ajudam a acelerar o trabalho de parto, adicionando os benefícios do efeito da gravidade e da mudança no formato da pelve.
Uma pesquisa concluiu que a posição adotada pela parturiente e a frequência das mudanças de posição exercem profundo
efeito sobre a atividade e a eficiência uterinas. Possibilitar que a parturiente assuma uma posição de conforto
frequentemente facilita uma rotação fetal favorável pela alteração no alinhamento entre a parte que se apresenta e a pelve.
Conforme a parturiente continua mudando de posição de acordo com seu conforto, é proporcionada a apresentação ideal
(King et al., 2015). O decúbito dorsal deve ser evitado, uma vez que pode interferir no progresso do trabalho de parto,
causar compressão da veia cava e diminuir o retorno venoso ao coração.
Oscilar o peso corporal de um lado para outro, balançar ou fazer outros movimentos rítmicos também podem ser
reconfortantes. Se o trabalho de parto estiver evoluindo lentamente, deambular pode acelerálo de novo. Posições verticais
– como caminhar, ajoelharse inclinando para frente ou fazer o movimento de avanço na bola suíça – dão à maioria das
parturientes maior sensação de controle e movimento ativo do que apenas ficar deitada. A Tabela 14.2 destaca algumas das
posições mais comuns que podem ser usadas durante o trabalho de parto.
Acupuntura e acupressão
A acupuntura e a acupressão podem ser usadas para aliviar a dor durante o trabalho de parto. Embora os estudos
controlados utilizando esses métodos sejam limitados, existem evidências adequadas de que ambos são úteis no alívio da
dor associada ao trabalho de parto e ao parto. No entanto, os dois métodos exigem a presença de um acupunturista
treinado, e essa pessoa não está disponível em muitas instituições de parto (Halpern & Garg, 2015).
A acupuntura envolve a estimulação de pontosgatilhochave com agulhas. Essa modalidade de medicina chinesa é
praticada há aproximadamente 3.000 anos. Os ensinamentos chineses clássicos afirmam que existem meridianos ou canais
de energia (qi) em todo o corpo que, quando em equilíbrio, regulam as funções do corpo. A dor reflete o desequilíbrio ou
obstrução do fluxo de energia. O objetivo da acupuntura é restaurar a energia, diminuindo assim a dor (Adams et al.,
2015). A estimulação dos pontosgatilho provoca a liberação de endorfinas, reduzindo a percepção da dor.
A acupressão envolve a aplicação de pressão firme com um dedo ou massagem utilizada na acupuntura para reduzir a
sensação de dor. A intensidade da pressão exercida é importante. A intensidade da pressão é determinada pelas
necessidades da mulher. Segurar e apertar a mão da parturiente pode estimular o ponto mais comumente empregado nas
duas técnicas. Alguns pontos de acupuntura são encontrados ao longo da coluna vertebral, no pescoço, nos ombros, nos
dedos dos pés e nas regiões plantares. A compressão ao longo da lateral da coluna vertebral pode ajudar a aliviar a dor nas
costas durante o trabalho de parto (Figura 14.10) (Mollart, Adam, & Foureur, 2015). Uma revisão da Cochrane
Collaboration detectou que a acupuntura realmente reduz a dor do trabalho de parto, aumentando a satisfação com o
manejo da dor e reduzindo o uso de tratamento farmacológico. No entanto, são necessárias mais pesquisas (Simkin &
Klein, 2015).
FIGURA 14.9 Várias posições que podem ser adotadas durante o trabalho de parto. A. Deambulação. B. Inclinação
para frente. C. Sentar em uma cadeira. D. Uso de uma bola suíça.
Termoterapia e crioterapia
As aplicações superficiais de calor e/ou frio, de vários modos, são abordagens populares entre as mulheres em trabalho de
parto. São fáceis de usar, de baixo custo, não demandam prática anterior e têm efeitos colaterais negativos mínimos
quando usadas corretamente. O calor é tipicamente aplicado nas costas, na região inferior do abdome, na região inguinal
e/ou no períneo da parturiente. As fontes de calor incluem bolsas de água quente, meias cheias de arroz aquecido,
compressas mornas (pano embebido em água morna e espremido), almofada elétrica, cobertor aquecido e banho ou ducha
morna. Além de ser utilizado para o alívio da dor, o calor é usado para aliviar calafrios ou tremores, diminuir a rigidez
articular, reduzir o espasmo muscular e aumentar a extensibilidade do tecido conjuntivo (Liu, Fernando, & Mon, 2015).
Habitualmente, a crioterapia (uso terapêutico do frio) é aplicada às costas, ao tórax e/ou ao rosto da mulher durante o
trabalho de parto. As modalidades de crioterapia incluem uma bolsa ou luva cirúrgica cheia de gelo, bolsa de gel
congelado, gelo para campismo, garrafa plástica cheia de gelo, toalha embebida em água fria, latas de refrigerante
refrigeradas em gelo e, até mesmo, sacos de legumes congelados. As bolsas “instantâneas” de crioterapia, muitas vezes
disponíveis em hospitais, geralmente não são frias o suficiente para efetivamente aliviar a dor do trabalho de parto. As
parturientes que estão com frio geralmente precisam sentirse aquecidas antes que possam tolerar confortavelmente o uso
de uma bolsa de crioterapia. Latas de refrigerante geladas e rolos de massa cheios de gelo dão o benefício adicional da
pressão mecânica quando pressionados sobre a coluna lombar. O frio tem os efeitos adicionais de aliviar os espasmos
musculares e reduzir a inflamação e o edema (Tharpe, Farley, & Jordan, 2016).
Tabela 14.2 Posições comuns a
serem adotadas
durante o trabalho
de parto e o parto.
Posição ortostática • Aproveita a força
da gravidade
durante e entre
as contrações
• Faz com que as
contrações
pareçam menos
dolorosas e sejam
mais produtivas
• Ajuda o feto a
alinharse
paralelamente
com o ângulo da
pelve materna
• Ajuda a aumentar
o desejo de fazer
esforços
expulsivos
durante o
segundo estágio
do trabalho de
parto
Deambulação • Tem as mesmas
vantagens da
posição
ortostática
• Causa alterações
nas articulações
pélvicas,
ajudando o feto a
passar pelo canal
de parto
Posição ortostática, inclinandose para frente por • Tem as mesmas
sobre o parceiro, a cama ou a bola suíça vantagens da
posição
ortostática
• É uma boa
posição para
massagem nas
costas
• Pode ser mais
repousante do
que ficar em pé
• Pode ser usada
com o monitor
fetal eletrônico
Dança lenta (gestante em pé, com os braços em • Apresenta as
volta do pescoço do parceiro, cabeça apoiada mesmas
sobre o tórax ou ombro dele; as mãos do vantagens da
parceiro massageiam a coluna lombar da deambulação
gestante; a gestante pode balançar o corpo de
• A massagem nas
acordo com a música e respirar no mesmo
costas ajuda a
ritmo, se isso ajudar)
aliviar a dor nesse
local
• O ritmo e a
música ajudam a
gestante a relaxar
e proporcionam
conforto
Avanço (lunge) (ficar em pé diante de uma • Alarga um lado
cadeira de espaldar reto, com um pé no da pelve (o lado
assento e o outro joelho e o outro pé na em direção ao
lateral; oscilar o joelho e o quadril elevados e avanço)
avançar para os lados repetidamente durante
• Incentiva a
uma contração, segurando cada avanço por 5
rotação do feto
segundos; o parceiro segura a cadeira e
auxilia no equilíbrio) • Também pode ser
feito em uma
posição ajoelhada
Sentada com as costas retificadas • Ajuda a promover
o repouso
• Aproveita melhor
as vantagens do
efeito da
gravidade do que
a posição deitada
• Pode ser usada
com o monitor
fetal eletrônico
Semirreclinada (colocar a cabeceira do leito em • Tem as mesmas
um ângulo de 45°, utilizando travesseiros para vantagens que a
apoio) posição sentada
• É uma posição
fácil se a gestante
estiver no leito
Sentada no vaso ou na cadeira sanitária • Tem as mesmas
vantagens que a
posição sentada
• Pode ajudar a
relaxar o períneo
e possibilitar
esforços
expulsivos
efetivos
Balançar em uma cadeira • Tem as mesmas
vantagens que a
posição sentada
• Pode ajudar a
acelerar o
trabalho de parto
(movimento de
balanço)
Sentada, inclinada para frente com apoio • Tem as mesmas
vantagens que a
posição sentada
• É uma boa
posição para
massagem nas
costas
Quatro apoios, sobre mãos e joelhos • Ajuda a aliviar a
dor nas costas
• Ajuda o feto a
rodar na posição
posterior
• Possibilita a
oscilação pélvica
e o movimento do
corpo
Alivia a pressão
• sobre as
hemorroidas
Possibilita
•
exames de toque
vaginal
• Às vezes, é a
posição preferida
pela gestante
com lombalgia
para fazer os
esforços
expulsivos
Ajoelhada, inclinada para frente e apoiada no • Apresenta as
assento de uma cadeira, cabeceira do leito em mesmas
posição elevada ou bola suíça vantagens da
posição de quatro
apoios
• Coloca menos
pressão sobre os
punhos e as
mãos
Decúbito lateral • É uma posição
muito boa para o
repouso e
conveniente para
muitos tipos de
intervenções
médicas
• Ajuda a reduzir a
pressão arterial
elevada
• Pode promover o
progresso do
trabalho de parto
quando alternado
com a
deambulação
• É útil para
retardar um
segundo estágio
do trabalho de
parto muito rápido
• Evita a síndrome
de hipotensão
supina da
gravidez
(compressão da
veia cava inferior)
• Pode melhorar o
controle sobre os
esforços
expulsivos
• Elimina a pressão
sobre as
hemorroidas
• Facilita o
relaxamento entre
as contrações
Agachamento • Pode aliviar a dor
nas costas
• Aproveita a força
da gravidade
• Demanda menos
esforços
expulsivos
• Amplia a abertura
inferior da pelve
em
aproximadamente
28%
• A pressão é
distribuída
uniformemente
sobre o períneo,
reduzindo a
necessidade de
realização de
episiotomia
• Pode ajudar o
feto a virar e
descer em um
parto difícil
• Ajuda se a
gestante não
sentir vontade de
fazer esforço para
baixo
• Possibilita a
liberdade de
transferir o peso
para o conforto
• Oferece uma
vantagem ao
empurrar, já que
o tronco superior
pressiona a parte
superior do útero
Agachamento apoiado (gestante se recosta no • Demanda que o
parceiro, que apoia a mulher sob os braços e parceiro faça
sustenta todo o seu peso; ficar em pé entre as bastante força
contrações)
• Alonga o tronco,
possibilitando
mais espaço para
que o feto
manobre até
chegar à posição
• Incrementa a
ação da
gravidade
Suspensa (parceiro sentado na cabeceira do leito • Apresenta as
ou encosto da cadeira com os pés apoiados mesmas
no apoio de braço da cadeira e as coxas vantagens do
afastadas; a gestante recostase entre as agachamento
pernas do parceiro, colocando os braços apoiado
flexionados sobre as coxas dele; o parceiro
• Demanda menos
apoia as laterais da gestante com suas coxas;
força física do
a gestante abaixase e solta todo o seu peso
parceiro
sobre o parceiro; ficar em pé entre as
contrações)
Adaptada de Gizzo, S., Di Gangi, S., Noventa, M., Bacile, V., Zambon, A.,
& Nardelli, B. (2014). Women’s choice of positions during labor: Return to
the past or a modern way to give birth? A cohort study in Italy. BioMed
Research International, 2014, 638093,
doi: http://dx.doi.org/10.1155/2014/638093; Hanson, L., & VandeVusse, L.,
(2014). Supporting labor progress toward physiologic birth. Journal of
Perinatal & Neonatal Nursing, 28(2), 101–107; e Magowan, B., Owen, P., &
Thomson, A. (2014). Clinical obstetrics & gynecology (3rd ed.). St. Louis,
MO: Saunders Elsevier.
Até o momento, nenhum estudo controlado e randomizado avaliou o uso de calor e frio, portanto, é necessário estudo
adicional para determinar se uma das abordagens é eficaz. Com as precauções de segurança adequadas, a termoterapia e a
crioterapia oferecem conforto e alívio; seu uso deve ser ditado pelos desejos e respostas da parturiente.
FIGURA 14.10 Enfermeira massageando as costas da parturiente durante uma contração, enquanto ela deambula
durante o trabalho de parto.
Focalização da atenção e visualização mental
A focalização da atenção e a visualização mental usam muitos dos sentidos e a mente para focalizar em estímulos. A
parturiente pode focalizar em estímulos táteis, como toque, massagens ou carícias. Pode focalizar em estímulos auditivos,
como músicas, murmúrios ou estímulos verbais. Os estímulos visuais podem ser qualquer objeto do quarto, ou a
parturiente pode imaginar uma praia, uma montanha, uma lembrança feliz ou até mesmo as contrações do músculo uterino
forçando o colo a se abrir e o feto pressionando para baixo para abrir o colo do útero. Algumas parturientes se concentram
em uma atividade mental específica, como uma canção, cantiga, contagem reversa ou versículo da Bíblia. A respiração, o
relaxamento, o pensamento positivo e a visualização positiva funcionam bem para as mulheres em trabalho de parto. O uso
dessas técnicas impede que as informações sensoriais percebidas durante a contração cheguem à área de dor no córtex
cerebral (Capogna, 2015a).
Effleurage e massagem
A effleurage consiste em um toque leve, deslizante e superficial no abdome, no ritmo da respiração, durante as contrações.
É usada como uma técnica de relaxamento e distração do desconforto. As cintas de monitoramento fetal externo podem
interferir em sua realização.
A effleurage e a massagem usam o sentido do tato para promover relaxamento e alívio da dor. A massagem funciona
como uma modalidade de alívio da dor pelo aumento da produção de endorfinas no corpo. As endorfinas reduzem a
transmissão de sinais entre as células nervosas, diminuindo assim a percepção de dor. Como os estímulos dos receptores
táteis chegam ao encéfalo mais rápido do que os dos receptores de dor, a massagem – em qualquer parte do corpo – pode
bloquear a mensagem de dor para o encéfalo. Além disso, percebeuse que o toque leve libera endorfinas e induz a um
estado relaxado. O toque e a massagem também distraem a parturiente do desconforto. A massagem envolve a
manipulação dos tecidos moles do corpo. É comumente usada para ajudar a relaxar os músculos tensos e para promover
relaxamento e tranquilidade. A massagem ajuda a aliviar a dor porque promove relaxamento, inibe a transmissão sensorial
nas vias de dor ou melhora o fluxo sanguíneo e a oxigenação dos tecidos (Neetu & Panchal, 2015).
Técnicas respiratórias
O uso consciente da respiração pela parturiente tem o poder de influenciar profundamente em seu trabalho de parto e em
como ela participa do processo. A primeira ação em qualquer situação é respirar fundo. A respiração afeta os pulmões,
imediatamente sinalizando o sistema nervoso. O sistema nervoso responde enviando mensagens que impactam todo o
nosso sistema psicofisiológico. Essas mensagens nos afetam física, emocional e mentalmente. Se mudarmos o modo
como respiramos, modificamos o conjunto de mensagens e reações em toda a nossa experiência mentecorpo (Cheng &
Caughey, 2015a).
As técnicas respiratórias efetivamente promovem relaxamento e alívio da dor por meio do uso da distração. Se a
parturiente estiver se concentrando na respiração rítmica lenta, ela não consegue focalizar totalmente na dor da contração.
As técnicas respiratórias são frequentemente ensinadas nas aulas de preparação para o parto (ver Capítulo 12 para mais
informações).
A respiração controlada ajuda a reduzir a dor experimentada pelo condicionamento do estímuloresposta. A parturiente
escolhe um ponto focal dentro de seu ambiente para olhar durante o primeiro sinal de uma contração. Essa focalização
produz um estímulo visual que vai diretamente para o encéfalo. A parturiente toma uma inspiração profunda de limpeza,
que é seguida pela respiração rítmica. Comandos verbais de seu parceiro fornecem um estímulo auditivo contínuo ao seu
encéfalo. Os benefícios da prática da respiração controlada incluem:
• A respiração se torna uma resposta automática à dor
• A respiração aumenta o relaxamento e pode ser usada para lidar com as tensões diárias da vida
• A respiração tem efeito calmante durante o trabalho de parto
• Respirar proporciona uma sensação de bemestar e é uma medida de controle
• A respiração traz propósito a cada contração, tornandoa mais produtiva
• A respiração fornece mais oxigênio para a parturiente e para o feto (American Pregnancy Association, 2015).
Muitos casais aprendem a respiração de ritmo padronizado durante as aulas de preparação para o parto. Três padrões
podem ser ensinados, cada um começando e terminando com a respiração de limpeza ou com suspiro depois de cada
contração uterina. No primeiro padrão, também conhecido como respiração em ritmo lento, a gestante inspira lentamente
pelo nariz e expira pela boca. A frequência respiratória tipicamente é de 6 a 9 incursões por minuto. No segundo padrão, a
gestante inspira e expira pela boca a uma frequência de quatro incursões respiratórias a cada 5 segundos. A frequência
pode ser acelerada para duas respirações por segundo para ajudála a relaxar. O terceiro padrão é semelhante ao segundo
padrão, exceto que a respiração é interrompida após algumas incursões respiratórias por uma expiração forçada pela boca.
Todos os ciclos são mantidos iguais e rítmicos e podem se acelerar à medida que as contrações aumentam de intensidade
(Lindholm & Hildingsson, 2015).
Muitos treinadores de parto não recomendam técnicas respiratórias específicas e nem tentam ensinar os pais a respirar
de uma maneira “certa” durante o trabalho de parto e o parto. Os casais são encorajados a encontrar estilos respiratórios
que melhorem seu relaxamento e a usálos. Há inúmeros benefícios para a respiração controlada e rítmica no parto
(descritos anteriormente) e muitas mulheres optam por essas técnicas para gerenciar seu desconforto durante o trabalho de
parto.
Medidas farmacológicas
Com variados graus de sucesso, gerações de gestantes têm procurado modos de aliviar a dor do parto. As medidas
farmacológicas de alívio da dor durante o trabalho de parto incluem a analgesia sistêmica e a anestesia regional ou local.
As mulheres observaram mudanças drásticas nas opções farmacológicas de controle da dor ao longo dos anos. Os métodos
evoluíram de morder um pedaço de madeira para controlar a dor, passando pela indução de “sono crepuscular” durante o
trabalho de parto (resultando em amnésia) até uma abordagem farmacológica mais complexa como analgesia
epidural/intratecal. A analgesia sistêmica e a analgesia/anestesia regional tornaramse menos comuns, enquanto as técnicas
de analgesia/anestesia neuroaxial mais recentes envolvendo um bloqueio motor mínimo têm se tornado mais populares.
A analgesia/anestesia neuraxial consiste na administração de agentes analgésicos (opioides) ou anestésicos (capazes de
provocar perda de sensibilidade em uma área do corpo) de modo contínuo ou intermitente no espaço epidural ou intratecal,
para aliviar a dor. A analgesia epidural em doses baixas e ultrabaixas, a analgesia raquidiana e a analgesia raquiepidural
combinadas têm substituído a tradicional epidural para o parto. A analgesia neuraxial não interfere no progresso ou no
desfecho do trabalho de parto. Assim, não há necessidade de adiar o seu uso até a fase ativa do trabalho de parto (Grant et
al., 2015). Essa mudança nas técnicas de manejo da dor possibilita que a gestante seja uma participante ativa no trabalho
de parto.
Anote!
Independentemente de qual abordagem é usada durante o trabalho de parto, a gestante tem o direito de escolher os
métodos de controle da dor que mais bem se adéquem a ela e satisfaçam suas necessidades.
Analgesia sistêmica
A analgesia sistêmica envolve a utilização de um ou mais fármacos administrados por via oral, intramuscular ou IV; esses
fármacos são distribuídos por todo o corpo pelo sistema circulatório. Dependendo do método de administração utilizado, o
efeito terapêutico de alívio da dor pode ocorrer dentro de minutos e durar várias horas. As complicações mais importantes
associadas ao uso dessa classe de fármacos é a depressão respiratória. Portanto, as gestantes que recebem esses
medicamentos necessitam de monitoramento cuidadoso. Os opioides administrados perto do momento do parto podem
causar depressão do SNC no recémnascido, sendo necessária a administração de naloxona para reverter os efeitos
depressores dos opioides.
Diversas categorias de fármacos podem ser utilizadas para a analgesia sistêmica:
• Opioides, como o butorfanol, a nalbufina, a meperidina, a morfina ou a fentanila
• Antieméticos, como a hidroxizina, a prometazina ou a proclorperazina
• Benzodiazepínicos, como o diazepam ou o midazolam.
O boxe Orientação sobre medicamentos 14.1 destaca alguns dos principais fármacos usados para a analgesia sistêmica.
Os analgésicos sistêmicos são, tipicamente, administrados por via parenteral, em geral utilizando um acesso
intravenoso existente. Quase todas as medicações administradas durante o trabalho de parto atravessam a placenta e
exercem efeito depressor sobre o feto; portanto, é importante que a parturiente receba a menor dose de medicação
sistêmica que alivie o desconforto sem causar dano ao feto (Cheng & Caughey, 2015a). Historicamente, os opioides têm
sido administrados por enfermeiros; contudo, na última década, tem havido um aumento do uso da analgesia intravenosa
controlada pela paciente. Nesse sistema, a parturiente recebe um dispositivo com um botão ligado a uma bomba
computadorizada conectada ao acesso intravenoso. Quando ela deseja analgesia, ela aperta o botão e a bomba administra
um valor predefinido de medicação. Esse sistema dá à parturiente uma sensação de controle sobre seu próprio tratamento
da dor e participação ativa no processo de parto.
OPIOIDES
Os opioides são fármacos semelhantes à morfina que são mais efetivos para o alívio da dor moderada a grave.
Tipicamente os opioides são administrados por via intravenosa. Todos os opioides são lipofílicos e atravessam a barreira
placentária, mas não afetam o progresso do trabalho de parto na fase ativa. Os opioides estão associados a depressão
respiratória neonatal, diminuição do estado de alerta, inibição da sucção e atraso na alimentação efetiva (King et al., 2015).
Os opioides diminuem a transmissão de impulsos da dor ao ligarse a um receptor nas vias que transmitem os sinais
de dor ao encéfalo. O efeito é o aumento da tolerância à dor e a depressão respiratória relacionada à diminuição na
sensibilidade ao dióxido de carbono (SkidmoreRoth, 2015). Todos os opioides são bons analgésicos. No entanto, pode
ocorrer depressão respiratória tanto na parturiente quanto no feto, dependendo da dose administrada. Também podem
causar diminuição na variabilidade da FCF, identificada no monitoramento fetal. Essa mudança de padrão da FCF
geralmente é transitória. Outros efeitos colaterais sistêmicos incluem náuseas, vômitos, prurido, retardo no esvaziamento
gástrico, sonolência, hipoventilação e depressão do recémnascido. Para reduzir a incidência deste último, o parto deve
ocorrer 1 a 4 horas após a administração, para evitar que o feto receba a concentração máxima (Cheng & Caughey, 2015a).
Orientação sobre medicamentos 14.1
Agentes comumente utilizados para a analgesia sistêmica.
Atravessa rapidamente a
placenta, provoca diminuição
na variabilidade da FCF
Pode causar depressão dos
SNC materno e neonatal
Diminui as contrações uterinas
Meperidina 25 Pode ser administrada por via
a 75 mg IV IV, intratecal ou epidural, com
absorção máxima pelo feto 2 a
3 h após a administração
Pode causar depressão do
SNC
Diminui a variabilidade da FCF
Butorfanol 1 a É administrado por via IV
2 mg IV a cada
É rapidamente transferido
2 a 4 h
através da placenta para o
feto
Causa depressão respiratória
neonatal
Nalbufina 10 a É administrada por via IV e
20 mg IV provoca menos náuseas e
vômitos na parturiente
Provoca diminuição na
variabilidade da FCF,
bradicardia fetal e depressão
respiratória
Fentanila 50 a É administrada por via IV ou
100 μg IV epidural
Pode causar hipotensão
materna, depressão
respiratória materna e fetal
Atravessa rapidamente a
placenta
É usada para diminuir as
náuseas e os vômitos
Prometazina 25 É usada para efeito
a 50 mg IV ou antiemético quando
IM combinada a opioides
Provoca sedação e reduz a
apreensão
Pode contribuir para a
hipotensão materna e
depressão neonatal
Proclorperazina Frequentemente administrada
5 a 10 mg IV com o sulfato de morfina para
ou IM o sono durante a fase latente
prolongada; neutraliza as
náuseas que os opioides
podem produzir
Pode ser usado para
interromper as convulsões da
eclâmpsia
Diminui náuseas e vômitos
Pode causar depressão
neonatal; portanto, deve ser
usada a menor dose possível
Midazolam 1 a Não é utilizado para efeito
5 mg IV analgésico, mas amnésico
É usado como complemento à
anestesia
É excretado no leite materno
Adaptado de Cheng, Y., & Caughey, A. B. (2015a). Normal labor and
delivery. Retirado de http://emedicine.medscape.com/article/260036
overview#aw2aab6b2; King, T.L., Brucker, M.C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O.,
Gegor, C. L., & Varney, H. (2015) Varney’s midwifery (5th ed.). Burlington,
MA: Jones & Bartlett Learning; e SkidmoreRoth, L. (2015). Mosby’s 2015
nursing drug reference (28th ed.). St. Louis, MO: Mosby Elsevier.
Um estudo recente relatou que os opioides parenterais proporcionaram algum alívio da dor no trabalho de parto, mas
estão associados a angústia respiratória do recémnascido. A satisfação materna com a analgesia por opioides pareceu
moderada, na melhor das hipóteses (Kerr, Taylor, & Evans, 2015).
Os antagonistas de opioides, como a naloxona, são administrados para reverter os efeitos de depressão do SNC,
incluindo a depressão respiratória causada pelos opioides. Os antagonistas de opioides também são utilizados para reverter
os efeitos colaterais dos opioides neuroaxiais, como prurido, retenção urinária, náuseas e vômitos, sem diminuir
significativamente a analgesia (SkidmoreRoth, 2015). Consulte um guia atualizado de fármacos para mais detalhes sobre
essas categorias de agentes.
ANTIEMÉTICOS
Os fármacos antieméticos são usados em combinação com um opioide para diminuir as náuseas e vômitos e reduzir a
ansiedade. Esses fármacos adjuntos potencializam a efetividade do opioide, de modo que pode ser administrada uma dose
menor. Também podem ser utilizados para maximizar a sedação. A prometazina pode ser administrada por via intravenosa,
mas a hidroxizina tem de ser administrada por via oral ou por injeção intramuscular em um músculo volumoso. Esses
fármacos não influenciam a evolução do trabalho de parto, mas ambos podem causar diminuição na variabilidade da FCF e
possível depressão neonatal (SkidmoreRoth, 2015). A proclorperazina é tipicamente administrada por via intravenosa ou
intramuscular com o sulfato de morfina para o sono durante a fase latente prolongada. Ela neutraliza as náuseas associadas
aos opioides (King et al., 2015).
BENZODIAZEPÍNICOS
Os benzodiazepínicos são usados para efeitos tranquilizantes e como um sedativo leve. O diazepam também é
administrado por via intravenosa para interromper as convulsões resultantes da eclâmpsia. Pode ser administrado para
acalmar a parturiente que está fora de controle, possibilitando assim que ela relaxe o suficiente para que possa participar
efetivamente de seu processo de trabalho de parto, em vez de lutar contra ele. O lorazepam também pode ser utilizado por
seu efeito tranquilizante, mas leva ao aumento da sedação (SkidmoreRoth, 2015). O midazolam, também administrado
por via intravenosa, promove uma boa amnésia, mas não analgesia. É mais comumente usado como um complemento à
anestesia. O diazepam e o midazolam causam depressão do SNC, tanto na parturiente como no neonato.
Analgésicos inalatórios
O óxido nitroso é conhecido pela maioria das pessoas como “gás do riso”. Para a dor associada ao trabalho de parto,
misturase gás óxido nitroso (50%) com oxigênio (50%) e essa mistura é inalada via máscara facial ou bocal. O óxido
nitroso começou a ser usado recentemente nos EUA, mas seu uso é disseminado na Europa e no Canadá há muitos anos.
De modo geral, as pacientes relataram satisfação com o uso do óxido nitroso para alívio da dor associada ao trabalho de
parto. Um fator adicional que poderia contribuir para a redução da percepção de dor é o controle da administração pela
parturiente (autoadministração). A autoadministração não apenas empodera as mulheres, mas também atua como
mecanismo de segurança porque é quase impossível ocorrer superdosagem quando é autoadministrado (Halpern & Garg,
2015). Os efeitos adversos potenciais da mistura N2O/O2 incluem náuseas e vômitos, tontura e disforia, embora sejam
raros. Nenhuma anormalidade da FCF foi atribuída ao seu uso (Badve & Vallejo, 2015).
Analgesia/anestesia regional
A analgesia/anestesia regional proporciona alívio da dor sem perda da consciência. Envolve o uso de anestésicos locais,
com ou sem opioides agregados, para trazer alívio da dor ou entorpecimento por meio de efeitos do fármaco sobre a
medula espinal e as raízes nervosas.
A analgesia obstétrica regional geralmente se refere a uma perda parcial ou completa da sensibilidade dolorosa abaixo do
nível de T8 a T10 da medula espinal (Stocks & Griffiths, 2015).
As vias para o alívio regional da dor incluem o bloqueio epidural, a raquiepidural combinada, a infiltração local, o
bloqueio pudendo e a analgesia/anestesia intratecal (espinal). As vias locais e pudendas são usadas durante o parto para a
episiotomia (incisão cirúrgica no períneo para facilitar o nascimento); as vias epidural e intratecal são utilizadas para o
alívio da dor durante o trabalho de parto ativo e o parto. A principal vantagem das técnicas regionais de controle da dor é
que a parturiente pode participar do processo de nascimento e ainda assim ter um bom controle da dor.
ANALGESIA EPIDURAL
As mulheres que solicitam analgesia epidural no trabalho de parto o fazem quando sentem que precisam de alívio da dor e
algumas fazem essa solicitação em um estágio bem precoce do trabalho de parto. A analgesia epidural para o trabalho de
parto e o parto envolve a injeção de um anestésico local (p. ex., lidocaína ou bupivacaína) e um analgésico opioide (p. ex.,
morfina ou fentanila) no espaço epidural lombar. Passase então um pequeno cateter por meio da agulha epidural para
proporcionar um acesso contínuo ao espaço epidural para manutenção da analgesia durante o trabalho de parto e o parto
(Figura 14.11). A analgesia epidural aumenta a duração do segundo estágio do trabalho de parto e pode aumentar a
incidência de parto vaginal assistido com instrumentos, bem como a administração de ocitocina (Camorcia, 2015). Nos
EUA, aproximadamente 60% das parturientes recebem analgesia epidural durante o trabalho de parto, mas uma em cada
oito mulheres que recebem analgesia epidural durante o trabalho de parto precisam de outros métodos de alívio da dor.
Nas regiões urbanas, muitos hospitais exibem taxas de até 90% de realização de analgesia epidural (Capogna, 2015b).
Uma anestesia epidural envolve a injeção de um fármaco no espaço epidural, localizado externamente à duramáter,
entre essa membrana e o canal medular. Tipicamente, o espaço epidural é adentrado com uma agulha entre a terceira e a
quarta vértebras lombares, sendo inserido um cateter no espaço epidural. A anestesia epidural pode ser usada tanto para o
parto vaginal quanto para a cesariana. A analgesia epidural evoluiu de um bloqueio regional provocando a perda completa
da sensibilidade à analgesia com bloqueio mínimo. A efetividade da analgesia epidural depende da técnica e dos fármacos
utilizados. Teoricamente, os anestésicos locais epidurais poderiam bloquear toda a dor do trabalho de parto, se usados em
grandes volumes e altas concentrações. No entanto, o alívio da dor é equilibrado com outros objetivos, como deambular
durante o primeiro estágio do trabalho de parto, fazer esforços expulsivos de modo eficaz no segundo estágio e minimizar
os efeitos colaterais maternos e fetais.
A anestesia epidural é contraindicada para as gestantes com história prévia de cirurgia ou alterações na coluna
vertebral, defeitos de coagulação, doenças cardíacas, obesidade, infecções e hipovolemia. Também é contraindicada para a
gestante que está recebendo terapia anticoa gulante.
As complicações incluem náuseas e vômitos, hipotensão, febre, prurido, injeção intravascular, febre materna, reação
alérgica e depressão respiratória. Os efeitos sobre o feto durante o trabalho de parto incluem sofrimento fetal secundário à
hipotensão materna (Ibrahim et al., 2015). Assegurar que a parturiente evite ficar em decúbito dorsal após a colocação do
cateter epidural ajuda a minimizar a hipotensão.
O acréscimo de opioides, como a morfina ou a fentanila, ao anestésico local ajuda a diminuir o bloqueio motor obtido.
Podemse utilizar bombas de infusão contínua para administrar a analgesia epidural, possibilitando que a parturiente
mantenha o controle e administre uma dose em bolus conforme necessário (Patkar et al., 2015).
ANALGESIA RAQUIEPIDURAL COMBINADA
Outra técnica epidural é a analgesia raquiepidural combinada (REC). Essa técnica envolve a inserção de uma agulha
epidural no espaço epidural e, subsequentemente, a inserção de uma agulha espinal de pequeno calibre por meio da agulha
epidural no espaço subaracnóideo. Um opioide, sem um anestésico local, é injetado dentro desse espaço. A agulha é então
removida da coluna vertebral e é inserido um cateter epidural para uso posterior.
A REC é vantajosa devido ao seu rápido início de alívio da dor (em 3 a 5 minutos), que pode durar até 3 horas.
Também possibilita que a função motora da gestante permaneça ativa. A capacidade de fazer esforços expulsivos durante o
segundo estágio do trabalho de parto é preservada, porque o reflexo de fazer força para baixo não é perdido e sua potência
motora permanece intacta. A REC proporciona maior flexibilidade e confiabilidade ao trabalho de parto do que a analgesia
raquidiana ou epidural isolada (Stocks & Griffiths, 2015). Quando comparada à analgesia epidural ou raquidiana
tradicional, que muitas vezes mantém a parturiente restrita ao leito, a REC lhe possibilita deambular (walking epidural).
Uma recente revisão Cochrane comparou a analgesia combinada espinalepidural com a anestesia epidural tradicional e
com dose baixa no trabalho de parto. A revisão identificou que a analgesia combinada espinalepidural foi associada a
maior incidência de prurido, mas uma incidência menor de retenção urinária e necessidade de analgesia de resgate que a
analgesia epidural. Além disso, a analgesia combinada espinalepidural promovia alívio da dor mais rapidamente e não
houve diferenças nos desfechos do trabalho de parto (Heesen et al., 2015). A deambulação durante o trabalho de parto
exerce alguns efeitos benéficos: ajuda a controlar melhor a dor, encurta o primeiro estágio do trabalho de parto, aumenta a
intensidade das contrações e diminui a possibilidade de um parto vaginal instrumentalizado ou cesariana.
Embora as gestantes que recebem REC consigam deambular, muitas vezes elas optam por não o fazer por causa da
sedação e fadiga. Muitas vezes, os médicos não incentivam nem ajudam as parturientes a deambular por medo de lesões.
O enfermeiro precisa avaliar se é seguro deambular, o que inclui que a parturiente não apresente hipotensão postural e
tenha força normal nas pernas, demonstrando uma curvatura parcial do joelho enquanto em pé; o enfermeiro também
precisa estar com a paciente o tempo todo durante a deambulação (Capogna, 2015b). Atualmente, os anestesiologistas
estão realizando anestesias epidurais que possibilitam a deambulação usando técnicas de infusão contínua, bem como REC
e analgesia epidural controlada pela paciente (Grant et al., 2015).
As complicações incluem hipotensão materna, injeção intravascular, bloqueio intratecal acidental, cefaleia póspunção
acidental da duramáter, bloqueio inadequado ou falho, febre materna e prurido. A hipotensão e as alterações associadas da
FCF são gerenciadas com o posicionamento da gestante (posição de semiFowler), hidratação intravenosa e suplementação
de oxigênio (Ibrahim et al., 2015).
ANALGESIA EPIDURAL CONTROLADA PELA PACIENTE
A analgesia epidural controlada pela paciente (AECP) envolve a utilização de um cateter epidural permanente ligado a uma
bomba de infusão de medicação programada de tal modo que possibilita que a parturiente controle a dosagem. Esse
método dá à parturiente uma sensação de controle sobre sua dor e possibilita que ela alcance um nível de analgesia que
seja individualmente aceitável. Quando comparada à analgesia epidural tradicional, a AECP fornece analgesia equivalente
com menor uso de anestésico, taxas mais baixas de suplementação e maior satisfação da paciente (Van De Velde, 2015).
Na AECP, a parturiente usa um dispositivo portátil conectado a um agente analgésico ligado a um cateter epidural.
Quando pressiona o botão, é administrada uma dose em bolus do agente por meio do cateter, para reduzir a dor. Esse
método lhe possibilita gerenciar a sua dor por si própria, sem ter de pedir a um membro da equipe que o faça. As
evidências apoiam o uso da AECP que parece resultar em maior satisfação materna e menor uso total de medicação
(Sng et al., 2015).
INFILTRAÇÃO LOCAL
A infiltração local envolve a injeção de um anestésico local, como a lidocaína, nos nervos perineais superficiais para
anestesiar a área perineal. Essa técnica é utilizada pelo médico ou pelo enfermeiro obstetra imediatamente antes de realizar
uma episiotomia ou antes de suturar uma laceração. A infiltração local não modifica a dor das contrações uterinas, mas
anestesia a área próxima à episiotomia ou laceração. A infiltração local não causa efeitos colaterais à mulher ou ao recém
nascido.
BLOQUEIO DO NERVO PUDENDO
O bloqueio do nervo pudendo referese à injeção de um anestésico local (p. ex., bupivacaína, ropivacaína) nos nervos
pudendos próximos de cada espinha isquiática. Fornece alívio da dor na região inferior da vagina, na vulva e no períneo
(Figura 14.12).
O bloqueio pudendo é usado para o segundo estágio do trabalho de parto, episiotomia ou parto vaginal cirúrgico com
uso de fórceps ou vacuoextrator. Deve ser administrado cerca de 15 minutos antes de quando se prevê que será necessário,
para garantir seu efeito pleno. Geralmente é utilizada uma abordagem transvaginal para injetar o agente anestésico no ramo
do nervo pudendo ou próximo a ele. As complicações maternas e fetais são incomuns.
ANALGESIA/ANESTESIA RAQUIDIANA
A técnica raquidiana (intratecal) de manejo da dor envolve a injeção de um agente anestésico de sufixo “caína” (p. ex.,
procaína, bupivacaína, lidocaína), com ou sem opioides, no espaço subaracnóideo para fornecer alívio da dor durante o
trabalho de parto vaginal ou durante a cesariana. O espaço subaracnóideo é uma área preenchida por líquido localizada
entre a duramáter e a medula espinal. A anestesia espinal é frequentemente usada para cesarianas eletivas e de
emergência. As contraindicações são semelhantes às de um bloqueio epidural. As reações adversas da parturiente incluem
hipotensão e cefaleia póspunção acidental da duramáter.
Considere isto
Quando eu estava esperando meu primeiro filho, estava determinada a entrar com o pé direito e fazer tudo
certo. Eu era uma enfermeira obstetra experiente e na minha cabeça fazer tudo certo era o comportamento
esperado. Eu já estava 2 semanas além da minha data esperada para o parto e estava cada vez mais
preocupada. Naquele dia em particular, fui trabalhar com dor nas costas, mas não sentia contrações.
Consegui terminar meu turno, mas me sentia completamente exausta. Enquanto caminhava para o carro
no estacionamento do hospital, a bolsa das águas estourou e senti um líquido quente correr pelas minhas
pernas. Voltei para dentro para ser internada para esse evento tão aguardado.
Embora eu tivesse ajudado milhares de mulheres a passar pela experiência de parto, eu agora estava
deitada no leito, não em pé ao lado dele. Meu marido e eu tínhamos praticado as técnicas respiratórias para
lidar com o desconforto do trabalho de parto, mas esse “desconforto” em minha mente era maior do que eu
podia tolerar. Portanto, apesar de minhas melhores intenções de fazer tudo certo, dentro de uma hora eu
implorei por um analgésico para aliviar a dor. Embora a medicação tenha eliminado parte da minha dor, eu
ainda sentia cada contração e agora podia realmente entender o significado da palavra “trabalho de parto”.
Embora eu quisesse ter um parto natural sem qualquer medicação, eu sei que eu era uma participante ativa
da experiência de parto do meu filho, e isso é o que significava “fazer tudo certo” para mim!
Reflexões: A noção do que é certo varia para cada in divíduo. Como enfermeiro, é necessário apoiar
isso, seja o que for. O objetivo é ter um desfecho positivo da experiência de parto; os meios para alcançálo
são o menos importante. Como o enfermeiro pode apoiar a parturiente na tomada de decisões pessoais
para alcançar um desfecho saudável? Todas as mulheres “estão falhando” se pedirem medicação para dor
para tolerar o trabalho de parto? Como o enfermeiro pode ajudar a mulher a superar esse estigma de ser
uma “covarde”?
FIGURA 14.12 Bloqueio do nervo pudendo.
A injeção subaracnóidea isolada de opioides, uma técnica denominada opioides intratecais, vem ganhando popularidade
desde que foi introduzida na década de 1980. Um narcótico é injetado no espaço subaracnóideo, proporcionando alívio
rápido da dor, mas conservando as funções motora e sensitiva (Sng, Kwok, & Sia, 2015). Administrase um narcótico
intratecal durante a fase ativa (mais de 5 cm de dilatação) do trabalho de parto. Comparados ao bloqueio epidural, os
opioides intratecais são fáceis de administrar, demandam menor volume de medicação, promovem excelente relaxamento
muscular, proporcionam alívio da dor de início rápido, têm menor probabilidade de causar depressão respiratória neonatal
e não causam bloqueio motor (Badve & Vallejo, 2015). Embora o alívio da dor seja rápido com essa técnica, é limitado
pela duração de ação do narcótico, que pode ser de apenas algumas horas e não durar todo o período de trabalho de parto.
Podem ser necessárias medidas adicionais para sustentar o controle da dor.
Anestesia geral
A anestesia geral é tipicamente reservada para cesarianas de emergência, quando não há tempo suficiente para administrar
anestesia raquidiana ou epidural, ou se a parturiente tem contraindicação ao uso da anestesia regional. Pode ser iniciada
rapidamente e promove rápida perda de consciência. A anestesia geral pode ser administrada por injeção intravenosa e/ou
por inalação de agentes anestésicos. Comumente, administrase tiopental, um barbitúrico de ação rápida, ou propofol, por
via intravenosa para induzir perda da consciência. Isso é seguido pela administração de um relaxante muscular. Depois que
a parturiente é intubada, administramse óxido nitroso e oxigênio. Também pode ser administrado um agente halogenado
volátil para provocar amnésia (Cheng & Caughey, 2015a).
Todos os agentes anestésicos atravessam a placenta e afetam o feto. A complicação primária da anestesia geral é a
depressão fetal, juntamente com relaxamento uterino e possíveis vômitos e aspiração materna. As complicações da
anestesia geral são, em geral, consequentes a aspiração materna ou incapacidade de intubar a parturiente. A incidência
dessas complicações diminuiu bastante graças ao aprimoramento das técnicas (Hawkins, 2015).
Embora o anestesiologista administre os vários agentes anestésicos gerais, o enfermeiro precisa ter conhecimento
sobre os aspectos farmacológicos dos fármacos utilizados e precisa estar ciente do manejo das vias respiratórias.
Assegurase que a parturiente está em dieta zero e tem um acesso intravenoso pérvio. Além disso, administre um antiácido
oral não particulado (p. ex., ácido cítrico/citrato sódico) ou um inibidor da bomba de prótons (pantoprazol) conforme
prescrito para reduzir a acidez gástrica. Auxilie colocando uma cunha sob o quadril direito da gestante para deslocar o
útero gravídico e evitar a compressão da veia cava no decúbito dorsal. Quando o feto for retirado do útero, auxilie a equipe
perinatal no fornecimento de cuidados de suporte.
CUIDADOS DE ENFERMAGEM DURANTE O TRABALHO DE PARTO E O
PARTO
O parto, processo fisiológico fundamental para toda a existência humana, é um dos eventos culturais, psicológicos,
espirituais e comportamentais mais significativos na vida de uma mulher. Embora o ato de dar à luz seja um fenômeno
universal, é uma experiência única para cada mulher. A avaliação contínua e as intervenções apropriadas durante o trabalho
de parto são fundamentais para a promoção de um desfecho positivo para a família.
O papel do enfermeiro é garantir um ambiente seguro para a parturiente e seu recémnascido. Os enfermeiros começam
avaliando a parturiente e o feto durante os procedimentos de admissão na instituição de saúde e continuam a fazêlo ao
longo do trabalho de parto. É essencial fornecer orientações antecipatórias e explicar cada procedimento (monitoramento
fetal, terapia intravenosa, administração de medicamentos e reações esperadas) e o que vai acontecer a seguir. Isso
preparará a parturiente para os desafios físicos e emocionais, ajudando, assim, a reduzir a sua ansiedade. Reconhecer os
membros de seu sistema de apoio (familiares ou parceiro) ajuda a aliviar seus medos e preocupações, auxiliandoos a,
assim, cumprir seu papel de apoiadores. Saber como e quando avaliar uma parturiente durante as várias etapas do trabalho
de parto é essencial para todos os enfermeiros da área de trabalho de parto e parto para garantir uma experiência materna
positiva e um recémnascido saudável.
Um dos principais focos do atendimento à parturiente durante o trabalho de parto e o parto é ajudála a manter o
controle sobre sua dor, emoções e ações, sendo uma participante ativa. O enfermeiro pode ajudar e apoiar a parturiente a
envolverse ativamente na sua experiência de parto possibilitando que tenha um tempo para conversar, oferecendo
companhia, ouvindo seus problemas e preocupações, prestando atenção às suas necessidades emocionais e oferecendo
informações para ajudála a entender o que está acontecendo em cada etapa do trabalho de parto.
Conduta de enfermagem durante o primeiro estágio do trabalho de parto
Dependendo de em qual estágio do trabalho de parto a gestante se encontre quando chegar à instituição de saúde, o
enfermeiro determinará parâmetros de avaliação da condição maternofetal e o plano de assistência. O enfermeiro
fornecerá cuidados de enfermagem de suporte de pouca tecnologia e maior humanização durante o primeiro estágio do
trabalho de parto, ao internar a mulher e guiála à sala de trabalho de parto e parto. O enfermeiro geralmente é o primeiro a
realizar observações, fazer intervenções, tratamentos e, muitas vezes, o manejo de trabalho de parto no setor perinatal do
hospital. A assistência de enfermagem durante essa etapa inclui coletar uma história de admissão (revendo o prontuário do
prénatal); verificar os resultados dos exames laboratoriais de rotina e eventuais exames especiais feitos durante a
gestação, como biopsia de vilosidade coriônica, amniocentese, estudos genéticos e perfil biofísico; questionar a gestante a
respeito de sua preparação para o parto (plano de parto, aulas de preparação realizadas, habilidades de enfrentamento); e
realizar o exame físico da gestante para estabelecer valores de referência para comparação futura.
As principais intervenções de enfermagem incluem:
• Identificar a data estimada de nascimento da gestante e o prontuário do prénatal
• Confirmar a história prénatal da gestante para determinar a condição de risco fetal
• Determinar a altura do fundo do útero para confirmar a idade gestacional e o crescimento fetal
• Realizar as manobras de Leopold para determinar a posição, a situação e a apresentação fetais
• Verificar a FCF
• Realizar o exame de toque vaginal (conforme o caso) para avaliar o progresso da dilatação e o apagamento do colo do
útero
• Instruir a paciente e seu parceiro das técnicas e equipamentos de monitoramento
• Avaliar a resposta fetal e a resposta da FCF às contrações e o tempo de recuperação
• Interpretar as tiras de monitoramento fetal
• Verificar a linha de base da FCF à procura de acelerações, variabilidade e desacelerações
• Reposicionar a paciente para obter um padrão de FCF ideal
• Reconhecer problemas na FCF e iniciar medidas corretivas
• Verificar se a coloração do líquido amniótico está alterada por mecônio, seu odor e volume
• Confortar a gestante durante todo o período de exames e o trabalho de parto
• Documentar o horário em que os membros da equipe foram notificados em caso de problemas
• Conhecer as intervenções apropriadas em caso de anormalidades nos padrões de FCF
• Apoiar as decisões da gestante em relação à realização ou não de intervenções
• Avaliar o sistema de apoio e condição de enfrentamento da gestante com frequência.
Além dessas intervenções para promover desfechos ideais para a gestante e o feto, o enfermeiro tem a obrigação de
documentar acuradamente e em tempo hábil os cuidados prestados. A documentação acurada e oportuna ajuda a diminuir o
risco de processos legais (responsabilidade profissional), minimizar o risco de lesões evitáveis às gestantes e aos fetos
durante o trabalho de parto e preservar os familiares (Simpson, 2015). As diretrizes para registrar os cuidados incluem a
documentação:
• De todos os cuidados prestados, para comprovar que as normas foram cumpridas
• Das conversas com todos os profissionais de saúde, incluindo os horários em que foram notificados
• Das intervenções de enfermagem antes e após a notificação do médico
• Do uso da cadeia de comando e da resposta em cada nível
• De todas as folhas de evolução e formulários para confirmar os cuidados prestados
• De todas as orientações fornecidas à parturiente e a resposta a elas
• De fatos, não de opiniões pessoais
• De descrições detalhadas de qualquer desfecho adverso
• Da avaliação de enfermagem inicial, de todos os encontros e do plano de alta
• De todas as conversas telefônicas (Callahan, 2016).
Esse padrão de documentação é necessário para evitar litígios ou para defenderse deles, que são prevalentes nessa
área de cuidado.
Avaliação da gestante no momento da admissão
O enfermeiro geralmente é o primeiro profissional de saúde a entrar em contato com a gestante, por telefone ou
pessoalmente. Deve verificar se a gestante está em trabalho de parto verdadeiro ou falso e se ela precisa ser internada ou
enviada para casa. Na admissão à unidade de trabalho de parto e parto, as maiores prioridades incluem avaliar a FCF,
verificar a dilatação/apagamento do colo do útero e determinar se as membranas se romperam ou estão intactas. Esses
dados de avaliação orientarão o pensamento crítico no planejamento do atendimento à paciente.
Se o contato inicial for por telefone, é importante que o enfermeiro estabeleça uma relação terapêutica com a mulher.
Falar em um tom compassivo e calmo facilita isso. O enfermeiro que realiza rastreamento por telefone precisa ter
experiência clínica suficiente e definições claras de suas responsabilidades para possibilitar a tomada de decisões sólidas.
Ao realizar uma avaliação por telefone, inclua perguntas sobre o seguinte:
• Data estimada de nascimento, para determinar se está a termo ou prétermo
• Movimento fetal (frequência nos últimos dias)
• Outros sinais premonitórios de trabalho de parto experimentados
• Número de partos, gestações e experiências de parto prévias
• Tempo do início do trabalho de parto ao nascimento em trabalhos de parto anteriores
• Características das contrações, incluindo sua frequência, duração e intensidade
• Surgimento de qualquer tampão mucoso sanguinolento vaginal
• Estado das membranas (rompidas ou intactas)
• Se há adultos que a apoiam em casa ou se ela está sozinha.
Ao falar com a gestante por telefone, revise os sinais e sintomas que denotam um trabalho de parto
verdadeiro versus falso e sugira várias posições que ela pode adotar para proporcionar conforto e aumentar a perfusão
placentária. Também sugira deambular, receber uma massagem e tomar um banho morno para promover o relaxamento.
Delineie quais alimentos e líquidos são apropriados para ingestão no início do trabalho de parto. Durante o telefonema,
ouça as preocupações da gestante e responda a todas as perguntas de modo claro.
Reduzir o risco de processos de responsabilidade civil e impedir lesões evitáveis para as gestantes e para os fetos
durante o trabalho de parto e o parto podem ser conseguidos por meio da adesão a dois princípios básicos da prática
clínica: (1) usar as evidências aplicáveis e/ou normas e diretrizes publicadas como base do tratamento e (2) sempre que
uma escolha clínica for apresentada, optar pela segurança da gestante (Miller, 2014). Com esses dois princípios em mente,
aconselhe a gestante ao telefone a contatar o obstetra para obter mais instruções ou ir à instituição para ser avaliada, uma
vez que a exclusão do trabalho de parto verdadeiro e possíveis complicações maternofetais não pode ser feita de modo
acurado pelo telefone. As responsabilidades de enfermagem adicionais associadas à avaliação por telefone incluem:
• Consultar o prontuário do prénatal da gestante para avaliar o estado de paridade, a data estimada de nascimento e os
eventos adversos
• Ligar para o médico para informarlhe da situação da gestante
• Prepararse para a internação na unidade perinatal para garantir a atribuição de funcionários adequados
• Notificar o setor de internação da possível admissão.
Se o primeiro encontro do enfermeiro com a gestante for pessoalmente, realizase uma avaliação para determinar se ela
deve ser internada na unidade perinatal ou enviada para casa até que seu trabalho de parto avance mais. Os achados das
pesquisas recentes sugerem que é duas vezes mais provável que as gestantes internadas antes de entrar em trabalho de
parto ativo sejam medicadas com ocitocina e deem à luz via cesariana em comparação com as gestantes internadas em
trabalho de parto ativo (Neal et al., 2014). Os profissionais de enfermagem precisam fazer avaliações cuidadosas da
progressão do trabalho de parto antes de fazer a internação das gestantes para reduzir as admissões precoces e aumentar a
segurança do trabalho de parto e os desfechos do parto.
Entrar em uma instituição de saúde muitas vezes é um evento intimidante e estressante para as gestantes, pois é um
ambiente desconhecido. Dar à luz pela primeira vez é um evento crucial na vida da maioria delas. Portanto, demonstre
respeito ao abordar a gestante, ouça atentamente e expresse interesse e preocupação. Os enfermeiros precisam valorizar e
respeitar as gestantes e promover sua autoestima e sensação de controle, possibilitandolhes participar da tomada de
decisões. Darlhes autonomia razoável em suas decisões de parto, apoiar seus valores pessoais, conhecêlas de modo
holístico e usar uma comunicação afetuosa aumentará a satisfação das pacientes (Ivory, 2014).
A avaliação de admissão inclui anamnese, exame físico, avaliação fetal, exames laboratoriais e avaliação do estado
psicológico. Habitualmente a instituição tem um formulário que pode ser usado durante todo o trabalho de parto e o parto
para documentar os achados da avaliação (Figura 14.13).
ANAMNESE E AVALIAÇÃO CULTURAL DA GESTANTE
A anamnese deve incluir dados biográficos típicos, como o nome e a idade da gestante e o nome do médico que fará o
parto. Outras informações que são coletadas são motivos da internação, como trabalho de parto, realização de cesariana ou
observação de uma complicação; os dados do registro prénatal, incluindo a data prevista para o parto, a história da
gestação atual e os resultados de quaisquer exames laboratoriais e diagnósticos, como tipo sanguíneo, fator Rh e status de
estreptococos do grupo B; história obstétrica e de gestações anteriores; história patológica pregressa e história familiar;
orientações prénatais; lista de medicamentos; fatores de risco, como diabetes melito, hipertensão arterial e tabagismo,
consumo de bebidas alcoólicas ou drogas ilícitas; plano de controle da dor, história de potencial violência doméstica;
história de partos prétermo prévios; alergias; hora em que ingeriu alimentos pela última vez; método escolhido para a
alimentação da criança; nome do obstetra (ou parteira) e do pediatra.
FIGURA 14.13 Exemplo de formulário de documentação utilizado para internação na unidade perinatal. (Usada
com permissão. Briggs Corporation, 2001.)
É importante averiguar essas informações para que possa ser elaborado um plano individualizado de cuidado à mulher.
Se, por exemplo, ainda faltarem 2 meses para a data estimada de nascimento da gestante, é importante determinar essa
informação para que possam ser iniciadas intervenções para interromper o trabalho de parto imediatamente ou solicitar a
presença da equipe de cuidados intensivos perinatais. Além disso, se a gestante tem diabetes melito, é fundamental
monitorar os níveis de glicose dela durante o parto, prepararse para um parto cirúrgico em caso de distocia do trabalho de
parto e alertar o berçário de potencial hipoglicemia após o nascimento. Ao coletar informações importantes sobre cada
gestante que atende, o enfermeiro pode ajudar a melhorar os desfechos para todos os envolvidos.
Não deixe de observar as emoções, o sistema de apoio, a interação verbal, os aspectos culturais e o idioma falado, a
linguagem corporal e a postura, a acuidade perceptiva e o nível de energia da gestante. Essas informações psicossociais
fornecem indícios sobre o estado emocional, a cultura e os sistemas de comunicação da gestante. Por exemplo, se a
gestante chegar à sala de trabalho de parto e parto extremamente ansiosa, sozinha e incapaz de se comunicar no mesmo
idioma que a equipe, como o enfermeiro pode atender às suas necessidades e planejar seus cuidados de modo adequado?
Somente por meio do exame físico e da avaliação psicossocial de cada gestante o enfermeiro pode tomar decisões sábias
em relação aos cuidados adequados. Nesse caso, seria necessário um intérprete para ajudar no processo de comunicação
entre os funcionários e a mulher para iniciar o cuidado adequado.
É importante reconhecer e tentar entender as diferenças culturais em gestantes com origens culturais distintas das do
enfermeiro. As atitudes em relação ao parto são fortemente influenciadas pela cultura em que a gestante foi criada. Como
resultado, em cada sociedade, atitudes e valores específicos moldam os comportamentos da parturiente. É importante
conhecer esses comportamentos. Ao realizar uma avaliação cultural durante o processo de admissão, faça perguntas (Boxe
14.2) para ajudar a planejar um cuidado culturalmente competente durante o trabalho de parto e o parto.
EXAME FÍSICO
O exame físico geralmente inclui uma avaliação geral dos sistemas do corpo da gestante, incluindo o estado de hidratação,
os sinais vitais, a ausculta das bulhas cardíacas e dos sons pulmonares e a aferição da altura e do peso. O exame físico
também inclui as seguintes avaliações:
1. Nível de dor e comportamentos de enfrentamento demonstrados
2. Atividade uterina, incluindo frequência, duração e intensidade das contrações
3. Condição fetal, incluindo a frequência cardíaca, a posição e a altura da apresentação
4. Dilatação e grau de apagamento do colo do útero
5. Estado das membranas (intactas ou rompidas)
6. Avaliar os sinais vitais: temperatura, pulso, frequência respiratória e pressão arterial
7. Realizar as manobras de Leopold para determinar a situação fetal
8. Medição da altura do fundo do útero
9. Capacidade de deambular com segurança.
BOXE 14.2
PERGUNTAS PARA PRESTAR CUIDADOS CULTURALMENTE COMPETENTES DURANTE O
TRABALHO DE PARTO E O PARTO
• Onde você nasceu? Há quanto tempo vive no país?
• Que idiomas você fala e lê?
• Quem são as principais pessoas que a apoiam?
• Quais são suas práticas religiosas?
• Como você vê a gestação?
• Existem precauções especiais ou restrições que sejam importantes?
• O parto é considerado uma experiência particular ou social?
• Como você gostaria de lidar com o desconforto de seu trabalho de parto?
• Quem a apoiará no trabalho de parto?
Adaptado de Bowers, P. (2015). Cultural perspectives in childbearing. Nursing Spectrum. Retirado
de http://ce.nurse.com/ce26360/culturalperspectivesinchildbearing; e Anderson, L. (2014). Cultural
competence in the nursing practice. Nursetogether. Retirado de http://www.nursetogether.com/cultural
competenceinthenursingpractice.
Esses parâmetros de avaliação formam uma base com a qual o enfermeiro pode comparar todos os valores futuros ao
longo do trabalho de parto. Os resultados devem ser semelhantes aos encontrados nos períodos prégestacional e
gestacional da mulher, com exceção da frequência cardíaca, que pode estar elevada em decorrência de seu estado de
ansiedade com o trabalho de parto que começa.
EXAMES LABORATORIAIS
Na admissão, normalmente fazemse exames laboratoriais para se estabelecer uma linha de base. Embora os exames
específicos possam variar entre as instituições, geralmente incluemse exame de uma amostra de urina de jato limpo e um
hemograma completo. Pode ser necessária a tipagem sanguínea e a análise do fator Rh se os resultados destes forem
desconhecidos ou não estiverem disponíveis. Além disso, se os resultados dos exames a seguir não estiverem incluídos na
história prénatal materna, pode então ser necessário realizálos. Estes incluem rastreamento de sífilis, hepatite B
(HBsAg), rastreamento de estreptococo do grupo B, teste do vírus da imunodeficiência humana (HIV) (se a mulher der
seu consentimento) e possível rastreamento de drogas ilícitas, se a história for sugestiva.
Os estreptococos do grupo B (EGB) são microrganismos grampositivos que colonizam o sistema genital feminino e o
reto e são encontrados em 10 a 30% de todas as mulheres saudáveis (King et al., 2015). Essas mulheres são portadoras
assintomáticas, mas podem causar doenças por EGB no recémnascido por meio da transmissão vertical durante o trabalho
de parto e da transmissão horizontal após o nascimento. A taxa de mortalidade de recémnascidos infectados varia de
acordo com o momento de início (precoce ou tardio). Os fatores de risco para EGB incluem febre materna durante o parto,
ruptura de membranas prolongada (> 12 a 18 horas), nascimento anterior de um recémnascido infectado e bacteriúria por
EGB na gestação atual.
O Centers for Disease Control and Prevention (CDC), o ACOG e a American Academy of Pediatrics têm diretrizes
que aconselham o rastreamento universal de EGB em mulheres na 35a à 37a semana de gestação e antibioticoterapia
intraparto para as portadoras de EGB. Essas novas diretrizes reafirmam a principal estratégia de prevenção – rastreamento
prénatal universal de estreptococos do grupo B e profilaxia intraparto com antibióticos para mulheres de alto risco com
cultura positiva. Também são incluídas novas recomendações para métodos laboratoriais para identificação de colonização
por estreptococos do grupo B durante a gravidez, algoritmos para rastreamento e profilaxia intraparto para gestantes em
trabalho de parto prétermo e ruptura prematura das membranas amnióticas e coriônicas, recomendações atualizadas de
profilaxia para mulheres com alergia à penicilina e um algoritmo revisado para os cuidados a serem prestados para recém
nascidos (Centers for Disease Control and Prevention [CDC], 2014). As infecções maternas associadas a EGB incluem
corioamnionite aguda, endometrite e infecções urinárias. As manifestações clínicas neonatais incluem pneumonia e sepse.
As portadoras de EGB identificadas recebem profilaxia antibiótica IV (penicilina G ou ampicilina) no início do trabalho de
parto ou à ruptura de membranas.
O ACOG, o CDC, a AWHONN e a United States Preventive Services Task Force recomendam que seja oferecido um
teste de rastreamento para anticorpos antiHIV a todas as mulheres grávidas em sua primeira consulta prénatal,
novamente durante o terceiro trimestre se tiverem comportamentos de alto risco e à admissão ao setor de trabalho de parto
e parto. O CDC estima que 50.000 pessoas contraiam HIV nos EUA a cada ano e 250.000 pessoas tenham infecção por
HIV não diagnosticada (CDC, 2015).
Se não for conhecida a sorologia para HIV, a gestante admitida ao setor de trabalho de parto e parto deve passar por
um teste rápido de HIV. Para reduzir a transmissão perinatal, as mulheres soropositivas recebem zidovudina (2 mg/kg IV
durante 1 hora e, em seguida, uma infusão de manutenção de 1 mg/kg/h até o parto) ou uma dose única de 200 mg de
nevirapina por via oral no início do trabalho de parto; o recémnascido recebe zidovudina (ZDV), também conhecida como
azidotimidina [AZT]) por via oral (2 mg/kg de peso corporal a cada 6 horas), que deve ser continuada por 6 semanas
(Verklan & Walden, 2014). Para reduzir ainda mais o risco de transmissão perinatal, o ACOG e o United States Public
Health Service recomendam que as gestantes infectadas com HIV e que tenham carga viral plasmática de mais de 1.000
cópias por mililitro sejam aconselhadas em relação aos benefícios da cesariana eletiva. Se nenhuma intervenção clínica for
feita, a taxa de transmissão vertical de HIV para o feto pode variar de 15 a 45% (Ashimi et al., 2015).
As intervenções adicionais para reduzir o risco de transmissão incluem evitar o uso de um eletrodo no couro cabeludo
para o monitoramento fetal ou fazer uma coleta de sangue do couro cabeludo fetal para mensurar o pH, atrasar a
amniotomia, incentivar a alimentação com fórmula após o nascimento e evitar procedimentos invasivos, como fórceps ou
vacuoextrator. O enfermeiro salienta a importância de todas as intervenções e o objetivo de reduzir a transmissão do HIV
ao recémnascido.
Avaliação continuada durante o primeiro estágio do trabalho de parto
Após ser completada a avaliação de admissão e a gestante e seu acompanhante serem orientados em relação à sala de pré
parto, ao equipamento e aos procedimentos, a avaliação continua (alterações sugestivas de que o trabalho de parto esteja
evoluindo conforme esperado). Avalie o conhecimento, a experiência e as expectativas da mulher em relação ao trabalho de
parto. Tipicamente, a pressão arterial, a frequência cardíaca e a frequência respiratória são avaliadas a cada hora durante a
fase latente do trabalho de parto, a menos que a situação clínica determine que os sinais vitais sejam avaliados com mais
frequência. Durante as fases ativa e de transição, os sinais vitais são avaliados a cada 30 minutos. A temperatura é aferida
a cada 4 horas durante a primeira etapa do trabalho de parto e a cada 2 horas após as membranas terem rompido para
detectar uma elevação que indicaria uma infecção ascendente.
Periodicamente, realizamse exames de toque vaginal para acompanhar o progresso do trabalho de parto. Esses dados
de avaliação são compartilhados com a gestante, para reforçar que ela está progredindo em direção à meta, que é o
nascimento. Monitoramse a frequência, a duração e a intensidade das contrações uterinas a cada 30 a 60 minutos durante
a fase latente, a cada 15 a 30 minutos durante a fase ativa e a cada 15 minutos durante a transição. Observe as mudanças
nas características das contrações conforme o trabalho de parto progride e informe a mulher de seu progresso. Determine
continuamente o nível de dor e a capacidade da gestante de enfrentála e utilize técnicas de relaxamento de modo efetivo.
Quando as membranas se romperem, de modo espontâneo ou artificial, avalie a FCF e a coloração, o odor e o volume
do líquido amniótico. Avalie a FCF de modo intermitente ou contínuo por meio do monitoramento eletrônico. Durante a
fase latente do trabalho de parto, avalie a FCF a cada 30 a 60 minutos; na fase ativa, avaliea pelo menos a cada 15 a 30
minutos. Além disso, não se esqueça de avaliar a FCF antes da deambulação, de qualquer procedimento e da administração
de analgesia ou anestesia à mãe. A Tabela 14.3 resume as avaliações realizadas na primeira etapa do trabalho de parto.
Lembrase de Sheila, do caso mencionado no início do capítulo? Qual é o papel do profissional de
enfermagem com Sheila no trabalho de parto ativo? Quais medidas de conforto adicionais o enfermeiro do
setor de trabalho de parto pode oferecer a ela?
Intervenções de enfermagem
As intervenções de enfermagem durante o processo de admissão devem incluir:
• Questionar quais são as expectativas da paciente em relação ao processo de parto
• Prestar informações sobre o trabalho de parto, opções de controle da dor e técnicas de relaxamento
• Prestar informações sobre o equipamento de monitoramento fetal e os procedimentos necessários
• Monitorar a FCF e identificar padrões que necessitem de intervenção
• Monitorar os sinais vitais da parturiente para obter uma linha de base para comparação posterior
• Tranquilizar a parturiente informando que o progresso do seu trabalho de parto será monitorado atentamente e que os
cuidados de enfermagem se concentrarão em garantir o bemestar fetal e materno contínuo.
Conforme a parturiente evolui no decorrer do primeiro estágio do trabalho de parto, as intervenções de enfermagem
passam a incluir:
• Incentivar o parceiro da parturiente a participar
• Atualizar a parturiente e seu parceiro do progresso do trabalho de parto
• Orientar a parturiente e seu parceiro à unidade de trabalho de parto e parto e explicar todos os procedimentos de parto
• Fornecer líquidos sem resíduos (p. ex., pedaços de gelo) quando necessário ou solicitado
• Manter o aporte de líquido por via parenteral da parturiente na velocidade prescrita, se ela tiver um acesso IV
• Instituir ou incentivar medidas de conforto, como massagens nas costas, panos frios na testa, mudanças de posição
frequentes, deambulação, duchas, dança lenta, reclinação sobre uma bola suíça, posicionamento em decúbito lateral ou
contrapressão na região lombar (Diretrizes de ensino 14.1)
• Incentivar o envolvimento do parceiro nas técnicas respiratórias
Tabela 14.3 Resumo das avaliações durante o primeiro estágio do
trabalho de parto.
a
A frequência das avaliações é ditada pelo estado de saúde da parturiente e do feto e
pode ser alterada se alguma dessas condições mudar. MEF = monitoramento eletrônico
fetal.
Adaptada de King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Gegor, C. L., & Varney,
H. (2015). Varney’s midwifery (5th ed.). Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning; and
Green, C. J. (2016). Maternal newborn nursing care plans (3rd ed.). Burlington, MA: Jones
& Bartlett Learning.
• Auxiliar a parturiente e seu parceiro a se concentrarem nas técnicas respiratórias
• Orientar a parturiente a respeito do desconforto, que vai ser intermitente e de duração limitada, pedindo a ela para
descansar entre as contrações para preservar sua força e incentivandoa a utilizar atividades que a distraiam para tirar o
foco das contrações
• Trocar as roupas de cama e o avental da parturiente, conforme necessário
• Manter a área perineal limpa e seca
• Apoiar as decisões da parturiente em relação ao controle da dor
• Monitorar os sinais vitais maternos com frequência e relatar quaisquer valores anormais
• Assegurar que a parturiente realize a respiração profunda de limpeza antes e depois de cada contração, para melhorar
as trocas gasosas e a oxigenação para o feto
• Orientar a parturiente e seu parceiro em relação à necessidade de repouso e ajudálos a planejar estratégias para
conservar as forças
• Monitorar a linha de base, as acelerações, a variabilidade e as desacelerações da FCF
• Verificar a condição da bexiga e incentivar a parturiente a urinar pelo menos a cada duas horas
• Reposicionar a parturiente conforme necessário para obter um padrão ideal de frequência cardíaca
• Comunicar os pedidos da parturiente aos funcionários apropriados
• Respeitar a privacidade da mulher, cobrindoa quando apropriado
• Permanecer com a parturiente, não a deixando sozinha por longos períodos
• Ser paciente com o padrão natural do trabalho de parto para dar tempo às mudanças
• Incentivar a parturiente a se movimentar ao longo do trabalho de parto para aumentar seu nível de conforto
• Apagar as luzes do quarto durante o período de fazer forças de expulsão e solicitar a todos que falem baixo, a fim de
manter um ambiente calmo e centrado
• Relatar quaisquer desvios do normal ao médico, para que as intervenções possam ser iniciadas precocemente para
serem efetivas (Green, 2016; Lucas et al., 2015; NagtalonRamos, 2014).
Ver boxe Plano de cuidados de enfermagem 14.1.
Diretrizes de ensino 14.1
Posicionamento durante a primeira etapa do trabalho de parto
• Deambulação com o apoio do parceiro (adiciona a força da gravidade às contrações para promover a
descida fetal)
• Posição de dança lenta, com a gestante apoiandose no parceiro (adiciona a força da gravidade às
contrações e promove o apoio e a participação ativa do parceiro)
• Deitada em decúbito lateral, com travesseiros entre os joelhos para o conforto (oferece uma posição
tranquila e melhora o fluxo de oxigênio para o útero)
• Semissentada no leito ou em um sofá, recostada no parceiro (reduz a dor nas costas, porque o feto
deslocase para frente, para longe do sacro)
• Sentada em uma cadeira com um pé no chão e outro em uma cadeira (muda a forma da pelve)
• Inclinada para frente apoiada no estrado de uma cadeira, mesa ou leito ou de joelhos com o tronco
sobre uma bola suíça (reduz a dor nas costas, aumenta a força da gravidade para promover a
descida; possível alívio da dor se o parceiro puder aplicar pressão sacral)
• Qualquer posição que a gestante escolher para o trabalho de parto e para dar à luz deve ser
encorajada
• Sentada em uma cadeira de balanço ou em uma bola suíça, deslocando o peso para trás e para frente
(proporciona conforto, porque o movimento de balanço é suave; utiliza a força da gravidade para
ajudar na descida fetal)
• Posição de avanço, deslocando o peso para trás e para frente com o pé sobre uma cadeira durante a
contração (usa a força da gravidade por estar ereta; aumenta a rotação do feto por meio do balanço)
• Posição com os joelhos no tórax, em abdução de quadril (ajuda a aliviar o desconforto nas costas)
(Gizzo et al., 2014; Tharpe et al., 2016)
Conduta de enfermagem durante o segundo estágio do trabalho de parto
O manejo do segundo estágio do trabalho de parto segue, com frequência, rotinas baseadas na tradição em vez de práticas
baseadas em evidências. As evidências atuais para o manejo do segundo estágio do trabalho de parto apoiam as práticas de
retardo dos esforços expulsivos pela parturiente, esforços expulsivos espontâneos (não direcionados) e posições
escolhidas pela parturiente (Cox & King, 2015). Para conseguir ajudar as pacientes durante o segundo estágio do trabalho
de parto, o enfermeiro precisa ter uma compreensão abrangente de fisiologia e estar ciente das mais recentes pesquisas
baseadas em evidências e aplicálas a sua prática clínica (Green, 2016).
A assistência de enfermagem durante o segundo estágio do trabalho de parto centrase em apoiar a parturiente e seu
parceiro na tomada de decisões ativas sobre seu cuidado e manejo do trabalho de parto, implementar estratégias para
prolongar a fase passiva inicial de descida fetal, apoiar os esforços involuntários de fazer força para baixo, fornecer
orientações e assistência e utilizar posições maternas que possam melhorar a descida e reduzir a dor (King et al., 2015).
No passado, as gestantes davam à luz sem ajuda, seguindo os sinais dados por seus corpos; por isso, o papel do
enfermeiro deve ser o de suporte da parturiente no método escolhido por ela para fazer os esforços expulsivos e incentivá
la a confiar em seu instinto materno de quando e como fazer força para baixo.
Se não ocorrerem complicações, o enfermeiro não deve controlar esse estágio do trabalho de parto, mas empoderar a
parturiente a alcançar uma experiência gratificante. A principal razão para orientar as parturientes a fazer força para baixo é
encurtar o segundo estágio do trabalho de parto. Uma prática ainda comum em muitas unidades de trabalho de parto é
treinar as parturientes a fazer esforços expulsivos com a glote fechada a cada contração a partir de 10 cm de dilatação, uma
prática que não é apoiada por pesquisas. As pesquisas sugerem que dirigir os esforços expulsivos durante o segundo
estágio pode ser acompanhado por declínio significativo do pH fetal e pode causar danos aos músculos e nervos maternos
se as forças forem realizadas muito precocemente (Reed, 2015). Encurtar a fase de esforços expulsivos ativos e alongar a
fase inicial de descida passiva pode ser conseguido incentivandose a parturiente a não fazer força para baixo até que ela
sinta um forte desejo de fazêlo e até que a descida e a rotação da cabeça fetal estejam bem avançadas. O esforço expulsivo
efetivo pode ser conseguido ajudando a parturiente a assumir uma posição mais ereta ou de cócoras. Dar suporte aos
esforços expulsivos espontâneos e incentivar as parturientes a escolher o seu próprio método de fazêlo deve ser aceito
como a melhor prática clínica (Cheng & Caughey, 2015b).
Plano de cuidados de enfermagem 14.1
Aspectos gerais de uma mulher na fase ativa do primeiro estágio do trabalho de
parto
Candice, uma gestante de 23 anos de idade, Gesta I, Para 0 (GI, P0), foi admitida na unidade de
trabalho de parto e parto com 39 semanas de gestação, tendo contrações de intensidade
moderada a cada 5 a 6 minutos. Um exame de toque vaginal revelou que o colo do útero está 80%
apagado e com dilatação de 5 cm. A apresentação fetal (vértice) está em altura de apresentação
0, e suas membranas se romperam espontaneamente há 4 horas, em casa. Ela foi internada e foi
introduzido um cateter intravenoso para hidratação e acesso vascular. Foi colocado um monitor
fetal externo. A FCF é de 140 bpm e é regular. Seu parceiro está ao seu lado. Candice está agora
na fase ativa do primeiro estágio do trabalho de parto e seus achados de avaliação são os
seguintes: colo do útero com dilatação de 7 cm e 80% apagado; contrações moderadas a fortes
que ocorrem regularmente, a cada 3 a 5 minutos, com duração de 45 a 60 segundos; altura de
apresentação 0 ao exame ginecológico; FCF mais bem auscultada abaixo do umbigo, a 140 bpm;
tampão mucoso vaginal rosado ou sanguinolento; atualmente apreensiva, focada em si, com
aumento da dependência; expressa preocupação em relação à capacidade de lidar com a dor;
capacidade limitada de seguir instruções.
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: ansiedade relacionada com o processo de trabalho de parto e parto e
medo do desconhecido relacionado com a primeira experiência da paciente.
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente manterá a calma e o controle, conforme evidenciado pela capacidade de tomar decisões e
utilizar estratégias de enfrentamento positivas.
Intervenções: promover estratégias positivas de enfrentamento
• Fornecer orientações sobre o processo de trabalho de parto para aliviar a ansiedade
• Orientar a parturiente em relação ao ambiente físico e equipamentos conforme necessário, para
mantêla informada dos acontecimentos
• Encorajar a verbalização de sentimentos e preocupações para reduzir a ansiedade
• Ouvir atentamente a parturiente e seu parceiro para demonstrar interesse e preocupação
• Informar à parturiente e ao parceiro os procedimentos/processos padrão para garantir a compreensão
adequada dos eventos e procedimentos
• Atualizar a parturiente com frequência do progresso e do status do trabalho de parto para proporcionar
um reforço positivo para as ações
• Reforçar as técnicas de relaxamento e fornecer instruções, se necessário, para auxiliar no
enfrentamento
• Incentivar a participação do parceiro no papel de treinador; adequar o papel para facilitar a
participação do parceiro no processo de trabalho de parto, fornecendo apoio e incentivo à paciente
• Fornecer sua presença e permanecer com a parturiente tanto quanto possível, para proporcionar
conforto e apoio
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: dor aguda relacionada com as contrações uterinas e alongamento do
colo uterino e do canal de parto.
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente manterá um nível aceitável de dor e desconforto, conforme evidenciado por declarações de
alívio da dor, classificação da dor em 2 ou menos na escala de classificação da dor e ausência de efeitos
adversos da analgesia ou anestesia na paciente e no feto.
Intervenções: promover o alívio da dor
• Monitorar os sinais vitais, observando os sinais de dor e pedindo à parturiente que classifique a sua
dor em uma escala de 0 a 10, para proporcionar uma linha de base para comparação
• Estimular a parturiente a urinar a cada 1 a 2 h para diminuir a pressão de uma bexiga cheia
• Auxiliar a parturiente a mudar de posição com frequência para aumentar o conforto e promover o
progresso do trabalho de parto
• Incentivar o uso da distração para reduzir o foco sobre a dor da contração
• Sugerir o balanço pélvico, a massagem ou a contrapressão nas costas para reduzir a dor
• Ajudar com o uso de técnicas de relaxamento e respiração para promover o relaxamento
• Usar adequadamente o toque (massagem nas costas) quando desejado pela parturiente para
promover o conforto
• Integrar o uso de medidas não farmacológicas para o alívio da dor, como água quente, bola suíça ou
outras técnicas para facilitar o alívio da dor
• Administrar agentes farmacológicos conforme prescrito, quando solicitado, para controlar a dor
• Fornecer confiança e encorajamento entre as contrações para promover a autoestima e a participação
contínua no processo de trabalho de parto
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: risco de infecção relacionado com múltiplos exames de toque vaginal
após a ruptura das membranas e trauma tecidual.
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente não apresentará infecção, conforme evidenciado pela ausência de sinais e sintomas de
infecção, sinais vitais e FCF dentro de parâmetros aceitáveis, resultados de exames laboratoriais dentro
dos limites normais e líquido amniótico claro e sem odor.
Intervenções: prevenir infecções
• Monitorar os sinais vitais (a cada 2 h após a ruptura das membranas e a FCF com frequência,
conforme protocolo, para possibilitar a detecção precoce de problemas; relatar casos de taquicardia
fetal (sinal precoce de infecção materna) para garantir o tratamento imediato
• Prestar cuidados perineais frequentes e fornecer absorventes íntimos para manter uma boa higiene
perineal
• Trocar as roupas de cama e o avental da mulher, conforme necessário, para manter a limpeza
• Certificarse de que os exames de toque vaginal são realizados somente quando necessário, para
evitar a introdução de patógenos na cavidade vaginal
• Monitorar os resultados dos exames laboratoriais, como a contagem de leucócitos, para avaliar por
meio de elevações que indiquem infecções
• Usar uma técnica asséptica em todos os procedimentos invasivos para evitar a transmissão de
infecções
• Utilizar boas técnicas de lavagem das mãos antes e após os procedimentos e adotar as precauções
padrão conforme apropriado para minimizar o risco de transmissão de infecções
• Registrar as características do líquido amniótico – coloração, odor – para estabelecer uma linha de
base para comparação
As lacerações perineais podem ocorrer durante o segundo estágio do trabalho de parto, quando a cabeça fetal surge
através do introito vaginal. A extensão da laceração é definida pela profundidade: a laceração de primeiro grau prolongase
pela pele; a de segundo grau prolongase até os músculos do corpo perineal; a de terceiro grau continua até o músculo do
esfíncter anal; e a de quarto grau envolve também a parede retal anterior. Devese dar especial atenção às lacerações de
terceiro e quarto graus para evitar incontinência fecal. Os fatores de risco para as lacerações de terceiro e quarto graus
incluem nuliparidade, origem asiática ou das ilhas do Pacífico, feto macrossômico, parto vaginal com fórceps ou
vacuoextrator, episiotomia e segundo estágio do trabalho de parto prolongado. O maior índice de massa corporal esteve
associado a menos lacerações (Sides et al., 2015). O médico responsável deve reparar quaisquer lacerações durante o
terceiro estágio do trabalho de parto.
Episiotomia é uma incisão feita no períneo para aumentar a abertura vaginal e, teoricamente, encurtar o segundo
estágio do trabalho de parto. Medidas alternativas, como compressas quentes e massagens contínuas com óleo, têm sido
bemsucedidas no alongamento da região perineal para evitar sua laceração. Enfermeiros obstetras podem fazer e reparar
as episiotomias, mas frequentemente usam medidas alternativas, se possível.
Anote!
O uso limitado de episiotomia é preconizado pelo ACOG por causa dos riscos desse procedimento e dos benefícios
incertos do uso rotineiro (Friedman et al., 2015).
A episiotomia mediana tem sido a mais comumente realizada nos EUA, porque pode ser facilmente reparada e causa
menos dor. A aplicação de compressas aquecidas e/ou a realização de massagem perineal intraparto estão associadas à
diminuição do traumatismo na área perineal e à redução na necessidade de episiotomia (Green, 2016). A realização
rotineira de episiotomia tem declinado, porque o uso irrestrito foi desencorajado pelo ACOG. A exceção seria evitar
lacerações maternas ou acelerar partos difíceis. As taxas de laceração do esfíncter anal com o parto vaginal espontâneo
diminuíram, provavelmente refletindo o decréscimo no uso da episiotomia. O declínio no parto vaginal com fórceps ou
vacuoextrator corresponde a um aumento acentuado no número de cesarianas, o que pode indicar que os profissionais de
saúde estão preferindo realizar cesarianas a partos difíceis (FaisalCury et al., 2015). A Figura 14.14 mostra os locais de
episiotomia.
Avaliação continuada durante o segundo estágio do trabalho de parto
A avaliação é contínua durante o segundo estágio do trabalho de parto. As políticas hospitalares ditam o tipo e o intervalo
de tempo específico das avaliações, bem como a maneira como são documentadas. A avaliação envolve identificar os
sinais típicos do segundo estágio do trabalho de parto, incluindo:
• Aumento da apreensão ou irritabilidade
• Ruptura espontânea das membranas
• Aparecimento repentino de suor acima do lábio superior
• Aumento da eliminação de tampão mucoso sanguinolento
• Emissão de grunhidos baixos pela parturiente
• Queixas de pressão retal e perineal
• Início dos esforços expulsivos involuntários.
Outras avaliações contínuas incluem frequência, duração e intensidade da contração; sinais vitais maternos a cada 5 a
15 minutos; resposta fetal ao trabalho de parto conforme indicado pelas tiras de monitoramento da FCF; coloração, odor e
volume de líquido amniótico quando as membranas se romperem; e condição de enfrentamento da mulher e de seu parceiro
(Tabela 14.4).
A avaliação também se concentra em determinar o progresso do trabalho de parto. Os sinais associados incluem
abaulamento do períneo, separação dos lábios da vulva, avanço e recuo da cabeça do feto durante e entre os esforços
expulsivos e coroamento (a cabeça fetal é visível na abertura vaginal; Figura 14.15).
Realizase um exame de toque vaginal para determinar se é adequado que a mulher faça forças de expulsão. É
apropriado se o colo do útero estiver totalmente dilatado (10 cm) e se a mulher sentir vontade de fazêlas.
FIGURA 14.14 Locais de episiotomia. A. Episiotomia mediana. B. Episiotomias mediolaterais esquerda e direita.
Intervenções de enfermagem
As intervenções de enfermagem durante essa etapa estão focadas em motivar a parturiente, ajudando no posicionamento e
incentivandoa a usar toda a sua força para empurrar o feto para o mundo exterior e dandolhe retorno sobre o seu
progresso. Se a parturiente estiver fazendo força para baixo e não houver evolução do trabalho de parto, sugira que ela
mantenha os olhos abertos durante as contrações e olhe para onde o feto está saindo. Mudar de posição frequentemente
também ajudará na evolução do trabalho de parto. Posicione um espelho para que a parturiente possa visualizar o processo
de parto e quão bemsucedidos são os seus esforços expulsivos; isso pode ajudar a motivála.
Tabela 14.4 Resumo das avaliações durante o segundo, o
terceiro e o quarto estágios do trabalho de parto.
a
A frequência das avaliações é ditada pelo estado de saúde da parturiente e do feto e
pode ser alterada se alguma dessas condições mudar. MEF = monitoramento eletrônico
fetal.
Adaptada de Holvey, N. (2014). Supporting women in the second stage of labor. British
Journal of Midwifery, 22(3), 182–186; American Hospital Association. (2014). RNs role in
labor and delivery. Retirada de http://www.aha.org/search?
q=RNs+role+in+labor+and+delivery&startdate; e Wenner, L. (2015). It’s the little
things. Nursing for Women’s Health, 19(2), 203204.
FIGURA 14.15 Coroamento.
Durante o segundo estágio do trabalho de parto, uma posição ideal seria aquela que abre a cavidade pélvica o máximo
possível, proporciona uma via suave para a descida do feto através do canal vaginal, tira vantagem da gravidade para
ajudar o feto a descer e dá à parturiente a sensação de estar segura e no controle do processo de trabalho de parto
(Capogna, 2015a). Algumas sugestões de posições para o segundo estágio incluem:
• Litotomia com os pés apoiados em estribos: posição mais conveniente para os profissionais de saúde, embora os
achados na prática baseada em evidências não apoiem essa posição em termos fisiológicos
• Semissentada com travesseiros debaixo dos joelhos, braços e costas
• Em decúbito lateral ou lateral reclinado, com o dorso arqueado e a coxa do membro inferior que está mais alta apoiada
pelo parceiro
• Sentada no banquinho de parto: abre a pelve, potencializa a força da gravidade e ajuda a fazer esforços expulsivos
• Agachamento/agachamento com suporte: dá à parturiente sensação de controle
• Ajoelhada no leito com as mãos e os joelhos confortavelmente afastados.
Outras intervenções de enfermagem importantes durante o segundo estágio incluem:
• Fornecer continuamente medidas de conforto, como higiene oral, incentivar mudanças de posição, trocar a roupa de
cama e absorventes e proporcionar um ambiente tranquilo e focado
• Orientar a parturiente em relação às posições e técnicas de esforços expulsivos a seguir:
• Fazer força para baixo somente quando sentir vontade de fazêlo
• Adiar os esforços para até 90 minutos depois da dilatação completa
• Usar os músculos abdominais ao empreender os esforços expulsivos
• Fazer esforços curtos de 6 a 7 segundos
• Concentrar a atenção na região do períneo para visualizar o feto
• Relaxar e conservar a energia entre as contrações
• Fazer vários esforços expulsivos a cada contração
• Fazer esforços para baixo com a glote aberta e expirar lentamente (Petrocnik & Marshall, 2015)
• Continuar monitorando as contrações e os padrões de FCF para identificar problemas
• Fornecer orientações breves e diretas ao longo dessa etapa
• Continuar fornecendo apoio psicossocial, tranquilizando e instruindo a parturiente
• Facilitar a posição vertical para incentivar o feto a descer
• Continuar avaliando a pressão arterial, a frequência cardíaca, a frequência respiratória, as contrações uterinas, os
esforços de expulsão, a FCF e o estado de enfrentamento da paciente e de seu parceiro
• Fornecer controle da dor, se necessário
• Proporcionar presença contínua
• Elogiar os esforços da paciente
• Preparar e auxiliar no parto:
• Notificar o médico do prazo estimado para o nascimento
• Preparar a mesa de parto e posicionar a parturiente
• Preparar a região perineal de acordo com o protocolo da instituição
• Oferecer um espelho e ajustálo para que a parturiente possa visualizar o parto
• Explicar todos os procedimentos e apresentar todos os equipamentos à parturiente e a seu parceiro
• Providenciar os instrumentos necessários para o parto, mantendo a esterilidade
• Usar precauções padrões durante o processo do parto para evitar jorros de líquidos corporais
• Registrar o horário do nascimento, o horário da expulsão da placenta e o tipo de parto
• Receber e transportar o recémnascido para um ambiente aquecido ou cobrilo com manta aquecida enquanto ele
está sobre o abdome da parturiente
• Prestar os cuidados iniciais e avaliar o recémnascido (ver a seção Parto, adiante).
Sheila agora está com dilatação completa e sente um forte desejo de fazer força para baixo. Como o
enfermeiro pode ajudála em seus esforços expulsivos? Que intervenções adicionais o enfermeiro do setor
de trabalho de parto pode oferecer a Sheila nesse momento? Além de incentivar Sheila a descansar entre
os esforços expulsivos e elogiála pelo desempenho, qual é o papel do enfermeiro durante o processo de
nascimento?
PARTO
O segundo estágio do trabalho de parto termina com a expulsão do feto do útero. A posição materna para o parto varia da
posição padrão de litotomia a decúbito lateral, cócoras, em pé ou ajoelhada, dependendo do local de nascimento, da
preferência da mulher e do protocolo padrão. Uma vez que a parturiente esteja posicionada para o parto, limpe a vulva e a
área perineal. O obstetra então assume o comando depois de colocar óculos de proteção, máscara, avental e luvas e realizar
a higiene das mãos.
Quando a cabeça do feto surgir, o médico explorará o pescoço fetal para ver se o cordão umbilical está enrolado nele.
Se estiver, o cordão será deslizado por sobre a cabeça para facilitar o parto. Assim que a cabeça surgir, o médico aspirará
primeiro a boca do recémnascido com uma seringa (porque o recémnascido é um respirador nasal obrigatório) e, em
seguida, as narinas, para evitar a aspiração de muco, líquido amniótico ou mecônio (Figura 14.16). O cordão umbilical é
duplamente clampeado e cortado entre as pinças pelo obstetra ou pelo parceiro(a) da parturiente, se ele(ela) assim o
desejar. Com o primeiro choro do recémnascido, termina o segundo estágio do trabalho de parto. As informações sobre
os cuidados da parturiente que passa por um parto cirúrgico encontramse no Capítulo 21.
Além de incentivar Sheila a descansar entre os esforços expulsivos e elogiála pelo desempenho, qual é o
papel do enfermeiro durante o processo de nascimento?
CUIDADOS IMEDIATOS AO RECÉMNASCIDO
Após a expulsão do útero, o recémnascido é colocado sob calor radiante, é secado, examinado, enrolado em cobertores
aquecidos e colocado sobre o abdome da parturiente para ganhar calor e proximidade. Em algumas instituições de saúde, o
recémnascido é colocado sobre o abdome da parturiente logo após o nascimento e coberto com manta aquecida, sem ser
seco nem examinado. Em qualquer um dos casos, a estabilidade do recémnascido dita onde são prestados os cuidados
imediatos. O enfermeiro também pode ajudar a parturiente a amamentar seu recémnascido pela primeira vez.
A avaliação do recémnascido começa no momento do nascimento e continua até que ele receba alta. Secar e fornecer
calor ao recémnascido evita a perda de calor por evaporação, é essencial para auxiliar a termorregulação e ajuda a fornecer
estímulos. Colocar o recémnascido sob uma fonte de calor radiante e colocar uma touca reduzirá ainda mais a perda de
calor após a secagem.
FIGURA 14.16 Aspiração do recémnascido logo após a expulsão do útero.
Avalie o recémnascido atribuindo uma pontuação de Apgar de 1 e 5 minutos. O índice de Apgar avalia cinco
parâmetros: (1) frequência cardíaca (ausente, lenta ou rápida); (2) esforço respiratório (ausente, choro fraco ou choro bom
e forte); (3) tônus muscular (flácido ou vivo e ativo); (4) resposta a estímulos irritantes; e (5) cor – que medem a
adaptação cardiorrespiratória do recémnascido após a saída do útero. Os parâmetros são organizados do mais importante
(frequência cardíaca) ao menos importante (coloração). O recémnascido recebe uma pontuação de 0 a 2 em cada um dos
cinco parâmetros. O objetivo da pontuação de Apgar é avaliar o estado fisiológico do recémnascido; consulte o Capítulo
18 para mais informações sobre essa pontuação.
Fixe pulseiras de identificação no punho e no tornozelo do recémnascido que correspondam à pulseira no punho da
parturiente, para garantir a identidade do recémnascido. Esse processo de identificação é completado na sala de parto,
antes de algué m sair do local. Algumas instituições de saúde também tiram uma foto do recémnascido logo após o
nascimento para a identificação em caso de rapto (National Center for Missing and Exploited Children [NCMEC], 2015).
Outros tipos de sistemas de segurança de recémnascidos podem ser usados para evitar os raptos. Alguns sistemas têm
sensores ligados à pulseira de identificação ou pinça do cordão umbilical do recémnascido. Um alarme é disparado se a
pulseira ou braçadeira ativar receptores próximos da saída da instituição. Outros têm um alarme que é ativado quando o
sensor é removido do recémnascido (Figura 14.17). Mesmo com o uso de sensores eletrônicos, os pais, a equipe de
enfermagem e os funcionários da segurança são responsáveis por promover estratégias de prevenção e garantir a segurança
e a proteção de todos os recémnascidos (NCMEC, 2015). Os enfermeiros podem ajudar na prevenção de raptos de recém
nascidos orientando os pais sobre os riscos de rapto, utilizando pulseiras com números iguais na criança, instruindo os
casais a manterem seu recémnascido em sua linha direta de visão dentro de seu quarto de hospital em todos os momentos,
tirando fotografias coloridas do seu filho, usando crachás de identificação com fotografias coloridas, desencorajando os
pais/familiares de publicar avisos de nascimento em meios de comunicação públicos com o nome da mãe e endereço,
controlando o acesso ao berçário/unidade pósparto com portas trancadas e utilizando etiquetas de segurança infantil ou
sistemas de alarme de rapto (NCMEC, 2015).
Sheila deu à luz uma menina saudável de 3.400 g. Ela está ansiosa para segurar e cuidar de seu
recémnascido. Quais são os cuidados iniciais ao neonato? Como o enfermeiro pode atender às
necessidades tanto do recémnascido quanto de Sheila, que está esgotada, mas ansiosa para ficar com sua
filha?
Conduta de enfermagem durante o terceiro estágio do trabalho de parto
Durante o terceiro estágio do trabalho de parto, fortes contrações uterinas continuam em intervalos regulares, sob a in
fluên cia contínua da ocitocina. As fibras da musculatura uterina se encurtam ou retraem a cada contração, levando à
redução gradual no tamanho do útero, que ajuda a separar a placenta de seu local de inserção. O terceiro estágio é
concluído quando a placenta é expulsa. A assistência de enfermagem durante o terceiro estágio do trabalho de parto se
concentra primariamente nos cuidados e na avaliação imediata do recémnascido e em observar se há descolamento da
placenta, estando disponível para ajudar na expulsão da placenta, registrando o momento, e na verificação de sua
integridade. O enfermeiro também deve fazer a avaliação por meio de palpação do útero antes e depois da expulsão da
placenta.
FIGURA 14.17 Um exemplo de sensor de segurança colocado no braço do recémnascido.
Três hormônios desempenham papéis importantes no terceiro estágio do trabalho de parto. Durante esse estágio, a
parturiente apresenta picos de ocitocina e endorfinas, enquanto os altos níveis de epinefrina que ocorreram durante o
segundo estágio do trabalho de parto para auxiliar na expulsão do feto começam a cair. O hormônio ocitocina provoca
contrações uterinas e ajuda a parturiente a adotar comportamentos maternais instintivos, como segurar o recémnascido
próximo ao corpo e abraçálo.
O contato pele com pele imediatamente após o nascimento e a primeira tentativa do recémnascido de amamentação
aumentam ainda mais os níveis de ocitocina materna, fortalecendo as contrações uterinas que ajudarão a placenta a separar
se e o útero a contrairse para evitar hemorragias. As endorfinas, opioides naturais do corpo, promovem um estado
alterado de consciência e ajudam a bloquear a dor. Além disso, a queda do nível de epinefrina em relação ao segundo
estágio, que havia mantido a parturiente e o recémnascido alertas no primeiro contato, faz com que a maioria das
mulheres estremeça e sinta frio logo após o parto.
Anote!
Um papel essencial do enfermeiro durante esse período é proteger o processo hormonal natural, garantindo um contato
sem pressa e sem interrupção entre a mãe e o recémnascido, fornecendo mantas aquecidas para evitar tremores e
possibilitando o contato pele com pele e o aleitamento inicial.
Avaliação continuada durante o terceiro estágio do trabalho de parto
A avaliação durante o terceiro estágio do trabalho de parto inclui:
• Monitoramento da separação da placenta, observando os seguintes sinais:
• Contração firme do útero
• Mudança no formato do útero, de discoide para globular ovoide
• Saída súbita de jato de sangue escuro pela abertura vaginal
• Estiramento do cordão umbilical que se projeta da vagina
• Exame da integridade da placenta e das membranas fetais pela segunda vez (o primeiro exame foi realizado pelo
médico) (Figura 14.18)
• Avaliação à procura de traumatismo perineal, como os seguintes, antes de permitir que o médico obstetra deixe a sala:
• Fundo do útero firme, com gotejamento de sangue vermelhovivo: laceração
• Fundo do útero de consistência amolecida, com fluxo de sangue vermelho: atonia uterina
• Fundo do útero de consistência amolecida, com sangue escuro e coágulos: retenção da placenta
• Inspeção do períneo para avaliar a condição da episiotomia, caso tenha sido realizada
• Avaliação à procura de lacerações perineais e garantia de seu reparo pelo obstetra.
Intervenções de enfermagem
As intervenções durante o terceiro estágio do trabalho de parto incluem:
• Descrever o processo de separação da placenta para o casal
• Orientar a parturiente a fazer força para baixo quando os sinais de separação forem aparentes
• Administrar um agente ocitócico, se prescrito e indicado, após a expulsão da placenta
• Fornecer apoio e informações sobre a episiotomia e/ou laceração, se aplicável
FIGURA 14.18 Placenta. A. Lado fetal. B. Lado materno.
• Limpar e ajudar a parturiente a ficar em uma posição confortável após a saída do feto e da placenta, tendo o cuidado de
retirar simultaneamente as duas pernas dos estribos (se usados), para evitar estiramentos
• Avaliar os conhecimentos da gestante sobre aleitamento materno para determinar as demandas educacionais
• Instruir a paciente em relação à pegada, ao posicionamento, à sucção e à deglutição do recémnascido
• Reposicionar a maca para servir como maca de recuperação, se for o caso
• Ajudar na transferência para a área de recuperação, se for o caso
• Fornecer aquecimento, reposicionando cobertores aquecidos sobre a mulher
• Aplicar uma bolsa de gelo à área perineal para proporcionar conforto à episiotomia, se indicado
• Explicar quais avaliações serão realizadas durante a próxima hora e oferecer reforço positivo para as ações
• Determinar quaisquer necessidades
• Monitorar o estado físico materno, avaliando:
• Sangramento vaginal: volume, consistência e coloração
• Sinais vitais: pressão arterial, frequência cardíaca e frequência respiratória, avaliadas a cada 15 minutos
• Fundo do útero, cuja consistência deve estar firme, na linha média e ao nível do umbigo
• Registrar todos os dados do parto e garantir a assinatura do médico responsável
• Documentar o parto no livro de nascimentos (registro oficial da instituição que descreve todos os nascimentos),
detalhando quaisquer desvios do habitual.
Conduta de enfermagem durante o quarto estágio do trabalho de parto
O quarto estágio do trabalho de parto começa depois que a placenta é expulsa e dura até 4 horas após o nascimento, tempo
durante o qual ocorre a recuperação. Esse período de recuperação pode ocorrer no mesmo quarto em que a parturiente deu
à luz, em uma área de recuperação separada ou em seu quarto após o parto. Durante essa fase, o corpo da parturiente
começa a passar pelas muitas mudanças fisiológicas e psicológicas que ocorrem após o nascimento. O foco da conduta de
enfermagem durante o quarto estágio do trabalho de parto envolve a observação atenta e frequente à procura de
hemorragia, o fornecimento de medidas de conforto e a promoção do vínculo familiar.
Avaliação
As avaliações durante o quarto estágio centramse nos sinais vitais da parturiente, na condição do fundo do útero e da área
perineal, no nível de conforto, no volume de lóquios e no estado da bexiga. Durante a primeira hora após o parto, os sinais
vitais são mensurados a cada 15 minutos e depois a cada 30 minutos durante a hora seguinte, se necessário. A pressão
arterial da parturiente deve permanecer estável e dentro da faixa normal após o parto. A queda dos níveis tensionais pode
indicar hemorragia uterina, enquanto a elevação poderia sugerir préeclâmpsia.
Em geral, a frequência cardíaca é tipicamente mais baixa (60 a 70 bpm) do que durante o trabalho de parto. Isso pode
estar associado ao decréscimo no volume sanguíneo após a separação da placenta. Uma frequência cardíaca elevada pode
ser sinal precoce de perda de sangue. A pressão arterial geralmente retorna ao seu nível prégestacional e, portanto, não é
um indicador precoce confiável de choque. A febre é indicativa de desidratação (inferior a 38°C) ou infecção (acima de
38,3°C), que pode envolver o sistema geniturinário. A frequência respiratória geralmente está entre 16 e 24 incursões por
minuto, com ritmo regular. A respiração não deve ser trabalhosa, a menos que haja uma condição respiratória preexistente.
Avalie a altura, a posição e a consistência do fundo do útero a cada 15 minutos durante a primeira hora após o
nascimento. A consistência do fundo deve manterse firme para evitar sangramento excessivo após o parto. O fundo do
útero deve ser firme (ter o tamanho e a consistência de uma toranja), estar localizado na linha média e abaixo do umbigo.
Se não estiver firme (se estiver amolecido), massageie suavemente até que o esteja (ver boxe Procedimento de
enfermagem 22.1 para mais informações). Quando for obtida firmeza, pare de massagear.
Anote!
Se o fundo do útero estiver deslocado para a direita da linha média, suspeite que a causa seja uma bexiga cheia.
As áreas vaginal e perineal estão bastante distendidas e edemaciadas após o parto vaginal. Avalie o períneo, incluindo a
episiotomia, caso tenha sido realizada, à procura de possível formação de hematoma. Suspeite de hematoma se a
parturiente relatar dor excruciante ou não conseguir defecar ou se for observada massa na região perineal. Também
examine à procura de hemorroidas, que podem causar desconforto.
Avalie o nível de conforto da mulher com frequência para determinar a necessidade de analgesia. Peça à mulher que
classifique a sua dor em uma escala de 0 a 10, sendo que ela deve relatar dor inferior a 3. Se for maior, é necessária uma
avaliação mais aprofundada para certificarse de que não existem quaisquer divergências contribuindo para seu
desconforto.
Avalie a secreção vaginal (lóquios) a cada 15 minutos durante a primeira hora e a cada 30 minutos na hora seguinte.
Palpe o fundo do útero ao mesmo tempo para determinar a sua firmeza e para ajudar a estimar o volume de secreção
vaginal. Além disso, palpe se a bexiga está cheia, uma vez que muitas mulheres que receberam anestesia epidural
apresentam diminuição da sensibilidade na região vesical. A parturiente elimina um volume grande de urina a cada micção.
A palpação da bexiga da mulher após cada episódio de micção contribui para avaliála e para assegurar o esvaziamento
completo. A bexiga cheia deslocará o útero para as laterais da linha média e potencializará uma hemorragia secundária à
consistência amolecida do útero.
Intervenções de enfermagem
As intervenções de enfermagem durante o quarto estágio poderiam incluir:
• Fornecer apoio e informações à parturiente em relação à episiotomia e correspondentes medidas de alívio da dor e de
autocuidado
• Aplicar uma bolsa de gelo no períneo da parturiente para promover o conforto e reduzir o inchaço
• Ajudar com os cuidados de higiene e perineais; orientar a parturiente a usar o frasco de irrigação perineal após cada
troca de absorvente e micção; ajudar a parturiente a vestir um roupão limpo
• Monitorar o retorno da sensibilidade e da capacidade de urinar (se tiver sido utilizada anestesia regional)
• Incentivar a parturiente a urinar utilizando as estratégias de deambular até o banheiro, ouvir o som de água corrente ou
despejar água morna sobre a área perineal com o frasco de irrigação perineal
• Monitorar os sinais vitais, o fundo do útero e o lóquios a cada 15 minutos e documentálos
• Avaliar se há hemorragia pósparto e retenção urinária por meio de palpação uterina
• Promover o conforto, oferecendo analgesia para a dor pósparto e cobertores quentes para reduzir os calafrios
• Oferecer líquidos e alimentação, se desejados
• Incentivar o vínculo maternoinfantil, proporcionando privacidade à família
• Estar bem informada e ser sensível às práticas culturais típicas após o parto
• Ajudar e incentivar a parturiente a amamentar, se ela optar por fazêlo, durante o período de recuperação, para
promover o aumento da consistência do útero (a liberação de ocitocina pela neurohipófise estimula as contrações
uterinas)
• Ensinar a parturiente a avaliar a firmeza do fundo de útero periodicamente e a massageálo se estiver amolecido
• Descrever o fluxo de lóquios e os parâmetros normais a serem observados no período pósparto
• Ensinar técnicas de segurança para impedir o rapto do recémnascido
• Demonstrar o uso do assento de banho portátil como uma medida de conforto para o períneo se ela tiver uma laceração
ou uma episiotomia
• Explicar as medidas de conforto/higiene e quando usálas
• Ajudar na deambulação ao sair do leito pela primeira vez
• Fornecer informações sobre a rotina da unidade maternoinfantil ou berçário para a sua estadia
• Observar se existem sinais precoces de criação do vínculo maternoinfantil: toque com a ponta dos dedos ou palma da
mão para envolver a criança (Leonard, 2015; Green, 2016).
O papel dos profissionais de enfermagem durante o trabalho de parto e o parto é privilegiado, ou seja, o papel de dar
suporte às mulheres em um dos momentos mais vulneráveis de suas vidas – o momento de dar à luz. O foco dos
profissionais de enfermagem durante esse período deve ser dar suporte, proteger, defender e empoderar as parturientes.
Além disso, os profissionais de enfermagem devem fornecer informações que permitam que a mulher perceba suas
aspirações e metas, tomando decisões baseadas em escolhas informadas. Os profissionais de enfermagem fazem uma
grande diferença na vida das parturientes com pequenos gestos.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
O enfermeiro presta apoio físico e emocional durante o processo de trabalho de parto e parto para
ajudar a parturiente a alcançar seus objetivos
Quando a gestante é internada na unidade de trabalho de parto e parto, o enfermeiro que a interna
deve analisar e avaliar a situação de risco da gestação e iniciar as intervenções necessárias para
prestar o melhor cuidado a ela
Realizar uma avaliação de admissão inclui coletar a história de saúde materna; realizar um exame
físico da gestante e do feto, incluindo o seu estado emocional e psicossocial; e obter os exames
laboratoriais necessários
A atuação do enfermeiro na avaliação fetal durante o trabalho de parto e o parto inclui a
determinação e a interpretação dos sinais e sintomas de um possível comprometimento do bemestar
fetal. É essencial determinar o padrão de FCF e avaliar as características do líquido amniótico
A FCF pode ser avaliada de modo intermitente ou contínuo. Embora o método intermitente possibilite
que a parturiente se movimente durante o trabalho de parto, as informações obtidas desse modo não
fornecem um panorama completo do bemestar fetal momento a momento
Os parâmetros de avaliação da FCF são classificados como linha de base da frequência cardíaca,
variabilidade da linha de base e mudanças periódicas na frequência cardíaca (acelerações e
desacelerações)
O enfermeiro que monitora a parturiente precisa saber em qual categoria está o padrão de FCF, de
modo que possam ser instituídas as intervenções apropriadas
Se o padrão de FCF for de categoria III, o enfermeiro deve notificar o médico e obter prescrições
adicionais, certificandose de documentar todas as intervenções e seus efeitos sobre o padrão de
FCF
Além de interpretar os achados da avaliação e iniciar intervenções adequadas à paciente em trabalho
de parto, devese realizar uma documentação precisa e atempada de modo contínuo
Atualmente existem muitas escolhas farmacológicas e não farmacológicas seguras para o controle da
dor durante o parto. Estas podem ser utilizadas in di vidualmente ou em combinação, uma em
complemento à outra
A conduta de enfermagem para a gestante em trabalho de parto inclui medidas de conforto, apoio
emocional, informações e instrução, defesa e apoio ao parceiro
A assistência de enfermagem durante o primeiro estágio do trabalho de parto inclui a coleta de uma
história de admissão (revisão do prontuário do prénatal), a verificação dos resultados dos exames
laboratoriais de rotina e exames especiais realizados durante a gestação, questionar a mulher sobre
sua preparação para o parto (plano de parto, aulas de preparação para o parto, habilidades de
enfrentamento) e realizar um exame físico da mulher para determinar valores de base para
comparação futura
A assistência de enfermagem durante o segundo estágio do trabalho de parto centrase em apoiar a
parturiente e seu parceiro na tomada de decisões ativas sobre seu cuidado e manejo do trabalho de
parto, implementar estratégias para prolongar o início da fase passiva de descida fetal, apoiar os
esforços involuntários de fazer força para baixo, prestar apoio e assistência e incentivar o uso de
posições maternas que possam acelerar a descida e reduzir a dor
A assistência de enfermagem durante o terceiro estágio do trabalho de parto se concentra
principalmente nos cuidados e avaliação imediata do recémnascido e em estar disponível para ajudar
na saída da placenta e verificação de sua integridade
O foco da conduta de enfermagem durante o quarto estágio do trabalho de parto frequentemente
envolve observar se a parturiente apresenta hemorragia, promover medidas de conforto e promover o
vínculo da família
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Exercícios sobre o capítulo
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. Quando uma parturiente apresenta dilatação total, que instrução seria mais efetiva para ajudála no
sentido de incentivar esforços expulsivos efetivos?
a. Prender a respiração e fazer força para baixo durante toda a contração
b. Usar respiração torácica no momento da contração
c. Arfar e soprar durante cada contração
d. Esperar até que sinta vontade de fazer força para baixo
2. Durante o quarto estágio de trabalho de parto, o enfermeiro avalia a mulher em intervalos frequentes
após o nascimento. Que dados da avaliação poderiam causar maior preocupação ao enfermeiro?
a. Volume moderado de lóquios vermelhoescuros no absorvente íntimo
b. Fundo uterino palpável à direita do umbigo
c. Temperatura oral de 38,1°C
d. Área perineal ferida e edemaciada sob a compressa de gelo
3. Ao gerenciar a dor de uma gestante em trabalho de parto, o enfermeiro deve:
a. Certificarse de que os agentes administrados não prolongam o trabalho de parto
b. Saber que todas as medidas de alívio da dor são semelhantes
c. Apoiar as decisões e solicitações da gestante
d. Não recomendar métodos não farmacológicos
4. Ao cuidar de uma paciente na fase ativa do trabalho de parto, sem monitoramento eletrônico fetal
contínuo, o enfermeiro deve avaliar intermitentemente a FCF a cada:
a. 15 a 30 minutos
b. 5 a 10 minutos
c. 45 a 60 minutos
d. 60 a 75 minutos
5. O enfermeiro observa a ocorrência de acelerações transitórias fetais na derivação de monitoramento
fetal. Qual intervenção seria mais adequada?
a. Reposicionar a paciente em decúbito lateral esquerdo
b. Começar a administrar oxigênio a 100% via máscara facial
c. Documentar esse padrão como normal
d. Chamar o médico imediatamente
6. Ao final do segundo estágio do trabalho de parto, o enfermeiro esperaria qual dos seguintes eventos?
a. O colo do útero está totalmente dilatado e apagado
b. Descolamento e expulsão da placenta
c. Feto expulso do útero e colocado sobre o tórax da mãe
d. Parturiente solicita medicamento para dor
7. Qual das seguintes práticas não seria incluída em um parto fisiológico?
a. Indução precoce do trabalho de parto antes da 39a semana de gravidez
b. Liberdade de movimento para a parturiente
c. Presença contínua e suporte durante todo o trabalho de parto
d. Encorajar esforço expulsivo espontâneo quando surgir o anseio para fazêlo
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. Uma primigesta de 20 anos de idade, a termo, chega à maternidade em trabalho de parto (5 cm de
dilatação e colo 80% apagado, altura da apresentação de –1), com ruptura de membranas. Ela afirma
que quer um parto “completamente natural”, sem medicação. Seu parceiro está com ela e parece
ansioso, mas solidário. Na avaliação de admissão, a história prénatal da paciente é normal; os sinais
vitais estão dentro dos limites normais; a FCF via Doppler varia entre 140 e 144 bpm e é regular.
a. Com base nos dados de avaliação e na solicitação da gestante de não receber medicamentos,
quais intervenções não farmacológicas você poderia oferecer a ela?
b. Quais posições podem ser sugeridas para facilitar a descida do feto?
2. Várias horas depois, a paciente se queixa de náuseas, virase para seu parceiro e diz a ele com raiva
para não tocála e ir embora.
a. Que avaliação precisa ser feita para determinar o que está acontecendo?
b. Que explicação você pode oferecer ao parceiro da paciente sobre a mudança de comportamento
da parturiente?
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Compartilhe experiências em uma reunião de discussão de casos clínicos sobre as intervenções de
manejo da dor para as pacientes que lhe foram designadas. Compare e avalie a efetividade dos
diferentes métodos utilizados, o comportamento materno observado e o desfecho neonatal em termos
de pontuação de Apgar.
2. No monitor cardíaco fetal, o profissional de enfermagem percebe uma elevação da linha de base do feto
com o aparecimento das contrações. Essa elevação descreveria um(a) _______.
3. Compare e estabeleça as diferenças entre uma casa de parto local e uma sala de parto de um hospital
da comunidade em termos de técnicas de controle da dor e monitoramento fetal utilizados.
4. Selecione um site direcionado para futuros pais e faça uma análise crítica das informações fornecidas
em termos de escolaridade e quantidade de publicidade.
ESTUDO DE CASO
Uma gestante a termo, com 30 anos de idade, procura o setor de emergência do hospital por causa de dor
abdominal. Esta é sua primeira gravidez e ela está acompanhada pelo parceiro e pela irmã que estava muito
ansiosa. A idade gestacional é de 40 semanas e 6 dias com base na última ultrassonografia. Todos os
exames de sangue feitos ao longo da gravidez foram normais. Mais cedo no mesmo dia ela eliminou
secreção vaginal vermelhoescura semelhante a muco, seguida por cólicas irregulares semelhantes a
cólicas menstruais. Duas horas antes ela eliminou um jorro de líquido claro pela vagina e, desde então, tem
se sentido mal. Ele ingeriu dois comprimidos de paracetamol em casa para a dor, mas agora está
angustiada e veio ao hospital para avaliação.
AVALIAÇÃO
Durante o exame físico, a gestante se mostrava calma entre os episódios de dor. Sua pressão arterial era de
130/80 mmHg, e sua frequência de pulso era de 100 bpm. O enfermeiro sentiu o movimento fetal. A
frequência cardíaca fetal era de 142 bpm. A altura do fundo de útero era, à palpação, de 37 cm, e a
apresentação fetal era cefálica. O exame com espéculo mostrou líquido transparente acumulado no fórnice
posterior da vagina. Quando o líquido foi colocado em uma lâmina de vidro apresentou um padrão de
samambaia. O exame de toque vaginal revelou que o colo do útero está totalmente apagado e com
dilatação de 4 cm. A cabeça fetal está 2 cm acima das espinhas isquiáticas. No exame vaginal não foi
palpada a cabeça fetal nem houve moldagem da cabeça fetal.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 14 | Conduta de Enfermagem durante o Trabalho de Parto e o Parto
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é D, porque a força de expulsão não direcionada, com base nas pesquisas atuais, leva aos melhores
desfechos para a mãe e para o feto. Prender a respiração e empurrar durante toda a contração reduz o fluxo sanguíneo
e a oxigenação para o feto. A respiração torácica não é efetiva, uma vez que não aumenta a pressão abdominal para
ajudar o útero a se contrair. Em vez de fazer força para baixo, que não é necessário para expulsar o feto, preconizase
movimento de arfar e soprar.
2. A resposta correta é B. Uma bexiga urinária cheia provoca o deslocamento do útero acima dela, o que resulta em
sangramento aumentado em decorrência do estado não contraído do útero. Massagear o útero vai ajudar a deixálo
firme, mas não vai ajudar a trazêlo de volta para a linha média, uma vez que a bexiga cheia está ocupando o espaço
que o útero normalmente assumiria. Não é necessário notificar o obstetra, a menos que a puérpera continue tendo
dificuldade miccional e o útero permaneça deslocado. A localização normal do útero no quarto estágio do trabalho de
parto é na linha média. O deslocamento sugere bexiga urinária cheia, o que não é considerado um achado normal.
3. A resposta correta é C. Todo o foco da experiência do trabalho de parto e do parto é para que a família tome as
decisões, não os cuidadores. O papel do enfermeiro é respeitar e apoiar as decisões. As decisões sobre o manejo da
dor não são baseadas na duração dos vários estágios do trabalho de parto, mas, sim, no que proporciona o alívio
efetivo da dor para a parturiente. As medidas de alívio da dor são diferentes. Cada indivíduo reage de maneira
distinta e única às várias medidas de alívio da dor. Não recomendar medidas não farmacológicas demonstra
preconceito por parte do enfermeiro; não se trata de uma decisão que o enfermeiro deva tomar, mas, sim, a paciente.
4. A resposta correta é A. Várias organizações profissionais de saúde da mulher publicaram diretrizes a respeito do
momento das avaliações intermitentes da FCF durante a fase ativa do trabalho de parto. A recomendação atual é que a
FCF seja avaliada intermitentemente a cada 15 min durante a fase ativa do trabalho de parto.
5. A resposta correta é C. As acelerações fetais denotam sistema nervoso central intacto e níveis de oxigenação
adequados, conforme demonstrado pelo aumento da frequência cardíaca associado à movimentação do feto. As
acelerações são de padrão tranquilizador, então não há necessidade de intervenção. Reposicionar a paciente em
decúbito lateral esquerdo seria uma intervenção adequada para um padrão de desaceleração tardia. A administração de
oxigênio a 100% por máscara facial seria apropriada para um padrão de desaceleração tardio ou variável. Visto que as
acelerações fetais são de padrão tranquilizador, não é necessário prescrição médica; o obstetra também não precisa ser
notificado desse padrão tranquilizador.
6. A resposta correta é C porque, por definição, o segundo estágio do trabalho de parto começa com dilatação completa
do colo do útero (10 cm) e termina com a expulsão do feto. A alternativa A é incorreta porque o colo do útero está
plenamente dilatado no início do estágio 2, não ao fim deste. A alternativa B é incorreta, dado o fato de que o terceiro
estágio do trabalho de parto é definido como o período após a expulsão do feto até a expulsão da placenta. A
alternativa D é incorreta porque a maioria das parturientes solicita, tipicamente, analgesia na fase ativa do trabalho de
parto no estágio 1.
7. A resposta correta é A porque a indução artificial do trabalho de parto, em vez de esperar pelo início do trabalho de
parto espontâneo, não resulta em parto fisiológico. Devese permitir que a natureza siga seu curso sem indução
artificial do trabalho de parto. As alternativas B, C e D contribuem para práticas fisiológicas de parto.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. Com base nos dados de avaliação e na solicitação da gestante de não receber medicamentos, quais
intervenções não farmacológicas você poderia oferecer a ela?
• Técnicas de relaxamento progressivo, que incluem localizar e em seguida liberar a tensão de um grupo
muscular de cada vez, até que o corpo todo esteja relaxado
• Imaginação visual, como fazer com que a mulher mentalize um local relaxante, longe do desconforto do
trabalho de parto
• Música para exercer um efeito calmante, bem como distrair ou focar a atenção para desviála do processo
de trabalho de parto; concentrarse em um som ou ritmo ajuda a liberar a tensão e promover o relaxamento
• Massagem/acupressão para aumentar o relaxamento, melhorar a circulação e reduzir a dor do trabalho de
parto; contrapressão na região lombar para ajudar a aliviar a dor lombar
• Técnicas respiratórias para estratégias efetivas de focalizar a atenção, a fim de melhorar os mecanismos de
enfrentamento durante o trabalho de parto.
b. Quais posições podem ser sugeridas para facilitar a descida do feto?
• Posições verticais, como ao caminhar, oscilar, dançar devagar com o parceiro ou inclinarse sobre uma bola
de parto, aumentarão o conforto e usarão a força da gravidade para facilitar a descida fetal
• Ajoelhar e inclinarse para a frente ajudará a aliviar a dor nas costas
• A oscilação pélvica na posição de quatro apoios e a posição de avanço com um pé elevado sobre uma
cadeira podem ajudar na rotação interna do feto e na aceleração de um trabalho de parto lento.
2.
a. Que avaliação precisa ser feita para determinar o que está acontecendo?
O enfermeiro deve fazer um exame vaginal para confirmar que Carrie está na fase de transição (de 8 a 10 cm de
dilatação).
b. Que explicação você pode oferecer ao parceiro de Carrie sobre a mudança de comportamento da
parturiente?
Explique ao parceiro da gestante que ela está na fase de transição do primeiro estágio do trabalho de parto e que
seu comportamento é típico, visto que ela está tendo contrações fortes com frequência. Tranquilizeo dizendo
que ele não deve levar em consideração os comentários de Carrie, mas ficar no recinto e ser solidário a ela.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Essas informações variam de acordo com o que a paciente relata ao estudante. Os planos irrealistas de manejo da dor
precisam ser identificados e aqueles válidos e baseados em evidências devem ser apresentados à paciente. Os
equívocos também podem ser esclarecidos.
2. Aceleração – elevação da frequência cardíaca fetal acima dos valores basais; um padrão de categoria I, que é normal.
3. Os achados variam de uma instituição para outra, mas o estudante pode encontrar um uso mais liberal de técnicas não
farmacológicas na casa de parto em comparação com o ambiente hospitalar e o uso mais frequente de hidroterapia e
deambulação para aliviar o desconforto. Além disso, a avaliação intermitente utilizando um Doppler portátil
provavelmente é empregada com mais frequência na casa de parto em comparação com o hospital, onde o
monitoramento eletrônico fetal contínuo é prevalente.
4. Vários sites sobre parto apresentam informações muito básicas sobre o evento e tentam alcançar um público com
níveis diversos de escolaridade. Muitos desses sites fazem propaganda de inúmeros produtos voltados à gestação e à
criança.
ESTUDO DE CASO
1. Qual seria sua suspeita quanto à causa da dor abdominal da paciente?
2. A paciente está em trabalho de parto falso ou verdadeiro?
3. Com base na história da paciente, o que poderia indicar que ela está em trabalho de parto normal?
Resposta: Trabalho de parto é o processo por meio do qual ocorre o nascimento e requer contrações uterinas com
frequência, duração e intensidade suficientes para apagar e dilatar o colo uterino. O trabalho de parto normal
evidenciase pelo início de contrações dolorosas com dilatação progressiva da cérvice e descida do segmento de
apresentação fetal. A dor abdominal da paciente é secundária às contrações uterinas. Ela está em trabalho de parto
verdadeiro, porque teve alterações cervicais associadas às contrações. A paciente apresentou várias alterações normais
sugestivas de trabalho de parto – ruptura das membranas, eliminação do tampão mucoso em consequência das
contrações uterinas; a frequência do pulso estava acelerada em consequência da dor; a altura do fundo de útero
diminuiu, porque a cabeça do feto desceu para a pelve verdadeira e ela eliminou líquido amniótico da cavidade
uterina.
Plano de cuidados
1. Qual é a conduta apropriada para essa paciente?
2. A paciente deveria ser classificada em risco alto ou baixo, e de que forma isto determinaria os cuidados prestados?
3. Em qual estágio do trabalho de parto a paciente está?
4. Qual é o papel do enfermeiro no primeiro estágio do trabalho de parto?
Resposta: O esperado seriam avaliação e reavaliação contínuas com modificação do plano de cuidados ao longo de
todo o trabalho de parto. A gestação e o trabalho de parto até agora são de baixo risco, porque não há evidência de
qualquer distúrbio fetal ou materno que exija cuidados intensivos. A paciente não precisa de monitoramento fetal
contínuo e deve ter permissão para ingerir alimentos leves e líquidos, se quiser. O feto precisa ser avaliado quanto ao
bemestar por ausculta intermitente por 1 minuto completo depois de uma contração, ao menos a cada 15 minutos no
primeiro estágio do trabalho de parto. Essa paciente está no primeiro estágio do trabalho de parto, ou seja, fase ativa
do trabalho de parto. Quando o trabalho de parto começa, a dilatação esperada é de cerca de 1 cm por hora. Se isso
não ocorrer ou se o bemestar fetal estiver em risco, pode ser necessária intervenção médica. Quando os resultados
das reavaliações continuam na faixa normal, não é necessária qualquer intervenção médica. O papel do enfermeiro
durante o primeiro estágio do trabalho de parto poderia consistir em monitorar a pressão arterial de hora em hora, a
frequência cardíaca fetal a cada 30 minutos, estimular os progressos alcançados pelo casal, fornecer medidas de
conforto se a paciente quiser, apoiar a decisão da paciente quanto ao controle da dor; respeitar a necessidade de
privacidade da gestante, sendo paciente com o processo fisiológico natural do trabalho de parto; e relatando quaisquer
variações do normal ao profissional de saúde apropriado.
Questões múltipla escolha
1. A enfermeira testa o pH do líquido encontrado no exame de toque vaginal e determina que as
membranas da gestante já se romperam quando o resultado é qual das seguintes opções?
A. 5
B. 5,5
C. 6
D. 6,5
Concluir questão
2. A enfermeira está analisando o padrão de contração uterina e identifica o ápice de
intensidade, documentandoo como qual das seguintes opções?
A. Acúmulo
B. Pico
C. Relaxamento
D. Diástole
Concluir questão
3. A enfermeira determina que a frequência cardíaca fetal (FCF) é, em média, cerca de 140 bpm
ao longo de um período de 10 min. Ela identifica isso como qual das seguintes opções?
A. Bradicardia fetal
B. Variabilidade a curto prazo
C. Variabilidade da linha de base
D. Linha de base da FCF
Concluir questão
4. Ao avaliar os padrões de frequência cardíaca fetal, qual das seguintes opções alertaria a
enfermeira de que pode haver um problema?
A. Desacelerações prolongadas
B. Desacelerações variáveis
C. Desacelerações precoces
D. Acelerações
Concluir questão
5. Ao exame, a enfermeira determina que a cliente está com 50% de apagamento. Isso significa
que:
A. O canal do colo do útero mede 2 cm de comprimento
B. O canal do colo do útero mede 1 cm de comprimento
C. O canal do colo do útero mede 1,5 cm de comprimento
D. O canal do colo do útero mede 2,5 cm de comprimento
Concluir questão
6. Uma gestante em trabalho de parto que está recebendo um opioide para alívio da dor vai
começar a receber prometazina. A enfermeira determina que esse fármaco é efetivo quando a
mulher necessita de qual das seguintes atitudes?
A. Aumentar a dilatação do colo do útero
B. Aumentar a sensação de controle
C. Reduzir a ansiedade
D. Diminuir a sedação
Concluir questão
7. Uma mulher está acariciando levemente o abdome no ritmo de sua respiração durante as
contrações. A enfermeira identifica essa técnica como:
A. Acupressão
B. Respiração padronizada
C. Effleurage
D. Toque terapêutico
Concluir questão
8. Durante a primeira hora do quarto estágio do trabalho de parto, a enfermeira avaliaria o fundo
do útero da mulher com que frequência?
A. A cada 5 min
B. A cada 10 min
C. A cada 15 min
D. A cada 20 min
Concluir questão
9. Durante a avaliação, a enfermeira explica que determinados pontos de referência são usados
para avaliar o progresso do parto. Quais são esses pontos?
A. Tuberosidade isquiática
B. Espinhas isquiáticas
C. Sínfise púbica
D. Óstio do colo do útero
Concluir questão
10. Uma cliente chega à maternidade depois que suas membranas se romperam. O foco principal
da enfermeira deve ser:
A. Avaliar à procura de infecções
B. Avaliar a posição fetal
C. Avaliar o conforto materno
D. Avaliar a FCF
Concluir questão
11. Você está atendendo uma cliente de baixo risco em trabalho de parto. Durante o segundo
estágio, você avalia a FCF com que frequência?
A. A cada 15 min
B. A cada 10 min
C. A cada 5 min
D. A cada 20 min
Concluir questão
12. O médico está analisando se uma gestante de alto risco deve ser avaliada por monitoramento
interno contínuo. Qual dos seguintes não é um critério que influencia nessa decisão?
A. Ruptura das membranas
B. Dilatação do colo do útero de pelo menos 2 cm
C. Inserção de eletrodo espiral por um funcionário qualquer
D. A apresentação fetalestá visível
Concluir questão
13. Ao avaliar o andamento do trabalho de parto, você explica que a variabilidade da frequência
cardíaca fetal é moderada. Qual das seguintes opções é a melhor explicação a ser dada aos
pais?
A. O intervalo de flutuação da FCF é indetectável
B. A FCF oscila de 6 a 25 bpm
C. A FCF oscila menos de 5 bpm
D. A FCF oscila mais de 25 bpm
Concluir questão
14. Após o nascimento, você é responsável pela avaliação do pH do cordão umbilical. Você
reconhece que qual dos seguintes seria considerado um pH normal?
A. 7
B. 6,8
C. 7,4
D. 7,2
Concluir questão
15. Na preparação de um jovem casal para o nascimento iminente de seu filho, a gestante
expressa preocupação a respeito da necessidade de medicamentos para a dor e seus efeitos
sobre o feto. Você explica que, por sua experiência e pesquisas recentes, qual dos seguintes
ajudaria a contribuir para a diminuição da solicitação de medicação para a dor?
A. Sentarse em uma banheira de água quente
B. Anestesia epidural rápida
C. Apoio contínuo ao longo do processo de trabalho de parto
D. Deitarse sobre uma compressa de gelo
Concluir questão
16. A massagem é uma técnica não farmacológica efetiva que pode ajudar a diminuir a dor
durante o trabalho de parto. Qual das seguintes opções seria uma contraindicação para ela?
A. Nível de conforto da mulher
B. Erupção cutânea
C. Crenças culturais
D. Opioides já administrados
Concluir questão
17. A cliente está solicitando informações sobre as várias técnicas de manejo da medicação para
a dor disponíveis para decidir qual opção gostaria de escolher para seu parto iminente.
Enquanto reúne as informações, que técnicas você poderia indicar que se tornaram muito
populares e efetivas?
A. Analgesia sistêmica
B. Analgesia/anestesia neuraxial
C. Analgesia peridural
D. Analgesia espinal
Concluir questão
18. Uma mulher recebeu meperidina durante o trabalho de parto para ajudar no controle da dor. A
enfermeira precisaria monitorar o recémnascido à procura de qual dos seguintes itens
depois do parto?
A. Aumento da agitação
B. Baixo índice de Apgar
C. Diminuição do estado de alerta
D. Aumento no choro
Concluir questão
19. Uma cliente pediu que um opioide fosse mantido à disposição caso ela precisasse dele para o
controle da dor. Como medida de precaução, a enfermeira também terá prontamente
disponível qual dos seguintes fármacos para reverter os efeitos desse opioide?
A. Nalbufina
B. Hidroxizina
C. Midazolam
D. Naloxona
Concluir questão
20. Ao avaliar a eficácia da analgesia regional obstétrica recebida pela cliente, você reconhece
que ela foi bemsucedida quando há perda completa da sensibilidade dolorosa em qual nível
da medula espinal?
A. Abaixo de T8
B. Abaixo de T7
C. Abaixo de T6
D. Abaixo de T5
Concluir questão
21. Uma mulher de 19 anos chega ao prontosocorro nas últimas etapas do trabalho de parto
ativo. A avaliação revela que ela não recebeu atendimento prénatal. Como parte de sua
análise, um rastreamento rápido à procura de HIV indica que ela é HIVpositiva. Para reduzir a
transmissão perinatal para o bebê, que medicação intravenosa ela deve receber?
A. Zidovudina
B. Tenofovir
C. Maraviroque
D. Nevirapina
Concluir questão
22. A cliente quer evitar uma episiotomia. Que outra técnica a enfermeira sugeriria que ela
tentasse?
A. Praticar exercícios de Kegel durante a gestação
B. Dar à luz em decúbito dorsal
C. Aplicar compressas mornas ao períneo
D. Massagear o períneo diariamente durante o último trimestre
Concluir questão
Durante o trabalho de parto, ocorre a descida fetal progressiva. Coloque as alturas da
23.
apresentação em sua sequência correta.
A. Altura da apresentação –4
B. Altura da apresentação –2
C. Altura da apresentação 0
D. Altura da apresentação 2
E. Altura da apresentação 4
Concluir questão
24. A enfermeira realizará a manobra de Leopold para determinar a posição do feto. Ordene as
quatro etapas específicas.
A. Determinar a apresentação
B. Determinar a posição
C. Confirmar a apresentação
D. Determinar a atitude
Concluir questão
25. A enfermeira encoraja uma mulher em trabalho de parto a deambular, com base no
entendimento de que isso influencia qual(is) dos seguintes? (Selecione todos que se
aplicam.)
A. Utiliza o auxílio da força da gravidade para movimentar o feto
B. Incentiva a rotação do feto
C. Melhora a eficiência das contrações
D. Aumenta o desejo de empurrar durante o segundo estágio
E. Ajuda a alinhar o feto com o ângulo da pelve
F. Alarga um lado da pelve
Concluir questão
Adaptações PósParto
15
PALAVRASCHAVE
Apego
Atonia uterina
Fase dependente
Fase dependenteindependente
Fase interdependente
Ingurgitamento
Interação genitorfilho
Involução
Lactação
Lóquios
Puerpério
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Examinar as alterações fisiológicas sistêmicas que ocorrem na puérpera após o parto.
2. Determinar as alterações psicológicas que ocorrem na puérpera após o parto.
3. Correlacionar as medidas de autocuidado materno a serem implementadas no período pósparto.
4. Integrar as dimensões dos cuidados pósparto à família multicultural.
5. Planejar os cuidados de enfermagem pósparto de modo a fomentar a ligação da mãe com o recémnascido.
6. Avaliar as fases de ajuste ao papel de mãe e os comportamentos associados.
7. Analisar as adaptações psicológicas que ocorrem após o parto no parceiro da puérpera.
Betsy estava em casa havia apenas 3 dias quando ligou para a maternidade onde deu à luz e pediu para
falar com a consultora de lactação. Ela relatou dor em ambas as mamas. Seus mamilos estavam dolorosos
ao contato por causa da amamentação frequente. Ela descreveu suas mamas como pesadas, endurecidas
e inchadas.
Reflexões
As expectativas de uma nova mãe são fantasiosas e, às vezes, a imaginação é melhor do que a realidade.
INTRODUÇÃO
O período pósparto é um importante momento de transição para a mãe, para o recémnascido e para sua família do ponto
de vista fisiológico e psicológico. O período de puerpério começa após a saída da placenta e dura cerca de 6 semanas.
Durante esse período, o corpo da puérpera começa a voltar a seu estado prégestacional; essas mudanças geralmente se
resolvem até a sexta semana após o parto. No entanto, o período pósparto também pode incluir as mudanças em todos os
aspectos da vida da mãe que ocorrem durante o primeiro ano após o nascimento da criança. Alguns acreditam que o
período de adaptação pósparto dura o ano todo, fazendo com que o quarto estágio do trabalho de parto seja o mais longo
de todos. Tendo isso em mente, o período pósparto verdadeiro pode durar entre 9 e 12 meses, enquanto a mãe luta para
perder o peso que ganhou durante a gestação, ajustase psicologicamente às mudanças em sua vida e assume o seu novo
papel de mãe.
O enfermeiro que atende a família que teve um filho deve considerar todos os aspectos culturais, incluindo a
comunicação, o espaço e os papéis familiares. A comunicação engloba não só a compreensão da linguagem da pessoa e a
sonoridade da fala, mas também o significado de toques e gestos. O conceito de espaço pessoal e as dimensões das zonas
de conforto variam de uma cultura para outra. Tocar, colocar a paciente em proximidade com outros e tirar pertences
pessoais pode reduzir a segurança pessoal da paciente e aumentar sua ansiedade. Os enfermeiros precisam ser sensíveis ao
modo como as pessoas reagem ao serem tocadas e devem absterse de tocálas se a resposta da paciente indicar que isso é
indesejável. As normas culturais influenciam também os papéis, as expectativas e os comportamentos da família
associados à posição do membro na família. Por exemplo, a cultura pode influenciar se o parceiro participa ativamente da
gestação e do parto. Os profissionais envolvidos com cuidados de maternidade nos EUA esperam que todos os homens se
envolvam, mas essa expectativa de papel pode conflitar com a de muitos dos diversos grupos que agora vivem no país.
Norteamericanos de origem mexicana, árabe, asiática e judeus ortodoxos, por exemplo, costumam ver a experiência do
parto como um assunto estritamente feminino (Purnell, 2014).
Como profissionais de enfermagem, uma de nossas principais funções é prestar cuidados seguros e baseados em
evidências para promover desfechos ideais de nascimento a todas as mulheres, independentemente de sua origem cultural.
O enfermeiro precisa se lembrar de que há mais de uma maneira de prestar esse atendimento. O enfermeiro é um
importante intermediário cultural, visto que acolhe as mulheres e suas famílias nas unidades de obstetrícia, compartilhando
com elas uma das experiências mais íntimas de suas vidas (Bowers & Ceballos, 2015).
Este capítulo descreve as principais alterações fisiológicas e psicológicas que ocorrem na mulher após o parto.
Sucedemse várias adaptações sistêmicas em todo o seu corpo. Além disso, a mãe e a família se ajustam psicologicamente
ao acréscimo. O nascimento de uma criança muda a estrutura familiar e os papéis de seus membros. As adaptações são
dinâmicas e continuarão evoluindo à medida que ocorram mudanças físicas e novos papéis emerjam.
ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS MATERNAS
Durante a gestação, o corpo feminino se modifica para acomodar as necessidades do feto em crescimento. Após o
nascimento, o corpo feminino passa novamente por mudanças significativas em todos os sistemas do corpo para retorná
los ao seu estado prégestacional.
Adaptações do sistema genital
O sistema genital passa por enormes adaptações para retornar à condição prégestacional. Todos os órgãos e tecidos do
sistema genital estão envolvidos. O sistema genital feminino é único em sua capacidade de remodelarse ao longo da vida
fértil da mulher. Os eventos após o nascimento, com a liberação da placenta e a subsequente involução uterina, envolvem
destruição tecidual substancial e posterior reparo e remodelamento. Por exemplo, o ciclo menstrual da mulher,
interrompido durante a gestação, começa a voltar algumas semanas após o parto, se a mulher não estiver amamentando. A
ovulação pode retomar a qualquer momento, portanto, o aleitamento materno não deve ser considerado um método
contraceptivo seguro e outros métodos anticoncepcionais devem ser usados. O útero, que sofreu uma enorme expansão
durante a gestação para acomodar o crescimento fetal progressivo, voltará ao seu tamanho prégestacional ao longo de
várias semanas. As mamas da mãe cresceram para se preparar para a lactação e não retornam ao seu tamanho pré
gestacional, como ocorre com o útero.
Involução uterina
O útero retorna ao seu tamanho normal por meio de um processo gradual de involução que envolve mudanças regressivas
que o devolvem ao seu tamanho e condição em não grávidas. A involução envolve três processos regressivos:
1. Contração das fibras musculares para reduzir as fibras previamente distendidas durante a gestação
2. Catabolismo, que encolhe cada célula ampliada do miométrio
3. Regeneração do epitélio uterino a partir da camada inferior da decídua após as camadas superiores terem sido
descartadas e descamadas durante os lóquios (Mattson & Smith, 2016).
O útero, que pesa aproximadamente 1.000 g logo após o nascimento, sofre involução fisiológica conforme retorna ao
seu estado não gestacional. Aproximadamente 1 semana após o nascimento, o tamanho do útero encolhe 50% e ele pesa
cerca de 500 g; no final de 6 semanas, pesa cerca de 60 g, que é aproximadamente o peso prégestacional (Jordan et al.,
2014) (Figura 15.1). Durante os primeiros dias após o nascimento, o útero tipicamente desce abaixo da cicatriz umbilical
em uma taxa de 1 cm (largura de 1 dedo da mão transverso) por dia. Após 3 dias, o fundo do útero está 2 a 3 dedos abaixo
do umbigo (ou discretamente acima em multíparas). Ao final de 10 dias, o fundo do útero normalmente não pode ser
palpado, porque desceu para a pelve verdadeira.
Se essas alterações de caráter regressivo não ocorrerem por causa de fragmentos retidos da placenta ou infecção,
ocorre tipicamente subinvolução do útero (involução tardia ou ausente). A subinvolução geralmente responde ao
diagnóstico e ao tratamento precoces. Os fatores que facilitam a involução uterina incluem a expulsão completa das
membranas amnióticas e da placenta no momento do nascimento, um processo de trabalho de parto e parto livre de
complicações, a amamentação e a deambulação precoce. Os fatores que inibem a involução incluem trabalho de parto
prolongado e parto difícil, expulsão incompleta das membranas e placenta, infecção uterina, hiperdistensão dos músculos
uterinos (como por gestação múltipla, polidrâmnio ou feto único grande), bexiga cheia (que desloca o útero e interfere nas
contrações), anestesia (que relaxa os músculos do útero) e espaçamento curto entre os partos (a distensão frequente e
repetida diminui o tônus uterino e provoca relaxamento muscular).
LÓQUIOS
Os lóquios consistem em fluxo vaginal de origem uterina que ocorre após o parto e continua durante aproximadamente 4 a
8 semanas. Resulta da involução, durante a qual a camada superficial da decídua basal tornase necrótica e é descartada.
Imediatamente após o parto, os lóquios são de coloração vermelhobrilhante e consistem principalmente em sangue,
produtos fibrinosos, células deciduais e hemácias e leucócitos. Os lóquios do útero são alcalinos, mas tornamse ácidos à
medida que passam pela vagina. Têm volume aproximadamente igual ao de uma menstruação. O volume médio dos
lóquios é de 240 a 270 mℓ (Bope & Kellerman, 2015).
FIGURA 15.1 Involução uterina.
As gestantes submetidas a cesariana tendem a ter fluxo vaginal menor, porque os restos celulares no útero foram
removidos manualmente junto com a saída da placenta. A maioria das puérperas apresenta lóquios durante pelo menos 3
semanas após o parto, mas algumas mulheres apresentam lóquios por até 6 semanas.
Os lóquios passam por três estágios:
• Lóquios rubros: mistura vermelhoescura de muco, restos de tecido e sangue que ocorre durante os primeiros 3 a 4
dias após o parto. Conforme o sangramento uterino diminui, tornase mais claro e mais seroso
• Lóquios serosos: é a segunda fase. São castanhorosados e são eliminados 3 a 10 dias pósparto. Os lóquios serosos
contêm principalmente leucócitos, tecido decidual, hemácias e líquido seroso
• Lóquios albos: é a fase final. A secreção vaginal é cremosa, de coloração branca ou marromclara. Os lóquios albos
consistem em leucócitos, tecido decidual e um pouco de conteúdo líquido. Ocorrem do 10o ao 14o dia após o parto,
mas podem perdurar por 3 a 6 semanas em algumas mulheres e ainda ser considerados normais.
Os lóquios em qualquer fase devem ter cheiro de carne fresca; um odor ruim geralmente indica infecção, como
endometriose.
Anote!
Um sinal de perigo é o reaparecimento de sangue vermelhovivo depois do desaparecimento dos lóquios rubros. Se isso
ocorrer, a avaliação por um profissional de saúde é essencial.
CÓLICAS PÓSPARTO
Parte do processo de involução envolve contrações uterinas. Subsequentemente, muitas mulheres são incomodadas com
frequência por contrações uterinas dolorosas chamadas cólicas pósparto. Todas as mulheres apresentam cólicas pós
parto, mas elas são mais agudas em multíparas e que amamentam, em decorrência do estiramento dos músculos uterinos
por múltiplas gestações ou estimulação durante a amamentação pela ocitocina liberada pela hipófise. As primíparas
geralmente apresentam cólicas pósparto leves, porque seu útero consegue manter um estado contraído. O aleitamento
materno e a administração de ocitocina exógena causam contrações uterinas fortes e dolorosas. As cólicas pósparto
geralmente respondem aos analgésicos orais.
Anote!
As cólicas pósparto geralmente são mais fortes durante a amamentação, porque a ocitocina liberada pelo reflexo de
sucção potencializa as contrações uterinas. Analgésicos fracos podem reduzir esse desconforto.
Colo do útero
O colo do útero retorna tipicamente ao seu estado prégestacional até a sexta semana depois do parto. O colo do útero se
fecha gradualmente, mas nunca recupera sua aparência prégestacional. Imediatamente após o parto, está disforme e
edemaciado, sendo facilmente distensível por vários dias. O istmo do útero se fecha e retorna gradualmente ao normal em
cerca de 2 semanas, enquanto o óstio do útero se amplia e nunca volta a ser o mesmo após o parto. O óstio do útero já não
tem a forma de um círculo, mas tem a aparência de uma abertura irregular em fenda, muitas vezes descrita como “boca de
peixe” (Figura 15.2).
Vagina
Logo após o parto, a mucosa vaginal está edemaciada e fina, com poucas pregas. Conforme a função ovariana retorna e
retoma a produção de estrogênio, a mucosa se espessa e as pregas reaparecem em aproximadamente 3 semanas. A vagina
permanece aberta e geralmente perde a tonicidade. A vagina retorna aproximadamente ao seu tamanho prégestacional até a
6a à 8a semana após o parto, mas sempre será um pouco maior do que era antes da gestação.
A produção de muco e a espessura da mucosa vaginal geralmente retornam ao normal com a ovulação. A vagina
diminui gradualmente de tamanho e recupera seu tônus ao longo de algumas semanas. Até a 4a semana, o edema e a
vascularidade diminuem. O epitélio vaginal geralmente é restaurado até a 8a semana pósparto (Mattson & Smith, 2016).
O ressecamento local e o desconforto no coito (dispareunia) geralmente afligem a maioria das mulheres até o retorno da
menstruação. Lubrificantes hidrossolúveis podem reduzir o desconforto durante a relação sexual.
Períneo
O períneo muitas vezes está edemaciado e com equimoses nos primeiros 1 ou 2 dias após o parto. Se durante o parto foi
realizada episiotomia ou ocorreu laceração perineal, a cicatrização completa pode levar até 4 a 6 meses, se não ocorrerem
complicações locais, como hematomas ou infecções. O tônus muscular pode ou não retornar ao normal, dependendo da
magnitude da lesão dos músculos, dos nervos e dos tecidos conjuntivos (Spiliolpoulos & Mastrogiannis, 2014). As
lacerações perineais podem estenderse ao ânus e causar desconforto considerável para a mãe nas tentativas de defecar ou
deambular. A existência de hemorroidas tumefeitas também pode aumentar o desconforto. As medidas locais de conforto,
como compressas de gelo, despejar água morna sobre a área com um frasco de irrigação perineal, compressas de
hamamélis, sprays anestésicos e banhos de assento podem aliviar a dor.
FIGURA 15.2 Aspecto do óstio do útero. A. Antes da primeira gestação. B. Pósparto.
Os tecidos de suporte do assoalho pélvico são distendidos durante o processo de parto e a restauração de seu trofismo
pode demorar até 6 meses. Pode ocorrer afrouxamento pélvico na mulher que passa por um parto vaginal. Os enfermeiros
devem incentivar todas as mulheres a realizar o treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP) para melhorar o
tônus muscular do assoalho pélvico, fortalecer os músculos do períneo e promover a cicatrização. Ver boxe Prática
baseada em evidências 15.1.
Anote!
A falha em manter e restaurar o tônus muscular perineal leva a posterior incontinência urinária em muitas mulheres.
Adaptações do sistema cardiovascular
O sistema cardiovascular sofre drásticas alterações após o parto. Durante a gestação, o coração é deslocado discretamente
para cima e para a esquerda. Isso se reverte conforme o útero involui. O débito cardíaco permanece elevado nos primeiros
dias após o parto e depois declina gradualmente até valores em não gestantes dentro de 3 meses após o parto.
O volume sanguíneo, que aumenta substancialmente durante a gestação, cai rapidamente após o nascimento e retorna
ao normal dentro de 4 semanas após o parto. A diminuição, tanto do débito cardíaco quanto do volume sanguíneo, reflete a
perda de sangue relacionada com o parto (média de 500 mℓ no parto vaginal e 1.000 mℓ na cesariana). O débito cardíaco
cai até os níveis anteriores ao trabalho de parto (24 a 72 horas antes do parto). Depois, cai durante as 2 semanas seguintes
e retorna aos níveis prégestacionais em 6 a 8 semanas. O volume de plasma sanguíneo é adicionalmente reduzido por
meio da diurese, que ocorre no início do período pósparto (Cheng & Caughey, 2015). Apesar da diminuição no volume
sanguíneo, o nível de hematócrito permanece relativamente estável e pode até aumentar, refletindo a perda predominante de
plasma. Desse modo, uma diminuição aguda do hematócrito não é um achado esperado e pode indicar hemorragia.
Domínio de conceito
Priorização dos sinais vitais após o parto
Não é incomum que as mulheres apresentem elevação da temperatura corporal para até 37,8°C
nas primeiras 24 horas após o parto. Também pode ocorrer discreta queda dos níveis tensionais.
O enfermeiro deve se preocupar principalmente com elevação da pressão arterial, porque
préeclâmpsia pode ocorrer no período pósparto precoce.
Prática baseada em evidências 15.1
Treinamento dos músculos do assoalho pélvico versus nenhum tratamento ou tratamentos de
controle inativos para a incontinência urinária em mulheres.
A incontinência urinária de estresse é o extravasamento de urina durante uma atividade física que aumente
a pressão intraabdominal, tal como tosse ou espirros. Esse tipo de incontinência pode ocorrer após o parto
secundariamente a traumatismo perineal. O TMAP é a intervenção mais frequentemente prescrita para
mulheres que apresentam incontinência urinária de estresse. O objetivo desse estudo foi determinar os
efeitos do TMAP nas mulheres com incontinência urinária em comparação com mulheres que não
receberam tratamento, que receberam placebo ou receberam outros tratamentos inativos (controle).
ESTUDO
Foram revisados estudos randomizados ou quase randomizados em mulheres com incontinência urinária de
estresse. Vinte e um estudos envolvendo 1.281 mulheres atenderam aos critérios de inclusão. As mulheres
com incontinência urinária de estresse que estavam nos grupos que receberam TMAP apresentam uma
probabilidade oito vezes maior do que os controles de relatar cura (46/82 [56,1%] versus 5/83 [6,0%], RR
8,38, IC 95% 3,68 a 19,07) e probabilidade 17 vezes maior de relatar cura ou melhora (32/58
[55%] versus 2/63 [3,2%], RR 17,33, IC 95% 4,31 a 69,64). Nos estudos de mulheres com qualquer tipo de
incontinência urinária, também era mais provável que as mulheres dos grupos que fizeram TMAP
relatassem cura ou mais melhora e cura do que as mulheres dos grupos de controle, embora a magnitude
do efeito tenha sido reduzida. As mulheres com incontinência urinária de estresse também ficaram mais
satisfeitas com o tratamento ativo, enquanto as mulheres nos grupos de controle ficaram mais propensas a
procurar tratamento adicional. As mulheres tratadas com TMAP apresentam extravasamento urinário
menos frequentemente, perdem menos urina no teste ambulatorial de absorventes íntimos úmidos e urinam
menos frequentemente durante o dia.
Achados
A revisão desses estudos mostrou que o TMAP (exercícios de contração muscular) ajuda as mulheres a
curar e melhorar a incontinência urinária de estresse, em especial, e todos os tipos de incontinência urinária.
Implicações para a enfermagem
A revisão fornece apoio para a recomendação generalizada de que o TMAP deve ser incluído em
programas de tratamento conservador de primeira linha para mulheres com incontinência urinária de
esforço ou de qualquer tipo. A efetividade a longo prazo do TMAP precisa ser mais bem pesquisada. A
mensagem final dos profissionais de enfermagem que trabalham com puérperas deve ser a instrução sobre
como realizar TMAP em casa para ajudar a restaurar a força e o tônus do assoalho pélvico. Além do TMAP,
a promoção de um peso corporal saudável também pode ajudar a prevenir ou reduzir a incontinência
quando a mulher envelhece.
Adaptado de Dumoulin, C., HaySmith, E. J., & Mac HabéeSéguin, G. (2014). Pelvic floor muscle
training versus no treatment, or inactive control treatments, for urinary incontinence in women. Cochrane
Database of Systematic Reviews, 2014(5), CD005654.
Frequência cardíaca e pressão arterial
O aumento do débito cardíaco e do volume sistólico que ocorre durante a gestação começa a diminuir após o parto, depois
de a placenta sair. Essa diminuição no débito cardíaco é refletida em bradicardia (40 a 60 bpm) durante as primeiras 2
semanas depois do parto. Essa desaceleração da frequência cardíaca está relacionada com o aumento do fluxo sanguíneo
para o coração e para a circulação central, visto que já não é necessário mais irrigar a placenta. Esse aumento da circulação
central leva a aumento do volume sistólico e possibilita que uma frequência cardíaca mais baixa forneça circulação materna
suficiente. Gradualmente, o débito cardíaco retorna aos níveis prégestacionais até o 3o mês após o parto (Mahendru et al.,
2014).
A taquicardia (frequência cardíaca superior a 100 bpm) na puérpera exige uma investigação mais aprofundada. Pode
indicar hipovolemia, desidratação ou hemorragia. No entanto, por causa do aumento do volume sanguíneo durante a
gestação, uma perda considerável de sangue pode ser bem tolerada e não provocar resposta cardiovascular compensatória,
como uma taquicardia. Na maioria dos casos de hemorragia pósparto, a pressão arterial e o débito cardíaco permanecem
aumentados, por causa do aumento compensatório da frequência cardíaca. Assim, a diminuição da pressão arterial e do
débito cardíaco não é uma alteração esperada durante o período pósparto. A identificação precoce é essencial para garantir
uma intervenção rápida.
Os níveis da pressão arterial caem principalmente nos dois primeiros dias e depois se elevam 3 a 7 dias após o parto.
Os níveis tensionais retornam aos níveis prégestacionais em até 6 semanas (Parpaglioni, 2015). Um aumento significativo
acompanhado por cefaleia pode indicar préeclâmpsia e demanda investigação mais aprofundada. A diminuição da pressão
arterial pode sugerir infecção ou hemorragia uterina.
Coagulação
Alterações fisiológicas normais da gestação – incluindo alterações na hemostasia que favorecem a coagulação, fibrinólise
reduzida e acúmulo e estase de sangue nos membros inferiores – colocam as mulheres em risco de coágulos sanguíneos.
Essas alterações, que geralmente retornam aos níveis prégestacionais 3 semanas após o parto, são importantes para
minimizar a perda sanguínea por ocasião do parto. O tabagismo, a obesidade, a imobilidade e fatores pósparto, como
infecção, sangramento e cirurgia de emergência (incluindo cesariana de emergência), também aumentam o risco de
distúrbios de coagulação (Creasy et al., 2014).
Os fatores de coagulação que aumentaram durante a gestação tendem a permanecer elevados durante o período pós
parto. Dar à luz estimula esse estado de hipercoagulabilidade adicional. Como resultado, esses fatores de coagulação
permanecem elevados por 2 a 3 semanas após o parto (King et al., 2015). Esse estado de hipercoagulabilidade, combinado
a danos nos vasos durante o parto e imobilidade, coloca a mulher em risco de tromboembolismo (coágulos sanguíneos)
nos membros inferiores e nos pulmões.
Componentes celulares do sangue
A produção de hemácias cessa no início do puerpério, fazendo com que os níveis médios de hemoglobina e hematócrito
diminuam discretamente nas primeiras 24 horas. Durante as 2 semanas seguintes, ambos os níveis aumentam lentamente.
A contagem de leucócitos, que aumenta no trabalho de parto, permanece elevada nos primeiros 4 a 6 dias após o
nascimento, mas depois cai para 6.000 a 10.000/mm3. Essa elevação nos leucócitos pode complicar um diagnóstico de
infecção no período pósparto imediato.
Adaptações do sistema urinário
A gestação e o parto podem ter efeitos profundos sobre o sistema urinário. Durante a gestação, a taxa de filtração
glomerular (TFG) e o fluxo plasmático renal aumentam significativamente. Ambos geralmente retornam ao normal até a
6a semana após o parto. Ocorre retorno gradativo do tônus vesical e das dimensões e da função da bexiga urinária, dos
ureteres e da pelve renal ao normal, lembrando que todas essas estruturas estavam dilatadas durante a gravidez.
Muitas mulheres têm dificuldades em sentir se estão com vontade de urinar após o parto se tiverem recebido um
bloqueio anestésico durante o trabalho de parto (que inibe o funcionamento neural da bexiga) ou ocitocina para induzir ou
acelerálo (efeito antidiurético). Essas mulheres correm risco de esvaziamento incompleto, distensão da bexiga,
dificuldade de micção e retenção urinária. Além disso, a micção pode ser impedida por:
• Lacerações perineais
• Tumefação e hematomas generalizados no períneo e nos tecidos em torno do meato urinário
• Hematomas
• Diminuição do tônus da bexiga em decorrência da anestesia regional
• Diminuição da sensibilidade à pressão na bexiga em decorrência da tumefação, da falta de tônus vesical e dos efeitos
da anestesia regional utilizada durante o trabalho de parto (Bope & Kellerman, 2015).
A dificuldade de micção pode levar à retenção urinária, à distensão da bexiga e, por fim, à infecção urinária. A
retenção urinária e a distensão da bexiga podem causar o deslocamento do útero da linha média para a direita e podem
inibir a contração correta do útero, o que aumenta o risco de hemorragia pósparto. A retenção urinária é uma das
principais causas de atonia uterina, que possibilita o sangramento excessivo. A micção frequente de pequenos volumes
(menos de 150 mℓ ) sugere retenção urinária com transbordamento, podendo ser necessário cateterismo para esvaziar a
bexiga e restaurar seu tônus.
A diurese pósparto ocorre em virtude de vários mecanismos: o grande volume de líquido intravenoso administrado
durante o trabalho de parto, a redução do efeito antidiurético da ocitocina conforme seu nível cai, o acúmulo e a retenção
de líquidos extra durante a gestação e a diminuição na produção de aldosterona – o hormônio que diminui a retenção de
sódio e aumenta a produção de urina (Evans & De Franco, 2014). Todos esses fatores contribuem para o rápido
enchimento da bexiga nas 12 horas seguintes ao parto. A diurese aumentada começa 12 horas após o parto e continua
durante toda a primeira semana pósparto. A função retorna ao normal ao longo do 1omês após o parto (Cunningham et
al., 2014).
Considere isto
Você já se sentiu como uma verdadeira boba por não ser capaz de realizar uma tarefa simples? Eu tive um
menino lindo, após apenas 6 horas de trabalho de parto. Minha anestesia epidural funcionou bem e, na
verdade, senti pouquíssimo desconforto durante todo o trabalho de parto. Como após o parto eu cheguei ao
quarto no meio da noite, senti que algumas horas de sono seriam tudo que eu precisava para voltar ao
normal. Durante uma avaliação na manhã seguinte, o enfermeiro detectou que meu útero estava deslocado
para a direita da linha média, e fui instruída a urinar. Eu não entendia por que o enfermeiro estava
preocupado com onde estava localizado meu útero, e, além disso, não senti qualquer sensação de bexiga
cheia. Mas, enfim, levanteime e tentei urinar. Apesar de todos os truques do enfermeiro, como ligar a
torneira para eu ouvir o barulho da água e derramar água morna sobre minhas coxas com um frasco de
irrigação perineal, eu não conseguia urinar. Como eu poderia não conseguir fazer uma das tarefas mais
simples da vida?
Reflexões: As mulheres que recebem anestesia local frequentemente apresentam redução na
sensibilidade em sua área perineal e não sentem quando a bexiga está cheia. A avaliação da enfermagem
revelou útero deslocado em decorrência de bexiga cheia. Que “truques” adicionais podem ser usados para
ajudar essa puérpera a urinar? Que explicações devem ser oferecidas a ela em relação à justificativa para a
dificuldade de urinar?
Adaptações do sistema digestório
O sistema digestório regressa rapidamente ao normal após o nascimento, porque o útero grávido já não está mais
preenchendo a cavidade abdominal e pressionando os órgãos abdominais. Os níveis de progesterona, que causam
relaxamento da musculatura lisa durante a gestação e diminuição do tônus intestinal, também estão em declínio.
Independentemente do tipo de parto, a maioria das mulheres apresenta diminuição do tônus intestinal e do
peristaltismo por vários dias após o nascimento. O peristaltismo diminuído ocorre em resposta aos analgésicos, cirurgia,
diminuição da pressão intraabdominal, dieta pobre em fibras, ingestão de líquidos insuficiente e tônus muscular
diminuído. Além disso, as mulheres com episiotomia, laceração perineal ou hemorroidas podem ter medo da dor ou de
danificar o períneo com a primeira defecação e podem tentar retardála. Assim, a constipação intestinal é um problema
comum durante o período pósparto. Por esse motivo, podese prescrever um emoliente fecal.
A maioria das mulheres sente fome e sede depois do parto, comumente relacionadas com as restrições do jejum e com
a energia gasta durante o trabalho de parto. Seu apetite volta ao normal imediatamente após o parto.
Anote!
Antecipe a necessidade da mulher de reabastecer seu corpo com alimentos e líquidos e forneçaos assim que ela der à
luz.
Adaptações do sistema musculoesquelético
Os efeitos da gestação sobre os músculos e articulações variam amplamente. As alterações musculoesqueléticas associadas
à gestação – como o aumento da frouxidão ligamentar, o ganho de peso, a mudança no centro de gravidade e a síndrome
do túnel do carpo – são revertidas durante o período pósparto. Durante a gestação, os hormônios relaxina, estrogênio e
progesterona relaxam as articulações. Após o parto, os níveis desses hormônios declinam, resultando em um retorno de
todas as articulações ao seu estado prégestacional, com exceção dos pés da mulher. As mulheres multíparas vão notar um
aumento permanente no tamanho de seus sapatos (Jordan et al., 2014).
As mulheres comumente sentem fadiga e intolerância à atividade física e têm uma imagem corporal distorcida por
semanas após o nascimento em decorrência da redução dos níveis de progesterona e relaxina, que causam dor no quadril e
nas articulações que interferem na deambulação e nos exercícios. A boa mecânica corporal e o posicionamento correto são
importantes durante esse período para evitar dor lombar e lesões nas articulações. Seis a 8 semanas após o parto, as
articulações estão completamente estabilizadas e voltam ao normal.
Durante a gestação, ocorre alongamento dos músculos da parede abdominal para acomodar o útero em ampliação. Esse
alongamento leva à perda do tônus muscular e, possivelmente, à separação dos músculos longitudinais do abdome
(músculos retos do abdome). A separação dos músculos retos do abdome, a chamada diá stase dos retos, é mais comum
em mulheres cujo tônus muscular abdominal não é satisfatório antes da gestação. Após o parto, o tônus muscular diminui
e os músculos abdominais ficam “moles” e flácidos. São necessários exercícios físicos específicos para ajudar a puérpera
a recuperar o tônus muscular. Felizmente, a diá stase dos retos do abdome responde bem ao exercício físico e o tônus dos
músculos abdominais pode ser melhorado. (Ver no Capítulo 16 mais informações sobre exercícios físicos para melhorar o
tônus muscular.)
Anote!
Se o tônus muscular reto do abdome não for recuperado por meio de exercícios físicos, o suporte durante futuras
gestações pode não ser adequado.
Adaptações do tegumento
Outro sistema que sofre efeitos duradouros da gestação é o tegumento. Conforme os níveis de estrogênio e progesterona
diminuem, a pigmentação escura no abdome (linha nigra), na face (melasma) e nos mamilos desaparece gradualmente.
Algumas mulheres apresentam queda de cabelo durante a gestação e no período pósparto. Aproximadamente 90% dos fios
de cabelo estão crescendo em um dado momento, enquanto os outros 10% entram em uma fase de repouso. Em virtude
dos elevados níveis de estrogênio presentes durante a gestação, mais fios de cabelo entram na fase de repouso, o que faz
parte do ciclo normal de queda de cabelo. O período mais comum de queda de cabelo é 3 meses após o parto, quando os
níveis de estrogênio retornam ao normal e mais fios de cabelo são perdidos. Essa queda de cabelo é temporária, e a
regeneração geralmente retorna aos níveis normais em 4 a 6 meses em dois terços das mulheres e em até 15 meses no
restante, embora o volume de cabelo possa ser menos abundante do que antes da gestação (King et al., 2015).
As estrias (gravídicas ou gestacionais) que se desenvolveram durante a gestação nas mamas, no abdome e nos quadris
desaparecem gradualmente até se tornarem linhas prateadas. No entanto, essas linhas não desaparecem completamente.
Embora muitos produtos do mercado afirmem fazer as estrias desaparecerem, sua efetividade é extremamente
questionável.
A sudorese profusa (diaforese), comum durante o início do período pósparto, é uma das adaptações mais perceptíveis
do sistema tegumentar. Muitas mulheres acordam encharcadas de suor durante o puerpério. Essa diaforese pósparto é um
mecanismo para reduzir o volume de líquido retido durante a gestação e para restaurar os níveis prégestacionais de
líquidos corporais. Às vezes, pode ser profusa. É comum, especialmente à noite, durante a primeira semana após o parto.
Tranquilize a paciente informando que isso é normal e incentivea a trocar de roupa para não ficar com frio.
Adaptações do sistema respiratório
A frequência respiratória geralmente permanece dentro da faixa normal do adulto, de 16 a 24 incursões respiratórias por
minuto. Conforme os órgãos abdominais retornam à sua posição original, o diafragma volta à sua posição normal. As
alterações anatômicas na cavidade torácica e nas costelas, causadas pelo aumento do crescimento uterino, desaparecem
rapidamente. Como resultado, desconfortos como dispneia e dor nas costelas são aliviados. O volume corrente, o volume
minuto, a capacidade vital e a capacidade residual funcional retornam aos valores prégestacionais tipicamente em 1 a 3
semanas após o parto (Mattson & Smith, 2016).
Adaptações do sistema endócrino
O sistema endócrino sofre rapidamente várias alterações depois do parto. Os níveis circulantes de estrogênio e
progesterona caem rapidamente com a saída da placenta. A diminuição dos níveis de estrogênio está associada ao
ingurgitamento mamário e à diurese do excesso de líquido extracelular acumulado durante a gestação (Creasy et al., 2014).
O estrogênio está em seu nível mais baixo 1 semana após o parto. Para a puérpera que não está amamentando, os níveis de
estrogênio começam a aumentar até 2 semanas após o parto. Nas lactantes, os níveis de estrogênio permanecem baixos até
que a frequência de amamentação diminua.
Os níveis de outros hormônios placentários (gonadotrofina coriônica humana [hCG], lactogênio placentário humano
[hPL], progesterona) diminuem rapidamente após o nascimento. Os níveis de hCG não existem no final da primeira
semana após o parto, e o hPL não é detectável 1 dia após o nascimento (Mattson & Smith, 2016). Os níveis de
progesterona são indetectáveis até o 3o dia após o parto, e sua produção é restabelecida com a primeira menstruação.
Prolactina é um hormônio secretado pela adenohipófise que atua na lactação e na reprodução. Os níveis de prolactina
declinam em 2 semanas na mulher que não está amamentando, mas permanecem elevados na lactante (Jin et al., 2015).
Perda ponderal após o parto
Para todas as mulheres em idade fértil, o ganho ponderal excessivo e a retenção de peso após o parto podem aumentar o
risco de obesidade. O aleitamento materno comprovadamente tem muitos efeitos benéficos para a saúde da mãe e do
recémnascido/lactente, todavia, sua participação na perda de peso pósparto ainda não foi determinada. Mais pesquisa é
necessária para avaliar de modo fidedigno o impacto do aleitamento materno no controle do peso corporal pósparto
(Neville et al., 2014).
A velocidade e a magnitude da perda ponderal no período pósparto parecem ser determinadas pelos mesmos fatores
que determinam a perda ponderal em outros momentos da vida das mulheres, inclusive o índice de massa corporal (IMC),
dieta, idade e nível de atividade física (Nascimento et al., 2014). Portanto, existem efeitos benéficos a serem obtidos de
intervenções globais com intuito de perda ponderal no estilo de vida das puérperas que incluem a prática de exercícios
físicos associada a reorientação nutricional para atingir as metas de redução do peso corporal. Ver boxe Prática baseada em
evidências 15.2.
Lembrese de Betsy, a mulher que sentiu alterações dolorosas em suas mamas. O que Betsy está
descrevendo à consultora de lactação? Por que a condição de suas mamas mudou em comparação a
quando ela estava no hospital?
Saúde das puérperas em todo o mundo
A globalização mudou a nossa sociedade de várias maneiras, embora a saúde da mulher permaneça estagnada ou esteja
piorando em muitas regiões do mundo. Muitas mulheres de países em desenvolvimento não têm o seu direito fundamental
de desfrutar de um estado pleno de saúde respeitado, tal como definido pela Organização Mundial da Saúde (BoydJudson
& James, 2014). Mais de 500.000 mulheres morrem a cada ano em decorrência de complicações (sangramento e
infecções) durante e após o parto, a maioria delas na África e na Ásia (Webber & Chirangi, 2014).
Mulheres de todo o mundo continuam enfrentando enormes obstáculos na tentativa de ter acesso a cuidados
obstétricos. O acompanhamento habilidoso das parturientes é crucial para reduzir as taxas de mortalidade maternal e
neonatal, contudo, muitas gestantes em países em desenvolvimento ainda dão à luz fora de unidades de saúde sem suporte
habilitado. Os enfermeiros das diferentes regiões do globo podem ajudar a defender intervenções baseadas em evidências
de boa relação custoefetividade para evitar e combater complicações no parto, a fim de salvar a vida das mulheres. O
desafio é garantir que toda gestante que precise de cuidados os receba. O enfermeiro pode fazer a diferença fora das
fronteiras de seu próprio país, defendendo mulheres de todo mundo por meio de seus sistemas políticos governamentais e
estimulando esses governos a oferecer ajuda e salvar vidas.
Lactação
Lactação é a secreção de leite pelas mamas. Acreditase que seja desencadeada pela interação da progesterona com o
estrogênio, a prolactina e a ocitocina. O leite materno aparece tipicamente 4 a 5 dias após o parto.
Prática baseada em evidências 15.2
Redução da retenção de peso após o parto e melhora dos desfechos do aleitamento materno em
mulheres com sobrepeso: um estudopiloto controlado e randomizado.
As mulheres naturalmente ganham peso durante a gestação e muitas o perdem gradualmente depois.
Algumas mulheres, porém, têm dificuldades em perder o peso ganho com a gestação durante o período
pósparto e há preocupação de que isso possa ser um risco à saúde. A retenção do peso ganho durante a
gestação pode contribuir para a obesidade. A obesidade na população geral aumenta o risco de diabetes
melito, doença cardíaca e hipertensão arterial. Sugerese que as mulheres que retornam ao seu peso pré
gestacional até o 6omês após o parto correm menor risco de sobrepeso 10 anos depois. O ganho ponderal
também está associado a taxas mais baixas de iniciação e duração do aleitamento materno. O propósito
desse estudo randomizado foi ajudar as mulheres a reduzir a retenção de peso após o parto e a melhorar
os desfechos do aleitamento.
ESTUDO
Trinta e seis mulheres com IMC superior a 25 foram recrutadas, estratificadas segundo o IMC e
randomizadas em um de três grupos, com acompanhamento durante os 6 primeiros meses após o parto. As
mulheres receberam intervenção dietética com ou sem suporte à lactação de uma especialista em lactação.
Todas as participantes iniciaram o aleitamento, mas o grupo com suporte à lactação apresentou duração
maior do aleitamento do que o grupo sem suporte. Além disso, as mulheres com períodos de aleitamento
de maior duração também perderam mais peso durante os 6 meses.
Achados
O estudo forneceu evidências que apoiam a exequibilidade de orientar as mulheres com sobrepeso e
obesidade a procurar uma nutricionista e amamentar seus filhos com o propósito de reduzir o peso corporal.
Implicações para a enfermagem
Com base nos achados desse estudo, os profissionais de enfermagem recomendam o aleitamento às
puérperas que desejam perder o peso ganho durante a gravidez. O aleitamento materno deve ser mantido
durante pelo menos 6 meses para perder o ganho ponderal da gravidez. Os achados das pesquisas
associam o aleitamento materno com a perda ponderal pósparto em decorrência do aumento das taxas
metabólicas das lactantes (com perda calórica maior). Essa informação deve ser dada às puérperas que
desejam perder peso e amamentar seus filhos. No todo, se o peso corporal adquirido durante a gravidez
não for perdido, o risco de doenças cardiovasculares, diabetes melito, hipertensão arterial e câncer nessas
mulheres aumentará à medida que elas envelhecerem. A perda ponderal ajudará a evitar essas condições
ou, pelo menos, reduzirá seus riscos.
Adaptado de Martin, J., MacDonaldWicks, L., Hure, A., Smith, R., & Collins, C. E. (2015). Reducing
postpartum weight retention and improving breastfeeding outcomes in overweight women: A pilot
randomized controlled trial. Nutrients, 7(3), 1464–1479.
ALEITAMENTO MATERNO
O aleitamento materno é um processo dinâmico que exige o acoplamento dos movimentos periódicos das mandíbulas do
recémnascido/lactente, a ondulação da língua do recémnascido/lactente e o reflexo de ejeção do leite. Todos os
mecanismos têm de ser coordenados para serem bemsucedidos. Todas as principais organizações de profissionais de
saúde recomendam o aleitamento materno. A American Academy of Pediatrics recomenda o aleitamento materno exclusivo
durante 6 meses, seguido pela introdução de alimentos complementares apropriados e manutenção do aleitamento materno
durante 1 ano ou mais (American Academy of Pediatrics [AAP], 2015). Essa recomendação é considerada o padrão atual
de cuidado. Os profissionais de enfermagem têm um papel importante na promoção, no suporte e na proteção do
aleitamento materno. O posicionamento, a pegada, a sucção e a deglutição apropriados são cruciais para o aleitamento
materno bemsucedido. Embora o aleitamento materno seja preconizado por organizações nacionais e internacionais, os
profissionais de enfermagem precisam respeitar e apoiar as mães em relação aos métodos escolhidos de alimentação do
recémnascido/lactente.
Durante a gestação, as mamas aumentam em tamanho e capacidade funcional em preparação para a amamentação. O
estrogênio estimula o crescimento do sistema de coleta de leite (ductal), enquanto a progesterona estimula o crescimento
do sistema de produção de leite. No primeiro mês de gestação, os ductos das glândulas mamárias emitem ramos,
formando mais lóbulos e alvéolos. Essas mudanças estruturais fazem com que as mamas fiquem maiores, mais sensíveis e
pesadas. Cada mama ganha quase 450 g de peso a termo, as células glandulares enchemse de secreção, os vasos
sanguíneos aumentam em número e a quantidade de tecido conjuntivo e de adipócitos cresce (Engel et al., 2015).
A prolactina oriunda da adenohipófise, secretada em níveis crescentes ao longo da gestação, desencadeia a síntese e a
secreção de leite depois de a mulher dar à luz. Durante a gestação, a prolactina, o estrogênio e a progesterona fazem a
síntese e a secreção de colostro, que contém proteínas e carboidratos, mas não a gordura do leite. Apenas depois que
ocorre o nascimento, quando os níveis elevados de estrogênio e progesterona são abruptamente diminuídos, a prolactina
consegue estimular as células glandulares a secretar leite em vez de colostro. Isso ocorre 4 a 5 dias após o parto.
A ocitocina age para que o leite possa ser ejetado dos alvéolos até o mamilo. Portanto, a sucção do recémnascido
liberará leite. Um decréscimo na qualidade da estimulação provoca diminuição dos pulsos de prolactina e, portanto,
redução da produção de leite. Os níveis de prolactina aumentam em resposta à estimulação do mamilo durante as
amamentações. A prolactina e a ocitocina resultam em produção de leite se estimuladas pela sucção (Stuebe et al., 2015)
(Figura 15.3). Se não houver o estímulo (sucção), como acontece na mulher que não está amamentando, o ingurgitamento
mamário e a produção de leite diminuirão alguns dias após o parto.
FIGURA 15.3 Fisiologia da lactação.
O contato pele a pele durante os primeiros 60 minutos após o parto é o padrãoouro para iniciar o aleitamento materno
se a mãe optar por esse método de alimentação do recémnascido. Os pesquisadores perceberam que o instinto do recém
nascido é buscar nutrição após o parto. O recémnascido se move instintivamente sobre o abdome da mãe em direção às
mamas dela. Os pesquisadores acreditam que esse deslocamento em direção às mamas (breast crawl) da mãe ajuda o
aleitamento logo após o parto. O despertar desse instinto ocorre quando um recémnascido, deixado repousando nu em
contato com a pele do tórax da mãe após o parto, movese em direção à mama da mãe com a finalidade de localizála e
pegála para a primeira mamada. De lá, o recémnascido usa os movimentos de pernas e braços para impulsionarse em
direção à mama. Ao chegar ao esterno, o recémnascido movimenta sua cabeça para cima, para baixo e para os lados. Com
a aproximação do recémnascido do mamilo, a boca se abre e, depois de várias tentativas, ocorrem o travamento e a
sucção. Os recémnascidos têm sentidos e habilidades que possibilitam o início precoce do aleitamento materno. Os
enfermeiros podem ajudar a facilitar o breast crawl como uma continuação do processo de parto. O enfermeiro tem a
responsabilidade de promover a saúde da família que está tendo um filho e prestar assistência baseada em evidências.
Incentivar o uso do breast crawl pode ser o primeiro passo para a promoção da saúde a todos os recémnascidos (Zanardo
& Straface, 2015).
A produção de leite pela mama pode ser resumida da seguinte maneira:
• Os níveis de prolactina aumentam ao termo com diminuição dos níveis de estrogênio e progesterona
• Os níveis de estrogênio e progesterona diminuem após a saída da placenta
• A prolactina é liberada pela adenohipófise e inicia a produção de leite
• A ocitocina é liberada pela neurohipófise para promover a descida do leite
• A sucção da criança a cada mamada proporciona estímulo contínuo para a liberação de prolactina e ocitocina
(Wambach & Riordan, 2014).
Tipicamente, durante os 2 primeiros dias após o nascimento, as mamas estão macias e indolores. A puérpera também
pode relatar sensação de formigamento em ambas as mamas, que é decorrente do reflexo de descida que ocorre
imediatamente antes ou durante a amamentação. Após esse período, as alterações da mama dependem de a puérpera estar
amamentando ou tomando medidas para evitar a lactação.
Ingurgitamento é uma condição fisiológica dolorosa pósnatal na qual ocorrem distensão e tumefação do tecido
mamário em consequência do aumento do aporte de sangue e linfa, sendo um precursor da lactação (Figura 15.4). De
modo geral, o ingurgitamento mamário alcança seu máximo 3 a 5 dias após o parto e desaparece nas 24 a 36 horas
seguintes (Alekseev, Vladimir, & Nadezhda, 2015). O ingurgitamento pode ser consequência da amamentação infrequente
ou do esvaziamento não efetivo das mamas, durando, tipicamente, cerca de 24 horas. A vascularidade e a tumefação das
mamas aumentam em resposta à prolactina 2 a 4 dias após o parto. Se ingurgitadas, as mamas ficam rígidas e dolorosas à
palpação. Ficam temporariamente “cheias”, dolorosas à palpação e muito desconfortáveis, até que o aporte de leite esteja
pronto. O esvaziamento frequente das mamas ajuda a minimizar o desconforto e a resolver o ingurgitamento. Ficar sob um
chuveiro com água morna ou aplicar compressas mornas imediatamente antes da amamentação ajudará a tornar menos
tensos as mamas e os mamilos, a fim de possibilitar que o recémnascido pegue a mama com mais facilidade.
Os tratamentos para reduzir a dor do ingurgitamento mamário incluem aplicações de calor ou frio, compressas de
folhas de repolho, massagem da mama e ordenha do leite, ultrassom, bombeamento da mama e administração de agentes
antiinflamatórios (King et al., 2015). Fármacos antiinflamatórios de venda livre também podem ser utilizados para o
desconforto e a tumefação das mamas resultantes do ingurgitamento. Essas medidas também melhoram o reflexo de
descida. Entre as mamadas, a aplicação de compressas frias nas mamas ajuda a reduzir a tumefação. Para manter a
produção de leite, as mamas precisam ser estimuladas pelo lactente, por uma bomba de tirar leite ou pela ordenha manual
do leite (Figura 15.5).
FIGURA 15.5 Enfermeira instrui a nova mãe que amamenta a usar a bomba de retirar leite. (Copyright B. Proud.)
Lembrase de Betsy, que sentia desconfortos na mama? A consultora de lactação explicou que ela
apresentava ingurgitamento normal da mama e ofereceu várias sugestões para ajudála. Que medidas de
alívio ela pode ter sugerido? Que garantias podem ser dadas a Betsy nesse momento?
SUPRESSÃO DA LACTAÇÃO
Várias intervenções farmacológicas e não farmacológicas têm sido utilizadas para suprimir a lactação pósparto e aliviar os
sinais e sintomas associados. Apesar do grande volume de literatura sobre o assunto, atualmente não há nenhuma diretriz
universal sobre a abordagem mais adequada para suprimir a lactação em puérperas (Cunningham et al., 2014). Estimase
que mais de 30% das puérperas nos EUA não amamentem seus filhos, e uma proporção maior interrompe a amamentação
2 semanas após o parto (Senie, 2014). Embora a cessação fisiológica da lactação acabe ocorrendo na ausência de estímulo
físico, como a sucção do lactente, uma grande quantidade de mulheres experimenta vazamento de leite e desconforto
moderado a grave antes de a lactação cessar.
FIGURA 15.4 A. Imagem de mamas ingurgitadas. Observe a tumefação e a inflamação das duas mamas. B. O
ingurgitamento mamário pode atrapalhar a amamentação: (1) Ao sugar uma mama normal, os lábios do lactente
comprimem a aréola e encaixamse perfeitamente contra as laterais do mamilo. O lactente também tem espaço
suficiente para respirar. (2) Quando a mama está tensa, no entanto, o lactente tem dificuldades para pegar o mamilo
e a capacidade de respirar é comprometida. (De Pillitteri, A. [2014]. Maternal and child nursing. [7th ed.].
Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins.)
Até dois terços das mulheres que não amamentam apresentam tumefação e dor moderada a intensa nas mamas quando
não é aplicado tratamento (Spencer, 2015). Se a puérpera não quiser amamentar, algumas medidas de alívio incluem usar
um sutiã com bom apoio 24 horas por dia, aplicar gelo nas mamas por aproximadamente 15 a 20 minutos de hora em hora,
evitar a estimulação sexual e não estimular as mamas por compressão ou ordenha manual dos mamilos. Além disso, não
expor as mamas ao calor (p. ex., um chuveiro quente) ajuda a aliviar o ingurgitamento mamário. Em mulheres que não
estão amamentando, o ingurgitamento geralmente desaparece em 2 a 3 dias com a aplicação dessas medidas.
Ovulação e retorno da menstruação
Os níveis variáveis de hormônios interagem constantemente entre si para produzir mudanças corporais. Quatro principais
hormônios influenciam o período pósparto: o estrogênio, a progesterona, a prolactina e a ocitocina. O estrogênio tem um
papel importante durante a gestação, mas seus níveis caem bruscamente no nascimento e alcançam seu nível mais baixo 1
semana após o parto. A progesterona “acalma” o útero para evitar um parto prétermo durante a gestação; seus níveis
crescentes durante a gestação evitam que a lactação comece antes de o parto ocorrer. Tal como acontece com o estrogênio,
os níveis de progesterona diminuem drasticamente após o parto e são indetectáveis 72 horas após esse evento. Os níveis
de progesterona são restabelecidos com o primeiro ciclo menstrual (Creasy et al., 2014).
Durante o período pósparto, a ocitocina estimula a contração do útero durante a sessão de amamentação e por até 20
minutos após cada mamada. A ocitocina também atua na mama induzindo o reflexo de descida do leite durante a
amamentação. A prolactina também está associada ao processo de amamentação, pela estimulação da produção de leite.
Nas lactantes, os níveis de prolactina permanecem elevados até a sexta semana após o nascimento (Bope & Kellerman,
2015). Os níveis prolactina variam de acordo com a estimulação dos mamilos. Os níveis de prolactina caem nas mulheres
não lactantes, alcançando níveis prégestacionais na terceira semana após o parto. Descobriuse que altos níveis de
prolactina retardam a ovulação, inibindo a resposta ovariana ao hormônio foliculestimulante (Bernard et al., 2015).
O momento da primeira menstruação e da ovulação após o parto é diferente nas lactantes e naquelas que não estão
amamentando. Para as mulheres não lactantes, a menstruação pode retornar até 7 a 9 semanas após o parto, mas na maioria
das vezes leva até 3 meses, com o primeiro ciclo sendo anovulatório (Barrett et al., 2014). O retorno da menstruação na
lactante depende da frequência e da duração da amamentação. Pode retornar a qualquer momento após o parto, dependendo
se a mulher amamenta exclusivamente ou suplementa com fórmula.
Anote!
A ovulação pode ocorrer antes da menstruação. Portanto, a amamentação não é um método contraceptivo totalmente
confiável, a menos que a mãe amamente exclusivamente, não tenha apresentado nenhum período menstrual após o parto
e o lactente tenha menos de 6 meses de idade (Alexander et al., 2014).
Betsy tenta várias das medidas que a consultora de lactação sugeriu para aliviar seu desconforto nas
mamas, mas ainda está se sentindo abatida e com dor. Ela se sente desanimada e diz ao enfermeiro que
está pensando em reduzir a amamentação e usar fórmula para alimentar o recémnascido. Isso é uma boa
opção? Por que sim ou por que não? Que intervenções ajudarão Betsy a passar por esse momento difícil?
CONSIDERAÇÕES CULTURAIS PARA O PERÍODO PÓSPARTO
As crenças, as práticas e os costumes pósparto variam de uma cultura para outra. Os profissionais de enfermagem atuam
em uma sociedade cada vez mais multicultural. Portanto, precisam ser francos, respeitosos e imparciais, além de estarem
dispostos a aprender sobre populações etnicamente diversas. Embora os períodos de parto e pósparto sejam experiências
únicas para cada mulher, o modo como a mulher os percebe e dá significado a eles é definido por sua cultura. Na
sociedade somali a maternidade é muito valorizada. As puérperas ficam em casa e se abstêm de atividade sexual durante
40 dias. Ao final desses 40 dias, ocorre uma celebração que, tipicamente, marca o momento que a mãe e o lactente deixam
pela primeira vez seu lar desde o parto. A maioria das mulheres somalis e árabes amamentam seus filhos e o fazem por
períodos prolongados (Wojnar & Narruhn, 2016). Os enfermeiros precisam oferecer instruções precoces para o
aleitamento materno enquanto as puérperas estão no hospital/maternidade antes da alta.
Equilíbrio de calor e frio
Duas áreas que são significativamente diferentes da cultura ocidental envolvem as crenças sobre o equilíbrio entre o quente
e o frio e o confinamento após o parto. As mulheres vietnamitas consideram o período pósparto como um estado frio
(duong) e se protegem por meio de aquecimento. As práticas culturais incluem uso de água morna para higiene pessoal e
estimulação da lactação, consumo de alimentos quentes e permanecer dentro de casa. Nos EUA, o parto e a recuperação do
mesmo são considerados estados saudáveis e as mães recebem pouco suporte formal para sua recuperação e para os
cuidados para com o recémnascido. Na China, o parto e o período pósparto são considerados estados que perturbam o
equilíbrio normal da saúde entre yin e yang. Para restabelecer o equilíbrio da saúde, as puérperas se engajam durante 1
mês em práticas relacionadas com o papel de mãe, atividade física, manutenção do calor corporal e consumo de
determinados alimentos. Achados nas pesquisas recentes em uma pequena amostra de mulheres chinesas mostraram que o
confinamento pósparto estava correlacionado de modo negativo com a resistência aeróbica e de modo positivo com a
depressão. Esses achados desafiam a pressuposição de que as práticas de confinamento sejam saudáveis para a
recuperação das mulheres chinesas após o parto (Liu, Maloni, & Petrini, 2014).
Em muitas culturas, a saúde demanda o equilíbrio de substâncias quentes e frias. Como o parto envolve a perda de
sangue, o que é considerado quente, o período pósparto é considerado frio, de modo que a mãe deve equilibrar ingerindo
alimentos quentes. Os alimentos consumidos devem ser de natureza quente; alimentos frios, como frutas e legumes, são
evitados. As práticas ocidentais frequentemente utilizam compressas frias ou banhos de assento para reduzir o inchaço e o
desconforto perineal. Essas práticas não são aceitáveis para mulheres de muitas culturas e podem ser vistas como
prejudiciais. As crenças de quentefrio são comuns nos americanos de origem latina, africana e asiática (Purnell, 2014).
Para reduzir a vulnerabilidade e as potenciais doenças infantis e maternas, as mulheres podem praticar um período de
isolamento de duração de 1 mês após o parto. Durante esse período, as novas mães descansam e recuperamse. O período
pósparto é um momento para evitar o frio – tanto temperaturas quanto alimentos frios. As mulheres são mantidas
aquecidas, ficam dentro de casa para não passarem frio, tomam banho com pouca frequência e evitam esforços físicos
(Rice & Manderson, 2014).
Crenças culturais pósparto
Com o multiculturalismo crescente nos EUA, é crucial que todos os profissionais de enfermagem compreendam os pontos
de vista de várias culturas sobre recuperação e bemestar após o parto. Os enfermeiros que atendem as puérperas precisam
entender essas diversas crenças culturais e fornecer estratégias criativas para estimular a higiene (banhos de esponja,
cuidado perineal), os exercícios e a dieta equilibrada, mantendo o respeito pelo significado cultural dessas práticas. A
melhor abordagem é pedir a cada puérpera que descreva quais práticas culturais são importantes para ela e decidir a partir
disso.
ADAPTAÇÕES PSICOLÓGICAS
O processo de tornarse mãe exige muito trabalho psicológico, social e físico. As mulheres experimentam maior
vulnerabilidade e enfrentam enormes desafios conforme fazem essa transição. O enfermeiro tem uma oportunidade
extraordinária de ajudar mulheres a aprender, a ganhar confiança e a experimentar crescimento à medida que assumem a
identidade de mãe.
A transição para a maternidade/paternidade, embora seja um momento estimulante de celebração pela vida do filho,
impõe aos genitores novos desafios como exaustão física, sobrecarga de desempenho e redução do tempo disponível para
si mesmos e para os parceiros (Velotti, Castellano, & Zavattini, 2015). As experiências de gestação dos pais e das mães
são necessariamente diferentes; essa diferença continua após o parto, conforme ambos se ajustam às suas novas funções
de pais. Muitos casais têm muita dificuldade para se adaptar à paternidade/maternidade. A maternidade/paternidade
envolve cuidar física e emocionalmente dos recémnascidos para promover seu crescimento e o desenvolvimento de
adultos responsáveis e afetuosos. Um conjunto substancial de pesquisas não encontra diferenças de base biológica entre
mães e pais em termos de sensibilidade aos recémnascidos, de capacidade de prestar cuidados ou de aquisição das
habilidades parentais. Após 15 minutos segurando um recémnascido, os homens apresentam níveis elevados de ocitocina,
cortisol e prolactina. Os níveis aumentados desses hormônios são iguais em homens e mulheres expostos a recém
nascidos (Davies, 2015). Outros membros da família do recémnascido, como irmãos e avós, também passam por muitas
mudanças em virtude do nascimento da criança (ver Capítulo 16). O contato mãefilho logo após o nascimento melhora os
comportamentos de apego.
Comportamentos de apego dos pais
O período pósparto é um momento único, distinguido pela relação inseparável que os pais têm com seu recémnascido.
Para possibilitar que uma relação de apego seja construída, a proximidade da unidade familiar é essencial. O apego é a
formação de uma relação entre o pai/mãe e seu recémnascido por meio de um processo de interações físicas e emocionais.
O vínculo (apego) entre a puérpera e o recémnascido tem implicações vitalícias (King et al., 2015). O apego materno tem
o potencial de afetar tanto o desenvolvimento da criança quanto a maternidade. A ligação dos genitores com o recém
nascido é de força, poder e potencial. O apego começa antes do parto, durante o período prénatal, em que ocorrem a
aceitação e o afeto pelo feto em crescimento. Continua após o parto, conforme os pais aprendem a reconhecer os sinais de
seu recémnascido, a adaptarse a seus comportamentos e respostas e a atender às suas necessidades.
Vários fatores que ocorrem durante o período pósparto precoce podem ter uma in fluên cia notável na criação de
vínculo/ligação que ocorre nesse período. A ocitocina tem uma participação crucial no aspecto químico da ligação e seus
efeitos podem ser amplificados por contato físico (pele da mãe com pele do recémnascido), aleitamento materno, contato
visual, vocalizações sociais, odores da mãe e do leite que acalmam o recémnascido e massagem do recémnascido durante
os primeiros 60 minutos após o parto (Buckley, 2015; Hutcheson & Cheeseman, 2015).
O contato precoce e sustentado entre o recémnascido e seus pais é vital para iniciar seu relacionamento.
O enfermeiro desempenha um papel crucial no apoio ao processo de apego pela promoção de interações precoces entre
pais e recémnascidos. Além disso, o enfermeiro pode facilitar o contato pele com pele (canguru), colocando a criança no
tórax despido da mãe e do pai para promover o apego entre os pais e o recémnascido. Essa atividade possibilitará que
cheguem perto de seu recémnascido e experimentem uma intensa sensação de conexão, além de evocar sentimentos de
estarem sendo pais afetuosos. Incentivar a amamentação é outra maneira de promover o apego entre a mãe e seu recém
nascido. Por fim, o enfermeiro pode incentivar atividades de carinho e contato, como tocar, falar, cantar, confortar, trocar
fraldas, amamentar – enfim, participar dos cuidados neonatais de rotina.
O processo de apego é complexo e é influenciado por muitos fatores, incluindo as circunstâncias ambientais, o estado
de saúde do recémnascido, bem como a qualidade dos cuidados de enfermagem (Buckley, 2015). O enfermeiro precisa
minimizar a separação entre os pais e o recémnascido, promovendo a interação deles por meio do método canguru, da
amamentação e da participação nos cuidados do recémnascido. O enfermeiro que presta apoio psicológico positivo e que
tem uma comunicação clara com os pais ajudará a apoiar o processo de apego dentro das unidades familiares.
Adaptações psicológicas maternas
Pressupõese que o parto seja o período mais alegre da vida de uma mulher. Ele envolve a experiência quase espiritual de
dar à luz e ser capaz de dar vida a outro ser. Para muitos, pode ser um evento de mudança de vida, e ao longo dos séculos
tem sido aguardado com entusiasmo e alegria, sendo referido como uma bênção. Na realidade, o parto e a criação dos
filhos são muito estressantes, financeiramente desafiadores e emocionalmente desgastantes.
Transtornos do humor
Muitas pessoas consideram o parto um momento de felicidade e bemestar, contudo, as mulheres comumente apresentam
alterações do humor nesse período. Isso pode incluir sensação de fadiga, irritabilidade ou preocupação e, com frequência,
esses sintomas se tornam graves o suficiente para exigir intervenção médica. No período pósparto, os transtornos de
humor podem ser divididos em três entidades distintas, em ordem crescente de gravidade: tristeza, depressão pósparto e
psicose materna. No entanto, esses transtornos não foram claramente demarcados e não há um consenso a respeito de se
são distúrbios isolados ou um transtorno único que varia ao longo de um espectro de gravidade (Finley & Brizendine,
2015).
Até 85% das novas mães apresentam um transtorno de humor pósparto de curta duração denominado “melancolia
pósparto” ou “melancolia materna” que se caracteriza por manifestações depressivas leves, ansiedade, irritabilidade,
oscilações do humor, perda de apetite, transtornos do sono, crises de choro (frequentemente sem motivo aparente),
aumento da sensibilidade e fadiga (Flynn, 2015). A melancolia alcança seu máximo tipicamente no 4o e no 5o dia após o
parto, pode durar horas ou dias e geralmente desaparece até o 10o dia. Embora esses sinais e sintomas possam ser
angustiantes, não refletem uma psicopatologia e tipicamente não influenciam a capacidade funcional da mãe nem a
capacidade dela de cuidar do recémnascido.
Para obter informações adicionais, ver Capítulo 22.
Fases de adaptação da puérpera à maternidade
A maternidade é um evento positivo e altamente antecipado para a maioria das mulheres. A sociedade construiu muitas
imagens ideais de maternidade, criando padrões que as mulheres precisam atingir e, com frequência, preparandoas para o
desapontamento. A maioria das mulheres consegue vivenciar essa incompatibilidade entre sua personalidade ideal e sua
personalidade verdadeira e se adapta com discrepância mínima (Adams, 2015). A puérpera apresenta várias respostas
conforme se ajusta ao novo membro da família e aos desconfortos do pósparto, às mudanças em sua imagem corporal e à
realidade das mudanças em sua vida. No início de 1960, Reva Rubin identificou três fases pelas quais uma pessoa passa
durante o ajuste ao seu novo papel de mãe. A estrutura do papel materno de Rubin pode ser usada para monitorar o
progresso da paciente conforme ela “experimenta” seu novo papel como mãe. A ausência desses processos ou a
incapacidade de progredir ao longo das fases de modo satisfatório podem impedir o desenvolvimento adequado do papel
materno (Rubin, 1984). Embora as teorias de desenvolvimento do papel materno de Rubin sejam válidas, algumas das
suas observações sobre a duração de cada fase podem não ser totalmente relevantes para a mulher contemporânea do
século XXI. Atualmente, muitas mulheres conhecem o sexo do filho, “viram” o feto no útero por meio da ultrassonografia
4D e têm conhecimentos a respeito do parto e dos cuidados com a criança. São menos passivas do que no passado e
progridem ao longo das fases para alcançar o papel materno em um ritmo muito mais rápido do que Rubin teria
imaginado. Ainda assim, a estrutura proposta por Rubin é atemporal para avaliar e monitorar os comportamentos de papel
esperados ao planejar os cuidados e intervenções adequadas.
FASE DEPENDENTE
A fase dependente é o momento imediatamente após o parto, quando a puérpera precisa dormir, depende de outras
pessoas para satisfazer suas necessidades e revive os acontecimentos que envolveram o processo de parto. Essa fase
caracterizase por um comportamento de dependência. Durante as primeiras 24 a 48 horas após o parto, as puérperas
muitas vezes assumem um papel muito passivo no cumprimento de suas próprias necessidades básicas de alimentação,
hidratação e repouso, deixando que o enfermeiro tome por elas as decisões em relação a atividades e cuidados. Passam o
tempo contando sua experiência de parto para quem quiser ouvir. Essas ações ajudam a puérpera a integrar a experiência
do nascimento à realidade – ou seja, a gestação terminou e o recémnascido agora é um indivíduo único, separado dela. Ao
interagir com o neonato, a puérpera gasta tempo afirmando que ele é seu e tocandoo, comumente identificando
características específicas do recémnascido, como “ele tem o meu nariz” ou “os seus dedos são longos como os do pai”
(Figura 15.6).
Anote!
A fase dependente geralmente dura de 1 a 2 dias e pode ser a única fase observada pelos enfermeiros no hospital, por
causa dos períodos de internação mais curtos, que são a norma atualmente.
FASE DEPENDENTEINDEPENDENTE
A fase dependenteindependente, a segunda fase de adaptação materna, é caracterizada pelo comportamento materno
dependente e independente. Essa fase começa tipicamente no 2o ou no 3o dia após o parto e pode durar várias semanas.
Conforme a paciente recupera o controle sobre suas funções corporais durante os dias seguintes, ela vai se apegando e
se tornando preocupada com o presente. Ela se preocupará particularmente com sua saúde, com a condição da criança e
com sua capacidade de cuidar do filho. Ela demonstra maior autonomia e domínio do funcionamento de seu próprio corpo
e um desejo de assumir o comando, com o apoio e a ajuda de outras pessoas. Ela vai mostrar independência cuidando de si
mesma e aprendendo a cuidar de seu recémnascido, mas ainda precisa da garantia de que está se saindo bem como mãe.
Ela expressa forte interesse em cuidar sozinha da criança.
FASE INTERDEPENDENTE
Na fase interdependente, a terceira etapa de adaptação materna, a puérpera restabelece relações com outras pessoas. Ela
se adapta à maternidade por meio de seu novo papel como mãe. Ela agora assume a responsabilidade e os cuidados do
recémnascido com um pouco mais de confiança (Edelman, Kudzma, & Mandle, 2014). O foco dessa fase é seguir em
frente, assumindo o papel de mãe e separandose da relação simbiótica que ela e seu recémnascido tiveram durante a
gestação. Ela define um estilo de vida, que inclui o recémnascido. A mãe abandona a criança da fantasia e aceita a criança
real.
Os enfermeiros têm reconhecido a importância do processo de tornarse mãe (PTM) para a enfermagem materno
infantil desde o relato de Rubin sobre o sucesso no papel materno (SPM). As percepções da mãe em relação à sua
competência ou confiança, ou ambas, na maternidade e em suas expressões de amor por seus filhos incluíram a idade, o
relacionamento com o pai da criança, a condição socioeconômica, a experiência de parto, o estresse experimentado, o apoio
disponível, os traços de personalidade, o autoconceito, as atitudes relacionadas com a educação da criança, a tensão no
papel, o estado de saúde, a preparação durante a gestação, as relações com a própria mãe, a depressão e a ansiedade. As
variáveis infantis identificadas como sendo fatores que influenciam o SPM/PTM incluem a aparência, a capacidade de
resposta, o temperamento e o estado de saúde (DiPietro et al., 2015). Uma pesquisa mais atual levou à renomeação das
quatro etapas pelas quais a mulher progride no estabelecimento de uma identidade materna na PTM:
1. Comprometimento, apego ao feto e preparação para o parto e a maternidade durante a gestação
2. Entendimento/apego ao recémnascido, aprender a cuidar da criança e restauração física durante as primeiras 2 a 6
semanas após o parto
3. Seguir rumo à nova normalidade
4. Chegar a uma identidade materna por meio da redefinição de si para incorporar a maternidade (cerca de 4 meses). A
mãe sentese autoconfiante e competente em suas habilidades como mãe e expressa amor e prazer em interagir com
seu filho (Mercer & Walker, 2006).
FIGURA 15.6 Formação de vínculo da mãe com o recémnascido durante a fase dependente.
O trabalho da mulher na primeira etapa é comprometerse com a gestação e com o parto seguro e cuidado de seu futuro
filho. Esse compromisso está associado a uma adaptação positiva à maternidade. Durante a segunda fase – em que a mãe
está colocando a criança em seu contexto familiar e aprendendo a cuidar de seu filho –, seu apego e atitude em relação a
seu filho e sua autoconfiança ou senso de competência no papel de mãe, ou ambos, indicam consistentemente uma
interdependência entre essas duas variáveis. Os cuidados de enfermagem prestados durante as duas primeiras fases são
especialmente importantes para ajudar as puérperas que começam a ser mães. É necessário acompanhamento enquanto as
puérperas evoluem em direção a uma nova normalidade e reconhecem que uma transformação de si mesmas no processo
de tornaremse mães pode continuar a reforçar as suas capacidades (Mercer, 2006).
Para fomentar o sucesso no papel de mãe, foram identificadas três intervenções específicas para o enfermeiro em uma
revisão da literatura (Ferrarello & Hatfield, 2014). Em primeiro lugar, as instruções sobre os cuidados com o recém
nascido e com as capacidades do recémnascido são mais efetivas se forem voltadas especificamente para aquela mãe em
particular. Em segundo, as mães preferem aulas ao vivo, em vez de vídeos, para que possam fazer perguntas. Em suma, as
relações enfermeiropaciente interativas estão associadas ao crescimento materno positivo. Em terceiro lugar, a
identificação de barreiras que reduzam os períodos de contato físico da mãe com o recémnascido durante o período de
internação hospitalar pósparto e a intervenção para reduzir essas barreiras têm implicações para o desenvolvimento do
papel materno e para o sucesso do aleitamento materno, se ela optar por esse método. Providenciar intervalos de tempo
para o contato físico da mãe com o recémnascido tem impacto positivo na saúde a longo prazo de ambos. Os enfermeiros
que interagem com as pacientes por um longo período durante a gestação, o parto e durante o atendimento do recém
nascido ajudam a construir a competência materna. A gestação, o parto e o processo de assumir a maternidade representam
coletivamente um período crítico de turbulência física e emocional na vida de uma mulher. A necessidade de uma
abordagem holística do cuidado, que apoie a saúde física e emocional da día de, é imperativa (Spiteri et al., 2014).
A transição para teorias de maternidade (Rubin e Mercer) descreve as mulheres em um papel prescrito, o de ser mãe e,
na verdade, um tipo predeterminado de mãe. Nesse sentido, a transição para a teoria de maternidade é centrada no recém
nascido/lactente. Novas teorias precisam ser elaboradas e estas devem ser centradas nas mulheres e conceitualizar a mulher
como algué m poderoso em sua própria vida.
Adaptações psicológicas do parceiro
Para os parceiros, sejam eles maridos, entes queridos, namorados, parceiras de mesmo sexo ou apenas amigos, tornarse
pai ou apenas compartilhar a experiência do parto pode ser um momento desorientador, bem como de grandes mudanças.
Essa transição é influenciada por muitos fatores, incluindo a participação no parto, as relações com os outros entes
queridos, a competência em cuidar da criança, a organização dos papéis familiares, a formação cultural do indivíduo e o
método de alimentação infantil.
A transição de ser apenas um parceiro para ser um genitor pode impulsionar muitos parceiros a reorganizar seu estilo
de vida. Durante o período pósparto, os genitores muitas vezes se empenham para equilibrar as necessidades pessoais e
profissionais com as novas exigências da condição de genitor e sua nova autoimagem. As complexidades do processo de
transição envolvidas na formação de uma identidade paterna ou materna podem ser vistas em três níveis diferentes:
reajuste a uma nova autoimagem, formação de uma tríade familiar e adaptação para redefinir a si mesmo e seu
relacionamento com a parceira: uma “equipe mais unida” (Halford, Petch, & Creedy, 2015).
O enfermeiro pode desempenhar um papel essencial no apoio à transição dos parceiros para a paternidade ou
maternidade ao mantêlos informados sobre as rotinas de parto e pósparto, informar o estado de saúde de seu recém
nascido e repassar como é o desenvolvimento infantil. Também pode contribuir criando um “espaço participativo” para os
novos pais durante o período pósparto. Isso pode ser conseguido, por exemplo, ajudando o genitor a assumir seu novo
papel e apoiar e promover o seu grau de envolvimento no processo. Os pais também podem ser incentivados a participar
ativamente no cuidado e a manter contato com seu recémnascido.
Anote!
A maioria dos achados das pesquisas salienta a importância do contato precoce entre o genitor ou ente querido e o recém
nascido, bem como a participação em atividades de cuidado infantil, para promover o relacionamento (Nolan, 2015).
O recémnascido exerce um efeito poderoso sobre o genitor ou outro ente querido, que se torna intensamente
envolvido com ele (Figura 15.7). O pai ou outro ente querido desenvolve um vínculo com o neonato – um momento de
intensa conquista, preocupação e empenho –, a chamada interação genitorfilho.
Interação genitorfilho
A interação genitorfilho é caracterizada por sete comportamentos:
1. A consciência visual do recémnascido: o genitor percebe o recémnascido como sendo atraente, bonito ou lindo
FIGURA 15.7 Interação do pai com seu recémnascido.
2. Percepção tátil do recémnascido: o genitor tem o desejo de tocar ou segurar o recémnascido e considera essa
atividade prazerosa
3. Percepção do recémnascido como sendo perfeito: genitor não “vê” quaisquer imperfeições
4. Forte atração pelo recémnascido: o genitor concentra toda a sua atenção no recémnascido quando estão no quarto
5. Conscientização das características distintas do recémnascido: o genitor é capaz de distinguir seu recémnascido dos
outros do berçário
6. Euforia extrema: o genitor se sente “o máximo” após o nascimento do filho
7. Aumento da sensação de autoestima: o genitor se sente orgulhoso, “maior”, mais maduro e mais velho depois do
nascimento do filho (Sears & Sears, 2015).
Frequentemente, os genitores são retratados como bemintencionados, mas atrapalham ao cuidar do recémnascido. No
entanto, eles têm sua própria maneira de relacionarse com seu filho e podem tornarse tão afetuosos quanto as mães. As
respostas afetuosas do genitor podem ter um desdobramento menos automático e mais lento do que as da mãe, mas os
genitores são capazes de ter uma forte ligação com seus recémnascidos (Sears & Sears, 2015). Incentivar os genitores a
expressar seus sentimentos vendo, tocando e segurando seu filho e abraçandoo, conversando com ele e alimentandoo
ajudará a solidificar esse novo relacionamento. O reforço desse comportamento ajuda os genitores a terem uma ligação
positiva durante esse período fundamental.
Três estágios do processo de desenvolvimento de papéis
De modo semelhante às mães, os genitores também passam por um processo de três estágios previsíveis durante as
primeiras 3 semanas, conforme eles também “experimentam” seus papéis como pais. Os três estágios são: expectativa,
realidade e transição para o domínio (Sears & Sears, 2015).
ESTÁGIO 1 | EXPECTATIVAS
Os novos genitores passam pelo estágio 1 (expectativa) com concepções preestabelecidas sobre como será a vida em casa
com a vinda do recémnascido. Muitos genitores podem não estar cientes das drásticas mudanças que podem ocorrer
quando esse recémnascido chegar à casa para morar com eles. Para alguns, é uma experiência chocante.
ESTÁGIO 2 | REALIDADE
O estágio 2 (realidade) ocorre quando os genitores percebem que suas expectativas do estágio 1 não são realistas. Seus
sentimentos passam da euforia a tristeza, ambivalência, ciúme e frustração. Muitos desejam envolverse mais no cuidado
do recémnascido e ainda não se sentem preparados para fazêlo. Alguns acham a paternidade divertida, mas ao mesmo
tempo não se sentem totalmente preparados para assumir esse papel.
O estresse, a irritabilidade e a frustração dos genitores nos dias, semanas e meses após o nascimento do filho podem
transformarse em depressão, assim como a experimentada pelas novas mães. Infelizmente, os genitores raramente
discutem seus sentimentos ou pedem ajuda, especialmente durante uma época em que se supõe que devam ser “fortes”
para ajudar a nova mãe. A depressão nos cônjuges pode causar conflitos conjugais, comportamento imprudente ou
violento, interrupção da interação do genitor com o recémnascido, comprometimento do desempenho laboral e uso
abusivo de substâncias psicoativas. Além disso, a depressão paterna após o parto pode ter um efeito negativo sobre o
relacionamento do casal, o relacionamento entre pais e filhos e o desenvolvimento futuro de seus filhos (Sethna et al.,
2015).
Os fatores de risco para depressão pósparto do genitor incluem história pregressa de depressão, problemas
financeiros, problemas de relacionamento com a parceira e gestação não planejada. Os sintomas de depressão aparecem 1 a
3 semanas após o parto e podem incluir sentimentos de estar muito estressado e ansioso; sentirse desanimado, cansado,
ressentido com a criança e com a atenção que ela está recebendo; e cefaleia. Os genitores que apresentam esses sintomas
devem entender que não são um sinal de fraqueza e que a ajuda profissional pode ser útil para eles.
ESTÁGIO 3 | TRANSIÇÃO PARA O DOMÍNIO
No estágio 3 (transição para o domínio), o genitor toma uma decisão consciente de assumir o controle e estar no centro da
vida de seu recémnascido, independentemente de estar preparado. Esse período de adaptação é semelhante à fase
interdependente da mãe, quando ela incorpora o mais novo membro à família.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
O puerpério se refere às primeiras 6 semanas após o parto. Durante esse período, a mãe
experimenta muitas adaptações fisiológicas e psicológicas para retornar ao seu estado pré
gestacional
A involução uterina envolve três processos: contração das fibras musculares para reduzir as fibras
distendidas, catabolismo (que reduz cada célula ampliada) e regeneração do epitélio uterino a partir
da camada inferior da decídua, após as camadas superiores terem sido descamadas e eliminadas
nos lóquios
Os lóquios passam por três estágios durante o período pósparto: lóquios rubros, lóquios serosos e
lóquios albos
O volume de plasma sanguíneo materno diminui rapidamente após o nascimento e retorna ao normal
nas 4 semanas seguintes ao parto
Reva Rubin (1984) identificou três fases pelas quais a puérpera passa ao adaptarse ao seu novo
papel de mãe: a fase dependente, a fase dependenteindependente e a fase interdependente
A transição para a paternidade é influenciada por vários fatores, incluindo a participação no parto, as
relações com outros entes queridos, a competência no cuidado infantil, a organização dos papéis
familiares, os aspectos culturais do pai e o método de alimentação infantil
Como as mães, os genitores passam por um processo de três fases previsíveis durante as primeiras
3 semanas, conforme eles também “experimentam” seus papéis como genitores. As três fases
incluem a fase de expectativa, a de realidade e a de transição para o domínio
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Exercícios sobre o capítulo
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. O ingurgitamento mamário ocorre de 48 a 72 horas após o parto. Que mudança fisiológica influencia o
ingurgitamento mamário?
a. O aumento do aporte de sangue e linfa às mamas
b. O aumento dos níveis de estrogênio e progesterona
c. A produção de colostro aumenta dramaticamente
d. A retenção de líquido nas mamas, em virtude das soluções administradas por via intravenosa
durante o trabalho de parto
2. Na fase dependente de adaptação ao papel materno descrita por Rubin (1984), o enfermeiro poderia
esperar que o comportamento da puérpera fosse caracterizado por qual dos seguintes?
a. Aquisição de autoconfiança
b. Ajuste aos seus novos relacionamentos
c. Estado passivo e dependente
d. Retomada do controle sobre sua vida
3. O enfermeiro está explicando à puérpera, 48 horas de pósparto, que as cólicas que ela está sentindo
podem ser decorrentes de qual das seguintes opções?
a. A cólica abdominal é um sinal de endometriose
b. Um recémnascido pequeno com peso inferior a 3,6 kg
c. Gestações a intervalos pequenos
d. Contrações do útero após o parto
4. O enfermeiro esperaria que a mulher no pósparto apresentasse qual se quência de lóquios?
a. Rubros, albos, serosos
b. Rubros, serosos, albos
c. Serosos, albos, rubros
d. Albos, rubros, serosos
5. O enfermeiro está avaliando a Sra. Smith, que deu à luz seu primeiro filho há 5 dias. Que achados o
enfermeiro poderia esperar?
a. Lóquios de cor creme; útero acima do umbigo
b. Lóquios de coloração vermelhovivo com coágulos; útero 2 dedos abaixo do umbigo
c. Lóquios de coloração rosaclaro ou marrom; útero 4 a 5 dedos abaixo do umbigo
d. Lóquios de coloração amarelada, com consistência de muco; útero na altura do umbigo
6. Organize as prioridades da mãe 4 horas após o parto, colocando os números 1, 2, 3 ou 4 nos espaços
em branco antes de cada necessidade.
a. _____________ Aprender a segurar e aconchegar o recémnascido.
b. _____________ Assistir a uma demonstração do enfermeiro de como dar banho no recém
nascido.
c. _____________ Dormir e descansar sem ser perturbada por algumas horas.
d. _____________ Tempo de interação (primeiros 30 minutos) com o recémnascido para facilitar a
formação de vínculo.
7. Imediatamente após o parto, ainda na sala de recuperação, a enfermeira observa a fascinação e o
interesse do cônjuge da puérpera em relação ao recémnascido. Com frequência esse comportamento
é denominado:
a. Vínculo
b. Interação genitorfilho
c. Ligação
d. Temperamento
8. Após o enfermeiro orientar uma puérpera sobre melancolia pósparto, qual das seguintes opções
indicaria compreensão das informações? Eu...
a. “preciso tomar medicação diariamente para tratar a ansiedade e a tristeza”
b. “telefonarei para o serviço de obstetrícia apenas se eu começar a ouvir vozes”
c. “entrarei em contato com meu médico se eu sentir tontura e náuseas”
d. “tenho vontade de rir em um momento e de chorar logo a seguir”
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. O novo enfermeiro designado para a unidade maternoinfantil pósparto faz um comentário na troca de
turno de que uma primigesta de 25 anos de idade parece preguiçosa e não mostra iniciativa em cuidar
de si mesma ou do recémnascido. O enfermeiro informou que a nova mãe falou excessivamente sobre
sua experiência de trabalho de parto e parto e parecia preocupada com ela e com suas necessidades, e
não em cuidar do recémnascido. Ela pergunta se há algo de errado com essa mãe, porque ela parece
estar tão autocentrada e precisa ser direcionada para fazer tudo.
a. Existe algo “errado” com o comportamento da Sra. Griffin? Por que sim ou por que não?
b. Que fase do papel materno está sendo descrita pelo novo enfermeiro?
c. Qual papel o enfermeiro desempenha no apoio à mãe nessa fase?
2. Uma primípara deu à luz um menino saudável ontem. Seu parceiro parecia entusiasmado com o
nascimento, ligando para seus amigos e familiares minutos após o parto. Ele distribuiu charutos e
elogiou sua mulher por seus esforços. Hoje, quando o enfermeiro entrou em seu quarto, seu parceiro
parecia muito ansioso em relação ao filho e chamava o enfermeiro sempre que o recémnascido
chorava ou precisava trocar fralda. Ele parecia distante quando solicitado a segurar seu filho e passou
um tempo conversando com outros pais na sala de espera, deixando a esposa sozinha no quarto.
a. Você consideraria normal o comportamento paternal do Sr. Lenhart nesse momento?
b. O que o Sr. Lenhart poderia estar sentindo nesse momento?
c. Como o enfermeiro pode ajudar esse novo pai a adaptarse ao seu novo papel?
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Encontre um recurso da internet que discuta os cuidados gerais pósparto para as novas mães que
possam ter perguntas após a alta. Avalie quão críveis, acuradas e atuais são as informações desse site.
2. Prepare um plano de orientações para as novas mães, destacando as várias mudanças fisiológicas que
ocorrem após a alta.
3. O termo que descreve o retorno do útero ao seu estado prégestacional é ____________________.
4. Um fundo de útero desviado para o lado direito do abdome poderia indicar um(a)
___________________.
ESTUDO DE CASO
Uma mulher latina de 29 anos com quatro filhos morava com o marido e os pais dele em uma pequena
cidade rural. Ela deu à luz ao quarto filho há 7 semanas. Ela teve quatro filhos nos últimos 4 anos. A
gravidez, o trabalho de parto e o parto foram sem intercorrências e uma vizinha que nunca recebeu
treinamento ajudou no parto domiciliar. Como a gravidez era considerada uma ocorrência normal que não
exige atenção médica, ela não compareceu a consultas de prénatal em nenhuma das quatro gestações. No
primeiro mês após o parto ela se sentiu normal, mas depois começou a apresentar comportamento inquieto
e ansiedade. Ela se isolou da família, deixou de falar com os parentes e deixou de cuidar do recémnascido
e das outras crianças. Os familiares se questionaram sobre o isolamento dela, mas pareceram indiferentes à
sua condição, porque estão ocupados com suas próprias vidas. Um dia, quando todos os familiares e seus
filhos foram trabalhar nos campos, ela se suicidou.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 15 | Adaptações PósParto
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é A. O ingurgitamento referese ao aumento do volume do tecido mamário em decorrência do
aumento da irrigação sanguínea e da drenagem linfática para a produção de leite para o recémnascido. Os níveis de
estrogênio e progesterona diminuem, o que possibilita que a prolactina estimule as glândulas a secretar leite. Os seus
níveis são recuperados quando a primeira menstruação retorna várias semanas ou meses mais tarde, dependendo do
estado de lactação da mãe. O colostro é um líquido cor de limão secretado pelas mamas imediatamente após o parto e,
no decorrer de 4 a 5 dias, gradualmente muda para leite de transição e, por fim, para leite maduro em até 2 semanas.
A produção de colostro diminui nos dias seguintes ao parto, sendo substituída pelo leite de transição e leite maduro,
de modo que não contribui para o ingurgitamento mamário.
2. A resposta correta é C. De acordo com Reva Rubin, a mãe é muito passiva e depende dos outros para cuidar dela
durante as primeiras 24 a 48 horas após o parto. A obtenção de autoconfiança caracterizaria a mãe na fase
dependenteindependente, durante a qual a mãe demonstra domínio sobre o funcionamento de seu próprio corpo e se
sente mais confiante em cuidar do filho. O ajuste à relação não ocorre até a terceira fase, a interdependente, quando a
mãe começa a se separar da relação simbiótica que ela e seu recémnascido usufruíram durante a gestação e o parto.
A retomada do controle sobre a própria vida denotaria a segunda fase, a dependenteindependente, durante a qual a
mãe retoma o controle sobre sua vida e ganha autoconfiança para cuidar do filho.
3. A resposta correta é D. A causa direta das cólicas pósparto são as contrações uterinas. As mães sentem dor
abdominal por causa das contrações, especialmente quando a sucção do leite materno estimula a liberação de ocitocina
pela neurohipófise, o que provoca contrações uterinas. Não há associação entre as cólicas pósparto e a
endometriose. O tamanho pequeno do recémnascido não distenderia seu útero, portanto não seria um fator que
contribui para seu desconforto atual. Gestações com pouco tempo de intervalo entre elas podem contribuir para a
distensão frequente do útero, mas essa não é a causa das cólicas pósparto.
4. A resposta correta é B. A a eliminação de lóquios pelo útero prossegue de modo ordenado, independentemente de se
tratar de parto cirúrgico ou vaginal. Sua coloração passa de vermelho para rosa a creme esbranquiçado de modo
consistente, a menos que haja complicação. A sequência correta é rubro (vermelho), em seguida, seroso (rosa
acastanhado) e depois de cor alba (branco, cremoso).
5. A resposta correta é C. O enfermeiro esperaria lóquios de coloração rosaclaro ou marrom, e o útero deve estar 4 a 5
dedos transversos abaixo do umbigo. Lóquios de cor creme não ocorreriam por cerca de 10 a 14 dias após o parto;
portanto, não seriam observados tão precocemente no período pósparto. O útero estaria involuindo, descendo em
direção à pelve, de modo que não estaria acima do umbigo nesse momento. Lóquios de coloração vermelhovivo
seriam observados por até 3 dias após o parto, não 5 dias depois, a menos que houvesse um problema. O útero desce
em direção à pelve a uma velocidade de 1 cm/dia, de modo que o fundo do útero deve estar 4 a 5 cm (dedos
transversos) abaixo do umbigo nesse momento.
6. A ordem correta das prioridades seria:
1. Tempo de interação (primeiros 30 min) com o recémnascido para facilitar o vínculo.
2. Dormir e descansar sem ser perturbada por algumas horas.
3. Aprender a segurar e aconchegar o recémnascido.
4. Assistir a uma demonstração do enfermeiro de como dar banho no recémnascido.
7. A resposta correta é B porque o desenvolvimento do vínculo do parceiro ou de pessoas significativas com o recém
nascido – um período de absorção, preocupação e interesse intensos – é denominado engrossment (imersão). As
alternativas A, C e D são incorretas porque são termos que descrevem, tipicamente, o relacionamento próximo entre a
mãe e o recémnascido (binômio mãefilho) sem incluir o pai.
8. A resposta correta é D porque a labilidade emocional é típica da melancolia pósparto, que geralmente é autolimitada.
A alternativa A é incorreta porque não é necessário farmacoterapia para a melancolia pósparto. A alternativa B é
incorreta porque esse comportamento indicaria psicose pósparto e não apenas melancolia pósparto. A alternativa C
indicaria uma condição física, como infecção, em vez de um transtorno mental.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. Existe algo “errado” com o comportamento da Sra. Griffin? Por que sim ou por que não?
Não, este é um comportamento típico para uma nova mãe nos primeiros 2 dias após o parto.
b. Que fase do papel materno está sendo descrita pelo novo enfermeiro?
Esse comportamento é característico da fase dependente de Reva Rubin, que abrange as primeiras 48 horas após
o parto. A nova mãe geralmente está focada em suas próprias necessidades de descanso, alimentação e conforto.
As novas mães nessa fase tendem a ser passivas e obedecem aos direcionamentos/sugestões da equipe. A
preocupação consigo mesma em vez de com seus filhos é normal durante essa fase. Suas necessidades precisam
ser atendidas antes que elas possam começar a cuidar dos outros.
c. Qual papel o enfermeiro desempenha no apoio à mãe nessa fase?
O enfermeiro pode ser solidário nessa fase inicial, proporcionando um ambiente tranquilo e silencioso para
facilitar sua recuperação do parto. Darlhe orientações simples e sugestões de como ela pode cuidar de si mesma
e de seu filho ajudará a nova mãe a expandir seu foco. Elogiála por suas realizações nos cuidados irá incentivá
la.
2.
a. Você consideraria normal o comportamento paternal do Sr. Lenhart nesse momento?
Sim, pais de primeira viagem inexperientes ficam ansiosos ao redor de seus recémnascidos, porque essa é uma
experiência nova para eles e muitos ainda não sabem como lidar com seus filhos ou cuidar deles. O apego
paternal é um processo gradual que ocorre ao longo de semanas e meses.
b. O que o Sr. Lenhart poderia estar sentindo nesse momento?
Ele provavelmente está se sentindo sobrecarregado com essa pequena criança e, embora provavelmente queira
ajudar, está ansioso sobre como ou o que fazer sem atrapalhar.
c. Como o enfermeiro pode ajudar esse novo pai a adaptarse ao seu novo papel?
O enfermeiro pode ajudar os novos pais a se ajustar ao seu papel separando um tempo para ouvir suas
preocupações e demonstrar como eles podem se envolver no cuidado de seus recémnascidos. Ficar no quarto e
apoiar fisicamente o pai enquanto ele testa seu novo papel dará o incentivo para que ele se envolva. O
enfermeiro pode lentamente apresentar aos pais as necessidades de cuidado do recémnascido e incentivar sua
participação. Esse papel de apoio do enfermeiro pode ajudar a reduzir a tensão das novas funções e melhorar o
ajuste da família.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Os possíveis recursos da internet úteis para os pais após o parto são:
a. Site do Ministério da Saúde, http://bvsms.saude.gov.br/, Atenção à Saúde do RecémNascido, Guia para os
Profissionais de Saúde, 2a edição, 2012.
2. O plano de orientações pode incluir os seguintes tópicos:
a. Involução do útero
b. Etapas e cores dos lóquios
c. Diaforese
d. Alterações das mamas (lactante e não lactante)
e. Desconfortos após o nascimento, como cicatrização perineal (compressas de gelo, banhos de assento), cólicas
pósparto (analgésicos), ingurgitamento mamário (sutiã com bom apoio)
f. Cuidados de acompanhamento para a mãe.
3. involução
4. bexiga cheia
ESTUDO DE CASO
1. Quais eram os fatores sociais e culturais que podem ter contribuído para sua morte?
2. Quais eram os fatores médicos associados possivelmente presentes?
3. O que em seu comportamento indicava o que ela teve durante o período puerperal?
Resposta: A depressão pósparto afeta mulheres de todas as culturas, idades, faixas de renda, raças e etnias. Nos
casos típicos, o pico de incidência ocorre no segundo mês depois do parto, embora a depressão puerperal possa
começar também no período prénatal. Entre os fatores sociais e culturais que podem ter desempenhado um papel
importante na morte dessa paciente, estão os seguintes: parto domiciliar com um assistente despreparado para ajudar
no nascimento; nenhum cuidado prénatal ou pósnatal que tivesse detectado os primeiros sintomas; nenhum
indicador de alto risco de depressão; os sintomas de depressão da paciente não foram detectados antes; e a atitude
indiferente dos seus familiares. A falta de apoio da família no período de recuperação puerperal inicial pode ter sido
outro fator contribuinte. O bemestar da parturiente, o grau de fadiga e a capacidade de recuperarse depois do
nascimento afetam a probabilidade de que ela desenvolva depressão puerperal, que é o que demonstraram seus
comportamentos.
Plano de cuidados
1. Quais são os fatores de risco para depressão puerperal?
2. Quais são os sintomas comuns de depressão puerperal?
3. Quais intervenções podem ajudar a evitar depressão puerperal?
4. Qual é o tratamento para depressão puerperal? Resposta: Os fatores de risco para depressão puerperal podem incluir
os seguintes: episódios anteriores ou histórico de depressão; nível baixo de apoio social; estresse e fadiga; gravidez
não planejada; pobreza; e apoio social escasso. Os sintomas comuns da depressão puerperal são sentimentos de
inquietude, ansiedade, perda de energia, dificuldades de dormir, aumento ou redução do peso, sentimento de tristeza,
incapacidade de concentrarse, sentimento de estar desligada das outras pessoas e do recémnascido e questionamento
das habilidades maternas. A identificação imediata das mulheres suscetíveis durante a gravidez pode oferecer uma
oportunidade de intervir precocemente para evitar depressão plenamente estabelecida no período puerperal. As
intervenções podem incluir atividade física regular, fortalecimento do sistema de apoio social, ingestão alimentar
saudável e compartilhamento das responsabilidades domésticas e da criação dos filhos para possibilitar períodos de
sono e descanso. Nos casos típicos, psicoterapia e fármacos antidepressivos são prescritos para depressão puerperal.
Embora a depressão puerperal seja comum, ela pode ser corrigida com sucesso por psicoterapia e fármacos. O
desfecho trágico desse caso poderia ter sido evitado se a vulnerabilidade da paciente tivesse sido detectada pela
triagem prénatal e pósnatal, ou se os familiares tivessem atuado se estivessem orientados sobre os sinais e
sintomas. A conscientização da comunidade na forma de grupos de apoio locais também teria sido muito valiosa.
Questões múltipla escolha
1. A enfermeira está fazendo uma visita à casa de uma mulher quatro dias após o parto. A
puérpera não tem queixas. Qual achado seria preocupante e mereceria investigação
aprofundada pela enfermeira?
A. Lóquios serosos
B. Útero 1 cm abaixo do umbigo
C. Vagina edemaciada
D. Sudorese
Concluir questão
2. Ao descrever as alterações hormonais que ocorrem após o nascimento, a enfermeira explica
que a diminuição de qual hormônio está associada ao ingurgitamento mamário?
A. Estrogênio
B. Progesterona
C. Prolactina
D. hCG
Concluir questão
3. Uma mulher que deu à luz um recémnascido saudável há 2 meses chega ao ambulatório
relatando desconforto durante a relação sexual. Que sugestão da enfermeira seria mais
adequada?
A. “Demora um tempo para o seu corpo voltar à função normal depois de ter um bebê.”
B. “Isso é totalmente normal e muitas mulheres passam por isso. É só esperar que melhora.”
C. “Tente fazer exercícios de Kegel para que seus músculos pélvicos voltem à forma antiga.”
D. “Você pode tentar usar um lubrificante à base de água para aliviar o desconforto.”
Concluir questão
4. Depois de orientar um grupo de gestantes a respeito das alterações na pele que ocorrerão
após o nascimento de seu filho, qual declaração indica a necessidade de orientações
adicionais?
A. “Mal posso esperar para que essas estrias desapareçam após o parto.”
B. “Posso perder um pouco de cabelo, mas ele vai voltar a crescer.”
C. “Esta linha escura na minha barriga vai desaparecer com o tempo.”
D. “Meus mamilos não ficarão tão escuros depois de eu dar à luz.”
Concluir questão
5. Ao avaliar uma puérpera, qual das seguintes opções seria mais importante na identificação de
possível hemorragia pósparto?
A. Pressão arterial
B. Débito cardíaco
C. Frequência cardíaca
D. Hematócrito
Concluir questão
6. A enfermeira avalia uma puérpera à procura de tromboembolismo com base no entendimento
de que seu risco é aumentado por causa de qual dos seguintes itens?
A. Aumento da contagem de leucócitos
B. Danos aos vasos durante o parto
C. Diminuição dos fatores de coagulação
D. Episiotomia
Concluir questão
7. A nova mãe chega para sua primeira consulta e se queixa de dor espontânea e à palpação nas
mamas pouco antes da amamentação. Com base na sua descrição, a enfermeira determina
que ela está com ingurgitamento mamário. Que orientações deve lhe fornecer?
A. “Use um sutiã com boa sustentação e apertado o dia todo.”
B. “Tome um banho quente pouco antes de alimentar seu bebê.”
C. “Tente não tocar suas mamas ou mamilos até que o inchaço tenha diminuído.”
D. “Use gelo durante cerca de 15 min a cada 2 h para promover o conforto.”
Concluir questão
8. Durante uma visita domiciliar aos novos pais, a enfermeira também avalia a adaptação do pai
a seu novo papel. Qual afirmação parece indicar que ele está na fase de realidade?
A. “Vai ser divertido ter um bebê em casa, mas as coisas não devem mudar muito.”
B. “Aprendi a trocar fralda e dar banho no bebê para que eu possa ser um pai efetivamente
envolvido.”
C. “Eu não fazia ideia do que era ser pai. Não estava preparado para isso.”
D. “Eu posso não ser um profissional nos cuidados com o bebê, mas gosto de me envolver.”
Concluir questão
9. Durante uma visita domiciliar pósparto, a enfermeira observa qual comportamento que indica
que a nova mãe se encontra na fase interdependente?
A. Fala sobre sua experiência de trabalho de parto com os outros ao seu redor
B. Aponta características específicas no recémnascido
C. Mostra independência no autocuidado
D. Mostra maior confiança em cuidar do recémnascido
Concluir questão
10. Cuidar de famílias envolve considerar suas culturas e tradições. A enfermeira deve se lembrar
de que a comunicação é mais do que apenas falar e ouvir, mas também qual das seguintes
opções?
A. Tocar
B. Escrever
C. Ilustrar
D. Reconhecer o significado das palavras
Concluir questão
11. Uma jovem mãe está no consultório para sua consulta de 6 semanas. Ela ainda apresenta
discretos lóquios albos e está preocupada por causa de uma infecção. Qual dos seguintes
sintomas indica possível infecção?
A. Corrimento cremoso
B. Corrimento marromclaro
C. Odor fétido, desagradável
D. Cheiro de carne fresca
Concluir questão
12. Durante o parto, o médico realizou uma episiotomia. A cliente agora está se queixando de
desconforto. Para reduzilo e melhorar a higiene do períneo, ela deve ser encorajada a usar
qual das seguintes opções?
A. Lenços umedecidos
B. Frasco de irrigação perineal e água morna
C. Panos úmidos
D. Lenços umedecidos com álcool
Concluir questão
13. Uma cliente chegou ao consultório para sua primeira consulta pósparto. Ao avaliar seus
exames de sangue, a enfermeira se preocuparia se o hematócrito estivesse:
A. Agudamente aumentado
B. Agudamente diminuído
C. Discretamente diminuído
D. Discretamente aumentado
Concluir questão
Durante uma avaliação, a enfermeira observa que a cliente não tem conseguido urinar
14.
adequadamente desde o parto. Ela também observa que a cliente ainda está sangrando mais
do que o esperado. A enfermeira suspeita que qual condição esteja se desenvolvendo?
A. Retenção urinária
B. Sudorese pósparto
C. Infecção do trato urinário
D. Atonia uterina
Concluir questão
15. Durante uma visita domiciliar, a cliente menciona que ainda está sentindo muita dor nas
articulações. A enfermeira explica que as mudanças que relaxaram as articulações pélvicas
para viabilizar o parto foram decorrentes do hormônio relaxina e que pode demorar quanto
tempo para o corpo voltar ao normal?
A. 6 a 8 semanas após a gestação
B. 4 a 6 semanas após a gestação
C. 8 a 10 semanas após a gestação
D. 2 a 4 semanas após a gestação
Concluir questão
16. Uma enfermeira está descrevendo as muitas mudanças que ocorrerão durante o período pós
parto a um grupo de jovens pais. Qual é uma queixa leve comum que as mulheres devem
esperar, especialmente durante a primeira semana, que indicará que seu volume de líquido
está voltando ao normal?
A. Sudorese
B. Noctúria
C. Polaciúria
D. Aumento da urgência urinária
Concluir questão
17. Ao explicar a influência dos hormônios sobre o aleitamento materno, a enfermeira poderia
identificar qual hormônio da adenohipófise como sendo responsável pela produção de leite?
A. Prolactina
B. Estrogênio
C. Ocitocina
D. Progesterona
Concluir questão
18. Depois de uma aula para futuros pais sobre os diversos métodos de controle de natalidade
após o nascimento do bebê, a enfermeira percebe que são necessárias orientações adicionais
quando uma participante faz qual dos comentários a seguir?
A. “Discutiremos o controle de natalidade com nosso médico para encontrar o melhor método
para nós.”
B. “Vou amamentar de vez em quando, por isso não vou precisar usar outro método de
controle de natalidade durante pelo menos 6 meses.”
C. “Usaremos um método de barreira nos primeiros meses e depois decidiremos o que
queremos fazer.”
D. “Vou voltar a tomar as pílulas assim que o médico liberar.”
Concluir questão
19. As enfermeiras precisam compreender, reconhecer e trabalhar com as diversas crenças
culturais de suas clientes. Nesta sociedade cada vez mais multicultural, existem duas áreas
distintas reconhecidas por outras culturas que não são necessariamente reconhecidas pela
cultura ocidental. Qual das seguintes seria uma delas?
A. Apresentar a criança ao restante da família
B. Permitir a presença dos familiares ao nascimento
C. Expectativas do que a nova mãe deve fazer
D. Equilíbrio entre quente e frio
Concluir questão
20. A enfermeira estava preocupada porque os pais estavam com dificuldades com seu recém
nascido. Em um esforço para ajudar a incentivar o apego, qual das seguintes atividades ela
deve sugerir?
A. Dormir com o recémnascido
B. Manter o recémnascido no mesmo quarto em todos os momentos
C. Reproduzir uma gravação de sua voz em todos os momentos
D. Contato pele com pele no tórax
Concluir questão
21. O processo de pósparto imediato pode ser dividido em várias fases. A enfermeira reconhece
que a mãe é mais dependente durante qual delas?
A. Fase dependente
B. Fase dependenteinterdependente
C. Fase interdependente
D. Fase de apego
Concluir questão
22. Uma puérpera está apresentando subinvolução. Ao rever o histórico da cliente à procura de
fatores que possam contribuir para essa condição, o que a enfermeira identificará? (Selecione
todas as opções que se aplicam.)
A. Infecção uterina
B. Trabalho de parto prolongado
C. Hidrâmnio
D. Amamentação
E. Deambulação precoce
Concluir questão
23. Ao programar uma aula de preparação para o parto, a enfermeira descreverá as mudanças na
involução uterina que ocorrem após a gestação. Qual(is) das seguintes opções será(ão)
incluída(s) na aula? (Selecione todos os itens que se aplicam.)
A. Contração das fibras musculares
B. Regressão do epitélio uterino
c. Catabolismo de cada célula do miométrio
D. Retorno ao seu tamanho prégestacional em aproximadamente 1 semana após o
nascimento
E. Importância dos exercícios de Kegel para evitar a involução
Concluir questão
24. A enfermeira está ajudando uma jovem mãe que decidiu não amamentar seu bebê. Ela deve
sugerir qual das seguintes medidas à cliente para aliviar o desconforto e evitar o
ingurgitamento mamário? (Selecione todas que se aplicam.)
A. Usar um sutiã com boa sustentação e apertado 24 h por dia
B. Evitar a estimulação sexual
C. Esvaziar as mamas com bomba apenas 1 vez/dia
D. Aplicar gelo à mama durante aproximadamente 15 a 20 min a cada 2 h
E. Tomar um banho quente
Concluir questão
25. Uma enfermeira está preparando uma aula para um grupo de novos pais sobre as adaptações
psicológicas que ocorrem após o nascimento. Ela deve incluir qual dos sinais e sintomas a
seguir que podem indicar depressão pósparto? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Inquietação
B. Dormir bem
C. Fome
D. Sensação de inutilidade
C. Sentirse oprimida
Concluir questão
Conduta de Enfermagem durante o Período PósParto
16
PALAVRASCHAVE
Apego
Banho de assento
Exercícios do assoalho pélvico
Formação de vínculo
Frasco de irrigação perineal
Melancolia pósparto
Posição face a face
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Caracterizar as adaptações fisiológicas e psicológicas normais para o período pósparto.
2. Determinar os parâmetros que precisam ser avaliados durante o período pósparto.
3. Comparar e contrastar a criação de vínculo com o processo de apego.
4. Selecionar comportamentos que estimulem ou inibam o processo de apego.
5. Delinear a conduta de enfermagem para a puérpera e sua família durante o período pósparto.
6. Examinar o papel do profissional de enfermagem na promoção da amamentação bemsucedida.
7. Delinear as áreas de educação em saúde necessárias para o planejamento da alta, o atendimento domiciliar (home
care) e o acompanhamento.
Raina, uma primípara muçulmana de 24 anos de idade, acaba de chegar à unidade pósparto. O marido
está sentado à beira do leito, mas parece não lhe dar qualquer apoio físico ou emocional depois de seu
longo trabalho de parto e um parto difícil.
Reflexões
A parentalidade é um processo interativo, íntimo, contínuo e que dura a vida toda.
INTRODUÇÃO
O período pósparto é um período de ajustes e adaptações importantes, não só para a mãe, mas para todos os membros da
família. É nessa época que começa a parentalidade e se inicia o relacionamento com o recémnascido. O relacionamento
positivo e amoroso entre os pais e seu recémnascido promove o bemestar de todos. Essa relação perdura e exerce
profundos efeitos sobre o crescimento e o desenvolvimento da criança.
Anote!
A parentalidade é uma habilidade que muitas vezes se aprende por tentativa e erro, com graus de sucesso variáveis. A
parentalidade bemsucedida, um processo interativo contínuo e complexo, exige que os pais aprendam novas habilidades e
integrem o novo membro à família.
Depois do parto, cada sistema do corpo da mãe leva várias semanas para voltar ao seu estado prégestacional. As
alterações fisiológicas no período pósparto são substanciais. O enfermeiro deve estar ciente dessas mudanças e deve ser
capaz de fazer observações e avaliações para confirmar as ocorrências normais e detectar eventuais desvios.
Este capítulo descreve a conduta de enfermagem da puérpera e de sua família durante o período pósparto (ver
no Capítulo 21 uma discussão detalhada sobre os cuidados pósparto da mulher submetida a parto cirúrgico). A conduta de
enfermagem durante o período pósparto centrase na avaliação da capacidade da puérpera de se adaptar às mudanças
fisiológicas e psicológicas que ocorrem nesse momento (ver no Capítulo 15 a discussão detalhada dessas adaptações). O
capítulo descreve os parâmetros do exame físico das puérperas e de seus recémnascidos. Enfoca também os
comportamentos de apego e criação de vínculo; os profissionais de enfermagem precisam estar cientes desses
comportamentos para que possam realizar intervenções apropriadas. Os membros da família também são avaliados para
determinar o quão bem eles estão fazendo a transição para essa nova etapa.
Com base nos achados da avaliação, o enfermeiro planeja e implementa o cuidado para atender às necessidades da
família. Descrevemse as etapas para atender às necessidades fisiológicas, como conforto, autocuidado, nutrição e
contracepção. Também são discutidas maneiras de ajudar a puérpera e sua família a se adaptar ao recémnascido (Figura
16.1). Por causa dos períodos de internação mais curtos na atualidade, o enfermeiro consegue se concentrar apenas nas
necessidades prioritárias e precisa organizar um acompanhamento domiciliar para garantir que todas as necessidades da
família sejam atendidas.
FIGURA 16.1 Pais e avó interagindo com o recémnascido.
APOIO SOCIAL E CONSIDERAÇÕES CULTURAIS
Além do exame físico e do cuidado da mulher no período pósparto, um forte apoio social é vital para ajudála a integrar o
recémnascido na família. A compreensão da mulher no seu contexto social e cultural é crucial para a prestação de
cuidados pósparto efetivos, de modo que todos os cuidados prestados sejam culturalmente competentes e sensíveis. Na
sociedade móvel de hoje, os parentes podem morar longe e podem não ser capazes de ajudar no cuidado da nova família.
Como resultado, muitos dos novos pais se voltam para os profissionais de saúde para obter informações, bem como
suporte físico e emocional, durante esse período de adaptação. Os enfermeiros podem ser um recurso inestimável, atuando
como mentores, ensinando medidas de autocuidado e noções básicas de cuidados com o recémnascido, além de prestar
apoio emocional. O enfermeiro pode atuar como a “mãe” da nova mãe, oferecendo cuidado físico, apoio emocional,
informações e ajuda prática. O apoio e os cuidados de um enfermeiro nesse período crítico podem aumentar a confiança
dos novos pais, dandolhes uma sensação de realização em suas competências parentais. Uma intervenção importante
durante o período pósparto é a promoção do aleitamento materno. O Healthy People 2020 inclui a amamentação como
meta para a saúde da mãe, do recémnascido e do lactente (U.S. Department of Health and Human Resources [USDHHS],
2010) (Healthy People 2020 16.1).
Como sempre, os profissionais de enfermagem devem prestar cuidados culturalmente competentes durante o período
pósparto. Os profissionais de enfermagem devem realizar uma autoavaliação cultural contínua e superar todos os
estereótipos que perpetuem preconceitos ou discriminação contra qualquer grupo cultural (Bowers & Ceballos, 2015). A
prestação de cuidados de enfermagem culturalmente competentes durante o período pósparto demanda tempo, mente
aberta e paciência. A migração global de diversas populações impõe aos profissionais de enfermagem o desafio de prestar
cuidados a um número inédito de pacientes e seus familiares com crenças e práticas de cuidados de saúde diferentes das
suas. Sensibilidade não pode ser presumida, precisa ser fomentada e desenvolvida. O conjunto de habilidades necessárias
aos profissionais de enfermagem para a prestação de cuidados culturalmente competentes às puérperas e suas famílias
inclui a compreensão de suas crenças, experiências e ambiente familiar; a facilitação da sua linguagem por meio do uso
apropriado de intérpretes para que a informação fornecida possa ser entendida; e o respeito afetuoso a suas pacientes e a
seus direitos humanos. A cultura chinesa valoriza as tradições e o envolvimento das pessoas mais velhas na família
estendida. Algumas mulheres chinesas que vivem nos EUA praticam maternidade transnacional, que consiste em mandar
os filhos nascidos nos EUA para a China para serem criados pela família estendida lá. Isso, obviamente, tem implicações
para o sucesso do aleitamento materno (Lee & Brann, 2015). Para promover resultados positivos, o enfermeiro deve ser
sensível à cultura, à religião e às influências étnicas da mulher e de sua família (ver tópico Prestação de cuidados
culturais ideais na seção Intervenções de enfermagem).
Healthy People 2020 • 16.1
Objetivos Importância para a enfermagem
Aumentar a proporção Fornecerá aos lactentes a modalidade mais
de mães que completa de nutrição, melhorando sua saúde, seu
amamentam seus crescimento e desenvolvimento e sua imunidade
filhos
Aumentar o número Melhorará a saúde materna por meio dos efeitos
de mães que benéficos da amamentação
amamentam de 74%
para 81,9%
Aumentar o número Aumentará a taxa de aleitamento materno,
de mães que especialmente nas populações de baixa renda e
amamentam até os 6 em algumas raças e etnias menos propensas a
meses de 43,5% para começar a amamentar no hospital, ou sustentála
60,6% durante o primeiro ano de vida do lactente
Aumentar o número
de mães que
amamentam por 1 ano
de 22,7% para 34,1%
Aumentar o número
de mães que optam
pela amamentação
exclusiva por 3 meses
de 33,6% para 46,2%
Aumentar o número
de mães que optam
pela amamentação
exclusiva por 6 meses
de 14,1% para 25,5%
Objetivos do Healthy People com base em dados de http://www.healthy people.gov.
Lembrase do casal apresentado no início do capítulo? Quando a enfermeira chegou para examinar Raina
após o parto, seu marido saiu rapidamente do quarto e retornou pouco tempo depois, após o exame ter sido
realizado. Como você interpreta o comportamento dele em relação à esposa? Como você pode se
comunicar com esse casal?
AVALIAÇÃO DE ENFERMAGEM NO PERÍODO PÓSPARTO
Muitos ajustes e adaptações precisam ser feitos para acolher o novo membro da família. O foco dos profissionais de
enfermagem é dar assistência às famílias de modo a maximizar sua adaptação, supervisionar adaptações insatisfatórias e
fornecer orientação, consulta e colaboração conforme a necessidade. A avaliação de enfermagem abrangente começa na
primeira hora depois do parto e continua até a alta.
Anote!
Os enfermeiros precisam estar bem seguros em relação ao que são achados normais, para que possam reconhecer
achados anormais e intervir de modo adequado.
Essa avaliação pósparto inclui mensuração dos sinais vitais, exame físico e avaliação psicossocial. Inclui ainda a
avaliação do apego e do vínculo dos pais e outros familiares – como irmãos e avós – com o recémnascido. Embora o
protocolo exato possa variar entre as instituições, a avaliação pósparto é tipicamente realizada como se segue:
• Durante a primeira hora: a cada 15 minutos
• Durante a segunda hora: a cada 30 minutos
• Durante as primeiras 24 horas: a cada 4 horas
• Após 24 horas: a cada 8 horas (Jordan et al., 2014; Mattson & Smith, 2016).
Durante cada avaliação, tenha em mente os fatores de risco que podem levar a complicações, como infecção ou
hemorragia, durante o período de recuperação (Boxe 16.1). A identificação precoce é fundamental para garantir uma
intervenção rápida.
O período pósparto é uma fase de transição para as mulheres. O término da gestação e o parto desencadeiam
alterações fisiológicas, porque muitos sistemas de órgãos retornam ao seu estado préconcepcional. O enfermeiro precisa
conhecer as mudanças fisiológicas e psicológicas normais que ocorrem no corpo e na mente das pacientes, a fim de prestar
assistência integral durante o período pósparto. Além das orientações à paciente e a seus familiares, uma das
responsabilidades mais importantes do enfermeiro no pósparto é reconhecer potenciais complicações após o parto.
Como em qualquer avaliação, sempre reveja o prontuário da paciente para obter informações sobre a gestação, o
trabalho de parto e o parto. Observe todas as condições preexistentes, as eventuais complicações durante a gestação, o
trabalho de parto, o parto e imediatamente depois, e quaisquer tratamentos prestados.
A avaliação pósparto geralmente inclui os sinais vitais, o nível de dor, a inspeção do local da anestesia epidural à
procura de sinais de infecção e uma revisão direcionada e metódica dos sistemas de órgãos da puérpera. A revisão
sistemática deve incluir avaliação das mamas, do útero, da bexiga urinária, do intestino, dos lóquios, da
episiotomia/períneo/local da anestesia epidural, dos membros e do estado emocional (Cunningham et al., 2014).
BOXE 16.1
FATORES QUE AUMENTAM O RISCO DE COMPLICAÇÕES PÓSPARTO
Fatores de risco para infecção pósparto
• Procedimento cirúrgico (parto com fórceps, cesariana, uso de vacuoextrator)
• História de diabetes melito, incluindo diabetes de início na gestação
• Trabalho de parto prolongado (mais de 24 horas)
• Uso de cateter vesical de demora
• Anemia (hemoglobina < 10,5 mg/dℓ)
• Múltiplos exames vaginais durante o parto
• Ruptura prolongada de membranas (> 24 horas)
• Extração manual da placenta
• Sistema imunológico comprometido (puérpera HIVpositiva)
Fatores de risco para hemorragia pósparto
• Trabalho de parto abrupto (menos de 3 horas)
• Atonia uterina
• Placenta prévia ou descolamento prematuro da placenta
• Indução ou aceleração do parto
• Procedimentos cirúrgicos (extração a vácuo, parto com fórceps, cesariana)
• Retenção de fragmentos da placenta
• Terceiro estágio do trabalho de parto prolongado (mais de 30 minutos)
• Multiparidade, mais de três partos com curto espaço de tempo entre eles
• Hiperdistensão uterina (feto macrossômico, gêmeos, polihidrâmnio)
Ao avaliar a puérpera e sua família durante o período pósparto, esteja alerta aos sinais de perigo (Boxe 16.2).
Notifique o médico imediatamente caso esses sinais sejam observados.
Avaliação dos sinais vitais
Avalie os sinais vitais e compareos aos valores anteriores, observando e relatando quaisquer desvios. Mudanças dos
sinais vitais podem ser um indicador precoce de complicações.
Temperatura
Utilize uma técnica de medição consistente (oral, axilar ou timpânica) a fim de conseguir as leituras mais acuradas.
Tipicamente, a temperatura da puérpera está dentro dos limites da normalidade ou apresenta discreta elevação durante as
primeiras 24 horas após o parto. Algumas puérperas apresentam febre baixa, de até 38°C, durante as primeiras 24 horas
após o parto. Essa elevação pode ser decorrente da desidratação devido à perda de líquidos durante o parto. A temperatura
deve estar normal após 24 horas, com a reposição dos líquidos perdidos durante o trabalho de parto e o parto (Green,
2016).
BOXE 16.2
SINAIS DE PERIGO PÓSPARTO
• Febre superior a 38°C
• Lóquios com odor fétido ou mudança inesperada de sua coloração ou de seu volume
• Coágulos sanguíneos grandes, ou sangramento que satura o absorvente íntimo em 1 hora
• Cefaleia intensa ou borramento visual
• Alterações visuais, como borramento visual ou manchas, ou cefaleia
• Dor na panturrilha à dorsiflexão do tornozelo
• Tumefação, vermelhidão ou secreção nos locais de episiotomia, anestesia epidural ou incisão abdominal
• Disúria, sensação de queimação ou esvaziamento incompleto da bexiga
• Dispneia ou dificuldade para respirar sem esforço
• Depressão ou oscilações extremas de humor
O achado de temperatura corporal superior a 38°C, em qualquer momento, ou de temperatura anormal após as
primeiras 24 horas pode indicar infecção e tem de ser relatado. Aferições de temperatura anormais demandam
monitoramento contínuo, até que uma infecção possa ser descartada por meio de culturas ou exames de sangue.
Temperatura elevada pode identificar sepse materna, o que resulta em taxas de morbidade e mortalidade maternas
significativas em todo o mundo. Para melhorar os desfechos, é essencial que o enfermeiro determine e monitore
acuradamente a temperatura das puérperas.
Frequência cardíaca
Frequências cardíacas de 60 a 80 batimentos por minutobpm (bpm) em repouso são normais durante a primeira semana
após o parto. Essa frequência cardíaca é chamada bradicardia puerperal. Durante a gestação, o útero grávido pesado
provoca diminuição do fluxo sanguíneo venoso para o coração. Após o parto, há aumento do volume intravascular. O
débito cardíaco é mais provavelmente causado por aumento do volume sistólico pelo maior retorno venoso do momento. O
volume sistólico elevado leva à diminuição da frequência cardíaca (Creasy et al., 2014). A taquicardia na puérpera pode
sugerir ansiedade, excitação, fadiga, dor, perda excessiva de sangue ou hemorragia tardia, infecção ou problemas cardíacos
subjacentes. O achado de frequência de pulso superior a 100 bpm justifica investigação para descartar a possibilidade de
complicações.
Frequência respiratória
A frequência respiratória pósparto deve estar dentro dos limites da normalidade de 12 a 20 incursões por minuto em
repouso. A função pulmonar retorna tipicamente ao estado prégestacional após o parto, quando o diafragma desce e os
órgãos retornam às suas posições normais. Qualquer alteração da frequência respiratória fora da faixa normal poderia
indicar edema pulmonar, atelectasia, efeito colateral da anestesia epidural ou embolia pulmonar, e tem de ser relatada. Os
pulmões devem estar limpos à ausculta.
Pressão arterial
Avalie a pressão arterial da puérpera e comparea com sua variação normal. Relate qualquer desvio dessa faixa.
Imediatamente após o parto, a pressão arterial deve permanecer a mesma do trabalho de parto. Elevação da pressão arterial
poderia indicar hipertensão gestacional, ao passo que a queda dos níveis tensionais poderia indicar choque ou hipotensão
ortostática ou desidratação, efeito colateral da anestesia epidural. Os níveis de pressão arterial não devem ser superiores a
140/80 mmHg ou inferiores a 85/60 mmHg (King et al., 2015). A pressão arterial também pode variar de acordo com a
posição da puérpera, de modo que se deve aferir a pressão arterial com a puérpera na mesma posição todas as vezes.
Esteja alerta para a hipotensão ortostática, que pode ocorrer quando a puérpera passa rapidamente de uma posição deitada
ou sentada para a posição ortostática.
Dor
A dor, o quinto sinal vital, é avaliada com os outros quatro parâmetros. Questione a puérpera sobre o tipo de dor e sua
localização e intensidade. Peça à puérpera que classifique a sua dor usando uma escala numérica de 0 a 10 pontos. Os
cuidados de enfermagem devem ser focalizados em propiciar medidas que promovam bemestar e alívio da dor (p. ex.,
cuidados perineais, roupa limpa, cuidados com a higiene bucal, cobertores), garantir o consumo adequado de líquido para
viabilizar a cicatrização, troca frequente de decúbito e encorajar o repouso entre as avaliações (NagtalonRamos, 2014).
Muitas prescrições pósparto instruem o enfermeiro a prémedicar a puérpera rotineiramente para a dor pósparto, em
vez de esperar que ela sinta essa dor. O objetivo do manejo da dor é manter a dor da puérpera entre 0 e 2 pontos da escala
em todos os momentos, especialmente depois de amamentar. Isso pode ser conseguido por meio da avaliação frequente do
nível de dor da puérpera e pela prevenção da dor com a administração de analgésicos. Se a puérpera sentir dor na região
perineal, apesar do uso de medidas de conforto físico, inspecione e palpe a área à procura de hematoma. Se for encontrado,
notifique o médico imediatamente.
Exame físico
O exame físico da mulher após o parto se concentra na avaliação das mamas, do útero, da bexiga, dos intestinos, dos
lóquios, do local da episiotomia/do períneo e do local da anestesia epidural e dos membros.
Mamas
Inspecione o tamanho, o contorno e se há assimetria, ingurgitamento ou eritema das mamas. Verifique se os mamilos
apresentam rachaduras, vermelhidão, fissuras ou sangramento; observe se são eretos, planos ou invertidos. Mamilos
planos ou invertidos podem tornar a amamentação um desafio para a mãe e para o recémnascido. Mamilos rachados, com
bolhas, fissuras, feridas ou sangrantes na lactante geralmente são indícios de que o recémnascido está mal posicionado
em relação à mama. Palpe as mamas delicadamente para verificar se elas estão macias, cheias ou ingurgitadas e documente
seus achados. Quando a puérpera não está amamentando, a palpação deve ser gentil e delicada para evitar a estimulação da
mama, o que agravaria o ingurgitamento.
A lactogênese (o início da secreção láctea) é desencadeada pela expulsão da placenta, que resulta em níveis
decrescentes de estrogênio e progesterona associados a níveis mantidos de prolactina. Se a puérpera não amamentar o
filho, os níveis de prolactina caem e retornam aos níveis normais em 2 a 3 semanas. Conforme o leite começa a sair, as
mamas se tornam mais firmes; isso é chamado “enchimento”. As mamas ingurgitadas são rígidas, dolorosas à palpação e
tensas. Pergunte à puérpera se ela sente desconforto no mamilo. Palpe as mamas à procura de nódulos, massas ou áreas de
calor, que podem indicar um ducto lactífero obstruído que pode evoluir para mastite, se não for tratado rapidamente.
Qualquer secreção do mamilo deve ser descrita e documentada, se não for o colostro (amarelo cremoso) ou o leite do
início da mamada (brancoazulado). Durante a primeira semana após o parto, o leite materno amadurece e contém todos os
nutrientes necessários para o período neonatal. O leite materno continua sofrendo modificações durante o período de
aleitamento para atender às demandas exigentes do recémnascido em processo de crescimento.
Útero
Avalie o fundo do útero (parte superior do útero) para determinar o grau de involução uterina. Se possível, peça à puérpera
para urinar antes de avaliar o fundo do útero e ausculte seus ruídos intestinais antes da palpação uterina. Se a paciente foi
submetida a uma cesariana e tem uma bomba de analgesia controlada pela paciente (ACP), instruaa a automedicarse
antes da avaliação uterina para diminuir seu desconforto.
Usando uma abordagem bimanual com a puérpera em decúbito dorsal, com os joelhos levemente flexionados e o leito
em uma posição plana ou a cabeceira o mais baixo possível, palpe o abdome delicadamente, palpando a parte superior do
útero com uma das mãos, enquanto a outra mão é colocada no segmento inferior do útero para estabilizálo (Figura 16.2).
O fundo do útero deve estar na linha média e sua consistência deve ser firme. Um útero flácido ou relaxado é um sinal
de atonia uterina (perda do tônus muscular no útero). Isso pode decorrer da distensão da bexiga, que desloca o útero para
cima e para a direita, ou de fragmentos retidos de placenta. Qualquer uma dessas situações predispõe a puérpera à
hemorragia.
FIGURA 16.2 Palpação do fundo do útero.
Quando o fundo do útero for localizado, coloque o dedo indicador sobre o fundo e conte o número de dedos
transversos de largura entre o fundo e o umbigo (1 dedo de largura é igual a aproximadamente 1 cm). Uma a duas horas
após o parto, o fundo do útero encontrase tipicamente entre o umbigo e a sínfise púbica. Cerca de 6 a 12 horas após o
parto, o fundo do útero se encontra no nível do umbigo. Se a altura do fundo do útero estiver acima do umbigo, o que
seria um achado anormal, investigue isso imediatamente para evitar o sangramento excessivo. Frequentemente, a bexiga da
mulher está cheia, deslocando, assim, o útero para cima e para os lados da linha média. Peça à puérpera para urinar e
reavalie o útero.
Normalmente, o fundo do útero involui a uma taxa de um dedo de largura (ou 1 cm) por dia depois do parto, devendo
não ser palpável em 10 a 14 dias após o parto. No 14o dia após o parto, o útero já desceu abaixo da margem da sínfise
púbica e não é mais palpável (Cunningham et al., 2014). No primeiro dia após o parto, a parte superior do fundo do útero
está localizada 1 cm abaixo do umbigo, sendo registrada como u/1. Do mesmo modo, no segundo dia após o parto, o
fundo deve estar 2 cm abaixo do umbigo, sendo registrado como u/2, e assim por diante. As instituições de saúde diferem
em relação a como a altura do fundo do útero é registrada, então siga seus protocolos para isso. Se o fundo não estiver
firme, massageie delicadamente o útero usando um movimento circular, até que fique firme.
Bexiga
Diurese considerável – de até 3.000 mℓ/dia – começa nas 12 horas seguintes ao parto e continua durante vários dias. Uma
única micção pode eliminar 500 mℓ ou mais de urina. No 21o dia após o parto a diurese está, em geral, completa (Jordan et
al., 2014). No entanto, muitas puérperas não sentem necessidade de urinar, mesmo que a bexiga esteja cheia. Nessa
situação, a bexiga se torna distendida e desloca o útero para cima e para o lado, o que impede que os músculos uterinos se
contraiam adequadamente e pode levar a sangramento excessivo. A retenção urinária em decorrência da diminuição do
tônus e do esvaziamento vesicais pode levar a infecções urinárias. É imperativo que os profissionais de enfermagem
monitorem a paciente à procura de sinais de infecção urinária, como febre, polaciúria e/ou urgência urinária, micção difícil
ou dolorosa (disúria) e punhopercussão lombar positiva (Wilson et al., 2015). As mulheres que receberam anestesia
regional durante o trabalho de parto correm risco de infecção urinária por causa do cateterismo urinário contínuo para
evitar retenção urinária durante o trabalho de parto, o que se acredita retardar a descida do feto. Elas também apresentam
dificuldade para urinar e perda da sensibilidade e precisam esperar até voltarem a sentir a bexiga urinária cheia. O retorno
dessa percepção pode demorar algumas horas após o parto.
Avalie se há problemas urinários fazendo à puérpera as seguintes perguntas:
• Você já urinou, foi ao banheiro?
• Você notou algum ardor ou desconforto ao urinar?
• Você sente dificuldade para urinar?
• Você sente que a bexiga está vazia quando termina de urinar?
• Você tem algum sinal de infecção, como urgência, polaciúria ou dor?
• Você é capaz de controlar o fluxo de urina fazendo força com seus músculos?
• Você notou alguma perda de urina ao tossir, rir ou espirrar?
Avalie a bexiga à procura de distensão e esvaziamento adequado após os esforços para urinar. Palpe a área ao longo da
sínfise púbica. Se estiver vazia, a bexiga não é palpável. A palpação de massa arredondada sugere distensão da bexiga.
Também percuta a área: a bexiga cheia é maciça à percussão. Se a bexiga estiver cheia, o volume dos lóquios será superior
ao esperado porque o útero não consegue contrair para suprimir a hemorragia.
Anote!
Observe a localização e a condição do fundo do útero; uma bexiga cheia tende a deslocar o útero para cima e para a
direita.
Depois de a puérpera urinar, palpe e percuta a área novamente para determinar o esvaziamento adequado da bexiga. Se
a bexiga permanecer dilatada, a mulher pode estar com retenção de urina, e devem ser instituídas medidas para iniciar a
micção. Esteja alerta para sinais de infecção, incluindo micção frequente ou insuficiente (menos de 200 mℓ), desconforto,
ardor, urgência ou urina de odor fétido (Mattson & Smith, 2016). Registre o débito urinário.
Intestinos
Defecação espontânea pode não ocorrer durante os primeiros 3 dias após o parto, devido à diminuição do tônus muscular
dos intestinos em decorrência dos níveis elevados de progesterona. Os padrões normais de eliminação intestinal
geralmente são retomados 1 semana após o parto (Verghese, Futaba, & Latthe, 2015). Muitas vezes as puérperas hesitam
em defecar devido a dor na região perineal resultante de episiotomia, laceração ou hemorroidas. Algumas ficam com medo
de “estourar os pontos” quando fizerem esforço. Os enfermeiros devem tranquilizar suas pacientes informando que foram
prescritos emolientes fecais e/ou laxantes para a constipação intestinal com o fim de reduzir seu desconforto.
Inspecione o abdome da puérpera à procura de distensão, ausculte os ruídos intestinais nos quatro quadrantes antes da
palpação do fundo uterino e verifique se existe dor à palpação. Tipicamente o abdome está flácido, indolor e não
distendido. Os ruídos intestinais são auscultados nos quatro quadrantes. Pergunte à puérpera se ela defecou ou eliminou
flatos desde o parto, porque a constipação intestinal é um problema comum durante o período pósparto, e muitas das
gestantes não fornecem essa informação, a menos que sejam questionadas a respeito. Os achados normais da avaliação são
ruídos intestinais ativos, eliminação de flatos e abdome não distendido.
Lóquios
Avalie os lóquios em termos de volume, coloração, odor e mudança com a atividade física e com o passar do tempo. Para
avaliar o quanto a paciente está sangrando, perguntelhe quantos absorventes íntimos ela utilizou nas últimas 1 a 2 horas e
quão infiltrado estava cada absorvente. Por exemplo, o absorvente estava total ou parcialmente saturado? Questione sobre
a coloração e o odor dos lóquios e a existência de quaisquer coágulos. Os lóquios têm cheiro almiscarado definido, com
odor semelhante ao do fluxo menstrual, sem coágulos grandes (tamanho do punho). Lóquios com odor fétido sugerem
infecção, e grandes coágulos sugerem involução uterina insatisfatória que exige intervenção adicional.
Para determinar o volume dos lóquios, quantifique a saturação pelos lóquios no absorvente íntimo e relacione essas
informações com o tempo transcorrido desde o parto (Figura 16.3). Além disso, leve em consideração o tipo específico de
absorvente utilizado, pois alguns absorvem mais do que outros. O fluxo dos lóquios aumentará quando a puérpera sair da
cama (os lóquios se acumu lam na vagina e no útero quando ela está deitada) e quando amamentar (a liberação da ocitocina
provoca contrações uterinas). A puérpera que satura um absorvente íntimo em 30 a 60 minutos está sangrando muito mais
do que aquela que o satura em 2 horas.
FIGURA 16.3 Avaliação dos lóquios.
Tipicamente, o volume de lóquios é descrito da seguinte maneira:
• Escasso: mancha de 2,5 a 5 cm no absorvente íntimo ou perda de aproximadamente 10 mℓ de lóquios
• Leve ou pequeno: mancha de 10 cm no absorvente íntimo ou perda de 10 a 25 mℓ de lóquios
• Moderado: mancha de 10 a 15 cm no absorvente íntimo ou perda estimada de 25 a 50 mℓ de lóquios
• Grande ou intenso: o absorvente está saturado cerca de 60 minutos após ser trocado (Bope & Kellerman, 2015).
O volume total dos lóquios varia entre as mulheres de acordo com sua paridade, mas o volume diminui diariamente.
Confira a roupa de cama sob a puérpera, virandoa para os lados, para se certificar de que não há sangue adicional oculto,
que não tenha sido absorvido por seu absorvente íntimo. Esse também é um bom momento para avaliar a existência e a
condição de hemorroidas, enquanto o enfermeiro está inspecionando visualmente o períneo.
Relate quaisquer anormalidades, como lóquios de coloração vermelhoclara abundantes, com grandes fragmentos de
tecido ou odor estranho. Se ocorrer sangramento excessivo, a primeira providência seria massagear o fundo do útero
flácido até que ele esteja firme para reduzir a perda de sangue. Documente todos os achados.
As puérperas submetidas a cesariana apresentam um volume menor de lóquios do que aquelas que tiveram um parto
vaginal, mas os estágios e as alterações da coloração são os mesmos. Embora o abdome da mulher esteja doloroso à
palpação após a cirurgia, o enfermeiro deve palpar o fundo do útero e avaliar os lóquios para se certificar de que estejam
dentro da faixa normal e de que não haja sangramento excessivo.
As orientações antecipatórias a serem fornecidas à mulher no momento da alta devem incluir informações sobre os
lóquios e as mudanças esperadas. Instrua a mulher a notificar seu médico se os lóquios rubros reaparecerem após as
transições para lóquios serosos e albos terem ocorrido. Isso é anormal e pode indicar subinvolução do útero ou que a
puérpera está muito ativa e precisa descansar mais. Os lóquios constituem um excelente meio de cultura para bactérias. É
importante explicar que a troca do absorvente íntimo com frequência, a utilização do frasco de irrigação perineal para lavar
a região perineal e a higiene das mãos antes e após a troca do absorvente são importantes medidas de controle de infecção.
Episiotomia/períneo e local da anestesia epidural
Se foi realizada episiotomia, que atualmente não é feita de modo rotineiro, o enfermeiro deve avaliar a episiotomia e a área
perineal, posicionar a puérpera em decúbito lateral, com o membro inferior que está na posição superior flexionado para
cima na altura do joelho e trazido em direção à cintura. Se necessário, use uma lanterna para fornecer iluminação adequada
durante a avaliação. Usando luvas e posicionandose em pé ao lado da mulher, com ela de costas para você, levante
delicadamente a nádega de cima para expor o períneo e o ânus (Figura 16.4). Inspecione a episiotomia à procura de
irritação, equimoses, hipersensibilidade ou hematomas. Avalie se a puérpera apresenta hemorroidas e qual é a condição
delas.
Durante o período pósparto inicial, o tecido perineal em torno da episiotomia está tipicamente edemaciado e com
equimoses discretas. No local de episiotomia normal não deve haver vermelhidão, secreção ou edema. Boa cicatrização
ocorre nas primeiras 2 semanas, mas pode levar de 4 a 6 meses para a episiotomia cicatrizar completamente (King et al.,
2015).
As lacerações na área perineal ocorridas durante o processo de parto que foram identificadas e reparadas também
precisam ser avaliadas para determinar o seu estado de cicatrização. As lacerações são classificadas com base em sua
gravidade e comprometimento tecidual:
• Laceração de primeiro grau: envolve apenas a pele e estruturas superficiais acima do músculo
• Laceração de segundo grau: estendese aos músculos perineais
• Laceração de terceiro grau: estendese ao músculo do esfíncter anal
• Laceração de quarto grau: continua através da parede anterior do reto.
FIGURA 16.4 Inspeção do períneo.
Avalie a episiotomia e quaisquer lacerações pelo menos a cada 8 horas para detectar hematomas ou sinais de infecção.
Grandes áreas de pele inchadas, azuladas, com queixas de dor na região perineal, indicam hematomas pélvicos ou
vulvares. Vermelhidão, tumefação, aumento no desconforto ou drenagem purulenta podem indicar infecção. Esses achados
devem ser comunicados imediatamente.
Uma linha branca no comprimento da episiotomia é sinal de infecção, assim como tumefação ou secreção. A dor
intensa não controlável, a descoloração perineal e as equimoses indicam hematoma perineal, condição potencialmente
perigosa. Relate quaisquer achados incomuns. Pode ser aplicado gelo para aliviar o desconforto e reduzir o edema; banhos
de assento também podem promover o conforto e a cicatrização perineal (consulte o tópico Promoção de conforto na
seção Intervenções de enfermagem).
Se a puérpera recebeu anestesia epidural durante o trabalho de parto, a avaliação do local da anestesia epidural é
importante, bem como a verificação de efeitos colaterais do medicamento injetado, como prurido, náuseas e vômitos ou
retenção urinária. A inspeção visual do local da anestesia epidural e uma documentação acurada do balanço hídrico são
essenciais.
Membros
A gravidez está associada a aumento do risco de tromboembolismo venoso (TEV), que inclui embolia pulmonar e
trombose venosa profunda. Durante a gestação, o estado de hipercoagulabilidade protege a mãe contra a perda excessiva de
sangue durante o parto e a liberação da placenta. No entanto, esse estado de hipercoagulabilidade aumenta o risco de
distúrbios tromboembólicos durante a gestação e o pósparto. Três fatores predispõem as gestantes a distúrbios
tromboembólicos: a estase (compressão das grandes veias pelo útero gravídico), a coagulação alterada (em decorrência da
gestação) e o dano vascular localizado (pode ocorrer durante o processo de parto). Todos esses fatores aumentam o risco
de formação de coágulo e de este se desprender (êmbolo) e migrar para os pulmões.
Ao inspecionar os membros da puérpera, determine também o grau de retorno da função sensitiva e motora
(recuperação da anestesia), perguntando à mulher se ela tem sensibilidade nas várias áreas em que é tocada e também
observando sua estabilidade na deambulação.
Anote!
A embolia pulmonar ocorre em até 3 em cada 1.000 nascimentos e é uma causa importante de mortalidade materna
(Kim et al., 2015).
A embolia pulmonar tipicamente resulta de trombos em veias profundas desalojados dos membros inferiores. Os
fatores de risco associados às condições tromboembólicas incluem:
• Anemia
• Diabetes melito
• Tabagismo
• Obesidade
• Préeclâmpsia
• Hipertensão arterial
• Varizes volumosas
• Gestação/gestação múltipla
• Doenças cardiovasculares
• Doença falciforme
• Hemorragia pósparto
• Uso de contraceptivos orais
• Cesariana
• Infecção grave
• Doença tromboembólica anterior
• Multiparidade
• Repouso no leito ou imobilidade durante 4 dias ou mais
• Idade materna superior a 35 anos (Kline & Kabrhel, 2015).
Devido à apresentação sutil dos distúrbios tromboembólicos, o exame físico pode não ser suficiente para detectálos. É
necessário um diagnóstico acurado de embolia pulmonar, porque isso implica: (1) tratamento prolongado (≤ 9 meses de
heparina durante a gestação), (2) profilaxia durante gestações futuras e (3) cessação do uso de anticoncepcionais orais. A
puérpera pode relatar sensação de retesamento dos membros inferiores ou dor à deambulação aliviada com repouso e
elevação dos membros inferiores. Também podem ocorrer edema do membro inferior acometido (tipicamente o esquerdo),
com as pacientes se queixando de calor, dor à palpação e febre baixa. Frequentemente é necessária uma ultrassonografia
duplex (ultrassonografia bidimensional e ultrassonografia Doppler, com compressão venosa para avaliar mudanças no
fluxo venoso), em conjunto com os achados físicos, para um diagnóstico conclusivo (Sucker & Zotz, 2015).
As mulheres que correm risco aumentado para essa condição devem usar meias elásticas ou dispositivos de
compressão sequencial durante o período pósparto para reduzir o risco de estase venosa, impedindo que o sangue se
acumule nas panturrilhas. Encorajar a paciente a deambular após o parto reduz a incidência de tromboflebite.
Avaliação psicossocial
A avaliação psicossocial da puérpera se concentra no estado emocional e no vínculo e apego.
Estado emocional
Avalie o estado emocional da puérpera, observando como ela interage com sua família, seu nível de independência, seu
nível de energia, o contato visual com seu filho (dentro do contexto cultural), sua postura e seu nível de conforto enquanto
segura o recémnascido e os padrões de sono e repouso. Esteja alerta para mudanças de humor, irritabilidade ou episódios
de choro.
Lembrase de Raina e de seu marido “quieto”, o casal muçulmano? A enfermeira da unidade pósparto
informa Raina de que a médica dela, Nancy Schultz, foi chamadapara uma cirurgia de emergência e não
estará disponível no restante do dia. A enfermeira explica que o Dr. Robert Nappo a visitará. Raina e seu
marido ficam aborrecidos. Por quê? Está sendo prestado um cuidado culturalmente competente a esse
casal?
Formação de vínculo e apego
Os enfermeiros podem contribuir para a promoção do apego ao avaliar os comportamentos de vínculo (positivo e negativo)
e intervir de modo adequado, se necessário. O enfermeiro deve ser capaz de identificar qualquer dissonância familiar que
possa interferir no processo de apego. Lembrese, no entanto, de que as mães de diferentes culturas se comportam de
modo distinto do esperado em sua própria cultura. Por exemplo, as norteamericanas tendem a manusear seus recém
nascidos com menos frequência e usam slings (cangurus) com placas rígidas para segurálos. As indígenas norte
americanas e muitas mulheres de origem asiática adiam a amamentação até que o leite desça, porque o colostro é
considerado prejudicial para o recémnascido (Bowers & Ceballos, 2015). Não presuma que o comportamento diferente
seja errado.
O primeiro encontro com o recémnascido após o parto pode ser uma experiência emocionante para os pais. Embora a
mãe tenha passado muitas horas sonhando com o recémnascido e com qual será sua aparência, é só depois do nascimento
que eles se encontram face a face. Ambos precisam se conhecer e desenvolver sentimentos um pelo outro.
A formação de vínculo é a atração emocional íntima entre os pais e o recémnascido que se desenvolve durante os
primeiros 30 a 60 minutos após o nascimento. É unidirecional, de pai/mãe para filho. Acreditase que o vínculo ideal dos
pais com o recémnascido exija um período de contato próximo nos primeiros minutos a algumas horas após o
nascimento. O vínculo é realmente uma continuação do relacionamento que começou durante a gestação (Sears & Sears,
2015a). É afetado por vários fatores, incluindo a condição socioeconômica dos pais, a história familiar, os modelos
operacionais, os sistemas de apoio, os fatores culturais e as experiências de parto. A mãe inicia o vínculo quando acaricia
o recémnascido e apresenta determinados comportamentos típicos da mãe que cuida de seu filho. As respostas do recém
nascido a estes, como os movimentos dos olhos e do corpo, são uma parte necessária do processo. Durante esse período
inicial, o recémnascido se encontra em um estado calmo, alerta, olhando diretamente para quem o segura.
Anote!
O período de tempo necessário para o vínculo depende da saúde do recémnascido e da mãe, bem como das
circunstâncias do trabalho de parto e do parto (TesterJones et al., 2015).
Apego é o desenvolvimento de um forte afeto entre o recémnascido e o ente querido (mãe, pai, irmão e cuidador).
Esse apego é recíproco; tanto o ente querido quanto o recémnascido exibem comportamentos de apego. A relação de
apego formada pelo recémnascido e o cuidador primário influencia como a criança verá o mundo e os futuros
relacionamentos (Sette, Coppola, & Cassibba, 2015). Esse laço entre duas pessoas é mais psicológico do que biológico, e
não ocorre do dia para a noite. O processo de apego segue um curso progressivo ou desenvolvimental que muda ao longo
do tempo. O apego é um processo individualizado e multifatorial que difere de acordo com a saúde do recémnascido, com
a mãe, com as circunstâncias ambientais e com a qualidade dos cuidados que o recémnascido recebe. Este responde ao
ente querido arrulhando, segurando um dedo da mão, sorrindo e chorando. O enfermeiro pode avaliar os comportamentos
de apego observando a interação do recémnascido com a pessoa que o segura (Mattson & Smith, 2016). O apego ocorre
por meio de experiências mutuamente satisfatórias. O apego materno começa durante a gestação, em decorrência do
movimento fetal e das fantasias maternas sobre o feto, e continua até o nascimento e o período pósparto. Os
comportamentos de apego incluem procurar, ter comportamentos de cuidado físico, dar atenção emocional às necessidades
do recémnascido, ficar perto, tocar, beijar, abraçar, escolher a posição face a face enquanto segura ou amamenta o recém
nascido, expressar orgulho em relação a ele e trocar experiências gratificantes com o recémnascido (McComish, 2015).
Em uma gestação de alto risco, o processo de apego pode ser complicado pelo parto prétermo (falta de tempo para
desenvolver um relacionamento com o feto) e estresse parental devido à vulnerabilidade fetal e/ou materna.
O vínculo é um componente vital do processo de apego, sendo necessário para estabelecer um relacionamento saudável
e amoroso entre a mãe e o recémnascido. Durante esse período inicial de conhecimento, as mães tocam seus recém
nascidos de modo muito característico. As mães “exploram” visual e fisicamente seus filhos, inicialmente colocando as
pontas dos dedos no rosto e nas extremidades da criança e progredindo para massagear e acariciar o recémnascido. Isso é
seguido pelo contato da palma da mão com o tronco. Por fim, as mães trazem a criança em direção a si e a seguram
(Figura 16.5).
Em geral, as pesquisas sobre o apego constataram que o processo é semelhante tanto para genitores quanto para mães,
mas o ritmo pode ser diferente. Como as mães, os genitores manifestam comportamentos de apego durante a gestação. Na
verdade, Baltes et al. (2014) constataram que os melhores preditores do apego dos genitores ou de outros entes queridos
no início do período pósnatal eram o fato de o genitor acreditar na importância de seu papel como cuidador e também em
sua maior qualidade marital. Os níveis mais altos de sensibilidade paterna estavam associados ao melhor apego paterno
infantil. Tornarse genitor ou genitora exige que a pessoa elabore as experiências que teve durante toda a infância e a
adolescência. Os genitores ou outros entes queridos desenvolvem um laço emocional com seus filhos de várias maneiras.
Eles procuram e mantêm a proximidade com o recémnascido e conseguem reconhecer características dele. Outro estudo
descreveu ainda o apego paterno como um conceito cíclico permanente caracterizado por alterações em resposta ao estágio
de desenvolvimento da criança. Quando as crianças têm um relacionamento seguro, solidário e atencioso com o pai ou com
o companheiro da mãe, elas são geralmente mais bem ajustadas do que as crianças que têm um relacionamento
desfavorável (Lickenbrock & BraungartRieker, 2015).
FIGURA 16.5 Posição face a face.
O apego é um processo; não ocorre instantaneamente, mesmo que muitos pais acreditem em uma versão romantizada
do apego, que acontece logo após o nascimento. A demora no processo de apego pode ocorrer se os estados físico e
emocional da mãe forem influenciados negativamente por exaustão, dor, inexistência de um sistema de apoio, se ela
estiver com um filho na UTIN e estiver separada dele; ou se teve uma experiência de parto traumática, anestesia ou
desfecho não desejado, como um recémnascido enfermo (Lee et al., 2014).
Anote!
O toque é uma interação instintiva básica entre pai/mãe e recémnascido, tendo um papel vital no desenvolvimento inicial
da criança. Os pais oferecem vários tipos de estimulações táteis, enquanto realizam os cuidados diários de rotina do filho
(Hugill, 2015).
A tarefa desenvolvimental para o recémnascido consiste em aprender a diferenciar entre confiança e desconfiança. Se
a mãe ou o cuidador atenderem de modo consistente o recémnascido, suprindo suas necessidades físicas e psicológicas,
ele provavelmente aprenderá a confiar neles, ver o mundo como um lugar seguro e crescer sentindose seguro,
autossuficiente, confiante, cooperativo e útil. No entanto, se as necessidades do recémnascido não forem atendidas, será
mais provável que ele apresente retardos do desenvolvimento e sofra negligência e maustratos (Klebanov & Travis,
2015).
“Tornarse” pai/mãe pode levar de 4 a 6 meses. A transição para a parentalidade, de acordo com Mercer (2006),
envolve quatro etapas:
1. Comprometimento, apego e preparação para receber o recémnascido durante a gestação
2. Reconhecimento e crescente apego ao recémnascido, aprendizagem no tocante aos cuidados dele e restauração física
durante as primeiras semanas após o parto
3. Aceitação da nova rotina nos primeiros 4 meses após o parto
4. Sucesso no papel de pai/mãe em aproximadamente 4 meses.
Os estágios se sobrepõem, e a duração de cada um é afetada por variáveis como o ambiente, a dinâmica familiar e os
parceiros (Mercer, 2006).
FATORES QUE AFETAM O APEGO
Os comportamentos de apego são influenciados por três fatores principais:
1. Background dos pais (inclui o cuidado que os pais receberam quando crianças, as práticas culturais, o relacionamento
dentro da família, a experiência com gestações anteriores, o planejamento e o curso dos eventos durante a gestação, e
a depressão pósparto)
2. Personalidade da criança (incluindo o temperamento e a saúde do recémnascido)
3. Práticas de cuidado (comportamentos de médicos, parteiras, enfermeiros e equipe do hospital, cuidados e apoio
durante o trabalho de parto, primeiro dia de vida com separação entre mãe e filho e as regras do hospital ou
maternidade) (Lewis & Rudolph, 2014).
O apego ocorre mais facilmente quando o recémnascido apresenta temperamento, saúde, aparência e sexo que se
encaixam nas expectativas dos pais. Se o recémnascido não atender a essas expectativas, o apego poderá ser tardio
(Lickenbrock & BraungartRieker, 2015).
Os fatores associados à unidade de saúde ou unidade de parto também podem dificultar o apego. Estes incluem:
• Separação entre o recémnascido e os pais imediatamente após o nascimento e por longos períodos durante o dia
• Desencorajamento da retirada da manta do recémnascido e do exame do mesmo, devido a políticas da casa de saúde
• Manutenção de um ambiente de cuidados intensivos e políticas restritivas de visitação
• Indiferença dos funcionários ou falta de apoio às tentativas de cuidado e capacidade dos pais.
Domínio de conceito
O sentimento de pesar após dar à luz uma criança com necessidades especiais
É importante que a mãe visite o recémnascido no berçário para cuidados especiais; contudo, a
prioridade é ajudar essa mãe a lidar com o sentimento de pesar que acompanha o fato de dar à
luz uma criança com necessidades especiais. Primeiro a mãe precisa dar vazão à perda da
“criança perfeita”.
ATRIBUTOS ESSENCIAIS AO APEGO
Os termos vínculo e apego muitas vezes são usados como sinônimos, embora envolvam diferentes momentos no tempo e
nas interações. Os estágios do apego incluem proximidade, reciprocidade e comprometimento.
Proximidade se refere à experiência física e psicológica dos pais de estar próximos de seu filho. Esse atributo tem três
dimensões:
1. Contato: as experiências sensoriais de tocar, segurar e olhar para o recémnascido são parte do comportamento de
busca por proximidade
2. Estado emocional: o estado emocional emerge da experiência afetiva dos novos pais direcionada para seu filho e de
seu papel como pais
3. Individualização: os pais estão conscientes do desejo de diferenciar as necessidades do recémnascido das suas
próprias e de reconhecer e responder a elas de modo adequado, fazendo com que o processo de apego seja também,
de algum modo, o de desapego.
Reciprocidade é o processo pelo qual as capacidades e os comportamentos do recémnascido resultam em resposta dos
pais. A reciprocidade é descrita por duas dimensões: comportamento complementar e sensibilidade. O comportamento
complementar envolve retornar e parar quando o outro não está interessado ou fica cansado. O recémnascido pode
arrulhar e olhar para o pai ou a mãe para obter uma resposta semelhante dele ou dela e assim complementar o seu
comportamento. Os pais sensíveis e responsivos aos sinais do seu recémnascido promoverão seu desenvolvimento e
crescimento. Os pais que se tornarem hábeis em reconhecer as maneiras de seu recémnascido se comunicar responderão
apropriadamente sorrindo, vocalizando, tocando e beijando.
Comprometimento se refere à natureza duradoura da relação. Seus componentes são: a centralidade e a exploração do
papel de pais. Na centralidade, os pais colocam o recémnascido no centro de suas vidas. Eles reconhecem e aceitam a
responsabilidade de promover a segurança, o crescimento e o desenvolvimento da criança. A exploração do papel de pais é
a capacidade deles de encontrar seu próprio caminho e integrar a identidade de pais em si mesmos (Sears & Sears, 2015b).
COMPORTAMENTOS DE APEGO POSITIVOS E NEGATIVOS
Os comportamentos de apego positivos incluem manter contato físico, fazer contato ocular, falar em tons suaves e agudos
e tocar e explorar o recémnascido. A Tabela 16.1 destaca comportamentos de apego positivos e negativos típicos.
INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM
Em termos de duração da internação hospitalar pósparto na atualidade, “menos é mais”. Se a mulher passou por um parto
vaginal, pode receber alta em 48 horas ou antes. Se foi submetida a cesariana, pode permanecer internada por até 72 horas.
Esse período de internação mais curto deixa pouco tempo para o enfermeiro preparar a mulher e sua família para as muitas
mudanças que ocorrerão quando ela voltar para casa (Plano de cuidados de enfermagem 16.1). A pesquisa mostra que as
mães se sentem despreparadas, desinformadas e sem suporte durante o período pósparto enquanto lidam com questões
físicas e emocionais, com os cuidados com o filho, com o aleitamento materno e com os ajustes do estilo de vida (Walker,
Murphey, & Nichols, 2015). Os profissionais de enfermagem precisam focar na dor e no desconforto, nas imunizações, na
nutrição, na atividade física e na prática de exercícios físicos, nos cuidados com o recémnascido/lactente, na orientação
sobre a lactação, nas orientações por ocasião da alta, na sexualidade e na contracepção e no acompanhamento em seu
tempo limitado com as pacientes. O planejamento das visitas domiciliares para reforçar as orientações pósparto pode
intensificar o bemestar maternoinfantil (Prática basea da em evidências 16.1).
Anote!
Sempre respeite as precauções padrão ao prestar assistência direta para reduzir o risco de transmissão de doenças.
Prestação de cuidados culturais ideais
Como a população dos EUA e de vários outros países, inclusive o Brasil, está se tornando mais diversificada, o
enfermeiro deve estar preparado para prestar cuidados de maternidade a famílias de diversas culturas. Em muitas dessas
culturas, as mulheres e sua família são cuidadas e alimentadas por sua comunidade por semanas e até meses após o
nascimento de um novo membro. Os cuidados culturalmente competentes para todas as famílias com crianças incluem a
compreensão das crenças populares dessas pessoas; o envolvimento e o suporte proporcionado pelos familiares; o
respeito; a presença de um ente querido; o aleitamento materno e a alimentação saudável; a observação dos princípios de
frio e calor; a abstinência de relações sexuais após o parto; o encorajamento; o empoderamento; as dimensões espirituais
consideradas importantes; a evitação de espíritos malignos e a esperança de que os profissionais de enfermagem
anteciparão as necessidades da mãe e da criança (McFarland & WehbeAlamah, 2015). O Boxe 16.3 destaca algumas das
principais variantes culturais durante o período pósparto.
Tabela Comportamentos de apego positivos e negativos.
16.1
Comportamentos Comportamentos negativos
positivos
Adaptada de Bope, E., & Kellerman, R. (2015). Conn’s current therapy
2015. Philadelphia, PA: Saunders Elsevier; Park, S., Kim, S., & Kang, K.
(2014). Integrative review of nursing intervention studies on motherinfant
interactions. Child Health Nursing Research, 20(2), 75–86; e Barnes, D. L.
(2014). Women’s reproductive mental health across the lifespan. New
York, NY: Springer Publishers.
Plano de cuidados de enfermagem 16.1
Aspectos gerais de uma mulher no pósparto
Uma Gesta II, Para II, de 26 anos de idade, é paciente da unidade maternoinfantil após o parto a
termo de um recémnascido de 3.970 g ontem. O enfermeiro da noite relata que ela tem uma
episiotomia, queixase de dor classificada como 7 em uma escala de 1 a 10, está tendo
dificuldades para amamentar e apresentou lóquios intensos durante a maior parte da noite. O
enfermeiro também relata que a paciente parece focada em suas próprias necessidades, e não
nas do recémnascido. A avaliação esta manhã revela o seguinte:
• Mamas macias, com saída de colostro; mamilos rachados
• Útero um dedo abaixo do umbigo, desviado para a direita
• Bexiga palpável; a paciente relata que ainda não urinou
• Não defecou; há ruídos intestinais; eliminação de flatos
• Lóquios moderados; absorvente íntimo encharcado pelo volume acumulado durante a noite
• Local da episiotomia intacto; edemaciado, com equimose; existência de hemorroidas
• Membros sem edema tibial, sem calor ou sensibilidade na panturrilha
• Estado emocional “angustiado”, em decorrência do desconforto e da fadiga
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: integridade tecidual prejudicada relacionada com a episiotomia.
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente permanecerá livre de infecção, sem quaisquer sinais e sintomas de infecção, e apresentará
evidências de cicatrização progressiva, conforme demonstrado por local de episiotomia intacto, limpo,
seco e com edema reduzido/ausente.
Intervenções: promover a integridade tecidual
• Monitorar o local da episiotomia à procura de vermelhidão, edema, calor ou secreção para identificar
infecções
• Avaliar os sinais vitais pelo menos a cada 4 h para identificar alterações sugestivas de infecção
• Aplicar compressas de gelo no local da episiotomia para reduzir a tumefação
• Instruir a paciente em relação ao uso do banho de assento para promover cicatrização, higiene e
conforto
• Incentivar a realização frequente de cuidados perineais e a troca dos absorventes íntimos para evitar
infecções
• Recomendar a deambulação para melhorar a circulação e promover a cicatrização
• Instruir a paciente em relação ao posicionamento para aliviar a pressão sobre a área perineal
• Demonstrar o uso de sprays anestésicos para aliviar o desconforto na área perineal
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: dor relacionada com a episiotomia, mamilos doloridos e hemorroidas.
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente apresentará diminuição da dor, conforme evidenciado por relatos de que a dor diminuiu para
um nível tolerável e pela classificação da dor como sendo de 2 pontos ou menos.
Intervenções: promover o alívio da dor
• Inspecionar detalhadamente o períneo para descartar um hematoma como causa da dor
• Administrar medicação analgésica conforme prescrito e necessário para promover o conforto
• Realizar medidas de conforto à episiotomia, conforme descrito anteriormente para reduzir a dor
• Explicar a causa dos desconfortos e tranquilizar a paciente de que estes são por tempo limitado, para
ajudar a lidar com a dor
• Colocar compressas embebidas em hamamélis em hemorroidas inchadas para induzir a contração e
reduzir a dor
• Sugerir o uso frequente de banhos de assento para reduzir a dor de hemorroidas
• Administrar emolientes fecais e laxantes para evitar o esforço com a primeira defecação
• Observar o posicionamento e a técnica de pega do recémnascido durante a amamentação. Oferecer
sugestões com base nas observações para corrigir o posicionamento/pega a fim de minimizar o
traumatismo mamário
• Sugerir a secagem ao ar livre dos mamilos após a amamentação e o uso de água para evitar fissuras
nos mamilos
• Ensinar técnicas de relaxamento ao amamentar para reduzir a ansiedade e o desconforto
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: risco de enfrentamento ineficaz relacionado com alterações de humor
e dor.
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente irá lidar com as alterações de humor, conforme evidenciado por declarações positivas sobre o
recémnascido e participação em seus cuidados.
Intervenções: promover o enfrentamento efetivo
• Fornecer um ambiente de apoio e carinho e incentivar a mãe a desabafar seus sentimentos e
frustrações para aliviar a ansiedade
• Oferecer oportunidades para a mãe descansar e dormir para combater a fadiga
• Encorajar a mãe a ingerir uma dieta bem equilibrada para aumentar seu nível de energia
• Tranquilizar a mãe e fornecer explicações de que as alterações de humor são comuns após o
nascimento em decorrência dos níveis cada vez menores de hormônios após a gestação, para
melhorar seu conhecimento a respeito
• Possibilitar que a mãe descanse dos cuidados ao recémnascido para dar a ela oportunidade para o
autocuidado
• Discutir com o parceiro o comportamento esperado para a mãe e como é necessário apoio adicional e
ajuda durante esse estressante período, para promover a participação do parceiro nos cuidados
• Encaminhar a mãe aos serviços da comunidade adequados para fornecer apoio maternoinfantil a fim
de garantir a continuidade do atendimento
• Incentivar o contato pele a pele frequente e a proximidade entre a mãe e o recémnascido para instigar
os comportamentos de vínculo e apego
• Incentivar a paciente a participar dos cuidados com o recémnascido e fornecer orientações conforme
necessário para fomentar um sentimento de independência e autoestima
• Oferecer elogios e reforço das interações maternoinfantis positivas para aumentar a autoconfiança no
cuidado
Prática baseada em evidências 16.1
Como promover o bemestar neonatal com visitação domiciliar.
ESTUDO
De acordo com a AAP, existem evidências suficientes de que o aleitamento materno constitui a melhor
forma de nutrição para os recémnascidos e deve ser mantido durante os primeiros 6 meses seguidos por
aleitamento materno continuado por mais 6 meses ou ainda mais tempo, enquanto são iniciados os
alimentos sólidos. O propósito desse estudo foi mensurar a efetividade das visitas domiciliares por
profissionais de enfermagem em termos de promoção de bemestar neonatal e na manutenção do
aleitamento materno por 6 meses, redução das reinternações por causa de icterícia neonatal e identificação
de problemas de saúde da mãe ou do recémnascido. As visitas domiciliares foram realizadas no terceiro e
no sétimo dias após a alta hospitalar. A avaliação física completa da mãe e do recémnascido foi realizada
em cada visita domiciliar.
Achados
O estudo, que contou com 1.705 participantes, utilizou um método longitudinal misto no qual todos os
participantes receberam a mesma intervenção. Os dados quantitativos foram comparados com padrões
regionais e nacionais. Os dados qualitativos das entrevistas com os participantes do estudo foram
analisados para identificar tópicos em comum. Os dados indicaram que as visitas domiciliares realmente
ajudaram as mães a manter o aleitamento quando comparadas com as estatísticas regionais e nacionais.
As visitas domiciliares também identificaram efetivamente icterícia neonatal com redução da duração média
de reinternação dos recémnascidos em comparação com os padrões.
Implicações para a enfermagem
Os resultados do estudo reforçam a necessidade de apoiar o aleitamento materno após a alta hospitalar e
de convencer as mães a manter o aleitamento pelos prazos preconizados. As novas mães precisam ter
acesso às intervenções de base comunitária após a alta hospitalar para reforçar a educação pósparto que
elas receberam. Os profissionais de enfermagem podem ter um papel determinante na confecção de
encaminhamentos para visitação domiciliar com o propósito de promover a transição segura do hospital
para o domicílio.
Adaptado de Parker, C., Warmuskerken, G., & Sinclair, L. (2015). Enhancing neonatal wellness with home
visitation. Nursing for Women’s Health, 19(1), 36–45.
BOXE 16.3
INFLUÊNCIAS CULTURAIS PARA O PERÍODO PÓSPARTO
Afroamericanas
• A mãe pode compartilhar os cuidados do recémnascido com membros da família
• A experiência das mulheres idosas da família influencia os cuidados com o recémnascido
• A mãe pode proteger seus recémnascidos de estranhos durante várias semanas
• As mães não podem dar banho em seus recémnascidos durante a primeira semana. Aplicamse óleos
na pele e nos cabelos para evitar o ressecamento e as crostas lácteas (dermatite seborreica)
• Podem ser colobcadas moedas sobre o umbigo do recémnascido, em uma tentativa de achatar o coto
umbilical discretamente saliente
• Dormir com os pais é uma prática comum
Amish
• As mulheres consideram a maternidade a sua principal função na sociedade
• Geralmente se opõem ao controle de natalidade
• A gestação e o parto são considerados assuntos privados; podem escondêlos do público
• As mulheres tipicamente não respondem favoravelmente quando apressadas a completar uma tarefa de
autocuidado. Os enfermeiros precisam perceber os sinais das mulheres, indicando a sua prontidão para
realizar as atividades matinais de autocuidado
Mulheres da região dos Apalaches
• As cólicas infantis são tratadas pela passagem do recémnascido por um colar de couro de cavalo ou
pela administração de um chá fraco de ervadegato (Nepeta cataria)
• Uma bolsa com assafétida (Ferula assafoetida) (resina de goma com um odor forte) é amarrada em
volta do pescoço da criança para evitar doenças
• As mulheres podem evitar o contato visual com o enfermeiro e os médicos
• As mulheres geralmente evitam fazer perguntas, mesmo que não entendam as orientações
• A avó pode criar a criança para a mãe
Mulheres de origem filipina
• As avós, muitas vezes, ajudam no cuidado de seus netos
• O aleitamento materno é incentivado, e algumas mães amamentam seus filhos até os 2 anos de idade
• As mulheres têm dificuldade em discutir questões sexuais e de controle de natalidade
• As fortes crenças religiosas prevalecem, e a oração de cabeceira é comum
• As famílias são muito unidas, e inúmeros visitantes podem ser esperados no hospital após o parto
Mulheres de origem japonesa
A limpeza e a proteção contra o frio são componentes essenciais dos cuidados ao recémnascido. Os
•
enfermeiros devem dar banho na criança diariamente
• Os recémnascidos habitualmente não são tirados de casa, pois se acredita que eles não devem ser
expostos ao lado de fora ou ao ar frio. Os recémnascidos devem ser mantidos em um local limpo,
tranquilo e acolhedor no primeiro mês de vida
• A amamentação é o principal método de alimentação
• Muitas mulheres ficam na casa dos pais por 1 a 2 meses após o nascimento
• Dar banho no recémnascido pode ser o centro das atividades da família em casa
Mulheres de origem mexicana
• A avó do recémnascido mora com a mãe por várias semanas após o nascimento, para ajudar na
limpeza e nos cuidados com a criança
• A maioria das mulheres amamenta por mais de 1 ano. A criança é transportada em
um rebozo (sling/canguru), que possibilita o fácil acesso para a amamentação
• As mulheres podem evitar o contato visual e podem não se sentir confortáveis em serem tocadas por um
desconhecido. Os enfermeiros precisam respeitar esse sentimento
• Algumas mulheres levam imagens religiosas para o hospital e as colocam em exposição no quarto
Muçulmanas
• O recato é a principal preocupação; os enfermeiros precisam proteger o recato da paciente
• Os muçulmanos não comem carne de porco; confira todos os alimentos antes de servir
• Os muçulmanos preferem um médico do mesmo sexo; o toque entre sexos distintos é proibido, exceto
em situações de emergência
• A mulher muçulmana permanece na casa por 40 dias após o parto, sendo cuidada pelas mulheres de
sua família
• A maioria das mulheres amamenta, mas os eventos religiosos exigem períodos de jejum, o que pode
aumentar o risco de desidratação ou desnutrição
• As mulheres são isentas da obrigatoriedade de orar 5 vezes/dia enquanto houver lóquios
• Muito provavelmente, os parentes permanecerão boa parte do período de internação da mulher. Eles
precisarão de um quarto vazio para orar sem ter que deixar o hospital
Indígenas norteamericanas
• As mulheres mantêm segredo sobre a gestação e não a revelam precocemente
• Tocar não é um comportamento típico feminino, e o contato visual é breve
• Elas se ressentem de serem apressadas e precisam de tempo para sentar e conversar
• A maior parte das mães amamenta e pratica o controle de natalidade
Adaptado de Bowers, P., & Caballos, K. (2015). Cultural perspectives in childbearing. Retirado
de http://ce.nurse.com/ce26360/CulturalPerspectivesinChildbearing; DayerBerenson, L.
(2014). Cultural competencies of nurses: Impact on health and illness (2nd ed.). Burlington, MA: Jones &
Bartlett Learning; e Andrews, M. M., & Boyle, J. S. (2012). Transcultural concepts in nursing care (6th ed.).
Philadelphia, PA: Wolters Kluwer Health.
Os enfermeiros precisam lembrarse de que as práticas e crenças relacionadas com a maternidade variam de cultura
para cultura. Para prestar cuidados de enfermagem adequados, o enfermeiro deve determinar as preferências da paciente
antes de intervir. As práticas culturais podem incluir restrições alimentares, certas roupas, tabus, atividades para manter a
saúde mental e o uso do silêncio, da oração ou da meditação. A restauração da saúde pode envolver o uso de
medicamentos populares ou a consulta a um curandeiro. A barreira do idioma poderia interferir na comunicação entre a
paciente e os profissionais de saúde, seguida pela falta de sensibilidade cultural dos profissionais de saúde, resultando na
relutância da paciente em usar os serviços de saúde (Santiago & Figueiredo, 2015). A prestação de cuidados culturalmente
diversos dentro de nossa comunidade global é um desafio a todos os enfermeiros, porque eles devem se lembrar de que a
cultura do indivíduo não pode ser facilmente resumida em um livro de consulta, mas deve ser vista de acordo com suas
próprias experiências de vida.
Raina e seu marido estão chateados com a ideia de ter um médico do sexo masculino para ela, porque as
mulheres muçulmanas são muito recatadas e preferem ter cuidadoras. O que a enfermeira deveria fazer
nessa situação?
Promoção de conforto
A puérpera pode sentir desconforto e dor por vários motivos, como episiotomia, lacerações perineais, dor nas costas em
decorrência da anestesia epidural, dor por causa da bexiga cheia, períneo edemaciado, hemorroidas inflamadas, mamas
ingurgitadas, cólica secundária às contrações uterinas na amamentação e em mulheres multíparas, e mamilos doloridos se
estiverem amamentando. Aliviar o problema subjacente é o primeiro passo no tratamento da dor. A maioria das práticas
tradicionalmente empregadas para desconfortos pósparto não é baseada em evidências, de modo que muitas vezes é
utilizada associação de medidas não farmacológicas e farmacológicas (King et al., 2015).
Aplicações de frio e calor
FRIO
Comumente, uma compressa fria é a primeira medida utilizada após um parto vaginal para aliviar o desconforto perineal
pelo edema, episiotomia ou laceração. A compressa de gelo parece minimizar o edema, reduzir a inflamação, diminuir a
permeabilidade capilar e reduzir a condução nervosa para o local. É aplicada durante o quarto estágio de trabalho de parto e
pode ser usada nas primeiras 24 horas para reduzir o edema perineal e para evitar a formação de hematoma, reduzindo
assim a dor e promovendo a cicatrização. A bolsa de gelo é embrulhada em uma embalagem descartável ou em um pano
limpo e é aplicada à área perineal. Habitualmente, a camada de gelo é aplicada intermitentemente durante 20 minutos e
removida por 10 minutos. Existem muitas embalagens de gelo comercialmente preparadas, mas uma luva cirúrgica cheia
de gelo picado e recoberta com um pano também pode ser utilizada se a mulher não for alérgica ao látex. Certifiquese de
que a compressa de gelo seja trocada com frequência para promover uma boa higiene e possibilitar avaliações periódicas.
CALOR
O frasco de irrigação perineal é um recipiente de plástico cheio de água limpa aquecida. Quando sob pressão, o frasco
pulveriza água sobre a área perineal após cada micção e antes da colocação de um novo absorvente íntimo. De modo geral,
o frasco de irrigação perineal é apresentado à puérpera quando ela é assistida ao banheiro para arrumarse e urinar pela
primeira vez – na maioria dos casos, logo que os sinais vitais estiverem estáveis após a primeira hora. Forneça orientações
à puérpera sobre como e quando usar o frasco de irrigação perineal. Reforce essa prática toda vez que ela trocar de
absorvente íntimo, urinar ou defecar, certificandose de que ela aprenda a direcionar o fluxo de água da frente para trás. A
puérpera pode levar o frasco de irrigação perineal para casa e usálo ao longo das semanas seguintes até a cessação dos
lóquios. O frasco de irrigação perineal pode ser usado tanto por mulheres que tiveram partos vaginais quanto por aquelas
que fizeram cesariana para proporcionar conforto e higiene à região perineal.
Após as primeiras 24 horas, podese prescrever um banho de assento com água em temperatura ambiente, que
substitua a compressa fria para reduzir a tumefação local e promover conforto em face de episiotomia, traumatismo
perineal ou hemorroidas inflamadas. A troca do tratamento com frio para o tratamento em temperatura ambiente aumenta a
circulação vascular e a cicatrização. Os banhos de assento, quando comparados a luz infravermelha para promover a
regeneração e reduzir a dor perineal, foram significativamente mais efetivos na promoção da regeneração da ferida da
episiotomia (Sukhwinder et al., 2014). Antes de fazer um banho de assento, a mulher deve limpar o períneo com um
frasco de irrigação perineal ou tomar um banho usando sabonete neutro.
A maioria das instituições de saúde usa assentos plásticos descartáveis para os banhos de assento, que as mulheres
podem levar para casa. O assento de plástico consiste em uma cuba que se encaixa sobre o vaso sanitário; uma bolsa cheia
de água quente é pendurada em um gancho e ligada por um tubo à frente da cuba (Figura 16.6). No boxe Diretrizes de
ensino 16.1 são destacados os passos na utilização de um banho de assento.
FIGURA 16.6 Configuração do banho de assento.
Diretrizes de ensino 16.1
Uso do banho de assento
1. Fechar a pinça do equipo antes de enchêlo com água para evitar vazamentos
2. Preencher a cuba do banho de assento e a bolsa de plástico com água em temperatura ambiente
(confortável ao toque)
3. Colocar a cuba cheia no vaso sanitário com o assento elevado e a abertura de saída voltada para a
parte de trás do vaso sanitário
4. Pendurar a bolsa plástica cheia em um gancho próximo ao vaso sanitário ou a um suporte para equipo
5. Prender o tubo na abertura da cuba
6. Sentarse na cuba colocada no assento do vaso e liberar a pinça para possibilitar que a água quente
irrigue o períneo
7. Permanecer sentada na cuba por aproximadamente 15 a 20 minutos
8. Levantarse e secar a área perineal com leves palmadinhas. Colocar um absorvente limpo
9. Inclinar a cuba para remover toda a água restante e dar a descarga no vaso sanitário
10. Lavar a cuba com água morna e sabão e secála na pia 11. Guardar a cuba e o equipo em um local
limpo e seco até o próximo uso
12. Lavar as mãos com água e sabão
Aconselhe a puérpera a fazer o banho de assento várias vezes por dia, para proporcionar higiene e conforto à área
perineal. Incentivea a continuar essa medida após a alta. Algumas instituições têm banhos de assento higiênicos no
banheiro, que pulverizam antisséptico, água ou ambos no períneo. A puérpera se senta no vaso sanitário com as pernas
afastadas de modo que o bico pulverizador alcance sua área perineal.
Tenha em mente que estão ocorrendo grandes alterações hemodinâmicas na mãe durante esse período pósparto, e sua
segurança deve ser uma prioridade. A fadiga, a perda de sangue, os efeitos de medicamentos e a falta de alimentos podem
levar a mulher a se sentir fraca ao se levantar. É necessário ajudála a ir o banheiro a fim de instruíla sobre como utilizar
o frasco de irrigação perineal e o banho de assento, para garantir sua segurança. Muitas mulheres ficam tontas ou sentem
se atordoadas ao sair da cama e precisam de ajuda física direta. Ficar no quarto da puérpera, garantir que a luz de chamada
de emergência esteja prontamente disponível e estar disponível, se necessário, durante esse período inicial garantirá a
segurança e evitará acidentes e quedas.
Revisões recentes sobre o uso de intervenções de resfriamento e aquecimento local no pósparto para a dor perineal
encontraram evidências limitadas de apoio à sua eficácia. São necessários estudos adicionais na área de dor e cicatrização
perineal a fim de desenvolver intervenções baseadas em evidências no futuro (Mooventhan & Nivethitha, 2014).
Preparações tópicas
Diversos tratamentos podem ser aplicados topicamente para o alívio temporário da dor e do desconforto perineal. Um
desses tratamentos é a aplicação de anestésico local (p. ex., benzocaína) na forma de spray. Esses agentes entorpecem a
área perineal, sendo usados após a limpeza da área com água utilizando o frasco de irrigação perineal e/ou o banho de
assento.
As puérperas estão predispostas ao desenvolvimento de hemorroidas, devido à pressão durante o parto vaginal, à
constipação intestinal, ao relaxamento dos músculos lisos das paredes das veias e ao retorno do sangue prejudicado, todos
fatores relacionados com o aumento da pressão exercida pelo útero grávido. Medidas não farmacológicas para reduzir o
desconforto das hemorroidas incluem compressas frias, banhos de assento frios e a colocação de compressas embebidas
em hamamélis. Esses produtos são colocados na área retal, entre as hemorroidas e o absorvente íntimo. Colocados sobre o
absorvente, esses produtos resfriam a área, ajudam a aliviar a tumefação e minimizam o prurido. Os métodos
farmacológicos utilizados para reduzir a dor das hemorroidas incluem os anestésicos locais (dibucaína) ou esteroides
(hidrocortisona). As medidas úteis para reduzir o desconforto incluem prevenir ou corrigir a constipação intestinal,
incentivar o uso do decúbito lateral, assumir hábitos de higiene adequados, assumir posições que minimizem a pressão
imposta sobre as hemorroidas e não fazer esforço durante a defecação (King et al., 2015).
A dor nos mamilos é difícil de tratar, embora uma grande variedade de cremes, pomadas e géis esteja disponível para
isso. Esse grupo inclui cera de abelha, produtos à base de glicerina, vaselina, lanolina e hidrogel. Muitas mulheres acham
esses produtos reconfortantes. A cera de abelha, os produtos à base de glicerina e a vaselina precisam ser retirados antes
de amamentar. Esses produtos devem ser evitados, a fim de limitar a exposição do lactente, porque o processo de remoção
pode piorar a irritação do mamilo. Sugeriuse aplicar leite materno nos mamilos e deixar secar para reduzir a dor local.
Habitualmente, a dor é decorrente da pega e/ou da remoção incorreta do lactente da mama. A assistência inicial à
amamentação para garantir o posicionamento correto pode ajudar a prevenir traumatismos aos mamilos.
Analgésicos
Analgésicos como o paracetamol e antiinflamatórios não esteroides orais (AINEs), como o ibuprofeno ou o naproxeno,
são prescritos para aliviar o desconforto pósparto leve. Para a dor moderada a grave, podese prescrever um analgésico
narcótico, como a codeína ou a oxicodona, em conjunto com o ácido acetilsalicílico ou o paracetamol. Instrua a puérpera
sobre os efeitos nocivos resultantes de quaisquer medicamentos prescritos. Os efeitos adversos comuns dos analgésicos
orais incluem tonturas, vertigens, náuseas e vômitos, constipação intestinal e sedação (SkidmoreRoth, 2015).
Informe também a puérpera de que os fármacos são secretados no leite materno. Quase todos os medicamentos que a
mãe ingere passam para o leite materno; no entanto, os analgésicos leves (p. ex., paracetamol ou ibuprofeno) são
considerados relativamente seguros para as lactantes (King et al., 2015). Administrar um analgésico leve cerca de 1 hora
antes de amamentar geralmente alivia a cólica e/ou o desconforto perineal.
Auxílio à eliminação
A bexiga está edemaciada, hipotônica e congestionada imediatamente após o parto. Consequentemente, a distensão da
bexiga, o esvaziamento incompleto e a incapacidade de urinar são comuns. A bexiga cheia interfere na contração do útero e
pode levar à hemorragia, uma vez que deslocará o útero para longe da linha mediana. Incentive a puérpera a urinar. Muitas
vezes, ajudála a adotar a posição normal de micção no vaso sanitário facilita isso. Se a puérpera tiver dificuldades de
micção, despejar água quente sobre a área perineal, ouvir o som de água corrente, soprar bolhas com um canudo, tomar
um banho quente, beber líquidos, darlhe privacidade ou colocar a mão em uma cuba de água quente pode estimular a
micção. Se essas ações não estimularem a micção nas 4 a 6 horas após o parto, pode ser necessário realizar um
cateterismo. Palpe a bexiga à procura de distensão e pergunte à puérpera se ela está urinando pouco (menos de 100 mℓ)
com frequência (retenção com transbordamento). Se o cateterismo for necessário, utilize uma técnica estéril para reduzir o
risco de infecção.
A diminuição da motilidade intestinal durante o parto, o alto teor de ferro das vitaminas prénatais, a perda de líquido
pósparto e os efeitos adversos dos medicamentos para a dor e/ou anestesia predispõem a puérpera à constipação
intestinal. Além disso, a puérpera pode temer que a defecação cause dor ou lesão, especialmente se ela foi submetida a
uma episiotomia ou laceração que foi reparada com suturas.
Habitualmente, um emoliente fecal, como o docusato, com ou sem um laxante, pode ser útil se a puérpera tiver
dificuldades para defecar. Outras medidas, como a deambulação e o aumento da ingestão de líquidos e fibras, também
podem ajudar. A orientação nutricional pode incluir maior ingestão dietética de frutas e verduras; beber muito líquido (8 a
12 copos diariamente) para manter as fezes amolecidas; beber pequenos volumes de suco de ameixa e/ou líquidos quentes
para estimular o peristaltismo; ingerir alimentos ricos em fibras, como farelo de cereais, grãos integrais, frutas secas,
frutas frescas e vegetais crus; e caminhar diariamente.
Promoção de atividades, repouso e exercícios
O período pósparto é o momento ideal para o enfermeiro reforçar a importância do condicionamento cardiorrespiratório,
ajudar as puérperas a incorporarem o exercício físico às suas vidas e incentiválas a superar as barreiras ao exercício. As
mudanças de estilo de vida que ocorrem após o parto podem afetar a saúde da mulher durante décadas. Encorajase a
deambulação precoce para reduzir o risco de tromboembolismo e para melhorar a força muscular.
Muitas mudanças ocorrem no pósparto. Cuidar do recémnascido altera os hábitos de alimentação e o sono da mulher,
os horários de trabalho e a alocação de tempo. A fadiga pósparto é comum durante os primeiros dias após o parto,
podendo perdurar por semanas ou meses. Ter um sono adequado é fundamental para as novas mães, porque o menor
tempo de sono, a alta porcentagem de transtornos do sono e a maior fadiga estão associados a sintomas depressivos em
mulheres no pósparto (Bhati & Richards, 2015). O genitor que trabalha fora experimenta fadiga no início da paternidade
e é incapaz de se recuperar devido a padrões de sono interrompidos e ruins. Esse déficit de sono pode comprometer a sua
segurança no trabalho (Parfitt & Ayers, 2014). Para as mulheres, afeta o relacionamento da mãe com os outros entes
queridos e a sua capacidade de realizar as tarefas domésticas e as responsabilidades dos cuidados com a criança.
Certifiquese de que a mãe reconhece sua necessidade de descanso e sono e é realista em relação às suas expectativas.
Algumas sugestões à mãe incluem o seguinte:
• Tire sonecas quando o lactente estiver dormindo, porque dormir sem ser interrompida à noite é difícil
• Reduza a participação em atividades externas e limite o número de visitantes
• Determine os ciclos de sono e vigília do recémnascido e tente aumentar os períodos de vigília durante o dia, de modo
que ele durma por períodos mais longos durante a noite
• Ingira uma dieta equilibrada para promover a cicatrização e aumentar os níveis de energia
• Compartilhe as tarefas domésticas para conservar sua energia
• Peça ao pai ou a outros membros da família para prestar cuidados ao recémnascido periodicamente durante a noite
para que você possa ter uma noite de sono ininterrupto, se não estiver amamentando
• Analise a rotina diária de sua família e veja se você pode “agrupar” atividades para conservar a energia e promover o
descanso.
As demandas da maternidade podem reduzir ou impedir a prática de exercícios, mesmo a da pessoa mais
comprometida. Um programa de exercícios focados e a mecânica corporal adequada podem ajudar as novas mães a lidar
com os desafios físicos da maternidade. Enfatize os benefícios de um programa regular de exercícios, que incluem:
• Ajuda à mulher para perder o peso ganho com a gestação
• Redução do risco posterior de obesidade
• Aumento do bemestar geral pósparto
• Aumento do nível de energia para que a mulher possa lidar com suas novas responsabilidades
• Aceleração do retorno ao tamanho e à forma prégestacional
• Redução do risco de depressão pósparto
• Redução do risco de constipação intestinal
• Redução da fadiga mental
• Fornecimento de uma válvula de escape para o estresse (Covan, 2015).
Sobrepeso e obesidade são uma epidemia nos EUA. A obesidade é um fator de risco para numerosas condições,
inclusive diabetes melito, hipertensão arterial, hipercolesterolemia, acidente vascular cerebral, cardiopatia, câncer e artrite.
Mais de um terço das mulheres americanas tem sobrepeso (ACOG, 2014). Embora o ganho de peso gestacional médio
seja pequeno (cerca de 9 a 13 kg), o excesso de ganho de peso e a falha em perdêlo após a gestação são importantes
preditores de obesidade a longo prazo. O período pósparto é uma época de vulnerabilidade por causa de retenção
excessiva de peso, sobretudo por causa do número crescente de mulheres que já estão com sobrepeso no início da gravidez
e posteriormente têm dificuldade de perder o peso ganho durante a gravidez. A amamentação e a prática de exercício físico
ajudam a controlar o peso corporal a longo prazo (Neville et al., 2014).
Anote!
As mulheres incapazes de retornar a um peso saudável 6 meses após o parto aumentam seus fatores de risco para o
desenvolvimento de doenças crônicas, incluindo síndrome metabólica, obesidade e doença cardiovascular (Brekke et al.,
2014). Incentive as mulheres a perder o peso adquirido com a gestação nos 6 meses após o parto e encaminhe aquelas
que não conseguirem a programas de emagrecimento da comunidade.
A puérpera pode enfrentar alguns obstáculos ao exercício, incluindo alterações físicas (frouxidão ligamentar),
demandas concorrentes (cuidados com o recémnascido), falta de informações sobre a retenção do peso (a inatividade
equivale a ganho de peso) e incontinência de estresse (perda de urina durante a atividade).
A mulher saudável que passou por um parto vaginal sem complicações pode retomar o exercício no período pósparto
imediato. Aconselhe a mulher a iniciar lentamente e a aumentar o nível dos exercícios ao longo de várias semanas,
conforme tolerado. Os carrinhos podem ser uma opção para algumas mulheres, possibilitandolhes andar com seus recém
nascidos para exercitarse. Os carrinhos para corrida podem ser usados mais tarde, quando a criança tiver de 6 a 12 meses
de idade e puder manter sua cabeça erguida. Além disso, vídeos de exercícios e equipamentos para exercícios domiciliares
possibilitam que as mães exercitemse enquanto seus recémnascidos cochilam.
O exercício após o parto promove a sensação de bemestar e restaura o tônus muscular perdido durante a gestação. A
rotina de exercícios deve ser retomada de modo gradual, começando com exercícios do assoalho pélvico no primeiro dia
pósparto e progredindo para exercícios de fortalecimento do abdome, das nádegas e das coxas na segunda semana. Nos
EUA, a maioria das puérperas não atende às diretrizes nacionais de prática de atividade física e isso pode elevar o risco de
morbidade e contribuir para o impacto intergeracional de obesidade em sua prole (Downs, Evenson, & ChasanTaber,
2014). Caminhar é um excelente modo de exercício precoce, desde que a mulher evite movimentos bruscos e saltos,
porque as articulações não se estabilizaram até 6 a 8 semanas após o parto. O exercício demasiadamente precoce pode
fazer com que a mulher sangre mais e que seus lóquios retornem ao vermelhovivo. Se isso ocorrer, instrua a mulher a
parar de se exercitar e a permanecer deitada até que o sangramento diminua. Esse aumento no sangramento deve ser um
alerta para a mulher de que ela está se excedendo e precisa diminuir sua rotina de exercícios.
Os exercícios recomendados para as primeiras semanas pósparto incluem a respiração abdominal, o exercício de
fortalecimento abdominal com elevação somente da cabeça, o exercício de fortalecimento abdominal tradicional
modificado, a mobilização da coluna vertebral lombar em decúbito dorsal e a báscula pélvica (Diretrizes de ensino 16.2).
A quantidade de exercícios e sua duração são aumentadas gradualmente conforme a mulher ganha força.
Lembrese de que cada cultura tem uma atitude diferente em relação ao exercício. Algumas culturas (p. ex., mulheres
de origem haitiana, árabe, chinesa e mexicana) esperam que as novas mães respeitem determinado período de repouso ou
restrição de atividades; portanto, não seria apropriado recomendar exercícios ativos durante o período pósparto inicial
(Bowers & Ceballos, 2015).
Prevenção da incontinência de esforço
Cinquenta por cento de todas as mulheres que passam por um parto vaginal desenvolvem algum grau de prolapso pélvico
em sua vida, que está associado à incontinência urinária de esforço. A incontinência urinária de estresse reduz a qualidade
de vida e provoca, tipicamente, abstinência da prática de atividades físicas e exercícios para promover condicionamento
físico. Pesquisas sugerem que o parto vaginal resulte em traumatismo direto aos músculos pélvicos e rompimento dos
suportes fasciais, podendo também causar danos ao músculo elevador do ânus e lesão ao nervo pudendo. As diretrizes do
National Institute for Health and Care Excellence (NICE) incluem o oferecimento de instrução para treinamento dos
músculos do assoalho pélvico para todas as mulheres durante sua primeira gravidez e, de novo, após o parto vaginal. Os
enfermeiros podem oferecêlas como intervenção de primeira linha na prevenção da incontinência urinária pósparto (Hall
& Woodward, 2015). Quanto maior o número de partos vaginais, maior será a probabilidade de que uma mulher apresente
incontinência urinária de esforço. A incontinência de esforço pode ocorrer com qualquer atividade que provoque um
aumento da pressão intraabdominal. As puérperas podem considerar atividades de baixo impacto, como caminhada,
ciclismo, natação ou aeróbica de baixo impacto, para que possam retomar a atividade física ao mesmo tempo que
fortalecem o assoalho pélvico.
Diretrizes de ensino 16.2
Exercícios pósparto
Respiração abdominal
1. Deitada em decúbito dorsal sobre uma superfície plana (chão ou cama), respirar fundo pelo nariz e
expandir seus músculos abdominais
2. Expirar lentamente e contrair os músculos abdominais por 3 a 5 segundos
3. Repetir isso várias vezes
Exercício de fortalecimento abdominal com elevação da cabeça
1. Deitarse sobre uma superfície plana com os joelhos flexionados e os pés apoiados sobre a superfície
2. Retirar sua cabeça da superfície plana, levála em direção ao tórax e segurála por 3 a 5 segundos
3. Relaxar a cabeça e retornar à posição inicial
4. Repetir isso várias vezes
Exercício de fortalecimento abdominal tradicional modificado
1. Deitarse sobre uma superfície plana e levantar a cabeça e os ombros em 15 a 20 cm, de modo que
suas mãos estendidas alcancem seus joelhos
2. Manter sua cintura na superfície plana
3. Retornar lentamente à posição inicial
4. Repetir, aumentando a frequência conforme o seu nível de conforto possibilitar
Mobilização da coluna vertebral lombar em decúbito dorsal
1. Deitarse sobre uma superfície plana, com os joelhos flexionados
2. Manter os ombros apoiados, levar lentamente os joelhos para o lado direito, até tocar a superfície
plana (chão ou cama)
3. Trazer os joelhos de volta à posição inicial e leválos ao lado esquerdo, até que toquem no lado oposto
da superfície plana
4. Retornar à posição inicial e descansar
5. Repetir esse exercício várias vezes
Báscula pélvica
1. Deitarse de costas sobre uma superfície plana, com os joelhos flexionados e os braços ao lado do
corpo
2. Contrair lentamente os músculos abdominais enquanto levanta sua pelve em direção ao teto
3. Manter a posição por 3 a 5 segundos e, lentamente, retornar à posição inicial
4. Repetir várias vezes
As sugestões para evitar a incontinência urinária de esforço são:
• Iniciar um programa regular de exercícios dos músculos do assoalho pélvico após o parto
• Perder peso, se necessário; a obesidade está associada à incontinência urinária de esforço
• Evitar fumar; limitar a ingestão de bebidas alcoólicas e com cafeína, que irritam a bexiga
• Ajustar a ingestão de líquidos para produzir 1.000 a 2.000 mℓ de urina a cada 24 horas
• Utilizar um dispositivo intravaginal ou intrauretral que coloque pressão sobre a uretra para que a urina não extravase
quando a pressão na bexiga subir (Laliberte, 2015).
Os exercícios do assoalho pélvico (exercícios de Kegel) ajudam a fortalecer os músculos do assoalho pélvico, se
feitos correta e regularmente (Ciaghi, Bianco, & Guarese, 2015). Esses exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico
foram originalmente desenvolvidos pelo Dr. Arnold Kegel na década de 1940, como um método para controlar a
incontinência urinária em mulheres após o parto. O princípio básico desses exercícios é que o fortalecimento dos músculos
do assoalho pélvico melhora a função do esfíncter uretral.
Ao prestar cuidados pósparto, instrua as mulheres em relação à prevenção primária da incontinência urinária de
esforço discutindo a importância e a finalidade dos exercícios do assoalho pélvico. Aborde o assunto com sensibilidade,
evitando o termo incontinência. Os termos extravasamento, perda de urina ou problemas no controle da bexiga são mais
aceitáveis para a maioria das mulheres.
Anote!
Quando adequadamente realizados, os exercícios do assoalho pélvico são efetivos na prevenção ou na melhora da
continência urinária (Jones & Hawkes, 2015).
As mulheres podem realizar exercícios do assoalho pélvico executando 10 contrações de 5 segundos sempre que
trocarem fraldas, falarem ao telefone ou assistirem TV. Ensine a mulher a realizar exercícios do assoalho pélvico
corretamente, ajudea a identificar os músculos corretos, tentando parar e reiniciar o fluxo de urina quando sentada no
vaso sanitário (Diretrizes de ensino 16.3). Os exercícios do assoalho pélvico podem ser feitos sem que ningué m perceba.
Auxílio nas medidas de autocuidado
Demonstre e discuta com a puérpera maneiras de prevenir infecções durante o período pósparto. Como os lóquios podem
persistir por até 1 mês após o parto, descreva práticas para promover o bemestar e a cicatrização. Essas medidas incluem:
Diretrizes de ensino 16.3
Incentivo aos exercícios dos músculos do assoalho pélvico
1. Identificar corretamente os músculos do assoalho pélvico contraindoos para interromper o fluxo de
urina quando estiver sentada no vaso sanitário
2. Repetir essa contração várias vezes para se familiarizar com ela
3. Iniciar os exercícios esvaziando a bexiga
4. Contrair os músculos do assoalho pélvico e segurar por 10 segundos
5. Relaxar totalmente os músculos por 10 segundos
6. Realizar 10 exercícios pelo menos 3 vezes/dia. Aumentar progressivamente o número de repetições
realizadas
7. Realizar os exercícios em posições diferentes (p. ex., em pé, deitada e sentada)
8. Manter a respiração durante os exercícios
9. Não contrair os músculos do abdome, das coxas, das pernas ou das nádegas durante esses exercícios
10. Relaxar ao fazer os exercícios do assoalho pélvico e concentrarse em isolar os músculos certos
11. Tentar contrair os músculos pélvicos antes de espirrar, pular ou rir
12. Lembrarse de que você pode realizar exercícios do assoalho pélvico em qualquer lugar sem que
ningué m perceba
• Trocar os absorventes íntimos com frequência e retirálos da frente para trás para evitar a contaminação da região
genital pela flora da região retal
• Evitar o uso de absorventes internos após o parto para diminuir o risco de infecção
• Tomar banho 1 ou 2 vezes/dia com um sabonete neutro. Evitar o uso de sabonete nos mamilos
• Fazer um banho de assento após cada defecação para limpar a área retal e aliviar hemorroidas distendidas
• Usar o frasco de irrigação perineal cheio de água quente depois de urinar e antes de colocar um absorvente íntimo
limpo
• Evitar banhos de banheira por 4 a 6 semanas, até que as articulações e o equilíbrio tenham sido restaurados, para evitar
quedas
• Lavar as mãos antes de trocar os absorventes íntimos, após o descarte de absorventes sujos e após a micção (Mattson
& Smith, 2016).
Para reduzir o risco de infecção no local da episiotomia, reforce os cuidados perineais adequados à paciente,
mostrando como enxaguar o períneo com o frasco de irrigação perineal após ela ter urinado ou defecado. Saliente a
importância de sempre limparse delicadamente da frente para trás e lavar as mãos antes e após o cuidado perineal. Para
hemorroidas, peça à paciente que aplique compressas embebidas em hamamélis, compressas de gelo para aliviar a
tumefação ou creme/pomada para hemorroida, se prescritos.
Garantia da segurança
Uma das preocupações de segurança durante o período pósparto é a hipotensão ortostática. Quando a mulher passa
rapidamente da posição deitada ou sentada para em pé, a pressão arterial pode cair de repente, fazendo com que sua
frequência cardíaca aumente. Ela pode ficar tonta e fraca. Esteja ciente desse problema e inicie as seguintes medidas de
segurança:
• Verifique a pressão arterial antes de colocar a puérpera para deambular
• Eleve a cabeceira do leito por alguns minutos antes de deambular com a puérpera
• Peça à puérpera que se sente na lateral do leito por alguns instantes antes de se levantar
• Ajude a puérpera a se levantar e fique próximo a ela
• Deambule com a puérpera e preste apoio, se necessário
• Pergunte com frequência se ela está tonta
• Fique por perto para ajudar caso ela se sinta tonta.
Tópicos adicionais a serem abordados na hipotensão ortostática que envolvem a segurança do recémnascido incluem a
instrução da puérpera a colocar o recémnascido de volta no berço (em decúbito dorsal) caso se sinta sonolenta para evitar
uma queda. Se a mulher dormir enquanto segura a criança, pode deixála cair. Além disso, instrua as mães a manter a
porta do quarto fechada quando o recémnascido estiver no quarto com elas. Eles devem verificar a identificação de quem
entra em seu quarto ou quem quer levar o recémnascido do quarto. Isso evitará o rapto do recémnascido.
Aconselhamento em relação a sexualidade e contracepção
A gestação e o parto são períodos especiais na vida de uma mulher, envolvendo importantes mudanças físicas, hormonais,
psicológicas, sociais e culturais que podem influenciar a sua própria sexualidade, bem como a saúde da relação sexual de
um casal. Esse muitas vezes é um período cheio de emoções, mudanças e desafios. As mães muitas vezes enfrentam
mudanças em sua própria sexualidade em sua adaptação à maternidade. A sexualidade é uma parte importante da vida de
cada mulher. As mulheres querem voltar ao “normal” o quanto antes após o parto, mas a relação sexual de um casal não
pode ser isolada das adaptações psicológicas e psicossociais por que ambos os parceiros estão passando.
O parto é uma transição importante na vida das mulheres e tem impacto mensurável na função sexual das puérperas.
Existem fatores físicos (dor perineal), psicológicos (depressão) e contextuais (maternidade) que contribuem para a
mudança nas vidas sexuais de muitas mulheres após dar à luz. As puérperas podem hesitar em retomar as relações sexuais
por uma série de razões. Com frequência as puérperas apresentam fadiga, fraqueza, perda de desejo sexual, percepção de
diminuição na atratividade da pessoa, mudança na aparência do corpo, sangramento vaginal, desconforto perineal,
hemorroidas, mamas doloridas, diminuição da lubrificação vaginal resultante dos baixos níveis de estrogênio e
dispareunia. A fadiga, as exigências físicas feitas pela criança e o estresse dos novos papéis e responsabilidades podem
estressar as reservas emocionais do casal. Os novos pais podem não ter mais muita privacidade e descanso, sendo que
ambos são necessários para o prazer sexual (Whittock, 2015).
Os homens podem sentir que têm agora um papel secundário dentro da família e podem não entender a rotina diária de
sua parceira. A natureza delicada da sexualidade pósparto torna difícil a discussão do assunto pelos casais. Essas
questões, juntamente com o aumento do investimento da mulher no papel de mãe, podem impor tensão sobre o
relacionamento sexual do casal.
Embora os casais relutem em pedir, eles muitas vezes querem saber quando podem retomar com segurança as relações
sexuais após o parto. Tipicamente, estas podem ser retomadas quando o sangramento vermelhovivo parar e o períneo
estiver cicatrizado da episiotomia ou de lacerações. Isso geralmente ocorre na 3a a 6a semanas após o parto. No entanto,
não há um momento exato predeterminado no qual se podem retomar as relações sexuais após o parto. Não existe base
científica para a recomendação tradicional de postergar a atividade sexual até a consulta de reavaliação 6 semanas após o
parto. Cada casal deve definir o seu próprio intervalo de tempo quando sentir que é apropriado retomar as relações
sexuais. Apesar dos receios e mitos sobre a atividade sexual durante a gestação, manter as interações sexuais do casal
durante a gestação e o período pósparto pode promover a saúde sexual, o bemestar e o maior aprofundamento da
intimidade.
A saúde sexual e os problemas sexuais pósparto são comuns, recebem pouca atenção dos profissionais de saúde
durante o puerpério e precisam ser abordados (Halford, Petch, & Creedy, 2015). Ao aconselhar o casal em relação à
sexualidade, determine os conhecimentos e preocupações que o casal tem sobre seu relacionamento sexual. Informe ao
casal que as flutuações no interesse sexual são normais. Tranquilize a mãe que está amamentando de que ela pode notar
um reflexo de descida de leite durante o orgasmo e perceber que suas mamas são muito sensíveis quando tocadas por seu
parceiro. Também informe o casal sobre como evitar desconfortos. A lubrificação vaginal précoito pode ser prejudicada
durante o período pósparto, especialmente em mulheres que estão amamentando. O uso de lubrificantes em gel à base de
água pode ajudar. Os exercícios do assoalho pélvico, além de prevenir a incontinência de esforço, também podem melhorar
a sensibilidade.
O uso de contraceptivos durante o período pósparto é importante para evitar a gestação indesejada e curtos intervalos
entre os partos, o que pode levar a desfechos negativos de saúde para a mãe e o recémnascido. Devemse incluir opções
contraceptivas nas discussões com o casal, para que eles possam tomar uma decisão informada antes de retomar a
atividade sexual. Muitos casais se sentem sobrecarregados pela quantidade de novas informações dadas a eles durante o
seu breve período de internação, de modo que muitos não estão preparados para uma longa discussão sobre os métodos
contraceptivos. Pode ser apropriado apresentar um breve resumo das opções, juntamente com a literatura. Pode ser
adequado pedirlhes para pensar nas necessidades e preferências de contraceptivos e aconselhálos a usar um método de
barreira (preservativo com gel ou espuma espermicida), até que escolham outro método de contracepção. Esse conselho é
especialmente importante se a consulta de acompanhamento não ocorrer em 4 a 6 semanas após o parto, porque muitos
casais retomam a atividade sexual antes desse período. Algumas mulheres ovulam antes que sua menstruação retorne,
portanto precisam de proteção anticoncepcional para evitar uma nova gestação.
Recentemente, o CDC avaliou evidências sobre a segurança do uso de métodos anticoncepcionais contendo estrogênio
durante o período pósparto. Eles recomendam que as mulheres não usem contraceptivos hormonais combinados durante
os primeiros 21 dias após o parto, devido ao alto risco de tromboembolismo venoso (TEV) nesse período. Durante os dias
21 a 42 após o parto, as mulheres sem fatores de risco para TEV em geral podem iniciar os anticoncepcionais contendo
estrogênio, mas as mulheres com fatores de risco para TEV (p. ex., TEV prévio ou cesariana recente) geralmente não
devem usar esses métodos. Depois do 42o dia, não há restrições ao uso de contraceptivos hormonais combinados (Centers
for Disease Control and Prevention [CDC], 2015a).
É necessário estabelecer uma comunicação aberta e efetiva para um aconselhamento contraceptivo efetivo, para que as
informações sejam claramente compreendidas. Forneça informações claras e consistentes apropriadas à linguagem, à
cultura e ao nível de escolaridade da mulher e de seu parceiro. Isso ajudará o casal a escolher o melhor método
anticoncepcional. As pesquisas apoiam o fato de que as orientações pósparto relacionadas com a contracepção resultam
em maior utilização de métodos contraceptivos e menos gestações não planejadas. Tanto as intervenções a curto prazo
quanto as de múltiplos contatos surtiram efeito. O uso de contraceptivos foi maior quando o aconselhamento sobre
contracepção era dado no período prénatal e repetido após o parto (Zapata et al., 2015).
Promoção da nutrição materna
O período pósparto pode ser estressante por inúmeros motivos, como a fadiga, o estresse físico da gestação e do parto e o
trabalho ininterrupto necessário para cuidar do recémnascido e atender às necessidades dos outros membros da família.
Como resultado, a nova mãe pode ignorar suas próprias necessidades nutricionais. Independentemente do fato de ela estar
amamentando ou usando fórmula para alimentar o recémnascido, incentive a nova mãe a cuidar bem de si mesma e a
ingerir uma dieta saudável, para que os nutrientes perdidos durante a gestação possam ser repostos e ela possa retornar a
um peso saudável. Em geral, as recomendações nutricionais para a mulher após o parto incluem:
• Ingerir uma grande variedade de alimentos com alta densidade de nutrientes
• Fazer refeições que requeiram pouca ou nenhuma preparação
• Evitar comidas prontas com alto teor de gordura
• Beber muito líquido diariamente, pelo menos 2.500 mℓ
• Evitar dietas de redução de peso que estejam na moda e substâncias nocivas, como etanol, tabaco e substâncias
psicoativas
• Evitar o consumo excessivo de gordura, sal, açúcar e cafeína
• Ingerir as porções diárias recomendadas de cada grupo de alimentos (Boxe 16.4).
Necessidades nutricionais das lactantes
As necessidades nutricionais da mãe que amamenta são maiores do que eram durante a gestação. A dieta e o estado
nutricional da mãe influenciam o volume e a qualidade do leite materno. Recentemente, a American Academy of Pediatrics
(2014a) preconizou que as lactantes consumam alimentos que contenham iodo, um elemento crucial para o
desenvolvimento cerebral saudável e que pode existir em suas dietas atuais. O iodo é necessário para produzir hormônio
tireóideo, que por sua vez ajuda no desenvolvimento do cérebro. Para atender às necessidades de produção de leite pela
mama, as necessidades nutricionais da mulher aumentam em:
• Calorias: +500 cal/dia no primeiro e no segundo semestre de lactação
• Proteínas: +20 g/dia, que podem ser supridos pelo acréscimo de 2 xícaras de leite desnatado
• Cálcio: +400 mg/dia, consumo de 4 ou mais porções de leite
• Iodo: 290 μ/dia – laticínios, frutos do mar e sal iodado
• Líquidos: +2 a 3 ℓ de líquidos por dia (leite, suco ou água); não ingerir refrigerantes.
BOXE 16.4
RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS PARA A ALIMENTAÇÃO NO PERÍODO PÓSPARTO
Recomendações para a lactante do guia alimentar MyPlate
• Frutas: 4 porções
• Vegetais: 4 porções
• Leite: 4 a 5 porções
• Pão, cereais, massas: 12 ou mais porções
• Carnes, aves, peixe, ovos: 7 porções
• Gorduras, óleos e doces: 5 porções (Dudek, 2014)
Diretrizes gerais de alimentação para norteamericanas do guia alimentar MyPlate (para a mulher
não lactante)
• Frutas: metade do seu prato deve ser de frutas e legumes
• Legumes: ingerir legumes vermelhos, laranja e verdeescuros
• Leite: preferir o leite desnatado ou 1%
• Pães, grãos e cereais devem ser integrais
• Carnes, aves, peixe, ovos: ingerir frutos do mar 2 vezes/semana e feijão, que são ricos em fibras
• Ingerir a quantidade certa de calorias para você; apreciar a sua comida, mas comer menos
• Manterse fisicamente ativa, praticando atividades que você goste
• Gorduras, óleos e doces: cortálos da dieta
• Ler os rótulos dos alimentos para ajudála a fazer as melhores escolhas (U. S. Department of Agriculture
[USDA] & U.S. Department of Health and Human Services [USDHHS], 2014)
Alguns alimentos consumidos pela lactante modificam o sabor do leite materno ou causam problemas gastrintestinais
ao recémnascido. Nem todas as crianças são afetadas pelos mesmos alimentos. Sugerese que a mãe identifique o item
alimentar que poderá estar causando um problema à criança e reduza ou elimine a sua ingestão.
As necessidades nutricionais das lactantes são baseadas no teor nutricional do leite materno e na energia gasta para
produzilo. Se a ingestão de calorias exceder o gasto energético, ocorre ganho de peso. A maior incidência de obesidade
em mulheres ocorre durante a idade fértil. As mulheres precisam estar cientes de que o peso ganho durante seus anos
férteis impactarão negativamente em sua saúde com a idade. Os enfermeiros podem ajudar as mulheres em seu programa
de gerenciamento de peso pósparto, avaliando a sua prontidão para mudanças a fim de perder o peso ganho na gestação;
avaliando seu estado de amamentação, ingestão alimentar e níveis de atividade; e avaliandoas na tentativa de identificar
estresse e sintomas depressivos, o que pode dificultar a perda de peso (Green, 2016).
Anote!
Durante a breve internação da mulher na instituição de saúde, ela pode demonstrar um apetite saudável e comer bem.
Problemas nutricionais costumam começar em casa, quando a mãe precisa fazer suas próprias escolhas de alimentos e
preparar suas próprias refeições. Essa é uma área crucial a ser abordada durante o acompanhamento.
Apoio à escolha da mulher em relação ao método de alimentação infantil
A AAP, a OMS, a ANA, o IOA, a USDHHS, a ADA e a USPSTF emitiram declarações apoiando o aleitamento materno e
os enfermeiros devem encorajálo como parte da prática baseada em evidências (Edelman, Kudzma, & Mandle, 2014).
Embora haja evidências consideráveis de que a amamentação traz inúmeros benefícios à saúde tanto para a mãe quanto
para o recémnascido, muitas mães optam por alimentar seu filho com fórmula durante o primeiro ano de vida. O
enfermeiro deve ser capaz de fornecer orientações sólidas e baseadas em evidências para ajudar a nova mãe a escolher o
melhor método para alimentar seu filho e deve apoiála em sua decisão. Os achados das pesquisas indicam que os pais
ouvem as orientações do enfermeiro em relação às práticas alimentares (Stagg & Ustianov, 2015). Muitos fatores afetam a
escolha da mulher em relação ao método de alimentação, como a cultura, as demandas de seu emprego, o apoio de entes
queridos e familiares e a base de conhecimento. Embora a amamentação seja incentivada, certifiquese de que os casais
tenham as informações de que precisam para tomar uma decisão informada. Se um casal opta por amamentar o recém
nascido ou alimentálo com mamadeira, apoie e respeite a sua escolha.
Mulheres que não devem amamentar
Certas mulheres não devem amamentar. Fármacos como os agentes antitireóideos e antineoplásicos, etanol, infecção por
herpesvírus nas mamas ou substâncias psicoativas (metanfetaminas, cocaína, fenciclidina, maconha) entram no leite
materno e prejudicam o recémnascido/lactente, de modo que as mulheres que usam essas substâncias não devem
amamentar. Para evitar a transmissão do HIV ao recémnascido, a mulher HIVpositiva não deve amamentar. Outras
contraindicações à amamentação incluem recémnascido com erro inato do metabolismo, como galactosemia ou
fenilcetonúria (FCN), tuberculose ativa, ou a mãe com um transtorno mental grave que iria impedila de se lembrar de
alimentar a criança de modo consistente (Denne, 2015).
Assistência à amamentação e ao uso da mamadeira
As mães “de primeira viagem” costumam ter muitas dúvidas sobre a alimentação; até mesmo as mulheres que tiveram
experiência com a amamentação podem ter dúvidas. Independentemente de saber se a mulher no pósparto está
amamentando ou alimentando seu recémnascido com mamadeira, ela pode se beneficiar de orientações.
APOIO À AMAMENTAÇÃO
A AAP (2014b) recomenda a amamentação dos recémnascidos a termo. O aleitamento materno exclusivo é suficiente para
apoiar o crescimento e o desenvolvimento ótimos nos primeiros 6 meses de vida, aproximadamente. O aleitamento
materno deve ser mantido pelo menos durante o primeiro ano de vida e além, enquanto mutuamente desejado pela mãe e
pela criança. Orientar a mãe em relação à amamentação irá aumentar a probabilidade de uma experiência de amamentação
bemsucedida.
Por ocasião do nascimento, todos os recémnascidos devem ser secados e avaliados rapidamente; se estiverem
estáveis, devem ser imediatamente colocados em contato pele com pele ininterrupto (canguru) com sua mãe. Essa é uma
boa prática independentemente se a mãe vai amamentar ou alimentar seu filho com mamadeira. Já foram relatados
numerosos efeitos benéficos dos cuidados “canguru” em termos dos domínios fisiológico (termorregulação, estabilidade
cardiovascular) e comportamental (sono, duração de cada sessão de aleitamento e grau de exclusividade), como terapia
efetiva para aliviar a dor do procedimento e melhorar o neurodesenvolvimento. Além disso, o método canguru proporciona
ao recémnascido ótima estabilidade fisiológica, calor e oportunidades para a primeira alimentação (CampbellYeo et al.,
2015).
Os benefícios da amamentação para os recémnascidos são claros (ver o Capítulo 18). Para promover a amamentação,
em 1991 criouse a Iniciativa Hospital Amigo da Criança, um programa internacional da Organização Mundial da Saúde e
do United Nations International Children’s Emergency Fund (Unicef). Essa iniciativa global de promoção da saúde visava
melhorar a saúde maternoinfantil por meio do aumento das taxas de aleitamento materno exclusivo. Como parte desse
programa, o hospital ou a maternidade deve cumprir as 10 etapas a seguir para fornecer “um ambiente ideal para a
promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno”:
1. Ter uma política de aleitamento materno escrita que seja comunicada a todos os funcionários
2. Orientar todos os funcionários a implementar essa política escrita
3. Informar todas as mulheres em relação aos benefícios e ao manejo do aleitamento materno
4. Mostrar a todas as mães como iniciar a amamentação já nos primeiros 30 minutos após o nascimento
5. Não fornecer outros alimentos ou bebidas além do leite materno a todos os recémnascidos
6. Demonstrar a todas as mães como iniciar e manter a amamentação
7. Incentivar o aleitamento materno sob livre demanda 8. Não permitir que seja dada chupeta ao recémnascido que
recebe leite materno
9. Formar grupos de apoio à amamentação e encaminhar as mães a eles
10. Praticar o alojamento conjunto 24 horas por dia (Cleminson et al., 2015; CDC, 2015a; World Health Organization
[WHO], 2014a).
O enfermeiro é responsável por incentivar, promover e apoiar o aleitamento materno, quando apropriado. Para a
mulher que escolhe amamentar seu recémnascido, o enfermeiro ou consultora de lactação precisará passar um tempo
instruindoa sobre como fazêlo com sucesso. Muitas mulheres têm a impressão de que amamentar é simples. Embora
seja um processo natural, as mulheres podem ter alguma dificuldade em amamentar seus recémnascidos. Os enfermeiros
podem ajudar as mães a suavizar essa transição. Auxilie e forneça orientações individualizadas às mães que amamentam,
especialmente àquelas que o fazem pela primeira vez, para garantir a técnica correta. As sugestões estão destacadas no
boxe Diretrizes de ensino 16.4 (ver também boxe Prática baseada em evidências 16.2).
Anote!
Alguns recémnascidos “travam e pegam” imediatamente, enquanto outros exigem mais tempo e paciência. Informe as
novas mães sobre isso para reduzir a sua frustração e incerteza sobre a sua capacidade de amamentar.
Diga às mães que elas precisam acreditar em si mesmas e na sua capacidade de realizar essa tarefa. Elas não devem
entrar em pânico se a amamentação não for bemsucedida no início; é preciso tempo e prática. As sugestões adicionais
para ajudar as mães a relaxarem e a se sentirem mais confortáveis ao amamentar, especialmente quando elas voltarem para
casa, incluem o seguinte:
• Escolha um canto tranquilo ou quarto em que você não será perturbada
• Use uma cadeira de balanço para acalmar você e seu filho
• Respire profunda e lentamente para relaxar antes de amamentar
• Beba líquidos durante a amamentação para repor os líquidos corporais
Diretrizes de ensino 16.4
Sugestões para a amamentação
1. Explicar que o aleitamento materno é uma habilidade aprendida para ambas as partes
2. Oferecer uma explicação completa sobre o procedimento
3. Orientar a mãe a lavar as mãos antes de começar
4. Informarlhe que a cólica pósparto se intensifica durante a amamentação
5. Certificarse de que a mãe esteja confortável (sem dor) e sem fome
6. Dizer à mãe para iniciar a amamentação com a criança acordada e alerta, mostrando sinais de fome
7. Ajudar a mãe a posicionarse corretamente para ficar mais confortável
8. Incentivar a mãe a relaxar para incentivar o reflexo de descida
9. Orientar a mãe a formar um “C” com a mão para possibilitar o acesso à mama, com o polegar acima e
os quatro dedos abaixo da mama
10. Fazer com que a mãe afague o lábio superior do recémnascido com o mamilo para estimulálo a abrir
a boca
11. Ajudar a mãe a auxiliar o recémnascido a pegar a mama ao aproximálo rapidamente com a boca
bem aberta
12. Mostrarlhe como verificar se a posição da boca do recémnascido está correta e dizerlhe que deve
ouvir um ruído de sucção
13. Demonstrar o modo correto de remover a mama, usando o dedo para interromper a sucção
14. Orientar a mãe a colocar o recémnascido para arrotar antes de passálo de uma mama para a outra
15. Mostrar à mãe diferentes posições para segurar o recémnascido; por exemplo, com o recémnascido
sobre o colo, sob o braço da mãe e deitada de lado (ver o Capítulo 18)
16. Reforçar e elogiar a mãe por seus esforços
17. Dar tempo suficiente para responder às perguntas e abordar suas preocupações
18. Encaminhar a mãe a grupos de apoio e recursos da comunidade
Prática baseada em evidências 16.2
Como os enfermeiros melhoram a saúde das mães e dos recémnascidos/lactentes por meio do
aleitamento materno bemsucedido em 10 etapas.
ESTUDO
Nos últimos anos, a Baby Friendly Hospital Initiative ganhou impulso nos EUA. Os princípios dessa iniciativa
são baseados em evidências e no fato de que a promoção do aleitamento materno melhora os desfechos
de saúde e o desenvolvimento neurocognitivo dos recémnascidos/lactentes. O propósito desse estudo foi
implementar o programa Ten Steps to Successful Breastfeeding e verificar se as taxas e a duração do
aleitamento materno melhoraram. As estratégias de implementação incluíram avaliação das práticas atuais,
a identificação de barreiras e oportunidades, e estratégias para dar suporte às modificações nos 89
hospitais participantes. A iniciativa tinha como meta aumentar o número de hospitais designados como
promotores de aleitamento materno durante um período de tempo preestabelecido de 2 anos.
Achados
Os resultados incluíram melhora do ambiente profissional de competência, aprimoramento da prestação dos
cuidados centrados na paciente, melhora da saúde das mães e dos recémnascidos, maior satisfação da
paciente e conquista dos padrões. A implementação do programa Ten Steps to Successful Breast
feeding resultou em melhora das taxas de aleitamento materno nos 89 hospitais.
Implicações para a enfermagem
Esse estudo demonstrou o efeito positivo da iniciativa liderada pelos enfermeiros que melhorou
o continuum de cuidados prestados às mães e aos recémnascidos (desde o período prénatal até depois
da alta hospitalar). Os profissionais de enfermagem podem ter uma atuação determinante ao aplicarem os
princípios da prática baseada em evidências e promoverem modificações nas unidades de saúde onde
trabalham de modo a melhorar os desfechos das mães e de seus filhos.
Adaptado de Allen, M., Schafer, D. J. (2015). Nurses improving the health of mothers and infants by
dancing the 10 steps to successful breastfeeding. Journal of Obstetric, Gynecologic, & Neonatal
Nursing, 44, S52.
• Ouça uma música lenta durante a amamentação
• Abrace e acaricie o recémnascido durante a alimentação
• Tenha fraldas de pano extras ao seu alcance para usar como babadores
• Dê tempo suficiente para apreciarem um ao outro em uma atmosfera sem pressa
• Envolva os outros membros da família em todos os aspectos do cuidado do recémnascido desde o início
• Contate grupos de suporte ao aleitamento materno.
A obesidade está crescendo nos EUA e em todo o planeta em todas as etapas da vida. Assim, é importante que o
enfermeiro tenha conhecimento sobre como a obesidade afeta a amamentação e como pode apoiar a mãe obesa. Uma
pesquisa mostra que é menos provável que mães obesas (IMC > 30) iniciem o aleitamento, porém é mais provável que
tenham dificuldades com a pega, tenham lactogênese tardia, apresentem dificuldades mecânicas e sejam propensas a
interromper precocemente o aleitamento (Shannon, Chao, & Ramos, 2015). As taxas de obesidade são mais altas nas
mulheres afroamericanas, que têm a menor taxa de início e menor duração da amamentação quando comparadas às
mulheres latinoamericanas e brancas. As mulheres com sobrepeso e obesidade têm menor resposta da prolactina à sucção
do lactente, de modo que a produção de leite pode ser inibida. A lactação desempenha um papel importante na prevenção
da obesidade futura, tanto para a mãe quanto para o recémnascido (Masho, Cha, & Morris, 2015).
Os enfermeiros podem ajudar no manejo dos desafios à lactação relacionados com a obesidade, mantendo a mãe e o
recémnascido juntos para facilitar a sucção precoce e frequente para desencadear a produção de prolactina e ocitocina, que
ajudarão a evitar a ate nua ção da resposta à prolactina relacionada com a obesidade. Sugerir uma técnica de sanduíche para
inserir a mama na boca do recémnascido a fim de provocar a sucção pode ser útil para a mãe com mama grande. Na
técnica do sanduíche, a mãe é ensinada a pinçar sua mama fazendo um “C” com o polegar e o dedo indicador. O polegar
estabiliza o topo da mama, enquanto os quatro dedos restantes apoiam sob a mama. Massagear ou bombear a mama pode
amolecer e estender o mamilo para uma pega mais fácil. Em suma, o enfermeiro pode fazer a diferença ao observar a
lactação, avaliar a hidratação e a satisfação infantil e tranquilizar a mãe sobre sua capacidade de amamentar.
ASSISTÊNCIA NA ALIMENTAÇÃO POR MAMADEIRA
Se a mãe ou o casal optaram por alimentar seu recémnascido com mamadeira, o enfermeiro deve respeitar e apoiar sua
decisão. Discuta com os pais que tipo de fórmula será utilizado. Fórmulas comerciais são classificadas como sendo à base
de leite de vaca, à base de proteína de soja ou fórmulas terapêuticas ou especializadas para crianças com alergia a proteína.
As fórmulas comerciais também podem ser adquiridas em diversas modalidades: em pó (pode ser misturado com água),
líquido condensado (deve ser diluído com volumes iguais de água), prontas para uso (despejada diretamente na
mamadeira) e préembaladas (prontas para uso em mamadeiras descartáveis).
O leite materno é um líquido dinâmico cuja composição se modifica durante todo o período de lactação. Essas
modificações refletem a velocidade de crescimento e as demandas desenvolvimentais do lactente. As fórmulas infantis, em
contrapartida, têm uma composição estática e visam atender às demandas nutricionais dos lactentes desde o nascimento até
os 12 meses de idade (Lönnerdal & Hernell, 2015). Os enfermeiros precisam fornecer essa informação às mães que optam
por não amamentar os filhos. As mães precisarão modificar as fórmulas infantis em diferentes estágios de crescimento de
modo a atender às necessidades nutricionais dos lactentes.
Os recémnascidos precisam de cerca de 110 cal/kg ou aproximadamente 650 cal/dia (Dudek, 2014). Portanto, explique
aos pais que um recémnascido precisa de 60 a 120 mℓ em cada mamada para se sentir satisfeito. Até cerca de 4 meses de
idade, a maioria dos lactentes alimentados com fórmula precisa de seis mamadas por dia. Após esse período, o número de
refeições diminui para acomodar outros alimentos à dieta, como frutas, cereais e legumes (Dudek, 2014). Para mais
informações sobre a nutrição do recémnascido e uso da mamadeira, consulte o Capítulo 18.
Ao orientar a mãe em relação à alimentação com mamadeira, forneça as seguintes diretrizes:
• Lave as mãos com água e sabão e seque usando um pano limpo ou descartável
• Certifiquese de que as mamadeiras, os bicos das mamadeiras e outros utensílios estejam limpos
• Torne a alimentação um momento de relaxamento, um momento para fornecer alimentos e conforto ao seu recém
nascido
• Use o período de alimentação para promover o vínculo com a criança ao sorrir, cantar, fazer contato visual e conversar
com a criança
• As fórmulas em pó se misturam com mais facilidade, e os caroços se dissolvem mais rápido se você usar água à
temperatura ambiente
• Guarde qualquer fórmula preparada com antecedência na geladeira para evitar o crescimento de bactérias
• Não coloque a fórmula no microondas; o forno de microondas não a aquece de maneira uniforme, fazendo com que
se formem bolsões de líquido quente
• Sempre segure o recémnascido ao alimentálo. Nunca apoie a mamadeira
• Use uma posição confortável ao alimentar o recémnascido. Coloque o recémnascido em seu braço dominante, que é
apoiado por um travesseiro. Ou coloque o recémnascido em uma posição semiereta apoiado na dobra do seu braço.
(Essa posição reduz a asfixia e o fluxo de leite para a orelha média)
• Incline a mamadeira de modo que seu bico e gargalo fiquem sempre cheios de fórmula. Isso evita que a criança degluta
muito ar
• Estimule o reflexo de sucção encostando o bico da mamadeira nos lábios do recémnascido
• Refrigere qualquer fórmula em pó que tenha sido combinada com água filtrada
• Jogue fora qualquer fórmula não utilizada; não a guarde para ser utilizada mais tarde
• Posicione o recémnascido para arrotar com frequência e coloqueo para dormir em decúbito dorsal
• Utilize apenas a fórmula infantil fortificada com ferro no primeiro ano de vida (Moses, 2014).
Orientações sobre os cuidados com a mama
Independentemente de a mãe estar ou não amamentando seu recémnascido, incentivea a usar um sutiã confortável e firme
24 horas por dia para apoiar as mamas aumentadas e promover o conforto. A mulher que está amamentando deve usar um
sutiã de suporte durante todo o período de lactação. A mulher que não está amamentando deve usálo até que o
ingurgitamento cesse; em seguida, deve usar um modelo menos restritivo. O sutiã deve ajustarse confortavelmente, ao
mesmo tempo que permite que a mãe respire sem restrição. Todas as novas mães devem usar apenas água pura para lavar
suas mamas, especialmente na área do mamilo; o sabonete resseca a mama, devendo ser evitado.
Avaliação das mamas
Oriente a mãe a examinar as mamas diariamente. A avaliação diária inclui o suprimento de leite (as mamas vão parecer
túrgidas quando estiverem enchendo), a condição dos mamilos (vermelhos, machucados, fissurados ou com sangramento)
e o sucesso do aleitamento materno. A plenitude das mamas pode progredir para o ingurgitamento na lactante se as
mamadas estiverem atrasadas ou se a amamentação não for efetiva. Palpar as mamas ajuda a identificar se são macias,
cheias ou ingurgitadas. Uma avaliação semelhante das mamas deve ser realizada na mãe não lactante para identificar
eventuais problemas, como ingurgitamento ou mastite.
Alívio do ingurgitamento mamário
O ingurgitamento mamário geralmente ocorre durante a primeira semana pósparto. É uma resposta comum das mamas às
mudanças hormonais repentinas e ao maior volume de leite. Tranquilize a mulher de que essa condição é temporária e
geralmente desaparece no decorrer de 72 horas.
ALÍVIO DO INGURGITAMENTO MAMÁRIO NA LACTANTE
Se a mãe estiver amamentando, incentive as mamadas frequentes, pelo menos a cada 2 a 3 horas, usando a ordenha manual
antes da amamentação para reduzir a tensão nas mamas e possibilitar que o recémnascido sugue de modo mais efetivo.
Aconselhe a mãe a permitir que o recémnascido mame na primeira mama até que ela “amoleça” antes de passálo para o
outro lado. Consulte o Capítulo 18 para obter mais informações sobre como aliviar o ingurgitamento mamário e outras
preocupações comuns da amamentação.
ALÍVIO DO INGURGITAMENTO MAMÁRIO E SUPRESSÃO DA
LACTAÇÃO NA MULHER QUE OPTOU PELA MAMADEIRA
Se a mulher optou por usar a mamadeira, explique que o ingurgitamento mamário é um fenômeno autolimitado que
desaparece conforme os crescentes níveis de estrogênio suprimem a formação de leite (ou seja, a supressão da lactação).
Incentive a mulher a usar compressas de gelo, a usar um sutiã confortável e firme 24 horas por dia e a tomar analgésicos
leves, como o paracetamol. Incentivea a evitar qualquer estímulo às mamas que possa fomentar a produção de leite, como
duchas quentes ou bombear ou massagear as mamas. Não é mais prescrita medicação para apressar a supressão da
lactação, porque os agentes dessa medicação têm efetividade limitada e efeitos colaterais adversos. O boxe Diretrizes de
ensino 16.5 fornece sugestões em relação à supressão da lactação.
Diretrizes de ensino 16.5
Supressão da lactação
1. Usar um sutiã firme e bem ajustado 24 horas por dia, mas ele não deve apertar as mamas com muita
força nem interferir na respiração
2. A supressão pode levar 5 a 7 dias para acontecer
3. Tomar analgésicos leves para reduzir o desconforto da mama
4. Deixar a água do chuveiro correr sobre as costas, em vez de sobre as mamas
5. Evitar qualquer estimulação da mama, por sucção ou massagem
6. Beber água para saciar a sua sede. Restringir a ingestão de líquidos não vai secar o leite
7. Reduzir o consumo de sal para diminuir a retenção de líquidos
Usar compressas de gelo ou compressas frias (p. ex., folhas de couve fresca) dentro do sutiã para
8. diminuir a dor local e a tumefação; trocálas a cada 30 minutos (King et al., 2015)
Promoção do ajustamento e do bemestar familiar
O período pósparto envolve extraordinárias alterações fisiológicas, psicológicas e socioculturais na vida da paciente e de
sua família. Adaptarse à parentalidade não é um processo fácil. O período pósparto é um momento no qual os pais
começam a integrar o recémnascido em suas vidas conforme conciliam a criança da fantasia com a real. Esse pode ser um
período muito difícil para as famílias. Os enfermeiros têm uma participação importante em ajudar as famílias a se
adaptarem às modificações, promovendo uma transição suave para a parentalidade. Intervenções apropriadas e oportunas
podem ajudar os pais a se adaptarem às mudanças de funções e a promover o apego com o recémnascido (Figura 16.7).
Para os casais que já têm filhos, a chegada de um novo membro pode trazer conflitos de papel e desafios. O
enfermeiro deve fornecer orientações antecipatórias em relação às respostas dos irmãos ao novo membro da família, ao
aumento da tensão emocional, ao desenvolvimento da criança e à atenção às múltiplas necessidades da família em
expansão. Embora a multípara tenha experiência com recémnascidos, não pense que seu conhecimento seja atual e
acurado, especialmente se algum tempo se passou desde que seu filho anterior nasceu. É importante reforçar as
informações a todas as famílias.
Promoção da parentalidade
A parentalidade se desenvolve e cresce conforme eles interagem com o seu recémnascido (consulte o Capítulo 15 para
obter informações sobre a adaptação materna e paterna). O prazer que deriva dessa interação estimula e reforça esse
comportamento. Com o contato repetido e contínuo com o recémnascido, os pais aprendem a reconhecer os sinais e a
entender o comportamento do recémnascido. Essa interação positiva contribui para a harmonia familiar.
O enfermeiro precisa conhecer as etapas pelas quais os pais passam conforme suas novas funções parentais se ajustam
à sua experiência de vida. Avalie os comportamentos de apego (normal e desviante) dos pais, a adaptação à parentalidade,
o ajuste do membro à família, o sistema de apoio social e as necessidades educacionais. Para promover a adaptação da
parentalidade e o apego do pai e da mãe ao recémnascido, forneça as seguintes intervenções de enfermagem:
• Forneça tantas oportunidades quanto possível para que os pais interajam com o recémnascido. Incentive os pais a
explorar, segurar e prestar cuidados ao recémnascido. Elogieos por seus esforços
• Dê exemplos de comportamentos, como segurar o recémnascido próximo, chamálo pelo nome e falar coisas positivas
• Fale diretamente com o recémnascido em uma voz calma, além de apontar aspectos positivos do recémnascido aos
pais
• Avalie os pontos fortes e fracos e a disposição para a parentalidade da família
• Avalie os fatores de risco, como a falta de apoio social e a existência de estressores
• Observe o efeito da cultura na interação familiar para determinar se existe uma dinâmica familiar saudável
• Monitore os comportamentos de apego dos pais para verificar quais alterações exigem encaminhamentos. Os
comportamentos positivos incluem segurar o recémnascido de perto ou em uma posição face a face, falar ou admirar
o recémnascido ou demonstrar proximidade. Os comportamentos negativos incluem evitar o contato com o recém
nascido, chamarlhe de nomes pejorativos ou mostrar falta de interesse em cuidar dele (ver Tabela 16.1)
• Monitore os comportamentos de enfrentamento dos pais para determinar alterações que necessitam de intervenção.
Comportamentos de enfrentamento positivos incluem conversas positivas entre os parceiros, ambos os pais quererem
se envolver com os cuidados neonatais e a ausência de discussão entre os pais. Os comportamentos negativos incluem
falta de visitas, conversas limitadas ou períodos de silêncio e discussões acaloradas ou conflitos
• Identifique os sistemas de apoio disponíveis para a nova família e incentiveos a pedir ajuda. Faça perguntas diretas
sobre o apoio dos parentes ou da comunidade. Faça os encaminhamentos aos recursos da comunidade para atender às
necessidades da família
• Programe visitas domiciliares de instituições comunitárias a famílias de alto risco para proporcionar um reforço
positivo das habilidades parentais e comportamentos de carinho com o recémnascido
• A fim de reduzir a frustração dos novos pais, antes da alta, forneça orientações antecipatórias sobre o seguinte:
• Ciclos de sonovigília do recémnascido (que podem ser revertidos)
• Variações na aparência e marcos de desenvolvimento do recémnascido (surtos de crescimento)
• Como interpretar os tipos de choro (por fome, fraldas molhadas, desconforto) e o que fazer em relação a eles
• Enriquecimento/estimulação sensorial (móbile colorido)
• Sinais e sintomas de doença e como avaliar se há febre
• Números de telefone importantes, cuidados de acompanhamento e imunizações necessárias
• Mudanças físicas e emocionais associadas ao período pósparto
• Necessidade de integrar os irmãos aos cuidados do recémnascido; informe que a rivalidade entre irmãos é normal e
ofereça maneiras de reduzila
• Maneiras de proporcionar ao casal um tempo juntos.
FIGURA 16.7 Exemplos de familiares desempenhando funções para promover o ajustamento e o bem
estar. A. Uma tia admirando o mais novo membro da família. B. O pai segurando o recémnascido próximo do
corpo. C. Avós dão as boasvindas ao mais novo membro do círculo familiar.
Além disso, o enfermeiro pode ajudar os pais a se sentirem mais competentes em assumir seu papel como pais por
meio de informações e fornecimento de orientações (Figura 16.8). As orientações podem dissipar quaisquer expectativas
irreais que possam ter, ajudandoos a lidar com mais sucesso com as demandas da paternidade e promovendo assim uma
relação familiar afetuosa.
FIGURA 16.8 Pai participando de cuidados neonatais.
Orientações sobre o papel dos irmãos
Para uma criança, pode ser terrível ter outro membro da família introduzido em seu pequeno e estável mundo. Embora a
maior parte dos pais tente preparar os irmãos para a chegada de seu novo irmãozinho ou irmãzinha, muitas crianças
pequenas ficam estressadas. Elas podem ver o recémnascido como um competidor, ou ter medo de que serão substituídas
no afeto dos pais. Todos os irmãos precisam de atenção extra de seus pais e garantia de que são amados e importantes.
Muitos pais precisam de garantias de que a rivalidade entre irmãos é normal. Sugira o seguinte para ajudar os pais a
minimizar a rivalidade entre irmãos:
• Espere e tolere alguma regressão (chupar o dedo, urinar na cama)
• Explique o nascimento de modo adequado à idade da criança
• Incentive a discussão sobre o novo bebê durante momentos de lazer da família
• Incentive o irmão a participar das decisões, como o nome e os brinquedos a serem comprados para o recémnascido
• Leve o irmão em uma excursão ao quarto da maternidade
• Compre uma camiseta como os dizeres “Eu sou [o(a) irmão/irmã mais velho(a)]”
• Reserve um “momento especial” para a criança
• Leia com a criança. Existem diversos livros que abordam a chegada de um novo membro da família em casa
• Organize um tempo para cada criança ao longo do dia
• Dramatize o manuseio seguro de um recémnascido, usando uma boneca. Dê à criança em idade préescolar ou escolar
uma boneca para que ela cuide
• Incentive as crianças mais velhas a verbalizar emoções sobre o recémnascido
• Compre um presente que a criança possa dar ao recémnascido
• Compre um presente que possa ser dado à criança pelo recémnascido
• Organize a ida da criança ao hospital para ver o recémnascido (Figura 16.9)
• Passe o irmão do berço para uma cama infantil meses antes do nascimento do recémnascido
• Mostre as fotos de quando a criança mais velha estava crescendo na barriga da mãe. Deixea afagar a barriga com o
bebê que vai nascer, falar com ele e sentilo chutar
• Faça com que o irmão mais velho se sinta importante, dandolhe um título de “ajudante da mamãe”
• Incentive os avós a prestar atenção ao filho mais velho durante as visitas
• Diga ao irmão mais velho que seus amigos vêm e vão, mas os irmãos são para sempre
• Incentive a máxima “Faça aos outros o que gostaria que fizessem a você” (Sears & Sears, 2015c).
FIGURA 16.9 Visita dos irmãos.
Discussão do papel dos avós
Os avós podem ser uma fonte de apoio e conforto à família após o parto, se forem usadas habilidades de comunicação
eficazes e os papéis forem definidos. O papel e o envolvimento dos avós dependerão de quão perto eles vivem da família,
da sua vontade de se envolver e das expectativas culturais de seu papel. Assim como os pais e irmãos passam por
mudanças no desenvolvimento, assim também o fazem os avós. Essas alterações podem ter um efeito positivo ou negativo
sobre a relação.
O cuidado com o recémnascido, a alimentação e as práticas de educação infantil mudaram desde que os avós tiveram
seus filhos. Os novos pais podem não ter as habilidades de parentalidade, mas ainda assim querem o apoio de seus pais,
sem críticas. Uma abordagem “de assumir o controle” por parte dos avós pode não ser bemvinda pelos novos pais que
estão testando seus próprios papéis parentais, podendo surgir conflitos familiares. No entanto, muitos avós respeitam o
desejo de seus filhos adultos de autonomia e permanecem como “fontes de informação” quando solicitados.
Considere isto
Katie e Molly ficaram felizes de ter uma nova irmãzinha desde que foram informadas sobre a gestação de
sua mãe. Aos 6 anos de idade, as gêmeas olhavam ansiosamente pela janela da frente, esperando que
seus pais trouxessem sua nova irmã, Jessica, para casa. As meninas são grandes o suficiente para ajudar a
mãe a cuidar de sua nova irmã, e nos últimos meses elas organizaram o quarto da nova irmã e escolheram
as roupas de bebê. Elas praticavam como colocar fraldas em suas bonecas – sua mãe era específica sobre
não usar qualquer pó ou loção nas nádegas de Jessica – e a segurála corretamente para alimentála com a
mamadeira. Finalmente, sua mãe chega em casa do hospital com Jessica em seus braços!
As meninas notam que sua mãe é muito protetora com Jessica e observam cuidadosamente como ela
se importa com o recémnascido. Elas disputam a oportunidade de abraçála ou alimentála. O que é
especial para ambas são os momentos que passam a sós com seus pais. Embora um novo membro tenha
sido adicionado à família, as gêmeas ainda se sentem especiais e amadas por seus pais.
Reflexões: A chegada de um novo membro a uma família estabelecida pode causar conflitos e ciúmes.
Que preparação foi necessária com as irmãs mais velhas antes da chegada de Jessica? Por que é
importante que os pais passem um tempo com cada irmã separadamente?
Anote!
O envolvimento dos avós pode enriquecer a vida de toda a família, se aceito no contexto e na dose adequados à família.
Os enfermeiros podem ajudar na transição de papel dos avós, avaliando suas habilidades de comunicação, expectativas
de função e habilidades de apoio durante o período prénatal. Descubra se os avós estão incluídos na rede de apoio social
do casal e se seu apoio é desejado ou útil. Se for, e é, então encoraje os avós a aprender sobre maternidade, alimentação e
habilidades na criação da criança que seus filhos aprenderam nas aulas de preparação para o parto. Essa informação é
comumente encontrada nas aulas de preparação para “avós”, que introduzem novos conceitos de parentalidade e atualização
dos avós em relação às práticas atuais de parto.
Orientações em relação à melancolia pósparto
O período pósparto é tipicamente um momento feliz, embora estressante, porque o nascimento de uma criança é
acompanhado de enormes mudanças físicas, sociais e emocionais. A puérpera pode relatar sentimentos de instabilidade
emocional, como chorar em um minuto e rir no próximo (ver no Capítulo 15 discussão sobre melancolia puerperal).
Embora a melancolia pósparto seja habitualmente uma condição benigna e autolimitada, essas alterações do humor podem
ser amedrontadoras para a puérpera. É prudente fazer dois questionamentos – sobre sentir prazer e interesse nas coisas ou
se sentir predominantemente deprimida, desesperançada e “para baixo”. Após ser determinado que a melancolia pósparto
é a causa provável dos sintomas relacionados ao humor, o enfermeiro pode oferecer orientação antecipatória de que essas
oscilações de humor são comuns e, em geral, desaparecem espontaneamente em 1 semana. O enfermeiro pode, assim,
tranquilizar a puérpera. As puérperas também devem ser orientadas a procurar assistência médica se o transtorno do
humor não desaparecer em 2 semanas, porque pode estar ocorrendo depressão pósparto (King et al., 2015).
Anote!
A melancolia pósparto tem sido considerada breve, benigna e sem importância clínica, mas vários estudos têm proposto
uma ligação entre a melancolia e a depressão nos 6 meses subsequentes ao parto (Cristescu et al., 2015).
A melancolia pósparto não requer tratamento formal, com exceção de apoio e encorajamento, pois não costuma
interferir na capacidade da mulher de atuar e cuidar de seu filho. O enfermeiro pode aliviar o sofrimento da mãe
incentivandoa a desabafar seus sentimentos e demonstrando paciência e compreensão para com ela e sua família. Sugerir
que a mãe consiga ajuda externa com as tarefas domésticas e cuidados com a criança pode auxiliála a se sentir menos
sobrecarregada até que a melancolia diminua. Forneça números de telefone para os quais ela possa ligar quando se sentir
triste durante o dia. Conscientizar as mulheres desse transtorno durante a gestação aumentará seus conhecimentos acerca
desse transtorno do humor, o que poderá diminuir o constrangimento e aumentar a sua vontade de pedir e aceitar ajuda se
ela ocorrer.
A mulher no pósparto também corre risco de depressão e psicose pósparto, condições discutidas no Capítulo 22.
Preparação para a alta
A OMS recomenda que a duração da hospitalização deve ser individualizada, levando em conta a mãe e o recémnascido;
contudo, deve ser de pelo menos 24 horas após o parto (2014b). A internação reduzida pode ser indicada caso os seguintes
critérios sejam atendidos:
• A mãe esteja afebril e os sinais vitais estejam dentro da faixa normal
• O volume e a coloração dos lóquios sejam apropriados para a fase de recuperação
• Os valores da hemoglobina e do hematócrito estejam dentro da faixa normal
• O fundo uterino seja firme; o débito urinário seja adequado
• O grupo sanguíneo AB0 e o fator Rh sejam conhecidos e, se indicado, tiver sido administrada imunoglobulina antiD
• As feridas cirúrgicas estejam cicatrizando e não existam sinais de infecção
• A mãe seja capaz de deambular sem dificuldades
• Os alimentos e líquidos sejam ingeridos sem dificuldade
• Os cuidados consigo própria e com o recémnascido tiverem sido compreendidos e demonstrados
• A família ou outro sistema de apoio estejam disponíveis para cuidar de ambos
• A mãe esteja ciente das possíveis complicações (WHO,2014b).
Fornecimento de vacinas
Antes da alta, verifique o estado de imunidade à rubéola de todas as mães e administre uma injeção subcutânea de vacina
contra a rubéola, se ela não for sorologicamente imune (titulação de menos de 1:8). Certifiquese de que a paciente tenha
assinado um termo de consentimento para receber a vacina. A vacina contra a rubéola não deve ser administrada à mulher
imunocomprometida, e o estado imunológico de seus contatos próximos precisa ser determinado antes que qualquer vacina
seja administrada a ela para evitar um caso mais virulento de uma doença evitável por vacina ou potencial morte. Nos
EUA, por causa do aumento recente do número de casos de coqueluche em lactentes com menos de 3 meses de vida, o
CDC também está recomendando a vacinação com Tdap (combinação de vacinas contra difteria, coqueluche e tétano) para
a puérpera (CDC, 2015b).1 As mães que amamentam podem ser vacinadas, porque o vírus vivo e atenuado da rubéola não
é comunicável. Informe todas as mães que receberam a imunização sobre os efeitos adversos (erupção cutânea, sintomas
articulares e uma febre baixa 5 a 21 dias depois) e a necessidade de se evitar a gestação durante pelo menos 28 dias após a
vacinação, devido ao risco de efeitos teratogênicos (CDC, 2015b).
Fator Rh
Se a paciente for Rhnegativa, verifique o fator Rh do recémnascido. Verifique se a mulher é Rhnegativa e não foi
sensibilizada, se seu teste de Coombs indireto (rastreamento de anticorpos) foi negativo e se o recémnascido é Rh
positivo. As mães que são Rhnegativas e deram à luz uma criança Rhpositiva devem receber uma injeção de
imunoglobulina Rh nas 72 horas seguintes ao parto para evitar uma reação de sensibilização da mulher Rhnegativa que
recebeu células sanguíneas Rhpositivas durante o processo de nascimento. Administrar RhoGAM® impede a
isoimunização inicial em mães Rhnegativas, destruindo hemácias fetais no sistema materno antes que os anticorpos
maternos possam se desenvolver e as células de memória materna sejam sensibilizadas. Essa é a técnica clássica de
imunização passiva. O protocolo habitual para a mulher Rhnegativa é receber duas doses de imunoglobulina Rh
(RhoGAM®), uma na 28a semana de gestação e a segunda dose nas 72 horas seguintes ao parto. A dose padrão de
imunoglobulina Rho (D) (RhoGAM®) é de 300 mcg por via intramuscular, o que impede o desenvolvimento de anticorpos
em caso de exposição a até 15 m ℓ de hemácias fetais (King et al., 2015). É necessário um termo de consentimento
assinado após o fornecimento de uma explicação detalhada sobre o procedimento, incluindo a sua finalidade, os possíveis
efeitos adversos e os efeitos sobre futuras gestações.
Rhophylac® consiste em anticorpos G específicos contra antígenos Rho (D) de eritrócitos humanos. Portanto, tratase
de um hemoderivado. A dose de imunoglobulina antiRho(D) deve ser determinada de acordo com o nível de exposição a
hemácias Rh(D)positivas, e baseada no conhecimento de que 0,5 mℓ de concentrado de hemácias Rh(D)positivas ou 1
m ℓ de sangue Rh(D)positivo é neutralizado por aproximadamente 10 microgramas (50 UI) de imunoglobulina anti
Rho(D). As testemunhas de Jeová e as pessoas que pertencem a religiões que proíbem o uso de hemoderivados devem
ponderar e, possivelmente, consultar seus líderes religiosos sobre o uso de imunoglobulina antiRh. Os profissionais de
enfermagem precisam respeitar a decisão das puérperas e de suas famílias.
Assegurar cuidados de acompanhamento
As novas mães e suas famílias precisam ser atendidas por um longo período de tempo por enfermeiros com conhecimento
sobre cuidados maternos, alimentação da criança (aleitamento materno e mamadeira), cuidados com o recém
nascido/lactente e nutrição. Embora os cuidados de enfermagem continuem após a alta do hospital ou maternidade, devem
se prestar cuidados de enfermagem prolongados episódicos em casa. Alguns dos desafios enfrentados pelas famílias após
a alta são descritos no Boxe 16.5.
Muitas novas mães relutam em “cortar o cordão umbilical” após a sua breve internação na unidade de saúde e precisam
de serviços comunitários prolongados. As mulheres que recebem alta muito cedo do hospital correm o risco de
subinvolução uterina, desconforto no local de episiotomia ou cesariana, infecções, fadiga e inadaptação ao seu novo papel.
Os cuidados de enfermagem no pósparto devem incluir uma gama de cuidados focados na família, incluindo chamadas
telefônicas, consultas a ambulatórios e visitas domiciliares. Tipicamente, o enfermeiro de saúde pública, da comunidade e
de atendimento domiciliar e a equipe do consultório médico prestarão os cuidados pósparto após a alta hospitalar.
BOXE 16.5
DESAFIOS ENFRENTADOS PELAS FAMÍLIAS APÓS A ALTA DA GESTANTE
• Falta de modelos para a amamentação e cuidados com o recémnascido
• Falta de apoio da mãe da nova mãe caso ela não tenha amamentado
• Aumento da mobilidade da sociedade, o que significa que os parentes podem morar longe e podem não
ser capazes de cuidar do recémnascido e apoiar a nova família
• Sentimentos de isolamento e laços comunitários limitados das mulheres que trabalham em tempo
integral
• Internações hospitalares mais curtas: os pais podem se sentir oprimidos com todas as informações que
são dadas na breve permanência no hospital
• As aulas de prénatal geralmente se concentram no próprio nascimento, em vez de nas habilidades
necessárias para cuidar de si e do recémnascido durante o período pósparto
• O acesso limitado aos sistemas de educação e de apoio às famílias de diversas culturas
Adaptado de Bope, E., & Kellerman, R. (2015). Conn’s current therapy 2015. Philadelphia, PA: Saunders
Elsevier; e Bang, K., Huh, B., & Kwon, M. (2014). The effect of a postpartum nursing intervention program
for immigrant mothers. Child Health Nursing Research, 20(1), 11–19.
ACOMPANHAMENTO POR TELEFONE
O acompanhamento por telefone tipicamente ocorre durante a primeira semana após a alta, para verificar como estão indo
as coisas em casa. A ligação pode ser feita pelo enfermeiro perinatal da instituição como parte dos cuidados de
acompanhamento ou pelo enfermeiro da unidade básica de saúde local. Uma desvantagem da avaliação por telefone é que o
enfermeiro não pode ver a paciente e, assim, deve contar com as observações da mãe ou da família. O enfermeiro
experiente deve ser capaz de reconhecer a angústia e dar conselhos apropriados e informações de encaminhamento, se
necessário.
ACOMPANHAMENTO AMBULATORIAL
Para as mães com médicos já escolhidos, como pediatras e obstetras particulares, as consultas são organizadas logo após a
alta. Para a mulher com um parto vaginal sem complicações, a consulta geralmente é marcada para 4 a 6 semanas após o
parto. A mulher submetida a cesariana frequentemente é avaliada dentro de 2 semanas após a alta hospitalar. As
prescrições na alta hospitalar especificarão quando essas consultas devem ser realizadas. O exame do recémnascido e
outros exames laboratoriais diagnósticos são programados para a primeira semana após o parto.
Anote!
A internação da mãe e do recémnascido a termo saudável deve ser longa o suficiente para possibilitar a identificação dos
primeiros problemas e garantir que a família seja capaz e esteja preparada para cuidar da criança em casa (WHO, 2014b).
Os ambulatórios estão disponíveis em muitas comunidades. Se os membros da família se deparam com um problema,
a clínica local está disponível para fornecer avaliação e tratamento. As consultas à clínica podem substituir ou
complementar as consultas domiciliares. Embora essas clínicas estejam abertas só durante o dia e os membros da equipe
não estejam familiarizados com a família, eles podem ser um recurso valioso para a nova família com um problema ou
preocupação.
VISITA DOMICILIAR DE ACOMPANHAMENTO
As visitas domiciliares geralmente são feitas na primeira semana após a alta, para avaliar a mãe e o recémnascido.
Durante a visita domiciliar, o enfermeiro avalia e gerencia os problemas físicos e psicossociais comuns. Além disso, o
enfermeiro domiciliar pode ajudar os novos pais a se adaptar às mudanças em suas vidas. A visita domiciliar pósparto
geralmente inclui:
• Avaliação materna: bemestar geral, sinais vitais, saúde e cuidados com as mamas, estado abdominal e
musculoesquelético, estado de micção, estado do fundo do útero e lóquios, estado psicológico e de enfrentamento,
relações familiares, técnica de alimentação adequada, verificação da segurança do ambiente, conhecimento dos
cuidados ao recémnascido e orientações de saúde necessárias (a Figura 16.10 mostra exemplos de formulários de
avaliação)
• Avaliação infantil: exame físico, aparência geral, sinais vitais, verificação da segurança em casa, estado de
desenvolvimento da criança, qualquer tipo de orientação necessária para melhorar as habilidades dos pais.
O enfermeiro de cuidados domiciliares deve estar preparado para apoiar e orientar a mulher e sua família nas seguintes
áreas:
• Técnicas e procedimentos de aleitamento materno ou uso da mamadeira
• Comportamento parental adequado e resolução de problemas
• Necessidades físicas, psicossociais e culturalambientais maternas e do recémnascido
• Necessidades emocionais da nova família
• Sinais de alerta de problemas e como evitálos ou eliminálos
• Questões de sexualidade, incluindo o uso de contraceptivos
• Necessidades de imunização para a mãe e o recémnascido
• Dinâmica familiar para uma transição suave
• Acesso aos médicos e recursos da comunidade.
FIGURA 16.10 Exemplo de formulário de avaliação pósparto na visita domiciliar. A. Avaliação materna. (Usada
com permissão: Copyright Briggs Corporation. Professional Nurse Associates.) B. Avaliação do recémnascido.
(Usada com permissão: Copyright Briggs Corporation. Professional Nurse Associates.)
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
O período de adaptação de transição entre o nascimento e a paternidade inclui orientações sobre
noções básicas de cuidados com o recémnascido, o papel da nova família, o suporte emocional, o
apoio à amamentação ou ao uso da mamadeira e as orientações à mãe
A sensibilidade ao modo como práticas e crenças de maternidade variam entre as famílias
multiculturais e o melhor modo de prestar cuidados de enfermagem adequados para atender às suas
necessidades são importantes durante o período pósparto
A avaliação pósparto minuciosa é fundamental para a prevenção de complicações, assim como a
higiene das mãos frequente pelo enfermeiro, especialmente entre as manipulações das mães e
recémnascidos
O vínculo é um componente vital do processo de apego e é necessário para estabelecer o apego
mãefilho e um relacionamento saudável e amoroso; os comportamentos de apego incluem a busca e
a manutenção da proximidade e a troca de experiências gratificantes com a criança
O enfermeiro pode ser fundamental na facilitação do apego. Em primeiro lugar, ao compreender os
comportamentos de apego (positivos e negativos) do recémnascido e dos pais e depois ao intervir de
modo adequado para promover e reforçar o apego
Novas mães e suas famílias precisam ser atendidas por um longo período de tempo por enfermeiros
com conhecimento sobre cuidados maternos, alimentação do recémnascido (aleitamento materno e
uso da mamadeira), cuidados ao recémnascido e nutrição
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Exercícios sobre o capítulo
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. Ao avaliar uma mulher no período pósparto, qual dos seguintes comportamentos levaria o enfermeiro a
suspeitar de melancolia pósparto?
a. Crises de pânico e pensamentos suicidas
b. Raiva contra si mesma e contra a criança
c. Choro periódico e insônia
d. Pensamentos obsessivos e alucinações
2. Qual dessas atividades melhor ajudaria o enfermeiro pósparto a prestar cuidados culturalmente
sensíveis à família que está tendo um filho?
a. Fazer um curso transcultural
b. Cuidar apenas de famílias de sua origem cultural
c. Ensinar crenças ocidentais a famílias culturalmente diversas
d. Informarse em relação a práticas culturais diversas
3. Qual das seguintes sugestões seria mais apropriado incluir no plano de orientações à puérpera que
precisa perder peso?
a. Aumentar a ingestão de líquidos e alimentos que produzam ácido em sua dieta
b. Evitar alimentos com calorias vazias e aumentar a prática de exercícios físicos
c. Iniciar uma dieta rica em proteínas e pobre em carboidratos e restringir o consumo de líquidos
d. Não ingerir lanches ou carboidratos após o jantar
4. Depois de orientar um grupo de lactantes em relação às necessidades nutricionais, o enfermeiro
determina que as orientações foram bemsucedidas quando as mulheres afirmam que precisam
aumentar sua ingestão de quais nutrientes?
a. Carboidratos e fibras
b. Gorduras e vitaminas
c. Calorias e proteínas
d. Alimentos ricos em ferro e minerais
5. Qual das seguintes reações levaria o enfermeiro a suspeitar de que a puérpera está desenvolvendo
uma complicação?
a. Fadiga e irritabilidade
b. Desconforto perineal e secreção vaginal rosada
c. Frequência cardíaca de 60 bpm
d. Área tumefeita, dolorosa à palpação e quente na mama
6. Qual das seguintes atitudes o enfermeiro avaliaria como sinal de vínculo positivo entre os pais e seu
recémnascido?
a. Segurar o recémnascido próximo ao corpo
b. Deixar as visitas segurarem o recémnascido
c. Comprar roupas infantis caras
d. Solicitar que o enfermeiro cuide do recémnascido
7. Qual atividade o enfermeiro incluiria no plano de orientações aos pais com um recémnascido e uma
criança mais velha para reduzir a rivalidade entre irmãos quando o recémnascido for levado para
casa?
a. Punir o filho mais velho por urinar na cama à noite
b. Enviar o irmão para a casa dos avós
c. Planejar um “momento especial” diário com o irmão mais velho
d. Possibilitar que o irmão divida o quarto com o recémnascido
8. O principal objetivo da primeira consulta domiciliar pósparto é:
a. Identificar as complicações que exijam intervenções
b. Obter uma amostra de sangue para pesquisar fenilcetonúria
c. Completar a certidão de nascimento oficial
d. Apoiar os novos pais em seus papéis parentais
9. O enfermeiro está orientando a puérpera que planeja alimentar o filho recémnascido com fórmula
infantil sobre medidas para prevenir ingurgitação das mamas quando ela receber alta hospitalar. Qual
das seguintes medidas o enfermeiro deve incluir no plano de orientação?
a. Diminuir o consumo de líquido durante a primeira semana em casa
b. Usar um sutiã de suporte e bemajustado 24 horas por dia
c. Ingerir um diurético para liberar o líquido extra das mamas
d. Espremer manualmente o leite que está se acumulando
10. Uma puérpera foi trazida para a unidade de pósparto após dar à luz há 12 horas. Como se trata de seu
primeiro filho, qual das seguintes metas estabelecidas pelo enfermeiro é mais apropriada?
a. Dar alta precoce à puérpera e ao recémnascido
b. Transição rápida para seu papel de mãe/cuidadora
c. Necessidade mínima de expressão de seus sentimentos agora
d. Educação efetiva do pai e da mãe antes da alta hospitalar
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. Como enfermeiro da unidade pósparto, você entra no quarto de uma primigesta de 22 anos de idade, e
encontraa conversando ao telefone enquanto o recémnascido está chorando alto no berço, que foi
empurrado para dentro do banheiro. Você o pega no colo e o conforta. Enquanto segura o recém
nascido, você pergunta à paciente se ela percebeu que ele estava chorando. Ela responde: “Isso é tudo
que essa criatura faz desde que nasceu!” Você entrega o recémnascido a ela, que o coloca na cama
longe dela e continua sua conversa telefônica.
a. Qual é a sua avaliação de enfermagem desse encontro?
b. Que intervenções de enfermagem seriam adequadas?
c. Que intervenções de alta específicas seriam necessárias?
2. Uma primípara solteira de 34 anos de idade deixou o hospital depois de uma internação de 36 horas
com seu filho recémnascido. Ela mora sozinha em um apartamento de um quarto, em um prédio sem
elevador. Como enfermeiro pósparto de saúde domiciliar que a visita 2 dias depois, você encontra o
seguinte:
• Paciente chorosa andando de um lado para o outro, segurando seu filho chorando
• Casa tumultuada e bagunçada
• Fundo do útero firme e deslocado para a direita da linha média
• Lóquios rubros de volume moderado; local da episiotomia limpo, seco e intacto
• Sinais vitais dentro dos limites da normalidade; classificação de dor em menos de 3 pontos em uma
escala de 1 a 10
• Mamas discretamente ingurgitadas; uso de sutiã com aro de sustentação
• Avaliação do recémnascido dentro dos limites normais
• Bexiga distendida à palpação; relata polaciúria.
a. Quais desses achados de avaliação exigem investigação adicional?
b. Que intervenções são apropriadas nesse momento e por quê?
c. Quais orientações de saúde são necessárias antes de você sair dessa casa?
3. O enfermeiro entra no quarto de uma primigesta de 24 anos. Ela pede ao enfermeiro para pegar a
mamadeira que está sobre a mesa de cabeceira, afirmando: “Vou acabar com isso, porque meu bebê
só tomou metade do conteúdo há 3 horas, na outra mamada.”
a. Que resposta do enfermeiro seria apropriada nesse momento?
b. Que medidas o enfermeiro deve tomar?
c. Quais orientações de saúde são necessárias para essa nova mãe antes da alta?
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Identifique duas perguntas que o enfermeiro faria a uma puérpera para avaliar se ela apresenta
melancolia pósparto.
2. Encontre um site que forneça conselhos a novos pais sobre a amamentação. Critique o site, as
credenciais do autor e a acurácia do conteúdo.
3. Faça um esboço de instruções que você daria a uma puérpera sobre como usar o frasco de irrigação
perineal.
4. A tumefação do tecido da mama secundária à congestão vascular após o parto e antes da lactação é
denominada ________________.
5. Ouça a história do período pósparto de uma das pacientes que lhe foram atribuídas e compartilhea
com seus colegas na sala de aula ou como parte de uma discussão online.
ESTUDO DE CASO
Uma mulher afroamericana de 26 anos de idade deu à luz um feto do sexo masculino saudável no dia
anterior e está se preparando para a alta hospitalar. A mãe é analfabeta e vive em uma região agrícola
pobre que não é distante do hospital. Tratase do quarto filho em um período de 5 anos. O enfermeiro do
puerpério vai ao quarto da paciente e observa que a mãe enrolou uma peça de tecido sujo em torno do
abdome do recémnascido com uma moeda cobrindo o coto do cordão umbilical. O vestuário do recém
nascido não está limpo e não é apropriado para as condições ambientais. A mãe está esperando uma
carona de um amigo para retornar ao lar. O enfermeiro que atua no setor de puerpério fornece as
orientações de alta hospitalar.
AVALIAÇÃO
O aspecto geral da paciente é saudável, mas parece fadigada. Os sinais vitais foram os seguintes: PA =
120/74 mmHg; frequência de pulso = 78 bpm; temperatura corporal = 36,6°C, frequência respiratória = 20
incursões por minuto. As mamas dela estavam macias à palpação e não havia ingurgitação. Ela planeja
alimentar o filho com fórmula infantil. O exame do abdome não revelou alterações dignas de nota e a
involução uterina está evoluindo normalmente. O fundo de útero estava no nível da cicatriz umbilical e sua
consistência era firme. Lóquios vermelhos de volume moderado, sem coágulos. A micção é normal e ela
defecou na manhã desse dia. Ela não foi submetida a episiotomia. O exame físico do recémnascido foi
normal, segundo o registro do pediatra.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 16 | Conduta de Enfermagem durante o Período PósParto
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é C. Choro periódico e insônia são característicos da melancolia pósparto, além de alterações de
humor, irritabilidade e sensibilidade aumentada. Crises de pânico, pensamentos suicidas ou raiva contra si mesma e
contra o recémnascido seriam descritivos de psicose pósparto, quando algumas mulheres voltam essa raiva contra si
e cometem suicídio ou infanticídio. As mulheres que apresentam melancolia pósparto não perdem o contato com a
realidade. Pensamentos obsessivos e alucinações se encaixam melhor no diagnóstico de psicose pósparto.
2. A resposta correta é D. Os enfermeiros primeiro precisam se informar em relação às várias práticas culturais para
incorporálas em sua prestação de cuidados. Ao compreender as diversas culturas diferentes da sua, os enfermeiros
podem se tornar sensíveis a essas distintas práticas e não as violar. Frequentar um curso transcultural pode ser
benéfico, mas isso levaria várias semanas para ser concluído e as informações são necessárias muito antes disso para
prestar cuidados culturalmente sensíveis à paciente internada e sua família. Cuidar apenas de famílias da mesma
origem cultural que a sua não seria possível ou realista considerando a população global e culturalmente diversificada
que vive nos EUA e no Brasil. O enfermeiro precisa cuidar de todas as pessoas, independentemente de cor, credo ou
nacionalidade, com respeito e competência. Ensinar crenças ocidentais a famílias culturalmente diversas demonstraria
comportamento etnocêntrico e não seria profissional. Cada cultura precisa ser respeitada e aprendida, com tolerância
e compreensão.
3. A resposta correta é B. Como a perda de peso é baseada no princípio da ingestão de calorias e produção de energia,
instruir essa mulher a evitar alimentos de alto teor calórico sem valor nutritivo e gastar mais energia por meio de
exercícios físicos resultaria em perda de peso para ela. Os alimentos produtores de ácidos (ameixa seca ou in
natura, cranberry) são tipicamente recomendados para as mulheres a fim de acidificar a urina para evitar infecções
urinárias, e não para fins de perda de peso. O aumento do consumo de líquido (água) seria bom para a perda de peso,
pois enche o estômago e reduz a sensação de fome; no entanto, a alternativa não identifica de quais líquidos a
ingestão deve ser aumentada. Aumentar a ingestão de sucos de alto teor calórico e refrigerantes seria
contraproducente para medidas de perda de peso. A restrição de líquidos combinada com uma dieta rica em proteínas
aumentará o risco de gota e formação de cálculos renais. Os carboidratos são necessários ao organismo para produzir
ATP e convertêlo em energia para os processos celulares. Limitar a ingestão de lanches poderia ser uma boa
sugestão, dependendo de quais lanches forem escolhidos. Frutas e vegetais crus são excelentes opções para lanche
porque são ricos em fibras, que ajudarão em um programa global de perda de peso.
4. A resposta correta é C. As lactantes precisam de 500 calorias adicionais para manter o aleitamento. Também é
necessário um adicional de 20 g de proteína para ajudar a criar e regenerar as células do corpo. O consumo adicional
de carboidratos ou fibras não é sugerido para a lactante. Um aumento do aporte de gorduras não é recomendado nem
necessário para o aleitamento materno. Para obter a quantidade adequada de vitaminas durante a lactação, as mulheres
são incentivadas a escolher uma dieta variada, que inclui grãos enriquecidos e fortificados e cereais, frutas e legumes
frescos e carnes magras e laticínios. Um aumento da ingestão de vitaminas por meio de suplementos não é
recomendado. Escolher vários alimentos da pirâmide alimentar proporcionará ferro e minerais adequados à lactante.
5. A resposta correta é D. Uma área tumefeita e dolorosa à palpação na mama indicaria mastite, que exigiria intervenção
médica. A fadiga e a irritabilidade não são complicações da gestação, embora sejam comuns durante o período pós
parto em decorrência das demandas dos cuidados com o recémnascido e da falta de sono por parte da mãe. O
desconforto perineal e os lóquios serosos são eventos fisiológicos normais após o parto e indicam involução uterina
normal. A bradicardia é um sinal vital normal durante vários dias após o parto, por causa das drásticas alterações
circulatórias que ocorrem com a saída da placenta ao nascimento e o retorno do sangue para a circulação central.
6. A resposta correta é A. Desejar estar próximo de outro ser humano é parte do processo de criação de vínculo. Não é
possível que o vínculo ocorra com a separação dos indivíduos. Proximidade é essencial para a mãe e o recém
nascido, portanto outras pessoas não devem segurar a criança. Comprar ou vestir roupas caras não tem efeito
emocional em uma relação de vínculo. Solicitar que o enfermeiro preste os cuidados separa o pai/a mãe da criança e
sugere que os pais não têm o desejo de manter a proximidade com seu filho.
7. A resposta correta é C. O irmão mais velho precisa sentir que ainda é amado e não é “ofuscado” pelo mais novo
membro da família. Reservar um momento especial para esse irmão reforça que o pai/a mãe têm amor por ele
também. O comportamento de regressão é comum quando esse irmão sente estresse, e punilo chama a atenção para o
comportamento negativo, possivelmente reforçandoo. O irmão mais velho pode sentir que está sendo substituído e
não é desejado pelos pais quando é enviado para outro lugar. Incluílo no cuidado do recémnascido é a melhor
maneira de incorporar o mais novo membro à unidade familiar. Compartilhar o quarto com o recémnascido pode
levar a sentimentos de deslocamento do irmão. Além disso, interrupções frequentes durante o dia e à noite
despertarão o irmão e não possibilitarão uma noite inteira de sono ou cochilo tranquilo.
8. A resposta correta é A. As consultas domiciliares geralmente são feitas na primeira semana após a alta para avaliar a
mãe e o recémnascido. Seu objetivo é também fornecer ao enfermeiro a oportunidade de reconhecer os problemas ou
complicações biomédicas e psicossociais comuns. Apesar de não ser o principal motivo, essa consulta também
oferece uma oportunidade para fornecer apoio e orientações aos pais a fim de que eles se ajustem às mudanças em
suas vidas. A consulta domiciliar não é o momento para realizar o teste de fenilcetonúria ou completar a certidão de
nascimento.
9. A resposta correta é B porque o uso de um sutiã apropriado diminuirá o desconforto e dará suporte às mamas
ingurgitadas. A ingurgitação mamária diminuirá no decorrer de 24 a 48 horas, mas o aporte de leite demorará
algumas semanas para desaparecer. As alternativas A e C são incorretas porque esta é uma recomendação deletéria
para uma puérpera. Preconizase aumento do consumo de líquido, em vez de redução, para manter a mãe hidratada. A
alternativa D é incorreta porque não se deve tentar espremer leite das mamas porque essa manobra promove a descida
do leite e mais produção de leite e agrava a ingurgitação.
10. A resposta correta é D porque os dois genitores precisam de orientação em relação ao recémnascido – tanto em
relação aos cuidados com ele como em relação ao autocuidado. Orientação é crucial para ajudar os genitores nessa
transição e adaptação aos seus novos papéis de pai e mãe. A alternativa A é incorreta porque a meta nunca deve ser
alta hospitalar precoce, mas a alta quando as pessoas estiverem apropriadamente estabilizadas e preparadas. A
alternativa B é incorreta porque a paternidade evolui com o passar do tempo, não imediatamente após o parto e
durante a estada na maternidade. A alternativa C é incorreta em razão do fato de que a maioria das puérperas deseja
expressar seus sentimentos e essa atitude deve ser encorajada, em vez de coibida.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. Qual é a sua avaliação de enfermagem desse encontro?
As observações de enfermagem indicariam um comportamento de vínculo/apego insatisfatório entre a mãe e o
recémnascido com base:
• No desinteresse em segurar o recémnascido no colo ou estar perto dele
• Na falta de preocupação com as necessidades do recémnascido
• No fato de a mãe estar mais preocupada com a conversa telefônica
• No comentário negativo sobre o recémnascido (“criatura”).
b. Que intervenções de enfermagem seriam adequadas?
Avalie os fatores de risco da paciente – idade, apoio familiar externo, múltiplos estressores de vida, expectativas
irreais de comportamento do neonato, nível de educação, apoio do sistema familiar – e determine a percepção
dela em relação aos comportamentos do recémnascido e orientea a respeito dos comportamentos normais da
criança e atividades maternais necessárias. Além disso, demonstre comportamentos de cuidado dos pais com o
recémnascido e verifique a disponibilidade de algum apoio familiar – família estendida, vizinhos e recursos da
comunidade.
c. Que intervenções de alta específicas seriam necessárias?
Com base nas observações e nos dados de avaliação, essa paciente precisaria de um encaminhamento para o
coordenador de alta, o departamento de serviço social ou o posto de saúde local para visita domiciliar de
acompanhamento dos cuidados. Há falta de comportamentos de vínculo/apego, possivelmente colocando o
recémnascido em risco de negligência ou maustratos.
2.
a. Quais desses achados de avaliação exigem investigação adicional?
• Paciente chorosa andando de um lado para o outro, segurando seu filho chorando
• Bexiga urinária distendida à palpação; relato de polaciúria (aumento da frequência miccional com redução
do volume miccional)
• Fundo do útero firme e deslocado para a direita da linha média.
b. Que intervenções são apropriadas nesse momento e por quê?
É evidente que Jennifer está sobrecarregada e não parece lidar bem com seu novo papel de mãe. Ela pode
também estar apresentando melancolia pósparto. Ela precisa de apoio durante esse período crítico. O
enfermeiro de saúde domiciliar tem de verificar quais sistemas familiares ou de apoio estão disponíveis e fazer
contato com eles para obter ajuda. Questione Jennifer a respeito de episódios de choro ou de tristeza anteriores
que ela teve recentemente, a fim de verificar se ela está passando por melancolia pósparto, além de estar
sobrecarregada. Se os recursos disponíveis forem limitados, pode ser necessário solicitar a visita diária de um
agente comunitário para ajudála. O aconselhamento e a escuta ativa serão úteis durante a visita domiciliar.
O fundo do útero está deslocado para longe da linha média, em decorrência da bexiga urinária distendida. A
bexiga deve ser esvaziada para que o útero retorne ao seu posicionamento na linha média do abdome. A
incontinência urinária de frequência de Jennifer pode ser decorrente da distensão secundária ao tônus vesical
inadequado ou de uma infecção das vias urinárias em desenvolvimento. O enfermeiro deve tentar fazer com que
Jennifer urine por conta própria e obter uma amostra de urina de jato médio. A pesquisa de bactérias na urina
com fita química reagente é apropriada. Instituir medidas para promover a micção – barulho de torneira aberta,
ingestão de líquidos na ausência de sede e beber suco de cranberry – também seria uma intervenção apropriada.
Se forem encontradas bactérias na amostra de urina de jato médio, seria necessário chamar o médico de Jennifer
para obter uma prescrição para medicação. Caso contrário, seria adequado aconselhála a aumentar a ingestão de
líquidos e a urinar com frequência.
c. Quais orientações de saúde são necessárias antes de você sair dessa casa?
Devem ser discutidas informações a respeito da melancolia pósparto, enfatizando que se trata de uma condição
benigna e autolimitada. Assegurar a Jennifer que isso é muito comum e dar a ela um tempo para desabafar suas
frustrações e expressar seus sentimentos pode ser muito terapêutico. Aumentar a conscientização a respeito da
melancolia pósparto pode trazêla para o foco e ajudála a compreender esse evento em sua vida. Além disso, é
preciso delinear as medidas de autocuidado e cuidado com o recémnascido para possibilitar que Jennifer
descanse. Sugerir a ela que tire sonecas enquanto o filho dorme ao longo do dia é um começo. A tentativa de
agrupar os cuidados com a criança (banho, alimentação e vestuário) pode darlhe mais tempo para si mesma.
Devese incentivála a convidar amigos e familiares para ajudar. Outras intervenções incluiriam:
• Garantir que suas habilidades como mãe são boas e que o recémnascido é saudável
• Encaminhar para instituições de atendimento de saúde domiciliar da comunidade para que ela receba visitas
em casa
• Conversar a respeito de aceitar ajuda e apoio de outras pessoas
• Confirmar horários e datas das consultas de acompanhamento
• Procurar recursos comunitários disponíveis para ajudála durante esse período.
3.
a. Que resposta do enfermeiro seria apropriada nesse momento?
Responda de modo delicado, sem julgamentos, que essa mamadeira de fórmula já está pronta há 3 horas desde a
última alimentação e que não foi refrigerada. Ela pode estar contaminada e não seria apropriada para alimentar a
criança agora.
b. Que medidas o enfermeiro deve tomar?
Pegue a mamadeira com fórmula antiga e diga a Lisa que você vai buscar uma mamadeira nova para essa
alimentação. Deixe o quarto com a mamadeira e troquea por outra.
c. Quais orientações de saúde são necessárias para Lisa antes da alta?
É necessária uma explicação completa em relação às práticas de alimentação, enfatizando que a fórmula é feita
de leite e precisa ser refrigerada quando não está sendo usada para a alimentação naquele momento. Deixar a
fórmula em temperatura ambiente durante longos períodos de tempo aumenta o risco de contaminação bacteriana
e pode resultar em gastrenterite infantil. Além disso, conforme a criança cresce, mais fórmula será consumida a
cada mamada, e será mais fácil estimar o volume aproximado consumido, a fim de evitar desperdícios.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Como você tem se sentido ultimamente? Como você tem dormido? Você tem se sentido triste e/ou incapaz de
desfrutar as coisas de que costumava gostar?
2. www.amigasdopeito.org.br.
3.
• Lave as mãos com água e sabão e sequeas
• Encha seu frasco de irrigação perineal com água quente da torneira e recoloque a tampa
• Caminhe com as pernas afastadas até o banheiro e pulverize toda a água do frasco de irrigação perineal na região
perineal
• Seque a área com leves toques de uma toalha limpa e coloque um absorvente íntimo novo da frente para trás
• Coloque o frasco de irrigação perineal vazio na pia para a próxima utilização
• Lave as mãos com água e sabão antes de sair do banheiro.
4. ingurgitamento
5. As respostas dos estudantes serão variadas.
ESTUDO DE CASO
1. Quais áreas de orientação sobre autocuidado são importantes para o processo de preparação para a alta?
2. Como o enfermeiro demonstraria respeito e gentileza durante sua interação?
3. Quais são as mensagens essenciais relacionadas com higiene e cuidados com o cordão umbilical que o enfermeiro
deve transmitir?
Resposta: As áreas gerais de orientação sobre autocuidado incluem cuidados perineais, cuidados com as mamas
durante o período de ingurgitamento, exercícios do assoalho pélvico, nível de atividade, períodos de atividade física e
descanso, nutrição e hidratação, higiene diária, planejamento familiar e agendamento de consultas depois do parto.
Para o enfermeiro, é importante ter conhecimentos sobre as práticas adotadas em outras culturas e incorporar estas
informações à prática clínica com humildade e extremo respeito. A adoção de uma postura julgadora não é apropriada
em qualquer contexto. Pedir à puérpera para explicar a prática de aplicar faixa no abdome é uma boa oportunidade
para começar a entender o que é isto. A mensagem essencial que o enfermeiro precisa transmitir é que a higiene
adequada da região periumbilical do recémnascido evita infecções. Em algumas culturas, as pessoas acreditam que
aplicar uma moeda e fixála em torno da área umbilical com uma faixa ajuda a eliminar hérnia umbilical. As hérnias
umbilicais são comuns em afroamericanos, mas podem ocorrer em qualquer criança. Essas hérnias podem ocorrer
quando os tecidos na junção do cordão umbilical cortado não cicatrizam satisfatoriamente. Embora essas abordagens
culturais sejam interessantes, não são efetivas, mas o uso das faixas na cintura persiste em algumas culturas atuais.
Plano de cuidados
1. O que o enfermeiro pode fazer para assegurarse de que suas orientações de saúde foram compreendidas?
2. Qual seria uma modalidade efetiva de instrução em preparação para a alta?
3. Com base na situação doméstica da paciente, quais cuidados subsequentes seriam recomendáveis?
Resposta: Para ter certeza de que suas instruções de saúde foram compreendidas pela paciente, o enfermeiro pode
precisar repetilas e esclarecer quaisquer dúvidas existentes. Como essa paciente é analfabeta, seria inútil fornecerlhe
material impresso. Poderia ser útil fornecer material instrutivo ao amigo da paciente, mas também seria recomendável
passarlhe o número do telefone de um obstetra para o qual possa ligar. É importante saber se a paciente dispõe de
um telefone para usar e se sabe como utilizálo. O enfermeiro deve demonstrar e mostrar gravuras da região
umbilical normal e da região infectada de um recémnascido e instruíla a telefonar se o umbigo do recémnascido
estiver parecido com o da fotografia do umbigo infectado. O enfermeiro deve ser sensível às diversas práticas
culturais e instruir as pacientes quanto às práticas higiênicas adequadas para evitar infecção. Por fim, o enfermeiro
deve referenciar essa família ao serviço de saúde domiciliar para acompanhamento em casa e aos recursos
comunitários disponíveis a eles. O enfermeiro também deve confirmar que o recémnascido tem uma consulta
agendada com um pediatra e pedir à paciente para verbalizar a importância da consulta pediátrica dentro de 2 semanas
depois da alta.
____________
1
N.R.T.: Isso também é feito no Brasil. Ver site da Sociedade Brasileira de Imunização (https://sbim.org.br/).
Questões múltipla escolha
1. A enfermeira está revendo o prontuário de sua cliente e observa que ela deve ser atentamente
acompanhada à procura de possível infecção. Qual dos seguintes fatores no histórico dessa
mulher levaria a enfermeira a fazêlo?
A. Placenta removida por extração manual
B. Trabalho de parto de 12 h
C. Hemoglobina de 11,5 mg/dℓ
D. Multiparidade
Concluir questão
2. Uma mulher deu à luz por via vaginal há 12 h e sua temperatura agora é 37,8°C. Qual atitude a
enfermeira deve tomar como mais apropriada?
A. Notificar o médico dessa elevação; esse achado reflete infecção
B. Coletar amostra de urina para cultura; a mulher provavelmente tem uma infecção urinária
C. Inspecionar o períneo para verificar se há formação de hematoma
D. Continuar monitorando a temperatura da mulher a cada 4 h; esse achado é normal
Concluir questão
3. Passaramse 8 h desde que uma mulher deu à luz por via vaginal um recémnascido saudável.
Ao avaliar o fundo do útero dela, a enfermeira espera encontrálo:
A. Entre o umbigo e a sínfise púbica
B. Na altura do umbigo
C. 1 cm abaixo do umbigo
D. 2 cm abaixo do umbigo
Concluir questão
4. Uma puérpera não conseguiu urinar desde que deu à luz. Ao avaliála, que achado indicaria à
enfermeira que a cliente está com distensão vesical?
A. O útero está firme
B. Lóquios menos volumosos que o habitual
C. A percussão revela macicez
D. A bexiga não é palpável
Concluir questão
5. A enfermeira está realizando uma avaliação de rotina de sua cliente após o parto. A inspeção
do absorvente íntimo revela uma mancha de lóquios de 13 cm. Isso deve ser documentado
como qual das seguintes opções?
A. Lóquios escassos
B. Lóquios discretos
C. Lóquios volumosos
D. Lóquios moderados
Concluir questão
6. A revisão do prontuário de trabalho de parto e parto de uma mulher revela uma laceração que
se estende ao músculo do esfíncter anal. A enfermeira identifica isso como qual das seguintes
opções?
A. Laceração de primeiro grau
B. Laceração de terceiro grau
C. Laceração de segundo grau
D. Laceração de quarto grau
Concluir questão
7. A enfermeira percebe que atender às diversas diferenças culturais de suas clientes é um
aspecto importante ao prestar cuidado a elas. Ao atender uma muçulmana no pósparto, qual
das seguintes opções seria uma prioridade?
A. Designar uma enfermeira para atendêla
B. Garantir que a enfermeira dê banho diariamente no recémnascido
C. Proporcionar tempo para que os inúmeros visitantes vejam a mulher e o recémnascido
D. Proporcionar tempo para que sejam realizadas orações à beira do leito
Concluir questão
8. Uma lactante diz: “Ele não parece querer mamar. Devo estar fazendo algo errado”. Qual
resposta da enfermeira seria menos útil?
A. “O aleitamento materno leva tempo. Vamos ver o que está acontecendo.”
B. “Alguns bebês travam e pegam a mama rapidamente, outros demoram um pouco mais.”
C. “Algumas mulheres simplesmente não são capazes de amamentar. Talvez você seja uma
delas.”
D. “Deixeme contatar nossa especialista em lactação e, juntas, talvez possamos lidar com
isso.”
Concluir questão
9. Qual das seguintes instruções a enfermeira transmitiria ao orientar os pais de uma recém
nascida que têm outro filho de 2 anos de idade em casa?
A. “Peça ao seu filho mais velho que escolha um brinquedo especial para a irmã.”
B. “Espere que seu filho mais velho se torne mais independente quando o bebê chegar a
casa.”
C. “Fale com seu filho mais velho sobre o bebê quando estiver levandoo para a creche.”
D. “Mantenha seu filho mais velho em casa enquanto você está aqui no hospital.”
Concluir questão
10. A enfermeira está orientando uma puérpera e seu cônjuge em relação à tristeza pósparto.
Qual afirmação indica que as orientações foram eficazes?
A. “Se os sintomas durarem mais do que alguns dias, preciso ligar para o meu médico.”
B. “Vou ter que tomar remédios para tratar a ansiedade e a tristeza.”
C. “Só devo ligar para esta linha de apoio se eu começar a ouvir vozes.”
D. “Posso sentir vontade de rir em um minuto e chorar no seguinte.”
Concluir questão
11. Durante uma avaliação de rotina, a enfermeira verifica que a cliente está taquicárdica. Qual
das seguintes opções deve ser descartada como a causa?
A. Distensão da bexiga
B. Hemorragia tardia
C. Sudorese extrema
D. Atonia uterina
Concluir questão
12. A cliente, que estava andando pelo quarto, sentase e queixase de sensação de aperto e dor
na perna. Depois de descansar, ela afirma que está se sentindo muito melhor. A enfermeira
reconhece que isso poderia ser decorrente de qual dos seguintes itens?
A. Alteração hormonal da relaxina e do estrogênio
B. Infecção
C. Doença tromboembólica nos membros inferiores
D. Resposta normal do corpo retornando ao estado prégestacional
Concluir questão
13. Como enfermeira que atende os pais e o filho deles recémnascido, você incentiva qual das
ações a seguir para ajudar a promover o vínculo e o apego entre eles?
A. Conversar
B. Olhar
C. Tocar
D. Alimentar
Concluir questão
14. A maternidade reconhece que o apego é muito importante nos estágios iniciais após o parto.
Para ajudar os novos pais nesse processo, qual das políticas a seguir a instituição tentaria
evitar?
A. Políticas que desestimulam desenrolar o recémnascido da manta e explorálo
B. Políticas que permitem alojar o recémnascido e a mãe juntos
C. Políticas que permitem visitantes
D. Políticas que permitem flexibilidade para as diferenças culturais
Concluir questão
15. Sua cliente, que está com 12 h pósparto, queixase de dor perineal. Após a avaliação revelar
que não há sinais de infecção, qual das medidas a seguir você pode oferecer a ela?
A. Analgésicos narcóticos
B. Aplicação de compressa quente ao períneo
C. Banho de assento
D. Aplicação de compressa de gelo ao períneo
Concluir questão
16. A enfermeira de saúde da comunidade está ministrando uma palestra sobre os vários
problemas que podem se desenvolver depois da alta e de os pais irem para casa com o
recémnascido. Após discutir acerca de como cuidar de hemorroidas, qual das declarações a
seguir indica a necessidade de informações adicionais?
A. “Só preciso manter uma dieta pobre em fibras.”
B. “Já tenho algumas compressas embebidas em hamamélis em casa.”
C. “Minha mãe sempre usou dibucaína.”
D. “Os banhos de assento funcionaram da última vez.”
Concluir questão
17. Na década de 1940, o Dr. Arnold Kegel introduziu uma técnica para ajudar as mulheres no pós
parto com um problema comum. Qual é a finalidade dessa técnica?
A. Fortalecer as fibras musculares do útero para que elas retornem ao seu estado pré
gestacional
B. Fortalecer as articulações e devolvêlas ao seu estado normal
C. Fortalecer os músculos abdominais para reduzir o tamanho das estrias
D. Fortalecer os músculos do assoalho pélvico para reduzir a incontinência urinária
Concluir questão
18. Durante uma visita domiciliar de rotina, o casal quer saber quando será seguro retomar as
relações sexuais normais. Qual das seguintes seria a melhor resposta?
A. Quando vocês quiserem
B. Geralmente após 6 semanas
C. Geralmente após 12 semanas
D. Normalmente dentro de algumas semanas
Concluir questão
19. Em uma visita domiciliar de rotina, a enfermeira está questionando a nova mãe a respeito de
seus hábitos de aleitamento materno e alimentação pessoal. Quantas calorias adicionais ela
deve incentivála a ingerir diariamente?
A. 1.000
B. 250
C. 500
D. 750
Concluir questão
20. Durante o planejamento de alta para os novos pais, qual dos seguintes o gestor de caso
poderia fazer para ajudar a fornecer reforço positivo e garantir que múltiplas avaliações sejam
realizadas?
A. Visitas domiciliares a famílias de alto risco
B. Visitas clínicas frequentes a famílias de alto risco
C. Fornecer números de telefone de centros de atendimento para perguntas
D. Pedir a um membro da família que monitore o progresso deles
Concluir questão
21. O momento antes da alta é oportuno para avaliar o estado da cliente em relação a medidas
preventivas, como imunizações e estado Rh. A realização de qual teste a enfermeira
confirmaria ao avaliar a mãe Rhnegativa?
A. Hemograma completo com contagem diferencial
C. ANA (anticorpos antinucleares)
C. Teste de Coombs indireto
D. Determinação do título
Concluir questão
22. A cliente está se preparando para ir para casa depois de uma cesariana. Como enfermeira que
dá as orientações de alta, você reforça para a família que a cliente deve ir à consulta médica
em quanto tempo?
A. 3 semanas
B. 2 semanas
C. 4 semanas
D. 5 semanas
Concluir questão
23. A nova mãe decidiu alimentar sua filha com fórmula infantil. Ao orientála em relação aos
diferentes tipos, a enfermeira deve enfatizar que a criança precisa receber quantas calorias
por dia?
A. 500
B. 650
C. 800
D. 950
Concluir questão
24. Em uma palestra para futuros pais, a enfermeira pode apresentar os vários benefícios do
aleitamento materno. No entanto, algumas mulheres não devem amamentar. Qual(is) dos
seguintes seria(m) exemplo(s) mencionado(s) pela enfermeira? (Selecione todos que se
aplicam.)
A. Mulheres em uso de fármacos antitireoidianos
B. Mulheres com mais de um filho
C. Mulheres em uso de fármacos antineoplásicos
D. Mulheres que fazem uso abusivo de drogas ilícitas
E. Mulheres que tiveram dificuldades com o aleitamento materno no passado
Concluir questão
25. A enfermeira foi convidada a ministrar uma aula para ensinar as novas mães a evitarem o
desenvolvimento de incontinência urinária de esforço. Qual(is) das ações a seguir a
enfermeira incluiria em sua discussão como possível(is) estratégia(s) para as novas mães?
(Selecione todas que se aplicam.)
A. Realizar exercícios de Kegel
B. Evitar tabagismo
C. Perder peso se estiver obesa
D. Aumentar o consumo de líquido
E. Começar a correr
Concluir questão
Transição do RecémNascido
17
PALAVRASCHAVE
Ambiente térmico neutro
Estresse pelo frio
Icterícia
Mecônio
Período neonatal
Reflexo
Respiração periódica
Resposta neurocomportamental
Surfactante
Termorregulação
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Examinar as principais alterações fisiológicas que ocorrem durante a transição do recémnascido para a vida
extrauterina.
2. Determinar os principais desafios enfrentados pelo recémnascido durante a transição para a vida extrauterina.
3. Interpretar os fatores que influenciam a iniciação da respiração do recémnascido.
4. Comparar e confrontar as alterações cardiovasculares que ocorrem desde a circulação fetal até a circulação
extrauterina após o parto.
5. Relatar três características que predisponham os recémnascidos a perda de calor após o parto.
6. Identificar três imunoglobulinas primárias que ajudem a fortalecer o sistema imunológico dos recémnascidos.
7. Diferenciar os três padrões de comportamento pelos quais o recémnascido evolui após o nascimento.
8. Avaliar as cinco respostas comportamentais típicas do recémnascido desencadeadas por estímulos externos.
O enfermeiro de atendimento domiciliar da empresa Healthy Start revisou o prontuário da paciente enquanto
estava no carro antes de sair para o atendimento: primípara de 18 anos de idade, 1 semana de pósparto de
recémnascida a termo com 3.180 kg de peso. A mãe novata, Maria, cumprimentou o enfermeiro na porta e
convidouo a entrar. Após a realização de uma avaliação pósparto em Maria e também em sua recém
nascida, o enfermeiro perguntou à mãe se restava alguma dúvida ou preocupação. Os olhos de Maria se
encheram de lágrimas: ela está preocupada achando que sua filha não é capaz de enxergar.
Reflexões
Os recémnascidos nem sempre podem ser julgados por sua aparência; devemos nos concentrar no impressionante
presente que há dentro de cada um deles.
INTRODUÇÃO
Quando uma criança nasce, a exaustão e o estresse do trabalho de parto terminam para os pais, mas agora o recémnascido
precisa começar o trabalho de se adaptar fisiológica e comportamentalmente ao novo ambiente. As primeiras 24 horas de
vida podem ser as mais difíceis (Swanson & Sinkin, 2015).
O período neonatal é definido como os primeiros 28 dias de vida. Este é um período das alterações fisiológicas mais
notáveis e rápidas nos seres humanos. Após o parto, o recémnascido é exposto a um novo mundo de sons, cores, odores
e sensações. O neonato, anteriormente confinado ao ambiente intrauterino quente, escuro e molhado, é literalmente
empurrado para um ambiente que é muito mais claro e frio. Conforme o recémnascido se adapta à vida após o parto,
ocorrem muitas mudanças fisiológicas (Tabela 17.1).
A conscientização das adaptações que estão ocorrendo constitui a base para a prestação de suporte ao recémnascido
durante esse momento crucial. As alterações fisiológicas e comportamentais ocorrem rapidamente durante esse período de
transição. É fundamental estar ciente de quaisquer desvios da norma para assegurar a identificação precoce e a intervenção
imediata.
Este capítulo descreve as alterações fisiológicas dos principais sistemas do corpo do recémnascido. Discute também
as adaptações comportamentais, incluindo os padrões de comportamento e as respostas comportamentais do neonato que
ocorrem durante esse período de transição.
TRANSIÇÃO FISIOLÓGICA
A adaptação ao ambiente extrauterino a partir da vida intrauterina é complexa e difícil, mas crucial para todos os seres
humanos. As condições clínicas maternas e as condições fetais podem ter efeitos significativos na transição bemsucedida.
A mecânica do nascimento exige a mudança no recémnascido para a sobrevivência fora do útero. Imediatamente ao
nascimento, precisam ocorrer as trocas gasosas, além de modificações circulatórias, para sustentar a vida extrauterina.
Durante esse período, conforme o neonato se esforça para alcançar a homeostase, ele também passa por complexas
mudanças nos principais sistemas de órgãos. As transições extrauterinas mais notáveis e mais rápidas dos recémnascidos
ocorrem em quatro áreas interdependentes: respiratória, circulatória, termorregulação e sua capacidade de estabilizar seus
níveis sanguíneos de glicose. As quatro áreas precisam sofrer adaptações bemsucedidas para que os recémnascidos se
adéquem à vida extrauterina. Embora a transição geralmente ocorra nas primeiras 6 a 10 horas de vida, muitas adaptações
levam semanas para alcançar a maturidade plena.
Adaptações do sistema cardiovascular
Durante a vida fetal, o coração depende de determinadas estruturas únicas que o assistem no fornecimento de perfusão
adequada às partes vitais do corpo. A veia umbilical transporta o sangue oxigenado da placenta para o feto. O ducto
venoso possibilita que a maior parte do sangue da veia umbilical contorne o fígado e mesclese com o sangue que passa
pela veia cava, trazendoo antes para o coração. O forame oval possibilita que mais da metade do sangue que entra no átrio
direito atravesse imediatamente para o átrio esquerdo, desviando da circulação pulmonar. O canal arterial liga a artéria
pulmonar à aorta, possibilitando que o sangue seja desviado do circuito pulmonar. Apenas uma pequena porção do sangue
passa ao longo do circuito pulmonar com o objetivo principal de perfundir essa estrutura, em vez de visar à oxigenação. O
feto depende da placenta para fornecer oxigênio e nutrientes e para remover escórias.
Tabela 17.1 Comparação anatômica e fisiológica entre o feto e
o recémnascido.
Adaptada de Sharma, A., Ford, S., & Calvert, J. (2014). Adaptation for
life: A review of neonatal physiology. Anesthesia & Intensive Care
Medicine, 15(3), 89–95; Stave, U. (2014). Perinatal physiology. New York,
NY: Springer Publishers; e King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M.,
Fahey, J. O., Gegor, C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s midwifery. (5th
ed.). Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning.
Por ocasião do nascimento, o sistema circulatório precisa passar da circulação fetal para a do recémnascido e da troca
gasosa placentária para a pulmonar. A transição bemsucedida da circulação fetal para a circulação pósnatal exige aumento
do fluxo sanguíneo pulmonar, remoção da placenta e fechamento dos desvios (shunts) intracardíaco (forame oval) e
extracardíacos (ducto venoso e ducto arterioso). Essas alterações são necessárias para igualar o débito ventricular direito
com o débito ventricular esquerdo (Stark & Eichenwald, 2016). As forças físicas das contrações do trabalho de parto e do
parto, a asfixia leve, o aumento da pressão intracraniana em decorrência da compressão do cordão umbilical e das
contrações uterinas e o estresse causado pelo frio experimentado imediatamente após o nascimento levam a um aumento na
liberação de catecolaminas, que são fundamentais para as mudanças envolvidas na transição para a vida extrauterina. Os
níveis aumentados de epinefrina e norepinefrina estimulam a elevação do débito cardíaco e da contratilidade, a liberação de
surfactante e a promoção da eliminação dos líquidos pulmonares (Sharma, Ford, & Calvert, 2014).
Alterações circulatórias do feto para o neonato
As alterações na circulação ocorrem imediatamente ao nascimento, quando o feto se separa da placenta (Figura 17.1).
Quando o cordão umbilical é pinçado, a primeira respiração é realizada e os pulmões começam a funcionar. Como
resultado, a resistência vascular sistêmica aumenta e o retorno sanguíneo ao coração pela veia cava inferior diminui.
Concomitantemente a essas alterações, há diminuição rápida da resistência vascular pulmonar e aumento do fluxo
sanguíneo pulmonar (Cuneo, 2014). O forame oval se fecha funcionalmente com a diminuição da resistência vascular
pulmonar, o que leva à redução das pressões nas câmaras cardíacas direitas. Após o pinçamento do cordão umbilical, um
aumento na pressão sistêmica leva a uma elevação na pressão cardíaca esquerda. O canal arterial, o ducto venoso e os
vasos umbilicais, que eram vitais durante a vida fetal, não são mais necessários. Durante um período de meses, esses
vasos fetais se transformam em ligamentos não funcionais.
Antes do nascimento, o forame oval possibilitava que a maior parte do sangue oxigenado entrasse no átrio direito pela
veia cava inferior até chegar ao átrio esquerdo do coração. Com a primeira respiração do recémnascido, o ar é
“empurrado” para dentro dos pulmões, provocando aumento do fluxo sanguíneo pulmonar e do retorno venoso pulmonar
para o lado esquerdo do coração. Como resultado, a pressão no átrio esquerdo se torna mais elevada do que no átrio
direito. O aumento da pressão atrial esquerda faz com que o forame oval se feche, possibilitando assim que o débito do
ventrículo direito flua completamente para os pulmões. Com o fechamento desse desvio fetal, o sangue oxigenado é então
separado do sangue não oxigenado. O consequente aumento na oxigenação tecidual promove uma elevação ainda maior na
pressão arterial sistêmica e a continuidade do fluxo sanguíneo para os pulmões. Em circunstâncias normais, o forame oval
se fecha funcionalmente ao nascimento, quando a pressão atrial esquerda aumenta e a pressão atrial direita diminui.
Porém, o fechamento anatômico permanente ocorre efetivamente ao longo das semanas seguintes.
Durante a vida fetal, o canal arterial, localizado entre a aorta e a artéria pulmonar, protege os pulmões da sobrecarga
circulatória desviando o sangue (da direita para a esquerda) para a aorta descendente, contornando a circulação pulmonar.
Sua perviedade durante a vida fetal é promovida pela produção contínua de prostaglandina E2 (PGE2) pelo canal arterial
(van Vonderen et al., 2014). O canal arterial fechase funcionalmente nas primeiras horas após o nascimento. O oxigênio é
o fator mais importante no controle de seu fechamento. O fechamento depende do elevado teor de oxigênio do sangue da
aorta, que resulta do arejamento dos pulmões ao nascimento. Ao nascimento, a resistência vascular pulmonar diminui,
possibilitando que o fluxo sanguíneo pulmonar aumente e ocorra a troca de oxigênio nos pulmões. Isso ocorre
secundariamente ao aumento da PO2 coincidente com a primeira respiração e oclusão do cordão umbilical quando este é
pinçado.
O ducto venoso desvia o sangue da veia umbilical esquerda para a veia cava inferior durante a vida intrauterina. Ele se
fecha alguns dias após o nascimento, porque esse desvio não é mais necessário, em decorrência da ativação do fígado. O
fígado ativado passa a assumir as funções da placenta (que foi expulsa ao nascimento). O ducto venoso tornase um
ligamento na vida extrauterina.
As duas artérias umbilicais e a veia umbilical começam a contrairse ao nascimento, pois com a expulsão da placenta o
fluxo sanguíneo cessa. Além disso, a circulação periférica aumenta. Assim, os vasos não são mais necessários e se tornam
também ligamentos. A transição bemsucedida e o fechamento das três derivações fetais produzem uma circulação
neonatal em que o sangue desoxigenado retorna ao coração pela veia cava inferior e superior. O sangue desoxigenado
passa do átrio direito para o ventrículo direito e passa pela artéria pulmonar até o leito vascular pulmonar. O sangue
oxigenado retorna pelas veias pulmonares até o átrio esquerdo, o ventrículo esquerdo e, pela aorta, até a circulação
sistêmica (Stave, 2014). O Boxe 17.1 fornece um resumo da circulação fetal para a neonatal.
FIGURA 17.1 Adaptações cardiovasculares do recémnascido. Observe as alterações na oxigenação entre (A) a
circulação prénatal e (B) a circulação pósnatal (pulmonar).
Frequência cardíaca
Durante os primeiros minutos após o nascimento, a frequência cardíaca do recémnascido é de aproximadamente 110 a 160
bpm. A partir daí, começa a diminuir até uma média de 120 a 130 bpm (Creasy et al., 2014). O neonato é extremamente
dependente da frequência cardíaca para a manutenção do débito cardíaco e da pressão arterial. Embora a pressão arterial
não seja mensurada rotineiramente em recémnascidos a termo saudáveis, geralmente ela é mais alta após o nascimento e
alcança um platô dentro de 1 semana após o nascimento. Os defeitos cardíacos podem ser identificados no berçário por
meio da realização de um exame físico completo e sistemático, incluindo inspeção, palpação, ausculta e aferição da pressão
arterial e saturação de oxigênio. A capacidade do enfermeiro de identificar resultados irregulares durante o exame físico
auxilia na rápida identificação e no tratamento.
Anote!
Podem ser auscultados sopros cardíacos funcionais transitórios durante o período neonatal, em decorrência das mudanças
na dinâmica do sistema cardiovascular ao nascimento (Fillipps & Bucciarelli, 2015).
As flutuações tanto na frequência cardíaca quanto na pressão arterial tendem a seguir as mudanças do estado
comportamental do recémnascido. O aumento na atividade – como o acordar, o movimento ou o choro – corresponde à
elevação na frequência cardíaca e na pressão arterial. Em contrapartida, o neonato comprometido apresenta nitidamente
menos variabilidade fisiológica geral. A taquicardia pode ser encontrada na depleção de volume, na doença
cardiorrespiratória, na abstinência de fármacos e no hipertireoidismo. A bradicardia frequentemente está associada à
apneia, sendo um achado comum na hipoxia.
BOXE 17.1
RESUMO DA CIRCULAÇÃO FETAL PARA A NEONATAL
• O pinçamento do cordão umbilical no momento do nascimento elimina a placenta como um reservatório
de sangue
• O início da respiração provoca aumento da PO2 nos pulmões e diminuição da resistência vascular
pulmonar, que...
• Aumenta o fluxo sanguíneo pulmonar e aumenta a pressão no átrio esquerdo, que...
• Diminui a pressão no átrio direito do coração, que provoca o fechamento do forame oval (este se fecha
poucos minutos após o nascimento em decorrência da diminuição da resistência vascular pulmonar e do
aumento da pressão cardíaca esquerda)
• Com o aumento nos níveis de oxigênio após a primeira respiração, ocorre aumento da resistência
vascular sistêmica, que...
• Diminui o retorno da veia cava, o que reduz o fluxo sanguíneo na veia umbilical (que se contrai,
tornandose um ligamento com o fechamento funcional)
• O fechamento do ducto venoso (que se torna um ligamento) provoca aumento da pressão na aorta, que
força o fechamento do canal arterial em 10 a 15 horas após o nascimento
Volume de sangue
O volume de sangue do recémnascido depende do volume de sangue transferido pela placenta no momento do nascimento.
Habitualmente, estimase que seja de 80 a 85 mℓ/kg de peso corporal no recémnascido a termo (Stave, 2014). No entanto,
o volume pode variar em até 25 a 40%, dependendo de quando ocorreu o pinçamento do cordão umbilical. O pinçamento
precoce (antes de 30 a 40 segundos) ou tardio (após 3 minutos) do cordão umbilical muda a dinâmica circulatória durante
o período de transição. Estudos recentes indicam que os benefícios do clampeamento tardio do cordão umbilical incluem
melhora da adaptação cardiopulmonar do recémnascido, prevenção de anemia ferropriva em recémnascidos a termo sem
aumentar os riscos relacionados com hipervolemia e aumento das reservas de ferro, elevação da pressão arterial, melhora
do transporte de oxigênio e aumento do fluxo de hemácias (McAdams, 2014). Embora uma abordagem in divi dualizada
seja necessária no caso do clampeamento do cordão umbilical, os dados disponíveis atualmente sugerem que o
clampeamento tardio do cordão umbilical ofereça muitos benefícios em termos fisiológicos. Entre eles estão: aumento de
pelo menos 30% do volume sanguíneo no caso de recémnascidos a termo e 50% no caso de recémnascidos prétermo,
melhora da pressão arterial sistêmica, aumento do índice de oxigênio cerebral, níveis mais altos de hemoglobina nas 24 a
48 horas de vida e níveis séricos de ferro aumentados aos 4 a 6 meses (Kluckow & Hooper, 2015; Leslie, 2015). O sangue
do cordão umbilical tem sido descrito como “o primeiro transplante de célulastronco da natureza”, porque apresenta
propriedades regenerativas e pode se transformar em diferentes tipos de células do corpo (van Vonderen et al., 2014).
Organizações médicas como American Academy of Pediatrics (AAP) (2013) e American College of Obstetricians &
Gynecologists (ACOG) (2014) emitiram declarações que apoiam o clampeamento tardio do cordão umbilical no caso de
recémnascidos prétermo, mas recomendam mais pesquisas sobre esse procedimento em fetos a termo. A OMS (2014)
liberou um relatório recomendando o clampeamento tardio do cordão umbilical para “todos os partos” como melhor
prática. Uma revisão Cochrane recente sobre recémnascidos a termo e cronologia do clampeamento do cordão umbilical
relatou que os recémnascidos submetidos a clampeamento tardio do cordão umbilical apresentam um aumento de até 60%
de hemácias, níveis altos de hemoglobina e níveis de ferro mais elevados aos 4 a 6 meses de vida. Foi duas vezes mais
provável que os lactentes cujos cordões umbilicais foram clampeados precocemente apresentassem déficit de ferro aos 3 a
6 meses de vida (Leslie, 2015). Portanto, nesse momento, ainda não há um consenso sobre essa prática.
Componentes do sangue
O feto tem mais hemácias (eritrócitos) por milímetro cúbico que um adulto e essas hemácias apresentam maior afinidade
pelo oxigênio em pressões de oxigênio menores que as hemácias dos adultos. As dimensões das hemácias fetais são
maiores do que as das hemácias dos adultos, assim, cada hemácia consegue carregar mais oxigênio (Stave, 2014). Após o
nascimento, a contagem de hemácias aumenta gradualmente enquanto seu tamanho diminui, porque as hemácias agora se
encontram em um ambiente com uma PO2 muito mais elevada. As hemácias do recémnascido têm uma vida útil de 80 a
100 dias, em comparação com 120 dias nos adultos.
A hemoglobina inicialmente diminui em decorrência da redução da massa eritrocitária neonatal (anemia fisiológica do
lactente). Existe leucocitose (elevação da contagem de leucócitos) como resultado do tocotraumatismo logo após o parto.
A contagem e a capacidade de agregação das plaquetas do recémnascido são as mesmas que em adultos.
Os valores hematológicos do neonato são afetados pelo local da coleta da amostra de sangue (o sangue capilar tem
níveis mais elevados de hemoglobina e hematócrito, em comparação com o sangue venoso), pela transfusão placentária
(pinçamento tardio do cordão umbilical e deslocamento normal de plasma para os espaços extravasculares, o que leva a
níveis mais altos de hemoglobina e hematócrito) e pela idade gestacional (a maior idade está associada ao aumento do
número de hemácias e da hemoglobina) (Andersson et al., 2014). A Tabela 17.2 lista os valores normais dos parâmetros
sanguíneos em recémnascidos.
Tabela 17.2 Valores normais dos parâmetros sanguíneos em
recémnascidos.
Parâmetro Variação normal
laboratorial
Hemoglobina 16 a 18 g/dℓ
Hematócrito 46 a 68%
Plaquetas 150.000 a 350.000/μℓ
Hemácias 4,5 a 7,0 (1.000.000/μℓ)
Leucócitos 10 a 30.000/mm3
Adaptada de Fischbach, F., & Dunning, M. B. Manual of laboratory and
diagnostic tests. (9th ed.). Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins;
Verklan, T., & Walden, M. Core curriculum for neonatal intensive care
nursing. (4th ed.). St. Louis, MO: Saunders Elsevier; e Davidson, M. R.
(2014). Fast facts for the neonatal nurse: A nursing orientation and care
guide in a nutshell. New York, NY: Springer.
Adaptações do sistema respiratório
A transição da vida fetal para a neonatal inclui aeração dos pulmões, estabelecimento da troca gasosa e modificação da
circulação fetal para a circulação do adulto. A aeração dos pulmões resulta no estabelecimento da capacidade residual
funcional, possibilitando o início da troca gasosa nos pulmões. O primeiro sopro de vida é um arquejo, que provoca
elevação da pressão transpulmonar e resulta na descida do diafragma. A hipercapnia, a hipoxia e a acidose resultantes do
trabalho de parto normal tornamse estímulos para iniciar as incursões respiratórias. A inspiração de ar e a expansão dos
pulmões possibilitam um aumento do volume corrente (volume de ar levado para dentro dos pulmões). O surfactante é
uma lipoproteína redutora da tensão superficial encontrada nos pulmões do recémnascido que impede o colapso alveolar
no final da expiração e a perda do volume pulmonar. Ele reveste os alvéolos para melhorar a ventilação dos pulmões livres
de gases, reduzindo assim a tensão superficial e a pressão necessária para abrir os alvéolos. A função pulmonar normal
depende do surfactante, que possibilita redução da tensão superficial no final da expiração (para evitar a atelectasia) e
aumento da tensão superficial durante a expansão do pulmão (para facilitar a retração elástica na inspiração). O surfactante
fornece a estabilidade pulmonar necessária para as trocas gasosas. A primeira respiração do recémnascido, em conjunto
com o surfactante, sobrepuja as forças superficiais para possibilitar a ventilação dos pulmões. A parede torácica do recém
nascido é flexível, por causa do alto teor de cartilagem e da musculatura pouco desenvolvida. Assim, os músculos
acessórios que auxiliam a respiração não são efetivos.
Uma das adaptações mais importantes do recémnascido por ocasião do parto é ajustarse de um ambiente intrauterino
cheio de líquido a um ambiente extrauterino gasoso. Durante a vida fetal, os pulmões são expandidos com um ultrafiltrado
de líquido amniótico. Durante e após o parto, esse líquido precisa ser removido e substituído por ar. A passagem pelo
canal de parto possibilita a compressão intermitente do tórax, o que ajuda a eliminar o líquido dos pulmões. Os capilares
pulmonares e os vasos linfáticos retiram o líquido restante.
Se o líquido for removido muito lentamente ou de modo incompleto (p. ex., pela compressão torácica diminuída
durante o parto ou esforço respiratório reduzido), ocorre a taquipneia transitória do recémnascido (frequência respiratória
acima de 60 incursões por minuto). Exemplos de situações que envolvem a diminuição da compressão torácica e o esforço
respiratório reduzido incluem cesariana e sedação do neonato. Os resultados das pesquisas apoiam a necessidade de
compressão torácica, pois a ausência de exposição do neonato às contrações uterinas do trabalho de parto – que podem
ocorrer em caso de cesariana ou sedação profunda durante o processo de trabalho de parto ou anestesia geral administrada
durante o parto cirúrgico – está associada a um risco aumentado de taquipneia transitória a termo, sendo necessária
suplementação de oxigênio por um período mais longo (Hooper, Polglase, & Roehr, 2015).
Anote!
Um neonato que veio ao mundo por meio de cesariana não tem o mesmo benefício da compressão pelo canal de parto do
que aquele que nasceu por parto vaginal. Observe atentamente as incursões respiratórias do recémnascido após a
cesariana.
Pulmões
Antes de os pulmões do recémnascido serem capazes de manter a função respiratória, os seguintes eventos precisam
ocorrer:
• Início do movimento respiratório
• Expansão dos pulmões
• Estabelecimento da capacidade residual funcional (capacidade de reter parte do ar nos pulmões à expiração)
• Aumento do fluxo sanguíneo pulmonar
• Redistribuição do débito cardíaco (Bope & Kellerman, 2015).
A respiração inicial provavelmente é decorrente de um reflexo desencadeado por mudanças de pressão, ruído,
iluminação, variações de temperatura, toque, compressão do tórax fetal durante o processo do parto e altas concentrações
de dióxido de carbono e baixas concentrações de oxigênio no sangue do recémnascido. Quimiorreceptores centrais
estimulados por hipoxia e hipercapnia reforçam ainda mais o impulso respiratório. Muitas teorias abordam o início da
respiração no neonato, mas a maior parte é baseada em especulações a partir de observações, e não em pesquisas empíricas
(Sharma et al., 2014). As pesquisas continuam procurando respostas para essas perguntas.
Frequência respiratória
Depois de estabelecidas as incursões respiratórias no recémnascido, estas são superficiais e irregulares, variando de 30 a
60 incursões respiratórias por minuto, com curtos períodos de apneia (inferiores a 15 segundos). A frequência respiratória
do neonato varia de acordo com sua atividade; quanto mais ativo é o neonato, maior a sua frequência respiratória, em
média. Os sinais de dificuldade respiratória a serem observados incluem cianose, taquipneia, grunhidos expiratórios,
retração esternal e batimento de asa de nariz. A respiração não deve ser trabalhosa, e os movimentos torácicos devem ser
simétricos. Em alguns casos, o recémnascido apresenta respiração periódica, que é a cessação da respiração que dura de
5 a 10 segundos sem alterações na coloração ou na frequência cardíaca (Davidson, 2014). A respiração periódica pode ser
observada nos primeiros dias de vida e demanda acompanhamento atento.
Anote!
Períodos de apneia que duram mais de 15 segundos, associados a cianose e alterações na frequência cardíaca, exigem
uma avaliação mais aprofundada (Mattson & Smith, 2015).
Regulação da temperatura corporal
Os recémnascidos dependem do ambiente para a manutenção da temperatura corporal, muito mais imediatamente após o
nascimento do que mais tarde na vida. Um dos elementos mais importantes na sobrevivência do neonato é a obtenção de
uma temperatura corporal estável para promover uma transição ideal para a vida extrauterina. Em média, a temperatura de
um recémnascido varia entre 36,6 e 37,6°C. Visto que os recémnascidos perdem calor facilmente após o parto, o contato
pele a pele com a mãe é preconizado como método inicial de manutenção da temperatura corporal do recémnascido. O
contato pele a pele deve ser a primeira linha de tratamento para hipotermia e também é usado para reduzir o desconforto de
procedimentos dolorosos. Consulte o boxe Prática baseada em evidências 17.1.
A termorregulação é o processo de manutenção do equilíbrio entre a perda e a produção de calor a fim de conservar a
temperatura interna do corpo. É uma importante função fisiológica que está intimamente relacionada com a transição e
com a sobrevivência do recémnascido. Um ambiente térmico apropriado é essencial para a manutenção da temperatura
corporal normal. Em comparação com os adultos, os recémnascidos toleram uma variação menor de temperatura ambiente
e são extremamente vulneráveis ao resfriamento e ao superaquecimento. Os enfermeiros desempenham um papel
fundamental no fornecimento de um ambiente adequado para ajudar os recémnascidos a manterem a estabilidade térmica
(Figura 17.2).
Perda de calor
Os recémnascidos têm várias características que os predispõem à perda de calor:
Prática baseada em evidências 17.1
Efeito do contato pele a pele precoce após o parto na duração do terceiro estágio do trabalho de
parto e na iniciação do aleitamento materno.
ESTUDO
Tipicamente, a manutenção do recémnascido em contato pele a pele (recémnascido em posição vertical)
enfaixado em torno do tórax da mãe em posição ortostática é comumente referida como “cuidado canguru”.
É preconizado que esse contato pele a pele é uma intervenção exequível, natural e custoefetiva para
promover iniciação do aleitamento materno e termorregulação. A meta desse estudo era determinar o efeito
do contato precoce pele a pele da mãe com o recémnascido imediatamente após a liberação do mesmo na
duração do terceiro estágio do trabalho de parto e na iniciação do aleitamento materno.
Achados
Um estudo clínico controlado e não randomizado foi realizado com uma amostra de cem parturientes. O
projeto incluiu um grupo de estudo (50) que manteve contato pele a pele e um grupo de controle (50) que
recebeu os cuidados hospitalares rotineiros. Foram utilizadas ferramentas para coletar dados que incluíram
uma entrevista estruturada, a avaliação das parturientes durante o terceiro estágio do trabalho de parto e
uma avaliação de desfecho do primeiro episódio de aleitamento materno. Os resultados revelaram que o
sucesso do primeiro aleitamento materno durante a separação completa da placenta e a contração imediata
do útero foram maiores no grupo de estudo em comparação com o grupo de controle. Havia diferenças
estatisticamente significativas entre os grupos de estudo e de controle no tocante ao terceiro estágio do
trabalho de parto (9 minutos mais breve), ao descolamento completo da placenta e à contração imediata do
útero ou sangramento excessivo. O estudo concluiu que as mulheres que praticam o contato pele e pele
precoce com seus filhos recémnascidos imediatamente após o parto apresentaram terceiro estágio mais
breve e iniciação precoce bemsucedida do aleitamento materno.
Implicações para a enfermagem
Com base nesses achados, seria razoável incorporar o contato pele a pele precoce (imediatamente após o
parto) e retardar os cuidados rotineiros ao recémnascido até o sucesso do primeiro aleitamento materno,
por causa dos benefícios para a mãe e para o recémnascido. Os profissionais de enfermagem precisam
aplicar a pesquisa baseada em evidências às suas atividades, porque essa aplicação melhoraria os
desfechos de saúde da mãe e da criança.
Adaptado de Essa, R. M., & Ismail, N. I. Effect of early maternal/newborn skintoskin contact after birth on
the duration of third stage of labor and initiation of breastfeeding. Journal of Nursing Education and
Practice, 5(4), 98–107.
• Pele fina com os vasos sanguíneos próximos à superfície
• Falta de capacidade de produzir calor por meio de tremores até os 3 meses de idade
• Reservas limitadas de substratos metabólicos (glicose, glicogênio, gordura)
• Uso limitado de atividade muscular voluntária ou movimento para produzir calor
• Área de superfície corporal grande em relação ao peso corporal
• Falta de gordura subcutânea, que proporciona isolamento
• Pouca capacidade de conservar calor pela alteração da postura (posição fetal)
• Falta de capacidade de ajustar suas próprias roupas ou cobertores para conseguir calor
• Incapacidade de comunicar que estão com frio ou calor.
FIGURA 17.2 Pais observando seu recémnascido após o parto. Observe a touca do neonato e o cobertor aquecido
para preservar o calor corporal.
Todo recémnascido se esforça para manter sua temperatura corporal a partir do nascimento, quando seu corpo
molhado é exposto ao ambiente muito mais frio da sala de parto. O líquido amniótico que recobre o neonato se resfria
conforme evapora rapidamente no ambiente de baixa umidade e com condicionador de ar da sala. A temperatura do recém
nascido pode diminuir em 1 ou 2 graus em poucos minutos após deixar o útero aquecido da mãe (37,5°C). A pele do
neonato se ajusta rapidamente às difíceis condições ambientais da vida extrauterina. No entanto, certas funções, como, por
exemplo, a microcirculação, continuam se desenvolvendo mesmo além do período neonatal (McCall et al., 2014).
A transferência de calor depende da temperatura do ambiente, da velocidade do ar e da pressão de vapor de água ou
umidade. A troca de calor entre o ambiente e o recémnascido envolve os mesmos mecanismos que os de qualquer objeto
físico e seu ambiente. O calor pode ser perdido por quatro mecanismos, a saber, condução (3%), convecção (34%),
evaporação (24%) e radiação (39%) (Sharma et al., 2014). A prevenção de perda de calor é uma intervenção de
enfermagem essencial (Figura 17.3).
CONDUÇÃO
Condução envolve a transferência de calor de um objeto para outro quando os dois objetos estão em contato direto entre si.
Referese ao deslocamento de calor entre a superfície corporal do recémnascido quando em contato com outras
superfícies sólidas, como colchão, balança ou placa de restrição da circuncisão frios. A perda de calor por condução
também pode ocorrer ao tocar o neonato com as mãos frias ou quando o recémnascido está em contato direto com um
objeto mais frio, como uma balança de metal. Usar uma fralda de pano aquecida ou um cobertor para revestir qualquer
superfície fria que toque diretamente o recémnascido ajuda a evitar a perda de calor por condução. O contato pele com
pele do recémnascido com a mãe também ajuda a impedir a perda de calor por condução.
CONVECÇÃO
Convecção envolve o fluxo de calor da superfície corporal para o ar circundante mais frio, ou para o ar que circula ao
longo de uma superfície corporal. Um exemplo de perda de calor por convecção seria o fluxo de uma brisa fresca sobre o
recémnascido. Para evitar a perda de calor por esse mecanismo, mantenha o neonato longe de correntes de ar frio (portas
abertas, janelas, ventiladores, aparelhos de ar condicionado) no ambiente, realize condutas dentro da incubadora tanto
quanto possível, minimizando os vãos de abertura que possibilitam a entrada de ar frio, e aqueça todo oxigênio ou ar
umidificado que entra em contato com o recémnascido. Usar roupas e cobertores em incubadoras é um meio efetivo de
reduzir a área de superfície exposta do neonato e proporcionar isolamento externo. Além disso, transportar o neonato para
o berçário em uma incubadora aquecida, em vez de carregálo no colo, ajuda a manter o calor e reduz a exposição ao ar
frio.
Considere isto
Quando olho para o pequeno milagre da vida nos meus braços, não posso fazer nada além de irradiar
orgulho por essa grande realização. Ela parece tão vulnerável e indefesa, mas está equipada com tudo o
que precisa para sobreviver ao nascer. Quando o enfermeiro trouxe minha filha pela primeira vez após o
parto, eu queria ver e sentir cada parte dela. Para minha decepção, ela estava embrulhada como uma
múmia em um cobertor e usava um gorro corderosa na cabeça. Perguntei ao enfermeiro por que todos os
recémnascidos tinham que se parecer como se estivessem indo para o polo norte com todas essas
camadas de roupas. Será que o enfermeiro não percebeu que estávamos no verão e que provavelmente
estava uns 29°C lá fora?
O enfermeiro explicou que os recémnascidos perdem calor corporal facilmente e precisam ser mantidos
aquecidos até que sua temperatura se estabilize. Embora eu tivesse vontade de ter um contato mais
próximo com minha filha, decidi manter a roupa de ursopolar rosa sobre ela.
Reflexões: Os neonatos podem nascer com “tudo o que precisam para sobreviver” do lado de fora, mas
ainda assim apresentam instabilidade térmica e perdem calor por meio da radiação, evaporação, convecção
e condução. Como a cabeça do recémnascido é a maior parte do corpo, muito calor pode ser perdido se
não for colocada uma touca. Que orientações podem ser dadas a essa mãe antes da alta para estabilizar a
temperatura de sua filha quando em casa? Que exemplos simples podem ser usados para demonstrar isso?
FIGURA 17.3 Os quatro mecanismos de perda de calor no recém
nascido. A. Condução. B. Convecção. C. Evaporação.
EVAPORAÇÃO
A evaporação envolve a perda de calor quando um líquido é convertido em vapor. A perda por evaporação pode ser
insensível (como a que ocorre pela pele e pela respiração) ou sensível (como a que ocorre com a transpiração). A perda
insensível ocorre, mas o indivíduo não fica ciente dela. A perda sensível é objetiva e pode ser notada. Ela depende da
velocidade do ar e da umidade absoluta do ar. Por exemplo, por ocasião do parto, o corpo do recémnascido está coberto
por líquido amniótico. O líquido evapora para a atmosfera, levando à perda de calor. A perda de calor por meio da
evaporação também ocorre durante o banho do recémnascido. A secagem dos recémnascidos logo após o parto com
mantas aquecidas e a colocação de um gorro neles ajuda a evitar a perda de calor por meio de evaporação. Além disso, a
secagem dos recémnascidos após o banho também ajudará a evitar a perda de calor por meio de evaporação. Trocar
prontamente lençóis, roupas ou fraldas molhados também reduzirá a perda de calor e evitará o resfriamento.
RADIAÇÃO
A radiação envolve a perda de calor do corpo para superfícies sólidas mais frias que estão próximas, mas não em contato
direto com o recémnascido. A magnitude da perda de calor depende do tamanho da área de superfície fria, da temperatura
da superfície corporal do neonato e da temperatura da superfície que recebe calor. Por exemplo, quando um recémnascido
é colocado em uma incubadora de parede simples ao lado de uma janela fria, ocorre a perda de calor por radiação. O
recémnascido se resfriará mesmo que esteja em uma incubadora aquecida. Para reduzir a perda de calor por radiação,
mantenha berços e incubadoras longe de paredes externas, janelas frias e condicionadores de ar. Além disso, usar berços
aquecidos para transportar o neonato e ao realizar procedimentos que possam expôlo ao ambiente mais frio ajudará a
reduzir a perda de calor.
Um transportador aquecido consiste em uma incubadora fechada sobre rodas. Um berço aquecido consiste em um leito
aberto com uma fonte de calor radiante acima dele. Esse tipo de ambiente possibilita que os profissionais de saúde tenham
acesso ao recémnascido para realizar procedimentos e tratamentos.
Superaquecimento
O recémnascido também está propenso ao superaquecimento. As limitações no isolamento e na capacidade de transpiração
podem predispor a criança ao superaquecimento. O controle da temperatura corporal é feito por um complexo sistema
de feedback negativo, que cria um equilíbrio entre a produção, o ganho e a perda de calor. O principal regulador de calor
está localizado no hipotálamo e no sistema nervoso central. A imaturidade do sistema nervoso central do recémnascido
torna difícil criar e manter esse equilíbrio. Por isso, o recémnascido pode se sobreaquecer facilmente. Por exemplo, uma
incubadora que esteja muito quente ou que fique muito perto de uma janela ensolarada pode levar à hipertermia. Embora a
produção de calor possa aumentar substancialmente em resposta a um ambiente fresco, a taxa metabólica basal e o calor
produzido resultante podem não ser reduzidos. O superaquecimento aumenta consideravelmente a perda de líquidos, a
frequência respiratória e a taxa metabólica.
Termorregulação
Os seres humanos têm a capacidade de regular sua temperatura corporal dentro de uma faixa estreita. Os recémnascidos
têm capacidade diminuída de regular sua temperatura corporal por meio de geração de calor (termogênese sem calafrios).
A termorregulação, o equilíbrio entre a perda e a produção de calor, está relacionada com a taxa metabólica e com o
consumo de oxigênio do recémnascido. O neonato tenta conservar calor e incrementar sua produção elevando sua taxa
metabólica, aumentando sua atividade muscular por meio do movimento, exacerbando a vasoconstrição periférica e
assumindo a posição fetal para reter o calor e reduzir a área de superfície corporal exposta.
Domínio de conceito
Efeitos do estresse imposto pelo frio no metabolismo da gordura marrom do recémnascido
O recémnascido apresenta, primeiro, elevação dos níveis de epinefrina em resposta a um
ambiente frio. Isso, por sua vez, faz com que os triglicerídeos estimulem o metabolismo de
gordura marrom.
Um ambiente em que a temperatura corporal é mantida sem aumento da taxa metabólica nem da utilização de oxigênio
é chamado ambiente térmico neutro. Em um ambiente térmico neutro, as taxas de consumo de oxigênio e metabolismo
são mínimas, e a temperatura interna do corpo é mantida por causa do equilíbrio térmico. Um ambiente térmico neutro
promove o crescimento e a estabilidade, conserva energia para as funções corporais básicas e minimiza a perda de água e
calor (energia) (Knobel, 2014). Como os recémnascidos têm dificuldade em manter seu calor corporal por meio de
tremores ou outros mecanismos, eles precisam de uma temperatura ambiente mais elevada para manter um ambiente
térmico neutro. Se a temperatura ambiente diminuir, o neonato responde consumindo mais oxigênio. A frequência
respiratória aumenta (taquipneia) em resposta à elevação na necessidade de oxigênio. Como resultado, a taxa metabólica
do recémnascido se eleva.
Conforme já foi dito, o método primário de produção de calor dos recémnascidos consiste na termogênese sem
calafrios. Esse é um processo no qual a gordura marrom (tecido adiposo) é oxidada em resposta à exposição ao frio. A
gordura marrom é um tipo especial de gordura extremamente vascularizada encontrada apenas em recémnascidos. O
tecido adiposo marrom é singular, porque consegue converter energia química diretamente em calor quando ativado pelo
sistema nervoso simpático. É produzido durante o terceiro trimestre da gravidez e, habitualmente, desaparece em 3 a 5
semanas após o nascimento. É crucial para a termogênese. A coloração marrom é derivada do suprimento rico de vasos
sanguíneos e terminações nervosas nessa gordura. Esses depósitos de gordura, que são capazes de produzir intensa
atividade metabólica – e, portanto, podem causar muito calor – são encontrados entre as escápulas, nas axilas, na nuca, no
mediastino e nas áreas circundantes dos rins e glândulas suprarrenais. A gordura marrom corresponde a cerca de 6% do
peso corporal do recémnascido a termo (Betz & Enerback, 2015). Quando o recémnascido está em um ambiente frio,
epinefrina é liberada. Isso, por sua vez, estimula o metabolismo da gordura marrom ao degradar os triglicerídeos. O débito
cardíaco se eleva, aumentando o fluxo sanguíneo pelo tecido adiposo marrom. Subsequentemente, esse sangue se torna
aquecido em decorrência do aumento da atividade metabólica da gordura marrom (Figura 17.4).
Os recémnascidos podem sofrer perda de calor por meio de quatro mecanismos, que por fim resultam em estresse
pelo frio. O estresse pelo frio é a perda excessiva de calor que exige que o neonato use mecanismos compensatórios
(como a termogênese sem tremores e a taquipneia) para manter a temperatura corporal interna (Davidson, 2014). As
consequências do estresse pelo frio podem ser bastante graves. À medida que a temperatura corporal diminui, o recém
nascido se torna hipoativo, letárgico, hipotônico e mais fraco. Todos os recémnascidos correm risco de estresse pelo frio,
principalmente nas primeiras 12 horas de vida. No entanto, os neonatos prétermo correm maior risco e apresentam efeitos
mais profundos do estresse pelo frio do que os recémnascidos a termo, porque têm menos reservas de gordura, respostas
vasomotoras menos satisfatórias e menos isolamento para lidar com o evento hipotérmico.
O estresse pelo frio no recémnascido pode levar aos seguintes problemas, se não for revertido: depleção das reservas
de gordura marrom, necessidades de oxigênio aumentadas, dificuldade respiratória, aumento do consumo de glicose
levando a hipoglicemia, acidose metabólica, icterícia, hipoxia e diminuição da produção de surfactante (Mattson & Smith,
2015).
Anote!
Os enfermeiros precisam se conscientizar das necessidades termorregulatórias do recémnascido e precisam assegurar que
essas demandas sejam atendidas para propiciar o melhor começo possível ao recémnascido. As medidas preventivas
devem ter como objetivo a manutenção da estabilidade da temperatura corporal.
FIGURA 17.4 Áreas de gordura marrom em um recémnascido.
Para minimizar os efeitos do estresse pelo frio e manter um ambiente termoneutro, as seguintes intervenções são úteis:
• Utilizar cobertores e toucas preaquecidas para reduzir a perda de calor por condução
• Manter o transportador infantil (incubadora aquecida) com carga plena de bateria e aquecido em todos os momentos
• Secar bem o recémnascido após o parto para evitar a perda de calor por evaporação
• Incentivar o contato pele com pele com a mãe se o recémnascido estiver estável
• Promover a amamentação precoce para fornecer substratos para a termogênese sem tremores
• Utilizar oxigênio aquecido e umidificado
• Sempre utilizar berços com aquecedor radiante e incubadoras de parede dupla para evitar a perda de calor por radiação
• Adiar o banho até que o recémnascido esteja clinicamente estável e usar uma fonte de calor por radiação durante o
procedimento (Figura 17.5)
• Evitar colocar um termômetro de pele sobre uma área óssea ou com gordura marrom, porque não forneceria uma
avaliação acurada da temperatura corporal geral (a maioria dos termômetros é colocada sobre o fígado com o recém
nascido em decúbito dorsal ou lateral).
As intervenções arroladas anteriormente possibilitam que o recémnascido minimize sua taxa metabólica e seu
consumo de oxigênio, conservando assim as reservas de energia vitais necessárias para um crescimento ótimo.
FIGURA 17.5 Dar banho no recémnascido sobre um berço com aquecedor radiante evita a perda de calor.
Função do sistema hepático
O fígado tem um papel essencial na síntese, na degradação e na regulação das vias metabólicas dos carboidratos, das
proteínas, dos lipídios, dos oligoelementos e das vitaminas. Ao nascer, o fígado do recémnascido assume lentamente as
funções que eram de responsabilidade da placenta durante a vida fetal. A maioria das vias enzimáticas é encontrada no
recémnascido, mas é inativa por ocasião do nascimento e, em geral, tornase plenamente ativa aos 3 meses de vida. Essas
funções incluem a coagulação do sangue e também o armazenamento de ferro, metabolismo de carboidratos e conjugação
de bilirrubina, como discutido a seguir. As reservas de glicogênio fornecem energia e podem ficar depletadas se as
necessidades metabólicas do recémnascido aumentarem, como durante o estresse respiratório ou por frio.
Armazenamento de ferro
À medida que as hemácias são destruídas após o nascimento, seu ferro é liberado e armazenado pelo fígado até que novas
hemácias precisem ser produzidas. As reservas de ferro no recémnascido são determinadas pelo teor de hemoglobina total
do corpo e pela duração da gestação. Se a ingestão materna de ferro durante a gestação foi adequada, foi armazenado ferro
suficiente no fígado do recémnascido para uso durante os primeiros 6 meses de idade.
Metabolismo de carboidratos
A glicose é uma fonte energética essencial para o metabolismo cerebral. Quando a placenta é expelida por ocasião do
parto, o aporte materno de glicose é cortado. Inicialmente, os níveis séricos de glicose do recémnascido declinam. Os
recémnascidos precisam aprender a regular sua concentração sanguínea de glicose e ajustarse a um esquema de
alimentação intermitente. Em geral, por ocasião do parto a concentração sanguínea de glicose no neonato a termo é de 70 a
80% da concentração sanguínea materna. Hipoglicemia é uma das manifestações mais frequentemente encontradas e a
manutenção da homeostase da glicose é um dos eventos fisiológicos importantes durante a transição da vida fetal para a
neonatal. Durante as primeiras 24 a 48 horas de vida, enquanto os recémnascidos fazem a transição da vida intrauterina
para a vida extrauterina, seus níveis plasmáticos de glicose são habitualmente mais baixos do que serão mais tarde
(Thornton et al., 2015).
A glicose é a principal fonte de energia nas primeiras horas após o nascimento. Com o aumento das necessidades
energéticas do recémnascido após o parto, o fígado libera glicose das reservas de glicogênio durante as primeiras 24
horas. Iniciar a amamentação precoce ou o uso da mamadeira ajuda a estabilizar os níveis de glicose no sangue do recém
nascido. Não há evidências que apoiem a medição universal invasiva de rotina da glicemia em recémnascidos a termo
saudáveis. A triagem seletiva de recémnascidos em situação de risco é mais apropriada (Adamkin, 2015).
Conjugação da bilirrubina
O fígado também é responsável pela conjugação da bilirrubina – o pigmento amarelo a alaranjado da bile produzido pela
destruição das hemácias. No útero, a eliminação da bilirrubina para o sangue é feita pela placenta e pelo fígado da mãe. No
entanto, quando o cordão umbilical é cortado, o recémnascido precisa então assumir essa função.
A bilirrubina normalmente circula no plasma, é captada pelos hepatócitos e é metabolizada em um pigmento
hidrossolúvel excretado na bile. Esse tipo conjugado de bilirrubina é excretado das células hepáticas como um componente
da bile.
A principal fonte de bilirrubina no recémnascido é a lise das hemácias. Essa é uma ocorrência normal após o
nascimento, quando são necessárias menos hemácias para manter a vida extrauterina. Quando as hemácias morrem depois
de aproximadamente 80 dias de vida, o grupo heme de sua hemoglobina é convertido em bilirrubina. A bilirrubina é
liberada em uma forma não conjugada chamada bilirrubina indireta, que é lipossolúvel. As enzimas, proteínas e diferentes
células do sistema reticuloendotelial e do fígado processam a bilirrubina não conjugada em bilirrubina conjugada ou
bilirrubina direta. Essa forma é hidrossolúvel, entra no sistema digestório por meio da bile e acaba sendo excretada pelas
fezes. Os rins também excretam uma pequena quantidade.
Os recémnascidos produzem bilirrubina a uma taxa de cerca de 6 a 8 mg/kg/dia. Isso é mais de duas vezes a taxa de
produção dos adultos, basicamente por causa da policitemia relativa e do aumento da renovação das hemácias. A produção
de bilirrubina tipicamente declina até o nível de adultos nos primeiros 10 a 14 dias após o nascimento (Bhutani et al.,
2015). Além disso, as vias metabólicas do fígado são relativamente imaturas e, assim, não são capazes de conjugar a
bilirrubina tão rapidamente quanto necessário.
A falha dos hepatócitos em degradar e excretar a bilirrubina pode causar aumento da concentração sanguínea de
bilirrubina, resultando em icterícia (Sharma et al., 2014). A bilirrubina é tóxica para o organismo e precisa ser excretada.
Os exames de sangue solicitados para determinar os níveis de bilirrubina mensuram a bilirrubina sérica. A bilirrubina total
é uma combinação da bilirrubina indireta (não conjugada) e direta (conjugada). Quando o pigmento bilirrubina
desconjugada é depositado na pele e nas mucosas como resultado dos níveis aumentados de bilirrubina,
ocorre icterícia (pele, escleras e mucosas amareladas). A icterícia visível resultante do aumento dos níveis séricos de
bilirrubina ocorre em mais da metade de todos os recémnascidos saudáveis. Mesmo em neonatos a termo saudáveis, os
níveis sanguíneos extremamente elevados de bilirrubina durante a primeira semana de vida podem causar encefalopatia
bilirrubínica, um tipo permanente e devastador de lesão encefálica (Wong & Bhutani, 2015).
Os fatores de risco mais comuns para o desenvolvimento de icterícia incluem incompatibilidade sanguínea materno
fetal, prematuridade, asfixia ao nascimento, ingestão insuficiente de leite durante a amamentação, uso de fármacos (como
diazepam, ocitocina, sulfisoxazol/eritromicina e cloranfenicol), diabetes gestacional materno, alimentações infrequentes,
sexo masculino, tocotraumatismo resultando em céfalohematoma, equimose cutânea causada por traumatismo ao
nascimento, policitemia, irmão prévio com hiperbilirrubinemia, infecções como TORCH (toxoplasmose, outros vírus,
rubéola, citomegalovírus, herpesvírus simples) e etnia, como a asiática ou indígena norteamericana (Moses, 2015).
As causas de icterícia neonatal podem ser classificadas em três grupos, de acordo com o seu mecanismo de acumu
lação:
1. Superprodução de bilirrubina, como por incompatibilidade sanguínea (Rh ou AB0), fármacos, traumatismo ao
nascimento, policitemia, pinçamento tardio do cordão umbilical e icterícia do leite materno
2. Diminuição da conjugação de bilirrubina, como vista na icterícia fisiológica, no hipotireoidismo e na amamentação
3. Excreção de bilirrubina prejudicada, como vista na obstrução biliar (atresia das vias biliares, cálculos biliares, neo pla
sia), na sepse, na hepatite, na anormalidade cromossômica (síndrome de Turner, trissomias do 18 e do 21) e no uso
de fármacos/substâncias psicoativas (ácido acetilsalicílico, paracetamol, sulfa, álcool etílico, esteroides, antibióticos)
(NagtalonRamos, 2014).
A icterícia no recémnascido é discutida em mais pormenores no Capítulo 24.
Adaptações do sistema digestório
O recémnascido a termo tem a capacidade de engolir, digerir, metabolizar e absorver alimentos ingeridos logo após o
nascimento. Ao nascimento, o pH do conteúdo gástrico é discretamente ácido, o que reflete o pH do líquido amniótico. O
intestino, previamente estéril, muda rapidamente, dependendo de qual alimentação o recémnascido receba. Os sons
intestinais normalmente são auscultados pouco depois do nascimento, mas podem ser hipoativos no primeiro dia.
Barreira de proteção mucosa
Os seres humanos iniciam seu desenvolvimento em um meio estéril (intrauterino), mas a partir do momento do parto
todas as superfícies epiteliais em contato direto com o ambiente (pele e sistemas respiratório, digestório, urinário e
genital) são colonizadas por microrganismos. Uma importante adaptação do sistema digestório é o desenvolvimento de
uma barreira mucosa para evitar a penetração de substâncias nocivas (bactérias, toxinas e antígenos) encontradas no lúmen
intestinal. Ao nascer, o recémnascido precisa estar preparado para lidar com a colonização bacteriana do intestino. A
colonização é dependente da ingestão. A nutrição, seja por leite humano ou fórmula infantil, tem uma participação
importante nos padrões de colonização precoce do intestino neonatal. Geralmente ocorre nas primeiras 24 horas de idade,
sendo necessária para a produção de vitamina K (Gritz & Bhandari, 2015). Após o nascimento, os micróbios ambientais,
orais e cutâneos da mãe serão transferidos mecanicamente para o recémnascido por vários processos, incluindo a
amamentação, os beijos e as carícias. Assim, a proximidade entre o canal de parto e o ânus, bem como a atitude parental
de cuidados neonatais, são métodos efetivos de transmissão de micróbios de uma geração para a seguinte. Se for permitido
que substâncias nocivas penetrem a barreira mucosa epitelial sob condições patológicas, essas substâncias podem causar
reações inflamatórias e alérgicas (Nylund et al., 2014).
Anote!
O leite materno constitui um mecanismo passivo de proteção ao recémnascido contra os perigos de um sistema de defesa
intestinal deficiente. Ele contém anticorpos, leucócitos viáveis e muitas outras substâncias que conseguem interferir na
colonização bacteriana e evitar a penetração prejudicial.
Estômago e digestão
O recémnascido precisa se adaptar rapidamente a deixar de receber todas as suas demandas de energia e nutrientes via
placenta e passar a atendêlas por via oral após o nascimento. A capacidade fisiológica do estômago do recémnascido é
consideravelmente menor do que sua capacidade anatômica. Há um rápido ganho de capacidade fisiológica durante os 4
primeiros dias de vida. Após esses primeiros 4 dias, as capacidades anatômica e fisiológica se aproximam mais uma da
outra. Os pesquisadores descobriram que, nas primeiras 24 horas após o nascimento, o pequeno estômago do recém
nascido não se distende para conter mais, como o fará 1 ou 2 dias depois (Batchelor, 2014). Isso explica a experiência de
inúmeros enfermeiros hospitalares que aprenderam da maneira mais difícil que, quando os recémnascidos são
alimentados por mamadeira com 30 ou 60 mℓ durante o primeiro dia de vida, a maioria tende a regurgitar. As paredes do
estômago do neonato permanecem firmes, expulsando o leite extra em vez de alongarse para retêlo.
Nos caso de recémnascidos alimentados com fórmulas infantis, a administração de volumes pequenos e frequentes
estabelece um padrão de alimentação saudável desde o início (os recémnascidos que recebem aleitamento materno
autorregulam seu consumo). Especialistas agora aconselham os adultos afirmando que é mais saudável ingerir volumes
menores com mais frequência, e o mesmo é verdade para lactentes e crianças. Persuadir um lactente a beber mais leite leva
à superalimentação. Se o sentimento de plenitude exagerada tornarse a norma para um lactente pequeno, isso pode levar a
hábitos alimentares pouco saudáveis que contribuem para a subsequente obesidade na infância e idade adulta. A obesidade
de aparecimento precoce é um precursor de luta vitalícia com o peso corporal e de numerosas comorbidades (Redsell et
al., 2015; Reilly & Hughes, 2015).
A cárdia e o controle nervoso do estômago são imaturos, o que pode levar a atividade peristáltica descoordenada e
regurgitação frequente. A imaturidade do esfíncter faringoesofágico e a ausência de ondas peristálticas do esôfago inferior
também contribuem para o refluxo do conteúdo gástrico. Evitar excessos alimentares e estimular arrotos frequentes podem
minimizar a regurgitação. A maioria das enzimas digestivas está disponível no momento do nascimento, possibilitando
que os recémnascidos digiram carboidratos simples e proteínas. No entanto, eles têm uma capacidade limitada de digerir
carboidratos complexos e gorduras, porque os níveis de amilase e lipase são baixos ao nascimento. Como resultado, os
neonatos excretam uma quantidade razoável de lipídios, resultando em fezes gordurosas.
A digestão e a absorção adequadas são essenciais para o crescimento e o desenvolvimento do recémnascido.
Normalmente, o neonato a termo perde 5 a 10% do seu peso de nascimento em decorrência da ingestão calórica
insuficiente na primeira semana após o parto, do deslocamento de água do espaço intracelular para o extracelular e da
perda insensível de água. Para ganhar peso, o recémnascido a termo precisa de uma ingestão de 108 kcal/kg/dia do
nascimento aos 6 meses de idade. O entendimento do papel e da importância da nutrição na vida pósnatal precoce no
crescimento e no desenvolvimento é crucial, mas a maneira como se liga à saúde mais tarde tem o potencial de exercer
benéficos para todas as gerações futuras (Robinson, 2015).
Eliminação intestinal
A frequência, a consistência e o tipo de fezes eliminadas pelo recémnascido variam muito. A evolução do padrão de fezes
começa com as primeiras fezes do neonato, que são o mecônio. O mecônio é composto por líquido amniótico, células das
mucosas descamadas, secreções intestinais e sangue. É pretoesverdeado, tem consistência alcatroada e geralmente é
eliminado nas primeiras 12 a 24 horas após o nascimento. O primeiro mecônio eliminado é semiestéril, mas isso sofre
alterações rapidamente em decorrência do consumo de bactérias no leite materno ou nas fórmulas infantis. Após iniciada a
alimentação, o recémnascido passa a eliminar as chamadas fezes de transição, que são castanhoesverdeadas a castanho
amareladas, de consistência mais fina e de aparência granulosa. Se o recémnascido receber leite materno, as fezes são
líquidas e se assemelham a mostarda de coloração amareloclara com partículas semelhantes a sementes. Se o recém
nascido receber fórmula infantil, as fezes terão coloração marromclara ou amarela e a consistência será menos fluida. A
frequência da defecação varia muito de um recémnascido para outro.
Anote!
Os recémnascidos alimentados precocemente defecam mais cedo, o que ajuda a reduzir o acúmulo de bilirrubina (Mattson
& Smith, 2015).
A última fase do desenvolvimento no padrão de fezes é das chamadas fezes de leite. Suas características diferem entre
os recémnascidos alimentados com fórmula e os amamentados. As fezes do recémnascido amamentado são de cor
amareloouro, de consistência pegajosa a pastosa, e, tipicamente, seu odor é azedo. As fezes do recémnascido alimentado
com fórmula variam dependendo do tipo de fórmula ingerida. Podem ser amarelas, verdeamareladas ou esverdeadas e de
consistência pastosa ou formada, além de ter um odor desagradável.
Alterações do sistema renal
Na 34a semana de gestação, o feto já apresenta um conjunto completo de um milhão de néfrons. Os glomérulos e os
néfrons são funcionalmente imaturos por ocasião do nascimento, resultando em taxa de filtração glomerular (TFG)
diminuída e capacidade de concentração limitada. A capacidade limitada de concentração da urina e a TFG diminuída
tornam o recémnascido suscetível a desidratação e sobrecarga de líquido (Sharma et al., 2014). Frequentemente, os rins
do recémnascido são descritos como imaturos, mas eles conseguem desempenhar suas funções habituais e lidar com o
desafio de excreção e manutenção do equilíbrio acidobásico. Somente no caso de o neonato apresentar desequilíbrios
hídricos e eletrolíticos inesperados, desequilíbrio acidobásico secundário a um parto prétermo ou doença ele perde a
capacidade de manter a homeostase dos líquidos corporais. A massa corporal de um recémnascido é de 75% de água, a
maior proporção de água corporal que ocorre nas diferentes fases da vida de uma pessoa. A maioria dos neonatos urina
imediatamente após o nascimento, o que indica função renal adequada. Embora os rins do recémnascido possam produzir
urina, eles têm limitação na capacidade de concentração até por volta dos 3 meses de idade, quando os rins se maturam
mais. Até esse momento, a criança urina com frequência e a densidade urinária é baixa (1,001 a 1,020). Aproximadamente
7 a 8 micções diárias são a média para a maioria dos recémnascidos, o que indica ingestão adequada de líquidos
(Harshman & Brophy, 2014).
O córtex renal é relativamente subdesenvolvido por ocasião do nascimento e não alcança a maturidade até 12 a 18
meses de idade. A taxa de filtração glomerular é o volume de líquido filtrado a cada minuto por todos os glomérulos de
ambos os rins, sendo um indicador da função renal. Ao nascer, a taxa de filtração glomerular do recémnascido é de
aproximadamente 30% dos valores normais em adultos, chegando a cerca de 50% até o 10o dia de vida e a 100% no
primeiro ano (Chishti, 2014). A baixa taxa de filtração glomerular e a limitada capacidade de excreção e conservação do
rim afetam a capacidade do recémnascido de excretar sal, sobrecarga de água e fármacos.
Anote!
A possibilidade de sobrecarga de líquido é maior em recémnascidos; tenha isso em mente ao administrar terapia
intravenosa ao recémnascido.
Adaptações do sistema imune
A capacidade de responder de modo efetivo às forças ambientais hostis é essencial para a sobrevivência do recémnascido.
O sistema imunológico do neonato começa a trabalhar no início da gestação, mas muitas das respostas não funcionam de
modo adequado durante o início do período neonatal. O recémnascido está protegido de determinadas infecções, em parte
por causa dos anticorpos maternos circulando em seu organismo até aproximadamente os 6 meses de vida. A
imunoglobulina G (IgG) cruza a placenta para o feto enquanto este se encontra in utero. Os recémnascidos que são
alimentados com leite materno recebem anticorpos (IgE, IgA, IgM e IgG) desse modo (NagtalonRamos, 2014). O risco
de contrair uma infecção é grande, porque o sistema imunológico do recémnascido é imaturo e não é capaz de responder
por longos períodos de tempo para combater infecções. O ambiente intrauterino geralmente protege o feto de
microrganismos nocivos e da necessidade de respostas imunológicas defensivas. Com a exposição a uma ampla variedade
de microrganismos no momento do nascimento, o recémnascido precisa desenvolver um equilíbrio entre suas defesas e os
microrganismos ambientais hostis, a fim de garantir uma transição segura para o mundo exterior. Os recém
nascidos/lactentes começam a produzir seus anticorpos próprios a partir dos 2 a 3 meses de vida.
As respostas do sistema imunológico têm três propósitos: defesa (proteção contra microrganismos invasores),
homeostase (eliminação de células senescentes) e vigilância (reconhecimento e remoção de células inimigas). A resposta
do sistema imunológico do recémnascido envolve o reconhecimento do agente patogênico ou de outro material estranho,
seguido pela ativação de mecanismos para reagir a eles e eliminálos. Todas as respostas imunológicas envolvem
principalmente os leucócitos.
As respostas do sistema imunológico podem ser divididas em duas categorias: a imunidade natural e a imunidade
adquirida. Esses mecanismos são interrelacionados e interdependentes, ambos necessários para a imunocompetência.
Imunidade natural
A imunidade natural inclui respostas ou mecanismos que não necessitam de exposição prévia ao microrganismo ou
antígeno para operar de modo eficiente. Barreiras físicas (como a pele intacta e as mucosas), barreiras químicas (como o
ácido gástrico e as enzimas digestivas) e microrganismos não patológicos residentes compõem o sistema imune natural do
recémnascido. A imunidade natural envolve as respostas de defesa mais básicas do hospedeiro: ingestão e morte de
microrganismos por células fagocíticas.
Imunidade adquirida
A imunidade adquirida envolve dois processos principais: (1) o desenvolvimento de anticorpos ou imunoglobulinas
circulantes capazes de atacar agentes invasores específicos (antígenos) para a destruição; e (2) a formação de linfócitos
ativados concebidos para destruir invasores estranhos. A imunidade adquirida não existe até depois da primeira invasão
por um microrganismo ou toxina estranha.
A capacidade imunológica depende fortemente de imunoglobulinas como IgG, IgM e IgA. O neonato depende em
grande parte dessas três imunoglobulinas para a defesa contra microrganismos associados à doença. Os recémnascidos
continuam muito suscetíveis a infecções por meses.
A IgG é a principal e mais abundante imunoglobulina, compondo cerca de 80% de todos os anticorpos circulantes
(Martin, Fanaroff, & Walsh, 2014). Pode ser encontrada no soro e no líquido intersticial. É a única classe capaz de
atravessar a placenta, com a transferência placentária ativa começando por volta de 20 a 22 semanas de gestação. A IgG
produz anticorpos contra bactérias, toxinas bacterianas e agentes virais.
A IgA é a segunda imunoglobulina mais abundante no soro. A IgA não atravessa a placenta, e os níveis máximos são
alcançados durante a infância. Acreditase que essa imunoglobulina proteja as mucosas de vírus e bactérias. A IgA
encontrase predominantemente nos sistemas digestório e respiratório, nas lágrimas, na saliva, no colostro e no leite
materno.
Anote!
A principal fonte de IgA é o leite materno; por isso, acreditase que a amamentação tenha vantagens imunológicas
significativas em relação à alimentação com fórmula (Walker, 2014).
A IgM é encontrada no sangue e na linfa; é a primeira imunoglobulina a responder à infecção. Não atravessa a
placenta, e os níveis geralmente são baixos ao nascer, exceto em caso de infecção intrauterina congênita. A IgM oferece
uma grande fonte de proteção contra infecções transmitidas pelo sangue. Os anticorpos predominantes formados durante a
infecção neonatal ou intrauterina são dessa classe.
Adaptações do tegumento
A pele do recémnascido é essencial para sua transição do meio intrauterino para o meio extrauterino, bem como para a
autossuficiência. A pele do recémnascido é um órgão grande, compondo aproximadamente 13% de seu peso corporal, em
contraste com 3% do peso corporal no adulto. É sensível, frágil e tem pH neutro na sua superfície, menor teor de lipídios
e maior teor de água quando comparada à pele dos adultos. Por causa dessas características, a pele do recémnascido é
vulnerável a lesões e infecções (Visscher et al., 2015). A função mais importante da pele é fornecer uma barreira de
proteção entre o corpo e o ambiente. Ela limita a perda de água, impede a absorção de agentes nocivos, garante a
termorregulação e o armazenamento de gordura e protege contra traumatismos físicos. A barreira epidérmica começa a
desenvolverse no meio da gestação e está totalmente formada até aproximadamente a 32a semana de gestação. Embora a
epiderme neonatal seja semelhante à epiderme do adulto em termos de espessura e composição lipídica, o desenvolvimento
de pele não está completo ao nascimento (King et al., 2015). Embora a estrutura básica seja a mesma que a de um adulto,
quanto menos maduro é o recémnascido, menos maduras estão as funções da pele. Poucas fibrilas ligam a derme à
epiderme no recémnascido, em comparação ao que ocorre em adultos. Além disso, no neonato, o risco de a lesão pela
utilização de fitas adesivas e monitores e pela manipulação levar a uma solução de continuidade na pele é maior do que no
adulto. O manuseio inadequado dos recémnascidos durante a prática de cuidados diários com a pele, como ao dar banho,
pode causar danos, impedir a cicatrização e interferir no processo normal de maturação.
A aparência do recémnascido varia muito. Muitas das variações são temporárias e refletem as adaptações fisiológicas
que a criança está experimentando. A coloração da pele varia, dependendo da idade, da raça ou do grupo étnico do neonato,
da temperatura e se ele está chorando ou não. A coloração muda ainda com o ambiente e o estado de saúde. Ao nascer, a
pele do recémnascido é vermelhoescura a roxa. Conforme o recémnascido começa a respirar o ar, a cor da sua pele
passa a ser vermelha. Essa vermelhidão normalmente começa a desvanecer no primeiro dia de vida.
Adaptações do sistema neurológico
O sistema nervoso é imaturo e continua a se desenvolver até atingir um complemento de células corticais e do tronco
encefálico até o final do primeiro ano de vida. As dimensões do cérebro triplicam durante o primeiro ano de vida. O
sistema nervoso é constituído pelo encéfalo, pela medula espinal, por 12 nervos cranianos e por inúmeros nervos espinais,
que emergem da medula espinal. O desenvolvimento neurológico segue o padrão cefalocaudal e proximaldistal. A mielina
se desenvolve precocemente nos transmissores de impulsos sensitivos. Assim, o recémnascido tem audição, olfato e
paladar aguçados. As capacidades sensoriais do neonato incluem:
• Audição: bem desenvolvida ao nascimento, responde aos ruídos voltandose para o local de origem do som
• Paladar: capacidade de distinguir entre doce e azedo em 72 horas
• Olfato: capacidade de distinguir o leite materno de sua mãe do leite de outras mulheres
• Tato: sensibilidade à dor, responde a estímulos táteis
• Visão: é incompleta ao nascimento. A maturação depende de nutrição e estimulação visual. Os recémnascidos têm
capacidade de focar apenas objetos próximos (20,3 a 25,4 cm de distância), com uma acuidade visual de 20/140; eles
conseguem seguir objetos na linha média ou além (2,28 m). Este é o sentido menos maduro ao nascimento. A
capacidade de fixar, acompanhar e estar alerta é indicativa de um SNC intacto (King et al., 2015).
Lembrase de Maria, a nova mãe que está preocupada porque sua filha não consegue enxergar? O que a
nova mãe pode ter notado no comportamento de sua filha? Quais podem ser as expectativas da nova mãe?
Reflexos congênitos
As adaptações bemsucedidas demonstradas pelos sistemas respiratório, circulatório, termorregulatório e
musculoesquelético indicam indiretamente a transição bemsucedida do sistema nervoso central (SNC) da vida fetal para a
vida extrauterina, pois o sistema nervoso central tem uma participação importante em todas essas adaptações. No recém
nascido, os reflexos congênitos são os indicadores da maturidade do sistema nervoso central, da viabilidade e da adaptação
à vida extrauterina
A existência e a força de um reflexo é um indicador importante de desenvolvimento e função neurológica. O reflexo é
uma resposta muscular involuntária a um estímulo sensitivo. É produzido no sistema nervoso e não precisa da intervenção
do pensamento consciente para ocorrer. O exame físico do sistema neurológico do recémnascido inclui a avaliação dos
reflexos principais (faríngeo, Babinski, Moro e Galant) e secundários (preensão palmar, preensão plantar, de busca, de
sucção, de retificação cervical, de marcha automática e tônicocervical).
Para avaliar cada reflexo, o enfermeiro progride metodicamente, tendo o cuidado de documentar cada achado (Weber &
Kelly, 2014). Muitos reflexos neonatais desaparecem com a maturação, embora alguns permaneçam por toda a vida adulta.
Os arcos desses reflexos terminam em diferentes níveis da medula espinal e do tronco encefálico, refletindo a função dos
nervos cranianos e sistemas motores. O modo como os recémnascidos piscam, movem seus membros, focam no rosto do
cuidador, voltamse em direção a um som, sugam, deglutem e respondem ao ambiente são indicativos de suas capacidades
neurológicas. Os defeitos congênitos no sistema nervoso central frequentemente não são evidentes, mas podem ser
observadas anormalidades no tônus, na postura ou no comportamento (Davidson, 2014). Os danos ao sistema nervoso
central (traumatismo ao nascimento, hipoxia perinatal) durante o processo de parto podem causar atrasos no crescimento,
no desenvolvimento e na capacidade funcional normal do recémnascido. A identificação precoce pode ajudar a descobrir a
causa e iniciar intervenções prematuras para diminuir as complicações a longo prazo ou as sequelas permanentes.
Avaliamse os reflexos do recémnascido para determinar função e desenvolvimento neurológicos. A existência ou não
de reflexos anormais no neonato, a persistência de um reflexo além da idade em que normalmente desaparece ou o
reaparecimento de um reflexo infantil em uma criança mais velha ou em um adulto são sugestivos de doença neurológica.
(Ver Capítulo 18 para obter descrição da avaliação dos reflexos do recémnascido.)
O enfermeiro da Healthy Start explicou a Maria que todos os recémnascidos nascem com algum grau de
miopia (incapacidade de enxergar a distância) e que a visão 20/20 geralmente não é alcançada até os 2
anos de idade. Quais informações de desenvolvimento o enfermeiro deve discutir com Maria?
ADAPTAÇÕES COMPORTAMENTAIS
Além de adaptarse fisiologicamente, o recémnascido também precisa adaptarse comportamentalmente. Todos os
neonatos progridem ao longo de um padrão específico de eventos após o nascimento, independentemente da sua idade
gestacional ou do tipo de parto.
Padrões comportamentais
O recémnascido geralmente demonstra um padrão previsível de comportamento durante as primeiras horas após o parto,
caracterizado por dois períodos de reatividade separados por uma fase de sono. A adaptação comportamental é uma
progressão definida de eventos desencadeados por estímulos do ambiente extrauterino após o nascimento.
Primeiro período de reatividade
O primeiro período de reatividade começa ao nascimento e pode durar de 30 minutos até 2 horas. O recémnascido está
alerta e em movimento e pode parecer estar com fome. Esse período é caracterizado por movimentos mioclônicos dos
olhos, reflexos de Moro espontâneos, movimentos de sucção, mastigação e busca, além de tremores finos nos membros.
O tônus muscular e a atividade motora estão aumentados (Healy & Fallon, 2014). As frequências respiratória e cardíaca
estão elevadas, mas aos poucos começam a diminuir conforme se inicia o próximo período.
Esse período de alerta possibilita que os pais interajam com o recémnascido e desfrutem de um contato mais próximo
com ele (Figura 17.6). O aparecimento de comportamentos de sucção e busca oferece uma boa oportunidade para iniciar a
amamentação. Muitos recémnascidos pegam o mamilo e sugam bem nessa primeira experiência.
FIGURA 17.6 O primeiro período de reatividade é o momento ideal para a interação.
Período de responsividade diminuída
Com 30 a 120 minutos de idade, o recémnascido entra na segunda fase de transição – o período de sono ou de diminuição
na atividade. Essa fase é chamada de período de responsividade diminuída. Os movimentos são menos bruscos e menos
frequentes. As frequências cardíaca e respiratória declinam conforme o recémnascido entra na fase de sono. Os músculos
tornamse relaxados, e a capacidade de resposta a estímulos externos diminui. Durante essa fase, é difícil despertar ou
interagir com o recémnascido. Não há interesse na sucção. Esse momento de silêncio pode ser usado para a mãe e o
neonato ficarem próximos e descansarem juntos depois da experiência do trabalho de parto e do parto.
Segundo período de reatividade
O segundo período de reatividade começa quando o recémnascido desperta e mostra interesse pelos estímulos ambientais.
Esse período dura de 2 a 8 horas no recémnascido normal (Davidson, 2014). As frequências cardíaca e respiratória se
elevam. O peristaltismo também aumenta. Assim, não é incomum que o neonato elimine mecônio ou urine durante esse
período. Além disso, a atividade motora e o tônus muscular aumentam em conjunto com um incremento na coordenação
muscular (Figura 17.7).
Incentivase a interação de mãe e recémnascido durante esse segundo período de reatividade, se a mãe estiver
descansada e o desejar. Esse período também é uma boa oportunidade para os pais examinarem seu recémnascido e
fazerem perguntas.
Anote!
As orientações sobre alimentação, posicionamento para a alimentação e técnicas de troca de fraldas podem ser reforçadas
nesse momento.
FIGURA 17.1 Recémnascido durante o segundo período de reatividade. Observe a expressão alerta.
Respostas comportamentais
O desenvolvimento do recémnascido reflete o relacionamento dinâmico entre a genética e o ambiente. O neonato
demonstra várias respostas previsíveis ao interagir com o ambiente. O modo como ele reage ao mundo ao seu redor é
chamado de resposta neurocomportamental. Essa resposta é composta por períodos previsíveis que provavelmente são
desencadeados por estímulos externos. Os comportamentos esperados do recémnascido incluem a orientação, a
habituação, a maturidade motora, a capacidade de autoacalmarse e os comportamentos sociais. Qualquer desvio nas
respostas comportamentais exige avaliação mais aprofundada, pois pode indicar um problema neurocomportamental
complexo.
Orientação
A resposta do recémnascido aos estímulos é chamada de orientação. O neonato fica mais alerta quando detecta um novo
estímulo em seu ambiente. A orientação reflete a resposta da criança a estímulos auditivos e visuais, demonstrada por
movimentos de cabeça e olhos para focar naquele estímulo. Os recémnascidos preferem a face humana e objetos
brilhantes luminosos. Quando um rosto ou objeto entra em sua linha de visão, o neonato responde olhando atentamente
para ele. Os recémnascidos utilizam essa capacidade sensorial para familiarizarse com as pessoas e os objetos ao seu
redor.
Lembrase de Maria, que estava preocupada com a visão de sua recémnascida? Ela disse ao enfermeiro
que a filha não demonstrou qualquer interesse pelo móbile de cor bege que ela mesma fez e pendurou
sobre seu berço. Que sugestões o enfermeiro pode fazer a Maria em relação à colocação do móbile e os
tipos e cores de objetos usados para promover a orientação em sua filha recémnascida?
Habituação
A habituação é a capacidade do recémnascido de processar e responder a estímulos visuais e auditivos. É a medida de
quão bem e apropriadamente um recémnascido responde ao ambiente. A habituação é a capacidade de bloquear estímulos
externos depois de o neonato já ter se habituado à atividade. Durante as primeiras 24 horas após o nascimento, os recém
nascidos devem aumentar a sua capacidade de habituarse a estímulos ambientais e ao sono. A habituação fornece um
indicador útil de sua integridade neurocomportamental.
Maturidade motora
A maturidade motora depende da idade gestacional e envolve a avaliação da postura, do tônus, da coordenação e dos
movimentos. Essas atividades possibilitam que os recémnascidos controlem e coordenem o movimento. Quando
estimulado, o neonato com boa organização motora demonstra movimentos rítmicos e espontâneos. Trazer a mão à boca é
um exemplo de boa organização motora. Conforme o recémnascido se adapta ao seu novo ambiente, devem ser
observados movimentos mais suaves. Esse comportamento motor é um bom indicador da capacidade do neonato de
responder e adaptarse de modo apropriado; indica que o sistema nervoso central está processando os estímulos
adequadamente.
Capacidade de autoacalmarse
A capacidade de autoacalmarse referese à capacidade do recémnascido de acalmarse e confortarse sozinho. Os
neonatos variam em sua capacidade de consolarse ou serem consolados. A “consolabilidade” é o modo como os recém
nascidos são capazes de passar de um estado de choro para um estado alerta ativo, alerta quieto, sonolento ou de sono.
Eles se autoconsolam com movimentos de levar a mão à boca e sugar, prestando atenção em estímulos externos e
realizando atividades motoras (Karp, 2014). As pesquisas recentes delineiam cinco medidas que os genitores podem adotar
para acalmar um recémnascido/lactente inquieto:
1. Enfaixar bem o recémnascido em torno do tórax da mãe
2. Decúbito ventral no colo do cuidador
3. Emitir sons contínuos na tentativa de acalmar a criança
4. Embalar o recémnascido/lactente
5. Sucção (Karp, 2014).
É importante ajudar os pais a identificarem comportamentos de consolo que acalmem seu recémnascido, se ele não
for capaz de se acalmar sozinho.
Comportamentos sociais
Os recémnascidos começam a vida extrauterina com capacidade sensorial de interagir e se comunicam com o ambiente
por meio de um complexo conjunto de comportamentos. Os comportamentos sociais incluem aconchegarse e aninharse
nos braços do pai ou da mãe quando o recémnascido é colocado no colo. Habitualmente, os recémnascidos são muito
sensíveis a serem tocados, aninhados e segurados no colo. O aconchego é muito importante para os pais, porque eles
frequentemente avaliam a sua capacidade de cuidar do recémnascido pela aceitação ou resposta positiva do mesmo às suas
ações. Isso pode ser avaliado pelo grau em que o recémnascido se aninha nos contornos dos braços do cuidador. A
maioria dos recémnascidos se aconchega, mas alguns resistem. Ajudar os pais a assumir comportamentos reconfortantes
(p. ex., murmurar enquanto segura o recémnascido) e elogiálos por seus esforços pode ajudar a estimular
comportamentos de aconchego.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
O período neonatal é definido como os primeiros 28 dias de vida. Enquanto o recémnascido se
adapta à vida após o nascimento, ocorrem muitas mudanças fisiológicas
Ao nascer, o sistema cardiopulmonar precisa mudar da circulação fetal para a neonatal e da troca
gasosa placentária para a pulmonar
Uma das adaptações mais importantes que o recémnascido precisa fazer é ajustarse à troca do
meio líquido da placenta para o meio gasoso dos pulmões
Hemácias neonatais têm vida útil de 80 a 100 dias, enquanto no adulto esse período é de 120 dias.
Essa diferença na vida das hemácias causa vários problemas de adaptação
Termorregulação é a manutenção do equilíbrio entre a perda e a produção de calor. É uma
importante função fisiológica que está intimamente relacionada com a transição e com a
sobrevivência do recémnascido
O principal método de produção de calor do recémnascido é a termogênese sem tremores, um
processo em que a gordura marrom (tecido adiposo) é oxidada em resposta à exposição ao frio. A
gordura marrom é um tipo especial de gordura extremamente vascularizada encontrada apenas em
recémnascidos
A perda de calor no recémnascido é decorrente de quatro mecanismos: condução, convecção,
evaporação e radiação
As respostas do sistema imunológico têm três propósitos: defesa (proteção contra microrganismos
invasores), homeostase (eliminação de células senescentes) e vigilância (reconhecimento e
remoção de células inimigas)
No recémnascido, os reflexos primitivos são os indicativos de maturidade do sistema nervoso
central, de viabilidade e de adaptação à vida extrauterina
O recémnascido geralmente demonstra um padrão previsível de comportamento durante as
primeiras horas após o parto, caracterizado por dois períodos de reatividade separados por uma
fase de sono
Referências bibliográficas e leitura sugerida
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Exercícios sobre o capítulo
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. Ao avaliar um recémnascido a termo, observase o seguinte: o neonato está alerta, as frequências
cardíaca e respiratória se estabilizaram e ele eliminou mecônio. O enfermeiro determina que o recém
nascido está exibindo comportamentos que indicam:
a. Período inicial de reatividade
b. Segundo período de reatividade
c. Período de responsividade diminuída
d. Período de sono do recémnascido
2. O enfermeiro observa um recémnascido a termo com 3 dias de vida que está começando a parecer
levemente ictérico. O que pode explicar essa condição?
a. Icterícia fisiológica secundária à amamentação
b. Doença hemolítica do recémnascido em consequência da incompatibilidade sanguínea
c. Exposição do recémnascido a altos níveis de oxigênio
d. Superalimentação do recémnascido com muita água açucarada
3. Depois de instruir um grupo de estudantes de enfermagem em relação à termorregulação e às medidas
adequadas para evitar a perda de calor por evaporação, qual dos seguintes comportamentos dos
alunos indicaria uma instrução bemsucedida?
a. Transportar o recémnascido em uma incubadora
b. Manter o quarto aquecido
c. Colocar o recémnascido em uma superfície aquecida
d. Secar o recémnascido imediatamente após o parto
4. Após o parto, o enfermeiro esperaria que qual estrutura fetal se fechasse em decorrência do aumento
nos gradientes de pressão no lado esquerdo do coração?
a. Forame oval
b. Canal arterial
c. Ducto venoso
d. Veia umbilical
5. Qual dos seguintes recémnascidos poderia ser descrito como respirando normalmente?
a. O recémnascido A está respirando profundamente, em um ritmo regular, a uma frequência de 20
incursões por minuto
b. O recémnascido B apresenta respiração diafragmática, com retrações esternais, a uma frequência
de 70 incursões por minuto
c. O recémnascido C está respirando superficialmente, com períodos de apneia de 40 segundos e
cianose
d. O recémnascido D está respirando superficialmente, a uma frequência de 36 incursões por minuto,
com curtos períodos de apneia
6. Ao avaliar um recémnascido a termo (6 horas de vida), o enfermeiro ausculta os sons intestinais e
documenta a eliminação recente de mecônio intestinal. Esses achados indicariam:
a. Transição gastrintestinal anormal do recémnascido, que precisa ser relatada
b. Anomalia intestinal que exige intervenção cirúrgica imediata
c. Ânus pérvio sem obstrução intestinal e peristaltismo normal
d. Síndrome de má absorção, resultando em fezes gordurosas
7. Uma estudante de enfermagem pergunta ao enfermeiro do berçário o motivo de os recémnascidos não
serem lavados imediatamente após a admissão na área de observação após o parto. O enfermeiro
informa que isso aumentaria o risco de:
a. Icterícia
b. Infecção
c. Hipotermia
d. Anemia
8. Visto que os eritrócitos dos recémnascidos se degradam muito antes do que o fazem os eritrócitos dos
adultos, qual seria o possível resultado?
a. Anemia
b. Contusões
c. Apneia
d. Icterícia
9. O enfermeiro realiza um exame físico no recémnascido 2 horas após o parto. Qual dos seguintes
achados indica a necessidade de parecer do pediatra? Selecione todas as opções que se apliquem:
a. Frequência respiratória de 50 bpm
b. Episódios intermitentes de apneia com duração inferior a 10 segundos cada
c. Ausência de reflexo de Moro quando estimulado
d. Acrocórdon préauricular (observado à esquerda)
e. Pequenos nódulos elevados brancos no nariz e na face
f. A compressão do nariz provoca clareamento amarelado da pele
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. Como enfermeirochefe, você está orientando uma enfermeira novata no berçário nas últimas semanas.
Embora ela tenha demonstrado adequação na maioria dos procedimentos, hoje você a observa dando
banho em vários recémnascidos sem cobrilos, pesandoos na balança sem cobrila, deixando a porta
do almoxarifado aberta com o transportador nas proximidades e deixando a cabeça dos recém
nascidos sem touca nem cobertores depois de mostrálos aos familiares através da janela de
observação do berçário.
a. Qual é a sua impressão em relação a esse comportamento?
b. Que princípios de termorregulação precisam ser reforçados?
c. Como você avaliará se suas instruções foram efetivas?
2. As adaptações mais importantes que o recémnascido precisa fazer após o parto são estabelecer as
incursões respiratórias, fazer ajustes cardiovasculares e estabelecer a termorregulação. Os cuidados de
enfermagem centramse em monitorar e apoiar os ajustes à adaptação extrauterina. Escreva
intervenções de enfermagem apropriadas para ajudar os recémnascidos a alcançar as adaptações a
seguir:
a. Adaptação respiratória
b. Segurança, incluindo a prevenção de infecções
c. Termorregulação
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Quando estiver na prática clínica do berçário, identifique o período de reatividade comportamental
(primeiro período de reatividade, responsividade diminuída ou segundo período de reatividade) de dois
recémnascidos com tempos de vida diferentes. Compartilhe seus achados durante a reunião de
discussão de casos clínicos desse dia.
2. Ocorrem mudanças drásticas no sistema cardiovascular ao nascimento. Quando o cordão umbilical é
pinçado e a placenta é separada, ocorre um consequente aumento da pressão arterial sistêmica e
ocorrem alterações nas três grandes derivações fetais (ducto venoso, forame oval e canal arterial).
Descreva o que acontece para causar seu fechamento funcional durante esse período de transição.
3. Encontre dois sites que descrevam a transição para a vida extrauterina que possam ser compartilhados
com outros estudantes de enfermagem, bem como com enfermeiros do berçário. Critique as
informações apresentadas em termos de quão precisas e atuais são.
4. O mecanismo mais comum de perda de calor no recémnascido é por ________________________.
5. O recémnascido gera calor de três maneiras – por tremores, por atividade muscular e por termogênese
(metabolismo da gordura marrom). Qual desses mecanismos é mais efetivo?
ESTUDO DE CASO
Uma mulher de 18 anos deu à luz uma menina há 3 dias, mas ela não sorri quando o enfermeiro do
programa Healthy Start a cumprimenta em sua visita domiciliar. O enfermeiro questiona sobre os
acontecimentos desde a alta hospitalar há 2 dias. A puérpera informa que as mamas estão edemaciadas e
muito dolorosas quando são tocadas. Ela afirma saber que o aleitamento materno é o melhor para sua filha,
mas não tem certeza de que deseja continuar a amamentar por causa da dor. A recémnascida está deitada
na mesa da cozinha (sem toalha), chorando e usando apenas a fralda.
AVALIAÇÃO
Ao examinar as mamas da paciente, o enfermeiro constata que estão muito edemaciadas e quentes ao tato,
mas não há vermelhidão nem nódulo à palpação (a paciente morde o próprio lábio e uma lágrima escorre
dos olhos quando o enfermeiro palpa suas mamas). Leite pinga livremente dos dois mamilos. A temperatura
é 37,7°C. O enfermeiro examina a recémnascida que pesa 2.580 g. Suas extremidades estão cianóticas e
frias ao toque. A recémnascida perdeu 100 g desde o nascimento e parece faminta. O enfermeiro solicita
que a mãe amamente a recémnascida de modo que possa observála e constata que ela tem dificuldade
em abocanhar a aréola muito edemaciada. Quando a recémnascida finalmente consegue abocanhar a
aréola, ela não parece sugar muito vigorosamente.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 17 | Transição do RecémNascido
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é B. Os comportamentos demonstrados pelo recémnascido, como o estado de alerta, as
frequências cardíaca e respiratória estabilizadas e a eliminação de mecônio, estão associados ao segundo período de
reatividade. O primeiro período de reatividade começa com um período de alerta calmo, seguido por um estado de
alerta ativo com episódios frequentes de movimento e choro. Durante o período de diminuição da resposta, também
chamado de período de sono, o recémnascido é relativamente não responsivo e é difícil de acordar.
2. A resposta correta é A. A icterícia fisiológica surge, tipicamente, após 72 horas de aleitamento materno. Existe uma
enzima no leite materno que inibe a degradação da bilirrubina e isso se reflete na pele do recémnascido como
icterícia. A doença hemolítica do recémnascido surge, tipicamente, nas primeiras 24 horas após o parto em
decorrência de incompatibilidade AB0 ou Rh entre a mãe e o recémnascido. A exposição ao oxigênio não provoca
icterícia no recémnascido. Solução glicosada não é uma causa de icterícia, mas poderia estimular a motilidade
intestinal com consequente aumento da eliminação de bilirrubina.
3. A resposta correta é D. A evaporação é a perda de calor conforme a água é perdida da pele para o ambiente. Secar o
recémnascido no momento do nascimento e após o banho, manter os lençóis secos e usar cobertores com filme
plástico e escudos térmicos evita a perda de calor por evaporação. A colocação do recémnascido em uma superfície
aquecida evita a perda de calor por condução. A manutenção de uma temperatura ambiente aquecida evita a perda de
calor por convecção. O transporte do recémnascido em uma incubadora evita a perda de calor por radiação.
4. A resposta correta é A. O forame oval é uma estrutura do coração fetal que possibilita que o sangue atravesse
diretamente para o lado esquerdo e não passe pelo circuito pulmonar. Quando o gradiente de pressão do lado esquerdo
aumenta por ocasião do nascimento, essa abertura se fecha, estabelecendo assim um padrão de circulação
extrauterina. O ducto venoso não está localizado no coração; está localizado entre a veia umbilical e a veia cava
inferior, e desvia o sangue do fígado durante a vida fetal. O canal arterial liga a artéria pulmonar à aorta de modo a
desviar do circuito pulmonar. Esse canal começa a se contrair conforme a circulação pulmonar e a pressão arterial de
oxigênio aumentam. A veia umbilical, junto com as duas artérias umbilicais, faz parte do cordão umbilical, que é
cortado no momento do nascimento.
5. A resposta correta é D. A respiração normal pode ser descrita como superficial, a uma frequência de 36
incursões/minuto, com curtos períodos de apneia.
6. A resposta correta é C. Os achados indicam um ânus pérvio sem obstrução intestinal e peristaltismo normal.
7. A resposta correta é C porque os recémnascidos são influenciados rapidamente por alterações da temperatura
ambiental que o banho pode induzir por condução. O adiamento do banho do recémnascido até a estabilização da
temperatura ajuda a evitar hipotermia do recémnascido. As alternativas A, B e D são incorretas porque não há
ligação entre infecção, icterícia e anemia e banho do recémnascido.
8. A resposta correta é D porque os recémnascidos produzem bilirrubina (produto da degradação dos eritrócitos) duas
vezes mais que os adultos e o fígado dos recémnascidos não consegue conjugar bilirrubina tão rapidamente quanto
seria necessário, resultando em icterícia. A alternativa A é incorreta porque os recémnascidos têm, tipicamente, mais
eritrócitos do que precisam e, portanto, não ocorreria anemia. As alternativas B e C não estão correlacionadas à
degradação dos eritrócitos e são incorretas.
9. As respostas corretas são C e F porque estes são achados anormais que precisam ser investigados pelo pediatra. A
ausência do reflexo de Moro poderia indicar um transtorno neurológico, e o empalidecimento da pele sobre uma
proeminência óssea poderia indicar icterícia patológica porque ocorre antes das primeiras 24 horas de vida. A icterícia
fisiológica ocorre, tipicamente, após as primeiras 24 horas de vida, enquanto a icterícia patológica ocorre antes de 24
horas de vida. As outras alternativas (A, B, D e E) são achados normais no recémnascido.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. Qual é a sua impressão em relação a esse comportamento?
É evidente que o comportamento da nova enfermeira demonstra falta de conscientização ou conhecimento a
respeito da termorregulação em recémnascidos. É necessário o reforço desses princípios. Talvez ela precise ser
lembrada da incapacidade dos recémnascidos de se manterem aquecidos como resultado de vários fatores, ou
talvez ela possa se sentir oprimida em ter que cuidar de mais de uma criança. O treinamento continuado de todos
os funcionários do berçário poderia ser um bom reforço desse conceito.
b. Que princípios de termorregulação precisam ser reforçados?
A enfermeira está expondo o recémnascido a perda de calor pelos quatro métodos – evaporação (banho),
radiação (deixando a porta aberta), convecção (falta de touca) e condução (pesagem). Os recémnascidos não
conseguem conservar o calor corporal e apresentam perda de calor por meio de quatro mecanismos: condução,
convecção, evaporação e radiação. Colocálos em superfícies frias, sem proteção (como um cobertor ou uma
manta), vai leválos a perder calor corporal por condução. Ao expôlos enquanto molhados, como durante o
banho, o calor é perdido por evaporação. Deixar a porta aberta possibilita o fluxo de ar frio sobre o recém
nascido, levando à perda de calor por convecção. Colocar o transportador infantil próximo de locais frios
possibilita a transferência de calor do corpo do recémnascido por radiação.
c. Como você avaliará se suas instruções foram efetivas?
A efetividade do treinamento continuado pode ser avaliada por meio da observação do comportamento da equipe
enquanto atende os recémnascidos. Em caso de sucesso, os princípios reforçados durante a discussão serão
aplicados no atendimento aos neonatos. Quanto à enfermeira novata, seria importante observála cobrindo o
recémnascido durante o banho, colocando um cobertor aquecido na balança antes da pesagem, fechando as
portas do corredor para evitar correntes de ar e mantendo uma touca sobre a cabeça dele ao mostrálo para os
pais. Além disso, essa enfermeira deve verbalizar por que realiza todas essas ações.
2.
a. Aspire a boca e depois o nariz para remover qualquer muco. Estimule o choro secando o recémnascido logo
após o nascimento. Avalie o esforço respiratório para confirmar que esteja dentro dos parâmetros normais.
Observe se há sinais de desconforto respiratório. Ausculte o fluxo de ar nos pulmões para determinar se as
trocas gasosas são normais.
b. As medidas de segurança incluem pulseiras de identificação correspondentes para a mãe e para o recémnascido;
impressão plantar do recémnascido e do polegar da mãe para fins de identificação, bem como para evitar raptos;
lidar com o recémnascido de modo seguro utilizando ambas as mãos, para evitar quedas; posicionar o recém
nascido em decúbito dorsal para o sono; lavar as mãos com frequência após manusear todos os recémnascidos.
c. Forneça calor colocando uma touca no recémnascido para evitar a perda de calor por meio do couro cabeludo.
Mensure e registre a temperatura axilar do neonato com frequência para monitorar a termorregulação. Mantenha
a criança longe de correntes de ar e enrolea em um cobertor para que permaneça aquecida ou coloquea em um
berço aquecido. Após a temperatura ter se estabilizado, dê um banho no recémnascido.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Primeiro período de reatividade: episódios de movimentos rápidos e bruscos dos membros; atividade de sucção;
mastigação e busca; e tremores finos das extremidades. Segundo período de reatividade: o estado de alerta do recém
nascido gradualmente declina e ele dorme. Terceiro período de reatividade: o recémnascido desperta e interage mais
com o ambiente. O movimento é mais delicado em comparação com o primeiro período de reatividade. Pode eliminar
mecônio durante esse período.
2. A transição da circulação fetal para a circulação do adulto começa por ocasião do clampeamento do cordão umbilical e
continua durante as primeiras semanas de vida. Ocorre aumento da resistência sistêmica, dada a perda do circuito
placentário. A elevação da pressão no átrio esquerdo provoca fechamento funcional do forame oval. A respiração
inicial abre a vasculatura pulmonar, favorecendo a circulação para os pulmões. O aumento da oxigenação do sangue
circulante provoca constrição e fechamento funcional do canal arterial (ductus arteriosus). A ausência de circulação
placentária fecha o ducto venoso.
3. American Academy of Pediatrics, http://www.aap.org; Neonatal Network, http://www.neonatalwork.com.
4. evaporação
5. Termogênese é a maneira mais efetiva de produzir calor no recémnascido por meio de aumento da taxa metabólica na
gordura marrom e na musculatura esquelética com consequente aumento da produção de calor. A gordura marrom,
também conhecida como tecido adiposo marrom, é um tipo especial de tecido extremamente vascularizado nos recém
nascidos que consegue gerar calor. Calafrios e atividade muscular (movimentos corporais) não são métodos efetivos
de gerar calor.
ESTUDO DE CASO
1. Como o enfermeiro decide se essa paciente tem ingurgitamento mamário ou mastite?
2. Qual instrução o enfermeiro deve dar a essa paciente para promover conforto mamário?
3. Quais sinais e sintomas estariam presentes se a paciente tivesse mastite?
Resposta: Essa paciente tem ingurgitamento mamário porque as duas mamas estão quentes ao toque, edemaciadas e
dolorosas. Nos casos típicos, isso ocorre 2 a 3 dias depois do parto, quando as pacientes estão em casa. Em geral, a
mastite começa cerca de 10 dias ou mais depois do parto, e a puérpera apresenta febre, área de eritema e calor e
acometimento apenas de uma mama. Além disso, a paciente também refere febre ou sintomas gripais. As medidas de
conforto para ajudar a reduzir a dor mamária da paciente incluem aplicação de compressas geladas nas mamas depois
das mamadas, remoção frequente do leite por amamentação (a cada 2 a 3 horas) e fármacos antiinflamatórios.
Plano de cuidados
1. Com base na avaliação do recémnascido pelo enfermeiro, qual é o problema aparente?
2. Quais aspectos da promoção da saúde do recémnascido devem ser contemplados?
3. Quais aspectos de segurança do recémnascido precisam ser conversados com a mãe?
4. Para quando deve ser marcada uma visita domiciliar de acompanhamento?
Resposta: O recémnascido corre alto risco de perder calor por condução e desenvolver hipotermia e hipoglicemia
porque está exposto à superfície fria de uma mesa. Os recémnascidos perdem calor porque sua pele fina tem vasos
sanguíneos situados perto da superfície cutânea, por ter superfície corporal grande em relação ao peso, pela escassez
de gordura subcutânea que confere isolamento e por sua incapacidade de dizer aos seus cuidadores que sentem frio.
Os recémnascidos não têm calafrios como os adultos quando sentem frio. Uma explicação de termorregulação deve
ser dada para aumentar a conscientização da puérpera quanto à forma certa de vestir o recémnascido. Os quatro
mecanismos de perda de calor (evaporação, convecção, condução e irradiação) devem ser descritos. As medidas de
segurança quanto ao posicionamento do recémnascido devem ser explicadas à puérpera, de forma a alertála quanto
ao alto risco de quedas de recémnascidos colocados em superfícies altas sem contenções. Abordar esse assunto em
tom imparcial seria a forma mais apropriada de ensinar essa puérpera sobre segurança do recémnascido. Como essa
puérpera e seu recémnascido têm alguns desafios à sua adaptação, deve ser agendada uma visita domiciliar 48 horas
após a alta hospitalar para avaliar se estão ocorrendo alterações positivas no lar. Também seria útil avaliar o sistema
de apoio da puérpera e quem está em casa para ajudála a cuidar do recémnascido e permitir que ela descanse.
Questões múltipla escolha
1. Qual dos seguintes resultados de exames laboratoriais a enfermeira consideraria como um
achado normal em um recémnascido logo após o nascimento?
A. Hemoglobina: 17,5 g/dℓ
B. Leucócitos: 5.000/mm3
C. Plaquetas: 400.000/μℓ
D. Eritrócitos: 3.500.000/μℓ
Concluir questão
2. Qual das alternativas a seguir alertaria a enfermeira a suspeitar que o recémnascido está com
dificuldade respiratória?
A. Frequência respiratória de 50 irpm
B. Movimento assimétrico do tórax
C. Acrocianose
D. Curtos períodos de apneia (menos de 15 segundos)
Concluir questão
3. A enfermeira está preparando um plano de orientações para os novos pais sobre por que os
recémnascidos apresentam perda de calor. Qual dos seguintes itens ela incluirá?
A. Pele espessa com vasos sanguíneos localizados profundamente
B. Capacidade de tremer reforçada
C. Atividade muscular voluntária limitada
D. Substanciais reservas de glicose e glicogênio
Concluir questão
4. A enfermeira usa um berço aquecido para o transporte de um recémnascido a fim de reduzir
a perda de calor por meio de qual mecanismo?
A. Condução
B. Convecção
C. Evaporação
D. Radiação
Concluir questão
5. Ao descrever os eventos que sucedem a um recémnascido quando ele é colocado em um
ambiente frio, qual das opções a seguir a enfermeira identificaria como ocorrendo em
primeiro lugar?
A. Degradação de triglicerídios
B. Aumento da liberação de norepinefrina
C. Aumento do débito cardíaco
D. Aumento do fluxo sanguíneo na gordura marrom
Concluir questão
6. Ao colocar um termômetro cutâneo em um recémnascido que está em decúbito lateral, qual
local seria mais adequado?
A. Sobre o quadril oposto
B. Sobre o fígado
C. Na área do mediastino
D. Entre as escápulas
Concluir questão
7. Um recémnascido desenvolve icterícia fisiológica e a mãe pergunta à enfermeira por que isso
aconteceu. Qual resposta seria mais precisa?
A. “Como o fígado é um pouco imaturo, o recémnascido não consegue conjugar a bilirrubina
tão rapidamente quanto necessário.”
B. “Existe algum tipo de incompatibilidade sanguínea entre você e seu recémnascido que
está causando o problema.”
C. “Seu filho deve ter um ducto bloqueado perto do fígado que está impedindo a bilirrubina
de ser excretada.”
D. “Realmente não sabemos por que a icterícia se desenvolve em alguns recémnascidos e
não em outros. Só sabemos como tratála.”
Concluir questão
8. Depois de dar uma aula sobre as mudanças no sistema digestório de um recémnascido, qual
das seguintes alternativas, se afirmada pela classe, indica a necessidade de orientações
adicionais?
A. O intestino do recémnascido é estéril ao nascimento
B. A ingestão é necessária para a produção de vitamina K
C. A capacidade do estômago de um recémnascido é de aproximadamente 300 mℓ
D. A cárdia é imatura
Concluir questão
9. A enfermeira descreve as mudanças nas fezes que uma nova mãe veria ao alimentar seu
recémnascido com fórmula. Qual das alternativas a seguir mais bem indica o que a mãe
observaria depois de vários dias?
A. Fezes verdeamareladas, pastosas, com cheiro desagradável
B. Fezes pretoesverdeadas alcatroadas, espessas
C. Fezes ralas, granulosas, coloração marrom ou amarelada
D. Fezes amareloouro de cheiro azedo
Concluir questão
10. Ao ministrar uma palestra de nutrição do recémnascido a um grupo de gestantes, a
enfermeira incentiva o aleitamento materno, pois o leite materno é a principal fonte de qual
imunoglobulina?
A. IgA
B. IgG
C. IgM
D. IgE
Concluir questão
11. Uma enfermeira está explicando as inúmeras mudanças que ocorrem logo após o parto. Ao
descrever o modo como o canal arterial se fecha, ela comenta que qual dos seguintes é o
fator mais importante para ajudar nesse fechamento?
A. Oxigênio
B. Pinçamento do cordão umbilical
C. Iniciar o aleitamento materno imediatamente
D. Respiração
Concluir questão
12. A capacidade da enfermeira de identificar achados irregulares durante um exame físico ajuda
no diagnóstico rápido e no tratamento de possíveis complicações. A taquicardia pode indicar
qual das situações a seguir que requererão avaliação e intervenção adicionais?
A. Infecção
B. Hipotermia
C. Anemia
D. Abstinência de drogas ilícitas/fármacos
Concluir questão
13. A cliente deu à luz um prétermo na 30a semana de gestação. A enfermeira está ciente de que
o prematuro precisa ser avaliado para qual das seguintes opções para garantir que os
alvéolos possam funcionar adequadamente?
A. Oxigênio
B. Hematócrito
C. Surfactante
D. Fluxo sanguíneo
Concluir questão
14. A enfermeira está explicando para os pais novos que uma potencial complicação da cesariana
é a taquipneia transitória. Ela explica que isso se deve a qual dos seguintes itens?
A. Perda de volume de sangue decorrente da hemorragia
B. Ausência de compressões torácicas durante o parto
C. Aspiração inadequada da boca e do nariz do recémnascido
D. Parto vaginal prolongado sem sucesso
Concluir questão
15. Ao avaliar o recémnascido, a enfermeira observa qual das seguintes como sendo uma
temperatura normal?
A. 37,0°C
B. 36,0°C
C. 35,0°C
D. 38,0°C
Concluir questão
16. Uma enfermeira está explicando as muitas alterações que um recémnascido apresentará
durante as primeiras 2 semanas após o nascimento. Ela comenta como as funções da
placenta são assumidas por qual órgão?
A. Intestino
B. Sistema cardiovascular
C. Fígado
D. Rins
Concluir questão
17. Uma nova mãe está preocupada porque seu filho não come o suficiente e não terá energia
adequada. A enfermeira explica que qual dos seguintes itens fornecerá energia nas primeiras
24 h após o nascimento?
A. Proteína armazenada
B. Gordura marrom armazenada
C. Carboidratos armazenados
D. Glicose armazenada
Concluir questão
18. Ao ministrar uma palestra a novos pais sobre as necessidades de seu recémnascido, qual
das seguintes opções a enfermeira sugeriria como sendo um bom indicador de que a criança
está recebendo volume suficiente de líquidos?
A. 4 a 6 micções por dia
B. 6 a 8 micções por dia
C. 8 a 10 micções por dia
D. 2 a 4 micções por dia
Concluir questão
19. Uma enfermeira está avaliando um recémnascido com os pais. Ela explica que qual das
seguintes opções é um indicativo importante do desenvolvimento e da função neurológicos?
A. Resposta de choro
B. Movimentos voluntários
C. Reflexos primitivos
D. Orientação ao ambiente
Concluir questão
20. Uma enfermeira está ministrando uma palestra sobre recémnascidos a futuros pais. Qual das
seguintes opções ela usa para indicar o período neonatal?
A. Primeiros 2 meses de vida
B. Primeiras 3 semanas de vida
C. Primeiros 36 dias de vida
D. Primeiros 28 dias de vida
Concluir questão
21. Ao discutir com os novos pais as mudanças fisiológicas no recémnascido, a enfermeira
explica que elas normalmente perduram por quanto tempo?
A. Primeiras 4 a 6 h de vida
B. Primeiras 6 a 10 h de vida
C. Primeiras 8 a 12 h de vida
D. Primeiras 2 a 4 h de vida
Concluir questão
22. Durante a vida fetal, uma estrutura possibilita que a circulação pulmonar seja desviada. Logo
após o nascimento, essa estrutura deve fechar. A enfermeira reconhece qual das seguintes
como sendo essa estrutura?
A. Forame oval
B. Ducto venoso
C. Vasos umbilicais
D. Canal arterial
Concluir questão
23. A enfermeira está ciente de que a dinâmica circulatória do recémnascido durante a transição
pode ser muito afetada por qual das seguintes ações?
A. Pinçamento rápido do cordão (o mais precocemente possível)
B. Adiamento do pinçamento do cordão umbilical em 1 a 2 min
C. Adiamento do pinçamento do cordão umbilical em pelo menos 5 min
D. Administração de oxigênio ao recémnascido, conforme necessário
Concluir questão
24. A enfermeira está ensinando aos novos pais a melhor maneira de evitar a hipotermia. Ela
explica que o principal método de produção de calor do recémnascido é qual dos seguintes?
A. Termocondução
B. Termorregulação
C. Termogênese sem tremores
D. Termogênese com tremores
Concluir questão
25. A enfermeira explica que os recémnascidos demonstram várias respostas previsíveis ao
interagir com seu ambiente. Qual(is) das seguintes ela identificaria como essa(s) resposta(s)
comportamental(is)? (Selecione todas que se aplicam.)
A. Apego aos pais
B. Orientação
C. Habituação
D. Capacidade de se autoacalmar
E. Alimentação adequada
Concluir questão
Conduta de Enfermagem para o RecémNascido
18
PALAVRASCHAVE
Acrocianose
Bossa serossanguinolenta
Céfalohematoma
Circuncisão
Eritema tóxico
Escore de Apgar
Fototerapia
Hemangioma em morango (hemangioma capilar)
Idade gestacional
Imunização
Mancha vinho do Porto
Manchas mongólicas
Manchas salmão
Mília
Moldagem
Oftalmia neonatal
Pérolas de Epstein
Pseudomenstruação
Rapto infantil
Sinal de arlequim
Vérnix caseoso
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Realizar as avaliações necessárias durante o período neonatal imediato.
2. Empregar intervenções que atendam às necessidades imediatas do recémnascido a termo.
3. Demonstrar os componentes do exame físico típico do recémnascido.
4. Distinguir variações comuns que possam ser observadas durante o exame físico do recémnascido.
5. Caracterizar problemas comuns no recémnascido e as intervenções apropriadas.
6. Comparar a importância dos exames de rastreamento no recémnascido.
7. Planejar intervenções comuns que sejam apropriadas durante o início do período neonatal.
8. Analisar o papel do enfermeiro no atendimento das necessidades nutricionais do recémnascido.
9. Delinear o conteúdo do planejamento de alta e as orientações necessárias para a família com um recémnascido.
Kelly, de 16 anos de idade, é mãe pela primeira vez e ligou para a maternidade do hospital 3 dias após receber
alta. Ela disse ao enfermeiro que seu filho “parece uma cenoura” e “não está mamando bem”. Ela pergunta o que
há de errado.
Reflexões
Você pode transmitir uma mensagem mais poderosa com suas ações e seu comportamento do que apenas com palavras.
INTRODUÇÃO
Imediatamente após o nascimento, todos os genitores/pessoas que dão suporte/entes queridos são confrontados com a tarefa de
aprender e entender tanto quanto possível a respeito de como cuidar desse novo membro da família, mesmo que já tenham tido
outros filhos. Em seu novo papel como pais ou na expansão desse papel, eles precisam enfrentar muitas demandas e desafios.
Para a maioria deles, esse é um momento maravilhoso e emocionante, repleto de muitas descobertas e muita informação.
Mãe, pai/pessoas de suporte ou entes queridos aprendem enquanto observam o enfermeiro interagir com o recémnascido.
Esses profissionais desempenham um papel importante na orientação dos cuidadores de recémnascidos em relação às
características normais dos recémnascidos e às maneiras de promover o crescimento e o desenvolvimento ideais. Hoje em dia,
esse papel é ainda mais importante, por causa dos curtos períodos de internação hospitalar.
O recémnascido veio de um espaço escuro, pequeno e fechado – o útero da mãe – para o ambiente extrauterino, que é claro e
frio. O enfermeiro pode facilmente esquecer que está cuidando de um pequeno ser humano que está passando por sua primeira
experiência extrauterina de interação humana. O período neonatal é extremamente importante; nos EUA, foram desenvolvidas
duas metas nacionais de saúde para lidar com esse período crítico (consulte os destaques do boxe Healthy People 2020 18.1;
U.S. Department of Health and Human Services [USDHHS], 2010).
Também é fácil ignorar a intensidade com que os genitores/pessoas que dão suporte/entes queridos e visitantes observam as
ações dos profissionais de enfermagem enquanto eles atendem o novo membro da família. Os profissionais de enfermagem
servem de modelo para a prestação de cuidados competentes ao recémnascido. Este capítulo fornece informações sobre a
avaliação e as intervenções no período pósnatal imediato e durante o período neonatal inicial.
CONDUTA DE ENFERMAGEM DURANTE O PERÍODO NEONATAL IMEDIATO
O período de transição da vida intrauterina para a extrauterina ocorre durante as primeiras horas após o nascimento. Nesse
período, o recémnascido passa por inúmeras adaptações, muitas das quais estão ocorrendo simultaneamente (consulte
o Capítulo 17 para obter mais informações sobre a adaptação do recémnascido). A temperatura, a respiração e a dinâmica
cardiovascular do recémnascido se estabilizam durante esse período. A observação atenta do estado do recémnascido é
essencial. Um exame cuidadoso do recémnascido logo após o parto possibilita a detecção de anomalias, lesões congênitas e
doenças que possam comprometer a adaptação à vida extrauterina. Os problemas que ocorrem durante esse momento crítico
podem impactar toda a vida do indivíduo.
Healthy People 2020 • 18.1
Objetivos Importância para a enfermagem
• Aumentar a proporção de mulheres • Enfatizará a importância do
que amamentam seus filhos leite materno como a
durante o período pósparto inicial modalidade mais completa de
dos índices atuais de 74% para nutrição para os recém
81,9% nascidos
• Aumentar a proporção de mulheres • Ajudará a promover a saúde, o
que estão amamentando 6 meses crescimento, a imunidade e o
após o parto dos índices atuais de desenvolvimento durante o
43,5% para 60,6% período neonatal e a lactância
• Aumentar a proporção de mulheres • Ajudará a promover a detecção
que estão amamentando 1 ano precoce e o tratamento
após o parto dos índices atuais de imediato de condições,
22,7% para 34,1% diminuindo assim a incidência
de doenças, deficiências e
mortes associadas a essas
• Certificarse da realização do teste condições e seus efeitos
de Guthrie (teste do pezinho) e de globais sobre o recémnascido,
testes de acompanhamento a criança e a família
adequados
• Aumentar o número de estados e
distritos que verificam por meio da
checagem dos registros de
nascidos vivos se todos os recém
nascidos são submetidos a triagem
logo após o parto para as
condições exigidas pelo programa
de rastreamento financiado por
esse estado
• Aumentar a proporção de crianças
com alguma condição detectada no
exame de rastreamento
submetidas a exames de
acompanhamento dentro do prazo
recomendado
• (Desenvolvimental) Aumentar a
proporção de crianças com uma
doença diagnosticada identificada
por meio do rastreamento neonatal
submetidas a uma avaliação anual
dos atendimentos necessários e
recebidos
• Aumentar a proporção de recém
nascidos rastreados para perda
auditiva o mais tardar até 1 mês de
vida, submetidos à avaliação
audiológica até os 3 meses de vida
e integrados a um serviço de
intervenção adequado o mais
tardar até os 6 meses de vida
Objetivos do Healthy People com base em dados de http://www.healthypeople.gov.
Avaliação
Concluise a avaliação inicial do recémnascido na sala de parto para determinar se ele está estável o suficiente para ficar com os
pais ou se precisa de reanimação ou outras intervenções imediatas. Recentemente, uma ferramenta de avaliação rápida e fácil de
recémnascidos, a RAPP (atividade respiratória, perfusão e posição – do inglês respiratory activity, perfusion and position), foi
desenvolvida para aprimorar a capacidade do enfermeiro de avaliar rápida e acuradamente a condição fisiológica do recém
nascido. A avaliação RAPP é um método de avaliar rapidamente as condições dos recémnascidos de modo que possam ser
tomadas decisões referentes à estabilidade do recémnascido (LudingtonHoe & Morgan, 2014). É possível fazer uma segunda
avaliação nas primeiras 2 a 4 horas após o parto, quando o recémnascido está no berçário ou na sala de trabalho de parto e parto
(STPP). De acordo com a política do hospital, uma terceira avaliação é, geralmente, concluída antes da alta. O objetivo dessas
avaliações é determinar o estado geral de saúde do recémnascido, fornecer informações aos genitores/pessoas que dão
suporte/entes queridos sobre o seu filho e identificar anormalidades físicas aparentes (Davidson, 2014).
Durante a avaliação inicial do recémnascido, procure sinais que possam indicar um problema, incluindo:
• Batimento de asa de nariz
• Retrações intercostais
• Grunhidos na expiração
• Dificuldade respiratória
• Cianose generalizada
• Existência de ruídos adventícios: roncos, estertores, sibilos e estridor
• Frequência respiratória anormal (taquipneia, mais de 60 incursões respiratórias por minuto [irpm]; bradipneia, menos de 25
irpm)
• Postura corporal flácida
• Palidez
• Episódios de apneia
• Frequência cardíaca anormal (taquicardia, mais de 160 bpm; bradicardia, menos de 100 bpm)
• Recémnascido de tamanho anormal: pequeno para a idade gestacional (PIG) ou grande para a idade gestacional (GIG).
Se for observado algum desses achados, podem ser necessárias intervenções médicas.
Escore de Apgar
O índice ou escore de Apgar, elaborado em 1952 pela Dra. Virginia Apgar, é utilizado em todo o mundo para avaliar a condição
física do recémnascido no primeiro e no quinto minuto após o parto. Fazse uma avaliação adicional do Apgar em 10 minutos
se a pontuação do quinto minuto for inferior a 7 pontos. Já foi constatado que a frequência cardíaca é o sinal diagnóstico e
prognóstico mais importante dos cinco sinais (Apgar, 2015). Pode ser usado como um método rápido para avaliar a sobrevida do
recémnascido. A avaliação do recémnascido no primeiro minuto fornece dados relacionados com a adaptação inicial à vida
extrauterina. A avaliação no quinto minuto de vida fornece uma indicação mais clara do estado geral do sistema nervoso central
do recémnascido.
O escore de Apgar avalia cinco parâmetros. Uma maneira rápida para lembrar os parâmetros do escore de Apgar é a
seguinte:
• A = aparência (coloração)
• P = pulso (frequência cardíaca)
• G = caretas (do inglês grimace) (irritabilidade reflexa)
• A = atividade (tônus muscular)
• R = respiração (esforço respiratório).
Atribuise uma pontuação de 0 a 2 pontos a cada parâmetro. Uma pontuação de 0 ponto indica ausência de resposta ou
resposta insatisfatória; uma pontuação de 2 pontos indica uma resposta normal (Tabela 18.1). A pontuação do recémnascido
normal deve ser de 8 a 10 pontos. Quanto maior a pontuação, melhor a condição do recémnascido. Se o escore de Apgar for de
8 pontos ou mais, não são necessárias intervenções diferentes além de apoiar os esforços respiratórios normais e manter a
termorregulação. Índices de 4 a 7 pontos indicam dificuldade moderada, e índices de 0 a 3 pontos representam a dificuldade
intensa em adaptarse à vida extrauterina. O escore de Apgar é influenciado por existência de infecção, maturidade do recém
nascido, idade da mãe, anomalias congênitas, imaturidade fisiológica, sedação materna por causa de fármacos, conduta no
trabalho de parto e doenças neuromusculares (Rudiger & Konstantelos, 2015).
Quando o recémnascido apresenta depressão fisiológica, as características do escore de Apgar desaparecem de modo
previsível: primeiro, a coloração rosa é perdida, seguida pelo esforço respiratório, pelo tônus, pela irritabilidade reflexa e, por
fim, pela frequência cardíaca (Apgar, 2015).
Anote!
Embora o escore de Apgar seja mensurado no primeiro e no quinto minutos de vida, ele também pode ser usado como um guia
durante o período neonatal imediato para avaliar se o estado do recémnascido apresenta alterações, porque incide sobre os
parâmetros críticos que têm de ser avaliados durante todo o período de transição inicial.
Comprimento e peso
Os pais estão ansiosos para saber o comprimento e o peso de seus recémnascidos. Essas medidas são verificadas logo após o
parto. Podese usar uma fita métrica descartável ou uma régua integrada acoplada à lateral de algumas balanças. O comprimento
é medido da cabeça ao calcanhar do recémnascido despido (Figura 18.1). Por causa da posição flexionada do recémnascido
após o nascimento, coloqueo em decúbito dorsal e estenda completamente a perna ao medir o comprimento. A variação de
comprimento esperada para um recémnascido a termo geralmente é de 44 a 55 cm. A moldagem da cabeça pode afetar a
mensuração (Weber & Kelley, 2014).
Tabela 18.1 Escore de Apgar para recémnascidos.
Dados de Cunningham, F. G., Leveno, K. J., Bloom, S. L., Spong, C. Y.,
Dashe, J. S., Hoffman, B. L. et al. (2014). William’s obstetrics (24th ed.).
New York, NY: McGrawHill Medical; e Marcdante, K. J., & Kliegman, R.
M. (2014). Nelson essentials of pediatrics (7th ed.). Philadelphia, PA:
Elsevier Science Health.
Mais frequentemente, os recémnascidos são pesados utilizandose uma balança digital, que fornece o peso em gramas.
Tipicamente, o recémnascido a termo pesa entre 2.500 e 4.000 g (Figura 18.2). O peso ao nascimento menor que 10% ou maior
de 90% do gráfico de crescimento está fora da faixa normal e exige investigação mais aprofundada. Pesos avaliados em
momentos posteriores são comparados com os pesos anteriores e são documentados em relação ao ganho ou perda em uma folha
de evolução de enfermagem. Os recémnascidos podem perder até 10% do seu peso inicial com 3 a 4 dias de idade, em
decorrência da perda de mecônio, perda de líquido extracelular e limitação na ingestão de alimentos. Esse peso perdido
geralmente é recuperado até o décimo dia de vida (Fonseca et al., 2014).
FIGURA 18.1 Medição do comprimento do recémnascido.
Os recémnascidos podem ser classificados pelo seu peso ao nascer, independentemente da sua idade gestacional (American
Academy of Pediatrics [AAP], 2015a), como se segue:
• Baixo peso ao nascimento: < 2.500 g
• Muito baixo peso ao nascimento: < 1.500 g
• Extremo baixo peso ao nascimento: < 1.000 g.
Sinais vitais
As frequências cardíaca e respiratória são avaliadas imediatamente após o parto, com o escore de Apgar. A frequência cardíaca,
obtida mensurandose o pulso apical por 1 minuto, geralmente é de 110 a 160 bpm. A frequência respiratória do recémnascido é
avaliada com ele calmo ou dormindo. Coloque um estetoscópio no lado direito do tórax e conte as incursões respiratórias por 1
minuto inteiro para identificar eventuais irregularidades. A frequência respiratória do recémnascido é de 30 a 60 irpm, com
movimento simétrico do tórax. De modo geral, as frequências cardíaca e respiratória são avaliadas a cada 30 minutos até que
estejam estáveis por 2 horas após o nascimento. Uma vez estáveis, essas frequências são verificadas a cada 8 horas. Esses
intervalos de avaliação podem variar de acordo com os protocolos do hospital, de modo que os profissionais de enfermagem
devem seguir os procedimentos da instituição em que atuam (NagtalonRamos, 2014).
FIGURA 18.2 Pesagem do recémnascido. Observe como a enfermeira o protege com a mão para evitar quedas.
Os sinais vitais são avaliados por ocasião do nascimento e 1 a 4 horas após o nascimento, dependendo da política do
hospital. São usados para identificar várias complicações e para assegurar o bemestar do recémnascido. Em algumas
instituições, a temperatura é mensurada imediatamente após a determinação do escore de Apgar para possibilitar a identificação
de hipotermia. Essa hipotermia demanda então a verificação da glicemia, mas o enfermeiro precisa seguir os protocolos de seu
hospital nesse momento da avaliação. Nos recémnascidos a termo, a temperatura axilar normal deve ser mantida entre 36,5°C e
37,5°C. A temperatura retal não é mais mensurada por causa do risco de perfuração (AAP, 2015b). O termômetro ou a sonda de
temperatura é mantido no espaço axilar, de acordo com as instruções do fabricante e com o protocolo do hospital. A pressão
arterial geralmente não é considerada como parte do exame de um recémnascido normal, a menos que haja uma indicação clínica
ou baixos escores de Apgar. Se avaliada, utilizase um oscilômetro (Dinamap). A variação típica é de 50 a 75 mmHg (sistólica)
e de 30 a 45 mmHg (diastólica). O choro, a movimentação e o pinçamento tardio do cordão umbilical aumentarão os níveis de
pressão sistólica (Weber & Kelley, 2014). Os valores típicos dos sinais vitais em recémnascidos são apresentados na Tabela
18.2.
Tabela 18.2 Sinais vitais do recémnascido.
Sinais vitais do recémnascido Intervalos de valores
Temperatura 36,5 a 37,5°C
Frequência cardíaca (frequência de 110 a 160 bpm; pode aumentar
pulso) até 180 bpm durante o
choro
Frequência respiratória 30 a 60 irpm em repouso;
aumenta com o choro
Pressão arterial PA sistólica de 50 a 75 mmHg,
PA diastólica de 30 a 45
mmHg
Dados de Moses, S. (2015). Pediatric vital signs. Family Practice
Notebook. Retirado
de http://www.fpnotebook.com/cv/exam/pdtrcvtlsgns.htm; e Kliegman, R.
M., Behrman, R. E., Jenson, H. B., & Stanton, B. F. (2014). Nelson’s
textbook of pediatrics (20th ed.). St. Louis, MO: Saunders Elsevier.
Avaliação da idade gestacional
Para determinar a idade gestacional do recémnascido (o estágio de maturidade), o examinador avalia os sinais físicos e as
características neurológicas. Tipicamente, a idade gestacional é determinada usando uma ferramenta como a Escala de avaliação
da idade gestacional de Ballard ou escala de Ballard. Determina a idade gestacional entre a 20a e a 44a semana. Um escore é
atribuído aos vários parâmetros e o escore total corresponde a uma graduação de maturidade em semanas de gestação (Figura
18.3). Esse sistema de pontuação fornece uma estimativa objetiva da idade gestacional ao classificar parâmetros específicos da
maturidade física, bem como neuromuscular. Atribuemse pontos a cada parâmetro de avaliação, com um escore mínimo de –1
ou –2 pontos para a imaturidade extrema a 4 ou 5 pontos para a pósmaturidade. As pontuações de cada seção são somadas para
corresponder a uma idade gestacional específica em semanas.
A maturidade física é avaliada durante as primeiras 2 horas após o nascimento. A seção de avaliação da maturidade física do
exame de Ballard avalia características físicas que são diferentes em estágios distintos, dependendo da maturidade gestacional do
recémnascido. Os recémnascidos que estão fisicamente maduros têm escores mais altos do que aqueles que não estão. As áreas
avaliadas no exame de maturidade física incluem:
• Textura da pele: geralmente varia de pegajosa e transparente a lisa, com diferentes graus de descamação e fissuras,
apergaminhada ou coriácea, com fissuras e enrugamento importantes
• Lanugem: penugem macia sobre o corpo do recémnascido; não é encontrada em recémnascidos prétermo; aparece com a
maturidade e depois desaparece novamente com a pósmaturidade
• Sulcos plantares: pregas nas solas dos pés que podem estar desde ausentes até recobrindo todo o pé, dependendo da
maturidade (quanto maior o número de pregas, maior a maturidade do recémnascido)
• Tecido mamário: espessura e tamanho do tecido mamário e aréola (o anel escurecido ao redor de cada mamilo), que varia de
imperceptível a repleto e proliferante
• Olhos e orelhas: as pálpebras podem estar fundidas ou abertas, e a cartilagem da orelha e a rigidez determinam o grau de
maturidade (quanto maior a quantidade de cartilagem na orelha que apresenta rigidez, mais maduro é o recémnascido)
• Genitálias: nos meninos, as evidências de descida dos testículos e a aparência do escroto (que pode variar de liso a recoberto
de rugas) determinam a maturidade; nas meninas, a aparência e o tamanho do clitóris e dos lábios do pudendo determinam a
maturidade (um clitóris proeminente com lábios do pudendo planos sugere prematuridade, enquanto um clitóris coberto
pelos lábios do pudendo sugere maior maturidade).
FIGURA 18.3 Ferramenta de avaliação da idade gestacional. The New Ballard Score (2014). (Adaptada
de http://www.ballardscore.com.)
A parte de maturidade neuromuscular tipicamente é realizada no intervalo de 24 horas após o nascimento. Avaliamse seis
atividades ou manobras que o recémnascido realiza com partes variadas do corpo para determinar o grau de maturidade da
criança:
1. Postura: como o recémnascido mantém seus membros em relação ao tronco? Quanto maior o grau de flexão, maior a
maturidade. Por exemplo, a extensão de braços e pernas é classificada como 0 ponto, e a flexão completa de braços e pernas
é classificada como 4 pontos
2. Ângulo do punho (janela quadrada): até que ponto as mãos do recémnascido podem ser flexionadas em direção ao punho?
O ângulo é medido e classificado em mais de 90 a 0°, para determinar o nível de maturidade. À medida que o ângulo
diminui, a maturidade do recémnascido aumenta. Por exemplo, um ângulo de mais de 90° é pontuado como –1, e um
ângulo de 0° é classificado como 4 pontos
3. Retração do braço: até que ponto os braços do recémnascido “retornam” a uma posição de flexão? Essa medida avalia o
grau de flexão do braço e a força de recuo. A reação do braço é então pontuada de 0 a 4 pontos, de acordo com o grau de
flexão quando os braços são devolvidos à sua posição fletida normal. Quanto maior o número de pontos atribuídos, maior é
a maturidade neuromuscular (p. ex., uma retração inferior a um ângulo de 90° é pontuada como 4 pontos)
4. Ângulo poplíteo: o quanto os joelhos do recémnascido se estendem? Mensurase o ângulo formado quando o joelho é
estendido. Um ângulo de menos de 90° indica maior maturidade. Por exemplo, um ângulo de 180° é pontuado como –1
ponto, e um ângulo de menos de 90° é pontuado como 5 pontos
5. Flexibilidade da articulação acromioclavicular (sinal do cachecol): o quanto os cotovelos do recémnascido podem ser
levados ao cruzar o tórax? Um cotovelo que não alcança a linha média indica maior maturidade. Por exemplo, se o cotovelo
alcança ou se aproxima do nível do ombro oposto, isso é pontuado como –1 ponto; se o cotovelo não atravessa a linha
axilar próxima, é pontuado como 4 pontos
6. Manobra calcanharorelha: quão perto os pés do recémnascido podem ser movidos em direção às orelhas? Essa manobra
avalia a flexibilidade do quadril: quanto menor a flexibilidade, maior a maturidade do recémnascido. A avaliação da
manobra calcanharorelha é pontuada do mesmo modo que a flexibilidade da articulação acromioclavicular (sinal do
cachecol).
Após a pontuação ter sido concluída, os 12 escores são somados e, em seguida, comparados a valores padronizados para
determinar a idade gestacional apropriada em semanas. Os escores variam de muito baixos em recémnascidos prétermo a muito
altos em recémnascidos maduros e pósmaduros.
Tipicamente, os recémnascidos também são classificados de acordo com a idade gestacional:
• Prétermo ou prematuros: nascidos antes de 37 semanas de gestação completas, independentemente do peso ao nascer
• Termo: nascidos entre a 38a e a 42a semana de gestação
• Póstermo: nascidos após o término da 42a semana de gestação
• Pósmaduros: nascidos após 42 semanas e demonstrando sinais de envelhecimento da placenta.
Usando as informações sobre a idade gestacional e, em seguida, considerandose o peso aferido logo após o parto, os recém
nascidos também podem ser classificados do seguinte modo:
• Pequeno para a idade gestacional (PIG): peso inferior ao percentil 10 nas tabelas de crescimento padrão (geralmente <
2.500 g)
• Adequado para a idade gestacional (AIG): peso entre os percentis 10 e 90
• Grande para a idade gestacional (GIG): peso acima do percentil 90 nas tabelas de crescimento padrão (geralmente > 4.000
g).
O Capítulo 23 descreve essas variações no peso ao nascer e na idade gestacional em mais detalhes.
Anote!
A avaliação da idade gestacional é importante porque possibilita que o enfermeiro trace os parâmetros de crescimento e antecipe
problemas relacionados com prematuridade, pósmaturidade e anormalidades de crescimento.
Intervenções de enfermagem
Durante o período neonatal imediato, os cuidados se concentram em ajudar o recémnascido a fazer a transição para a vida
extrauterina. As intervenções de enfermagem incluem manter a perviedade das vias respiratórias, garantir a identificação correta,
administrar os fármacos prescritos e manter a termorregulação.
Manutenção da perviedade das vias respiratórias
Imediatamente após o nascimento, o recémnascido é aspirado para remover líquido e muco da boca e do nariz (Figura 18.4).
Tipicamente, primeiro aspirase a boca do recémnascido com uma seringa de bulbo para remover restos celulares e, em seguida,
aspirase o nariz. A aspiração realizada dessa maneira ajuda a evitar a aspiração de líquido para o interior dos pulmões em um
suspiro inesperado. Estudos recentes, juntamente com recomendações de especialistas em saúde materna e a OMS, apoiam o uso
de uma toalha para retirar as secreções da boca e do nariz de recémnascidos estáveis. A aspiração rotineira da boca e das vias
respiratórias não é necessária. Apesar das evidências de que a aspiração rotineira não é benéfica e pode ser deletéria, ainda é
realizada com frequência (Bond, 2015; Saugstad, 2015).
FIGURA 18.4 Aspiramse a boca e o nariz do recémnascido com uma seringa de bulbo para remover o muco. Posicionar
o recémnascido de lado, com a cabeça inclinada para baixo, facilita a drenagem. Prestase esse cuidado com o recém
nascido sob uma fonte de calor radiante. (Copyright Caroline Brown, RNC, MS, DEd.)
Ao aspirar o recémnascido com uma seringa de bulbo, comprima o bulbo antes de colocálo na cavidade oral ou nasal. Solte
a compressão do bulbo lentamente, certificandose de que a ponta esteja disposta longe das mucosas para remover o excesso de
secreções. Retire a seringa de bulbo da boca ou nariz e, em seguida, mantendo a ponta da seringa de bulbo sobre uma bacia de
êmese forrada com toalha de papel ou tecido, comprima o bulbo para expelir as secreções. Repita o procedimento várias vezes
até a retirada de toda a secreção ou use uma toalha para retirar as secreções, dependendo da política do hospital.
Anote!
Mantenha sempre uma seringa perto do recémnascido, caso ele desenvolva asfixia súbita ou obstrução do nariz. Isso pode
salvar vidas.
Realização da identificação correta
O rapto de recémnascidos/lactentes ainda é uma ameaça nos hospitais e unidades de saúde em todo o território dos EUA. O
rapto de recémnascidos de instituições de saúde por membros não pertencentes à família tornouse claramente um assunto de
preocupação para os pais, enfermeiros maternoinfantis, responsáveis pela segurança e gestão de risco de instituições de saúde,
agentes da lei e do National Center for Missing & Exploited Children (NCMEC). A identificação da equipe (crachá,
treinamento, câmeras de vigilância, controle do acesso e sistemas de identificação) também pode ajudar a evitar o rapto de um
recémnascido do hospital. As medidas de segurança proativas precisam se tornar responsabilidade de todos, a fim de garantir a
segurança de todos os recémnascidos e de suas famílias em todos os ambientes hospitalares.
Antes de o recémnascido e a família deixarem a sala de parto, certifiquese de que foi seguida a política da instituição a
respeito da identificação. Tipicamente, a mãe, o recémnascido e o pai ou qualquer ente querido ou acompanhante escolhido pela
mãe recebem pulseiras de identificação (ID). O recémnascido geralmente recebe duas pulseiras de identificação, uma no punho
e outra no tornozelo. A mãe recebe uma pulseira correspondente, em geral no punho. Nas pulseiras de identificação comumente
estão anotados o nome, o sexo, a data e o horário do nascimento e o número do prontuário. O mesmo número de prontuário está
nas pulseiras de todos os familiares.
Essas pulseiras de identificação são fornecidas para a segurança do recémnascido e devem ser conferidas antes de a mãe e o
recémnascido deixarem a sala de parto. As pulseiras de identificação são verificadas por todos os enfermeiros para confirmar
que o recémnascido correto foi levado para a mãe certa, se eles tiverem sido separados por qualquer período de tempo (Figura
18.5). Também servem como identificação oficial do recémnascido e devem ser verificadas antes de iniciar qualquer
procedimento no recémnascido e na alta da unidade (NCMEC, 2015). Tirar uma fotografia colorida do recémnascido nas
primeiras 2 horas após o parto ou fazer uma imagem digital colorida ou um vídeo também ajuda a evitar confusões e raptos.
Muitas instituições utilizam dispositivos eletrônicos que soam um alarme se um recémnascido for levado para além de um
determinado ponto da unidade ou for removido da área.
Também poderá ser coletada a impressão plantar do recémnascido, em um formulário que inclui a impressão digital da mãe,
o nome e a data/hora do nascimento. Nos EUA, alguns estados exigem a coleta dessa impressão plantar, embora muitos estudos
apontem que a equipe da sala de parto não coleta uma impressão plantar consistentemente legível apropriada para fins de
identificação (Goyal, Nagar, & Kumar, 2014). Muitos estados pararam de exigir a coleta da impressão plantar do recémnascido.
Portanto, outros meios de identificação são necessários, como a coleta de sangue do cordão umbilical no momento do
nascimento para testes de DNA, o reconhecimento biométrico facial e a coleta de digitais por sistema computadorizado para
capturar impressões digitais de qualidade forense que sejam adequadas para fins de identificação (Otsuka, 2014).
FIGURA 18.5 A enfermeira confere a pulseira de identificação do recémnascido comparandoa com a da mãe.
A prevenção de raptos infantis tem sido bemsucedida combinandose o aumento de medidas de segurança nos hospitais,
incluindo câmeras de vídeo e dispositivos de alarme, com orientações a funcionários e pais sobre as precauções a tomar
enquanto no hospital. É fundamental não permitir que uma pessoa sem identificação retire um recémnascido por motivo algum
e manter o recémnascido em um local que seja visível para os pais ou funcionários do berçário em todos os momentos. Essas
medidas devem ser, em grande parte, invisíveis e produzir uma sensação de segurança, em vez de aumentar o receio dos pais em
relação ao rapto.
Embora os raptos de recémnascidos sejam raros, a segurança e a proteção das mães e dos recémnascidos devem
permanecer como prioridades para os profissionais de enfermagem. Esses trágicos incidentes podem ser prevenidos pela
segurança física das maternidades, pela orientação dos futuros pais sobre os métodos empregados por raptores potenciais e pela
cooperação com os recursos comunitários.
Administração dos fármacos prescritos
Durante o período neonatal imediato, dois medicamentos são comumente prescritos: vitamina K e profilaxia ocular com pomada
oftálmica de eritromicina ou tetraciclina (Orientação sobre medicamentos 18.1).
Orientação sobre medicamentos 18.1
Fármacos para o recémnascido.
Prevenção de sangramento por externo do
deficiência de vitamina K músculo vasto
(SDVK) do recémnascido lateral
• Usar agulha de
injeção de calibre
25, 15 mm
• Segurar a perna
com firmeza e
injetar a
medicação
lentamente
• Respeitar as
precauções
padrão
• Avaliar se há
sangramento no
local da injeção
após a
administração
Eritromicina a Ações bactericida e bacteriostática Estar alerta para
0,5% em para evitar a conjuntivite •
a ocorrência de
pomada por Neisseria conjuntivite
oftálmica gonorrhoeae e Chlamydia química por 1 a 2
ou trachomatis
dias
tetraciclina
Prevenção da oftalmia neonatal
a 1% em • Usar luvas e
pomada manter os olhos
oftálmica do recémnascido
abertos
colocando o
polegar e um
dedo acima e
abaixo do olho
• Apertar
suavemente o
tubo ou a ampola
para aplicar a
medicação no
saco conjuntival,
do canto interno
para o externo de
cada olho
• Não encostar a
ponta do tubo nos
olhos do recém
nascido
• Fechar os olhos
do recémnascido
para garantir que
a medicação se
espalhe na
superfície do olho
• Limpar o excesso
de pomada
depois de 1 min
Adaptado de King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Gegor,
C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s midwifery (5th ed.). Burlington, MA:
Jones & Bartlett Learning; e SkidmoreRoth, L. (2015). Mosby’s 2015
nursing drug reference (28th ed.). St. Louis, MO: Elsevier Health Sciences.
VITAMINA K
O tratamento profilático dos recémnascidos com vitamina K por via intramuscular tem sido o padrão de cuidado há décadas nos
EUA. A vitamina K, uma vitamina lipossolúvel, promove a coagulação sanguínea pelo aumento da síntese de protrombina pelo
fígado. A deficiência dessa vitamina atrasa a coagulação e pode levar a hemorragias. Os recémnascidos correm risco de
deficiência de vitamina K e subsequente sangramento, a menos que seja feita a suplementação por ocasião do nascimento. A
deficiência de vitamina K é uma coagulopatia adquirida de recémnascidos por causa do acúmulo de fatores da coagulação
inativos que resultam em aumento da tendência hemorrágica. A suplementação de vitamina K por ocasião do nascimento é
recomendada nos EUA desde 1961 e reduz realmente o risco de sangramento nos recémnascidos (Bellini, 2015).
Geralmente, as bactérias do intestino produzem vitamina K em quantidades adequadas. No entanto, o intestino do recém
nascido é estéril, de modo que a vitamina K não é produzida ali até que microrganismos tenham sido introduzidos, tal como com
a primeira alimentação. De modo geral, demora aproximadamente 1 semana para o recémnascido produzir vitamina K suficiente
para evitar sangramento por deficiência de vitamina K. Uma apresentação oral de vitamina K também é administrada aos recém
nascidos fora dos EUA, mas pelo menos três doses são necessárias durante um período de 1 mês (Abrams & Savelli, 2014).
A eficácia da vitamina K na prevenção de sangramentos precoces por sua deficiência está firmemente estabelecida, e sua
administração tem sido o padrão de cuidado desde que a AAP a recomendou no início de 1960. A AAP (2015c) recomenda que a
vitamina K seja administrada a todos os recémnascidos logo após o nascimento, em uma dose intramuscular única de 0,5 a 1
mg (Figura 18.6). A AAP também sugere que são necessárias pesquisas adicionais para confirmar a eficácia e a segurança de
formulações orais de vitamina K, que foram usadas em muitas regiões do mundo, mas atualmente não são recomendadas nos
EUA.
FIGURA 18.6 A enfermeira administra vitamina K por via intramuscular ao recémnascido.
PROFILAXIA OCULAR
Todos os recémnascidos nos EUA, independentemente de o parto ter sido vaginal ou por cesariana, devem receber a instilação
de um agente profilático em seus olhos nas primeiras 1 ou 2 horas após o parto. Isso é obrigatório em todos os 50 estados para
evitar a oftalmia neonatal, que pode causar cegueira neonatal (Centers for Disease Control and Prevention [CDC], 2015a). A
oftalmia neonatal é uma conjuntivite purulenta hiperaguda que ocorre durante os 10 primeiros dias de vida. Geralmente é
contraída durante o parto vaginal, quando o recémnascido entra em contato com secreção vaginal da mãe infectada com
gonorreia e clamídia (CDC, 2015a). Na maioria dos casos, ambas as pálpebras ficam tumefeitas e vermelhas, com secreção
purulenta.
Os agentes profiláticos atualmente recomendados (e exigidos por lei na maioria dos estados nos EUA) incluem eritromicina
a 0,5% em pomada oftálmica ou tetraciclina a 1% em pomada oftálmica, em aplicação única. Anteriormente era utilizada solução
de nitrato de prata, mas esta é pouco eficaz na prevenção da doença ocular por clamídia (Moore & MacDonald, 2015).
Independentemente de qual agente é utilizado, a instilação deve ser feita o mais rapidamente possível após o nascimento
(Figura 18.7). Se a instilação for adiada para possibilitar a visualização e o vínculo, a equipe de enfermagem deve certificarse
de que o agente seja administrado quando o recémnascido chegar ao berçário para observação e avaliação.
Informe os pais sobre o tratamento ocular, incluindo por que ele é recomendável, quais problemas podem surgir se ele não
for administrado e os seus possíveis efeitos adversos.
FIGURA 18.7 A enfermeira realiza a profilaxia ocular.
Anote!
A oftalmia neonatal é uma forma grave de conjuntivite causada por Chlamydia ou Neisseria gonorrhoeae que pode causar
cegueira nos recémnascidos.
Manutenção da termorregulação
Os recémnascidos têm dificuldade em regular sua temperatura, especialmente durante as primeiras horas após o parto (consulte
o Capítulo 17 para uma discussão completa). Portanto, manter a temperatura corporal é crucial.
Domínio de conceito
Uso de aquecedor radiante na prevenção de perda de calor do recémnascido
Um recémnascido com 1 dia de vida deve ter termorregulação adequada que possibilite a não
utilização de aquecedor radiante. A melhor maneira de prevenir a perda de calor é garantir que o
recémnascido não entre em contato com superfícies frias.
Avalie a temperatura corporal com frequência durante o período neonatal imediato. A temperatura do recémnascido deve ser
mensurada a cada 30 minutos nas primeiras 2 horas ou até que tenha se estabilizado, e depois a cada 8 horas até a alta ou de
acordo com o protocolo do hospital (King et al., 2015). Comumente, conectase um termistor (sensor automático) ao recém
nascido para registrar sua temperatura corporal em um aparelho de monitoramento. O termistor é fixado com fita adesiva ao
abdome do recémnascido, geralmente no quadrante superior direito, o que possibilita a mudança de posição do recémnascido
sem ter que reajustar o termistor. A outra extremidade do termistor é inserida no painel de controle do berço aquecido. Os
parâmetros de temperatura são configurados em um sistema de alarme conectado ao painel do berço aquecido, que soará se a
temperatura do recémnascido sair do intervalo definido. Verifique a conexão do termistor periodicamente para certificarse de
que esteja bem fixada. Lembrese do potencial de perda de calor em recémnascidos e realize todas as intervenções de
enfermagem de modo a minimizar a perda de calor e evitar a hipotermia.
Também se pode mensurar a temperatura axilar para avaliar a temperatura corporal da criança. Coloque o termômetro sob a
axila do recémnascido e coloque o braço dele sobre o tórax para manter o termômetro no lugar e proporcionar conforto ao
recémnascido.
As intervenções de enfermagem para ajudar a manter a temperatura corporal incluem:
• Secar o recémnascido imediatamente após o parto, para evitar a perda de calor por evaporação
• Enrolar o recémnascido em cobertores aquecidos, para reduzir a perda de calor por convecção
• Proporcionar contato pele a pele com a mãe assim que o recémnascido estiver estável
• Colocar um cobertor aquecido sobre a balança ao pesar o recémnascido despido
• Aquecer estetoscópios e mãos antes de examinar o recémnascido ou prestar cuidados
• Não deixar o recémnascido exposto a correntes de ar ou próximo a saídas de ar, para impedir a perda de calor por convecção
• Adiar o primeiro banho até que a temperatura do recémnascido tenha se estabilizado, para evitar a perda de calor por
evaporação
• Evitar colocar o berço próximo de paredes externas frias, para impedir a perda de calor por radiação
• Colocar uma touca na cabeça do recémnascido depois de secála bem após o parto
• Colocar o recémnascido em um berço aquecido com temperatura controlada (Figura 18.8).
CONDUTA DE ENFERMAGEM DURANTE O INÍCIO DO PERÍODO NEONATAL
O início do período neonatal é um momento de grande ajuste para a mãe e o recémnascido, em que ambos estão se adaptando a
muitas mudanças fisiológicas e psicológicas. No passado, as mães e os recémnascidos permaneciam na unidade de saúde
enquanto essas mudanças drásticas estavam ocorrendo, com enfermeiros e médicos prontamente disponíveis. No entanto, hoje
em dia, a norma é reduzir o período de internação hospitalar. Assim, as novas mães podem facilmente se sentir sobrecarregadas
por ter que passar por todas essas mudanças em tão pouco tempo: em 24 a 48 horas, a mulher dá à luz, passa por importantes
alterações fisiológicas e psicológicas e precisa se adaptar ao recémnascido e aprender as habilidades necessárias para cuidar de
si mesma e do recémnascido.
O papel do enfermeiro é ajudar a mãe e seu recémnascido durante esse período de drástica transição. O recémnascido
precisa de avaliação de saúde continuada, e a mãe precisa aprender a cuidar do novo filho. Na alta, a nova mãe pode entrar em
pânico e se sentir insegura em relação a seu papel como cuidadora principal. O enfermeiro desempenha um papel importante na
promoção da transição do recémnascido, proporcionando avaliação e cuidados continuados e promovendo a confiança da nova
mãe, servindo como um modelo a seguir e orientando em relação a cuidados neonatais adequados.
Avaliação
O recémnascido precisa de avaliação continuada após sair da sala de parto, a fim de garantir que a sua transição para a vida
extrauterina esteja progredindo sem problemas. O enfermeiro utiliza os dados coletados durante a avaliação inicial como uma
linha de base para comparação.
História perinatal
Dados maternos e fetais pertinentes são essenciais para formular um plano de cuidados para a mãe e seu filho. As informações
históricas são obtidas do prontuário e da entrevista com a mãe. Reveja a história materna, pois ela fornece informações
pertinentes, como a existência de determinados fatores de risco que poderiam influenciar o recémnascido. Tenha em mente que
uma história materna abrangente pode não estar disponível, especialmente se a mãe recebeu pouco ou nenhum cuidado prénatal.
Habitualmente, a anamnese fornece as seguintes informações:
FIGURA 18.8 Manutenção da termorregulação. A. Berço aquecido. B. Incubadora.
• Nome da mãe, número do prontuário, tipagem sanguínea, resultados de provas sorológicas, existência ou não de imunidade
contra rubéola e hepatite e história de uso abusivo de substâncias psicoativas
• Outros testes maternos que são relevantes para o recémnascido e os cuidados a serem prestados, como infecção pelo vírus
da imunodeficiência humana (HIV) e por estreptococos do grupo B
• Antibioticoterapia materna intraparto (tipo, dose e duração)
• Doenças maternas que possam influenciar a gestação, evidências de corioamnionite, uso materno de fármacos como
esteroides
• Cuidados prénatais, inclusive a cronologia da primeira consulta e das consultas subsequentes
• Risco de incompatibilidade de grupo sanguíneo, incluindo o fator Rh e o tipo sanguíneo
• Sofrimento fetal ou quaisquer padrões de frequência cardíaca fetal não tranquilizadores durante o trabalho de parto
• Doenças hereditárias conhecidas, como anemia falciforme e fenilcetonúria (FCN)
• Peso ao nascer dos outros filhos nascidos vivos, juntamente com a identificação de todos os problemas nesses recém
nascidos
• História social, incluindo tabagismo, etilismo e uso de medicamentos/drogas ilícitas
• História pregressa de depressão ou violência doméstica
• Fatores culturais, incluindo o idioma principal e o nível de escolaridade
• Complicações na gestação associadas a crescimento fetal anormal, anomalias fetais ou resultados anormais de exames do
bemestar fetal
• Informações sobre o progresso do trabalho de parto, o parto, as complicações no trabalho de parto, a duração da ruptura de
membranas e a existência de mecônio no líquido amniótico
• Fármacos administrados durante o trabalho de parto, no parto e imediatamente após o nascimento
• Tempo e método de parto, incluindo a apresentação e a utilização de fórceps ou vacuoextrator
• Estado do recémnascido no momento do nascimento, incluindo os índices de Apgar no primeiro e no quinto minuto,
necessidade de aspiração, peso, idade gestacional, sinais vitais e estado do cordão umbilical
• Fármacos administrados ao recémnascido
• Informações maternas pósparto, incluindo achados placentários, culturas positivas e ocorrência de febre.
Exame físico do recémnascido
O exame físico neonatal inicial, que pode revelar diferenças sutis de acordo com a idade do recémnascido, é realizado nas
primeiras 24 horas após o nascimento. Por exemplo, um recémnascido com 30 minutos de idade ainda não completou a
transição normal da vida intrauterina para a vida extrauterina e, portanto, pode apresentar variabilidade nos sinais vitais e nos
sistemas neurológico, digestório, cutâneo, respiratório e cardiovascular. Portanto, o exame completo deve ser adiado até que o
recémnascido tenha concluído a transição.
O exame físico não deve ser iniciado se o recémnascido estiver chorando ou parecer desconfortável. É melhor postergar a
avaliação até o recémnascido estar tranquilo. Em um recémnascido tranquilo, comece o exame com os elementos menos
invasivos e nocivos do exame (ausculta do coração e dos pulmões). Em seguida, examine as áreas com maior probabilidade de
irritar o recémnascido (p. ex., examinar os quadris e provocar o reflexo de Moro). A avaliação visual geral fornece muitas
informações sobre o bemestar do recémnascido. A observação inicial já possibilita diferenciar o recémnascido saudável
(estável) do recémnascido doente e viabiliza a comparação do recémnascido a termo com o prétermo.
O exame físico típico do recémnascido inclui avaliação geral da cor da pele, da postura, do estado de alerta, do tamanho da
cabeça, do estado comportamental geral, da condição respiratória, do sexo e de quaisquer anomalias congênitas óbvias. Verifique
a aparência geral à procura de alterações. Em seguida, faça o exame de modo sistemático.
Lembrase de Kelly, que ligou para o enfermeiro da maternidade e disse que seu filho “parecia uma cenoura”?
Quais informações adicionais sobre o recémnascido são necessárias? O que pode estar causando essa
coloração amarela?
MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS
Logo após o parto, depois de o sexo do recémnascido ter sido revelado, a maioria das mulheres e seus parceiros/entes queridos
querem saber as “estatísticas vitais” do recémnascido – comprimento e peso – para informar a seus familiares e amigos.
Medidas adicionais, incluindo a circunferência da cabeça e do tórax, também são feitas e registradas. Medidas abdominais não
são rotineiramente obtidas, a menos que exista a suspeita de doença que provoque distensão abdominal. O progresso do recém
nascido a partir desse momento será confirmado com base nessas medidas iniciais. Essas medidas serão comparadas com
medidas seriadas futuras para determinar os padrões de crescimento, que são plotados em gráficos de crescimento para avaliar a
normalidade. Portanto, a precisão é fundamental.
Comprimento. O comprimento médio da maioria dos recémnascidos é de 50 cm, mas essa medida pode variar de 44 a 55 cm.
Mensure o comprimento com o recémnascido despido, deitado sobre uma manta aquecida e colocado em uma superfície plana
com os joelhos mantidos em posição estendida. Em seguida, estenda uma fita métrica ao longo do comprimento do recém
nascido – da cabeça às plantas dos pés – e registre essa medida em seu prontuário (ver Figura 18.1).
Peso. O recémnascido médio pesa 3.400 g, mas o peso ao nascimento pode variar de 2.500 a 4.000 g. Os recémnascidos são
pesados imediatamente após o parto e, depois, uma vez todos os dias. Os recémnascidos costumam perder até 6% do seu peso
nos primeiros dias de vida, mas recuperamno em cerca de 10 dias.
Os recémnascidos são pesados ao darem entrada no berçário ou são levados até uma balança digital para serem pesados e
retornam ao quarto da mãe. Em primeiro lugar, calibre a balança se ela não estiver calibrada. Coloque um pano ou papel protetor
aquecido como uma barreira sobre a balança para evitar a perda de calor por condução; recalibre a balança em zero após a
colocação da barreira. Em seguida, coloque o recémnascido despido no centro da balança. Por questões de segurança, mantenha
uma das mãos sobre o recémnascido (ver Figura 18.2).
O peso corporal é influenciado pela origem racial, pela genética, pela idade materna, pelo tamanho dos pais, pela nutrição
materna, pelo peso materno prénatal e pela perfusão placentária (Tawia & McGuire, 2014). O peso corporal deve ser
correlacionado à idade gestacional. Um recémnascido que pesa mais do que o normal pode ser GIG ou filho de diabética. O
recémnascido que pesa menos do que o normal pode ser PIG, prétermo ou ter uma síndrome genética. É importante identificar
a causa do desvio no tamanho e monitorar o recémnascido à procura de complicações comuns dessa etiologia.
Circunferência da cabeça. A circunferência média da cabeça do recémnascido é de 32 a 38 cm. Mensure a circunferência no
maior diâmetro da cabeça (circunferência occipitofrontal). Enrole uma fita métrica flexível ou de papel confortavelmente ao
redor da cabeça do recémnascido e registre a medida (Figura 18.9A).
Anote!
Pode ser necessário mensurar novamente a circunferência da cabeça em um momento posterior se o formato da mesma foi
modificado pelo parto.
A circunferência da cabeça deve ser aproximadamente 25% do comprimento do recémnascido ou aproximadamente metade
do comprimento do recémnascido mais 10 cm. A circunferência da cabeça esperada para um recémnascido a termo varia entre
32 e 37 cm (NagtalonRamos, 2014). Uma cabeça pequena pode indicar microcefalia causada por rubéola ou toxoplasmose ou
recémnascido PIG; uma cabeça aumentada pode indicar hidrocefalia ou aumento da pressão intracraniana. Ambos os achados
precisam ser documentados e comunicados para investigações adicionais.
FIGURA 18.9 A. Mensuração da circunferência da cabeça. B. Mensuração da circunferência do tórax.
Circunferência do tórax. A circunferência média do tórax é de 30 a 36 cm. Geralmente é igual ou cerca de 2 a 3 cm menor do
que a circunferência da cabeça (Weber & Kelley, 2014). Coloque uma fita métrica flexível ou de papel em volta do tórax despido
do recémnascido, logo abaixo da linha dos mamilos, sem tensionála (Figura 18.9B).
Anote!
As circunferências da cabeça e do tórax geralmente são iguais por volta de 1 ano de idade.
SINAIS VITAIS
No recémnascido, a temperatura, a frequência cardíaca e a frequência respiratória são monitoradas repetidamente e comparadas
com os dados iniciais obtidos imediatamente após o nascimento. Geralmente, os sinais vitais (excluindo a pressão arterial) são
mensurados:
• Na admissão ao berçário ou na sala de trabalho de parto e parto, depois de a mulher/os pais terem sido autorizados a segurar
e vincularse ao recémnascido
• Uma vez a cada 30 minutos até que o recémnascido esteja estável por 2 horas
• Em seguida, uma vez a cada 4 a 8 horas até a alta (Davidson, 2014).
A pressão arterial não é rotineiramente avaliada em um recémnascido normal, a menos que o estado clínico do recém
nascido o exija. Esse cronograma pode mudar, dependendo do estado de saúde desse recémnascido.
Mensure a temperatura do recémnascido colocando uma sonda de temperatura eletrônica na região axilar ou por meio de
monitoramento do termistor eletrônico que foi preso com fita adesiva à pele do abdome (colocado quando o recémnascido foi
submetido a uma fonte de calor radiante). Monitore frequentemente se há mudanças na temperatura do recémnascido, de acordo
com o protocolo do hospital, até que ela se estabilize. Se a temperatura estiver mais elevada, ajuste o ambiente, como, por
exemplo, removendo algumas roupas ou cobertores. Se a temperatura estiver mais baixa, verifique os parâmetros do berço
aquecido ou adicione um cobertor aquecido. Comunique quaisquer anormalidades ao médico assistente se ajustes simples no
ambiente não mudarem a temperatura do recémnascido.
Verifique o pulso apical colocando o estetoscópio ao longo do quarto espaço intercostal. Ouça durante 1 minuto, observando
a frequência, o ritmo e a existência de sons anormais, como sopros. No recémnascido normal, a frequência cardíaca é de 120 a
160 bpm, com amplas variações com a atividade e o sono. A arritmia sinusal é um achado normal. Sopros detectados durante o
período neonatal não indicam, necessariamente, uma cardiopatia congênita, mas precisam ser avaliados posteriormente para ver
se persistem. Além disso, palpe simetricamente os pulsos apical, femoral e braquial (Figura 18.10). Comunique qualquer
anormalidade ao médico responsável.
Avalie as incursões respiratórias, observando a ascensão e a descida do tórax durante 1 minuto completo. A respiração deve
ser simétrica, ligeiramente irregular, superficial e não trabalhosa, a uma frequência de 30 a 60 irpm. A respiração do recém
nascido é predominantemente diafragmática, mas é sincronizada com os movimentos abdominais. Ausculte também os sons
respiratórios. Observe qualquer anormalidade, como taquipneia, bradipneia, grunhidos, respiração ofegante, períodos de apneia
com duração superior a 20 segundos, assimetria ou diminuição da expansibilidade torácica, ruídos adventícios (roncos e
crepitações) ou retrações esternais. Podem ocorrer algumas variações logo depois do nascimento, mas, se o padrão anormal
persistir, notifique o médico assistente.
PELE
A estrutura da pele do recémnascido é semelhante à dos adultos, embora muitas das funções ainda não estejam plenamente
desenvolvidas. Observe a aparência geral da pele, incluindo coloração, textura, turgor e integridade da mesma. A pele do recém
nascido deve ser lisa e flexível, e a coloração deve ser consistente com a herança genética.
Condição e cor da pele. Verifique o turgor da pele beliscando uma pequena área de pele sobre o tórax ou abdome e observando
quão rapidamente ela retorna à sua posição original. No recémnascido bem hidratado, a pele deve retornar à posição original
imediatamente. A pele que permanece “em tenda” depois de ser beliscada pode indicar desidratação. Podese observar uma
pequena quantidade de lanugem (penugem fina) nos ombros, nas partes laterais da face e na parte superior do dorso. Pode haver
algumas fissuras e descamação da pele. A pele deve estar quente ao toque e intacta.
A pele do recémnascido muitas vezes se mostra manchada ou mosqueada, especialmente nas extremidades. A cianose
persistente dos dedos (das mãos e dos pés), das mãos e dos pés com coloração azul mosqueada ou vermelha e frialdade é
chamada de acrocianose (Figura 18.11). Pode ser vista durante as primeiras semanas de vida em resposta à exposição ao frio. A
acrocianose é normal e intermitente. Qualquer alteração da cor do recémnascido exige investigação adicional.
FIGURA 18.10 Avaliação dos sinais vitais do recémnascido. A. Avaliação do pulso apical (ictus cordis). B. Palpação do
pulso femoral. C. Palpação do pulso braquial.
FIGURA 18.11 Acrocianose. Comumente aparece nos pés e nas mãos do recémnascido logo após o parto. Esse
recémnascido tinha 32 semanas de idade gestacional. (De Fletcher M. [1998]. Physical diagnosis in neonatology.
Philadelphia, PA: LippincottRaven Publishers.)
Variações na pele do recémnascido. Ao examinar a pele, tome nota de quaisquer erupções cutâneas, equimoses ou petéquias,
nevos ou pigmentação escura. As lesões cutâneas podem ser congênitas ou transitórias; podem ser decorrentes de infecções ou
podem resultar do modo de nascimento. Se houver alguma lesão cutânea, observe sua localização anatômica, disposição, tipo e
coloração. As equimoses podem ser decorrentes da utilização de dispositivos como um vacuoextrator durante o parto. As
petéquias podem ser decorrentes de pressão exercida sobre a pele durante o processo de nascimento. Podem ser observadas
marcas de fórceps nas bochechas e orelhas. Uma pequena marca de punção pode ser vista se tiver sido utilizado monitoramento
interno com eletrodo de couro cabeludo fetal durante o trabalho de parto.
As variações de pele mais comuns incluem vérnix caseoso, manchas salmão, mília, manchas mongólicas, eritema tóxico,
sinal de arlequim, mancha vinho do Porto e hemangiomas capilares ou hemangiomas em morango (Figura 18.12).
O vérnix caseoso consiste em uma substância branca espessa que protege a pele do feto. É formado por secreções das
glândulas sebáceas do feto e é encontrado durante os primeiros 2 ou 3 dias após o nascimento, nas pregas do corpo e no cabelo.
Não precisa ser removido, porque será absorvido pela pele.
As manchas salmão (telangiectasia capilar, hemangiomas da nuca) consistem em áreas vascularizadas superficiais
encontradas na nuca, nas pálpebras e entre os olhos e o lábio superior (Figura 18.12A). Popularmente, as lesões encontradas nas
pálpebras e na fronte são denominadas beijo de anjo, e as lesões na nuca são denominadas bicadas de cegonha. Essas lesões são
causadas pela concentração de vasos sanguíneos imaturos e são mais visíveis quando o recémnascido está chorando. São
consideradas uma variante normal, e a maioria clareia e desaparece completamente no decorrer de 1 ano.
A mília consiste em muitas glândulas sebáceas de coloração brancoperolada e amareloclara fechadas frequentemente
encontradas no nariz do recémnascido. Também pode aparecer no queixo e na testa (Figura 18.12B). Formase a partir de
glândulas sebáceas e desaparece espontaneamente no decorrer de 2 a 4 semanas. Quando ocorre na boca e nas gengivas do
recémnascido, é chamada de pérolas de Epstein. Ocorre em aproximadamente 80% dos recémnascidos. Visto que a maioria
das lesões se rompe espontaneamente nas primeiras semanas de vida, não é indicada intervenção terapêutica (ElRadhi, 2015).
As manchas mongólicas são manchas azuis ou roxas benignas que aparecem como lesão única na região lombar e nas
nádegas do recémnascido, embora possam ser múltiplas e ocorrer nas pernas e nos ombros (Figura 18.12C). Tendem a ocorrer
em recémnascidos afroamericanos, asiáticos, hispânicos e indígenas norteamericanos, mas podem ocorrer em recémnascidos
de pele escura de todas as raças. As manchas são causadas por uma concentração de células pigmentadas e geralmente
desaparecem espontaneamente nos primeiros 4 anos de vida. Não devem ser confundidas com equimoses causadas por
traumatismo (Silverberg, 2015).
O eritema tóxico (erupção cutânea do recémnascido) é uma erupção cutânea idiopática, generalizada, benigna e transitória
que ocorre em até 70% de todos os recémnascidos durante a primeira semana de vida. Consiste em pequenas pápulas ou
pústulas na pele semelhantes a picadas de pulgas. Com frequência são confundidas com pústulas estafilocócicas. O eritema
tóxico é comum no rosto, no tórax e no dorso (Figura 18.12D). Uma das principais características dessa erupção é a falta de
padrão. É causada pela reação dos eosinófilos do recémnascido ao ambiente conforme o sistema imune amadurece.
Histologicamente, o eritema tóxico mostra abundância de eosinófilos. Embora tenha sido reconhecido e descrito há séculos, sua
etiologia e patogenia permanecem obscuras (Gloster, Gebauer, & Mistur, 2016a). Não exige tratamento e desaparece em alguns
dias.
O sinal (fenômeno) de arlequim referese à dilatação dos vasos sanguíneos em apenas um lado do corpo, dando ao recém
nascido a aparência de estar vestindo uma roupa de palhaço. Produz uma demarcação distinta na linha média, que é descrita
como pálida no lado superior e vermelha no lado oposto, o lado inferior. É decorrente da autorregulação imatura do fluxo
sanguíneo, sendo comumente vista em recémnascidos de baixo peso quando há mudança de posição (Lomax, 2015). É
transitória, durando até 20 minutos, e não exige intervenção.
A mancha vinho do Porto, também denominada nevo flâmeo, geralmente aparece no rosto ou em outras áreas do corpo do
recémnascido (Figura 18.12E). Consiste em um angioma capilar localizado logo abaixo da derme. É plano, tem demarcações
nítidas e é vermelhopúrpura. Essa lesão de pele é composta por capilares maduros que estão congestionados e dilatados. Varia
em tamanho, desde alguns milímetros até lesões grandes, ocasionalmente envolvendo até metade da superfície corporal. Apesar
de não crescer em área e nem em tamanho, é permanente e não desaparece. Embora possam ser encontradas em qualquer local do
corpo, a maioria se localiza na cabeça e no pescoço. As manchas vinho do Porto podem estar associadas a malformações
estruturais, supercrescimento ósseo ou muscular e determinados tipos de câncer. Estudos recentes têm observado uma
associação entre as manchas vinho do Porto (congênitas) e o câncer na infância, de modo que recémnascidos com essas lesões
devem ser monitorados periodicamente com exames oftalmológicos, exames de neuroimagem e medições dos
membros. Lasers e luz pulsada intensa têm sido usados para remover lesões maiores com algum sucesso. O momento ideal para
o tratamento é antes do primeiro ano de vida (Giese & Richter, 2015).
FIGURA 18.12 Variações de pele comuns. A. Mancha salmão. B. Mília. C. Manchas mongólicas. D. Eritema
tóxico. E. Mancha vinho do Porto (nevo). F. Hemangioma em morango.
O hemangioma em morango, também chamado de nevo vascular, é um hemangioma capilar benigno nas camadas dérmica e
subdérmica. Tratase de uma lesão elevada, áspera, de coloração vermelhoescura e bem demarcada (Figura 18.12F). É
comumente encontrado na região da cabeça algumas semanas depois do nascimento e pode aumentar de tamanho ou número. São
encontrados comumente em cerca de 10% das crianças. Esse tipo de hemangioma pode ser muito sutil ou não ser observado nas
primeiras semanas de vida, mas proliferase nos primeiros meses de vida. Comumente vistos no recémnascido prétermo com
peso inferior a 1.500 g (ElRadhi, 2015), esses hemangiomas tendem a desaparecer até os 3 anos de idade, sem qualquer
tratamento.
Os aspectos mais importantes do manejo de enfermagem relacionados com as variações cutâneas dos recémnascidos
incluem: reconhecimento adequado das lesões e conhecimento de sua história natural, de modo que informações acuradas
possam ser dadas aos genitores/entes queridos ou parceiro. A maioria das lesões cutâneas não exige intervenção terapêutica, mas
é necessário encaminhamento se houver: obstrução visual, das vias respiratórias ou do meato acústico, crescimento disseminado,
grave desfiguramento da face, sangramento recorrente, infecção, ulceração ou preocupação excessiva dos genitores.
CABEÇA
O tamanho da cabeça varia com a idade, o sexo e a etnia e tem correlação geral com o tamanho do corpo. Inspecione a cabeça do
recémnascido de todos os ângulos. A cabeça deve ter aparência simétrica e arredondada. Até 90% de todas as malformações
congênitas existentes por ocasião do nascimento são visíveis na cabeça e no pescoço, de modo que uma avaliação cuidadosa é
muito importante (Pfister & Ramel, 2014).
O recémnascido tem duas fontanelas (fontículos, segundo a Terminologia Anatômica) na junção dos ossos do crânio. A
fontanela anterior tem a forma de um diamante e se fecha até os 18 a 24 meses de vida. Tipicamente, apresenta 4 a 6 cm no
maior diâmetro (osso a osso). A fontanela posterior é triangular, menor do que a anterior (geralmente do tamanho da ponta de
um dedo da mão, ou 0,5 a 1 cm) e se fecha até a 6a à 12a semana de vida. Palpe as duas fontanelas, que devem ser moles, lisas e
não fundidas. Palpe então o crânio. À palpação, o crânio deve ser um pouco liso e fundido, exceto na área das fontanelas, nas
áreas de moldagem e nas suturas. Avalie também o tamanho da cabeça e as fontanelas anterior e posterior, e compareas com os
padrões apropriados.
Variações no tamanho e na aparência da cabeça. Durante a inspeção e a palpação, esteja alerta para as variações comuns que
possam causar assimetria. Estas incluem a moldagem, a bossa serossanguinolenta e o céfalohematoma.
A moldagem é o alongamento da cabeça fetal em acomodação à passagem pelo canal de parto (Figura 18.13). Ocorre no
parto vaginal com apresentação de vértice, em que o alongamento da cabeça fetal se dá com a proeminência do occipúcio e a
sobreposição da linha de sutura sagital. Geralmente desaparece no decorrer de 1 semana após o nascimento, sem intervenção.
A bossa serossanguinolenta consiste no edema localizado sobre o couro cabeludo que ocorre pela pressão do processo de
parto. É comumente observada após um trabalho de parto prolongado. Clinicamente, é uma tumefação mal demarcada dos
tecidos moles que cruza as linhas de sutura. Observamse edema compressível e petéquias e equimoses sobrepostas (Figura
18.14A). A tumefação desaparece gradualmente em cerca de 3 dias, sem qualquer tipo de tratamento. Os recémnascidos que
nasceram por vacuoextração geralmente têm uma bossa serossanguinolenta na área em que o dispositivo foi conectado.
FIGURA 18.13 Moldagem na cabeça do recémnascido.
O céfalohematoma é um acúmulo subperiosteal localizado de sangue que sempre é confinado a um osso do crânio. Essa
condição é decorrente da pressão sobre a cabeça e da ruptura de vasos durante o nascimento. Ocorre após um trabalho de parto
prolongado e o uso de intervenções obstétricas, como fórceps ou uso de vacuoextrator. As manifestações clínicas incluem
tumefação bem delimitada e muitas vezes flutuante, sem alteração da coloração da pele sobrejacente. A tumefação não cruza as
linhas de sutura e é mais firme ao toque do que uma área edemaciada (Figura 18.14B). Para a resolução, não é necessário
aspiração, que pode aumentar o risco de infecção. A hiperbilirrubinemia ocorre após a degradação das hemácias dentro do
hematoma. Esse tipo de hiperbilirrubinemia ocorre mais tardiamente do que a hiperbilirrubinemia fisiológica clássica. O céfalo
hematoma geralmente aparece no segundo ou no terceiro dia após o nascimento e desaparece no decorrer de algumas semanas ou
meses. Céfalohematomas volumosos podem resultar em elevação dos níveis séricos de bilirrubina e subsequente icterícia
(Lomax, 2015).
Anormalidades comuns no tamanho da cabeça ou das fontanelas. As anormalidades comuns no tamanho da cabeça ou das
fontanelas podem indicar um problema, incluindo:
• Microcefalia: circunferência da cabeça mais de 2 desvios padrão abaixo da média ou inferior a 10% dos parâmetros normais
para a idade gestacional, causada por falha no desenvolvimento do encéfalo. Existe redução da produção de neurônios
resultando em diminuição do volume do cérebro e, consequentemente, em dimensões cranianas menores. A microcefalia é
comum, afetando mais de 25 mil crianças nos EUA a cada ano. As crianças com microcefalia grave, definida como mais de
3 desvios padrão abaixo da média para a idade e sexo, são mais propensas a ter anomalias nos exames de imagem e
comprometimento do desenvolvimento mais significativos do que aquelas com microcefalia menos acentuada. Cerca de 40%
das crianças com microcefalia também apresentam epilepsia, 20% têm paralisia cerebral, 50% têm deficiência intelectual e
20 a 50% têm distúrbios oftalmológicos e auditivos (Boom, 2015a). A microcefalia pode ser hereditária, com herança
autossômica dominante ou recessiva, e pode estar associada a infecções (citomegalovírus), rubéola, toxoplasmose e
síndromes como as trissomias do 13, do 18 ou do 21 e a síndrome alcoólica fetal. O aconselhamento genético e o manejo
clínico com detecção de portadores/diagnóstico prénatal nas famílias podem ajudar a reduzir a incidência desses transtornos
(Alcantara & O’Driscoll, 2014)
• Macrocefalia: circunferência da cabeça mais de 90% além do normal, tipicamente relacionada com a hidrocefalia (Boom,
2015b). Muitas vezes, é de origem genética (com herança autossômica dominante) e pode ser tanto uma anomalia isolada
quanto manifestação de outras anomalias, incluindo hidrocefalia e transtornos esqueléticos (acondroplasia)
• Fontanelas alargadas: diâmetro anterior osso a osso de mais de 6 cm ou diâmetro de mais de 1 cm na fontanela posterior;
possivelmente associada a desnutrição, hidrocefalia, hipotireoidismo congênito, trissomias do 13, do 18 e do 21 e a várias
doenças ósseas, como a osteogênese imperfeita
• Fontanelas pequenas ou fechadas: diâmetros anterior e posterior menores do que o normal ou fontanelas que já estão
fechadas por ocasião do nascimento. A craniossintose e o desenvolvimento anormal do encéfalo estão associados à fontanela
pequena ou ao fechamento precoce ligado à microcefalia (Sheth, Ranalli, & Aldana, 2014).
FIGURA 18.14 A1 e A2. A bossa serossanguinolenta envolve o acúmulo de líquido seroso e, muitas vezes, cruza a linha
de sutura. (A2. De Chung, Visual diagnosis and treatment in pediatrics [2nd ed.]. Philadelphia: LWW.) B1 e B2. O céfalo
hematoma envolve o acúmulo de sangue e não cruza a linha de sutura. (Fotografias, com exceção de A2, de O’Doherty,
N. [1979]. Atlas of the newborn. Philadelphia: J B Lippincott, 1979:136, e 1979:117, 143, com permissão.)
FACE
Observe a integridade e a simetria da face do recémnascido. A face deve ter bochechas cheias e deve ser simétrica quando o
recémnascido está dormindo e chorando. Se foi usado fórceps durante o parto, o recémnascido pode ter equimoses e áreas
avermelhadas nos dois lados da face e nos ossos parietais em decorrência da pressão das lâminas do fórceps. Tranquilize os pais
de que isso desaparece sem tratamento e aponte a melhora a cada dia.
Os problemas com a face também podem envolver a paralisia do nervo facial causada por traumatismo pelo uso do fórceps.
A paralisia geralmente é evidente no primeiro ou no segundo dia de vida. Tipicamente, o recémnascido apresenta assimetria de
face com incapacidade de fechar o olho e mover os lábios no lado afetado. Os recémnascidos com paralisia do nervo facial têm
dificuldade em vedar os lábios em torno do mamilo e, consequentemente, leite ou fórmula extravasa pelo lado paralisado da
boca. A maioria dos casos de paralisias faciais desaparece espontaneamente em alguns dias, embora a recuperação completa
possa exigir semanas a meses. Tente determinar a causa a partir da história do recémnascido.
Nariz. Inspecione o tamanho, a simetria, a posição e a existência ou não de lesões no nariz. O nariz do recémnascido é pequeno
e estreito. Deve estar localizado na linha média, ter narinas pérvias e um septo íntegro. As narinas devem ter tamanho igual e
devem ser pérvias. Pode ser observada discreta secreção mucosa, mas não deve haver drenagem real. O recémnascido é
preferencialmente um respirador nasal e espirra para limpar o nariz, se necessário. O recémnascido consegue sentir odores
depois que o líquido amniótico e o muco tiverem sido removidos das vias nasais (ClarkGambelunghe & Clark, 2015).
Boca. Inspecione a boca, os lábios e as estruturas internas do recémnascido. Os lábios devem estar intactos, com movimentos
simétricos e posicionados na linha média; não deve haver lesão alguma. Inspecione se os lábios estão rosados, úmidos e se têm
fissuras. Os lábios devem circundar o dedo do examinador formando um vácuo. As variações que envolvem o lábio podem
incluir a fenda do lábio superior (a separação estendese até o nariz) ou lábio superior fino associado à síndrome alcoólica fetal.
Avalie a cavidade bucal analisando o alinhamento da mandíbula, a integridade dos palatos mole e duro, os coxins gordurosos
das bochechas, a existência da úvula na linha média, a livre movimentação da língua e a existência dos reflexos faríngeo, de
deglutição e de sucção. As mucosas que revestem a cavidade oral devem ser rosadas e úmidas, com pouca saliva.
FIGURA 18.15 Dente natal em um recémnascido com 16 dias de vida. Os dentes natais podem ser encontrados já por
ocasião do nascimento e geralmente são considerados benignos. Não é necessário tratamento se eles não interferirem
na alimentação.
Variações normais podem incluir pérolas de Epstein (pequenos cistos epidérmicos brancos nas gengivas e no palato duro,
que desaparecem em semanas), irrupção de dentes natais que podem precisar ser removidos para evitar aspiração (Figura 18.15)
e candidíase oral (placas brancas na cavidade bucal causadas pela exposição a Candida albicans durante o parto). Não se
consegue retirar as placas da candidíase com a ponta de um cotonete.
Olhos. Inspecione as estruturas oculares externas, incluindo as pálpebras, os cílios, as conjuntivas, as escleras, as íris e as
pupilas, analisando posição, coloração, tamanho e movimento. Pode haver edema importante das pálpebras e hemorragia
subconjuntival decorrente de compressão durante o parto. Os olhos devem ser brilhantes e estar dispostos simetricamente. Teste
o reflexo de piscar, trazendo um objeto perto do olho; o recémnascido deve responder piscando rapidamente. Teste também o
reflexo pupilar do recémnascido: as pupilas devem ser simétricas, redondas e reativas à luz bilateralmente. Avalie o olhar do
recémnascido: ele deve ser capaz de seguir objetos até a linha média. O movimento pode ser desordenado durante as primeiras
semanas de vida. Muitos recémnascidos apresentam estrabismo transitório (desvio ou movimento migratório dos olhos
independentemente um do outro) e nistagmo migratório (movimento ocular involuntário repetitivo), que é causado pelo controle
muscular imaturo. Estes são normais nos primeiros 3 a 6 meses de vida.
Examine as estruturas internas do olho. Um reflexo vermelho (aspecto vermelho luminoso visto na retina) deve ser
observado bilateralmente na retinoscopia. O reflexo vermelho normalmente não mostra opacidade ou irregularidades.
A conjuntivite química normalmente ocorre nas primeiras 24 horas após a instilação de profilaxia ocular depois do
nascimento. Há edema palpebral com secreção estéril de ambos os olhos. Geralmente desaparece no decorrer de 48 horas, sem
tratamento.
Orelhas. Inspecione o tamanho, a forma, a condição da pele, a localização, a quantidade de cartilagem e a perviedade do meato
acústico. As orelhas devem ser macias e flexíveis e devem recuar rápido e facilmente quando dobradas e liberadas. As orelhas
devem estar alinhadas ao canto externo dos olhos. Orelhas de implantação baixa e de formato anormal são características de
muitas síndromes e anomalias genéticas, como as trissomias do 13 ou do 18, e alterações de órgãos internos envolvendo o
sistema renal. Achados de acrocórdons préauriculares ou nos seios da face exigem uma avaliação mais aprofundada à procura
de possíveis anomalias renais, já que ambos os sistemas se desenvolvem ao mesmo tempo.
Tipicamente, a otoscopia não é feita, porque o meato acústico da orelha do recémnascido está preenchido com líquido
amniótico e vérnix caseoso, o que dificulta a visualização da membrana timpânica.
Nos EUA, o rastreamento auditivo neonatal é exigido por lei na maioria dos estados (o que é discutido mais adiante neste
capítulo). A perda auditiva é o defeito congênito mais comum nos EUA: 1 em cada 1.000 recémnascidos tem surdez grave e 3
em cada 1.000 têm algum grau de deficiência auditiva (March of Dimes, 2015a). Atrasos na identificação e intervenção podem
afetar o desenvolvimento cognitivo, verbal, comportamental e emocional da criança. O rastreamento ao nascimento reduziu a
idade em que os recémnascidos com perda auditiva são identificados e melhorou drasticamente as taxas de intervenção precoce.
Os tratamentos disponíveis incluem o implante coclear, a amplificação da audição e o acompanhamento por fonoaudiólogo,
otorrinolaringologista, pediatra, geneticista e especialista em educação de surdos (Nikolopoulos, 2015). Antes do rastreamento
neonatal universal, as crianças geralmente já tinham mais de 2 anos até que uma perda auditiva congênita significativa fosse
detectada; a essa altura, isso já tinha comprometido suas habilidades de fala e linguagem (CDC, 2015b).
As causas da perda auditiva podem ser condutivas, neurossensoriais ou centrais. Os fatores de risco para perda auditiva
congênita incluem infecção por citomegalovírus e parto prétermo necessitando de internação em uma unidade de terapia
intensiva neonatal (UTIN).
Para avaliar a capacidade auditiva geral, observe a resposta do recémnascido a ruídos e conversas. O recémnascido
geralmente se volta para esses ruídos e se assusta com sons altos.
PESCOÇO
Inspecione o pescoço do recémnascido avaliando seu movimento e a capacidade de sustentar a cabeça. O pescoço do recém
nascido parece quase inexistente, porque é muito curto. Geralmente são observadas pregas. O pescoço deve moverse livremente
em todas as direções e deve ser capaz de sustentar a cabeça em uma posição mediana. O recémnascido deve ter controle de
cabeça suficiente para ser capaz de segurála brevemente sem apoio. Relate quaisquer desvios, como a restrição no movimento
do pescoço ou a ausência de controle da cabeça.
Inspecione também as clavículas, que devem ser retas e estar intactas. As clavículas são os ossos mais comumente
fraturados em recémnascidos, especialmente os macrossômicos que passam por partos vaginais difíceis, partos vaginais
instrumentados, posições fetais anormais e na obesidade materna. Na maioria dos casos, a clavícula fraturada é assintomática,
mas podese observar edema, crepitação e movimento diminuído ou ausente e dor espontânea ou à mobilização do braço afetado.
Tipicamente, os fatores de risco importantes de fraturas de clavícula são partos com vácuoextrator e fetos macrossômicos
(Ahn et al., 2015). Se o recémnascido com fratura clavicular estiver com dor, o braço afetado deve ser imobilizado, com o
braço abduzido em mais de 60° e o cotovelo flexionado a mais de 90°. Além da imobilização, o tratamento envolve minimizar a
dor em geral.
TÓRAX
Inspecione o tórax do recémnascido avaliando o tamanho, o formato e a simetria. O tórax do recémnascido deve ser redondo,
simétrico e 2 a 3 cm menor do que a circunferência da cabeça. O processo xifoide pode ser proeminente ao nascimento, mas
geralmente tornase menos evidente conforme o tecido adiposo se acumula. Os mamilos podem estar ingurgitados e eliminar
uma secreção branca. Essa secreção, que ocorre em ambos os sexos, é decorrente da exposição intrauterina a altos níveis de
estrogênio materno. Esse ingurgitamento e a secreção leitosa geralmente desaparecem em algumas semanas. Alguns recém
nascidos podem ter mamilos extras, chamados de mamilos supranumerários. Tipicamente, consistem em pequenas áreas
pigmentadas elevadas, alinhadas verticalmente com o mamilo principal, 5 a 6 cm abaixo do mamilo normal. Os mamilos
supranumerários podem ser unilaterais ou bilaterais e podem incluir aréola, mamilo ou ambos. Tendem a ser hereditários e não
contêm tecido glandular. Geralmente acreditase que os mamilos supranumerários sejam benignos. Alguns estudos têm sugerido
uma associação a anomalias renais ou urogenitais, enquanto outros estudos não conseguiram demonstrar essa associação. Não há
evidências suficientes para recomendar exames de imagem ou remoção, na ausência de outras preocupações clínicas ou achados
físicos (Gloster, Gebauer, & Mistur, 2016b). Tranquilize os pais de que esses pequenos mamilos extras são inofensivos.
O tórax do recémnascido geralmente tem forma de barril, é simétrico e tem diâmetros anteroposterior e lateral iguais.
Ausculte bilateralmente os sons respiratórios pulmonares, para verificar a simetria entre os lados. Devese auscultar murmúrio
vesicular normal, com pouca diferença entre a inspiração e a expiração. Crepitações finas podem ser auscultadas na inspiração
logo após o nascimento, em decorrência do líquido amniótico sendo removido dos pulmões. O murmúrio vesicular diminuído
pode indicar atelectasia ou pneumonia (Weber & Kelley, 2014).
Ausculte o coração quando o recémnascido estiver calmo ou dormindo. As bulhas cardíacas B1 e B2 estão hiperfonéticas ao
nascimento. O ponto de impulso máximo encontrase lateralmente à linha hemiclavicular, localizada no quarto espaço intercostal.
O ponto de impulso máximo deslocado pode indicar pneumotórax hipertensivo ou cardiomegalia. O achado de sopros é comum
durante as primeiras horas de vida enquanto o forame oval está se fechando. Embora os sopros cardíacos no período neonatal
não indiquem necessariamente cardiopatia, devem ser investigados se persistirem (Fillipps & Bucciarelli, 2015).
ABDOME
Inspecione a forma e a movimentação do abdome. Tipicamente, o abdome do recémnascido é protuberante, mas não distendido.
Esse contorno é decorrente da imaturidade dos músculos abdominais. Os movimentos abdominais são sincronizados com a
respiração, porque os recémnascidos às vezes são respiradores abdominais.
Ausculte os ruídos intestinais nos quatro quadrantes e, em seguida, palpe o abdome avaliando sua consistência, se existem
massas e se há dor à palpação. Realize a ausculta e a palpação sistemática no sentido horário até que todos os quatro quadrantes
tenham sido examinados. Palpe delicadamente o fígado, os rins e quaisquer massas. O fígado normalmente é palpável 1 a 3 cm
abaixo da margem costal, na linha hemiclavicular. Os rins estão 1 a 2 cm acima, de ambos os lados do umbigo. Achados
normais incluem a ausculta de ruídos intestinais nos quatro quadrantes e ausência de massas ou dor à palpação. Ruídos
intestinais ausentes ou hiperativos podem indicar obstrução intestinal. A distensão abdominal pode indicar ascite, obstrução,
infecção, massas ou visceromegalia. O recémnascido também pode mostrar sinais de abdome sensível (Springer & Glasser,
2015). Os exames de imagem são um dos pilares do diagnóstico de doenças abdominais e devem ser prontamente realizados no
recémnascido com distensão abdominal para determinar a etiologia subjacente.
Inspecione a área do cordão umbilical analisando se há o número correto de vasos sanguíneos (duas artérias e uma veia). A
veia umbilical é maior do que as duas artérias umbilicais. O achado de uma única artéria umbilical está associado a
anormalidades renais e gastrintestinais. Também se deve inspecionar a área umbilical à procura de sinais de sangramento,
infecção, inflamação, vermelhidão, edema, drenagem purulenta ou sangramento, granuloma ou comunicação anormal com os
órgãos intraabdominais. As infecções umbilicais podem ocorrer em virtude de um remanescente embriológico ou má higiene.
Tradicionalmente, os microrganismos grampositivos, como Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes, eram os mais
comumente identificados, mas na atualidade são encontradas infecções por bactérias gramnegativas e polimicrobianas. A
infecção do cordão umbilical (onfalite) pode se propagar para os tecidos adjacentes, provocando peritonite, trombose da veia
hepática e abscesso hepático. Avaliação imediata e encaminhamento são necessários (Lomax, 2015).
ÓRGÃOS GENITAIS
Masculino. Inspecione o pênis e o escroto no menino. No recémnascido circuncidado, a glande deve ser lisa, com o meato
centralizado na ponta do pênis. A glande terá aparência avermelhada até que cicatrize. Quando o recémnascido não foi
circuncidado, o prepúcio deve cobrir a glande. Verifique a posição do meato urinário: deve estar na linha média, na ponta da
glande. Se estiver na superfície ventral do pênis, a condição é denominada hipospadia; se estiver na superfície dorsal do pênis, é
denominada epispadia. Em ambos os casos, a circuncisão deve ser evitada até nova avaliação.
Inspecione o tamanho, a simetria, a coloração e o pregueamento no escroto, além da localização dos testículos. O escroto
geralmente tem aparência relativamente grande, com rugas bem formadas que deveriam cobrilo. Não deve ter abaulamento,
edema ou alteração da coloração (Figura 18.16A).
FIGURA 18.16 Genitália do recémnascido. A. Genitália masculina. Observe a coloração escurecida do
escroto. B. Genitália feminina.
Palpe o escroto à procura dos testículos, que devem estar nesse local. Os testículos devem ser firmes e lisos, devendo
apresentar tamanho igual em ambos os lados do escroto no recémnascido a termo. Os testículos que não desceram para o
escroto (criptorquidia) podem ser palpados no canal inguinal no recémnascido prétermo; a criptorquidia pode ser unilateral ou
bilateral. Se os testículos não forem palpáveis no escroto, é necessária investigação adicional.
Feminino. Inspecione os órgãos genitais externos das recémnascidas. O meato uretral está localizado abaixo do clitóris, na
linha média (Mutter & Prat, 2014). Em contraste com a genitália masculina, a genitália feminina será ingurgitada: os lábios
maiores e menores do pudendo estão edemaciados. Os lábios maiores são grandes e recobrem os lábios menores. O clitóris é
grande e o hímen é espesso. Esses achados devemse aos hormônios maternos estrogênio e progesterona (Figura 18.16B).
Secreção vaginal composta por muco misturado com sangue também pode ser encontrada nas primeiras semanas de vida. Essa
secreção, chamada de pseudomenstruação, não demanda tratamento. Explique esse fenômeno aos pais.
As variações nas recémnascidas podem incluir protuberância labial, o que pode indicar hérnia inguinal, genitália ambígua,
fístula retovaginal com fezes presentes na vagina e hímen imperfurado.
Masculino e feminino. Inspecione o ânus em recémnascidos dos sexos masculino e feminino, avaliando sua posição e sua
perviedade. A eliminação de mecônio indica a perviedade anal. Se não foi eliminado mecônio, podese inserir um termômetro
retal lubrificado ou feito um toque retal para determinar se existe perviedade. Achados anormais incluem fissuras ou fístulas
anais e a não eliminação de mecônio nas primeiras 24 horas após o nascimento.
MEMBROS E DORSO
Membros superiores. Inspecione os membros superiores do recémnascido analisando sua aparência e movimentação.
Inspecione as mãos avaliando o formato, o número e a posição dos dedos e a existência de pregas palmares. Os braços e as mãos
do recémnascido devem ser simétricos e devem moverse ao longo da amplitude de movimento, sem hesitação. Observe o
movimento espontâneo dos membros. Cada mão deve ter cinco dígitos. Observe se há dedos adicionais (polidactilia) ou fusão de
dois ou mais dedos (sindactilia). A maioria dos recémnascidos apresenta três pregas palmares na mão. A prega palmar única,
chamada de linha simiesca, frequentemente está associada à síndrome de Down.
A lesão do plexo braquial pode ocorrer durante um parto difícil, envolvendo distocia de ombro. A paralisia de Erb é uma
lesão resultante de danos ao plexo braquial superior, e as paralisias associadas à lesão do plexo braquial inferior são
denominadas paralisias de Klumpke. Os fatores associados à paralisia obstétrica do plexo braquial incluem peso grande ao
nascimento, parto pélvico, anomalias do parto, parto vaginal com fórceps ou vacuoextrator e distocia de ombro. A paralisia
obstétrica do plexo braquial resulta de tração lateral excessiva sobre a cabeça, afastandoa do ombro. Essa força sobre o plexo
braquial pode causar vários graus de lesão aos nervos. O braço afetado pende flácido ao lado do corpo, e o ombro e o braço
afetados permanecem em adução, extensão e rotação externa com pronação de antebraço. Não existe reflexo de Moro no lado
afetado pela paralisia braquial. A recuperação completa pode demorar 6 meses ou mais. Pesquisas atuais indicam que as forças
de trabalho de parto endógenas são a etiologia dessa lesão. Apesar do treinamento no manejo da distocia do ombro e uma taxa de
cesariana crescente, a incidência de lesões do plexo braquial se manteve inalterada em comparação com 10 anos atrás (Tung &
Moore, 2015).
Membros inferiores. Avalie os membros inferiores do mesmo modo. Eles devem ser de comprimento igual, com pregas
cutâneas simétricas. Inspecione se há pé torto congênito (pés voltados para dentro), que é secundário ao posicionamento
intrauterino. O pé torto congênito pode ser posicional ou estrutural. Realize as manobras de Ortolani e Barlow para identificar
luxação congênita do quadril, comumente chamada de displasia do desenvolvimento do quadril. O boxe Procedimento de
enfermagem 18.1 destaca os passos para realizar essas manobras.
Dorso. Inspecione o dorso. A coluna vertebral deve ter aparência reta e plana e deve ser facilmente flexionada quando o recém
nascido é mantido em decúbito ventral. Observe se existe tufo de pelo, depressão pilonidal na linha média, cisto ou massa ao
longo da coluna vertebral. Esses achados anormais devem ser documentados e comunicados ao médico responsável.
A Tabela 18.3 resume a avaliação do recémnascido.
ESTADO NEUROLÓGICO
Avalie o estado de alerta do recémnascido, sua postura, seu tônus muscular e seus reflexos.
Estado de alerta, postura e tônus muscular do recémnascido. O recémnascido deve estar alerta e não persistentemente
letárgico. A postura normal é com os quadris abduzidos e parcialmente flexionados, com os joelhos fletidos. Os braços estão
aduzidos, com os cotovelos flexionados. Os punhos muitas vezes estão fechados, com os dedos cobrindo o polegar.
Para avaliar o tônus muscular, segure o recémnascido com uma das mãos sob o tórax. Observe como os músculos do
pescoço sustentam a cabeça. Os músculos extensores do pescoço devem ser capazes de sustentar a cabeça alinhada por alguns
instantes. Deve haver apenas um retardo no movimento da cabeça ao puxar o recémnascido para sentar, a partir do decúbito
dorsal.
PROCEDIMENTO DE ENFERMAGEM 18.1
Realização das manobras de Barlow e Ortolani
Objetivo: detectar displasia congênita do desenvolvimento do quadril
Manobra de Ortolani Manobra de Barlow
1. Colocar o recémnascido em decúbito1. Com o recémnascido
dorsal e flexionar os quadris e joelhos a ainda em decúbito dorsal
90° e segurando a parte
interna das coxas (como
já foi mencionado), aduzir
as coxas enquanto aplica
pressão para fora e para
baixo às coxas
2. Segurar a parte interna das coxas e2. Sentir a cabeça femoral
abduzir o quadril (geralmente a cerca de escorregando para fora
180°), aplicando pressão para cima do acetábulo; ouvir
também se há um clique
Adaptado de Tamai, J., & McCarthy, J. J. (2015). Developmental dysplasia of the hip. eMedicine. Retirado
de http://emedicine.medscape.com/article/1248135overview; e Weber, J., & Kelley, J. (2014). Health
assessment in nursing (5th ed.). Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins.
Tabela 18.3 Resumo da avaliação do recémnascido.
Sinais vitais Temperatura: 36,5 a 37,5°C
Pulso apical: 110 a 160 bpm
Frequência respiratória: 30
a 60 irpm
Dados de Davidson, M. R. (2014). Fast facts for the neonatal nurse: A
nursing orientation and care guide in a nutshell. New York, NY: Springer
Publishing Company; e Weber, J., & Kelley, J. (2014). Health assessment
in nursing (5th ed.). Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins.
Reflexos do recémnascido. Avalie os reflexos do recémnascido para determinar a função e o desenvolvimento neurológicos. A
ausência de reflexos ou a existência de reflexos anormais em um recémnascido, a persistência de um reflexo além da idade em
que ele normalmente é integrado ou o retorno de um reflexo primitivo em uma criança mais velha ou em um adulto pode indicar
uma doença neurológica (Tabela 18.4). Os reflexos comumente avaliados em recémnascidos incluem os reflexos de sucção,
Moro, marcha automática, tônico cervical, de busca, Babinski, preensão palmar e preensão plantar. Os reflexos espinais testados
incluem a reação de Galant e o reflexo anocutâneo (contração anal).
O reflexo de sucção é provocado estimulando (tocando) delicadamente os lábios do recémnascido. Tipicamente, o recém
nascido abre a boca e começa um movimento de sucção. Colocar um dedo enluvado na boca do recémnascido também vai
desencadear um movimento de sucção (Figura 18.17A).
O reflexo de Moro, também chamado de reflexo do abraço, ocorre quando o recémnascido se assusta. Para induzir esse
reflexo, coloque o recémnascido em decúbito dorsal. Sustente o peso da parte superior do corpo do recémnascido pelos braços,
usando um movimento de elevação, sem levantar o recémnascido da superfície. Em seguida, solte repentinamente os braços. O
recémnascido então abre os braços e flexiona os joelhos; a seguir, os braços retornam ao tórax. Os dedos das mãos também se
abrem, formando um C. O recémnascido parece inicialmente surpreso e, em seguida, relaxa até a posição normal de repouso
(Figura 18.17B).
Avalie o reflexo de marcha automática segurando o recémnascido na posição vertical e inclinado para a frente com as
plantas dos pés tocando uma superfície plana. O recémnascido deve fazer um movimento de dar passos e caminhar, alternando
flexão e extensão dos tornozelos (Figura 18.17C).
Tabela 18.4 Reflexos do recémnascido: surgimento e
integração.
O reflexo tônico cervical se assemelha à postura de um esgrimista e muitas vezes é chamado de reflexo de esgrima. Teste
esse reflexo com o recémnascido em decúbito dorsal. Vire a cabeça do recémnascido para um lado. O braço para o qual o
recémnascido está olhando deve se estender imediatamente para longe do corpo com a mão parcialmente aberta, enquanto o
outro braço é flexionado e o punho é cerrado com força. Inverter a direção para a qual o rosto está voltado inverte a posição
(Figura 18.17D).
Instigue o reflexo de busca acariciando a bochecha do recémnascido. O recémnascido deve voltarse para o lado que foi
afagado e deve começar a fazer movimentos de sucção (Figura 18.17E).
FIGURA 18.17 Reflexos do recémnascido. A. Reflexo de sucção. B. Reflexo de Moro. C. Reflexo de marcha
automática. D. Reflexo tônico cervical. E. Reflexo de busca. F. Sinal de Babinski. G. Preensão palmar. H. Preensão plantar.
O reflexo de Babinski deve existir por ocasião do nascimento e desaparece até aproximadamente 1 ano de idade. É provocado
pela estimulação da parte lateral da planta do pé do recémnascido, do calcanhar em direção à bola do pé e cruzandoa. Os dedos
dos pés devem se espalhar. A diminuição da resposta indica um problema neurológico e exige acompanhamento (Figura 18.17F).
O recémnascido apresenta dois reflexos de preensão: a preensão palmar e a preensão plantar. Provocar o reflexo de
preensão palmar envolve colocar um dedo sobre a palma da mão aberta do recémnascido. A mão do recémnascido vai se fechar
em torno do dedo do examinador. Tentar remover o dedo faz com que a preensão fique mais forte. Os recémnascidos têm uma
preensão forte e quase podem ser levantados de uma superfície plana se ambas as mãos forem utilizadas. A preensão deve ser
igual bilateralmente (Figura 18.17G). A preensão plantar é semelhante à preensão palmar. Coloque um dedo logo abaixo dos
dedos dos pés do recémnascido. Os dedos dos pés tipicamente se curvam em torno do dedo do examinador (Figura 18.17H).
Piscar, espirrar, engasgar e tossir são reflexos de proteção e são provocados quando um objeto ou uma luz é trazido
próximo do olho (piscar), quando algo irritante é engolido ou uma seringa é utilizada para a aspiração (reflexo faríngeo e de
tosse) ou um irritante é trazido para perto do nariz (espirro).
A reação de Galant (reflexo de encurvamento do tronco) já existe por ocasião do nascimento e desaparece em alguns dias a 4
semanas (Figura 18.18). Com o recémnascido em decúbito ventral ou em suspensão ventral, aplique uma pressão firme e
deslize um dedo para baixo em cada lateral da coluna vertebral. Esse estímulo fará com que a pelve flexione em direção ao lado
estimulado. Isso indica que a inervação T2S1 está íntegra. A falta de resposta indica um problema neurológico ou da medula
espinal.
O reflexo anocutâneo (contração anal) é provocado pela estimulação da pele perianal próxima do ânus. O esfíncter externo
se contrai imediatamente com a estimulação. Isso indica inervação S4S5 íntegra (Marcdante & Kliegman, 2014).
Intervenções de enfermagem
Desenvolver a confiança em cuidar de seu recémnascido é um desafio para a maioria dos pais/entes queridos/parceiros. É
preciso tempo e paciência e muitas instruções fornecidas pelo enfermeiro. “Informar e demonstrar” aos pais orientações sobre o
recémnascido e todos os procedimentos (p. ex., alimentação, banho, troca de fraldas e roupas, manuseio) envolvidos no cuidado
diário são as principais intervenções de enfermagem.
FIGURA 18.18 Reação de Galant. Quando a região paravertebral é estimulada, o recémnascido flexiona lateralmente
seu tronco em direção ao estímulo. (Copyright Caroline Brown, RNC, MS, DEd.)
Cuidados gerais ao recémnascido
Em geral, os cuidados ao recémnascido envolvem banho e higiene, cuidados com a região genital e as fraldas, cuidados com o
coto umbilical, cuidados com a circuncisão, medidas de segurança ambiental e prevenção de infecções. Os enfermeiros devem
ensinar essas habilidades aos pais e devem servir de modelo para a interação adequada e coerente com os recémnascidos.
Demonstrar respeito à criança e à família ajuda a promover uma atmosfera positiva para promover o crescimento e
desenvolvimento do recémnascido.
BANHO E HIGIENE
Imediatamente após o parto, secar o recémnascido e remover o sangue pode minimizar o risco de infecção causada pelo vírus da
hepatite B (HBV), herpesvírus (HSV) e HIV, mas os benefícios específicos dessa prática permanecem obscuros. Até que o
recémnascido tenha recebido um banho completo, devem ser usadas as precauções padrão em seu manuseio. Os profissionais de
enfermagem devem seguir a política do hospital em relação à cronologia e aos procedimentos de banho e higiene do recém
nascido.
Os recémnascidos recebem um banho principalmente por motivos estéticos; o banho é adiado até que a estabilidade térmica
e cardiorrespiratória esteja assegurada. As razões tradicionais pelas quais os enfermeiros dão o banho no recémnascido são para
que eles possam realizar um exame físico, reduzir o efeito da hipotermia e possibilitar que a mãe descanse (Davidson, 2014). No
entanto, pesquisas recentes sugerem que os enfermeiros não precisam dar o primeiro banho no recémnascido, a fim de reduzir a
perda de calor; em vez disso, os pais poderiam ter essa oportunidade, apoiados pelo enfermeiro. Um estudo descobriu que a
perda de calor foi semelhante nos recémnascidos banhados pelos pais em relação àqueles que receberam o banho do enfermeiro
(Davidson, 2014).
O boxe Procedimento de enfermagem 18.2 explica os passos para o banho do recémnascido. É importante que o enfermeiro
use luvas, por causa da potencial exposição ao sangue materno no recémnascido, e dê o banho rapidamente, secandoo bem para
evitar a perda de calor por evaporação.
Após o banho, coloque o recémnascido no berço aquecido e envolvao firmemente em cobertores para evitar a refrigeração.
Verifique a temperatura do recémnascido dentro de 1 hora para ter certeza de que esteja dentro dos limites normais. Se estiver
baixa, coloque o recémnascido novamente sob uma fonte de calor radiante.
Após o primeiro banho, o recémnascido pode não receber outro banho completo durante a permanência na maternidade. A
região genital será limpa a cada troca de fralda, e qualquer respingo de leite materno ou da fórmula infantil nas dobras do
pescoço do recémnascido durante a mamada deve ser limpo. Água limpa e sabão neutro são apropriados para higienizar a área
genital. O uso de loções, óleo infantil e talco não é incentivado, porque os óleos e loções podem levar à irritação da pele e podem
causar erupções cutâneas. Os talcos não devem ser utilizados porque podem ser inspirados, provocando desconforto respiratório.
Se os pais quiserem usar óleos e loções, peça que apliquem um pouco na mão primeiro, longe do recémnascido, o que aquece o
produto. Em seguida, os pais devem aplicar a loção ou o óleo com moderação.
Incentive os pais a reunir todos os itens necessários antes de iniciar o banho: um pano macio e limpo, duas bolas de algodão
para limpar os olhos, sabonete e xampu suave e sem perfume, toalhas ou mantas, uma banheira ou bacia com água morna, uma
fralda limpa e uma muda de roupa. Instrua os pais de que um banho 2 ou 3 vezes/semana é suficiente no primeiro ano; banhos
mais frequentes podem ressecar a pele. Os pais não devem imergir totalmente o recémnascido em água até que a área do coto
umbilical tenha cicatrizado – até 2 semanas após o nascimento. Incentive os pais a dar um banho de esponja no recémnascido
até que o coto umbilical tenha caído e a região do umbigo tenha cicatrizado completamente. Se o recémnascido tiver sido
circuncidado, aconselhe os pais a esperar até que a área também tenha cicatrizado (geralmente em 1 a 2 semanas). Até lá, limpe o
pênis com água e sabão neutro e aplique um pouco de vaselina na ponta para evitar que a fralda grude no pênis. Instrua os pais a
não apertar a fralda e a colocar o recémnascido recémcircuncidado em decúbito lateral ou dorsal para evitar compressão e
irritação do pênis.
Outras orientações para o banho em recémnascidos constam no boxe Diretrizes de ensino 18.1.
PROCEDIMENTO DE ENFERMAGEM 18.2
Banho no recémnascido
É importante que o enfermeiro use luvas, por causa da potencial exposição ao sangue materno no recém
nascido, e dê o banho rapidamente, secandoo bem para evitar a perda de calor por evaporação. O recém
nascido deve ser mantido coberto para evitar a perda de calor durante o banho.
1. Começar lavando o recémnascido da área mais limpa (os olhos) e prosseguir para a área mais suja (a área
da fralda) para evitar a contaminação cruzada. Usar água morna limpa no rosto e nos olhos, acrescentando
um sabonete suave (p. ex., Dove®) para limpar o restante do corpo. Lavar, enxaguar e secar cada área antes
de prosseguir para a próxima
2. Lavar o cabelo com água corrente para que o couro cabeludo possa ser cuidadosamente limpo. Pode ser
usado um xampu ou sabonete neutro. Lavar as duas áreas de fontanela. Frequentemente, os pais evitam
esses “pontos fracos” porque temem que vão “ferir o encéfalo do recémnascido” se esfregarem com muita
força. É preciso tranquilizálos de que existe uma forte membrana fornecendo proteção. Incentive os pais a
limparem e lavarem essas áreas também. Se a fontanela anterior não estiver bem limpa após a lavagem,
pode se desenvolver uma crosta láctea (lâminas secas no couro cabeludo) Evite molhar os ouvidos para evitar
infecções
3. Certificarse de limpar todas as pregas do corpo, especialmente as dobras do pescoço, para remover
qualquer leite que possa ter pingado ou escorrido para essas áreas
4. Continuar descendo e lavando o tronco e os membros, terminando com a área genital
Diretrizes de ensino 18.1
Banho no recémnascido
• Escolher um ambiente aquecido, com uma superfície plana em uma altura de trabalho confortável
• Antes do banho, reunir todo o material necessário para que esteja ao seu alcance
• Nunca deixar o recémnascido sozinho ou desacompanhado durante o banho
• Tirar a roupa do recémnascido, incluindo a camiseta e a fralda
• Sempre apoiar a cabeça e o pescoço do recémnascido ao movêlo ou posicionálo
• Colocar um cobertor ou toalha debaixo do recémnascido para fins de aquecimento e conforto
• Nesta ordem, progredir da área mais limpa para a mais suja:
• Limpar os olhos com água, usando bolas de algodão ou uma toalha. Limpar a partir do canto interno
para o externo dos olhos com partes distintas da toalha
• Lavar o restante do rosto, incluindo as orelhas, com água limpa
• Usar xampu infantil, lavar cuidadosamente os cabelos e enxaguar com água
• Prestar atenção especial às dobras do corpo e secálas bem
• Lavar os membros, o tronco e o dorso. Lavar, enxaguar, secar e cobrir
• Lavar a área da fralda por último, usando água e sabão, e secar; observar se há erupções cutâneas
• Colocar uma fralda nova e roupas limpas após o banho
CUIDADOS COM A ÁREA GENITAL E FRALDAS
Os padrões de eliminação do recémnascido são bastante individualizados. Habitualmente, a cor da urina é âmbarclara. O uso de
6 a 12 fraldas por dia indica hidratação adequada. As fezes podem mudar de coloração, consistência e frequência de eliminação
sem sinalizar um problema. O mecônio é eliminado nas primeiras 48 horas após o nascimento; as fezes são espessas,
alcatroadas, pegajosas e de coloração verdeescura. As fezes de transição (ralas, marrons a verdes, menos pegajosas que o
mecônio) tipicamente aparecem no 3o dia após o início da alimentação. As características das fezes após as fezes de transição
dependem de o recémnascido ser amamentado ou alimentado com fórmula. Os recémnascidos amamentados eliminam
tipicamente fezes pastosas, cor de mostarda, de consistência granulosa; os recémnascidos alimentados com fórmula eliminam
fezes amarelas a marrom, amolecidas, de consistência pastosa. Desde que o recémnascido pareça satisfeito, esteja comendo
normalmente e não mostre sinais de doença, pequenas alterações no padrão de defecação não devem gerar preocupação.
O recémnascido deve ser verificado com frequência para ver se é necessário trocar sua fralda, especialmente após a
alimentação. Utilize as precauções padrão ao prestar cuidados à área da fralda. Instrua os pais a manter a margem superior da
fralda dobrada abaixo da área do coto umbilical para evitar irritações; instruaos também a deixar que o ar circule para ajudar a
secar o coto umbilical. No caso de recémnascido/lactente do sexo masculino, apontar o pênis para baixo para evitar que a urina
molhe a parte superior da fralda na altura da cicatriz umbilical.
Pode ser difícil remover o mecônio da pele. Use água limpa ou lenços umedecidos de limpeza, se necessário, para limpar a
área. Ensine os pais a limpar a área da fralda corretamente e a prevenir irritações de pele. Incentiveos a evitar produtos como
talco e itens perfumados, que podem irritar a pele do recémnascido.
Discuta os prós e contras do uso de fraldas de pano vs. fraldas descartáveis, para que os pais possam tomar decisões
informadas. Independentemente do tipo de fraldas usadas, serão necessárias até 10 fraldas por dia, ou cerca de 70 por semana.
As informações adicionais sobre as trocas de fraldas podem incluir:
• Antes de trocar as fraldas, certificarse de que todo o material esteja ao seu alcance, incluindo a fralda limpa, o agente de
limpeza ou os lenços umedecidos e a pomada
• Colocar o recémnascido em um fraldário e retirar a fralda suja
• Usar água e sabonete neutro ou lenços umedecidos para limpar cuidadosamente a área genital; limpar as meninas da frente
para trás, para evitar infecções urinárias
• Lavar bem as mãos antes e depois de trocar a fralda.
Durante a prestação de cuidados à área genital, os pais devem observar a área atentamente à procura de sinais de irritação ou
erupções cutâneas. As dicas para impedir ou curar uma assadura incluem:
• Trocar as fraldas com frequência, especialmente após cada episódio de defecação
• Aplicar um creme de “barreira”, como a associação de lanolina, vaselina e vitaminas A e D, ou creme de Aloe vera, após a
limpeza com água e sabão neutro
• Usar sabão sem perfume e sem corante para lavar fraldas de pano
• Evitar o uso de calças plásticas, porque elas tendem a reter umidade
• Expor as nádegas do recémnascido ao ar livre várias vezes por dia
• Colocar as nádegas do lactente em água aquecida depois de ele ficar de fralda a noite toda.
Anote!
Aconselhe os pais de que uma erupção cutânea (“assadura”) que persiste por mais de 3 dias pode ter origem fúngica e pode
necessitar de tratamento adicional. Incentive os pais a entrar em contato com o médico.
CUIDADOS COM O COTO UMBILICAL
O coto umbilical começa a secar algumas horas após o nascimento e está murcho e enegrecido no segundo ou terceiro dias de
vida. Sete a 10 dias depois do nascimento, o coto do cordão umbilical se desprende e ocorre cicatrização. Durante esse período
de transição, são necessárias avaliações frequentes da área para detectar quaisquer sangramentos ou sinais de infecção. O
sangramento do coto umbilical é anormal e pode ocorrer se a pinça tiver afrouxado. Qualquer secreção no coto umbilical também
é anormal e geralmente é causada por infecção, o que demanda tratamento imediato.
Para proteger a área do coto umbilical durante as trocas de fralda, aplique ao coto do cordão o agente apropriado (p. ex.,
corante triplo, álcool ou um agente antimicrobiano) de acordo com a política da instituição, a fim de evitar infecções
ascendentes. Recomendamse agentes de limpeza de uso único para evitar a contaminação cruzada com outros recémnascidos.
Espere para remover a pinça do coto umbilical cerca de 24 horas após o nascimento, usando um cortador de pinça específico. No
entanto, se o coto umbilical ainda estiver úmido, mantenha a pinça e faça um encaminhamento a uma instituição de saúde para
que um enfermeiro de cuidados domiciliares possa removêla após a alta. Sempre respeite as políticas da instituição relacionadas
com os cuidados com o coto umbilical; podem ser necessárias mudanças na política de acordo com os achados das pesquisas
mais recentes.
Muitos pais evitam o contato com o local do coto umbilical para garantir que não o “machuquem”. Ensineos a cuidar do
local quando forem para casa para evitar complicações (Diretrizes de ensino 18.2).
Diretrizes de ensino 18.2
Cuidados com o coto umbilical
• Observar se há sangramento, vermelhidão, drenagem ou odor desagradável no coto do cordão umbilical e
relatar isso ao pediatra de seu filho imediatamente
• Evitar banhos de banheira até que o coto umbilical tenha caído e a área tenha cicatrizado
• Expor o coto do cordão umbilical ao ar livre tanto quanto possível ao longo do dia
• Dobrar a fralda abaixo da altura do coto umbilical para evitar a contaminação do local e para promover a
secagem do mesmo ao ar livre
• Observar o coto do cordão, cuja cor passa de amarelo para marrom a preto. Isso é normal
• Nunca puxar o coto umbilical nem tentar soltálo; ele vai cair naturalmente
CIRCUNCISÃO E CUIDADOS COM O PÊNIS
A circuncisão é um dos procedimentos cirúrgicos mais antigos e mais realizados em todo o planeta, mas ainda é motivo de
controvérsia. É realizada por motivos clínicos, religiosos, culturais e sociais. A circuncisão consiste na remoção cirúrgica de
todo ou de parte do prepúcio do pênis (Freedman & Hurwitz, 2015). Ela tem sido feita tradicionalmente por motivos clínicos e
de higiene, e é o mais antigo rito religioso conhecido. Na fé judaica, a circuncisão é um ritual que é realizado por
um mohel (circuncisador ordenado) no oitavo dia após o nascimento, se possível. A circuncisão é seguida por uma cerimônia
religiosa judaica (bris), tipicamente em casa, durante a qual o recémnascido recebe seu nome e simbolicamente é aceito pela
comunidade religiosa judaica.
A maioria das outras circuncisões é realizada no hospital antes da alta do recémnascido, se isso for conveniente para os
genitores, ou quando o recémnascido é levado ao consultório do pediatra após a alta hospitalar. O procedimento ambulatorial é
prático e tem um registro comprovado de segurança. Existem três métodos de circuncisão comumente utilizados: a pinça Gomco,
o dispositivo Hollister Plastibell® e a pinça Mogen. Durante o procedimento de circuncisão, parte do prepúcio é removida por
pinçamento e cortada com um bisturi (pinça Mogen ou Gomco) ou usando um Plastibell®. O Plastibell® é um anel plástico que é
ajustado sobre a glande, sendo o excesso de prepúcio puxado por sobre ele. A sutura é amarrada ao redor da borda para aplicar
pressão sobre os vasos sanguíneos, criando uma hemostasia. O excesso de prepúcio é cortado. O anel plástico permanece no
local até a cicatrização. O anel plástico tipicamente se solta e cai em cerca de 1 semana. Vaselina deve ser aplicada na área
circuncidada após o procedimento ser realizado com um grampo Gomco ou Mogen (Sinkey et al., 2015) (Figura 18.19).
O debate sobre a circuncisão neonatal de rotina nos EUA continua. Durante muitos anos, os supostos benefícios e malefícios
da circuncisão foram debatidos na literatura médica e na sociedade em geral, sem nenhum consenso claro até o momento. Apesar
da controvérsia, a circuncisão é o procedimento cirúrgico mais frequentemente realizado em recémnascidos, e quase dois terços
(61%) dos recémnascidos norteamericanos são circuncidados (CDC, 2015c).
Declaração de política da American Academy of Pediatrics (AAP). A declaração de política da AAP indica que a circuncisão
do recémnascido tem potenciais desvantagens e riscos, bem como benefícios e vantagens clínicas. Os riscos para o recém
nascido incluem infecção, hemorragia, deiscência de pele, aderências, fístula uretral e dor. Os benefícios para o recémnascido
incluem:
• As infecções urinárias são um pouco menos frequentes em meninos circuncidados. No entanto, as taxas são baixas tanto em
meninos circuncidados quanto não circuncidados, e as infecções são facilmente tratadas sem sequelas a longo prazo
• As infecções/doenças sexualmente transmissíveis são menos comuns em homens circuncidados, mas acreditase que o risco
esteja mais relacionado com fatores comportamentais do que à condição de circuncisão. Todavia, os homens circuncidados
correm um risco 50% menor de contrair infecção pelo HIV, por herpesvírus simples (HSV), papilomavírus humano (HPV),
doença ulcerosa genital, vaginose bacteriana e tricomoníase (Tobian, Kacker, & Quinn, 2014)
• Parece haver uma taxa discretamente mais baixa de câncer de pênis em homens circuncidados. No entanto, o câncer de pênis
é raro, e os fatores de risco, como verrugas genitais, infecção por HPV, múltiplas parceiras sexuais e tabagismo, parecem
desempenhar um papel muito maior na etiologia do câncer de pênis do que o fato de ter sido realizada circuncisão
(Marcdante & Kliegman, 2014).
FIGURA 18.19 Circuncisão. A. Antes do procedimento. B. Grampo aplicado e prepúcio removido. C. Aspecto após a
circuncisão.
As novas recomendações da AAP afirmam que, se os pais decidirem circuncidar seus recémnascidos, é obrigatório fornecer
alívio da dor. Uma pesquisa descobriu que os recémnascidos circuncidados sem analgesia sentem dor e estresse, o que é
indicado por alterações na frequência cardíaca, na pressão arterial, na saturação de oxigênio e nos níveis de cortisol (Morrison et
al., 2014). Os métodos analgésicos podem incluir EMLA® em creme (mistura tópica de anestésicos locais, lidocaína e
prilocaína), bloqueio do nervo dorsal do pênis com lidocaína tamponada, paracetamol, contato pele com pele, uma chupeta com
sacarose e envolver o recémnascido em mantas (Cunningham et al., 2014).
A AAP (2015e) recomenda que os pais recebam informações acuradas e imparciais sobre os riscos e benefícios da
circuncisão. Tal como acontece com outros procedimentos em recémnascidos, as pesquisas continuam sendo realizadas. O
enfermeiro deve manterse informado sobre as pesquisas médicas atuais, para possibilitar que os pais tomem decisões
informadas. A ausência de evidências médicas convincentes a favor ou contra a circuncisão do recémnascido torna o
consentimento livre e informado dos pais de suma importância. A discussão em relação à circuncisão envolve considerações
culturais, religiosas, médicas e emocionais. O enfermeiro pode ter dificuldades em permanecer imparcial e em não deixar que
suas emoções influenciem ao apresentar os fatos aos pais. A circuncisão é uma decisão muito pessoal para os pais, e a grande
responsabilidade do enfermeiro é informálos sobre os riscos e benefícios do procedimento e abordar suas preocupações, de
modo que possam tomar uma decisão plenamente informada.
Anote!
A decisão de circuncidar o recémnascido muitas vezes é social, sendo que o fator que mais pesa é o fato de o pai do recém
nascido ser circuncidado (Mielke, 2014).5
O preparo préoperatório para circuncisão deve incluir a confirmação dos seguintes itens:
• O recémnascido com pelo menos 12 horas de vida ou mais
• O recémnascido recebeu a profilaxia padrão com vitamina K
• O recémnascido urinou normalmente pelo menos uma vez após o parto
• O recémnascido não mamou pelo menos uma hora antes do procedimento
• O responsável legal assinou o formulário de consentimento informado
• Foi realizada identificação correta do recémnascido levado à sala de procedimento.
Imediatamente após a circuncisão, a ponta do pênis geralmente é recoberta com uma gaze umedecida com vaselina em gel
para evitar que a ferida grude na fralda. Os cuidados continuados a esse local incluem:
• Avaliar se há sangramento a cada 30 minutos durante pelo menos 2 horas
• Documentar a primeira micção para avaliar se há obstrução urinária ou edema
• Derramar água e sabão sobre a área diariamente e, em seguida, enxaguar com água morna e secar sem esfregar (dar
pancadinhas com a toalha)
• Aplicar um pouco de vaselina a cada troca de fralda se tiver sido utilizado Plastibell®; limpar com água e sabão neutro, se
tiverem sido utilizadas outras técnicas
• Prender a fralda frouxamente sobre o pênis e evitar colocar o recémnascido em decúbito ventral para evitar atrito.
Se tiver sido utilizado um Plastibell®, ele cairá por si só em cerca de 1 semana. Informe isso aos pais e aconselheos a não o
retirar antes disso. Também instrua os pais a verificar diariamente se há qualquer drenagem de odor fétido, sangramento ou
inchaço incomum.
Se o recémnascido não for circuncidado, lave o pênis com água e sabão neutro após cada troca de fralda e não force o
prepúcio para trás; ele vai se retrair normalmente ao longo do tempo.
SEGURANÇA
Os recémnascidos são completamente dependentes das pessoas ao seu redor para garantir sua segurança. A sua segurança deve
ser garantida enquanto na unidade de saúde e depois de receber alta. As orientações aos pais são fundamentais, especialmente
conforme a criança cresce e se desenvolve e começa a responder ao seu entorno e a explorálo (Diretrizes de ensino 18.3).
Segurança ambiental. As pessoas que entram em uma instituição de saúde para serem tratadas esperam estar seguras lá até que
voltem para casa, mas garantir um ambiente seguro pode ser um grande desafio para uma instituição de saúde.
Considere esta situação: uma mulher com uniforme de enfermeira entrou no quarto de hospital de uma puérpera logo após o
parto. Essa “enfermeira” disse que precisava levar o recémnascido para o berçário para pesálo. Algum tempo depois, um
enfermeiro fazendo sua ronda de rotina percebeu que havia algo errado quando viu que o berço do recémnascido no quarto da
mãe estava vazio e que a mãe estava dormindo em sua cama. O enfermeiro chamou os funcionários da segurança imediatamente,
porque ele suspeitava que tinha ocorrido um rapto de recémnascido.
Esse é um cenário típico de rapto que se repete várias vezes a cada ano nos EUA. No rapto infantil, alguém que não é um
membro da família rouba uma criança com menos de 1 ano de idade (NCMEC, 2015). Os raptos infantis são traumáticos para
os pais, para a comunidade e para a instituição de saúde. A instituição também pode enfrentar um enorme gasto financeiro se os
pais a processarem.
Os raptos ocorrem tipicamente durante o dia e geralmente são realizados por mulheres que não são criminalmente
sofisticadas. Muitas dessas mulheres passaram por um aborto no passado, frequentemente são emocionalmente imaturas e
compulsivas, com baixa autoestima. A maioria das sequestradoras consegue se passar por uma funcionária do hospital de modo
convincente. Os recémnascidos geralmente são raptados quando retirados para exames, durante o retorno ao berçário, quando
deixados sozinhos no berçário ou enquanto a mãe estava dormindo ou tomando banho (Joint Commission, 2015).
Diretrizes de ensino 18.3
Segurança geral do recémnascido
• Ter os números de telefone de emergência prontamente disponíveis, como o da assistência médica de
emergência e o do centro de controle de envenenamento
• Manter objetos pequenos ou cortantes fora do alcance, para impedir que eles sejam aspirados
• Colocar tampas de segurança nas tomadas de parede que estejam ao alcance da criança para evitar a
eletrocussão
• Não deixar a criança sozinha sem um intercomunicador portátil (babá eletrônica) ligado
• Sempre supervisionar o banho: um recémnascido pode se afogar em cerca de 5 cm de água
• Verificar se o berço ou trocador é resistente, se há alguma peça solta e se ele é pintado com tinta sem
chumbo
• Evitar colocar o berço ou trocador perto de persianas ou puxadores de cortina
• Fornecer um ambiente livre de fumaça a todas as crianças
• Colocar todos os recémnascidos e lactentes para dormir em decúbito dorsal, a fim de evitar a síndrome da
morte súbita do lactente
• Para evitar quedas, não deixar o recémnascido sozinho em qualquer superfície elevada
• Usar protetores de sol em carrinhos e chapéus para evitar a superexposição do recémnascido ao sol
• Para evitar infecções, lavar bem as mãos antes de preparar a fórmula
• Investigar minuciosamente qualquer instituição de cuidados infantis antes de usar seus serviços
Adaptado de Centers for Disease Control and Prevention [CDC]. (2015d). Infants and toddlers–safety in the
home and community. Retirado de http://www.cdc.gov/parents/infants/safety.html
As instituições de saúde são desafiadas a impedir o rapto infantil instituindo práticas e sistemas de segurança sólidos (Joint
Commission, 2015). Essas medidas incluem:
• Todos os recémnascidos têm de ser transportados em berços, não carregados no colo
• Os enfermeiros têm de responder imediatamente a qualquer alarme de segurança que soe na unidade
• Os recémnascidos nunca devem ficar sozinhos, especialmente em corredores
• Todos os funcionários têm de usar identificação apropriada em todos os momentos
• As mães devem ser incentivadas a manter o berço de seu recémnascido longe da porta
• Os funcionários devem ter cuidado com pessoas que não pareçam estar visitando uma mãe específica
• Devese verificar o sistema eletrônico de segurança para conferir se está funcionando
• É necessário coletar a impressão plantar do recémnascido, tirar uma fotografia colorida e registrar o exame físico do mesmo
nas primeiras 2 horas após o parto
• Interromper a publicação de avisos de nascimento em jornais locais
• Desenvolver e implementar um plano proativo de prevenção ao rapto infantil
• Assegurar o funcionamento correto e a colocação de quaisquer sensores eletrônicos utilizados em recémnascidos
• Os pais devem ser orientados em relação ao rapto infantil; por que a segurança infantil é importante; cronograma do
berçário, horários de alimentação e visita; regras em relação ao acesso de visitantes; políticas e procedimentos de segurança
da instituição; o que os pais podem fazer para proteger seu filho no hospital; quais funcionários têm permissão para lidar
com o recémnascido; e como é o crachá de identificação original do funcionário.
Orientar funcionários, orientar as mães e controlar o acesso são os três passos fundamentais para prevenir raptos de qualquer
unidade de saúde. Fornecer um ambiente seguro é uma responsabilidade partilhada entre a instituição, os funcionários e os pais.
A prevenção de raptos exige que todos aprendam e sigam as regras e políticas.
Segurança no carro. Nos EUA, é obrigatório o uso de assentos de carro para recémnascidos e crianças, pois acidentes
rodoviários ainda são a principal causa de lesões não intencionais e morte em crianças menores de 5 anos de idade. As
estatísticas da National Highway Traffic Safety Administration mostram que quase metade das mortes e lesões infantis ocorreu
porque as crianças não foram devidamente contidas. Os assentos de segurança para crianças, quando instalados e usados
corretamente, podem prevenir lesões e salvar vidas (AAP, 2015f).
Apesar das evidências de que o uso de assentos de carro pode reduzir as taxas de morbidade e mortalidade dos acidentes
automobilísticos, os pais que não têm conhecimento sobre o assento podem subutilizálo ou fazer mau uso dele (Hodges &
Smith, 2014). Certifiquese de que ambos os pais compreendem a importância de transportar com segurança seu recémnascido
em um assento de carro seguro, aprovado pelo governo federal, todas as vezes que saírem com seus filhos de carro. Não libere o
recémnascido a menos que os pais tenham um assento de carro para leválo para casa (Figura 18.20). Se não puderem comprar
um, diversas organizações comunitárias podem dar um para eles. De acordo com a declaração política da AAP sobre a segurança
dos passageiros infantis (AAP, 2015f), nenhum assento de carro é considerado o “mais seguro” ou o “melhor”; em vez disso, a
chave para a prevenção de lesões e mortes é o uso consistente e adequado. Instrua os pais do seguinte:
• Escolher um assento de carro que seja apropriado ao tamanho e ao peso da criança
• Alertar os cuidadores contra a colocação de assentos de carro em superfícies elevadas ou flexíveis fora do carro para evitar
quedas
• Usar o assento de carro corretamente, toda vez que a criança estiver no carro
• Usar cadeirinhas de segurança para carro viradas para a parte traseira do veículo até a criança ter 2 anos de idade ou até
atingir o limite máximo de peso ou altura permitido pelo fabricante do sistema de retenção infantil
• Verificar se o cinto (a maioria dos bancos tem um cinto de 3 a 5 pontos) está nos encaixes ou abaixo dos ombros.
PREVENÇÃO DE INFECÇÕES
O enfermeiro desempenha um papel importante na prevenção de infecções no ambiente do recémnascido. Os modos de controlar
infecções são os seguintes:
• Minimizar a exposição do recémnascido a microrganismos
• Lavar as mãos antes e depois de prestar cuidados e insistir que todos os funcionários lavem as mãos antes de manusear
qualquer recémnascido
• Não permitir que funcionários ou visitantes doentes visitem ou manuseiem o recémnascido
• Evitar compartilhar os objetos do recémnascido/lactente com outra criança
• Monitorar o coto do cordão umbilical e o local da circuncisão à procura de sinais de infecção
• Fornecer profilaxia ocular incutindo a medicação prescrita logo após o nascimento
• Orientar os pais em relação a medidas domiciliares apropriadas que evitam infecções, como praticar boa higiene das mãos
antes e após a troca de fraldas, manter o recémnascido bem hidratado, evitar levar a criança a locais aglomerados (o que
pode expôla a resfriados e vírus da gripe), observar os primeiros sinais de infecção (febre, vômitos, perda de apetite,
letargia, dificuldade respiratória, fezes aquosas verdes, secreção do local do cordão umbilical ou dos olhos) e realizar as
consultas com o pediatra para as imunizações de rotina.
FIGURA 18.20 Recémnascido corretamente protegido em um assento de carro.
Promoção do sono
Embora muitos pais sintam que seus recémnascidos precisam deles a cada minuto do dia, inicialmente os recémnascidos
precisam mesmo é dormir a maior parte do dia. Geralmente, os recémnascidos dormem até 15 horas por dia. Eles dormem 2 a 4
horas de cada vez, mas não dormem durante a noite, porque a capacidade de seu estômago é muito pequena para passar longos
períodos sem alimentação.
Anote!
Todos os recémnascidos desenvolvem seus próprios padrões e ciclos de sono, mas pode demorar vários meses até que o
recémnascido durma durante a noite. Com frequência os recémnascidos “trocam o dia pela noite” e tendem a dormir mais
durante o dia e menos durante a noite.
Os pais devem colocar o recémnascido para dormir em decúbito dorsal. Para evitar sufocamento, roupas de cama macias,
colchas, pele de carneiro, bichos de pelúcia e almofadas devem ser removidos do berço. Os pais devem ser informados de que a
prática de “dormir junto” (partilhar uma cama) não é segura. Por exemplo, as crianças que dormem em camas de adultos têm
uma propensão até 40 vezes maior a sufocamento do que aquelas que dormem em berços (AAP, 2015g). O sufocamento pode
ocorrer quando a criança se envolve nos lençóis ou fica presa sob travesseiros, ou desliza entre a cama e a parede ou entre a
cabeceira da cama e o colchão. O pai pode acidentalmente comprimir ou rolar por cima do recémnascido. O lugar mais seguro
para um recémnascido dormir é no berço, sem quaisquer objetos móveis por perto. Os benefícios versus riscos do sono
compartilhado, do compartilhamento de cama ou de dormir junto incluem:
• Benefícios: promove práticas de aleitamento materno; aumenta o tempo de vínculo entre o recémnascido e a mãe; promove o
contato pele com pele; e aumenta a vigilância materna do recémnascido
• Riscos: aumenta o risco de síndrome da morte súbita do lactente até os 4 meses de vida; risco de morte se o pai/mãe rolar
sobre a criança; interrompe os padrões de sono infantis; risco de asfixia por causa de aprisionamento ou obstrução das vias
respiratórias; e risco de segurança, pois as camas de adultos não são projetadas para crianças (Gaydos et al., 2014).
Oriente os pais a evitar outras situações de insegurança, como colocar o recémnascido em decúbito ventral, usar um berço
que não atenda às diretrizes de segurança federais, deixar puxadores de cortina pendurados nas proximidades do berço, colocar
cobertores e travesseiros no berço (podem sufocar a criança), expor a criança à fumaça do cigarro, a álcool e drogas ilícitas ou
programar uma temperatura ambiente muito alta (pode causar sobreaquecimento) (CDC, 2015d). As recomendações para
práticas infantis seguras ao dormir são um aspecto importante das orientações aos novos pais. É importante que o enfermeiro
avalie as crenças culturais da família e suas práticas anteriores para saber como fazer recomendações de modo culturalmente
sensível.
A Safe to Sleep Campaign (NICHD, 2014) recomenda o seguinte para reduzir o risco de síndrome de morte súbita infantil:
• Sempre colocar o recémnascido/lactente em decúbito dorsal nos períodos de sono, inclusive para períodos curtos (sonecas)
• Compartilhar o espaço – o berço do recémnascido/lactente deve ficar no quarto da mãe
• Usar um colchão de consistência firme, sem objetos macios, brinquedos, cobertores e protetores de berço acolchoados.
Melhora no vínculo
Incentive e promova a interação dos pais com o recémnascido, envolvendo ambos os pais com o recémnascido e demonstrando
comportamentos parentais apropriados:
• Dizer “olá” e apresentarse ao recémnascido
• Pedir permissão aos pais para atender e segurar o recémnascido. Isso os ajuda a perceber que são os responsáveis por seu
filho e lembra os enfermeiros de seu papel
• Mostrar aos pais como uma voz baixa e tranquila consegue acalmar o recémnascido (Figura 18.21)
FIGURA 18.21 O pai fala baixo para acalmar o recémnascido.
• Prestar cuidados ao recémnascido do modo menos estressante possível
• Demonstrar maneiras de acordar delicadamente o recémnascido para melhor alimentação
• Dizer aos pais o que está fazendo, por que o está fazendo e como eles podem reproduzir em casa o que você está fazendo
• Oferecer aos pais a oportunidade de prestar os cuidados enquanto você os observa. Apoiar os esforços deles para acalmar o
recémnascido ao longo do processo de cuidado
• Ajudar os pais a interpretar as dicas de comunicação dadas pelo recémnascido
• Apontar os esforços que o recémnascido está fazendo para se comunicar com seus pais (p. ex., ficar alerta a uma voz
familiar, seguir os pais enquanto eles estão falando, acalmarse quando segurados no colo).
Um dos aspectos mais agradáveis do cuidado do recémnascido é estar perto dele. O vínculo começa logo após o nascimento,
quando os pais embalam seu recémnascido e delicadamente acariciamno com os dedos. Forneça aos pais oportunidades de
contato “pele com pele” com o recémnascido, segurandoo contra a pele enquanto o alimentam ou embalam. Muitos recém
nascidos respondem muito positivamente a uma massagem suave. Se necessário, recomende livros e vídeos que abordem o
assunto.
Para os recémnascidos, o choro é o único modo de comunicar que algo está errado. Tente descobrir o motivo: A fralda está
molhada? O quarto está muito quente ou muito frio? O recémnascido está desconfortável (p. ex., com assaduras ou roupas
apertadas)? Sugira as atitudes a seguir que os pais podem usar para acalmar um recémnascido aborrecido:
• Tentar alimentar ou estimular eructações para liberar ar ou gás do estômago
• Esfregar levemente as costas do recémnascido e falar baixinho com ele
• Balançálo delicadamente de um lado para outro, ou balançálo para a frente e para trás em uma cadeira de balanço
• Falar com o recémnascido estabelecendo contato visual
• Levar o recémnascido para um passeio no carrinho para pegar ar fresco
• Mudar a posição do recémnascido do decúbito dorsal para o decúbito lateral, ou viceversa
• Tentar cantar, recitar poesia e rimas, ou ler para o recémnascido
• Ligar um móbile musical acima da cabeça do recémnascido
• Proporcionar mais contato físico caminhando, balançando ou acariciando o recémnascido
• Enrolar o recémnascido em uma manta para proporcionar a sensação de segurança e conforto. Para fazer isso:
• Abrir uma manta, com um canto discretamente dobrado
• Colocar o recémnascido em decúbito dorsal com a cabeça sobre o canto dobrado
• Passar o canto esquerdo da manta sobre o corpo do recémnascido e colocar esse canto sob ele
• Trazer o canto inferior sobre os pés do recémnascido
• Envolver o canto direito em torno do recémnascido, deixando apenas a cabeça exposta
• Os braços podem ser retirados da manta para possibilitar o autoconforto.
Ajuda nos testes de rastreamento
O rastreamento neonatal é um dos programas de saúde pública mais bemsucedidos do século XXI. Nos EUA, aproximadamente
4 milhões de recémnascidos são rastreados a cada ano (Adamkin, 2015). O rastreamento do recémnascido à procura de doenças
é importante, porque algumas doenças metabólicas potencialmente fatais podem não ter sido detectadas por ocasião do
nascimento. Nos EUA, os testes de rastreamento neonatal exigidos na maioria dos estados antes da alta são realizados para
investigar determinados erros genéticos e inatos do metabolismo e problemas de audição. A identificação precoce e o início do
tratamento podem evitar complicações significativas e podem minimizar os efeitos negativos da doença não tratada.
RASTREAMENTO DE ERROS GENÉTICOS E INATOS DO METABOLISMO
Nos EUA, embora cada estado informe quais condições devem ser testadas, os testes de rastreamento mais comuns são para
fenilcetonúria, hipotireoidismo, galactosemia e anemia falciforme (Tabela 18.5).
A tendência de alta precoce dos recémnascidos pode afetar a cronologia do rastreamento e a acurácia dos resultados de
alguns testes. Por exemplo, o recémnascido precisa ingerir leite ou fórmula suficiente para elevar os níveis de fenilalanina para
o teste de rastreamento identificar com acurácia a fenilcetonúria, de modo que o rastreamento do recémnascido à procura de
fenilcetonúria não deve ser realizado antes de 24 horas de idade.
Os testes de rastreamento para erros genéticos e inatos do metabolismo exigem a coleta de algumas gotas de sangue do
calcanhar do recémnascido (Figura 18.22). Nos EUA esse teste geralmente é realizado pouco antes da alta. Os recémnascidos
que recebem alta antes de 24 horas de idade precisam ter seus testes repetidos dentro de 1 semana na unidade básica de saúde.
É fundamental orientar os pais em relação aos testes e à importância da instituição precoce do tratamento. Informese
também sobre qual o momento ideal para o rastreamento e quais condições poderiam afetar os resultados. Certifiquese de que
uma amostra satisfatória tenha sido obtida no momento correto e que as circunstâncias que podem causar resultados falsos
tenham sido minimizadas. Envie as amostras e os formulários preenchidos no prazo de 24 horas após a coleta ao laboratório
adequado (NagtalonRamos, 2014).
Tabela 18.5 Condições específicas rastreadas no recémnascido.
Adaptada de Bhattacharya, K., Wotton, T., & Wiley, V. (2014). The evolution of bloodspot newborn
screening. Translational Pediatrics, 3(2), 63–70; Boyle, C. A., Bocchini, J. A., & Kelly, J. (2014). Reflections on
50 years of newborn screening. Pediatrics, 133(6), 961–963; e Greene, C. L., & Matern, D. (2014). Newborn
screening for inborn errors of metabolism. In Physician’s guide to the diagnosis, treatment, and followup of
inherited metabolic diseases (pp. 719–735). Berlin, Germany: Springer.
RASTREAMENTO AUDITIVO
A perda auditiva é a doença mais comum ao nascimento nos EUA: cerca de 3 a 5 recémnascidos em cada 1.000 nascidos vivos
têm algum grau de perda auditiva. Ao contrário de uma deformidade física, a perda auditiva não é clinicamente detectável ao
nascimento e, portanto, continua sendo difícil de avaliar (CDC, 2015b). Os fatores associados a risco aumentado de perda
auditiva incluem:
• História familiar de perda auditiva sensorial hereditária na infância
• Infecções congênitas por citomegalovírus, rubéola, toxoplasmose ou herpes
• Anomalias craniofaciais envolvendo o pavilhão auricular ou o meato acústico
• Baixo peso ao nascer (menos de 1.500 g)
• Infecções pósnatais, como meningite bacteriana
• Traumatismo cranioencefálico (TCE)
• Hiperbilirrubinemia que demanda exsanguinotransfusão
• Exposição a fármacos ototóxicos, principalmente os aminoglicosídios
• Asfixia perinatal (Nikolopoulos, 2015).
FIGURA 18.22 Rastreamento de fenilcetonúria (teste do pezinho). A. Realização da punção no calcanhar. B. Aplicação da
amostra de sangue no cartão para rastreamento.
O atraso na identificação e intervenção pode afetar o desenvolvimento da linguagem, o desempenho acadêmico e o
desenvolvimento cognitivo da criança. A detecção antes dos 3 meses melhora muito os desfechos. Nos EUA, a AAP (2015d)
recomenda a aplicação de programas de rastreamento auditivo a todos os recémnascidos, que são obrigatórios por lei em mais
de 30 estados. O rastreamento apenas de recémnascidos com fatores de risco não é suficiente, porque até 50% dos recém
nascidos com perda auditiva não têm fatores de risco conhecidos (CDC, 2015b). A identificação e a intervenção precoces
possibilitam evitar graves atrasos psicossociais, educacionais e no desenvolvimento da linguagem.
As metas atuais do Healthy People 2020 (USDHHS, 2010) são rastrear todos os recémnascidos, confirmar a perda auditiva
com um exame audiológico aos 3 meses de vida e instituir serviços de intervenção precoce abrangentes antes dos 6 meses de
vida (consulte o boxe Healthy People 2020 anteriormente neste capítulo e o Boxe 18.1 para obter mais informações sobre
métodos de rastreamento). Todos os recémnascidos devem ser rastreados antes da alta para não deixar de detectar perda auditiva
em algum deles. Quando existir a suspeita de perda auditiva, o recémnascido deve ser encaminhado para uma avaliação de
acompanhamento. Além disso, o enfermeiro deve assegurar que o teste tenha sido realizado de modo acurado, a fim de facilitar
os serviços de diagnóstico e intervenção precoce e otimizar o potencial de desenvolvimento do recémnascido. A implementação
do rastreamento auditivo neonatal reduziu a idade média de identificação de perda auditiva e muitas crianças surdas são
diagnosticadas atualmente nos primeiros meses de vida.
BOXE 18.1
MÉTODOS DE RASTREAMENTO NEONATAL DA AUDIÇÃO
Nos EUA, o rastreamento auditivo neonatal é o padrão de cuidado em todos os hospitais. O propósito primário do
rastreamento auditivo neonatal é identificar os recémnascidos que provavelmente apresentarão perda auditiva e
precisam de investigação adicional. A audição do recémnascido pode ser avaliada de duas maneiras: teste de
emissão otoacústica (EOA, ou teste da orelhinha) ou teste de potencial evocado auditivo de tronco encefálico
(PEATE).
No teste de EOA, colocase um fone de ouvido no meato acústico do recémnascido e medemse os sons
produzidos pela orelha interna do recémnascido em resposta a certos tons ou cliques emitidos pelo fone de
ouvido. Os parâmetros predefinidos desse equipamento decidem se as EOA são suficientes para o recém
nascido passar no teste ou se é necessário um encaminhamento para uma avaliação mais aprofundada.
No PEATE, colocase um fone de ouvido no meato acústico ou um protetor auricular sobre a orelha do recém
nascido; apresentase então um ruído de batida rápido e suave. Eletrodos colocados ao redor da cabeça, no
pescoço e nos ombros do recémnascido registram a atividade neural do tronco encefálico do recémnascido em
resposta aos sons de batida. O PEATE testa o quão bem a orelha e os nervos que conduzem ao encéfalo estão
funcionando. Como no teste de EOA, o rastreamento automatizado por PEATE é sensível a graus mais do que
leves de perda auditiva, mas “ser aprovado” nesse teste não garante que a audição seja normal.
Adaptado de Mersch, J., Kibby, J. E., & Bredenkamp, J. K. (2014). Newborn infant hearing
screening. MedicineNet.com, Retirado
de http://www.medicinenet.com/newborn_infant_hearing_screening/article.htm; American SpeechLanguage
Hearing Association [ASHA]. (2014). Newborn infant hearing screening. Retirado
de http://www.asha.org/PracticePortal/ProfessionalIssues/NewbornInfantHearingScreening/; e American
Academy of Pediatrics [AAP]. (2015d). Purpose of newborn hearing screening. Retirado
de http://www.healthychildren.org/English/agesstages/baby/Pages/PurposeofNewbornHearing
Screening.aspx
Preocupações comuns
Durante o período de transição neonatal, podemse desenvolver algumas condições que exigem intervenção. Essas condições,
embora normalmente não sejam fatais, podem ser uma fonte de ansiedade para os pais. As preocupações comuns incluem a
taquipneia transitória do recémnascido, a icterícia fisiológica e a hipoglicemia.
TAQUIPNEIA TRANSITÓRIA DO RECÉMNASCIDO
A taquipneia transitória do recémnascido aparece logo após o nascimento. Ocorre quando o líquido dos pulmões é removido de
modo lento ou incompleto. Isso pode ocorrer pela ausência de compressão torácica em virtude do nascimento por cesariana ou
pelo esforço respiratório diminuído se a mãe tiver recebido fármacos depressores do sistema nervoso central. O trabalho de
parto prolongado, a macrossomia fetal e a asma materna também têm sido associados a essa condição. Um parto vaginal parece
ser protetor contra a taquipneia transitória do recémnascido (Cunningham et al., 2014).
A taquipneia transitória é acompanhada por retrações intercostais e grunhidos expiratórios ou cianose, sendo aliviada por
terapia com baixas doses de oxigênio. Um desconforto respiratório leve ou moderado ocorre tipicamente por ocasião do
nascimento ou em 6 horas após o parto. A taquipneia transitória do recémnascido geralmente é uma doença autolimitada, sem
morbidade significativa. A condição se resolve em um período de 24 a 72 horas.
As intervenções de enfermagem incluem a prestação de cuidados de suporte: administrar oxigênio, garantir o aquecimento,
observar a condição respiratória com frequência e dar tempo para os capilares pulmonares e os vasos linfáticos removerem o
líquido remanescente. A evolução clínica é relativamente benigna, mas qualquer problema respiratório no recémnascido pode
ser muito assustador para os pais. Forneça uma explicação completa e tranquilizeos de que a condição irá se resolver com o
tempo.
ICTERÍCIA FISIOLÓGICA
A icterícia fisiológica é muito comum em recémnascidos, com a maioria apresentando pele, mucosas e esclera amareladas nos
primeiros 3 dias de vida. A cada ano aproximadamente 65% dos recémnascidos nos EUA apresentam icterícia clínica (King et
al., 2015). A icterícia é a manifestação visível da hiperbilirrubinemia. Tipicamente resulta da deposição do pigmento de
bilirrubina não conjugada na pele e nas mucosas.
A icterícia fisiológica pode ser mais bem entendida como um desequilíbrio entre a produção e a eliminação de bilirrubina,
com inúmeros fatores e condições afetando cada um desses processos. Quando ocorre um desequilíbrio por causa de aumento da
bilirrubina circulante (ou sobrecarga de bilirrubina) a níveis significativamente elevados, isso pode causar sequelas neurológicas
agudas (encefalopatia bilirrubínica aguda). Na maioria dos recémnascidos, um aumento na produção de bilirrubina (p. ex., por
causa de hemólise) é a principal causa da icterícia fisiológica; assim, reduzir a produção de bilirrubina é uma abordagem
justificada para o seu tratamento.
Os fatores que contribuem para o desenvolvimento da icterícia fisiológica no recémnascido incluem aumento da carga de
bilirrubina decorrente da policitemia relativa, encurtamento no tempo de vida das hemácias (80 dias, em comparação com 120
dias nos adultos) e processos imaturos de absorção e conjugação hepáticas (Chu, 2014). Normalmente, o fígado remove a
bilirrubina do sangue e transformao em uma substância que pode ser excretada. Conforme a degradação das hemácias continua
em ritmo acelerado, o fígado do recémnascido não consegue acompanhar a eliminação da bilirrubina. Assim, a bilirrubina se
acumula no sangue, causando coloração amarelada na pele.
Diretrizes da AAP para a prevenção e o tratamento da hiperbilirrubinemia em recémnascidos. A AAP recentemente
lançou diretrizes para a prevenção e o tratamento da hiperbilirrubinemia em recémnascidos:
• Promover e apoiar práticas de aleitamento materno bemsucedidas para garantir que o recémnascido esteja bem hidratado e
defecando frequentemente para promover a eliminação da bilirrubina
• Aconselhar as mães a amamentar seus recémnascidos pelo menos 8 a 12 vezes/dia, durante os primeiros dias
• Evitar a suplementação de rotina com água ou dextrose com água a recémnascidos amamentados e não desidratados, porque
isso não reduzirá os níveis de bilirrubina
• Certificarse de que todos os recémnascidos sejam rotineiramente monitorados para o desenvolvimento de icterícia e que os
berçários tenham estabelecido protocolos para a avaliação da icterícia. A icterícia deve ser pesquisada sempre que os sinais
vitais do recémnascido forem verificados, mas não em frequência inferior do que a cada 8 a 12 horas
• Antes da alta, realizar uma avaliação sistemática para o risco de hiperbilirrubinemia grave
• Fornecer acompanhamento precoce e focado, com base na avaliação de risco
• Quando indicado, tratar os recémnascidos com fototerapia ou exsanguinotransfusão para evitar a encefalopatia bilirrubínica
aguda (AAP, 2015h).
Em recémnascidos, a icterícia pode ser detectada pelo branqueamento da pele à compressão digital da ponte do nariz, do
esterno ou da testa, revelando a cor subjacente da pele e do tecido subcutâneo. Se houver icterícia, a área esbranquiçada parecerá
amarela antes do reenchimento capilar. A avaliação da icterícia deve ser realizada em uma sala bem iluminada ou, de preferência,
à luz do dia em uma janela. A icterícia geralmente é vista pela primeira vez no rosto e progride caudalmente ao tronco e
membros (AAP, 2015h).
As medidas que os pais podem tomar para reduzir o risco de icterícia incluem expor o recémnascido à luz natural do sol por
curtos períodos de tempo ao longo do dia a fim de ajudar a oxidar os depósitos de bilirrubina na pele, proporcionar aleitamento
materno sob demanda espontânea para promover a eliminação da bilirrubina por meio da urina e das fezes e evitar a
suplementação de água com glicose, o que dificulta a eliminação.
Se ou quando os níveis séricos de bilirrubina não conjugada aumentarem e não retornarem aos níveis normais com o
aumento da hidratação, utilizase a fototerapia. O nível sérico de bilirrubina em que a fototerapia é introduzida depende do
julgamento clínico do médico, mas muitas vezes é iniciada quando os níveis de bilirrubina chegam a 12 a 15 mg/d ℓ nas
primeiras 48 horas de vida do recémnascido a termo (Davidson, 2014). A fototerapia consiste em expor o recémnascido à luz
ultravioleta, que converte a bilirrubina não conjugada em produtos que podem ser excretados pelas fezes e urina. A fototerapia é
a opção mais comum para a hiperbilirrubinemia, tendo praticamente eliminado a necessidade de exsanguinotransfusões em
recémnascidos na atualidade.
Anote!
A exposição de recémnascidos à luz solar representa o primeiro uso de fototerapia documentado na literatura médica. Em 1956,
a irmã J. Ward, uma enfermeira em Essex, Inglaterra, detectou que, quando os recémnascidos com icterícia eram expostos ao
sol, eles ficavam menos amarelos. Essa observação mudou todo o tratamento da icterícia em recémnascidos (Maisels, 2015).
A fototerapia reduz os níveis de bilirrubina no sangue, ao degradar a bilirrubina não conjugada em compostos incolores.
Esses compostos podem então ser excretados na bile. A fototerapia visa limitar o aumento dos níveis sanguíneos de bilirrubina,
impedindo assim o kernicterus (encefalopatia bilirrubínica), uma condição em que a bilirrubina penetra no encéfalo. Se não for
tratado, o kernicterus pode levar a danos encefálicos e morte.
Durante as últimas décadas, a fototerapia geralmente tem sido administrada tanto com placas de luzes fluorescentes quanto
com holofotes. Os fatores que determinam a dose da fototerapia incluem o espectro da luz emitida, a irradiância da fonte de luz,
o design da unidade de luz, a área de superfície do recémnascido exposta à luz e a distância do recémnascido da fonte de luz
(McDermott, 2015). Para que a fototerapia seja efetiva, os raios precisam penetrar o máximo possível na pele. Assim, o recém
nascido precisa ficar desnudo e virado com frequência para garantir a máxima exposição da pele. Vários efeitos colaterais da
fototerapia convencional foram identificados: eliminação frequente de fezes pastosas, aumento da perda insensível de água,
erupção cutânea transitória e potencial lesão da retina se os olhos do recémnascido não forem devidamente cobertos.
Recentemente, foram desenvolvidas almofadas de fibra óptica (BiliBlanket® ou Bilivest®) que podem ser enroladas em torno
do recémnascido ou sobre as quais o recémnascido é colocado. A luz é emitida por uma lâmpada de tungstêniohalogênio com
cabo de fibra óptica a partir das laterais e extremidades das fibras dentro de uma almofada plástica (Plavskii, Tret’yakova, &
Mostovnikova, 2014). Esses produtos atuam na premissa de que a fototerapia pode ser melhorada fornecendose maior
intensidade de luz terapêutica para diminuir os níveis de bilirrubina. As almofadas não produzem calor apreciável, como o fazem
as placas de luzes ou refletores, de modo que a perda de água insensível não é aumentada. Além disso, não são necessários
tampões oculares; portanto, os pais podem alimentar e segurar seus recémnascidos continuamente para promover o vínculo.
Ao atender recémnascidos em fototerapia para icterícia, os enfermeiros devem fazer o seguinte:
• Monitorar atentamente a temperatura corporal e o equilíbrio hidreletrolítico
• Registrar a frequência, as características e a consistência das fezes
• Monitorar o estado de hidratação (peso corporal, densidade urinária e produção de urina)
• Virar o recémnascido com frequência para aumentar a exposição da sua pele à fototerapia
• Observar a integridade da pele (pode haver perda da integridade por causa da exposição às fezes diarreicas e às luzes da
fototerapia)
• Fornecer proteção ocular para evitar lesões da córnea relacionadas com a exposição à fototerapia
• Incentivar os pais a participar do cuidado de seus recémnascidos para evitar a perda do vínculo.
Consulte o Capítulo 24 para obter uma discussão mais detalhada da hiperbilirrubinemia.
O enfermeiro domiciliar fez uma visita pósparto a Kelly para avaliar a situação. A criança estava discretamente
ictérica quando o enfermeiro domiciliar pressionou delicadamente o seu esterno, mas Kelly disse que estava
amamentando melhor em comparação aos últimos 2 dias. Que sugestões o enfermeiro pode fazer a Kelly para
reduzir a icterícia no próprio domicílio? Que informações específicas sobre a icterícia fisiológica são necessárias?
HIPOGLICEMIA
Durante as primeiras 24 a 48 horas de vida, enquanto os recémnascidos fazem a transição da vida intrauterina para a vida
extrauterina, seus níveis plasmáticos de glicose são tipicamente mais baixos do que serão mais tarde. A hipoglicemia afeta até
40% de todos os recémnascidos a termo. É definida como um nível sanguíneo de glicose inferior a 30 mg/d ℓ ou uma
concentração plasmática inferior a 40 mg/d ℓ nas primeiras 72 horas de vida (Thornton et al., 2015). Do ponto de vista
fisiológico, um recémnascido pode ser considerado com hipoglicemia quando o aporte de glicose não for adequado para atender
às suas demandas. Em recémnascidos, os níveis sanguíneos de glicose caem ao ponto mais baixo durante as primeiras horas de
vida, porque a fonte de glicose materna é removida quando a placenta é expelida. Habitualmente, esse período de transição é
suave, mas alguns recémnascidos correm maior risco de hipoglicemia: filhos de mulheres diabéticas, recémnascidos prétermo
e recémnascidos com restrição do crescimento intrauterino (RCIU), aporte calórico inadequado, sepse, asfixia, hipotermia,
policitemia, doenças de depósito de glicogênio e deficiências endócrinas (Adamkin, 2015).
A maioria dos recémnascidos apresenta hipoglicemia transitória e é assintomática. Os sinais e sintomas, quando presentes,
são inespecíficos e incluem tremores, letargia, cianose, apneia, convulsões, choro agudo ou fraco, hipotermia e má alimentação.
Se a hipoglicemia for prolongada ou não for tratada, podem ocorrer graves sequelas neurológicas a longo prazo, como
dificuldades de aprendizagem e déficit intelectual (Stanley et al., 2015).
O tratamento da hipoglicemia no recémnascido inclui a administração de uma fonte de glicose de ação rápida, como uma
mistura de açúcar/água ou uma fórmula de alimentação para crianças. Em casos agudos graves, pode ser necessária a
administração intravenosa de glicose. O monitoramento contínuo dos níveis de glicose não é apenas prudente, mas obrigatório
em recémnascidos de alto risco. Embora não haja meios específicos de evitar a hipoglicemia em recémnascidos, é prudente e
cauteloso monitorar os sinais e sintomas e intervir logo que eles sejam observados. Posteriormente, o diagnóstico precoce e a
intervenção adequada são essenciais a todos os recémnascidos.
Os cuidados de enfermagem ao recémnascido hipoglicêmico incluem o monitoramento dos sinais de hipoglicemia ou a
identificação dos recémnascidos com alto risco para essa condição com base em sua história perinatal, seu exame físico, suas
medidas corporais e sua idade gestacional. O rastreamento da glicemia deve ser realizado somente em recémnascidos em risco e
naqueles com manifestações clínicas compatíveis com hipoglicemia (National Guideline Clearinghouse, 2015).
Previna a hipoglicemia em recémnascidos em situação de risco iniciando a alimentação precoce com leite materno ou
fórmula. Se a hipoglicemia persistir apesar da alimentação, notifique o médico responsável solicitando prescrições para, por
exemplo, terapia intravenosa com soluções glicosadas. Antecipe a ocorrência de hipoglicemia em recémnascidos de alto risco e
comece a avaliação logo após a admissão ao berçário.
Promoção da nutrição
Várias alterações fisiológicas ditam o tipo e o método de alimentação durante todo o primeiro ano de vida do recémnascido.
Algumas dessas alterações são:
• No nascimento, a capacidade do estômago é limitada.
O tempo de esvaziamento é curto (2 a 3 horas) e o peristaltismo é rápido. Portanto, são necessárias refeições pequenas e
frequentes no início, com aumento progressivo do volume ingerido de acordo com a maturidade
• O sistema imunológico é imaturo ao nascimento, de modo que o recémnascido corre alto risco de alergias alimentares
durante os primeiros 4 a 6 meses de vida. A introdução de alimentos sólidos na dieta do lactente antes desse período
aumenta o risco de desenvolver alergias alimentares
• As enzimas pancreáticas e a bile que ajudam na digestão de gorduras e amido existem em concentrações limitadas até cerca
de 3 a 6 meses de vida. Os lactentes não conseguem digerir cereais antes desse período
• Os rins são imaturos e incapazes de concentrar a urina até cerca de 4 a 6 semanas de vida. A ingestão excessiva de proteínas
e minerais pode sobrecarregar a função renal e resultar em desidratação. Os recémnascidos precisam consumir mais água
por unidade de peso corporal do que os adultos o fazem, em decorrência de seu alto teor corporal de água
• O controle muscular imaturo ao nascimento muda ao longo do tempo para ajudar no processo de alimentação, melhorando o
controle do pescoço e da cabeça, a coordenação olhomão, a deglutição e a capacidade de sentar, segurar com a mão e
mastigar. Até aproximadamente os 4 a 6 meses de vida, os reflexos primitivos desaparecem, o controle de cabeça se
desenvolve e o lactente consegue sentar para ser alimentado, tornando possível (Dudek, 2014) que ele receba alimentos na
colher.
NECESSIDADES NUTRICIONAIS DO RECÉMNASCIDO
Conforme o recémnascido cresce, suas exigências energéticas e nutricionais mudam para atender às necessidades do seu corpo.
Durante o primeiro ano de vida, as demandas de energia, proteínas, vitaminas e minerais por quilo de peso corporal são mais
elevadas do que em qualquer outro momento da vida. Esses níveis elevados são necessários para promover o rápido crescimento
e desenvolvimento durante essa fase da vida. Em geral, o peso ao nascimento de uma criança dobra nos primeiros 4 a 6 meses
de vida e triplica no primeiro ano de vida (Walker, 2014).
As necessidades calóricas do recémnascido variam de 110 a 120 cal/kg de peso corporal. O leite materno e as fórmulas
contêm aproximadamente 0,7 cal/mℓ, de modo que as necessidades calóricas nos primeiros meses de vida podem ser atendidas
se forem fornecidas várias refeições ao longo do dia. A maioria dos recémnascidos a termo precisa de uma fórmula básica se a
mãe optar por não amamentar. Essas fórmulas são elaboradas de modo a parecer com o leite materno, que contém 20 calorias
por 30 mℓ. Não há evidências para recomendar uma marca comercial em detrimento de outra, já que todas são nutricionalmente
intercambiáveis. Todas as fórmulas são classificadas com base em três parâmetros: densidade calórica, fonte de carboidrato e
composição proteica (Tabela 18.6).
As demandas diárias de líquido para o recémnascido e para o lactente variam de 100 a 150 mℓ/kg de peso corporal. Essas
demandas podem ser atendidas pelo aleitamento materno ou alimentação com mamadeira. Não é necessário suplementação
adicional de água. Um aporte adequado de carboidratos, gorduras, proteínas e vitaminas é obtido por meio do consumo de leite
materno ou fórmula. A AAP (2015i) recomenda que os recémnascidos alimentados com mamadeira recebam suplementação
com ferro, pois os níveis de ferro são baixos em todos os tipos de fórmula. Isso pode ser feito administrandose fórmula
enriquecida com ferro desde o nascimento. Nos primeiros 6 meses, o lactente amamentado extrai suas reservas de ferro do leite
materno; depois dos 6 meses, precisa de alimentos ricos em ferro ou da adição de suplementação. A AAP (2015i) também
recomendou que todas as crianças (amamentadas e alimentadas com mamadeira) recebam um suplemento diário de 400 UI de
vitamina D, começando nos primeiros dias de vida, para evitar o raquitismo e a deficiência de vitamina D. Recomendase
também que seja administrada suplementação de flúo r para os lactentes que não recebem água fluoretada após os 6 meses de
vida (AAP, 2015i). Recentemente, a AAP recomendou que todas as gestantes e lactantes consumam sal iodado e ingiram um
suplemento de iodo diariamente (150 µg). A deficiência de iodo pode comprometer o desenvolvimento neurocognitivo fetal e
durante a primeira infância (AAP, 2015j).
Tabela 18.6 Comparação da composição do leite materno com a de fórmulas
específicas.
24 Lactose Leite de vaca
Fórmula para Habitualmente
recém fornecida para
nascidos pré recémnascidos
termo prétermo com <
34 semanas de
idade
gestacional
Adaptada de Lönnerdal, B. (2014). Infant formula and infant nutrition: bioactive proteins of human
milk and implications for composition of infant formulas. The American Journal of Clinical
Nutrition, 99(3), 712S717S; Kent, G. (2014). Regulating fatty acids in infant formula: critical
assessment of US policies and practices. International Breastfeeding Journal, 9(1), 2–10; e
Abrams, S. A., & Schanler, R. J. (2014). Data do not support claims that “supplement formulas”
are better than standard formulas for breastfed infants. AAP News, 35(6), 26–27.
APOIO À ESCOLHA DO MÉTODO DE ALIMENTAÇÃO
Os benefícios da amamentação são significativos e bem documentados. Numerosas organizações de profissionais de saúde
promovem o aleitamento materno por causa dos benefícios comprovados para a saúde da mãe e do recémnascido/lactente. Os
profissionais de enfermagem devem incentivar e defender o aleitamento materno e proporcionar suporte para a família durante
suas vivências de aleitamento materno. Tipicamente, os pais decidem sobre o método de alimentação bem antes do nascimento
dos filhos. As aulas prénatais e de preparação para o parto fornecem informações sobre o aleitamento materno e a alimentação
com mamadeira e possibilitam que os pais façam suas escolhas a respeito de qual método é melhor para eles. Vários fatores
podem influenciar essa decisão, incluindo as condições socioeconômicas, a cultura, a objetificação sexual, o medo de uma reação
negativa da comunidade, a inconveniência pessoal, as restrições alimentares, a falta de apoio social, falta de autoeficácia, alta
frequência de violência, o emprego, o nível de escolaridade, a falta de acesso a bombas de retirar leite, a falta de tempo, as
fórmulas oferecidas por programas governamentais, a gama de intervenções de cuidado prestadas durante a gravidez, o parto e o
período pósparto inicial e, especialmente, o apoio do parceiro (Dunn et al., 2015). Os enfermeiros podem fornecer informações
baseadas em evidências para ajudar o casal a tomar sua decisão. Independentemente do método escolhido, o enfermeiro precisa
respeitar e apoiar a decisão do casal.
ALIMENTAÇÃO DO RECÉMNASCIDO
O recémnascido pode ser alimentado a qualquer momento durante o período de transição se as avaliações forem normais e se
for demonstrado desejo. Antes de alimentar o recémnascido, é preciso determinar sua capacidade de sucção e deglutição. Retire
todo o muco das narinas e da boca com uma seringa de bulbo antes de iniciar a alimentação. Ausculte os ruídos intestinais,
verifique se há distensão abdominal e inspecione se há perviedade anal. Se esses parâmetros estiverem dentro dos limites
normais, a alimentação do recémnascido pode ser iniciada. Em sua maioria, os recémnascidos são alimentados de acordo com
a demanda espontânea e estão liberados para se alimentar quando despertos. Quando vão para casa, as mães são incentivadas a
alimentálos a intervalos de 2 a 4 horas durante o dia e só quando acordam durante a noite nos primeiros dias após o nascimento.
Os pais costumam ter muitas dúvidas sobre alimentação. Em geral, os recémnascidos devem ser alimentados segundo
demanda espontânea, ou seja, sempre que parecerem estar com fome. A maioria dos recémnascidos manifesta que está com
fome chorando, colocando os dedos ou a mão na boca, buscando a mama com a boca e sugando.
Os recémnascidos diferem em suas necessidades e preferências alimentares, mas a maioria daqueles que recebem leite
materno precisa ser alimentada a cada 2 a 3 horas, por 10 a 20 minutos em cada mama. A duração das mamadas depende da mãe
e do recémnascido. Encoraje a mãe a responder aos estímulos de seu recémnascido, e não a alimentálo de acordo com uma
programação padrão ou predefinida.
Os recémnascidos alimentados com fórmula geralmente se alimentam a cada 3 a 4 horas, terminando uma mamadeira em 30
minutos ou menos. O recémnascido deve ingerir diariamente 45 a 60 m ℓ de fórmula por quilo de peso corporal, mas o
crescimento é uma medida de saúde mais confiável do que o volume de fórmula consumido (Schlenker & Gilbert, 2015). Se o
recémnascido parece satisfeito, molha 6 a 10 fraldas por dia, defeca várias vezes ao dia, dorme bem e está ganhando peso
regularmente, então ele provavelmente está recebendo leite materno ou fórmula suficientes.
Os recémnascidos deglutem ar durante as mamadas, o que causa desconforto e agitação. Os pais podem evitar isso
colocandoos para eructar com frequência durante a alimentação. As dicas sobre as eructações incluem:
• Segurar o recémnascido na posição vertical com sua cabeça apoiada no ombro do pai ou da mãe (Figura 18.23A)
• Apoiar a cabeça e o pescoço enquanto o pai ou a mãe acariciam ou esfregam delicadamente as costas do recémnascido
(Figura 18.23B)
• Colocar o recémnascido sentado no colo do pai ou da mãe, com apoio no tórax e na cabeça do recémnascido. Esfregar
delicadamente as costas do recémnascido com a outra mão
• Colocar a criança no colo do pai ou da mãe, em decúbito ventral
• Apoiar a cabeça do recémnascido na dobra do braço do pai ou da mãe e tapotar ou esfregar delicadamente suas costas.
FIGURA 18.23 A enfermeira demonstra (A) como segurar o recémnascido na posição vertical apoiado no ombro e (B)
como sentar o recémnascido com o corpo verticalizado, com apoio no pescoço e no queixo.
Anote!
É a posição vertical, não a força do afago ou da tapotagem, que possibilita que o recémnascido libere o ar acumulado no
estômago.
Informe aos pais que o momento da alimentação é mais do que uma oportunidade de fornecer nutrientes a seu filho, é
também um momento de intimidade e partilha. Além de favorecer seu bemestar físico, as alimentações ainda conferem prazer
emocional ao recémnascido. Incentive os pais a manter contato visual com o recémnascido durante a alimentação, segurandoo
confortavelmente perto deles e falando baixinho para promover a proximidade e a segurança.
ALEITAMENTO MATERNO
Há um consenso na comunidade médica de que o aleitamento materno é ideal para todos os recémnascidos. A AAP e a
American Dietetic Association recomendam o aleitamento materno exclusivo durante os primeiros 6 meses de vida, continuando
o em conjunto com outros alimentos pelo menos até o primeiro ano de vida. Estimase que 75% das mulheres norteamericanas
tentam amamentar seus filhos, mas apenas 13% conseguem manter o aleitamento materno exclusivo durante 6 meses (Busch,
Logan, & Wilkinson, 2014). O Boxe 18.2 destaca as vantagens do aleitamento materno para a mãe e para o recémnascido.
Além disso, o aleitamento materno está associado a menor incidência de enterocolite necrosante e diarreia durante o período
inicial da vida e a menor incidência de doenças inflamatórias intestinais, diabetes melito do tipo 2 e obesidade mais tarde na vida
(Martin, Fanaroff, & Welsh, 2014). As mães devem continuar amamentando durante doenças leves, como resfriados ou gripes.
No entanto, nos EUA, as mães portadoras de HIV são aconselhadas a não amamentar.
A composição do leite materno muda ao longo do tempo, evoluindo de colostro para leite de transição e, finalmente, para
leite maduro. O colostro é uma substância espessa e amarelada secretada durante os primeiros dias após o nascimento. É rico em
proteínas, minerais e vitaminas lipossolúveis. É rico em imunoglobulinas A, que ajudam a proteger o sistema digestório do
recémnascido contra infecções. É um laxante natural que ajuda a eliminar rapidamente o mecônio (Gephart & Weller, 2014).
O leite de transição ocorre entre o colostro e o leite maduro e contém todos os nutrientes do colostro, mas é mais ralo e
menos amarelo. Esse leite de transição é substituído pelo leite verdadeiro ou maduro até o 10o dia após o nascimento. O leite
maduro tem aparência azulada e não é tão espesso quanto o colostro. Fornece 20 cal/30 mℓ e contém:
• Proteína: embora o teor seja menor do que o da fórmula, é o ideal para apoiar o crescimento e o desenvolvimento do recém
nascido. A maior parte da proteína consiste em soro do leite, que é fácil de digerir
• Gordura: cerca de 58% das calorias totais são de ácidos graxos, mas são fáceis de digerir. O teor de ácidos graxos essenciais
é alto, assim como o nível de colesterol, que contribui para o desenvolvimento de sistemas de enzimas capazes de controlar o
colesterol mais tarde na vida
• Carboidratos: aproximadamente 35 a 40% das calorias totais estão na forma de lactose, a qual estimula o crescimento de
bactérias de defesa natural no sistema digestório e promove a absorção de cálcio
• Água: principal nutriente do leite materno; compõe 85 a 95% de seu volume total. O volume total de leite varia de acordo
com a idade do lactente e a demanda
• Minerais: o leite materno contém cálcio, fósforo, cloreto, potássio, sódio e traços de ferro, cobre e manganês. A absorção de
ferro é de cerca de 50%, em comparação com cerca de 4% no caso de consumo das fórmulas enriquecidas com ferro
• Vitaminas: todas as vitaminas são encontradas no leite materno; a vitamina D é a que ocorre em menor concentração.
Atualmente, a AAP recomenda a suplementação de vitamina D
• Enzimas: a lipase e a amilase são encontradas no leite materno para ajudar na digestão (Dudek, 2014).
BOXE 18.2
VANTAGENS DO ALEITAMENTO MATERNO
Vantagens para o recémnascido
• Contribui para o desenvolvimento de um sistema imune forte
• Estimula o crescimento de bactérias benéficas no sistema digestório
• Reduz a incidência de desconforto gástrico, diarreia e cólicas
• Inicia o processo de imunização ao nascimento, fornecendo imunidade passiva
• Promove o vínculo maternoinfantil ideal
• Reduz o risco de constipação intestinal no recémnascido
• Promove os maiores ganhos de desenvolvimento em recémnascidos prétermo
• Fornece fórmula facilmente tolerada e de fácil digestão, estéril, em temperatura adequada e prontamente
disponível, sem corantes artificiais, aromatizantes ou conservantes
• Reduz a probabilidade de resultar em superalimentação, o que leva à obesidade
• Promove melhor dentição e melhor desenvolvimento da mandíbula, em decorrência da sucção mais vigorosa
• Oferece proteção contra alergias alimentares
• Reduz os custos dos cuidados de saúde devido à redução das doenças
• Está associado à prevenção de diabetes melito do tipo 2 e doença cardíaca
Vantagens para a mãe
• Pode facilitar a perda de peso pósparto gastando calorias extras
• Estimula as contrações uterinas para controlar o sangramento
• Reduz o risco de câncer de ovário e de endométrio
• Propicia a formação de vínculo com o recémnascido
• Reduz o risco de diabetes melito do tipo 2
• O leite materno é grátis, enquanto as fórmulas infantis são caras
• Redução do risco de depressão pósparto
• Promove a involução uterina em decorrência da liberação de ocitocina
• Diminui o risco de câncer de mama e osteoporose
• Proporciona alguma proteção contra a concepção, embora não seja um método contraceptivo confiável
Dados de Schlenker, E., & Gilbert, J. A. (2015). William’s essentials of nutrition and diet therapy (11th ed.). St.
Louis, MO: Mosby Elsevier; Christopher, G. C., & Krell, J. K. (2014). Changing the breastfeeding conversation
and our culture. Breastfeeding Medicine, 9(2), 53–55; e Walker, M. (2014). Breastfeeding management for the
clinician: Using the evidence (3rd ed.). Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning.
Assistência ao aleitamento materno. O aleitamento materno pode ser iniciado imediatamente após o nascimento. Se o recém
nascido for saudável e estiver estável, limpeo da cabeça aos pés com um pano seco e coloqueo em contato pele com pele sobre
o abdome da mãe. Em seguida, cubra o recémnascido e a mãe com uma manta aquecida para manter a temperatura. O contato
imediato do recémnascido com a mãe aproveita o estado de alerta natural do mesmo após um parto vaginal e promove a
formação do vínculo. Esse contato imediato também reduz o sangramento materno e estabiliza a temperatura, o nível sanguíneo
de glicose e a frequência respiratória do recémnascido (Khan et al., 2015).
Deixado no abdome da mãe, o recémnascido saudável tende a “subir” se empurrando com os pés, puxando com os braços e
balançando a cabeça até encontrar e pegar o mamilo da mãe. O sentido do olfato do recémnascido é muito desenvolvido, o que
também o ajuda a encontrar o mamilo. Conforme o recémnascido se move em direção ao mamilo, a mãe produz altos níveis de
ocitocina, que contrai o útero, minimizando assim o sangramento. A ocitocina também faz com que as mamas liberem colostro
quando o recémnascido suga o mamilo. O colostro é rico em anticorpos e, portanto, fornece ao recémnascido a sua “primeira
vacina” contra infecções.
As medidas fundamentais para o sucesso do aleitamento materno incluem:
• Iniciar o aleitamento materno na primeira hora de vida, se o recémnascido estiver estável
• Colocar o recémnascido no tórax/abdome da mãe imediatamente após o nascimento
• Seguir o cronograma de aleitamento materno do recémnascido (8 a 12 vezes em 24 horas)
• Fornecer períodos irrestritos de aleitamento materno
• Não oferecer suplementos sem indicação médica
• Solicitar a uma consultora de lactação que observe uma sessão de amamentação
• Evitar bicos artificiais e chupetas, exceto durante um procedimento doloroso
• Aumentar a ingestão de líquido para incentivar maior produção de leite (Prática baseada em evidências 18.1)
• Sempre oferecer as duas mamas em cada período de 24 horas
• Observar indicadores de que a ingestão do recémnascido é suficiente:
• Seis a dez fraldas molhadas por dia
• Acorda faminto 8 a 12 vezes em 24 horas
• Parece satisfeito e adormece após a alimentação
• Manter o recémnascido com a mãe durante todo o período de internação
• O enfermeiro ou consultor de lactação deve estar disponível para orientar e apoiar a lactante enquanto estiver na unidade pós
parto.
Prática baseada em evidências 18.1
O atendimento primário: um projetopiloto que aplica o modelo TriCore de aleitamento materno | Como
ir além do básico.
ESTUDO
Os achados da prática baseada em evidências indicam que os efeitos benéficos vitalícios para a saúde e para a
economia do aleitamento materno contribuem significativamente para as condições de saúde do recém
nascido/lactente, da mãe, da família e da sociedade em geral. Intervenções para promover a lactação são
necessárias na comunidade para iniciar e fomentar os esforços em relação ao aleitamento materno após a alta
hospitalar. O propósito desse estudo foi desenvolver um programa de suporte ao aleitamento materno no
atendimento primário, preenchendo a lacuna entre a alta hospitalar e o atendimento primário para aumentar as
taxas de aleitamento materno. O estudo incorporou as três intervenções centrais do modelo TriCore: (1)
aprimorar o suporte à lactação; (2) melhorar a orientação da equipe e das mães em relação à lactação; e (3)
fomentar a confiança materna na sua capacidade de amamentar.
Achados
A população do estudo (N = 50) incluiu famílias de baixa e média rendas que recentemente deram à luz uma
criança a termo saudável e desejavam o aleitamento materno no período pósparto precoce. Os desfechos foram
determinados pela avaliação das taxas de aleitamento materno, da duração do aleitamento materno e dos níveis
autorrelatados de eficácia materna nas visitas de 1 e 2 meses. Suporte continuado foi providenciado por meio de
visitas e telefonemas. Os achados indicaram ganhos significativos nas três áreas, especialmente nas taxas
globais de aleitamento materno quando comparadas com as taxas anteriores, sobretudo nas taxas de
aleitamento materno exclusivo.
Implicações para a enfermagem
Com base nos resultados desse estudo, os profissionais de enfermagem devem permanecer atuantes na
promoção das práticas bemsucedidas de aleitamento materno por meio de iniciação do aleitamento materno o
mais cedo possível após o parto, de auxílio a mãe para encontrar uma posição confortável para amamentar, de
avaliação da pegada do recémnascido/lactente da mama da mãe e da tranquilização da mãe de que o recém
nascido/lactente está sugando leite suficiente. Além disso, é crucial empregar os recursos multiprofissionais da
comunidade para encorajar e dar suporte aos esforços continuados de aleitamento materno. Os
encaminhamentos comunitários são importantes para ajudar a dar suporte à lactante “novata” e reforçar as
orientações sobre aleitamento materno após a alta hospitalar. Os profissionais de enfermagem envolvidos no
aprimoramento das taxas de aleitamento materno beneficiam pessoas de todos os grupos etários. Seu maior
impacto será a melhora dos desfechos de cuidados de saúde em curto e longo prazos para todas as famílias.
Adaptado de Busch, D., Nassar, L., & SilbertFlagg, J. (2015). The necessity of breastfeeding–promoting
breastfeeding in the primary care setting; A community pilot project applying the TriCore Breastfeeding Model:
Beyond the basics. Journal of Pregnancy & Child Health, 2(3), 2–7.
Ajude a posicionar o recémnascido para que a pega seja efetiva e não dolorosa para a mãe. Colocar travesseiros ou um
cobertor dobrado sob a cabeça da mãe pode ajudar, ou coloque a mãe deitada de lado com o recémnascido ao lado dela. Avalie a
mãe e o recémnascido durante esse contato inicial para determinar as necessidades de assistência e orientações. Uma ferramenta
utilizada com frequência nessa avaliação é o questionário LATCH (Abbas & Hasan, 2015). A ferramenta LATCH é um sistema
de gráficos de aleitamento materno que fornece um método sistemático para coletar informações de cada sessão de amamentação.
O sistema atribui uma pontuação numérica de 0, 1 ou 2 para cinco componenteschave do aleitamento materno. Cada letra do
acrônimo LATCH denota uma área de avaliação. “L” corresponde a quão bem o recémnascido “pega” (latch) a mama; “A”
corresponde à ingestão audível observada; “T” corresponde ao tipo de mamilo da mãe (nipple type); “C” corresponde ao nível de
conforto da mãe; “H” corresponde à ajuda (help) que a mãe precisa para manter seu recémnascido na mama. O sistema está
visualmente representado do mesmo modo que a pontuação de Apgar; os números são atribuídos da mesma maneira. Com o
sistema LATCH, o enfermeiro pode avaliar variáveis maternas e infantis, definir as áreas que necessitam de intervenção e
determinar as prioridades na prestação de atendimento e orientações à paciente (Tabela 18.7). Quanto maior a pontuação, menos
intervenção de enfermagem é necessária para a mãe e o recémnascido.
Posicionamento para o aleitamento materno. A mãe e o recémnascido precisam estar em posições confortáveis para garantir
o sucesso do aleitamento materno. As quatro posições mais comuns para o aleitamento materno são a posição de jogador de
futebol americano, a posição de embalar, cruzando o colo e de lado. Cada mãe, com base na experimentação, pode decidir qual
posição é mais confortável para ela (Figura 18.24).
• Na posição de jogador de futebol americano, a mãe segura as costas e os ombros do recémnascido com a palma da mão e o
coloca debaixo do braço. Relembre a mãe de manter a orelha, o ombro e o quadril do recémnascido em uma linha reta. A
mãe apoia a mama com a mão e levaa aos lábios do recémnascido para a pega. Ela continua apoiando a mama até que o
recémnascido comece a mamar. Essa posição possibilita que a mãe veja a boca do recémnascido conforme ela o guia até o
mamilo. Essa é uma boa opção para mães que foram submetidas a cesariana porque evita compressão da incisão cirúrgica
• A posição de embalar é a mais comumente usada. A mãe segura o recémnascido na dobra do seu braço, com o recém
nascido de frente para ela. A mãe apoia a mama com a mão oposta
• Na posição cruzando o colo, a mãe coloca um travesseiro no colo, com o recémnascido de frente para ela. A mãe apoia as
costas e ombros do recémnascido com a palma da mão e apoia a mama por baixo. Depois que o recémnascido está
posicionado, é puxado para a frente para a pega
• Na posição deitada de lado, a mãe fica em decúbito lateral com um travesseiro apoiando suas costas e outro apoiando o
recémnascido na frente. Para começar, a mãe impulsionase para cima sobre um cotovelo e apoia o recémnascido com o
braço, segurando a mama com a mão oposta. Quando o aleitamento materno tiver sido iniciado, a mãe se deita em uma
posição confortável.
Tabela 18.7 Ferramenta de pontuação LATCH.
Macio, indolor
C: conforto do Ingurgitado, Cheio;
mamilo com avermelhado,
fissuras com pequenas
sangrando; bolhas ou
desconforto equimoses;
intenso desconforto
leve a
moderado
Adaptada de Walker, M. (2014). Breastfeeding management for the clinician:
Using the evidence (3rd ed.). Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning; Altuntas,
N., Turkyilmaz, C., Yildiz, H., Kulali, F., Hirfanoglu, I., Onal, E. et al. (2014). Validity
e reliability of the infant breastfeeding assessment tool, the mother baby
assessment tool, and the LATCH scoring system. Breastfeeding Medicine, 9(4),
191–195; and Lauwers & Swisher (2016). Cultivating better outcomes for mothers
and newborns through integrated best practice models. In Association of women’s
health, obstetric and neonatal nurses (June 14–18, 2014). AWHONN.
Para promover a pega, instrua a mãe a fazer um C ou V com os dedos. Na pega em C, a mãe coloca o polegar bem acima da
aréola e os outros quatro dedos abaixo da aréola e por debaixo da mama. Na pega em V, a mãe coloca o dedo indicador acima da
aréola e seus outros três dedos abaixo da aréola e sob a mama. Qualquer método pode ser usado, desde que a mão da mãe esteja
bem longe do mamilo para que o recémnascido possa abocanhar a mama.
Orientações para o aleitamento materno. O aleitamento materno não é uma habilidade inata em mães humanas. Quase todas
as mulheres têm o potencial de amamentar com sucesso, mas muitas não conseguem por causa do conhecimento inadequado. O
boxe Plano de cuidados de enfermagem 18.1 fornece diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem típicos. Para muitas
mães e recémnascidos, o aleitamento materno transcorre bem desde o início, mas às vezes é difícil. O enfermeiro pode ajudar
ao longo da experiência sendo imparcial, demonstrando técnicas e oferecendo encorajamento e incentivos para o sucesso. O
posicionamento correto possibilitará uma boa conexão e garantirá a transferência de leite efetiva. Os enfermeiros devem enfatizar
que o sucesso do aleitamento materno depende dos corretos posicionamento e pega do recémnascido.
As orientações prestadas por enfermeiros comprovadamente exercem um efeito significativo sobre a capacidade de
amamentar com sucesso e a duração da lactação (Dudek, 2014). Durante as primeiras sessões de amamentação, as mães querem
saber com que frequência devem amamentar, se o aleitamento materno está indo bem, se o recémnascido está recebendo
alimento suficiente e quais problemas podem surgir e como lidar com eles. As orientações para a lactante são destacadas no boxe
Diretrizes de ensino 18.4.
FIGURA 18.24 Posições para amamentar. A. Posição de embalar. B. Posição do jogador de futebol americano. C. Posição
deitada de lado.
Plano de cuidados de enfermagem 18.1
Aspectos gerais de uma mãe e seu filho com dificuldades no aleitamento materno
James, 3.290 g, nasceu há algumas horas. Sua mãe, de 19 anos de idade, é Gesta I, Para I. O escore
de Apgar foi de 9, tanto no primeiro quanto no quinto minuto. O trabalho de parto e o parto não tiveram
intercorrências, e James foi internado no berçário para avaliação. Após a estabilização, James foi levado
para sua mãe, que havia dito que queria amamentar. O enfermeiro pósparto ajudou a nova mãe com o
posicionamento e a pega do recémnascido e saiu da sala por alguns minutos. Ao retornar, a mãe
estava chateada e James estava chorando. Ela afirmou que queria uma mamadeira com fórmula para
alimentálo, já que ela não tinha leite e os mamilos doíam.
A avaliação revela mãe jovem e inexperiente colocada em uma situação desconfortável com
conhecimento limitado sobre o aleitamento materno. A ansiedade da mãe foi transferida para James,
resultando em choro. A mãe, apreensiva em relação ao aleitamento materno, precisa de ajuda adicional.
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: aleitamento materno ineficaz relacionado com dor e habilidade limitada.
Identificação e avaliação dos resultados
A mãe demonstrará compreensão das habilidades de aleitamento materno, conforme evidenciado pelo uso de
posicionamento e técnica corretos, e da verbalização de informações pertinentes relacionadas com o
aleitamento materno.
Intervenções: fornecer orientações
• Instruir a mãe em relação ao posicionamento adequado para o aleitamento; sugerir o uso da posição do
jogador de futebol americano ou de lado ou no colo modificada ou cruzando o colo para garantir o conforto e
promover a facilidade do aleitamento materno
• Revisar a anatomia da mama e o reflexo de descida do leite para melhorar a compreensão da mãe a
respeito da lactação
• Observar a capacidade do recémnascido de sugar e pegar o mamilo para avaliar qual a maneira mais
adequada
• Monitorar a sucção e a deglutição do recémnascido durante vários minutos para assegurar que a pega seja
adequada e para avaliar a ingestão
• Reforçar os cuidados com o mamilo, utilizando água e exposição ao ar livre para manter sua integridade
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: ansiedade relacionada com a capacidade de aleitamento materno e recém
nascido irritado e chorando.
Identificação e avaliação dos resultados
A mãe verbalizará maior conforto com o aleitamento materno, conforme evidenciado por declarações positivas
relacionadas com o aleitamento materno e verbalização do desejo de continuar amamentando o recém
nascido.
Intervenções: reduzir a ansiedade
• Certificarse de que o ambiente seja calmo e tranquilizador, sem distrações, para promover o relaxamento
da mãe e do recémnascido
• Mostrar à mãe a técnica correta de pega para promover o aleitamento materno
• Ajudar a acalmar o recémnascido, segurandoo e falando com ele para garantir que esteja relaxado antes
de prosseguir com a pega
• Tranquilizar a mãe de que ela pode ser bemsucedida no aleitamento materno, para melhorar a autoestima
e a confiança
• Incentivar tentativas e esforços frequentes para aumentar a confiança
• Encorajar a mãe a verbalizar sua ansiedade/seus temores para reduzir a ansiedade
Identificação e avaliação dos resultados
A mãe apresentará diminuição da dor durante o aleitamento, conforme evidenciado por declarações de que
está com menos dor no mamilo.
Intervenções: reduzir a dor
• Sugerir várias posições alternativas para o aleitamento para promover o conforto
• Demonstrar como interromper a sucção antes de retirar o recémnascido da mama para minimizar o
traumatismo ao mamilo
• Inspecionar a área do mamilo para promover a identificação precoce de traumatismo
• Reforçar a técnica de pega correta para evitar traumatismo ao mamilo
• Administrar medicação para a dor, se indicado, para aliviála
• Instruir em relação aos cuidados com o mamilo entre as mamadas para manter sua integridade
Diretrizes de ensino 18.4
Aleitamento materno
• Escolher um lugar calmo, onde você possa ficar relaxada sem ser perturbada. O relaxamento promove a
descida do leite
• Sentarse em uma cadeira confortável ou cadeira de balanço ou deitar na cama. Tentar fazer com que cada
mamada seja calma, tranquila e sem pressa. Evitar distrações
• Ouvir músicas suaves e saborear uma bebida nutritiva durante as mamadas
• Inicialmente, amamentar o recémnascido a intervalos de poucas horas para estimular a produção de leite.
Lembrarse de que o fornecimento de leite é igual à demanda – quanto mais sucção, mais leite
• Prestar atenção nos sinais que indiquem que o lactente está com fome, como:
• Aconchegarse contra as mamas da mãe
• Demonstrar o reflexo de busca, fazendo movimentos de sucção
• Colocar o punho ou as mãos na boca para sugar
• Chorar e se contorcer
• Fazer movimentos de beijo com os lábios
• Estimular o reflexo de busca tocando a bochecha do recémnascido para iniciar a sucção
• Buscar sinais que indiquem que o recémnascido está pegando corretamente: boca bem aberta com o
mamilo e boa parte da aréola na boca, lábios curvados para fora e língua sobre a gengiva inferior,
movimento visível da mandíbula sugando o leite, sucção rítmica com um deglutir audível (sons suaves
indicam que o recémnascido está deglutindo leite)
• Segurar o recémnascido próximo de seu corpo, de frente para a mama, com a orelha, o ombro e o quadril
dele em alinhamento correto
• Amamentar o recémnascido de acordo com a demanda espontânea, não de acordo com uma programação
rígida. Alimentálo a cada 2 a 3 horas em um período de 24 horas, em um total de 8 a 12 mamadas
• Alternar a mama que você oferece primeiro; identificála com um alfinete de segurança no sutiã
• Variar as posições a cada sessão de amamentação para esvaziar as mamas e reduzir a dor
• Observar os seguintes sinais de que o recémnascido está recebendo leite suficiente:
• Pelo menos seis fraldas molhadas e 2 a 5 episódios de defecação (fezes amarelas pastosas) por dia
• Ganho de peso constante após a primeira semana de vida
• Urina de coloração amareloclara, não amareloescura ou laranja
• Dorme bem, mas parece alerta e saudável quando acordado
• Despertar o recémnascido se ele tiver mamado menos de 5 minutos, desembrulhandoo da manta
• Antes de retirar o recémnascido da mama, interromper a sucção inserindo um dedo entre o mamilo e a
boca
• Colocar o lactente para eructar a fim de liberar o ar, ao trocar de mama e no final da sessão de
amamentação
• Evitar suplementar o aleitamento com fórmulas infantis a menos que exista uma indicação clínica
• Não usar drogas/substâncias psicoativas nem fármacos, a menos que aprovado pelo médico
• Evitar o consumo de álcool ou bebidas com cafeína, pois essas substâncias passam para o leite
• Não fumar enquanto estiver amamentando, pois isso aumenta o risco de síndrome da morte súbita do
lactente
• Sempre lavar as mãos antes de ordenhar ou manipular o leite para armazenar
• Usar sutiãs de amamentação e roupas que sejam fáceis de abrir
Adaptado de Dyson, L., McCormick, F. M., & Renfrew, M. J. (2014). Interventions for promoting the initiation of
breastfeeding. São Paulo Medical Journal, 132(1), 68–72; La Leche League. (2015a). Lactation support and
health care providers. Retirado de http://www.llli.org/resources/providers.html?m=0,2; e Walker, M.
(2014). Breastfeeding management for the clinician: Using the evidence (3rd ed.). Sudbury, MA: Jones &
Bartlett.
Anote!
Lembrarse de que o fornecimento de leite é igual à demanda – quanto mais sucção, mais leite.
Lembrase de Kelly, que estava preocupada com a icterícia de seu filho recémnascido? Na consulta de rotina de
seu filho, no momento com 2 semanas de vida, o nível de bilirrubina dele voltou aos limites normais. Kelly ainda
sentia que não estava produzindo leite suficiente para alimentálo e afirmou que pensava em passar a alimentar
seu filho com fórmula. Que informações o enfermeiro pode apresentar para promover e reforçar o aleitamento
materno? O enfermeiro deve fazer um encaminhamento para a consultora de lactação?
Armazenamento e ordenha do leite materno. Se a lactante for separada do recémnascido por algum motivo (p. ex., trabalho,
viagens ou doença), ela precisa de instruções sobre como ordenhar e armazenar o leite de modo seguro. A ordenha do leite pode
ser feita manual mente (compressão manual da mama) ou usando uma bomba especial. As bombas manuais ou portáteis são
baratas e podem ser usadas por mães que, ocasionalmente, precisam de uma mamadeira extra se forem sair (Figura 18.25A). As
bombas elétricas são usadas por mães que passam por uma longa separação de seus filhos e precisam bombear as mamas
regularmente, por exemplo, no local de trabalho (Figura 18.25B).
Para garantir a segurança do leite materno ordenhado, as seguintes instruções devem ser dadas à mãe:
• Lavar as mãos antes de retirar o leite materno ou manipulálo
• Encontrar um local limpo e tranquilo para extrair o leite, caso a mãe já tenha retornado às suas atividades laborais
• Usar recipientes limpos para armazenar o leite ordenhado
• Usar o leite armazenado vedado e refrigerado dentro de 24 horas
• Descartar qualquer leite que esteja refrigerado há mais de 24 horas
• Usar leite ordenhado congelado dentro de 3 meses
• Não utilizar fornos de microondas para aquecer o leite gelado
• Descartar qualquer leite utilizado; nunca voltar a congelálo
• Armazenar o leite em volumes que serão utilizados a cada alimentação (60 a 120 mℓ)
• Degelar o leite em água morna antes do uso (La Leche League, 2015b).
Problemas comuns relacionados com o aleitamento materno. As lactantes podem apresentar fissuras nos mamilos,
ingurgitação (distensão excessiva das mamas por leite) ou mastite (inflamação da mama). O aleitamento materno não deve ser
doloroso para a mãe. Se ela apresentar mamilos fissurados e doloridos, o primeiro passo é encontrar a causa. O posicionamento
ou pega incorreta do recémnascido, retirar o recémnascido da mama sem antes romper a sucção ou usar um sutiã muito
apertado pode causar fissuras ou mamilos doloridos. Os mamilos fissurados aumentam o risco de mastite, porque uma solução
de continuidade na pele pode possibilitar que Staphylococcus aureus ou outros microrganismos entrem no corpo.
FIGURA 18.25 A. Extrator manual de leite. B. Bomba elétrica. (Figura B de Lippincott [2015]. Lippincott Nursing
Procedures [7th ed.], Philadelphia, PA: Wolters Kluwer.)
Os mamilos doloridos geralmente são causados pela pega imprópria por parte do recémnascido, o que traumatiza o tecido.
O enfermeiro deve rever as técnicas para o bom posicionamento e a pega do recémnascido. É importante frisar isso desde a
primeira mamada para ajudar na prevenção de pegada incorreta e de traumatismo associado do mamilo. Recomendase o seguinte
para a mãe:
• Usar apenas água morna, não sabonete, para lavar os mamilos, a fim de evitar o ressecamento
• Ordenhar um pouco de leite antes do aleitamento materno para estimular o reflexo de ejeção do leite
• Evitar o uso de absorventes de mama com forros de plástico, e trocar absorventes que estejam molhados
• Usar um sutiã confortável, que não seja muito apertado
• Aplicar algumas gotas de leite materno aos mamilos após amamentar
• Ingerir antiinflamatório sistêmico como ibuprofeno para o desconforto
• Alternar a posição ao amamentar para promover o esvaziamento completo da mama
• Deixar as abas do sutiã abertas após o aleitamento materno para possibilitar que os mamilos recebam ao ar seco
• Inspecionar os mamilos diariamente à procura de vermelhidão ou rachaduras (Walker, 2014).
Para aliviar a dor e o traumatismo do mamilo, reforce técnicas de pega apropriada e lembre a lactante da necessidade de
interromper a sucção na mama antes de remover o recémnascido dela. Medidas adicionais podem incluir a aplicação de
compressas frias sobre a área e massagear o mamilo com leite materno após o aleitamento materno.
O ingurgitamento pode ocorrer conforme o leite desce, em torno de 3 ou 4 dias após o parto. Explique à mãe que o
ingurgitamento, embora desconfortável, é autolimitado e desaparece conforme o recémnascido continua amamentando. A mãe
deve continuar amamentando durante o ingurgitamento para evitar a obstrução de um ducto lactífero, o que poderia levar à
mastite. Forneça as seguintes dicas para aliviar o ingurgitamento:
• Tomar banhos mornos a quentes para estimular a liberação de leite
• Ordenhar manualmente um pouco de leite antes de amamentar
• Usar um sutiã de amamentação com bom apoio 24 horas por dia para fornecer suporte
• Amamentar o recémnascido em várias posições – sentada e então deitada
• Massagear as mamas, iniciando sob a área axilar e descendo em direção ao mamilo
• Aumentar a frequência das mamadas
• Aplicar compressas quentes às mamas antes do aleitamento materno
• Manterse relaxada durante o aleitamento materno
• Usar uma bomba de retirar leite se o aleitamento materno ou a ordenha manual não forem eficazes
• Lembrarse de que essa condição é temporária e desaparece rapidamente.
A mastite, ou inflamação da mama, causa sinais e sintomas gripais, calafrios, febre e malestar. Essas manifestações podem
ocorrer antes do surgimento de dor, sensibilidade, tumefação e vermelhidão na mama (geralmente no quadrante superior
externo). Essa condição habitualmente ocorre em apenas uma das mamas, quando um ducto lactífero é bloqueado – causando
inflamação – ou por um mamilo rachado ou danificado, que possibilita que as bactérias infectem uma porção da mama. O
tratamento consiste em repouso, aplicação de compressas quentes, antibióticos, suporte de mama e amamentação continuada (a
infecção não passa para o leite materno). Explique à mãe que é importante manter o leite fluindo da mama infectada, seja pelo
aleitamento materno ou pela ordenha manual ou com uma bomba de retirar leite.
ALIMENTAÇÃO COM FÓRMULA
Apesar do reconhecimento geral de que o aleitamento materno é o método mais desejável de alimentar lactentes, muitas mães
optam pela alimentação por fórmula e precisam de orientações sobre esse procedimento. As crianças alimentadas com fórmula
crescem mais rapidamente do que as amamentadas, não só no peso corporal, mas também em comprimento.
A alimentação com fórmula exige mais do que apenas abrir o frasco, colocar na mamadeira e alimentar a criança. Os pais
precisam de informações sobre os tipos de fórmula disponíveis, preparação e armazenamento da fórmula, equipamentos,
posições de alimentação, bem como o volume a ser administrado ao recémnascido. A mãe também precisa saber como evitar a
lactação (ver Capítulo 16 para mais informações).
Nos EUA as fórmulas preparadas comercialmente são regulamentadas pela Food and Drug Administration (FDA), que
define os níveis mínimos e máximos de nutrientes. As fórmulas são comercializadas por inúmeros fabricantes nos EUA.
Recémnascidos normais a termo geralmente recebem uma fórmula à base de leite de vaca convencional, mas o médico é quem
decide a fórmula a ser utilizada. Se o recémnascido apresentar sinais de reação ou intolerância à lactose, recomendase a
mudança para outro tipo de fórmula.
A recomendação geral é que todos os lactentes recebam fórmula enriquecida com ferro até 1 ano de idade. A mais recente
geração de fórmulas infantis inclui algum enriquecimento com ácido docosaexanoico (DHA) e ácido araquidônico (ARA), dois
componentes naturais do leite materno. Muitos especialistas acreditam que a FDA não regulou de modo adequado o uso de
aditivos de ácidos graxos (DHA e ARA) às fórmulas infantis antes de sua comercialização. Além disso, não está sendo realizada
avaliação sistemática após a comercialização. Os pesquisadores estão solicitando mais regulamentação da FDA sobre a colocação
de aditivos nas fórmulas infantis (Kent, 2014). As fórmulas são comercializadas em três formulações: em pó, concentrada e de
fácil uso ou pronta para uso. Todas são semelhantes em termos de conteúdo nutricional, mas os preços são diferentes. A fórmula
em pó é a menos dispendiosa, sendo a fórmula concentrada a segunda mais cara. Ambas precisam ser misturadas com água antes
de usar. A fórmula pronta para uso é a mais cara de todas, podendo ser aberta e colocada na mamadeira para alimentar
imediatamente a criança.
Os pais precisam de informações sobre o material necessário para a alimentação com fórmula. O material básico consiste em
4 a 6 mamadeiras de 120 mℓ, 8 a 10 mamadeiras de 240 mℓ , 8 a 10 bicos de mamadeira, uma escova de mamadeira e uma
escova de bico. Uma área essencial de orientações é a avaliação do fluxo de fórmula ao longo do bico e a verificação de
eventuais danos ao bico. Quando a mamadeira estiver cheia e virada de cabeça para baixo, o fluxo pelo bico deverá ser de
aproximadamente uma gota por segundo. Se os pais estiverem usando mamadeiras com reservatórios descartáveis, instruaos a
se certificarem de que o bico esteja bem apertado para evitar vazamentos. A observação frequente da velocidade do fluxo no bico
e das condições do bico evita episódios de asfixia e aspiração associados ao fluxo muito rápido. Peça aos pais para encher a
mamadeira com fórmula e, em seguida, virála de cabeça para baixo e observar a velocidade com que a fórmula pinga da
mamadeira. Se for muito rápida (mais do que uma gota por segundo), então o bico deve ser trocado.
A preparação correta da fórmula é fundamental para a saúde e o desenvolvimento do recémnascido. Podem ocorrer erros na
diluição se os pais não entenderem como preparar a fórmula ou errarem nas medições. A segurança da água utilizada deve ser
considerada. Se for usada água de poço, os pais devem esterilizar a água fervendoa, ou devem usar água engarrafada. Muitos
médicos ainda recomendam que toda a água utilizada na preparação da fórmula deve ser fervida por 1 a 2 minutos e, em seguida,
arrefecida até a temperatura ambiente antes do uso.
As latas de fórmula pronta para uso ou concentrada abertas devem ser fechadas e refrigeradas depois de ser preparado o
volume adequado para o dia (24 horas). Instrua os pais a descartar qualquer porção não utilizada após 48 horas.
Anote!
Qualquer fórmula deixada na mamadeira depois da alimentação também deve ser descartada, porque a saliva do lactente foi
misturada a ela.
Para aquecer a fórmula refrigerada, aconselhe os pais a colocar a mamadeira em uma panela de água quente ou em um
aquecedor elétrico de mamadeira, e testar a temperatura deixando cair algumas gotas na parte interna do punho. Se estiver
confortavelmente quente para a mãe, está na temperatura correta.
Assistência à alimentação com fórmula. O processo de alimentar um recémnascido com fórmula em uma mamadeira deve ser
semelhante ao aleitamento materno, tanto quanto possível. Embora a nutrição seja importante, os componentes emocionais e
interativos da alimentação também o são. Incentive os pais a aconchegar o lactente e a posicionálo de modo que sua cabeça
esteja em uma posição confortável, não muito para trás ou virada, o que torna a deglutição difícil (Figura 18.26). Incentive
também os pais a se comunicar com seu recémnascido durante as refeições, conversando e cantando para ele.
Embora possa parecer que a alimentação com mamadeira não é uma tarefa difícil, muitos novos pais a acham desafiadora. À
primeira vista, segurar um recémnascido e uma mamadeira parece bastante simples, mas tanto a posição do recémnascido
quanto o ângulo da mamadeira precisam estar corretos.
Posições para a alimentação com fórmula. Aconselhe as mães a alimentarem seus recémnascidos em um ambiente
descontraído e tranquilo para criar uma sensação de calma para si e para o recémnascido. Certifiquese de que o conforto é uma
prioridade para a mãe e o recémnascido. A mãe pode se sentar em uma cadeira confortável, usando um travesseiro para apoiar o
braço em que ela está segurando o recémnascido. A mãe pode embalar o recémnascido em uma posição semiereta, apoiando
sua cabeça na dobra do seu braço. Segurar o recémnascido próximo durante a alimentação fornece estímulo e ajuda a evitar a
asfixia. Segurar a cabeça do recémnascido ligeiramente elevada ajuda a evitar que a fórmula escorra para trás, para as tubas
auditivas nas orelhas, o que pode evoluir para otite.
FIGURA 18.26 Pai segurando o recémnascido de modo firme, enquanto o alimenta.
Orientações para a alimentação com fórmula. Os pais precisam de orientações sobre a preparação e o armazenamento correto
da fórmula, bem como sobre técnicas para a alimentação (Diretrizes de ensino 18.5).
Diretrizes de ensino 18.5
Alimentação com fórmula
• Lavar as mãos com água e sabão antes de preparar a fórmula
• Misturar a fórmula com água nas quantidades exatas especificadas no rótulo
• Sempre segurar o recémnascido e a mamadeira durante as mamadas; nunca apoiar a mamadeira
• Nunca congelar a fórmula nem aquecêla no microondas
• Colocar a fórmula refrigerada em uma panela com água quente por alguns minutos para aquecêla
• Testar a temperatura da fórmula pingando algumas gotas sobre o punho
• Segurar a mamadeira como um lápis, mantendoa inclinada para evitar a entrada de ar. Posicionála de
modo que o bico permaneça cheio de leite
• Colocar o lactente para arrotar após alguns mililitros para possibilitar que o ar engolido escape
• Mover o bico em torno na boca do lactente para estimular a sucção
• Manter sempre uma seringa de bulbo por perto, para ser usada em caso de asfixia
• Não colocar o lactente no berço com uma mamadeira para evitar a “cárie de mamadeira”
• Alimentar o recémnascido aproximadamente a cada 3 a 4 horas
• Usar uma fórmula enriquecida com ferro no primeiro ano
• Preparar fórmula suficiente para as 24 horas seguintes
• Verificar os bicos regularmente e descartar os que estiverem pegajosos, rachados ou vazando
• Armazenar fórmulas líquidas abertas não misturadas na geladeira por até 48 horas
• Descartar toda a fórmula da mamadeira após cada mamada
O posicionamento adequado torna a alimentação com mamadeira mais fácil e agradável para a mãe e o recémnascido. Como
no aleitamento materno, as eructações frequentes são fundamentais. Aconselhe os pais a segurar a mamadeira de modo que a
fórmula preencha o bico da mesma, possibilitando assim menor entrada de ar. Os lactentes ficam agitados quando deglutem ar
durante as mamadas e precisam arrotar a cada 60 a 90 mℓ.
Enfatize aos pais que pode ocorrer desequilíbrio eletrolítico em lactentes que são alimentados com fórmula que tenha sido
misturada incorretamente. Diluir a fórmula infantil com pouca água (ou seja, a solução fica muito espessa) pode provocar
hipernatremia por causa da concentração elevada de sódio que os rins imaturos do recémnascido/lactente não conseguem filtrar.
Como resultado, o sódio é excretado juntamente com a água, levando à desidratação. Diluir a fórmula infantil com água demais,
em um esforço para economizar dinheiro, pode resultar em déficit do desenvolvimento, desnutrição, superdosagem de flúor e
déficit de ganho ponderal (Monahan, 2014).
DESMAME E INTRODUÇÃO DE ALIMENTOS SÓLIDOS
Desmame. No devido tempo, o aleitamento materno ou a alimentação com fórmula chega ao final. O desmame envolve a
transição da mama para a mamadeira, da mama ou mamadeira para o copo, ou de líquidos para sólidos. O desmame do
aleitamento materno para o copo tem várias vantagens em relação ao desmame para a mamadeira, pois elimina a etapa de
desmamar primeiro para a mamadeira e, em seguida, para o copo. Outra vantagem é que a mamadeira não se torna um objeto de
segurança para a criança.
O desmame pode ser feito porque a mãe está voltando ao trabalho e não pode continuar a amamentar, ou porque a criança
está perdendo o interesse no aleitamento materno e mostrando sinais de independência. Não há um momento “correto” para
desmamar; depende dos desejos da mãe e da criança. O desmame representa uma mudança significativa no modo como a mãe e a
criança interagem; cada mãe deve decidir por si mesma quando ela e seu filho estão prontos para dar esse passo. Qualquer um
dos dois pode começar o processo de desmame, mas este geralmente ocorre entre 6 meses e 1 ano de idade.
Para começar o desmame do aleitamento materno, instrua a mãe a substituir o leite materno por um copo ou mamadeira.
Muitas vezes, a refeição do meiodia é a mais fácil de substituir. Um copo com duas alças e uma tampa com bico é apropriado e
minimiza derramamentos. Como o desmame é um processo gradual, pode demorar meses. Instrua os pais a prosseguir
lentamente e deixar a disposição e o interesse do lactente guiálos.
O desmame da mamadeira para o copo também precisa ser programado de modo adequado para a mãe e o lactente.
Tipicamente, a mamadeira da noite é a última a ser retirada, com o copo sendo utilizado ao longo do dia. Diluir
progressivamente a fórmula com mais água ao longo de 1 semana pode ajudar nesse processo; o resultado final é uma
mamadeira toda de água. Para evitar que o lactente sugue a mamadeira durante a noite, retirea do berço depois que ela
adormecer.
Introdução de alimentos sólidos. Quando as crianças dobram seu peso ao nascer e pesam pelo menos 5,8 kg, é hora de
considerar a introdução de alimentos sólidos. Os sinais de prontidão incluem:
• Consumo de aproximadamente 950 mℓ de fórmula ou leite materno por dia (estimativa)
• Capacidade de se sentar com apoio mínimo e virar a cabeça para indicar saciedade
• Redução do reflexo de protrusão, de modo que o cereal pode ser propelido para a parte de trás da garganta
• Demonstração de interesse por alimentos que outras pessoas estão comendo ao redor deles
• Capacidade de abrir automaticamente a boca quando o alimento se aproxima.
Ao introduzir alimentos sólidos, certos princípios se aplicam:
• Novos alimentos devem ser introduzidos um de cada vez e com 1 semana de intervalo para que, se ocorrer algum problema,
o item responsável possa ser identificado
• As crianças devem definir o ritmo em relação a quanto querem comer
• Novos alimentos não devem ser introduzidos com maior frequência do que a cada 3 a 5 dias
• As frutas são adicionadas após os cereais; então são introduzidos legumes e carnes; os ovos são introduzidos por último
• Uma atmosfera calma, descontraída e sem pressa para as refeições é importante
• É fornecida uma variedade de alimentos para assegurar uma dieta equilibrada
• Os recémnascidos e os lactentes nunca devem ser alimentados à força (Schlenker & Gilbert, 2015).
Os enfermeiros podem promover boas práticas de alimentação ouvindo ativamente as novas mães, ajudandoas a esclarecer
seus sentimentos e discutindo soluções. O modo caloroso e sincero e o tom de voz deixarão a mãe ansiosa à vontade. Dar
informações acuradas, fazer sugestões e apresentar opções possibilitarão que a mãe decida o que é melhor para ela e seu filho.
Os enfermeiros devem estar atentos à mãe, à família e às diferenças econômicas e culturais entre as mães antes de sugerir
práticas de alimentação que possam não ser apropriadas.
Preparação para a alta
Preparar os pais para a alta é uma tarefa essencial do enfermeiro. Por causa do menor tempo de internação da atualidade, o
enfermeiro precisa identificar os principais tópicos de orientações que precisam ser abordados. O enfermeiro deve avaliar as
necessidades de conhecimento e aprendizagem de base dos pais e planejar como abordálas. Utilizar os princípios a seguir
promove uma abordagem centrada no aprendiz:
• Tornar o ambiente propício para a aprendizagem. Incentivar os pais a se sentirem confortáveis durante esse momento
estressante, fornecendo apoio e encorajamento
• Possibilitar que os pais deem contribuições sobre o conteúdo e o processo de aprendizagem. O que eles querem e precisam
aprender?
• Melhorar a autoestima dos pais, reafirmando que sua reação a todo o processo de parto e cuidados posteriores é legítima, e
que outros se sentem da mesma maneira
• Garantir que o conteúdo aprendido pelos pais seja relevante para a sua situação domiciliar cotidiana
• Incentivar a responsabilidade, reforçando que suas respostas emocionais e físicas estão dentro dos limites da normalidade
• Respeitar as crenças e práticas culturais que são importantes para a família, considerando seu patrimônio e crenças de saúde
relacionados com os cuidados neonatais. Exemplos incluem colocar uma faixa sobre o umbigo do recémnascido (hispânicos
e afroamericanos), adiar a escolha do nome da criança (americanos de origem asiática e haitianos) e adiar o aleitamento
materno (indígenas norteamericanos, pois eles consideram que o colostro é “ruim”) (Bowers, 2015).
Enquanto estão no hospital, as mulheres têm acesso imediato a auxílio e orientações práticas sobre a alimentação e cuidados
com o recémnascido. Quando a parturiente recebe alta, esse acompanhamento atento e o apoio dos enfermeiros não devem
cessar abruptamente. Fornecer aos novos pais o número de telefone da unidade maternoinfantil irá ajudalos ao longo desse
estressante período de transição. Dar informações à nova família e oferecer apoio em caso de necessidade por telefone melhorará
o sucesso dos pais (ver Prática baseada em evidências 18.1).
ASSEGURAR CUIDADOS DE ACOMPANHAMENTO
Em sua maioria, os recémnascidos têm sua primeira consulta de acompanhamento agendada para 2 a 4 dias após a alta, para que
possam passar por exames laboratoriais adicionais realizados como parte da série de rastreamento neonatal, especialmente se
tiverem recebido alta em 48 horas. Após essa primeira consulta, o cronograma típico das consultas de saúde nos EUA é o
seguinte: de 2 a 4 semanas de vida; 2, 4 e 6 meses para exames e vacinas; 9 meses para avaliação rotineira; 12 meses para
avaliação rotineira; 15 e 18 meses para exames e vacinas; e 2 anos para avaliação. Essas consultas proporcionam uma
oportunidade para os pais fazerem perguntas e receberem orientações antecipatórias conforme seu recémnascido cresce e se
desenvolve.
Além de incentivar os pais a realizar consultas de acompanhamento, aconselheos a ligar para seu médico se notarem sinais
de doença em seu recémnascido. Eles devem saber quais fármacos de venda livre devem ser mantidos à mão. Repasse com os
pais os seguintes sinais de alerta de doença:
• Temperatura de 38,3°C ou superior
• Vômitos violentos persistentes, não apenas regurgitação
• Recusa em se alimentar
• Eliminação duas ou mais vezes de fezes verdes diarreicas aguadas
• Fraldas molhadas infrequentes e mudança nos padrões normais de defecação
• Letargia ou sonolência excessiva
• Choro inconsolável e agitação extrema
• Distensão abdominal
• Respiração difícil ou trabalhosa.
FORNECIMENTO DE INFORMAÇÕES SOBRE IMUNIZAÇÕES
No último século, as vacinas foram a intervenção médica mais efetiva para reduzir as taxas de mortalidade e morbidade causadas
por doenças transmissíveis. Acreditase que as vacinas salvem pelo menos 2 a 3 milhões de vidas anual mente no mundo
(Delany, Rappuoli & De Gregorio, 2014). Os pais também precisam de orientações sobre as imunizações de seu filho.
A imunização é o processo de tornar um indivíduo imune ou de se tornar imune a determinadas doenças transmissíveis (Verklan
& Walden, 2015). A finalidade do sistema imunológico é identificar substâncias desconhecidas (não próprias) no corpo e
desenvolver uma defesa contra esses invasores. A prevenção de doenças por meio da imunização é uma prioridade de saúde
pública e é um dos principais indicadores de saúde, sendo parte do Healthy People 2020. Apesar dos muitos avanços na
administração de vacinas, a meta de imunização universal não foi alcançada (Davidson, 2014). Os enfermeiros podem ajudar a
alcançar esse objetivo orientando os novos pais sobre a importância da prevenção de doenças por meio da vacinação.
Considere isto
Eu sempre me orgulhei de ser muito organizada e estar no controle na maioria das situações, mas a
sobrevivência em casa após o parto não era uma delas. Saí do hospital 24 horas depois de dar à luz a meu filho,
porque o médico disse que eu podia. O enfermeiro pósparto me incentivou a ficar mais tempo, mas o sentimento
de querer estar no controle e dormir na minha própria cama novamente venceu. Eu pensei que meu filho ficaria
dormindo e eu teria tempo livre para ficar atualizando meus amigos e familiares do nascimento – como pude me
enganar tanto! O que aconteceu foi que meu filho não dormiu como eu imaginava e meus mamilos estavam
feridos após amamentar a cada poucas horas. Eu estava cansada, esgotada e queria dormir, mas não podia. De
algum modo, pensei que dormiria uma noite inteira porque estava acordada ao longo do dia, mas isso também
era uma fantasia. Às 2 h da manhã, quando você está alimentando seu filho, você sente que é a única pessoa no
mundo acordada naquela hora e se sente muito sozinha. Meus sentimentos de ser organizada e estar no controle
o tempo todo mudaram dramaticamente desde que saí do hospital. Aprendi a ceder às necessidades importantes
do meu filho e a obter satisfação em ser capaz de trazer conforto a ele e em abrir mão do controle.
Reflexões: É interessante ver como o recémnascido mudou as necessidades dessa mulher de organizar e
controlar seu ambiente. Quais “dicas de sobrevivência” o enfermeiro pode oferecer a essa mulher para ajudála
na transição para casa com seu recémnascido? Como os amigos e familiares podem ajudar quando a mulher
chegar em casa do hospital com seu filho?
A imunidade pode ser fornecida de modo passivo ou ativo. A imunidade passiva é a proteção transferida via anticorpos já
formados de uma pessoa para outra. A imunidade passiva inclui a passagem transplacentária de anticorpos da mãe para o recém
nascido, a imunidade transmitida pelo leite materno e a imunidade via imunoglobulinas. A imunidade passiva fornece proteção
limitada e diminui ao longo de um período de semanas ou meses (Chu & Englund, 2014). A imunidade ativa é a proteção
produzida pelo próprio sistema imunológico do indivíduo. Pode ser obtida ao contrair a doença em si ou ao receber uma vacina
que provoque uma resposta imunológica pelo corpo da pessoa. De uma maneira ou de outra, a imunidade ativa pode perdurar ao
longo da vida (ver Capítulo 17).
As crianças pequenas e os lactentes são suscetíveis a várias doenças, pois seus sistemas imunológicos ainda não estão
maduros. Muitas dessas doenças podem ser prevenidas seguindo o calendário de vacinação infantil. A Figura 18.27 mostra o
calendário recomendado em 2015 nos EUA. Consulte a Tabela 18.8 para conferir o calendário de vacinação para crianças entre 0
e 4 anos adotado no Brasil. Esse calendário deve ser revisado com os pais, salientandose a importância da continuidade dos
cuidados de saúde de acompanhamento para preservar a saúde do recémnascido.
A primeira imunização do recémnascido (contra hepatite B) é recebida no hospital, pouco depois do nascimento. A primeira
dose pode ser administrada aos 2 meses, se a mãe for HBsAgnegativa. Se a mãe for HBsAgpositiva, então o recémnascido
deve receber a vacina contra a hepatite B e a imunoglobulina contra a hepatite B nas primeiras 12 horas após o parto
(Cunningham et al., 2014).
As orientações para os pais devem incluir os riscos e benefícios de cada vacina, bem como os possíveis efeitos adversos. A
lei federal norteamericana exige que um termo de consentimento seja assinado antes de administrar uma vacina. Os pais têm o
direito de recusar as vacinas com base em suas crenças religiosas e podem assinar um documento informando sua decisão.
Quando o consentimento tiver sido recebido, o enfermeiro que administra a vacina tem de escrever a data e o horário em que a
vacina foi administrada, o nome e o fabricante, o número do lote e a data de validade, o local e a via de administração da vacina.
O profissional que administrou a vacina deve colocar seu nome e sua categoria profissional. Apesar das evidências avassaladoras
da segurança das vacinas, as suspeitas e concepções equivocadas persistem em pequenos grupos de genitores/parceiros/entes
queridos hesitantes ou resistentes, frequentemente resultando em surtos de infecções passíveis de prevenção por vacinas. Na
linha de frente das vacinações, os profissionais de enfermagem podem melhorar as taxas de vacinação por meio de
desenvolvimento da confiança em genitores/parceiros/entes queridos e do fornecimento de informações baseadas em evidências
sólidas.
FIGURA 18.27 Calendário de vacinação infantil recomendado nos EUA.
Tabela Calendário nacional de vacinação da criança (2018).
18.8
4 anos VOP R2 – – –
VO (cavidade
oral)
Dados do site http://www.riocomsaude.rj.gov.br/site/conteudo/Calendario.aspx (acesso em 8 de março de 2019).
Ver ainda https://sbim.org.br/calendariosdevacinacao para Calendários de Vacinação de todas as faixas etárias
no Brasil.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
O período de transição da vida intrauterina para a extrauterina ocorre durante as primeiras horas após o
nascimento. É um momento de estabilização da temperatura, respiração e dinâmica cardiovascular do
recémnascido
O intestino humano é estéril por ocasião do nascimento. Geralmente, leva cerca de 1 semana para o
recémnascido produzir vitamina K em doses suficientes para impedir a SDVK
Nos EUA, recomendase que todos os recémnascidos recebam a instilação de um agente profilático
(eritromicina ou tetraciclina em pomada oftálmica) em seus olhos em 1 ou 2 horas após o parto
As medidas de enfermagem para manter a temperatura corporal do recémnascido incluem secálo
imediatamente após o parto para evitar a perda de calor por evaporação, envolvêlo em cobertores
preaquecidos, colocar uma touca em sua cabeça e colocálo em um berço aquecido com temperatura
controlada
Os componentes específicos do exame típico do recémnascido incluem avaliação geral da coloração da
pele, postura, estado de alerta, tamanho da cabeça, estado comportamental geral, condição respiratória,
sexo e quaisquer anomalias congênitas óbvias
A avaliação da idade gestacional é pertinente, pois possibilita que o enfermeiro trace parâmetros do
crescimento e antecipe potenciais problemas relacionados com a prematuridade/pósmaturidade e
anormalidades de crescimento, como PIG/GIG
Depois que o recémnascido já passou pelo período de transição e se estabilizou, o enfermeiro precisa
realizar avaliações continuadas, mensuração dos sinais vitais, peso e altura, cuidados com o cordão,
medidas de higiene, testes de rastreamento neonatal e várias outras tarefas até que o recémnascido
receba alta para casa da unidade de parto
Os tópicos importantes sobre o que orientar os pais incluem a segurança ambiental, as características, a
alimentação e o banho da criança, os cuidados com a circuncisão e o cordão umbilical, os padrões de
sono e eliminação do recémnascido, os assentos infantis seguros para automóveis, como
segurar/posicionar e cuidados de acompanhamento
Nos EUA, os testes de rastreamento neonatal consistem em testes de audição e rastreamento por erros
genéticos e inatos do metabolismo, exigidos na maioria dos estados para recémnascidos antes da alta da
unidade de parto
A AAP e a American Dietetic Association recomendam o aleitamento materno exclusivo durante os
primeiros 6 meses de vida, que é continuado junto com outros alimentos pelo menos até o primeiro ano
de vida
Os pais que optaram por não amamentar o recémnascido precisam saber quais tipos de fórmula estão
disponíveis, como preparar e armazenar a fórmula, equipamentos, posições para alimentação e quanto
alimentar seu recémnascido
Os problemas mais comuns associados ao recémnascido incluem taquipneia transitória, icterícia
fisiológica e hipoglicemia
A taquipneia transitória do recémnascido aparece logo após o parto; é acompanhada por retrações
intercostais, grunhidos expiratórios ou cianose; é aliviada pelo oxigênio em baixas doses
A icterícia fisiológica é uma condição muito comum em recémnascidos, a maioria deles apresentando
pele, mucosas e esclera amareladas nos primeiros 3 dias de vida. Os recémnascidos submetidos à
fototerapia para controle da icterícia precisam de acompanhamento atento de sua temperatura corporal e
do equilíbrio hídrico e eletrolítico, a observação da integridade da pele, a proteção para os olhos e a
participação dos pais nos cuidados
O recémnascido com hipoglicemia precisa de acompanhamento atento dos sinais e sintomas de
hipoglicemia, se existentes. Além disso, os recémnascidos de alto risco precisam ser identificados com
base em sua história perinatal, exame físico, medidas do corpo e idade gestacional
O calendário de vacinação deve ser revisto com os pais, salientando a importância dos cuidados de
acompanhamento contínuos para preservar a saúde do seu recémnascido
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Exercícios sobre o capítulo
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. Por ocasião do parto, a avaliação do recémnascido revela o seguinte: frequência cardíaca de 140 bpm,
choro alto, leve flexão dos membros, choro quando uma seringa de bulbo é introduzida nas narinas e corpo
rosado com membros cianóticos. O enfermeiro documentaria o escore de Apgar do recémnascido como
sendo de:
a. 5 pontos
b. 6 pontos
c. 7 pontos
d. 8 pontos
2. O enfermeiro está explicando aos pais de um recémnascido como funciona a fototerapia. O enfermeiro
incluiria qual das seguintes opções como objetivo?
a. Aumentar os níveis de surfactante
b. Estabilizar a temperatura do recémnascido
c. Destruir anticorpos Rhnegativos
d. Oxidar a bilirrubina na pele
3. O enfermeiro administra uma dose única de vitamina K por via intramuscular em um recémnascido após o
parto, para promover:
a. A conjugação da bilirrubina
b. A coagulação sanguínea
c. O fechamento do forame oval
d. A digestão de proteínas complexas
4. Um agente profilático é instilado em ambos os olhos de todos os recémnascidos para impedir qual das
seguintes condições?
a. Gonorreia e infecção por clamídia
b. Candidíase oral e infecção por Enterobacter
c. Infecção por Staphylococcus e sífilis
d. Hepatite B e infecção por herpesvírus
5. A AAP recomenda que todos os recémnascidos sejam colocados para dormir em decúbito dorsal para
reduzir o risco de:
a. Síndrome de angústia respiratória
b. Síndrome de cáries dentárias
c. Síndrome de morte súbita infantil
d. Síndrome de regurgitação GI
6. Qual das seguintes vacinas é mais comumente recebida por recémnascidos antes da alta hospitalar?
a. Vacina antipneumocócica
b. Vacina contra varicela
c. Vacina contra hepatite A
d. Vacina contra hepatite B
7. Quais condições passariam despercebidas se um recémnascido fosse rastreado antes de ter tolerado a
alimentação com proteína durante pelo menos 48 horas?
a. Hipotireoidismo
b. Fibrose cística
c. Fenilcetonúria
d. Doença falciforme
8. Qual dos seguintes achados em um recémnascido seria documentado como anormal pelo enfermeiro
durante a avaliação da cabeça do recémnascido?
a. Duas áreas de consistência mole foram palpadas entre os ossos do crânio
b. Uma área empastada de edema bemdelimitada na cabeça
c. Circunferência da cabeça 32 cm, circunferência do tórax 34 cm
d. Assimetria da cabeça com ossos acavalgados
9. Qual dos seguintes achados seria considerado normal em um recémnascido?
a. Eliminação de mecônio nas primeiras 24 horas de vida
b. Frequência respiratória de 80 bpm
c. Tons amarelados da pele nas primeiras 10 horas após o parto
d. Sangramento proveniente da área do umbigo
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. Uma afroamericana que deu à luz sua primeira filha e está na unidade maternoinfantil chama o enfermeiro
em seu quarto e expressa preocupação em relação à aparência da criança. Ela diz ao enfermeiro que a
cabeça da recémnascida se parece com uma “banana” e está mole ao toque, e que ela tem “pontos
brancos” em todo o nariz. Além disso, parece haver “grandes equimoses azuladas” nas nádegas da sua filha.
Ela quer saber o que há de errado e se esses problemas vão desaparecer.
a. Como o enfermeiro deve responder a essa pergunta?
b. Quais orientações adicionais em relação à recémnascida podem ser apropriadas nesse momento?
c. Que garantias podem ser dadas à nova mãe em relação à aparência de sua filha?
2. Por volta das 00h30 de sextafeira, uma mulher entra no hospital pelo prontosocorro cheio. Ela está usando
um uniforme branco e um jaleco com um estetoscópio em volta do pescoço. Ela se identifica como uma nova
enfermeira que voltou para pegar algo que tinha esquecido na unidade em um turno anterior. Ela entra no
quarto de uma parturiente com seu recémnascido, empurra o berço aberto por um corredor e escapa por
uma saída. As câmeras de segurança não estão funcionando. A falta do recémnascido não é sentida até a
verificação do enfermeiro às 2 h da manhã.
a. Qual é o impacto de um rapto infantil sobre a família e o hospital?
b. Que medida de segurança foi o elo fraco na cadeia de segurança?
c. O que os hospitais podem fazer para evitar o rapto infantil?
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Verifique os sinais vitais (temperatura, frequência cardíaca, frequência respiratória) de um recémnascido na
admissão ao berçário. Repita esse procedimento e compare as alterações nos valores algumas horas mais
tarde. Discuta quais mudanças nos sinais vitais são esperadas durante esse período de transição.
A discussão das alterações observadas no recémnascido varia de um estudante para outro, dependendo
das informações obtidas durante a entrevista com a puérpera.
2. Entreviste uma parturiente em seu segundo dia na unidade pósparto em relação às mudanças que ela notou
na aparência e no comportamento do recémnascido nas últimas 24 horas. Debata seus achados na reunião
de discussão de casos clínicos desse dia. Essa discussão varia de acordo com as questões levantadas
durante a demonstração do banho, bem como com a resposta da mãe.
3. Demonstre um banho no recémnascido à parturiente no quarto dela, usando o princípio de lavar da parte
mais limpa para a mais suja do corpo. Discuta as perguntas feitas pela mãe e sua reação à demonstração na
reunião de discussão de casos clínicos desse dia.
4. Consulte os sites da ONG Amigas do Peito e do Ministério da Saúde. Revise as informações fornecidas sobre
o aleitamento materno. Quão úteis elas seriam para a nova mãe?
O site da ONG Amigas do Peito apresenta muitas informações e imagens úteis e ajuda as puérperas no
tocante ao aleitamento materno. Cada estudante terá uma opinião em relação à utilidade do site e o nível
educacional para o qual está direcionado.
5. Debata os riscos e benefícios da circuncisão neonatal com seu grupo de enfermagem na reunião de
discussão de casos clínicos desse dia. Será que ambos os lados apresentam uma posição forte? Qual é a
sua opinião e por quê?
Os riscos da circuncisão neonatal incluem hemorragia, infecção, aderências, deiscência, fístula uretral,
estenose do meato e dor. Os benefícios da circuncisão neonatal incluem prevenção de câncer de pênis,
redução da incidência de infecção urinária e infecções sexualmente transmissíveis e preservação do corpo
masculino em consonância com o pai e os colegas quando o procedimento é comum na cultura deles. Os
estudantes expressarão suas opiniões sobre os pensamentos deles com base em seus sistemas de valores e
contexto cultural.
ESTUDO DE CASO
Dois dias após ter um parto difícil de seu primeiro filho (gestação de 37 semanas), Molly, uma mulher de 25 anos,
e seu companheiro levaram o filho para casa após a alta hospitalar. Naquela noite, enquanto amamentava o filho,
Molly observou que as escleras dele pareciam discretamente amareladas. A coloração amarelada se acentuou
bastante no dia seguinte. Molly telefonou para o enfermeiro do programa domiciliar Healthy Start e solicitou uma
visita domiciliar para avaliação de seu recémnascido.
AVALIAÇÃO
Ao examinar o recémnascido com 3 dias de vida, o enfermeiro observou que existiam algumas áreas de
equimose na cabeça do recémnascido e um matiz amarelado na pele dele ao pressionar áreas ósseas
proeminentes. Ao questionar a mãe em relação ao aleitamento, ela declarou que o recémnascido às vezes
parecia não estar interessado e ela o deixava dormir.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 18 | Conduta de Enfermagem para o RecémNascido
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é D. Um ponto seria subtraído para a cor (acrocianose) e outro ponto para a flexão fraca dos membros.
Todos os parâmetros de avaliação devem considerar dois pontos, com exceção da cor e da flexão. Portanto, qualquer
pontuação diferente de 8 pontos seria incorreta.
2. A resposta correta é D. A fototerapia reduz a bilirrubina na pele do recémnascido por meio da oxidação. A fototerapia não
influencia os níveis de surfactante nos pulmões do recémnascido, nem ajuda a estabilizar sua temperatura. Na verdade, às
vezes pode causar hipertermia, se não for acompanhada atentamente. Ela não consegue destruir os anticorpos antiRh
ligados às hemácias circulantes.
3. A resposta correta é B. A vitamina K é necessária para a coagulação do sangue e é um componente vital da cascata de
coagulação. O intestino do recémnascido é estéril ao nascimento e inicialmente é incapaz de produzila por conta própria
sem uma fonte externa. A vitamina K não tem impacto sobre a conjugação, o transporte ou a excreção da bilirrubina. Não
participa no fechamento do forame oval; o corte do cordão umbilical e as mudanças nos gradientes das pressões vasculares
são responsáveis por esse fechamento. A vitamina K não influencia a digestão das proteínas complexas.
4. A resposta correta é A. Os olhos do recémnascido podem ser expostos a Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia se estes
microrganismos estiverem na vagina da gestante durante o processo de parto, possivelmente resultando em infecção grave e
cegueira. Portanto, administrase profilaxia ocular. Tipicamente candidíase oral e Enterobacter não afetam os olhos. A
candidíase oral se desenvolve no recémnascido após a exposição a infecções fúngicas da vagina materna durante o
processo de parto. As infecções por Staphylococcus e sífilis são contraídas por meio da exposição à corrente sanguínea ou
via placenta, não pelo contato com a vagina da mãe durante o parto. O tratamento oftalmológico não teria impacto em
nenhum dos processos infecciosos. A hepatite B e o herpes não são tratáveis com pomada oftalmológica.
5. A resposta correta é C. Uma pesquisa identificou a ligação entre a posição para dormir e a síndrome da morte súbita
infantil. Desde 1992, a AAP recomenda que todos os recémnascidos sejam colocados para dormir em decúbito dorsal.
Essa recomendação tem reduzido drasticamente a incidência de síndrome da morte súbita infantil. A síndrome de angústia
respiratória envolve falta de surfactante nos pulmões, não a posição para dormir. Deixar que a fórmula ou suco (alta
exposição à lactose) ingeridos permaneçam na boca da criança durante o sono é a causa de cáries dentárias. O
posicionamento em decúbito dorsal poderia agravar a síndrome de regurgitação GI, em vez de melhorála.
6. A resposta correta é D. No Brasil os recémnascidos recebem a primeira da série de vacinas contra a hepatite B antes da
alta do hospital, a segunda dose no 2o mês de vida, e a terceira dose com 6 meses de vida. No Brasil a vacina pneumocócica
é administrada aos 2, 4 e 6 meses de vida. A imunização contra a varicela é dada aos 12 meses de vida, e a segunda dose é
dada até os 18 meses de vida. A primeira dose da vacina contra a hepatite A é administrada aos 12 meses de vida, e a
segunda dose aos 18 meses.
7. A resposta correta é C. Determinados aminoácidos encontrados no leite materno ou na fórmula precisam se acumular no
recémnascido para que se possa identificar a deficiência de uma enzima que leva à incapacidade de metabolizálos. Se o
teste para fenilcetonúria for feito antes de 24 a 48 horas após a alimentação, tem de ser repetido após o recémnascido ter
tolerado a alimentação durante pelo menos esse período de tempo. A identificação de hipotireoidismo não está ligada à
ingestão de refeições de proteína. A fibrose cística é uma doença hereditária genética não relacionada com a ingestão de
proteínas. A doença falciforme é uma condição hereditária não relacionada com a ingestão de proteínas pelo recémnascido.
8. A resposta correta é C porque a circunferência do crânio do recémnascido deve ser aproximadamente 2 cm maior que a
circunferência do tórax. A alternativa A é incorreta porque essas duas regiões de consistência amolecida são os fontículos
(fontanelas) que são normalmente encontrados nas cabeças dos recémnascidos. O fontículo (fontanela) posterior fecha em
6 semanas, e o fontículo (fontanela) anterior fecha em aproximadamente 18 meses. A alternativa B é incorreta porque
edema do escalpo (bossa serossanguinolenta) é comumente encontrado em recémnascidos devido ao traumatismo sofrido
durante o parto. A bossa serossanguinolenta é reabsorvida em alguns dias. A alternativa D é incorreta porque a
superposição dos ossos do crânio (“moldagem”) é um achado comum em todos os recémnascidos. A moldagem ocorre
para possibilitar a passagem do crânio do feto pelo canal do parto da mãe.
9. A resposta correta é A porque mecônio é, geralmente, eliminado durante as primeiras 24 horas de vida na maioria dos
recémnascidos. A alternativa B é incorreta porque a faixa da normalidade da frequência cardíaca dos recémnascidos é 40 a
60 bpm. A alternativa C é incorreta porque o achado de icterícia nas primeiras 24 horas indicaria icterícia patológica, em
vez de fisiológica, e justificaria intervenção médica. A alternativa D é incorreta porque sangramento pela cicatriz umbilical
nunca é normal e exige avaliação adicional.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. Como o enfermeiro deve responder a essa pergunta?
De maneira calma, explique à mãe que todas as suas observações são variações do normal e aborde cada uma
separadamente:
• “Cabeça em forma de banana” – decorrente da moldagem, que ocorre quando o recémnascido sofre discreta
sobreposição dos ossos do crânio durante a passagem pela pelve óssea e pelo canal de parto durante o processo
de nascimento
• “Cabeça mole ao toque” – bossa serossanguinolenta, que é uma área edemaciada do couro cabeludo decorrente da
pressão contínua do occipital contra o colo do útero durante os processos de trabalho de parto e parto
• “Pontos brancos no nariz” – mílias, que são pequenas glândulas sebáceas brancas entupidas e distendidas,
encontradas na maioria dos recémnascidos, que não devem ser espremidas pela mãe
• “Grandes equimoses azuladas nas nádegas” – manchas mongólicas, que são áreas de pigmentação pretoazulada
comuns em indivíduos afroamericanos e que não têm importância clínica, mas podem ser confundidas com
contusões.
b. Quais orientações adicionais em relação à recémnascida podem ser apropriadas nesse momento?
Nesse momento, pode ser apropriado que o enfermeiro desembrulhe a recémnascida e realize uma avaliação completa
à beira do leito, apontando eventuais pequenos desvios para a mãe e explicando sua importância. Isso aliviará qualquer
ansiedade futura da mãe em relação à filha e dará a oportunidade de orientar a Srta. Scott a respeito de várias
adaptações fisiológicas e comportamentais em sua recémnascida.
c. Que garantias podem ser dadas à mãe novata em relação à aparência de sua filha?
Podese supor que a preocupação dessa mãe é de que esses vários desvios da normalidade seriam permanentes. O
enfermeiro pode identificar cada um e fornecer garantias em relação ao momento aproximado em que se espera que
desapareçam:
• Moldagem – de natureza transitória e deve desaparecer em 72 horas
• Bossa serossanguinolenta – desaparece espontaneamente em 3 a 4 dias
• Mílias – desvanecem espontaneamente no primeiro mês
• Manchas mongólicas – desaparecem gradualmente durante o primeiro ou o segundo ano de vida.
2.
a. Qual é o impacto de um rapto infantil sobre a família e o hospital?
O rapto de uma criança é um acontecimento devastador, que apresenta riscos emocionais, legais e financeiros
significativos tanto para a família quanto para o hospital. A perda inesperada e repentina de um recémnascido,
seguida por um período indefinido de incerteza a respeito do bemestar dele, coloca a família traumatizada em crise. O
hospital tipicamente modifica seus sistemas de segurança, políticas e procedimentos, aprimora a supervisão e aumenta
a responsabilidade final por parte de todos os funcionários.
b. Que medida de segurança foi o elo fraco na cadeia de segurança?
A mulher foi capaz de entrar no hospital pelo prontosocorro disfarçada como “enfermeira” sem que ninguém
verificasse seu crachá. As câmeras de segurança não estavam funcionando no momento do rapto. Isso possibilitou que
a sequestradora passasse pelo corredor com o recémnascido sem ser percebida nem registrada. Os enfermeiros da
unidade não estavam cientes da presença dessa mulher em sua unidade, o que não deveria ocorrer. Deveria haver um
alarme nas portas que levam até a unidade e as portas deveriam permanecer trancadas e só serem abertas
eletronicamente por um membro da equipe da unidade depois de a pessoa ter sido identificada. Nesse caso, na verdade
havia problemas em várias das medidas de segurança.
c. O que os hospitais podem fazer para evitar o rapto infantil?
As chaves para a segurança das crianças são a conscientização e a orientação. A equipe do hospital deve realizar
anualmente um treinamento continuado em relação a essas medidas e participar de uma simulação de sequestro infantil
para aumentar a conscientização a respeito da segurança infantil. Crachás especialmente codificados por cores devem
ser usados por todos os funcionários da obstetrícia, e os pais devem ser orientados a não entregar seu filho a pessoas
que não tenham o crachá da cor específica. As pulseiras dos pais devem corresponder às pulseiras e tornozeleiras de
identificação da criança. Todos devem trabalhar em conjunto para manter as crianças em segurança.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. As respostas variam.
2. A discussão das variações observadas no recémnascido muda de um estudante para outro em função do horário de
realização do exame físico.
3. Essa discussão variará de acordo com as perguntas feitas durante o banho de demonstração, bem como com a resposta
específica de cada mãe a essas perguntas.
4. O site Amigas do Peito está repleto de informações úteis e fotos para ajudar as novas mães com o aleitamento materno.
Cada estudante terá a sua própria opinião sobre o quão útil o site é e qual o nível das instruções apresentadas.
5. Os riscos da circuncisão neonatal incluem hemorragia, infecção, aderências, deiscência, fístula uretral, estenose meatal e
dor. Os benefícios dessa prática incluem prevenção do câncer de pênis, diminuição da incidência de infecções urinárias e
doenças/infecções sexualmente transmissíveis e preservação do corpo masculino consistente com o do pai e seus colegas
em que o procedimento é comum. Os estudantes expressarão suas próprias opiniões em relação às considerações, de acordo
com seus sistemas de valores e origens culturais.
ESTUDO DE CASO
1. Qual é a impressão do enfermeiro depois de sua avaliação do recémnascido?
2. Qual é a causa do problema? Quais são os órgãos responsáveis por esse problema?
3. Por que seria esperado que as escleróticas ficassem amarelas?
Resposta: A impressão do enfermeiro seria icterícia neonatal. Essa condição é muito comum, afeta cerca de 50% de todos
os recémnascidos e não deve causar muita preocupação. A icterícia neonatal é causada pela destruição normal das hemácias
fetais senescentes e desgastadas e pela incapacidade do fígado do recémnascido de processar de modo efetivo a bilirrubina
– um composto químico produzido quando as hemácias são destruídas. O excesso de bilirrubina não se deve a um nível
anormal de destruição das hemácias, mas à incapacidade dos hepatócitos imaturos de conjugála e excretála do corpo. As
escleróticas ficam amareladas porque contêm muitas fibras de colágeno, às quais a bilirrubina fica aderida.
Plano de cuidados
1. Qual é a diferença entre icterícia fisiológica e icterícia patológica?
2. Quais fatores de risco esse recémnascido tem?
3. Como essa condição é tratada e quais medidas a mãe pode tomar?
4. Quais são os cuidados subsequentes necessários com esse recémnascido?
Resposta: A icterícia fisiológica não começa antes do terceiro dia de vida, quando os níveis séricos da bilirrubina alcançam
5 a 7 mg/dℓ. A icterícia patológica aparece nas primeiras 24 horas depois do nascimento, quando os níveis de bilirrubina
passam de 12 mg/dℓ. Os fatores de risco desse recémnascido incluem nascimento prematuro (37 semanas), amamentação
materna, traumatismo obstétrico causando destruição das hemácias e amamentação insuficiente. A icterícia neonatal é
tratada por amamentação frequente de forma a fornecer hidratação adequada. A bilirrubina é excretada do corpo nas fezes na
urina. O enfermeiro deve ensinar a mãe a avaliar a cor da pele do recémnascido à luz do dia para determinar se há
tendência a piorar. Também deve recomendar que ele seja amamentado frequentemente e seja exposto à luz solar natural
para ajudar a reduzir os níveis de bilirrubina na pele. A radiação da luz solar altera a composição química da bilirrubina,
facilitando sua excreção pelo fígado. Os cuidados subsequentes incluem avaliar diariamente os níveis de bilirrubina no
consultório do pediatra para ter certeza de que estão diminuindo e monitorar a efetividade das intervenções domiciliares.
Como parte das orientações antecipadas, também seria importante instruir a mãe de que, se os níveis não estiverem
diminuindo, pode ser necessária internação hospitalar para fazer fototerapia e ajudar o recémnascido a decompor e eliminar
a bilirrubina.
Questões múltipla escolha
1. Um recémnascido tem frequência cardíaca de 90 bpm, frequência respiratória normal de 40 irpm,
flexão firme dos membros, faz caretas quando estimulado e apresenta acrocianose. A enfermeira
atribui um índice de Apgar de:
A. 5
B. 6
C. 7
D. 8
Concluir questão
2. Após o nascimento, há várias ações a serem realizadas. Qual das seguintes a enfermeira faria em
primeiro lugar?
A. Colocar uma pulseira de identificação
B. Aspirar boca e nariz
C. Obter a impressão plantar
D. Administrar vitamina K
Concluir questão
3. Em um esforço para diminuir as complicações no recémnascido, qual das seguintes opções a
enfermeira esperaria administrar para a profilaxia de potenciais condições oculares?
A. Solução de nitrato de prata
B. Vitamina K
C. Pomada oftálmica de eritromicina
D. Pomada oftálmica de gentamicina
Concluir questão
4. A enfermeira se prepara para colocar um termômetro em um recémnascido a fim de monitorar sua
temperatura. Qual local seria o ideal para colocálo?
A. Quadrante superior direito do abdome
B. Região lombar da coluna vertebral
C. Braço esquerdo
D. Hálux direito
Concluir questão
5. Ao realizar uma avaliação, a enfermeira observa pequenas pápulas brancas puntiformes no nariz
do recémnascido. Estas são documentadas como:
A. Mília
B. Lanugem
C. Verniz caseoso
D. Sinal de arlequim
Concluir questão
6. Ao auscultar o coração do recémnascido, a enfermeira colocaria o estetoscópio em qual área para
auscultar o ponto de impulso máximo?
A. No terceiro espaço intercostal, adjacente à linha hemiclavicular
B. Lateralmente à linha hemiclavicular, no quarto espaço intercostal
C. Na região média do esterno, logo abaixo da fúrcula
D. No quinto espaço intercostal, na linha hemiclavicular direita
Concluir questão
7. Ao avaliar o cordão umbilical de um recémnascido, qual das seguintes opções a enfermeira
esperaria encontrar?
A. Uma artéria e duas veias
B. Três artérias e nenhuma veia
C. Duas artérias e uma veia
D. Duas artérias e duas veias
Concluir questão
8. Os novos pais estão se preparando para ir para casa e receberam informações para ajudálos a se
adaptar e a aprender a melhor maneira de cuidar do recémnascido. Qual das afirmações a seguir
indica que entenderam como acalmálo se ele estiver aborrecido?
A. “Vamos esfregar vigorosamente as costas dele enquanto colocamos uma música.”
B. “Vamos ligar o móbile pendurado acima de sua cabeça no berço.”
C. “Vamos colocálo de bruços sobre um cobertor no chão.”
D. “Vamos adiar a alimentação por um tempo, porque ele pode estar muito cheio.”
Concluir questão
9. Os novos pais estão preocupados porque o filho recémnascido perdeu peso desde o nascimento.
A enfermeira explica que os recémnascidos normalmente perdem qual porcentagem de seu peso
por volta de 3 a 4 dias de idade?
A. 12%
B. 14%
C. 16%
D. 10%
Concluir questão
10. Uma enfermeira está ciente de que a maturidade neuromuscular do recémnascido normalmente é
concluída no prazo de 24 h após o nascimento. Qual dos seguintes ela teria menor propensão a
utilizar para determinar o grau de maturidade do recémnascido?
A. Ângulo do punho (janela quadrada)
B. Ângulo poplíteo
C. Flexibilidade da articulação acromioclavicular (sinal do cachecol)
D. Reflexo de Moro
Concluir questão
11. Um novo pai está muito preocupado com a cabeça de seu recémnascido, que para ele parece
grande demais. A enfermeira lhe assegura que não há motivo para preocupação, explicando que a
circunferência da cabeça normalmente deve medir:
A. Aproximadamente 1/3 do comprimento da criança
B. Aproximadamente 1/4 do comprimento da criança
C. Aproximadamente 1/2 da circunferência abdominal da criança
D. Aproximadamente 1/4 da circunferência abdominal da criança
Concluir questão
12. Ao avaliar um recémnascido, a enfermeira observa que uma metade do corpo parece vermelha,
enquanto a outra, meio pálida. Isso é chamado de:
A. Mancha macular transitória
B. Manchas mongólicas
C. Sinal do arlequim
D. Eritema tóxico
Concluir questão
13. A maioria das variações de pele é transitória e desvanece ou desaparece com o tempo; no entanto,
os pais com filhos com qual das seguintes opções devem ser aconselhados a acompanhar essa
variação permanente que tem sido associada a um potencial câncer na infância?
A. Eritema tóxico
B. Mancha vinho do porto (malformação vascular)
C. Manchas mongólicas
D. Hemangioma em morango
Concluir questão
14. Nos EUA o rastreamento de um defeito congênito bastante comum é exigido por lei na maioria dos
estados. Cada enfermeiro deve conhecer a lei de seu estado e os requisitos para rastreamento. De
qual dos seguintes se trata?
A. Perda visual
B. Erros genéticos
C. Malformações esqueléticas
D. Perda auditiva
Concluir questão
15. O recémnascido foi submetido à avaliação do estado neurológico para determinar sua maturidade
e identificar eventuais problemas. Qual dos seguintes seria esperado ao testar o reflexo de
Babinski?
A. Os dedos dos pés se abrem em leque quando a planta do pé é estimulada
B. O recémnascido abduz os braços e flexiona os joelhos
C. O recémnascido faz movimento de dar passos
D. Os dedos dos pés do recémnascido se curvam sobre o dedo da enfermeira
Concluir questão
16. Depois de ministrar uma palestra a novos pais, a enfermeira observa que a sessão foi bem
sucedida quando a turma reconhece que o recémnascido deve tomar banho com que frequência?
A. 2 ou 3 vezes/semana
B. 1 vez/semana
C. 1 vez/dia
D. A cada 2 dias
Concluir questão
17. Ao se preparar para ministrar uma palestra para ensinar aos novos pais informações básicas sobre
como cuidar de seu recémnascido, quantas fraldas a enfermeira deve sugerir que os pais
planejem usar diariamente?
A. 8
B. 10
C. 6
D. 12
Concluir questão
18. A circuncisão é uma decisão muito pessoal dos pais, e a maior responsabilidade da enfermeira é
informálos em relação aos riscos e benefícios do procedimento. A enfermeira precisa reconhecer
que essa decisão é principalmente:
A. Difícil
B. Familiar
C. Legal
D. Social
Concluir questão
19. Uma das responsabilidades da enfermeira é orientar os novos pais em relação ao melhor método
para evitar infecções no ambiente do recémnascido. Qual dos seguintes é um deles?
A. Usar sabonetes antimicrobianos
B. Manter o recémnascido isolado dos outros
C. Lavar as mãos
D. Instruir os visitantes a usar máscaras se estiverem doentes
Concluir questão
20. Quando um recémnascido está sofrendo depressão fisiológica, as características do Apgar
desaparecerão de modo previsível. Em que ordem isso acontecerá?
A. Perdese a coloração rosa
B. O esforço respiratório diminui
C. O tônus muscular diminui
D. Observase irritabilidade reflexa
E. A frequência cardíaca diminui
Concluir questão
21. Os novos pais devem ser incentivados a realizar consultas de acompanhamento e ligar para o
médico se perceberem sinais de doença em seu recémnascido. Qual(is) dos seguintes é(são)
sinal(is) de doença que os pais devem estar cientes de alertar? (Selecione todos os que se
aplicam.)
A. Temperatura de 38,3°C ou mais elevada
B. Uso de aproximadamente 8 fraldas por dia
C. Recusa em se alimentar
D. Distensão abdominal
E. Agitação geral
Concluir questão
22. Na determinação da idade gestacional do recémnascido, a enfermeira avalia qual(is) dos
parâmetros a seguir para definir a maturidade física? (Selecione todos os que se aplicam.)
A. Lanugem
D. Recuo do braço
E. Sinal do cachecol
B. Órgãos genitais
C. Postura
Concluir questão
23. Qual(is) dos achados a seguir a enfermeira identificaria como normal(is) ao avaliar um recém
nascido? (Selecione todos os que se aplicam.)
A. Circunferência cefálica de 30 cm
B. Comprimento de 54 cm
C. Peso de 3.300 g
D. Temperatura de 37°C
E. Circunferência torácica de 35 cm
Concluir questão
24. Durante a avaliação inicial do recémnascido, a enfermeira reconhece alguns sinais que precisam
ser comunicados ao médico porque indicam possíveis problemas. Qual(is) dos seguintes pode(m)
indicar um problema? (Selecione todos os que se aplicam.)
A. Respiração difícil
B. Cianose generalizada
C. Postura corporal flácida
D. Taquicardia superior a 140 bpm
E. Taquipneia superior a 50 irpm
Concluir questão
25. A enfermeira reconhece que um recémnascido que nasceu com microcefalia também apresentou
qual(is) das seguintes complicações? (Selecione todas as que se aplicam.)
A. Epilepsia
B. Paralisia cerebral
C. Hidrocefalia
D. Acondroplasia
E. Distúrbios da audição
Concluir questão
Conduta de Enfermagem na Gravidez de Risco | Complicações
19 Relacionadas com a Gestação
PALAVRASCHAVE
Aborto
Descolamento prematuro de placenta
Doença trofoblástica gestacional (DTG)
Eclâmpsia
Gestação múltipla
Gravidez de alto risco
Gravidez ectópica
Hiperêmese gravídica
Hipertensão gestacional
Oligohidrâmnio
Placenta acreta
Placenta prévia
Polihidrâmnio
Préeclâmpsia
Ruptura prematura de membranas fetais (RPMF)
Ruptura prematura prétermo de membranas fetais (RPPMF)
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Comparar e contrastar uma gestação normal a uma gestação de alto risco. Determinar os fatores comuns que podem
impor um alto risco à gestação.
2. Detectar as causas de sangramento vaginal durante o início e o final da gestação.
3. Delinear a avaliação e a conduta de enfermagem para a gestante com sangramento vaginal.
4. Desenvolver um plano de cuidados para a gestante que apresenta préeclâmpsia, eclâmpsia e síndrome HELLP.
5. Examinar a fisiopatologia do polihidrâmnio e o tratamento subsequente.
6. Avaliar os fatores na história prénatal da gestante que a colocam em risco de ruptura prematura de membranas fetais
(RPMF).
7. Formular um plano de orientações para a manutenção da saúde das gestantes com gestação de alto risco.
Helen, de 35 anos de idade, Gesta V, Para IV, chega à unidade de trabalho de parto e parto com dor
abdominal intensa. Ela relata que a dor começou repentinamente, há cerca de 1 hora, enquanto ela estava
descansando. Ela já fez duas cesarianas e agora está na 32a semana de uma gestação até então sem
intercorrências. Helen parece angustiada e está gemendo. Que avaliações adicionais você precisa fazer
para cuidar de Helen? Qual pode ser a sua ação de enfermagem imediata?
Reflexões
As atribulações da vida podem ser gerenciadas, mas muitas delas não podem ser totalmente curadas.
INTRODUÇÃO
A maioria das pessoas vê a gestação como um processo natural, com um desfecho positivo – o nascimento de um recém
nascido saudável. Infelizmente, podem ocorrer condições que eventualmente resultem em desfechos negativos para o feto,
a mãe ou para ambos. A gravidez de alto risco é aquela em que existe uma condição que põe em risco a saúde da mãe, do
feto ou de ambos. A condição pode resultar da gestação ou pode ser uma condição que já existia antes de a mulher
engravidar.
Cerca de uma em cada quatro gestantes é considerada de alto risco ou tem diagnóstico de complicações (Nagtalon
Ramos, 2014). As mulheres que são consideradas de alto risco apresentam taxas de morbidade e mortalidade mais
elevadas do que as mães da população em geral. A classificação de risco de uma gestante e de seu feto pode mudar durante
a gestação, visto que inúmeros problemas podem ocorrer durante o trabalho de parto, o parto ou o puerpério, mesmo em
mulheres sem qualquer risco prénatal anterior conhecido. Exemplos de condições de alto risco incluem o diabetes melito
gestacional e a gravidez ectópica. Muitas complicações e condições obstétricas são emergências potencialmente fatais, com
altas taxas de morbidade e mortalidade. É essencial que isso seja identificado precocemente para garantir o melhor
desfecho possível para a mãe e o neonato. Essas condições são especificamente abordadas no boxe Healthy People
2020 19.1 (U.S. Department of Health and Human Services, 2010). A identificação precoce da mulher em situação de
risco é essencial para garantir que as intervenções apropriadas sejam instituídas imediatamente, aumentando a
oportunidade de mudar o curso dos acontecimentos e fornecer um desfecho positivo.
O termo risco tem conotações distintas para os diferentes grupos. Por exemplo, os médicos se concentram nos
processos mórbidos e nas abordagens terapêuticas para evitar complicações. Os enfermeiros focam os cuidados de
enfermagem e o impacto psicossocial sobre a mulher e sua família. As companhias de seguro se preocupam sobretudo
com as questões econômicas relacionadas com a condição de alto risco. A atenção da mulher está voltada às suas próprias
necessidades e às de sua família. Juntos, atuando como uma equipe colaborativa, o objetivo final do atendimento é garantir
o melhor desfecho possível para a gestante, o feto e sua família.
Healthy People 2020 • 19.1
Objetivos Importância para a
enfermagem
MICH6 Reduzir as doenças maternas e as Reduzirá as taxas de
complicações em razão da gestação morbidade e mortalidade
(complicações durante o trabalho de parto e perinatais e otimizará os
parto hospitalizado) desfechos da gestação
MICH9 Reduzir a ocorrência de partos pré Ajudará a preservar a saúde
termo e o bemestar do feto em
crescimento se a gestação
for até o termo
Objetivos do Healthy People com base em dados
de http://www.healthypeople.gov.
A avaliação de risco começa na primeira consulta prénatal e continua a cada consulta subsequente, porque podem ser
identificados fatores em consultas posteriores que não eram aparentes nas consultas iniciais. Por exemplo, conforme o
enfermeiro e a gestante desenvolvem um relacionamento de confiança, fatores previamente identificados ou inesperados
(como o uso de drogas ilícitas ou a violência por parceiro íntimo) podem ser revelados. Por meio de orientações e apoio, o
enfermeiro pode incentivar a gestante a informar seu médico dessas questões e podem ser feitas intervenções ou
encaminhamentos necessários.
Devemse considerar vários fatores ao determinar o risco de uma mulher ter desfechos adversos na gestação. É
necessária uma abordagem abrangente para a gravidez de alto risco. Por exemplo, mostrouse que o estresse e a angústia
prénatais têm consequências significativas para a mãe, a criança e a família. Estresses específicos da gravidez, como
depressão, ansiedade e tensão percebida, aumentam o risco de desfechos adversos do parto e estão associados a
nascimentos prétermo (Staneva et al., 2015). Os riscos são agrupados em grandes categorias, com base nas ameaças à
saúde e nos desfechos da gestação. As categorias atuais de risco são biofísica, psicossocial, sociodemográfica e ambiental
(Boxe 19.1) (Cunningham et al., 2014).
Este capítulo descreve as principais condições diretamente relacionadas com a gestação que podem complicála,
possivelmente afetando os desfechos maternos e fetais. Essas condições incluem o sangramento durante a gestação (aborto
espontâneo, gravidez ectópica, doença trofoblástica gestacional, insuficiência do colo do útero, placenta prévia,
descolamento prematuro de placenta e placenta acreta), hiperêmese gravídica, hipertensão gestacional, síndrome HELLP,
diabetes melito gestacional, incompatibilidade sanguínea, desequilíbrios de líquido amniótico (polihidrâmnio e oligo
hidrâmnio), gestação múltipla e ruptura prematura de membranas fetais (RPMF). O Capítulo 20 aborda as doenças
preexistentes que podem complicar a gestação de uma mulher, bem como as populações que são consideradas de alto
risco.
SANGRAMENTO DURANTE A GESTAÇÃO
O sangramento em qualquer momento da gestação é potencialmente fatal. Todos os dias, uma mulher morre por minuto
durante a gestação ou o parto. A principal causa de morte é a hemorragia obstétrica, cujo tratamento bemsucedido é um
desafio tanto para países desenvolvidos quanto para os em desenvolvimento. A presença de um obstetra durante o parto e
o acesso a cuidados obstétricos de emergência são estratégicos para a redução da morbidade e mortalidade materna (World
Health Organization [WHO], 2015). O manejo da hemorragia obstétrica envolve reconhecimento precoce, avaliação e
reanimação. Existem vários métodos para tentar interromper o sangramento, que vão desde tratamentos farmacológicos
para auxiliar as contrações uterinas (p. ex., ocitocina, ergometrina e prostaglandinas) a métodos cirúrgicos para estancar a
hemorragia (p. ex., tamponamento com balão, suturas de compressão ou ligadura arterial). O sangramento pode ocorrer no
início ou no final da gestação e pode resultar de inúmeras condições. Aproximadamente 20% das mulheres apresentam
sangramento durante o primeiro trimestre da gravidez (Knez, Day, & Jurkovic, 2014). As condições comumente
associadas a sangramento nas fases iniciais (primeira metade da gestação) incluem o aborto espontâneo, os miomas
uterinos, a gravidez ectópica, a doença trofoblástica gestacional e a insuficiência do colo do útero. As condições associadas
a sangramento tardio incluem a placenta prévia, o descolamento prematuro de placenta, a placenta abrupta e a placenta
acreta, que geralmente ocorrem após a 20a semana de gestação.
BOXE 19.1
FATORES QUE IMPLICAM RISCO PARA A GESTANTE
Fatores biofísicos
• Condições genéticas
• Anormalidades cromossômicas
• Gestação múltipla
• Genes defeituosos
• Distúrbios hereditários
• Incompatibilidade AB0
• Macrossomia fetal
• Condições clínicas e obstétricas
• Trabalho de parto e parto prétermo
• Doenças cardiovasculares
• Hipertensão arterial crônica
• Insuficiência do colo do útero
• Anomalias placentárias
• Infecção
• Diabetes melito
• Doenças do colágeno maternas
• Doenças da tireoide
• Asma brônquica
• Gestação póstermo
• Hemoglobinopatias
• Estado nutricional
• Ingestão nutricional inadequada
• Modismos alimentares
• Ingestão excessiva de alimentos
• Subpeso ou sobrepeso
• Hematócrito abaixo de 33%
• Transtorno alimentar
Fatores psicossociais
• Tabagismo
• Cafeína
• Etilismo e uso de substâncias psicoativas
• Obesidade materna
• Sistema de apoio inadequado
• Crise situacional
• História de violência
• Estresse emocional
• Práticas culturais inseguras
Fatores sociodemográficos
• Estado de pobreza
• Falta de atendimento prénatal
• Idade materna inferior a 15 anos ou superior a 35 anos
• Paridade – a primeira gestação e mais de cinco gestações
• Estado civil – aumento do risco em mulheres solteiras
• Acessibilidade aos cuidados de saúde
• Etnia – aumento do risco em mulheres não brancas
Fatores ambientais
• Infecções
• Radiação
• Pesticidas
• Drogas ilícitas
• Poluentes industriais
• Tabagismo passivo
• Estresse pessoal
Adaptado de Martin, R. J., Fanaroff, A. A., & Walsh, M. C. (2014). Fanaroff & Martin’s neonatalperinatal
medicine (10th ed.). Philadelphia, PA: Elsevier Health Sciences; Foley, M., Strong, T. M., & Garite, T.
(2014). Obstetric intensive care manual (4th ed.). New York, NY: McGrawHill Publishers; e Cunningham, F.
G., Leveno, K. J., Bloom, S. L., Spong, C. Y., Dashe, J. S., Hoffman, B. L., Casey, B. M., & Sheffield, J. S.
(2014). Williams’ obstetrics (24th ed.). New York, NY: McGrawHill Education.
Aborto espontâneo
Aborto é considerado não apenas um importante problema de saúde reprodutiva, mas também um fator de risco para o
bemestar das mulheres. Aborto espontâneo é a complicação mais frequente dos primeiros meses de gravidez (Tulandi &
AlFozan, 2014). O aborto é a interrupção de uma gestação em seu início, geralmente antes da 20a semana. O aborto pode
ser espontâneo ou induzido. O aborto espontâneo referese à perda de um feto por causas naturais – ou seja, não eletivas e
nem terapeuticamente induzidas por um procedimento. Morte fetal é a perda de um feto após a 20a semana de
desenvolvimento, ao passo que aborto espontâneo referese à perda que ocorre antes desse momento. O aborto espontâneo
pode ocorrer durante o início da gestação, e muitas mulheres que abortam podem nem mesmo ter se dado conta de que
estavam grávidas. Cerca de 80% dos abortos espontâneos ocorrem no primeiro trimestre. Os termos morte
fetal (natimortalidade) e aborto espontâneo às vezes causam confusão. Ambos referemse à interrupção de uma gestação
em seu início; no entanto, a morte fetal ocorre mais tarde na gestação. Algumas mortes fetais podem ocorrer até mesmo no
momento do trabalho de parto e do parto. As mortes fetais são muito menos comuns do que os abortos, ocorrendo em
apenas 1 em cada 160 gestações (March of Dimes, 2015a).
Nos EUA, relatase que a taxa geral de aborto espontâneo é de 15 a 20% das gestações detectadas. No entanto, com o
desenvolvimento de testes extremamente sensíveis aos níveis de gonadotrofina coriônica humana (hCG), que detectam a
gestação antes do momento em que se espera que ocorra a próxima menstruação, a incidência de aborto espontâneo
aumenta significativamente – para cerca de 60 a 70% (King et al., 2015). A frequência de aborto espontâneo aumenta
ainda mais com a idade materna.
Fisiopatologia
As causas do aborto espontâneo são variadas e, muitas vezes, desconhecidas. A causa mais comum dos abortos no
primeiro trimestre é a anormalidade genética do feto, geralmente não relacionada com a mãe. As anormalidades
cromossômicas são a causa mais provável no primeiro trimestre; a doença materna é a causa mais comum no segundo
trimestre. Os abortos espontâneos que ocorrem no segundo trimestre mais provavelmente estão relacionados com
condições maternas, como insuficiência do colo do útero, anomalia congênita ou adquirida da cavidade uterina (septo
uterino ou miomas), hipotireoidismo, diabetes melito, nefrite crônica, uso de crack e cocaína, trombofilias herdadas e
adquiridas, lúpus, síndrome dos ovários policísticos, hipertensão arterial grave e infecção aguda (como pelo vírus da
rubéola, citomegalovírus, herpes simples, vaginose bacteriana e toxoplasmose) (Jones & Lopez, 2014).
As mulheres cujo aborto espontâneo no primeiro trimestre ocorre em casa, sem dilatação e curetagem, precisam de
monitoramento frequente dos níveis de hCG para confirmar que todos os tecidos do concepto foram expulsos. Em caso de
aborto espontâneo no segundo trimestre, a mulher é hospitalizada para ser submetida à indução do trabalho de parto e
parto. O cuidado de enfermagem se concentra no atendimento da gestante em trabalho de parto, com atenção redobrada
para fornecer apoio emocional a ela e a seus familiares.
Avaliação de enfermagem
Quando uma gestante liga para a instituição de saúde e relata sangramento vaginal, ela deve ser avaliada o mais
rapidamente possível por um médico para determinar a etiologia desse sangramento. Podem ser relatados graus variados
de sangramento vaginal, dor lombar, cólicas abdominais e eliminação de produtos de tecidos da concepção. Pergunte à
mulher qual a cor do sangue (vermelho brilhante é alarmante) e o volume do sangramento – por exemplo, questionea
sobre a frequência com que ela está trocando os absorventes (a saturação de um absorvente em 1 hora é relevante) e se há
eliminação de algum coágulo ou tecido. Instruaa a coletar quaisquer tecidos ou coágulos que tenham sido eliminados e
trazêlos com ela à instituição de saúde. Além disso, obtenha uma descrição de quaisquer outros sinais e sintomas que a
mulher possa estar apresentando, junto com uma descrição de sua gravidade e duração. É importante manter a calma e
ouvir a descrição da mulher.
Quando a mulher chegar à instituição de saúde, avalie os sinais vitais e observe o volume, a coloração e as
características do sangramento. Peçalhe que classifique o nível de dor atual usando uma ferramenta adequada de avaliação
da dor. Além disso, avalie a quantidade e a intensidade das cólicas ou contrações abdominais e o nível de compreensão da
mulher sobre o que está acontecendo com ela. A avaliação completa ajuda a determinar o tipo de aborto espontâneo que a
mulher pode estar experimentando, como ameaça de aborto, aborto inevitável, aborto incompleto, aborto completo, aborto
retido e aborto recorrente (Tabela 19.1).
Conduta de enfermagem
A conduta de enfermagem em um aborto espontâneo é fornecer monitoramento contínuo e apoio psicológico à mulher,
pois a família está sofrendo uma perda aguda e luto. Um importante componente desse apoio é reconfortar a mulher de que
o aborto espontâneo geralmente resulta de uma anormalidade e que suas ações não causaram o aborto.
INSTITUIÇÃO DE MONITORAMENTO CONTÍNUO
O monitoramento contínuo e as avaliações continuadas são essenciais para a mulher que apresenta um aborto espontâneo.
Monitore o volume de sangramento vaginal por meio da contagem de absorventes e observe a eliminação de produtos de
tecidos da concepção. Avalie a dor da mulher e forneça manejo adequado da dor para aliviar o desconforto das cólicas.
Auxilie na preparação da mulher para procedimentos e tratamentos, como a cirurgia para esvaziar o útero ou a
administração de medicamentos como misoprostol ou PGE2. Se a mulher for Rhnegativa e não sensibilizada, espere para
administrar RhoGAM®nas primeiras 72 horas após o aborto ter se completado. O boxe Orientação sobre medicamentos
19.1 fornece mais informações sobre esses medicamentos.
APOIO
A reação emocional da mulher pode variar de acordo com suas expectativas para essa gestação e sua rede de apoio
disponível. Forneça tanto apoio físico quanto emocional. Além disso, prepare a mulher e sua família para o processo de
avaliação e responda às suas perguntas.
Explicar algumas das causas do aborto espontâneo pode ajudar a mulher a entender o que está acontecendo e pode
acalmar seus receios e a culpa de que fez alguma coisa que levou ao aborto. A maioria das mulheres experimenta uma
sensação aguda de perda e passa por um processo de luto com o aborto espontâneo. Proporcionar escuta sensível,
aconselhamento e orientação antecipatória para a mulher e sua família lhes possibilitará verbalizar seus sentimentos e fazer
perguntas sobre futuras gestações.
Tabela 19.1 Categorias de aborto.
Óstio do colo do
útero fechado
Ausência de
eliminação de
tecido fetal
Cerclagem cervical no
segundo trimestre se
a causa for
incompetência do
colo do útero
O período de luto pode durar até 2 anos após o aborto, com cada pessoa enfrentando o luto de sua própria maneira.
Incentive amigos e familiares a serem solidários, mas a darem espaço e tempo para o casal para que eles lidem com sua
perda. Encaminhar o casal para um grupo de apoio da comunidade pode ser muito útil durante esse processo de luto.
Gravidez ectópica
A gravidez ectópica é qualquer gestação em que o óvulo fertilizado se implanta fora da cavidade uterina. O
termo ectópica é derivado da palavra grega ektopos, que significa “fora do lugar”, e se refere à implantação de um óvulo
fertilizado em um local fora da cavidade uterina, como as tubas uterinas, o colo do útero, o ovário e a cavidade abdominal.
Esse embrião anormalmente implantado cresce e sua irrigação provém do local em que houve a implantação anormal. À
medida que o embrião evolui, aumenta a possibilidade de ruptura de órgãos, porque só a cavidade uterina é projetada para
se expandir e acomodar o desenvolvimento fetal. A gravidez ectópica pode levar a hemorragia maciça, infertilidade ou
morte.
Orientação sobre medicamentos 19.1
Fármacos relacionados a aborto.
• Monitorar os sinais e
sintomas de choque,
como taquicardia,
hipotensão e
ansiedade
segundo trimestre, ou asséptica para
para apagar e dilatar o administrar
colo do útero na • Manter a paciente em
gestação a termo decúbito dorsal por 30
min após a
administração
• Documentar o tempo
de inserção e o
intervalo entre as
dosagens
• Remover o implante
após 12 h ou no início
do trabalho de parto
• Explicar o propósito e
a resposta esperada à
paciente
• Orientar a mulher
explicandolhe que ela
vai precisar desse
tratamento depois dos
partos subsequentes
se os recémnascidos
forem Rhpositivos;
verificar também os
resultados dos
exames laboratoriais
antes de administrar o
fármaco
Adaptado de King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Grgor,
C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s midwifery (5th ed.). Burlington, MA:
Jones & Bartlett Learning; e SkidmoreRoth, L. (2015). Mosby’s 2015
nursing drug reference (28th ed.). Philadelphia, PA: Elsevier.
Ocorre em 1 em cada 50 gestações nos EUA, ou seja, aproximadamente 2% de todas as gestações são diagnosticadas
como ectópicas, taxa que tem aumentado drasticamente durante os últimos 30 anos (March of Dimes, 2015b). Gera muita
preocupação nas mulheres em idade fértil, sendo a causa primária de morte durante o primeiro trimestre de gravidez nos
EUA (Szypulski, 2015). A detecção de gestações ectópicas antes da ruptura aumentou muito nas últimas décadas, em
decorrência da melhoria nas técnicas de diagnóstico, como o desenvolvimento de radioimunoensaios sensíveis e
específicos para hCG, ultrassonografia de alta resolução e ampla disponibilidade da laparoscopia (Desai et al., 2014).
Na gravidez ectópica, a ruptura e a hemorragia podem ocorrer em virtude do crescimento do embrião. Uma gravidez
ectópica rota é uma emergência clínica, portanto, a previsão de ruptura tubária antes de sua ocorrência é extremamente
importante. É uma condição potencialmente fatal e envolve morte do concepto. Mesmo nos EUA, as mulheres podem
morrer e ainda morrem de gravidez ectópica, embora o diagnóstico precoce tenha ajudado a evitar isso.
Fisiopatologia
Normalmente, o óvulo fertilizado se implanta no útero. Na gravidez ectópica, o deslocamento ao longo da tuba uterina é
interrompido ou modificado de algum modo. Na gravidez ectópica, o óvulo se implanta fora do útero. O local mais comum
para a implantação é nas tubas uterinas, mas alguns óvulos podem se implantar no ovário, no intestino, no colo do útero
ou na cavidade abdominal (Figura 19.1) (Sepilian & Wood, 2015). Nenhum desses locais anatômicos consegue acomodar
a inserção da placenta ou um embrião em crescimento.
FIGURA 19.1 Possíveis locais de implantação de uma gravidez ectópica.
Fatores de risco
A gravidez ectópica geralmente resulta de condições que obstruem ou retardam a passagem do óvulo fertilizado pela tuba
uterina até o útero. Essa condição pode ser um bloqueio físico na tuba uterina ou uma falha do epitélio da tuba uterina em
mobilizar o zigoto (célula formada após o óvulo ter sido fertilizado) ao longo da tuba até a cavidade uterina. Na população
geral, a maioria dos casos é decorrente da formação de tecido cicatricial nas tubas uterinas secundária à doença
inflamatória pélvica (DIP). Microrganismos como Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis atacam
preferencialmente as tubas uterinas, provocando infecções silenciosas. Um estudo recente relatou um aumento de duas
vezes no risco de gravidez ectópica em mulheres com história pregressa de infecção por clamídia que leva a danos nas
tubas uterinas (Randall & LaMontagne, 2015). Outros fatores de risco associados à gravidez ectópica incluem cirurgia
tubária prévia, infertilidade, doença inflamatória pélvica, aborto prévio (induzido ou espontâneo), uso de dispositivo
intrauterino, gravidez ectópica prévia, miomas uterinos, esterilização, tabagismo (o que altera a motilidade tubária),
história de múltiplos parceiros sexuais, uso de contraceptivos orais contendo somente progestina, ducha vaginal e
exposição a dietilestilbestrol (Ardehali & Casikar, 2015).
Conduta terapêutica
O diagnóstico de gravidez ectópica pode ser desafiador, porque muitas mulheres são assintomáticas antes da ruptura da
tuba uterina. A tríade clínica clássica de gravidez ectópica inclui dor abdominal, amenorreia e sangramento vaginal.
Infelizmente, apenas 50% das mulheres apresentam esses três sinais/sintomas.
Os procedimentos complementares utilizados para a suspeita de gravidez ectópica incluem um teste urinário para
confirmar a gravidez, concentrações de betahCG para excluir um teste de urina falsonegativo e uma ultrassonografia
transvaginal para visualizar a implantação do embrião em local incorreto (Bourne, 2015).
Historicamente, o tratamento de gravidez ectópica era limitado à cirurgia. A conduta terapêutica da gravidez ectópica
depende de a tuba uterina estar íntegra ou rota. A ruptura da tuba uterina constitui uma emergência clínica. Na
eventualidade de ser necessária intervenção cirúrgica, o cirurgião tenta preservar a tuba uterina (trompa de Falópio)
(King et al., 2015).
INTERVENÇÃO CLÍNICA
Se o diagnóstico for precoce, a maioria das pacientes com gravidez ectópica poderia ser medicada com metotrexato. A taxa
de sucesso global do tratamento clínico em pacientes selecionadas de modo apropriado é de quase 90%. Para ser elegível
para o tratamento clínico, a gestante precisa estar hemodinamicamente estável, sem sinais de sangramento ativo na
cavidade peritoneal, com baixos níveis de betahCG (< 5.000 mUI/mℓ ) e a massa (que precisa medir menos de 4 cm,
conforme determinado pela ultrassonografia) não deve estar rota (Lipscomb, 2010).
As contraindicações ao tratamento clínico incluem paciente instável, dor abdominal intensa e persistente, nefropatia ou
hepatopatia, imunodeficiência, doença pulmonar ativa, úlcera péptica, suspeita de gravidez intrauterina e não adesão da
paciente ao tratamento (Tulandi, 2015). As potenciais vantagens incluem evitar a cirurgia, preservar a perviedade e a
função das tubas e ter um custo menor.
Atualmente, a abordagem clínica da gravidez tubária não rota consiste, mais frequentemente, em injeção IM única de
metotrexato com acompanhamento ambulatorial. Embora não aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), o
tratamento clínico com metotrexato para essa finalidade foi aprovado pelo American College of Obstetricians and
Gynecologists (ACOG). Prostaglandinas, misoprostol e actinomicina têm sido empregados no manejo clínico (não
cirúrgico) da gravidez ectópica, com uma taxa de sucesso referida de aproximadamente 90%. O metotrexato é um
antagonista do ácido fólico, que inibe a divisão celular no embrião em desenvolvimento. É, tipicamente, prescrito como
agente quimioterapêutico para leucemias, linfomas e carcinomas. Mostrouse que produz resultados semelhantes aos do
tratamento cirúrgico em termos de alta taxa de sucesso, baixa taxa de complicação e bom potencial reprodutivo (Dalia et
al., 2014). Os efeitos adversos associados ao metotrexato incluem náuseas, vômitos, estomatite, diarreia, irritação
gástrica, dor abdominal intensa e tontura. O metotrexato para a gravidez ectópica é prescrito de acordo com a área de
superfície corporal da gestante. A administração de metotrexato deve ser limitada a funcionários que tiveram orientações e
treinamento na manipulação e administração de fármacos perigosos. Em algumas instituições, as políticas internas exigem
que apenas enfermeiros que tenham completado uma certificação em quimioterapia e/ou um programa de aptidão em
fármacos perigosos possam administrar esse produto (Cohen et al., 2015).
Antes de receber a dose única de injeção intramuscular para o tratamento da gravidez tubária não rota, a gestante
precisa ser informada sobre os riscos, os benefícios e os efeitos adversos, bem como a possibilidade de fracasso da
abordagem clínica, o que resultaria em ruptura tubária, exigindo intervenção cirúrgica (Tulandi, 2015). A gestante é então
instruída a retornar semanalmente para a realização de exames laboratoriais de acompanhamento pelas semanas seguintes,
até que os níveis de betahCG diminuam. Os níveis de betahCG que mudam entre os dias 0 e 4 após o tratamento com
metotrexato têm importância clínica e valor preditivo. Um nível de betahCG descendente é extremamente preditivo de
sucesso terapêutico (Agarwal & Odejinmi, 2014).
INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS
O manejo cirúrgico da tuba uterina não rompida poderia envolver uma salpingostomia linear para preservar a tuba – uma
consideração importante para a mulher que quer preservar sua fertilidade futura. Também pode ser considerado quando o
tratamento clínico for julgado inadequado.
Na gravidez ectópica rota, é necessária cirurgia em decorrência de uma possível hemorragia não controlada. Pode ser
necessária uma laparotomia com remoção da tuba uterina (salpingectomia). Graças ao diagnóstico mais precoce e ao
manejo clínico, o foco passou da prevenção da morte materna para a promoção de rápida recuperação e preservação da
fertilidade.
Independentemente do tipo de abordagem terapêutica (clínica ou cirúrgica) utilizada, o nível de betahCG da mulher é
monitorado até que seja indetectável, para garantir que todo tecido trofoblástico residual que forma a placenta tenha sido
eliminado. Além disso, todas as pacientes Rhnegativas não sensibilizadas recebem imunoglobulina Rh para evitar a
isoimunização em gestações futuras.
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem centrase em determinar a existência de uma gravidez ectópica e se ela está rota ou não. Uma
mulher com suspeita de gravidez ectópica precisa realizar vários exames complementares, alguns deles invasivos. Pense
em como ela pode se sentir durante todos esses exames, antecipe suas perguntas e ofereçalhe explicações completas e
encorajamento.
ANAMNESE E EXAME FÍSICO
Avalie a paciente cuidadosamente à procura de sinais e sintomas sugestivos de uma gravidez ectópica. O aparecimento dos
sinais e sintomas varia, mas geralmente surgem por volta da 7a ou da 8a semana de gestação. A ausência de menstruação, a
plenitude dos anexos e a dor à palpação podem indicar uma gravidez tubária não rota. Conforme a tuba se distende, a dor
aumenta. A dor pode ser unilateral, bilateral ou difusa no abdome.
Anote!
A característica da gravidez ectópica é a dor abdominal com sangramento pontual nas 6a a 8a semanas seguintes à
ausência de menstruação. Embora essa seja a tríade clássica, os três sinais e sintomas ocorrem em apenas cerca de 50%
dos casos. Muitas mulheres apresentam manifestações típicas de gestação em fase inicial, como aumento da
sensibilidade mamária, náuseas, fadiga, dor no ombro e lombalgia.
Além disso, reveja a anamnese da paciente à procura de possíveis fatores contribuintes. Estes podem incluir:
• Gravidez ectópica prévia
• História pregressa de infecções/doenças sexualmente transmissíveis (IST/DST)
• Tecido cicatricial na tuba uterina decorrente de doença inflamatória pélvica (DIP)
• Exposição intrauterina ao dietilestilbestrol (DES)
• Endometriose
• Cirurgia tubária ou pélvica prévia
• Infertilidade e tratamentos para a infertilidade, incluindo o uso de medicamentos para aumentar a fertilidade
• Anormalidades uterinas, como miomas
• Existência de dispositivo intrauterino (DIU) para fins contraceptivos
• Uso de minipílulas contendo somente progestina (alentece o transporte do óvulo)
• Infecção pósparto ou pósaborto
• Alteração dos níveis de estrogênio e progesterona (interfere na motilidade tubária)
• Idade materna elevada (acima de 35 anos)
• Tabagismo (Ardehali & Casikar, 2015).
Se ocorrer ruptura ou hemorragia antes do início do tratamento, os sintomas podem piorar e incluem dor aguda e
repentina no abdome inferior quando a tuba uterina se romper e o embrião for expelido para a cavidade pélvica; sensação
de desmaio; dor referida para a área do ombro, causada pela irritação do nervo frênico e indicando sangramento para o
abdome; hipotensão; dor intensa à palpação do abdome e distensão abdominal; e choque hipovolêmico (Cunningham et al.,
2014).
EXAMES LABORATORIAIS E COMPLEMENTARES
A realização da ultrassonografia transvaginal para visualizar a implantação do embrião em local incorreto e os baixos
níveis séricos de betahCG auxiliam no diagnóstico de uma gravidez ectópica. A ultrassonografia determina se a gestação
é intrauterina, avalia o tamanho do útero e fornece evidências da viabilidade fetal. A visualização de massa nos anexos e a
ausência de um saco gestacional intrauterino confirmam o diagnóstico de gravidez ectópica (Kao et al., 2014). Na gestação
intrauterina normal, os níveis de betahCG tipicamente duplicam a cada 2 a 4 dias até que sejam alcançados valores
máximos 60 a 90 dias após a concepção. As concentrações de hCG diminuem após 10 a 11 semanas e alcançam um platô
em níveis baixos até os 100 a 130 primeiros dias de gestação (Ko & Cheung, 2014). Portanto, níveis baixos de betahCG
são sugestivos de gravidez ectópica ou aborto iminente. Outros exames são solicitados para descartar a possibilidade de
outras condições, como aborto espontâneo, ruptura de cisto ovariano, apendicite e salpingite.
Conduta de enfermagem
A conduta de enfermagem para a mulher com uma gravidez ectópica se concentra em preparála para o tratamento, prestar
apoio e fornecer orientações em relação a medidas preventivas.
PREPARAÇÃO PARA O TRATAMENTO
Administre analgésicos conforme prescrito para promover o bemestar e aliviar o desconforto da dor abdominal. Embora a
intensidade da dor possa variar, as mulheres muitas vezes relatam dor intensa. Se a mulher for tratada clinicamente,
explique o medicamento que será usado e o que ela pode esperar. Reveja também os sinais e sintomas de possíveis efeitos
adversos. Se o tratamento for ambulatorial, descreva os sinais e sintomas de ruptura ectópica (dor abdominal intensa,
aguda, em caráter de punhalada, unilateral; vertigem/desmaio; hipotensão e frequência cardíaca aumentada) e aconselhe a
mulher a procurar ajuda médica imediatamente se eles ocorrerem.
Se for necessário cirurgia, a avaliação e o monitoramento atento dos sinais vitais, do sangramento (peritoneal ou
vaginal) e da intensidade da dor da paciente são fundamentais para identificar um choque hipovolêmico, que pode ocorrer
em caso de ruptura tubária. Prepare a paciente fisiológica e psicologicamente para a cirurgia ou qualquer outro
procedimento. Forneça uma explicação clara sobre o desfecho esperado. A vigilância perspicaz e o encaminhamento
precoce ajudarão a reduzir as taxas de morbidade em curto e longo prazos.
APOIO EMOCIONAL
A mulher com uma gravidez ectópica precisa de apoio durante a investigação diagnóstica, o tratamento e os cuidados
posteriores. A reação psicológica da paciente à gravidez ectópica é imprevisível. No entanto, é importante reconhecer que
ela teve um aborto, além de passar por tratamento para uma condição potencialmente fatal. A mulher pode ter dificuldade
para compreender o que aconteceu com ela, porque os eventos se sucedem muito rapidamente. Na mente da mulher, ela
havia acabado de iniciar uma gestação, que agora terminou abruptamente. O sangramento durante qualquer gestação é
traumático, por causa da incerteza do desfecho. Ajudea a tornar essa experiência “mais real”, encorajando que ela e sua
família expressem seus sentimentos e preocupações abertamente e validando que se trata de um aborto e que é natural o
sentimento de luto. Embora a mulher possa ter se recuperado fisicamente após uma gravidez ectópica, ela ainda apresenta
sofrimento emocional significativo por um longo tempo.
Preste apoio emocional, cuidado espiritual e informações sobre grupos de apoio da comunidade conforme a paciente
sofre pela perda do filho e começa a lidar com as complicações clínicas da situação. Reconheça a existência da gravidez e
possibilite que a paciente discuta seus sentimentos sobre o significado dessa gestação. Além disso, ressalte a necessidade
de realizar exames de sangue de acompanhamento durante várias semanas para monitorar os níveis de hCG até que eles
voltem a zero, indicando a resolução da gravidez ectópica. Questione a mulher sobre seus sentimentos e preocupações em
relação à fertilidade futura e forneça orientações sobre a necessidade de usar anticoncepcionais por pelo menos três ciclos
menstruais, para possibilitar que seu trato reprodutivo cicatrize e o tecido seja reparado. Inclua o parceiro da mulher nessa
discussão para garantir que o casal entenda o que aconteceu, qual intervenção é necessária e o que o futuro reserva para
eles em relação à fertilidade.
ORIENTAÇÕES À PACIENTE
Prevenir a gravidez ectópica por meio de rastreamento e orientações à paciente é essencial. Muitas gestações ectópicas
podem não ocorrer evitandose condições que causem a formação de tecido fibrótico nas tubas uterinas. Além disso, um
fator que contribui para o desenvolvimento de gravidez ectópica é uma gravidez ectópica prévia. Portanto, a orientação é
crucial. As orientações para a prevenção incluem as seguintes ações:
• Reduzir os fatores de risco, como relações sexuais com múltiplos parceiros ou sem preservativo
• Evitar contrair IST/DST, que evoluem para doença inflamatória pélvica (DIP)
• Estabelecer diagnóstico precoce e tratar adequadamente as IST/DST
• Se a mulher optar por um sistema contraceptivo intrauterino, deve receber descrições dos sinais de DIP para reduzir o
risco de infecções ascendentes de repetição, que podem ser responsáveis pelo tecido cicatricial tubário
• Não fumar durante a idade fértil, visto que existe correlação e aumento do risco
• Usar preservativos para diminuir o risco de contrair infecções que causam a formação de tecido fibrótico nas tubas
uterinas
• Procurar assistência prénatal precoce para confirmar a localização da gestação.
Doença trofoblástica gestacional
A doença trofoblástica gestacional (DTG) compreende um espectro de distúrbios neoplásicos que se originam na
placenta. Existe hiperproliferação anormal de células trofoblásticas que normalmente se desenvolveriam na placenta
durante a gravidez. As doenças trofoblásticas gestacionais englobam mola hidatiforme (parcial e completa), mola invasiva,
coriocarcinoma gestacional, tumor trofoblástico placentário e tumor trofoblástico epitelioide (Nguyen & Slim, 2014).
Existe tecido gestacional, contudo a gestação não é viável. É difícil determinar a incidência da doença trofoblástica
gestacional devido ao fato de o diagnóstico ser incomum e a falta de acurácia da documentação de abortamento. Contudo,
acreditase que ocorra em aproximadamente 1 em cada 1.000 gestações nos EUA. Nos países asiá ticos a taxa é de 1 em
cada 120 gestações (American Cancer Society [ACS], 2015) Os dois tipos mais comuns de DTG são a mola hidatiforme
(parcial ou completa) e o coriocarcinoma.
Fisiopatologia
A patogênese é singular, porque o tumor materno se origina em tecido gestacional em vez de no tecido materno. A mola
hidatiforme é um tumor benigno do cório no qual as vilosidades coriônicas degeneram e se transformam em vesículas
transparentes contendo um líquido claro e viscoso. A mola hidatiforme é classificada como completa ou parcial; distingue
se por diferenças no quadro clínico, na histopatologia, na genética e na epidemiologia (Strohl & Lurain, 2014). A mola
completa não contém tecido fetal e se desenvolve a partir de um “óvulo vazio” que é fertilizado por um espermatozoide
normal (os cromossomos paternos se replicam, resultando em 46 cromossomos, todos paternos) (Figura 19.2). O embrião
não é viável e morre. Não é estabelecida circulação e não é encontrado tecido embrionário. A mola completa está associada
ao desenvolvimento de coriocarcinoma. A cirurgia consegue remover totalmente a maioria das molas completas, contudo,
até uma em cada cinco mulheres apresentará algum tecido molar persistente e precisará de tratamento adicional (ACS,
2015) A maioria das mulheres com mola completa clássica apresenta sangramento vaginal, anemia, útero excessivamente
aumentado, préeclâmpsia e hiperêmese.
FIGURA 19.2 Mola hidatiforme completa como é vista em um útero retirado da cavidade. As vilosidades coriônicas
degeneram e são preenchidas por um líquido viscoso, formando vesículas transparentes. (De Reichert [2011].
Diagnostic Gynecologic and Obstetric Pathology. Cortesia de Dr. Enrique Higa. Philadelphia, PA: LWW.)
A mola parcial tem um cariótipo triploide (69 cromossomos) porque dois espermatozoides fertilizaram um óvulo. De
modo geral, as mulheres com mola parcial geralmente apresentam as características clínicas de um aborto retido ou
incompleto, incluindo sangramento vaginal e útero de tamanho normal ou pequeno para a idade gestacional (Dickson &
Mullany, 2015).
A causa exata da gravidez molar não é conhecida, mas os pesquisadores estão procurando uma justificativa genética.
Outras teorias incluem defeito ovular, estresse ou deficiência nutricional (caroteno). Embora a etiologia ainda seja incerta,
em algum momento da gestação, as células trofoblásticas que normalmente formariam a placenta proliferam e as
vilosidades coriônicas tornamse edemaciadas. Essas últimas mudanças transformamse nos agrupamentos em forma de
cachos de uva que caracterizam a gravidez molar (King et al., 2015). Estudos têm revelado algumas características
importantes sobre a gravidez molar, incluindo:
• Capacidade de invadir a parede do útero
• Tendência para recorrer em gestações subsequentes
• Possível evolução para coriocarcinoma, um câncer virulento com metástases para outros órgãos
• Influência de fatores nutricionais, como a deficiência de proteína
• Tendência a afetar as mulheres mais velhas com mais frequência do que as mais jovens.
A gravidez molar (parcial ou completa) resulta em aborto e na possibilidade de desenvolvimento de coriocarcinoma,
um processo maligno coriônico do tecido trofoblástico. Tipicamente assintomático, as primeiras manifestações clínicas do
coriocarcinoma em 80% dos casos são dispneia, indicativa de metástases para os pulmões. O coriocarcinoma ocorre em
mulheres de todas as faixas etárias e pode ocorrer durante a gravidez, após o parto ou até mesmo anos depois da última
gravidez. Os locais mais frequentes de metástases são os pulmões, o sistema genital inferior, o encéfalo e o fígado. O
coriocarcinoma é extremamente responsivo à quimioterapia, com uma taxa de remissão global superior a 90% (Hensley &
Shviraga, 2014). As molas parciais raramente se transformam em coriocarcinomas.
Conduta terapêutica
O tratamento consiste na evacuação imediata do conteúdo uterino, assim que o diagnóstico é feito, e acompanhamento a
longo prazo da paciente para detectar qualquer tecido trofoblástico remanescente que possa se tornar maligno. Dilatação e
curetagem são realizadas para esvaziar o útero. O tecido coletado é enviado ao laboratório para análise (pesquisa de
coriocarcinoma). Os níveis séricos de hCG são verificados durante 1 ano para detectar qualquer tecido trofoblástico
residual. Se houver algum tecido remanescente, os níveis de hCG não caem. Em 80% das mulheres que apresentam o tipo
benigno de mola hidatiforme, os níveis séricos de hCG retornam progressivamente ao normal nas 8a a 12a semanas
seguintes à evacuação da gravidez molar. Nos 20% restantes (mulheres com mola hidatiforme maligna), os níveis séricos
de hCG começam a subir (Berkowitz, Goldstein, & Horowitz, 2014).
Em virtude do risco aumentado de câncer, a paciente é aconselhada a receber acompanhamento durante os 12 meses
seguintes. O protocolo de acompanhamento inclui:
• Determinação dos níveis de hCG e realização de radiografia de tórax e ultrassonografia pélvica (perfil basal)
• Dosagem quantitativa do hCG semanalmente, até que o hormônio permaneça indetectável por 3 semanas consecutivas;
a seguir, acompanhamento seriado mensal dos níveis séricos de hCG por 1 ano
• Radiografia do tórax a cada 6 meses para detectar metástases pulmonares
• Exames pélvicos regulares para avaliar a regressão do útero e dos ovários
• Avaliações sistêmicas à procura de sinais e sintomas indicativos de metástases no pulmão, encéfalo, fígado ou vagina
• Forte recomendação para não engravidar durante 1 ano, porque a gestação interfere no monitoramento dos níveis de
hCG
• Uso de um contraceptivo confiável por pelo menos 1 ano (Cunningham et al., 2014).
Avaliação de enfermagem
O enfermeiro desempenha um papel crucial na identificação e na notificação do médico dessa condição, com base em
conhecimentos sólidos do quadro clínico típico e por meio de avaliações prénatais perspicazes.
O quadro clínico da doença trofoblástica gestacional é muito semelhante ao do aborto espontâneo por volta da
a
12 semana de gestação. Avalie a gestante à procura de potenciais manifestações clínicas em cada consulta prénatal. Esteja
alerta para o seguinte:
• Relato de sinais precoces de gravidez, como amenorreia, aumento da sensibilidade mamária, fadiga
• Sangramento vaginal/manchas pontuais acastanhadas
• Anemia
• Incapacidade de detectar a frequência cardíaca fetal após uma gestação de 10 a 12 semanas
• Partes fetais não detectadas na palpação
• Aumento do volume dos dois ovários causado por cistos e níveis elevados de hCG
• Náuseas e vômitos persistentes e, com frequência, intensos (consequentes aos níveis elevados de hCG)
• Retenção de líquidos e edema
• Tamanho do útero maior do que o esperado para a idade gestacional
• Achado de níveis extremamente elevados de hCG; um valor isolado não é considerado suficiente para o diagnóstico
• Desenvolvimento precoce de préeclâmpsia (habitualmente não ocorre antes da 24asemana de gestação)
• Ausência de frequência cardíaca fetal ou atividade fetal
• Expulsão de vesículas semelhantes a cachos de uva (possível em algumas mulheres).
O diagnóstico é confirmado pela detecção de altos níveis de hCG e pela aparência característica na ultrassonografia
transvaginal (padrão vesicular molar no útero).
Conduta de enfermagem
A conduta de enfermagem em doença trofoblástica gestacional visa à preparação da mulher para dilatação e curetagem, ao
apoio emocional para lidar com a perda e os potenciais riscos, e à orientação em relação ao risco de desenvolvimento de
câncer após uma gravidez molar e à necessidade de adesão estrita ao programa de acompanhamento. A mulher precisa
entender a necessidade do acompanhamento continuado para melhorar suas chances de engravidar no futuro e garantir a
manutenção de sua qualidade de vida.
PREPARAÇÃO DA PACIENTE
Após o diagnóstico, é necessário realizar imediatamente a evacuação do útero. Preste cuidados préoperatórios, preparando
a paciente física e psicologicamente para o procedimento.
Considere isto
Nossos dormitórios na faculdade de enfermagem eram um de frente para o outro, mas na verdade não nos
conhecíamos, exceto por um “olá” ocasional, de passagem. Quando nos formamos, Rose começou a
trabalhar no prontosocorro e eu na obstetrícia. Vimonos uma vez ou outra no refeitório dos funcionários,
mas um “oi” rápido era o máximo que trocávamos. Ouvi dizer que ela se casou com um dos paramédicos
que trabalhava no prontosocorro e engravidou logo em seguida. Eu finalmente consegui dizer mais do que
oi quando ela foi admitida na unidade obstétrica com sangramento durante o quarto mês de gestação. Foi
detectada uma doença trofoblástica gestacional, em vez de uma gestação normal. Lembrome de segurála
em meus braços enquanto ela chorava. Foilhe dito que tinha uma gravidez molar completa após a cirurgia
e que precisaria de acompanhamento durante 1 ano. Perdi contato com ela naquele verão, pelas várias
atividades em que eu estava envolvida. Próximo ao feriado de Ação de Graças, ouvi dizer que ela havia
morrido de coriocarcinoma. Fui ao seu funeral; por fim, chegou a hora de dizer um último oi e um adeus,
mas dessa vez com tristeza e lágrimas.
Reflexões: Rose tinha apenas 26 anos de idade quando sucumbiu a esse tipo de câncer muito virulento.
Olho para trás e percebo que perdi a chance de conhecer essa jovem mulher corajosa e queria que eu
tivesse tido tempo para dizer mais do que oi. O desfecho poderia ter sido diferente? Por que ela não foi
diagnosticada mais cedo? Será que ela não fez o acompanhamento após o seu diagnóstico? Só posso
especular sobre quem, o que e onde. Sua vida foi curta, mas com propósito, e esperamos que as pesquisas
continuadas mudem o desfecho de outras mulheres no futuro.
APOIO EMOCIONAL
Para ajudar a paciente e sua família a lidar com o aborto e a possibilidade de um diagnóstico de câncer, use as seguintes
intervenções:
• Ouvir as preocupações e os medos da paciente e de seus familiares
• Darlhes um tempo para lamentar a perda
• Reconhecer a perda e os sentimentos de tristeza deles (diga que você sente pela perda deles)
• Incentiválos a expressar sua dor; deixálos chorar à vontade
• Fornecer o máximo possível de informações factuais, para ajudálos a entender o que está acontecendo
• Recrutar o apoio de outros familiares e amigos, conforme apropriado e com a permissão da paciente.
ORIENTAÇÕES À PACIENTE
Depois que a DTG é diagnosticada, oriente a paciente em relação à doença e às intervenções adequadas que podem ser
necessárias para salvar sua vida. Explique acuradamente cada fase do tratamento e dê suporte para a mulher e sua família
conforme eles passam pelo processo de luto.
Como acontece com qualquer faceta dos cuidados de saúde, esteja ciente das mais recentes pesquisas e novos
tratamentos. Informe a paciente sobre seus cuidados de acompanhamento, que provavelmente envolverão a vigilância
clínica atenta durante cerca de 1 ano, e reforce a importância disso no monitoramento de sua condição. Diga à paciente que
o acompanhamento seriado dos níveis séricos de betahCG é usado para detectar tecidos trofoblásticos residuais. Níveis
continuamente elevados ou crescentes de hCG são anormais e exigem investigação mais aprofundada.
Informe a paciente sobre o possível uso de um agente quimioterapêutico, como o metotrexato, que pode ser iniciado
profilaticamente. Recomende fortemente que a paciente utilize um contraceptivo seguro para evitar a gravidez durante 1
ano, visto que uma gestação interferiria no acompanhamento seriado dos níveis de betahCG usado para identificar um
potencial tumor maligno. Reforce a necessidade de a paciente cooperar e aderir ao plano de tratamento de acompanhamento
ao longo desse período de 1 ano.
Insuficiência do colo do útero
A insuficiência do colo do útero, também chamada de dilatação prematura do colo do útero, consiste em um colo do útero
estruturalmente defeituoso, que se dilata espontaneamente na ausência de contrações uterinas no segundo ou no início do
terceiro trimestre da gestação, resultando em aborto. Uma vez que isso ocorre tipicamente no quarto ou quinto mês de
gestação, antes do ponto de viabilidade fetal, o feto morre, a menos que a dilatação possa ser contida. A incidência de
insuficiência do colo do útero é inferior a 1% na população obstétrica (AHRQ, 2015).
Fisiopatologia
O mecanismo exato que contribui para a insuficiência do colo do útero não é conhecido. O colo do útero pode ter menos
elastina, menos colágeno e mais músculo liso do que o colo do útero normal e, portanto, resultar em perda de tônus do
esfíncter (Magowan, Owen, & Thomson, 2014). Propuseramse várias teorias que focam nos danos ao colo do útero como
um componente essencial de fatores hormonais, como o aumento da concentração de relaxina. Quando a pressão do
conteúdo uterino em expansão tornase maior do que a capacidade de o óstio do colo do útero permanecer fechado, o colo
do útero repentinamente relaxa, possibilitando que ocorram o apagamento e a dilatação. A dilatação do colo do útero é
tipicamente rápida e relativamente indolor, sendo acompanhada por sangramento mínimo (Norwitz & Conroy, 2015).
É provável que a insuficiência do colo do útero seja o desfecho clínico final de muitos processos patológicos, como
hipoplasia congênita do colo do útero, exposição intrauterina ao dietilestilbestrol que causou hipoplasia cervical, ou
traumatismo ao colo do útero (conização, amputação, laceração obstétrica ou dilatação cervical forçada [pode ocorrer
durante a interrupção eletiva da gestação]). Outras condições, como parto precipitado prévio, segundo estágio do trabalho
de parto prolongado, aumento dos níveis de relaxina e progesterona ou aumento do volume uterino (gestação múltipla,
polihidrâmnio), estão associadas à insuficiência do colo do útero (Berghella, 2014). No entanto, a etiologia exata dessa
insuficiência não é conhecida.
O comprimento do colo do útero também tem sido associado à insuficiência do colo do útero e, subsequentemente, ao
parto prétermo. Estudos recentes examinaram a associação entre um colo curto e o risco de parto prétermo. Alguns
trabalhos demonstraram um continuum de risco entre colo de útero mais curto na ultrassonografia e maior risco de parto
prétermo, levando ao argumento hipotético de que as mulheres com colo de útero curto na ultrassonografia podem se
beneficiar da cerclagem cervical (fechamento do colo do útero com suturas). O ACOG não preconiza a realização de
cerclagem em mulheres com colo do útero curto que não tenham história pregressa de parto prétermo, porque não há
provas de que essa intervenção seja benéfica nessa população (2014a).
Conduta terapêutica
A insuficiência do colo do útero pode ser tratada de várias maneiras: repouso no leito; repouso pélvico; evitar o
levantamento de peso; suplementação de progesterona em mulheres com risco de parto prétermo; colocação de um
pessário cervical (dispositivo redondo de silicone no colo do útero) ou cirurgicamente, por meio de um procedimento de
cerclagem cervical no segundo trimestre da gestação. A cerclagem foi desenvolvida há mais de 50 anos, baseada na
hipótese de que, para algumas mulheres, a fraqueza ou o mau funcionamento do colo do útero tem um papel causal que
leva ao parto prétermo. Pode ser realizado por via transvaginal ou transabdominal. A cerclagem cervical envolve o uso de
uma forte sutura em bolsa de tabaco para proteger e reforçar o óstio interno do colo do útero (Figura 19.3).
De acordo com o ACOG (2014a), se for identificado um colo de útero curto na 20asemana de gestação ou depois, na
ausência de infecção (corioamnionite), a decisão de prosseguir com a cerclagem deve ser feita com cautela. O ACOG
recomenda as seguintes indicações para cerclagem cervical: história pregressa de abortamento no segundo trimestre de
gravidez com dilatação indolor do colo do útero; realização prévia de cerclagem por causa de insuficiência do colo do
útero; história pregressa de parto prétermo espontâneo na 34a semana de gravidez e dilatação indolor do colo do útero no
exame físico durante o segundo trimestre de gravidez (2014a). As complicações associadas com a realização da cerclagem
são colocação incorreta dos pontos de sutura e ruptura de membranas corioamnióticas e corioamnionite. A incidência
dessas complicações varia muito em termos de cronologia e indicações da cerclagem (Abu Hashim, AlInany, & Kilani,
2014). O momento ideal para a remoção da cerclagem não é claro, mas o ACOG (2014a) apoia sua colocação até a
28a semana de gestação. Metanálise recente de estudos controlados randomizados concluiu que a progesterona por via
vaginal e a cerclagem são igualmente eficazes na prevenção de parto prétermo em mulheres com colo do útero curto no
segundo trimestre de gravidez, em gestações de feto único e parto prétermo prévio (Jena et al., 2015).
Avaliação de enfermagem
FATORES DE RISCO
A avaliação de enfermagem centrase na coleta de uma anamnese completa para determinar fatores de risco que possam
influenciar a gestação: traumatismo ao colo do útero prévio, trabalho de parto prematuro, aborto no segundo trimestre ou
cirurgias ou procedimentos prévios envolvendo o colo do útero. A anamnese pode revelar um aborto prévio por volta da
20a semana de gestação.
Também esteja alerta para queixas de secreção vaginal ou sensação de pressão pélvica. Na insuficiência do colo do
útero, a mulher comumente relata secreção vaginal tingida de rosa ou aumento da pressão na pelve inferior, cólicas,
sangramento vaginal e perda de líquido amniótico. Também ocorre dilatação do colo do útero. Se a dilatação prosseguir,
ocorrem ruptura das membranas, liberação de líquido amniótico e contrações uterinas, subsequentemente resultando em
expulsão do feto, muitas vezes antes que esteja viável.
Anote!
O diagnóstico de insuficiência do colo do útero continua sendo difícil em muitos casos. A pedra angular do diagnóstico é o
relato de aborto durante o segundo ou no início do terceiro trimestre associado à dilatação indolor do colo do útero, sem
evidências de atividade uterina.
EXAMES COMPLEMENTARES
Ultrassonografia transvaginal. Tipicamente uma ultrassonografia transvaginal é realizada entre a 16a e a 24a semana de
gestação para determinar o comprimento do colo do útero, avaliar o encurtamento do colo do útero e tentar prever um
parto prétermo precoce. O encurtamento do colo do útero ocorre a partir do óstio interno para fora, podendo ser visto na
ultrassonografia como um afunilamento. A magnitude do afunilamento pode ser determinada dividindose o comprimento
do funil pelo comprimento do colo do útero. O momento mais comum em que um colo do útero curto ou um afunilamento
se desenvolve é entre a 16a e a 24a semana de gestação, de modo que o rastreamento por ultrassonografia deve ser feito
durante esse intervalo (Herrera & Lewis, 2014). Um colo do útero com comprimento inferior a 25 mm é anormal entre a
16a e a 24a semana de gestação e aumenta o risco de trabalho de parto prematuro. Para as pacientes com colo do útero
curto, forneça orientações sobre os sinais e sintomas de trabalho de parto prematuro, especialmente conforme a gestação
se aproxima da potencial viabilidade. As consultas/contatos prénatais podem ser agendadas em intervalos menores para
aumentar a interação da paciente com o médico, especialmente entre a 20a e a 34a semana de gestação, o que pode diminuir
a taxa de partos prétermo extremamente prematuros.
FIGURA 19.3 A. Cerclagem cervical. B. Sutura do colo do útero para casos de insuficiência.
Espere que a gestante (especialmente aquela com pressão pélvica, dor nas costas, ou secreção de muco aumentada) seja
submetida a avaliações ultrassonográficas transvaginais seriadas (intervalos de poucos dias), para evitar que mudanças
rápidas na dilatação do colo do útero passem despercebidas ou até que a tendência de comprimento do colo do útero possa
ser caracterizada (Cunningham et al., 2014).
Monitoramento domiciliar da atividade uterina. Para a mulher em risco de parto prétermo, o monitoramento
domiciliar da atividade uterina pode ser usado para rastrear a contratilidade uterina prétrabalho de parto, de modo que
uma contratilidade progressivamente maior possa ser identificada, possibilitando uma intervenção mais precoce para
prevenir o parto prétermo. O monitoramento domiciliar da atividade uterina consiste em um sensor de pressão acoplado a
um cinto que é colocado contra o abdome e um dispositivo de registro/armazenamento que é preso em um cinto ou
pendurado no ombro. A atividade uterina geralmente é registrada pela mulher por 1 hora, 2 vezes/dia, enquanto ela está
realizando atividades rotineiras. Os dados armazenados são transmitidos por telefone a um enfermeiro perinatal e um
aparelho de recepção imprime esses dados. A mulher é contatada se houver algum problema.
Embora, em teoria, identificar o início das contrações para introduzir intervenções para interromper o trabalho de parto
pareça razoável, um estudo Cochrane Review recente descobriu que o monitoramento da atividade uterina em mulheres
assintomáticas de alto risco é insuficiente para prever o parto prétermo. Não houve impacto nos desfechos maternos ou
perinatais ou na previsão de partos prétermo (Urquhart et al., 2015). Essa prática continua, apesar de diversos estudos
randomizados não terem encontrado nenhuma relação entre o monitoramento e uma real redução no trabalho de parto
prematuro. Em resultados de pesquisas mais recentes, o comprimento do colo do útero foi preditivo de parto prétermo em
todas as populações estudadas. Um comprimento cervical menor que 25 mm exige intervenção para melhorar os desfechos
de saúde da gestante e de seu neonato (Boots et al., 2014).
Conduta de enfermagem
A conduta de enfermagem centrase em monitorar atentamente a gestante à procura de sinais de trabalho de parto
prematuro: dor nas costas, aumento da secreção vaginal, ruptura de membranas e contrações uterinas. Forneça apoio
emocional e orientações para aliviar a ansiedade do casal em relação ao bemestar de seu feto. Preste cuidados pré
operatórios e forneça orientações, conforme indicado, se a gestante precisar ser submetida a uma cerclagem. Oriente a
paciente e sua família sobre os sinais e sintomas de trabalho de parto prematuro e da necessidade de relatar quaisquer
alterações imediatamente. Também reforce a necessidade de restringir atividades (se for o caso) e de realizar
acompanhamento regular contínuo. É importante continuar a vigilância durante a gestação para promover um desfecho
positivo à família. Os profissionais de enfermagem têm participação crucial na identificação de trabalho de parto
prematuro por meio de avaliação de risco, exame físico e defesa da paciente.
Placenta prévia
A placenta prévia é uma condição envolvendo sangramento que ocorre durante os dois últimos trimestres de gestação. Na
placenta prévia (literalmente, “placenta primeiro”), a placenta se implanta sobre o óstio do colo do útero. Isso pode causar
grave morbidade e mortalidade para o feto e a mãe. O risco de placenta prévia em uma primeira gestação é de 1 em 400,
mas se eleva para 1 em 160 após a primeira cesariana; 1 em 60 após a segunda; 1 em 30 após a terceira; e 1 em 10 após a
quarta cesariana. Está associada a consequências potencialmente graves pela hemorragia, pelo descolamento da placenta ou
pela cesariana de emergência (Joy & Temming, 2015). Com a elevação na incidência de cesarianas, combinada com o
aumento da idade materna e dos tratamentos para a infertilidade, o número de casos de placenta prévia está subindo
drasticamente. A taxa de partos por cesariana precisa ser reduzida para diminuir as taxas de morbidade e mortalidade
maternas. A avaliação abrangente do risco, combinada com os avanços tecnológicos da ultrassonografia, propicia a
detecção mais precoce dessa implantação incorreta da placenta (Wiedaseck & Monchek, 2014).
Fisiopatologia
A causa exata da placenta prévia não é conhecida. É iniciada pela implantação do embrião na parte inferior do útero, talvez
por causa da formação de cicatrizes no endométrio uterino ou de danos ao segmento superior, o que pode incitar o
crescimento placentário no segmento uterino inferior ileso. A subperfusão uteroplacentária também pode ocorrer, o que
aumenta a área de superfície necessária para a fixação da placenta e pode fazer com que a placenta invada o segmento
inferior do útero. Com a fixação e o crescimento da placenta, o óstio do colo do útero pode tornarse coberto pela placenta
em desenvolvimento. A vascularização placentária é defeituosa, possibilitando que a placenta se insira diretamente no
miométrio (acreta), se insira profundamente ao miométrio (increta) ou se infiltre no miométrio (percreta).
A placenta prévia geralmente é classificada de acordo com o grau de cobertura ou proximidade do óstio interno do colo
do útero, como descrito a seguir (Figura 19.4):
• Placenta prévia total: o óstio interno do colo do útero é completamente coberto pela placenta
• Placenta prévia parcial: o óstio interno é parcialmente coberto pela placenta
• Placenta prévia marginal: a placenta está na margem ou na borda do óstio interno
• Placenta prévia baixa: a placenta está implantada no segmento inferior do útero e está perto do óstio interno, mas não o
alcança.
FIGURA 19.4 Classificação da placenta prévia. A. Baixa. B. Marginal. C. Parcial. D. Completa.
Conduta terapêutica
A conduta terapêutica depende da extensão da hemorragia, da porção de placenta que recobre o óstio do colo do útero, se o
feto está desenvolvido o suficiente para sobreviver fora do útero, da posição do feto, da paridade da mãe e da ocorrência
ou não de trabalho de parto (Cunningham et al., 2014). Com o aumento na taxa de mulheres que já se submeteram a
cesariana, a frequência de placenta prévia aumentou. A maioria das mulheres continua indo para o prontosocorro, de
modo que a morbidade associada decorrente da hemorragia continua elevada. Devem ser feitos esforços para evitar a
cesariana primária, sempre que possível. Além disso, cuidados prénatais e o diagnóstico oportuno de placenta prévia pela
ultrassonografia conseguem diminuir a morbidade associada.
Se a mãe e o feto estiverem estáveis, a conduta terapêutica pode ser expectante. Esse cuidado pode ser realizado em
casa ou na unidade préparto da instituição de saúde. Se não houver sangramento ativo e a gestante tiver acesso imediato a
transporte de confiança, puder manter o repouso em casa e for capaz de compreender as instruções, é apropriado aguardar
em casa. No entanto, se a paciente necessitar de cuidados e monitoramento contínuo e não for capaz de atender às
exigências dos cuidados domiciliares, a unidade préparto é o melhor local.
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem envolve coletar uma anamnese completa, incluindo possíveis fatores de risco, e exame físico.
Avalie a paciente atentamente à procura destes fatores de risco:
• Idade materna avançada (mais de 35 anos)
• Cesariana prévia
• Multiparidade
• Lesão ou agravo uterino
• Uso de cocaína
• Placenta prévia anterior
• Tratamento para infertilidade
• Gestações múltiplas
• Aborto cirúrgico induzido prévio
• Tabagismo
• Miomectomia prévia
• Curto intervalo entre as gestações
• Hipertensão arterial ou diabetes melito (Archibong & Ahmed, 2015).
ANAMNESE E EXAME FÍSICO
Pergunte à paciente se ela já teve algum problema associado a sangramentos, atualmente ou em um passado recente. A
manifestação clínica clássica é sangramento vaginal vermelhovivo indolor, que ocorre durante o segundo ou o terceiro
trimestre de gestação. O sangramento inicial geralmente não é profuso e cessa espontaneamente, reaparecendo novamente
logo em seguida. O primeiro episódio de sangramento ocorre (em média) na 27a à 32a semana de gestação. Acreditase que
a hemorragia surja secundariamente ao adelgaçamento do segmento inferior do útero, em preparação para o início do
trabalho de parto. Quando a hemorragia ocorre no local da implantação na região inferior do útero, o útero não consegue se
contrair adequadamente e interromper o fluxo sanguíneo dos vasos abertos. Em casos de placenta com implantação normal
na parte superior do útero, em geral uma pequena ruptura na fixação da placenta não é um problema, porque há maior
volume de tecido miometrial capaz de contrair os vasos sangrantes.
Avalie se a gestante apresenta contrações uterinas, que podem ou não ocorrer em associação à hemorragia. Palpe o
útero, que normalmente é macio e indolor. Ausculte os batimentos cardíacos fetais, que geralmente estão dentro dos
parâmetros normais. De modo geral, não há sofrimento fetal, mas pode ocorrer caso surjam problemas no cordão
umbilical, como prolapso ou compressão do cordão umbilical, ou quando a paciente apresentou perda de sangue suficiente
para levar a choque materno ou descolamento prematuro de placenta (King et al., 2015).
EXAMES LABORATORIAIS E COMPLEMENTARES
Para confirmar a posição da placenta, fazse uma ultrassonografia transvaginal. Além disso, podese prescrever uma
ressonância magnética (RM) ao se preparar para o parto, pois ela possibilita a identificação de placenta acreta (placenta
anormalmente aderida ao miométrio), increta (placenta acreta com penetração do miométrio) ou percreta (placenta acreta
com invasão do miométrio até o revestimento peritoneal, causando a ruptura do útero), além de placenta prévia. Essas
anomalias placentárias, embora raras, apresentam taxas de morbidade e mortalidade elevadas, possivelmente exigindo
histerectomia no momento do parto.
Conduta de enfermagem
Independentemente se o ambiente de cuidados é a casa da paciente ou a instituição de saúde, o enfermeiro se concentra em
monitorar o estado maternofetal, incluindo a avaliação dos sinais e sintomas de sangramento vaginal e sofrimento fetal, e
em prestar apoio e orientações à paciente e sua família, incluindo o fornecimento de informações sobre os estudos e
procedimentos complementares que são realizados. Para a maioria das gestantes, será programada uma cesariana. O Plano
de cuidados de enfermagem 19.1 discute o processo de enfermagem para a gestante com placenta prévia.
Plano de cuidados de enfermagem 19.1
Aspectos gerais de uma gestante com placenta prévia
Uma Gesta V, Para IV, de 39 anos de idade, multípara na 32a semana de gestação, foi admitida no
setor de trabalho de parto e parto com sangramento vaginal repentino. Ela já não está mais com
sangramento ativo e não se queixa de desconforto abdominal ou abdome sensível. Ela refere
sentir um “aperto” no estômago ocasional. Seu abdome está flácido à palpação. Os batimentos
cardíacos fetais estavam por volta de 140, com acelerações aos movimentos. Ela foi colocada em
repouso no leito com liberação para uso do banheiro. A ultrassonografia identificou uma placenta
de implantação baixa com um feto viável de crescimento normal. Ela foi diagnosticada com
placenta prévia e foi internada para observação e vigilância do bemestar fetal. A anamnese revela
duas cesarianas anteriores, tabagismo de meio maço de cigarros por dia e endometrite após o
nascimento do último filho. Os achados adicionais da avaliação incluíram hemorragia vaginal
indolor vermelhovivo, com sangramento inicial cessando espontaneamente; contrações uterinas
irregulares, leves e esporádicas; frequência cardíaca fetal e sinais vitais maternos dentro dos
limites da normalidade; feto em posição transversal; ansiedade em relação à evolução da
gestação; e expressão de sensação de desamparo.
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: risco de lesão (fetal e materna) relacionada com a ameaça à perfusão
uteroplacentária e hemorragia.
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente manterá a perfusão tecidual adequada, conforme evidenciado por sinais vitais estáveis,
diminuição da perda de sangue, poucas ou nenhuma contração uterina, padrões e variabilidade de
frequência cardíaca fetal normais e existência de movimentação fetal.
Intervenções: manter a perfusão tecidual adequada
• Estabelecer um acesso venoso para possibilitar a administração de líquidos, sangue e medicamentos,
quando necessário
• Coletar amostra de sangue para tipagem sanguínea e prova de reação cruzada de pelo menos 2
unidades de derivados do sangue para garantir a disponibilidade se a gestante continuar sangrando
• Coletar uma amostra de sangue para exames, conforme prescrito, como hemograma e
coagulograma, para estabelecer quais são os valores basais e usálos para comparação futura
• Monitorar a eliminação para avaliar a adequação da perfusão renal
• Implementar hidratação venosa conforme prescrito para manter a pressão arterial e a volemia
• Palpar o abdome da gestante a fim de verificar se ele está doloroso ou rígido para determinar se há
sangramento e evidências de contrações uterinas
• Instituir o repouso no leito para reduzir o gasto de oxigênio
• Considerar se há ruptura de membranas para avaliar à procura de um possível início de trabalho de
parto
• Evitar toque vaginal para que não haja novos episódios de sangramento
• Realizar uma titulação do Rh para identificar a necessidade de RhoGAM®
• Não estimular os mamilos da gestante para evitar contrações uterinas
• Monitorar continuamente se há contrações ou RPMF para possibilitar a intervenção imediata
• Administrar tocolíticos conforme prescrito para interromper o trabalho de parto prematuro
• Monitorar os sinais vitais com frequência para identificar uma possível hipovolemia e infecção
• Avaliar com frequência à procura de sangramentos vaginais ativos para minimizar o risco de
hemorragia
• Monitorar continuamente a frequência cardíaca fetal pelo monitoramento eletrônico fetal para avaliar a
condição do feto
• Ajudar nos exames de vitalidade fetal, conforme solicitado, para auxiliar na determinação do bemestar
fetal
• Observar se há padrões de frequência cardíaca fetal anormal, como perda da variabilidade,
desacelerações e taquicardia para identificar a presença de sofrimento fetal
• Posicionar a gestante em decúbito lateral com uma cunha de apoio para maximizar a perfusão
placentária
• Analisar a movimentação fetal para detectar possível hipoxia fetal
• Ensinar a gestante a monitorar a movimentação do feto para avaliar seu bemestar
• Administrar oxigênio conforme prescrito para aumentar a oxigenação para a mãe e o feto
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: ansiedade relacionada com a ameaça a si e ao feto e com um futuro
desconhecido.
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente apresentará diminuição da ansiedade, conforme evidenciado por relatos verbais de ansiedade
menor, uso de medidas efetivas de enfrentamento e comportamento calmo.
Intervenções: minimizar a ansiedade
• Fornecer informações factuais sobre o diagnóstico e o tratamento e explicar as intervenções e suas
justificativas, para fornecer à paciente a compreensão de sua condição
• Responder honestamente às perguntas sobre o estado de saúde para estabelecer uma relação de
confiança
• Falar com calma com a paciente e familiares para minimizar o estresse do ambiente
• Incentivar o uso de técnicas de enfrentamento que já foram eficazes para promover o relaxamento e a
sensação de controle
• Reconhecer e facilitar as necessidades espirituais da gestante para promover um enfrentamento eficaz
• Envolver a gestante e sua família no processo de tomada de decisão para promover a autoconfiança e
o controle sobre a situação
• Manterse presente durante períodos de estresse para aplacar a ansiedade
• Usar o sentido do tato, se apropriado, para transmitir carinho e preocupação
• Incentivar a verbalização como um meio para liberar tensão
MONITORAMENTO DA CONDIÇÃO MATERNOFETAL
Avalie o grau de sangramento vaginal; inspecione a área perineal à procura de sangue que pode ter se acumulado sob a
gestante. Estime e documente o volume de sangue perdido. Faça continuamente a contagem dos absorventes, certificando
se de informar quaisquer alterações do número ou da frequência ao médico. Se a gestante apresentar sangramento ativo,
preparese para coletar uma amostra de sangue para tipagem sanguínea e reação cruzada no caso de ser necessária uma
transfusão de sangue.
Anote!
Evite fazer exames de toque vaginal na gestante com placenta prévia, porque o toque pode romper a placenta e causar
hemorragia.
Monitore os sinais vitais e a contratilidade uterina materna com frequência para detectar mudanças. Peça à paciente que
classifique seu nível de dor utilizando uma escala de avaliação da dor apropriada. Avalie a frequência cardíaca fetal por
meio do Doppler ou monitoramento eletrônico para detectar sofrimento fetal. Monitore a condição cardiopulmonar da
gestante, relatando quaisquer dificuldades respiratórias, mudanças na coloração da pele ou queixas de dificuldade para
respirar. Tenha equipamentos para administração de oxigênio disponíveis caso se desenvolva sofrimento fetal ou materno.
Encoraje a paciente a deitar de lado para melhorar a perfusão placentária.
Se a gestante estiver com um acesso intravenoso (IV), inspecione o local de inserção com frequência.
Alternativamente, antecipe a inserção de um dispositivo de acesso intravenoso intermitente, como um lock de soro
fisiológico, que pode ser usado se for necessário acesso rápido para a reposição hídrica e a infusão de derivados do
sangue. Colete sangue para exames laboratoriais conforme prescrito, incluindo um hemograma completo, coagulograma e
determinação do fator Rh, se apropriado.
Administre agentes farmacológicos, conforme necessário. Administre imunoglobulina Rh na 28a semana de gestação
se a paciente for Rhnegativa. Monitore a medicação tocolítica (que reduz as contrações da musculatura lisa uterina) se for
necessária a prevenção do parto prétermo.
APOIO E ORIENTAÇÕES
Determine o nível de compreensão da gestante sobre a placenta prévia e os procedimentos e plano de tratamento
associados. Isso é importante para evitar confusão e ganhar sua cooperação. Forneça informações sobre a condição e
certifiquese de que todas as informações apresentadas sejam consistentes com as fornecidas pelo médico. Explique todas
as medidas de avaliação e tratamento, se necessário.
Aja como uma defensora da gestante quando obtiver informações para a família. Oriente a mulher a determinar e a
registrar a movimentação fetal diária. Essa ação tem dois propósitos. Um deles, fornecer informações valiosas sobre o
feto. O segundo, promover na gestante uma sensação de controle sobre a situação, visto que se trata de uma atividade de
que ela pode participar.
Se a gestante precisar de hospitalização prolongada ou repouso no leito em casa, avalie o impacto físico e emocional
que isso pode ter sobre ela. Avalie seus mecanismos de enfrentamento para ajudar a determinar o quão bem ela será capaz
de se ajustar ao plano de tratamento e aderir a ele. Possibilite que a paciente verbalize seus sentimentos e medos e dê apoio
emocional. Além disso, ofereça oportunidades para distração – vídeos educativos, artesanatos e trabalhos manuais, jogos
de computador, leitura de livros – e avalie a resposta da paciente.
Além do impacto emocional do repouso prolongado no leito, avalie cuidadosamente a pele da gestante para evitar
soluções de continuidade e para ajudar a aliviar o desconforto decorrente da limitação nas atividades físicas. Instrua a
gestante em relação a medidas apropriadas de cuidados com a pele. Incentivea a consumir uma dieta balanceada, com
ingestão adequada de líquidos, para assegurar a nutrição e a hidratação corretas e evitar as complicações associadas às
eliminações urinária e intestinal secundárias ao repouso no leito.
Oriente a paciente e a família em relação aos sinais e sintomas que devem ser relatados imediatamente. Além disso,
prepare a gestante para a possibilidade de ser realizada uma cesariana. A gestante deve avisar o obstetra de quaisquer
episódios de sangramento ou dorsalgia (podem indicar contrações de trabalho de parto prematuro) e deve aderir ao repouso
no leito prescrito. Para garantir a adesão ao plano terapêutico e um desfecho positivo, a paciente precisa conhecer e
compreender as bases racionais das observações.
Descolamento prematuro de placenta
O descolamento prematuro de placenta (DPP) consiste na separação prematura da placenta de implantação normal após
a 20a semana de gestação antes do parto, o que resulta em hemorragia. É uma importante causa de hemorragia no terceiro
trimestre de gestação, com alta taxa de mortalidade. Ocorre em cerca de 1% de todas as gestações em todo o mundo, ou
aproximadamente 1 em 100 gestações. Há um risco 10 a 20 vezes maior de recorrência em uma gestação subsequente.
Alcança seu máximo tipicamente entre a 24a e a 26a semana de gestação.
Os riscos maternos incluem hemorragia obstétrica, necessidade de transfusões sanguíneas, histerectomia de
emergência, coagulação intravascular disseminada (CIVD) e insuficiência renal. A morte materna é rara, mas sete vezes
maior do que a taxa global de mortalidade materna. As consequências perinatais incluem baixo peso ao nascer, parto pré
termo, asfixia, morte fetal e morte perinatal. Nos países desenvolvidos, cerca de 10% de todos os nascimentos prétermo e
10 a 20% de todas as mortes perinatais são causadas por descolamento prematuro de placenta (Mukherjee et al., 2014). A
taxa geral de mortalidade fetal por descolamento da placenta é de até 50%, dependendo da extensão do descolamento. A
mortalidade materna é de aproximadamente 6% no descolamento prematuro de placenta e está relacionada com a cesariana
e/ou hemorragia/coagulopatia (Jaju, Kulkarni, & Mundada, 2014).
Fisiopatologia
A etiologia da doença não é conhecida; no entanto, propôsse que o descolamento começa com alterações degenerativas
dos vasos sanguíneos maternos de pequeno calibre, resultando em coagulação sanguínea, degeneração da decídua (mucosa
uterina) e possível ruptura de um vaso. O sangramento vascular resulta na formação de um coágulo entre a placenta e a
parede uterina. O sangramento contínuo causa aumento da pressão retroplacentária e resulta em separação da parede
uterina (Moses, 2015a). A irrigação sanguínea fetal é comprometida e ocorre sofrimento fetal proporcional ao grau de
separação da placenta. Isso é causado pelo agravo do próprio descolamento e por questões relacionadas com a
prematuridade quando o nascimento antecipado é necessário para aliviar o sofrimento materno ou fetal.
O DPP é classificado de acordo com o grau de separação e a perda de sangue a partir da circulação materna. As
classificações incluem:
• Leve (grau 1): hemorragia mínima (menos de 500 mℓ), separação marginal (10 a 20%), útero doloroso à palpação,
ausência de coagulopatia, ausência de sinais de choque, ausência de sofrimento fetal
• Moderado (grau 2): hemorragia moderada (1.000 a 1.500 m ℓ ), separação moderada (20 a 50%), dor abdominal
contínua, choque leve, pressão arterial materna normal, taquicardia materna
• Grave (grau 3): hemorragia ausente a moderada (mais de 1.500 mℓ), separação importante (superior a 50%), choque
profundo, sangramento vaginal escuro, dor abdominal muito intensa, diminuição da pressão arterial materna,
taquicardia materna significativa e desenvolvimento de coagulopatia intravascular disseminada (CIVD) (Atkinson et
al., 2015).
O DPP também pode ser classificado como parcial ou completo, em função do grau de separação. Alternativamente,
pode ser classificado como oculto ou aparente, pelo tipo de hemorragia (Figura 19.5).
Lembrase de Helen, a gestante com dor abdominal intensa? O monitoramento eletrônico fetal revelou
hipertonia uterina com ausência de batimentos cardíacos fetais. A palpação do abdome revelou rigidez e
abdome extremamente doloroso nos quatro quadrantes. Os sinais vitais foram os seguintes: temperatura,
afebril; frequência cardíaca, 94; frequência respiratória, 22; e pressão arterial, 130/90 mmHg. Qual você
pode suspeitar que seja a causa da dor abdominal de Helen? Que curso de ação você anteciparia para ela?
Conduta terapêutica
O tratamento do descolamento prematuro de placenta visa avaliar, controlar e restaurar o volume de sangue perdido,
proporcionar um desfecho positivo para a mãe e o recémnascido e evitar distúrbios de coagulação, como a coagulação
intravascular disseminada (Boxe 19.2). As medidas de emergência incluem introduzir dois cateteres venosos de grande
calibre com solução de Ringer com lactato para combater a hipovolemia ou soro fisiológico; coletar amostras de sangue
para avaliar a condição hemodinâmica e para tipagem sanguínea e reação cruzada; e monitorar com frequência o bemestar
fetal e materno. Após ter sido determinada a gravidade do descolamento e ter sido feita a reposição apropriada de sangue e
líquido, a cesariana é realizada imediatamente se o sofrimento fetal for evidente. Se o feto não estiver em sofrimento, o
monitoramento atento continua, com parto previsto para os primeiros sinais de sofrimento fetal. Por causa da
possibilidade de perda de sangue fetal pela placenta, uma equipe de terapia intensiva neonatal deve estar disponível durante
o processo de parto para avaliar e tratar o recémnascido imediatamente por causa de choque, perda de sangue e hipoxia.
Se a mulher desenvolver coagulação intravascular disseminada, o tratamento se concentra em determinar sua causa
subjacente e corrigila. A terapia de reposição dos fatores de coagulação envolve a transfusão de plasma fresco congelado
juntamente com crioprecipitado para manter o volume circulante e fornecer oxigênio às células do corpo. O tratamento
com anticoagulantes (heparina de baixo peso molecular), concentrado de hemácias, concentrado de plaquetas, concentrado
de antitrombina e expansores de volume contendo proteínas não associadas à coagulação (como a fração de proteínas
plasmáticas ou albumina) também é usado para combater essa grave doença. O uso de hemoderivados tem de ser ditado
pelo quadro clínico e não pelo desejo de normalizar os resultados dos exames laboratoriais (Holt, 2015). A identificação
imediata e a intervenção precoce são essenciais para a gestante com coagulação intravascular disseminada aguda associada
a descolamento prematuro de placenta, a fim de tratar a coagulação intravascular disseminada e, possivelmente, salvar sua
vida.
FIGURA 19.5 Classificações do descolamento prematuro de placenta. A. Descolamento parcial com hemorragia
oculta. B. Descolamento parcial com hemorragia aparente. C. Descolamento completo com hemorragia oculta.
BOXE 19.2
COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA
A coagulação intravascular disseminada (CIVD) é um distúrbio hemorrágico caracterizado pela redução
anormal nos elementos envolvidos na coagulação do sangue resultante da sua coagulação intravascular
difusa (Davis & Kessler, 2014). Essa doença pode ocorrer secundariamente ao descolamento prematuro de
placenta, embolia do líquido amniótico, sepse por endotoxinas, feto morto retido, choque póshemorrágico,
mola hidatiforme e neoplasias malignas ginecológicas.
As manifestações clínicas e histopatológicas da CIVD podem ser descritas como a perda do equilíbrio
entre a atividade de formação do coágulo pela trombina e sua lise pela plasmina. Portanto, o excesso de
trombina desloca o equilíbrio em direção ao estado protrombínico e a paciente desenvolve coágulos. Por
outro lado, a formação de plasmina resulta em muita lise de coágulo (fibrinólise) e a paciente apresenta
hemorragias. Pequenos coágulos se formam por todo o corpo e, consequentemente, os fatores de
coagulação do sangue são usados, tornandoos indisponíveis para formar coágulos em locais de lesão
tecidual. Os mecanismos de dissolução do coágulo também são aumentados, o que resulta em hemorragia
(possivelmente grave).
A CIVD geralmente está associada a altas taxas de mortalidade e morbidade. Nenhum exame
laboratorial isolado é sensível ou específico o suficiente para diagnosticar definitivamente a coagulação
intravascular disseminada, mas esta pode ser diagnosticada utilizandose uma combinação de múltiplos
exames clínicos e laboratoriais que refletem a fisiopatologia da síndrome.
Os resultados de exames laboratoriais que auxiliam no diagnóstico incluem:
• Diminuição em fibrinogênio e plaquetas
• TP e TTPA prolongados
• Testes positivos de dímero D e produtos de degradação da fibrina (evidências objetivas da formação
simultânea de trombina e plasmina) (ARUP Laboratories, 2016)
Adaptado de Davis, S. J., & Kessler, C. M. (2014). Disseminated intravascular coagulation: Diagnosis and
management. In Hemostasis and thrombosis: Practical guidelines in clinical management (pp. 151–168).
Hoboken, NJ: Wiley Blackwell; e Kobayashi, T. (2014). Obstetrical disseminated intravascular coagulation
score. Journal of Obstetrics and Gynecology Research, 40(6), 1500–1506.
Avaliação de enfermagem
O DPP é uma emergência clínica. O enfermeiro desempenha um papel essencial na avaliação da gestante com dor
abdominal e/ou sangramento vaginal, especialmente em caso de hemorragia oculta, na qual a magnitude do sangramento
não é conhecida. A avaliação rápida é essencial para garantir intervenções efetivas imediatas para evitar morbidade e
mortalidade materna e fetal. O Quadro comparativo 19.1 compara a placenta prévia com o descolamento prematuro de
placenta.
ANAMNESE E EXAME FÍSICO
O DPP provoca uma gama de efeitos clínicos, dependendo da extensão da separação da placenta e da magnitude da perda
sanguínea materna. Comece a anamnese avaliando a gestante à procura de fatores de risco que possam predispôla ao
descolamento prematuro de placenta, como idade materna avançada (mais de 35 anos de idade), má nutrição, gestação
múltipla, pressão intrauterina excessiva causada por polihidrâmnio, hipertensão arterial crônica, tabagismo, traumatismo
significativo (p. ex., acidente automobilístico, violência por parceiro íntimo), história de descolamento em gestação
anterior, anomalias placentárias, consumo de cocaína ou metanfetaminas, trombofilia, etilismo e multiparidade (Deering,
2015). Além disso, esteja alerta para outros fatores de risco importantes, como feto do sexo masculino, corioamnionite,
ruptura prolongada de membranas fetais (mais de 24 horas), oligohidrâmnio, préeclâmpsia e baixo nível socioeconômico
(NagtalonRamos, 2014).
Avalie se a gestante tem sangramento. Conforme a placenta se separa do útero, ocorre hemorragia. Ela pode ser
aparente, na forma de hemorragia vaginal, ou pode ser oculta. Sangramento vaginal ocorre em 80% das gestantes com
diagnóstico de descolamento prematuro de placenta e pode ser significativo o suficiente para colocar em risco tanto a
saúde materna quanto a fetal dentro de um curto intervalo de tempo. Os 20% restantes estão associados a hemorragia
oculta e ausência de hemorragia vaginal. Monitore o nível de consciência da gestante, observando quaisquer sinais ou
sintomas que possam sugerir choque.
Quadro comparativo 19.1
Placenta prévia versus descolamento prematuro de placenta.
Anote!
Os sinais vitais podem estar na faixa normal, mesmo em casos de perda significativa de sangue, porque a gestante pode
perder até 40% do seu volume total de sangue sem mostrar sinais de choque (Schultz & McConachie, 2015).
Avalie a gestante à procura de queixas de dor, incluindo o tipo, o início e a localização. Pergunte se ela teve alguma
contração. Palpe o abdome, observando quaisquer contrações uterinas, dor à palpação, tensão ou rigidez. Pergunte se ela
notou alguma alteração na movimentação e atividade fetal. A diminuição da movimentação fetal pode ser a queixa
apresentada, resultante do risco fetal ou morte do feto (Cunningham et al., 2014). Avalie a frequência cardíaca fetal e
continue monitorandoa eletronicamente.
Anote!
As manifestações clássicas do descolamento prematuro de placenta incluem sangramento vaginal vermelhoescuro (cor de
vinho do Porto) doloroso, pois o sangramento vem de coágulos que se formaram atrás da placenta; dor abdominal em
punhalada; útero doloroso à palpação; contrações; e diminuição da movimentação fetal. A avaliação rápida é essencial
para garantir intervenções efetivas imediatas para evitar morbidade e mortalidade materna e fetal.
EXAMES LABORATORIAIS E COMPLEMENTARES
Exames laboratoriais e complementares podem ser úteis para diagnosticar a doença e orientar o tratamento. Esses exames
podem incluir:
• Hemograma completo: determina a condição hemodinâmica atual; no entanto, não é confiável para estimar a perda
aguda de sangue
• Níveis de fibrinogênio: normalmente estão aumentados durante a gestação (hiperfibrinogenemia). Assim, uma queda
moderada nos níveis de fibrinogênio pode sugerir CIVD; se ocorrer hemorragia profusa, a cascata da coagulação pode
ser comprometida
• Tempo de protrombina (TP)/tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA): determina o estado de coagulação da
paciente, especialmente se tiver sido planejada uma cirurgia
• Tipagem sanguínea e prova de reação cruzada: determina o tipo sanguíneo se for necessária uma transfusão
• Cardiotocografia basal: detecta sinais de risco fetal, tais como desacelerações tardias ou bradicardia
• Perfil biofísico: auxilia na avaliação de gestante com descolamento crônico; uma pontuação baixa (menos de 6 pontos)
sugere possível comprometimento fetal (Creasy et al., 2014).
A ultrassonografia não é útil para estabelecer um diagnóstico definitivo, porque o coágulo é visível em menos de 50%
dos casos. A tomografia computadorizada é o método mais confiável para a avaliação do descolamento prematuro de
placenta (Hosein, AbdelKariem, & Shriki, 2014).
Conduta de enfermagem
A conduta de enfermagem da gestante com descolamento de placenta exige atendimento imediato para proporcionar o
melhor desfecho para ela e para o feto.
GARANTIA DE PERFUSÃO TECIDUAL ADEQUADA
Na chegada à instituição, coloque a gestante em repouso absoluto e em decúbito lateral esquerdo para evitar a compressão
da veia cava. Essa posição fornece perfusão contínua ao feto. Preparese para administrar oxigenoterapia por cânula nasal
a fim de garantir uma perfusão tecidual adequada. Monitore os níveis de saturação de oxigênio pela oximetria de pulso
para avaliar a efetividade das intervenções.
Avalie os sinais vitais maternos repetidamente, em frequência de até quatro vezes por hora, conforme indicado,
dependendo da condição da gestante e da magnitude da perda sanguínea. Observe se há alteração nos sinais vitais que
sugira um choque hipovolêmico e relatea imediatamente. Preparese também para inserir um cateter vesical de demora
(Foley) para avaliar a produção de urina horária e para iniciar uma infusão intravenosa para repor líquidos por um cateter
de grosso calibre.
Avalie se há mudanças na altura do fundo do útero. Um aumento na altura indicaria sangramento. Monitore
frequentemente o volume e as características de qualquer sangramento vaginal, a cada 15 a 30 minutos. Esteja alerta para
os sinais e sintomas de coagulação intravascular disseminada, como sangramento de gengivas, taquicardia, extravasamento
do local de inserção do cateter venoso e petéquias, e administre produtos derivados do sangue conforme prescrito em caso
de coagulação intravascular disseminada.
Institua o monitoramento eletrônico fetal contínuo. Avalie à procura de contrações uterinas e relate qualquer aumento
na tensão ou rigidez uterina. Observe também o traçado por contrações uterinas tetânicas ou mudanças nos padrões de
frequência cardíaca fetal que sugiram que houve comprometimento fetal.
APOIO E ORIENTAÇÕES
A gestante diagnosticada com descolamento prematuro de placenta está bastante ansiosa e apreensiva – em relação a sua
própria saúde, bem como a de seu feto. Seja empática e compreensiva com a experiência da paciente e preste apoio
emocional durante esse momento assustador. Permaneça com a gestante e o seu parceiro, valide suas emoções e medos e
atenda às suas necessidades espirituais e culturais. Responda às suas perguntas sobre a condição do feto aberta e
honestamente, certificandose de explicar os indicadores de bemestar fetal. Forneça informações sobre os vários exames
complementares, tratamentos e procedimentos que podem ser feitos, incluindo a possível necessidade de cesariana.
Dependendo das condições da paciente, da magnitude da hemorragia e da idade gestacional, o feto pode não sobreviver. Se
o feto sobreviver, ele provavelmente necessitará de cuidados neonatais intensivos. Auxilie a paciente e a família a lidar
com a perda ou com o nascimento de um recémnascido na unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN).
Embora o descolamento prematuro de placenta não seja uma condição evitável, é importante prestar orientações à
paciente para ajudar a reduzir o risco de uma recorrência dessa condição. Incentive a gestante a não ingerir bebidas
alcoólicas, não fumar nem consumir substâncias psicoativas durante a gestação. Incentivea a procurar atendimento pré
natal precoce e contínuo e a receber cuidados de saúde imediatos caso apresente quaisquer sinais e sintomas em gestações
futuras.
Recordese de Helen, a gestante descrita no início do capítulo. Ela foi diagnosticada com descolamento
prematuro de placenta e foi preparada para cesariana de emergência. Na exploração, havia um
descolamento de quase 75%, com cerca de 800 mC de sangue oculto entre o útero e a placenta. Além
disso, ela perdeu mais 500 mC durante a cirurgia. Considerando a história de Helen, o que pode têla
colocado em maior risco de descolamento prematuro de placenta? Que avaliações e intervenções seriam
essenciais durante a sua recuperação pósparto em decorrência da grande perda de sangue? Que
intervenções psicossociais seriam necessárias em razão de seu aborto?
Placenta acreta
Placenta acreta é uma condição hemorrágica obstétrica potencialmente fatal que demanda uma abordagem multidisciplinar
para seu manejo. A incidência de placenta acreta tem aumentado e parece acompanhar a taxa crescente de partos por
cesariana ou de procedimentos intrauterinos. A placenta acreta é uma condição na qual a placenta se implanta muito
profundamente na parede do útero, embora não penetre no músculo uterino. A placenta acreta pode ser subdividida
em placenta increta (quando a placenta invade o miométrio) e placenta percreta (quando a placenta se estende através do
miométrio para a serosa uterina e os tecidos adjacentes). Um risco comum da placenta acreta durante o processo de parto é
a possibilidade de hemorragia durante as tentativas manuais de soltar a placenta. De acordo com a March of Dimes
(2015c), 1 em cada 530 partos resulta nessa condição. A causa específica da placenta acreta não é conhecida, mas pode
estar relacionada com placenta prévia, idade materna avançada, tabagismo e cesariana anterior. De acordo com a literatura,
uma cesariana aumenta a possibilidade de placenta acreta futura; quanto mais cesarianas são realizadas, maior a incidência.
De acordo com o ACOG (2014b), a hemorragia pósparto é uma complicação associada à placenta acreta. Noventa por
cento das pacientes com placenta acreta apresentam hemorragia pósparto e 50% dos casos resultarão em histerectomia
(ACOG, 2014b). As mulheres com maior risco de histerectomia de emergência são as multíparas, aquelas que já se
submeteram a cesariana (gestação anterior ou atual) ou que tiveram implantação anormal da placenta. As questões
essenciais para o tratamento são a detecção precoce e a intervenção imediata e adequada. Se for feito um diagnóstico de
placenta acreta, a paciente deve ser informada de que uma cesariana e uma possível histerectomia são intervenções
necessárias (Creasy et al., 2014).
A placenta acreta é, tipicamente, diagnosticada após o nascimento, quando a placenta não se separa normalmente da
parede uterina. O diagnóstico prénatal por meio de ultrassonografia (US) e ressonância magnética (RM) reduziria as taxas
de morbidade e mortalidade maternas e fetais. Isso pode resultar em hemorragia abundante, porque o útero não consegue
se contrair para fechar os vasos sanguíneos abertos. O manejo depende da intensidade da hemorragia e frequentemente
exige a realização de histerectomia imediata (Humphrey, 2015). O enfermeiro precisa estar preparado para ajudar nessa
situação de emergência, conforme orientado pelo médico.
HIPERÊMESE GRAVÍDICA
A hiperêmese gravídica é uma forma grave de náuseas e vômitos da gravidez associada a custos significativos e impactos
psicossociais. Pelo menos 70 a 85% das mulheres apresentam náuseas e vômitos durante a gestação (Castillo & Phillippi,
2015). Quando os sinais e sintomas são relativamente leves, frequentemente usase o termo enjoo matinal para descrever
essa condição. Os estudos já mostraram que as náuseas e os vômitos da gravidez estão associados a melhores desfechos
fetais, tais como taxas menores de aborto espontâneo (Ayyavoo et al., 2014). Esses sintomas geralmente desaparecem
após o primeiro trimestre. Essa modalidade leve compromete principalmente a qualidade de vida da gestante e de sua
família, enquanto a modalidade grave – hiperêmese gravídica – resulta em desidratação, perda de peso, desequilíbrio
eletrolítico e necessidade de hospitalização (Taylor, 2014).
Ao contrário do enjoo matinal, a hiperêmese gravídica é uma complicação da gestação caracterizada por náuseas e
vômitos persistentes e incontroláveis, que começam no primeiro trimestre e provocam desidratação, cetose e perda de peso
de mais de 5% do peso corporal prégestacional. Os fatores de risco para hiperêmese gravídica incluem gravidez anterior
complicada por hiperêmese, gestações molares, história pregressa de infecção por Helicobacter pylori, gestação múltipla,
história prégestacional de distúrbios geniturinários, distúrbios hipertireóideos clínicos e diagnóstico psiquiátrico
prégestacional (King et al., 2015).
Estimase que a hiperêmese gravídica (vômitos incontroláveis) ocorra em aproximadamente 2% das gestantes. A
prevalência aumenta em gestações molares e gestações múltiplas. A incidência máxima é na 8a à 12a semana de gestação, e
os sinais e sintomas geralmente desaparecem até a 20a semana gestacional (Maltepe et al., 2015).
Anote!
Toda gestante precisa ser instruída a relatar episódios graves de náuseas e vômitos ou episódios que se estendam além
do primeiro trimestre.
Fisiopatologia
Embora a causa exata das náuseas e vômitos não seja conhecida, seus efeitos – diminuição do fluxo sanguíneo placentário,
redução do fluxo sanguíneo materno e acidose – podem ameaçar a saúde da mãe e do feto. A desidratação também pode
levar ao parto prétermo (Smith et al., 2016). Existem muitas teorias, mas poucos estudos produziram evidências
científicas para identificar a etiologia dessa condição. É provável que vários fatores contribuam para sua ocorrência.
Níveis elevados de hCG estão presentes em todas as gestantes durante o início da gestação, geralmente diminuindo
depois da 12a semana de gestação. Isso corresponde à duração habitual do enjoo matinal. Na hiperêmese gravídica, os
níveis de hCG frequentemente são mais elevados e se estendem além do primeiro trimestre. Os sintomas agravam a
doença. A diminuição na ingestão de líquidos e os vômitos prolongados causam desidratação; a desidratação aumenta a
concentração sérica de hCG, o que por sua vez agrava as náuseas e vômitos – um ciclo. Outras teorias que têm sido
propostas para explicar sua etiologia incluem:
• Teoria endócrina: altos níveis de hCG e estrógeno durante a gestação
• Teoria metabólica: deficiência de vitamina B6
• Fatores genéticos que podem predispor a mulher a essa condição
• Teoria psicológica: o estresse psicológico exacerba os sintomas.
Conduta terapêutica
A hiperêmese gravídica é um diagnóstico de exclusão. Devese fazer uma consideração cuidadosa de outras condições
quando a paciente apresenta náuseas e vômitos pela primeira vez após 9 semanas de gestação.
A conduta conservadora em casa é a opção de primeira linha para a gestante com hiperêmese gravídica. Geralmente se
concentra em mudanças na dieta e estilo de vida. Se a conduta conservadora não conseguir aliviar os sinais e sintomas da
paciente e as náuseas e vômitos persistirem, é necessário hospitalização para reverter os efeitos de náuseas e vômitos
intensos.
Na admissão ao hospital, solicitamse exames de sangue para avaliar a gravidade da desidratação, desequilíbrio
eletrolítico, cetose e desnutrição da paciente. Prescrevemse líquidos parenterais e fármacos para reidratar a gestante e
reduzir seus sintomas. A primeira escolha para a reposição hídrica geralmente é o soro fisiológico, que auxilia na
prevenção de hiponatremia, com acréscimo de vitaminas (piridoxina [B6]) e eletrólitos. Restringemse alimentos e
líquidos orais nas primeiras 24 a 36 horas para promover repouso do sistema digestório. Inicialmente, podem ser
administrados antieméticos por via retal ou intravenosa para controlar náuseas e vômitos, porque se considera que a
gestante esteja em jejum (incapaz de realizar o consumo de nutrientes por via oral). Uma vez que seu estado se estabiliza e
a ingestão oral é liberada, os fármacos podem ser administrados por via oral.
Se a paciente não melhorar depois de vários dias de repouso no leito, instituemse “repouso intestinal”, hidratação
venosa e antieméticos, nutrição parenteral total ou alimentação por cateter de gastrostomia endoscópica percutânea para
evitar a desnutrição. Tipicamente, a administração intravenosa ou intramuscular de agentes antieméticos é o segundo pilar
do tratamento da hiperêmese gravídica. Encontrar um fármaco que funcione para aquela paciente específica é, em grande
parte, uma questão de tentativa e erro. Se um fármaco é ineficaz, outra classe de fármacos com um mecanismo de ação
diferente pode ajudar. A prometazina e a proclorperazina estão entre os agentes mais antigos e geralmente são tentados
primeiro. Se eles não conseguirem aliviar os sintomas, fármacos mais modernos, como a ondansetrona, podem ser
utilizados. A maioria dos fármacos é administrada por via intravenosa ou intramuscular. Não há evidências de que alguma
classe de antiemético seja superior a outra em relação à efetividade (King et al., 2015) (Orientação sobre medicamentos
19.2).
Poucas mulheres conseguem alívio completo dos sintomas com algum tratamento. Os tratamentos de medicina
complementar e alternativa atraem muitas mulheres que buscam ajuda para suplementar os tratamentos tradicionais.
Alguns tratamentos populares incluem a acupuntura, a massagem, o toque terapêutico, o gengibre e o uso de pulseiras
magnéticas (Seabands®) para evitar náuseas e vômitos. Uma pesquisa recente relatou um efeito positivo do uso da
acupressão (proporcionada pelos Seadbands®) no ponto Neiguan do punho para controlar náuseas e vômitos associados à
gestação (Matthews et al., 2014).
Domínio de conceito
Intervenções prioritárias na hiperêmese gravídica
A hiperêmese gravídica consiste em náuseas e vômitos intensos nos primeiros meses de
gravidez que impedem a ingestão adequada de nutrientes pela gestante. A administração de
soluções IV pode ser necessária para a reidratação, contudo, a prioridade é interromper o aporte
oral de alimentos sólidos e líquidos até os vômitos cessarem.
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem da mulher com hiperêmese gravídica demanda anamnese completa e exame físico para
identificar sinais e sintomas associados a essa doença.
Orientação sobre medicamentos 19.2
Fármacos usados para a hiperêmese gravídica.
Fármaco Ação/Indicações
Implicações para a
enfermagem
Oferecer balas duras e
enxágue frequente da
boca para aliviar o
ressecamento
Controla náuseas e vômitos
graves
Alertar a paciente a não
dirigir, em decorrência da
sonolência ou de
vertigens
Aconselhála a mudar de
posição lentamente para
minimizar os efeitos da
hipotensão ortostática
Adaptado de King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Grgor,
C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s midwifery (5th ed.). Burlington, MA:
Jones & Bartlett Learning; e Ogunyemi, D. A., Fong, A., & Herrero, T. C.
(2015). Hyperemesis gravidarum. eMedicine. Retirado
de http://emedicine.medscape.com/article/254751overview
A gestante se sente extremamente desconfortável. A hiperêmese gravídica resulta em muitas horas de perda de
produtividade no trabalho e de sono, além de comprometer as relações familiares. Se a hiperêmese não for tratada, pode
causar transtornos neurológicos, lesão renal, desidratação, cetose, alcalose por perda de ácido clorídrico, hipopotassemia,
hemorragia retiniana ou morte (Peled et al., 2014). Os exames laboratoriais e complementares ajudam na determinação da
gravidade da doença.
Anamnese e exame físico
Comece a coleta da anamnese questionando a paciente sobre o início, a duração e a evolução das náuseas e dos vômitos.
Pergunte a ela sobre quaisquer medicamentos ou tratamentos que ela usou e qual foi a efetividade no alívio das náuseas e
dos vômitos. Colete a história nutricional da gestante, incluindo um recordatório da semana anterior. Observe o
conhecimento dela em relação à nutrição e à necessidade de ingestão nutricional adequada. Esteja alerta a padrões que
possam contribuir para o desconforto ou desencadeálo. Questione também sobre quaisquer queixas de ptialismo
(salivação excessiva), anorexia, indigestão e dor ou distensão abdominal. Pergunte se ela notou a presença de sangue ou
muco nas fezes.
Reveja a anamnese da paciente à procura de possíveis fatores de risco, como idade jovem, náuseas e vômitos em
gestação prévia, relato de intolerância a contraceptivos orais, nuliparidade, doença trofoblástica, gestação múltipla, estresse
emocional ou psicológico, doença do refluxo gastresofágico, condição de primigesta, obesidade, hipertireoidismo e
soropositividade a Helicobacter pylori (Ogunyemi, Fong, & Herrero, 2015). Pese a paciente e compare esse peso com o
peso antes de ela começar a sentir os sintomas e ao seu peso prégestacional para estimar o grau de perda. Na hiperêmese,
a perda de peso geralmente é superior a 5% da massa corporal.
Inspecione se as mucosas estão ressecadas e verifique o turgor da pele à procura de evidências de perda de líquidos e
desidratação. Avalie a pressão arterial à procura de alterações, como hipotensão, sugestivas de déficit de volume de
líquidos. Além disso, verifique se existem queixas de fraqueza, fadiga, intolerância à atividade, tontura ou transtornos do
sono.
Avalie a percepção da gestante em relação à situação. Observe se há evidências de depressão, ansiedade, irritabilidade,
alterações de humor e diminuição na capacidade de concentração, o que pode piorar a angústia emocional dela. Boa parte
do sofrimento psicológico nessa condição é autolimitada e, provavelmente, faz parte da etiologia (Tan et al., 2014).
Determine os sistemas de apoio da gestante que estão disponíveis para ajudar.
Exames laboratoriais e complementares
Os resultados dos exames laboratoriais e complementares podem fornecer indícios da gravidade ou da etiologia da doença.
Estes podem incluir:
• Enzimas hepáticas: descartar hepatite, pancreatite e colestase; normalmente há elevação na aspartato aminotransferase
(AST) e alanina aminotransferase (ALT)
• Hemograma completo: níveis elevados de hematócrito e contagem de hemácias, indicando desidratação
• Cetonas urinárias: existentes quando o corpo degrada gordura para produzir energia, na ausência de ingestão adequada
• Determinação dos valores sanguíneos de TSH e T4 para descartar a possibilidade de doenças da tireoide
• Ureia sanguínea: aumentada quando existe depleção de sal e água
• Densidade urinária: acima de 1,025, possivelmente indicando urina concentrada ligada a ingestão inadequada ou perda
excessiva de líquidos; cetonúria
• Eletrólitos séricos: diminuição dos níveis de potássio, sódio e cloreto em decorrência dos vômitos excessivos e da
perda de ácido clorídrico gástrico
• Ultrassonografia: à procura de gravidez molar ou gestação múltipla (Cunningham et al., 2014).
Conduta de enfermagem
A conduta de enfermagem para a gestante com hiperêmese gravídica se concentra em promover conforto, controlar as
náuseas e vômitos da paciente e promover a nutrição adequada. Além disso, o enfermeiro desempenha um papel
importante em apoiar e orientar a gestante e sua família.
Promoção de conforto e nutrição
Durante o período inicial, espere suspender todos os alimentos e líquidos por via oral, mantendo a condição de jejum para
possibilitar o repouso do sistema digestório. Além disso, administre os antieméticos prescritos para aliviar as náuseas e
vômitos e a hidratação venosa para repor os líquidos perdidos. Monitore a velocidade de infusão para evitar a sobrecarga e
avalie o acesso venoso para evitar infiltrações ou infecções. Administre também a terapia de reposição de eletrólitos,
conforme prescrito, para corrigir quaisquer desequilíbrios, e verifique periodicamente os níveis séricos de eletrólitos para
avaliar a efetividade do tratamento.
Forneça medidas de conforto físico, como medidas de higiene e cuidados orais. Preste especial atenção ao ambiente,
certificandose de manter a área livre de odores fortes. Conforme as náuseas e vômitos da paciente diminuam, introduza
gradualmente líquidos por via oral e alimentos em pequenas quantidades. Monitore a ingestão e a eliminação (balanço
hídrico) e avalie a tolerância da gestante ao aumento na ingestão.
Apoio e orientações
As mulheres com hiperêmese gravídica comumente estão cansadas física e emocionalmente. Muitas estão esgotadas,
frustradas e ansiosas. Acalme a gestante e afirme que todas as intervenções visam promover desfechos positivos à
gestação, tanto para a gestante quanto para o feto. Fornecer informações sobre o plano previsto de cuidados pode ajudar a
aliviar a ansiedade da gestante. Ouça suas preocupações e sentimentos, respondendo a todas as perguntas com sinceridade.
Oriente a gestante e sua família em relação à condição e às opções de tratamento (Diretrizes de ensino 19.1). Instrua a
paciente sobre mudanças no estilo de vida, como evitar estresse e fadiga, que podem desencadear náuseas e vômitos.
Ofereça apoio contínuo e incentive a participação ativa nas decisões de cuidado, empoderando assim a gestante e sua
família. A tentativa de fornecer à paciente uma sensação de controle pode ajudála a superar a sensação de que ela o tenha
perdido. Se necessário, encaminhe a paciente a um conselheiro espiritual ou aconselhamento. Também sugira possíveis
grupos de apoio locais ou nacionais com os quais a paciente possa entrar em contato para obter mais informações.
Organize um possível acompanhamento domiciliar para a paciente e reforce as instruções de alta para promover a
compreensão. Orientação oportuna, nutrição equilibrada, farmacoterapia e suporte emocional estão associados a desfechos
favoráveis para as mulheres com essa condição. Colabore com os recursos da comunidade para garantir a continuidade do
atendimento.
Diretrizes de ensino 19.1
Orientações para minimizar náuseas e vômitos
• Evitar estímulos nocivos – como sabores fortes, perfumes ou odores intensos, como o odor ao fritar
o bacon –, que podem provocar náuseas e vômitos
• Evitar roupas apertadas na cintura para minimizar a compressão do abdome
• Fazer refeições pequenas e frequentes durante todo o dia – seis pequenas refeições
• Separar alimentos líquidos de sólidos, consumindo os líquidos entre as refeições
• Evitar deitar ou reclinar por pelo menos 2 horas depois de comer
• Usar bebidas de suplementação hiperproteicas
• Evitar alimentos com alto teor de gordura
• Aumentar a ingestão de bebidas gaseificadas
• Aumentar a exposição ao ar fresco para melhorar os sintomas
• Comer quando estiver com fome, independentemente do horário habitual das refeições
• Beber chás de ervas contendo hortelã ou gengibre
• Evitar a fadiga e aprender a gerenciar o estresse da vida
• Programar períodos de descanso diário para evitar ficar muito cansada
• Ingerir alimentos que não provoquem malestar, como bolachas água e sal, torradas ou soda
DISTÚRBIOS HIPERTENSIVOS DA GESTAÇÃO
A hipertensão continua sendo a condição clínica mais comumente encontrada em gestantes, complicando até 15% de todas
as gestações. Resulta em internações hospitalares frequentes, morbidade e mortalidade materna e nascimentos prétermo
com concomitante morbidade e mortalidade neonatal. A doença hipertensiva específica da gestação compreende um
espectro de gravidade que vai desde a elevação leve da pressão arterial a préeclâmpsia grave e hemólise. Dados recentes
mostram que distúrbios hipertensivos da gravidez estão associados a riscos cardiovasculares a longo prazo nas mulheres
(Miller & Carpenter, 2015).
Os distúrbios hipertensivos específicos da gestação incluem a hipertensão crônica, a hipertensão gestacional, a pré
eclâmpsia, a eclâmpsia e a hipertensão crônica com préeclâmpsia superposta. A préeclâmpsia complica cerca de 3 a 5%
das gestações. Os distúrbios hipertensivos afetam até 15% das gestações, valores que estão aumentando. Os distúrbios
hipertensivos estão associados a taxas mais altas de mortalidade fetal, infantil e materna e de morbidade grave,
especialmente em casos de préeclâmpsia grave, eclâmpsia e síndrome HELLP (ACOG, 2014c).
O ACOG (2010c) e o National High Blood Pressure Education Program Working Group on High Blood Pressure in
Pregnancy (2002) identificaram um sistema de classificação para distúrbios hipertensivos. A hipertensão pode ser uma
condição preexistente (hipertensão crônica) ou pode se manifestar pela primeira vez durante a gestação (hipertensão
gestacional). Tanto a hipertensão arterial crônica quanto a préeclâmpsia podem ser subdivididas em leve ou grave. Na
hipertensão crônica, a subclassificação é dependente dos valores sistólicos e diastólicos. Na préeclâmpsia, a
subclassificação é dependente da gravidade do envolvimento de órgãosalvo (Foley, Strong, & Garite, 2014).
Independentemente do seu início ou subclassificação, a hipertensão arterial coloca em risco o bemestar da mãe e do feto.
Atualmente, a classificação das síndromes hipertensivas na gestação é composta por cinco categorias:
1. Hipertensão arterial crônica: hipertensão arterial que existe antes da gravidez ou que se desenvolve antes da
20a semana de gestação
2. Hipertensão arterial gestacional: elevação da pressão arterial (140/90 mmHg) identificada após a 20a semana de
gestação, sem proteinúria associada. A pressão arterial retorna ao normal até a 12a semana pósparto
3. Préeclâmpsia: distúrbio hipertensivo mais comum da gravidez, que se desenvolve com proteinúria após 20 semanas
de gestação. É um processo mórbido que envolve múltiplos sistemas, sendo classificado como moderado ou grave,
dependendo da gravidade da disfunção de órgãos
4. Eclâmpsia: início de atividade convulsiva em uma gestante com préeclâmpsia
5. Hipertensão arterial crônica com préeclâmpsia superposta: ocorre em aproximadamente 20% das gestantes, com
aumento das taxas de morbidade materna e fetal (King et al., 2015).
Dados populacionais indicam que aproximadamente 1% das gestações é complicado por hipertensão crônica, 5 a 6%
por hipertensão gestacional (sem proteinúria) e 3 a 5% por préeclâmpsia (Carson & Gibson, 2015). Em todo o planeta,
50.000 a 60.000 mulheres morrem por causa de préeclâmpsia a cada ano. Isso corresponde a 12% de todas as mortes
maternas (Clausen & Bergholt, 2014).
Hipertensão arterial crônica
A hipertensão crônica é definida como a pressão arterial superior a 140/90 mmHg antes da gestação ou antes da
20a semana de gestação. Quando a hipertensão é identificada pela primeira vez durante a gestação e a mulher está com
menos de 20 semanas, as elevações da pressão arterial geralmente representam hipertensão arterial crônica. A hipertensão
crônica ocorre em cerca de 20% das mulheres em idade fértil, com a prevalência variando de acordo com idade, raça e
índice de massa corporal (IMC). Conforme a taxa de obesidade nos EUA aumenta, mais mulheres engravidam com níveis
elevados de pressão arterial. Cerca de 25% das gestantes com hipertensão arterial crônica desenvolvem préeclâmpsia
durante a gestação (Clausen & Bergholt, 2014). As mulheres com hipertensão arterial crônica na gestação devem ser
monitoradas quanto ao agravamento da hipertensão e/ou desenvolvimento de préeclâmpsia superposta.
As mulheres com hipertensão crônica leve muitas vezes não necessitam de tratamento antihipertensivo durante a
maior parte da gestação. O tratamento farmacológico da hipertensão leve não reduz a probabilidade de desenvolver pré
eclâmpsia mais tarde na gestação e aumenta a probabilidade de restrição do crescimento intrauterino. Contudo, se a
pressão arterial materna exceder 160/100 mmHg, recomendase o tratamento medicamentoso (Magee et al., 2015). O
enfermeiro pode desempenhar um papel importante em orientar as pacientes hipertensas para ajudálas a compreender as
possíveis complicações e como mudanças simples em seu estilo de vida podem ser úteis em influenciar positivamente o
desfecho da gestação.
Hipertensão gestacional
A categoria de hipertensão gestacional é utilizada para mulheres com hipertensão arterial não proteinúrica da gestação, na
qual os distúrbios fisiopatológicos da síndrome de préeclâmpsia não se desenvolvem antes do parto. A hipertensão
gestacional é um diagnóstico temporário para gestantes hipertensas que não atendem aos critérios para préeclâmpsia
(hipertensão arterial e possível proteinúria) nem para hipertensão arterial crônica (elevação dos níveis de pressão arterial
detectada pela primeira vez antes da 20asemana de gestação).
A hipertensão gestacional é caracterizada por hipertensão arterial (> 140/90) que não se acompanha de proteinúria
após a 20a semana de gestação, com resolução até a 12a semana pósparto (Magowan, Owen, & Thomson, 2014).
Anteriormente, a hipertensão gestacional era conhecida como hipertensão induzida pela gravidez ou toxemia da gravidez,
mas esses termos não são mais usados. A hipertensão gestacional é definida como pressão arterial sistólica > 140 mmHg
e/ou pressão diastólica > 90 mmHg em pelo menos duas ocasiões, com pelo menos 4 a 6 horas de intervalo, após a
20a semana de gestação em mulheres sabidamente normotensas antes desse momento e antes da gestação (King et al.,
2015). A hipertensão gestacional pode ser diferenciada da hipertensão arterial crônica, que aparece antes da 20a semana
gestacional, ou da hipertensão prévia à gestação atual, que persiste depois do parto.
Um estudo recente constatou que a suplementação de progesterona durante o primeiro trimestre da gravidez reduz
significativamente a incidência de hipertensão gestacional e sofrimento fetal nas mulheres primigestas. Essa
suplementação poderia ser uma futura terapia com estudos adicionais para validála (Zainul et al., 2014).
Préeclâmpsia e eclâmpsia
As adaptações fisiológicas normais à gestação são modificadas na mulher que desenvolve préeclâmpsia. A pré
eclâmpsia pode ser descrita como um distúrbio vasopressor envolvendo múltiplos sistemas (cardiovascular, hepático,
renal e nervoso central [SNC]). A préeclâmpsia pode ser classificada como leve ou grave, com o potencial de progredir
para eclâmpsia. Cada condição está associada a critérios específicos. O Quadro comparativo 19.2 destaca essas
classificações.
Quadro comparativo 19.2
Préeclâmpsia versus eclâmpsia.
Distúrbios Insuficiência
cerebrais renal
Dor epigástrica ou Síndrome
no QSD do HELLP
abdome
Síndrome HELLP
Fisiopatologia
A préeclâmpsia permanece um enigma. A condição pode ser devastadora para a mãe e o feto e, ainda assim, a sua
etiologia permanece um mistério para a medicina, apesar de décadas de pesquisa. Existem muitas teorias, mas nenhuma
explicou verdadeiramente as mudanças histopatológicas generalizadas que resultam em edema pulmonar, oligúria, crises
convulsivas, trombocitopenia e alterações nas enzimas hepáticas (Cunningham et al., 2014). Apesar dos resultados das
diversas pesquisas, não há comprovação de prevenção dessa condição deletéria pela utilização de ácido acetilsalicílico
(AAS) ou suplementação com cálcio, magnésio, zinco ou terapia antioxidante (vitaminas C e E), restrição de sal,
diuréticos ou óleos de peixe.
Préeclâmpsia é um evento com dois estágios e o mecanismo subjacente envolve vasospasmo e hipoperfusão. No
primeiro estágio, a característica primordial é o vasospasmo disseminado. Além disso, ocorre lesão no endotélio, levando
a adesão plaquetária, deposição de fibrina e achado de esquistócitos (fragmento de uma hemácia). O segundo estágio da
préeclâmpsia é a resposta da mulher à placentação anormal, quando os sinais/sintomas aparecem, ou seja, hipertensão
arterial, proteinúria e edema em decorrência da hipoperfusão.
O vasospasmo generalizado resulta em elevação da pressão arterial e redução do fluxo sanguíneo para o encéfalo, o
fígado, os rins, a placenta e os pulmões. A diminuição da perfusão hepática evolui para insuficiência hepática e hemorragia
subcapsular. Isso é evidenciado por dor epigástrica e elevação das enzimas hepáticas no soro materno. A diminuição da
perfusão cerebral leva a pequenas hemorragias cerebrais e manifestações de espasmo arterial, como cefaleia, distúrbios
visuais, borramento visual, além de reflexos tendinosos profundos (RTP) hiperativos. Um desequilíbrio
tromboxano/prostaciclina leva ao aumento do tromboxano (potente vasoconstritor e estimulante da agregação plaquetária) e
diminuição da prostaciclina (potente vasodilatador e inibidor da agregação plaquetária), que contribuem para o estado
hipertensivo. A diminuição da perfusão renal reduz a taxa de filtração glomerular (TFG), resultando em redução do débito
urinário e aumento dos níveis séricos de sódio, nitrogênio da ureia sanguínea, ácido úrico e creatinina, aumentando ainda
mais o líquido extracelular e o edema. O aumento da permeabilidade capilar nos rins possibilita o extravasamento de
albumina, o que reduz a pressão coloidosmótica do plasma e desloca mais líquido para o espaço extracelular, o que leva a
edema pulmonar e generalizado. A má perfusão placentária decorrente da vasoconstrição prolongada ajuda a contribuir
para restrição do crescimento intrauterino, descolamento prematuro de placenta (DPP), hipoxia fetal persistente e acidose.
Além disso, a hemoconcentração (resultante da diminuição do volume intravascular) provoca aumento da viscosidade do
sangue e elevação do hematócrito (ACOG, 2014c).
Conduta terapêutica
A conduta quando a gestante apresenta préeclâmpsia varia, dependendo da gravidade de sua condição e de seus efeitos
sobre o feto. Normalmente, a gestante é tratada de modo conservador se estiver com sintomas leves. No entanto, se a
condição progredir, a conduta se torna mais agressiva. A “cura” da préeclâmpsia/eclâmpsia sempre consiste na expulsão
da placenta. A resolução do quadro após a expulsão da placenta apoia as teorias relacionadas com a influência da placenta
na doença (Dekker, 2014). Segundo estudos recentes, a prevenção da préeclâmpsia deve ser cogitada com a prescrição de
baixas doses diárias de ácido acetilsalicílico (AAS), a partir da 12asemana de gravidez em mulheres identificadas como de
alto risco. Embora mulheres com hipertensão arterial crônica ou história pregressa de préeclâmpsia devam ser medicadas
com ácido acetilsalicílico (AAS) durante a gravidez, deve ser realizada pesquisa adicional para prever a ocorrência de pré
eclâmpsia em mulheres de baixo risco (Bujold, 2015).
CONDUTA PARA A PRÉECLÂMPSIA LEVE
Utilizamse estratégias conservadoras para a préeclâmpsia leve se a gestante apresentar sinais de disfunção renal ou
hepática ou coagulopatia. A gestante com elevação discreta dos níveis de pressão arterial pode ser colocada em repouso no
leito em casa. Ela é encorajada a repousar tanto quanto possível, na posição de decúbito lateral, para melhorar o fluxo
sanguíneo uteroplacentário, reduzir a pressão arterial e promover a diurese. Além disso, aumentase a frequência das
consultas prénatais e exames complementares, como hemograma, coagulograma, enzimas hepáticas e contagem de
plaquetas. Será solicitado à mulher que monitore diariamente a sua pressão arterial (a cada 4 a 6 horas, enquanto acordada)
e relate qualquer elevação nos resultados; ela também medirá a concentração de proteína encontrada na urina usando uma
fita reagente e se pesará para determinar se houve ganho de peso. Deve ser realizada contagem diária dos movimentos
fetais e, se houver diminuição dos movimentos fetais, a paciente precisa ser avaliada pelo obstetra no mesmo dia.
Aconselhase a ingestão de uma dieta equilibrada, nutritiva, sem restrição de sódio. Além disso, a gestante é incentivada a
beber de 6 a 8 copos de 240 mℓ de água por dia. Se a conduta domiciliar não reduzir a pressão arterial, a admissão ao
hospital se justifica e a estratégia de tratamento é individualizada com base na gravidade da doença e na idade gestacional
por ocasião do diagnóstico.
Durante a internação, a gestante com préeclâmpsia leve é monitorada atentamente à procura de sinais e sintomas de
préeclâmpsia grave ou eclâmpsia iminente (p. ex., cefaleia persistente, hiperreflexia). As medidas de pressão arterial
frequentemente são registradas junto com o peso diário para detectar o ganho excessivo de peso resultante de edema.
Instituise a vigilância do feto pela contagem dos movimentos fetais diários, cardiotocografia basal e ultrassonografias
seriadas para avaliar o crescimento fetal e o volume de líquido amniótico para confirmar o bemestar fetal. A conduta
expectante (observação atenta) geralmente continua até que a gestação chegue a termo, a maturidade pulmonar fetal seja
documentada ou se desenvolvam complicações que exijam o parto imediato. As gestantes com préeclâmpsia leve correm
maior risco de hipertensão arterial pósparto (King et al., 2015).
A prevenção da progressão da doença é o foco do tratamento durante o trabalho de parto. A pressão arterial é
monitorada com frequência. É importante que haja um ambiente tranquilo, para minimizar o risco de estimulação e para
promover o descanso. Infundese sulfato de magnésio intravenoso para evitar qualquer atividade convulsiva, juntamente
com antihipertensivos se os valores de pressão arterial começarem a subir. Mantémse o gliconato de cálcio à beira do
leito caso o nível de magnésio se torne tóxico. Exigese o acompanhamento atento continuado do estado neurológico para
detectar quaisquer sinais ou sintomas de hipoxemia, atividade convulsiva iminente ou aumento da pressão intracraniana.
Geralmente inserese um cateter vesical de demora (Foley) para possibilitar a medição precisa da produção de urina.
CONDUTA PARA A PRÉECLÂMPSIA GRAVE
A préeclâmpsia grave pode se desenvolver de repente e trazer com ela uma hipertensão arterial de mais de 160/110
mmHg, proteinúria de mais de 5 g em 24 horas, oligúria de menos de 400 mℓ em 24 horas, sintomas cerebrais e visuais e
ganho de peso rápido. Esse quadro clínico indica uma préeclâmpsia grave, sendo necessária a hospitalização imediata.
O tratamento é altamente individualizado e baseado na gravidade da doença e na idade fetal. O nascimento da criança é
a única cura, porque a préeclâmpsia depende da presença de tecido trofoblástico. Portanto, avaliase a idade precisa do
feto para determinar sua viabilidade.
A préeclâmpsia grave é tratada de modo agressivo, porque a hipertensão é uma séria ameaça para a mãe e para o feto.
O objetivo do cuidado é estabilizar a díade mãefeto e se preparar para o nascimento. O tratamento concentrase em
controlar a hipertensão e evitar convulsões, morbidade a longo prazo e morte materna, fetal ou neonatal (Foo et al., 2015).
A vigilância materna e fetal intensa começa quando a mãe é hospitalizada e continua durante toda a sua internação.
A gestante em trabalho de parto com préeclâmpsia grave normalmente recebe ocitocina para estimular as contrações
uterinas e sulfato de magnésio para evitar a atividade convulsiva. Podese administrar ocitocina e sulfato de magnésio
simultaneamente via bombas de infusão para assegurar que ambos sejam administrados na taxa prescrita. O sulfato de
magnésio é administrado por via intravenosa por meio de uma bomba de infusão. Determinase uma dose de carga de 4 a 6
g ao longo de 5 minutos. Em seguida, administrase uma dose de manutenção de 2 g/h.
Avaliase atentamente a paciente por toxicidade por magnésio. Se possível, o parto vaginal é preferível a uma cesariana
para melhores desfechos maternos e menos riscos associados a um parto cirúrgico. Podese utilizar PGE2 em gel para
amadurecer o colo do útero. Podese realizar uma cesariana se a paciente estiver em situação grave. O
pediatra/neonatologista ou enfermeiro neonatal devem estar disponíveis na sala de parto para atender o recémnascido. Um
neonato cuja mãe recebeu altas doses de sulfato de magnésio deve ser monitorado por causa da possibilidade de depressão
respiratória, hipocalcemia e hipotonia. Pode ocorrer diminuição na variabilidade da frequência cardíaca fetal, mas, em
geral, o sulfato de magnésio não representa um risco para o feto. Os recémnascidos podem apresentar depressão
respiratória, desaparecimento de reflexos, fraqueza muscular e depressão neurológica (Martin, Fanaroff, & Walsh, 2014).
CONDUTA PARA A GESTANTE COM ECLÂMPSIA
Na gestante que apresenta uma crise convulsiva por causa de eclâmpsia, a atividade convulsiva começa com espasmos
faciais, seguidos por rigidez muscular generalizada. A princípio pode ser observada distorção da face da gestante, com
protrusão dos olhos e espuma nos cantos da boca. A respiração cessa durante a crise convulsiva, em decorrência dos
espasmos musculares, comprometendo assim a oxigenação fetal. As complicações das crises convulsivas podem incluir
mordedura da língua, traumatismo cranioencefálico (TCE) e aspiração. O coma geralmente segue a atividade convulsiva,
com retomada da respiração. As crises convulsivas por causa de eclâmpsia são emergências potencialmente fatais e exigem
tratamento imediato para diminuir as taxas de morbidade e mortalidade maternas.
Como com qualquer convulsão, o tratamento inicial envolve desobstruir as vias respiratórias e administrar oxigenação
adequada. É fundamental posicionar a gestante em decúbito lateral esquerdo e protegêla de lesões durante a crise
convulsiva. Equipamentos de aspiração devem estar prontamente disponíveis para remover as secreções da boca após a
convulsão ter ocorrido. Administramse líquidos intravenosos após a convulsão, em volume suficiente para repor o débito
urinário e outras perdas insensíveis. Monitorase atentamente a frequência cardíaca fetal. Administrase sulfato de
magnésio por via intravenosa para evitar novas crises convulsivas. Monitoramse atentamente os níveis séricos de
magnésio, a frequência respiratória, os reflexos e o débito urinário em mulheres que receberam sulfato de magnésio para
evitar os efeitos tóxicos do magnésio e impedir uma parada cardíaca. O gliconato de cálcio (1 g por via intravenosa)
costuma ser prescrito para neutralizar a toxicidade pelo magnésio. A hipertensão arterial é controlada com fármacos anti
hipertensivos. Após as crises convulsivas terem sido controladas, avaliase a estabilidade da gestante. Se ela estiver
estável, realizase o parto vaginal via indução ou cesariana (Amorim et al., 2015). Se a condição da mulher permanecer
estável, ela será transferida para a unidade pósparto para atendimento. Se ela se tornar instável após o parto, ela será
transferida para a unidade de cuidados intensivos para uma observação mais atenta.
Avaliação de enfermagem
A prevenção de complicações relacionadas com a préeclâmpsia demanda o uso de habilidades de avaliação, defesa e
aconselhamento. A avaliação começa com a medição precisa da pressão arterial da paciente em cada consulta. Além disso,
os enfermeiros precisam avaliar as queixas subjetivas que podem indicar a progressão da doença – alterações visuais,
cefaleia intensa, hemorragia ou equimoses incomuns ou dor epigástrica (NagtalonRamos, 2014). Os sinais significativos
de préeclâmpsia – proteinúria e hipertensão – ocorrem sem que a gestante se dê conta. Infelizmente, no momento em que
os sintomas são observados, a hipertensão gestacional pode ser grave.
Anote!
Para o diagnóstico de préeclâmpsia, a pressão arterial absoluta (valor que confirma a elevação) de 140/90 mmHg deve ser
aferida em duas ocasiões com 4 a 6 horas de intervalo entre as medidas. A proteinúria é definida como 300 mg ou mais
de proteína urinária em 24 horas ou proteínas acima de 1+ na avaliação por fita reagente em pelo menos duas amostras
de urina aleatórias, coletadas com intervalo mínimo de 4 a 6 horas entre elas, sem evidências de infecção urinária (ACOG,
2014c).
ANAMNESE E EXAME FÍSICO
Realize a anamnese completa durante a primeira consulta prénatal para identificar se a gestante corre risco de pré
eclâmpsia. Os fatores de risco incluem:
• Mulher primigesta
• Anormalidades cromossômicas
• Anomalias congênitas estruturais
• Gestações múltiplas
• História de préeclâmpsia em gestação anterior
• Excesso de tecido placentário, como visto na mulher com DTG
• Estresse crônico
• Uso de fármacos para induzir a ovulação
• História familiar de préeclâmpsia (mãe ou irmã)
• Nível socioeconômico mais baixo
• História pregressa de diabetes melito, hipertensão arterial ou doença renal
• Má nutrição
• Nível socioeconômico mais baixo
• Etnia afroamericana
• Extremos de idade (menos de 20 anos ou mais de 35 anos de idade)
• Obesidade (Ross, 2015).
Além disso, realize uma avaliação nutricional que inclua a ingestão usual de proteína, cálcio, calorias diárias e
líquidos.
As gestantes que correm risco de préeclâmpsia precisam de consultas prénatais mais frequentes, além de orientações
sobre os problemas para que possam comunicálos prontamente.
A pressão arterial deve ser aferida com cuidado e de modo consistente. Obtenha todas as medidas com a gestante na
mesma posição (a pressão arterial é mais elevada na posição sentada e menor em decúbito lateral) e usando a mesma
técnica (automatizada vs. manual). Essa padronização na posição e na técnica produzirá leituras mais precisas (Norwitz,
2015).
Pese a paciente (observe o ganho desde a última consulta) e avalie magnitude e localização do edema. Fazer perguntas
como “Os seus anéis ainda cabem em seus dedos?” ou “O seu rosto está inchado quando você se levanta pela manhã?”
ajudará a determinar se há retenção de líquidos ou se a condição da gestante mudou desde sua última consulta.
Anote!
Embora o edema não seja um sinal primordial de préeclâmpsia, o peso deve ser monitorado com frequência para
identificar ganhos repentinos em um curto espaço de tempo. A pesquisa atual se baseia menos na tríade clássica de
manifestações clínicas (hipertensão arterial, proteinúria e edema ou ganho de peso) e mais na diminuição da perfusão de
órgãos, disfunção endotelial (extravasamento capilar e proteinúria) e elevação da pressão arterial como indicadoreschave
(Carson & Gibson, 2015).
Se houver edema, avalie sua distribuição, seu grau e se é depressível. Documente seus achados e identifique se o
edema é postural ou depressível. O edema postural é encontrado na metade inferior do corpo se a paciente estiver
deambulando, quando a pressão hidrostática é maior. Geralmente o edema é observado nos pés e tornozelos ou na região
sacral se a gestante estiver em repouso no leito. O edema depressível é aquele que deixa uma pequena depressão ou
afundamento após a aplicação de pressão digital a uma área tumefeita (Carson & Gibson, 2014). Registre a profundidade
da depressão após a compressão. Embora subjetivos, utilizamse os termos a seguir para registrar graus relativos:
• Edema compressível 1+ = depressão de 2 mm na pele; desaparece rapidamente
• Edema compressível 2+ = depressão de 4 mm na pele; desaparece em 10 a 15 segundos
• Edema compressível 3+ = depressão de 6 mm na pele; perdura por mais de 1 minuto
• Edema compressível 4+ = depressão de 8 mm na pele; perdura por 2 a 3 minutos.
Em toda consulta prénatal, avalie a frequência cardíaca fetal com um aparelho Doppler. Além disso, verifique uma
amostra de urina do jato médio à procura de proteína usando uma tira reagente.
EXAMES LABORATORIAIS E COMPLEMENTARES
Podemse realizar vários exames laboratoriais para avaliar a condição da gestante. Normalmente, estes incluem
hemograma completo, eletrólitos séricos, ureia sanguínea, creatinina e níveis de enzimas hepáticas. As amostras de urina
são examinadas à procura de proteína; se os níveis forem de 1+ a 2+ ou mais, realizase um exame de urina de 24 horas.
Conduta de enfermagem
A conduta de enfermagem para a gestante com préeclâmpsia se concentra no controle cuidadoso da pressão arterial e na
avaliação contínua à procura de evidências de progressão da doença. Durante a gestação, a vigilância fetal é fundamental.
INTERVENÇÃO NA PRÉECLÂMPSIA
A gestante com préeclâmpsia leve precisa de monitoramento frequente para detectar quaisquer mudanças, porque a pré
eclâmpsia pode evoluir rapidamente. Instrua todas as gestantes em relação aos sinais e sintomas de préeclâmpsia e
incentiveas a contatar o obstetra para avaliação imediata caso eles ocorram.
Habitualmente, as gestantes com préeclâmpsia leve podem ser tratadas em casa se tiverem uma boa compreensão do
processo da doença, se a pressão arterial e os sinais vitais estiverem estáveis, se não tiver resultados anormais nos exames
laboratoriais e se houver uma boa movimentação fetal (Diretrizes de ensino 19.2). O enfermeiro do cuidado domiciliar faz
consultas frequentes e acompanhamento por telefone para avaliar a condição da gestante, para auxiliar na programação de
avaliações periódicas do feto (como cardiotocografia basal) e para avaliar quaisquer alterações que possam sugerir
agravamento na condição da gestante.
Diretrizes de ensino 19.2
Orientações à gestante com préeclâmpsia leve
• Repousar em um ambiente calmo para evitar distúrbios cerebrais
• Beber de 8 a 10 copos de água diariamente
• Seguir uma dieta equilibrada e rica em proteínas, incluindo alimentos ricos em fibras
• Fazer repouso intermitente para melhorar a circulação para o coração e útero
• Limitar as atividades físicas para promover a micção e consequente diminuição da pressão arterial
• Contar com a ajuda de sua família para que possa repousar pelo tempo adequado
• Realizar o automonitoramento, conforme as instruções, incluindo:
• Aferir a pressão arterial 2 vezes/dia
• Verificar e anotar o peso corporal diariamente
• Realizar um teste de urina com fita reagente 2 vezes/dia
• Registrar o número diário de movimentos fetais
• Contatar o enfermeiro de cuidados domiciliares em caso de:
• Elevação dos níveis da pressão arterial
• Achado de proteína na urina
• Ganho de peso corporal de mais de 450 g em 1 semana
• Sensação de queimação ao urinar ou aumento da frequência urinária
• Diminuição da atividade ou movimentação fetal
• Cefaleia (na testa ou nuca)
• Tontura ou distúrbios visuais
• Aumento da tumefação nas mãos, pés, pernas e rosto
• Epigastralgia, pirose excessiva
• Micção rara ou pequeno volume de urina
• Contrações ou dor lombar
• Fragilidade capilar
• Início súbito de dor abdominal
• Náuseas e vômitos
A detecção precoce e a conduta para a préeclâmpsia leve estão associadas a maior sucesso na redução da progressão
dessa condição. Enquanto a gestante seguir as diretrizes de cuidado descritas pelo médico e permanecer estável, podese
continuar o cuidado domiciliar para manter a gestação até que o feto esteja maduro. Se ocorrer progressão da doença, é
necessário internação.
INTERVENÇÃO NA PRÉECLÂMPSIA GRAVE
A gestante com préeclâmpsia grave requer hospitalização. Mantenha a paciente em repouso absoluto em decúbito lateral
esquerdo. Certifiquese de que o quarto é escuro e silencioso para reduzir a estimulação. Administre sedativos conforme
prescrito para incentivar o repouso tranquilo. A paciente está em risco de convulsões se a condição progredir. Portanto,
institua e mantenha as precauções contra convulsões, como acolchoar as grades laterais e ter oxigênio, equipamentos de
aspiração e campainha de chamada prontamente disponíveis para proteger a paciente de uma lesão.
Anote!
A préeclâmpsia aumenta o risco de descolamento prematuro de placenta, parto prétermo, restrição de crescimento
intrauterino e sofrimento fetal durante o parto. Esteja sempre preparado se houver sinais/sintomas de préeclâmpsia!
Monitore atentamente a pressão arterial da paciente. Administre antihipertensivos conforme prescrito para reduzir a
pressão arterial (Orientação sobre medicamentos 19.3). Avalie a visão e o nível de consciência da paciente. Relate qualquer
alteração e também as queixas de cefaleia ou distúrbios visuais. Ofereça uma dieta rica em proteína com 8 a 10 copos de
água por dia. Monitore a ingestão e a eliminação da paciente de hora em hora e administre reposição de líquidos e
eletrólitos, conforme prescrito. Avalie a gestante para detectar sinais e sintomas de edema pulmonar, como estertores e
sibilos à ausculta, dispneia, diminuição dos níveis de saturação de oxigênio, tosse, distensão da veia do pescoço, ansiedade
e inquietação. O tratamento do edema agudo de pulmão é sintomático e inclui a administração de vasodilatadores e
diuréticos. O desenvolvimento de edema agudo de pulmão em mulheres com hipertensão durante a gestação está associado
à administração de altos níveis de líquidos por via intravenosa (Pauli & Repke, 2015).
Para conseguir um desfecho seguro para o feto, prepare a gestante para um possível teste para avaliar o estado fetal
conforme a préeclâmpsia progride. Os testes podem incluir cardiotocografia basal; ultrassonografias seriadas, para
acompanhar o crescimento fetal; amniocentese, para determinar a maturidade pulmonar fetal; Dopplervelocimetria, para
rastrear o comprometimento fetal; e perfil biofísico, para avaliar o progresso do bemestar fetal (Mattson & Smith, 2016).
Outros exames laboratoriais podem ser realizados para monitorar o processo da doença e para determinar se ela está
progredindo para síndrome HELLP. Estes incluem as enzimas hepáticas, como a desidrogenase láctica (LDH), ALT e
AST; o perfil químico, como creatinina, nitrogênio da ureia sanguínea, ácido úrico e glicose; o HC, incluindo contagem de
plaquetas; exames de coagulação, como TP, TTP, fibrinogênio e tempo de sangramento; e a urina de 24 horas para
procurar proteínas e avaliar a depuração da creatinina.
Administre sulfato de magnésio por via parenteral conforme prescrito para evitar convulsões. Avalie os reflexos
tendinosos profundos para determinar a efetividade do tratamento. Gestantes com préeclâmpsia comumente manifestam
hiperreflexia. A préeclâmpsia grave provoca alterações no córtex, o que perturba o equilíbrio de impulsos entre o córtex
cerebral e a medula espinal. Reflexos exacerbados (hiperreflexia) são decorrentes de um córtex cerebral irritável e
indicam envolvimento do sistema nervoso central (SNC) (Marik, 2015). A diminuição ou a ausência de reflexos ocorre
quando a paciente desenvolve toxicidade por magnésio. Como o magnésio é um potente bloqueador neuromuscular, as vias
aferentes e eferentes não retransmitem os estímulos corretamente e desenvolvese hiporreflexia. Os reflexos tendinosos
profundos mais comumente avaliados são os reflexos bicipital, tricipital, patelar, calcâneo e plantar. O boxe Procedimento
de enfermagem 19.1 destaca os passos para avaliar o reflexo patelar.
Orientação sobre medicamentos 19.3
Fármacos usados na préeclâmpsia e na eclâmpsia.
Avaliar os reflexos tendinosos
profundos e verificar se há
clônus aquileu
Ter gliconato de cálcio
prontamente disponível em
caso de toxicidade
Monitorar sinais e sintomas de
toxicidade, como rubor,
sudorese, hipotensão e
depressão cardíaca e do
sistema nervoso central
Monitorar possíveis efeitos
adversos, como dor gástrica,
flatulência, constipação
intestinal, tontura, vertigens e
fadiga
Monitorar possíveis efeitos
adversos, como crises
convulsivas, inquietação,
pressão retroesternal,
palpitações, sudorese, dor
abdominal
ascendente adversos, como tontura,
vertigens, hipotensão
Edema pulmonar
ortostática, anorexia, vômitos,
(utilizado apenas
desequilíbrio eletrolítico,
se essa condição
cãibras musculares e
existir)
espasmos musculares
Adaptado de King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Grgor,
C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s midwifery (5th ed.). Burlington, MA:
Jones & Bartlett Learning; e SkidmoreRoth, L. (2015). Mosby’s 2015
nursing drug reference (28th ed.). Philadelphia, PA: Elsevier Health
Science.
PROCEDIMENTO DE ENFERMAGEM 19.1
Avaliação do reflexo patelar
Objetivo: avaliar se existe irritabilidade do sistema nervoso relacionada com a préeclâmpsia
1. Colocar a gestante em decúbito dorsal (ou sentada com as pernas penduradas livremente para fora do
leito ou da mesa de exame)
2. Se a gestante estiver em decúbito dorsal, solicitar que ela flexione levemente o joelho
3. Colocar uma das mãos sob o joelho da paciente para apoiar a perna dela e localizar o tendão patelar.
Deve estar na linha média, logo abaixo da patela
4. Usar um martelo de reflexos ou a borda lateral da mão para percutir a área do tendão patelar com
firmeza e rapidez
5. Observar o movimento da perna e do pé. O reflexo patelar existe quando a perna e o pé se movem
(documentado como 2+)
6. Repetir o procedimento com a outra perna
O National Institute of Neurological Disorders and Stroke, uma divisão do National Institutes of Health, publicou uma
escala no início de 1990 que, embora subjetiva, é amplamente utilizada na atualidade. Ela gradua os reflexos em 0 a 4+.
Os graus 2+ e 3+ são considerados normais, enquanto pontuações de 0 e 4+ podem indicar lesão (Tabela 19.2). Como as
avaliações são subjetivas, para melhorar a comunicação dos resultados dos reflexos, devem ser usadas categorias
descritoras condensadas (como ausente, presente, hiperreflexia ou clônus) em vez de códigos numéricos (Magowan,
Owen, & Thomson, 2014).
Clônus consiste em contrações involuntárias rítmicas, na maioria das vezes no pé ou no tornozelo. O clônus
sustentado confirma o envolvimento do SNC. O boxe Procedimento de enfermagem 19.2 destaca os passos para testar se
existe clônus aquileu.
Na administração de sulfato de magnésio, a paciente corre risco de toxicidade por magnésio. Avalie atentamente a
gestante à procura de sinais de toxicidade, incluindo frequência respiratória inferior a 12 incursões respiratórias por
minuto (irpm), ausência de reflexos tendinosos profundos e diminuição do débito urinário (< 30 mℓ/h). Monitore também
os níveis séricos de magnésio. Embora os níveis exatos possam variar entre as instituições, níveis séricos de magnésio
entre 4 e 7 mEq/ ℓ são considerados terapêuticos, enquanto níveis de mais de 8 mEq/d ℓ geralmente são considerados
tóxicos. Conforme os níveis aumentam, a gestante corre risco de graves problemas:
• 10 mEq/ℓ: possível desaparecimento dos reflexos tendinosos profundos
• 15 mEq/ℓ: possível depressão respiratória
• 25 mEq/ℓ: possível parada cardíaca (SkidmoreRoth, 2015).
Caso haja desenvolvimento de sinais e sintomas de toxicidade por magnésio, preparese para administrar gliconato de
cálcio como antídoto.
Durante a internação da paciente, monitorea atentamente à procura de sinais e sintomas de trabalho de parto. Institua
monitoramento eletrônico contínuo para avaliar o bemestar do feto. Observe tendências na frequência cardíaca de base e a
existência ou não de acelerações ou desacelerações. Observe também se há sinais de sofrimento fetal e relateos
imediatamente. Administre glicocorticoides conforme prescrito para aumentar a maturidade pulmonar fetal e se preparar
para a indução do parto se a condição da mãe o exigir.
Tabela 19.2 Classificação dos reflexos
tendinosos profundos.
Descrição do achado Grau
Reflexo ausente 0
Reflexo hipoativo, lento 1
Reflexo na metade inferior da 2
variação normal
Reflexo na metade superior da 3
variação normal
Reflexo hiperativo, vivo, 4
presença de clônus
Adaptada de King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Grgor,
C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s midwifery. (5th ed.), Burlington, MA:
Jones & Bartlett Learning; NagtalonRamos, J. (2014). Maternalnewborn
nursing care: Best evidencebased practices. Philadelphia, PA: F. A. Davis
Company.
PROCEDIMENTO DE ENFERMAGEM 19.2
Avaliação à procura de clônus aquileu
Objetivo: avaliar se existe irritabilidade do sistema nervoso relacionada com a préeclâmpsia
1. Colocar a gestante em decúbito dorsal
2. Pedir a ela que flexione discretamente o joelho; colocar a mão sob o joelho para apoiálo
3. Dorsifletir o pé da gestante vigorosamente e, em seguida, soltálo rapidamente
4. Observar se o pé dela retrocede delicadamente contra a sua mão. Se o movimento for leve, sem
quaisquer contrações bruscas do tornozelo ou dos músculos da panturrilha, então não há clônus; se o
movimento for brusco e rápido, há clônus
5. Repetir no lado oposto
Mantenha a paciente e sua família informadas sobre a condição dela e orientea em relação ao curso do tratamento.
Forneça suporte emocional a eles. O modo grave da préeclâmpsia é muito assustador para a gestante e seus familiares, e a
maioria das gestantes fica muito preocupada com sua própria saúde, bem como com a saúde do feto. Para aliviar a
ansiedade, use um toque leve reconfortante e tranquilizea de que as ações necessárias estão sendo tomadas. Ouvir
atentamente suas preocupações e seus medos e comunicálos ao médico é importante para manter as vias de comunicação
abertas. Elogiar pequenos feitos constitui um reforço positivo para comportamentos efetivos.
INTERVENÇÕES PARA A ECLÂMPSIA
O início da atividade convulsiva identifica a eclâmpsia. Habitualmente, as crises convulsivas por eclâmpsia são
generalizadas e começam com uma contração facial. Em seguida, o corpo tornase rígido, em um estado de contração
muscular tônica. A fase clônica da convulsão envolve contração e relaxamento alternados de todos os músculos do corpo.
A respiração cessa durante as crises convulsivas e retorna logo após o seu término. A segurança da gestante é a principal
preocupação durante as crises convulsivas por eclâmpsia. Se possível, vire a gestante de lado e fique com ela. Certifique
se de que as grades laterais do leito estejam elevadas e acolchoadas. Apague as luzes e mantenha o quarto em silêncio.
Documente o horário e a sequência dos eventos, tão logo possível. Após a atividade convulsiva ter cessado, aspire a
nasofaringe, se necessário, e administre oxigênio. Continue a infusão de sulfato de magnésio para evitar novas crises
convulsivas. Assegure o monitoramento eletrônico fetal contínuo, avaliando se há mudanças na condição fetal. Avalie
também se a gestante apresenta contrações uterinas. Depois que a gestante estiver estabilizada, preparea para o parto o
mais rapidamente possível, para reduzir o risco de mortalidade perinatal.
CUIDADOS DE ACOMPANHAMENTO
Depois do parto, continue acompanhando a paciente em busca de sinais e sintomas de préeclâmpsia/eclâmpsia durante
pelo menos 48 horas. Preparese para continuar administrando a infusão de sulfato de magnésio por 24 horas para evitar a
atividade convulsiva e monitore os níveis séricos de magnésio por toxicidade.
Avalie os sinais vitais pelo menos a cada 4 horas, juntamente com as avaliações pósparto de rotina: altura do fundo do
útero, lóquios, mamas, bexiga, intestinos e estado emocional da gestante. Monitore atentamente o débito urinário. A
diurese é um sinal favorável que, juntamente com a redução da proteinúria, sinaliza a resolução da doença.
SÍNDROME HELLP
A síndrome HELLP é um acrônimo para hemólise, elevação das enzimas hepáticas e plaquetopenia. Tratase de uma
variante da síndrome préeclâmpsia/eclâmpsia que ocorre em 10 a 20% das pacientes com condições consideradas graves.
As mulheres com a síndrome HELLP correm risco aumentado de complicações como hemorragia cerebral, descolamento
de retina, hematoma/ruptura de fígado, insuficiência renal aguda, coagulação intravascular disseminada (CIVD),
descolamento prematuro de placenta e morte materna (VigilDe Gracia, 2015). É uma complicação obstétrica
potencialmente fatal, considerada por muitos como uma forma grave de préeclâmpsia envolvendo hemólise,
trombocitopenia e disfunção hepática.
Tanto a síndrome HELLP quanto a préeclâmpsia ocorrem durante os estágios mais avançados da gestação e algumas
vezes após o parto. A síndrome HELLP é clinicamente progressiva. O diagnóstico precoce é essencial para evitar a
distensão, a ruptura e a hemorragia hepática e o aparecimento de coagulação intravascular disseminada. Se a condição se
manifestar antes do nascimento, a gestante e o feto podem apresentar sequelas ou morrer.
A síndrome HELLP ocorre em até 20% das gestantes diagnosticadas com préeclâmpsia grave. Essa síndrome é
singular porque seu diagnóstico depende especificamente de exames laboratoriais. As gestantes com a síndrome HELLP
geralmente têm alguns sinais de alterações compatíveis com síndrome metabólica e menor prevalência de trombofilia, em
comparação com as gestantes com préeclâmpsia sem HELLP (Sibai, 2015). Embora já tenha sido relatada até na
17a semana de gestação, na maioria dos casos é diagnosticada entre a 22a e a 36a semana de gestação (Cunningham et al.,
2014). Pode manifestarse antes da ocorrência de elevação dos níveis de pressão arterial. A síndrome HELLP leva a
aumento do risco materno de desenvolvimento de hematoma ou ruptura hepática, acidente vascular cerebral ou encefálico,
parada cardíaca, crises convulsivas, edema pulmonar, coagulação intravascular disseminada, hemorragia subendocárdica,
síndrome de angústia respiratória do adulto (SARA), dano renal, sepse, encefalopatia hipóxica e morte materna ou fetal
(Moses, 2015b). É necessário que haja o reconhecimento da síndrome HELLP e uma abordagem multidisciplinar
agressiva e transferência rápida dessas gestantes para centros obstétricos com experiência nesse campo para a melhora do
prognóstico maternofetal.
Fisiopatologia
A hemólise que ocorre é chamada de anemia hemolítica microangiopática. Acreditase que essa cascata de eventos aconteça
quando as hemácias são fragmentadas à medida que passam por pequenos vasos sanguíneos danificados. A elevação das
enzimas hepáticas é decorrente da redução do fluxo sanguíneo para o fígado secundária à obstrução por depósitos de
fibrina. Ao mesmo tempo, o dano endotelial e a deposição de fibrina no fígado podem levar à insuficiência hepática e
resultar em necrose hemorrágica, indicada por dor à palpação do quadrante superior direito do abdome, náuseas e vômitos.
A hiperbilirrubinemia e a icterícia decorrem da insuficiência hepática. A baixa contagem de plaquetas resulta do dano
vascular, decorrente do vasospasmo e da agregação plaquetária nos locais de dano, resultando em trombocitopenia em
vários locais (Khan & Meirowitz, 2015).
Conduta terapêutica
O tratamento para a síndrome HELLP baseiase na gravidade da doença, na idade gestacional do feto e na condição
maternofetal. A base do tratamento é a redução da pressão arterial elevada com agentes antihipertensivos de ação rápida,
a prevenção de crises convulsivas ou novos episódios convulsivos com sulfato de magnésio e a administração de
esteroides para acelerar a maturidade pulmonar fetal, se necessário, seguidas pelo parto do neonato e expulsão da placenta
(Foley, Strong, & Garite, 2014). A gestante deve ser admitida ou transferida para uma instituição de atenção terciária com
uma unidade de terapia intensiva neonatal. O tratamento adicional inclui a correção das coagulopatias que acompanham a
síndrome HELLP. Após essa síndrome ser diagnosticada e a condição da gestante se estabilizar, é indicado o parto.
O sulfato de magnésio é usado profilaticamente para evitar crise convulsiva. Antihipertensivos, como a hidralazina ou
o labetalol, são indicados para controlar a pressão arterial. O tratamento com componentes do sangue – como plasma
fresco congelado, concentrado de hemácias ou plaquetas – é prescrito para corrigir a anemia hemolítica microangiopática.
O parto pode ser adiado por até 96 horas, para que possa ser administrada betametasona ou dexametasona para estimular a
maturação do pulmão do feto prétermo.
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem da gestante com síndrome HELLP é semelhante à da gestante com préeclâmpsia grave. Esteja
alerta para queixas de náuseas (associadas ou não a vômitos), malestar, dor epigástrica ou no quadrante superior direito
do abdome e edema demonstrável. Realize avaliações sistemáticas com frequência, conforme indicado pela condição da
gestante e sua resposta ao tratamento.
O diagnóstico de síndrome HELLP é feito com base nos resultados dos exames laboratoriais, incluindo:
• Baixo hematócrito, que não é explicado por perda de sangue
• LDH elevada (insuficiência hepática)
• AST elevada (insuficiência hepática)
• ALT elevada (insuficiência hepática)
• Níveis elevados de ureia sanguínea
• Nível de bilirrubina elevado
• Níveis de ácido úrico e creatinina elevados (envolvimento renal)
• Baixa contagem de plaquetas (abaixo de 100.000/mm3).
Conduta de enfermagem
A conduta de enfermagem para a gestante diagnosticada com a síndrome HELLP é igual à instituída para a gestante com
préeclâmpsia grave. Se possível, a gestante com síndrome HELLP deve ser transferida para uma instituição de nível
terciário, uma vez que tenha sido avaliada e estabilizada. Acompanhe atentamente a paciente à procura de mudanças e
forneça suporte contínuo ao longo dessa experiência.
DIABETES MELITO GESTACIONAL
O diabetes melito gestacional é uma condição que envolve intolerância à glicose e ocorre durante a gestação. É discutido
pormenorizadamente no Capítulo 20.
INCOMPATIBILIDADE SANGUÍNEA
A incompatibilidade sanguínea envolve mais comumente uma das duas questões: tipo sanguíneo ou fator Rh.
A incompatibilidade de tipo sanguíneo, também conhecida como incompatibilidade AB0, surge quando uma mulher com
sangue do tipo 0 engravida e o feto tem um tipo diferente de sangue (tipo A, B ou AB). O soro materno contém anticorpos
antiA e antiB de ocorrência natural, que conseguem atravessar a placenta e lisar as hemácias fetais. É geralmente menos
grave do que a incompatibilidade Rh. Uma razão é que as hemácias fetais expressam menos antígenos do grupo sanguíneo
AB0, em comparação com os níveis em adultos. Além disso, em contraste com os antígenos Rh, os antígenos do grupo
sanguíneo AB0 são expressos por uma variedade de tecidos fetais (e adultos), reduzindo as possibilidades de anticorpos
antiA e antiB ligaremse a seus antígenosalvo nas hemácias fetais. A incompatibilidade AB0 raramente causa hemólise
significativa, não se justificando o tratamento prénatal.
A isoimunização Rh ocorre quando o sistema imunológico da gestante cria anticorpos contra os fatores Rh do sangue
fetal. Embora a mãe não apresente nenhuma manifestação clínica de incompatibilidade Rh, os anticorpos antiRh
prejudicam a saúde fetal. Os anticorpos antiRh podem causar problemas cardíacos, dificuldade respiratória e icterícia no
feto, além de uma modalidade de anemia conhecida como doença hemolítica do recémnascido. A sensibilização pelo fator
Rh ocorre em aproximadamente 1 em cada 1.000 partos de mulheres Rhnegativas (March of Dimes, 2015d). Atualmente,
é raro ocorrer isoimunização Rh nas gestantes e doença hemolítica no recémnascido. Isso ocorre basicamente porque as
mulheres Rhnegativas recebem profilaxia com imunoglobulina antiRh(D) no terceiro trimestre de gravidez e após o parto
se o recémnascido for Rhpositivo.
Fisiopatologia
Incompatibilidade AB0
A hemólise associada à incompatibilidade AB0 é limitada a mulheres com sangue do tipo 0 com fetos que têm sangue dos
tipos A ou B. Nas mulheres com sangue dos tipos A e B, os anticorpos naturais são da classe IgM, que não atravessam a
placenta, enquanto, nas mulheres com sangue do tipo 0, os anticorpos são predominantemente IgG. Como os antígenos A
e B são amplamente expressos em vários tecidos além das hemácias, apenas uma pequena porção de anticorpos que
atravessa a placenta está disponível para se ligar às hemácias do feto. Além disso, as hemácias fetais parecem ter menos
superfície para expressão de um antígeno A ou B, resultando em poucos locais reativos – o que justifica a baixa incidência
de hemólise significativa em recémnascidos afetados.
Na incompatibilidade AB0, normalmente o sangue da mãe é do tipo 0, com anticorpos antiA e antiB em seu soro; o
sangue da criança é do tipo A, B ou AB. A incompatibilidade surge em decorrência da interação dos anticorpos presentes
no soro materno com os locais de antígenos nas hemácias fetais.
Incompatibilidade Rh
A incompatibilidade Rh é uma condição que se desenvolve quando uma mulher com sangue do tipo Rhnegativo é exposta
a células sanguíneas Rhpositivas e, posteriormente, desenvolve títulos de anticorpos antiRh circulantes. Os indivíduos
com sangue Rhpositivo têm o antígeno D presente em suas hemácias, enquanto aqueles com sangue Rhnegativo não
apresentam esse antígeno. A existência ou não do antígeno Rh na membrana da hemácia é definida geneticamente.
Nos EUA, cerca de 15% da população branca, 5 a 8% das populações afroamericana e hispânica e 1 a 2% das
populações asiática e indígena são Rhnegativos. A maioria (85%) dos indivíduos é considerada Rhpositiva (March of
Dimes, 2015d).
A incompatibilidade Rh surge mais comumente quando da exposição da mãe Rhnegativa ao sangue fetal Rhpositivo
durante a gestação ou o nascimento, período no qual hemácias extravasam da circulação fetal para a circulação materna. A
isoimunização também pode ocorrer durante amniocentese, gravidez ectópica, placenta prévia, descolamento prematuro de
placenta, morte fetal intrauterina, aborto espontâneo ou traumatismo abdominal/pélvico. Depois de uma exposição
significativa, ocorre aloimunização ou sensibilização. Como resultado, são produzidos anticorpos maternos contra o
antígeno Rh forasteiro.
Teoricamente, os sangues fetal e materno não se misturam durante a gestação. Na realidade, porém, pequenos
incidentes placentários (sangramentos transplacentários secundários a separação mínima), abortos, gravidez ectópica,
trauma abdominal, doença trofoblástica, amniocentese, placenta prévia e descolamento prematuro de placenta possibilitam
que o sangue fetal entre na circulação materna e inicie a produção de anticorpos para destruir o sangue Rhpositivo. O
volume de sangue fetal necessário para provocar a incompatibilidade Rh varia. Em um estudo, mostrouse que menos de 1
mℓ de sangue Rhpositivo resulta em sensibilização de mulheres Rhnegativas (Salem & Singer, 2015).
Depois da sensibilização, leva cerca de 1 mês para que os anticorpos antiRh da circulação materna atravessem para a
circulação fetal. Em 90% dos casos, a sensibilização ocorre durante o parto (Cunningham et al., 2014). Assim, a maioria
dos neonatos primogênitos com sangue Rhpositivo não é afetada, porque o curto período entre a primeira exposição a
hemácias fetais Rhpositivas e o nascimento do neonato é insuficiente para produzir uma resposta significativa dos
anticorpos IgG maternos.
O risco e a gravidade da resposta aloimune aumentam a cada gestação subsequente envolvendo um feto com sangue
Rhpositivo. A segunda gestação com um feto Rhpositivo muitas vezes produz uma criança levemente anêmica, enquanto
gestações sucessivas produzem neonatos com anemia hemolítica mais grave.
Avaliação de enfermagem
Na primeira consulta prénatal, determine o tipo sanguíneo e o fator Rh da gestante. Faça também uma anamnese
meticulosa, pesquisando especificamente eventos anteriores envolvendo hemorragia para delinear o risco de sensibilização
prévia. Quando a anamnese da gestante revela que ela é Rhnegativa e que o feto pode ser Rhpositivo, prepare a gestante
para a pesquisa de anticorpos (teste de Coombs indireto) para determinar se ela desenvolveu isoimunidade ao antígeno Rh.
Esse teste detecta anticorpos circulantes inesperados no soro da gestante que poderiam ser prejudiciais ao feto (Davidson,
2014).
Conduta de enfermagem
Se o teste de Coombs indireto for negativo (ou seja, indicando que não existem anticorpos), então a gestante é candidata
ao RhoGAM®. Se o teste for positivo, o RhoGAM® é inútil, porque a isoimunização já ocorreu. Nesse caso, o feto é
cuidadosamente monitorado à procura de sinais de doença hemolítica.
A incidência de isoimunização diminuiu dramaticamente em decorrência da administração prénatal e pósnatal de
RhoGAM® depois de qualquer evento em que possa ter ocorrido a transferência de sangue. A dose habitual é de 300 mcg,
que é efetiva para 15 mℓ de células sanguíneas fetais. A imunoglobulina antiRh ajuda a destruir quaisquer células fetais
na circulação materna antes que ocorra a sensibilização, inibindo assim a produção de anticorpos maternos. Isso
proporciona imunidade passiva temporária, impedindo então a sensibilização da mãe.
A recomendação atual é que todas as gestantes Rhnegativas não imunizadas recebam RhoGAM® em algum momento
entre a 28a e a 32a semana de gestação e novamente nas primeiras 72 horas após o parto. Outras indicações para a
administração de RhoGAM® incluem:
• Gravidez ectópica
• Coleta de amostras das vilosidades coriônicas
• Amniocentese
• Hemorragia prénatal
• Gravidez molar
• Traumatismo materno
• Coleta percutânea de amostra de sangue umbilical
• Aborto terapêutico ou espontâneo
• Morte fetal
• Cirurgia fetal (King et al., 2015).
Apesar da disponibilidade de RhoGAM® e de exames laboratoriais para identificar as mulheres e recémnascidos em
risco, a isoimunização segue sendo uma realidade clínica séria que continua contribuindo para as taxas de mortalidade
perinatal e neonatal. O enfermeiro, como defensor da gestante, está em uma posição única para garantir que os resultados
dos exames sejam levados à avaliação do médico, para que as intervenções apropriadas possam ser iniciadas. Além disso,
o enfermeiro deve ficar a par da literatura e de pesquisas atuais em relação à isoimunização e sua conduta. Informe todas
as mulheres de que o cuidado prénatal precoce pode ajudar a identificar e evitar essa condição. Como a incompatibilidade
Rh pode ser prevenida com o uso de RhoGAM®, a prevenção continua sendo o melhor tratamento. Por meio de
orientações, o enfermeiro pode ter um impacto extraordinário em garantir desfechos positivos para o maior número
possível de gestações.
DESEQUILÍBRIOS DO LÍQUIDO AMNIÓTICO
O líquido amniótico se desenvolve a partir de várias estruturas maternas e fetais, incluindo o âmnio, o cório, o sangue
materno, os pulmões, o sistema digestório, os rins e a pele do feto. Qualquer alteração em uma ou mais das várias fontes
modificará o volume de líquido amniótico. O polihidrâmnio e o oligohidrâmnio são dois desequilíbrios associados ao
líquido amniótico.
Polihidrâmnio
O polihidrâmnio, também chamado de hidrâmnio, é uma condição em que há excesso de líquido amniótico (mais de
2.000 m ℓ ) circundando o feto entre a 32a e a 36a semana de gestação. Ocorre em aproximadamente 2% de todas as
gestações e está associado a anomalias do desenvolvimento fetal como atresias ou obstrução gastrintestinais altas, defeitos
do tubo neural e defeitos da parede anterior do abdome. Essas anomalias são acompanhadas de comprometimento da
deglutição em fetos com anomalias cromossômicas, como trissomias do 13 e do 18 (Carter & Boyd, 2015).
Aproximadamente 18% de todas as mulheres com diabetes melito desenvolvem polihidrâmnio durante a gestação. As
mulheres com excesso de líquido amniótico a termo apresentam aumento na incidência de cesariana por intolerância fetal
ao trabalho de parto, baixos escores de Apgar de 5 minutos, aumento do peso ao nascimento, anomalias congênitas e
admissões à unidade de terapia intensiva neonatal (Moore, 2015). Em geral, o polihidrâmnio está associado a desfechos
fetais piores, por causa do aumento da incidência de partos prétermo, má apresentação fetal e prolapso do cordão
umbilical.
Existem várias causas para o polihidrâmnio. Em geral, há produção excessiva de líquido amniótico e/ou defeito do
líquido amniótico. Pode estar associado a doença materna e anomalias fetais, mas também pode ser de natureza idiopática
(de causa desconhecida).
Conduta terapêutica
Se o polihidrâmnio for leve a moderado, o tratamento pode incluir acompanhamento atento e consultas de
acompanhamento frequentes com o médico. Em casos graves, em que a mulher está com dor e dificuldade para respirar,
realizase uma amniocentese ou ruptura artificial das membranas para reduzir o líquido e a pressão. A remoção do líquido
por amniocentese é apenas transitoriamente efetiva. O tratamento não invasivo pode envolver o uso de um inibidor da
síntese de prostaglandinas (indometacina) para diminuir o volume do líquido amniótico por meio da diminuição do débito
urinário fetal, mas isso pode causar o fechamento prematuro do canal arterial fetal (King et al., 2015).
Avaliação de enfermagem
Comece a avaliação com uma anamnese completa, estando alerta para fatores de risco, como diabetes materno ou
gestações múltiplas. Reveja a história patológica pregressa materna para obter informações sobre possíveis anomalias
fetais, incluindo atresia esofágica ou intestinal fetal, defeitos do tubo neural, desvios cromossômicos, hidropisia fetal,
anomalias no SNC ou cardiovasculares e hidrocefalia.
Determine a idade gestacional do feto e meça a altura do fundo do útero. No polihidrâmnio, há uma discrepância entre
a altura do fundo do útero e a idade gestacional, ou é observado rápido crescimento do útero. Avalie se a gestante
apresenta queixas de desconforto em seu abdome, como a sensação de que ele está muito distendido e retesado. Além
disso, observe quaisquer relatos de contrações uterinas, que possam resultar da hiperdistensão do útero. Avalie se existe
dispneia resultante da pressão sobre o diafragma e inspecione se os membros inferiores da gestante apresentam edema,
que é decorrente do aumento da compressão da veia cava. Palpe o abdome e mensure a frequência cardíaca fetal. Muitas
vezes, as partes fetais e a frequência cardíaca são difíceis de detectar, por causa do excesso de líquido presente.
Prepare a gestante para um potencial exame complementar para avaliar se existem anomalias fetais. Geralmente fazse
uma ultrassonografia para avaliar os bolsões de líquido amniótico e estimar o volume total. Em alguns casos, o exame
também é útil para encontrar a etiologia do polihidrâmnio, como gestação múltipla ou anomalia estrutural fetal.
Conduta de enfermagem
A conduta de enfermagem para a gestante com polihidrâmnio centrase na avaliação e no monitoramento continuado por
sintomas como dor abdominal, dispneia, contrações uterinas e edema de membros inferiores. Explique à gestante e sua
família que essa condição pode causar distensão do útero e levar a trabalho de parto prematuro e ruptura prematura de
membranas fetais (RPMF). Delineie os sinais e sintomas das duas condições e instrua a gestante a contatar o obstetra se
eles ocorrerem. Se for realizada uma amniocentese terapêutica, auxilie o médico e monitore as condições materna e fetal
durante todo o tempo à procura de alterações.
Oligohidrâmnio
O oligohidrâmnio consiste na diminuição do volume de líquido amniótico (menos de 500 mℓ) entre 32 e 36 semanas de
gestação. Ocorre em aproximadamente 4% de todas as gestações. Pode resultar de qualquer condição que impeça o feto de
urinar ou que bloqueie a saída da urina para o âmnio. O oligohidrâmnio ocorre em aproximadamente 4 a cada 100
gestações. É mais comum no último trimestre, mas pode ocorrer em qualquer momento da gestação. Cerca de uma em
cada oito mulheres cuja gestação ultrapassa 2 semanas após a data esperada para o parto desenvolve oligohidrâmnio. Isso
acontece porque os níveis de líquido amniótico naturalmente diminuem com o avanço da gestação. Essa condição coloca o
feto em risco aumentado de morbidade e mortalidade perinatais (March of Dimes, 2015e). A redução no líquido amniótico
diminui a capacidade do feto de moverse livremente sem o risco de compressão do cordão umbilical, o que aumenta o
risco de morte fetal e hipoxia intraparto.
Conduta terapêutica
A gestante com oligohidrâmnio pode ser tratada em regime ambulatorial com ultrassonografias seriadas e vigilância fetal
por meio de cardiotocografia basal e perfis biofísicos. Enquanto os testes frequentes detectam bemestar fetal, não é
necessário intervenção. Se o bemestar fetal for comprometido, no entanto, é previsto o parto, juntamente com uma
amnioinfusão (infusão transvaginal de líquido cristaloide para compensar a perda de líquido amniótico). O líquido é
introduzido no útero por meio de um cateter de pressão intrauterina. A infusão é administrada de modo controlado para
evitar a hiperdistensão do útero. Acreditase que a amnioinfusão melhore os padrões anormais de frequência cardíaca fetal,
diminua a realização de cesarianas e, possivelmente, reduza o risco de síndrome de aspiração meconial neonatal; contudo,
mais estudos precisam ser feitos para confirmar isso (Carter & Boyd, 2015).
Avaliação de enfermagem
Reveja a história materna à procura de fatores associados ao oligohidrâmnio, incluindo:
• Insuficiência uteroplacentária
• Ruptura prematura de membranas fetais (RPMF) antes do início do trabalho de parto
• Hipertensão arterial gestacional
• Diabetes materno
• Restrição do crescimento intrauterino
• Gestação póstermo
• Agenesia renal fetal
• Rins policísticos
• Obstrução do sistema urinário.
Avalie a paciente quanto a queixas de perda de líquido pela vagina. Essa perda ocorre em caso de ruptura do âmnio. A
perda de líquido em conjunto com um útero que é pequeno para a idade gestacional também sugere oligohidrâmnio.
Infelizmente, a gestante pode não apresentar nenhum sintoma. Geralmente, o volume reduzido de líquido amniótico é
identificado na ultrassonografia.
Conduta de enfermagem
A conduta de enfermagem para a gestante com oligohidrâmnio envolve o monitoramento contínuo do bemestar fetal
durante a cardiotocografia basal ou durante o trabalho de parto e o parto, identificando padrões de categorias II e III no
monitoramento fetal. Desacelerações variáveis indicando a compressão do cordão umbilical são comuns. Mudar a gestante
de posição pode ser terapêutico, modificando esse padrão de frequência cardíaca fetal. Após o parto, avalie o recém
nascido à procura de sinais de pósmaturidade, anomalias congênitas e dificuldade respiratória.
Ajude na amnioinfusão, conforme necessário, e continue avaliando os sinais vitais e o estado de contração da gestante
e a frequência cardíaca fetal durante o procedimento. Forneça medidas de conforto, como trocar as roupas de cama e as
roupas da gestante com frequência por causa da perda constante de líquido pela vagina. Também preste cuidados perineais
frequentes durante a infusão.
GESTAÇÃO MÚLTIPLA
A gestação múltipla é definida como uma gestação com dois ou mais fetos. Inclui gêmeos, trigêmeos e múltiplos de
ordem superior, como quadrigêmeos. Nas últimas duas décadas, o número de gestações múltiplas nos EUA saltou
dramaticamente por causa do uso disseminado de medicamentos para promover a fertilidade, de mulheres mais velhas
tendo filhos e do desenvolvimento das tecnologias de reprodução assistida para tratamento da infertilidade. Cerca de um
terço dos nascidos vivos por tecnologias de reprodução assistida resultam de gestações de mais de uma criança; os gêmeos
representam 85% dessas crianças de gestação múltipla (De Sutter, 2015).
Nos EUA, a prevalência geral de gêmeos é de cerca de 12 em 1.000, e dois terços são dizigóticos (derivados de dois
óvulos separados [March of Dimes, 2015f]). O aumento crescente de gestações múltiplas é preocupante, porque isso
implica alto risco de trabalho de parto prematuro, polihidrâmnio, hiperêmese gravídica, anemia, préeclâmpsia e
hemorragia prénatal Os riscos ou as complicações ao recémnascido/feto incluem prematuridade, síndrome de angústia
respiratória, asfixia ao nascer/depressão perinatal, anomalias congênitas (defeitos no SNC, no sistema cardiovascular e no
sistema digestório), síndrome de transfusão fetofetal (transfusão de sangue de um dos gêmeos [ou seja, do doador] para o
outro [i. e., o receptor]), restrição de crescimento intrauterino (RCIU) e gêmeos xifópagos (Martin, Fanaroff, & Walsh,
2014).
FIGURA 19.6 Gestação múltipla de gêmeos. A. Gêmeos dizigóticos, em que cada feto tem sua própria placenta,
âmnio e cório. B. Gêmeos monozigóticos, em que os fetos compartilham uma placenta, dois âmnios e um cório.
Os dois tipos de gêmeos são o monozigótico e o dizigótico (Figura 19.6). Os gêmeos monozigóticos se desenvolvem
quando um único óvulo fertilizado se divide durante as duas primeiras semanas após a concepção. Os gêmeos
monozigóticos também são chamados de gêmeos idênticos. Dois espermatozoides que fertilizam dois óvulos produzem
gêmeos dizigóticos, que são chamados gêmeos fraternos. Nos gêmeos dizigóticos, formamse âmnios, córios e placentas
separadas. Os trigêmeos podem ser monozigóticos, dizigóticos ou trizigóticos.
Conduta terapêutica
Quando é confirmada uma gestação múltipla, a gestante é acompanhada com ultrassonografias seriadas para avaliar os
padrões de crescimento e desenvolvimento fetal. Prescrevemse perfis biofísicos, juntamente com cardiotocografia basal,
para determinar o bemestar fetal. Muitas mulheres são internadas no final da gestação para evitar o trabalho de parto
prematuro e para serem monitoradas cuidadosamente. Durante o período intraparto, a paciente é acompanhada atentamente,
com uma equipe de cuidado perinatal disponível para ajudar após o parto. Frequentemente fazse necessário o parto
cirúrgico, em razão da má apresentação fetal.
Avaliação de enfermagem
Realize a anamnese e o exame físico. Esteja alerta para as queixas de náuseas e vômitos graves e fadiga. Examine o
abdome da gestante e a altura do fundo do útero. Normalmente, na gestação múltipla, o útero é maior do que o esperado
pela data prevista para o parto. Os exames laboratoriais podem revelar anemia. Prepare a gestante para a ultrassonografia,
que geralmente confirma o diagnóstico de uma gestação múltipla.
Conduta de enfermagem
Durante o período prénatal, forneça orientações e apoio nutricional à gestante, períodos maiores de descanso e observação
atenta por complicações da gestação, como anemia, ganho de peso excessivo, proteinúria, edema, sangramento vaginal e
hipertensão. Instrua a gestante a estar alerta e a relatar imediatamente quaisquer sinais e sintomas de trabalho de parto
prematuro: contrações, cólicas uterinas, dor lombar, aumento da secreção vaginal, perda de tampão mucoso, dor e pressão
pélvica.
Com o início do trabalho de parto, preparese para monitorar os batimentos cardíacos fetais continuamente. Prepare a
gestante para uma ultrassonografia para avaliar a apresentação de cada feto a fim de determinar a melhor abordagem para o
parto. Certifiquese de que funcionários de enfermagem extra e uma equipe perinatal estejam disponíveis para quaisquer
complicações no parto ou com o recémnascido.
Depois que os neonatos nascerem, monitore atentamente a gestante quanto à ocorrência de hemorragia, avaliando com
frequência a involução uterina. Palpe o fundo do útero e monitore o volume e as características dos lóquios.
Ao longo de toda a gestação, do parto e da internação, informe e apoie a mulher e sua família. Incentiveos a fazer
perguntas e verbalizar todos os seus medos e preocupações.
RUPTURA PREMATURA DE MEMBRANAS FETAIS
A ruptura prematura de membranas fetais (RPMF) é a ruptura da bolsa de águas (âmnio) antes do início do trabalho
de parto verdadeiro. Existem inúmeras condições e complicações associadas, como infecção, prolapso de cordão umbilical,
descolamento prematuro de placenta e parto prétermo. Os fatores de alto risco associados à RPMF incluem baixo nível
socioeconômico, gestação múltipla, baixo índice de massa corporal, tabagismo, história pregressa de trabalho de parto
prematuro, placenta prévia, descolamento prematuro de placenta, infecção urinária, sangramento vaginal em qualquer
momento da gestação, cerclagem e amniocentese (Jazayeri, 2015).
Se prolongada (superior a 24 horas), o risco de infecção na gestante (corioamnionite, endometrite, sepse e infecções
neonatais) aumenta e continua se elevando conforme maior é o tempo de ruptura. O intervalo de tempo da ruptura de
membranas ao aparecimento de contrações regulares é denominado período de latência.
As gestantes com ruptura prematura das membranas fetais apresentam perda de líquido, secreção vaginal, hemorragia
vaginal e pressão pélvica, mas não têm contrações. A RPMF é diagnosticada por exame do colo do útero e da cavidade
vaginal com espéculo vaginal. O acúmulo de líquido na vagina ou o extravasamento de líquido pelo colo do útero, a
cristalização do líquido seco sob exame microscópico e a alcalinidade do líquido, conforme determinado por tira de
nitrazina (indicador de pH), confirmam o diagnóstico.
A terminologia da RPMF pode causar confusão. A ruptura prematura das membranas fetais consiste na ruptura das
membranas antes do início do trabalho de parto, e essa expressão é usada de modo adequado quando se refere à gestante
que está além de 37 semanas de gestação, apresentou ruptura espontânea das membranas e não está em trabalho de parto.
Um termo relacionado inclui ruptura prematura prétermo de membranas fetais (RPPMF), que é definida como a
ruptura das membranas antes do início do trabalho de parto em uma mulher com idade gestacional inferior a 37 semanas.
Os riscos perinatais associados à RPPMF podem decorrer da imaturidade, incluindo síndrome de angústia respiratória,
hemorragia intraventricular, persistência do canal arterial e enterocolite necrosante. A prematuridade é responsável por
85% da morbidade e da mortalidade neonatais. A RPPMF está associada a 30 a 40% dos partos prétermo e é sua
principal causa identificável. A RPPMF complica 3% de todas as gestações e ocorre em cerca de 150.000 gestações por
ano nos EUA (Jazayeri, 2015).
A causa exata da RPMF não é conhecida, mas pode estar associada a sangramento vaginal, descolamento prematuro de
placenta, invasão microbiana da cavidade amniótica e implantação defeituosa da placenta. Em muitos casos, a RPMF
ocorre espontaneamente. Evidências crescentes associam anormalidades na flora vaginal durante a gestação ao trabalho de
parto e ao parto prétermo, com potencial sequela neonatal por causa da prematuridade e da evolução perinatal insatisfatória
(Gilbert, 2014). Um estudo recente descobriu que as gestantes com RPPMF prévia apresentam maior risco de recorrência
e que um curto intervalo entre as gestações está associado à elevação do risco (Gibbins et al., 2014).
Conduta terapêutica
O tratamento da RPMF depende tipicamente da idade gestacional. Sob nenhuma circunstância fazse um exame de toque
digital do colo do útero não estéril até que a gestante entre em trabalho de parto ativo, a fim de minimizar a exposição a
infecções. Se os pulmões do feto estiverem maduros, iniciase a indução do parto. A RPMF isolada não é um indicador
para o parto cirúrgico. Se os pulmões do feto estiverem imaturos, seguese conduta expectante com hidratação adequada,
redução na atividade física, repouso pélvico e observação atenta à procura de uma possível infecção, como por
monitoramento frequente dos sinais vitais e dos resultados dos exames laboratoriais (p. ex., contagem de leucócitos).
Podemse administrar corticosteroides para acelerar a maturidade pulmonar fetal se os pulmões estiverem imaturos, embora
essa abordagem permaneça controversa. Estudos recentes têm mostrado benefícios claros da administração de antibióticos
para diminuir a morbidade neonatal associada à RPPMF (Mattson & Smith, 2016).
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem centrase na realização de anamnese completa e de exame físico para determinar as condições
materna e fetal. Análise acurada da idade gestacional e conhecimento dos riscos maternos, fetais e neonatais são essenciais
para avaliação, aconselhamento e tratamento adequado das gestantes com RPMF e RPPMF. O enfermeiro precisa estar
ciente de que o risco de infecção aumenta com a duração da RPPMF.
Anamnese e exame físico
Reveja a anamnese materna à procura de fatores de risco, como infecção, aumento do tamanho do útero (polihidrâmnio,
macrossomia, gestação múltipla), anomalias uterinas e fetais, baixa condição socioeconômica, doenças/infecções
sexualmente transmissíveis, insuficiência do colo do útero, sangramento vaginal e tabagismo durante a gestação.
Questione sobre qualquer episódio prévio ou sintomas atuais de infecção urinária (polaciúria, urgência urinária, disúria ou
dor nos flancos) ou infecção pélvica ou vaginal (dor ou secreção vaginal).
Pesquise sinais e sintomas de trabalho de parto, como cólicas, pressão pélvica ou dor nas costas. Avalie também os
sinais vitais, observando por quaisquer sinais indicativos de infecção, como febre e contagem de leucócitos elevada (mais
de 18.000/mm3) (NagtalonRamos, 2014).
Institua o monitoramento eletrônico contínuo da frequência cardíaca fetal para avaliar o bemestar fetal. Realize um
exame de toque vaginal para verificar o estado do colo do útero na RPMF. Em caso de RPPMF, fazse um exame
especular (em que o examinador inspeciona o colo do útero, mas não o palpa) em vez de um exame de toque vaginal,
porque pode diminuir o período de latência (período de tempo da ruptura de membranas até o parto) e aumentar a taxa de
morbidade neonatal (Cunningham et al., 2014).
Observe as características do líquido amniótico. Determine qualquer evidência de mecônio ou odor fétido. Quando
existe mecônio no líquido amniótico, isso tipicamente indica sofrimento fetal relacionado com hipoxia. O mecônio tinge o
líquido de amarelo a castanhoesverdeado, dependendo da quantidade presente. Líquido amniótico com odor fétido indica
infecção. Observe também o volume de líquido. A diminuição do volume de líquido amniótico reduz o efeito de
amortecimento, tornando a compressão do cordão umbilical uma possibilidade. Algumas pesquisas mostram que a
restauração do volume de líquido amniótico perdido ajuda a reduzir o risco de infecção e a diminuir a compressão do
cordão umbilical. Consulte o boxe Prática baseada em evidências 19.1. As principais avaliações estão resumidas no Boxe
19.3.
Exames laboratoriais e complementares
Para diagnosticar RPMF ou RPPMF, podem ser utilizados diversos procedimentos: o teste de nitrazina, o teste de
cristalização ou a ultrassonografia. Após a inserção de um espéculo estéril, obtémse uma amostra de líquido na área
vaginal. No teste de nitrazina (tornassol), testase o pH do líquido; o líquido amniótico é mais básico (pH de 7,0) do que
as secreções vaginais normais (pH de 4,5). A tira de nitrazina fica azul quando existe líquido amniótico. No entanto,
podem ocorrer resultados falsopositivos se também houver sangue, urina, sêmen ou produtos químicos antissépticos, que
aumentam o pH.
Para o teste de cristalização, colocase uma amostra de líquido vaginal em uma lâmina que será visualizada diretamente
sob microscopia. O líquido amniótico desenvolverá um padrão semelhante a uma samambaia quando seco, por causa da
cristalização do cloreto de sódio. Se os dois testes forem inconclusivos, também pode ser feita uma ultrassonografia
transvaginal para determinar se as membranas se romperam, demonstrando o decréscimo do volume de líquido amniótico
(oligohidrâmnio) no útero (Jazayeri, 2015).
Outros exames laboratoriais e complementares que podem ser solicitados incluem:
• Exame de urina e cultura de urina para pesquisa de infecção urinária ou bacteriúria assintomática
• Exame ou cultura do colo do útero à procura de infecção por clamídia ou gonorreia
• Cultura vaginal à procura de vaginose bacteriana e tricomoníase
• Cultura do introito vaginal/retal à procura de estreptococos do grupo B.
Prática baseada em evidências 19.1
Baixas doses de ácido acetilsalicílico para prevenção de préeclâmpsia e suas complicações:
metanálise.
ESTUDO
A préeclâmpsia é uma causa importante de morbidade e mortalidade perinatais em todo o planeta. A
etiologia da préeclâmpsia ainda não foi elucidada, contudo, acreditase que a préeclâmpsia ocorra por
causa da invasão trofoblástica anormal dos vasos uterinos ou da ativação e da disfunção das células
endoteliais. Acreditase que as baixas doses de ácido acetilsalicílico (AAS) evitam a préeclâmpsia em
gestações de baixo risco, contudo, não são universalmente usadas por causa de preocupações com a
segurança. Tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) como a US Preventive Services Task Force
(USPSTF) preconizam a prescrição de doses baixas de ácido acetilsalicílico (AAS) para mulheres que
correm risco elevado de apresentar préeclâmpsia. Uma revisão sistemática e uma metanálise foram
analisadas usando 29 estudos envolvendo 21.403 mulheres.
Achados
A metanálise mostrou que as baixas doses de ácido acetilsalicílico (AAS) reduziram significativamente a
incidência de préeclâmpsia. O risco de préeclâmpsia foi reduzido quando as baixas doses de ácido
acetilsalicílico (AAS) foram iniciadas antes da 16a semana de gestação. A prescrição profilática de baixas
doses de ácido acetilsalicílico (AAS), sobretudo se iniciada antes da 16a semana de gestação, é efetiva na
prevenção de préeclâmpsia, parto prétermo e restrição do crescimento fetal em gestações de alto risco.
Implicações para a enfermagem
Com base nos resultados do estudo, os profissionais de enfermagem podem se envolver nas avaliações
prénatais da mãe de alto risco de modo a identificar esse risco precocemente e possibilitar a prescrição de
doses baixas de ácido acetilsalicílico, se isso for considerado apropriado pelo médico responsável. O
profissional de enfermagem pode oferecer orientações e explicações racionais para a utilização e a
cronologia dessa terapia para os pacientes. Duas importantes organizações de saúde recomendam essa
abordagem terapêutica para evitar préeclâmpsia; portanto, os profissionais de enfermagem podem
considerar essa intervenção baseada em evidências para promover desfechos melhores para as mães e
seus filhos.
Adaptado de Xu, T. T., Zhou, F., Deng, C. Y., Huang, G. Q., Li, J. K., & Wang, X. D. (2015). Lowdose
aspirin for preventing preeclampsia and its complications: A metaanalysis. The Journal of Clinical
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BOXE 19.3
AVALIAÇÕES ESSENCIAIS NA RUPTURA PREMATURA DE MEMBRANAS FETAIS (RPMF)
Para a gestante com RPMF, as seguintes avaliações são essenciais:
• Por meio da anamnese, determinar a data, o horário e a duração da ruptura de membranas fetais
• Averiguar a idade gestacional do feto com base na data da última menstruação, na altura do fundo do
útero e na idade gestacional determinada pela ultrassonografia
• Questionar a gestante sobre um possível episódio de infecção urinária ou infecção vaginal recente que
possa ter contribuído para a RPMF
• Pesquisar sinais e sintomas associados ao trabalho de parto, como dor lombar ou pressão pélvica
• Ajudar ou realizar exames complementares para confirmar o extravasamento de líquido amniótico, como
o teste de nitrazina, a “cristalização” na lâmina e a ultrassonografia. A contaminação da tira de nitrazina
com lubrificante ou volume insuficiente de líquido tornará o exame não confiável
• Avaliar continuamente se há sinais de infecção, incluindo:
• Elevação da temperatura e da frequência cardíaca maternas
• Abdome/útero doloroso à palpação
• Taquicardia fetal acima de 160 bpm
• Elevação na contagem de leucócitos e proteína C reativa
• Líquido amniótico turvo e odor fétido
Adaptado de NagtalonRamos, J. (2014). Maternalnewborn nursing care: Best evidencebased
practices. Philadelphia, PA: F. A. Davis Company; Cunningham, F. G., Leveno, K. J., Bloom, S. L., Spong,
C. Y., Dashe, J. S., Hoffman, B. L., et al. (2014). Williams’ obstetrics (24th ed.). New York, NY: McGrawHill
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Conduta de enfermagem
A conduta de enfermagem para a gestante com RPMF ou RPPMF tem como foco a prevenção de infecções e a
identificação de contrações uterinas. O risco de infecção é grande por causa da ruptura da membrana de líquido amniótico
e sua proximidade com as bactérias vaginais. Portanto, monitore os sinais vitais maternos atentamente. Esteja atento para
uma elevação na temperatura ou na frequência cardíaca, o que poderia indicar uma infecção. Monitore também a frequência
cardíaca fetal continuamente, relatando qualquer taquicardia fetal (o que poderia indicar infecção materna) ou
desacelerações va riáveis (sugerindo compressão do cordão umbilical). Se houver desacelerações variáveis, antecipe a
realização de uma amnioinfusão com base na política da instituição. Avalie os resultados dos exames laboratoriais, como o
hemograma completo. Uma elevação na contagem de leucócitos sugere infecção. Administre antibióticos, se prescritos.
Incentive a gestante e seu parceiro a verbalizarem seus sentimentos e preocupações. Orienteos em relação à finalidade
das membranas protetoras e implicações da ruptura precoce. Mantenhaos informados a respeito das intervenções
previstas, incluindo as possíveis complicações e tratamentos necessários. Conforme apropriado, prepare a gestante para a
indução ou aceleração do trabalho de parto, se ela estiver próximo do termo.
Se o trabalho de parto não for iniciado em 48 horas, a gestante com RPPMF pode receber alta para casa com conduta
expectante, que pode incluir:
• Antibióticos se as culturas cervicovaginais forem positivas
• Restrições das atividades
• Orientações em relação aos sinais e sintomas de infecção e quando ligar em caso de problemas ou preocupações
(Diretrizes de ensino 19.3)
• Avaliação frequente do bemestar fetal
• Ultrassonografia a cada 3 a 4 semanas para avaliar os níveis de líquido amniótico
• Possível tratamento com corticosteroides, dependendo da idade gestacional
• Contagem diária dos movimentos fetais para avaliar o bemestar fetal.
Diretrizes de ensino 19.3
Orientações à gestante com RPPMF
• Monitorar a atividade do seu feto por meio da contagem dos movimentos fetais diários
• Verificar a temperatura diariamente e relatar quaisquer elevações ao obstetra
• Prestar atenção aos sinais relacionados com o início de trabalho de parto. Relatar qualquer pressão no
abdome ou contrações
• Não tocar nem manipular as mamas, o que poderia estimular o trabalho de parto
• Não inserir nada na vagina ou na área vaginal – como tampões vaginais; evitar relações sexuais
vaginais
• Não nadar em piscinas ou no mar nem se sentar em banheiras de hidromassagem ou ofurôs
• Para atender às necessidades diárias de higiene, tomar banho de chuveiro; não ficar sentada em
banheiras
• Seguir quaisquer restrições específicas às atividades físicas, conforme recomendado
• Lavar bem as mãos após defecar e certificarse de sempre se limpar da frente para trás
• Manter a área perineal limpa e seca
• Ingerir os antibióticos conforme prescrito pelo médico
• Ligar para o obstetra em caso de mudanças na sua condição, incluindo febre, aumento da
sensibilidade uterina, sensação de “coração disparado” e secreção vaginal de odor fétido
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
A identificação dos fatores de risco precocemente e ao longo da gestação é importante para garantir
o melhor desfecho a todas as gestações. A avaliação dos riscos deve começar na primeira consulta
prénatal e continuar nas consultas subsequentes
As três causas mais comuns de hemorragia no início da gestação (primeira metade de gestação)
são o aborto espontâneo, a gravidez ectópica e a DTG
A gravidez ectópica ocorre em cerca de 1 em 50 gestações e sua incidência aumentou
drasticamente durante as últimas décadas
A gravidez molar resulta em aborto e possibilidade de desenvolvimento de coriocarcinoma, uma
doença maligna crônica do tecido trofoblástico
O quadro clínico clássico de placenta prévia consiste em sangramento vaginal indolor vermelhovivo
que ocorre durante o terceiro trimestre da gestação
O tratamento do descolamento prematuro de placenta visa avaliar, controlar e restaurar o volume de
sangue perdido; proporcionar um desfecho positivo para a mãe e para o recémnascido; e evitar
distúrbios de coagulação
A coagulação intravascular disseminada pode ser descrita, de modo simplificado, como a perda do
equilíbrio entre a atividade de formação de coágulos pela trombina e a atividade de lise de coágulos
pela plasmina
A hiperêmese gravídica é uma complicação da gestação caracterizada por náuseas e vômitos
incontroláveis e persistentes antes da 20a semana de gestação
A hipertensão gestacional é a principal causa de morte materna nos EUA e a complicação mais
frequentemente relatada durante a gestação
HELLP é um acrônimo para hemólise, elevação das enzimas hepáticas e plaquetopenia
A incompatibilidade Rh é uma condição que se desenvolve quando uma mulher com sangue Rh
negativo é exposta a células sanguíneas fetais Rhpositivas e, subsequentemente, desenvolve
títulos de anticorpos antiRh circulantes
O polihidrâmnio ocorre em cerca de 3 a 4% de todas as gestações e está associado a anomalias no
desenvolvimento fetal
Os cuidados de enfermagem relacionados com a gestante com oligohidrâmnio envolvem o
monitoramento contínuo do bemestar fetal durante a cardiotocografia basal ou durante o trabalho
de parto e o parto, pela identificação de padrões de categoria II e III no monitor fetal
O aumento crescente de gestações múltiplas é preocupante, porque isso implica alto risco de
trabalho de parto prematuro, polihidrâmnio, hiperêmese gravídica, anemia, préeclâmpsia e
hemorragia prénatal
Os cuidados de enfermagem relacionados com a RPMF centramse na prevenção de infecções e na
identificação de contrações de trabalho de parto prematuro
Quando a RPPMF ocorre, o monitoramento dos sinais vitais maternos à procura de mudanças e da
frequência cardíaca fetal é essencial para aumentar as chances de um bom desfecho
É essencial que os enfermeiros orientem todas as gestantes sobre como detectar os primeiros sinais
de RPMF e que ação é necessária se isso acontecer
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Exercícios sobre o capítulo
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. Qual das seguintes mulheres deve receber uma injeção de imunoglobulina antiRh no período pós
parto?
a. Puérpera Rhnegativa não sensibilizada com recémnascido Rhnegativo
b. Puérpera Rhnegativa não sensibilizada com recémnascido Rhpositivo
c. Puérpera Rhnegativa sensibilizada com recémnascido Rhpositivo
d. Puérpera Rhnegativa sensibilizada com um recémnascido Rhnegativo
2. Uma gestante está com suspeita de descolamento prematuro de placenta. Qual das seguintes
ocorrências o enfermeiro espera encontrar, visto que é manifestação clássica?
a. Sangramento vermelhovivo indolor
b. Dor abdominal em caráter de facada
c. Náuseas e vômitos
d. Hipertensão arterial e cefaleia
3. Administrase RhoGAM® às mulheres Rhnegativas para prevenir a sensibilização materna. Além da
gestação, as mulheres Rhnegativas também recebem esse medicamento após qual das seguintes
situações?
a. Aborto terapêutico ou espontâneo
b. Traumatismo craniano por acidente automobilístico
c. Transfusão de sangue após uma hemorragia
d. Fracasso de procedimento de inseminação artificial
4. Depois de orientar uma gestante sobre a hiperêmese gravídica e como ela difere das náuseas e
vômitos típicos da gestação, que declaração da gestante indica que as orientações foram bem
sucedidas?
a. “Posso esperar que as náuseas durem até o segundo trimestre de gestação.”
b. “Devo beber líquidos durante as refeições, em vez de entre elas.”
c. “Preciso evitar odores, perfumes ou sabores fortes.”
d. “Devo ficar deitada por aproximadamente 2 horas depois de me alimentar.”
5. Uma gestante com idade gestacional de aproximadamente 12 semanas chega ao prontosocorro depois
de ligar para o consultório de seu médico e relatar sangramento vaginal moderado. A avaliação revela
dilatação do colo do útero e cólicas abdominais moderadamente intensas. Ela relata a eliminação de um
pouco de tecido com o sangramento. O enfermeiro interpreta esses achados para sugerir qual das
seguintes possibilidades?
a. Ameaça de aborto
b. Aborto inevitável
c. Aborto incompleto
d. Aborto retido
6. Enquanto administra sulfato de magnésio em uma paciente com préeclâmpsia, o enfermeiro explica o
motivo para a gestante:
a. Reduzir os níveis de pressão arterial
b. Acelerar o progresso do trabalho de parto
c. Evitar a ocorrência de crises convulsivas
d. Reduzir os níveis sanguíneos de glicose
7. Uma mulher recebeu alta hospitalar após receber tratamento para mola hidatiforme (gravidez molar). O
enfermeiro incluiria qual das seguintes opções em sua orientação para a alta?
a. Não engravidar por pelo menos 1 ano; uso de contraceptivos para evitar gravidez
b. Aferir a pressão arterial da paciente semanalmente no ambulatório
c. Imunoglobulina antiRh tem de ser administrada no mês seguinte no ambulatório
d. Uma amniocentese consegue detectar uma recorrência desse distúrbio no futuro
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. Uma primigesta de 16 anos de idade chega à maternidade queixandose de náuseas e vômitos
contínuos nos últimos 3 dias. Ela afirma que está com aproximadamente 15 semanas de gestação e
não tem conseguido reter alimento algum ou tomar quaisquer líquidos sem vomitar nos últimos 3 dias.
Relata que se sente tonta e fraca. Ao exame, Suzanne parece pálida e ansiosa. Suas mucosas estão
secas, o turgor da pele é ruim e seus lábios estão ressecados e rachados.
a. Qual é a sua impressão em relação a essa condição?
b. Quais fatores de risco Suzanne apresenta?
c. Qual intervenção é apropriada para essa mulher?
2. Uma primigesta obesa afroamericana, de 39 anos de idade, é diagnosticada com hipertensão
gestacional. Sua anamnese revela que sua irmã desenvolveu préeclâmpsia durante a gestação. Ao
descrever sua dieta para o enfermeiro, a paciente menciona que ela tende a ingerir muito fast food.
a. Quais fatores de risco essa paciente apresenta que aumentam o risco de hipertensão gestacional?
b. Ao avaliar essa paciente, que achados da avaliação levariam o enfermeiro a suspeitar que ela
desenvolveu préeclâmpsia grave?
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Pergunte a um enfermeiro da saúde da comunidade como as gestantes são orientadas em relação aos
sinais e sintomas de hipertensão gestacional (incluindo préeclâmpsia e eclâmpsia) e quão efetivos têm
sido os esforços para reduzir sua incidência na área.
2. Encontre uma página web voltada a ajudar pais que sofreram um aborto espontâneo. Qual é o número
de pessoas que o acessam? As informações estão atualizadas?
3. Uma gestação em que o blastocisto se implanta fora do útero é uma gravidez ____________________.
5. Discuta diversas atividades em que a mulher com gestação múltipla pode se envolver para ajudar a
passar o tempo quando ela receber a recomendação de ficar em repouso no leito em casa por 2
meses.
ESTUDO DE CASO
Uma mulher de 21 anos de idade procurou o posto de saúde e sua queixa principal consistia em
sangramento vaginal intermitente, cólicas abdominais e náuseas. Ela relatou que a última menstruação
ocorreu há 8 semanas e ela fez uso de um teste para gravidez que foi positivo. Ela não usava
medicamentos e não tinha alergias conhecidas. Ela admitia que fumava 10 cigarros ao dia, mas estava
tentando parar de fumar.
AVALIAÇÃO
O enfermeiro começou a fazer a anamnese que revelou que a paciente fazia uso de contraceptivos orais até
aproximadamente 3 meses atrás quando o plano de saúde deixou de pagar pelos contraceptivos. Ela
também informou que foi submetida a dilatação e curetagem por causa de sangramento uterino disfuncional
há aproximadamente 1 ano porque ela não respondeu à medicação. Sua história sexual revelou que ela já
teve cinco parceiros sexuais e o uso de preservativos foi inconstante com esses parceiros. Os testes para
infecção por Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia foram positivos e ela foi tratada para essas infecções há
aproximadamente 6 meses. Quando os testes foram repetidos, foram negativos. Os sinais vitais da paciente
estavam dentro dos limites da normalidade e não havia alterações dignas de nota no restante do exame
físico dela.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 19 | Conduta de Enfermagem na Gravidez de Risco | Complicações
Relacionadas com a Gestação
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é A. O sulfato de magnésio é um depressor do sistema nervoso central que interfere na captação de
cálcio pelas células do miométrio, reduzindo assim a capacidade do músculo de se contrair. O sulfato de magnésio
não é usado como suplementação durante a gestação, porque a maioria das gestantes não tem deficiência desse
mineral. O sulfato de magnésio não seria efetivo contra a constipação intestinal em gestantes. O sulfato de magnésio
não estimula o tônus musculoesquelético a fim de exacerbar as contrações de trabalho de parto; na verdade, tem o
efeito oposto.
2. A resposta correta é B. Quando a placenta se separa da parede uterina, provoca irritação e sangramento nas fibras
musculares, produzindo dor. O sangramento indolor vermelhovivo indica placenta prévia. As náuseas e vômitos
seriam característicos de hiperêmese gravídica. A hipertensão arterial e a cefaleia estariam associadas à hipertensão
gestacional.
3. A resposta correta é A. Toda vez que durante uma gestação houver a possibilidade de mistura de sangue materno e
fetal, é necessário administrar RhoGAM® para evitar a sensibilização ou a produção de anticorpos. A lesão na cabeça
resultante de um acidente automobilístico não é uma situação em que haveria mistura de sangue fetal com o materno.
O traumatismo provocaria hemorragia, mas não reação de sensibilização. Transfusão de sangue após uma hemorragia
exigiria tipagem sanguínea e prova cruzada; assim, ela receberia sangue com seu próprio fator Rh, não Rhpositivo.
Como o procedimento de inseminação artificial não foi bemsucedido, não ocorreu a gravidez e não seria necessário
administrar RhoGAM®.
4. A resposta correta é C. A mulher deve evitar estímulos nocivos, como sabores, odores ou perfumes fortes porque
eles podem provocar náuseas e vômitos.
5. A resposta correta é B. Um aborto inevitável é caracterizado por sangramento vaginal em intensidade maior do que
leve, ruptura de membranas, dilatação do colo do útero, cólicas abdominais fortes e possível eliminação de produtos
da concepção. A ameaça de aborto envolve sangramento vaginal leve, sem dilatação do colo do útero nem mudança na
consistência do colo do útero, cólicas abdominais leves, óstio do colo do útero fechado e ausência de eliminação de
tecido fetal. Um aborto incompleto envolve cólicas abdominais fortes, sangramento vaginal intenso e dilatação do
colo do útero. Um aborto retido envolve ausência de contrações e perda irregular de sangue em borra de café, com
possível evolução para aborto inevitável.
6. A resposta correta é C para evitar a progressão da préeclâmpsia para eclâmpsia (convulsões). Sulfato de magnésio é
administrado para evitar a ocorrência de convulsões iniciais ou recorrentes, enquanto agentes antihipertensivos são
usados para reduzir a pressão arterial da gestante para níveis seguros. A alternativa A é incorreta porque o sulfato de
magnésio não é um agente antihipertensivo. Tipicamente, hidralazina, labetalol ou nifedipino é administrado para
reduzir a pressão arterial materna. A alternativa B é incorreta porque o sulfato de magnésio não influencia a
progressão do trabalho de parto. A alternativa D é incorreta porque não influencia os níveis sanguíneos de glicose.
7. A resposta correta é A porque os níveis séricos de gonadotropina coriônica (hCG) são considerados um marcador
tumoral específico para doença trofoblástica gestacional persistente. Os níveis de hCG são determinados a intervalos
frequentes por até 1 ano. A gravidez mascararia as evidências de coriocarcinoma pela secreção normal de hCG. A
alternativa B é incorreta porque não existe uma ligação direta entre gravidez molar e hipertensão arterial persistente
após o esvaziamento do útero. A alternativa C é incorreta porque imunoglobulina Rho(D) é administrada em caso de
incompatibilidade Rh para prevenir a ocorrência de sensibilização e não constitui tratamento de gravidez molar. A
alternativa D é incorreta porque amniocentese não diagnostica gravidez molar no futuro.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. Qual é a sua impressão em relação a essa condição?
A partir do relato da paciente, parece que ela tem hiperêmese gravídica, visto que sua gestação está além do
período em que o enjoo matinal é esperado (6 a 12 semanas) e seus sinais e sintomas são contínuos.
b. Quais fatores de risco Suzanne apresenta?
Seus fatores de risco incluem a idade jovem e a condição de primigesta.
c. Qual intervenção é apropriada para essa mulher?
• Peça a Suzanne que fale mais a respeito dos padrões alimentares e da ingestão de alimentos prévios
• Pergunte quais medidas ela tem usado em casa para interromper as náuseas e vômitos
• Consulte o médico a respeito da internação de Suzanne para hidratação venosa a fim de corrigir a
hipovolemia e o desequilíbrio eletrolítico
• Se forem necessários cuidados domiciliares, aconselhea a evitar a ingestão de alimentos gordurosos ou
muito condimentados e a separar a ingestão de alimentos do consumo de líquidos; instruaa a usar a
medicação antiemética prescrita e a respeito de possíveis efeitos colaterais; e orientea a retornar à clínica
se os sinais e sintomas não desaparecerem dentro de 48 horas.
2.
a. Quais fatores de risco essa paciente apresenta que aumentam o risco de hipertensão gestacional?
Gloria é uma primigesta com história familiar de préeclâmpsia (por parte de sua irmã). Ela também é obesa e
tem mais de 35 anos. O consumo de fast food é muito provavelmente inadequado em termos de conteúdo
nutricional. Além disso, ela é afroamericana.
b. Ao avaliar essa paciente, que achados da avaliação levariam o enfermeiro a suspeitar que ela desenvolveu
préeclâmpsia grave?
Na préeclâmpsia grave, a pressão arterial é superior a 160/110 mmHg em duas mensurações com pelo menos 6
horas de intervalo, a proteinúria é superior a 500 mg em 24 horas e existe oligúria (eliminação de menos de 500
mℓ de urina em 24 horas). Outros achados da avaliação podem incluir edema pulmonar, distúrbios cerebrais ou
visuais (alteração do nível de consciência, cefaleia, borramento visual e escotomas), hiperreflexia e dor
epigástrica ou no quadrante superior direito do abdome. Os achados laboratoriais incluem aumento do
hematócrito, da creatinina e do ácido úrico, trombocitopenia e elevação das enzimas hepáticas.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Esperase que os sinais e sintomas sejam informados às mulheres durante o primeiro trimestre, e também seja
entregue material escrito. Durante cada consulta prénatal, as orientações devem ser reforçadas para se certificar de
que as mulheres saibam o que fazer se eles ocorrerem.
2. Sites adequados podem incluir o da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia), www.febrasgo.org.br, o do Hospital Samaritano, http://www.samaritano.org.br,
o site http://redemae.com.br/gravidezdealtorisco e o do Ministério da
Saúde, http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/gestacao_alto_risco.pdf.
3. ectópica
4. coriocarcinoma
5. As diversas atividades para a gestante em repouso prolongado no leito em casa poderiam incluir assistir televisão,
ler, consultar sites com salas de batepapo, falar ao telefone, jogar baralho ou fazer artesanato, receber visitas com
frequência e fazer cursos online. A gestante também pode usar o tempo para desenvolver listas para administração
da casa enquanto em repouso no leito, ler ou jogar com os outros filhos e expandir seu conhecimento a respeito do
iminente nascimento do membro da família.
ESTUDO DE CASO
1. Com base na apresentação clínica da paciente, qual seria a suspeita do enfermeiro quanto à causa do problema?
2. Quais fatores de risco essa paciente tem e quais poderiam contribuir para seu diagnóstico?
3. Qual investigação diagnóstica o enfermeiro anteciparia para essa paciente?
Resposta: Os sinais clínicos típicos de gravidez ectópica são dor abdominal, amenorreia e sangramento vaginal –
essa paciente tem todos os três. Os fatores de risco em sua história são tabagismo, que diminui a peristalse da tuba
ovariana; cirurgia pélvica (dilatação e curetagem) prévia; história de infecção sexualmente transmissível, que pode
causar fibrose das tubas uterinas; e relações sexuais sem proteção. A investigação diagnóstica provavelmente incluiria
ultrassonografia transvaginal, dosagem do nível sérico de betagonadotrofina coriônica humana (betahCG),
hemograma completo para excluir anemia e infecção, prova cruzada e tipagem sanguínea, caso ela precise ser levada
para o centro cirúrgico para remover uma gestação ectópica.
Plano de cuidados
1. Quais critérios são usados para definir que tipo de tratamento deve ser realizado?
2. Quais opções de tratamento são adequadas para essa paciente e por quê?
3. Qual é o fármaco preferido para tratar clinicamente essa paciente?
4. Quais cuidados subsequentes e encaminhamentos comunitários possíveis são necessários a essa
paciente? Resposta: Os sinais clínicos apresentados pela paciente, combinados com um teste positivo para gravidez e
nível de betahCG de 1.580 mUI/mℓ, são muito sugestivos de trompa ovariana intacta. As opções de tratamento são
clínicas ou cirúrgicas. Com base em sua estabilidade hemodinâmica, no nível baixo de betahCG e na integridade da
tuba ovariana, essa paciente seria uma candidata apropriada ao tratamento clínico. O tratamento clínico geralmente
consiste em uma dose única de metotrexato com acompanhamento clínico da paciente. Metotrexato é um antagonista
do ácido fólico, que inibe o crescimento das células trofoblásticas em divisão rápida e interrompe a gravidez. Depois
do tratamento com metotrexato, a regressão completa da gravidez ectópica ocorre dentro de 2 a 4 semanas. Os
cuidados subsequentes de monitoramento cuidadoso dos níveis séricos quantitativos de betahCG são essenciais
depois do tratamento com metotrexato para confirmar que a gravidez foi interrompida e reduzir o risco de ruptura
tubária. Também é necessário referenciar a paciente a uma clínica local de planejamento familiar para assegurar o
controle da natalidade. Um assistente social também deve ser envolvido em seu tratamento, porque a paciente não
dispõe de recursos financeiros.
Questões múltipla escolha
1. Uma gestante procura o ambulatório com queixa de sangramento vaginal. Que achado
durante a avaliação levaria a enfermeira a suspeitar de um aborto inevitável?
A. Hemorragia vaginal leve
B. Óstio do colo do útero fechado
C. Cólicas abdominais fortes
D. Ausência de eliminação de tecido fetal
Concluir questão
2. Uma mulher com aborto incompleto recente está recebendo tratamento com misoprostol. A
enfermeira entende que a justificativa para a administração desse medicamento é:
A. Aliviar cólicas uterinas fortes
B. Suprimir a resposta imune para prevenir a isoimunização
C. Deter a progressão do aborto
D. Certificarse da eliminação de todos os produtos da concepção
Concluir questão
3. Uma mulher chegou ao prontosocorro com sinais e sintomas que sugerem gravidez ectópica.
Qual dos seguintes levaria a enfermeira a suspeitar que a tuba uterina se rompeu?
A. Dor referida no ombro
B. Sangramento mínimo via vaginal
C. Náuseas
D. Mamas doloridas à palpação
Concluir questão
4. Uma gestante foi diagnosticada com descolamento prematuro da placenta. Ao analisar o
exame físico dela no prontuário, qual das opções a seguir a enfermeira esperaria encontrar?
A. Sangramento vaginal vermelhovivo
B. Frequência cardíaca fetal dentro dos limites da normalidade
C. Útero de consistência firme e rígido à palpação
D. Ausência de dor
Concluir questão
5. Determinouse que uma gestante de alto risco tem hipertensão gestacional. Qual dos
seguintes sinais a enfermeira interpretaria como indicativo de préeclâmpsia grave?
A. Pressão arterial de 150/100 mmHg
B. Borramento visual
C. Edema facial leve
D. Proteinúria de 300 mg em 24 h
Concluir questão
6. Depois de um exame, determinouse que a cliente tem gravidez ectópica íntegra. Qual dos
seguintes a enfermeira se prepararia para administrar?
A. Ocitocina
B. Prometazina
C. Ondansetrona
D. Metotrexato
Concluir questão
7. Uma gestante está sendo acompanhada atentamente e tratada para préeclâmpsia grave com
sulfato de magnésio. Qual achado alertaria a enfermeira para o desenvolvimento de
intoxicação por magnésio nessa cliente?
A. Hiporreflexia
B. Enzimas hepáticas elevadas
C. Convulsões
D. Nível sérico de magnésio de 6,5 mEq/ℓ
Concluir questão
8. A enfermeira reconheceria qual das medidas a seguir como mais eficaz na prevenção da
isoimunização durante a gestação?
A. Tipagem sanguínea da mãe com sangue do tipo A ou B
B. Amniocentese
C. Administração de RhoGAM® às mulheres Rhnegativas
D. Cerclagem
Concluir questão
9. Qual dos seguintes itens a enfermeira incluirá no plano de cuidados para a gestante com
ruptura prematura de membranas se os pulmões do feto estiverem maduros?
A. Redução do nível de atividade física
B. Observação dos sinais de infecção
C. Administração de corticosteroides
D. Indução do trabalho de parto
Concluir questão
10. Existem vários distúrbios neoplásicos agrupados na categoria de doença trofoblástica
gestacional. Qual dos seguintes é um tipo benigno comum?
A. Gravidez ectópica
B. Mola hidatiforme
C. Placenta acreta
D. Hidrâmnio
Concluir questão
11. Uma cliente foi internada com descolamento prematuro da placenta. Qual é a sua
classificação se ela perdeu 1.200 mℓ de sangue, está normotensa e a ultrassonografia indica
separação de aproximadamente 30%?
A. Grau 2
B. Grau 1
C. Grau 3
D. Grau 4
Concluir questão
12. Durante a gestação, o volume de sangue materno aumenta para acomodar o feto em
crescimento, a ponto de os sinais vitais poderem permanecer dentro dos limites normais sem
demonstrar sinais de choque até que a mulher tenha perdido qual percentual de seu volume
de sangue?
A. 30%
B. 50%
C. 40%
D. 20%
Concluir questão
13. A enfermeira reconhece que uma multípara com antecedentes pessoais de cesariana deve ser
monitorada por qual das seguintes opções?
A. Descolamento prematuro da placenta
B. Placenta acreta
C. Préeclâmpsia
D. Oligohidrâmnio
Concluir questão
14. Uma cliente chegou ao consultório para uma consulta prénatal na 22a semana de gestação.
Ao exame, observase que sua pressão arterial aumentou para 138/90. Não há proteinúria. A
enfermeira reconhece uma das seguintes como a possível causa:
A. Hipertensão gestacional
B. Hipertensão arterial crônica
C. HELLP
D. Préeclâmpsia
Concluir questão
15. A enfermeira reconhece que documentar a pressão arterial precisa é vital para o diagnóstico
de préeclâmpsia e eclâmpsia. Para ser diagnóstico de préeclâmpsia, qual dos seguintes
deve ocorrer?
A. PA de 140/90 mmHg em três ocasiões com 3 h de intervalo entre elas
B. PA de 140/90 mmHg em duas ocasiões depois da 28a semana de gestação
C. PA de 140/90 mmHg em duas ocasiões com 6 h de intervalo entre elas
D. PA de 140/90 mmHg em três ocasiões depois da 28a semana de gestação
Concluir questão
16. A cliente chega ao consultório e se queixa de edema nos pés e pernas. Durante uma
avaliação, a enfermeira verifica que pode provocar uma depressão na pele de 4 mm, que
desaparece em 10 a 15 segundos. Qual dos seguintes itens seria o registro correto?
A. Edema depressível 1+
B. Edema depressível 2+
C. Edema depressível 3+
D. Edema depressível 4+
Concluir questão
17. Uma gestante foi hospitalizada em decorrência de préeclâmpsia grave. Qual das seguintes
medidas será importante que a enfermeira inclua no plano de cuidados?
A. Instituir jejum
B. Internar a cliente na UTI, onde ela poderá ser monitorada constantemente
C. Planejar a indução imediata do trabalho de parto
D. Instituir e manter precauções contra convulsões
Concluir questão
18. Uma gestante está sendo avaliada para HELLP. A enfermeira vai rever todos, exceto qual dos
resultados de exames laboratoriais a seguir para confirmar o diagnóstico?
A. Glicose elevada
B. LDH elevado
C. Ureia sanguínea elevada
D. Elevação da AST
Concluir questão
19. O RhoGAM® (imunoglobulina humana específica antiD) é o tratamento de escolha para a
isoimunização de mulheres Rhnegativas. Ele também é indicado para outras condições. Qual
das seguintes não seria uma indicação para a administração desse medicamento?
A. IST
B. Amniocentese
C. Gravidez molar
D. Trauma materno
Concluir questão
20. Doenças preexistentes nas mulheres podem levar a complicações durante a gestação. O
hidrâmnio (polihidrâmnio) ocorre frequentemente em associação a qual condição
preexistente?
A. Hipertensão arterial
B. Idade materna avançada
C. Diabetes melito
D. Isoimunização
Concluir questão
21. Algumas gestantes sofrem ruptura de membranas antes de entrar em trabalho de parto
verdadeiro. A enfermeira reconhece que uma mulher que manifesta RPPMF completou
quantas semanas de gestação?
A. Menos de 36 semanas
B. Menos de 37 semanas
C. Menos de 38 semanas
D. Menos de 35 semanas
Concluir questão
22. A hemorragia no início da gestação está relacionada com várias causas comuns. Qual das
seguintes não seria uma delas?
A. Aborto espontâneo
B. Gravidez ectópica
C. Placenta prévia
D. DTG
Concluir questão
23. Várias condições ou síndromes recebem siglas para nomeálas. Qual das seguintes não é
uma parte da sigla HELLP?
A. Hemólise
B. Lipoproteínas elevadas
C. Elevação das enzimas hepáticas
D. Baixa contagem de plaquetas
Concluir questão
24. Qual(is) das seguintes medidas a enfermeira provavelmente incluiria no planejamento dos
cuidados para a gestante que precisa de hospitalização por causa de hiperêmese gravídica?
(Selecione todas que se aplicam.)
A. Manter o jejum durante 1 ou 2 dias
B. Administrar agentes antieméticos
C. Obter os níveis séricos de eletrólitos de linha de base
D. Monitorar o balanço hídrico
E. Preparar a mulher para a inserção de um tubo de alimentação
Concluir questão
25. Uma gestante de 36 anos chegou ao prontosocorro com sangramento vaginal. Ao rever a
história da cliente, a enfermeira observa qual(is) dos fatores de risco a seguir em seu
prontuário? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Tratamento para infertilidade
B. Tabagismo
C. Idade materna avançada
D. Hipotensão
E. Aborto cirúrgico anterior induzido
Concluir questão
Conduta de Enfermagem na Gravidez de Risco | Condições de Saúde
20 Específicas e Populações Vulneráveis
PALAVRASCHAVE
Adolescência
Anemia
Artrite reumatoide (AR)
Diabetes melito do tipo 1 (DM1)
Diabetes melito do tipo 2 (DM2)
Diabetes melito gestacional
Diabetes melito prégestacional
Esclerose múltipla
Glicemia de jejum alterada
Lúpus eritematoso sistêmico (LES)
Nível de hemoglobina glicosilada ou glicada (HbA1c)
Pica (perversão do apetite)
Síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS)
Síndrome de abstinência neonatal (SAN)
Teratógeno
Tolerância à glicose diminuída
Transtorno do espectro alcoólico fetal (TEAF)
Uso abusivo de substâncias psicoativas no período perinatal
Vírus da imunodeficiência humana (HIV)
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Selecionar pelo menos duas condições existentes antes da gravidez que possam exercer um efeito negativo sobre a
gestação.
2. Examinar como uma condição existente antes da gravidez pode influenciar fisiológica e psicologicamente uma mulher
quando ela engravida.
3. Investigar a avaliação e a conduta de enfermagem para a gestante diabética em comparação com a gestante não
diabética.
4. Explorar como cardiopatias congênitas e adquiridas podem afetar a gestação.
5. Projetar a avaliação e a conduta de enfermagem para a gestante com distúrbios cardiovasculares e doenças
respiratórias.
6. Diferenciar os tipos de anemia que afetam a gestante em termos de prevenção e manejo.
7. Relacionar os cuidados de enfermagem necessários para a gestante com um distúrbio autoimune.
8. Comparar as infecções mais comuns que podem comprometer uma gestação e propor possíveis estratégias
preventivas.
9. Desenvolver um plano de cuidados para a gestante HIVpositiva.
10. Delinear o papel do enfermeiro na prevenção e no manejo da gravidez na adolescência.
11. Determinar o impacto da gestação na mulher com mais de 35 anos.
12. Analisar os efeitos do uso abusivo de substâncias psicoativas durante a gestação.
Rose, uma gestante magra de 16 anos de idade, aparentando estar em uma fase avançada da gestação,
chegou à clínica com sibilos e dificuldade para respirar. Ela faltou a várias consultas prénatais anteriores,
mas hoje chegou à clínica em sofrimento. Rose tem uma história de asma brônquica desde os 5 anos de
idade. Como a condição atual de Rose pode influenciar sua gestação? Esse é o quadro clínico típico da
gestante com asma brônquica?
Reflexões
Assim como o sol se põe todos os dias, o enfermeiro deve se certificar de que fez alguma coisa para ajudar os outros e
deve tentar ser compreensivo, mesmo nas condições mais difíceis.
INTRODUÇÃO
A gravidez e o parto são aspectos emocionantes, embora complexos, no continuum de saúde da mulher. A gravidez é um
momento especial da vida da maioria das mulheres, contudo, o período de 9 meses de espera pode gerar muita ansiedade
se for complicado por uma condição clínica que comprometa a gravidez e o desfecho fetal. De modo ideal, a gestante não
apresenta quaisquer condições que possam afetar a gravidez; contudo, o que ocorre na verdade é que muitas mulheres
começam a gestação com uma infinidade de questões psicossociais ou relacionadas com a saúde que podem ter um
impacto negativo sobre o desfecho. Atualmente, por causa da epidemia de obesidade nos EUA e do fato de as mulheres
estarem postergando suas gestações, os profissionais de enfermagem estão atendendo mais mulheres com condições
clínicas que influenciam suas gestações.
Muitas gestantes expressam este desejo: “Espero que meu filho nasça saudável.” O enfermeiro pode desempenhar um
papel importante em ajudar a tornar isso realidade, orientando as mulheres antes que elas engravidem. Condições como
diabetes melito, doenças cardíacas e respiratórias, anemia, doenças autoimunes e infecções específicas frequentemente
podem ser controladas por meio de um rígido atendimento prénatal, para que o seu impacto sobre a gestação seja
minimizado. Os enfermeiros podem fornecer estratégias de prevenção à gravidez ao aconselhar as adolescentes. Atender às
necessidades de desenvolvimento de adolescentes grávidas é um desafio. Por fim, as escolhas de estilo de vida podem
colocar muitas mulheres em risco durante a gestação, e os enfermeiros precisam permanecer imparciais ao atender essas
populações especiais. Escolhas de estilo de vida – como etilismo, tabagismo e uso de substâncias ilícitas durante a
gestação – são abordadas em um objetivo no boxe Healthy People 2020 20.1.
Healthy People 2020 • 20.1
Objetivos Importância para a
enfermagem
Aumentar a abstinência de bebidas alcoólicas, Ajudará a focar a
cigarro e drogas ilícitas nas gestantes Aumentar atenção em medidas
o relato de abstinência de substâncias psicoativas para reduzir a
em gestantes no mês anterior Consumo de álcool exposição e o consumo
dos índices atuais de 89,4% para 98,3% de substâncias
Consumo significativo de bebidas alcoólicas dos psicoativas,
índices atuais de 95% para 100% Tabagismo dos minimizando assim os
índices atuais de 89,6% para 98,6% efeitos dessas
Drogas ilícitas dos índices atuais de 94,9% para substâncias sobre o feto
100% e o recémnascido
Objetivos do Healthy People com base em dados de http://www.healthypeople.gov.
No Capítulo 19 foram descritas as condições relacionadas com a gestação que colocam a mulher em risco. Este
capítulo aborda as condições comuns que podem ter um impacto negativo sobre a gestação e populações especiais em
risco, delineando a avaliação e a conduta de enfermagem adequadas para cada condição ou situação. As habilidades únicas
dos profissionais de enfermagem, em conjunto com os demais membros da equipe de saúde, podem aumentar a
possibilidade de que muitas gestações de alto risco tenham um desfecho positivo.
DIABETES MELITO
O diabetes melito é uma doença crônica caracterizada pela falta relativa de insulina ou ausência do hormônio necessário
para o metabolismo da glicose. A hiperglicemia crônica do diabetes melito está associada a danos, disfunção e falência dos
olhos, dos rins, dos nervos, do coração e dos vasos sanguíneos a longo prazo. A prevalência de diabetes melito nos EUA
está aumentando em um ritmo alarmante, já alcançando proporções epidêmicas. Os fatores que contribuem para essas
taxas crescentes são estilos de vida mais sedentários, mudanças na alimentação, imigração continuada de populações de
alto risco, bem como a epidemia crescente de obesidade na infância e na adolescência. Atualmente, cerca de 20% das
pessoas com mais de 20 anos têm prédiabetes não diagnosticado. Esse grupo de pessoas representa o conjunto a partir do
qual as gestantes são selecionadas. As estimativas atuais projetam que, até 2025, 1 em cada 3 adultos nos EUA terão
diabetes melito (Knox, Delaney, & Winterstein, 2014). O Institute for Alternative Futures estima que a quantidade de
americanos vivendo com diabetes melito (diagnosticado e não diagnosticado) aumentará 64% até 2025. Os custos para o
sistema de saúde e para a sociedade serão de aproximadamente 515 bilhões de dólares (Institute for Alternative Futures,
2015).
O diabetes melito geralmente é classificado de acordo com a etiologia da doença (American Diabetes Association
[ADA], 2015a). Esses grupos incluem:
• Diabetes melito do tipo 1: deficiência absoluta de insulina (decorrente de um processo autoimune); geralmente surge
antes dos 30 anos; aproximadamente 5% das pessoas diagnosticadas com diabetes melito têm o tipo 1 da doença
(DM1)
• Diabetes melito do tipo 2: resistência à insulina ou sua deficiência (relacionada com obesidade e sedentarismo); o
diabetes melito do tipo 2 (DM2) foi diagnosticado primariamente em adultos com mais de 30 anos, mas agora está
sendo detectado em crianças; o tipo mais comum de diabetes melito. É mais comum em afroamericanos, latinos,
nativos norteamericanos e americanos de origem asiática/das ilhas do Pacífico, bem como em adultos mais velhos
• Glicemia de jejum alterada e tolerância à glicose diminuída: caracterizadas por hiperglicemia em um nível mais
baixo do que o nível que qualifica para um diagnóstico de diabetes (glicemia de jejum entre 100 e 125 mg/dℓ; nível
sérico de glicose entre 140 e 199 mg/dℓ após 2 horas do teste de tolerância à glicose, respectivamente); ausência de
sinais e sintomas de diabetes melito; o recémnascido corre o risco de ser grande para a idade gestacional (GIG)
• Diabetes melito gestacional: intolerância à glicose que se manifesta pela primeira vez durante a gestação, geralmente
próximo à 24a semana, ou que é detectada pela primeira vez durante a gestação. A prevalência de diabetes melito
gestacional tem aumentado nos EUA, chegando a 10%.
Durante a gestação, o diabetes melito geralmente é classificado em dois grupos: diabetes melito pré
gestacional (alteração no metabolismo de carboidratos identificada antes da concepção), que inclui as mulheres com
diabetes melito dos tipos 1 ou 2, e diabetes melito gestacional, que se desenvolve durante a gestação.
O International Association of Diabetes and Pregnancy Study Group emitiu recomendações para o diagnóstico e
classificação da hiperglicemia durante a gestação (Tabela 20.1).
O diabetes melito gestacional está associado a complicações neonatais – como macrossomia, hipoglicemia e
tocotraumatismo – ou complicações maternas, como préeclâmpsia e cesariana. Todas as mulheres em idade fértil com
diabetes melito devem ser orientadas sobre a importância do controle glicêmico estrito antes de engravidar. Estudos
observacionais mostram aumento do risco de anencefalia, microcefalia e cardiopatia congênita diretamente relacionado
com elevações dos níveis de HbA1c (Lapolla & Dalfra, 2015).
Antes da descoberta da insulina, em 1922, a maioria das mulheres diabéticas era infértil ou apresentava aborto
espontâneo (March of Dimes, 2015a). Durante as últimas décadas, a melhora nos desfechos da gravidez em gestantes
diabéticas avançou bastante, embora essa doença metabólica crônica ainda seja uma condição de alto risco durante a
gestação. Um desfecho favorável exige o compromisso por parte da gestante em comparecer às consultas prénatais
frequentes, respeitar as restrições alimentares, fazer o automonitoramento dos níveis séricos de glicose, realizar exames
laboratoriais frequentes, fazer vigilância fetal intensiva e, talvez, ser hospitalizada.
Fisiopatologia
O diabetes melito é uma doença complexa e progressiva que tem substancial impacto econômico e social. Tratase de uma
doença multifatorial cuja fisiopatologia envolve não apenas o pâncreas, mas também o fígado, os músculos esqueléticos, o
tecido adiposo, o sistema digestório, o cérebro e os rins. As características do diabetes melito são redução da sensibilidade
à insulina no fígado, nos músculos e no tecido adiposo e declínio progressivo da função das células beta pancreáticas que
resulta em comprometimento da secreção de insulina e, por fim, em hiperglicemia (Cornell, 2015). A compreensão atual
da fisiopatologia do diabetes melito gestacional inclui dois componentes cruciais. Esses componentes são a existência de
disfunção das células beta pancreáticas antes da gravidez e a manifestação disso na forma de desenvolvimento de
resistência à insulina durante a gravidez, o que demanda maior produção de insulina para a manutenção da glicose
sanguínea dentro dos limites da normalidade.
A gestação normal é caracterizada pelo aumento da resistência periférica à insulina e pela elevação compensatória da
secreção de insulina. Assim, a gravidez poderia ser encarada como uma prova de esforço para os mecanismos de
homeostase da glicose. Ou seja, as mulheres que apresentam algum grau de resistência crônica à insulina e um aumento
compensatório em sua produção que resulte em disfunção das células beta antes da gestação podem não conseguir elaborar
uma resposta de células beta suficiente para sobrepujar a resistência à insulina mediada pela gestação. A gravidez é
acompanhada por resistência à insulina mediada por secreção placentária de hormônios diabetogênicos. Essas e outras
alterações metabólicas ocorrem durante a gravidez para garantir que o feto receba um aporte generoso de nutrientes.
Tabela 20.1 Recomendações para o diagnóstico e a classificação
da hiperglicemia na gravidez.
TTOG = teste de tolerância oral à glicose.
Adaptada de International Association of Diabetes and Pregnancy Study
Group. 2012). Screening for gestational diabetes mellitus. Diabetes
Care, 35(2). Retirada
de http://care.diabetesjournals.org/content/early/2012/01/23/dc111643;
ACOG. (2014a). ACOG guidelines at a glance: Gestational Diabetes
Mellitus. Contemporary OB/GYN. Retirada
de http://contemporaryobgyn.modernmedicine.com/contemporary
obgyn/news/acogguidelinesglancegestationaldiabetesmellitus?
page=full; e Roglie, G., & Colagiuri, S. (2014). Gestational diabetes
mellitus: Squaring the circle. Diabetes Care, 37(6), 143–144.
No diabetes melito, existe deficiência de insulina ou resistência à insulina. Essa alteração interfere na capacidade do
corpo de obter os nutrientes essenciais para o abastecimento e armazenamento. Se a gestante tiver diabetes melito pré
gestacional ou desenvolver diabetes gestacional, as profundas alterações metabólicas que ocorrem durante a gestação e que
são necessárias para apoiar o crescimento e o desenvolvimento do feto são bastante afetadas.
O metabolismo materno é voltado a fornecer uma nutrição adequada para o feto. Na gravidez, hormônios placentários
causam resistência à insulina em um nível que tende a ser correspondente ao crescimento da unidade fetoplacentária.
Conforme a placenta cresce, mais hormônios placentários são secretados. O lactogênio placentário humano (HPL) e o
hormônio do crescimento (GH, somatotropina) aumentam proporcionalmente ao crescimento do tecido placentário,
expandindose ao longo das últimas 20 semanas de gestação e causando resistência à insulina. Subsequentemente, a
secreção de insulina aumenta para superar a resistência induzida por esses dois hormônios. Na gestante não diabética, o
pâncreas consegue responder à demanda de aumento da produção de insulina e mantém os níveis normais de glicose
durante a gestação (Toledano, Hadar, & Hod, 2015). No entanto, a mulher com intolerância à glicose ou diabetes melito
durante a gestação não consegue lidar com as alterações do metabolismo resultantes da insulina insuficiente para atender
às necessidades durante esse período.
Ao longo da gestação, a resistência à insulina muda. A resistência máxima à insulina ocorre no último trimestre, para
fornecer mais nutrientes ao feto. Tipicamente, a resistência à insulina resulta em hiperglicemia pósprandial, embora
algumas mulheres tenham também um nível sérico de glicose em jejum elevado (Aktas et al., 2014). Por causa desse
aumento na exigência pancreática no final da gestação, as mulheres com diabetes melito ou intolerância à glicose não
conseguem acomodar a elevação da demanda de insulina; os níveis de glicose aumentam em decorrência da deficiência de
insulina, o que leva à hiperglicemia. Subsequentemente, a mãe e o feto podem ter grandes problemas, conforme
demonstrado na Tabela 20.2.
Rastreamento
Atualmente, não há padrões mundiais consistentes de como pesquisar diabetes melito gestacional e dos valores de corte
para o seu diagnóstico. O American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) e a ADA atualmente
recomendam uma análise do risco de todas as gestantes em sua primeira consulta prénatal e o rastreamento adicional de
todas as gestantes de alto risco novamente nas 24a a 28asemanas ou antes, se existirem fatores de risco. Se o risco
detectado no rastreamento inicial for baixo, pode não ser necessário rastreamento adicional. As gestantes que preencham
todos os critérios a seguir não precisam ser rastreadas em sua primeira consulta prénatal:
Tabela 20.2 Diabetes melito e gestação | Efeitos
sobre a mãe e o filho.
Efeitos sobre a mãe Efeitos sobre o feto/neonato
• Polihidrâmnio por causa • Prolapso de cordão umbilical
da diurese fetal secundário a polihidrâmnio e
aumentada decorrente da apresentação fetal anormal
hiperglicemia
• Anomalia congênita por causa da
• Hipertensão gestacional hiperglicemia no primeiro trimestre
de etiologia desconhecida (problemas cardíacos, defeitos do
tubo neural, deformidades
• Cetoacidose em razão da
esqueléticas e problemas
hiperglicemia não
geniturinários)
controlada
• Macrossomia resultante da
• Trabalho de parto
hiperinsulinemia estimulada pela
prematuro secundário à
hiperglicemia fetal
ruptura prematura de
membranas • Tocotraumatismo em virtude do feto
com macrossomia, o que complica o
• Morte fetal em gestações
processo de parto (distocia de ombro)
complicadas pela
cetoacidose e controle • Parto prematuro secundário a poli
ruim da glicemia hidrâmnio e envelhecimento da
placenta, o que coloca o feto em risco
• Hipoglicemia conforme a
se a gravidez prosseguir
glicose é desviada para o
feto (ocorrendo no • Asfixia fetal secundária a
primeiro trimestre) hiperglicemia e hiperinsulinemia fetal
• Infecções urinárias • Retardo do crescimento fetal
resultantes do excesso de secundário a comprometimento
glicose na urina vascular materno e diminuição da
(glicosúria), que promove perfusão placentária, que restringem
o crescimento de o crescimento
bactérias
• Morte perinatal em decorrência da má
• Candidíase vaginal perfusão placentária e hipoxia
crônica em razão da
• Síndrome de angústia respiratória
glicosúria, que promove o
resultante da produção insatisfatória
crescimento de leveduras
de surfactante secundária à
• Trabalho de parto difícil, hiperinsulinemia, que inibe a
cesariana, hemorragia produção de fosfolipídios que
pósparto secundária à compõem o surfactante
hiperdistensão do útero
• Policitemia em decorrência da
para acomodar o feto
produção excessiva de hemácias em
macrossômico
resposta à hipoxia
• Hiperbilirrubinemia em consequência
da fragmentação de hemácias pela
hipoxia e fígado imaturo incapaz de
degradar a bilirrubina
• Hipoglicemia neonatal resultante da
hiperinsulinemia continuada após a
placenta ter sido removida
• Subsequente obesidade infantil e
intolerância a carboidratos
Adaptada de Cunningham, F. G., Leveno, K. J., Bloom, S. L., Spong, C., &
Dashe, J. (2014). Williams’ obstetrics (24th ed.). New York, NY: McGraw
Hill Professional Publishing; Moore, T. R. (2015). Diabetes mellitus and
pregnancy. eMedicine. Retirada
de http://emedicine.medscape.com/article/127547 e March of Dimes
(2015a). Gestational diabetes. Retirada
de http://www.marchofdimes.com/pregnancy/gestationaldiabetes.aspx.
• Sem história pregressa de intolerância à glicose
• Menos de 25 anos de idade
• Peso corporal normal
• Sem história familiar (parente de primeiro grau) de diabetes melito
• Sem história pregressa de desfecho obstétrico ruim
• Não pertencente a um grupo étnico/racial com alta prevalência de diabetes melito (ADA, 2015b).
Se na avaliação inicial o risco for alto, devese realizar um novo rastreamento entre a 24a e a 28a semana de gestação.
A mulher com resultados iniciais anormais pode ter desenvolvido diabetes melito antes da gestação e seu feto corre risco
elevado de apresentar anomalias congênitas. O achado de hemoglobina glicosilada elevada apoia a possibilidade de
diabetes gestacional. Combinar o uso de medições da HbA1c e glicose plasmática para o diagnóstico de diabetes melito
oferece os benefícios de cada teste reduzindo o risco de viés sistemático inerente ao teste isolado da HbA1c (Petry, 2014).
Há pouco consenso sobre o método de rastreamento adequado. Tipicamente, o rastreamento baseiase em um teste de
tolerância oral à glicose de 75 g em 1 hora, geralmente realizado entre a 24a e a 28a semana da gestação (McIntyre, Dyer,
& Metzger, 2015). Administramse 75 g de glicose, sem levar em conta o tempo transcorrido desde a última refeição (ou
o conteúdo desta). A glicose sérica é medida 1 hora mais tarde; um nível acima de 140 mg/dℓ é anormal. Se o resultado
for anormal, fazse um teste de tolerância à glicose de 3 horas. Os valores normais são:
• Nível sérico de glicose em jejum: inferior a 92 mg/dℓ
• Após 1 hora: inferior a 180 mg/dℓ
• Após 2 horas: inferior a 153 mg/dℓ
• Após 3 horas: inferior a 140 mg/dℓ.
Podese estabelecer o diagnóstico de diabetes melito gestacional somente depois de obtido um resultado anormal no
teste de tolerância à glicose. Um ou mais valores anormais confirmam o diagnóstico de diabetes melito gestacional
(Farrar et al., 2015). A ADA e o ACOG adotaram um rastreamento (HbA1c) mais moderno e mais controlado, por causa
das evidências de que o diagnóstico e tratamento do diabetes melito gestacional, mesmo que este seja leve, reduz a
morbidade da mãe e do recémnascido (ADA, 2015c). Se forem aprovadas universalmente, as novas diretrizes devem ter
implicações clínicas imediatas e generalizadas.
Conduta terapêutica
Atendimento da mulher com diabetes melito prégestacional
Diabetes melito prégestacional é um problema de saúde pública importante que aumenta o risco de defeitos congênitos
estruturais que comprometem os desfechos da gravidez (tanto para a gestante como para o recémnascido). As mulheres
com diabetes melito prégestacional (a alteração do metabolismo de carboidratos é identificada antes da concepção)
precisam de cuidados prénatais abrangentes. Conseguir um bom controle metabólico durante o período antes da
concepção é crucial para reduzir as malformações congênitas que podem ocorrer em gestações complicadas por diabetes
melito. Os principais objetivos do cuidado incluem manter o controle glicêmico e minimizar os riscos da doença para o
feto. Os principais aspectos do tratamento incluem o cuidado nutricional, a prática de exercícios físicos, o tratamento com
insulina e o cuidadoso monitoramento materno e fetal (Figura 20.1).
O aconselhamento preconcepcional é fundamental para a mulher com diabetes prégestacional (a alteração no
metabolismo de carboidratos é identificada antes da concepção) para garantir que a condição permaneça estável. O
problema é que cerca da metade de todas as gestações nos EUA não é planejada. Assim, as mulheres com condições
clínicas crônicas, como o diabetes melito, podem não ter a oportunidade de tomar medidas para otimizar o controle de sua
condição antes de engravidar. Quando o atendimento preconcepcional é possível, devese ensinar às mulheres com diabetes
melito gestacional como melhorar seu controle metabólico antes da concepção para reduzir o risco de malformações
congênitas. O enfermeiro que atende pacientes em idade fértil pode contribuir para os cuidados preconcepcionais ajudando
a aconselhar a mulher prédiabética a evitar a progressão para o diabetes e seus riscos inerentes durante a gestação. Os
objetivos do cuidado preconcepcional são:
FIGURA 20.1 Aspectos gerais do tratamento para o diabetes melito na gestação. Para as mulheres com o tipo 1
prégestacional, o fundamento do controle glicêmico é o tratamento com insulina, juntamente com o controle
alimentar, a prática de exercícios físicos e a vigilância fetal. Para a paciente que desenvolve diabetes gestacional, a
modificação da dieta geralmente é a base do tratamento. Algumas mulheres podem necessitar de insulina junto
com as modificações na dieta, enquanto outras, não. A prática de exercícios físicos e a vigilância fetal também são
aspectos importantes do cuidado.
• Integrar a mulher ao manejo do diabetes melito
• Alcançar os mais baixos resultados no teste de hemoglobina A1C glicosilada sem hipoglicemia excessiva
• Certificarse da utilização de um método contraceptivo efetivo até que a glicemia esteja estável
• Identificar e avaliar as complicações a longo prazo do diabetes melito, como retinopatia, nefropatia, neuropatia,
doenças cardiovasculares (DCV) e hipertensão arterial (GabbayBenziv et al., 2015).
O controle ideal da glicemia, evidenciado por níveis séricos de glicose em jejum e um nível de hemoglobina
glicosilada ou glicada (HbA1c) (a medida dos níveis médios de glicose durante os últimos 100 a 120 dias) normais, é
crucial para alcançar o desfecho ideal da gestação. Um nível de hemoglobina glicosilada inferior a 7% indica bom controle;
um valor de mais de 8% indica controle ruim e exige intervenção. Uma gestante com diabetes melito prégestacional
apresenta um aumento de até nove vezes de fetos com defeitos congênitos se ela não controlar sua glicemia (Mitanchez et
al., 2015).
O aconselhamento preconcepcional também é importante para ajudar a reduzir o risco de malformação congênita. As
malformações mais comumente associadas ao diabetes melito ocorrem nos sistemas renal, cardíaco, esquelético e nervoso
central. Já que essas malformações ocorrem até a 8a semana de gestação, o aconselhamento preconcepcional é
fundamental. A taxa de anomalias congênitas em mulheres com diabetes melito gestacional pode ser reduzida se for
alcançado um bom controle glicêmico na época da concepção (Simeone et al., 2015). Essa informação precisa ser
enfatizada para todas as pacientes diabéticas que estão pensando em engravidar. Além disso, é necessário avaliar se a
mulher com diabetes melito prégestacional tem complicações dessa doença. Essa avaliação deve ser parte do rastreamento
inicial e das avaliações realizadas ao longo da gestação.
Cuidados durante a gestação para a mulher com diabetes melito gestacional
Modificação do estilo de vida, alterações nutricionais e encorajamento da prática de atividades físicas constituem o modo
primário de terapia de diabetes melito durante a gravidez. A conduta terapêutica para a mulher com diabetes melito
gestacional (definido como a intolerância à glicose que tem seu início durante a gestação ou que é detectada pela primeira
vez durante a gestação) é focalizado no controle glicêmico rigoroso. A ADA (2015b) recomenda a manutenção de um nível
sérico de glicose em jejum abaixo de 92 mg/dℓ, com níveis pósprandiais abaixo de 180 mg/dℓ em 1 hora e abaixo de 153
mg/dℓ em 2 horas. Em comparação, nas gestantes não diabéticas, valores de glicose próximos do normal incluem glicemia
de jejum entre 60 e 90 mg/dℓ, com níveis pósprandiais entre 100 e 120 mg/dℓ em 1 hora e entre 60 e 120 mg/dℓ em 2
horas. Temse defendido esse controle rigoroso porque ele está associado à redução da macrossomia fetal. Além disso, o
peso materno prégestacional e o peso ganho durante a gestação também parecem ser fatores de risco significativos e
independentes para a macrossomia fetal em mulheres com diabetes melito gestacional (Grandy et al., 2015).
A terapia nutricional visa manter os níveis de glicose equilibrados e fornecer energia e nutrientes suficientes para a
gestante, enquanto se evita a cetose, além de minimizar o risco de hipoglicemia em mulheres tratadas com insulina. O
manejo nutricional é a base do tratamento das mulheres com diabetes gestacional. As mulheres devem receber orientação
nutricional adequada de como modificar seus hábitos dietéticos de uma nutricionista. A orientação nutricional tem de ser
compatível com os padrões culturais da paciente e não pode ser radicalmente diferente, caso contrário não será adotada
nem seguida. Se arroz for a base da dieta de uma paciente chinesa, então arroz precisa ser incorporado ao plano de
reorientação nutricional e não eliminado (He et al., 2015). Uma dieta com baixo índice glicêmico é considerada segura e
exerce efeitos positivos no controle glicêmico e nos desfechos da gravidez, tanto em mulheres saudáveis, quanto naquelas
com DM2 e naquelas com diabetes melito gestacional. Uma dieta com teores moderadamente baixos de carboidrato (40%
do total de calorias) resulta em bom controle glicêmico para a maioria das pacientes (Roskjaer et al., 2014). No caso da
gestante diabética, comer por dois durante a gestação não significa comer o volume para duas pessoas, mas sim manter a
qualidade e a cronologia das refeições de modo a dar suporte à mãe e ao feto. Mostrouse que as mulheres que receberam
orientações nutricionais e as seguiram tiveram um melhor desfecho na gravidez do que aquelas que não receberam
aconselhamento nutricional (Ma et al., 2015).
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO PARA O DIABETES GESTACIONAL
Para a mulher com diabetes gestacional, a terapia nutricional e a prática de exercícios físicos podem ser tudo o que é
necessário. Considerase o tratamento farmacológico se a nutrição e os exercícios não forem capazes de manter os níveis
alvo de glicose. Os níveis sanguíneos de glicose na mulher podem ser controlados por terapia nutricional e exercícios
físicos, mas nos casos descontrolados, em que os níveis glicêmicos desejados não podem ser alcançados, também é
necessário usar insulina. A insulina, que não atravessa a placenta, historicamente tem sido o fármaco de escolha para o
tratamento da hiperglicemia durante a gestação. A dose de insulina é calculada de acordo com o peso da gestante.
Combinar a insulina de ação rápida com a de ação intermediária produz os melhores resultados para a maioria das
mulheres. Administramse duas doses de insulina diariamente, com dois terços do total de insulina no período da manhã,
para atender às necessidades de energia do dia ativo, e um terço à noite.
Fármacos orais para manejo de diabetes gestacional. As mulheres tendem a ser mais bem controladas com medicação
oral do que com insulina, de modo que o padrão de cuidado está sendo direcionado para a via oral (King et al., 2015).
Estudos recentes têm sido muito bemsucedidos em examinar o uso de fármacos hipoglicemiantes orais na gestação.
Vários estudos utilizaram a glibenclamida com resultados promissores. Muitos médicos estão usando a glibenclamida e a
metformina como alternativa ao tratamento com insulina, porque elas não atravessam a placenta e, portanto, não causam
hipoglicemia fetal/neonatal. Alguns fármacos hipoglicemiantes orais são considerados seguros e podem ser usados se a
nutrição e o exercício isoladamente não forem suficientes. Os desfechos maternos e neonatais são semelhantes aos
observados em mulheres tratadas com insulina. No entanto, devemse investigar os hipoglicemiantes orais para determinar
com confiança a sua segurança e oferecer melhores opções de tratamento para o diabetes na gestação. Atualmente, há uma
aceitação crescente do uso da gliburida (também conhecida como glibenclamida) como terapia de primeira linha para o
diabetes gestacional. Já foi constatado que a gliburida e a metformina também são seguras, efetivas e econômicas para o
tratamento do diabetes gestacional, embora ainda não tenham sido aprovadas pela FDA para uso na gravidez. Contudo, a
insulina ainda desempenha um papel importante nessa doença (Buschur, Brown, & Wyckoff, 2015). O diabetes melito
gestacional oferece uma janela de oportunidade, que precisa ser aproveitada para a prevenção do diabetes melito na vida
futura (NagtalonRamos, 2014).
A ADA (2015c) recomenda que as mulheres com diagnóstico de diabetes melito gestacional confirmado por um teste
de tolerância oral à glicose de 3 horas recebam aconselhamento nutricional de um nutricionista. A ADA também
recomenda o tratamento com insulina ou com fármacos orais para diabetes melito, no caso de a reorientação nutricional
não ser bemsucedida em alcançar uma glicemia de jejum inferior a 92 mg/dℓ, níveis de glicemia pósprandial de 1 hora
abaixo de 180 mg/dℓ ou de 2 horas abaixo de 153 mg/dℓ (ADA, 2015c).
O ACOG (2014a) recomenda o uso de dieta ou insulina ou fármacos orais para diabetes melito para alcançar uma
glicemia pósprandial de 1 hora de 130 mg/dℓ. Estudos randomizados mostram que a gliburida e a insulina são igualmente
efetivas para conseguir controle glicêmico. O controle glicêmico – independentemente de envolver reorientação alimentar,
insulina ou agentes orais – resulta em redução dos casos de distocia de ombro, hiperbilirrubinemia que requer fototerapia,
paralisia de nervo, fratura óssea, GIG e macrossomia fetal (ACOG, 2014a).
A prática de exercícios físicos é outro componente importante do cuidado prénatal abrangente à gestante com
intolerância à glicose. O exercício regular ajuda a manter o controle da glicose, aumentando a absorção de glicose pelas
células e diminuindo a obesidade central, a hipertensão arterial e a dislipidemia, o que acabará por reduzir a necessidade de
insulina da gestante (Jordan et al., 2014). Comprovouse que a atividade física regular resulta em benefícios marcantes
para a mãe e para o feto. Os benefícios maternos incluem melhora na função cardiovascular, ganho ponderal limitado na
gestação, diminuição no desconforto musculoesquelético, redução na incidência de cãibras musculares e edema de
membros inferiores, estabilidade de humor e redução do diabetes melito gestacional e hipertensão gestacional. Os
benefícios fetais incluem a diminuição na massa adiposa, a melhora na tolerância ao estresse e o avanço na maturação
neurocomportamental. A pesquisa também sugere o papel da atividade física na prevenção do diabetes melito gestacional
(Bain, Crane et al., 2015).
Insulina para manejo de diabetes gestacional. A insulina ainda é o fármaco de escolha para o controle glicêmico se
fármacos orais, dieta ou exercícios físicos não produzirem resultados em gestantes e lactantes com qualquer tipo de
diabetes melito (Moore, 2015). Em geral, as doses de insulina são reduzidas no primeiro trimestre da gestação para evitar
a hipoglicemia resultante do aumento da sensibilidade à insulina, bem como das náuseas e vômitos. Modalidades mais
modernas de insulina de ação rápida, como as insulinas lispro e aspart, que não atravessam a placenta, podem ajudar a
reduzir a hiperglicemia pósprandial e os episódios de hipoglicemia entre as refeições. São necessários valoresalvo de
glicose em jejum de 60 a 90 mg/dℓ e glicemia pósprandial de 1 hora inferior a 120 mg/dℓ para fornecer um bom controle
glicêmico e um desfecho positivo à gestação (Moore, 2015). Mudanças na dieta e no nível de atividade exigem alterações
nas doses de insulina ao longo da gestação.
Os esquemas de administração de insulina variam e ainda há controvérsias em relação à melhor estratégia para
administrar a insulina durante a gestação. Muitos médicos optam pelo tratamento com doses fracionadas (dois terços da
dose diária de manhã e o terço restante à noite). Outros defendem o uso de bomba de insulina para administrar uma
infusão subcutânea contínua de insulina. Independentemente do protocolo utilizado, são necessárias medições frequentes
da glicemia, e a dose de insulina é ajustada com base nos níveis diários de glicose. Terapia com insulina ou agentes
hipoglicemiantes orais, associada a reorientação nutricional e prática de exercícios físicos, são elementos cruciais para
atingir o controle glicêmico. Consulte o boxe Prática baseada em evidências 20.1.
A vigilância materna e fetal atenta também é essencial. Fazemse exames laboratoriais frequentes durante a gestação
para monitorar a condição da mulher e o controle da glicose. A vigilância fetal por meio de exames complementares ajuda
a avaliar o bemestar fetal e auxilia na determinação do melhor momento para o parto.
Cuidados durante e após o trabalho de parto de mulheres com diabetes melito
gestacional
Para a diabética em trabalho de parto, administrase soro fisiológico ou solução de lactato de Ringer por via intravenosa e
monitoramse os níveis séricos de glicose a cada 1 a 2 horas. Os níveis de glicose são mantidos abaixo de 110
mg/dℓ durante todo o trabalho de parto, para reduzir a probabilidade de hipoglicemia neonatal. Se necessário, podese
utilizar uma infusão de insulina regular para manter esse nível (King et al., 2015). Se a mulher estava recebendo insulina
durante a gestação, podem ser necessários ajustes na dosagem depois do nascimento, pois já não há mais desvio de glicose
através da placenta para suprir o crescimento do feto e nem a resistência à insulina que existia durante a gestação.
Frequentemente, a mulher com diabetes gestacional pode permanecer estabilizada com a reorientação alimentar e o controle
do peso corporal; a mulher com DM1 geralmente retorna aos níveis de insulina administrados previamente à gestação
(Kim, 2014).
Após o parto, as anormalidades glicêmicas evidentes decorrentes do diabetes melito gestacional geralmente
desaparecem. Esse fenômeno sugere que o diabetes melito é transitório e que as consequências do diabetes melito
gestacional cessam com o nascimento da criança. No entanto, para essa mulher, o parto não é o fim da história. O
diagnóstico de diabetes melito gestacional prenuncia riscos futuros à saúde. O conhecimento de que a mulher foi
“reprovada” nessa prova de esforço transmite novas informações sobre seu risco futuro de DM2, o que exige esforços
adicionais de rastreamento e prevenção durante o período pósparto e após esse período.
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem começa na primeira consulta prénatal. Uma anamnese meticulosa e um exame físico
cuidadoso, em conjunto com exames laboratoriais específicos e exames complementares, ajudam na elaboração de um
plano individualizado de cuidados para a mulher diabética.
Anamnese e exame físico
Na mulher com diabetes prégestacional, colete uma história completa da condição diabética preexistente. Questione sobre
a duração da doença, o manejo dos níveis de glicose (injeções de insulina, bomba de insulina ou agentes hipoglicemiantes
orais), os ajustes na dieta, a existência ou não de complicações vasculares e a condição vascular atual, esquema atual de
insulina e técnica utilizada para o teste da glicemia. Revise todas as informações que ela pode ter recebido como parte de
seu aconselhamento preconcepcional e as medidas que foram implementadas durante esse período.
Prática baseada em evidências 20.1
Prevenção do diabetes melito gestacional em gestantes com fatores de risco para diabetes
gestacional: revisão sistemática e metanálise de estudos randomizados.
ESTUDO
O diabetes melito gestacional é definido como o diabetes melito diagnosticado durante a gravidez em
mulheres que antes não apresentam diabetes melito. De acordo com essa definição, níveis glicêmicos
atendendo aos limiares de diabetes melito conhecido são considerados diabetes melito preexistente e o
restante recebe o diagnóstico de diabetes melito gestacional. O objetivo da revisão sistemática foi a
identificação de qualquer intervenção que poderia ser usada para a prevenção primária de diabetes
gestacional em mulheres com fatores de risco para este.
Uma revisão sistemática e uma metanálise foram realizadas e incluíram estudos controlados e
randomizados que compararam vários tipos de intervenção terapêutica com os cuidados prénatais
habituais. Foi realizada uma pesquisa na literatura que usou bancos de dados eletrônicos associada a
pesquisa manual de periódicos e conferências relevantes.
Achados
Foram incluídas 2.422 mulheres de 14 estudos randomizados que compararam dieta, exercícios físicos,
alterações de estilo de vida e uso de metformina com os cuidados padrões em mulheres com fatores de
risco para diabetes gestacionais. A intervenção dietética foi acompanhada com redução da incidência
estatisticamente significativa de diabetes gestacional e hipertensão gestacional em comparação com os
cuidados padrões. Não existe diferença estatisticamente significante na incidência de diabetes gestacional
com o uso de exercícios físicos, alterações do estilo de vida ou metformina em comparação com os
cuidados padrões.
Implicações para a enfermagem
Com base nesses achados, os profissionais de enfermagem podem encorajar modificações saudáveis da
dieta como estratégia de prevenção primária de diabetes gestacional para mulheres de alto risco. Essa
intervenção comprovou ser estatisticamente significativa em comparação com os cuidados padrões. Instruir
as pacientes sobre os bons hábitos dietéticos, tanto antes da concepção como na primeira consulta de pré
natal, pode ajudar a evitar o diabetes gestacional e melhorar a chance de desfechos melhores para a mãe e
para o recémnascido.
Adaptado de Madhuvrata, P., Govinden, G., Bustani, R., Song, S., & Farrell, T. A. (2015). Prevention of
gestational diabetes in pregnant women with risk factors for gestational diabetes: A systematic review and
metaanalysis of randomized trials. Obstetric Medicine: The Medicine of Pregnancy, 8(2), 68–85.
Esteja bem informado em relação às necessidades nutricionais da mulher e avalie a adequação e padrão de sua ingestão
alimentar. Avalie seu automonitoramento da glicemia em termos de técnica, frequência e capacidade de ajustar a dose de
insulina com base nos padrões de mudança. Pergunte sobre a frequência dos episódios de hipoglicemia ou hiperglicemia
para determinar a capacidade da mulher de reconhecêlos e tratálos. Continue avaliando a gestante à procura de sinais e
sintomas de hipoglicemia e hiperglicemia.
Durante as consultas prénatais, avalie o conhecimento da gestante a respeito de sua doença, incluindo os sinais e
sintomas de hipoglicemia, hiperglicemia e cetoacidose diabética, técnicas de administração de insulina e impacto da
gestação em sua condição crônica. Se possível, peça à gestante que demonstre sua técnica de monitoramento da glicemia e
administração de insulina, se for apropriado. É essencial que o enfermeiro tenha em mente que há uma grande curva de
aprendizado para as mulheres diabéticas em relação à necessidade de reorientação alimentar, frequência de monitoramento
da glicemia, prática de exercícios físicos e administração de insulina ou de hipoglicemiantes por via oral. Esperase que a
mulher repentinamente faça mudanças bruscas em sua vida, o que pode ser difícil. O enfermeiro pode ajudar a facilitar
essas mudanças, tendo paciência e compreensão e reforçando todas as instruções verbais com materiais por escrito.
Também é necessário encorajamento frequente para ajudar a mulher a mudar o seu estilo de vida. Embora a paciente possa
já ter o diabetes há algum tempo, não suponha que ela tenha uma base de conhecimento firme sobre seu processo de
doença ou tratamento da condição (Figura 20.2).
Na primeira consulta prénatal, avalie o risco de diabetes melito gestacional da paciente. A apresentação clínica do
diabetes melito durante a gravidez pode ser bastante variada, contudo, a tríade clássica de polidipsia, polifagia e poliúria
não é relatada pela maioria das mulheres durante a gravidez. Em vez disso, as mulheres apresentam história pregressa de
complicações clínicas do diabetes melito (hipertensão arterial crônica/doença renal crônica) e obesidade. Todas essas
condições podem influenciar o desfecho da gravidez. A ADA (2015a) recomenda avaliar todas as mulheres à procura de
fatores de risco e, em seguida, determinar a necessidade de testes adicionais apenas no grupo de alto risco. Os fatores que
colocam uma mulher em alto risco incluem:
FIGURA 20.2 A enfermeira demonstra a técnica de automonitoramento da glicemia a uma gestante diabética.
• Filho anterior com anomalia congênita (no sistema esquelético, renal, cardíaco ou nervoso central)
• História pregressa de diabetes melito gestacional ou polihidrâmnio
• História familiar de diabetes melito
• Fármacos: corticosteroides ou antipsicóticos
• Idade igual ou superior a 35 anos
• Síndrome do ovário policístico
• Gestação múltipla (gêmeos, trigêmeos)
• Filho anterior pesando mais de 4.000 g
• Morte fetal ou neonatal anterior inexplicada
• Obesidade materna (índice de massa corporal [IMC] > 30)
• Hipertensão arterial antes da gestação ou no início
• Origem hispânica, indígena norteamericana, das ilhas do Pacífico ou africana
• Candidíases recorrentes que não respondem ao tratamento
• Sinais e sintomas de intolerância à glicose (poliúria, polifagia, polidipsia, fadiga)
• Ocorrência de glicosúria ou proteinúria (Gupta, 2015).
As mulheres com características clínicas consistentes com um alto risco de diabetes melito gestacional devem ser
submetidas a testes de glicose, logo que possível.
Realize uma avaliação continuada atenta durante o período préparto. As mulheres com diabetes melito gestacional
correm risco aumentado de préeclâmpsia e complicações relacionadas com o controle da glicose, como hipoglicemia,
hiperglicemia e cetoacidose. Como já foi mencionado, o diabetes melito gestacional de qualquer gravidade aumenta o risco
de macrossomia fetal. Também está associado a elevação da frequência de distúrbios hipertensivos maternos e partos
cirúrgicos. Isso pode ser resultado dos distúrbios do crescimento fetal (ADA, 2015a). Mesmo que o diabetes melito seja
diagnosticado durante a gestação, pode ser que a mulher já tivesse intolerância à glicose antes de engravidar. Portanto,
monitore a gestante atentamente à procura de sinais e sintomas de possíveis complicações.
Avalie também a adaptação psicossocial da mulher à sua condição. Essa avaliação é fundamental para ganhar sua
cooperação para uma mudança no esquema terapêutico ou para o acréscimo de um novo esquema ao longo da gestação.
Identifique os sistemas de apoio dela e determine quaisquer restrições financeiras, porque ela vai precisar de
monitoramento intenso e vigilância fetal frequente.
Exames laboratoriais e complementares
Os resultados dos exames laboratoriais e complementares fornecem informações valiosas sobre o bemestar materno e
fetal. A mulher com diabetes melito prégestacional e aquela que descobre ter diabetes melito gestacional precisam de
vigilância maternofetal contínua para promover o melhor desfecho.
VIGILÂNCIA
A vigilância materna pode incluir o seguinte:
• Exame de urina à procura de proteína (pode indicar a necessidade de pesquisa mais aprofundada de préeclâmpsia), de
nitratos e esterase leucocitária (podem indicar infecção urinária)
• Exame de urina à procura de cetonas (pode indicar a necessidade da avaliação dos hábitos alimentares)
• Avaliação da função renal a cada trimestre para determinar a depuração (clearance) da creatinina e os níveis de
proteína
• Exame oftalmológico no primeiro trimestre para avaliar se a retina apresenta alterações vasculares
• Determinação da HbA1c a cada 4 a 6 semanas para monitorar as tendências da glicose (Jordan et al., 2014).
A vigilância fetal inclui uma ultrassonografia para fornecer informações sobre crescimento fetal, atividade fetal e
volume de líquido amniótico e para confirmar a idade gestacional. Podemse mensurar os níveis de alfafetoproteína para
detectar anomalias congênitas, como um tubo neural aberto ou defeitos na parede ventral por onfalocele ou gastrósquise.
Pode ser necessário um ecocardiograma fetal para descartar anomalias cardíacas. Um perfil biofísico ajuda a monitorar o
bemestar fetal e a perfusão uteroplacentária; as cardiotocografias basais são comumente realizadas semanalmente após a
28a semana de gestação para avaliar o bemestar fetal. À medida que a gestação avança, podese realizar uma amniocentese
para determinar a razão lecitina/esfingomielina (L/E) e a existência de fosfatidilglicerol (PG) para avaliar se os pulmões
fetais estão maduros o suficiente para o nascimento (Moore, 2015).
Conduta de enfermagem
O desfecho ideal de toda gestação consiste em recémnascido/mãe saudáveis. O enfermeiro pode ser fundamental na
concretização desse desfecho positivo às mulheres com diabetes prégestacional ou gestacional, por meio da
implementação de medidas para minimizar os riscos e complicações. Como a mulher diabética é considerada de alto risco,
as consultas préparto ocorrem com mais frequência (a cada 2 semanas até a 28a semana de gestação e depois 2
vezes/semana até o nascimento), proporcionando ao enfermeiro inúmeras oportunidades para avaliação, orientação e
aconselhamento permanentes (Plano de cuidados de enfermagem 20.1).
Promoção do controle ideal da glicose
A cada consulta, reveja os níveis séricos de glicose da gestante, incluindo todos os resultados dos exames laboratoriais e
do automonitoramento. Reforce à gestante a necessidade de realizar o monitoramento da glicose sanguínea (habitualmente
4 vezes/dia: antes das refeições e ao deitar) e manter um registro dos resultados. Se for o caso, mensure o nível de
glicemia por punção digital para avaliar a acurácia dos resultados do automonitoramento. Avalie também as técnicas da
mulher para controlar os níveis séricos de glicose e administrar insulina, se prescrito, e ofereça apoio e orientação. Se a
mulher estiver recebendo insulinoterapia, ajudea a fazer as alterações necessárias se os níveis de glicose não estiverem
controlados. Colete uma amostra de urina e verifique se há glicose, proteínas e cetonas. Pergunte à mulher se ela já teve
episódios de hipoglicemia e o que ela fez para aliviálos. Discuta medidas dietéticas relacionadas com o controle da
glicemia (Figura 20.3). Além disso, recomende o seguinte:
• Não perder peso nem fazer dieta restritiva durante a gestação
• Certificarse de que a ingestão de alimentos é suficiente para evitar a formação de cetonas e promover o ganho de peso
• Fazer três refeições por dia e mais três lanches para promover o controle glicêmico:
• 40% das calorias provenientes de carboidratos complexos e de boa qualidade
• 35% das calorias provenientes de fontes de proteína
• 25% das calorias provenientes de gorduras insaturadas
• Fazer refeições pequenas e frequentes ao longo do dia
• Fazer um lanche antes de deitar (indicado para todas as mulheres)
• Incluir proteínas e gordura em todas as refeições (National Diabetes Information Clearing House, 2015).
Anote!
As exigências nutricionais e recomendações para o ganho ponderal da gestante diabética são as mesmas que para a
gestante não diabética.
Se necessário, providencie uma consulta com a nutricionista para personalizar o plano alimentar. Também encoraje a
gestante a participar de um programa de exercícios físicos que inclua pelo menos três sessões semanais com duração de no
mínimo 30 minutos. O exercício físico diminui a necessidade de insulina ou de ajustes em sua dosagem.
Ao atender a parturiente com diabetes melito prégestacional ou gestacional, ajuste o fluxo intravenoso e a velocidade
regular de suplementação de insulina com base nos níveis séricos de glicose, conforme prescrito. Monitore os níveis
séricos de glicose a cada 1 a 2 horas, ou em maior frequência se necessário. Mantenha uma seringa com glicose a 50% na
cabeceira para tratar a hipoglicemia grave. Monitore os padrões de frequência cardíaca fetal durante todo o trabalho de
parto para detectar padrões das categorias II e III. Avalie os sinais vitais maternos a cada hora, além de avaliar o débito
urinário da mulher com um cateter de demora. Se estiver agendada uma cesariana, monitore os níveis séricos de glicose da
mulher a cada hora e administre insulina de ação rápida ou glicose de acordo com os níveis séricos de glicose, conforme
prescrito.
Plano de cuidados de enfermagem 20.1
Aspectos gerais de uma gestante com diabetes melito do tipo 1 (DM1)
Donna, 30 anos, tem DM1 e chegou ao ambulatório da maternidade para uma consulta
preconcepcional. Ela é diabética há 8 anos e utiliza insulina injetável 2 vezes/dia. Ela faz o
automonitoramento da glicose sanguínea 4 vezes/dia. Ela relata que sua doença está muito bem
controlada, mas diz: “Estou preocupada sobre como o diabetes afetará minha gestação e meu
filho. Vou precisar fazer mudanças em minha rotina? Será que ele será normal?” Ela relata que
recentemente teve uma infecção no pé e precisou ir ao prontoatendimento, porque isso levou a
um episódio de cetoacidose. Ela informa que os resultados dos últimos testes de hemoglobina
glicosilada A1C foram anormais.
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: manutenção da saúde ineficaz: relacionada com conhecimento
materno deficiente em relação aos cuidados com a condição diabética durante a gestação, conforme
evidenciado por perguntas sobre o efeito do diabetes na gestação, possíveis mudanças na rotina e desfecho
da gestação.
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente demonstrará maior conhecimento em relação ao DM1 e seus efeitos sobre a gestação,
conforme evidenciado por técnicas adequadas para o monitoramento da glicemia e administração de
insulina, capacidade de modificar as doses de insulina e a ingestão alimentar para alcançar o controle, e
verbalização da necessidade de controle glicêmico antes da gestação, com níveis séricos de glicose
permanecendo dentro da normalidade.
Intervenções: fornecer orientações à paciente
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: ansiedade relacionada com a ameaça a si e ao feto, conforme
evidenciado por perguntas sobre o efeito de sua condição sobre o recémnascido e sobre ele ser normal.
Identificação e avaliação dos resultados
A paciente expressará abertamente seus sentimentos em relação ao diabetes melito e à gestação,
conforme evidenciado por declarações de sentirse melhor em relação à condição preexistente e a
perspectivas da gestação e por declarações de compreensão a respeito da maternidade futura
(correlaciona o bom controle da glicose a desfechos positivos tanto para ela quanto para seu filho).
Intervenções: minimizar a ansiedade
• Analisar a necessidade de um exame físico para avaliar os eventuais efeitos do diabetes sobre o
estado de saúde da paciente
• Explicar os motivos para avaliar a pressão arterial, a visão e os pulsos periféricos da paciente a cada
consulta, para fornecer informações em relação aos possíveis efeitos do diabetes sobre o estado de
saúde
• Identificar quaisquer alterações na condição diabética atual que exijam intervenção, para ajudar a
minimizar os riscos que podem aumentar o nível de ansiedade da paciente
• Revisar os potenciais efeitos do diabetes melito sobre a gestação para promover a compreensão da
paciente em relação aos riscos e às maneiras de controlálos ou minimizálos
• Incentivar a participação ativa na tomada de decisões e no planejamento da gestação para promover
sentimentos de controle sobre a situação e para estimular a autoconfiança
• Discutir os sentimentos em relação à maternidade futura e manejo da gestação para ajudar a reduzir a
ansiedade relacionada com as incertezas
• Incentivar a paciente a fazer perguntas ou verbalizar preocupações para ajudar a diminuir a ansiedade
relacionada com o desconhecido
• Enfatizar a importância da vigilância frequente e contínua da condição materna e fetal durante a
gestação para reduzir o risco de complicações e ajudar a aliviar a ansiedade relacionada com o
desconhecido
• Fornecer reforço positivo para comportamentos e ações saudáveis para estimular sua continuidade e
melhorar a autoestima
FIGURA 20.3 Gestante diabética fazendo uma refeição nutritiva para garantir o controle adequado da glicemia.
Após o parto, monitore os níveis de glicemia a cada 2 a 4 horas nas primeiras 48 horas para determinar a dose de
insulina que a mulher precisa e continue administrando líquidos por via intravenosa conforme prescrito. Incentive o
aleitamento materno para ajudar na manutenção do controle ideal da glicose. No caso de mulher com diabetes melito pré
gestacional e diabetes melito dos tipos 1 ou 2, espere que as demandas de insulina diminuam rapidamente após o
nascimento: elas podem ser reduzidas pela metade da dose préparto conforme as refeições são iniciadas (King et al.,
2015). Algumas mulheres podem retornar à sua dose de insulina prégestacional. Além disso, os profissionais de
enfermagem precisam monitorar o filho da mulher diabética à procura de condições comuns como macrossomia, síndrome
de angústia respiratória, hipoglicemia, policitemia, hipocalcemia, hiperbilirrubinemia e várias anomalias congênitas
(Green, 2016). Com frequência, é necessária internação em uma unidade de tratamento intensivo neonatal (UTIN) para
observação e controle glicêmico cuidadosos.
O plano de tratamento após o parto é individualizado. Se as modificações dietéticas recomendadas forem realizadas
juntamente com a perda de peso, a mulher com diabetes gestacional pode retornar aos seus níveis normais de glicose. Isso
também é verdade para a mulher com diabetes melito prégestacional, exceto que ela retornará aos níveis de insulina
administrados previamente à gestação. Isso dá ao enfermeiro uma excelente oportunidade para reforçar as intervenções de
estilo de vida saudáveis na unidade pósparto. O enfermeiro também pode envolverse nas orientações prestadas na
comunidade para continuar a oferecer seus conhecimentos.
Prevenção de complicações
Avalie a mulher atentamente à procura de sinais e sintomas de complicações em todas as consultas. Antecipe possíveis
complicações e planeje intervenções ou encaminhamentos adequados. Verifique se há mudanças na pressão arterial da
paciente e colete amostra de urina para pesquisar proteinúria. Isso pode sugerir o desenvolvimento de préeclâmpsia.
Mensure a altura do fundo do útero e reveja a idade gestacional. Observe se há quaisquer discrepâncias entre a altura do
fundo do útero e a idade gestacional ou um aumento repentino no crescimento uterino. Esses achados sugerem poli
hidrâmnio.
Incentive a gestante a realizar diariamente a contagem dos movimentos fetais para monitorar o bemestar do feto. Diga
a ela especificamente quando ela deve notificar seu médico. Também prepare a gestante para a necessidade de exames
laboratoriais e complementares frequentes para avaliar a condição fetal. Ajude nas ultrassonografias seriadas para
monitorar o crescimento fetal e nas cardiotocografias e nos perfis biofísicos para avaliar o bemestar do feto.
Considere isto
Scott e eu passamos o dia todo arrumando o quarto novo da nossa filha e finalmente sentamos para
descansar. Ela poderia nascer a qualquer momento e nós tínhamos adiado repetidamente a arrumação do
quarto até que tivemos um fim de semana prolongado para realizar a tarefa. Eu estava animada em pensar
em todos os babados corderosa que decoravam o quarto. Tinha certeza de que minha filha iria amálos
tanto quanto eu já a amava. Alguns dias depois, tinha dificuldade para perceber os movimentos fetais, mas
pensei que ela deveria estar tão cansada quanto eu nesse ponto da gestação.
Naquela noite, entrei em trabalho de parto e fiquei olhando para os rostos preocupados das enfermeiras
e da parteira da maternidade. Eu tinha recebido o diagnóstico de diabetes melito gestacional há alguns
meses e tentado seguir as orientações sobre dieta e exercícios físicos, mas velhos hábitos são difíceis de
mudar quando você tem 38 anos de idade. Depois de um curto período de tempo na unidade de trabalho de
parto, disseramme que não conseguiam captar os batimentos cardíacos fetais e que fizeram uma
ultrassonografia, que também não detectou batimentos cardíacos. Por fim, informaram a Scott e a mim que
nossa filha estava morta. Tudo o que eu conseguia pensar era que ela nunca chegaria a ver seu quarto
corderosa.
Orientações e aconselhamento à gestante
A gestante diabética precisa de aconselhamento e orientações em relação à necessidade de controle rigoroso da glicemia,
reorientação alimentar e exercícios físicos, além dos sinais e sintomas de complicações. Encoraje a gestante e sua família a
fazer as modificações de estilo de vida necessárias para otimizar o desfecho da gestação. Fornecer orientações alimentares,
medidas de controle de peso e aconselhamento de estilo de vida que se estendem além da gravidez reduz o risco de a
mulher ter diabetes gestacional nas gestações subsequentes, bem como o tipo 2 (HashemiBeni et al., 2015). Em todas as
consultas, reforce a importância de realizar o rastreamento da glicemia e documentar os resultados. Com instruções
adequadas, a gestante e sua família serão capazes de lidar com todas as mudanças que ocorrem em seu corpo durante a
gestação (Diretrizes de ensino 20.1).
Diretrizes de ensino 20.1
Orientações para a gestante diabética
• Certificarse de comparecer a consultas prénatais frequentes e de fazer os exames para o
monitoramento do bemestar fetal
• Realizar o automonitoramento da glicemia conforme indicado, geralmente antes de cada refeição e
antes de dormir. Manter um registro de seus resultados e ligar para o seu médico se algum deles
estiver fora da faixa estabelecida. Levar seus resultados em todas as consultas prénatais
• Realizar a “contagem dos movimentos fetais”. Documentála e relatar qualquer diminuição na atividade
• Beber de 8 a 10 copos de 240 m ℓ de água por dia para evitar infecções urinárias e manter a
hidratação
• Usar calçados adequados e bem ajustados ao caminhar para evitar lesões
• Envolverse em um programa regular de exercícios físicos, como caminhada, para auxiliar no controle
da glicemia, mas evitar a prática de exercícios em temperaturas extremas
• Considerar amamentar seu recémnascido para reduzir os níveis séricos de glicose
• Se estiver utilizando insulina:
• Administrar a dose correta de insulina no horário certo todos os dias
• Tomar café da manhã dentro de 30 minutos após a injeção de insulina regular para evitar uma
reação
• Planejar um horário fixo para fazer as refeições e lanches a fim de evitar extremos nos níveis de
glicose
• Evitar o consumo de açúcares simples (bolo, doces, biscoitos), que elevam os níveis séricos de glicose
• Conhecer os sinais e sintomas de hipoglicemia e o tratamento necessário:
• Sudorese, tremores, pele fria e pegajosa, cefaleia
• Sensação de fome, borramento visual, desorientação, irritabilidade
• Tratamento: beber 240 mℓ de leite e comer biscoitos ou ingerir dois comprimidos de glicose
• Ter consigo “balas de glicose” para tratar a hipoglicemia
• Conhecer os sinais e sintomas de hiperglicemia e o tratamento necessário:
• Boca seca, micção frequente, sede excessiva, aumento da frequência respiratória
• Sensação de cansaço, rubor, pele quente, cefaleia, sonolência
• Tratamento: notificar o médico, pois pode ser necessário internação
• Usar o tempo todo uma pulseira de identificação de diabético
• Lavar as mãos com frequência para evitar infecções
• Informar quaisquer sinais e sintomas de doença, infecção e desidratação ao seu médico, porque eles
podem afetar o controle da glicemia
Reveja as discussões sobre o momento do nascimento e sua justificativa. Aconselhe a paciente em relação à
possibilidade de cesariana no caso de feto grande para a idade gestacional (GIG), ou informe a gestante que vai dar à luz
por via vaginal sobre a possível necessidade de aceleração do trabalho de parto com ocitocina.
Anote!
Quando a gestante diabética está bem controlada, tipicamente o parto não é induzido antes do termo, a menos que
surjam complicações, como préeclâmpsia ou comprometimento fetal. Podese optar pela antecipação do parto para a
gestante com diabetes melito mal controlado ou feto de tamanho grande que esteja com complicações.
Instrua a gestante em relação aos benefícios do aleitamento materno no controle da glicemia. A amamentação ajuda a
normalizar os níveis séricos de glicose. Portanto, incentive a paciente a amamentar o recémnascido. Também informe à
gestante diabética que utiliza insulina que suas demandas de insulina diminuirão drasticamente depois do parto.
Comunique a ela que precisará repetir o teste de tolerância oral à glicose em uma consulta pósparto (ADA, 2015d).
Para a mulher com diabetes melito gestacional, o foco são as orientações de estilo de vida. As mulheres com diabetes
melito gestacional correm um risco mais de 50% maior de desenvolver o tipo 2 (ADA, 2015d). Informe a paciente de que
o rastreamento provavelmente será feito na consulta de acompanhamento pósparto em 6 semanas. As mulheres com
resultados normais nessa consulta geralmente são rastreadas a cada 3 anos (ADA, 2015d). Orientea a manter um peso
corporal ideal para reduzir seu risco de desenvolver diabetes melito. Se necessário, encaminhe a paciente para um
nutricionista para ajudar na elaboração de uma dieta equilibrada e nutritiva.
DOENÇAS CARDIOVASCULARES
Apesar do aumento da conscientização de uma ampla gama de condições de saúde, ainda existe o mito de que a doença
cardiovascular (DCV) acomete apenas homens e as mulheres não precisam se preocupar com ela. A cada minuto, uma
mulher norteamericana morre de DCV e mais de 1 em cada 3 mulheres convive com uma DCV, incluindo quase 50% de
todas as mulheres afroamericanas e 34% das mulheres brancas (American Heart Association [AHA], 2015). A DCV é a
principal causa de morte em homens e mulheres nos EUA e é mais letal do que todas as formas de câncer. É responsável
pela morte de 500 mil mulheres por ano. Apesar da proeminente redução da taxa de mortalidade cardiovascular dos
homens, isso não ocorreu com as mulheres. As DCV já mataram mais mulheres do que homens desde 1984 (AHA, 2015).
Além de ser a principal responsável pela morte de mulheres, no momento do diagnóstico as mulheres têm um prognóstico
pior e um risco de morte maior do que os homens diagnosticados com doença cardíaca. As mulheres representam 53% das
mortes por DCV em comparação com as três causas de morte seguintes combinadas, incluindo todos os tipos de câncer
(Worel & Hayman, 2015). Tanto em homens quanto em mulheres, fatores de risco como hipertensão arterial, níveis
séricos elevados de colesterol, tabagismo, sedentarismo e obesidade aumentam a probabilidade de desenvolver DCV. A
menopausa, o diabetes melito gestacional, o uso de contraceptivos orais e a ooforectomia bilateral em mulheres antes da
menopausa também influenciam o risco de DCV (Chomistek, Chiuve, & Eliassen, 2015).
Mais mulheres morrem de doença cardíaca, acidente vascular cerebral ou encefálico e outras DCV do que os homens,
mas muitas mulheres não percebem que correm risco. Essas doenças matam mais mulheres a cada ano do que as três
causas de morte seguintes combinadas, incluindo todos os tipos de câncer (AHA, 2015). Aproximadamente 3% das
gestantes têm doença cardíaca, que é responsável por 10 a 25% das mortes maternas (Cunningham et al., 2014). A
prevalência de doença cardíaca está aumentando, em decorrência dos padrões de estilo de vida, como tabagismo (cigarros),
diabetes melito e estresse. Como as mulheres estão adiando a maternidade, a incidência de doença cardíaca na gestação
continuará aumentando. As adaptações cardiovasculares durante a gestação são bem toleradas pelo coração normal, mas
podem revelar uma doença cardíaca subjacente não diagnosticada ou desequilibrar a balança hemodinâmica e levar à
descompensação em pacientes com doença cardíaca conhecida (Harvey, Coffman, & Miller, 2015).
A cardiopatia reumática costumava representar a maioria das condições cardíacas durante a gestação, mas atualmente a
cardiopatia congênita representa quase 50% de todos os casos de doenças cardíacas encontradas durante a gestação. Os
sinais e sintomas clássicos da doença cardíaca mimetizam as manifestações clínicas comuns do fim da gestação, como
palpitações, dispneia aos esforços e dor torácica ocasional. Poucas mulheres com doença cardíaca morrem durante a
gestação, mas correm risco de outras complicações, como insuficiência cardíaca, arritmias e acidente vascular encefálico.
Seus filhos também correm risco de complicações, como nascimento prétermo, baixo peso ao nascimento para a idade
gestacional, síndrome de angústia respiratória, hemorragia intraventricular e morte (Gilstrap & Wood, 2014).
Cardiopatias congênitas e adquiridas
A cardiopatia congênita muitas vezes consiste em defeitos estruturais que existem por ocasião do nascimento, mas não são
detectados (Tabela 20.3). Até recentemente, as mulheres com cardiopatia congênita não viviam o suficiente para ter filhos.
Atualmente, graças às novas técnicas cirúrgicas para corrigir esses defeitos, muitas dessas mulheres conseguem levar uma
gestação a termo com um risco relativamente baixo quando é fornecido aconselhamento apropriado e cuidados ótimos. Um
número crescente de mulheres com cardiopatias congênitas complexas está chegando à idade fértil. Complicações como
restrição do crescimento, parto prétermo e prematuro, e mortalidade fetal e neonatal são mais comuns entre os filhos de
mulheres com cardiopatias congênitas. O risco de complicações é determinado por gravidade da lesão cardíaca, existência
de cianose, classe funcional materna e uso de terapia anticoagulante (ChoreñoMachain, Barrios, & Reta, 2015).
As mulheres com determinadas condições congênitas devem evitar a gravidez. Essas condições incluem a tetralogia de
Fallot não corrigida ou a transposição das grandes artérias e a síndrome de Eisenmenger, um defeito que envolve cianose e
hipertensão pulmonar (Brickner, 2014).
Tabela 20.3 Cardiopatias específicas que afetam a gestação.
Congênitas
Arritmias em algumas
mulheres
Adquiridas
Há controvérsias em
relação a tentar
ou não outra
gestação, em
virtude do alto
risco de repetição
nas complicações
O aumento do volume
plasmático e do débito
cardíaco durante a
gestação aumenta o
trabalho cardíaco, bem
como as demandas de
oxigênio do miocárdio; o
desequilíbrio entre o
aporte e a demanda
contribui para a isquemia
miocárdica
Adaptada de Brickner, M. E. (2014). Cardiovascular management in
pregnancy congenital heart disease. Circulation, 130(3), 273–282; Gilstrap,
L. G., & Wood, M. J. (2014). Cardiovascular disease in women and
pregnancy. In MGH cardiology board review (pp. 205–223). London,
England: Springer Publishers; Jordan, R. G., Engstrom, J. L., Marfell, J. A.,
& Farley, C. L. (2014). Prenatal and postnatal care: A womancentered
approach. Ames, IO: John Wiley & Sons, Inc.; Mohamad, T. N., Fakhri, H.
A., Bernal, J. M., Thatai, D., & Peterson, E. (2014). Cardiovascular disease
and pregnancy. eMedicine. Retirada
de http://emedicine.medscape.com/article/162004overview.
As cardiopatias adquiridas são condições que afetam o coração e os vasos sanguíneos associados que se desenvolvem
ao longo da vida da pessoa, em contraste com as cardiopatias congênitas, que já existem por ocasião do nascimento. As
doenças cardíacas adquiridas incluem DAC, cardiopatia reumática, doenças dos vasos pulmonares e da aorta, doenças dos
tecidos cardíacos e valvopatias. A incidência de cardiopatia reumática tem diminuído drasticamente nas últimas décadas,
por causa da rápida identificação de infecções estreptocócicas de garganta e do tratamento com antibióticos. Quando há
comprometimento cardíaco, lesões valvares – como a estenose mitral, o prolapso da valva mitral ou a estenose aórtica –
são comuns (Tabela 20.3).
Muitas mulheres estão adiando a maternidade até que tenham 30 a 40 anos. Com o avanço da idade materna, condições
clínicas subjacentes – como hipertensão arterial, diabetes melito e hipercolesterolemia – que contribuem para a cardiopatia
isquêmica tornamse mais comuns e aumentam a incidência de cardiopatia adquirida, complicando a gestação. Isso pode
resultar em DAC e IAM.
A capacidade funcional da mulher durante a gestação muitas vezes é mais importante do que o real diagnóstico da
condição cardíaca. O sistema de classificação funcional a seguir, desenvolvido pelo Criteria Committee of the New York
Heart Association (1994), baseiase na disfunção e nos sinais físicos atuais e pregressos. Constitui uma maneira simples
de classificar a gravidade da insuficiência cardíaca ao colocar as pessoas em uma de quatro categorias, com base na
limitação da atividade física, na alteração da respiração normal e nos graus variáveis de dispneia e/ou dor torácica:
• Classe I: indivíduos assintomáticos, sem limitação da atividade física; sem evidências objetivas de doença cardíaca. A
atividade física normal não causa fadiga indevida, palpitação, dispneia ou dor torácica
• Classe II: indivíduos sintomáticos (dispneia, dor torácica) aos esforços, resultando em limitação leve das atividades
físicas. Permanecem confortáveis em repouso. A atividade física normal resulta em fadiga, palpitação, dispneia ou dor
anginosa. Ocorrência de DCV mínima
• Classe III: indivíduos sintomáticos (fadiga, palpitações) à atividade normal, resultando em limitação acentuada das
atividades físicas. Permanecem confortáveis em repouso. Atividade física inferior à habitual provoca palpitações,
fadiga, dispneia ou dor anginosa. Ocorrência de DCV moderadamente grave
• Classe IV: indivíduos sintomáticos em repouso ou com qualquer atividade física, resultando em incapacidade para
realizar qualquer atividade física sem desconforto. Os sinais e sintomas de insuficiência cardíaca ou de síndrome
anginosa podem existir mesmo ao repouso. Se qualquer atividade física for realizada, o desconforto aumenta.
Ocorrência de DCV grave.
A classificação pode mudar à medida que a gestação avança e o corpo da gestante precisa lidar com a crescente pressão
sobre o sistema cardiovascular resultante das inúmeras alterações fisiológicas que ocorrem. Tipicamente, a gestação da
mulher com cardiopatia das classes I ou II não apresenta maiores complicações. A gestante com doença de classe III
geralmente precisa manter repouso no leito durante a gestação. A paciente com doença de classe IV deve ser orientada a
evitar a gravidez (Grewal, Silversides, & Coleman, 2014). As mulheres com doença cardíaca podem se beneficiar do
aconselhamento preconcepcional para que conheçam os riscos antes de engravidar.
A taxa de mortalidade materna varia de modo diretamente proporcional à classe funcional no início da gestação. O
ACOG adotou uma classificação de três graus de acordo com o risco de morte durante a gestação (Boxe 20.1).
Fisiopatologia
Todas as gestantes passam por inúmeras mudanças hemodinâmicas. Essas alterações fisiológicas normais podem
sobrecarregar o sistema cardiovascular da mulher, aumentando o risco de problemas. O aumento da carga de trabalho
cardíaco e a maior demanda miocárdica de oxigênio durante a gestação colocam o sistema cardiovascular da mulher em
alto risco de morbidade e mortalidade.
A gestação faz com que o débito cardíaco aumente já no primeiro trimestre, alcançando valores máximos da 20a à
24a semana de gestação. O débito cardíaco continua aumentando até que se estabilize entre a 28a e a 34a semana de
gestação. Esse aumento do débito cardíaco é decorrente do aumento de 30 a 50% do volume sanguíneo (volume sistólico)
e da elevação de 30% da frequência cardíaca. A frequência cardíaca normal de repouso para qualquer gestante pode ser, em
média, 20 bpm acima de seus valores normais.
BOXE 20.1
CLASSIFICAÇÃO DO RISCO DE MORTALIDADE MATERNA
O grupo I (risco mínimo) tem uma taxa de mortalidade de 1%, sendo composto por mulheres com:
• Persistência do canal arterial
• Tetralogia de Fallot corrigida
• Comunicação interatrial
• Comunicação interventricular
• Estenose atrioventricular esquerda, classes I e II
O grupo II (risco moderado) tem uma taxa de mortalidade de 5 a 15%, sendo composto por mulheres com:
• Tetralogia de Fallot não corrigida
• Estenose atrioventricular esquerda com fibrilação atrial
• Estenose aórtica, classes III e IV
• Coarctação da aorta sem comprometimento valvar
• Valvoplastia
O grupo III (maior risco) tem taxa de mortalidade de 25 a 50%, incluindo mulheres com:
• Hipertensão pulmonar
• Coarctação da aorta com complicações
• IAM prévio
Adaptado de American Heart Association [AHA]. (2015). Women and heart disease. Retirado
de https://www.goredforwomen.org/aboutheartdisease/facts_about_heart_disease_in_womensub
category/statisticsataglance/; AlonsoGonzalez, R., & Swan, L. (2014). Treating cardiac disease in
pregnancy. Women’s Health, 10(1), 79–90; e Mohamad, T. N., Fakhri, H. A., Bernal, J. M., Thatai, D., &
Peterson, E. (2014). Cardiovascular disease and pregnancy. eMedicine. Retirado
de http://emedicine.medscape.com/article/162004overview.
Anote!
O fluxo sanguíneo uterino aumenta em pelo menos 1 ℓ por minuto, o que exige que o organismo produza mais sangue
durante a gestação. Isso resulta em aumento de 25% da contagem de hemácias, expansão de 50% do volume plasmático
durante a gestação e hemodiluição global. Além disso, o aumento do volume eritrocitário total inclui aumento dos níveis
dos fatores de coagulação e plaquetas, o que define o estado de hipercoagulabilidade da gestação (Swan, 2014). Essas
mudanças começam já no segundo mês de gestação.
Do mesmo modo, o débito cardíaco aumenta progressivamente durante a gestação em 30 a 50% em relação aos níveis
prégestacionais. O volume sistólico aumenta 20 a 30% em relação aos valores prégestacionais e a frequência cardíaca
materna aumenta em 10 a 20 bpm. O aumento é decorrente tanto da expansão do volume sanguíneo quanto do aumento do
volume sistólico e da frequência cardíaca. Outras alterações hemodinâmicas associadas à gestação incluem diminuição
tanto da resistência vascular sistêmica quanto da resistência vascular pulmonar, reduzindo assim a pressão arterial sistólica
e diastólica. Além disso, a hipercoagulabilidade associada à gestação pode aumentar o risco de trombose arterial e
embolização. Essas mudanças fisiológicas normais são importantes para uma adaptação bemsucedida à gestação, mas
criam desafios fisiológicos únicos para a mulher com doença cardíaca (Quadro comparativo 20.1).
Quadro comparativo 20.1
Alterações cardiovasculares | Prégestacionais versus gestacionais.
Adaptado de American Heart Association [AHA]. (2015). Women and heart
disease. Retirado de https://www.goredforwomen.org/aboutheart
disease/facts_about_heart_disease_in_womensubcategory/statisticsata
glance/; Mohamad, T. N., Fakhri, H. A., Bernal, J. M., Thatai, D., &
Peterson, E. (2014). Cardiovascular disease and pregnancy. eMedicine.
Retirado de http://emedicine.medscape.com/article/162004overview; e
King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Gegor, C. L., &
Varney, H. (2015). Varney’s midwifery (5th ed.), Burlington, MA: Jones &
Bartlett Learning.
Conduta terapêutica
De modo ideal, a mulher com história de cardiopatia congênita ou adquirida deve consultar seu médico e ser submetida a
uma avaliação do risco antes de engravidar. Essa avaliação precisa considerar a capacidade funcional, a tolerância ao
esforço, o grau de cianose, a necessidade de medicamentos e a história pregressa de arritmias da mulher. Os dados
necessários para a avaliação de risco podem ser adquiridos por meio de anamnese e exame cardiovascular completo,
eletrocardiograma de 12 derivações (ECG) e avaliação dos níveis de saturação de oxigênio pela oximetria de pulso. O
impacto da cardiopatia no potencial de ter filhos da mulher precisa ser claramente explicado, e é importante fornecer
informações sobre como a gravidez pode afetar a gestante e seu feto. Isso possibilita que a mulher faça uma escolha
informada sobre se deseja aceitar os riscos associados à gestação. Sempre que possível, quaisquer procedimentos
cirúrgicos, como a valvoplastia, devem ser realizados antes da gestação para melhorar os desfechos fetais e maternos
(Sliwa et al., 2015).
Se a mulher procura atendimento depois de já estar grávida, o aconselhamento prénatal contempla o impacto das
alterações hemodinâmicas da gestação, os sinais e sintomas de comprometimento cardíaco e as mudanças necessárias na
dieta e no estilo de vida. Geralmente são necessárias consultas prénatais mais frequentes (a cada 2 semanas até o último
mês de gestação e então semanalmente) para garantir a segurança e a saúde da mãe e do feto.
Avaliação de enfermagem
Avaliações frequentes e completas são essenciais durante o período préparto para garantir a detecção precoce e a
intervenção imediata nos problemas. Verifique os sinais vitais da mulher, observando se há alguma alteração. Ausculte a
frequência cardíaca apical e as bulhas cardíacas, atentando especialmente para a existência de anomalias, incluindo
irregularidades no ritmo ou sopros. Verifique o peso da paciente e compare com o peso basal e com os pesos registrados
em consultas anteriores. Relate qualquer ganho ponderal fora dos parâmetros recomendados. Inspecione se os membros
apresentam edema e se este é depressível.
Questione a gestante sobre a atividade fetal e pergunte se ela tem notado alguma alteração. Relate qualquer alteração,
como diminuição dos movimentos fetais. Questione a gestante sobre quaisquer sinais e sintomas de trabalho de parto
prematuro, como dor lombar, contrações uterinas e aumento da pressão pélvica e secreção vaginal, e relateos
imediatamente. Avalie a frequência cardíaca fetal e reveja os resultados das ultrassonografias seriadas para monitorar o
crescimento fetal.
Avalie o estilo de vida da paciente e sua capacidade de lidar com as mudanças da gestação e seus efeitos sobre sua
condição cardíaca e capacidade funcional. Avalie a compreensão da paciente a respeito de sua condição e quais restrições e
mudanças de estilo de vida podem ser necessárias para proporcionar o melhor desfecho para ela e seu feto. O objetivo
final é que a mãe e o recémnascido estejam saudáveis no final da gestação. Conforme a gestação da paciente avança,
espere uma reclassificação em sua classe funcional, de acordo com o nível de disfunção. Sugira modificações realistas.
O enfermeiro desempenha um papel importante no reconhecimento dos sinais e sintomas de descompensação cardíaca.
A descompensação se refere à incapacidade do coração em manter a circulação adequada. Como resultado, a perfusão
tecidual da mãe e do feto é prejudicada. Queixas comuns da gravidez normal, tais como dispneia, fadiga, palpitações,
ortopneia e edema podálico, simulam sinais/sintomas de agravamento de doença cardíaca e criam desafios quando se tenta
avaliar gestantes cardiopatas. A gestante é mais vulnerável a essa complicação entre a 28a e a 32a semana de gestação e nas
primeiras 48 horas após o parto (Gandhi & Martin, 2015). Avalie se a mulher apresenta os seguintes sinais e sintomas:
• Dispneia aos esforços
• Cianose de lábios e leitos ungueais
• Edema de face, mãos e pés
• Turgência venosa jugular
• Taquipneia
• Batimentos cardíacos anormais, relatos de acelerações ou palpitações cardíacas
• Dor torácica aos esforços ou emoções
• Síncope aos esforços
• Aumento progressivo da fadiga
• Tosse “úmida” e frequente.
Anote!
É essencial avaliar se a gestante com cardiopatia apresenta descompensação cardíaca, porque a condição hemodinâmica
da mãe determina a saúde do feto.
Conduta de enfermagem
A conduta de enfermagem para a gestante cardiopata se concentra em ajudar com medidas para estabilizar a condição
hemodinâmica da mãe, porque a diminuição da pressão arterial ou do volume sanguíneo materno resulta em desvio de
sangue do útero, reduzindo assim a perfusão placentária. As gestantes cardiopatas também precisam de ajuda na redução
dos riscos que levariam a complicações ou comprometimento cardíaco adicional. Portanto, orientações e aconselhamento
são fundamentais. É necessário colaboração entre o cardiologista, o ginecologista, o perinatologista e o enfermeiro para
promover o melhor desfecho possível.
O tratamento medicamentoso pode ser indicado para a gestante com doença cardíaca. Os possíveis fármacos incluem
diuréticos, como furosemida, para evitar a insuficiência cardíaca; digitálicos, para aumentar a contratilidade e diminuir a
frequência cardíaca; agentes antiarrítmicos (lidocaína); betabloqueadores (labetalol); bloqueadores dos canais de cálcio
(nifedipino), para controlar a hipertensão arterial; e anticoagulantes (heparina de baixo peso molecular). A varfarina não é
recomendada porque atravessa a placenta e pode ter efeitos teratogênicos. Tem sido associada a aborto espontâneo,
defeitos congênitos múltiplos, restrição do crescimento intrauterino e morte fetal (Lichtin & Philipson, 2014).
A FDA modificou suas categorias de risco dos fármacos em 30 de junho de 2015. Não existem mais as categorias A,
B, C, D e X. A nova regra demanda a retirada das letras das categorias anteriores das bulas dos fármacos. Nos EUA, as
bulas atuais incluem três categorias distintas que fornecem informações no formato de narrativa. A meta desse novo
método de rotulação é fornecer informações sobre o medicamento ao consumidor. Atualmente, são usados subtítulos para
cada uma das três categorias: Gravidez; Lactação; e Homens e Mulheres com Potencial Reprodutivo. Ver alterações
específicas de cada categoria no seguinte endereço eletrônico da
FDA: http://www.fda.gov/Drugs/DevelopmentApprovalProcess/DevelopmentResources/Labeling/ucm425415.htm.
Incentive a gestante a continuar tomando seus medicamentos cardíacos conforme prescrito. Reveja as indicações, as
ações e os potenciais efeitos colaterais dos fármacos. Reforce a importância das consultas prénatais frequentes e do
acompanhamento médico atento durante toda a gestação.
Converse sobre a necessidade de conservar energia. Ajude a paciente a priorizar as tarefas domésticas e os cuidados
com os filhos de modo a possibilitar períodos de descanso. Encoraje a gestante a repousar em decúbito lateral, o que
aumenta a perfusão placentária.
Encoraje a gestante a ingerir alimentos nutritivos e a consumir uma dieta rica em fibras para evitar esforços para
defecar e constipação intestinal. Converse sobre a limitação da ingestão de sódio, se indicado, para reduzir a retenção de
líquido. Contate um nutricionista para ajudar a mulher a planejar refeições nutricionalmente adequadas.
Ajude a gestante a prepararse para exames complementares para avaliar o bemestar fetal. Descreva os exames que
podem ser realizados, como o ECG e o ecocardiograma, e explique a necessidade de cardiotocografias basais seriadas,
geralmente começando aproximadamente na 32a semana de gestação. Instrua a gestante sobre como monitorar a atividade e
os movimentos fetais. Incentivea a fazer isso diariamente e a relatar imediatamente quaisquer mudanças na atividade.
Embora as taxas de morbidade e mortalidade de gestantes com cardiopatia tenham diminuído muito, as alterações
hemodinâmicas durante a gestação (aumento da frequência cardíaca, do volume sistólico, do débito cardíaco e do volume
sanguíneo) exercem efeitos profundos, aumentando o trabalho cardíaco e excedendo a capacidade cardíaca funcional da
gestante com cardiopatia. Essas alterações podem resultar em hipertensão pulmonar, edema pulmonar, insuficiência
cardíaca ou morte materna (AlonsoGonzalez, & Swan, 2014). Explique os sinais e sintomas dessas complicações e reveja
os sinais e sintomas de descompensação cardíaca, incentivando a gestante a notificar seu médico caso algum deles ocorra.
Forneça apoio e incentivo durante todo o período préparto. Avalie os sistemas de apoio disponíveis para a paciente e
sua família, e incentivea a usálos. Se necessário, auxilie com encaminhamentos para serviços da comunidade para apoio
extra.
Durante o trabalho de parto, antecipe a necessidade de monitoramento hemodinâmico invasivo e certifiquese de que a
gestante tenha sido preparada para isso de antemão. Monitore o volume de líquido da gestante com cuidado para evitar
uma sobrecarga. Antecipe o uso de anestesia epidural se for planejado um parto vaginal. Após o nascimento, avalie se a
paciente apresenta sobrecarga hídrica conforme ocorre a mobilização periférica de líquido. Esse desvio de líquido da
circulação periférica para a circulação central sobrecarrega o coração e podem surgir sinais de insuficiência cardíaca –
como tosse, dispneia progressiva, edema, palpitações e crepitações nas bases pulmonares – antes de a diurese pósparto
começar. Como a condição hemodinâmica não retorna aos níveis basais durante vários dias após o parto, as mulheres com
risco intermediário ou alto precisam de acompanhamento durante pelo menos 48 horas após o nascimento (Cunningham et
al., 2014).
A gravidez oferece uma janela única de possibilidade de identificação das mulheres que correm risco de DCV futura.
Os profissionais de enfermagem têm a oportunidade de implementar monitoramento de saúde, modificações do estilo de
vida e outras intervenções necessárias para reduzir o ônus de futura DCV para suas pacientes gestantes. Desfazer os mitos
relacionados com a DCV em mulheres e homens (mito de que DCV é uma doença que acomete apenas homens) ajudaria
muitíssimo na promoção de conscientização.
Hipertensão arterial na gestação
Recentemente, o ACOG publicou diretrizes revisadas para o manejo da hipertensão arterial na gravidez. Foram delineadas
quatro categorias de hipertensão arterial na gravidez: préeclâmpsia/eclâmpsia, hipertensão arterial crônica, hipertensão
arterial crônica com préeclâmpsia superposta e hipertensão arterial gestacional. O termo “leve” não é mais usado na
classificação da gravidade da préeclâmpsia. A mulher tem a doença ou não, independentemente de apresentar ou não
manifestações graves (trombocitopenia, insuficiência renal, comprometimento da função hepática, edema pulmonar,
alterações visuais ou cerebrais). Atualmente, a proteinúria não é mais considerada um critério para o diagnóstico de pré
eclâmpsia. O ACOG recomenda que as mulheres com préeclâmpsia sem manifestações graves devem dar à luz na semana
37 0/7; as mulheres com préeclâmpsia com manifestações graves devem dar à luz na semana 34 0/7 (ACOG, 2013).
Hipertensão arterial crônica
É cada vez mais comum que mulheres com hipertensão arterial crônica engravidem. É um fator de risco importante para
complicações da gravidez, inclusive para o feto ou para o recémnascido (comprometimento do crescimento fetal, parto
prematuro, baixo peso ao nascimento, internação em UTIN e morte) e para a mãe (préeclâmpsia/eclâmpsia, insuficiência
renal aguda, edema pulmonar, parto cirúrgico, descolamento de placenta, acidente vascular cerebral, miocardiopatia pós
parto e morte) (Solomon & Greene, 2015). Há hipertensão arterial crônica quando a paciente apresenta níveis tensionais
elevados antes da gestação ou antes da 20a semana de gestação, ou quando a hipertensão arterial persiste por mais de 12
semanas após o parto. O Eighth Report do Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment
of High Blood Pressure (Joint National Committee [JNC 8], 2014) classificou anteriormente a pressão arterial que se
manteve inalterada do seguinte modo:
• Normal: pressão sistólica inferior a 120 mmHg, pressão diastólica inferior a 80 mmHg
• Préhipertensão: pressão sistólica de 120 a 139 mmHg, pressão diastólica de 80 a 89 mmHg
• Hipertensão arterial leve: pressão sistólica de 140 a 159 mmHg, pressão diastólica de 90 a 99 mmHg
• Hipertensão arterial grave: pressão sistólica igual ou superior a 160 mmHg, pressão diastólica igual ou superior a 100
mmHg (James et al., 2014).
A hipertensão arterial crônica ocorre em até 22% das mulheres em idade fértil, com uma prevalência que varia de
acordo com a idade, a raça e o IMC. Complica pelo menos 5% das gestações, sendo que 1 em cada 4 mulheres desenvolve
préeclâmpsia durante a gestação (Sibai, 2015). A hipertensão arterial crônica ocorre tipicamente em mulheres mais velhas
e obesas, com intolerância à glicose. A complicação mais comum é a préeclâmpsia, que acomete aproximadamente 25%
das mulheres que engravidam com hipertensão arterial. Cerca de 60.000 mulheres morrem por préeclâmpsia a cada ano
em todo o mundo, correspondendo a 12% de todas as mortes maternas (Raio, Bolla & Baumann, 2015). (Ver Capítulo
19 para obter mais informações sobre a préeclâmpsia.)
Conduta terapêutica
O aconselhamento preconcepcional é importante para promover desfechos positivos. Tipicamente, envolve mudanças de
estilo de vida, reorientação alimentar, prática de exercícios físicos, perda de peso e abandono do tabagismo. O tratamento
da mulher com hipertensão arterial crônica visa manter níveis tensionais normais, evitar préeclâmpsia/eclâmpsia e
assegurar o desenvolvimento fetal normal.
Quando a mulher está grávida, os agentes antihipertensivos são tipicamente reservados para aquelas com hipertensão
grave (pressão arterial sistólica > 160 mmHg e pressão diastólica > 100 mmHg). Comumente, prescrevese metildopa por
causa de seu histórico de segurança durante a gestação. Esse agente antihipertensivo de ação lenta ajuda a melhorar a
perfusão uterina. Outros agentes antihipertensivos que podem ser utilizados incluem o labetalol, o atenolol e o nifedipino
(Foo et al., 2015).
A U.S. Preventive Services Task Force [USPTF] (2015) recomenda o uso de baixas doses de ácido acetilsalicílico (81
mg/dia) após 12 semanas de gravidez para mulheres com hipertensão arterial crônica e outros fatores de risco, que correm
risco elevado de préeclâmpsia para reduzir sua ocorrência.
São necessárias mudanças de estilo de vida, que devem ser mantidas durante a gestação. A mulher com hipertensão
arterial crônica vai às consultas do prénatal com mais frequência (a cada 2 semanas até a 28a semana e depois
semanalmente até o parto) para monitorar a pressão arterial e para avaliar se há sinais de préeclâmpsia. Com
aproximadamente 24 semanas de gestação, a mulher será instruída a documentar a movimentação fetal. Nesse momento,
são solicitadas ultrassonografias seriadas para monitorar o crescimento fetal e o volume de líquido amniótico. Incluemse
exames adicionais se a condição da paciente mudar.
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem da mulher com hipertensão arterial crônica envolve a coleta de anamnese meticulosa e exame
físico completo. Revise atentamente a história patológica pregressa da gestante à procura de fatores de risco. A patogênese
da hipertensão arterial é multifatorial e inclui muitos fatores de risco modificáveis, como tabagismo, obesidade, ingestão
de cafeína, etilismo, ingestão excessiva de sal e uso de antiin amatórios não esteroides (AINE). Também esteja alerta para
fatores de risco não modificáveis, como a idade aumentada e ascendência africana (Miller & Carpenter, 2015). Pergunte se
a mulher recebeu algum aconselhamento preconcepcional e que medidas têm sido utilizadas para prevenir ou controlar a
hipertensão arterial.
Verifique os sinais vitais da gestante, em particular a pressão arterial. É importante aferir a pressão arterial em três
posições (sentada, deitada e em pé), e anotar se houver grandes diferenças nas leituras. Verifique se ocorre hipotensão
ortostática quando a gestante se levantar da posição sentada. Documente seus achados.
Pergunte à gestante se ela monitora a pressão arterial em casa; em caso afirmativo, informese sobre os valores
típicos. Questione se ela usa algum medicamento para controle da pressão arterial, incluindo o fármaco, a dosagem e a
frequência de administração, bem como quaisquer efeitos colaterais. Questione sobre as modificações no estilo de vida que
ela tem feito para resolver quaisquer fatores de risco modificáveis e sua eficácia.
A hipertensão arterial durante a gestação diminui a perfusão uteroplacentária. Portanto, o bemestar fetal deve ser
avaliado e monitorado atentamente. Antecipe a realização de ultrassonografias seriadas para avaliar o crescimento fetal e o
volume de líquido amniótico. Questione a gestante a respeito dos movimentos fetais e leia o relatório dela da contagem
diária desses movimentos. Verifique a frequência cardíaca fetal a cada consulta.
Conduta de enfermagem
A consulta de aconselhamento preconcepcional é o momento ideal para discutir as mudanças de estilo de vida para
prevenir ou controlar a hipertensão arterial. Um assunto a ser abordado durante essa consulta seria a dieta DASH (Dietary
Approaches to Stop Hypertension), que inclui teores adequados de potássio, magnésio e cálcio. O sódio geralmente é
limitado a 2,4 g ao dia. Sugeremse exercícios aeróbicos conforme tolerado. Incentive a paciente a parar de fumar e a
evitar o consumo de bebidas alcoólicas. Se a paciente estiver acima do peso ideal, incentivea a perder peso antes de
engravidar, não durante a gestação (Killion, 2015). Salientar os benefícios de um estilo de vida saudável pode ajudar a
motivar a mulher a fazer as modificações necessárias e a alterar hábitos pouco saudáveis.
Ajude a gestante a agendar as consultas prénatais a cada 2 semanas até a 28asemana de gestação e depois
semanalmente. Prepare a gestante para avaliações fetais frequentes. É importante explicar os motivos para a necessidade
de monitorar o crescimento fetal para ganhar a cooperação da paciente. Monitore a gestante cuidadosamente para detectar
sinais e sintomas de descolamento prematuro da placenta (dor abdominal, abdome rígido, sangramento vaginal), bem
como de préeclâmpsia superposta (elevação da pressão arterial, ganho de peso, edema, proteinúria). Alertar a gestante em
relação a esses riscos pode significar a identificação precoce e a intervenção imediata.
Reforce a importância de realizar períodos diários de repouso (1 hora) em decúbito lateral esquerdo para maximizar a
perfusão placentária. Incite as gestantes com hipertensão arterial crônica a usar aparelhos de monitoramento domiciliar da
pressão arterial. Incentive a paciente a relatar quaisquer elevações. Conforme necessário, instrua a paciente e sua família a
aferirem e registrarem a pressão arterial diariamente, e reforce a necessidade de ela tomar seus fármacos conforme
prescrito para controlar a pressão arterial e garantir o bemestar de seu filho. Elogiála por seus esforços a cada consulta
prénatal pode motivála a manter o esquema ao longo de sua gestação.
O monitoramento atento da mulher com hipertensão arterial crônica continua durante o trabalho de parto, o parto e o
pósparto para prevenir ou identificar o início da préeclâmpsia. Aferições de pressão arterial acuradas e frequentes e a
administração cuidadosa de fármacos antihipertensivos, se prescritos, são componentes essenciais do cuidado. Reforçar a
necessidade de supervisão médica contínua após o parto é fundamental para motivar a mulher a manter ou iniciar
mudanças de estilo de vida e hábitos alimentares e manter a adesão a seu tratamento farmacológico.
CONDIÇÕES RESPIRATÓRIAS
Durante a gestação, o sistema respiratório é afetado por mudanças hormonais, alterações mecânicas e problemas
respiratórios prévios. Essas mudanças podem fazer com que a mulher com história de comprometimento respiratório
descompense durante a gestação. Embora as infecções das vias respiratórias superiores sejam tipicamente autolimitadas,
doenças respiratórias crônicas – como a asma ou a tuberculose – podem ter um efeito negativo sobre o crescimento fetal
quando ocorrem alterações na oxigenação materna. O desfecho da gestação na mulher com uma doença respiratória
depende da gravidade da alteração da oxigenação, bem como do grau e da duração da hipoxia no feto.
Asma brônquica
Em todo o mundo, a prevalência de asma brônquica entre as gestantes está em ascensão. Em muitas mulheres, a gestação
leva à piora da asma (NagtalonRamos, 2014). A asma afeta cerca de 13% das gestantes em todo o mundo, variando entre
200 mil e 376 mil mulheres anualmente nos EUA. Afeta mais de 20 milhões de norteamericanos e é uma das condições
clínicas mais comuns e potencialmente graves que complicam uma gestação (Jordan et al., 2014). A asma materna está
associada a risco aumentado de morte infantil, préeclâmpsia, restrição do crescimento intrauterino (RCIU), parto pré
termo e baixo peso ao nascimento. Esses riscos estão relacionados com a gravidade da asma: quanto mais grave a asma,
maior é o risco (National Asthma Education and Prevention Program [NAEPP], 2015).
Lembrase de Rose, a adolescente grávida e com asma brônquica em sofrimento agudo descrita no início
do capítulo? Quais tratamentos podem ser oferecidos a ela para controlar seus sintomas? Ela deve ser
tratada de modo diferente da mulher não gestante? Por que sim ou por que não?
Fisiopatologia
A asma brônquica é uma resposta inflamatória alérgica das vias respiratórias a estímulos diversos, como alergênios (pólen
e pelos de animais), irritantes (fumaça de cigarro e produtos químicos), estresse, infecções (resfriados ou gripes) e
esforço físico. Também é conhecida como uma doença reativa das vias respiratórias por causa da constrição dos
bronquíolos em resposta a esses estímulos. A asma brônquica é caracterizada por manifestações paroxísticas ou
persistentes de broncospasmo, incluindo dispneia, sibilos, sensação de opressão torácica, tosse e produção de
expectoração. Além da broncoconstrição, a inflamação das vias respiratórias torna o muco mais espesso, que limita ainda
mais o fluxo de ar e dificulta a respiração.
As alterações fisiológicas normais da gestação afetam o sistema respiratório. Embora a frequência respiratória não
mude, a hiperventilação ao termo da gestação aumenta em até 48%, por causa dos altos níveis de progesterona. No fim da
gestação, ocorrem elevação do diafragma e diminuição da capacidade residual funcional dos pulmões, o que reduz a
capacidade da mulher de inspirar profundamente para captar mais oxigênio. O consumo de oxigênio e a taxa metabólica
aumentam, impondo pressão adicional sobre o sistema respiratório da mulher (American Academy of Allergy, Asthma, &
Immunology [AAAAI], 2015).
Tanto a gestante quanto seu feto correm risco se a asma não for bem administrada durante a gestação. Quando a
gestante tem dificuldade para respirar, o feto também tem dificuldade para obter o oxigênio de que necessita para o
crescimento e o desenvolvimento adequados. A asma grave persistente tem sido associada ao desenvolvimento de
hipertensão arterial, baixo peso ao nascimento, nascimento prétermo, préeclâmpsia, placenta prévia, hemorragia uterina e
oligohidrâmnio. A mulher cuja asma está mal controlada durante a gestação corre maior risco de parto prétermo, feto de
baixo peso ao nascimento e morte fetal (Vanders & Murphy, 2015).
A gravidade da asma melhora em um terço das gestantes, permanece inalterada no outro terço e piora no terço restante
(Cunningham et al., 2014). Contudo, o efeito da gestação sobre a asma é imprevisível. O maior aumento nas crises de
asma geralmente ocorre entre a 24a e a 36a semana de gestação; as crises são raras durante as últimas 4 semanas de
gestação e durante o trabalho de parto (AAAAI, 2015).
Conduta terapêutica
A asma deve ser tratada de modo tão agressivo nas gestantes quanto nas mulheres não grávidas, porque os benefícios de
se evitar uma crise de asma superam os riscos dos medicamentos. O objetivo final do tratamento da asma é evitar
episódios de hipoxia para preservar a oxigenação fetal continuada; obtêmse melhores desfechos maternos e perinatais com
um controle ótimo da asma. Um terço das mulheres com asma tem piora em seu controle durante a gestação; portanto, é
essencial monitorar atentamente e realizar reavaliações. Quatro aspectos importantes do tratamento da asma garantem o
controle ideal: monitorar atentamente, promover orientações à paciente, evitar os desencadeadores da asma e tratar
farmacologicamente.
Muitas mulheres asmáticas têm testes cutâneos positivos para alergênios, sendo que os mais comuns são pelos de
animais, ácaros, antígenos derivados de barata, pólen e fungos. Há também fatores desencadeadores não imunes, como
odores fortes, fumaça de cigarro, poluentes atmosféricos e fármacos, como ácido acetilsalicílico (AAS) e os
betabloqueadores. Para a asma desencadeada pelo exercício físico, a utilização de um broncodilatador 5 a 60 minutos antes
do exercício pode reduzir os sinais e sintomas. Evitar esses alergênios e fatores desencadeadores pode reduzir
significativamente a necessidade de medicação e a ocorrência de exacerbações durante e após a gestação. Todas as
mulheres devem ser fortemente encorajadas a parar de fumar, mas especialmente as asmáticas, porque elas correm maior
risco de agravamento das sequelas crônicas e agudas da asma.
As vacinas para alergia podem beneficiar pessoas com alergias e asma, a chamada asma alérgica. Também chamada de
imunoterapia, essas injeções não “curam” a asma do mesmo modo que uma injeção de antibióticos pode curar uma
infecção, por exemplo. Em vez disso, as injeções para alergia atuam mais como uma vacina. As injeções para a asma
alérgica na verdade contêm uma quantidade muito pequena de um alergênio (substância que provoca a alergia). Ao longo
do tempo, a dosagem é aumentada. A exposição a quantidades progressivas do alergênio provavelmente ajuda o corpo a
desenvolver uma tolerância a ele. Se o acúmulo de alergênios for efetivo, a reação alérgica se tornará muito menos grave.
As vacinas para alergia podem reduzir os sinais e sintomas alérgicos e evitar o desenvolvimento da asma.
O tratamento conservador inclui uma abordagem gradativa, em uma tentativa de usar a menor dose de medicação
necessária para controlar a asma da mulher e mantêla na faixa de gravidade leve. Os objetivos do tratamento incluem ter
função pulmonar normal ou quase normal e quantidade mínima de sintomas crônicos, exacerbações ou limitação nas
atividades. O objetivo final é minimizar os efeitos adversos do tratamento. Preferemse os corticosteroides inalatórios para
o tratamento de todos os níveis de asma persistente na gestação. Os corticosteroides são o tratamento mais efetivo para a
inflamação das vias respiratórias da asma e reduzem a hiperreatividade das vias respiratórias aos alergênios e a fatores
desencadeantes.
A NAEPP (2015) recomenda o uso de três fármacos específicos durante a gestação para controlar a asma:
• Budesonida (corticosteroide inalado)
• Salbutamol (beta2agonista de ação rápida)
• Salmeterol (beta2agonista de ação prolongada).
Os corticosteroides orais não são recomendados para o tratamento a longo prazo da asma na gestação, mas podem ser
usados para tratar crises graves de asma durante a gestação (AAAAI, 2015). Além disso, duas prostaglandinas
(carboprosta e misoprostol) utilizadas para tratar a hemorragia pósparto e o amadurecimento do colo do útero são
contraindicadas para pacientes com asma em virtude do risco de broncospasmo e broncoconstrição (King et al., 2015).
Avaliação de enfermagem
Colete uma anamnese meticulosa da doença, incluindo as medidas habituais de tratamento e controle utilizadas pela
mulher. Questione a gestante a respeito dos desencadeadores da asma e as estratégias utilizadas para reduzir a exposição a
estes (Boxe 20.2). Revise o esquema de tratamento farmacológico da paciente.
Ausculte os pulmões e avalie os parâmetros respiratórios e cardíacos. Inclua a frequência, o ritmo e a profundidade da
respiração; cor da pele; pressão arterial e frequência cardíaca; e sinais de fadiga. Pacientes em crise aguda de asma muitas
vezes apresentam sibilos, sensação de opressão torácica, taquipneia, tosse improdutiva e dispneia. A ausculta pulmonar
pode revelar sibilos e roncos difusos, sons broncovesiculares e um ritmo respiratório com a fase expiratória mais
proeminente do que a fase inspiratória (Kelly, Massoumi, & Lazarus, 2015). Se a gestação avançar o suficiente, verifica
se a frequência cardíaca fetal e fazemse os exames prénatais de rotina (peso, pressão arterial, altura do fundo do útero,
pesquisa de proteína na urina).
Os exames laboratoriais geralmente incluem um hemograma completo com contagem diferencial (para avaliar o grau
de inflamação inespecífica e identificar anemia) e provas de função pulmonar (para avaliar a gravidade de uma crise e
fornecer uma linha de base que analise a resposta da paciente ao tratamento).
BOXE 20.2
FATORES DESENCADEANTES COMUNS DA ASMA
• Fumaça e irritantes químicos
• Poluição atmosférica
• Ácaros
• Pelos de animais
• Mudanças sazonais com existência de pólen, fungos e esporos
• Infecções das vias respiratórias superiores
• Refluxo esofágico
• Fármacos, como ácido acetilsalicílico (AAS) e antiinflamatórios não esteroides (AINE)
• Exercícios físicos
• Ar frio
• Estresse emocional
Adaptado de American Academy of Allergy, Asthma & Immunology [AAAAI]. (2015). Asthma and
pregnancy. Retirado de http://www.aaaai.org/conditionsandtreatments/library/asthmalibrary/asthmaand
pregnancy.aspx; March of Dimes (2015l). Asthma during pregnancy. Retirado
de http://www.marchofdimes.org/pregnancy/asthmaduringpregnancy.aspx; e Cunningham, F. G., Leveno,
K. J., Bloom, S. L., Spong, C., & Dashe, J. (2014). Williams’ obstetrics (24th ed.). New York, NY:
McGrawHill Professional Publishing.
Conduta de enfermagem
A conduta de enfermagem centrase em orientar a paciente em relação à condição e às habilidades necessárias para
gerenciála: automonitoramento, uso correto de inaladores, identificação e limitação da exposição a fatores desencadeantes
da asma e seguir um plano a longo prazo para tratar a asma e lidar prontamente com os sinais e sintomas de seu
agravamento. As orientações à paciente promovem a adesão ao esquema terapêutico, proporcionando assim um ambiente
ideal para o crescimento e o desenvolvimento fetais.
As orientações à paciente devem começar na primeira consulta prénatal. A importância do controle ideal da asma e os
riscos do mau controle para a mulher e seu feto devem ser discutidos no início da gestação. Devese orientar as pacientes
em relação a quais sinais e sintomas têm de ser motivo de preocupação, assim como quem contatar em situações de
emergência. Devemse observar as mulheres usando seus inaladores e o uso correto deve ser reforçado. É essencial
conversar com franqueza sobre a importância da continuidade dos medicamentos para a asma e as possíveis graves
consequências para a gestante e seu feto em caso de interrupção.
Certifiquese de que a mulher compreenda as ações e interações medicamentosas, os usos e potenciais usos abusivos
dos fármacos para asma, e os sinais e sintomas que exigem avaliação médica. Revisar com a gestante as potenciais
complicações perinatais é útil para motivála a aderir ao esquema prescrito. Em cada consulta préparto, reavalie a eficácia
do plano de tratamento para determinar se são necessários ajustes.
Assumir o controle da asma na gestação é responsabilidade da paciente, juntamente com sua equipe de saúde. Fornecer
à mulher conhecimentos e ferramentas para monitorar sua condição, controlar fatores desencadeadores e seu ambiente
(Diretrizes de ensino 20.2) e usar fármacos para evitar exacerbações agudas ajuda a gestante a assumir o controle.
Promover uma parceria com a gestante melhorará os desfechos perinatais.
O enfermeiro deve instruir e incentivar com veemência as mulheres a usar os medicamentos para asma durante a
gestação, porque um terço das pacientes tem piora na asma, incluindo aquelas com grau leve da doença. As exacerbações e
o mau controle da asma exercem efeitos negativos comprovados sobre o desfecho da gestação, enquanto o bom controle
apresenta benefícios claros. As orientações à paciente em relação à importância do bom controle da asma são essenciais
para melhorar os desfechos da gestação.
Durante o trabalho de parto, monitore a saturação de oxigênio da paciente por meio da oximetria de pulso e forneça
controle da dor por meio da analgesia epidural para reduzir o estresse, o que pode desencadear uma crise aguda. Monitore
continuamente o feto à procura de sinais de sofrimento durante o trabalho de parto e avalie os padrões de frequência
cardíaca fetal à procura de hipoxia. Avalie o recémnascido à procura de sinais e sintomas de hipoxia.
Diretrizes de ensino 20.2
Orientações para controle da asma ligada a fatores desencadeadores
ambientais
• Remover todos os carpetes da casa, especialmente do quarto, para reduzir os ácaros
• Usar capas à prova de alergênios no colchão e nos travesseiros
• Lavar toda a roupa de cama com água quente
• Remover de casa objetos que acumulem pó, como bichos de pelúcia, livros e bibelôs
• Não ter animais de estimação em casa para reduzir a exposição a pelos de animais
• Manter a umidade abaixo de 50% para reduzir os ácaros da poeira (Dermatophagoides)
• Usar um sistema de filtragem de partículas no ar de alta eficiência (filtros HEPA) no quarto
• Não fumar e evitar lugares em que você possa ficar exposto à fumaça do cigarro dos outros
• Instalar um filtro de ar HEPA (retenção de material particulado de alta eficiência) e usar aspirador com
frequência
• Evitar o uso de aquecedores (que utilizem lenha) no interior das residências
• Ficar em casa e usar o arcondicionado quando a quantidade de pólen ou fungos estiver alta ou a
qualidade do ar estiver ruim
• No inverno, usar uma máscara sobre o nariz e a boca ao ficar em ambientes externos
• Evitar o contato com pessoas com resfriado, gripe ou viroses
Ao orientar a gestante com asma, abranja os seguintes tópicos:
• Sinais e sintomas de progressão e exacerbação da asma
• Importância e segurança do fármaco para o feto e para ela
• Sinais de alerta que indicam a necessidade de contatar um médico
• Potencial dano ao feto e a si mesma por subtratamento ou demora em procurar ajuda
• Prevenção e não estimulação de fatores desencadeantes conhecidos
• Uso domiciliar de inaladores com dosímetro
• Efeitos adversos dos fármacos
Rose, a adolescente grávida descrita anteriormente, está preocupada que sua asma possa passar para o
recémnascido. Sobre o que o enfermeiro deveria conversar com ela? Que perguntas o enfermeiro deve
fazer para ajudar a identificar os fatores desencadeadores no ambiente da paciente para evitar futuras
crises de asma?
Anote!
O manejo bemsucedido da asma consegue reduzir desfechos perinatais adversos: préeclâmpsia, parto prétermo e baixo
peso ao nascimento.
Tuberculose
A tuberculose (TB) é conhecida como a grande enganadora, e suas manifestações clínicas podem ser vagas e
generalizadas. É uma doença que existe há séculos, mas parece nunca desaparecer completamente. A TB é curável e
evitável. Globalmente, a TB é a segunda causa de doença e morte em adultos, perdendo apenas para o HIV/AIDS. É
responsável por mais de 9 milhões de casos de doença ativa e 2 milhões de mortes por ano. A cada segundo, alguém no
mundo é infectado com tuberculose. No geral, um terço da população mundial é infectada com TB (World Health
Organization [WHO], 2015b).
Embora não seja prevalente nos EUA, observouse um ressurgimento a partir de meados da década de 1980, em
decorrência da epidemia de AIDS e da imigração.1Quando não diagnosticada e não tratada, a pessoa com tuberculose ativa
infectará, em média, entre 10 e 15 pessoas a cada ano (WHO, 2015b). A associação entre pobreza e TB é significativa.
Por causa do grande afluxo de imigrantes para os EUA, todos os enfermeiros precisam ser hábeis no rastreamento e
manejo dessa condição.
Em muitas culturas, as consequências sociais associadas ao diagnóstico de TB recaem mais pesadamente sobre as
mulheres. As dificuldades em encontrar um parceiro para casar e o divórcio ou abandono entre as já casadas são
consequências significativas para as mulheres do Paquistão, do Vietnã e da Índia. O medo das consequências sociais pode
se traduzir em mulheres que não procuram por cuidados de saúde ou que o fazem tardiamente. A gestante com tuberculose
tratada de modo precoce e adequado tem desfechos equivalentes aos de mulheres não grávidas. Por outro lado, estudos têm
relatado um aumento na taxa de mortalidade obstétrica com elevação na incidência de aborto espontâneo, trabalho de parto
prétermo e préeclâmpsia quando a TB foi diagnosticada tardiamente (Bates et al., 2015).
A pessoa é infectada pela inalação do microrganismo infeccioso Mycobacterium tuberculosis, que é transportado em
núcleos de gotículas e se espalha por transmissão aérea. O pulmão é o principal local de envolvimento, mas os linfonodos,
as meninges, os ossos, as articulações e os rins podem ser infectados. As mulheres podem permanecer assintomáticas por
longos períodos de tempo, enquanto o microrganismo infeccioso permanece quiescente. É mais provável a ocorrência de
feto com baixo peso, recémnascido com escore de Apgar baixo e morte perinatal nas gestantes com TB não tratada
(Mehta et al., 2015). O recémnascido corre risco de contrair TB se a mãe ainda tiver tuberculose ativa por ocasião do
parto. Portanto, o diagnóstico prénatal e o tratamento efetivo da mãe são essenciais.
Conduta terapêutica
A OMS recomenda que o tratamento da TB em gestantes seja o mesmo que em não gestantes e no restante da população
em geral. A única exceção é que a estreptomicina deve ser evitada na gestação porque é ototóxica para o feto.
Os fármacos são a base do tratamento para evitar a progressão da infecção. A FDA desenvolveu categorias que
classificam o risco de efeitos teratogênicos dos fármacos à gestação. Essas categorias devem ser utilizadas na rotulagem
dos medicamentos (ver o endereço eletrônico neste capítulo, na seção sobre doenças cardiovasculares). A segurança dos
medicamentos de primeira linha para o tratamento da TB ativa na gestação foi estabelecida, e o tratamento melhora os
desfechos maternos e neonatais.
As gestantes devem iniciar o tratamento assim que surgir a suspeita de TB. Nos EUA,2 o esquema terapêutico inicial
preferido consiste em isoniazida (INH), rifampicina e etambutol diariamente durante 2 meses, seguido por INH e
rifampicina diariamente ou 2 vezes por semana durante 7 meses. As mulheres em uso de isoniazida também devem receber
suplementação de piridoxina (vitamina B6) (CDC, 2015b).
Avaliação de enfermagem
Reveja a anamnese da paciente à procura de fatores de risco, como imunossupressão, imigração recente, população de rua
ou moradias superlotadas, e consumo de drogas ilícitas injetáveis. As mulheres que emigram de países em
desenvolvimento com altas taxas de tuberculose, como América Latina, Ásia, Índia, Europa Oriental, Rússia, China,
México, Haiti e África, também correm risco.
Nas consultas prénatais, esteja alerta para as manifestações clínicas da TB, incluindo fadiga, febre ou sudorese
noturna, tosse improdutiva, fraqueza, perda ponderal lenta, anemia, hemoptise, fadiga e anorexia (Herchline & Amorosa,
2015). Se houver suspeita de TB ou a mulher correr risco de desenvolver a doença, antecipe o rastreamento com derivado
proteico purificado (PPD) administrado por injeção intradérmica. Se a paciente tiver sido exposta à TB, aparecerá uma
induração avermelhada no decorrer de 72 horas. Se o teste for positivo, antecipe a realização de uma radiografia de tórax
de acompanhamento com proteção de chumbo sobre o abdome, bem como culturas de escarro para confirmar o
diagnóstico.
Conduta de enfermagem
A adesão ao tratamento farmacológico é fundamental para proteger a mulher e seu feto da progressão da tuberculose.
Forneça orientações sobre o processo da doença, o modo de transmissão, a prevenção, as potenciais complicações e a
importância de aderir ao esquema terapêutico.
É importante ressaltar a importância das atividades de promoção à saúde durante a gestação. Algumas sugestões
podem incluir evitar moradias superlotadas, evitar o contato com pessoas doentes, manter a hidratação adequada, ingerir
uma dieta nutritiva e equilibrada, comparecer a todas as consultas prénatais para avaliar o crescimento e o bemestar
fetais e garantir um suprimento abundante de ar fresco em ambientes abertos. É importante determinar se a gestante
compreende a sua condição e o plano de tratamento para garantir a adesão. No caso de estrangeiras, é necessário um
intérprete para confirmar e reforçar se ela entendeu tudo.
A amamentação não é contraindicada durante o período em que a lactante está sob tratamento farmacológico, devendo
na verdade ser incentivada. Se a gestante não estiver sendo tratada para TB por ocasião do nascimento do filho, ela não
deve amamentar nem ter contato direto com o recémnascido até pelo menos 2 semanas após começar a ingerir a
medicação contra tuberculose. As mães não tratadas devem ser encorajadas a extrair o leite das mamas para alimentar os
recémnascidos até que possa ser iniciado o aleitamento direto (American Academy of Pediatrics [AAP, 2015]). Os
profissionais de enfermagem devem consultar a política de atendimento às puérperas com tuberculose das unidades de
saúde onde trabalham. O manejo do filho de uma mulher com TB envolve a prevenção da transmissão orientando os pais a
não tossir, espirrar ou falar diretamente sobre o rosto do recémnascido. O enfermeiro precisa se manter atualizado em
relação aos novos tratamentos e técnicas de rastreamento para tratar essa doença secular.3
CONDIÇÕES HEMATOLÓGICAS
A anemia, que é uma redução do volume eritrocitário, é medida pelo hematócrito (Ht) ou por decréscimo na concentração
de hemoglobina (Hb) no sangue periférico. Resulta em redução na capacidade do sangue de transportar oxigênio para os
órgãos vitais da mãe e do feto. A anemia é sinal de um problema subjacente, mas não indica a sua origem.
Anemia ferropriva
Deficiência de ferro é a causa patológica mais comum de anemia na gravidez. O risco aumentado durante a gravidez é
decorrente da demanda materna aumentada de ferro e das demandas do feto em crescimento, do aumento da massa
eritrocitária e, no terceiro trimestre da gravidez, da expansão do volume sanguíneo materno (Cantor et al., 2015). A
anemia acomete 25% da população do planeta e a deficiência de ferro é a causa predominante. A anemia ferropriva reflete
sobretudo nutrição insatisfatória que, na maioria dos casos, é consequente à pobreza em todo o planeta. Um estudo recente
indica e descobriu que a anemia ferropriva está fortemente associada a nível socioeconômico baixo, que prejudica os
conhecimentos e os comportamentos de procura por cuidados de saúde das mulheres. O estudo concluiu que o
empoderamento das mulheres em termos de orientações e condição econômica é o fator fundamental no combate à anemia
na gestação para prevenção do ciclo vicioso de problemas associados (Friedman et al., 2015).
A anemia ferropriva representa 75 a 95% dos casos de anemia em gestantes (ocorrendo em uma de cada quatro
gestações) e, em geral, está relacionada com dieta carente em ferro, condições gastrintestinais que comprometem a
absorção ou intervalo curto entre gestações (Jimenez et al., 2015). A gestante muitas vezes não tem reservas de ferro
suficientes para atender às demandas da gestação.
As consequências clínicas da anemia ferropriva incluem parto prétermo, mortalidade perinatal e depressão pósparto.
As consequências fetais e neonatais incluem baixo peso ao nascimento e desempenho mental e psicomotor ruim
(Subramaniam & Girish, 2015). Se a depleção de ferro materna for significativa, o feto tentará armazenar ferro, mas à
custa da mãe. A anemia ao termo da gestação aumenta o risco perinatal, tanto para a mãe quanto para o recémnascido. Os
riscos de hemorragia (função plaquetária comprometida) e infecção durante e após o parto também são maiores. Os
sinais/sintomas de anemia ferropriva incluem fadiga, diminuição da qualidade de vida, comprometimento da função
cognitiva, aumento do risco de eventos tromboembólicos, cefaleia, síndrome das pernas inquietas e pica (consumo de
substâncias que não são alimentos) (Camaschella, 2015).
Conduta terapêutica
Os objetivos do tratamento para a anemia ferropriva durante a gestação são eliminar os sinais e sintomas, corrigir a
deficiência e repor as reservas de ferro. O Centers for Disease Control and Prevention (CDC), a Health and Medicine
Division (HMD) e o ACOG recomendam a suplementação de ferro de rotina para todas as gestantes em uma dose baixa de
30 mg/dia, começando na primeira consulta prénatal (Moses, 2015). É difícil atender às demandas de ferro
exclusivamente por meio da dieta quando as reservas de ferro estão diminuídas.
Avaliação de enfermagem
Reveja a anamnese da mãe à procura de fatores que possam contribuir para o desenvolvimento de anemia ferropriva,
incluindo má nutrição, hemólise, pica (consumo de substâncias que não são alimentos), gestação múltipla, intervalos
limitados entre as gestações e perda de sangue. Avalie a ingestão alimentar da mulher, bem como a quantidade e a
cronologia do consumo de substâncias que interferem na absorção de ferro, como chá, café, chocolate e alimentos ricos em
fibras. Pergunte à mulher se ela tem fadiga, fraqueza, malestar, anorexia ou aumento da suscetibilidade a infecções, como
resfriados frequentes. Inspecione a pele e as mucosas, observando se há palidez. Mensure os sinais vitais e informe
qualquer taquicardia.
Prepare a mulher para os exames laboratoriais. Estes geralmente revelam Hb baixa (< 11 g/dℓ), Ht baixo (< 35%),
ferro sérico baixo (< 30 mcg/dℓ), células microcíticas e hipocrômicas e ferritina sérica baixa (< 100 mg/dℓ).
Anote!
A hemoglobina e o hematócrito normalmente diminuem durante a gestação, em resposta ao aumento no plasma
sanguíneo em relação ao número de hemácias. Essa hemodiluição pode levar à anemia fisiológica da gravidez, o que não
indica diminuição na capacidade de transporte de oxigênio ou anemia verdadeira.
Conduta de enfermagem
A conduta de enfermagem da mulher com anemia ferropriva se concentra em incentivar a adesão ao tratamento
farmacológico e fornecer orientações alimentares acerca da ingestão de alimentos ricos em ferro. Embora o ferro constitua
uma porcentagem mínima do peso corporal total, exerce várias funções importantes: auxilia no transporte de oxigênio e
dióxido de carbono pelo corpo, auxilia na produção de hemácias e desempenha um papel importante na resposta imune do
corpo.
Enfatize a importância de ingerir os suplementos de vitaminas e ferro prénatais de modo consistente. Incentive a
gestante a tomar o suplemento de ferro com líquidos contendo vitamina C, como suco de laranja, que promoverão a
absorção de ferro, em vez de leite, que inibe a sua absorção. A ingestão do suplemento de ferro com o estômago vazio
melhora a sua absorção, mas muitas mulheres não conseguem tolerar o desconforto gastrintestinal que isso provoca.
Nesses casos, aconselhe a gestante a tomálo junto com as refeições. Instrua a mulher em relação aos efeitos adversos, que
são predominantemente gastrintestinais e incluem desconforto gástrico, náuseas, vômitos, anorexia, diarreia, gosto
metálico e constipação intestinal. Sugira que a gestante tome o suplemento de ferro com as refeições e aumente a ingestão
de fibras e líquidos para ajudar a superar os efeitos colaterais mais comuns.
Forneça aconselhamento nutricional. Recomende alimentos ricos em ferro, como frutas secas, cereais integrais,
vegetais de folhas verdes, carnes, manteiga de amendoim e cereais enriquecidos com ferro (Dudek, 2014). Antecipe a
necessidade de encaminhamento a um nutricionista. O boxe Diretrizes de ensino 20.3 destaca orientações à gestante com
anemia ferropriva.
Diretrizes de ensino 20.3
Orientações à gestante com anemia ferropriva
• Ingerir as vitaminas prénatais diariamente; se esquecer uma dose, tomála assim que lembrar
• Para melhorar a absorção, ingerir os suplementos de ferro entre as refeições
• Conscientização dos efeitos colaterais da suplementação de ferro
• Evitar a ingestão dos suplementos de ferro com café, chá, chocolate e alimentos ricos em fibras
• Ingerir alimentos ricos em ferro, como:
• Carnes, vegetais de folhas verdes, legumes, frutas secas, grãos integrais
• Manteiga de amendoim, pasta de feijão, pães e cereais enriquecidos com trigo integral
• Para melhor absorção do ferro dos alimentos, consumir o suplemento de ferro com um alimento rico
em vitamina C
• Aumentar a atividade física e o consumo de líquido e alimentos ricos em fibras para reduzir a
constipação intestinal
• Planejar períodos de descanso frequentes durante o dia
Talassemia
A talassemia é um grupo de anemias hereditárias em que a síntese de uma ou ambas as cadeias da molécula de
hemoglobina (alfa e beta) é defeituosa. A herança é autossômica recessiva. Resulta em níveis baixos de Hb e anemia
microcítica e hipocrômica. A prevalência e a gravidade da talassemia dependem da raça da mulher: pacientes de origem
mediterrânea, asiática, italiana ou grega e as afroamericanas são mais frequentemente afetadas. A talassemia beta é o tipo
mais comumente encontrado nos EUA (March of Dimes, 2015b).
A talassemia ocorre em duas formas: talassemia alfa e talassemia beta. A talassemia alfa (menor), a forma
heterozigota, resulta da herança de um gene anormal de um dos pais, o que torna o descendente um portador do traço.
Essas mulheres têm pouca ou nenhuma doença hematológica e clinicamente são assintomáticas (condição de portador
silencioso). A talassemia beta (maior) é a forma homozigótica, ou seja, o gene é herdado de ambos os progenitores. A
talassemia beta maior pode ser muito grave. Pode ser necessário aconselhamento genético quando estão sendo tomadas
decisões sobre ter um filho.
A talassemia alfa tem pouco efeito sobre a gestação, embora a mulher apresente anemia leve e persistente. Essa anemia
não responde ao tratamento com ferro, portanto não devem ser prescritos suplementos de ferro. Vários estudos recentes
sugerem que a gravidez parece segura para as mulheres com talassemia beta maior bem tratada que não apresentem
cardiopatia (Rigby, 2015).
O tratamento da talassemia durante a gestação depende da gravidade da doença. Além do esquema rotineiro de
consultas prénatais, as gestantes com talassemia precisam de cuidados adicionais que incluem avaliação regular e
periódica da função cardíaca por um cardiologista para prevenir sobrecarga hídrica. Além disso, os níveis séricos de
hemoglobina e ferritina devem ser monitorados à procura de sinais de sobrecarga de ferro. A identificação e o
rastreamento são importantes para planejar os cuidados a serem prestados. São analisados a etnia, a anamnese e os exames
de sangue da mulher. Se for determinado que a mulher é portadora, é indicado o rastreamento do pai da criança. Saber se o
pai ou a mãe é portador do traço talassêmico possibilita que o conselheiro genético determine o risco de o feto ser portador
ou ter a doença (Karimi, Cohan, & Parand, 2015). A paciente pode apresentar anemia leve, e as instruções para descansar
e evitar infecções são úteis. O enfermeiro deve prestar cuidados de apoio e conduta expectante durante a gestação.
Anemia falciforme
A anemia falciforme é uma doença hereditária autossômica recessiva que resulta de uma molécula de hemoglobina
defeituosa (hemoglobina S). É mais comumente encontrada em afroamericanos, populações do Sudeste Asiático e do
Oriente Médio. A doença falciforme afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Nos EUA, cerca de 90 a 100 mil pessoas
têm a doença, e 2 milhões têm o traço falciforme. A doença falciforme ocorre em 1 em cada 500 neonatos afroamericanos
e em 1 em cada 36 mil neonatos americanos de origem hispânica. Um em cada 12 afroamericanos tem o traço falciforme
(CDC, 2015c).
As mulheres com a doença falciforme podem ter desfechos maternos mais adversos, como préeclâmpsia, eclâmpsia,
trabalho de parto prematuro, descolamento prematuro da placenta, retardo do crescimento intrauterino, baixo peso ao
nascimento e mortalidade materna (Costa, Viana, & Aguiar, 2015). O gene oferece proteção contra a malária, mas pode ser
uma causa de dor crônica e morte precoce. A expectativa de vida é encurtada como consequência de lesão renal, lesão
cardíaca e infecção (March of Dimes, 2015c). As pessoas com apenas um gene para o traço (heterozigotos) terão traço
falciforme, sem sinais e sintomas evidentes da doença e pouco efeito sobre a gestação.
Fisiopatologia
No corpo humano, a molécula de hemoglobina atua como o componente de transporte de oxigênio das hemácias. A maioria
das pessoas tem vários tipos de hemoglobina circulante (HbA e HbA2), que compõem a maioria do seu sistema
circulatório. Na doença falciforme, a hemoglobina anormal S (HbS) substitui a HbA e a HbA2. Essa hemoglobina anormal
(HbS) assume o formato de foice em decorrência de qualquer estresse ou traumatismo, como infecção, febre, acidose,
desidratação, esforço físico, exposição ao frio excessivo ou hipoxia. O formato em crescente das hemácias promove a
formação de grumos que bloqueiam a microvasculatura. Normalmente, isso resulta em anemia importante.
A anemia falciforme durante a gestação está associada a anemia mais grave e crises vasoclusivas frequentes, com
aumento da morbidade e mortalidade materna e perinatal. Em gestantes com anemia falciforme, as complicações podem
ocorrer a qualquer momento durante a gestação, o trabalho de parto, o parto ou o período pósparto. Acreditase que isso
seja secundário a alterações hormonais, hipercoagulabilidade e aumento da suscetibilidade a infecções. A falcização
microvascular na circulação placentária está associada a aborto espontâneo, descolamento prematuro da placenta, pré
eclâmpsia, trabalho de parto prematuro, restrição do crescimento intrauterino, sofrimento fetal e baixo peso ao nascimento
(Vichinsky, 2015).
Conduta terapêutica
O ideal é que as mulheres com hemoglobinopatias sejam rastreadas antes da concepção e sejam conscientizadas dos riscos
da anemia falciforme para si e para o feto. Realizase a eletroforese de hemoglobina (exame laboratorial usado para análise
de DNA e RNA) em todas as mulheres com ascendência de alto risco em sua primeira consulta prénatal para determinar
os tipos e as porcentagens de hemoglobina presentes. Essa informação deve ajudálas na tomada de decisões relacionadas
com a reprodução.
O tratamento depende do estado de saúde da mulher. O efeito da doença falciforme sobre a gestação depende de quais
manifestações a mulher está apresentando. Por exemplo, a anemia falciforme combinada ao aumento do volume de sangue
na gestação aumenta os riscos de insuficiência cardíaca se houver sobrecarga de líquido no tratamento da anemia
(Cunningham et al., 2014).
O cuidado prénatal precoce e contínuo é necessário para salvaguardar o feto/recémnascido de possíveis complicações
durante os períodos préparto, intraparto e pósparto. Para esse fim, devem ser agendadas consultas prénatais com mais
frequência no primeiro e no segundo trimestres. Durante a gestação, utilizase somente tratamento de suporte: transfusões
sanguíneas para a anemia grave, analgésicos para a dor e antibióticos para a infecção.
Avaliação de enfermagem
Avalie a mulher à procura de sinais e sintomas de anemia falciforme. Pergunte se ela tem anorexia, dispneia ou malestar.
Inspecione a cor da pele e das mucosas, observando se há palidez. Esteja alerta para os indicadores de crise falciforme,
incluindo dor abdominal, espasmos musculares, dor nas pernas, dor nas articulações, febre, rigidez de nuca, náuseas e
vômitos e crises convulsivas (Jordan et al., 2014).
Conduta de enfermagem
As pacientes precisam de apoio emocional, orientações e cuidados de acompanhamento para lidar com essa condição
crônica, que pode ter um grande impacto sobre a mulher e sua família. Monitore os sinais vitais, a frequência cardíaca
fetal, o ganho de peso e o crescimento fetal. Avalie o estado de hidratação a cada consulta e incentive a paciente a beber 8 a
10 copos de líquido diariamente para evitar a desidratação. Oriente a gestante em relação à necessidade de evitar infecções
(incluindo a higiene meticulosa das mãos), tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas e temperaturas extremas.
Ajude a gestante a agendar avaliações frequentes do bemestar fetal, como perfis biofísicos, cardiotocografias basais e
estimuladas, e a monitorar os resultados dos exames laboratoriais à procura de mudanças. Durante todo o período pré
parto, esteja alerta para os sinais e sintomas iniciais de crise.
Durante o trabalho de parto, incentive o repouso e forneça tratamento para a dor. A suplementação com oxigênio é
tipicamente usada em todo o trabalho de parto, juntamente com líquidos intravenosos para manter a hidratação. A
frequência cardíaca fetal é monitorada atentamente. Após o parto, são colocadas meias compressivas para evitar a
formação de coágulos sanguíneos. Antes da alta da instituição, converse sobre as opções de planejamento familiar.
A capacidade de prever a evolução clínica da anemia falciforme durante a gestação é difícil. Os desfechos melhoraram
para as gestantes com a doença; na atualidade, a maioria delas consegue ter uma gestação bemsucedida. No entanto, a
gravidez está associada a incidência aumentada de morbidade e mortalidade. O manejo ideal durante a gestação deve
objetivar prevenir crises de dor, lesões crônicas de órgãosalvo e mortalidade precoce utilizando uma abordagem
multidisciplinar e alívio imediato, eficaz e seguro dos episódios de dor aguda. Embora essas medidas não eliminem o
risco de complicações maternas e fetais, acreditase que as minimizem, promovendo um desfecho bemsucedido à
gestação. Como parte da equipe obstétrica, o enfermeiro fornece intervenções de enfermagem à paciente em trabalho de
parto e no pósparto que visam controlar a dor, promover a segurança maternofetal e orientar a paciente. O objetivo
global é um desfecho saudável para toda a família. O enfermeiro tem um papel fundamental nesse desfecho.
DOENÇAS AUTOIMUNES
As doenças autoimunes são um grupo de mais de 80 doenças distintas que surgem quando o sistema imunológico inicia
uma resposta imune contra suas próprias células e tecidos. Existem dois tipos diferentes de doença autoimune:
1. Distúrbios localizados que atacam órgãos específicos, como a glândula tireoide na tireoidite de Hashimoto e a doença
de Graves
2. Doenças sistêmicas que afetam múltiplos órgãos. Por exemplo, em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES),
o sistema imune pode atacar os pulmões, o coração, as articulações, os rins, o encéfalo e as hemácias.
As doenças autoimunes podem causar sintomas insidiosos leves intermitentes ou condições debilitantes associadas a
alta taxa de mortalidade.
As mulheres são mais afetadas pelas doenças autoimunes do que os homens. De acordo com o CDC (2015d), as
doenças autoimunes afetam cerca de 8% da população, 78% dos quais são mulheres. As doenças autoimunes são a terceira
categoria mais comum de doença nos EUA, depois do câncer e das doenças cardíacas; acometem cerca de 5 a 8% da
população, ou 14 a 22 milhões de pessoas (CDC, 2015d). Antigamente, o conselho geral às mulheres com doenças
autoimunes – especialmente o LES, a esclerose múltipla ou as síndromes reumatoides – era evitar a gravidez, porque havia
um alto risco de morbidade e mortalidade materna e fetal. No entanto, agora se sabe que esses riscos podem ser reduzidos,
em geral evitando engravidar quando as doenças estão ativas e continuando a medicação adequada para reduzir as chances
de agravamento da doença durante a gestação.
Lúpus eritematoso sistêmico
O lúpus, também conhecido como lúpus eritematoso sistêmico (LES) é diagnosticado com base em valores
laboratoriais, sinais e sintomas. O LES é uma doença crônica, autoimune e recidivante do tecido conjuntivo que pode
afetar vários órgãos, como a pele, as articulações, os rins e as membranas serosas. O lúpus tem etiologia desconhecida,
mas acreditase que seja decorrente de uma falha nos mecanismos de regulação do sistema autoimune. De modo geral, é
medicada com agentes antiinflamatórios e antirreumáticos. Os diversos fatores desencadeadores da ativação do LES
incluem o estrogênio, o tabagismo, as infecções (especialmente pelo vírus EpsteinBarr), o estresse físico ou psicológico,
a exposição à luz ultravioleta e a gravidez. Os sinais e sintomas do lúpus podem incluir tumefação articular, fadiga
extrema, úlceras orais, erupções cutâneas e sensibilidade à luz solar (Mohindra & Marwah, 2015). O lúpus é uma doença
complexa caracterizada por períodos de relativa inatividade e períodos de exacerbação da doença. O diagnóstico de LES
exige o achado de pelo menos 4 de 11 critérios do American College of Rheumatology que incluem exantema vermelho na
face, úlceras orais, fotossensibilidade, artrite, serosite, crises convulsivas, doença renal, alterações do peso corporal,
fadiga, anemia e teste positivo para anticorpos antinucleares (Wasserman & Clowse, 2014).
A incidência global de lúpus nos EUA é de 150 a cada 100 mil pessoas. O pico de início ocorre entre os 15 e 45 anos
de idade, com mais de 80% dos casos sendo diagnosticados em mulheres em idade fértil. O LES é mais comum em
indivíduos afroamericanos, afrocaribenhos, asiáticos, indígenas norteamericanos e hispânicos (Schur & Hahn, 2015).
Fisiopatologia
As respostas autoimunes na paciente com LES fazem com que o organismo não diferencie o “próprio” (self) do “não
próprio” (nonself), possibilitando assim que sejam formados anticorpos que atacam as células e as proteínas do próprio
corpo. Essa atividade causa a supressão da imunidade normal e danos aos tecidos do corpo. A resposta autoimune
inicialmente pode envolver um ou vários órgãos. Os sistemas de órgãos mais comumente envolvidos são o cardiovascular,
o tegumentar, o musculoesquelético, o nervoso, além dos rins e dos pulmões. Na gestação, a inflamação do tecido
conjuntivo da decídua pode resultar em problemas de implantação e disfunção da placenta (Bartels & Muller, 2015).
As mulheres com LES correm risco aumentado de desfechos adversos na gravidez e DCV. A gestação da portadora de
lúpus é propensa a complicações, incluindo exacerbações da atividade da doença durante a gestação ou no período pós
parto, préeclâmpsia, aborto, aborto espontâneo, morte fetal, restrição do crescimento fetal e parto prétermo. A nefrite
lúpica ativa representa o maior risco. O reconhecimento de uma crise lúpica durante a gestação pode ser difícil, porque os
sinais e sintomas podem mimetizar os de uma gestação normal (Singh & Chowdhary, 2015).
Conduta terapêutica
O foco do tratamento é controlar as exacerbações do LES, suprimir os sinais e sintomas e evitar danos em órgãosalvo. As
decisões de tratamento baseiamse na gravidade da doença e no envolvimento dos órgãos. O tratamento do LES na
gestação geralmente é limitado a AINE (p. ex., ibuprofeno), prednisona e a um agente antimalárico, a hidroxicloroquina.
Durante a gestação na mulher com LES, o objetivo é manter o tratamento medicamentoso no mínimo (King et al., 2015).
Avaliação de enfermagem
O momento no qual o enfermeiro entra em contato com a mulher em idade fértil determinará o foco da avaliação. Se a
mulher está considerando engravidar, recomendase que ela adie a concepção até que a doença tenha se mantido estável ou
em remissão por 6 meses. A doença ativa no momento da concepção e a história de doença renal aumentam a
probabilidade de um desfecho ruim da gestação (Cunningham et al., 2014). Em particular, se a gravidez for planejada
durante períodos de doença inativa ou estável, o resultado muitas vezes inclui dar à luz um neonato a termo saudável, sem
aumento dos riscos de complicações na gestação. No entanto, a gravidez, na maioria das doenças autoimunes, ainda é
classificada como sendo de alto risco, por causa do potencial de complicações graves. O aconselhamento preconcepcional
deve incluir os riscos clínicos e obstétricos de aborto espontâneo, natimortos, morte fetal, restrição do crescimento fetal,
préeclâmpsia, trabalho de parto prematuro e morte neonatal, além da necessidade de consultas mais frequentes para
monitorar sua condição (Hadar, Ashwal, & Hod, 2014).
Se a mulher já está grávida quando entra em contato com o enfermeiro pela primeira vez, o profissional precisa avaliar
o seguinte:
• Duração e existência de sinais e sintomas de LES (fadiga, febre, malestar, poliartrite, erupções cutâneas e
envolvimento de múltiplos órgãos)
• Evidências de anemia, trombocitopenia e trombofilias
• Doença renal subjacente (verifique se há proteína na urina e a densidade urinária)
• Sinais de exacerbação da doença de base
• Anormalidades nos exames laboratoriais
• Sinais de infecção (verifique em toda consulta prénatal, especialmente de infecção urinária e de infecção das vias
respiratórias superiores, visto que a prednisona mascara os sinais de infecção e baixa a resistência)
• Crescimento e bemestar fetais (verifique utilizando a ultrassonografia, as medições da altura do fundo do útero, as
cardiotocografias basais e os perfis biofísicos).
Conduta de enfermagem
O enfermeiro deve conversar com a paciente sobre a importância de ter um bom controle sobre a condição de seu LES
durante a gestação. As conversas devem se concentrar nos efeitos do LES durante a gestação e possível risco de
exacerbações. Enfatize a importância das consultas prénatais frequentes para detectar precocemente a préeclâmpsia, o
trabalho de parto prematuro ou as infecções. As orientações devem abordar as implicações e potenciais efeitos colaterais
de todos os fármacos prescritos. Ensine técnicas de conservação de energia para evitar a fadiga, os sinais e sintomas que
precisam ser relatados (fadiga extrema, edema, confusão mental, dor abdominal, perda de peso, dor nas pernas, anorexia)
e a necessidade de monitoramento frequente e atento do bemestar fetal.
Após o parto, é essencial realizar uma discussão sobre o controle de natalidade e os efeitos dos diversos métodos
contraceptivos na doença. O encaminhamento a grupos de autoajuda e organizações locais e nacionais de LES é importante
para fornecer orientações adicionais à mulher e sua família.
O LES pode complicar muito a gestação se não for mantida uma supervisão atenta. Essenciais ao bom desfecho para a
mãe e seu recémnascido são a avaliação acurada da doença e dos diversos sistemas envolvidos e a vigilância da
progressão da doença, dos efeitos sobre o feto e do desenvolvimento de complicações durante a gestação. O cuidado de
enfermagem deve ser dirigido para a detecção precoce dos sinais e sintomas problemáticos, para a orientação da gestante e
de seus familiares, para a avaliação cuidadosa da condição fetal e para o suporte da mãe de modo a fortalecer suas
estratégias de enfrentamento.
Esclerose múltipla
A esclerose múltipla é uma doença inflamatória crônica desmielinizante autoimune do sistema nervoso central. A
Multiple Sclerosis Association of America [MSAA] (2015) estima que cerca de 400 mil pessoas nos EUA tenham
esclerose múltipla. É mais comum em mulheres do que em homens, e a idade média de início é aos 30 anos.
Aproximadamente 2,5 milhões de indivíduos são afetados em todo o mundo. Não há cura para a doença, que geralmente se
torna uma condição crônica (2015).
Na fase inicial inflamatória da esclerose múltipla, as células T autorreativas atravessam a barreira hematencefálica,
atacando as proteínas da mielina e levando a inflamação e desmielinização. À medida que o processo inflamatório
continua, provoca lesões repetidas na membrana mielínica, com neurodegeneração progressiva. A característica
histopatológica da esclerose múltipla pode ser descrita como inflamação multicêntrica e multifásica do sistema nervoso
central com consequente desmielinização (Armon et al., 2015).
A esclerose múltipla não complicada não exerce efeitos adversos sobre a fertilidade, o trabalho de parto ou o parto. As
taxas de aborto espontâneo, anomalias congênitas e mortalidade fetal não são maiores nas mulheres com esclerose múltipla
do que em mulheres da população em geral (Vukusic & Marignier, 2015). Não há indicação de que as mulheres com
esclerose múltipla precisem de cuidados ou tratamento diferente durante o processo de trabalho de parto e parto. As
gestantes com esclerose múltipla tendem a ter menos recidivas durante a gestação, com um subsequente aumento na
atividade da doença nos primeiros 3 meses após o parto. O aleitamento materno não parece influenciar a gravidade ou a
frequência das exacerbações ou a saúde das mães e já foi demonstrado que reduz as taxas de recaída de esclerose múltipla
durante os 6 primeiros meses após o parto (Walker, 2014). A amamentação deve ser encorajada, desde que a mulher não
esteja sendo tratada com agentes modificadores da doença.
As manifestações clínicas da esclerose múltipla podem ser semelhantes aos sinais e sintomas comumente relacionados
com a gestação, especialmente fadiga, fraqueza, constipação intestinal, aumento da frequência urinária, problemas de
equilíbrio, dorsalgia e alterações visuais. A semelhança dos sinais e sintomas torna difícil distinguir quaisquer sintomas
que possam se desenvolver durante uma gestação já estabelecida do processo dessa doença. Esses sintomas devem ser
analisados com cuidado para avaliar se há exacerbações da esclerose múltipla (Novotna & Ehler, 2014).
O foco do tratamento na esclerose múltipla é evitar recidivas clínicas e adiar a neurodegeneração e a subsequente
incapacidade. Os fármacos atuais incluem antiinflamatórios, imunossupressores, imunomoduladores/agentes biológicos e
diversas terapias alternativas complementares, como a suplementação de vitaminas/minerais, homeopatia, produtos
botânicos e antioxidantes. Não foi comprovado que as terapias complementares ou alternativas reduzam as taxas de
recidiva ou a progressão da doença, mas muitos doentes com esclerose múltipla recorrem a elas (King et al., 2015). A
maioria dos fármacos utilizados no tratamento de esclerose múltipla não é aprovada pela FDA para uso durante a gestação,
mas muitos têm sido utilizados e não mostraram ter efeitos adversos.
O cuidado de enfermagem é semelhante ao descrito anteriormente para o LES. A necessidade de apoio nesse momento
de mudança de vida é fundamental. A continuidade do cuidado, o acesso à informação personalizada de acordo com suas
necessidades, quando solicitado pela mulher ou sua família, e um ponto de contato são aspectos importantes do cuidado de
enfermagem.
Artrite reumatoide
A artrite reumatoide (AR) é caracterizada pela inflamação das articulações e pela incapacidade progressiva e é uma das
doenças crônicas autoimunes mais comuns. Predomina em mulheres, comumente afetando pacientes em idade fértil e
podendo complicar uma gestação. A AR afeta principalmente as articulações sinoviais e os tecidos das mãos e dos pés,
mas qualquer articulação pode ser envolvida. Ao longo do tempo, os ossos e as cartilagens são danificados pelo processo
de inflamação crônica, o que resulta em deformação das articulações e perda de função. A progressão da doença e a
consequente incapacidade são imprevisíveis.
Afeta cerca de 1,3 milhão de adultos nos EUA. Ocorre em quase todas as regiões geográficas e em todos os grupos
étnicos. A doença geralmente se manifesta entre os 30 e 50 anos de idade e afeta duas vezes mais mulheres do que homens
(American College of Rheumatology, 2015). A evolução da AR durante a gestação geralmente é benigna. Em
aproximadamente 75% das gestações, os sinais e sintomas da doença melhoram. Nesses casos, a maioria das mulheres
sente alívio no primeiro trimestre, que continua ao longo da gestação. Para muitas mulheres com AR, a gestação pode
proporcionar alívio da dor e inflamação articular a longo prazo, mas outras não terão remissão e continuarão precisando de
medicação. A AR não afeta negativamente o desfecho da gestação. Com exceções pontuais, a doença retorna entre o
terceiro e o quarto mês após o parto (Strangfeld et al., 2015).
Os indivíduos com AR geralmente manifestam dor, tumefação e sensibilidade nas articulações; diminuição da
mobilidade; e rigidez após períodos de inatividade. O tratamento da AR centrase na redução da inflamação articular, no
controle da dor e na prevenção da destruição articular. As categorias de fármacos usados para alcançar esses objetivos são
os AINE, glicocorticoides, hidroxicloroquina, metotrexato, agentes imunomoduladores/biológicos e terapias alternativas
complementares, como fisioterapia, exercícios, acupuntura e imobilização articular para aliviar a dor. Durante a gestação,
os medicamentos são limitados a hidroxicloroquina, glicocorticoides e AINE. Metotrexato é um agente citotóxico
(interfere no metabolismo do ácido fólico) e é contraindicado durante a gravidez (King et al., 2015). Aconselhamento
preconcepcional e avaliação de risco meticulosa são cruciais para as mulheres com AR. Os títulos dos anticorpos séricos e
todos os medicamentos precisam ser revistos antes da gravidez. A manutenção de níveis baixos de doença antes e durante
a gravidez é crucial para a obtenção de desfechos ótimos.
Os cuidados de enfermagem devem abordar a teratogenicidade (a capacidade de causar defeitos congênitos) e os efeitos
adversos de alguns fármacos usados para tratar a AR. As mulheres com AR têm de ser cuidadosamente monitoradas após
o parto, porque a maioria provavelmente terá episódios de artrite durante o período pósparto. O cuidado de enfermagem
em geral é semelhante ao descrito para a gestante de baixo risco. Os enfermeiros que atendem mulheres com alguma
incapacidade (física ou cognitiva) em geral precisam fornecer orientações em nível apropriado a todas as questões de saúde
reprodutiva e melhor acesso aos cuidados de saúde. A incapacidade específica da mulher, seus recursos e sua abordagem à
gestação e ao parto ajudam a moldar sua experiência. O enfermeiro pode ser útil em tornar a experiência da mulher um
momento memorável e positivo em sua vida. Os cuidados à mulher com necessidades especiais devem ser bem planejados
e coordenados, garantindo que toda a documentação das necessidades e preocupações da mulher esteja prontamente
disponível a todos os funcionários envolvidos em seu cuidado. Todos os membros da equipe de saúde devem estar
envolvidos no plano de cuidado e mantidos atualizados em relação a qualquer alteração. É essencial que o enfermeiro
facilite o cuidado assegurando sua continuidade durante a experiência de gestação e parto da mulher (Ostensen, 2014).
INFECÇÕES
Diversas infecções podem afetar a progressão da gestação, possivelmente tendo um impacto negativo sobre o desfecho. O
efeito da infecção depende do tempo e da gravidade da infecção e dos sistemas corporais envolvidos. As infecções virais
mais comuns incluem citomegalovírus, rubéola, herpes simples, hepatite B, varicela, parvovírus B19 e várias
infecções/doenças sexualmente transmissíveis (IST/DST; Tabela 20.4). Toxoplasma gondii e os estreptococos do grupo B
são causas comuns de infecções não virais. Apenas as infecções mais comuns serão discutidas aqui.
Citomegalovírus
O citomegalovírus (CMV) infecta mais de 50% da população humana. Os seres humanos são os únicos hospedeiros
conhecidos do CMV, que é transmitido por líquidos corporais. Estimase que, em todo o planeta, a prevalência ao
nascimento seja de 7 por 1.000 com as taxas mais elevadas sendo encontradas em países em desenvolvimento. É,
tipicamente, assintomática na maioria dos indivíduos. O citomegalovírus (CMV) é a causa de infecção congênita e
perinatal mais comum no mundo (Figura 20.4). É a principal causa de infecção congênita, resultando em morbidade e
mortalidade ao nascimento e sequelas. A cada ano, cerca de 1 a 7% das gestantes contraem uma infecção primária por
CMV (Kovacs & Briggs, 2015). Destas, cerca de 30 a 40% transmitem a infecção para seus fetos. O risco de lesão fetal
grave é maior quando a infecção materna se desenvolve no primeiro trimestre ou no início do segundo trimestre. Entre 10
e 15% das crianças infectadas congenitamente têm sinais e sintomas agudos por ocasião do nascimento, e a maioria dos
sobreviventes tem graves complicações a longo prazo (March of Dimes, 2015d). É uma das principais causas de perda
auditiva e déficit intelectual nos EUA. Como resultado dos substanciais encargos da doença, nos EUA a infecção
congênita por CMV está associada a um gasto direto de cerca de US$ 1 a 2 bilhões a cada ano. No entanto, tem havido
algum progresso no desenvolvimento de intervenções para evitar ou tratar a infecção por CMV (Bialas, Swamy, &
Permar, 2015). As gestantes contraem a doença ativa principalmente pelo contato sexual, transfusão de sangue, beijo e
contato com crianças em creches. O CMV também pode ser transmitido por transmissão vertical intrauterina de mãe para
filho (causando o CMV congênito), durante o parto ou por meio da amamentação. O vírus pode ser encontrado em
praticamente todos os líquidos corporais. As taxas de prevalência em mulheres nos EUA variam de 50 a 85% (CDC,
2015e). Nos EUA, cerca de 1 em cada 60 pessoas apresenta soroconversão a cada ano. Embora prevalente na população
nos EUA, a transmissão interpessoal do CMV não é fácil. A incidência de infecção primária pelo CMV em gestantes nos
EUA varia de 1 a 4% (CDC, 2015e). A infecção por CMV durante a gravidez pode resultar em aborto, baixo peso ao
nascimento, natimortalidade, microcefalia, restrição do crescimento intrauterino, surdez, cegueira, déficit intelectual,
icterícia ou infecção congênita ou neonatal. A primeira infecção (infecção primária), se ocorrer durante a gravidez, é a
mais perigosa para o feto: a chance de o feto ser infectado é de 30 a 40%.
Tabela 20.4 Infecções/doenças sexualmente
transmissíveis que afetam a gestação.
A mãe é tratada
com 125 mg de
ceftriaxona IM
(dose única)
antes da alta
para casa
A infecção é
transmitida ao
recémnascido
durante o parto
vaginal
O recémnascido
pode desenvolver
conjuntivite ou
pneumonia
A infecção está
associada a
ruptura prematura
de membranas e
parto prétermo
Adaptada de King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O., Gegor,
C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s midwifery (5th ed.). Burlington, MA:
Jones & Bartlett Learning; Kumar, B., & Gupta, S. (2014). Sexually
transmitted infections (2nd ed.). Philadelphia, PA: Elsevier Health
Sciences; e Centers for Disease Control and Prevention [CDC].
(2015r). Sexually transmitted diseases. Retirada de http://www.cdc.gov/std/.
FIGURA 20.4 Aparência da criança com CMV congênito com estigmas da doença, incluindo erupção cutânea
petequial, microcefalia, icterícia e postura anormal dos membros superiores secundária a lesão do SNC.
Há três períodos nos quais a transmissão maternoinfantil pode ocorrer: no útero, durante o parto e após o nascimento.
No entanto, a deficiência permanente só ocorre em associação com a infecção intrauterina. Essa deficiência pode resultar
da infecção materna durante qualquer momento da gestação, mas deficiências mais graves habitualmente estão associadas à
infecção materna durante o primeiro trimestre.
A maioria das mulheres é assintomática e não sabe que foi exposta ao CMV. Os sinais e sintomas de CMV no feto e
no recémnascido, conhecidos como doença de inclusão citomegálica, incluem hepatomegalia, trombocitopenia, restrição
do crescimento intrauterino, icterícia, microcefalia, perda auditiva, coriorretinite e déficit intelectual. Recémnascidos
assintomáticos podem apresentar sequelas neurodesenvolvimentais tardias e a perda auditiva neurossensorial é a condição
mais comum (Silasi et al., 2015). Nos EUA o rastreamento prénatal de infecção por CMV não é rotineiramente realizado.
Infelizmente ainda não foi desenvolvida uma vacina preventiva. Visto que não há tratamento para evitar ou tratar infecções
por CMV, o enfermeiro é responsável por orientar e apoiar as mulheres em idade fértil em risco de infecção por CMV.
Ressalte a importância de realizar a correta higiene das mãos e utilizar boas práticas de higiene que ajudam a reduzir a
transmissão do vírus. Algumas diretrizes de higiene específicas para gestantes incluem o seguinte:
• Lavar as mãos com água e sabão com frequência e usar luvas, especialmente depois de trocar fraldas, alimentarse,
assoar o nariz ou salivar e manusear brinquedos de crianças
• Não compartilhar copos, pratos, utensílios, alimentos nem escovas de dente
• Não compartilhar toalhas nem mantas
• Não colocar a chupeta da criança em sua boca
• Limpar brinquedos, bancadas e outras superfícies que entram em contato com urina ou saliva das crianças
• Adotar a prática de sexo seguro, inclusive limitando o número de parceiros sexuais e atentando ao uso constante de
preservativos.
Rubéola
A rubéola é transmitida por gotículas ou por meio do contato direto com um objeto contaminado. O risco de a gestante
transmitir o vírus através da placenta para o feto aumenta com a exposição prévia ao vírus. Quando a infecção ocorre
durante o primeiro mês após a concepção, 50% dos fetos apresentam sinais de infecção; no segundo mês após a
concepção, 25% dos fetos serão infectados; e, no terceiro mês, 10% dos fetos serão afetados. A rubéola congênita pode se
manifestar com uma ampla gama de sinais/sintomas no recémnascido, inclusive catarata congênita, glaucoma, defeitos
cardíacos, microcefalia e déficits auditivos e intelectuais (Jyoti, Shirke, & Matalia, 2015).
Os cuidados preconcepcionais têm sido definidos como um conjunto de intervenções destinadas a identificar e
modificar os riscos à saúde da mulher ou ao desfecho da gestação por meio da prevenção e do tratamento. Esse cuidado
deve ser fornecido em qualquer momento, por qualquer profissional de saúde que atenda uma mulher em idade fértil.
Devem ser reavaliados histórias patológica pregressa e familiar, achados do exame físico, exames laboratoriais,
planejamento familiar, nutrição, uso de suplementos, peso corporal, prática (ou não) de exercícios físicos, vacinação e
prevenção de lesões em todas as mulheres. Devese incentivar o consumo de 400 mcg de ácido fólico por dia, assim como
a dieta adequada e a prática de exercícios físicos. As mulheres devem receber vacina antigripal se estiverem planejando
engravidar durante a temporada de gripe; assim como vacinas contra a rubéola e a varicela, se não houver evidências de
imunidade para esses vírus; e vacinas contra o tétano/difteria/coqueluche, se não foram vacinadas quando adultas
(Lambert et al., 2015).
As orientações são fundamentais para a prevenção primária. De modo ideal, todas as mulheres foram vacinadas e têm
imunidade adequada contra a rubéola. No entanto, todas as gestantes ainda são rastreadas em sua primeira consulta pré
natal para determinar se estão ou não imunizadas. Um título de anticorpos da rubéola maior ou igual a 1:8 comprova a
imunidade. As mulheres que não estão imunizadas devem ser vacinadas durante o período pósparto imediato, para que
estejam imunes antes de engravidar novamente (Agent, 2015). O enfermeiro precisa verificar a imunidade à rubéola de
todas as novas mães e deve se certificar de que todas aquelas com um título de menos de 1:8 sejam imunizadas antes da
alta, após o nascimento do recémnascido.
Herpesvírus simples
O herpes genital é uma infecção sexualmente transmitida causada pelo herpesvírus simples (HSV) do tipo 1 ou do tipo 2.
Os dois tipos de HSV podem casar infecções genitais, embora nos últimos anos o HSV1 tenha se tornado a causa
predominante de herpes genital. Aproximadamente 45 milhões de pessoas estão infectadas com herpes genital nos EUA e
1,5 milhão de casos novos são diagnosticados a cada ano, inclusive 1.500 recémnascidos. A infecção neonatal por HSV
não tratada está associada a uma taxa de mortalidade de 60% e os sobreviventes apresentam incapacidade considerável
(Ural, 2015). Apesar das estratégias elaboradas para evitar a transmissão perinatal, o número de casos de infecção neonatal
por HSV continua aumentando. Isso é um reflexo da prevalência crescente de herpes genital nas mulheres em idade fértil
(Figura 20.5) (James & Kimberlin, 2015).
O HSV é um vírus de DNA com os dois subtipos: HSV1 e HSV2. As infecções por HSV1 eram tradicionalmente
associadas a lesões orais (herpes oral), enquanto as infecções por HSV2 ocorriam na região genital. Atualmente, os dois
tipos de HSV podem ser encontrados nos dois locais, mas HSV1 é a causa predominante de herpes genital (Ural, 2015).
FIGURA 20.5 Recémnascido com infecção disseminada pelo herpesvírus simples (HSV). Observe as ulcerações
em fase de cicatrização no abdome do recémnascido. De Sweet RL, Gibbs RS. (2009). Infectious diseases of the
female genital tract (5th ed.). Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins.
A infecção ocorre por contato direto com a pele ou a mucosa com uma lesão ativa por meio de atividades como beijos,
contato sexual (vaginal, anal ou oral) ou contato pele com pele rotineiro. O HSV é associado a infecções do sistema genital
que, quando contraídas durante a gestação, podem resultar em manifestações sistêmicas graves na mãe e morbidade e
mortalidade em recémnascidos. Além disso, pode causar aborto espontâneo, anomalias congênitas, restrição do
crescimento intrauterino ou trabalho de parto prematuro. A taxa de mortalidade pode ser de 60% se a exposição neonatal
for com uma infecção primária ativa (Silasi et al., 2015). Uma vez que o vírus entra no corpo, nunca sai.
Os filhos de mulheres com infecção primária por HSV correm um risco de 30 a 50% de contrair a infecção por meio
da transmissão perinatal no momento do nascimento ou próximo a ele. A infecção genital por HSV recorrente implica um
risco de 1 a 3% de infecção neonatal se a recorrência acontecer próximo do momento do parto vaginal (March of Dimes,
2015e). Cerca de 1 em cada 4 gestantes apresenta herpes genital, embora a maioria delas não saiba disso. Felizmente,
apenas uma pequena parcela dessas gestantes passa a infecção para seus recémnascidos (March of Dimes, 2015e).
O maior risco de transmissão é quando a gestante desenvolve uma infecção primária próximo do termo e esta não é
detectada. A maioria das infecções neonatais é contraída no momento do nascimento ou próximo a ele, seja por infecção
ascendente após a ruptura de membranas ou pelo contato com o vírus no momento do nascimento. O método e a
cronologia do parto na mulher com herpes genital são motivo de controvérsia. O CDC (2015f) recomenda que, na ausência
de lesões ativas, o parto vaginal é aceitável, mas, se a mulher tiver lesões herpéticas ativas a termo ou próximo do termo,
podese planejar uma cesariana. Todos os procedimentos invasivos que possam causar ruptura na pele do recémnascido
devem ser evitados, como a ruptura artificial de membranas, a colocação de eletrodos no couro cabeludo fetal ou a
extração a fórceps e vacuoextrator (Jordan et al., 2014).
O tratamento para a mulher com herpes genital durante a gestação envolve cuidados gerais, bem como a redução do
risco de herpes neonatal. Alguns médicos prescrevem medicamentos antivirais profiláticos para evitar um episódio ativo
por ocasião do parto. Nenhum tratamento consegue erradicar o HSV; essa infecção crônica é conhecida pela sua frequente
excreção viral assintomática. Como a maioria dos casos de herpes neonatal resulta da transmissão perinatal do vírus
durante o parto vaginal, e como a transmissão pode resultar em comprometimento neurológico grave ou morte, o
tratamento da mãe com um agente antiviral, como o aciclovir, precisa ser iniciado tão logo o resultado da cultura se revele
positivo. Desde o início da adoção do aciclovir, foram introduzidos antivirais mais modernos de segunda geração (p. ex.,
valaciclovir e fanciclovir), que estão disponíveis (King et al., 2015). O uso de preservativos e medicamentos antivirais
ajuda na prevenção da transmissão. Atualmente, as evidências não apoiam o rastreamento sorológico rotineiro do HSV em
gestantes assintomáticas (Workowski & Bolan, 2015), portanto, os profissionais de enfermagem precisam conhecer a
prática atual de modo a prestar cuidados acurados e delicados para todas as mulheres. Apesar do impulso dado à pesquisa
de uma vacina, infelizmente ainda não existe vacina contra HSV disponível.
Vírus da hepatite B
O vírus da hepatite B (HBV) é responsável por uma das doenças crônicas mais prevalentes no mundo. Tratase de um
problema de saúde pública global sério, sobretudo na Ásia, na África, na Europa Oriental e na América Latina. Já infectou
cerca de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo, dos quais mais de 350 milhões estão cronicamente infectados. A doença
hepática potencialmente fatal (cirrose, insuficiência hepática e carcinoma hepatocelular) ocorre em até 40% das pessoas
com hepatite B. A infecção pelo HBV provoca cerca de 5 mil mortes por ano nos EUA (Contag & Arrabal, 2015). O HBV
pode ser transmitido por meio do sangue contaminado, uso de drogas ilícitas e contato sexual. O vírus é 100 vezes mais
infeccioso do que o HIV e, ao contrário deste, consegue viver fora do corpo no sangue seco por mais de 1 semana
(Salman et al., 2015).
A transmissão sexual é responsável pela maioria das infecções por HBV em adultos nos EUA. As mulheres com
infecção aguda desenvolvem hepatite com anorexia, náuseas, vômitos, febre, dor abdominal e icterícia. Nas gestantes com
hepatite B aguda, a transmissão vertical ocorre em aproximadamente 10% dos recémnascidos quando a infecção ocorre
durante o primeiro trimestre e em 80 a 90% de neonatos quando ocorre no terceiro trimestre. Sem intervenção, 40% dos
recémnascidos de mulheres que são positivas para hepatite B terão hepatite B crônica aos 6 meses de idade (CDC,
2015g). Além disso, a infecção pelo vírus da hepatite B (HBV) durante a gestação está associada a aumento do risco de
parto prétermo, sofrimento fetal durante o trabalho de parto, peritonite meconial, baixo peso ao nascimento e morte
neonatal. Os recémnascidos infectados com HBV provavelmente se tornarão portadores crônicos do vírus, tornandose
reservatórios para infecção continuada na população (CDC, 2015g). O feto corre risco sobretudo durante o parto, em
virtude do possível contato com sangue contaminado nesse momento.
O CDC (2015g) recomenda que todas as gestantes devem ser testadas para o antígeno de superfície do vírus da
hepatite B (HBsAg), independentemente de vacinação ou rastreamento prévio para HBV. Os filhos de mães HBsAg
positivas devem receber a vacina contra o HBV de antígeno único e a imunoglobulina contra a hepatite B (IGHB) nas
primeiras 12 horas após o nascimento. Recomendase completar o calendário vacinal com vacinação contra o HBV com 1
ano e 6 meses de idade (CDC, 2015g). Há cada vez mais publicações apoiando a segurança e a eficácia das terapias
antivirais administradas no terceiro trimestre de gravidez para redução da transmissão vertical do HBV (da mãe para o
feto), contudo, até o momento não há recomendações formais (Lamberth et al., 2015).
Avaliação de enfermagem
Reveja a anamnese da gestante para fatores que a colocam em alto risco:
• Relato de contato domiciliar com pessoas infectadas pelo HBV
• Emprego como profissional da saúde
• Uso abusivo de drogas ilícitas injetáveis
• Prostituição
• Estrangeira
• Múltiplos parceiros sexuais
• Origem da China, Sudeste Asiático ou África
• Parceiros sexuais infectados pelo HBV (CDC, 2015g).
Na primeira consulta prénatal, todas as gestantes devem ser rastreadas para HBsAg via exames de sangue, mesmo
que tenham sido previamente vacinadas ou testadas. Espere repetir esse rastreamento em uma fase mais avançada da
gestação para mulheres de grupos de alto risco (Park & Pan, 2014).
Conduta de enfermagem
Se a mulher tiver um teste positivo para HBV, espere administrar imunoglobulina antihepatite B (IGHB, HepB
Gammagee®). O recémnascido também receberá vacina contra o HBV (RecombivaxHB®, EngerixB®) nas primeiras 12
horas após o nascimento. A segunda e a terceira doses da vacina são administradas com 1 e 6 meses de idade (CDC,
2015g). O CDC recomenda a vacinação de rotina de todos os recémnascidos.
As mulheres que são HBsAgnegativas podem ser vacinadas com segurança durante a gestação. Nenhuma pesquisa
atual apoia o uso de partos cirúrgicos para reduzir a transmissão vertical do HBV. A amamentação por mães com hepatite
B crônica não aumenta o risco de transmissão do vírus aos seus recémnascidos. A infecção crônica por HBV também não
é contraindicação ao aleitamento materno, a menos que a mulher esteja em uso de medicação antiviral e apresente
sangramento nos mamilos.
As mulheres que apresentam sangramento nos mamilos devem se abster de amamentar seus filhos até que os mamilos
tenham cicatrizado (Jhaveri, 2015).
É essencial orientar a paciente em relação à prevenção da infecção pelo HBV. Oriente a mulher sobre a prática de sexo
seguro, boas técnicas de higiene das mãos e uso de precauções padrão (Diretrizes de ensino 20.4). Proteção pode ser
conferida pela altamente efetiva vacina contra a hepatite B.
Diretrizes de ensino 20.4
Orientações para evitar a progressão do vírus da hepatite B (HBV)
• Absterse do consumo de bebidas alcoólicas e fármacos potencialmente hepatotóxicos
• Evitar a exposição a drogas ilícitas intravenosas ou o compartilhamento de agulhas
• Incentivar todos os contactantes domiciliares e parceiros sexuais a receberem a vacina
• Receber tratamento imediato para quaisquer IST/DST
• Saber que o recémnascido receberá vacina contra a hepatite B logo após o nascimento
• Utilizar boas técnicas de higiene das mãos em todos os momentos
• Evitar o contato com sangue ou líquidos corporais
• Utilizar métodos de barreira, como preservativos, durante a relação sexual
• Não compartilhar quaisquer itens pessoais, como lâminas de barbear, escovas de dente ou utensílios
de cozinha
• Informar todos os profissionais de saúde sobre o fato de ser portador de HBV
Mesmo com o tratamento, a remissão permanente da doença raramente ocorre. Portanto, o tratamento visa à supressão
a longo prazo da replicação viral e à prevenção da doença hepática terminal. Incentive a mulher a ingerir uma dieta
hiperproteica e evitar a fadiga. Um estilo de vida saudável pode ajudar a retardar a progressão da doença. Inicie uma
conversa aberta sobre os modos de transmissão e o uso de preservativos para evitar a disseminação.
Varicelazóster
O vírus varicelazóster (VZV) pertence à família dos herpesvírus (um de oito). O VZV provoca varicela (catapora) e
herpeszóster. A infecção primária pelo VZV provoca varicela e se torna latente nos gânglios da raiz dorsal. A reativação
do VZV provoca herpeszóster, comumente chamado cobreiro. O herpeszóster pode ocorrer quando a resposta imune
contra o vírus diminui, geralmente quando a pessoa envelhece.
As gestantes correm maior risco de desenvolver varicela quando em contato próximo com crianças que têm a infecção
ativa. A varicela ocorre o ano inteiro, contudo, a incidência é mais elevada durante os meses do inverno e da primavera. A
varicela materna pode ser transmitida para o feto através da placenta. Isso leva à síndrome de varicela congênita se a mãe
for infectada durante a primeira metade da gestação, por infecção ascendente durante o parto ou pelo contato direto com
lesões infecciosas, levando à infecção após o nascimento. A varicela ocorre em aproximadamente 1/1.000 gestações
(Charlier et al., 2014).
A síndrome de varicela congênita pode ocorrer em recémnascidos de mulheres infectadas durante o início da gestação.
Estimase que a taxa de transmissão vertical esteja entre 2 e 10%. É caracterizada por baixo peso ao nascimento, lesões
cutâneas na distribuição de um dermátomo, aborto espontâneo, coriorretinite, catarata, restrição do crescimento fetal,
retardo do desenvolvimento, fibrose cutânea, hipoplasia dos membros, microcefalia, alterações oculares, déficit intelectual
e morte prematura (Swamy & Heine, 2015).
O aconselhamento preconcepcional é importante para evitar essa condição. Um componente importante do
aconselhamento envolve determinar a imunidade da mulher à varicela. A vacinação é parte crucial da prevenção. É
administrada vacina, se necessário. A vacina contra a varicela é uma vacina viral viva atenuada. Deve ser administrada a
todos os adultos e adolescentes de 13 anos ou mais que não tenham evidências de imunidade contra a varicela (King et al.,
2015). Ofereça orientações às mulheres que trabalham em ocupações que aumentem o risco de exposição ao vírus, como
funcionárias de creches, professoras de crianças pequenas e funcionárias que cuidem de crianças em contextos
institucionais.
A varicela durante a gestação pode estar associada a doenças graves, tanto para a mãe quanto para seu recémnascido.
Se contraída no primeiro semestre de gestação, algumas gestantes correm risco de desenvolver pneumonia por varicela, o
que pode colocála em risco de comprometimento respiratório potencialmente fatal e morte. O risco de pneumonia por
varicela parece aumentar durante a gestação (Zhang, Patenaude, & Abenhaim, 2014). Se a mãe desenvolver erupções
cutâneas tipo varicela perto da data estimada para o nascimento, podese esperar a ocorrência de varicela neonatal
generalizada que leva à morte em cerca de 20% dos casos (Jordan et al. 2014).
Parvovírus B19
A infecção pelo parvovírus B19, muitas vezes referida como quinta doença, ocorre em todo o mundo e é extremamente
comum. A maioria das pessoas infectadas é assintomática. A incidência da infecção aguda por B19 durante a gestação é de
cerca de 3%. Aproximadamente 30 a 50% das gestantes não são imunes, e a transmissão vertical é comum após a infecção
da mãe durante a gestação. A infecção fetal pode estar associada a um desfecho normal, mas a morte fetal também pode
ocorrer sem evidências ultrassônicas de sequelas infecciosas (Desai & Brustman, 2014). A infecção pelo parvovírus B19 é
autolimitada e benigna, frequente na infância, denominada eritema infeccioso ou quinta doença da infância (em referência
ao “quinto lugar” em uma lista de infecções comuns da infância). Aproximadamente 65% das mulheres em idade fértil
desenvolveram imunidade ao parvovírus B19. A infecção pelo parvovírus B19 ocorre em uma de cada 400 gestantes, mas
na maioria dos casos não há efeitos adversos. Os efeitos adversos podem incluir aborto espontâneo e anemia fetal grave.
Não existe tratamento para a gestante com infecção pelo parvovírus B19 (Malee, 2015).
Fisiopatologia
A infecção é transmitida por via transplacentária, por via orofaríngea em contato casual e por meio do sangue infectado. A
infecção do feto ocorre pela passagem transplacentária do vírus. A infecção aguda na gravidez pode causar infecção fetal
por parvovírus B19, resultando em hidropisia fetal não imune (acúmulo anormal importante de líquido em dois ou mais
compartimentos fetais, inclusive ascite, derrame pleural, derrame pericárdico e edema cutâneo) secundária à anemia grave
ou morte fetal, dependendo da idade gestacional por ocasião da infecção. O risco para o feto é maior quando a mulher é
exposta e infectada nas primeiras 20 semanas de gestação. Além da hidropisia, outros efeitos fetais do parvovírus B19
incluem aborto espontâneo, anomalias congênitas (do sistema nervoso central, craniofaciais e oculares) e efeitos a longo
prazo, como insuficiência hepática, miocardite e dificuldades de aprendizagem (Edwards, 2014). A infecção fetal pelo
parvovírus B19 também está associada a morte fetal intrauterina, hidropisia fetal não imune, trombocitopenia, miocardite e
manifestações neurológicas. A infecção fetal também pode passar despercebida clinicamente (Suliman & Seopela, 2015).
Conduta terapêutica
Geralmente, o diagnóstico da parvovirose é baseado nos sinais e sintomas clínicos e nas provas sorológicas (pesquisa de
anticorpos imunoglobulina G [IgG] e imunoglobulina M [IgM] contra o parvovírus). A infecção por parvovírus B19 é
seguida por imunidade pelo resto da vida, que é demonstrada pelo achado de IgG contra o parvovírus B19 no soro. As
gestantes que foram expostas ou que desenvolveram sinais e sintomas de infecção pelo parvovírus B19 precisam ser
avaliadas para determinar se são suscetíveis à infecção (não imunes). Se a mulher for imune, pode ser tranquilizada de que
não vai desenvolver a infecção e que o vírus não afetará negativamente a gestação. Se ela não for imune, recomendase
então o encaminhamento a um perinatologista, sendo necessário aconselhamento em relação aos riscos de transmissão
fetal, aborto e hidropisia. O conhecimento de qual a melhor maneira de lidar com essa infecção durante a gestação fica
bem aquém da nossa compreensão das possíveis consequências adversas.
A infecção intrauterina por B19 é uma causa de anemia fetal, hidropisia e morte, e talvez também de anomalias
congênitas. A melhor estratégia para a vigilância da gestante infectada são ultrassonografias seriadas para a detecção de
alterações hidrópicas e anemia fetal, e o tratamento da anemia fetal grave. Defendese a realização de ultrassonografias
seriadas porque as taxas de morte fetal e complicações alcançam seu ápice 4 a 6 semanas após a exposição, mas podem
ocorrer tão tardiamente quanto 3 meses após o início dos sintomas. Avaliase o recémnascido infectado à procura de
qualquer anomalia, acompanhandoo até os 6 anos de idade para identificar quaisquer sequelas (Smith, 2015).
Avaliação de enfermagem
Revise a anamnese da mãe à procura de quaisquer fatores de risco. As professoras, funcionárias de creches e mulheres que
convivem com crianças em idade escolar correm maior risco de serem soropositivas para o parvovírus B19, especialmente
se tiver ocorrido um surto recente nessas instituições. Avalie também se a mulher apresenta sinais e sintomas específicos.
A erupção cutânea característica começa na face, com uma aparência de “face esbofeteada, parecendo ter levado um tapa”,
e é seguida por uma erupção maculopapular generalizada. Habitualmente, a mãe apresenta febre, artralgia e malestar
generalizado. Prepare a mulher para a pesquisa de anticorpos.
Conduta de enfermagem
A prevenção é a melhor estratégia. Saliente a necessidade de fazer a higiene das mãos após o manuseio de crianças; lavar
brinquedos e limpar superfícies que entraram em contato com crianças; e evitar compartilhamento de alimentos e bebidas.
O rastreamento do parvovírus B19 durante o início da gestação pode ajudar no diagnóstico precoce, mas a relação custo
efetividade de um programa de rastreamento nacional não foi aceita até o momento nos EUA. Em caso de exposição, o
enfermeiro pode fornecer informações sobre os fatores de risco e potenciais complicações, apoiando a decisão dos pais.
Estreptococos do grupo B
O estreptococo do grupo B (EGB) é uma bactéria que ocorre naturalmente, encontrada em cerca de 50% dos adultos
saudáveis. As mulheres com teste positivo para EGB são consideradas portadoras. O estado de portador é transitório e não
indica doença. Aproximadamente 25% das gestantes carreiam o EGB no reto ou na vagina, trazendo assim o risco de
colonização do feto durante o nascimento. O EGB afeta cerca de 1 em cada 2 mil recémnascidos nos EUA (March of
Dimes, 2015f). Aproximadamente 1 em cada 100 a 200 recémnascidos de mães que carreiam o EGB desenvolverão sinais
e sintomas da doença por EGB. Embora a infecção pelo EGB raramente seja grave em adultos, é potencialmente fatal para
os recémnascidos. O EGB é a causa mais comum de sepse e meningite em neonatos e é uma causa frequente de
pneumonia no recémnascido (Puopolo, Madoff, & Baker, 2015). Os neonatos com infecções por EGB de início precoce
(na primeira semana após o nascimento) podem ter pneumonia ou sepse, enquanto as infecções de início tardio (após a
primeira semana) muitas vezes se manifestam com meningite (CDC, 2015i).
A colonização do sistema genital representa a ameaça mais séria ao recémnascido – por causa da exposição durante o
parto – e à mãe, por causa da infecção ascendente após as membranas se romperem. Acreditase que a colonização por
EGB materna cause corioamnionite, endometrite e infecção da ferida pósparto.
Conduta terapêutica
A antibioticoterapia geralmente é efetiva no tratamento de mulheres com infecções por EGB do sistema urinário ou do
útero ou corioamnionite sem quaisquer sequelas. De acordo com as diretrizes do CDC, todas as gestantes devem ser
rastreadas e tratadas para EGB nas 35a a 37a semanas de gestação (2015i). São coletadas amostras vaginais e retais para
cultura com o propósito de detectar o EGB. Tanto as gestantes como as parturientes com culturas positivas são medicadas
com penicilina.
A penicilina G é o tratamento de escolha para a infecção por EGB, por causa de seu espectro estreito. Podese
prescrever antibióticos alternativos a pacientes com alergia à penicilina. O fármaco geralmente é administrado por via
intravenosa pelo menos 4 horas antes do nascimento, de modo que possa alcançar níveis adequados no soro e no líquido
amniótico para reduzir o risco de colonização do recémnascido. É necessário monitoramento durante a administração de
antibióticos por via intravenosa, porque podem ocorrer reações alérgicas graves rapidamente.
Avaliação de enfermagem
Reveja a história prénatal da mulher e questione sobre quaisquer infecções prévias. Determine se as membranas da
mulher se romperam e quando isso ocorreu. A ruptura de membranas por mais de 18 horas aumenta o risco de infecção.
Monitore os sinais vitais da mãe, relatando qualquer febre materna acima de 38°C. Avalie a mulher à procura de outros
fatores de risco para a transmissão perinatal do EGB, incluindo colonização prévia por EGB, baixo nível socioeconômico,
ser afroamericana, idade inferior a 20 anos, colonização positiva em uma gestação de 35 a 37 semanas, achado de EGB
em amostra de urina, nascimento prévio de feto EGBpositivo, parto prétermo e realização de procedimentos obstétricos
invasivos (March of Dimes, 2015f). Documente essas informações para ajudar a evitar a transmissão vertical ao recém
nascido.
Muitas mulheres com infecção por EGB são assintomáticas, mas podem ter infecções urinárias, infecções uterinas e
corioamnionite.
Conduta de enfermagem
Os enfermeiros desempenham importantes papéis como educadores e defensores de todas as mulheres e recémnascidos
para reduzir a incidência de infecção por EGB. Certifiquese de que as gestantes entre a 35a e a 37a semana de gestação
sejam rastreadas para infecção por EGB durante a consulta prénatal. Anote os resultados e notifique o médico que fará o
parto se a mulher for positiva para EGB. Durante o trabalho de parto, esteja preparada para administrar antibióticos
intravenosos a todas as mulheres que são EGBpositivas.
Toxoplasmose
A toxoplasmose é uma infecção parasitária relativamente generalizada causada por um microrganismo unicelular,
o Toxoplasma gondii. É encontrada em todo o planeta e pode ocorrer em qualquer animal homeotérmico, inclusive seres
humanos, embora o hospedeiro primário seja o gato. Quando a gestante é exposta a esse protozoário, a infecção pode
representar sérios riscos ao feto por meio de transferência transplacentária da mãe para o feto. Um recémnascido a cada 1
a 8 mil recémnascidos está infectado com toxoplasmose nos EUA (Hokelek, 2015). Os gatos são os hospedeiros
definitivos desse parasita e eliminam o mesmo nas fezes. O microrganismo é transferido ao levar a mão à boca depois de
tocar em fezes de gatos durante a troca da caixa de areia do animal ou por meio da jardinagem em solo contaminado. O
consumo de carne infectada malpassada, como porco, carneiro ou corça, a ingestão de água contaminada e o consumo de
frutas e legumes não lavados também podem transmitir esse microrganismo.
A gestante que contrai toxoplasmose pela primeira vez tem uma chance de aproximadamente 40% de passar a infecção
para o feto. Toxoplasmose contraída durante a gravidez implica risco elevado de lesão fetal (March of Dimes, 2015g).
Embora a mulher tipicamente permaneça assintomática, pode ocorrer a transmissão para o feto durante a gestação. Um
feto com toxoplasmose congênita tipicamente tem baixo peso ao nascimento, hepatoesplenomegalia, coriorretinite,
icterícia, restrição do crescimento intrauterino, hidrocefalia, microcefalia, danos neurológicos e anemia. A gravidade varia
de acordo com a idade gestacional; geralmente, quanto mais precoce a infecção, mais graves são os efeitos (Silasi et al.,
2015).
O tratamento durante a gestação para reduzir o risco de infecção congênita consiste em uma combinação
de pirimetamina e sulfadiazina. O tratamento com sulfonamidas durante a gestação comprovadamente reduz o risco de
infecção congênita.
Embora ainda exista muito a ser aprendido sobre a melhor abordagem para a identificação e o tratamento da
toxoplasmose, sabese que o tratamento precoce resulta em melhores desfechos neurodesenvolvimentais nos
recémnascidos/lactentes. A prevenção é crucial para o manejo dessa infecção. O enfermeiro desempenha um papel
fundamental em orientar a mulher em relação a medidas para evitar a toxoplasmose (Diretrizes de ensino 20.5).
Diretrizes de ensino 20.5
Orientações para evitar a toxoplasmose
• Evitar comer carne crua ou malpassada, especialmente de cordeiro ou de porco. Cozinhar toda a
carne completamente a uma temperatura interna de 71°C
• Limpar as tábuas de corte, superfícies de trabalho e utensílios com água quente e sabão após o
contato com carne crua ou frutas e vegetais não lavados
• Retirar a casca ou lavar todas as frutas e vegetais crus antes de comêlos
• Lavar bem as mãos com água morna e sabão depois de manusear carnes cruas
• Evitar alimentar o gato com carnes cruas ou malpassadas
• Evitar esvaziar ou limpar a caixa de areia do gato. Pedir a alguém para fazêlo em seu lugar
diariamente
• Manter as caixas de areia externas cobertas para evitar contaminação por fezes de gato
• Manter o gato dentro de casa para evitar que ele cace e coma aves ou roedores
• Evitar ovos crus e leite não pasteurizado
• Usar luvas de jardinagem quando em contato com o solo ao ar livre
• Evitar o contato com caixas de areia em que as crianças brincam, porque os gatos podem usálas
como caixas de areia para suas necessidades
Mulheres HIVpositivas
A infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um processo crônico causado por um retrovírus que infecta
os linfócitos T que expressam receptores CD4. Essa infecção evolui para imunodeficiência. Depois que a contagem de
linfócitos CD4positivos cai abaixo de um determinado nível, a infecção pelo HIV provoca aumento da suscetibilidade a
infecções, cânceres e lesão neurológica (Hardy, Esposti, & Nee, 2015). O HIV é transmitido pelo sangue e por líquidos
corporais. Estimase que o número de pessoas que contraem a infecção pelo HIV anualmente seja de quase 50 milhões de
indivíduos, incluindo cerca de 20 milhões de mulheres em idade fértil e 2,5 milhões de crianças (a maioria contraiu o HIV
via transmissão vertical). De acordo com as estimativas mais recentes de incidência, mais de 1 milhão de pessoas nos
EUA estão vivendo com infecção pelo HIV e quase uma em seis não sabe que está infectada (CDC, 2015j).
Apesar dos revolucionários avanços que têm ocorrido no tratamento e na detecção e dos recentes avanços clínicos e
otimismo cauteloso associado a terapias combinadas e vacinas, o número de pessoas HIVpositivas continua aumentando
em todo o mundo. Apesar dos intensos esforços, não se consegue enxergar uma “cura” real em um futuro próximo. Uma
vacina é essencial para erradicar a pandemia causada pelo HIV (Fauci, Folkers, & Marston, 2014). Além disso, apesar da
redução drástica da transmissão perinatal do HIV nos EUA, as barreiras à prevenção ainda existem e as infecções
perinatais pelo HIV continuam ocorrendo.
Historicamente, o HIV/AIDS foi associado à comunidade homossexual masculina e a usuários de drogas injetáveis,
mas atualmente a prevalência de HIV/AIDS está aumentando mais rapidamente nas mulheres do que nos homens. As
mulheres representam 1 em cada 4 pessoas que vivem com o HIV nos EUA e são o segmento de mais rápido crescimento
de pessoas infectadas pelo HIV; a transmissão em mulheres ocorre com mais frequência pelo contato sexual (84%) e uso
abusivo de drogas ilícitas injetáveis (15%) (CDC, 2015k). A maioria das mulheres, que em grande parte são mães,
contraiu o vírus por meio do contato heterossexual. O risco de contrair HIV por meio de relações heterossexuais é maior
nas mulheres em decorrência da exposição à concentração viral mais elevada no sêmen. Além disso, a relação sexual pode
causar soluções de continuidade no revestimento vaginal, aumentando as chances de o vírus penetrar no corpo da mulher.
Cinquenta por cento de todos os casos de HIV/AIDS em todo o mundo ocorrem em mulheres. A AIDS é a terceira
principal causa de morte das mulheres norteamericanas com idades entre 25 e 44 anos e a principal causa de morte de
afroamericanas nessa faixa etária. Em algum momento de suas vidas, estimase que 1 em cada 32 mulheres afro
americanas receberá o diagnóstico de infecção pelo HIV (CDC, 2015k).
Fisiopatologia
Os três modos reconhecidos de transmissão do HIV são as relações sexuais sem proteção com um parceiro infectado, o
contato com sangue ou hemoderivados infectados e a transmissão perinatal.
Anote!
O HIV não é transmitido pelo contato com maçanetas, torneiras, vasos sanitários, pratos sujos, mosquitos, toalhas
molhadas, tossir ou espirrar, apertar as mãos ou ser abraçado ou por qualquer outro método indireto.
O vírus ataca os linfócitos T4, diminui a contagem de células CD4 e desativa o sistema imunológico. A condição de
HIVpositivo pode progredir para um estado de imunossupressão grave denominado síndrome da imunodeficiência
adquirida (AIDS). A AIDS é uma doença progressiva e debilitante associada à supressão da imunidade celular,
predispondo a pessoa infectada a infecções oportunistas e doenças malignas. O CDC define a AIDS como a doença na
pessoa infectada com uma infecção oportunista específica ou uma contagem de células CD4 inferior a 200. Por fim, ocorre
a morte. A mediana do tempo de infecção pelo HIV até o desenvolvimento da AIDS é de 11 anos, mas varia dependendo
se a paciente está em uso de terapia antirretroviral (Maartens, Celum, & Lewin, 2014). Uma pesquisa indica que a
gestação não acelera a progressão do HIV para AIDS ou morte (Calvert & Ronsmans, 2015).
Uma vez infectada pelo HIV, a mulher desenvolve anticorpos que podem ser detectados com o ensaio imunossorvente
ligado a enzima (ELISA) e confirmados com o teste Western blot. Os anticorpos se desenvolvem nas 6 a 12 semanas
seguintes à exposição, embora esse período de latência seja muito maior em algumas mulheres. A Tabela 20.5 destaca os
quatro estágios da infecção pelo HIV de acordo com o CDC (2015l).
Impacto do HIV na gestação
Quando a mulher infectada pelo HIV engravida, os riscos para si mesma, para o feto e para o recémnascido são grandes.
Os riscos são agravados por problemas como o uso abusivo de drogas ilícitas, a falta de acesso a cuidados prénatais, a
pobreza, a má nutrição e comportamentos de alto risco – como práticas sexuais inseguras e múltiplos parceiros sexuais,
que podem predispor a mulher a outras IST/DST, como herpes, sífilis ou papilomavírus humano (HPV). Os fatores de
risco adicionais a serem avaliados incluem as mulheres que fazem sexo em troca de dinheiro ou drogas ilícitas ou que têm
parceiros sexuais que o fazem; a mulher cujos parceiros sexuais atuais ou pregressos estavam infectados pelo HIV; e as
mulheres que receberam transfusão de sangue entre 1978 e 1985. A identificação precoce da soropositividade materna ao
HIV viabiliza o tratamento antirretroviral precoce para evitar a transmissão vertical (de mãe para filho), possibilita que o
médico evite práticas obstétricas que possam aumentar o risco de transmissão e fornece uma oportunidade para aconselhar
a mãe a não amamentar (a amamentação também pode aumentar o risco de transmissão) (U.S. Preventive Services Task
Force [USPSTF], 2014). Posteriormente, as gestantes HIVpositivas estão em risco de parto prétermo, restrição do
crescimento fetal, ruptura prematura de membranas, hemorragia pósparto ou intraparto, infecção pósparto, má
cicatrização de feridas e infecções do sistema geniturinário (CDC, 2015m).
Também pode ocorrer a transmissão perinatal do HIV (da mãe para o feto ou criança). No entanto, esses casos têm
diminuído nos últimos anos nos EUA, essencialmente por causa da utilização de terapia antirretroviral em gestantes
infectadas com o HIV. Esse não tem sido o caso nos países pobres sem recursos similares. Os programas em HIV/AIDS
(UNAIDS) da Joint United Nations estimam que diariamente ocorram mais de 2 mil novas infecções pela transmissão da
mãe para o filho. Esse número deve aumentar rapidamente, conforme aumenta a prevalência no Sudeste Asiático
(Rakhmanina & van den Anker, 2014). As taxas de transmissão perinatal chegam a 35% quando não há intervenção
(terapia antirretroviral) e são inferiores a 1% quando são instituídos tratamento e cuidados apropriados. As mulheres afro
americanas e hispânicas representam até 82% dos casos de HIV/AIDS em mulheres e, segundo dados do CDC (2015), a
maioria das crianças infectadas no período prénatal é afroamericana ou hispânica. A falta de testes de HIV realizados em
momento oportuno durante a gestação é um dos principais contribuintes para esse desfecho. São necessárias intervenções
que abordem as barreiras de conhecimento ao teste de HIV entre as mulheres afroamericanas e hispânicas. A pesquisa
descobriu que as mulheres que têm informações sobre os métodos de prevenção da transmissão perinatal do HIV e da
importância dos testes para a saúde da mãe e do recémnascido são mais propensas a realizarem o teste de HIV.
Campanhas publicitárias abordando os benefícios do teste de HIV podem ser uma intervenção importante. Essas
campanhas não são apenas bemsucedidas em promover a realização do teste de HIV, mas, em populações com alta
prevalência de HIV, também são custoefetivas (International AIDS Society, 2015).
Tabela Estágios da infecção pelo HIV determinados pelo CDC.
20.5
I Infecção aguda Fase inicial com produção viral
disseminada
Manifestações gripais 2 a 4 semanas
após a exposição
Sinais e sintomas: perda de peso, febre
baixa, fadiga, dor de garganta,
sudorese noturna e mialgia. A
capacidade de propagar HIV é maior
durante esse estágio, porque muito
HIV está sendo produzido e a
contagem de linfócitos CD4 diminui
II Infecção A replicação viral continua nos vasos
assintomática linfáticos, mas diminui Geralmente
ou latência sem sinais e/ou sintomas;
clínica linfadenopatia
IV Doença em Imunodeficiência grave; muito vulnerável
estágio a infecções
terminal Carga viral alta e baixa contagem de
(AIDS) células CD4
Sinais e sintomas: infecções
oportunistas bacterianas, virais ou
fúngicas, febre, síndrome de
emaciação por infecção pelo HIV,
fadiga, neoplasias e alterações
cognitivas
Adaptada de Centers of Disease Control and Prevention [CDC].
(2015s). About HIV/AIDS. Retirada
de http://www.cdc.gov/hiv/basics/whatishiv.html.
Na transmissão perinatal, aproximadamente 50% das crianças manifestam AIDS no primeiro ano de vida e cerca de
80% têm manifestações clínicas da doença em 3 a 5 anos (Rivera & Frye, 2014). O aleitamento materno é um importante
fator que contribui para a transmissão vertical, e a mãe infectada deve ser informada sobre isso (March of Dimes, 2015i).
O U.S. Public Health Service recomenda que as mulheres HIVpositivas evitem amamentar para evitar a transmissão do
HIV para o recémnascido. Em virtude dos efeitos devastadores da infecção pelo HIV em crianças, é essencial evitar a sua
transmissão (NIH, 2014).
Além da transmissão perinatal, o feto e o recémnascido também correm risco de prematuridade, restrição do
crescimento intrauterino, baixo peso ao nascimento e infecção. O tratamento imediato do recémnascido infectado pelo
HIV com fármacos antirretrovirais retarda a progressão da doença.
Conduta terapêutica
As mulheres HIVpositivas precisam de aconselhamento sobre o risco de transmissão perinatal e potencial de
complicações obstétricas. O risco de transmissão perinatal correlacionase diretamente com a carga viral (Drake et al.,
2014). Recomendase uma discussão sobre as opções em relação a continuidade da gestação, tratamento farmacológico,
riscos, desfechos perinatais e tratamento. As mulheres que optarem por continuar a gestação devem receber terapia
antirretroviral, independentemente de sua contagem de células CD4 ou da carga viral. As intervenções para reduzir a
transmissão do HIV incluem terapia antirretroviral para a mãe e o recémnascido, realização de cesariana nas mulheres
com cargas virais plasmáticas elevadas e evitar aleitamento materno. Atualmente, graças a essas intervenções, o risco de
transmissão do HIV é inferior a 1% (Giles, 2015).
O tratamento farmacológico é essencial para gestantes infectadas pelo HIV. O tratamento padrão envolve a
administração de agentes antirretrovirais orais 2 vezes/dia até o parto, a administração intravenosa durante o trabalho de
parto e a administração de zidovudina (AZT) por via oral para o recémnascido nas primeiras 6 a 12 semanas de vida
(Vogler, 2014). O objetivo do tratamento é reduzir a carga viral, tanto quanto possível, o que reduz o risco de transmissão
para o feto.
As decisões em relação ao método de parto a ser utilizado são feitas individualmente, com base em diversos fatores
que envolvem a saúde da mulher. Alguns estudos sugerem que a cesariana reduza o risco de infecção pelo HIV (King et
al., 2015). Os esforços para reduzir a instrumentação, como evitar a utilização de uma episiotomia, colocação de eletrodos
no couro cabeludo do feto e amostragem do couro cabeludo fetal, diminuirão a exposição do recémnascido aos líquidos
corporais.
Com o tratamento adequado, o prognóstico para a gestante infectada pelo HIV tem melhorado significativamente.
Além disso, os filhos de mulheres HIVpositivas que receberam tratamento geralmente não são infectados. Infelizmente, o
tratamento é complicado e os medicamentos são caros. Ademais, os fármacos estão associados a muitos efeitos adversos e
possíveis reações tóxicas. Esses tratamentos oferecem uma dupla finalidade: reduzir a probabilidade de transmissão da
mãe para o recémnascido e proporcionar a supressão ideal da carga viral materna. O objetivo central de todo o tratamento
médico é reduzir a carga viral da paciente a um nível indetectável, minimizando assim o risco de transmissão para o feto e
para o recémnascido.4
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem começa com uma anamnese completa e um exame físico. Além disso, oferecese à mulher
rastreamento para anticorpos antiHIV. O rastreamento e a intervenção efetiva para a gestante HIVpositiva são
componentes essenciais do atendimento prénatal, que também inclui orientações, aconselhamento, testagem, tratamento e
cuidados continuados.
ANAMNESE E EXAME FÍSICO
Reveja a anamnese da mulher à procura de fatores de risco, como práticas inseguras de sexo, múltiplos parceiros sexuais e
uso abusivo de drogas ilícitas injetáveis. Peça ainda à mulher que preencha uma pesquisa de avaliação de risco. Além
disso, questione a gestante sobre quaisquer manifestações gripais, como febre baixa, fadiga, dor de garganta, sudorese
noturna, diarreia, tosse, lesões na pele ou dor muscular. Numerosos fatores influenciam a transmissão perinatal. Os
fatores que aumentam o risco de transmissão perinatal incluem carga viral materna elevada; depleção imune materna
(baixas contagens de linfócitos CD4); infecções no sistema genital materno; deficiências nutricionais; uso abusivo de
substâncias psicoativas; tabagismo; relações sexuais sem proteção; outras infecções oportunistas e concomitantes
(tuberculose, malária); ruptura prolongada das membranas corioamnióticas e aleitamento materno. Os profissionais de
enfermagem precisam fazer uma anamnese meticulosa para identificar os fatores de risco existentes.
Realize um exame físico completo. Verifique o peso da gestante e determine se ela perdeu peso recentemente. Avalie se
existem sinais e sintomas de IST/DST, como candidíase vulvovaginal, vaginose bacteriana, infecção por HSV, cancro
mole, infecção por CMV ou clamídia, por causa do aumento do risco de IST/DST.
Anote!
As mulheres que solicitam o teste de HIV, apesar de não relatarem fatores de risco específicos, devem ser consideradas
de risco, visto que muitas têm grande probabilidade de não revelar seus comportamentos de alto risco.
EXAMES LABORATORIAIS E COMPLEMENTARES
A USPSTF (2014) recomenda que se ofereça a todas as gestantes o teste de anticorpos antiHIV, independentemente do
seu risco de infecção, e que o teste seja feito durante a avaliação inicial do prénatal. O teste é essencial, pois existem
tratamentos que podem reduzir o risco de transmissão perinatal e manter a saúde da mulher.
Anote!
É inadequado rastrear somente as mulheres que são identificadas como de alto risco com base em suas histórias, em
virtude do período de latência prolongado que pode existir após a exposição. Além disso, as pesquisas que indicam que o
tratamento com fármacos antirretrovirais poderia reduzir a transmissão vertical da mãe infectada para o recémnascido
aumentaram dramaticamente a importância do rastreamento de anticorpos antiHIV na gestação.
Ofereça a todas as mulheres que estejam grávidas ou que estejam planejando engravidar um teste de HIV pelo método
ELISA. Prepare a mulher com um resultado positivo nesse teste para um exame adicional, como o teste de Western
blot ou de imunofluorescência indireta. O Western blot é o teste diagnóstico confirmatório. Um teste de anticorpos
positivo confirmado por um teste suplementar indica que a mulher está infectada pelo HIV e pode passar o vírus a outras
pessoas. Os anticorpos antiHIV são detectáveis em pelo menos 95% das mulheres nos 3 meses após a infecção
(Rayment, Asboe, & Sullivan, 2014).5
Além dos testes de rastreamento usuais feitos na gestação normal, pode ser necessário investigação adicional de
IST/DST. As mulheres HIVpositivas têm altas taxas de IST/DST, especialmente HPV, candidíase vulvovaginal, vaginose
bacteriana, sífilis, infecção por HSV, cancroide, infecção por CMV, gonorreia, infecção por clamídia e hepatite B (March
of Dimes, 2015i).
Conduta de enfermagem
As mulheres infectadas pelo HIV devem receber acompanhamento prénatal abrangente, que começa com aconselhamento
préteste e pósteste. No aconselhamento préteste, a paciente preenche um questionário de avaliação dos riscos e o
enfermeiro explica o significado dos resultados positivo versus negativo, obtém consentimento informado para o teste de
HIV e orienta a mulher em relação a como evitar a infecção pelo HIV pela mudança de seu estilo de vida, se necessário. O
aconselhamento pósteste inclui informar a paciente do resultado do teste, revisar novamente o significado dos resultados
e reforçar diretrizes de sexo seguro. Todo o aconselhamento préteste e pósteste deve ser documentado no prontuário da
paciente.
ORIENTAÇÕES À PACIENTE
A gestante está lidando com muitos problemas em sua primeira consulta prénatal. A confirmação da gravidez pode ser
acompanhada de sentimentos de alegria, ansiedade, depressão ou outras emoções. Simultaneamente, a paciente recebe
muitos panfletos, avisos e conselhos sobre diversas questões de saúde importantes (p. ex., nutrição, desenvolvimento pré
natal, consultas agendadas). Essas orientações de saúde podem ser dadas enquanto a mulher está se sentindo animada,
cansada e ansiosa. Esperar que as mulheres entendam explicações detalhadas de uma doença complexa (HIV/AIDS) pode
não ser realista. Determine se a paciente está pronta para essa conversa. Identifique as necessidades específicas da paciente
em relação a orientações, apoio emocional e cuidados físicos. O enfermeiro precisa abordar as orientações e aconselhar as
gestantes HIVpositivas de modo afetuoso e sensível. Aborde as seguintes informações:
• Questões de controle de infecção em casa
• Precauções para o sexo seguro
• Estágios do processo de doença pelo HIV e tratamento para cada estágio
• Sinais e sintomas de infecções oportunistas
• Tratamento farmacológico preventivo do feto
• Importância de evitar a amamentação
• Encaminhamento a instituições da comunidade para apoio, aconselhamento e suporte financeiro
• Sistema de apoio da paciente e do potencial cuidador
• Importância dos cuidados prénatais continuados
• Necessidade de uma dieta bem equilibrada
• Medidas para reduzir a exposição a infecções.
Tenha conhecimentos sobre a infecção pelo HIV e como o vírus é transmitido e compartilhe esse conhecimento com
todas as mulheres. O enfermeiro também pode trabalhar influenciando legisladores, autoridades de saúde pública e toda a
instituição de saúde em relação a políticas para enfrentar a epidemia de HIV. As pesquisas para o tratamento e a cura são
tremendamente importantes, mas a principal chave para a prevenção da propagação do vírus é informar a população. O
enfermeiro desempenha um importante papel em fornecer essas orientações.
APOIO À PACIENTE
Esteja ciente das sequelas psicossociais do HIV/AIDS. Um diagnóstico de HIV pode provocar intensa angústia emocional
na gestante, que se preocupa com a própria saúde e com a saúde de seu filho que vai nascer. Ela pode sentir dor, medo ou
ansiedade em relação ao futuro de seus filhos. Junto com os medicamentos que são tão importantes para a manutenção da
sua saúde, atenda às necessidades de saúde mental, dinâmica familiar, capacidade de trabalho e preocupações sociais da
mulher e preste apoio e orientações adequadas.
Ainda persiste o estigma contra mães e recémnascidos expostos ao HIV ou infectados por esse vírus em muitas
maternidades. Enquanto os profissionais de enfermagem lidam com essa doença prevenível, devem fazêlo de modo
respeitoso e consciencioso. Além dos cuidados básicos, os profissionais de enfermagem devem batalhar para prestar
cuidados respeitosos a todas as mães e seus recémnascidos. Para conseguir isso, esteja ciente de suas crenças pessoais e
atitudes em relação às mulheres que são HIVpositivas ou que têm AIDS. Incorpore essa conscientização em suas ações
enquanto você ajuda a gestante a enfrentar a realidade das opções de diagnóstico e tratamento. Empatia, compreensão,
afeto e assessoramento são fundamentais para ajudar a paciente e sua família.
PREPARAÇÃO PARA TRABALHO DE PARTO, PARTO E PERÍODOS
SUBSEQUENTES
As evidências atuais sugerem que a cesariana realizada antes do início do trabalho de parto e antes da ruptura de
membranas reduza significativamente a taxa de transmissão perinatal. O ACOG recomenda que seja oferecida a realização
de cesariana eletiva às mulheres HIVpositivas para reduzir a taxa de transmissão, além da redução que pode ser
conseguida por meio da terapia antirretroviral. Sugere ainda que os partos cirúrgicos sejam realizados com 38 semanas de
gestação e que a amniocentese seja evitada para que não haja contaminação do líquido amniótico com o sangue materno.
As decisões relativas ao método de parto devem levar em consideração a carga viral da mulher, a duração da ruptura de
membranas, o progresso do trabalho de parto e outros fatores clínicos relevantes (USPSTF, 2014).
Prepare a mulher fisicamente e emocionalmente para a possibilidade de cesariana e ajude, se necessário. Certifiquese
de que ela entenda a justificativa para o parto cirúrgico.
Após o parto, a motivação para tomar os fármacos antirretrovirais pode ser menor, afetando assim a adesão da mulher
ao tratamento. Incentive a paciente a continuar o tratamento para seu próprio bem, assim como o do recémnascido. O
enfermeiro pode fazer a diferença em ajudar as mulheres a aderir aos complexos esquemas terapêuticos.
Reforce os métodos de planejamento familiar durante esse momento, incorporando uma visão realista de seu estado de
doença. Obviamente os contraceptivos hormonais não protegem contra a infecção pelo HIV, e a dupla proteção com
preservativos deve ser a meta para as mulheres que usam contracepção hormonal (U.S. Agency for International
Development [USAID], 2014). Aconselhe a paciente que o aleitamento materno não é recomendado. Instrua a mulher HIV
positiva em medidas de autocuidado, incluindo o método adequado para a eliminação de absorventes íntimos para reduzir o
risco de expor outras pessoas a líquidos corporais infectados. Por fim, informe a ela os sinais e sintomas de infecção em
recémnascidos e crianças, incentivandoa a relatar ao médico a ocorrência de algum deles.
A evolução da infecção pelo HIV para uma doença crônica tem implicações em todos os ambientes de cuidados de
saúde. Todos os profissionais de enfermagem devem estar bem informados a respeito da prevenção, dos exames, do
tratamento e da cronicidade da doença, a fim de prestar atendimento de alta qualidade a pessoas com ou em risco de
infecção pelo HIV. Do ponto de vista da saúde pública, avanços importantes na prevenção da infecção pelo HIV incluem
circuncisão masculina, agentes antirretrovirais para evitar a transmissão vertical (da mãe para a criança), terapia
antirretroviral na população HIVpositiva para evitar transmissão e agentes antirretrovirais para profilaxia préexposição.
Por isso, o enfermeiro precisa compreender a epidemiologia cambiável da doença, as recomendações mais recentes para
solicitação de exames, a evolução na tecnologia de rastreamento, as implicações do envelhecimento com infecção pelo HIV
e as implicações para a enfermagem dessa epidemia persistente.
Anote!
Ao prestar cuidados diretos, siga SEMPRE as precauções padrão.
POPULAÇÕES VULNERÁVEIS
Todos os anos, estimase que haja 208 milhões de gestantes no mundo, sendo que aproximadamente 6,6 milhões destas
estão nos EUA (Alan Guttmacher Institute, 2015b). Toda gestação é acompanhada de risco de desfecho adverso para a mãe
e para o recémnascido, mas os riscos aumentam drasticamente em algumas populações vulneráveis: adolescentes,
mulheres com mais de 35 anos de idade, obesas e usuárias de substâncias psicoativas. Embora não possam ser totalmente
eliminados depois de iniciada a gestação, os riscos podem ser reduzidos por meio de intervenções apropriadas e oportunas.
A experiência de cada mulher com a gestação é única e pessoal. As circunstâncias que cada uma enfrenta e o que a
gestação significa para ela envolve emoções e experiências que pertencem exclusivamente a ela. Muitas mulheres desses
grupos especiais da população passam por essa experiência em confusão e isolamento, com uma sensação desesperada de
precisar de ajuda, mas sem saber para onde ir. Embora todas as gestantes experimentem essas emoções até certo ponto,
elas são intensificadas em mulheres que apresentam determinados problemas psicossociais. A gestação é um período
estressante. As gestantes enfrentam mudanças abrangentes em suas vidas, relacionamentos e corpos conforme vão em
direção à maternidade. Essas mudanças podem ser desafiadoras para uma mulher sem quaisquer tensões adicionais, mas
são ainda mais intimidantes em caso de extremos de idade, doença ou uso abusivo de substâncias psicoativas.
Intervenções de enfermagem qualificadas são essenciais para promover o melhor desfecho para a paciente e seu filho.
O apoio oportuno e as intervenções adequadas durante o período perinatal podem ter implicações duradouras para a mãe e
seu recémnascido, objetivando ao final a estabilidade e a integração da família como uma unidade.
Grávida adolescente
A adolescência vai do início da puberdade à cessação do crescimento físico, aproximadamente dos 11 aos 19 anos de
idade. A adolescente oscila entre ser criança e ser adulta. Durante esse período, ela precisa se ajustar às mudanças
fisiológicas por que seu corpo está passando e estabelecer uma identidade sexual. A adolescente procura sua identidade
pessoal e tem desejos de liberdade e independência de pensamento e ação. No entanto, continua tendo uma forte
dependência de seus pais (Crockett & Crouter, 2014).
A gravidez na adolescência surgiu como um dos problemas sociais mais importantes dos EUA. As estimativas mais
recentes mostram que aproximadamente 1 milhão de adolescentes engravidam a cada ano nos EUA (Alan Guttmacher
Institute, 2015a; CDC, 2015a). Aproximadamente 50% levarão a gravidez ao termo, um pouco mais de um terço optará
por aborto induzido e os 14% restantes terão aborto espontâneo ou natimortos. Embora seja uma nação evoluída e
relativamente rica, as adolescentes nos EUA têm taxas mais elevadas de gravidez do que qualquer outra nação
industrializada (Sedgh et al., 2015). Estimase que 11% dos partos realizados em todo o planeta sejam de adolescentes
com 15 a 19 anos de idade (Ganchimeg et al., 2014). Além disso, cerca de 50% de todas as gestações em adolescentes
ocorrem nos 6 meses seguintes à primeira relação sexual. Cerca de 1 em cada 4 mães adolescentes menores de 18 anos
tem um segundo filho nos 2 anos seguintes ao nascimento do primeiro filho. A maioria dessas adolescentes não é casada e
muitas não estão preparadas para as responsabilidades emocionais, psicológicas e financeiras da maternidade. As
adolescentes têm a menor probabilidade de receber assistência prénatal precoce e regular de todas as faixas etárias
maternas (March of Dimes, 2015j). A gravidez na adolescência é complicada ainda pela falta de recursos financeiros da
adolescente: a renda de mães adolescentes corresponde à metade da renda das mulheres que deram à luz na terceira década
de vida (March of Dimes, 2015j).
Embora a incidência de gravidez na adolescência esteja constantemente diminuindo desde o início de 1990, continua
sendo mais elevada nos EUA do que em qualquer outro país industrializado (Alan Guttmacher Institute, 2015a). Mesmo
essa incidência reduzida representa o que é considerado um nível inaceitavelmente elevado de gravidez em uma faixa etária
que é mais propensa a sofrer as consequências sociais da gestação precoce. Embora as taxas de natalidade de mães
adolescentes nos EUA tenham caído, permanecem elevadas, especialmente nas adolescentes afroamericanas e hispânicas e
nos estados do Sul. A taxa mais elevada de gestações não planejadas de adolescentes ocorre em afroamericanas e
hispânicas.
Atualmente, nos EUA, menos estudantes do ensino médio estão tendo relações sexuais e mais alunos sexualmente
ativos estão usando algum método de contracepção. No entanto, muitos adolescentes que tiveram relação sexual não
conversam com seus pais sobre sexo, e o uso de contraceptivos ainda é raro (Centers for Disease Control and Prevention
[CDC] 2015a). Assim, a gravidez na adolescência é considerada um importante problema de saúde, o qual é abordado no
boxe Healthy People 2020 20.2.
Impacto da gravidez na adolescência
O impacto da gravidez na adolescência é evidente nas taxas de morbidade e mortalidade materna e perinatal. No entanto,
além da idade envolvida na gestação precoce, esse impacto também reflete as condições prévias, como desnutrição,
doenças transmissíveis e inadequação nos cuidados de saúde prestados às adolescentes grávidas. O impacto mais
importante reside na área psicossocial: contribui para a perda da autoestima, a discriminação por parte da sociedade, a
destruição de projetos de vida e a manutenção do círculo de pobreza (WHO, 2015a).
Os adolescentes constituem um grupo singular, com necessidades especiais relacionadas com o seu estágio de
desenvolvimento. A gravidez na adolescência pode ser uma situação emocionalmente difícil, carregada de dilemas éticos e
decisões. Temas como a abstinência, o sexo seguro, o aborto e a decisão de ter um filho são questões muito delicadas.
A gravidez na adolescência é uma área na qual as convicções morais do enfermeiro podem influenciar os cuidados que
ele presta às pacientes. O enfermeiro precisa examinar suas próprias crenças em relação à sexualidade na adolescência para
identificar presunções pessoais. Deixar de lado suas convicções morais pode ser difícil, mas isso é necessário quando se
trabalha com adolescentes grávidas. Para serem efetivos, os profissionais da saúde precisam ser capazes de se comunicar
com as adolescentes de modo que possam compreendêlas e respeitálas como pessoas.
A ideia de que “para educar uma criança é preciso contar com o apoio de toda uma comunidade”, como sugerido pela
exprimeiradama Hillary Clinton em 1996, talvez seja ainda mais válida do que se pensava em relação à gravidez na
adolescência. As evidências sugerem que não é suficiente ensinar as adolescentes a “apenas dizer não”, nem é suficiente
darlhes informações sobre métodos contraceptivos; as adolescentes precisam estar conectadas a seus pais, seus colegas e
sua comunidade (Whitworth & Cockerill, 2014). Os enfermeiros devem sentir que há sempre esperança e a chance de
desfechos positivos; eles veem isso a cada dia, muitas vezes nos rostos de suas pacientes mais jovens. Esses profissionais
precisam acreditar nisso e trabalhar para “conectarse” com suas pacientes adolescentes. Os profissionais de enfermagem
estão na linha de frente dos cuidados de saúde e, com frequência, são os primeiros a interagir e criar vínculos com os
adolescentes. Os adolescentes que apresentam comportamento sexual arriscado podem procurar primeiro os profissionais
de enfermagem. Dentre as funções dos profissionais de enfermagem estão incluídas a orientação e a tranquilização de
pacientes de todas as idades. Portanto, é imperativo que todos os profissionais de enfermagem sejam capazes de fornecer
informações apropriadas sobre saúde sexual. Ao proporcionar esses cuidados, a qualidade de vida e os desfechos da mãe e
do recémnascido podem ser melhorados.
Healthy People 2020 • 20.2
Objetivos Importância para a enfermagem
FP8 Reduzir as taxas de gravidez Ajudará a promover uma redução
nas adolescentes em 10% até 2020 contínua das taxas de gravidez em
adolescentes, centrandose em
FP9 Aumentar a proporção de
intervenções relacionadas com a
adolescentes de 17 anos que nunca
prevenção da gravidez, incluindo
tiveram uma relação sexual em
práticas de sexo seguro, e orientando
10% até 2020
em relação às complicações
FP10 Aumentar a proporção de associadas à gravidez na
pessoas sexualmente ativas com adolescência
idades entre 15 e 19 anos que
usam preservativos para evitar a
gravidez de modo efetivo e fornecer
proteção de barreira contra
doenças em 10% até 2020
FP11 Aumentar a proporção de
pessoas sexualmente ativas com
idades entre 15 e 19 anos que
usam preservativos e contracepção
hormonal ou intrauterina para evitar
de modo efetivo a gravidez e
fornecer proteção de barreira contra
doenças em 10% até 2020
FP12 Aumentar a proporção de
adolescentes que receberam
instrução formal sobre assuntos de
saúde reprodutiva antes dos 18
anos de idade em 10% até 2020
FP13 Aumentar a proporção de
adolescentes que conversaram com
um pai ou responsável sobre
assuntos de saúde reprodutiva
antes dos 18 anos de idade em
10% até 2020
HIV8 Reduzir o número de casos As orientações à gestante em relação
de HIV e AIDS adquiridos no à necessidade e à justificativa para a
período perinatal em 10% até 2020 terapia antirretroviral para evitar a
transmissão vertical do HIV ao seu
feto ajudarão a reduzir essa
incidência
MICH11 Aumentar a abstinência de As orientações e o apoio oferecidos à
álcool etílico, cigarros e drogas gestante em relação aos perigos do
ilícitas nas gestantes em 10% até álcool etílico, do cigarro e de drogas
2020 ilícitas reduzirão o uso abusivo
dessas substâncias para melhorar os
MICH25 Reduzir a ocorrência de
desfechos perinatais
síndrome alcoólica fetal (SAF) em
10% até 2020
NWS22 Reduzir a deficiência de Fornecer orientação nutricional em
ferro nas gestantes relação a alimentos ricos em ferro
ajudará a reduzir a incidência de
anemia ferropriva durante a gestação
Objetivos do Healthy People com base em dados de http://www.healthypeople.gov.
Questões de desenvolvimento
Uma adolescente precisa realizar determinadas tarefas de desenvolvimento para avançar para o próximo estágio de
maturidade. Essas tarefas de desenvolvimento incluem:
• Buscar estabilidade econômica e social
• Ajuste aos corpos em processo de amadurecimento sexual e aos sentimentos associados
• Desenvolver um sistema de valores pessoais
• Construir relacionamentos significativos com outras pessoas (Figura 20.6)
• Tornarse confortáveis com seu corpo, que está passando por mudanças
• Trabalhar para tornarse independente de seus pais
• Aprender a verbalizar conceitos (CDC, 2015n).
As adolescentes têm necessidades especiais enquanto se esforçam para cumprir suas tarefas de desenvolvimento e
fazer uma transição suave para a idade adulta jovem. Uma das maiores áreas de necessidade é a saúde sexual. As
adolescentes geralmente não têm informações, habilidades nem os serviços necessários para fazer escolhas informadas em
relação à sua saúde sexual e reprodutiva. Do ponto de vista do desenvolvimento, as adolescentes estão tentando descobrir
quem são e como se encaixam na sociedade. Conforme amadurecem, seus pais se tornam menos influentes e os colegas
tornamse mais relevantes. A pressão dos colegas, bem como a crença típica do adolescente de que “não vai acontecer
comigo”, pode levar as adolescentes a se envolver em atividades sexuais (Boxe 20.3). Como resultado, ocorre a gravidez
não planejada. A dedicação às tarefas de desenvolvimento da adolescência, especialmente a identidade, pode ser
interrompida enquanto a adolescente tenta integrar as tarefas da gestação, o vínculo e o preparo para cuidar de outro ser
com as tarefas para desenvolver a sua autoidentidade e independência. A adolescente grávida precisa tentar atender às suas
próprias necessidades, juntamente com as de seu feto. O processo de aprender a separarse dos pais, enquanto aprende a se
vincular e apegar a uma criança, traz conflito e estresse. A gravidez pode agravar o sentimento da adolescente de perda do
controle e desamparo (American Academy of Pediatrics, 2014).
FIGURA 20.6 Adolescentes passando um tempo juntas.
BOXE 20.3
FATORES QUE PODEM CONTRIBUIR PARA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
• Menarca precoce
• Pressão dos colegas para se tornar sexualmente ativa
• Abuso sexual ou outro tipo de violência na infância
• Falta de informações acuradas sobre contracepção
• Medo de conversar com os pais sobre a atividade sexual
• Sentimentos de invulnerabilidade
• Pobreza (85% dos partos ocorrem em famílias pobres)
• Cultura ou etnia (incidência elevada em meninas norteamericanas de origem hispânica e africana)
• Relação sexual sem proteção
• Baixa autoestima e incapacidade de negociar
• Falta de modelos apropriados
• Forte necessidade de alguém para amar
• Uso abusivo de substâncias psicoativas, evasão escolar ou outros problemas comportamentais
• Desejo de escapar de uma situação ruim em casa
• Namoro precoce sem supervisão
Adaptado de Alan Guttmacher Institute. (2015a). Facts on American teens’ sexual and reproductive health.
Retirado de http://www.guttmacher.org/pubs/FBATSRH.html; Ross, S., Baird, A.S., & Porter, C.C. (2014).
Teenage pregnancy: Strategies for prevention. Obstetrics, Gynecology, & Reproductive Medicine. 24(9),
266–273; e March of Dimes. (2015j). Teenage pregnancy. Retirado
de http://www.marchofdimes.com/professionals/14332_1159.asp.
Saúde e questões sociais
A gravidez na adolescência tem um impacto negativo em termos de consequências sociais e de saúde. Por exemplo, 7 em
cada 10 adolescentes vão deixar a escola. Mais de 75% receberão assistência pública no prazo de 5 anos depois de terem
seu primeiro filho. Além disso, filhos de adolescentes correm maior risco de parto prétermo, baixo peso ao nascimento,
maustratos infantis, negligência, pobreza e morte. Quanto mais jovem for a adolescente por ocasião da primeira gestação,
maior será a probabilidade de ela engravidar novamente durante a adolescência (March of Dimes, 2015j). A gravidez na
adolescência também as coloca em alto risco de complicações obstétricas, como trabalho de parto prematuro e parto pré
termo; neonatos de baixo peso; IST/DST; ganho de peso materno insatisfatório, préeclâmpsia, anemia ferropriva, maus
hábitos alimentares e nutrição inadequada; e depressão pósparto (Rajoriya & Kalra, 2015).
Os riscos psicossociais associados à maternidade precoce muitas vezes têm um impacto ainda maior sobre as mães,
famílias e sociedade do que os riscos obstétricos ou clínicos (Northridge & Coupey, 2015). As adolescentes grávidas
apresentam taxas mais altas de violência doméstica e consumo de substâncias psicoativas. As vítimas de violência têm
maior propensão a fazer uso abusivo de substâncias psicoativas e receber assistência prénatal inadequada, além de ter
menor peso na gestação do que aquelas que não sofrem violência (Jeha et al., 2015). Além disso, o uso abusivo de
substâncias psicoativas (cigarros, álcool etílico ou drogas ilícitas) pode contribuir para baixo peso ao nascimento, restrição
do crescimento fetal, nascimento prétermo, drogadição no recémnascido e sepse (March of Dimes, 2015j).
Embora a gravidez precoce (12 a 19 anos de idade) ocorra em todos os grupos socioeconômicos, nos EUA é mais
prevalente nas mulheres pobres e naquelas provenientes de minorias étnicas, que enfrentam mais riscos obstétricos e
neonatais do que suas contrapartes mais ricas (March of Dimes, 2015j). A pobreza muitas vezes contribui para cuidados
prénatais tardios e complicações clínicas relacionadas com a má nutrição, como a anemia.
Os encargos financeiros da gravidez na adolescência são altos e custam aos contribuintes cerca de 11 bilhões de
dólares anualmente nos EUA (Alan Guttmacher Institute, 2015b). Grande parte desse valor é gasto com Medicaid, vale
refeição, maternidades públicas, programa Federal Aid to Families with Dependent Children e pagamentos diretos aos
profissionais da saúde. No entanto, esse montante não contempla os custos para a sociedade em termos de perda de
recursos humanos e efeitos intergeracionais de longo alcance da maternidade na adolescência. Para algumas adolescentes, a
gestação é encarada como uma situação desesperadora: uma história cruel de pobreza e de sonhos perdidos, de estar presa
em uma vida que nunca foi desejada. Comportamentos relacionados com a saúde desenvolvidos durante a adolescência,
como tabagismo, reorientação alimentar, comportamento sexual e comportamentos de procurar ajuda, muitas vezes
permanecem durante fases posteriores da vida (Fedorowicz et al., 2014). As consequências associadas a um estado de
saúde inferior ao ideal de uma adolescente nessa idade por causa da gravidez podem acabar comprometendo sua saúde e a
de seus filhos a longo prazo. No entanto, alguns adolescentes conseguem desenvolver uma vida estável e feliz para si e
para seus filhos, enfrentando os desafios e trabalhando arduamente para vencer as adversidades.
Recordese de Rose, a adolescente grávida com asma brônquica. Sobre quais questões seria importante
que o enfermeiro conversasse com ela em relação à gravidez, à asma e à sua idade?
Avaliação de enfermagem
A avaliação da adolescente grávida é a mesma que para qualquer gestante. No entanto, quando se trata de adolescentes
grávidas, o enfermeiro também precisa fazer as seguintes perguntas:
• Como a adolescente se vê no futuro?
• Existem modelos de papel realistas disponíveis para ela?
• O quanto ela conhece sobre o desenvolvimento da criança?
• Com quais recursos financeiros a adolescente pode contar?
• Ela trabalha? Frequenta a escola?
• A adolescente conta com apoio emocional?
• Ela é capaz de solucionar conflitos e controlar a raiva?
• O que ela sabe sobre saúde e nutrição para ela e seu filho?
• Ela vai precisar de ajuda para lidar com os desafios do novo papel de mãe?
• Ela precisa de informações em relação aos recursos da comunidade?
Ter uma relação honesta com as adolescentes exige conhecêlas e ser capaz de apreciar os aspectos importantes da vida
delas. Com essa relação honesta, formase uma base para o julgamento clínico do enfermeiro e promovese o cuidado, que
leva em conta as preocupações e circunstâncias práticas da adolescente e sua família. A prática habilidosa inclui saber
como e quando aconselhar uma adolescente e quando ouvir e absterse de dar conselhos. Dar conselhos pode ser
interpretado como “pregação”, e a adolescente provavelmente ignorará a informação. O enfermeiro precisa ser perspicaz,
exível e sensível e precisa se esforçar para estabelecer uma relação terapêutica.
Conduta de enfermagem
Para as adolescentes, como para todas as mulheres, a gestação pode ser um tempo física, emocional e socialmente
estressante. A gestação muitas vezes é o resultado e a causa de problemas sociais e estressores que podem ser
esmagadores para elas. O enfermeiro precisa apoiar as adolescentes durante a transição da infância para a idade adulta, o
que é complicado pela maternidade. Ajude a adolescente a identificar familiares e amigos que queiram se envolver e dar
apoio durante a gestação.
Ajude a adolescente a identificar as opções para essa gestação, como abortar, cuidar sozinha da criança, contar com
famílias de acolhimento temporário para o recémnascido ou para si mesma ou disponibilizar a criança para
adoção.6 Explore com a adolescente se a gestação foi planejada ou indesejada. É necessário saber o motivo pelo qual ela
decidiu ter um filho para ajudar no desenvolvimento da adolescente e de sua capacidade como mãe. Identifique barreiras à
busca por cuidados prénatais, como a falta de transporte, muitos problemas em casa, preocupações financeiras, a longa
espera por uma consulta e a falta de sensibilidade por parte do sistema de saúde. Incentive a adolescente a definir metas e
trabalhar em direção a elas. Ajudea a voltar para a escola e a se graduar. Conforme o caso, faça encaminhamento para um
aconselhamento de carreira ou trabalho.
Informe que o bemestar físico da adolescente é importante tanto para ela quanto para o feto em desenvolvimento, que
depende dela para suas próprias necessidades de saúde. Auxilie na organização dos cuidados, incluindo o manejo do
estresse e o autocuidado. O fato de ter um recémnascido saudável facilita um pouco a transição para a maternidade, em
vez de ter que lidar com o estresse de cuidar de um recémnascido não saudável (Rajoriya & Kalra, 2015). Monitore o
ganho ponderal, os padrões de sono e repouso e o estado nutricional para promover desfechos positivos para a mãe e a
criança. Saliente a importância de participar de aulas de orientação prénatal. Forneça orientações adequadas com base no
nível de desenvolvimento da adolescente e enfatize a importância dos cuidados prénatal e de acompanhamento
continuados. Monitore o bemestar materno e fetal durante a gestação e o trabalho de parto (Figura 20.7).
FIGURA 20.7 Adolescente grávida recebendo atendimento durante o trabalho de parto.
O enfermeiro também pode desempenhar um papel importante na prevenção da gravidez na adolescência, talvez
oferecendose para dar palestras a grupos de adolescentes. No boxe Diretrizes de ensino 20.6 constam as áreaschave para
orientar adolescentes em relação à prevenção da gravidez.
É difícil abordar as muitas questões que envolvem a gravidez na adolescência. É fundamental estabelecer conexões
com a paciente, independentemente de quão complexa seja a sua situação. O futuro desafia o enfermeiro a encontrar
soluções para a gravidez na adolescência. Os enfermeiros devem adotar posições proativas durante o trabalho com
adolescentes, pais, escolas e comunidades para reduzir os problemas associados à gravidez precoce.
Os enfermeiros que prestam cuidados a adolescentes têm a oportunidade de conversar sobre gestações futuras e utilizar
as consultas de saúde para orientar em relação à saúde preconcepcional. A orientação das adolescentes que expressam o
desejo de ter um filho e aquelas que não expressam esse desejo é uma parte importante de cuidados de enfermagem
abrangentes. As adolescentes precisam de orientações abrangentes sobre cuidados para reduzir os riscos à saúde, como
parar de fumar, controlar o peso corporal, evitar violência interpessoal e atentar para a necessidade de ácido fólico. As
adolescentes devem ser as principais destinatárias das orientações preconcepcionais em todas as consultas de saúde.
A adolescente grávida está associada a consequências adversas para ela e para seus filhos e impõe altos custos ao
serviço público. A prevenção da gravidez na adolescência exige orientações sobre o sexo baseadas em evidências, apoio
aos pais nas conversas com seus filhos sobre a prevenção de gravidez e outros aspectos da saúde sexual e reprodutiva,
além do pronto acesso a métodos contraceptivos efetivos e acessíveis para as adolescentes sexualmente ativas (CDC,
2015o).
Diretrizes de ensino 20.6
Tópicos para orientar adolescentes a evitar a gravidez
• Comportamentos de alto risco que resultam em gravidez
• Planejamento e estabelecimento de metas para visualizar o futuro em termos de carreira, faculdade,
viagens e escolaridade
• Opção pela abstinência ou dar um passo atrás para se “tornar virgem de novo”
• Discussões sobre sexualidade com um adulto sábio – alguém que ela respeite pode ajudar a colocar
as coisas em perspectiva
• Proteção contra IST/DST e gravidez, se elas optarem por permanecer sexualmente ativas
• Observação crítica e análise de colegas e amigos para se certificar de que estejam criando a
atmosfera ideal para a amizade
• Empoderamento para fazer escolhas que irão moldar sua vida pelos próximos anos, incluindo obter
controle sobre suas próprias vidas agora
• Uso adequado de momentos de lazer, como praticar esportes, estudar teatro, música, fazer trabalhos
voluntários, trabalhos remunerados, participar de atividades na igreja e de clubes escolares
Adaptado de Yoost, J. L., Hertweck, S. P., & Barnett, S. N. (2014). The effect of an educational approach
to pregnancy prevention among highrisk early and late adolescents. Journal of Adolescent Health, 55(2),
222–227; Koh, H. (2014). The teen pregnancy prevention program: An evidencebased public health
program model. Journal of Adolescent Health, 54(3), S1–S2; e March of Dimes. (2015j). Teenage
pregnancy. Retirado de http://www.marchofdimes.com/professionals/14332_1159.asp.
Gestante mais velha
Calculase que até o ano 2025 aproximadamente 25% das mulheres começarão a ter filhos em “uma idade avançada”.
Idade avançada é um fator de risco para infertilidade feminina, aborto, anomalias fetais e complicações obstétricas (Sauer,
2015). Há algumas décadas, a gestante de 35 anos provavelmente estava dando à luz o último de seus vários filhos, mas
hoje ela pode estar tendo a sua primeira criança. Com os avanços na tecnologia e a tendência de as mulheres procurarem
progredir na carreira antes de engravidar, o drástico aumento do número de mulheres que engravidam pela primeira vez
após os 35 anos provavelmente vai continuar.
Impacto da gestação na mulher mais velha
Independentemente de a gravidez ter sido adiada por opção ou por acaso, a mulher que começa uma família com 35 anos
ou mais não o está fazendo sem riscos. As mulheres nessa faixa etária já podem ter condições crônicas de saúde capazes
de colocar a gestação em risco. Além disso, numerosos estudos demonstraram que o aumento da idade materna é um fator
de risco para infertilidade e abortos espontâneos, diabetes melito gestacional, hipertensão arterial crônica, hemorragia pós
parto, préeclâmpsia, trabalho de parto prematuro e parto prétermo, gestação múltipla, doenças genéticas e anomalias
cromossômicas, placenta prévia, restrição do crescimento fetal, baixos escores de Apgar e partos cirúrgicos (Schimmel et
al., 2015). No entanto, embora a idade mais elevada implique aumento das complicações, atualmente a maioria das
mulheres que engravida depois dos 34 anos tem gestações e recémnascidos saudáveis. Hoje em dia, 1 em cada 5 mulheres
nos EUA tem seu primeiro filho depois dos 34 anos (March of Dimes, 2015m).
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem da gestante com mais de 34 anos é a mesma que para qualquer gestante. Para a mulher dessa
idade, a consulta preconcepcional é importante para identificar problemas crônicos de saúde que possam comprometer a
gestação e também para tratar questões de estilo de vida que possam levar algum tempo para serem modificadas. Incentive
a mulher de idade materna avançada que esteja planejando engravidar a consultar o obstetra previamente, a fim de discutir
as condições clínicas preexistentes, medicamentos e escolhas de estilo de vida. Avalie a mulher à procura de fatores de
risco, como tabagismo, má alimentação, sobrepeso ou baixo peso, etilismo ou uso abusivo de drogas ilícitas.
A consulta preconcepcional também oferece a oportunidade de orientar a mulher em relação aos fatores de risco e
fornecer informações sobre como modificar seus hábitos de estilo de vida para melhorar o desfecho da gestação. Ajude a
mulher com as mudanças de estilo de vida para que ela possa começar a gestação em um estado de saúde ideal. Por
exemplo, se a mulher apresentar sobrepeso, orientea em relação à perda de peso para que ela possa começar a gestação
com um peso saudável. Se a mulher for tabagista, incentivea a abandonar o tabagismo para reduzir os efeitos da nicotina
sobre ela e seu feto.
Prepare a mulher para exames laboratoriais e complementares para estabelecer uma linha de base para comparações
futuras. O risco de ter uma criança com síndrome de Down aumenta com a idade, especialmente acima dos 34 anos.
Oferecese a amniocentese de rotina a todas as mulheres mais velhas para possibilitar a detecção precoce de várias
anormalidades cromossômicas, incluindo a síndrome de Down. Além disso, um teste de sangue quádruplo
(alfafetoproteína [AFP], gonadotrofina coriônica humana [hCG], estriol não conjugado [UE] e inibina A [hormônio da
placenta]) feito entre a 15a e a 20a semana de gestação pode ser útil no rastreamento para síndrome de Down e defeitos do
tubo neural.
Conduta de enfermagem
Durante as consultas prénatais de rotina, o enfermeiro pode desempenhar um papel fundamental na promoção de uma
gestação saudável. Considere fatores sociais, genéticos e ambientais que são exclusivos das gestantes de idade materna
avançada e se prepare para lidar com esses fatores ao prestar cuidados. Em um estudo de Mills & Lavender (2014), as
mulheres mais velhas apresentaram taxas estatisticamente semelhantes de hipertensão gestacional, diabetes melito
gestacional, ruptura prematura prétermo de membranas/trabalho de parto prematuro e implantação anormal da placenta em
comparação com as mulheres mais jovens. A cesariana foi mais prevalente em mulheres mais velhas em relação às mais
jovens. Os desfechos neonatais de idade gestacional e peso ao nascimento foram excelentes e semelhantes entre os grupos.
Apesar dos riscos aumentados, existem vantagens psicológicas e sociais potenciais em adiar o parto e o número absoluto
de complicações é pequeno.
Avalie o conhecimento da mulher em relação aos fatores de risco e medidas para reduzilos. Orientea em relação a
medidas para promover um desfecho positivo. Incentivea a receber cuidados prénatais precoces e regulares. Aconselhea
a ingerir uma variedade de alimentos nutritivos – especialmente cereais enriquecidos, produtos contendo grãos
enriquecidos e frutas e legumes frescos –, a beber pelo menos 6 a 8 copos de água por dia e a ingerir as vitaminas
prescritas contendo 400 mcg de ácido fólico diariamente. Enfatize também a necessidade de evitar a ingestão de bebidas
alcoólicas durante a gestação, evitar a exposição ao tabagismo passivo e não ingerir medicamentos a menos que eles
tenham sido prescritos pelo obstetra. Forneça vigilância continuada da mãe e do feto durante a gestação.
Gestante obesa
As gestantes obesas formam um grupo particularmente vulnerável, porque sua deficiência (obesidade) é agrante. Nos
EUA, cerca de 36% dos adultos são obesos, o que inclui 1 em cada 3 mulheres (CDC, 2015p). O sobrepeso e a obesidade
ganharam atenção como sendo ameaças graves à saúde globalmente. A obesidade durante a gravidez é definida como
índice de massa corporal (IMC) maior ou igual a 30 kg/m2usando os valores de altura e peso corporal determinados na
primeira consulta prénatal. Em comparação com as mulheres de peso corporal normal, as mulheres com sobrepeso e
obesidade tendem a ganhar peso excessivo na gravidez e correm alto risco de desfechos insatisfatórios para a gestante e
para o parto. O ganho ponderal excessivo durante a gravidez está fortemente associado à retenção do peso após o parto e
isso aumenta o risco de ganho ponderal adicional nas gestações subsequentes (Chang et al., 2015). A obesidade contribui
para problemas sociais, psicológicos e econômicos ao longo da vida da mulher. As atitudes negativas e a discriminação
por parte da sociedade podem ter consequências negativas para a qualidade de vida da paciente. O número de mulheres
com sobrepeso ou obesidade durante a gestação também aumentou. Nesse período, o excesso de peso aumenta tanto os
riscos obstétricos quanto os neonatais, incluindo:
• Diabetes melito gestacional
• Hipertensão arterial
• Tromboembolismo
• Préeclâmpsia
• Trabalho de parto e parto prétermo
• Anomalias congênitas
• Obesidade na infância e na adolescência
• Macrossomia fetal (peso ao nascimento > 4.000 g)
• Dificuldade para combater as infecções pósparto
• Depressão
• Tendência a permanecer com sobrepeso/obesidade entre as gestações
• Prolongamento da gestação/aumento da probabilidade de feto póstermo
• Aumento do risco de morte fetal
• Maior taxa de cesariana
• Aumento do risco de mortalidade materna
• Alto risco de hemorragia pósparto (ACOG, 2014b).
As atitudes negativas ou críticas contra indivíduos com sobrepeso ou obesos podem ser expressadas pela comunidade
de saúde e por seus membros, incluindo os profissionais de enfermagem. Os profissionais de enfermagem podem achar
difícil conversar sobre questões de peso corporal durante as consultas de prénatal com mulheres obesas (Knight
Agarwal et al., 2014). A avaliação e o aconselhamento preconcepcionais são necessários para mulheres obesas e devem
incluir informações específicas sobre os riscos maternos e fetais da obesidade na gravidez, bem como encorajamento para
seguir um programa de redução do peso corporal (incluindo dieta, exercícios físicos e modificação comportamental). Isso
possibilita que a mulher atinja um peso saudável antes de engravidar.
Gestantes obesas precisam de cuidados de enfermagem individualizados. É necessário tempo extra para promover
práticas saudáveis, que devem incluir lidar com questões relacionadas com o peso, reorientação alimentar e exercício. As
intervenções nutricionais especializadas e as diretrizes baseadas em evidências para lidar com as mulheres em idade fértil
precisam ser consideradas como prioridade de saúde pública por todos os profissionais de enfermagem. Esses cuidados
precisam ser prestados com honestidade e respeito a todas as necessidades da mulher. Tratase de uma oportunidade para a
promoção da saúde visando à divulgação de informações sobre os riscos da obesidade na gestação de mulheres com
sobrepeso e em obesas em idade fértil.
Gestantes usuárias de substâncias psicoativas
O uso abusivo de substâncias psicoativas durante a gravidez é uma importante crise de saúde pública que provoca aumento
da morbidade na mãe e no feto. A epidemia de uso abusivo de substâncias psicoativas ainda é um desafio significativo
para todas as nações. Embora haja uma tendência de simplesmente associar o uso abusivo de substâncias psicoativas à
pobreza, esse problema afeta todos os estratos sociais, gêneros e raças; e as gestantes não são exceção. O uso abusivo de
substâncias psicoativas no período perinatal consiste no consumo de bebidas alcoólicas e outras substâncias psicoativas
pela gestante. A incidência de uso abusivo de substâncias psicoativas durante a gestação é extremamente variável, porque a
maioria das gestantes reluta em revelar a magnitude do consumo. O National Institute on Drug Abuse (NIDA) (2015a)
estima que 7% ou mais das mulheres norteamericanas fizeram uso abusivo de fármacos/drogas ilícitas durante a gestação.
Estas incluem cocaína, maconha, heroína e fármacos psicoterapêuticos que não foram prescritos por um médico. Mais de
20% consumiram bebidas alcoólicas e 19% fumaram cigarros enquanto estavam grávidas (2015a).
Impacto do uso de substâncias psicoativas durante a gestação
O uso abusivo de substâncias psicoativas pode ser visto ao longo de um continuum entre o uso abusivo social de drogas
ilícitas e a drogadição. O uso abusivo de substâncias psicoativas é muito prevalente e continua não sendo diagnosticado ou
sendo subdiagnosticado em muitas gestantes. O abuso de substâncias psicoativas raramente começa durante a gravidez.
Com maior frequência as mulheres que engravidam já fazem uso abusivo de substâncias psicoativas ou já são dependentes
químicas.
Orientação e aconselhamento prénatais são essenciais para impactar de modo bemsucedido essa população de alto
risco. O impacto global positivo da assistência prénatal adequada sobre os desfechos de nascimento é bem documentado.
No caso de gestantes usuárias de substâncias psicoativas, os cuidados prénatais adequados são especialmente críticos.
Vários estudos já descreveram que o aumento da adequação dos cuidados prénatais para usuárias de substâncias
psicoativas reduz os riscos de prematuridade, baixo peso ao nascimento e mortalidade perinatal. No entanto, muitas
gestantes usuárias de substâncias psicoativas não procuram assistência prénatal por medo de serem delatadas ao Child
Protective Services (Serviço de Proteção à Criança) (SAMHSA, 2015).
O uso de substâncias psicoativas, ilícitas ou não, aumenta o risco de complicações clínicas na mãe e desfechos ruins
ao recémnascido. A placenta age como um mecanismo de transporte ativo, não como uma barreira, de modo que as
substâncias passam da mãe para o feto através da placenta. Assim, o feto experimenta junto com a mãe o uso, o uso
abusivo e a drogadição. Além disso, a vulnerabilidade fetal às drogas é muito maior, porque o feto não desenvolveu o
sistema enzimático necessário para metabolizálas (Doulatram, Raj, & Govindaraj, 2015).
EFEITOS DA DROGADIÇÃO
A drogadição é um processo multifacetado influenciado por fatores ambientais, psicológicos, familiares e físicos. As
mulheres usuárias de fármacos/drogas ilícitas, etilistas ou tabagistas são provenientes de todas as classes
socioeconômicas, culturas e estilos de vida. Os fatores associados ao uso abusivo de substâncias psicoativas durante a
gestação incluem baixa autoestima, sistemas de apoio inadequados, baixa expectativa em relação a si mesma, altos níveis
de ansiedade, barreiras socioeconômicas, envolvimento em relações abusivas, sistemas familiares e sociais caóticos e
história pregressa de doença psiquiátrica ou depressão. Com frequência, as mulheres fazem uso abusivo de substâncias
psicoativas para aliviar ansiedade, suportar traumas físicos, sexuais e emocionais da vida, depressão e sentimentos de
baixa autoestima (Slater, 2015).
As atitudes da sociedade em relação às mulheres e ao uso abusivo de substâncias psicoativas podem impedilas de
admitir o problema e procurar tratamento. A sociedade penaliza as mulheres por não corresponderem às expectativas de
como uma gestante “deve” se comportar, possivelmente afastandoas do tratamento de que necessitam desesperadamente.
Por muitos motivos, as gestantes usuárias de substâncias psicoativas não se sentem acolhidas nos ambulatórios de pré
natal ou nas unidades de saúde. Muitas vezes, procuram assistência prénatal tardiamente ou não o fazem. Podem ter medo
de ser envergonhadas ou ser delatadas às autoridades legais ou de proteção infantil. É crucial a criação de um ambiente
imparcial e o fornecimento de orientações não tendenciosas a todas as gestantes, independentemente do seu estilo de vida.
Uma abordagem afetuosa e interessada é fundamental para ajudar essas mulheres a se sentirem seguras e a responder
honestamente às perguntas de avaliação.
A gestação pode ser um motivador para algumas mulheres que querem tentar tratarse. O objetivo do tratamento é
ajudar a paciente a lidar com a gestação desenvolvendose uma relação de confiança. É necessário fornecer uma gama
completa de assistência médica, social e emocional.
EFEITOS DO CONSUMO DAS SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS MAIS
COMUNS
O uso abusivo de substâncias psicoativas durante a gestação aumentou durante as três últimas décadas nos EUA,
resultando no nascimento de cerca de 250 mil crianças anualmente com exposição prénatal a substâncias ilícitas (CDC,
2015q). O rastreamento e as orientações de rotina a mulheres em idade fértil continuam sendo os meios mais importantes
para reduzir a drogadição na gestação.
O uso abusivo de substâncias psicoativas durante a gestação, especialmente no primeiro trimestre, tem um efeito
negativo sobre a saúde da mãe e o crescimento e desenvolvimento do feto. O feto apresenta os mesmos efeitos sistêmicos
que a mãe, mas muitas vezes de modo mais significativo. O feto não consegue metabolizar fármacos/drogas de modo tão
eficiente como a gestante e sofrerá seus efeitos muito tempo após as substâncias terem sido eliminadas do organismo da
gestante. O abuso de substâncias psicoativas durante a gravidez está associado a trabalho de parto prematuro, aborto,
restrição do crescimento intrauterino, descolamento de placenta, redução do escore de Apgar, sangramento no terceiro
trimestre da gravidez, líquido amniótico tinto de mecônio por ocasião do nascimento, morte fetal, baixo peso ao
nascimento, anormalidades neurocomportamentais e consequências a longo prazo do desenvolvimento infantil (WHO,
2015c). A Tabela 20.6 resume os efeitos de substâncias psicoativas específicas durante a gestação. O Healthy People
2020 (ver boxe Healthy People 2020 20.2) também aborda as metas para o uso abusivo perinatal de substâncias
psicoativas.
Álcool etílico. O consumo de álcool é um importante problema de saúde pública nos EUA. O álcool etílico (etanol) é um
teratógeno, uma substância sabidamente tóxica para o desenvolvimento humano. A taxa verdadeira de consumo de álcool
etílico no período prénatal não é conhecida. É um fato reconhecido que o espectro da síndrome alcoólica fetal é totalmente
prevenível pela abstinência alcoólica, contudo, aproximadamente 30% das mulheres consomem bebidas alcoólicas durante
a gravidez (Vall et al., 2015). Teoricamente, nenhuma mãe daria um copo de vinho, cerveja ou bebida destilada a um
recémnascido, mas, quando ela bebe, o embrião ou feto é exposto à mesma concentração sanguínea de álcool etílico que
ela.
Tabela 20.6 Efeitos de determinadas substâncias psicoativas na
gestação.
Substância Efeitos sobre a gestação
psicoativa
Álcool etílico Aborto espontâneo, ganho de peso inadequado,
restrição do crescimento intrauterino, transtorno do
espectro alcoólico fetal, a principal causa de
deficiência intelectual
Cafeína Vasoconstrição e discreto aumento da diurese materna,
estimulação fetal, embora não tenham sido
documentados efeitos teratogênicos em pesquisas
Nicotina Vasoconstrição, redução do fluxo sanguíneo
uteroplacentário, baixo peso ao nascimento, aborto,
prematuridade, descolamento prematuro de
placenta, morte fetal
Cocaína Vasoconstrição, hipertensão gestacional, descolamento
prematuro de placenta, aborto, snow baby
syndrome (síndrome do recémnascido exposto à
cocaína), defeitos do SNC, restrição do crescimento
intrauterino
Maconha Anemia, ganho de peso inadequado, “síndrome
amotivacional”, reflexo de Moro hiperativo, tremores
em recémnascidos, prematuridade, restrição do
crescimento intrauterino
Opiáceos e Abstinência materna e fetal, descolamento prematuro
narcóticos de placenta, trabalho de parto prematuro, ruptura
prematura de membranas, asfixia perinatal, sepse e
morte neonatal, deficiência intelectual, desnutrição
Sedativos Depressão do SNC, abstinência no recémnascido,
convulsões maternas no trabalho de parto, síndrome
de abstinência neonatal, atraso na maturação
pulmonar
Adaptada de Centers for Disease Control and Prevention [CDC].
(2015q). Illegal drug use. Retirada de http://www.cdc.gov/nchs/fastats/drug
useillegal.htm; March of Dimes. (2015k). Smoking, alcohol, and drugs and
pregnancy. Retirada de http://www.marchofdimes.org/pregnancy/illicitdrug
useduringpregnancy.aspx; e McKeever, A. E., SpaethBrayton, S., &
Sheerin, S. (2014). The role of nurses in comprehensive care management
of pregnant women with drug addiction. Nursing for Women’s Health, 18(4),
284–293.
Os efeitos teratogênicos do consumo materno inveterado de álcool etílico são reconhecidos desde 1973, quando a
síndrome alcoólica fetal foi descrita pela primeira vez. A síndrome alcoólica fetal é agora classificada de acordo com o
termo, mais amplo, transtorno do espectro alcoólico fetal (TEAf); esse transtorno inclui toda a gama de defeitos
congênitos, tais como as anomalias estruturais e deficiências comportamentais e cognitivas causadas pela exposição pré
natal ao álcool etílico (Vaux & Chambers, 2015). O TEAF afeta 1 em cada 100 recémnascidos a cada ano, mais do que o
autismo e a síndrome de Down, a paralisia cerebral, a fibrose cística, a espinha bífida e a síndrome de morte súbita infantil
(SMSI) combinados (National Organization on Fetal Alcohol Syndrome [NOFAS], 2015). Nos EUA, a cada ano, até 50
mil neonatos nascem com TEAF. É a principal causa não genética de déficit intelectual nos EUA, possivelmente superior
até mesmo à síndrome de Down, que atualmente está se aproximando de 1 em cada 500 nascidos vivos. O consumo de
bebidas alcoólicas durante a gestação resulta em defeitos encefálicos, craniofaciais e cardíacos, neurotoxicidade e
disfunção do sistema imunológico.
As características do TEAF incluem dismorfia craniofacial (lábio superior fino, circunferência cefálica pequena e
olhos pequenos), restrição do crescimento intrauterino, microcefalia e anomalias congênitas, como anormalidades nos
membros e defeitos cardíacos. As sequelas a longo prazo incluem restrição pósnatal do crescimento, déficits de atenção,
atraso no tempo de reação e mau desempenho escolar (NOFAS, 2015). Os problemas neurocomportamentais complexos
tipicamente se manifestam de modo insidioso. As crianças submetidas à exposição prénatal ao álcool etílico apresentam
problemas cognitivos, acadêmicos, sociais, emocionais e comportamentais. Isso reduz a capacidade da criança de aprender
e atuar com sucesso em muitos ambientes estruturados (Mohammadzadeh & Farhat, 2014). Os problemas cognitivos e
comportamentais comuns estão listados no Boxe 20.4. A Figura 20.8 ilustra as características faciais típicas. Consulte
o Capítulo 24 para uma discussão mais detalhada do recémnascido com TEAF.
A ação preferencial adotada para evitar o consumo de bebidas alcoólicas durante a gestação é a abstinência. No entanto,
a detecção, o diagnóstico e o tratamento do TEAF permanecem sendo necessidades primárias de saúde pública nos EUA e
em todo o mundo. Nem toda mulher que bebe durante a gestação vai dar à luz uma criança com problemas. Com base nas
melhores pesquisas disponíveis, sabese o seguinte a respeito do consumo de álcool etílico durante a gestação:
• A ingestão de bebidas alcoólicas aumenta o risco de defeitos congênitos relacionados com o etanol, incluindo
deficiências de crescimento, anormalidades faciais, comprometimento do sistema nervoso central, transtornos
comportamentais e desenvolvimento intelectual
• O consumo de bebidas alcoólicas não é considerado seguro durante a gestação
• Os danos ao feto podem ocorrer em qualquer fase da gestação, mesmo antes de a mulher saber que está grávida
• Defeitos cognitivos e problemas comportamentais decorrentes da exposição prénatal perduram por toda a vida
• Os defeitos congênitos relacionados com o consumo de álcool etílico são completamente evitáveis (ACOG, 2014c).
BOXE 20.4
PROBLEMAS COGNITIVOS E COMPORTAMENTAIS ASSOCIADOS AO TRANSTORNO DO ESPECTRO
ALCOÓLICO FETAL (TEAF) E AO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE (TDAH)
• Incapacidade de prever consequências
• Incapacidade de aprender com experiências prévias
• Falta de organização
• Déficit intelectual ou baixo QI
• Dificuldade na escola, principalmente com matemática
• Dificuldades de aprendizagem
• Problemas no pensamento abstrato
• Problemas no raciocínio e entendimento
• Problemas de memória
• Falta de controle sobre os impulsos
• Retardos na fala e na linguagem
• Problemas de discernimento
Adaptado de Centers for Disease Control and Prevention [CDC]. (2015h). Fetal alcohol spectrum
disorders. Retirado de http://www.cdc.gov/ncbddd/fasd/alcoholuse.html.
Os fatores de risco associados a dar à luz um recémnascido afetado pelo álcool etílico incluem idade materna, nível
socioeconômico, etnia, fatores genéticos, má nutrição, depressão, desorganização familiar, gravidez não planejada e
assistência prénatal tardia (ACOG, 2014d). A identificação de fatores de risco fortemente associados a desfechos
neonatais relacionados com o consumo de etanol poderia ajudar a identificar gestações de alto risco que necessitam de
intervenção.
Um dos maiores desafios para determinar a verdadeira prevalência do TEAF é como reconhecer a síndrome, o que
depende, em parte, da idade e das características físicas da pessoa que está sendo avaliada. A dificuldade em identificar o
consumo de bebidas alcoólicas resulta de a paciente negar que faz uso abusivo de álcool, da falta de vontade de informar o
consumo de etanol, da subnotificação e da limitação na capacidade de se lembrar da frequência, da quantidade e do tipo de
bebida alcoólica consumida. Isso torna mais difícil identificar as mulheres que estão bebendo durante a gestação, instituir
medidas preventivas ou encaminhálas para tratamento.
FIGURA 20.8 Características faciais típicas de um recémnascido com TEAF.
As mulheres que bebem excessivamente durante a gestação correm risco elevado de dar à luz crianças com defeitos
congênitos. Para evitar esses defeitos, as mulheres não devem ingerir bebidas alcoólicas durante toda a gestação.
Infelizmente, muitas mulheres continuam bebendo durante a gestação, apesar das advertências dos profissionais de saúde.
Atualmente, não se sabe se existe uma quantidade mínima de álcool etílico que se pode ingerir com segurança durante
a gestação; a ingestão ocasional de um copo de vinho pode ou não ser inofensiva. Portanto, a abstinência total durante a
gestação é o objetivo final para evitar os TEAF. A maioria das mulheres sabe que não deve beber durante a gestação, mas
a “janela de vulnerabilidade” – ou seja, o intervalo de tempo entre a concepção e a descoberta da gravidez – coloca um
número substancial de crianças em risco. Além disso, os questionários tradicionais de rastreamento do consumo de
bebidas alcoólicas, como o Michigan Alcoholism Screening Test (MAST) e o CAGE Questionnaire, não são sensíveis o
suficiente para detectar baixos níveis de consumo de etanol por mulheres.
Vários desafios permanecem na prevenção de defeitos congênitos decorrentes do consumo de bebidas alcoólicas:
• Formas de melhorar o reconhecimento clínico de mulheres de alto risco que consomem bebidas alcoólicas
• Formas de intervir de modo mais efetivo para modificar comportamentos de consumo
• Abordagens intrauterinas para evitar ou minimizar a lesão fetal
• Estratégias para resolver os problemas de neurodesenvolvimento das crianças afetadas pelo consumo materno de
etanol.
Sedativos. Os sedativos relaxam o sistema nervoso central e são utilizados clinicamente para induzir o relaxamento e o
sono, aliviar a tensão e tratar crises convulsivas. Os sedativos atravessam facilmente a placenta e podem causar defeitos
congênitos e problemas de comportamento. Os filhos de usuárias de sedativos durante a gestação são dependentes físicos
destes e mais propensos a problemas respiratórios, dificuldades de alimentação, transtornos do sono, sudorese,
irritabilidade e febre (Alexander et al., 2014).
Nicotina. O tabagismo (cigarros) durante a gestação é a maior causa evitável de morte e doença em mulheres e recém
nascidos e está associado a inúmeras complicações obstétricas, fetais e desenvolvimentais, bem como a risco aumentado
de efeitos adversos à saúde na prole adulta. A terapia de reposição de nicotina foi elaborada como uma farmacoterapia para
a interrupção do tabagismo e é considerada uma alternativa mais segura para as mulheres do que fumar durante a gestação.
A segurança do uso da terapia de reposição de nicotina (adesivos transdérmicos e bupropiona) durante a gestação foi
avaliada em um número limitado de estudos a curto prazo em humanos, mas atualmente não há informações sobre os
efeitos a longo prazo da exposição a nicotina no desenvolvimento de seres humanos (Dhalwani, Szatkowski et al., 2015).
A nicotina é encontrada nos cigarros e é outra substância que é prejudicial para a gestante e seu feto. A substância
provoca vasoconstrição e atravessa a placenta, reduzindo o fluxo sanguíneo para o feto e contribuindo para a hipoxia fetal.
Quando comparado com o álcool etílico, a maconha e outras drogas ilícitas, o uso do tabaco tem menor propensão a
diminuir conforme a gestação avança (Velez & Jansson, 2015). O tabagismo está associado a desfechos adversos da
gestação. No entanto, esses desfechos adversos podem ser evitados se a mulher parar de fumar antes de engravidar.
O tabagismo aumenta o risco de aborto espontâneo, gravidez ectópica tubária, trabalho de parto e parto prematuros,
restrição do crescimento fetal, natimortalidade, ruptura precoce das membranas corioamnióticas, baixas reservas fetais de
ferro, hipertensão arterial materna, placenta prévia e descolamento de placenta. A taxa de mortalidade perinatal dos filhos
de mulheres fumantes é 20 a 35% maior do que a de filhos de não fumantes (Varner et al., 2014). Os riscos perinatais e
infantis associados a mulheres que fumam durante suas gestações incluem aumento do risco de fendas labial e palatina, pé
torto, otite média, asma, síndrome de morte súbita infantil, redução da circunferência da cabeça, alteração do
desenvolvimento do tronco encefálico e paralisia cerebral (Cunningham et al., 2014).
O tabagismo também é considerado um importante fator de risco para baixo peso ao nascimento, síndrome de morte
súbita do lactente e déficits cognitivos, principalmente na linguagem, na leitura e no vocabulário, bem como para um
desempenho pior em testes de raciocínio e memória. Os pesquisadores também relataram problemas de comportamento,
como atividade aumentada, falta de atenção, impulsividade, oposição e agressividade (Skoglund et al., 2014). As mulheres
que fumam durante a gestação muitas vezes continuam fumando após o parto; portanto, o recémnascido será exposto à
nicotina também na vida extrauterina. Essa exposição ambiental ou passiva afeta o desenvolvimento da criança e aumenta
o risco de doenças respiratórias na infância.
Cafeína. A cafeína é uma substância farmacologicamente ativa amplamente utilizada e aceita. O fato de as bebidas
cafeinadas serem aceitas pela sociedade promove a popularidade da cafeína e, ao mesmo tempo, mascara o fato de que se
trata de uma substância que pode ser usada de modo abusivo. O efeito do consumo de cafeína durante a gestação sobre o
crescimento e o desenvolvimento fetais ainda é incerto. Um estudo recente descobriu que o consumo de cafeína inferior a
300 mg/dia durante a gestação não afeta seu período de duração nem a condição do recémnascido (Procter & Campbell,
2014). A cafeína, um estimulante do sistema nervoso central, é encontrada em níveis variáveis em produtos comuns, como
café, chá, refrigerantes do tipo cola e chocolate. Também é encontrada em remédios para resfriado e analgésicos. A
ocorrência de defeitos congênitos não foi associada ao consumo de cafeína, mas o consumo de café diminui a absorção de
ferro pela gestante e pode aumentar o risco de anemia durante a gestação.
O consumo moderado de cafeína (menos de 300 mg/dia) não parece ser um fator contribuinte importante para o aborto
ou parto prétermo. A correlação entre a cafeína e a restrição do crescimento permanece indeterminada. Ainda não se pode
chegar a uma conclusão final a respeito da correlação entre o consumo elevado de cafeína e o aborto, em decorrência da
falta de estudos suficientes (Calhoun, & Lewis, 2016).
As bebidas energéticas representam uma nova classe de bebidas cafeinadas comercializadas para aumentar os níveis de
energia, o desempenho atlético, a concentração e a resistência, além de promover perda de peso. Todavia, essas alegações
não foram corroboradas por evidências científicas rigorosas (Higgins, Yarlagadda, & Yang, 2015). Todas as bebidas
energéticas comercializadas nos EUA apresentam concentrações de cafeína que ultrapassam os limites estipulados pela
FDA, geralmente duas a quatro vezes a concentração encontrada em uma porção de chá ou refrigerante. Os efeitos
adversos das bebidas energéticas podem ocorrer em pessoas saudáveis, entretanto, as gestantes seriam consideradas um
grupo de risco e devem evitar o consumo excessivo de cafeína. O consumo excessivo de cafeína está ligado a desfechos
reprodutivos adversos, como baixo peso ao nascimento. O consumo de bebidas energéticas está associado a aumento das
demandas cardíacas provocando hipertensão arterial, taquicardia, arritmias cardíacas, espasmo das artérias coronárias e
morte cardíaca súbita (James, 2015). Tendo em vista o aumento expressivo de idas aos serviços de emergência por causa
de complicações do consumo de bebidas energéticas, os profissionais de enfermagem devem aconselhar suas pacientes
gestantes a não as consumir.
Maconha. A maconha é a droga ilícita mais usada nos EUA, já tendo sido usada ao menos uma vez por mais de 90
milhões de pessoas. Sua prevalência estimada em gestantes é de aproximadamente 10 a 15%. A maconha é uma preparação
das folhas e das partes superiores oridas da Cannabis sativa, a planta cânhamo, que contém diversos agentes
farmacologicamente ativos. O tetrahidrocanabinol (THC) é o principal ingrediente ativo da maconha. No usuário
inveterado, o THC exerce efeito constritor nos brônquios e bronquíolos e provoca inflamação das mucosas. Fumar
maconha causa taquicardia e redução da pressão arterial, resultando em hipotensão ortostática. Embora nos EUA o
governo federal considere a maconha uma substância de classe I (sem usos medicinais e com risco elevado de uso
abusivo), alguns estados legalizaram o uso recreativo para adultos e muitas unidades da federação têm leis que
possibilitam seu uso no tratamento de condições clínicas (dor, náuseas e vômitos, HIV/AIDS, câncer).
Os efeitos de fumar maconha na gestação ainda não são totalmente compreendidos, porque há pouquíssimos estudos
sobre seus efeitos a longo prazo no desenvolvimento da criança. Podese especular que os efeitos da maconha sobre o
sistema nervoso imaturo sejam sutis e não detectados até que sejam necessárias funções mais complexas, geralmente em
um ambiente educacional formal. Há algumas evidências de que a maconha aumente o risco de aborto espontâneo e parto
prétermo (Desai, Mark, & Terplan, 2014). Embora a maconha não seja considerada teratogênica, muitos recémnascidos
exibem respostas alteradas aos estímulos visuais, aumento nos tremores e choro estridente, o que poderia indicar agravos
ao sistema nervoso central (Volkow et al., 2014). Existe uma forte correlação entre o uso abusivo de maconha e etilismo e
tabagismo (cigarros).
Opiáceos e narcóticos. Os opiáceos e narcóticos incluem o ópio, a heroína, a morfina, a codeína, a hidromorfona, a
oxicodona, a meperidina e a metadona. Os opiáceos podem ser inalados, injetados, cheirados, ingeridos ou administrados
por via subcutânea. Essas substâncias psicoativas são depressores do sistema nervoso central. Podem ser usadas
clinicamente para aliviar dor, mas têm um elevado potencial de drogadição. A maioria provoca intensa drogadição na mãe
e no recémnascido.
A dependência de narcóticos é particularmente problemática nas gestantes. Leva à negligência clínica, nutricional e
social pela mulher, em virtude dos riscos a longo prazo da dependência física, desnutrição, imunidade comprometida,
hepatite e superdosagem fatal (Alexander et al., 2014). O uso de opiáceos ou narcóticos durante a gravidez coloca a
mulher em risco aumentado de trabalho de parto prétermo, restrição do crescimento fetal, descolamento da placenta,
morte perinatal, ruptura prematura das membranas corioamnióticas e préeclâmpsia (Prasad, 2014).
A heroína é o opioide ilícito mais comumente utilizado. É derivada das sementes da planta papoula e pode ser
cheirada, fumada ou injetada. Atravessa a placenta por difusão simples nos primeiros 60 minutos após o consumo materno
(ACOG, 2014e). Acreditase que o uso de heroína durante a gestação comprometa o desenvolvimento do encéfalo do feto
e seja responsável por anormalidades comportamentais na infância. Os riscos de exposição perinatal a opiáceos não são
limitados ao feto. As mortes maternas por opiáceos aumentaram dramaticamente (18 mulheres morrem a cada dia), e, para
cada mulher que morre, 30 estão sendo tratadas em prontossocorros por causa de uso abusivo de substâncias psicoativas
(Alexander et al., 2014).
O efeito nocivo mais comum da heroína e de outros narcóticos em recémnascidos é a abstinência, ou síndrome de
abstinência neonatal (SAN) (ver Capítulo 24). Esse conjunto de manifestações clínicas inclui irritabilidade, hipertonia,
tremores, febre, choro excessivo e muitas vezes agudo, vômitos, diarreia, distúrbios de alimentação, dificuldade
respiratória, transtornos do sono, espirros e bocejos excessivos, congestão nasal, sudorese, febre, dificuldade de sucção,
tremores e crises convulsivas (Slater, 2015).
A abstinência de opiáceos durante a gestação é extremamente perigosa para o feto; por isso, recomendase um
programa de manutenção com prescrição de metadona por via oral combinada com psicoterapia para a gestante. Esse
programa de tratamento supervisionado atentamente reduz as manifestações de abstinência no recémnascido, reduz a
compulsão pelos opioides e bloqueia os efeitos eufóricos dos narcóticos, a fim de reduzir o uso da droga ilícita. O manejo
da dependência química de opioides na gravidez inclui terapia de manutenção com metadona ou buprenorfina além dos
cuidados prénatais convencionais e tratamento psicossocial do uso abusivo de substâncias psicoativas, tais como
autoajuda, grupos de 12 etapas, psicoterapia individual e em grupo. Os fármacos usados na terapia de manutenção
proporcionam níveis de opiáceos em equilíbrio dinâmico, reduzindo assim o risco de abstinência do feto e exposição ao
HIV e outras IST/DST, porque a mãe deixou de consumir opioides injetáveis. Todavia, os fármacos usados na terapia de
manutenção têm as mesmas consequências de abstinência para as gestantes e os recémnascidos que a heroína
(McKeever et al., 2014).
Metanfetaminas. Atualmente, nos EUA, o uso de metanfetaminas é mais comum do que o uso de cocaína na gestação;
seu uso por mulheres em idade fértil está aumentando. Fumar ou injetar a droga faz com que a substância chegue
rapidamente ao cérebro, provocando euforia intensa e imediata. Como a sensação de prazer também desaparece
rapidamente, é comum o uso de doses repetidas. É um pó branco de sabor amargo, inodoro, que foi elaborado a partir da
anfetamina e que era usado originalmente em descongestionantes nasais e inaladores brônquicos. Os efeitos maternos
incluem aumento da energia e estado de alerta, intensa agitação psicomotora, diminuição do apetite, taquicardia e
taquipneia. O uso crônico pode levar à psicose, incluindo paranoia, alucinações, perda de memória e comportamento
agressivo ou violento. Os sinais de uso da metanfetamina incluem marcas de injeção intravenosa, desnutrição, cáries
dentárias graves (boca de metanfetamina) e abscessos de pele por escoriação neurótica (ACOG, 2014f). Existem poucos
estudos sobre os efeitos do uso abusivo de metanfetamina durante a gestação, mas esses poucos trabalhos indicam um
aumento do risco de parto prétermo, baixo peso ao nascimento, descolamento prematuro da placenta, restrição do
crescimento fetal e anomalias congênitas (NIDA, 2015d). Contudo, esses resultados são difíceis de interpretar, em virtude
do pequeno tamanho da amostra e do consumo de diversas substâncias psicoativas pelas participantes.
Cocaína. O consumo de cocaína só perde para o de maconha no caso de gestantes usuárias de substâncias psicoativas. A
incidência de exposição intrauterina à cocaína é de aproximadamente 1 a 10 por 1.000 nascidos vivos (Brandt et al., 2014).
Há evidências de que a cocaína afeta o desenvolvimento infantil, tanto diretamente, por meio da exposição intrauterina,
quanto indiretamente, por meio de alterações nos cuidados maternos após o nascimento.
A cocaína é uma substância psicoativa derivada das folhas da planta de coca, que cresce na Cordilheira dos Andes, no
Peru, no Equador e na Bolívia. A pasta base livre, chamada de crack por causa do barulho de rachadura ou estouro feito na
sua preparação, é mais barata, facilmente fabricada e pode ser fumada. A cocaína é um potente vasoconstritor. Quando
aspirada pelas mucosas do nariz, provoca uma intensa “agitação”, que alguns comparam a um orgasmo. O crack fumado é
rapidamente absorvido pela vasculatura pulmonar e alcança a circulação cerebral em 6 a 8 segundos (NIDA, 2015b).
O uso de cocaína provoca vasoconstrição, dilatação de pupilas, elevação da temperatura corporal, taquicardia e
hipertensão arterial, tanto na gestante como no feto (Kahn, Mikhael, & Vadivelu, 2015). Pode ocorrer insuficiência
uteroplacentária em decorrência da redução do fluxo sanguíneo e da perfusão placentária. O uso crônico pode resultar em
baixo peso ao nascimento, o efeito mais comum do uso de cocaína na gestação (NIDA, 2015b).
Estudos sugerem que o uso perinatal de cocaína aumente o risco de trabalho de parto prematuro, aborto, descolamento
prematuro de placenta, restrição do crescimento fetal, sofrimento fetal intrauterino, morte fetal, crises convulsivas,
abstinência e infartos cerebrais. A cocaína aumenta o risco de ruptura uterina e anomalias congênitas (NIDA, 2015b). As
anomalias fetais associados ao uso de cocaína no início da gestação envolvem problemas neurológicos (como defeitos do
tubo neural e microcefalia), anomalias cardiovasculares (como cardiopatias congênitas), condições geniturinárias (tais
como a síndrome de deficiência dos músculos abdominais, hidronefrose e genitália ambígua) e problemas no sistema
digestório (tais como enterocolite necrosante) (Connery, 2014). Alguns recémnascidos que foram expostos in utero à
cocaína mostram maior irritabilidade e são difíceis de consolar e acalmar para dormir.
Uso indevido de fármacos de venda controlada. Além do consumo de bebidas alcoólicas e do uso abusivo de drogas
ilícitas, uma nova tendência mundial surgiu e logo pode ultrapassar o uso de drogas ilícitas. Tratase do uso indevido de
fármacos controlados que são encontrados em muitas caixas de remédio domiciliares. O uso abusivo de substâncias
psicoativas legais (obtidas com prescrição médica) atingiu níveis epidêmicos nos EUA. As estimativas das taxas de abuso
de substâncias psicoativas legais (obtidas com prescrição médica) variam de 5 a 20%. Os medicamentos comumente
escolhidos incluem analgésicos, estimulantes, sedativos e ansiolíticos. Uma crença comum entre aqueles que fazem uso
abusivo é que os fármacos controlados são menos perigosos do que as drogas ilícitas e que é seguro usar a medicação que
foi prescrita para um amigo. Infelizmente, as mortes por intoxicação não intencionais ocorrem com frequência. Além
disso, desenvolveuse um mercado de produtos falsificados utilizando a internet, criando assim um mercado global de
medicamentos falsificados (McHugh, Nielsen, & Weiss, 2015).
A detecção precoce por meio de uma avaliação abrangente é essencial para melhorar os desfechos globais do
tratamento. As novas pesquisas apoiam o rastreamento de todas as gestantes à procura de uso abusivo de substâncias
psicoativas. Um papel importante do enfermeiro é concentrarse na prevenção, orientando todas as mulheres em relação
aos perigos associados ao uso indevido de medicamentos controlados. As orientações à comunidade são essenciais para
gerenciar os riscos a fim de evitar o desenvolvimento de problemas.
Avaliação de enfermagem
Colete uma anamnese completa e faça um exame físico abrangente para avaliar se a paciente é usuária de substâncias
psicoativas. O rastreamento do consumo de substâncias psicoativas na gestação é feito para detectar a utilização de
qualquer substância psicoativa que sabidamente (ou supostamente) exerça um efeito prejudicial sobre a paciente ou o feto.
Pergunte rotineiramente sobre o uso abusivo de substâncias psicoativas a todas as mulheres em idade fértil, informeas
sobre os riscos envolvidos e aconselheas a interromper o consumo. Os questionários de rastreamento são úteis na
identificação de potenciais usuárias, reduzem o estigma de questionar a paciente sobre o uso abusivo de substâncias
psicoativas e resultam em uma avaliação mais acurada e consistente. As perguntas do Boxe 20.5 são valiosas na avaliação
da paciente que corre risco de consumo de substâncias psicoativas durante a gestação. Utilizar uma terminologia “de
aceitação” encoraja a mulher a dar respostas honestas, sem medo de censura.
A mulher que afirma não ter usado substâncias psicoativas durante a gestação pode não saber que substâncias como
tintura de cabelo, refrigerantes dietéticos, tinta de parede ou de quadros ou medicamentos de venda livre para resfriados ou
cefaleia também são consideradas psicoativas. Assim, é muito difícil obter uma imagem fiel do real uso de substâncias
psicoativas pelas gestantes.
Considerase que muitas substâncias psicoativas exerçam efeitos teratogênicos sobre o feto em crescimento.
Um teratógeno é qualquer substância ambiental que possa causar defeitos físicos no embrião e no feto. A gestante usuária
de substâncias psicoativas comumente utiliza diversas substâncias, o que é provavelmente mais prejudicial do que o uso de
apenas uma substância. Assim, é inerentemente difícil atribuir um efeito perinatal específico a determinada substância
(McKeever, SpaethBrayton, & Sheerin, 2014).
BOXE 20.5
EXEMPLOS DE PERGUNTAS PARA AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
• Você já usou substâncias psicoativas? Em caso positivo, quando e quais?
• Você já tomou algum medicamento controlado de modo diferente do prescrito?
• O que você acha do uso de substâncias psicoativas durante a gestação?
• Com que frequência você fuma? Quantos cigarros por dia?
• Com que frequência você consome bebidas alcoólicas?
• Você já se sentiu culpada por consumir substâncias psicoativas ou ingerir bebidas alcoólicas?
Se a avaliação revelar que a pessoa é usuária de substâncias psicoativas, colete informações adicionais por
meio do questionário RAFFT, que é um instrumento de rastreamento sensível para identificar o consumo de
substâncias psicoativas (Weekes & Lee, 2014):
R: Você bebe ou usa drogas para Relaxar, melhorar a sua autoimagem ou se sentir aceita?
A: Você já consumiu substâncias psicoativas sozinha (Alone, em inglês)?
f: Você tem amigos (Friends, em inglês) próximos que são usuários de substâncias psicoativas?
f: Algum Familiar próximo é etilista ou usuário de substâncias psicoativas?
T: Você já teve problemas (Trouble, em inglês) por causa de bebidas alcoólicas ou consumo de
substâncias psicoativas?
Um exame toxicológico de urina também pode ser útil para determinar o uso de substâncias psicoativas, embora o
exame de urina identifique apenas o uso recente ou considerável de substâncias psicoativas. O período de tempo que uma
substância psicoativa é encontrada na urina é dado a seguir:
• Cocaína: 24 a 48 horas no adulto, 72 a 96 horas no recémnascido
• Heroína: 24 horas no adulto, 24 a 48 horas no recémnascido
• Maconha: 1 semana a 1 mês no adulto, até 1 mês ou mais no lactente
• Metadona: até 10 dias no recémnascido (Wang, 2015).
Conduta de enfermagem
Se o rastreamento toxicológico da mulher for positivo, use isso como uma oportunidade para discutir a exposição prénatal
a substâncias psicoativas que possam ser prejudiciais. A discussão pode levar o enfermeiro a encaminhar a paciente para
uma avaliação diagnóstica ou identificar uma intervenção, como psicoterapia, que pode ser útil. Ser imparcial é essencial
para o sucesso; uma paciente é mais apta a confiar e revelar padrões de uso abusivo se o enfermeiro não a julga nem julga
suas escolhas de estilo de vida.
O rastreamento toxicológico positivo no recémnascido merece uma investigação por parte da agência de proteção do
estado. Nesse ínterim, institua medidas cautelares para reduzir o estresse e os estímulos para promover o conforto do
recémnascido (consulte o Capítulo 24 para uma discussão mais aprofundada).
Seja proativo, solidário e acolhedor ao atender a usuária de substâncias psicoativas. Assegure a ela que o
compartilhamento de informações de natureza confidencial com os médicos não irá tornála passível de processo criminal.
Forneça aconselhamento e orientações, enfatizando o seguinte:
• Efeitos da exposição às substâncias psicoativas no feto
• Intervenções para melhorar o apego mãefilho e melhorar a parentalidade
• Apoio psicossocial se for necessário tratamento para reduzir o consumo de substâncias psicoativas
• Encaminhamento para programas de apoio para melhorar o acesso às instituições de tratamento
• Substâncias psicoativas lícitas perigosas a serem evitadas durante a gestação
• Acompanhamento de crianças cujas mães sejam dependentes de substâncias psicoativas
• Aconselhamento dietético para melhorar o desfecho da gestação, tanto para a mãe quanto para a criança
• Rastreamento toxicológico para identificar todas as substâncias psicoativas que a paciente esteja usando
• Consultas prénatais mais frequentes para monitorar o bemestar fetal
• Benefícios maternos e fetais de “ficar limpa”
• Sensibilidade cultural
• Habilidades de enfrentamento, sistemas de apoio e orientação profissional.
Categoricamente, não existe diferença entre a drogadição na gestação da drogadição em geral. As gestantes usuárias de
substâncias psicoativas são mulheres que usam substâncias psicoativas, engravidam e não conseguem interromper o
consumo dessas substâncias psicoativas. O fato de serem condenadas pela sociedade resulta em marginalização adicional,
que não melhora sua vida nem a vida de seus filhos.
O consumo de substâncias psicoativas é um problema complexo, que exige sensibilidade para a situação de cada
mulher e para os fatores contribuintes. Certifiquese de abordar os fatores psicológicos e socioculturais individuais para
ajudar a mulher a recuperar o controle de sua vida. Os profissionais de enfermagem precisam estar cientes das
necessidades ímpares dessas mulheres e das ramificações legais e éticas em torno da gravidez. O tratamento precisa
combinar diferentes abordagens e fornecer suporte contínuo às mulheres que estão aprendendo a viver sem consumir
substâncias psicoativas. Desenvolver qualidades pessoais, como habilidades de comunicação, assertividade e
autoconfiança, ajudará a mulher a resistir ao uso das substâncias psicoativas. Incentive o uso de habilidades de
enfrentamento adequadas. Melhorar a autoestima também ajuda a formar uma base para evitar as drogas. Por meio de
comunicação terapêutica, intervenções de enfermagem, avaliação clínica e criação de relações de confiança, os
profissionais de enfermagem podem ter um impacto significativo no manejo de pacientes que fazem uso abusivo de
substâncias psicoativas.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
O aconselhamento preconcepcional das diabéticas é útil na promoção do controle da glicemia para
evitar anomalias congênitas
O sistema de classificação para o diabetes melito é baseado na etiologia da doença, e não no
tratamento farmacológico; a classificação inclui DM1, DM2, diabetes melito gestacional e glicemia de
jejum alterada e tolerância à glicose diminuída
A classificação funcional da doença cardíaca durante a gestação é baseada em incapacidade atual
e pregressa: classe I, assintomáticas, sem limitação nas atividades físicas; classe II, sintomáticas
(dispneia, dor torácica) aos esforços; classe III, sintomáticas (fadiga, palpitação) à atividade normal;
e classe IV, sintomáticas em repouso ou com qualquer atividade física
Existe hipertensão arterial crônica quando a mulher apresenta pressão arterial de 140/90 mmHg ou
mais antes da gravidez ou antes da 20a semana de gestação, ou quando a hipertensão pósparto
persiste por mais de 12 semanas
O manejo bemsucedido da asma brônquica na gestação envolve a eliminação de causas
ambientais, tratamento farmacológico e orientações à paciente
O ideal é que as mulheres com doenças hematológicas sejam rastreadas antes da concepção e
conscientizadas dos riscos para si e para a gestação
Uma gama de infecções – como citomegalovírus, rubéola, herpesvírus simples (HSV), hepatite B,
varicela, parvovírus B19 – e muitas outras infecções/doenças sexualmente transmissíveis podem
afetar uma gestação, tendo um impacto negativo sobre o seu desfecho
A prevalência de HIV/AIDS está aumentando mais rapidamente nas mulheres do que nos homens:
50% de todos os casos de HIV/AIDS em todo o mundo agora ocorrem em mulheres. Existem
apenas três modos reconhecidos de transmissão do HIV: relações sexuais sem proteção com um
parceiro infectado, contato com sangue infectado ou hemoderivados e transmissão perinatal. A
amamentação é um importante fator contribuinte para a transmissão do HIV de mãe para filho
(transmissão vertical)
Os casos de AIDS perinatal diminuíram nos últimos anos nos EUA, principalmente por causa do
tratamento da gestante com HIV com zidovudina (ZDV). A U.S. Preventive Services Task Force
recomenda que a pesquisa de anticorpos antiHIV seja realizada em todas as gestantes,
independentemente do seu risco de infecção, e que o exame seja feito durante a avaliação prénatal
inicial
Quanto mais jovem for a adolescente por ocasião da primeira gestação, maior é a probabilidade de
que ela engravide novamente durante a adolescência. Aproximadamente 1 milhão de adolescentes
entre os 15 e 19 anos de idade engravidam a cada ano; cerca de 50% dão à luz e ficam com seus
filhos
O papel do enfermeiro que atende uma adolescente grávida é ajudála a identificar as opções para
essa gravidez, incluindo abortar, cuidar sozinha da criança, contar com famílias de acolhimento
temporário para o recémnascido ou para si mesma ou disponibilizar a criança para adoção
As gestantes com problemas de consumo de substâncias psicoativas comumente utilizam várias
substâncias, tornando difícil atribuir um efeito perinatal específico a uma determinada substância. As
atitudes da sociedade em relação à gestante que faz uso abusivo de substâncias psicoativas podem
impedila de admitir o problema e procurar tratamento
O consumo de substâncias psicoativas durante a gestação está associado a trabalho de parto
prematuro, aborto, baixo peso ao nascimento, anomalias do sistema nervoso central e fetais e
consequências no desenvolvimento infantil a longo prazo
O TEAF consiste em um conjunto de defeitos neurocomportamentais, físicos e mentais ao
nascimento que perduram por toda a vida, embora sejam completamente evitáveis; é a principal
causa de déficit intelectual nos EUA
A conduta de enfermagem para a mulher que faz uso abusivo de substâncias psicoativas se
concentra no rastreamento e na prevenção do uso abusivo de substâncias psicoativas para reduzir a
alta incidência de complicações obstétricas e clínicas, bem como das taxas de morbidade e
mortalidade dos recémnascidos com drogadição passiva
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Exercícios sobre o capítulo
QUESTÔES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. Qual das seguintes indicações o enfermeiro incluiria ao orientar uma gestante em relação aos
mecanismos fisiopatológicos associados ao diabetes melito gestacional?
a. A gestação promove o desenvolvimento de compulsão por carboidratos
b. Ocorre resistência progressiva aos efeitos da insulina
c. Hipoinsulinemia se desenvolve no início do primeiro trimestre
d. Os níveis de glicose diminuem para acomodar o crescimento fetal
2. Ao fornecer orientações prénatais a uma gestante com asma, qual das ações a seguir seria importante
que o enfermeiro tomasse?
a. Explique que ela deve evitar esteroides durante a gestação
b. Demonstre como avaliar seus níveis séricos de glicose
c. Ensine como administrar corretamente os broncodilatadores por via subcutânea
d. Certifiquese de que ela vai procurar tratamento se houver alguma exacerbação aguda
3. Qual das seguintes condições mais provavelmente causará a maior dificuldade durante a gestação de
uma mulher com diabetes melito do tipo 1?
a. Placenta prévia
b. Hiperêmese gravídica
c. Descolamento prematuro de placenta
d. Incompatibilidade Rh
4. A mulher que consome bebidas alcoólicas durante a gestação:
a. Muitas vezes produz mais álcool desidrogenase
b. Habitualmente se embriaga mais rápido do que antes
c. Pode dar à luz um feto com transtornos do espectro alcoólico fetal
d. Ganho menos peso ao longo da gestação
5. Ao explicar a uma gestante como ocorre a infecção e a transmissão do HIV, qual das seguintes opções
o enfermeiro incluiria?
a. Ocorrem principalmente quando há carga viral elevada no sangue
b. O HIV é mais comumente transmitido pelo contato sexual
c. Afeta a maioria dos filhos de mulheres infectadas pelo HIV
d. As picadas de agulha são os meios mais frequentes de infecção em profissionais de enfermagem
6. Mulheres obesas correm maior risco de desenvolver qual das seguintes opções durante a gravidez?
a. Diabetes melito do tipo 1
b. Hipotensão
c. Recémnascido de baixo peso
d. Hipertensão arterial gestacional
7. O uso continuado de metadona ou buprenorfina é o tratamento farmacológico mais comum para qual
das seguintes dependências químicas?
a. Álcool etílico
b. Nicotina
c. Opiáceos
d. Maconha
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1. Uma gestante na 26a semana de gravidez foi à clínica para fazer um teste de tolerância oral à glicose
de 1 hora. O resultado do exame estava fora da faixa tolerada e foi solicitado um teste de tolerância oral
à glicose (TTOG) de 3 horas. Obtiveramse três valores anormais, confirmando o diagnóstico de
diabetes gestacional. Como enfermeiro da clínica prénatal, é a primeira vez que você tem contato com
essa paciente.
a. De que informações adicionais você precisa para prestar cuidados a ela?
b. De quais orientações ela precisará para lidar com esse novo diagnóstico?
c. Como você avaliará a efetividade de suas intervenções?
2. Uma adolescente de 14 anos chega à unidade básica de saúde com sua mãe. A mãe lhe diz que sua
filha “andou por aí e ficou grávida”. A adolescente está chorando baixinho no canto e evita o contato
visual com você. A mãe relata que a filha “deve estar seguindo seus passos”, porque ela engravidou
quando tinha apenas 15 anos. A mãe da paciente volta para a sala de espera e deixa a paciente com
você.
a. Como é a sua primeira aproximação à paciente para que você ganhe sua confiança?
b. O que é necessário orientar a essa paciente durante a gestação?
c. Que estratégias de prevenção são necessárias para evitar uma segunda gravidez?
3. Linda, uma Gesta III, Para II, de 27 anos de idade, foi admitida à sala de trabalho de parto e parto por
causa da ruptura prematura de membranas em uma gestação de cerca de 35 semanas. Ela não
recebeu atendimento prénatal e relata que a gravidez não foi planejada. Linda parece distraída e está
muito magra. Ela disse que seus dois filhos anteriores estão em um orfanato desde que nasceram
porque as autoridades que cuidam do bemestar da criança “acharam que eu não era uma mãe
adequada”. Ela nega consumo recente de etanol ou drogas/substâncias psicoativas, mas há cheiro de
álcool em seu hálito. Ela teve um parto vaginal espontâneo algumas horas mais tarde, dando à luz um
menino de 1.810 g, com escore de Apgar de 8 no 1o minuto e 9 no 5o minuto.
a. Que aspectos da história dessa mulher podem levar o enfermeiro a suspeitar que esse recém
nascido corra risco de transtorno do espectro alcoólico fetal?
b. Quais exames de rastreamento ou exames laboratoriais adicionais poderiam confirmar a sua
suspeita?
c. Que déficits físicos e de neurodesenvolvimento podem se manifestar mais tarde se o recém
nascido tiver transtornos do espectro alcoólico fetal?
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. Na maternidade ou no hospital, entreviste uma gestante com uma condição clínica preexistente (p. ex.,
diabetes melito, asma brônquica, anemia falciforme) e descubra como essa condição afetou sua vida e
essa gestação, especialmente as escolhas de estilo de vida dela.
2. Você tem uma amiga íntima que tem problemas com bebidas alcoólicas, mas ela nega. Ela acabou de
admitir a você que acha que está grávida, porque não menstruou quando deveria. Que informações e
conselhos específicos você deve dar a ela a respeito do consumo de bebidas alcoólicas durante a
gestação?
3. O consumo de maconha deve ser legalizado nos EUA? Que impacto a sua opinião (a favor ou contra)
poderia ter sobre as gestantes e seus filhos?
4. Delineie uma conversa que você pode ter com uma gestante HIVpositiva que não percebe a
necessidade de tomar fármacos antirretrovirais para prevenir a transmissão perinatal.
5. O enfermeiro está preparando uma sessão de orientações a respeito da amamentação a um grupo de
gestantes que têm as diversas infecções listadas adiante. O enfermeiro incluiria mulheres com qual das
condições a seguir? Selecione todas as opções que se apliquem.
a. Hepatite B
b. Infecção por parvovírus B19
c. Infecção por herpesvírus do tipo 2
d. Infecção pelo HIV
e. Infecção por citomegalovírus
f. Infecção por vírus varicelazóster
ESTUDO DE CASO
Linda tem 18 anos de idade, está muito magra e faz uso abusivo de álcool etílico desde os 12 anos de
idade. Ela viveu em lares adotivos durante boa parte de sua vida e, recentemente, vive sozinha e tem um
emprego de meioperíodo. Ela informa que sofreu maustratos emocionais e sexuais durante sua infância.
Ela começou a fazer uso de crack (cocaína na forma de pedra para uso inalatório) aos 16 anos de idade.
Tantos amigos e parentes dela estavam usando crack que foi impossível para ela visualizar outro estilo de
vida ou desejar procurar ajuda para sua dependência química. Ela informa que desejou mudar de vida
quando descobriu que estava grávida, mas continuou usando drogas nos últimos 4 meses dessa gravidez.
Hoje ela compareceu à primeira consulta de prénatal. Ela declara que está disposta a fazer uma mudança
positiva em sua vida.
AVALIAÇÃO
Com base no relato de Linda, ela é muito vulnerável por causa de sua idade (muito jovem), de seu peso
abaixo do ideal, da história pregressa de maustratos, do uso abusivo de substâncias psicoativas e da falta
de uma rede de suporte para auxiliála a fazer uma “mudança positiva” em sua vida. Embora ela declare
que deseja abandonar as drogas, ela não conseguiu avançar em direção a essa meta anteriormente. Nesse
estágio da gravidez, os sinais vitais e a frequência cardíaca fetal estavam dentro dos limites da normalidade,
o peso corporal dela estava abaixo dos limites padrões para sua altura e os exames laboratoriais eram
normais, com exceção de níveis baixos de hemoglobina indicativos de anemia ferropriva.
Encontre questões sobre esse caso no material suplementar online deste livro.
Respostas da seção Exercícios sobre o capítulo
Capítulo 20 | Conduta de Enfermagem na Gravidez de Risco | Condições de Saúde
Específicas e Populações Vulneráveis
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
1. A resposta correta é B. Os níveis do hormônio hPL (antagonista da insulina) aumentam progressivamente durante a
gestação e é necessário insulina adicional para superar sua resistência. O desenvolvimento de compulsão por
carboidratos não está associado ao diabetes gestacional. A hiperinsulinemia no feto se desenvolve em resposta aos
níveis séricos elevados de glicose no sangue da mãe. Os níveis de glicose são desviados através da placenta para uso
pelo feto e, assim, os níveis maternos são reduzidos no primeiro trimestre. Esse nível de glicose mais baixo não
ocorre em toda a gestação, apenas no primeiro trimestre. Nos dois trimestres restantes, os níveis de glicose maternos
são elevados por causa da resistência à insulina provocada pelo hPL.
2. A resposta correta é D. A gestante com asma que está tendo uma exacerbação aguda será mal oxigenada e, portanto, a
perfusão para a placenta será comprometida. É necessário tratamento imediato para o seu bemestar, bem como o do
feto. Os corticosteroides são usados como tratamento farmacológico de primeira linha para o manejo da asma, em
razão de suas propriedades antiinflamatórias. A asma não influencia os níveis de glicose da mulher, a menos que ela
também tenha diabetes. Os broncodilatadores geralmente são inalados, não administrados por via subcutânea, de
modo que orientações sobre essa via de administração não seriam necessárias.
3. A resposta correta é B. Náuseas e vômitos extremos como parte da hiperêmese gravídica causariam desequilíbrio
hidreletrolítico e modificariam bastante os níveis de glicose no sangue. Na placenta prévia, a placenta está deslocada,
não disfuncional; ela não teria tanto impacto sobre a gestação quanto um desequilíbrio hidreletrolítico. O
descolamento prematuro de placenta colocaria a gestante em risco de hemorragia, mas a placenta não controla os
níveis de glicose no sangue da gestante. A incompatibilidade Rh acomete o feto, não a gestante, levando à lise das
hemácias fetais. Esse processo não influenciaria os níveis de glicose da mãe.
4. A resposta correta é C. O álcool etílico ingerido durante a gestação é teratogênico para o feto, e o neonato pode
nascer com transtornos do espectro alcoólico fetal. A ingestão de álcool etílico diminuiria a produção de
desidrogenase, enzima que mobiliza o hidrogênio de um substrato para que ele possa passar para um receptor de
hidrogênio. Embriagarse mais rápido com o consumo de etanol durante a gestação não está associado à gravidez. A
composição genética da gestante, o modo como o álcool etílico é consumido, o percentual de gordura corporal da
gestante, sua taxa metabólica e a ingestão de alimentos são alguns dos fatores que determinam o metabolismo do
etanol. O álcool etílico contém calorias, e, se for ingerido em grande quantidade junto a alimentos, poderia ocorrer
ganho de peso, não perda.
5. A resposta correta é B. O maior percentual de transmissão do HIV resulta da atividade sexual, seguida pelo uso de
substâncias psicoativas injetáveis. A transmissão pode ocorrer apesar da baixa carga viral no sangue do indivíduo
infectado. As gestantes que fazem uso de terapia antirretroviral reduzem significativamente as chances de transmissão
do HIV para o feto. O uso de precauções padrão minimizará o risco de transmissão do HIV para os profissionais de
saúde. Uma porcentagem muito pequena de enfermeiros contrai HIV por causa de picadas de agulha, o que ocorre se
não estiverem usando as devidas precauções.
6. A resposta correta é D porque o tecido adiposo excessivo sobrecarrega o coração, além do fato de que as demandas
circulatórias aumentadas impostas pela obesidade aumentam o risco de vasoconstrição resultando em hipertensão
arterial. A alternativa A é incorreta porque o diabetes melito do tipo 1 (DM1) é, geralmente, determinado
geneticamente e não é causado por fatores ambientais. A alternativa B é incorreta porque, na verdade, ocorre o oposto
– a pressão arterial materna se eleva em vez de baixar. A alternativa C é incorreta porque os filhos de mulheres
obesas tendem a ser grandes para a idade gestacional (GIG). As pesquisas indicam que a obesidade antes da gravidez
é o fator preditivo mais forte de a mulher dar à luz um feto macrossômico.
7. A resposta correta é C porque minimiza os sinais/sintomas de abstinência e bloqueia os efeitos dos opioides ilícitos.
A terapia de manutenção está associada a taxas reduzidas de parto prétermo, gestação mais prolongada e pesos ao
nascimento maiores. As alternativas A, B e C são incorretas porque esses dois fármacos usados na terapia de
manutenção não promovem respostas indesejáveis no corpo quando usadas em um padrão de manutenção.
EXERCÍCIOS DE RACIOCÍNIO CRÍTICO
1.
a. De que informações adicionais você precisa para prestar cuidados a ela?
• Determine a ingestão diária típica da paciente
• Pergunte se há história familiar de diabetes melito
• Afira os sinais vitais e o peso da gestante e a frequência cardíaca fetal
• Avalie as habilidades de enfrentamento e a capacidade de manejo do diabetes melito da gestante
• Avalie o conhecimento da gestante a respeito da doença e das mudanças de estilo de vida necessárias
• Pergunte se ela apresenta fadiga, poliúria, polifagia e polidipsia
• Pergunte sobre os desfechos de suas gestações anteriores e o peso de seus recémnascidos.
b. De quais orientações ela precisará para lidar com esse novo diagnóstico?
• Modificações dietéticas para reduzir a quantidade de açúcares simples e carboidratos
• Explicação completa das potenciais complicações do diabetes melito na gestação:
º Infecção: infecção urinária e vaginite por Candida
º Trabalho de parto e parto difíceis: distocia de ombro, tocotraumatismo, cesariana
º Anomalias congênitas: anomalias cardíacas, do SNC e esqueléticas
• Literatura descrevendo a dieta, os exercícios físicos e o monitoramento da glicemia
• Esboço dos sinais e sintomas da hipoglicemia e da hiperglicemia
• Encaminhamento para nutricionista para planejamento da dieta.
c. Como você avaliará a efetividade de suas intervenções?
• Agende consultas prénatais com maior frequência para avaliar seu estado de saúde
• Avalie os valores de glicose a cada consulta para confirmar que estejam no intervalo normal
• Monitore a hemoglobina glicada (HbA1 C) para determinar os níveis sanguíneos de glicose pregressos.
2.
a. Como é a sua primeira aproximação à paciente para que você ganhe sua confiança?
Comece a conversa fazendo perguntas sobre as atividades na escola e seus amigos. Permaneça imparcial e
conduza a conversa para perguntas gerais sobre seus ciclos mensais. Por fim, direcione o diálogo para perguntas
sobre quando ela menstruou pela última vez e avalie qual é sua idade gestacional. As adolescentes geralmente
negam a gravidez durante vários meses, de modo que essa adolescente pode já estar no segundo trimestre de
gestação.
b. O que é necessário orientar a essa paciente durante a gestação?
• Sinais e sintomas de trabalho de parto prematuro
• Necessidades nutricionais durante a gestação
• Necessidade de assistência prénatal ao longo da gestação
• Importância da detecção precoce de complicações
• Decisão sobre a possibilidade de envolver seu parceiro
• Motivo para a frequência das consultas prénatais e a importância do comparecimento
• Sinais e sintomas das doenças/infecções sexualmente transmissíveis
• Impacto do uso abusivo de substâncias psicoativas sobre o crescimento e o desenvolvimento fetais
• Aulas de preparação para o parto e a maternidade
• Crescimento e desenvolvimento infantis e cuidados com o recémnascido.
c. Que estratégias de prevenção são necessárias para evitar uma segunda gravidez?
• Pergunte sobre seus objetivos educacionais e incentivea a concluir seus estudos; talvez seja adequado
encaminhála para aconselhamento vocacional
• Identifique seus pontos fortes e reforce a autoestima positiva
• Envolvaa ativamente no próprio cuidado a cada consulta e elogiea por seus esforços
• Discuta sobre os métodos de planejamento familiar adequados para ela e deixea decidir
• Melhore a percepção positiva de sua capacidade de vencer na vida.
3.
a. Que aspectos da história dessa mulher podem levar o enfermeiro a suspeitar que esse recémnascido pode
correr risco de transtorno do espectro alcoólico fetal?
• A falta de cuidados prénatais
• A história de uso abusivo de substâncias psicoativas (álcool etílico) nas gestações anteriores
• Crianças colocadas no orfanato desde o nascimento, em razão da falta de capacidade da mãe
• Aspecto na chegada e evidências de estar desnutrida
• Declaração de não ter consumido “recentemente” bebidas alcoólicas
• Recémnascido com peso de 1.810 g.
b. Quais exames de rastreamento ou exames laboratoriais adicionais poderiam confirmar a sua suspeita?
Podem ser usados questionários de rastreamento para diagnosticar problemas com bebidas alcoólicas, além de
um exame toxicológico (urina ou sangue) tanto dela quanto do recémnascido a fim de identificar as substâncias
específicas ingeridas. O serviço social também pode ser acionado para fazer um levantamento mais completo
sobre essa mulher.
c. Que déficits físicos e de neurodesenvolvimento podem se manifestar mais tarde se o recémnascido tiver
transtornos do espectro alcoólico fetal?
A criança pode ter transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade (TDAH), falta de controle dos impulsos,
dificuldades de aprendizagem e problemas de comunicação, bem como problemas de restrição de
crescimento/desenvolvimento. É importante tratar a dependência de álcool etílico dessa mulher, oferecendo
opções de cuidado, como tratamento da dependência, tratamento de saúde mental e apoio. Como enfermeiro, é
importante estar atento às necessidades culturais, espirituais, religiosas e emocionais da paciente durante esse
tempo. É importante conversar a respeito de contraceptivos efetivos enquanto ela está lutando com a drogadição
para evitar transtornos do espectro alcoólico fetal.
ATIVIDADES DE ESTUDO
1. As respostas variarão de acordo com a condição preexistente da mulher. Temas comuns podem ser mudanças no nível
de atividade se a mulher entrevistada tiver anemia ou hipertensão arterial e modificações na dieta se ela for diabética;
todas as gestantes provavelmente expressarão preocupação com o desfecho da gestação.
2. Essa atividade de estudo simula uma situação que pode ocorrer com muitas estudantes universitárias. Confrontar uma
amiga que esteja na fase de negação é a maneira mais efetiva de trazer a questão à tona. Relembre os comportamentos
observados que demonstram a dependência da amiga de drogas ilícitas ou álcool. Dizer à pessoa que você se preocupa
com ela e com seu bemestar pode fazêla avançar pelo longo caminho que a leva a modificar seu comportamento.
3. As respostas variam dependendo de em qual lado o estudante está. Alguns dos temas comuns podem centrarse nos
direitos civis e nos aspectos positivos que a maconha tem sobre as náuseas e vômitos de pacientes com câncer e
controle da pressão intraocular em caso de glaucoma. Do outro lado do debate, permitir que essa droga seja legalizada
pode levar muitas gestantes a ter acesso a ela, sem que haja estudos a longo prazo que documentem seus efeitos sobre
o feto.
4. O enfermeiro deve informála de que tomar a medicação reduz o risco de transmissão do HIV e deve discutir o modo
como a mulher e seu recémnascido se beneficiarão dela. Salientar a importância de reduzir sua carga viral ao longo
da gestação e relacionar com o seu bemestar pode ajudar. Apresentar a ela os fatos é tudo o que o enfermeiro pode
fazer, visto que a decisão final será da mulher.
5. A, B, C, E e F. As mulheres com todas as infecções listadas, exceto pelo HIV, podem optar por amamentar. A
mulher soropositiva pode passar o vírus para o recémnascido por meio do leite materno, devendo ser desencorajada
a amamentar.
ESTUDO DE CASO
1. O que o enfermeiro deve considerar como prioridade no caso dessa paciente e por quê?
2. Quais fatores de alto risco contribuem para o uso abusivo de drogas ilícitas?
3. Quais questões de saúde geram preocupação nessa paciente?
Resposta: A prioridade da assistência deve ser assegurar uma gestação saudável com desfecho positivo para a mãe e
o feto nos 5 meses seguintes. Essa prioridade deve ser abordada por orientação da paciente e monitoramento prénatal
frequente. Os fatores de alto risco dessa paciente são os seguintes: pouca idade (18 anos), nenhum apoio ou
orientação familiar consistente durante toda a sua infância, que lhe ajudasse a enfrentar o problema de abuso de
drogas; e história de abuso durante toda a sua vida. As questões de saúde estão centradas no bemestar do feto ao
longo do restante da gravidez; a condição de saúde de Linda durante a gestação; sua drogadição persistente; seu peso
abaixo do ideal; e a correção da anemia, que pode impactar a gestação desfavoravelmente.
Plano de cuidados
1. O que o enfermeiro deve esperar que seja prescrito para tratar a anemia da paciente?
2. Quais medidas de promoção da saúde nutricional são necessárias nesse caso?
3. Quais recursos específicos são necessários para ajudar a paciente a superar sua drogadição?
4. Quais encaminhamentos comunitários são necessários para controlar os problemas sociais dessa
paciente? Resposta: Um suplemento de ferro poderia ser necessário para tratar sua anemia. O enfermeiro poderia
precisar orientar a paciente quanto aos efeitos colaterais dos suplementos de ferro e formas para atenuar a
constipação. O enfermeiro deve descrever os sinais/ sintomas da anemia ferropriva, que incluem fraqueza, fadiga,
tonteira, cefaleia, dispneia aos esforços e palidez cutânea. O aconselhamento dietético deve ser contemplado para
tratar a anemia ferropriva aumentando a ingestão de alimentos ricos em ferro, tais como cereais enriquecidos, aveia,
feijões e lentilhas, vegetais folhosos verdeescuros (inclusive espinafre), passas e carnes magras. Os recursos
comunitários necessários para ajudar e apoiar a paciente poderiam incluir abrigo transitório, transporte, grupos de
apoio para dependentes químicos e uma rede de apoio vigoroso disponível para ajudar a manter a decisão e a
abstinência da paciente. O encaminhamento para a assistente social da comunidade seria ideal para tratar
simultaneamente todas as questões sociais de forma a evitar sua dependência da família, que poderia resultar na
continuidade do ciclo de abuso de drogas.
____________
1
N.R.T.: Em 2017, a incidência de TB no Brasil foi de 33,5 casos por 100.000 habitantes.
2
N.R.T.: No Brasil, o tratamento dura no mínimo 6 meses, é gratuito (fornecido pelo SUS) e consiste em rifampicina (R),
isoniazida (H), pirazinamida (Z) e etambutol (E). Existe uma fase intensiva de 2 meses com RHZE em dose fixa combinada,
seguidos por 4 meses de RH.
3
N.R.T.: A vacina BCG protege contra a meningite tuberculosa e a tuberculose miliar.
4
N.R.T.: No Brasil, a medicação é fornecida gratuitamente pelo Ministério da Saúde.
5
N.R.T.: No Brasil, os laboratórios sempre realizam os dois métodos nas amostras de sangue, e o diagnóstico depende de os dois
serem positivos.
6
N.R.T.: A lei no Brasil só permite o aborto em situações específicas (risco de morte para a mãe, estupro e feto anencefálico), por
isso essa opção não pode ser oferecida.
Questões múltipla escolha
1. Uma gestante com diabetes melito está sendo submetida à avaliação do nível de hemoglobina
glicosilada. Que resultado exigiria que a enfermeira revisse o plano de cuidados da cliente?
A. 8,5%
B. 5,5%
C. 6,5%
D. 7,5%
Concluir questão
2. Determinouse que a gestante corre alto risco de diabetes gestacional. Em qual momento a
enfermeira marcaria um novo rastreamento para a cliente?
A. 16 a 20 semanas de gestação
B. 20 a 24 semanas de gestação
C. 24 a 28 semanas de gestação
D. 28 a 32 semanas de gestação
Concluir questão
3. Ao fornecer aconselhamento nutricional a gestantes com diabetes melito, a enfermeira
incentivaria as clientes a obterem a maior parte de suas calorias de qual das seguintes
fontes?
A. Fontes de proteína
B. Gorduras insaturadas
C. Gorduras saturadas
D. Carboidratos complexos
Concluir questão
4. Uma gestante com hipertensão arterial crônica apresenta desafios no controle da hipertensão
e prevenção de complicações adicionais. Que medicação hipertensiva é prescrita em
decorrência de seu histórico de segurança durante a gestação?
A. Labetalol
B. Atenolol
C. Metildopa
D. Nifedipino
Concluir questão
5. Uma mulher no segundo trimestre de gestação chega à clínica prénatal para uma consulta de
rotina. Ela relata que tem um novo gato. A enfermeira a avaliaria à procura de qual infecção?
A. Citomegalovírus
B. Parvovírus B19
C. Herpesvírus simples
D. Toxoplasmose
Concluir questão
6. Uma jovem mãe é suspeita de fazer uso abusivo de heroína. Qual dos seguintes sinais e
sintomas a enfermeira esperaria encontrar em seu recémnascido?
A. Espirros
B. Hipotonia
C. Consolabilidade fácil
D. Sucção vigorosa
Concluir questão
7. Ao desenvolver um plano de cuidados para uma gestante HIVpositiva, qual dos seguintes é
essencial que se inclua?
A. Orientação em relação ao planejamento familiar
B. Utilização de precauções padrão
C. Preparação para a cesariana
D. Auxílio na escolha de um método para alimentar o recémnascido
Concluir questão
8. Ao lidar com uma adolescente grávida, a enfermeira auxilia a cliente a integrar as tarefas da
gravidez e ao mesmo tempo promover o desenvolvimento de qual das seguintes opções?
A. Confiança
B. Autonomia
C. Autoidentidade
D. Dependência
Concluir questão
9. O diabetes gestacional aumenta o risco de várias complicações, tanto na mãe quanto no
recémnascido. Qual das seguintes não seria um exemplo de complicação neonatal?
A. Macrossomia
B. Hipoglicemia
C. Hiperglicemia
D. Tocotraumatismo
Concluir questão
10. Uma gestante com diabetes melito está em trabalho de parto. A enfermeira monitora
atentamente seu nível sérico de glicose com o objetivo de manter esse nível em qual das
opções a seguir para reduzir a probabilidade de hipoglicemia neonatal?
A. Inferior a 110 mg/dℓ
B. Inferior a 105 mg/dℓ
C. Inferior a 115 mg/dℓ
D. Inferior a 120 mg/dℓ
Concluir questão
11. Uma gestante com doença cardíaca procura o ambulatório para aconselhamento prénatal. De
acordo com o sistema de classificação funcional desenvolvido pelo Criteria Committee da
New York Heart Association, as mulheres de qual categoria devem evitar a gravidez?
A. Classe I
B. Classe II
C. Classe IV
D. Classe III
Concluir questão
12. Os cuidados de enfermagem para a gestante muitas vezes envolvem tratamento
farmacológico. Ao avaliar o histórico da cliente, a enfermeira deve verificar se ela está
tomando alguma medicação prescrita de qual categoria?
A. X
B. D
C. C
D. B
Concluir questão
13. Nas últimas 20 semanas, as leituras de pressão arterial a seguir foram documentadas em uma
gestante: semana 16 – 124/86; semana 20 – 138/90; semana 24 – 140/92; e semana 28 – 142/94.
Qual das seguintes seria a classificação correta de sua pressão arterial?
A. Normotensão
B. Préhipertensão
C. Hipertensão grave
D. Hipertensão leve
Concluir questão
14. Uma gestante tem história pregressa de asma brônquica. Qual dos seguintes agentes não
seria adequado para ajudála a controlar a asma durante a gestação?
A. Budesonida
B. Salbutamol
C. Misoprostol
D. Salmeterol
Concluir questão
15. Uma mulher com lúpus eritematoso sistêmico está interessada em receber aconselhamento
préconcepção para conversar sobre o seu desejo de engravidar. Como enfermeira, você
explica que seria melhor que ela estivesse assintomática ou em remissão por quanto tempo
antes de engravidar?
A. 6 meses
B. 3 meses
C. 9 meses
D. 12 meses
Concluir questão
16. Após ministrar uma aula sobre possíveis infecções congênitas a um grupo de estudantes de
enfermagem, o professor reconhece que a aula foi bemsucedida quando a turma identifica
qual das seguintes como sendo a infecção viral congênita mais comum?
A. HIV
B. HPV
C. HSV
D. CMV
Concluir questão
17. A infecção por citomegalovírus pode resultar em diferentes anomalias congênitas. Também
pode ser transmitida por distintas vias. A invalidez fetal permanente pode ocorrer com qual
tipo de transmissão do CMV?
A. Transmissão durante o nascimento
B. Transmissão intrauterina
C. Transmissão após o nascimento
D. Em qualquer tipo de transmissão
Concluir questão
18. Parte da avaliação da primeira consulta prénatal inclui o rastreamento de imunidade contra a
rubéola. A enfermeira explica que qual dos resultados de títulos a seguir mostra evidências
dessa imunidade?
A. 1:6
B. 1:10
C. 1:4
D. 1:8
Concluir questão
19. O resultado do teste de uma gestante para o vírus da hepatite B foi positivo. Ao discutir a
situação com a cliente, a enfermeira explica que seu filho deve ser vacinado precocemente
com uma dose da vacina contra HBV em qual dos seguintes períodos?
A. 12 h após o nascimento
B. 24 h após o nascimento
C. 36 h após o nascimento
D. 48 h após o nascimento
Concluir questão
20. O resultado do teste de uma jovem mãe para HIV foi positivo. Ao discutir a situação com a
cliente, a enfermeira deve orientála a evitar qual das seguintes opções?
A. Gestações futuras
B. Amamentação
C. Cesariana
D. Manuseio da criança com feridas abertas
Concluir questão
21. Ao discutir os vários riscos para a mãe e o feto, a enfermeira deve informar que qual das
seguintes é a principal causa de atraso intelectual nos EUA?
A. Anomalias genéticas
B. Toxicodependência materna
C. Transtorno do espectro alcoólico fetal
D. Fármacos de categoria X de risco durante a gestação
Concluir questão
22. A enfermeira está orientando uma gestante com anemia por deficiência de ferro em relação a
alimentos ricos em ferro. Qual(is) alimento(s), se selecionado(s) pela mulher, indica(m) que o
programa de orientações foi bemsucedido? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Uvas passas
B. Brócolis
C. Manteiga de amendoim
D. Batatas
E. Iogurte
Concluir questão
23. Uma gestante com anemia falciforme chega ao prontosocorro. Qual(is) dos seguintes sinais e
sintomas indicaria(m) que a cliente está em crise? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Dor nas articulações
B. Aumento do turgor da pele
C. Palidez
D. Febre
E. Fadiga
Concluir questão
24. Uma refugiada de um país em desenvolvimento chega à clínica para saber se está grávida.
Qual(is) dos sinais e/ou sintomas a seguir indica(m) que ela pode ter também tuberculose
ativa? (Selecione todos que se aplicam.)
A. Fadiga
B. Sudorese noturna
C. Hemoptise
D. Anorexia
E. Ganho de peso
Concluir questão
25. Ao preparar uma palestra para um grupo de novos pais, a enfermeira deve incluir que o
tabagismo pode aumentar o risco de qual(is) das complicações a seguir? (Selecione todas
que se aplicam.)
A. Aborto espontâneo
B. Descolamento prematuro da placenta
C. Peso ao nascer elevado
D. Ruptura prematura das membranas
E. Hipertensão materna
Concluir questão
Conduta de Enfermagem no Trabalho de Parto e no Parto de Risco
21
PALAVRASCHAVE
Agentes tocolíticos
Amnioinfusão
Cesariana
Disfunção uterina hipertônica
Disfunção uterina hipotônica
Distocia
Distocia de ombro
Distúrbios de parada
Distúrbios de prolongamento do trabalho de parto
Fórceps
Gestação múltipla
Gestação póstermo
Indução do trabalho de parto
Macrossomia
Parto vaginal após cesariana (PVAC)
Prolapso de cordão umbilical
Trabalho de parto precipitado
Trabalho de parto prematuro
Vacuoextrator
Objetivos de aprendizagem
Após a conclusão do capítulo, o leitor será capaz de:
1. Propor pelo menos cinco fatores de risco associados à distocia.
2. Diferenciar as quatro principais anomalias ou problemas associados a padrões de trabalho de parto disfuncionais, dando
exemplos de cada problema.
3. Examinar o manejo de enfermagem para a gestante em trabalho de parto disfuncional que enfrenta um problema relacionado
com as forças de expulsão, com o passageiro, com a passagem ou com a psique.
4. Elaborar um plano de cuidados para a gestante que entra em trabalho de parto prematuro.
5. Relacionar a avaliação e a conduta de enfermagem quando a gestação é prolongada.
6. Avaliar quatro emergências obstétricas que possam complicar o trabalho de parto e o parto, incluindo a conduta adequada para
cada uma.
7. Comparar e estabelecer as diferenças da conduta de enfermagem para a gestante submetida a indução ou aceleração do trabalho
de parto, parto assistido por fórceps ou vacuoextrator.
8. Resumir o plano de cuidados para a gestante que será submetida a cesariana.
9. Avaliar as principais áreas a serem abordadas ao atender uma gestante que fará um parto vaginal após uma cesariana (PVAC).
Jennifer, Gesta I, Para 0, 29 anos de idade, está na 41a semana de gestação. Seu obstetra recomendou que ela
fosse internada para indução do trabalho de parto. Ela está muito ansiosa em relação a isso, pois já ouviu “histórias
de horror” sobre as “dolorosas contrações” que a indução pode acarretar. O que o enfermeiro pode fazer para
tranquilizar seu temor?
Reflexões
Perante uma crise ou um desfecho potencialmente ruim, adicione um misto de cordialidade e serenidade às suas habilidades
técnicas.
INTRODUÇÃO
A maioria das mulheres descreve a gravidez como um momento emocionante em sua vida, mas o desenvolvimento de um problema
inesperado pode de repente mudar drasticamente essa descrição. Considere a paciente que teve uma gestação sem problemas e,
subitamente, desenvolve uma condição durante o trabalho de parto, passando de uma situação rotineira para uma possível crise.
Muitas complicações ocorrem com pouco ou nenhum aviso e impõem desafios à equipe de cuidados de saúde perinatal, bem como à
família. O enfermeiro tem um papel importante na identificação rápida do problema e na coordenação da intervenção imediata, por
fim alcançando um desfecho positivo.
As metas nacionais de saúde abordam os desfechos maternos e neonatais envolvendo complicações do trabalho de parto e do
parto, bem como da cesariana (U.S. Department of Health and Human Services, 2010). Essas metas estão destacadas no
boxe Healthy People 2020 21.1.
Este capítulo abordará várias condições que ocorrem durante o trabalho de parto e parto que podem aumentar o risco de um
desfecho adverso para a mãe e para o feto. Descreve também os procedimentos relacionados com o parto que podem ser necessários
para a gestante que desenvolve uma condição que aumenta o seu risco ou que podem ser necessários para reduzir o risco da mulher
de desenvolver uma condição, promovendo assim desfechos maternos e fetais ideais. A conduta de enfermagem para a gestante e
sua família se concentra em prestar apoio profissional e cuidado compassivo.
Healthy People 2020 • 21.1
Objetivos Importância para a enfermagem
Objetivos do Healthy People com base em dados de http://www.healthypeople.gov.
DISTOCIA
A distocia, definida como um trabalho de parto anormal ou difícil, pode ser influenciada por uma grande variedade de fatores
maternos e fetais. Dizse que há distocia quando o progresso do trabalho de parto se desvia do normal. A distocia é caracterizada
por progressão lenta e anormal do trabalho de parto. Ocorre em cerca de 8 a 11% de todos os trabalhos de parto e é a principal
indicação de cesariana primária nos EUA (Joy, Lyon, & Scott, 2015). É preocupante, porque gera fadiga na gestante e no feto e,
com frequência, demanda intervenções clínicas ou cirúrgicas, aumentando o risco.
Para caracterizar um trabalho de parto como anormal, é essencial que haja uma compreensão básica do trabalho de parto
vaginal. O trabalho de parto vaginal começa com contrações uterinas regulares que são fortes o suficiente para resultar em
apagamento e dilatação do colo do útero. Logo no início do trabalho de parto, as contrações uterinas são irregulares e o apagamento
e a dilatação do colo do útero ocorrem gradualmente. Quando a dilatação do colo do útero alcança 5 a 6 cm e as contrações uterinas
se tornam mais potentes, começa a fase ativa do trabalho de parto. É geralmente durante a fase ativa que a distocia se torna
aparente. Como a distocia não pode ser prevista ou diagnosticada com segurança, frequentemente utilizase o termo “ausência de
progresso”. Esse termo inclui a não ocorrência de dilatação progressiva do colo do útero, a não descida da cabeça do feto ou ambos.
É necessária uma análise adequada do trabalho de parto para declarar com confiança que há distocia ou “falha no progresso”.
A identificação precoce da distocia e a intervenção imediata na condição são essenciais para minimizar os riscos para a mulher e
para o feto. De acordo com o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) (2014a), os fatores associados a risco
aumentado de distocia incluem analgesia epidural, analgesia excessiva, gestação múltipla, polihidrâmnio, exaustão materna, técnica
não efetiva dos esforços de expulsão maternos, posição occipitoposterior, primeiro estágio do trabalho do parto mais longo,
nuliparidade, baixa estatura da gestante (altura inferior a 1,50 m), peso fetal ao nascimento (mais de 4 kg), distocia de ombro,
apresentação ou posição fetal anormal (pélvica), anomalias fetais (hidrocefalia), idade materna acima de 34 anos, consumo
significativo de cafeína, sobrepeso, idade gestacional acima de 41 semanas, corioamnionite, contrações uterinas não efetivas e altura
da apresentação fetal elevada quando há dilatação completa do colo do útero.
Atualmente, nos EUA, 1 em cada 3 partos é cirúrgico (cesariana). As indicações mais comuns de cesariana são, em ordem de
frequência, distocia do trabalho de parto, frequência cardíaca fetal (FCF) anormal, apresentação fetal anormal, gestações múltiplas e
suspeita de macrossomia. Esse é o momento de revisitar a definição de distocia do trabalho de parto, porque estudos recentes
mostram que o trabalho de parto evolui atualmente de modo substancialmente mais lento do que era ensinado antigamente. Hoje em
dia, os trabalhos de parto são mais prolongados em parte por causa dos índices de massa corporal (IMCs) elevados, das taxas mais
altas de indução do trabalho de parto e do aumento significativo do uso de anestesia epidural (ACOG, 2014a).
A internação precoce das gestantes, ainda na fase latente inicial do trabalho de parto, pode resultar em aumento do diagnóstico
de distocia e elevar o risco de indução do trabalho de parto e analgesia epidural. Essas duas intervenções podem resultar em parto
cirúrgico. Hidratação adequada, repouso, suporte físico e emocional e, se necessário, sedação farmacológica podem ser encorajados
como alternativas para a internação hospitalar precoce. A paciência deve ser o fator crucial nesse momento.
A distocia pode resultar de problemas ou anormalidades envolvendo os esforços expulsivos (conhecidos como “forças de
expulsão”); apresentação, posição e desenvolvimento fetais (o “passageiro”); pelve óssea materna ou canal de parto (a “passagem”);
e estresse materno (a “psique”). A Tabela 21.1 resume o diagnóstico, a conduta terapêutica e a conduta de enfermagem para os
problemas comumente associados à distocia.
Problemas com as forças de expulsão
Quando as forças expulsivas do útero se tornam disfuncionais, o útero não consegue relaxar completamente (contrações
hipertônicas), colocando o feto em risco, ou relaxa demais (contrações hipotônicas), levando a contrações não efetivas. Outra
disfunção que pode ocorrer é quando o útero se contrai com tanta frequência e com tamanha intensidade que ocorrerá um parto
muito rápido (trabalho de parto precipitado).
A disfunção uterina hipertônica ocorre quando o útero não consegue relaxar totalmente entre as contrações. Posteriormente,
as contrações são inefetivas, erráticas e mal coordenadas, porque envolvem apenas uma parte do útero e porque mais de um marca
passo uterino está enviando sinais para a contração. As mulheres nessa situação apresentam uma fase latente prolongada,
permanecem com dilatação do colo do útero de 2 a 3 cm e não dilatam como deveriam. A perfusão placentária é comprometida,
reduzindo assim o oxigênio para o feto. A gestante fica exausta porque apresenta contrações hipertônicas frequentes, intensas e
dolorosas, com pouca progressão. Esse padrão disfuncional ocorre no início do trabalho de parto e afeta mais as nulíparas do que
as multíparas (Hinshaw & Kenyon, 2015).
A disfunção uterina hipotônica ocorre durante o trabalho de parto ativo (dilatação do colo do útero de mais de 5 a 6 cm),
quando as contrações são disfuncionais e sem intensidade suficiente para dilatar e apagar o colo do útero. Os fatores associados a
esse padrão de trabalho de parto anormal incluem estiramento excessivo do útero, macrossomia fetal, fetos múltiplos, poli
hidrâmnio, paridade múltipla, distensão intestinal ou vesical impedindo a descida, e uso excessivo de analgesia. As manifestações
clínicas da disfunção uterina hipotônica incluem contrações fracas que se tornam mais leves, um fundo de útero que pode ser
facilmente recuado com a pressão dos dedos no pico de cada contração e contrações que se tornam mais frequentes e mais breves
(King et al., 2015). O maior risco dessa complicação é a hemorragia após o parto, porque o útero não consegue contrair de modo
efetivo para comprimir vasos sanguíneos.
O trabalho de parto se refere às contrações uterinas que resultam em dilatação progressiva e apagamento do colo do útero,
acompanhadas por descida e expulsão do feto. Trabalho de parto anormal, distocia e falha no progresso são termos imprecisos
que têm sido usados para descrever um padrão de trabalho de parto difícil, que se desvia do observado na maioria das mulheres que
passam por partos normais espontâneos. Uma classificação melhor é caracterizar as anormalidades no trabalho de parto como
distúrbios de prolongamento do trabalho de parto (ou seja, evolução mais lenta do que o normal) ou distúrbios de parada (ou seja, a
interrupção completa do progresso).
O termo distúrbios de prolongamento do trabalho de parto referese a inúmeros eventos, incluindo a dilatação demorada na
fase ativa (dilatação do colo do útero mais lenta do que o normal) e a descida demorada (descida lenta da cabeça fetal na fase ativa).
Dizse que a parturiente que apresenta dilatação do colo do útero mais lenta do que o normal tem um distúrbio de prolongamento do
trabalho de parto. O progresso lento pode ser decorrente da desproporção cefalopélvica. A maioria das mulheres, no entanto, se
beneficia muito de hidratação adequada e pouco alimento, segurança emocional e alteração no posicionamento – essas pacientes
podem seguir em frente e dar à luz por via vaginal.
Os distúrbios de parada incluem a interrupção da dilatação (nenhum progresso na dilatação do colo do útero em mais de 2
horas), parada na descida (a cabeça fetal não desce por mais de 1 hora em primíparas e mais de 30 minutos em multíparas) e falha
na descida (ausência de descida) secundária. Cerca de 20% dos trabalhos de parto envolvem distúrbios de prolongamento do
trabalho de parto ou de parada (Ehsanipoor & Satin, 2016).
O trabalho de parto precipitado é aquele que está completo em menos de 3 horas do início das contrações até o parto. O
trabalho de parto pode ser muito lento, mas também pode ser anormalmente rápido. A opinião prevalente é que um trabalho de
parto muito rápido pode resultar em lesão materna e colocar o feto em risco de agravo traumático ou asfixia (Suzuki, 2015). As
mulheres que apresentam trabalho de parto precipitado tipicamente têm tecidos perineais flácidos que se distendem prontamente,
possibilitando que o feto passe pela pelve rapidamente, ou contrações uterinas anormalmente fortes. As complicações maternas são
raras se a pelve materna for adequada e os tecidos moles cederem para possibilitar a descida fetal rápida. No entanto, se o feto for
expulso rápido demais, não há tempo para que o colo do útero se dilate e apague, o que leva a laceração do colo do útero e potencial
ruptura do útero. As potenciais complicações fetais incluem traumatismo cranioencefálico, como hemorragia intracraniana ou dano
a nervos, e hipoxia em decorrência da rápida progressão do trabalho de parto (Cunningham et al., 2014).
Tabela 21.1 Diagnóstico e tratamento de problemas comumente associados à distocia.
Problemas com as forças de expulsão
uterina da dor por meio
de analgésicos
por via epidural
ou IV
Ajudar na
amniotomia
para acelerar o
trabalho de
parto
Fornecer
explicações
sobre o padrão
disfuncional à
gestante e aos
seus familiares
Planejar um parto
cirúrgico se não
for alcançado
um padrão
normal de
trabalho de
parto
Planejar um parto
cirúrgico se não
for alcançado
um padrão
normal de
trabalho de
parto ou em
caso de
sofrimento fetal
Administrar
agentes
farmacológicos,
como tocolíticos,
para reduzir a
velocidade do
trabalho de
parto
Acompanhar a
gestante
continuamente
para monitorar a
evolução
Problemas com o passageiro
Preparar‑se para
uma possível
cesariana se a
rotação não for
alcançada
Administrar
fármacos
conforme
prescrito para o
alívio da dor (o
alívio da dor
efetivo é crucial
para ajudar a
mulher a tolerar
o desconforto
nas costas)
Aplicar
contrapressão
na região
lombar durante
as contrações
para aliviar o
desconforto.
Usar outras
medidas úteis
para tentar
rodar a cabeça
do feto,
incluindo
massagens
suaves na
lateral do
abdome no
sentido que a
cabeça do feto
deve girar;
auxiliar a
gestante a ficar
em uma posição
de quatro
apoios (sobre
mãos e joelhos);
e a ficar de
cócoras, realizar
báscula pélvica,
subir escadas,
assumir uma
posição de
decúbito lateral
para o lado que
o feto deve girar
e fazer
movimentos de
avanço lateral
Fornecer medidas
para reduzir a
ansiedade
Reforçar
continuamente o
progresso da
gestante
Ensinar à mulher
medidas para
facilitar a
rotação da
cabeça fetal
Fornecer
observação
atenta por
qualquer sinal
de hipoxia fetal,
conforme
evidenciado por
desacelerações
tardias no
monitor fetal
epidural para
profissionais e
equipamentos
adicionais. Após
o parto, avaliar
se o
recém‑nascido
apresenta
crepitação,
deformidade,
paralisia de Erb
ou equimoses, o
que pode
sugerir dano
neurológico ou
fratura
Após a expulsão do Antecipar a
primeiro feto, fazer necessidade de
pinçamento do cesariana, que é
cordão umbilical e comum na
avaliação da gravidez
situação do multifetal
segundo feto.
Possível
necessidade de
versão cefálica
externa para ajudar
a providenciar uma
situação
longitudinal. O
segundo e os fetos
subsequentes
correm maior risco
de complicações
relacionadas com o
nascimento, como
prolapso do cordão
umbilical, má
apresentação e
descolamento
prematuro de
placenta
Cesariana, em caso de
fatores de risco
importantes
Auxiliar em
medidas de
conforto e
relaxamento
para ajudar a
gestante a atuar
mais
efetivamente
com as forças
do trabalho de
parto
Conversar com a
gestante sobre
o bem‑estar
emocional dela;
oferecer
orientação
antecipatória e
tranquilização
para aumentar a
autoestima e a
capacidade de
enfrentamento
dela, para
diminuir a
frustração e
para incentivar a
cooperação
Adaptada de American Academy of Pediatrics. (2015). Delivery by cesarean section. Retirada
de https://www.healthychildren.org/English/agesstages/prenatal/deliverybeyond/Pages/DeliverybyCesarean
Section.aspx; Caughey, A. B., & Butler, J. R. (2015). Postterm pregnancy. eMedicine. Retirada
de http://emedicine.medscape.com/article/261369overview; Cunningham, F. G., Leveno, K. J., Bloom, S. L., Spong,
C. Y., Dashe, J., Hoffman, B. L. et al. (2014). Williams’ obstetrics (24th ed.). New York, NY: McGrawHill; Fischer, R.
(2015). Breech presentation. eMedicine. Retirada de http://emedicine.medscape.com/article/262159overview; Joy,
S., Lyon, D., & Scott, P. L. (2015). Abnormal labor. eMedicine. Retirada
de http://emedicine.medscape.com/article/273053overview; e King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J. O.,
Gegor, C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s midwifery (5th ed.). Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning.
FIGURA 21.1 Manobras para liberar a distocia de ombro. A. Manobra de Mcrobert. As coxas da mãe são flexionadas e
abduzidas tanto quanto possível para endireitar a curva pélvica. B. Pressão suprapúbica. Aplicase uma leve pressão um
pouco acima do osso púbico, empurrando o ombro fetal anterior para baixo para deslocálo de cima da sínfise púbica da
mãe. A cabeça do recémnascido é pressionada em direção ao ânus da mãe, enquanto é aplicada uma pressão suprapúbica
leve.
O trabalho de parto precipitado é uma situação que provoca ansiedade e que frequentemente é muito dolorosa, com pouco
descanso entre as contrações. O monitoramento contínuo, as atualizações frequentes sobre o seu progresso no trabalho de parto, o
controle da dor e o encorajamento em relação à sua condição podem ajudar a reduzir o estado de espírito ansioso da mãe. O manejo
inclui a disponibilidade da equipe de saúde para esse nascimento rápido.
Problemas com o passageiro
Qualquer apresentação diferente da occipitoanterior (cabeça fetal em posição inferior e voltada anteriormente) ou discreta variação
da posição ou do tamanho do feto aumenta a probabilidade de distocia. Essas variações podem comprometer as contrações ou a
descida fetal ao longo da pelve materna. Os problemas mais comuns envolvendo o feto incluem a posição occipitoposterior, a
apresentação pélvica, a gravidez multifetal, o tamanho excessivo (macrossomia) no que se refere à desproporção cefalopélvica e as
anomalias estruturais.
A posição occipitoposterior persistente é o mau posicionamento mais comum, ocorrendo em cerca de 15% das parturientes. Os
motivos desse mau posicionamento muitas vezes são incertos. Essa posição leva à apresentação de diâmetros discretamente maiores
à pelve materna, retardando assim a descida fetal. Uma cabeça fetal mal exionada pode ser a responsável. Além disso, as contrações
uterinas fracas não são capazes de empurrar a cabeça fetal para baixo, para dentro do assoalho pélvico, de modo que o occipúcio
fetal mergulha nele em vez de ser empurrado a rodar em sentido anterior.
As apresentações de face e testa são raras e estão associadas a anormalidades fetais (anencefalia), contraturas pélvicas, paridade
elevada, placenta prévia, polihidrâmnio, baixo peso ao nascimento ou macrossomia fetal (World Health Organization [WHO],
2014a).
Nas 35a a 36a semanas de gestação, a maioria dos fetos estará espontaneamente na apresentação de vértice (cabeça fetal
orientada para baixo, em direção ao canal do parto). Em aproximadamente 3 a 4% dos casos, todavia, o feto permanecerá na
apresentação pelvipodálica (coxas e pernas fletidas, com os pés junto às nádegas). Existe menos risco para o feto e para a gestante
quando a cabeça do feto está direcionada inferiormente por ocasião do parto. Essa apresentação está, com frequência, associada a
gestações múltiplas ou múltiplos fetos, multiparidade (mais de cinco partos), gestação após 35 anos de idade (idade materna
avançada), placenta prévia, polihidrâmnio, partos prematuros, malformações uterinas ou miomas uterinos, útero fibrótico, feto do
sexo feminino e anomalias fetais como hidrocefalia (Sharshiner & Silver, 2015). Na apresentação pélvica persistente, pode ocorrer
aumento da frequência de prolapso de cordão umbilical, placenta prévia, baixo peso ao nascimento por parto prétermo, anomalias
fetais ou uterinas, e morbidade e mortalidade perinatal pelo parto difícil (Cunningham et al., 2014). A apresentação pélvica pode
ser um indicador de anormalidades fetais sutis, visto que fetos aparentemente saudáveis com apresentação pélvica têm escores
neurodesenvolvimentais médios inferiores aos de fetos com apresentação cefálica (Hofmeyr, 2015). A taxa de mortalidade perinatal
é 2 a 4 vezes maior na apresentação pélvica, independentemente do tipo de parto.
O termo versão cefálica externa descreve um procedimento no qual o feto é rodado da apresentação pélvica para a apresentação
cefálica por meio de manipulação através da parede do abdome da gestante ao termo ou próximo ao termo. Várias organizações
(ACOG, WHO, AFP) recomendam que essa manobra seja oferecida a mulheres entre a 36a e a 38a semana de gravidez. É realizada
apenas em ambiente hospitalar sob orientação ultrassonográfica e monitoramento fetal contínuo. A versão cefálica externa é bem
sucedida em aproximadamente 50% dos casos. Hoje em dia, as gestantes com feto em apresentação pelvipodálica são, com
frequência, aconselhadas a realizar parto cirúrgico sem tentativas de modificação da posição fetal (Hofmeyr, Kulier, & West, 2015).
A distocia de ombro é definida como a obstrução da descida do feto e o nascimento pelo eixo dos ombros fetais após a cabeça
do feto ter nascido. A incidência de distocia de ombro está aumentando em virtude do aumento do peso ao nascer, com relatos de
ocorrência em até 2% dos partos normais. Tratase de uma emergência obstétrica que exige resposta coordenada da equipe, porque
não existe um modo fidedigno de prevêla e, assim, reduzir a taxa de ocorrência de desfechos adversos (Gherman, 2015). É uma
das emergências encontradas no trabalho de parto que mais provocam ansiedade. A falha dos ombros em nascer espontaneamente
coloca tanto a mulher quanto o feto em risco de lesão. Hemorragia pósparto secundária a atonia uterina, lacerações vaginais,
lacerações anais e ruptura uterina são complicações maternas importantes. A paralisia transitória do plexo braquial de Erb ou de
Duchenne e as fraturas do úmero ou da clavícula são as lesões fetais mais comumente encontradas na distocia de ombro. Nos EUA,
a ocorrência de paralisia neonatal do plexo braquial é de 1,5 por 1.000 recémnascidos vivos, com aproximadamente um terço
apresentando disfunção funcional permanente do membro superior (Mehlman, 2015). Os recémnascidos que apresentam distocia
de ombro têm tipicamente maiores desproporções ombrocabeça e tóraxcabeça em comparação com aqueles que nascem sem
distocia (Cunningham et al., 2014). O pronto reconhecimento e o tratamento adequado, como com a manobra de McRobert ou a
pressão suprapúbica, podem reduzir a gravidade dos ferimentos à mãe e ao recémnascido (Figura 21.1).
Anote!
O pronto reconhecimento e o tratamento adequado da distocia de ombro podem reduzir a gravidade dos ferimentos para a mãe e
para o recémnascido. Avalie imediatamente o recémnascido para detectar sinais de traumatismo, como fratura de clavícula,
paralisia de Erb ou asfixia neonatal. Avalie se a mãe apresenta sangramento vaginal excessivo e sangue na urina por traumatismo
vesical.
A gestação múltipla ou multifetal se refere a gêmeos, trigêmeos ou mais fetos em uma única gestação (Boxe 21.1). A
incidência está aumentando, principalmente em decorrência de tratamentos para a infertilidade (tanto a estimulação ovariana quanto
a fertilização in vitro) e do aumento do número de gestantes que dão à luz em idades mais avançadas. Hoje em dia, a incidência de
gestações com dois, três e mais fetos representa aproximadamente 3% de todas as gestações (March of Dimes, 2015a). A
incidência de gêmeos é de aproximadamente 1 em cada 30 concepções, com cerca de dois terços destas decorrentes da fertilização
de dois óvulos (gêmeos dizigóticos ou fraternos) e cerca de um terço ocorrendo pela divisão de um óvulo fertilizado (gêmeos
monozigóticos ou idênticos). Uma em cerca de 8.100 gestações resulta em trigêmeos (March of Dimes, 2015a). A complicação
materna mais comum é a hemorragia pósparto decorrente da atonia uterina. Em comparação com gestações de feto único, o risco
de morbidade e mortalidade perinatais aumenta consideravelmente nas gestações com múltiplos fetos. Com base em evidências
recentes de nível 1 de um estudo randomizado e controlado, constatouse que não há diferença nos desfechos neonatais entre parto
cirúrgico planejado e parto vaginal planejado de gêmeos entre a 32a e a 39asemana de idade gestacional. Desde que o primeiro
gêmeo esteja em apresentação de vértice, deve ser considerado o parto vaginal (Bibbo & Robinson, 2015).
BOXE 21.1
GESTAÇÃO MÚLTIPLA
Como o nome indica, a gestação múltipla envolve mais de um feto. Esses fetos podem resultar da fertilização de um
único óvulo ou de múltiplos óvulos. Os gêmeos monozigóticos (idênticos) se desenvolvem a partir de um único
óvulo, que se divide em metades iguais durante a fase inicial de clivagem. Os gêmeos monozigóticos são
geneticamente idênticos, sempre do mesmo sexo e de aparência muito semelhante. O número de âmnios e córios
depende do momento da divisão (clivagem). Um óvulo fertilizado dividindose em dois indivíduos diferentes é
denominado clones naturais. Esse tipo de geminação ocorre em aproximadamente 1 em cada 250 nascidos vivos
(March of Dimes, 2015a).
As gestações gemelares que são concepções de múltiplos óvulos (gêmeos dizigóticos) resultam de dois óvulos
fecundados por dois espermatozoides. Eles são chamados de gêmeos fraternos. Geneticamente, os gêmeos
dizigóticos são tão parecidos (ou diferentes) quanto qualquer outro par de irmãos. Existem âmnios e córios
separados, embora os córios e as placentas possam estar fundidos. A incidência de gêmeos dizigóticos é de
aproximadamente 1 em 500 em asiáticos, 1 em 125 em brancos e tão elevada quanto 1 em 20 em populações
africanas (March of Dimes, 2015a). Os gêmeos fraternos representam dois terços de todos os gêmeos e há uma
tendência a se repetirem dentro das famílias. Atualmente, a incidência de gêmeos fraternos está aumentando em
decorrência do avanço da idade materna quando ocorre a gravidez e do aumento no uso de medicamentos e
realização de procedimentos para a fertilidade.
Os nascimentos múltiplos que não o de gêmeos podem ser do tipo idêntico, do tipo fraterno ou combinações dos
dois. Os trigêmeos podem ocorrer a partir da divisão de um zigoto em dois, com um zigoto dividindose novamente,
produzindo trigêmeos idênticos, ou podem vir de dois zigotos, um dividindose em um conjunto de gêmeos idênticos,
e o segundo zigoto desenvolvendose como um irmão fraterno único, ou a partir de três zigotos separados. Dizse
que trigêmeos ocorrem 1 vez em 7 mil nascimentos e os quadrigêmeos 1 vez em 660 mil nascimentos (March of
Dimes, 2015a). Nos últimos anos, os medicamentos para a fertilidade usados para induzir a ovulação resultaram em
maior frequência de quadrigêmeos, quíntuplos, sêxtuplos e até óctuplos.
O tamanho fetal excessivo e as anomalias também podem contribuir para as disfunções no trabalho de parto e parto.
A macrossomia, em que o recémnascido pesa 4.000 a 4.500 g ou mais ao nascimento, complica aproximadamente 10% de todas
as gestações. É o resultado de uma modificação na composição do corpo do recémnascido com aumento do percentual de gordura e
da massa de gordura. Macrossomia está associada a obesidade em uma fase mais tardia da vida, diabetes melito e doença
cardiovascular (Jazayeri, 2015). As anormalidades fetais podem incluir hidrocefalia, ascite ou grande massa no pescoço ou na
cabeça. As complicações associadas à distocia relacionadas com o tamanho fetal excessivo e anomalias incluem aumento do risco
de hemorragia pósparto, distocia de ombro, baixos índices de Apgar, trabalho de parto disfuncional, desproporção fetopélvica,
laceração de tecidos moles durante o parto vaginal, lesões ou fraturas fetais e asfixia perinatal (Hobbins, 2015a).
Problemas com a via de passagem
Os problemas com a via de passagem (pelve e canal de parto) estão relacionados com a contração de um ou mais dos três planos da
pelve materna: abertura superior da pelve, cavidade pélvica e abertura inferior da pelve. A pelve feminina pode ser classificada em
quatro tipos, de acordo com o formato da abertura superior da pelve, que é limitada anteriormente pela borda posterior da sínfise
púbica, posteriormente pelo promontório sacral e lateralmente pela linha terminal. Os quatro tipos básicos são ginecoide,
antropoide, androide e platipeloide (consulte o Capítulo 12 para obter mais informações). A redução da cavidade pélvica é mais
comum do que a redução da abertura superior da pelve e normalmente provoca parada da descida fetal. As obstruções no canal de
parto materno, como tumefação dos tecidos moles e do colo do útero materno, denominadas distocia de tecidos moles, também
podem dificultar a descida fetal e impedir a progressão do trabalho de parto além da pelve óssea materna.
Problemas com a psique
Muitas mulheres sentem inúmeras emoções durante o trabalho de parto, inclusive medo, ansiedade, desamparo, isolamento e
cansaço. Essas emoções podem resultar em estresse psicológico, que indiretamente pode causar distocia. Os hormônios liberados
em resposta à ansiedade podem causar distocia. A ansiedade intensa estimula o sistema nervoso simpático, que libera catecolaminas
que podem levar à disfunção do miométrio. A norepinefrina e a epinefrina provocam, então, atividade uterina descoordenada ou
aumentada (Cheng & Caughey, 2015).
Avaliação de enfermagem
A avaliação começa com a revisão da história da paciente à procura de fatores de risco para distocia. Esses fatores incluem baixa
estatura materna, obesidade, polihidrâmnio, anormalidades uterinas, apresentação fetal anormal, desproporção cefalopélvica,
estimulação excessiva com ocitocina, exaustão materna, esforço para baixo não efetivo, macrossomia fetal, posicionamento
insatisfatório da parturiente durante o trabalho de parto e ansiedade e medo maternos (Green, 2016). Inclua na avaliação o estado de
espírito da gestante para identificar medo, ansiedade, estresse, falta de apoio e dor, que podem interferir nas contrações uterinas e
impedir o progresso do trabalho de parto. Ajudar a gestante a relaxar promoverá o progresso normal do trabalho de parto.
Avalie os sinais vitais da gestante. Observe se há elevação da temperatura (pode sugerir uma infecção) ou alterações na
frequência cardíaca ou da pressão arterial (podem sinalizar uma hipovolemia). Avalie a frequência e a intensidade das contrações
uterinas. Questione a gestante a respeito de quaisquer alterações no padrão de contração, como diminuição ou aumento na
frequência ou intensidade, e relateas. Avalie o padrão e a frequência cardíaca fetal (FCF), relatando quaisquer padrões anormais
imediatamente.
Avalie a posição fetal com as manobras de Leopold (consulte o Capítulo 14 para obter mais informações) para identificar se há
algum desvio na apresentação ou posição e relate a sua presença. Ajude ou realize o exame de toque vaginal para determinar a
dilatação e o apagamento do colo do útero e o encaixe da apresentação fetal. Avalie se há evidências de ruptura de membranas.
Relate a existência de líquido com odor fétido.
Conduta de enfermagem
A conduta de enfermagem para a gestante com distocia, independentemente da etiologia, demanda paciência. O enfermeiro deve
fornecer suporte físico e emocional para a paciente e sua família. O desfecho final de qualquer trabalho de parto depende do
tamanho e da forma da pelve materna, da qualidade das contrações uterinas e do tamanho, da apresentação e da posição do feto.
Dessa forma, distocia é diagnosticada após o trabalho de parto ter evoluído por um determinado período de tempo em vez de no
início do trabalho de parto.
PROMOÇÃO DO PROGRESSO DO TRABALHO DE PARTO
O enfermeiro desempenha um papel importante na determinação do progresso do trabalho de parto. Continue avaliando a gestante,
monitorando com frequência a dilatação e o apagamento do colo do útero, as contrações uterinas e a descida fetal. Documente se
todos os parâmetros avaliados estão progredindo. Avalie o progresso no trabalho de parto ativo usando a regra simples de dilatação
cervical de 1 cm por hora. Quando as membranas da gestante se romperem, se ainda não tiverem rompido, observe se há prolapso
visível do cordão umbilical.
Anote!
Em caso de trabalho de parto disfuncional, as contrações desacelerarão ou deixarão de evoluir em frequência, duração ou
intensidade; o colo do útero deixará de responder às contrações uterinas com dilatação e apagamento; e o feto não descerá.
Ao longo do trabalho de parto, avalie o estado de equilíbrio hídrico da gestante. Verifique o turgor da pele e das mucosas.
Monitore o balanço hídrico. Monitore também se há distensão vesical pelo menos a cada 2 horas e incentive a gestante a urinar com
frequência. Além disso, monitore o estado intestinal dela. A bexiga ou o reto cheio podem impedir a descida do feto.
Continue monitorando o bemestar fetal. Se o feto estiver em posição pélvica, atente especialmente se existe prolapso visível do
cordão umbilical e observe se há desacelerações variáveis da frequência cardíaca. Se algum destes ocorrer, comunique o fato
imediatamente.
Esteja preparada para administrar um estimulante de trabalho de parto, como a ocitocina, se prescrito, para tratar as contrações
hipotônicas de trabalho de parto. Antecipe a necessidade de ajudar com manipulações se for diagnosticada distocia de ombro.
Prepare a mulher e sua família para a possibilidade de realização de cesariana se o trabalho de parto não evoluir.
PROMOÇÃO DE CONFORTO FÍSICO E EMOCIONAL
Empregue medidas de conforto físico para promover o relaxamento e reduzir o estresse. Ofereça mantas para o aquecimento e
massagem nas costas se a gestante desejar, para reduzir a tensão muscular. Forneça um ambiente propício para o repouso, de modo
que a mulher possa conservar suas energias. Reduza a iluminação e os ruídos externos, fechando a porta do corredor. Ofereça um
banho quente para promover o relaxamento (se não for contraindicado). Use travesseiros para apoiar a gestante em uma posição
confortável, mudando sua posição a cada 30 minutos para reduzir a tensão e melhorar a atividade e eficiência uterina. Ofereçalhe
líquidos/alimentos conforme apropriado para umedecer a boca e repor suas energias (Figura 21.2).
Auxilie aplicando contrapressão com a massagem nas costas se o feto estiver na posição occipital posterior. Incentive a gestante
a adotar posições diferentes para promover a rotação fetal. Posições verticais são úteis em facilitar a rotação e a descida fetal.
Incentive também a gestante a visualizar a descida e o nascimento do feto.
Avalie o nível de dor e o grau de sofrimento da paciente. Administre analgésicos conforme prescrito ou de acordo com o
protocolo da instituição. Avalie o nível de fadiga da gestante ao longo do trabalho de parto, como por expressões verbais de sentir
se exausta, incapacidade de enfrentamento no início do trabalho de parto ou incapacidade de descansar ou acalmarse entre as
contrações. Elogie a gestante e seu parceiro por seus esforços. Forneça escuta empática para melhorar a capacidade de
enfrentamento da paciente e fique com ela para demonstrar afeto.
FIGURA 21.2 Enfermeira aplica compressa úmida e fria na testa da paciente e oferece lascas de gelo para combater a sede
e proporcionar conforto à mulher que apresenta distocia.
PROMOÇÃO DE EMPODERAMENTO
Oriente a gestante e seus familiares em relação ao trabalho de parto disfuncional e suas causas e tratamentos. Explique as
intervenções terapêuticas que podem ser necessárias para ajudar no processo de trabalho de parto. Incentive a gestante e seu
parceiro a participar na tomada de decisões em relação às intervenções.
Ajude a gestante e seu parceiro a expressar seus medos e ansiedades. Forneça encorajamento para ajudálos a manter o controle.
Apoieos em seus esforços de enfrentamento. Mantenhaos informados em relação aos progressos e defendaos.
FAMÍLIAS ALTERNATIVAS/NÃO CONVENCIONAIS
Existe uma conscientização crescente das famílias não convencionais em todo o planeta. Existem várias configurações familiares
atualmente. Essa conscientização demanda que os profissionais de enfermagem se afastem do pensamento heterossexista ao cuidar
da família que terá um filho. Os profissionais de enfermagem precisam receber educação adequada sobre as questões de saúde das
pessoas LGBTQ (lésbicasgaysbissexuaistransgêneroqueer), de modo a serem empáticos e conscientes das necessidades dessa
população. Com o aumento do número de casamentos de pessoas LGBTQ e a disponibilidade de métodos alternativos de
concepção, esses casais estão tendo contato com os profissionais de enfermagem durante o processo do parto. Os casais LGBTQ
enfrentam decisões complexas no tocante a ter filhos, precisando lidar com um sistema de saúde elaborado para casais
heterossexuais e enfrentando barreiras como seguro de saúde, atitudes negativas de não aceitação pelos profissionais de saúde e
incertezas em relação a direitos legais (Holley & Pasch, 2015).
Os indivíduos LGBTQ não são um grupo homogêneo e são formados por uma gama de fatores que incluem raça, orientação
sexual, etnia, nível socioeconômico e idade. Essa comunidade era marginalizada na sociedade. Os profissionais de saúde que
atendem pacientes LGBTQ precisam aceitar suas identidades, seus valores e suas crenças. Cada paciente deve ser tratado com
gentileza, com uma abordagem individualizada e suas necessidades devem ser defendidas. Os profissionais de saúde precisam
considerar o seguinte quando estão cuidando de famílias LGBTQ: devem usar linguagem/identificação e representação cultural
apropriadas (perguntar como essas pessoas desejam ser identificadas) e devem personalizar o atendimento (incluindo todos os
aspectos de interseção de suas identidades) (Westwood et al., 2015).
TRABALHO DE PARTO PREMATURO
O trabalho de parto prematuro é definido como a ocorrência de contrações uterinas regulares acompanhadas de apagamento e
dilatação do colo do útero antes do fim da 37asemana de gestação. Se não for interrompido, resulta em parto prétermo. O parto
prétermo continua sendo um dos principais fatores contribuintes para a morbidade e a mortalidade perinatais no mundo. De acordo
com o March of Dimes (2015b), cerca de 12% dos nascimentos (1 em cada 8 neonatos) nos EUA são prematuros.
O parto prétermo é uma das complicações obstétricas mais comuns, e suas sequelas têm um profundo efeito na sobrevida e na
saúde do recémnascido. A taxa de nascimentos prétermo nos EUA aumentou 35% nos últimos 20 anos. O parto prétermo é
responsável por 75% dos transtornos do neurodesenvolvimento e outras morbidades graves, bem como problemas comportamentais
e sociais. Representa 85% da morbidade e da mortalidade perinatais. Além disso, até US$ 30 bilhões são gastos anualmente na
assistência maternoinfantil relacionada com a prematuridade (March of Dimes, 2015b). Os recémnascidos prematuros também
correm risco de sequelas graves, como síndrome de angústia respiratória, infecções, defeitos cardíacos congênitos, problemas de
termorregulação que podem levar a acidose e perda de peso, hemorragia intraventricular, icterícia, hipoglicemia, dificuldades de
alimentação resultantes da capacidade estomacal diminuída e reflexo de sucção subdesenvolvido, e doenças neurológicas
relacionadas com hipoxia e traumatismo ao nascimento. Muitos enfrentam a perspectiva de numerosas incapacidades por toda a
vida, tais como paralisia cerebral, comprometimento intelectual, defeitos visuais e perda auditiva. Os achados de um estudo recente
indicaram que um único ciclo de corticosteroides no período prénatal melhorou a maioria dos desfechos neurodesenvolvimentais
dos recémnascidos se administrados antes da 34a semana de gestação (Sotiriadis et al., 2015). Embora tenha havido grandes
avanços nos cuidados intensivos neonatais, a prematuridade ainda é a principal causa de morte no primeiro mês de vida e é a
segunda principal causa de todas as mortes infantis (March of Dimes, 2015b). A causa exata do trabalho de parto prematuro não é
conhecida. Atualmente, a meta é a prevenção.
Conduta terapêutica
Prever o risco de trabalho de parto prematuro é válido somente se houver uma intervenção disponível que possa melhorar a
situação. De acordo com o ACOG, muitos fatores devem ser considerados antes de se optar por determinada intervenção. Muitos
fatores influenciam a decisão de intervir quando a mulher apresenta sintomas de trabalho de parto prematuro, incluindo a
probabilidade de trabalho de parto prematuro, a idade gestacional e os riscos do tratamento. O ACOG (2014b) recomenda as
seguintes diretrizes:
• Não existem agentes tocolíticos (fármacos que promovem relaxamento uterino por meio de interferência nas contrações
uterinas) de primeira linha bemdefinidos para o manejo do trabalho de parto prematuro e os resultados da pesquisa de suas
eficácias foram conflitantes. As circunstâncias clínicas e a preferência do médico devem ditar o tratamento
• Antibióticos não parecem prolongar a gestação e devem ser reservados à profilaxia de estreptococos do grupo B em gestantes
cujo parto é iminente
• Fármacos tocolíticos prolongam a gestação em 2 a 7 dias; durante esse período, devemse administrar esteroides para melhorar
a maturidade pulmonar fetal, e a mulher pode ser transportada para uma instituição de atenção terciária
• Um único ciclo de corticosteroides é preconizado para todas as gestantes entre a 24ae a 34a semana quando existe o risco de
parto prematuro em 7 dias. A administração prénatal de corticosteroides reduz significativamente a incidência e a gravidade da
síndrome de angústia respiratória neonatal.
Com essas recomendações, os médicos continuam prescrevendo tratamento farmacológico para o trabalho de parto prematuro,
em casa e no ambiente hospitalar. Esse tratamento frequentemente inclui agentes tocolíticos orais ou intravenosos e diferentes graus
de restrição de atividades (Figura 21.3). Também podem ser prescritos antibióticos para o tratamento de infecções presumidas ou
confirmadas. Podemse administrar esteroides para melhorar a maturidade pulmonar fetal entre a 24a e a 34asemana de gestação.
FIGURA 21.3 Gestante em trabalho de parto prematuro em repouso no leito domiciliar.
Tratamento com agentes tocolíticos
A decisão de interromper o trabalho de parto prematuro é individualizada, de acordo com os fatores de risco, o grau de dilatação do
colo do útero, o estado das membranas, a idade gestacional fetal e a existência ou não de infecção. É mais provável a prescrição de
tratamento com agentes tocolíticos se o trabalho de parto prematuro ocorrer antes da 34a semana de gestação, em uma tentativa para
adiar o parto e, assim, reduzir a gravidade da síndrome de angústia respiratória e outras complicações associadas à prematuridade.
O tratamento com agentes tocolíticos não costuma evitar o nascimento prétermo, mas pode retardálo. É contraindicado em caso de
descolamento prematuro de placenta, sofrimento fetal agudo ou morte fetal, eclâmpsia ou préeclâmpsia grave, sangramento vaginal
ativo, dilatação de mais de 6 cm, corioamnionite e instabilidade hemodinâmica materna (Locatelli, Consonni, & Ghidini, 2015).
Os medicamentos comumente empregados na tocólise incluem sulfato de magnésio (que reduz a capacidade de contração do
músculo), indometacina (inibidor da enzima prostaglandina sintetase), atosibana (antagonista dos receptores de ocitocina) e
nifedipino (bloqueador dos canais de cálcio) (Prática baseada em evidências 21.1). Esses fármacos são utilizados de modo “não
regulamentado”, o que significa que são efetivos para esse fim, mas não foram oficialmente elaborados nem testados para essa
finalidade pela U.S. Food and Drug Administration (FDA) (Haas et al., 2014). Em um recente estudo de revisão da Cochrane,
constatouse que os bloqueadores dos canais de cálcio são melhores na prevenção do trabalho de parto prematuro do que os agentes
betamiméticos (Flenady et al., 2014). Todos esses fármacos têm efeitos colaterais graves e a gestante precisa de supervisão atenta
quando eles estiverem sendo administrados (Orientação sobre medicamentos 21.1).
Prática baseada em evidências 21.1
Repouso no leito como medida preventiva de parto prematuro em gestações de feto único.
ESTUDO
O parto prematuro, definido como parto ocorrendo antes da 37a semana de gestação, ocorre em até 10% de todas
as gestações no planeta. Embora existam muitas terapias diferentes para evitar partos prematuros, poucas são
comprovadamente efetivas e preconizadas para uso clínico. O repouso no leito tem sido recomendado
tradicionalmente como primeira medida terapêutica para prevenir parto prematuro. Essa abordagem terapêutica se
fundamenta na observação de que o trabalho pesado e a atividade física vigorosa durante a gravidez poderiam
estar associados a parto prematuro e de que o repouso no leito poderia reduzir a atividade uterina. O repouso no
leito realmente tem efeitos adversos como aumentar a incidência de trombose venosa, atrofia muscular e perda do
condicionamento cardiovascular. O propósito desse estudo foi avaliar o efeito do repouso no leito, seja no hospital
ou no domicílio, na prevenção do parto prematuro.
Achados
Foram pesquisados estudos controlados randomizados, randomizados por agrupamento e quase randomizados.
Dois estudos atenderam os critérios de inclusão com a participação de 1.266 mulheres. Não foram encontradas
evidências que apoiem ou refutem o repouso no leito, seja no domicílio ou no hospital, para prevenir o parto pré
termo. Por causa dos efeitos adversos potenciais do repouso no leito para as mulheres, os profissionais de saúde
são orientados a discutir essa intervenção detalhadamente com suas pacientes. São necessárias mais pesquisas.
Implicações para a enfermagem
Embora o estudo não tenha revelado resultados estatisticamente significativos, os profissionais de enfermagem
precisam estar cientes de potenciais benefícios e limitações associados ao repouso no leito que é prescrito para
adiar um parto prétermo de modo a fornecer às gestantes e suas famílias as informações mais adequadas sobre as
opções para uma gestação prolongada. Os benefícios e os riscos potenciais devem ser discutidos com as mulheres
que correm risco aumentado de parto prematuro. Os enfermeiros podem integrar informações deste estudo em
suas orientações sobre os riscos associados à gestação prolongada. Também podem usar essas informações para
ajudar a responder perguntas do casal acerca das intervenções usadas atualmente e sua efetividade, bem como
fornecer orientação antecipatória sobre o procedimento. Se o fizerem, promoverão o empoderamento da gestante e
de sua família, auxiliando na tomada de decisão informada ideal.
Adaptado de Sosa, C. G., Althabe, F., Belizan, J. M., & Bergel, E. (2015). Bed rest in singleton pregnancies for
preventing preterm birth. Cochrane Database of Systematic Reviews, (3), CD003581.
Orientação sobre medicamentos 21.1
Fármacos usados no trabalho de parto prematuro.
Monitorar o nível de
consciência; relatar
qualquer cefaleia,
borramento visual,
tontura ou alteração do
nível de consciência
Realizar o monitoramento
eletrônico fetal contínuo;
relatar qualquer
diminuição na
variabilidade da FCF,
hipotonia ou depressão
respiratória
Monitorar o balanço hídrico
a intervalos de 60 min;
relatar qualquer
diminuição da
eliminação (< 30 mℓ/h)
Avaliar a frequência
respiratória; relatar se
for inferior a 12
incursões respiratórias
por minuto; auscultar os
sons pulmonares à
procura de evidências
de edema pulmonar
Monitorar se surgirem
efeitos colaterais
maternos comuns,
incluindo rubor, náuseas
e vômitos, boca seca,
letargia, borramento
visual e cefaleia
Avaliar se a gestante
apresenta náuseas,
vômitos, hipotensão
transitória, letargia
Avaliar os sinais e
sintomas de toxicidade
por magnésio, como
diminuição do nível de
consciência, depressão
nas respirações e
reflexos tendinosos
profundos, fala
arrastada, fraqueza e
parada respiratória e/ou
cardíaca
Ter gliconato de cálcio
prontamente disponível
à beira do leito para
reverter a toxicidade por
magnésio
Não administrar a
gestantes com úlcera
péptica
Agendar uma
ultrassonografia para
avaliar o volume de
líquido amniótico e a
função do canal arterial
antes de iniciar o
tratamento; monitorar
os sinais de hemorragia
materna
Estar alerta para efeitos
adversos maternos,
como náuseas e
vômitos, azia, erupção
cutânea, tempo de
sangramento
prolongado, oligo
hidrâmnio e hipertensão
arterial
Monitorar os efeitos
adversos neonatais,
incluindo a constrição
do canal arterial, o
fechamento prematuro
do canal arterial, a
enterocolite necrosante,
o oligohidrâmnio e a
hipertensão pulmonar
Contraindicado antes da
32a semana de
gestação, quando há
retardo do crescimento
fetal, história pregressa
de asma, urticária ou
reações alérgicas ao
ácido acetilsalicílico ou
AINE
Monitorar a pressão
arterial de hora em hora
se estiver administrando
com sulfato de
magnésio; informar em
caso de frequência
cardíaca > 110 bpm
Monitorar à procura de
efeitos fetais, como a
diminuição do fluxo
sanguíneo
uteroplacentário
manifestada por
bradicardia fetal, que
pode levar à hipoxia
fetal
Monitorar se há efeitos
adversos, como rubor
da pele, cefaleia,
taquicardia transitória,
palpitações, hipertensão
postural, edema
periférico e taquicardia
fetal transitória
Contraindicado para
gestantes com doença
cardiovascular ou
instabilidade
hemodinâmica
Betametasona Promove a maturidade Administrar duas doses IM
pulmonar fetal, com 24 h de intervalo
estimulando a produção de entre elas
surfactante; impede ou
Monitorar se há infecção
reduz o risco de síndrome
materna ou edema
de angústia respiratória e
pulmonar
hemorragia intraventricular
no recémnascido pré Orientar os pais em
termo (com menos de 34 relação aos potenciais
semanas de gestação) benefícios do fármaco
para o recémnascido
prétermo
Avaliar os sons
pulmonares maternos e
monitorar os sinais de
infecção
Adaptado de Chandrasekaran, S., & Srinivas, S. K. (2014). Antenatal
corticosteroid administration: understanding its use as an obstetric quality
metric. American Journal of Obstetrics and Gynecology, 210(2), 143–150;
Jørgensen, J. S., Weile, L. K., & Lamont, R. F. (2014). Preterm labor:
Current tocolytic options for the treatment of preterm labor. Expert Opinion
on Pharmacotherapy, 15(5), 585–588; e King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs,
J. M., Fahey, J. O., Gegor, C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s
midwifery (5th ed.). Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning.
Corticosteroides
Os corticosteroides administrados à gestante em trabalho de parto prematuro podem ajudar a evitar ou reduzir a frequência e a
gravidade da síndrome de angústia respiratória no feto prétermo que nasce entre a 24a e a 34a semana de gestação. Relataramse
efeitos benéficos dos corticosteroides sobre a maturação pulmonar fetal dentro de 48 horas após a administração inicial. Uma
revisão recente da Cochrane concluiu que os corticosteroides administrados repetidamente para a gestante em trabalho de parto
prematuro fornecem benefícios a curto prazo ao recémnascido prétermo, como menos desconforto respiratório e problemas de
saúde menos graves nas primeiras semanas após o nascimento. O estudo apoiou a repetição da(s) dose(s) de corticosteroides pré
natais às gestantes ainda em risco de parto prétermo 7 dias ou mais depois da administração inicial. Esses benefícios estiveram
associados a uma pequena redução no tamanho ao nascimento. A evidência atual disponível é tranquilizadora ao mostrar que não há
dano significativo na primeira infância, embora não haja benefícios. São necessárias mais pesquisas sobre os benefícios e riscos a
longo prazo para a mulher e o recémnascido. Metanálises de dados individuais podem esclarecer como maximizar os benefícios e
minimizar os danos (Cabbad et al., 2015). Esses medicamentos precisam de pelo menos 24 horas para serem efetivos, de modo que
a administração oportuna é crucial.
BOXE 21.2
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS AO TRABALHO DE PARTO PREMATURO E AO PARTO PRÉTERMO
• Gestante afroamericana (o dobro do risco)
• Mãe nos extremos etários (< 16 e > 40 anos de idade)
• Baixo nível socioeconômico
• Consumo de bebidas alcoólicas ou uso abusivo de drogas ilícitas, especialmente de cocaína
• Má nutrição materna
• Doença periodontal materna
• Tabagismo
• Baixa escolaridade
• História de parto prétermo anterior (triplica o risco)
• Anormalidades uterinas, como miomas
• Baixo peso na gestação em relação à altura
• Diabetes melito ou hipertensão arterial preexistentes
• Gestação múltipla
• Ruptura prematura de membranas
• Cuidado prénatal tardio ou ausência de cuidado prénatal
• Colo uterino de comprimento curto
• Doenças/infecções sexualmente transmissíveis: gonorreia, Chlamydia, tricomoníase
• Vaginose bacteriana (aumento de 50% no risco)
• Corioamnionite
• Polihidrâmnio
• Hipertensão arterial gestacional
• Insuficiência do colo do útero
• Intervalo curto entre as gestações (menos de 1 ano entre os partos)
• Problemas na placenta, como placenta prévia e descolamento prematuro da placenta
• Anemia materna
• Infecções urinárias
• Violência doméstica
• Estresse, agudo e crônico
Adaptado de March of Dimes. (2015b). Preterm labor and birth: A serious pregnancy complication. Retirado
de http://www.marchofdimes.com/pregnancy/preterm_indepth.html.
Avaliação de enfermagem
Não é possível reduzir a taxa de parto prétermo até que existam maneiras de prever o risco desse evento. Como a etiologia muitas
vezes é multifatorial, é necessária uma abordagem individualizada.
Anamnese e exame físico
Os sinais de trabalho de parto prematuro são sutis e podem passar despercebidos pela paciente, bem como pelo profissional de
saúde. Colete uma anamnese meticulosa e esteja alerta para fatores de risco associados ao trabalho de parto prematuro e parto pré
termo (Boxe 21.2).
Frequentemente, as mulheres não sabem que as contrações uterinas, o apagamento e a dilatação do colo do útero estão
ocorrendo, tornando a intervenção precoce não efetiva na interrupção do trabalho de parto prematuro e na prevenção da expulsão de
um feto prétermo. Pergunte à gestante se ela tem alguma queixa, permanecendo alerta para os sintomas sutis de trabalho de parto
prematuro, que podem incluir:
• Mudança ou aumento da secreção vaginal, com mucosas, água ou sangue
• Pressão pélvica (sensação de algo pressionando para baixo)
• Dorsalgia, na região lombar
• Cólicas semelhantes às menstruais
• Sintomas de infecção urinária
• Sensação de pressão pélvica ou de enchimento
• Distúrbios gastrintestinais: náuseas, vômitos e diarreia
• Sensação geral de desconforto ou malestar
• Sensação de peso ou incômodo nas coxas
• Contrações uterinas, com ou sem dor
• Mais de seis contrações por hora
• Cólicas intestinais, associadas ou não a diarreia (Jordan et al., 2014).
Avalie o padrão das contrações: as contrações têm de ser persistentes, de tal modo que ocorram quatro contrações a cada 20
minutos ou oito contrações a cada 60 minutos. Avalie a dilatação e o apagamento do colo do útero: o apagamento do colo do útero é
de 80% ou mais, e a dilatação é maior do que 1 cm (ACOG, 2014b). No exame de toque vaginal, observase o encaixe da
apresentação fetal.
Exames laboratoriais e complementares
Os exames complementares comumente solicitados para a avaliação de risco de trabalho de parto prematuro incluem hemograma
completo para detectar infecções, que podem ser um fator contribuinte para o trabalho de parto prematuro; exame de urina para
detectar bactérias e nitritos, que são indicativos de infecção do sistema urinário; e análise do líquido amniótico para determinar a
maturidade pulmonar fetal e a existência de corioamnionite subclínica.
Outros exames que podem ser usados para previsão de trabalho de parto prematuro incluem pesquisa de fibronectina fetal e
avaliação do comprimento do colo do útero por meio de ultrassonografia transvaginal. A fibronectina fetal e a avaliação do
comprimento do colo do útero têm elevado valor preditivo negativo e, portanto, são melhores na previsão de quais gestantes
provavelmente não terão um parto prematuro em oposição àquelas que terão (van Baaren et al., 2015).
FIBRONECTINA FETAL
A fibronectina fetal, uma glicoproteína produzida pelo cório, encontrase na junção entre o cório e a decídua (membranas fetais e
útero). Age como uma cola biológica, anexando o saco fetal ao revestimento do útero. Normalmente é encontrada nas secreções
cervicovaginais até a 22a semana de gestação e novamente no fim do último trimestre (1 a 3 semanas antes do trabalho de parto).
Geralmente não pode ser detectada entre 24 e 34 semanas de gestação (5 ½ a 8 ½ meses), a menos que tenha havido ruptura entre o
cório e a decídua. Apresentase no líquido cervicovaginal antes do parto, independentemente da idade gestacional.
O teste é um marcador útil para a ruptura iminente da membrana nos 7 a 14 dias seguintes se o nível aumentar até acima de
0,05 mcg/mℓ. A acurácia da fibronectina fetal diminui na presença de lubrificantes, sangue, relação sexual recente ou manipulação
do colo do útero nas 24 horas anteriores. Por outro lado, um teste de fibronectina fetal negativo é um forte preditor de que o
trabalho de parto prematuro nas próximas 2 semanas é improvável (Abbott et al., 2015).
Utilizase um aplicador estéril para coletar uma amostra cervicovaginal durante exame especular. O resultado pode ser positivo
(existência de fibronectina fetal) ou negativo (ausência de fibronectina fetal). A interpretação dos resultados de fibronectina fetal
deve sempre ser vista em conjunto com os resultados clínicos; não é usada como um indicador isolado para prever o trabalho de
parto prematuro. A importância primordial da fibronectina fetal cervicovaginal reside no elevado valor preditivo negativo do teste
para reduzir o risco de parto prétermo. O teste de fibronectina pode ser uma ferramenta útil no rastreamento de trabalho de parto
prematuro em mulheres sintomáticas.
MEDIDA DO COMPRIMENTO DO COLO DO ÚTERO
A ultrassonografia transvaginal do colo do útero tem sido usada como ferramenta de previsão do trabalho de parto prematuro em
gestações de alto risco e para diferenciar o trabalho de parto prematuro verdadeiro do falso. Avaliamse três parâmetros durante a
ultrassonografia transvaginal: comprimento e largura do colo do útero, largura e comprimento do funil e percentual de
afunilamento. A medição da parte fechada do colo do útero visualizada durante a ultrassonografia transvaginal é o único parâmetro
mais confiável para prever o parto prétermo em mulheres de alto risco (van Baaren et al., 2014).
O comprimento do colo do útero varia durante a gestação e pode ser mensurado de modo bastante confiável depois da
a
16 semana de gestação utilizandose uma sonda de ultrassonografia inserida na vagina. Um comprimento de colo do útero de 3 cm
ou mais indica que é improvável o parto nos 14 dias seguintes. As gestantes com um colo do útero curto (2,5 cm) durante a metade
do trimestre correm um risco substancialmente maior de parto prétermo antes da 35a semana de gestação. Tal como acontece com o
teste de fibronectina fetal, os resultados negativos podem ser reconfortantes e evitar intervenções desnecessárias (Souka et al.,
2015).
Conduta de enfermagem
Os enfermeiros desempenham um papel fundamental na redução do trabalho de parto prematuro e do parto prétermo para melhorar
os desfechos da gestação para as mães e seus neonatos. A detecção precoce do trabalho de parto prematuro é atualmente a melhor
estratégia para melhorar os desfechos. Em virtude dos diversos fatores associados ao trabalho de parto prematuro, é um desafio
identificar e abordar todos eles, especialmente quando as gestantes que apresentam contrações são com frequência falsamente
tranquilizadas e não avaliadas cuidadosamente para determinar a causa. Esse atraso impede a iniciação de intervenções para reduzir
a mortalidade e a morbidade infantis.
Os programas de prevenção do parto prétermo em gestantes de alto risco têm usado automonitoramento dos sinais/sintomas e
padrões, exames semanais do colo do útero, marcadores clínicos, monitoramento por telefone, consultas domiciliares, isoladamente
ou em combinação, com resultados decepcionantes. Acreditase que o trabalho de parto prematuro seja um processo multifatorial
crônico, a longo prazo, com um componente genético. Um estudo recente constatou que gestação múltipla, parto prétermo prévio,
condições socioeconômicas ruins, condições clínicas maternas e infecções maternas são fatores de risco estatisticamente
significativos na previsão de trabalho de parto prétermo espontâneo (Patel, Pitre, & Bhooker, 2015). Apesar dos avanços
tecnológicos e farmacológicos em identificação e tratamento do trabalho de parto prematuro, a incidência permanece elevada e está
crescendo nos EUA.
São necessários cuidados de enfermagem de apoio para a mulher em trabalho de parto prematuro se as contrações forem
interrompidas ou não com tratamento com tocolíticos. As tarefas de enfermagem incluem monitorar os sinais vitais, verificar o
balanço hídrico, incentivar o repouso no leito com a gestante em decúbito lateral esquerdo para melhorar a perfusão placentária,
monitorar a FCF continuamente por meio de um monitor externo, limitar os exames de toque vaginal para evitar uma infecção
ascendente e monitorar a mãe e o feto atentamente por quaisquer efeitos adversos dos agentes tocolíticos. Oferecer ao casal
explicações contínuas ajudará a preparálos para o parto.
Administração de agentes tocolíticos
A tocólise é a utilização de medicamentos para inibir as contrações uterinas. Os principais objetivos do tratamento com agentes
tocolíticos são a interrupção do trabalho de parto e o adiamento do parto por tempo suficiente para iniciar a corticoterapia profilática
– quando esta for indicada para estimular a maturidade pulmonar fetal – e providenciar o transporte maternofetal para uma
instituição de atenção terciária. É necessário um diagnóstico seguro de trabalho de parto prematuro antes de considerar o
tratamento. O diagnóstico demanda a ocorrência tanto de contrações uterinas quanto de alterações no colo do útero (ou de um exame
de colo do útero inicial revelando dilatação de mais de 2 cm e/ou apagamento de mais de 80% na paciente nulípara). Devese
sempre procurar a causa do trabalho de parto prematuro.
As contraindicações absolutas para a administração de agentes tocolíticos para interromper o trabalho de parto incluem infecção
intrauterina, hemorragia ativa, sofrimento fetal, anomalia fetal incompatível com a vida, retardo do crescimento fetal, préeclâmpsia
grave, doença cardíaca, ruptura prematura prolongada das membranas (RPPM) e morte intrauterina (Callahan, 2016). O repouso no
leito e a hidratação são comumente recomendados, mas sem eficácia comprovada.
A prevenção do trabalho de parto prematuro continua sendo meta de difícil definição. Atualmente, as mulheres com alto risco
de trabalho de parto prematuro são submetidas a tratamento com progesterona no início do segundo trimestre de gestação. Embora
esse tratamento seja recomendado pelo ACOG, ele não foi aprovado pela FDA para essa finalidade e tem resultados mistos (Iams,
2015).
Pode ser prescrito sulfato de magnésio. Esse agente age como antagonista fisiológico do cálcio e inibidor geral da
neurotransmissão. Espere administrálo por via intravenosa. Monitore a gestante à procura de náuseas, vômitos, cefaleia, fraqueza,
hipotensão e parada cardiorrespiratória. O monitoramento frequente do esforço respiratório materno e dos reflexos profundos é
essencial para a identificação precoce de superdosagem. Como o magnésio é excretado exclusivamente pelos rins, a função renal
adequada é essencial para uma administração segura. Avalie o feto à procura de diminuição na variabilidade da FCF, sonolência e
hipotonia. O magnésio tem uma ampla margem de segurança, contudo, não é mais efetivo que outros agentes tocolíticos no retardo
dos partos prematuros. Todavia, se for administrado no período prénatal, efetivamente ajuda as gestantes que desenvolvem pré
eclâmpsia e protege os cérebros fetais (Nakazawa et al., 2015).
Os bloqueadores dos canais de cálcio promovem o relaxamento do útero porque diminuem o influxo de íons cálcio nas células
do miométrio, inibindo, assim, as contrações. Embora os bloqueadores dos canais de cálcio possam ser prescritos para gerenciar o
trabalho de parto prematuro, a literatura disponível fornece poucas evidências de que eles tenham maior eficácia no tratamento de
trabalho de parto prematuro do que qualquer outro agente tocolítico. Ainda não existe um agente tocolítico que seja 100% eficaz e
100% seguro (van den Bosch, Ruys, & RoosHesselink, 2015). Administre os bloqueadores dos canais de cálcio (p. ex.,
nifedipino) por via oral ou sublingual a intervalos de 4 a 8 horas, conforme prescrito. Monitore a gestante à procura de hipotensão,
taquicardia reflexa, cefaleia, náuseas e rubor facial.
O inibidor da enzima prostaglandina sintetase (indometacina) reduz a síntese de prostaglandinas pelos macrófagos deciduais.
A indometacina atravessa prontamente a placenta e pode causar oligohidrâmnio em decorrência de diminuição do fluxo sanguíneo
renal fetal se for utilizada por mais de 48 horas. Durante o tratamento, devem ser avaliados periodicamente o débito urinário, a
temperatura materna e o índice de líquido amniótico. A dose inicial recomendada é 50 a 100 mg por via oral ou por via retal,
seguida por 25 a 50 mg a cada 6 horas (8 doses). A terapia com indometacina não é preconizada para gestações com 32 semanas ou
mais (Ross, 2015).
Orientações à paciente
Certifiquese de que toda gestante receba orientações básicas sobre o trabalho de parto prematuro, incluindo informações sobre
estilos de vida prejudiciais, sinais de infecção do sistema geniturinário e de trabalho de parto prematuro, e a resposta adequada a
esses sinais e sintomas. Oriente a paciente a como palpar e cronometrar as contrações uterinas. Forneça material escrito para apoiar
essas orientações em um nível e linguagem apropriados à gestante. Também oriente a paciente em relação à importância do
atendimento prénatal, da redução de risco e do reconhecimento dos sinais e sintomas de trabalho de parto prematuro. No boxe
Diretrizes de ensino 21.1 são destacadas orientações importantes relacionadas com a prevenção do trabalho de parto prematuro.
Explicar ao casal o que está acontecendo em termos de progresso do trabalho de parto, regime de tratamento e condição do feto
é importante para reduzir a ansiedade associada ao risco de dar à luz um recémnascido prétermo. Orienteos a respeito da
importância de promover a maturidade pulmonar fetal com corticosteroides. Inclua os membros de apoio da família em todas as
orientações. Dê tempo para a mulher e sua família expressarem suas preocupações em relação ao possível desfecho para a criança e
os possíveis efeitos colaterais do tratamento com tocolíticos. Incentiveos a desabafar todos os seus sentimentos, medos e raiva que
possam experimentar. Forneça à gestante e sua família uma avaliação honesta da situação e um plano de tratamento ao longo de
todo o processo de cuidado.
Apoio psicológico
O trabalho de parto prematuro e o parto prétermo apresentam desafios multifatoriais para todos os envolvidos. Se as atividades da
gestante forem restritas, podemse impor tensões adicionais sobre a família, contribuindo para a crise. Avalie os níveis de estresse
da paciente e de seus familiares e faça os encaminhamentos adequados. Enfatize a necessidade de consultas médicas e supervisão
mais frequentes e incentive a paciente a conversar com seu médico para ser tranquilizada.
Cada caso de trabalho de parto prematuro espontâneo é único. Os cuidados precisam levar em consideração as circunstâncias
clínicas, sendo necessário o consentimento pleno e informado da gestante e de seu parceiro. Metade de todas as gestantes que
acabam dando à luz prematuramente não tem fatores de risco identificáveis. Os enfermeiros devem estar atentos a qualquer queixa e
devem fornecer avaliação, informação e acompanhamento adequados. A sensibilidade para as sutis diferenças entre as sensações
normais da gestação e os sinais e sintomas prodrômicos de trabalho de parto prematuro é um fator essencial para assegurar o
cuidado oportuno. Ofereça validação e esclarecimentos dos sintomas da gestante.
Diretrizes de ensino 21.1
Orientações para evitar trabalho de parto prematuro
• Evitar viajar de carro, trem, avião e ônibus por longas distâncias
• Evitar levantar objetos pesados, lavar roupas, fazer compras ou cuidar de uma criança pequena
• Evitar trabalhos físicos pesados, como cuidar do jardim, movimentar móveis ou ajudar em construções
• Níveis leves a moderados de exercícios físicos são permitidos, tais como caminhada diária
• Alcançar peso corporal apropriado antes de engravidar
• Alcançar reservas adequadas de ferro por meio de nutrição adequada
• É crucial um intervalo de pelo menos 18 meses entre as gestações
• Visitar um dentista no início da gestação para avaliar e tratar a doença periodontal
• Inscreverse em um programa de cessação do tabagismo se você for incapaz de deixar o vício por conta
própria
• Restringir a atividade sexual até depois da 37a semana de gestação se você apresentar sinais e sintomas de
parto prétermo
• Consumir uma dieta bem balanceada para proporcionar o ganho de peso adequado
• Evitar o uso abusivo de substâncias psicoativas, como maconha, cocaína e heroína
• Identificar os fatores e áreas de estresse em sua vida e usar técnicas de gerenciamento para reduzilos
• Se você estiver enfrentando violência por parte do parceiro íntimo, buscar recursos para modificar a situação
Reconhecer os sinais e sintomas de trabalho de parto prematuro e notificar seu médico obstetra se alguma das
seguintes situações ocorrer:
• Contrações uterinas, cãibras ou dor lombar
• Sensação de pressão pélvica ou de enchimento
• Aumento da secreção vaginal
• Náuseas, vômitos e diarreia
• Perda de líquido pela vagina
Se você estiver apresentando algum desses sinais ou sintomas, fazer o seguinte:
• Parar o que estiver fazendo e descansar por 1 hora
• Esvaziar a bexiga
• Deitarse de lado
• Beber 2 a 3 copos de água
• Palpar seu abdome e observar a rigidez da contração. Ligar para o seu médico e descrever se a contração é:
• Leve, se for semelhante a palpar a ponta do nariz
• Moderada, se for semelhante a palpar a ponta do queixo
• Forte, se for semelhante a palpar a testa
Adaptado de Jordan, R. G., Engstrom, J. L., Marfell, J. A., & Farley, C. L. (2014). Prenatal and postnatal care: A
womancentered approach. Ames, Iowa: John Wiley & Sons, Inc.; e Ross, M. G. (2015). Preterm
labor. eMedicine. Retirado de http://emedicine.medscape.com/article/260998overview#aw2aab6b7.
Se o tratamento com agentes tocolíticos não for bemsucedido em interromper as contrações uterinas, apoie o casal durante esse
período estressante para preparálos para o parto. Mantenhaos informados de todos os progressos e mudanças; por exemplo,
monitore continuamente os sinais vitais maternos e fetais, em especial a temperatura materna, para detectar sinais de início de
infecção. Ofereça contato individualizado e esteja disponível durante esse período difícil e causador de ansiedade.
GESTAÇÃO PÓSTERMO
A gestação a termo geralmente dura de 38 a 42 semanas. A gestação póstermo ou prolongada é aquela que continua além do final
da 42a semana de gestação, ou 294 dias a partir do primeiro dia do último período menstrual. A gestação póstermo ou
prolongada é definida como uma gestação que se estende até a 42 0/7 semanas e depois. Nos EUA, cerca de 7% das gestações de
feto único ultrapassam 41 semanas (Walker & Gan, 2015). O cálculo incorreto da idade gestacional representa a maioria dos casos:
muitas mulheres têm menstruação irregular, portanto, não é possível identificar com precisão a data do seu último período
menstrual.
Lembrese de Jennifer, a gestante descrita no início do capítulo que estava na 41a semana de gestação. Quais
informações seriam mais importantes determinar na sua admissão à instituição? Que intervenções o enfermeiro
pode antecipar quando ela chegar?
A etiologia exata de uma gestação póstermo ou prolongada é desconhecida, porque o mecanismo para a iniciação do trabalho de
parto não é completamente compreendido. As teorias sugerem que pode haver deficiência de estrogênio e secreção continuada de
progesterona, que impede o útero de se contrair, mas nenhuma evidência confirmou isso. A mulher que tem uma gestação
prolongada apresenta maior risco de recorrência nas gestações subsequentes.
As gestações póstermo afetam negativamente a mãe e o feto ou recémnascido. O risco materno está relacionado com o feto de
tamanho grande ao nascimento, o que aumenta as chances de que será necessária uma cesariana. Outras questões podem incluir
distocia, tocotraumatismo, hemorragia pósparto e infecção. Podem ser necessárias intervenções mecânicas ou artificiais, como o
parto assistido por fórceps ou vacuoextrator e a indução do trabalho de parto com ocitocina. Além disso, a exaustão materna e os
sentimentos de desespero em relação a essa gestação prolongada podem aumentar o nível de ansiedade da gestante e reduzir a sua
capacidade de enfrentamento. Muitas vezes, a gestante se culpa pelo prolongamento da gestação, e os sentimentos negativos da
mulher em relação a si mesma podem impor tensão aos relacionamentos com as pessoas mais próximas a ela.
Os riscos fetais associados a uma gestação póstermo incluem macrossomia, distocia de ombro, lesões do plexo braquial,
baixos escores de Apgar, síndrome pósmaturidade (perda de gordura subcutânea e músculos e tingimento por mecônio) e
desproporção cefalopélvica. Todas essas condições predispõem esse feto a tocotraumatismo ou parto cirúrgico. A taxa de
mortalidade perinatal além da 42asemana de gestação é duas vezes maior do que a termo e aumenta em seis vezes ou mais na
43a semana de gestação e depois. A insuficiência uteroplacentária, a aspiração de mecônio e a infecção intrauterina contribuem para
o aumento da taxa de mortalidade perinatal (Callahan, 2016). Conforme a placenta envelhece, sua perfusão diminui e ela se torna
menos eficiente em entregar oxigênio e nutrientes para o feto. O volume de líquido amniótico também começa a declinar após a
38a semana de gestação, possivelmente levando ao oligohidrâmnio, subsequentemente resultando em hipoxia fetal e aumento do
risco de compressão do cordão umbilical, porque não existe mais o efeito de amortecimento oferecido pelo líquido adequado. A
hipoxia e o oligohidrâmnio predispõem o feto à aspiração de mecônio, liberado pelo feto em resposta a um agravo hipóxico
(Caughey & Butler, 2015). Todas essas questões podem comprometer o bemestar fetal e levar a sofrimento fetal.
Avaliação de enfermagem
Colete uma anamnese completa para determinar a data prevista para o parto. Muitas mulheres não têm certeza da data de seu último
período menstrual, por isso a data fornecida pode não ser confiável. Apesar dos diversos métodos usados para determinar a idade
gestacional, muitas gestantes ainda têm imprecisão na datação. A confirmação da idade gestacional exata via ultrassonografia é
essencial.
Quando a conduta expectante é escolhida em vez de indução do trabalho de parto para a gravidez póstermo, o enfermeiro deve
antecipar que as avaliações incluirão tipicamente contagens diárias dos movimentos fetais realizadas pela gestante, cardiotocografias
basais com avaliação do líquido amniótico como parte do perfil biofísico (duas vezes por semana) e exames semanais do colo do
útero (para determinação da maturação do mesmo). A indução pode ser postergada até a 42asemana de gravidez se a avaliação fetal
for tranquilizadora. Além disso, avalie o seguinte:
• Compreensão da gestante sobre os vários testes de bemestar fetal
• Estresse e ansiedade da gestante em relação a seu atraso
• Capacidade de enfrentamento e rede de apoio da paciente.
Conduta de enfermagem
Uma vez determinada a idade gestacional e confirmada a condição de póstermo, o monitoramento do bemestar fetal tornase
essencial. Ao determinar o plano de cuidados para a mulher com uma gestação prolongada, inicialmente decidese pelo parto ou
pela espera. Se a decisão for esperar, então o monitoramento fetal é fundamental. Se a decisão for dar à luz, iniciase a indução do
trabalho de parto. Ambas as decisões ainda são motivo de controvérsia e não há resposta clara sobre qual é a opção mais adequada.
Portanto, o plano tem de ser individualizado.
Lembrese novamente de Jennifer, que será submetida à indução do trabalho de parto. Quais avaliações de
enfermagem continuadas seriam importantes ao prestar cuidados a ela?
Apoio
A vigilância intensiva toma tempo e é invasiva, aumentando a ansiedade e a preocupação que a gestante já está sentindo em relação
à sua condição de póstermo. Esteja alerta para a ansiedade da gestante e deixea falar sobre o que está sentindo. Forneça garantias
em relação ao intervalo de tempo esperado para o nascimento e bemestar do feto, com base nos testes de avaliação. Validar o
estado de estresse da mulher em decorrência da gestação póstermo proporciona a ela uma oportunidade para verbalizar abertamente
seus sentimentos.
Orientações à mulher e a seu parceiro
Oriente a mulher e seu parceiro em relação aos exames necessários e às razões para cada exame. Descreva também os métodos que
podem ser utilizados para o amadurecimento do colo do útero, se indicado. Explique sobre a possibilidade de indução se o trabalho
de parto da gestante não for espontâneo ou se ocorrer um padrão de trabalho de parto disfuncional. Também prepare a gestante para
a possibilidade de um parto cirúrgico em caso de sofrimento fetal.
Cuidados durante o período intraparto
Durante o período intraparto, avalie e monitore continuamente a FCF para identificar precocemente sofrimento fetal (p. ex.,
desacelerações tardias ou variáveis), de modo que as intervenções possam ser iniciadas. Monitore também o estado de hidratação da
gestante para garantir a perfusão placentária máxima. Quando as membranas se romperem, avalie as características do líquido
amniótico (coloração, volume e odor) para identificar hipoxia fetal prévia e prepararse para a prevenção da aspiração de mecônio.
Relate imediatamente a existência de líquido amniótico tingido por mecônio após as membranas da gestante se romperem. Antecipe
a necessidade de amnioinfusão para minimizar o risco de aspiração de mecônio, diluindo o mecônio no líquido amniótico expelido
pelo feto hipóxico. Além disso, monitore atentamente o padrão de trabalho de parto da gestante, porque padrões disfuncionais são
comuns (Soni, Vaishnav, & Gohil, 2015). Incentive a gestante a verbalizar seus sentimentos e preocupações, e responda a todas as
suas perguntas. Forneça apoio, presença, informações e encorajamento ao longo desse período.
GESTANTES QUE PRECISAM DE INDUÇÃO E ACELERAÇÃO DO TRABALHO DE
PARTO
De modo ideal, todas as gestações vão até o termo, com o trabalho de parto começando espontaneamente. No entanto, muitas
gestantes precisam de ajuda para iniciar ou sustentar o processo de trabalho de parto. A indução do trabalho de parto envolve
estimular as contrações uterinas por meios clínicos ou cirúrgicos antes do início do trabalho de parto espontâneo. A taxa de indução
do trabalho de parto é a mais alta de todos os tempos nos EUA. O uso generalizado da indução artificial do trabalho de parto por
conveniência tem contribuído para o recente aumento na quantidade de cesarianas. As evidências são convincentes de que a indução
eletiva do trabalho de parto aumenta significativamente o risco de cesariana, parto instrumentado, uso de analgesia epidural e
admissão em unidade de terapia intensiva neonatal, especialmente em mulheres nulíparas (Caughey, 2014a).
A indução do trabalho de parto não é um evento isolado: traz uma cascata de outras intervenções que podem ou não produzir um
desfecho favorável. A indução do trabalho de parto também envolve terapia intravenosa, repouso no leito, monitoramento eletrônico
fetal contínuo, desconforto significativo pela estimulação das contrações uterinas, analgesia/anestesia epidural e internação
prolongada na unidade de trabalho de parto e parto (Vogel et al., 2014). A estimulação do trabalho de parto (tipicamente com
ocitocina) torna efetivas as contrações uterinas após ser iniciado o trabalho de parto. É necessário monitoramento eletrônico
contínuo da FCF.
A Organização Mundial da Saúde (WHO, 2014b) publicou recomendações sobre a indução do trabalho de parto que incluem:
• A indução do trabalho de parto só deve ser realizada se houver uma indicação clínica bemdefinida
• As gestantes submetidas a indução do trabalho de parto nunca devem ser deixadas sozinhas
• A indução do trabalho de parto só deve ser realizada após ser descartada a possibilidade de desproporção cefalopélvica
• A indução do trabalho de parto não deve ser realizada em mulheres com apresentações fetais anormais
• É necessário monitoramento cuidadoso do padrão de contração uterina e da FCF.
Existem várias razões clínicas e obstétricas para induzir o trabalho de parto, sendo que a mais comum é a gestação prolongada.
Outras indicações para a indução incluem RPPM, hipertensão arterial gestacional, doença cardíaca, doença renal, corioamnionite,
distocia, morte fetal intrauterina, isoimunização e diabetes melito (Jordan et al., 2014). As contraindicações para a indução do
trabalho de parto incluem placenta prévia completa, descolamento prematuro de placenta, feto em situação transversa, prolapso do
cordão umbilical, incisão uterina clássica prévia que adentrou a cavidade uterina, anormalidade na estrutura pélvica, miomectomia
prévia, sangramento vaginal de causa desconhecida, câncer invasivo do colo do útero, infecção genital ativa por herpesvírus e
padrões anormais de FCF (Cunningham et al., 2014). Em geral, a indução do trabalho de parto é indicada quando os benefícios do
nascimento superam os riscos da continuação da gestação para a mãe ou o feto. No entanto, o equilíbrio entre o risco e o benefício
permanece controverso.
Anote!
Antes de iniciar a indução do trabalho de parto, devese avaliar a maturidade fetal (idade gestacional, ultrassonografia, exames do
líquido amniótico) e a prontidão do colo do útero (exame de toque vaginal, índice de Bishop; consulte a Tabela 21.2). Ambas
precisam ser favoráveis à indução bemsucedida.
Conduta terapêutica
A decisão de induzir o trabalho de parto é baseada em uma avaliação completa da condição materna e fetal. Tipicamente, inclui
ultrassonografia para avaliar as dimensões, a posição e a idade gestacional do feto e localizar a placenta; avaliação do encaixe da
apresentação fetal; pelvimetria para descartar a possibilidade de desproporção fetopélvica; cardiotocografia basal para avaliar o
bemestar fetal; determinação do nível de fosfatidilglicerol (PG) para avaliar maturidade pulmonar fetal; confirmação de ritmo
cardíaco fetal de categoria I; hemograma completo e exame de urina para descartar infecções; e toque vaginal para avaliar o colo do
útero e determinar a possibilidade de indução (Kriebs, 2015). A determinação acurada da idade gestacional também é essencial
antes de iniciar o amadurecimento do colo do útero e a indução para evitar o parto prétermo.
Amadurecimento do colo do útero
O amadurecimento do colo do útero é um processo pelo qual o colo do útero é amolecido via colapso das fibrilas de colágeno. Esse
é o primeiro passo no processo de apagamento e dilatação do colo do útero, de modo que o colo do útero está apagado em
aproximadamente 50% e tem dilatação de 2 cm, em média, no início do trabalho de parto, apesar de não existirem diferenças na
largura. Existe uma concordância crescente de que, se o colo do útero estiver desfavorável ou imaturo, é improvável que o parto
vaginal seja bemsucedido. A maturação do colo do útero é uma variável importante quando está sendo considerada a indução do
trabalho de parto. Um colo do útero maduro é encurtado, centralizado (anterior), amolecido e parcialmente dilatado. Um colo
imaturo é longo, fechado, posteriorizado e firme. O amadurecimento do colo do útero geralmente começa antes do início das
contrações do trabalho de parto e é necessário para a dilatação do colo do útero e a passagem do feto.
Já foram elaborados vários sistemas de pontuação para avaliar a maturação do colo do útero, mas o índice de Bishop é o mais
comumente usado hoje em dia. O índice de Bishop ajuda a identificar as gestantes que têm maior probabilidade de conseguir uma
indução bemsucedida (Tabela 21.2). A duração do trabalho de parto se correlaciona inversamente ao índice de Bishop: uma
pontuação superior a 8 indica um parto vaginal bemsucedido. Índices de Bishop de menos de 6 geralmente indicam que deve ser
utilizado um método de amadurecimento do colo do útero antes da indução (Goldberg, 2015). A indução médica do trabalho de
parto tem dois componentes: amadurecimento do colo do útero e indução das contrações. Quando a indução do trabalho de parto
estiver indicada, avaliase a prontidão do colo do útero para o trabalho de parto pelo exame obstétrico e documentase o índice de
Bishop encontrado.
MÉTODOS DE MEDICINA COMPLEMENTAR E ALTERNATIVA (MCA)
Os métodos não farmacológicos para o amadurecimento do colo do útero são menos frequentemente usados na atualidade, mas os
enfermeiros precisam conhecêlos e questionar as pacientes sobre sua utilização. Os métodos podem incluir agentes fitoterápicos,
como óleo de prímula, Viburnum prunifolium, Cimicifuga racemosa, Caulophyllum thalictroides e Rubus idaeus. Além disso, óleo
de rícino, banhos quentes e enemas são usados para o amadurecimento do colo do útero e a indução do trabalho de parto. Os riscos
e benefícios desses agentes não são conhecidos. Nenhum deles foi avaliado cientificamente e, portanto, não podem ser
recomendados com referência à sua eficácia ou segurança.
Tabela 21.2 Sistema de pontuação do índice de Bishop.
Outro método não farmacológico sugerido para a indução do trabalho de parto é a relação sexual, juntamente com a estimulação
das mamas. Isso promove a liberação de ocitocina, que estimula as contrações uterinas. Além disso, o sêmen humano é uma fonte
biológica de prostaglandinas usadas para o amadurecimento do colo do útero. De acordo com uma revisão da Cochrane, a relação
sexual com a estimulação das mamas parece benéfica, mas as questões de segurança não foram completamente avaliadas e também
não é possível padronizar essa atividade. Parece encurtar a fase latente do trabalho de parto (King et al., 2015). Portanto, seu uso
como um método para a indução do trabalho de parto não é validado pelas pesquisas.
MÉTODOS MECÂNICOS
Utilizamse métodos mecânicos para abrir o colo do útero e estimular a progressão do trabalho de parto. Todos esses métodos
compartilham de um mecanismo de ação semelhante: a aplicação de pressão local estimula a liberação de prostaglandinas para
amadurecer o colo do útero. As potenciais vantagens dos métodos mecânicos em comparação aos farmacológicos podem incluir
simplicidade ou preservação do tecido ou estrutura do colo do útero, menor custo e menos efeitos colaterais. Os riscos associados a
esses métodos incluem infecção, hemorragia, ruptura de membranas e ruptura prematura da placenta (Sciscone, 2014). Por
exemplo, podese inserir um cateter de demora (Foley) (p. ex., 26 French) no canal endocervical para amadurecer e dilatar o colo do
útero. O cateter é colocado no útero e o balão é enchido. Aplicase então pressão direta ao segmento inferior do útero e ao colo do
útero. Essa pressão direta provoca tensão no segmento inferior do útero e, provavelmente, a produção local de prostaglandinas. Os
riscos, benefícios e efeitos colaterais esperados devem ser explicados para a gestante antes da introdução do cateter com balão
(Fuks et al., 2015).
Os dilatadores higroscópicos absorvem os líquidos endocervicais e os líquidos dos tecidos locais; conforme eles se alargam,
expandem a endocérvice e fornecem pressão mecânica controlada. Os produtos disponíveis incluem dilatadores osmóticos naturais
(Laminaria, uma espécie de alga marinha desidratada) e dilatadores sintéticos contendo sulfato de magnésio (Lamicel®, Dilapan®).
Os dilatadores higroscópicos são vantajosos porque podem ser inseridos ambulatorialmente e não é necessário monitoramento fetal.
Inseremse quantos dilatadores couberem no colo do útero, e eles se expandem ao longo de 12 a 24 horas, conforme absorvem
água. A absorção de água leva à expansão dos dilatadores e à abertura do colo do útero. Eles são uma alternativa confiável quando
as prostaglandinas forem contraindicadas ou não estiverem disponíveis (Goldberg, 2015).
Recentemente, tem havido redução na utilização de dilatadores higroscópicos e osmóticos para a indução do trabalho de parto
em favor dos agentes farmacológicos. Os motivos dessa redução do uso incluem o risco aumentado de infecções maternas e fetais
dos dilatadores higroscópicos e osmóticos quando comparados ao risco associado ao uso de outros agentes farmacológicos e à
facilidade da administração farmacológica. A colocação dos dilatadores também exige treinamento adicional e pode estar associada
a ruptura de membranas, sangramento vaginal e desconforto ou dor na gestante (Drunecky et al., 2015).
Uma recente revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados que compararam o amadurecimento do colo do útero com
métodos mecânicos com o uso de agentes farmacológicos alternativos ou placebo demonstrou que a infecção materna foi maior nas
gestantes que realizaram o amadurecimento do colo do útero com métodos mecânicos. Assim, os métodos mecânicos de
amadurecimento do colo do útero têm caído em desuso e são utilizados com pouca frequência atualmente, quando comparados aos
métodos farmacológicos ou cirúrgicos de indução (McCarthy & Kenny, 2014).
MÉTODOS CIRÚRGICOS
Os métodos cirúrgicos utilizados para amadurecer o colo do útero e induzir ao trabalho de parto incluem a remoção das membranas
e a realização de uma amniotomia. Promovese a desinserção das membranas inserindo um dedo através do óstio interno do colo do
útero e movendoo em sentido circular. Esse movimento faz com que as membranas de separem. Acreditase que a separação
manual das membranas do colo do útero induza ao amadurecimento do colo do útero e ao início do trabalho de parto (Afzal, Asif,
& Miraj, 2015). No entanto, não há atualmente evidências fortes de que a separação das membranas encurte significativamente a
duração da gestação.
A amniotomia envolve a inserção de um gancho de colo do útero (AmnioHook®) através da abertura do colo do útero para
romper deliberadamente as membranas. Isso promove a pressão da apresentação fetal sobre o colo do útero e estimula um aumento
na atividade das prostaglandinas localmente. Os riscos associados a esses procedimentos incluem prolapso ou compressão do
cordão umbilical, infecção materna ou neonatal, desaceleração da FCF, sangramento e desconforto da gestante (King et al., 2015).
Quando se utiliza qualquer uma dessas técnicas, devemse acompanhar atentamente as características do líquido amniótico (se
ele está claro ou com sangue ou mecônio) e o padrão de FCF.
MÉTODOS FARMACOLÓGICOS
A utilização de agentes farmacológicos revolucionou o amadurecimento do colo do útero. Já foi constatado que o uso de
prostaglandinas para alcançar o amadurecimento do colo do útero é extremamente efetivo na promoção de alterações cervicais
independentes das contrações uterinas (Grobman, 2015). Em alguns casos, as mulheres entrarão em trabalho de parto sem a
necessidade de estimulantes adicionais à indução. A indução do trabalho de parto com prostaglandinas oferece a vantagem de
promover tanto o amadurecimento do colo do útero quanto a contratilidade uterina. Uma desvantagem das prostaglandinas é a sua
capacidade de induzir a contrações uterinas excessivas, o que pode aumentar as taxas de morbidade materna e perinatal (Callahan,
2016). Os análogos da prostaglandina comumente utilizados para o amadurecimento do colo do útero incluem dinoprostona na
formulação gel, dinoprostona na formulação pessário e misoprostol. O misoprostol, um análogo sintético da PGE1, é um agente
citoprotetor gástrico usado nos EUA no tratamento e na prevenção de úlceras pépticas. Pode ser administrado por via intravaginal
ou oral para amadurecer o colo do útero ou induzir o trabalho de parto.1 Nos EUA está disponível em comprimidos de 100 ou 200
mcg, mas tipicamente são usadas doses de 25 a 50 mcg. É importante notar que apenas a dinoprostona é aprovada pela FDA para
uso como um agente de amadurecimento do colo do útero, embora o ACOG reconheça a aparente segurança e efetividade do
misoprostol para essa finalidade (King et al., 2015). Um dos principais efeitos adversos do uso obstétrico do misoprostol é a
hiperestimulação do útero, que pode progredir para tetania uterina com acentuado comprometimento do fluxo sanguíneo
uteroplacentário, ruptura uterina (exigindo reparação cirúrgica, histerectomia e/ou salpingooforectomia) ou embolia amniótica
(Ahmed et al., 2015; consulte o boxe Orientação sobre medicamentos 21.2). Além disso, é contraindicado para mulheres com
cicatrizes uterinas anteriores, portanto, não deve ser utilizado para o amadurecimento do colo do útero em mulheres que tentam um
parto vaginal após uma cesariana.
Orientação sobre medicamentos 21.2
Fármacos usados para amadurecimento do colo do útero e indução do trabalho de parto.
de parto apagamento e a dilatação
Aprovado pela FDA Monitorar a frequência, a duração e a
para o intensidade das contrações
amadurecimento uterinas
do colo do útero Avaliar repetidamente os sinais vitais
maternos e o padrão de FCF
Monitorar a gestante à procura de
possíveis efeitos adversos, como
cefaleia, náuseas, vômitos e
diarreia
Avaliar os sinais vitais e padrões de
FCF com frequência
Monitorar a reação da gestante ao
fármaco
Iniciar a ocitocina para indução do
trabalho de parto pelo menos 4 h
após a última dose ter sido
administrada
Monitorar à procura de possíveis
efeitos adversos, como náuseas e
vômitos, diarreia, hiperestimulação
uterina e padrões de FCF de
categoria II
Avaliar os sinais vitais e a FCF de
base e a seguir repetidamente
após o início da infusão de
ocitocina
Determinar repetidamente a
frequência, a duração e a
intensidade das contrações
Notificar o médico de qualquer
hipertonia uterina ou padrões
anormais de FCF
Manter o balanço hídrico cuidadoso,
estando alerta para a possibilidade
de intoxicação hídrica
Manter a gestante informada a
respeito do progresso do trabalho
de parto
Monitorar à procura de possíveis
efeitos adversos, como
hiperestimulação do útero, fluxo
sanguíneo uterino prejudicado
levando a hipoxia fetal, trabalho de
parto rápido resultando em
lacerações do colo do útero ou
ruptura uterina, intoxicação hídrica
(se for administrada ocitocina em
solução sem eletrólitos ou a uma
velocidade superior a 20 mU/min) e
hipotensão
Adaptado de Goldberg, A. E. (2015). Cervical ripening. eMedicine.
Retirado de http://emedicine.medscape.com/article/263311
overview#aw2aab6b7; King, T. L., Brucker, M. C., Kriebs, J. M., Fahey, J.
O., Gegor, C. L., & Varney, H. (2015). Varney’s midwifery (5th ed.).
Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning: e Goetzl, L. (2014). Methods of
cervical ripening and labor induction: Pharmacologic. Clinical Obstetrics
and Gynecology, 57(2), 377–390.
Ocitocina
A ocitocina é um potente agente uterotônico endógeno utilizado tanto para a indução artificial quanto para a aceleração do trabalho
de parto. É produzida naturalmente pela neurohipófise e estimula as contrações do útero. Para as mulheres com baixo índice de
Bishop, o amadurecimento do colo do útero é iniciado tipicamente antes da administração de ocitocina. Quando o colo do útero está
maduro, a ocitocina é o agente farmacológico mais prescrito para induzir ou acelerar o trabalho de parto.
Frequentemente, a gestante com um colo do útero desfavorável é internada na noite antes da indução para amadurecer o colo do
útero com um dos agentes de prostaglandina. A indução com ocitocina é então iniciada na manhã seguinte, se ela ainda não tiver
entrado em trabalho de parto. Esse procedimento aumenta significativamente o sucesso da indução.
A resposta à ocitocina é muito variável: algumas mulheres são muito sensíveis mesmo a pequenas doses. O efeito adverso mais
comum da ocitocina é a hiperestimulação uterina, levando a comprometimento fetal e da oxigenação (King et al., 2015). A resposta
do útero ao fármaco é cuidadosamente monitorada durante todo o trabalho de parto, de modo que a infusão de ocitocina possa ser
ajustada de modo apropriado. Além disso, a ocitocina exerce efeito antidiurético, resultando em diminuição do fluxo de urina que
poderia levar à intoxicação hídrica. Os sintomas a serem observados incluem cefaleia e vômitos.
A ocitocina é administrada por meio de uma bomba de infusão em um cateter secundário introduzido no cateter intravenoso
principal (em Y), no acesso mais próximo ao local de inserção. Tipicamente, adicionamse 10 unidades de ocitocina a 1.000 mℓ de
solução isotônica. A dose é ajustada de acordo com o protocolo até alcançar contrações estáveis a cada 2 a 3 minutos com duração
de 40 a 60 segundos. Estudos recentes sugerem que um protocolo mais conservador com doses menores de ocitocina reduz o
número de internações em unidades de tratamento intensivo neonatais e de cesarianas (Lewis et al., 2014; Manjula et al., 2015).
O útero deve relaxar entre as contrações. Se o tônus uterino de repouso permanecer acima de 20 mmHg, pode resultar em
insuficiência uteroplacentária e hipoxia fetal. Isso ressalta a importância do acompanhamento contínuo da FCF. Infelizmente, nem o
esquema ideal de administração da ocitocina nem a dose máxima da substância foram estabelecidos ou acordados por meio de
pesquisas ou consenso entre os especialistas. Os enfermeiros que assistem a indução do trabalho de parto precisam se familiarizar
com os protocolos dos hospitais em que atuam em relação à dosagem, às velocidades de infusão e à frequência de mudança.
A ocitocina tem muitas vantagens: é potente e fácil de dosar, tem meiavida curta (1 a 5 minutos) e geralmente é bem tolerada.
A indução usando a ocitocina tem efeitos colaterais (intoxicação hídrica, hipotensão e hipertonicidade uterina), mas, como o
fármaco não atravessa a barreira placentária, não foram observados problemas fetais diretos (Arrowsmith & Wray, 2014) (Figura
21.4).
Lembrase de Jennifer, a jovem descrita no início do capítulo? Depois que seu colo do útero estava amadurecido, foi
iniciada uma infusão de ocitocina, e seu progresso está lento. Que encorajamento o enfermeiro pode oferecer?
Depois de algumas horas, as contrações começaram a aumentar em intensidade e frequência. Que medidas típicas
de controle de dor o enfermeiro pode implementar e como esse profissional avaliaria a efetividade dessas medidas?
Avaliação de enfermagem
A avaliação de enfermagem da gestante submetida a indução ou aceleração do trabalho de parto envolve coletar uma anamnese
completa e realizar um exame físico. Reveja a anamnese da gestante à procura de indicações relativas para a indução ou aceleração,
como diabetes melito, hipertensão arterial, gestação póstermo, padrão de trabalho de parto disfuncional, ruptura de membranas
prolongada e infecção materna ou fetal; analise também se existem contraindicações, como placenta prévia, útero distendido, herpes
genital em atividade, desproporção fetopélvica, mau posicionamento fetal ou sofrimento fetal grave.
Ajude a determinar a idade gestacional do feto para evitar um parto prétermo. Avalie o bemestar fetal para confirmar a
capacidade da gestante e do feto de suportar as contrações do trabalho de parto. Antes de iniciar o amadurecimento do colo do útero
ou a indução, avalie o estado do colo do útero da gestante, incluindo a dilatação e o apagamento do colo do útero, e a altura da
apresentação por meio do exame de toque vaginal, conforme apropriado. Calcule o índice de Bishop para determinar a
probabilidade de sucesso da indu