Você está na página 1de 50
PESSOASPERFEITAS Ivam Cabral | Rodolfo Garcia Vazquez ‘Sumario As bengalas da humanidd...ncn ee Pega masta humane cancel mas rad el docu Pessoas Perf... Epilogo.... an Meda 9 apes © questonétia. cs Numa lan house do cent... ‘Wait Whitman. Um Jeri... Cantoras de bar nunca on ore ene, Néo existem pessoes pores. - ‘Sarah e Robalo se falam pela primeira vez. O encontro que nunca exist fu 9 preciso de um pouco de canto... 0 vestido de casamento. Como & que este Lg UNCON... ‘Alguém ra tomar conta de mim. Mais um telefonera.... No et v8 cova cv oar do espe. 0s abragas que queimam. Passagem de Medaha, Café dos desbotados.. Oragdo de desespera, se ‘A danga do agradecimento césmico... Esperanca gra pelas mas. Abum.... Entre mascaras e papéis ' "Pesoas perfeitas” confere estatuto dramétic ans “sujet sujetades” que shabitam as grandes cidades Welington Andrade * 0 mundo nada mais é que correlacio abjetva da pessoa; portant, a cada essoa individual corresponde nm mundo individual”. ‘Max Scheler A longevidade de uma companhia de teatro € uma meta com a qual talvez poucos diretores, atores e dramaturgos no Bras ousem sonhar. A estabilidade do grupo sedimenta seu projeto artistico, es- tabelece com 0 piiblico vineulos mais duradouros © convida & ne- ccessiia experimentagio de repertério e de linguagens. Assim € que «6 fato de uma companhia como Os Satyros chegar jé a seu 25° ano de existéncia deve ser celebrado por todos aqueles que ereem que 0 teatro ainda tem muito a dizer nos tempos atuais. Fundada em 1989 por Ivam Cabral e Rodolfo Gareia Vazquez, com a montagem de Arenturas de Arleguim, a companhia iria se tor nar nacionalmente conhecida com o espeticulo Sade on nailes com os: professores imorsis, sua primeira incursio por A filsofia na akora, do Marqués de Sade, autor que orientou boa parte do repertdri> artist- co ¢ politico do grupo ¢ esteve no centro das comemoragdes de suas dduas décadas. Entretanto, a trajetdria d’Os Satyros — uma das mais, consequentes no panorama geral da cena contemporinea brasileira — Catica do espeticulo “Pessoas Perfetas", publiada no ste da Revista Cul, em 20 de outubro de 2014 2 ‘Welington Andaade € dovtor em Literatura Brasileira pela USP,na ica de amature erteo de teato da evista Cult. deve ser avaliada menos pelo bom ntimero de espeticulos com temas polémicos, dificeis de serem digeridos pelo grande pablico, que eles ‘conecbetam ¢ mais pela ousadia de tratar tais assuntos pelo vies de ‘uma teatralidade viva e inquieta Para comemorar suas duas décadas © mein de existéncia, a com- panhia esti apresentando em seu pequeno teatro na praga Roosevelt © espeticulo Paseas perftas, ditigido por Rodolfo Garcia Vazquez. A peca retrata um grupo de cidados anénimos de uma grande me- trdpole como Sio Paulo, as voltas com suas vidas ao tés-do-chio, de onde brotam dramas fntimos, pequenas alegrias, afeigdes paté- ticas ¢ alguma dose de lirismo. Do roteiro das cenas ~ escrito por Ivam Cabral ¢ Rodolfo Garcia Vizquez a partie da observagio do comportamento de moradores do centro da cidade ¢ de entrevistas realizadas com eles ~ emana uma atmosfera muito envolvente que, além de chamar a arcn¢io para o catiter tio singular das hist6rias dle vida ali tragadas, convida 0 espectador a entrar cm contato com imagens muito agudas, concebidas a partir da natureza da categoria ‘da “pessoa”, o mais combalido dos conceitos cunhados no imbito da psicologia ¢ da filosofia nos ilkimos tempos, cuja crise de repre- sentagio espraia-se por todas as artes. A origem do termo “pessoa” em portugués remete a forma lati- ‘na “persona”, mas evoca uma relacio com o mundo do teatro, que © espeticulo d’Os Satyros tio habilmente sabe explorar, Em Sabre Shakespeare, o exitico canadense Northrop Frye aponta: “Antigamen- te 08 atores em geral usavam miscaras no palco, ¢ a metifora do ‘ator mascarado acabou originando duas palavras na lingua. Uma é “hipécrita”, de origem grega, que se refere ao olhar do ator através da mascara; a outra é “pessoa”, de origem latina, ¢ se refere & fala do ator através dela, Atualmente usamos também a palavra perse- ‘na para falar do aspecto social de um individuo ou do modo de ele cenfrentar as outras pessoas. De certa forma esse tetmo € enganoso, pois pressupde um ser real debaixo da mascara e, como o soliléquio 1nos faz Iembrar, no ha nada por tris de uma persona a nio ser uma coutra person”. (Ora, grande qualidade de Pessoas perfeitaré-0 fato de a pera nao se scomodar a sua superficie documental, dando vor realsticamente a ‘um grupo de individuos cujos tragos particulares qualquer espectador € capaz de reconhecer, por exemplo, ao caminhar atentamente pekas ruas de Sao Paulo, Desse modo, no espeticulo, a questio da identidade nao esti voltada as dimensdes antropologica e sociolégica do 2, jnal ‘© Lstado deS. Paulo, em 21 de setembeo de 2014 4 Jefferson Del Rios €jornalistae exten de teatro Nada de novo. A miisica Concei¢zo, sucesso de Cauby Peixoto, foi composta por Jair Amorim em 1956, ha quase 60 anos, portanto. Narra a vida da moca achando que “descendo a cidade iria subir/ Se subiu ninguém sabe, ninguém viu/ Pois hoje seu nome mudou/ E estranhos caminhos pisou”. O grupo Os Satyros tem interesse por estes naufragos. Fim dado momento, porém, os espeticulos privi- Jegiaram a contramio sexual dos travestis, transexuais, como se a heterossexualidade nfo estivesse em questo. © tisco do gueto temitico ainda esti latente no repert6rio, mas desta vez Rodolfo Garcia Vazquez abre 0 leque de sonhos, vicios, visdes e desastres existenciais no texto em parceria com Ivam Cabal, tum dos fandadotes € ator chave dos Satyros. Pessoas Perfeitas € um titulo com evidente sentido duplo: nome de uma seita “oriental-c- vvangélica” ereferéncias ora trigicas ora risiveis a seres nada perfeitos. No caos urbano surgem a mocinha interiorana e mistica que se envolve com um garoto de programa endurecido nas periferias; 0 casal sem didlogo, cle amorfo, cla sem permanente histeria; 0 soltei- ‘io que cuida da mae com Alzheimer e sublima a homossexvalidade ‘em linhas de disque amizade; a cantora de bar que nio aconteceu esti geavemente doente; 0 eseritor sem obra no protesto vazio dos alcoslatras. Pode parecer excessive mas o texto de Ivam Cabral ¢ Rodolfo Garcia Vazquez é baseado na observacio de moradores do centro paulistano ¢ em entrevistas realizadas. Fo breve instante “extra-ps ‘ou pansexual” (ramos inventar um nome) de Os Satyros. Mesmo assim, 0 enredo abre pouco espaco ao aposentado solitirio, o desem- pregado idoso, & vitiva esquecida. Os pobtes diabos sem graga sto realmente dificeis de dramatizar « deles Chico Buarque se ocupou no verso “A dor da gente nio sai no jornal”, AA forca do espeticulo esté em apresentar uma humanidade con- fercta €, no entanto, fora do realismo artistico- documental. Tudo € verdade mas em termos de fantasmagoria, gestos de marionetes © maquiagem do imaginario japonés ou hindu, Os perturbados as vezes ostentam mesmo aparéncia coerente com seu estado mental (Robert de Niro tatuado e com 0 cabelo moicano em Taxi Driver). Hocwam em um clima onirico ou de pesadelo de cores gritantes que izquez sabe construir com maestria ¢ 0 elenco adere em interpre- tages de entrega total ao escuro da existéncia. Neste ambiente de vivos com aspectos irreais (0 que lsmbra 0 teatro do polonés Tadeusz. Kantor em A Classe Morta e parte do cinema de Bergman) ha solos brilhantes de Ivam Cabral, da caris- ‘itica cantora e atriz Adriana Capparelli e de Eduardo Chagas (0 homem apagado) ¢ Henrique Mello (o gigolo sem afetos). A pouea nitidex de outros personagens, os exageros verbais ou os agudos de vozes dificultam pleno efeito das atuagGes de Marta Baiio (a mie caricata) Julia (a espiritualista desorientada) Fabio Penna (0 poeta “maldito”), mas sio presengas que se destacam em slgumas sequéncias. Ao fim deste turbillio de imagens e dores — fal- o enxugar € amarrar o final que se prolonga ¢ confunde 0 pablico resultado é desde agora um dos melhores espetiiculos do ano. O espeticulo “Pessoas Perfeitas”, texto teatral em ato tinico © 22 quaciros, de Ivam Cabral e Rodolfo Garefa Vizque2, estreou no dia 15 de agosto de 2014, no Espaco dos Satyros Um, em Sio Panlo/SP, contou com a seguinte ficha téenica: Ruy/Sarah/Dona Esperanga Eduardo Chagas .. Adriana Capparel .. © 4 participacio das violoncelistas: Alessandra Giovannoli ¢ Rebeca Friedmann Diregio: Rodolfo Garefa Vazquez Thiminagao: Flavio Duarte e Rodolfo Garcix Vizquez ‘Cenografia: Marcelo Maffei Figurinos: Sonia Ushiyama Trilha sonora ¢ programacio visual: Henrique Mello Assessoria de Imprensa: Robson Catalunha. Fotografias: Andté Stéfano Elaboracio de projeto: Danicla Machado Produgio executiva: Carina Mourinho 9: Cia, de Teatro Os Satyros Fortuna Critica: “Amei. A mistura de vidas que se cruzam na noite me tocou funda” Contardo Calligaris, psicanalista, agosto de 2014 ““Pessoas Perfeitas’ é uma peca contundente, forte, obrigatoria para quem ama 0 teatro. A maturidade dos Satyros, grupo teatral tesponsivel pela maior tenovacao do teatro paulista. Blenco perftito, ‘bom orquestrado por uma dirego inventiva, que revela 0 que hi de mais stual no Teatro: realismo ampliado que, evitando o fic psicologis- ‘mo, torna cada personagem a cara da angistia da cidade de Sie Paulo.” Lauro César Muniz, dramaturgo, agosto de 2014 “HA muito tempo no via um trabalho de ator tio bom. Todos (Os Satyros dio um banho de interpretagio no paleo. E elenco as- sim, excelente © homogénco, é coisa rara de se conseguir.” Ricardo Hofstetter, dramaturgo, agosto de 2014 “Obra-prima dos Satyros: ‘Pessoas Perfitas’, imperdivell” Evaristo Martins de Azevedo, eitco € pesquisador, agosto de 2014 "Que pega linda (...) Incrivel.” ‘Thiago Dottori, dramaturgo e roteirista, agosto de 2014 ‘Mais una vez Os Satyros no que ees fizem de melhor. Um ecnsstente trabalho de composigo de figuras, sustentado por um elenco afinada.” Silvana Garcia, diretora, pesquisadora e dramacurga, agosto de 2014 “A boa nova & 0 acabamento primoroso do texto, assim como o de toxlos os elementos da encenagio (atuagies, direeto, iluminagio, figu- rinos, centio, maquilagem, insergao da miisica como clement» énico «t.), que coloca ‘Pessoas Perfeitas” num patamar geogrifico universal.” Michel Fernandes, critico ¢ jornalista, agosto de 2014 “Personagens gostosos demais, historias hidicas ¢ lindas, maquin- ‘gem ¢ figurinos marcantes ¢ relagdes que emocionam.”” Pabiana Seragusa, jornalista, sctembro de 2014. “"Pessoas Perfeitas’jé pode ser colocada como uma das melhores pegas do ano,” Jefferson Del Rios, © Fstado de S. Paulo, setembro de 2014 “Os Saryros de volea ao que fazem como nenhuma outra compa- nia: retratos tocantes ¢ reveladores dos personagens tragicbmicos do centro de Sio Paulo.” Nelson de Sé, Folha Online, setembro de 2014 “Pessoas Perfeitas’ nio é romintico e também nao é s6 drama. F simplesmente teal, e de tio teal parece fics. f montado em cima de tum bom texto, boa historia e coroado com boas atuagées, Kyra Piscitelli, Aplauso Brasil, setembro de 2014 “0 Satyros, mais uma vez, tem o mérito de mostrar a forga pos tica dos pitrias da sociedade, trazem a invisibilidade para a luz; ela vem a tona com 0 lirismo a violéncia que Ihe sio devidos. Este & jum trabalho que 0 grupo tcatral vem se especializando ao longo dos anos e em outras produces.” Bruna Ferrcita, R7, setembro de 2014 “E tocante a maneita como Ivam Cabral ¢ Rodolfo. Garcia Vézquex retratam esses seres tio frigeis ¢ tio humanos, inspirados em histérias de moradores do centro da cidade.” José Cetra, Palco Paulistano, setembro de 2014 Pessoas Perfeitas Dramatis Personae: Ray que, as vezes, € Sarah Sarah que, as vezes, é Ruy Dona Esperanga Robalo Cacilda Matistela Filder Binho Medatha, Cenas: 1—Epilogo 2.— Medalha se apresenta 3—O questionério 4—Numa lan house do centro 5 — Walt Whitman 6 Um jantar ‘7 —Cantoras de bar nunca se tornam estrelas de verdade 8 —Nio existem pessoas perfeitas 9) Sarah ¢ Robalo se falam pela primeira vez 10-0 encontro que nunca existiu 11 - Bu s6 preciso de um pouco de catinho 12—0 Vestido de casamento 13—Como é que este lugar funciona 14— Alguém para tomar conta de mim 15 — Mais um telefonema 16-0 Metrd ou a cena que nio faz parte do espericulo 17 — Os abragos que queimam 18 — Regando as plantas do amor 19 ~ Café dos desbotados 20 — Oraciio de desespero 21 —A danga do agradecimento césmico 22—Psperanca grita pelas ruas Eplogo UM ATOR Boa noite. Nonsa pega termina asin, com vets na plata eo wazio no pal. Pais foi sin que comezamas 0 wosso proces, Vagos. Entio, avs poncos,veram lembrangas bistrias que vivemas, vino, onvimos falar, sonbamos, rims etemenwos. EE foi de tudo iso que pensamas em mostrar essashistrias, E;, agora, no enconto delas com voeés, podemas dizer que aconteceré wom Jenimenes 0 fimeno do tatra Mais om menos assim. Agata te west, Binbo caminha pela rua do Arouche, nde fa, mic. Enguanto no extreme da cidade, a mie, Casilda, dor cam muitos eromes na cara. As quatro da manbi, Robalo, marido de Cacilda asistea tert , ness dia, reso air de mansinho da cama Porto das quatro boras da manbé, dona Esperanca esti doronindo no bance trastro do carro de Rasy, (que est vestide de Sarah, trafegando pela Rasdal, com destin & Vila Matilde, Equant rum apartamento da rua August, Marista fila de dona Eperanga, que dorme no bancotastre do carr de sen irmio, Ray, std morrende As quatro bores de enh, ‘Maristela cambaleia até 0 eleradore depara se com Elder que, snaguele instante esti saindo para comprar cgarros. As quatro boras da manlii daguele dia, o mundo esti desabando agit, na ferns ‘Menas pare Medatha (que daca ao som de ua misica indiana 4 esti muito, mito flied Medalha se apresenta Dipois da meditaio, ca fig regando as plantas de casa, Fu basi comprado virias na tarde anterior, preciso de verde, preciso de cones o tempo toda O questionario RUY — Eu escolhi ser feliz com a senhora, sabia? f, Poe 0 braci- rho aqui agora, estica, isso. E-escolher ser feliz é um privilégio. Nao é pra qualquer um. Quantas pessoas podem dizer de boca cheia que escolheram ser felizes? Eu posso, Agora 0 outro brago, estica, isso, estica, Mais on menos isa. As wees ele carr a divide havi mesmo aoa cscolba. Tab foi acentecendo muito rapidamente, Hoje le podera ter atsstnte sa geréncia li no almecaifdo do Met. O ele elegiae muita o desempento ele, Tere wirias promoyies desde que extro na empresa. Bw tina até esse sonho de comprar 0 apartamento onde eu morava, é tinha até visto um empréstimo, tava tudo certo, tinha entregue a documentagio... E. cla tinha 2 vidinba tranquila dela... Tranquil e feliz. Entio, um dia la foi padatiae.. Esqueceu... Depois, o nome de um vizinho, uma boca de fogio acesa, a tomcira do tanque aberta. E- esquecimento perigoso, nao é, miezinha? Vamos pentear o cabelo agora? Ela pre- cisou da minha ajuda e eu voltei pra casa dela. Acabei desistindo da ‘minha vida. Depois, tive que sair do emprego também. Ela nio podia ficar mais sozinha. De jeito nenhum eu ia deixar minha miezinha ‘num asilo."Tem gente que faz isso com os pais, mas eu nio consigo. ‘Mas sabe que eu t achando que ela ta melhorando? F. , ela voltou a. Jembrar das coisas. E: todo dia eu fago um questiondrio com cla de manhazinha, pra ela exercitar 0 eérebro, sabe? Pergunto as coisas pra ver se ela se lembra... Fla precisa treinar a meméria.. Voeés querem ver? Em que ano a senhora nasceu, miezinha? DONA ESPERANGA - 1932, RUY — Isso. 1932. Viram como ela se lembra? Pasa. RUY—E qual era o nome do seu matido? DONA ESPERANGA = Otoniel. rd RUY — Isso, isso! E onde a senhora DONA ESPERANGA — Em So Paulo, RUY—Que bonito, maczinhal Ta vendo como a senhora jest me- thor? Deixa eu por os brineos agora. Qual prefere, o azul ou 0 dourado? DONA ESPERANGA — Dourado. RUY—E quantos filhos a senhora tem? DONA ESPERANGA — Dois. RUY — Nao. Nao, maezinha. A senhora s6 tem um. Silencio, RUY — Quantos filhos tem a miezinha? DONA FSPERANGA - Dois. RUY — Nao, maevinha. A senhora s6 tem o Ruy. DONA ESPERANGA ~ Vamos cortar o pinheito, agora? Siléncia, RUY — Agora nao, miezinha. Amanha. Amanha a gente corta. E. {todos os dias, pede manbi, ele pensa que gostaria de ter sido uo rei, que ao per ceber que tom que realizar sacrifospessoais para poder confortar seu povo, pode abdicar on deegar a tara a abi. Mas ele ¢ de um tempo em que fos nia se viam como res. Voces vitam como ela esté simpitica? Agora vamos, esti na hora do café da manh’, meu amor, ‘Numa lan house do centro BINHO — Laval wma lan house de wn chins no Largo do Arouche. Cin- wo miqninasvelbas. Ex ocipo uma e a mina agai do lad, cpa outa. MEDALHA.~ 0 tempo dele acabow eee decide comprar mais aly mines BINHO~ 0 demo dela io acon mas ela decide comprar mais as anaes MEDALHA - Oi, BINHO - Oba, MEDALHA — Desculpa, nao queria incomodar. Eu nfo gosto de Inc intrometer na vida dos outros. Mas o site que voc’ tava vendo ‘oda Igreja das Pessoas Perfeitas? BINHO ~ Era, sim. Por qué? MEDALHA — Ora, eu também estava nesse site, Achei tao in- teressante: Sabe, eu sou supercuriosa com coisas misticas, Eu busco sempre tenovar a minha fé, “Deus ama a todos pois todos sao, de slguma forma, a manifestagio..” BINHO ~ “..da sua perfeigio.” Decorei, a. MEDALHA — Decorou, ¢? Ai. Eu achei o slogan deles o mixi- imo. Parece ser um lugar bem bacana. BINHO — Maneto, mina. Mas jé t6 indo nessa. 35 MEDALHA ~ Vocé é daqui de Sao Paulo? BINHO ~ Ti me tirando? Eu sou normal, Sou um cara normal, véio. BINHO — Nao. Sou gaticho. Minha familia inteira ¢ de li. F MEDALHA — Nao é normal, niio. Voeé tem uma aur, sei Hi. referéncia a palavra “cra”, porque sou drfia, Morneu todo mundo, Prazer, meu nome é Medalha. sobrou ninguém, Sé eu, Claro que cle ma ia dizer que ¢ da periferia de Si Pils got nasa ma Zou Les fs ips partis Di te sea abe BINHO ~ Bruno. Mas en me chamo Binbo, diminutivo de Rabson. Es- a orig, ee comer a acreditar queer ef do Rin Grande do Sul mesma, — Wg slit es nome porque nem Robson, nom Binbo é bom pra mich. Binka remete | uma coisa diminutive. Ninguéo nunca vai ver um Binko nam site de garatos MEDALHA ~ Fu também nio sou dagui. Acabe de chegae Ela Preruma: Mas Bro io Prada ee eee ‘tambim no pode diver que veo do interior, que a sinica pessoa que elatinha Bee eee Se eee ree etc ‘am, Por isso sou Bruno Alves, ki no topa. nessa en lev vantage «@ mie que morren, ou melbor, se suidon, dias antes do aniversinio da da pai. Ela nio pode dizer que herdon nom bane dinbero da fantia mas q proporcionalmnte ao excess de dinbeira, cla vive um exceso de abandona. Ei mio pode dizer que fugiu da sua cidade natal porpue siverconsige mesma ‘tornon insuportvel. Ainda fico meio confusa com esses prédios todos esse transito doido, gente correndo pra cima e pra baixo, esse comés cio que ni fecha aunca, essas manifestagdes... Na verdade, acho MEDALHA — Bruno... Nome forte. Tenho certeza qu: voce € ‘Touro, Touro com ascendente em Gémeos BINHO — Errou. Sou Sagitirio. MEDALHA — Sabia. Sabia que vocé ‘mento, eu achei que voeé era de Touro, mas té na cara que voce olhos das pessoas meio vazios. Ainda nao tenbo intimidade para dizer p tle queen sim por um motivo maior. Nao conhego ninguém ainda. ¢ Sipititio. Mais uma coincidéncia. Eu ¢ vocé de Sagititio... Vocé 7 inhece a igreja? BINHO ~ Sio Paulo ¢ selva, mina, # luta, Esse lugar no é p fraco, Sacou? BINHO— Nao “Tava anotando 0 enderego. Té pensando emie Hi uma Inoeacessas. Quero ver se consigo volta a acreditar no Poder Superior. MEDALHA — Engracado, nds dois de fora... Mais uma coincidéncia.. MEDALHA - Vai ter culto hoje. BINHO ~ Aqui tem muita gente de fora. Acho que todo m € de fora. Ninguém tem coragem de nascer aqui, nic. BINHO — Vai, Daqui a pouco, sete horas. MEDALHA — Vocé € engracado. ‘Tem alguma coisa em voce de MEDALHA — Eu nao conhego So Paulo ainda. F3 tudo tio con- especial. fo, Bruno, Essas ruas cheias de prédios, carro pra todos os lados.. Parece um formigueiro. Seré que eu posso ir com voc’? Se se incomodar, € claro. BINHO ~ E claro. MEDALHA ~E longe? BINHO — Tudo aqui é longe. ‘Tem que pegar metré ¢ dnibus, ‘Temos que sait na cottetia. Se nao, no vai dar tempo, véio. Silico, MEDALHA, oso pagar 0 tixi. Se voc® nfo se importar. BINHO — Claro que no me importo. Vamos nessa. Walt Whitman ELDER ads as verdades peram em todas as esas: ns apressam nem esitom a nascer, ‘nlo presarn do foreps do crurgi, ‘para min a mais insiguificante 4 grande com quetguer outa. (0 que é maior on menor do que ura toque’) Vip e sermes nunca convencem « peso da mote cale mais Judo em minba alma. (Sé 0 que prova asi mesma 4 qualquer bomem on malber 60 ue ninguém nega 6) Um minuto € uma gota de mim ‘ranguitigan 0 men crebro: eu acredito que torres de barro podem se tornar amantes ¢ absjures, cm manna de manuais a carne cde um bomen on malber, nuns dice ¢ uma flor ‘contem 0 sentiment de ur pelo ontr, vito ramifiar-se see limites cate que essa lig venba a ser de todos, mn todas passant nos encantar emis a des,’ Filho da puta desse Walt Whitman, Se eu fosse morrer de inveja por alguém saher escolher tio bem as palavras, eu morretia agora, ji, nesse minuto, Sc um poema meu chegasse aos pés desse, eu morria feliz Enguanto isso, eu fico aqui, no lugar que conhego muito bem onde fico bent a vontade: o inferno, E vou enfiando a cara no pé e no uisque ‘ena primeira buceta que aparecer pela frente (Cidade imunda tem que ter um poeta imundo. Eu tenho certeza disso, (O segredo da minha felicidade paulistana ¢ justamente esse: a minha solidio, a minha angiistia, o meu medo. E disso que é feito todo morador dessa porra dessa cidade de merda, Nio & Quem vai negar? “Tos as verdades esperam em todas 2s coisas”, pocma de Wale Whit ‘man, do liveo ‘Tolls de Rela" 185, Hele etende que csanventae soda sia os dois lados da mesma sreda. A puller dele, profssora da USP, intelectual bem sucedida, sutenta os seus dell Wor 6 som ola, ee estas morta, Fate Nio consigo conviver com a mediocridade dos que no vivem a poesia 24 horas por dia. Gente assim s6 fala bogalidade, 86 pensa num futuro de mesquinharia pequeno-burguess. We voce se acha 0 tal? Nio souo tal, ins pelo menos tenho coragem de niio ser tio pequeno. Ht coragenn est ma coca € ss, ent? ‘Voce nao sabe de nada, seu merda, Merda é noel Sai daqui, no quero falar com voce agora, Ru escotho se os meus sepredos vio ser historias de medo ou de heroism. Um Jantar Roba ola para Cacilda, que se cala | CACILDA ~ Pale com a Suzana hoje, Robala Casilla ¢ Roba jantanda, Comendo muita carne ROBALO CACILDA ~ Ta bom? CACILDA — Vocé ta querendo insinuar 0 que, Robalo? Que eu filo com cla todo dia? E? Pois eu falo mesmo. Ela é minha amiga. Ja €0 marido vio passat as férias na Buropa, Euadoraria ROBALO ~ Muito bom, CACILDA ~ Nao esquece de trazer cinco quilos de maminha lé do nosso agougue. T numa fase de fazer maminha com alho na frigi- dcira, com uina pitada de sal. Valoriza 0 subor da maminha, né, Robalo? ias na Europa, Robalo. A gente devia se organizar tam- im, Hla disse que eles vao pra Paris, Paris € linda, nfo é? Eu tenho ‘NE uns dois ou trés vestidinhos que ji esto cabendo em mim, iam super combinar com Paris. Agora que eu t6 mais magrinha, acho que ‘eahem. Sabe? Eu pensei que a gente devia se organizar e de repente ir com a Suzana e com o marido dela também. Nossa, eu ia adorar. E ROBALO — Sim. CACILDA ~ Engracado, Robalo, eu cismo com umas coisas ¢ fico fiend e fazendo Ji ter dois meses que s6figo maminha, Mas 6 ‘acho que a gente ia se divertir ranto. Ea Suzana € étima companhia prs compras. A Suzana & demais. Mentina Coitada da Suzana. A Su- {ima nem soma em sar do Brasil. Ela, quando mito, pensa em ir até a Praia Grune passaro final de semana. Mas a Caciléa sempre tem que inventar uma Wisoria finda com a Suzana, Imagina 2 quantidade de coisas que a gente n poder comprar? Eu ia refazer meu guarda-roupa inteitinho, Cada rosti de mandioquinhs, maminha a0 molho madeira, escondidinho de ‘maminha, maminha na cerveja escura, maminha na cerveja clara ROBALO — Eu ja sei, Cacilda. Lembra que comi todos? ‘ois maravilhosa que cles tem por la. Ta certo que metade vem da ‘China, mas eu ia comprar em Paris, Pais. Ai, Robalo, que sonhol CACILDA ~ Credo, Robalo, Nao sei por que vocé vive me cor ee cs log tando desse jeito, ROBALO ~ Mas voc’ nao disse que o Robson Thadeu ti vindo visitara ne? Que vor filo com ec ele ss ue vnha visa gente ete mB? ROBALO ~ Vamos s6 jantar, Cacikda? Tode nate #igua, o Robatolg SQ Bea obese mab? ‘fea assy silencose,olbar absorta. Buscando abstrair a conversa de sua muller, ‘Mas guase nunca ele consgue Silencia, CACILDA ~Ab, é verdade. Ble disse mesmo, Mas acho cue ia ser lemmas viajar pra Paris. Pena que o Robson ‘Thadeu no deu a data que ce ver. Fle s6 disse que vinha. Que saudades desse menino, Eu nfo me ayuento de tanta saudade, Roba. © fflbo Robson Thaden sain de casa bi Sila, ‘CACILDA — B dizem que maminha ¢ uma carne boa pra dita, sabia? | ‘Acho que vi em algum programa de tevé. Seri que foi no programa da. | ‘scans, end que ia tabalbar no centro de Séo Paulo, que tina arrnjado intoras de bar nunca se tornam estrelas de verdade cemprezo brome que queria ser independente. Nunca mais volton pra casa. Silencio. AVOR — Ex posse pedir un favor pra vocts? Pra encerrar 0 cio de pre- “Whit das personagens, nis vamos reeber agora Marisela. Ela nai entrar em ROBALO - Na verdad, a Cacilda nunca mais falou com o Robuon TI dea, Ela liga todas os dias, wom pouco depois do alvogs para o celular dele eisa recs carinbosos© bastante extenss. Nos recados, ela conta o pra g Preparon no abo. fe diger: “Mew nome é Maristla”, ea gente postaria que vocésrespandessem: nite, Marisela”. Pode ser? Mas Maritela wai repetr mits veges essa durante a pea. Ea gente gostaria que, todas as wees que ela disse ‘Mew é Marisela, octs rspondessom “Boa not, Marisela”. Na sitima cena CACTEDA: “Fis rnaiatatin's qusizo qucjox; Alot Mi pop, todas as personagens vo se miicar do mesmo recarsa. E, se wits derem Poa noite pra clas, 0 jogo agua vai ser muito especial ROBALO - ...Gonta da sitima conversa com a Suzama ¢ de outros: tulbes do cotidiana. ele adguiin o babite de pagar os recados todos os dias MARISTELA ~ Boa noite, meu nome é Maristela, Issa, tres anos. TODOS ~ Boa noite, Maristela CACILDA ~ Imagina se 0 Robson ‘Thaden chega quando a gent estiver fora. Ele nao ia me perdoar nunca. Quer sobremesa? MARISTELA ~ Ela fuma..E uit B sabe que ai morrer De cine ‘ pul, Ela conta seus dias coma um pastor conta suas ovelbas. Fi durante Sprain ‘nis de 20 anos eu venho alimentando esse habito, Fumar,é um hé- 1 Amar quem no nos ama, é um hibito, Colecionar suas bitucas CACILDA ~ Mas eu quero, Acho que eu vou pegar um pedacigy ts Ama auem no nos ama, € um bibito, Colecic a caiple chs baka eee ee Ae cigaero jogadas, é um habito. A auto-destruigio é um hibito. F 4) ji nao sei mais 0 que é viver, 6 sei manter 0 habito. Ela astimara ROBALO nha em oniros tempos. sso foi bd muitos anos. Quando eu tinha uma voz, Mas voc! nio disse que ti de dieta, Cacilda? ‘quando eu tinha outra voz. Quando eu era uma cantora de bar. CACILDA — Ab, me deixa, Robalo, Hoje eu 16 meio descontro- Canta Jada. s6 um pedacinho mesmo. E voce no percebeu como eu t6 ‘mais magra? Olha s6! $6 to precisando perder mais uns quilinhos e Mas dizem que cantoras de bar nunea se tornam eantoras de verdade. pronto... Eu £6 gostosa, nfo t6, Robalo? Canta Silncia, New sempre olbavam para Marisela enguanto ela cantava. Mas Marist ‘inks certeza que sera famosa. Fanwosa como todas as cantoas talentosas em ser. Fela tinba carte dese talent, Nao existem pessoas perfeitas __ MEDALHA—Nés chegamos na porta da Igreja das Pessoas Per~ Canta, i. Tinha um monte de gente diferente na calgada, nunca tinha wy lina minha cidade tanta gente esquisita assim. Eu agartei no Mas o tempo foi passando ¢ cu fai ficando nos bares. Nenu » lo Binho e cle sorriv pra mim, Foi nessa hora que a gente co- produtor, nenhum convite, nenhuma gravacio... $6 uma vez, um ji amorar. Ele até encontrou uma amiga. sgle que um amigo me convidou a gravar para uma marca vagabus IINHO — Entrando no templo, fui trombar justo com quem? |i, a Vanessa Wonder, a trava que trampa lé na Rego Freitas, fi dinheiro! Também com aquela neca. Hla filou logo pra quer dizer que by magia tani frequenta a ler das Pessoas Peftas? lisse que nda, que era primeira ver que eu ia, Entio ela me disse na cia: Me apresenta a raca,bica. Bu fil: Sai pra ki, véio. O lance aqui o.'Tem que respeitar 0 templo de Deus, 6 caralho. de pasta de dente. Se ela gusesse mesmo uma carrera, nao teria ito 0 4 Sex, Fla 36 foi parar wos bares porque tina medo de fazer sucess, Boa not meu nome é Maristela. ‘TODOS — Boa noite, Maristela. MARISTELA ~ E hoje vou cantar pra vocés uma misia lis dagquelas que ninguém esquece. De Nelson Cavaquinho © Ami Cardoso, “Luz Negra”. MPDALHA — Entio a gente entrou, apinhado de gente falando, lo. Mé que ficou tudo em siléncio quando 0 sacerdote subiu Canta altar, Ble tinha uma barba comprida e meio geisalha, Fez li uma réncia ¢ todo mundo repetiu o que ele disse Mas dizem que cantoras que comecam em bar, terminam em bat € munca se tornam estrelas de verdade. SACERDOTE — Aloha! {TODOS = Aloha! DEPOIMENTO 1 — Eu tava paradinha lé numa rua perto do 10 do. Arouche. Ouvi entio uma vor: Levanta esse restido, meninal fiquei com medo € aio respondi. Fs yuanto eu estava li, me tre- ilo inteirinba, a voz repetin pela segunda vez: Lena ee wstidal Eu fiquei com medo e disse: Nao levanto, eu nio levanto, eu t6 SACERDOTE — Mais algum depoimento? medo. Entio, pela terceira vez a vox foi incisiva: Lenanta esse ves Quando eu olhei, assim, era um disco voador vindo na minha dire DEPOIMENTO 3— Eu io. Eu pensei tou salva! Sio os gigantes perfeitos que vieram salvar! Mas dai, de dentro do disco voador saiu um anaorinho 4 TODOS ~ Aloha! tamanhinbo assim, Eu fiquei to decepcionada. Mas logo em segui éle trou o pau pra fora e eu entendi tudo. © pau dele era desse bio assim! Gigante! br Joa feira ena barraca do pastel, eu vi se aproximar um homem )IMENTO 3 ~ Era uma quarta-feira de manha, e eu estava E tina uma luzinha na ponta que piscava. cu aio tive divida, chupei, dei, eebolei, fiz de tudo. Foi uma delicia ie, com vor muito grossa. Perguntou, telepaticamente, se eu Wa sozinha em casa naquele dia. Eu respondi que meu marido. vn trabalhando. Entio ele se ofereceu, telepaticamente, pra levar Ininhas compras fomos até em casa sem falar uma palavra. Daf, SACERDOTE - Aloha? ‘TODOS ~ Aloha! favor um cha de ervas pra ele. Quando entrei na eovinhs, ele me fou por tris, me jogou na pia ¢ me penetrou, telepaticamen- SACERDOTE — Que depoimento emocionante, obrigado, ie Mais algum depoimento, imios? Depois, cle foi embora sem dizer nada, nem relepaticamente, ¢ fiquei gravida de gémeos, Duas semanas depois, cles nasceram, into eu dormia um sono profundo. Pareciam dois lagartinhos. DEPOIMENTO 2 - Eu! ul Tava lé no bar do Zé. Fui no aheito dar um mijéo, dai uma voz apareceu dizendo: Vai li dar 0 His, esse homem me procurou, telepaticamente, € me contou que dcpoimente na Tera das Pesoas Perfitas! F.eu vim. Feu queria dizer q {ilbotinhos estavam vivendo no Canada. Meu marido nunca des- iow de nada, desapareceram na mesma hora em que nasceram. Trés meses eu t6 muito emocionado de estar aqui com vocés, Hu queria di gue eu amo todo mundo! SACERDOTE — Aloha! ‘TODOS ~ Aloha! ‘TODOS ~ Alokal DEPOIMENTO 2~ E eu queria aproveitar pra convidar mundo pra, depois da ceriménia, ir lé no bar do Zé comigo que ago uma rodada de cachaea pra todo mundo, SACERDOTE — Alguns de vocés sofrem. Eu sei, Pelo semblan. 1, e0 vcjo solidao, medo, isolamento, desconfianga e dor. Saber que nevitivel nos obriga a viver, assim, uma vida no terror. E TODOS - Aloha! ome terror 0 que voeés chamaram de Deus durante toda a vida, ‘Vocés devem estar se perguntando todos os dias: existe um ser qi Sarah e Robalo se falam pela primeira vez ppossa me dizer para onde vou? Ou de onde venho? Ou porque si to esse vazio em mim? Pois eu digo: eu tenho a resposta, pois ti a revelacio. Saibam que todos nds, 0 tempo todo, estamos ser Al abracados, acaticiados, cnvoltos pela forga dos gigantes galiticos Ku vi os gigantes perfeitos, aqueles que se jogaram no turbilhiio de Universo sideral e nunca pensaram que softer e goat fossetn coi ‘opostas ¢ antinaturais. Eles nos criaram para viver aqui neste planet como suas sombras, seus clones, miniaturas terriqueas, ¢ cles acci ALO ~ Alb, Quem fala? H— Ku sou a Sarab. K voeé? Como é que voce se chama? tam tudo de nés. Eles querem que vivamos plenamente através todos os nossos poros a experiéncia de estar aqui, querem que noss cenergia vital contamine tudo & nossa volta, de todas as mais bel formas, Mentalizem agora o desejo de voeés. E vibrem na perfeigi |OBALO ~ Fu me chamo Nestor. AH ~ Ah, Nestor, que lindo nome! Ela catuma centre achar 1 mome do interiocutor. Serre. F: uma reg da Sarah. Pra ela, todos os de mundo so bados especiais, Mas ¢ também uma maneira eeionte que Wn para iniciar wna conversa, Eu me chamo Sarah. desse desejo, Sim, nossos desejos sio perfeitos, tanto quanto eles. as nossas realizagdes € que sio falhas porque sio humanas. Ago! vamos todos respirar, fazer um minuto de siléncio ¢ sintonizar c essa energia. Isso, Em um minuto, podemos sent 0 espirito dos ‘antes perfeitos nos inundando, F, vamos perceber que niio estam 6s neste universo. Nunca estaremos s6s. Vamos 1, Um minuto mentalizagio. IBALO — Prazer MARAN ~ Vocé frequenta sempre essa linha? ROBALO — Ni a primeira vez. MEDALHA ~ Eu ¢ 0 Binho ficamos la mentalizando, mentali zando, mentalizando... SARAH ~ Que coincidéncia! fa minha primeira vez também, NOBALO — Nem sei porque estou falando com vocé. Teaho vida pacata, Sou um cara bem tranquilo, BINHO ~E essa porra de mentalizagio me dew um sono do: ralho, Mas tudo certo, era s6 um minuto mesmo... Aguentei de boa! SARAH ~ Ah, Nestor, Nestor! Quem vé cara, nio vé coragiio, Mo 4? Atris dessa tranquilidade toda deve haver um furacio, aio é filo, Nestor? MEDALHA — Foi entio que eu tive a minha epifania. Agora é s6 luma questio de tempo. E.vai ser com cle. ROBALO ~ Se voré diz. JBALO — Eu estou na Vila Matilde. SARAH — Fes 0 que da vida, querido? IBARAH — Ah, no me diga! Estamos pert, Eu td na VilaFormo- Ido do cemitério. ROBALO—Sou despachante. Fu nunca diria que sou agouguei ‘Ser apougueira mio € bom. E:despachante, fo‘ a primeira coisa que Ie veo ca YBALO — Verdade? a. Tale: porque ele tena se lembrado de Nestor, o despachante que ele agile tarde. F. voce, Sarah? ARAL — fi, perto, perto ni &, né? Mas considerando a imensi- dessa cidade. SARAH —Sou esteticista.... Vocé se sente sozinho, Nestor? ROBALO ~ Pois é. ROBALO ~ Eu? Eu acho que ... Acho que sim... Um pouco.. Ut Pouco sozinho todo mundo é, no € verdade? Br AHi—Bais SARAH ~ Esse € 0 problema da contemporancidade, no ‘Também me sinto muito, muito, muito s6. Tenho aqui minha miezi tha ue precisa dos meus cuidados...Enfim.. Mas costumo ser ARAL Vamos pase com esta histda de “pols €” « tima companhia, sabia? ROBALO - Pois é. » pros Finalmente... Acho que a gente pode se conhecer uma hora é ns, bater um papo.. Quem sabe algo mais? Voce teria algum In- ROBALO ~ £7 pe z pr me receber? Bu sou uma boa menina! SARAH ~ E. Cada um com seu talento, nao é Esse € 0 meu. Roba destiga 0 telson. Silewcia, Roba comeca a gagueian “ SARAH — Al6? Nestor? Nestor? Ah, eu jé estava me afeigoando SARAH ~ Pode desabafar, Nestor! A voce ROBALO — Vocé mora onde? SARAH — Bu sou do Rio, mas estou ha muito tempo aqui em Sio) Paulo. E.voee, onde vocé esti? O encontro que nunca existiu ISTHLA — ..cu me lembro das promessas. Tantas promessas.... Ph se aprosioann e se bejam. MARISTELA ~ As vezes, eu me encontra casualmente com Ele me ignora. Ou finge. Eu finjo ignorar, Ele costuma fumar um TELA — De nove. focé sabe que eu esperei por isso tocos esses timo cigarro antes de entrar no prédio. O porteiro me disse, um dis ‘que a mulher dele detesta cigarto. Entlo ¢ isso, Ele fuma sem sal ‘quando vai poder fumar 0 préximo, E apaga a bituca no cinzeiro. Re a vou li e cato com todo 0 cuidado a bituca que ele acabou de jog: E guardo, Como ja devo tet guardado milhares ¢ milhares de bituc de cigarro dele. Por isso, me considero uma colecionadora de bits de cigarro dele. ISTIELA ~ Maristela, meu nome é Maristela DOS — Boa noite, Maristela, ELDER — Foi hi tanto tempo. Nem me lembro mais direit Acho que ela deve ter abandonado a catteira, Nunca mais a gem TMLDUER ~ tss0, Maristcla.. Bu tenho saudades de te ouvir cantar. conversou, Foi uma hstéia passage pe 180 Mainls— Bu bas : NTTELA — Eira isso 0 que eu queria ouvir ele dizendo, Por- MARISTELA —Dois anos durou, Acabou meio que do jeito qu ee epee ce goer et che acta comesou, com élcool e palavra idiotas, Z no comeco um certo re Ba eo que cle gorowrs de diner quando = gente passiva o sia ef, Mas cle nica mais se aproximou e eu ance mais vou sentimento, quando a gente se encontrava, um cumprimento c Never, P to € seco. Alguns didlogos desencontrados, Com o tempo, as frat ficaram mais curtas. Mais curtas, Entio, palavras sussurradas. A\ WLDER ~ As vezes, eu cruzo com ela no prédio ¢ nem me lem- que ele nunca mais falou comigo. Até que nos rornamos isso que so: ‘mos hoje, dois desconhecidos. Mas eu continuci ligada naqueles d Bik 0 n0 xa Esther, Estela, sera? anos. Canta. Me lembto dos beijos, dos dias que passivamos junto: MARIS L.A ~ Meu nome é Maristela SLDER — da bebida, TODOS ~ Boa noite, Maristela MARISTELA —..dos sonhos de artistas NDE ~ Mas nem troco palavra porque ela parece esquisita, ELDER ~Das noites em claro, MBs ¢ escusit, meu Deus! Alguma coisa ali nio vai bem. Mas foi coisa de moleque maluco que depois a gente se arrepende. Como me meter com cla? Eu sd preciso de um pouco de carinho MARISTELA — Bu sei que vocé sabe quem eu sou, Eu sei q N= Una ve por semana, depois da mea mot ele marca um enconro woe’ sabe 0 meu nome. Vocé se lembra de mit... Eu sei que om wns homer, sms mulher ou wm casa. Fila marca mas 6 ele que lembra. CantaSe eu pudesse um dia te contar tudo 0 que acont Whontra Mas antes de sai, cumpre um ritual. Se arruma, x enfita, ¢ pull, confer todos os detalbese sonbea com um encontra perfata.Caloca Wp sonore noch dana fa. com que ela dara. Em toda as suas desde aquela época. Se voeé pudesse me ouvir, Se voc® pudesse me Peo centro da cidade, le nunca deco sua mie sinha em ca. Des wo rem, Nevzine, endid em qualquer farmécia. Misturado ao chi, phew pessoa durma serenamente. Entio, ele ou cla cartega a mie até 0 er eoloca no buco trascira E soem, Geraloente, ela marca o econtro em Aagur police, Varrbém nunca tevecoragem se apresentar ds snes timas. 10h; de dentro do carro cbsercando, através do video fut. Fica bservando MIDI 61 poseacial amanir. E grorde ma lewbrongs esa inogen. Ar We masturlecnquanto obserna a pessoa que esti d sua espera, Mas naguele Wh vie alo de especial naguele mein. BARAH ~ Como voce €? Como vocé vai estar vestido? INHO ~ Bu tenho 1,70, 70 quilos, tenho cabelos eastanhos cla- Vn estar vestindo calea jeans e camiseta branca. Te espero na iw, Hu sempre uso calga jeans e camiseta branca. Fi meu unifor- tho, Na rua, wocé tem que ter uma magca, algo que te dis- Bia Como ur sabonete tem que tr sun embalagem, 000 sabio » produto como outro qualquer. Tem os boys d:ogados, 1s top, 0s esportistas, os heteros, os perdidos. Hk pensa Wee Pacparte do eripo dos hetero, mas, na verdad el fae parte dos pedides. M "Bolts mais importante que aprendi na rua é que nao existem pessoas Perle Ate alguém pode te dar algum conforto durante um certo tempo. Se no for atrapalhar. Se tiver alguma vantagem futura presente. Ou de repemte, pode até olhar para vocé com compaixi ‘enquanto eruza a rua com 0 vidro do seu carro levantado. Mas us coisa ¢ fato: nio existem pessoas perfcitas. Acho que isso esti cla Nao esté? SARAH ~ Quanto € o servico? BINHO — Setenta, sem gozar, SARAH ~E gozando? BINHO - Daié 100. SARAH ~ Voc® é catinhoso? Eu queria alguém carinhoso. El nom san por ne pergunton ise F bem prowivel que quai siplesmente sof ser bumilbada. F:é posiel que 0 boy sea carinbosoe crue, ad mesmo lemp ea mesma frase. BINHO ~ Sci set carinhoso também. Mas tudo depende de ps $0, n6, mano? A prostitzao & uma forma de terapia. FE: fundamental pa -manter a side mental da populagao, Durante o dia, as putas ¢ os michts condenades ¢ sive na sombra. A noite, so procurades, adorades, se eres iluminades. Ext dow pra eles a fantasia que esperam de wim. Es eles Pagam por issa Com beijo, é 20 paus a mais. SARAH ~ Eu t6 morrendo de medo. Mas eu quero. Fintio, ent Entra, logo. Eu nunea fiz isso antes. BINHO ~ Resol entrar: Mas olbei 0 banco de ins e Ui tinka wma velba) dorminds. Nao curto maluco, Maricona velha! fuype ma cara de Sarah HHO ~ Maricona doente, velha! Viado velho! Saf na cerreria = Depwis do cnspe, Sarah imediatamente desqparecen, Bx ss queria i win pouco, Ku sou uma boa pessoa, Eu sei que eu sou uma 10a, Hu s6 queria um pouco de carinho. O vestido de casamento A prova. Compensou. Ai, Robalo, eu 6 to feliz. Mast Bit vor’ ver como eu sou determinads. E vocé também tinha que feliz. Isso Wh, sabia? Dedicagio, determinagao, obstinacio... Tudo isso pode CACILDA — Fecha os olhos, Robalot Desert «posse vida muito melhor. ROBALO ~ 0 que foi, Cacilda? WOWALO —1 verdade, Cacia! Mas onde voeéachou o vesdo mesmo? CACILDA ~ Té falando pra fechar os olhos, Robalo! Que h CACILDA — Pergunta pra Suzanal Vai li, perguntal Ela vive di mem chato, meu Deus ilo que queria ter metade da minha disciplina ¢ determinagao. péim, cla ji nasceu magra, né? Ah, gente magra infeliz néo tem Wo sacrificio que a gente precisa fazer, q ROBALO ~ Ta Casilla entra semi-vestida ems une vstide de noiva. ROBALO— Calta, mas acho que esti um pouco apertado tinds.N CACILDA ~ Pronto! Pode abrie EACILDA — Voeé vive pra me contradizer, né, Robalo? Tua vida # ine contrariar..Me esquece, homem! Me deixa em paz! Claro que ROBALO ~O que é isso, mulher? Habe Ah, © esse vestido... Lembra da ceriménia? Igreja cheia, um MHonte dle cciancinhas de pagens. Nossa ceriménia foi tio linda, mas Ho lincla, que até o p tow CACILDA — Esquece: do nosso casamento! ueceu, Robalo? Fo vestido de noivs oal do casamento anterior ficou pm ver 0 Igreja abarrotada. Todo mundo li, ROBALO — Ah, 6. verdade. Onde voeé achow isso? ROBALO — Menta, Mas no som en quem vai contradizer a Cacia Nitin is de 20 pesos arya tva via, ni. Ftd mundo ra da CACILDA~ Robalo olha que maravilhal Ti cabendo em mim, age Ml mia. A famita dela bocten 0 casamento argue ea tava grdvida voltou a caber em mim, ditctinho! Sé falta um pouquinho. led iad ROBALO ~ E verdade. § ia ream Uren CACILDA ~ B aguele padre, tio simpitico, com aquela prece fnocionante. Até eu, que sou durona, chore. CACILDA — Eu disse que a minha dicta tava dando certo. Ea (OBALO — Menta. Ele quasedormiaenquatocedbrava a erin. academia, os exercicos,o chi de hu, tudo 0 que eu t8 fazendo., Ta Dag a ar ee a Ws, « gente tem foo da minha tia Alice darmindo durante a proce. CACILDA ~ Ah, que coisa maravilhosa. Sio momentos assim que fazem a vida da gente ser tio especial, nao é Robalo? ROBALO ~ Verdade, Cacilda CACILDA~E eu jogando o buqué? Aquele buqué de margaridinhas do campo? Lembra das meninas loucas gritando pra pegar o buqué? ROBALO — Menta. Todas as mulheres estaram fugindo do bugué. Died que bugue de noi CACILDA — Mentira dele! Ele sabe muito bom que men bugue dava sorte Tanto é que foi a Suzana quem pegon, E. seis meses depots, ela tava casada, # ina quer pew ipois E mnito bem casada! Isso sem falar na festa. Ai, que delicia.. Todos aqueles salgadinhos, os docinhos, 0 bolo de trés pisos... E a nossa m pra Pocos de Caldas... Aq as dguas termais maravilhosas Lembra que a gente ficava se bolinando nas aguas termais, Robalo? Naquela época, vocé era mais potente, era todo cheio de safadeza.. Mentira, Ele nunca foi potente. Sé a Ca sabe 0 esorgo que fix naguelas aguas termais pra fazer 0 Robalo se animar. Mas voc’ nio entende nada Como 6 que este lugar funciona MEDALHA ~ Foi inerivel... Alids, vocé € inerivel, Eu sabia que nha que ser com vocé, assim que te vi. Fiquei esperando um cara especial muito tempo, sabe? Acho que o sexo & a maior intimidade uma alma pode ter com outra. Eu nao queria fazer com qualquer vin, Tinha que set uma experiéneia edsmica. BINHO ~ Ti insinuando que sou a tua primeira experiéncia se MEDALHA - ¥ BINHO ~ Ti me zoando? Mas a gente nem se conhece! Faz cin to dias que a gente se trombou. MEDALHA ~ Pra uma pessoa sensitiva como eu, bastam cinco ps. Na hora em que eu te vi na lan house, jé correu uma coisa quire a gente. Voe® pode nio ter percebido, mas eu senti na hora 0 flick. Coisa de outras vidas... Karma, entende? Eu sei que a gente asecu um pro outro, Ola a vibragio qui BINHO — Ele nao foi capa de diser a verdade, que naa foi espas, de 1 muito bem a diferenca entre a transa com ela ¢ cane os outros tant vijudo no sexe. Fazin tanto tempo que eu niio ficava deitado depois de vansat. Geralmente, eu termino o servigo, levanto, dou uma lavada {ho pau e pulo fora, MEDALHA — Considero isso um elogio. Silencia, MEDALHA, Voeé esté vendo a lua, a BINHO — Nunca tinha percebido que daqui consigo ver a lua Engragado. F equento esse hotelzinho aqui hi nove meses e nunca tinha percebido isso, Daqui eu posso ver a lua! MEDALHA — Bu costumava sentar na varanda da minha asa, com meu pai e minha mie ¢ olhar a lua 4 noite. No interior, a lua brilha mais forte. Ela fazia parte da minha vida. Depois que meu pai BINHO - Vocé é orfi, também? MEDALHA - Sou, Peqnena pausa MEDALHA — Eu e minha ie continuamos a ver a lua juntas em homenagem a cle, Fa buseava sempre uma es- trela que me lembrasse dele. Mas dai quando minha mie morreu, eu desisti, Na verdade, a mie morreu de tristeza por achar que nunca mais osse conseguir sorir quando vise a lua. Foi entto que eu resolvi vit pra Si0 Paulo. Até a aaj no fazia mais sentido, Sabe, is vezes, eu tenho @ sensagio de que um disco voador passou por aqui, © me jogou nesse planeta sem nenhum tipo de manual ¢ ainda disse: Se viral E de vez em quando, eles aparecem do nada de novo e dizem: Voeé ainda no entendeu como esse lugar funciona? 6 BINHO — O dia que vocé sacar como tudo isso funciona, me avisa, mina, que eu to tentando entender tan Os dois se olbam com cumplicidade. MEDALHA ~ Talvez com voeé eu consiga. Eww comecei « amiclo porque vi nos obbos dele o men melhor BINHO — Posso te contar um segredo ai, mina? Meu nome ito Bruno, Eu nao sou de Sagitirio, nunea fui érfio, eu sou garoto de programa e acho que quero casar com vocé. Acho, MEDALHA — Casar comigo? Que lindo! Obrigada por confiar BINHO ~ To sem cigarto ai sdalha dio dinbeiro a Binba. Mais dinbeire MEDALHA — Na noite seguinte, enguanto ele cata pra trabalbur, ela es «reven no diario confidente. “Nés toxlos somos patte de uma coiss maior, © somos, todos juntos, parte dessa coisa maior.” E nem se precaypou emt Alguém pra tomar conta de mim Eu posso! Bu sei que possot Posso visitar ele pelo menos? MARISTELA — Als, Ok Sim Obrigada, de qualquer forma. Eu sou daqui de Sao Paulo, Meu nome é Maristela, Canta TODOS — Boa noite, Maristela MARISTELA — Eu gostaria de saber se ele ainda esti disponivel Isso, 0 de olhos verdes. Ele é lindo, parece um amor. Eu adoraria ficar com ele Eu preciso dele Trabalho, todos os dias, em uma casa noturna no centro, sou caixa, Eu chego em casa ds oito horas da mana, H que eu tenho que fechar o caixa da casa noturna, Depois s6 acordo li pelo final da tarde e saio pro trabalho, E claro que eu posso ficar com el Algumas horas eu posso ficar com ele ‘Nunca tive mas posso aprender. Marisela ponsa que a adogao seria a inca forma de, tale, ter alm aque pudeseevidar dela. Mas nao pare que queiram Ibe entregar um ciezinbe Mas nfio posso nem mesmo tentar? Me deixa tentar, por favor! Eu imploro! Mais um telefonema SARAH — Al6. ROBALO -Oi. SARAH — Vocé frequenta essa linha sempre? ROBALO — Nao. Primeira vez. SARAH ~ Coincidéncia. minha primeita vez também. ROBALO ~ Nem sei porque estou falando com vocé. Tenho uma vida pacata. Sou um cara bem tranquilo, SARAH — Quem vé cara, nto vé coragio, sabia? Atris dessa tran qulidade toda, deve haver um fara ROBALO ~ Se voeé diz. SARAH — Faz 0 que da vida, amor? ROBALO ~ Sou despachante. E voce? SARAH ~ Sou esteticista... E qual € 0 seu nome? ROBALO — Nestor. SARAH — Que lindo nome, Nestor! ROBALO — Esteticista? Acho que eu t6 reconhecendo a sua vor. SARAH — Acho que vocé deve estar me confundindo, ROBALO — Sarah? E. vocé? SARAH — Quem é que ti falando? ROBALO — Nestor, o despachante, lembra? SARAH — Nestor, o despachante da Vila Matilde? Mea Deus, ‘quanto tempo, querido, Como vai a vide? ROBALO ~Tado inda... Tudo teanquila. A vidinha de sempre, sabe? SARAH ~ Ai, Nestor, vocd tem que colocar alguma emogio na sunt vida, Voeé sabe que eu pratico esportes radicais? ROBALO - Verdade? SARAH — Eu adoro montanhismo, ciclismo, arvorismo, Por que 4 yente no pratica juntos, uma hora dessas? ROBALO — Como assim? SARAH — Vocé tem algum lugar em que possa me rece! ROBALO ~ Eu tenho que desligar agora... Masa gente pode falar ‘le novo amanhi? SARAH — Claro, menino... Nesse mesmo horitio? ROBALO ~ Nesse mesmo horirio. SARAH — Nessa mesma bat pista? ROBALO — Nessa mesma bat pista, SARAH — Entio até amanha, querido. Vou sentir saudades suas. Robalo manda beinhos, estalando os labios, desajeitadamente, ATOR QUE INTERPRETA SARAH - E: cles tornaram-se ciimplices em suas fantasias. Foram telefonemas € ntio, a partir desse dia, telefonemas, até que, Finalmente, Robalo cedeu aos encantos de Sa- rah. Marearam um encontro no agougue de Robalo. Um encontro quente numa cimara fria, Um encontro tinico, que nds deixamos para a dltima cena da pega. No metrd ou a cena que nao faz parte do espetaculo ROBALO =A cena que woes nio assstir agora no fa parte do espe- tical. En podera falar de mim, mas ew no sow interessante, Mas a Cacilda (epoca Ese ovis quiserem combecer um poucs melhor a mina muller, a Caclda, acho importante prstar atom CACILDA ~ Vamos de mets fazer aquelas compras que eu te lisse na 25 de margo, Robalo? ROBALO ~ Naguele dia, ela me disse isso nirias vexes. Nao queria ir de ‘ur, queria ir de metré. En sempre ache isso estrauba, Tete’ iguorar. Cacilda vin € mulber pra andar de metré. Mas na verdade, ela estava esperando encontrar Met chega, Roba e Cacia entram no vasa CACILDA —A Suzana me disse que tem uma loja fantistica Ia na 25, Fica logo na esquina da Ladeira Porto Geral. Bu preciso comprar esse tecido ainda hoje, senfio a costureira nlo vai conseguir acabar 0 vestido pro easamento da filha da Suzana, E vai ser vermelho, porque 1 Suzana também vai usar vermelho € a gente combinou as duas de lwsar vermetho. Acho que vermelho dé um destaque lindo numa ceri- ?E ‘eu queto ver se ponho um decote imenso. Um decote até aqui. Nao ménia de casamento. E vermelho combina com branco, no achs ime olha com essa cara, Robalo, que vocé sabe que eu gosto de usar Alecote ¢ pronto, A mulher tem que saber usar seus atsibutos, sabia? liv sempre fui gostosa, nao ¢ agora que voce vai me censurer. Que foi? Que foi, Robalo? ROBALO ~ Eu no disse nada, Cacilda. Bu t6 quieto. CACILDA ~ E eu iio te conhego, Robalo? Que cara é essa? Claro que eu vou usar 0 decote. E ainda vai ter uma cauda e uma cintusinha bem marcada... Ji combinei tudo com a Suzana. Mentina, A Swgama nance falon mada de cnturinba om cand. (Chega em noma esta. Entra wm passer Fo fill ds, Robson ‘Thad CACILDA = Robson Thadeu? Meu filho? BINHO - Oi, Outra esta. Robson Thadew sai. Pansa longa. SILDA ~ Talvez 0 £0.. 0 rosa combine mais com a cor da minha pele. Voce nfo acha, Robalo? ROBALO ~ Vocé é quem sabe, Cacilda Os abragos que queimam RUY — Nossa intimidade nao era feita de palavras, mas de um pacto silencioso... © pacto que guardava os segredos da nossa infin- cia. Entdo, um dia ela simplesmente desapareceu. Faz muito tempo, ‘nem me lembro quando foi e pra ser sincero, nem me lembroa razio. “Tempo demas até, Durante esses anos todos, segui as regras da tra

Você também pode gostar