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ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO MARANHÃO

ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO


PSICOSSOCIAL
S SAÚDE MENTAL NO SUS E SUA INTERFACE COM AS DEMAIS
POLÍTICAS INTERSETORIAIS

A POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE INTEGRAL LGBT E SUA INTERFACE


COM A PROMOÇÃO DE SAÚDE MENTAL

São Luís/MA

2022
EVANDRO DOS SANTOS LIMA
FABIANA TRAVASSOS COSTA
GIRLANDA GOMES E GOMES
GIRLLAYD REIS DA SILVA DE CRISTO
HEMANUELLE FRANÇA PINHEIRO
HEMILY BARRA GUIMARAES
ILKA ROBERTA VALENTIM DA SILVA COSTA
IZANA BARROS DOS SANTOS LIMA COELHO

Trabalho apresentado para obtenção de


nota da disciplina de Saúde Mental no
SUS e sua interface com as demais
políticas intersesoriais no curso de
Especialização em Saúde Mental e
Atenção Psicossocial.
Prof. Ma. Marden Marques Soares Filho

São Luís/MA

2022
É sabido que o preconceito que gira em torno desses sujeitos é uma das
principais causas de sofrimento psíquico para os mesmos dentro de nossa sociedade. Tal
preconceito se materializa em agressões físicas, verbais, violação de direitos e desprezo
por parte da família. Temos a portaria de n° 2.386, de 1 de Dezembro de 2011, que
institui no âmbito do SUS a política nacional de saúde integral LGBT, que tem por
objetivo promover a saúde integral desses sujeitos, eliminar o preconceito institucional,
a discriminação e contribuir para minimizar a desigualdade e consolidar o SUS como
sistema universal, integral e equitativo, essa população (as travestis e transgêneros)
ainda segue invisível dentro das instituições que deveriam garantir tal direito, e quando
ganham alguma notoriedade, essa se dá em grande parte, associada ao atendimento
discriminatório, constrangimento, conotações preconceituosas e até mesmo ofensas
proferidas pelos profissionais de saúde.
Embora a luta continue em prol do aperfeiçoamento e criação de novas políticas
voltadas para as especificidades desse grupo, esta política ainda é vista como utopia
para esse segmento de nossa sociedade, uma vez que ainda sofrem discriminação ao
buscarem os serviços de saúde. A despeito disso, podemos citar o fato de que ao
buscarem o serviço de saúde, essa população não tem o nome social respeitado, algo
que já foi conquistado na portaria de n° 1.820/2009, que descreve que o usuário dos
serviços de saúde deve ser identificado pelo nome de sua preferência, independente
daquele presente no registro civil.
A violência de gênero já é internalizada e difundida entre heterossexuais,
indivíduos homossexuais, que por si só já fogem a norma e padrão preestabelecidos, são
cotidianamente sujeitados a um arsenal de piadas, brincadeiras, jogos, apelidos,
insinuações, etc. Homofóbicas, em diferentes setores e instâncias sociais, disseminados
e alimentados, em especial, pela mídia humorística, e que culminam em violência
psicológica e até mesmo física contra aqueles. A falta de conhecimento e informação
acerca de gênero e sexualidade, em especial ao que tange o universo LGBT, leva a
sociedade brasileira, através destas supostas brincadeiras, a silenciar, marginalizar e
excluir aqueles que apresentam essência, comportamento e atitude diferente ao
imaginário sexual esperado, sendo esta impetrada tão somente para reiterar a “distinção
e elevação estatutária dos indivíduos pertencentes ao grupo de referência: os
heterossexuais, particularmente os homens”. Ao falarmos em políticas públicas em
saúde, faz-se necessário pensar em conceitos como igualdade, equidade, abolição de
tratamento desumano e degradante, cuidado, comunicação entre órgãos e serviços que
visem ações nas áreas de promoção, prevenção e reabilitação em saúde. Partindo desta
perspectiva, é possível falar em política pública de saúde que de fato contemple
integralmente as demandas da população LGBTQIA+ ?
Este é apenas um dos vários obstáculos enfrentados pela população LGBT´s, e é
sobre este e outros entraves enfrentados por essa população, na garantia de seus direitos
no campo da saúde mental, que nos propomos a discorrer neste trabalho.
Diante de uma sociedade mista, composta de grande diversidade de pessoas com
as mais diversas orientações sexuais (e de género), o Brasil segue no ranking como país
campeão em óbitos desta população, seja por homicídios ou suicídios. Uma pesquisa de
uma entidade na Bahia, denominado de GGB - Grupo Gay da Bahia, realizada em 2019,
demonstra que a cada 20 horas um LGBT é assassinato por homofobia.
É válido ressaltar, que a violência ocorre de forma impessoal, portanto em
muitos casos o agressor é vítima não se conhecem. As formas de violência são voltadas
para as relações de poder e dominação. Entretanto muitos trazem a tona o sentimento de
medo e o descrédito no Estado, ou seja, muitos se calam diante da injustiças.
Em 2019, a ONU - Organização das Nações Unidas, aponta que indivíduos
LGBT tem maiores chances de desenvolver algum tipo de doença mental, entre elas
depressão, transtorno bipolar e tentativas de suicídio.
A síndrome depressiva, e crescente entre essa população, os atos
discriminatórios, somados a rejeição familiar, aos altos índices de violência e a
descrença na justiça apresentam-se com fatores cruciais para o desenvolvimento desta
doença.
Vale ressaltar, que muitos já foram os avanços em busca da inclusão deste grupo
populacional de grande vulnerabilidade psicológica, a exemplo temos o Recurso
Extraordinário - RE 670422, do Supremo Tribunal Federal, que garante o direito do
sujeito realizar a alteração do prenome e classificação de gênero no Registro de
Nascimento, surgiu como pontapé inicial pra o processo de acolhimento social, onde a
lei deverá ser exercida com respeito à dignidade e integralidade da população dos
indivíduos LGBT.
A Revolução Russa de 1917 trouxe os maiores avanços da história em relação à
homossexualidade, que foi totalmente descriminalizada. Superior, inclusive, à atual
legislação de países como Espanha, Holanda e Canadá (considerados os mais
progressivos hoje), contudo, após a morte de Lênin e a ascensão de Stálin ao poder,
todos os avanços se reverteram em retrocessos, criando e incentivando a ideologia de
que a homossexualidade era uma degeneração do capitalismo, associada à decadência
moral da burguesia, o stalinismo contaminou boa parte do movimento revolucionário
com sua homofobia, em Cuba, por exemplo, logo após a revolução, os homossexuais
foram enviados para fazer trabalhos forçados em campos de reeducação no Brasil, em
1981, o Partido Comunista Brasileiro ainda sustentava essa argumentação em seus
pronunciamentos oficiais. Postura idêntica foi adotada por grupos revolucionários pró
soviéticos, pró-chinês, pró-maoísmo albanês e em outros países da América Latina,
como Colômbia e Peru de acordo com esta ideologia, não existia espaço para a
homossexualidade dentro da “verdadeira” classe operária e do campesinato, para a
própria noção do que era ser revolucionário, se colava a absurda ideologia de certa
“virilidade revolucionária” – de cunho visivelmente machista e homofóbico – tão bem
expressa na declaração de um dos dirigentes do MIR (Movimento da Esquerda
Revolucionária Chilena) em 1975: “En el MIR no hay maricones”, no decorrer do
processo de democratização nos países latino-americanos e conforme o movimento gay
e lésbico foi ganhando espaço, essas posições foram se abrandando na forma. Porém,
não foram completamente extintas, para muitos, o caráter policlassista dos movimentos
negro, de mulheres e homossexuais, os manteria distantes dos interesses da classe
trabalhadora. Outros, apesar de reconhecerem sua importância, inclusive no que se
refere aos problemas enfrentados pela classe operária, alegavam que estes problemas
seriam questões para depois da revolução. De uma forma ou de outra, a esquerda no
geral seguia abstendo-se do debate. (http://www.pstu.org.br/node/11811).
Na perspectiva de difundir os direitos das pessoas e das populações em relação à
saúde, o Ministério da Saúde publicou a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde
(BRASIL, 2006), que explicita os direitos e deveres dos usuários contidos na legislação
do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa ferramenta, que busca contemplar as
especificidades dos diversos grupos sociais, está disponível a toda a população e
possibilita a discussão qualificada em torno do direito à saúde. A Política LGBT é uma
iniciativa para a construção de mais equidade no SUS. O compromisso do Ministério da
Saúde com a redução das desigualdades constitui uma das bases do Programa Mais
Saúde – Direito de Todos – (BRASIL, 2008), lançado em 2008 e que visa à reorientação
das políticas de saúde com o objetivo de ampliar o acesso a ações e serviços de
qualidade. Esse Programa, espelhando essa política, apresenta metas específicas para
promover ações de enfrentamento das iniquidades e desigualdades em saúde com
destaques para grupos populacionais de negros, quilombolas, LGBT, ciganos,
prostitutas, população em situação de rua, entre outros.
A Política LGBT tem como marca o reconhecimento dos efeitos da
discriminação e da exclusão no processo de saúde-doença da população LGBT. Suas
diretrizes e seus objetivos estão, portanto, voltados para mudanças na determinação
social da saúde, com vistas à redução das desigualdades relacionadas à saúde destes
grupos sociais. Esta Política reafirma o compromisso do SUS com a universalidade, a
integralidade e com a efetiva participação da comunidade. Por isso, ela contempla ações
voltadas para a promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, além do
incentivo à produção de conhecimentos e o fortalecimento da representação do
segmento nas instâncias de participação popular.
Diante o exposto, apesar das muitas conquistas nos últimos anos, ser um
indivíduo LGBT no Brasil ainda é atravessar violências estruturais, muito além da
violência física ou verbal. Entender isso é fundamental quando pensamos na dificuldade
(e até na desconfiança) da população LGBT em procurar e acessar cuidados em saúde
mental.
Porém a questão da saúde mental vem ganhando cada vez mais espaço e
importância. Há novos projetos para facilitar e ampliar o acesso dessa população a
cuidados de saúde mental seguros e de qualidade.
Uma dessas iniciativas é o Acolhe LGBT, uma plataforma online que busca
conectar pessoas LGBT que precisam de acolhimento psicológico com profissionais de
psicologia que aceitem atendê-las de forma de forma voluntária. O projeto é uma
iniciativa das organizações LGBT All Out e TODXS. Em poucas semanas, já conectou
mais de 300 pacientes com especialistas em todo o país. Assim como o Acolhe LGBT,
há outros programas com objetivos similares. Muitas casas de acolhimento para pessoas
LGBT têm oferecido atendimento psicológico gratuito, por exemplo. Há também
serviços online disponibilizando atendimento com valores simbólicos, rodas de
conversa conduzidas por ativistas , entre outros..
Mesmo com políticas públicas, diretrizes e códigos de ética, o campo de ação é
grande, complexo e exige uma atuação contínua. Por isso, é importante fortalecer
iniciativas como essas e discussões sobre saúde mental. Tudo para que possamos
conscientizar cada vez mais pessoas LGBT da importância desse autocuidado,
principalmente com profissionais e instituições comprometidas em garantir um
atendimento respeitoso e de qualidade.

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