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Geriatria &
Gerontologia
ARTIGOS ORIGINAIS
Envelhecimento bem-sucedido e capacidade funcional em idosos brasileiros
Fatores associados à perda da capacidade funcional em idosos em muni-
Órgão Oficial de Publicação Científica cípio no sul do país
Perfil sociodemográfico de idosos com câncer em serviço terciário do
Sociedade Brasileira de Sistema Único de Saúde
Geriatria & Gerontologia Risco nutricional em pacientes idosos hospitalizados como determinante de
desfechos clínicos
Perfil do idoso com AIDS no Brasil
Conhecimento de HIV/AIDS em um grupo de idosos na cidade de
Criciúma – SC/Brasil
Mortalidade por tuberculose pulmonar e síndrome de imunodeficiência
adquirida no idoso: há diferenças?
Efeito do treinamento resistido ondulatório sobre a aptidão funcional de
idosos com diabetes do tipo 2
Sugestões de tratamento na doença de Parkinson: intervenções psicomo-
toras com videogame
Percepção de maus-tratos no domicílio pelo idoso morador no município de
Juazeiro (BA)
ARTIGOS DE REVISÃO
Síndrome do pé doloroso na população idosa
Benefícios da utilização de prebióticos, probióticos e simbióticos em
adultos e idosos
Ambiente físico e acessibilidade espacial: contribuições para o cuidado de
enfermagem na prevenção de quedas em idosos
RELATO DE CASO
Bullying na terceira idade
Volume 8
Número 1
ISSN 1981-8289 Jan/Fev/Mar 2014
EDITORIAL
Envelhecimento de pacientes infectados pelo HIV/AIDS............................................................. 07
ARTIGOS ORIGINAIS
Envelhecimento bem-sucedido e capacidade funcional em idosos brasileiros | Adriana Letícia de
Andrade Silva Botoni, Fausto Aloísio Pedrosa Pimenta, Sílvia Nascimento Freitas, Raimundo Marques
Nascimento, George Luiz Lins Machado-Coelho, Guilherme Almeida Maia, Flávio Chaimowicz........ 11
Fatores associados à perda da capacidade funcional em idosos em município no sul do país |
Adriana Moraes dos Santos, Selma Franco, Marco Antonio Moura Reis.................................... 19
Perfil sociodemográfico de idosos com câncer em serviço terciário do Sistema Único de Saúde | Ana
Beatriz Bortolansa Pacagnella, Emmily Daiane Buarque De Santana, Manoella de Macedo Gomes,
André Fattori, Maria Elena Guariento......................................................................................................... 27
Risco nutricional em pacientes idosos hospitalizados como determinante de desfechos clínicos |
Adriane dos Santos da Silva, Ida Cristina Mannarino, Annie S. Bello Moreira.................................. 32
Perfil do idoso com AIDS no Brasil | Juliano Brustolin, Thais Elisa Lunardi, Naiara Maeli Michels 38
Conhecimento de HIV/AIDS em um grupo de idosos na cidade de Criciúma – SC/Brasil | Kris-
tian Madeira, Priscyla Waleska Targino de Azevedo Simões, Matheus Cipriano Vidal Heluany,
Claudia Cipriano Vidal Heluany.................................................................................................... 43
Mortalidade por tuberculose pulmonar e síndrome de imunodeficiência adquirida no idoso: há dife-
renças? | Luciana Paganini Piazzolla, Francisca M. Scoralick, João Barberino Santos, Liana Lauria-Pires 50
Efeito do treinamento resistido ondulatório sobre a aptidão funcional de idosos com diabetes do tipo 2
| Gilberto Monteiro dos Santos, Fabio Tanil Montrezol, Luciana Santos Souza Pauli, Emilson Colantonio,
Ricardo José Gomes, Bárbara de Almeida Rodrigues, Rodolfo Marinho, José Rodrigo Pauli................. 54
Sugestões de tratamento na doença de Parkinson: intervenções psicomotoras com videogame |
José Eduardo Martinelli, Luciana Maria Pires Santos, Flávia Ogava Aramaki, José Maria Montiel,
Juliana Francisca Cecato................................................................................................................ 60
Percepção de maus-tratos no domicílio pelo idoso morador no município de Juazeiro (BA) |
Maria Luiza Barros Fernandes Bezerra, Edinete Maria Rosa........................................................ 65
ARTIGOS DE REVISÃO
Síndrome do pé doloroso na população idosa | Giovanna Riccitelli do Couto, Nathalie Fernandes Caval-
cante, Rodrigo Sader Heck, Marcel João Zulin, Marcos Carmelita Siqueira, Jorge Luiz de Carvalho Mello 72
Benefícios da utilização de prebióticos, probióticos e simbióticos em adultos e idosos | Luciana
Santos Pereira, Luciano Rodrigues de Oliveira, Marina Teixeira Santos, Talita Barbi, Ana Maria Calil 77
Ambiente físico e acessibilidade espacial: contribuições para o cuidado de enfermagem na
prevenção de quedas em idosos | Edmar Geraldo Ribeiro, Sônia Maria Soares, Raquel Souza
Azevedo, Márcia Maria Soares................................................................................................... 82
RELATO DE CASO
Bullying na terceira idade | Melissa Agostini Lampert, Gabriel Ferreira Tognon, Miguel Luiz Tonet
Jr., Raquel de Oliveira Corbellini, Kelly Caroline Welter, Renata Rosso.......................................... 89
Volume 8
Número 1
ISSN 1081-8289 Jan/Fev/Mar 2014
GRANDES
PROJETOS pelo bem da
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EDITORIAL
Há registros de que o diagnóstico de HIV/AIDS tem que, apesar das comorbidades e da polifarmácia, há boa
aumentado em idosos em todo o mundo. Esta informação aderência ao tratamento e baixa taxa de abandono. De
pode ser confirmada, tanto considerando o critério de Biasi e colaboradores (J Exp Clin Med 2011;3) chamam
idade de 60 anos (adotado pelo Centro de Prevenção a atenção para aspectos em comum entre o envelheci-
e Controle de Doenças, em inglês Centers for Disease mento imunológico e essa infecção, que contribuem para
Control and Prevention - CDC) como o de mais de 50 o impacto da doença e modificam a resposta ao trata-
(adotado pela Organização Mundial de Saúde - OMS). mento de doenças associadas e também da epidemio-
No Brasil, nos estudos de Brustolin e de Mello e cola- logia de outras, como a tuberculose (Fenner et al, PLOS
boradores, a escolaridade baixa aparece no perfil dos Genetics, 2013; 9). Piazzolla e colaboradores, analisando
idosos diagnosticados e também no perfil daqueles que dados do DATASUS de 2004 a 2010, compararam os
não previnem e desconhecem a forma de transmissão coeficientes de mortalidade por tuberculose pulmonar
da doença, respectivamente. Estudar o impacto da esco- em pacientes acima de 60 anos com ou sem AIDS, e veri-
laridade na prevenção, no diagnóstico e no tratamento ficaram que os coeficientes de mortalidade em pacientes
do HIV/AIDS, assim como do aumento de risco para sem infecção foram sempre mais elevados que os obser-
outras morbidades, como demência, é necessário para vados naqueles com a coinfecção. O efeito da tubercu-
que ações específicas sejam adotadas. Ainda há demora lose na mortalidade de pacientes com HIV positivo
no diagnóstico de HIV/AIDS em idosos, seja pelo também foi estudado por Straetemans e colaboradores
fato deles serem menos sintomáticos e apresentarem (Plos one, 2010; 5), em uma revisão sistemática. Greene
sintomas atípicos, ou pelos sintomas serem confundidos e colaboradores (JAMA, 2013; 309) fazem uma revisão
como alterações esperadas com o envelhecimento. apontando para o aumento da concomitância de outras
Em idosos, o curso da infecção é mais rápido, e a doenças crônicas, metabólicas e cardiovasculares com
demora no diagnóstico aumenta a mortalidade. O trata- HIV/AIDS. A conduta nesses casos de comorbidades
mento com retrovirais tem permitido a sobrevida dos gera muitas dúvidas, o que estimulou Cardoso e colabo-
pacientes infectados e a cronificação dessa doença. A radores (Braz j infect dis, 2013; 17) a discutirem o tema
revisão de literatura realizada por Avelino-Silva e cola- e a organização de consensos, como o que foi proposto
boradores (Ageing Research Reviews, 2011;10) aponta pelo Work Group for the HIV and Aging Consensus (J
Am Geriatr Soc, 2012; 60).
Os idosos com HIV/AIDS precisam de condutas
Base Editorial adequadas, controle de fatores de risco e prevenção para
comorbidades, objetivando sempre preservar a funcio-
nalidade e a qualidade de vida. Ainda não temos muitas
respostas para situações práticas, mas já são apontadas
muitas propostas que merecerão investigação científica.
Av. Copacabana, 500 sala 609/610, Copacabana
22020-001 – Rio de Janeiro. Maysa Seabra Cendoroglo
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Editora-chefe
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Presidente Comissão de Ética e Defesa Profissional Tulia Fernanda Meira Garcia (CE)
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1o Vice-Presidente Adriano Cesar Gordilho (BA) Comissão de Formação Profissional e Cadastro
Paulo Renato Canineu (SP) Carlos Roberto Takayassu (MT) Geriatria Veronica Hagemeyer Santos (RJ)
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Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT) Marianela Flores de Hekman (RS)
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Maria Alice Vilhena de Toledo (DF) Rangel Osellame (SC) Presidente: Maria Alice Vilhena de Toledo (DF)
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Marcela Guimarães Assis (MG)
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Laura Melo Machado (RJ) Comissão Científica de Gerontologia
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Adriano Cesar Gordilho (BA) Comissão de Avaliação de Divulgação
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Mariana Asmar Alencar (MG) Ligia Py (RJ)
Marianela Flores de Hekman (RS) Maira Tonidandel Barbosa (MG)
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Jussara Rauth (RS) Jordelina Schier (SC)
Silvia Regina Mendes Pereira (RJ) Marisa Accioly R. da C. Domingues (SP)
Envelhecimento bem-sucedido e
capacidade funcional em idosos
Res umo
Palavras‑chave Introdução e objetivo: Este estudo avalia problemas de saúde em idosos, aplica um índice de envelhecimento
Avaliação bem-sucedido e analisa sua relação com fatores sociodemográficos e capacidade funcional em amostra aleatória
geriátrica, representativa de Ouro Preto. Métodos: Associação entre capacidade funcional e variáveis sociodemográficas e
capacidade clínicas foi avaliada usando regressão logística múltipla. Resultados: A mediana de idade foi 67; 59% eram de
funcional, perfil classe econômica baixa e 50% de baixa escolaridade. Foi elevada a prevalência de incontinência urinária, quedas,
de impacto depressão, dependência, problemas de visão, audição, imunização e rastreamento de neoplasias. Houve associação
da doença, entre dependência funcional e sexo feminino, idade, déficit cognitivo e problemas de visão. A chance de apresentar
levantamentos envelhecimento bem-sucedido foi menor entre mulheres, idosos de 75-79 anos e escolaridade baixa. Conclusão:
epidemiológicos, Os idosos apresentam elevada prevalência de problemas de saúde. Maior expectativa de vida em mulheres não se
saúde do idoso. associou a ganho de expectativa de vida livre de incapacidade. O envelhecimento bem-sucedido pode ser privilégio
de classes mais favorecidas.
ABS T RACT
Keywords Introduction and objective: This study evaluates the prevalence of health problems in the elderly, an index of
Geriatric successful aging and considers its relationship with sociodemographic factors and functional capacity, in a random
assessment, sample representative of the residents in Ouro Preto. Methods: Association between functional capacity and socio-
functional demographic and clinical variables was assessed by multiple logistic regression. Results: The mean age was 67
capacity, disease’s years old; 59% were of low socioeconomic level and 50% with low education level. There was high prevalence of
impact profile, urinary incontinence, falls, depression, disability and problems with vision, hearing, immunization and cancer scre-
epidemiological ening. Association was observed between functional dependence and female, age, cognitive impairment and vision
surveys, elderly problems. The probability of presenting successful aging profile was lower among women, for 75-79 years old and
health. low education level. Conclusion: Althoung being young-elderly, they have presented a higher prevalence of health
problems. The expectancy of a longer life in women is not associated with a life expectancy free of disability. Succes-
sful aging could be a privilege of higher social classes.
a
Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
b
Departamento de Ciências Médicas, Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
c
Escola de Nutrição, UFOP.
d
Departamento de Ciências Médicas, UFOP; contribuiu com interpretação de dados, redação do artigo.
e
Departamento de Ciências Médicas, UFOP; contribuiu com interpretação de dados, redação do artigo.
f
Acadêmico de Medicina da UFOP; contribuiu com interpretação de dados, redação do artigo.
g
Departamento de Clínica Médica, UFMG; contribuiu com interpretação de dados, redação do artigo.
Tabela 1 Características sociodemográficas da amostra de idosos do município de Ouro Preto, Brasil, 2002
Variáveis sociodemo- Mulheres Homens Total
gráficas n % n % n %
Idade
60-64 55 40,4 17 39,5 72 40,2
65-69 31 22,8 18 41,9 49 27,4
70-74 25 18,4 7 16,3 32 17,9
75-79 17 12,5 0 0,0 17 9,5
80 ou mais 8 5,9 1 2,3 9 5,0
Cor
Branco 46 34,6 7 16,7 53 29,6
Não branco 87 65,4 35 83,3 122 68,2
Indeterminado 04 2,2
Classe econômica
AB 16 12,8 8 19,5 24 13,4
C 30 24,0 14 34,1 44 24,6
DE 79 63,2 19 46,3 98 54,7
Indeterminado 13 7,3
Escolaridade
8 anos ou mais 16 11,9 6 14,3 22 12,3
4 a 7 anos 44 32,6 19 45,2 63 35,2
Menos que 4 anos 75 55,6 17 40,5 92 51,4
Indeterminado 02 1,1
Tabela 2 Prevalência (%) de problemas nos domínios avaliados, de acordo com características sociodemográficas dos idosos residentes em Ouro Preto, 2002
Amostra ponderada N Neo Imune Vi Audi Bucal IU AVD Que So Cog GDS
Total 179 98,8 90,2 90,2 52,9 86,7 63,5 47,7 37,9 73,4 23,6 27,7
Sexo
Homens 71 100,0 91,5 90,1 62,0 84,3 54,9 35,7 29,6 80,4 28,2 12,1
Mulheres 108 98,1 89,0 89,9 47,2 88,9 68,8 55,6 43,5 69,8 21,1 37,2
Faixa etária
60 - 64 53 98,1 84,6 90,6 48,1 88,7 56,6 32,7 32,1 61,4 17,0 27,1
65 - 69 39 97,5 89,7 87,2 55,0 84,6 51,3 48,7 33,3 84,6 33,3 25,8
70 - 74 50 98,0 94,0 89,8 58,0 78,0 88,0 46,0 42,0 82,9 20,0 22,0
75 - 79 18 100,0 88,9 88,9 41,2 94,4 58,8 82,4 52,9 66,7 11,1 43,8
80 ou mais 20 100,0 100,0 100,0 60,0 100,0 50,0 60,0 42,1 72,7 42,1 31,3
Cor
Branco 46 95,7 84,8 87,0 50,0 84,4 63,0 47,8 46,7 70,6 26,1 29,3
Não branco 125 99,2 91,2 91,2 57,6 87,2 66,7 49,6 36,8 72,9 23,2 28,6
Indeterminado 08
Classe econômica
AB 26 96,2 92,3 80,8 44,4 61,5 88,5 50,0 15,4 83,3 30,8 9,5
C 41 100,0 88,1 90,5 63,4 85,4 68,3 45,2 41,5 75,8 22,0 33,3
DE 96 99,0 89,6 92,7 57,3 94,8 62,5 51,0 45,8 69,0 25,0 32,1
Indeterminado 16
Escolaridade
Média 23 95,7 91,3 78,3 34,8 69,6 69,6 43,5 21,7 68,4 13,0 13,6
Baixa 62 98,4 87,1 91,9 61,9 87,3 69,4 42,9 36,5 67,3 21,0 22,2
Muito baixa 87 100,0 91,9 92,0 55,2 90,7 63,2 55,8 46,0 77,0 29,1 40,0
Indeterminado 07
Audi: audição; AVD: atividade da vida diária; bucal: saúde bucal; cog: cognição; GDS: escala de depressão geriátrica; imune: imunização; IU: incontinência urinária; neo: neoplasias;
que: quedas; so: social; vi: visão. Valores em negrito: p < 0,05
14 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
A maioria dos idosos, à época da pesquisa, estava atra- bucal e déficit cognitivo. Observou-se, nos idosos com mais
sada para o rastreamento de neoplasias11 e imunizações.12 de 70 anos, maior chance de incontinência urinária (OR =
Dos idosos que conheciam a pesquisa de sangue oculto nas 2,34; IC 95%: 1,2-4,6; p <0,02) e dependência para realizar
fezes (n = 100), somente 4% o haviam realizado nos últimos AVDs (OR = 1,92; IC 95%: 1,0-3,6; p <0,05).
12 meses, e 34,2% nunca o realizaram. Entre os homens, Tratando-se especificamente dos idosos não brancos,
84,9% não haviam realizado o exame digital da próstata verificou-se maior taxa de problemas no rastreamento de
nos últimos 12 meses e 44,2% deles nunca haviam reali- neoplasias (99,2% x 95,7%), imunizações (91,2% x 84,8%) e
zado a dosagem do antígeno prostático específico. Entre audição (57,6% x 50%), mas menor prevalência de quedas
as mulheres, 44,8% não haviam realizado o exame clínico (36,8% x 46,7%). Comparados aos idosos de classe econô-
da mama nos 12 meses precedentes e 51,1% nunca haviam mica AB, idosos da classe DE apresentavam maior preva-
realizado mamografia; 58,6% não haviam realizado o Papa- lência de problemas, como visão (92,7% x 80,8%), audição
nicolau nos últimos três anos ou nunca realizaram o exame (57,3% x 44,4%), saúde bucal (94,8% x 61,5%; p <0,01),
(31,9%). Entre aqueles com mais de 65 anos, 52,7% nunca quedas (45,8% x 15,4%; p <0,01), possível depressão (32,1%
haviam sido imunizados contra pneumococo. Por outro x 9,5%). Contudo, apresentaram menores índices de incon-
lado, 80,1% da amostra foi imunizada contra febre amarela tinência urinária (62,5% x 88,5%; p <0,03), risco de isola-
e 60,8% contra tétano, nos 10 anos precedentes, e 74% mento social (69,0% x 83,3%) e déficit cognitivo (25% x
foram imunizados contra influenza nos últimos 12 meses. 30,8%). Comparados aos idosos de escolaridade média (>8
A maioria dos idosos apresentava problemas relacionados anos), os de escolaridade muito baixa (<4 anos) apresen-
à visão (90,2%), audição (52,9%) e saúde bucal (86,7%), ou tavam menor prevalência de incontinência urinária (63,2%
seja: 63,2% relataram má visão, 32,8% deixaram de realizar x 69,6%), mas maior prevalência de problemas de visão
atividades por algum dos motivos apontados, 56,6% não (92,0% x 78,3%), audição (55,2% x 34,8%), saúde bucal
haviam consultado o oftalmologista nos 12 meses anteriores, (90,7% x 69,6%; p <0,02), dependência para AVDs (55,8% x
44% relataram dificuldade para ouvir, 69% para entender 43,6%), quedas (46,0% x 21,7%), risco de isolamento social
palavras ao conversar e 31,2% para assistir à TV, ouvir rádio (77% x 68,4%), déficit cognitivo (29,1% x 13%) e possível
ou usar o telefone; 79,4% não se consultavam com o dentista depressão (40% x 13,6%; p <0,05).
há pelo menos 12 meses; 14,2% relataram dor, sangramento Além das variáveis sexo (feminino) e idade (>70 anos), a
ou incômodo na boca ou gengiva e 20,2% deixaram de dependência para realizar AVDs estava associada a problemas
ingerir algum alimento por dificuldade de mastigar. nos domínios visão (p = 0,02), audição (p = 0,01), quedas (p
A incontinência urinária foi queixa de 63,5% dos = 0,01) e cognição (p = 0,001) (Tabela 3). Com essas variá-
idosos, levando 42,1% a sentirem-se incomodados ou veis, desenvolveu-se o modelo de regressão logística múltipla
abandonar alguma atividade. Quase metade (47,7%) (Tabela 4), que revelou presença de associação independente
relatou necessidade de muito auxílio ou incapacidade para entre dependência e idade (>70 anos; duas vezes maior),
realizar pelo menos uma AVD. Mais de um terço (37,9%) sexo (feminino; 2,7 vezes maior), déficit cognitivo (4,5 vezes
relatou queda nos 12 meses anteriores, a maioria fora maior) e problemas de visão (3,7 vezes maior).
do domicílio (53,3%), por escorregar ou tropeçar (70%). Em todas as categorias sociodemográficas, menos da
Destes, 12 (17,6%) sofreram fratura. metade dos idosos apresentava o perfil de envelhecimento
Idosos sem déficit cognitivo foram avaliados quanto bem-sucedido (Tabela 5). Esse perfil foi duas vezes menor
ao risco de isolamento social. Foram considerados posi- entre as mulheres, 10 vezes menor nos idosos entre 75 e 79
tivos 73,4% dos idosos que responderam “nunca” ou anos e 4 vezes menor entre os de escolaridade muito baixa.
“poucas vezes” às seguintes questões: se costumavam Esse dado foi menos prevalente (diferenças não significativas)
recorrer à família quando acometidos por problemas de entre idosos não brancos e de classe econômica mais baixa.
saúde ou emocionais (65,2%), se participavam das deci-
sões importantes da família (33,1%), se costumavam se D isc u ssão
encontrar com amigos, vizinhos ou parentes (24,1%). A manutenção da capacidade funcional terá papel
Foram considerados possíveis casos de déficit cognitivo central na qualidade de vida dos idosos. A baixa resolu-
23,6% dos idosos, e de depressão, 27,7% dos idosos. bilidade das políticas de suporte às famílias que cuidam
Dentre as mulheres, foi menor que a dos homens a de idosos aprofundará a anacrônica demanda por insti-
prevalência de problemas de audição (47,2% x 62%), risco tucionalização.12,13 Diante desse quadro, a hipótese da
de isolamento social (69,8% x 80,4%) e déficit cognitivo compressão da morbidade13 propõe que intervenções
(21,1% x 28,2%). Apresentaram, porém, índices maiores durante a vida adulta e entre idosos mitigariam agravos
que dos homens em incontinência urinária (68,8% x à saúde, preservando o estado funcional e prolongando
54,9%), dependência para realizar AVDs (55,6% x 35,7%; p a expectativa de vida livre de incapacidade. Situa-se aí
<0,02), quedas (43,5% x 29,6%) e possível depressão (37,2% a relevância deste estudo. Os dados coletados demons-
x 12,1%; p <0,01). Dos idosos com mais de 80 anos, foram traram que, embora imprescindíveis para reduzir a
mais prevalentes os problemas de visão, audição, saúde mortalidade, os idosos não realizavam rastreamento de
Envelhecimento bem-sucedido e funcionalidade | 15
Tabela 3 Variáveis clínicas associadas à dependência para realizar AVDs na população de Ouro Preto, 2002
Déficit visual
Não 14 03 1,00
Déficit audição
Não 54 31 1,00
Não 37 28 1,00
Quedas 0,005
Não 68 43 1,00
Não 20 16 1,00
Não 82 55 1,00
Não 68 43 1,00
Tabela 4 Análise multivariada de regressão logística para estimativa do UDN Rádio e cálculo do intervalo de confiança, contendo as variáveis
associadas com a presença de dependência para realizar AVD nos idosos de Ouro Preto, 2002
Odds ratio brute (95% CI) Odds ratio adjusted (95% CI)
*p <0,05; odds ratio >1,0 significa associação com a variável resposta (dependência em AVD); Modelo multivariado ajustado pelas variáveis significativas da análise univariada
a
neoplasias, não estavam imunizados contra pneumonia para realizar AVDs e risco de isolamento social.
e, em outro braço do estudo, apresentavam as maiores Uma intrincada rede causal engloba essas síndromes.
prevalências de fatores de risco cardiovascular.14 Assim, incontinência urinária pode levar a isolamento
Com efeito, este estudo procurou retratar o processo social e depressão;15 quedas podem aumentar a depen-
de envelhecimento nos países em desenvolvimento, nos dência para realizar AVDs ou serem consequências
quais populações de idosos são mais jovens e pertencem de um estado funcional precário.16 Na verdade, trata-
a classes econômicas e escolaridade baixas.12,13 Além se de um círculo vicioso: déficits de visão favorecem
disso, estão expostos a condições de vida precárias, como quedas17 e déficits de audição associam-se ao isolamento
saneamento, infraestrutura, acessibilidade e escassez de e depressão.18 De fato, este estudo demonstrou que
recursos para a saúde. Embora relativamente jovens, problemas de audição e visão, déficit cognitivo e quedas
os idosos da amostra realmente apresentavam elevada associam-se à necessidade de auxílio para realizar AVDs.
prevalência de problemas comuns em idosos mais Os dados aqui tratados assemelham-se aos obtidos em
velhos, como incontinência urinária, quedas, sintomas outro estudo,19 no qual a complexa rede causal, incluindo
de depressão, déficits de visão e audição, dependência idade, escolaridade, déficit cognitivo, má visão e isola-
16 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Tabela 5 Distribuição dos idosos segundo o perfil de envelhecimento bem-sucedido e fatores sociodemográficos nos idosos de Ouro Preto, 2002
Presente Ausente
N % N %
Sexo
Faixa Etária
Cor
Classe econômica
Escolaridade
mento social, associou-se ao declínio funcional. evidenciaram que a chance de necessidade de auxílio para
Com relação à dependência para realizar as AVDs, este realizar AVDs é 2,4 vezes maior nesse caso. A presbiacusia
estudo verificou, mediante exame médico, que as princi- poderia não só prejudicar mecanismos de compensação dos
pais causas de dependência eram os problemas de mobi- déficits de outros domínios como ser também o determi-
lidade (68,6%), saúde mental (34,3%) e ganho de peso nante principal da dependência funcional de alguns idosos.
(30,4%). A propósito, analisando estudos populacionais Acerca da saúde bucal, embora menos de 15% dos idosos
recentes, Fries13 concluiu que os anos de vida saudáveis, se queixasse de sintomas bucais, 1/5 deles já restringia o
potencialmente ganhos pela redução do hábito de fumar, uso de alguns alimentos por dificuldades de mastigação,
têm sido compensados pelas desvantagens associadas ao um déficit funcional. O fato de 4/5 dos idosos não terem
estilo de vida sedentário e ao aumento da prevalência do se consultado com o dentista nos 12 meses anteriores à
sobrepeso e obesidade (que já atingem 30,2% dos homens pesquisa sugere dificuldade de acesso aos serviços odonto-
e 50,2% das mulheres entre os idosos brasileiros).20 lógicos ou autopercepção inadequada da saúde bucal.23
Já a prevalência de problemas no domínio da visão foi No que tange ao instrumento utilizado para avaliar
superior à de outros inquéritos brasileiros.14,19 Embora 2/3 a presença de déficit cognitivo, é interessante ressaltar
da amostra realmente referissem má visão, a prevalência que os resultados do IQCODE não estavam associados
dela possivelmente é mais acurada, pois foram considerados à escolaridade e apresentaram boa concordância quando
positivos idosos que não compareceram à consulta oftal- repetidos (kappa = 0,61; p = 0,01). Ao contrário do
mológica nos 12 meses anteriores. Além do mais, inqué- miniexame do estado mental,24 o IQCODE já demons-
ritos baseados na autopercepção da saúde subestimam a trou ser adequado para rastreamento de demência em
prevalência de doenças assintomáticas (como glaucoma e populações com baixo nível de escolaridade.6
retinopatias) que aumentam com o envelhecimento.21 Este Por fim, cabe ressaltar que, apesar da idade relativamente
estudo sugere ainda a dificuldade de acesso à avaliação baixa da população, a proporção de idosos que relatou
oftalmológica comum nos países em desenvolvimento.22 quedas assemelha-se à observada internacionalmente.25 As
Com referência às consequências da presença de quedas frequentemente são um marcador de fragilidade. A
problemas no domínio da audição, os dados deste estudo elevada frequência de quedas observada corrobora a hipó-
Envelhecimento bem-sucedido e funcionalidade | 17
tese discutida anteriormente de que o envelhecimento da envelhecer com fragilidade pode ser mais grave nessa popu-
população idosa se associa a elevado risco – potencialmente lação, da qual dois de cada três idosos poucas vezes ou nunca
reversível – de agravos como fraturas, neoplasias, pneumo- recorrem à família quando acometidos de problemas de
nias e doenças cerebrovasculares. saúde ou emocionais. Esse dado surpreendente coloca em
Conclui-se também que cerca de 2/3 dos homens e 4/5 das cheque a visão de que demandas associadas ao envelheci-
mulheres apresentavam problemas em pelo menos seis domí- mento populacional nos países em desenvolvimento pode-
nios, caracterizando a polipatologia precursora da fragilidade. riam ser contempladas pelos fortes elos familiares, o que
Considerado neste estudo como ausência de problemas em alerta para a necessidade crescente de sistemas de suporte
múltiplos domínios, o envelhecimento bem-sucedido parece formais que suplementem o cuidado familiar.
ser uma prerrogativa de idosos do sexo masculino, mais A comparação dos instrumentos de avaliação rela-
jovens ou de melhor escolaridade (Tabela 5). Na realidade, tivos à dependência nas AVDs ampliou as possibilidades
esses resultados podem refletir um viés de mortalidade:2,25 por de escolha do instrumento ideal para a população geral.
serem mais frágeis, os homens faleceriam precocemente; as A utilização de um instrumento com melhor reproduti-
mulheres sobreviveriam com incapacidades.26,27 A associação bilidade interobservador e intraobservador, adequado e
independente entre sexo feminino e necessidade de auxílio validado para a nossa população, que consiga englobar os
para realizar AVDs ou possível depressão reforça essa hipó- domínios que estão diretamente relacionados à indepen-
tese.28 Digno de nota é o fato de que, na população estudada dência e à autonomia do idoso, traduz com maior fide-
aqui, as mulheres parecem usufruir mais dos escassos serviços dignidade a saúde dessa população. Verificou-se, porém,
públicos de saúde, como o rastreamento de neoplasias, o que que a confiabilidade dos questionários pode ser mais bem
certamente contribui para a sua longevidade. avaliada por outros estudos, adequando o tempo entre o
A associação entre envelhecimento bem-sucedido e intervalo das repetições dos instrumentos a uma duração
maior escolaridade possivelmente se relaciona com o perfil que minimize o surgimento de condições agudas que
favorável dos idosos de maior renda, observado em quase interfiram na percepção de capacidade do próprio idoso.
todos os domínios. A associação inversa entre envelheci- Embora este estudo tenha sido realizado em 2001,
mento bem-sucedido e classe econômica baixa não alcançou estudos atuais poderão corroborar a situação nos dias de
significância estatística. Entretanto, o grupo pesquisado hoje e verificar a adequação do instrumento.
apresentou desvantagens nos domínios da visão, audição,
saúde bucal, depressão, quedas e dependência acentuada. C O N C L U S ÃO
A elevada proporção de idosos imunizados contra
tétano, febre amarela e influenza – vacinas gratuitas nas Os idosos apresentam elevada prevalência de problemas
campanhas –, mas não contra pneumonia, é um indício de saúde. A maior expectativa de vida em mulheres não se
da importância do Estado na redução da desvantagem associou a ganho de expectativa de vida livre de incapaci-
dos idosos de menor renda. dade. O envelhecimento bem-sucedido pode ser privilégio
Em última análise, este estudo sugere que o envelheci- de classes mais favorecidas.
mento bem-sucedido será privilégio dos grupos de maior
renda, como já observado em outros países.29,30 Portanto, para
idosos relativamente jovens, mas que apresentem elevada C onflito de interesse
prevalência de fatores de risco para dependência, as chances Os autores declaram não possuir nenhum conflito de
de envelhecimento saudável são menores. A perspectiva de interesse na sua realização e Públicação.
R eferências
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Artigo
Capacidade funcional original
em idosos | 19
Res umo
Palavras‑chave Objetivos: O presente estudo objetivou avaliar a capacidade funcional, identificar os fatores associados à depen-
Saúde do idoso, dência para a realização das atividades instrumentais da vida diária (AIVD) e descrever o perfil sociodemográfico
envelhecimento, e de saúde dos idosos. Métodos: Trata-se de um estudo transversal realizado com idosos residentes em Joinville
atividades (SC). Foi aplicado um questionário para obtenção dos dados e utilizada a escala de Lawton para a avaliação da capa-
cotidianas. cidade funcional. Para a análise estatística utilizou-se o teste qui-quadrado, considerando-se o nível de significância
de 0,05. Resultados: A amostra foi composta por 935 idosos, sendo 57,3% do sexo feminino, 57,9% na faixa etária
entre 60 e 69 anos, 26,2% analfabetos, 57,4% vivendo em união estável, 84,3% sem exercer atividade remunera-
da e 98,1% com algum problema de saúde autorreferido. Observou-se que 73,2% não possuíam plano de saúde.
Verificou-se que 49,2% apresentaram algum grau de dependência para realizar as AIVD. Conclusões: Os fatores
associados à dependência foram analfabetismo, não ser casado, idade, hipertensão, diabetes, cardiopatia, pneumo-
patia, câncer, problemas de memória, incontinência urinária, incontinência fecal, quedas e qualidade de vida. Esses
resultados apontam que o grupo estudado caracteriza-se por população de idosos jovens, usuários do Sistema Único
de Saúde, com múltiplas comorbidades, quase a metade apresentando algum prejuízo na capacidade funcional. As-
sim, o sistema de saúde necessita compreender a realidade desses idosos, a fim de identificar as possíveis situações
de risco para dependência e planejar de forma adequada o atendimento integral.
a
Mestre em saúde e meio ambiente pela Universidade da Região de Joinville (Univille).
b
Pós-doutora pela Universitat Rovira i Virgili, Espanha.
c
Doutor em ciências (Patologia e Informática Médica), Universidade de São Paulo (USP).
prevenindo assim os fatores de risco que aceleram o O instrumento de coleta de dados foi um questio-
processo incapacitante. Quando se avalia a funcionalidade nário estruturado com 27 perguntas que abordavam
dos idosos pode-se determinar o grau de dependência que aspectos sociodemográficos, condições de saúde e utili-
poderá definir os cuidados específicos necessários para o zação dos serviços de saúde.
atendimento desses pacientes. Quanto maior o grau de Para avaliação da capacidade funcional foi utilizada
dependência da pessoa idosa, maiores serão as necessi- a escala de Lawton modificada por Freitas et al.,16 que
dades dela e, por consequência, maior o impacto finan- avalia as AIVD e classifica como independente o idoso
ceiro para a família e para o sistema de saúde. que apresenta Lawton igual a 27 pontos e dependente
Algumas lacunas ainda permanecem no conheci- aquele que apresenta pontuação menor que 27.
mento sobre os fatores determinantes da capacidade A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em
funcional em nosso país, como a influência do nível Pesquisa da Univille (processo no 62/09).
socioeconômico, de aspectos culturais e do contexto Os dados dos questionários foram transcritos para
assistencial do Programa de Saúde da Família. Estudos um banco de dados criado no MS-Excel (v. 2003). Para
multicêntricos de base domiciliar em diferentes municí- garantir a qualidade da transcrição, após serem digitados
pios poderiam propiciar esse conhecimento. O presente os dados de cada questionário foram conferidos por outro
estudo teve como objetivos avaliar a capacidade funcional digitador. Para a análise estatística dos dados utilizaram-
de idosos, descrever o perfil sociodemográfico e identi- se os softwares EpiInfo (v. 6.04) e SPSS (v. 13.0).
ficar os fatores associados à dependência. Acredita-se Para a apresentação das características gerais da
que os resultados poderão fornecer subsídios para um amostra foram utilizados a média e o desvio-padrão para
redimensionamento das ações de saúde voltadas para as variáveis quantitativas contínuas e a análise de frequên-
esse grupo populacional com base no princípio da inte- cias (absoluta e relativa) para as variáveis qualitativas.
gralidade do atendimento em saúde. Na análise preliminar dos dados por histograma e
teste de Kolmogorov-Smirnov, observou-se a inexis-
Métodos tência de distribuição normal ou simétrica para a variável
Trata-se de um estudo transversal, do tipo inquérito dependente (escore de Lawton), o que fundamentou sua
domiciliar, realizado com pessoas com idade igual ou descrição pelo uso da mediana e intervalo interquartil
superior a 60 anos, atendidas por equipes que atuam em e a aplicação de estatística não paramétrica pelo qui-
unidades de saúde da família localizadas no município quadrado (e teste exato de Fisher, quando aplicável) para
de Joinville, no Estado de Santa Catarina, entre os meses o estudo da associação bivariada entre esse desfecho e as
de maio e Outubro de 2009. variáveis independentes. Para tanto, o escore de Lawton
As unidades utilizadas como ambiente de pesquisa foi categorizado para fins de descrição da amostra como
foram selecionadas por conveniência, com base no “dependência total” (Lawton = 9), “dependência parcial”
acesso facilitado ao campo de pesquisa e na disponibili- (9> Lawton <27) ou “independência” (Lawton = 27).
dade de informações cadastrais básicas dos clientes e de Para fins de análise de associação com outras variáveis,
equipe qualificada para a coleta de dados. Tais unidades o mesmo escore foi também categorizado em “depen-
situam-se na periferia do município e oferecem cober- dente” (Lawton <27) ou “independente” (Lawton = 27).
tura assistencial a um total de 16.214 habitantes e 945 Já a variável idade, por apresentar distribuição próxima
idosos cadastrados, em áreas de maior vulnerabilidade da normalidade, teve sua associação com a variável
social e dificuldades de acesso aos serviços urbanos e aos dependente verificada pelo teste t para amostras inde-
serviços de saúde de média e alta complexidade. Foram pendentes, mas também por testes não paramétricos,
selecionadas por serem locais de práticas de ensino dos de forma categorizada por faixas etárias, para fins de
alunos do curso de Medicina da Universidade de Join- melhor compreensão. Para fins de estatística analítica,
ville (Univille) e possuírem preceptores que supervi- foi considerado o nível de significância de 0,05.
sionam as atividades acadêmicas e de pesquisa. Considerado o desfecho de resposta binária, optou-se
Um estudo piloto prévio foi realizado em pequena pela aplicação de modelo de regressão logística na análise
amostra da população não pertencente ao estudo, para multivariada, com a inclusão, em bloco único, das variá-
ajustar o vocabulário e esclarecer as possíveis dúvidas veis independentes que apresentavam p ≤0,10 na análise
dos entrevistadores. bivariada. O teste de Wald foi utilizado para avaliar a
A coleta ocorreu nos domicílios dos idosos, durante contribuição individual das variáveis para o desfecho, e
as visitas mensais dos agentes comunitários de saúde e a chance de ocorrência do desfecho com a alteração dos
foi realizada por 20 acadêmicos de Medicina, treinados e preditores foi avaliada pela razão das chances e seu respec-
supervisionados pelo pesquisador. Considerou-se como tivo intervalo de confiança. Os testes Omnibus (p <0,05) e
perda o caso do idoso não ser encontrado após três de Hosmer e Lemeshow (p ≥ 0,05) foram utilizados para
visitas sucessivas. Foram também excluídos do estudo os verificar a vantagem da aplicação do modelo final, em
idosos com incapacidade de comunicação. comparação com o acaso, para explicar a relação entre a
22 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
variável dependente e as independentes. A análise de resí- Apesar de a maioria dos idosos ser alfabetizada
duos foi utilizada para verificar a eficácia do modelo de (73,8%), destacou-se a existência de uma parcela impor-
regressão em explicar as associações na amostra estudada. tante de idosos analfabetos (26,2%). A maioria não desen-
volvia qualquer tipo de atividade remunerada (84,3%) e
Análise da representatividade da amostra
não possuía cobertura de plano privado de saúde (73,2%).
Na tentativa de estimar as diferenças entre a amostra e a
Com relação às condições de saúde autorreferidas,
população idosa de Joinville e consubstanciar a discussão
observou-se que a grande maioria (98,1%) relatou
acerca das limitações do processo amostral utilizado com
algum problema de saúde (Tabela 2). Dentre os prin-
relação à generalização dos resultados, foram comparadas
cipais problemas relatados, os mais frequentes foram
a posteriori algumas das características gerais da amostra
hipertensão arterial, diabetes, problemas cardíacos,
com aquelas disponíveis da população idosa do muni-
problemas pulmonares, problemas de memória,
cípio, segundo dados públicos do último censo popula-
incontinência urinária e câncer. A ocorrência de
cional (IBGE, 2010). Os dados disponíveis permitiram a
quedas no último ano foi relatada por menos de um
comparação das seguintes características: gênero, distri-
quinto dos indivíduos entrevistados.
buição por faixa etária e frequência de analfabetismo.
Tabela 2 Perfil de saúde dos idosos. Joinville, 2009 (n=935)
Resultados Características N %
Dos 945 sujeitos elegíveis para o estudo, 10 foram consi-
Problemas de saúde
derados como perdas e nenhum outro recusou-se a
Sim 935 98,1
participar do estudo.
Não 18 1,9
Foram incluídos no estudo 935 idosos, cujas caracte-
Hipertensão
rísticas sociodemográficas são mostradas na Tabela 1. Os
idosos participantes do estudo estavam na faixa etária entre Sim 631 67,5
60 e 96 anos, com idade média de 69,2 anos (DP = 7,2). Não 304 32,5
Quanto ao uso de medicamentos, a maioria dos formada foram excluídos dessa fase de análise
idosos (80,7%) relatou fazer uso diariamente. Apenas devido à intrínseca relação dessas variáveis com o
12,6% dos entrevistados referiram ter sido hospitali- desfecho estudado (Tabela 5).
zados nos 12 meses anteriores à entrevista.
Na avaliação da capacidade funcional por meio da apli- Tabela 4 Perfil de saúde dos idosos e capacidade funcional. 2009 (n = 935)
cação da escala de Lawton, 49,2% dos idosos apresentavam- Características Dependência Independência p
se com algum grau de dependência (Lawton <27) para as Hipertensão 0,021
atividades cotidianas. A mediana do escore de Lawton foi Sim 327 51,82% 304 48,18%
de 27 (intervalo interquartil = 4).
Não 133 43,75% 171 56,25%
A comparação entre idosos dependentes (Lawton
Diabetes 0,041
< 27) e independentes (Lawton = 27), com relação às
Sim 121 24,30% 377 75,70%
variáveis sociodemográficas, mostrou diferença esta-
tisticamente significativa para os idosos de mais idade, Não 339 77,57% 98 22,43%
Moro acompanhado 411 48,70 433 51,30 Sim 102 64,56% 56 35,44%
Incontinência
Com relação ao perfil de saúde, observou-se-que a depen- urinária 0,765 9,640 0,002 2,149 1,326-3,484
dência esteve associada com todos os problemas referidos Incontinência
pelos idosos, exceto com as hospitalizações (Tabela 4). fecal 1,041 5,231 0,022 2,833 1,161-6,915
Na análise multivariada por regressão logística, Quedas 0,587 9,086 0,003 1,798 1,228-2,632
restaram significativamente associadas com a Idade 0,094 73,662 0,000 1,099 1,075-1,123
dependência as variáveis idade, analfabetismo,
incontinência urinária, incontinência fecal e o Constante -6,85 82,46 0,000 0,001
relato de quedas. Ressalte-se que o exercício de RC: razão das chances; IC 95% RC: intervalo de confiança de 95% da razão das
atividade remunerada e a qualidade de vida autoin- chances; Wald: teste de Wald
24 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Ao serem comparadas as características da amostra Nesses estudos foi evidenciado predomínio de mulheres
estudada com as da população de idosos de Joinville, entre os indivíduos com perda da capacidade funcional,
segundo dados do IBGE (2010), verificou-se haver possivelmente devido à maior expectativa de vida
menor proporção de idosos na amostra (5,4% versus das mulheres e, portanto, maior risco de desenvolver
8,8%, p <0,001). A amostra foi semelhante à do muni- doenças crônicas incapacitantes do envelhecimento.3,23
cípio quanto ao gênero e à distribuição dos idosos por A escala de Lawton se mostrou um instrumento passível
faixa etária, porém observou-se maior taxa de analfabe- de ser aplicado com certa facilidade na AP, permitindo a
tismo na amostra (26,2% versus 9,3%, p <0,001). identificação de pacientes com evidências de perda da capa-
cidade funcional e, a partir disso, a elaboração de um plane-
D iscuss ão jamento individual e coletivo para a manutenção da melhor
Considerando-se as características da subpopulação qualidade de vida possível. Considerando que os gastos com
estudada, residente em área de baixa renda, o achado de a saúde, em especial aqueles relativos aos agravos dos idosos
que seus idosos, em sua maioria, não exercem atividade com dependência, representam uma grande parcela despen-
remunerada e moram com algum familiar é importante dida pelo sistema de saúde, investir no âmbito do diagnós-
para o planejamento da sua inserção em programas tico precoce, dentro das equipes de AP, por intermédio de
e estratégias de prevenção e assistência à saúde, pois a métodos simples como é a escala de Lawton, poderia repre-
evidência de que vivem em um contexto familiar e em sentar uma economia para o sistema e benefícios em saúde
domicílios multigeracionais permite abordagem sistê- para os idosos. Essa é uma área de pesquisa que ainda não está
mica e familiar para que sejam atingidos todos os níveis suficientemente explorada em nosso país e mesmo em países
de prevenção e promoção da saúde. desenvolvidos. Estudos de prevalência da dependência em
Apesar de a maioria dos idosos ser alfabetizada, idosos são escassos no mundo todo.28 Os autores referem que
observou-se importante contingente de analfabetos estudos europeus e norte-americanos vêm sendo realizados
(26,2%), em proporção maior que a do município (9,3%), com maior frequência em pacientes institucionalizados, mas
consideradas as diferenças metodológicas entre o presente ainda são pouco aplicados na APS. Estudos populacionais de
estudo e o censo do IBGE. Tal diferença pode ser justificada rastreio para indentificar pacientes com déficit na capacidade
pelo fato de a população estudada residir em regiões de funcional ainda são pouco utilizados.29
nível socioeconômico mais baixo que a média de Joinville. Quando analisados quanto à capacidade funcional,
É bem conhecida a relação entre baixa condição quase a metade da população idosa estudada apresentou
econômica e elevadas taxas de analfabetismo, e que os algum grau de dependência. A alta prevalência, também
níveis mais elevados de instrução levam a melhor acesso semelhante em outros estudos brasileiros, deve ser
e utilização dos serviços e recursos, além de maior considerada para que se possa atuar de forma preventiva
conhecimento de como evitar os fatores de risco para na tentativa de evitar ou postergar, quando possível, a
a saúde ao longo da vida.23-25 Portanto, o livre acesso à dependência total desses pacientes.9
informação, viabilizado pela alfabetização, parece ser Os idosos com idade mais elevada apresentaram
por si um fator facilitador da autonomia e redução da maior prevalência de dependência funcional, o que é
dependência do idoso. A taxa de analfabetismo na região bastante óbvio e evidencia o efeito do declínio natural
de cobertura deve ser considerada pelas equipes de saúde das funções orgânicas do indivíduo sobre a redução da
que atuam na atenção primária (AP), a fim de que sejam capacidade funcional.12
garantidos o entendimento sobre a doença, o tratamento As doenças crônicas são consideradas fatores asso-
a ser seguido e o acompanhamento da saúde. ciados à perda da capacidade funcional. Alves et al.29
Assim, o analfabetismo constitui um marcador de encontraram maior prevalência de dependência entre
risco, e as equipes de saúde devem estar atentas para os pacientes portadores de doença cardíaca, hiper-
reconhecer previamente esses idosos e prestar a eles e tensão, doença pulmonar e artropatias. No presente
suas famílias uma atenção diferenciada, visando evitar estudo encontrou-se associação significativa com depen-
má compreensão, confusão e até prejuízos ao tratamento. dência em pacientes portadores de hipertensão, diabetes,
Sugere-se que ações interdisciplinares com profissionais problemas pulmonares, problemas cardíacos, problemas
da área da educação possam ser realizadas com esses de memória, câncer, incontinência urinária, incontinência
idosos, a exemplo dos programas de alfabetização para fecal e quedas, dados que coincidem com a literatura.22,28,29
os idosos na comunidade e, assim, reduzir os índices de As quedas estão diretamente associadas à perda da
analfabetismo e diminuir os riscos para dependência. capacidade funcional nos pacientes idosos, seja como
Embora tenha sido observado discreto predomínio consequência, seja como fator causal, pois podem, por
do gênero feminino na amostra estudada, essa caracte- si só, levar à perda da funcionalidade, que pode também
rística não se mostrou relacionada com a dependência tornar-se um fator de risco para novas quedas e, assim,
para a execução de atividades cotidianas, diferentemente trazer mais prejuízos e maior dependência.23
do observado em estudos nacionais e internacionais.26-29 A incontinência urinária e a incontinência fecal foram
Capacidade funcional em idosos | 25
situações clínicas que apresentaram associação com a perda este estudo poderá servir de base para futuras pesquisas
da capacidade funcional. Um estudo espanhol relatou que, que venham a investigar outros importantes aspectos rela-
na população estudada, 1 em cada 3 idosos acima de 64 cionados à incapacidade funcional dos idosos no Brasil.
anos tinha incontinência urinária. Outros estudos seme- Por meio do procedimento de análise da representati-
lhantes também encontraram elevada prevalência (20,8%) vidade da amostra para a população do município de Join-
e relataram associação de incapacidade funcional com ville, observou-se haver semelhança entre os dois grupa-
incontinência urinária. Segundo os autores, a prevalência mentos para as características gênero e distribuição por
de incontinência urinária entre os idosos pode chegar faixa etária, o que permite concluir que, para essas variáveis,
a 30%, sendo um importante fator associado à depen- a população estudada nas áreas de abrangência de equipes
dência.30 Portanto, diagnosticar e tratar o problema poderá de saúde da família pode ser representativa do município
ter impacto positivo na vida dos pacientes. de Joinville. Entretanto, é necessário cautela na generali-
A influência da situação econômica sobre a capacidade zação dos resultados, visto que outras características não
funcional ainda não está bem estabelecida. O baixo nível foram comparadas por indisponibilidade de dados.
socioeconômico e a presença de desigualdades sociais A escolha da amostragem por conveniência pode ser
levam à deficiência na oferta de serviços, como saúde e indicada como limitação do estudo para fins de generalização
educação, podendo influenciar na saúde e na perda da porque, apesar das semelhanças demonstradas com a popu-
capacidade funcional dos indivíduos. No presente estudo, lação de Joinville para algumas variáveis, os dados disponí-
embora o perfil socioeconômico não tenha sido detalha- veis para comparação não foram suficientes para comprovar
damente avaliado, a maioria dos idosos é aposentada e não a representatividade da amostra de forma mais ampla.
exerce nenhum tipo de atividade remunerada. Há estudos Da mesma forma, cumpre lembrar que o envelheci-
que mostram menor frequência de perda de capacidade mento populacional brasileiro não tem sido homogêneo,
funcional entre idosos que trabalham, supondo que idosos sendo mais evidente nas áreas mais desenvolvidas do
que trabalham são mais independentes e saudáveis.12 país, comparado com Joinville, que possui esperança de
Quanto à utilização dos serviços de saúde, a maioria vida ao nascer de 74,5 anos, acima da média nacional de
dos casos estudados é de usuários do Sistema Único de 72,4, é um representante industrializado da Região Sul
Saúde. Embora não esteja bem estabelecida a relação e, nesse contexto, recomenda-se que sejam analisados os
entre possuir plano de saúde privado e capacidade resultados do presente estudo.
funcional, há estudos que mostram que os pacientes A escassez de trabalhos nacionais e internacionais
portadores de plano de saúde suplementar, por terem dessa natureza, que avaliem a capacidade funcional e
acesso facilitado aos serviços de saúde e mais fácil adesão seus fatores associados, também dificulta a comparação
aos tratamentos, provavelmente teriam maior chance de com os achados.
ter melhor capacidade funcional.13 Algumas dificuldades na execução do questionário
Com relação à autopercepção da qualidade de vida, devem ser consideradas, uma vez que nem todos os idosos
embora significativamente associada à presença de apresentam entendimento claro sobre as perguntas e,
dependência, observou-se que mesmo apresentando muitas vezes, necessitam de ajuda de algum familiar para
algum grau de dependência, grande número de idosos complementar as respostas. Essas dificuldades também são
considera possuir boa qualidade de vida. Sabe-se que citadas por alguns autores em trabalhos semelhantes.12,13
a autoavaliação do estado de saúde é uma variável
preditora de incapacidade funcional, refletindo uma C oncl u s ão
percepção integrada do indivíduo, e inclui dimensões A capacidade funcional vem demonstrando ser um
biológicas, social e psicossocial.12 marcador de saúde da população idosa, e sua avaliação
Alguns estudos mostraram haver associação entre permite identificar indivíduos em risco, traçar estra-
hospitalizações e perda da capacidade funcional, suge- tégias de prevenção de agravos e retardar a perda da
rindo que os idosos tornam-se mais vulneráveis ao declínio capacidade funcional. No nível assistencial da atenção
funcional e à dependência após períodos de hospitaliza- primária, a disponibilidade de instrumentos práticos,
ções.13 O presente estudo falhou em demonstrar tal asso- simples e de baixo custo, capazes de medir a capa-
ciação, talvez porque os detalhes temporais dos antece- cidade funcional dos idosos, tal como a escala de
dentes de internação não tenham sido alvo de análise. Lawton, é uma necessidade para a melhor gestão da
Os resultados da regressão logística sugerem que atenção a esse grupo populacional.
incontinência urinária e fecal, quedas, analfabetismo e Sugere-se que o sistema de saúde seja organizado
idade são fatores associados ao comprometimento da para atender as necessidades dos idosos, o que demanda
capacidade funcional, mas não devem ser utilizados para melhor conhecimento da realidade em que eles estão
inferências causais, em função do desenho metodológico inseridos, além de reorganização do processo de trabalho
utilizado. Estudos longitudinais poderão demonstrar com em equipes multidisciplinares, fundamentada nos prin-
melhor clareza uma eventual relação causal. Desse modo, cípios da prevenção e promoção da saúde do SUS, e do
26 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
atendimento humanizado e integral à saúde. evolução da dependência ao longo dos anos e sua possível
Novos estudos utilizando desenhos prospectivos associação com fatores não estudados aqui, como estado
poderiam possibilitar melhor compreensão sobre a psicológico, perdas afetivas e carências materiais.
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Artigo
Perfil de idosos com câncer no original
SUS | 27
Res umo
Palavras‑chave Objetivos: Avaliar a relação entre status social e acesso ao tratamento antineoplásico em idosos com câncer. Métodos:
Idoso, Esse estudo avaliou algumas características sociodemográficas (idade, sexo, IDH-M, distância entre município
neoplasias, de origem e Campinas) dos idosos com neoplasia atendidos em três unidades do complexo hospitalar da Unicamp
terapêutica, (Campinas, SP), para traçar um perfil regional dessa classe de enfermidades nos idosos, além de avaliar, indiretamente,
evolução a qualidade da assistência oferecida aos mesmos. Os dados sociodemográficos foram confrontados com o tempo entre
clínica, nível a primeira consulta na Unicamp e o início do tratamento. Foram analisados os registros de idosos, de ambos os sexos,
socioeconômico. com diagnóstico de câncer, atendidos no Gastrocentro, Hemocentro ou Hospital de Clínicas/Unicamp, entre janeiro
de 2000 e julho de 2010. Os dados foram obtidos do Serviço de Estatística do Câncer da Fundação Oncocentro de
São Paulo. Resultados: Dos 5.891 registros avaliados, 66,3% eram de homens; 48,8% tinham entre 60 e 69 anos;
67,1% provinham de municípios que distavam, no máximo, 50 km de Campinas; 65,3% provinham de municípios
com IDH-M entre 0,707 e 0,740. IDH-M (p = 0,003) e distância entre município de origem e Campinas (p = 0,019)
mostraram associação com o tempo entre a primeira consulta e o início do tratamento antineoplásico. Conclusão:
Este estudo evidencia a relevância dos fatores sociais no que se refere ao acesso ao tratamento antineoplásico em idosos.
a
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Gerontologia, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas
(FCM/Unicamp). Coleta dos dados; análise dos dados; redação do artigo.
b
Aluna de graduação bolsista Pibic, FCM/Unicamp. Coleta dos dados; análise dos dados; redação do artigo.
c
Docente do Programa de Pós-graduação em Gerontologia, FCM/Unicamp. Elaboração do projeto; análise dos dados.
d
Docente do Programa de Pós-graduação em Gerontologia, FCM/Unicamp. Elaboração do projeto; análise dos dados; redação do artigo.
valores de média, desvio-padrão, erro-padrão, valor máximo, Quanto ao tempo entre a primeira consulta na
valor mínimo e mediana. Para fins dessa pesquisa, os valores Unicamp e o início do tratamento para o tumor (tempo
da variável IDH-M foram divididos em quatro categorias, delta), verificou-se grande oscilação. Excetuando-se os
distribuídos da seguinte forma: valores <0,707; valores entre 760 pacientes que não foram tratados, o tempo médio
0,707 e 0,740; valores >0,740. Para a variável “distância entre entre a primeira consulta e o início do tratamento no
o município de origem e o município de Campinas”, avaliada complexo hospitalar da Unicamp foi de 64,92±78,72
em quilômetros, foram utilizadas as seguintes categorias: zero dias, com erro-padrão de 1,099 dia e mediana de 43
(para os que residiam no próprio município) até 30 km; 31 a dias, tendo como valores mínimo e máximo 0 e 1.557
50 km; 51 a 100 km; 101 a 200 km; >200 km. dias, respectivamente.
O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Não se encontrou relação entre sexo e tempo delta
Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (p = 0,236), tampouco entre faixa etária e tempo delta
e aprovado com Parecer no 256.673. (p = 0,796). Contudo, tanto para distância entre o
município de origem e Campinas como para IDH-M,
R es ultados verificou-se associação com tempo delta, conforme
Considerando-se as variáveis sociodemográficas, os apresentado na Tabela 3.
resultados obtidos evidenciaram que, de um total de
5.891 registros avaliados, 66,3% (3.908) eram de idosos
do sexo masculino. Quanto à faixa etária, 48,8% (2.873) Tabela 3 Relação entre delta tempo e distância entre município de
estavam entre 60 e 69 anos, 38,3% (2.254) entre 70 e 79 origem e Campinas, e IDH-M (5.891 idosos – Serviço de Estatística do
anos e 13% (764) tinham 80 anos ou mais. Câncer/Unicamp)
Na Tabela 1, encontra-se a distribuição da população Distância do município de Delta tempo (dias)
origem até Campinas (km)*
estudada segundo a distância entre o município de origem (µ ± EP) MED
e Campinas, e segundo o IDH do município de origem. 0 (N: 1.193) 66,30 ± 2,75 39,09
Até 30 (N: 870) 67,31 ± 2,28 50,00
Tabela 1 Distribuição da amostra segundo distância entre município 31 a 50 (N: 1.411) 65,96 ± 2,11 46,50
de origem e Campinas, e IDH-M (5.891 idosos – Serviço de Estatística 51 a 100 (N: 1.062) 61,46 ± 2,09 41,38
do Câncer/Unicamp)
101 a 200 (N: 541) 59,71 ± 2,99 39,78
Distância do município de
N % >200 (N: 54) 88,39 ± 13,33 60,00
origem até Campinas (km)
0 1315 22,3 IDH-M**
idosos tinham morrido em decorrência do tumor. Desenvolvimento Humano) e/ou que se encontravam
Segundo dados da literatura, a sobrevida em relação mais distantes do município onde se localizava o
à doença neoplásica sofre influência das caracterís- serviço de saúde onde deveriam realizar o tratamento
ticas próprias de malignidade de cada tipo de tumor, (complexo hospitalar da Unicamp).
da possibilidade maior ou menor de um diagnóstico É preciso destacar, ainda, que o tempo zero para o
precoce e da existência e acesso a um tratamento início do tratamento, verificado neste estudo, pode
eficaz. Por outro lado, a sobrevida relativa esperada dever-se aos idosos que vieram encaminhados para
para todos os cânceres é de aproximadamente 50% o tratamento antitumoral, para os quais a primeira
em 5 anos para todas as faixas etárias. 6 Entretanto, consulta no complexo hospitalar da Unicamp já tinha
em função das características da presente pesquisa, esse fim. Estes, muito possivelmente, se beneficiaram de
não se dispõe dos dados de mortalidade em 5 anos. procedimentos diagnósticos que permitiram evidenciar
Quanto ao tempo registrado entre a primeira mais precocemente o quadro neoplásico, o que possibi-
consulta na Unicamp e o início efetivo do tratamento lita maior chance de cura e/ou controle da doença.11
antitumoral, no presente estudo registrou-se média de Quanto ao tempo superior a 3 anos para o início
64,92 dias. Por sua vez, o Ministério da Saúde, em 16 do tratamento, pode-se supor que ele se relacione aos
de maio de 2013, baixou a Portaria no 876, que trata do tumores de caráter indolente, que habitualmente são
primeiro tratamento do paciente portador de neoplasia acompanhados até que se faça necessário intervir com
maligna, em nível do Sistema Único de Saúde, determi- terapêutica adequada.
nando que o prazo máximo do mesmo não exceda 60 Finalmente, em relação aos 760 idosos não tratados,
dias.7 Dessa forma, verifica-se que o complexo hospi- é bastante provável que entre os mesmos estivessem
talar da Unicamp aproxima-se dessa meta do governo aqueles com tumor de caráter indolente para os quais se
federal, mesmo em período anterior à promulgação da recomendou acompanhamento ou, ainda, em situação
Portaria (década de 2000 a 2010). clínica muito grave, fora de perspectiva terapêutica, aos
No presente estudo, é importante destacar que não se quais se ofereceram apenas cuidados paliativos.
registrou associação das variáveis “faixa etária” e “sexo” Há que se registrar também que o estudo apresentou
com o tempo entre a primeira consulta na Unicamp e uma limitação associada à qualidade dos registros de
o início do tratamento do tumor. Esse achado sugere casos de neoplasia: foi expressivo o número de casos
que, muito provavelmente, os indivíduos em faixa etária em que os dados estavam incompletos. Além disso,
mais avançada, que também são mais frágeis e mais neste registro não constam duas variáveis sociais muito
suscetíveis a enfermidades crônicas, com maior carga de significativas em termos de estudo de população idosa:
morbimortalidade,8-10 não recebem tratamento diferen- escolaridade e renda. Também não consta do registro
ciado em relação ao quadro neoplásico, o que aumenta a a variável “comorbidades”. As três podem ter relação
probabilidade de ocorrer evolução desfavorável.11 tanto com o acesso ao tratamento antineoplásico como
Além disso, há que se considerar também que o largo à evolução dos pacientes idosos.
predomínio de homens neste estudo se deve, muito prova-
velmente, às características da população atendida nos C oncl u s ão
três serviços da Unicamp, de onde foram coletados os Dessa forma, verifica-se que os achados deste
dados, já que foi excluído do estudo o Centro de Atenção trabalho permitem ressaltar a relevância dos indica-
Integral à Saúde da Mulher (CAISM), onde são atendidas, dores sociais (distância entre o município de origem
predominantemente, as neoplasias ginecológicas. e o local de tratamento, IDH-M) no que se refere ao
Também se verificou associação do tempo entre acesso ao tratamento antineoplásico na população
a primeira consulta na Unicamp e o início do trata- idosa. Embora se trate de um estudo de abrangência
mento com o IDH-M e com a distância do município regional, pode-se cogitar a existência de influência
de origem em relação a Campinas. Recentemente, similar em outras regiões do país.
registrou-se em estudo brasileiro realizado no muni- Decorre daí a necessidade de avaliar e considerar
cípio de Campinas que as condições sociais e a renda esses indicadores na elaboração de estratégias passí-
familiar covariam com vulnerabilidade na velhice, veis de serem aplicadas em serviços de referência que
mostrando-se associação das mesmas com maior integram o Sistema Único de Saúde e que viabilizem a
número de doenças crônicas, incapacidade funcional, detecção de maior risco de vulnerabilidade, bem como
pior percepção da saúde e menor acesso aos serviços de facilitação de acesso aos recursos de tratamento para
de saúde.12 Também na presente pesquisa verificou- idosos portadores de neoplasia.
se que foi maior o tempo para o início do tratamento
antitumoral entre os idosos que eram provenientes de C onflito de interesse
municípios com níveis mais baixos de renda, escola- Os autores declaram não ter conflito de interesse em
ridade e saúde (principais constitutivos do Índice de relação ao presente estudo.
Perfil de idosos com câncer no SUS | 31
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Artigo originalGERIATRIA & GERONTOLOGIA
32 | REVISTA
Risco nutricional em
pacientes idosos hospitalizados como
determinante de desfechos clínicos
R es umo
Palavras‑chave Introdução: A desnutrição afeta tanto a condição clínica do paciente como também aumenta o risco de compli-
Idoso, risco cações em idosos, sendo responsável por contribuir com o aumento do tempo de hospitalização e a taxa de
nutricional, morbimortalidade dessa faixa etária. Objetivo: Estudar a associação do risco nutricional e desfechos clínicos em
desfecho clínico. idosos internados em unidade de clínica médica em hospital privado do Rio de Janeiro. Materiais e métodos:
Estudo longitudinal prospectivo, com 116 pacientes idosos. Nas primeiras 72 horas após a admissão hospitalar foi
aplicado o questionário Triagem de Risco Nutricional (NRS-2002), coletados dados antropométricos, como peso e
altura e diagnóstico clínico, e dados de desfechos clínicos no final da internação (óbito, infecção e tempo de inter-
nação). Os dados foram avaliados em programa estatístico SPSS e foi considerada significância <5%. Resultados:
Verificou-se que 39,6% dos pacientes apresentaram risco nutricional no momento da admissão hospitalar. Os paci-
entes em risco nutricional eram mais idosos, apresentaram índice de massa corporal (IMC) menor (p <0,05) e
chance três vezes maior de óbito. Os pacientes que ficaram internados por tempo prolongado (>13 dias) apresentam
chance três vezes maior de desenvolver infecção e ir a óbito. Conclusão: Os pacientes em risco nutricional tiveram
maior risco de complicações e maior tempo de internação, infecção e óbito.
a
Pós-graduada em terapia nutricional, Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Redação do conteúdo intelectual, coleta dos dados.
b
Professora assistente de nutrição clínica, UERJ. Concepção e delineamento do estudo, análise e interpretação dos dados, revisão crítica rele-
vante do conteúdo intelectual do manuscrito e aprovação final da versão a ser publicada.
c
Professora adjunta de nutrição clínica, UERJ. Concepção e delineamento do estudo, análise e interpretação dos dados, revisão crítica relevante
do conteúdo intelectual do manuscrito e aprovação final da versão a ser publicada.
Tabela 1 Características da população de acordo com as variáveis Figura 1 Risco nutricional e realização de terapia nutricional segundo
estudadas a classificação de idosos
Dados avaliados Valores obtidos
que, quando a população foi estratificada pela idade, Não 73 8,3 ± 6,5
os percentuais de risco nutricional foram: 50% muito Infecção p >0,05a
Sim 43 16,2 ± 18,3
idosos, 40% idosos e 10% idosos jovens. Consequen-
Não 98 9,1 ± 7,3
temente, o emprego de terapia nutricional foi mais Óbito p <0,01a
Sim 18 22,6 ± 25,4
frequente nos muito idosos (46%) quando comparados
aos idosos jovens (0%) e idosos (20%). TGI: trato gastrointestinal; TN: terapia nutricional; a Mann Whitney; b Kruskal-Wallis Test
Risco nutricional e desfechos clínicos | 35
Qui-quadrado * P <0,05; TI: tempo de internação; OR: ODD RATIO; S/RN: sem risco nutricional; C/RN: com risco nutricional
A Tabela 4 mostra que há associação entre tempo Nosso trabalho mostrou que o envelhecimento é
de internação prolongado e desfechos clínicos como um importante fator de risco nutricional, mas ainda há
infecção e óbito. Os pacientes que ficaram internados baixa implementação de terapia nutricional. Um estudo
por tempo prolongado (>13 dias) apresentam risco três prospectivo com 250 pacientes idosos mostrou que 39%
vezes maior de desenvolver infecção e ir a óbito. Os foram considerados em risco elevado de desnutrição e
pacientes em risco nutricional no momento da admissão que apenas 13% receberam alguma forma de suporte
hospitalar apresentaram risco três vezes maior de óbito. nutricional, concluindo que a terapia nutricional é pouco
utilizada.19 Incalzi et al.20 concluem que o suporte nutri-
Discuss ão cional deve ser um componente-chave da assistência
A desnutrição hospitalar é foco de muitos trabalhos nos hospitalar em pacientes geriátricos.21
últimos anos. Sua prevalência varia entre 30% e 50% dos Componentes da NRS-2002 são preditores indepen-
pacientes hospitalizados, estando relacionada ao tipo de dentes de pior prognóstico clínico; pacientes em risco
avaliação nutricional e região.1-3,12 apresentam mais complicações, aumento da mortalidade
Neste estudo, 39,6% apresentavam risco nutricional e tempo de internação maior.2 Em nosso trabalho, 50%
pela NRS 2002, ao passo que 26,7% eram desnutridos dos pacientes idosos admitidos no período encontravam-
pelo IMC no momento da admissão hospitalar. Os nossos se em risco nutricional, sendo que os mais idosos apre-
dados concordam com outros estudos em que a preva- sentaram tempo de internação e terapia nutricional mais
lência de desnutrição/risco nutricional foi de 30%.13,14 prolongada. Conforme os resultados referentes ao IMC
Em estudo com pacientes idosos, realizado em um relacionados ao risco nutricional, podemos observar
hospital universitário do Reino Unido, observou-se que, que esses pacientes apresentaram IMC ainda dentro da
dos 150 pacientes avaliados, 58% estavam em risco nutri- normalidade para idosos, o que sugere que a NRS-2002
cional.15 Outro estudo de coorte em sete hospitais suíços, é capaz de prever melhor a probabilidade de desfechos
realizado em um período de 3 anos, mostrou que 18,2%, clínicos já no momento da internação.
dos 32.837 pacientes avaliados utilizando a NRS-2002 como Quando avaliamos os resultados da terapia nutri-
ferramenta de triagem nutricional estavam em risco nutri- cional instituída no grupo dos pacientes muito idosos
cional, sendo que 28% desses pacientes apresentavam idade comparado ao grupo do idoso jovem e do idoso, vimos
superior a 85 anos, concluindo que 1 em cada 5 pacientes que a utilização do escore de risco foi superior ao IMC
estava desnutrido ou em risco de desnutrição.16 no que corresponde à identificação dos pacientes em
Existem evidências de que apenas pequena porcen- risco e em relação à implementação de terapia nutri-
tagem de pacientes desnutridos recebe suporte nutri- cional, podendo-se concluir que o IMC parece não ser
cional.17 Nossos resultados demonstram que mais suficiente para iniciar a terapia nutricional.
da metade dos pacientes desnutridos ou em risco de Dados do estudo de Corish, Flood, Kennedy,22
desnutrição não recebeu terapia nutricional, o que pode utilizando duas ferramentas de triagem nutricional,
agravar o estado nutricional dos idosos hospitalizados. mostraram que dos 359 pacientes selecionados a
No entanto, no grupo muito idoso, 46% receberam NRS-2002 identificou que 46% estavam em risco nutri-
algum tipo de terapia nutricional. cional no momento da admissão hospitalar.
Nossos dados foram semelhantes aos do Inquérito O risco nutricional elevado nos idosos está relacio-
Brasileiro de Avaliaçäo Nutricional Hospitalar (Ibra- nado aos fatores inerentes associados ao envelhecimento,
nutri), com 4.000 pacientes hospitalizados em unidades como deterioração ou fragilidade do estado nutricional,
exclusivamente públicas, distribuídas em todo o terri- perda de massa e função muscular (sarcopenia), mesmo
tório nacional no ano de 1996. Esse documento apre- apresentando peso corporal constante, qualidade de vida
sentou 52,8% de desnutrição na população idosa, sendo comprometida e risco aumentado de morbidade e morta-
que apenas 10,1% receberam nutrição enteral, ou seja, lidade.23 O método de triagem utilizado já classifica esses
pequena parte desses pacientes estava sendo tratada, pacientes como de risco, acrescentando um ponto para
sugerindo que a desnutrição até aquele momento ainda maiores de 70 anos de idade, mostrando a característica
não era abordada de forma enfática e determinante para dos pacientes atendidos e a importância dos cuidados
o desfecho do tratamento clínico hospitalar.18 nutricionais relacionados a essa faixa etária.
36 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Observamos que os pacientes em risco nutricional estavam Estudos anteriores mostram que a desnutrição contribui
na faixa etária correspondente ao idoso médio (média de 80 para uma cascata de eventos que comprometem o sistema
anos) e que o tempo médio de internação hospitalar foi de imunológico e aumentam a suscetibilidade para doenças infec-
14 dias. Em estudo prospectivo realizado por SullIvan, Sun, ciosas, recomendando a intervenção precoce e a escolha dos
Walls,24 a população tinha em média 74 anos e o tempo médio nutrientes essenciais como prevenção dessas complicações.30
de permanência hospitalar foi de 8 dias (utilizando-se um inter- Nosso estudo demonstrou que aqueles em risco
valo interquartil de 5-13 dias). Apesar de não estratificar a popu- nutricional na admissão hospitalar apresentam chance
lação quanto ao risco nutricional, os resultados apresentados três vezes maior de ir a óbito. Estudo realizado com 150
foram semelhantes aos encontrados neste trabalho para aqueles pacientes com média de idade de 85 anos mostrou que
pacientes sem risco nutricional, nos quais o tempo de inter- 58% desses pacientes estavam em risco de desnutrição
nação foi de 9 dias. Pacientes nessa faixa etária também apre- e apresentaram maior mortalidade intra-hospitalar e
sentaram IMC menor e tempo de internação mais prolongado. pós-alta (p <0,01), além de maior tempo de internação
Complicações secundárias à desnutrição podem aumentar (p = 0,02) comparados àqueles com baixo risco.15
diretamente o tempo de internação, assim como idosos subnu- Apesar dos resultados encontrados, deve-se levar em
tridos apresentam maior tempo de internação.17,18,24,25 consideração o fato de que o número reduzido de pacientes,
Brantervick et al.26 avaliaram 244 idosos, e a maioria assim como o tempo de coleta de dados, foi menor se
dos pacientes encontrava-se na faixa etária acima dos comparado a outros estudos. Cabe ressaltar que este estudo
70 anos; destes, 51,6% estavam em risco de desnutrição foi realizado em unidade hospitalar de caráter privado,
segundo os critérios do IMC (<22 kg/m2). situado no município do Rio de Janeiro, considerando-se
A desnutrição hospitalar é uma consequência de que o perfil socioeconômico e cultural esperado para esta
vários fatores de risco, dos quais a doença por si só é amostragem de pacientes é diferenciado da maioria dos
um dos mais importantes. Outros fatores, como idade trabalhos descritos na literatura quanto aos fatores favorá-
e tempo de internação, também têm impacto negativo veis para a conservação do estado nutricional.
sobre o estado nutricional.2 Dados da Pesquisa Nacional Este estudo levanta questões referentes à NRS-2002 como
de Infecções Hospitalares (nos Estados Unidos) melhor preditor de desfechos clínicos comparada ao IMC,
mostraram que 54% de todas as infecções nosocomiais ao tempo de internação associado à idade e ao estado nutri-
ocorreram em pessoas com 65 anos ou mais.27 cional do paciente idoso no momento da internação hospi-
Segundo os resultados obtidos, observamos que talar. Apesar dos conhecimentos existentes, a terapia nutri-
pacientes classificados como desnutridos ou com sobre- cional ainda é utilizada insatisfatoriamente nessa faixa etária.
peso apresentaram tempo de internação semelhante. São necessários mais estudos que comprovem a
O IMC prevê risco nutricional, tanto nos desnutridos eficácia da terapêutica nutricional, assim como a identi-
como nos obesos. As comorbidades preexistentes em ficação do risco nutricional em hospitais privados, já que
pacientes idosos, particularmente nos que apresentam muitos trabalhos não utilizam a NRS-2002 como ferra-
sobrepeso, podem ser a explicação para o aumento no menta de triagem para indivíduos idosos.
tempo de internação desses pacientes.5 Acreditamos que a triagem nutricional seja um método
Devido ao aumento da morbidade, pacientes desnu- de trabalho simples, de fácil aplicação e baixo custo, com
tridos experimentam tratamento mais longo e maior eficiência para predizer desfechos clínicos em pacientes
tempo de internação. Em dois estudos realizados em idosos hospitalizados e identificar precocemente indivíduos
hospitais universitários de Genebra e Berlim, com 1.270 com problemas nutricionais ou aqueles em risco nutricional
pacientes, ficou demonstrada estreita relação entre o que necessitem de suporte nutricional adequado.
grau de desnutrição e o tempo de internação, e que o
baixo peso tem sido descrito como preditor indepen- Agradecimentos
dente em relação à sobrevida de idosos hospitalizados.28 Ao Instituto de Pós-graduação de Nutrição da Universi-
Em nosso estudo verificamos que aqueles que dade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) pelas sugestões e
apresentaram tempo de internação mais prolongado orientações e ao Hospital Adventista Silvestre pela opor-
tiveram 3 vezes mais chance de desenvolver infecção e tunidade na realização deste trabalho.
ir a óbito. Sugerimos que isso possa estar relacionado
à presença de doenças neurológicas, doenças respira- C O N C L U S ÃO
tórias, desorientação, disfagia e risco de broncoaspi- Em nosso estudo verificamos que aqueles que apresen-
ração, o que pode estar agravado nos pacientes que já taram tempo de internação mais prolongado tiveram três
se encontram desnutridos no momento da admissão vezes mais chance de desenvolver infecção e ir a óbito.
hospitalar. Paillaud et al.29 avaliaram nutricional-
mente, na admissão hospitalar, 185 pacientes idosos C onflitos de interesse
com idade média de 81 anos e verificaram que a inci- As autoras declaram não possuir nenhum conflito
dência de infecção nesses pacientes foi de 59%. de interesse.
Risco nutricional e desfechos clínicos | 37
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Artigo originalGERIATRIA & GERONTOLOGIA
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R es umo
Palavras‑chave Objetivos: Verificar o perfil dos pacientes idosos por meio das variáveis como sexo, cor, escolaridade e idade,
Idoso, notificados com AIDS na região sul do Brasil e na cidade de Chapecó, no período de 1980 a 2009, que adquiriram
síndrome de AIDS por via sexual. Metodologia: Trata-se de estudo observacional, descritivo e transversal cujos dados foram
imunodeficiência obtidos pelo Datasus e dispostos em planilhas do programa Excel, onde foi feito um cruzamento com tais dados.
adquirida, Resultados: Durante o período entre 1980 e 2009 observou-se aumento dos diagnósticos de AIDS em idosos na
transmissão de região estudada, sendo que aqueles que apresentaram maior prevalência de contágio são homens, heterossexuais,
doença infecciosa. brancos, da faixa etária entre 60 e 69 anos e de escolaridade entre 1 e 3 anos (baixa escolaridade). Esse mesmo
comportamento se repete na cidade de Chapecó, entretanto somente foi observado idoso contaminado por AIDS a
partir de 1995, e durante o período entre 2005 e 2009 a categoria de escolaridade com maior prevalência foi de 4 a 7
anos, seguida de 8 a 11 anos. Ainda nesse período houve maior prevalência de idosos com idade entre 70 e 79 anos.
Conclusão: A transmissão sexual do vírus da imunodeficiência humana (HIV) na população idosa da região sul do
Brasil e em Chapecó teve aumento no número de diagnósticos no período estudado, principalmente em indivíduos
masculinos, heterossexuais, de cor branca, entre 60 e 69 anos e de baixa escolaridade.
a
Médico, professor da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Participou da elaboração do trabalho como orientador e autor.
b
Aluna do 12o período do curso de Medicina da Unochapecó.
Tabela 1 Coeficientes da região sul do Brasil relativos aos idosos acometidos por AIDS durante o período de 1980 a 2009
Período 1980-1984 1985-1989 1990-1994 1995-1999 2000-2004 2005-2009
Pacientes com 60 anos ou mais 0 1,19 8,9 22,37 39,05 56,73
Pacientes ≥60 anos com transmissão sexual 0 0,73 6,7 17,39 25,88 32,9
Homens ≥60 anos 0 0,86 12,29 24,02 31,53 38,18
Mulheres ≥60 anos 0 0,61 2,11 11,9 21,33 28,65
Pacientes com transmissão sexual entre 60 e 69 anos 0 0,96 9,66 23,76 36,12 48,22
Pacientes com transmissão sexual entre 70 e 69 anos 0 0,45 2,75 10,14 15,51 16,84
Pacientes com transmissão sexual com 80 anos ou mais 0 0 0 0,98 1,88 3,91
Tabela 2 Coeficientes da cidade de Chapecó relativos aos idosos acometidos por AIDS durante o período de 1980 a 2009
Período 1980-1984 1985-1989 1990-1994 1995-1999 2000-2004 2005-2009
Pacientes com 60 anos ou mais 0 0 0 4,13 23,82 28,87
Pacientes ≥60 anos com transmissão sexual 0 0 0 4,13 17,01 21
Homens ≥60 anos 0 0 0 8,78 22,03 28,51
Mulheres ≥60 anos 0 0 0 0 12,68 14,59
Pacientes com transmissão sexual entre 60 e 69 anos 0 0 0 6,72 23,03 22,69
Pacientes com transmissão sexual entre 70 e 69 anos 0 0 0 0 11,1 25,86
Pacientes com transmissão sexual com 80 anos ou mais 0 0 0 0 0 0
Em relação à sexualidade dos idosos diagnosticados AIDS em idosos como sendo em pacientes bissexuais,
com AIDS, pode-se observar que, de modo geral, ocorreu enquanto no período de 2005 a 2009, 100% (n = 8) dos
aumento dos diagnósticos na população heterossexual idosa diagnósticos foram de heterossexuais.
em relação à população homossexual e bissexual da mesma Em relação à escolaridade, ao longo de todo o período os
faixa etária após 1990. Também é possível verificar que a idosos acometidos por AIDS apresentam, em sua maioria,
porcentagem referente à sexualidade tende a ter um padrão escolaridade de 1 a 3 anos seguida da categoria de 4 a 7
de distribuição mais sólido a partir de 1995, quando há anos de escolaridade. Os pertencentes à categoria “igno-
predomínio de heterossexuais e redução do número de casos rados”, ou seja, aqueles que não se encaixam em nenhuma
de homossexuais e bissexuais idosos infectados pelo HIV. das demais categorias, representam uma porcentagem
A região sul apresentou, no período de 2005 a 2009, significativa em todos os períodos. Concluindo, quanto
mais de 80% dos pacientes idosos diagnosticados com menor a escolaridade dos idosos, maior a frequência de
AIDS como sendo heterossexuais. Em Chapecó, entre casos de AIDS nesse grupo, na região sul, durante todo o
1995 e 1999, atingiu 100% (n = 1) dos diagnósticos de período de 1980 a 2009 (Tabela 4).
Tabela 3 Escolaridade dos pacientes idosos com AIDS acometidos por via sexual na região sul no período de 1980 a 2009 (N = 2010)
12 anos ou mais
Período Nenhuma (%) 1 a 3 anos (%) 4 a 7 anos (%) 8 a 11 anos (%) Ignorados (%) N
(%)
1980-1984 0 0 0 0 0 0 0
1985-1989 0 18,18 9,09 0 9,09 63,63 11
1990-1994 3,44 18,96 18,10 12,06 16,37 31,03 116
1995-1999 11,40 30,40 21,34 10,52 9,35 16,95 342
2000-2004 12,64 33,66 23,31 10,01 6,40 13,95 609
2005-2009 8,15 23,17 32,61 16,30 5,47 14,27 932
Tabela 4 Escolaridade dos pacientes idosos com AIDS acometidos por via sexual na cidade de Chapecó no período de 1980 a 2009 (N = 14)
12 anos ou mais
Período Nenhuma (%) 1 a 3 anos (%) 4 a 7 anos (%) 8 a 11 anos (%) (%) Ignorados (%) N
1980-1984 0 0 0 0 0 0 0
1985-1989 0 0 0 0 0 0 0
1990-1994 0 0 0 0 0 0 0
1995-1999 0 100 0 0 0 0 1
2000-2004 20 60 0 0 20 0 5
2005-2009 12,50 0 62,50 25 0 0 8
aumento considerável, impede que seja traçado um perfil no Brasil, a escolaridade entre 1 e 3 anos era a mais preva-
mais consistente quanto à forma de exposição ao vírus. lente, confirmando desse modo a maioria dos resultados
Ainda em relação à categoria de exposição, mesmo obtidos no presente estudo.12
que menos expressiva, o uso de drogas injetáveis chama a Quando a análise é relacionada à variável cor, temos que
atenção entre os idosos. Os cuidadores da saúde, por sua lembrar que o Brasil é um país com grande miscigenação e
vez, geralmente não investigam o uso de drogas nesse que os pacientes são enquadrados na categoria a que supos-
grupo, supondo assim, erroneamente, que os mais velhos tamente pertencem. Portanto, é válido lembrar que traçar
não são passíveis de tal comportamento no presente nem um perfil epidemiológico consistente, tanto referente à
o foram no passado, fazendo com que a pesquisa sobre o raça como à cor, no Brasil, e por intermédio dos bancos de
uso de drogas injetáveis não constitua um fato relevante dados já existentes, é um trabalho que ainda não é possível
para o momento da consulta.1 realizar, devido à precariedade de informações e ao grande
A transmissão sexual é a forma de contágio predomi- número de casos ignorados quanto a essas variáveis.2,4,12,13
nante entre os idosos com AIDS,2,8,9 sendo a predominância
da transmissão sexual sobre as demais formas de trans- C oncl u s ão
missão do HIV observada no presente estudo. A partir de Portanto, com esse estudo concluiu-se que o número de
1995 ocorreu em todas as regiões uma heterossexualização idosos com AIDS está crescendo na região sul. O perfil
da epidemia de AIDS nos idosos, sendo que a prevalência mais prevalente do idoso acometido é do sexo masculino,
da categoria de exposição de heterossexuais correspondeu branco, entre 60 e 69 anos, heterossexual, com escolaridade
sempre a um valor superior a 60% dos diagnósticos totais entre 1 e 3 anos, acometido pelo vírus da imunodeficiência
nessa faixa etária. A transmissão heterossexual constitui a humana pela via sexual. O estudo também demonstrou
principal fonte de contaminação do HIV entre os idosos, que, apesar de o sexo masculino ainda representar a maior
ainda que a transmissão entre indivíduos homossexuais ou parte dos diagnósticos, o sexo feminino está cada vez mais
bissexuais permaneça relevante no âmbito epidemiológico.4 sendo acometido pelo HIV e, portanto, fazendo com que a
A incidência de AIDS nas mulheres idosas, nos últimos AIDS passe de infecção substancialmente masculina para
anos, continua a subir, demonstrando que a feminização da uma patologia que acomete também a população feminina.
epidemia é bastante visível nessa faixa etária.3 No período A cidade de Chapecó, apesar de pertencer à região
entre 1995 e 2005, a relação entre os sexos diminuiu, de 3 sul, apresenta menor prevalência de idosos com AIDS
homens diagnosticados para 1 mulher diagnosticada, para que a prevalência encontrada nessa região. Difere ainda
1,5 homem diagnosticado para cada mulher.10 A feminização da região sul por apresentar maior prevalência de idosos
da epidemia ocorre devido ao fato de que os idosos tendem a acometidos por AIDS, com escolaridade entre 8 e 11
ver os preservativos como uma medida contraceptiva e não anos e idade entre 70 e 79 anos durante o último período,
preventiva, de modo que as mulheres que já ultrapassaram a apesar de apresentar maior prevalência global de idade
idade fértil não insistem mais em seu uso, uma vez que elas entre 60 e 69 anos e escolaridade de 1 a 3 anos.
também sofrem as mudanças físicas da idade e possuem
maior vulnerabilidade para se infectarem com o HIV.11 C onflito de interesse
Em relação à escolaridade nos pacientes com idade Os autores declaram não possuir nenhum conflito de
superior ou igual a 50 anos, diagnosticados com AIDS, interesse.
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Artigo
O conhecimento de HIV/AIDS original
em idosos | 43
conhecimento de HIV/AIDS
em um grupo de idosos na
cidade de Criciúma – SC/Brasil
Res umo
Palavras‑chave Introdução: A infecção pelo HIV constitui um fenômeno mudial, extremamente prevalente na população, sendo atualmente
HIV, idosos, considerada uma pandemia. Diante do aumento da prevalência dessa infecção na população idosa, pode-se assumir um aumento
prevenção. da atividade sexual nesse grupo, sendo essencial o conhecimento sobre ela nessa população. Objetivos: conhecer o grau de
conhecimento sobre HIV/AIDS em um grupo de idosos, na cidade de Criciúma/SC no primeiro semestre de 2013, incluindo
conceitos básicos, transmissão e prevenção. Metodologia: Estudo observacional, transversal, descritivo, com abordagem
predominantemente quantitativa, utilizando como área de estudo postos de saúde dos bairros da cidade de Criciúma/SC, sendo
estes os locais onde acontecem as reuniões dos grupos de idosos. A amostra foi composta por todos os indivíduos idosos que
estiveram presentes nos grupos de idosos, nos dias em que foram aplicados os questionários e preencheram os critérios de inclusão.
Resultados: A população estudada foi composta predominantemente por mulheres, sendo 90,4%. O grau de alfabetização mais
comum foi de 1 a 3 anos de estudo (43,2%). Em relação à transmissão, 33% da população acreditava que ocorria por meio da picada
de mosquito. Quase metade dos entrevistados, 47,7% pensava que a pessoa com o vírus da AIDS sempre apresenta os sintomas
da doença. Apenas 12% dos entrevistados com vida sexual ativa afirmou fazer uso de preservativos durante o intercurso sexual.
Conclusão: Embora a população estudada já tenha tido contato com informações sobre a doença, nota-se o desconhecimento de
aspectos básicos importantes para a prevenção, demonstrando a necessidade de ações corretivas neste sentido.
a
Doutorando em Ciências da Saúde, Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc). Professor de Bioestatística do Departamento de Medi-
cina da Unesc. Pesquisador do Laboratório de Epidemiologia da Unesc.
b
Doutoranda em Ciências da Saúde, Unesc. Professora de Informática Médica da Unesc.
c
Graduando em Medicina, Unesc.
d
Médica geriatra. Mestre em Ciências da Saúde. Professora da Unesc.
tivas (média e desvio-padrão) da idade dos idosos, além Tabela 1 Características da população amostral estudada
da análise estatística, que foi realizada com nível de Variáveis
Média ± desvio-padrão ou n (%)
n = 578
significância a = 0,05 e confiança de 95%.
Idade (anos) 71,41 ± 6,46
A investigação da distribuição da variável idade,
Sexo
quanto à normalidade, entre as categorias das variá-
Feminino 520 (90,4)
veis qualitativas que compõem o questionário, como o
conhecimento sobre HIV/AIDS, foi realizada a partir da Masculino 55 (9,6)
tivas, como gênero e escolaridade, entre as categorias 1 a 3 anos de estudo 247 (43,2)
das variáveis relacionadas ao conhecimento sobre HIV/ 4 a 7 anos de estudo 205 (35,8)
AIDS, foi investigada por meio da aplicação do teste qui- 8 a 11 anos de estudo 53 (9,3)
quadrado de associação ou independência. 12 ou mais anos de estudo 17 (3,0)
A comparação da média de idade entre as catego- Religião
rias das variáveis qualitativas politômicas, como o grau Católica 510 (92,2)
de conhecimento sobre HIV/AIDS, foi realizada pela Evangélica 34 (6,1)
aplicação da análise de variância ANOVA de uma via, Espírita 7 (1,3)
seguida do post hoc, teste de Tukey, quando houve distri- Outra 2 (0,4)
buição normal, e pelo teste H de Kruskall-Wallis, seguido Renda mensal
do teste post hoc de Dunn, quando não se percebeu Até 1 salário mínimo 217 (38,5)
aderência dos dados a uma distribuição gaussiana.
De 1 a 3 salários mínimos 306 (54,4)
De 4 a 6 salários mínimos 35 (6,2)
Resultados
De 7 a 8 salários mínimos 3 (0,5)
A amostra estudada foi composta por 578 pessoas, que
De 9 a 10 salários mínimos 2 (0,4)
preencheram os critérios de inclusão e exclusão, sendo
Mais de 10 salários mínimos 0 (0,0)
a maior parte mulheres, 90,4%, contra 9,6% de homens.
Possui parceiro
Em relação ao estado civil dos idosos, 41,1% possuíam
companheiro(a). A maior parte dos indivíduos entrevis- Sim 235 (41,1)
A idade dos entrevistados variou de 60 a 90 anos, sendo Realizou o teste de AIDS algum dia
que a idade média observada foi de 71,4 anos (±6,46). O Sim 138 (24,0)
perfil descritivo encontra-se disponível na Tabela 1. Não 436 (76,0)
Em relação ao conhecimento básico e à doença, Usa preservativo nas relações
81,5% afirmaram que o HIV é o vírus causador da AIDS, Sim 36 (12,0)
47,7% acreditam que a AIDS sempre apresenta sintomas Não 263 (87,9)
evidentes, e a maioria (88,7%) dos entrevistados afirma Não pratica atividade sexual 273 (47,7)
que a AIDS tem tratamento. Além disso, 76% acreditam Conhece alguém HIV positivo
que não exista cura e 28,2% não souberam responder Sim 301 (52,2)
sobre a existência de uma vacina para a AIDS (Tabela 2). Não 276 (47,8)
Dentre os critérios de transmissão, 33,0% dos entre-
vistados creem que a doença possa ser transmitida pela
picada de mosquito, 17,5% pensam que possa haver Ao correlacionar o grau de conhecimento dos entrevis-
transmissão pelo beijo no rosto, beber no mesmo copo tados com a sua escolaridade, em grande parte das variáveis,
e tomar chimarrão, 15,1% presumem que o uso de sabo- notou-se associação positiva e diretamente proporcional; a
netes, toalhas e assentos sanitários transmite a doença, e maioria dos entrevistados com alta escolaridade respondeu
11,1% dos entrevistados consideram a AIDS um castigo corretamente sobre a identificação do HIV por meio de
de Deus para quem cometeu algum pecado (Tabela 3). exame de sangue (p = 0,045); possibilidade de cura para a
Sobre a prevenção, notou-se que a maioria dos entre- AIDS (p = 0,015); transmissão pelo contato com sabonetes,
vistados, 81,1%, julga a população idosa suscetível à toalhas e assentos sanitários (p <0,001); AIDS como castigo
AIDS, e 79,3% afirmam que ela não é uma doença exclu- de Deus (p = 0,004); possibilidade de uso de preservativos
siva de homossexuais masculinos, prostitutas e usuários por idosos (p <0,001); AIDS como doença exclusiva de
de drogas. Grande parte (83,2%) sabe que os idosos homossexuais masculinos, prostitutas e usuários de drogas
podem usar preservativos sem problemas, porém apenas (p = 0,002). Dentre aqueles com pouca ou nenhuma esco-
uma pequena parte daqueles que mantêm atividade laridade, percebeu-se: menor conhecimento sobre o HIV
sexual usa preservativo (Tabelas 1 a 4). ser o causador da AIDS (p <0,001); presença de sintomas
46 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
evidentes sempre que ocorre a infecção (p <0,001); trans- forma de prevenção da doença, seringas como meios de
missão por meio de abraço, beijo no rosto, beber no mesmo transmissão, ser doença exclusiva de jovens, existência
copo e tomar chimarrão (p = 0,049); existência de cami- de tratamento e necessidade de vários parceiros para
sinha feminina (p = 0,036); existência de vacina para a contrair AIDS, que não demonstraram diferença estatis-
AIDS (p = 0,001); 50% dos entrevistados que não possuem ticamente significativa na análise (Tabelas 2, 3 e 4).
escolaridade afirmam que há transmissão a partir da picada Ao comparar o grau de conhecimento com o gênero
de mosquito (p <0,001) (Tabelas 2, 3 e 4). dos entrevistados, não houve significância estatística,
Embora se perceba uma associação entre o grau com exceção da variável que questionava a transmissão
de escolaridade dos entrevistados e o conhecimento, por abraço, beijo no rosto, beber no mesmo copo e tomar
também existem variáveis que independem da escola- chimarrão (p <0,001), sendo que 34,5% dos homens e 15,4%
ridade, como, por exemplo, uso de preservativo como das mulheres concordavam com essa informação (Tabela 3).
Tabela 2 Resultado do questionário aplicado sobre conhecimento básico da doença em relação à escolaridade e ao gênero
HIV é o Sintomas sempre O vírus é identificado Existe tratamento Existe cura Existe vacina
causador da AIDS são evidentes por exame de sangue para AIDS para AIDS para AIDS
V F NS V F NS V F NS V F NS V F NS V F NS
471 16 91 273 182 117 504 22 51 512 30 35 68 440 69 111 304 163
Total
(81,5) (2,6) (15,7) (47,7) (31,8) (20,5) (87,3) (3,80) (8,80) (88,7) (5,20) (6,10) (11,8) (76,3) (12,0) (19,2) (52,6) (28,2)
Escolaridade (p <0,001) (p <0,001) (p = 0,045) (p = 0,108) (p = 0,015) (p = 0,001)
32 01 17 23 09 16 39 02 09 40 04 06 14 29 07 14 22 14
Nenhuma
(64,0) (2,00) (34,0) (47,9) (18,8) (33,3) (78,0) (4,00) (18,0) (80,0) (8,00) (12,0) (28,0) (58,0) (14,0) (28,0) (44,0) (28,0)
190 09 48 134 53 60 210 08 28 212 15 20 31 184 31 47 110 90
1 a 3 anos
(76,9) (3,60) (19,4) (54,3) (21,5) (24,3) (85,4) (3,30) (11,4) (85,8) (6,10) (8,10) (12,6) (74,8) (12,6) (19,0) (44,5) (36,4)
178 04 23 86 82 35 186 07 12 188 09 07 17 165 23 38 121 46
4 a 7 anos
(86,8) (2,00) (11,2) (42,4) (40,4) (17,2) (90,7) (3,40) (5,90) (92,2) (4,40) (3,40) (8,30) (80,5) (11,2) (18,5) (59,0) (22,4)
50 02 01 21 27 03 49 03 01 51 01 01 04 43 06 11 33 09
8 a 11 anos
(94,3) (3,80) (1,90) (41,2) (52,9) (5,90) (92,5) (5,70) (1,90) (96,2) (1,90) (1,90) (7,50) (81,1) (11,3) (20,8) (62,3) (17,0)
16 00 0,1 16 00 01 17 00 00 16 00 01 01 15 01 01 14 02
>12 anos
(94,1) (0,00) (5,90) (94,1) (0,00) (5,90) (100) (0,00) (0,00) (94,1) (0,00) (5,90) (5,90) (88,2) (5,90) (5,90) (82,4) (11,8)
Gênero (p = 0,224) (p = 0,674) (p = 0,715) (p = 0,308) (p = 0,799) (p = 0,058)
420 16 84 244 165 106 452 21 46 461 25 33 63 394 62 101 266 153
Feminino
(80,8) (3,10) (16,2) (47,4) (32,0) (20,6) (87,1) (4,00) (8,90) (88,7) (5,20) (6,10) (12,1) (75,9) (11,9) (19,2) (52,6) (28,2)
49 00 06 29 15 10 49 01 05 48 05 02 05 43 07 09 37 09
Masculino
(89,1) (0,00) (10,1) (53,7) (27,8) (18,5) (89,1) (1,80) (9,10) (87,3) (9,10) (3,60) (9,10) (78,2) (12,7) (16,4) (67,3) (16,4)
Notou-se que a maioria das variáveis teve associação Sinos,8 onde a maioria conhecia a causa e o meio diagnóstico.
significativa com a idade do entrevistado, sendo que os Sabe-se que o intervalo entre a infecção aguda pelo
entrevistados mais jovens tendem a ter mais conhecimento HIV e a AIDS varia muito, podendo apresentar-se como
e respostas objetivas às questões sobre a doença do que doença silenciosa por um tempo médio de 10 anos;9 no
os mais idosos. Isso se provou significativo em relação à entanto, em nosso estudo, a maioria dos entrevistados,
transmissão por meio de sabonetes, toalhas, assentos sani- assim como no trabalho de Lazzarotto et al.,8 acredita
tários (p <0,001) e à transmissão pela picada de mosquito que a pessoa com o vírus da AIDS sempre apresenta os
(p <0,001), ponto em que os entrevistados mais idosos sintomas da doença. Isso pode gerar aumento do risco
possuem dúvida sobre a questão, enquanto os mais jovens de infecção porque, quando se acredita que os pacientes
refutam essa possibilidade. Nas questões sobre a exis- sempre têm sintomas, cria-se uma falsa sensação de segu-
tência de camisinha feminina (p = 0,002), doença restrita a rança com a prática de relações sexuais sem proteção.
homossexuais masculinos, prostitutas, usuários de drogas Os trabalhos realizados no Rio Grande do Sul,8 Goiás10
(p = 0,030), doença exclusiva de jovens (p = 0,013), os e Recife11 demonstraram bom conhecimento dos idosos
pesquisados mais novos tendem a acreditar que o indivíduo sobre formas de transmissão, característica também eviden-
com o vírus da AIDS pode não ter os sintomas da doença ciada sobre algumas formas de transmissão de nossa casuís-
aparente, enquanto os indivíduos mais velhos acreditam tica, sendo que grande parte entende que não ocorre trans-
que a pessoa infectada pelo vírus sempre terá manifestações missão por meio de sabonetes, toalhas, assentos sanitários,
clínicas da doença (p <0,001). Quanto à possibilidade de e também sabe da inexistência de transmissão por meio
cura (p = 0,005), possibilidade de os idosos fazerem uso de de abraço, beijo no rosto, beber no mesmo copo e tomar
preservativos (p <0,001), existência de vacina para AIDS (p chimarrão. Porém, considerável parte (33%) dos idosos
<0,001) e que o vírus HIV seja o causador da AIDS, quanto entrevistados acredita que a picada de mosquito seja uma
maior a idade, menos certeza os entrevistados tiveram forma de transmissão, apresentando proporção notavel-
sobre a causa da AIDS (p <0,001). Os dados supracitados mente menor que no estudo realizado em Anápolis.10 Essa
encontram-se disponíveis nas Tabelas 2, 3 e 4. diferença significativa pode ser explicada pela menor renda
familiar, menor número de idosos entrevistados e locali-
Discussão zação regional do segundo trabalho.10 Entretanto, sabe-se
O objetivo principal deste estudo foi determinar o conheci- que os mosquitos não transmitem a doença; os resultados
mento sobre HIV/AIDS em grupos de idosos na cidade de de experimentos indicam que, quando um inseto pica uma
Criciúma. Observa-se que, no domínio conceito, 81,5% dos pessoa, ele não injeta seu próprio sangue ou de uma pessoa
entrevistados sabem que o HIV é o vírus causador da AIDS previamente picada na próxima pessoa.12 Seria importante
e 87,3% compreendem que ele é identificado por meio de que os idosos dominassem essa informação.
exame de sangue, semelhante ao estudo realizado no Vale dos Os resultados mostram que mais da metade dos pesqui-
48 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
sados tem vida sexual ativa, porém apenas pequena parcela que concorda com um estudo realizado em Pernambuco.11
afirma fazer uso de preservativos, apesar de a grande Dessa forma, pode-se inferir que a educação prepara as
maioria saber que o uso de camisinhas nas relações impede pessoas para a vida social e profissional, tendo em vista que
a transmissão do HIV e que os idosos podem usar preserva- a baixa escolaridade tende a tornar os indivíduos sem auto-
tivos sem problemas. Talvez isso se deva a algumas razões, nomia para buscar instruções mais complexas e até mesmo
como explica o trabalho realizado em Passo Fundo,13 entender a mensagem que lhes é oferecida.17
segundo o qual algumas idosas afirmam que os parceiros Nosso estudo demonstrou associação entre o conheci-
não aceitam usar por ser desconfortável, outros por ser mento da AIDS e a variável faixa etária, sendo que o mesmo
difícil de vestir e que eles têm medo da disfunção erétil se mostrou associado de forma inversa à idade, mesmo
durante esse momento. No trabalho de Stacy et al.,4 apro- resultado encontrado em um estudo realizado no Reino
ximadamente metade dos entrevistados que eram ativos Unido.18 Isso talvez implique maior taxa de exposição às
sexualmente relatou ter pelo menos um problema durante situações de risco por parte dos indivíduos mais idosos.
o intercurso. Para as mulheres, os mais prevalentes foram Dessa forma, chega-se à conclusão da relevância deste
pouco desejo, perda de lubrificação vaginal e incapacidade trabalho, pois mostra a suscetibilidade dos idosos a essa
de chegar ao orgasmo. Entre os homens, o mais prevalente doença, pela desvalorização da importância do uso de
foi a disfunção erétil. O estudo feito em São Leopoldo,14 preservativos pelos entrevistados, pela falsa ideia de alguns
que abordou o uso de preservativos em mulheres com vida sobre uma doença exclusiva de homossexuais masculinos
sexual ativa, mostrou associação linear direta com a idade e pela falta de domínio sobre sua forma de apresentação
(p <0,0001), ou seja, à proporção que as mulheres iam enve- clínica, tendo em vista que a infecção nos idosos progride
lhecendo, aumentava a não utilização de preservativos. mais rapidamente, com maior morbidade e letalidade.
Sabendo que, atualmente, no Brasil e nos países em Torna-se importante a implementação de programas
desenvolvimento, a via de transmissão heterossexual de educação em saúde pública que sejam voltados para
constitui a mais importante característica da dinâmica essa população, por equipes treinadas e familiarizadas
da epidemia,15,16 12,7% dos entrevistados ainda consi- com os idosos, para que eles se sintam à vontade para
deram a AIDS uma doença que ocorre somente em tirar suas principais dúvidas em relação à AIDS e/ou
homossexuais masculinos, prostitutas e usuários de outras doenças sexualmente transmissíveis, de forma a
drogas, o que condiz com os entrevistados no estudo de caracterizar a importância nas medidas de prevenção e
Batista et al.11 Associando-se essa informação com a difi- transmissão, principalmente.
culdade encontrada no uso de preservativos, observa-se
uma população muito exposta ao risco de contaminação. CONCLUSÃO
Os idosos podem contrair o HIV, e grande parte dos Embora a população estudada já tenha tido contato com
entrevistados sabe disso, porém acredita-se que exista informações sobre a doença, nota-se o desconhecimento
uma desvalorização por parte de profissionais de saúde e de aspectos básicos importantes para a prevenção, demons-
familiares, que não consideram que essa população tenha trando a necessidade de ações corretivas nesse sentido.
vida sexual ativa, deixando a população idosa ainda mais
vulnerável às doenças que podem ser contraídas durante Agradecimentos
um intercurso sexual desprotegido. Nossos agradecimentos pela colaboração da coorde-
Em nosso meio, existem poucos estudos que comparem nação e funcionários responsáveis pelos grupos de
o grau de conhecimento sobre HIV nos idosos com a esco- terceira idade da Afasc Criciúma.
laridade dos mesmos. Em nosso estudo viu-se que a maioria
das variáveis teve associação positiva com o grau de esco- Conflito de interesse
laridade (p <0,001). À medida que os anos de estudo vão Os autores declaram não possuir nenhum conflito de
aumentando, a dúvida e a proporção de erros diminuíram, o interesse na sua realização e publicação.
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Artigo originalGERIATRIA & GERONTOLOGIA
50 | REVISTA Artigo original
R es umo
Palavras‑chave Introdução: A tuberculose pulmonar representa um problema sanitário mundial, especialmente quando associada à infecção
Tuberculose pelo HIV. Prevalente em idosos cujo diagnóstico tardio decorre da pobreza clínica, notificam-se, no Brasil, cerca de 6 mil óbitos
pulmonar, AIDS, anuais. A coinfecção Mycobacterium tuberculosis e HIV aumenta em 10% o risco anual da tuberculose. Métodos: Foram
idoso, coeficiente coletados dados do Datasus e Sinan de 2004 a 2010, comparando-se a taxa de mortalidade por tuberculose em indivíduos idosos
de mortalidade. e não idosos, na ausência e presença do HIV. Resultados: Os coeficientes de mortalidade por tuberculose pulmonar em pa-
cientes acima de 60 anos, na ausência de AIDS/HIV, demonstram expressivo aumento quando comparados com os coeficientes
obtidos de pacientes de 20 a 59 anos sem AIDS/HIV. Esses resultados contrastam com índices mais baixos, em pacientes sem
AIDS/HIV para a faixa etária de 20 a 59 anos, nos quais a elevação anual dos índices foi menos elevada. Comparando-se os
coeficientes de mortalidade por tuberculose pulmonar em pacientes acima de 60 anos com ou sem AIDS/HIV, verifica-se que
os coeficientes de mortalidade em pacientes sem AIDS/HIV são sempre mais elevados que naqueles com a coinfecção. O estudo
sugere que, nos últimos 7 anos, houve aumento da mortalidade por tuberculose pulmonar em idosos com 60 anos ou mais,
comparando-se com indivíduos mais jovens. Conclusão: O aumento do coeficiente de mortalidade por tuberculose pulmonar
em idosos poderia justificar a necessidade de políticas de saúde preventivas em pacientes acima de 60 anos.
Abstract
Keywords Introduction: Pulmonary tuberculosis (TB) is a global health problem, especially when associated with HIV infection.
Pulmonary TB is prevalent in older adults whose late diagnosis occurs because of poor clinical manifestation. In Brazil, approximately
tuberculosis, 6,000 deaths from TB are reported annually. Coinfection with Mycobacterium tuberculosis and HIV increases by 10% the
acquired annual risk of tuberculosis. Methods: we collected data from Datasus (Department of the Brazilian Unified Health System)
immunodeficiency and Sinan (Information System for Notifiable Diseases) covering a period from 2004 to 2010 in order to compare the death
syndrome, aged, rate from tuberculosis in individuals with and without HIV. Results: There was an increase in the mortality rate from TB in
mortality rate. older adults without HIV compared to adults from 20 to 59 years old. Comparing the mortality rate from TB in older adults
with and without HIV we found that the mortality rate is higher in those without HIV. In the period from 2004 to 2010 there
was an increase in the mortality rate from TB in older adults comparing to younger adults. Conclusion: The increase in
the mortality rate from TB in older adults may warrant the need for preventive health policies for patients over 60 years old.
a
Médica geriatra, Mestre em Ciências Médicas, Universidade de Brasília (UnB), Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas da
UnB. Desenho do estudo, coleção de dados, análise e preparação do manuscrito.
b
Médica geriatra, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da UnB. Análise e preparação do manuscrito.
c
Médico infectologista, Mestre em Medicina Tropical, Doutor em Medicina Tropical, Coordenador da disciplina doenças infecciosas e parasitárias da
UnB. Análise e preparação do manuscrito.
d
Médica infectologista, Mestre em Medicina Tropical, Doutora em Patologia Molecular pela UnB, Coordenadora da disciplina semiologia médica da
Universidade Católica de Brasília. Análise e preparação do manuscrito.
lidade por tuberculose pulmonar em indivíduos com e 60 anos ou mais sem AIDS ou HIV
Comparando-se os coeficientes de mortalidade por De interesse, este estudo mostrou que o coefi-
tuberculose pulmonar em pacientes acima de 60 anos ciente de mortalidade por tuberculose, em idosos, é
com ou sem AIDS/HIV, verifica-se que os coeficientes maior naqueles sem AIDS ou HIV. Embora haja maior
de mortalidade em pacientes sem AIDS/HIV são sempre aumento de mortalidade em idosos do que em jovens,
mais elevados que naqueles com a coinfecção. Assim, em o coeficiente de mortalidade por tuberculose pulmonar
2006, o coeficiente de mortalidade em pacientes acima em indivíduos de 60 anos é baixo, o que pode sugerir
de 60 anos sem AIDS/HIV foi 0,40, enquanto, no mesmo subdiagnósticos ou subnotificações.
ano, naqueles com AIDS/HIV o coeficiente correspondeu A prevalência de AIDS tem sido mais bem docu-
a 0,05, o que indica, observando a Figura 2, aumento de mentada entre os jovens do que em idosos pela Organi-
oito vezes. Esse perfil se mantém nos anos subsequentes, zação Mundial da Saúde (OMS), o que dificulta o enten-
confirmando índices de mortalidade sempre mais dimento da expressão epidemiológica e o impacto da
elevados em idosos sem AIDS/HIV (Figura 2). AIDS em idosos.8
Em 2007, o Programa Conjunto das Nações Unidas
sobre HIV/AIDS, mostrou que existem no mundo
Figura 2 Coeficientes de mortalidade por tuberculose pulmonar em pacientes aproximadamente 33 milhões de pessoas com HIV/
com 60 anos ou mais, considerando a presença ou ausência de AIDS ou HIV AIDS, e cerca de 2,8 milhões têm 50 anos ou mais. No
Brasil, os casos de AIDS em pessoas acima dos 60 anos
1,2 dobraram em 1997, passando de 497 para 1.263 casos
0,91
1
0,69 novos.9 A partir de 2007, os coeficientes de mortali-
0,8 0,75
0,6
0,70
dade, coletados de tuberculose pulmonar no Brasil,
0,4 0,40 foram ascendentes, o que pode indicar maior atenção
0,07 0,12
0,2
0
0,01 0,05 0,09 0,07 da equipe de saúde na notificação de casos de HIV/
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 AIDS e comorbidades, como a tuberculose.
Neste estudo, não houve aumento expressivo do
60 anos ou mais sem AIDS ou HIV
coeficiente de mortalidade por tuberculose pulmonar
60 anos ou mais com AIDS ou HIV
nos idosos com AIDS ou HIV. Isso pode ser explicado
pelo fato de os dados serem secundários ou, talvez,
pela expressão patológica no idoso guardar diferenças
comparativamente ao jovem, embora o número de
D iscuss ão pacientes idosos com AIDS esteja em ascensão.
O estudo sugere que, nos últimos 7 anos, houve aumento Com dados crescentes, os casos de AIDS/HIV
da mortalidade por tuberculose pulmonar nos idosos aparecem concomitantemente a doenças imunomo-
com 60 anos ou mais, comparando-se com indivíduos de duladas, como a tuberculose. O diagnóstico precoce
20 a 59 anos. Esse fato pode ser explicado pelas dificul- para infecção do HIV entre os idosos continua
dades e retardo no diagnóstico, pelas diferentes e pouco sendo um dos grandes desafios abordados em
comuns apresentações clínicas, pelo envelhecimento inúmeras pesquisas. A precocidade do diagnóstico
populacional e situações acrescidas das deficiências é uma oportunidade de interromper a transmissão
sensoriais e cognitivas nessa faixa etária, o que prejudica viral e iniciar o tratamento retroviral, acarretando
a caracterização dos sintomas.6 Isso reflete que as estra- melhora da morbidade e diminuição da mortalidade
tégias para prevenção alertando apenas para os sintomas de pacientes infectados. 10 O atraso no diagnóstico
como tosse e expectoração podem ser ineficazes nessa do HIV no idoso implica situação imunológica mais
faixa etária. Dessa maneira, sugere-se que as políticas de precária no início do tratamento, contribuindo para
saúde relacionadas à forma pulmonar da tuberculose, no o aparecimento de doenças oportunistas. Além
idoso, devem ser ampliadas. disso, o sistema imunológico senescente dificulta a
Dados da literatura indicam que a mortalidade em resposta imunológica ao tratamento antirretroviral
pacientes idosos acima de 60 anos de idade é conside- de alta potência. 6,10
ravelmente mais elevada que em pacientes jovens, atin- Embora os dados deste estudo demonstrem que a
gindo percentuais em torno de 30%.6 Situação semelhante mortalidade de pacientes acima de 60 anos com AIDS e
ocorreu com a mortalidade por tuberculose, de acordo tuberculose pulmonar não seja expressiva, estratégias de
com os dados secundários analisados na literatura.8 manejo clínico e prevenção para o controle da tuberculose
A análise de óbitos por tuberculose ocorridos no e outros programas de saúde pública são essenciais para
período de 1980 a 2004 mostrou maior frequência da reduzir os casos de tuberculose. A utilização de modelos
forma pulmonar, em todos os grupos etários.8 Essas infor- preventivos deve contemplar as diferentes características
mações demonstram a contribuição da forma pulmonar de manifestação nas diferentes faixas etárias e capacitação
nos coeficientes de mortalidade há mais de três décadas. técnica da equipe de saúde para reconhecê-las.3
Tuberculose e AIDS no idoso: há diferenças? | 53
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Artigo originalGERIATRIA & GERONTOLOGIA
54 | REVISTA
R es umo
Palavras‑chave Objetivo: Verificar os efeitos de um programa de treinamento resistido ondulatório supervisionado, sobre variáveis antropométricas
Idoso, diabetes, e da aptidão funcional em idosos com diabetes do tipo 2. Material e métodos: Participaram do estudo 51 idosos de ambos os
treinamento gêneros, na faixa etária de 60 a 85 anos, com diagnóstico de diabetes do tipo 2. Foram avaliados o índice de massa corporal (IMC),
resistido, aptidão a medida do perímetro da cintura (PC) e o perímetro do quadril (PQ) conforme orientação prévia. Além disso, com as medidas
funcional. do PC e PQ, pôde ser calculada a relação cintura-quadril (RCQ). A aptidão funcional foi avaliada por meio de uma bateria de testes
direcionados à avaliação motora de idosos, que foi composta por cinco testes singulares: sentar e alcançar no banco de Wells;
resistência de força de membros superiores; agilidade e equilíbrio dinâmico; sentar e levantar; equilíbrio unipodal; ergoespirometria
em esteira ergométrica. Resultados: O treinamento físico não induziu alterações nos parâmetros antropométricos, mas
melhorou o desempenho no teste de sentar e levantar, agilidade e equilíbrio dinâmico. Para as demais capacidades físicas testadas
(flexibilidade, equilíbrio e capacidade aeróbia), as 16 semanas de período de intervenção não se mostraram capazes de induzir
mudanças significativas nos idosos com diabetes. Conclusão: O treinamento resistido ondulatório teve efeito positivo sobre a
aptidão funcional de idosos com diabetes do tipo 2, com efeitos mais pronunciados nos membros inferiores.
Abstract
Keywords Objective: Investigation of effects of supervised resistance training program on functional fitness in elderly type 2 diabetic
Elderly, diabetic, patients. Material and methods: The study included 51 patients from both genders, aged between 60 and 80 years old,
resistance diagnosed with type 2 diabetes. Measurement of body mass index (IMC), waist circumference (PC) and hip circumference
training, (PQ) was evaluated according to previous guidance. Moreover, with measures to PC and PQ waist-hip ratio (WHR) could be
functional fitness. calculated. Functional fitness was assessed by some tests to achieve motor evaluation of these elderly people, the tests were five:
sit and reach test with the Wells’ bank, strength endurance of the arms, agility and dynamic balance, sitting-rising, single-foot
balance, and ergospirometry on treadmil. Results: The exercise training did not induce changes in anthropometric parameters,
but improved performance in the sitting-rising test and agility and dynamic balance test. Considering other physical abilities
tested (flexibility, balance and aerobic capacity) the sixteen weeks of training were not able to induce significant changes in the
diabetic elderly people. Conclusion: The ondulatory resistance training has a positive effect to functional fitness in elderly
type 2 diabetic patients, with a higher pronounced effect in the lower limbs.
a
Pós-graduação interdisciplinar em Ciências da Saúde, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Santos.
b
Pós-graduação em Ciências da Nutrição e do Esporte e Metabolismo, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Limeira.
c
Pós-graduação interdisciplinar em Ciências da Saúde, Unifesp, Santos.
d
Pós-graduação em Ciências da Motricidade, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Rio Claro.
Avaliação da aptidão funcional minal e a lombar, pois elas são essenciais na estabilização e
A aptidão funcional foi avaliada por cinco testes motores: no equilíbrio de muitos movimentos. Os equipamentos utili-
1) sentar e alcançar em banco de Wells; 2) equilíbrio e agili- zados foram da marca Nakagin (São Paulo, Brasil). O grupo
dade dinâmica; 3) resistência de força de membros supe- IDNT não recebeu nenhuma intervenção e foi orientado a
riores;14,15 4) equilíbrio unipodal;14 e 5) sentar e levantar.15 não alterar seus hábitos de vida nesse período experimental.
Tabela 1 Características antropométricas, glicemia de jejum e nível de atividade física dos indivíduos com diabetes não treinados e treinados do estudo
IDNT IDT
Grupos/Variáveis
Pré Pós Pré Pós
Idade (anos) 66,30 ± 4,74 ND 66,87 ± 5,36 ND
Massa corporal (Kg) 77,04 ± 8,45 78,06 ± 5,32 75,85 ± 15,80 75,24 ± 13,26
Estatura (cm) 1,63 ± 0,06 1,63 ± 0,06 1,58 ± 0,07 1,58 ± 0,07
IMC (Kg/m) 29,33 ± 2,94 30,19 ± 5,73 30,19 ± 5,73 30,17 ± 15,75
Perímetro da cintura 90,92 ± 10,78 90,72 ± 11,12 96,53 ± 14,10 96,43 ± 13,98
Relação cintura-quadril 0,93 ± 0,09 0,94 ± 0,06 0,97 ± 0,04 0,97 ± 0,03
Glicemia (mg/dL) 153,28 ± 26,71 ND 159,85 ± 39,95 ND
IPAQ 11,85 ± 1,39 ND 12,13 ± 1,45 ND
IMC: índice de massa corporal; IPAQ: nível de atividade física; ND, não determinado. Dados expressos como média ± desvio-padrão.
Dados expressos como média ± desvio-padrão; a IDNT ≠ IDT pós; b IDNT ≠ IDT pós; c IDT pré ≠ IDT pós; d IDNT pré ≠ IDT pré. e IDNT pós ≠ IDT pré; nas letras a, b, d, e, o nível de
significância adotado foi de p <0,001; para a letra c, foi p <0,05.
cintura-quadril, em que ambos os grupos estavam sob risco fisicamente inativo poderá favorecer maior declínio dessa
aumentado para doenças cardiovasculares. A glicemia de capacidade relacionada ao envelhecimento ou doenças croni-
jejum também se mostrou alterada, sendo os valores caracte- codegenerativas não transmissíveis, como o diabetes melito.
rísticos de indivíduos com diabetes do tipo 2. Ao término do No presente trabalho, os resultados mostraram que os
treinamento resistido ondulatório, não houve mudanças nas idosos com diabetes submetidos a treinamento resistido
variáveis antropométricas estudadas, sendo esse um indicativo ondulatório tiveram aumento significativo nos testes de
de que talvez seja necessário adicionar outras atividades físicas sentar e levantar, e de agilidade e equilíbrio dinâmico, se
no cotidiano dessas pessoas para que aumentem o gasto ener- comparados àqueles voluntários que não participaram do
gético diário e modifiquem seus hábitos alimentares, tendo em programa de treinamento. Porém, quando foram avaliados os
vista que ao menos no período estabelecido de intervenção o resultados dos demais testes motores, não foram observadas
programa de treinamento proposto não foi capaz de induzir mudanças entre o grupo treinado e seus pares que permane-
mudanças nessas variáveis. Além disso, identifica-se que houve ceram inativos ao final do período experimental. Esses dados
maior adesão de participantes do gênero feminino, fato confir- são indicativos de que, para a melhora de algumas capaci-
mado pela literatura,18 que refere maior controle da saúde, bem dades, talvez seja necessário treinamento específico para elas.
como prática de exercício físico por parte das mulheres. Um estudo que investigou a aptidão física de idosos com
Com relação à aptidão funcional dos participantes (Tabela e sem diabetes do tipo 2 por meio da bateria de testes Eurofit
2), observou-se que os exercícios com pesos podem ser uma mostrou que a capacidade de caminhar no teste de 6 minutos
estratégia eficaz para a obtenção de melhoras em algumas e o VO2máx foram menores no primeiro grupo. Adicio-
das capacidades físicas e aptidão funcional geral, e isso pode nalmente, os indivíduos com diabetes tiveram menores
ter efeito ainda mais relevante levando-se em consideração valores obtidos para o teste de equilíbrio e preensão manual
que, com o envelhecimento, e marcadamente com o diabetes quando comparados aos sem diabetes.21 Em nosso estudo,
melito, há um decréscimo na aptidão funcional do indi- não verificamos diferenças significativas na aptidão motora
víduo.19,20 Essas informações da literatura científica permitem inicial entre os grupos, o que se deve, provavelmente, ao fato
sugerir que a permanência em um programa de exercícios de ambos os grupos serem constituídos por pessoas com
físicos supervisionado é importante na manutenção dos níveis diabetes. Contudo, ao final das 16 semanas de participação
de força nos anos seguintes, enquanto a execução de apenas no programa de exercícios com pesos, os resultados obtidos
atividades da vida diária ou manutenção de um estilo de vida no teste de agilidade e equilíbrio dinâmico foram positiva-
58 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
mente modificados no grupo treinado quando comparado importantes adaptações cardiovasculares, diminuindo a
à condição pré/pós-treinamento. Sabidamente, o ganho de frequência cardíaca de repouso e aumentando os valores
força possui relações com o desempenho de outras capa- de VO2máx.27 Macedo et al.28 mostraram que mulheres nas
cidades, como, por exemplo, agilidade e velocidade, sendo faixas etárias de 60-69 e de 70-81, participantes regulares
que mulheres ativas na terceira idade, as quais possuíam de atividade física, apresentaram maiores índices de VO2máx
melhores níveis de força, apresentaram melhores níveis de quando comparadas com mulheres fisicamente inativas e
agilidade de membros inferiores quando comparadas às da mesma faixa etária. Dessa forma, apesar de inevitável
mulheres sedentárias de mesma faixa etária.22 declínio na potência aeróbica, com o envelhecimento esse
Para o teste de resistência de força de membros supe- declínio pode ser menor nos idosos treinados. Em nosso
riores, não houve diferença entre os grupos, embora tenha estudo, não se observaram mudanças no VO2pico avaliado
sido observada tendência para a melhora no desempenho pelo teste ergoespirométrico de cargas crescentes no grupo
no grupo de idosos com diabetes treinados. Em virtude da treinado antes e após o treinamento resistido, sugerindo
inclusão do exercício de bíceps pulley no treinamento resis- que, para indivíduos idosos com diabetes, talvez seja neces-
tido, eram esperados resultados mais satisfatórios para o teste sário tempo maior de prática ou treinamento específico
de resistência de membros superiores devido às semelhanças para modificar positivamente essa capacidade física.
na execução, tendo em vista que para ambos são realizados A flexibilidade avaliada nos idosos pelo teste de sentar e
os mesmos movimentos: a flexão de cotovelo e a ativação dos alcançar também não se modificou após o programa de trei-
músculos bíceps braquial, braquial e braquiorradial. namento resistido proposto. A mudança não ocorrida para
Possivelmente, as explicações para as modificações no esse tipo de teste, antes e após o período de treinamento, pode
desempenho dos testes motores relacionados à parte infe- estar associada à limitação do excesso de gordura acumulada
rior do corpo (sentar e levantar, e agilidade e equilíbrio dinâ- na região abdominal, tipicamente presente em indivíduos
mico), e não no teste relacionado à parte superior do corpo com diabetes do tipo 2. Entretanto, o declínio de tal capaci-
(resistência de força de membros superiores no grupo de dade física pode ocorrer em diferentes taxas com o avanço da
idosos com diabetes treinados), podem estar relacionadas a idade, havendo grande variabilidade interindividual, como já
dois fatores: 1) via de regra, com o envelhecimento, ocorre observado por trabalhos anteriores de Ueno et al.29 Isso faz
menor declínio de força dos membros superiores, quando com que indivíduos na mesma faixa etária possam apresentar
comparados com os membros inferiores;23 2) existem estudos grau de flexibilidade do quadril diferente e, talvez, para os
mostrando que pessoas que realizavam as atividades domés- sujeitos do grupo idoso com diabetes que não foram subme-
ticas do dia a dia independentemente, as quais muitas vezes tidos ao treinamento resistido, o período de 16 semanas ainda
requerem resistência de força de membros superiores (limpar não tenha sido suficiente para promover significantes declí-
a casa, lavar roupa, carregar sacolas de compras etc.), podem nios e, portanto, no caso da flexibilidade, apenas os exercícios
prevenir o declínio nessa capacidade física.24,25 Assim sendo, com pesos não tenham sido suficientes para o aumento do
o treinamento físico aplicado foi eficiente em promover nível de tal componente da aptidão funcional.
melhora funcional dos membros inferiores, e talvez seja No entanto, se o processo natural de envelhecimento
necessário um tempo maior de prática para a obtenção de leva a um declínio funcional do idoso, como mostram os
mudanças na aptidão motora dos membros superiores ou estudos de Demura et al.30 e de Pauli et al.,19 o simples fato
mudanças nas características do programa de treino. de ter havido manutenção ou tendência para melhora dos
Tal interpretação é coerente com os achados de Hughes níveis dos componentes da aptidão funcional ao longo do
et al.,26 que, por meio de estudo longitudinal, verificaram a período de intervenção já representa um saldo positivo
influência da massa muscular na força em 120 indivíduos. para a aptidão funcional do idoso com diabetes. Principal-
Os participantes foram examinados inicialmente com mente levando-se em consideração que os participantes
a idade entre 46 e 78 anos. Depois de passados 9,7 ± 1,1 se encontram em uma faixa de idade na qual o declínio
anos, as 68 mulheres e os 52 homens foram reavaliados. A da aptidão funcional deve ser maior nos próximos anos,
proporção de declínio em força isométrica foi, em média, mantendo-se a inatividade e o descontrole do diabetes.
14% por década para os extensores do joelho e 16% por Assim, manter-se fisicamente ativo pode atenuar esse
década para os flexores do joelho em homens e mulheres. decréscimo nos idosos com diabetes fisicamente ativos nos
As mulheres demonstraram proporção menor no declínio próximos anos. Tal tentativa de analogia pode ser reforçada
da força muscular para os extensores e flexores do coto- pelo estudo de Cimbiz e Cakir,20 que comparou a aptidão
velo (2% por década) em relação ao declínio apresentado funcional de pacientes com diabetes do tipo 2 com ausência
pelos homens (12% por década). ou presença de neuropatia, verificando maior declínio
Além disso, a perda de massa muscular exerce papel nos indivíduos com o distúrbio, o qual está classicamente
importante na diminuição do consumo máximo de associado com o período de instalação e o não controle da
oxigênio (VO2máx) com a idade. Antoniazzi et al. demons- hiperglicemia. Ao contrário, o exercício físico resistido pode
traram que o ganho de força muscular com treinamento aumentar a aptidão funcional em médio e longo prazo e frear
de força proporcionou melhor resistência ao esforço e o desenvolvimento das comorbidades associadas ao diabetes.
Treinamento resistido, aptidão funcional e diabetes | 59
Corroborando isso, uma pesquisa que procurou avaliar ganhos sobre a aptidão funcional, sendo os efeitos mais signi-
a aptidão funcional geral na senescência em um período ficativos em membros inferiores, sobretudo no teste de sentar
de 12 anos mostrou que idosos que se mantiveram fisi- e levantar, e agilidade e equilíbrio dinâmico, em idosos com
camente ativos por mais de uma década apresentaram diabetes irregularmente ativos. As capacidades de flexibilidade
melhor desempenho em testes motores semelhantes aos e aptidão aeróbia não se modificaram com o treinamento
aplicados no presente estudo quando comparados aos seus realizado no período de 16 semanas, sugerindo que, para a
pares que permaneceram sem participar de programas de obtenção de alterações significativas, talvez seja necessário
exercícios físicos supervisionados no mesmo período.19 tempo maior de prática ou adição de atividades específicas a
essas capacidades motoras no programa de treinamento.
C onclus ão
Protocolo específico de treinamento resistido de característica C onflito de interesse
ondulatória quanto à intensidade, zona de repetição e intervalo Os autores deste trabalho declaram não possuir qualquer
de recuperação é eficiente para proporcionar significativos conflito de interesses.
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Artigo originalGERIATRIA & GERONTOLOGIA
60 | REVISTA
Sugestões de tratamento na
doença de Parkinson: intervenções
psicomotoras com videogame
R es umo
Palavras‑chave Objetivos: Avaliar aspectos cognitivos e motores em idosos com doença de Parkinson (DP) antes e após treinamento
Idoso, terapia por meio de 6 jogos de videogame. Métodos: Estudo com 9 sujeitos, de ambos os sexos. Passaram por anamnese clínica
de exposição à detalhada e foram submetidos a 7 sessões de treinamento por meio dos jogos: Cabeceio, Ski Slalom, Table Tilt Plus,
realidade virtual, Snowball Fight, Balance Bubble Plus e Big Top Juggling. Foi utilizada a análise estatística de Wilcoxon a fim de com-
doença de
parar o desempenho dos participantes na primeira e sétima sessões. Resultados: Os resultados mostraram melhora de
Parkinson, jogos
funções motoras e cognitivas. Os jogos do Cabeceio (Z = -2,207; p = 0,027), Snowball Fight (Z = -2692; p = 0,007), Table
de vídeo.
Tilt Plus (Z = -2,428; p = 0,015), Balance Bubble Plus (Z = -2,547; p = 0,011) e Big Top Juggling (Z = -2,549; p = 0,011)
mostraram diferenças estatisticamente significativas entre as sessões. Conclusão: Pode-se concluir que o treinamento
com jogos virtuais mostrou-se importante na melhora motora e cognitiva dos pacientes desta pesquisa. Sugere-se o trei-
namento com jogos virtuais que envolvam dupla tarefa, mais uma possibilidade de tratamento.
abstract
Keywords Objectives: To evaluate cognitive and motor skills of elderly with Parkinson disease who had been submitted to video
Elderly, virtual game training, including six different activities. Method: Longitudinal study involving nine subjects with Parkinson dis-
reality exposure ease of both genres. After having their detailed clinical anamneses taken, they were submitted to seven training sessions
therapy, video using the following games on the console Nintendo Wii – Wii Fit Plus: Soccer, Ski Slalom, Table Tilt Plus, Snowball Fight,
game, Parkinson
Balance Bubble Plus and Big Top Juggling. To compare the performance of the participating individuals during the first
disease.
and last sessions, the Wilcoxon test was chosen as the statistical analysis tool. Results: Results showed improvement in
the cognitive and motor skills. Most games showed statistically significant differences between the first and last sessions:
Soccer (Z = -2.207; p = 0.027), Snowball Fight (Z = -2.692; p = 0.007), Table Tilt Plus (Z = -2.428; p = 0.015), Balance
Bubble Plus (Z = -2.547; p = 0.011) e Big Top Juggling (Z = -2.549; p = 0.011). Conclusion: The training using video
game proved to be relevant for improving cognitive and motor skills of the subjects. Once conventional games exercises
can have limited results in improving those skills, it is desirable to test video games stimulating double task activities to
better offer a new type of treatment.
a
Faculdade de Medicina de Jundiaí.
b
Centro Universitário Fundação Instituto de Ensino para Osasco (Fieo).
que mais trabalhassem os movimentos de lateralidade, no teste do desenho do relógio pela escala de Mendez
equilíbrio, dupla tarefa, entre outros que contemplassem igual a 18 pontos e 4,5 por Shulman. Acerca da pontuação
as exigências corporais e cognitivas de pessoas idosas. na EDG (GDS-15), verifica-se média de 8,5 (mínimo =
Para analisar o desempenho dos pacientes nos jogos 0; máximo = 14; dp = 5,97). Na escala funcional (QAFP),
de videogame, na primeira e na sétima sessão, foi utili- a média encontrada foi de 7 pontos.
zado o programa SPSS (15.0). Foram realizadas análises A Tabela 2 descreve médias, valores mínimos,
descritivas quanto a idade, gênero e escolaridade por máximos e desvio-padrão (dp) nos jogos do video-
meio de médias, valores mínimos, máximos e desvio- game. Observam-se médias maiores na sessão 7 quando
-padrão. Para a análise comparativa entre os jogos na comparada à primeira sessão, com exceção do jogo Ski
primeira e sétima sessão, foi utilizado o teste Wilcoxon, Slalom, em que as médias observadas na primeira e
para avaliar a hipótese unilateral (H0 > H1), em que H0 sétima sessão são semelhantes.
representa a sessão 7 e H1 corresponde à primeira sessão. As análises comparativas realizadas por meio do teste
Wilcoxon (Tabela 3) evidenciam valores negativos e esta-
Resultados tisticamente significativos nos jogos Cabeceio (Z = -2,207;
A amostra foi composta por nove idosos, que apresentavam p = 0,027), Snowball Fight (Z = -2,2692; p = 0,007), Table
média de idade de 71,25 anos (mínimo = 60; máximo = 85; Tilt Plus (Z = -2,428; p = 0,015), Balance Bubble Plus (Z =
desvio-padrão [dp] = 10,4), sendo três (33,33%) do sexo -2,547; p = 0,011) e Big Top Juggling (Z = -2,549; p = 0,011).
feminino e seis (66,67%) do sexo masculino. A grande O jogo Ski Slalom não evidenciou diferenças estatistica-
maioria dos participantes tinha alta escolaridade, três mente significativas (Z = -0,533; p = 0,594). Pode-se inferir
(33,33%) idosos com nível superior completo, cinco idosos com os resultados apresentados que, após a sétima sessão,
(55,56%) entre 8 e 11 anos de estudo e apenas uma partici- os pacientes apresentaram melhoras nos escores dos jogos
pante com escolaridade entre 1 e 4 anos (11,11%). O tempo utilizados para melhorar o equilíbrio e a dupla tarefa.
de doença encontrada na amostra foi igual a 6,5 anos. Apenas o Ski Slalom, que trabalha a lateralidade e
Em relação aos testes cognitivos, pode-se observar foi escolhido por trabalhar os movimentos laterais dos
que a média no MEEM foi igual a 26, no teste de fluência membros inferiores, não mostrou ser um jogo significa-
verbal foi de 15 pontos, no CAMCOG foi de 82 pontos, tivo para o grupo estudado.
Cabeceio (Soccer Head) Deslocamentos laterais e controle inibitório, sendo predominantes os movimentos frontais Soma do total de acertos
Ski Slalom Deslocamentos laterais, sendo predominantes os movimentos laterais Tempo de execução
Snowball Fight Deslocamentos laterais com os pés e concomitantemente movimentos com um dos braços Soma do total de acertos
Balance Bubble Plus Deslocamento com tempo de velocidade de processamento Soma do total de acertos
Deslocamento lateral com as pernas, exige ainda atenção, controle inibitório e movimentação com
Big Top Juggling Soma do total de acertos
as mãos em movimentos alternados de acordo com o estímulo apresentado pelo videogame
Tabela 2 Análises descritivas (médias, mínimo, máximo e desvio-padrão) entre as sessões nos jogos de videogame
Sessão 1 Sessão 7
Jogos
Média Média
Mín-Máx (dp) Mín-Máx (dp)
7 14,83
Cabeceio (Soccer Head)
2-15 (±4,98) 4-20 (±5,84)
95,56 95,56
Ski Slalom
63-117 (±17,28) 37-244 (±60,43)
4,44 7,22
Snowball Fight
1-10 (±3,09) 2-11 (±2,77)
12,22 24,44
Table Til Plus
10-20 (±4,41) 10-30 (±8,82)
200,56 418,89
Balance Bubble Plus
33-599 (±187,95) 152-752 (±269,91)
16,67 92,67
Big Top Juggling
1-95 (±30,14) 2-471 (±147,98)
Videogame e tratamento para Parkinson | 63
Tabela 3 Análises comparativas por meio do teste Wilcoxon, testando a hipótese H0 > H1
Hipótese H0 > H1 Z p
R eferências
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Artigo
Percepção de maus-tratos original
pelo idoso | 65
Percepção de maus-tratos
no domicílio pelo idoso morador
no município de Juazeiro (BA)
Res umo
Palavras‑chave Objetivo: Analisar a percepção de violência pelo idoso morador de Juazeiro (BA) e como ele reage diante da situação. Métodos:
Violência O estudo, do tipo qualitativo, contou com a participação de 10 idosos na faixa etária entre 64 e 84 anos, com indícios de violência
intrafamiliar, e que frequentavam uma Unidade de Saúde da Família. A teoria bioecológica do desenvolvimento humano, de Bronfenbrenner
idoso e (1998), foi a fundamentação teórica utilizada e permitiu o estudo do idoso dentro do microssistema familiar e a sua integração
enfrentamento. dentro desse ambiente ecológico. As informações foram coletadas por meio de entrevistas com roteiro semiestruturado contendo
questões abertas. Depois de transcritas, foi efetuada a análise de conteúdo. Resultados: As formas de violência encontradas
foram: psicológica (90%), negligência (100%), financeira (50%), física (30%) e abandono (30%). A violência foi percebida nas
ações e circunstâncias vivenciadas no cotidiano como confusão, bebida, brigas, desentendimento, brutalidade, desobediência e
agressão física. A reação dos idosos diante das situações de violência apresentou-se como inexistente, de forma tímida, temerosa
e fragilizada. Alguns idosos reagiram por manifestação patológica. O apoio de familiares, amigos e religião foram as estratégias
de enfrentamento utilizadas. Conclusão: A violência é percebida pelo idoso morador de Juazeiro, porém sem reação diante da
situação. Existe a necessidade de articulação de uma rede de apoio, a fim de formar parcerias para o combate à violência.
Abstract
Keywords Objective: To analyze the perception of violence by elderly residents of Juazeiro (BA) and how they react to the situation.
Domestic Methods: This qualitative study, with the participation of 10 elderly people between 64 and 84 years old, with evidence of
violence, elderly violence and attending a Family Health Unit. The bioecological theory of human development of Bronfenbrenner (1998)
and coping. was the theoretical framework used and allowed the study of the elderly within the family microsystem and its integration
within this ecological environment. The data was collected through semi-structured interviews with open questions. The
analysis was performed after the transcription of the interviews. Results: The results indicate the following forms of violence:
psychological (90%), neglect (100%), financial (50%), physical (30%) and abandon (30%). The violence was perceived in the
actions and circumstances experienced daily, such as confusion, drink, fight, disagreement, brutality, physical aggression and
disobedience. The reaction of elderly people facing situations of violence seemed as nonexistent, timid, fearful and fragile.
Some seniors responded by pathological manifestation. The support of family, friends and religion were the coping strategies
used. Conclusion: The violence is perceived by the elderly resident of Juazeiro, but they have presented no reaction to the
situation. There is a need to articulate a support network to form partnerships to combat violence.
diano, ou seja, no contexto em que vivem. Essa categoria No. de pessoas no domicílio
pôde ser dividida nas subcategorias: a) relacionamento Nenhum 0 0
com os familiares moradores no domicílio; b) relaciona- 1-3 5 50
mentos com familiares que não moram no mesmo domi- Mais de 4 5 50
cílio; c) relacionamento social e com amigos.
Escolaridade
A segunda categoria elencada foi a violência intrafami-
Analfabeto 6 60
liar, que aborda as expressões dos participantes em relação
Ensino Fundamental 3 30
à violência intrafamiliar vivenciada. Essa categoria foi subdi-
vidida em três subcategorias: a) tipos de violência; b) autores Ensino Médio 1 10
Não 0 0
R es ultados F: frequência; N: tamanho da amostra
Os dados sociodemográficos e clínicos dos participantes
da pesquisa foram organizados conforme a Tabela 1. Tabela 2 Frequência da categoria relacionamento familiar e pessoal e
Quando os participantes da pesquisa foram questio- subcategorias relacionadas a ela, dos idosos participantes da pesquisa
nados sobre sua ocupação, viu-se que 6 eram do lar, 4 (N = 10)
ainda trabalhavam e declararam as seguintes profissões: F (%) por
Categorias e subcategorias F
vendedor de frutas, lavadeira de roupas, zeladora e auxi- categoria
liar de nutrição. Foi observado que todos os idosos apre- Relacionamento familiar e pessoal 535 100
sentavam algum tipo de patologia, como hipertensão (9), Relacionamento com familiares que moram no
287 53,6
ansiedade (2), diabetes (2), artrose (2) e Parkinson (1). mesmo domicílio dos idosos
A categoria relacionamento familiar e pessoal foi Relacionamento com familiares que não moram
94 17,5
no mesmo domicílio dos idosos
demonstrada conforme a Tabela 2, e a frequência
percentual foi calculada baseando-se no número total de Relacionamento social e com amigos 154 28,9
trechos do discurso dos participantes relacionados com F: frequência; N: tamanho do grupo de participantes
68 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
a categoria. Foram 535 falas analisadas. A categoria foi avaliavam a própria saúde, foi possível perceber que o que
dividida em três subcategorias. eles consideram como problema de saúde é diferente da
Quando foram questionados sobre como era o doença crônica que possuem. Isa declarou: “(...) Eu acho que
relacionamento familiar, 5 idosos responderam que vai bem, né, porque quando tô assim com a minha pressão
o relacionamento familiar era bom e que a família era alta os meninos ficam me agoniando... eles dizem pra eu me
unida; porém, outros 5 declararam existirem brigas ou conformar (...).” Essa idosa é portadora de diabetes e hiper-
problemas. Quando foram questionados sobre como se tensão, mas ela não mencionou o diabetes, falou da hiper-
sentiam morando com os familiares, 6 relataram que se tensão e considerou estar relacionada à agitação “agonia”
sentiam bem, porém 4 declararam que se sentiam mal. vivenciada no domicílio. Já Sebastiana avaliou a saúde como:
Quando foram questionados se sentiam respeitados, “(...) as pernas doendo, problemas na cabeça, nervoso, só
a maioria (9) respondeu que sim, porém em diversas isso (...).” Essa idosa é portadora de ansiedade e de doença
falas muitos dos participantes demonstram o contrário: de Parkinson, não reconhece a doença e por isso não se trata.
“(...) só que esse rapaz eu num (sic) gostei dele porque ele Quando foram questionados se possuíam religião,
num (sic) me respeitou, chegou batendo na minha porta todos responderam positivamente, e em diversas falas
uma hora da manhã (...)” (Laura). Apesar de a maioria (80 vezes) foram encontradas palavras com simbo-
dos idosos conviver em lares com muitos moradores, logia religiosa. Quando os idosos foram questionados
quando foram questionados sobre solidão 7 respon- sobre a frequência à igreja, 70% da amostra afirmaram
deram que esse era um sentimento presente em sua vida. não frequentar igreja e os motivos foram vários: “(...)
Por outro lado, sentimentos como “carinho”, “afeto” Frequento, só num (sic) tô frequentando agora mais
e “amor” também foram encontrados em diversas porque eu num (sic) tenho tempo... com menino... e de
falas deste estudo: “(...) esse que usa drogas, comigo noite tem as novenas aqui na capelinha (...)” (Berna-
é mainha para cá, nem a mãe dele chama de mãe (...)” dete); “(...) nem católica e nem evangélica, mas não
(Sônia); “(...) eu me sinto uma pessoa muito amada frequento assim não, logo eu não posso andar, logo eu
(...)” (Joana). O sentimento de carinho foi encontrado tenho medo de cair (...)” (Helena).
em 40 trechos analisados, ou seja, em 7,4% do total de Quando os participantes deste estudo foram questio-
falas referentes à categoria. nados se participavam de grupos de idosos, apenas um
Quando os idosos foram questionados se eram idoso referiu participar e, mesmo assim, fazia tempo que
felizes, todos responderam que sim. Porém, a felicidade não comparecia. Percebeu-se que os participantes do
não foi mencionada em mais nenhum outro momento. estudo possuíam muitas amizades e achavam importante
Helena respondeu: “(...) eu me considero a mulher ter amigos, porém apenas dois idosos responderam que
mais feliz do mundo porque tenho amizade com todo participavam de atividades de lazer.
mundo e isso ninguém tira de mim (...).” Porém, tris- Quando foram interrogados se ajudavam alguém
teza e choro foram mencionados em 55 falas (10,3%) de com a renda, todos responderam positivamente. Os
trechos analisados referentes à categoria. idosos também foram questionados se a renda era sufi-
Quando questionados sobre quem realizava as ciente para viver e, apesar das dificuldades enfrentadas, a
tarefas domésticas, obtivemos resposta de que 7 dos maioria deles (7) considerava suficiente.
entrevistados realizavam todas as tarefas da casa. Em relação à violência sofrida e percebida, o estudo
Quando foram questionados sobre quem preparava elencou a segunda categoria violência intrafamiliar e,
a comida, 8 responderam que eram eles, e 2 alter- para melhor entendimento, essa categoria foi dividida
navam essa atividade com algum outro morador da em três subcategorias. Esses dados podem ser obser-
casa. Quando questionados se gostavam de preparar a vados na Tabela 3.
comida, apenas 5 responderam positivamente.
A preocupação com as pessoas que moram no domi-
cílio esteve presente em várias falas dos entrevistados: Tabela 3 Frequência da categoria “violência intrafamiliar” e
“(...) eu fico preocupado, um tempo desses mataram subcategorias relacionadas a ela, dos idosos participantes da pesquisa
um cara no curtume (...)” (Rui). Contudo, observou- (N = 10)
se a importância, atribuída pelos idosos, dos familiares F (%)
Categorias e subcategorias F por
que não moravam no mesmo domicílio, uma vez que ao categoria
serem questionados sobre quem era a pessoa mais signi-
Violência intrafamiliar 210 100
ficativa em sua vida 90% deles responderam que eram os
filhos e os parentes que não moravam com eles. Tipo de violência 121 57,6
A respeito da participação deles nas decisões da Autor 31 14,8
família, cinco idosos responderam que participavam por
Reações diante de uma situação de violência 58 27,6
opinião e ajuda.
Quando os idosos foram interrogados a respeito de como F: frequência; N: tamanho do grupo de participantes
Percepção de maus-tratos pelo idoso | 69
Pelas falas dos participantes percebe-se que diversas e ela declarou: “(...) só teve uma vez que ela me pegou,
modalidades de violência fazem parte do dia a dia dessas quase me mata (...)” “(...) ela só me deu um tapa (...)”.
pessoas. A frequência dessas modalidades pode ser A violência financeira foi detectada como uma
visualizada na Figura 1. modalidade de violência vivenciada por 50% dos idosos
entrevistados. Foram feitas perguntas sobre quem admi-
Figura 1 Frequência das formas de violência entre os idosos nistrava o dinheiro do idoso; se já tinha sido obrigado
participantes da pesquisa
a assinar procuração, se o dinheiro já tinha sido usado
para comprar objetos para outras pessoas sem o consen-
timento dele; se as pessoas que moravam na casa depen-
120%
100%
diam do dinheiro do idoso para viver e se já haviam feito
Ocorrência de violência (%)
0%
Psicológica Negligência Financeira Abandono Física Tabela 4 Dados sociodemográficos dos autores da violência contra os
idosos entrevistados (N = 17)
Tipo de violência
Dados sociodemográficos F F (%)
Sexo
Quando os sujeitos deste estudo foram questionados
Feminino 3 17,6
sobre o que era violência percebeu-se nos relatos a criação
Masculino 14 82,4
de uma imagem relacionada ao que eles vivenciam no dia
Idade
a dia, podendo ser dado como exemplo: “(...) negócio de
confusão, negócio de briga, só vive brigando (...)” (Sebas- 5-10 2 11,8
entrevista foi perguntado se a neta já a havia machucado F: frequência; N: tamanho do grupo de participantes
70 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Na Tabela 4, é possível verificar dados sociodemográf- outros integrantes da família. As principais características
icos referentes aos autores da violência. da família dos entrevistados foram: insuficiência material,
A dependência química, principalmente o alcoolismo, psicológica e afetiva, principalmente entre o idoso e os
mostrou-se relevante na caracterização dos autores da autores da violência, na maioria deles usuários de álcool.
violência, pois as palavras “bebida” e “álcool” estiveram Porto e Koller18 afirmam que o carinho deve fazer parte
presentes em 32,8% das falas dos entrevistados. dos relacionamentos do idoso porque, por amor e atenção,
Em relação às reações diante de situações de violência, o idoso encontra no microssistema familiar maior signi-
verificou-se que as respostas desses idosos variaram ficado para vivenciar seus últimos anos de vida. Para os
desde não tomar nenhuma atitude até externar a situação, entrevistados, as qualidades mencionadas para classificar as
porém de forma sutil, tímida e com bastante sofrimento. pessoas mais significativas para eles foram carinho, atenção
Sebastiana, no seu discurso, mostrou fragilidade e tris- e cuidado, as quais foram pouco demonstradas nas relações
teza, mas também disposição para buscar a ajuda de amigos existentes no ambiente ecológico familiar. Um aspecto posi-
no enfrentamento da situação; assim, ela declarou: “(...) aí tivo percebido foi o fato de a maioria sentir-se participativa
fiquei nervosa (...) tem vez que eu choro (...) aí vou pra casa nas decisões familiares e de receber sempre notícias e infor-
de um e de outro (...).” Em relação a Deia, ela expressava um mações de parentes e amigos. Os idosos conseguiram se
sentimento de vergonha, sem possibilidade de conversar adaptar à falta de recursos afetivos e consideraram-se felizes.
com outras pessoas e buscava a ajuda de Deus: “(...) eu Os participantes deste trabalho frequentavam pouco
sofria com isso. Sentia vergonha, eu sentia vergonha de a igreja, não participavam de grupos, mas as relações de
contar ao povo. (...)” “(...) Rezo e entrego a Deus (...).” amizade, principalmente com vizinhos, foram mencio-
As falas de Laura e Carmem expressavam sentimentos nadas como algo importante e significativo para eles.
de tristeza e preocupação com o filho violento, muitas vezes A falta de recursos materiais e financeiros também foi
sendo motivo de choro e angústia. Em outras falas, Laura mencionada como algo normal e esperado na vida.
demonstrou uma tentativa de diálogo com o filho: “(...) chamo As principais formas de violência presentes no
ele e converso com ele, só que ele tando (sic) bêbado num (sic) ambiente intrafamiliar dos idosos foram a psicológica
me obedece, não.” Nos discursos de Helena e Sônia, a reação e a negligência, seguidas da financeira e, em menor
diante da violência foi apresentada como tentativa de fuga e a proporção, a física e o abandono. Esse resultado não
busca por familiares e parentes: “(...) quando eu tô (sic) assim, corrobora outros trabalhos que evidenciam o abuso físico
de raiva, às vezes eu vou para casa da minha filha (...)” (Sônia). como o tipo mais comum de violência contra o idoso.19
Neste trabalho, o medo do idoso em relação ao agressor e de Para os idosos de Juazeiro, a violência é percebida nas
piorar ainda mais a situação existente também foi expresso pelo ações e circunstâncias vivenciadas por eles no cotidiano
discurso de alguns participantes: “(...) ôxe, (sic) eu tenho medo como confusão, bebida, brigas, desentendimento, bruta-
dela, ela tem uma força que eu quero que a senhora veja (...)” lidade, desobediência, tristeza e agressão física.
(Isa); “(...) quando ele tá bêbado, eu tenho medo (...)” (Laura); Em relação aos autores da violência, observou-se que os
“(...) aí, pra evitar confusão com meus filhos e meus netos, eu agressores eram, na maioria das vezes, filhos da vítima, do
saio (...)” (Sônia). Alguns idosos apresentaram reações patoló- sexo masculino, dependentes financeiramente e usuários de
gicas e/ou orgânicas, ou seja, somatizaram o problema viven- drogas e álcool. Souza et al.20 e Andersson21 salientam que
ciado: “(...) a gente se preocupa, o problema de pressão que a muitos agressores de idosos apresentam problemas mentais e
gente tem é de preocupação (...)” (Bernadete). alcoolismo. A Organização Mundial da Saúde (OMS)22 afirma
Quando foram perguntados se já ouviram falar do existirem ligações diretas entre o álcool e o abuso contra os
Estatuto do idoso, 6 responderam negativamente, 2 já idosos, e relata que os agressores são pessoas financeiramente
tinham ouvido falar, mas não conheciam nada dele e 2 dependentes das vítimas e costumam ser negligentes, além de
externaram algum conhecimento. praticar violência física, psicológica e explorar a vítima finan-
ceiramente, assim como foi demonstrado nesta pesquisa.
D iscuss ão Quanto à reação dos idosos diante das situações de
A partir dos resultados pode-se concluir que a complexi- violência, apresentou-se em alguns casos como inexis-
dade que envolve o contexto ecológico familiar propor- tente ou, em outras situações, de forma tímida, temerosa
ciona aos integrantes diversas influências, que, de acordo e fragilizada. Não demonstraram atitude mais enérgica em
com o momento, podem ser consideradas positivas ou nenhum momento, e choro, tristeza e vergonha traduziram
negativas e refletir direta e indiretamente nos relaciona- os sentimentos deles diante dessas situações. Esses dados
mentos. Por meio das entrevistas, foi possível perceber corroboram os achados de Menezes,23 quando comenta que
diversos sentimentos que refletiam a qualidade dos rela- a omissão por parte dos idosos diante de uma situação de
cionamentos familiares, pessoais e sociais dos idosos violência é proveniente de insegurança, medo, proximidade,
moradores de Juazeiro, como falta de respeito, solidão, tris- afeto, amor e instinto de proteção que existe na relação com
teza e preocupação. A maioria dos participantes realizava o familiar agressor. Alguns idosos apresentaram reações
todas as tarefas domésticas da casa, para si e para todos os por manifestação patológica, somatizando a situação de
Percepção de maus-tratos pelo idoso | 71
violência vivenciada. Esse resultado é corroborado por violência e o silêncio diante dessas situações por parte da popu-
Silvestre e Costa Neto,24 que comentam que o bem-estar lação. Para isso, sugere-se uma capacitação dos profissionais
emocional e social tem maior valor que o bem-estar físico, de saúde e a articulação de uma rede de apoio aos idosos, a fim
e consideram que o profissional de saúde deve levar em de formar parcerias para o combate à violência que os atinge e
consideração a multicausalidade dos processos mórbidos. para maior conscientização a respeito dos seus direitos.
Quanto às estratégias de enfrentamento, percebe-se Campanhas de educação para a população idosa e
pelos relatos que o apoio de amigos e familiares foi a da comunidade, a respeito da divulgação do Estatuto do
estratégia utilizada pelos idosos para suportar a situação idoso e de outras políticas que favorecem esse grupo etário
de estresse e de violência. Outros participantes mencio- devem ser estimuladas, procurando incentivar as denún-
naram a religião como conforto, apoio e esperança. cias e o combate dessa forma tão cruel de violência.26
Alves25 aponta que a espiritualidade é um forte indicador
de resiliência na superação das adversidades, como capa- C oncl u s ão
cidade de encontrar significado na vida pela fé. A violência contra o idoso morador de Juazeiro existe e precisa
O estudo permitiu visualizar os fatores de risco que ser combatida. A educação dos participantes envolvidos
predispõem à ocorrência de violência no ambiente fami- nos cuidados com o idoso pode ser considerada uma forma
liar para os moradores de Juazeiro como eventos estres- adequada de intervenção e uma medida viável para enfrentar
santes, ausência de apoio, falta de afeto, preocupação, um problema tão relevante. Espera-se que este trabalho tenha
baixo nível socioeconômico e presença de alcoolismo na sensibilizado a comunidade acadêmica e a sociedade em geral
família. Porém, a união familiar, o apoio social externo no que se refere ao fenômeno da violência contra o idoso e
e o religioso podem ser considerados como fatores de sirva como impulso para despertar os pesquisadores a dar
proteção, pois serviram de suporte para o enfretamento continuidade aos estudos relacionados aos idosos de Juazeiro.
da violência e como motivação para superar as adversi-
dades decorrentes da fragilidade dos processos proximais. C onflito de interesse
A falta de conhecimento em relação à legislação a favor Os autores declaram não possuir nenhum conflito
do idoso existente nos dias atuais fortalece a ocultação da de interesse.
R eferências
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Artigo de revisão
72 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
síndrome do pé doloroso
na população idosa
R es umo
Palavras‑chave Objetivo: Abordar as peculiaridades etiológicas e fisiopatológicas das diversas patologias que acometem os pés dos
Pé, idoso. idosos, com ênfase nos aspectos diagnósticos e terapêuticos. Método: Revisão da literatura de 1987 a 2012 sobre o
tema em questão. Resultado: Os metatarsos constituem o local mais frequente de dor, com predominância no sexo
feminino. Entre as causas mais frequentes, destacamos: fasciite plantar, hálux valgo, dedos em garra, martelo ou ma-
lho, pé cavo, pé plano, síndrome do esporão do calcâneo, tendinites, onicomicose, osteoartrose, artrite reumatoide,
crise gotosa, diabetes, entre outras. Para o diagnóstico deve-se realizar a avaliação geriátrica ampla, mas também
avaliação vascular, exame neurológico, biomecânica e avaliação dermatológica. O tratamento envolve mudança de
hábitos, fisioterapia e abordagens específicas de acordo com a causa do pé doloroso. Conclusão: Essa afecção é
frequente e passível de prevenção quando aliada a diagnóstico e tratamento adequados objetivando redução de
incapacidade e preservação de autonomia e independência.
a
Alunos do 10o semestre do curso de Medicina. Universidade São Francisco (USF), Bragança Paulista, SP.
b
Aluno do 11o semestre do curso de Medicina. Universidade Lusíadas, Santos, SP.
c
Membro titular da Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Especialista em geriatria pela SBGG. Professor de geriatria da disciplina de
saúde coletiva da USF.
inferiores com repercussões nos pés. Meus pés doem mais de noite
• Biópsia de lesões ulcerosas: Avaliação etiológica Sinto dores e pontadas nos meus pés
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Artigo
Benefícios de prebióticos, probióticos de revisão
e simbióticos | 77
Benefícios da utilização
de prebióticos, probióticos e
simbióticos em adultos e idosos
Res umo
Palavras‑chave Probióticos, prebióticos e simbióticos são chamados de alimentos funcionais (AF). A utilização deles estimula a proliferação de
Suplementos bactérias benéficas, em detrimento da proliferação de bactérias prejudiciais, reforçando os mecanismos naturais de defesa do
dietéticos, trato hospedeiro, mantendo o equilíbrio, podendo estimular diretamente a imunidade, a proteção contra patógenos e evitar a infecção por
gastrointestinal, Clostridium decorrente do uso de antibioticoterapia. É comum que os pacientes evoluam com distúrbios do trato gastrointestinal (TGI)
tempo de capazes de aumentar o tempo de internação, ocasionando outras complicações, como infecções respiratórias e úlceras por pressão. O
internação, objetivo do estudo foi identificar aspectos referentes ao uso de simbióticos, prebióticos e probióticos em adultos e/ou idosos e descrever
constipação as vantagens e desvantagens de sua utilização. Foi realizada uma revisão bibliográfica por enfermeiros de unidade semi-intensiva de
intestinal/ um hospital de grande porte da cidade de São Paulo entre os anos de 2011 e 2012. Utilizou-se como eixo norteador o questionamento:
é possível beneficiar os pacientes internados com o uso de prebióticos, probióticos e simbióticos, prevenindo assim as complicações do trato
prevenção e
gastrointestinal? Concluiu-se que diversas complicações dos pacientes internados decorrentes de alterações do TGI, como inapetência,
controle, alimentos
distúrbios hidroeletrolíticos, desidratação, suscetibilidade para a formação de úlceras por pressão, dermatites etc. podem ser evitadas
funcionais, custos
com o uso contínuo desses produtos. Essa intervenção reduziria o tempo de internação, o custo hospitalar e o tempo despendido pela
hospitalares, idoso.
equipe de enfermagem em situações preveníveis. Não ficaram claras as desvantagens quanto ao uso desses produtos.
Abstract
Keywords The use of probiotcs, prebiotcs and synbiotics are called functional foods. The use of them stimulate the proliferation of
Dietary beneficial bacteria, rather than the proliferation of harmful bacteria, the strengthen of the natural defense mechanisms of the
supplements; host maintaining the balance, they can directly stimulate immunity, protection against pathogens and prevention of infection
gastrointestinal by Clostridium resulted of the using of antibiotics. It is common for patients to proceed with gastrointestinal tract disorders are
able to increase the lenght of hospital stay causing other complications, such as respiratory infections and pressure ulcers. The
tract, length of aim of study was to identify aspects concerning the use of synbiotics, prebiotcs and probiotcs in adults and/or elderly people
stay, constipation/ and to describe the advantages and disadvantages of their use. A literature review was performed by nurses of a semi-intensive
control and of a large hospital in the city of São Paulo between the years 2011 and 2012. The following question was used as a guideline:
prevention, Is it possible to benefit hospitalized patients with the use of prebiotics, probiotics and synbiotics, thus preventing the
functional food, complications of the gastrointestinal tract? It was concluded that many complications of inpatients were resulted from
hospital costs, changes in the GI tract, such as anorexia, eletrolyte imbalance, dehydration, susceptibility to the formation of pressure ulcers,
elderly. dermatitis, and so on. Continued use of these products could prevent these situations, thereby reducing the length of stay,
hospital costs and time spent by nursing staff in preventable situations. It is not clear the disadvantages of using these products.
a
Enfermeira da unidade semi-intensiva do Hospital Sírio-Libanês. Tutora da residência de enfermagem em clínica médica e cirúrgica do Hospital Sírio-Libanês.
Especialista em gerenciamento dos serviços de enfermagem. Especialista em enfermagem geriátrica e gerontológica. Especialista em insuficiência respiratória.
b
Enfermeiro da unidade semi-intensiva do Hospital Sírio-Libanês. Especialista em enfermagem geriátrica e gerontológica. Especialista em
gerenciamento de serviços de enfermagem.
c
Enfermeira da unidade semi-intensiva do Hospital Sírio-Libanês. Especialista em cardiologia.
d
Enfermeira da unidade semi-intensiva do Hospital Sírio-Libanês. Especialista em pneumologia.
e
Enfermeira. Professora orientadora. Mestre, doutor e pós-doutorado pela Universidade de São Paulo (USP). Especialista em UTI pelo HCFMUSP.
Tabela 3 Principais alterações do trato gastrointestinal e cuidados de enfermagem. São Paulo, 2011/2012
Principais alterações do TGI Cuidados de enfermagem
- Sinalizar e discutir com equipe médica e de nutrição necessidade de alimentos ou medicamentos laxativos
- Discutir a necessidade de uso de enema ou supositório
- Monitorar frequência, quantidade e aspecto das evacuações
- Estimular a ingestão hídrica (se não houver contraindicações)
- Rever com equipe médica se há na prescrição algum medicamento que possa ocasionar constipação e discutir
modificação do item, se possível
Constipação
- Verificar com o paciente se ele faz uso de laxativos em casa e se os mesmos estão prescritos
- Atentar para sangramentos durante evacuações
- Proporcionar privacidade no momento da evacuação
- Realizar exame físico abdominal e atentar para distensão
- Observar e registrar aceitação alimentar, presença de náuseas e/ou vômitos
- Sinalizar e discutir com equipe médica e de nutrição necessidade de alimentos ou medicamentos obstipantes
- Monitorar frequência, quantidade e aspecto das evacuações
- Inspecionar a integridade cutânea em região inguinal e perianal
- Realizar exame físico abdominal
- Higienizar a genitália a cada evacuação (o mais breve possível)
- Utilizar cremes que evitem o surgimento de lesão de pele por contato com as fezes ou tratar lesões já instaladas
- Estimular ingestão de líquidos (se não houver contraindicações)
Diarreia - Discutir com equipe médica necessidade de reposição volêmica por soluções intravenosas quando indicado
- Realizar peso diário nos casos de diarreia prolongada
- Verificar exames laboratoriais e atentar para a presença de distúrbios hidroeletrolíticos
- Atentar para sinais de desidratação (turgor de pele diminuído, pele e mucosas ressecadas, taquicardia e alteração do
nível de consciência)
- Buscar ativamente as possíveis causas da diarreia e tratamento do fator causal
- Sugerir coleta de Clostridium difficile (quando se aplicar)
Não houve diferença entre os grupos quanto aos Foram encontrados estudos que relatam a redução
sintomas, apenas na saciedade, que foi menor no grupo na intolerância à lactose e, consequentemente, de alguns
controle. Não houve mudança na microbiota das fezes, sintomas, principalmente da diarreia.1
fazendo com que o autor sugira que os efeitos benéficos Atualmente sabe-se que algumas complicações do
dos probióticos pode não estar relacionado diretamente TGI podem ser ocasionadas por neoplasias de cólon e
com a microbiota. reto. Essas neoplasias são a terceira causa mais comum
Pesquisa realizada no Chile demonstra que há efei- de câncer no mundo e, segundo o Instituto Nacional de
tos benéficos para a microbiota intestinal, desde que haja Câncer (Inca), afetam igualmente homens e mulheres.17
consumo regular de La1, resultando em aumento de po- O consumo de produtos laticínios fermentados é ca-
pulações bacterianas benéficas: lactobacilos e bifidobac- paz de inibir determinadas bactérias responsáveis pela
térias, e redução de populações maléficas.10 conversão de substâncias pré-carcinogênicas em carci-
Também são descritos estudos que avaliam a resposta nogênicas. Porém, ainda são necessários mais estudos de
imunológica, sendo que em adultos essas pesquisas são caráter intervencional em seres humanos para a poten-
direcionadas a doenças inflamatórias do intestino, como cialização da prevenção do câncer de cólon e reto.17
doença de Crohn e colite ulcerativa.11 Em pesquisa realizada com 17 pacientes com câncer
Sobre idosos, é sabido que ocorre declínio da função de cólon em tratamento quimioterápico, foi constatado
imunológica e pode ocasionar hiporresponsividade a que a diarreia foi o segundo efeito colateral mais fre-
vacinas e predisposição a doenças infecciosas e não in- quente, ocorrendo em 70,5% com o pico no sétimo dia
fecciosas.12 O envelhecimento está associado a mudanças de tratamento. Daí a importância de pesquisas que pos-
orgânicas e teciduais, e, além disso, a microbiota intes- sam indicar a melhora ou não desse sintoma com o uso
tinal difere da dos adultos, pois há no intestino maior de alimentos funcionais.18
quantidade de bactérias prejudiciais, como Clostridium De acordo com estudo realizado no Brasil, com 24
perfringens e enterobactérias do que as benéficas, como pacientes com neoplasia maligna hematológica em qui-
as bifidobactérias.12 mioterapia, não houve diferença estatisticamente signifi-
Em 2011, foi publicado um estudo com 58 idosos que cante quanto à presença de diarreia, porém o grupo que
evidenciou haver aumento em frequência de evacuações recebeu suplementação teve aumento considerável de
semanais com o uso de prebiótico. Encontrou ainda que bifidobactéria em relação ao grupo placebo, assim como
o consumo em doses baixas desse alimento aumenta os os níveis de PCR diminuídos, indicando menor nível de
níveis séricos de proteínas totais, diminui a proteína C processos inflamatórios.19
reativa e o colesterol, indicando benefícios nutricionais.13 Quando se trata do impacto na prática assistencial,
A incidência de alterações gastrointestinais em idosos enfatizamos que existem escalas aplicadas pela enfer-
hospitalizados pode ser alta. Em um estudo que avalia os magem que demonstram influência negativa da diarreia
diagnósticos de enfermagem em idosos, foi verificado quanto ao risco de lesões de pele e do tempo de atendi-
que, de 61 pacientes, 22,38% apresentaram constipação, mento prestado aos pacientes. Dentre elas, a mais utili-
e 17,91%, diarreia.14 zada no Brasil é a escala de Braden, que objetiva medir o
Os AF podem ser utilizados em instituições de risco de desenvolver úlcera por pressão (UPP), levando
longa permanência de idosos onde os pontos ressal- em consideração uma pontuação para pele exposta com
tados são o valor calórico, a boa aceitação, a melho- maior frequência à umidade, portanto pacientes com
ra no sistema imunológico, a redução de dias com menor mobilidade física e com evacuações líquidas pre-
febre, a redução de dias com diarreia, o aumento sentes possuem risco aumentado de desenvolver UPP,
de absorção de cálcio, a redução de problemas com necessitando de maiores cuidados.20
constipação, entre outros. 4 A outra é a escala Nursing Activities Score (NAS),
Em uma unidade de internação de clínica médico- que é aplicada a pacientes de alta dependência em uni-
-cirúrgica foram avaliadas, quanto ao diagnóstico de en- dades de terapia intensiva (UTI), e visa medir o tempo
fermagem, 60 mulheres com patologias diversas, sendo de assistência da equipe de enfermagem. Diversos itens
identificada taxa de 41,6% de constipação, com a idade são avaliados, mas aqui cabe ressaltar que a quantidade
média dessas mulheres de 49 anos.15 de episódios de diarreia aumenta esse escore devido à
Em estudo realizado com 378 mulheres com idades necessidade de higienização e mobilização, levando em
entre 18 e 55 anos, apresentando ou não quadro de cons- consideração que esse procedimento geralmente deve
tipação intestinal funcional, foram ofertadas 2 unidades/ ser executado por mais de um colaborador.21
dia de Activia ou uma sobremesa láctea sem probióticos Em trabalho realizado na Universidade de São Paulo apli-
(grupo controle) por período de 14 dias e, após, os gru- cou-se a escala em uma unidade de internação clínica médi-
pos foram intercruzados por mais 14 dias, concluindo-se ca, que concluiu que o paciente com alta dependência neces-
que a ingestão de simbióticos pode ser uma ferramenta sita, em média, de 12,3 h de assistência nas 24 h diárias; 75,8%
útil no gerenciamento de pacientes constipados.16 do item higiene foi direcionado a mais de 2 h de cuidados.21
Benefícios de prebióticos, probióticos e simbióticos | 81
Em resumo, os artigos reunidos demonstram que o correm de alterações do TGI, como inapetência, distúr-
uso de pré, pró e simbióticos não apresenta efeitos in- bios hidroeletrolíticos, desidratação, suscetibilidade para
desejáveis, é de baixo custo e possui boa aceitação, po- a formação de úlceras por pressão, assaduras etc. Com a
dendo ser uma alternativa conveniente no uso rotineiro administração desses produtos pode haver redução no
hospitalar devido às vantagens descritas anteriormente. tempo de internação, diminuição de custo hospitalar e
menor tempo despendido pela equipe de enfermagem
C onclus ão para executar outras atividades assistenciais.
Os AF são úteis na melhora da função e sintomas do O intuito desses levantamentos é a busca de conhe-
TGl, equilíbrio da microbiota intestinal, resposta imu- cimento científico que nos permita identificar, preve-
ne intestinal, prevenção de doenças do TGI, aumento nir e atuar juntamente com uma equipe multidiscipli-
da absorção/retenção do cálcio e magnésio, aumento da nar em quaisquer alterações do TGI, assim como nas
osteocalcina, aumento das proteínas totais e diminuição suas complicações.
da proteína C reativa, colesterol e intolerância à lactose.
Não ficaram claras as desvantagens quanto ao uso C onflito de interesse
desses produtos. Os autores declaram não possuir nenhum conflito de in-
Diversas complicações dos pacientes internados de- teresse na sua realização e publicação.
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Artigo de revisão
82 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
R es umo
Palavras‑chave O aumento da população idosa determina importantes desafios para a manutenção da qualidade de vida e do esta-
Acessibilidade do de saúde. Um desses desafios abrange a dimensão do ambiente físico e a acessibilidade espacial aos idosos nos
espacial, idoso, cuidados de enfermagem. O objetivo deste trabalho é discutir, por meio de uma revisão narrativa da literatura, as
enfermagem implicações do ambiente físico e da concepção de acessibilidade espacial para a prevenção de quedas em idosos e
geriátrica, o papel da enfermagem. Foi realizada busca nas bases de dados Lilacs, Bireme e Medline. Foram identificadas 159
ambiente físico, publicações, selecionando-se ao final 18 publicações que atenderam aos critérios de inclusão. As quedas em idosos,
cuidados de muitas vezes, estão relacionadas com o ambiente físico e a acessibilidade espacial. O enfermeiro deve atentar para
enfermagem. esse aspecto, levando em conta a noção de acessibilidade espacial em suas visitas domiciliares, tornando-se um
agente capaz de intervir no ambiente para a prevenção de quedas em idosos.
A BS T RACT
Keywords The increasing elderly population provides significant challenges to maintaining quality of life and health status.
Spatial One of these challenges includes the dimension of the physical space and accessibility for the elderly in nursing care.
accessibility, The aim of this paper is to discuss through a narrative review of the literature, the implications of the physical envi-
elderly, geriatric ronment and the design of spatial accessibility for the prevention of falls in older adults. A search was performed in
nursing, physical the databases: Lilacs, Medline and Bireme. We identified 159 publications, selecting in the end 18 publications that
environment, met the inclusion criteria. Falls in the elderly are often related to the physical environment and spatial accessibility.
nursing care. Nurses should pay attention to this aspect, taking into account the notion of spatial accessibility in their home visits,
becoming an agent capable of intervening in the environment to prevent falls in the elderly.
a
Enfermeiro. Especialista em saúde da família. Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
b
Enfermeira. Doutora em enfermagem. Professora associada, Escola de Enfermagem, UFMG.
c
Enfermeira. Mestre em enfermagem e especialista em gerontologia. Hospital das Clínicas da UFMG, Programa Mais Vida.
d
Arquiteta. Mestre em engenharia de produção e especialista em ergonomia, UFMG.
Identificar aspectos do ambiente que podem otimizar O ambiente é considerado como as demandas do
Adultos mais velhos possuem relação
Mitty E/2010 e preservar a função de adultos mais velhos, em uma adulto mais velho. O ambiente pode preservar a
temporal com o seu ambiente
comunidade assistida função ou colocá-la em perigo
Descrever e discutir o cuidado do enfermeiro ao ido- Evidenciou-se o cuidado com base nos valores huma-
Emergiram quatro categorias: os modos de
so na Estratégia Saúde da Família (ESF), bem como nos. O enfermeiro da ESF deve incorporar o cuidado
Rocha FCV/2011 cuidado, as estratégias, as diversidades e
analisar os aspectos que facilitam ou dificultam domiciliar ao idoso, destacando-se na prevenção de
possibilidades de cuidar
esse cuidado quedas e agravos atenuantes a sua saúde
Discutir o impacto de um ambiente empobrecido Ambiente empobrecido leva ao sedentarismo e Os baixos níveis de atividades físicas e sociais levam
Volkers KM/2011
sobre a cognição de idosos institucionalizados declínio cognitivo a um impacto negativo nas funções cognitivas
Compreender a profundidade dos instrumentos Instrumentos de avaliação dos ambientes são Incluir maior foco na avaliação de instrumentos
Gray JÁ/2012 relacionados com o ambiente físico para determinar focados nas pessoas deficientes, não considerando relacionados ao ambiente para os idosos, sendo uma
a sua aplicabilidade para pessoas com deficiência sua idade cronológica avaliação mais específica para essa população idosa
Explorar os pontos de vista de uma casa de cuidado Relatos de funcionários frente às dificuldades Os funcionários devem ser incluídos nas decisões
Rigby J/2012 australiano e inglês e pessoal internado no ambiente de trabalhar em um ambiente inadequado sobre reforma e construção de ambientes adequados
físico e ambiente de trabalho na casa de cuidados nas casas de cuidados
Ambiente físico e acessibilidade espacial | 85
Cuidado de enfermagem ao idoso: implica- mas de acessibilidade espacial, e tais aspectos devem ser
ções do ambiente e da concepção de acessi- considerados toda vez que a equipe de saúde ali adentrar
bilidade espacial e propor intervenções.23-25
Como a acessibilidade espacial é de suma importância Seguem algumas recomendações da organização do
para a melhoria ou manutenção da qualidade de vida ambiente físico para o cotidiano do idoso.
do idoso, o ambiente deve ser projetado para suprir
Dormitório
suas necessidades físicas e deve estar livre de obstá-
• Espaço de 90 cm nas laterais e pés da cama para
culos, ser de fácil manutenção, para evitar acidentes, e
circulação.
respeitar as características biomecânicas e antropomé-
• Poltrona facilita calçar os sapatos.
tricas da população usuária.9,21
• Sensor de presença de luz no quarto evita que
A equipe de saúde da família, em especial o enfer-
o morador ande no escuro à noite, o que pode
meiro, deve incorporar o ambiente físico em sua ação
gerar quedas, e a instalação de controle de ilu-
do cuidado. Os fatores ambientais influenciam no com-
minação na cabeceira oferece mais segurança e
portamento que pode levar a quedas, principalmente na
controle do ambiente ao morador.
população idosa. A percepção da família e da equipe de
• Telefone na cabeceira da cama, o que permite fá-
saúde na elaboração de ambientes adequados para ido-
cil comunicação em caso de emergência.
sos, na prevenção de quedas e outros agravos, pode vir a
• Disposição de prateleiras mais baixas, evitando o
influenciar na qualidade de vida deles.22
uso de banquinhos ou cadeiras.
As necessidades de acessibilidade relacionadas ao en-
• Iluminação dentro dos armários, permitindo
velhecimento podem ser preenchidas a partir de projetos
boa visualização do conteúdo.
adequados, que analisem suas limitações e capacidades.
• Não utilização de tapetes.
Essas necessidades podem ser classificadas em três cate-
• A circulação ao redor do quarto deve ser facilita-
gorias: necessidades físicas, informativas e sociais.23
da, sem qualquer objeto no caminho.
Destaca-se o cuidado de enfermagem em relação à
• Cama: deve ter cabeceira para permitir que o
ambiência no sentido de realizar uma avaliação siste-
idoso possa se encostar; a altura deve permitir
matizada do ambiente onde o idoso convive, principal-
ficar sentado e apoiar os pés no chão, facilitando
mente em seu domicílio, e conseguir realizar adapta-
o equilíbrio; mais larga, permite maior conforto
ções cabíveis ao ambiente e às condições socioeconô-
e reduz os riscos de acidentes à noite.
micas do indivíduo.22
Nos cuidados de enfermagem a idosos, principal- Cozinha
mente na atenção básica, em especial na Estratégia de • Colocação de tampo de cozinha em dois níveis ou
Saúde da Família (ESF), o enfermeiro necessita compre- móveis, permitindo o uso por pessoas sentadas.
ender uma abordagem na concepção de acessibilidade • Colocação de tampo nos dois lados do fogão, o que
espacial. A partir dessa concepção, esse profissional con- possibilita o apoio de panelas e objetos quentes.
tribuirá com a construção de ambientes seguros e ade- • Disposição de torneira do tipo alavanca facilita
quados para a comunidade.2 o uso para pessoas de baixa estatura ou sentadas.
• Instalação de detector de fumaça e gás, que ga-
A casa ideal para o idoso: percepções do en-
rante mais segurança para pessoas com olfato
fermeiro frente à acessibilidade espacial na
reduzido.
visita domiciliar
• Espaço livre embaixo da pia, garantindo áreas de
O domicílio não apresenta as características de uma ins-
trabalho extras e que permitem o encaixe de ca-
tituição formal de saúde. É o local onde os seres huma-
deira para trabalho sentado.
nos convivem e torna propícios os cuidados individuali-
• Puxadores das portas e gavetas dos armários em
zados. Esse ambiente é permeado por diversos aspectos
modelo do tipo “D”, que permite o uso da mão toda
culturais, de significância para os seus moradores e fre-
para manejo e não somente a ponta dos dedos.
quentadores, portanto eivado de subjetividades.23
• Eletrodomésticos com altura de fácil acesso.
Em um projeto arquitetônico que vislumbre me-
lhorar as condições de moradia para idosos, peque- Sala
nas alterações podem significar grande ganho de • Previsão de iluminação extra, permitindo pontos
conforto e segurança.4,24 focais de luz para diversas atividades.
O enfermeiro na visita domiciliar se depara fre- • Janelas amplas, com peitoril mais baixo, que per-
quentemente com idosos que necessitam de cuidados mitem ao morador apreciar a paisagem mesmo
e residem em ambientes inadequados à acessibilidade sentado em cadeira ou recostado.
espacial. Esse profissional poderá perceber aspectos que • Rodapé com altura de 30 cm, pois é a altura em
permitam mudanças no domicílio, adequando-o às nor- que as rodas das cadeiras batem.
Ambiente físico e acessibilidade espacial | 87
• Sala livre de obstáculos; a mesa de centro vai se caracterizam por conversas informais orientadas por
para a lateral. um roteiro previamente estabelecido sobre as facilidades
• Utilização de objetos pessoais, como fotografias e dificuldades de acessibilidade de determinado local, re-
de familiares e lembranças de viagens, traz boas latadas pelo idoso. Por meio da utilização de instrumen-
lembranças ao idoso. tos para avaliação da acessibilidade do ponto de vista do
• Aparelhos de som e TV com controle remoto idoso, torna-se mais fácil a adequação das normas para
para evitar deslocamento do idoso. cada espaço utilizado por essa população.
Banheiro
• Torneiras e registros de pressão de alavanca, de C onsideraç õ es finais
¼ de volta ou monocomando não exigem esfor- Promover a acessibilidade espacial é fundamental para
ço para manuseio. que as pessoas, independentemente de suas habilidades
• Registros na entrada permitem regular a temperatu- e restrições, exerçam seus direitos de cidadania.
ra da água de fora do boxe, evitando escaldamento. Em função do grande crescimento da população idosa
• Portas do boxe com 80 cm de vão possibilitam a no Brasil e no mundo, é fundamental que se compreen-
entrada com cadeira higiênica e facilitam o socorro. dam suas necessidades espaciais; a concepção do ambien-
• Controle de temperatura da água do chuveiro, te físico domiciliar deve contemplar as noções de acessibi-
que evita escaldamento. lidade espacial. Nesse sentido, é importante destacar que,
• Desnível de 1,5 cm em rampa entre o piso do ba- para a atenção integral à pessoa idosa, deve-se observar as
nheiro e o boxe evita transbordamento, ao mes- normas adequadas de acessibilidade espacial.
mo tempo em que não cria barreira. Como profissionais de saúde, devemos atentar para
• Cubas de sobrepor evitam que cedam, em caso esse aspecto, levando em consideração as noções de
de apoio mais forte. acessibilidade espacial, conseguindo assim proporcionar
• Instalação de barras de apoio fixas no boxe, ao que os idosos mantenham-se autônomos e independen-
lado da bacia sanitária. tes. Para os idosos, vida saudável e qualidade de vida es-
• Piso antiderrapante. tão ligadas diretamente à manutenção ou à restauração
• Espaço interno do banheiro suficiente para cir- da independência.
culação de, no mínimo, duas pessoas: o idoso e Os cuidados de enfermagem relacionados à ambiência
o cuidador. devem ser constantes em nossa atuação profissional, visto
• Papeleira ao lado do vaso sanitário. que a promoção de acessibilidade espacial adequada seja
permanente em saúde e integrada ao nosso escopo profis-
Instrumento para avaliação da acessibilidade sional, em especial na atenção à população idosa.
do ponto de vista do idoso O enfermeiro da ESF deve incorporar em suas visitas
Com o intuito de compreender e avaliar as condições de domiciliares aos idosos uma análise crítica de sua atua-
acessibilidade espacial para os idosos deve-se utilizar ins- ção frente ao cuidado, inserindo nesse cuidado noções e
trumentos do ponto de vista dos próprios idosos, como vi- propostas corretas de acessibilidade espacial passíveis de
sitas exploratórias, passeios acompanhados e entrevistas.8,26 realização nos domicílios, conseguindo assim realizar a
As visitas exploratórias deverão ser realizadas previa- principal proposta da atenção primária à saúde: a pro-
mente pelos pesquisadores, podendo-se realizar também moção e a prevenção.
nesse momento o passeio acompanhado, que é um ins-
trumento que vai demonstrar as considerações do espa- C onflitos de interesses
ço sobre a acessibilidade pelo próprio idoso. Por fim, po- Os autores declaram não possuir nenhum conflito
de-se utilizar o método de entrevistas estruturadas, que de interesses.
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Relato de caso
Bullying | 89
Res umo
Palavras‑chave Objetivo: Relatar o caso de um paciente que sofreu bullying em instituição de longa permanência. Método: As
Idoso, bullying, informações foram obtidas por meio de revisão do prontuário, entrevista com o paciente, discussão em equipe
violência. e revisão da literatura. Conclusões: O caso relatado sinaliza a importância de maior discussão sobre a violência
sofrida pelos idosos, em especial sobre o bullying como um tipo de violência pouco pesquisado nesse grupo etário.
Neste caso, o bullying teve impacto sobre o comportamento do indivíduo, aumentando o risco de isolamento social.
Observa-se a necessidade de novas pesquisas acerca do tema, com enfoque em prevenção e detecção precoce.
a
Professora da disciplina de geriatria do curso de Medicina da Universidade de Santa Cruz do Sul.
b
Acadêmico do curso de Medicina da Universidade de Santa Cruz do Sul.
se defender com eficácia.2,5 Essa desigualdade foi suprimida que a sociedade vem impondo ao longo do tempo. Já
com o posicionamento da equipe em alertar os funcionários existem instrumentos específicos que visam à detecção
sobre o ocorrido, o que motivou a cessação dos insultos. precoce e predição de risco de violência contra essa po-
Por ser pouco estudado, o bullying entre idosos ainda pulação.13,14 Esses instrumentos geralmente contemplam
é de difícil elucidação. Sua prevalência em um hospital a violência associada ao cuidado, podendo não identifi-
geriátrico no Japão é de 19%9, o que, apesar de ser um car situações como o bullying.
dado de população bastante selecionada, mostra que o A possibilidade de detecção do bullying, nas suas fases
seu impacto é de grande magnitude. iniciais, permite intervenção mais precoce, diminuindo
Essa forma de violência se confunde com outras for- assim o tempo de exposição do indivíduo à violência.
mas de violência.4 A diferença é que, no bullying, essas Também instrumentos que possibilitem a estratificação
agressões têm um caráter repetitivo e sistemático e são de risco para o bullying têm a vantagem de prever sua
dirigidas a alguém visto como mais frágil, raramente ocorrência. Infelizmente, os instrumentos existentes não
conseguindo reverter ou defender-se. Podem ser psico- costumam considerar essa temática, podendo dificultar
lógicas e/ou físicas, e são alimentadas pela diferença de a elucidação do quadro de violência a que os idosos estão
poder entre o agressor e a vítima, fortalecendo-se cada expostos, além de impossibilitar a organização de abor-
vez mais à medida que um torna-se cada vez mais forte e dagens para melhor atendê-los.15
o outro cada vez mais oprimido.4 Sugere-se, portanto, a elaboração de questões ou
Os idosos estão mais propensos a sofrer maus-tratos, instrumentos específicos validados que identifiquem a
independentemente do ambiente de convívio (ILPI, do- ocorrência de bullying e que possam fazer parte da AGA.
micílio, serviços de saúde, centros de convivência), tanto Dessa forma, rotineiramente, o bullying seria incluído
por seus descendentes quanto por outros idosos ou pres- como um dos diagnósticos diferenciais potencialmente
tadores de serviço.10 Sendo assim, é de fundamental im- desencadeadores de síndromes geriátricas como a imo-
portância que instrumentos como a AGA contemplem a bilidade descrita no caso.1
suspeita, possibilitem a identificação e auxiliem no ma-
nejo do bullying contra o idoso.11,12 C onflito de interesse
A abordagem da saúde do idoso tem ganhado espaço Todos os autores alegam não possuir conflitos financei-
no cenário mundial e necessita adequar-se às demandas ros, pessoais ou outros potenciais conflitos.
R eferências
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92 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
Texto: com exceção dos manuscritos apresentados como Artigos de curso de enfermagem. Ver Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em
Revisão, os trabalhos deverão seguir a estrutura formal para trabalhos 2002 Jun 10]; 15(1). Disponível em www.scielo.br/rm
científicos: Introdução: deve conter revisão da literatura atualizada Textos em formato eletrônico
e pertinente ao tema, adequada a apresentação do problema, e que Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas de saú-
destaque sua relevância. Não deve ser extensa, definindo o problema de: assistência médico-sanitária. www.ibge.gov.br (Acessado em:
estudado, sintetizando sua importância e destacando as lacunas do 05/02/2004)
conhecimento (estado de arte) que serão abordados no artigo. Méto- More SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Avail-
dos: devem conter descrição clara e sucinta dos procedimentos adota- able from URL; www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em:
dos; universo e amostra; fonte de dados e critérios de seleção; instru- 05/06/1996.
mentos de medida, tratamento estatístico, dentre outros. Resultados:
Devem se limitar a descrever os resultados encontrados sem incluir
interpretações e comparações. Sempre que possível, os resultados
devem ser apresentados em tabelas ou figuras, elaboradas de forma Instructions for Authors
a serem autoexplicativas e com análise estatística. Discussão: deve
explorar, adequada e objetivamente, os resultados, discutidos a luz de
outras observações já registradas na literatura. É importante assinalar Background
limitações do estudo. Deve culminar com as Conclusões, indicando Geriatria & Gerontologia (Brazilian Geriatrics & Gerontology) G&G
caminhos para novas pesquisas ou implicações para a prática pro- is a quarterly scientific publication by Sociedade Brasileira de Geri-
fissional. Agradecimentos: podem ser registrados agradecimentos, atria e Gerontologia (SBGG) (Brazilian Geriatrics and Gerontology
em parágrafo não superior a três linhas, dirigidos a instituições ou Society) aiming the publication of articles on Geriatrics and Geron-
indivíduos que prestaram efetiva colaboração para o trabalho. tology, including their several subareas and interfaces. G&G accepts
article submissions in Portuguese, English, and Spanish. The print
Conflito de interesses content is available for SBGG members and the online content can be
Deve incluir relações com: a) conflitos financeiros, como empregos, accessed at: www.sbgg.org.br
vínculos profissionais, financiamentos, consultoria, propriedade,
participação em lucros ou patentes relacionados a empresas, produ- Instructions for sending the manuscript
tos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; b) conflitos Papers should be sent by e-mail to: revistasbgg@gmail.com. Before
pessoais: relação de parentesco próximo com proprietários e empre- sending your manuscript, please check if all the items established
gadores de empresas relacionadas a produtos comerciais ou tecnolo- under “Instruction for Manuscript Sending” have been fulfilled. The
gias envolvidas no manuscrito; c) potenciais conflitos: situações ou corresponding author will receive a message acknowledging receipt
circunstâncias que poderiam ser consideradas capazes de influenciar of the manuscript. Should this do not occur up to seven working
a interpretação dos resultados. days, the author should get in touch with the journal. Concurrently,
the author should send by mail a declaration stating that the manu-
Referências bibliográficas script is being submitted only to Geriatria & Gerontologia and that
As referências devem ser listadas no final do artigo, numeradas he/she agrees with the cession of copyright.
consecutivamente, seguindo a ordem em que foram mencionadas
a primeira vez no texto, baseadas no estilo Vancouver (consultar: Manuscript evaluation by peer review
“Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Manuscripts that regard the editorial policy and the instructions for
Journals: Writing and Editing for Medical Publication” www.icmje. authors will be referred to editors who will evaluate the scientific
org). Nas referências com até seis autores, citam-se todos os autores; merit. Manuscripts will be submitted to at least two reviewers with
acima de seis autores, citam-se os seis primeiros autores, seguindo expertise in the addressed theme. Accepted manuscripts might re-
de et al. As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados deverão turn for authors’ approval in case of changes made for editorial and
estar de acordo com o MedLine. A exatidão e a adequação das refe- standardization purposes, according to the journal style. Manuscripts
rências a trabalhos que tenham sido consultados e mencionados no not accepted will not be returned, unless they are requested by the
texto do artigo são de responsabilidade do autor. respective authors within three months. The copyright of the pub-
Livros lished manuscripts are held by the journal. Therefore, full or partial
Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics 5th reproduction in other journals or translation into another language
ed. New York: McGraw Hill, 2004. is not authorized.
Capítulos de livros
Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do Research involving human subjects
idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Ja- Articles related to research involving human subjects should indicate
neiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8 whether the procedures were followed in accordance with the ethical
standards of the responsible committee on human experimentation
Artigos de periódicos
(institutional or regional) accredited by the Comissão Nacional de
Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med. 1981;
Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde (Health Ministry National
135 (2): 482-91
Research Ethics Committee). In addition, a clear statement of com-
Dissertações e teses pliance with ethical principles outlined in the Helsinki Declaration
Marutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacien- (2000) shall appear in the last paragraph of “Methods” section, as well
tes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: as fulfillment of specific requirements of the nation the research was
Universidade Federal da SBGG; 2003. performed in. The subjects included in the research should have sig-
Trabalhos apresentados em congressos, simpósios, encontros, se- ned a “Free and Informed Consent Term”.
minários e outros
Peterson R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin Categories of manuscripts
E as treatments for mild congnitive impairment. In: Annals of the 9th G&G accepts the following submissions:
International Conference on Alzheimer’s Disease and Related Disor-
ders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract 01-05-05. Original articles: Contributions aiming at the release of unpublished
research results considering the theme’s relevance, its range and the
Artigos em periódicos eletrônicos knowledge generated for research purposes. Original articles should
Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para
94 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA
contain 2,000 to 4,000 words, excluding illustrations (tables, figures parison. Whenever possible, results should be displayed in tables or
(not exceeding 5) and references (not exceeding 30). figures designed to be self-explanatory and having statistical analysis.
Review articles: Critical and systematic evaluation of literature on Discussion: The discussion should properly and objectively explore
certain subject containing a comparative review of papers in that area, the results, discussed in the light of further observation already reg-
discussing methodological limitations and ranges, indicating further istered in literature. It Is important to point out the study limitations.
study needs for that research area, and containing conclusions. The The discussion should culminate by conclusions indicating avenues
proceedings adopted for the review, as well as search, selection, and for new research or implications for professional practice.
article evaluation strategies should be described, informing the limits
of the theme. They should not exceed 5,000 words and 50 references. Acknowledgements: Acknowledgments may be written in a no more
than 3-line paragraph towards institutes or individuals that effective-
Brief communications: These are summarized articles designed for
ly contributed to the paper.
dissemination of preliminary results, results of studies involving meth-
odology of low complexity, and new hypotheses of relevance in the
field of Geriatrics and Gerontology. They should contain 800-1600 Conflict of interest
words (excluding tables, figures and references), one table or figure Conflict of interest includes a) financial conflict such as employ-
and a maximum of ten references. Your presentation should follow ment, professional liaisons, funding, consulting, ownership, profit
the same standards of original articles, with exception of the abstracts, or patent sharing related to marketed products or technology in-
which are not structured and should contain a maximum of 150 words. volved in the manuscript; b) personal conflict: close relatedness to
owners and employers in companies connected to marketed prod-
Case Reports: These are manuscripts reporting original and inter- ucts or technology involved in the manuscript c) potential conflict:
esting clinical cases. The title should have the disease or clinical situations or circumstances that could be considered capable of in-
peculiarity — a case report. They must observe the structure of ab- fluencing the result interpretation.
stract (150 words) with introduction (an explanation to the reader
for the case report does not extend the description of “illness or References
clinical particularity”), case report (with description of the patient, Should be listed at the end of the manuscript and numbered in the
results of clinical tests, follow-up, and diagnosis — WARNING: Do order they are first mentioned in the text, following Vancouver style
not use acronyms or footnotes), discussion (comparison with simi- (v “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical
lar data in the literature), and case outcome. They should contain a Journals Writing and Editing for Medical Publication” [http://www.
bibliography and have no more than 1500 words and 15 references. icmje org]). List all authors up to 6; if more than six, list the first 6 fol-
Letters to the editor: Section designed for publication of com- lowed by et al. The titles of journals should be abbreviated according
ments, discussion or any article reviews. They should not exceed to style used in Med-Line. Authors are responsible for the accuracy
1,000 words and 5 references. and completeness of references consulted and cited in the text.
ACESSO1 A UM TRATAMENTO
MAIS EFICAZ NO CONTROLE DOS SINTOMAS2,
EM QUALQUER FASE3.
ICMS
12% PROLOPA 30
COMP
R$
68,43
200/50mg
30
COMP
R$
49,97
ATÉ 27% MAIS ACESSÍVEL QUE O REFERÊNCIA 1
1
LEVODOPA É A DROGA MAIS EFETIVA NO CONTROLE LEVODOPA PODE SER UTILIZADA NA FASE INICIAL DA DP
DOS SINTOMAS DA DP, ESPECIALMENTE RIGIDEZ TANTO EM MONOTERAPIA OU ASSOCIADA
E BRADICINESIA2,4 A OUTROS ANTIPARKINSONIANOS2,3
Referências Bibliográficas: 1. Kairos Web Brasil. Disponível em <http://brasil.kairosweb.com/revista.html> . Acesso em: Jan 2014. 2. DIAS-TOSTA, E. et al. Academia Brasileira de Neurologia (ABN). Doença de
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SAS/MS nº 228, de 10/05/2010. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Doença de Parkinson. Diário Oficial da União, Brasilia, DF, n. 88, p42-45, 27 de maio de 2010. 5. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria
SAS/MS nº 228, de 10/05/2010. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Doença de Parkinson. Diário Oficial da União, Brasilia, DF, n. 88, p42-45, 27 de maio de 2010.
Contraindicações: Mulheres grávidas ou lactante; crianças ou indivíduos com menos de 25 anos; pacientes em uso de inibidores da monoaminoxidase não seletivos; pacientes com
doenças graves dos rins, coração, fígado ou glândulas endócrinas, com glaucoma de ângulo fechado ou com história anterior de algumas doenças psiquiátricas graves; pacientes
com hipersensibilidade conhecida à levodopa ou à benserazida. Interações medicamentosas: Uso concomitante com anticolinérgico trihexifenidil reduz a taxa de absorção de levodopa,
mas não a extensão; sulfato ferroso reduz a concentração plasmática máxima de levodopa em alguns pacientes; a metoclopramida aumenta a taxa de absorção de levodopa; neurolépticos,
opióides e medicamentos antihipertensivos contendo reserpina inibem a ação de EKSON; deve-se aguardar um intervalo de no mínimo de 2 semanas entre a interrupção de IMAO não seletivo e
a introdução de levodopa; levodopa pode potencializar o efeito de simpatomiméticos como epinefrina, norepinefrina, isoproterenol ou anfetamina; na associação com outro antiparkinsoniano pode
ser necessária a redução da dose de EKSON; anticolinérgicos não devem ser retirados abruptamente quando se iniciar tratamento com EKSON, pois o efeito da levodopa não é imediato.
EKSON é um medicamento. Durante seu uso, não dirija veículos ou opere máquinas, pois sua agilidade e atenção podem estar prejudicadas.
EKSON (levodopa 200 mg + cloridrato de benserazida 50 mg) comprimido. USO ORAL. USO ADULTO. Indicações: EKSON é indicado para o tratamento da doença de Parkinson. Precauções e advertências: Reações de hipersensibilidade podem ocorrer em indivíduos predispostos.
Em pacientes com glaucoma de ângulo aberto, recomenda-se medir regularmente a pressão intraocular. Depressão pode ser parte do quadro clínico em pacientes com doença de Parkinson e ainda pode ocorrer em pacientes tratados com EKSON. Recomenda-se controle
hematológico e de função hepática durante o tratamento. Em pacientes diabéticos, monitorar com regularidade a glicemia e fazer os ajustes necessários na dose de hipoglicemiantes.Se o paciente em tratamento com levodopa necessitar de anestesia geral, a
administração de EKSON deve ser continuada até a cirurgia, exceto no caso do halotano. Em anestesia geral com halotano deve-se descontinuar o uso de EKSON 12 a 48 horas antes da intervenção cirúrgica, pois flutuações da pressão arterial e/ou arritmias podem ocorrer.
O tratamento com EKSON pode ser retomado após a cirurgia, com reintrodução gradual e elevação da dose até o nível posológico anterior. EKSON não deve ser interrompido abruptamente. O uso de levodopa tem sido associado com sonolência e episódios de sono de
início repentino. No entanto a ocorrência tem sido muito raramente relatada. Pacientes devem ser informados disso e aconselhados a ter precaução quando dirigir ou operar máquinas durante o tratamento com levodopa. Potencial para dependência da droga ou abuso.
Um pequeno subgrupo de pacientes com doença de Parkinson sofrendo de distúrbio cognitivo e comportamental que pode ser diretamente atribuído ao aumento da quantidade de ingestão da medicação sem prescrição médica e ao aumento das doses requeridas para
tratar suas desabilidades motoras. Efeitos sobre a capacidade de dirigir e operar máquinas. Pacientes tratados com levodopa e que apresentam sonolência e/ou episódios de sono de início repentino devem ser advertidos para evitar dirigir ou se engajar em atividades
onde a desatenção pode colocar eles ou outros em risco de ferimento grave ou morte (p.e. operar máquinas) até que os episódios recorrentes e sonolência sejam resolvidos. Gravidez e lactação: Categoria de risco na gravidez: C. Este medicamento não deve ser utilizado
por mulheres grávidas sem orientação médica ou do cirurgião-dentista. Observa-se redução do efeito, quando EKSON é ingerido com uma refeição rica em proteínas. Reações adversas: Sangue e distúrbios do sistema linfático: anemia hemolítica, leucopenia transitória e
trombocitopenia têm sido relatados em casos raros. Distúrbios nutricionais e do metabolismo: anorexia foi relatada. Distúrbios psiquiátricos: depressão, agitação, ansiedade, insônia, alucinações, delírios e desorientação temporal podem ocorrer. Distúrbios do sistema
nervoso: casos isolados de ageusia ou disgeusia foram relatados. Em estágios tardios do tratamento, pode ocorrer discinesia (coreiformes ou atetóticos). Estes, em geral, podem ser eliminados ou tornam-se suportáveis com redução da dose. Com tratamento prolongado,
podem ocorrer flutuações da resposta terapêutica, incluindo episódios de acinesia, deterioração de final da dose e efeito “on-off”. Estes podem ser eliminados ou tornam-se suportáveis, com ajuste de dose e administração de doses individuais menores, mais
freqüentemente. Posteriormente, pode-se tentar aumentar a dose novamente, para intensificar o efeito terapêutico. Distúrbios cardíacos: arritmias cardíacas podem ocorrer ocasionalmente. Distúrbios vasculares: hipotensão ortostática pode ocorrer ocasionalmente.
Distúrbios ortostáticos, em geral, melhoram com redução da dose de EKSON. Distúrbios gastrintestinais: náusea, vômito e diarréia foram relatados com EKSON. Efeitos adversos gastrintestinais, que podem ocorrer predominantemente em estágios iniciais do tratamento,
são em grande parte controláveis com a ingestão de EKSON com alimentos ou líquidos, ou com aumento gradual da dose. Distúrbios do tecido subcutâneo e da pele: reações alérgicas como prurido e rubor podem ocorrer em casos raros. Investigações: aumento transitório
de transaminases e fosfatase alcalina pode ocorrer. Aumento de glutamiltransferase foi relatado. Elevação dos níveis sangüíneos de uréia pode ser observada com o uso de EKSON. Pode ocorrer alteração da coloração urinária, passando, em geral, a avermelhada, e
tornando-se mais escura, se guardada. Posologia: Tratamento inicial: Nos estágios iniciais da doença de Parkinson, é recomendável iniciar o tratamento com ¼ de comprimido de EKSON, três a quatro vezes ao dia. Assim que se confirmar a tolerabilidade ao esquema inicial, a dose pode
ser aumentada lentamente, de acordo com a resposta do paciente. A otimização do efeito em geral é obtida com uma dose diária de EKSON correspondente a 300 a 800 mg de levodopa + 75 - 200 mg de benserazida, dividida em 3 ou mais administrações. Podem ser necessárias 4 a 6
semanas para se atingir o efeito ideal. Se forem necessários incrementos adicionais, estes devem ser realizados em intervalos mensais. Tratamento de manutenção: A dose média de manutenção é de 1/2 comprimido (125 mg) de EKSON, 3 a 6 vezes ao dia. O número ideal de administrações
(não inferior a 3) e sua distribuição ao longo do dia devem ser tateados para um efeito ideal. SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. MS - 1.0573.0443.