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Diálogos - Revista do Departamento de

História e do Programa de Pós-


Graduação em História
ISSN: 1415-9945
rev-dialogos@uem.br
Universidade Estadual de Maringá
Brasil

Marques Visalli, Angelita; Wanessa Godoi, Pamela


Estudos sobre imagens medievais: o caso das iluminuras
Diálogos - Revista do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em
História, vol. 20, núm. 3, 2016, pp. 129-144
Universidade Estadual de Maringá
Maringá, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=305549840011

Como citar este artigo


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Diálogos v. 20 n. 3 (2016), 129-144

Diálogos
ISSN 2177-2940
(Online)

ISSN 1415-9945
(Impresso)
http://dx.doi.org/10.4025/dialogos.v20i3

Estudos sobre imagens medievais: o caso das iluminuras


http://dx.doi.org/10.4025/dialogos.v20i3.33666

Angelita Marques Visalli


Doutora em História Social pela USP e Professora da área de História medieval do departamento de História da UEL,
visalli@sercomtel.com.br

Pamela Wanessa Godoi


Doutoranda em História Social pela USP, pamelawanessa@gmail.com
___________________________________________________________________________________________________
Resumo
Campo ainda recente, os estudos das iluminuras medievais tem se apresentado como uma opção
importante para pensar a imagem na Idade Média. Nas pesquisas de Jérôme Baschet, a
identificação da imagem-objeto é fundamental para pensar os diversos tipos dessas imagens, feitas
Palavras Chave: e vistas pelos homens, e indícios de seus sentimentos. A linguagem visual se apresentou como
Imagens medievais; iluminuras; uma expressão frutífera para a compreensão da sociedade medieval. Com características próprias,
iconografia as imagens do medievo são chamadas para a discussão a partir da historiografia, nesse trabalho,
buscando apresentar os principais conceitos da imagética medieval, e identificando-os a um tipo
específico: a imagem dos livros. Esse tipo imagético, essencialmente vinculado ao seu suporte é
localizado nas relações de estudos específicos como a ornamentalidade, o simbolismo e a
materialidade. Os trabalhos identificados aqui são colocados em questão para discutir as
funcionalidades fundamentais da visualidade que identificam a imago dos manuscritos.

Abstract
Studies on Medieval images: the case of the illuminations
Keywords: As a recent field, the studies of medieval illuminations have emerged as an important option to
Medieval images; illuminations; think the image in the Middle Ages. In Jérôme Baschet´s researches, the identification of the
Iconography object-image is essential to think the different types of these images, made and seen by men, and
an evidence of their feelings. The visual language presented itself as a fruitful expression to
understand the medieval society. With its own characteristics, the medieval images are brought to
discussion from the Historiography in this article to present the main concepts of medieval
imagery and identifying them to a specific type: the image of the books. This imagery type,
essentially linked to its support, is in the relationship of specific studies such as ornamentality,
symbolism and materiality. The identified works are placed here to discuss the key features of
visuality that identify the imago of the manuscripts

Resumen
Estudios acerca de las imágenes medievales: el caso de las iluminaciones
Palabras clave: Campo todavía reciente, los estudios de las iluminaciones medievales se presentan como una
Imágenes medievales; opción importante para pensar en la imagen de la Edad Media. En las investigaciones de Jérôme
iluminaciones; iconografía. Baschet, la identificación de la imagen-objeto es fundamental para pensar los diversos tipos de
imágenes, que son hechas y vistas por los hombres. Con rasgos propios, las imágenes del
medioevo son llamadas para la discusión con la historiografía, en este trabajo, buscando presentar
los principales conceptos para el estudio de la imagen medieval, y identificarlos a un tipo
específico: la imagen de los libros. Este tipo de imagen, esencialmente enlazado en su apoyo es
ubicado en las relaciones de estudios específicos como los que piensan la ornamentalidad, el
simbolismo y la materialidad. Los trabajos identificados aquí son colocados en cuestión para
discutir las funcionalidades fundamentales de la visualidad que identifican la imagen de los
manuscritos.
Artigo recebido em 30/09/2016. Aprovado em 15/12/2016
AM Visalli; PW Godoi. Diálogos, v.20, n.3, 129-144 130

O uso de imagens para a escrita da década do século passado, mostrou-se muito


história passa por um caminho de escolhas feitas sensível à esta potencialidade dos registros
a partir das posições tomadas em relação ao visuais. A preocupação com a morte e o Além é
entendimento daquilo que é a história e de qual particularmente evidenciada nas “representações
é o trabalho do historiador. Segundo Marc Bloch plásticas e literárias”, tornando a poesia e a
(2001, p. 54), “o bom historiador se parece como imagem, fontes privilegiadas para aproximação
um ogro da lenda. Onde fareja carne humana, dos sentimentos. (HUIZINGA, 2010, p. 221-
sabe que ali está a sua caça”. E, na busca pelo 331)
homem, percebemos que o trabalho com Segundo Mircea Eliade (1952, p. 25), é
imagens pode acrescentar outros elementos para possível perceber o encaminhamento dos
a compreensão das formas de expressão das sentidos que uma sociedade dá ao movimento
sociedades e dos próprios indivíduos. religioso, ainda que ela não seja de todo
Martine Joly (1996, p. 47) afirma que os consciente. Ou seja, quando um indivíduo,
registros visuais ganharam ainda mais inserido em sociedade, produz algo, expressa
importância, pois “[...] a análise da imagem, nessa produção vários dos sentidos que seu
inclusive da imagem artística, pode desempenhar ambiente social atribuiu à produção e ao tema ali
funções tão diferentes quanto dar prazer ao inserido, ainda que não seja sua intenção
analista”. A fruição se eleva como uma de suas primeira; ele permite à posteridade encontrar em
potências da imagem, de fato. Acrescentemos a sua obra muitos dos sentidos de seu tempo. É
isso essa perspectiva mais ampla, largamente ainda mais importante perceber que a imagem,
associada à arte contemporânea, de exploração independentemente do período em que foi
dos sentidos e provocação de sentimentos, e produzida, é expressão de um “feixe de
podemos mais facilmente considerar a amplitude significações” (ELIADE, 1952, p. 16). Ela não é
da importância de registros silenciosos, mas apenas uma verdade, nem se constrói a partir de
muito numerosos. Para Peter Burke (2004, p. 16- um único referencial, mas tem à sua disposição
17), as relações não verbais de uma sociedade tantas referências quanto o seu produtor pôde
podem ser mais bem compreendidas quando ter. Portanto, Eliade (1952, p. 16) alerta:
analisamos a documentação imagética existente “Traduzir uma imagem numa terminologia
nessa sociedade: “Pinturas, estátuas, publicações concreta, reduzindo-a a um só dos seus planos
e assim por diante permitem a nós, posteridade, de referência, é pior que mutilá-la: é aniquilá-la,
compartilhar as experiências não-verbais ou o anulá-la como instrumento de conhecimento”.
conhecimento de culturas passadas”. Ainda que existam dificuldades a serem
As expressões culturais fluidas em outras superadas, o trabalho da história com as imagens
linguagens, além da falada ou da escrita, apontam tem sido fundamental para a construção do
para os sentimentos e para os sentidos atribuídos conhecimento sobre a sociedade. No campo do
a algo, a alguém, a um ambiente, ou ainda para medievo, essas dificuldades têm sido enfrentadas
as relações dos que envolvem (ou a ambos). A a partir da interdisciplinaridade com áreas como
partir das imagens produzidas, podemos nos a Teologia, a Arte e a Antropologia. Já próximo
aproximar de referências sutis, simbolismos, ao começo do século XX, historiadores como
metáforas, e de desejos e desprazeres, entre Émile Mâle deslocaram seu olhar para as
outras tantas expressões existentes nessas imagens feitas no período. Sua sensibilidade
sociedades. Johan Huizinga (2010), apesar de quanto aos problemas do trabalho com a
explorar mais avidamente a documentação imagem medieval não pode ser descartada, ainda
escrita para trazer à luz os sentimentos dos que hoje muitos pontos de vista tenham sido
homens do fim do medievo, desde a segunda relativizados ou mesmo superados.
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Quando as culturas letradas e iletradas Imago e a expressão da imagem


do medievo pareciam tão distantes e diferentes, medieval
nos estudos de Mâle, intensificou-se o uso da
fórmula para as imagens medievais como sendo A imagem apresentou-se como opção
“bíblia dos iletrados”. Com base em uma importante para o estudo da história; ela é uma
importante correspondência do papa Gregório linguagem que desdobra ainda mais
Magno escrita no ano 600 (GREGORIUM possibilidades no processo de construção do
MAGNUM, Ep. ad Serenus, XI, 10), Mâle conhecimento histórico. No campo da história
recuperou três principais funções da imagem, medieval, ela tem feito parte de trabalhos que
destacadas pelo documento: ensinar, relembrar e procuraram entender suas especificidades. Esses
comover, e enfatizou especialmente a primeira. estudos apontaram para a necessidade de se
No entanto, essa carta escrita ao bispo Serenus perceber a importância dessa linguagem como
se referia a um episódio específico ocorrido na elemento para o entendimento não só da
igreja de Marselha: com medo da idolatria, o dinâmica em que ela estava inserida, mas
bispo Serenus mandou que destruíssem todas as também do sentido que ela atribui, nesse
imagens da igreja. Quando o Papa soube do momento, a temas ligados a diversas áreas.
acontecido, viu a necessidade de combater a Não podemos perder de vista o quanto é
iconoclastia do bispo, lembrando-o de funções necessário distanciar a imagem feita e vista pelo
importantes da imagem. Nesse momento medievo disso que hoje chamamos imagem.
determinado, essas funções foram evocadas, mas Ainda que seja um campo recente, historiadores
os escritos do Papa não pretendiam encerrar a como Jean-Claude Schmitt têm se dedicado, nos
discussão enumerando e simplificando todas as últimos anos, a pensar a imagem no medievo, e
imagens medievais; o texto foi localizado para a a partir de estudos de casos percebemos que
circunstância de Marselha e, ainda assim, a houve, já, a construção de alguns conceitos
função educativa não era única. Não obstante, a básicos que não devem ser descartados no
partir dos estudos de Émile Mâle, esta estudo dessas figuras feitas no período medieval.
perspectiva redutora se reproduziu nos estudos
de História da Arte e História Medieval O que oferecemos nesse artigo é a
subsequentes e contribuiu largamente para a apresentação das especificidades atribuídas pela
ideia de uma arte medieval estereotipada e historiografia à imagem medieval. Compreender
codificada, dependente do discurso clerical. seu significado, perceber suas funções, seus
(BASCHET, 2008, p. 252-253) destinos e os objetos a que aderem são pontos
significativos e essenciais para o trabalho com
Essa carta do papa Gregório Magno foi imagens medievais. Queremos olhar para as
longamente usada durante o medievo ao se falar construções visuais que os medievais elaboraram
do uso de imagens. Por isso, também, por abrindo a possibilidade de perceber suas
muitos anos, a historiografia se ancorou nesse escolhas. Uma dessas escolhas diz respeito ao
recurso para conceituar a imagem medieval. Nas sentido atribuído a essas construções. A imagem
últimas décadas, porém, essa posição tem sido medieval foi definida pela historiografia, tanto
amplamente discutida. Segundo Jérôme Baschet pelo o que ela foi, como também pela sua
(1996, p. 9, tradução nossa), ao renunciar “à negação: o que ela não foi. Esse reconhecimento
facilidade da Bíblia dos iletrados, um campo apresentou a possibilidade de identificar, ainda,
imenso e bastante complexo se abre à reflexão o seu caminhar na história, suas transformações
sobre as funções das imagens”. e as posições que ao longo do medievo
desfrutou.
Assim como o campo de estudos da
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imagem tem se ampliado, tem se ampliado “fundamento da antropologia cristã”


também as perspectivas que o norteiam. (SCHMITT, 2007, p. 13). A Encarnação sela esta
Percebemos que hoje há muitas maneiras de se relação entre o homem e Deus: “Cristo é a
utilizar da fonte imagética na construção de um imagem de Deus invisível” (Colossensis, I,15),
trabalho histórico. O estudo da imagem premissa importante para a superação da
medieval também pode ampliar os estudos das proibição veterotestamentária para a figuração
imagens, mesmo quando não produzidas no de Cristo e mesmo de Deus-pai.
recorte temporal em questão, assim como a A complexidade da noção de imago,
interlocução de outros historiadores de imagens ainda, alarga-se:
tem auxiliado no trabalho com a imagem
medieval. Estudos de imagens contemporâneas, [...] no centro da concepção medieval do
baseados na semiótica, em fotografia ou mesmo mundo e do homem: ela remete não
somente aos objetos figurados (retábulos,
em críticas da história da arte, podem auxiliar esculturas, vitrais, miniaturas, etc.), mas
com um alargamento do campo metodológico e também às “imagens” da linguagem,
permitir um olhar diferenciado no material metáforas, alegorias, similitudines, das obras
analisado. Contudo, um trabalho que procura literárias ou da pregação. Ela se refere
compreender um fenômeno localizado no também à imaginatio, às “imagens mentais”
período medieval, a partir do estudo da imagem da meditação e da memória, dos sonhos e
das visões (SCHMITT, 2006, p. 593).
produzida e vista nesse período, pode ser
largamente norteado por medievalistas como A percepção da amplitude do conceito
Jérôme Baschet, Jean-Claude Schmitt, Jean- para o período foi fundamental para a adoção do
Claude Bonne, Michel Pastoureau, Jacques Le termo imago por Jean-Claude Schmitt para
Goff e outros. identificar os elementos figurativos produzidos
Para se referir às imagens medievais no medievo. A imago pode se definir como
Jean-Claude Schmitt recupera a expressão latina expressão visual de algo real, simbólico ou
imago. A palavra “imagem”, que já tanto usamos mesmo imaginário. Nela se consideravam as
neste trabalho, também se identifica à essa referências materiais já existentes e as
reapropriação. Contudo, construções mentais que enchiam de sentidos as
narrativas medievais. Assim, as imagens
Não convém se deixar enganar pelas produzidas no período medieval têm suas
semelhanças fonéticas e pelo parentesco
características articuladas em meio à riqueza de
etimológico. Quanto mais o vocabulário
parecer próximo do nosso, que dele é sentidos que a palavra imago nos oferece.
herdeiro, mais devemos desconfiar a priori. A Apresentar a realidade sensível estava
diferença essencial é que a noção medieval
longe de ser a intenção primeira da imagem.
de imago se inscreve num contexto cultural e
ideológico bem diferente do nosso Ainda que, segundo Schmitt, seja possível
(SCHMITT, 2007, p. 12-13). perceber objetos do cotidiano sendo pintados,
como moinhos, enxadas, roupas, louças, entre
No latim antigo, a palavra imago pode ser outros, estes faziam parte de uma narrativa que,
traduzida como: imagem, retrato, aparência; mas além da experiência concreta, trabalhou no
sua construção em relação à aparência é o que “campo simbólico” muito mais do que no
mais se destaca. (ERNOUT; MEILLET, 1985, campo de “conteúdos semânticos” (SCHMITT,
p. 309). Para a Cristandade medieval, a noção de 2006, p. 597-598).
imago remete à concepção de homem: “façamos
o homem à nossa imagem, conforme a nossa Diante disso, é recomendável a cautela
semelhança” (Gênesis 1, 26), afirma Deus no quanto à utilização da expressão
momento da Criação, o que a torna “representação”. Esta possui uma conotação
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que em muitas das vezes não se adequa para o de maiores debates, a utilização da imagem
período medieval. Toda imagem remete a uma encontrou uma via bastante original no
realidade outra, sobrenatural. Carlo Ginzburg Ocidente. Com o Cisma, o Oriente se voltou
(2001), a partir de uma perspectiva transcultural, mais para si mesmo e com o fim do poder
refletiu sobre a passagem da substituição para a carolíngio, o que era apenas uma permissão para
imitação na Antiguidade e, assim como outros veneração – a Carta a Serenus – converteu-se em
estudiosos da imagem e da representação, um verdadeiro tratado que permitiu três
evidenciou a proclamação do dogma da transformações na função das imagens
transubstanciação como o acontecimento-chave medievais.
para compreensão da expansão e novas A primeira se refere à transformação da cruz
possibilidades de figuração no ocidente em crucifixo [...] Essa evolução não se reduz
medieval. Ao estabelecer a ”superpresença” de a uma transformação de formas plásticas,
Cristo na hóstia, “qualquer evocação ou mas traduz uma mudança considerável da
manifestação do sagrado empalidece, pelo sensibilidade religiosa: a promoção da ideia
menos na teoria. (Na prática, as coisas são da humanidade de Cristo, que leva à
contemplação do Cristo morto sobre a cruz,
diferentes)” (GINZBURG, 2001, p. 101-102). e não mais somente da majestade do Deus
Se no campo dogmático, os teólogos permitiram julgando os homens por ocasião do fim dos
a distinção da presença de Cristo em relação às tempos. A segunda evolução concerne à
outras potências materiais e figurativas (relíquias passagem do relicário simples em forma de
ou imagens de santos) e no domínio da devoção caixa à estátua-relicário, em três dimensões,
essa distinção se esvai, isto não foi preocupação representando a Virgem, um santo, uma
santa ou uma parte de seu corpo (cabeça,
de Ginzburg. De todo modo, a determinação braço, pé), depois à estátua desprovida de
tranquilizou e tornou possível a proliferação das relíquias e venerada por si mesmo.
imagens e a consideração da imitação do mundo (SCHMITT, 2007, p. 68-69).
sensível. “Sem esse desencantamento do mundo
das imagens, não teríamos tido nem Arnolfo de É principalmente na mudança da caixa
Cambio, nem Nicola Pisano, nem Giotto.” relicário, durante o segundo período de
(GINZBURG, 2001, p. 102). Isto foi possível transformação da função da imagem medieval, e
pelo caráter complexo e ambíguo na noção de depois em um terceiro momento onde a
imago, que permitiu o reconhecimento da “coisa” necessidade da relíquia passou a ser dispensável,
na própria figuração. que notamos a ideia de presentificação sendo
fortalecida e se moldando para que no século
A ideia de “presentificação” nos cabe XII ganhasse ainda mais espaço, quando o abade
aqui muito bem. Desenvolvida por Jean-Claude de Saint-Denis usou como instrumento teórico
Schmitt, em seu livro O Corpo das imagens (2007), o neoplatonismo cristão para afirmar “[...] uma
refletida e adotada por vários outros relação entre a ‘semelhança’ da imagem e seu
medievalistas, como Jérôme Baschet, Daniel protótipo divino.” (SCHMITT, 2007, p. 79).
Russo e Michel Pastoureau, a “presentificação”
é um dos sentidos que a imagem medieval Schmitt (2007) nos oferece de modo
desenvolveu para o universo da visualidade. sintético o caminho histórico percorrido pela
Assim, em lugar da referência à ausência que noção de presença nos séculos medievais, o que
remete à presença, implicada no conceito de nos permite perceber como a construção do
representação (assim como o seu contrário), a significado da imagem passou por intensas
imagem medieval possibilitou a corporeidade do discussões e como as escolhas feitas por esses
imaterial. homens definiram os sentidos da produção
visual. Mas, ainda que cada período tenha tido
Em torno do ano mil, passado o período uma relação própria com a produção visual (as
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discussões em torno da iconoclastia simplificadoras quanto às suas formas de


promoveram posturas políticas e debates expressão e funções.
teóricos particularmente a partir do papado, Assim o conceito de imagem-presença,
império ocidental e bizantino), é importante desenvolvido por Daniel Russo (2011), se coloca
ressaltar, segundo Schmitt, que como aporte importante para compreensão de
Todas as práticas de veneração-adoração uma especificidade fundamental da imagem
(prosternações, preces, beijos, oferendas, medieval:
compensações espirituais, procissões, Do ponto de vista da imagem, substitui-se a
sonhos, etc.) independente do que pudesse ideia de representação, fundada na concepção
dizer a teologia, supõem fundamentalmente transitiva da imagem, pelo conceito de
o reconhecimento de uma presença presença, que remete, por sua vez, a uma
(SCHMITT, 2007, p. 79). concepção intransitiva, imanente, liberada
A presentificação reforçou a de qualquer submissão ao que quer que seja,
estando no lugar apenas dela mesma
ambiguidade da imagem medieval; ela não é o ser (RUSSO, 2011, p. 46, grifos do autor).
divino a que se identifica, mas também não
estava ali somente para evocar a ausência desse Assim como Schmitt (2007), Russo
ser divino: (2011) afirma a necessidade de considerar a
presença na imagem medieval para entendê-la.
A imagem medieval presentifica, sob
aparências do antropomorfo e do familiar, o Ao substituir o conceito de representação, as
invisível no visível, Deus no homem, o imagens medievais apresentam também uma
ausente no presente, o passado ou o futuro maneira diferente de construção da imagética,
no atual. Ela reitera assim, à sua maneira, o uma estética que considerava a presentificação.
mistério da Encarnação, pois dá presença,
identidade, matéria e corpo àquilo que é No entanto, segundo Russo (2011), essa
transcendente e inacessível (SCHMITT, substituição não é algo uniforme, nem mesmo
2006, p. 595). linear no período medieval. Cada imagem
apresenta sua posição dentro de inúmeras
A estética também funcionou dentro da
possibilidades, que incluem a ligação ao objeto,
mesma lógica, que ligava a imagem, vinculada a
sua função e uso, seu ambiente. Segundo o autor,
seu objeto, a uma função de transferir para o
é possível perceber que no início da Idade Média
material aquilo que era divino, permitindo a essa
a indispensável presença fez parte da estética da
matéria a associação a divindade. Diante de uma
imagem, mas até o fim do século XV, em
crítica à suposta falta de inovação visual na Idade
determinadas imagens, a presença, antes tão
Média, Umberto Eco (2010, p. 14) afirma que
necessária, dilui-se a ponto de não ser mais
“Não é verdade; a cultura medieval tem o
fundamental para a produção visual; a imagem é
sentido da inovação, mas procura escondê-la sob
uma forma que se torna a própria presença, em
as vestes da repetição”. Uma sociedade que
alguns casos, como das estátuas de santos.
procurou se basear na tradição como autoridade
fundamental relegou a ela também sua Assim como o desenvolvimento da
identidade visual. Esta mudança de perspectiva é representação, estudado por Ginzburg, a
ainda reforçada pelo caráter de “inventividade” grandeza da presentificação da imagem se
da imagem medieval trazido à luz por Jérôme modifica ao longo do medievo, e é fundamental
Baschet (2008). Ainda que as imagens religiosas considerar o período de produção de uma
sejam marcadas pela continuidade da tradição, a imagem para compreender os níveis em que ela
quase ausência de normatização quanto à pode ser associada a esses conceitos. Além de
produção de imagens no ocidente tornou seu “tempo”, sua vinculação a um ambiente, a
possível invenções que contrariam perspectivas uma função e, principalmente, a um objeto, é
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condição fundamental de consideração e próximo de nossas imagens de computador, sem


avaliação. suportes materiais, quando desprendidas de seus
momentos e condições de produção). Já o lado
É nesse sentido que Jérôme Baschet
inverso, pode ser mais facilmente exemplificado,
(2008) apresentou o conceito de imagem-objeto.
como no caso apresentado por Baschet (1996, p.
Em seus estudos sobre a imagem medieval
6, tradução nossa) de “uma vela do tamanho do
evidencia-se como as funções atribuídas a esta
indivíduo levada ao túmulo de um santo”.
tinham especial relação com a materialidade
visível nelas: Vinculada a um objeto ou a um lugar que
possui função própria, no mais das vezes
Não há imagem na Idade Média que seja cultural ou de devoção, a imagem-objeto só
uma pura representação. Na maioria das tem sentido, na Idade Média, pelo seu
vezes trata-se de um objeto, dando lugar a caráter localizado (BASCHET, 2006, p. 522,
usos, manipulações, ritos; um objeto que se grifo do autor).
esconde ou se desvela; que se veste ou se
despe, que se beija ou se come (BASCHET, Isso não quer dizer que a imagem se
1996, p. 9, tradução nossa). torna imóvel; pelo contrário, sua aderência a um
Assim, a imagem, ainda que tenha objeto a torna integrante das mutabilidades que
possuído uma dinâmica própria de apresentação, o objeto permite. Durante um ritual, a imagem
teve, mesmo nessa dinâmica, um vigoroso elo constantemente se transforma, ganhando
com o objeto do qual fez parte. Essa ligação é no valores em diferentes aspectos, como os
essencial notada com o reconhecimento das simbólicos ou os ornamentais, os narrativos ou
imagens no interior das práticas, principalmente didáticos, permitindo a construção de novas
religiosas. Assim, para se estudar uma imagem experiências. O conceito de imagem-objeto
medieval, é preciso entender sua relação com o envolve as funcionalidades e a materialidade da
objeto ao qual esteve aderida; isso faz suspender imagem. Afirma, assim, a possibilidade múltipla
uma análise apenas interna, uma vez que agrega dos usos e dos lugares de imagens no medievo.
valores ao entendimento da funcionalidade, A imagem-objeto deixa de ser apenas uma
enriquecendo, inclusive, a compreensão de seus figuração visual de algo, ou alguém, para ser
elementos figurativos. expressão humana.

Importante também é perceber que a A partir desses pressupostos,


adesão de uma segunda palavra ao termo examinemos um tipo dentre estas expressões
imagem não propõe a caracterização de dois que, claramente, vincula-se a seu objeto: as
aspectos diferentes: ela é visual e material sem iluminuras. Tipo de imagem essencialmente
deixar de ser uma unidade. Isto é, a imagem- medieval – sua feitura se inicia com a produção
objeto é tanto imagem como objeto, caminha em de manuscritos, no período medieval, e tem o
um eixo que, por um lado, apresenta a seu sentido modificado, além da diminuição de
materialidade fortemente valorizada, “objeto sua produção e circulação, ao longo do
que produz a imagem”, e por outro, a imagem é desenvolvimento da imprensa –, essas imagens
o essencial do objeto (BASCHET, 1996, p. 6, apresentam características fundamentais como
tradução nossa). Entre esses dois extremos do imago.
conceito (imagem-imagem; objeto-objeto)
Iluminuras: a imago dos livros
transitam as imagens do período. A imagem
autônoma dificilmente se constata no medievo, Na definição contemporânea, a
pois nessa posição ela tenderia a perder suas iluminura é uma imagem feita em um
funções rituais (imaginemos a dificuldade em manuscrito, assim como a miniatura. No
construirmos esse exemplo extremo, talvez mais entanto, no medievo, o verbo latino iluminare
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definia a ação de pintar, e não a produção das relacionado ao poder (ZUMTHOR, 1993). Em
imagens dos livros em si. Já o termo miniare vem Roma, o ato de ler e escrever era restrito a alguns
de um verbo mais usado nesse ambiente, poucos homens e servia principalmente ao
servindo de base para designar aquele que controle político; com a chegada de povo
pintava os livros, o miniator. Os termos miniare e nômades como os Hunos, e posteriormente as
miniator são derivados da palavra minium, tribos conhecidas como Vândalos, Ostrogodos,
empregada para nomear uma substância Visigodos2, os quais, em sua maioria, não tinha
vermelha, obtida a partir da esmagadura de um uma cultura letrada bem desenvolvida, a
inseto, e que era largamente usada nos desenhos produção escrita perdeu sua força como
das bordas e no contorno das iniciais elemento de controle do Estado, principalmente
(WALTHER; WOLF, 2014, p. 21). no Norte do continente europeu, e se tornou
cada vez mais de domínio da Igreja, que já
A pintura de iluminuras1 até bem
desenvolvia uma estrutura ligada ao texto; uma
próximo ao século XII estava ligada à confecção
religião baseada no texto se encobriu da
do objetivo suporte: o livro; os mesmos homens
necessidade de dominar a escrita para se
que copiavam os textos e montavam os livros,
expandir e garantir minimamente a unidade de
chamados de escribas ou copistas, eram também
sua doutrina e liturgia.
aqueles que desenhavam e pintavam as imagens.
Ainda que se tratasse de técnicas bem diferentes, Foi nesse ambiente que o manuscrito se
escrever e iluminar eram partes do trabalho da tornou objeto da Igreja prioritariamente;
construção de um manuscrito desempenhado segundo Godefroy de Sainte-Barbe-em-Auge
por religiosos. (apud WALTHER; WOLF, 2014, p. 11, tradução
nossa), também conhecido como Godefroy de
A rigor, manuscrito é tudo aquilo que foi
Saint-Victor, que escreveu em 1170: “uma
escrito à mão. A palavra vem da junção de manus,
abadia sem uma biblioteca é como um castelo
do latim, mão, e scriptus, do latim, escrever.
sem sala de armas”.
Contudo, são os livros feitos dessa maneira –
escritos à mão – na Idade Média, que ficaram Apesar de serem artigos necessários, os
mais conhecidos como manuscritos. Também os livros não existiam em quantidades expressivas,
chamamos de códices; palavra medieval que como observamos após a invenção da imprensa.
nomeava o tronco da árvore e era usada para Em geral, eram cópias de textos antigos que iam
designar o produto final de uma junção de sendo acrescidos de correções e interpolações.
páginas, que como as folhas de uma árvore, se Mesmo as cópias acabavam sendo diferentes. E
uniam a uma placa que servia de apoio lateral para os livros com iluminuras a quantidade e
para serem costuradas (WALTHER; WOLF, diversidade eram ainda menores. Em sua grande
2014). maioria, os manuscritos eram bíblias, textos
litúrgicos e livros cristãos, mas também foram
A escrita sempre fez parte de um
muitas as cópias de literatura antiga que serviam
universo elitizado, e o domínio dela é

1 Ainda que na literatura especializada dos estudos da imagem medieval os termos iluminura e miniatura se apresentem como
sinônimos, evidencia-se a tendência pelo primeiro (o termo “miniatura” apresenta uma conotação de diminuição da
dimensão da imagem; há, em alguns casos, um engano que se refere ao termo em português, pois a imagem dos livros é
compreendida erroneamente como “pequena”, principalmente pelo público não especializado).
2 Os diversos grupos que chegaram à Europa entre os séculos IV e IX, ora sobre lutas, ora sobre acordos, são bastante variados
entre si, com especificidades importantes que não destacamos aqui. Buscamos apenas salientar que a ascensão de novas
lideranças e, nesse caso, normalmente iletradas, enfraqueceu a disseminação da escrita. A sua importância associada à
administração e legislação está, contudo, reafirmada na proximidade de religiosos (letrados) junto às chancelarias dos reinos
constituídos, e como preceptores de jovens herdeiros de funções políticas.
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para aprender melhor as regras do “bom latim” iluminuras, é possível notar a cor que foi
e que acabaram por chegar até nós por utilizada primeiramente, já que uma cor se
intermédio desses copistas (BASCHET, 2006, p. sobrepõe à outra; também, mediante um estudo
69-78). completo do códice, é possível identificar
formas e traçados de diferentes artistas e até
Copiar um manuscrito era bastante
imagens feitas em diferentes períodos
oneroso, pois, por mais simples que ele fosse,
(ALEXANDER, 1979).
necessitava de muito tempo de trabalho, de
técnicas específicas para a obtenção das tintas Com a interlocução entre estudiosos de
usadas e dos fólios – as folhas –, feitos química, da arte e da restauração – como os
principalmente com couro de animais, e também estudos realizados pelo Departamento de
de um grande investimento financeiro para isso. Conservação e Restauro da Faculdade de
Os monges podiam consumir um rebanho todo Ciências e Tecnologia e da Universidade Nova
para fazer os fólios: em geral, a pele do animal, de Lisboa (À DESCOBERTA, 2015) –, também
depois de retirada, era longamente tratada, limpa, encontramos algumas referências para entender
raspada, esticada e levava dias para ficar pronta, o processo de iluminação: os materiais
para só então ser cortada. Depois ia para o analisados para se fazer a iluminura hoje, assim
scriptorum e ali começava a ganhar a forma de como os trabalhos desenvolvidos nos códices
livro. As linhas eram marcadas, e o texto antigos (raio-x; ultrasson; análise química), são
começava a ser copiado; normalmente o modelo essenciais para o entendimento do processo que
era outro códice, mas podia ser também uma envolvia a pintura dos códices.
tábua de cera,3 na qual o texto era escrito
Ainda que não tenhamos um manual que
primeiramente. Por fim, as imagens eram apresente a técnica adotada durante o medievo,
desenhadas, e, uma a uma, as cores iam sendo é possível perceber uma lógica, mais ou menos
colocadas nos espaços já anteriormente coesa, seguida em na maioria dos manuscritos:
destinados a elas. Só então eram costuradas as primeiro a cópia do texto, depois o desenho do
páginas, tomando forma próxima a dos livros contorno das imagens e então a coloração. Aqui
que conhecemos hoje (AUGUSTE, 2007). também é importante ressaltar o processo de
Processo longo, cuidadoso e obtenção e as especificidades do pigmento. No
dispendioso, a produção dos livros era, até bem caso dos manuscritos medievais, os pigmentos
próximo do século XII, de incumbência eram feitos, em geral, da mistura de um ligante
somente dos clérigos, os quais os guardavam e com um tipo de planta, um mineral ou um inseto
conheciam seus textos, detendo também as que proporcionava a cor (AUGUSTE, 2007).
técnicas e os preceitos dessa atividade. No caso O preto geralmente era feito com pó de
das iluminuras, no que diz respeito à técnica, é
carvão: o carvão era moído, misturando com
ainda mais raro encontrarmos documentação do
algum tipo de óleo vegetal e armazenado em um
período medieval. Normalmente, através do
corno, que servia também de suporte para que o
estudo das imagens que ficaram inacabadas na copista usasse o líquido. Já os pigmentos
Idade Média é que identificamos as etapas do coloridos podiam ser extraídos de substâncias
processo, sendo possível perceber o que foi diversas, o que possibilitava a obtenção de
preferível fazer primeiro e o que ficou para muitas cores e tons diferentes. Como a mistura
depois (e que não foi realizada). Em algumas

3 As tábuas de cera eram objetos feitos de madeira, cobertos com cera de abelhas, geralmente eram usadas para escrever o
texto, que só depois eram copiados nos códices. Poucos objetos como esses nos restaram, contudo, eles são citados em
textos que tratam da produção e também foram representados em algumas imagens demonstrando o trabalho dos copistas
(ALEXANDER, 1979).
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não era feita em grande quantidade, próprio manuscrito. Até porque são muito
normalmente se preparava um tanto suficiente poucos os manuscritos que nos restaram desse
para o uso de um manuscrito, era comum ser período. Já no século VI, podemos destacar o
armazenada em uma concha. A saturação da estilo insular como um dos primeiros estilos
substância definia o tom da cor. Por exemplo, constituídos no Ocidente, desenvolvido
um pigmento muito usado era o verde, que podia principalmente por scriptoria do Norte, onde hoje
ser obtido a partir das pétalas de plantas como estão localizadas a Irlanda e a Inglaterra
salsa, erva-moura, arruda e madressilva. A planta (WALTHER; WOLF, 2014). As iluminuras
era esmagada e misturada a um ligante, um tipo dessa região, têm elementos marcantes que
de cola, que, em geral, era a clara de ovo. Essa registram a influência dos adornos feitos na
mistura definia o tom de verde que seria obtido, metalurgia, bastante desenvolvida. Ornamentos
quanto mais planta, mais saturado, fazendo a cor que lembram formas e cores de pedras preciosas
ficar mais forte e o líquido mais denso são comuns nesse tipo de produção influenciada
(AUGUSTE, 2007). pela arte celta e germânica.
Ao passar no manuscrito, o copista Com o Renascimento Carolíngio (séc.
criava uma espécie de camada de cor. Diferentes VIII e IX), tivemos um contexto de elevação da
da aquarela que conhecemos hoje, os pigmentos importância da leitura e da liturgia. Os livros
não eram misturados para a obtenção de outras passaram a ser vistos como objetos para
cores. Cada cor era feita a partir de uma matriz presentear, e autores ou doadores começaram a
diferente. Algumas cores eram especialmente ter um espaço de identificação. No início ou no
raras, já que tinham como matéria-prima final do manuscrito, eram feitos poemas que
substâncias que podiam ser de difícil acesso e celebravam o autor, o doador ou a ocasião que
muito caras, como o lápis-azul, uma pedra vinda promoveu a cópia. Segundo Joachim E. Gaehde
do Oriente que produzia um azul muito (2002, p. 155-158), os mecenas carolíngios
específico (PASTOUREAU, 2000, p. 21-23). tinham grande orgulho de suas produções, pois,
Outro elemento muito usado na iluminação era além de os livros terem grande valor financeiro,
o pó ou a folha de ouro. No caso do pó, criava- tinham também seu valor de diferenciação
se uma mistura do pó de ouro com um ligante. social.
Já a folha era uma fina camada de ouro que era Houve, durante o Renascimento
colada e, depois, ia sendo cortada conforme as Carolíngio, um grande desenvolvimento em
linhas do desenho. O ouro, usualmente, ficava relação à produção e à utilização dos
reservado para códices de grande importância. manuscritos. Jérôme Baschet (2006) apresenta
A técnica de pigmentação também uma estimativa de 50 mil manuscritos copiados
definiu, em muitos casos, o que tenderíamos a no século IX. No mesmo contexto,
chamar de “estilo” do scriptorium. Ou seja, cada modificações importantes foram executadas,
local de produção tendeu a ter certa relação com como o acréscimo de pontuação ao texto e o uso
as cores ou com determinados pigmentos, de um tipo de letra menor e mais elegante, a
usados nas imagens. Mas não só a opção de “minúscula carolina”, que facilitava a leitura e até
pigmentos e cores definiu um estilo de mesmo o manuseio dos manuscritos
iluminura. As opções pela forma e também por (BISCHOFF, 1993).
temas apresentam a busca por uma unidade, que No caso da iluminura, muitas influências
auxilia na caracterização de um período. insulares podem ser notadas, e a luxuosidade das
No entanto, pelo menos até o século V, produções iluminadas não diminui muito. A
temos muita dificuldade em encontrar uma opção por imagens de página inteira é uma de
uniformidade que fosse além da unidade do suas características mais marcantes, além da
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inclusão de muitos elementos bizantinos, como influências muito diversas e que a regionalização
a preferência pela imagem frontal (GAEHDE, se tornasse sua característica mais marcante.
2002, p. 155-158). Comumente, os títulos dos Nesse movimento de especializações locais,
textos eram escritos em letras capitulares4 e notamos também uma secularização da
pintados com o minium; essas letras começaram produção, e alguns ateliês laicos começam,
cada vez mais a serem utilizadas para a então, a funcionar. Artistas em busca de
iluminação, e a inventividade carolíngia trouxe trabalhos viajavam até importantes centros, e a
ainda mais elementos à miniatura, que ficaria decoração de manuscritos passou a ser vista
conhecida como inicial (GAEHDE, 2002, p. como uma profissão relativamente independente
155-158). da Igreja, permitindo ainda mais a abertura a
novas práticas e a novos estilos (BASCHET,
Segundo Gaehde (2002, p. 166):
2006).
Não obstante a grande variedade dos estilos
desenvolvidos por cada artista nos diferentes Já no século XII a iluminura ganharia
centros carolíngios de iluminura de livros, influências da arquitetura, da escultura e também
percebe-se uma concordância: nada menos de outras pinturas. Temas religiosos, ainda que
do que a união da expressão mediterrânea e predominassem, começaram a dar espaços a
a do Norte, para se alcançar uma nova imagens laicas nos livros de cavalaria e de
linguagem artística, a da Idade Média.
medicina. A aquarela começou a ser usada como
O fim da dinastia carolíngia interrompeu a opção aos pigmentos, e o desenvolvimento das
produção artística por cerca de três gerações, técnicas de produção das imagens chegou
mas os donativos reais, bem como as trocas também à iluminação (WALTHER; WOLF,
diplomáticas e eclesiásticas, permitiram
divulgar os manuscritos iluminados através e 2014, p. 21). Um dos elementos de decoração
além das fronteiras do império, fornecendo preferidos passou a ser a borda com flores. A
assim objetos de valor para o futuro. Esses grisalha, pintura feita em tons de cinza e preto,
livros foram estudados e copiados também foi uma das novas técnicas aplicadas.
integralmente ou em parte, tornando-se
assim fontes do desenvolvimento artístico Mesmo depois da invenção da imprensa,
dos séculos X e XI, em particular na a produção de manuscritos e a iluminação
Inglaterra e na Alemanha otoniana. continuaram a existir na produção livresca
moderna, ganhando novos usos e novos valores.
Não é possível perceber uma grande
Manuscritos produzidos hoje ainda contam com
ruptura do estilo carolíngio. A iluminação
a técnica de produção de iluminuras, no entanto,
otoniana seguiu padrões muito próximos aos
o campo da iluminação, e mesmo o da produção
dos scriptoria anteriores. Contudo, nesse período,
de manuscritos, deixou de figurar em primeiro
é possível se perceber uma expansão de centros
plano para se colocar como produção artística
antes marginais e a confirmação da variação de
rara e especializada. Se hoje a produção das
estilos, permitindo aqui uma disseminação da
iluminuras é um fazer artístico, o estudo
técnica e da produção manuscrita (KUDER,
daquelas que foram produzidas na Idade Média
2002, p. 180). Essa variação iniciada com os
tem ganhado espaço, junto aos estudos das
carolíngios e confirmada durante o reinado
imagens medievais. Uma de suas especificidades
otoniano permitiu que a época românica, entre
em relação ao conjunto de imagens feitas no
os séculos XI e XIII, apresentasse tradições e
mesmo período diz respeito à quantidade que

4 A letra capitular, também chamada de letra capital, é um tipo de letra que foi amplamente usada na escrita feita em pedras e
muros, durante a Antiguidade. As letras tinham como característica as linhas retas e angulosas; nos manuscritos, elas
mantiveram a característica retilínea e se destacavam por serem feitas em dimensões maiores que as outras letras (BISCHOF,
1993).
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chegou até nós, em grande parte sem muitas documentos de diferentes lugares ao mesmo
intervenções. tempo.
Ainda que a produção de manuscritos No campo teórico, assim como as outras
iluminados fosse cara e restrita, houve muitos imagens medievais, as iluminuras se inscrevem
exemplares durante os séculos medievais e sua em um grupo de sentidos bastante amplo.
durabilidade é uma característica fundamental. Tantos podiam ser os sentidos das imagens
Feitos com pele de animais e com pigmentos quantas eram suas funcionalidades. São
naturais, sua conservação não exigiu grandes inúmeras as funcionalidades a que a imagem
esforços, e o fato de serem objetos estimados medieval se prestou, logo, destacaremos algumas
também permitiu que muitos chegassem até nós que são especialmente significativas para o
quase sem marcas do tempo. Ainda que nem universo das iluminuras. Optaremos pela ideia
todos tenham sido armazenados e guardados de funcionalidade mais do que pela de função,
corretamente, a resistência dos materiais usados primeiro, porque o termo funcionalidade, mais
garantiu que, mesmo os que tenham sinais de aparentado com a aplicabilidade, sugere uma
deterioração, possam nos apresentar alguma maior liberdade, que queremos atribuir à
informação sobre sua produção imagética. imagem; segundo, porque o termo função
oferece uma especificidade historiográfica,
Os esforços crescentes na área de
sendo, por isso, preterido também por Jérôme
disponibilização dos materiais também precisam
Baschet (1996, p. 9, tradução nossa):
ser ressaltados. O que percebemos é que esse
movimento tem intensificado a possibilidade de A palavra “função” tem uma má reputação;
pesquisa e de acesso aos manuscritos já ela evoca uma visão estreita – que é
catalogados, pela internet; caminho pelo qual principalmente aquela do funcionalismo
herdeiro da sociologia durkheiminiana e
vários países têm optado. Muitas bibliotecas ilustrada em particular pela escola
europeias: francesas, inglesas, alemãs, antropológica inglesa. Essa corrente tende a
espanholas e também americanas, têm supor uma unidade funcional da sociedade,
intensificado e melhorado a possibilidade de concebida segundo um modelo orgânico,
acesso aos seus acervos de manuscritos onde cada elemento que a compõe cumpre
medievais por meio da internet. um papel preciso e necessário.

Com essa possibilidade de se acessar Sendo assim, o que queremos destacar é


imagens dos manuscritos pela internet, que as iluminuras não tiveram um único papel ou
percebemos que a pesquisa com manuscritos uma única função ligada à noção do
ganhou uma ferramenta importante. A funcionalismo social. O que está em nossa
visualização dos documentos de qualquer lugar preocupação central com a modificação do
do mundo é uma das facilidades dessa termo é o posicionamento que a noção de
disponibilização virtual. Ressaltemos, mas função daria erroneamente às imagens. As
também as imagens revelam ainda maiores iluminuras não tiveram uma função, primeiro,
detalhes do códice, os quais pessoalmente seriam porque seu funcionamento sugere uma
difíceis de serem percebidos, até mesmo pela pluralidade – ela é múltipla –, e, segundo, por
fragilidade do material. Não consideramos que que ultrapassa seu sentido de utilidade.
isso substitua a importância do acesso pessoal à Segundo Didi-Huberman (1996, p. 59-
fonte, já que a questão material do códice pode 89), a função excede em seu funcionamento. O
ser explorada pessoalmente de outras maneiras. conceito de funcionalidade ultrapassa também a
Contudo, a disponibilização por meios virtuais é ideia proposta por Freud de trabalho e encargo.
uma ferramenta interessante, até por que Portanto, ainda que em alguns momentos a
possibilita também o acesso a vários
141 AM Visalli; PW Godoi. Diálogos, v.20, n.3, 129-144

palavra função seja usada, sua relação com um decorativo, enquanto o ornamental se relaciona
único uso é descartada. O termo no plural, à construção do sentido da imagem. A hierarquia
funções, assim como a ideia de funcionamento do valor dos elementos da imagem tendeu a
ou de funcionalidade, é mais adequado ao renegar esse estrato de produção a um lugar
trabalho com as iluminuras. No entanto, dizer marginal na imagem, mas ao analisarmos os
que sua funcionalidade é múltipla não encerra a casos da Idade Média sem descartar seu valor
questão. Constatada essa pluralidade, resta-nos estético, é possível perceber que o ornamental
um imenso universo de trabalho para a fez parte da dinâmica de construção de sentido,
identificação do papel, ou melhor, dos papéis e não ficou apenas na camada decorativa da
que podem ter exercido dentro da sociedade. imagem (BONNE, 1996a, p. 207).
Alguns elementos foram indicados por Um olhar atendo de Umberto Eco
estudiosos da Idade Média a partir de seus caracteriza um momento de dificuldade de
trabalhos sobre imagens: o valor do ornamental, compreensão desse valor estético. Os primeiros
do simbólico e da materialidade. estudos sobre a arte no período medieval
Foi a partir de estudos da arte que Jean- tenderam a sugerir que os homens desse período
Claude Bonne refletiu sobre um conceito não tinham sensibilidade estética (ECO, 2010, p.
importante para ampliar a reflexão sobre as 13). Vistas como medíocres e bizarras as formas
funcionalidades das imagens do medievo: o de e técnicas encontradas por historiadores da arte,
ornamentalidade. Aqui, é importante destacar no começo do século XX, acabaram por ser
que, ainda que o conceito seja muito propício descaracterizadas como objetos de estudo. No
para os estudos de iluminuras, sua construção se entanto o autor afirma que, ao deixar de lado a
deu também com o olhar para outros suportes. necessidade de encontrar a noção de estética
É difícil encontrar uma imagem medieval, existente hoje, foi possível perceber o
principalmente nos primeiros séculos, que não cruzamento de problemas da estética, da forma
apresente motivos geométricos ou vegetais, e da técnica em relação aos comportamentos
formais ou cromáticos sem valor semântico sociais do medievo. Ou seja, ao renegar a
claro; fez parte da visualidade medieval a necessidade de se encontrar uma estética
incorporação desses motivos na produção de moderna nas produções medievais, foi possível
uma imagem. Eles estão junto aos signos sem encontrar lógicas de apresentação artísticas que
estar ligados diretamente a eles, causando, não diziam respeito somente à beleza, mas que
inclusive, motivos de tensão entre a mensagem e se usavam dela como categoria fundamental
suas ambiguidades (BONNE, 1996a). (ECO, 2010).
O ornamento, pode-se dizer, é aquilo Assim como Bonne afirmou o papel do
que decora, que tem uma função estética e que ornamental, Umberto Eco (2010) apresentou a
foi considerado no campo da arte um elemento identificação do valor estético funcionando em
importante, porém, sem valor de interpretação conjunto com a semantização da imagem, a
direta. Já o ornamental, segundo Bonne (1996a), partir das especificidades que o período medieval
agrega à estética valores importantes na dinâmica proporcionou. O recurso do ornamental inseriu-
da imagem. Assim, um motivo geométrico se na lógica estética da Idade Média e
abstrato pode ser apenas um elemento figurativo possibilitou à imagem uma “transversalidade que
que decora uma imagem, sendo ornamento, mas conferiu a ela uma verdadeira dimensão
pode ser um componente indispensável na antropológica” (BONNE, 1996a, p. 209,
construção de uma imagem, como uma inicial, tradução nossa). Manifestando-se
tornando-se ornamental (BONNE, 1996a). principalmente em caracteres abstratos, o
ornamental não fechou em si mesmo a lógica da
O ornamento está mais para o
AM Visalli; PW Godoi. Diálogos, v.20, n.3, 129-144 142

imagem, pelo contrário, funcionou como um do medievo que se identifica como pensamento
recurso que abriu o sistema semântico, analógico. As correlações entre dois ou mais
permitindo claramente a imagem fazer-se imago. polos (objetos, termos, números, animais,
vegetais, ideias etc, e na integração destes)
Segundo Schmitt (2006, p. 598):
podem ocorrer por similitude ou contraste, o
Para designar esta primazia dos valores que torna a interpretação simbólica
simbólicos sobre os conteúdos semânticos especialmente complexa para o homem
no ornamental, Jean-Claude Bonne propôs o
termo “imagem-coisa”: a “coisidade” da contemporâneo, pois que se integra ao sistema
imagem é aquilo que nela, sua matéria, suas simbólico de seu meio e tempo. Esta
formas não-figurativas, escapa em última “transferência de propriedade de algo conhecido
análise a qualquer tentativa de semantização. para outro menos conhecido” (FRANCO, 2008,
p. 3), ao estabelecer uma relação entre o visível e
O ornamental teve seu papel de medida,
o invisível reflete bem o sentido evidenciado por
fez parte da organização da ordem da imagem,
Schmitt (2006, p. 595) na imago.
ordem essa tão cara ao período medieval
(BONNE, 1996a, p. 238). Ele está entre as Os grandes eixos da simbólica medieval
funcionalidades que a imagem medieval pode são construções, como o afirma Pastoureau
apresentar. Dentro desse universo estético, ser (2006, p. 507), e resultam de sistemas de valores
belo também era ser útil, e a utilidade esteve e sensibilidades que se sobrepuseram em
intimamente ligada ao valor simbólico dos camadas. A dificuldade para sua compreensão se
elementos produzidos visualmente. Elementos encontra justamente nas possíveis variações e
figurativos e simbólicos estão comumente justaposições de sentidos dos elementos
integrados. Essa relação de interdependência, na simbólicos, aliadas às frequentes atualizações
Idade Média, não foi a única inserida na imagem, inocentes e superficiais de muitos pretendentes
porém, ela teve papel importante para a a intérpretes contemporâneos.
produção do visual, principalmente porque fazia Diante da ausência de normatização
parte dela quase de modo “natural”. Segundo sobre como produzir imagens, em um universo
Michel Pastoureau (2006, p. 495): fundado na autorização da tradição, é notável
O símbolo é um modo de pensamento e de que a variedade tenha sido elemento
sensibilidade tão ‘natural’ para os autores da fundamental da construção visual no medievo.
Idade Média, que eles não sentem a menor Assim como não havia uma normatização, as
necessidade de prevenir os leitores de suas tensões e diferenças entre os religiosos de
intenções teóricas, semânticas ou didáticas,
nem de definir sempre os termos que vão diferentes ordens e lugares (geográficos e na
utilizar. hierarquia) deixaram espaços que possibilitaram
o exercício da novidade. O exemplo mais
O trabalho realizado pelos produtores de conhecido é certamente o das variações na
imagens, assim como o realizado durante a representação da Trindade, mas podemos
visualização da imagem prestava-se, então, a recordar também das tábuas historiadas. Estas se
identificar toda imagem dentro desse jogo de constituíram como invenções do princípio do
relações em que o símbolo está presente com século XIII, reunindo uma imagem de culto
maior ou menor intensidade. O símbolo, característica da iconografia bizantina e uma
segundo o autor, fez parte do “instrumento narrativa imagética que se identificava às
mental” dos homens do medievo miniaturas dos códices e aos ciclos pintados nas
(PASTOUREAU, 2006, p. 495). paredes do ocidente cristão. Os motivos
A linguagem simbólica se integra nesse escolhidos para compor as narrativas são,
sistema de imagens e formas verbais dos homens também, inspirados na tradição hagiográfica,
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mas se articulam numa dinâmica própria que devoção, e a celebração do objeto. Na


constrói tradições e “esquece” outras. As construção de simbolismos próprios ao material
imagens se articulam, assim, no equilíbrio entre aderido, a escolha de temas, tamanhos, formas,
a estabilidade dos conteúdos e formas e a cores, apresentam caminhos para a identificação
inovação. das relações existentes entre a imagem medieval
e seus produtores, comitentes e observadores.
Para essa variação um dos recursos
Trazendo ao universo do visível a estreita relação
importantes foi a junção de elementos narrativos
entre linguagens diferentes (imagem, texto e
e ornamentais que aparentemente se opõem,
materialidade) a imago dos livros expõe
mas que participam intimamente e ao mesmo
expressões dos sentimentos humanos.
tempo da construção da imagem no medievo.
Essa aparente falta de ajustamento dá à imago um Referências
caráter ainda mais complexo e distingui-los não
é tarefa fácil, pois em muitos casos eles não se ALEXANDER, Jonathan James Graham. La lettre
separam, são complementares e fazem parte de ornée. Paris: Editions du Chêne, 1979.
um todo que adere ao objeto. Portanto localizar
AUGUSTE, Catherine. Lettres ornées à connaître et
a iluminura no eixo entre imagem e objeto crèer. Rennes: Editions Ouest-France, 2007.
pressupõe localizá-la em suas funções, em seu
tempo e em seu espaço. As iluminuras, com seus BASCHET, Jérôme. Introduction: l’imagem-objet.
elementos figurativos específicos, seu caráter In: ______; SCHMITT, Jean-Claude. L'IMAGE:
Fonctions et usages des images dans l'Ocident
ornamental, suas cores e elementos outros
médiéval. Paris: Le Léopard d'Or, 1996. p. 7-26. v.
(como incrustações de pedras preciosas), 5.
dialogam com os textos dos manuscritos,
dividindo espaços muitas vezes detidamente ______. A civilização feudal: do ano mil à colonização
calculados, mantendo, contudo, sua autonomia. da América. São Paulo: Globo, 2006.
Mesmos aquelas que se constroem como ______. L’iconographie medieval. Paris:
ilustrações que acompanham uma narrativa Gallimard/Folio Histoire, 2008.
escrita, tendem a construir uma dinâmica
independente. Sua avaliação não pode se afastar BISCHOFF, Bernhard. Paléographie: de l’Antiqué
romaine et du Moyen Âge Occidental. Paris: Picard,
dos usos do objeto. 1993.
Dessa forma, notamos que as
BLOCH, Marc. Apologia da História ou O ofício de
funcionalidades das iluminuras, sintetizadas em historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
conceitos como a da ornamentalidade, do
simbólico e de imagem-objeto, dialogam com o BONNE, Jean-Claude. Formes et fonction de
conceito de imago medieval expresso por Jean- l'ornamental dans l'arte médiéval (VIIIᵉ-XIIᵉ siècle).
Claude Schmitt, quando apresentam Le modèle insulaire. In: BASCHET, Jérôme;
SCHMITT, Jean-Claude. L'IMAGE: Fonctions et
possibilidades de visualização, não apenas dos usages des images dans l'Ocident médiéval. Paris: Le
conteúdos narrados nos textos ao seu lado, mas, Léopard d'Or, 1996a. p. 207-250. v. 5.
e principalmente na inserção de uma nova
linguagem na transmissão da mensagem. Dentro ______. Penser em couleurs: I propôs d ‘um image
de uma lógica própria, a construção das apocalyptique du Xᵉ siecle. In: HÜLSEN-ESCH,
Andrea Von; SCHMITT, Jean-Claude (Org.). Die
iluminuras nos livros, com suas camadas de Methodik der Bildinterpretation: Les méthodes de
cores, assim como nas relações estabelecidas l'interprétation de l'image. Göttingen: Wallstein,
entre formas ornamentais e narrativas, 2002. p. 355-379. v. 2.
identificam a presentificação da imagem,
______. Le vegetalisme de l’art Roman: naturalité et
aderindo ao manuscrito a presença necessária à
sacralité. In: BAGLIANI, Agostino P. (Org.). Le
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