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Deusilene Silva de Leão
Cristiano Santos Araujo
(Organizadores)
1ª Edição
Goiânia - Goiás
Gráfica e Editora América Ltda.
- 2014 -
© 2014, Deusilene Silva de Leão e Cristiano Santos Araujo
127 p.
CDU 658.115:17
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
2014
Prefácio
5
III - Compartilhar modelos e práticas de gestão da ética, envi-
dar esforços para o constante aprimoramento dos Códigos de Ética e
de Conduta de cada um dos convenentes e estudar o desenvolvimen-
to de indicadores objetivos de efetividade dos Programas de Gestão
da Ética;
VI - E promover, anualmente, o Seminário de Gestão da Ética nas
Empresas Estatais.
6 Prefácio
Sumário
• Prefácio....................................................................................................... 5
• A ÉTICA DO RESPEITO........................................................................ 63
George Barcat
7
DESAFIOS ÉTICOS E DIREITOS HUMANOS
Leonardo Boff1
9
A Carta da ONU de 1948 confia ao Estado a obrigação de criar
as condições concretas para que os direitos possam ser realizados
para todos. Ocorre que o tipo de Estado dominante é um Estado
classista. Como tal é perpassado pelas desigualdades que as classes
sociais originam. Concretamente: a ideologia política deste Estado
é neoliberalismo que se expressa pela democracia representativa e
pela exaltação dos valores do indivíduo; a economia é capitalista
que operou a “Grande Transformação”, substituindo a economia de
mercado pela sociedade de mercado para a qual tudo vira mercado-
ria. Por ser capitalista vigora a hegemonia da propriedade privada,
o mercado livre e a lógica da concorrência. Esse Estado é controla-
do pelos grandes conglomerados que hegemonizam o poder econô-
mico, político e ideológico. Em grande parte é privatizado por eles.
Usam o Estado para a garantia de seus privilégios e não dos direitos
de todos. Atender os direitos sociais a todos seria contraditório com
sua lógica interna.
A solução que as classes subalternas encontraram para enfren-
tar essa contradição foi de elas mesmas se organizarem e criarem as
condições para seus direitos. Assim surgiram os vários movimentos
sociais e populares por terra, por teto, por saúde, por escola, pelos ne-
gros, índios e mulheres marginalizadas, por igualdade de gênero, por
respeito do direito das minorias etc. É mais que uma luta pelos direi-
tos; é uma luta política para a transformação do tipo de sociedade e do
tipo de Estado vigentes porque com eles seus direitos nunca irão ser
reconhecidos. Portanto, a alternativa à democracia reduzida, é a demo-
cracia social, participativa, de baixo para cima, na qual todos possam
caber. O Estado que representa esse tipo de democracia enriquecida Deusilene Silva de Leão e Cristiano Santos Araujo
teria uma natureza nitidamente social e se organizaria para garantir os
direitos sociais de todos. Enquanto isso não ocorrer, não haverá uma
real universalização dos direitos humanos. Parte dos discursos oficiais
são apenas retóricos.
As classes subalternas expandiram o conceito de cidadania.
Não se trata mais daquela burguesa que coloca o indivíduo diante
do Estado e organiza as relações entre ambos. Agora se trata de cida-
dãos que se articulam com outros cidadãos para juntos enfrentarem o
Estado privatizado e a sociedade desigual de classe. Daí nasce a con-
cidadania: cidadãos que se unem entre si, sem o Estado e muitas ve-
zes contra o Estado para fazerem valer seus direitos e levarem avante
10 Leonardo Boff
a bandeira política de uma real democracia social, onde todos possam
se sentir representados.
Esses movimentos fizeram crescer mais e mais, a consciência da
dignidade humana, a verdadeira fonte de todos os direitos. O ser hu-
mano não pode ser visto como mera força de trabalho, descartável,
mas como um valor em si mesmo, não passível de manipulação por ne-
nhuma instância, nem estatal, nem ideológica, nem religiosa. A digni-
dade humana remete à preservação das condições de continuidade do
planeta Terra, da espécie humana e da vida, sem a qual o discurso dos
direitos perderia seu chão.
Por isso, os dois valores e direitos básicos que devem entrar mais
e mais na consciência coletiva são: como preservar nosso esplêndido
planeta azul-branco, a Terra, Pachamama e Gaia? E o segundo: como
garantir as condições ecológicas para que o experimento homo sapiens/
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12 Leonardo Boff
funciona um templo e junto a ele um shopping. Enfim, se trata sempre
da mesma coisa: auferir rendas seja com bens materiais seja com bens
“espirituais”.
Quem estudou em detalhe este processo avassalador foi um his-
toriador da economia, o húngaro-norte-americano Karl Polanyi (1886-
1964). Ele cunhou a expressão ‘A Grande Transformação’, título do livro
escrito antes do final da Segunda Guerra Mundial em 1944. No seu
tempo a obra não mereceu especial atenção. Hoje, quando suas teses se
vem mais e mais confirmadas, tornou-se leitura obrigatória para todos
os que se propõem entender o que está ocorrendo no campo da econo-
mia com repercussão em todos os âmbitos da atividade humana, não
excluída a religiosa. Desconfia-se que o próprio Papa Francisco tenha
se inspirado em Polanyi para criticar a atual mercantilização de tudo,
até do ser humano e órgãos.
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14 Leonardo Boff
A visão dos astronautas reforçou a nova consciência. De
suas naves espaciais ou da Lua se deram conta de que Terra e a
Humanidade formam uma única entidade. Elas não estão separa-
das nem justapostas. A Humanidade é uma expressão da Terra, a
sua porção consciente, inteligente e responsável pela preservação
das condições da continuidade da vida. Em nome desta consciência
e desta urgência, surgiu o princípio responsabilidade (Hans Jonas),
o princípio cuidado (Boff e outros), o princípio sustentabilidade
(Relatório Brundland), o princípio interdependência, o princípio
cooperação (Heisenberg/Wilson/Swimme/Morin/Capra) e o princí-
pio prevenção/precaução (Carta do Rio de Janeiro de 1992 da ONU),
o princípio compaixão (Schoppenhauer/Dalai Lama) e o princípio
Terra (Lovelock e Evo Morales).
A reflexão ecológica se complexificou. Não se pode reduzi-la
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16 Leonardo Boff
vos africanos. Todos eram considerados “peças” a serem compradas
no mercado e como carvão a ser consumido nos engenhos de açúcar.
Com razão afirma Souza Lima: “o resultado foi o surgimento de uma
formação social original e desconhecida pela humanidade até aquele
momento, criada unicamente para servir à economia; no Brasil nasceu
o que se pode chamar de ‘formação social empresarial”.
A modernidade no sentido da utilização da razão produtivista,
da vontade de acumulação ilimitada e da exploração sistemática da
natureza, da criação de vastas populações excluídas, nasceu no Brasil
e na América Latina. O Brasil, neste sentido, é novo e moderno desde
suas origens.
A Europa só pôde fazer a sua revolução, chamada de moderni-
dade, com seu direito e instituições democráticas, porque foi susten-
tada pela rapinagem brutal feita nas colônias. Com a independência
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18 Leonardo Boff
síveis do futuro? Simplesmente porque, majoritariamente, se encon-
tram enclausurados em seus saberes específicos nos quais são muito
competentes mas que, por isso mesmo, se fazem cegos para os gritan-
tes problemas globais.
Quais dos grandes centros de análise mundial dos anos 60 pre-
viram a mudança climática dos anos 90? Que analistas econômicos
com prêmio Nobel, anteviram a crise econômico-financeira que devas-
tou os países centrais em 2008? Todos eram eminentes especialistas
no seu campo limitado, mas idiotizados nas questões fundamentais.
Geralmente é assim: só vemos o que entendemos. Como os especia-
listas entendem apenas a mínima parte que estudam, acabam vendo
apenas esta mínima parte, ficando cegos para o todo. Mudar este tipo
de saber cartesiano desmontaria hábitos científicos consagrados e toda
uma visão de mundo.
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20 Leonardo Boff
ta como algo morto, sem propósito, como se o ser humano não fizesse
parte dele.
O fato é que nós entramos no processo da evolução quando esta
alcançou um patamar altíssimo de complexidade. Então irrompeu a
vida humana consciente e livre como um subcapítulo da vida. Por nós
o universo chegou à consciência de si mesmo. E isso ocorreu numa mi-
núscula parte do universo que é a Terra. Por isso nós somos aquela por-
ção da Terra que sente, ama, pensa, cuida e venera. Somos Terra que
anda, como diz o cantador indígena argentino Atauhalpa Yupanqui.
A nossa missão específica, nosso lugar no conjunto dos seres, é
o de sermos aqueles que podem apreciar a grandeza do universo, es-
cutar as mensagens que cada ser enuncia e celebrar a diversidade dos
seres e da vida.
E pelo fato de sermos portadores de sensibilidade e de inteli-
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22 Leonardo Boff
Esta injustiça ecológica dificilmente pode ser tornada invisível
como a outra, porque os sinais estão em todas as partes, nem pode ser
resolvida só pelos ricos, pois ela é global e atinge também a eles. A so-
lução deve nascer da colaboração de todos, de forma diferenciada: os
ricos, por serem mais responsáveis no passado e no presente, devem
contribuir muito mais com investimentos e com a transferência de tec-
nologias e os pobres têm o direito a um desenvolvimento ecologica-
mente sustentável, que os tire da miséria.
Seguramente, não podemos negligenciar soluções técnicas. Mas
sozinhas são insuficientes, pois a solução global remete a uma ques-
tão prévia: ao paradigma de sociedade que se reflete na dificuldade
de mudar estilos de vida e hábitos de consumo. Precisamos da solida-
riedade universal, da responsabilidade coletiva e do cuidado por tudo
o que vive e existe (não somos os únicos a viver neste planeta nem a
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24 Leonardo Boff
Os cenários referidos acima nos obrigam a soluções que mudam
o quadro global de nossa vida na Terra. Não dá para continuar ga-
nhando dinheiro com a venda do direito de poluir (créditos de carbo-
no) e com a economia verde. Se o gênio do capitalismo é saber adap-
tar-se a cada circunstância, desde que se preservem as leis do mercado
e as chances de ganho, agora devemos reconhecer que esta estratégia
não é mais possível. Ela precipitaria a catástrofe previsível.
Para termos futuro devemos partir de outras premissas: ao invés
da exploração, a sinergia homem-natureza, pois Terra e humanidade
formam um único todo; no lugar da concorrência, a cooperação, base
da construção da sociedade com rosto humano.
Dão-me alguma esperança os teóricos da complexidade, da in-
certeza e do caos (Prigogine, Heisenberg, Morin) que dizem que em
toda a realidade funciona a seguinte dinâmica: a desordem leva à au-
Fórum nacional de gestão da ética nas empresas estatais: ética e direitos humanos no ambiente corporativo
Referências bibliográficas
http://www.leonardoboff.com/
http://leonardoboff.wordpress.com/
1
Palestra no X Fórum de Ética nas Empresas Estatais, Brasília, outubro de 2014. Iradj Roberto
Eghrari, 55 anos, é engenheiro eletrônico pela PUC/RJ e mestre em engenharia eletrônica
pela PUC/RJ; bacharel em administração de empresas pela PUC/RJ; secretário Nacional de
Ações com a sociedade e o governo da Comunidade Bahá’í do Brasil; gerente-executivo da
ONG Ágere Cooperação em Advocacy; líder parceiro Avina; membro do Comitê Nacional
de Educação em Direitos Humanos, órgão da Secretaria Especial de Direitos Humanos da
Presidência da República; e membro do Conselho Deliberativo da Transparência Brasil.
27
cisão, da implantação de guias e estratégias que tratam daquilo que
“deve ser”. É preciso mais do que uma determinação de aspectos ge-
rais a serem seguidos para que cada um de nós possa fazer aflorar essa
característica em nossas vidas, em nossas rotinas.
Qual o “plano de trabalho” que uma pessoa deve desenvolver
dentro de uma empresa para que possa guiar a sua atuação indivi-
dual e desempenhar um papel ético? Nesse contexto, a existência de
mecanismos de queixa e denúncia de desrespeito aos direitos huma-
nos não é o bastante para assegurar uma conduta ética – é preciso, na
realidade, evitar que a violação aconteça, e investigar as razões pelas
quais ela acontece.
Ele responde que sim – mas as imagens mostram ao fundo uma me-
nina de short curto, maquiagem carregada, salto alto e cara de adoles-
cente, que o acompanha durante todo o trajeto, meio que invisível, até
ele se encontrar com a esposa e as filhas que o apanham de carro na
saída do aeroporto. E aí vem a pergunta: “Que tipo de lembrança você
anda trazendo das suas viagens?”
O que fica desse vídeo é a representação de um indivíduo que
pode ser ético na família, ser um ótimo esposo e pai, um excelente
profissional na empresa em que trabalha, uma pessoa ética na sua
igreja ou congregação, mas que tem conduta violadora ao contribuir
para a exploração sexual de adolescentes. O exemplo nos ajuda a en-
tender o sujeito que no trabalho é companheiro com todos e em casa
agride física e psicologicamente sua mulher. Ou aquele que na igreja
colabora com ações sociais e nas suas relações empresariais corrom-
pe e é corrompido, por exemplo admitindo que na cadeia produtiva
o trabalho infantil esteja presente. Essa cisão interna acontece porque
ele flexibiliza a sua ética quando está fora do seu ambiente habitual.
Ele cria em sua mente uma lógica cindida – algo que para ele é difícil
de perceber porque ele provavelmente nunca parou para pensar so-
bre isso, sobre as consequências das “escapulidas” às suas próprias
diretrizes éticas.
2
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=_C02XvsXpJM (visualizado em 18 de
setembro de 2014).
9
Mahabharata (citado em Momento Decisivo Para Todas as Nações).
10
Lucas 6:31 (citado em Momento Decisivo Para Todas as Nações).
11
Sunnah(citado em Momento Decisivo Para Todas as Nações).
12
Thai-Shang (citado em Momento Decisivo Para Todas as Nações).
13
Analectos XV, 23 (citado em Momento Decisivo Para Todas as Nações).
14
Seleção dos Escritos de Bahá’u’lláh (citado em Momento Decisivo Para Todas as Nações).
15
Comunidades Sustentáveis Num Mundo em Integração. 1996. Disponível em http://
bahairesearch.com/portuguese/Bah%C3%A1%C2%B4%C3%AD/Authoratiative_
Bah%C3%A1’%C3%AD/A_Casa_Universal_de_Justi%C3%A7a/Org%C3%A3os_da_CUJ/
Comunidades_Sustent%C3%A1veis.aspx (visualizado em 18 de setembro de 2014).
16
Sociedades Sustentáveis – Rumo a um Novo ‘Nós’. 2012. Disponível em http://www.bahai.
org.br/secext/arquivos/13-6-2012/Rio+20-declaracao-BIC.pdf (visualizado em 18 de setembro
de 2014).
17
http://www.bahai.org.br/acao-social/principios-em-acao/desenvolvimento-e-sustentabilidade
(visualizado em 18 de setembro de 2014).
18
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos - PNEDH. Governo Federal, 2007.
Disponível em http://www.sdh.gov.br/assuntos/direito-para-todos/pdf/copy_of_PNEDH.pdf
(visualizado em 18 de setembro de 2014).
19
Adaptações do texto do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos - PNEDH. Governo
Federal, 2007. Disponível em http://www.sdh.gov.br/assuntos/direito-para-todos/pdf/copy_
of_PNEDH.pdf (visualizado em 18 de setembro de 2014).
20
Adaptado de EGHRARI, Iradj Roberto. Voluntariado: um ato de liderança servidora. Palestra
na empresa Vale S/A em 21 de novembro de 2011, Rio de Janeiro.
Alípio Casali1
Preliminares
1
Filósofo, Doutor em Educação pela PUC-SP, Pós-doutor em Educação pela Universidade de
Paris, Professor Titular do Departamento de Fundamentos da Educação e da Pós-Graduação
em Educação, da PUC-SP. Publicado originalmente na Revista de Educação Pública - Edição
Temática Semiedu 2013 - maio/ago.2014, v. 23, n. 53/1. http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/
index.php/educacaopublica/article/view/1617 - Contato: a.casali@uol.com.br
39
1942). O indicativo presente desse verbo, na primeira pessoa do sin-
gular (colo), em sua primeira acepção, significa eu habito a terra e nela
trabalho; eu cultivo o campo [e dele sobrevivo]. Como se observa, o ver-
bo expressa uma relação direta de propriedade e pertença com a terra
(eu habito a terra). Se assim é, a expressão “colonialismo” é uma brutal
inversão (uma usurpação semântica dissimulada, muito mais que um
eufemismo) desse sentido originário de cultivar a própria terra; tra-
balhar como autoprodução material da vida; cumprir, na realização
da cultura material do alimento a partir da terra (agri-cultura), o fun-
damento apropriado (não-alienado) da cultura em seu sentido amplo
(simbólico, estético, cognitivo, espiritual, religioso). Pois o conceito de
cultura, enquanto conjunto de ideias, conhecimentos e criações estéti-
cas, resulta em última instância dessa mesma relação primordial e ma-
terial que constitui o trabalho humano (PINTO, 1969, p. 119-138). Por
aí se conclui o quanto a completa descolonização cultural requer uma
prévia e completa descolonização do discurso.
A noção de direitos está associada historicamente a ideias de: leis
e bons costumes; justiça; correção; ausência de erros; certeza; hones-
tidade (HOUAISS, 2004). Etimologicamente, direito deriva do adjeti-
vo directus, a, um (latim): o que segue em linha reta, o que segue regras ou
ordens preestabelecidas (TORRINHA, 1942). O adjetivo directus, por sua
vez, decorre do particípio passado do verbo dirigere, e por aí também
chegamos à ideia de direção, o que implica movimento (em direção a) e
confere ao Direito um sentido histórico inerente.
Quanto ao vocábulo educação, as citações mais comuns da sua eti-
mologia associam-no com razão a ducere (conduzir, levar, transportar),
mas predominantemente remetem o prefixo e- (de e-ducere) ao sentido Deusilene Silva de Leão e Cristiano Santos Araujo
socrático de conduzir algo/alguém de dentro para fora, esquecendo-se
de que aí está presente também o substantivo dux, ducis, que é referên-
cia à figura ancestral do pastor, o-que-vai-à-frente (TORRINHA, 1942);
e, por esse sentido menos interpretativo, e-ducere seria antes conduzir
algo/alguém de um estado (lugar, condição) para outro. Aparece aí o
sentido forte de alteridade no ato educativo, no seu duplo sentido: de
um outro (alter) sempre implicado na educação; e de alteração da condi-
ção do educando.
Premissa ética. É preciso demarcar com clareza e contundência
suficientes que o colonialismo é uma das formas históricas mais bru-
tais de violação de Direitos Humanos de pessoas e povos, especial-
40 Alípio Casali
mente por seu poder de persistência como resíduo cultural. É um mo-
vimento inverso ao da educação – é alienação, pois, se a alteridade é a
marca da presença do outro como mediador de um processo de eman-
cipação, a alienação é o seu antagônico: a presença do outro como ge-
rador de submissão, desapropriação de si. Assim sendo, a descoloni-
zação como negação da negação equivale ao ato educativo que desa-
liena, emancipa (literalmente, ex-manu-capere: sai-da-mão-do-outro) e
gera autonomia.
Premissa cultural. O colonialismo persiste, mediante desdobra-
mentos e transmutações, em formas variadas e dissimuladas, como es-
tratégia da dominação cultural, particularmente nos casos de gestão
pública daqueles sistemas de ensino em que estejam implicados currí-
culos de escolas indígenas e quilombolas (os outros mais excluídos de
seus direitos no percurso histórico das Américas).
Fórum nacional de gestão da ética nas empresas estatais: ética e direitos humanos no ambiente corporativo
42 Alípio Casali
Contribuições de sistemas culturais e políticos para o desenvolvimento
dos direitos humanos na história
acerca de seu “relato de vida”, tais como: “Não cometi iniquidade contra
os homens... Não fiz padecer fome... Não roubei... Dei pão ao faminto, vesti o
nu e dei barca ao náufrago...” (Cap. 125). Enrique Dussel (2000) explora
as notáveis semelhanças conceituais e linguísticas entre essa passagem
do Livro dos Mortos e textos do Livro do Profeta Isaías (cap. 58, ver-
sículo 7) e do Evangelho de Mateus (capítulo 25, versículo 35), e reco-
nhece aí a “formulação de uma reflexão ético-filosófica, talvez consti-
tuindo o texto crítico mais antigo de que a Humanidade tenha memó-
ria” (p. 635). Os egípcios forneceram, aí, importantes fundamentos ao
vindouro conceito de Direitos Humanos.
Na Mesopotâmia, reino da Suméria, atual Iraque, em torno de
1750 a.C., o Código do Rei Hamurabi, gravado numa pedra de diori-
to, afirmava o dever de justiça, da solidariedade para com os fracos, da
responsabilidade pelos próprios atos, do respeito à vida e à proprieda-
de do outro. Em que pese o fato de seguir legitimando a escravidão e
sustentar sua justiça na lei do talião (olho por olho, dente por dente) e
não conter, portanto, o conceito de reeducação nem o de perdão, con-
denava o falso testemunho, o roubo e a receptação, o estupro, o incesto
e outras práticas contrárias à dignidade dos seres humanos: afirmava
que se devia “Praticar a justiça... Não roubar... Responsabilizar-se por seus
atos... Proteger os fracos...”
Novamente no Egito, agora em torno de 1200 a.C., os Manda-
mentos de Jahveh ao povo hebreu, pela boca de Moisés, anunciaram
uma ordem de convívio digno e respeitoso entre os seres humanos:
44 Alípio Casali
Em grandes linhas, ao final do século XVIII os ideais até então re-
volucionários de liberdade, individualidade, igualdade, propriedade e
democracia já haviam-se estabelecido no horizonte dos valores huma-
nos (supostamente naturais; de fato, historicamente construídos) como
afirmação de direitos. Não obstante, sabemos o quanto, na sequência
da história, tais ideais universalistas foram reduzidos a interesses da
classe que se tornou dominante com o estabelecimento do modo de
produção capitalista.
Nos Estados Unidos da América, a Declaração de Virgínia (1776)
e a Declaração de Independência (1787) afirmaram como Direitos
Humanos fundamentais a liberdade individual e a democracia formal,
entre outros. Com isso, a Constituição dos Estados Unidos da América,
independentes e soberanos, em 1787, foi a primeira a operar, em âmbi-
to político do Estado, esse horizonte de ideais. Não obstante, foram ne-
Fórum nacional de gestão da ética nas empresas estatais: ética e direitos humanos no ambiente corporativo
cessários ainda quase duzentos anos para que os direitos civis adqui-
rissem plenitude formal para os cidadãos negros naquele país (Lei dos
Direitos Civis em 1964; e Lei do Direito ao Voto em 1965).
Foi na Revolução Francesa (1789) que realizou-se com plena cla-
reza a efetivação dos direitos políticos dos cidadãos por meio de um go-
verno propriamente republicano – em que pesem as oscilações e turbu-
lências violentas daquele processo revolucionário. Contraditoriamente,
e sintomaticamente, a primeira representação figurativa da Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, republicana e laica,
fez-se como alusão religiosa direta às tábuas da lei de Moisés, em que
não faltou sequer a figura do Olho da Providência em seu alto. Essa
Declaração consolidou o principal da cultura dos Direitos Humanos
até então acumulada na história, razão pela qual veio a fornecer gran-
de parte dos conteúdos da Declaração vindoura da ONU, em 1948.
Outra referência cultural indispensável nesse trajeto histórico,
pelo seu elevado valor simbólico, é a Carta do Chefe Seattle dos índios
Duwamish ao então Presidente dos EUA, Franklin Pierce (1854), em
resposta à proposta presidencial de “comprar” uma parte das terras de
sua tribo e conceder em troca outra reserva de terras menos valiosas. A
resposta do Chefe Seattle começa de modo contundente: “Como é que se
pode comprar ou vender o céu e o calor da terra?” Uma lição de moral, de
justiça, de Direitos Humanos.
No século XIX, os direitos sociais, culturais e econômicos já apa-
receram como parte da luta dos atores sociais e políticos identificados
46 Alípio Casali
de que a Humanidade até então tivera notícia. Era indispensável fir-
mar algum acordo que evitasse a repetição da barbárie dos campos
de concentração nazistas e da explosão de artefatos nucleares como
os que destruíram Hiroshima e Nagazaki. Mas o acervo de declara-
ções de Direitos Humanos até então acumulado na história era de per-
fil predominantemente liberal e os protagonistas da elaboração dessa
Declaração eram os países (aliados) que saíram vitoriosos da Segunda
Guerra (DAMIÃO, 2002). Entre eles estava a URSS que, não obstante
manejar seus próprios dispositivos de violência stalinistas, exigiu a in-
serção de “direitos sociais” na Declaração como condição para consen-
tir com a manutenção do princípio do “direito à propriedade privada”
e assinar a Declaração. O exército soviético derrotara o Nazismo ocu-
pando Berlin na investida final da Segunda Guerra... a URSS não pode-
ria ficar fora da “nova ordem mundial” do pós-guerra.
Fórum nacional de gestão da ética nas empresas estatais: ética e direitos humanos no ambiente corporativo
48 Alípio Casali
propriedades materiais ou imateriais; a manter suas culturas, línguas e
meios de comunicação; etc. (ISA, 2010).
Em 1976, a ONU aprovou, em Argel, Capital da Argélia, uma
Declaração Universal dos Direitos dos Povos, que condenou toda for-
ma de colonialismo, a qual serviu de parâmetro para outra Declaração
de grande importância histórica: a Declaração Universal dos Direitos
Coletivos dos Povos, aprovada na Cúpula da Conferência de Nações
sem Estado da Europa Ocidental - CONSEU, em Valência, Espanha,
1999 (CIEMEN, 2013).
Em 1981, estabeleceu-se outra importante referência para o
tema: a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, denomi-
nada “Carta de Banjul”, aprovada pela Conferência Ministerial da
Organização da Unidade Africana (OUA) em Banjul, Gâmbia, em ja-
neiro de 1981, que veio a ser adotada pela XVIII Assembleia dos Chefes
Fórum nacional de gestão da ética nas empresas estatais: ética e direitos humanos no ambiente corporativo
50 Alípio Casali
Direitos Humanos a cidadãos ou entidades nacionais que se desta-
quem em sua defesa ou promoção, e desde 1996 vige um Programa
Nacional de Direitos Humanos.
A ambivalência dessa condição de oficialização dos Direitos
Humanos como políticas de Estado é auto evidente: por um lado, ex-
pressa o valor do reconhecimento dos Direitos Humanos, o que propi-
cia maior probabilidade de respeito a seu cumprimento, protegendo e
promovendo os cidadãos; por outro lado, lança essa importante políti-
ca na zona de risco de sua redução a funções técnicas de gestão, o que
aumenta o poder do Estado de “gerir racionalmente” as violências co-
tidianas a que os cidadãos seriam “inevitavelmente” submetidos em
prol da “ordem e segurança pública”. Entre essas violências, cresce es-
pecialmente a das práticas de controle de informações sobre a vida dos
cidadãos e as limitações a seu direito de livre manifestação política.
Fórum nacional de gestão da ética nas empresas estatais: ética e direitos humanos no ambiente corporativo
52 Alípio Casali
pauta do tema seja definida considerando-se os ideais de intercultura-
lidade. Boaventura de Souza Santos (2010) afirma o imperativo de se
promover um cosmopolitismo subalterno insurgente, que “resista transna-
cionalmente e de modo organizado contra os localismos globalizados e
os globalismos localizados” (p. 439). Por seu vigor contra-hegemônico,
tal cosmopolitismo insurgente encontraria na reconstrução intercultu-
ral dos direitos humanos o único caminho legítimo e viável para se de-
senvolver (Ibid.). A tese de Santos é que “enquanto forem concebidos
como direitos humanos universais em abstrato, os direitos humanos
tenderão a operar como localismo globalizado e, portanto, como uma
forma de globalização hegemônica” (Ibid.). Entretanto, pergunta-se
Santos, como operar essa interculturalidade? Sua proposta é que se re-
alize uma hermenêutica “diatópica” (diá: ao longo de, através de; topos:
lugar cultural) e um diálogo intercultural sistemático (p. 448), capa-
Fórum nacional de gestão da ética nas empresas estatais: ética e direitos humanos no ambiente corporativo
54 Alípio Casali
trínseco seu, anterior à conquista e colonização da América e África,
e não o contrário (DUSSEL, 1998, p. 52). Boaventura Santos reconhece
na afirmação desse universalismo abstrato (unívoco) não apenas um
equívoco conceitual, mas sobretudo uma operação de dissimulação
hegemônica, ao sustentar que “enquanto forem concebidos como di-
reitos humanos universais em abstrato, os direitos humanos tenderão
a operar como localismo globalizado e, portanto, como uma forma de
globalização hegemônica” (2010, p. 439). Com efeito, invocar-se esse
sentido do universal como unívoco tem supostos e consequências: 1)
supõe o manejo de um conceito de essência humana imutável; em de-
corrência: 2) implica a crença de que o dominador seja o portador de
tal essência; donde: 3) fundamenta o totalitarismo imperial. A afirma-
ção essencialista dos Direitos Humanos pelo viés do universalismo
unívoco coincide, assim, com uma forma de dominação cultural, e
Fórum nacional de gestão da ética nas empresas estatais: ética e direitos humanos no ambiente corporativo
não se estranha que os povos e nações que conhecem bem a sua pró-
pria experiência de vítimas da colonização e da exclusão reconheçam
rapidamente tal dispositivo e o recusem. Se se pretende algum reco-
nhecimento a um cosmopolitismo insurgente capaz de resistir trans-
nacionalmente e interculturalmente aos globalismos colonialistas, há
que se trabalhar em diálogo sobre o reconhecimento de algo em co-
mum (a “igualdade”) de modo simultâneo a algo específico (a “dife-
rença’) nas práticas dos Direitos Humanos, o que convoca o mane-
jo de um outro conceito de universalidade, o da universalidade aná-
loga. Por aí, as distintas formas culturais de efetivação da liberdade
e da dignidade apareceriam como realizações análogas concretas da
Humanidade como um universal agora também concreto e não mais
abstrato e unívoco. As conclusões do estudo de Piovesan (2006) pare-
cem ir nessa mesma direção:
56 Alípio Casali
da vida e da cultura das comunidades do campo, indígenas e quilom-
bolas; a favor do direito à informação transparente e veraz; a favor do
direito à produção cultural e seu usufruto.
Nesse sentido, a luta pelo direito pleno a uma educação descolo-
nizada e de qualidade social implicaria um conjunto de pré-condições,
condições, práticas e supostamente deve levar a um conjunto de resulta-
dos (CASALI, 2011, p. 15-40).
Nessa perspectiva, afirmamos como pré-condições ao exercício
pleno desse Direito Humano: a) o Estado de direito; b) a democracia
representativa e participativa em pleno funcionamento; c) as políticas
públicas contando com financiamento adequado, comprometidas com
a mesma democracia; d) a efetividade dessas políticas no que se refere
à formação inicial e continuada dos profissionais da educação; e) a ga-
rantia de inserção adequada desses profissionais no sistema de ensino;
Fórum nacional de gestão da ética nas empresas estatais: ética e direitos humanos no ambiente corporativo
58 Alípio Casali
g) que ela tenha gerado sujeitos conscientes, livres, responsá-
veis, autônomos, apropriados de todo o seu processo de formação, ca-
pazes de produzir a si mesmos e de se apropriar de si como um projeto
de subjetividade e de identidade jamais esgotável;
h) que tais sujeitos sejam capazes de se apropriar também das
instituições, organizações, comunidades, das quais participam, apro-
priando-se das identidades que elas lhes imprimem como parte de sua
marca cultural;
i) que tais sujeitos sejam capazes de se reconhecer como unida-
des da humanidade, no sentido do que já em 1657 afirmava Comenius
(1985), de que as escolas devem se constituir em “oficinas da humani-
dade”;
j) que nessas relações consigo mesmos, com sua cultura local e
com a humanidade, os sujeitos educandos sejam capazes de estabele-
Fórum nacional de gestão da ética nas empresas estatais: ética e direitos humanos no ambiente corporativo
Referências bibliográficas
PINTO, Álvaro Vieira. Ciência e existência. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1969.
60 Alípio Casali
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e justiça internacional: um estudo compa-
rativo dos sistemas regionais europeu, interamericano e africano. São Paulo:
Saraiva, 2006
TRINDADE, José Damião. História Social dos Direitos Humanos. São Paulo:
Peirópolis, 2002.
Sítios
George Barcat1
Inspiração
63
qualidade desta prática depende a qualidade do maior bem comum
que possuímos: a comunidade. Eles formam a verdadeira argamassa
de nossas cidades.
Faz todo sentido lembrar aqui que Hermes é o mensageiro dos
deuses e que as mensagens divinas são dádivas impagáveis.
Precisamos lembrar também que Hermes é, simultaneamente, o
deus da magia e da eloquência e que é por meio destas artes que ele re-
aliza seu trabalho de mensageiro.
Note que magia e eloquência são faces da mesma esfera – como
o yin e o yang; o finito e o infinito; o tempo e a eternidade – chamada
linguagem.
Hermes é, em suma, o deus da linguagem, seja ela hermética ou
hermenêutica e a linguagem age em e por meio de tudo o que somos:
corpo, emoção, imaginação, razão, vontade, memória...
A linguagem, como sabemos, molda o mundo em que vivemos
– desde a percepção da maçã até o ato de comê-la e plantar uma nova
macieira.
Por isso, “o desrespeito por conceitos e pela linguagem só tempo-
rariamente encobre o desrespeito pelos outros” (Bauman, 2013, p. 148).
Do meu ponto de vista, estimo que o conceito de respeito está
sendo desrespeitado, pois, via de regra, ele é muito usado em expres-
sões como respeito é bom, e eu gosto e raramente é praticado no trato com
o Outro.
Moral
Deusilene Silva de Leão e Cristiano Santos Araujo
A moral funciona como uma “mente coletiva” que estabelece,
articula e prescreve tradições, costumes, hábitos, crenças, valores, leis
e regras de conduta de uma sociedade. A moralidade é a essência de
qualquer cultura.
Neste sentido, a moral é uma herança social que busca perpetuar
– formal e tacitamente – expectativas, preferências, rotinas, escolhas e
ações, visando a manutenção da ordem social.
É fácil perceber que a moral constitui um sistema social fechado,
no qual há pouco espaço para o imprevisível e a criatividade, conse-
quentemente, a moral promove a repetição, a conservação e a exalta-
ção de um passado idealizado.
64 George Barcat
A moral das sociedades contemporâneas tende a tratar a pesso-
as como mercadorias (este fenômeno é conhecido é chamado de coisifi-
cação do ser humano) e, em decorrência disto, nos sentimos na pele uma
deficiência de respeito e justiça. Daí a necessidade da Ética do Respeito
como caminho para a Ética do Cuidado.
Ética
Em suma:
A moral é uma herança – um passado cultural e pessoal que vive
em nós –, uma forma de automatismo que nos inspira comportamen-
tos bons ou maus. As normas morais tácitas ou formais, que incluem
as leis e demais normas do direito, são obrigatórias, e a elas devemos
adesão e obediência.
A Ética é uma conquista, uma atividade que se constrói com o
objetivo de fortalecer a autonomia pessoal e criar as condições de pos-
sibilidade de um futuro mais justo e feliz para todos. Vem daí o fato de
a adesão às normas éticas ser, necessariamente, voluntária – do contrá-
rio, seria uma lei ou um contrato formal.
A ética do respeito 65
Ética do respeito. Ética é respeito
66 George Barcat
mo. [...] Quem presta mais atenção melhor se orienta e mais respeita”
(ESQUIROL 2008).
É nesta circularidade mágica e eloquente que encontramos o va-
lor do presente de Zeus: somente cuidando do Outro o indivíduo ver-
dadeiramente cuida de si.
Sem a prática habitual do respeito e da justiça – argamassas da
convivência – o ser humano reduz-se a condição de animal não-hu-
mano.
O olhar atento é sempre um olhar ético, pois todo gesto de aten-
ção (ou desatenção e indiferença) tem um ou mais significados morais.
A atenção é o primeiro movimento em direção ao respeito e à justiça.
Deveríamos cuidar melhor dessa tarefa pois a vida apressada
nos torna impacientes e desatentos e, por conta disso, não é raro tratar-
mos as pessoas de forma automática ou agirmos sem pensar nas con-
Fórum nacional de gestão da ética nas empresas estatais: ética e direitos humanos no ambiente corporativo
O conceito de respeito
A ética do respeito 67
• Forma de consideração pelo Outro: zelo, atenção, cortesia, de-
ferência, dedicação, interesse, cumprimento das obrigações.
• Forma de autocontrole: pudor, escrúpulo, decência, modés-
tia, esforço para não abusar força, do poder ou dos direitos que se tem.
• Forma de proteção dos valores e deveres morais e tudo
o mais que garante a saúde e a estabilidade da convivência. Vide o
Fundamentação da Metafísica dos Costumes de Kant.
• Forma de manter contato com o que é sagrado: a vida, a na-
tureza, os direitos humanos, a boa convivência... O livro de Hans Jonas
– Princípio Responsabilidade tem muito a nos ensinar sobre este aspecto
do respeito.
Pseudoformas de respeito
Referências bibliográficas
68 George Barcat
ÉTICA EMPRESARIAL E DIREITOS HUMANOS
Heloisa Covolan1
Instrumentos
69
O Brasil está sujeito à jurisdição da Corte Interamericana de
Direitos Humanos e a Constituição Federal de 1988 incorporou pre-
ceitos do direito internacional. A partir de 1985 com a democratiza-
ção, o país passou a ratificar relevantes tratados internacionais sobre
o tema, que podem ser invocados como instrumento para a proteção
dos Direitos Humanos também em casos de violações cometidas por
empresas.
Mas, na economia global, muitos dos atores mais poderosos não
são empresas. Das 100 maiores economias do mundo, 51 são de corpo-
rações, quando se compara as vendas de empresas multinacionais com
o PIB de alguns países. A americana Walmart, por exemplo, tem o mes-
mo PIB da Suécia, que é superior ao de 170 países, incluindo todos os
latino-americanos, com exceção do Brasil e do México.
Como não existe um tratado internacional que regule a responsa-
bilidade das empresas pelas violações, em 2011 o Conselho de Direitos
Humanos da ONU aprovou por consenso os Princípios Orientadores
para Empresas e Direitos Humanos, elaborado pelo Representante
Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas, Professor John
Ruggie. O documento resulta de seis anos de trabalho e estabelece pa-
drões internacionais não apenas no ambiente de trabalho, mas também
no contexto das operações empresariais, independentemente do porte
ou do setor econômico a que pertencem.
Ruggie propõe 31 Princípios que partem de três pilares essen-
ciais: 1. Proteger: a obrigação dos Estados de proteger os Direitos
Humanos; 2. Respeitar: a responsabilidade das empresas de respeitar
os Direitos Humanos; 3. Reparar: a necessidade de que existam recur-
sos adequados e eficazes, em caso de descumprimento destes direitos Deusilene Silva de Leão e Cristiano Santos Araujo
pelas empresas. Divididos entre fundamentais e operacionais, são 14
princípios específicos para as empresas.
A responsabilização das empresas pelas violações de Direitos
Humanos teve um marco histórico em junho deste ano: durante a 26ª
reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, foi
aprovada uma resolução para responsabilizar as organizações transna-
cionais pelas violações de Direitos Humanos cometidas no contexto de
suas atividades. A resolução foi apresentada pelo Equador e África do
Sul e um grupo de trabalho intergovernamental para a construção das
normas vinculantes foi criado.
70 Heloisa Covolan
Ética empresarial e os benefícios
são suficientes.
É necessário que de fato as empresas tenham lideranças compro-
metidas e adotem uma postura socialmente responsável em sua gover-
nança corporativa, pois a maioria das atividades tem impacto sobre
outras pessoas além daquelas diretamente envolvidas. E é a atuação
ética que pode proporcionar uma sociedade justa.
Uma das iniciativas que buscam mobilizar a comunidade empre-
sarial internacional é o Pacto Global. Desenvolvida pelo ex-secretário-
-geral da ONU, Kofi Annan, possui aproximadamente 5.200 organi-
zações signatárias articuladas em 150 redes ao redor do mundo, das
quais 600 compõem a rede brasileira.
No relatório “How to Do Business with Respect for Human
Rights: a Guidance Tool for Companies” elaborado pela Rede do Pacto
Global da Holanda em 2010, a organização elenca claramente os impac-
tos da adoção ou não de medidas de respeito aos Direitos Humanos.
Entre as principais consequências do não respeito estão: custos
relacionados a greves e processos judiciais; piora no clima organiza-
cional; aumento de custo para reverter os riscos à imagem; restrições
de acesso, perda ou aumento de custos com financiamento; cancela-
mento de contratos com clientes e restrições na obtenção de novas li-
cenças e autorizações de renovação, reduzindo as oportunidades de
crescimento.
Em contrapartida, a promoção e o respeito aos Direitos Humanos
proporciona, entre outros benefícios, competividade, já que a força de
Desafios
72 Heloisa Covolan
Cerca de 1,2 bilhão de pessoas vivem com menos de US$ 1,25
por dia; 1,5 bilhão em situação de pobreza multidimensional (índi-
ce que leva considera as variáveis das privações de direitos sociais),
12% da população mundial padecem de fome crônica e quase meta-
de dos trabalhadores, ou seja, 1,5 bilhão tem empregos informais ou
precários.
No contexto nacional, dados da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios (Pnad) divulgada em setembro pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que existiam 13 milhões de
analfabetos no país em 2013, dos quais 50,56% são mulheres. Apesar
da redução de 12,3% no número de crianças e adolescentes (entre 5
e 17) trabalhando, existiam 3,1 milhões nesta situação. E em relação
ao trabalho, o nível de ocupação entre os homens era de 74,3 contra
50,4% entre as mulheres, e a taxa de desemprego aumentou de 6,1%
Fórum nacional de gestão da ética nas empresas estatais: ética e direitos humanos no ambiente corporativo
para 6,5%.
Referências bibliográficas
74 Heloisa Covolan
MARTINI, Carlo Maria. ECO, Umberto. Diálogo sobre a Ética. Instituto Ethos.
How to do business with respect for human rights: a guidance tool for compa-
Fórum nacional de gestão da ética nas empresas estatais: ética e direitos humanos no ambiente corporativo
Sites consultados
www.conectas.org
www.pactoglobal.org.br
http://www.portalconscienciapolitica.com.br/politica-e-direitos-humanos/
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/37164/conheca+cinco+paise
s+que+se+destacaram+no+idh+2014+das+nacoes+unidas.shtml
www.pnud.org.br
Laís Abramo2
José Ribeiro3
Camila Almeida4
77
moção de valores fundamentais em quatro áreas: direitos humanos,
direitos do trabalho, proteção ambiental e combate à corrupção, refle-
tidos em dez princípios. O Pacto conta atualmente com mais de 11 mil
empresas participantes e stakeholders, distribuídos em cerca de 150 paí-
ses, constituindo-se assim na maior iniciativa de responsabilidade cor-
porativa voluntária do mundo5.
Apesar das diversas iniciativas adotadas pelas empresas na últi-
ma década, o tema das práticas empresariais responsáveis e a sua rela-
ção com os direitos humanos assumiu maior relevância a partir do ano
de 2011, em função de dois novos e importantes marcos de referência
no plano internacional.
O primeiro deles se expressa nas Diretrizes para as Empresas
Multinacionais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico6 (OCDE), revisadas, reeditadas e aprovadas em 25 de maio
de 2011 pelos 42 governos aderentes durante a Reunião Ministerial
do 50º Aniversário da OCDE. As Diretrizes fornecem princípios e pa-
drões voluntários para a conduta empresarial responsável em um
contexto global, de acordo com as leis adotadas pelos países signa-
tários e os padrões internacionalmente reconhecidos. Dentre as prin-
cipais mudanças nas Diretrizes, destacam-se, em primeiro lugar, um
novo capítulo sobre direitos humanos, que contém uma abordagem
nova e abrangente para a due diligence e gestão responsável da ca-
deia de fornecedores, representando um progresso significativo em
relação às abordagens anteriores. Em segundo lugar, mudanças im-
portantes em muitos capítulos especializados, tais como: Emprego e
Relações do Trabalho; Combate à Corrupção, à Solicitação de Suborno
e à Extorsão, Meio Ambiente, Interesses do Consumidor, Divulgação Deusilene Silva de Leão e Cristiano Santos Araujo
e Tributação e uma agenda pró-ativa de implementação, para ajudar
as empresas no cumprimento de suas responsabilidades, à medida
que surjam novos desafios.
5
A Rede Brasileira do Pacto Global contava, em abril de 2013, com 526 organizações signatárias,
sendo mais da metade (54,0%) composta por empresas. É coordenada pelo Comitê Brasileiro
do Pacto Global, que conta com 35 organizações participantes (73,0% das quais são empresas).
Durante a gestão 2011-2012, foram criadas seis forças-tarefa com o intuito de viabilizar
e dinamizar ações e projetos, por intermédio do diálogo, intercâmbio de boas práticas e
mobilização e integração entre as instituições signatárias. Uma das forças-tarefa era a referente
a direitos humanos e trabalho, sendo as outras cinco assim distribuídas: comunicação,
educação, governança, integridade e combate à corrupção.
6
As Diretrizes para as Empresas Multinacionais da OCDE integram parte da Declaração sobre
Investimento Internacional e Empresas Multinacionais.
11
El diálogo social y las relaciones laborales en la industria del petróleo. Informe para el debate
de la Reunión sobre la promoción del diálogo social y las buenas relaciones laborales desde la
prospección y producción hasta la distribución de petróleo y gas. Ginebra: OIT, Programa de
Actividades Sectoriales, 2009.
12
Negociação de cláusulas relativas à equidade de gênero e raça 2007-2009. Brasília: OIT, 2011.
15
Tradução livre do guia How to Do Business with Respect for Human Rights: a Guidance Tool
for Companies, com adaptações para a realidade do Brasil, realizada pelo Instituto Ethos (2011).
89
Se neste momento pretendêssemos procurar conceitos de Ética e
Moral num dicionário qualquer, encontraríamos mais ou menos as se-
guintes definições: a Ética é a parte da filosofia que trata das obrigações
do homem e Moral é a ciência dos costumes. De maneira que à primei-
ra vista pode-se observar que, em geral, o conceito de Ética reveste-se
de certo “verniz filosófico”, enquanto que a Moral se reduz a uma série
de normas que nos servem para melhor viver em comum a nossa vida
cotidiana. Na antiguidade não se concebia um sistema de costumes em
oposição a um sistema filosófico. Toda filosofia tinha antes uma finali-
dade a sua aplicação direta e nenhum pensador se gabava de falar de
um modo e agir de outro. Isto é unicamente próprio da época moder-
na. Ética ou Moral, ou antes, a teoria e a prática eram dois aspectos da
mesma coisa, dois atalhos do mesmo caminho.
Como nos lembramos hoje da civilização Grega? Lembramo-nos,
precisamente, através dos seus grandes artistas e filósofos. Isto fez com
que o aspecto intelectual fosse considerado de um modo bem diferente
do que era na antiga Grécia. Por outro lado, como é que recordamos os
Romanos do Império? Pela sua ação guerreira, força imensa e vontade
inquebrantável.
Temos aqui uma resposta possível do enigma: se Ética vem do
Grego e Moral do Latim, este detalhe é suficiente para que na nossa
mentalidade se identifiquem os termos com a civilização correspon-
dente. Eis porque é que o conceito de Ética se relaciona com o territó-
rio, o elevado, o que não é digno senão dos grandes livros, enquanto o
que o de Moral assume um caráter mais prático e direto, digno de um
homem de ação.
Assim, pois, se a ideia destas civilizações foi a da posse da vir-
tude como meio de atingir os seus Deuses, tanto os Gregos como os Deusilene Silva de Leão e Cristiano Santos Araujo
Romanos, referiam-se à mesma coisa quando falavam de Ética e Moral.
Tratava-se de harmonizar o homem, de ajudá-lo afim de que nele sur-
gissem as fontes da justiça e de bem que lhe permitissem beber as
águas da Divindade.
Hoje não podemos reconstruir uma cidade grega ou um Império
Romano tal como existiam há vinte ou trinta e cinco séculos, mas pode-
mos fazer o seu velho conceito, nunca deteriorado, de Ética e de Moral.
Do ponto de vista teórico, ética e moral não são as a mesma coisa. Estão
interligadas. Eu posso dizer que algo é imoral, mas não posso afirmar
que algo é aético. É imoral porque colide com determinados princípios
que uma sociedade tem.
Manifesto 2000 pela não-violência assinado por mais de 125 líderes e representantes do
3
Manifesto 2000 pela não-violência assinado por mais de 125 líderes e repre-
sentantes do Parlamento das Religiões do mundo, Chicago, 1993.
1
Superintendente-Geral da Fundação Nacional da Qualidade - FNQ.
101
Qualidade (PNQ) – o mais importante reconhecimento à qualidade das
práticas de gestão e do desempenho das organizações no País.
O Modelo de Excelência da Gestão (MEG), concebido pela FNQ,
está alicerçado nos Fundamentos de Excelência, que representam pa-
drões culturais internalizados nas organizações de classe mundial e
reconhecidos internacionalmente por meio dos seus processos ge-
renciais e consequentes resultados. São eles: Pensamento Sistêmico,
Atuação em Rede, Aprendizado Organizacional, Inovação, Agilidade,
Liderança Transformadora, Olhar para o Futuro, Conhecimento so-
bre os Clientes e Mercado, Responsabilidade Social, Valorização
das Pessoas e da Cultura, Decisões Fundamentadas, Orientação por
Processos e Geração de Valor.
No Modelo de Excelência da Gestão (MEG), os 13 Fundamentos
da Excelência são expressados em características tangíveis, mensurá-
veis, quantitativa ou qualitativamente, por meio de ações gerenciais
propostas na forma de questões e de solicitações de resultados. Assim,
o MEG está estruturado em 8 Critérios de Excelência, que se observados
e praticados garantem à organização uma melhor compreensão do seu
sistema gerencial, além de proporcionar uma visão sistêmica da gestão
e dos cenários local e global onde se relaciona: Liderança, Estratégias
e Planos, Clientes, Sociedade, Informações e Conhecimento, Pessoas,
Processos e Resultados.
105
TEMPLATE PARA A DESCRIÇÃO DAS PRÁTICAS DE ÉTICA NAS
EMPRESAS DO COMITÊ
TEMA DESCRIÇÃO
1 Apresentação Empresa X Empresa do Sistema Eletrobras, a Eletronorte
é uma sociedade anônima de economia mista,
concessionária de serviço público de energia
elétrica, atuando basicamente nos negócios
de geração e de transmissão de energia elétri-
ca. Com presença marcante no norte do país,
atua no fornecimento de energia para com-
pradores que se localizam em todas as regiões
brasileiras, por meio do Sistema Interligado
Nacional - SIN. Para a execução de suas ati-
vidades, possui um quadro de 3.800 empre-
gados
2 Evolução A ética na A Comissão de Ética da Eletronorte foi criada
histórica empresa X em 2006 por meio de Resolução de Diretoria.
Em 2007, adaptou sua estrutura para atender
ao decreto 6.027/2007. Em 2008, foi aprovado
o Código de Ética e Conduta da Eletronorte,
cuja elaboração contou com ampla participa-
ção dos empregados.
A Comissão de Ética se reúne semanalmente,
por uma hora, objetivando consolidar os con-
ceitos relativos ao assunto, bem como atuar
preventivamente e, caso necessário, de forma
corretiva
3 Papel O papel da A Ética faz parte do planejamento estratégi-
prática da ética co da Empresa, uma vez que em seu credo,
na empresa X está descrito como um de seus valores: Ética
e transparência nas decisões, nos comporta- Deusilene Silva de Leão e Cristiano Santos Araujo
mentos e no trato dos negócios e dos relacio-
namentos externos e internos.
4 Modelo O modelo da A Eletronorte adotou o modelo previsto pela
prática da ética Comissão de Ética Pública, conforme estabe-
adotado na lecido no Decreto. 6029/2007, Art. 5º:
empresa X Cada Comissão de Ética de que trata o Decreto
1171, de 1994, será integrada por três mem-
bros titulares e três suplentes, escolhidos entre
servidores e empregados do seu quadro per-
manente, e designados pelo dirigente máximo
da respectiva entidade ou órgão, para manda-
tos não coincidentes de três anos.
Mediação
Novo Método de Tratamento das Denúncias de
Ouvidoria Interna
Aldemir Bendine
Presidente
Robson Rocha
Vice-Presidente Gestão de Pessoas e Desenvolvimento Sustentável
Gilmar Ferreira
Gerente Executivo de Relacionamento com Funcionários
Amauri Machado
Ouvidor Interno
111
Sumário
Introdução................................................................................................. 113
Conclusão.................................................................................................. 125
1.1 Cenário
O Banco do Brasil é uma companhia aberta constituída sob for-
ma de sociedade de economia mista, regida pelo direito privado. Por
pertencer ao segmento do Novo Mercado da BM&F Bovespa, obser-
va também as melhores práticas de Governança Corporativa. Tem por
objeto a prestação de serviços bancários, de intermediação e supri-
mento financeiro sob suas múltiplas formas, inclusive nas operações
de câmbio e nas atividades complementares, destacando-se seguros,
Brasil demonstrou que é possível ser uma empresa lucrativa sem per-
der o núcleo de valores - o que sempre o diferenciou da concorrência.
1.4 Ouvidorias BB
O Banco do Brasil tem em sua estrutura duas ouvidorias: Externa e
Interna.
2. O desenvolvimento da Mediação
2.1 Problema
A Ouvidoria Interna conduz tradicionalmente as denúncias rece-
bidas por meio do Estudo de caso de Ouvidoria apurando fatos e de-
finindo procedência e improcedência das demandas. O procedimento
envolve diversas testemunhas e não pode oferece informações detalha-
das ao demandante em virtude do compromisso de sigilo e confiden-
cialidade assumido com os entrevistados.
2.2 Desafio
O grande desafio era tratar as denúncias com transparência, im-
parcialidade, em busca de reparar danos e, ao mesmo tempo, não fe-
rir o compromisso de sigilo e confidencialidade e sem nos transformar
uma instância punitiva. Os demandantes transferiam para Ouvidoria
Interna seus conflitos e esperavam a punição do demandado pelo seu
sofrimento. Precisávamos, então, que o demandante fosse mais atuan-
te, comprometido e que ele dissesse diretamente ao demandado e, de
forma não violenta, como o seu dano poderia ser reparado.
Outro grande desafio era a celeridade. O Estudo de Caso de
Ouvidoria leva, em média, trinta dias úteis para conclusão. Havia a ne-
cessidade de uma atuação o mais breve possível e sem o envolvimento
de terceiros. O estímulo era evitar um desentendimento ainda mais gra-
ve, na dependência, em virtude de expectativa da resolução do conflito.
2.3 Solução
A Ouvidoria Interna desenvolveu, dessa forma, proposta de nova
metodologia para tratamento das denúncias, com objetivo de atender
às expectativas dos funcionários, de contribuir para eficiência opera-
cional, prevenir, mitigar riscos e solucionar conflitos, além de demo-
cratizar as relações de trabalho: a Mediação.
2.4 Metodologia
O método é composto pelas etapas de Adesão, Encontro Restau-
rativo e Acompanhamento; todos tratados sob condições de sigilo e
confidencialidade.
Construção da Adesão: conversa separadamente com o deman-
dante e demandado para explicar como funciona a Mediação, apresentar
o Mediador, explicar resumidamente a metodologia, esclarecer os prin-
2.5 Resultados
De novembro de 2013 até julho de 2014, foram realizados 30
encontros restaurativos de Mediação. Em 27 deles houve acordo.
A Ouvidoria Interna do Banco do Brasil realizou pesquisa de satis-
fação com todos os demandantes, demandados e mediadores que
participaram dos encontros de Mediação.
A pesquisa foi composta por quatro perguntas objetivas e espa-
ço livre para registro dos pensamentos e sentimentos sobre o processo.
Os números e os depoimentos revelaram que a condução dada à de-
manda de Ouvidoria Interna por meio da Mediação superou a expec-
tativa para resolução do conflito. Há, também, um vídeo com depoi-
mentos dos mediadores que participaram dos encontros como evidên-
cia. Segue os principais depoimentos de demandantes e demandados
à Ouvidoria Interna:
“Tive a oportunidade de refazer um diálogo mal feito.” (Funcio-
nário demandado, lotado em São Luís MA, 43 anos).
“A melhor mudança aconteceu comigo.” (Funcionário deman-
dante, lotado em Belo Horizonte MG, 45 anos). Deusilene Silva de Leão e Cristiano Santos Araujo
“Senti-me prestigiada, respeitada. O Banco ajudou a intermediar e
reduzir o estresse por causa deste evento. Gostaria de agradecer e parabe-
nizar por tudo o que foi feito, o modo que foi conduzido, as palavras que
foram usadas.” (Funcionária demandante, lotada em Belém PA, 37 anos).
“Torço para que este modelo se torne uma referência no BB e em
outras Instituições”. (Funcionária demandada, lotada em Recife, 41 anos).
Conclusão
A mediação, somada às outras formas de tratamento já exis-
tentes, vem reforçar o papel da Ouvidoria Interna como canal de co-
municação que constrói soluções por meio do diálogo. Os sentimen-
tos são valorizados e reconhecidos. Trata-se de um passo importan-
te para construção de uma empresa ainda melhor para se trabalhar.
O novo método foi testado e aprovado em diversos encontros por
todo o país.
Fim