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Práticas de

Conversão de Energia
Prof. Léo Roberto Seidel

Indaial – 2021
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:
Prof. Léo Roberto Seidel

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

S458p

Seidel, Léo Roberto

Práticas de conversão de energia. / Léo Roberto Seidel. – Indaial:


UNIASSELVI, 2021.

187 p.; il.

ISBN 978-65-5663-500-2
ISBN Digital 978-65-5663-498-2

1. Conversão de energia. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 621.313

Impresso por:
Apresentação
Prezado acadêmico! Bem-vindo à disciplina Práticas de Conversão de
Energia. Nesta disciplina serão apresentados conceitos, aplicações práticas
e de projeto que lhe auxiliarão a identificar, compreender e avaliar alguns
fenômenos elétricos muito importantes, como a conversão eletromecânica
de energia. Você, acadêmico da Educação à Distância, deve saber que
existem alguns fatores importantes para um bom desempenho: disciplina,
organização e um horário de estudos predefinido para se obter o sucesso.
Em sua caminhada acadêmica, você é quem faz a diferença. Como todo
texto técnico, por vezes denso, você necessitará de papel, lápis, borracha,
calculadora científica e muita concentração. Lembre-se de que o estudo é
algo primoroso. Aproveite essa motivação para iniciar a leitura deste livro
de estudos.

Este livro está dividido em três unidades que contemplam partes


importantes da conversão de energia, aspectos que julguei imprescendíveis
para qualquer curso de Engenharia, tais como conceitos de eletrostática,
carga elétrica, polarização de materiais, e fenômenos de eletromagnetismo.

Na Unidade 1 vamos estudar os princípios da Eletrostática. Essa


importante área de estudos explica diversos fenômenos muito comuns no
nosso dia a dia. A atração de cargas elétricas e a interação de campos elétricos
explica uma infinidade de comportamentos físicos.

Na Unidade 2 abordaremos os fenômenos Magnéticos, tais como fluxo


magnético e intensidade de campo magnético, permeabilidade magnética e
histerese e Efeito Hall. Finalmente, na Unidade 3, nos concentraremos em
dispositivos e equipamentos que se utilizam de fenômenos eletromagnéticos
para funcionar, tais como relés, solenoides, motores e geradores. Apesar
deste livro ser um material destinado à formação geral para os cursos de
Engenharia, é importante que você, prezado acadêmico, tenha estudado
previamente alguma disciplina sobre Eletromagnetismo, pois diversos
temas serão abordados aqui de maneira superficial, considerando que estes
já sejam de seu entendimento.

Estimamos que, ao término deste estudo, você tenha agregado à sua


experiência de acadêmico um mínimo de entendimento sobre a conversão
de energia, a fim de lidar com esse tema de forma satisfatória tanto na área
acadêmica quanto profissional. Destaca-se, ainda, a necessidade do contínuo
aprimoramento através de atualizações e aprofundamento dos temas
estudados.

Bons estudos!

Prof. Me. Léo Roberto Seidel


NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA............................................................................ 1

TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA................................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 A ESTRUTURA DA MATÉRIA......................................................................................................... 3
2.1 HISTÓRIA DA ESTRUTURA ATÔMICA.................................................................................... 4
2.2 APLICAÇÃO DA ESTRUTURA ATÔMICA À ELETRICIDADE ESTÁTICA........................ 7
3 OBJETOS NEUTROS E OBJETOS CARREGADOS..................................................................... 8
3.1 OBJETOS CARREGADOS COMO UM DESEQUILÍBRIO DE PRÓTONS E ELÉTRONS.... 9
3.2 A CARGA COMO UMA QUANTIDADE................................................................................. 10
4 INTERAÇÕES DE CARGA.............................................................................................................. 11
4.1 OS OPOSTOS SE ATRAEM E OS SEMELHANTES SE REPELEM........................................ 11
4.2 A FORÇA ELÉTRICA E A TERCEIRA LEI DE NEWTON...................................................... 12
4.3 INTERAÇÃO ENTRE OBJETOS CARREGADOS E NEUTROS............................................. 14
4.4 REPULSÃO VERSUS ATRAÇÃO................................................................................................ 15
5 CONDUTORES E ISOLANTES....................................................................................................... 16
5.1 EXEMPLOS DE CONDUTORES E ISOLANTES...................................................................... 18
5.2 DISTRIBUIÇÃO DA CARGA VIA MOVIMENTO ELETRÔNICO....................................... 19
6 POLARIZAÇÃO.................................................................................................................................. 21
6.1 INDUZINDO O MOVIMENTO DE CARGA............................................................................ 21
6.2 COMO UM ISOLANTE PODE SER POLARIZADO?......................................................... 23
6.2.1 Como a polarização explica o balão preso à parede?...................................................... 24
6.3 POLARIZAR NÃO É ELETRIZAR UM OBJETO...................................................................... 26
7 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA: O ELETROSCÓPIO DE FOLHAS DE OURO.................. 27
7.1 PROCEDIMENTO PRÁTICO...................................................................................................... 28
7.1.1 Materiais................................................................................................................................. 28
7.1.2 Montagem do eletroscópio.................................................................................................. 29
7.1.3 Experimentação dos materiais............................................................................................ 30
7.1.4 Responda estas questões após a realização do experimento:......................................... 30
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 31
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 32

TÓPICO 2 — ELETRIZAÇÃO............................................................................................................. 35
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 35
2 ELETRIZAÇÃO POR ATRITO......................................................................................................... 35
2.1 COMO FUNCIONA O ELETRIZAÇÃO POR ATRITO........................................................... 36
3 ELETRIZAÇÃO POR INDUÇÃO.................................................................................................... 37
3.1 CARREGANDO UM SISTEMA DE DUAS ESFERAS, USANDO UM OBJETO
CARREGADO NEGATIVAMENTE............................................................................................ 37
3.2 ELETRIZAÇÃO POR INDUÇÃO UTILIZANDO A TERRA.................................................. 38
4 ELETRIZAÇÃO POR CONDUÇÃO (OU POR CONTATO)...................................................... 40
4.1 ELETRIZAÇÃO POR CONDUÇÃO USANDO UM OBJETO CARREGADO
POSITIVAMENTE.......................................................................................................................... 40
5 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA...................................................................................................... 42
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 44
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 45

TÓPICO 3 — ANÁLISE DE CAMPOS ELÉTRICOS...................................................................... 47


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 47
2 FORÇAS ELÉTRICAS COMO FORÇAS SEM CONTATO........................................................ 47
2.1 O CONCEITO DE CAMPO ELÉTRICO..................................................................................... 47
2.2 A RELAÇÃO FORÇA POR CARGA........................................................................................... 48
2.3 OUTRA FÓRMULA DE FORÇA DE CAMPO ELÉTRICO..................................................... 49
2.3.1 A Lei do Inverso Quadrático............................................................................................... 50
2.4 A DIREÇÃO DO VETOR DE CAMPO ELÉTRICO.................................................................. 50
3 LINHAS DE CAMPO ELÉTRICO................................................................................................... 51
3.1 REGRAS PARA DESENHAR PADRÕES DE CAMPO ELÉTRICOS..................................... 52
3.1.1 Linhas de campo elétricas para configurações de duas ou mais cargas....................... 52
3.1.2 Linhas de Campos Elétricos como uma Realidade Invisível......................................... 54
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 55
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 59
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 60
REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 61

UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS............................................................. 63

TÓPICO 1 — OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO MAGNETISMO................................. 65


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 65
2 MAGNETISMO.................................................................................................................................. 65
2.1 A NATUREZA DO MAGNETISMO........................................................................................... 65
2.2 FLUXO MAGNÉTICO.................................................................................................................. 67
2.3 A MAGNITUDE DO MAGNETISMO........................................................................................ 70
3 ELETROMAGNETISMO.................................................................................................................. 71
4 O ELETROÍMÃ................................................................................................................................... 74
4.1 A FORÇA MAGNÉTICA DO ELETROÍMÃ.............................................................................. 76
4.2 PERMEABILIDADE DOS ELETROÍMÃS.................................................................................. 78
5 HISTERESE.......................................................................................................................................... 79
5.1 RETENTIVIDADE......................................................................................................................... 82
6 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA...................................................................................................... 85
6.1 INSTRUÇÕES GERAIS................................................................................................................. 86
6.2 INSTRUÇÕES DE MONTAGEM................................................................................................ 87
6.3 EXPERIMENTAÇÃO.................................................................................................................... 87
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 89
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 90

TÓPICO 2 — A INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA E O EFEITO HALL.................................. 93


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 93
2 INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA................................................................................................ 93
2.1 BOBINAS COM NÚCLEO DE AR OU VAZIAS....................................................................... 93
2.2 LEI DE INDUÇÃO DE FARADAY.............................................................................................. 95
2.3 LEI DE INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA DE LENZ............................................................ 97
3 SENSOR DE EFEITO HALL........................................................................................................... 100
3.1 SENSOR MAGNÉTICO DE EFEITO HALL............................................................................ 102
3.2 APLICAÇÕES DO EFEITO HALL............................................................................................ 104
3.2.1 Detecção frontal.................................................................................................................. 105
4 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA.................................................................................................... 107
4.1 PEÇAS E MATERIAIS................................................................................................................. 108
4.2 INSTRUÇÕES............................................................................................................................... 109
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 110
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 116
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 117
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 121

UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA................................. 123

TÓPICO 1 — FORÇA MAGNÉTICA EM UM CONDUTOR QUE TRANSPORTA


CORRENTE........................................................................................................................................... 125
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 125
2 CAMPOS MAGNÉTICOS PRODUZIDOS POR CORRENTES ELÉTRICAS..................... 125
2.1 CALCULANDO A FORÇA MAGNÉTICA.............................................................................. 126
3 FORÇA E TORQUE EM UMA ESPIRA DE CORRENTE......................................................... 131
4 GERADORES ELÉTRICOS E FORÇA CONTRA ELETROMOTRIZ FCEM........................ 137
4.1 A FORÇA CONTRA ELETROMOTRIZ (FCEM).................................................................... 141
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 145
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 146

TÓPICO 2 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE I........................................... 149


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 149
2 SENSORES DE POSIÇÃO.............................................................................................................. 149
2.1 O POTÊNCIOMETRO................................................................................................................. 149
2.2 SENSORES DE POSIÇÃO INDUTIVOS................................................................................... 153
2.2.1 Transformador diferencial variável linear...................................................................... 153
2.2.2 Sensores Indutivos de Proximidade................................................................................ 155
3 SOLENOIDE LINEAR..................................................................................................................... 157
3.1 CONSTRUÇÃO DE SOLENOIDES LINEARES...................................................................... 159
3.2 SOLENOIDE ROTATIVO........................................................................................................... 160
3.3 COMUTAÇÃO DE SOLENOIDES............................................................................................ 161
3.4 REDUÇÃO DO CONSUMO DE ENERGIA............................................................................ 162
3.4.1 Ciclo de trabalho de um solenoide................................................................................... 163
4 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA: MONTAGEM DE UM SOLENOIDE............................... 164
4.1 MONTAGEM DO SOLENOIDE................................................................................................ 165
4.2 TESTE DO SOLENOIDE............................................................................................................. 165
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 166
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 167

TÓPICO 3 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE II.......................................... 169


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 169
2 RELÉ ELÉTRICO............................................................................................................................... 169
2.1 O RELÉ ELETROMECÂNICO................................................................................................... 170
3 MOTOR CC........................................................................................................................................ 173
3.1 O MOTOR CC BÁSICO.............................................................................................................. 174
3.2 O MOTOR CC COM ESCOVAS................................................................................................ 175
3.3 O MOTOR CC SEM ESCOVAS.................................................................................................. 178
3.4 O SERVOMOTOR CC................................................................................................................. 179
4 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA: MOTOR CC........................................................................... 180
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 182
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 184
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 185
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 187
UNIDADE 1 —

ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• saber e identificar a eletricidade estática em várias situações do dia a dia;


• entender o que é carga elétrica, o que são condutores e o que são isolan-
tes;
• como ocorre a polarização de objetos condutores;
• compreender como ocorre a polarização em materiais isolantes;
• o que são e como se comportam os campos elétricos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – A ELETRICIDADE ESTÁTICA


TÓPICO 2 – ELETRIZAÇÃO
TÓPICO 3 – ANÁLISE DE CAMPOS ELÉTRICOS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

A ELETRICIDADE ESTÁTICA

1 INTRODUÇÃO

A eletricidade estática é um fenômeno muito comum e abundante em
nosso dia a dia. A interação entre cargas positivas e negativas explica uma grande
parte dos fenômenos físicos e químicos que regem o mundo como conhecemos.

Neste tópico, vamos estudar os princípios fundamentais da eletricidade
estática que nos permitirão analisar, avaliar e compreender muitas situações de
nosso cotidiano.

2 A ESTRUTURA DA MATÉRIA
Existe uma grande interação entre o mundo da eletricidade estática e o
mundo cotidiano que vivemos. As roupas saem na secadora e se agarram. Você
anda pelo carpete de uma sala e recebe um choque na maçaneta da porta. Você
tira um casaco de lã no final do dia e vê faíscas de eletricidade. Durante o clima
seco do inverno, você sai do carro e recebe um choque na porta deste. Faíscas de
eletricidade são vistas enquanto você tira um cobertor de lã dos lençóis da sua cama.
Você acaricia a pele do seu gato e observa o pelo ficar em pé em sua extremidade.
Raios atravessam o céu da noite durante uma tempestade de primavera. Esses são
todos fenômenos da eletricidade estática – eventos que só podem ser explicados
por uma compreensão da física da eletrostática. Na Figura 1, pode-se ver um gato
com pedaços de isopor presos ao seu pelo devido à eletricidade estática.

FIGURA 1 – PEDAÇOS DE ISOPOR PRESOS AO PELO POR ELETRICIDADE ESTÁTICA

FONTE: <https://pic4.zhimg.com/80/v2-0f3ed3765eef72b92c0f873f9e7333bf_1440w.jpg>.
Acesso em: 10 dez. 2020.

3
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

Não só as ocorrências eletrostáticas permeiam os acontecimentos da


vida cotidiana, mas sem as forças associadas à eletricidade estática, a vida
como conhecemos seria impossível. Forças eletrostáticas, de natureza atrativa e
repulsiva, mantêm o mundo dos átomos e moléculas juntos em perfeito equilíbrio.
Sem essa força elétrica, qualquer coisa material não existiria! Átomos são como os
blocos de construção da matéria que dependem dessas forças para se manterem
unidos. E objetos materiais, incluindo nós terráqueos, são feitos de átomos e ações
como andar ou ficar de pé, sentir e tocar, cheirar e degustar, e até mesmo pensar
é o resultado de fenômenos elétricos. Forças eletrostáticas são fundamentais para
nossa existência.

Uma das principais perguntas a serem feitas neste tópico é: como um
objeto pode ser eletricamente carregado e quais os efeitos essa carga tem sobre
outros objetos em sua vizinhança? A resposta a essa pergunta começa com a
compreensão da estrutura da matéria. Entender a carga como uma quantidade
fundamental exige que tenhamos uma compreensão da estrutura de um átomo.
Então começamos este tópico com o que pode parecer para muitos como uma
breve revisão de alguma disciplina já estudada em algum semestre anterior.

2.1 HISTÓRIA DA ESTRUTURA ATÔMICA


A busca pelo átomo começou como uma questão filosófica. Foram os
filósofos naturais da Grécia antiga que começaram a busca pelo átomo fazendo
perguntas como: do que a matéria é feita? Qual é a estrutura dos objetos materiais?
Existe uma unidade básica da qual todos os objetos são feitos? Já em 400 a.C.,
alguns filósofos gregos propuseram que a matéria é feita de blocos de construção
indivisíveis conhecidos como átomos – que, em grego, significa indivisível. Para
esses gregos primitivos, a matéria não poderia ser continuamente quebrada e
dividida indefinidamente. Em vez disso, havia uma unidade básica ou bloco de
construção que era indivisível e fundamental para sua estrutura. Esse bloco de
construção indivisível do qual toda a matéria foi composta ficou conhecida como
o átomo, conforme explica Lana (2014).

E
IMPORTANT

Átomos são os blocos construtivos da matéria.

4
TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA

Os primeiros gregos a pensarem nas questões da composição da matéria


eram simplesmente filósofos. Eles não realizaram experimentos para testar suas
teorias. Na verdade, a ciência como disciplina experimental não emergiu como
uma prática crível e popular até meados de 1600. Assim, a busca pelo átomo
permaneceu um debate filosófico por alguns milênios. De 1600 até o século
atual, a busca pelo átomo tornou-se uma busca experimental. Vários cientistas
se destacam nessa área, entre eles estão Robert Boyle, John Dalton, J. J. Thomson,
Ernest Rutherford, e Neils Bohr.

Os estudos de Boyle (meados do final de 1600) de substâncias gasosas
promoveram a ideia de que havia diferentes tipos de átomos conhecidos como
elementos. Dalton (início de 1800) conduziu uma variedade de experimentos para
mostrar que diferentes elementos podem se combinar em proporções fixas de
massas para formar compostos. Dalton propôs posteriormente uma das primeiras
teorias do comportamento atômico que foi apoiada por evidências experimentais
reais (LANA, 2014).

Os experimentos de raios catódicos do cientista inglês J. J. Thomson
(final do século XIX) levaram à descoberta do elétron carregado negativamente
e às primeiras ideias da estrutura desses átomos indivisíveis. Thomson propôs o
Modelo de Pudim de Ameixa, sugerindo que a estrutura de um átomo se assemelha a
sua sobremesa inglesa favorita: o pudim de ameixa. As passas dispersas em meio
ao pudim de ameixa são análogas a elétrons carregados negativamente imersos
em um mar de carga positiva.

Quase uma década depois de Thomson, os famosos experimentos de
folha de ouro de Ernest Rutherford levaram ao modelo nuclear da estrutura
atômica. O modelo de Rutherford sugeriu que o átomo consistia de um núcleo
densamente empacotado de carga positiva, conhecido como núcleo cercado por
elétrons carregados negativamente. Enquanto o núcleo era único para o átomo de
Rutherford, ainda mais surpreendente era a proposta de que um átomo consistia
principalmente de espaço vazio. A maior parte da massa estava concentrada no
núcleo que era anormalmente pequeno comparado com o tamanho real do átomo.

Neils Bohr melhorou o modelo nuclear de Rutherford (1913) explicando
que os elétrons estavam presentes em órbitas fora do núcleo. Os elétrons estavam
confinados a órbitas específicas de raio fixo, cada um caracterizado por seus
próprios níveis discretos de energia. Embora os elétrons pudessem ser forçados
de uma órbita para outra órbita, eles nunca poderiam ocupar o espaço entre as
órbitas.

5
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

FIGURA 2 – LINHA DO TEMPO COM A EVOLUÇÃO DOS MODELOS ATÔMICOS

FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/ev/ol/evolucaodosmodelosatomicos-cke.
jpg>. Acesso em: 14 dez. 2020.

A visão de Bohr dos níveis de energia quantizada foi a precursora das


visões da mecânica quântica moderna dos átomos. A natureza matemática da
mecânica quântica impossibilita uma discussão de seus detalhes e nos restringe
a uma breve descrição conceitual de suas características. A mecânica quântica
sugere que um átomo é composto de uma variedade de partículas subatômicas.
As três principais partículas subatômicas são o próton, elétron e nêutron. O
próton e o nêutron são as mais massivas das três partículas subatômicas; eles estão
localizados no núcleo do átomo, formando o núcleo denso do átomo. O próton é
carregado positivamente. O nêutron não possui uma carga e é dito ser neutro. Os
prótons e nêutrons estão firmemente unidos dentro do núcleo do átomo. Fora do
núcleo estão regiões esféricas concêntricas do espaço conhecidas como camadas
eletrônicas. As camadas são o lar dos elétrons carregados negativamente. Cada
camada é caracterizada por um nível de energia distinto. As camadas externas
têm níveis de energia mais elevados e são caracterizadas como sendo menores
em estabilidade. Elétrons em camadas de energia mais alta podem descer para
camadas de energia mais baixas; este movimento é acompanhado pela liberação
de energia. Da mesma forma, elétrons em camadas de energia mais baixas podem
ser induzidos a mover-se para as camadas externas de maior energia pela adição
de energia ao átomo. Se for fornecida energia suficiente, um elétron pode ser
removido de um átomo e ser libertado de sua atração pelo núcleo.

6
TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA

FIGURA 3 – MODELOS DOS ÁTOMOS DE OXIGÊNIO E DE SÓDIO

FONTE: O autor

2.2 APLICAÇÃO DA ESTRUTURA ATÔMICA À ELETRICIDADE


ESTÁTICA
Essa breve excursão à história da teoria atômica leva a algumas conclusões
importantes sobre a estrutura da matéria que será de extrema importância para o
nosso estudo da eletricidade estática. Essas conclusões são resumidas aqui:

• Todos os objetos materiais são compostos de átomos. Existem diferentes tipos


de átomos conhecidos como elementos atômicos, estes elementos podem se
combinar para formar compostos. Diferentes compostos têm propriedades
distintas. Os objetos materiais são compostos de átomos e moléculas desses
elementos e compostos, fornecendo materiais diferentes com diferentes
propriedades elétricas.
• Um átomo consiste em um núcleo e uma vasta região de espaço fora do
núcleo. Elétrons estão presentes na região do espaço fora do núcleo. Eles
estão negativamente carregados e fracamente ligados ao átomo. Elétrons são
frequentemente removidos e adicionados a um átomo por ocorrências normais
do dia a dia. Essas ocorrências são foco de estudo deste tópico.

7
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

• O núcleo do átomo contém prótons carregados positivamente e nêutrons,


estes últimos sem carga elétrica. Esses prótons e nêutrons não são removíveis
ou mesmo perturbados por ações usuais do dia a dia. Seria necessário algum
fenômeno de natureza nuclear de alta energia para perturbar o núcleo e,
posteriormente, desalojar seus prótons carregados positivamente. Essas
ocorrências de alta energia felizmente não são um evento cotidiano e certamente
não fazem parte de nosso estudo. Assim, uma verdade absoluta deste tópico
é que os prótons e nêutrons permanecerão dentro do núcleo do átomo e, por
consequência, fenômenos eletrostáticos nunca poderão ser explicados pelo
movimento de prótons.
• Uma variedade de fenômenos será ponderada, investigada e explicada no
decorrer de nosso estudo. Cada fenômeno será explicado utilizando um
modelo de matéria descrito pelas três declarações supracitadas (I, II e III).
Os fenômenos vão desde um balão de borracha grudando em uma porta de
madeira, ao enrosco de roupas que caíram na secadora ou ao raio visto no céu
da noite. Cada um desses fenômenos será explicado em termos de movimento
de elétrons – tanto dentro dos átomos e moléculas de um material quanto dos
átomos e moléculas de um material para os de outro.

QUADRO 1 - RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DAS PARTÍCULAS SUBATÔMICAS

Próton Nêutrons Elétron


No núcleo. No núcleo. Fora do núcleo.
Firmemente preso. Firmemente preso. Fracamente preso.
Carga Positiva. Sem Carga. Carga Negativa.
Com massa. Com massa. Pouca massa.
FONTE: O autor

3 OBJETOS NEUTROS E OBJETOS CARREGADOS



Como discutido anteriormente, os átomos são os blocos de construção
da matéria. Existem diferentes tipos de átomos, conhecidos como elementos
atômicos. Átomos de cada elemento são distinguidos uns dos outros pelo número
de prótons presentes em seu núcleo. Um átomo contendo um próton é um átomo
de hidrogênio (H). Um átomo contendo seis prótons é um átomo de carbono (C).
E um átomo contendo oito prótons é um átomo de oxigênio (O).

O número de elétrons que circundam o núcleo determinará se um átomo
é eletricamente carregado ou eletricamente neutro. A quantidade de carga em um
único próton é igual à quantidade de carga possuída por um único elétron. Um
próton e um elétron têm uma quantidade igual, mas um tipo oposto de carga.

Assim, se um átomo contém números iguais de prótons e elétrons, o


átomo é descrito como sendo eletricamente neutro. Por outro lado, se um átomo
tem um número desigual de prótons e elétrons, então o átomo é eletricamente
carregado (e, de fato, é referido como um íon em vez de um átomo). Qualquer

8
TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA

partícula seja um átomo, molécula ou íon, que contenha menos elétrons do que
prótons dizemos que está positivamente carregada. Por outro lado, qualquer
partícula que contenha mais elétrons do que prótons é considerada carregada
negativamente.

QUADRO 2 – PARTÍCULAS CARREGADAS VERSUS NÃO CARREGADAS

Carregada Carregada
Não carregada
positivamente negativamente
Possui mais prótons Possui mais elétrons Número igual de
do que elétrons. do que prótons. prótons e elétrons.

FONTE: O autor

3.1 OBJETOS CARREGADOS COMO UM DESEQUILÍBRIO


DE PRÓTONS E ELÉTRONS

Anteriormente, um átomo foi descrito como sendo um pequeno e denso
núcleo de prótons carregados positivamente e nêutrons neutros cercados por
camadas de elétrons carregados negativamente. Os prótons estão firmemente
ligados dentro do núcleo e não removíveis por ações comuns. Enquanto os
elétrons são atraídos pelos prótons do núcleo, a adição de energia a um átomo
pode persuadir os elétrons a deixar um átomo.

Da mesma forma, elétrons dentro de átomos de outros materiais podem


ser persuadidos a deixar suas próprias camadas eletrônicas e se tornar membros
das camadas de elétrons de outros átomos de diferentes materiais. Em suma, os
elétrons são migrantes: constantemente em movimento e sempre prontos para
experimentar um novo ambiente atômico.

Todos os objetos são compostos por esses átomos. Os elétrons contidos
dentro dos objetos são propensos a se mover ou migrar para outros objetos. O
processo de um elétron deixando um objeto material para residir (talvez apenas
temporariamente) em outro objeto é uma ocorrência comum no dia a dia. Mesmo
quando você lê as palavras desse texto, alguns elétrons provavelmente estão se
movendo através da tela do seu dispositivo e aderindo à sua roupa (assumindo
que você está usando este recurso on-line e vestindo roupas). Se você atravessasse
o carpete em direção à porta da sala, os elétrons provavelmente seriam arrancados
dos átomos de seus sapatos e movidos para os átomos do tapete. E à medida que
as roupas caem na secadora, é altamente provável que elétrons em uma peça de
roupa se movam dos átomos da roupa para os átomos de outra peça de roupa.
Em geral, para os elétrons fazerem um movimento dos átomos de um material
para os átomos de outro material, deve haver uma fonte de energia, um motivo,
e uma via de baixa resistência.

9
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

A causa e os mecanismos pelos quais esse movimento de elétrons ocorre


serão vistos adiante. Por enquanto, basta dizer que objetos que são carregados
contêm números desiguais de prótons e elétrons. Objetos carregados têm um
desequilíbrio de carga: ou elétrons mais negativos do que prótons positivos ou
vice-versa. E objetos neutros têm um equilíbrio de carga: número igual de prótons e
elétrons. O princípio declarado anteriormente para os átomos pode ser aplicado a
objetos. Objetos com mais elétrons do que prótons são carregados negativamente;
objetos com menos elétrons do que prótons são carregados positivamente.

Nesta discussão de objetos eletricamente carregados versus eletricamente
neutros, o nêutron foi negligenciado. Nêutrons, sendo eletricamente neutros, não
desempenham nenhum papel nesse momento. Sua presença (ou ausência) não
terá relação direta sobre se um objeto é carregado ou não. Seu papel no átomo
é apenas proporcionar estabilidade ao núcleo, assunto não discutido nesta
disciplina. Quando se trata da eletricidade estática, elétrons e prótons tornam-se
os personagens principais.

3.2 A CARGA COMO UMA QUANTIDADE



Tal qual a massa, a carga de um objeto é uma quantidade mensurável.
A carga possuída por um objeto é frequentemente expressa usando a unidade
científica conhecida como Coulomb. Assim como a massa é medida em gramas
ou quilogramas, a carga é medida em unidades de Coulombs (abreviadamente
C). Como um Coulomb de carga é uma quantidade de carga muito grande, as
unidades de microcoulombs (μC) ou nanocoulombs (nC) são mais comumente
utilizadas como a unidade de medição da carga. Para ilustrar a magnitude de 1
Coulomb, um objeto precisaria de um excesso de 6,25 x 1018 elétrons para ter uma
carga total de -1 C. E, claro, um objeto com uma escassez de 6,25 x 1018 elétrons
teria uma carga total de +1 C.

A carga em um único elétron é -1,6 x 10-19 Coulomb. A carga em um único
próton é +1,6 x 10-19 Coulomb. A quantidade de carga em um objeto reflete a
quantidade de desequilíbrio entre elétrons e prótons naquele objeto. Assim, para
determinar a carga total de um objeto carregado positivamente (um objeto com
um excesso de prótons), deve-se subtrair o número total de elétrons do número
total de prótons. Essa operação produz o número de prótons em excesso. Uma
vez que um único próton contribui com uma carga de +1,6 x 10-19 Coulomb para
a carga global de um átomo, a carga total pode ser calculada multiplicando o
número de prótons em excesso por +1,6 x 10 -19 Coulomb. Um processo semelhante
é usado para determinar a carga total de um objeto carregado negativamente (um
objeto com um excesso de elétrons), exceto que o número de prótons é subtraído,
inicialmente, do número de elétrons. Este princípio é ilustrado no Quadro 3.

10
TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA

QUADRO 3 – OBJETOS CARREGADOS

Nº de prótons/elétrons Quantidade e Tipo de Carga (Q)


Objeto
em excesso no Objeto em Coulombs
A 1 x 106 elétrons em excesso -1,6 x 10-13 C
B 1 x 106 prótons em excesso +1,6 x 10-13 C
C 2 x 10 elétrons em excesso
10
-3,2 x 10-9 C
D 3,5 x 108 prótons em excesso +5,6 x 10-11 C
E 4,67 x 10 elétrons em excesso
10
-7,5 x 10-9 C
FONTE: O autor

Em conclusão, um objeto eletricamente neutro é um objeto que tem um


equilíbrio de prótons e elétrons. Em contraste, um objeto carregado tem um
desequilíbrio de prótons e elétrons. Determinar a quantidade de carga em tal
objeto envolve um processo de contagem; o número total de elétrons e prótons é
comparado para determinar a diferença entre o número de prótons e elétrons. Essa
diferença é multiplicada por 1,6 x 10-19 Coulombs para determinar a quantidade
total de carga no objeto. O tipo de carga (positiva ou negativa) é determinado se
os prótons ou os elétrons estão em excesso.

4 INTERAÇÕES DE CARGA

Suponha que você esfregou um balão com uma amostra de pelo animal,
como um casaco de lã ou até mesmo seu próprio cabelo. O balão provavelmente
se tornaria carregado e sua carga exerceria uma estranha influência sobre outros
objetos em sua vizinhança. Se alguns pequenos pedaços de papel foram colocados
sobre uma mesa e o balão foi trazido perto e mantido acima dos pedaços de papel,
então a presença do balão carregado pode criar uma atração suficiente para os
pedaços de papel para levantá-los da mesa. Essa influência, conhecida como força
elétrica, ocorre mesmo quando o balão carregado é mantido a alguma distância
dos pedaços de papel. A força elétrica é uma força sem contato. Qualquer objeto
carregado pode exercer essa força sobre outros objetos – objetos carregados e não
carregados.

4.1 OS OPOSTOS SE ATRAEM E OS SEMELHANTES SE


REPELEM

Esses dois princípios fundamentais de interações de carga serão usados
em toda a unidade para explicar a vasta gama de fenômenos estáticos de
eletricidade. Como mencionado anteriormente, existem dois tipos de objetos
eletricamente carregados: aqueles que contêm mais prótons do que elétrons
(positivamente carregados) e aqueles que contêm menos prótons do que elétrons
(negativamente carregados). Esses dois tipos de cargas elétricas, positivas e

11
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

negativas, são consideradas tipos opostos de carga. E de maneira consistente


com nosso princípio fundamental de interação de carga, um objeto carregado
positivamente atrairá um objeto carregado negativamente.

Objetos com cargas opostas exercerão uma infl uência de atração uns
sobre os outros. Em contraste com a força atrativa entre dois objetos com cargas
opostas, dois objetos de polaridade semelhantes irão repelir um ao outro, ou
seja, um objeto carregado positivamente exercerá uma força repulsiva sobre um
segundo objeto carregado positivamente. Essa força repulsiva irá afastar os dois
objetos. Da mesma forma, um objeto carregado negativamente exercerá uma
força repulsiva sobre um segundo objeto carregado negativamente. Objetos com
carga semelhante repelem uns aos outros.

FIGURA 4 – DEMONSTRAÇÃO DAS INTERAÇÕES DE OBJETOS CARREGADOS

FONTE: O autor

4.2 A FORÇA ELÉTRICA E A TERCEIRA LEI DE NEWTON


Essa força elétrica exercida entre dois objetos com cargas elétricas opostas,
ou com cargas elétricas semelhantes, é uma força tal qual a tensão, gravidade e
resistência ao ar. E sendo uma força, as mesmas leis e princípios que descrevem
qualquer força também descrevem a força elétrica. Uma dessas leis é a Lei da
Ação e Reação. De acordo com a terceira lei de Newton, uma força é simplesmente
uma interação mútua entre dois objetos que resulta em um empurrão (ou puxão)
igual e oposto sobre esses objetos. Vamos aplicar a terceira lei de Newton para
descrever a interação entre o Objeto A e o Objeto B, ambos com carga positiva,
conforme mostrado na Figura 5.

12
TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA

FIGURA 5 – INTERAÇÃO ENTRE OBJETOS DE MESMA CARGA

FONTE: O autor

Na Figura 5, o objeto A exerce um empurrão para a direita sobre o objeto


B. O objeto B exerce um empurrão para a esquerda sobre o objeto A. Essas duas
forças têm magnitudes iguais e são exercidas em direções opostas uma da outra.
Cada objeto exerce sua própria força sobre o outro. O empurrão sobre o objeto B
(pelo objeto A) é direcionado para longe do objeto A, e o empurrão sobre o objeto
A (devido o objeto B) é direcionado para longe do objeto B. Devido à natureza de
afastamento das forças mútuas nesses objetos, elas são denominadas repulsivas.

Agora vamos aplicar o mesmo princípio de ação-reação a dois objetos


carregados com polaridades opostas: Objeto C (positivo) e Objeto D (negativo),
conforme mostrado na Figura 6. O objeto C exerce um puxão para a esquerda
sobre o objeto D. O objeto D, por sua vez, exerce uma atração para a direita sobre
o objeto C. Mais uma vez, cada objeto exerce sua força sobre o outro. Assim
como antes, essas duas forças têm magnitudes iguais e são exercidas em direções
opostas uma da outra. No entanto, neste caso, a direção da força no Objeto D é
em direção ao Objeto C e a direção da força no Objeto C é para o objeto D. Devido
esta natureza da interação mútua, a força é denominada como atrativa.

FIGURA 6 – INTERAÇÃO ENTRE OBJETOS DE CARGAS OPOSTAS

FONTE: O autor

13
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

4.3 INTERAÇÃO ENTRE OBJETOS CARREGADOS E NEUTROS


A interação entre dois objetos carregados com mesma polaridade é
repulsiva. A interação entre dois objetos carregados de forma oposta é atrativa.
Que tipo de interação é observada entre um objeto carregado e um objeto neutro?
A resposta pode ser um tanto surpreendente. Qualquer objeto carregado, seja
positivamente ou negativamente, terá uma interação atrativa com um objeto
neutro. Objetos carregados positivamente e objetos neutros atraem-se uns aos
outros; e objetos carregados negativamente e objetos neutros atraem-se uns aos
outros.

Na Figura 7 é mostrada a atração de pedaços de papel, eletricamente
neutros, por um objeto com carga elétrica.

FIGURA 7 – UM PENTE DE PLÁSTICO CARREGADO ATRAI PEDAÇOS DE PAPEL

FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/na-figura-acima-ve-
mos-um-pente-plastico-eletricamente-carregado-atraindo-pequenos-pedacos-papel-5bb7cb-
0644ced.jpg>. Acesso em: 14 dez. 2020.

Esse terceiro tipo de interação, entre objetos carregados e neutros, é


bastante comum em experimentos de laboratório. Por exemplo, se um balão
carregado for mantido acima de pedaços neutros de papel, a força de atração
para os pedaços de papel será forte o suficiente para superar a força para baixo
da gravidade e elevar os pedaços de papel da mesa.

Se um tubo de plástico carregado for mantido acima de alguns pedaços


de papel, o tubo exercerá uma influência atrativa sobre o papel para levantá-lo
da mesa. E de maneira surpreendente, um balão de borracha carregado pode
ser atraído para um armário de madeira com força suficiente para grudá-lo no
armário. Qualquer objeto carregado, plástico, borracha ou alumínio, exercerá
uma força atrativa sobre um objeto neutro. E de acordo com a lei de Newton de
ação e reação, o objeto neutro atrai o objeto carregado.
 

14
TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA

4.4 REPULSÃO VERSUS ATRAÇÃO


Pelo fato de objetos carregados interagirem com seus arredores, uma
interação observada fornece possíveis evidências de que um objeto é carregado.
Suponha que você entre na sala de aula e observe dois balões suspensos do teto.
Em vez de fi car em linha reta verticalmente, os balões estão pendurados em um
ângulo, exibindo uma interação repulsiva como mostrado na Figura 8.

A única maneira que dois objetos podem se repelir é se ambos estiverem


carregados com o mesmo tipo de carga. Assim, a repulsão dos balões fornece
evidências conclusivas de que ambos os balões são carregados com carga de mesma
polaridade. Não se pode concluir que os balões estão carregados positivamente
ou negativamente. Informações adicionais ou testes adicionais seriam necessários
para chegar a uma conclusão do tipo de carga presente nos balões. No entanto,
podemos concluir que ambos os balões possuem uma carga em excesso: positiva
ou negativa.

FIGURA 8 – OBJETOS CARREGADOS SE REPELINDO

FONTE: O autor

Agora vamos contrastar a observação da repulsão com a da atração.


Suponha que você entre na sala de aula de física e observe dois balões suspensos
do teto apresentando uma interação de atração, conforme mostrado na Figura
9. Há duas razões para os dois objetos se atraírem. Um balão pode ser neutro e
o outro balão carregado ou ambos os balões podem ser carregados com o tipo
oposto de carga. Assim, sua única conclusão pode ser que pelo menos um dos
balões esteja carregado.

O outro balão é neutro ou carregado com o tipo oposto de carga. Você


não pode tirar uma conclusão sobre qual dos balões é carregado ou que tipo de
carga (positiva ou negativa) o balão carregado possui. Informações adicionais
ou testes adicionais seriam necessários para tirar essas conclusões. Por exemplo,
se você pudesse pegar cada balão e trazer individualmente perto de alguns

15
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

pedaços neutros de papel, você poderia testar para ver se cada balão individual
é carregado ou neutro. Se um balão fosse carregado, então ele exibiria uma
interação de atração com os pedaços de papel neutro. Por outro lado, um balão
não carregado não interagiria com pedaços de papel neutros.

FIGURA 9 – ATRAÇÃO ENTRE OBJETOS CARREGADOS

FONTE: O autor

Os experimentos citados ilustram, de maneira conclusiva, a natureza de


repulsão dos objetivos. Quando os objetos se repelem, pode-se ter certeza de que
ambos os objetos são carregados. Por outro lado, a observação de uma interação
de atração leva a conclusões limitadas. Na melhor das hipóteses, pode-se concluir
que pelo menos um dos objetos é carregado.

5 CONDUTORES E ISOLANTES
O comportamento de um objeto que foi carregado depende se o objeto
é feito de um material condutor ou não condutor (isolante). Condutores são
materiais que permitem que elétrons fl uam livremente de partículas para
partículas. Um objeto feito de um material condutor permitirá que a carga seja
transferida por toda a superfície do objeto. Se a carga for transferida para o objeto
em um determinado local, essa carga será rapidamente distribuída por toda a
superfície do objeto.

A distribuição da carga é o resultado do movimento dos elétrons. Uma vez


que os condutores permitem que os elétrons sejam transportados de partículas
para partículas, um objeto carregado sempre distribuirá sua carga até que as
forças repulsivas globais entre elétrons em excesso sejam minimizadas. Se um
condutor carregado for tocado por outro objeto, o condutor pode até transferir
sua carga para esse objeto.

A transferência de carga entre objetos ocorre mais facilmente se o segundo


objeto for feito de um material condutor. Os condutores permitem a transferência
de carga através da livre circulação de elétrons.

16
TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA

ATENCAO

As partículas referidas anteriormente podem ser átomos, moléculas ou


mesmo objetos.

FIGURA 10 – EXEMPLO DE DISTRIBUIÇÃO UNIFORME DE CARGAS NUM CONDUTOR

FONTE: O autor

Na Figura 10, em (a), uma esfera metálica está apoiada sobre uma base de
material isolante. Um bastão de plástico carregado negativamente toca a esfera.
Em (b) vemos que parte da carga do bastão foi transferida para a esfera no ponto
de contato com o bastão (não representado). Em (c), a carga elétrica adquirida de
espalhou uniformemente sobre a esfera.

Em contraste com os condutores, isolantes são materiais que impedem


o livre fl uxo de elétrons de átomo para átomo e molécula para molécula. Se a
carga for transferida para um isolante em um determinado local, aquela carga
excedente permanecerá naquele local. As partículas do isolante não permitem o
livre fl uxo de elétrons.

Embora os isolantes não sejam úteis para transferir cargas, eles servem
a um papel crítico em experimentos eletrostáticos e demonstrações. Objetos
condutores são frequentemente montados sobre objetos isolantes. Esse arranjo
de um condutor em cima de um isolante impede que a carga seja transferida
do objeto condutor para o seu entorno. Esse arranjo também permite que o
experimentador manipule um objeto condutor sem tocá-lo. O isolante serve como
uma alça para mover o condutor em cima de uma mesa de laboratório. Se os
experimentos de eletrização forem realizados com latinhas de alumínio, as latas
devem ser montadas em cima de copos de isopor, por exemplo. Os copos servem
como isolantes, impedindo que as latinhas descarreguem sua carga. Os copos
também servem como alças quando se torna necessário mover as latas sobre a
mesa.

17
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

5.1 EXEMPLOS DE CONDUTORES E ISOLANTES


Exemplos de condutores incluem metais, soluções aquosas de sais (ou
seja, compostos iônicos dissolvidos em água), grafi te e corpo humano. Exemplos
de isolantes incluem plásticos, isopor, papel, borracha, vidro e ar seco. A divisão
de materiais nas categorias de condutores e isolantes é uma divisão um tanto
artifi cial. É mais apropriado pensar em materiais como ordenados numa fi la
contínua.

Aqueles materiais supercondutores (conhecidos como supercondutores)


seriam colocados num lado e os materiais menos condutores (ou seja, isolantes)
seriam colocados na outra extremidade. Os metais seriam colocados perto da
extremidade mais condutora e o vidro seria colocado na extremidade oposta da
fi la. A condutividade de um metal pode ser um milhão de vezes maior que a do
vidro.

FIGURA 11 – CONDUTIVIDADE DE ALGUNS MATERIAIS

FONTE: O autor

Ao longo da fi la de condutores e isolantes, pode-se encontrar o corpo


humano em algum lugar central um pouco mais próximo dos condutores. Quando
o corpo adquire uma carga estática, tem uma tendência a distribuir essa carga por
toda a superfície do corpo. Dado o tamanho do corpo humano, em relação ao
tamanho de objetos típicos usados em experimentos eletrostáticos, ele exigiria
uma quantidade muito grande de carga antes que seu efeito fosse perceptível. Os
efeitos do excesso de carga no corpo são frequentemente demonstrados usando
um gerador Van de Graaff . Quando alguém coloca a mão sobre a esfera estática,
o excesso de carga da esfera é compartilhado com o corpo humano. Sendo um
condutor, o excesso de carga poderia fl uir para o corpo humano e se espalhar
por toda a superfície do corpo, mesmo em fi os de cabelo. À medida que os fi os
individuais de cabelo se tornam carregados, eles começam a se repelir. Procurando
distanciar-se de seus vizinhos carregados, os fi os de cabelo começam a subir e a
apontar para longe da cabeça. A Figura 12 ilustra esse fenômeno:

18
TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA

FIGURA 12 – ELETRICIDADE ESTÁTICA CRIADA POR UM GERADOR DE VAN DER GRAAFF

FONTE: <https://assets.fishersci.com/TFS-Assets/CCG/product-images/FS102482~p.eps-650.
jpg>. Acesso em: 14 dez. 2020.

Muitos estão familiarizados com o impacto que a umidade pode ter sobre
acúmulos de carga estática. Você provavelmente notou que, em dias “de cabelo
ruim”, choques de maçanetas e roupas com eletricidade estática são mais comuns
durante os meses de inverno (para as regiões do país que possuem o inverno
definido por dias mais frios).

Os meses de inverno tendem a ser os meses mais secos do ano, com os


níveis de umidade no ar caindo para valores mais baixos. A água tende a remover
gradualmente o excesso de carga dos objetos. Quando a umidade é alta, uma
pessoa que adquire uma carga elétrica tenderá a perder essa carga para moléculas
de água no ar circundante. Por outro lado, as condições de ar seco são mais
propícias ao acúmulo de carga estática e choques elétricos mais frequentes. Como
os níveis de umidade tendem a variar de dia para dia e estação para estação,
espera-se que os efeitos elétricos (e até mesmo o sucesso das demonstrações
eletrostáticas) possam variar de dia para dia.
 

5.2 DISTRIBUIÇÃO DA CARGA VIA MOVIMENTO


ELETRÔNICO

Prever a direção que os elétrons se moveriam dentro de um material
condutor é uma simples aplicação das duas regras fundamentais de interação
de carga: os opostos se atraem e os semelhantes se repelem. Suponha que
algum método seja usado para transmitir uma carga negativa a um objeto em
um determinado local. No local onde a carga é transmitida, há um excesso de
elétrons, ou seja, o grupo de átomos naquela região possui mais elétrons do que
prótons. Claro, há uma série de elétrons que poderiam ser considerados como

19
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

sendo bastante satisfeitos, uma vez que há um próton positivamente carregado


para satisfazer sua atração por um oposto. No entanto, os chamados elétrons em
excesso têm uma resposta repulsiva uns aos outros e preferem mais espaço.

Elétrons desejam manipular seus arredores em um esforço para reduzir


efeitos repulsivos. Uma vez que esses elétrons em excesso estão presentes em
um condutor, há pouco obstáculo à sua capacidade de migrar para outras partes
do objeto. E isso é exatamente o que eles fazem. Em um esforço para reduzir
os efeitos repulsivos globais dentro do objeto, há uma migração em massa de
elétrons em excesso por toda a superfície do objeto. Elétrons em excesso migram
para se distanciar de seus vizinhos repulsivos. Nesse sentido, diz-se que o excesso
de carga negativa se distribui por toda a superfície do condutor.

O que acontece se o condutor adquirir um excesso de carga positiva? E se
os elétrons forem removidos de um condutor em um determinado local, dando
ao objeto uma carga positiva? Se os prótons não podem se mover, então como o
excesso de carga positiva pode se distribuir pela superfície do material?

Embora as respostas a essas perguntas não sejam tão óbvias, ainda


envolve uma explicação bastante simples que, mais uma vez, se baseia nas duas
regras fundamentais de interação de carga. Os opostos se atraem e os semelhantes
se repelem.

Suponha que uma esfera metálica condutora seja carregada no seu lado
esquerdo com um excesso de carga positiva. Isso significa que os elétrons sejam
removidos do objeto naquele local por eletrização. Uma infinidade de átomos na
região onde a eletrização ocorre perderam um ou mais elétrons e têm um excesso
de prótons.

O desequilíbrio de carga dentro desses átomos cria efeitos que podem


ser considerados como perturbadores do equilíbrio de carga dentro de todo o
objeto. A presença desses prótons em excesso em um determinado local atrai
elétrons de outros átomos. Elétrons em outras partes do objeto podem ser
considerados como sendo bastante satisfeitos com o equilíbrio de carga que eles
estão experimentando. No entanto, sempre haverá alguns elétrons que sentirão a
atração pelo excesso de prótons a alguma distância.

Em termos humanos, podemos dizer que esses elétrons são atraídos pela
curiosidade ou pela crença de que a grama é mais verde do outro lado da cerca. Na
linguagem da Eletrostática, simplesmente afirmamos que os opostos se atraem: o
excesso de prótons e os elétrons vizinhos e distantes se atraem.

Os prótons não podem fazer nada sobre esta atração, uma vez que estão
ligados dentro do núcleo de seus próprios átomos. No entanto, os elétrons estão
vagamente ligados dentro dos átomos, eles são livres para se mover. Esses elétrons
fazem o movimento para o local com excesso de prótons, deixando seus átomos

20
TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA

com seu próprio excesso de carga positiva. Essa migração de elétrons acontece
em toda a superfície do objeto, até que a soma global de efeitos repulsivos entre
elétrons em toda a superfície do objeto seja minimizada.

6 POLARIZAÇÃO
Foi afi rmado anteriormente que uma atração elétrica seria observada
entre um objeto carregado e um objeto neutro. Se um tubo de plástico carregado
for mantido perto de pedaços de papel neutro, a atração entre o papel e o
plástico seria sufi ciente para levantar o papel da mesa. Se um balão de borracha
é carregado esfregando-o com pele animal, o balão pode posteriormente ser
preso à superfície de um armário de madeira ou uma parede de material isolante.
Surpreendentemente, essa interação entre um objeto neutro e qualquer objeto
carregado pode ser explicada usando nossas regras habituais de opostos se
atraem e semelhantes se repelem.

FIGURA 13 – BALÕES PRESOS NA PAREDE PELA ELETRICIDADE ESTÁTICA

FONTE: <http://4.bp.blogspot.com/-GrKlC0ojsKU/Tmf9JE9rieI/AAAAAAAAADg/VDb-tst6mtQ/
s1600/DSCF0247.JPG>. Acesso em: 14 dez. 2020.

6.1 INDUZINDO O MOVIMENTO DE CARGA


Como discutido anteriormente, um átomo consiste em prótons carregados
positivamente e elétrons carregados negativamente. Os prótons estão no núcleo
do átomo, fi rmemente ligados e incapazes de se movimentar.

Os elétrons estão localizados nas vastas regiões do espaço ao redor do


núcleo, conhecidos como camadas eletrônicas ou nuvens eletrônicas. Em relação
aos prótons do núcleo, esses elétrons estão vagamente ligados. Em objetos
condutores, eles estão tão fracamente amarrados que podem ser induzidos
a mover-se de uma parte do objeto para outra parte do objeto. Para que um

21
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

elétron deixe um objeto condutor e se mova para determinada direção, basta que
aproximemos um objeto carregado.

Para ilustrar esse movimento induzido de elétrons, consideraremos uma


latinha de alumínio colada a um copo de isopor. O copo de isopor serve tanto
como um suporte isolante quanto uma alça. Um balão de borracha é carregado
negativamente, talvez, o esfregando contra peles de animais. Se o balão carregado
negativamente for trazido perto da latinha de alumínio, os elétrons dentro da lata
podem experimentar uma força repulsiva.

A repulsão será maior para os elétrons mais próximos do balão carregado


negativamente. Muitos desses elétrons serão induzidos a se afastar do balão
repulsor. Estando presentes dentro de um material condutor, os elétrons são
livres para mover de átomo para átomo. Como tal, há uma migração em massa
de elétrons do lado do balão da lata de alumínio para o lado oposto da lata. Esse
movimento de elétrons deixa átomos no lado do balão da lata com uma escassez
de elétrons: eles se tornam positivamente carregados. E os átomos do lado oposto
podem ter um excesso de elétrons: eles se tornam negativamente carregados.

Os dois lados da latinha podem ter cargas opostas. No geral, a lata é


eletricamente neutra: é que a carga positiva e negativa foi separada uma da outra.
Dizemos que a carga na lata foi eletricamente polarizada.

Em termos gerais, a polarização signifi ca separar-se em opostos. No


contexto da eletricidade, a polarização é o processo de separação de cargas opostas
dentro de um objeto. A carga positiva torna-se separada da carga negativa. Ao
induzir o movimento dos elétrons dentro de um objeto, um lado do objeto é
deixado com um excesso de carga positiva e o outro lado do objeto é deixado com
um excesso de carga negativa.

FIGURA 14 – PROCESSO DE POLARIZAÇÃO DE UM ISOLANTE POR INDUÇÃO

FONTE: <http://ifserv.fis.unb.br/matdid/1_1999/Vildinei/inducao.jpg>. Acesso em: 14 dez. 2020.

22
TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA

Na Figura 14, na situação (a), tem-se uma esfera condutora B sem


polarização e eletricamente neutra, e uma esfera A carregada negativamente.
Ambas estão afastadas e não interagem entre si. Na situação (b), a esfera carregada
é aproximada de B, fazendo com que os elétricos migrem para a esquerda. Ao
final, a esfera B está polarizada: seu lado esquerdo está com carga negativa e seu
lado direito com carga positiva.

O processo de polarização sempre envolve o uso de um objeto carregado
para induzir o movimento de elétrons ou o rearranjo de elétrons. Nessa figura
e na discussão que acompanha, elétrons dentro de um objeto condutor foram
induzidos a mover-se do lado esquerdo da lata condutora para o lado direito
da lata. Sendo um condutor, os elétrons eram capazes de mover-se de átomo
para átomo em toda a superfície do condutor, mas e se o objeto que está sendo
polarizado for um isolante? Elétrons não são livres para se mover através da
superfície de um isolante. Como pode um isolante, como uma parede de madeira,
ser polarizado? Veremos adiante.
 

6.2 COMO UM ISOLANTE PODE SER POLARIZADO?



A polarização pode ocorrer dentro dos isolantes, mas o processo acontece
de uma maneira diferente em relação aos condutores. Em um objeto condutor,
elétrons são induzidos a se movimentar através da superfície do condutor de um
lado do objeto para o lado oposto. Em um isolante, os elétrons simplesmente se
redistribuem dentro do próprio átomo ou moléculas mais próximas da superfície
externa do objeto. Para entender o processo de redistribuição de elétrons, é
importante fazer outra breve excursão ao mundo dos átomos, moléculas e ligações
químicas.

Acredita-se que os elétrons ao redor do núcleo de um átomo estão
localizados em regiões do espaço com formas e tamanhos específicos. O tamanho e a
forma reais dessas regiões são determinados pelas equações matemáticas comuns
à Mecânica Quântica. Em vez de serem localizados a uma distância específica
do núcleo em uma órbita fixa, os elétrons são simplesmente considerados como
sendo localizados em regiões muitas vezes referidas como nuvens eletrônicas. As
nuvens eletrônicas têm densidade variada, a densidade da nuvem é considerada
maior na porção da nuvem onde o elétron tem a maior probabilidade de ser
encontrado a qualquer momento. E, por outro lado, a densidade da nuvem de
elétrons é menor nas regiões onde o elétron é menos provável de ser encontrado.
Além de ter densidade variada, essas nuvens de elétrons também são altamente
distorcidas. A presença de átomos vizinhos com alta afinidade eletrônica pode
distorcer as nuvens eletrônicas ao redor dos átomos. Em vez de ser localizada
simetricamente sobre o núcleo positivo, a nuvem se torna assimetricamente
moldada. Como tal, há uma polarização do átomo, pois os centros de carga
positiva e negativa não estão mais localizados no mesmo local. O átomo ainda é
um átomo neutro, mas ele acabou de se polarizar.

23
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

FIGURA 15 – POLARIZAÇÃO DE UM ÁTOMO

FONTE: Adaptada de <https://phys.libretexts.org/@api/deki/files/8169/CNX_UPhysics_25_05_


polariz.jpg?revision=1&size=bestfit&width=800&height=421>. Acesso em: 14 dez. 2020.

Na Figura 15, na situação (a), é mostrado um átomo sem polarização, com


sua nuvem eletrônica uniformemente distribuída em torno de seu núcleo. Em
(b), pela presença de cargas elétricas externas, a nuvem eletrônica de distorce,
formando um polo positivo no lado direito do átomo e um polo negativo do lado
esquerdo. Essa situação é mostrada simplifi cadamente em (c).

DICAS

O link a seguir disponibiliza uma animação interativa referente à polarização


de um condutor e de um isolante por indução, acesse: https://javalab.org/en/conductor_
and_insulator_en/.

6.2.1 Como a polarização explica o balão preso à


parede?
Os átomos são compostos de um núcleo positivo e uma "nuvem eletrônica"
negativa, ligadas umas às outras por atração eletrostática. Quando um átomo
se aproxima de uma carga positiva, o núcleo é repelido pela carga e a nuvem é
atraída para a carga. A Figura 16 mostra o resultado: o átomo em si se polariza.

24
TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA

FIGURA 16 – O ÁTOMO EM SI SE POLARIZA

FONTE: <https://physics.nfshost.com/textbook/08-Materials/img/InsulatorPolarized.png>. Aces-


so em: 10 dez. 2020.

Quando um bastão positivamente carregado se aproxima de um isolante,


todos os seus átomos polarizam dessa forma, com as nuvens de elétrons inclinadas
em direção ao bastão e os núcleos se inclinando na direção oposta. Em alguns
materiais (como a água), as moléculas em si são naturalmente polares: elas não
têm que esticar, apenas giram sua extremidade negativa em direção ao bastão
positivo.

Em ambos os casos, o lado do isolante mais próximo da carga positiva


desenvolve uma camada de carga negativa, enquanto o lado oposto desenvolve
uma camada positiva. Isolantes polarizam assim como os condutores, embora o
mecanismo seja diferente. A diferença é de grau: os condutores são muito melhores
em polarização. As camadas polarizadas em um condutor são compostas de
portadores de carga de todo o material (os elétrons, que podem se movimentar),
enquanto as camadas de um isolador incluem apenas as cargas que já estavam na
superfície do material.

Esse processo de polarização explica o porquê de um balão carregado


eletricamente poder grudar numa superfície de madeira: a madeira torna-
se polarizada devido às cargas do balão, o atraindo. O atrito do balão junto à
superfície da madeira, aliado ao fato de o balão ter pouco peso, é sufi ciente para
manter o balão preso.

25
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

FIGURA 17 – ATRACAÇÃO ELETROSTÁTICA ENTRE O BALÃO CARREGADO E A PAREDE ISO-


LANTE

FONTE: <https://www.science-sparks.com/wp-content/uploads/2020/09/Static-electricity-dia-
gram-768x768.jpg>. Acesso em: 14 dez. 2002.

Na Figura 17, as cargas negativas do balão polarizam a superfície isolante


da parede, de acordo com o processo visto anteriormente. A parede e o balão,
então, apresentam cargas opostas nas suas faces de contato, originando a
atracação elétrica.

6.3 POLARIZAR NÃO É ELETRIZAR UM OBJETO


Talvez o maior equívoco que diz respeito à polarização seja a crença de que
a polarização envolve a eletrização (adicionar ou remover elétrons) de um objeto.
Polarização não é carga! Quando um objeto fi ca polarizado, há simplesmente
uma redistribuição dos centros de cargas positivas e negativas dentro do objeto.
Seja pelo movimento dos elétrons através da superfície do objeto (como é o caso
dos condutores) ou através da distorção das nuvens eletrônicas (como é o caso
dos isolantes), os centros de cargas positivas e negativas se separam um do outro.
Os átomos em um local no objeto possuem mais prótons do que elétrons e os
átomos em outro local têm mais elétrons do que prótons. Embora exista o mesmo
número de prótons e elétrons dentro do objeto, esses prótons e elétrons não são
distribuídos na mesma proporção através da superfície do objeto. No entanto,
ainda há números iguais de cargas positivas (prótons) e cargas negativas (elétrons)
dentro do objeto. Embora haja uma separação da carga, não há um desequilíbrio
de carga. Quando objetos neutros se polarizam, eles ainda são objetos neutros.

26
TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA

E
IMPORTANT

Separação de cargas não é o mesmo que desequilíbrio de cargas!

O processo de polarização é frequentemente usado em muitos métodos


de eletrização. Esses processos serão vistos no próximo tópico.

7 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA: O ELETROSCÓPIO DE


FOLHAS DE OURO

O eletroscópio de folhas de ouro é um instrumento inventado em 1786
por Abraham Bennet (ASSIS, 2010), consistindo em uma haste de latão vertical
cuja extremidade inferior contém duas tiras de folhas de ouro muito finas e cuja
extremidade superior é equipada com uma esfera metálica. Um jarro de vidro
envolve a parte inferior da haste e as tiras de folhas de ouro, impedindo-as de
serem movidas por correntes de ar.

Quando o condutor não estiver carregado, as tiras se alinharão
verticalmente por causa da gravidade. Quando, em vez disso, a esfera é tocada
por um corpo eletricamente carregado, parte da carga é distribuída em todo o
condutor. As folhas ficam carregadas de forma idêntica e se repelem umas às
outras, formando um ângulo proporcional à carga. O fenômeno baseia-se numa
propriedade fundamentai da eletrostática: corpos com cargas elétricas do mesmo
sinal se repelem, enquanto aqueles com cargas elétricas opostas se atraem. As
duas tiras de papel alumínio colocadas em lados opostos do recipiente servem
para descarregar o excesso de carga para a terra.

27
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

FIGURA 18 – UM ELETROSCÓPIO ANTIGO

FONTE: <https://catalogue.museogalileo.it/images/cat/oggetti_944/0554_3253_2200-006_944.
jpg>. Acesso em: 14 dez. 2020.

7.1 PROCEDIMENTO PRÁTICO



A proposta desta prática é construir um eletroscópio com materiais
caseiros e, depois, testar e analisar seu funcionamento.

7.1.1 Materiais
• Frasco de vidro transparente.
• Tampa de frasco ou pedaço de plástico grande o suficiente para cobrir a
abertura do frasco (precisa ser de material não condutor).
• Fita isolante para eletricidade.
• Fio de cobre rígido de 1,5 mm² (ou bitola similar).
• Canudo de plástico.
• Tesoura.
• Pistola de cola quente.
• Folha de papel alumínio.
• Materiais para testar: balão de ar cheio, régua de plástico, pedaço de lã (na falta
de lã pode ser pelo de animal, linho, flanela), um CD velho.

28
TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA

FIGURA 19 – MATERIAIS UTILIZADOS PARA MONTAR O ELETROSCÓPIO

FONTE: Adaptada de <https://cdn.education.com/static/science-fair/physics_making-electros-


cope/homemade-electroscope-materials.png>. Acesso em: 14 dez. 2020.

7.1.2 Montagem do eletroscópio


• Faça esse experimento em um dia seco! O experimento pode não funcionar se
estiver úmido ou chovendo.
• Use a tesoura para cortar um pedaço de canudo de, aproximadamente, 3
centímetros de comprimento.
• Faça um buraco no centro da tampa do pote.
• Insira a palha no orifício da tampa. Fixe o canudo com cola quente para que ele
fi que bem preso à tampa.
• Corte um pedaço de 25 centímetros de fi o de cobre.
• Torça uma das exterminadas do fi o de cobre em espiral. Utilize 10 cm de fi o
para fazer a espiral.
• Insira a extremidade reta do fi o através do canudo e crie um gancho de cerca
de 2,5 centímetro de comprimento.
• Pendure os dois pequenos pedaços de papel alumínio no gancho. Certifi que-se
de que eles estão em contato.
• Coloque a extremidade, em forma de gancho do fi o, dentro do frasco e torça ou
tampe o frasco.

Na Figura 20, você confere uma foto de um eletroscópio montado seguindo


esses procedimentos descritos.

29
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

FIGURA 20 – ELETROSCÓPIO CASEIRO FINALIZADO

FONTE: <https://www.acsedu.co.uk/uploads/science/Electroscope%20built.png>. Acesso em:


14 dez. 2020.

7.1.3 Experimentação dos materiais


• Esfregue cada um dos materiais de teste (balão, régua, CD e qualquer outro
que você queira experimentar) no pedaço de lã;
• Aproxime cada um dos materiais da espiral de fi o e observe a movimentação
das folhas de alumínio na outra extremidade do fi o;
• Analise se o afastamento das folhas, para cada material testado, é igual ou não.
Quanto mais carga possui o material, maior será o afastamento das folhas de
alumínio.

7.1.4 Responda estas questões após a realização do


experimento:
• O experimento pode não funcionar se estiver úmido ou chovendo. Por que
acha que isso é importante?
• Considerando que estamos tentando testar a presença de uma carga elétrica,
por que você acha que ter uma superfície maior (como a espiral de fi o) é
melhor? E Por que o fi o mais grosso é melhor?
• Por que estamos usando dois pedaços de folha de alumínio em vez de um?
Qual a função esperada dessas duas folhas de alumínio?
• Por que devemos esfregar os materiais na lã para haver eletrização elétrica?

30
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os átomos são construídos por elétrons, prótons e nêutrons. Os elétrons têm


carga elétrica negativa e vagam ao redor do núcleo. Os prótons estão presos no
núcleo e possuem carga positiva. Os nêutrons também estão no núcleo, mas
não têm carga elétrica.

• Cargas elétricas de mesmo sinal se repelem e de sinais contrários se atraem.

• Materiais condutores são aqueles em que seus elétrons podem se mover com
certa facilidade de um átomo para o outro. Nos isolantes os elétrons estão
fortemente presos aos núcleos de seus átomos.

• Um material está carregado eletricamente quando existe um desequilíbrio


entre seu número de prótons e de elétrons.

• Um objeto pode ser carregado positiva ou negativamente perdendo ou


ganhando elétrons, respectivamente. Não é possível mover os prótons.

• A polarização consiste em separar as cargas positivas das negativas num


material isolante. A polarização pode acontecer em uma única molécula ou
átomo.

31
AUTOATIVIDADE

1 Considere o átomo de oxigênio, eletricamente neutro, mostrado na figura a


seguir:

REPRESENTAÇÃO DE UM ÁTOMO DE OXIGÊNIO

FONTE: <https://static.mundoeducacao.uol.com.br/mundoeducacao/conteudo/atomo-oxi-
genio.jpg>. Acesso em: 14 dez. 2020.

Explique o que precisa acontecer para que:


a) O átomo fique carregado negativamente.
b) O átomo fique carregado positivamente.

2 Determine a quantidade e tipo de carga num objeto que possui um excesso


de 3,62 × 1012 mais prótons do que elétrons:

3 Ao entrar na sala, você observa dois balões suspensos do teto. Você nota
que, em vez de ficar em linha reta na vertical, os balões parecem estar
repelindo um ao outro. Qual das afirmações a seguir pode ser considerada
conclusiva para este caso?

a) ( ) Ambos os balões têm uma carga negativa.


b) ( ) Ambos os balões têm uma carga positiva.
c) ( ) Um balão é carregado positivamente e o outro negativamente.
d) ( ) Ambos os balões são carregados com o mesmo tipo de carga.

4 Suponha que uma esfera de material condutor seja carregada positivamente


por algum método. A carga é inicialmente depositada ao lado esquerdo
da esfera. No entanto, como o objeto é condutor, a carga se espalha
uniformemente por toda a superfície da esfera. Sobre o que explica a
distribuição uniforme da carga, assinale a alternativa CORRETA:

32
a) ( ) Os átomos carregados no local da carga se movem por toda a superfície
da esfera.
b) ( ) O excesso de prótons se move do local de carga para o resto da esfera.
c) ( ) Elétrons em excesso do resto da esfera são atraídos para o excesso de
prótons.
d) ( ) Nenhuma alternativa está correta.

5 Quando um caminhão de combustíveis chega ao seu destino, ele se prepara


para esvaziar seu combustível em um reservatório ou tanque. Parte da
preparação envolve conectar o corpo do carro-tanque com um fio de metal
ao chão. Sugira uma razão para isso ser feito:

6 Avalie a seguinte afirmativa como verdadeira ou falsa e justifique sua


resposta: Quando um objeto se torna polarizado, ele adquire carga,
tornando-se eletricamente carregado.

33
34
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

ELETRIZAÇÃO

1 INTRODUÇÃO

A eletrização é o processo de carregar um objeto fornecendo ou retirando
elétrons dele. Compreender os diferentes processos de eletrização é importante
para fundamentar o conhecimento de processos e fenômenos mais complexos
que envolvem a eletrostática, eletrodinâmica e o eletromagnetismo.

Neste tópico, serão apresentados os diferentes processos de eletrização
e, ao final, são propostas algumas práticas que permitem aprofundar seu
conhecimento desse assunto.

2 ELETRIZAÇÃO POR ATRITO


No Tópico 1 foi explicado que os átomos são os blocos de construção da
matéria. Além disso, foi explicado que objetos materiais são feitos de diferentes
tipos de átomos e combinações de átomos. A presença de diferentes átomos em
objetos fornece diferentes objetos com diferentes propriedades elétricas.

Uma dessas propriedades é conhecida como afinidade eletrônica.


Simplificando, a propriedade da afinidade eletrônica refere-se à quantidade
relativa de “vontade” que um material tem para com os elétrons.

Uma alta afinidade eletrônica significa que determinado material tem mais
“vontade” de possuir elétrons e o inverso também é válido. Essa propriedade da
afinidade eletrônica será de extrema importância à medida que exploramos um
dos métodos mais comuns de eletrização: a eletrização por fricção.

Suponha que um balão de borracha seja esfregado com um pedaço de
pele animal. Durante o processo de fricção, os átomos da borracha são forçados
a se aproximar dos átomos da pele animal. As nuvens eletrônicas dos dois tipos
de átomos são pressionadas juntas e são trazidas para mais perto dos núcleos dos
outros átomos.

Os prótons nos átomos de um material começam a interagir com os


elétrons presentes no outro material. Nesse caso, os átomos de borracha se
mostrarão mais interessados em possuir elétrons que os átomos da pele animal.
Como tal, os átomos de borracha começam a tomar elétrons dos átomos de pele
animal. Quando a fricção cessa, os dois objetos se tornaram carregados.

35
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

O procedimento de esfregar um balão de borracha no cabelo é facilmente


realizado. Quando feito, você provavelmente notará que o balão de borracha e
seu cabelo vão atrair um ao outro. Em um dia seco, você pode até mesmo ser
capaz de soltar o balão e vê-lo aderir ao seu cabelo. Essa atração entre os dois
objetos carregados é uma evidência de que os objetos que estão assumindo
cargas elétricas de polaridades opostas. Um é carregado positivamente e o outro
negativamente. Como isso acontece? Como a simples junção de dois objetos faz
com que eles fiquem carregados, e com polaridades opostas?

2.1 COMO FUNCIONA O ELETRIZAÇÃO POR ATRITO



O processo de eletrização por atrito (também conhecido como eletrização
tribolelétrica) resulta em uma transferência de elétrons entre os dois objetos que
são esfregados juntos.

A borracha tem uma atração muito maior por elétrons do que a pele
animal. Como resultado, os átomos de borracha puxam elétrons dos átomos de
pele animal, deixando ambos os objetos com um desequilíbrio de carga.

O balão de borracha tem um excesso de elétrons e a pele animal tem uma


escassez de elétrons. Com um excesso de elétrons, o balão de borracha é carregado
negativamente. Da mesma forma, a escassez de elétrons na pele animal deixa-o
com uma carga positiva. Os dois objetos tornaram-se carregados de tipos opostos
de cargas como resultado da transferência de elétrons do material menos amante
de elétrons para o material mais amante de elétrons.

Como mencionado, diferentes materiais têm afinidades diferentes para
elétrons. Esfregando uma variedade de materiais uns contra os outros e testando
sua interação resultante com objetos de carga conhecida, os materiais testados
podem ser ordenados de acordo com sua afinidade com elétrons. Tal lista de
substâncias é conhecida como uma série triboelétrica.

A lista presente no Quadro 4 apresenta alguns materiais ordenados


conforme sua característica triboelétrica. Os materiais do topo têm menos
afinidade eletrônica e tendem a perder elétrons e, portanto, ficam mais positivos
quanto atritados. Os materiais do final da lista possuem mais afinidade eletrônica.

36
TÓPICO 2 — ELETRIZAÇÃO

QUADRO 4 – SÉRIE TRIBOELÉTRICA DE ALGUNS MATERIAIS

FONTE: <https://s2.static.brasilescola.uol.com.br/img/2016/12/serie-triboeletrica.jpg>. Acesso


em: 15 dez. 2020.

Assim, pela análise dessa lista, podemos concluir que, se atritarmos um


objeto de vidro com um papel, os elétrons do vidro vão migrar para o papel,
ficando o vidro positivamente carregado e o papel negativamente carregado.

3 ELETRIZAÇÃO POR INDUÇÃO



A eletrização por indução é um método usado para carregar um objeto
sem realmente tocá-lo em qualquer outro objeto carregado. Uma compreensão da
carga por indução requer uma compreensão da natureza de um condutor e uma
compreensão do processo de polarização (visto no Tópico 1).

3.1 CARREGANDO UM SISTEMA DE DUAS ESFERAS, USANDO


UM OBJETO CARREGADO NEGATIVAMENTE
Vamos considerar um arranjo com duas esferas metálicas apoiadas por
suportes isolantes, de forma que qualquer carga adquirida não pode se deslocar
para o solo. As esferas são colocadas lado a lado, conforme ilustrado em (a) na
Figura 21, de modo a formar um sistema de duas esferas.

Sendo feitos de metal (um condutor), os elétrons são livres para se mover
entre as esferas: da esfera A para a esfera B e vice-versa. Se um balão de borracha
for carregado negativamente e trazido perto das esferas, elétrons dentro do

37
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

sistema de duas esferas serão induzidos a se afastar do balão. Sendo carregados


negativamente, os elétrons são repelidos pelo balão carregado negativamente.
E estando presentes em um condutor, eles são livres para se mover sobre a
superfície do condutor. Posteriormente, há uma migração em massa de elétrons
da esfera A para a esfera B. Essa migração de elétrons faz com que o sistema de
duas esferas seja polarizado, conforme a ilustração (b) da Figura 21. No geral, o
sistema de duas esferas está eletricamente neutro. No entanto, o movimento dos
elétrons para fora da esfera A em direção à esfera B separa a carga negativa da
carga positiva. Olhando para as esferas individualmente, seria correto dizer que
a esfera A tem uma carga positiva e a esfera B tem uma carga negativa.

FIGURA 21 – PROCESSO DE ELETRIZAÇÃO POR INDUÇÃO

FONTE: Adaptada de <http://fisicaevestibular.com.br/novo/wp-content/uploads/migracao/eletr-


cidade/cargas/i_843011379b2d41bb_html_cfff124d.png>. Acesso em: 15 dez.2020.

Uma vez que o sistema das duas esferas está polarizado, a esfera B é
fi sicamente separada da esfera A usando o suporte isolante. Tendo sido puxado
mais longe do balão, a carga negativa provavelmente se redistribui uniformemente
sobre a esfera B, conforme a ilustração (c) da Figura 21. Enquanto isso, o excesso
de carga positiva na esfera A permanece localizado perto do balão carregado
negativamente, consistente com o princípio que as cargas opostas se atraem.

À medida que o balão é retirado, há uma distribuição uniforme de carga


sobre a superfície de ambas as esferas, conforme ilustração (d). Essa distribuição
ocorre à medida que os elétrons restantes na esfera A se movem através da superfície
da esfera até que a carga positiva em excesso seja distribuída uniformemente.
Estamos considerando que as esferas estão de tal modo afastadas que, as cargas
de uma esfera não infl uenciam nas cargas da outra esfera.

3.2 ELETRIZAÇÃO POR INDUÇÃO UTILIZANDO A TERRA


Na eletrização por indução analisado anteriormente, a carga fi nal no
objeto nunca é o resultado do movimento de elétrons do objeto carregado para os
objetos originalmente neutros. O balão nunca transfere elétrons para, ou recebe

38
TÓPICO 2 — ELETRIZAÇÃO

elétrons das esferas. O objeto neutro mais próximo do objeto carregado (esfera
A nesse caso) adquire sua carga a partir do objeto ao qual é tocado. Nos casos
supracitados, a segunda esfera é usada para fornecer os elétrons para a esfera A
ou para receber elétrons da esfera A. O papel da esfera B, no que foi exemplifi cado,
é servir como fornecedor ou receptor de elétrons em resposta ao objeto trazido
perto da esfera A. Nesse sentido, a esfera B age como a terra.

Para ilustrar ainda mais a importância da terra, considere a eletrização por


indução de uma única esfera condutora, conforme mostrada nos passos (a) até (d)
na Figura 22. Suponha que um balão de borracha carregado negativamente seja
trazido perto de uma única esfera, como mostrado em (a). A presença da carga
negativa induzirá o movimento dos elétrons na esfera. Uma vez que as cargas
repelem, elétrons dentro da esfera metálica serão repelidos pelo balão carregado
negativamente. Haverá uma migração em massa de elétrons do lado esquerdo
para o lado direito da esfera fazendo com que a carga dentro da esfera se polarize,
conforme mostrado em (b). Uma vez que a esfera se encontra polarizada, um
fi o condutor é conectado a ela, tendo sua outra extremidade ligada à terra. Essa
ligação permite que os elétrons em excesso na esfera migrem para a terra (um
elemento eletricamente neutro). Nesse momento, a esfera adquire carga positiva,
pois ela acabou de ceder elétrons para a terra, conforme mostrado em (c). Ao fi nal
o balão é afastado da esfera, permitindo que as cargas positivas se distribuam
uniformemente por ela, e o fi o é desconectado, conforme mostrado em (d). Nesse
último estágio, a esfera se encontra positivamente carregada.

FIGURA 22 – PROCESSO DE ELETRIZAÇÃO POR INDUÇÃO

FONTE: Adaptada de <http://fisicaevestibular.com.br/novo/wp-content/uploads/migracao/eletr-


cidade/cargas/i_843011379b2d41bb_html_5d02e452.png>. Acesso em: 16 dez. 2020.

39
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

Há alguns fatores a serem destacados sobre esse exemplo de eletrização


por indução. Primeiramente, observe que a terceira etapa do processo (ilustração
c) envolve a ligação da esfera ao solo. Se comparado com a eletrização de indução
de um sistema de duas esferas, o solo simplesmente substituiu a segunda esfera
(Esfera B). Elétrons dentro da esfera são repelidos pelo balão negativo e fazem
um esforço para se distanciar dele, a fim de minimizar os efeitos repulsivos. É
importante destacar que a terra é um elemento que possui sempre carga neutra e
é capaz de receber ou doar qualquer quantidade de elétrons e ainda permanecer
neutra.

A segunda coisa a notar do processo de eletrização por indução, mostrado
na Figura 22, é que a esfera adquire uma carga contrária à do balão. Esse sempre
será o caso observado. Se um objeto carregado negativamente for usado para
carregar um objeto neutro por indução, então o objeto neutro adquirirá uma carga
positiva. E se um objeto carregado positivamente for usado para carregar um
objeto neutro por indução, então o objeto neutro adquirirá uma carga negativa.
De qualquer forma, o objeto que está sendo carregado adquire uma carga oposta
à carga do objeto usado para induzir a carga.

4 ELETRIZAÇÃO POR CONDUÇÃO (OU POR CONTATO)



A eletrização por condução envolve o contato de um objeto carregado a
outro objeto neutro. Suponha que uma placa de alumínio carregada positivamente
seja tocada em uma esfera metálica neutra. A esfera metálica neutra torna-se
carregada como resultado de ser contatada pela placa de alumínio carregada.
Ou suponha que um estudante não carregado está em uma plataforma isolante
e toca um gerador Van de Graaff carregado negativamente. O estudante torna-
se carregado como resultado do contato com o gerador Van de Graaff. Cada
um desses exemplos envolve o contato entre um objeto carregado e um objeto
neutro. Em contraste com a indução, na qual o objeto carregado é trazido perto,
mas nunca contatado para o objeto que está sendo carregado a eletrização por
condução envolve fazer a conexão física do objeto carregado ao objeto neutro.
Como a eletrização por condução envolve contato, muitas vezes é denominada
por Eletrização por Contato.
 

4.1 ELETRIZAÇÃO POR CONDUÇÃO USANDO UM OBJETO


CARREGADO POSITIVAMENTE
Para explicar o processo de eletrização por contato, consideraremos o
caso de um bastão metálico carregado positivamente para eletrizar uma esfera
condutora inicialmente neutra, conforme mostrado na ilustração (a) da Figura 23.
Tanto a esfera quanto o bastão são apoiados por materiais isolantes, de forma que
não podem perder nem ganhar elétrons de outros objetos.

40
TÓPICO 2 — ELETRIZAÇÃO

Primeiramente, precisamos lembrar que o fato de o bastão estar carregado


positivamente implica que ele está com falta de elétrons. O excesso de prótons
tem a tendência de atrair quaisquer elétrons livres de materiais próximos.

Ao se efetuar o contato do bastão carregado com a esfera condutora


neutra, conforme ilustrado em (b), os elétrons livres da esfera serão atraídos pela
carga positiva do bastão. A migração desses elétrons ocorrerá até que tanto o
bastão quanto a esfera estejam com a mesma proporção de número de prótons
e de elétrons. Devido às condições de carga inicialmente consideradas, ambos
os objetos estarão com mais prótons do que elétrons, ou seja, estão carregados
positivamente.

Assim, ao se afastar o bastão da esfera, como ilustrado em (c), ambos


apresentarão uma carga elétrica positiva. Esse é o processo de eletrização por
contato.

FIGURA 23 – PROCESSO DE ELETRIZAÇÃO POR CONTATO

FONTE: O autor

Devemos notar que, no processo descrito, não houve a criação nem


destruição de cargas elétricas. O somatório das cargas elétricas do bastão e da
esfera não se altera da situação inicial em (a) para a situação fi nal em (c). O que
houve foi, apenas, a migração de elétrons de um objeto para o outro. Esse é o
princípio da conservação de carga.

41
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

5 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA
Nesse experimento, vamos comprovar os métodos de eletrização
apresentados com o auxílio do eletroscópio, construído na prática do Tópico 1.

Material necessário:

• 1 eletroscópio (construído na prática do Tópico 1);


• 1 balão cheio de ar;
• 1 bastão de metal;
• 1 par de luvas de plástico ou borracha;
• 1 latinha de refrigerante vazia;
• 1 copo plástico ou de isopor;
• 1 fi ta adesiva;
• 1 pedaço de fi o longo (de qualquer bitola) ligado à terra;

Prenda a lata com fi ta adesiva junto ao copo, conforme ilustrado na Figura


24. Para todos os experimentos adiante, nunca encoste diretamente na lata, apenas
na sua base (copo de material isolante).

FIGURA 24 – LATA DE REFRIGERANTE PRESA AO COPO PLÁSTICO

FONTE: O autor

Verifi cação da eletrização por atrito:

• inicialmente conecte a espiral do eletroscópio à terra (através do fi o) para


garantir que ele esteja sem carga elétrica. Após alguns instantes, desconecte o
fi o do eletroscópio;
• esfregue o balão com o pedaço de lã durante 1 ou 2 minutos para que ele fi que
eletrizado;
• aproxime o balão da espiral do eletroscópio e verifi que as folhas de alumínio.
Elas devem se afastar indicando haver carga elétrica no balão.

Verifi cação da eletrização por contato:

• conecte a lata momentaneamente à terra (através do fi o) para garantir que ele


esteja sem carga elétrica no início do experimento;
• desconecte a lata da terra;
42
TÓPICO 2 — ELETRIZAÇÃO

• esfregue a lã no bastão metálico por 1 ou 2 minutos. Segure o bastão com luvas


isolantes para evitar que as cargas elétricas escapem para o seu corpo;
• toque o bastão na lata de refrigerante por alguns segundos;
• Aproxime a lata da espiral do eletroscópio e verifique o movimento das folhas
de alumínio.

Verificação da eletrização por indução:

• conecte a lata a terra através do fio;


• esfregue a lã no bastão metálico por 1 ou 2 minutos. Segure o bastão com luvas
isolantes para evitar que as cargas elétricas escapem para o seu corpo;
• aproxime o bastão da lata. Ainda com o bastão próximo da lata desconecte o fio
dela. Afaste o bastão;
• aproxime a lata da espira do eletroscópio e verifique o momento das folhas.

Observações gerais:

• Se o objeto eletrizado tocar na espiral do eletroscópio será necessário efetuar a


descarga deste, conectando ao fio, entre um experimento e outro.
• Esses experimentos devem ser realizados, preferencialmente, em dias secos. A
presença de humidade pode impedir a eletrização dos materiais.

43
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Eletrização é o processo de carregar um objeto, retirando ou fornecendo


elétrons a ele.

• A eletrização por atrito acontece ao se esfregar um objeto no outro. A troca de


elétrons entre os objetos acontece de acordo com a afinidade eletrônica de cada
material que os compõem.

• A série triboelétrica lista os materiais de acordo com sua afinidade eletrônica.

• Na eletrização por indução, não há contato entre os objetos envolvidos. Ao


final, o objeto eletrizado fica com carga oposta ao objeto que o eletrizou.

• Na eletrização por contato, o objeto eletrizado fica com carga de mesma


polaridade que o objeto que o eletrizou.

44
AUTOATIVIDADE

1 Um professor esfrega um objeto de vidro e um pano de feltro juntos e o vidro


fica positivamente carregado. Analise as afirmativas a seguir e classifique V
para as verdadeiras e F para as falsas:

( ) O vidro ganhou prótons durante o processo de esfregação.


( ) O feltro ficou carregado negativamente durante esse processo de esfregar.
( ) A carga é criada durante o processo de esfregação; ele é agarrado pelo
objeto mais faminto por carga.
( ) Se o vidro adquiriu uma carga de +5 unidades, então o feltro adquire uma
carga de -5 unidades.
( ) Este evento viola a lei de conservação da carga.
( ) Elétrons são transferidos do vidro para o feltro; prótons são transferidos
de feltro para vidro.
( ) Uma vez carregados dessa maneira, o objeto de vidro e o pano de feltro
devem atrair uns aos outros.
( ) Em geral, os materiais de vidro devem ter uma afinidade maior com
elétrons do que materiais de feltro.

Assinale a alternativa que contém a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – V – V – F – V – V – V.
b) ( ) F – V – F – V – F – F – V – F.
c) ( ) F – F – V – F – V – V – F – F.
d) ( ) V – V – F – F – V – F – F – V.

2 Qual declaração melhor explica por que um bastão de borracha fica


negativamente carregado quando esfregado com pele de algum animal?
Justifique.

a) ( ) A borracha de que a haste é feita é um isolante melhor do que a pele.


b) ( ) A pele é melhor isolante do que a borracha.
c) ( ) Moléculas na haste de borracha têm uma atração mais forte por
elétrons do que as moléculas na pele.
d) ( ) Moléculas na pele têm uma atração mais forte por elétrons do que as
moléculas na haste de borracha.

3 Um bastão carregado negativamente é trazido perto de uma esfera condutora


neutra, como mostrado a seguir. Enquanto o bastão está próximo, a esfera
é tocada (aterrada).

45
Nesse ponto, há um movimento de elétrons. Esses elétrons se movem:

a) ( ) Da esfera para a mão.


b) ( ) Do balão para a mão.
c) ( ) Do balão para a esfera.
d) ( ) Da esfera para o balão.
e) ( ) Do balão para a terra.

4 Uma esfera metálica está eletricamente neutra. Ela é tocada por uma haste
de metal carregada positivamente. Como resultado, a esfera metálica torna-
se carregada positivamente. Analise as sentenças a seguir e verifi que quais
dos seguintes fenômenos ocorreram durante o processo?

I- A esfera metálica ganha alguns prótons.


II- Elétrons são transferidos da esfera para a vara.
III- A esfera metálica perde elétrons.
IV- A carga global do sistema é conservada.
V- Prótons são transferidos da vara para a esfera.
VI- Elétrons positivos são movidos entre os dois objetos.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afi rmativas I, II, IV estão corretas.
b) ( ) As afi rmativas III, V, VI estão corretas.
c) ( ) As afi rmativas II, III, IV estão corretas.
d) ( ) As afi rmativas I, V, VI estão corretas.

5 No processo de eletrização por contato, o bastão ou a esfera poderiam ser


de material isolante? Explique sua resposta.

46
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

ANÁLISE DE CAMPOS ELÉTRICOS

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, vamos analisar o campo elétrico criado por cargas
estáticas. O campo elétrico explica a forma como as cargas elétricas interagem
entre si. Conhecendo-se seu comportamento em termos de distâncias, forças e
cargas envolvidas podemos compreender vários fenômenos, desde descargas
atmosféricas até o funcionamento de uma impressora laser.

2 FORÇAS ELÉTRICAS COMO FORÇAS SEM CONTATO



No campo da Física e da Engenharia as forças podem ser divididas em
duas categorias: de contato e sem contato. A força elétrica e força gravitacional
são exemplos de forças sem contato. A força gravitacional é uma força que a
maioria de nós está familiarizada. Forças gravitacionais são de ação à distância
que agem entre dois objetos mesmo quando são mantidas distantes. Se você
assistir um carro de montanha-russa se mover ao longo de seu curso, então você
está testemunhando uma ação à distância.

A Terra e o carro da montanha-russa se atraem mesmo que não haja contato


físico entre os dois objetos. Uma bola de futebol que descreve uma trajetória
parabólica após um chute está sob a ação da gravidade. A terra exerce força sobre
a bola, e a bola também exerce força sobre a terra (embora esta seja desprezível).
Em cada um desses exemplos, a massa da Terra exerceu uma influência a uma
distância, afetando outros objetos de massa que estavam nas proximidades.
 

2.1 O CONCEITO DE CAMPO ELÉTRICO



Forças de ação à distância são às vezes referidas como forças de campo. O
conceito de força de campo é utilizado pelos cientistas para explicar esse fenômeno
de força bastante incomum que ocorre na ausência de contato físico. Enquanto
todas as massas se atraem quando mantidas distantes, as cargas podem repelir
ou atrair quando mantidas a alguma distância. Uma alternativa para descrever
esse efeito de ação à distância é simplesmente sugerir que há algo bem específico
sobre o espaço em torno de um objeto carregado.

47
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

Qualquer outro objeto carregado que esteja naquele espaço sente o efeito
da carga. Um objeto carregado cria um campo elétrico – uma alteração do espaço
na região que o circunda. Outras cargas nesse campo sentiriam a alteração
incomum do espaço. Se um objeto carregado entra ou não nesse espaço, o campo
elétrico existe. O espaço é alterado pela presença de um objeto carregado. Outros
objetos nesse espaço experimentam as estranhas e misteriosas qualidades do
espaço.

Nos tópicos anteriores verifi camos alguns exemplos de objetos carregados


impulsionados por uma força elétrica nas proximidades. Um dos exemplos vistos
foi o do gerador de Van der Graaff .

2.2 A RELAÇÃO FORÇA POR CARGA


A força do campo elétrico é uma quantidade vetorial; tem magnitude e
direção. A magnitude da força do campo elétrico é defi nida em termos de como
é medida. Vamos supor que uma carga elétrica é representada pelo símbolo Q,
situada na origem do sistema de coordenadas. Essa carga cria um campo elétrico
ao seu redor e, portanto, vamos considerar Q como sendo a fonte do campo
elétrico.

FIGURA 25 – DISPOSIÇÃO DAS CARGAS

FONTE: O autor

A força desse campo elétrico pode ser medida se aproximarmos uma


outra carga, denominada q, nas suas proximidades. Essa carga q é chamada de
carga de teste. Quando a carga de testes q é colocada no campo elétrico gerado
pela carga Q, q vai experimentar uma força F. O campo elétrico, então, pode ser
calculado dividindo-se o valor de F pelo valor da carga de testes q, dessa maneira:

E = F/q, (Newton/Coulomb), N/C.

As unidades métricas padrão sobre a força do campo elétrico surgem


de sua defi nição. Uma vez que o campo elétrico é defi nido como uma força por
carga, suas unidades seriam unidades de força divididas por unidades de carga.
Nesse caso, as unidades métricas padrão são Newton/Coulomb ou N/C.

48
TÓPICO 3 — ANÁLISE DE CAMPOS ELÉTRICOS

A força do campo elétrico não depende da quantidade de carga na carga de


teste. Se você pensar sobre essa declaração por um tempo, você pode se incomodar
com ela. Afinal, a quantidade de carga na carga de teste (q) está na equação para
campo elétrico. Então, como a força do campo elétrico não pode depender de q, se
q está na equação? Contudo, se você pensar sobre isso um pouco mais, será capaz
de responder a sua própria pergunta. Aumentar a quantidade de carga na carga
de teste, digamos, por um fator de 2, aumentaria o denominador da equação em
um fator de 2. Entretanto, de acordo com a lei de Coulomb, mais carga também
significa mais força elétrica (F). Na verdade, duplicar o valor de q implicaria em
duplicar, também, a força F. Assim, à medida que o denominador na equação
aumenta por um fator de dois (ou qualquer outro valor) o numerador aumenta
pelo mesmo fator. Essas duas mudanças compensam uma à outra de modo que
se pode dizer com segurança que a força do campo elétrico não depende da
quantidade de carga na carga de teste. Assim, independentemente da carga de
teste ser usada, a força do campo elétrico em qualquer local em torno da carga de
origem Q será medida para ser a mesma.

2.3 OUTRA FÓRMULA DE FORÇA DE CAMPO ELÉTRICO



A discussão anterior procurou definir a força elétrica em termos de como
ela é medida. Agora, vamos verificar uma equação que define a força do campo
elétrico em termos das variáveis que afetam essa força. Para isso, teremos que
rever a equação da lei de Coulomb. A lei de Coulomb estabelece que a força
elétrica entre duas cargas é diretamente proporcional ao produto de suas cargas e
inversamente proporcional ao quadrado da distância entre seus centros. Quando
aplicada às nossas duas cargas – a carga de origem (Q) e a carga de teste (q), a
fórmula para a força elétrica pode ser escrita como:

Em que:

K = 9,0 × 109 N.m²/C² (constante dielétrica do ar);


d = separação entre as cargas, em metros.

Se a expressão de força elétrica dada pela lei de Coulomb for substituída
pela força na equação: E = F/q, uma nova equação pode ser derivada como
demonstrado:

49
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

Note que a simplificação mostra que a carga de teste q foi cancelada tanto
do numerador quanto do denominador da equação. A nova fórmula de força de
campo elétrico expressa a força do campo em termos das duas variáveis que a
afetam. A força do campo elétrico depende da quantidade de carga na carga (Q)
e da distância de separação (d) dessa carga.
 

2.3.1 A Lei do Inverso Quadrático



A força do campo elétrico é dependente da localização, e sua magnitude
diminui à medida que a distância de um local até a fonte aumenta. E por qualquer
fator que a distância seja alterada, a força do campo elétrico mudará inversamente
pelo quadrado desse fator. Assim, se a distância de separação aumentar por um
fator de 2, a força do campo elétrico diminui em um fator de 4 (2²). Se a distância
de separação aumentar por um fator de 3, a força do campo elétrico diminui em
um fator de 9 (3²). Se a distância de separação aumentar por um fator de 4, a força
do campo elétrico diminui em um fator de 16 (4²). E, finalmente, se a distância de
separação diminuir por um fator de 2, a força do campo elétrico aumenta em um
fator de 4 (2²).
 

2.4 A DIREÇÃO DO VETOR DE CAMPO ELÉTRICO



Como mencionado anteriormente, a força do campo elétrico é uma
quantidade vetorial. Ao contrário de uma quantidade escalar, uma quantidade
vetorial não é totalmente descrita a menos que haja uma direção associada a ela.
A magnitude do vetor de campo elétrico é calculada como a força por carga, para
qualquer carga de teste localizada dentro do campo elétrico. A força na carga de
teste pode ser direcionada em direção à carga de origem ou diretamente para
longe dela. A direção precisa da força depende se a carga de teste e a carga de
origem têm o mesmo tipo de carga (em que ocorre a repulsão) ou o tipo oposto
de carga (em que ocorre a atração).

Para resolver o dilema de saber se o vetor de campo elétrico é direcionado


para a carga de origem ou para longe da carga de origem, uma convenção foi
estabelecida. A convenção mundial usada pelos cientistas é definir a direção do
vetor de campo elétrico como a direção que uma carga de teste positiva é empurrada
ou puxada quando na presença do campo elétrico. Usando a convenção de uma
carga de teste positiva, todos podem concordar com a direção de E.

Dada essa convenção de uma carga de teste positiva, várias generalidades
podem ser feitas sobre a direção do vetor de campo elétrico. Uma fonte de carga
positiva criaria um campo elétrico que exerceria um efeito repulsivo sobre uma
carga de teste positiva. Assim, o vetor de campo elétrico seria sempre direcionado
para longe de objetos carregados positivamente. Por outro lado, uma carga positiva
de teste seria atraída para uma carga de fonte negativa. Portanto, vetores de
campo elétrico são sempre direcionados para objetos carregados negativamente.
50
TÓPICO 3 — ANÁLISE DE CAMPOS ELÉTRICOS

3 LINHAS DE CAMPO ELÉTRICO



A magnitude ou a força de um campo elétrico no espaço em torno de uma
carga de origem está relacionada diretamente à quantidade de carga na carga
de origem e inversamente a distância da carga de origem. A direção do campo
elétrico é sempre direcionada na direção de que uma carga de teste positiva seria
empurrada ou puxada se colocada no espaço em torno da carga de origem. Uma
vez que o campo elétrico é uma quantidade vetorial, ele pode ser representado
por uma seta vetorial.

Uma maneira útil de representar visualmente a natureza vetorial de um
campo elétrico é através do uso de linhas de força de campo elétrico. Em vez de
desenhar inúmeras setas vetoriais no espaço em torno de uma carga de origem,
talvez seja mais útil desenhar um padrão de várias linhas que se estendem entre
o infinito e a carga de origem.

Esse padrão de linhas, às vezes referido como linhas de campo elétricos,


apontam na direção que uma carga de teste positiva aceleraria se colocada sobre a
linha. Como tal, as linhas são direcionadas para longe das cargas positivas e para
o centro de cargas negativas. Um padrão de linha de campo elétrico pode incluir
um número infinito de linhas. Como desenhar grandes quantidades de linhas
tende a diminuir a legibilidade dos padrões, o número de linhas é geralmente
limitado.

A presença de algumas linhas em torno de uma carga é tipicamente


suficiente para transmitir a natureza do campo elétrico no espaço ao redor das
linhas.

FIGURA 26 – LINHAS DE CAMPO ELÉTRICO DE DUAS CARGAS

Carga positiva Carga negativa


FONTE: Adaptada de <https://s3.static.brasilescola.uol.com.br/img/2018/06/linhas-de-forca-car-
gas-positiva-e-negativa(3).jpg>. Acesso em: 20 dez. 2020.

51
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

3.1 REGRAS PARA DESENHAR PADRÕES DE CAMPO


ELÉTRICOS
Há uma variedade de convenções e regras para desenhar tais padrões de
linhas de campo elétrico. As convenções são simplesmente estabelecidas para
que os padrões de linha de campo elétrico indiquem a maior quantidade de
informações sobre a natureza do campo elétrico em torno de um objeto carregado.

Uma convenção comum é cercar objetos mais carregados por mais linhas.
Objetos com maior carga criam campos elétricos mais fortes. Ao cercar um objeto
altamente carregado com mais linhas, pode-se comunicar a força de um campo
elétrico no espaço ao redor de um objeto carregado pela densidade da linha. Essa
convenção está retratada no diagrama apresentado na Figura 27:

FIGURA 27 – REPRESENTAÇÃO DA INTENSIDADE DE UM CAMPO ELÉTRICO

FONTE: O autor

Na Figura 27, a carga da esquerda produz um campo elétrico de menor


intensidade do que a carga da direita.

3.1.1 Linhas de campo elétricas para configurações de


duas ou mais cargas
Nos exemplos supracitados, vimos linhas de campos elétricos para o espaço
em torno de cargas únicas, mas, e se uma região do espaço contiver mais de um
ponto de carga? Como o campo elétrico no espaço em torno de uma confi guração
de duas ou mais cargas pode ser descrito por linhas de campos elétricos? Para
responder a essa pergunta, primeiro retornaremos ao nosso método original de
desenhar vetores de campo elétrico.

Suponha que haja duas cargas positivas: carga A (QA) e carga B (QB), em
uma determinada região do espaço. Cada carga cria seu próprio campo elétrico.
Em qualquer local em torno das cargas, a força do campo elétrico pode ser
calculada usando a expressão kQ/d2. Como há duas cargas, o cálculo kQ/d2 teria
52
TÓPICO 3 — ANÁLISE DE CAMPOS ELÉTRICOS

que ser realizado duas vezes em cada local – uma com kQA/dA2 e uma vez com
kQB/dB2 (dA é a distância daquele local para o centro de carga A e dB é a distância
daquele local para o centro da carga B).

Como o campo elétrico é um vetor, as operações habituais que se aplicam


aos vetores podem ser aplicadas ao campo elétrico, ou seja, eles podem ser
adicionados de forma cabeça à cauda para determinar o vetor de campo elétrico
resultante ou líquido em cada local. Os padrões da linha de campo elétrico para
algumas confi gurações de carga são mostrados no diagrama contido na Figura
28.

FIGURA 28 – CAMPOS GERADOS POR DUAS CARGAS ELÉTRICAS IGUAIS

FONTE: Adaptada de <https://s3-us-west-2.amazonaws.com/courses-images-archive-read-only/


wp-content/uploads/sites/222/2016/02/20113019/Figure_19_05_06a.jpg>. Acesso em: 20 dez.
2020.

53
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

Na Figura 29 temos o campo elétrico resultante gerado por duas cargas


elétricas de polaridades opostas (dipolo elétrico).

FIGURA 29 – CAMPO GERADO POR UM DIPOLO ELÉTRICO

FONTE: <https://s5.static.brasilescola.uol.com.br/img/2018/06/campo-eletrico-cargas-diferen-
tes(2).jpg>. Acesso em: 20 dez. 2020.

3.1.2 Linhas de Campos Elétricos como uma Realidade


Invisível

O conceito de campo elétrico surgiu quando os cientistas tentaram
explicar a ação a distância que ocorre entre objetos carregados. O conceito do
campo elétrico foi introduzido pela primeira vez pelo físico Michael Faraday, no
século XIX.

Foi a percepção de Faraday que o padrão de linhas caracterizando o campo


elétrico representa uma realidade invisível. Em vez de pensar em termos de uma
carga afetando outra carga, Faraday usou o conceito de campo para propor que
um objeto carregado (ou um objeto maciço no caso de um campo gravitacional)
afeta o espaço que o cerca.

À medida que outro objeto entra nesse espaço, ele se torna afetado pelo
campo estabelecido naquele espaço. Visto dessa forma, considera-se que uma
carga interage com um campo elétrico em oposição à outra carga. Para Faraday,
o segredo para entender a ação a distância é entender o poder da carga num
campo elétrico. Cada carga, ou configuração de cargas, cria uma intrincada rede
de influência no espaço ao seu redor. Enquanto as linhas são invisíveis, o efeito é
sempre real. Assim, ao praticar o exercício de construir linhas de campo elétricas
em torno de cargas ou configuração de cargas, você está fazendo mais do que
simplesmente desenhar linhas curvilíneas. Você está, na realidade, definindo
com o uma carga elétrica vai ser influenciada naquele meio.

54
TÓPICO 3 — ANÁLISE DE CAMPOS ELÉTRICOS

LEITURA COMPLEMENTAR

ELETRICIDADE ESTÁTICA E SUA AÇÃO EM DISPOSITIVOS


ELETRÔNICOS

Marcos Elias Picão

Quem trabalha no ramo da eletrônica e da computação de baixo nível


sempre ouve recomendações para prevenir a eletricidade estática, descarregá-
la ou utilizar pulseiras e embalagens antiestáticas. Realmente muito se fala a
respeito, mas diversas pessoas ligadas à computação não possuem um conceito
correto desse tipo de eletricidade e o que ela pode causar, por conta disso veremos
alguns pontos importantes em relação ao assunto.

A DESCARGA ELETROSTÁTICA 

Uma pessoa pode carregar consigo, em seu corpo e em suas roupas,
uma pequena quantidade de elétrons a mais, o que por sua vez possibilita uma
corrente muito pequena da ordem de alguns miliamperes, mas em compensação
a diferença de potencial em relação a outros corpos pode ser da ordem de
alguns milhares de volts, para o ser humano isso não passará de um pequeno
choque ao tocar no carro ou em uma maçaneta, mas ao entrar em contato com
um componente eletrônico que funciona com alguns poucos volts e com baixa
corrente poderá ser catastrófico.

O nome desse efeito é chamado em inglês ESD (ElectroStatic Discharge) ou


descarga eletrostática. Imagine que seu corpo está com uma carga de uns 1000
volts, a corrente é muito baixa para que você sinta alguma coisa, mas quando
toca num módulo de memória todo esse potencial será descarregado no módulo,
especificamente no CI que você tocar, pois existirá uma diferença de potencial
entre ambos. Você não perceberá nada, mas o circuito provavelmente será
comprometido. Você só sentirá um pequeno choque com descargas superiores a
3000 volts, mas por muito menos um componente que funciona a 1,5 volts como
processadores, memórias e até mesmo transistores e circuitos integrados sofrerão
graves danos.

55
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

Raios e tempestades
 
Não é possível falarmos de eletricidade estática sem mencionarmos as
maiores demonstrações delas no planeta, os raios. Quando vemos nuvens escuras
carregadas é quase certo que veremos raios, principalmente entre uma nuvem e
outra, mas também ocorrem em direção ao solo tanto de cima para baixo como o
contrário também é possível. Isso ocorre com o mesmo princípio do acúmulo de
eletricidade estática com um corpo qualquer, duas nuvens com uma diferença de
potencial imensa de uma para outra a ponto de conseguir quebrar a resistência do
ar entre ela (ruptura do dielétrico) e os elétrons fluem de uma para outra por meio
de um raio equilibrando o potencial entre ambas. O mesmo ocorre em relação ao
solo, a terra fonte de elétrons pode tanto receber o raio com elétrons como enviar
o raio com os mesmos e neutralizar a nuvem. Esses fenômenos são da ordem de
milhões de volts.

As consequências da ESD

Quando um dispositivo é danificado por uma descarga ESD, diversos
sintomas poderão ocorrer desde um mau funcionamento esporádico até mesmo
a queima do dispositivo, o que determinará será a forma e a intensidade com que
a ESD ocorreu. 

Normalmente os componentes mais afetados num computador são
os módulos de memória. Esses possuem em cada um de seus circuitos vários
milhões de transistores e capacitores que possibilitam o armazenamento dos
dados e a realimentação destes. Cada um desses componentes é microscópico
e alimentado por cerca de 1, 5 volts, uma descarga ESD pode não comprometer
todo o módulo, somente alguns desses componentes internos. Se alguns milhares
forem danificados, a memória ainda será reconhecida e o computador ainda
inicializará, mas as telas azuis e resets aleatórios serão constantes, pois sempre
que um desses componentes danificados precisar ser utilizado, o resultado será
um erro. 

56
TÓPICO 3 — ANÁLISE DE CAMPOS ELÉTRICOS

Outro problema com a eletricidade estática é o seu acúmulo nos aparelhos


eletrônicos, principalmente causado pela falta de aterramento elétrico da rede.
Esse problema é muito comum em computadores ligados em rede, a equiparação
elétrica entre os dispositivos, simplesmente faz com que a rede não funcione ou
apresente mau desempenho. Nesse caso a falta de aterramento faz com que os
gabinetes tanto das CPUs como de switches armazenem carga e por meio dos
cabos e placas de rede estes acabam trocando essa carga entre si até chegarem
ao equilíbrio, o que impossibilita a comunicação de rede que necessita de uma
diferença de potencial para ocorrer. 

Esse problema chega até mesmo impedir que o equipamento ligue,
quando pressionado o botão power da CPU, por exemplo, não existe a diferença
de potencial necessária para que a fonte arme e coloque o equipamento em
funcionamento, pois desde algum componente interno equiparando o potencial
das saídas da fonte ou até mesmo na conexão com a rede elétrica em que o
potencial da máquina pode ser igual ao da tomada de alimentação, apesar de
uma corrente muito menor, potencias iguais em sua entrada impedem a fonte de
armar. 

Isso é confirmado quando se retirando o cabo de força do equipamento e
pressionando novamente o power a máquina liga por alguns instantes com a energia
que estava armazenada em seus capacitores internos que não descarregaram por
conta da eletricidade estática, após isso conecta-se novamente à rede elétrica e
tudo volta ao normal. O mesmo acontece com a placa de rede ethernet quando o
computador liga, mas não se comunica com a rede, ao se desligar o equipamento
da rede elétrica e pressionar o power descarregando-o completamente, ao religá-
lo tudo volta ao normal. Parece balela, mas quem trabalha com suporte sabe do
que se trata.
 
Como evitar problemas com a ESD

Tendo conhecimento acerca do que é e como ocorrem as ESDs e as
consequências no funcionamento dos dispositivos eletrônicos podemos nos
prevenir de problemas causados por ela, nada que técnicos e profissionais da
área com alguma experiência já não saibam, mas é bom salientar:

• Aterramento elétrico: essa deveria ser a prioridade em qualquer instalação


elétrica, mas não é o que vemos em nosso país, a falta dele gera principalmente
pequenos choques e eletricidade estática em equipamentos sensíveis. 
• Ao manusear equipamentos eletrônicos utilizar a pulseira antiestática ou, na
sua falta, de tempos em tempos tocar em alguma parte de um algo metálico (se
não existir aterramento, fora do local onde você está trabalhando, pois senão
você só estará aumentando o diferencial elétrico entre o local e o equipamento
em trabalha).

57
UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA

• Nunca tocar nenhum componente diretamente em seus circuitos, segure pelos


lados da placa ou dispositivo.
• Mantenha as placas em suas embalagens antiestáticas, não utilize sacos
plásticos comuns, pois estes são grandes acumuladores de eletricidade estática
e poderão danificar os componentes por eles guardados.

Finalizando

Para alguém experiente na área de manutenção e suporte a computadores
e eletrônicos esse assunto já é mais que conhecido, assistências técnicas e
profissionais técnicos normalmente levam em consideração todos esses itens,
pois caso contrário o prejuízo seria enorme. 

O problema (se é que pode ser considerado um problema) é que na
maioria das vezes os defeitos causados pelas ESDs não são atribuídos a ela
e sim a defeitos inerentes ao uso ou até mesmo raios (que não deixam de ser
eletricidade estática em proporções colossais) e com isso é deixado de lado toda
essa orientação acerca da ESD porque na concepção de muitos quase não causa
problemas, mas conforme vimos neste artigo ela existe e se não levada a sério
poderá causar muitos danos e funcionamento problemático da infraestrutura
computacional, seja de uma empresa, ou até mesmo no uso doméstico. 

Seguindo essas práticas simples dificilmente você terá algum problema
causado pelas ESDs no manejo e reparo de equipamentos sensíveis como
componentes de computadores e reparos em dispositivos eletrônicos.

FONTE: <https://www.hardware.com.br/artigos/eletricidade-estatica/>. Acesso em: 20 dez.


2020.

58
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O campo elétrico é uma grandeza vetorial que explica as forças de atração ou


repulsão entre objetos carregados eletricamente.

• A representação gráfica de campos elétricos é através de linhas que indicam o


sentido da força aplicada sobre uma carga positiva ali posicionada.

• A quantidade de linhas de um campo elétrico indica sua intensidade.

• Por definição, um campo elétrico é igual à força F exercida sobre uma carga
elétrica q, dividida pelo valor desta carga: E = F/q.

• Com o auxílio da Lei de Coulomb, um campo elétrico criado por uma carga
puntiforme pode ser calculado por: E = KQ/d².

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

59
AUTOATIVIDADE

1 Uma carga elétrica puntiforme Q gera um campo elétrico de valor 40 N/C a


uma distância de 30 cm. Qual será o valor do campo elétrico deste campo a
uma distância de:

a) 60 cm?
b) 3 cm?

2 Considere as linhas de campo elétrico mostradas na figura a seguir. Com


base na figura, é possível afirmar que a carga no objeto A é _____________
e no objeto B é ______________.

REPRESENTAÇÃO DE CAMPO ELÉTRICO

FONTE: <https://www.physicsclassroom.com/Class/estatics/u8l4c11.gif>. Acesso em: 15


mar. 2021.

A alternativa que lista a ordem CORRETA das cargas é:


a) ( ) positiva, positiva.
b) ( ) negativa, negativa.
c) ( ) positiva, negativa.
d) ( ) negativa, positiva.
e) ( ) não é possível determinar.

60
REFERÊNCIAS
ASSIS, A. K. T. The experimental and historical foundations of electricity.
Montreal: Roy Keys Inc., 2010.

JOON. D. Conductor and Insulator. JavaLab, [S. l.], 23 set. 2018. Disponível em:
https://javalab.org/en/electrostatic_induction_metal_bonding_en/. Acesso em: 20
dez. 2020.

LANA, C. R. Átomo: Demócrito, Thomson, Rutherford, Bohr e história do


átomo. UOL Educação, Química, [S. l.], 1º abr. 2014. Disponível em: https://
educacao.uol.com.br/disciplinas/quimica/atomo-a-hrefhttpeducacaouolcombrb
iografiasdemocritojhtmudemocritoua-thomson-rutherford-bohr-e-historia-do-
atomo.htm. Acesso em: 20 dez. 2020.

PICÃO, M. E. Eletricidade estática e sua ação em dispositivos eletrônicos.


Hardware.com.br, [S. l.], 18 mar. 2013. Disponível em: https://www.hardware.
com.br/artigos/eletricidade-estatica/. Acesso em: 20 dez. 2020.

61
62
UNIDADE 2 —

FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender as grandezas Fluxo Magnético, Intensidade de Campo


Magnético e Densidade de Campo Magnético;
• conhecer o conceito de Permeabilidade Magnética dos materiais e sua re-
lação com a Histerese;
• determinar as características de um campo eletromagnético criado por
uma espiral e por uma bobina composta por várias espiras;
• conhecer os princípios das Leis de Indução de Faraday e de Lenz;
• compreender o funcionamento de um sensor de Efeito Hall.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO MAGNETISMO


TÓPICO 2 – A INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA E O EFEITO HALL

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

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TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO MAGNETISMO

1 INTRODUÇÃO

Nesta unidade de ensino, inicialmente, estudaremos as leis básicas que
explicam a origem do Magnetismo tais como a Teoria dos Domínios Magnéticos,
a reação de atração e repulsão entre os polos Norte e Sul de ímãs distintos, o
conceito de Histerese Magnética e da Permeabilidade Magnética dos materiais.

No Tópico 2 será estudada a Lei da Indução de Faraday, um conceito


fundamental do eletromagnetismo, e ainda será vista a Lei de Lenz. Ao final, faz-
se um estudo e análise do Efeito Hall e de sensores que se utilizam deste efeito
para a realização de leituras diversas.

Neste Tópico 1 serão estudados os conceitos do magnetismo e do


eletromagnetismo que fundamentam todo o estudo sobre a conversão
eletromecânica de energia. Inicia-se o estudo pelas leis fundamentais do
eletromagnetismo e, posteriormente, analisam-se algumas aplicações práticas.

2 MAGNETISMO

O magnetismo desempenha um papel importante na Engenharia Elétrica
e Eletrônica, porque sem ele componentes como relés, solenoides, indutores,
bobinas, alto-falantes, motores, geradores, transformadores e medidores de
eletricidade etc., não existiriam.

Então, cada enrolamento de fio (ou bobina) usa o efeito do eletromagnetismo
quando uma corrente elétrica flui através dele. Contudo, antes que possamos
olhar para o Magnetismo e especialmente o Eletromagnetismo com mais detalhes
precisamos revisar alguns conceitos importantes.

2.1 A NATUREZA DO MAGNETISMO



Ímãs podem ser encontrados na natureza na forma de um minério
magnético, denominado magnetita, também chamado de óxido de ferro: FE3O4.

Se este ímã natural for suspenso por um pedaço de corda, ele se alinhará
com o campo magnético da Terra sempre apontando para o norte.

65
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

Um bom exemplo desse efeito é a agulha de uma bússola. Para a maioria


das aplicações práticas, esses ímãs naturais podem ser desconsiderados, pois
seu magnetismo é muito baixo e porque hoje em dia ímãs artificiais feitos pelo
homem podem ser produzidos em muitas formas, tamanhos e forças magnéticas
diferentes.

Existem basicamente duas formas de magnetismo: os ímãs permanentes


e ímãs temporários, com cada tipo sendo usado dependendo de sua aplicação.
Existem muitos tipos diferentes de materiais disponíveis para fazer ímãs, tais
como ferro, níquel, ligas de níquel, cromo e cobalto e em seu estado natural alguns
desses elementos, sendo que níquel e cobalto mostram quantidades magnéticas
muito pobres por conta própria. No entanto, quando misturados ou "ligados"
juntamente com outros materiais como peróxido de ferro ou alumínio, tornam-
se ímãs muito fortes produzindo nomes incomuns como "alcomax", "hycomax",
"alni" e "alnico".

O material magnético, quando não magnetizado, tem sua estrutura


molecular na forma de ímãs minúsculos individuais livremente dispostos em um
padrão aleatório. O efeito geral desse tipo de arranjo resulta em magnetismo zero
ou muito fraco, pois esse arranjo casual de cada ímã elementar tende a neutralizar
seu vizinho.

Quando o material é magnetizado, esse arranjo aleatório das moléculas


muda e os minúsculos ímãs elementares não alinhados e aleatórios tornam-se
"alinhados" de tal forma que produzem um arranjo magnético em série. Essa
ideia do alinhamento elementar dos materiais ferromagnéticos é conhecida como
Teoria de Weber e é ilustrada na Figura 1:

FIGURA 1 – ALINHAMENTO DOS DOMÍNIOS MAGNÉTICOS EM UMA BARRA DE FERRO SOB


INFLUÊNCIA DE UM CAMPO MAGNÉTICO EXTERNO

FONTE: <http://twixar.me/Z0pm>. Acesso em: 22 mar. 2021.

A teoria de Weber baseia-se no fato de que todos os átomos têm


propriedades magnéticas devido à ação giratória dos seus elétrons. Grupos de
átomos se unem para que seus campos magnéticos estejam todos apontando na
mesma direção.

66
TÓPICO 1 — OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO MAGNETISMO

Os materiais magnéticos são compostos de grupos de pequenos ímãs a um


nível molecular ao redor dos átomos, e um material magnetizado terá a maioria
de seus pequenos ímãs alinhados em uma única direção para produzir um polo
Norte em uma direção e um polo Sul na outra direção.

Da mesma forma, um material que tem seus minúsculos ímãs elementares
apontando em todas as direções terá o efeito magnético neutralizado. Essas
áreas de ímãs elementares são chamadas de "domínios magnéticos" ou apenas
domínios.

Qualquer material magnético produzirá um campo magnético em si
que dependa do grau de alinhamento dos domínios magnéticos no material
determinado pelas características de movimentação dos elétrons. Esse grau
de alinhamento pode ser especificado por uma quantidade conhecida como
magnetização, M.

Em um material não magnetizado tem-se que M = 0, mas alguns dos
domínios permanecem alinhados sobre pequenas regiões do material uma
vez que o campo magnético é removido. O efeito da aplicação de uma força
magnetizante ao material é alinhar alguns dos domínios para produzir um valor
de magnetização diferente de zero.

Uma vez que a força magnetizante tenha sido removida, o magnetismo
dentro do material permanecerá ou se deteriorará rapidamente, dependendo do
tipo de material magnético que está sendo usado. Essa habilidade de um material
para reter seu magnetismo é chamada de retentividade.

Materiais necessários para reter seu magnetismo terão uma retenção
bastante alta e, como tal, são usados para fazer ímãs permanentes, enquanto
materiais necessários para perder seu magnetismo rapidamente, como núcleos
de ferro macio para relés e solenoides terão uma retentividade muito baixa.

2.2 FLUXO MAGNÉTICO



Todos os ímãs, não importa sua forma, têm duas regiões chamadas polos
magnéticos com o magnetismo dentro e ao redor de um circuito magnético
produzindo uma cadeia definitiva de padrão organizado e equilibrado de linhas
invisíveis de fluxo ao seu redor. Essas linhas de fluxo são coletivamente referidas
como o "campo magnético" do ímã. A forma desse campo magnético é mais
intensa em algumas partes do que outras com a área do ímã que tem o maior
magnetismo sendo chamado de "polos".

Em cada extremidade de um ímã há um polo. Essas linhas de fluxo


(chamadas de campo vetorial) não podem ser vistas a olho nu, mas podem
ser verificadas visualmente usando limalha de ferro (pequenos fragmentos
de ferro que podem ser obtidos limando algum objeto de ferro com uma lima

67
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

para metais) polvilhadas em uma folha de papel ou usando uma pequena bússola
para rastreá-las. Polos magnéticos estão sempre presentes em pares, há sempre
uma região do ímã chamada polo Norte e há sempre uma região oposta chamada
polo Sul.

Os campos magnéticos são sempre mostrados visualmente como linhas


de força que resultam em polos em cada extremidade do material no qual as
linhas de fluxo são mais densas e concentradas. As linhas que vão compor um
campo magnético, mostrando a direção e intensidade, são chamadas linhas de
força ou mais comumente "Fluxo Magnético" e recebem o símbolo grego, Phi (Φ)
como mostrado na Figura 2:

FIGURA 2 – LINHAS DE FORÇA DE UM CAMPO MAGNÉTICO NUM ÍMÃ DE BARRA

FONTE: <http://twixar.me/h0pm>. Acesso em: 2 jan. 2021.

Como apresentado na Figura 2, o campo magnético é mais forte perto dos


polos do ímã se as linhas de fluxo são mais estreitas. A direção geral para o fluxo
de fluxo magnético é do polo Norte (N) para o Sul (S). Além disso, essas linhas
magnéticas formam laços fechados que saem no polo norte do ímã e entram no
polo sul. Polos magnéticos estão sempre em pares.

No entanto, o fluxo magnético não flui do norte para o polo sul ou para
qualquer outro lugar, pois o fluxo magnético é uma região estática em torno de
um ímã no qual a força magnética existe. Em outras palavras, o fluxo magnético
não flui ou se move, está apenas lá e não é influenciado pela gravidade. Alguns
fatos importantes emergem ao traçar linhas de força:

• linhas de força nunca cruzam;


• as linhas de força são contínuas;
• linhas de força sempre formam loops fechados individuais ao redor do ímã;
• linhas de força têm uma direção definitiva de Norte a Sul;
• linhas de força próximas indicam um campo magnético forte;
• linhas de força mais distantes indicam um campo magnético fraco.

68
TÓPICO 1 — OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO MAGNETISMO

Forças magnéticas atraem e repelem de forma similar às forças elétricas


e quando duas linhas de força são unidas, a interação entre os dois campos
magnéticos faz com que, uma das duas coisas, ocorra:

• quando os polos adjacentes são os mesmos, (norte-norte ou sul-sul) eles


repelem um ao outro; ou
• quando os polos adjacentes não são os mesmos, (norte-sul ou sul-norte) eles
atraem um ao outro.

Esse efeito é facilmente lembrado pela famosa expressão que "os opostos se
atraem" e essa interação dos campos magnéticos pode ser facilmente demonstrada
usando barras de ferro para mostrar as linhas de força em torno de um ímã. O
efeito sobre os campos magnéticos para várias combinações de polos, como os
polos repelem ou se atraem, pode ser visto na Figura 3:

FIGURA 3 – INTERAÇÃO ENTRE OS POLOS NORTE E SUL DE DOIS ÍMÃS

FONTE: Adaptada de <https://image.freepik.com/vetores-gratis/ciencia-fisica-sobre-o-movimen-


to-de-campos-magneticos_68708-270.jpg>. Acesso em: 2 jan. 2021.

Ao traçar linhas de campo magnético com uma bússola, será visto que
as linhas de força são produzidas de forma a dar um polo definido em cada
extremidade do ímã no qual as linhas de força deixam o polo norte e reentram no
polo sul.

O magnetismo pode ser destruído aquecendo ou martelando o material


magnético, mas não pode ser destruído ou isolado simplesmente quebrando o
ímã em dois pedaços. Então, se você pegar um ímã de barra e quebrá-lo em dois
pedaços, você não tem duas metades de um ímã, mas em vez disso cada peça
quebrada terá de alguma forma seu próprio polo norte e um polo sul. Se você
pegar uma dessas peças e quebrá-la em duas novamente, cada um dos pedaços
menores terá um polo norte e um polo sul e assim por diante. Não importa o quão
pequenos os pedaços do ímã se tornem, cada peça ainda terá um polo norte e um
polo sul, louco!

Então, para que façamos uso do magnetismo em cálculos elétricos ou


eletrônicos, é necessário definir quais são as várias grandezas do magnetismo.

69
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

2.3 A MAGNITUDE DO MAGNETISMO



Sabemos, agora, que as linhas de força, ou mais comumente, o fluxo
magnético em torno de um material magnético é dado o símbolo grego Phi, (Φ)
com a unidade de fluxo sendo o Weber, (Wb) em homenagem a Wilhelm Eduard
Weber, mas o número de linhas de força dentro de uma determinada área unitária
é chamado de "Densidade de Fluxo" e uma vez que o fluxo (Φ) é medido em (Wb)
e área (A) em metros quadrados, (m2), a densidade de fluxo é, portanto, medida
em Webers/Metros2 (Wb/m2) e é dado o símbolo B.

No entanto, ao se referir à densidade de fluxo no magnetismo, a densidade
de fluxo é dada em unidade de Tesla, em homenagem a Nikola Tesla, portanto, um
Wb/m2 é igual a um Tesla (1 Wb/m2 = 1 T). A densidade do fluxo é proporcional
às linhas de força e inversamente proporcional à área, de forma que podemos
definir a Densidade de Fluxo como:

É importante lembrar que todos os cálculos para densidade de fluxo


são feitos nas mesmas unidades, por exemplo, fluxo em webers, área em m2 e
densidade de fluxo em Teslas.

Exemplo 1:
A quantidade de fluxo presente em uma barra de material magnético redonda
foi medida em 0,013 webers. Se o material tiver um diâmetro de 12 cm, calcule
a densidade do fluxo.

A área transversal do material magnético em m² é dada como:


Diâmetro = 12 cm → Raio = 6 cm
Área = π.R² = 3,141 × 0,06² = 0,0113 m²

O fluxo magnético é dado como 0,013 webers, portanto a densidade de fluxo


pode ser calculada como: B = ϕ/A = 0,013/0,0113 = 1,15 T

Assim, a densidade de fluxo é calculada como 1,15 Teslas.



Ao lidar com o magnetismo em circuitos elétricos deve-se lembrar de que
um Tesla é a densidade de um campo magnético de tal forma que um condutor
carregando 1 ampere em ângulo reto para o campo magnético experimenta uma
força de um newton-metros sobre ele e isso será demonstrado mais adiante.

70
TÓPICO 1 — OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO MAGNETISMO

3 ELETROMAGNETISMO

Enquanto ímãs permanentes podem produzir um campo magnético
estático de intensidade moderada, em algumas aplicações a força desse campo
magnético ainda é muito fraca ou precisamos ser capazes de controlar a quantidade
de fluxo magnético presente. Então, para produzir um campo magnético muito
mais forte e controlável, precisamos usar eletricidade.

Usando bobinas enroladas em torno de um material ferromagnético
macio como um núcleo de ferro, podemos produzir eletroímãs muito fortes para
uso em muitos tipos diferentes de aplicações elétricas. Esse uso de bobinas de fio
produz uma relação entre eletricidade e magnetismo que nos dá outra forma de
magnetismo chamada Eletromagnetismo.

DICAS

“Damos o nome de materiais ferromagnéticos moles aos materiais que se


magnetizam com mais facilidade, apresentando magnetização residual baixa” (MATERIAIS
[...], 2020, s. p.).

O eletromagnetismo é produzido quando uma corrente elétrica flui através


de um condutor simples, como um comprimento de fio ou cabo, e à medida que a
corrente passa ao longo de todo o condutor, então um campo magnético é criado
ao longo de todo o condutor.

O pequeno campo magnético criado ao redor do condutor tem uma


direção definida com os polos "norte" e "sul" produzidos, sendo determinados
pela direção da corrente elétrica que flui através do condutor.

Portanto, é necessário estabelecer uma relação entre a corrente que flui
através do condutor e o campo magnético resultante produzido ao seu redor
por esse fluxo de corrente, permitindo-nos definir a relação que existe entre
eletricidade e magnetismo na forma de Eletromagnetismo.

Estabelecemos que quando uma corrente elétrica flui através de um
condutor um campo eletromagnético circular é produzido ao seu redor com as
linhas magnéticas de fluxo formando laços completos que não atravessam todo o
comprimento do condutor.

71
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

A direção de rotação desse campo magnético é regida pela direção da


corrente que flui através do condutor com o campo magnético correspondente
produzido sendo mais forte perto do centro do condutor de transporte atual.
Isso ocorre porque o comprimento do caminho dos loops é maior quanto mais
longe do condutor, resultando em linhas de fluxo mais fracas, como mostrado na
Figura 4:

FIGURA 4 – CAMPO MAGNÉTICO CRIADO POR UM CONDUTOR RETILÍNEO PERCORRIDO


POR CORRENTE

FONTE: Adaptada de: <https://bam.files.bbci.co.uk/bam/live/content/z9ydxnb/large>. Acesso


em: 2 jan. 2021.

A Regra da Mão Direita especifica que, se o polegar apontar na direção


do fluxo de corrente, os demais dedos indicam o sentido do campo magnético
criado. Essa regra é válida para campos magnéticos criados por correntes em
condutores retilíneos e pode ser verificada na Figura 5:

FIGURA 5 – DEMONSTRAÇÃO DA REGRA DA MÃO DIREITA PARA UM CAMPO MAGNÉTICO


CRIADO POR UM FIO CONDUZINDO CORRENTE

FONTE: Adaptada de: <https://s3-us-west-2.amazonaws.com/courses-images-archive-read-on-


ly/wp-content/uploads/sites/222/2014/12/20110611/Figure_23_09_01a.jpg>. Acesso em: 2 jan.
2021.

72
TÓPICO 1 — OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO MAGNETISMO

Na Figura 5 em (a) são mostradas as linhas de força do campo magnético


criado pela corrente I no fio condutor. Em (b) é demonstrada a regra da mão
direita que permite relacionar o sentido da corrente com o sentido do campo
magnético criado.

Agora, analise as Figuras 6 e 7, as quais demonstram o campo magnético


criado por uma espira circular percorrida por uma corrente. Observe que a regra
da mão direita também se aplica a essa situação.

FIGURA 6 – CAMPO MAGNÉTICO CRIADO POR UMA ESPIRA CIRCULAR PERCORRIDA POR
CORRENTE

FONTE: <https://sites.google.com/site/umcursodefisica/_/rsrc/1495724787141/eletromagne-
tismo/campo-magnetico-gerado-por-uma-espira/esoira%202.png?height=200&width=320>.
Acesso em: 2 jan. 2021.

FIGURA 7 – LINHAS DE FORÇA DO CAMPO MAGNÉTICO AO REDOR DO CONDUTOR DA


ESPIRA

FONTE: O autor

73
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

As correntes que fluem através dos dois condutores paralelos na espira


estão em direções opostas à medida que a corrente através do laço sai do lado
esquerdo e retorna do lado direito. Isso resulta no campo magnético em torno de
cada condutor dentro da espira sendo na mesma direção um para o outro.

As linhas de força resultantes geradas pela corrente que flui através do
laço se opõem uma à outra no espaço entre os dois condutores nos quais os dois
polos semelhantes se encontram, deformando assim as linhas de força ao redor
de cada condutor, como mostrado na Figura 7.

No entanto, a distorção do fluxo magnético entre os dois condutores
resulta em uma intensidade do campo magnético, na junção média, se as linhas
de força se aproximarem. A interação resultante entre os dois campos produz
uma força mecânica entre os dois condutores enquanto tentam se repelir um
do outro. Em uma máquina elétrica essa repulsão dos dois campos magnéticos
produz movimento.

No entanto, como os condutores não podem se mover, os dois campos


magnéticos ajudam um ao outro, gerando um polo norte e um polo Sul ao longo
dessa linha de interação. Isso faz com que o campo magnético seja mais forte no
meio entre os dois condutores. A intensidade do campo magnético ao redor do
condutor é proporcional à distância do condutor e pela quantidade de corrente
que flui através dele.

O campo magnético gerado em torno de um fio retilíneo que transporta
corrente é muito fraco, mesmo com uma alta corrente passando por ele.
No entanto, se várias alças do fio forem enroladas ao longo do mesmo eixo
produzindo uma bobina de fio, o campo magnético resultante se tornará ainda
mais concentrado e mais forte do que o de apenas um único laço. Isso produz
uma bobina eletromagnética mais comumente chamada de Solenoide.

Então, cada comprimento de fio tem o efeito do eletromagnetismo em
torno de si mesmo quando uma corrente elétrica flui através dele. A direção do
campo magnético sendo dependente da direção do fluxo de corrente. Podemos
aumentar a força do campo magnético gerado formando o comprimento do fio
em uma bobina, e vamos olhar para esse efeito com mais detalhes no próximo
tutorial.

4 O ELETROÍMÃ

Sabemos, agora, pelos tutoriais anteriores que um condutor de corrente
retilíneo produz um campo magnético circular em torno de si mesmo em todos
os pontos ao longo de seu comprimento, e que a direção de rotação desse campo
magnético depende da direção do fluxo de corrente através do condutor, a Regra
da Mão Direita.

74
TÓPICO 1 — OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO MAGNETISMO

No último exemplo sobre eletromagnetismo, vimos que se dobrarmos o


condutor em uma única espira a corrente fluirá em direções opostas através da
curva produzindo um campo no sentido horário e um campo no sentido anti-
horário ao lado um do outro. O Eletroímã usa este princípio por ter várias espiras
individuais magneticamente unidas para constituir uma única bobina.

Eletroímãs são basicamente bobinas de fio que se comportam como ímãs
de barra com um polo norte e sul distinto quando uma corrente elétrica circula.
O campo magnético estático produzido por cada laço de bobina individual é
somado com seu vizinho com o campo magnético combinado concentrado como
o único laço de fio que vimos no centro da bobina. O campo magnético estático
resultante, com um polo Norte em uma extremidade e um polo sul na outra, é
uniforme e muito mais forte no centro da bobina do que ao redor do exterior,
conforme mostrado na Figura 8:

FIGURA 8 – LINHAS DE FORÇA NUM ELETROÍMÃ

FONTE: <https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2009/08/1-9c7dc616c2.jpg>. Aces-


so em: 2 jan. 2021.

O campo magnético que esse eletroímã produz é estendido em uma forma


de ímã de barra criando um polo norte e um sul com o fluxo sendo proporcional
à quantidade de corrente que flui na bobina. Se camadas adicionais de fio forem
inseridas na mesma bobina com a mesma corrente fluindo, a força do campo
magnético será aumentada.

Pode-se ver a partir disso, portanto, que a quantidade de fluxo disponível
em qualquer circuito magnético é diretamente proporcional à corrente que flui
através dele e ao número de voltas de fio dentro da bobina. Essa relação se chama
Força Magnetomotriz (FMM) e é definida como:

FMM = N × I [ampère-espira], [Ae]

A Força Magnetomotriz é expressa como uma corrente, I fluindo através


de uma bobina de N espiras. A força do campo magnético de um eletroímã é,
portanto, determinada pelos amperes-espira da bobina, sendo que mais voltas de
fio na bobina implica em maior força do campo magnético.

75
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

4.1 A FORÇA MAGNÉTICA DO ELETROÍMÃ


Agora sabemos que, se dois condutores adjacentes estão carregando
corrente, campos magnéticos são criados de acordo com a direção do fluxo de
corrente. A interação resultante dos dois campos é tal que uma força mecânica é
experimentada pelos dois condutores.

Quando a corrente está fluindo na mesma direção (o mesmo lado da


bobina) o campo entre os dois condutores é fraco causando uma força de atração
como mostrado anteriormente. Da mesma forma, quando a corrente está fluindo
em direções opostas, o campo entre eles se intensifica e os condutores são
repelidos.

A intensidade desse campo ao redor do condutor é proporcional à


distância dele, com o ponto mais forte ao lado do condutor e progressivamente
ficando mais fraco mais longe do condutor. No caso de um único condutor reto,
a corrente circulante e a distância dele são fatores que regem a intensidade do
campo.

A fórmula, portanto, para calcular a "Força do Campo Magnético" H às


vezes chamada de "Força Magnetizante" de um condutor que, percorrido por
uma corrente é proporcional a esta corrente a distância dela.

FIGURA 9 – FORÇA DO CAMPO MAGNÉTICO CRIADO POR UMA CORRENTE

FONTE: O autor

Para uma bobina de fio o campo H pode ser calculado por:

76
TÓPICO 1 — OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO MAGNETISMO

Já para um fio retilíneo o campo H é definido por:

Em que:

• H – é a força do campo magnético em ampere/metro, A/m.


• N – é o número de espiras da bobina.
• I – é a corrente que flui através da bobina em amperes, A.
• L – é o comprimento da bobina em metros, m.

Em seguida, resumindo, a força ou intensidade de um campo magnético


das bobinas depende dos seguintes fatores:

• O número de voltas de arame dentro da bobina.


• A quantidade de corrente fluindo na bobina.
• O tipo de material central.

A força do campo magnético do eletroímã também depende do tipo


de material central que está sendo usado, posto que o principal objetivo desse
núcleo é concentrar o fluxo magnético em um caminho bem definido e previsível.
Até agora, apenas bobinas de núcleo de ar (ocas) foram consideradas, mas a
introdução de outros materiais no núcleo (o centro da bobina) tem um efeito
controlador muito grande na força do campo magnético.

FIGURA 10 – ELETROÍMÃ CONSTRUÍDO COM UM PREGO E UMA PILHA

FONTE: Adaptada de <https://s2.static.brasilescola.uol.com.br/img/2014/04/montagem%20


do%20eletro%C3%ADm%C3%A3.jpg>. Acesso em: 2 jan. 2021.

Se o material não é magnético, por exemplo, madeira, para fins de cálculo


pode ser considerado como espaço livre, pois eles têm valores muito baixos de
permeabilidade. Se, no entanto, o material central for feito de um material
ferromagnético como ferro, níquel, cobalto ou qualquer mistura de suas ligas, uma
diferença considerável na densidade de fluxo ao redor da bobina será observada.
77
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

Materiais ferromagnéticos são aqueles que podem ser magnetizados


e geralmente são feitos de ferro magneticamente mole, aço ou várias ligas de
níquel. A introdução desse tipo de material em um circuito magnético tem o
efeito de concentrar o fluxo magnético tornando-o mais denso e aumenta o campo
magnético criado pela corrente na bobina.

Podemos provar isso, enrolando uma bobina de fio em torno de uma grande
barra de ferro mole e conectando-a a uma bateria como mostrado anteriormente.
Esse simples experimento em sala nos permite pegar uma grande quantidade de
clipes ou pinos e podemos tornar o eletroímã mais forte adicionando mais voltas
à bobina. Esse grau de intensidade do campo magnético, seja por um núcleo
de ar oco ou introduzindo materiais ferromagnéticos no núcleo é chamado de
Permeabilidade Magnética.

4.2 PERMEABILIDADE DOS ELETROÍMÃS



Se núcleos de diferentes materiais com as mesmas dimensões físicas forem
usados no eletroímã, a resistência do ímã variará em relação ao material central
que está sendo utilizado. Esta variação na força magnética deve-se ao número de
linhas de fluxo que passam pelo núcleo central.

Se o material magnético tem uma alta permeabilidade, então as linhas de


fluxo podem ser facilmente criadas e passar pelo núcleo central e permeabilidade
(μ) e é uma medida da facilidade pela qual o núcleo pode ser magnetizado.

A constante numérica dada para a permeabilidade de um vácuo é dada
como: μo = 4π × 10-7 H/m com a permeabilidade relativa do espaço livre (um
vácuo) geralmente dado um valor de 1, o qual é usado como referência em todos
os cálculos que lidam com permeabilidade e todos os materiais têm seus próprios
valores específicos de permeabilidade.

O problema em usar apenas a permeabilidade de diferentes núcleos de
ferro, aço ou liga é que os cálculos envolvidos podem se tornar muito grandes,
por isso é mais conveniente definir os materiais por sua permeabilidade relativa.

Permeabilidade Relativa, símbolo μr é o produto de μ (permeabilidade


absoluta) e μ0 a permeabilidade do espaço livre e é definida como:

Materiais que têm uma permeabilidade ligeiramente menor que a do


espaço livre (vácuo), e têm uma suscetibilidade fraca e negativa aos campos
magnéticos são considerados diamagnéticos na natureza como: água, cobre,
prata e ouro.

78
TÓPICO 1 — OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO MAGNETISMO

Aqueles materiais com uma permeabilidade ligeiramente maior do que


o do espaço livre e eles mesmos são apenas ligeiramente atraídos por um campo
magnético são considerados paramagnéticos na natureza como: gases, magnésio
e tântalo.

DICAS

Relembre as propriedades dos diferentes materiais magnéticos lendo o texto


Propriedades magnéticas dos materiais. Na íntegra em: https://mundoeducacao.uol.com.
br/fisica/propriedades-magneticas-dos-materiais.htm.

Exemplo 2:
A permeabilidade absoluta de um núcleo de ferro mole é dada como 90 mH/m.
Calcule o valor de permeabilidade relativa equivalente.

Quando os materiais ferromagnéticos são usados no núcleo, o uso da


permeabilidade relativa, para definir a força do campo, dá uma melhor ideia da
força do campo magnético para os diferentes tipos de materiais utilizados. Por
exemplo, o vácuo e o ar têm uma permeabilidade relativa de 1 e para um núcleo
de ferro é em torno de 500, então podemos dizer que a força do campo de um
núcleo de ferro é 500 vezes mais forte do que uma bobina de ar equivalente e essa
relação é muito mais fácil de entender do que 0,628×10-3 H/m, (500×4π×10-7).

Enquanto, o ar pode ter uma permeabilidade de apenas 1, alguns materiais


como o ferrite e o permalloy podem ter uma permeabilidade de 10.000 ou mais.
No entanto, há limites para a quantidade de força de campo magnético que pode
ser obtida a partir de uma única bobina ao passo que o núcleo se torna fortemente
saturado à medida que o fluxo magnético aumenta e isso será visto adiante, sobre
curvas B-H e Histerese.

5 HISTERESE

Sabemos que o fluxo magnético gerado por uma bobina é a quantidade
de campo magnético ou linhas de força produzidas dentro de uma determinada
área – mais comumente chamada de "Densidade de Fluxo" –, representado por B
e sua unidade sendo o Tesla, T.

79
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

Também sabemos que a força magnética de um eletroímã depende do


número de voltas da bobina, da corrente que flui através da bobina e do tipo de
material central que está sendo usado, e se aumentarmos a corrente ou o número
de curvas podemos aumentar a força do campo magnético, símbolo H.

Anteriormente, a permeabilidade relativa, símbolo μr foi definida como
a razão da permeabilidade absoluta μ e a permeabilidade do espaço livre μo
(um vácuo) e isso foi dado como uma constante. No entanto, a relação entre a
densidade do fluxo, B e a força do campo magnético, H pode ser definida pelo
fato de que a permeabilidade relativa, μr não é uma constante, mas uma função
da intensidade do campo magnético, dando assim densidade de fluxo magnético
como: B = μ H.

Então, a densidade de fluxo magnético no material aumenta como
resultado de sua permeabilidade relativa (se comparado ao vácuo), sendo esta
relação dada por:

Assim, para materiais ferromagnéticos, a razão entre a densidade de


fluxo (B) e intensidade de campo elétrico (H), ou seja, B/H não é constante, mas
varia com a densidade do fluxo. No entanto, para bobinas com núcleo de ar ou
qualquer outro material não magnético, como madeira ou plásticos, essa razão
pode ser considerada como constante e essa constante é conhecida como μo, a
permeabilidade do espaço livre, (μo = 4π×10-7 H/m).

Ao traçar valores de densidade de fluxo, (B) em relação à intensidade
de campo, (H) podemos produzir um conjunto de curvas chamadas Curvas de
Magnetização, Curvas de Histerese Magnética ou, mais comumente, Curvas B-H
para cada tipo de material central usado como mostrado na Figura 11:

80
TÓPICO 1 — OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO MAGNETISMO

FIGURA 11 – CURVAS DE MAGNETIZAÇÃO DE ALGUNS MATERIAIS

FONTE: <https://s3.amazonaws.com/files-s3.iesde.com.br/resolucaoq/ques-
tao/2018_03_05_5a9d28decf0b8.png>. Acesso em: 2 jan. 2021.

O conjunto de curvas de magnetização, na Figura 11, representa um


exemplo da relação entre B e H para núcleos de ferro mole e aço, mas cada tipo de
material terá seu próprio conjunto de curvas de histerese magnética. Você pode
notar que a densidade de fluxo aumenta proporcionalmente à força do campo até
atingir um certo valor, se não puder aumentar mais, se tornando quase nivelado
e constante à medida que a força do campo continua a aumentar.

Isso ocorre porque há um limite para a quantidade de densidade de
fluxo que pode ser gerada pelo núcleo, pois todos os domínios do ferro estão
perfeitamente alinhados. Qualquer aumento adicional não terá efeito sobre o
valor de M, e o ponto no gráfico onde a densidade de fluxo atinge seu limite é
chamado de Saturação Magnética também conhecida como Saturação do Núcleo.
Na Figura 11, podemos verificar que o ponto de saturação para o Aço Silício (AS)
está em torno de 1500 Ae/m.

A saturação ocorre porque, como vimos anteriormente, o arranjo aleatório
da estrutura molecular dentro do núcleo muda à medida que os pequenos ímãs
elementares dentro do material se tornam "alinhados".

À medida que a força do campo magnético (H) aumenta, esses ímãs
elementares se tornam cada vez mais alinhados até atingirem o alinhamento
perfeito, produzindo densidade máxima de fluxo e qualquer aumento na força
do campo magnético, devido a um aumento da corrente elétrica que flui através
da bobina, terá pouco ou nenhum efeito.

81
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

5.1 RETENTIVIDADE

Vamos supor que temos uma bobina eletromagnética com grande força
de campo devido à corrente que flui através dela, e que o material do núcleo
ferromagnético atingiu seu ponto de saturação, densidade máxima de fluxo. Se
agora abrirmos um interruptor e removermos a corrente magnetizante que flui
através da bobina, esperaríamos que o campo magnético ao redor da bobina
desaparecesse à medida que o fluxo magnético fosse reduzido a zero.

No entanto, o fluxo magnético não desaparece completamente, pois o
material do núcleo eletromagnético ainda retém parte de seu magnetismo mesmo
quando a corrente parou de fluir na bobina. Essa habilidade de uma bobina para
reter parte de seu magnetismo dentro do núcleo, após o processo de magnetização
ter parado, é chamada de retentividade ou remanência, enquanto a quantidade
de densidade de fluxo ainda remanescente no núcleo é chamada de Magnetismo
Residual (BR).

A razão para isso é que alguns dos pequenos ímãs elementares não
retornam a um padrão completamente aleatório e ainda apontam na direção do
campo de magnetização original dando-lhes uma espécie de "memória". Alguns
materiais ferromagnéticos têm uma alta retenção (são magneticamente duros)
tornando-os excelentes para a produção de ímãs permanentes.

Enquanto outros materiais ferromagnéticos têm baixa retenção
(magneticamente moles) tornando-os ideais para uso em eletroímãs, solenoides
ou relés. Uma maneira de reduzir essa densidade de fluxo residual a zero é
invertendo a direção da corrente que flui através da bobina, tornando assim o
valor de H, a força do campo magnético negativo. Esse efeito é chamado de Força
Coercitiva ou Coercitividade, HC.

Se essa corrente reversa for aumentada ainda mais, a densidade de fluxo
também aumentará na direção inversa até que o núcleo ferromagnético atinja
a saturação novamente, mas na direção inversa de antes. Reduzindo a corrente
magnetizante, mais uma vez a zero produzirei uma quantidade semelhante de
magnetismo residual, mas na direção inversa.

Em seguida, mudando constantemente a direção da corrente magnetizante
através da bobina de uma direção positiva para uma direção negativa, como seria o
caso em uma fonte CA, um laço de Histerese Magnética do núcleo ferromagnético
pode ser produzido.

82
TÓPICO 1 — OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO MAGNETISMO

FIGURA 12 – LAÇO DE HISTERESE

FONTE: <https://static.mundoeducacao.uol.com.br/mundoeducacao/conteudo/laco-histerese.
jpg>. Acesso em: 30 dez. 2020.

O laço de histerese, conforme a Figura 12, mostra graficamente o


comportamento de um núcleo ferromagnético sendo a relação entre B e H não
linear. Começando com um núcleo não magnetizado, tanto B quanto H estarão
em zero, ponto zero na curva de magnetização.

Se a corrente de magnetização I for aumentada positivamente para algum
valor a força do campo magnético H aumenta linearmente com I e a densidade de
fluxo B também aumentará como mostrado pela curva do ponto “0” para o ponto
“a” como ele se dirige para a saturação.

Agora, se a corrente de magnetização na bobina é reduzida a zero, o campo
magnético que circula ao redor do núcleo também reduz para zero. No entanto, o
fluxo magnético das bobinas não chegará a zero devido ao magnetismo residual
presente dentro do núcleo e isso é mostrado na curva do ponto “a” ao ponto “b”.

Para reduzir a densidade de fluxo no ponto “b” a zero, precisamos reverter
a corrente que flui através da bobina. A força magnetizadora que deve ser aplicada
a nulo, a densidade de fluxo residual é chamada de "Força Coercitiva". Essa força
coercitiva inverte o campo magnético reorganizando os ímãs elementares até que
o núcleo se torne não-imaginado no ponto “c”.

Um aumento nessa corrente reversa faz com que o núcleo seja magnetizado
na direção oposta e aumentar ainda mais essa corrente de magnetização fará com
que o núcleo atinja seu ponto de saturação, mas na direção oposta, ponto “d” na
curva.

83
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

Esse ponto é simétrico ao ponto “b”. Se a corrente de magnetização for


reduzida novamente a zero, o magnetismo residual presente no núcleo será igual
ao valor anterior, mas ao contrário no ponto “e”.

Reverter novamente a corrente magnetizadora que flui através da bobina


desta vez em uma direção positiva fará com que o fluxo magnético atinja zero,
ponto “f” na curva e antes de aumentar ainda mais a corrente de magnetização
em uma direção positiva fará com que o núcleo atinja a saturação no ponto “a”.

Assim, a curva B-H segue o caminho de a-b-c-d-e-f-a com a corrente
magnetizante que flui através da bobina alternando entre um valor positivo e um
negativo, como o ciclo de uma tensão CA. Esse caminho é chamado de Ciclo de
Histerese Magnética.

O efeito da histerese magnética mostra que o processo de magnetização
de um núcleo ferromagnético e, portanto, a densidade do fluxo, depende de qual
parte da curva o núcleo ferromagnético é magnetizado, pois isso depende do
histórico de magnetização daquele material, ou seja, há uma memória magnética.
Em seguida, os materiais ferromagnéticos têm memória porque permanecem
magnetizados depois que o campo magnético externo foi removido.

No entanto, materiais ferromagnéticos macios, como ferro ou aço de silício,
têm laços de histerese magnética muito estreitos, resultando em quantidades
muito pequenas de magnetismo residual tornando-os ideais para uso em relés,
solenoides e transformadores, pois podem ser facilmente magnetizados e
desmagnetizados.

Uma vez que uma força coercitiva deve ser aplicada para superar esse
magnetismo residual, o trabalho deve ser feito no fechamento do laço de histerese
com a energia usada sendo dissipada como calor no material magnético. Esse
calor é conhecido como perda de histerese, a quantidade de perda depende do
valor do material de força coercitiva.

Adicionando aditivos ao ferro, como o silício, materiais com uma força
coercitiva muito pequena podem ser feitos porque têm um laço de histerese muito
estreito. Materiais com laços estreitos de histerese são facilmente magnetizados
e desmagnetizados e conhecidos como materiais magnéticos moles ou macios.

84
TÓPICO 1 — OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO MAGNETISMO

FIGURA 13 – LAÇOS DE HISTERESE: (A) MATERIAL MAGNETICAMENTE MACIO, (B) MATERIAL


MAGNETICAMENTE DURO

FONTE: Graça (2012, p. 211)

A histerese magnética resulta na dissipação de energia desperdiçada


na forma de calor com a energia desperdiçada sendo proporcional à área do
laço de histerese magnética. As perdas de histerese sempre serão um problema
nos transformadores em que a corrente está constantemente mudando de
direção e, portanto, os polos magnéticos no núcleo causarão perdas porque eles
constantemente invertem a direção.

Bobinas rotativas em máquinas CC também incorrerão em perdas de
histerese, pois estão intermitentemente alternando entre os polos norte e sul.
Como dito anteriormente, a forma do laço de histerese depende da natureza do
ferro ou aço usado, sendo que, no caso do ferro, o qual é submetido a reversões
maciças de magnetismo, por exemplo, núcleos de transformadores, é importante
que o laço de histerese B-H seja o menor possível.

6 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA

Nesse experimento vamos construir um eletroímã e verificar como a
corrente elétrica e o campo eletromagnético gerado estão interrelacionados
através da Regra da Mão Direita.

Peças e materiais utilizados no experimento:

• bateria de 6 volts;
• bússola (pode ser de agulha ou mesmo eletrônica, incluída em muitos telefones
celulares);
• pequeno ímã permanente;
• fio esmaltado 28 AWG (0,08 mm²);

85
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

• parafuso grande, prego ou barra de aço;


• fita isolante para eletricidade;
• um ímã (pode ser adquirido de um alto falante velho);
• um punhado de limalha de ferro (pode ser esponja de aço tipo “bombril”
picada em pedaços de 1 a 2 cm).

6.1 INSTRUÇÕES GERAIS



O fio esmaltado é um tipo de fio de cobre com isolamento de esmalte
amplamente utilizado na fabricação de transformadores, motores, bobinas e
demais máquinas eletromagnéticas. Seu pequeno tamanho e isolamento muito
fino permitem que muitas curvas sejam enroladas resultando numa bobina
bastante compacta. Esse fio pode ser conseguido facilmente com sucata de
aparelhos elétricos e eletrônicos. A bitola do fio não precisa ser exatamente no
valor indicado, valores aproximados são aceitáveis.

Você precisará de fio esmaltado suficiente para enrolar algumas centenas
de voltas ao redor do parafuso, prego ou outra peça de aço em forma de bastão.

Certifique-se de escolher um parafuso, prego ou haste que seja de material
ferromagnético. O aço inoxidável, por exemplo, não é ferromagnético e não
funcionará para efeitos de uma bobina de eletroímã!

O material ideal para este experimento é o ferro macio, mas qualquer aço
comumente disponível será suficiente.

Na Figura 14, temos o diagrama esquemático mostrando a ligação entre a
bateria e a bobina:

FIGURA 14 – ESQUEMA DE LIGAÇÃO DA BOBINA NA BATERIA

FONTE: <https://www.allaboutcircuits.com/uploads/articles/schematic-diagram-electromagne-
tism.jpg>. Acesso em: 2 jan. 2021.

86
TÓPICO 1 — OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO MAGNETISMO

FIGURA 15 – COMPONENTES DO EXPERIMENTO

FONTE: Adaptada de <https://www.allaboutcircuits.com/uploads/articles/electromagnet-con-


nected-to-a-battery.jpg>. Acesso em: 2 jan. 2021.

6.2 INSTRUÇÕES DE MONTAGEM


Enrole uma única camada de fita isolante ao redor da barra de aço (ou
parafuso, ou correio) para proteger o fio esmaltado da abrasão e, assim, evitar
que o esmalte seja danificado.

Prossiga enrolando várias centenas de voltas de fio em torno da barra de


aço, tornando a bobina o mais uniforme possível. Não há problemas em sobrepor
várias camadas de fio. A única regra que você deve seguir é que todas as curvas
devem ser enroladas ao redor da barra na mesma direção (sem reverter do sentido
horário para o sentido anti-horário!).

Depois de enrolar várias centenas de voltas de fio ao redor da haste, enrole


uma camada ou duas de fita isolante sobre a bobina para manter o fio fixo.

Raspe o isolamento do esmalte das extremidades dos fios da bobina para


conectá-los aos cabos para ligação à bateria. Quando a corrente elétrica passar pela
bobina, produzirá um forte campo magnético: um "polo" em cada extremidade
da haste.

6.3 EXPERIMENTAÇÃO
• Ligue as extremidades da bobina nos terminais da bateria.
• Aproxime a bússola da bobina ligada e verifique o comportamento da agulha.
• Mova a bússola ao redor da bobina e acompanhe o movimento da agulha.
• Aproxime o ímã permanente na bobina ligada e verifique se há o surgimento
de alguma força de atração ou repulsão.
• Coloque a bobina ligada sobre uma folha de papel e espalhe a limalha de
ferro ao redor dela. Verifique se o alinhamento da limalha de ferro está de
acordo com a orientação das linhas de fluxo do campo magnético criado. Você
consegue identificar os polos norte e sul criados pelo eletroímã?

87
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

• Inverta a ligação dos polos da bateria e refaça os passos anteriores. Os polos


norte e sul estão invertidos, em relação à primeira ligação, ou permanecem
iguais?

Você pode notar uma faísca significativa sempre que a bateria for
desconectada da bobina: muito maior do que a faísca produzida se a bateria for
simplesmente curto-circuitada. Essa faísca é o resultado de uma onda de alta
tensão criada sempre que a corrente é subitamente interrompida na bobina.

Esse efeito é conhecido como impulso (ou surto) de tensão e é provocado
pelo efeito indutivo da bobina, sendo capaz de provocar um pequeno, mas
inofensivo, choque elétrico! Para evitar esse choque utilize apenas uma mão por
vez para desconectar a bobina (ou utilize um interruptor).

Por que há a necessidade de uma barra de ferro no interior da bobina? O
eletroímã funcionaria sem ela?

88
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A Teoria de Weber, ou Teoria dos Domínios Magnéticos, estabelece que todos


os materiais contêm, em sua estrutura, pequenos ímãs elementares.

• Os materiais que apresentam magnetismo possuem os ímãs elementares


alinhados, enquanto os materiais que não apresentam magnetismo possuem
seus ímãs elementares todos desalinhados.

• Alguns materiais, ditos ferromagnéticos, alinham seus ímãs elementares na


presença de um campo magnético externo.

• A Teoria dos Domínios Magnéticos também explica o porquê de não haver


monopolos magnéticos.

• Os polos são denominados de norte e sul. Polos iguais se repelem enquanto


polos diferentes se atraem.

• Uma corrente elétrica é capaz de criar um campo eletromagnético.

• A direção do campo elétrico criado por uma corrente elétrica pode ser indicada
pela Regra da Mão Direita.

• O eletroímã é um componente composto por uma bobina de fios isolados


eletricamente percorridos por uma corrente que produzem um campo
magnético similar ao de um ímã permanente.

Histerese é um efeito de atraso e memória magnética apresentado por materiais


ferromagnéticos e estabelece a relação entre o campo indutor H e a densidade
de campo B criada nesse material.

89
AUTOATIVIDADE

1 Explique, de forma resumida, a Teoria de Weber dos domínios magnéticos.

2 Um cilindro metálico maciço de 10 mm de diâmetro apresenta um fluxo


magnético de 7 μWb. Qual é a densidade de fluxo nesse cilindro?

3 Desenhe o padrão do campo magnético produzido pela corrente elétrica


através de um fio reto e através de uma bobina de fio de espiras quadradas,
conforme as figuras a seguir:

FONTE: <https://sub.allaboutcircuits.com/images/quiz/00175x01.png>. Acesso em: 2 jan.


2021.

4 Um ímã permanente é um dispositivo que retém um campo magnético sem


necessidade de uma fonte de energia. Explique a causa do magnetismo
permanente, em suas próprias palavras.

5 Uma válvula solenoide usa o magnetismo de uma bobina de eletroímã para


acionar um mecanismo de válvula:

FONTE: Adaptada de: <https://www.yourelectricalguide.com/wp-content/uploads/2018/12/


solenoid-valve.png>; <https://www.yourelectricalguide.com/wp-content/uploads/2018/12/
solenoid-valve-1.png>. Acesso em: 2 jan. 2021.

90
Essencialmente, esta é uma válvula de água eletricamente controlada do tipo
liga/desliga. No desenvolvimento dessa válvula, porém, os engenheiros de
design descobrem que a força magnética produzida pela bobina eletroímã
não é forte o suficiente para obter atuação confiável da válvula todas as vezes.
O que pode ser alterado nesse projeto da válvula solenoide para produzir
uma maior força de atuação?

6 A figura a seguir apresenta os laços de histerese de dois materiais


denominados “A” e “B”. Pela análise das curvas, qual dos dois materiais é o
mais adequado para ser utilizado como o núcleo de um solenoide?

FONTE: O autor

91
92
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

A INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA E O EFEITO HALL

1 INTRODUÇÃO

Iniciamos este tópico com o estudo da Indução Eletromagnética, a qual
é utilizada em várias aplicações da Engenharia. Serão apresentadas as leis da
indução elaboradas por Faraday e também por Lenz. Ao final, é feita uma análise
do sensor de efeito Hall, que se utiliza do magnetismo para realizar a leitura de
algumas variáveis físicas, tais como: a posição e a velocidade de objetos.

2 INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA

Se um fio for enrolado em uma bobina, o campo magnético será muito
intenso no seu interior e apresentará em cada extremidade um polo, que
dependerá do sentido da corrente elétrica circulante.

FIGURA 16 – CAMPO MAGNÉTICO NUM SOLENOIDE

FONTE: <https://s3-sa-east-1.amazonaws.com/pro-api-homolog/content/apostila/images/Scre-
enshot_2391.jpg>. Acesso em: 2 jan. 2021.

2.1 BOBINAS COM NÚCLEO DE AR OU VAZIAS



O fluxo magnético desenvolvido em torno da bobina é proporcional à
quantidade de corrente que flui nas bobinas enroladas como exposto. Se camadas
adicionais de arame forem inseridas na mesma bobina com a mesma corrente que
flui através delas, a força do campo magnético estático seria aumentada.

93
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

Portanto, a força do campo magnético de uma bobina é determinada pela


grandeza ampere-espira da bobina. Com mais voltas de fio dentro da bobina,
maior a força do campo magnético estático ao seu redor.

Se revertermos essa ideia, desconectando a corrente elétrica da bobina, e
em vez de um núcleo oco colocamos um ímã de barra dentro do núcleo da bobina
do fio. Movendo este ímã de barra "dentro" e "fora" da bobina uma corrente seria
induzida na bobina pelo movimento físico do fluxo magnético dentro dela.

Da mesma forma, se mantivermos o ímã da barra estacionário e movermos
a bobina para frente e para trás dentro do campo magnético uma corrente elétrica
seria induzida na bobina. Então, movendo o fio ou mudando o campo magnético
podemos induzir uma tensão e corrente dentro da bobina e esse processo é
conhecido como Indução Eletromagnética e é o princípio básico de operação de
transformadores, motores e geradores.

A Indução Eletromagnética foi descoberta pela primeira vez na década de
1830 por Michael Faraday (GRAÇA, 2012). Faraday notou que quando ele moveu
um ímã permanente para dentro e para fora de uma bobina ou um único laço de
fio, induziu uma Força Eletromotriz (FEM), em outras palavras, uma tensão, e,
portanto, uma corrente foi produzida.

Então, o que Michael Faraday descobriu foi uma maneira de produzir uma
corrente elétrica em um circuito usando apenas a força de um campo magnético
e não baterias. Isso leva a uma lei muito importante que liga a eletricidade ao
magnetismo, a Lei de Indução Eletromagnética de Faraday. Como isso funciona?

Quando o ímã, mostrado na Figura 17 em (a), é movido em direção à
bobina, o ponteiro ou agulha do Galvanômetro, o qual é basicamente um medidor
de bobina móvel muito sensível, desviará de sua posição central em apenas uma
direção. Quando o ímã para de se mover e é mantido estático no que diz respeito
à bobina, a agulha do galvanômetro retorna a zero, pois não há movimento físico
do campo magnético.

Da mesma forma, quando o ímã é movido para longe da bobina (conforme
Figura 17 em (b)), a agulha do galvanômetro desvia na direção oposta em relação
à primeira indicando uma mudança na polaridade.

Em seguida, movendo o ímã para frente e para trás em direção à bobina,


a agulha do galvanômetro desviará para a esquerda ou para a direita, positiva ou
negativa, em relação ao movimento direcional do ímã.

94
TÓPICO 2 — A INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA E O EFEITO HALL

FIGURA 17 - INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA POR UM ÍMÃ EM MOVIMENTO

FONTE: Adaptada de <https://1ugn2l2m3z2y31d4y73c1m5w-wpengine.netdna-ssl.com/wp-con-


tent/uploads/2020/01/Electromagnetic-Induction-737x225.jpg>. Acesso em: 1º jan. 2021.

Da mesma forma, se o ímã estiver, agora, parado e apenas a bobina for


movida para perto ou para longe do ímã, a agulha do galvanômetro também
desviará em qualquer direção. Em seguida, a ação de mover uma bobina ou laço de
fio através de um campo magnético induz uma tensão na bobina com a magnitude
dessa tensão induzida, sendo proporcional à velocidade do movimento.

Então, podemos ver que quanto mais rápido o movimento do campo


magnético, maior será a FEM induzida ou tensão na bobina, de modo que,
para a lei de Faraday manter-se verdadeira, deve haver "movimento relativo"
ou movimento entre a bobina e o campo magnético e ou o campo magnético, a
bobina ou ambos podem se mover.

DICAS

Veja mais detalhes da Lei da Indução de Faraday, neste vídeo: https://youtu.be/


yuRWx62DV54.

2.2 LEI DE INDUÇÃO DE FARADAY


A partir da descrição supracitada podemos dizer que existe uma relação
entre uma tensão elétrica e um campo magnético variante, sobre o qual a famosa
lei de Michael Faraday de indução eletromagnética afirma: "uma tensão é induzida
em um circuito sempre que existe movimento relativo entre um condutor e um
campo magnético e que a magnitude dessa tensão é proporcional à taxa de
mudança do fluxo".

Em outras palavras, a Indução Eletromagnética é o processo de uso de


campos magnéticos para produzir tensão, e em um circuito fechado, uma corrente.

95
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

Então, quanta tensão (FEM) pode ser induzida na bobina usando apenas
magnetismo? Bem, isso é determinado pelos seguintes fatores diferentes:

• Aumentando o número de giros de fio na bobina: aumentando a quantidade de


condutores individuais cortando através do campo magnético, a quantidade de
FEM induzida será a soma de todos os laços individuais da bobina, portanto,
se houver 20 voltas na bobina haverá 20 vezes mais FEM induzida do que em
um pedaço de fio.
• Aumentar a velocidade do movimento relativo entre a bobina e o ímã: se a
mesma bobina de fio passar pelo mesmo campo magnético, mas sua velocidade
for aumentada, o fio cortará as linhas de fluxo a uma taxa mais rápida,
resultando em FEM induzida.
• Aumentar a força do campo magnético: se a mesma bobina de fio for movida
na mesma velocidade através de um campo magnético mais forte, haverá mais
FEM produzida porque há mais linhas de força a cortar.

Se pudéssemos mover o ímã da Figura 17 a uma velocidade e distância


constantes sem parar, geraríamos uma tensão continuamente induzida que
alternaria entre uma polaridade positiva e uma polaridade negativa produzindo
uma tensão de saída alternada, ou CA, e esse é o princípio básico de como um
gerador elétrico funciona.

Em pequenos geradores, como um dínamo de bicicleta, um pequeno


ímã permanente é girado pela ação da roda da bicicleta dentro de uma bobina
fixa. Alternativamente, um eletroímã alimentado por uma tensão CC fixa pode
ser feito para girar dentro de uma bobina fixa, como em grandes geradores de
energia produzindo em ambos os casos uma corrente alternada.

FIGURA 18 – GERADOR SIMPLES QUE USA A INDUÇÃO MAGNÉTICA

FONTE: Adaptada de <https://i.imgur.com/IB2YMAK.jpg>. Acesso em: 1º jan. 2021.

96
TÓPICO 2 — A INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA E O EFEITO HALL

O simples gerador tipo dínamo, como na Figura 17, consiste em um ímã


permanente que gira em torno de um eixo central com uma bobina de fio colocada
ao lado desse campo magnético rotativo. À medida que o ímã gira, o campo
magnético sobre a bobina se alterna entre norte e sul (variação no campo). Esse
movimento rotacional do campo magnético resulta em um FEM alternada sendo
induzida na bobina como definido pela lei de Faraday de indução eletromagnética.

A magnitude da indução eletromagnética é diretamente proporcional à
densidade do fluxo B, ao número de voltas, ao comprimento total do condutor l
em metros e a taxa ou velocidade, em que o campo magnético muda dentro do
condutor em metros/segundo ou m/s, dando pela expressão da FEM induzida
por movimento:

E = - B.l.v [volts]

Em que:

• E: tensão resultante da FEM induzida;


• B: densidade do campo magnético;
• v: velocidade do movimento relativo entre o campo magnético e a bobina.

Se o condutor não se mover em ângulos retos (90°) para o campo magnético,


o ângulo φ° será adicionado à expressão supracitada, resultando numa saída
reduzida à medida que o ângulo aumenta:

E = - B.l.v.sen(φ) [volts]

2.3 LEI DE INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA DE LENZ



A Lei de Faraday nos diz que induzir uma tensão em um condutor pode
ser feito passando-o por um campo magnético, ou movendo o campo magnético
através do condutor e que, se este condutor faz parte de um circuito fechado,
uma corrente elétrica fluirá. Essa tensão é chamada de FEM induzida, pois foi
induzida ao condutor por um campo magnético em mudança devido à indução
eletromagnética com o sinal negativo na lei de Faraday nos dizendo a direção da
corrente induzida (ou polaridade do FEM induzido).

Contudo, uma mudança de fluxo magnético produz uma corrente variada
através da bobina que produzirá seu próprio campo magnético. Essa FEM
autoinduzida se opõe à mudança que a está causando e quanto mais rápido a
taxa de mudança da corrente maior é essa FEM oposta. Essa FEM autoinduzida
vai, pela lei de Lenz, opor-se à mudança de corrente na bobina e, por causa de sua
direção, esta FEM autoinduzida é geralmente chamada Força Contraeletromotriz
Induzida. A Lei de Lenz afirma que: "a direção de uma FEM induzida é tal que
sempre se oporá à mudança que a está causando". Em outras palavras, uma

97
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

corrente induzida sempre se oporá ao movimento ou à mudança que iniciou


a corrente induzida em primeiro lugar e essa ideia é encontrada na análise da
Indutância.

Da mesma forma, se o fluxo magnético for diminuído, então a FEM
induzida se oporá a essa diminuição gerando e induzido fluxo magnético que
adiciona ao fluxo original.

A Lei de Lenz é uma das leis básicas da indução eletromagnética para
determinar a direção do fluxo de correntes induzidas e está relacionada à lei de
conservação da energia.

De acordo com a lei de conservação da energia que afirma que a quantidade
total de energia no universo permanecerá sempre constante, pois a energia não
pode ser criada nem destruída. A lei de Lenz é derivada da lei de indução de
Michael Faraday.

Um último comentário da Lei de Lenz sobre indução eletromagnética.
Sabemos agora que quando existe um movimento relativo entre um condutor e
um campo magnético, uma FEM é induzida dentro do condutor.

Esse condutor pode não fazer parte, necessariamente, do circuito elétrico
das bobinas, mas pode ser o núcleo de ferro das bobinas ou alguma outra parte
metálica do sistema, por exemplo, um transformador. A FEM induzido dentro
dessa parte metálica do sistema faz com que uma corrente circulante flua ao seu
redor e esse tipo de corrente que aparece no núcleo é conhecida como Correntes
Parasitas ou Correntes de Foucault.

As correntes parasitas geradas por indução eletromagnética circulam no
núcleo das bobinas ou quaisquer componentes metálicos de conexão dentro do
campo magnético, porque para o fluxo magnético eles estão agindo como um
único laço de fio. As correntes parasitas não contribuem em nada para a utilidade
do sistema, mas se opõem ao fluxo da corrente induzida agindo como uma força
negativa gerando aquecimento resistivo e perda de energia dentro do núcleo. No
entanto, existem aplicações de forno de indução eletromagnética em que apenas
correntes parasitas são usadas para aquecer e derreter metais ferromagnéticos.

98
TÓPICO 2 — A INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA E O EFEITO HALL

FIGURA 19 – CORRENTES DE FOULCAULT NUM NÚCLEO FERROMAGNÉTICO

FONTE: Adaptada de <https://www.scielo.br/img/revistas/rbef/v36n2/11f03.jpg>. Acesso em: 2


jan. 2021.

A mudança do fluxo magnético no núcleo de ferro de um transformador


acima induzirá um FEM, não apenas nos enrolamentos primários e secundários,
mas também no núcleo de ferro. O núcleo de ferro é um bom condutor, então
as correntes induzidas em um núcleo de ferro sólido serão grandes. Além disso,
as Correntes de Foucault fluem em uma direção que, pela lei de Lenz, age para
enfraquecer o fluxo criado pela bobina primária. Consequentemente, a corrente na
bobina primária necessária para produzir um determinado campo B é aumentada,
de modo que as curvas de histerese são mais largas ao longo do eixo H.

FIGURA 20 – LAMINAÇÃO DE UM NÚCLEO DE FERRO. (A) NÚCLEO SÓLIDO; (B) NÚCLEO


LAMINADO

FONTE: Adaptada de <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/ea/Lamina-


ted_core_eddy_currents_2.svg/800px-Laminated_core_eddy_currents_2.svg.png. Acesso em:
1º jan. 2021.

99
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

FIGURA 21 – (C) REPRESENTAÇÃO DE UM NÚCLEO LAMINADO DE TRANSFORMADOR

FONTE: Adaptada de <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/c2/EI-trans-


former_core_interleaved.svg/500px-EI-transformer_core_interleaved.svg.png>. Acesso em: 1º
jan. 2021.

As perdas por histerese e corrente de Foucault não podem ser eliminadas


completamente, mas podem ser muito reduzidas. Em vez de ter um núcleo de
ferro sólido como o material do núcleo magnético do transformador ou bobina, o
caminho magnético é "laminado".

Essas laminações são tiras muito finas de metal isolado (geralmente com
verniz) unidas para produzir um núcleo sólido. As laminações aumentam a
resistência elétrica do núcleo de ferro reduzindo o aparecimento das correntes
de Foucault e diminuindo as perdas. Por esse motivo, o núcleo de ferro dos
transformadores e máquinas elétricas são todos laminados.

3 SENSOR DE EFEITO HALL


Sensores magnéticos convertem informações magnéticas ou
magneticamente codificadas em sinais elétricos para processamento por circuitos
eletrônicos.

Sensores magnéticos são dispositivos de estado sólido que estão se


tornando cada vez mais populares porque podem ser usados em muitos
tipos diferentes de aplicação, como posição de sensoriamento, velocidade ou
movimento direcional. Eles também são uma escolha popular de sensor para o
designer de eletrônicos devido à sua operação livre de desgaste sem contato, sua
baixa manutenção, design robusto e como dispositivos de efeito de salão selado
são imunes à vibração, poeira e água.

Um dos principais usos dos sensores magnéticos está nos sistemas


automotivos para a detecção de posição, distância e velocidade. Por exemplo, a
posição angular do eixo da manivela para o ângulo de disparo das velas de ignição,

100
TÓPICO 2 — A INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA E O EFEITO HALL

a posição dos bancos do carro e os cintos de segurança para controle de airbags


ou detecção de velocidade da roda para o sistema de frenagem antitravamento
(ABS).

Sensores magnéticos são projetados para responder a uma ampla gama


de campos magnéticos positivos e negativos em uma variedade de diferentes
aplicações e um tipo de sensor de ímã, cujo sinal de saída é uma função da
densidade do campo magnético ao seu redor, é chamado de Sensor de Efeito Hall.

Os sensores de efeito de Hall são dispositivos ativados por um campo


magnético externo. Sabemos que um campo magnético tem duas características
importantes: a densidade de fluxo, (B) e a polaridade (Polos Norte e Sul).

O sinal de saída de um sensor de efeito Hall é a função da densidade


do campo magnético ao redor do dispositivo. Quando a densidade de fluxo
magnético ao redor do sensor excede um certo limiar pré-definido, o sensor
detecta-o e gera uma tensão de saída chamada Tensão de Sala, VH. Considere o
diagrama apresentado na Figura 22:

FIGURA 22 – PRINCÍPIOS DO SENSOR DE EFEITO DE SALÃO (PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO


DO SENSOR HALL)

FONTE: <https://www.newtoncbraga.com.br/index.php/como-funciona/6640-como-funcio-
nam-os-sensores-de-efeito-hall-art1050>. Acesso em: 2 jan. 2020.

101
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

Os sensores de efeito de Hall consistem basicamente de um fino pedaço


de material semicondutor retangular do tipo p, como arsênio de gálio (GaAs),
antimoneto de índio (InSb) ou arsênio índico (InAs) atravessado por uma corrente
contínua. Quando o dispositivo é colocado dentro de um campo magnético,
conforme exposto na Figura 22 em (b), as linhas de fluxo magnético exercem uma
força sobre o material semicondutor que desvia os portadores de cargas, elétrons e
lacunas, para ambos os lados do semicondutor. Esse movimento de carregadores
de carga é resultado da força magnética que experimentam passando pelo
material semicondutor (MATERIAIS JÚNIOR, 2020).

À medida que esses elétrons e lacunas se movem para as laterais, uma
diferença de potencial é produzida entre os dois lados do material semicondutor
pelo acúmulo desses portadores de carga. Em seguida, o movimento dos
elétrons através do material semicondutor é afetado pela presença de um campo
magnético.

O efeito de gerar uma tensão mensurável usando um campo magnético
é chamado de Efeito Hall depois que Edwin Hall, que o descobriu na década
de 1870, com o princípio físico básico subjacente ao efeito Hall sendo a força de
Lorentz (BIRCH, 2020). Para gerar uma diferença potencial entre o dispositivo, as
linhas de fluxo magnético devem ser perpendiculares, (90°) ao fluxo de corrente
e ser da polaridade correta, geralmente um polo sul.

O efeito Hall fornece informações do tipo de polo magnético e magnitude


do campo magnético. Por exemplo, um polo sul faria com que o dispositivo
produzisse uma saída de tensão, enquanto um polo norte não teria efeito.

Geralmente, os sensores e os interruptores de Efeito Hall são projetados


para estar em "OFF", (desligados, condição de circuito aberto) quando não há
campo magnético presente. Eles só ligam "ON", (condição de circuito fechado)
quando submetidos a um campo magnético de força e polaridade suficientes.

3.1 SENSOR MAGNÉTICO DE EFEITO HALL



A tensão de saída, chamada de tensão Hall, (VH) do Elemento Hall básico
é diretamente proporcional à força do campo magnético que passa pelo material
semicondutor (saída proporcional a H), conforme Gilbert e Dewey (2013). Essa
tensão de saída pode ser bastante pequena, apenas alguns microvolts, mesmo
quando submetidos a fortes campos magnéticos para que os dispositivos de efeito
Hall mais disponíveis comercialmente sejam fabricados com amplificadores
CC embarcados, circuitos de comutação lógica e reguladores de tensão para
melhorar a sensibilidade dos sensores, histerese e tensão de saída. Isso também
permite que o sensor de efeito Hall opere sobre uma gama mais ampla de fontes
de alimentação e condições de campo magnético.

102
TÓPICO 2 — A INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA E O EFEITO HALL

FIGURA 23 – LIGAÇÃO DE UM SENSOR HALL

FONTE: <https://www.newtoncbraga.com.br/images/stories/artigos11/art1131_0003.jpg>. Aces-


so em: 2 jan. 2021.

Os sensores de efeito hall estão disponíveis com saídas lineares ou digitais.


O sinal de saída para sensores lineares (analógicos) é retirado diretamente da
saída do amplificador operacional, com a tensão de saída sendo diretamente
proporcional ao campo magnético que passa pelo sensor Hall. Essa tensão de
saída hall é dada como (GILBERT; DEWEY 2013):

FIGURA 24 – GRÁFICO DE V X B DE UM SENSOR HALL

FONTE: Adaptada de Gilbert e Dewey (2013)

103
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

Em que:

• VH é a tensão Hall em volts.


• RH é o coeficiente do Efeito Hall.
• I é o fluxo de corrente através do sensor.
• t é a espessura do sensor em mm.
• B é a densidade de fluxo magnético em Teslas.

Sensores lineares ou analógicos dão uma saída contínua de tensão que


aumenta com um campo magnético forte e diminui com um campo magnético
fraco. Na saída linear, os sensores de efeito Hall, à medida que a força do campo
magnético aumenta, o sinal de saída do amplificador também aumentará até
que ele comece a saturar pelos limites impostos a ele pela fonte de alimentação.
Qualquer aumento adicional no campo magnético não terá efeito na saída, mas o
conduzirá mais à saturação.

Existem dois tipos básicos de sensor de efeito Hall digital, Bipolar e
Unipolar. Sensores bipolares requerem um campo magnético positivo (polo sul)
para operá-los e um campo negativo (polo norte) para liberá-los, enquanto os
sensores unipolares exigem apenas um único polo sul magnético para operá-los e
liberá-los à medida que se movem para dentro e para fora do campo magnético.

A maioria dos dispositivos de efeito Hall não pode alternar diretamente
grandes cargas elétricas, pois suas capacidades de unidade de saída são muito
pequenas, em torno de 10 a 20 mA. Para grandes cargas de corrente, um NPN
Transistor de coletor aberto (atual naufrágio) é adicionado à saída (GILBERT;
DEWEY 2013). Esse transistor opera em sua região saturada como um interruptor
NPN que liga o terminal de saída para o solo sempre que a densidade de fluxo
aplicado é maior do que a do ponto pré-definido "ON".

O transistor de comutação de saída pode ser um transistor emissor
aberto, configuração de transistor de coletor aberto, ou ambos, fornecendo uma
configuração do tipo de saída push-pull que pode afundar corrente suficiente para
conduzir diretamente muitas cargas, incluindo relés, motores, LEDs e lâmpadas.

3.2 APLICAÇÕES DO EFEITO HALL



Os sensores de efeito hall são ativados por um campo magnético e, em
muitas aplicações, o dispositivo pode ser operado por um único ímã permanente
ligado a um eixo ou dispositivo em movimento. Existem muitos tipos diferentes
de movimentos ímãs, como "Frontal", "Lateral", "Vai-vem" ou "Unidirecional"
etc. Cada tipo de configuração é usado para garantir a máxima sensibilidade às
linhas magnéticas de fluxo, devem ser sempre perpendiculares à área de detecção
do dispositivo e devem ser da polaridade correta. Também para garantir a
linearidade, ímãs fortes são necessários para produzir uma grande mudança na
força do campo para o movimento necessário. Existem vários caminhos possíveis

104
TÓPICO 2 — A INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA E O EFEITO HALL

de movimento para detectar um campo magnético, e a seguir veremos duas das


configurações de sensoriamento mais comuns usando um único ímã: Detecção
frontal e Detecção Lateral.

3.2.1 Detecção frontal



Como o nome indica, a "detecção frontal" requer que o campo magnético
seja perpendicular ao dispositivo de detecção do efeito do salão e que, para ser
detectado, ele se aproxime do sensor em direção à face ativa. Uma espécie de
abordagem "de frente".

FIGURA 25 – ARRANJO DO SENSOR HALL PARA APROXIMAÇÃO SIMPLES (DETECÇÃO FRONTAL)

FONTE: <https://www.newtoncbraga.com.br/images/stories/artigos10/art1050_09.jpg>. Acesso


em: 2 jan. 2021.

Essa abordagem frontal gera um sinal de saída, VH que nos dispositivos


lineares representa a força do campo magnético, a densidade do fluxo magnético,
em função da distância do sensor de efeito de salão. Quanto mais próximo e,
portanto, mais forte o campo magnético, maior a tensão de saída e vice-versa.

Dispositivos lineares também podem diferenciar entre campos magnéticos
positivos e negativos. Dispositivos não lineares podem ser feitos para acionar a
saída "ON" a uma distância de abertura de ar pré-definida longe do ímã para
indicar detecção posicional.

105
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

FIGURA 26 – ARRANJO PARA DETECÇÃO DE PASSAGEM LATERAL (TIPO UNIPOLAR)

FONTE: <https://www.newtoncbraga.com.br/images/stories/artigos10/art1050_11.jpg>
Acesso em: 2 jan. 2021.

A segunda configuração de sensoriamento é a "detecção lateral". Isso


requer mover o ímã através da face do elemento de efeito Hall em um movimento
lateral.

Detecção lateral ou deslizante é útil para detectar a presença de um campo
magnético à medida que se move através da face do elemento Hall, dentro de
uma distância fixa de abertura de ar, por exemplo, contando ímãs rotacionais ou
a velocidade de rotação dos motores.

Dependendo da posição do campo magnético à medida que passa pela
linha central de campo zero do sensor, uma tensão de saída linear representando
uma saída positiva e negativa pode ser produzida. Isso permite a detecção de
movimento direcional que pode ser vertical, bem como horizontal.

Existem muitas aplicações diferentes para os Sensores de Efeito Hall,
especialmente como sensores de proximidade. Eles podem ser usados, em vez de
sensores ópticos e de luz, nos quais as condições ambientais consistem em água,
vibração, sujeira ou óleo, como em aplicações automotivas. Dispositivos de efeito
Hall também podem ser usados para detecção de corrente elétrica. Sabemos que
quando uma corrente passa por um condutor, um campo eletromagnético circular
é produzido ao seu redor. Ao colocar o sensor Hall ao lado do condutor, correntes
elétricas de alguns miliamperes em milhares de amperes podem ser medidas,
a partir do campo magnético gerado, sem a necessidade de transformadores e
bobinas grandes ou caros.
106
TÓPICO 2 — A INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA E O EFEITO HALL

Além de detectar a presença ou ausência de ímãs e campos magnéticos,


os sensores de efeito Hall também podem ser usados para detectar materiais
ferromagnéticos, como ferro e aço, colocando um pequeno ímã permanente de
"polarização" atrás da área ativa do dispositivo. O sensor agora está em um campo
magnético permanente e estático, e qualquer alteração ou perturbação a esse
campo magnético pela introdução de um material ferromagnético será detectada
com sensibilidades da ordem de milivolts por Gauss. Existem muitas maneiras
diferentes de integrar sensores de efeito Hall em circuitos elétricos e eletrônicos,
dependendo do tipo de dispositivo, seja digital ou linear. Um exemplo muito
simples e fácil de construir é usar um Diodo emissor de luz como exibido na
Figura 27.

FIGURA 27 – CIRCUITO DE UM DETECTOR POSICIONAL UTILIZANDO UM SENSOR HALL

FONTE: O autor

Esse detector posicional frontal estará "OFF" quando não houver campo
magnético presente, (0 Gauss). Quando os ímãs permanentes do polo sul (Gauss
positivo) são movidos perpendicularmente em direção à área ativa do sensor de
efeito Hall, o dispositivo liga "ON" e acende o LED. Uma vez ligado o sensor de
efeito Hall permanece "ON".

Para girar o dispositivo e, portanto, colocar o LED em "OFF" o campo


magnético deve ser reduzido a abaixo do ponto de liberação para sensores unipolar
ou exposto a um polo norte magnético (Gauss negativo) para sensores bipolares.
O LED pode ser substituído por um transistor de potência maior se a saída do
medidor de efeito Hall for necessária para acionar cargas de corrente maiores.

4 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA
A proposta desta atividade prática é de verificar, comprovar a analisar
o efeito da indução eletromagnética que um ímã produz quando movimentado
em relação a uma bobina. O foco é avaliar a força do campo magnético e a tensão
induzida.

107
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

4.1 PEÇAS E MATERIAIS


• eletroímã montado no experimento do tópico anterior;
• ímã permanente (pode ser aproveitado de um alto falante velho);
• um voltímetro ou uma lâmpada de lanterna (ver texto a seguir).

Consulte o experimento anterior para obter instruções sobre a construção


de eletroímãs.

FIGURA 28 – ESQUEMA DE LIGAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA O EXPERIMENTO

FONTE: Adaptada de <https://www.allaboutcircuits.com/uploads/articles/electromagnetic-in-


duction-schematic-diagram.jpg>. Acesso em: 2 jan. 2021.

Caso você não disponha de um voltímetro para realizar o experimento,


você pode utilizar uma pequena lâmpada de filamento para lanternas ou até
mesmo um led. No caso do led, ele não acenderá se a polaridade da tensão induzida
for invertida em relação aos seus terminais Catodo e Anodo.

FIGURA 29 – MONTAGEM DOS COMPONENTES DO EXPERIMENTO

FONTE: Adaptada de <https://www.allaboutcircuits.com/uploads/articles/electromagnetic-in-


duction.jpg>. Acesso em: 2 jan. 2021.

108
TÓPICO 2 — A INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA E O EFEITO HALL

4.2 INSTRUÇÕES

A indução eletromagnética é o fenômeno complementar ao
eletromagnetismo. Em vez de produzir um campo magnético a partir da
eletricidade, produzimos eletricidade a partir de um campo magnético.

Há uma diferença importante, porém: enquanto o eletromagnetismo
produz um campo magnético constante (estático) a partir de uma corrente elétrica
constante, a indução eletromagnética requer movimento entre o ímã e a bobina
para produzir uma tensão.

• conecte o multímetro à bobina e coloque-o à faixa de tensão CC mais sensível


disponível;
• mova o ímã lentamente para perto e para longe de uma extremidade do
eletroímã, observando a polaridade e magnitude da tensão induzida;
• experimente mover o ímã e descubra por si mesmo quais fatores determinam a
quantidade de tensão induzida. Tente a outra extremidade da bobina e compare
os resultados;
• repita o experimento invertendo a posição (polos Norte e Sul) do ímã e compare.
Se usar um multímetro analógico, certifique-se de usar fios longos e localizar
o medidor longe da bobina, pois o campo magnético do ímã permanente pode
afetar o funcionamento do medidor e produzir leituras falsas. Os medidores
digitais não são afetados por campos magnéticos.

Com esse experimento, chegamos ao final do tópico e podemos prosseguir


nos estudos. Reveja os conceitos mais importantes deste tópico no Resumo logo
adiante e, em seguida, teste seus conhecimentos com as autoatividades propostas.

109
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

LEITURA COMPLEMENTAR

DETECTORES DE METAIS

Chris Woodford

Bip, bip, bip! Há algo mais excitante do que descobrir tesouros? Milhões
de pessoas em todo o mundo se divertem usando detectores de metais para
descobrir relíquias valiosas enterradas no subsolo.

Exatamente a mesma tecnologia está trabalhando em nossos serviços


militares e de segurança, ajudando a manter o mundo seguro, descobrindo
armas, facas e minas enterradas. Detectores de metais são baseados na ciência do
eletromagnetismo. Vamos descobrir como eles funcionam!

Foto: este soldado americano está


usando um detector de metais
Garrett para procurar armas
escondidas. Foto de Tyler Hill
cortesia do Corpo de Fuzileiros
Navais dos EUA.

Quando o magnetismo encontrou eletricidade

Foto: o brilhante físico James


Clerk Maxwell. Foto de domínio
público por cortesia do Wikimedia
Commons.

110
TÓPICO 2 — A INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA E O EFEITO HALL

Se você já fez um eletroímã enrolando uma bobina de fio em torno de um


prego e ligando-o a uma bateria, você saberá que magnetismo e eletricidade são
como um velho casal: sempre que você encontrar um, você sempre encontrará o
outro, não muito longe.

Colocamos essa ideia em uso prático a cada minuto de cada dia. Toda vez
que usamos um aparelho elétrico, estamos contando com a estreita conexão entre
eletricidade e magnetismo. A eletricidade que usamos vem de usinas (ou, cada
vez mais, de fontes renováveis como turbinas eólicas) e é criada por um gerador,
que na verdade é apenas um grande cilindro de fio de cobre. Quando o fio gira em
alta velocidade através de um campo magnético, a eletricidade é "magicamente"
gerada dentro dele — e podemos aproveitar essa energia para nossas próprias
necessidades. Os aparelhos elétricos que usamos (em tudo, desde máquinas de
lavar até aspiradores) contêm motores elétricos que funcionam exatamente de
forma oposta aos geradores: à medida que a eletricidade flui para eles, gera um
campo magnético, em mudança, em uma bobina de arame que empurra contra o
campo de um ímã permanente, e é isso que faz o motor girar. (Você pode descobrir
muito mais sobre isso em nosso artigo sobre motores elétricos.)

Em suma, você pode usar eletricidade para fazer magnetismo e
magnetismo para fazer eletricidade. Um físico escocês fantasticamente inteligente
chamado James Clerk Maxwell (1831-1879) resumiu tudo isso na década de 1860,
quando escreveu quatro fórmulas matemáticas aparentemente simples (agora
conhecidas como equações de Maxwell). Uma delas diz que sempre que há um
campo elétrico variante, tem-se, um campo magnético variante também. Outra
diz que quando há um campo magnético variante, tem-se também um campo
elétrico variante. O que Maxwell estava realmente dizendo era que eletricidade
e magnetismo são duas partes da mesma coisa: o eletromagnetismo. Sabendo
disso, podemos entender exatamente como os detectores de metais funcionam.

Como o eletromagnetismo alimenta um detector de metais

Foto: esse avançado detector


de passos desenvolvido no
Pacific Northwest National
Laboratory usa imagens de ondas
para detectar armas plásticas
e cerâmicas não captadas
por detectores de metais
convencionais. Foto por cortesia
do Departamento de Energia
dos EUA.

111
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

Arte: o moderno detector de


metais compacto foi inventado
por Charles Garrett no início da
década de 1970. Você pode ver
claramente as duas bobinas (itens
32 e 33). A caixa (laranja) na parte
superior da alça (verde) contém
os circuitos de controle, incluindo
uma bateria (não mostrada), alto-
falante (24), interruptor de volume
(27), controle de sensibilidade
(28) e interruptor de liga/desliga
(29). Essa ilustração é da Patente
nº 3.662.255 de Charles Garrett,
concedida em 1972, cortesia do
Escritório de Patentes e Marcas dos
EUA.

Detectores de metais funcionam de várias maneiras diferentes, mas aqui


está a ciência por trás de um dos tipos mais simples. Um detector de metais
contém uma bobina de fio (enrolada na cabeça circular na extremidade da alça)
conhecida como bobina do transmissor.

Quando a eletricidade flui através da bobina, um campo magnético é


criado ao seu redor. Ao varrer o detector sobre o chão, você faz o campo magnético
se mover também. Se você mover o detector sobre um objeto de metal, o campo
magnético em movimento afeta os átomos dentro do metal. Na verdade, ele muda
a forma como os elétrons (partículas minúsculas "orbitando" ao redor desses
átomos) se movem. Agora, se temos um campo magnético variável no metal,
James Clerk Maxwell nos diz que também devemos ter uma corrente elétrica se
movendo lá. Em outras palavras, o detector de metais cria (ou "induz") alguma
atividade elétrica no metal. Então Maxwell nos diz outra coisa interessante
também: se temos eletricidade se movendo em um pedaço de metal, deve criar
algum magnetismo também. Então, quando você move um detector de metais
sobre um pedaço de metal, o campo magnético vindo do detector faz com que
outro campo magnético apareça ao redor do metal.

É nesse segundo campo magnético, ao redor do metal, que o detector capta.
O detector de metais tem uma segunda bobina de fio em sua cabeça (conhecida
como bobina receptora) conectada a um circuito contendo um alto-falante. À

112
TÓPICO 2 — A INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA E O EFEITO HALL

medida que você move o detector sobre o pedaço de metal, o campo magnético
produzido pelo metal atravessa a bobina.

Agora, se você mover um pedaço de metal através de um campo magnético,


você faz a eletricidade fluir através dele (lembre-se, é assim que um gerador
funciona). Assim, à medida que você move o detector sobre o metal, a eletricidade
flui através da bobina receptora, fazendo o alto-falante produzir estalos ou bipes
audíveis. Quanto mais perto você move a bobina do transmissor para o pedaço de
metal, mais forte o campo magnético que a bobina do transmissor cria nele, mais
forte o campo magnético que o metal cria na bobina receptora, mais corrente que
flui no alto-falante, e quanto mais alto o ruído.

Então, obrigado, James Clerk Maxwell, por nos ajudar a ver como os
detectores de metais funcionam – usando eletricidade para criar magnetismo, o
que cria mais eletricidade, por sua vez.

Quais são os diferentes tipos de detectores de metais?



Como vimos, os campos magnéticos são produzidos pela mudança de
campos elétricos, que oscilam em uma determinada frequência. Diferentes
frequências dão resultados melhores ou piores, dependendo do tipo de metal
que você está procurando, quão profundo no chão você está procurando, de que
tipo de material o chão é feito (areia ou terra, ou o que quer que seja), e assim por
diante.

Embora os detectores de metais funcionem da mesma forma, convertendo
eletricidade em magnetismo e de volta, eles vêm em três tipos principais.

Os mais simples são adequados para todos os tipos de detecção de metais


de uso geral e caça ao tesouro. Eles são chamados de detectores VLF (muito baixa
frequência) porque eles usam uma única frequência de detecção fixa tipicamente
em torno de 6-20 kHz (geralmente menos de 30 kHz).

Você também se depara com detectores IP (Indução de Pulso), que usam


frequências mais altas e sinais pulsados. Eles geralmente podem detectar objetos
mais profundos no chão do que os detectores VLF, mas eles não são tão precisos.
Um terceiro tipo é conhecido como o detector EBC (Espectro de Banda Completa),
que usa múltiplas frequências simultaneamente – então, na verdade, é um pouco
como usar vários detectores ligeiramente diferentes ao mesmo tempo.

Até onde vai um detector de metais?

Não há uma resposta exata para essa pergunta, infelizmente, porque


depende de todos os tipos de fatores, incluindo:

113
UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

• O tamanho, a forma e o tipo do objeto metálico enterrado: coisas maiores são


mais fáceis de localizar em profundidade do que as pequenas.
• A orientação do objeto: objetos planos enterrados são geralmente mais fáceis
de encontrar do que aqueles enterrados com suas extremidades voltadas para
baixo, em parte porque isso cria uma área alvo maior, mas também porque
torna o objeto enterrado mais eficaz no envio de seu sinal de volta para o
detector.
• A idade do objeto: coisas que foram enterradas há muito tempo são mais
propensas a oxidar ou corroer, tornando-as mais difíceis de encontrar.
• A natureza do solo ao redor que você está procurando.
• O tipo de detector e a frequência utilizada.

De um modo geral, os detectores de metais funcionam a uma profundidade


máxima de cerca de 20 a 50 cm (8 a 20 polegadas).

Onde são usados detectores de metais?

Detectores de metal não são usados apenas para encontrar moedas na


praia. Você pode vê-los em scanners de passagem em aeroportos (projetados para
impedir que pessoas carreguem armas e facas em aviões ou em outros lugares
seguros, como prisões e hospitais) e em muitos tipos de pesquisa científica.
Arqueólogos muitas vezes desaprovam pessoas destreinadas usando detectores
de metais para perturbar artefatos importantes, mas, usados corretamente e com
respeito, detectores de metais podem ser ferramentas valiosas em pesquisas
históricas.

Foto: este detector tipo bastão, chamado de


SuperScanner e feito por Garrett Metal Detectors,
está sendo usado para verificar visitantes em
uma clínica médica no Afeganistão. Ele funciona
com uma bateria de 9 volts embutida que fornece
cerca de 60 horas de operação contínua. Se você
encontrar metal, o detector permite que você saiba
com uma combinação de luzes LED piscando e
um ruído bélico. Tem 42 cm de comprimento e
pesa 500 g (17,6 oz). Detectores como este custam
cerca de US $ 200 (£100). Foto de Christopher
Admire cortesia do Exército dos EUA.

E detectores não-metálicos?

Caçadores de tesouros sempre valorizarão detectores de metais como esses


porque, historicamente, coisas valiosas eram geralmente feitas de metal, mas no
mundo da segurança, não é mais suficiente confiar em detectores de metais como
nossa única linha de defesa. Os tipos de pessoas que gostam de contrabandear

114
TÓPICO 2 — A INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA E O EFEITO HALL

armas através da segurança, por exemplo, estão bem cientes de que terão que
passar por detectores de metais, e provavelmente tentarão alternativas como facas
de cerâmica, plástico ou fibra de carbono. Embora os fabricantes respeitáveis se
esmeram para garantir que há pequenas peças metálicas nas alças de facas "não
metálicas", exatamente por essa razão, não há nada que impeça ninguém de
afiar um pedaço de plástico para melhorar uma faca, por exemplo. Como, então,
detectamos ameaças não-metálicas?

Uma solução adotada pelos aeroportos é usar scanners de ondas milimétricas
(MMS) para mostrar objetos metálicos e não metálicos. Essencialmente, eles
funcionam como versões mais seguras de máquinas de raio-X: as ondas passam
pelas roupas, mas são refletidas por nossos corpos, e quaisquer armas escondidas
(metálicas ou não) aparecem como imagens em uma tela. Máquinas de raio-X
usam radiação muito poderosa (com comprimentos de onda aproximadamente
alguns nanômetros), o que pode ser perigoso se seu corpo absorver muito deles.
Como o nome sugere, os scanners de ondas milimétricas usam ondas muito mais
longas que medem de 1 a 10 mm (cerca de 10 vezes menores do que os micro-
ondas enviados e recebidos pelos celulares), os quais são muito menores em
intensidade e, portanto, representam pouco ou nenhum risco para a saúde das
pessoas.

FONTE: <https://www.explainthatstuff.com/metaldetectors.html>. Acesso em: 3 jan. 2020.

115
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Se uma espira de fio condutor for atravessada por um campo magnético


variante, haverá a circulação de uma corrente nesta espira (se ela for aberta
aparecerá uma tensão nos seus terminais ao invés de uma corrente).

• O fenômeno da indução magnética foi descoberto por Michael Faraday. O


valor da tensão induzida num condutor pode ser descrito pela expressão: E
= - B.l.v.sen(φ) [volts]

• A Lei de Lenz estabelece que a direção de uma Força Eletromotriz induzida é


tal que sempre se oporá à mudança que a está causando.

• O sensor Hall é um dispositivo magnético que converte informações magnéticas


ou magneticamente codificadas em sinais elétricos para processamento por
circuitos eletrônicos.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

116
AUTOATIVIDADE

1 Um método muito útil de medir a corrente através de um fio é medir a força


do campo magnético ao seu redor. Esse tipo de instrumento é conhecido
como amperímetro de alicate:

FONTE: O autor

Conhecendo o princípio por trás da operação desse medidor, descreva quais


valores de corrente serão indicados pelos três amperímetros de alicate neste
circuito:

FONTE: <https://sub.allaboutcircuits.com/images/quiz/00262x02.png>. Acesso em: 2 jan.


2021.

2 A Lei de Lenz descreve a oposição às mudanças no fluxo magnético


resultantes da indução eletromagnética entre um campo magnético e um
condutor elétrico. Um aparelho capaz de demonstrar a Lei de Lenz é um
disco de cobre ou alumínio (eletricamente condutor, mas não magnético)

117
posicionado perto do fim de um poderoso ímã permanente. Não há atração
ou repulsão entre o disco e o ímã quando não há movimento, mas uma
força se desenvolverá entre os dois objetos se algum deles for subitamente
movido. Essa força será em tal direção que tenta resistir ao movimento (ou
seja, a força tenta manter a distância constante entre os dois objetos):

FONTE: O autor

Sabemos que essa força é de natureza magnética, ou seja, a corrente induzida


faz com que o próprio disco se torne um ímã para reagir contra o campo do ímã
permanente e produzir a força oposta. Para cada um dos seguintes cenários,
rotule os polos magnéticos induzidos do disco (Norte e Sul) à medida que
reage ao movimento imposto por uma força externa:

FONTE: O autor

3 Combinar a Lei de Lenz com a regra da direita (ou regra da mão esquerda,
se você seguir o fluxo de elétrons ao invés do fluxo convencional) fornece
um meio simples e eficaz para determinar a direção da corrente induzida
em uma bobina de indução. Nos exemplos a seguir, trace a direção da
corrente através do resistor de carga:

118
FONTE: Adaptada de: <https://sub.allaboutcircuits.com/images/quiz/01787x01.png> Acesso:
2 jan. 2021.

Nota: caso não esteja claro nas ilustrações, as Figuras 1 a 4 mostram o ímã se
movendo em relação a uma bobina estacionária. As Figuras 5 e 6 mostram
uma bobina se movendo em relação a um ímã estacionário.

4 Se um anel de cobre for trazido mais perto da extremidade de um ímã


permanente, uma força repulsiva se desenvolverá entre o ímã e o anel. Essa
força cessará, no entanto, quando o anel parar de se mover. Como se chama
esse efeito? Além disso, descreva o que acontecerá se o anel de cobre for
afastado da extremidade do ímã permanente.

FONTE: O autor

119
120
REFERÊNCIAS
BIRCH, D. A great hall of science. Hub, Baltimore, 7 jan. 2020. Disponível em:
https://hub.jhu.edu/2020/01/07/hall-effect-2501-em1-art1-rea/. Acesso em: 1º jan.
2021

GILBERT, J.; DEWEY, R. Linear hall-effect sensor ICs. Massachussetts: Allegro


Microsystems, Llc, 2013.

GRAÇA, C. Eletromagnetismo. Santa Maria: Universidade Federal de Santa


Maria, 2012. 282 p. (Física 3).

MATERIAIS magnéticos duros e moles. PrePara Enem, [S. l.], c2020. Disponível
em: https://www.preparaenem.com/fisica/materiais-magneticos-duros-moles.
htm. Acesso em: 30 dez. 2020.

MATERIAIS JÚNIOR. Propriedades elétricas dos materiais. Materiais Jr. São


Carlos, 26 mar. 2020. Disponível em: https://materiaisjr.com.br/propriedades-
eletricas-dos-materiais/. Acesso em: 1º jan. 2021.

WOODFORD, C. Metal detectors. Explain that Stuff! [S. l.], 2020. Disponível
em: https://www.explainthatstuff.com/metaldetectors.html. Acesso em: 3 jan.
2021.

121
122
UNIDADE 3 —

PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO
ELETROMECÂNICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• como se comportam os campos magnéticos produzidos por correntes elé-


tricas;
• calcular a força que um campo magnético exerce sobre um condutor per-
corrido por uma corrente;
• compreender como é produzido o torque sobre uma bobina de corrente
imersa num campo magnético;
• entender o funcionamento de um gerador elétrico e saber o que é a força
contra eletromotriz;
• identificar e compreender diferentes sensores de posição;
• explicar o funcionamento de um motor CC e identificar seus tipos cons-
trutivos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – FORÇA MAGNÉTICA EM UM CONDUTOR QUE


TRANSPORTA CORRENTE
TÓPICO 2 – DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE I
TÓPICO 3 – DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE II

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

123
124
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

FORÇA MAGNÉTICA EM UM CONDUTOR QUE


TRANSPORTA CORRENTE

1 INTRODUÇÃO
Nesta última unidade de ensino, vamos estudar inicialmente o
comportamento da força que um campo magnético exerce sobre um condutor
percorrido por uma corrente, princípio este, fundamental para o entendimento do
funcionamento de atuadores eletromagnéticos em geral. Ao final, será feita uma
abordagem sobre vários dispositivos eletromagnéticos, finando com o estudo do
motor CC.

Cargas móveis sofrem a ação de uma força estando num campo magnético.
Se essas cargas móveis estiverem em um fio – isto é, se o fio estiver carregando
uma corrente – o fio também deve experimentar uma força. No entanto, antes
de discutirmos a força exercida sobre uma corrente por um campo magnético,
primeiro examinamos o campo magnético gerado por uma corrente elétrica.
Estamos estudando dois efeitos separados aqui que interagem de perto: um fio
de transporte de corrente gera um campo magnético e o campo magnético exerce
uma força sobre o fio de transporte de corrente.

2 CAMPOS MAGNÉTICOS PRODUZIDOS POR CORRENTES


ELÉTRICAS

Ao discutir descobertas históricas no magnetismo, podemos mencionar a
descoberta de Oersted de que um fio carregando uma corrente elétrica fez com
que uma bússola próxima se desviasse. Vimos também que correntes elétricas
produzem campos magnéticos.

A agulha da bússola perto do fio sofre uma força que alinha a tangente
da agulha a um círculo ao redor do fio. Portanto, um fio de corrente produz laços
circulares de campo magnético. Para determinar a direção do campo magnético
gerado a partir de um fio, usamos a Regra da Mão Direita.

Por esta regra, o polegar aponta na direção da corrente enquanto os dedos


se enrolam ao redor do fio, apontando na direção do campo magnético produzido,
conforme Figura 1 em (a). Se o campo magnético estiver vindo para você ou para
fora da página, nós representamos isso com um ponto (•). Se o campo magnético
estava entrando na página, representamos isso com um (×).

125
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

Esses símbolos vêm de considerar uma seta vetorial: uma seta apontada
para você, do seu ponto, pareceria um ponto ou a ponta de uma fl echa. Uma
fl echa apontada para longe de você, do seu ponto de vista, pareceria uma cruz ou
um (×). Um esboço composto dos círculos magnéticos é mostrado na Figura 1 em
(b), onde a força do campo é mostrada para diminuir à medida que você se afasta
do fi o por laços mais distantes separados.

FIGURA 1 – INDUÇÃO MAGNÉTICA

FONTE: O autor

INDUÇÃO MAGNÉTICA: (a) quando o fi o está no plano do papel, o campo


é perpendicular ao papel. Observe os símbolos usados para o campo apontando
para dentro (×) e o campo apontando para fora (•); (b) um fi o longo e reto cria um
campo com linhas de campo magnético formando laços circulares.

DICAS

Confira mais detalhes da Regra da Mão Direita, em: https://educacao.uol.com.


br/disciplinas/fisica/campo-magnetico---condutor-retilineo-aplicacoes-da-lei-de-ampere.
htm.

2.1 CALCULANDO A FORÇA MAGNÉTICA


A corrente elétrica é um movimento ordenado de cargas. Um fi o
conduzindo uma corrente imerso em um campo magnético deve, portanto,
experimentar uma força devido ao campo. Para investigar essa força, vamos
considerar a seção infi nitesimal do fi o como mostrado na Figura 2:

126
TÓPICO 1 — FORÇA MAGNÉTICA EM UM CONDUTOR QUE TRANSPORTA CORRENTE

A forma magnética sobre um fi o de comprimento diferencial , percorrido


por uma corrente I e imerso num campo de densidade magnética é defi nida
por:

Sendo a parcela diferencial de força exercida sobre comprimento ,


conforme ilustrado na Figura 2:

A direção dessa força é dada pela Regra da Mão Direita, na qual você
aponta os dedos na direção da correnteza e os enrola em direção ao campo. Seu
polegar então aponta na direção da força.

FIGURA 2 – UMA SEÇÃO INFINITESIMAL DO FIO DE TRANSPORTE ATUAL EM UM CAMPO MAG-


NÉTICO

FONTE: Adaptada de Paul (2006, p. 110)

Para determinar a força magnética em um fi o de comprimento e forma


arbitrários, devemos integrar acima de sobre todo o fi o. Se a seção de fi o for
constante e B for uniforme, os diferenciais da equação se tornam quantidades
absolutas, nos dando:

Esta é a força em um fi o reto percorrido por uma corrente e imerso em um


campo magnético uniforme.

127
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

Exemplo 1:
Equilibrando as forças gravitacional e magnética em um fi o conduzindo
corrente.

Um fi o com 60 cm de comprimento e massa de 15 g é suspenso em um plano


horizontal por um par de cabos fl exíveis conforme mostrado na fi gura a seguir.

O fi o é então submetido a um campo magnético constante de magnitude 0,50


T, direcionado como mostrado. Qual é a magnitude e a direção da corrente no
fi o necessária para eliminar a tensão T nos suportes?

(A) UM FIO SUSPENSO EM UM CAMPO MAGNÉTICO. (B) O DIAGRAMA DE CORPO LIVRE


PARA O FIO

FONTE: O autor

Solução:
A partir do diagrama de corpo livre na fi gura, as tensões nos apoios vão a zero
quando as forças gravitacional e magnética se equilibram. Usando a Regra da
Mão Direita descobrimos que a força magnética aponta para cima. Podemos,
então, determinar a corrente I que anula as duas forças.
Inicialmente vamos equiparar as forças peso e magnética no fi o:

Assim:

Uma corrente de 490 mA é capaz de gerar um campo magnético cuja força


anula o peso da barra, mantendo-a fl utuando sem a necessidade de suportes.

Acompanhe, em seguida, a resolução deste outro exemplo.

128
TÓPICO 1 — FORÇA MAGNÉTICA EM UM CONDUTOR QUE TRANSPORTA CORRENTE

Exemplo 2:
Cálculo de uma força magnética em um fio transportando corrente
Um fio longo e rígido disposto sobre o eixo y carrega uma corrente de 5,0
A fluindo na direção positiva de y. Se um campo magnético constante de
magnitude 0,30 T for direcionado ao longo do eixo x positivo, qual é a força
magnética, por unidade de comprimento no fio? (b) Se um campo magnético
constante de 0,30 T que faz 30° partindo de +x para +y, qual é a força magnética
por unidade de comprimento no fio?

Solução:
A força magnética em um fio percorrido por uma corrente em um campo
magnético é dada por . Para a parte (a), uma vez que a corrente e
o campo magnético perpendiculares neste problema, podemos simplificar a
fórmula para nos dar a magnitude e encontrar a direção da força pela regra da
mão direita. O ângulo θ é de 90 graus, o que significa sen90° = 1. Para a parte
(b), corrente multiplicada pelo comprimento está escrita em notação vetorial,
assim como o campo magnético. Depois que o produto vetorial é realizado, a
direção da força fica evidente pelo resultado vetorial obtido.

a) Temos que

Assim, para calcular a força por unidade de comprimento (F/l) elaboramos:

Para obter a direção do campo basta apontar os dedos na direção positiva de


y e dobrar os dedos na direção positiva de x. Seu polegar apontará na direção
negativa de z, que, por convenção, é representada pelo vetor

Assim, podemos escrever a resposta na forma vetorial:

b) Para a situação, convém utilizarmos diretamente a notação vetorial da


expressão para o cálculo da força. A direção positiva de x é representada pelo
vetor e a direção positiva de y é representada pelo vetor .

Assim, temos que:

129
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

Interpretação dos resultados: esse grande campo magnético cria uma força
signifi cativa em um pequeno comprimento de fi o. À medida que o ângulo do
campo magnético se torna mais alinhado com a corrente no fi o, há menos força
nele, como visto a partir da comparação das partes (a) e (b).

Exemplo 3:
Uma espira circular de raio R percorrida por uma corrente i é posicionada no
plano x-y. Um campo magnético uniforme constante corta o laço paralelo ao
eixo y, conforme fi gura a seguir. Encontre a força magnética na metade superior
do laço, a metade inferior do laço, e a força total na espira.

ESPIRA DE FIO COM CORRENTE ATRAVESSADA NUM CAMPO MAGNÉTICO

FONTE: O autor

Solução:
A força magnética na parte superior da espira deve ser escrita em termos da
força diferencial que atua em cada segmento da espira. Se integrarmos sobre
cada parte diferencial, resolvemos para a força geral naquela seção da espira.
A força no laço inferior é encontrada de forma semelhante, e a força total é a
soma dessas duas forças.

Uma força diferencial em um pedaço arbitrário de fi o localizado no anel


superior é:

Em que θ é o ângulo entre a direção do campo magnético (+y) e o segmento do


fi o. Um segmento diferencial está localizado no mesmo raio, então usando uma
fórmula de comprimento de arco, temos:

130
TÓPICO 1 — FORÇA MAGNÉTICA EM UM CONDUTOR QUE TRANSPORTA CORRENTE

Substituindo o termo dl na primeira equação temos:

A fim de encontrar a força em um segmento, nos integramos sobre a metade


superior do círculo, de 0 a π. Isso resulta em:

A metade inferior do loop é integrada de π a zero, dando-nos:

A força total sobre a espira é a soma dessas forças, ou seja, zero.

Significado:
A força total em qualquer laço fechado em um campo magnético uniforme é
zero. Mesmo que cada pedaço da espira tenha uma força agindo sobre ela, a
força líquida no sistema é zero.

3 FORÇA E TORQUE EM UMA ESPIRA DE CORRENTE



Os motores são a aplicação mais comum de força magnética em fios
percorridos por corrente. Os motores contêm laços de fio em um campo
magnético. Quando a corrente é passada através das espiras, o campo magnético
exerce torque sobre elas, que gira um eixo. A energia elétrica é convertida em
trabalho mecânico no processo.

Uma vez que a área de superfície da espira esteja alinhada com o campo
magnético, a direção da corrente é invertida, de modo que há um torque contínuo
naquela espira, conforme mostrado na Figura 3. Essa reversão da corrente é feita
com comutadores e escovas.

O comutador é definido para reverter o fluxo de corrente em pontos


definidos para manter o movimento contínuo no motor. Um comutador básico
tem três áreas de contato para evitar e pontos mortos onde a espira teria zero
torque instantâneo naquele ponto. As escovas pressionam contra o comutador,
criando contato elétrico entre partes do comutador durante o movimento da
fiação.

131
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

FIGURA 3 – ESQUEMA DE UM MOTOR CC COM ESCOVAS

FONTE: <http://www.c2o.pro.br/automacao/figuras/motor_com_escovas.png>. Acesso em: 10


jan. 2021.

Em um campo magnético uniforme, uma espira de fio percorrida por


corrente, como uma espira em um motor, experimenta forças e torques.

A Figura 4 mostra uma espira retangular de fio que carrega uma corrente
I e tem lados de comprimentos a e b.

O laço está em um campo magnético uniforme A força magnética


em condutor retilíneo de comprimento l percorrido por uma corrente é .

Para encontrar a força total na espira, temos que aplicar essa equação em
cada um dos seus quatro lados.

A força do lado 1 é:

No Lado 3 temos uma situação similar, cuja única diferença é a corrente


circular em sentido contrário ao do Lado 1, assim:

As correntes nos lados 2 e 4 são perpendiculares ao campo B então:

132
TÓPICO 1 — FORÇA MAGNÉTICA EM UM CONDUTOR QUE TRANSPORTA CORRENTE

Agora, podemos calcular a força total sobre a espira:

Embora esse resultado tenha sido obtido para uma espira retangular, ele
é muito mais geral e se mantém para espiras de corrente de formas arbitrárias;
ou seja, não há força resultante em um laço de corrente em um campo magnético
uniforme.

FIGURA 4 – ESPIRA QUADRADA CIRCULADA POR UMA CORRENTE I E SUJEITA A UM CAM-


PO UNIFORME

FONTE: Adaptada de: <http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/bitstream/handle/mec/12613/


imagens/f22.png>. Acesso em: 10 jan. 2021.

ATENCAO

Lembrete: Os vetores são os vetores unitários que apontam na direção


dos eixos x, y e z, respectivamente.

Para encontrar o torque resultante na espira de corrente mostrado na


Figura 4, consideramos primeiro F1 e F3. Uma vez que eles têm a mesma linha
de ação e são iguais e opostos, a soma de seus torques sobre qualquer eixo é
zero. Assim, se houver algum torque na espira, ele deve ser fornecido por F2 e
F4. Vamos calcular os torques ao redor do eixo que passa pelo ponto O da Figura
4 em (b), uma visão lateral da bobina, e é perpendicular ao plano da página.
O ponto O está a uma distância x do lado 2 e uma distância (a−x) do lado 4 da
espira. Os braços de alavanca de F2 e F4 são x.senθ e (a−x).senθ, respectivamente,
de modo que o torque resultante na espira é:

133
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

Substituindo-se F2 e F4 pelas expressões deduzidas anteriormente temos


que:

O que resulta em:

Sendo “A” a área da espira, I é a corrente, B é o campo magnético, e θ é o


ângulo entre o vetor normal n e o campo B.

O torque será máximo (Tmáx) quando o ângulo θ for zero (pois sen0° =

1) Assim, podemos escrever que:

Tmax = I.A.B

Essas expressões citadas para o cálculo do torque consideram a existência


de uma única espira. Havendo mais espiras o torque resultante deve ser
multiplicado pelo número de espiras.

E
IMPORTANT

Torque (T), ou momento de uma força, é a tendência que uma força tem de
rotacionar um corpo sobre o qual ela é aplicada. O torque é um vetor perpendicular ao
plano formado pelos vetores força (F) e raio de rotação (r). Conforme Helerbrock (2021),
o vetor torque pode ser calculado por meio do produto vetorial entre força e distância.
Sempre que uma força for aplicada a alguma distância do eixo de rotação de um corpo,
esse corpo estará sujeito à rotação.

134
TÓPICO 1 — FORÇA MAGNÉTICA EM UM CONDUTOR QUE TRANSPORTA CORRENTE

REPRESENTAÇÃO DO TORQUE

FONTE: Adaptada de <https://s4.static.brasilescola.uol.com.br/img/2019/02/torque-es-


quema.jpg>. Acesso em: 9 jan. 2021.

Assim, na forma vetorial, o torque pode ser assim calculado:

Já na forma escalar, a expressão que define o torque é:

Em que θ é o ângulo entre r e F.

Observe que esse torque é independente de x. Ele é, portanto,


independentemente de onde o ponto O está localizado no plano da espira de
corrente. Consequentemente, a espira experimenta o mesmo torque originado pelo
campo magnético sobre qualquer eixo no plano da espira e paralelo ao eixo x.

Uma espira de corrente fechada é comumente referida como um dipolo


magnético e o termo I.A é conhecido como seu momento de dipolo magnético
M. Na verdade, o momento dipolo magnético é um vetor defi nido como:

Em que é um vetor unitário direcionado perpendicularmente ao plano


da espira, ver fi gura anterior. A direção de é obtida pela regra da mão direita:
se você curvar os dedos da mão direita na direção do fl uxo de corrente na espira,
então o polegar aponta ao longo de . Se a espira contém n voltas de fi o, então
seu momento de dipolo magnético é dado por .

135
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

E
IMPORTANT

O vetor normal também pode ser calculado pelo produto vetorial dos vetores
que formam o plano da espira. Por exemplo: se a espira estiver no plano x-y, o vetor normal
é calculado por:

Em termos do momento do dipolo magnético, o torque numa espira de


corrente devido a um campo magnético uniforme pode ser escrito simplesmente
como:


Ou na forma escalar:

T = M.B.senθ

Essa equação é válida para qualquer espira de corrente de formato
arbitrário num plano.

Exemplo 4:
Forças e torques numa espira de corrente.
Uma corrente circular de raio de 2,0 cm carrega uma corrente de 2,0 mA.
a) Qual é a magnitude do seu momento de dipolo magnético?
b) Se o dipolo é orientado a 30 graus para um campo magnético uniforme de
magnitude 0,50 T, qual é a magnitude do torque sobre esse dipolo?

Solução:
O momento do dipolo é definido pelo produto da corrente pela área da espira
circular. A área da espira pode ser calculada a partir da área da circunferência.
O torque na espira é calculado a partir da identificação do momento magnético,
campo magnético e ângulo orientado no campo.

136
TÓPICO 1 — FORÇA MAGNÉTICA EM UM CONDUTOR QUE TRANSPORTA CORRENTE

a) O momento magnético M pode ser assim calculado na forma escalar:

M = i.A = 0,002 × (π.0,02²)


M = 2,5×10-6 A.m²

b) O torque é calculado da seguinte forma:

T = M.B.senθ = 2,5×10-6 × 0,50 × sen(30º) = 6,3 × 10-7 N.m

4 GERADORES ELÉTRICOS E FORÇA CONTRA


ELETROMOTRIZ FCEM

Geradores elétricos induzem uma Força Eletromotriz (FEM) girando
uma bobina em um campo magnético, conforme visto anteriormente. Agora
exploramos os geradores com mais detalhes. Considere o exemplo a seguir.

Cálculo da FEM induzido em uma bobina geradora: considere uma


bobina geradora mostrada na Figura 5, a qual girada através de um quarto de
uma revolução (de θ = 0° a θ = 90°) em 15,0 ms. A bobina circular de 200 voltas tem
um raio de 5,00 cm e está em um campo magnético uniforme de 0,80 T. Queremos
determinar a FEM induzida.

FIGURA 5 – ESQUEMA DE UM GERADOR ELÉTRICO ELEMENTAR

FONTE: <https://pt-static.z-dn.net/files/d5b/c9c5adf42a973b572afd3b05507ada0c.png>. Acesso


em: 10 jan. 2021.

A lei de indução de Faraday pode ser usada para encontrar a FEM


induzida:

137
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

O valor do campo magnético e da área da espira é fixado ao longo do


tempo, o que faz com que a integração possa ser simplificada. O fluxo magnético
é definido por ϕ = B.A. A FEM induzida. Pode então ser escrita utilizando a Lei
de Faraday:


Substituindo-se pelos valores apresentados anteriormente temos que:

A FEM calculada na situação descrita é a média acima de um quarto de


uma revolução. Qual é a FEM em um instante qualquer? Varia de acordo com
o ângulo entre o campo magnético e a área perpendicular à bobina. Podemos
obter uma expressão para a FEM em função do tempo, considerando a FEM em
uma bobina retangular rotativa de largura w e altura l em um campo magnético
uniforme, como ilustrado na Figura 6:

FIGURA 6 – UMA BOBINA QUADRADA SE MOVIMENTA NUM CAMPO MAGNÉTICO B, GERANDO


UMA CORRENTE ELÉTRICA

FONTE: <https://oficinabrasil.com.br/uploads/images/tecnica/Alternador-1.jpg>. Acesso em: 10


jan. 2021.

As cargas nos fios de uma espira sofrem a ação de uma força magnética,
porque estão se movendo em um campo magnético. As cargas nos fios verticais
experimentam forças paralelas ao fio, resultando em correntes. Contudo, aqueles
nos segmentos superior e inferior sentem uma força perpendicular ao fio, o que
não provocam uma corrente.

138
TÓPICO 1 — FORÇA MAGNÉTICA EM UM CONDUTOR QUE TRANSPORTA CORRENTE

Assim, podemos encontrar a FEM induzida considerando apenas os


fios laterais da espira. A FEM de movimento é dada por FEM = Blv, em que a
velocidade v é perpendicular ao campo magnético B. Aqui a velocidade está em
um ângulo θ com B, de modo que sua componente perpendicular a B é v.senθ
conforme a Figura 6. Assim, nesse caso, a FEM induzida em cada lado é FEM =
B.l.v.senθ e eles estão na mesma direção. A FEM total em torno da espira é então:

FEM = 2B.l.v.senθ

Essa expressão é válida, mas não dá a FEM em função do tempo. Para
encontrar a dependência do tempo da FEM, assumimos que a bobina gira a uma
velocidade angular constante ω. O ângulo θ está relacionado à velocidade angular
por θ=ωt, de modo que:

FEM = 2B.l.v.sen(ωt)

Agora, a velocidade linear v está relacionada à velocidade angular ω por
v=rω. Aqui, r = ω/2, de modo que v = ω.(ω/2) e


Observando que a área da espira é A = lω, e considerando N voltas
descobrimos que:

FEM = N.B.A.ω.sen(ωt)

Essa é a FEM induzida em uma bobina num gerador com N voltas de
área A girando a uma velocidade angular constante ω em um campo magnético
uniforme B. Assim a FEM induzida ε também pode ser expressa como:


Em que:


ε0 é o valor de pico da FEM induzida, uma vez que o valor máximo de
sen(ωt) = 1. Note que a frequência da oscilação é f = ω/2π e o período é T = 1/f =
2π/ω. A Figura 7 mostra um gráfico da FEM como função do tempo, fica fácil de
perceber seu comportamento senoidal.

139
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

FIGURA 7 – GERADOR CA ELEMENTAR COM A FORMA DE ONDA DA TENSÃO APRESENTADA

FONTE: Adaptada de <https://conhecimentocientifico.r7.com/wp-content/uploads/2020/05/


dinamo-o-que-e-definicao-principais-caracteristicas-e-funcionalidade-2.jpg>. Acesso em: 10 jan.
2021.

O fato de a FEM de pico ser faz sentido. Quanto maior o


número de bobinas, maior a sua área, e mais forte o campo, maior a tensão de
saída. É interessante que quanto mais rápido o gerador for girado (maior ω),
maior será a FEM. Isso pode ser facilmente observado nos antigos dínamos de
bicicleta.

A Figura 8 mostra um esquema pelo qual um gerador pode ser construído


para produzir uma onda CC pulsada. Arranjos mais elaborados de múltiplas
bobinas e anéis divididos podem produzir uma tensão CC mais suave, embora
meios eletrônicos ao invés de mecânicos sejam geralmente usados para criar uma
onda CC livre de ondulações.

FIGURA 8 – DIAGRAMA DE UM GERADOR ELEMENTAR CC

FONTE: <https://www.alternative-energy-tutorials.com/images/stories/wind/alt114.gif>. Acesso


em: 10 jan. 2021.

140
TÓPICO 1 — FORÇA MAGNÉTICA EM UM CONDUTOR QUE TRANSPORTA CORRENTE

Na vida real, os geradores elétricos podem ser muito diferentes dos


apresentados aqui, mas os princípios são os mesmos.

A fonte de energia mecânica que gira a bobina pode ser uma queda da
água (hidrelétrica), o vapor produzido pela queima de combustíveis fósseis, ou a
energia cinética do vento. A Figura 9 mostra uma visão de corte de uma turbina
a vapor; o vapor se move sobre as lâminas conectadas ao eixo, que gira a bobina
dentro do gerador. A geração de energia elétrica a partir da energia mecânica é o
princípio básico de toda a energia enviada através de nossas redes elétricas para
nossas casas.

FIGURA 9 – GERADOR MOVIDO POR UMA TURBINA A VAPOR

FONTE: Adaptada de <https://www.grupotgm.com.br/media/k2/galleries/122/1-TGM_TU_TG_


tb50_tratada.jpg>. Acesso em: 10 jan. 2021.

Os geradores ilustrados aqui se parecem muito com os motores ilustrados


anteriormente. Isso não é coincidência. Na verdade, um motor se torna um
gerador quando seu eixo gira. Alguns automóveis antigos utilizavam seu motor
de partida como gerador.

4.1 A FORÇA CONTRA ELETROMOTRIZ (FCEM)


Os geradores convertem energia mecânica em energia elétrica, enquanto os
motores convertem energia elétrica em energia mecânica. Assim, não surpreende
que motores e geradores tenham a mesma construção geral. Um motor funciona
enviando uma corrente através de uma espira de fi o localizada em um campo
magnético. Como resultado, o campo magnético exerce torque nessa espira.
Esse torque provoca o giro de um eixo, extraindo assim o trabalho mecânico da
corrente elétrica enviada inicialmente.

141
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

Quando a bobina de um motor é virada, o fl uxo magnético muda através


da bobina, e uma FEM (de acordo com a lei de Faraday) é induzida. Assim, o
motor age como um gerador sempre que sua bobina gira. Isso acontece se o eixo é
virado por uma força externa, como uma correia, ou pela ação do próprio motor,
ou seja, quando um motor está fazendo o trabalho e seu eixo está girando, uma
FEM é gerada. A lei de Lenz nos diz que a FEM se opõe a qualquer mudança,
de modo que esta FEM de entrada que alimenta o motor é oposta pela FEM
autogerada do motor, chamado Força Contra Eletromotriz (FCEM), cujo circuito
equivalente é mostrado na Figura 10.

FIGURA 10 – DIAGRAMA ELÉTRICO EQUIVALENTE DA FEM E DA FCEM NUM MOTOR

FONTE: O autor

Na Figura 10, a bobina de um motor CC é representada como um resistor


nesse esquema. A FCEM é representada como um FEM variável que se opõe à
FEM de operação do motor. A FCEM é nula quando o motor não está girando e
aumenta proporcionalmente de acordo com a velocidade angular do motor.

A tensão de saída de um gerador é a diferença entre a tensão de alimentação


e a FCEM. A FCEM é zero quando o motor é ligado pela primeira vez, o que
signifi ca que a bobina recebe toda a tensão aplicada e o motor drena corrente
máxima quando está ligado, mas não girando.

À medida que o motor gira mais rápido, a FCEM aumenta, sempre se


opondo à FEM de condução, e reduz tanto a tensão através da bobina de acordo
com a quantidade de corrente circulante. Esse efeito é perceptível em muitas
situações comuns. Quando um aspirador, geladeira ou máquina de lavar é ligado
pela primeira vez, as luzes no mesmo circuito escurecem brevemente devido à
queda de IR causada nos circuitos de alimentação pela grande corrente solicitada
pelo motor.

Quando um motor é ligado, ele atrai mais corrente do que quando ele
funciona em sua velocidade de operação normal. Quando uma carga mecânica
é colocada no motor, como uma cadeira de rodas elétrica subindo uma colina,

142
TÓPICO 1 — FORÇA MAGNÉTICA EM UM CONDUTOR QUE TRANSPORTA CORRENTE

o motor desacelera, a FCEM cai, mais fluxos de corrente e mais trabalho pode
ser feito. Se o motor funciona a uma velocidade muito baixa, a corrente maior
pode superaquecê-lo (através da potência resistiva na bobina, P=I²R), talvez até
queimá-lo. Por outro lado, se não houver carga mecânica no motor, ele aumenta
sua velocidade angular ω até que a FCEM seja quase igual à FEM de condução.
Então o motor usa apenas energia suficiente para superar o atrito.

Correntes de Foucault (correntes parasitas) em núcleos de ferro de
motores podem causar perdas de energia problemáticas. Estas são geralmente
minimizadas pela construção dos núcleos a partir de folhas finas e eletricamente
isoladas de ferro.

As propriedades magnéticas do núcleo dificilmente são afetadas pela


laminação da folha isolante, enquanto o aquecimento resistivo é reduzido
consideravelmente.

Considere, por exemplo, as bobinas do motor representadas pelo


circuito da Figura 10. As bobinas têm uma resistência equivalente de 0,320 Ω e
são alimentadas por uma FEM de 40,0 V. Pouco depois de serem ligados, eles
solicitam uma corrente I:

I = V/R = 40,0/0,320 = 125 A

E, assim, dissipar uma potência:

P = I².R = (125)².0,320 = 5,00 kW de energia através da geração de calor


(Efeito Joule). Em condições normais de operação para esse motor, vamos supor
uma FCEM de 35,0 V. Então, em velocidade de operação, a tensão total através
das bobinas é de 5,0 V (40,0 V menos a FCEM de 35,0 V), e a corrente solicitada é:

I = V/R = 5,0/0,320 ≈ 15,63 A.



Sob carga normal, então, a energia dissipada é:

P = IV = 15,63 . 5,00 = 78,15 W

Esse valor de potência não causa nenhum problema para esse motor,
enquanto o anterior de 5,76 kW queimaria as bobinas, se mantida mesmo que por
um breve período.

Exemplo 5:
Análise de um motor com enrolamento em série em operação.

A resistência total (Rf + Ra) de um motor CC com enrolamento série é de 1,5 Ω,


conforme mostrado na figura a seguir. Quando conectado a uma fonte de 127
V (εS), o motor solicita uma corrente de 8,0 A enquanto funciona em velocidade
angular constante.

143
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

a) Qual é o valor da FCEM induzida na bobina do rotor (εi)?


b) Qual é a potência mecânica na saída do motor?
c) Quanta energia é dissipada na resistência das bobinas?
d) Qual é a potência de saída na fonte de 127 V?
e) Suponha que a carga no motor aumente, fazendo com que ele desacelere até
o ponto em que ele passa a consumir 16 A. Repita os cálculos de “a” até “d”
nessa nova condição.

REPRESENTAÇÃO DO CIRCUITO DE UM MOTOR DE CORRENTE DIRETA DE FERIDA EM SÉRIE

FONTE: O autor

Solução:
A FCEM é calculada com base na diferença entre a tensão fornecida e a perda
da corrente através da resistência. A potência de cada dispositivo é calculada a
partir de uma das fórmulas de potência com base nas informações dadas.

Solução:
a) Determinação da FCEM:
Pela análise do circuito equivalente do motor temos que:
εi = εS − I (Rf + Ra) = 127 − (8,0.1,5) = 115 V

b) Cálculo da potência mecânica na saída do motor Pm:


Pm = εi.I = 115 . 8,0 = 920 W

c) Potência dissipada nas bobinas PR:


PR = I².R = (8,0)².1,5 = 96 W

d) Potência de saída da fonte de 127 V:


PS = εS.I = 127 . 8,00 = 1.016 W

e) Repetição dos cálculos para I = 16 A:


εi = 103 V
Pm = 1.648 W
PR = 384 W
PS = 2.032 W

144
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A força que um campo magnético B exerce sobre um fio de comprimento l


percorrido por uma corrente de intensidade I pode ser calculada por:
ou .

• A definição geral de torque é: .

• Já o torque gerado por uma espira condutora de corrente imersa num campo
magnético uniforme B é: .

• Um gerador elétrico é uma máquina composta por espiras que induzem


uma FEM quando giram imersas num campo magnético. Essa FEM pode ser
calculada pela expressão adiante colocada, em que N é o número de espiras, B
é a intensidade do campo magnético, A é a área das espiras e ω é a velocidade
angular das espiras: FEM = N.B.A.ω.sen(ωt).

• Quando um circuito indutivo é percorrido por uma corrente variável, ocorre


a indução de uma força eletromotriz que se opõe a esta corrente. Essa força é
denominada Força Contra Eletromotriz (FCEM).

• A FCEM de um gerador ou motor pode ser encontrada diminuindo-se o valor


da tensão aplicada (ou gerada) da queda de tensão dos enrolamentos.

145
AUTOATIVIDADE

1 Um condutor de 4 m de comprimento está ao longo do eixo y e é percorrido


por uma corrente de 10,0 A (na direção positiva de y). Calcule a força sobre
este condutor considerando que existe um campo magnético T.

2 Calcule a força sobre um condutor retilíneo de comprimento 0,30 m disposto


sobre o eixo z, imerso num campo B = (3,50; -3,50; 0)×10-3 T percorrido por
uma corrente de 5,0 A na direção negativa de z, conforme mostrado na
fi gura a seguir:

FONTE: O autor

3 Uma espira retangular, conforme fi gura a seguir, está imersa num campo
B = 0,0354 i + 0,0354 j T. Encontre o momento de dipolo magnético M e o
torque T na forma vetorial quando a espira for percorrida por uma corrente
de 5,0 A.

FONTE: Edminister (1980, p. 153)

146
4 Encontre o torque máximo de uma bobina retangular com 85 espiras, 20
x 30 cm de lado, percorrida por uma corrente de 2,0 A na presença de um
campo B = 6,5 T.

5 Um gerador CA é composto por uma bobina construída por 100 espiras


circulares de raio 1 cm, que giram a 200 rpm num campo magnético
uniforme de 1,2 T. Qual é o valor de pico da FEM induzida nesse gerador?

147
148
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE I

1 INTRODUÇÃO

Vamos estudar, neste tópico, alguns dispositivos que se utilizam de
fenômenos eletromagnéticos para funcionar, tais como sensores e dispositivos
de chaveamento. Iniciamos o estudo com a análise de vários tipos de sensores
de posição e, ao final, é apresentado o solenoide de curso linear, um componente
bastante comum em máquinas elétricas.

2 SENSORES DE POSIÇÃO

Como o nome deles indica, os Sensores de Posição detectam a posição
de algo que significa que eles são referenciados a, ou a partir de algum ponto
ou posição fixo. Esses tipos de sensores fornecem um feedback "posicional". Um
método de determinação de uma posição é usar a "distância", que pode ser entre
dois pontos, como a distância percorrida ou afastada de algum ponto fixo, ou por
"rotação" (movimento angular). Por exemplo, a rotação de uma roda de um robô
para determinar sua distância percorrida ao longo do solo. De qualquer forma,
os sensores de posição podem detectar o movimento de um objeto em linha
reta usando sensores lineares ou pelo seu movimento angular usando sensores
rotacionais.

2.1 O POTÊNCIOMETRO

O mais usado de todos os "Sensores de Posição" é o potenciômetro porque
é um sensor de posição barato e fácil de usar. Possui um contato na forma de
trilha ligado a um eixo mecânico que pode ser angular (rotacional) ou linear (tipo
controle deslizante) em seu movimento, e que faz com que o valor de resistência
entre a trilha/controle deslizante e as duas conexões finais mudem dando uma
saída de sinal elétrico que tenha uma relação proporcional entre a posição real
do limpador na pista resistiva e seu valor de resistência. Em outras palavras, a
resistência é proporcional à posição.

149
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

FIGURA 11 – FOTO DE UM POTENCIÔMETRO COMUM

FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/0/0a/Electronic-Compo-
nent-Potentiometer.jpg/220px-Electronic-Component-Potentiometer.jpg>. Acesso em: 16 jan.
2021.

Os potenciômetros vêm em uma ampla gama de desenhos e tamanhos,


sendo o tipo circular e o deslizante em linha os mais comuns. Quando usado como
sensor de posição, o objeto móvel é conectado diretamente ao eixo rotacional ou
controle deslizante do potenciômetro.

Uma tensão de referência CC é aplicada nas duas conexões fixas externas
que formam o elemento resistivo. O sinal de tensão de saída é retirado do terminal
da trilha do contato deslizante, conforme Figura 12.

Essa configuração produz uma saída do tipo divisor de tensão proporcional
à posição do eixo. Então, por exemplo, se você aplicar uma tensão de, digamos, 10
volts através do elemento resistivo do potenciômetro, a tensão máxima de saída
seria igual à tensão de alimentação a 10 volts, com a tensão mínima de saída igual
a 0 volts. Em seguida, o contato deslizante do potenciômetro irá variar o sinal de
saída de 0 a 10 volts, com 5 volts indicando que o contato ou controle deslizante
está na posição do meio ou centro.

150
TÓPICO 2 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE I

FIGURA 12 – ANÁLISE DE UM POTENCIÔMETRO. (A) ESQUEMA CONSTRUTIVO; (B) EQUIVA-


LENTE ELÉTRICO: (C) GRÁFICO DA TENSÃO DE SAÍDA EM RELAÇÃO À POSIÇÃO DO EIXO

FONTE: O autor

O sinal de saída (Vsaída) do potenciômetro é retirado da conexão do contato


central à medida que se move ao longo da faixa resistiva, e é proporcional à
posição angular do eixo.

Costuma-se utilizar, em conjunto com o potenciômetro, um circuito a


base de um amplifi cador operacional, na confi guração apresentada na Figura
13. Nesse circuito, a saída Vs varia proporcionalmente com a posição do eixo do
potenciômetro, sendo esse sinal forte o sufi ciente para ser aplicado em alguma
etapa posterior de processamento.

151
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

FIGURA 13 – EXEMPLO DE UM CIRCUITO COM SENSORIAMENTO POSICIONAL

FONTE: O autor

Embora os sensores de posição com potenciômetros resistivos tenham


muitas vantagens: baixo custo, baixa tecnologia, fácil de usar etc., como sensor de
posição eles também têm muitas desvantagens: desgaste devido a peças móveis,
baixa precisão, baixa repetibilidade e resposta de frequência limitada.

Há uma desvantagem principal de usar o potenciômetro como sensor


posicional, a amplitude de movimento de seu contato deslizante (e, portanto, o
sinal de saída obtido) é limitada ao tamanho físico do potenciômetro que está
sendo utilizado.

Por exemplo, um potenciômetro rotacional de giro único geralmente só


tem uma rotação mecânica fi xa entre 0° e cerca de 240 a 330° máximo. A maioria
dos tipos de potenciômetros usa fi lme de carbono para sua trilha resistiva, mas
esses tipos são eletricamente barulhentos (o estalo em um controle de volume de
rádio), e têm uma vida mecânica curta.

Potenciômetros de fi o, também conhecidos como reostatos, construídos a


partir de uma bobina de fi o de elevada resistência, também são usados, mas esses
tipos sofrem de problemas de resolução à medida que o contato deslizante pula
de um segmento de fi o para o próximo produzindo uma saída logarítmica (LOG)
resultando em erros no sinal de saída. Esses também sofrem de ruído elétrico.

Para aplicações de alta precisão e baixo ruído existem potenciômetros


de fi lme de polímero. Esses têm uma faixa resistiva de baixo atrito suave (LIN)
dando-lhes um baixo ruído, longa vida e excelente resolução e estão disponíveis
tanto como dispositivos de giro múltiplo e único giro. Aplicações típicas para
esse tipo de sensor de posição de alta precisão estão em joysticks de jogo de
computador, volantes, aplicações industriais e robôs.

152
TÓPICO 2 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE I

2.2 SENSORES DE POSIÇÃO INDUTIVOS



Veremos a seguir alguns tipos de sensores que funcionam a partir do
efeito da indução eletromagnética, estudado anteriormente.

2.2.1 Transformador diferencial variável linear



Um tipo de sensor posicional que não sofre de problemas de desgaste
mecânico é o "Transformador Diferencial Variável Linear" ou TDVL para abreviar.
Esse é um sensor de posição do tipo indutivo que funciona com o mesmo princípio
do transformador CA usado para medir o movimento. É um dispositivo muito
preciso para medir o deslocamento linear e cuja saída é proporcional à posição de
seu núcleo móvel.

Esse sensor consiste basicamente em três bobinas enroladas em um tubo
oco, uma consistindo na bobina primária e as outras duas bobinas formando as
secundárias idênticas conectadas eletricamente em série, mas 180° fora de fase de
ambos os lados da bobina primária.

Um núcleo ferromagnético de ferro macio móvel (às vezes chamado de
"armadura") conectado ao objeto que está sendo medido, desliza ou se move para
cima e para baixo dentro do corpo tubular do TDVL.

Uma pequena tensão CA de referência, chamada "sinal de excitação" (de
valor eficaz entre 2 e 20 volts e frequência entre 2 e 20 quilohertz), é aplicada ao
enrolamento primário que, por sua vez, induz um sinal (uma forma eletromotriz
induzida) nos dois enrolamentos secundários adjacentes (princípios do
transformador).

Se a armadura do núcleo magnético de ferro macio estiver exatamente no
centro do tubo e os enrolamentos na "posição nula", as FEM induzidas nos dois
enrolamentos secundários se cancelam, pois estão a 180° de fase, então a tensão
de saída resultante é zero. À medida que o núcleo é deslocado ligeiramente para
um lado ou para o outro a partir dessa posição nula ou zero, a tensão induzida
em um dos secundários será maior do que a do outro secundário e uma saída será
produzida. Veja a ilustração “a” na Figura 14, para compreender a construção de
um TDVL.

A polaridade do sinal de saída depende da direção e deslocamento do


núcleo móvel. Quanto maior o movimento do núcleo de ferro a partir de sua
posição nula central, maior será o sinal de saída resultante.

O resultado é uma saída de tensão diferencial que varia linearmente com


a posição dos núcleos. Portanto, o sinal de saída desse tipo de sensor de posição
tem tanto uma amplitude –função linear do deslocamento dos núcleos – quanto
uma polaridade que indica direção de movimento.

153
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

A fase do sinal de saída pode ser comparada com a fase de excitação


da bobina primária, permitindo circuitos eletrônicos adequados, como o
Amplifi cador de Sensor AD592 TDVL para saber em que metade da bobina o
núcleo magnético está e, assim, saber a direção do movimento.

FIGURA 14 – O TRANSFORMADOR DIFERENCIAL VARIÁVEL LINEAR: (A) ASPECTO CONSTRUTI-


VO; (B) COMPORTAMENTO DA TENSÃO DE SAÍDA EM RELAÇÃO À POSIÇÃO DO NÚCLEO; (C)
DIAGRAMA ESQUEMÁTICO

FONTE: Adaptada de <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/57/LVDT.png>. Aces-


so em: 16 jan. 2021.

Quando a armadura é movida de uma extremidade para a outra através


da posição central, as tensões de saída mudam de máximo para zero e voltam ao
máximo novamente, mas no processo muda seu ângulo de fase por 180 graus. Isso
permite que o TDVL produza um sinal CA de saída cuja magnitude represente a
quantidade de movimento da posição central, e cujo ângulo de fase representa a
direção do movimento do núcleo.

DICAS

Aprenda um pouco mais dos TDVL lendo o artigo Transformador Diferencial


Variável Linear (LVDT). Na íntegra, em: https://illustrationprize.com/pt/270-linear-variable-
differential-transformer-lvdt.html.

154
TÓPICO 2 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE I

Uma aplicação típica de um sensor de transformador diferencial variável


linear (TDVL) seria como um transdutor de pressão, se a pressão, sendo medida,
empurra contra um diafragma para produzir uma força. A força é então convertida
em um sinal de tensão legível pelo sensor.

Vantagens do transformador diferencial variável linear, ou TDVL
comparado a um potenciômetro resistivo são: sua linearidade, a qual é sua saída
de tensão para deslocamento é excelente, precisão muito boa, boa resolução, alta
sensibilidade, bem como operação sem atrito. Eles também são selados para uso
em ambientes hostis.

2.2.2 Sensores Indutivos de Proximidade


Outro tipo de sensor de posição indutivo em uso comum é o Sensor
Indutivo de proximidade também chamado de sensor de corrente de Foucault.
Embora eles realmente não meçam deslocamento ou rotação angular, são usados
principalmente para detectar a presença de um objeto na frente deles ou dentro
de uma proximidade próxima, daí seu nome "sensor de proximidade".

Sensores de proximidade são sensores de posição sem contato que usam
um campo magnético para detecção com o sensor magnético mais simples sendo
o sensor reed switch. Em um sensor indutivo, uma bobina é enrolada em torno de
um núcleo de ferro dentro de um campo eletromagnético para formar um laço
indutivo.

NOTA

O sensor reed switch é uma chave composta por dois contatos metálicos
normalmente abertos. Na presença de um campo magnético externo os contatos se
atraem fechando o circuito.

SENSOR REED SWITCH

FONTE: <https://uploads.filipeflop.com/2017/07/08642-02-L.jpg>. Acesso em: 16 jan. 2021.

Você pode aprender mais do sensor reed switch acessando: https://www.newtoncbraga.


com.br/index.php/como-funciona/3860-mec089.

155
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

Quando um material ferromagnético é colocado dentro do campo da


corrente de Foucault gerado ao redor do sensor indutivo, como uma placa
metálica ferromagnética ou parafuso metálico, a indutância da bobina muda
signifi cativamente. O circuito de detecção de sensores de proximidade detecta essa
alteração produzindo uma tensão de saída. Portanto, os sensores de proximidade
indutiva operam sob o princípio elétrico da Lei de Indução de Faraday.

FIGURA 15 – FUNCIONAMENTO DE UM SENSOR DE PROXIMIDADE INDUTIVO

FONTE: Adaptada de <https://www.citisystems.com.br/wp-content/uploads/2015/09/sensor-in-


dutivo-funcionamento.png> Acesso: 16 jan. 2021.

Um sensor indutivo de proximidade tem quatro componentes principais;


o oscilador que produz o campo eletromagnético, a bobina que gera o campo
magnético, o circuito de detecção que detecta qualquer alteração no campo, quando
um objeto entra nele, e o circuito de saída que produz o sinal de saída, seja com
contatos normalmente fechados (NF) ou normalmente abertos (NA).

Sensores de proximidade indutivos permitem a detecção de objetos


metálicos na frente da cabeça do sensor sem que qualquer contato físico do
próprio objeto seja detectado. Isso os torna ideais para uso em ambientes sujos ou
molhados. A faixa de sensibilidade de sensores de proximidade é muito pequena,
tipicamente de 0,1 mm a 12 mm.

FIGURA 16 – FOTO DE UM SENSOR DE PROXIMIDADE INDUTIVO

FONTE: <https://www.citisystems.com.br/wp-content/uploads/2015/09/sensor-indutivo.jpg>.
Acesso em: 16 jan. 2021.

156
TÓPICO 2 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE I

Além das aplicações industriais, sensores de proximidade indutivos


também são, comumente, usados para controlar o fluxo de tráfego, trocando
semáforos em cruzamentos e estradas. Laços indutivos retangulares de fio estão
enterrados na superfície da estrada de asfalto.

Quando um carro ou outro veículo rodoviário passa por cima desse laço
indutivo, o corpo metálico do veículo muda a indutância das alças e ativa o sensor
alertando assim o controlador de semáforos de que há um veículo esperando.
A Figura 17 mostra as marcações no asfalto feitas para acomodar esses laços
indutivos sensíveis aos veículos.

FIGURA 17 – SENSORES INDUTIVOS INSTALADOS NA PISTA DE ROLAMENTO PARA DETECÇÃO


DE VELOCIDADE DE VEÍCULOS

FONTE: Adaptada de <https://www.monolitonimbus.com.br/wp-content/uploads/2016/03/ra-


dar_fixo.jpg>. Acesso em: 16 jan. 2021.

Uma das principais desvantagens desses tipos de sensores de posição é que


eles são omnidirecionais, ou seja, eles vão sentir um objeto metálico acima, abaixo
ou ao lado dele. Além disso, eles não detectam objetos não metálicos, embora
sensores de proximidade capacitiva e sensores de proximidade ultrassônica
possam fazê-lo. Outros sensores posicionais magnéticos comumente disponíveis
incluem: interruptores reed switch, sensores de efeito hall e sensores de relutância
variável.

3 SOLENOIDE LINEAR

Um "Solenoide Linear" é um dispositivo eletromagnético que converte
energia elétrica em uma força ou movimento mecânico de pressão.

157
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

FIGURA 18 – SOLENOIDE LINEAR DE 12 VOLTS

FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/51XVHF0AALL._AC_SL1100_.jpg>.
Acesso em: 16 jan. 2021.

Solenoides lineares consistem basicamente em uma bobina elétrica


enrolada em torno de um tubo cilíndrico com um atuador ferromagnético ou
"êmbolo" livre para mover ou deslizar para dentro ou para fora do corpo das
bobinas. Solenoides podem ser usados para abrir eletricamente portas e travas,
abrir ou fechar válvulas, mover e operar membros e mecanismos robóticos, e até
mesmo acionar interruptores elétricos apenas energizando sua bobina.

Solenoides estão disponíveis em uma variedade de configurações e
formatos, sendo um dos tipos mais comuns o Solenoide Linear, também
conhecido como atuador eletromecânico linear que, como seu nome sugere,
produz um movimento linear em linha reta, e o Solenoide Rotativo que produz
um movimento rotacional sobre algum ângulo fixo.

Ambos os tipos de solenoide, linear e rotacional estão disponíveis como
um suporte (continuamente energizado) ou como um tipo de travamento (pulso
ON-OFF) com os tipos de travamento sendo usados em aplicações energizadas
ou de desligamento. Solenoides lineares também podem ser projetados para o
controle de movimento proporcional, pois a posição do êmbolo é proporcional à
entrada de energia.

Quando a corrente elétrica flui através de um condutor ela gera um campo
magnético ao redor de si mesmo. A direção desse campo magnético, no que diz
respeito aos polos norte e sul, é determinada pela direção do fluxo de corrente
dentro do fio. Em seguida, com a corrente elétrica fluindo através da bobina de
fio ele torna-se um eletroímã criando seus próprios polos norte e sul, exatamente
o mesmo que para um ímã tipo permanente.

A força desse campo magnético pode ser aumentada ou diminuída
controlando a quantidade de corrente que flui através da bobina ou alterando o
número de voltas ou espiras que a bobina tem. Um exemplo de eletroímã é dado
na Figura 19:

158
TÓPICO 2 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE I

FIGURA 19 – CAMPO ELETROMAGNÉTICO PRODUZIDO POR UM SOLENOIDE

FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/img/2019/12/campo-magnetico-bobina-ima-
gem(1).jpg>. Acesso em: 16 jan. 2021.

Quando uma corrente elétrica é passada através dos enrolamentos das


bobinas, ela se comporta como um eletroímã. E o êmbolo, localizado dentro da
bobina, é atraído para o centro da bobina pela configuração do fluxo magnético
dentro do corpo das bobinas, que por sua vez comprime uma pequena mola presa
a uma de suas extremidades. A força e a velocidade do movimento do êmbolo são
determinadas pela força do fluxo magnético gerado dentro da bobina.

Quando a corrente de alimentação é desligada o campo eletromagnético
gerado pela bobina se desfaz e a energia armazenada na mola compactada força
o êmbolo a voltar para sua posição de repouso original. Esse movimento de ida e
volta do êmbolo é conhecido como solenoides deslocamento, ou seja, a distância
máxima que o êmbolo pode percorrer em uma direção para dentro ou para fora,
por exemplo, 0 a 25 mm.

3.1 CONSTRUÇÃO DE SOLENOIDES LINEARES



Este tipo de solenoide é comumente chamado de Solenoide Linear
devido ao movimento direcional linear do êmbolo. Solenoides lineares estão
disponíveis em duas configurações básicas chamadas "Tipo pull", pois puxam a
carga conectada para si mesma quando energizada, e o "tipo push" que agem na
direção oposta afastando-a de si mesma quando energizada. Ambos os tipos Push
e Pull são construídos de mesma maneira, diferindo apenas na posição da mola
de retorno.

159
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

FIGURA 20 – VISTA EM CORTE DE UM SOLENOIDE LINEAR

FONTE: Adaptada de <https://tlxtech.imgix.net/shared/Latching-Solenoid-Larger-Image.pn-


g?w=600&h=900&fit=clip&&auto=format>. Acesso em: 16 jan. 2021.

Solenoides lineares são úteis em muitas aplicações que requerem um


movimento de tipo aberto ou fechado (dentro ou fora), como travas de porta
ativadas eletronicamente, válvulas de controle pneumáticas ou hidráulicas,
robótica, gerenciamento de motores automotivos, válvulas de irrigação e até
mesmo campainhas do tipo “ding-dong”.

3.2 SOLENOIDE ROTATIVO


A maioria dos solenoides eletromagnéticos são dispositivos lineares que
produzem uma força ou movimento linear para frente e para trás. No entanto,
solenoides rotacionais também estão disponíveis e produzem um movimento
angular ou rotativo a partir de uma posição neutra no sentido horário, anti-
horário ou em ambas as direções (bidirecional).

FIGURA 21 – SOLENOIDE ROTATIVO DE 45°, FABRICANTE JOHNSON ELECTRIC

FONTE: Adaptada de <https://media.rs-online.com/t_large/Y1736484-01.jpg>. Acesso em: 16


jan. 2021.

160
TÓPICO 2 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE I

DICAS

Assista a este vídeo sobre o funcionamento de uma válvula solenoide. Na


íntegra em: https://youtu.be/wM58eI_Hvic.

Solenoides rotativos podem ser usados para substituir pequenos motores


CC ou motores de passo. Esses tipos de solenoides são geralmente disponíveis
em movimentos de 25, 35, 45, 60 e 90°, bem como múltiplos movimentos de e para
um certo ângulo, com auto retorno.

Solenoides rotativos produzem um movimento rotacional quando
energizados, desenergizados ou uma mudança na polaridade de um campo
eletromagnético altera a posição de um rotor de ímã permanente. Sua construção
consiste em uma bobina elétrica enrolada em torno de uma estrutura de aço com
um disco magnético conectado a um eixo de saída posicionado acima da bobina.

Quando a bobina é energizada, o campo eletromagnético gera múltiplos
polos norte e sul, que repelem os polos magnéticos permanentes adjacentes do
disco fazendo com que ele gire em um ângulo determinado pela construção
mecânica do solenoide rotativo.

Solenoides rotativos são usados em máquinas automáticas ou de jogos,
controle de válvula, obturador de câmera com alta velocidade, solenoides
de baixa potência ou posicionamento variável com alta força ou torque estão
disponíveis, como os usados em impressoras de matriz de ponto, máquinas de
escrever, máquinas automáticas ou aplicações automotivas etc.

3.3 COMUTAÇÃO DE SOLENOIDES



Geralmente os solenoides lineares ou rotativos operam com a aplicação
de uma tensão CC, mas também podem ser usados com tensões senoidais CA
com retificadores de onda completa. Pequenos solenoides do tipo CC podem
ser facilmente controlados usando chaves a transistor e são ideais para uso em
aplicações robóticas.

No entanto, como vimos anteriormente com relés eletromecânicos,
solenoides lineares são dispositivos "indutivos", de modo que alguma forma
de proteção elétrica é necessária na bobina solenoide para evitar que tensões
geradas por forças contra eletromotrizes danifiquem o dispositivo de comutação
a semicondutor. Nesse caso, o padrão “Diodo de Roda Livre” é usado, mas você
pode usar igualmente um diodo zener ou um varistor de pequeno valor.

161
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

FIGURA 22 – CHAVEAMENTO DE UM SOLENOIDE COM TRANSISTOR E DIODO DE PROTEÇÃO

FONTE: O autor

3.4 REDUÇÃO DO CONSUMO DE ENERGIA


Uma das principais desvantagens dos solenoides, e especialmente do
solenoide linear, é que são "dispositivos indutivos" feitos de bobinas de fi o. Isso
signifi ca que as bobinas solenoides têm resistência e convertem parte da energia
elétrica usada para operá-las em calor ao efeito Joule, também denominado
potência I2R do fi o.

Em outras palavras, quando conectadas por longos períodos de tempo a


uma fonte de tensão, as bobinas podem fi car bem quentes e quanto mais tempo a
energia é aplicada a uma bobina solenoide, mais quente a bobina pode se tornar.
Também à medida que a bobina se aquece, sua resistência elétrica também muda
reduzindo tanto a corrente que fl ui através da bobina quanto sua força de campo
magnético, pois isso depende diretamente da quantidade ampere-espira.

Com uma entrada de tensão contínua aplicada na bobina, o solenoide não


tem a oportunidade de esfriar porque a fonte de tensão de entrada está sempre
ligada. Para reduzir esse efeito de aquecimento autoinduzido, é necessário reduzir
a quantidade de tempo que a bobina é energizada ou reduzir a quantidade de
corrente que fl ui através dela.

Um método para diminuir o consumo é aplicar inicialmente ao solenoide


uma tensão grande o sufi ciente capaz de criar um campo magnético que mova o
núcleo até a posição fi nal e, então, diminuir a tensão aplicada para um valor que
mantenha o núcleo nesta posição. Uma maneira de conseguir isso é conectar um
resistor adequado em série com a bobina solenoide, por exemplo:

162
TÓPICO 2 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE I

FIGURA 23 – CIRCUITO PARA REDUÇÃO DE CONSUMO DO SOLENOIDE

FONTE: O autor

Aqui, os contatos do interruptor são fechados, diminuindo a resistência e


passando a corrente de alimentação completa diretamente para os enrolamentos
da bobina do solenoide. Uma vez energizados, os contatos que podem ser
mecanicamente conectados à ação do núcleo, se abrem conectando o resistor de
retenção RR em série com a bobina solenoides. Isso conecta efetivamente o resistor
em série com a bobina.

Usando esse método, o solenoide pode ser conectado à sua fonte de tensão
indefi nidamente (ciclo de trabalho contínuo) como a energia consumida pela
bobina e o calor gerado é muito reduzido, que pode ser de até 85 a 90% usando
um resistor adequado. No entanto, a energia consumida pelo resistor também vai
gerar certa quantidade de calor, I2R e isso também precisa ser levado em conta.

3.4.1 Ciclo de trabalho de um solenoide


Outra forma mais prática de reduzir o calor gerado pela bobina do
solenoide é usar um ciclo de trabalho intermitente. Um ciclo de trabalho
intermitente signifi ca que a bobina é repetidamente ligada e desligada em uma
frequência adequada, de modo a ativar o mecanismo do núcleo, mas não permitir
que ela desenergize durante o período desligado da forma de onda.

A comutação intermitente do ciclo de serviço é uma maneira muito efi caz


de reduzir a potência total consumida pela bobina.

O Ciclo de Trabalho (T%) de um solenoide é a porção do tempo em que ele


permanece ligado "TON" dividido pelo ciclo total de funcionamento (TON + TOFF).

Em outras palavras, o ciclo total de funcionamento é período em que ele


permanece ligado somado ao período em que ele permanece desligado. O ciclo
de trabalho é expresso percentualmente, conforme a expressão:

163
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

FIGURA 24 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO CICLO DE TRABALHO

FONTE: O autor

Assim, se um solenoide é ligado, ou energizado, por 20 segundos e, em


seguida, desligado por 60 segundos antes de ser reenergizado, o tempo total do
ciclo de trabalho seria 20 + 60 = 80 segundos. Já o ciclo de trabalho em si seria T =
20/80 = 0,25 ou 25%. Isso signifi ca que você pode determinar o tempo máximo do
estado Ligado de um solenoide, se você conhecer os valores do ciclo de trabalho
e do tempo de desligamento.

Por exemplo, se o tempo de desligamento for igual a 21 segundos e o ciclo


de trabalho é igual a 30% (ou 0,30), o tempo ligado (TON) será:

Portanto o tempo de TON equivale a nove segundos. Um solenoide com


um ciclo de trabalho avaliado de 100% signifi ca que ele tem uma classifi cação de
tensão contínua e, portanto, pode ser deixado "ON" ou continuamente energizado
sem superaquecimento ou danos.

4 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA: MONTAGEM DE UM


SOLENOIDE
Nessa atividade prática vamos montar um solenoide simples e analisar
seu funcionamento quando ligado a uma fonte de tensão. Peças e materiais
utilizados:

• um prego grande, ou barra de ferro (ou aço) de dimensões aproximadas: 5 cm


de comprimento por 0,5 cm de diâmetro;
• tubo de plástico rígido no qual seja possível inserir o prego ou barra do
item anterior. Recomenda-se que tenha dimensões aproximadas: 8 cm de
comprimento por 0,6 cm de diâmetro;
• alguns metros de fi o esmaltado 28 AWG (0,08 mm²) – ou bitola semelhante;

164
TÓPICO 2 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE I

• fita isolante;
• uma fonte ou bateria de 6 volts;
• uma fonte ou bateria de 12 volts.

4.1 MONTAGEM DO SOLENOIDE



Vamos, inicialmente, montar o solenoide do experimento. Para isso, siga
os passos descritos a seguir:

• Forme uma bobina enrolando várias espiras de fio esmaltado ao redor do tubo
plástico. Quanto mais espiras, melhor: recomenda-se 200 ou mais. Procure
enrolar as espiras de maneira que fiquem uniformemente distribuídas. As
voltas devem ser bem organizadas e muito próximas entre si. Ao chegar à
outra ponta do tubo, comece uma nova camada e repita até enrolar todo o fio.
• O comprimento da bobina deve ter entre 3 a 4 centímetros.
• Deixe uma sobra de uns 30 cm de fio de cada lado da bobina.
• Ao final, passe fita isolante na bobina de forma a prendê-la bem no tubo
plástico.
• Lixe os fios das extremidades da bobina, de forma a remover o esmalte isolante
e possibilitar o contato elétrico com a bateria.

4.2 TESTE DO SOLENOIDE



Siga os passos propostos a seguir, para testar o funcionamento do
solenoide:

• Conecte as extremidades da bobina nos terminais positivo e negativo da fonte


de 6 volts.
• Insira o prego no interior da bobina e tente puxá-lo para fora. Você sente uma
força que atrai o prego para o interior da bobina?
• Insira o prego pelo outro lado da bobina. A força atrativa também possui o
mesmo sentido na situação anterior?
• Agora conecte a bobina na bateria de 12 volts. Insira o prego no interior da
bobina e, então, puxe para fora. A força de atração aumentou?
• Se você utilizar um bastão de plástico, ao invés de um prego ou barra de ferro,
haverá atração? Por quê?

Com esse experimento, chegamos ao final deste tópico. Agora, leia
o resumo e faça as autoatividades para aprofundar seus conhecimentos desta
matéria!

165
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O potenciômetro pode ser utilizado como um sensor de posição. Uma tensão


de referência é aplicada num de seus terminais e sua saída terá uma tensão
proporcional ao deslocamento angular de seu eixo.

• O transformador diferencial variável linear é um tipo de sensor indutivo que


se baseia no princípio de funcionamento do transformador para funcionar:
ele possui um enrolamento primário ligado a uma fonte de tensão CA e
dois enrolamentos secundários que apresentam uma saída proporcional ao
deslocamento do núcleo desse transformador.

• O sensor indutivo de proximidade gera um campo magnético variável que,


na presença de um objeto metálico, produz correntes parasitas naquele
objeto, alterando o campo original. Essa alteração é detectada por uma bobina
receptora.

• O solenoide linear é um dispositivo eletromagnético que converte energia


elétrica em uma força ou movimento mecânico de pressão.

• A comutação de solenoides pode gerar picos de tensão no sistema elétrico


devido à sua característica indutiva.

166
AUTOATIVIDADE

1 O sensor de posição a potenciômetro se utiliza de quais grandezas elétricas


para representar a variação de uma distância?

a) ( ) Indutância e Corrente.
b) ( ) Resistência e Tensão.
c) ( ) Capacitância e Tensão.
d) ( ) Campo magnético e Corrente.
e) ( ) Campo elétrico e Tensão.

2 Quais são as vantagens do transformador diferencial variável linear em


relação ao sensor de potenciômetro resistivo?

3 Descreva, com suas próprias palavras, o princípio de funcionamento do


reed switch.

4 Explique o princípio de funcionamento de um solenoide.

167
168
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE II

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, vamos estudar inicialmente o relé eletromecânico, um
dispositivo muito utilizado no acionamento de cargas de diversos tipos. Em
seguida, será abordado o motor de corrente contínua, com foco no seu princípio
de funcionamento e aspectos construtivos.

Esses dois assuntos envolvem conceitos de conversão de energia estudados
anteriormente e o seu entendimento é essencial para profissionais da área elétrica.

2 RELÉ ELÉTRICO

Até agora vimos uma seleção de dispositivos de entrada que podem ser
usados para detectar ou "sentir" uma diversidade de variáveis físicas e sinais
e, portanto, são chamados de Sensores. Contudo, há também uma variedade
de dispositivos elétricos e eletrônicos classificados como dispositivos de saída
usados para controlar ou operar algum processo físico externo. Esses dispositivos
de saída são comumente chamados de atuadores.

Atuadores convertem um sinal elétrico em uma quantidade física
correspondente, como movimento, força, som etc. Um atuador também é
classificado como um transdutor porque altera um tipo de quantidade física em
outro, e geralmente é ativado ou operado por um sinal de comando de baixa
tensão. Os atuadores podem ser classificados como dispositivos binários ou
contínuos com base no número de estados estáveis que sua saída tem.

Por exemplo, um relé é um atuador binário, pois tem dois estados estáveis,
energizado e travado ou desenergizado e destravado, enquanto um motor é um
atuador contínuo porque pode girar através de um movimento completo de 360°.
Os tipos mais comuns de atuadores ou dispositivos de saída são Relés Elétricos,
Luzes, Motores e Alto-Falantes.

Vimos anteriormente que solenoides podem ser usados para abrir


eletricamente travas, portas, válvulas abertas ou fechadas, e em uma variedade
de aplicações robóticas e mecatrônicas etc.

169
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

No entanto, se o êmbolo do solenoide é usado para operar um ou mais


conjuntos de contatos elétricos, temos um dispositivo chamado relé, o qual é tão
útil quanto, e que pode ser usado em numa infi nidade de maneiras diferentes.

Os Relés Elétricos também podem ser divididos em relés de ação


mecânica, chamados “Relés Eletromecânicos” e aqueles que usam transistores
semicondutores, diacs, triacs etc. como seu dispositivo de comutação chamado
"Relés de Estado Sólido".

2.1 O RELÉ ELETROMECÂNICO


O termo relé geralmente se refere a um dispositivo que fornece uma
conexão elétrica entre dois ou mais pontos em resposta à aplicação de um sinal
de controle. O tipo de relé elétrico mais comum e amplamente utilizado é o relé
eletromecânico ou REM.

FIGURA 25 – RELÉ ELETROMECÂNICO

FONTE: Adaptada de <https://cdnstatic8.com/cetti.com.br/image/cache/data/product/rele-auxi-


liar-schneider-24vcc-5a-2na-nf-rxg22bd-01-800x800.png>. Acesso em: 16 jan. /2021.

O controle mais fundamental de qualquer equipamento é a capacidade


de ligá-lo (ON) e desligá-lo (OFF). A maneira mais fácil de fazer isso é usando
interruptores para interromper o fornecimento elétrico. Embora os interruptores
possam ser usados para controlar algo, eles têm suas desvantagens. A maior
deles é que eles têm que ser manualmente (fi sicamente) ligados ou desligados.
Além disso, são relativamente grandes, lentos e só conduzem pequenas correntes
elétricas.

Os relés elétricos, no entanto, são basicamente chaves operadas


eletricamente que vêm em muitas formas, tamanhos e classifi cações de energia
adequadas para todos os tipos de aplicações. Os relés também podem ter contatos

170
TÓPICO 3 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE II

únicos ou múltiplos dentro de um único pacote com os relés de energia maiores,


usados para aplicações de tensão de rede ou alta corrente, sendo chamados de
"Contactores" ou “Chaves Contactoras”.

Neste estudo sobre relés elétricos estamos apenas preocupados com os
princípios operacionais fundamentais dos relés eletromecânicos de pequeno porte
que podemos usar no controle de motores ou circuitos robóticos. Tais relés são
usados em circuitos gerais de controle elétrico e comutação eletrônica, montados
diretamente em placas de circuito impresso (PCIs) ou conectados em suportes e
nos quais as correntes de carga são normalmente frações de 1 ampere até mais de
20 amperes. O circuito com relé é comum em aplicações eletrônicas.

Como o nome indica, os relés eletromecânicos são dispositivos
eletromagnéticos que convertem um fluxo magnético gerado pela aplicação de
um sinal de controle elétrico de baixa tensão, tanto CA quanto CC nos terminais
de relé, em uma força mecânica puxando que opera os contatos elétricos dentro
do relé. A forma mais comum de relé eletromecânico consiste em uma bobina
energizante chamada de "circuito primário", enrolada em torno de um núcleo de
ferro permeável.

Esse núcleo de ferro tem uma porção fixa chamada cabeçote, e uma
parte móvel pressionada por uma mola chamada armadura, que completa o
circuito de campo magnético fechando a abertura de ar entre a bobina elétrica
fixa e a armadura móvel. A armadura é articulada ou pivotada, permitindo
que ela se mova livremente dentro do campo magnético gerado fechando os
contatos elétricos ligados a ela. Conectado entre o cabeçote e a armadura, está
normalmente uma mola de retorno para trazer os contatos de volta à sua posição
inicial de repouso quando a bobina do relé está na condição "desenergizada", ou
seja, desligada, "OFF".

FIGURA 26 – ASPECTO CONSTRUTIVO DE UM RELÉ

FONTE: <https://blog.multcomercial.com.br/wp-content/uploads/2020/01/As-partes-de-um-
-rel%C3%A9.jpg>. Acesso em: 16 jan. 2021.

171
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

Nesse simples relé mostrado na Figura 26, temos dois conjuntos de contatos
eletricamente condutores. Os relés podem ser "Normalmente Abertos" (NA), ou
"Normalmente Fechados" (NF). Na posição normalmente aberta, os contatos
são fechados somente quando a corrente de campo está "ON" e os contatos do
interruptor são puxados para a bobina indutiva.

Na posição normalmente fechada, os contatos são permanentemente
fechados quando a corrente de campo está "OFF" à medida que os contatos do
interruptor retornam à sua posição normal. Esses termos Normalmente Abertos,
Normalmente Fechados ou Fazer Contato referem-se ao estado dos contatos
elétricos quando a bobina de relé é "desenergizada", ou seja, nenhuma tensão
de alimentação conectada à bobina do relé. Um exemplo desse arranjo é dado na
Figura 27:

FIGURA 27 – TIPOS DE CONTATO DE UM RELÉ

FONTE: <https://blog.rhmateriaiseletricos.com.br/wp-content/uploads/2019/04/2Prancheta-10.
jpg>. Acesso em: 16 jan. 2021.

DICAS

Assista a um vídeo explicativo sobre reles, acessando: https://youtu.be/


StBCiTJfG4k.

Os contatos dos relés são peças de metal eletricamente condutoras que


se unem completando um circuito e permitem que a corrente do circuito flua,
assim como um interruptor. Quando os contatos são abertos, a resistência entre
os contatos é muito alta, da ordem de Mega ohms, produzindo uma condição de
circuito aberto e sem fluxos de corrente de circuito.

172
TÓPICO 3 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE II

Quando os contatos são fechados, a resistência de contato deve ser zero,


um curto-circuito, mas nem sempre é o caso. Todos os contatos de relé têm certa
quantidade de "resistência ao contato" quando são fechados, e isso é chamado de
Resistência em ON, semelhante ao transistor FET.

Com um relé novo essa resistência ON será muito pequena, geralmente
menos de 0,2 Ω porque as pontas são novas e limpas, mas com o tempo a
resistência aumentará.

Por exemplo. Se pelos contatos estiver passando uma corrente de carga
de 10 A, então a queda de tensão entre os contatos usando a Lei Ohms é de 0,2 x
10 = 2 volts.

Se a tensão de alimentação for, digamos 12 volts, então a tensão de


carga será de apenas 10 volts (12 – 2). À medida que os contatos começam a
se desgastar, e se eles não estiverem devidamente protegidos de altas cargas
indutivas ou capacitivas, eles começarão a mostrar sinais de dano por formação
de arco elétrico.

Esse arco, ou faísca, nos contatos fará com que a resistência de contato
aumente ainda mais à medida que as pontas dos contatos se danificarem. Se
permitido continuar, as pontas de contato podem ficar tão queimadas e danificadas
ao ponto de estarem fisicamente fechadas, mas não passarem nenhuma ou muito
pouca corrente.

Se esse dano de arco se tornar grave, os contatos eventualmente "soldarão"
juntos produzindo uma condição de curto-circuito e possíveis danos ao circuito
que estão controlando. Se, agora, a resistência ao contato aumentou devido ao
arco, para 1 Ω, a queda de tensão nos contatos para a mesma corrente de carga
aumenta para 1 x 10 = 10 volts. Esta queda de alta tensão entre os contatos pode
ser inaceitável para o circuito de carga, especialmente se operar a 12 ou até 24
volts, então o relé defeituoso terá que ser substituído.

Para reduzir os efeitos do arco de contato e das altas "resistências", as
pontas de contato modernas são feitas ou revestidas com uma variedade de ligas
à base de prata para estender sua vida útil.

3 MOTOR CC

Motores elétricos CC são atuadores contínuos que convertem energia
elétrica em energia mecânica. O motor CC consegue isso produzindo uma
rotação angular contínua que pode ser usada para girar bombas, ventiladores,
compressores, rodas etc. Além dos motores CC rotativos convencionais, também
estão disponíveis motores lineares capazes de produzir um movimento contínuo
do núcleo. Existem basicamente três tipos de motores elétricos convencionais
disponíveis: CA, CC e de passo.

173
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

FIGURA 28 – UM MOTOR CC DE 500 W E 12 V

FONTE: <https://http2.mlstatic.com/D_NQ_NP_724940-MLB41206249832_032020-O.webp>.
Acesso em: 16 jan. 2021.

Os motores CA são geralmente usados em aplicações industriais de


alta potência, mono ou polifásicos, e geram um torque rotacional constante
e velocidade constante, necessários para controlar grandes cargas, como
ventiladores ou bombas.

Neste estudo, vamos analisar os motores CC e de passo para compreender


os princípios de conversão eletromecânica empregados.

3.1 O MOTOR CC BÁSICO


O Motor CC, ou Motor de Corrente Contínua, é o atuador mais usado
para produzir movimento contínuo e cuja velocidade de rotação pode ser
facilmente controlada, tornando-os ideais para uso em aplicações de controle de
velocidade, controle do tipo servo e/ou posicionamento. Um motor CC consiste
em duas partes, um Estator, parte estacionária e um "Rotor", parte rotativa. Como
resultado existem basicamente três tipos de CC Motor disponíveis:

• Motor com escovas (brushed no inglês): esse tipo de motor produz um campo
magnético em um rotor de enrolado percorrido por uma corrente elétrica
através de um conjunto de comutadores e escova de carbono, daí o termo
escovadas. O campo magnético do estator (a parte estacionária) é produzido ou
por um enrolamento de fi o ou por ímãs permanentes. Geralmente os motores
CC de escova são baratos, pequenos e facilmente controlados.
• Motor sem escova (brushless no inglês): esse tipo de motor produz um campo
magnético no rotor usando ímãs permanentes ligados a ele e a comutação é
realizada eletronicamente. Eles geralmente são menores, mas mais caros do
que os motores CC com escovas tipo convencional porque eles usam chaves
"efeito Hall" no estator para produzir a sequência rotacional de campo do
estator necessária. Por outro lado, eles têm características de torque/velocidade
melhores, são mais efi cientes e têm uma vida útil mais longa do que tipos
escovados equivalentes.

174
TÓPICO 3 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE II

• Servomotor: esse tipo de motor é basicamente um motor CC com escovas


com alguma forma de controle de realimentação posicional conectado ao eixo
do rotor. Eles são conectados e controlados por um controlador tipo PWM
e são usados principalmente em sistemas de controle posicional e modelos
controlados por rádio.

Os motores CC normais têm características quase lineares, com sua


velocidade de rotação sendo determinada pela tensão CC aplicada e seu torque
de saída sendo determinado pela corrente que flui através dos enrolamentos do
motor.

A velocidade de rotação de qualquer motor CC pode variar de algumas


revoluções por minuto (rpm) a muitos milhares de revoluções por minuto,
tornando-os adequados para aplicações eletrônicas, automotivas ou robóticas. Ao
conectá-los às caixas de câmbio ou conjuntos de engrenagem, sua velocidade de
saída pode ser diminuída e, ao mesmo tempo, aumentar a potência de torque do
motor em alta velocidade.

DICAS

Aprofunde seu entendimento do funcionamento de motores CC assistindo ao


vídeo disponível em: https://youtu.be/5s07bQcpEnA.

3.2 O MOTOR CC COM ESCOVAS



Um motor CC com escovas convencionais consiste basicamente de duas
partes: o corpo estacionário do motor chamado estator e a parte interna que gira
produzindo o movimento chamado Rotor ou "Armadura" para máquinas DC.

O estator enrolado dos motores é um circuito eletromagnético que consiste
em bobinas elétricas conectadas em uma configuração circular para produzir
o polo norte necessário, em seguida, um polo sul, em seguida, um polo norte
etc. Tipo sistema de campo magnético estacionário para rotação, ao contrário
das máquinas CA cujo campo de estator continuamente gira com a frequência
aplicada. A corrente que flui por essas bobinas de campo é conhecida como a
corrente do campo motor.

Essas bobinas eletromagnéticas, que formam o campo do estator, podem
ser eletricamente conectadas em série, paralelas ou ambas juntas (compostas)
com a armadura dos motores. Um motor CC de enrolamento série tem seus

175
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

enrolamentos de campo de estator conectados em série com a armadura. Da


mesma forma, um motor CC de enrolamento shunt tem seus enrolamentos de
campo de estator conectados em paralelo com a armadura, como na Figura 29:

FIGURA 29 – CONEXÕES SÉRIE E PARALELA (SHUNT) DE UM MOTOR CC

FONTE: O autor

De acordo com Fitz gerald, Kingsley Junior e Umans (2003), num motor
tipo shunt, a corrente (e por consequência o fl uxo) no enrolamento de campo é
praticamente constante, o que se traduz em pouca alteração de velocidade ao se
variar a carga aplicada. Já, no motor com enrolamento em série, um aumento na
carga provoca um consequente aumento na corrente de campo o que se traduz em
diminuição da velocidade (de forma a manter o equilíbrio entre tensão aplicada e
a força contra eletromotriz gerada).

O Gráfi co 1 mostra esta diferença de comportamento entre os motores


série e shunt.

GRÁFICO 1 – CARACTERÍSTICAS TORQUE VELOCIDADE DE MOTORES CC

FONTE: Adaptada de Fitzgerald, Kingsley Junior e Umans (2003, p. 363)

176
TÓPICO 3 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE II

O rotor ou armadura de uma máquina CC consiste em condutores de


transporte de corrente conectados em uma extremidade a segmentos de cobre
eletricamente isolados chamados de comutadores. O comutador permite que
uma conexão elétrica seja feita através de escovas de carbono (daí o nome Motor
de Escovas) a uma fonte de alimentação externa à medida que a armadura gira.

A confi guração do campo magnético pelo rotor tenta alinhar-se com o


campo estacionário do estator fazendo com que o rotor gire em seu eixo, mas não
pode se alinhar devido aos atrasos de comutação.

A velocidade de rotação do motor depende da força do campo magnético


dos rotores e quanto mais tensão for aplicada ao motor, mais rápido o rotor
irá girar. Variando essa tensão CC aplicada, a velocidade rotacional do motor
também pode ser variada.

FIGURA 30 – TIPOS DE MOTOR CC: COM ENROLAMENTO DE CAMPO E COM ÍMÃS PERMA-
NENTES

FONTE: Adaptada de Fitzgerald, Kingsley Junior e Umans (2003, p. 358-386)

177
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

O motor CC de escovas com ímã permanente é geralmente muito menor


e mais barato do que seus parentes de estator enrolado, pois eles não têm
enrolamento de campo. Em motores CC de ímã permanente essas bobinas de
campo são substituídas por fortes ímãs permanentes de terras raras, tais como
Samário, Cobalto, Neodímio, Ferro-Boro, que tem campos magnéticos muito
intensos.

O uso de ímãs permanentes dá ao motor CC uma característica de
velocidade/torque linear muito melhor do que os motores de enrolamento
equivalentes por causa do campo magnético permanente e às vezes muito forte,
tornando-os mais adequados para uso em modelos, robótica e servos.

Embora os motores CC a escovas sejam muito eficientes e baratos,
problemas associados são que, a faísca ocorre sob condições de carga pesada
entre as duas superfícies do comutador e escovas de carbono resultando em calor
produzido, vida útil curta e ruído elétrico devido à faísca, o que pode danificar
qualquer dispositivo de comutação de semicondutores, como um MOSFET
ou transistor. Para contornar essas desvantagens, o motor CC sem escovas foi
desenvolvido.

3.3 O MOTOR CC SEM ESCOVAS



O motor CC sem escovas é muito semelhante a um motor CC com ímã
permanente, mas não tem escovas que necessitam ser substituídas ou desgaste
devido à faísca do comutador. Portanto, pouco calor é gerado no rotor aumentando
a vida útil dos motores. O design do motor sem escova elimina a necessidade
de escovas usando um circuito de acionamento mais complexo, pois o campo
magnético do rotor é um ímã permanente que está sempre em sincronia com o
campo do estator, permite uma velocidade mais precisa e controle de torque.

Em seguida, a construção de um motor DC sem escova é muito semelhante
ao motor CA tornando-o um verdadeiro motor síncrono, mas uma desvantagem
é que ele é mais caro do que um design de motor "escovado" equivalente.

O controle dos motores CC sem escova é muito diferente do motor CC
à escova convencional, na época em que esse tipo de motor incorpora alguns
meios para detectar a rotação angular (ou polos magnéticos) necessários para
produzir os sinais de feedback e para controlar os dispositivos de comutação
de semicondutores. O sensor de posição/polo mais comum é o "Sensor de Efeito
Hall", mas alguns motores também usam sensores ópticos.

Vantagens do motor CC sem escovas em comparação com o modelo a
escovas são maior eficiência, alta confiabilidade, baixo ruído elétrico, bom controle
de velocidade e, mais importante, sem escovas ou comutadores para desgastar
produzindo uma velocidade muito maior. No entanto, sua desvantagem é que
eles são mais caros e mais complicados de controlar.

178
TÓPICO 3 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE II

3.4 O SERVOMOTOR CC
Os servomotores CC são usados em aplicações do tipo malha fechada,
caso a posição do eixo do motor de saída seja devolvida ao circuito de controle do
motor. Dispositivos típicos de "Feedback" posicionais incluem Resolvers, Encoders
e Potenciômetros como usado em modelos radio controle, como aviões e barcos
etc.

E
IMPORTANT

No sistema de controle em malha fechada, informações de como a saída de


controle está evoluindo são utilizadas para determinar o sinal de controle que deve ser
aplicado ao processo em um instante específico. Isso é feito a partir de uma realimentação
(feedback) da saída para a entrada (SILVA, 2000).

Um servomotor geralmente inclui uma caixa de engrenagens embutida


para redução de velocidade e é capaz de entregar torques altos. O eixo de saída
de um servomotor não gira livremente como os eixos dos motores CC por causa
da caixa de velocidades e dispositivos de feedback conectados.

FIGURA 31 – DIAGRAMA DE BLOCOS DE UM SERVOMOTOR CC

FONTE: Adaptada de: <http://embedded-lab.com/blog/wp-content/uploads/2012/04/ServoME-


chanism.png>. Acesso em: 16 jan. 2021.

Um servomotor consiste em um motor CC, engrenagens de redução,


dispositivo de realimentação posicional e alguma forma de correção de erro. A
velocidade ou posição é controlada em relação a um sinal de entrada posicional
ou sinal de referência aplicado ao dispositivo.

179
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

FIGURA 32 – MICRO SERVOMOTOR PARA APLICAÇÕES EM ROBÓTICA

FONTE: <http://twixar.me/z0pm>. Acesso em: 16 jan. 2021.

O amplificador de detecção de erros analisa esse sinal de entrada e o


compara com o sinal de realimentação do eixo de saída dos motores e determina
se o eixo de saída do motor está em uma condição de erro e, se assim for, o
controlador faz correções apropriadas acelerando o motor ou retardando-o. Essa
resposta ao dispositivo de feedback posicional significa que o servomotor opera
dentro de um "Sistema de Malha Fechada".

Além de grandes aplicações industriais, os servomotores também são
usados em pequenos modelos de controle remoto e robótica, com a maioria dos
servomotores sendo capazes de girar até cerca de 180 graus em ambas as direções
tornando-os ideais para um posicionamento angular preciso. No entanto, esses
servos do tipo rádio controle são incapazes de girar continuamente em alta
velocidade, como os motores CC convencionais, a menos que especialmente
modificados.

Um servomotor consiste em vários dispositivos em um produto: o motor,
caixa de engrenagens, dispositivo de realimentação e correção de erro para
controlar posição, direção ou velocidade. Eles são amplamente utilizados em
robótica e modelos pequenos, pois são facilmente controlados usando apenas três
fios: Força, Terra e Sinal de Controle.

4 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA: MOTOR CC



A proposta de experimento para este tópico é a construção de um motor
CC caseiro. Como já foram realizados diversos experimentos guiados e você,
acadêmico, já está familiarizado com esses materiais, deixaremos à sua escolha
o modelo de motor CC a ser construído. A Figura 33, mostra um esquema de
um motor CC para ser construído em casa. Trata-se de um modelo simples, mas
existem modelos bem mais complexos disponíveis para você fazer.

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TÓPICO 3 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE II

FIGURA 33 – PROPOSTA DE UM MOTOR CC CASEIRO

FONTE: <https://www.wikihow.com/images/thumb/1/14/Build-a-Simple-Electric-Motor-Step-
-8-Version-2.jpg/v4-728px-Build-a-Simple-Electric-Motor-Step-8-Version-2.jpg.webp>. Acesso
em: 22 jan. 2021.

Desse modo, solicita-se que você faça uma pesquisa na internet sobre
construção de motores CC. Escolha um modelo adequado para montar,
considerando aspectos como: complexidade, materiais necessários, tempo
disponível e custos.

Faça um desenho esquemático do motor, explique seu princípio de


funcionamento e comente as difi culdades encontradas para sua montagem. Por
fi m, socialize seu trabalho com os demais colegas.

181
UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA

LEITURA COMPLEMENTAR

TRENS MAGLEV

Kleber G. Cavalcante

Os avanços nas pesquisas do eletromagnetismo têm sido de fundamental


importância na evolução tecnológica das últimas décadas, um exemplo disso é a
evolução do transporte ferroviário.

Com seu início ainda no século XVI, as locomotivas eram movidas a vapor,
através da queima de carvão. No século XIX, foram inventadas as locomotivas a
diesel e à eletricidade, que vieram com o intuito de substituir as locomotivas a
vapor. Porém, a aposentadoria da “Maria fumaça” só aconteceu definitivamente
em 1977, quando o governo português proibiu definitivamente o uso desse tipo
de comboio, alegando que esse era responsável por várias queimadas no país.

No século XX, os trens a diesel foram substituídos por trens a gás, muito
mais rápidos – atingindo incríveis 570 km/h (em fase de testes) – econômicos e
com menor potencial de poluição.

A nova geração promete ser ainda mais rápida. É a geração dos trens
Maglev, de alta velocidade, que utilizam a levitação magnética para flutuar sobre
suas vias. Eles fazem parte de um sistema mais complexo que conta basicamente
com uma potente fonte elétrica, bobinas dispostas ao logo de uma linha guia e
grandes imãs localizados embaixo do trem.

Ao serem percorridas por corrente elétrica, as bobinas enfileiradas ao
logo da pista, chamada de linha guia, criam campos magnéticos que repelem os
grandes imãs situados embaixo do trem, permitindo que flutue entre 1 cm e 10
cm sobre os trilhos.

Com a levitação do trem, outras bobinas, situadas dentro das paredes da
linha guia, são percorridas por correntes elétricas que, adequadamente invertidas,
mudam a polaridade de magnetização das bobinas. Estas agem nos grandes
imãs, impulsionando o trem, que se desloca em um “colchão” de ar, eliminando
os atritos de rolamento e escorregamento, que possuem os trens convencionais.
A ausência de atritos e o perfil aerodinâmico do comboio permitem que atinja
velocidades que chegam aos 650 km/h em fases experimentais.

Ainda em fase de testes, Japão, China e Alemanha possuem protótipos em


tamanho real.

Embora sua grande velocidade seja um atrativo e um potencial concorrente
dos aviões, seus elevados custos de produção os limitam a apenas uma única linha
comercial, o transrapid de Xangai. Consta que essa máquina faz um percurso de
30 km em apenas oito mim.
182
TÓPICO 3 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE II

PROTÓTIPO EM TAMANHO REAL DO TREM MAGLEV

FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/fisica/trens-maglev.htm>. Acesso em: 22 jan. 2021.

183
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Atuadores são dispositivos eletroeletrônicos com a função de controlar ou


operar algum processo físico externo. Atuadores convertem um sinal elétrico
em uma quantidade física correspondente, como movimento, força, som etc.

• Motores elétricos CC (corrente contínua) são atuadores contínuos que


convertem energia elétrica em energia mecânica. Existem basicamente três
tipos construtivos de motores CC: com escovas, sem escovas e servomotor.

• O motor CC de escovas pode ser do tipo ímã permanente ou estator enrolado.

• O servomotor é um tipo de motor que necessita de um controlador em malha


fechada (com realimentação) para comandar o movimento de seu eixo.
Sua utilização ocorre em situações em que é necessário controle preciso do
posicionamento do eixo.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

184
AUTOATIVIDADE

1 Explique o que é um transdutor.



2 Descreva o funcionamento dos contatos NA e NF de um relé.

3 Qual é a diferença entre as correntes internas num motor CC enrolamento


série para um do tipo enrolamento shunt? Como essa diferença construtiva
impacta no comportamento desses motores?

4 Quais as vantagens e as desvantagens do motor sem escovas em relação ao


com escovas?

185
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REFERÊNCIAS
EDMINISTER, J. A. Eletromagnetismo. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1980.

FITZGERALD, A. E.; KINGSLEY JUNIOR, C.; UMANS, S. D. Electric


Machinery. 6. ed. Nova Iorque: McGraw-Hill Higher Education, 2003.

HELERBROCK, R. Torque. Brasil Escola. [S. l.], c2021. Disponível em: https://
brasilescola.uol.com.br/fisica/torque-uma-forca.htm. Acesso em: 9 jan. 2021.

PAUL, C. R. Eletromagnetismo para engenheiros: com aplicações. Rio de


Janeiro: Ltc, 2006.

SILVA, J. M. G. Controle em malha fechada. Porto Alegre: UFRGS, 2000.


(Apostila). Disponível em: http://www.ece.ufrgs.br/~jmgomes/pid/Apostila/
apostila/node6.html#:~:text=No%20controle%20em%20malha%20fechada,da%20
sa%C3%ADda%20para%20a%20entrada. Acesso em: 16 jan. 2021.

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