TITULO: DESAFIOS PARA UMA NOVA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL.
Simone Scifoni busca através do texto discutir os desafios que se fazem presente no campo teórico da Educação Patrimonial, que segundo a própria autora necessita de avanços profundos, sobretudo na formação de um pensamento menos fragmentado e disperso. A fragmentação se torna perceptível observando os variados campos de desenvolvimento da educação patrimonial, que se estende para além de museus, englobando escolas, movimentos sociais de preservação, órgãos públicos e privados de preservação e manutenção, secretarias de educação, etc; dificultando sobretudo a formação de um aparato teórico que abarque áreas tão diferentes, com metodologia e finalidades diferentes. Em uma breve contextualização, a autora apresenta dois problemas fundamentais que dificultam a formação de um pensamento voltado a educação patrimonial que seja mais homogêneo. O primeiro se refere a ausência de um lugar comum de discussão, uma vez que a educação patrimonial se dissolve em varias denominações e formas diferentes de pensamento, que não dialogam ou dialogam o mínimo entre si. Problema que foi gerado nos anos de 1980, com o uso da terminologia “educação patrimonial” associado a determinadas praticas em museus da Inglaterra e que de forma contraditória se intensificou com a publicação do Guia Básico de Educação Patrimonial do Iphan. Como Scifoni aponta, o guia acaba por limitar um campo de atuação que possui várias metodologias a uma única metodologia possível, aquela presente no guia. O segundo problema é mais simples de compreender, já que se refere ao emprego de práticas ultrapassadas no presente. Na década de 1930 com emprego de políticas publicas voltadas para a formação do sentimento nacionalista, adotou-se sobretudo o tombamento como forma de preservação do patrimônio, preservando principalmente espaços que remetiam a um sentimento comum e a memoria coletiva. É nessa época que expressões como “conhecer para preservar” surgem e se consolidam, sendo reverberada, inclusive, nos dias atuais. Expressões como essa empobrecem o discurso da preservação, já que desconsidera toda carga cultural que as pessoas carregam e o conhecimento que trazem de suas vivencias, ignorando o fato de que sim, as pessoas conhecem e se organizam para preservar aquilo que as representa. A autora argumenta que o desconhecimento parte principalmente de representantes políticos, grupos empresariais e pessoas ligadas diretamente a preservação patrimonial, que de forma desonesta ou por simples ignorância, destroem e ajudam a descaracterizar o patrimônio. Por fim, a reflexão se volta para o conteúdo trabalhado em museus e espaços de preservação. Conteúdos que visam muito mais a quantidade e o atendimento massivo do público, adotando uma lógica puramente comercial e vazia de criticidade. Esse vazio também é facilmente notado no conteúdo direcionado a instituições de educação, chegando a mão de indivíduos leigos um conteúdo carregado de informação técnica, de difícil compreensão e carente de reflexão, desestimulando a preocupação com o patrimônio e a memoria coletiva. A mudança desse conteúdo mais informativo para um conteúdo mais crítico e estimulante, talvez represente um dos passos mais importantes para a preservação do patrimônio. Formar uma geração consciente da importância do patrimônio significa formar uma sociedade que manterá viva sua memória coletiva, transformando assim o “conhecer para preservar” em “preservar para que todos possam ter a oportunidade de conhecer”.