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LT103-A - Problemas de História Literária


Teoria e Historia Literária - 2o semestre de 2020

Ementa e Programa:
O paradigma da formação
Na conflagrada década de 1930, brasileiros fizeram do exame de sua história uma verdadeira obsessão. No
momento em que o Brasil passava por profundas mudanças sociais, econômicas e políticas, deu-se uma
proliferação de balanços históricos sobre os caminhos percorridos pelo Brasil até então, com o claro intuito
de investigar quais seriam os próximos passos na trajetória do país. O que o Brasil havia construído até
aquele momento? O que ainda era preciso ser feito para que o Brasil se consolidasse enquanto nação
moderna? O tema da formação passa a permear o campo intelectual brasileiro com bastante intensidade.
Neste curso, examinaremos três das principais obras do período: <Casa-grande & senzala> (1933) de
Gilberto Freyre; <Raízes do Brasil> (1936) de Sérgio Buarque de Holanda e <Formação do Brasil
contemporâneo> (publicado em 1941, mas tributário do espírito dos anos 30) de Caio Prado Junior. A
hipótese que pretendemos desenvolver é a de que cada um desses autores concebe uma ideia de formação
diferente: em <Casa-grande & senzala> o Brasil é narrado como um país culturalmente autônomo, pois já
haveria um jeito de estar no mundo do brasileiro, impulsionado pelos antagonismos em equilíbrio da cultura
gestada nos trópicos por portugueses, africanos e ameríndios; em <Raízes do Brasil>, aquilo que é
considerado já formado – o ethos cordial - está longe de ser satisfatório para consolidar uma nação, mas
também não pode ser descartado, pois o país só conseguirá formar-se a partir de um desenvolvimento
orgânico que toma o que mal ou bem já foi construído como ponto de partida; e, por fim, em <Formação do
Brasil contemporâneo> a formação é uma virtualidade, figurada como um devir longínquo, tendo em vista
que o país não superou as estruturas sociais e econômicas da colônia - um ajuntamento de povos e capitais
empregados para satisfazer as necessidades do mercado metropolitano - estando muito distante de atingir os
padrões de uma sociedade nacionalmente organizada, isto é, guiada pelos seus próprios interesses.
A partir dos anos 1950, com a autonomização das ciências sociais, e o consequente abandono do ensaísmo
como forma discursiva e o declínio da ambição de uma explicação generalista do Brasil, é a crítica literária
universitária que herda e mantém o debate em torno à formação social e cultural do país. As três ideias de
formação forjadas nas décadas de 1930 e 1940 passam a ser retrabalhadas e recombinadas por autores como
Antonio Candido, Alfredo Bosi, Roberto Schwarz e Silviano Santiago, com o intuito de dar inteligibilidade à
cultura brasileira. Analisaremos como a mais hegemônica crítica literária brasileira do século 20 se estrutura
a partir do tema da formação, a despeito das resistências e objeções a tal paradigma crítico (Baptista, Costa
Lima, Pécora). Por fim, examinaremos como a discussão em torno do eixo formativo do país permanence no
ensaísmo contemporâneo de José Miguel Wisnik e Eduardo Gianetti da Fonseca.
*** SERÃO ACEITOS ALUNOS ESPECIAIS ***

Programa:

1 –Um país formado nos trópicos em <Casa-grande & senzala> de Gilberto Freyre.
2- Formação e cordialidade em <Raízes do Brasil> de Sérgio Buarque de Holanda.
3 - Formação como um penoso devir-ocidental em < Formação do Brasil contemporâneo> de Caio Prado
Junior.
4- Literatura já formada e país ainda em construção na <Formação da literatura brasileira> de Antonio
Candido.
5 – Malandragem como fermento formador da sociedade brasileira na “Dialética da malandragem” de
Antonio Candido.
6- (De) formação social e dialética negativa no ensaísmo de Roberto Schwarz.
7-– As ambivalências da formação em Alfredo Bosi: a lógica agro-exportadora x a lógica humanista;

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economia x cidadania.
8 – A formação sonhada e sublimada: futebol e cultura em <Veneno remédio> de José Miguel Wisnik.
9. Liberalismo, consciência ecológica e o elogio do vira-lata: o ensaísmo de Eduardo Gianetti.

Bibliografia:
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Gilda de Mello e Souza e Lúcio Costa. São Paulo: Paz e Terra, 1997
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WISNIK, José Miguel. Veneno remédio: o futebol e o Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

*** Até segunda ordem, a disciplina será ensinada online. O professor entrará em contato com os alunos
matriculados pelo Google Classroom, onde definiremos os melhores formatos de aula, de seminário e
possibilidades de participação. Textos em pdf ficarão disponíveis no Google Drive. E-mail para contato:
alfmelo@unicamp.br

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