Você está na página 1de 89

AGRADECIMENTOS

Um ser humano se faz pela sua história e relações ao longo


da vida. Portanto, para começar de um jeito bem
existencialista, quero agradecer ao meu passado; Aos fatos
bons, logicamente, sou grato. No entanto, aos fatos ruins,
também sou grato, pois pude deles tirar aprendizado e
maturidade.

Esta obra ocorre pela fé, então sou grato a Deus, n’Ele
tenho crido e construído minha personalidade. Assim
acredito que será até o fim de minha jornada nesta vida.

Sou grato à minha família que entre acertos e erros, faz


parte da minha vida; minha esposa, Rejane, que vai além de
uma esposa, é minha melhor amiga e companheira.

Costumo dizer que nunca estamos prontos. Sempre, nós


mesmos, nos surpreendemos com nossas mudanças, assim
foi, é, e será comigo. Na imaturidade de minha adolescência
e juventude, não desejava ser pai, acreditava que ser pai
iria atrasar minhas metas e sonhos.

Este raciocínio é típico da imaturidade, podemos chamá-lo


de egocentrismo, mas como estamos diariamente em uma
constante metamorfose, em 2017 veio a maior motivação e
alegria da minha vida: minha filha Heloísa.

O que eu acreditava que poderia ser uma dificuldade para


realizar meus sonhos, foi, na verdade, a maior realização da
minha vida.

Obrigado, filha, por ser este presente divino.


Obrigado a todos que fizeram parte da elaboração deste
projeto, pois sozinho não teria conseguido. Obrigado, leitor,
por estar aqui e espero do fundo do coração que este livro
possa contribuir para sua vida.

Ele não lhe trará felicidade, mas tenho certeza que lhe
mostrará um caminho para encontrá-la. Te espero nas
próximas páginas.

Até mais!

“Quantas vezes a gente, em busca da ventura, Procede tal e


qual o avozinho infeliz:

Em vão, por toda parte, os óculos procura Tendo-os na


ponta do nariz!”

Mario Quintana

PREFÁCIO
A FELICIDADE
é uma das grandes buscas da humanidade.
As atitudes e escolhas do ser humano estão, mesmo que
inconscientemente, pautadas em encontrá-la e isso pode
gerar certas inquietações. Por que existem pessoas que,
mesmo empenhadas nessa busca, não conseguem ser
felizes? Será que elas estão procurando a felicidade onde
não podem encontrar?

Para entender melhor essa questão, vamos retornar a


Grécia antiga. Os gregos tinham um conceito interessante
sobre felicidade, este vinha do termo “Eudaimonia” – “eu”
significava “bom” e “daimon” significava demônio. Vale
lembrar que demônio, nesse contexto, tinha mais relação
com uma força interior do que com a espiritualidade. Neste
sentido, felicidade significava despertar a força que há em
você para a vida.

Mais tarde, Espinosa, grande filósofo do século 17, vai


chamar essa força de Conatus – impulso de vida inato ao ser
humano, e é a partir da liberação dessa força, desse
impulso, que o homem é capaz de encontrar a felicidade.

Contemporaneamente, Viktor Frankl, neuropsiquiatra e


criador da Logoterapia, volta a falar dessa força intrínseca
que faz com que a pessoa suporte as adversidades e
prossiga em sua jornada independentemente da situação.
Ele chama essa força de Sentido de Vida e defende que é a
partir dela que o homem pode sentir-se completo e
encontrar a felicidade.

Independente do conceito, todos concordam que a


felicidade está mais próxima do que imaginamos, como
dizia Mário Quintana, bem debaixo do nosso nariz. O
problema é que procuramos fora, algo que só podemos
encontrar em nós mesmos. Soren kierkegaard confirma essa
ideia quando diz que a porta da felicidade só vai abrir para o
exterior, quando você a fechar para o interior, ou seja,
enquanto nós tentamos captar do lado de fora a nossa
felicidade, em outras pessoas ou circunstâncias, não temos
sucesso algum. Contudo, quando consigo me fechar em
mim mesmo e encontrar em meu interior essa energia, terei
êxito, já que a busca pela felicidade demanda um
movimento interno.

Neste sentido quando entramos em contato com essa força


interior e a liberamos, pode acontecer o que for; Um
meteoro pode cair na vida do homem e destruir tudo o que
vê pela frente, a força que o faz viver vai fazê-lo se levantar
e, com garra, reconstruir tudo novamente.
Esse pulso de vida, que já ganhou o nome de demônio,
Conatus, missão, propósito ou sentido de vida, é o que vai
fazer com que homem supere qualquer desafio e encontre a
felicidade.

Pretendo, ao longo do livro, te convidar a refletir sobre essa


força maior, esse sentido de vida e tudo o que nos afasta
dele. Eu não tenho a intenção de te dar uma receita de
como ser feliz, mesmo porque esse é um processo
intrínseco – particular de cada um – ,mas quero mostrar
caminhos que te transformarão na pessoa que encontrará a
própria felicidade.

“Não haverá borboletas se o mundo não passar por grandes


transformações.”

Rubem Alves

CAPÍTULO 1
AS METAMORFOSES DA VIDA
A tristeza, ao contrário do que gostaríamos, faz parte das
nossas vidas, por isso, é preciso ter um olhar empático para
nossa própria dor. Rubem Alves foi muito feliz ao nos
convidar a aprender com as borboletas, essas passam por
grandes transformações, muitas delas que demandam
sofrimento e momentos de solidão. Pouco antes da vida
adulta, as larvas (lagartas) fecham-se em um casulo,
construído por elas mesmas, para que ali, em contato
somente com sua própria existência, possam sofrer as
transformações pelas quais precisam passar.

Provavelmente, este período, que pode durar de uma


semana a um mês não, é fácil para esses pequenos seres,
que ficam ali sozinhos passando por doloridas mudanças em
seu corpo e em sua essência. No entanto, quando chegam
ao ponto máximo de maturação, elas recebem a sua
recompensa, irrompendo o seu casulo, percebem que
podem voar e enxergar a vida sob uma nova ótica.

Assim também acontece com o ser humano. Talvez você


não consiga ver sentido em momentos de sofrimento e
preferiria continuar rastejando como uma lagarta a passar
pela transformação de tornar

-se uma borboleta, contudo, essa não é uma opção. Todos


passamos por momentos difíceis e precisamos aprender a
tirar algo de proveitoso deles, isso promove o nosso
crescimento e muda a forma como enxergamos a vida.

Rubem Alves, em seu conhecido livro “Ostra feliz não faz


pérola”, pondera sobre o efeito que as circunstâncias
difíceis da vida pode trazer. Ele faz essa observação a partir
da metáfora da formação da pérola. Quando um grão de
areia entra na ostra, essa começa a sentir incomodo e dor,
ela tenta de todas as formas se livrar daquele intruso, no
entanto, isso só aumenta o seu sofrimento. Ao perceber que
não será possível tirá-lo de lá, ela começa o processo de
remodelação desse grão, busca encobrir aquela aspereza
com uma superfície mais lisa e suave ao toque. Como
resultado desse processo, temos as lindas pérolas, que
reproduzem encanto e sutileza para quem as vê.

Você conhecia o processo pelo qual a pérola é criada? Já


parou para pensar no sofrimento pelo qual a ostra passa
antes de formá-la?
Muitas vezes, ao olharmos para uma pessoa ponderada e
feliz, não paramos para pensar no processo de
transformação pelo qual ela passou. Temos um olhar mais
apurado para as pérolas do que para os geradores de
incomodo e sofrimento.

No entanto, em nossas vidas, é preciso ter consciência de


que não existem extremos, nada é só dor, assim como
também não é só alegrias, muitas vezes os momentos
difíceis, pelos quais passamos, vão nos ajudar a ser pessoas
melhores.

Passar por um momento de angústia, tendo a clareza de


que aquilo pode gerar resultados positivos, é fundamental
para se ter mais forças para enfrentá

-los, assim como para não paralisar ao se tornar vítima da


situação.

Está em suas mãos tornar-se agente da própria vida e


colher algo bom, mesmo nos momentos mais difíceis.

Os judeus têm uma filosofia interessante em relação a


maturidade, quando o menino completa 13 anos e a menina
12, eles passam por um ritual que o insere à vida adulta, o
Bar Mitzvah para os meninos e o Bat Mitzvá para as
meninas.

Este é um ritual que simboliza a autonomia existencial, isso


significa que a partir do momento em que passam por essa
experiência, eles são responsáveis pelas próprias escolhas,
como também pelas suas consequências.

Fazendo analogia a nossa cultura, a partir do momento que


o indivíduo consegue perceber que ele é o único
responsável por sua própria vida, assim como o único capaz
de passar pelo próprio sofrimento e encontrar um sentido
para ele, este se tornará um adulto.
No entanto, enquanto isso não acontecer, o homem
permanecerá sendo um menino na vida.

Há alguma experiência de sofrimento ou dor que fez com


que você paralisasse?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

Qual aspecto da sua vida foi mais prejudicado por esse


processo?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

De que forma você buscará encontrar sentido nos


momentos difíceis, para que não se torne vítima e paralise
em sua caminhada?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

“Damos voltas e voltas, mas, na realidade, só há duas


coisas: ou escolhes a vida ou afastas-te dela”

José Saramago

CAPÍTULO 2
A TRANSFORMAÇÃO A PARTIR
DA REALIDADE
As experiências de dor e desilusão fazem parte da vida
humana. Ser feliz não significa que você nunca mais vai
passar por tristezas em sua vida, pelo contrário, encontrar
um sentido maior para sua vida vai te ajudar a passar pelos
momentos desafiadores e ficar, sim, triste, mas escolher
não permanecer na tristeza.

Somos nós os responsáveis por alimentar a escuridão ou a


luz em nossa vida. Santo Agostinho dizia que para que o
mal exista, é preciso reconhecê-lo e aceitá-lo como parte da
própria vida. Somos nós quem o personificamos e fazemos
dele uma barreira que nos impede de prosseguir.

Neste sentido, há duas formas de se reter as experiências


que geram sofrimento, podemos processá-las para o bem,
iluminando a nossa vida e, assim, encontrando caminhos
para prosseguir ou para o mal, trazendo trevas que nos
fazem deixar de enxergar uma solução. Quando
processamos uma experiência para o mal, nós alimentamos
a dor e não conseguimos ver nela nada de positivo. Isso
gera mais angústia e tristeza e, reviver essa experiência dia
após dia, faz com que nos tornemos inertes ao sofrimento e
paremos de progredir. Já quando escolhemos processar essa
situação de forma positiva, nós sofremos com a situação, no
entanto, encontramos uma forma saudável de lidar com ela.

Todos temos as nossas próprias dores

Existe um conto budista que fala sobre uma mulher e sua


filha, uma menina na flor da idade que estava prestes a
entrar na faculdade.

Em um exame de rotina, a menina descobriu que estava


com câncer. A mãe, sem aceitar o diagnóstico, começou
buscar tratamentos para filha. Corria, desesperadamente,
atrás de uma cura, mas todos os médicos que ela procurava
lhe davam o mesmo diagnóstico – a menina tinha poucos
meses e vida.

Dentre as suas buscas, ela soube de um curandeiro, que


morava no alto da colina e tinha ganhado fama pela sua
sabedoria. Ao encontrá-lo, a mãe disse que pagaria o que
fosse preciso para que ele curasse a sua filha condenada à
morte pela doença.

O sábio, calmamente, olhou nos olhos daquela mãe e lhe


deu uma tarefa: buscar três grãos de mostarda, de três
casas diferentes, e trazê-los para ele. No entanto, havia
uma ressalva, era necessário que ela os pedisse em casas,
cujas famílias nunca tivesse perdido alguém.

A mulher saiu na sua jornada, mas em pouco tempo


percebeu que essa era uma missão impossível de se
realizar, pois em todas as casas em que ela batia, havia
famílias que tinham perdido uma pessoa querida em algum
momento da vida.

Ela voltou à casa do curandeiro, melancólica, pois soube


que a filha iria morrer, mas percebeu que aquele sofrimento
fazia parte da vida, não só da dela, mas da vida de todas as
pessoas. Ao retornar para casa, viveu intensamente a
presença de sua filha e as duas aproveitaram a vida uma da
outra como nunca haviam feito antes.

Aquela mãe paralisou diante da dor e começou a procurar


incessantemente a cura, até o momento em que percebeu
que o que ela de fato precisava, era valorizar a vida, assim,
aproveitando os últimos momentos da vida de sua filha, ela
encontrou o que, realmente, lhe era indispensável.

Acredito que a morte de um ente querido é uma das


maiores dores pelas quais o ser humano pode passar, e é
natural que soframos com isso. Contudo, existem pessoas
que processam essa perda com sentimento de amargura e
insatisfação em relação à vida, isso as alimentam e
consomem de tal forma que elas passam a viver essa
amargura, sem ver nisso um fim.

Por outro lado, há um grupo de pessoas que, mesmo diante


de tamanho sofrimento, consegue encontrar algo que
transforme aquela perda em algo positivo. O Instituto Ayrton
Senna e a Instituição Viva Cazuza nasceram a partir da dor
de uma perda, o primeiro faz trabalhos sociais voltados para
o público carente, já a segunda, cuida de crianças vítimas
do HIV, mesma doença que matou o filho de Lucinha,
fundadora do projeto.

A capacidade de semear vida a partir da dor está em


encontrar um sentido para o sofrimento.
Se a pessoa
escolher ressignificar e aprender com a tristeza e com as
lutas, ela começa a quebrar as barreiras que a impedem de
prosseguir sua vida, no entanto se optar por amargurar-se,
não conseguirá enxergar a saída para aquela dor.

A sua atitude diante da dor e do sofrimento fará toda


diferença em sua vida e na vida daqueles que o cerca. A
partir dela, podem nascer Instituições como as que vimos
acima ou você pode se tornar uma pessoa melhor, capaz de
dar melhores conselhos e mais sensível ao sofrimento do
outro.

Diante do sofrimento, escolha pela vida e por tudo de bom e


agradável que nela você pode semear. Como Sartre nos
ensinou –
não importa o que a vida fez de você, mas sim, o
que você vai fazer com o que a vida fez de você.

Qual experiência de tristeza precisa ser ressignificada na


sua vida?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

Em que essa experiência pode contribuir para seu


crescimento pessoal e para as pessoas ao seu entorno?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
“O seu sucesso na vida depende do seu cérebro, pela
simples razão de que toda a experiência nos chega através
do cérebro.”

Deepak Chopra

CAPÍTULO 3
MENTE HUMANA – ALIADA E
INIMIGA
Os hormônios têm grande responsabilidade em nosso
estado de humor. O ser humano é um ser hormonal, e
compreender como eles operam no corpo traz mais clareza
a respeito do próprio comportamento, que acaba refletindo
em nossa felicidade.

Quando falo sobre hormônios, gosto de destacar a


serotonina, a dopamina, a testosterona e o cortisol, que
influenciam diretamente o ânimo da pessoa.

Há diversos fatores que podem interferir na produção


desses hormônios, entretanto falarei de apenas dois, que
por serem muito simples, podem ser testados e adotados
por qualquer pessoa: a linguagem corporal e a gestão de
pensamentos.

A postura corporal representa a forma como a pessoa se


apresenta para o mundo. Está cientificamente comprovado
que ela influencia diretamente na produção de hormônios
no corpo.

Quando uma pessoa fica cabisbaixa e com ombros caídos,


ela tende a apresentar inibição na produção de serotonina e
dopamina – hormônios responsáveis pela sensação de
prazer. Como consequência dessa baixa, a produção de
testosterona tende a cair e a de cortisol, hormônio do
estresse, tende a aumentar. Isso acontece porque quando
há essa retração da musculatura e da parte esquelética, o
cérebro entende que há uma situação de perigo, por isso
ele busca a redução dos hormônios que trazem autoestima
e prazer, que poderiam inibir ação e pensamento rápidos,
para dedicar-se a produção dos que podem dar mais
agilidade e força para enfrentar essa situação.

Por outro lado, quando a pessoa tem uma boa postura, ela
tem a normatização da produção de hormônios, o que afeta
diretamente o seu ânimo.

Ou seja, quando a pessoa abre a caixa torácica e ocupa


mais espaço no universo, o seu corpo começa a produzir
hormônios que trazem a sensação de bem estar e isso faz
com que sua autoestima aumente e ela se sinta confortável
e capaz de realizar e de conquistar seus objetivos.

A gestão dos pensamento é um outro fator que pode


interferir na produção de hormônios. Um experimento
realizado nos Estados Unidos nos comprova essa influência
no bem-estar do ser humano.

Um pesquisador separou dois grupos, um com cinco


pessoas que tinham medo de altura e o outro, também com
cinco, constituído por pessoas que não apresentavam
nenhum medo de altura ou água. Ele desafiou o primeiro
grupo, formado por pessoas que tinham a fobia, a subir em
um trampolim de 4 metros e pular na piscina. As regras
eram simples. Caso elas decidissem pular de lá, ganhariam
a quantia de $100,00 cada uma. Se decidissem não pular,
não perderiam nada.

Cada candidato do primeiro grupo deveria chegar até a


ponta do trampolim e, antes de pular, ficar durante um
minuto em postura de super-herói, pensando somente em
coisas positivas. Das cinco pessoas que aceitaram o desafio,
todas pularam e três pediram para pular novamente.

Ele pediu para que o segundo grupo, esse formado por


pessoas que não apresentavam medo, também subisse ao
trampolim, porém mudou as regras. Estes, antes de pular,
deveriam ficar um minuto com a postura encolhida e tendo
pensamentos negativos. Todos os participantes desistiram
de pular.

Somos seres pensantes e gerir os pensamentos, juntamente


com a nossa postura, é importantíssimo para que nosso
corpo aja a nosso favor. A carga hormonal influencia
diretamente os nosso pensamentos, assim como os
pensamentos refletem na nossa postura e, por sua vez, a
postura na produção de hormônios. Isso leva a um ciclo
vicioso de estresse e baixa autoestima.

Todo fracasso começa na mente

Leonardo Boff, um teólogo brasileiro, fala sobre a história de


Gana, pequeno país na África Ocidental que fora colonizado
pelos portugueses durante dois séculos, estes exploravam
seu ouro e vendiam seus homens como escravos. Em 1874,
com pretexto de combater a escravidão, a Inglaterra invadiu
o pequeno país e passou a dominá

-lo. Afim de camuflar a violência de sua conquista, os


colonizadores desmoralizavam o povo local, alegando que
aquele país, como toda a África, era constituído por seres
inferiores e por isso precisavam ser colonizados. As pessoas
daquela região passaram a interiorizar aquela inverdade e
perdurou por muitos anos a crença de que tanto eles, como
sua religião, comida e tradições eram inferiores.

Quase um século depois, os moradores de Gana estavam


reunidos em uma assembléia para decidir se lutariam ou
não pela independência. Muitos dos que participavam,
movidos pelo sentimento de inferioridade, acreditavam que
continuar sendo colônia da Inglaterra era uma
oportunidade, já que sendo colonizados por uma grande
potência eles poderiam ter acesso a modernização e
inserção no mundo civilizado. Um cidadão, até então
anônimo, James Aggrey, levantou a mão pedindo para dar a
sua opinião. Ele começa, então, a contar uma história:

– Havia um camponês que buscou na floresta vizinha um


pássaro para manter em cativeiro. Ele apanhou um filhote
de águia e o colocou para ser criado junto com as galinhas.
Cinco anos depois ele recebe em sua casa um naturalista
que, ao visitar o galinheiro, percebeu que havia uma águia
ciscando e comendo minhoca. O naturalista, ao ver isso,
questionou o camponês, que lhe respondeu que aquele
pássaro não era mais uma águia, uma vez que ele tinha
feito dele uma galinha.

O naturalista, inconformado em ver um predador nato


desperdiçando sua existência dentro de um galinheiro, se
propôs a ajudar aquele ser a reconhecer a sua essência. O
camponês, crendo que o animal jamais voltaria a ser como
águia, aceitou a proposta.

O naturalista segurou a águia nas mãos, levantou-a e deu


seu comando:

– Águia, já que você é uma águia, abra as asas e voe!


O pássaro, ao ver as galinhas ciscando, pulou para junto
delas e começou também a ciscar.

Ele, sem desanimar, no outro dia pela manhã, levou a águia


para parte de cima do telhado e deu o mesmo comando:

– Águia, já que você é uma águia, abra as asas e voe!


Novamente a águia voltou para o galinheiro.

No terceiro dia eles levantaram cedo e foram até o alto de


um penhasco, pouco antes do nascer do sol, ele então
tampou os olhos da águia e deu o seu comando:

– Águia, já que você é uma águia, abra as asas e voe!

Ele a segurou firmemente em direção aos primeiros raios


solares e tirou a venda que lhe tapava os olhos, no
momento em que seus olhos foram ofuscados pela luz solar,
a águia ergueu as suas asas e começou a voar cada vez
mais alto e nunca mais voltou.

O livro diz que Aggrey concluiu a sua história dizendo que


aquele povo também nasceu para voar, mas os fizeram
acreditar que eles eram galinhas, por isso eles precisavam
lembrar de quem realmente eram.

Eles se libertaram e nunca mais os fizeram pensar como


galinha.

Passos que ajudam na manutenção da mente

Sabemos que as maiores batalhas são travadas dentro da


nossa mente, e a maior parte das nossas derrotas também
começam lá. Nesse sentido, é essencial conhecer seu
funcionamento, pois ela pode funcionar como aliada na
busca pela felicidade, assim como pode ser a maior vilã
dessa empreitada.
A CONVERSAÇÃO INTERNA
pode contribuir para o nosso
sucesso. Um ser humano normal pensa de 300 a 600
palavras por minuto, e a maior parte dessas palavras são
direcionadas a nos mesmos por meio de um diálogo interno.
Pensamentos negativos, como “Eu não vou conseguir”,
“Isso não é para mim” ou “Não vai dar certo”, vão
influenciar diretamente, não só na produção hormonal,
como também nas suas escolhas e ações.

Se você não policiar esse tipo de pensamento e buscar


ressignificá-los assim que eles surgirem, estará correndo o
sério risco de entrar em ciclo de fracasso – mudança de
postura, que influencia na produção de hormônio, prejudica
a credibilidade que damos a nós mesmos e que, por sua
vez, interfere nos pensamentos, e por aí vai.

Então, todas as vezes em que tiver um pensamento


negativo, você deve rebatê-lo com pensamentos positivos.

O ENSAIO MENTAL
ensina a nossa mente a nos levar aos
resultados que queremos. O cérebro humano não consegue
diferenciar o real do imaginário, a prova disso é que
choramos em filmes, mesmo sabendo que aquilo é uma
ficção.

Essa é uma deixa para usarmos a visualização a nosso


favor, se você passar a imaginar que está conquistando os
seus objetivos, o seu cérebro vai trilhar caminhos para que
você chegue a esse destino.

Alexandre, o Grande, um dos maiores estrategistas que a


história conheceu, usava essa técnica. Conta-se que ele
tinha o costume de subir ao topo de um monte antes das
suas batalhas, sobretudo durante a guerra do Peloponeso.
Chegaram a pensar que ele praticava algum tipo de ritual
como meditação ou oração.
Questionado sobre esse costume, ele explicou que subia até
a parte mais alta do monte, pois de lá ele poderia ter uma
visão mais ampla do local em que iria guerrear. Ele ficava
por horas visualizando como seria a batalha, simulando
todas as possibilidades de ser encurralado pelo inimigo,
montando, assim, estratégias para vencê-lo. Assim, mesmo
antes de acontecer a guerra, ela já havia a vencido em sua
mente.

O CONTROLE DE EXCITAÇÃO
é a penúltima técnica que
ensinarei nesse capítulo. Ela diz respeito a controlar as
nossas ações diante de situações estressantes. Nosso
cérebro pode agir pela emoção ou pela razão, em
momentos de forte estresse, é importante que
racionalizemos as nossas ações para que tenhamos
resultados positivos.

Se deixarmos as emoções nos controlar diante de situações


de forte estresse, poderemos ter dois tipos de reações –
paralisar ou agir por impulso – seja qual for a nossa reação,
ela sempre irá gerar descontentamento ou dor, neste
sentido, controlar a situação por meio de um raciocínio
lógico é a melhor saída nesses casos.

Você deve estar se perguntando: mas como posso ter um


controle racional estando sobre forte emoção? Uma das
saídas mais fáceis é a oxigenação do cérebro. Por meio da
respiração profunda e continua, você conseguirá mandar
maior quantidade de oxigênio para seu cérebro e, a partir
disso, controlar os índices de cortisol no seu corpo. Isso vai
diminuir seu estresse e, sem o controle desse hormônio
sobre seu cérebro, você voltará a raciocinar, tendo maior
controle de suas ações e reações.

A indústria tabagista conseguiu monetizar essa estratégia


por meio de substâncias viciantes. A pessoa consegue ter o
bem-estar por meio da respiração, pensando nisso, ela
desenvolveu o cigarro que, ao ser utilizado em um momento
de estresse, traz a oxigenação, mas junto a isso, traz a
nicotina e outras substâncias que causam dependência. O
cérebro desencadeia o vício no momento em que associa a
sensação de prazer, provocada pelo controle do cortisol, a
essas substâncias.

FIXAÇÃO DE METAS
é um importante princípio que a
pessoa que quer uma mente saudável e que funciona a seu
favor deve adotar. As metas a curto, médio e longo prazo
ajudam no nosso crescimento como pessoa e diminuem o
efeito do medo sobre as nossas vidas. Isso acontece porque,
estabelecendo um objetivo, você tem uma direção a seguir.
Uma passagem muito conhecida da obra Alice no País das
Maravilhas
ilustra muito bem isso: – “Sr. Gato, qual caminho
eu devo seguir?” – “Depende de onde você quer chegar”.
Essa pergunta parece simplória, mas na verdade ela é muito
profunda. Você sabe aonde você quer chegar?

Quando a pessoa não tem metas estabelecidas, ela não


sabe qual caminho deve seguir em sua vida, dessa forma,
qualquer caminho para ela serve, até mesmo aquele que
poderá levá-la a infelicidade. As metas, ao mesmo tempo
em que te dão um norte, te ajudam a não perder o foco,
neste sentido, mesmo diante das dificuldades, você não vai
desistir, pois sabe onde quer chegar. Então, estabeleça
metas para sua vida, pois elas vão influenciar diretamente
na sua felicidade.

O que você vai começar a fazer a partir dessa semana para


cuidar da sua mente?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

Quais são os seus planos para os próximos 365 dias? O que


deve acontecer – que dependa de você

– em cada mês para que seu plano dê certo?

1º mês________________________________
__________________________________________ 2º
mês________________________________
__________________________________________ 3º
mês________________________________
__________________________________________ 4º
mês________________________________
__________________________________________ 5º
mês________________________________
__________________________________________ 6º
mês________________________________
__________________________________________ 7º
mês________________________________
__________________________________________ 8º
mês________________________________
__________________________________________ 9º
mês________________________________
__________________________________________

10º mês_______________________________

11º mês_______________________________
__________________________________________

12º mês_______________________________
__________________________________________

Onde você quer estar daqui a cinco anos? O que você


precisa fazer para alcançar esse objetivo?
______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

“Conhece-te a ti mesmo, torna-te consciente de tua


ignorância e será sábio.”

SÓCRATES

CAPÍTULO 4
A IMPORTÂNCIA DO AUT O C O
NHECIMENT O
Você já parou para pensar que uma mesma circunstância
pode ferir profundamente uma pessoa, enquanto nem
chega a atingir uma outra? Existem algumas situações que
te deixam mais nervoso do que o normal e que passam
desapercebidas por pessoas ao seu redor?

Isso acontece porque, ao longo da vida, criamos princípios e


valores que norteiam a nossa vida e as nossas decisões e
quando eles são violados, por terceiros ou por nós mesmos,
nos sentimos desrespeitados, ou entramos em desarmonia
com a nossa essência. A maioria das pessoas não tem
consciência disso, o que faz com que elas tenham mais
dificuldade em lidar com as próprias emoções, assim como
em fazer escolhas coerentes a sua natureza.

Conhecer a dimensão que é o ser humano e as peças que o


compõe – valores, crenças e princípios adquiridos ao longo
da vida, talentos, habilidades, pontos fracos – vai te dar a
compreensão da unicidade de cada ser. A partir dessa
consciência, você perceberá que os sentimentos, emoções e
ações das pessoas são pautadas em diferentes conceitos, o
que faz com que cada um seja um ser único, logo, as
cobranças e comparações que se tem acerca de si mesmo e
do outro perdem o sentido.

Quando eu e minha esposa montamos o curso preparatório


para o exame psicológico para Polícia Militar do Estado de
São Paulo, passamos a divulgar o nosso trabalho em
diversos lugares em que podíamos encontrar nosso público.
Fazíamos de tudo para conquistar alunos, mas não tínhamos
sucesso. O desespero começou a bater quando vimos que
nenhum aluno aparecia e não teríamos dinheiro para pagar
as contas.

Certo dia, apareceu um rapaz que queria contratar nosso


curso, ficamos muito felizes, no entanto, ele não concordava
com os nossos critérios. Desde o início, nós trabalhamos
com o conceito de que o aluno só paga o curso se ele
passar no teste, e esse aluno insistia em pagar antecipado.
É óbvio que estávamos precisando muito daquele dinheiro,
mas não podíamos trocar os nossos princípios por uma
necessidade. Queríamos trabalhar, acima de tudo, com
idoneidade para que pudéssemos criar uma marca a qual
nossos alunos tivessem orgulho de indicar.

O rapaz não aceitava a nossa exigência, ele afirmava que


não era justo ele ter acesso ao curso e não pagar por isso.
Ficamos então em um embate, ele defendendo seu ponto de
vista que estava baseado em seu princípio de senso de
justiça, e nós defendendo os valores pelos quais queríamos
alicerçar nosso curso: honestidade e credibilidade. O rapaz
decidiu ir embora, e eu e a Rejane, minha esposa, ficamos
muito chateados por pensar que iríamos perder o único
candidato que tinha aparecido.

Pouco tempo depois, o telefone tocou, era o mesmo rapaz,


ele dizia-se admirado por não termos aceitado o dinheiro e
decidiu que faria o curso conosco. Esse aluno passou no
teste e indicou outros alunos, que por sua vez indicaram
outros, e hoje nos tornamos uma escola referência nessa
área.

Conhecer os nossos valores e ter a consciência de que os


valores do outro são diferentes dos nossos foi essencial para
tomarmos uma atitude coerente a nossa essência e, apesar
dos desafios, alcançar a realização pessoal e profissional.

Com o avanço da tecnologia, o ser humano ficou


extremamente exposto ao mundo digital, por meio de
algoritmos, é possível saber muito sobre o ser humano.
Yuval Harari diz em seu livro Sapiens: Uma Breve
História da Humanidade
que a tecnologia está
avançando tanto que, em pouco tempo, será possível
identificar, por meio da dilatação da pupila, desejos íntimos
de uma pessoa, que muitas vezes nem mesmo ela os
conhece. Neste sentido, estamos avançando para um
mundo em que a tecnologia conhece muito mais das
pessoas do que elas mesmas, o que nos faz perceber que
nunca foi tão urgente trabalhar o autoconhecimento, para
que não nos tornemos vítimas de um sistema de
manipulação e consumo.

O autoconhecimento e a busca por sentido

Contemporaneamente, temos diversas linhas que buscam


ajudar a pessoa a ter uma vida mais plena de sentido e
realização, entre elas, a Logoterapia, criada por Viktor
Frankl, sobre quem falarei bastante nesse livro. Mas, como
você já deve ter percebido no seu dia a dia, uma ideia
nunca é totalmente original, ela sempre migra de alguma
outra ideia já discutida em outro lugar ou em uma outra
época.

Zenão de Cítio que viveu entre os anos 335 a 264 antes de


Cristo, pregava a ideia do desapego ao controle material em
detrimento da busca existencial. Sua filosofia, em partes,
lembra a linha de estudo logoterápica, ele dizia que, mesmo
que não possamos mudar uma situação, somos
responsáveis por mudar a nós mesmos diante daquela
situação.

Para que possamos seguir esse princípio pregado por esse


filósofo, é necessário, primeiramente, ter consciência do
próprio funcionamento. A qualidade de vida, diferentemente
do que a maioria pensa, não depende de fatores externos
para acontecer, mas sim de fatores internos, por isso é
importante se conhecer para saber as armadilhas que a
nossa mente muitas vezes nos prega e aprender a lidar com
elas.
Quando uma pessoa tem certeza de quem ela é,
dificilmente se deixará abalar por fatores externos, pois
saberá que aquilo não diz respeito a ela. Existe uma lenda
que conta que Alexandre, o Grande estava curioso para
conhecer Zenão de Cítio e sua filosofia, seus homens, então,
marcaram uma visita do grande líder ao filósofo. Ao
encontrá-lo, Alexandre passou a questioná-lo acerca de seu
propósito de vida, já que ele passava o dia todo filosofando,
estudando, tomando sol, como se não houvesse um sentido
maior em sua vida. Zenão, que estava tomando sol,
gentilmente perguntou o nome de seu visitante, para, logo
em seguida pedir que parasse de fazer sombra, já que
estava atrapalhando seu banho de sol.

Os soldados ficaram apreensivos com a sua ousadia, afinal


ninguém até o momento havia afrontado o imperador
daquela forma. Alexandre pediu para que eles se
acalmassem e admirou tamanha coragem, pois soube que o
medo vem do apego material, logo, jamais aquele homem
poderia respeitá-lo como o grande imperador - somente
como Alexandre e nunca como o Grande.

A filosofia de vida de Zenão fez com que ele se


depreendesse de tal forma, que nem mesmo uma figura
autoritária poderia fazê-lo ficar temeroso; A felicidade passa
por essa atitude. A pessoa buscar dentro de si mesmo
elementos que de fato possam fazer sentido, tendo a
consciência que nenhuma força exterior pode abalar esse
sentido.

Pensando na sua vida como um todo, suas ações, a forma


como você se relaciona com as pessoas e suas preferências,
reflita sobre os valores que norteiam a sua vida e anote-os
abaixo.
______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

Quais são as suas principais habilidades e pontos a


melhorar?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

De que forma você tem se baseado nessas características


para conduzir as suas escolhas?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

“Uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas. Sou


porque somos...”

Provérbio Africano

CAPÍTULO 5
UBUNTU
é uma filosofia africana muito profunda, ela nos
dá elementos para pensarmos na vida e nos
comportamentos dos seres humanos. Sem ter uma tradução
objetiva para o português, seu conceito é bem contrário ao
pensamento contemporâneo individualista, que prega a
disputa exacerbada entre o “eu” e o “ele”, ela exprime a
ideia de “Eu sou, porque nós somos”, desta forma, o
amadurecimento e a felicidade acontece no coletivo, não
numa empreitada sobre o outro, mas através do
relacionamento e respeito entre todos os seres da terra.

Segundo o doutor em filosofia e psicologia pela


Universidade de Stellenbosch (África do Sul), Dirk Louw, não
existe o conceito de “ser apenas porque tú és”, mas sim
“ser por meio de ti”. Para ele, ser humano significa ser por
meio dos outros, sendo eles humanos ou não. Neste
sentido, na filosofia Ubuntu as pessoas precisam ter a
consciência da sua existência por meio de outros seres e
elementos do universo, pessoas, animais, ar, água, terra,
solo, plantas e assim por diante.
Quando o homem exerce essa consciência, ele exercita e
desenvolve a espiritualidade. Vale lembrar que
espiritualidade não tem nada a ver com religiosidade, pois
está além do material e dos dogmas ou preceitos religiosos.
Ela está ligada a essência de cada um e o que vai ficar de
cada um de nós depois de nossa passagem dessa dimensão
física e corporal, é um contato com a existência que
transcende seu próprio ‘eu’.

Dean Hamer comprovou, por meio de pesquisas que


resultaram no livro O Gene de Deus,
que a espiritualidade
não é apenas uma escolha pessoal. Todo ser humano possui
o código genético da fé, desta forma, mesmo a
espiritualidade sendo algo subjetivo e pessoal para cada
um, ela é inerente ao homem, nesse sentido, todos
nascemos com a necessidade de acreditar em algo superior,
algo que transcenda a nós mesmos.

Infelizmente, a humanidade está cada vez mais egocêntrica,


as pessoas buscam de qualquer forma preencher a sua
existência, mesmo que para isso seja preciso deixar de
pensar no outro, poluir os rios, matar os animais, destruir a
natureza. O mundo está se tornando um lugar caótico de se
morar – em que não somente o meio ambiente, mas a
própria natureza das pessoas está se deteriorando. Os
valores estão invertidos, a intolerância e o discurso de ódio
vem sendo propagado de maneira perturbadora, as pessoas
olham apenas para seus próprios anseios, sempre pensando
que nada disso é problema seu. No entanto, grande parte
de nós, de alguma forma, não estamos isentos dessa culpa.

Um olhar empático para o outro e para natureza, exige um


exame mais resignado acerca de si mesmo. Jesus em sua
passagem pela terra deixou um mandamento – “Amarás ao
próximo como a ti mesmo” – porém a grande maioria das
pessoas mal conhece a si mesmo, quem dirá amar. Para
existir o amor, é necessário haver a aceitação de tudo o que
nos constitui, todas as virtudes e todos os defeitos, mesmo
aqueles dos quais não nos orgulhamos.

O não acolhimento de alguma das partes que compõe o


nosso ser, traz desarmonia para nossa vida e para o nosso
meio.

Não aceitar a própria natureza, negar, recriminar, ou pior,


não reconhecer os próprios traços de personalidade nos
torna mais intolerantes, mais odiosos e mais distantes da
espiritualidade.

As pessoas estão cada vez mais carentes de espiritualidade


e, por isso, sentindo-se cada vez mais vazias, vivem como
se a vida não tivesse um sentido, mas ela tem, e não acaba
em si mesmo, ela se completa no outro, no Ubuntu. É uma
força que faz com que deixemos de viver uma vida
despropositada, para construir uma vida que faça sentido,
não só para nós mesmos, mas para a posteridade. É o nosso
legado.

O caminho para recuperarmos essa força que nos faz ir


além de nós mesmos é traçado a partir da nossa aceitação
e do nosso amor próprio, só então estaremos preparados
para amar e cuidar do nosso mundo e dos seres que nele
habitam.

Esse é o sentido da espiritualidade, você construir algo que


transcenda ao seu próprio “eu”, seus próprios julgamentos
de valores e suas próprias crenças, é um estado de
contemplação existencial, diz respeito a você encontrar um
propósito maior – olhar para a vida e buscar, de todas as
formas possíveis, o seu potencial de existência.

O caminho para entrar em contato com a espiritualidade


está dentro de cada um. A distância que você tem do outro
é a mesma distância que você tem de si mesmo, para
encontrar um sentido que transcenda o seu próprio “eu”, é
preciso, primeiro, que você olhe para si e aceite tudo o que
constitui o seu ser – todos os seus defeitos e todas as suas
virtudes

– amando e aceitando tudo o que há em você.

Somente depois de ter esse contato existencial, você estará


preparado para um olhar mais amplo acerca da vida.

Olhe para a sua vida e reflita: O quanto você se sente parte


do Universo e parte de si mesmo? Sempre que precisar,
volte a esse ponto para refletir sobre isso e anotar as suas
impressões.

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

Qual legado você quer deixar no mundo? O que você tem


feito para construí-lo?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________ “Eu sinto muito

Me perdoe

Eu te amo

Sou grato”

O ho’ oponopono
é uma técnica havaiana que tem como
premissa a higiene mental, usando para isso afirmações
com significados muito profundos. Por meio da declamação
das frases – “Eu sinto muito, Me perdoe, Eu te amo, Sou
grato” – a negatividade que muitas vezes permeia e polui a
nossa mente, envenenando o nosso coração, perde força e
é dissipada.

Essa oração é um ato de cuidado para consigo mesmo e


para com o mundo, é uma forma de ser por meio dos
outros. Se eu quero um mundo melhor eu preciso,
primeiramente, amar e curar a mim mesmo, purificando a
minha mente dos pensamentos infeciosos que contaminam
a mim e ao meu entorno.

Sinto muito
Hoje em dia há uma preocupação exacerbante sobre o que
vão pensar a nosso respeito, e por isso há um cuidado,
muitas vezes meticuloso, em construir a autoimagem,
sobretudo nas redes sociais. As pessoas, em nome do
desejo de serem aceitas ou se enquadrarem em um padrão,
forjam “as suas verdades” com imagens construídas através
de fotos estrategicamente pensadas, que nem sempre
condizem com a realidade, fazem declarações e
comentários que muitas vezes não expressam o que de fato
elas realmente pensam.

Essa imagem estereotipada que muitas vezes criamos, pode


nos aproximar das pessoas ou de um objetivo em específico
– emprego, clientes, relacionamentos –, mas nos distancia
de nós mesmos, da nossa essência.

A declaração “eu sinto muito” influencia diretamente os


nossos pensamentos e a nossa forma de ver a vida. Quando
você declara que ‘sente muito’, está reconhecendo as suas
limitações e a sua incapacidade de agradar todas as
pessoas.

Essa concepção te livra da pressão de querer agradar ao


mundo e traz leveza para vida, já que, se acaso você
decepcionar alguém por não corresponder às expectativas
dela, você saberá em seu íntimo, que é um ser único, dessa
forma, nunca conseguirá agradar totalmente uma pessoa,
seja ela quem for.

É como se em sua alma você dissesse, sem frustração ou


autocobrança – “Eu sinto por não ser quem você esperava
e, com isso, te desapontar”.

Me perdoe

A palavra humildade foi corrompida e ganhou a conotação


de fraqueza, no entanto, ela tem um sentido totalmente
oposto, ser humilde é ser forte o suficiente para assumir
que errou.

É desenvolver a capacidade de se recolher para que o outro


possa crescer.

Quando uma pessoa pede perdão para alguém, ela está


reconhecendo que as suas verdades não são absolutas, ela
se desvencilha de seu próprio ego, para que a verdade do
outro apareça, e reconhecendo suas falhas, ela tem a
oportunidade de olhar para si mesmo e transformar aquilo
que não lhe é saudável.

Essa pode não ser uma postura fácil de se adotar, porém ela
traz evolução para você e para as pessoas a sua volta, por
isso, essa declaração é tão importante, pois por meio dela
você está ensinando a sua mente e coração a capacidade
de perdoar.

Eu te amo

Declarar que ama alguém, seja quem for, é uma atitude


totalmente altruísta. Daniel Godri, em uma de suas
palestras, testemunhou sobre uma experiência que teve em
relação a essa frase.

Convidado para realizar uma palestra para Google nos


Estados Unidos, sentiu-se indeciso acerca da escolha do
tema. O que ele teria a dizer para executivos que
trabalhavam em uma das maiores e mais ricas empresas do
mundo? Angustiado, ele consultou o empresário que o
contratou para palestra. Este relatou as dificuldades que os
funcionários estavam tendo com suas famílias, já que
dedicavam grande parte do seu dia às atividades da
empresa.
Tendo a família como referência da palestra, ele decidiu
levar alguns broches com os dizeres “Eu te amo”. Terminado
o seu discurso, ele pediu para que cada um dos
participantes levasse um broche e, ainda naquele dia, o
entregasse para pessoa que fosse mais importante para ele,
a abraçasse e dissesse o quanto ela era importante.

Dias depois do seu retorno para o Brasil, ele recebeu um e-


mail em que um alto executivo da Google contava a sua
experiência. Ele relatou que sua esposa havia morrido há
alguns anos e desde então a relação com seu filho tornou-se
cada vez mais distante.

No dia em que ele retornou da palestra, bastante receoso,


bateu na porta do quarto do filho. Depois de algum tempo
este o atendeu surpreso, pois há tempos não conversavam.
Ele contou ao seu filho que assistiu uma palestra e que no
final dela recebeu um broche que deveria dar para pessoa
mais importante de sua vida, por isso ele estava alí, para
dizer o quanto ele o amava.

No dia seguinte, ao levantar-se, o homem deparou-se com


seu café da manhã posto à mesa e uma carta. Nela, o filho
dizia que há muito tempo ele se sentia um peso para o pai e
que há dias ele havia decidido que o melhor a fazer seria
tirar a própria vida, já que não via mais sentido nela. Ele
continuou dizendo que, depois da conversa que os dois
tiveram, ele conseguiu ver novamente um propósito em
continuar vivendo e finalizou a carta pedindo ao pai que
entrasse em seu quarto todos os dias, o abraçasse e
dissesse que o amava, pois isso havia salvado a sua vida.

Eu contei essa história para dizer o quanto as palavras “eu


te amo” podem ser importante na vida de uma pessoa. Por
meio delas, você expressa que valoriza a existência da
pessoa, que a aceita e a ama como ela é. Isso é
transformador.

Sou grato

Essa é a última frase da técnica do ho’oponopono


. A
gratidão é uma prática muito importante. Por meio da
gratidão, você reconhece que cada acontecimento da sua
vida, até mesmo os mais tristes, contribuíram para fazer de
você uma pessoa melhor.

Eu tive uma experiência com gratidão que foi muito


marcante para mim. Eu sempre sonhei em ser pai. No início
de 2018, a minha primeira e, até o momento em que estou
escrevendo esse livro, única filha, quase faleceu em meus
braços. Ela, que estava com apenas 1 ano de idade,
começou a apresentar algumas complicações pulmonares,
seu quadro evoluiu de maneira muito agressiva a ponto de
ela ser reanimada por médicos, no respectivo hospital que
ela permanecia internada depois de ter tido duas paradas
cardiorrespiratórias.

Naquele momento, ao me deparar com a possibilidade de


não ter mais a minha filha perto de mim, fui acometido por
um desespero tão grande, que cheguei a desmaiar. É
terrível para um pai ver sua filha correndo risco de vida e
não poder fazer nada.

Os dias se passaram, e eu buscava, cada vez mais, forças


para suportar a situação de vê-la naquele estado, entubada
na UTI de um hospital. Então, passei a perceber o quanto eu
tinha motivos para ser grato. E dentro do meu coração
passei a agradecer pela honra de ser pai e pela
oportunidade de ter convivido, naquele último ano, com
uma menininha tão especial. Agradeci, verdadeiramente,
pela experiência que tive e, mesmo em meio ao caos, eu
consegui, por meio da gratidão, encontrar um sentido para
aquele sofrimento.

Isso me confortou e me deu forças naquela situação tão


difícil. Hoje, graças a Deus, a minha filha se recuperou, é
uma criança saudável e feliz, e eu pude perceber, por meio
dessa experiência, a importância de se ter um coração
grato.

A gratidão te leva a um novo patamar de vida em que a


toxidade da negatividade não pode te contaminar. Ser grato
é acreditar que todas as circunstâncias, mesmo as mais
difíceis, carregam consigo um sentido que pode contribuir
de alguma forma com você e com o mundo.

Escreva nas linhas abaixo quem são as pessoas mais


importantes para você? Com que frequência você diz a elas
“eu te amo”?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

Escreva aqui pelo menos cinco coisas pelas quais você deve
agradecer.

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
Existe alguma pessoa pela qual você sente gratidão? Que
tal escrever uma mensagem para ela dizendo o que você
sente?

“Tudo pode ser tirado do homem, menos uma coisa: a


última das liberdades humanas, a escolha da atitude
pessoal diante de um conjunto de circunstâncias, para
decidir o seu próprio caminho.”

Viktor Frankl

CAPÍTULO 6
CONHECENDO E ENFRENTANDO
O QUE TE LIMITA
Você já teve a sensação de que não conseguiria prosseguir?
Em algum momento da sua vida já passou pela sua cabeça
que você não era capaz de realizar determinada coisa? Já
sentiu tanto medo de algo que desistiu antes mesmo de
tentar?

O único limite que existe na vida é aquele que nós mesmos


criamos. Nós os estabelecemos a fim de nos resguardar dos
precipícios que eles supostamente marcam. Essas fronteiras
nos condicionam a ir somente até determinado ponto, elas
são criadas a partir de experiências pelas quais passamos
ou ensinamentos que tivemos, os quais servem de
impeditivos para prosseguirmos.
A felicidade é uma escolha e o que nos limita de encontrá-la
também é. Paralisar diante de uma situação ou de uma
possibilidade é uma opção nossa, sempre temos caminhos a
seguir e somos os únicos responsáveis por escolhê-los,
mesmo diante dos desafios.

Viktor Frankl, criador da Logoterapia – terapia do Sentido de


Vida - ,declarou em seu livro Em busca de Sentido
que
podemos tirar tudo de um homem, menos uma coisa: a
liberdade de escolher sua atitude diante de qualquer
circunstância. Ele teve embasamento suficiente para fazer
essa declaração, sobrevivente de um dos campos de
concentração mais letais, Auschwitz, perdeu sua família no
holocausto e, ainda assim, não só escolheu superar a sua
dor, como também ajudar milhares de pessoas a superar as
suas.

São diversas as fronteiras que podemos criar a nós mesmos,


e identificá-las não é um processo automático ou fácil ao
homem. É preciso que tenhamos uma constante prática de
autorreflexão, ponderando nossos comportamentos e
nossas escolhas. Sem esse exercício contínuo, estamos
sujeitos a criar barreiras das quais não saberemos escapar.

Há uma história envolvendo Thomas Edison, o criador da


lâmpada, que exemplifica a tendência que o homem tem de
limitar-se.

Conta-se que Thomas entrou em uma taberna para beber


um pouco e se distrair. Lá, ele encontrou um garotinho e
começou a conversar com ele. Durante a conversa, ele
mostrou ao menino uma caixa de fósforo e lhe disse que
chegaria um tempo em que as pessoas poderiam se
comunicar de qualquer lugar do mundo usando um aparelho
do mesmo tamanho daquela caixa – naquele período ele já
tinha uma visão acerca da evolução da tecnologia.
O dono da taberna, irritado, pediu que ele parasse de
encher a cabeça do menino de bobagens, pois para tudo
havia limites. Thomas virou-se para o menino e olhando em
seus olhos lhe disse:


O único limite que existe é o que você mesmo cria.

Conhecendo e enfrentando o que nos limita

O MEDO
é um dos maiores empecilhos do homem. Muitos
se sentem amedrontados diante da vida, e isso paralisa a
pessoa a ponto de impedir que ela realize aquilo que deseja.
O pior disso tudo é que, geralmente, nem se sabe ao certo,
medo de quê - é necessário reconhecer e explorar a fundo
os nossos medos, pois só assim teremos força de enfrentá-
los.

CRENÇAS LIMITANTES
, ou seja, aquilo que passamos a
acreditar e que nos limita no decorrer da vida, tem uma
grande capacidade de nos controlar. Há uma experiência
feita com pulgas que exemplifica como condicionamos a
nossa própria capacidade. No experimento, cientistas,
colocaram várias pulgas em uma caixa feita de material
acrílico transparente. Por não verem as laterais da caixa, as
pulgas, ao pularem, começaram a se debater contra as
paredes da caixa. Não demorou muito para que elas
começassem a calcular os perímetros em que poderiam
pular sem, com isso, esbarrar nas laterais. Quando o
pesquisador percebe que as pulgas estão condicionadas a
pular apenas naquele espaço, ele retira a caixa de acrílico,
pois sabe que elas não mais arriscarão ultrapassar aquelas
barreiras.

Da mesma forma acontece com a gente, muitas vezes as


situações em nosso entorno faz com que nos apropriemos
de pensamentos que nos limitam. Somos condicionados, ou
por pessoas ou mesmo por circunstâncias, a acreditar que
não somos capazes de ir além e fazemos disso a nossa
verdade. É muito importante ter em mente que somos nós
que criamos nossas próprias barreiras quando passamos a
acreditar nelas.

A consciência acerca das suas crenças limitantes te ajudará


a enfraquecê-las. É preciso que você olhe para sua vida e
perceba o que tem te impedido de progredir, quais são os
seus medos e qual a origem deles, caso contrário, assim
como as pulgas, você será adestrado a viver em um mesmo
perímetro, sem poder experimentar o que há além dele.

É muito importante que, constantemente, façamos um


autoexame a fim de analisar se há alguma barreira que nos
tem impedido de prosseguir. Muitas vezes, esse processo de
aprisionamento é bastante silencioso e foge aos nossos
olhos, neste sentido, uma autoanálise é essencial para
identificá-las.

A MÁGOA
é um dos sentimentos que mais aprisionam o
homem. Quando ficamos magoados com alguma situação,
nos tornamos prisioneiros dela e isso nos impede de
progredir.

Nelson Mandela é um exemplo desse pensamento, preso e


injustiçado devido ao Apartheid, perdoou seus oponentes.
Depois de ter passado 27 anos na cadeia devido à luta
contra segregação racial, ele declarou que perdoava todas
as injustiças pelas quais passou, pois tinha consciência de
que se guardasse mágoa, jamais seria verdadeiramente
livre daquela prisão. Ao ser eleito presidente, não optou por
alimentar o ódio e vingança, antes, buscou plantar o amor e
o respeito às diversidades, a fim de impedir que seu país
ficasse preso ao passado.

Mandela nos deu o exemplo de que é possível ir além das


prisões que criamos em nossas próprias mentes, e que um
homem que perdoa é um homem verdadeiramente livre.

O VITIMISMO
é um grande vilão, pois o homem tem que
escolher o seu próprio caminho, e sendo vítima, o seu
caminho nunca será traçado. É importante definir a
diferença entre tristeza e vitimismo. Atristeza é um
sentimento humano, faz parte da vida passarmos por
circunstâncias que nos deixam tristes, no entanto, ela não
nos impedem de agir. Já quando me coloco como vítima de
uma situação, me posiciono como centro do problema e, ao
invés de buscar uma alternativa, fico me lamentando e
permaneço preso a ele.

No âmbito anglo-saxão, a ideia de felicidade é o contrário


do etnocentrismo, ou seja quanto mais eu me distanciar das
minhas próprias razões, mais eu encontro o sentido da vida
e, automaticamente, fico mais perto da felicidade. Já
quando eu me coloco como o centro e finalidade da
existência, fico mais longe do sentido de vida e, assim, da
felicidade.

O personagem bíblico, Jó, é um exemplo clássico de


coragem e resiliência. Ele era um homem rico, saudável e
com uma família feliz, de repente ele perdeu todos os seus
bens materiais, seus amigos, sua família e foi acometido por
uma doença que desconfigurou a sua aparência, no entanto,
em nenhum momento ele se colocou como vítima do
problema.

Ele conseguiu compreender a sua pequenez diante da


grandeza da existência e, mesmo diante de tanta tristeza,
teve um coração grato.

Isso fez dele um exemplo de coragem e fé, pois ele tinha


todos os motivos para se revoltar, mas não o fez. Quando
aquele momento de angústia acabou, ele pôde conquistar
coisas ainda melhores para si.

Precisamos entender que os problemas pelos quais


passamos são mínimos diante do “todo” que é a vida, é
como um grão de areia em uma praia onde não se sabe o
fim.

No entanto, mesmo diante da nossa pequenez, tendemos a


nos colocar como o centro da vida diante de circunstâncias
difíceis.

Jó, um personagem bíblico judáico-cristão, era um homem


bom e temente a Deus, tecnicamente ele poderia se colocar
como vítima da situação, já que nada fez para merecer
aquilo, no entanto, ele percebeu que não era o centro do
problema e conseguiu, apesar de tudo, estar feliz, pois
aquele sentimento ninguém poderia tirar dele.

Quais limites você tem criado para você mesmo?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

Quais medos ou inseguranças tem te impedido de arriscar


mais?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que


cativas.”

Antoine de Saint-Exupéry

CAPÍTULO 7
UM NOVO OLHAR
Existe, no ser humano, uma necessidade latente de disputa
e superação. Essa constante luta contra um inimigo, mesmo
que esse esteja oculto, impulsiona grande parte da conduta
das pessoas, perante si mesmas e perante o mundo.

Os grandes líderes que existiram na história da humanidade


se valeram desse pensamento para formar grupos mais
coesos e, assim, manipulá-los. A religião, na Mesopotâmia,
por exemplo, valia-se desse princípio para engendrar os fiéis
– incutindo na cabeça das pessoas que elas tinham a
proteção divina por serem merecedoras de tal dádiva,
enquanto os outros, ímpios, que não faziam parte daquele
grupo seleto, conheceriam a ira divina. Desta forma, eles
conseguiam implantar a ideia da oposição entre o que era o
“bem” e o que era o “mal” para, a partir disso, influenciar
os congregantes daquela religião a fazer tudo em nome
daquele privilégio.

Hitler, um líder autocrático mundialmente conhecido, valeu-


se do mesmo princípio para conquistar súditos que
matariam ou morreriam pela causa – defender uma raça
hegemônica. Esse, partindo da ideia que existia uma raça
pura e merecedora de dominar o mundo, atraiu diversas
pessoas que lutavam contra o seu “oponente”, mesmo
quando estes não ofereciam a eles nenhum risco.

Contemporaneamente, as indústrias do Neuromarketing


usam esse conceito da oposição para atrair seu público, elas
se valem de diversos recursos auditivos, visuais e
cinestésicos, para envolver os consumidores. Em uma
propaganda de carro, por exemplo, eles podem colocar uma
pessoa sorrindo dirigindo aquele veículo, suas roupas são
leves e a paisagem de fundo é agradável e bonita, podem
até mesmo colocar um fundo musical que mexa com as
sensações de quem assiste àquela propaganda. Com esses
recursos, os profissionais da propaganda inserem na mente
dos espectadores o princípio do inimigo oculto, a
infelicidade. Implicitamente, eles estão passando a
mensagem de que aquele determinado carro traz felicidade,
logo, quem não o tem não é totalmente feliz.

Este comportamento não é exclusivo das grandes empresas


ou grandes influenciadores, ele parece ser nato do ser
humano, nós criamos os nossos próprios deuses e os nossos
próprios demônios e ficamos presos a eles, sem conseguir
encontrar um sentido maior para vida.

A maior parte das pessoas baseiam as suas vidas em uma


possibilidade, o famoso “se” – quando alguém está casado
ele pensa “se eu fosse solteiro, poderia viajar o mundo, ter
liberdade”, quando solteiro, “se eu tivesse alguém para ir
comigo àquela viagem, ao cinema...”, um funcionário
público pensa “se eu estivesse sob o regime da CLT teria
direitos trabalhistas”, o que tem um emprego com carteira
assinada pensa “se eu passasse em um concurso teria
estabilidade”. Resumindo, o homem cria seus inimigos
ocultos a partir de um olhar apurado para o que está
faltando, e julga que esses – chefe, trabalho, cônjuge,
dinheiro – o distancia da felicidade, quando na verdade é ele
mesmo que faz isso.

É preciso olhar a vida sobre uma nova óptica, não olhando o


que falta, como é de costume do ser humano, mas
analisando e valorizando tudo o que se tem, para, a partir
disso, criar possibilidades reais de sucesso e felicidade.

Você tem colocado algum “se” na sua vida? Qual ou quais


são eles?

_____________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

O que você pode fazer para encontrar mais sentido naquilo


que você tem hoje e a partir disso derrubar seus “inimigos
ocultos”?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
Quais recursos você tem hoje (materiais ou emocionais) que
vão te ajudar a construir a realidade que você quer para
você nos próximos anos?

_____________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

“A família nos constrói, o próximo nos humaniza e em nós


está o sentido de vida.”

Caio Viana

CAPÍTULO 8
Família, Altruísmo e
Positividade (FAP)
O FAP
é um programa de inteligência socioemocional criado
por mim, que tem como intuito o autoconhecimento e o
fortalecimento da mente e das emoções para que a pessoa
possa lidar com as adversidades.
Esse método é embasado em três conceitos chaves –
Família, Altruísmo e Positividade. Quando trato do tema
família, estou falando da forma como a pessoa se relaciona
com a história da sua família e quais emoções estão ligadas
a esse relacionamento.

O ALTRUÍSMO
é a capacidade de se doar ao próximo, de ir
além do interesse próprio e a Positividade, vem de
encontrar um sentido para o atual momento da sua vida.

“Uma pessoa está em paz, quando todas as pessoas que


pertencem a sua família tem um lugar em seu coração.”

Bert Hellinger
A FAMÍLIA
é o nossa primeira referência quando chegamos
ao mundo, gosto de compará-la a uma árvore. Pense em um
tronco, com uma estrutura milenar, cheio de galhos, com
frutos ou flores. Caso esse tronco esteja contaminado, os
galhos serão afetados por essa contaminação e,
consequentemente, seus frutos também.

Pense que esse galho é você, e a sua família – não só as


pessoas que você conheceu, mas todos os seus ancestrais –
é o tronco; esse carrega em si todos os padrões e
comportamentos de seus ascendentes.

Se este tronco é contaminado ou podre, você


provavelmente também tende a ser, por exemplo, se uma
família tem o padrão de se vitimar, a tendência é que
grande parte dos que vierem dessa família, mesmo de
forma inconsciente, adotem esse comportamento de vítima
diante das circunstâncias.
É importante ressaltar que isso não precisa ser um “carma”,
até porque eu, particularmente, não acredito. Todos nós
carregamos padrões de comportamentos de nossa família,
sejam eles bons ou ruins, isso faz parte da dinâmica da
vida, muitos deles funcionam para gente, enquanto outros
nem tanto, mas ainda assim, na maioria das vezes,
continuamos a praticá-los de forma automática.

Ampliar a sua consciência acerca do próprio


comportamento, ajudará a transformar aquilo que não tem
sido saudável; ou seja, a compreensão de que você,
inconscientemente, adotou algum padrão de
comportamento que não é seu e sim de sua família, tal
atitude vai funcionar como um remédio para sua raiz e seus
galhos vão se fortalecer cada vez mais, dando bons frutos.

Ter consciência desses padrões negativos, e buscar


transformá-los, não significa que vamos renegar a nossa
família, pelo contrário, devemos honrá-la e respeitá-la
sempre.

Cada um dos nossos familiares tem um papel importante na


constituição do nosso ser, e rejeitá-los, de alguma forma,
seria como repudiar a nós mesmos, contudo, reconhecê-los,
não significa enobrecer os seus padrões, pelo contrário,
podemos transformá

-los a fim de evoluir enquanto pessoas, criando raízes mais


fortes para a nossa posteridade.

Para que você entenda melhor a importância de honrar a


família, vou continuar usando a metáfora da árvore, se ela
não tiver raízes profundas, qualquer vento poderá derrubá-
la, no entanto, quanto mais enraizada ela estiver, mais
firme ela ficará e seus galhos e frutos poderão resistir às
tempestades e ventos fortes.
Assim também acontece com a gente, se a nossa relação
com nossa família for saudável, a ponto de eu aceitá-los
como são, sem imitar comportamentos que não nos são
úteis, teremos uma estrutura mais forte para enfrentar as
adversidades da vida e o equilíbrio necessário para dedicar
a posteridade. No entanto, se essa relação não for saudável,
o nosso emocional será facilmente abalado, já que
estaremos renegando parte do que constitui o nosso “eu”, e
estaremos mais propensos a cometer os mesmos erros que
outrora renegamos.

Bert Hellinger, psicoterapeuta alemão e criador da


constelação familiar, afirmava que a raiz de todo problema
está na família e nela também está a sua solução.

Eu, assim como grande parte das pessoas que está lendo
esse livro, também tive problemas familiares, não foi fácil
para mim reconhecer que o pai que havia me abandonado
fazia parte das minhas raízes, mas fazê-lo foi libertador para
mim, enquanto pai e enquanto pessoa. Já eu, tendo essa
atitude, adquiri mais equilíbrio para as minha emoções e
meus comportamentos.

Eu não sei qual é a relação que você tem com a sua família,
mas te convido a olhar para suas raízes com mais empatia e
perceber em você que tipo de galho você é e de que forma
você quer frutificar.

Quando você olha para si mesmo, quais traços de sua


família você pode enxergar?

_____________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

Qual é a sua marca? O que você vai deixar para as próximas


gerações?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

“O que não for bom para a colmeia também não é bom para
a abelha.”

Montesquieu
O ALTRUÍSMO
é uma característica que fez com que a
espécie humana sobrevivesse, uma vez que faz com que a
pessoa não pense no interesse próprio, suas ações são
baseadas no coletivo. Auguste Comte, um dos pais da
sociologia, fala que quando há individualismo ou interesse a
relação tende a ser tóxica e desarmônica, por isso as
relações mais saudáveis são aquelas baseadas no altruísmo.

A Dinamarca despertou a curiosidade de diversos


especialistas do mundo. Esse país ganhou a marca de um
dos mais felizes do mundo, baseando-se em um conceito
totalmente dinamarquês e muito simples de se seguir, o
Hygge
, que poderia ser traduzido como aconchego. O
Hygge
consiste em colocar na rotina práticas de convívio
com o outro. Familiares e amigos se encontram com
frequência para conversar, tomar um vinho; enfim, dedicar
tempo verdadeiro ao próximo.

Contudo, esse tipo de relação tem se tornado cada vez mais


rara. O avanço da tecnologia tem mudado o comportamento
das pessoas e o reflexo disso é uma sociedade doente. As
inovações tecnológicas, sobretudo a internet, trouxe um
novo modelo de relacionamento, em que a distância é uma
das principais marcas, isso tem feito com que as pessoas
fiquem mais introspectivas e mais individualistas e, apesar
de fechadas nelas mesmas, mal conseguem entrar em
contato com seu “eu” mais profundo, assim, não se
conhecendo, são incapazes de evoluir.

Além disso, a falta de relacionamento interpessoal que esse


progresso tecnológico tem causado, faz com que a
capacidade de empatia com o próximo fique cada vez mais
enfraquecida. A consequência disso, são pessoas vazias e
infelizes

A tecnologia já é uma realidade em nossas vidas, e não vai


parar de evoluir, no entanto, embora essa seja o motor da
sociedade contemporânea, nós jamais podermos nos tornar
máquinas desse sistema e ficar bem com isso. Somos
humanos, e somente uma atuação humanizada vai fazer de
nós seres completos, logo, felizes.

Neste sentido, se você perceber que todo esse avanço tem


te distanciado do convívio com as pessoas e que você tem
se tornado mais intolerante, e, quem sabe, mais voltado aos
próprios interesses, é o momento de olhar para si e buscar
mudar aquilo que pode te impedir de ser feliz. A felicidade
nunca será encontrada no individual, ela se completa no
coletivo.
Existe em você algum aspecto/característica que precisa ser
mais humanizado?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

“Chega um tempo em que precisamos conhecer melhor o


nosso outro lado, o de dentro. É lá que repousam nossas
verdades.”

Simone Marçal
A POSITIVIDADE
consiste em você encontrar um sentido
para cada momento da vida, inclusive para os difíceis. Esse
conceito é diferente do otimismo em que a pessoa têm
esperança de que as coisas vão melhorar. Nele, a pessoa
consegue enxergar algo de positivo, mesmo diante de
circunstâncias tristes.

Independente de crenças ou religião, Jesus foi um exemplo


de positividade, podemos constatar isso no Evangelho de
Matheus, onde há uma passagem que descreve momentos
antes de Jesus ser preso e crucificado. Matheus, discípulo de
Jesus, relata que no Jardim do Getsêmani, aos pés do Monte
das Oliveiras, seu mestre, em extrema agonia, teria orado a
Deus e aceitado, se não houvesse outro meio, o sacrifício a
que teria sido destinado.

Jesus acreditava que havia um propósito para todo aquele


sofrimento pelo qual iria passar, algo que transcendia seu
próprio interesse e alcançava o outro: a salvação da
humanidade. Ao crer nisso, ele encontrou forças para
enfrentar toda dor, já que essa não era em vão, havia um
sentido maior para ela existir.

Quando uma pessoa encontra um “porquê” em sua vida, ela


tem mais desprendimento e consegue ver os desafios
apenas como circunstâncias, e não como um fim em si
mesmos. Isso faz com que suas emoções se fortaleçam e
ela tenha maturidade para prosseguir, mesmo diante de
intensos conflitos.

Talvez, esse “porquê” seja um dos maiores desafios da


sociedade atual. O homem moderno deposita todo o sentido
existencial no preenchimento de seu narciso, busca inflar
seu ego e construir uma história que só diz respeito a ele
mesmo, agindo assim, as suas emoções são calcadas no
campo da superficialidade e, além de abater-se e muitas
vezes até paralisar diante de mínimos problemas, ele jamais
consegue desfrutar de sentimentos profundos como a
felicidade.

A pessoa só poderá encontrar um “porquê” da sua


existência quando for capaz de enxergar a vida com mais
profundidade, de forma que seu sentido ultrapasse suas
vontades egoístas, seu ego inflamado ou seu individualismo.
Este é o único caminho para pessoa entrar em contato com
o que há de mais intrínseco em seu ser: o seu sentido de
vida.

Você conhece a sua própria essência? Qual o sentido maior


para sua existência nesse momento?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

“Cada um de nós deve decidir se quer caminhar na luz do


altruísmo construtivo ou nas trevas do egoísmo.”

Martin Luther King

CAPÍTULO 9
O ALTRUÍSMO E A FELICIDADE
A vida é um sopro e as coisas da vida são muito instáveis,
eu posso ter tudo em um dia e no outro tudo pode ser tirado
de mim. Vemos pessoas que, por algum motivo, sentem-se
superiores aos outros ou tomam atitudes egoístas,
pensando que com esse comportamento estão se
autoafirmando e garantindo seu espaço no mundo. Quando
ampliamos o nosso olhar a respeito da própria vida,
percebemos que essa postura arrogante não só não tem
sentido algum, como muitas vezes prejudica
tremendamente quem a pratica.

Embora, na modernidade, o egoísmo tenha aumentado


devido ao avanço tecnológico, que mudou a forma como as
pessoas veem a vida, esse comportamento sempre existiu.
Antigamente, a palavra idiota era usada para denominar
esse tipo de pessoa, do grego “idiótes” seu sentido era
atribuído àqueles que se dedicavam apenas para assuntos
particulares, em outras palavras, pessoas que olhavam
apenas para seu próprio umbigo. Neste sentido, um idiota
era aquele que não participava da vida pública, não
frequentava ambientes culturais, nos quais eram
transmitidos princípios de valores, pois a sua única
ocupação centrava-se nele mesmo, sendo assim, tinha sua
vida estagnada, por não se dar a chance de evoluir
enquanto “pessoa”.

Em contrapartida, os altruístas eram representados pelos


“politikos” ou cidadãos, esses dedicavam

-se ao bem comum em detrimento dos próprios interesses.


Esse sentimento de sintonia com o outro, faz com que o ser
humano passe a enxergar além de si mesmo e de seus
anseios, rompendo, dessa forma, as barreiras que podem
estagná-lo a uma vida solitária e infeliz.

Horace Mann foi um exemplo de altruísmo, político e


abolicionista americano, ele lutou pela inclusão dos surdos
em um momento em que o país não mais reconhecia a
língua de sinais. Ele foi um dos responsáveis pela criação de
escolas para surdos que garantiam o direito desse grupo
não só continuar a usar a sua língua, como ser educado por
meio dela. Mesmo sem conhecimento de causa e nenhum
interesse pessoal, esse político lutou pelos interesses de
uma minoria. Ele afirmava que era motivo de vergonha um
homem morrer, sem antes conseguir alguma vitória para a
humanidade.

Um exemplo de humildade e altruísmo

Quando eu era adolescente, acompanhava um padre que


tinha um programa na rádio Canção Nova. Ele contou uma
história que me chamou atenção.

O padre tinha um trabalho voluntário em algumas


instituições de recuperação para dependentes químicos.
Certo dia, estava indo para uma dessas clínicas, quando
resolveu oferecer carona para uma mulher que estava no
ponto de ônibus.

No caminho, como era de costume, ele começou a falar do


amor de Jesus para mulher que, humildemente, ouvia a sua
mensagem. Ele então resolveu perguntar onde a mulher
estava indo.

– Estou indo visitar o meu filho que está preso – respondeu.

Eles continuaram conversando e quando estava chegando


próximo ao local em que a mulher iria descer, o padre, um
pouco sem jeito, perguntou:

– O que o seu filho fez para estar preso?

Foi quando sua resposta o surpreendeu:

– Na verdade, padre, o meu filho está morto. Ele havia


acabado de comprar uma moto, e foi vítima de um assalto à
mão armada, em frente a nossa casa. Ele levou um tiro na
cabeça e morreu na hora. O assaltante foi preso, e eu, como
perdi meu único filho, o adotei como filho e vou visitá-lo
todo final de semana.

O padre sentiu-se constrangido por ter falado do amor de


Jesus para uma mulher que, como ele mesmo afirmou, era
um exemplo de humildade e amor, e vivia na pele o amor
ensinado por Jesus.

Essa história nos ensina muito sobre humildade, mesmo


diante de uma situação triste, aquela mãe não se sentiu
superior ao responsável pela morte de seu único filho.
Antes, ela, além de conseguir perdoar, percebeu que
poderia ajudá-lo de alguma forma, conseguiu assim ir além
de si mesma, de seus próprios interesses e sua própria dor.

A felicidade de pensar no outro

Na Grécia Antiga, a população era dividida em dois grupos,


havia os egoístas – que eram aqueles que defendiam seus
próprios interesses e lutavam para conquistar seus objetivos
pessoais - e o grupo dos políticos - que eram aqueles que
lutavam por um bem da sociedade, a maior preocupação
desses, eram as pessoas, então, eles dedicavam suas vidas
em prol do bem estar comum. Dentro do contexto da época,
só poderia ser considerado político, a pessoa que abdicava
de seus próprios interesses e colocava em primeiro plano os
interesses do povo.

Hoje em dia, está cada vez mais difícil encontrar essa


mentalidade, não só entre políticos, mas entre as pessoas
comuns. Essas estão cada vez mais individualistas e, além
de não olharem para o outro, algumas vezes usam-nos para
conquistar seus objetivos. Segundo Bertrand Russell, um
filósofo matemático, este é o caminho mais rápido para
infelicidade, ele afirma que para encontrar a verdadeira
felicidade, é necessário se libertar do egocentrismo. As
relações baseadas no interesse e no individualismo não são
saldáveis para alma, se a pessoa quer realmente encontrar
a felicidade e o sentido da vida, ela precisa parar de ter um
olhar egocêntrico e ampliar a sua percepção de realidade,
pois a felicidade não é um sentimento que se fecha em si
mesmo, ele é amplo, por isso precisa transcender os nossos
próprios interesses.

Viktor Frank, em seu livro Em busca de sentido


conta as
experiências que ele teve no Campo de concentração de
Auschiwitz. Enquanto estava preso, buscava ajudar os
colegas a fortalecerem, mesmo que minimamente, suas
emoções, e a partir disso ele conseguia observar subsídios
para sua pesquisa sobre a Logoterapia – terapia do sentido
de vida – ,que fora rasgada pelos nazistas. O seu próprio
sonho de levar as pessoas a encontrar um sentido de vida o
ajudou a suportar o seu sofrimento.

Ele cita que diante da desumanidade que havia naqueles


campos, haviam prisioneiros que passavam de barracão em
barracão dando uma palavra de apoio, entregando a sua
última lasca de pão para um companheiro. Isso fortalecia
não só as pessoas que eram ajudadas, mas sobretudo
aqueles prisioneiros que, conseguindo enxergar além de si
mesmos, encontravam forças para suportar toda fome e
sofrimento pelo qual passaram naquele lugar.

O altruísmo, ao contrário do que muitos pensam, não


significa ser “bobo”, esta postura é uma das forças que faz
com que nós, humanos, não sejamos extintos da terra. A
partir dele que o homem pode encontrar um sentido para
sua vida e, cuidando dos seus, sonhar com um mundo
melhor.

A importância de sonhar

Hoje em dia há uma banalização da palavra “sonhar”.


Muitos colocam isso como algo negativo, descrevem um
sonhador como uma pessoa que não vive dentro da
realidade e que, utopicamente, deseja algo surreal; que
nunca será alcançado, e por isso não sai do lugar. No
entanto, sonhar é o contrário disso.

Sonhar, demanda um processo de autorreflexão e


autoconhecimento. Autorreflexão porque para alcançar o
meu sonho, preciso primeiro conhecê-lo muito bem, saber
exatamente os passos que preciso dar para alcançá-lo, e
Autoconhecimento porque eu preciso conhecer as minhas
forças e as minhas fraquezas para saber exatamente o que,
em mim, pode me ajudar e o que pode me atrapalhar de
conquistar aquele objetivo.

Neste sentido, sonhar nos faz ficar em constante


movimento, pois é preciso conhecer e enfrentar os próprios
medos, as dificuldades, a preguiça, o comodismo, a
insegurança e a arrogância, a fim de conquistar aquilo que
desejamos. Costumo dizer que sonhar é enfrentar a
concorrência com você mesmo, demanda melhoria
contínua, porque, antes de tudo, você precisa se tornar a
pessoa que vai alcançar aquele sonho.

Somos quem queremos ser

Muitos, mesmo que de forma inconsciente, fogem da


responsabilização pelos próprios atos. Dizem que foram as
circunstâncias que os levaram a agir de determinada
maneira. Nós somos os únicos responsáveis pelas nossas
atitudes e pelas consequências que elas nos trazem, Frankl,
ao observar a atitude dos colegas diante do sofrimento,
concluiu que tudo pode ser tirado do homem, menos a
liberdade de assumir uma atitude alternativa diante das
condições dadas. Tanto a mãe que perdeu seu filho, quanto
aquele grupo de prisioneiros em Auschiwitz, poderiam ter
optado por atitudes egoístas diante da dor, mas ao escolher
pensar além de si mesmos, obtiveram sucesso em suas
lutas e não se tornaram reféns do sofrimento, abrindo,
assim, o caminho para felicidade.

Nós – reflexo de nós mesmos

Na sala de espelho de um laboratório, pesquisadores


colocaram um cachorro de temperamento brando. Quando
começa a ver os vários reflexos dele mesmo, ele fica feliz e
quer brincar com os “cachorrinhos” refletidos no espelho.

Em um outro momento eles colocaram um cachorro muito


bravo na mesma sala de espelho, quando ele se deparou
com “aquele monte de cachorros” ficou anda mais nervoso
e começou a rosnar para intimidar os “outros cães”.

Este simples experimento ilustra que, diante das


dificuldades, as pessoas agem conforme sua própria
essência, a sala de espelho, que pode representar os
problemas pelos quais passamos, é a mesma. O que vai
diferenciar é a forma como cada um age diante desses
desafios. Por esse motivo, é essencial que haja um continuo
processo de introspecção, de olhar para si mesmo e fazer
uma análise das próprias atitudes, se elas estão te levando
para felicidade ou se estão te empurrando para um poço de
tristeza e superficialidade, que nos deparamos quando
vivemos uma vida sem sentido.

Você tem exercitado o altruísmo, ou na maior parte do


tempo está apegado aos seus próprios interesses?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

O que você pode começar a fazer, a partir de agora, para


ter um olhar mais empático para o outro? Quais ações
poderão te mostrar que você está no caminho do altruísmo?
Liste-as.
______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________ “Felicidade é flor
miúda, floresce quando encontra a fresta.”

Padre Fábio de Melo

CAPÍTULO 10
A FENDA POR ONDE PASSA A
FELICIDADE
Muitas vezes, estamos tão envolvidos com a nossa rotina ou
com uma situação de tristeza que não conseguimos
enxergar nada além disso. Viktor Frankl, ao compartilhar as
suas experiências como prisioneiro em Auwshivitz, disse
que os horrores do campo de concentração faz com que a
pessoa morra internamente, os prisioneiros perdem a
sensibilidade diante da morte, da tortura e do padecimento,
não havia tempo e nem disposição para reflexões morais,
todos os sentimentos estavam voltados para o intuito de
salvar a própria vida.
Muitas vezes, para escapar de toda aquela desumanidade,
eles buscavam refúgio no passado, na lembrança de
singelos momentos da vida comum que, dentro daquele
contexto, ganhavam tanta importância. Ele mesmo passou
por essa experiência diversas vezes, ele conta sobre a vez
em que foi transferido para um outro campo, filial na
Baviera, para prestar serviços lá. Enquanto estavam no
trem, uma viagem de cerca de dois dias, com mais de dois
mil homens espremidos nos vagões, sem ter certeza de
seus próprios destinos, ele teve uma epifania que lhe trouxe
um respiro de vida.

A viagem era imposta ao prisioneiro sem maiores


explicações, assim, o caminho pelos quais estavam
passando levava a acreditar que eles estavam indo para
Mauthausen, um dos campos de concentração mais temidos
durante a segunda guerra, conhecido pelas inúmeras
mortes causadas pela severidade de punições e sadismo
dos agentes da SS, assim, não acreditavam que
sobreviveriam por mais de duas semanas.

Apesar de todo desconforto da viagem, já que poucas


pessoas conseguiam ficar agachadas, devido ao pouco
espaço, e de toda a insegurança acerca da própria
sobrevivência, ele conta que ao passar por Viena, cidade em
que nasceu, pôde enxergar, pelas frestas do trem, as casas
e ruas da sua infância. Por meio do sentimento de
contemplação daquilo que vivera em outros tempos, ele
experimentou a vida novamente e isso fez toda a diferença
naquele momento.

Ao ver aquela paisagem e reconectar-se novamente com a


sua história, seu corpo permaneceu sofrendo os horrores e a
desumanidade a que era exposto, no entanto, a sua mente
foi liberta, apontando para outros horizontes.
É muito importante desenvolver a habilidade de olhar
através da fresta, esse olhar além do imediatismo
superficial, faz com que a pessoa enxergue um sentido
maior para a situação pela qual está passando. Diz respeito
a você estar com o problema e não se deixar consumir por
ele, porque consegue enxergar algo além daquela situação.

Frankl cresceu naquela cidade, conhecia cada beco e cada


árvore daquele lugar. Em outros momentos de sua vida,
aquilo não significava nada para ele, porém, quando ele se
encontrou em uma situação de hostilidade, em que a
história de cada um deixou de ter qualquer significado, e a
luta pela sobrevivência regia a vida das pessoas, tornando-
as, muitas vezes, desumanas, aquela paisagem fez toda
diferença, foi um respiro de ‘vida’ para ele.

Por isso, concordo com Frankl quando ele diz que assim
como cada pessoa é única, o seu sofrimento e a forma como
ela o suporta também é singular. Logo, o sentido de vida
não pode ser algo genérico, ele é intrínseco a cada um e
pode ganhar diversas conotações, dependendo do momento
da vida, sendo assim, somente você poderá encontrar o seu
próprio sentido.

Eu não sei qual é a sua situação hoje, por quais situações


você já passou na vida ou ainda vai passar

– uma doença terminal, a perda de alguém que você ama,


problemas financeiros gravíssimos - ,mas posso te garantir,
que se você olhar o seu entorno, poderá encontrar uma
fresta que te ajudará a ver a vida com mais leveza nesse
momento.

É preciso encontrar algo positivo, mesmo diante de


situações tristes, algo que seja um sentido maior para você.
Eu quero que nesse momento você pense na sua vida, em
situações recentes que te abalaram e que você não
conseguiu compreender o porquê delas acontecerem. Te
convido, nesse momento, a exercitar o olhar através da
fresta, você consegue ver algo além dessa situação – uma
nova amizade, um aprendizado ou o reconhecimento de um
sentimento, algo positivo que vá além do seu problema?

Escreva aqui as suas conclusões e, sempre que precisar,


retome esse exercício.

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

“O seu trabalho não é a pena que paga por ser homem, mas
um modo de amar e de ajudar o mundo a ser melhor.”

Thiago de Mello

CAPÍTULO 11
A FELICIDADE E O TRABALHO
A origem da palavra “trabalho” é bastante diferente da que
temos atualmente, ela vem do vocábulo latino “Tripallium” –
denominação de um instrumento de tortura formado por
três (tri) paus (pallium). Sendo assim, “trabalhar”,
originalmente, significa ser torturado no tripallium, logo,
essa atividade, antigamente, era sinônimo de sofrimento e
acabava sendo destinado a pessoas mais pobres e escravos.
Com o tempo, “trabalhar” foi ganhando outras conotações,
a ponto de, atualmente, haver uma preocupação em se
escolher uma carreira que traga realização pessoal e
profissional.

A forma como vemos o trabalho hoje é mais positiva e


acredito que isso faça parte da evolução social e emocional
do homem. Passamos grande parte da nossa vida
trabalhando, entre as horas trabalhadas e o tempo de
deslocamento empenhamos, em média, nove horas do
nosso dia, quase um terço da nossa vida. Se a pessoa não
conseguir se sentir realizada com o que faz, certamente ela
estará propensa a problemas de saúde psicossomáticos,
inclusive depressão laboral, conhecida como Síndrome de
Burnout. No entanto, para que de fato vejamos nossas
atividades profissionais como algo positivo e que nos traz
felicidade, precisamos encontrar sentido em sua realização.

A maior parte das pessoas não consegue encontrar um


sentido maior no que fazem, e aquela “chama” que o
motiva a realizar suas atividades com prazer e ser um
profissional e uma pessoa cada vez melhor, começa a se
esvair, até que não sobra nada. Quando isso acontece, a
pessoa passa a “viver ao léu” em sua vida profissional –
sem forças para continuar, sem planos para o futuro, sem
qualquer motivação – simplesmente está lá.

É muito importante, se você ainda não encontrou, que


descubra um significado para o seu trabalho. Comece
refletindo sobre a sua contribuição para o mundo por meio
do que você faz:
Como estaria o seu local de trabalho se ninguém realizasse
a sua função?

Como estraria a sua família e as pessoas ao seu entorno se


você não trabalhasse?

Perceba nas mínimas coisas o valor de você empenhar as


suas forças e talentos naquela função e jamais paralise.
Estabeleça metas, sonhe, evolua, vá além!

Prosseguir por um sentido maior

O jesuíta proi
Teilhard de Chardin em seu livro

bido,
fala que há três tipos de pessoas, para isso ele usa
uma metáfora em que divide os homens em três grupos que
precisam subir uma montanha. O primeiro grupo ele chama
de pessimistas, estes já estão irritados antes mesmo de
iniciarem a sua missão, não veem sentido em tamanho
esforço, começam a reclamar e muitas vezes desistem sem
nem mesmo terem tentado.

O segundo grupo é o que ele chama de brincalhões, o


comportamento desse grupo remete a expressão latina
“Carpe Diem” – “aproveite esse dia”. As pessoas desse
grupo são aquelas que começam a subir a montanha, mas
no caminho, passam a se distrair com as belezas da
montanha, os bosques, a paisagem e chegam à conclusão
que o melhor para eles é aproveitar o que eles têm à
disposição ali. Não veem sentido em subir até o topo da
montanha, então se desviam do objetivo e ficam onde estão
a fim de explorar ao máximo o lugar. São pessoas que
sentem alegria em sua jornada, porém nunca a felicidade
genuína, que só é experienciada na transcendência dos
próprios prazeres.

O terceiro grupo é formado pelos fervorosos, este grupo é


formado por um número menor de pessoas, porém estas
enfrentam os desafios e não param, pois sabem que existe
algo maior, um objetivo a ser alcançado, um sentido que
perpassa o seu próprio ser. Este grupo é o que de fato
encontra a felicidade, pois eles entendem que a felicidade
nasce de um processo interior e transcende além deles,
além das dificuldades, além da montanha.

Assim também acontece na nossa vida profissional, existe


um grupo que se acomoda, tem medo de arriscar e paralisa.
Muitos por medo ou insegurança, outros por uma ideia de
falsa estabilidade adquirida por meio de concurso público ou
mesmo um cargo efetivo, não veem sentido em ir além,
logo tornam-se raivosos se alguma situação ameaça tirá-los
de sua “zona de controle”. Essas pessoas estagnam e não
conseguem enxergar novas possibilidades.

Existe também o grupo que está preocupado com o prazer


que o dinheiro pode dar. Essas pessoas encontram um
sentido para o trabalho, no entanto, este significado não
transcende, se limita a eles mesmos ou aqueles que estão
ao seu redor, família e amigos.

Já o grupo dos fervorosos é formado por pessoas que


enfrentam as dificuldades e prosseguem, pois conseguiram
enxergar em seu trabalho um sentido maior, um sentido
que vai colaborar para o bem de outras pessoas, eles veem
em seus talentos e em suas ações um sentido que vai além
de si mesmos e as realizam com prazer, e assim, encontram
a felicidade.

O Sentido no trabalho não significa nunca mais sentir


frustração na vida profissional. Um psicólogo americano,
Bem-Shahar, conhecido como Doutor Felicidade, foi muito
feliz em sua colocação quando disse que estão enganadas
as pessoas que pensam que ter felicidade na vida significa
nunca mais passar por momentos de tristeza ou decepção.
Uma pessoa que se forma como médico, por exemplo, não
passará somente pela felicidade de salvar vidas, fatalmente,
ele também presenciará pessoas morrendo. Assim como o
professor, que talvez não consiga ensinar a todos, ou o
policial, que nem sempre será capaz de manter a ordem.

Neste sentido, é importante entender que a decepção e a


tristeza fazem parte da vida. Eu costumo brincar com meus
alunos e pacientes que somente dois tipos de pessoas não
experimentarão esses sentimentos: os psicopatas (que não
têm sentimentos) e as pessoas que já morreram. O
restante, inevitavelmente, vai sofrer com algum tipo de
frustração ou tristeza em determinado momento da vida, no
entanto, se acovardar ou paralisar diante das dificuldades
não fará de nós pessoas melhores.

Desejo que você seja como os fervorosos que conseguem


seguir adiante, pois conseguiram encontrar um propósito
maior. Somente dessa maneira, você poderá ser feliz em
sua vida profissional.

O que te motivou a escolher a sua profissão?


______________________________________

__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

Qual contribuição você dá ao mundo a partir do seu


trabalho?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

Quais dos seus valores – coisas que são importantes para


você – estão alinhados a sua vida profissional?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________ Quais mudanças
você precisa fazer para sentir

-se mais feliz em sua vida profissional?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________ “Aos que a
felicidade é sol, virá a noite.

Mas ao que nada espera, tudo o que vem é grato.”

Fernando Pessoa

CAPÍTULO 12
A ANSIEDADE NO MUNDO
CONTEMPORÂNEO
Na sociedade moderna, o futuro se tornou uma utopia,
existe uma supervalorização do tempo futuro e as pessoas
passaram a se comportar como a solução para todos os
seus problemas estivessem nesse tempo, então, basta
esperar o futuro chegar, porque com certeza ele será
melhor. Fazendo isso, elas condicionam a própria mente a
não viver o presente e tornam-se “pescadores de ilusão”, já
que depositam toda a sua vida em um tempo que nem
existe.

Quando alguém coloca o amanhã como o remédio para sua


vida, não amplia a sua visão acerca do presente e assim
não consegue enxergar possíveis soluções para os seus
problemas. Também há uma tendência de a pessoa não
compreender as suas emoções ou padrões de
comportamento, pois projetando a vida no futuro, não
busca, no hoje, respostas em si mesma e isso faz com que
ela fique cada vez mais vulnerável.

Esse comportamento tem feito com que doenças


relacionadas a ansiedade e a depressão ganhem índices
alarmantes. Sem o conhecimento acerca das próprias
emoções, e sem um olhar mais sensível ao tempo presente,
esses sintomas tendem a piorar. Dados da OMS –
Organização Mundial da Saúde - estimam um aumento da
depressão e do suicídio nos próximos anos.

Nesse sentido, é importante que saibamos viver o presente


com consciência, ressaltando que a consciência é eu estar
na sua própria plenitude existencial, sabendo quem você é,
quais são os seus propósitos, os seus medos e ter coragem
para enfrentá-los.
O budismo tem uma filosofia bastante interessante, que vai
contra esse padrão de comportamento moderno, ela
consiste em ter atenção plena na respiração, no corpo e nos
pensamentos para que a pessoa entre em contato com ela
mesma. Sati – ou atenção plena – é um convite para que
você pare de ser espectador e passe a ser protagonista da
própria vida.

SATI NA MENTE
diz respeito a você ter atenção plena na
sua mente, nos pensamentos que você tem durante o dia,
sempre tendo em mente que aqueles pensamentos não
podem te definir. As pessoas são treinadas a não pensar, e
sim serem reprodutores do seu meio, é necessário que você
controle seus pensamentos, pois eles vão gerar sensações
que nortearam as suas ações. Logo, não podemos ser
espectadores da mente, porque quando a controlamos,
conseguimos alcançar os nossos objetivos com mais
facilidade e paramos de criar problemas para nós mesmos.

SATI NOS FENÔMENOS MENTAIS


é você ter atenção
plena nas suas emoções e sentimentos, acolhê-los e aceitá-
los da forma como eles vêm. A partir dessa prática, é
possível mapear a mente, pois ao sentir a emoção, você
poderá ter atenção plena nela, perceber o que a
desencadeou, se já tiveram outros episódios em que você
sentiu a mesma coisa, conseguirá perceber se os seus
pensamentos têm relação com essa emoção e, a partir
desse processo, você poderá, gradativamente, amenizar as
suas reações diante dela ou evitar de senti-la.

Esse processo de introspeção faz com que tenhamos


atenção plena no que realmente tem importância, nós
mesmos vivendo no momento presente. Se você viver “o
hoje” como seu último dia, a única coisa que importará para
você são as pessoas que você ama, assim, o carro que você
tem, perderá a importância, o dinheiro ou seus desejos de
consumo, já não teriam o mesmo valor para você, por isso,
na sociedade de consumo, há um estimulo para as pessoas
viverem no amanhã, assim elas pautam a sua vida em qual
será a sua próxima compra, na conta que precisa ser paga,
na casa que precisa ser reformada, no carro que quer
comprar, no dinheiro que é preciso ganhar.

Geralmente, ignoramos as pessoas que são mais


importantes na nossa vida, sem ao menos perceber, e
depois, quando o nosso tempo com elas acaba, temos que
lidar com a dor de não ter mais tempo.

Reflita sobre sua vida. Que parte ou pessoa do seu presente


você tem deixado de se dedicar por viver no futuro? O que
pode fazer para mudar isso?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
_________________________________________

Se hoje fosse o seu último dia de vida, com quem você


gostaria de estar, o que gostaria de fazer?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
_________________________________________

O que essas reflexões te ensinaram sobre você mesmo e


sobre a forma como tem vivido a sua vida?
______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

“O tempo e o espaço são modos pelos quais pensamos e


não condições nas quais vivemos.”

Albert Einstein

CAPÍTULO 13
VIVER O PRESENTE
Quem nunca torceu para que o dia passasse rápido, ou que
chegasse logo o final de semana, o feriado prolongado, as
férias? Será que ao pensarmos assim, temos consciência de
que estamos torcendo para que a nossa vida passe rápido,
para que os nossos dias nesse corpo físico sejam
diminuídos?

É óbvio que esses anseios não farão com que o seu dia
termine mais rápido, no entanto, eles te impedirão de viver
os momentos com plenitude. Quando projetamos a nossa
vida no futuro, estamos ansiando pelo incerto e deixando de
viver o que o único tempo que nos é real, o presente.

Como já falamos, está cada vez mais comum ver pessoas


projetando a sua felicidade no futuro, querendo, com isso,
pular etapas da vida. Estas, não tendo consciência da
própria existência, anseiam pelo futuro, por acreditar que
nele encontrarão a própria realização. Quando somos
jovens, queremos chegar logo a maior idade, para
conquistarmos a liberdade, ao completar 18 anos,
percebemos que não adianta ter liberdade se não tivermos
dinheiro, então passamos a ansiar por um emprego ou
profissão. Ao chegar na faculdade, queremos que o curso
acabe logo, queremos sucesso e, sucessivamente,
buscamos a vida que está no futuro, quando finalmente
poderemos “ser feliz”. Desejamos que os dias passem
rápido, sem perceber que, quanto mais rápido passarmos
pela vida, mais rápido chegamos ao fim dela.

A maior parte dos problemas emocionais acontecem por as


pessoas não saberem lidar com seu tempo de vida. Quando
se fica preso ao passado, há uma tendência a depressão,
por se dedicar excessivamente a fatos que já não existem
mais, quando se está preocupado com o futuro, a tendência
é de ter ansiedade, enquanto viver no presente com
consciência pode trazer a felicidade.

Bernard Lonergan, um jesuíta teólogo canadense, definiu


que consciência é a presença de si mesmo em si mesmo, é
quando eu estou no presente, aproveitando o presente e
dando sentido para o presente. Atualmente, as pessoas
vivem no automático, preocupadas com o passado ou com o
futuro – em crise de ansiedade ou em depressão. Assim, o
presente passa e elas não prestam atenção em quem elas
são e o porquê fazem o que fazem no presente.
Muitas vezes, nós depositamos o nosso sentido de vida em
outro momento que não o presente, no entanto, a vida
acontece aqui e agora. Não estou querendo dizer que não
devemos sonhar. Pelo contrário, ter planos para o futuro é o
motor que nos faz prosseguir, mas, não valorizar as etapas
dessa caminhada, desejando muitas vezes encurtar o
processo, é um erro, já que cada passo dado é essencial
para nos tornarmos a pessoa que queremos ser no futuro.

Quando enxergamos a vida com os olhos da escassez,


sempre presumindo que nos falta algo para ser feliz e
idealizando essa conquista para o futuro, corremos o risco
de um dia, melancólicos, olharmos para trás e percebermos
o quanto éramos felizes sem poder perceber. Quantos
momentos únicos deixamos de viver por estarmos com
nossa mente e nosso coração em um tempo que ainda não
existe? O quanto perdemos em escolher viver uma vida
morta, uma vida sem sentido?

Aproveitando as pessoas no meu presente

Epicuro dizia que não devemos ter medo da morte, pois ela
nada mais é do que a ausência de vida, neste sentido, onde
há vida, não existe morte, e onde há morte não podemos
encontrar vida. O grande problema é que muitas pessoas
vivem como se estivessem mortas. Não são capazes de
sentir verdadeiramente o sopro de vida, não conseguem
estar verdadeiramente presentes nos acontecimentos ou
com pessoas que elas amam. Vivem focando no futuro e,
com isso, deixam de construir histórias verdadeiras,
vínculos profundos e quando se deparam com o final da
vida, já não há mais como recuperar o tempo perdido, só
resta a elas arrependimentos.

John Lennon dizia que a vida é aquilo que acontece


enquanto estamos correndo atrás das coisas. Essa frase
descreve um comportamento muito comum entre as
pessoas. Deixamos, muitas vezes, de brincar com os filhos,
conversar ou sair com os amigos, aproveitar a família e as
pessoas que são importantes para nós, por estarmos
preocupados com as coisas, ou pior, estamos com o corpo
presente, mas os nossos pensamentos estão longe, naquilo
que precisamos fazer ou conquistar no futuro. Encontrar
sentido no “agora” e estar presente na vida das pessoas
que amamos, é um importante passo para a nossa
felicidade, para vivermos uma vida com Sentido.

Te convido a olhar para o seu presente e refletir se dele


jorra vida ou jorra anestesia e morte. Saiba que o melhor
lugar do mundo é o aqui e o agora, então encha o seu peito
de ar e sinta o sopro da vida em você, valorize cada
momento presente estando presente em sua vida e na vida
das pessoas que são importantes para você. A vida é
caminhar por uma estrada sem saber onde é o seu fim,
chegará um momento em que não haverá mais estrada pela
frente, também não terá como voltar atrás, a única coisa
que lhe restará será olhar para o caminho que você traçou.
Construir um caminho que lhe traga orgulho ou dor,
depende de você.

Quando está com uma pessoa que lhe é importante, você


costuma ouvi-la com atenção ou mal presta atenção no que
ela fala? Você a interrompe ou deixa que ela se expresse?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
Em uma reunião de amigos ou família você está realmente
presente ou se distrai com o celular ou fazendo planos para
o futuro?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

“Do que temos tanto medo?

Medo de perder dinheiro?

Medo de perder bens materiais ?

Medo de perder a vida?

Medo de perder o outro?

Temos medo de perder o que nunca será nosso!”

Caio Viana

FINAL
UMA VIDA SEM
PENDURICALHOS
A minha curiosidade acerca da felicidade surgiu a partir da
minha própria história, eu, como a maioria das pessoas, fui
condicionado a viver e pensar de maneira superficial, e por
isso me sentenciei a buscar a felicidade por meio de
mecanismos que estavam fora de mim.

Como eu vim de uma família muito humilde, quanto mais eu


passava por situações de escassez, mais eu acreditava que
precisava conquistar uma vida estável para ser feliz. Eu
buscava ter uma vida financeira sólida, uma casa boa e
assim por diante, porque não queria que meu futuro filho (a)
passasse pelas dificuldades pelas quais passei e, sobretudo,
não queria mais ver a minha família sem ter dinheiro para
viver “dignamente” bem.

Com o tempo, percebi que os bens materiais só poderiam


me trazer alegria; nunca a felicidade. Vi que o que faltava
na minha vida não era o dinheiro, mas sim uma relação
mais profunda com a própria vida.

As pessoas costumam confundir felicidade com alegria, mas


essas emoções são bastante diferentes. Para exemplificar,
peço que você imagine um campo de futebol. No meio dele,
estão a alegria e a tristeza, já nas duas extremidades do
campo, estão de um lado a angústia e do outro a felicidade.

A sociedade pós moderna oferece, o tempo todo,


mecanismos para que você sinta alegria. São jogos, redes
sociais, propagandas, promoções, viagens, esportes
radicais, enfim, uma infinidade de recursos capazes de
liberar endorfina no seu organismo para que você sinta
alegria.

O organismo, quando recebe essa dose de endorfina,


entende que aquele é um meio de bloquear a tristeza, e isso
enlaça a pessoa em uma vida superficial. Ela confunde a
alegria com a felicidade, e busca cada vez mais recursos
para sentir alegria, quando essa passa, e vem a tristeza ou
o vazio, rapidamente ela busca um outro meio de senti-la
novamente, entrando, assim, em um ciclo vicioso de busca
pela felicidade, como um cachorro que corre atrás do
próprio rabo e se cansa, sem nunca conseguir alcançá-lo de
fato.

Quando penso na sociedade de consumo, vejo o quão


superficiais são os seus fins. Isso me faz pensar na história e
cultura egípcia, os antigos costumes desse povo nos mostra
o quanto a vida precisa ser vista com mais profundidade. Os
antigos egípcios acreditavam que quando morriam, tinham
que atravessar um lago até chegar ao seu julgamento final.
Nesse percurso, eles eram abordados por espíritos que por
ali ficavam tentando desviá-los do caminho, desta forma,
junto com o corpo, eram enterrados diversos penduricalhos
– joias, ouro, pedras preciosas – que serviam de suborno
para que tais espíritos deixassem eles seguirem o percurso.
É interessante pensar que até hoje, nas pirâmides, são
encontrados esses tesouros, o que nos mostra que os bens
materiais não farão a menor diferença na vida de uma
pessoa quando esta acabar. Não levamos nada dessa vida,
senão o que somos na essência, essa é a única e verdadeira
herança que, de fato, podemos deixar no mundo.

Com quem temos aprendido?

Sou apaixonado por estudar a mente e o comportamento


humano. Cursei Psicologia, Astronomia, Neuropsicologia e
meu objetivo agora é estudar Ciências da Religião para me
aprofundar cada vez mais nesse fenômeno que é o ser
humano.
Dentro dos meus estudos e formações, aprendi algo que
pode ser percebido muito facilmente na prática:
Neurologicamente, somos seres condicionados, ou seja, em
nosso cérebro, existe um córtex chamado de parietal, onde
predominam os neurônios que chamamos de neurônios
espelhos, também conhecidos como neurônios da empatia,
do vínculo, das relações interpessoais. Quando observamos
alguém realizar algo, esses neurônios são espontaneamente
acionados e “simulamos” aquela ação, isso quer dizer que,
automaticamente, copiamos ou imitamos aquilo em nossa
mente.

Nós, enquanto seres relacionais, observamos e


reproduzimos diversas ações e isso é essencial para o nosso
aprendizado, pois nos leva a realizar coisas sem precisar
gastar energia pensando nelas, apenas acessamos o nosso
banco de memória. Desta forma, se andarmos com pessoas
pessimistas ou egoístas, por exemplo, a nossa mente irá
absorver essas ideias e adotaremos um perfil parecido com
o dessas pessoas. Se o nosso ciclo de relacionamento for de
pessoas que buscam “nas coisas” o sentido da sua vida,
tenderemos a adotar o mesmo comportamento.

Olhe para si mesmo e para seu ciclo de amizades. Analise


se os seus comportamentos são realmente seus ou são
meras representações daquilo que seu meio reproduz.

O ser humano e a sociedade de consumo

Lembro-me de que, há alguns anos, eu e um grupo de


amigos íamos regularmente conversar com pessoas em
situação de rua ou prostituição. Certo dia, em uma
importante avenida da cidade, em que havia praticamente
uma vitrine de corpos nus, um rapaz em especial me
chamou atenção. Quando cheguei perto dele para
conversar, ele que estava até então expondo seu corpo
abertamente, começou a tentar se encobrir, em
determinado momento da conversa ele começou a chorar
muito. Quando perguntei o motivo, ele me disse que há
muito era visto como um objeto, mas que eu havia o olhado
como um humano e isso o constrangeu. Essa experiência
me marcou muito, havia, naquela rua, pessoas que,
condicionados a se sentirem como objetos de prazer,
estavam desacostumados a sentirem a sua humanidade.

Infelizmente, em nossa sociedade consumista, esse


comportamento é cada vez mais comum. As pessoas são
vistas como objetos, e quando estas não tem nada a
oferecer, tornam-se invisíveis. Por que os moradores de rua
são invisíveis? São tratados assim porque eles não
frequentam restaurantes, não tem casas, não compram
roupas, não pertencem a nenhuma instituição, não fazem
parte de nenhuma torcida de futebol, não fazem parte da
sociedade consumista, logo, tornam-se imperceptíveis.

O que faz uma pessoa “humana” na sociedade capitalista é


consumir. Às vezes, faço um teste com meus alunos, peço
para que eles me digam quantos moradores de rua eles
encontraram no caminho da casa deles até o curso. Poucos
conseguem responder, simplesmente, porque, fora em
situações em que eles batem no vidro do carro ou abordam
de alguma outra forma para pedir comida ou qualquer outra
coisa, eles não são vistos. E não é por maldade que não os
vemos, é porque fomos programados para isso, as pessoas
deletam dos seus pensamentos tudo o que consideram uma
ameaça, no fundo, elas têm medo de um dia estar naquela
situação, e refletir sobre isso dói, por isso elas preferem
ficar cegas a sofrer.

Quando, no seu íntimo, você vai contra tudo isso e escolhe


ir ao encontro das pessoas para estimular o que elas
realmente são, sua vida passa a fazer mais sentido. Esta, é
uma atitude muito difícil de ser tomada, pois temos a
tendência de recair ao mundo consumista. Quando eu falo
“consumista”, não estou me referindo a você consumir uma
roupa, um relógio, um produto, mas você se colocar como
produto. Quando você vai contra os seus valores e
princípios, tendo comportamentos dos quais você discorda,
para agradar os outros, para ser aceito, para começar um
relacionamento, conquistar um cargo, você está entrando
no mundo consumista e, da pior forma, você se distancia da
sua essência, como se ser você mesmo não te bastasse, e
se deixa consumir.

Na verdade, o ser humano busca, o tempo todo, a


felicidade; o problema é que ele busca fora – na profissão,
nos relacionamentos, nos bens – ,algo que só pode ser
encontrado dentro. As pessoas fazem tudo o que podem,
em uma troca inconsciente pela felicidade, por isso é muito
difícil você saber quem você é e conseguir sustentar isso,
não se rendendo aos apelos da sociedade.

A angústia de não conhecer o próprio “eu”

Karl Marx afirma que todo homem tem uma carência


existencial e busca preenchê-la de alguma forma, sem ter o
conhecimento de que o seu interior é a sua força maior, ele
busca nas instituições – religiosas, sociais, acadêmicas e
assim por diante – a sua completude. Com esse
comportamento, o homem tenta construir a sua identidade
por meio das organizações sociais.

Infelizmente, essa é uma busca em vão, uma vez que a


consolidação da identidade, que completa a insuficiência
existencial do ser humano, só pode ser construída a partir
de si mesmo. Não tendo consciência disso, o homem,
muitas vezes, entra em estado de extrema angústia e,
assim, desenvolve diversos tipos de doenças emocionais,
que podem até mesmo leva-lo ao suicídio.

Emile Durkheim diz que o suicídio é um fato social, ele


afirma que existem três tipos de suicida, o Altruísta, que é
formado por um pequeno grupo de pessoas que vê sentido
na própria morte, se ela significar a defesa do seu grupo
social, o Egoísta, que por acreditar que não consegue
pertencer as instituições sociais, entra em uma angústia
existencial e tira a própria vida, e o Anômico que busca
construir sua identidade nas instituições e, falhando, por
elas terem um princípio muito frágil, entra em desespero a
ponto de preferir morrer.

Neste aspecto, a modernidade tem contribuído para o


aumento desse mal, uma vez que além das instituições
concretas, nas quais as pessoas sentem necessidade de
fazer parte, temos as abstratas – como as de consumo,
tecnologia, número de curtidas, seguidores, status social –
que, por possuírem um significado muito subjetivo,
sutilmente, contribuem para a aflição de não se sentir
pertencente, sem ao menos saber, com exatidão, a quê.

Kierkgaard diz que há três modos de existir no mundo, ele


os chama de estádio. O primeiro deles é a estética, aqui há
uma supervalorização das possibilidades, o homem idolatra
o irreal, o que ainda não foi alcançado e que talvez nem
possa ser, a exemplo disso temos a superficialidade das
relações sociais que jamais poderão dar resultados
concretos. O segundo, o ético, o homem busca nas normas –
obrigações, trabalho, religião – o seu sentido de vida,
somente por meio das instituições ele se sente completo.
Por fim, o último estádio, o religioso, que ele chama de salto
de fé. Aqui, o homem encontra a sua completude, um
sentido maior para viver e, assim, livra-se da sua angústia
existencial.
Os dados acerca de doenças emocionais e suicídios
mostram que, lamentavelmente, o mundo contemporâneo
tem contribuído para distanciar o homem desse estádio.
Atualmente, a sociedade tem colocado o imediatismo e as
superficialidades como foco principal do homem moderno, o
impedindo, assim, de exercer sua força interior e encontrar
um sentido maior. Urge, que as pessoas olhem para si
mesmas e busquem meios de desenvolver uma vida sem os
penduricalhos das instituições, status e dinheiro, pois, por
serem passageiros e inconstantes, eles jamais poderão
preencher a carência existencial que elas carregam dentro
de si.

A armadilha do consumismo

Desde criança, eu tinha o sonho de conseguir ir ao mercado


e poder comprar o que eu quisesse. Eu cansei de ir ao
mercado com a minha avó e ver ela contando as moedinhas
para comprar uma bolacha para mim, em muitas dessas
vezes, ela me olhava com lágrimas nos olhos por perceber
que o dinheiro não iria dar. Eu ficava triste de ver a
frustração nos olhos da minha avó, isso fez com que eu
acreditasse que a felicidade consistia em poder comprar
tudo o que se quer. Pensei que o poder de compra faria de
mim uma pessoa feliz, mas com o tempo eu pude ver que
estava enganado.

O consumo é um dos grandes valores da sociedade pós-


moderna, e as pessoas, preocupadas em se sentirem
pertencentes a esse sistema, passam a fazer parte de uma
teia de superficialidade e consumo sem conseguir perceber
que há algo maior e mais importante do que isso. Elas
apenas reproduzem o que veem sem descobrir, na vida, um
sentido mais profundo.
É comprovado, cientificamente, que o efeito da dopamina,
um dos hormônios responsáveis pela alegria, que é liberado
no organismo quando alguém compra alguma coisa, tem a
duração de 15 minutos, depois desse período a carga
hormonal vai diminuindo e, gradativamente, a sensação de
alegria vai sendo amenizada até voltar ao estágio inicial.
Quando isso acontece, a tendência é que se queira buscar
algo que traga essa sensação novamente. Isso faz com que
a pessoa entre em um ciclo vicioso de buscar,
incessantemente, algo que a complete. A história é dividida
em períodos, muitos defendem que o momento pelo qual
estamos passando é a fase do obscurantismo, isso porque a
relatividade tomou conta da humanidade, que vive em um
marasmo existencial. Os humanos agem como se fossem o
fim deles mesmos, o “ter” é mais importante do que o
“ser”, não existe a preocupação com o outro, a única coisa
que realmente interessa, é realizar as próprias vontades.
Essa, poderia ser desenhada como a época de narciso, em
que as pessoas sentem necessidade de preencher os seus
pensamentos egoístas.

Quando alguém busca a completude nas coisas

– carro, dinheiro, profissão, status social e assim por diante,


- sua vida passa a ser baseada na aprovação dos outros e
nos penduricalhos da vida. A sua marca é construída a partir
do que se tem, neste sentido, a pessoa deixa, então, de ser
ela mesma para ser o carro ela que tem, o restaurante que
ela frequenta, o título que ela conquistou. Tudo isso, são
penduricalhos que, a qualquer momento, podem lhes ser
tirados e, quando isso acontece, elas percebem a
fragilidade da vida que construíram para si. Nessa vida de
superficialidade, chegar ao fundo do poço é muito mais
fácil, pois os valores da sociedade são rasos e não
sustentam as próprias perdas.
As pessoas supervalorizam e têm medo de perder aquilo
que nunca foi delas. Medo de perder o carro, a casa, a
roupa, a conta bancária, a juventude; contudo, basta elas
deixarem de pagar o IPTU, o IPVA, adquirirem alguma dívida
penhorada, ou mesmo se um plano do governo, como o
plano Color, pegarem elas de surpresa, poderão perceber
que elas nunca foram donas daquelas coisas.

Eu também já caí na armadilha do consumismo, mas


quando consegui ter dinheiro para comprar o que queria, e
mesmo assim era uma pessoa infeliz, percebi que nessa
busca eu precisaria ir além.

Gandhi disse que a felicidade é quando o que você pensa, o


que você diz e o que você faz estão em completa harmonia,
ou seja, a felicidade será encontrada quando houver a
harmonia entre o ser e o viver. Muitas pessoas mudam de
comportamento quando passam a ganhar mais dinheiro do
que antes ou quando são promovidos a um cargo de poder,
é preciso que você tenha o cargo, mas tenha consciência de
que você não é esse cargo, que tenha o objeto, e não seja
esse objeto, ou essa profissão, esse sobrenome, essa
posição social.

Para isso, é preciso que você faça um mergulho em você


mesmo, uma autoanálise, para perceber o que você pensa
acerca de si mesmo e o que o mundo quer que você pense.
Porque se a sua apresentação identidária tornar-se o que
você tem (cargo, dinheiro, posição social), você causará
uma desarmonia entre o que você realmente é e o que você
diz ser no mundo. Esse comportamento te distanciará cada
vez mais da felicidade.

De que forma o ciclo de pessoas com quem você se


relaciona tem contribuído para que você seja uma pessoa
melhor?
______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

Os seus pensamentos e as suas ações tem influenciado


positivamente as pessoas?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

Quando você olha de maneira profunda para o seu interior,


o que você consegue enxergar?

______________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________

Referências

Inteligência emocional: a teoria revolucionária que define o que é ser inteligente


- Daniel Goleman

Sapiens: uma breve história da humanidade - Yuval Noah Harari

Em busca de sentido - Viktor E. Frankl Temor e tremor -


Soren Kierkgaard Reorganizar a sociedade - Comte Ordens
do amor - Bert Hellinger Tempos líquidos - Zygmunt Bauman
O fenômeno humano - Teilhard de Chardin

Neuropsicologia - Daniel Fuentes, Leandro F. Malloy-Diniz,


Candida Helena Pires de Camargo, Ramon M. Cosenza

A águia e a galinha - Leonardo Boff

O ser e o nada - Jean-Paul Sartre

Ostra feliz não faz pérola - Rubem Alves

O suicídio - Émile Durkheim

Mindset - Carol S. Dweck

Os índios e a civilização - Darcy Ribeiro

A conquista da felicidade - Bertrand Russell

Por que o mundo existe? - Jim Holt

Você também pode gostar