Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Assessorias antropológicas
em projetos educacionais*:
entre o protagonismo indígena e o ideal das
políticas públicas
RESUMO: O que os índios querem com seus assessores, já que são protagonistas políticos Palavras-chave:
no cenário contemporâneo? Seria uma espécie de apoio político em ambientes inóspitos, ativismo,
como algumas vezes são as universidades? Se for isso mesmo, os pesquisadores educação
envolvidos em assessorias concordariam em desempenhar o papel de atores políticos indígena,
coadjuvantes? Nesse caso, o que poderiam eles fazer: assumir as tarefas rotineiras engajamento do
antropólogo.
que os atores políticos, os índios, esperam deles? E se fizerem isso, qual o lugar para
reflexões críticas? Seriam as assessorias coisas do passado, como sugeriu um colega,
e é só uma questão de tempo os índios não precisarem mais de seus assessores, ao
menos no campo da assessoria antropológica em educação?
E
ste texto analisa o lugar ocupado pelas assessorias, em particular
as assessorias antropológicas, nos projetos educacionais e na definição
de políticas públicas destinadas às populações indígenas. Embora
tenhamos no Brasil um substancial avanço nas reflexões sobre o trabalho
do antropólogo em processos de regularização fundiária, em situações
de perícia judicial e em intervenções em projetos de desenvolvimento;
no caso das assessorias antropológicas na área educacional, ainda não
* Paper apresentado
temos tantas reflexões sobre o tema. Pretendo com estas breves notas levantar na Reunião Equa-
algumas questões para o debate. torial de Antropolo-
gia, em Natal-RN,
O lugar político de indígenas e antropólogos e no II Seminário
do Laboratório de
Estudos em Movi-
Nos últimos anos, uma vasta literatura especializada assinala para mentos Étnicos, em
transformações na prática etnográfica e no lugar político ocupado pelo Maceió-AL, ambos
em 2009. Mantenho
antropólogo. A professora Alcida Ramos, para citar uma autora conhecida por o formato da exposi-
ção oral.
Em sintonia com essa dinâmica, bem como com os fluxos globais de ideias, no
Ceará, a política de educação escolar indígena começou a ser implementada
na segunda metade da década de 1990. A entrada da Secretaria de Educação
Básica (SEDUC) nesse cenário significou a definição de uma agenda de ação
política: a disponibilidade de recursos humanos e financeiros, a realização de
censos estatísticos, o estabelecimento de metas a serem cumpridas, a adoção
de um vocabulário e ideias que passaram a circular entre os agentes – pesquisa 1 Em seguida, com a
dos “etnoconhecimentos” –, os professores como geradores de currículos aprovação dos “pro-
diferenciados, o “resgate” da cultura e língua, entre outras ações e discursos. jetos dos índios” pelo
Ministério da Educa-
ção (MEC), os assesso-
Num cenário marcado pelo aumento do protagonismo indígena, a SEDUC res ou os docentes que
fez uma articulação com ONGs e assessores. Além disso, o órgão estadual ministraram aulas nos
cursos, foram chama-
era lento na oferta do curso de magistério, pois desde 1996 – portanto num dos de “consultores”,
período de 4 anos – planejava e prometia um curso, e o não cumprimento dessa terminologia emprega-
promessa causava bastante desconforto no interior do campo indigenista. da pelo ministério.
Isso pode ser exemplificado com outra situação. Por volta do ano de 2006,
os índios se mobilizaram para a elaboração de um curso de nível superior de
formação de professores, ocasião na qual eu fui, mais uma vez, convidado para
ser “assessor”. Numa determinada ocasião uma liderança abriu a discussão
dizendo para mim e outra pesquisadora: “agora nós estamos conversando
com vocês de igual para igual”. Em seguida comparou a situação atual com
o momento da discussão para o Magistério.
Para finalizar
4 Esta unidade foi que-
Essa situação, esquematicamente relatada, assemelha-se à analisada brada recentemente
com a elaboração de
por Alcida Ramos sobre as políticas de representação nas etnografias
mais uma proposta de
contemporâneas e o lugar dos antropólogos como atores políticos. Para curso superior.
Se o lugar político dos antropólogos foi remodelado, a questão que fica é: Artigo
quais rumos devemos tomar? Como bem nos disse Aracy Lopes da Silva Recebido: 21/03/2010
(1998), há uma década, o momento ainda é de “alerta e reflexão”. Aprovado: 20/04/2010
ABSTRACT: What are Indians looking for by resorting to the help of consultants, Keywords: activism,
if one is to consider that they are political actors within a contemporary stage? indigenous
Would it be a kind of political support to face an inhospitable environment, such education,
anthropological
as universities sometimes seem to be? If this is the case, researchers involved
advocacy.
in consulting activities would agree to accept the role of supporting political
actors? What would they then do? Would they rise to the daily tasks that the
political actors, the Indians, expect them to perform? Supposing they do so,
what is left for critical reflections? Would consulting practice be something of
the past, as advanced by a colleague, and soon would the Indians no longer
need counsel, at least in the anthropological field of education?
Referências
AIRES, Max Maranhão Piorsky. De aculturados a índios com cultura:
estratégias de representação do movimento de professores tapebas em zonas
de contato. Tellus, Campo Grande, v. 1, p. 83-112, 2008.