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Carolina Zuccarelli
2016
FORMAÇÃO PROFISSIONAL E INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO
Carolina Zuccarelli
Rio de Janeiro
Julho de 2016
“Formação profissional e inserção no mercado de trabalho”
CAROLINA ZUCCARELLI
Aprovada por:
____________________________________________________________
Prof.ª Dra. Maria Ligia de Oliveira Barbosa (PPGSA/UFRJ)
__________________________________________________________
Prof.ª Dra. Graziella de Moraes Silva (PPGSA/UFRJ)
____________________________________________________________
Prof. Dr. Adalberto Cardoso (IESP/UERJ)
____________________________________________________________
Prof. Dr. Antônio Augusto Prates (FAFICH/UFMG)
____________________________________________________________
Prof. Dr. Luiz Antônio Caruso (SENAI)
Rio de Janeiro
Julho de 2016
FICHA CATALOGRÁFICA
Zuccarelli, Carolina
Z94f Formação profissional e inserção no mercado de
trabalho / Carolina Zuccarelli. – Rio de
Janeiro, 2016.
145 f.
INTRODUÇÃO ............................................................................................................13
INTRODUÇÃO
1
Educação Profissional: conjunto de atividades educativas para a formação ou aperfeiçoamento
profissional, sem necessariamente indicar uma modalidade de ensino. Quando for necessário indicar os
diferentes níveis e modalidades de educação profissional, será utilizada a classificação prevista pela
LDB/96.
14
2
Para saber mais, ver Schwartzman & Moura e Castro (2013); Klein e Marino (2015).
3
De acordo com artigo 6° do Decreto 5.154/2004, "considera-se etapa com terminalidade a conclusão
intermediária de cursos de educação profissional técnica de nível médio (...) que caracterize uma
qualificação para o trabalho, claramente definida e com identidade própria” (Art 6°, § 1°).
4
No Brasil, a porcentagem de alunos matriculados em cursos técnicos de nível médio é de 16%. Na
Finlândia (56.2%), Alemanha (51.5), Espanha (44.5), França (44.3) e Portugal (40.6).
(SCHWARTZMAN e MOURA CASTRO, 2013)
15
5
É claro que a qualidade da formação é ponto crucial da expansão dos sistemas de ensino, mas é preciso
considerar que, do ponto de vista individual, quanto mais escolarizado o trabalhador, maior sua renda,
menores índices de gravidez na adolescência e de mortalidade infantil. Além disso, estudo feito por
Cerqueira et al (2016) identificou que a expansão da matrícula entre jovens de 15 a 17 anos estava
associada a menores taxas de homicídio.
16
6
A obrigatoriedade da educação profissional durante a ditadura militar também foi um importante
período de expansão do segmento.
17
vista da oferta, o objetivo é saber quais os cursos técnicos e eixos tecnológicos com
maior número de matrículas e a relação com as categorias administrativas e
modalidades de ensino predominante. Veremos que a rede federal é a principal ofertante
de cursos no eixo tecnológico “Controle e processos industriais”, associado aos
processos mecânicos, eletroeletrônicos e físico-químicos do segmento industrial e a rede
privada concentra sua oferta no eixo “Ambiente e saúde”, que abarca tecnologias
associadas ao desenvolvimento e inovação de suporte e atenção à saúde. Como a partir
de 1980 e, especialmente em 1990, a indústria perde centralidade e o setor de serviços
cresce significativamente, essa forma de organizar a oferta de cursos técnicos é um
importante indício do sentido dado à educação profissional no país pelas diferentes
categorias administrativas. Dessa maneira, o capítulo busca fazer um retrato da
educação profissional de nível médio, indicando as tensões e disputas políticas que
contribuíram para o quadro atual. Esse capítulo focaliza mais fortemente a ordem
política, especificamente a legislação e as políticas para esse tipo de educação.
Assim como houve uma série de mudanças na educação profissional nos últimos
anos, a economia brasileira também passou por profundas transformações que tiveram
impactos significativos para o mercado de trabalho. O capítulo 2 mostra que,
acompanhando a tendência mundial de reestruturação do processo de produção do
capital, há uma mudança no perfil da mão-de-obra demandada, assim como surgem
novas formas de regular o trabalho. Debate-se a reestruturação produtiva e seus
principais impactos para o mercado de trabalho e para a formação do profissional.
Veremos que um novo perfil de trabalhador passa a ser demandado, um trabalhador
polivalente que tenha não apenas o domínio dos conhecimentos técnicos, mas também a
capacidade de mobilização de outros conhecimentos para enfrentar questões postas pela
produção. Nesse contexto, a noção de politecnia pode ser entendida como um princípio
eficaz ao atual modo de produção justamente por, ao menos na teoria, possibilitar um
tipo de trabalhador que domine os princípios gerais sobre os quais se organiza a
produção capitalista moderna.
Ainda no capítulo 2, para levantar informações sobre o setor produtivo quanto ao
emprego, foi utilizada a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS)7, censo anual do
7
A RAIS é originária dos registros administrativos do Ministério do Trabalho. Todas as organizações
legais são obrigadas a declará-la e as informações são fornecidas pelas empresas. Em 2014, quase 4
milhões de estabelecimentos prestaram informações sobre os 49.571.510 postos de trabalho.
18
8
A indústria de transformação corresponde às atividades que envolvem transformação química, física e
biológica de materiais, substâncias e componentes para obter produtos novos. O estudo de caso realizado
para a tese é feito em cursos técnicos relacionados à indústria de transformação, daí a relevância do uso
da RAIS.
19
economicamente valioso (BAKER, 2014), interessa saber o que significa a busca por
qualificação técnica entre os jovens moradores de uma cidade com forte cultura para o
trabalho industrial.
O trabalho de campo foi realizado em Volta Redonda, cidade do Sul Fluminense
que abriga a maior siderúrgica do país, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), uma
das principais empregadoras de mão de obra técnica da região. Para investigar o sentido
dado à educação profissional em tempos de politecnia, foram selecionados alunos
matriculados em cursos nas modalidades articuladas de três escolas técnicas localizadas
no entorno da Usina. Os duzentos e vinte alunos que responderam ao questionário
aplicado em sala de aula estavam matriculados em cursos do eixo tecnológico “Controle
e processos industriais”, cujas tecnologias são associadas aos processos mecânicos,
eletroeletrônicos e físico-químicos do segmento industrial. Nessa etapa da pesquisa, o
objetivo foi discutir a relação educação e trabalho a partir do ponto de vista dos atores
sociais. Veremos que, apesar do crescimento nos postos de trabalho e no número de
matrículas na educação profissional, o indicativo de expectativas dos alunos da amostra
revela que a formação profissional nas modalidades investigadas, em contextos de
valorização do diploma acadêmico, serve mais como ponte de acesso ao superior do que
para formação de quadros técnicos para o mercado de trabalho. Esse capítulo traz para o
nível empírico as análises anteriores sobre a ordem social.
Assim, do ponto de vista político, a tese busca indicar o processo de
desenvolvimento da educação profissional, as disputas e tensões que levaram à
constituição do atual quadro. Do ponto de vista econômico, identificar as mudanças
estruturais no padrão de acumulação capitalista e seu impacto para o mercado de
trabalho, especialmente para os técnicos de nível médio. Do ponto de vista teórico-
analítico, discutir as principais teorias sobre a relação entre educação e trabalho. Do
ponto de vista empírico e social, analisar motivações, expectativas e práticas dos alunos
que cursam a educação profissional de nível técnico. O objetivo, com isso, é investigar
como ocorre a expansão da educação técnica de nível médio no Brasil, o sentido social
dado à educação profissional e seu impacto na democratização das oportunidades
educacionais.
21
9 Em 2013, 97,1% das crianças de 6 a 14 anos estavam matriculadas no ensino fundamental. Apesar da
quase universalização do acesso, o ensino fundamental apresenta níveis insatisfatórios de conclusão com
apenas 71,7% dos jovens de 16 anos completando o segmento (IBGE/Pnad, 2014).
10
Nos últimos 20 anos, o número de matrículas no ensino superior cresceu mais de oitocentos por cento
(MEC /Inep, 2013).
12
Em seu primeiro mandato como governador do Rio de Janeiro (1903 – 1906), Nilo Peçanha cria cinco
escolas profissionais, três para o ensino manufatureiro e duas para o ensino agrícola.
13
A educação secundária e superior era competência do Ministério da Justiça e Negócios Interiores.
24
30000
25000
20000 PRIVADA
MUNICIPAL
15000
ESTADUAL
10000 FEDERAL
5000
0
1907 1908 1909 1910 1911 1912
FONTE: Elaboração da autora a partir de Annuario estatistico do Brazil 1908-1912. Rio de Janeiro:
Directoria Geral de Estatistica, v. 1-3, 1916.
14
Sistema S é o termo que define o conjunto de organizações das entidades corporativas voltadas para o
treinamento profissional, assistência social, consultoria, pesquisa e assistência técnica, que além de terem
seu nome iniciado com a letra S, têm raízes comuns e características organizacionais similares. Fazem
parte do sistema S: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai); Serviço Social do Comércio
(Sesc); Serviço Social da Indústria (Sesi); e Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac).
Existem ainda os seguintes: Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar); Serviço Nacional de
Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop); e Serviço Social de Transporte (Sest). Mais informações,
ver Carvalho e Palma (2012).
15
Em 1909, ano de criação da rede federal de educação profissional, foram realizadas 65.985 matrículas
no ensino primário e 22.666 na educação profissional (IBGE / DGE, 1916).
25
16
Governo provisório (1930 – 1934); Governo Constitucional (1934 – 1937); Estado Novo (1937 –
1945).
26
dois níveis. A segunda, que culminou com a Lei Orgânica do Ensino Secundário (ou
Reforma Capanema), repetiu os argumentos de Campos e oficializou o ensino
secundário como ponte de acesso ao ensino superior.
Em 1930, o novo governo cria o Ministério da Educação e Saúde, com Francisco
Campos a frente da pasta. Na busca pela modernização do ensino secundário, inspirado
nos moldes dos liceus europeu, o ministro estabelece um conteúdo para o ensino
secundário de caráter humanístico, notoriamente destinado aos jovens que buscavam
formação universitária. Estabeleceu a divisão do sistema de ensino da seguinte maneira:
ensino primário, com duração de 4 anos, dos 7 aos 10 anos de idade; ensino secundário,
de sete anos de duração, dividido em dois ciclos - o primeiro chamado “fundamental”,
conferia formação geral para todos os estudantes em cinco anos e o segundo, “ciclo
complementar”, formação específica de dois anos, no mínimo (BRASIL, Decreto 9.890,
1931).
Após a eleição de Vargas para a presidência da República pela Constituinte em
1934, Capanema é nomeado para a pasta da Educação e Saúde Pública, ficando nela
pelos 11 anos seguintes. Foi na sua gestão que o Plano Nacional de Educação (PNE) foi
aprovado, em 1937. Contendo uma série de princípios e opções educacionais, com dez
anos de vigência, um dos principais temas do documento era a reforma do ensino
secundário. Em 1942 é promulgada a Lei Orgânica do Ensino Secundário (BRASIL,
Decreto-lei 4.244, 1942), também conhecida como Reforma Capanema, que estabelece
a educação em dois níveis: educação básica e superior. Conservando os sete anos de
estudos no secundário, a reforma Capanema introduziu o ginasial, de quatro anos,
seguido pelas opções do clássico e do científico, ambos com três anos de duração, que
habilitavam para acesso ao ensino superior. Havia a possibilidade também de, após os
quatro anos de ginásio, ingressar no ensino industrial, agrícola, artístico, pedagógico,
doméstico ou comercial, que era um ensino no nível do segundo ciclo sob o qual o
ministério colocava poucas exigências, sem prever a possibilidade de acesso ao ensino
superior. Era uma opção para os estudantes que não tinham como objetivo ingressar na
universidade. A Reforma Capanema deslocou a educação profissional para o grau
médio, contribuindo para o aumento do número de matrículas no segmento,
notoriamente nos ensinos comercial e industrial, conforme mostra o gráfico abaixo.
27
Fonte: Elaboração da autora a partir de Anuário estatístico do Brasil 1939/1940. Rio de Janeiro: IBGE, v. 5, 1941.
* A modalidade de ensino doméstico deixa de existir a partir de 1947.
Impulsionado por uma política de criação de novas escolas industriais, esse foi
um período de grande expansão para a educação profissional, especialmente porque as
décadas de 1930 e 1940 foram fundamentais para consolidação da industrialização no
país. Nesse período, por exemplo, foi criada a Companhia Siderúrgica Nacional, marco
do processo da industrialização nacional. Foi também quando surgiram as primeiras
estruturas do chamado Sistema S, iniciando com SENAI (1942) e SENAC (1943). De
acordo com Schwartzman (2005), a expectativa na época era que de a maioria dos
alunos tivesse formação em atividades industriais, comerciais e agrícolas. É quando os
industrialistas criam suas próprias escolas técnicas, “com boa qualidade, que se
ajustavam às suas necessidades e ficavam fora do controle das autoridades
educacionais” (SCHWARTZMAN, 2005, p. 24).
Analisando o decreto-lei de 1939, que obrigava as empresas com mais de 500
empregados a manter cursos de aperfeiçoamento profissional para adultos e menores,
Cunha mostra a forte resistência dos industrialistas em criar instituições de educação
profissional:
Uma das principais marcas da reforma do ensino secundário da Era Vargas foi
justamente a falta de consenso sobre a noção de terminalidade do ensino médio, posta
apenas para quem cursava a educação profissional. Após a queda de Vargas, tem início
discreto processo de restabelecimento da democracia, que teve um importante marco
com a promulgação da Constituição de 1946. O texto, expressando toda sua contradição
entre tendências conservadoras e liberais, define a educação como direito de todos,
apesar de não fazer vínculo direto entre esse direito e o dever do Estado (VIEIRA,
2007).
Sancionada quase 30 anos após ser prevista pela Constituição de 1934, foram
muitos anos de debates17 até que a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação
fosse aprovada em 1961. Anísio Teixeira se referiu a sua aprovação como uma “meia
vitória”, por julgar que a lei pouco contribuiu com a democratização das
oportunidades educacionais. Para o educador, o texto atesta um modelo no qual a
escola não visava nenhuma educação específica, apenas ministrar educação literária,
contribuindo com o caráter elitista da educação (TEIXEIRA, 1999).
Vigente por um curto período de tempo, a lei que antecedeu o período militar
estabeleceu o ensino médio ministrado em dois ciclos, o ginasial (de quatro anos) e o
colegial (cursados em três anos, no mínimo) que abrangia, entre outros, os cursos
secundários, técnicos e de formação de professores para o ensino primário e pré-
primário. Os cursos técnicos foram divididos pelas áreas industrial, agrícola e
comercial, ministrados nos ciclos ginasial e colegial. Em 1969, novos cursos com menor
número de matrículas na área técnica, como ensino artístico, economia doméstica,
ensino de enfermagem e ginásio orientado para o trabalho, todos de nível médio,
passam a fazer parte das estatísticas oficiais.
No final das contas, o formato adquirido pela educação profissional a partir de
1954 permaneceu praticamente o mesmo até 1971, quando é promulgada uma nova
LDB, que tornaria compulsória a educação profissional.
17 Em 1948, o então ministro da educação Clemente Mariano, apresentou anteprojeto da LDB que passou
por um longo percurso até a data de sua promulgação, em 1961.
31
18
A lei 6.297/75 (BRASIL, 1975) previa no artigo 1° que “As pessoas jurídicas poderão deduzir do lucro
tributável, para fins do imposto sobre a renda, o dobro das despesas comprovadamente realizadas, no
período-base, em projetos de formação profissional, previamente aprovados pelo Ministério do
Trabalho.”
32
Primeiro, era preciso garantir uma vinculação maior e mais ágil entre as
escolas técnicas e as necessidades sempre dinâmicas do mercado de trabalho
local, onde os empregos são efetivamente gerados. Dificilmente essas
condições são preenchidas por instituições vinculadas burocraticamente a
Brasília. Depois, era evidente que, em geral, nossas escolas técnicas federais
ofereciam um bom curso de nível médio que preparava os filhos da classe
média para ingressar na universidade, mas não atendiam às necessidades de
formar técnicos de nível médio para o mercado de trabalho. (SOUZA, 2006)
19
Dentre os autores que questionam o Decreto 2.208/97, destacam-se Tedesco, 1998; Kuenzer, 2000;
Saviani, 2003; Frigotto, Ciavatta e Ramos, 2006.
35
20
Decreto 6.095/07 que estabeleceu as normas para transformar os 33 CEFETs, 36 Escolas Agrotécnicas,
32 Escolas Vinculadas às Universidades Federais e a Escola Técnica Federal de Palmas em campi dos
Ifets.
21
De acordo com o MEC, a rede federal de educação profissional “ainda é formada por instituições que
não aderiram aos institutos federais, mas também oferecem educação profissional em todos os níveis. São
dois Cefets (Rio de Janeiro e Belo Horizonte), 25 escolas vinculadas a universidades e uma universidade
tecnológica (antigo Cefet-PR) Disponível em
http://redefederal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=56&Itemid=27
Acesso em 03.08.2013
37
A autora afirma que a separação entre os dois ministérios, definida pela lei
11.892, não é apenas um exercício burocrático, mas uma distinção que reforça o caráter
geral e humanista dado à educação profissional com impactos importantes no tipo de
concepção dominante nas escolas do setor público e privado. A independência dada ao
MEC restringiu a colaboração estabelecida previamente entre o MTE e representantes
de organizações sindicais e patronais, um ponto essencial que diferencia as perspectivas
dadas à educação profissional.
Apesar do objetivo comum, geração de trabalho e renda, os governos FHC e
Lula divergiram muito sobre o papel do governo federal nesse processo, especialmente
no que diz respeito à capacidade das instituições vinculadas a Brasília em responderem
as necessidades sempre dinâmicas do mercado de trabalho local, onde os empregos são
efetivamente gerados. Nesse quadro, é possível estabelecer duas concepções sobre
educação profissional com conseqüências significativas para seu formato institucional:
uma que analisa a relação educação e trabalho tendo em vista as mudanças
organizacionais do mundo do trabalho e que responde, essencialmente, às demandas do
sistema de produção; outra, com raízes na filosofia e na economia política de origem
marxista, trata a educação por um viés social e ético-político que remete à formação
humana (FERRETI, 2004). De maneira geral, é possível dizer que a primeira concepção
orientou a formulação e o desenvolvimento de políticas de educação profissional no
governo FHC e a segunda, o governo Lula e, posteriormente, o governo Dilma.
22
Instituído pelo Decreto nº6.302 (BRASIL, 2007), este fomento é materializado nos financiamentos às
redes estaduais como estímulo a implementação do ensino médio integrado à educação profissional.
23
A rede Brasil Profissionalizado teve 66% de execução, Rede e-Tec Brasil, 43% e Acordo com Sistema
S, 76% de execução das iniciativas previstas para o período de 2011 - 2014. (MEC / Setec, 2015).
24
“Presidenta Dilma anuncia 12 milhões de vagas no lançamento do Pronatec 2”. Disponível em
http://blog.planalto.gov.br/dilma-anuncia-12-milhoes-de-vagas-no-lancamento-do-pronatec-2/
Acesso em 18/06/15
40
25
Ver mais em Schwartzman e Moura Castro, 2013; Ciavatta e Ramos, 2011.
41
10000000
9000000
8000000
7000000
6000000
5000000
4000000
3000000
2000000
1000000
0
1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013
26
Dados recentes levantados por Klein e Marino (2015) mostram que da população total de homens de 15
a 17 anos, 14% não estudavam e não haviam completado o Ensino Médio. Entre mulheres, a proporção é
de 12%. Ainda de acordo com o estudo, a maioria desses jovens (52%) abandonou os estudos sem sequer
ter completado o Ensino Fundamental.
28
Em 2013, a taxa de desemprego de jovens entre 16 a 24 anos era de 15,3%; para todas as idades, a
porcentagem caia para 6% (IBGE, PME, 2013).
43
29
A taxa de graduação representa um percentual estimando de pessoas de uma dada coorte etária que são
esperadas se graduarem em algum momento de suas vidas. Essa estimativa é baseada no número de
graduados em 2013 e a distribuição etária desse grupo. Ver mais em OCDE, 2015 (p. 49).
44
1.7 Contexto da educação profissional de nível médio nas esferas federal, estadual,
municipal e privada.
Apesar de regulamentadas pelas mesmas instâncias burocráticas, conforme
sinaliza a LDB/9630, as categorias administrativas aqui avaliadas guardam distinções
importantes que as colocam no centro da análise entre educação e trabalho. Este item
tem como objetivo discutir o impacto da reorganização da educação profissional,
observando as particularidades das categorias administrativas. Antes, porém, veremos
como se organiza a oferta de cursos (número de matrículas) da educação profissional e
como sua principal característica é a alta concentração de matrículas em determinadas
áreas (notoriamente os da área de saúde e administração).
Em 2008 houve a publicação do primeiro Catálogo Nacional de Cursos Técnicos
(CNCT), com o objetivo de sistematizar e organizar a oferta de cursos técnicos no país.
O catálogo tem constantes atualizações e a última, de 2015, mostra que são 220 cursos
distribuídos em 13 eixos tecnológicos. Há 20 anos esse modelo de classificação era bem
diferente. Antes, a organização da educação técnica era feita por áreas profissionais, a
cargo do Ministério do Trabalho, o que indicava um princípio de organização mais
referenciado na diversidade das atividades econômicas. As matrículas no ensino médio
eram divididas em duas grandes categorias, não profissionalizantes e
profissionalizantes, sendo estas distribuídas em três grandes setores da economia: setor
primário, secundário e terciário, de acordo com a especialidade da habilitação. A
habilitação plena, que oferecia formação integral e específica, era a que qualificava o
estudante como técnico pleno de nível médio.
A nomenclatura dos cursos na área tecnológica sofreu um processo intenso de
sistematização nos últimos 18 anos. Em 1995, eram 143 cursos distribuídos de acordo
com a natureza da atividade econômica (setor primário, secundário e terciário), ao passo
que em 2013 são 220 cursos distribuídos em 13 eixos tecnológicos31. De todo modo, os
cursos com maior demanda se mantiveram praticamente os mesmos no período
analisado, conforme indica a tabela abaixo:
30
Art. 8º, § 1º: Caberá à União a coordenação da política nacional de educação, articulando os diferentes
níveis e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em relação as demais instâncias
educacionais (BRASIL, 1996).
31
Os eixos tecnológicos são: Ambiente e Saúde; Controle e Processos Industriais; Desenvolvimento
Educacional e Social; Gestão e Negócios; Informação e Comunicação; Infraestrutura; Militar; Produção
Alimentícia; Produção Cultural e Design; Produção Industrial;Recursos Naturais; Segurança; Turismo,
Hospitalidade e Lazer.
46
Tabela 02: Dez cursos com maior número de matrículas – Brasil – 1995, 2004 e
2013
1995 % 2004 % 2013 %
Administração 18,7 Enfermagem 21,1 Enfermagem 10,7
Contabilidade 15,0 Informática 10,4 Administração 9,6
Processamento de dados 9,5 Administração 6,2 Informática 9,1
Agropecuária 5,1 Eletrônica 5,2 Segurança do Trabalho 7,9
Eletrônica 4,6 Contabilidade 4,6 Mecânica 4,5
Secretariado 4,1 Mecânica 3,8 Agropecuária 3,9
Enfermagem 3,9 Segurança do trabalho 3,7 Eletrotécnica 3,8
Mecânica 3,9 Agropecuária 3,5 Edificações 3,7
Eletrotécnica 3,8 Radiologia 3,0 Contabilidade 2,8
Edificações 2,9 Eletrotécnica 2,6 Logística 2,7
TOTAL 71,5 64,0 58,6
Fonte: Censo da Educação básica - 1995, 2005, 2014 – Inep/MEC.
No que parece ser uma tendência geral, confirmada com a maior diversificação
do ensino superior (BARBOSA e ZUCCARELLI, 2014), nota-se um movimento nos
últimos anos de desconcentração do número de matrículas nos 10 cursos mais
procurados. Ainda assim, enfermagem, administração e informática formam a tríade dos
cursos técnicos, somando quase trinta por cento das matrículas em 2013. Esses cursos
são uma espécie de carro-chefe de suas instituições: a rede privada é a principal
ofertante de cursos de enfermagem; a rede federal, de informática; e a rede estadual,
administração.
A questão da diversificação institucional tem sido tema de diversos estudos32
que tratam da democratização das oportunidades educacionais, notoriamente no ensino
superior. Esses estudos mostram que, apesar do aumento no número de matrículas, o
acesso é estratificado por grupo social e que nem sempre a expansão das oportunidades
educacionais é garantia de diminuição das desigualdades. Algo parecido acontece na
educação profissional de nível médio. Apesar do significativo crescimento do número
de matrículas nesse segmento, notadamente na rede federal, principal ofertante de vagas
na modalidade integrada, conforme indica o gráfico abaixo, segue havendo problemas
na progressão escolar para um grupo social que continua excluído do ensino médio.
32
Brunello e Garibaldi, 2007; Prates, 2007; Barbosa, 2010; Barbosa e Prates, 2015.
47
1.600.000
1.400.000
1.200.000
1.000.000
800.000
600.000
400.000
200.000
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
não será o foco da pesquisa aqui desenvolvida, que se volta para as redes privada,
principal ofertante de vagas (48%), estadual (34%) e federal (16%) (Inep, 2014).
Respondendo às políticas de incentivo à educação profissional, a rede federal e
estadual foram as que tiveram maior crescimento. Programas como o Brasil
Profissionalizado33, criado em 2007 pelo governo federal e hoje abrigado no Pronatec,
foram importantes para a expansão da rede. Abrindo outra frente, uma das iniciativas
previstas no Pronatec foi o acordo de gratuidade com o Sistema S, que prevê que 60%
da receita total vinda de impostos destinados ao Sistema seja usada para subsidiar novas
vagas gratuitas e estimular a expansão. Sem dúvida o acordo foi importante na
manutenção da rede privada como principal ofertante de cursos técnicos, protagonismo
que vem desde o início do século passado, quando a rede já era responsável por cerca de
50% das matrículas realizadas na educação profissional (Gráfico 01). Apenas no ensino
superior a rede privada tem tamanho protagonismo na oferta de vagas.
Não apenas pelo volume da oferta, mas também pela característica de maior
adequação as demandas do setor produtivo, a hipótese que vem sendo desenhada é de
que as escolas do setor privado inserem com mais eficácia seus formados no mercado de
trabalho do que as outras categorias administrativas aqui analisadas. Por outro lado, as
escolas federais, entre outros, pela valorização na formação geral e humanística, acabam
se tornando ponte de acesso ao ensino superior.
De maneira geral, pouco mais da metade das matrículas é feita em cursos na
modalidade subsequente (55%), as demais são feitas nas modalidades articuladas,
integrado (23,5%) e concomitante (21,5%). No entanto, uma das principais evidências
da diferença entre as categorias administrativas na maneira de ofertar a educação
profissional é justamente a forma como distribuem os cursos por modalidade de ensino,
o que diz muito sobre o sentido dado à formação profissional nessas instituições. Dessa
maneira, as escolas da rede privada são as principais ofertantes de cursos na modalidade
subsequente, ao passo que, priorizando a expansão de maneira integrada ao ensino
básico, a rede federal oferece majoritariamente cursos na modalidade integrada. O
gráfico abaixo apresenta a gradação do percentual de matrículas por modalidade de
ensino, tendo em vista as categorias administrativas.
33
O programa foi criado em 2007 para fortalecer as redes estaduais através de repasses de recursos para
financiamento de obras de infraestrutura, desenvolvimento de práticas pedagógicas e de gestão, formação
de professores, entre outros,
49
35%
47% 50%
67%
13%
SUBSEQUENTE
15% 15% CONCOMITANTE
INTEGRADO
52%
37% 36% 29%
4%
FEDERAL ESTADUAL MUNICIPAL PRIVADA
Gráfico 07: Percentual da faixa etária dos alunos da educação profissional, por
modalidade de ensino – Brasil, 2013
stricto sensu34, o que faz com que três em cada quatro professores desses institutos
tenham algum tipo de pós-graduação. De maneira oposta, na rede privada, apenas um
em cada três professores possui diploma de pós-graduação.
34
Um professor 40 horas do Ifet, dedicação exclusiva, com doutorado, ganhava em 2013 R$8.639,50 de
salário inicial, mais do que o dobro do salário do professor que entra na instituição apenas com a
graduação (R$4.014).
52
35
Tracking se refere ao agrupamento distinto de estudantes teoricamente seguindo padrões de
desempenho e qualificações.
55
Além disso, o padrão de inclusão escolar dos que migraram do campo para a
cidade foi muito lento, ainda que tenha havido mobilidade educacional de uma geração
para outra, especialmente porque partiu de patamares muito baixos de escolaridade
geral. Apenas a partir de 1980 que acontece o rompimento da barreira de quatro anos de
escolaridade para a maioria dos trabalhadores urbanos.
É também a partir da década de 1980 que há uma interrupção no padrão de
crescimento com a perda de centralidade da indústria, especialmente nos anos 1990.
Cardoso (2008) afirma que essa perda não foi decorrente apenas de um crescimento no
setor de serviços, mas se deu principalmente por conta da desindustrialização que
seguiu à abertura comercial associada ao câmbio valorizado.
No final do século XX, como resposta à crise estrutural do capitalismo, diversas
mudanças aconteceram no processo de produção do capital com fortes repercussões
para o mundo do trabalho. Há muito tempo a sociologia do trabalho vem discutindo a
chamada reestruturação produtiva a partir dos conceitos como flexibilização e
precarização. Nessas análises, de acordo com Ramalho (2000), há certo consenso no se
refere aos aspectos fundamentais do sistema produtivo taylorista / fordista, identificado
pelas suas características de produção em massa, estreita especialização de postos de
trabalho e competências e gestão piramidal, que foram sendo substituídos por um
60
Fonte: CBO/MTE
* No GG 7 foram agrupados os trabalhadores de sistemas de produção que tendem a ser discretos e que
lidam mais com a forma do produto do que com o seu conteúdo físico-químico. Embora haja tendência
para que sistemas discretos se tornem contínuos, existem diferenças marcantes do ponto de vista das
competências, entre dar forma em uma peça e controlar as variáveis físico-químicas de um processo. No
GG 8 agruparam-se os trabalhadores de sistemas de produção que são ou tendem a ser contínuos
(química, siderurgia, dentre outros).
O uso das competências como classificação vai de encontro aos novos conceitos
de produção que tendem a valorizar a capacidade de flexibilidade e de transposição do
conhecimento para exercício de atividades complexas, a despeito do nível de
escolaridade. É por isso que nessa edição da CBO o nível de competência é pontuado
mais fortemente pela complexidade das atividades exercidas do que pelo nível de
escolaridade.
No novo modo de organizar a produção, a educação profissional se apresenta
como elemento importante na formação de trabalhadores para atuarem na área técnica,
somando às destrezas manuais costumeiramente associadas à educação profissional
novas competências relacionadas à criatividade, trabalho em equipe e inovação. No
entanto, num país que valoriza sobremaneira o diploma acadêmico, a combinação do
bacharelismo36 com outros traços da sociedade brasileira - como o patrimonialismo e o
conservadorismo – pode comprometer a democratização das oportunidades
educacionais e a implementação de modelos mais modernos e avançados de educação,
com sérias conseqüências para a produção de ciência e tecnologia no país (Barbosa,
2010).
36
O bacharelismo é a valorização da titulação acadêmica que desqualifica a experiência prática e tem suas
origens no colonizador português. É elemento propulsor na valorização das credenciais acadêmicas
enquanto busca por distinção social, o que pode ter sérios impactos na democratização das oportunidades
educacionais. Schwartzman (2011) chamou de viés acadêmico a predileção pelo diploma humanístico,
acadêmico, com impactos significativos na maneira de organizar o sistema educacional.
65
de postos de trabalho para todos os grandes grupos de trabalhadores, mas em alguns ele
foi mais significativo. De maneira geral, o crescimento foi da ordem de cinquenta e oito
por cento no período analisado.
Gráfico 09: Número de postos de trabalho formal, Grande Grupo CBO – Brasil,
2004 e 2013.
12.000.000
10.000.000
8.000.000
6.000.000
4.000.000
2.000.000
0
GG1 GG2 GG3 GG4 GG5 GG6 GG7 GG8 GG9
2004 2013
Fonte: RAIS/TEM
Elaboração da autora
médio quanto para diplomados com ensino superior. O crescimento, entretanto, não
acontece da mesma maneira para todos os grupos de ocupação. O que tem acontecido,
como mostram os gráficos abaixo, é que são as ocupações que exigem menor nível de
competência que têm a maior expansão entre os diplomados. O eixo vertical do gráfico
apresenta os resultados da razão entre o número absoluto de ocupados, em 2004 e 2013,
e o eixo horizontal traz a divisão entre quantidade de diplomados para os mesmo anos.
Tem-se assim, de um lado, quantas vezes cresce o número de postos de trabalho nos
grandes grupos (eixo vertical) e, de outro, o crescimento do número de trabalhadores
com diploma, tanto no ensino médio quanto no ensino superior (eixo horizontal). Como
o crescimento da escolaridade é consideravelmente maior do que o número de postos de
trabalho, a escala do eixo horizontal varia de 0 a 6 enquanto o eixo vertical varia de 1 a
2.
Fonte: RAIS/MTE
Elaboração da autora
escolaridade, o grande grupo dos trabalhadores agropecuários (GG6) foi o que teve
maior aumento no número de ocupados com diploma de ensino médio (5,4 vezes
maior), apesar do baixo crescimento no número de postos de trabalho. O grande grupo
dos técnicos (GG3) apresenta o segundo menor crescimento de trabalhadores com
diploma de ensino médio, o que é razoável uma vez que estes trabalhadores já partem,
pressupõe-se, do nível de escolaridade médio. Veremos no gráfico abaixo como é maior
o crescimento do número de trabalhadores técnicos com diploma de ensino superior.
Seria importante analisar em que medida o aumento do número de trabalhadores
com diploma de nível médio indica a volta aos estudos dos trabalhadores ou acontece
devido a substituição da mão de obra por trabalhadores mais escolarizados. Como a taxa
de desemprego diminui no período37, a primeira opção parece a mais razoável.
O cenário é bem parecido para o número de trabalhadores com diploma de
ensino superior, que cresce mais rapidamente do que o número de postos de trabalho
formal, conforme mostra o gráfico abaixo.
37
A taxa de desemprego cai de 12,9% em 2002 para 5% em 2014 (IBGE/PME, 204).
68
período, apesar de menores exigências educacionais. De modo geral, o que esses dados
mostram é que o número de diplomados com ensino médio e superior cresce em todas
as ocupações, mas foi naquelas que formalmente requerem níveis de competência
menores que houve maior crescimento.
O aumento do número de trabalhadores com ensino médio e superior não reflete
necessariamente as demandas do mercado de trabalho, mas pode representar estratégias
muito variadas de inserção e progressão profissionais. Como vem sendo argumentado
ao longo desse trabalho, além do encontro entre qualificações e ocupações não ser
automático, os sistemas educacionais e produtivos apresentam dinâmicas que, muitas
vezes mescladas, obedecem a diferentes lógicas e temporalidades. Assim, a busca por
mais escolarização em grupos que perderam espaço em termos absolutos na estrutura
ocupacional pode ser associada a necessidade de se manter em carreiras que encolheram
ou a estratégias de mobilidade sócio-ocupacional, por exemplo. De todo modo, o
clássico modelo estudar para trabalhar não parece ser pertinente para explicar o padrão
de transição e inserção no mercado de trabalho brasileiro. A escolaridade média do
trabalhador ainda é muito baixa38, mas com a expansão dos sistemas educacionais, a
maior permanência da população na escola e o impulso dado à educação profissional
dos últimos anos, é provável que a população em idade ativa apresente um nível de
escolaridade cada vez maior.
Para além de treinamento e qualificação para o mercado de trabalho, o fenômeno
da ampla escolarização dos últimos 150 anos tornou a escola uma robusta instituição
primária que molda a sociedade, mais do que uma instituição passiva que reage às
demandas sociais. Esse é o argumento utilizado por Baker (2014) para mostrar como a
revolução educacional transformou a cultura global e fez da escola uma instituição
social independente que molda significativamente parte de outras instituições centrais.
Para o autor, comparada com outras forças sociais, os efeitos da revolução educacional
têm recebido pouca atenção intelectual, esta mais focada em temas como produção
industrial, tecnologia, capitalismo, surgimento do estado-nação, cultura do
38
Nonato et al (2012) mostram que no início da década de 1980 12,7% da PIA estava entre os níveis
médio e superior de escolaridade, número que sobe pra 40,4% no final da década de 2000. Ainda assim,
parcela significativa da PIA possui até 8 anos de estudo, o equivalente a ter ensino fundamental
incompleto ou completo, o que sinaliza que o sistema educacional brasileiro ainda tem potencial pra
mudar a composição da força de trabalho no país.
70
80,0
70,0
60,0
50,0 48,8%
40,0
30,0
20,0
10,0 18,5% 8,7%
13,5% 3,3%
4,5%
0,0 1,1%
Até 1 SM 1,01 a 2,00 2,01 a 3,00 3,01 a 5,00 5,01 a 10,00 10,01 a Mais de 20
20,00 SM
GGs GG2 GG3 GG5
Fonte: RAIS/MTE
Elaboração da autora
39
Apesar da recomendação da LDB/96 pela formação dos professores em nível superior, o curso de nível
médio conhecido como Normal, que tem em sua concepção a dimensão profissionalizante, forma
docentes para o exercício do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino
fundamental.
75
40
Cerca de 40% das vagas foram preenchidas por pessoas registradas no Cadastro Único (Brasil,
Ministério do Desenvolvimento Social, 2013).
76
41
Grupo de status: unidade básica da sociedade, grupo que, em geral, congrega aqueles que dividem
estilos de linguagem, gosto, maneiras, interesses, opiniões e valores. A participação em tais grupos
culturais dá ao indivíduo um senso de identidade, especialmente se em contraste com membros de outros
grupos (Collins, 1971, p. 1009). De acordo com Weber, grupos de status normalmente se expressam pelo
fato de, acima de tudo, poder esperar-se um estilo de vida específico por parte de todos os que desejam
pertencer ao círculo. Ligadas a essa perspectiva existem restrições de relacionamento social que resultam
no chamado “fechamento social”. (Weber, 1976)
78
O estudo da relação entre educação e trabalho tem gerado amplo interesse e tem
sido ponto de encontro dentro da sociologia desde os estudos da sociologia da educação,
do trabalho e juventude, até outras disciplinas, como a economia e a matemática. Pode-
se dizer que as principais teorias que surgiram para explicar a relação entre sistema
educativo e sistema produtivo, de maneira geral, se desenrolam em torno de dois
modelos teórico-explicativos antagônicos, o modelo meritocrático e o credencialista
(BILLS, 2004).
Do ponto de vista meritocrático, a associação entre educação e trabalho é
sustentada pela racionalidade, pela produtividade social e por vantagens pessoais, tendo
em vista a divisão técnica do trabalho. A meritocracia pode ser interpretada como um
conjunto de valores que rejeita toda e qualquer forma de privilégio hereditário, que
valoriza e avalia as pessoas independentemente de suas trajetórias e biografias sociais,
sem atribuir importância a variáveis sociais como origem, posição social e econômica.
Nesse modelo, supõe-se uma associação positiva entre o que é ensinado na escola e
aquilo que se necessita ou se utiliza na vida econômica, no mercado de trabalho, nas
empresas. O credencialismo, por outro lado, percebe a relação entre a esfera educativa e
o mundo do trabalho como um mecanismo de reprodução das desigualdades sociais, dos
conflitos e interesses econômicos e culturais dominantes. Os diplomas e certificados
escolares não seriam valorizados pelo seu conteúdo ou pelos conhecimentos que
deveriam reconhecer, mas sim por seu valor social. Numa abordagem essencialmente
credencialista, a associação entre educação e sucesso econômico não repousaria no
mérito, mas num processo de fechamento social (WEBER, 1976) pelo qual as
credenciais educacionais são erroneamente reconhecidas como mérito. Nessa
abordagem mais radical, os títulos escolares ou credenciais acadêmicas seriam apenas
marcas sociais, sem qualquer ligação entre o que a escola ensina e aquilo que se faz no
mundo do trabalho. A escola aparece como um mecanismo de legitimação da herança
social, sem qualquer papel importante na transmissão de conhecimentos ou na
preparação técnica para o trabalho.
Em nenhum lugar do mundo existe um modelo puro de meritocracia ou de
credencialismo, assim como não há modelos puros de democracia, de autoritarismo,
capitalismo ou qualquer outro arranjo social. É por isso que as noções de meritocracia e
80
credencialismo são apresentadas aqui como tipos ideais e não como descrições
empíricas. Elas ajudam a compreender de que maneira as relações sociais no mundo do
trabalho (i.e., autoridade, hierarquia e divisão do trabalho) influenciam aquelas do
mundo escolar (currículo, projeto pedagógico e avaliações) e vice-versa.
Sob essa perspectiva, a proposta do capítulo é analisar algumas das principais
teorias surgidas no século XX de maneira a situá-las à luz desses dois guarda-chuvas
teórico-explicativos. Na discussão do modelo meritocrático é feito um resumo das
principais características das teorias funcionalistas e do capital humano, enquanto na
discussão do modelo credencialista apresenta-se as teorias do rótulo, da reprodução e do
conflito. Feito isso, desloca-se a discussão para o contexto brasileiro de modo a analisar
em que medida o país se aproxima de um ou outro modelo explicativo e qual das teorias
elencadas se enquadra melhor no esforço analítico de averiguar a relação entre sistema
educacional e sistema produtivo.
Tudo isso parece bem simples e direto, mas diversos problemas aparecem
quando se examina o modelo meritocrático mais de perto. O principal deles é que o
conceito de meritocracia corre o risco de ser tautológico justamente pela ideia de que se
recompensa aqueles que são mais capacitados e os que são mais capacitados são melhor
recompensados. A ideia de meritocracia se assenta em alguns conceitos sociológicos
fundamentais. Muitos têm lugar na tradição funcionalista, outros na corrente do capital
humano. Apesar de tomar diferentes formas, compartilham a noção de que para
entender as instituições sociais é necessário olhar para a função que elas exercem na
sociedade.
3.1.1 Funcionalismo.
Os fundamentos do modelo meritocrático se encontram na corrente funcionalista
que predominou na sociologia norte-americana no pós-guerra com autores como
Parsons (1967) e Dreeben (1967) entre seus principais representantes. Em síntese, a
principal contribuição dessa corrente de pensamento mostra que para compreender as
instituições, como a escola, é necessário compreender sua função na sociedade. No caso
da educação, uma de suas principais funções seria a de preparar e selecionar os mais
capazes para desempenhar determinadas tarefas importantes para o funcionamento da
sociedade. Por conseqüência, a sociedade recompensaria, em termos de status e
prestígio, os mais capazes e bem preparados. Um dos principais traços dessa teoria é a
suposição de que a divisão técnica do trabalho seria elemento definidor da capacidade
de agência da estrutura ocupacional. A formação profissional e a constituição dos papéis
sociais são vistas como decorrência da modernização da sociedade, assim como o
desenvolvimento da divisão do trabalho é visto como base da organização e
identificação dos grupos sociais.
Durkheim (1968) teve grande influência no trabalho dos funcionalistas,
notoriamente por conta de sua preocupação com a ordem, o consenso, a integração e a
coesão social. Para o autor, a educação é o instrumento integrador essencial à ordem
social e tem a função de instituir a consciência comum, ser essencialmente moralizadora
e formar cidadãos para a sociedade. A educação constitui uma ação desenvolvida entre
gerações por meio da qual se busca transmitir aos mais jovens um conjunto de estados
físicos, intelectuais e morais exigidos por determinada sociedade, em função da sua
organização econômica, política e religiosa. Nesse sentido, de acordo com Durkheim, a
82
42
Aritmética política, como o Relatório Plowden no Reino Unido; Relatório Coleman, realizado no
contexto norte-americano; e a demografia escolar, realizada nos estudos do Instituto Nacional de Estudos
Educacionais (Ined), na França
43
O Confucionismo ao qual se refere o autor é o resultado da burocracia patrimonial que se desenvolveu
na China, na qual mais do que o desenvolvimento de uma ciência ou de técnicas racionais, priorizava-se o
pensamento de Confucio enquanto base de formação de uma moral plutocrática-chinesa (WEBER, 1987).
85
(não entre indivíduos, como na teoria do capital humano, por exemplo) como causa
primária da estratificação educacional e do mercado de trabalho. As disputas e o
monopólio dos resultados ocupacionais são diretamente relacionados com acumulação
de capital e exclusão social, mais do que com o domínio meritocrático de habilidades e
competências. As evidências apontadas pelo autor são fundamentadas na perspectiva da
teoria do conflito, como veremos mais adiante.
Seu trabalho influenciou uma geração de estudos, como os desenvolvidos pelo
sociólogo americano David Brown (2001), que sumariza assim as principais
proposições do credencialismo: i. o conteúdo e a importância ocupacional das
credenciais são mais culturais e excludentes do que técnicos e eficazes, o que significa
que os limites e possibilidades postos pelo diploma são mais importantes do que
conhecimento técnico; ii. a formalização das credenciais é uma abstração feita a partir
do conhecimento substantivo dos portadores de diplomas de modo a delimitar quais
autoridades podem questionar a competência dos diplomados; iii. credenciais são
monopolizadas por grupos de status ocupacionais de maneira excludente, impondo
barreiras culturais no acesso a determinadas posições; iv. historicamente, a inflação
credencial no topo das hierarquias impulsiona a expansão educacional.
Nesse sentido, é importante destacar o papel do Estado enquanto produtor da
expansão das credenciais. Muita das vezes, no que seria uma política de “bem estar
educacional” para assegurar a estabilidade econômica e política do país, o Estado
proporciona mais subsídios educacionais na tentativa de expandir as oportunidades para
níveis mais altos de educação. Veremos como esse processo, permeado por competição
entre diferentes grupos de status, pode ser determinante no formato adquirido pelo
sistema de ensino e na possibilidade de ampliação das oportunidades educacionais.
educação serviria aos empregadores para localizar os indivíduos com mais aptidão para
ser formado na empresa uma vez que se assume que os indivíduos mais educados, no
sentido geral do termo, são mais hábeis e disciplinados.
Ao contrário do modelo de competência segundo capacidades individuais, no
qual o equilíbrio se produz mediante o ajuste da oferta e demanda de qualificações, o
modelo de competências segundo os postos de trabalho de Thurow (1975) contempla a
possibilidade de que exista um desajuste entre o nível de qualificação dos indivíduos e
os requerimentos dos postos de trabalho. Assim, um ponto importante do modelo do
autor (1975) diz respeito ao fato que a produtividade residiria no emprego e não no
trabalhador e é justamente porque o indivíduo é formado no seio da empresa de maneira
a corresponder ao próprio nível de produtividade que o processo de alocação no
emprego possui uma importância maior que no quadro das teorias padrões de
concorrência por salários. A distribuição dos salários seria determinada pela distribuição
dos empregos e não pela estrutura dos trabalhadores que compõe a fila de espera. Em
caso de falta de mão de obra, os empregadores buscariam na fila e contratariam os
indivíduos arcando com custos de formação mais elevados. Em caso de excedente, as
condições de contratação se endurecem e as chances de emprego diminuem na medida
em que se percorre a fila. Esse modelo é importante, pois permite compreender como a
formação de nível superior pôde manter sua vantagem.
44
Cada grupo social, em função das condições objetivas que caracterizam sua posição na estrutura social,
constituiria um sistema específico de disposições para a ação, que seria transmitido aos indivíduos na
forma do habitus (BOURDIEU, 2007).
89
45
Grupo de status: unidade básica da sociedade, grupo que, em geral, congrega aqueles que partilham os
mesmos estilos de linguagem, gosto, maneiras, interesses, opiniões e valores. A participação em tais
grupos culturais dá ao indivíduo um senso de identidade, especialmente se em contraste com membros de
outros grupos (COLLINS, 1971, p. 1009). De acordo com Weber, grupos de status normalmente se
expressam pelo fato de, acima de tudo, poder esperar-se um estilo de vida específico por parte de todos os
que desejam pertencer ao círculo. Ligadas a essa perspectiva existem restrições de relacionamento social
que resultam no chamado “fechamento social”. (WEBER, 1982)
90
Com esse panorama traçado, o próximo item discute de que maneira o caráter
bacharelesco da sociedade brasileira impacta no formato do sistema de ensino, na sua
diversificação e na possibilidade de aumentar as oportunidades educacionais. Além
disso, ao comparar os dados da educação profissional com os do mercado de trabalho,
debate em que medida a sociedade brasileira se aproxima mais de um modelo
meritocrático ou credencialista de relação entre educação e trabalho.
46
O termo tem sido usado costumeiramente para se referir a um sistema de arte que prevaleceu no Brasil
do início do século XIX até o início do século XX, baseado nos princípios das academias de arte
européias, que exerceu forte influência no movimento barroco, neoclássico e romântico.
95
vice-versa. A principal razão, de acordo com Bills (2004), com algumas exceções, é que
ainda não foram produzidas pesquisas suficientes para explicitar, testar e comparar as
premissas mais básicas desses modelos. São diversas pesquisas retratando como
credenciais, emprego, renda, entre outros, são relacionados e como essa associação
mudou ao longo do tempo, mas sabe-se muito pouco sobre os mecanismos que
produzem essa relação. Mostrar simplesmente uma associação histórica forte entre
educação e status ocupacional não descortina esses mecanismos. Se a resposta definitiva
pode não estar próxima, ainda é possível examinar a situação na qual as evidências
empíricas apontam para uma direção ou outra.
No Brasil, há diversos estudos sobre estratificação47 que mostram que o padrão
de desigualdades de oportunidades educacionais permaneceu inalterado ao longo do
tempo. Apesar da expansão do sistema de ensino, pessoas de camadas mais
privilegiadas socioeconomicamente permanecem com as mesmas vantagens de
progressão no sistema. Consolidou-se a concepção de que a desigualdade baseada na
origem de classe dos indivíduos é persistente ao longo do tempo. Além disso, Valle
Silva (2003) mostra que as desigualdades de raça colocam pretos e pardos em posição
de desvantagem, chamando atenção para o fato de que as desigualdades não podem ser
explicadas apenas por um único fator. As próprias características dos sistemas
educacionais podem influenciar as oportunidades educacionais. Mais recentemente, em
estudo sobre estratificação educacional, Ribeiro et al. (2015) mostraram que as barreiras
à entrada no sistema educacional e, principalmente, a conclusão do ensino básico, tão
proeminentes no fim do século passado, são gradualmente substituídas por obstáculos
que se interpõem à progressão educacional rumo à conclusão do ensino médio e à
entrada na universidade, notadamente a partir da década de 1990. Nesse sentido, a
história recente das oportunidades educacionais no Brasil indica ganhos de
acessibilidade nos níveis básicos. O mesmo não pode ser dito para os níveis de
escolarização mais altos. Com isso, os autores mostram que existe um padrão misto e
não de desigualdades persistentes no Brasil. Se antes os efeitos da escolaridade da mãe,
da renda per capita familiar e das características sociais do ambiente familiar tinham
forte impacto no início da trajetória educacional dos jovens, nos últimos 50 anos esses
efeitos foram se deslocando em direção a pontos mais avançados da progressão do
sistema. Uma das explicações possíveis está na hipótese da desigualdade maximamente
47
Ver mais em Hasenbalg e Valle-Silva, 2003; Fernandes, 2004; Ribeiro, 2011.
96
mantida (HOUT et al, 1993; RIBEIRO el al, 2015), na qual a superação do padrão de
desigualdades tenderia a acontecer em contextos nos quais as taxas de transição de
determinados segmentos atinjam padrões de saturação, como já acontece no ensino
fundamental no país, especialmente no primeiro segmento.
Vimos no capítulo 1 que a alta concentração de matrículas em determinados
cursos é uma das principais características do formato da educação profissional de nível
médio no Brasil e a realidade para a estrutura do mercado de trabalho não parece ser
muito diferente. A concentração em determinados nichos ocupacionais também é uma
característica da estrutura ocupacional medida aqui pela Relação Anual de Informações
Sociais - RAIS.
Para fazer o cruzamento de dados entre a base de cursos técnicos, elaborada pelo
MEC, e a base de postos de trabalho, elaborada pelo MTE, foi necessário fazer uma
equiparação entre os cursos previstos no Catálogo Nacional de Cursos Técnicos e a
CBO onde se constatou que diversos cursos técnicos listados pelo MEC não possuem
equiparação com a CBO: de 194 cursos oferecidos em 2013, 85 não possuíam
equivalência com a lista elaborada pelo MTE. Em geral, são cursos menos expressivos
na grade de oferta das escolas técnicas, não chegam a 9% das matrículas do ano. O
desencaixe entre as duas listas não deixa de ser um indício de que a separação entre
MEC e MTE, construída ao longo dos últimos anos e cristalizada na Lei 11.741
(16/07/2008), pode não ter sido um bom exercício burocrático. A lei desloca
integralmente para o MEC os objetivos e definições das diretrizes curriculares nacionais
dos cursos técnicos, independente das consultas e negociações feitas anteriormente pelo
MTE. Nesse sentido, a reinserção da EPT na área de atuação do MEC tem
consequências importantes sobre o tipo de concepção que prevalece nas escolas do setor
público. De acordo com Barbosa (2010)
para o trabalhador, para fins de análise parte-se do pressuposto que a oferta de cursos
técnicos pressupõe uma inserção futura no mercado de trabalho na área de formação.
A tabela mostra que a maior parte dos técnicos se concentra na área de ensino,
da saúde e das ciências administrativas e que grande parte das matrículas nos cursos
técnicos é feita nessas áreas, com exceção das matrículas no Curso Normal48. No
entanto, há um grande número de profissionais atuando nas áreas técnicas em operações
comerciais e industriais, não obstante o baixo número de cursos ofertados na área. Por
outro lado, há uma oferta maior de cursos na área de informática do que o estoque
desses profissionais observado na RAIS, num indicativo de certo descompasso entre a
oferta de cursos e o número de trabalhadores empregados na área de informática do
48
O baixo número de matrículas no Curso Normal, apesar da grande quantidade de profissionais atuando
na educação infantil, mostra que as diretrizes nacionais de formação de professores no ensino superior
andam tendo efeito. De fato, em 1996 havia no Brasil 851.570 alunos matriculados no Curso Normal, o
que corresponde a 15% do total de matrículas no ensino médio no período. Esse mesmo ano está marcado
pela publicação da LDB, que acabou dando impulso ao processo de esvaziamento do curso. Em 2013,
caiu para 164.752 o número de matrículas no Curso Normal, uma redução de 80 % num período de 15
anos (ZUCCARELLI, 2015).
98
mercado formal. Isso acontece possivelmente por conta do alto número de trabalhadores
autônomos da área de informática. Os dados mostram como anda a distribuição das
ocupações técnicas no mercado formal, mesmo que representando uma parte do
mercado de trabalho, ajudam a ilustrar a organização do sistema produtivo no país.
De todo modo, é importante sinalizar que o encontro entre qualificação e
ocupação não é automático, sobretudo porque, conforme visto, a dinâmica do mercado
de trabalho e do sistema educacional obedece a lógicas diferentes. As demandas do
mercado de trabalho refletem o estado atual do sistema produtivo ao passo que o
sistema educativo se caracteriza por resultados de políticas projetadas em longo prazo, o
que significa dizer que o Estado tem papel central no processo de expansão e
diversificação do sistema de ensino. Esse processo, permeado por competição entre
diferentes grupos de status, pode ser determinante no movimento de expansão e
diversificação do sistema de educação profissional, especialmente num cenário que
privilegia a educação de caráter acadêmico.
A relação descontinuada entre oferta de cursos técnicos e estoque de emprego
formal inclina o Brasil para um modelo mais fortemente credencialista e, conforme será
debatido mais a frente, ornado com aspectos academicistas, pouco prático na
transmissão de conhecimentos ou na preparação técnica para o trabalho e com baixas
taxas de transição para o ensino superior.
Em que medida a reorganização da educação profissional tem impacto na
democratização das oportunidades educacionais e na inserção dos técnicos no mercado
de trabalho é o que será visto no próximo capítulo. A hipótese aqui é de que as
instituições que oferecem cursos na modalidade integrada, notoriamente as da rede
pública, ao se aproximarem de um modelo acadêmico, estariam preparando seus alunos
para ingresso no ensino superior ao passo que escolas administradas pelo setor privado,
que apostam numa formação de caráter mais prático e oferecem majoritariamente cursos
na modalidade subsequente, preparariam seus alunos para o mercado de trabalho. As
categorias administrativas (federal, estadual, municipal e privada) e as modalidades de
ensino (integrado, concomitante e subsequente) são fundamentais para compreender o
perfil do aluno e o sentido dado à educação profissional pelas diferentes categorias
administrativas. O próximo capítulo trata das motivações, expectativas e práticas dos
alunos que cursam a educação profissional de nível técnico. Numa sociedade que
privilegia um tipo de educação de caráter acadêmico, o que significa a busca por
99
qualificação técnica entre jovens que cursam o ensino médio articulado (integrado ou
concomitante)?
100
49
De acordo com Hall e Taylor (1994), “Segundo esse ponto de vista, os indivíduos levados pela sua
socialização a desempenhar papéis específicos internalizam as normas associadas a esses papéis, sendo
esse o modo pelo qual se concebe a influência das instituições sobre o comportamento" (p. 209).
101
50
A CSN foi fundada em 9 de abril de 1941 e iniciou suas operações em 1º de outubro de 1946, em Volta
Redonda (RJ), como uma empresa estatal.Em 1993, tornou-se um grupo privado. Hoje, a empresa
desenvolve e oferece produtos para a indústria automobilística, fabricantes de eletrodomésticos, setor de
embalagens e construção civil, além de ser uma das maiores exportadoras de minério de ferro do
continente. A principal planta siderúrgica da Companhia, a Usina Presidente Vargas, está em Volta
Redonda.
51
Além da CSN, a Fábrica Nacional de Motores, a Companhia Vale do Rio Doce e a Companhia Nacional
de Alcális representavam as primeiras incursões do Estado no que diz respeito à produção (MOREL,
1989).
103
A escola segue de tal forma central para os trabalhadores da região que em uma
das últimas negociações com a empresa, em março de 2015, o Sindicato dos
52
A Escola Formação inicia sua história como Escola Profissional da Companhia Siderúrgica Nacional.
Surge da necessidade de mão-de-obra qualificada e técnica, ministrando, inicialmente, cursos em um
barracão improvisado no interior da usina, sendo transferida em 1947 para o prédio definitivo. A partir de
1990 passa a ser mantida por fundação sem fins lucrativos instituída pela CSN.
105
53
http://www.sindmetalsf.org.br/sind_noticias_detalhe_imprimir.asp?id=683 Acesso em 16/03/2016
106
técnicos, assim como os que possuem melhores perspectivas com relação à dinâmica do
mercado de trabalho na região.
54
O projeto “O papel da formação profissional na inserção dos técnicos no mercado de trabalho”
(Programa Jovens Talentos,/FAPERJ) é coordenado pelo prof. D. Sc. David da Costa Aguiar de Souza.
Teve início em julho de 2015 e previsão de término em dezembro de 2016. Contou com a colaboração de
quatro bolsistas de iniciação científica júnior, estudantes do curso de automação industrial do IFRJ / Volta
Redonda.
107
Tabela 07: Em que tipo de escola você cursou o ensino fundamental (1° ao 9° ano)?
Somente em Somente em
escola escola Maior parte em Maior parte em
ENS_FUNDAMENTAL pública particular escola pública escola particular Total
Escola Formação 43,0 43,0 7,6 6,3 100%
Escola Mercado 52,9 22,1 17,3 7,7 100%
Escola Acadêmica 47,1 47,1 5,9 0,0 100%
TOTAL 48,5 32,5 12,5 6,5 100%
Fonte: Pesquisa “O papel da formação profissional na inserção dos técnicos no mercado de trabalho” (FAPERJ, 2015)
55
Para o autor, capital cultural são os recursos adquiridos, através da família, que conferem determinadas
atitudes, gostos e habilidades relacionadas ao maior desenvolvimento e aproveitamento de competências
escolares.
109
56
Além das dezesseis escolas técnicas, Volta Redonda possui 38 escolas de ensino médio regular. No
Estado do Rio de Janeiro, apenas Macaé tem uma relação maior de instituições profissionais, são 27
escolas regulares e 14 de ensino profissional (Inep/MEC, 2014). O município tem população de 257.083
habitantes (IBGE, 2010), sendo considerada uma cidade – média.
110
que a proporção é maior do que a média nacional. Dados tabulados pelo Observatório
do PNE mostram que, no Brasil, 61,5% dos jovens do 3° ano do ensino médio
realizaram o ENEM (MEC/Inep/DEED, 2012)57.
No que diz respeito à qualidade da formação, os alunos das escolas privadas são
unânimes em afirmar que o curso prepara bem para os exames de acesso ao ensino
superior, especialmente em algumas áreas, ao passo que metade dos alunos da Escola
Acadêmica afirma não receber boa preparação para acesso ao ensino superior.
Desdobrando a pergunta é possível perceber que os alunos consideram de melhor
qualidade os conhecimentos teóricos aprendidos no curso do que os conhecimentos
práticos. Tem-se assim que três em cada quatro alunos do ensino técnico avaliam como
ótimo os conhecimentos teóricos aprendidos na formação, enquanto metade avalia da
mesma maneira os conhecimentos práticos. Questionados sobre a inserção de
disciplinas como sociologia e filosofia no currículo, 64% responderam considerar
regular ou ruim.
Quanto à qualidade da formação para inserção no mercado de trabalho, com
exceção dos alunos da Escola Acadêmica, a avaliação é de que as escolas técnicas
oferecem boa formação para o mercado de trabalho. Apesar disso, a maioria não
trabalha, o que, conforme veremos, para muitos não é uma questão de falta de
oportunidades.
Tabela 08: Você considera que seu curso prepara bem para o mercado de trabalho
na área técnica?
O que temos visto até agora é que o ensino profissional, apesar de julgado de
qualidade para inserção no mercado de trabalho, se mostra como ponte de acesso ao
ensino superior, reforçando a falta da noção de terminalidade do ensino médio técnico.
Isso não acontece apenas por parte dos alunos, mas as exigências postas pela lei fazem
57
http://www.observatoriodopne.org.br/metas-pne/3-ensino-medio/estrategias/3-6-universalizacao-do-
enem Acesso em 03/03/2016.
111
com que os alunos da formação profissional cursem mais matérias e passem mais tempo
na escola. Além disso, o caráter conteudista acaba sendo trampolim de acesso para o
ensino superior, que se mostra, no final das contas, foco da opção pela formação nas
escolas técnicas, especialmente a Escola de Formação e a Escola Acadêmica.
58
De acordo com Mannheim (1990), as vias de acesso ao emprego são diferentes para jovens e adultos.
Os que saem da escola passariam por um tempo de desemprego antes de se firmarem no mercado de
trabalho, num processo de “desinserção profissional” (PAIS, 1990). Sairiam assim “da escola para força
de trabalho” e não mais “da escola para o mercado de trabalho” (CARDOSO, 2008)
112
que possui alunos com visão mais otimista do mercado de trabalho, 48% deles acham
que há muitas ofertas de trabalho na região.
Tabela 09: Na região em que você vive, como são as ofertas profissionais na sua
área técnica?
59
Painel das ocupações técnicas de nível médio, 2012
http://www.senaimt.com.br/site/arquivos/986_painel_das_ocupacoes_-_v2.pdf
Acesso em 10/03/2016
113
Europa, que possuem duração mais longa. De acordo com os autores, a área do curso é
determinante para o diferencial no prêmio salarial.
Tabela 10: Na sua opinião, como o mercado remunera os profissionais da sua área
de formação técnica?
60
O Programa Jovens Talentos, de pré-iniciação científica, é destinado a estudantes do ensino
médio/técnico da rede pública de educação. Foi lançado em 1999 por iniciativa da FAPERJ, e conta,
desde 18 de julho de 2003, com o apoio do CNPq no âmbito do programa de Bolsas de Iniciação
Científica Júnior. Os bolsistas desta pesquisa se enquadram nessa categoria.
115
Tabela 12: O principal motivo pelo qual você não exerce atividade profissional é:
Falta de Falta de Priorizar Sem
MOTIVO_NAO_TRAB interesse tempo estudos oportunidades Outros Total
Escola Formação 30,4 10,1 27,8 22,8 8,9 100%
Escola Mercado 35,6 14,4 23,1 25,0 1,9 100%
Escola Acadêmica 18,8 18,8 43,8 12,5 6,3 100%
TOTAL 32,2 13,1 26,6 23,1 5,0 100%
Fonte: Pesquisa “O papel da formação profissional na inserção dos técnicos no mercado de trabalho”
(FAPERJ, 2015)
Tabela 13: Daqui a cinco anos, você gostaria de estar fazendo o quê?
Terminando Trabalhando e terminando
FUTURO Trabalhando ensino superior ensino superior Total
Escola Formação 4,2 66,7 29,2 100%
Escola Mercado 20,8 64,4 14,9 100%
Escola Acadêmica 6,3 75,0 18,8 100%
Total 13,2 66,1 20,6 100%
Fonte: Pesquisa “O papel da formação profissional na inserção dos técnicos no mercado de trabalho”
(FAPERJ, 2015)
116
61
Vale lembrar que a expansão do ensino superior a partir da década de 1990, como mostram Comin e
Barbosa (2013), teve forte participação da população ocupada, mais especificamente a que trabalha em
tempo integral.
119
62
Shavit e Müller, 1998; Müller et al, 2003; Brunello e Garibaldi, 2007, Prates, 2010.
122
63
Decreto 5.154/2004 estabelece as diretrizes e bases da educação profissional.
123
entre número de matrículas e população na faixa etária adequada estar muito distante.
Dados recentes levantados por Klein e Marino (2015) mostram que da população total
de homens de 15 a 17 anos, 14% não estudavam e não haviam completado o ensino
médio. Entre mulheres, a proporção é de 12%. Ainda de acordo com o estudo, a maioria
desses jovens (52%) abandonou os estudos sem sequer ter completado o ensino
fundamental. Em geral, fazem parte desse grupo jovens de nível socioeconômico baixo,
que estão trabalhando ou procurando emprego.
A expansão da educação profissional, que ganha fôlego a partir da década de
2000, não deu conta de incluir esses jovens e esse é um ponto central do debate: se um
dos objetivos é aumentar as oportunidades educacionais para os jovens que estão
ficando para trás e garantir a atratividade e permanência no ensino médio, investir num
padrão de formação politécnica de viés academicista não tem se mostrado eficaz nem do
ponto de vista da democratização das oportunidades, nem do ponto de vista da
qualificação da mão-de-obra. Vejamos por quê.
Conforme visto no capítulo 1, o formato adquirido pela educação profissional é
fruto de tensões e disputas de ordem política que implicam em perspectivas e objetivos
distintos ao sentido dado à educação técnica que nem sempre estão relacionados à
qualificação da mão de obra, nem ao aumento das oportunidades educacionais.
Na década de 1990, por exemplo, a educação profissional de nível técnico foi
organizada de maneira independente do currículo do ensino médio, desvinculando a
educação profissional da educação básica, numa perspectiva mais vinculada ao mercado
de trabalho. Numa inversão de diretrizes, na década de 2000 houve uma maior
centralização do governo federal, que optou pela educação profissional vinculada a
educação básica, notadamente nas modalidades articuladas (integrado e concomitante)
ao ensino médio. Esta maneira de organizar a educação profissional estaria mais
vinculada a um tipo de formação cidadã, não tendo como objetivo imediato a formação
para inserção no mercado de trabalho. O enfoque político enfatiza a necessidade de
políticas governamentais para incorporar setores excluídos do sistema educacional.
Já o argumento econômico costumeiramente enfatiza a necessidade da força de
trabalho mais educada de modo a se adequar as novas demandas por formação
educacional. No contexto do modelo de especialização flexível, a demanda por
trabalhadores mais qualificados, com competências relacionadas à inovação, trabalho
em equipe e criatividade, tornou a educação profissional, para além de política
assistencialista do início da República, importante estratégia para o desenvolvimento
124
64
Durante muitos anos, prevaleceu a tese de Braverman (1977), de que a divisão do trabalho no
capitalismo colocaria em dois pólos opostos uma massa de trabalhadores desqualificados e outra de
trabalhadores superqualificados. O paradigma da Bravermania foi alvo de diversas críticas, especialmente
em meados dos anos 1980, quando se dá a ruptura desse paradigma dominante e surgem estudos que
“constatam uma requalificação dos operadores, ou uma reprofissionalização, com o aprofundamento da
automatização de base microeletrônica nas indústrias” (HIRATA, p. 131, 1994). Nesse ponto de vista, a
produção capitalista teria atingido tal ponto de saturação que só seria possível aumentar a eficiência do
trabalho flexibilizando a divisão do trabalho e qualificando melhor o trabalhador, sendo o modelo japonês
referência maior desse padrão. Nele, “a qualificação real dos trabalhadores passa a constituir-se a partir de
características tais como conjunto de competências implementados no trabalho, articulando vários
saberes, que seriam advindos de múltiplas esferas” (SANTANA e RAMALHO, 2004, p. 24). Por outro
lado, no Brasil, a flexibilização da produção ganha espaço de forma desigual entre os setores produtivos,
com demandas diversificadas no que diz respeito à qualificação. Harvey (1992), ao analisar a constituição
do mercado de trabalho, divide os trabalhadores entre centro e periferia: no centro estariam os
trabalhadores adaptáveis e flexíveis, com maior segurança no trabalho e na periferia trabalhadores menos
qualificados, com habilidades facilmente disponíveis no mercado de trabalho, pessoal com contrato por
tempo determinado, subcontratos, com menos segurança no emprego do que o primeiro grupo.
125
65
Uma das possibilidades de vincular as bases está na chamada “sala de sigilo”, localizada no Instituto de
Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), em Brasília, na qual é possível, através do CPF, estabelecer um
elo de ligação entre, por exemplo, a base de dados disponibilizada pela Secretaria de Educação
Profissional e Tecnológica (Setec/MEC) e a RAIS (MTE). Com este objetivo, em meados de 2014 passei
um mês no Instituto, no âmbito do projeto "Mercado de trabalho, estruturas de emprego e educação",
pesquisa que estuda a transição da formação profissional para o mundo do trabalho. No entanto, nesse
período, a sala de sigilo não estava disponível para os pesquisadores do projeto e os dados conseguidos
com os técnicos do Instituto não puderam ser utilizados devido à falta de consistência da base de dados
fornecida pela Setec que apresentava quatro milhões de registros de matrículas referentes a
aproximadamente 2,6 milhões de pessoas. Apesar da não utilização dos dados, o período passado no
Instituto e o contato estabelecido com seus pesquisadores foram importantes no desenvolvimento desta
pesquisa e, nesse sentido, menciono especialmente o Técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea Paulo
Meyer Nascimento, responsável por esse intercâmbio.
127
básica, caso das modalidades articuladas, também está mais próxima do ensino
superior no sentido de servir como ponte de acesso a ele. Mais distante da educação
básica, a modalidade subsequente, majoritariamente oferecida pela rede privada, tende
a atender mais imediatamente as demandas do mercado de trabalho.
A educação profissional, especialmente em suas modalidades articuladas, fica
assim “à deriva”, não formando quadros capacitados para o mercado de trabalho, nem
contribuindo com o processo de democratização das oportunidades no ensino médio.
Sob a égide da politecnia, o formato adquirido pela educação profissional de nível
médio, em suas modalidades mais fortemente vinculadas à educação básica, acaba
atraindo alunos que pouco se interessam pela inserção no mercado de trabalho.
Educação de caráter politécnico numa sociedade bacharelesca, além de não contribuir
na formação da mão de obra de nível médio, parece reforçar o princípio de seletividade
e exclusão do sistema escolar.
128
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Centros Federais de Educação Tecnológica e dá outras providências. Diário Oficial da
União - Seção 1 - 4/10/2004, Página 3.
Leis
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curso de primeiro ciclo do ensino comercial, industrial ou agrícola, o direito à matrícula
nos cursos clássico e científico e dá outras providências. Diário Oficial da União -
Seção 1 - 1950, Página 5425.
______. Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de
1° e 2º graus, e dá outras providências. Diário Oficial da União - Seção 1 - 1971, Página
6377.
_______. Parecer CFE nº 45/72. A qualificação para o trabalho no ensino de 2.º grau. O
mínimo a ser exigido em cada habilitação profissional.
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
Instituto Federal do Rio de Janeiro - IFRJ
Nome: ____________________________________________________________
3. Sexo:
0. ( ) Masculino
1. ( ) Feminino
4.Instituição: ___________________________________________________________
5. Curso: ______________________________________________________________
7. Período: _____
8. Na região em que você vive, como são as ofertas profissionais na sua área
técnica?
1. ( ) Há muitas ofertas de emprego ou trabalho
2. ( ) Há poucas ofertas de emprego ou trabalho
3. ( ) Praticamente não há ofertas de emprego
4. ( ) Não sei
13. Como você avalia a presença de disciplinas como sociologia e filosofia na grade
curricular?
1. ( ) Ótimo
2. ( ) Regular
3. ( ) Ruim
14. Você considera que o seu curso prepara bem para o mercado de trabalho na
área técnica?
0. ( ) Não
1. ( ) Sim
15. E fora da área técnica estudada, você acha que possui as habilidades
necessárias para inserção no mercado de trabalho?
0. ( ) Não
1. ( ) Sim
16. Você considera que o seu curso prepara bem para os exames de acesso ao
ensino superior?
1. ( ) Sim, para todas as áreas
2. ( ) Sim, para algumas áreas
3. ( ) Não
18. Você tem intenção de atuar profissionalmente em uma carreira que não exija a
preparação profissional (como em carreiras esportivas ou artísticas, por
exemplo)?
143
0. ( ) Não
1. ( ) Sim
19. Em que tipo de escola você cursou o ensino fundamental (1a. ao 9a ano)?
1. ( ) Somente em escola pública
2. ( ) Somente em escola particular
3. ( ) Maior parte em escola pública
4. ( ) Maior parte em escola particular
29. Caso não, o principal motivo pelo qual você não exerce atividade profissional é:
______________________________________________________________________
____
32. Qual o principal tipo de atividade que você exerce no seu trabalho atual?
1. ( ) Atividade Técnica
2. ( ) Atividade Administrativa
3. ( ) Atividade Gerencial
4. ( ) Atividade Comercial
5. ( ) Atividade de pesquisa
6. ( ) Outra ___________________________________________________
145
33. Qual a relação entre o seu trabalho atual e a sua formação técnica?
1. ( ) Fortemente relacionada com a área profissional do curso técnico
2. ( ) Fracamente relacionada com o curso técnico anterior
3. ( ) Não tem nenhuma relação com o curso técnico anterior
Obrigado!