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Rogério de Campos
DUNDUM – Revista com diversos autores, 80 páginas em preto e branco, Cr$ 300,00. Redação:
travessa Fortaleza, 152, te. (061) 49-1412. Porto Alegre, Rio Grande do Sul. CEP 91700. Em São
Paulo, à venda na HQ Underground (r. 24 de Maio, 62, loja 220, zona central); revistaria do Bar
Avenida (r. Pedroso de Moraes, 1.036, Pinheiros, zona oeste); banca Tiragem (al. Lorena, esquina
com r. Bela Cintra, Jardins); livraria Belas Artes (av. Paulista, 2.448, tel. 256-8316, zona central).
Não que a revista seja especialmente escandalosa. Ela tem, por exemplo, bem menos cenas
de sexo que a maioria das revistas de HQs para adultos publicadas atualmente. A razão de toda a
polêmica é que a revista teve parte de seu papel subsidiado pela prefeitura de Porto Alegre.
“Essa indignação moral é uma farsa”, diz Gilmar Rodrigues, um dos editores da revista: “É
apenas pretexto para atacar a Prefeitura”. “Todo o escândalo se deve à vontade de alguns vereadores
e jornalistas candidatos a alguma coisa de se promoverem atacando a administração municipal, que
é do PT”, completa Adão Iturrusgarai, outro editor.
Adão é o autor de algumas das HQs mais polêmicas da revista. Uma delas, chamada
“Bronha-Sutra”, descreve algumas variações absurdas para o ato de masturbação. utra, chamada “O
Problema de Fazer Sexo Oral com uma Débil Mental”, fez Alceu Collares, candidato a governador
pelo PDT, declarar que a revista é contra deficientes físicos.
Mas a que deu mais problemas foi uma HQ de Adão que conta a história de um sujeito
violentado por duas policiais. Foi essa HQ que fez a Associação dos Cabos e Soldados da Brigada
Militar anunciar uma ação na Justiça contra os editores da revista. “Nós ficamos esperando a tal
ação”, diz Gilmar, “mas não fizeram nada, foi só publicidade do próprio nome, já que é uma
associação não reconhecida”.
“Apesar de a revista ter sido rotulada de ‘pornográfica’, 67 de suas 80 páginas não tem
nenhuma alusão a sexo”, dizem os editores do manifesto. E perguntam: “Será que os tão atentos
vereadores analisam detidamente qualquer obra cultural que tenha o apoio dos poderes públicos
como se fossem censores? Então eles veriam autores consagrados como Érico Veríssimo (nome de
rua) com livros que contém várias passagens eróticas, ou peças de teatro com cenas de sexo e nudez
que estão sendo ou foram apoiados pelo poder público, por seu caráter cultural. Por que nossa
revista está sendo atacada dessa maneira? É uma revista de quadrinhos, de arte, e por isso mereceu
o apoio da Secretaria de Cultura”.
O escândalo serviu para que a revista esgotasse toda a sua primeira edição, de 1,5 mil
exemplares em menos de uma semana, sendo distribuída apenas nas bancas de Porto Alegre. Como
consequência desse sucesso, os editores providenciaram uma segunda edição, de 4 mil exemplares,
desta vez sem o papel da prefeitura.
Apesar do êxito, eles ainda não decidiram se fazem o segundo número da revista. Por
enquanto estão preocupados em lançar essa edição no resto do Brasil. “Tentaremos conseguir o
apoio da Erundina, para ver se acontece a mesma polêmica e sucesso em São Paulo”, diz Adão. (p.
502)
Lançamentos
Arthur de Faria
Editoria 2º Caderno/ZH
“Ao entrar no corpo da vítima, a bala dundum explode e se abre como uma flor. Seu efeito é
geralmente mortal. Dundum é uma revista de apenas uma edição. Não há esperança de vida para
ela”. Com estas quatro frases cuidadosamente polêmicas, Gilmar rodrigues – 29 anos, ex-editor da
revista Cobra e colaborador da Mega, atualmente com a paulista Animal – e Adão Iturrusgarai – 25,
premiado cartunista e também ex-Mega e Animal -, abrem o editorial da edição única da recém-
lançada revista de quadrinhos Dumdum [sic]. Eles se assinam: “os donos”.
“Se a revista tivesse a intenção de ser periódica e acabasse logo, iam dizer que não deu
certo. Assim não tem problemas: já deu certo...”. Na real, se vender bem – e a tiragem inicial é de
1.500 exemplares – talvez saia outra Dundum, “mas não em menos do que seis meses”. A decisão
de se auto-intitular, sem meias-palavras, “donos”, também tem explicação: “Assim a gente faz o
que quer e ninguém pode reclamar da tirania dos editores”...
Corroborando a boluda afirmação, o que vale é o gosto pessoal deles e o mais importante é
a idéia, e não tanto a técnica ou saber desenhar (Gordo Miranda, músico e colaborador da edição
única, que o diga). Mas isso não impede de que algumas das estórias tenham a firma de gente como
Jaca, Iotti, Edgar Vasquez ou o desenhista-animador Otto Guerra, entre outros menos reconhecidos.
Esse esparro todo só porque seguem uma juvenil, hard-core, de sexo & violência – umas
das tendências mais fortes do HQ moderno. Os meninos argumentam em defesa que “a culpa do
sexo & violência não é nossa. Foram os colaboradores que mandaram, a gente não encomendou
nada, eu juro!”. Inclusive se você se detiver em um levantamento mais aprofundado, vai ver que das
80 páginas, 66 delas não tem nem um quadrinhozinho com desenhos explícitos. E reclamar de
violência, nestes tempos de Jaspion & Collor... Convenhamos.
FESTERÊ – A fuleira revista pode ser encontrada em qualquer banca do centro, Bonfim,
Rodoviária ou até – sacrilégio! – em livrarias como a Sulina. Tem 80 páginas – dura mais do que
uma ida ao banheiro (mesmo que você tenha prisão de ventre) – e custa trezentos pilas.
Hoje – se a polícia, que está ameaçando intervir, deixar – vai rolar, em grande estilo, a festa
de lançamento: 20h, Centro Municipal de Cultura (Érico Veríssimo esquina Ipiranga). Com direito
a show-relâmpago, na Álvaro Moreyra, da banda À Bala, formada pelos donos, mais os amigos
Laura Lerner e Sílvio Silveira. No repertório, algumas das ignomínias cujas letras estão cometidas
na revista e “novas produções”. Otto Guerra – num trocadilho infame – vai “animar” a festa, que
terá, segundo eles, “bebida e mulherio, que são as únicas coisas que fazem alguém ir numa festa de
lançamento”. Além da – ia me esquecendo – revista, claro... Entrada franca, por supuesto.
Dundum não saiu pela culatra. Na verdade, acertou em cheio. A bala que explode no
interior da vítima batizou uma publicação de fôlego suicida. “Este tipo de revista dura pouco
mesmo”, desabafa seu editorial. Independência ou morte, máxima que podia muito bem ser
farroupilha, é o espírito.
O tiro partiu de Porto Alegre, terra de fanzines lendários e de nomes sugestivos como
Kamikaze. Dundum é um kamikaze de luxo. Toda a liberdade de um fanzine numa embalagem
bem-acabada. Iniciantes, iniciados e figurinhas difíceis, como Edgar Vasques e o animador Otto
Guerra, além do pessoal da sumida revista Mega, fazem de Dundum o tipo de publicação que bons
meninos não lêem, mas mesmo assim preocupa os bons papais.
Há violência e há pornografia, mas essa nem sequer é uma tática nova. Expressionistas
pintaram o inferno de modo muito mais bárbaro. No campo dos quadrinhos, revistas como El
Vibora (Espanha) e I’Echo des Savanes (França) fazem Dundum ruborizar de vergonha. A
iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura traduz um desejo manifesto pelo guru dos burocratas
culturais, Jack Lang, ministro da Cultura da França, que, ao inaugurar o maior museu dedicado aos
quadrinhos, durante o recente festival de Angoulème, confessou seu desejo de ver o gênero
respeitado como as demais formas de arte e incentivado pelo governo como tal.
A edição é amadora. Há muitos erros de revisão, e cada artista fez o que pôde em termos de
letreiramento e arte-final. Mas seu objetivo de trazer à tona o rosto dos desenhos da gurizada foi
plenamente realizado (a primeira edição já está esgotada). O grande destaque cabe a Jaca, autor da
capa e da colagem new wave e da melhor história, Lona, em que demonstra um impressionante
domínio do uso de retículas, numa crítica à hipocrisia de Muhammad Ali. São apenas duas páginas,
mas um domínio técnico que vale por toda a revista. A influência dos europeus é forte. Há um diabo
idêntico ao vilão Opium, de Daniel Torres, quadrinhos panorâmicos sem balões, ao estilo de
Loustal e Julliard, ratinhos de tripas de fora, como nos toons de Matioli etc. Isso, mais a opção
explícita pela violência, confere à revista a aparência do Mau, encarte da Animal, que abriga
alguns dos gaúchos indomáveis desse fanzinão, entre eles Adão Iturrusgarai cujo traço não
comercial tem o legítimo impacto de uma bala dundum, (M.P.).
SERVIÇO
Dundum Quadrinhos, vários autores, revista independente, sem periodicidade, preto e branco, 80
páginas, Cr$ 300,00. Lançamento em São Paulo na quinta-feira às 23h no Espaço Retrô, Largo
Santa Cecília. (p. 704)
Os quadrinhófilos já têm nas bancas da cidade – e de São Paulo também – a revista gaúcha
Dundum. O lançamento será no dia 3 (terça-feira) próximo, às 20h, no Centro Municipal de Cultura,
com festa cheia de atrações, inclusive show da banda dos próprios autores responsáveis, Adão
Iturrusgarai (guitarra e vocais), Laura Leiner (baixo) e Silvio Silveira (bateria). O espetáculo terá
animação de Otto Guerra, com apoio da Inlingua e da SMC. Dundum – nome de uma bala que
explode ao penetrar o alvo – tem edição única de 1.500 exemplares, 80 páginas – para adultos – e
seção de textos. Os quadrinhos são de Adão Iturrusgarai, Gilmar Rodrigues, Jaca, Silvio Silveira,
Otto Guerra, Pedro Alice, Gilmar Fraga, Sandra Regina, Guazzelli, Eduardo e Laura Leiner.
A estas alturas todos os ligados já sabem que terça-feira será lançada a revista DUNDUM
Quadrinhos no saguão do Centro Municipal de Cultura, com direito a um show relâmpago da banda
formada por alguns dos próprios autores, no caso Adão Iturrusgaray [sic] (guitarra), Gilmar
Rodrigues (vocais), Laura Reiner [sic] (baixo) e Silvio Silveira (bateria), com animação de Otto
Guerra, o papa do desenho animado gaúcho, cara com prêmios internacionais. A revista, de edição
única, em suas 80 páginas dá um painel da vitalidade, da irreverência, da insatisfação e da
criatividade na nova geração de quadrinistas gaúchos, entre eles Jaca (ilustrador de ZH), Guazzelli,
Lancast, Pedro Alice, Vit Nunez. E é bom andar depressa porque são só mil exemplares e muitos
deles já foram despachados para bancas de outras cidades do país.
O que nem todos sabem é que esta semana, brandindo idéias saídas da obscuridade,
algumas pessoas públicas do passado andaram ocupando microfones de rádio e câmaras de TV para
atacar a revista. Até aí tudo bem, estamos numa democracia (embora essas pessoas não estejam
gostando muito disso), e democracias são sistemas onde há liberdade para a manifestação de
opiniões. Mas essas pessoas não se limitaram a isso. Dizendo que DUNDUM é uma publicação
pornográfica, que atenta contra a moral, os bons costumes e a índole pacífica do povo brasileiro (o
bla-bla-bla de sempre), cada qual a seu modo, ameaçaram mobilizar a Brigada Militar e a Polícia
Civil para impedir o lançamento da revista.
Onde é que nós estamos? Como alguém pode usar em vão os nomes da Brigada e da Polícia
numa circunstância como esta? O que tais instituições têm a ver com o caso? É um absurdo, não
estamos mais na década de 70. Existem leis, não há mais censura prévia, a BM e a Polícia têm uma
infinidade de coisas sérias com que se preocupar. A simples sugestão feita é inquietante. Mas vão
dizer que se “irritaram” ao verem o nome da Administração Popular na revista. Ora, o apoio da
Secretaria Municipal da Cultura foi irrisório e além de tudo os eleitores da atual administração não
atribuíram a ela o papel de censora da manifestação artística. Esses senhores, no entanto, certamente
censurariam os desenhos “pornográficos” de Picasso, ou as esculturas do Kama Sutra, por aí.
Bleargh!!! (p. 505)
A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Bom dia, ouvintes do Paralelo 30. É um prazer estar
novamente aqui.
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Exato. Eu quero acentuar, como já fiz várias vezes que não sou
contra a liberdade de expressão, que jamais bebi, ou comi com arbítrio da prepotência. Sou do
Partido Democrático Trabalhista.
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Isso vai ser apurado. Uns dizem que é cinco mil folhas, outros
dizem seis mil, uma resposta concreta ainda não a temos e será apurado.
O Sr. PAULO SOLANO: Eu lhe pergunto o seguinte: o Ver. Antônio Hohlfeldt está aqui no
programa para tratar da ampliação da vida útil dos taxis-lotação. Se a Sra. Permitir ele entra no
debate com a Senhora.
O Sr. PAULO SOLANO: Então, bom dia Ver. Antonio Hohfeldt: Passamos então um
diálogo com democracia.
O Sr. PAULO SOLANO: O Sr. Está ouvindo a Verª. Letícia, o Sr. Concorda com a
explanação da Vereadora ou não?
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Prefiro ouvir e depois coloco os outros pontos, como eu
vejo as coisas.
O Sr. PAULO SOLANO: Eu coloco o Antonio porque ele inclusive faz revistas em
quadrinhos.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Sim. A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Ele é crítico, escritor, é
um excelente Vereador e eu sei Vereador que quando nós éramos Governo, V. Exa. Foi muito
atuante, principalmente fiscalizador e eu como Vereadora da Cidade de Porto Alegre tenho o direito
e o dever de fiscalizar e não só legislar. O povo me outorgou este mandato e com todo o respeito
que os senhores me merecem e o povo da Cidade de Porto Alegre merecem uma explicação.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Bom, Solano, eu ouvi a Ver.a Letícia ontem numa outra
emissora de rádio e eu vejo que ela não acrescentou hoje, apesar do debate de ontem a tarde [sic],
pelo menos o que e eu ouvi, a não ser que tenha havido outro, não acrescentou nenhum item novo
ao que ela levanta em relação a estas questões. Em primeiro lugar quero fazer justiça a Ver.a
Letícia. Vários vereeadores [sic] levantaram questões em relação a revista e o único vereador que
teve coragem de discutir a coisa de público foi a Ver.a Letícia. Acho que é importante a discussão e
nesse sentido com todas as discordâncias totais e absolutas que eu vou ter com a Vereadora, acho
que é fundamental este tipo de discussão.
Se entrássemos na questão da moral eu iria dizer que não tenho condições de discutir,
porque acho que o problema de moral é as crenças, o conjunto de valores de cada um e aí eu
respeito, discordando tem as minhas e a Ver.a terá as delas. Como a Vereadora envereda para outro
tipo de discussão, então vamos tentar levantar alguns problemas. A Vereadora pergunta, por
exemplo, se o povo foi consultado sobre a decisão da Secretaria em participar da iniciativa da
revista? Eu responderia com uma frase que o ex-Prefeito Collares gostava muito de dizer quando
nós levantávamos uma coisa desse tipo. Ele dizia que houve uma eleição e agora o Prefeito e a sua
equipe são os responsáveis, pelo menos, durante o período dos quatro anos e proximamente o povo
vai julgar se gostou disso ou não…
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Mas o povo não está julgando a sua Administração.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Mas aí é outra questão, Ver.a Letícia. Eu acho que temos
uma eleição em outubro e vamos ver como vai ser o julgamento, não é? A pesquisa de opinião
pública é muito do momento, por exemplo, a Sra. cita Erundina de São Paulo, quer dizer a Erundina
começou a subir e espero que até outubro suba. Está baixo mas subiu nas últimas pesquisas…
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Olha investir em livros é muito relativo, nós estamos
investindo na revista. Podemos agora discutir aí a senhora então se contradiz porque vamos entrar
no conteúdo da revista. O conteúdo, ao que parece, até agora todas as acusações levantadas são
morais e aí realmente é muito complicado para responder.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Mas deixa eu levantar alguma coisa. Portanto acho que
houve uma certa responsabilidade, há uma responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura que
não está fugindo. Acho que ontem foi bem enfatizado, eu quero repetir para mim, não como
Vereador do PT, mas fundamentalmente como homem que atua na cultura. Acho que a Secretaria
Municipal de Cultura tem uma única possibilidade de ação concreta e responsável. Ela foi
procurada por um grupo de artistas gráficos de Porto Alegre, Rio Grande do Sul - a maioria dos
quais, nomes absolutamente responsáveis e respeitáveis. A Secretaria aceitou em patrocinar, não
tem que perguntar, a responsabilidade é desses que assinam a revista, sobre eles cai a
responsabilidade, a Secretaria fez um patrocínio e deu uma oportunidade de eles se expressarem. Eu
só acho perigoso, por exemplo, quando a Vereadora diz que em havendo o patrocínio da secretaria
esta revista tenha que ser levada as escolas, acho que ela vai aumentar o número de masturbações
nos banheiros, por exemplo. É perigoso porque a revista… Como não é uma revista…
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Mas a cultura também se faz nos banheiros, Vereadora.
Não se esqueça que existe alguns ensaios excelentes no Norman Mailer a respeito dos grafites de
portas de banheiros dos metrôs de Nova Iorque! Agora eu acho perigoso. A revista não pretendeu
ser uma revista de escola de freiras em nenhum momento. Acho que ela não é exclusivamente
pornográfica, está se tentando generalizar alguns temas que tocam a área do sexo, talvez com bom
ou mal gosto, é um problema que eu não entraria nisso de maneira nenhuma, mas…
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Comprar quem quer, mas a partir do momento em que a
senhora defende a entrega gratuita dessas revistas nas escolas elas vão virar os best sellers da
biblioteca, agora com algumas responsabilidades em relação a hora do recreio. Isso aí é que nós
vamos ter que discutir.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: É cultura, sem dúvida nenhuma e a gurizada vai aprender
alguma coisa...
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Aliás eles aprendem, é curioso Solano, eu frequento [sic]
muito as salas de aula por causa da literatura infantil e uma pergunta que a gente recebe sempre as
vezes daquele menininho, de 11 anos, com óculos e a gente olha para ele e diz volta e meia ele
sobressai com uma pergunta desse tipo: Antonio – por que aí eu não sou Vereador, sou o professor
– Antonio tu não fizestes um livro de sexo? Porque realmente a gurizada está preocupada com esse
assunto. Ele está aí presente no rádio, na televisão, no dia a dia, no out dors, no anúncio, nas
relações de rua. Vocês veem os casais eventualmente se relacionando. Então, vejam, acho que uma
coisa é nós discutirmos essa questão; outra coisa, por exemplo, é quando a Ver.ª Letícia levanta o
problema das escolas sucateadas. Eu estou com a Vereadora, eu acho que temos milhões de
problemas na Administração. Todas as minhas diferenças eu discordava da Secretária da Educação,
umas votei a favor, se apoiou. Eu acho que a Neuza Canabarro deu um salto de qualidade em
relação ao número de escolas municipais, discordávamos da maneira de fazer a coisa, mas enfim se
avançou. Agora as secretarias têm verbas próprias e tu sabes disso e o fato de se ter investido 40 ou
50 mil na DUMDUM não fechou nenhuma bica d’água.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Certamente não será um tipo de revista assim. Pode ser
uma revista para ajudar a popupar [sic] água, por exemplo, como o DEMAE já fez uma campanha
de poppança [sic] de água ou o DMLU que está fazendo neste momento a campanha...
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: E o conserto das fugas D’água também, não é Vereador?
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Aliás é um problema antigo. Letícia, tu sabes tanto quanto
eu, porque a tua família é antiga.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: É que cada vez os canos ficam mais velhos. Isso tu não
podes impedir, cano mais velhor [sic] rebenta mais fácil.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: A troca pede dinheiro que nem sempre a Câmara libera.
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Mas o DMAE tem, nem sempre não, Vereador, quase sempre.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Quase sempre, sem exceção ao período que estamos
vivendo agora. Mas enfim, gostaria de voltar ao problema. Eu acho, por exemplo que no fundo,
apesar de todas as diversações, eu acho que no fundo a gente volta e eu não quero me referir a
Letícia, eu quero deixar isso bem claro, porque é uma questão de justiça, mas o que eu tenho
sentido pelos espaços que estão sendo abertos e as discussões que se abriram em outras áreas,
Solano, acho que no fundo se volta sim ao problema do conteúdo, se volta sim ao problema que
assusta o papel do humorista e aqui valeria a pena até a gente levantar esta questão. O que é
humorista? A função do humor? É o cara, o artista que expõe claramente a olho nú as contradições.
Então, quando se levanta, porque tem coisas terríveis do tipo patrão branco ou empregada preta?
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Mas por que não, Vereadora? Ele está representando
aquilo que escondidamente é a realidade da nossa sociedade. Ele não diz que está de acordo. A
senhora não vai ver naquele desenho, naquele texto em nenhum momento ele dizer assim que está
de acordo com isso. Não, ele está representando uma imagem que está no subconscinet [sic] das
pessoas.
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Ver. Antonio Hohlfeldt, a Secretaria Municipal de Cultura foi
criada na Administração Alceu de Deus Collares.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Com o meu voto e o meu emnho [sic] histórico,
reivindico isso.
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Com o seu voto, com os votos de toda a Câmara Municipal de
Porto Alegre, de toda a legislatura anterior. Vereador, o que está em jogo é o dinheiro público, eu
não questionei em nenhum momento a revista. Claro que nas perguntas...
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Pois então é conteúdo que a senhora está discutindo e não
é o problema do dinheiro da revista, porque se fosse a história de São Pedro a senhora disse que não
iria questionar que a revista tenha pago a revista.
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Tu não falastes que a a Prefeitura iria patrocinar o São Pedro,
seu eu fizesse a história do São Pedro. Eu entendi que tu ias fazer a história de São Pedro.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Eu lhe pergunto se a revista, esta revista DUMDUM [sic]
tivesse a história de São Pedro, Padroeiro do Rio Grande do Sul, a senhora estaria tão preocupada
com o dinheiro público?
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Não. Eu não. Quem sou eu para fazer. Eu nem conheço a
história de São Pedro.
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Eu estou falando do dinheiro do povo que eu tenho que
fiscalizar e tu sabes muito bem.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Mas isso aí eu não discuto, Vereadora. Isso eu não
discuto.
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Uma das coisas que foi dita e que não é verdade é que não
tenho competência para estar na Câmara Municipal. É como tu dissestes que eu fui eleita pelo povo.
Eu tenho respeito...
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Eu tenho respeito porque há quatro décadas a minha família
ocupa uma cadeira na Câmara Municipal. Meu pai foi Vereador na década de 60, 70, 80 e hoje eu
sou Vereadora da Cidade de Porto Alegre com muito orgulho, a cidade que eu amo e que tenho
direito de proteger e de trabalhar e lutar por ela até a minha morte. É por isso que eu exijo respeito.
Eu falo sério, eu acho um trabalho magnífico desta revista, conheço todos os artistas, os escritores,
os cartunistas, mas eu também quero respeito a minha pessoa. Eu trabalho e o Antonio sabe que eu
sou uma mulher decidida, arrojada, vivo nas vilas, combatente. Posso ser um pouco até
discriminada por ser mulher mas graças a Deus que sou mulher, ocupando a cadeira que conquistei
com direito, com o meu trabalho e com o meu esforço desde os 12 anos de idade.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Tu sabes que não é por aí que eu vou discutir contigo
porque tenho o máximo respeito possível. Agora, por exemplo, quando tu tocas na questão da
revista. Eu não sei, Letícia, até eu acho importante para discutirmos o que a revista te desrespeita?
Por exemplo.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Eu não disse que era uma obra-prima. Eu digo que é
função da secretaria, eu diria que a Secretaria está cumprindo uma função...
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Todos os jornalistas receberam gratuitamente, os meios de
comunicação. Por que o povo, o Jorn [sic]. Paulo Solano pode comprar por trezentos cruzeiros,
acho que pode comprar se quiser comprar.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Eu acho que nesta questão tu estás antecipando, porque a
revista tem um lançamento formal hoje.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Mas então tu estás me dando razão antes de eu falar. Se
está estocada no Gabinete de Imprensa da Prefeitura é porque se não vai distribuir para as escolas
antes de ter o lançamento normal, ou melhor formal.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Mas a imprensa, como é que tuvais [sic] promover o
lançamento sem antes distribuir para a imprensa?
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Tudo bem. Eu te confesso que nem comprei ainda, porque
realmente o processo normal é se você tem um produto novo o que que você faz com este produto?
Você distribui a quem pode promove-lo. Quem promove? O meio de comunicação. Depois do
lançamento você vai levar para as escolas.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Com todo o prazer. Só acho que um assunto tem nada a
ver com outro.
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Tem sim, é uma Administração Municiapl [sic]. É a Prefeitura
Municipal de Porto Alegre.
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Com seus orçamentos específicos para cada Secretaria e
não diminuiu...
_____________
O SR. SÉRGIO ZAMBIASI: “...sexual assim, não é? São cenas assim realmente agressivas,
e tem dinheiro da Prefeitura. E aqui tem um detalhe: o papai praticando sexo com a mamãe; um
casal branco. Aí o papai praticando sexo com a empregada. É o papai branco com a empregada
preta. Claro, porque na cabecinha deste “intelectual” a empregada tem que ser preta, não é? Aí a
cultura do Município de Porto Alegre considera que isso aqui é alta cultura. É uma crítica, uma
crítica séria aos padrões convencionais da sociedade, etc e tal. Pois enquanto eles têm dinheiro, a
Prefeitura paga isso aqui, eu não sou contra que publiquem isso aqui não, podem publicar, mas com
o dinheiro deles, pomba! Eu não sou contra, quero deixar bem claro, não sou contra a liberdade de
expressão, podem publicar revistas, podem fazer o tipo de crítica que quiserem. Se acham que esta
crítica aqui é válida, façam, agora dinheiro do povo, dinheiro da Prefeitura, dinheiro do imposto do
povo para pagar essas “frescuras” aqui, não! Sabem por quê? Porque enquanto eles têm dinheiro
para pagar o papel para essa revista – como é o nome da vila de vocês aqui? Jardim Bento
Gonçalves? Como é que é a vila de vocês, conta?
A Sra.: Não temos água, luz. Estamos bebendo água deuma [sic] bica que dá feridas. As
crianças estão cheias de coceiras.
A Sra.: As nossas crianças estão todas com coceiras, a gente ferve tudo mas não dá, não tem
condições enquanto isso os canos estão estourados lá com água abundante na rua.
O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: Desculpe, enquanto a água “abunda” na rua – eu vou viver a
revistinha aqui agora, - pois enquanto a água da Prefeitura “abunda” na rua e a pornografia “há
bunda” na revista, o povo lá da vila Jardim Bento Gonçalves não tem uma água para lavar “a b....”.
Pois é!
A Sra.: A gente tem os filhos moços. Eu tenho uma filha que ainda não conseguiu subir
ppara [sic] lá, o morro, porque não tem luz. É escuro.
O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: Não tem água e nem luz. Fica atrás do Jardim Bento
Gonçalves? Está.
Eu quero colocar mais uma vez, eu afirmo publicamente aqui: eu não sou contra qualquer
tipo de publicação e qualquer forma de expressão. Se os intelectuais, os inteligentes eu sou um
hipócrita para eles eu sou um hipócrita, então eu prefiro ser um hipócrita com esse povo aqui do
meu lado do que ser um intelectual que tem que pegar dinheiro da Prefeitura para publicarem uma
revista. Enquanto os hipócritas aqui ficam sem água e sem luz, sem ter como lavar as crianças ou
alimentá-las, a Prefeitura paga com o dinheiro público a publicação de uma revista. Eu creio que se
alguém tem o interesse em publicar uma revista que a financie, poxa vida! Porque a Prefeitura tem
um compromisso muito maior do que patrocinar e depois esta revista que é patrocinada pela
Prefeitura vai ser vendida ali fora por trezentos cruzeiros. Trezentos! Outro detalhe: estou aqui
também com uma comissão da vila Farrapos, Quadra 15. Quadra 56. Vem os moradores das
quadras 65, 66, 67 e 68, mais as proximidades da vila Farrapos solicitar que por seu intermédio seja
acionados [sic] os serviços de esgoto com urgência para a rede de esgotos que se encontra
totalmente entupida, porque com as chuvas chegam a invadir as referidas moradias, ocasionando
mal cheiro e poluição do ambiente na área. Aguardamos a sua boa vontade em nos ajudar o que
antecipadamente agradecemos.” Quer dizer: o que eu sou aqui? Apenas um radialista com o
microfone na mão para denunciar a sociedade como esta Prefeitura está atendendo o seu povo, o seu
trabalhador... O que acontece com os esgotos nestas quadras aí?
A Sra.: Está horrível. A água está entrando nas casas, porque os canos estão todos
arrebentados. Eles querem dinheiro para arrumar e nós não temos condições de pagar, nós já
pagamos os impostos e agora ainda vamos pagar eles para arrumar? Não temos dinheiro.
O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: O esgoto está entrando dentro das casas, na vila Farrapos? Isso
que vocês pagam tarifa de esgotos. É 80% da taxa da água.
A Sra.: E outra coisa, eles vão lá eles querem dinheiro senão eles não arrumam. E quando
chove então entra água dentro de casa, porque está tudo entupido; os banheiros, nós vamos fazer um
buraco nas ruas porque os banheiros não funcionam.
O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: Bom, a Verª. Letícia Arruda foi quem me trouxe aqui a revista
DUMDUM, hoje pela manhã. Eu já tinha visto, o próprio Secretário da Cultura veio aqui me
mostrar a revista e eu disse para ele, o Secretário da Cultura Substituto que não sou contra a revista,
em absoluto, eu acho que eu trabalhei no tempo da repressão onde a gente não tinha ou melhor não
se podia dizer nada nas rádios, agora já se pode dizer tudo. A gente é responsável. Eu sou contra
que se utilize dinheiro público para determinas publicações, enquanto a vila Jardim Bento
Gonçalves não tem água e nem luz; a vila Farrapos com os esgotos entupidos e a Cidade está jogada
às traças e a Cidade sofre. Eu sou contra que o Poder Público utilize verbas públicas. Se tivesse
sobrando, tudo bem; se houvesse dinheiro em caixa para fazer gato e sapato, tudo bem! Mas,
enquanto as crianças não tiverem um caderno na vila, lápis e borracha, enquanto o povo do Jardim
Bento Gonçalves não água e nem luz (as crianças estão com coceiras, estão doentes, porque a água
que eles bebem é de uma bica com água poluída), enquanto na Vila Farrapos os esgotos estão
entupidos e entrando dentro de casa...
A Sra. LÚCIA ARRUDA: Enquanto na Escola Gabriel Obino faltam 637 vidros, estão
quebrados. Enquanto também as ruas estão esburacadas, a situação da Cidade, a iluminação
precaríssima, o lixo aos borbotões, enquanto isso eles investem numa revista que dizem ser cultura.
Eu mais uma vez afirmo e reafirmo como Vereadora da Cidade de Porto Alegre, com legitimidade
de um mandato que o povo me outorgou, tenho o dever e o direito de fiscalizar e legislar sobre esta
Cidade. O povo me deu este direito e eu quero dizer que os 40 mil cruzados fazem falta sim, fazem
falta para escolas de Porto Alegre, fazem falta para a vila Jardim que está abandonada, porque está
sem iluminação e as ruas esburacadas.
Lá, Sérgio, na vila Nova Brasília, a tarifa do esgoto é altíssima e eles não tem esgoto. O
pessoal está desesperado lá na vila Nova Brasília, no Sarandi. Na vila Bom Jesus há os buracos que
são incríveis, Sérgio Zambiasi. Então temos deficiências em toda a administração. Agora dizer que
eu não entendo de cultura? Eu entendo de cultura, entendo porque sou Presidente da Comissão de
Educação da Câmara Municipal e tenho o dever de denunciar. Onde está o apoio da Prefeitura na
Escola Municipal José Larri Alves? Lá falta segurança, banheiros e bebedouros? Com vazamentos e
vidros quebrados? Onde está o apoio na Escola Municipal Leocádio? Falta material didático e onde
está o livro nas bibliotecas? É isso que eu quero. Se o povo pagou 40 mil cruzados e deu seu
dinheiro para imprimir esta revista através do Fundo da Cultura, que também sai do Orçamento,...
O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: É claro, só que a trezentos cruzeiros não tem acesso não.
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: E poderia ser muito bem financiada por anúncios de motéis ou
casas de massagem e não pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre e nem com o Brasão da minha
Cidade.
O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: Esta é a visão deles, porque nós somos os hipócritas e nós não
entendemos que o papai branco fazendo sexo com a empregada negra é uma crítica ferina contra os
padrões da sociedade atual.
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Não é bem isso Sérgio. As discriminações são contra os
deficientes mentais, contra as minorias da raça negra e também os homossexuais. Tem críticas
pesadas às mulheres, realmente, e nós mulheres temos o direito de nos defender...
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Sim, as policiais militares e as policiais civis também. Então
eu quero que haja um momento de reflexão também consciente da Administração Popular voltados
realmente para o povo e o povo já está julgando esta Administração. É o meu dever o meu direito é
de denunciar este tipo de coisa.
Mais uma vez eu vou salientar dentro da minha hipocrisia aqui. Eu não sou contra qualquer
tipo de publicação. Tem revista de todo o tipo aí. Eles alegam que é só olhar para a capa desta
revista. Os inteligentes que publicaram a revista, os cultos que fizeram a revista mandam olhar para
as capas. Ora, não se compra uma revista pela capa e sim pelo seu conteúdo. O jornal, muitas vezes,
se compra pelas capas.
A dona Valéria daTinga [sic] diz o seguinte: ela sabe de fonte segura que a revista foi
lançada agora com tal reportagem porque o PT tinha certeza de que eu iria comentar e que um
comentário seu todos comprariam a revista e a prova está aí. A segunda edição esgotou e já estão
fazendo a terceira. Eu não tenho dúvida de que com essa publicidade toda em torno dessa revista ela
deve estar vendendo aos borbotões. Agora se está mostrando o que se faz com o dinheiro público,
saliento, publicações faz-se a vontade, opiniões e formas de manifestação são livres hoje, graças a
Deus. Eu só acho o seguinte enquanto as bibliotecas não têm livros que se aplique dinheiro na
compra de livros para as bibliotecas porque aí então estaríamos possibilitando a cultura ao povo que
a precisa. E não massagear o ego de determinadas pessoas apenas. Essas pessoas têm acesso, estas
pessoas são privilegiadas, estas pessoas pertencem a uma elite de privilegiados e portanto tem
acesso a formas publicações com mais facilidade do que o ppovo [sic] da vila que nção [sic] tem
água para beber, que não tem energia elétrica, que tem o esgoto invadindo as casas, cujo colégio
está com 637 vidros quebrados, onde as crianças não tem cadernos e lápis para aprenderem a ler e
escrever, e então adquirirem alguma cultura.
Bom dia’
O Sr. SÉGIO ZAMBIASI: “...achei por este lado muito interessante, entendeu?
O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: Não tenho dúvidas, eu estou o provocando diariamente aqui e
estou recebendo algumas críticas porque estou falando muito da revista e dizem-me que estou
entrando no jogo de vocês. Dizem que vocês estão vendendo demais. Mas eu considero que é
importante que as pessoas leiam e inclusive tirem as suas conclusões e depois que partam para
odebate [sic] contestando ou concordando, não é?
O Sr. FERNANDO: Vou te fazer um convite: hoje, às 20 horas, na Sala Álvaro Moreira,
aqui na érico [sic] Veríssimo, 307, o lançamento da Revista DUMDUM [sic], com a presença do
nosso Secretário Luiz Pilla Vares, com a presença dos autores e de uma festa que vai ter de
lançamento desta revista.
O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: Eu lamento que este convite seja feito em cima da hora, viu
Fernando, porque eu já estou com um compromisso à noite, com uma pessoa amiga e realmente não
tenho como alterar porque é um compromisso de peso. De qualquer maneira sucesso. É as 20 horas?
O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: Está bom. Qualquer promoção me avisa, tá? Tchau.
O que mais ainda nos deixou estarrecidos aí é o atentado que retrata ali um ato sexual
contra um excepcional...
O Sr. ENIO MEDEIROS: São coisas que não podemos deixar passar em branco. Nós
queremos, inclusive que as outras entidades procurem a veracidade disso aí. Pelo amor de Deus um
dinheiro gasto com uma revista dessas, por que nós não empregarmos em creches, por exemplo? Na
educação dos nossos filhos?
O Sr.: Está bom, meu presidente, Enio eu gostaria que tu voltasses em outras oportunidades,
atpé [sic] possivelmente amanhã para nos dar alguma posição a respeito desta ação que foi
encaminhada ontem na Justiça contra a revista, pedindo a apreensão da revista e eu gostaria que
você, amanhã, voltasse conosco. Está bom?
O Sr. ENIO MEDEIROS: Nós acreditamos nas autoridades que isso em poucas horas esteja
terminado. É um prazer VOLtar [sic] a falar com vocês.
O Sr.: Muito obrigado Enio Rodrigues de Medeiros, Presidente da Associação... (?) que está
se posicionando em relação a esta revista, a revista DUMDUM que está lançada oficialmente hoje,
aqui em Porto Alegree [sic] no Rio Grande do Sul e causando, é claro, muita polêmica, porque a
revista com fotos pornográficas está tendo o apoio da Secretaria Municipal de Cultura. Incrível, não
é?
FITA 3 A:
Consta:
Interrupção da gravação.
O Sr. BELMONTE: Vereadora, uma pergunt . Estou chegando recém da Itáli , não tenho a
Revista aqui à minha frente. A senhora naturalmente já leu a revista, está falando a respeito da
Revista Dumdum [sic]. Ela é, de fato, uma revista pornográfica em alguns artigos, é isso,
Vereadora?
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: É. Em alguns artigos. É uma Revista muito bem feita, é uma
Revista que poderia estar à venda, sem dúvida alguma, mas sem o patrocínio da Prefeitura
Municipal de Porto Alegre, sem o apoio da Secretaria Municipal de Cultura porque no momento em
que, eu não questiono, entende, os artigos, mas no momento em que tem um artigo aqui que faz
referências a policiais militares mulheres, entende? Ela está atacando a mulher na sociedade, ela
está atacando, então eu acho que não podia está [sic] com o brazão [sic] da minha Cidade. Isto aqui,
qualquer uma Revista tu sabe têm anúncios, e esta revista não tem anúncio nenhum; a revista Veja,
a Revista Isto é, Senhor, possuem anúncios, são oatrocinadas [sic], mas não patrocínio de uma
Prefeitura, não é? Com o apoio de uma Prefeitura. O queeu [sic] questiono também, Belmonte, da
onde que saiu este papel, eu pergunto que quantidade foi o papel, uns dizem que são 6 mil folhas,
outros dizem que são 20 mil folhas, então eu quero respostas exatas.
O Sr. BELMONTE: Mas a Senhora oficialmente já fez esta pergunta ao Secretário Pilla
Vares que é um homem transparente, é um homem democrático, que resposta a Senhora obteve.
Aliás, quero dizer que o programa também está aberto para o esclarecimento do Pilla. Se o Pilla
Vares quiser entrar, pode nos ligar: evidentemente que nós temos todo o interesse, não é apenas a
Vereadora Letícia Arruda, acho que toda a população, todo o contribuinte quer saber. Que tipo de
resposta a Senhora obteve oficialmente, Vereadora?
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Não, eu não conversei com o Secretário Pilla Vares por falta
de tempo realmente. O que acontece que eu tenho instrumentos aqui na Câmara que eu faço
diretamente as perguntas ao Sr. Prefeito Municipal. Porque a Prefeitura Municipal quem tem que
responder é o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre a todos os meus questionamentos. A Prefeitura
deu o papel, a Revista foi impressa, está sendo vendida; eu queria saber o questionamento da ... se
as pessoas, se a população de Porto Alegre foi consultada para esta distribuição de papel, porque
isso tudo é dinheiro do contribuinte. Uma folha de papel custa caríssimo. As mães que têm filhos
nas escolas sabem quanto custa uma folha de papel ofício, e este papel é mais grosso, é papel para
ser impresso uma revista. Então, o que eu questiono, é que falta segurança na nossa Porto Alegre,
falta iluminação, centenas e milhares de fugas d’água, o lixo aos borbotões, a minha querida Vila
Jardim que está atolada no barro (? – breve interrupção na gravação), que não passa uma máquina lá
há vários meses, então eu questiono isso, a população, as escolas que estão sucateadas, o albergue
municipal, que faço um apelo, Belmonte, que visitem vocês dos meios de comunicação, vão até o
Albergue Municipal e vejam como está todo depredado. É isto que eu questiono, é o dinheiro da
população de Porto Alegre. Eu estou aqui, eu recebo dos cofres municipais, do povo que me paga
para mim fazer [sic] ... tenho representação legítima do meu mandato. O povo me outorgou isso,
então com tudo isso e com todo o respeito à cultura de Porto Alegre eu gostaria que me
esclarecessem melhor, que mandassem livros para as bibliotecas municipais, para as bibliotecas do
Estado para que as pessoas tivessem mais acesso a esta cultura que eles dizem que está dentro da
revista Dumdum [sic].
O Sr. BELMONTE: Está muito bom. Vereadora Letícia Arruda, do PDT. Obrigado pela
entrevista e nós como a senhora e como todos os contribuintes vamos ficar aguardando maiores
esclarecimentos. Obrigado, Vereadora.
(Fim da entrevista)
- Propaganda.
4º - O repórter falando: ... entrevista que foi ao ar um pouco antes das 11 horas. E eu disse
durante a entrevista que nós estávamos à disposição e nem poderia ser diferente, nem poderia ser de
outra forma, estávamos à disposição da Secretaria Municipal de Cultura, até referi o nome do Pilla
Vares, nosso brilhante jornalista de Zero Hora que é o Secretário Municipal de Cultura. Entretanto,
o Pilla Vares nesse momento não está exercendo, deve estar licenciado. Quem está respondendo
pela Secretaria Municipal da Cultura é Carlos Roberto Winckler. Pois a resposta é imediata. A
resposta vem tão-logo a Rádio Gaúcha fez ...
O Sr. CARLOS R. WINCLER [sic]: ... Pilla, porque ele não? [sic] se encontra licenciado,
no momento assim está em reunião com o Prefeito. Infelizmente não vai poder ..... propriamente à
cultura, mas o substituo, não há problema quanto a isso. Bom, quanto a Revista, escutei a Vereadora
Letícia Arruda, e é curioso. Se faz uma série de confusões aí. Em primeiro lugar, acho que a gente
deve colocar um questão [sic] do ponto de vista mais geral: a questão da liberdade no País. Não há
mais censura, não é? As pessoas tem todo o direito de expressar a sua opinião, a sua cultura, arte.
Felizmente, acho eu, superamos não é, o período de tormento e arbítrio mais explícito, por assim
dizer. Felizmente, porque houve aí algumas, em outra, em outra emissora, onde se pensou até em
jogar a polícia federal dentro do Centro Municipal de Cultura. Brigada Militar, as pessoas parecem
que não lêem a Constituição, começa por aí. Mas enfim, gostaria de responder à Vereadora assim
algumas coisas muito concretas. Por exemplo, a Secretaria Municipal de Cultura, ela no que diz
respeito aquilo que ela trabalha com cultura, ela não consume(?) propriamente recursos
orçamentários. Os recursos orçamentários, a maior parte deles vai efetivamente para o pessoal e
para a manutenção de fato. Nós temos uma outra coisa, acho que a Vereadora desconhece, nós
temos o Funcultura, ou seja, é um Fundo mantido pela própria Secretaria onde uma boa parte dos
recursos advém do uso dos espaços (?), ou seja, nós organizamos, por exemplo, um simpósio,
palestras, peça de teatro, etc., se cobra taxa, é com esse dinheiro. Portanto, acho que a Vereadora
devia se informar mais sobre as leis municipais, acho inclusive esta uma atribuição dela, em
segundo lugar, acho que deveria ter um pouco mais de cuidado, pensar assim, o que significa
investir em cultura. Por exemplo, não é atribuição da Secretaria Municipal de Cultura, por exemplo,
colocar canos nas vilas, cuidar da iluminação pública, nem propriamente distribuir cadernos. Nós
estamos rigorosamente dentro das nossas atribuições, eu acho que é uma confusão. Eu lamento que
acho que é pouco pedagógico, a gente sabe que as eleições estão próximas, etc., a gente sabe como
funcionam estas coisas. Bom, por outro lado, agora sobre a Revista propriamente dita.
O SR. BELMONTE: Bem, ela falou a respeito da Revista e o senhor ouviu, não preciso
estar repetindo, que parte do papel ou o papel da Revista teria sido fornecido pela Secretaria da
Cultura.
O REPÓRTER: ... São 11 horas. Apenas um esclarecimento que dizer que o Sr. Gilmar
Rodrigues, que é o editor desta revista, portanto está sujeito a qualquer momento ser pendurado na
corda. Quem é a favor e quem é contra?
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Meu caro, Wianey, eu quero em primeiro lugar destacar
determinados pontos do que eu estou chamando a questão da Revista Dum um [sic]. Quero
acentuar, como já fiz várias vezes, que não sou contra a liberdade de expressão, que jamais bebi ou
comi com arbítro [sic] ou a prepotência. Sou do PDT. Quero apenas chamar atenção que apoio com
6 mil folhas que a Secretaria Municipal deu à Revista Dumdum [sic] foi com o dinheiro do povo.
Eu, como Vereador, tenho o dever e o direito de fiscalizar o dinheiro do povo. Em segundo lugar, o
Sr. Carlos Roberto Winckler, Secretário Substituto, falou hoje pela manhã e eu não ouvi qualquer
explicação ainda do Dr. Pilla Vares, jornalista, Titular da Secretaria de Cultura, - e afirmou que eu
não entendo de política orçamentária do Município, que deveria entender. Digo a este funcionário,
que é funcionário como eu, nós somos funcionários do povo da Cidade de Porto Alegre, que dentro
do orçamento da Secretaria Municipal da Cultura existe o Funcultura criado pela lei 6099 de 1988
com previsão de cr$ 188.964.00,00 para 1990, que a esta altura já deve ter sido suplementado. O
que me preocupa, Wianey, é que se invista dentro do que se julga correto em matéria de cultura. Eu
só quero dar um exemplo a Prefeitura Municipal de São Paulo, através de sua Secretária Municipal
de Cultura, a filósofa Marilena Chauí comprou 300 mil livros, fazia 30 anos que São Paulo não
comprava livros e esta mulher corajosa comprou 300 mil livros e o que fez mais? Fez um ônibus-
biblioteca com quatro mil livros que percorre as vilas de São Paulo. Então, o que questiono é o
apoio que a Secretaria de Cultura deu a esta Revista, se deu 6 mil folhas, alguma gratuidade teria
que ter dado, e se é cultura teria que ser entregue ao povo e não cobrada do pov [sic]. Igualmente,
não aceito as críticas que fizeste a minha pessoa de que eu não conheceria as obras de Edgar
Vasques, eu principalmente por ser porto-alegrense, onde temos nomes importantes na nossa cultura
eu valorizo e conheço muito bem. Considero muito o mundo artístico de Porto Alegre, Winckler,
quero também frisar que os conceitos discriminatórios que existem na revista ...
A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Ela não chega a ser pornográfica, porque como eu estava
falando com o Winckler, pornografia é miséria, é fome, ela é pornográfica em muitos aspectos
quando por exemplo ela coloca as minorias: os homossexuais, coloca o patrão com a empregada, o
racismo, a empregada tem que ser negra. Por que não a patroa negra? Então, estes fatos todos,
quando a revista coloca a mulher frente à sociedade: uma PM que seviciam [sic] dois homens e
depois esse homem vai à Delegacia de Polícia e lá o delegado manda ele ser faturado, etc.
O SR.: mas essa experiência deve ser boa ser seviciado por duas mulheres ...
O SR. CARLOS ROBERTO WINCLER [sic]: A Administração ela tem pautado pelo
rigoroso pluralismo e evidentemente que quando somos procurados por artistas, por intelectuais,
nós não fazemos um papel de censura, mesmo porque a Constituição aboliu a censura, não cabe
nem a Brigada Militar nem à Policia Federal simplesmente coibir atos culturais. Eles pode [sic], até,
ser um elemento de polêmica, o que eu acho até muito bom ...
O SR. CARLOS ROBERTO WINCLER [sic]: Em primeiro lugar isso, em segundo lugar, já
que não cabe tratar aqui a questão do conteúdo, mas parece que a questão sempre deriva, o discurso
é muito ambíguo, sempre deriva para a questão do conteúdo.
O REPÓRTER: Mas Wincker [sic], como nós temos pouco tempo para falar deste assunto
eu gostaria de deixar o outro assunto para uma outra oportunidade. Temos aqui o Fernando Schiller
que é o coordenador do Licro [sic] da Secretaria Municipal de Cultura também quer usar a palavra.
O REPÓRTER: Eu vou dizer uma coisa: estão falando tanto desta revista que esgotou ...
A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Mas o povo também precisa ler, também tem que receber
gratuitamente.
O SR. FERNANDO SCHILLER: Verª. Letícia Arruda, sobre as questões concretas que a
Vereadora coloca, eu digo sinceramente que é a primeira vez que eu posso debater contigo num
programa de Rádio eu considero que nenhuma das acusações que a Vereadora faz tem qualquer
fundamento, que são: a primeira seria sobre o apoio financeiro que a Secretaria teria dado foi de cr$
40.000,00 do povo de Porto Alegre, cr$ 40.000,00 do Fundo Municipal de Cultura, tem uma parte
da verba arrecadada. Não tem fundamento esta acusação e por que? Porque nós apoiamos um sem-
número de iniciativas, iniciativas populares, iniciativas de educação, apoio pedagógico, iniciativa de
show musicais [sic] ...
O SR. FERNANDO SCHILLER: Esse argumento, Verª. Letícia, não teria qualquer sentido
nós apoiamos dezenas de incentivos culturais, essa é apenas uma delas.
O SR. REPÓRTER: Eu acho que estou entendo a Vereadora, se a Prefeitura dá ajuda para
publicação de uma revista porque ela vai ser comercializada? Essa questão deveria ser respondida.
O SR. FERNANDO SCHILLER: Respondo claramente. O Joel pode até me esclarecer com
mais detalhes melhor, o custo total desta revista deve beirar em torno de centro e cinquenta mil
cruzeiros. Quer dizer: os cr$ 40.000,00 não chegam nem a 1/3 do custo da revista. Então,
Vereadora, se a Secretaria Municipal de Cultura não apoiasse esta revisto, qual seria o preço dela?
Sairia em torno de cr$300,00 ou mais. Segunda questão: os escritpores [sic] fizeram um sistema de
cooperação e financiaram uma parte da revista. Como, enfim, o meio cultural viu uma série de
dificuldades financeiras na nossa cidade que a senhora conhece e nós todos conhecemos, eles
solicitaram à Secretaria que fizessem uma espécie de subsídio de uma parte da revista, que é uma
iniciativa cultural de validade. Então, partíamos o custo da revista para darmos acesso de mais
pessoas à compra da mesma ...
A SRA. LETÍCIA ARRUDA: E quando serão entregues nas escolas? Deve haver alguma
parcela destinada a isso.
A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Não é verdade, porque a Bancada do PDT se reuniu com a
Bancada do PT ...
O SR. FERNANDO SCHILLER: A Bancada do PDT jamais fez alguma referência positiva
a qualquer dos projetos da Secretaria Municipal de Cultura e a Secretaria tem um belo trabalho, um
trabalho popular um trabalho de descentralização ...
O SR.: Só um dado concreto: no ano passado atendemos 340 mil pessoas. Organizamos 112
espetáculos de músicas, atendemos 60 mil crianças em escolas estaduais e municipais,
incrementamo [sic] as bibliotecas, investimos numa série de palestras. Quer dizer: é brincadeira?
O SR. REPÓRTER: Sem ser moralista nós temos aqui alguns quadrinhos do Newton:
“Papai e Mamãe numa relação sexual.” “Papai e a empregada”: A empregada realmente é preta, não
dá para discutir a cor da empregada. “papai e a vizinha”; “Mamãe e o encanador”; “Mamães e a Tia
Alice”. É uma pregação à promiscuidade aqui.
A SRA. LETÍCIA ARRUDA: A Escola Municipal Praª. Ana Iris do Amaral estão pedindo
livros para a biblioteca e a Revista também Gilmar.
O SR.: Nós temos aqui 67 páginas sem alusão à sexo, mas quanto ao racismo do papae [sic]
e mamãe e papai e empregada se nós colocássemos uma branca nós poderíamos estar sendo
chamados de hipócritas e desconhecer a realidade, a maneira como o negro é discriminado pela
sociedade e vive com baixos salários. Então é uma forma de denúncia. Quanto às brigadianas seria
aquela parte em que elas curram o cidadão e depois ele vai se queixar na Delegacia do Homem e lá
ele é novamente currado pelos policiais homens. Eu acho que essa é uma história contra o
preconceito e a discriminação porque o cara que foi se queixar da curra das brigadianas foi
considerado homossexual.
A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Não. A seleção já foi feita pelo povo de Porto Alegre quando
deu 55% ao mau e ao péssimo do Governo Olívio Dutra.
O SR. FERNANDO SCHILLER: Não é só uma crítica ao PT mas também ao PSB e PCB,
que compõem a Administração Popular.
O REPÓRTER: Vereadora, este assunto é muito polêmico nós poderíamos ficar aqui uma
tarde inteira discutindo aqui. Eu tenho
A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Wianey, eu mostrei aos meus filhos, um tem 17 anos, uma
menina de 15 e outra de 12 anos, eu li juntamente com os meus filhos.
A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Eu já convido V.Sa. a participar para fazer esta discussão na
Comissão Permanente de Educação e Cultura da Câmara Municipal.
O SR.: Daí poderás analisar melhor a revista porque tem gente falando da mesma sem ao
menos ter lido.
Meus amigos amanhã à noite no Centro Municipal de Cultura haverá o lançamento oficial
da revista. Esperamos que os cavalarianos do CTG 35 não impeçam o lançamento e nem a Brigada
Militar.
A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Eu espero que o povo, principalmente das vilas, receçam
[sic] a revista nas escolas já que é uma revista cultural.
O REPÓRTER: A Editora do Gilmar vai passar a noite imprimindo a revista porque não
tem mais para o lançamento.
O SR. GILMAR: É, realmente, eu pediria que corressem para as bancas porque já está
esgotando.
O SR. REPÓRTER: Nós já ultrapassamos o espaço mas o assunto é muito polêmico, não é
Vereadora?
O SR.: ...porque colocar um produto no mercado numa época de recessão foi um sucesso,
tiveram uma mídia eletrônica que outros não conseguem, porque até não tem dinheiro e estão
faturando aí.
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Eu queria dizer e ressaltar este aspecto que colocaste aí, que
não há e não se discute o mérito ou o direito que os editores têm de fazer uma revista dessa
natureza, seria o cúmulo, porque seria o cerceamento da liberdade de expressão, que é um princípio
defendido por todos nós. O que ocorreu a respeito dessa revista foi que alguns Vereadores se deram
conta de que havia expressamente um apoio da Prefeitura Municipal, através da Secretaria
Municipal de Cultura. Houve uma indignação, por parte dos colegas Vereadores, no sentido de que
eles acham que os recursos públicos na área de cultura seriam mais bem empregados em outro tipo
de publicação, outro tipo de atividade cultural que não esse tipo proposto pela revista DUMDUM
[sic]. Nesse sentido a Vereadora Letícia Arruda teve a iniciativa de recorrer a uma CPI, que é um
instrumento que a Câmara de Vereadores dispõe para apurar possíveis responsabilidades de serviços
públicos no caso de utilização indevida de recursos de dinheiro público do Município. A CPI é um
instrumento que será utilizado pela Câmara. Me parece que ela já recolheu número de assinaturas
suficientes para instalação dessa Comissão Parlamentar de Inquérito, em que serão chamadas as
autoridades, principalmente na área da cultura do Município, para prestar, à Câmara, as explicações
que motivam o apoio da Prefeitura a esse tipo de publicação. Quero dizer que esse é um direito do
Vereador e mais do que um direito, um dever que os parlamentares têm, porquê faz parte do
exercício do poder de fiscalização que os Vereadores têm. Nós somos eleitos exatamente para isso,
para fiscalizar os atos do Executivo e também neste caso e principalmente quando se refere a
dinheiro público. É uma publicação que está sendo custeada pelo menos em parte por recursos
públicos e nós estamos cumprindo com o nosso dever. Não quero fazer nenhum juízo precipitado a
respeito de resultados desta CPI, até porque esta Comissão Parlamentar de Inquérito haverá de dar o
direito à Prefeitura e aos próprios editores da Revista [sic] de lá comparecerem e fazer a exposição
das razões que elvaram [sic] a Prefeitura a co-patrocinar uma obra desta natureza.
O Sr.: Bom dia, Adão Iturrusgarau [sic] um dos editores, ele e o Gilmar Rodrigues que
estão aqui presentes são os donos da bola, vamos a defesa.
O Sr. Adão Iturrusgarai: Bom é o seguinte: a Revista “Dundum” que o senhor está dizendo
que foi patrocinada pela Prefeitura, ela não pe [sic] patrocinada, ela tem o apoio da Prefeitura, é um
apoio e a verba é muito pequena e o estardilhaço é muito grande. Eu sei que é um direito dos
Vereadores e tal abrirem uma CPI para tentar esclarecer certas coisas, mas, por exemplo, vai-se
gastar mais dinheiro numa CPI, vai custar mais para os cofres públicos do que custou para a
Revista. Às vezes, para Culutura [sic] patrocinar um show ao vivo ou uma peça de teatro, ela pode
gastar mais dinheiro do que foi patrocinado pela “Dundum”.
O SR. GILMAR RODRIGUES: O patrocínio para peças, cinema e livros é uma coisa
moral, a única coisa que está acontecendo é um preconceito quanto ao tipo de atividade da
publicação, porque é uma espécie de ineditismo. Na Prefeitura acho que fez muito bem, acho que
para a Secretaria de Cultura foi um grande lance, porque acho que fazia uns dez anos que não
acontecia uma coisa assim. Aliás, não é uma coisa tão inédita bolar este tipo de publicação, porque
na Administração passada o “Pasquim” Sul tinha quase que toda a semana, me parece que toda
semana anúncio da Administração Collares, o que também não somos contra seu houve publicação,
sou até a favor porque eu era colaborador do “PASQUIM SUL” também. Também o “PASQUIM
SUL” tinha sexo e algumas coisas de humor negro, que estão dizendo que é pornografia, mais ou
menos uma publicação deste estilo. Assim como tinha no Rio de Janeiro página e páginas do
“PASQUIM” do Rio, patrocinado pelo Governo Brizola.
O Sr.: Estamos aqui com o Ver. Vieira da Cunha e com os donos da “DUNDUM”, o Adão e
o Gilmar.
O Sr. WILSON SANTOS: Olha, em relação à Revista “DUNDUM”, posso te dizer que
uma Administração Popular e que arvora em dizer popular, se fizesse uma consulta popular, ela
teria certamente o repúdio por esta publicação, porque eu não vejo na publicação, e ela está
totalmente maculada, o sentido Cultural no momento em que dou apenas um exemplo: em que ela
ataca a instituição Brigada Militar e instituição Polícia Civil, mostrando um atendimentos policial
baseado em parassexuais, em agressão sexual, a onde os policiais fazem atos ibidinisos [sic] com as
pessoas que necessitariam ou que estariam envolvidos com a polícia. Aquilo ali, pegue a Revista e
olhe e vê que é uma coisa destrutiva ao mundo melhor que queremos construir. Outro detalhe que
me deixa perplexo é o investimento maldirigido [sic], porque o Vereador Adroaldo Corrêa declarou
que a Prefeitura apenas patrocinou, subsidiou a Revista,. Ora, pegar dinheiro do contribuinte,
porque, vê uma coisa, o contribuinte está sobrecarregado já com uma carga excessiva de impostos,
ele paga para ter contraprestação de serviço. Estou baseado em consultas, eu dou atendimento às
segundas-feiras, no Bairro Sarandi, e atendo ao povo, o povo está desesperançado, desacreditado no
Poder Público, porque...
ele quer iluminação pública, ele paga e não tem iluminação pública. Ele quer que o buraco seja
aberto e seja fechado, tanto na calçada como na rua. Dá uma passada nas ruas de Porto Alegre, é
uma buraqueira total. Então, em vez de se gastar dinheiro nisso, gasta-se dinheiro em coisas que o
povo não quer. Uma outra coisa é o Governo Federal. Hoje o Governo Federal está gastando
milhões de dólares num Projeto da Marinha, que é um Projeto bélico, é um Projeto de guerra. O que
nós queremos é investimento em educação e investimento em cultura. Agora se vêm me dizer que
este investimento é em cultura. Eu preferiria, no momento em que está externada aquela verdadeira
pornografia, especialmente neste quadro que mostra o atendimento da Polícia e da Brigada Militar.
Podem tentar mistificar, mas é pornografia. Eu preferiria que a Administração Popular gastasse
dinheiro numa revista de educação sexual, sexualidade. Agora querem misturar cultura para atacar
instituições, para agredir, para fazer uma violência contra as instituições e contra autoridades, Isto é,
no mínimo, vergonhoso.
O Sr.: Pergunto ao Vereador onde está citada a Brigada Militar nesta história que o Sr. Está-
se referindo?
O Sr.: O Sr. Conhece as gravuras eróticas do Picasso, que mostram as relações sexuais?
Acho que não.
O SR. WILSON SANTOS: Mas eu estou interessado no povo de Porto Alegre que
represento e não estou interessado em quem tem uma galeria de artes, que bota uma coisa, que
alguém vai lá e vai ver, realmente tem aquela tendência. Estou interessado é no dinheiro do povo
que foi gasto mal.
O Sr.: Nós estamos contestando as suas palavras, que o Sr. Disse que não é uma atividade
cultural.
O Sr. WILSON SANTOS: Te pergunto quanto ganha o funcionário que denunciei, que é
funcionário CC, que deveria ganhar apenas 40 mil cruzeiros se fosse um funcionário normal, mas
como ele tem CC e tem regime de dedicação exclusiva, o regime de dedicação exclusiva, o regime
de dedicação exclusiva faz com que tire do bolso do contribuinte, do bolso do povo e pague o
dobro, este funcionário ganha 86 mil cruzeiros por mês. O dono da revista que deveria trabalhar
manhã, tarde e noite, porque dedicação exclusiva, se dedica para revista. Quero saber se tu tens
conhecimento disso?
O Sr.: Isto diz respeito a mim mesmo. Eu não ganho 86 mil como disseste. Agora uma
coisa, eu tenho regime de educação exclusiva [sic] e trabalho o dia inteiro na Prefeitura, manhã e
até as 6h da tarde, mas isto não impede que eu continue. Sou um cara que trabalho com quadrinhos
a uns 6 anos mais ou menos, não impede que eu expresse culturalmente minha atividade. Isto é
absurdo, estou economizando dinheiro para Prefeitura que Administrações passada entregavam para
agencias [sic] de publicidade, para fazer cartazes, campanhas, prospectos e coisas, nós estamos
fazendo lá dentro da Prefeitura e economizando dinheiro, trabalhamos o dia inteiro. Não tenho
vínculo empregatício com outro lugar.
O Sr.: Acho que este negócio de fazer consulta com o povo, é uma coisa relativa, a revista
está sendo bem-aceita, a principal consulta está na compra, a edição esgotou. Agora estamos
fazendo a segunda edição. Para o produto que vai ao mercado esta é a principal consulta popular.
Convidaria o Senhor para visitar uma banca de revista e comparar a nossa revista com uma
publicação verdadeiramente pornográfica. A diferença é gritante.
O Sr. WILSON SANTOS: Eu gostaria que fosse feita uma consulta diferente, dirigida no
seguinte sentido, gostaria que o dinheiro do contribuinte fosse gasto para publicar este tipo de
revista ou para botar iluminação para evitar que o povo seja agredido e assaltado.
O Sr.: Isto aí e produção cultural, isto aí poderia ser patrocinado por um show ou até uma
peça de teatro em que as pessoas andas nuas.
O Sr. WILSON SANTOS: Continuo com a idéia dentro da parcela que represento do povo
achando que está totalmente errado, temos que continuar debatendo. Hoje o debate está prejudicado
em função de estar por telefone mas de qualquer maneira eu estou dando minha parcela, minha
contribuição, já que um debate que se utiliza um meio como o rádio, que é justamente um meio que
quer levar informação ao povo, que o povo agora está ouvindo, o povo ouvinte neste momento na
rádio Bandeirante, que atentem para o debate até porque sei que tem mais Vereadores aí, o Ver.
Vieira da Cunha que está presente e que o debate continue. Eu fico momentaneamente neste debate
prejudicado mas estou dando a minha opinião as minhas colocações que é uma coisa que estou
convencido do que estou dizendo.
O Sr.: Bem, meu caro Vereador, então o Sr.na CPI o Sr. Vai ter uma forma atuante, porque
o Sr. discorda plenamente da revista.
O SR. PAULO: Continuamos aqui com o Ver. Vieira da Cunha, que ouviu atentamente o
seu colega e está ouvindo o Gilmar e o Adão.
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Só queria fazer um reparo. Quando se falou de que na CPI vai
se gastar mais dinheiro do que no apoio que a Prefeitura deu à revista e dizer que a CPI não
pressupõe renumeração extra para o Vereador, a CPI faz parte de um trabalho normal de um
Vereador dentro da Câmara. Ninguém vai receber subsídio extra algum porque está fazendo parte
da CPI. Então, não haverá nenhum gasto extra para o contribuinte em se formar uma Comissão
Parlamentar de Inquérito na Câmara.
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Inclusive, para se instalar uma CPI, uma vontade individual
não é suficiente para isso, um Vereador não tem esse poder, é preciso que a maioria absoluta da
Câmara subscreva um Requerimento para a instalação da CPI. E eu posso dizer para vocês que,
conforme as informações que a Ver. Letícia Arruda me trouxe, inclusive Vereadores da Bancada do
Governo, do PT, subscreveram esse Requerimento para instalação da CPI. Então, não poderia ser
diferente, não significa dizer que estes Vereadores do PT ou mesmo alguns não concordem até com
esse tipo de literatura, não é isto, é que nós estamos defendendo o direito que os Vereadores têm de
fiscalizar o emprego de verbas públicas, por simbólicas que sejam. Porque é sempre dinheiro
público.
O SR.: Adão, você pode dizer quanto é que a Prefeitura deu de recursos para a DUNDUM?
O SR. ADÃO: Deu 9 mil folhas de papel, o que custou 40 mil, agora 50 ou cinquenta e
poucos. Não posso dizer certo porque o papel foi comprado antes.
O SR. GILMAR: Outra coisa que queria dizer, não se pode misturar as coisas, tem gente
falando que na cidade falta iluminação, calçamento, tudo bem, não queremos discutir isto, só que
não é função da Secretaria de Cultura colocar lâmpadas em ruas ou calçamento e os Vereadores
sabem disto, porque eles aprovaram uma verba para a Secretaria de Cultura, então, gostaria que o
debate se fixasse aí.
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Eu quero concordar com esta argumentação. Eu não fui por
este caminho. Eu chamo atenção do meu colega Wilson Santos, porque realmente não é por aí. O
que afirmei no início é que dentro da cultura, dentro dos gastos com a cultura estes recursos
poderiam ser mais bem-aplicados, é neste sentido. Agora, nós não podemos realmente comparar o
emprego de verbas aqui com reposição de lâmpadas, que só afeta a outras Secretarias. Estou
dizendo que dentro dos programas que existem na Secretaria Municipal de Cultura certamente estes
recursos, no entender dos Vereadores que estão subscrevendo este requerimento, poderiam ser mais
bem utilizados. Aí é uma questão de conveniência na utilização dos recursos públicos.
O SR.: Quero colocar uma coisa bem profissional a respeito do trabalho e da revista. Esse
pessoal que está falando mal da revista, na verdade quadrinhos é cultura e ...
ela segue uma tendência que está sendo muito usada no mundo. E, no Brasil inteiro, cara, foi
lançado, só em São Paulo que produz quadrinhos como aqui. A “Dumdum” [sic] é uma revista
que ... no Brasil inteiro... Inclusive, a gente nem mandou ainda, porque a gente está mandando...
O SR. (...): Nesta revista ... está publicando em São Paulo; temos aqui, estamos abrindo um
mercado ... O Jaka [sic], na capa, ele é conhecido nos Estados Unidors [sic], um editor, um grande
editor de vanguarda, quer dizer, acho isso super-importante [sic] para o Rio Grande do Sul, porque
as pessoas vão ficar, realmente, abismadas com esse trabalho, não consigo imaginar como ... e não
estão ganhando dinheiro...
O SR.: Agora, como o Solano me disse, a Revista é de boa qualidade, não se discute.
Agora, o que a Câmara vai, o que motivou a instalação da CPI, que ainda vai motivar muitos
debates dentro da Câmara, é o fato da Prefeitura apoiar este tipo de literatura que vocês hão de
convir comigo que é muito controverso: a sociedade em geral não aceita esse tipo de literatura.
Então, no momento em que a Prefeitura põe dinheiro público aí, ela tá chancelando esse tipo de
literatura, esse tipo de cultura que não tem aceitação geral da sociedade. Por isso, a polêmica.
O SR.: Quero agradecer aos amigos. Estou levando uma Revista que me entregaram, o
Gilmar e o Adão, apesar de toda a polêmica e discussão. Agora, quero cumprimentá-los pelo
seguinte: eu nunca vi, mais uma vez volto a dizer, uma revista que teve uma repercussão tão grande.
Sexta-feira, novamente, nas bancas; mas o pau vai comer.
O SR.: Já houve, então, um grande avanço: na segunda edição faz sem o selo da Prefeitura.
Já é um avanço, já serviu para alguma coisa.
O SR.: Meus cumprimentos, Gilmar e Adão. Bom-dia. Volto amanhã com o “Jornal de
Sábado”, a partir das 8 horas. Fique aí. (...)
(Música)
NOTA OFICIAL
Nos solidarizamos com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre e com os editores da Dum
Dum [sic], entendemos que é dever do poder público apoiar todo o tipo de manifestação artística.
(p. 691)
NOTA
GRAFAR, Grafistas Associados do Rio grande do Sul, entidade que reúne, desde 1988, os
cartunistas, ilustradores e autores de histórias em quadrinhos, tendo em vista o debate suscitado pela
publicação da revista DUNDUM, e considerando que os editores, bem como grande parte dos
colaboradores desta revista são integrantes da associação, vem ponderar o seguinte:
Quanto ao conteúdo de algumas páginas da publicação, só pode representar choque para pessoas
completamente desinformadas das tendências dos quadrinhos contemporâneos, nacional e
internacionalmente. De fato, nos últimos vinte anos intensificou-se, a partir da Europa, a produção
de quadrinhos para adultos que examinam os temas da violência, dos costumes, comportamento
(sexo inclusive), política, etc., temas de resto presentes historicamente na literatura, no cinema,
teatro e demais formas de expressão, sem falar na imprensa e na publicidade. Qualquer leitor
habitual de quadrinhos sabe, e qualquer interessado pode comprovar sem esforço, que tais temas,
livremente tratados, estão presentes em praticamente todas as revistas atuais de quadrinhos para
adultos. Bata folhear, em qualquer banca, “Chiclete com Banana”, “Piratas do Tietê”, “Animal”,
“Planeta diário” ou “Casseta Popular”, principais publicações de humor e quadrinhos editados hoje
no país. Portanto, se alguém, saudoso da censura (contra a qual os cartunistas SEMPRE lutaram),
pretendesse suprimir DUNDUM das bancas, sob a genérica alegação de “pornografia”, teria que
levar pelo mesmo motivo, quase todas as publicações dessas bancas. Na GRAFAR se acredita que o
julgamento de qualquer publicação deve ser do público consumidor, que felizmente não é obrigado
a adquirir ou ler nada que não queira. Quanto ao apoio dado à DUNDUM pela Secretaria Municipal
de cultura de Porto alegre, GRAFAR, como associação que luta pelo desenvolvimento do cartum e
do quadrinho no estado, apenas pode agradecer. Finalmente alguma instância do poder público tem
um pequeno gesto de apoio aos cartunistas, que há tantos anos conquistam sem ajuda, prêmios
nacionais e internacionais para o Rio Grande do Sul. Seria, é claro, um absurdo que esse apoio fosse
condicionado por qualquer tipo de censura prévia ao conteúdo da obra. Se um “critério” assim
valesse para o apoio oficial à produção artística, simplesmente não teríamos algumas das principais
obras do cinema e do teatro brasileiro da atualidade.
Se a idéia é mesmo construir um país desenvolvido e contemporâneo do mundo, seria útil deixar
que também os cartunistas, como todos os cidadãos, cumpram o seu papel. No caso, mostrar
livremente cada visão particular do nosso meio comum, ajudando a sociedade a entender onde está
e para onde quer ir.
________________________________
O “escândalo” da Dundum
A revista gaúcha de quadrinhos Dundum esgotou ligeiro. Jamais seus “donos”, como se
chamam Gilmar Rodrigues e Adão Iturrusgarai esperavam uma reação tão rápida do público. Eles
não contavam com uma propaganda gratuita, surgida a partir do renascimento de um moralismo
retrógrado. E praticado, geralmente, pelos que costumam levantar-se de seus berços esplêndidos, na
proximidade de eleições. Chamaram a revista de pornográfica, imoral, pedindo sua queima e
apreensão, como nas cruzadas do tempo do fascismo. Nas 80 páginas de Dundum, em nem dez por
cento há referências (gozativas) ao sexo. Claro, os que pediram a censura para a Dundum não
conhecem nada das mais prestigiadas revistas em quadrinhos que se fazem hoje na França, Bélgica,
Itália e Espanha. Revistas destinadas ao público adulto, que não aceita repressão de nenhuma forma,
seja política, moral ou sexual. Para as crianças sobra geralmente aquele universo “educativo” de
Disney & Cia, que todos conhecem tão bem. Em tempo: não sou PT e nada tenho a ver com a
Administração Popular (cuja Secretaria Municipal de Cultura deu apoio à publicação), mas quero
que Dundum continue por aqui, com ou sem “escândalo”.
GOIDA
Rogério de campos
DUNDUM – Vários autores, 50 páginas em preto e branco, Cr$ 650,00 BD Editora, r. Botafogo,
565, tel (0512) 33-6475 e 33-8817, Porto Alegre. Em São Paulo à venda na HQ Underground (r. 24
de Maio, 62 loja 220, região central), Revistaria Bar Avenida (r. Pedroso de Moraes, 1036,
Pinheiros, zona oeste) No rio está na Gibimania (r. Jurupari, 19, loja E, tel. 264-9752, Tijuca)
Só agora, depois de um ano, é lançado o segundo número do gibi “Dundum”, que no ano
passado provocou uma violenta polêmica no Rio Grande do Sul, acusado de pornográfico, racista e
ofensivo, entre outros, contra a polícia militar.
Desta vez o gibi não provocou polêmica. Para Dedé Ribeiro, 32, uma das editoras da
revista, as pessoas - entre elas o próprio governador do Rio Grande do Sul, Alceu Collares - que
atacaram o primeiro número da revista “estão envergonhadas pelo escândalo que fizeram em torno
da “Dundum”. As críticas contra a “Dundum”, segundo Dedé Ribeiro, eram mais uma desculpa
para atacar Prefeitura de Porto Alegre, que é do PT e que patrocinou a compra de parte do papel da
tiragem inicial, de 1 mil exemplares. Segundo Dedé Ribeiro, depois que a “Dundum" foi descoberta
pela crítica especializada de São Paulo, acabaram os ataques. Depois de ser recomendada até pelo
jornal francês “Libération" (para quem "passar pelo Brasil”), a “Dundum" é "um orgulho do
gaúcho”.
Seus criadores juram que não tiveram a intensão de fazer polêmica com o primeiro número
da revista. Mas um deles, Adão Iturrusgarai, 26, não esconde um pouco da insatisfação que sente
com a "tranquilidade" com que aconteceu o lançamento do novo número da revista. Ägora ninguém
quer nos entrevistar, na época os jornalistas iam até em nossas casas querendo uma entrevista”,
conta dando risadas. Para Iturrusgarai (criador de dois dos melhores personagens da HQ brasileira
atua: os cowboys gays Rocky e Hudson) o gibi continua sendo coisa “anormal”, “Nós somos
anormais, quando a ‘Dundum’ for normal terá perdido sua razão de existir”.
Mas é impossível negar que a revista está “mais comportada”. Os temas das HQs são menos
polêmicos e até os desenhos, menos sujos. “O que aconteceu foi que tentamos transformar a
‘Dundum' em uma verdadeira revista. antes ela era meio fanzine” diz Iturrusgarai. (p. 705)
Antologia
Marcel Plasse
…vem do ajudante da Tartaruga …de uma bala explosiva. O polêmico… Dundum, no ano passado,
mis… cipais (da Prefeitura de Porto Alegre… num boom babélico. De um lado … gaúchos
protestando contra o mau … público; do outro lado (do Atântico… resenhas elogiosas em jornais da
… Espanha. Revistas de vanguarda … Deadlineb e Zin Zone chegaram a … os editores Adão
Iturrusgarai, … o Salão de Humor de Piracicaba, … A falação fez com que Dundum …
rapidamente nas bancas, foi com… segunda tiragem e o início de um … as editoras Circo e Nova
Sampa … da revista em publicação mensal … e fato.
… Rocky e Hudson, cowboys gays, … Iturrusgarai, são o destaque. apenas … Mulher Fatal, que
assalta diligências … dos solitários - e solitárias - … Glauco … qualquer ………. suas influências -
a turma … americana Raw e desenhos … animação, como Felix the Cat… de sua autoria.
… de Fábio Zimbres é uma pequena … de ritmo publicitário, pedantes … Portugal. Vit dá um final
difDerente … que conduziram à queda do … Goulart, em desenhos que remetem … de cordéis e
mostram o Brasil … paraíso socialista. Como num episódio … telessérie Além da imaginação, …
Até aqui tudo cortado! Difícil transcrever!… desfecho de autêntico pesadelo. Guazzelli, que já
publicou na revista Fierro e editou o fanzine Kamikase, um antecessor pobre da Dundum,
contribui com a única história poético-pretensiosa. Seu traço amadureceu muito, influenciado por
Muñoz e Sampayo (os autores argentinos da biografia em HQ de Billy Holiday), e algumas frases
de sua trip gráfica Telephone Call, uma La Nave Va existencialista, são antológicas.
Pode faltar polêmica ao segundo número, mas seu conteúdo continua a ter impacto de bala.
Mais trilegal, Dundum é quadrienal. Apenas um inconveniente: a revista só foi distribuída, em São
Paulo, em pontos especializados, atendidos pela Devir Livraria.
SERVIÇO
Dundum - Revista que reúne vários artistas brasileiros, publicação independente da BD Editora,
preto e branco, com 52 páginas, CZ$ 650,00. Pode ser encontrada na Alex Comics (Av. Ibirapuera,
1.923, tel. 571-7169), Banca Tiragem Ltda (Al. Lorena, 1.711, HQ Underground (R. 24 de Maio,
62, loja 220, tel. 223-4144, ramal 24), Livraria Belas Artes (Av. Paulista, 2.448, tel. 256-8316) ou
diretamente na Distribuidora Devir (R. Augusto de Toledo, 83, tel. 278-0384) (p. 706)
Caso DumDum
FOLHA DE SÃO PAULO - Segunda-feira, 30 de julho de 1990 (p. 10)
Rogério de Campos
DUNDUM – Revista com diversos autores, 80 páginas em preto e branco, Cr$ 300,00. Redação:
travessa Fortaleza, 152, te. (061) 49-1412. Porto Alegre, Rio Grande do Sul. CEP 91700. Em São
Paulo, à venda na HQ Underground (r. 24 de Maio, 62, loja 220, zona central); revistaria do Bar
Avenida (r. Pedroso de Moraes, 1.036, Pinheiros, zona oeste); banca Tiragem (al. Lorena, esquina
com r. Bela Cintra, Jardins); livraria Belas Artes (av. Paulista, 2.448, tel. 256-8316, zona central).
“Essa indignação moral é uma farsa”, diz Gilmar Rodrigues, um dos editores da revista: “É
apenas pretexto para atacar a Prefeitura.” “Todo o escândalo se deve à vontade de alguns vereadores
e jornalistas candidatos a alguma coisa de se promoverem atacando a administraão municipal, que é
do PT”, completa Adão Iturrusgarai, outro editor.
Adão é o autor de algumas das HQs mais polêmicas da revista. Uma delas, chamada
“Bronha-Sutra”, descreve algumas variações absurdas para o ato de masturbação. Outra, chamada
“O Problema de Fazer Sexo Oral com uma Débil Mental”, fez Alceu Collares, candidato a
governador pelo PDT, declarar que a revista é contra deficientes físicos.
Mas a que deu mais problemas foi uma HQ de Adão que conta a história de um sujeito
violentado por duas policiais. Foi essa HQ que fez a Associação dos Cabos e Soldados da Brigada
Militar anunciar uma ação na Justiça contra os editores da revista. “Nós ficamos esperando a tal
ação”, diz Gilmar, “mas não fizeram nada, foi só publicidade do próprio nome, já que é uma
associação não reconhecida”.
“Apesar de a revista ter sido rotulada de ‘pornográfica’, 67 de suas 80 páginas não tem
nenhuma alusão a sexo”, dizem os editores do manifesto. E perguntam: “Será que os tão atentos
vereadores analisam detidamente qualquer obra cultural que tenha o apoio dos poderes públicos
como se fossem censores? Então eles veriam autores consagrados como Érico Veríssimo (nome de
rua) com livros que contém várias passagens eróticas, ou peças de teatro com cenas de sexo e nudez
que estão sendo ou foram apoiados pelo poder público, por seu caráter cultural. Por que nossa
revista está sendo atacada dessa maneira? É uma revista de quadrinhos, de arte, e por isso mereceu
o apoio da Secretaria de Cultura”.
O escândalo serviu para que a revista esgotasse toda a sua primeira edição, de 1,5 mil
exemplares em menos de uma semana, sendo distribuída apenas nas bancas de Porto Alegre. Como
consequência desse sucesso, os editores providenciaram uma segunda edição, de 4 mil exemplares,
desta vez sem o papel da prefeitura.
Apesar do êxito, eles ainda não decidiram se fazem o segundo número da revista. Por
enquanto estão preocupados em lançar essa edição no resto do Brasil. “Tentaremos conseguir o
apoio da Erundina, para ver se acontece a mesma polêmica e sucesso em São Paulo”, diz Adão. (p.
707)
O prefeito Olívio Dutra não quis falar sobre o assunto. O secretário substituto da Cultura,
Carlos Winckler, 39, disse que os protestos são sinais de “desatualização" em relação às tendências
mundiais da HQ, com seus componentes eróticos e críticos. “Fizeram uma tempestade numa
colherinha de chá”, disse.
A “Dundum" (nome de um tipo de bala que explode ao entrar no corpo da vítima) foi
lançada em Porto Alegre no dia 2 de julho, e o apoio da Prefeitura - que doou papel para o miolo da
revista - provocou protestos. Segundo um dos editores, Adão Iturrusgarai, o papel fornecido pela
Secretaria Municipal de Cultura foi ao valor de quarenta mil cruzeiros.
Gilmar Rodrigues, outro dos editores da revista, diz que a “Dundum" segue tendência "dos
quadrinhos da Espanha, França e Itália”. Gilmar admira especialmente a revista espanhola “El
Víbora" e a francesa “L'Écho des Savanes”, ambas satíricas.
Apesar de Vasques, o grande astro da “Dundum" é o Jaca, autor de duas HQs e da capa da
revista. Jaca é ilustrador e estreou como desenhista de quadrinhos em 89, na “Animal”. Esses seus
primeiros trabalhos chamaram a atenção até dos editores da revista norte-americana “Comic
Journal”, a mais famosa das publicações dedicadas à crítica de quadrinhos. (RC)
Na Itália, alguns jornais e revistas da área cultural, entre elas publicações de histórias em
quadrinhos como “Linus”, recebiam subsídios do governo. Na Espanha algumas das melhores
revistas de quadrinhos são subsidiadas por prefeituras. A mais famosa dessas publicações foi
“Madriz”, de Madri. Essa revista surgiu em 1984, quando Madri não tinha nada especial na área de
quadrinhos além da edição espanhola da revista francesa “Metal Hurlant”.
“Madri”, cujo nome imita o modo com que os habitantes da cidade falam “Madrid”, era uma
revista de luxo e lançou praticamente todos os novos autores da HQ madrilenha. Tendo a prefeitura
para sustentá-la, pôde assumir o risco de publicar histórias em quadrinhos de vanguarda que
nenhuma editora da cidade ainda havia tido coragem de lançar. Também graças à prefeitura, pôde
ser vendida a um preço bem baixo para uma revista de luxo. “Madriz" não tinha periodicidade
definida e acabou depois de três anos, mas durou o bastante para lançar autores como Javier Juan,
ana Juan e Keko, que continuaram sua carreira em outras revistas.
TENDÊNCIA/Mercado
Marcel Plasse
A crise nos quadrinhos produzidos no Brasil está dando lugar a uma euforia não vista desde
o boom dos anos 50, a era do ouro da HQ tupiniquim. Como antes, uma série de cancelamentos,
acompanhada pela queda de qualidade da produção importada, abre caminho para maiores
vendagens de gibis locais. Nem Disney, nem Marvel, mas Maurício de Sousa lidera, há muito o
mercado, com os dez títulos mais vendidos do País. A novidade ocorre por conta das pequenas
editoras. A joint venture entre Circo e Nova Sampa está rendendo reedições da revista Chiclete
com Banana com tiragens de até 100 mil exemplares. Mas o melhor é que nunca se pagoun tão
bem ao artista nacional.
A revitalização coincide com a chegada da Editora Dealer. Seu primeiro título, Mil Perigos,
lançado no mês passado, começou como fanzine melhorado, que reunia criadores do underground
paulistano. Um número depois, virou um referencial no mercado, graças a sua generosa tabela de
pagamentos. Oferecendo US$ 50,00 por página, a Dealer atraiu artistas que tinham deixado de
desenhar por não existir quem comprasse seus trabalhos. É o caso de Luís Gustavo, ganhador do
troféu HQ Mix do ano passado, como melhor desenhista, que não publica nenhum quadrinho há 15
meses.
"O Luis, o Pavanelli e tantos outros não têm produzido porque não sabem se o que criam
vai ser publicado", diz José Carlos de Souza, diretor da Dealer. “Além disso, os artistas nacionais
não recebem pelo que fazem, ou, quando muito, recebem seu dinheiro defasado. É isso que
queremos mudar”, explica. Para tanto, a editora efetua seus pagamentos no ato de entrega dos
originais. As demais editoras - grandes ou pequenas - só emitem pagamento um mês depois. “Não
há incentivo à criação porque não há pagamento real”.
Hoje, Lourenço Mutarelli, que passou a desenhar exclusivamente para a Dealer - é dele o
primeiro título da série de graphic novels da editora, Transubstanciação - consegue sobreviver
fazendo apenas quadrinhos - em dois meses, produziu 70 páginas e faturou cerca de US$ 1.400,00.
É um caso raro. Maurício, Ziraldo, Angeli e poucos outros conseguem viver com os rendimentos de
suas HQs.
Os valores da tabela Dealer espalharam-se como fogo. Toninho Mendes, editor da Circo,
prepara a volta da revista que lançou os Piratas do Tietê, a homônima Circo, comprando páginas a
US$ 40,00. Adão Iturrusgarai, vencedor do último Salão de Humor de Piracicaba, foi o primeiro
artista a vender seus quadrinhos para o novo projeto. Apesar disso, não as duas editoras que
praticam o melhor preço do mercado. A Record paga Cr$ 25 mil por página, mas apenas para
desenhos de humor para publicação na Mad.
A tabela da Abril Jovem, que concentra sua produção nacional na linha de infantis, chega ao
ridículo quando comparada aos números da nova ordem: míseros Cr$ 8.831,31 - cerca de US$
23,00. a Globo não revela números, mas deixa claro, através de um intrincado labirinto burocrático,
que não se dispõe a atender novos autores. Os candidatos não informados sobre o preço de página
nem pelo staff editorial, nem pelo comercial. Apenas a diretora conhece a tabela. Mas os baixos
valores não são exclusividade das grandes. A VHD paga US$ 20,00 a página de quadrinhos criada
para a revista Animal. Cinco dólares a menos do que a americana Eternity paga a Marcelo Campos,
que, por esta remuneração, largou seu cargo de desenhista da Abril Jovem.
O segundo número da coleção Graphic Dealer, que chega às bancas em setembro é Tamba
Tajá, um dos álbuns que Júlio Emílio Braz e Mozart Couto publicaram na Bélgica, será impresso
em cores. (p. 709)
Editoria 2º Caderno/ZH
Sem bairrismo por trás, é preciso reconhecer que hoje o Rio Grande do Sul ocupa um dos
primeiros lugares nacionais na qualidade e quantidade de seus cartunistas. O mais novo da turma é
Eloar Guazzelli Filho - o Alemão - que ganhou o prêmio Nossa Caixa, Nosso Banco, no 18º Salão
Nacional de humor de Piracicaba, em São Paulo. Hoje, Guazzelli apresenta uma série de cartuns
produzidos nos dois últimos anos com o título Totalmente Selvagem. O tema é o choque das
comunidades indígenas com a civilização.
Desde a década de 80, o alemão Guazzelli (como é mais conhecido) está envolvido com o
universo gráfico: cartuns, histórias em quadrinhos e desenhos animados. Estas três linguagens são
complementares e ampliaram sua capacidade de produção, introduzindo novas técnicas e
linguagens.
Guazzelli reconhece que o trabalho gráfico gaúcho está entre os melhores, embora admire
os argentinos, especialmente Quino, criador da Mafalda. Optar por cartum, quadrinho ou desenho
de animação é uma questão que depende do uso correto da linguagem específica de cada expressão
gráfica. “Quando o tema alcançou uma boa síntese e requer um impacto visual o cartum é o mais
adequado”, explica.
O desenho animado, no entanto, o atrai mais. “acho que é a capacidade de dar vida ao
desenho que me fascina.” Os quadrinhos vencedores no Salão de Piracicaba vão virar desenho
animado. Martinica Drinks mistura humor, filosofia e dramas afetivos. Uma máquina de música
(juke box) é a testemunha das paixões que rolam num bar. Dores de cotovelo, solidão e nostalgia
movem a pequena geringonça musical. Para surpresa de todos a máquina tem alma. E nela está
alojada uma pequena orquestra de anões.
Bem melhor do que contar é ver a série de cartuns, assistir os desenhos animados e ler as
histórias em quadrinhos. Hoje, às 19h30min, a série Totalmente Selvagem estará exposta no foyer
do Café Concerto da Casa de Cultura Mário Quintana (Andradas 736). Segue até 22 de setembro,
das 9h às 21h. (p. 710)
Cinco trabalhos daqui estiveram entre os finalistas nas duas categorias. Além de Yamashita,
classificaram-se Lancast Mota (Habitat Natural), em Ecologia; e Silvio Silveira da Silva
(Imobiliária São Pedro), Adriano e Kick (Confissões de um Demônio Apaixonado Por um Simples
Mortal) e Reinicke (Sem haver tempo Forte ou Vento Contrário Para Isso Poder Ser), em Jovem
Talento.
Matrix e Covil foram os melhores fanzines nacionais 90/91 e Lourenço Mutarelli - que já
teria sido convidado por Paul Gravett, organizador de Strip Search 2, para sua próxima exposição -
teve duas de suas HQ premiadas como as melhores do período no Brasil: Por que Sinto Tanto
Prazer com a Dor e Transubstanciação. O vencedor na categoria humor foi José Valber Benevides
(CE), com O Dono do Mundo. Um júri especial formado por François Viè (diretor do Centro
Nacional de HQ da França), Fulvia Serra (da revista Linus, italiana), Paul Gravett e Álvaro Moya
(escritor e pesquisador brasileiro) decidiram dar a Moebius o Prêmio Internacional Cidade do Rio
de Janeiro, pelo conjunto da obra.
Agora é saber se a Bienal de Quadrinhos está estabelecida, sobrevive e terá outras edições.
Chico Vasconcelos, 44 anos, organizador da feira internacional, não tem certeza. "É uma conquista
que terá que ser feita. Não existe ainda, a Bienal não está institucionalizada, embora tenha sido
iniciado o processo”. Sérgio Portela concorda e também tem ressalvas. “Não dá para afirmar que a
bienal já tenha se constituído no núcleo dos eventos de HQ do Brasil. Isso precisa ser amadurecido.
É trabalho para todo ano de 92”. (p. 711)
ZERO HORA
Exposição de quadrinhos
O Mau Humor de Adão Iturrusgarai é o tema da exposição de cartuns e quadrinhos que ir
inicia hoje, no Espaço IAB (Rua Annes Dias, 166), a partir das 18h30min. Iturrusgarai mostra 25
trabalhos onde a temática sexual está presente, assim como vários personagens que criou, como o
Agente Laranja, Rocky & Hudson, Bronha Sutra e Atom Mix. A exposição prossegue até o dia 18
de julho e pode ser vista das 9 às 24h, diariamente. Adão Iturrusgarai foi um dos criadores e
editores da revista Mega Quadrinho. Seus cartuns são publicados na revista “Mad”, “Revista do
Professor”, “Jornal do Povo”, “Arte e Fato" e “Jornal do comércio”. Além disto, também faz
roteiros para o desenhista Jaca e trabalha como diretor de arte em propaganda.
ZERO HORA
Com tiragem inicial de 30 mil exemplares, ela é editada pela Tchê! E vai circular
mensalmente, com distribuição da Editora Abril. O primeiro número, com 32 páginas, traz
quadrinhos de Luís Fernando Veríssimo, Canini, Edgar Vasques, Gilmar Rodrigues, Guazzelli,
Juska, Adão Iturrusgarai, De Ângelis, Iotti, Sílvio S., Reinicke e Lancast. O próximo vai incluir
também nomes nacionais e, para o terceiro número, já está previsto um aumento de quatro páginas.
Sem intimidar com o fato de que São Paulo concentra 70% do mercado editorial do País,
Flávio Braga, Juska, Adão Iturrusgarai, Gilmar Rodrigues e Adriana Lunardi – os cinco criadores
de Megazine -, apostam alto no investimento. Eles começam a disputar uma vaga no mercado,
afinal, num momento em que o quadrinho desfruta de incomparável prestígio. E não só entre o
público infantil, mas também entre os adultos, onde encontra cada vez mais leitores. É o auge de
uma escalada que começou há uns três anos, quando Angeli (o criador da Rebordosa) resgatou o
gênero com o lançamento de Chiclete com Banana.
A idéia de aproveitar o filão e editar uma revista nacional em Porto Alegre nasceu e tomou
corpo há quatro meses, na mesa de um bar onde o grupo se reunia nos dias em que era servido
carreteiro à moda “boca-livre”. “Talentos não faltam aqui. Era a hora de aproveitar o boom dos
quadrinhos”, comenta Adão Iturrusgarai. No editorial deste primeiro número, está o recado: “O
nosso gibi está na rua. Se é novíssimo, já deveria ser antigo numa terra em que os quadrinhos
pululam (epa)...” Megazine vai contar com a colaboração de Grafar – a Associação dos Grafistas de
Porto Alegre, fundada em 88 e presidida por Corvo. A revista está à venda por Cz$ 750,00. (p. 713)
Acontece hoje no Sesc Pompéia a entrega do prêmio HQ-Mix para os melhores dos
quadrinhos em 1990. O HQ-Mix existe há três anos e é o mais importante evento dos quadrinhos no
Brasil. Votam críticos e leitores, em urnas instaladas nas livrarias especializadas.
Este ano, o grande vencedor é Laerte: além de ganhar os prêmios de melhor roteirista e
desenhista nacional, foi o vencedor do prêmio para melhor revista de humor, com seu gibi “Piratas
do Tietê”. A série publicada neste gibi estréia em forma de tira no próximo sábado na Folha.
É o terceiro ano em que Laerte recebe o prêmio de melhor roteirista. É também o terc eiro
ano em que “Calvin”, de Bill Watterson, recebe o prêmio de melhor tira estrangeira.. E é o segun do
ano que “Niquel Náusea” (publicado na Folha) recebe o prêmio de melhor tira nacional.
“Sandman” (da editora Globo) recebeu o prêmio de melhor gibi de terror e seu herói foi
considerado o personagem do ano. O toque de ironia ficou para o prêmio de melhor gibi de
clássicos, dado para “Spirit”, que a Abril Jovem deixou de publicar este ano.
Editora 2º Caderno/ZH
O cartum intitulado Pelego deu a Adão Iturrusgaray [sic] o primeiro lugar no Salão Cartum
Neles, promovido pelo Sindicato dos Bancários, e um prêmio de 750 BTNs - que equivalem a cerca
de NCz$ 8 mil. Ex-editor da revista Megazine, produzida no Rio Grande do Sul e distribuída
nacionalmente pela Editora Abril, durante mais ou menos um ano, Iturrusgaray [sic] está tentando
agora publicar trabalhos na França. No final de março, devem sair duas histórias em quadrinhos
com roteiros criados por ele na revista Animal, onde os leitores acompanharão uma revolta de
minimercados e as aventuras do herói chamado Supermercado. Os desenhos foram feitos por Jaca.
Este é o segundo prêmio ganho por Iturrusgaray [sic] como cartunista. O primeiro, há dois
anos, foi um estoque de 120 cervejas, conquistado com o cartum Tubarão Triquilla, no concurso
Pasquim-Malt 90. Com o filme 90 Amos de Cinema de Adão Iturrusgaray [sic], arrebatou também
o prêmio de idéia mais original do II Fest Vídeo, ano passado. Aos 24 anos e desenhista de
quadrinhos desde garoto, é autor ainda do curta em 35mm The end e prepara, para março, mais uma
mostra individual e o lançamento de uma revista com os integrantes da extinta Kamikasi, que
desapareceu das bancas há dois anos.
O Salão Cartum Neles foi uma promoção nacional, com participação de 37 concorrentes e
80 trabalhos, que ficarão expostos no Sindicato dos Bancários (General Câmara 424) até dia 30. O
segundo lugar ficou com Ronaldo Cunha Dias, de Vacaria (350 BTNs), e o terceiro, com Augusto
Franke, o Bier (150 BTNs). Dos trabalhos apresentados, 12 foram de autores infanta juvenis, o que
acabou criando uma premiação especial para a categoria (de 50 BTNs), vencida por Marcelo Tomaz
dos Santos, de 14 anos, de Livramento. Marcelo exibiu um desenho ecológico onde, na Arca de
Noé, onde dois leões seguram uma faixa com a inscrição “Greve" e uma girafa empunha outra com
o apelo: “Pela preservação do arcossistema”. Perplexo, Noé pergunta: “Onde aprenderam isso?"
O cartum tem sido um meio de expressão permanente nas lutas dos bancários, a começar
pelo jornal editado pela classe, onde os quadrinhos com o título Banco-meu, do chargista Iotti,
ocupam espaço fixo há um ano. Foram essas estreitas ligações que motivaram a realização do Salão.
Além do jornal, o sindicato publica a revista Livre, de circulação trimestral e tiragem de 10 mil
exemplares, com destaque para temas culturais. a revista está no quarto número. (p. 715)
Mais adiante, a entidade diz que “…se alguém, saudoso de censura, (…) pretendesse
suprimir Dundum das bancas, teria que levar, pelo mesmo motivo, quase todas as publicações
dessas bancas…”. Na opinião da Grafar, o julgamento de qualquer tipo de publicação deve ser do
público que consome, que tem as condições de discernimento necessário para comprar o que lhe
aprouver.
Cita, fazendo referências, as revistas em quadrinhos que hoje circulam pelo país, como a
Chiclete com Banana, Piratas do Tietê, Animal, Planeta Diário e Casseta Popular, que, no
entender da associação, tratam dos mesmos temas que a Dundum e, no entanto, permanecem à
venda.
O presidente finaliza dizendo que “se a idéia é mesmo construir um país desenvolvido e
contemporâneo do mundo, seria útil deixar que também os cartunistas, como todos os cidadãos,
cumpram o seu papel. No caso, mostrar livremente cada visão particular do nosso meio comum,
ajudando a sociedade a entender onde está e para onde quer ir”.
Skinhead segura revista DUN DUM e brada: “Vejam o que o PT está fazendo!
Ao longe, dois cidadãos dialogam: “Vem cá, tchê! Os vereadores de Porto Alegre não tem mais o
que fazer!?”, diz o primeiro. “Imagina se o Corrêa morasse em Porto Alegre?”, acrescenta o
segundo.
Por fim, Iotti assina o cartum, incluindo o aviso: “Leia a revista DUN-DUM antes que a inquisição
a queime!" (p. 716)