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PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE

Procuradoria Casa do Município


Autentico a presente cópia como reprodução
Fiel do original que me foi apresentado e com o qual conferi.
Porto Alegre, 20 de novembro de 1991.
Lauri Antonio Gnatta
Chefe do NEP – PGM

FOLHA DE SÃO PAULO - Segunda-feira, 30 de julho de 1990 (p. 10)

“DunDum” provoca escândalo em Porto Alegre e chega a SP

Rogério de Campos

Especial para a Folha

DUNDUM – Revista com diversos autores, 80 páginas em preto e branco, Cr$ 300,00. Redação:
travessa Fortaleza, 152, te. (061) 49-1412. Porto Alegre, Rio Grande do Sul. CEP 91700. Em São
Paulo, à venda na HQ Underground (r. 24 de Maio, 62, loja 220, zona central); revistaria do Bar
Avenida (r. Pedroso de Moraes, 1.036, Pinheiros, zona oeste); banca Tiragem (al. Lorena, esquina
com r. Bela Cintra, Jardins); livraria Belas Artes (av. Paulista, 2.448, tel. 256-8316, zona central).

“Dundum” é a melhor revista nacional de histórias em quadrinhos lançada este ano. E


também a mais polêmica. Ela chega às bancas paulistanas nesta semana, dois meses depois de ser
lançada em Porto Alegre, onde se tornou o centro de uma das últimas controvérsias da discussão
política pré-eleitoral.

Não que a revista seja especialmente escandalosa. Ela tem, por exemplo, bem menos cenas
de sexo que a maioria das revistas de HQs para adultos publicadas atualmente. A razão de toda a
polêmica é que a revista teve parte de seu papel subsidiado pela prefeitura de Porto Alegre.

Várias entidades de classe e personalidades políticas manifestaram seu repúdio. A


Associação dos Cabos e Soldados da Brigada Militar anunciou que iria entrar com ação na Justiça
exigindo que a revista fosse apreendida. O vereador João Dib (PDS) declarou ao “Jornal do
Comércio”, de Porto Alegre: “A revista –que considero um lixo- é a oficialização da pornografia
pela administração da Frente Popular”. Outro vereador pediu a renúncia do secretário municipal de
Cultura.

“Essa indignação moral é uma farsa”, diz Gilmar Rodrigues, um dos editores da revista: “É
apenas pretexto para atacar a Prefeitura”. “Todo o escândalo se deve à vontade de alguns vereadores
e jornalistas candidatos a alguma coisa de se promoverem atacando a administração municipal, que
é do PT”, completa Adão Iturrusgarai, outro editor.

Adão é o autor de algumas das HQs mais polêmicas da revista. Uma delas, chamada
“Bronha-Sutra”, descreve algumas variações absurdas para o ato de masturbação. utra, chamada “O
Problema de Fazer Sexo Oral com uma Débil Mental”, fez Alceu Collares, candidato a governador
pelo PDT, declarar que a revista é contra deficientes físicos.

Mas a que deu mais problemas foi uma HQ de Adão que conta a história de um sujeito
violentado por duas policiais. Foi essa HQ que fez a Associação dos Cabos e Soldados da Brigada
Militar anunciar uma ação na Justiça contra os editores da revista. “Nós ficamos esperando a tal
ação”, diz Gilmar, “mas não fizeram nada, foi só publicidade do próprio nome, já que é uma
associação não reconhecida”.

“Apesar de a revista ter sido rotulada de ‘pornográfica’, 67 de suas 80 páginas não tem
nenhuma alusão a sexo”, dizem os editores do manifesto. E perguntam: “Será que os tão atentos
vereadores analisam detidamente qualquer obra cultural que tenha o apoio dos poderes públicos
como se fossem censores? Então eles veriam autores consagrados como Érico Veríssimo (nome de
rua) com livros que contém várias passagens eróticas, ou peças de teatro com cenas de sexo e nudez
que estão sendo ou foram apoiados pelo poder público, por seu caráter cultural. Por que nossa
revista está sendo atacada dessa maneira? É uma revista de quadrinhos, de arte, e por isso mereceu
o apoio da Secretaria de Cultura”.

O escândalo serviu para que a revista esgotasse toda a sua primeira edição, de 1,5 mil
exemplares em menos de uma semana, sendo distribuída apenas nas bancas de Porto Alegre. Como
consequência desse sucesso, os editores providenciaram uma segunda edição, de 4 mil exemplares,
desta vez sem o papel da prefeitura.

Apesar do êxito, eles ainda não decidiram se fazem o segundo número da revista. Por
enquanto estão preocupados em lançar essa edição no resto do Brasil. “Tentaremos conseguir o
apoio da Erundina, para ver se acontece a mesma polêmica e sucesso em São Paulo”, diz Adão. (p.
502)

SEGUNDO CADERNO – ZERO HORA/ Terça-feira, 3 de julho de 1990 (p. 3)

Lançamentos

Dundum entra em cena debaixo de tiroteio


Revista em quadrinhos feita em Porto Alegre, tem lançamento hoje, 20h, no Centro Municipal de
Cultura. Irreverência de algumas historietas já cria polêmica

Arthur de Faria

Editoria 2º Caderno/ZH

“Ao entrar no corpo da vítima, a bala dundum explode e se abre como uma flor. Seu efeito é
geralmente mortal. Dundum é uma revista de apenas uma edição. Não há esperança de vida para
ela”. Com estas quatro frases cuidadosamente polêmicas, Gilmar rodrigues – 29 anos, ex-editor da
revista Cobra e colaborador da Mega, atualmente com a paulista Animal – e Adão Iturrusgarai – 25,
premiado cartunista e também ex-Mega e Animal -, abrem o editorial da edição única da recém-
lançada revista de quadrinhos Dumdum [sic]. Eles se assinam: “os donos”.

“Se a revista tivesse a intenção de ser periódica e acabasse logo, iam dizer que não deu
certo. Assim não tem problemas: já deu certo...”. Na real, se vender bem – e a tiragem inicial é de
1.500 exemplares – talvez saia outra Dundum, “mas não em menos do que seis meses”. A decisão
de se auto-intitular, sem meias-palavras, “donos”, também tem explicação: “Assim a gente faz o
que quer e ninguém pode reclamar da tirania dos editores”...

Corroborando a boluda afirmação, o que vale é o gosto pessoal deles e o mais importante é
a idéia, e não tanto a técnica ou saber desenhar (Gordo Miranda, músico e colaborador da edição
única, que o diga). Mas isso não impede de que algumas das estórias tenham a firma de gente como
Jaca, Iotti, Edgar Vasquez ou o desenhista-animador Otto Guerra, entre outros menos reconhecidos.

SUBVE(NÇ)(RS)ÃO [sic] – Além do apoio do Inlíngua, que pagou os fotolitos, a revista


teve parte de seus gastos de papel bancados pela Prefeitura Municipal, o que está dando um
problema dos diabos com alguns vereadores que acham que a Prefeitura está “patrocinando
publicações pornográficas”... A Gráfica Palloti também se recusou a imprimir a revista porque ela
“atenta contra a linha da empresa”.

Esse esparro todo só porque seguem uma juvenil, hard-core, de sexo & violência – umas
das tendências mais fortes do HQ moderno. Os meninos argumentam em defesa que “a culpa do
sexo & violência não é nossa. Foram os colaboradores que mandaram, a gente não encomendou
nada, eu juro!”. Inclusive se você se detiver em um levantamento mais aprofundado, vai ver que das
80 páginas, 66 delas não tem nem um quadrinhozinho com desenhos explícitos. E reclamar de
violência, nestes tempos de Jaspion & Collor... Convenhamos.
FESTERÊ – A fuleira revista pode ser encontrada em qualquer banca do centro, Bonfim,
Rodoviária ou até – sacrilégio! – em livrarias como a Sulina. Tem 80 páginas – dura mais do que
uma ida ao banheiro (mesmo que você tenha prisão de ventre) – e custa trezentos pilas.

Hoje – se a polícia, que está ameaçando intervir, deixar – vai rolar, em grande estilo, a festa
de lançamento: 20h, Centro Municipal de Cultura (Érico Veríssimo esquina Ipiranga). Com direito
a show-relâmpago, na Álvaro Moreyra, da banda À Bala, formada pelos donos, mais os amigos
Laura Lerner e Sílvio Silveira. No repertório, algumas das ignomínias cujas letras estão cometidas
na revista e “novas produções”. Otto Guerra – num trocadilho infame – vai “animar” a festa, que
terá, segundo eles, “bebida e mulherio, que são as únicas coisas que fazem alguém ir numa festa de
lançamento”. Além da – ia me esquecendo – revista, claro... Entrada franca, por supuesto.

ESTADO DE SÃO PAULO - INDEPENDENTE/Revista

Dundum, tiro certo no mercado


Gibi gaúcho chega a São Paulo precedido por escândalo político e moral. A publicidade negativa
faz com que Dundum esgotasse sua primeira edição em pouco tempo

Dundum não saiu pela culatra. Na verdade, acertou em cheio. A bala que explode no
interior da vítima batizou uma publicação de fôlego suicida. “Este tipo de revista dura pouco
mesmo”, desabafa seu editorial. Independência ou morte, máxima que podia muito bem ser
farroupilha, é o espírito.

O tiro partiu de Porto Alegre, terra de fanzines lendários e de nomes sugestivos como
Kamikaze. Dundum é um kamikaze de luxo. Toda a liberdade de um fanzine numa embalagem
bem-acabada. Iniciantes, iniciados e figurinhas difíceis, como Edgar Vasques e o animador Otto
Guerra, além do pessoal da sumida revista Mega, fazem de Dundum o tipo de publicação que bons
meninos não lêem, mas mesmo assim preocupa os bons papais.

A revista é um sampler do que há de mais representativo nos quadrinhos gaúchos, um


campo heterogêneo que esconde, sob o capim alto de suas dificuldades editoriais, talentos
promissores. Não lhe faltou repercussão, graças a uma campanha movida contra o seu conteúdo por
vereadores da capital gaúcha. Eis como uma questão editorial se reduz a um drama vulgar e
pornográfico: política.
Numa iniciativa rara prefeitura municipal doou o papel do miolo da publicação. Às vésperas
de nova eleição, os vereadores da oposição partiram para a contestação pesada do mau uso do
dinheiro público.

Há violência e há pornografia, mas essa nem sequer é uma tática nova. Expressionistas
pintaram o inferno de modo muito mais bárbaro. No campo dos quadrinhos, revistas como El
Vibora (Espanha) e I’Echo des Savanes (França) fazem Dundum ruborizar de vergonha. A
iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura traduz um desejo manifesto pelo guru dos burocratas
culturais, Jack Lang, ministro da Cultura da França, que, ao inaugurar o maior museu dedicado aos
quadrinhos, durante o recente festival de Angoulème, confessou seu desejo de ver o gênero
respeitado como as demais formas de arte e incentivado pelo governo como tal.

A edição é amadora. Há muitos erros de revisão, e cada artista fez o que pôde em termos de
letreiramento e arte-final. Mas seu objetivo de trazer à tona o rosto dos desenhos da gurizada foi
plenamente realizado (a primeira edição já está esgotada). O grande destaque cabe a Jaca, autor da
capa e da colagem new wave e da melhor história, Lona, em que demonstra um impressionante
domínio do uso de retículas, numa crítica à hipocrisia de Muhammad Ali. São apenas duas páginas,
mas um domínio técnico que vale por toda a revista. A influência dos europeus é forte. Há um diabo
idêntico ao vilão Opium, de Daniel Torres, quadrinhos panorâmicos sem balões, ao estilo de
Loustal e Julliard, ratinhos de tripas de fora, como nos toons de Matioli etc. Isso, mais a opção
explícita pela violência, confere à revista a aparência do Mau, encarte da Animal, que abriga
alguns dos gaúchos indomáveis desse fanzinão, entre eles Adão Iturrusgarai cujo traço não
comercial tem o legítimo impacto de uma bala dundum, (M.P.).

SERVIÇO

Dundum Quadrinhos, vários autores, revista independente, sem periodicidade, preto e branco, 80
páginas, Cr$ 300,00. Lançamento em São Paulo na quinta-feira às 23h no Espaço Retrô, Largo
Santa Cecília. (p. 704)

QUADRINHOS EM PONTO DE BALA

Os quadrinhófilos já têm nas bancas da cidade – e de São Paulo também – a revista gaúcha
Dundum. O lançamento será no dia 3 (terça-feira) próximo, às 20h, no Centro Municipal de Cultura,
com festa cheia de atrações, inclusive show da banda dos próprios autores responsáveis, Adão
Iturrusgarai (guitarra e vocais), Laura Leiner (baixo) e Silvio Silveira (bateria). O espetáculo terá
animação de Otto Guerra, com apoio da Inlingua e da SMC. Dundum – nome de uma bala que
explode ao penetrar o alvo – tem edição única de 1.500 exemplares, 80 páginas – para adultos – e
seção de textos. Os quadrinhos são de Adão Iturrusgarai, Gilmar Rodrigues, Jaca, Silvio Silveira,
Otto Guerra, Pedro Alice, Gilmar Fraga, Sandra Regina, Guazzelli, Eduardo e Laura Leiner.

Brigada e Polícia para atacar uma revista de quadrinhos?

A estas alturas todos os ligados já sabem que terça-feira será lançada a revista DUNDUM
Quadrinhos no saguão do Centro Municipal de Cultura, com direito a um show relâmpago da banda
formada por alguns dos próprios autores, no caso Adão Iturrusgaray [sic] (guitarra), Gilmar
Rodrigues (vocais), Laura Reiner [sic] (baixo) e Silvio Silveira (bateria), com animação de Otto
Guerra, o papa do desenho animado gaúcho, cara com prêmios internacionais. A revista, de edição
única, em suas 80 páginas dá um painel da vitalidade, da irreverência, da insatisfação e da
criatividade na nova geração de quadrinistas gaúchos, entre eles Jaca (ilustrador de ZH), Guazzelli,
Lancast, Pedro Alice, Vit Nunez. E é bom andar depressa porque são só mil exemplares e muitos
deles já foram despachados para bancas de outras cidades do país.

O que nem todos sabem é que esta semana, brandindo idéias saídas da obscuridade,
algumas pessoas públicas do passado andaram ocupando microfones de rádio e câmaras de TV para
atacar a revista. Até aí tudo bem, estamos numa democracia (embora essas pessoas não estejam
gostando muito disso), e democracias são sistemas onde há liberdade para a manifestação de
opiniões. Mas essas pessoas não se limitaram a isso. Dizendo que DUNDUM é uma publicação
pornográfica, que atenta contra a moral, os bons costumes e a índole pacífica do povo brasileiro (o
bla-bla-bla de sempre), cada qual a seu modo, ameaçaram mobilizar a Brigada Militar e a Polícia
Civil para impedir o lançamento da revista.

Onde é que nós estamos? Como alguém pode usar em vão os nomes da Brigada e da Polícia
numa circunstância como esta? O que tais instituições têm a ver com o caso? É um absurdo, não
estamos mais na década de 70. Existem leis, não há mais censura prévia, a BM e a Polícia têm uma
infinidade de coisas sérias com que se preocupar. A simples sugestão feita é inquietante. Mas vão
dizer que se “irritaram” ao verem o nome da Administração Popular na revista. Ora, o apoio da
Secretaria Municipal da Cultura foi irrisório e além de tudo os eleitores da atual administração não
atribuíram a ela o papel de censora da manifestação artística. Esses senhores, no entanto, certamente
censurariam os desenhos “pornográficos” de Picasso, ou as esculturas do Kama Sutra, por aí.
Bleargh!!! (p. 505)

CÂMARA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE


RIO GRANDE DO SUL
SESSÃO CPI – DUNDUM
Taquígrafo: Bethinha
Turno: (01-18)-2B
Fl: 2A-(1-2) (pp. 573-592)

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Bom dia, ouvintes do Paralelo 30. É um prazer estar
novamente aqui.

O Sr. PAULO SOLANO: Da mesma forma. É um prazer recebe-la. O assunto é Revista


“DUNDUM”. A Sra. Está pedindo uma CPI no segundo notícias do jornal, revista “Dundum”,
cunho pornográfico e a senhora quer saber os critérios de destinação de verbas da Administração, já
que escolas estão sucateadas e às escuras.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Exato. Eu quero acentuar, como já fiz várias vezes que não sou
contra a liberdade de expressão, que jamais bebi, ou comi com arbítrio da prepotência. Sou do
Partido Democrático Trabalhista.

O que me chamou a atenção foi o apoio da Administração da Prefeitura Municipal de Porto


Alegre, da Administração Popular e da Secretaria Municipal de Cultura a esta revista, quando há
tantas deficiências em nossa Cidade. Quero dizer que conheço muito bem o orçamento da Cidade de
Porto Alegre, que uma das atribuições da Secretaria Municipal de Cultura é intensificar o
desenvolvimento da cultura, de modo a possibilitar o acesso de todas as camadas da população do
Município aos bens culturais. Então, o dinheiro do povo foi empregado na impressão desta revista,
o povo terá que ter acesso a esta revista...

O Sr. PAULO SOLANO: Quanto de dinheiro?

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Isso vai ser apurado. Uns dizem que é cinco mil folhas, outros
dizem seis mil, uma resposta concreta ainda não a temos e será apurado.

O Sr. PAULO SOLANO: Eu lhe pergunto o seguinte: o Ver. Antônio Hohlfeldt está aqui no
programa para tratar da ampliação da vida útil dos taxis-lotação. Se a Sra. Permitir ele entra no
debate com a Senhora.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Com muito prazer.

O Sr. PAULO SOLANO: Então, bom dia Ver. Antonio Hohfeldt: Passamos então um
diálogo com democracia.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Com muito prazer.

O Sr. PAULO SOLANO: O Sr. Está ouvindo a Verª. Letícia, o Sr. Concorda com a
explanação da Vereadora ou não?
O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Prefiro ouvir e depois coloco os outros pontos, como eu
vejo as coisas.

O Sr. PAULO SOLANO: Eu coloco o Antonio porque ele inclusive faz revistas em
quadrinhos.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Sim. A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Ele é crítico, escritor, é
um excelente Vereador e eu sei Vereador que quando nós éramos Governo, V. Exa. Foi muito
atuante, principalmente fiscalizador e eu como Vereadora da Cidade de Porto Alegre tenho o direito
e o dever de fiscalizar e não só legislar. O povo me outorgou este mandato e com todo o respeito
que os senhores me merecem e o povo da Cidade de Porto Alegre merecem uma explicação.

O que está em julgamento é o dinheiro do povo. O FUNCULTURA, mas o Funcultura


também recebe uma parcela do Orçamento. O que eu quero saber é se o povo foi consultado para
colocar o nome da Prefeitura Municipal de Porto Alegre nesta revista. Em segundo lugar também
quero saber o por quê se eu só tenho que defender a cultura de Porto alegre, como disse o Secretário
Substituto, ontem, que eu tenho completo desconhecimento da cultura, que esta revista é neo-
expressionismo contemporâneo. Este é o julgamento dele, ele não sabe a minha formação cultural.
Esta revista é de mau gosto, poderia ser comercializada com dinheiro próprio, não tem anúncios, é
feita com anúncios com apoio da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, ela é uma revista cara e se o
povo de Porto Alegre, como dizem é cultural tem que ser entregue as Bibliotecas das escolas do
Município. Não sou eu que digo que as escolas estão sucateadas, é a Associação de Pais e Mestres
do Rio Grande do Sul, é a Presidente da associação dos Professores Municipais. As escolas estão
carentes de livros em todas as suas bibliotecas, as escolas estão carentes de materiais, desde o
humano, que não têm funcionários. Eu sou profissional do povo, eu sou paga pelo povo, eu tenho
mandato, eu não posso me preocupar só com a cultura, eu tenho a SMOV; os buracos da Cidade; eu
o DMAE, fiscalizar as fugas d’água e as vilas que estão sem água, A minha Vila Jardim que está
abandonada e o Ver. Antonio Hohlfeldt passa sempre pela frente da Vila Jardim. Eu vou em
Secretarias, eu peço e falo com os Secretários. Eu quero explicação da Prefeitura de Porto Alegre.
Está em julgamento a revista? Não, é o dinheiro do povo. Se fosse um cruzeiro já seria o dinheiro
do povo.

O Sr. PAULO SOLANO: Meu caro Ver. Antonio Hohlfeldt.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Bom, Solano, eu ouvi a Ver.a Letícia ontem numa outra
emissora de rádio e eu vejo que ela não acrescentou hoje, apesar do debate de ontem a tarde [sic],
pelo menos o que e eu ouvi, a não ser que tenha havido outro, não acrescentou nenhum item novo
ao que ela levanta em relação a estas questões. Em primeiro lugar quero fazer justiça a Ver.a
Letícia. Vários vereeadores [sic] levantaram questões em relação a revista e o único vereador que
teve coragem de discutir a coisa de público foi a Ver.a Letícia. Acho que é importante a discussão e
nesse sentido com todas as discordâncias totais e absolutas que eu vou ter com a Vereadora, acho
que é fundamental este tipo de discussão.

Se entrássemos na questão da moral eu iria dizer que não tenho condições de discutir,
porque acho que o problema de moral é as crenças, o conjunto de valores de cada um e aí eu
respeito, discordando tem as minhas e a Ver.a terá as delas. Como a Vereadora envereda para outro
tipo de discussão, então vamos tentar levantar alguns problemas. A Vereadora pergunta, por
exemplo, se o povo foi consultado sobre a decisão da Secretaria em participar da iniciativa da
revista? Eu responderia com uma frase que o ex-Prefeito Collares gostava muito de dizer quando
nós levantávamos uma coisa desse tipo. Ele dizia que houve uma eleição e agora o Prefeito e a sua
equipe são os responsáveis, pelo menos, durante o período dos quatro anos e proximamente o povo
vai julgar se gostou disso ou não…

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Mas o povo não está julgando a sua Administração.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Mas aí é outra questão, Ver.a Letícia. Eu acho que temos
uma eleição em outubro e vamos ver como vai ser o julgamento, não é? A pesquisa de opinião
pública é muito do momento, por exemplo, a Sra. cita Erundina de São Paulo, quer dizer a Erundina
começou a subir e espero que até outubro suba. Está baixo mas subiu nas últimas pesquisas…

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Mas ela investiu em livros!

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Olha investir em livros é muito relativo, nós estamos
investindo na revista. Podemos agora discutir aí a senhora então se contradiz porque vamos entrar
no conteúdo da revista. O conteúdo, ao que parece, até agora todas as acusações levantadas são
morais e aí realmente é muito complicado para responder.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Discriminatória.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Mas deixa eu levantar alguma coisa. Portanto acho que
houve uma certa responsabilidade, há uma responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura que
não está fugindo. Acho que ontem foi bem enfatizado, eu quero repetir para mim, não como
Vereador do PT, mas fundamentalmente como homem que atua na cultura. Acho que a Secretaria
Municipal de Cultura tem uma única possibilidade de ação concreta e responsável. Ela foi
procurada por um grupo de artistas gráficos de Porto Alegre, Rio Grande do Sul - a maioria dos
quais, nomes absolutamente responsáveis e respeitáveis. A Secretaria aceitou em patrocinar, não
tem que perguntar, a responsabilidade é desses que assinam a revista, sobre eles cai a
responsabilidade, a Secretaria fez um patrocínio e deu uma oportunidade de eles se expressarem. Eu
só acho perigoso, por exemplo, quando a Vereadora diz que em havendo o patrocínio da secretaria
esta revista tenha que ser levada as escolas, acho que ela vai aumentar o número de masturbações
nos banheiros, por exemplo. É perigoso porque a revista… Como não é uma revista…

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Mas a cultura, Vereador?

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Mas a cultura também se faz nos banheiros, Vereadora.
Não se esqueça que existe alguns ensaios excelentes no Norman Mailer a respeito dos grafites de
portas de banheiros dos metrôs de Nova Iorque! Agora eu acho perigoso. A revista não pretendeu
ser uma revista de escola de freiras em nenhum momento. Acho que ela não é exclusivamente
pornográfica, está se tentando generalizar alguns temas que tocam a área do sexo, talvez com bom
ou mal gosto, é um problema que eu não entraria nisso de maneira nenhuma, mas…

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Compra quem quer, Vereador.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Comprar quem quer, mas a partir do momento em que a
senhora defende a entrega gratuita dessas revistas nas escolas elas vão virar os best sellers da
biblioteca, agora com algumas responsabilidades em relação a hora do recreio. Isso aí é que nós
vamos ter que discutir.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: É cultura, o senhor mesmo disse!

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: É cultura, sem dúvida nenhuma e a gurizada vai aprender
alguma coisa...

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Com o dinheiro da administração popular, com o dinheiro do


povo.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Aliás eles aprendem, é curioso Solano, eu frequento [sic]
muito as salas de aula por causa da literatura infantil e uma pergunta que a gente recebe sempre as
vezes daquele menininho, de 11 anos, com óculos e a gente olha para ele e diz volta e meia ele
sobressai com uma pergunta desse tipo: Antonio – por que aí eu não sou Vereador, sou o professor
– Antonio tu não fizestes um livro de sexo? Porque realmente a gurizada está preocupada com esse
assunto. Ele está aí presente no rádio, na televisão, no dia a dia, no out dors, no anúncio, nas
relações de rua. Vocês veem os casais eventualmente se relacionando. Então, vejam, acho que uma
coisa é nós discutirmos essa questão; outra coisa, por exemplo, é quando a Ver.ª Letícia levanta o
problema das escolas sucateadas. Eu estou com a Vereadora, eu acho que temos milhões de
problemas na Administração. Todas as minhas diferenças eu discordava da Secretária da Educação,
umas votei a favor, se apoiou. Eu acho que a Neuza Canabarro deu um salto de qualidade em
relação ao número de escolas municipais, discordávamos da maneira de fazer a coisa, mas enfim se
avançou. Agora as secretarias têm verbas próprias e tu sabes disso e o fato de se ter investido 40 ou
50 mil na DUMDUM não fechou nenhuma bica d’água.

A Srta. LETÍCIA ARRUDA: O meu questionamento é o seguinte: se uma Secretaria


emprega 30, 40 ou 50 mil nesse investimento cultural, eu tenho que agora redobrar a minha
vigilância e o meu trabalho em cima das outras para ver o que está sendo feito.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Certamente não será um tipo de revista assim. Pode ser
uma revista para ajudar a popupar [sic] água, por exemplo, como o DEMAE já fez uma campanha
de poppança [sic] de água ou o DMLU que está fazendo neste momento a campanha...

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: E o conserto das fugas D’água também, não é Vereador?

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Aliás é um problema antigo. Letícia, tu sabes tanto quanto
eu, porque a tua família é antiga.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Mas não tão grave como hoje.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: É que cada vez os canos ficam mais velhos. Isso tu não
podes impedir, cano mais velhor [sic] rebenta mais fácil.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: E a troca Vereador?

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: A troca pede dinheiro que nem sempre a Câmara libera.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Mas o DMAE tem, nem sempre não, Vereador, quase sempre.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Quase sempre, sem exceção ao período que estamos
vivendo agora. Mas enfim, gostaria de voltar ao problema. Eu acho, por exemplo que no fundo,
apesar de todas as diversações, eu acho que no fundo a gente volta e eu não quero me referir a
Letícia, eu quero deixar isso bem claro, porque é uma questão de justiça, mas o que eu tenho
sentido pelos espaços que estão sendo abertos e as discussões que se abriram em outras áreas,
Solano, acho que no fundo se volta sim ao problema do conteúdo, se volta sim ao problema que
assusta o papel do humorista e aqui valeria a pena até a gente levantar esta questão. O que é
humorista? A função do humor? É o cara, o artista que expõe claramente a olho nú as contradições.
Então, quando se levanta, porque tem coisas terríveis do tipo patrão branco ou empregada preta?

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Racismo.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: O que o desenhista está expressando é a realidade de um


preconceito profundamente arraigado.
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Mas não com o dinheiro do povo, Vereador.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Mas por que não, Vereadora? Ele está representando
aquilo que escondidamente é a realidade da nossa sociedade. Ele não diz que está de acordo. A
senhora não vai ver naquele desenho, naquele texto em nenhum momento ele dizer assim que está
de acordo com isso. Não, ele está representando uma imagem que está no subconscinet [sic] das
pessoas.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Ver. Antonio Hohlfeldt, a Secretaria Municipal de Cultura foi
criada na Administração Alceu de Deus Collares.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Com o meu voto e o meu emnho [sic] histórico,
reivindico isso.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Com o seu voto, com os votos de toda a Câmara Municipal de
Porto Alegre, de toda a legislatura anterior. Vereador, o que está em jogo é o dinheiro público, eu
não questionei em nenhum momento a revista. Claro que nas perguntas...

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Eu lhe pergunto: se nós fizéssemos a história de São


Pedro, a senhora estaria questionando?

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: São Pedro?

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: É, o padroeiro do Rio Grande do Sul.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Não.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Pois então é conteúdo que a senhora está discutindo e não
é o problema do dinheiro da revista, porque se fosse a história de São Pedro a senhora disse que não
iria questionar que a revista tenha pago a revista.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Tu não falastes que a a Prefeitura iria patrocinar o São Pedro,
seu eu fizesse a história do São Pedro. Eu entendi que tu ias fazer a história de São Pedro.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Eu lhe pergunto se a revista, esta revista DUMDUM [sic]
tivesse a história de São Pedro, Padroeiro do Rio Grande do Sul, a senhora estaria tão preocupada
com o dinheiro público?

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Ia questionar também, porque tem...

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: A senhora acabou de dizer que não.


A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Eu pensei que era tu que ias fazer...

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Não. Eu não. Quem sou eu para fazer. Eu nem conheço a
história de São Pedro.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Eu estou falando do dinheiro do povo que eu tenho que
fiscalizar e tu sabes muito bem.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Mas isso aí eu não discuto, Vereadora. Isso eu não
discuto.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Uma das coisas que foi dita e que não é verdade é que não
tenho competência para estar na Câmara Municipal. É como tu dissestes que eu fui eleita pelo povo.
Eu tenho respeito...

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Isso aí ninguém pode discutir.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Eu tenho respeito porque há quatro décadas a minha família
ocupa uma cadeira na Câmara Municipal. Meu pai foi Vereador na década de 60, 70, 80 e hoje eu
sou Vereadora da Cidade de Porto Alegre com muito orgulho, a cidade que eu amo e que tenho
direito de proteger e de trabalhar e lutar por ela até a minha morte. É por isso que eu exijo respeito.
Eu falo sério, eu acho um trabalho magnífico desta revista, conheço todos os artistas, os escritores,
os cartunistas, mas eu também quero respeito a minha pessoa. Eu trabalho e o Antonio sabe que eu
sou uma mulher decidida, arrojada, vivo nas vilas, combatente. Posso ser um pouco até
discriminada por ser mulher mas graças a Deus que sou mulher, ocupando a cadeira que conquistei
com direito, com o meu trabalho e com o meu esforço desde os 12 anos de idade.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Tu sabes que não é por aí que eu vou discutir contigo
porque tenho o máximo respeito possível. Agora, por exemplo, quando tu tocas na questão da
revista. Eu não sei, Letícia, até eu acho importante para discutirmos o que a revista te desrespeita?
Por exemplo.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: O que me desrespeita é o dinheiro, então entreguem as escolas,


deem um preço mais acessível para o cidadão, para o contribuinte. Se é uma obra prima, de arte,
então que faças mais barato para o povo!

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Eu não disse que era uma obra-prima. Eu digo que é
função da secretaria, eu diria que a Secretaria está cumprindo uma função...
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Todos os jornalistas receberam gratuitamente, os meios de
comunicação. Por que o povo, o Jorn [sic]. Paulo Solano pode comprar por trezentos cruzeiros,
acho que pode comprar se quiser comprar.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Eu acho que nesta questão tu estás antecipando, porque a
revista tem um lançamento formal hoje.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Mas está estocada no Gabinete de Imprensa da Prefeitura.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Mas então tu estás me dando razão antes de eu falar. Se
está estocada no Gabinete de Imprensa da Prefeitura é porque se não vai distribuir para as escolas
antes de ter o lançamento normal, ou melhor formal.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Mas como é que foi distribuída?

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Mas a imprensa, como é que tuvais [sic] promover o
lançamento sem antes distribuir para a imprensa?

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Eu comprei na banca, Vereador.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Tudo bem. Eu te confesso que nem comprei ainda, porque
realmente o processo normal é se você tem um produto novo o que que você faz com este produto?
Você distribui a quem pode promove-lo. Quem promove? O meio de comunicação. Depois do
lançamento você vai levar para as escolas.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Me ajude, Vereador, a arrumar as escolas de Porto alegre, me


ajuda a batalhar mais verbas para as escolas.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Com todo o prazer. Só acho que um assunto tem nada a
ver com outro.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Tem sim, é uma Administração Municiapl [sic]. É a Prefeitura
Municipal de Porto Alegre.

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: Com seus orçamentos específicos para cada Secretaria e
não diminuiu...

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: E bem aplicados, não é Vereador?

O Sr. ANTONIO HOHLFELDT: E não diminuiu um centavo.


O Sr. PAULO SOLANO: Foi um prazer contar com a Verª. Letícia Arruda. Muito obrigado
Ver. Antonio Hohlfeldt. Vamos a um intervalo comercial.

(Segue-se o intervalo comercial.)

(Final deste programa.)

Segue gravação de um outro programa, cujo conteúdo gravado é o a seguir transcrito.

_____________

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI: “...sexual assim, não é? São cenas assim realmente agressivas,
e tem dinheiro da Prefeitura. E aqui tem um detalhe: o papai praticando sexo com a mamãe; um
casal branco. Aí o papai praticando sexo com a empregada. É o papai branco com a empregada
preta. Claro, porque na cabecinha deste “intelectual” a empregada tem que ser preta, não é? Aí a
cultura do Município de Porto Alegre considera que isso aqui é alta cultura. É uma crítica, uma
crítica séria aos padrões convencionais da sociedade, etc e tal. Pois enquanto eles têm dinheiro, a
Prefeitura paga isso aqui, eu não sou contra que publiquem isso aqui não, podem publicar, mas com
o dinheiro deles, pomba! Eu não sou contra, quero deixar bem claro, não sou contra a liberdade de
expressão, podem publicar revistas, podem fazer o tipo de crítica que quiserem. Se acham que esta
crítica aqui é válida, façam, agora dinheiro do povo, dinheiro da Prefeitura, dinheiro do imposto do
povo para pagar essas “frescuras” aqui, não! Sabem por quê? Porque enquanto eles têm dinheiro
para pagar o papel para essa revista – como é o nome da vila de vocês aqui? Jardim Bento
Gonçalves? Como é que é a vila de vocês, conta?

A Sra.: Não temos água, luz. Estamos bebendo água deuma [sic] bica que dá feridas. As
crianças estão cheias de coceiras.

O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: Não tem água e nem luz.

A Sra.: TEM CABELO DE PORCo. [sic

O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: Qual é a rua lá?

A Sra.: É a continuação da Luisinha [sic].

O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: É a continuação da Rua Profª. Dona Luizinha.

A Sra.: As nossas crianças estão todas com coceiras, a gente ferve tudo mas não dá, não tem
condições enquanto isso os canos estão estourados lá com água abundante na rua.
O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: Desculpe, enquanto a água “abunda” na rua – eu vou viver a
revistinha aqui agora, - pois enquanto a água da Prefeitura “abunda” na rua e a pornografia “há
bunda” na revista, o povo lá da vila Jardim Bento Gonçalves não tem uma água para lavar “a b....”.
Pois é!

A Sra.: A gente lava o possível e deixa os impossíveis.

A Sra.: A gente tem os filhos moços. Eu tenho uma filha que ainda não conseguiu subir
ppara [sic] lá, o morro, porque não tem luz. É escuro.

O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: Não tem água e nem luz. Fica atrás do Jardim Bento
Gonçalves? Está.

Eu quero colocar mais uma vez, eu afirmo publicamente aqui: eu não sou contra qualquer
tipo de publicação e qualquer forma de expressão. Se os intelectuais, os inteligentes eu sou um
hipócrita para eles eu sou um hipócrita, então eu prefiro ser um hipócrita com esse povo aqui do
meu lado do que ser um intelectual que tem que pegar dinheiro da Prefeitura para publicarem uma
revista. Enquanto os hipócritas aqui ficam sem água e sem luz, sem ter como lavar as crianças ou
alimentá-las, a Prefeitura paga com o dinheiro público a publicação de uma revista. Eu creio que se
alguém tem o interesse em publicar uma revista que a financie, poxa vida! Porque a Prefeitura tem
um compromisso muito maior do que patrocinar e depois esta revista que é patrocinada pela
Prefeitura vai ser vendida ali fora por trezentos cruzeiros. Trezentos! Outro detalhe: estou aqui
também com uma comissão da vila Farrapos, Quadra 15. Quadra 56. Vem os moradores das
quadras 65, 66, 67 e 68, mais as proximidades da vila Farrapos solicitar que por seu intermédio seja
acionados [sic] os serviços de esgoto com urgência para a rede de esgotos que se encontra
totalmente entupida, porque com as chuvas chegam a invadir as referidas moradias, ocasionando
mal cheiro e poluição do ambiente na área. Aguardamos a sua boa vontade em nos ajudar o que
antecipadamente agradecemos.” Quer dizer: o que eu sou aqui? Apenas um radialista com o
microfone na mão para denunciar a sociedade como esta Prefeitura está atendendo o seu povo, o seu
trabalhador... O que acontece com os esgotos nestas quadras aí?

A Sra.: Está horrível. A água está entrando nas casas, porque os canos estão todos
arrebentados. Eles querem dinheiro para arrumar e nós não temos condições de pagar, nós já
pagamos os impostos e agora ainda vamos pagar eles para arrumar? Não temos dinheiro.

O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: O esgoto está entrando dentro das casas, na vila Farrapos? Isso
que vocês pagam tarifa de esgotos. É 80% da taxa da água.
A Sra.: E outra coisa, eles vão lá eles querem dinheiro senão eles não arrumam. E quando
chove então entra água dentro de casa, porque está tudo entupido; os banheiros, nós vamos fazer um
buraco nas ruas porque os banheiros não funcionam.

O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: Bom, a Verª. Letícia Arruda foi quem me trouxe aqui a revista
DUMDUM, hoje pela manhã. Eu já tinha visto, o próprio Secretário da Cultura veio aqui me
mostrar a revista e eu disse para ele, o Secretário da Cultura Substituto que não sou contra a revista,
em absoluto, eu acho que eu trabalhei no tempo da repressão onde a gente não tinha ou melhor não
se podia dizer nada nas rádios, agora já se pode dizer tudo. A gente é responsável. Eu sou contra
que se utilize dinheiro público para determinas publicações, enquanto a vila Jardim Bento
Gonçalves não tem água e nem luz; a vila Farrapos com os esgotos entupidos e a Cidade está jogada
às traças e a Cidade sofre. Eu sou contra que o Poder Público utilize verbas públicas. Se tivesse
sobrando, tudo bem; se houvesse dinheiro em caixa para fazer gato e sapato, tudo bem! Mas,
enquanto as crianças não tiverem um caderno na vila, lápis e borracha, enquanto o povo do Jardim
Bento Gonçalves não água e nem luz (as crianças estão com coceiras, estão doentes, porque a água
que eles bebem é de uma bica com água poluída), enquanto na Vila Farrapos os esgotos estão
entupidos e entrando dentro de casa...

A Sra. LÚCIA ARRUDA: Enquanto na Escola Gabriel Obino faltam 637 vidros, estão
quebrados. Enquanto também as ruas estão esburacadas, a situação da Cidade, a iluminação
precaríssima, o lixo aos borbotões, enquanto isso eles investem numa revista que dizem ser cultura.
Eu mais uma vez afirmo e reafirmo como Vereadora da Cidade de Porto Alegre, com legitimidade
de um mandato que o povo me outorgou, tenho o dever e o direito de fiscalizar e legislar sobre esta
Cidade. O povo me deu este direito e eu quero dizer que os 40 mil cruzados fazem falta sim, fazem
falta para escolas de Porto Alegre, fazem falta para a vila Jardim que está abandonada, porque está
sem iluminação e as ruas esburacadas.

Lá, Sérgio, na vila Nova Brasília, a tarifa do esgoto é altíssima e eles não tem esgoto. O
pessoal está desesperado lá na vila Nova Brasília, no Sarandi. Na vila Bom Jesus há os buracos que
são incríveis, Sérgio Zambiasi. Então temos deficiências em toda a administração. Agora dizer que
eu não entendo de cultura? Eu entendo de cultura, entendo porque sou Presidente da Comissão de
Educação da Câmara Municipal e tenho o dever de denunciar. Onde está o apoio da Prefeitura na
Escola Municipal José Larri Alves? Lá falta segurança, banheiros e bebedouros? Com vazamentos e
vidros quebrados? Onde está o apoio na Escola Municipal Leocádio? Falta material didático e onde
está o livro nas bibliotecas? É isso que eu quero. Se o povo pagou 40 mil cruzados e deu seu
dinheiro para imprimir esta revista através do Fundo da Cultura, que também sai do Orçamento,...

O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: É dinheiro do público, do povo.


A Sra. LETÍCIA ARRUDA: O povo tem que ter acesso a essa revista. Se é uma revista
cultural, porque eu acho que se toda a manifestação de expressão literária acho que tem que ser
vista pelo povo e o povo tem que ter acesso a essa cultura.

O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: É claro, só que a trezentos cruzeiros não tem acesso não.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: E poderia ser muito bem financiada por anúncios de motéis ou
casas de massagem e não pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre e nem com o Brasão da minha
Cidade.

O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: Esta é a visão deles, porque nós somos os hipócritas e nós não
entendemos que o papai branco fazendo sexo com a empregada negra é uma crítica ferina contra os
padrões da sociedade atual.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Não é bem isso Sérgio. As discriminações são contra os
deficientes mentais, contra as minorias da raça negra e também os homossexuais. Tem críticas
pesadas às mulheres, realmente, e nós mulheres temos o direito de nos defender...

O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: Crítica as policiais...

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Sim, as policiais militares e as policiais civis também. Então
eu quero que haja um momento de reflexão também consciente da Administração Popular voltados
realmente para o povo e o povo já está julgando esta Administração. É o meu dever o meu direito é
de denunciar este tipo de coisa.

Muito obrigada, Zambiasi e um grande abraço.

O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: De nada, Letícia.

Mais uma vez eu vou salientar dentro da minha hipocrisia aqui. Eu não sou contra qualquer
tipo de publicação. Tem revista de todo o tipo aí. Eles alegam que é só olhar para a capa desta
revista. Os inteligentes que publicaram a revista, os cultos que fizeram a revista mandam olhar para
as capas. Ora, não se compra uma revista pela capa e sim pelo seu conteúdo. O jornal, muitas vezes,
se compra pelas capas.

A dona Valéria daTinga [sic] diz o seguinte: ela sabe de fonte segura que a revista foi
lançada agora com tal reportagem porque o PT tinha certeza de que eu iria comentar e que um
comentário seu todos comprariam a revista e a prova está aí. A segunda edição esgotou e já estão
fazendo a terceira. Eu não tenho dúvida de que com essa publicidade toda em torno dessa revista ela
deve estar vendendo aos borbotões. Agora se está mostrando o que se faz com o dinheiro público,
saliento, publicações faz-se a vontade, opiniões e formas de manifestação são livres hoje, graças a
Deus. Eu só acho o seguinte enquanto as bibliotecas não têm livros que se aplique dinheiro na
compra de livros para as bibliotecas porque aí então estaríamos possibilitando a cultura ao povo que
a precisa. E não massagear o ego de determinadas pessoas apenas. Essas pessoas têm acesso, estas
pessoas são privilegiadas, estas pessoas pertencem a uma elite de privilegiados e portanto tem
acesso a formas publicações com mais facilidade do que o ppovo [sic] da vila que nção [sic] tem
água para beber, que não tem energia elétrica, que tem o esgoto invadindo as casas, cujo colégio
está com 637 vidros quebrados, onde as crianças não tem cadernos e lápis para aprenderem a ler e
escrever, e então adquirirem alguma cultura.

De qualquer maneira, do ponto de vista deles, eu aqui não passo de um hipócrita.

Bom dia’

(Entrevista da Rádio por telefone)

O Sr. SÉGIO ZAMBIASI: “...achei por este lado muito interessante, entendeu?

O Sr. FERNANDO: É o papel da gente também provocar o debate e o papel do jornalista é


fazer este debate, propiciar que toda a cidade participe.

O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: Não tenho dúvidas, eu estou o provocando diariamente aqui e
estou recebendo algumas críticas porque estou falando muito da revista e dizem-me que estou
entrando no jogo de vocês. Dizem que vocês estão vendendo demais. Mas eu considero que é
importante que as pessoas leiam e inclusive tirem as suas conclusões e depois que partam para
odebate [sic] contestando ou concordando, não é?

O Sr. FERNANDO: Vou te fazer um convite: hoje, às 20 horas, na Sala Álvaro Moreira,
aqui na érico [sic] Veríssimo, 307, o lançamento da Revista DUMDUM [sic], com a presença do
nosso Secretário Luiz Pilla Vares, com a presença dos autores e de uma festa que vai ter de
lançamento desta revista.

O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: Eu lamento que este convite seja feito em cima da hora, viu
Fernando, porque eu já estou com um compromisso à noite, com uma pessoa amiga e realmente não
tenho como alterar porque é um compromisso de peso. De qualquer maneira sucesso. É as 20 horas?

O Sr. FERNANDO: Às 20 horas na Sala Álvaro Moreira no Centro Municipal de Cultura.

O Sr. SÉRGIO ZAMBIASI: Está bom. Qualquer promoção me avisa, tá? Tchau.

(Fim lado 2A)


O Sr. ENIO MEDEIROS: ...ofensa à corporação policial militar e uma ofensa também à
polícia civil, onde diretamente está dirigido esta barbaridade a nossa polícia feminina da nossa
Brigada, onde o cidadão foi violentado por ela vão a polícia civil e depois é violentado pelos
homens da polícia civil, na delegacia dos homens.

O que mais ainda nos deixou estarrecidos aí é o atentado que retrata ali um ato sexual
contra um excepcional...

O Sr.: Que coisa incrível!

O Sr. ENIO MEDEIROS: São coisas que não podemos deixar passar em branco. Nós
queremos, inclusive que as outras entidades procurem a veracidade disso aí. Pelo amor de Deus um
dinheiro gasto com uma revista dessas, por que nós não empregarmos em creches, por exemplo? Na
educação dos nossos filhos?

O Sr.: Por exemplo, há pouco estava aqui um líder comunitário reclamando da


Administração Popular de que a Casa da Criança que deveria beneficiar mais de 100 crianças
naquela comunidade do Conj. Residencial Protásio Alves, está com as obras paradas, porque com
este dinheiro que estão empregando nesta revista deste tipo, uma revista pornô, com apoio
municipal, não pegam esta verba e apliquem em benefício das crianças?

O Sr. ENIO MEDEIROS: Exatamente. Se tu chegares em bancas da rodoviária, hoje,


qualquer criança chega e compra. Nós sabemos da liberação da lei das revistas pornográficas
vendidas com mulheres peladas, não é? Mas qualquer criança chega e compra assim a vontade.

O Sr.: Está bom, meu presidente, Enio eu gostaria que tu voltasses em outras oportunidades,
atpé [sic] possivelmente amanhã para nos dar alguma posição a respeito desta ação que foi
encaminhada ontem na Justiça contra a revista, pedindo a apreensão da revista e eu gostaria que
você, amanhã, voltasse conosco. Está bom?

O Sr. ENIO MEDEIROS: Nós acreditamos nas autoridades que isso em poucas horas esteja
terminado. É um prazer VOLtar [sic] a falar com vocês.

O Sr.: Muito obrigado Enio Rodrigues de Medeiros, Presidente da Associação... (?) que está
se posicionando em relação a esta revista, a revista DUMDUM que está lançada oficialmente hoje,
aqui em Porto Alegree [sic] no Rio Grande do Sul e causando, é claro, muita polêmica, porque a
revista com fotos pornográficas está tendo o apoio da Secretaria Municipal de Cultura. Incrível, não
é?

(Fim da gravação do Lado B) (pp. 573- 592)


CÂMARA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE
RIO GRANDE DO SUL

SESSÃO CPI – Revista DUMDUM


Taquígrafo: Élia
Fl: 1-9 (pp. 593-601)

FITA 3 A:

Consta:

1º - Gaúcha Notícias, com informativos;

2º - Propagandas; participação de falecimento; espaço de Lauro Quadros, João Carlos


Belmonte; entrevista com Adão Carlos de Lima, do Comando do Corpo de Bombeiros da Brigada
Militar alusiva a ”Semana do Bombeiro,” falando sobre os acidentes mais comuns apreendidos
pelos Corpo de Bombeiros referente a crianças, botijões de gás e demais atividades como busca e
salvamentos no Itaimbèzinho [sic] e o trabalho do Governador Synval Guazzeli [sic] voltado à
segurança pública no que toca a viaturas e a destinação de verbas. Propagandas comerciais.

Interrupção da gravação.

3º - O repórter falando: ...”está tentando descobrir po que a Secretaria Municipal de Cultura


está patrocinando a Revista ..... (interrupção da gravação) ... até agora ela não conseguiu as
informações a respeito do assunto, e a Revista, segundo a Vereadora está circulando com algumas
reportagens pornográficas . Mas como é mesmo esta história, Vereadora? Bom-dia!

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Bom-dia, Belmonte. O que eu quero esclarecer, Belmonte, é


por que [sic] a Prefeitura, segundo o Secretário Pilla Vares, apenas forneceu papel para a publicação
e esta Revista é vendida com o apoio da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, é uma revista
cultural, segundo os entendidos em cultura moderna, ela deveria, com o patrocínio da Prefeitura
Municipal, com o dinheiro do contribuinte, ela deveria ser dada, doada às pessoas, à população de
Porto Alegre. O que eu quero saber o porque o [sic] apoio da Prefeitura Municipal de Porto Alegre;
o brazão da minha cidade, da Secretaria Municipal de Cultura. Veja só, Belmonte, que maravilha! A
Prefeitura de São Paulo, pela Secretária Municipal de Cultura, a filósofa Marilena Chauí, comprou
trezentos mil livros para São Paulo, para a Prefeitura Municipal de São Paulo. O projeto da
Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo no entanto não se limita a compra de livros para
distribuição, para a leitura dos livros. Ela com asservo [sic] de quatro mil obras, fez um ônibus-
biblioteca que percorre as vilas e os bairros de São Paulo; então, a população usufrui deste benefício
da compra dos livros. O que eu quero saber e o que estranha muito a esta Vereadora, se a população
foi consultada já que o próprio do Município, o dinheiro do contribuinte está em jogo. Outra coisa
que quero saber: por que que as escolas municipais, de acordo com o relatório da associação do
Círculo de Pais e Mestres do R. G. do Sul, estão em pleno abandono, falta de manutenção a Escola
Municipal 1º Grau Gabriela Olpino falta, 637 vidros quebrados. Não sou eu que está dizendo isto, é
a Associação do Círculo de Pais e Mestres do R. G. do Sul. Também não sou eu que digo isto é a
presidente da Associação dos Professores Municipais, Maria de Fátima Baierli que alertou o
sucateamento das escolas do Município, diversas escolas, Belmonte, inclusive a Escola Municipal
Presidente Vargas tem 700 alunos e apenas 2 banheiros funcionando na escola. A escola Municipal
Profª Ana Iris do Amaral falta de livros para a biblioteca. Está escrito no relatório. Então eu preciso
que a Prefeitura me responda se o povo vai ter acesso a esta revista cultural já que ela patrocinou,
está nas bancas à venda a 300,00 cruzeiros, então o povo deveria recebe-la gratuitamente. É este o
questionamento que eu faço, Belmonte, eu sou uma mulher moderna, sou aberta, leio livros;
entendo é a discriminação que em certos trachos [sic] desta revista eu vejo, a discriminação às
minorias, às minorias negras, aos homossexuais e deficientes mentais, com o patrocínio da
Prefeitura Municipal de Porto Alegre.

O Sr. BELMONTE: Vereadora, uma pergunt . Estou chegando recém da Itáli , não tenho a
Revista aqui à minha frente. A senhora naturalmente já leu a revista, está falando a respeito da
Revista Dumdum [sic]. Ela é, de fato, uma revista pornográfica em alguns artigos, é isso,
Vereadora?

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: É. Em alguns artigos. É uma Revista muito bem feita, é uma
Revista que poderia estar à venda, sem dúvida alguma, mas sem o patrocínio da Prefeitura
Municipal de Porto Alegre, sem o apoio da Secretaria Municipal de Cultura porque no momento em
que, eu não questiono, entende, os artigos, mas no momento em que tem um artigo aqui que faz
referências a policiais militares mulheres, entende? Ela está atacando a mulher na sociedade, ela
está atacando, então eu acho que não podia está [sic] com o brazão [sic] da minha Cidade. Isto aqui,
qualquer uma Revista tu sabe têm anúncios, e esta revista não tem anúncio nenhum; a revista Veja,
a Revista Isto é, Senhor, possuem anúncios, são oatrocinadas [sic], mas não patrocínio de uma
Prefeitura, não é? Com o apoio de uma Prefeitura. O queeu [sic] questiono também, Belmonte, da
onde que saiu este papel, eu pergunto que quantidade foi o papel, uns dizem que são 6 mil folhas,
outros dizem que são 20 mil folhas, então eu quero respostas exatas.

O Sr. BELMONTE: Mas a Senhora oficialmente já fez esta pergunta ao Secretário Pilla
Vares que é um homem transparente, é um homem democrático, que resposta a Senhora obteve.
Aliás, quero dizer que o programa também está aberto para o esclarecimento do Pilla. Se o Pilla
Vares quiser entrar, pode nos ligar: evidentemente que nós temos todo o interesse, não é apenas a
Vereadora Letícia Arruda, acho que toda a população, todo o contribuinte quer saber. Que tipo de
resposta a Senhora obteve oficialmente, Vereadora?
A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Não, eu não conversei com o Secretário Pilla Vares por falta
de tempo realmente. O que acontece que eu tenho instrumentos aqui na Câmara que eu faço
diretamente as perguntas ao Sr. Prefeito Municipal. Porque a Prefeitura Municipal quem tem que
responder é o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre a todos os meus questionamentos. A Prefeitura
deu o papel, a Revista foi impressa, está sendo vendida; eu queria saber o questionamento da ... se
as pessoas, se a população de Porto Alegre foi consultada para esta distribuição de papel, porque
isso tudo é dinheiro do contribuinte. Uma folha de papel custa caríssimo. As mães que têm filhos
nas escolas sabem quanto custa uma folha de papel ofício, e este papel é mais grosso, é papel para
ser impresso uma revista. Então, o que eu questiono, é que falta segurança na nossa Porto Alegre,
falta iluminação, centenas e milhares de fugas d’água, o lixo aos borbotões, a minha querida Vila
Jardim que está atolada no barro (? – breve interrupção na gravação), que não passa uma máquina lá
há vários meses, então eu questiono isso, a população, as escolas que estão sucateadas, o albergue
municipal, que faço um apelo, Belmonte, que visitem vocês dos meios de comunicação, vão até o
Albergue Municipal e vejam como está todo depredado. É isto que eu questiono, é o dinheiro da
população de Porto Alegre. Eu estou aqui, eu recebo dos cofres municipais, do povo que me paga
para mim fazer [sic] ... tenho representação legítima do meu mandato. O povo me outorgou isso,
então com tudo isso e com todo o respeito à cultura de Porto Alegre eu gostaria que me
esclarecessem melhor, que mandassem livros para as bibliotecas municipais, para as bibliotecas do
Estado para que as pessoas tivessem mais acesso a esta cultura que eles dizem que está dentro da
revista Dumdum [sic].

O Sr. BELMONTE: Está muito bom. Vereadora Letícia Arruda, do PDT. Obrigado pela
entrevista e nós como a senhora e como todos os contribuintes vamos ficar aguardando maiores
esclarecimentos. Obrigado, Vereadora.

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Obrigada, Belmonte. Um bom-dia a todos.

(Fim da entrevista)

- Propaganda.

4º - O repórter falando: ... entrevista que foi ao ar um pouco antes das 11 horas. E eu disse
durante a entrevista que nós estávamos à disposição e nem poderia ser diferente, nem poderia ser de
outra forma, estávamos à disposição da Secretaria Municipal de Cultura, até referi o nome do Pilla
Vares, nosso brilhante jornalista de Zero Hora que é o Secretário Municipal de Cultura. Entretanto,
o Pilla Vares nesse momento não está exercendo, deve estar licenciado. Quem está respondendo
pela Secretaria Municipal da Cultura é Carlos Roberto Winckler. Pois a resposta é imediata. A
resposta vem tão-logo a Rádio Gaúcha fez ...

(término do lado da fita 3 A).


FITA 3 – lado B

O Sr. CARLOS R. WINCLER [sic]: ... Pilla, porque ele não? [sic] se encontra licenciado,
no momento assim está em reunião com o Prefeito. Infelizmente não vai poder ..... propriamente à
cultura, mas o substituo, não há problema quanto a isso. Bom, quanto a Revista, escutei a Vereadora
Letícia Arruda, e é curioso. Se faz uma série de confusões aí. Em primeiro lugar, acho que a gente
deve colocar um questão [sic] do ponto de vista mais geral: a questão da liberdade no País. Não há
mais censura, não é? As pessoas tem todo o direito de expressar a sua opinião, a sua cultura, arte.
Felizmente, acho eu, superamos não é, o período de tormento e arbítrio mais explícito, por assim
dizer. Felizmente, porque houve aí algumas, em outra, em outra emissora, onde se pensou até em
jogar a polícia federal dentro do Centro Municipal de Cultura. Brigada Militar, as pessoas parecem
que não lêem a Constituição, começa por aí. Mas enfim, gostaria de responder à Vereadora assim
algumas coisas muito concretas. Por exemplo, a Secretaria Municipal de Cultura, ela no que diz
respeito aquilo que ela trabalha com cultura, ela não consume(?) propriamente recursos
orçamentários. Os recursos orçamentários, a maior parte deles vai efetivamente para o pessoal e
para a manutenção de fato. Nós temos uma outra coisa, acho que a Vereadora desconhece, nós
temos o Funcultura, ou seja, é um Fundo mantido pela própria Secretaria onde uma boa parte dos
recursos advém do uso dos espaços (?), ou seja, nós organizamos, por exemplo, um simpósio,
palestras, peça de teatro, etc., se cobra taxa, é com esse dinheiro. Portanto, acho que a Vereadora
devia se informar mais sobre as leis municipais, acho inclusive esta uma atribuição dela, em
segundo lugar, acho que deveria ter um pouco mais de cuidado, pensar assim, o que significa
investir em cultura. Por exemplo, não é atribuição da Secretaria Municipal de Cultura, por exemplo,
colocar canos nas vilas, cuidar da iluminação pública, nem propriamente distribuir cadernos. Nós
estamos rigorosamente dentro das nossas atribuições, eu acho que é uma confusão. Eu lamento que
acho que é pouco pedagógico, a gente sabe que as eleições estão próximas, etc., a gente sabe como
funcionam estas coisas. Bom, por outro lado, agora sobre a Revista propriamente dita.

O SR. BELMONTE: Bem, ela falou a respeito da Revista e o senhor ouviu, não preciso
estar repetindo, que parte do papel ou o papel da Revista teria sido fornecido pela Secretaria da
Cultura.

O SR. CARLOS R. WINCKLER: Qual é o problema ? Nenhum. Está rigorosamente dentro


das nossas atribuições. Agora a Vereadora não pode pedir que a gente vá abrir valas, botar
iluminação, cuidar do lixo. Não é? Acho que ela está fazendo ... inclusive é uma Vereadora, tem
que entender um pouco melhor a administração. Acho que a gente não pode facilitar as coisas.
Inclusive, volto a repetir, os papéis diz [sic] respeito ao acúmulo (?) gerado por nós. Bom, mas
vamos ao conteúdo propriamente dito, não é? A Revista ela se inscreve dentro de uma tradição da
cultura de massa dos últimos 30 anos, não é? Ela diz respeito aos (?) não é? Ela diz respeito a
revistas que tratam de uma maneira muito irônica, muitas vezes brutal sobre costumes, hábitos da
sociedade burguesa. Inclusive, se ela conhecesse um pouco mais a história da arte, se ela fosse
observar um pouco o desenhos, ela observaria o seguinte, isso aí, infelizmente sou obrigado a dizer,
está ligado ao chamado no-expressionismo contemporâneo. São revistas extremamente
contemporâneas, elas são trabalhadas nos maiores centros culturais, existe toda uma tradição destas
revistas? 30 anos, não é? É que chegou um pouco tardio no Brasil. É um humor brutal, irônico e
tudo o mais, nisso nós temos absoluta clareza. Sabemos perfeitamente que viria envolver, ferir a
sensibilidade de pessoas um pouco mais conservadoras, sem dúvida nenhuma. Mas a revista é um
para isso mesmo. A cultura é para isso mesmo, não é? Afora isso, os autores são todos autores
renomados. Uma boa parte, por exemplo, trabalham [sic] na Zero Hora. Por exemplo, o Oscar Vaz,
digo o Edgar Vasques, por exemplo, o Otto que tem prêmio, que é premiado, o Jaca, o Otto é
premiado em desenhos animados, Iote(?), são todas pessoas muito conhecidas, não é? Outra coisa, é
curioso quando se abre uma revista destas, a primeira coisa se pensa assim, é sexo. Ora, sexo é uma
das dimensões tratadas nesta revista, não é? Vou dar um dado bem concreto. São 82 páginas, a
gente vê como o olhar das pessoas ficam especializados, e até vou usar uma expressão um pouco
irônica, uma das grandes, eu diria, perversões no sentido freudiano é o voyeurismo [sic]. As pessoas
se especializam em olhar. Especializam o olhar. Vou dar uma idéia assim concretamente. A revista
contém 82 páginas, cerca de 67 páginas não falam em sexo. Bom, depois tem outra questão, o que é
pornografia, ou não pornografia. Isso é uma outra questão com uma dimensão muito interessante.
Pornografia, na verdade se a gente usar um conceito rápido, e eu até gostaria de aprofundar num
outro programa, me dispondo a discutir isso aí, acho que já discuti inclusive num programa de rádio
esta questão. A questão da pornografia ela envolve o processo de industrialização de uma
determinada postura no que dis [sic] respeito, por exemplo, as mulheres e relação das mulheres
como consumo, com a visão consumista. Então, se eu tivesse que dizer com absoluta precisão o que
que é pornografia eu diria o seguinte: é a mercantilização do corpo da mulher por exemplo, como se
vê nas revistas consideradas soft, elegantes, bonitas estéticas, não é? Por exemplo, tipo Play Boy,
tipo Status, estas sim elas renovam e reiteram e reforçam preconceitos da sociedade que nós
vivemos. Esta revista (?) Fanzine, ela simplesmente ela faz de uma forma brutal dentro de uma
tradição, se eu tivesse que dizer um fanzine, mas se eu tivesse ter [sic] mais rigor histórico, a
Vereadora Letícia deve reconhecer, isto tem a ver, por exemplo, com a visão, por exemplo, está no
século XVIII com o Marquês de Sade, está lá no século XVI com a Retina (?) todas as pessoas dar
um pouquinho [sic]. E para trazer um caso mais recente ainda, provavelmente a Vereadora não
conhece, Picasso, os chamados desenhos pornográficos de Picasso, que causaram um brutal
escândalo e são considerados arte. Isso aí nós temos que tomar um pouquinho de cuidado. Bem, tem
mais um, conhecido, já que a gente um pouco parece dando uma aula, não é? Salvador Dali, e assim
por diante. Então, a gente deve ter um pouco mais de cuidado, saber medir um pouco as palavras, e
principalmente não fazer confusão no que diz respeito a estrutura administrativa. Nós estamos
rigorosamente dentro das nossas atribuições, não fugimos nenhum momento, o papel que foi
investido foi exatamente 6 mil folhas, e diz respeito ao Funcultura. Nós não temos nada que ver
com iluminação pública, com recolhimento de lixo, ainda que seja extremamente importante.

O SR. BELMONTE: Está muito bom. Este é o posicionamento da Secretaria Municipal de


Cultura sobre a colocação feita aqui pela Vereadora Municipal Letícia Arruda. Carlos Roberto
Winckler, obrigado pelo esclarecimento, e um bom-dia.

O SR. CARLOS ROBERTO WINCKLER: Eu que agradeço. Bom-dia.

O repórter: são 11 horas ... (pp. 593-601)

CÂMARA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE


RIO GRANDE DO SUL
SESSÃO CPI – Revista DUNDUM
Taquígrafo: Ivone
Fl: 10-20 (pp. 602-612)

O REPÓRTER: ... São 11 horas. Apenas um esclarecimento que dizer que o Sr. Gilmar
Rodrigues, que é o editor desta revista, portanto está sujeito a qualquer momento ser pendurado na
corda. Quem é a favor e quem é contra?

A Sra. LETÍCIA ARRUDA: Meu caro, Wianey, eu quero em primeiro lugar destacar
determinados pontos do que eu estou chamando a questão da Revista Dum um [sic]. Quero
acentuar, como já fiz várias vezes, que não sou contra a liberdade de expressão, que jamais bebi ou
comi com arbítro [sic] ou a prepotência. Sou do PDT. Quero apenas chamar atenção que apoio com
6 mil folhas que a Secretaria Municipal deu à Revista Dumdum [sic] foi com o dinheiro do povo.
Eu, como Vereador, tenho o dever e o direito de fiscalizar o dinheiro do povo. Em segundo lugar, o
Sr. Carlos Roberto Winckler, Secretário Substituto, falou hoje pela manhã e eu não ouvi qualquer
explicação ainda do Dr. Pilla Vares, jornalista, Titular da Secretaria de Cultura, - e afirmou que eu
não entendo de política orçamentária do Município, que deveria entender. Digo a este funcionário,
que é funcionário como eu, nós somos funcionários do povo da Cidade de Porto Alegre, que dentro
do orçamento da Secretaria Municipal da Cultura existe o Funcultura criado pela lei 6099 de 1988
com previsão de cr$ 188.964.00,00 para 1990, que a esta altura já deve ter sido suplementado. O
que me preocupa, Wianey, é que se invista dentro do que se julga correto em matéria de cultura. Eu
só quero dar um exemplo a Prefeitura Municipal de São Paulo, através de sua Secretária Municipal
de Cultura, a filósofa Marilena Chauí comprou 300 mil livros, fazia 30 anos que São Paulo não
comprava livros e esta mulher corajosa comprou 300 mil livros e o que fez mais? Fez um ônibus-
biblioteca com quatro mil livros que percorre as vilas de São Paulo. Então, o que questiono é o
apoio que a Secretaria de Cultura deu a esta Revista, se deu 6 mil folhas, alguma gratuidade teria
que ter dado, e se é cultura teria que ser entregue ao povo e não cobrada do pov [sic]. Igualmente,
não aceito as críticas que fizeste a minha pessoa de que eu não conheceria as obras de Edgar
Vasques, eu principalmente por ser porto-alegrense, onde temos nomes importantes na nossa cultura
eu valorizo e conheço muito bem. Considero muito o mundo artístico de Porto Alegre, Winckler,
quero também frisar que os conceitos discriminatórios que existem na revista ...

O REPÓRTER: Mas, Vereadora, quanto ao conteúdo da revista? Ela é pornográfica?

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Ela não chega a ser pornográfica, porque como eu estava
falando com o Winckler, pornografia é miséria, é fome, ela é pornográfica em muitos aspectos
quando por exemplo ela coloca as minorias: os homossexuais, coloca o patrão com a empregada, o
racismo, a empregada tem que ser negra. Por que não a patroa negra? Então, estes fatos todos,
quando a revista coloca a mulher frente à sociedade: uma PM que seviciam [sic] dois homens e
depois esse homem vai à Delegacia de Polícia e lá o delegado manda ele ser faturado, etc.

O SR.: mas essa experiência deve ser boa ser seviciado por duas mulheres ...

O SR. CARLOS ROBERTO WINCLER [sic]: A Administração ela tem pautado pelo
rigoroso pluralismo e evidentemente que quando somos procurados por artistas, por intelectuais,
nós não fazemos um papel de censura, mesmo porque a Constituição aboliu a censura, não cabe
nem a Brigada Militar nem à Policia Federal simplesmente coibir atos culturais. Eles pode [sic], até,
ser um elemento de polêmica, o que eu acho até muito bom ...

O REPÓRTER: A ouvinte Vera Lúcia telefona dizendo que pornográfico é o salário do


trabalhador.

A SRa. LETÍCIA ARRUDA: Também.

O SR. CARLOS ROBERTO WINCLER [sic]: Em primeiro lugar isso, em segundo lugar, já
que não cabe tratar aqui a questão do conteúdo, mas parece que a questão sempre deriva, o discurso
é muito ambíguo, sempre deriva para a questão do conteúdo.

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Porque eu fui questionada.

O SR. CARLOS ROBERTO WINCLER [sic]: O curioso é que quando se utiliza o


argumento do conteúdo é para atacar outras coisas, é como se o conteúdo fosse um pretexto para
outras coisas ...

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Quais as outras coisas?

O SR. CARLOS ROBERTO WINCLER [sic]: Só um instantinho para que eu possa


terminar a argumentação. O conteúdo está sendo utilizado. Ora, se nós nos pautamos pelo
pluralismo, pela liberdade de expressão e sabemos que a Constituição estabelece a plena liberdade
de expressão não nos cabe o palel [sic] de censura. Em segundo lugar, quando a política da
Secretaria Municipal de Cultura é curioso se nós ajudamos, em parte, com folhas o que é
considerado o miolo da revista, ela é uma revista que mereceu ser patrocinada, porque ela é um
elemento chamado “fanzine”, que é uma cultura adolescente de crítica social, muito acerbada em
alguns momentos mas que está integrada na chamada cultura de massa a longos anos. Afora isso ela
integra elementos culturais que vem do século XVI, vem do século XVIII, e assim por dianete [sic].
Eu admito que a revista – e essa a é [sic] uma posição pessoal – pode ter desníveis mas não cabe a
nós estabelecer esse desnível. Mas eu queria colocar outro problema quanto à política da própria
Secretaria, nós temos uma série de projetos em andamento há mais de um ano que estabelece
evidentemente uma posição mais ampla com a sociedade. Por exemplo: o programa que temos
escolas municipais ...

O REPÓRTER: Mas Wincker [sic], como nós temos pouco tempo para falar deste assunto
eu gostaria de deixar o outro assunto para uma outra oportunidade. Temos aqui o Fernando Schiller
que é o coordenador do Licro [sic] da Secretaria Municipal de Cultura também quer usar a palavra.

O SR. FERNANDO SCHILLER: Eu me considero diretamente responsável pela edição da


responsável porque cabe a mim o apoio ou não à seleção que a Secretaria faz ...

O REPÓRTER: Eu vou dizer uma coisa: estão falando tanto desta revista que esgotou ...

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Mas o povo também precisa ler, também tem que receber
gratuitamente.

O SR. FERNANDO SCHILLER: Verª. Letícia Arruda, sobre as questões concretas que a
Vereadora coloca, eu digo sinceramente que é a primeira vez que eu posso debater contigo num
programa de Rádio eu considero que nenhuma das acusações que a Vereadora faz tem qualquer
fundamento, que são: a primeira seria sobre o apoio financeiro que a Secretaria teria dado foi de cr$
40.000,00 do povo de Porto Alegre, cr$ 40.000,00 do Fundo Municipal de Cultura, tem uma parte
da verba arrecadada. Não tem fundamento esta acusação e por que? Porque nós apoiamos um sem-
número de iniciativas, iniciativas populares, iniciativas de educação, apoio pedagógico, iniciativa de
show musicais [sic] ...

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: E os livros das bibliotecas municipais?

O SR. FERNANDO SCHILLER: Compramos livros, eu sou o responsável pela


coordenação da Biblioteca Pública Municipal, eu no ano passado compramos [sic] diversos livros, a
Vereadora nunca visitou a nossa biblioteca, nós aumentamos em mais de cinco mil volumes a
Biblioteca Josué Guimarães ...
O SR. WINCLER [sic]: Nós estamos inclusive com problema de espaço. Nós realizamos
112 apresentações musicais ...

O SR.: Olha essa manobra diversionista Wincler [sic] ...

O SR. FERNANDO SCHILLER: Esse argumento, Verª. Letícia, não teria qualquer sentido
nós apoiamos dezenas de incentivos culturais, essa é apenas uma delas.

O SR. REPÓRTER: Eu acho que estou entendo a Vereadora, se a Prefeitura dá ajuda para
publicação de uma revista porque ela vai ser comercializada? Essa questão deveria ser respondida.

O SR. FERNANDO SCHILLER: Respondo claramente. O Joel pode até me esclarecer com
mais detalhes melhor, o custo total desta revista deve beirar em torno de centro e cinquenta mil
cruzeiros. Quer dizer: os cr$ 40.000,00 não chegam nem a 1/3 do custo da revista. Então,
Vereadora, se a Secretaria Municipal de Cultura não apoiasse esta revisto, qual seria o preço dela?
Sairia em torno de cr$300,00 ou mais. Segunda questão: os escritpores [sic] fizeram um sistema de
cooperação e financiaram uma parte da revista. Como, enfim, o meio cultural viu uma série de
dificuldades financeiras na nossa cidade que a senhora conhece e nós todos conhecemos, eles
solicitaram à Secretaria que fizessem uma espécie de subsídio de uma parte da revista, que é uma
iniciativa cultural de validade. Então, partíamos o custo da revista para darmos acesso de mais
pessoas à compra da mesma ...

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: E quando serão entregues nas escolas? Deve haver alguma
parcela destinada a isso.

O SR. FERNANDO SCHILLER: Nós podemos aceitar a sugestão da Vereadora, inclusive


amanhã à noite às 20 horas teremos o lançamento e 10% do que é arrecadado de venda da revista no
lançamento é destinado ao Fundo de Cultura. Com este dinheiro nós poderemos comprar revistas
para todas as escolas do Município. Agora, o que eu queria dizer que o que está por traz desta
crítica da Vereadora, que é legítima, porque a Oposição deve criticar, deve questionar e fiscalizar,
mas deve colaborar também com a Administração, o que muitas vezes os Vereadores da Oposição
não gostam de fazer ...

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Não é verdade, porque a Bancada do PDT se reuniu com a
Bancada do PT ...

O SR. FERNANDO SCHILLER: A Bancada do PDT jamais fez alguma referência positiva
a qualquer dos projetos da Secretaria Municipal de Cultura e a Secretaria tem um belo trabalho, um
trabalho popular um trabalho de descentralização ...
O SR.: Só um dado concreto: no ano passado atendemos 340 mil pessoas. Organizamos 112
espetáculos de músicas, atendemos 60 mil crianças em escolas estaduais e municipais,
incrementamo [sic] as bibliotecas, investimos numa série de palestras. Quer dizer: é brincadeira?

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: É brincadeira de vocês.

O SR. REPÓRTER: Sem ser moralista nós temos aqui alguns quadrinhos do Newton:
“Papai e Mamãe numa relação sexual.” “Papai e a empregada”: A empregada realmente é preta, não
dá para discutir a cor da empregada. “papai e a vizinha”; “Mamãe e o encanador”; “Mamães e a Tia
Alice”. É uma pregação à promiscuidade aqui.

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: A Escola Municipal Praª. Ana Iris do Amaral estão pedindo
livros para a biblioteca e a Revista também Gilmar.

O SR.: Nós temos aqui 67 páginas sem alusão à sexo, mas quanto ao racismo do papae [sic]
e mamãe e papai e empregada se nós colocássemos uma branca nós poderíamos estar sendo
chamados de hipócritas e desconhecer a realidade, a maneira como o negro é discriminado pela
sociedade e vive com baixos salários. Então é uma forma de denúncia. Quanto às brigadianas seria
aquela parte em que elas curram o cidadão e depois ele vai se queixar na Delegacia do Homem e lá
ele é novamente currado pelos policiais homens. Eu acho que essa é uma história contra o
preconceito e a discriminação porque o cara que foi se queixar da curra das brigadianas foi
considerado homossexual.

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: E porque os deficientes?

O SR. REPÓRTER: Deveriam ter ficado satisfeito?

O SR. FERNANDO SCHILLER: Eu acho que a revista pode se acusada de discriminatória


contra as lésbicas porque ela fala dos homossexuais, fala das brigadianas, fala dos delegados, fala
dos negros, enfim a única solução que eu ofereço para a Vereadora Letícia Arruda é que criássemos
na Secretaria Municipal de Cultura um Conselho da Moralidade Presidido pela Vereadora e que a
Verª. Letícia Arruda fizesse a seleção naquilo que pode ou não a cultura imprimir.

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Não. A seleção já foi feita pelo povo de Porto Alegre quando
deu 55% ao mau e ao péssimo do Governo Olívio Dutra.

O SR.: Nós estamos tratando da cultura ou da política eleitoral?

O SR. FERNANDO SCHILLER: Aí já vai para o campo eleitoral ...


A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Eu não sou candidata a nada, eu estou aqui defendendo os
interesses da população de Porto Alegre. Foram cr$ 40.000,00 mas se fosse cr$1,00 apenas seria do
povo de Porto Alegre.

O SR. FERNANDO SCHILLER: Não é só uma crítica ao PT mas também ao PSB e PCB,
que compõem a Administração Popular.

O REPÓRTER: Vereadora, este assunto é muito polêmico nós poderíamos ficar aqui uma
tarde inteira discutindo aqui. Eu tenho

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Wianey, eu mostrei aos meus filhos, um tem 17 anos, uma
menina de 15 e outra de 12 anos, eu li juntamente com os meus filhos.

O SR.: Independente da minha posição como Subsecretário, Wianey, eu escrevi um


trabalho sobre a questão da pornografia e sexualidade no Brasil e eu recordo que fiquei um ano
dando explicação por todas as rádios e televisões de Porto Alegre. Foi muito educativo para saber
como as pessoas costumam tratar determinadas questões e se as pessoas quiserem novamente
discutir esse assunto eu me proponho a discutir o mesmo sob o ponto de vista histórico, sociológico,
etc.

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Eu já convido V.Sa. a participar para fazer esta discussão na
Comissão Permanente de Educação e Cultura da Câmara Municipal.

O REPORTER: O Gilmar está me presenteando com um exemplar da Revista Dumdum


[sic] porque não está mais à venda, esgotou, consta estão vendendo no mercado negro a cr$
1.000,00.

O SR.: Daí poderás analisar melhor a revista porque tem gente falando da mesma sem ao
menos ter lido.

Meus amigos amanhã à noite no Centro Municipal de Cultura haverá o lançamento oficial
da revista. Esperamos que os cavalarianos do CTG 35 não impeçam o lançamento e nem a Brigada
Militar.

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Eu espero que o povo, principalmente das vilas, receçam
[sic] a revista nas escolas já que é uma revista cultural.

O REPÓRTER: A Editora do Gilmar vai passar a noite imprimindo a revista porque não
tem mais para o lançamento.
O SR. GILMAR: É, realmente, eu pediria que corressem para as bancas porque já está
esgotando.

O SR. REPÓRTER: Nós já ultrapassamos o espaço mas o assunto é muito polêmico, não é
Vereadora?

(encerra-se a reportagem). (pp. 602-612)

CÂMARA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE


RIO GRANDE DO SUL
SESSÃO DUNDUM
Taquígrafo: VERA BARBOSA
Fl: 1-10 (pp. 613-622)

O SR.: ...porque colocar um produto no mercado numa época de recessão foi um sucesso,
tiveram uma mídia eletrônica que outros não conseguem, porque até não tem dinheiro e estão
faturando aí.

O SR. VIEIRA DA CUNHA: Eu queria dizer e ressaltar este aspecto que colocaste aí, que
não há e não se discute o mérito ou o direito que os editores têm de fazer uma revista dessa
natureza, seria o cúmulo, porque seria o cerceamento da liberdade de expressão, que é um princípio
defendido por todos nós. O que ocorreu a respeito dessa revista foi que alguns Vereadores se deram
conta de que havia expressamente um apoio da Prefeitura Municipal, através da Secretaria
Municipal de Cultura. Houve uma indignação, por parte dos colegas Vereadores, no sentido de que
eles acham que os recursos públicos na área de cultura seriam mais bem empregados em outro tipo
de publicação, outro tipo de atividade cultural que não esse tipo proposto pela revista DUMDUM
[sic]. Nesse sentido a Vereadora Letícia Arruda teve a iniciativa de recorrer a uma CPI, que é um
instrumento que a Câmara de Vereadores dispõe para apurar possíveis responsabilidades de serviços
públicos no caso de utilização indevida de recursos de dinheiro público do Município. A CPI é um
instrumento que será utilizado pela Câmara. Me parece que ela já recolheu número de assinaturas
suficientes para instalação dessa Comissão Parlamentar de Inquérito, em que serão chamadas as
autoridades, principalmente na área da cultura do Município, para prestar, à Câmara, as explicações
que motivam o apoio da Prefeitura a esse tipo de publicação. Quero dizer que esse é um direito do
Vereador e mais do que um direito, um dever que os parlamentares têm, porquê faz parte do
exercício do poder de fiscalização que os Vereadores têm. Nós somos eleitos exatamente para isso,
para fiscalizar os atos do Executivo e também neste caso e principalmente quando se refere a
dinheiro público. É uma publicação que está sendo custeada pelo menos em parte por recursos
públicos e nós estamos cumprindo com o nosso dever. Não quero fazer nenhum juízo precipitado a
respeito de resultados desta CPI, até porque esta Comissão Parlamentar de Inquérito haverá de dar o
direito à Prefeitura e aos próprios editores da Revista [sic] de lá comparecerem e fazer a exposição
das razões que elvaram [sic] a Prefeitura a co-patrocinar uma obra desta natureza.

O Sr.: Bom dia, Adão Iturrusgarau [sic] um dos editores, ele e o Gilmar Rodrigues que
estão aqui presentes são os donos da bola, vamos a defesa.

O Sr. Adão Iturrusgarai: Bom é o seguinte: a Revista “Dundum” que o senhor está dizendo
que foi patrocinada pela Prefeitura, ela não pe [sic] patrocinada, ela tem o apoio da Prefeitura, é um
apoio e a verba é muito pequena e o estardilhaço é muito grande. Eu sei que é um direito dos
Vereadores e tal abrirem uma CPI para tentar esclarecer certas coisas, mas, por exemplo, vai-se
gastar mais dinheiro numa CPI, vai custar mais para os cofres públicos do que custou para a
Revista. Às vezes, para Culutura [sic] patrocinar um show ao vivo ou uma peça de teatro, ela pode
gastar mais dinheiro do que foi patrocinado pela “Dundum”.

O SR. GILMAR RODRIGUES: O patrocínio para peças, cinema e livros é uma coisa
moral, a única coisa que está acontecendo é um preconceito quanto ao tipo de atividade da
publicação, porque é uma espécie de ineditismo. Na Prefeitura acho que fez muito bem, acho que
para a Secretaria de Cultura foi um grande lance, porque acho que fazia uns dez anos que não
acontecia uma coisa assim. Aliás, não é uma coisa tão inédita bolar este tipo de publicação, porque
na Administração passada o “Pasquim” Sul tinha quase que toda a semana, me parece que toda
semana anúncio da Administração Collares, o que também não somos contra seu houve publicação,
sou até a favor porque eu era colaborador do “PASQUIM SUL” também. Também o “PASQUIM
SUL” tinha sexo e algumas coisas de humor negro, que estão dizendo que é pornografia, mais ou
menos uma publicação deste estilo. Assim como tinha no Rio de Janeiro página e páginas do
“PASQUIM” do Rio, patrocinado pelo Governo Brizola.

O Sr.: Na linha o Ver. Wilson Santos, bom dia, tudo bem?

O Sr. WILSON SANTOS: Bom dia, tudo bem graças a Deus.

O Sr.: Estamos aqui com o Ver. Vieira da Cunha e com os donos da “DUNDUM”, o Adão e
o Gilmar.

O Sr. WILSON SANTOS: Olha, em relação à Revista “DUNDUM”, posso te dizer que
uma Administração Popular e que arvora em dizer popular, se fizesse uma consulta popular, ela
teria certamente o repúdio por esta publicação, porque eu não vejo na publicação, e ela está
totalmente maculada, o sentido Cultural no momento em que dou apenas um exemplo: em que ela
ataca a instituição Brigada Militar e instituição Polícia Civil, mostrando um atendimentos policial
baseado em parassexuais, em agressão sexual, a onde os policiais fazem atos ibidinisos [sic] com as
pessoas que necessitariam ou que estariam envolvidos com a polícia. Aquilo ali, pegue a Revista e
olhe e vê que é uma coisa destrutiva ao mundo melhor que queremos construir. Outro detalhe que
me deixa perplexo é o investimento maldirigido [sic], porque o Vereador Adroaldo Corrêa declarou
que a Prefeitura apenas patrocinou, subsidiou a Revista,. Ora, pegar dinheiro do contribuinte,
porque, vê uma coisa, o contribuinte está sobrecarregado já com uma carga excessiva de impostos,
ele paga para ter contraprestação de serviço. Estou baseado em consultas, eu dou atendimento às
segundas-feiras, no Bairro Sarandi, e atendo ao povo, o povo está desesperançado, desacreditado no
Poder Público, porque...

ele quer iluminação pública, ele paga e não tem iluminação pública. Ele quer que o buraco seja
aberto e seja fechado, tanto na calçada como na rua. Dá uma passada nas ruas de Porto Alegre, é
uma buraqueira total. Então, em vez de se gastar dinheiro nisso, gasta-se dinheiro em coisas que o
povo não quer. Uma outra coisa é o Governo Federal. Hoje o Governo Federal está gastando
milhões de dólares num Projeto da Marinha, que é um Projeto bélico, é um Projeto de guerra. O que
nós queremos é investimento em educação e investimento em cultura. Agora se vêm me dizer que
este investimento é em cultura. Eu preferiria, no momento em que está externada aquela verdadeira
pornografia, especialmente neste quadro que mostra o atendimento da Polícia e da Brigada Militar.
Podem tentar mistificar, mas é pornografia. Eu preferiria que a Administração Popular gastasse
dinheiro numa revista de educação sexual, sexualidade. Agora querem misturar cultura para atacar
instituições, para agredir, para fazer uma violência contra as instituições e contra autoridades, Isto é,
no mínimo, vergonhoso.

O Sr.: Pergunto ao Vereador onde está citada a Brigada Militar nesta história que o Sr. Está-
se referindo?

O SR. WILSON SANTOS: Está no atendimento da Polícia um policial fardado e, depois,


no atendimento da Delegacia. E uma outra coisa, cultura com sexo oral, exteriorização da tara, isso
é expresso na revista.

O Sr.: O Sr. Conhece as gravuras eróticas do Picasso, que mostram as relações sexuais?
Acho que não.

O SR. WILSON SANTOS: Mas eu estou interessado no povo de Porto Alegre que
represento e não estou interessado em quem tem uma galeria de artes, que bota uma coisa, que
alguém vai lá e vai ver, realmente tem aquela tendência. Estou interessado é no dinheiro do povo
que foi gasto mal.

O Sr.: Nós estamos contestando as suas palavras, que o Sr. Disse que não é uma atividade
cultural.
O Sr. WILSON SANTOS: Te pergunto quanto ganha o funcionário que denunciei, que é
funcionário CC, que deveria ganhar apenas 40 mil cruzeiros se fosse um funcionário normal, mas
como ele tem CC e tem regime de dedicação exclusiva, o regime de dedicação exclusiva, o regime
de dedicação exclusiva faz com que tire do bolso do contribuinte, do bolso do povo e pague o
dobro, este funcionário ganha 86 mil cruzeiros por mês. O dono da revista que deveria trabalhar
manhã, tarde e noite, porque dedicação exclusiva, se dedica para revista. Quero saber se tu tens
conhecimento disso?

O Sr.: Isto diz respeito a mim mesmo. Eu não ganho 86 mil como disseste. Agora uma
coisa, eu tenho regime de educação exclusiva [sic] e trabalho o dia inteiro na Prefeitura, manhã e
até as 6h da tarde, mas isto não impede que eu continue. Sou um cara que trabalho com quadrinhos
a uns 6 anos mais ou menos, não impede que eu expresse culturalmente minha atividade. Isto é
absurdo, estou economizando dinheiro para Prefeitura que Administrações passada entregavam para
agencias [sic] de publicidade, para fazer cartazes, campanhas, prospectos e coisas, nós estamos
fazendo lá dentro da Prefeitura e economizando dinheiro, trabalhamos o dia inteiro. Não tenho
vínculo empregatício com outro lugar.

O Sr. WILSON SANTOS: Sim, o vínculo empregatício é a produção de pornografia, isto eu


acho e tenho entendimento e nós analizamos [sic] com parcela da população esta Revista e gostaria
que fosse consultada a população porque fazer uma revista com patrocínio público tem que ter pelo
menos a chancelar do povo, o dinheiro é do povo.

O Sr.: Acho que este negócio de fazer consulta com o povo, é uma coisa relativa, a revista
está sendo bem-aceita, a principal consulta está na compra, a edição esgotou. Agora estamos
fazendo a segunda edição. Para o produto que vai ao mercado esta é a principal consulta popular.
Convidaria o Senhor para visitar uma banca de revista e comparar a nossa revista com uma
publicação verdadeiramente pornográfica. A diferença é gritante.

O Sr. WILSON SANTOS: Eu gostaria que fosse feita uma consulta diferente, dirigida no
seguinte sentido, gostaria que o dinheiro do contribuinte fosse gasto para publicar este tipo de
revista ou para botar iluminação para evitar que o povo seja agredido e assaltado.

O Sr.: Isto aí e produção cultural, isto aí poderia ser patrocinado por um show ou até uma
peça de teatro em que as pessoas andas nuas.

O Sr. WILSON SANTOS: Continuo com a idéia dentro da parcela que represento do povo
achando que está totalmente errado, temos que continuar debatendo. Hoje o debate está prejudicado
em função de estar por telefone mas de qualquer maneira eu estou dando minha parcela, minha
contribuição, já que um debate que se utiliza um meio como o rádio, que é justamente um meio que
quer levar informação ao povo, que o povo agora está ouvindo, o povo ouvinte neste momento na
rádio Bandeirante, que atentem para o debate até porque sei que tem mais Vereadores aí, o Ver.
Vieira da Cunha que está presente e que o debate continue. Eu fico momentaneamente neste debate
prejudicado mas estou dando a minha opinião as minhas colocações que é uma coisa que estou
convencido do que estou dizendo.

O Sr.: Bem, meu caro Vereador, então o Sr.na CPI o Sr. Vai ter uma forma atuante, porque
o Sr. discorda plenamente da revista.

O SR. WILSON SANTOS: Discordo plenamente da revista.

O SR. PAULO: Então, está. Foi um prazer. Bom-dia.

O SR. WILSON SANTOS: Um grande abraço.

O SR. PAULO: Continuamos aqui com o Ver. Vieira da Cunha, que ouviu atentamente o
seu colega e está ouvindo o Gilmar e o Adão.

O SR. VIEIRA DA CUNHA: Só queria fazer um reparo. Quando se falou de que na CPI vai
se gastar mais dinheiro do que no apoio que a Prefeitura deu à revista e dizer que a CPI não
pressupõe renumeração extra para o Vereador, a CPI faz parte de um trabalho normal de um
Vereador dentro da Câmara. Ninguém vai receber subsídio extra algum porque está fazendo parte
da CPI. Então, não haverá nenhum gasto extra para o contribuinte em se formar uma Comissão
Parlamentar de Inquérito na Câmara.

O Sr.: No caso, há um desvio. As pessoas se deslocaram, se mobilizaram para uma coisa e


ficam esquecendo uma série de outras coisas que são muito mais graves e isto aí, acho que é uma
perda de tempo.

O SR. VIEIRA DA CUNHA: Inclusive, para se instalar uma CPI, uma vontade individual
não é suficiente para isso, um Vereador não tem esse poder, é preciso que a maioria absoluta da
Câmara subscreva um Requerimento para a instalação da CPI. E eu posso dizer para vocês que,
conforme as informações que a Ver. Letícia Arruda me trouxe, inclusive Vereadores da Bancada do
Governo, do PT, subscreveram esse Requerimento para instalação da CPI. Então, não poderia ser
diferente, não significa dizer que estes Vereadores do PT ou mesmo alguns não concordem até com
esse tipo de literatura, não é isto, é que nós estamos defendendo o direito que os Vereadores têm de
fiscalizar o emprego de verbas públicas, por simbólicas que sejam. Porque é sempre dinheiro
público.

O SR.: Adão, você pode dizer quanto é que a Prefeitura deu de recursos para a DUNDUM?
O SR. ADÃO: Deu 9 mil folhas de papel, o que custou 40 mil, agora 50 ou cinquenta e
poucos. Não posso dizer certo porque o papel foi comprado antes.

O SR. GILMAR: Outra coisa que queria dizer, não se pode misturar as coisas, tem gente
falando que na cidade falta iluminação, calçamento, tudo bem, não queremos discutir isto, só que
não é função da Secretaria de Cultura colocar lâmpadas em ruas ou calçamento e os Vereadores
sabem disto, porque eles aprovaram uma verba para a Secretaria de Cultura, então, gostaria que o
debate se fixasse aí.

O SR. VIEIRA DA CUNHA: Eu quero concordar com esta argumentação. Eu não fui por
este caminho. Eu chamo atenção do meu colega Wilson Santos, porque realmente não é por aí. O
que afirmei no início é que dentro da cultura, dentro dos gastos com a cultura estes recursos
poderiam ser mais bem-aplicados, é neste sentido. Agora, nós não podemos realmente comparar o
emprego de verbas aqui com reposição de lâmpadas, que só afeta a outras Secretarias. Estou
dizendo que dentro dos programas que existem na Secretaria Municipal de Cultura certamente estes
recursos, no entender dos Vereadores que estão subscrevendo este requerimento, poderiam ser mais
bem utilizados. Aí é uma questão de conveniência na utilização dos recursos públicos.

O SR.: Quero colocar uma coisa bem profissional a respeito do trabalho e da revista. Esse
pessoal que está falando mal da revista, na verdade quadrinhos é cultura e ...

ela segue uma tendência que está sendo muito usada no mundo. E, no Brasil inteiro, cara, foi
lançado, só em São Paulo que produz quadrinhos como aqui. A “Dumdum” [sic] é uma revista
que ... no Brasil inteiro... Inclusive, a gente nem mandou ainda, porque a gente está mandando...

O SR. (...): Nesta revista ... está publicando em São Paulo; temos aqui, estamos abrindo um
mercado ... O Jaka [sic], na capa, ele é conhecido nos Estados Unidors [sic], um editor, um grande
editor de vanguarda, quer dizer, acho isso super-importante [sic] para o Rio Grande do Sul, porque
as pessoas vão ficar, realmente, abismadas com esse trabalho, não consigo imaginar como ... e não
estão ganhando dinheiro...

O SR.: Agora, como o Solano me disse, a Revista é de boa qualidade, não se discute.
Agora, o que a Câmara vai, o que motivou a instalação da CPI, que ainda vai motivar muitos
debates dentro da Câmara, é o fato da Prefeitura apoiar este tipo de literatura que vocês hão de
convir comigo que é muito controverso: a sociedade em geral não aceita esse tipo de literatura.
Então, no momento em que a Prefeitura põe dinheiro público aí, ela tá chancelando esse tipo de
literatura, esse tipo de cultura que não tem aceitação geral da sociedade. Por isso, a polêmica.

O SR.: Quero agradecer aos amigos. Estou levando uma Revista que me entregaram, o
Gilmar e o Adão, apesar de toda a polêmica e discussão. Agora, quero cumprimentá-los pelo
seguinte: eu nunca vi, mais uma vez volto a dizer, uma revista que teve uma repercussão tão grande.
Sexta-feira, novamente, nas bancas; mas o pau vai comer.

Na segunda edição não custa tirar este selo da Prefeitura.

O SR.: Já houve, então, um grande avanço: na segunda edição faz sem o selo da Prefeitura.
Já é um avanço, já serviu para alguma coisa.

O SR.: Meus cumprimentos, Gilmar e Adão. Bom-dia. Volto amanhã com o “Jornal de
Sábado”, a partir das 8 horas. Fique aí. (...)

(Música)

(Final gravação) (pp. 613-622)

Porto Alegre, 13 de dezembro de 1991.

NOTA OFICIAL

O SINDICATO DOS JORNALISTAS PROFISSIONAIS DO RIO GRANDE DO SUL,


repudia o ataque que a revista Dum Dum [sic] e seus editores Adão Iturrusgarai e Gilmar
Rodrigues vêm sofrendo por parte de alguns vereadores porto-alegrenses. Fica evidente o objetivo
político-eleitoreiro dessa campanha, que discrimina um tipo de manifestação cultural.

Nos solidarizamos com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre e com os editores da Dum
Dum [sic], entendemos que é dever do poder público apoiar todo o tipo de manifestação artística.

Celso Augusto Schröder


Predidente

(p. 691)

NOTA

GRAFAR, Grafistas Associados do Rio grande do Sul, entidade que reúne, desde 1988, os
cartunistas, ilustradores e autores de histórias em quadrinhos, tendo em vista o debate suscitado pela
publicação da revista DUNDUM, e considerando que os editores, bem como grande parte dos
colaboradores desta revista são integrantes da associação, vem ponderar o seguinte:
Quanto ao conteúdo de algumas páginas da publicação, só pode representar choque para pessoas
completamente desinformadas das tendências dos quadrinhos contemporâneos, nacional e
internacionalmente. De fato, nos últimos vinte anos intensificou-se, a partir da Europa, a produção
de quadrinhos para adultos que examinam os temas da violência, dos costumes, comportamento
(sexo inclusive), política, etc., temas de resto presentes historicamente na literatura, no cinema,
teatro e demais formas de expressão, sem falar na imprensa e na publicidade. Qualquer leitor
habitual de quadrinhos sabe, e qualquer interessado pode comprovar sem esforço, que tais temas,
livremente tratados, estão presentes em praticamente todas as revistas atuais de quadrinhos para
adultos. Bata folhear, em qualquer banca, “Chiclete com Banana”, “Piratas do Tietê”, “Animal”,
“Planeta diário” ou “Casseta Popular”, principais publicações de humor e quadrinhos editados hoje
no país. Portanto, se alguém, saudoso da censura (contra a qual os cartunistas SEMPRE lutaram),
pretendesse suprimir DUNDUM das bancas, sob a genérica alegação de “pornografia”, teria que
levar pelo mesmo motivo, quase todas as publicações dessas bancas. Na GRAFAR se acredita que o
julgamento de qualquer publicação deve ser do público consumidor, que felizmente não é obrigado
a adquirir ou ler nada que não queira. Quanto ao apoio dado à DUNDUM pela Secretaria Municipal
de cultura de Porto alegre, GRAFAR, como associação que luta pelo desenvolvimento do cartum e
do quadrinho no estado, apenas pode agradecer. Finalmente alguma instância do poder público tem
um pequeno gesto de apoio aos cartunistas, que há tantos anos conquistam sem ajuda, prêmios
nacionais e internacionais para o Rio Grande do Sul. Seria, é claro, um absurdo que esse apoio fosse
condicionado por qualquer tipo de censura prévia ao conteúdo da obra. Se um “critério” assim
valesse para o apoio oficial à produção artística, simplesmente não teríamos algumas das principais
obras do cinema e do teatro brasileiro da atualidade.

Se a idéia é mesmo construir um país desenvolvido e contemporâneo do mundo, seria útil deixar
que também os cartunistas, como todos os cidadãos, cumpram o seu papel. No caso, mostrar
livremente cada visão particular do nosso meio comum, ajudando a sociedade a entender onde está
e para onde quer ir.

________________________________

Ricardo Garcia Bottega


presidente

P. Alegre, 23 de agosto de 1990. (pp. 692-694)

JORNAL ZERO HORA – REVISTA ZH – 15.07.90 (p.14)

O “escândalo” da Dundum
A revista gaúcha de quadrinhos Dundum esgotou ligeiro. Jamais seus “donos”, como se
chamam Gilmar Rodrigues e Adão Iturrusgarai esperavam uma reação tão rápida do público. Eles
não contavam com uma propaganda gratuita, surgida a partir do renascimento de um moralismo
retrógrado. E praticado, geralmente, pelos que costumam levantar-se de seus berços esplêndidos, na
proximidade de eleições. Chamaram a revista de pornográfica, imoral, pedindo sua queima e
apreensão, como nas cruzadas do tempo do fascismo. Nas 80 páginas de Dundum, em nem dez por
cento há referências (gozativas) ao sexo. Claro, os que pediram a censura para a Dundum não
conhecem nada das mais prestigiadas revistas em quadrinhos que se fazem hoje na França, Bélgica,
Itália e Espanha. Revistas destinadas ao público adulto, que não aceita repressão de nenhuma forma,
seja política, moral ou sexual. Para as crianças sobra geralmente aquele universo “educativo” de
Disney & Cia, que todos conhecem tão bem. Em tempo: não sou PT e nada tenho a ver com a
Administração Popular (cuja Secretaria Municipal de Cultura deu apoio à publicação), mas quero
que Dundum continue por aqui, com ou sem “escândalo”.

GOIDA

FOLHA DE SÃO PAULO

Gibi que assustou em 1990 volta comportado


O segundo número da “Dundum” chega às bancas esta semana

Rogério de campos

DUNDUM – Vários autores, 50 páginas em preto e branco, Cr$ 650,00 BD Editora, r. Botafogo,
565, tel (0512) 33-6475 e 33-8817, Porto Alegre. Em São Paulo à venda na HQ Underground (r. 24
de Maio, 62 loja 220, região central), Revistaria Bar Avenida (r. Pedroso de Moraes, 1036,
Pinheiros, zona oeste) No rio está na Gibimania (r. Jurupari, 19, loja E, tel. 264-9752, Tijuca)

Só agora, depois de um ano, é lançado o segundo número do gibi “Dundum”, que no ano
passado provocou uma violenta polêmica no Rio Grande do Sul, acusado de pornográfico, racista e
ofensivo, entre outros, contra a polícia militar.

Desta vez o gibi não provocou polêmica. Para Dedé Ribeiro, 32, uma das editoras da
revista, as pessoas - entre elas o próprio governador do Rio Grande do Sul, Alceu Collares - que
atacaram o primeiro número da revista “estão envergonhadas pelo escândalo que fizeram em torno
da “Dundum”. As críticas contra a “Dundum”, segundo Dedé Ribeiro, eram mais uma desculpa
para atacar Prefeitura de Porto Alegre, que é do PT e que patrocinou a compra de parte do papel da
tiragem inicial, de 1 mil exemplares. Segundo Dedé Ribeiro, depois que a “Dundum" foi descoberta
pela crítica especializada de São Paulo, acabaram os ataques. Depois de ser recomendada até pelo
jornal francês “Libération" (para quem "passar pelo Brasil”), a “Dundum" é "um orgulho do
gaúcho”.
Seus criadores juram que não tiveram a intensão de fazer polêmica com o primeiro número
da revista. Mas um deles, Adão Iturrusgarai, 26, não esconde um pouco da insatisfação que sente
com a "tranquilidade" com que aconteceu o lançamento do novo número da revista. Ägora ninguém
quer nos entrevistar, na época os jornalistas iam até em nossas casas querendo uma entrevista”,
conta dando risadas. Para Iturrusgarai (criador de dois dos melhores personagens da HQ brasileira
atua: os cowboys gays Rocky e Hudson) o gibi continua sendo coisa “anormal”, “Nós somos
anormais, quando a ‘Dundum’ for normal terá perdido sua razão de existir”.

Mas é impossível negar que a revista está “mais comportada”. Os temas das HQs são menos
polêmicos e até os desenhos, menos sujos. “O que aconteceu foi que tentamos transformar a
‘Dundum' em uma verdadeira revista. antes ela era meio fanzine” diz Iturrusgarai. (p. 705)

ESTADO DE S. PAULO - CADERNO 2 - QUADRINHOS

Antologia

“Dundum” traz explosão criativa


…o de Porto Alegre firma-se …cipal compilação de …tas brasileiros, mas …independente e com…
stribuição reduzidas

Marcel Plasse

…vem do ajudante da Tartaruga …de uma bala explosiva. O polêmico… Dundum, no ano passado,
mis… cipais (da Prefeitura de Porto Alegre… num boom babélico. De um lado … gaúchos
protestando contra o mau … público; do outro lado (do Atântico… resenhas elogiosas em jornais da
… Espanha. Revistas de vanguarda … Deadlineb e Zin Zone chegaram a … os editores Adão
Iturrusgarai, … o Salão de Humor de Piracicaba, … A falação fez com que Dundum …
rapidamente nas bancas, foi com… segunda tiragem e o início de um … as editoras Circo e Nova
Sampa … da revista em publicação mensal … e fato.

… número depois, Dundum continua … e a melhor compilação de quadrinhos … O acordo para


lançar a revista … saiu, mas seu time de colaboradores … restringe apenas ao beco gaúcho … e
Osvaldo Pavanelli, que publi… quadrinhos na Animal, juntaram-se aos … A pornografia diminui,
mas … O que aumentou foi o profissionalismo … o número tem mais jeito de revista … um fanzine
de luxo, e repete a … em verbas polêmicas. A presença … suas páginas - fato raro no … quadrinhos
- mostra o quanto seu … comercialmente viável.

… Rocky e Hudson, cowboys gays, … Iturrusgarai, são o destaque. apenas … Mulher Fatal, que
assalta diligências … dos solitários - e solitárias - … Glauco … qualquer ………. suas influências -
a turma … americana Raw e desenhos … animação, como Felix the Cat… de sua autoria.
… de Fábio Zimbres é uma pequena … de ritmo publicitário, pedantes … Portugal. Vit dá um final
difDerente … que conduziram à queda do … Goulart, em desenhos que remetem … de cordéis e
mostram o Brasil … paraíso socialista. Como num episódio … telessérie Além da imaginação, …
Até aqui tudo cortado! Difícil transcrever!… desfecho de autêntico pesadelo. Guazzelli, que já
publicou na revista Fierro e editou o fanzine Kamikase, um antecessor pobre da Dundum,
contribui com a única história poético-pretensiosa. Seu traço amadureceu muito, influenciado por
Muñoz e Sampayo (os autores argentinos da biografia em HQ de Billy Holiday), e algumas frases
de sua trip gráfica Telephone Call, uma La Nave Va existencialista, são antológicas.

Pode faltar polêmica ao segundo número, mas seu conteúdo continua a ter impacto de bala.
Mais trilegal, Dundum é quadrienal. Apenas um inconveniente: a revista só foi distribuída, em São
Paulo, em pontos especializados, atendidos pela Devir Livraria.

SERVIÇO

Dundum - Revista que reúne vários artistas brasileiros, publicação independente da BD Editora,
preto e branco, com 52 páginas, CZ$ 650,00. Pode ser encontrada na Alex Comics (Av. Ibirapuera,
1.923, tel. 571-7169), Banca Tiragem Ltda (Al. Lorena, 1.711, HQ Underground (R. 24 de Maio,
62, loja 220, tel. 223-4144, ramal 24), Livraria Belas Artes (Av. Paulista, 2.448, tel. 256-8316) ou
diretamente na Distribuidora Devir (R. Augusto de Toledo, 83, tel. 278-0384) (p. 706)

Caso DumDum
FOLHA DE SÃO PAULO - Segunda-feira, 30 de julho de 1990 (p. 10)

“DunDum” provoca escândalo em Porto Alegre e chega a SP

Rogério de Campos

Especial para a Folha

DUNDUM – Revista com diversos autores, 80 páginas em preto e branco, Cr$ 300,00. Redação:
travessa Fortaleza, 152, te. (061) 49-1412. Porto Alegre, Rio Grande do Sul. CEP 91700. Em São
Paulo, à venda na HQ Underground (r. 24 de Maio, 62, loja 220, zona central); revistaria do Bar
Avenida (r. Pedroso de Moraes, 1.036, Pinheiros, zona oeste); banca Tiragem (al. Lorena, esquina
com r. Bela Cintra, Jardins); livraria Belas Artes (av. Paulista, 2.448, tel. 256-8316, zona central).

“Dundum” é a melhor revista nacional de histórias em quadrinhos lançada este ano. E


também a mais polêmica. Ela chega às bancas paulistanas nesta semana, dois meses depois de ser
lançada em Porto Alegre, onde se tornou o centro de uma das últimas controvérsias da discussão
política pré-eleitoral.
Não que a revista seja especialmente escandalosa. Ela tem, por exemplo, bem menos cenas
de sexo que a maioria das revistas de HQs para adultos publicadas atualmente. A razão de toda a
polêmica é que a revista teve parte de seu papel subsidiado pela prefeitura de Porto Alegre.

Várias entidades de classe e personalidades políticas manifestaram seu repúdio. A


Associação dos Cabos e Soldados da Brigada Militar anunciou que iria entrar com ação na Justiça
exigindo que a revista fosse apreendida. O vereador João Dib (PDS) declarou ao “Jornal do
Comércio”, de Porto Alegre: “A revista –que considero um lixo- é a oficialização da pornografia
pela administração da Frente Popular”. Outro vereador pediu a renúncia do secretário municipal de
Cultura.

“Essa indignação moral é uma farsa”, diz Gilmar Rodrigues, um dos editores da revista: “É
apenas pretexto para atacar a Prefeitura.” “Todo o escândalo se deve à vontade de alguns vereadores
e jornalistas candidatos a alguma coisa de se promoverem atacando a administraão municipal, que é
do PT”, completa Adão Iturrusgarai, outro editor.

Adão é o autor de algumas das HQs mais polêmicas da revista. Uma delas, chamada
“Bronha-Sutra”, descreve algumas variações absurdas para o ato de masturbação. Outra, chamada
“O Problema de Fazer Sexo Oral com uma Débil Mental”, fez Alceu Collares, candidato a
governador pelo PDT, declarar que a revista é contra deficientes físicos.

Mas a que deu mais problemas foi uma HQ de Adão que conta a história de um sujeito
violentado por duas policiais. Foi essa HQ que fez a Associação dos Cabos e Soldados da Brigada
Militar anunciar uma ação na Justiça contra os editores da revista. “Nós ficamos esperando a tal
ação”, diz Gilmar, “mas não fizeram nada, foi só publicidade do próprio nome, já que é uma
associação não reconhecida”.

“Apesar de a revista ter sido rotulada de ‘pornográfica’, 67 de suas 80 páginas não tem
nenhuma alusão a sexo”, dizem os editores do manifesto. E perguntam: “Será que os tão atentos
vereadores analisam detidamente qualquer obra cultural que tenha o apoio dos poderes públicos
como se fossem censores? Então eles veriam autores consagrados como Érico Veríssimo (nome de
rua) com livros que contém várias passagens eróticas, ou peças de teatro com cenas de sexo e nudez
que estão sendo ou foram apoiados pelo poder público, por seu caráter cultural. Por que nossa
revista está sendo atacada dessa maneira? É uma revista de quadrinhos, de arte, e por isso mereceu
o apoio da Secretaria de Cultura”.

O escândalo serviu para que a revista esgotasse toda a sua primeira edição, de 1,5 mil
exemplares em menos de uma semana, sendo distribuída apenas nas bancas de Porto Alegre. Como
consequência desse sucesso, os editores providenciaram uma segunda edição, de 4 mil exemplares,
desta vez sem o papel da prefeitura.
Apesar do êxito, eles ainda não decidiram se fazem o segundo número da revista. Por
enquanto estão preocupados em lançar essa edição no resto do Brasil. “Tentaremos conseguir o
apoio da Erundina, para ver se acontece a mesma polêmica e sucesso em São Paulo”, diz Adão. (p.
707)

FOLHA DE SÃO PAULO

Revista foi acusada de ser pornográfica


Da sucursal de Porto Alegre

A revista “Dundum" foi classificada de pornográfica e imoral por vereadores de Porto


Alegre. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito chegou a ser pedida para averiguar as
responsabilidades da prefeitura de Porto Alegre no caso.

O prefeito Olívio Dutra não quis falar sobre o assunto. O secretário substituto da Cultura,
Carlos Winckler, 39, disse que os protestos são sinais de “desatualização" em relação às tendências
mundiais da HQ, com seus componentes eróticos e críticos. “Fizeram uma tempestade numa
colherinha de chá”, disse.

A censura explícita não conseguiu apanhar a “Dundum”, mas na última sexta-feira os


editores receberam uma intimação de Juizado de Menores para que colocassem as revistas em
invólucros de plástico, como é feito com publicações pornográficas.

A “Dundum" (nome de um tipo de bala que explode ao entrar no corpo da vítima) foi
lançada em Porto Alegre no dia 2 de julho, e o apoio da Prefeitura - que doou papel para o miolo da
revista - provocou protestos. Segundo um dos editores, Adão Iturrusgarai, o papel fornecido pela
Secretaria Municipal de Cultura foi ao valor de quarenta mil cruzeiros.

Gilmar Rodrigues, outro dos editores da revista, diz que a “Dundum" segue tendência "dos
quadrinhos da Espanha, França e Itália”. Gilmar admira especialmente a revista espanhola “El
Víbora" e a francesa “L'Écho des Savanes”, ambas satíricas.

Publicação agrupa autores destacados


Especial para a Folha

A polêmica em torno da revista “Dundum”, que envolve a prefeitura de Porto Alegre,


ameaça esconder o quanto ela foi bem editada. Gilmar Rodrigues e Adão Iturrusgarai conseguiram
a façanha de juntar em uma única revista os melhores autores de HQ do Rio Grande do Sul, que não
são poucos. O Estado tem uma grande tradição de histórias em quadrinhos. Foi uma editora gaúcha,
a L&PM, que iniciou a onda de valorização dos quadrinhos no Brasil ao publicar, nos anos 70, os
primeiros álbuns de luxo do gênero.
A “Dundum" reuniu desde quadrinistas de renome como Edgar Vasques, criador da série
“Rango”, até autores novos como Eloar Guazzelli, conhecido apenas por leitores de fanzines. ao
mesmo tempo, a revista tem unidade e se mantém distante do ecletismo comum em gibis dedicados
exclusivamente à HQ nacional. Alguns trabalhos são fracos, com traços inseguros. Mas, levando-se
em conta que é o primeiro número da revista, o resultado total dificilmente poderia ser melhor.

Apesar de Vasques, o grande astro da “Dundum" é o Jaca, autor de duas HQs e da capa da
revista. Jaca é ilustrador e estreou como desenhista de quadrinhos em 89, na “Animal”. Esses seus
primeiros trabalhos chamaram a atenção até dos editores da revista norte-americana “Comic
Journal”, a mais famosa das publicações dedicadas à crítica de quadrinhos. (RC)

Ajuda oficial a HQ é praxe no mundo


Especial para a Folha

Na Itália, alguns jornais e revistas da área cultural, entre elas publicações de histórias em
quadrinhos como “Linus”, recebiam subsídios do governo. Na Espanha algumas das melhores
revistas de quadrinhos são subsidiadas por prefeituras. A mais famosa dessas publicações foi
“Madriz”, de Madri. Essa revista surgiu em 1984, quando Madri não tinha nada especial na área de
quadrinhos além da edição espanhola da revista francesa “Metal Hurlant”.

“Madri”, cujo nome imita o modo com que os habitantes da cidade falam “Madrid”, era uma
revista de luxo e lançou praticamente todos os novos autores da HQ madrilenha. Tendo a prefeitura
para sustentá-la, pôde assumir o risco de publicar histórias em quadrinhos de vanguarda que
nenhuma editora da cidade ainda havia tido coragem de lançar. Também graças à prefeitura, pôde
ser vendida a um preço bem baixo para uma revista de luxo. “Madriz" não tinha periodicidade
definida e acabou depois de três anos, mas durou o bastante para lançar autores como Javier Juan,
ana Juan e Keko, que continuaram sua carreira em outras revistas.

A livraria Ciências Humanas, especializada em publicações espanholas, tem importado a


“Imagen”, uma revista de HQ subsidiada pela prefeitura de Sevilha. “Imagem” segue alinha
vanguardista de “Madriz”, com a mesma apresentação luxuosa e preço baixo. (RO) (p. 708)

TENDÊNCIA/Mercado

HQ nacional passa a ser melhor remunerada


Com uma tabela que paga até US$ 50,00 a página de quadrinhos, a Editora Dealer promove uma
revolução no mercado, criando espaços para a produção brasileira

Marcel Plasse

A crise nos quadrinhos produzidos no Brasil está dando lugar a uma euforia não vista desde
o boom dos anos 50, a era do ouro da HQ tupiniquim. Como antes, uma série de cancelamentos,
acompanhada pela queda de qualidade da produção importada, abre caminho para maiores
vendagens de gibis locais. Nem Disney, nem Marvel, mas Maurício de Sousa lidera, há muito o
mercado, com os dez títulos mais vendidos do País. A novidade ocorre por conta das pequenas
editoras. A joint venture entre Circo e Nova Sampa está rendendo reedições da revista Chiclete
com Banana com tiragens de até 100 mil exemplares. Mas o melhor é que nunca se pagoun tão
bem ao artista nacional.

A revitalização coincide com a chegada da Editora Dealer. Seu primeiro título, Mil Perigos,
lançado no mês passado, começou como fanzine melhorado, que reunia criadores do underground
paulistano. Um número depois, virou um referencial no mercado, graças a sua generosa tabela de
pagamentos. Oferecendo US$ 50,00 por página, a Dealer atraiu artistas que tinham deixado de
desenhar por não existir quem comprasse seus trabalhos. É o caso de Luís Gustavo, ganhador do
troféu HQ Mix do ano passado, como melhor desenhista, que não publica nenhum quadrinho há 15
meses.

"O Luis, o Pavanelli e tantos outros não têm produzido porque não sabem se o que criam
vai ser publicado", diz José Carlos de Souza, diretor da Dealer. “Além disso, os artistas nacionais
não recebem pelo que fazem, ou, quando muito, recebem seu dinheiro defasado. É isso que
queremos mudar”, explica. Para tanto, a editora efetua seus pagamentos no ato de entrega dos
originais. As demais editoras - grandes ou pequenas - só emitem pagamento um mês depois. “Não
há incentivo à criação porque não há pagamento real”.

Hoje, Lourenço Mutarelli, que passou a desenhar exclusivamente para a Dealer - é dele o
primeiro título da série de graphic novels da editora, Transubstanciação - consegue sobreviver
fazendo apenas quadrinhos - em dois meses, produziu 70 páginas e faturou cerca de US$ 1.400,00.
É um caso raro. Maurício, Ziraldo, Angeli e poucos outros conseguem viver com os rendimentos de
suas HQs.

Os valores da tabela Dealer espalharam-se como fogo. Toninho Mendes, editor da Circo,
prepara a volta da revista que lançou os Piratas do Tietê, a homônima Circo, comprando páginas a
US$ 40,00. Adão Iturrusgarai, vencedor do último Salão de Humor de Piracicaba, foi o primeiro
artista a vender seus quadrinhos para o novo projeto. Apesar disso, não as duas editoras que
praticam o melhor preço do mercado. A Record paga Cr$ 25 mil por página, mas apenas para
desenhos de humor para publicação na Mad.

A tabela da Abril Jovem, que concentra sua produção nacional na linha de infantis, chega ao
ridículo quando comparada aos números da nova ordem: míseros Cr$ 8.831,31 - cerca de US$
23,00. a Globo não revela números, mas deixa claro, através de um intrincado labirinto burocrático,
que não se dispõe a atender novos autores. Os candidatos não informados sobre o preço de página
nem pelo staff editorial, nem pelo comercial. Apenas a diretora conhece a tabela. Mas os baixos
valores não são exclusividade das grandes. A VHD paga US$ 20,00 a página de quadrinhos criada
para a revista Animal. Cinco dólares a menos do que a americana Eternity paga a Marcelo Campos,
que, por esta remuneração, largou seu cargo de desenhista da Abril Jovem.

A abertura de mercado para o artista nacional traz uma inevitável profissionalização ao


setor. Talentos como Watson Portela que tem desenhado apenas quadrinhos infantis para a Abril
Jovem, e tantos outros criadores que se dedicaram aos biscates nos tempos das vacas magras,
podem agora voltar a produzir material adulto. A possibilidade de publicação aumentou em muito a
quantidade de páginas produzidas, o que tem trazido um consequente amadurecimento no traço dos
artistas. Oswaldo Pavanelli, desenhista da série Fundação, publicada na Animal, mostra nítida
evolução em Mil Perigos, com influência dos argentinos Muñoz e Sampaio e do italiano Magnus.
Seu personagem Roberto Ferreira, criado em parceria com André total para o segundo número da
publicação, é um Torpedo brasileiro, com grandes possibilidades de se tornar um dos mau caráteres
favoritos da HQ nacional. Do mesmo modo, o desenho de Lourenço Mutarelli na antologia é mais
refinado que na graphic novel. E ainda assim a graphic Transubstanciação, um relato alucinante
movido à Lorax Lorazepan e Prozac Vinci, drogas destinadas a conter a síndrome de pânico do
autor, é séria candidata a melhor HQ de 91.

O segundo número da coleção Graphic Dealer, que chega às bancas em setembro é Tamba
Tajá, um dos álbuns que Júlio Emílio Braz e Mozart Couto publicaram na Bélgica, será impresso
em cores. (p. 709)

ZERO HORA - 2º Caderno - humor

Cartuns mostram tema ecológico


Totalmente Selvagem, série de Eloar Guazzelli Filho, que foi premiado recentemente no Salão de
Piracicaba, estará no foyer do Café Concerto da Casa de Cultura Mário Quintana até 22 de setembro

CLARISSA BERRY VEIGA

Editoria 2º Caderno/ZH

Sem bairrismo por trás, é preciso reconhecer que hoje o Rio Grande do Sul ocupa um dos
primeiros lugares nacionais na qualidade e quantidade de seus cartunistas. O mais novo da turma é
Eloar Guazzelli Filho - o Alemão - que ganhou o prêmio Nossa Caixa, Nosso Banco, no 18º Salão
Nacional de humor de Piracicaba, em São Paulo. Hoje, Guazzelli apresenta uma série de cartuns
produzidos nos dois últimos anos com o título Totalmente Selvagem. O tema é o choque das
comunidades indígenas com a civilização.

Desde a década de 80, o alemão Guazzelli (como é mais conhecido) está envolvido com o
universo gráfico: cartuns, histórias em quadrinhos e desenhos animados. Estas três linguagens são
complementares e ampliaram sua capacidade de produção, introduzindo novas técnicas e
linguagens.

O início aconteceu com a revista Kamikase. Depois as produções se intensificaram. Veio a


revista Dun Dum, as animações feitas na Otto Guerra Produções (Reino Azul foi premiado em
Havana) e no núcleo de animação Brasil/Canadá. Premiações internacionais já constam no currículo
de gfuazzelli, como o Salão de Istambul, Salão de Humor da Bélgica e Salão de Desenho do Japão.

CONFRONTO - A série Totalmente Selvagem é composta por 14 desenhos, que trazem o


confronto desastroso, para os índios é claro, com a civilização. Este projeto deverá ser apresentado
na Rio-92, em função de seu farto conteúdo de defesa da ecologia. Poderá ser incluída também no
programa das comemorações da Descoberta da América, evento que vai mobilizar todo o continente
no ano que vem. “Foi aí que começou o desastre ecológico”, avalia.

Guazzelli reconhece que o trabalho gráfico gaúcho está entre os melhores, embora admire
os argentinos, especialmente Quino, criador da Mafalda. Optar por cartum, quadrinho ou desenho
de animação é uma questão que depende do uso correto da linguagem específica de cada expressão
gráfica. “Quando o tema alcançou uma boa síntese e requer um impacto visual o cartum é o mais
adequado”, explica.

O desenho animado, no entanto, o atrai mais. “acho que é a capacidade de dar vida ao
desenho que me fascina.” Os quadrinhos vencedores no Salão de Piracicaba vão virar desenho
animado. Martinica Drinks mistura humor, filosofia e dramas afetivos. Uma máquina de música
(juke box) é a testemunha das paixões que rolam num bar. Dores de cotovelo, solidão e nostalgia
movem a pequena geringonça musical. Para surpresa de todos a máquina tem alma. E nela está
alojada uma pequena orquestra de anões.

Bem melhor do que contar é ver a série de cartuns, assistir os desenhos animados e ler as
histórias em quadrinhos. Hoje, às 19h30min, a série Totalmente Selvagem estará exposta no foyer
do Café Concerto da Casa de Cultura Mário Quintana (Andradas 736). Segue até 22 de setembro,
das 9h às 21h. (p. 710)

ZERO HORA - SEGUNDO CADERNO - em foco

Will Eisner vê a consagração das HQ


O mestre dos comics norte-americano esteve na 1ª Bienal de Quadrinhos do Rio de Janeiro e
fez elogio do papel que essa arte está desempenhando na cultura mundial

… Primeira parte ilegível (cortada)

PREMIADOS - Na Fundição Progresso, quartel-general do encontro, há bancas das


grandes editoras do gênero no País e de muitas outras, com raridades e novidades de enlouquecer
aficionados. Uma feira internacional e mais mostras, entre as quais a dos Direitos Humanos, uma
beleza, lançada em Lucca ano passado e organizada com apoio da Anistia Internacional. Pena
somente o local isolado onde ficam os trabalhos que concorreram aos prêmios Jovem Talento e
Ecologia. No primeiro venceu Marcos Freitas e Paulo Federal de São Paulo, com Era Domingo 2.
Kyoko Yamashita, do Rio Grande do Sul, ficou em segundo, trabalho sem título. Ecologia foi para
Marcello Mouco, o Gau, do Rio de Janeiro, por Acomodados! Acomodados!

Cinco trabalhos daqui estiveram entre os finalistas nas duas categorias. Além de Yamashita,
classificaram-se Lancast Mota (Habitat Natural), em Ecologia; e Silvio Silveira da Silva
(Imobiliária São Pedro), Adriano e Kick (Confissões de um Demônio Apaixonado Por um Simples
Mortal) e Reinicke (Sem haver tempo Forte ou Vento Contrário Para Isso Poder Ser), em Jovem
Talento.

Matrix e Covil foram os melhores fanzines nacionais 90/91 e Lourenço Mutarelli - que já
teria sido convidado por Paul Gravett, organizador de Strip Search 2, para sua próxima exposição -
teve duas de suas HQ premiadas como as melhores do período no Brasil: Por que Sinto Tanto
Prazer com a Dor e Transubstanciação. O vencedor na categoria humor foi José Valber Benevides
(CE), com O Dono do Mundo. Um júri especial formado por François Viè (diretor do Centro
Nacional de HQ da França), Fulvia Serra (da revista Linus, italiana), Paul Gravett e Álvaro Moya
(escritor e pesquisador brasileiro) decidiram dar a Moebius o Prêmio Internacional Cidade do Rio
de Janeiro, pelo conjunto da obra.

Agora é saber se a Bienal de Quadrinhos está estabelecida, sobrevive e terá outras edições.
Chico Vasconcelos, 44 anos, organizador da feira internacional, não tem certeza. "É uma conquista
que terá que ser feita. Não existe ainda, a Bienal não está institucionalizada, embora tenha sido
iniciado o processo”. Sérgio Portela concorda e também tem ressalvas. “Não dá para afirmar que a
bienal já tenha se constituído no núcleo dos eventos de HQ do Brasil. Isso precisa ser amadurecido.
É trabalho para todo ano de 92”. (p. 711)

ZERO HORA

Exposição de quadrinhos
O Mau Humor de Adão Iturrusgarai é o tema da exposição de cartuns e quadrinhos que ir
inicia hoje, no Espaço IAB (Rua Annes Dias, 166), a partir das 18h30min. Iturrusgarai mostra 25
trabalhos onde a temática sexual está presente, assim como vários personagens que criou, como o
Agente Laranja, Rocky & Hudson, Bronha Sutra e Atom Mix. A exposição prossegue até o dia 18
de julho e pode ser vista das 9 às 24h, diariamente. Adão Iturrusgarai foi um dos criadores e
editores da revista Mega Quadrinho. Seus cartuns são publicados na revista “Mad”, “Revista do
Professor”, “Jornal do Povo”, “Arte e Fato" e “Jornal do comércio”. Além disto, também faz
roteiros para o desenhista Jaca e trabalha como diretor de arte em propaganda.

GAÚCHOS NO SALÃO DE HUMOR


Aberto no último dia 25, o XVII Salão de Humor de Piracicaba já começa a divulgar seus
vencedores. Entre eles estão os gaúchos Lancast Motta, na categoria quadrinhos, e Adão
Iturrusgarai, na categoria cartum. Atualmente residindo em Paris, Adão é um dos “donos” da
polêmica revista Dundum. O salão fica aberto até o dia 16 de setembro, promoção da
Coordenadoria de Ação Cultural da Prefeitura de Piracicaba. este ano, os organizadores são os
cartunistas Angeli, Laerte e Santiago. A edição do evento recebeu inscrições de 1.500 trabalhos, de
vários países do mundo, inclusive Ásia e União Soviética. (p. 712)

ZERO HORA

Revista com o melhor do quadrinho gaúcho


As grandes feras gaúchas do cartoon estão reunidas na mais nova revista em quadrinhos: A
Megazine, que chega hoje às bancas de todo o País, embalada pela façanha de ser a primeira do
gênero produzida no Rio Grande do Sul e distribuída nacionalmente. O arrojo do projeto, por sinal,
inspirou o próprio nome da publicação e levou seus idealizadores a fazer um trocadilho com as
palavras magazine (revista, em inglês) e mega (grande, para os gregos).

Com tiragem inicial de 30 mil exemplares, ela é editada pela Tchê! E vai circular
mensalmente, com distribuição da Editora Abril. O primeiro número, com 32 páginas, traz
quadrinhos de Luís Fernando Veríssimo, Canini, Edgar Vasques, Gilmar Rodrigues, Guazzelli,
Juska, Adão Iturrusgarai, De Ângelis, Iotti, Sílvio S., Reinicke e Lancast. O próximo vai incluir
também nomes nacionais e, para o terceiro número, já está previsto um aumento de quatro páginas.

Sem intimidar com o fato de que São Paulo concentra 70% do mercado editorial do País,
Flávio Braga, Juska, Adão Iturrusgarai, Gilmar Rodrigues e Adriana Lunardi – os cinco criadores
de Megazine -, apostam alto no investimento. Eles começam a disputar uma vaga no mercado,
afinal, num momento em que o quadrinho desfruta de incomparável prestígio. E não só entre o
público infantil, mas também entre os adultos, onde encontra cada vez mais leitores. É o auge de
uma escalada que começou há uns três anos, quando Angeli (o criador da Rebordosa) resgatou o
gênero com o lançamento de Chiclete com Banana.

A idéia de aproveitar o filão e editar uma revista nacional em Porto Alegre nasceu e tomou
corpo há quatro meses, na mesa de um bar onde o grupo se reunia nos dias em que era servido
carreteiro à moda “boca-livre”. “Talentos não faltam aqui. Era a hora de aproveitar o boom dos
quadrinhos”, comenta Adão Iturrusgarai. No editorial deste primeiro número, está o recado: “O
nosso gibi está na rua. Se é novíssimo, já deveria ser antigo numa terra em que os quadrinhos
pululam (epa)...” Megazine vai contar com a colaboração de Grafar – a Associação dos Grafistas de
Porto Alegre, fundada em 88 e presidida por Corvo. A revista está à venda por Cz$ 750,00. (p. 713)

Laerte ganha três prêmios de quadrinhos


Da Redação

3º PRÊMIO HQ-MIX -– Entrega do troféu HQ-Mix para os melhores dos quadrinhos.


Apresentação Sérgio Groisman e Doris Giesse. Show com a banda Pin Ups. Hoje às 21h, no Sesc
Pompéia, r. Clélia, nº 93, tel 864-8544, zona oeste de São Paulo. Os convites são gratuitos e devem
ser retirados antecipadamente no local.

Acontece hoje no Sesc Pompéia a entrega do prêmio HQ-Mix para os melhores dos
quadrinhos em 1990. O HQ-Mix existe há três anos e é o mais importante evento dos quadrinhos no
Brasil. Votam críticos e leitores, em urnas instaladas nas livrarias especializadas.

Este ano, o grande vencedor é Laerte: além de ganhar os prêmios de melhor roteirista e
desenhista nacional, foi o vencedor do prêmio para melhor revista de humor, com seu gibi “Piratas
do Tietê”. A série publicada neste gibi estréia em forma de tira no próximo sábado na Folha.

É o terceiro ano em que Laerte recebe o prêmio de melhor roteirista. É também o terc eiro
ano em que “Calvin”, de Bill Watterson, recebe o prêmio de melhor tira estrangeira.. E é o segun do
ano que “Niquel Náusea” (publicado na Folha) recebe o prêmio de melhor tira nacional.

“Sandman” (da editora Globo) recebeu o prêmio de melhor gibi de terror e seu herói foi
considerado o personagem do ano. O toque de ironia ficou para o prêmio de melhor gibi de
clássicos, dado para “Spirit”, que a Abril Jovem deixou de publicar este ano.

PRINCIPAIS VENCEDORES DO 3º HQ-MIX

Desenhista nacional Revista de clássicos Álbum de terror e Ficção


Laerte “Spirit” “Bradbury, o Papa-Defuntos”
Desenhista estrangeiro Graphic novel Grande Contribuição
Kent Williams “Drácula” Livraria Devir
Roteirista nacional Minissérie Livro Teórico
Laerte “V de Vingança” “Quadrinhos e Arte
Sequencial”
Roteirista estrangeiro Edição Especial Editora
Alan Moore “Lex Luthor, Uma Globo
Biografia Não Autorizada”
Tira Nacional Prêmio Mix Revelação
“Níquel Náusea” “Animal” Jaca
Tira estrangeira Álbum de clássicos Veterano
“Calvin” “Príncipe Valente” Flávio Colin
Revista de humor Álbum erótico Revista independente
“Piratas do Tietê” “Little Ego” “Dundum”
Revista de terror Álbum de humor Personagem do ano
“Sandman” “Sir Ney” Sandman
Revista infaltil
Os Trapalhões
(p.714)

ZERO HORA - 2º CADERNO - cartum

Pelego dá prêmio a Adão Iturrusgaray [sic]


O trabalho foi escolhido como o melhor no Salão Cartum Neles. Criativo e empreendedor

RUI ROBERTO FELTEN

Editora 2º Caderno/ZH

O cartum intitulado Pelego deu a Adão Iturrusgaray [sic] o primeiro lugar no Salão Cartum
Neles, promovido pelo Sindicato dos Bancários, e um prêmio de 750 BTNs - que equivalem a cerca
de NCz$ 8 mil. Ex-editor da revista Megazine, produzida no Rio Grande do Sul e distribuída
nacionalmente pela Editora Abril, durante mais ou menos um ano, Iturrusgaray [sic] está tentando
agora publicar trabalhos na França. No final de março, devem sair duas histórias em quadrinhos
com roteiros criados por ele na revista Animal, onde os leitores acompanharão uma revolta de
minimercados e as aventuras do herói chamado Supermercado. Os desenhos foram feitos por Jaca.

Este é o segundo prêmio ganho por Iturrusgaray [sic] como cartunista. O primeiro, há dois
anos, foi um estoque de 120 cervejas, conquistado com o cartum Tubarão Triquilla, no concurso
Pasquim-Malt 90. Com o filme 90 Amos de Cinema de Adão Iturrusgaray [sic], arrebatou também
o prêmio de idéia mais original do II Fest Vídeo, ano passado. Aos 24 anos e desenhista de
quadrinhos desde garoto, é autor ainda do curta em 35mm The end e prepara, para março, mais uma
mostra individual e o lançamento de uma revista com os integrantes da extinta Kamikasi, que
desapareceu das bancas há dois anos.

O Salão Cartum Neles foi uma promoção nacional, com participação de 37 concorrentes e
80 trabalhos, que ficarão expostos no Sindicato dos Bancários (General Câmara 424) até dia 30. O
segundo lugar ficou com Ronaldo Cunha Dias, de Vacaria (350 BTNs), e o terceiro, com Augusto
Franke, o Bier (150 BTNs). Dos trabalhos apresentados, 12 foram de autores infanta juvenis, o que
acabou criando uma premiação especial para a categoria (de 50 BTNs), vencida por Marcelo Tomaz
dos Santos, de 14 anos, de Livramento. Marcelo exibiu um desenho ecológico onde, na Arca de
Noé, onde dois leões seguram uma faixa com a inscrição “Greve" e uma girafa empunha outra com
o apelo: “Pela preservação do arcossistema”. Perplexo, Noé pergunta: “Onde aprenderam isso?"
O cartum tem sido um meio de expressão permanente nas lutas dos bancários, a começar
pelo jornal editado pela classe, onde os quadrinhos com o título Banco-meu, do chargista Iotti,
ocupam espaço fixo há um ano. Foram essas estreitas ligações que motivaram a realização do Salão.
Além do jornal, o sindicato publica a revista Livre, de circulação trimestral e tiragem de 10 mil
exemplares, com destaque para temas culturais. a revista está no quarto número. (p. 715)

Moralismo provoca resposta da Associação


A onda de moralismo que a revista Dundum provocou despertou, por, por parte da Grafar -
Grafistas Associados do Rio Grande do Sul, uma posição de ponderação na pessoa de seu
presidente, o cartunista Carlos Henrique Iotti. Na carta enviada à imprensa, a Grafar diz que “…
quanto ao conteúdo de algumas páginas da publicação, só pode representar choque para pessoas
completamente desinformadas das tendências dos quadrinhos contemporâneos, nacional e
internacionalmente…”.

Mais adiante, a entidade diz que “…se alguém, saudoso de censura, (…) pretendesse
suprimir Dundum das bancas, teria que levar, pelo mesmo motivo, quase todas as publicações
dessas bancas…”. Na opinião da Grafar, o julgamento de qualquer tipo de publicação deve ser do
público que consome, que tem as condições de discernimento necessário para comprar o que lhe
aprouver.

Cita, fazendo referências, as revistas em quadrinhos que hoje circulam pelo país, como a
Chiclete com Banana, Piratas do Tietê, Animal, Planeta Diário e Casseta Popular, que, no
entender da associação, tratam dos mesmos temas que a Dundum e, no entanto, permanecem à
venda.

Na nota, ainda consta um elogio à posição da Secretaria Municipal de Cultura de Porto


Alegre, pelo apoio dado à publicação. “…Grafar, como Associação que luta pelo desenvolvimento
do cartum e do quadrinho no estado, apenas pode agradecer. Finalmente alguma instância do poder
público tem um pequeno gesto de apoio aos cartunistas, que há tantos anos conquistam, sem ajuda,
prêmios nacionais e internacionais para o Rio Grande do Sul…”. Consideram, por isso, um absurdo
que o apoio fosse condicionado “…por qualquer tipo de censura prévia ao conteúdo da obra…”,
relacionando com a realização de outras atividades artísticas.

O presidente finaliza dizendo que “se a idéia é mesmo construir um país desenvolvido e
contemporâneo do mundo, seria útil deixar que também os cartunistas, como todos os cidadãos,
cumpram o seu papel. No caso, mostrar livremente cada visão particular do nosso meio comum,
ajudando a sociedade a entender onde está e para onde quer ir”.

Sexta-feira, 13 de julho de 1990 FOLHA DE HOJE


FOLHA DE HOJE Quarta-feira, 4 de julho de 1990

Na cena de cartum de Iotti:

Skinhead segura revista DUN DUM e brada: “Vejam o que o PT está fazendo!

Ao longe, dois cidadãos dialogam: “Vem cá, tchê! Os vereadores de Porto Alegre não tem mais o
que fazer!?”, diz o primeiro. “Imagina se o Corrêa morasse em Porto Alegre?”, acrescenta o
segundo.

Por fim, Iotti assina o cartum, incluindo o aviso: “Leia a revista DUN-DUM antes que a inquisição
a queime!" (p. 716)

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


PODER JUDICIÁRIO
JUIZADO DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE

SIRLENE MARIA BREIER CRUZ,


Escrivã Titular do Cartório Judicial da Vara da
Infância e da Juventude desta Comarca de Porto
Alegre, etc…

C E R T I F I C O por me ser oficialmente


determinado e, usando da faculdade que me confere a Lei, procedi a busca neste Cartório Judicial,
onde constatei haver sido arquivado um processo de nº 01890596610 - classe providência
diversas, em data de31 de maio de 1991, em que são partes MARIA LETÍCIA DE ARRUDA
TIM, na época exercendo mandato de Vereadora da Câmara de Porto Alegre, Luiz Alberto da
Costa Chaves, Presidente do Movimento Trabalhista de Integração da Raça Negra e Enio
Rodrigues de Medeiros como Presidente da Associação Beneficente Antonio Mendes Filho dos
Cabos e Soldados da Brigada Militar, na condição de requerentes e, GILMAR RODRIGUES,
ADÃO ITURRUSGARAI MACIEL FILHO e JOÃO GILMAR RODRIGUES como requeridos e
responsáveis pela revista “DUNDUM" cuja apreensão imediata estava sendo requerida o que não
chegou a ser atendido face ao atendimento das condições impostas pelo Dr. curador de Menores.
Consta certidão de qual cientes da decisão de fls. 44V,as partes não recorreram, datada de 12 de
abril do corrente. O referido é verdade e dou fé. Dado e Passado aos quatro dias do Mês de
dezembro do ano de mil novecentos e noventa e um. Eu, Sirlene Maria Breier da Cruz, Escrivã,
datilografei e subscrevi. (p. 717)
CERTIFICO E DOU FÉ
que nesta data formei o 5º volume
Em 18 de dezembro de 1991.
O Escrivão: (que assina todas as páginas desta CPI)

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