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ACÚSTICA E VIBRAÇÕES Em relação à direção de propagação da energia

nos meios materiais elásticos, as ondas são


Prof. Cesar Siqueira Mello classificadas em:

• unidimensionais: quando se propagam numa só


SOM E RUÍDO direção, como numa corda;

A Acústica é a ciência do som, incluindo sua • bidimensionais: quando se propagam ao longo de


geração, transmissão e efeitos. Ela abarca várias áreas um plano, como na superfície da água;
e atividades por uma série de razões. Primeiramente, a • tridimensionais: quando se propagam em todas as
natureza ubíqua da radiação mecânica, gerada por direções, como ocorre com as ondas sonoras no ar
causas naturais e pelas atividades humanas. Em atmosférico.
seguida, há a sensação da audição, da capacidade vocal
humana, da comunicação via som, acompanhada de Quanto à sua natureza, as ondas se classificam
uma variedade de efeitos. Uma ampla variedade de em mecânicas e eletromagnéticas. Ondas mecânicas
aplicações em ciência básica e tecnologia explora o fato são aquelas originadas pela deformação de uma região
de a transmissão do som ser afetada e, de um meio elástico e que, para se propagarem,
consequentemente, fornecer informações, sobre o necessitam de um meio material. Sendo assim,
meio em que o som se propaga e sobre os corpos não- podemos afirmar que as ondas mecânicas não se
homogêneos presentes nesse meio. propagam no vácuo. As ondas numa corda e na
superfície da água, são exemplos de ondas mecânicas.
Para além da física básica, um aspecto prático Outro exemplo muito importante de ondas dessa
é o estudo do controle de ruído. Para resolver natureza são as ondas sonoras, que se propagam nos
problemas de ruído ambiental, é preciso estudar a gases (como o ar), nos líquidos e nos sólidos.
acústica atmosférica. O controle do ruído é também
preocupação da acústica arquitetônica. De fato, o ruído Ondas eletromagnéticas são aquelas
parece perturbar as pessoas desde os tempos em que originadas por cargas elétricas oscilantes, como, por
elas passaram a viver em cidades, pois ele permeia as exemplo, elétrons oscilando na antena transmissora de
atividades humanas 24 horas por dia, e vem sendo uma estação de rádio ou TV. Elas não necessitam
apontado como uma das principais causas de obrigatoriamente de um meio material para se
deterioração da qualidade de vida. Alguns dos propagarem. Assim, as ondas eletromagnéticas
exemplos de problemas são a perda da audição, stress, propagam-se no vácuo e em certos meios materiais. A
hipertensão, perda do sono, falta de concentração, luz emitida por uma lanterna, as ondas de rádio, as
baixa produtividade e redução de oportunidades de micro-ondas, os raios X e os raios D são exemplos de
repouso. ondas eletromagnéticas.

Entretanto, qual é a diferença entre som e Em relação ao modo de propagação,


ruído? Uma maneira de apontar a diferença é dizer que denominam-se ondas transversais aquelas em que a
ruído é um som sem harmonia, em geral de conotação direção de propagação da onda é perpendicular à
negativa, no sentido de algo indesejável. Mas é direção de vibração (figura A). Ondas que se propagam
importante destacar que um ruído pode trazer numa corda e ondas eletromagnéticas são exemplos de
informações importantes, como um alarme de ondas transversais. Denominam-se ondas longitudinais
incêndio ou a sirene de uma ambulância. aquelas em que a direção de propagação da onda
coincide com a direção de vibração (figura B). O som se
A completa eliminação do ruído não é propaga nos gases e nos líquidos por meio de ondas
normalmente o objetivo de um projeto, mas sim a longitudinais.
diminuição para níveis aceitáveis.

CONCEITOS DE ONDULATÓRIA

Denomina-se onda uma perturbação que se


propaga num meio. Uma onda transfere energia de um
ponto a outro sem o transporte de matéria entre os
pontos.
NATUREZA DO SOM A unidade de frequência é ciclos por segundos,
chamada de hertz (Hz).
O som pode ser definido como uma variação da
pressão ambiental detectável pelo sistema auditivo. Usando os períodos máximos e mínimos T1 e
Em outras palavras, as ondas longitudinais de pressão, T2, podemos determinar a faixa de frequências do som
que se propagam no ar e nos fluidos em geral, são audível. O sistema auditivo de uma pessoa normal é
denominadas ondas sonoras. As ondas sonoras têm sensibilizado por ondas sonoras de frequências entre,
origem mecânica, pois são produzidas por aproximadamente, 20 Hz e 20.000 Hz. As ondas
deformações em um meio elástico. Portanto, as ondas sonoras nesta faixa audível costumam ser
sonoras não se propagam no vácuo. denominadas sons. Na verdade, esses limites são
convencionais, dependendo, entre outros fatores, da
idade da pessoa.

As frequências inferiores a 20 Hz são


denominadas infrassons e ocorrem, por exemplo,
precedendo os abalos sísmicos. Certos animais têm
ouvidos sensíveis a essas ondas, como os cavalos e os
elefantes. Por isso eles pressentem a ocorrência de
terremotos.

Ondas sonoras com frequências superiores a


Ao nível do mar, a pressão ambiente é de 20.000 Hz constituem os ultrassons. Embora não sejam
101350 Pa e esse valor diminui com a altitude. Em São audíveis para o homem, muitos animais podem ouvi-
Paulo, por exemplo, que está a uma altitude de 860 m los, como cachorros, gatos, morcegos e outros.
em relação ao nível do mar, a pressão ambiente cai
para 91600 Pa. A menor variação de pressão ambiente
detectável pelo sistema auditivo é 2.10-5 Pa (limiar da VELOCIDADE DO SOM
audição), enquanto a variação capaz de provocar doar
A velocidade da luz no ar é próxima de 300.000
é da ordem de 60 Pa (limiar da dor). Importante
km/s. A velocidade do som no ar a 15 °C é 340 m/s ou
destacar, entretanto, que uma variação de pressão
1.224 km/h.
precisa ser cíclica (periódica) para nosso sistema
auditivo identificar como som. De modo geral, a velocidade de propagação do
som nos sólidos é maior do que nos líquidos, que por
Define-se período (T) como o intervalo de
sua vez é maior do que nos gases. Por exemplo, na
tempo decorrido para que um ciclo se complete no
água, a 15 °C, o som se propaga à velocidade de 1.450
gráfico de variação de pressão (ver figura abaixo). Para
m/s e, no ferro, a 4.480 m/s. A velocidade
ser interpretado como som, esse período não pode ser
relativamente pequena do som no ar e em outros gases
maior do que T1 = 50 ms (50.10-3 s) e nem menor do
explica-se pelo fato de as moléculas terem de se chocar
que T2 = 50 µs (50.10-6 s).
umas com as outras, a fim de propagarem a onda
longitudinal de pressão. Nos líquidos e nos sólidos as
moléculas estão mais próximas umas das outras,
justificando a maior velocidade de propagação.

Observe que, ao serem citadas as velocidades


do som no ar e na água, foi fornecida a temperatura. É
que nos fluidos (gases e líquidos) a influência da
temperatura não pode ser desprezada, como
geralmente acontece nos sólidos.

Uma grandeza importante no estudo dos Particularmente para os gases, o aumento da


fenômenos acústicos é o inverso do período, que temperatura produz maior agitação molecular, o que
recebe o nome de frequência (f): facilita a propagação das ondas sonoras. Esse fato se
traduz por um aumento na velocidade do som. É
1 possível demonstrar que, para os gases perfeitos, a
𝑓=
𝑇
velocidade do som varia com a temperatura absoluta T QUALIDADES FISIOLÓGICAS DO SOM
segundo a seguinte fórmula:
A qualidade pela qual diferenciamos sons
graves de sons agudos é denominada altura. Ela
depende apenas da frequência do som. O som será
tanto mais grave quanto menor for a sua frequência.
𝛾𝑅 Ele será tanto mais agudo quanto maior for a sua
onde 𝐾 = 𝑀
, sendo R a constante universal dos gases
perfeitos (ver valores na tabela abaixo), M é a massa frequência. Por exemplo, o homem costuma emitir
𝐶𝑝 sons entre 100 e 200 Hz, e a mulher, sons entre 200 e
molar do gás e 𝛾 = é o expoente de Poisson, sendo
𝐶𝑣 400 Hz. Dizemos então que a voz do homem é mais
Cp e Cv os calores específicos do gás a pressão grave que a da mulher ou que a voz da mulher é mais
constante e a volume constante, respectivamente. aguda que a do homem.

Quando um instrumento musical emite


determinada nota, diversos sons de frequências
múltiplas se superpõem para constituir essa nota.
Desses sons, o de menor frequência constitui o som
fundamental, e os demais, com frequências múltiplas,
são os harmônicos. Assim, sendo f1 a frequência do
som fundamental, podemos ter o segundo harmônico
(f2 = 2f1), o terceiro harmônico (f3 = 3f1) e assim
sucessivamente. A superposição do som fundamental
com os harmônicos determina a forma da onda emitida
pelo instrumento, como se representa na figura.

O som fundamental ou primeiro harmônico


está sempre presente e é ele que determina a
frequência do som emitido. Os harmônicos que
acompanham o som fundamental variam de
instrumento para instrumento. É essa característica
É importante assinalar ainda que, tratando-se
que torna distintos, para o ouvinte, sons de mesma
de ondas periódicas, valem para as ondas sonoras as
altura (mesma frequência) emitidos por instrumentos
mesmas considerações a respeito de amplitude a,
diferentes, mesmo que esses sons tenham a mesma
período T, frequência f, velocidade v e comprimento de
intensidade. A essa qualidade fisiológica do som damos
onda λ, inclusive a fórmula:
o nome de timbre.

A qualidade fisiológica pela qual diferenciamos


os sons fracos dos sons fortes é denominada
intensidade auditiva ou sonoridade, ou ainda nível
sonoro do som. Depende da energia transportada pela
onda sonora e, portanto, de sua intensidade física.

A intensidade física I de uma onda é o


quociente entre a energia ΔE que atravessa uma
superfície (perpendicular à direção de propagação) na
unidade de tempo e a área A da superfície. Nessa fórmula, β é medida em bel (símbolo B), nome
Matematicamente: dado em homenagem a Alexander Graham Bell,
inventor do telefone. Na prática geralmente medimos
β em uma unidade menor, o decibel (dB), sendo 1 dB =
Δ𝐸 𝑃𝑜𝑡 1/10 B. Nesse caso, temos:
𝐼= =
𝐴. Δ𝑡 𝐴

onde usando que Pot = ΔE/Δt. Além disso, lembrando


que a área da casca esférica é A = 4.π.R², sendo R a
distância entre a fonte emissora do som e o O som do tráfego na cidade é de 90 dB; um
observador, podemos escrever a intensidade sonora conjunto de rock, usando amplificador, produz
como mostrado na figura abaixo. intensidades audíveis de 125 dB, e o som de um avião
a jato aterrissando é de aproximadamente 140 dB. Já
está provado que uma exposição prolongada a níveis
sonoros acima de 85 dB geralmente ocasiona um dano
permanente às estruturas auditivas do ouvinte.

No Sistema Internacional de Unidades, sendo


ΔE medido em joules, A em m² e Δt em segundos, a
unidade de intensidade física é o J/m².s, ou W/m².

A mínima intensidade física que uma onda


sonora deve ter para ser audível (limiar de audição) é
aproximadamente 10-12 W/m². Por outro lado, se a
intensidade física exceder aproximadamente 1 W/m²,
ela provocará efeitos dolorosos (limiar da dor).

Experiências mostram que, para medir a


intensidade auditiva, também denominada nível
sonoro do som, deve-se utilizar uma escala logarítmica.
Considerando I0 a menor intensidade física de som
audível (geralmente adota-se 10-12 W/m²) e I a
intensidade física do som que se quer medir, define-se
intensidade auditiva ou nível sonoro β de um som
como o expoente a que se deve elevar o número 10
para se obter a relação I/I0. Então:

Ou ainda, usando a definição de logaritmo decimal,


podemos escrever:

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