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ISC - Instituto de saúde coletiva UFBA

Disciplina - Teorias sociais em saúde


Discentes – Deise Mota, Glaucia Dantas, Isaque Ramos
Data: 13/09/2022

Síntese do texto 2: Um Toque de Clássicos

O século XVIII foi marcado por profundas mudanças na sociedade da época. A chegada
do capitalismo, consequência da Revolução Industrial iniciada na Inglaterra, fez com
que com que as estruturas sociais da época fossem totalmente abaladas. As crenças e os
princípios morais, religiosos, filosóficos e jurídicos daquele momento foram se
modificando em relação ao antigo sistema. As instituições feudais, bem como a
aristocracia e o campesinato foram enfraquecendo até o seu desparecimento, graças a
esse novo sistema que estava moldando toda uma dinâmica social já estabelecida antes.
A modernização e capitalização da agricultura resultou num êxodo de diversas famílias
rumo as cidades em busca de oportunidades de trabalho. Apesar de as cidades
carregarem consigo a promessa de liberdade, ocupação e melhores ganhos, isso não
aconteceu de fato para todos. O que se encontrou foi um espaço urbano que crescia
desordenadamente levando a uma intensa aglomeração, além da fome, da falta de
esgotos e água corrente nas casas, lixo acumulado e uma falta de higiene que culminou
no aumento de doenças e epidemias que provocaram a elevação das taxas de
mortalidade, principalmente nos mais pobres, crianças e parturientes.
No início da Revolução Industrial, as condições de trabalho eram insalubres e mesmo
assustadoras para os dias atuais. A jornada dos operários era feita em turnos diários de
12 a 16 horas, sendo ampliada para 18 horas quando a iluminação a gás foi instalada.
Não à toa, essa pode ser uma das causas da baixa expectativa de vida dos trabalhadores.
Além disso, as crianças também estavam na labuta, sendo que em 1833 crianças de 9 a
13 anos foram proibidas de trabalhar por mais de 9 horas e adolescentes entre 13 e 16
anos por mais de 12 horas, poderem irem à escola no turno da noite. Outra questão
enfrentada pelos operários eram os acidentes provocados pelo maquinário das fábricas,
que mutilavam e até matavam os trabalhadores. Por conta disso, diversos movimentos e
revoltas lideradas pelos operários ganharam vida, com o objetivo de se conquistar
melhores condições de trabalho para todos. Com isso, novos direitos e reivindicações
foram colocados nas legislações social e trabalhista de diversos países.
A modernidade surgida naquele contexto fez com que algumas instituições começassem
a ter importância, como o amor romântico, o casamento por escolha mútua e o
reconhecimento da infância e adolescência enquanto fases da vida. Além disso, o
processo de industrialização modificou a percepção do tempo na população europeia,
habituada com seu ritmo natural a partir dos costumes milenares. Assim, o empresário
passa a comprar horas de trabalho, exigindo seu cumprimento. Uma nova moralidade
surge em face a todas essas mudanças. Entender as causas e os desenvolvimentos dessas
novas relações sociais que estavam surgindo foi o estopim para as reflexões que
consumaram o que se chama hoje de sociologia.
A formação da sociologia é impactada com a Revolução Francesa e o grande
movimento de ideias que ela traz. O ideal de liberdade e da emancipação do homem
frente a autoridade social e religiosa, bem como a conquista de direitos e a autonomia
frente as instituições faz com que a sociologia volte seu foco para o legado da tradição e
as forças da modernidade.
Ainda assim, as heranças deixadas pela Revolução Francesa encontraram resistência
conservadora em alguns precursores da sociologia, como os autores Edmund Burke,
Joseph de Maistre e Louis de Bonald. Para eles, o enfraquecimento das antigas
instituições que mantinham a estabilidade e coesão social (como a Igreja, por exemplo)
se deu por conta da ausência de moralidade e solidariedade que as duas grandes
revoluções trouxeram para a sociedade. Essa percepção influencia significativamente a
produção sociológica, ainda que a sociologia posteriormente se assume moderna e
acreditando no progresso.
Sendo assim, a teoria social passa a se desenvolver e avançar na Europa. Autores como
Saint-Simon, August Comte (que cunhou o termo “sociologia”) e Herbert Spencer
surgiram nesse contexto. Havia uma busca de se constituir uma sociologia científica
com método e objetos bem definidos, inspirando-se nos modelos de investigação das
ciências físicas e naturais. E a própria sociedade era visto como um sistema vivo, com
funções e relações ordenadas e com uma estrutura une seus diferentes componentes, o
que garante a harmonia do todo.
Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx foram de alguma forma influenciados pelos
teóricos anteriores. Graças a eles, a sociologia se consolidou como um campo do saber
com métodos e objetos próprios. Se antes valores e instituições eram apenas vistos de
um ponto de vista independente da história, agora passam a ser entendidos como
resultados das interações humanas.
Hoje, a produção sociológica é percorrida por valores, conflitos, paixões e ideologias.
Temas de outrora como liberdade, igualdade e alienação não deixam de ser estudados,
mas assumem outros significados. Por isso, ela é e continua a ser uma ciência que busca
debater e dar respostas as questões mais determinantes de cada época, não estando,
consequentemente, livre de ter contradições.

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