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Apreciação artística para

o tempo da quaresma
Poesias que grandes Com belíssimas obras de
poetas como Camões, grandes pintores como B.
Fagundes Varela, Olavo Esteban Murillo, J. V.
Bilac escreveram em Leal
memória ao Santo
Sacrifício de Nosso
Senhor
Salmo 51
Tem piedade de mim, ó Deus segundo a tua grande misericórdia; e segundo as muitas mostras da tua
clemência, apaga a minha maldade.
2 Lava-me mais e mais da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado.
3 Porque a minha maldade eu a conheço: e o meu pecado diante de mim está sempre.
4 Contra ti só pequei, e fiz o mal diante dos teus olhos; para que sejas justificado nas tuas palavras, e venças

quando fores julgado.


5 eis aqui sabes que eu fui concebido em iniquidade; e em pecados me concebeu minha mãe.
6 E bem vejo que tu amaste a verdade, e me revelaste o segredo, e o escondido do teu saber.
7 Tu me borrifarás com o hissope, e serei purificado; lavar-me-ás, e me tornarei mais branco do que a neve.
8 Ao meu ouvido darás gozo e alegria; e se regozijarão os meus ossos humilhados.
9 Aparta o teu rosto dos meus pecados, e apaga todas as minhas maldades.
10 Cria em mim, ó Deus, um coração puro; e renova nas minhas entranhas um espírito reto.
11 Não me arremesses da tua presença; e não tires de mim o teu espírito santo.
12 Dá-me a alegria da tua salvação; e conforta-me por meio do espírito principal.
13 Ensinarei aos iníquos os teus caminhos; e os ímpios se converterão a ti.
14 Livra-me dos sangues, Deus, Deus da minha salvação; e a minha língua exaltará a tua justiça.
15 Senhor, abrirás os meus lábios; e a minha boca anunciará o teu louvor.
16 Porque se tu quisesses sacrifício, o houvera na verdade oferecido; tu não te deleitarás com holocaustos.
17 Sacrifício para Deus é o espírito atribulado; ao coração contrito e humilhado, não o desprezarás, ó Deus.
18 Senhor, faze bem a Sião de tua boa vontade, para que se edifiquem os muros de Jerusalém.
19 Então aceitarás sacrifício de justiça, oferendas e holocaustos; então porão sobre o teu altar bezerros.
Bendito sejais,
Amoroso Jesus,
Que o mundo remistes,
Cravado na cruz.
Carvado na cruz
Para nos salvar,
E nós, tão ingratos,
Sempre a pecar!
Sempre a pecar,
Sem nunca emenda ter,
Ninguém considera
Que há de morrer!
Que há de morrer,
E as contas que havemos da
Aquele Senhor
Que nos há de julgar
Páginas Infantis, 1914 Cristo na Cruz, Bartolome Esteban Murillo, 1665
Estrelas
Singelas,
Luzeiros
Fagueiros,
Esplêndidos orbes, que o mundo aclarais!
Desertos e mares, - florestas vivazes!
Montanhas audazes que o céu topetais!
Abismos
Profundos!
Cavernas
E t e r nas!
Extensos,
Imensos
Espaços
A z u i s!
Altares e tronos,
Humildes e sábios, soberbos e grandes!
Dobrai-vos ao vulto sublime da cruz!
Só ela nos mostra da glória o caminho,
Só ela nos fala das leis de - Jesus!
Fagundes Varela Cristo na Cruz, Peter Paul Rubens
Março, que se adianta,
Traz a Semana Santa,
Em que Jesus morreu:
Foi pela Humanidade
Que ele, todo bondade
Viveu e padeceu.
Há luto na cidade…
Quem se humilhar não há-de,
Pensando na Paixão?
Na igreja os órgãos cantam,
E as almas se levantam,
Cheias de gratidão.
Orai também, crianças!
E, suspendendo as danças,
Lembrai-vos de Jesus,
Que, mártir voluntário,
Morreu sobre o Calvário,
Fagundes
Cristo Varela
carregando a cruz Jan van Hemessen,1553
Nos braços de uma cruz.
Os meses, Olavo Bilac
Oh Rei dos reis, oh Árbitro do mundo,
Cuja mão sacrossanta os maus fulmina,
E a cuja voz terrífica, e divina
Lúcifer treme no seu caos profundo!

Lava-me as nódoas do pecado imundo,


Que as almas cega, as almas contamina:
O rosto para mim piedoso inclina,
Do eterno império Teu, do Céu rotundo:

Estende o braço, a lágrima propício,


Solta-me os ferros, em que choro e gemo
Na extremidade já do precipício:

De mim próprio me livra, oh Deus supremo!


Porque o meu coração propenso ao vício
É, Senhor, o contrário que mais temo.
Fagundes
São Varela
Francisco abraça Cristo, 1669, Bartolome Esteban Murillo Bocage, 1765 - 1805
O bem que a tantos bens me convidava,
O qual desmereci, vós merecestes
Que a vida que por meu amor perdestes,
A vida me alcançou que eu desejava.

O mal que a tantos males me obrigava,


O qual não satisfiz, satisfizestes,
Que a morte que por meu amor sofrestes,
Da morte me livros, que eu receava.

A vó Deus amoroso, a vós só amo,


De vós prático, só, de vós escrevo,
Por vós a vida dou, e a morte quero.

Em vós fogo de amor, em vós me


inflamo.
Pois que pago por vós o mal que devo,
E mereço por vós, o bem que espero.
Padre Baltazar Estácio, 1570-16? Pieta, Juan de Valdes Leal, 1658
À coroa de espinhos
A que vindes, Senhor do Céu à terra,
Terra que sendo vossa vos enjeita,
E que tanto vos honra e vos respeita,
Que em não vos receber insiste e emperra?

Ah! Quanta ingratidão nela encerra!


Quão mal de vossa vinda se aproveita!
Pois se põe a tomar-vos conta estreita,
Mais brada contra vós, quanto mais erra.

E vós de vosso amor puro forçado


Os malditos espinhos lhe pisais,
Dos quais ainda sendo coroado.

A maldição antiga lhe trocais


Na benção, que lhe dais crucificado,
Quando morto d’amor, d’amor matais.
Agostinho da Cruz, 1540-1619 Eis o Homem, Juan de Valdes Leal, 1659
O Rei dos reis

Depois de andar por todos os caminhos,


Aos homens ensinando a boa senda,
Jesus teve por trono a cruz tremenda,
e por diadema uns ásperos espinhos.

Todos lhe foram fúteis e mesquinhos,


Porém ele se deu em oferenda,
Para que o pecador assim aprenda
A segui-lo através desses caminhos.

Porque na sua voz havia o encanto


Das melodias de um saltério santo,
Vibrando junto ao nosso coração...

E, Rei dos reis, morreu como um cordeiro,


A fim de assegurar ao mundo inteiro
Um reino de perpétua duração.
Cristo na cruz, Albrecht Altdorfe,1520 Jônatas Braga, 1908-1978
Elegia (trechos)
Esta Potência, enfim, que tudo manda,
Esta causa das causas, revestida
Foi desta nossa carne miseranda,
Do amor e da justiça compelida,
Pelos erros da gente, em mãos da gente
(como se Deus não fosse!) perde a vida.
Ó cristão descuidado e negligente
Pondera isto, que digo, repousado,
Não passes por aqui tão levemente.
Não, que aquele Deus alto incriado,
Senhor das cousas todas, que fundou
´o Céus, a Terra, o fogo e o mar irado,
Não do confuso Caos, como cuidou
A falsa teologia e o povo escuro,
Que nesta só verdade tanto errou;
Não dos átomos falsos de Epicuro;
Não do largo Oceano, como Tales,
Mas só do pensamento casto puro.
Olha, animal humano, quanto vales,
Que por ti este grande Deus padece,
Carregando a CruzJuan de Valdes Leal, 1661 Novo modo de morte, novos males.
O sumo Deus! Tu mesmo te condenas
Pelo mal em que eu só sou tão culpado,
A tamanhas afrontas, tantas penas,
Por mim, Senhor, no mundo reputado
Por falso e por quebrantador da lei
A fama de ti se pôs do meu pecado.
Eu, Senhor, sou ladrão: tu, justo Rei;
Eu, só furtei: tu, com ladrões padeces;
A pena a-Ti se dá do que eu pequei.
Eu, servo sem valor; tu, sumo preço,
Em preço vil te pões, por me tirares,
Do cativeiro eterno, que mereço.
Eu, por perder-te; e tu, por me ganhares,
Te dás aos homens baixos, que te vendem,
Só para os homens presos resgatares.

O calvário, John Martins, 1830


A ti, que as almas soltas, a ti prendem;
A ti, sumo Juiz, ante juízes te acusam,
Pólo error dos que te ofendem.
Chamen-te malfeitor, não contradizes;
Sendo tu dos Profetas a certeza,
Dizem que quem te fere profetizes.
Rim-se de ti; tu choras a crueza
Que sobre eles virá. A gente dura,
Por quem tu vens ao mundo, te despreza,
O teu rosto, de cuja fermosura
Se veste o Céu e o Sol resplandecente,
Diante do que muda está a Natura,
Com cruas bofetadas da vil gente,
De precioso sangue está banhado,
Cuspido, arrepelado cruelmente.

Cristo depois da flagelação, 1665, Bartolome Esteban Murillo


Com cordas pelas ruas o levavam,
Levando sobre os ombros o troféu
Das vitórias que as almas alcançavam.
Ó tu que passas, homem Cirineu,
Ajuda um pouco este Homem verdadeiro,
Que agora como humano enfraqueceu!
Olha que o corpo, aflito do marteiro
E dos longos jejuns debilitado,
Não pode já co peso do madeiro.
Oh não enfraqueçais, Deus encarnado!
Essas quedas, que tanto vos magoam,
Suportai, Cavaleiro sublimado!

Ticiano Vecellio,1473-1576 Luis de Camões, 1524-1580

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