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RESUMO
Este artigo deseja apresentar e analisar a fala do deputado Carlos Marighella acerca da
Carta Constitucional de 1937, proferida na Assembleia Nacional Constituinte de 1946.
Para Marighella e a bancada comunista, esta Constituição ficou caracterizada como
“Carta para-fascista”, tendo em vista sua inspiração e sua restrição de direitos políticos.
Assim, pretendo contrapor a visão apresentada pelo deputado com as de outros
intelectuais, como Francisco Campos – autor da Carta Constitucional – e os juristas
Oliveira Vianna e Pontes de Miranda, que defenderam sua instauração. Não obstante,
diante da urgência em estabelecer um Regimento Interno na Constituinte e uma posição
firme contra a Carta de 37, sugiro através das falas de Carlos Marighella que esta era
uma tarefa emergencial para os comunistas que buscavam manter sua legalidade ao
mesmo tempo que apresentar suas ideias na Constituinte, argumentando contra uma
Constituição que os criminalizava.
Quando interrogado pelo DOPS em 1964 logo após sua detenção no Rio de
Janeiro, Carlos Marighella respondeu aos seus inquisidores da seguinte forma acerca de
possíveis nomes que ele poderia entregar à repressão: “Fui deputado federal pelo
Partido Comunista e eleito na Bahia por milhares de eleitores. Sou um homem público
militante político” (BRASIL, 1964, p. 76) O homem público e militante político
parecem ser designações coerentes com a figura e a atuação de Carlos Marighella.
Ainda hoje é difícil enquadrá-lo tão somente em uma definição, tendo em vista sua larga
trajetória como militante comunista, deputado, guerrilheiro, escritor e as vezes até
poeta. Dentre estas definições, o período como deputado federal na Assembleia
Nacional Constituinte de 1946 ainda permanece pouco abordado pela historiografia.
Suas mais de 190 intervenções na Constituinte ainda hão de ser analisadas e estudadas
para melhor entendimento do próprio indivíduo, do Partido Comunista e do processo de
elaboração da Constituição de 1946.
Dentre estas intervenções, trago aqui uma importante reflexão e opinião de
Marighella e do Partido Comunista acerca da Carta de 1937, proferida na 9° Sessão em
18 de fevereiro de 1946. A visão dos comunistas e o relato dos anos de perseguição
eram pela primeira vez ouvidas em uma Assembleia Legislativa brasileira. A crítica dos
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UNIÃO NACIONAL
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Também conhecida como Conferência da Mantiqueira. Realizou-se em 27 de agosto de 1943 em
Engenheiros Passos, Rio de Janeiro.
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A CARTA ‘’PARA-FASCISTA’’
formas de regulamentar os três poderes, indo na direção contrária do que foi proposto
pela antiga constituição que como veremos, tinha como propósito a hipertrofia do
Executivo. Para entendermos os motivos e como se deu a elaboração desta Carta, é
necessário estudarmos seus criadores e defensores.
Campos entendia que era necessário superar a noção dos três poderes (GOMES,
1987), encontrando dessa forma na figura do Presidente da República um líder
necessário e forte que “tornando-se o centro de convergência dos anseios gerais e o
intérprete das inspirações cívicas que se reuniam para a reconstrução da República”
(CAMPOS, 1937, p. 04). A ideia se centrava em um Presidente que se colocasse acima
das disputas partidárias, sem medo de afirmar que esta seria uma forma autoritária. Os
partidos políticos, que atendiam na visão de Campos apenas demandas locais,
atrapalhavam a unidade nacional e falsificavam a opinião pública (ABREU, 2016).
Esse obsoleto sistema, tão desmoralizado pelo mau uso que lhe foi dado
quanto inadequado ao quadro político e econômico do mundo, tinha que ser
substituído por uma nova organização racional que permita dar rendimento às
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O conceito de ‘’corporativismo’’ não é o objeto de análise do presente artigo, logo não entraremos em
um debate profundo acerca de sua definição. Para maiores detalhes, ver Luciano Aronne de Abreu
(2016).
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muitos anos e buscar construir uma alternativa pela via Parlamentar numa política de
colaboração com as outras forças democráticas.
REFERÊNCIAS
BASTOS, Pedro Paulo Zahluth; FONSECA, Pedro Cezar Dutra (orgs.). A Era Vargas:
desenvolvimentismo, economia e sociedade. São Paulo: Unesp, 2012.
CARONE, Edgard. Corpo e Alma do Brasil: o P.C.B (1922 A 1943). v. 1. São Paulo:
Difel, 1982.
RIO DE JANEIRO. Correio da Manhã – 1940 a 1949. Ano 1945, Edição 15439, 1945.
Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?
bib=089842_05&pagfis=24909. Acesso em: 05 abr. 2022.
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