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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA - CCET


DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
CURSO DE GEOLOGIA

William Cavaliere Batista e Silva

Modelagem Batimétrica da Plataforma Continental Leste do RN

Relatório de Graduação nº 445

Orientador:
Prof. Dr. Moab Praxedes Gomes

Natal – RN, Dezembro de 2016


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA – CCET
DEPARTAMENTO DE GEOLOGIACURSO DE GEOLOGIA

William Cavaliere Batista e Silva

Modelagem Batimétrica da Plataforma Continental Leste do RN

Trabalho referente à disciplina de


Relatório de Graduação (GLG-0001)
como parte dos requisitos para obtenção
do grau de Bacharel em Geologia pela
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte.

Orientador: Prof. Dr. Moab Praxedes Gomes

Natal – RN, Dezembro de 2016


Modelagem Batimétrica da Plataforma Continental Leste do RN

WILLIAM CAVALIERE BATISTA E SILVA

Comissão Examinadora

Prof. Dr. Moab Praxedes Gomes


(DG/PPGG/UFRN)

Profa. Dra. Helenice Vital


(DG/PPGG/UFRN)

Dr. André Giskard Aquino da Silva


(DG/UFRN/GGEMMA)

Natal, 21 de Dezembro de 2016


“Jamais perca o seu equilíbrio
por mais forte que seja o vento da tempestade”
(Ponto de Equilíbrio)
Aos meus pais que me permitiram a oportunidade chegar até aqui;
Aos meus irmãos pelo apoio;
A todos os meus amigos que sempre estão comigo.
i

AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer aos meus pais, Eledir e Conceição, pela


oportunidade de ter cursado Geologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, bem
como para os meus irmãos, Arthur e Mariana, os sacrifícios foram muitos, a distância é grande,
foram anos até a chegada desse momento. Estendo meus agradecimentos a toda a minha família,
avó, tios (as), primos (as).
Agradeço o meu orientador Prof. Dr. Moab, que me deu a confiança de realizar este
trabalho, trabalho este em que ele foi precursor anos atrás, e que me guiou com maestria durante
todo o tempo de realização deste projeto.
A toda equipe do Grupo de Geologia e Geofísica Marinha e Monitoramento Ambiental
- GGEMMA/DG/UFRN, pela auxílio na realização deste projeto.
Obrigado ao corpo docente do departamento de Geologia da UFRN, por nos ensinar o
conhecimento necessário nas mais diversas áreas da geologia, afim de que nós alunos, nos
tornemos os melhores profissionais possíveis.
Aos todos os envolvidos no funcionamento da UFRN, dentro e fora do DG, transporte,
laboratórios, manutenção, limpeza, alimentação, biblioteca, todos.
Meus colegas de curso, todos aqueles com que passei as mais diversas experiências
durante estes anos de curso, cada momento, bom ou ruim, de aperto ou de folga, foi de grande
valia e serviu de aprendizado para toda a vida.
Aos meus amigos, os que estão comigo desde a infância lá em Carajás, até os que adquiri
quando vim para Natal, agradeço pelos momentos de descontração e os de ajuda.
Não gostaria de citar nomes por medo de esquecer alguém já que são muitas pessoas
que me acompanharam nesta jornada e não seria nada justo, resolvi escrever algumas palavras
que vão referenciar se não todos, a maioria das pessoas que me acompanharam.
CKS, Família, Manucu, Danados, Bebados abestados, galega, geologia, 2009,2010,
2011, 2012, primeira, Zumbi, Comana, Produção, Ataulfo, Berin, Portuga, agregados, off,
psico, nutri.
Lembrar de cada momento seja ele aperreio, viagens, as bad que passamos, as
cervejadas, madrugadas em claro, as risadas, enfim as memórias só me faz querer expressar
minha gratidão e dizer...MUITO OBRIGADO!!!
ii

RESUMO

O objetivo deste trabalho é a criação de modelos digitais de terreno (MDT) por meio da
integração de dados batimétricos, SRTM e imagens Landsat 8, afim de se realizar uma
descrição geomorfológica da plataforma continental leste do Estado do Rio Grande do Norte,
nordeste do Brasil, bem como a interpretação das estruturas fisiográficas observadas e a sua
relação com feições observadas no continente. A área de estudo compreende um domínio misto
entre marés e ondas, bem como sua assembleia sedimentológica, sendo um misto entre
sedimentos de fácies siliciclásticas e carbonnáticas. A plataforma continental é estreita e rasa
em comparação com outras porções da plataforma brasileira, com cerca de 25km e a quebra da
plataforma ocorre em torno dos 60 m de profundidade. Esta plataforma está compartimentada
em duas plataformas: interna até 20 m e externa até de 20 a 60 m, sendo observado na região
norte da área uma plataforma intermediária com relevo irregular e de maior gradiente. A
dinâmica plataformal atual e os processos precursores relacionados as variações do nível do
mar no Quaternário, produziram a formação e destruição de feições sedimentares na plataforma
continental, deixando registros morfológicos de paleofeições como terraços, vales afogados e
antigas linhas de costa, e reflexos da sedimentação atual, com extensos bancos de areia que
dominam na plataforma interna.

Palavras Chaves: Plataforma continental, batimetria, MDT, geomorfologia.


iii

ABSTRACT

The objective of this work is to produce digital terrain models (TDM) through the
integration of bathymetric data, SRTM and satellite images, in order to perform a
geomorphological description of the continental shelf East of the Rio Grande do Norte State,
northeast of Brazil, and the interpretation of the marine physiography and their relation with
the continental features. The study area comprises a mixed domain between tides and waves,
as well as its sedimentological assembly, being a mixture between sediments of siliciclastic and
carbonaceous facies. The narrow and shallow continental shelf in comparison with other
portions of the Brazilian platform, with about 25km and the shelf break occurs around the 60m
depth. This shelf is compartmentalized in two parts, an inner shelf up to 20 m and outer shelf
between 20 to 60 m, moreover an meddle shelf is observed in the north part of the area with an
irregular relief and higher gradient. The modern shelf dynamics and precursor processes related
to sea level variations in the Quaternary have produced the formation and destruction of
sedimentary features in the continental shelf, leaving morphological records of paleofeatures
such as terraces, drowned valleys and old coastlines, and sedimentation that reflexes
oceanographic forces, with extensive sandbanks that dominate the inner shelf.

Keywords: Continental shelf, bathymetry, MDT, geomorphology.


iv

SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO .................................................................... Erro! Indicador não definido.


1.1 Plataforma continental ......................................................... Erro! Indicador não definido.
2. CONTEXTO GEOLÓGICO .............................................. Erro! Indicador não definido.
2.1 Plataforma Continental do NE/RN ...................................... Erro! Indicador não definido.
3. METODOLOGIA................................................................ Erro! Indicador não definido.
3.1 Introdução ............................................................................ Erro! Indicador não definido.
3.1 Dados Batimétricos ............................................................. Erro! Indicador não definido.
3.2 Imagens de Satélite .............................................................. Erro! Indicador não definido.
3.3 Dados SRTM ....................................................................... Erro! Indicador não definido.
4. RESULTADOS .................................................................... Erro! Indicador não definido.
4.1 Perfis .................................................................................... Erro! Indicador não definido.
4.2 MDT .................................................................................... Erro! Indicador não definido.
5. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ............... Erro! Indicador não definido.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................. Erro! Indicador não definido.
v

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Mapa de localização da Área de estudo.....................................................................2


Figura 2 – Distribuição das plataformas continentais ao redor do globo....................................4
Figura 3 – Exemplos dos tipos de margens continentais existentes. (Fonte: Para entender a
Terra) ..........................................................................................................................................4
Figura 4 – Plataforma tropical brasileira norte (BT N) e plataforma tropical brasileira nordeste
(BT NE), bem como as regiões onde ocorrem os domínios por maré e por onda ao longo da
plataforma. (Extraído e modificado de Vital et al. 2010) ..........................................................6
Figura 5 – Esquemas da evolução dos produtos gerados ao longo do processamento...............8
Figura 6 - Distribuição espacial dos pontos adquiridos por levantamento batimétrico plataforma
leste do RN. .............................................................................................................9
Figure 7 - Comparativo das linhas batimétricas. Em A representação da linha bruta e em B
após filtragem para retirada de pontos que indiquem ruído ou algum erro de aquisição. ........10
Figure 8 - Resultado da correção vertical manual com o objetivo de minimizar erros da
aquisição. ..................................................................................................................................11
Figure 9 - Gráficos gerados após aplicação da geoestatítica, onde são relacionados os valores
entre os valores medidos e os valores de erro e preditos gerados pelo interpolador, sendo a reta
em azul representando erro zero........................................................................................12
Figura 10 – Mapa representativo do erro residual tolerado pós processamento.......................13
Figura 11 - Landsat 8. Fonte: USGS 3.7 – Descrição dos alvos com melhor resposta espectral
em relação ao sinal do satélite..................................................................................................14
Figura 12- Evolução do processo de tratamento das imagens Landsat 8, usando composição
321, na imagem à esquerda (A) composição com a imagem bruta, ao centro (B) a imagem após
correção atmosférica e a direita (C) a imagem final após correção do efeito de Sun
Glint..........................................................................................................................................16
Figura 13 – Mapa batimétrico de isolinhas da plataforma continental.....................................17
Figura 14 – Mapa de declividade da plataforma continental....................................................18
Figura 15 – Divisão dos patamares da plataformas. A - Plataforma Interna, B – Plataforma
média e C – Plataforma Externa...............................................................................................19
Figura 16 – Mapa de localização de onde foram traçados os perfis perpendiculares as principais
estruturas da plataforma...........................................................................................20
vi

Figura 17 – Perfil AB localizado ao norte da área onde corta o vale e o recife, bem como a
quebra da plataforma adiante....................................................................................................21
Figura 17 – Perfil EF traçado ao centro-sul da área de estudo, cortando os bancos de areia que
dominam a morfologia da região na plataforma. .....................................................................21
Figura 18 – Perfil CD traçado ao centro da área de estudo, cortando os bancos de areia que
dominam a morfologia da região na plataforma interna.......................................................... 21
Figura 19 – Perfil EF traçado ao centro-sul da área de estudo, cortando os bancos de areia que
dominam a morfologia da região na plataforma. .....................................................................21
Figura 20 – Mapa da área de estudo, com aplicação de escala de cor para realce das mudanças
de cota...................................................................................................................................... 22
Figura 21 – Mapa da área de estudo, aplicando os valores das cotas para uma visualização
tridimensional. ..........................................................................................................................23
Figura 22 – Imagem de satélite da área de estudo, aplicando os valores das cotas para uma
visualização tridimensional.......................................................................................................23
Figura 23 - Representação do vale escavado, assim como da linha de recifes identificadas na
plataforma em mapa e por imagem de satélite......................................................................... 25
Figura 24 - Perfis traçados ao longo do canal seguido dos valores da altura máxima em cada
perfil..........................................................................................................................................25
Figura 25 - Visualização em mapa e por imagem de satélites os corpos arenosos presentes na
porção sul da área..................................................................................................................... 26
Figura 26 – Perfil dos corpos arenosos dispostos na plataforma interna................................. 26
Figura 27 - Mapa integrado entre os dados altimétricos SRTM e os dados batimétricos....... 27
Figura 28 - Possível ligação entre o vale inciso na plataforma e o Rio Potengi...................... 28
vii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Tabela das principais características da BT NE........................................... 7


Tabela 2 – Exemplo da tabela Cross Validation Result................................................. 12
1

1.INTRODUÇÃO

As margens continentais podem ser divididas em dois tipos, ativas e passivas. As


margens ativas são fortemente afetadas pela tectônica de placas, visto que se encontram em
zonas de subducção. A plataforma continental nesse tipo de margem é inexistente ou
extremamente fina, estando relacionada a prismas acrescionários. Quanto à composição
sedimentológica, é recorrente a existência de sedimentos de origem vulcânica, juntamente
com sedimentos continentais e ainda, sedimentos advindos de raspagem da crosta oceânica.
Esses sedimentos encontram-se fortemente retrabalhados pela tectônica da área. Enquanto
que, margens continentais passivas encontam-se em zonas longe do limite entre placas, com
pouca atividade tectônica, o que implica em quiescência, ou seja, não existem vulcões e os
terremotos são poucos e distantes. Esse tipo de margem é composta por uma plataforma
continental, rasa e com baixo gradiente de declividade, que se estende sob o oceano em baixas
profundidades até a sua quebra chamada de talude, suas dimensões são diversas e variam de
acordo com o local onde se encontram. Os sedimentos encontrados na plataforma continental
são siliciclásticos, em sua maioria originários do continente, e bioclastos, oriundos de
microorganismos.

Plataformas continentais são a porção marinha mais utilizada pela sociedade, para
atividades como navegação, pesca, aquicultura, exploração mineral, e ainda como fonte de
energias renováveis, através da energia das ondas, marés e dos ventos.

Tal ambiente sofre a todo momento, e a um longo tempo, por agentes modificadores
da sua morfologia, causando a alteração das feições presentes na plataforma continental. O
estudo das estruturas encontradas na morfologia do terreno, bem como o período aos quais
elas foram registradas, permite a compreensão dos processos atuantes na modificação do
relevo, tanto os erosivos como os que preenchem os espaços criados ao longo do tempo.

Visto a importância do conhecimento deste ambiente marinho é proposto neste


trabalho uma descrição morfológica da plataforma continental oriental do estado do Rio
Grande do Norte, utilizando da integração de dados batimétricos do Grupo de Geologia e
Geofísica Marinha e Monitoramento Ambiental - GGEMMA/DG/UFRN, dados SRTM e
imagens de satélite, buscou-se a melhor representação visual das estruturas fisiográficas
presentes nesta área, afim de que com a soma dos resultados de diversos processamentos no
ambiente SIG e usando técnicas de processamento digital de imagens (PDI), fosse gerado um
2

modelo digital de terreno (MDT) onde se pudesse realizar uma melhor visualização, descrição
e interpretação de todas as feições e parâmetros existentes na área de estudo.
A área de estudo está localizada na porção oriental do litoral do estado do Rio Grande
do Norte, entre as cidades de Muriú e Parnamirim, onde a cidade de Natal, capital do estado
se localiza na altura central da área. Ocupa uma área de 1 500 km², somente na porção
submersa está inserida no polígono que está delimitado pelas coordenadas 5°29'10"S e
6°0'36"S de latitude, 34°56'57"W e 35°15'47"W de longitude (Fig. 1)

Figura 1 – Mapa de localização da Área de estudo.

1.1 Plataforma continental

A plataforma continental é definida como uma superfície de largura variável, sub -


horizontal, que se estende da face de praia até o limite com o talude continental, este
marcado por uma linha ou zona de brusco aumento de declividade, caracterizado como
quebra da plataforma (Fig. 2).
Sua extensão média é de 60km, mas apresenta variações dependendo da sua
localização, como no círculo ártico, onde atinge até 1000km, e na costa pacífica das américas
onde só tem poucos quilômetros. Seu ângulo de declividade está em torno de 1º, o que
3

corresponde a gradientes inferiores a 1:1000 e a quebra da plataforma acontece em média em


torno de 130m de profundidade.
As variações de relevo são relativamente pequenas, e a topografia atual são reflexo da
erosão e sedimentação ocorridas com a variação do nível do mar no quaternário. A
profundidade da região de quebra sugere que essa zona representa o nível de mar mais baixo
ocorrido durante a última glaciação, quando eventos erosivos e deposicionais atuaram nessa
região.
A área das plataformas continentais corresponde a somente 8% de toda a extensão
marinha do globo. Plataformas continentais são a porção marinha mais utilizada pra
sociedade, são diversas as áreas que utilizam a área da plataforma continental, navegação,
pesca, aquicultura, exploração mineral, e no futuro muito provavelmente como fonte de
energias renováveis através da energia das ondas, marés e ventos (CHIOCCI; CHIVAS,
2014). A plataforma continental também representa a região mais importante do oceano em
termos de biomassa, isso representa a maior parte da vida marinha que reflete na importância
desse ambiente como fonte de alimento para a humanidade e diversos sistemas ecológicos.
Essa riqueza de vida marinha é resultado da enorme disponibilidade de nutrientes disponíveis
para os diversos tipos de animais e plantas inseridos nessa faixa marinha, e que em
plataformas mais rasas e sem muitos sedimentos em suspensão é potencializado pela grande
penetração de luz solar que permite o desenvolvimento dessa rica fauna e flora.
Relacionando-se ao arcabouço tectônico, são estabelecidas dois tipos de margens
continentais (Fig. 3).

Figura 2 – Distribuição das plataformas continentais ao redor do globo.


4

A plataforma de margem passiva, que ocorrem nas bordas dos continentes onde a
atividade tectônica é pouca expressiva, com desenvolvimento de prismas plataformais que
migram em direção ao mar, e o aporte sedimentar é proveniente das drenagens continentais.
Plataformas de margem ativa estão relacionadas a zonas de subducção, ou seja, alta atividade
tectônica envolvida, são relativamente estreitas, onde se desenvolvem primas acrescionários
relacionados a alta taxa de sedimentação. (Albuquerque, 2002)

Figura 3 – Exemplos dos tipos de margens continentais existentes. (Fonte: Para entender a Terra).
5

2. CONTEXTO GEOLÓGICO

2.1 Plataforma Continental do NE/RN

A plataforma continental tropical brasileira é dividida em duas partes, a plataforma


tropical brasileira norte (BT N) e plataforma tropical brasileira nordeste (BT NE) (Fig. 4),
onde, a área de estudo está inserida na parte nordeste da plataforma. Considerando a
orientação e a natureza do stress regional na fase rifiting e os seguintes processos dinâmicos
durante a separação das placas da África e da América do Sul na fase drifting, foram
reconhecidos três domínios ao longo da plataforma por Milani & Thomaz Filho (2001). O
primeiro domínio, predominantemente extensional, se estende desde Abrolhos até a
plataforma de Touros, porção onde a área de estudo está localizada, o padrão estrutural é
predominantemente falhas normais.
O arcabouço estratigráfico é formado pelo cráton São Francisco e pela província
Borborema definida por Almeida et al. (1977), e recoberta por sedimentos terciários e
quaternários, tradicionalmente considerados como resultantes de depósitos aluviais. Porém
recentemente, foram interpretados como de origem marinha (Rossetti, 2006). Durante o
Quaternário, ocorreram mudanças relativas no nível do mar e no clima da região, provocando
mudanças nos registros morfológicos recentes na zona costeira do Brasil. (Dillenburg & Hesp,
2009; Dominguez et al., 2009; Hesp et al., 2009; Souza Filho et al. 2009; Vital, 2009).
A BT NE apresenta um sistema moderna e altamente dinâmico de um sistema misto
carbonático-siliciclástico, de curta extensão e pouco profundo se comparado com outras
partes da plataforma nacional, possuindo em média 40km de extensão e 60m de profundidade
onde ocorre a quebra da plataforma(Vital, 2014). A alta dinâmica na costa estão associadas a
combinação da influência eólica, dinâmica marinha e processos controlados por onda e maré,
estes aspectos constituem um intenso controle na morfologia da plataforma e na distribuição
dos sedimento (Testa & Bosence 2009; Vital et al. 2008). A plataforma é dividida em três
porções, plataforma interna, média e externa, sendo a plataforma interna se extendendo entre
a linha de costa até uma profundidade de 15m, a plataforma média tendo sua extensão
variando entre as isóbatas 15-20m e 20-40m e a plataforme externa de 40m de profundidade
até a quebra da plataforma. (Coutinho, 1976; Vital et al. 2008; Gomes e Vital, 2010).
Uma grande variedade de corpos arenosos é encontrada na região, com dimensões
diversas que variam de metros a quilômetros de extensão, indicando intenso retrabalhamento
destes sedimentos, sendo bem observados em imagens Landsat na plataforma interna. (e.g.
Viana et al. 1991; Tabosa, 2006; Vital et al. 2005,2008).
6

Figura 4 – Plataforma tropical brasileira norte (BT N) e plataforma tropical brasileira nordeste (BT
NE), bem como as regiões onde ocorrem os domínios por maré e por onda ao longo da plataforma.
(Extraído e modificado de Vital et al. 2010).

No contexto sedimentológico, a plataforma interna é composta por sedimentos


cinturões de arenitos quartizosos, o que não se repete na plataforma média, onde são
encontrados complexos de sedimentos siliciclástico-carbonáticos de granulometria média.
As variações do nível do mar resultaram na faciologia atual da platafoma, uma complexa
associação de sedimentos carbonáticos do Quaternário com facies siliciclásticas, misturados
na plataforma média. Os sedimentos siliciclásticos são originários de descargas aluviais,
7

erosão costeira e retrabalhamento dos sedimentos em períodos de mar baixo, enquanto os


sedimentos carbonáticos tem sua fonte no crescimento e no tranporte local de organismos
bentônicos e planctônicos. Ao contrário do que acontece na plataforma interna onde a
presença de bioclastos é resultado da dinâmica oceânica de ondas e correntes. (Summerhayes,
1976; Vital et al. 2008; Tab. 1)

Tabela 1 – Tabela das principais características da BT NE.

Extensão média (km) 40km

Profundidade média até a quebra da 60m


plataforma(m)

Maré / ondas / correntes 2-3,5m / 1-2m altura e 7,5s


período / <100 cm/s

Processo dominante Ondas, marés e correntes

Sedimentos (tipo) 80-100% carbonático plataforma


média - externa e Siliciclástico
(misto) plataforma interna

Sedimentos ( Moderno, relíquia, Majoritariament moderno na


retrabalhado) plataforma média - externa e
retrabalhado e moderno na interna.
8

3. METODOLOGIA

3.1 Introdução

Neste trabalho foram utilizados dados de batimetria coletados com um sistema


batimétrico mono-feixe, imagens de Satélite LandSat e SRTM. Os dados foram manipulados
e integrados utilizando os softwares Hypack 2014, Surfer 10 e ArcGis 10.
Estão apresentados de A para E (fig. 5), os principais resultados das etapas de
tratamento e integração dos dados aplicados deste trabalho. Em A são observados os pontos
coletados em campo através de batimetria mono-feixe, B representa o primeiro MDT gerado,
utilizando das cotas XYZ de cada ponto após a interpolação, C consiste em um mapa
batimétrico construído utilizando um espaçamento de 1m entre as isolinhas do terreno, D é o
resultado do processamento de imagens Landsat 8 e E é o resultado da integração dos dados
batimétricos com os dados obtidos através de imagem de radar SRTM. Adicionalmente, para
a descrição geomorfológica da área foram criados mapas batimétricos, perfis batimétricos e
modelos digitais do terreno integrados com as imagens de satélite.

Figura 5 – Esquemas da evolução dos produtos gerados ao longo do processamento.


9

3.1 Dados Batimétricos

Os dados batimétricos foram adquiridos em duas campanhas nos anos 2012 a 2014, e
cedidos pelo Lab GGEMMA para a realização deste trabalho. O equipamento utilizado para a
aquisição foi ODON HYDROTRACK, os perfis batimétrios estão espaçados em 1km e são
compostos por pontos XYZ com distância entre pontos de 3m (Fig. 6). Os valores
batimétricos máximos e mínimos são -2,48m e -145m, respectivamente.

Figura 6 - Distribuição espacial dos pontos adquiridos por levantamento


batimétrico plataforma leste do RN.

A malha total, que continha cerca de 4 milhões de pontos, passou por vários processos
de filtragem a fim de que fossem reduzidos ao máximo os erros oriundos da aquisição, dos
10

processos de interpolação envolvidos na geração do mapa batimétrico, MDT e dos diversos


produtos resultantes deste trabalho.
Para utilização do HYPACK 2014 foi necessário uma correção de maré utilizando os
dados de maré fornecidos pela Diretoria de Hidrografia e Navegação - Marinha do Brasil, e
ajustados dia a dia com relação ao dia do levantamento.
O primeiro processo foi a filtragem manual dos dados utilizando o software HYPACK
2014, com a finalidade de retirar os ruídos e dados falsos inerentes neste tipo de levantamento
(Fig.7). Após esta etapa ainda sendo identificada a necessidade de redução da densidade de
pontos foi feito uma seleção, utilizando de uma intercalação um a um de todos os pontos
visando reduzir a sua quantidade pela metade e mesmo assim manter a representatividade e a
distribuição dos pontos por igual, sendo repetido o processo 4 vezes chegando a uma
densidade final de pontos em torno de 250 mil pontos, onde foi identificada uma resposta
adequada nos mapas gerados.

Figure 7- Comparativo das linhas batimétricas. Em A representação da linha bruta, onde


estão destacados pontos considerados erros e em B após filtragem para retirada de pontos
que indiquem ruído ou algum erro de aquisição.

Nos primeiros mapas que integram as duas campanhas foram identificados alguns
batentes, artefatos de interpolação alinhadas paralelamente aos perfis de aquisição,
perpendicular as linhas de costa, sendo claramente resultado de diferenças nos levantamentos,
o que exigiu uma correção manual das cotas de algumas linhas afim de corrigir este erro, que
tinha valores de 1,5 m acima do padrão regional nas linhas ajustadas. (Fig. 8). Essa limitação
11

da precisão do dado batimétrico entre as campanhas guiou o trabalho para uma análise
qualitativa da representação do relevo plataformal.
Utilizou-se o processamento geoestatístico que tem como objetivo, minimizar os erros
resultantes dos processos de interpolação utilizados, melhorando o resultado final na
construção dos MDTs (e.g. Gomes, 2007). No modelo geoestatísitco empregado foi utilizado
o interpolador kriging, onde se observou as melhores respostas na relação entre os pontos. O
erro gerado referente ao uso de um interpolador decorre do distanciamento do valor atribuído
ao pixel e dos valores da vizinhança utilizada, onde configuram uma incongruência com o
padrão da superfície adjacente.
Foram admitidos erros na ordem de, no máximo, 1 metro, para mais ou para menos,
entre o valor predito e o mensurado, segundo a tabela Cross Validation Result, produto da
geostatística (Tab. 2)

Figure 8- Resultado da correção vertical manual com o objetivo de minimizar erros da aquisição.
12

Tabela 2 – Exemplo da tabela Cross Validation Result.

UTM X UTM Y Medido Predito Erro

271498,3 9375559,3 -33,240002 -32,908222 0,398223

271505,03 9375560,65 -33,380001 -32,8740772 -0,505923

271511,52 9375561,58 -33,830001 -33,002828 0,172826

271518,15 9375562,42 -32,700000 -33,100253 0.400252

Após análise estatísticas dos dados foram constatados que alguns pontos, mesmo após
uma filtragem com diminuição da densidade dos pontos, apresentavam erros relevantes no
momento da interpolação. O erro é função da distância dos pontos e da continuidade espacial
prevista pelo interpolador, que pode derivar de: um conjunto de pontos incorretos, que
absolutamente não fazem parte da superfície; e/ou insuficiência do modelador geoestatístico
para o dado (Gomes et al., 2007). Na Fig. 9 estão representados os gráficos gerados após
aplicação da geoestatítica, onde são relacionados os valores entre os valores medidos e os
valores de erro e preditos gerados pelo interpolador, sendo a reta em azul representando erro
zero.
Visto que a plataforma em estudo é muito plana e erros acima dessa grandeza
poderiam camuflar os resultados finais. Foram constatados 7081 pontos com erros acima da
faixa do erro aceitável estabelecida, isso representa aproximadamente 3% do universo total de
pontos sob análise.

Figure 9 – Gráficos gerados após aplicação da geoestatítica, onde são relacionados os valores entre os
valores medidos e os valores de erro e preditos gerados pelo interpolador, sendo a reta em azul
representando erro zero
13

A representação visual do erro resultante da interpolação dos dados é de grande valia


para se confirmar que os dados utilizados se aproximam o máximo possível do terreno real, de
forma que os valores gerados pela interpolação não se distanciem dos valores medidos de
forma a criar a superfície modelo mais próxima do real. (Fig. 9).
A batimetria é representada, cartograficamente, por curvas batimétricas que são
isolinhas que unem pontos de mesma cota, assim como ocorre em levantamentos
topográficos. Os MDT’s são de suma importância na aplicação do geoprocessamento, nas
áreas onde são aplicados, permitem uma vasta gama de análises, quantitativas ou qualitativas,
afim de que se possa observar melhor as feições presentes, permitindo uma melhor descrição
e interpretação das mesmas.

Figura 10 – Mapa representativo do erro residual tolerado pós processamento.


14

Os mapas e modelos digitais batimétrico apresentados foram confeccionados


utilizando o software ArcMap 10.1, que através da ferramenta de interpolação Topo to Raster,
para geração de superfície. Utilizando da superfície resultante da interpolação, foram geradas
curvas batimétricas, isolinhas com base nos valores do eixo Z dos pontos coletados na
batimetria com intervalos de 1m (Fig. 12). Adicionalmente, foram gerados mapas de
declividade que fornecem uma informação visual de como se comportam os gradientes da
profundidade ao longo da plataforma (Fig. 13). A junção de todas essas informações a partir
do geoprocessamento dos dados disponíveis, permitem a geração de diversos mapas e
modelos que vem corroborar as interpretações que serão feitas com base nos mapas já
representados.

3.2 Imagens de Satélite

Afim de melhorar a interpretação das informações contidas nos MDT’s, usou-se as


respostas espectrais e espaciais contidas em imagens de satélite Landsat 8, que aliadas a
técnicas de processamento digital de imagens (PDI) conferem respostas que vem a ressaltar
informações e/ou feições de fundo marinho da área.
Imagens de satélite Landsat 8 são separadas em bandas que captam diferentes porções
do espectro eletromagnético, dando a cada uma dessas bandas a condição de responder
melhor aos diversos materiais aos quais são alvos do sensor (fig. 10).

Figura 11 - Landsat 8. Fonte: USGS 3.7 – Descrição dos alvos com melhor resposta espectral em relação ao sinal do
satélite.
15

Todo o processo de aquisição da imagem, assim como suas variações temporais,


posição atmosférica, condições climáticas, o sensor e seu alvo, são passíveis de técnicas que
venham a ressaltar ou atenuar a resposta de interesse. A natureza dos alvos pode ser
determinada baseando-se no fato de que diferentes materiais são caracterizados por
reflectâncias próprias em faixas específicas de respostas no espectro. No ambiente marinho a
reflectância de fundo não é diretamente observável, pois ela é modificada pelos efeitos de
absorção e espalhamento na coluna d’água. No entanto, a caracterização espectral da
plataforma continental do RN é favorecida pela transparênciada água e baixa concentração de
material em suspensão em boa parte do ano, tipos de fundo e feições submarinas, dentre
outras (Vital, 2005).
Visto que a variação na resposta espectral gera resposta visuais diferentes, buscou-se
uma melhor combinação, utilizando o sistema de cores RGB, das bandas contidas na imagem
Landsat 8 de forma a ressaltar a superfície subaquática dentro da área da plataforma oriental
do RN. Foram selecionadas as bandas 3, 2 e 1 para fazer uma composição colorida do
ambiente plataformal. Foi feito um recorte na cena utilizada onde a composição só se aplicou
na parte marinha, para que não houvesse interferência dos valores terrestres nos histogramas
referentes a composição.
Para trabalhar com radiância e reflectância de sensores orbitais de diferentes datas e/ou
períodos, é necessário remover os efeitos atmosféricos da passagem das ondas
eletromagnéticas através da atmosfera. (Song et al., 2000; Singh and Shanmugam, 2014;
Hilker et al., 2012; Themistocleous et al., 2013). Tais correções utilizam equações
matemáticas com base nas informações atmosféricas, na posição espacial da Terra e do sensor
no momento da aquisição. Tais equações são descritas por Aquino da Silva et al. (2015). O
método utilizado por Aquino da Silva et al. (2015) com os melhores resultados é Dark Object
Subtraction (DOS2), que consiste em utilizar os pixels de valor mais baixo, ou seja, que mais
se aproximam de zero para servirem de referência para os outros pixels, visto que tendo
valores próximos de zero indica que esses pixels não geraram resposta espectral ou muito
pouca.
Normalmente, um efeito chamado sun glint forma bandas brancas ao longo das bordas
das onda no lado de barlavento de ambientes perto da costa. Estas faixas brancas confundem a
identificação visual de características submersas, e irá influenciar fortemente classificação de
imagens (Hedley et al., 2005). Tal efeito pode ser retirado através de correções matemáticas
utilizando-se regressões lineares baseadas nos valores dos pixels do infra vermelho próximo
(NIR), registrado na banda 5 das imagens de Landsat 8, os pixels de menor valor de NIR,
16

podemos fazer uma regressão linear nas outras bandas retirando o efeito de sun glint das
outras imagens. (Fig. 11)

Figura 12- Evolução do processo de tratamento das imagens Landsat 8, usando composição 321, na imagem à
esquerda (A) composição com a imagem bruta, ao centro (B) a imagem após correção atmosférica e a direita
(C) a imagem final após correção do efeito de Sun Glint.

3.3 Dados SRTM

Os dados altimétricos foram adquiridos através da utilização de imagens de radar


SRTM, do banco de dados da EMBRAPA, utilizando a carta SB-25-V-C, com resolução
espacial de 90 metros. Os dados foram processados em ambiente SIG e integrados aos
produtos batimétricos e imagens LandSat, afim de provir informações da topografia do
continente e correlacionar possíveis estruturas emersas com as encontradas abaixo do nível do
mar.
17

4. RESULTADOS

A plataforma continental oriental do estado do Rio Grande do Norte, é estreita com


com extensão variando entre 18km, na região do Canyon de Natal, e até 26km nas adjacências
do canyon (Fig.12). Possui um gradiente de 1:400 ou declive médio de 2,5m/km (Fig. 13). A
quebra da plataforma ocorre entre 50 e 60 m de profundidade.
A plataforma foi dividida em três compartimentos distintos com base nas feições
fisiográficas identificadas, foram eles as estruturas internas da plataforma e o comportamento
da declividade da plataforma em direção ao talude. A plataforma interna (Fig. 14 A) tem em
média 13km de extensão, até a isóbata de -20m, é caracterizada por relevo plano, com
gradiente de declividade de 1:650, onde se tem uma redução da profundidade de 1,5m/Km.
São observados corpos arenosos alongados, distribuídos subparalelos a linha de costa, foi
identificado um vale escavado que se encontra a 10km da costa (Fig. 22) e uma linha de
recifes a 13km (Fig. 22), coincidente com o limite da plataforma interna e média, na altura da
cidade de Muriú.

Figura 13 – Mapa batimétrico de isolinhas da plataforma continental.


18

A plataforma média (Fig. 14 B) é principalmente caracterizada por um aumento do


gradiente de declividade, tem uma extensão de 10km, exceto na faixa localizada em frente ao
canyon de Natal onde a extensão é de apenas 6km, e é delimitada entre a isóbata de -20 e -
50m, uma redução de 3m/km na profundidade, o dobro da plataforma interna, chegando a
5m/km em frente ao canyon de Natal, com um gradiente de 1:333.

A plataforma externa (Fig. 14 C) foi descrita somente na área ao norte do Canyon de


Natal, tem 5km de extensão e compreende a faixa entre as isóbatas de -50 e -60m, onde está
delimitada a quebra da plataforma, uma taxa de declividade de 2m/km.

Figura 14 – Mapa de declividade da plataforma continental.


19

Figura 15 – Divisão dos patamares da


plataformas. A - Plataforma Interna, B –
Plataforma média e C – Plataforma Externa.

4.1 Perfis

Foram traçados perfis ao longo da plataforma, dispostos na parte norte, centro e sul da área
(Fig. 15), para que todos os ambientes observados fossem representados. No perfil AB (Fig.
16) traçado ao norte da área, estão registradas as três porções da plataforma descritas
20

anteriormente, assim como o vale escavado paralelo a linha de costa e o recife, que coincide
com uma localidade chamada Batente das Agulhas. Em CD e EF (Figs. 17 e 18) os perfis
cortam a plataforma na região centro - sul da área e reafirma a natureza plana da plataforma,
com a quebra do talude a uma distância de 18km e 22km nos pontos analisados, onde são
observados apenas dois ambientes plataformais distintos, a plataforma interna plana com um
gradiente muito baixo e a intermediária, onde se observa um aumento no gradiente de
declividade porém ainda baixo, até a quebra da plataforma no talude.

Figura 16 – Mapa de localização de onde foram traçados os perfis perpendiculares as principais estruturas da
plataforma.
21

Figura 17 – Perfil AB localizado ao norte da área onde corta o vale e o recife, bem como a quebra
da plataforma adiante.

Figura 18 – Perfil CD traçado ao centro da área de estudo, cortando os bancos de areia que dominam a
morfologia da região na plataforma interna.

Figura 19 – Perfil EF traçado ao centro-sul da área de estudo, cortando os bancos de areia que
dominam a morfologia da região na plataforma.
22

4.2 MDT

O Modelo Digital de Terreno (MDT) foi gerado para que se tivesse uma representação
gráfica tridimensional das feições geomorfológicas envolvidas na área de estudo da
plataforma continental, afim de que fossem melhor representadas visualmente e permitissem
mais detalhamento na sua interpretação ao expor uma maior quantidade de feições.
O modelo permitiu visualizar claramente as feições da plataforma continental oriental
do Rio Grande do Norte, primeiramente em um mapa com escala de cor definida
manualmente baseada nas cotas adquiridas (Fig. 18), seguida de mais duas representações em
3D, geradas pelo software ArcScene, utilizando uma paleta de cores semelhante a do mapa
(Fig. 19) e sem seguida utilizando a imagem Landsat 8 pós-tratamento de PDI, como
sobreposição ao modelo anteriormente mostrado (Fig. 20).

Figura 20 – Mapa da área de estudo, com aplicação de escala de cor para realce das mudanças de cota.
23

Figura 21 – Mapa da área de estudo, aplicando os valores das cotas para uma visualização
tridimensional.

Figura 22 – Imagem de satélite da área de estudo, aplicando os valores das cotas para uma visualização
tridimensional.
24

Algumas estruturas morfológicas ficam mais pronunciadas com o uso do MDT ao


norte da área de estudo na porção mais distal da plataforma interna, é observado um vale,
indicado pela Letra B (Fig 22) que pode ser interpretado como resultado de uma erosão
resultante de uma paleodreanagem vinda do continente. O vale escavado está a 13km, da
costa, na altura da cidade de Muriú, apresenta uma morfologia alongada, paralela à linha de
costa, sendo observada um pequeno canal que tende na direção do continente. Seu
comprimento é de aproximadamente 17km (N-S), sua largura varia de 1 a 3km dependendo
do local, a profundidade média é de 35m, mas seu ponto mais profundo atinge 50m, visto que
a profundidade em suas adjacências é de 25m em média, a altura do vale varia por toda a sua
extensão, apresentando valores entre 2m e 25m (Fig
Adjacente ao vale descrito acima, um pouco mais distal, observamos uma estrutura
linear, indicada pela seta A (Fig. 22) que coincide com uma localidade conhecida como
Batente das agulhas, um recife, com estrutura linear, que se estende desde o litoral
setentrional do Rio Grande do Norte e chega até as porções mais ao norte do litoral oriental
potiguar. A cerca de 16km da linha de costa, o recife presente dentro da área descrita neste
trabalho as dimensões desse recife são aproximadamente 20km de comprimento e 500 metros
de largura, em média, e está a uma profundidade de 25m. (Fig. 22)
Visto que a região onde a área de estudo está inserida, no que diz respeito as
constantes variações do nível do mar, podemos sugerir que estas estruturas podem estar
relacionadas com uma antiga linha de costa, em um período de mar regressivo, onde toda a
plataforma estava exposta. Onde o vale escavado é resultante da erosão de algum paleocanal
possivelmente vindo do continente seguindo um trend SW-NE.
Na porção centro-sul da área de estudo são observados corpos arenosos alongados,
indicados pelas setas na (Fig. 23), estas feições são resultantes do retrabalhamento dos
sedimentos na plataforma interna pela dinâmica marinha costeira, principalmente pelas marés,
depositando os sedimentos paralelamente a linha de costa que concorda com as direções de
maré da região. São corpos que estão a menos de 20m de profundidade, seu comprimento
varia entre 15 e 20km, tem entre 1 e 2km de largura, a distância entre as cristas dos corpos
também varia entre 1-2km de distância (Fig. 24)
Os dados SRTM foram utilizados integrados com os dados batimétricos afim de que
fossem identificados, se possível, correlações entre as estruturas presentes no continente e o
reflexo das mesmas na plataforma continental no decorrer do tempo geológico. (Fig. 24).
25

Figura 23 - Representação do vale escavado, assim como da linha de recifes identificadas na


plataforma em mapa e por imagem de satélite.

Figura 24 - Perfis traçados ao longo do canal seguido dos valores da altura máxima em cada
perfil.
26

Figura 25 - Visualização em mapa e por imagem de satélites os corpos arenosos


presentes na porção sul da área.

(m) Profile Graph Title


-15
-15,5
-16
-16,5
-17
-17,5
-18
-18,5
(m)
0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 4.500 5.000 5.500 6.000 6.500 7.000 7.500 8.000 8.500 9.000 9.500
Profile Graph Subtitle
Figura 26 – Perfil dos corpos arenosos dispostos na plataforma interna.
27

Com o uso da integração dos dados SRTM, batimétricos e a imagem de satélite,


sugere-se algumas relações entre as feições encontradas na plataforma e as observadas no
continente.
Na cabeceira do canyon de Natal pode se identificar a influência de duas direções de
correntes (Fig. 25a), que tiveram papel importante na erosão do talude da plataforma na
região em um tempo onde a plataforma estava totalmente exposta.
A observação da geomorfologia da plataforma indicam dois grandes vales (Fig. 25b),
que podem ser o registro de fluxos hídricos no decorrer do tempo. Mais ao norte com direção
de fluxo SE, indicando o Rio Ceará-Mirim e mais ao sul, o Rio Potengi com direção de fluxo
NE, este onde o prolongamento da sua direção de fluxo coincide com o vale escavado no
meio da plataforma (Fig. 26), podendo indicar uma possível relação entre os dois elementos,
em um momento onde o mar possuía um nível intermediário, onde a plataforma não estaria
totalmente exposta.
Uma possibilidade para não se observar nos modelos batimétricos a clara ligação entre
os vales na zona costeira e o Canyon de Natal, bem como ao vale é a ação da erosão ao longo
dos períodos de variação do nível no mar e das condições hidrodinâmicas atuais, que atuam
recobrindo as feições registradas na plataforma por sedimentos retrabalhados na plataforma
interna, que sofrem grande influência de corrente, marés e ondas.

Figura 27 - Mapa integrado entre os dados altimétricos SRTM e os dados batimétricos .


28

Figura 28 - Possível ligação entre o vale inciso na plataforma e o Rio Potengi


29

5. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

A plataforma oriental do Estado do Rio Grande do Norte, com base nos dados
apresentados e na bibliografia, é caracterizada como uma plataforma estreita, com cerca de
26km de extensão, com exceção da região do canyon de Natal, onde ela só possui 18km de
extensão. A divisão da plataforma é descrita em três partes, sendo a plataforma interna
chegando a isóbata de -20m, plataforma interna inserida entre a isóbata de -20 e -50m, e a
pequena faixa da plataforma externa, que aparece ao norte do canyon compreende a faixa
entre as isóbatas de -50 e -60m, onde ocorre a quebra da plataforma continental.

Essa compartimentação é semelhante com a plataforma continental do litoral norte do


estado do RN. Onde também é descrita uma plataforma com extensão máxima de 43km
partindo da linha de costa até o talude, com profundidade variando em torno de 0 e 60m
dividida entre plataforma interna, média e externa, em que a plataforma interna compreende a
faixa da linha de costa até a cota -15m, a plataforma média entre -15 e -25m e a plataforma
externa inserida entre as cotas de -25 e -40m (Gomes e Vital, 2010).

Na plataforma interna foi possível identificar diversos corpos arenosos alongados em


baixas profundidades, mas com grande extensão paralelos a linha de costa.

Por meio da integração dos dados apresentados foi possível correlacionar estruturas
presentes na plataforma com influência continental, um vale escavado na plataforma que
tende a se ligar com o atual canal do Rio Potengi, assim como as duas entradas na cabeceira
do canyon de Natal e os dois fluxos hídricos principais marcados no continente, o vale do rio
Potengi e o vale do rio Ceará-Mirim permitindo a interpretação de que as estruturas
identificadas tem relação entre si resultante da ação dos cursos hídricos dentro da plataforma
em um período de mar baixo. A linha de recifes, identificada como batente das agulhas, pode
ser interpretada como barreira ao paleocanal marcando uma antiga linha de costa no mesmo
período.

Com a ajuda da integração dos diversos tipos de dados empregados neste trabalho foi
possível representar com grande fieza, as características geomorfológicas presentes na área
descrita dentro da plataforma continental, bem como correlacionar feições da plataforma com
o ambiente continental atual.
30

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