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Fundamentos de Matemática Elementar

André Arbex Hallack


Índice

1 Conjuntos 1
1.1 A noção de conjunto e alguns exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Subconjuntos e a relação de inclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.3 Álgebra dos conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2 Relações 15
2.1 Relações Binárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.2 Relações de equivalência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.3 Relações de ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3 Funções 33
3.1 Conceitos básicos e exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.2 Funções invertı́veis: injetoras e sobrejetoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.3 Composição de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.4 Famı́lias indexadas de conjuntos e produtos cartesianos em geral . . . . . . . . 44
3.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

4 Cardinalidade, conjuntos infinitos, etc. 53


4.1 Conjuntos de mesma cardinalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.2 Conjuntos finitos/infinitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.3 Conjuntos enumeráveis/não-enumeráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

i
4.4 Números cardinais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

5 Números reais: racionais/irracionais, algébricos/transcendentes 67


5.1 Caracterı́sticas fundamentais de IR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
5.2 Números reais e representações decimais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
5.3 Números reais e cardinalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
5.4 Números racionais/irracionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
5.5 Números algébricos/transcendentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

6 Noções de Lógica 95
6.1 Conceitos básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
6.2 Conectivos e operações lógicas sobre proposições . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
6.3 Implicações e equivalências lógicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
6.4 O método dedutivo: uso de argumentos e regras de inferência nas demonstrações 106

Referências 109
Capı́tulo 1

Conjuntos

1.1 A noção de conjunto e alguns exemplos

Conjuntos

CONJUNTO é uma noção primitiva que associamos a qualquer coleção de objetos, os quais
chamamos de ELEMENTOS DO CONJUNTO.
Exemplos:
Conjunto S dos sı́mbolos 4 , , F e  .
Conjunto A de todos os professores da UFJF.
Conjunto IN dos chamados números naturais 1, 2, 3, 4, 5, 6, . . . .
Dada uma reta r em um plano, r é o conjunto de todos os seus pontos.

Dados um elemento x (de algum conjunto X) e um conjunto Y arbitrários, a relação básica


entre x e Y é a RELAÇÃO DE PERTINÊNCIA. Se x é um dos elementos do conjunto Y então
dizemos que x pertence a Y e escrevemos x ∈ Y . Se x não é um dos elementos do conjunto
Y então dizemos que x não pertence a Y e escrevemos x ∈/ Y.
Exemplos: Considerando os exemplos anteriores, temos:
∈S, ∈S, ♦∈
/S.
André A. H. ∈ A , Leila A. H. ∈
/A.
7
2 ∈ IN , ∈/ IN , −5 ∈
/ IN .
2

1
2 CAPÍTULO 1

Figura 1.1: Pontos P , Q e a reta r

P ∈r, Q∈
/r.

TODO CONJUNTO PRECISA ESTAR BEM DEFINIDO E ISTO OCORRE QUANDO,


DADO UM ELEMENTO ARBITRÁRIO, FICA BEM DETERMINADO SE ESTE ELE-
MENTO PERTENCE OU NÃO AO CONJUNTO.

Conjuntos podem ser definidos de maneiras diferentes, mas sempre deve ser obedecido o
princı́pio fundamental acima. Seguem algumas das diferentes maneiras de se definir conjuntos:

• REPRESENTAÇÃO ANALÍTICA (ou POR EXTENSÃO): especificando-se, um a um,


os elementos do conjunto.
S = {4 , , F , }
IN = {1, 2, 3, 4, 5, . . .} (conjunto dos números NATURAIS)
Z = {. . . , −3, −2, −1, 0, 1, 2, . . .} (conjunto dos números INTEIROS)
D = {1, 3, 5, 7, . . . , 9999} (conjunto dos números ı́mpares entre 1 e 9999)

• REPRESENTAÇÃO SINTÉTICA (ou POR COMPREENSÃO): através de uma pro-


priedade comum e exclusiva de seus elementos. Um conjunto Y é definido por uma propriedade
P da seguinte maneira: se x satisfaz a P então x ∈ Y e se x não satisfaz a P então x ∈
/Y .
Escreve-se Y = { x ; x satisfaz a propriedade P } e lê-se “conjunto dos elementos x tais que
x satisfaz a propriedade P ”.
A = { x ; x é professor da UFJF}
Q = { p/q ; p, q ∈ Z e q 6= 0 } (conjunto dos números RACIONAIS)
Conjuntos 3

• IDENTIFICAÇÃO: com conjuntos já definidos.


Como exemplo, vamos definir o conjunto IR dos números reais através de uma identificação
geométrica (dos números reais) com os pontos de uma reta (a chamada RETA REAL).
Iniciamos com uma reta orientada (adotando um “sentido positivo”) e escolhemos um ponto
arbitrário que corresponderá ao número 0 (ZERO):

Figura 1.2: A Reta Real

A partir do número (ponto) 0, escolhemos um ponto distinto do 0, no sentido positivo, que


corresponderá ao número 1. A distância entre estes dois pontos é a unidade de compri-
mento:

Figura 1.3: A Reta Real e a unidade de comprimento

A cada ponto desta reta está associado um único número e o conjunto IR dos números reais
é a coleção de todos os números associados a todos os pontos da reta (RETA REAL).
O ponto 0 “separa dois lados da Reta Real”. Pontos (distintos do 0) do mesmo lado do 0
que o 1 são associados aos números reais positivos e pontos (distintos do 0) no lado do 0 que
é oposto ao lado do 1 são associados aos números negativos.

Figura 1.4: A Reta Real: 0, números positivos e números negativos

Obs.: Podemos ainda definir as operações de ADIÇÃO e MULTIPLICAÇÃO de números


reais através da Geometria (veja o exercı́cio mais à frente). O conjunto dos números reais, com
essas duas operações, satisfaz a uma série de propriedades (comutativa, associativa, elemento
neutro, elemento inverso, distributiva) e por isso é considerado o que chamamos de CORPO.
4 CAPÍTULO 1

É fácil ver que todo número RACIONAL (inteiro ou não, natural ou não) tem seu ponto
correspondente na reta real:

Figura 1.5: A Reta Real com alguns números racionais marcados

Mais ainda, existem números reais (pontos na Reta Real) que não são racionais. São os
chamados números IRRACIONAIS. Para ver isto, como exemplo, vamos exibir um número
irracional na Reta Real.
Tomemos um triângulo retângulo cujos catetos medem uma unidade de comprimento. Do
Teorema de Pitágoras, temos que a medida da hipotenusa corresponde a um número positivo

cujo quadrado é igual a 2 e que chamaremos portanto de 2 .


Figura 1.6: A hipotenusa do triângulo acima mede 2

Agora estamos portanto em condições de marcar na Reta Real o ponto correspondente ao



número 2 :

Figura 1.7: A Reta Real com alguns números racionais marcados

Finalmente, mostra-se (TENTE!) que não existe número racional cujo quadrado seja igual

a 2, ou seja, o número 2 que acabamos de marcar na Reta Real é um número irracional.
Conjuntos 5

Exercı́cio: Dados os números reais a e b (na Reta Real abaixo), obtenha geometricamente

(e marque na Reta Real) os números a + b , a − b , b − a , 1/a , a/b , a.b e a .

Figura 1.8: Exercı́cio

• AXIOMÁTICA: um modo simples de se definir conjuntos pode ser obtido através do


uso de axiomas que envolvam as caracterı́sticas desejadas para esses conjuntos.
O conjunto IR dos números reais (com todas as suas caracterı́sticas) pode ser definido de
modo axiomático: “EXISTE UM CORPO ORDENADO COMPLETO IR” (Análise na Reta).
O conjunto IN dos números naturais é caracterizado através dos AXIOMAS DE PEANO
(veremos mais à frente no Curso).
O conjunto vazio φ também é usualmente definido de modo axiomático (adiante).

• CONSTRUÇÃO: a partir de conjuntos já definidos e através de ferramentas como


álgebra dos conjuntos, relações de equivalência, etc.
O conjunto Z dos números inteiros pode ser construı́do a partir dos naturais.
O conjunto Q dos números racionais pode ser construı́do a partir dos inteiros (via relação
de equivalência, que estudaremos no próximo capı́tulo).
O conjunto IR dos números reais pode ser construı́do a partir dos racionais (através das
chamadas Sequências de Cauchy ou dos Cortes de Dedekind).

O conjunto vazio

Axioma: Existe um conjunto que não possui elemento algum.


Esse conjunto é chamado CONJUNTO VAZIO, denotado por φ e qualquer que seja x,
tem-se x ∈
/ φ .
Exemplos: { x ∈ IR ; x2 = −1 } = φ , { } = φ , { x ∈ IN ; x + 7 = 0 } = φ .

Obs.: O axioma acima utilizado para garantir a existência do conjunto vazio é conhecido
como AXIOMA DE EXISTÊNCIA e faz parte de um conjunto de axiomas conhecidos como
Axiomas de Zermelo-Fraenkel (ZF), os quais, juntamente com o chamado Axioma da Escolha
(“Choice” , em inglês), constituem a base (ZFC) mais utilizada para o desenvolvimento da
Teoria dos Conjuntos.
6 CAPÍTULO 1

Conjuntos unitários

Chama-se CONJUNTO UNITÁRIO todo conjunto constituı́do de um único elemento.


Exemplos: E = { 4} , X = { x ∈ IN ; x2 = 9 } = { 3} .

Conjunto universo

Chama-se CONJUNTO UNIVERSO de uma teoria o conjunto de todos os objetos que são
considerados como elementos nessa teoria. Por exemplo: em Geometria Plana, o conjunto
universo é o conjunto dos pontos de um plano.
O conjunto universo é também chamado o conjunto fundamental da teoria e é usualmente
indicado pela letra U .
Ao definir certos conjuntos através de suas propriedades, deve estar bem claro (a priori)
com qual conjunto universo estamos trabalhando. Por exemplo: Para que A = { x ; x2 = 2 }
esteja bem definido precisamos saber qual conjunto universo está sendo considerado, pois se
 √ √
U = IR então A = { x ∈ IR ; x2 = 2 } = − 2 , 2 enquanto que se U = Q , então
2
A={x∈Q; x =2}= φ .

1.2 Subconjuntos e a relação de inclusão

Subconjuntos

Dados conjuntos A e B, dizemos que A é SUBCONJUNTO de B quando todo elemento de


A é também elemento de B, ou seja, x ∈ A ⇒ x ∈ B . Neste caso usamos a notação A ⊂ B
e dizemos que A está contido em B ou escrevemos B ⊃ A e dizemos que B contém A.
A relação A ⊂ B chama-se RELAÇÃO DE INCLUSÃO.
Exemplos:
Sejam A o conjunto dos quadrados e B o conjunto dos retângulos. Então A ⊂ B .
{ 4, F} ⊂ { 4, , F, } .
IN (naturais) ⊂ Z (inteiros) ⊂ Q (racionais) ⊂ IR (reais) .

A negação de A ⊂ B indica-se pela notação A 6⊂ B , que se lê “A não está contido em B” .


Temos: A 6⊂ B se, e somente se, existe pelo menos um elemento de A que não pertence a B.
Conjuntos 7

Temos então que φ ⊂ A , qualquer que seja o conjunto A, pois caso contrário ( φ 6⊂ A )
deveria haver pelo menos um elemento do conjunto vazio φ que não pertenceria ao conjunto
A, o que é claramente um ABSURDO (pois o conjunto φ não possui elemento algum).

Inclusão e igualdade de conjuntos

Dizemos que dois conjuntos A e B são IGUAIS (e escrevemos A = B) se, e somente se,
possuem os mesmos elementos, ou seja, todo elemento de A pertence a B (A ⊂ B) e todo
elemento de B pertence a A (B ⊂ A). Assim, temos:

A = B ⇔ A⊂B e B⊂A

Quando se escreve A ⊂ B não se exclui a possibilidade de se ter A = B. No caso em que


A ⊂ B e A 6= B (B 6⊂ A necessariamente) dizemos que A é uma PARTE PRÓPRIA ou um
SUBCONJUNTO PRÓPRIO de B (alguns autores usam a notação A B para este caso).

Propriedades da inclusão

1) φ ⊂ A qualquer que seja o conjunto A ;


2) A ⊂ A qualquer que seja o conjunto A ;
3) A ⊂ B e B ⊂ A ⇔ A = B ;
4) A ⊂ B e B ⊂ C ⇒ A ⊂ C .

Conjunto das partes de um conjunto

Dado um conjunto X, indica-se por P(X) o conjunto cujos elementos são os subconjuntos
de X. P(X) é chamado o CONJUNTO DAS PARTES de X.
Afirmar que A ∈ P(X) é o mesmo que dizer que A ⊂ X . P(X) = { A ; A ⊂ X } .
P(X) nunca é vazio, pois φ ∈ P(X) e X ∈ P(X) (propriedades 1 e 2 acima).
Exemplos:
Se X = { 4, F,  }, temos:
P(X) = { φ , {4} , {F} , {} , {4, F} , {4, } , {F, } , {4, F, } = X } .
P( φ ) = { φ } .
Q ∈ P(IR) , pois Q ⊂ IR .
8 CAPÍTULO 1

1.3 Álgebra dos conjuntos

Obs.: Às vezes, é útil a representação de um conjunto por um recinto plano delimitado
por uma linha fechada e não entrelaçada qualquer. Tal representação recebe o nome de DI-
AGRAMA DE VENN. Num Diagrama de Venn, os elementos do conjunto são representados
por pontos internos ao recinto e elementos que não pertencem ao conjunto são representados
por pontos externos ao mesmo recinto. Por exemplo, sejam A = { 2, 3 } , B = { 1, 2, 3, 4 } e
U = {0, 1, 2, 3, 4, 5} :

Figura 1.9: Diagrama de Venn

Reunião ou união de conjuntos

A REUNIÃO de dois conjuntos A e B, denotada por A ∪ B, é o conjunto

A ∪ B = { x ; x ∈ A ou x ∈ B }

Figura 1.10: União A ∪ B

Convém observar que a palavra ou empregada na propriedade que define A ∪ B não tem
sentido exclusivo, ou seja, pode acontecer que um elemento x ∈ A ∪ B pertença simultanea-
mente aos conjuntos A e B.
Conjuntos 9

Propriedades da reunião: (EXERCÍCIO)


Sejam A, B e C conjuntos quaisquer num universo U . Temos:
1) A ⊂ A ∪ B e B ⊂ A ∪ B ;
2) A ⊂ B ⇔ A ∪ B = B ;
3) A ⊂ C e B ⊂ C ⇔ (A ∪ B) ⊂ C ;
4) A ⊂ B ⇒ (A ∪ C) ⊂ (B ∪ C) ;
5) A ∪ A = A (idempotente);
6) A ∪ B = B ∪ A (comutativa);
7) A ∪ (B ∪ C) = (A ∪ B) ∪ C (associativa);
8) A ∪ φ = A ( φ é elemento neutro);
9) A ∪ U = U (U é elemento absorvente);

Interseção de conjuntos

A INTERSEÇÃO de dois conjuntos A e B, denotada por A ∩ B, é o conjunto

A∩B = {x; x∈A e x∈B}

Figura 1.11: Interseção A ∩ B

Se A ∩ B = φ então dizemos que A e B são conjuntos DISJUNTOS.


10 CAPÍTULO 1

Propriedades da interseção: (EXERCÍCIO)


Sejam A, B e C conjuntos quaisquer num universo U . Temos:
1) A ∩ B ⊂ A e A ∩ B ⊂ B ;
2) A ⊂ B ⇔ A ∩ B = A ;
3) C ⊂ A e C ⊂ B ⇔ C ⊂ (A ∩ B) ;
4) A ⊂ B ⇒ (A ∩ C) ⊂ (B ∩ C) ;
5) A ∩ A = A (idempotente);
6) A ∩ B = B ∩ A (comutativa);
7) A ∩ (B ∩ C) = (A ∩ B) ∩ C (associativa);
8) A ∩ φ = φ ( φ é elemento absorvente);
9) A ∩ U = A (U é elemento neutro);
10) A ∪ (B ∩ C) = (A ∪ B) ∩ (A ∪ C) (distributiva);
11) A ∩ (B ∪ C) = (A ∩ B) ∪ (A ∩ C) (distributiva);

Diferença de conjuntos - Complementar

A DIFERENÇA entre os conjuntos A e B, nessa ordem, é o conjunto A\B formado pelos


elementos de A que não pertencem a B:

A\B = { x ; x ∈ A e x ∈
/ B}

Figura 1.12: Diferença A\B


Conjuntos 11

Obs.: Muitos autores usam a notação A − B para a diferença entre A e B. Vamos evitar
essa notação, pois ela pode causar confusão com OUTRO TIPO de diferença de conjuntos
(muito presente quando trabalhamos com conjuntos numéricos ou espaços vetoriais), dada por
A−B ={a−b; a∈A e b∈B}.
Quando B ⊂ A , a diferença A\B chama-se COMPLEMENTAR de B em RELAÇÃO a
A e escreve-se também: A\B = CA B .
Em relação ao conjunto universo U , a diferença U \X chama-se simplesmente COMPLE-
MENTAR de X e indica-se também por CX. Assim x ∈ CX ⇔ x ∈ /X.

Propriedades da diferença e do complementar: (EXERCÍCIO)


Sejam A, B e C conjuntos quaisquer num universo U . Temos:
1) A\B = A\(A ∩ B) ;
2) C φ = U e CU = φ ;
3) C(CA) = A ;
4) A = φ ⇔ CA = U ;
5) A ⊂ B ⇔ CB ⊂ CA ;
6) A\B = A ∩ CB ;
7) A ∩ CA = φ e A ∪ CA = U ;
8) A ∩ (B\C) = (A ∩ B)\(A ∩ C) ;
9) C(A ∪ B) = CA ∩ CB ;
10) C(A ∩ B) = CA ∪ CB .

1.4 Exercı́cios

1. Sejam A = { x ∈ Z ; x é múltiplo de 2 } , B = { x ∈ Z ; x é múltiplo de 3 } ,


C = { x ∈ Z ; −3 ≤ x < 5 } e D = { x ∈ Z ; x < 1 } .
Obtenha A ∩ B , C\D , D\C , CD , C ∪ D e C ∩ D .

2. Seja A = { { φ } , φ } . Verifique quais das seguintes sentenças são verdadeiras ou falsas:


(a) { { φ } } ∈ A (b) φ ∈ A (c) { φ } ∈ A
(d) { { φ } } ⊂ A (e) φ ⊂ A (f) { φ } ⊂ A
12 CAPÍTULO 1

3. Mostre que
(a) Os conjuntos A ∩ B e A\B são disjuntos.
(b) A ∪ (A ∩ B) = A
(c) A = (A ∩ B) ∪ (A\B)
(d) A\(B ∪ C) = (A\B) ∩ (A\C)
(e) A\(B ∩ C) = (A\B) ∪ (A\C)

4. Sejam A , B e C conjuntos quaisquer num universo U . Demonstre as afirmativas ver-


dadeiras e dê contra-exemplos para as falsas:
(a) A\B = B\A (b) A\(B\C) = (A\B)\C
(c) A\(B\A) = A (d) A\(B\C) = (A\B) ∪ (A ∩ C)
(e) A\(B\C) = A\(B ∪ C) (f) C(A\B) = CA ∩ B
(g) (A\C) ∩ (B\C) = (A ∩ B)\C (h) A ∪ B = A ∪ C ⇒ B = C
(i) (A\B) ∩ C = (A ∩ C)\(B ∩ C) (j) A ∪ (B\C) = (A ∪ B)\(A ∪ C)

5. Seja E = {4} . Determine P(P(E)) .

6. Determine P(P(P( φ ))) .

7. Prove que A ⊂ B ⇔ P(A) ⊂ P(B)

8. Dados os conjuntos A e B, seja X um conjunto com as seguintes propriedades:


(i) X ⊃ A e X ⊃ B (ii) Se Y ⊃ A e Y ⊃ B então Y ⊃ X
Prove que X = A ∪ B

9. Sejam A , B ⊂ U (universo). Prove que:


(a) A ∩ B = φ ⇔ A ⊂ CB
(b) A ∪ B = U ⇔ CA ⊂ B
(c) A ⊂ B ⇔ A ∩ CB = φ

10. Mostre que (A ∪ B) ∩ C ⊂ A ∪ (B ∩ C) e exiba um contra-exemplo para mostrar que


não vale a inclusão no outro sentido.

11. Se A , X ⊂ U (universo) são tais que A ∩ X = φ e A ∪ X = U , então X = CA .

12. Prove que A = B se, e somente se, (A ∩ CB) ∪ (CA ∩ B) = φ


Conjuntos 13

13. Chama-se DIFERENÇA SIMÉTRICA dos conjuntos A e B e indica-se por A∆B ao


conjunto de todos os elementos que pertencem a um e somente um dos conjuntos A ou B, ou
seja, A∆B = (A\B) ∪ (B\A) . Mostre que:
(a) A∆B = (A ∪ B)\(A ∩ B) (b) A∆ φ = A (c) A∆U = CA
(d) A∆CA = U (e) A∆A = φ (f) A∆B = B∆A
(g) C(A∆B) = (A ∩ B) ∪ (CA ∩ CB)

14. Dados A = { 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 } , B = { 2, 4, 6, 8, 10, 12 } e C = {3, 6, 9, 12 } , obtenha


A∆B , A∆C , B∆C , A∆(B∆C) , (A ∪ B)∆(A ∪ C) e (A ∩ B)∆C .

15. Mostre que:


(a) Se A ⊂ B então B ∩ (A ∪ C) = (B ∩ C) ∪ A para todo conjunto C .
(b) Se existir um conjunto C tal que B ∩ (A ∪ C) = (B ∩ C) ∪ A , então A ⊂ B .

16. Sejam A um conjunto com m elementos, B um conjunto com n elementos e suponha que
A ∩ B tenha p elementos. quantos elementos têm A ∪ B , A\B e B\A ?

17. Os sócios dos clubes A e B perfazem o total de 140. Qual é o número de sócios de A, se
B tem 60 sócios e há 40 que pertencem aos dois clubes ?

18. Numa classe de 200 estudantes, 80 estudam Fı́sica, 90 Biologia, 55 Quı́mica, 32 Biologia
e Fı́sica, 23 Quı́mica e Fı́sica, 16 Biologia e Quı́mica e 8 estudam as três matérias. A relação
de matrı́culas está correta ?

19. Numa cidade há 1000 famı́lias: 470 assinam O Globo, 420 assinam o Jornal do Brasil, 315
assinam o Estado de Minas, 140 assinam O Estado de Minas e o Jornal do Brasil, 220 assinam
O Estado de Minas e O Globo, 110 assinam o Jornal do Brasil e O Globo e 75 assinam os três
jornais. Pergunta-se:
(a) Quantas famı́lias não assinam jornal algum ?
(b) Quantas famı́lias assinam exatamente um dos jornais ?
(c) Quantas famı́lias assinam exatamente dois jornais ?
14 CAPÍTULO 1
Capı́tulo 2

Relações

2.1 Relações Binárias

Pares ordenados, produtos cartesianos e relações

Definição 2.1. (Par ordenado) Dados dois elementos a e b, chama-se PAR ORDENADO um
terceiro elemento que se indica por (a, b) .
O elemento a chama-se o primeiro elemento (ou a primeira coordenada) do par orde-
nado (a, b) e o elemento b chama-se o segundo elemento (ou a segunda coordenada) do par
ordenado (a, b) .
Dois pares ordenados (a, b) e (c, d) são iguais se, e somente se, a = c e b = d .

Obs.: Não se deve confundir o par ordenado (a, b) com o conjunto {a, b}. De fato, como
dois conjuntos que possuem os mesmos elemento são iguais, temos {a, b} = {b, a} sejam quais
forem a e b. Por outro lado, se a 6= b temos (a, b) 6= (b, a) .

Definição 2.2. (Produto cartesiano) Dados dois conjuntos A e B, chama-se PRODUTO


CARTESIANO de A por B e denota-se por A × B ao conjunto formado por todos os pares
ordenados (a, b) cujo primeiro elemento pertence a A e cujo segundo elemento pertence a B:
A × B = { (a, b) ; a ∈ A e b ∈ B }

Exemplos:
(a) Se A = {1, 2, 3} e B = {4, F} , temos:
A × B = { (1, 4) , (1, F) , (2, 4) , (2, F) , (3, 4) , (3, F) } .

(b) IR × IR = { (x, y) ; x, y ∈ IR } = IR2 . Por exemplo: ( 3 , −7) , (8, π) , (0, 0) ∈ IR2 .
16 CAPÍTULO 2

Obs.: (i) Note que, em geral, temos A × B 6= B × A .


(ii) A × B = φ se, e somente se, (⇔) A = φ ou B = φ .

Algumas propriedades: (EXERCÍCIO)


1) A × (B ∪ C) = (A × B) ∪ (A × C)
(A ∪ B) × C = (A × C) ∪ (B × C)
2) A × (B ∩ C) = (A × B) ∩ (A × C)
(A ∩ B) × C = (A × C) ∩ (B × C)
3) A × (B\C) = (A × B)\(A × C)
(A\B) × C = (A × C)\(B × C)

Definição 2.3. (Relações binárias) Dados dois conjuntos A e B, chama-se RELAÇÃO BINÁRIA
ou simplesmente RELAÇÃO de A em B a todo subconjunto R do produto cartesiano A × B :

R é relação de A em B ⇔ R ⊂ A × B .

Os conjuntos A e B são denominados, respectivamente, conjunto de partida e conjunto


de chegada da relação R.
Para indicar que (a, b) ∈ R , escrevemos a R b e lemos “a erre b” ou “a relaciona-se
com b segundo R” . Se (a, b) ∈ / R escrevemos a 6R b e lemos “a não erre b” ou “a não se
relaciona com b segundo R” .

Exemplos:
(a) Se A = {1, 2, 3} e B = {4, F} , temos:

A × B = { (1, 4) , (1, F) , (2, 4) , (2, F) , (3, 4) , (3, F) } .

R1 = φ , R2 = { (2, F) } , R3 = { (1, 4) , (2, 4) , (1, F) } são relações de A em B.

(b) R = { (p, q) ∈ Z × Z ; p.q = 0 } é uma relação de Z em Z .

(c) S = { (p, q) ∈ Z × Z ; p − q é múltiplo (inteiro) de 3 } é uma relação de Z em Z .

(d) Consideremos IR2 = IR × IR .


R1 = (x, y) ∈ IR2 ; y ≥ 0 é uma relação de IR em IR .


R2 = (x, y) ∈ IR2 ; y = 2x é uma relação de IR em IR .




R3 = (x, y) ∈ IR2 ; x ≤ y

é uma relação de IR em IR .
Relações 17

(e) Seja C uma coleção de subconjuntos de um conjunto X, ou seja, C ⊂ P(X) .


A INCLUSÃO de conjuntos representa uma relação R⊂ de C em C :

R⊂ = { (A, B) ∈ C × C ; A ⊂ B } ,

ou seja, dados A, B ∈ C , temos: A R⊂ B ⇔ A ⊂ B .


(f) Seja R a coleção de todas as retas de um plano α . Dadas duas retas r, s ∈ R ,
diremos que r e s são PARALELAS e escreveremos r6 6 s quando r e s são coincidentes (r = s)
ou r ∩ s = φ . Definimos então a relação de paralelismo, de R em R :

R6 6 = { (r, s) ∈ R × R ; r6 6 s } .

Obs.: Se A = φ ou B = φ então A × B = φ e só existirá uma relação de A em B,


a saber R = φ . Por este motivo, de agora em diante, consideraremos sempre A e B
não-vazios.

Domı́nio e Imagem de uma relação

Seja R uma relação de A em B.


Chama-se o DOMÍNIO de R e denota-se por D (R) o subconjunto de A formado pelos
elementos x para os quais existe algum y em B tal que xR y:

D (R) = { x ∈ A ; ∃ y ∈ B com xR y } = { x ∈ A ; ∃ y ∈ B com (x, y) ∈ R } .

Chama-se o IMAGEM de R e denota-se por Im (R) o subconjunto de B formado pelos


elementos y para os quais existe algum x em A tal que xR y:

Im (R) = { y ∈ B ; ∃ x ∈ A com xR y } = { y ∈ B ; ∃ x ∈ A com (x, y) ∈ R } .

Em outros termos, D (R) é o subconjunto de A formado pelos primeiros termos dos pares
ordenados que constituem R e Im (R) é o subconjunto de B formado pelos segundos termos
dos pares ordenados de R.

Exemplos:
(a) Sejam R2 = { (2, F) } e R3 = { (1, 4) , (2, 4) , (1, F) } relações de A = {1, 2, 3} em
B = {4, F} . Temos: D (R2 ) = {2} , Im (R2 ) = {F} , D (R3 ) = {1, 2} e Im (R3 ) = B .

(b) Se R1 = (x, y) ∈ IR2 ; y ≥ 0 , então D (R1 ) = IR e Im (R1 ) = IR+ ∪{0} (conjunto




dos números reais não-negativos).


18 CAPÍTULO 2

Representação de uma relação

Gráfico Cartesiano: Quando os conjuntos de partida A e de chegada B de uma relação


R ⊂ A × B são ambos subconjuntos de IR , temos R ⊂ A × B ⊂ IR × IR = IR2 .
Nesse caso, o GRÁFICO da relação R é o conjunto dos pontos do plano cujas abscissas são
os primeiros termos e as ordenadas são os segundos termos dos pares ordenados que constituem
a relação:
Exemplos:
(a) R = { (x, y) ∈ Z × Z ; x2 + y 2 ≤ 3 }

Figura 2.1: Gráfico da relação R acima

(x, y) ∈ IR2 ; y ≥ 0

(b) R1 =

Figura 2.2: Gráfico da relação R1 acima


Relações 19

Esquema de flechas: Em certas situações, sobretudo quando A e B são conjuntos finitos


com “poucos” elementos, é comum representarmos uma relação R de A em B representando
A e B po meio de Diagramas de Venn e indicando cada par ordenado (x, y) ∈ R por uma
flecha com origem x e extremidade y:
Exemplo: R3 = { (1, 4) , (2, 4) , (1, F) } ⊂ A × B, com A = {1, 2, 3} e B = {4, F} :

Figura 2.3: Esquema de flechas representando a relação R3

Relação inversa

Seja R uma relação de A em B. Chama-se RELAÇÃO INVERSA de R, e denota-se por


−1
R , a seguinte relação de B em A:

R−1 = { (y, x) ∈ B × A ; (x, y) ∈ R } .

Exemplos:
(a) R3 = { (1, 4) , (2, 4) , (1, F) } ⊂ A × B, com A = {1, 2, 3} e B = {4, F}

R3−1 = { (4, 1) , (4, 2) , (F, 1) }

(x, y) ∈ IR2 ; y ≥ 0 ⊂ IR × IR = IR2



(b) R1 =

R1−1 = (y, x) ∈ IR2 ; y ≥ 0 = (x, y) ∈ IR2 ; x ≥ 0


 

−1
Obs.: Note que D (R−1 ) = Im (R) , Im (R−1 ) = D (R) e (R−1 ) =R.
20 CAPÍTULO 2

Propriedades das relações num conjunto A

Uma relação R sobre A, ou seja, de A em A, pode apresentar ou não as seguintes pro-


priedades fundamentais:

• Reflexiva: xR x , para todo (∀ ) x ∈ A .


Exemplo: A = {a, b, c} ; R = {(a, a), (b, b), (a, c), (c, c)} é reflexiva.
Contra-exemplo: A = {a, b, c} ; R = {(a, a), (b, b), (b, a)} não é reflexiva.
• Simétrica: xR y ⇒ yR x , para todos x, y ∈ A .
Exemplo: A = {a, b, c} ; R = {(a, a), (a, b), (b, a)} é simétrica.
Contra-exemplo: A = {a, b, c} ; R = {(b, b), (c, a)} não é simétrica.
• Anti-simétrica: xR y e yR x ⇒ x = y , para todos x, y ∈ A .
Exemplo: A = {a, b, c} ; R = {(a, a), (b, b), (a, c), (a, b)} é anti-simétrica.
Contra-exemplo: A = {a, b, c} ; R = {(a, a), (a, b), (b, a)} não é anti-simétrica.
• Transitiva: xR y e yR z ⇒ xR z , para todos x, y, z ∈ A .
Exemplo: A = {a, b, c} ; R = {(a, a), (a, b), (b, c), (a, c)} é transitiva.
Contra-exemplo: A = {a, b, c} ; R = {(b, b), (a, b), (b, c)} não é transitiva.

Exercı́cio: Para cada uma das relações (de um conjunto nele mesmo) vistas nos exemplos
até agora, verifique quais das propriedades acima essas relações possuem ou não.

2.2 Relações de equivalência

Definição e exemplos

Definição 2.4. Uma relação R sobre um conjunto não-vazio A é dita uma RELAÇÃO DE
EQUIVALÊNCIA sobre A quando R é reflexiva, simétrica e transitiva, ou seja, quando R
possui as seguintes propriedades:
(i) xR x , para todo x ∈ A (reflexiva)
(ii) xR y ⇒ yR x , para todos x, y ∈ A (simétrica)
(iii) xR y e yR z ⇒ xR z , para todos x, y, z ∈ A (transitiva)

Notação: Quando R é uma relação de equivalência sobre um conjunto A costumamos


representar (x, y) ∈ R (ou xR y ) por x ≡ y (mod R) ou x ≡ y (R) ou
x ∼ y (mod R) ou x ∼ y (R) , que se lê: “x é equivalente a y módulo R” ou “x é equivalente
a y segundo R” . A negação é análoga: x 6R y ⇔ x 6≡ y (mod R) .
Relações 21

Exemplos:
(a) R = { (a, a), (b, b), (a, c), (c, a), (c, c) } é relação de equivalência sobre A = {a, b, c} .
(b) A relação I de igualdade sobre IR, dada por I = (x, y) ∈ IR2 ; x = y é uma relação


de equivalência sobre IR .

Exercı́cio: Para cada uma das relações (de um conjunto nele mesmo) vistas nos exemplos
até agora, verifique (JUSTIFICANDO) quais são relações de equivalência.

Classes de equivalência e Conjunto Quociente

Seja R uma relação de equivalência sobre um conjunto A.


Dado a ∈ A , chama-se CLASSE DE EQUIVALÊNCIA determinada por a módulo R (ou
segundo R) e indica-se por ā o subconjunto de A formado por todos os elementos de A que
se relacionam com a segundo a relação R:
ā = { x ∈ A ; xR a } = { x ∈ A ; x ∼ a (mod R) } ⊂ A .

O conjunto de todas as classes de equivalência segundo R será indicado por A/R e


chamado o CONJUNTO QUOCIENTE de A por R:
A/R = { ā ; a ∈ A } ⊂ P(A) .

Exemplos:
(a) Na relação de equivalência R = { (a, a), (b, b), (a, c), (c, a), (c, c) } sobre A = {a, b, c}
temos: ā = {a, c} , b̄ = {b} , c̄ = {a, c} e A/R = { {a, c} , {b} } .
(b) Se I = (x, y) ∈ IR2 ; x = y , então ā = { x ∈ IR ; x = a } = {a} .


Logo IR/I = { {a} ; a ∈ IR } .


(c) Seja A = {a, b, c, d, e, f } o conjunto das retas na figura abaixo:

Figura 2.4:

Se R é a relação de paralelismo sobre o conjunto A, então A/R = { {a, b, e} , {c, d} , {f } } .


22 CAPÍTULO 2

Teorema 2.5. Sejam R uma relação de equivalência sobre um conjunto A e a, b ∈ A .


As seguintes proposições são equivalentes:
(1) aR b (2) a ∈ b̄ (3) b ∈ ā (4) ā = b̄ .

Demonstração:
(1) ⇒ (2) : Como aR b então a ∈ { x ∈ A ; xR b } = b̄ .
(2) ⇒ (3) : a ∈ b̄ ⇒ aR b ⇒ bR a ⇒ b ∈ ā .
(3) ⇒ (4) : Dado x ∈ ā, temos xR a . Como b ∈ ā temos bR a ⇒ aR b . Por
transitividade segue que xR b e assim x ∈ b̄ . Portanto ā ⊂ b̄ . Reciprocamente, dado
x ∈ b̄ temos xR b . Como b ∈ ā temos bR a e por transitividade segue que xR a . Assim
x ∈ ā e portanto b̄ ⊂ ā . Logo ā = b̄ .
(4) ⇒ (1) : Temos aR a ⇒ a ∈ ā = b̄ ⇒ aR b .

Obs.: O elemento a ∈ ā é chamado um REPRESENTANTE DA CLASSE ā .


Segue do Teorema acima que qualquer elemento de uma classe de equivalência é um repre-
sentante dessa classe (MOSTRE).

Partição de um conjunto:
Seja A um conjunto não-vazio. Dizemos que um conjunto P de subconjuntos não-vazios de
A é uma PARTIÇÃO de A quando:

(i) dois elementos de P ou são iguais ou são disjuntos E


(ii) a união dos elementos de P é igual a A.

Exemplos:
(a) P = { {1} , {2, 3} , {4} } é uma partição do conjunto A = {1, 2, 3, 4} .

(b) Se X = { x ∈ Z ; x é PAR } e Y = { x ∈ Z ; x é IMPAR } então P = {X, Y } é


partição de Z .

Os teoremas seguintes mostram que toda relação de equivalência sobre um conjunto A


determina uma partição de A e, reciprocamente, toda partição de A provém de alguma relação
de equivalência sobre A.
Relações 23

Teorema 2.6. Se R é uma relação de equivalência sobre um conjunto não-vazio A então A/R
é uma partição de A.

Demonstração:
Dado a ∈ A, temos aR a ⇒ a ∈ ā ⇒ ā 6= φ . Como A/R = { ā ; a ∈ A } , temos
que A/R é uma coleção de subconjuntos não-vazios de A . (1)
Consideremos agora ā e b̄ em A/R . Suponhamos que ā ∩ b̄ 6= φ . Então existe x ∈ A
tal que x ∈ (ā ∩ b̄) . Logo xR a e xR b ⇒ bR x . Por transitividade bR a e pelo Teorema
anterior ā = b̄ . Portanto ā e b̄ ou são iguais ou são disjuntos. (2)
[
Como ā ⊂ A ∀ a ∈ A, é claro que ā ⊂ A .
ā∈A/R
[ [
Dado x ∈ a temos xR x ⇒ x ∈ x̄ ⊂ ā . Logo A ⊂ ā .
ā∈A/R ā∈A/R
[
Portanto ā = A . (3)
ā∈A/R

De (1), (2) e (3), temos que A/R é uma partição de A .

Teorema 2.7. Se P é uma partição de um conjunto não-vazio A, então existe uma relação
de equivalência R sobre A de modo que P = A/R.

Demonstração:
Seja P ⊂ P(A) uma partição de A.
Definimos então uma relação R sobre A da seguinte maneira:

R = { (x, y) ∈ A × A ; ∃ C ∈ P com x ∈ C e y ∈ C } ⊂ A × A
[
Dado a ∈ A, como C = A então existe C ∈ P tal que a ∈ C e por isso aR a .
C∈P
Assim, acabamos de mostrar que R é reflexiva. (1)
Sejam a, b ∈ A tais que aR b . Então existe C ∈ P tal que a ∈ C e b ∈ C , ou seja,
b ∈ C e a ∈ C ∴ bR a e com isso mostramos que R é simétrica. (2)
Finalmente, sejam a, b, c ∈ A tais que aR b e bR c . Então existem C1 , C2 ∈ P tais
que a ∈ C1 , b ∈ C1 , b ∈ C2 e c ∈ C2 . Como P é partição e b ∈ C1 ∩ C2 então C1 = C2 .
Logo a ∈ C1 = C2 e c ∈ C2 ∴ aR c . Logo R é transitiva. (3)
Com (1), (2) e (3) temos que R é uma relação de equivalência sobre A.
24 CAPÍTULO 2

Resta mostrar que P = A/R :


C ∈ P ⇒ C 6= φ ⇒ ∃ a ∈ C ⇒ ā = { x ∈ A ; xR a } = C ⇒ C ∈ A/R . Logo
P ⊂ A/R .
ā ∈ A/R ⇒ ∃ C ∈ P tal que a ∈ C ⇒ ā = { x ∈ A ; xR a } = C ∈ P e assim
A/R ⊂ P .
Com isso, temos P = A/R , sendo R uma relação de equivalência sobre A.

2.3 Relações de ordem

Definições e exemplos

Definição 2.8. (Ordem parcial) Uma relação R sobre um conjunto não-vazio A é chamada
RELAÇÃO DE ORDEM PARCIAL ou simplesmente relação de ordem quando R é reflexiva,
anti-simétrica e transitiva, ou seja, quando R possui as seguintes propriedades:
(i) xR x , para todo x ∈ A (reflexiva)
(ii) xR y e yR x ⇒ x = y , para todos x, y ∈ A (anti-simétrica)
(iii) xR y e yR z ⇒ xR z , para todos x, y, z ∈ A (transitiva)
Quando R é uma relação de ordem parcial sobre A dizemos que A é um conjunto par-
cialmente ordenado pela ordem R e, para exprimirmos que (a, b) ∈ R usamos a notação
a ≤ b (R) e lemos “a precede b na relação R” .
Uma relação de ordem parcial R sobre um conjunto A é dita uma RELAÇÃO DE OR-
DEM TOTAL quando, dados dois elementos quaisquer de A, eles são comparáveis mediante
R, ou seja, a ≤ b (R) ou b ≤ a (R) para todos a, b ∈ A . Neste caso, dizemos que A é um
conjunto totalmente ordenado pela ordem R.

Exemplos:
(a) A relação de DIVISIBILIDADE D sobre IN, dada por x D y ⇔ x | y (x divide y) é
uma relação de ordem parcial sobre IN. D não é ordem total pois, por exemplo, 4 e 7 não
são comparáveis mediante D.
(b) R = { (a, a), (b, b), (c, c), (b, a), (a, c), (b, c) } é ordem total sobre A = {a, b, c} .

Exercı́cio: Para cada uma das relações (de um conjunto nele mesmo) vistas nos exemplos
até agora, verifique (JUSTIFICANDO) quais são relações de ordem parcial ou ordem total.
Relações 25

Definição 2.9. (Ordem estrita) Uma relação R sobre um conjunto não-vazio A é chamada
RELAÇÃO DE ORDEM ESTRITA quando R possui as seguintes propriedades:
(i) x 6R x , para todo x ∈ A (irreflexiva)
(ii) xR y e yR z ⇒ xR z , para todos x, y, z ∈ A (transitiva)
Quando R é uma relação de ordem estrita sobre A dizemos que A é um conjunto estrita-
mente ordenado pela ordem R.
Uma relação de ordem estrita R sobre um conjunto A é dita uma RELAÇÃO DE OR-
DEM ESTRITA TOTAL quando, dados dois elementos quaisquer de A, eles são comparáveis
mediante R, ou seja, ou a R b ou b R a para todos a 6= b em A . Neste caso, dizemos que
A é um conjunto estrita e totalmente ordenado pela ordem R.

Exemplos:
(a) A relação L sobre IR, dada por x L y ⇔ x < y é uma relação de ordem estrita total
sobre IR.
(b) R = { (a, b), (a, c) } é ordem estrita (não total) sobre A = {a, b, c} .

Exercı́cio: Prove que se R é uma relação de ordem estrita sobre um conjunto A então ela
possui a seguinte propriedade:

x R y ⇒ y 6R x , para todos x, y ∈ A (assimétrica) .

Elementos notáveis de um conjunto ordenado

Seja A um subconjunto não-vazio do conjunto E parcialmente ordenado pela relação “≤ ” .


(a) Cotas (ou limites) superiores/inferiores de A: Um elemento L ∈ E é uma COTA
SUPERIOR de A quando x ≤ L para todo x ∈ A , ou seja, qualquer elemento de A precede
L na relação de ordem.
Um elemento l ∈ E é uma COTA INFERIOR de A quando l ≤ x para todo x ∈ A , ou
seja, l precede qualquer elemento de A na relação de ordem.

(b) Máximo/Mı́nimo de A: Um elemento M ∈ A é um ELEMENTO MÁXIMO de A


quando x ≤ M para todo x ∈ A , ou seja, M é cota superior de A e pertence a A.
Um elemento m ∈ A é um ELEMENTO MÍNIMO de A quando m ≤ x para todo x ∈ A ,
ou seja, m é cota inferior de A e pertence a A.

(c) Supremo/Ínfimo de A: Chama-se SUPREMO de A o mı́nimo (caso exista) do con-


26 CAPÍTULO 2

junto das cotas superiores de A.


Chama-se ÍNFIMO de A o máximo (caso exista) do conjunto das cotas inferiores de A.

(d) Elementos maximais/minimais de A: Um elemento ma ∈ A é um ELEMENTO


MAXIMAL de A quando o único elemento de A precedido por ma é ele próprio, ou seja, se
x ∈ A é tal que ma ≤ x então x = ma .
Um elemento mi ∈ A é um ELEMENTO MNIMAL de A quando o único elemento de A
que precede mi é ele próprio, ou seja, se x ∈ A é tal que x ≤ mi então x = mi .

Exemplos:
(a) E = IR , A = (0, 1] e R3 = (x, y) ∈ IR2 ; x ≤ y .


Cotas superiores de A: { L ∈ IR ; L ≥ 1 } . Cotas inferiores de A: { l ∈ IR ; l ≤ 0 } .


Máximo de A: 1 . Mı́nimo de A: não existe.
Supremo de A: 1 . Ínfimo de A: 0 .
Elemento maximal: 1 . Elemento minimal: não existe.

(b) E = {1, 2, 3, 4, 6, 9, 12, 18, 36} , A = {2, 4, 6} e a ordem é a DIVISIBILIDADE, ou


seja, x R y ⇔ x | y .
Cotas superiores de A: 12, 36 . Cotas inferiores de A: 1, 2 .
Máximo de A: não existe. Mı́nimo de A: 2 .
Supremo de A: 12 . Ínfimo de A: 2 .
Elementos maximais: 4, 6 . Elemento minimal: 2 .

O Princı́pio da Boa-Ordenação e o Lema de Zorn

Seja E um conjunto ordenado pela relação de ordem parcial “ ≤ ” . Dizemos que E é BEM
ORDENADO por “ ≤ ” (ou que “ ≤ ” é uma boa ordem sobre E) quando todo subconjunto
não-vazio de E possui elemento mı́nimo.

Exemplos:
(a) O conjunto IN dos números naturais é bem-ordenado pela relação “menor ou igual”
R = { (x, y) ∈ IN × IN ; x ≤ y } .
Prova-se isto usando um dos Axiomas de Peano, que caracterizam os naturais e os quais
veremos mais à frente no curso.

(b) O conjunto IR dos números reais não é bem ordenado pela relação “menor ou igual”
R = { (x, y) ∈ IR × IR ; x ≤ y } pois, por exemplo, A = (0, 1] é um subconjunto não-vazio
Relações 27

de IR e não possui elemento mı́nimo.

Exercı́cio: Prove que todo conjunto bem ordenado é totalmente ordenado e apresente um
contra-exemplo para mostrar que nem todo conjunto totalmente ordenado é bem ordenado.

• Princı́pio da Boa-Ordenação (Zermelo): Todo conjunto pode ser bem ordenado


(ou seja, dado qualquer conjunto E, EXISTE uma boa ordem sobre E).

O Princı́pio da Boa-Ordenação é EQUIVALENTE a dois outros importantes axiomas, o


Axioma da Escolha (que envolve o conceito de função, o qual veremos no próximo capı́tulo)
e o Lema de Zorn, o qual enunciaremos a seguir:

Seja “ ≤ ” uma relação de ordem parcial sobre um conjunto não-vazio X. Dizemos que X
é Z-INDUTIVO (Zorn-indutivo) quando, para todo subconjunto Y ⊂ X , Y totalmente
ordenado por “ ≤ ” , tem-se que Y possui cota superior (existe a ∈ X tal que y ≤ a para
todo y ∈ Y ).

• Lema de Zorn: Todo conjunto ordenado e Z-indutivo admite elemento maximal.

O Lema de Zorn é uma “ferramenta de indução” com a qual provamos a existência de certos
elementos maximais que se mostram como objetos de destaque em várias áreas da Matemática.
Como exemplos, podemos citar que se utiliza o Lema de Zorn para provar a existência de bases
algébricas em espaços vetoriais (Álgebra Linear), bases geométricas em espaços com produto
interno (Álgebra Linear), para se provar o importante Teorema de Hahn-Banach (Análise
Funcional), etc.

2.4 Exercı́cios

1. Sejam A, B e C conjuntos quaisquer num universo U . Demonstre as afirmativas ver-


dadeiras e dê contra-exemplos para as falsas:
(a) A ∪ (B × C) = (A ∪ B) × (A ∪ C)
(b) (A × B) ∩ (C × D) = (A ∩ C) × (B ∩ D)
(c) (A × B) ∪ (C × D) = (A ∪ C) × (B ∪ D)
(d) Para C 6= φ , A ⊂ B ⇔ A × C ⊂ B × C

2. Sejam A = {0, 2, 4, 6, 8} e B = {1, 3, 5, 9} . Enumere os elementos e responda qual o


domı́nio, a imagem e a inversa de cada uma das seguintes relações de A em B:
(a) R1 = { (x, y) ∈ A × B ; y = x + 1 } (b) R2 = { (x, y) ∈ A × B ; x ≤ y }
28 CAPÍTULO 2

3. Seja R = { (0, 1), (1, 2), (2, 3), (3, 4) } relação sobre A = {0, 1, 2, 3, 4} . Obtenha o domı́nio
e a imagem de R, os elementos, o domı́nio e a imagem de R−1 e os gráficos de R e R−1 .

4. Sejam R uma relação de A em B e S uma relação de B em C. Definimos então a RELAÇÃO


COMPOSTA de S e R:

S ◦ R = { (x, z) ∈ A × C ; ∃ y ∈ B com (x, y) ∈ R e (y, z) ∈ S } .

Sejam A = {1, 2, 3} , B = {4, F, } , C = {3, 4, 6} , R = { (1, F), (2, F), (3, ) } ⊂


A × B e S = { (4, 3), (F, 3), (F, 4), (, 6) } ⊂ B × C .
Obtenha as relações S ◦ R , (S ◦ R)−1 , R−1 , S −1 e R−1 ◦ S −1 .

5. Um casal tem 5 filhos: Álvaro (a), Bruno (b), Cláudio (c), Dario (d) e Elizabete (e).
Enumerar os elementos da relação R definida no conjunto E = {a, b, c, d, e} por x R y ⇔
x é irmão de y . Que propriedades R apresenta ? Obs.: x é irmão de y quando x é homem,
x 6= y e x e y têm os mesmos pais.

6. Pode uma relação sobre um conjunto não-vazio A ser simétrica e anti-simétrica ? Pode
uma relação sobre A não ser simétrica nem anti-simétrica ? Justifique.

7. Provar que se uma relação R sobre um conjunto A é transitiva, então R−1 também o é.

8. Sejam R e S relações sobre um mesmo conjunto A. Provar que:


(a) R−1 ∩ S −1 = (R ∩ S)−1
(b) R−1 ∪ S −1 = (R ∪ S)−1
(c) R ∪ R−1 é simétrica.
(d) Se R e S são transitivas então R ∩ S é transitiva. E R ∪ S ?
(e) Se R e S são simétricas, então R ∩ S e R ∪ S são simétricas.

9. Sejam R uma relação de A em B e S uma relação de B em C. Mostrar que:


(a) (S ◦ R)−1 = R−1 ◦ S −1
(b) Se R é reflexiva sobre A então R ◦ R−1 e R−1 ◦ R são reflexivas.
(c) Se R é uma relação sobre A então R ◦ R−1 e R−1 ◦ R são simétricas.
(d) Se R e S são simétricas sobre A, então: S ◦ R é simétrica ⇔ S ◦ R = R ◦ S .

10. Mostrar que a relação R sobre IN × IN dada por (a, b) R (c, d) ⇔ a + b = c + d é uma
relação de equivalência.
Relações 29

11. Prove que as seguintes sentenças não definem relações de equivalência em IN .


(a) x R1 y ⇔ mdc(x, y) = 1
(b) x R2 y ⇔ x≤y
(c) x R3 y ⇔ x + y = 10

12. Para cada uma das relações dadas abaixo, faça:


• Responda se ela possui ou não cada uma das propriedades: reflexiva, irreflexiva, simétrica,
anti-simétrica, transitiva.
• Identifique (justificando) se ela é ou não é uma relação de equivalência, relação de ordem
(parcial ou estrita, total ou não).
• Para as relações de equivalência, identifique as classes de equivalência e o conjunto quo-
ciente.
• Para as relações de ordem destaque: o supremo (que não seja máximo) de algum subcon-
junto (diga qual); máximo/mı́nimo, elementos maximais/minimais do conjunto ordenado pela
relação.

(a) R1 é a relação sobre o conjunto A = {a, b, c, d, e, f } dada por


R1 = { (a, a), (b, b), (c, c), (a, c), (b, c), (d, d), (c, e), (d, e), (a, e), (b, e), (e, e), (f, f ), (d, f ) }
(b) C é a coleção de todas as retas de um plano α e R2 = { (r, s) ∈ C × C ; r ∩ s 6= φ }
(c) R3 = { (p, q) ∈ Z × Z ; p − q é múltiplo (inteiro) de 3 }
(d) R4 = { (p, q) ∈ Z × Z ; p divide q ( ou seja, q = k.p , k ∈ Z) }

13. Seja R uma relação de equivalência sobre um conjunto não-vazio A. Conclua que ā 6= φ
para todo a ∈ A .

14. (Congruências) Seja m ∈ IN . Dados x, y ∈ Z , dizemos que x é CONGRUENTE a y


MÓDULO m quando x−y é múltiplo de m, ou seja, quando existe k ∈ Z tal que x−y = k.m .
Notação: x ≡ y(mod m) .
Prove que a congruência módulo m sobre Z , ≡ (mod m) , é uma relação de equivalência.

15. O conjunto Z/ ≡ (mod m) , quociente de Z pela relação de equivalência ≡ (mod m) é


denotado por Zm e chamado CONJUNTO DAS CLASSES DE RESTOS MÓDULO m.
Obtenha Z5 e descreva cada uma de suas classes.

16. Mostre que a relação R sobre IN × IN dada por (a, b) R (c, d) ⇔ a + d = b + c é uma
relação de equivalência. Descreva suas classes de equivalência e identifique cada uma delas
com um número INTEIRO.
Dessa forma, o quociente (IN×IN)/R é naturalmente associado ao conjunto Z dos números
inteiros. Essa é uma forma de se construir o conjunto Z a partir de IN !!!
30 CAPÍTULO 2

17. Mostre que a relação S sobre Z × Z∗ dada por (a, b) S (c, d) ⇔ a.d = b.c é uma relação
de equivalência. Descreva suas classes de equivalência e identifique cada uma delas com um
número RACIONAL.
Dessa forma, o quociente (Z×Z∗ )/S é naturalmente associado ao conjunto Q dos números
racionais. Essa é uma forma de se construir o conjunto Q a partir de Z !!!

18. Dizer se cada um dos seguintes subconjuntos de IN é ou não é totalmente ordenado pela
relação de divisibilidade:
(a) {24, 2, 6} (b) {3, 15, 5} (c) {15, 5, 30} (d) IN

19. Seja R a relação sobre IR2 = IR × IR dada por (a, b) R (c, d) ⇔ a ≤ c e b ≤ d .


Mostre que R é uma relação de ordem parcial sobre IR2 .

20. Seja E = {2, 3, 5, 6, 10, 15, 30} ordenado pela ordem de DIVISIBILIDADE. Determinar
os elementos notáveis de A = {6, 10} .

21. Seja E = { {a} , {b} , {a, b, c} , {a, b, d} , {a, b, c, d} , {a, b, c, d, e} } ordenado pela or-
dem de INCLUSÃO. Determinar os elementos notáveis de A = { {a, b, c} , {a, b, d} , {a, b, c, d} } .

22. Em IN × IN define-se a seguinte relação de ordem parcial: (a, b) ≤ (c, d) ⇔ a | c e b ≤ d .


Determine os elementos notáveis de A = { (2, 1) , (1, 2) } .

23. Seja R a relação sobre IR2 dada por (a, b) R (c, d) ⇔ a < c ou a = c e b ≤ d .
Mostre que R é uma relação de ordem total sobre IR2 (denominada ORDEM LEXICOGRÁFICA).

24. Seja R a relação sobre Q dada por x R y ⇔ x − y ∈ Z .


Provar que R é uma relação de equivalência e descrever a classe 1̄ .

25. A = { x ∈ Q ; 0 ≤ x2 ≤ 2 } ⊂ Q , onde está definida a relação habitual de ordem ≤ .


Determinar os elementos notáveis de A.

26. Provar que se R é uma relação de equivalência sobre A, então R−1 também o é.

27. Provar que se R é uma relação de ordem sobre A, então R−1 também o é (chamada
ORDEM OPOSTA).

28. Mostrar que se R e S são relações de equivalência sobre A, então a relação R ∩ S também
é relação de equivalência sobre A.

29. Demonstrar que se a e b são elementos minimais de um conjunto totalmente ordenado A


então a = b.
Relações 31

30. Abaixo está o diagrama simplificado (onde estão omitidas as propriedades reflexiva e
transitiva) da relação de ordem R sobre E = {a, b, c, d, e, f, g, h, i, j} .
Determinar os elementos notáveis de A = {d, e} .

Figura 2.5:

31. Seja A um subconjunto não-vazio do conjunto E parcialmente ordenado pela relação “≤ ” .


Mostre que se A possui elemento máximo (mı́nimo), então ele é único. Conclua que o ı́nfimo
(supremo) de A, se existir, também é único.

32. Consideremos a relação habitual de ordem ≤ sobre o conjunto IR dos números reais e o
seguinte axioma:
Axioma do sup: Se A ⊂ IR é não-vazio e possui cota superior (existe c ∈ IR tal que
a ≤ c para todo a ∈ A ) então A possui supremo em IR .
Prove que se A ⊂ IR é não-vazio e possui cota inferior (existe c ∈ IR tal que c ≤ a para
todo a ∈ A ) então A possui ı́nfimo em IR (Axioma do inf).
(Sugestão: use que a ≤ b ⇔ −b ≤ −a e o Axioma do sup no conjunto −A = { −a ; a ∈ A } )
32 CAPÍTULO 2
Capı́tulo 3

Funções

3.1 Conceitos básicos e exemplos

A definição de função

Definição 3.1. Sejam A e B conjuntos não-vazios e f uma relação de A em B.


Dizemos que f é uma FUNÇÃO (ou APLICAÇÃO) de A em B quando para cada a ∈ A
existe um único elemento b ∈ B tal que (a, b) ∈ f .

Obs.:
1. Se f é uma função de A em B, escrevemos b = f (a) para indicar que (a, b) ∈ f e
lemos que “b é a imagem de a pela f ”.
2. Simbolicamente, escrevemos f : A → B para indicar que f é uma função de A em B.
3. O conjunto B é chamado o CONTRADOMÍNIO de f .
4. Se f : A → B e g : A → B são funções, temos:

f =g ⇔ f (x) = g(x) para todo x ∈ A

Exemplos e contra-exemplos
(a) Sejam A = {4, F, , } , B = {1, 2, 3, 4, 5} e as seguintes relações de A em B:
R1 = {(4, 2), (F, 3), ( , 4)} não é função de A em B, pois  6∈ D(R1 ) .
R2 = {(, 1), (4, 3), ( , 2), (F, 5)} é função de A em B.
R3 = {( , 2), (, 1), (4, 2), (F, 3), (, 5)} não é função de A em B, pois R3 1 e
R3 5 .
R4 = {(, 3), (4, 3), ( , 4), (F, 1)} é função de A em B.
34 CAPÍTULO 3

(b) Considere as seguintes relações de IR em IR:


R1 = (x, y) ∈ IR2 ; x2 = y 2 não é função de IR em IR, pois (1, −1) ∈ R1 e (1, 1) ∈ R1 .


R2 = (x, y) ∈ IR2 ; x2 + y 2 = 1

não é função de IR em IR, pois (0, −1) ∈ R2 e
(0, 1) ∈ R2 .
R3 = (x, y) ∈ IR2 ; y = x2 é função de IR em IR.


Imagem direta e imagem inversa

Seja f : A → B uma função de A em B.


Dado X ⊂ A , chama-se IMAGEM (DIRETA) de X segundo f e indica-se por f (X) o
seguinte subconjunto de B:
f (X) = { f (x) ; x ∈ X }

Dado Y ⊂ B , chama-se IMAGEM INVERSA de Y segundo f e indica-se por f −1 (Y ) o


seguinte subconjunto de A:

f −1 (Y ) = { x ∈ A ; f (x) ∈ Y }

Exemplos:
(a) A = {1, 3, 5, 7, 9} , B = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10} e f : A → B dada por

f (x) = x + 1 .

Temos: f ( {3, 5, 7} ) = {4, 6, 8} , f (A) = {2, 4, 6, 8, 10} , f ( φ ) = φ


f −1 ( {2, 4, 10} ) = {1, 3, 9} , f −1 (B) = A , f −1 ( φ ) = φ , f −1 ( {0, 1, 3} ) = φ

(b) Se f : IR → IR é dada por f (x) = x2 , temos:


f ( {1, 2, 3} ) = {1, 4, 9} , f ( [0, 2) ) = [0, 4) , f ( (−1, 3] ) = [0, 9]

f −1 ( {0, 2, 16} ) = 0, ± 2 , ±4 , f −1 ( [1, 9] ) = [−3, −1] ∪ [1, 3] , f −1 (IR− ) = φ .


(c) Se f : IR → IR é dada por f (x) = 0 se x ∈ Q e f (x) = 1 se x ∈ IR\Q , temos:


f (Q) = {0} , f (IR\Q) = {1} , f ( [0, 1] ) = {0, 1}
f −1 ( {0} ) = Q , f −1 ( [4, 5) ) = φ
Funções 35

Propriedades da imagem direta: (EXERCÍCIO)


Sejam f : A → B uma função e X, Y ⊂ A .
1) Se X ⊂ Y então f (X) ⊂ f (Y ) .
2) f (X ∪ Y ) = f (X) ∪ f (Y ) .
3) f (X ∩ Y ) ⊂ f (X) ∩ f (Y ) .
4) f (X\Y ) ⊃ f (X)\f (Y ) .

Propriedades da imagem inversa: (EXERCÍCIO)


Sejam f : A → B uma função e X, Y ⊂ B .
1) Se X ⊂ Y então f −1 (X) ⊂ f −1 (Y ) .
2) f −1 (X ∪ Y ) = f −1 (X) ∪ f −1 (Y ) .
3) f −1 (X ∩ Y ) = f −1 (X) ∩ f −1 (Y ) .
4) f −1 (X\Y ) = f −1 (X)\f −1 (Y ) .

Alguns tipos especiais de funções

1) Função Constante:
Sejam A e B dois conjuntos não-vazios e seja b um elemento qualquer de B. Chama-se
FUNÇÃO CONSTANTE de A em B, determinada pelo elemento b, a função f : A → B
definida por f (x) = b para todo x ∈ A .

Exemplos:
(a) A função f de A = {4, , F} em B = {a, b, c} dada por f = { (4, c), (, c), (F, c) }
é uma função constante de A em B (determinada pelo elemento c).
(b) A função g : IR → IR dada por g(x) = 1 para todo x ∈ IR é uma função constante.

2) Função Idêntica:
Seja A um conjunto não-vazio. Chama-se FUNÇÃO IDÊNTICA de A a função f : A → A
definida por f (x) = x para todo x ∈ A .
A função idêntica de A é também denominada IDENTIDADE de A e representada por
IdA : A → A ou iA : A → A .

Exemplos:
(a) A função idêntica de B = {a, b, c} é IdB = { (a, a), (b, b), (c, c) } .
(b) A função identidade de IR , dada por IdIR (x) = x para todo x ∈ IR , tem como gráfico
cartesiano a reta que contém a bissetriz do primeiro quadrante.
36 CAPÍTULO 3

3) Função de Inclusão:
Sejam A um conjunto não-vazio e X ⊂ A , X 6= φ . Chama-se FUNÇÃO DE INCLUSÃO
de X em A a função f : X → A definida por f (x) = x para todo x ∈ X .
Se X = A então a função de inclusão de X em A é a própria função idêntica de A.

Exemplo:
A função de inclusão de IN em IR é a função f = { (1, 1), (2, 2), (3, 3), (4, 4), . . . } .

4) Funções Monótonas:
Sejam A e B dois conjuntos não-vazios, parcialmente ordenados por relações de ordem
indicadas pelo mesmo sı́mbolo “≤” .
Vamos ainda escrever x < y para indicar que x ≤ y e x 6= y .
f : A → B é uma função CRESCENTE quando x ≤ y em A ⇒ f (x) ≤ f (y) em B.
f : A → B é uma função DECRESCENTE quando x ≤ y em A ⇒ f (y) ≤ f (x) em B.
Se f é crescente ou decrescente dizemos que f é MONÓTONA.
f : A → B é uma função ESTRITAMENTE CRESCENTE quando x < y em
A ⇒ f (x) < f (y) em B.
f : A → B é uma função ESTRITAMENTE DECRESCENTE quando x < y em
A ⇒ f (y) < f (x) em B.
Se f é estritamente crescente ou estritamente decrescente dizemos que f é ESTRITA-
MENTE MONÓTONA.

Exemplos:
(a) A função f : IR → IR definida por f (x) = 1 para todo x ∈ IR , onde IR está
ordenado pela relação “menor ou igual” , é uma função crescente, pois se x ≤ y em IR, então
f (x) = 1 ≤ 1 = f (y) (f é também decrescente!).
(b) A função g : IR → IR definida por g(x) = x para todo x ∈ IR , onde IR está ordenado
pela relação “menor ou igual” , é uma função estritamente crescente, pois se x < y em IR,
então g(x) = x < y = g(y) .
(c) A função f : IR → IR definida por f (x) = x2 para todo x ∈ IR , onde IR está ordenado
pela relação “menor ou igual” , não é crescente nem decrescente. De fato, temos −1 < 0
em IR com f (0) = 0 < 1 = f (1) e 0 < 2 em IR com f (0) = 0 < 4 = f (2) .
(d) A função g : P(A) → P(A) definida por g(X) = A\X para todo X ∈ P(A),
onde oconjunto P(A) das partes de A está ordenado pela relação de inclusão, é uma função
estritamente decrescente, pois se X ( Y em A, então g(Y ) = A\Y ( A\X = g(X) .
Funções 37

Restrição e extensão

Sejam f : A → B e X 6= φ em A. A aplicação f |X : X → B definida por


f |X (x) = f (x) para todo x ∈ X é chamada RESTRIÇÃO de f ao subconjunto X .

Sejam f : A → B e A0 ⊃ A . Toda aplicação g : A0 → B tal que g(x) = f (x) para


todo x ∈ A , ou seja, tal que g |A = f , é chamada uma EXTENSÃO de f ao conjunto A0 .

Exemplos:

(a) Seja f : IR∗ → IR definida por f (x) = 1/x para todo x ∈ IR∗ .
Se X = {2, 4, 6, . . .} , então f |X = {(2, 1/2), (4, 1/4), (6, 1/6), . . .} é a restrição de f ao
conjunto dos inteiros pares maiores que 0.
A função g : IR → IR dada por g(0) = 0 e g(x) = 1/x para todo x ∈ IR∗ é uma extensão
de f ao conjunto IR .

(b) Sejam C = { x + iy ; x, y ∈ IR } o conjunto dos números complexos ( C ⊃ IR : x ∈ IR ⇒


x = x + i.0 ).
p
Seja f : C → IR+ ∪ {0} definida por f (x + iy) = x2 + y 2 .
Seja g : IR → IR+ ∪ {0} dada por g(x) = |x| .
Neste caso g = f |IR pois, dado x ∈ IR, temos:
√ √
f (x) = f (x + i.0) = x2 + 02 = x2 = |x| = g(x) .

3.2 Funções invertı́veis: injetoras e sobrejetoras

Funções invertı́veis

Definição 3.2. Seja f : A → B uma função. f é, em particular, uma relação de A em B e


como tal possui uma relação inversa f −1 = { (y, x) ∈ B × A ; (x, y) ∈ f } ⊂ B × A .
A relação f −1 pode ser ou não ser uma função !
A função f é dita INVERTÍVEL quando sua relação inversa f −1 é também uma função
(de B em A, é claro). Neste caso f −1 : B → A é chamada a FUNÇÃO INVERSA de f .

Vamos agora investigar, através de exemplos, condições para que uma função f : A → B
seja invertı́vel.
38 CAPÍTULO 3

Exemplo 1) Sejam A = {1, 2, 3, 4, 5} , B = {4, F, , } e f1 : A → B dada por

f1 = { (1, 4), (2, F), (3, ), (4, 4), (5, ) }

Figura 3.1:

f1 não é invertı́vel, ou seja, sua relação inversa f1−1 não é uma função, pois 4 se
relaciona com 1 e 4 segundo f1−1 . Observemos que este “problema” ocorreu porque dois
elementos distintos de A têm a mesma imagem pela função f1 : f1 (1) = 4 = f1 (4) .
Não é difı́cil generalizar: Dada uma função f : A → B , se dois elementos distintos de A
têm a mesma imagem pela função f , então f não é invertı́vel.
Desta forma conseguimos obter uma condição necessária para que uma função f : A → B
seja invertı́vel:

Condição 1: Para que uma função f : A → B seja invertı́vel é necessário que


elementos distintos de A tenham sempre imagens distintas pela função f :

x1 6= x2 em A ⇒ f (x1 ) 6= f (x2 )
Funções 39

Exemplo 2) Sejam A = {a, b, c} , B = {4, F, , } e f2 : A → B dada por

f2 = { (a, 4), (b, ), (c, ) }

Figura 3.2:

f2 não é invertı́vel, ou seja, sua relação inversa f2−1 não é uma função, pois F não
se relaciona com nenhum elemento de A segundo f2−1 . Observemos que este “problema”
ocorreu porque F não é a imagem de nenhum elemento de A pela função f2 .
Novamente, não é difı́cil generalizar: Dada uma função f : A → B , se algum elemento de
B não é a imagem de nenhum elemento de A pela função f , então f não é invertı́vel.
Assim, obtemos mais uma condição necessária para que uma função f : A → B seja
invertı́vel:

Condição 2: Para que uma função f : A → B seja invertı́vel é necessário que


cada elemento de B pertença à imagem de A pela função f :

y ∈ B ⇒ Existe x ∈ A tal que f (x) = y


40 CAPÍTULO 3

Funções injetoras, sobrejetoras, bijetoras

As Condições 1 e 2 obtidas nos exemplos anteriores estão profundamente associadas à ca-


pacidade de uma dada função ser ou não ser invertı́vel. Além de condições necessárias (como
vimos) elas são, JUNTAS, condições suficientes para que uma dada função seja invertı́vel,
conforme veremos à frente. Por este motivo, funções que satisfazem a estas condições recebem
denominações especiais:

• Uma função f : A → B é dita INJETORA (ou INJETIVA ou uma INJEÇÃO)


quando elementos distintos de A têm sempre imagens distintas pela f , ou seja, quando satisfaz
a “Condição 1”.
x1 6= x2 em A ⇒ f (x1 ) 6= f (x2 )

• Uma função f : A → B é dita SOBREJETORA (ou SOBREJETIVA ou uma


SOBREJEÇÃO) quando cada elemento de B pertence à imagem de A pela função f , ou seja,
quando satisfaz a “Condição 2”.

y ∈ B ⇒ Existe x ∈ A tal que f (x) = y

• Uma função f : A → B é dita BIJETORA (ou BIJETIVA ou uma BIJEÇÃO)


quando ela é injetora e sobrejetora, ou seja, quanda satisfaz as condições 1 e 2 anteriores
simultaneamente.

Exemplos:
(a) Sejam A = {1, 2, 3, 4, 5} , B = {4, F, , } e f1 : A → B dada por

f1 = { (1, 4), (2, F), (3, ), (4, 4), (5, ) }


f1 é sobrejetora, mas não é injetora.

(b) Sejam A = {a, b, c} , B = {4, F, , } e f2 : A → B dada por

f2 = { (a, 4), (b, ), (c, ) }


f2 é injetora, mas não é sobrejetora.

(c) Seja g : IR → IR dada por g(x) = x2 para todo x ∈ IR .


g não é injetora: −3 6= 3 em IR, mas g(−3) = 9 = g(3) .
g não é sobrejetora: −5 ∈
/ f (IR) .
Funções 41

(d) Seja h : IR → IR dada por h(x) = 3x + 1 para todo x ∈ IR .


h é injetora:
De fato, sejam x1 , x2 ∈ IR tais que h(x1 ) = h(x2 ) .
Temos: 3x1 + 1 = h(x1 ) = h(x2 ) = 3x2 + 1 ⇒ 3x1 = 3x2 ⇒ x1 = x2 .
h é sobrejetora:
y−1
De fato, dado y ∈ IR, tomemos x = ∈ IR .
3
 
y−1 y−1
Temos: h(x) = h( ) = 3. +1=y−1+1=y .
3 3
Como h é injetora e sobrejetora, então dizemos que h é uma função bijetora (ou que h é
uma bijeção) de IR em IR.

Exercı́cio: Seja f : A → B uma função. Mostre que:


(a) Dado Y ⊂ B , f (f −1 (Y )) ⊂ Y .
(b) f (f −1 (Y )) = Y para todo Y ⊂ B ⇔ f é sobrejetora.
(c) Dado X ⊂ A , f −1 (f (X)) ⊃ X .
(d) f −1 (f (X)) = X para todo X ⊂ A ⇔ f é injetora.
Finalmente, vamos agora caracterizar a invertibilidade de uma função:

Teorema 3.3. Uma função f : A → B é invertı́vel (ou seja, sua relação inversa f −1 : B → A
é também uma função) se, e somente se, f é bijetora.

Demonstração:
(⇒) f é injetora: Sejam x 6= y ∈ A . Suponhamos que f (x) = f (y) = b ∈ B . Temos:
(x, f (x)) ∈ f e (y, f (y)) ∈ f . Logo (f (x), x) ∈ f −1 e (f (y), y) ∈ f −1 , ou seja,
(b, x) ∈ f −1 e (b, y) ∈ f −1 com b ∈ B e x 6= y ∈ A (Contradição, pois f −1 é função).
Então, obrigatoriamente, f (x) 6= f (y) e f é injetora.
f é sobrejetora: Seja b ∈ B . Como f −1 : B → A é função, existe (um único) a ∈ A tal
que (b, a) ∈ f −1 , ou seja, (a, b) ∈ f , o que significa b = f (a) . Assim, f é sobrejetora.
Portanto f é bijetora (injetora e sobrejetora).

(⇐) Seja f : A → B uma função bijetora. Dado b ∈ B , existe a ∈ A tal que


f (a) = b ⇔ (a, b) ∈ f ⇔ (b, a) ∈ f −1 (pois f é sobrejetora).
Como f é injetora, esse a ∈ A tal que f (a) = b é único.
Assim, dado b ∈ B existe um único a ∈ A tal que (b, a) ∈ f −1 , ou seja, f −1 é uma
função. Portanto f é invertı́vel.
42 CAPÍTULO 3

Exemplo:
Já vimos que a função h : IR → IR dada por h(x) = 3x + 1 para todo x ∈ IR é
bijetora e portanto, pelo Teorema acima, temos que h é invertı́vel, ou seja, sua relação inversa
h−1 : IR → IR é também uma função e temos
 
−1
 2
 2
2 y−1
h = (y, x) ∈ IR ; (x, y) ∈ h = (y, x) ∈ IR ; y = 3x + 1 = (y, x) ∈ IR ; x = .
3
y−1
Assim, h−1 : IR → IR é dada por h−1 (y) = .
3

3.3 Composição de funções

Definição e exemplos

Sejam f : A → B e g : B → C duas funções.


(Observe que: CONTRADOMÍNIO DE f = B = DOMÍNIO DE g).
Dado a ∈ A existe um único b ∈ B tal que b = f (a) (pois f é função).
Como f (a) = b ∈ B e g é função de B em C, existe um único c ∈ C tal que
c = g(b) = g(f (a)) .
A relação R de A em C dada por

(a, c) ∈ R ⇔ c = g(f (a))

é a relação composta g ◦ f (ver Exercı́cio 4 da pág. 25) e não é difı́cil perceber que g ◦ f é
também uma função g ◦ f : A → C .

Definição 3.4. Sejam f : A → B e g : B → C duas funções.


A FUNÇÃO COMPOSTA g ◦ f : A → C (lê-se g composta com f ) é a função dada por

(g ◦ f )(x) = g(f (x)) ∀ x ∈ A .

Exemplos:
(a) Sejam A = {a, b, c} , B = {4, , } , C = {1, 2, 3} ,
f : A → B dada por f = {(a, ), (b, ), (c, )} e
g : B → C dada por g = {(4, 1), (, 1), ( , 3)} .
g ◦ f : A → C é dada por g ◦ f = {(a, 1), (b, 3), (c, 1)} .
Funções 43

(b) f : IR → IR dada por f (x) = 3x e g : IR → IR dada por g(x) = x2 .


g ◦ f : IR → IR é dada por (g ◦ f )(x) = g(f (x)) = g(3x) = 9x2 ∀ x ∈ IR .
f ◦ g : IR → IR é dada por (f ◦ g)(x) = f (g(x)) = f (x2 ) = 3x2 ∀ x ∈ IR .

Propriedades da composição de funções (EXERCÍCIO)

1) Sejam f : A → B e g : B → C funções. Então:


(a) Se X ⊂ A então (g ◦ f )(X) = g(f (X)) .
(b) Se Z ⊂ C então (g ◦ f )−1 (Z) = f −1 (g −1 (Z)) .

2) Se f : A → B é uma função qualquer, então f ◦ IdA = f = IdB ◦ f .

3) Quaisquer que sejam as funções f : A → B , g : B → C e h : C → D , tem-se:


h ◦ (g ◦ f ) = (h ◦ g) ◦ f (a composição de funções é associativa).

4) Se as funções f : A → B e g : B → C são sobrejetoras, então a função composta


g ◦ f : A → C também é sobrejetora.

5) Se as funções f : A → B e g : B → C são injetoras, então a função composta


g ◦ f : A → C também é injetora.

6) Se as funções f : A → B e g : B → C são bijetoras (invertı́veis), então a função


composta g ◦ f : A → C também é bijetora (invertı́vel) e (g ◦ f )−1 = f −1 ◦ g −1 .

7) Sejam f : A → B , g : B → C e g ◦ f : A → C . Então:
(a) Se g ◦ f é sobrejetora, então g é sobrejetora.
(b) Se g ◦ f é injetora, então f é injetora.

8) Se f : A → B é bijetora (invertı́vel) então f ◦ f −1 = IdB e f −1 ◦ f = IdA .

9) Se f : A → B e g : B → A são funções tais que g ◦ f = IdA e f ◦ g = IdB então f


e g são bijetoras (invertı́veis), g = f −1 e f = g −1 .
44 CAPÍTULO 3

3.4 Famı́lias indexadas de conjuntos e produtos carte-


sianos em geral

Famı́lias indexadas

Definição 3.5. Seja X um conjunto não-vazio. Uma FAMÍLIA INDEXADA de elementos


de X é uma função x : L → X , sendo L um conjunto não-vazio, chamado o conjunto dos
ı́ndices da famı́lia.
Para simplificar a notação, dado um ı́ndice λ ∈ L , representamos x(λ) por xλ e a
famı́lia x : L → X é representada por (xλ )λ∈L .

Exemplos:
(a) Sejam L = {1, 2} o conjunto de ı́ndices e X = {4, , , F} .
(xλ )λ∈L = (x1 , x2 ) = (4, F) é uma famı́lia indexada de elementos de X com ı́ndices em
L. Neste caso a função x : L → X é dada por x(1) = 4 e x(2) = F .

(b) Consideremos agora o conjunto de ı́ndices I = {1, 2, 3, 4, 5} e X = IR .



(xα )α∈I = (x1 , x2 , x3 , x4 , x5 ) = (−1, 2 , 0, 5, 1/3) é uma famı́lia indexada de números
reais com ı́ndices em I.

Obs.: Em geral, quando o conjunto de ı́ndices L é do tipo L = {1, 2, . . . , n} ⊂ IN , cada


famı́lia indexada (xλ )λ∈L de elementos de um conjunto X é chamada uma n-upla de elementos
de X e representada por (x1 , x2 , . . . , xn ) .

(c) Fixemos o conjunto de ı́ndices L = {1, 2, 3} × {1, 2} e consideremos X = Z .


Seja então (xλ )λ∈L a famı́lia indexada de números inteiros com ı́ndices em L dada por:
x(1, 1) = −3 , x(1, 2) = 0 , x(2, 1) = 5 , x(2, 2) = 4 , x(3, 1) = 0 e x(3, 2) = −1 .
Costumamos representar (xλ )λ∈L da seguinte forma:
 
−3 0
(xλ )λ∈L = 5 4 
 

0 −1

Obs.: Em geral, quando o conjunto de ı́ndices L é do tipo L = {1, 2, . . . , m }×{1, 2, . . . , n } ,


cada famı́lia indexada (xλ )λ∈L de elementos de um conjunto X é chamada uma m×n MATRIZ
Funções 45

de elementos de X e representada por


 
x11 x12 . . . x1n
 x21 x22 . . . x2n
 

 . .. .. 
 .
 . . .


xm1 xm2 . . . xmn

(d) Sejam agora IN = {1, 2, 3, . . .} o conjunto de ı́ndices, X = IR e x : IN → IR a função


1
dada por x(n) = ∀ n ∈ IN .
n
Então (xn )n∈IN é uma famı́lia de números reais com ı́ndices em IN e temos
 
1 1 1
(xn )n∈IN = (x1 , x2 , x3 , . . .) = 1, , , , . . .
2 3 4

Obs.: Em geral, quando o conjunto IN dos números naturais é o conjunto de ı́ndices, cada
famı́lia indexada (xn )n∈IN de elementos de um conjunto X é chamada uma SEQUÊNCIA de
elementos de X e representada por (x1 , x2 , . . . , xn ) .

(e) Sejam C a coleção das retas de um plano α (C será o conjunto de ı́ndices), P um


ponto do plano α, X = IR e x : C → IR a função dada por x(r) = distância de P a r.
Então (xr )r∈ C é uma famı́lia indexada de números reais com ı́ndices em C .

Famı́lias indexadas de conjuntos

Seja L 6= φ um conjunto de ı́ndices.


Se, em particular, X 6= φ é uma coleção cujos elementos são conjuntos, então uma
famı́lia indexada de elementos de X com ı́ndices em L é chamada uma FAMÍLIA INDEXADA
DE CONJUNTOS (com ı́ndices em L).

Exemplos:
(a) Sejam L = {1, 2, 3, 4, 5} o conjunto de ı́ndices, X = P(IN) 6= φ (coleção de conjuntos)
e X1 = φ , X2 = {1, 3, 5} , X3 = {1, 2, 3, 4, 5} , X4 = {2, 4, 6, 8, . . .} , X5 = IN ∈ X .
(X1 , X2 , X3 , X4 , X5 ) = (Xα )α∈L é uma 5-upla de conjuntos em X.
46 CAPÍTULO 3

 
1 1
(b) Para cada n ∈ IN , seja Xn = − , ⊂ IR .
n n
 
1 1
Por exemplo: X1 = (−1, 1) , X5 = − , , etc.
5 5

Neste caso, temos uma famı́lia indexada de conjuntos em X = P(IR) com ı́ndices em IN,
ou seja, temos uma sequência de conjuntos (de números reais).

Uniões e interseções de famı́lias indexadas de conjuntos:


Seja (Aλ )λ∈L uma famı́lia indexada de conjuntos. Definimos:
[ \
Aλ = { x ; ∃ λ ∈ L com x ∈ Aλ } e Aλ = { x ; x ∈ Aλ ∀ λ ∈ L } .
λ∈L λ∈L

Exemplos:
 
1
(a) Para cada n ∈ IN consideremos o conjunto An = , 1 + n ⊂ IR .
n
[
Temos: An = A1 ∪ A2 ∪ . . . ∪ An ∪ . . . = (0, +∞)
n∈IN
\
An = A1 ∩ A2 ∩ . . . ∩ An ∩ . . . = [1, 2]
n∈IN

(b) Para cada x ∈ IR consideremos o conjunto Ix = (x − 1, x + 1) ⊂ IR .


[ \
Temos: Ix = IR e Ix = φ
x∈IR x∈IR

Proposição 3.6. (Exercı́cio)


Seja (Aλ )λ∈L uma famı́lia indexada de conjuntos num universo U . Então:
[ \ \ [
C ( Aλ ) = CA λ e C ( A λ ) = CA λ .
λ∈L λ∈L λ∈L λ∈L

Proposição 3.7. (Exercı́cio)


Sejam f : A → B uma função, (Aλ )λ∈L uma famı́lia indexada de subconjuntos não-vazios
de A e (Bδ )δ∈M uma famı́lia indexada de subconjuntos não-vazios de B. Então:
[ [ \ \
(a) f ( Aλ ) = f (Aλ ) (b) f ( Aλ ) ⊂ f (Aλ )
λ∈L λ∈L λ∈L λ∈L

[ [ \ \
(c) f −1 ( Bδ ) = f −1 (Bδ ) (d) f −1 ( Bδ ) = f −1 (Bδ )
δ∈M δ∈M δ∈M δ∈M
Funções 47

Produtos cartesianos em geral

Definição 3.8. Seja (Aλ )λ∈L uma famı́lia indexada de conjuntos.


Y
Seu PRODUTO CARTESIANO, indicado por Aλ , é uma coleção particular de funções
[ λ∈L
de L em Aλ .
λ∈L
Y
O produto cartesiano Aλ é o conjunto de todas as famı́lias indexadas (aλ )λ∈L de
[ λ∈L
elementos de X = Aλ tais que aλ ∈ Aλ para todo λ ∈ L .
λ∈L

Observações:
[
1) No caso particular em que Aλ = A para todo λ ∈ L , temos Aλ = A e costumamos
Y λ∈L
escrever Aλ = AL (neste caso temos todas as funções de L em A).
λ∈L

2) Veremos logo no primeiro exemplo que a definição acima generaliza o conceito de produto
cartesiano de dois conjuntos, visto no inı́cio do capı́tulo anterior, sobre Relações.
Y
3) Quando existe um λ ∈ L tal que Aλ = φ então Aλ = φ .
λ∈L

Exemplos:

(a) Sejam L = {1, 2} e (Aλ )λ∈L a famı́lia indexada de conjuntos (A1 , A2 ) , com
A1 = {a, b} e A2 = {, 4, ∗} .
Y
O produto cartesiano Aλ = A1 × A2 é o conjunto de todas as famı́lias indexadas
λ∈L [
(aλ )λ∈L = (a1 , a2 ) de elementos de Aλ = A1 ∪ A2 = {a, b, , 4, ∗} tais que a1 ∈ {a, b} e
λ∈L
a2 ∈ {, 4, ∗} .
Y
Assim Aλ = A1 × A2 = {(a, ), (a, 4), (a, ∗), (b, ), (b, 4), (b, ∗)} , o que coincide com
λ∈L
o conceito anterior de produto cartesiano de dois conjuntos.

(b) Sejam L = {1, 2, 3, 4} e (Aλ )λ∈L , com A1 = IR , A2 = Q , A3 = Z , A4 = IN .


Y
O produto cartesiano Aλ = IR × Q × Z × IN é o conjunto de todas as famı́lias
λ∈L [
indexadas (aλ )λ∈L = (a1 , a2 , a3 , a4 ) de elementos de Aλ = IR ∪ Q ∪ Z ∪ IN = IR tais que
λ∈L
a1 ∈ IR, a2 ∈ Q, a3 ∈ Z e a4 ∈ IN .
48 CAPÍTULO 3

(c) Sejam IN o conjunto de ı́ndices e An = IR para todo n ∈ IN .


Y
O produto cartesiano An = A1 × A2 × . . . = IR × IR × . . . = IRIN é o conjunto de todas
n∈IN [
as famı́lias indexadas (an )n∈IN = (a1 , a2 , . . .) de elementos de An = IR ∪ IR ∪ . . . = IR
n∈IN
IN
tais que an ∈ IR para todo n ∈ IN , ou seja, IR é o conjunto de todas as funções de IN em
IR (ou todas as sequências de números reais).

(d) Sejam L = P(IR) o conjunto de ı́ndices e (Aλ )λ∈L = (AX )X⊂IR a famı́lia indexada
de conjuntos dada por:
AX = X se X ⊂ IR tem elemento máximo (ordem usual ≤) e
AX = { ∗ } se X ⊂ IR não possui elemento máximo.
Y Y
O produto cartesiano Aλ = AX é o conjunto de todas as famı́lias indexadas
λ∈L X⊂IR
[
(aX )X⊂IR de elementos de AX = IR ∪ { ∗ } tais que aX ∈ AX para todo ı́ndice X ⊂ IR .
X⊂IR

O Axioma da Escolha

Sejam S uma coleção de conjuntos não-vazios (não necessariamente disjuntos) e


[
C = { x ; x ∈ C para algum C ∈ S } . Uma FUNÇÃO ESCOLHA em S é uma função
C∈S [
c:S→ C que satisfaz c(C) ∈ C para todo C ∈ S .
C∈S

  √ √
Exemplo: Seja S = {a, b, c} , {, 4} , Z , − 2 , 2 .
[
A função c : S → C dada por
C∈S
n √ √ o √
c ({a, b, c}) = a , c ({, 4}) = 4 , c (Z) = −7 e c − 2, 2 = 2
é uma função escolha (bem definida) em S .

A questão é: quando S é uma coleção “muito grande” (veremos o que isso significa
no próximo capı́tulo) de conjuntos, SEMPRE existe (pelo menos) uma função escolha bem
definida em S ?
O Axioma da Escolha nos garante que sim:

• Axioma da Escolha: Seja S uma coleção de conjuntos não-vazios. Então existe


(pelo menos) uma função escolha em S .
Funções 49

Observações:
1) O Axioma da Escolha é EQUIVALENTE ao Princı́pio da Boa Ordenação e ao Lema de
Zorn (veja no fim do Capı́tulo 2 - Relações).

2) Nem sempre precisamos lançar mão do Axioma da Escolha para garantir a existência de
uma função escolha em uma coleção de conjuntos não vazios (veja o Exemplo acima), mesmo
em certos casos em que a coleção S é muito grande.
Por exemplo, seja S a coleção de todos os subconjuntos não-vazios de IN . A função
c : S → IN dada por c(X) = min X é uma função escolha muito bem definida em S .
Por este motivo, quando realmente utilizamos o Axioma da Escolha, é usual mencionarmos
tal utilização.

Exercı́cio: Obtenha uma utilização do Axioma da Escolha em produtos cartesianos em


geral.

3.5 Exercı́cios

1. Sejam A = {a, b, c, d} e B = {1, 2, 3, 4, 5} . Identifique quais das relações de A em B


dadas abaixo são funções de A em B:
(a) R1 = {(a, 1), (b, 4), (c, 5)} .
(b) R2 = {(a, 1), (b, 1), (c, 2), (d, 5)} .
(c) R3 = {(a, 2), (b, 1), (b, 3), (c, 3), (d, 4)} .
(d) R4 = {(a, 2), (b, 3), (c, 3), (d, 3)} .

2. Sejam A = {0, 1, 2, 3, 4, 5} e B = {6, 7, 8, 9, 10} . Seja f : A → B a função dada por


f (0) = 7, f (1) = 8, f (2) = 6, f (3) = 7, f (4) = 8, f (5) = 9 .
Obtenha: f ({0, 1}) , f ({0, 3}) , f ({1, 2, 5}) , f (A) , f −1 ({7, 8}) , f −1 ({9, 10}) .

3. Seja f : IR → IR dada por f (x) = |x| . Obtenha: f (1) , f (−3) , f (1 − 2 ) , f ([−1, 1]) ,
f ((−1, 2]) , f (IR) , f −1 ([−1, 3]) e f −1 (IR− ) .

4. Seja f : IR → IR dada por f (x) = sen x . Obtenha: f ([0, π/2]) , f ([−π/2, π/2]) , f (IR) ,
f −1 (1/2) , f −1 ([1/2, 1]) , f −1 ((−1, 2]) , f −1 (IR+ ) .

5. Sejam f : A → B uma função e X 6= φ um subconjunto de A. Se f é injetora


(sobrejetora), podemos garantir que a restrição f |X é também injetora (sobrejetora) ? Se
a resposta é sim, PROVE. Se a resposta é não, APRESENTE UM CONTRA-EXEMPLO.
Como fica este exercı́cio se, ao invés da restrição de f a X ⊂ A temos uma extensão de f a
A0 ⊃ A .
50 CAPÍTULO 3

6. Mostre que f : IR → IR dada por f : (x) = ax + b com a e b constantes reais e a 6= 0 é


uma bijeção e obtenha f −1 .

7. Para cada uma das funções dadas abaixo, identifique (provando) se a função dada é ou não
injetora e se ela é ou não sobrejetora. Obtenha ainda a função inversa daquelas que forem
invertı́veis:
(a) f : IR → IR dada por f (x) = x2 .
(b) g : IR → IR dada por g(x) = x3 .
(c) h : IR → IR dada por h(x) = sen x .
(d) r : IR → [−1, 1] dada por r(x) = sen x .
(e) s : [−π/2, π/2] → [−1, 1] dada por s(x) = sen x .
(f) a : IR → IR dada por a(x) = −5x + 2 .
(g) m : IR → IR+ ∪ {0} dada por m(x) = x + |x| .
(h) p : Z → IR+ dada por p(x) = 2x .

x
8. Prove que a função f : (−1, 1) → IR dada por f (x) = é bijetora e obtenha sua
1 − |x|
inversa.
9. Considere a aplicação f : Z × Z → Z × Z dada por f (x, y) = (2x + 3, 4y + 5) . Prove que
f é injetora. Verifique se f é bijetora.

10. Obtenha uma função f : IR → IR que seja injetora mas não sobrejetora. Obtenha uma
função g : IR → IR que seja sobrejetora mas não injetora.

11. Seja f : A → B uma função injetora. Prove existe uma função sobrejetora g : B → A .
(Obs.: Se existe uma função sobrejetora de B em A é possı́vel mostrar que existe uma função
injetora de A em B, mas para isso devemos usar o Axioma da Escolha !!!).

12. Sejam A = {1, 2, 3} , B = {4, 5, 6, 7} , C = {8, 9, 0} . Sejam f : A → B a


função dada por f (1) = 4 , f (2) = 5 , f (3) = 6 e g : B → C a função dada por
g(4) = 8 , g(5) = 8 , g(6) = 9 , g(7) = 0 Quais são os pares ordenados de g ◦ f ? A função
g ◦ f é injetora ? Ela é sobrejetora ? (Justifique).

13. Sejam f , g e h funções de IR em IR dadas por f (x) = x−1 , g(x) = x2 +2 e h(x) = x+1 .
Determinar f ◦ g , f ◦ h , g ◦ h , g ◦ f , h ◦ f , h ◦ g . Verifique ainda que (f ◦ g) ◦ h = f ◦ (g ◦ h) .

14. Dê exemplos de funções f, g : IR → IR tais que f ◦ g 6= g ◦ f .


Funções 51

 
1
15. Considere a seguinte famı́lia de subconjuntos de IR : (Ai )i∈IN , onde Ai = 0, 1 + .
[ \ i
Obtenha Ai e Ai .
i∈IN i∈IN


16. Seja f : IR → IR dada por f (x) = x2 se x ≤ 0 e f (x) = 3 x se x > 0 .
Obtenha f ([−1, 8]) , f (IR− ) , f −1 ({1, 16}) , f −1 ([−1, 16]) , f −1 (IR− ) .

17. Sejam f, g : IR → IR dadas por f (x) = x + 1 se x ≥ 0 , f (x) = −x + 1 se x < 0 e


g(x) = 3x − 2 para todo x ∈ IR . Determinar as compostas f ◦ g e g ◦ f .

18. Sejam f, g : IR → IR tais que f (x) = 2x + 7 e (f ◦ g)(x) = 4x2 − 2x + 3 . Obtenha g .

x+2
19. Seja f : IR∗ → IR\ {1} dada por f (x) = e seja g : IR\ {1} → IR∗ a função dada
x
2
por g(x) = . Obtenha f ◦ g e g ◦ f . O que se pode concluir ?
x−1

20. Sejam f, g : E → F e h : F → G . Se h é injetora e h ◦ f = h ◦ g , mostre que f = g .

21. Sejam f, g : IR → IR as bijeções dadas por f (x) = 3x − 2 e g(x) = 2x + 5 .


Verifique (mostrando as contas) que (g ◦ f )−1 = f −1 ◦ g −1 .

22. Seja f : IR2 → IR dada por f (x, y) = xy .


(a) f é injetora ? Justifique.
(b) f é sobrejetora ? Justifique.
(c) Obtenha f −1 ({0}) .
(d) Obtenha f ([0, 1] × [0, 1]) .
(e) Se A = (x, y) ∈ IR2 ; x = y , obtenha f (A) .


23. Mostre que se f : A → B é injetora então f (X ∩ Y ) = f (X) ∩ f (Y ) para quaisquer


conjuntos X e Y contidos em A.

24. Mostre que se f : A → B é injetora então f (X\Y ) = f (X)\f (Y ) para quaisquer


conjuntos X e Y contidos em A.

25. Mostre que f : A → B é injetora se, e somente se, f (A\X) = f (A)\f (X) para qualquer
conjuntos X contidos em A.
52 CAPÍTULO 3

26. Sejam L = IR o conjunto de ı́ndices e (Aλ )λ∈IR a famı́lia indexada de conjuntos dada
por: Aλ = {1, 2, 3, . . . , λ} se λ ∈ IN e Aλ = IN se λ 6∈ IN .
Y
Descreva o produto cartesiano Aλ (compare o produto cartesiano acima com a coleção
λ∈IR
de funções de IR em IN).
Dê exemplos de funções de IR em IN que estão e que não estão no produto cartesiano. Quais
funções constantes de IR em IN estão no produto cartesiano acima ? (Justifique)

27. Sejam L = IN o conjunto de ı́ndices e (An )n∈IN a famı́lia de intervalos da Reta Real
dada por: An = [−1/n, n] ⊂ IR para todo n ∈ IN .
Y
Quais das sequências dadas abaixo pertencem ao produto cartesiano An ? (Justifique)
n∈IN
(a) (xn ) = (1, 0, 1, 0, 0, 1, 0, 0, 0, 1, . . .) .
(b) (yn ) = (1, −1/2, 2, −1/3, 3, −1/4, 4, . . .) .
(c) (zn ) = (1, 0, 2, 0, 3, 0, 4, 0, . . .) .
(d) (hn ) = (1, 1/2, 1/3, 1/4, . . .)
 2 
n −n
(e) (wn ) = .
27 n∈IN

28. Estabeleça uma famı́lia de conjuntos tal que o conjunto de ı́ndices seja L = P(IN) e
descreva seu produto cartesiano.
Capı́tulo 4

Cardinalidade, conjuntos infinitos, etc.

4.1 Conjuntos de mesma cardinalidade

Definições e exemplos iniciais

Definição 4.1. Dizemos que dois conjuntos A e B TÊM A MESMA CARDINALIDADE, e


escrevemos card (A) = card (B) (ou então |A| = |B|), quando existe uma função bijetora
f : A → B ou então quando A = φ = B .

Exemplos:
(a) Os conjuntos S = {, 4, , F, ∗, ♦} e I6 = {1, 2, 3, 4, 5, 6} ⊂ IN têm a mesma
cardinalidade pois, por exemplo, f : S → I6 dada por f () = 1 , f (4) = 5 , f (F) = 2 ,
f (∗) = 3, f ( ) = 6, f (♦) = 4 é uma função bijetora de S em I6 .

(b) Os conjuntos IN dos números naturais e P = {2, 4, 6, 8, . . .} ⊂ IN têm a mesma


cardinalidade pois, por exemplo, g : IN → P dada por g(n) = 2n ∀ n ∈ IN é uma função
bijetora.
x
(c) A função f : (−1, 1) → IR dada por f (x) = é bijetora (exercı́cio).
1 − |x|
Portanto, o conjunto IR dos números reais e o intervalo (−1, 1) ⊂ IR têm a mesma
cardinalidade.

Observações:
(i) Dizer que os conjuntos A e B têm a mesma cardinalidade significa dizer que eles possuem
“a mesma quantidade” de elementos.
54 CAPÍTULO 4

(ii) A relação R num universo de conjuntos dada por A R B ⇔ card (A) = card (B) é
uma relação de equivalência (reflexiva, simétrica e transitiva).

Exercı́cios:
1) Mostre que card (Z) = card (IN) diretamente, exibindo uma bijeção entre Z e IN .
Mostre também que card (Z) = card (Z∗ ) .

2) Sejam a < b dois números reais e I = (a, b) = { x ∈ IR ; a < x < b } (intervalo aberto
de extremidades a e b).
Se I2 é o intervalo aberto I2 = (0, 2) , mostre que card (I) = card (I2 ) e conclua que o
conjunto IR dos números reais tem a mesma cardinalidade que qualquer de seus subintervalos
abertos com extremos em IR .

3) Mostre que se card (A) = card (B) então card (P(A)) = card (P(B)) .

4) Mostre que se card (A) = card (C) e card (B) = card (D) , com A∩B = φ = C ∩D ,
então card (A ∪ B) = card (C ∪ D) . Dê um contra-exemplo mostrando que o resultado não
vale quando os conjuntos não são disjuntos.

5) Mostre que se card (A) = card (C) e card (B) = card (D) , então card (A × B) =
card (C × D) . Conclua que card (Z × Z∗ ) = card (IN × IN) .

Ordem nas cardinalidades

Dados dois conjuntos A e B, escrevemos card (A) ≤ card (B) quando existe uma função
injetora f : A → B (equivalentemente, existe uma função sobrejetora g : B → A ) ou
quando A = φ . Nestes casos, dizemos que a cardinalidade de A É MENOR OU IGUAL à
cardinalidade de B.

Exemplos:
(a) Se A ⊂ B então card (A) ≤ card (B) .
De fato, se A ⊂ B então f : A → B dada por f (a) = a ∀ a ∈ A é uma função injetora
(mostre) e portanto card (A) ≤ card (B) .
Em particular: card (IN) ≤ card (Z) ≤ card (Q) ≤ card (IR) .

(b) Para todo conjunto A, temos: card (A) ≤ card (P(A)) .


De fato, g : A → P(A) dada por g(a) = {a} ∀ a ∈ A é injetora (mostre).
Em particular, card (IN) ≤ card (P(IN)) .
Cardinalidade, conjuntos infinitos, etc. 55

(c) Sejam A e B dois conjuntos quaisquer com B 6= φ . Então card (A) ≤ card (A × B) .
De fato, como B 6= φ , podemos então fixar b ∈ B e a função f : A → A × B dada por
f (a) = (a, b) ∀ a ∈ A é injetora.
Em particular, card (IN) ≤ card (IN × IN) .

(d) Seja f : IN × IN → IN dada por f (m, n) = 2m .3n .


O Teorema Fundamental da Aritmética (?) nos garante que f é injetora e portanto
card (IN × IN) ≤ card (IN) .

Observação:
A “relação” dada por card (A) R card (B) ⇔ card (A) ≤ card (B) funciona como uma
ordem parcial entre as cardinalidades. É fácil ver que ela é reflexiva e transitiva. Embora
bem intuitivo, o fato (de grande utilidade) de ela ser anti-simétrica não é tão simples de ser
demonstrado e constitui o ...

Teorema 4.2. (Teorema de Cantor-Schröder-Bernstein) Se existem uma função injetora


f : A → B (ou seja, card (A) ≤ card (B) ) e uma função sobrejetora g : A → B (ou seja,
card (B) ≤ card (A) ), então existe uma função bijetora h : A → B , ou seja, os conjuntos A
e B têm a mesma cardinalidade ( card (A) = card (B) ).

Demonstração:
Vamos considerar inicialmente o caso em que B ⊂ A :
Definamos A1 = A ; A2 = f (A1 ) ; A3 = f (A2 ) ; ... (e assim por diante).
E também: B1 = B ; B2 = f (B1 ) ; B3 = f (B2 ) ; ... (e assim por diante).
Não é difı́cil ver que: A1 ⊃ B1 ⊃ A2 ⊃ B2 ⊃ A3 ⊃ B3 ⊃ A4 ⊃ . . . .
Definamos então h : A → B pondo h(x) = f (x) se x ∈ An \Bn para algum n, e
h(x) = x caso contrário.
Afirmamos que h é bijetora e o resultado está provado para esse caso particular ( B ⊂ A ):
De fato, mostremos inicialmente que h é sobrejetora:
Dado x ∈ B , temos duas possibilidades:
1) x 6∈ An \Bn para todo n: neste caso h(x) = x e portanto x ∈ h(A) .
2) x ∈ An \Bn para algum n e neste caso n > 1 , pois x ∈ B = B1 . Assim x = f (y) ,
y ∈ An−1 , pois x ∈ An = f (An−1 ).
Afirmamos que y ∈ An−1 \Bn−1 pois, caso contrário, y ∈ Bn−1 ⇒ x = f (y) ∈ Bn =
f (Bn−1 ) , o que não ocorre.
56 CAPÍTULO 4

Como y ∈ An−1 \Bn−1 então h(y) = f (y) = x e assim x ∈ h(A) .


De qualquer modo (1 ou 2), temos que x ∈ h(A) para todo x ∈ B e portanto h : A → B
é sobrejetora.
Resta mostrarmos agora que h é injetora:
Sejam x e y em A tais que h(x) = h(y) .
Temos três possibilidades:
1) x ∈ An \Bn para algum n e y ∈ Am \Bm para algum m: neste caso temos f (x) =
h(x) = h(y) = f (y) e como f é injetora, segue que x = y .
2) x 6∈ An \Bn e y 6∈ An \Bn para todo n: neste caso temos x = h(x) = h(y) = y .
3) x ∈ An \Bn para algum n e y 6∈ An \Bn para todo n (SPG): neste caso temos
y = h(y) = h(x) = f (x) e como x ∈ An então y = f (x) ∈ f (An ) = An+1 . Se
y ∈ Bn+1 = f (Bn ) isso contraria a injetividade de f , pois já temos y = f (x) com x 6∈ Bn .
Então, obrigatoriamente, y 6∈ Bn+1 ⇒ y ∈ An+1 \Bn+1 , o que é uma absurdo, pois
y 6∈ An \Bn para todo n. Portanto essa terceira situação não pode ocorrer.
De qualquer modo (1 ou 2, uma vez que 3 não ocorre) podemos concluir que h(x) =
h(y) ⇒ x = y e com isso h : A → B é injetora.
Finalmente, vamos concluir a demonstração no caso geral (em que B não é necessariamente
subconjunto de A):
Sendo f : A → B injetora e g : A → B sobrejetora, existe ḡ : B → A injetora.
Então ḡ : B → ḡ(B) = C ⊂ A é bijeção.
Olhemos para ḡ ◦f : A → C . Como essa função é injetora (composta de funções injetoras)
e C ⊂ A , segue para a parte já demonstrada que existe uma bijeção h : A → C e portanto
ḡ −1 ◦ h : A → B é a bijeção que estávamos procurando !

Para ilustrar a utilidade do Teorema, dos exemplos C e D anteriores, podemos concluir (a


partir do Teorema) que card (IN × IN) = card (IN) sem precisar exibir uma bijeção entre os
conjuntos.

Exercı́cios:
1) Obtenha uma função sobrejetora (óbvia) f : Z × Z∗ → Q .
Conclua que card (Q) = card (IN) .
Cardinalidade, conjuntos infinitos, etc. 57

2) Seja f : (0, 1) → IR\Q (irracionais) a função dada por f (x) = x se x ∈ IR\Q e



f (x) = x + 2 se x ∈ Q .
f está bem definida ? Mostre que f é injetora e conclua que card (IR\Q) = card (IR) .

Para concluir esta parte, dados dois conjuntos A e B, escrevemos card (A) < card (B)
quando card (A) ≤ card (B) mas A e B não têm a mesma cardinalidade.
Neste caso, dizemos que a cardinalidade de A é ESTRITAMENTE MENOR do que a car-
dinalidade de B.

Exemplos:
(a) Fixado qualquer n ∈ IN , seja In = {1, 2, . . . , n } ⊂ IN .
Temos card (In ) < card (IN) .
De fato, já temos que card (In ) ≤ card (IN) , pois In ⊂ IN .
Dado n ∈ IN , seja f : In → IN uma função.
Tomemos k = f (1) + f (2) + . . . + f (n) ∈ IN .
Como k > f (i) para todo i = 1, . . . , n , é claro que f não é sobrejetora.
Assim, nenhuma função de In em IN pode ser bijetora e temos então card (In ) < card (IN) .

(b) Já vimos que card (A) ≤ card (P(A)) para todo conjunto A.
Agora veremos que card (A) < card (P(A)) para todo conjunto A.
De fato, o caso em que A = φ é imediato.
Sejam então A 6= φ e f : A → P(A) uma função.
Definamos Y = { x ∈ A ; x 6∈ f (x) } ∈ P(A) (Y ⊂ A) .
Suponhamos que exista a ∈ A tal que f (a) = Y . Temos então:
a ∈ Y ⇒ a 6∈ f (a) = Y (Contradição!)
a 6∈ Y = f (a) ⇒ a ∈ Y (Contradição!)
Então, obrigatoriamente, 6 ∃ a ∈ A tal que f (a) = Y e f não é sobrejetora (qualquer
que seja a função f : A → P(A)).
Portanto, podemos concluir que card (A) < card (P(A)) para todo conjunto A.
58 CAPÍTULO 4

4.2 Conjuntos finitos/infinitos

Definição e exemplos iniciais

A definição de conjunto finito envolve a idéia de contagem e, para isso, utilizamos o


conjunto IN = {1, 2, 3, . . .} dos números naturais.
O conjunto IN pode ser caracterizado pelos chamados AXIOMAS DE PEANO:
a.1) Existe uma função injetora s : IN → IN que associa a cada número n ∈ IN o seu
sucessor s(n) = n + 1 .
a.2) Existe um único número natural 1 ∈ IN que não é sucessor de nenhum outro.
a.3) Se um conjunto X ⊂ IN é tal que 1 ∈ X e s(X) ⊂ X (ou seja, se n ∈ X então
s(n) = n + 1 ∈ X ) então X = IN (Princı́pio da Indução).

Obs.: O Princı́pio da Indução é equivalente ao fato de IN ser bem ordenado (todo sub-
conjunto não-vazio de IN possui elemento mı́nimo) com a ordem usual ≤ (Exercı́cio).

Para definirmos conjuntos finitos consideremos, para cada número natural n ∈ IN , o


conjunto In = { 1, 2, 3, . . . , n } ⊂ IN .

Definição 4.3. Um conjunto A é um conjunto FINITO quando A = φ ou então existem


n ∈ IN e uma função bijetora f : In → A (equivalentemente, existe g : A → In bijetora).
Tal função bijetora f : In → A é chamada uma CONTAGEM dos elementos do conjunto
A, dizemos que A tem n elementos e, fazendo f (i) = ai para todo i = 1, 2, . . . , n , escrevemos
A = { a1 , a2 , . . . , an } .
Um conjunto que não é finito é dito INFINITO.

Exemplos:
(a) Para cada n ∈ IN o conjunto In = {1, 2 . . . , n} ⊂ IN é finito e tem n elementos
(imediato).

(b) O conjunto S = {, 4, , F, ∗, ♦} é finito e tem 6 elementos.


De fato, a função f : I6 → S dada por f (1) = , f (2) = , f (3) = ♦, f (4) = 4,
f (5) = ∗, f (6) = F é bijetora.
Cardinalidade, conjuntos infinitos, etc. 59

(c) O conjunto IN dos números naturais é infinito.


De fato, quando provamos que card (In ) < card (IN) para todo n ∈ IN , mostramos que
não pode haver nenhuma função sobrejetora de In em IN (para todo n ∈ IN ).
Portanto IN não é finito, isto é, IN é um conjunto infinito.

Alguns resultados

• Se A é finito e a ∈ A então A\ {a} é finito.


• Todo subconjunto de um conjunto finito é também finito.
• Se A e B são conjuntos tais que B é finito e card (A) ≤ card (B) (ou seja, existe
f : A → B injetora, ou existe g : B → A sobrejetora), então A é finito.
• Seja {A1 , A2 , . . . , An } uma famı́lia finita (o conjunto de ı́ndices é finito) de conjuntos.
Temos:
n
[
Ai = A1 ∪ A2 ∪ . . . ∪ An é um conjunto finito se, e só se, cada Ai é um conjunto finito.
i=1

n
Y
Ai = A1 × . . . × An é um conjunto finito se, e só se, cada Ai é um conjunto finito.
i=1

Exercı́cios:
1) Prove que Z , Q e IR são todos conjuntos infinitos.

2) Prove que o conjunto R = {2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, . . .} dos naturais primos é infinito.
(Sugestão: Procure a prova clássica de Euclides...)

3) Prove que se A é infinito então P(A) é infinito.

4) Se X é um conjunto infinito, mostre que card (IN) ≤ card (X) (este exercı́cio nos diz
que o conjunto IN dos números naturais é de certa forma o “menor dos conjuntos infinitos” )
(Sugestão: Tente definir “indutivamente” uma função injetora f : IN → X . Você con-
segue perceber o Axioma da Escolha por trás desta construção ?)

5) Dê contra-exemplos mostrando que é necessário que tenhamos famı́lias finitas de conjun-
tos para termos as conclusões do último resultado acima, sobre uniões e produtos cartesianos.
60 CAPÍTULO 4

4.3 Conjuntos enumeráveis/não-enumeráveis

Definição e exemplos iniciais

Definição 4.4. Um conjunto A é um conjunto ENUMERÁVEL quando A é finito ou então


existe uma função bijetora f : IN → A (equivalentemente, existe g : A → IN bijetora).
Tal função bijetora f : IN → A é chamada uma ENUMERAÇÃO dos elementos do
conjunto A e, fazendo f (n) = an para todo n ∈ IN , escrevemos A = { a1 , a2 , . . . , an , . . . } .
Um conjunto que não é enumerável é dito NÃO-ENUMERÁVEL.

Exemplos:
(a) IN é obviamente um conjunto (infinito) enumerável.

(b) Já vimos que card (IN) = card (Z) = card (Q) = card (IN × IN) .
Segue então que Z , Q , IN × IN são todos conjuntos enumeráveis.

(c) P(IN) é um conjunto não-enumerável.


De fato, já mostramos que card (A) < card (P(A)) para todo conjunto A, provando que
não existe nenhuma função sobrejetora de A em P(A).
Em particular, não existe bijeção de IN em P(IN) e portanto P(IN) é um conjunto não-
enumerável.

Alguns resultados

• Todo subconjunto de um conjunto enumerável é também enumerável.


• Se A e B são conjuntos tais que B é enumerável e card (A) ≤ card (B) (ou seja, existe
f : A → B injetora, ou existe g : B → A sobrejetora), então A é enumerável.
• Seja {Aλ }λ∈L uma famı́lia enumerável (o conjunto de ı́ndices é enumerável) de
conjuntos. Temos:
[
Aλ é um conjunto enumerável se, e só se, cada Aλ é um conjunto enumerável.
λ∈L

Exercı́cios:
1) Prove que se X é infinito então P(X) é não-enumerável.
Cardinalidade, conjuntos infinitos, etc. 61

2) Dê um contra-exemplo mostrando que é necessário que tenhamos famı́lias enumeráveis


de conjuntos para termos a conclusão do último resultado acima, sobre união de famı́lias
enumeráveis.
Y
3) Sejam A = {0, 1} e AIN = {0, 1}IN = {0, 1} a coleção de todas as sequências
n∈IN

formadas com os algaarismos 0 e 1 = coleção de todas as funções de IN em A = {0, 1} .


Prove que o conjunto AIN = {0, 1}IN é não-enumerável (este exercı́cio mostra que mesmo
produtos cartesianos enumeráveis de conjuntos finitos podem ser não-enumeráveis).

(Sugestão: Estabeleça uma bijeção entre P(IN) e AIN )

4) Mostre que a coleção Pf (IN) de todos os subconjuntos finitos de IN é enumerável.

4.4 Números cardinais

Definição e exemplos iniciais

Definição 4.5. Dado um conjunto A qualquer, representamos por card (A) (ou |A|) e
chamamos de CARDINALIDADE do conjunto A a “quantidade de elementos de A” .
As cardinalidades dos conjuntos são chamadas NÚMEROS CARDINAIS e a noção acima
é compatı́vel com a noção anterior de “possuir a mesma cardinalidade” , ou seja, se existe
uma função bijetora f : A → B então existe um número cardinal λ que representa tanto a
cardinalidade de A quanto a de B:

card (A) = λ = card (B)

Exemplos de números cardinais


(a) card ( φ ) = 0 : O número 0 (zero) é o número cardinal que representa a cardinalidade
do conjunto vazio φ .

(b) card (I1 ) = card ({1}) = 1 : O número 1 (um) é o número cardinal que representa a
cardinalidade do conjunto I1 e de todos os conjuntos finitos que têm 1 elemento, ou seja, todos
os conjuntos A tais que existe uma função bijetora f : I1 → A (escrevemos card (A) = 1 ).
card (I6 ) = card ({1, 2, 3, 4, 5, 6}) = 6 : O número 6 (seis) é o número cardinal que
representa a cardinalidade do conjunto I6 e de todos os conjuntos finitos que têm 6 elementos,
ou seja, todos os conjuntos A tais que existe uma função bijetora f : I6 → A (escrevemos
card (A) = 6 ).
62 CAPÍTULO 4

Por exemplo, se A = {, , 4, F, ∗, ♦} , temos card (A) = 6 .


Em geral, dado n ∈ IN , temos card (In ) = card ({1, 2, . . . , n}) = n
O número natural n é o número cardinal que representa a cardinalidade do conjunto In e
de todos conjuntos finitos que têm n elementos, ou seja, todos os conjuntos A tais que existe
uma bijeção f : In → A (escrevemos card (A) = n).

Obs.: O conjunto IN ∪ {0} é o conjunto dos números CARDINAIS chamados FINITOS,


pois representam as cardinalidades dos conjuntos finitos.

(c) card (IN) = w : Denotamos por w (omega) o número cardinal que representa a
cardinalidade do conjunto IN dos números naturais e de todos os conjuntos A tais que existe
uma função bijetora g : IN → A , ou seja, todos os conjuntos enumeráveis infinitos.
Por exemplo: card (Z) = w , card (Q) = w , card (IN × IN) = w .

(d) card (IR) = c : Denotamos por c o número cardinal que representa a cardinalidade do
conjunto IR dos números reais e de todos os conjuntos A tais que existe uma função bijetora
h : IR → A .
Por exemplo: Se I = (a, b) ⊂ IR , com a < b ∈ IR , temos card (I) = c .
card (IR\Q) = c (exercı́cio anterior).
Veremos futuramente que card (P(IN)) = card (IR) e portanto card (P(IN)) = c

Observações:

(i) O conjunto IR dos números reais é não-enumerável, ou seja, não existe função bijetora
g : IN → IR e temos assim que card (IN) < card (IR) , isto é, w < c .
Até agora temos:
0 < 1 < 2 < 3 < ... < w < c

(ii) É natural perguntarmos: w e c são os únicos cardinais infinitos ? Existem apenas


dois tipos de “quantidades infinitas” : enumeráveis ou com a mesma cardinalidade que IR ?
A resposta é NÃO !!!
Já vimos que, para todo conjunto A, temos card (A) < card (P(A))
Portanto c = card (IR) < card (P(IR)) < card (P(P(IR))) < . . .
Então
0 < 1 < 2 < 3 < . . . < w < c < card (P(IR)) < . . .
e existem portanto diversos “nı́veis de infinito” .
Cardinalidade, conjuntos infinitos, etc. 63

(iii) Hipótese do Contı́nuo (HC):


Não existe nenhum número cardinal λ tal que w < λ < c (Em outras palavras, não
existe nenhum conjunto A com w = card (IN) < card (A) < card (P(IN)) = card (IR) = c ).
Em 1938, Gödel mostrou a consistência da Hipótese do Contı́nuo: com os axiomas da
Teoria dos Conjuntos não se pode refutá-la.
Em 1963, Cohen mostrou a independência da HC em relação aos axiomas da Teoria dos
Conjuntos, ou seja, admiti-la como verdadeira (Gödel) ou falsa não gera contradição (não se
pode prová-la com os axiomas usuais).

Operações com números cardinais

Sejam k e λ dois números cardinais e A, B dois conjuntos tais que card (A) = k e
card (B) = λ .
Definimos:
k + λ = card ( A × {0} ∪ B × {1} )
k · λ = card (A × B)
λk = card ( { f : A → B } )

Obs.:
(i) As operações acima estão BEM DEFINIDAS, ou seja, os resultados obtidos indepen-
dem dos conjuntos A e B escolhidos tais que card (A) = k e card (B) = λ (veja Exercı́cios
4 e 5 da pág. 54 para mostrar que a adição e multiplicação, respectivamente, estão bem
definidas).
(ii) Se A ∩ B = φ , então card (A) + card (B) = card (A ∪ B) .
(iii) As operações acima definidas estendem naturalmente as operações correspondentes já
conhecidas para os números naturais.

Exemplos:
(a) n + w = w para todo n ∈ IN :
Seja dado n ∈ IN. Tomemos um conjunto A = { a1 , a2 , . . . , an } , finito com n elementos
e disjunto de IN . Note que é possı́vel obter tal conjunto A (dê um exemplo).
Definamos f : A ∪ IN → IN pondo f (x) = i se x = ai ∈ A e f (x) = x + n se x ∈ IN .
É fácil ver que f é bijetora e portanto card (A ∪ IN) = card (IN) e temos:

n + w = card (A) + card (IN) = card (A ∪ IN) = card (IN) = w


64 CAPÍTULO 4

(b) w + w = w :
Sejam P = {2, 4, 6, . . .} e I = {1, 3, 5, . . .} . Temos P ∩ I = φ
Já vimos que card (P ) = card (IN) = card (I) . Portanto:

w + w = card (P ) + card (I) = card (P ∪ I) = card (IN) = w

(c) w · w = w :
Já vimos que card (IN × IN) = card (IN) . Então:

w · w = card (IN × IN) = card (IN) = w

Obs.: Já vimos que card (IN × IN) = card (IN) . No próximo capı́tulo veremos que
card (IR × IR) = card (IR) . Esses resultados podem ser generalizados:
Fato: Se E é um conjunto INFINITO, temos card (E × E) = card (E) (este resultado é
equivalente ao Axioma da Escolha).

(d) n · c = c para todo n ∈ IN :

card (IR) ≤ card (In × IR)

card (In × IR) ≤ card (IR × IR) = card (IR)


Assim
n · c = card (In × IR) = card (IR) = c

(e) Sejam A = {0, 1} e An = A para todo n ∈ IN .


Y
AIN = {0, 1}IN = An = A1 × A2 × A3 × . . . é a coleção de todas as sequências
n∈IN

formadas com os algaarismos 0 e 1 = coleção de todas as funções de IN em A = {0, 1} .


Como card (AIN ) = card (P(IN)) , temos:

2w = card ( {f : IN → {0, 1} } ) = card (AIN ) = card (P(IN))

Exercı́cios:
1) Prove que w + c = c e que w · c = c .

2) O objetivo deste exercı́cio (dirigido) é mostrar que se k é um qualquer número cardinal


infinito, então k + w = k .
Seja A um conjunto infinito qualquer, ou seja, k = card (A) é um número cardinal infinito.
Cardinalidade, conjuntos infinitos, etc. 65

Temos então que A contém algum subconjunto infinito enumerável (veja Exercı́cio 4 da
pág. 59), ou seja, existe E ⊂ A tal que card (E) = card (IN) = w .
Use então a definição de soma de cardinais em k + w e o fato de que card (A × A) =
card (A) para concluir que k + w = k .

3) Utilize o exercı́cio acima para concluir que card (IR\Q) = card (IR) .

4) Generalize o Exemplo (e) acima e conclua que 2c = card (P(IR)) .

5) Generalize exercı́cios anteriores e conclua que k < 2k para todo número cardinal k .

6) Considere os seguintes resultados (se quiser, pode tentar demonstrá-los):


(i) Se α ≤ β e k são números cardinais, então αk ≤ β k .
(ii) Se k, λ e β são números cardinais, então (λk )β = λk·β .

Prove agora que se k e λ são números cardinais, com k infinito e 2 ≤ λ ≤ k então

2k = λk = k k

Conclua que ww = card (P(IN)) = nw para todo n ≥ 2 ∈ IN .


Conclua também que wc = card (P(IR)) .
66 CAPÍTULO 4
Capı́tulo 5

Números reais: racionais/irracionais,


algébricos/transcendentes

5.1 Caracterı́sticas fundamentais de IR

Consideremos o conjunto IR dos números reais, os quais associamos aos pontos de uma reta
orientada, a Reta Real:

Figura 5.1:

Consideremos ainda IR munido das operações usuais de ADIÇÃO e MULTIPLICAÇÃO e


suas bem conhecidas propriedades (comutativa, associativa, elemento neutro, elemento inverso,
distributiva).
IR é também totalmente ordenado pela relação usual ≤ (MENOR OU IGUAL), a qual
apresenta também algumas propriedades bem conhecidas.
O conjunto IR, com as operações de adição e multiplicação usuais e a relação de ordem
usual ≤, pelas propriedades que possui, é o que chamamos um CORPO ORDENADO.

Definimos ainda, para cada x ∈ IR , seu módulo (ou valor absoluto) |x| , pondo |x| = x
se x ≥ 0 ou |x| = −x se x < 0 .
Dados x, y ∈ IR , temos que |x − y| representa geometricamente a distância entre x e y
na Reta Real. Em particular, |x| = |x − 0| representa a distância entre x e 0 (zero).
68 CAPÍTULO 5

De tudo o que vimos até agora, ainda não temos uma caracterı́stica que nos permita
distinguir IR dos demais corpos ordenados (como o corpo ordenado Q, por exemplo).
Agora, finalmente, veremos a principal caracterı́stica de IR, que o destaca dos demais corpos
ordenados:

Axioma do sup:
Se A ⊂ IR é não-vazio e possui cota superior (existe c ∈ IR tal que a ≤ c para todo
a ∈ A ) então A admite SUPREMO em IR, ou seja, existe s = sup A ∈ IR .
(equivalentemente, se A ⊂ IR é não-vazio e limitado inferiormente - possui cota inferior -
então existe i = inf A ∈ IR . Veja exercı́cio 32 da pág. 31)

Para ilustrar a diferença que agora aparece entre IR e Q , observemos que o conjunto
A = { x ∈ Q ; x > 0 e x2 < 2 } ⊂ Q é não-vazio e limitado superiormente em Q mas não
admite supremo em Q .
Por atender ao Axioma do sup, o corpo ordenado IR dos números reais é dito ser um
CORPO ORDENADO COMPLETO.

Algumas consequências do Axioma do sup:

Proposição 5.1. O conjunto IN dos números naturais não é limitado superiormente em IR.

Demonstração:
Suponhamos, por absurdo, que o conjunto IN (que é não-vazio) seja limitado superiormente.
Pelo Axioma do sup, existe então s = sup IN ∈ IR . Como s − 1 < s , então s − 1 não
pode ser cota superior de IN . Logo, existe algum n0 ∈ IN tal que s − 1 < n0 , o que implica
em s = (s − 1) + 1 < n0 + 1 ∈ IN (Contradição! Pois s é cota superior de IN).
Então, obrigatoriamente, IN não é limitado superiormente em IR.

Obs.: A Proposição acima é equivalente às seguintes:


• Dados a, b ∈ IR com a > 0 , é possı́vel obter n ∈ IN tal que n · a > b .
1
• Dado a > 0 em IR, é possı́vel obter n ∈ IN tal que <a.
n
O fato de as proposições equivalentes acima serem verdadeiras em IR traz algumas con-
sequências muito interessantes que serão exploradas futuramente, como por exemplo a DEN-
SIDADE de Q em IR (todo intervalo aberto não-vazio em IR possui números racionais). Com
isto, todo número real poderá ser “aproximado por uma sequência de números racionais”.
Números reais: racionais/irracionais, algébricos/transcendentes 69

Teorema 5.2. (Teorema dos Intervalos Encaixados)


Dada uma “sequência decrescente” I1 ⊃ I2 ⊃ I3 ⊃ . . . de intervalos limitados, fechados (e
não-vazios) In = [an , bn ] ⊂ IR , existe pelo menos um número real c tal que c ∈ In para
\
todo n ∈ IN , ou seja, In 6= φ .
n∈IN

Demonstração:
Temos: a1 ≤ a2 ≤ a3 ≤ . . . ≤ b3 ≤ b2 ≤ b1 .
Seja A = { a1 , a2 , a3 , . . . } . A 6= φ e A é limitado superiormente.
Pelo Axioma do sup, existe c = sup A ∈ IR e já temos an ≤ c para todo n ∈ IN .
Dado n ∈ IN , bn é cota superior do conjunto A e portanto sup A = c ≤ bn ( ∀ n ∈ IN).
Assim, temos an ≤ c ≤ bn , ou seja, c ∈ In = [an , bn ] , para todo n ∈ IN .

Exercı́cios:
1) Dados x, y ∈ IR, prove que

|x · y| = |x| · |y| e |x + y| ≤ |x| + |y| (Desigualdade Triangular).

(Sugestão: Para a Desigualdade Triangular, considere que |a| = max {a, −a} ∀ a ∈ IR ).

2) Dados x, y ∈ IR, prove que |x − y| ≥ | |x| − |y| | .

3) Prove a equivalência entre a Proposição 5.1 e as demais, da observação da pág. 68.

4) Prove que se x ≥ −1 e n ∈ IN , então

(1 + x)n ≥ 1 + nx (Desigualdade de Bernoulli)

5) Seja a ∈ IR tal que a > 1 . Mostre que o conjunto { an ; n ∈ IN } não é limitado su-
periormente em IR, ou seja, dado qualquer K ∈ IR , é possı́vel obter n0 ∈ IN tal que an0 > K .

 
1
6) Seja A = ; n ∈ IN . Mostre que inf A = 0 (0 é a maior das cotas inferiores de
πn
A, ou seja, 0 é cota inferior de A e nenhum número maior que 0 pode ser cota inferior de A).
(Sugestão: Use que π > 1 e o exercı́cio anterior).
70 CAPÍTULO 5

7) Seja a ∈ IR tal que 0 < a < 1 . Mostre que, dado  > 0 (em IR), é possı́vel obter
n0 ∈ IN tal que se n ∈ IN com n > n0 , então 0 < an <  .
(Sugestão: “Olhe” para 1/a e use o exercı́cio 5 anterior)

Obs.: Este resultado nos diz que se 0 < a < 1 então an se aproxima cada vez mais e
tanto quanto desejarmos de 0 (zero), à medida em que n ∈ IN cresce, ou seja, an → 0 (an
tende a 0) quando n → ∞ .

8) Seja x 6= 1 um número real. Para cada n ∈ IN , prove que


1 − xn+1
1 + x + x2 + x3 + x4 + . . . + xn =
1−x
Use o resultado acima para concluir o que ocorre com a soma 1 + a + a2 + a3 + . . . + an à
medida em que n cresce (n → ∞) nas seguintes situações: (i) a > 1 (ii) 0 < a < 1 .
1 1 1
Finalmente, use suas conclusões acima para “calcular a soma”: 1 + + + + ...
3 9 27

9) Dê exemplo de uma sequência decrescente de intervalos fechados (ilimitados) e não-


vazios cuja interseção seja vazia e um exemplo de uma sequência decrescente de intervalos
limitados (não fechados) e não-vazios cuja interseção também seja vazia, mostrando assim que
as hipóteses para o Teorema dos Intervalos Encaixados são imprescindı́veis.

5.2 Números reais e representações decimais

Preliminares: somas convergentes/divergentes

Consideremos uma “soma” de números reais com uma quantidade infinita (e enumerável)
de parcelas:
x1 + x2 + x3 + x4 + . . .

Uma soma como acima pode definir ou não um determinado número real.
É intuitivamente claro que esta soma representa um número real x quando suas chamadas
“somas parciais” sn = x1 + x2 + . . . + xn se aproximam cada vez mais e tanto quanto
desejarmos de x à medida que n cresce (n → ∞). Neste caso dizemos que a soma CONVERGE
e escrevemos x1 + x2 + x3 + . . . = x .
Quando a soma não converge, ou seja, quando suas somas parciais não se aproximam cada
vez mais (e tanto quanto desejarmos) de nenhum número real especı́fico à medida que n → ∞ ,
dizemos que a ela (a soma) DIVERGE.
Números reais: racionais/irracionais, algébricos/transcendentes 71

Exemplos:
(a) A soma 1 + 1 + 1 + 1 + . . . DIVERGE.
De fato, sua n-ésima soma parcial sn é dada por sn = 1 + 1 + . . . + 1 (n vezes) = n e, à
medida que n cresce, sn não se aproxima de nenhum número real em particular.

1 1 1 1 1 1 1
(b) A soma + + + ... = + + + + . . . CONVERGE.
1·2 2·3 3·4 2 6 12 20
Para cada n ∈ IN, temos:
       
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
sn = + +. . .+ = 1− + − + − +. . .+ −
1·2 2·3 n · (n + 1) 2 2 3 3 4 n n+1
Assim:
1 1
sn = 1 − → 1 quando n → ∞ , pois → 0 quando n → ∞ .
n+1 n+1

Portanto a soma converge e podemos escrever


1 1 1 1 1
+ + + + ... = 1
2 6 12 20 30

(c) A soma 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + . . . DIVERGE.


Temos que sn = 1 se n é ı́mpar e sn = 0 se n é par.
Quando n → ∞ as somas parciais sn ficam oscilando nos valores 0 e 1, não se aproximando
de nenhum número real especı́fico, e portanto a soma acima diverge.

(d) É bem conhecido que se 0 < a < 1 então a soma 1 + a + a2 + a3 + . . . converge e


temos
1
1 + a + a2 + a3 + . . . = .
1−a
Mais geralmente, temos
b
b + b · r + b · r2 + b · r3 + . . . = se |r| < 1
1−r

(“soma da PG infinita de razão r, com |r| < 1”)

1 1 1 1 4
Por exemplo: 1 + + + + ... = = .
4 16 64 1 3
1−
4
72 CAPÍTULO 5

Existem resultados que nos permitem concluir se esses tipos de soma convergem ou não.
Um deles nos interessa em particular:

Teorema 5.3. Consideremos uma soma x1 + x2 + x3 + . . . cujos termos (parcelas) são todos
não-negativos ( xn ≥ 0 para todo n ∈ IN ).
A soma converge se, e somente se, suas somas parciais são limitadas, ou seja, existe
K ∈ IR tal que x1 + x2 + . . . + xn ≤ K para todo n ∈ IN .

Corolário 1. Seja A = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9} .


a1 a2 a3 a4
Se an ∈ A para todo n ∈ IN então a soma + 2 + 3 + 4 + . . . converge.
10 10 10 10
De fato:
an
Já temos que ≥ 0 ∀ n ∈ IN (parcelas não-negativas).
10n
Agora, para cada n ∈ IN temos: 9
a1 a2 an 9 9 9 9 9 9 10
+ 2 + ... + n ≤ + 2 + ... + n < + 2 + 3 + ... = =1
10 10 10 10 10 10 10 10 10 1
1−
10
a1 a2 a3 a4
Segue do Teorema acima que + 2 + 3 + 4 + . . . converge.
10 10 10 10

Exercı́cios:
1 1 1
1) Prove que a soma 1 + + + + . . . converge.
1! 2! 3!
1 1
(Sugestão: Use o Teorema 5.3, considerando que < n−1 ∀ n = 3, 4, 5, . . . )
n! 2
Obs.: A soma acima representa um número real muito importante no Cálculo e denotado
por e (base dos logarı́tmos naturais).

1 1 1
2) Prove que a soma 1 + + + + . . . diverge, mostrando que as somas parciais do
2 3 4
1 1 1
tipo s2n = 1 + + + . . . + n ficam maiores do que qualquer K ∈ IR quando n → ∞ .
2 3 2
(Sugestão: Agrupe s2n na forma
     
1 1 1 1 1 1 1 1 1
s2n = 1 + + + + + + + + ... + + ... + n
2 3 4 5 6 7 8 1 + 2n−1 2
e, em cada grupo de parcelas, substitua as parcelas pelo mı́nimo do grupo)

Obs.: Esta soma é a famosa Série Harmônica.


Números reais: racionais/irracionais, algébricos/transcendentes 73

3) Considere os seguinte resultado:


Se x1 + x2 + x3 + . . . = x ∈ IR (isto é, a série converge), então para cada λ ∈ IR temos

λ · x1 + λ · x2 + λ · x3 + . . . = λ · x .

9 9 9
Sabemos que a soma + 2 + 3 + . . . converge.
10 10 10
Mostre que ela é igual a 1, utilizando o resultado acima.
(Sugestão: Chame de x o valor da soma e multiplique por 10)

Use a mesma técnica acima para calcular as seguintes somas:


4 5 4 5 4 5 4 5
3+ + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8 + ...
10 10 10 10 10 10 10 10
2 7 2 7 2 7
+ 2 + 4 + 5 + 7 + 8 + ...
10 10 10 10 10 10

Representações decimais

Definição 5.4. Uma REPRESENTAÇÃO DECIMAL (ou representação na base 10) é um


sı́mbolo na forma ±a0 , a1 a2 a3 . . . , com a0 ∈ IN0 = IN ∪ {0} e an ∈ A = {0, 1, 2, . . . , 9}
para todo n ∈ IN , e representa o seguinte número real (a soma converge)
 a1 a2 a3 
± a0 + + 2 + 3 + ...
10 10 10

Exemplos:
9 9 9 9
(a) 0, 9999 . . . = + 2 + 3 + 4 + ... = 1
10 10 10 10
   
2 4 0 0 24 56
(b) −2, 240000 . . . = − 2 + + 2 + 3 + 4 + ... = − 2 + =− .
10 10 10 10 100 25

3
3 3 3 10 1 16
(c) 5, 3333 . . . = 5 + + 2 + 3 + ... = 5 + =5+ = .
10 10 10 1 3 3
1−
10

(d) 0, 11000100000000000000000100 . . . = α ∈ IR (número real representado pelo algaris-


mo 1 nas casas decimais de posições 1!, 2!, 3!, 4!, 5!, . . . e pelo algarismo 0 nas demais posições).
Este número é chamado Número de Liouville (falaremos dele mais à frente no Curso).
74 CAPÍTULO 5

Obs.: Consideremos uma representação decimal ±a0 , a1 a2 a3 . . . = x ∈ IR .


Quando existe n0 ∈ IN tal que an = 0 ∀ n > n0 , ou seja, x = ±a0 , a1 a2 . . . an0 0000 . . . ,
dizemos que a representação decimal é FINITA e escrevemos simplesmente x = ±a0 , a1 a2 . . . an0 .
Caso contrário, ela é dita INFINITA.
Se x 6= 0 em IR tem representação decimal finita, então x possui também uma repre-
sentação decimal infinita (Exercı́cio).
Por exemplo: 1 = 0, 99999 . . . . −2, 24 = −2, 239999 . . . .
Outro fato que devemos observar é que cada número admite no máximo uma representação
decimal finita e no máximo uma representação decimal infinita (exercı́cio).

Toda representação decimal ±a0 , a1 a2 a3 . . . corresponde a um número


 a1 a2 a3 
x = ± a0 + + 2 + 3 + . . . ∈ IR .
10 10 10

Nos interessa agora ver que vale a recı́proca da afirmativa acima. É o que diz o ...
Teorema 5.5. Todo número real admite (pelo menos) uma representação decimal, ou seja,
dado x ∈ IR , existe uma representação decimal ±a0 , a1 a2 a3 . . . tal que x = ±a0 , a1 a2 a3 . . . .

Demonstração:
Vamos adotar as notações IN0 = IN ∪ {0} e A = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9} .
Seja x ≥ 0 em IR .
[
Como x ∈ [0, +∞) = [n, n + 1) = [0, 1) ∪ [1, 2) ∪ [2, 3) ∪ . . . , então existe um único
n∈IN0
(os intervalos que formam a união são disjuntos) a0 ∈ IN0 tal que x ∈ [a0 , a0 + 1) e portanto
0 ≤ x − a0 < 1
     
1 1 2 9
Como x − a0 ∈ [0, 1) = 0, ∪ , ∪. . .∪ , 1 , então existe um único a1 ∈ A
10 10 10 10
 
a1 a1 + 1
tal que (x − a0 ) ∈ , e portanto
10 10
 a1  1
0 ≤ x − a0 + <
10 10
       
 a1  1 1 1 2 9 1
Como x − a0 + ∈ 0, = 0, ∪ , ∪...∪ , , então existe
10 10 100 100 100 100 10
 
 a1  a2 a2 + 1
um único a2 ∈ A tal que x − a0 + ∈ , e portanto
10 100 100
 a1 a2  1
0 ≤ x − a0 + + 2 < 2
10 10 10
Números reais: racionais/irracionais, algébricos/transcendentes 75

Prosseguindo desta forma, obtemos indutivamente uma sequência (a0 , a1 , a2 , a3 , . . .) com


a0 ∈ IN0 e an ∈ A ∀ n ∈ IN tal que
 a1 a2 an  1
0 ≤ x − a0 + + 2 + . . . + n < n ∀ n ∈ IN
10 10 10 10

Vamos mostrar que x tem a representação decimal a0 , a1 a2 a3 . . . .


a1 a2 a3
Seja y = a0 + + 2 + 3 + . . . ∈ IR .
10 10 10
a1 a2 an
Como sn = a0 + + 2 + . . . + n se aproxima tanto de y quanto desejarmos, quando
10 10 10
n → ∞ , então não podemos ter x < y , pois neste caso conseguirı́amos obter n0 ∈ IN
a1 a2 an0
suficientemente grande com x < a0 + + 2 + . . . + n0 (absurdo). Assim, temos x ≥ y
10 10 10
e podemos escrever:
 a1 a2 an  1
0 ≤ x − y ≤ x − a0 + + 2 + . . . + n < n ∀ n ∈ IN
10 10 10 10

Ora, como 10 > 1 , temos que, dado qualquer  > 0 (por menor que ele seja) é possivel
1 1
obter n0 ∈ IN tal que 10n0 > (veja Exercı́cio 5 da pág. 69), ou seja, <.
 10n0
Com isso temos
0 ≤ x − y ≤  para todo  > 0
a1 a2 a3
Portanto x = y = a0 + + 2 + 3 + . . . = a0 , a1 a2 a3 . . . e com isso provamos que
10 10 10
todo número real x ≥ 0 admite uma representação decimal.

Finalmente, se x < 0 em IR, temos que (−x) > 0 e portanto admite uma representação
decimal (−x) = a0 , a1 a2 a3 . . . . É imediato que x = −a0 , a1 a2 a3 . . . .

Corolário 1. Sejam IR+ +


0 = [0, +∞) e D0 o conjunto das representações decimais não-
negativas.
A função f : D0+ → IR+
0 dada por

a1 a2 a3
f (a0 , a1 a2 a3 . . .) = a0 + + 2 + 3 + ...
10 10 10
é sobrejetora.
Em outras palavras: card (D0+ ) ≥ card (IR+
0) .
76 CAPÍTULO 5

5.3 Números reais e cardinalidade

• IR é não-enumerável

Teorema 5.6. O conjunto IR dos números reais é não-enumerável, ou seja,

card (IN) = w < c = card (IR)

Demonstração:
Já sabemos que IR é infinito. Suponhamos, por absurdo, que IR seja enumerável, ou seja,
que exista uma função BIJETORA f : IN → IR .
É possı́vel obter a1 < b1 em IR tais que f (1) 6∈ [a1 , b1 ] .
Olhemos para f (2) .
Se f (2) ∈ [a1 , b1 ], temos a1 < f (2) ou f (2) < b1 .
a1 + f (2)
Se a1 < f (2) , tomemos a2 = a1 e b2 = . Com isso a1 = a2 < b2 < f (2) ≤ b1 .
2
f (2) + b1
Se f (2) < b1 , tomemos b2 = b1 e a2 = . Com isso a1 ≤ f (2) < a2 < b2 = b1 .
2
Se f (2) 6∈ [a1 , b1 ], tomemos a2 = a1 e b2 = b1 .
De qualquer modo, temos f (2) 6∈ [a2 , b2 ] ⊂ [a1 , b1 ] , com a2 < b2 .
Prosseguindo desta forma, obtemos indutivamente uma sequência decrescente de intervalos
limitados, fechados e não-vazios [a1 , b1 ] ⊃ [a2 , b2 ] ⊃ [a3 , b3 ] ⊃ . . . tais que f (n) 6∈ [an , bn ]
para todo n ∈ IN .
Pelo Teorema dos Intervalos Encaixados, existe c ∈ IR tal que c ∈ [an , bn ] ∀ n ∈ IN.
Portanto f (n) 6= c ∀ n ∈ IN e f não é sobrejetora (Contradição!)
Então, obrigatoriamente, IR é não-enumerável.

• card (P(IN) = card (IR)

Teorema 5.7. 2w = card (P(IN)) = card (IR) = c

Demonstração:
Sejam IR+ +
0 = [0, +∞) e D0 o conjunto das representações decimais não-negativas.

Então card (IR) = card ((0, 1)) ≤ card (IR+ +


0 ) ≤ card (IR) ∴ card (IR0 ) = card (IR) .
Números reais: racionais/irracionais, algébricos/transcendentes 77

Do Corolário do Teorema 5.5, temos: card (D0+ ) ≥ card (IR+


0 ) = card (IR) .

Consideremos agora A = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9} e S o conjunto de todas as sequências


formadas com algarismos em A, ou seja, S é o conjunto de todas as funções de IN em A
(S = AIN ).
card (A) = 10 , card (IN) = w ⇒ 10w = card (AIN ) = card (S) .
Agora: D0+ = { a0 , a1 a2 a3 . . . ; a0 ∈ IN0 e a1 a2 a3 . . . ∈ S } .
Então card (D0+ ) = card (IN0 × S) = card (IN0 ) · card (S) = w · 10w = 10w = 2w =
card (P(IN)) .
Logo card (P(IN)) ≥ card (IR) . (I)

{0, 1}IN é o conjunto das sequências formadas com os algarismos 0 ou 1, ou seja, todas as
funções de IN em {0, 1} .
a1 a2 a3
Seja f : {0, 1}IN → IR dada por f (a1 , a2 , a3 , . . .) = + 2 + 3 + ... .
10 10 10
Como f é injetora, então card (P(IN)) = 2w = card ({0, 1}IN ) ≤ card (IR) . (II)

De (I) e (II), temos que 2w = card (P(IN)) = card (IR) = c .

• card (IR × IR) = card (IR)

Teorema 5.8. c · c = card (IR × IR) = card (IR) = c

Demonstração:
Já temos que card (IR) ≤ card (IR × IR) . (I)
Seja f : (0, 1) × (0, 1) → (0, 1) a função dada por

f (a, b) = 0, a1 b1 a2 b2 a3 b3 . . . ,

sendo a = 0, a1 a2 a3 . . . e b = 0, b1 b2 b3 . . . únicas representações decimais infinitas de a e b.


Se f (x, y) = 0, c1 c2 c3 c4 c5 c6 . . . = f (u, v) , temos então que x = 0, c1 c3 c5 . . . = u e
y = 0, c2 c4 c6 . . . = v , sendo f injetora.
Assim card (IR × IR) = card ( (0, 1) × (0, 1) ) ≤ card ( (0, 1) ) = card (IR) . (II)
De (I) e (II) temos c · c = card (IR × IR) = card (IR) = c .
78 CAPÍTULO 5

5.4 Números racionais/irracionais

Uma classificação dos números reais os divide em duas classes de números:


p
Números racionais: Números reais que podem ser escritos na forma , com p, q ∈ Z
q
e q 6= 0 . Notação: Q = conjunto dos números racionais.
1 2
Exemplos: 0, 5, −3, , − , etc.
4 7
Números irracionais: Números reais que não são racionais. Notação: IR\Q = conjunto
dos números irracionais.

Exemplos: 2 , π, e, etc.

Assim, temos IR = Q ∪ (IR\Q) , com Q ∩ (IR\Q) = φ .

Identificação de números racionais/irracionais

• Via representação decimal:


Sabemos que toda representação decimal ±a0 , a1 a2 a3 . . . , com a0 ∈ IN0 = IN ∪ {0} e
an ∈ A = {0, 1, 2, . . . , 9} ∀ n ∈ IN representa um número real
 a1 a2 a3 
x = ± a0 + + 2 + 3 + ...
10 10 10

Já mostramos também que todo número real x admite (pelo menos) uma representação
decimal.
Uma representação decimal FINITA é uma representação do tipo

x = ±a0 , a1 a2 a3 . . . an0 0000 . . . = ±a0 , a1 a2 a3 . . . an0

(neste caso, temos também x = ±a0 , a1 a2 . . . (an0 − 1)9999 . . . se an0 6= 0)


Exemplos: 1 = 0, 9999 . . . , −3, 517 = −3, 51699999 . . . , etc.
Uma representação decimal é dita (uma dı́zima) PERIÓDICA quando é do tipo

±a0 , a1 a2 . . . an0 b1 b2 . . . bp b1 b2 . . . bp b1 b2 . . . bp . . .

ou seja, a partir de um certo ponto, um conjunto de algarismos se repete indefinidamente e na


mesma ordem.
Neste caso costumamos escrever ±a0 , a1 a2 . . . an0 b1 b2 . . . bp .
Exemplos: 0, 333 . . . = 0, 3 , −7, 2315151515 . . . = −7, 2315 , etc.
Números reais: racionais/irracionais, algébricos/transcendentes 79

Teorema 5.9. Um número real x é racional se, e somente se, x tem representação decimal
periódica (ou finita)

Demonstração:
(⇒) Podemos supor sem perda de generalidade que x = p/q > 0 (p, q ∈ Z) .
Dividindo p por q, temos: p = a0 · q + r com a0 ∈ IN0 e r ∈ {0, 1, . . . , q − 1} .
p a0 · q + r r
Assim = = a0 + .
q q q
Se r = 0 temos x = a0 (representação decimal finita, que consideramos periódica).
Se r > 0 então dividimos 10 · r por q e obtemos 10 · r = a1 · q + r1 , com a1 ∈ {0, 1, . . . 9}
e r1 ∈ {0, 1, . . . , q − 1} .
r 10 · r a1 · q + r1 a1 r1
Assim x = a0 + = a0 + = a0 + = a0 + + .
q 10 · q 10 · q 10 10 · q
a1
Se r1 = 0 temos x = a0 + = a0 , a1 (representação decimal finita).
10
Se r1 > 0 então dividimos 10 · r1 por q e obtemos 10 · r1 = a2 · q + r2 com a2 ∈ {0, 1, . . . 9}
e r2 ∈ {0, 1, . . . , q − 1} .
a1 r1 a1 10 · r1 a1 a2 · q + r2 a1 a2 r2
Assim x = a0 + + = a0 + + 2 = a0 + + 2
= a0 + + 2 + 2 .
10 10 · q 10 10 · q 10 10 · q 10 10 10 · q
Prosseguindo dessa forma, teremos duas possibilidades:
1) Em algum momento teremos um resto ri0 = 0 e neste caso x terá uma representação
decimal finita.
2) Ao dividir sucessivamente 10·ri por q, chegará um momento em que teremos REPETIÇÃO
de um resto, pois os restos não-nulos sempre estarão no conjunto FINITO {1, 2, . . . , q − 1} .
Isso indica que deste ponto em diante teremos repetição dos algarismos na representação de-
cimal, indefinidamente e na mesma ordem, ou seja, teremos uma representação PERIÓDICA.

(⇐) Seja x = a0 , a1 a2 . . . an0 b1 b2 . . . bp . Temos:

10n0 +p · x = a0 a1 a2 . . . an0 b1 b2 . . . bp , b1 b2 . . . bp e 10n0 · x = a0 a1 a2 . . . an0 , b1 b2 . . . bp .

Assim

(10n0 +p − 10n0 ) · x = a0 a1 a2 . . . an0 b1 b2 . . . bp − a0 a1 a2 . . . an0 ∈ Z ,

ou seja,
a0 a1 a2 . . . an0 b1 b2 . . . bp − a0 a1 a2 . . . an0
x= ∈Q.
(10n0 +p − 10n0 )
80 CAPÍTULO 5

Exemplos:

2 20 2·9+2 2 2 2 20 2 2 2
(a) = = = + = + 2 = + 2+ 2 = 0, 2222 . . . .
9 10 · 9 10 · 9 10 10 · 9 10 10 · 9 10 10 10 · 9

13 6 60 56 + 4 8 4 8 40
(b) =1+ =1+ =1+ =1+ + =1+ + 2 =
7 7 10 · 7 10 · 7 10 10 · 7 10 10 · 7
8 5 5 8 5 50 8 5 7 1
=1+ + 2+ 2 =1+ + 2+ 3 =1+ + 2+ 3+ 3 =
10 10 10 · 7 10 10 10 · 7 10 10 10 10 · 7
8 5 7 10 8 5 7 1 3
=1+ + 2+ 3+ 4 =1+ + 2+ 3+ 4+ 4 =
10 10 10 10 · 7 10 10 10 10 10 · 7
8 5 7 1 30 8 5 7 1 4 2
=1+ + 2+ 3+ 4+ 5 =1+ + 2+ 3+ 4+ 5+ 5 =
10 10 10 10 10 · 7 10 10 10 10 10 10 · 7
8 5 7 1 4 20 8 5 7 1 4 2 6
= 1+ + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 = 1+ + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 6 =
10 10 10 10 10 10 · 7 10 10 10 10 10 10 10 · 7

= 1, 857142857142857142 . . . = 1, 857142 .

       
27 3 30 3 6 3 60
(c) − = − 3 + =− 3+ =− 3+ + =− 3+ + =
8 8 10 · 8 10 10 · 8 10 102 · 8
     
3 7 4 3 7 40 3 7 5
=− 3+ + + =− 3+ + + =− 3+ + + =
10 102 102 · 8 10 102 103 · 8 10 102 103
= −3, 375 .

(d) 0, 1010010001000010000010000001 . . . representa um número irracional, pois é uma


representação decimal não-periódica.

(e) Seja x = 0, 9 = 0, 99999 . . . .


Então 10 · x = 9, 9999 . . . ⇒ 9 · x = 10 · x − x = 9 ⇒ x = 1 .

(f) Seja x = 0, 27 = 0, 272727 . . . .


27 3
100 · x = 27 ⇒ 99 · x = 100 · x − x = 27 ⇒ x = = .
99 11
512 128
(g) Seja x = −5, 12 . x = − =− .
100 25

Obs.: Um número racional na FORMA IRREDUTÍVEL p/q , ou seja, mdc(p, q) = 1 ,


tem representação decimal finita se, e somente se, todos os fatores primos de q pertencem ao
conjunto {2, 5} .
Números reais: racionais/irracionais, algébricos/transcendentes 81

• Via operações algébricas:


(a) 2 é irracional:

Suponhamos, por absurdo, que 2 seja racional.

Então 2 = a/b , com a, b ∈ Z, b 6= 0 e mdc(a, b) = 1 .
Assim, 2 = a2 /b2 ⇒ 2b2 = a2 ⇒ a2 é par ⇒ a é par ⇒ a = 2k ⇒ 2b2 = 4k 2 ⇒
b2 = 2k 2 ⇒ b2 é par ⇒ b é par (Contradição, pois mdc(a, b) = 1).

Então, obrigatoriamente, 2 é irracional.


Exercı́cio: Mostre que p é irracional, para todo p primo.
(Sugestão: Use que um número primo p divide um produto se, e somente se, p divide pelo
menos um dos fatores)


(b) 6 é irracional:

Suponhamos, por absurdo, que 6 seja racional.

Então 6 = a/b , com a, b ∈ Z, b 6= 0 e mdc(a, b) = 1 .
Assim, 6 = a2 /b2 ⇒ 6b2 = a2 ⇒ 3|a2 (3 divide a2 ) ⇒ 3|a (veja Sugestão acima)
⇒ a = 3k ⇒ 6b2 = 9k 2 ⇒ 2b2 = 3k 2 ⇒ 3|2b2 ⇒ 3|b2 ⇒ 3|b (Contradição, pois
mdc(a, b) = 1).

Então, obrigatoriamente, 6 é irracional.

Obs.: O conjunto Q, com as operações usuais de adição e multiplicação e suas propriedades


é um corpo. Com isso Q é “FECHADO” para as operações: a soma e o produto (bem como
a diferença e o quociente) de números racionais são ainda números racionais.
Já o conjunto IR\Q dos números irracionais não é fechado para as operações usuais. Por
√ √ √
exemplo: 2 ∈ IR\Q mas 2 · 2 = 2 6∈ IR\Q .
Uma consequência bastante útil das considerações acima é a seguinte porposição:

Proposição 5.10. Se α é irracional e r é racional então a adição, subtração, multiplicação


(r 6= 0) e divisão (r 6= 0) de r e α resultam em números irracionais (em particular, −α e 1/α
são também números irracionais.
√ √
Exemplos: 1 + 2 , 1/π , −e , −3 3 são todos irracionais.
82 CAPÍTULO 5

√ √
(c) 2+ 3 é irracional:
√ √
Suponhamos, por absurdo, que x = 2 + 3 seja racional.
√ √ √
Então x2 = 2 + 2 6 + 3 = 5 + 2 6 é racional (Contradição, pois 5 é racional e 2 6 é
irracional - veja a Proposição anterior).
√ √
Então, obrigatoriamente, 2 + 3 é irracional.

• Via equações polinomiais:

Um POLINÔMIO DE GRAU n ∈ IN em x e com coeficientes reais é uma expressão da


forma
p(x) = cn xn + cn−1 xn−1 + . . . + c2 x2 + c1 x + c0
onde ci ∈ IR ∀ i = 1, 2, . . . n (coeficientes) e cn 6= 0 .

Uma EQUAÇÃO POLINOMIAL é uma igualdade da forma

p(x) = cn xn + cn−1 xn−1 + . . . + c2 x2 + c1 x + c0 = 0 .

Uma RAIZ de uma equação polinomial p(x) = 0 é um número α que no lugar de x torna
a equação verdadeira. Exemplos: −3 é uma raiz da equação polinomial x2 − 9 = 0 ; 2 não é
raiz da equação polinomial x3 + 7 = 0 .
O seguinte Teorema e seu Corolário mostram-se bastante úteis na identificação de certos
números irracionais.

Teorema 5.11. Consideremos uma equação polinomial qualquer com coeficientes inteiros:

cn xn + cn−1 xn−1 + . . . + c2 x2 + c1 x + c0 = 0 .

Se esta equação possui uma raiz racional α = a/b (a, b ∈ Z , b 6= 0), onde a/b é uma
fração irredutı́vel, então a é um divisor de c0 e b é um divisor de cn .

Corolário 1. Se uma equação com coeficientes inteiros xn +cn−1 xn−1 +. . .+c2 x2 +c1 x+c0 = 0
(note que cn = 1) possui uma raiz racional α , então α é um número inteiro e α|c0 (α
divide c0 .
Números reais: racionais/irracionais, algébricos/transcendentes 83

Exemplos:

(a) 22 é irracional:

De fato, 22 é raiz de x2 − 22 = 0 . Se esta equação tiver uma raiz racional, esta raiz
√ √
terá que ser um número inteiro e 22 não é inteiro, pois 16 < 22 < 25 ⇒ 4 < 22 < 5 .

3
(b) 4 é irracional:

De fato, 3 4 é raiz da equação x3 − 4 = 0 .
Todas as raı́zes racionais desta equação são inteiros e divisores de 4, ou seja, os candidatos
a raı́zes racionais desta equação são ±1 , ±2 , ±4 .
Como nenhum destes números é raiz de x3 − 4 = 0 , podemos concluir que esta equação

não possui nenhuma raiz racional e portanto 3 4 é um número irracional.

• Via Trigonometria:

A partir das fórmulas

cos(a + b) = cos a cos b − sen a sen b e sen (a + b) = sen a cos b + sen b cos a

podemos construir uma série de identidades trigonométricas: cos 2a = 2 cos2 a − 1 ,


cos 2a = 1 − 2 sen 2 a , sen 2a = 2 sen a cos a , cos 3a = 4 cos3 a − 3 cos a ,
sen 3a = 3 sen a − 4 sen 3 a , etc.
Essas identidades trigonométricas, combinadas com o Teorema anterior (e seu Corolário) e
outras fórmulas da Trigonometria, nos permitem provar a irracionalidade de vários números,
senos ou cossenos de certos arcos.

Exemplos:
(a) sen 10o é irracional:
1
Seja a = 10o . Temos = sen 30o = sen 3a = 3 sen a − 4 sen 3 a .
2
Logo sen 10o é raiz da equação 1 = 6x − 8x3 , ou seja, 8x3 − 6x + 1 = 0 .
As possı́veis raı́zes racionais desta equação são: ±1, ±1/2, ±1/4, ±1/8 .
Sabemos que sen 10o > 0 e é claro que não pode ser 1 nem 1/2.
Não é difı́cil ver também que 1/4 e 1/8 não são raı́zes desta equação.
Portanto sen 10o é um número irracional.
84 CAPÍTULO 5

(b) cos 40o é irracional:


−1
Seja a = 40o . Temos = cos 120o = cos 3a = 4 cos3 a − 3 cos a .
2
Logo cos 40o é raiz da equação −1 = 8x3 − 6x , ou seja, 8x3 − 6x + 1 = 0 .
As possı́veis raı́zes racionais desta equação são: ±1, ±1/2, ±1/4, ±1/8 .
Sabemos que cos 40o > 0 e é claro que não pode ser 1 nem 1/2.
Como no exemplo acima, sabemos que 1/4 e 1/8 não são raı́zes desta equação.
Portanto cos 40o é um número irracional.

(c) cos 20o , sen 20o , tg 20o são irracionais:


Seja a = 20o . Temos: cos 40o = cos 2a = 2 cos2 a − 1 .
Assim, se cos 20o = cos a for racional então pela igualdade acima cos 40o tem que ser
racional. Mas vimos no exemplo anterior que cos 40o é irracional!
Então, obrigatoriamente, cos 20o é um número irracional.
Analogamente, como cos 40o é irracional e 40o = 2.20o , segue da identidade cos 2a =
1 − 2 sen 2 a que sen 20o não pode ser racional.
Finalmente, e novamente porque cos 40o é irracional, segue da identidade
cos 2a =
2 2 o 2 1
a
2 cos a − 1 que cos 20 não pode ser racional. Mas sabemos que tg a + 1 = sec = .
cosa
1
Se tg 20o for racional, então tg 2 20o + 1 = sec2 20o = tem que ser racional, o
cos 20o
2
que é um absurdo, pois 1 é racional diferente de 0 e cos2 20o é irracional. Portanto tg 20o é
irracional.

• Via logarı́tmos decimais:

Exemplos:
(a) log10 15 é irracional:
De fato, suponhamos que log10 15 seja racional. Como log10 15 > 0 , podemos supor
log10 15 = p/q com p, q ∈ IN .
q
Então 10p/q = 15 ⇒ 10p/q = 15q , isto é, 10p = 15q .
Temos então: 2p · 5p = 3q · 5q ⇒ 3 | (2p · 5p ) (Contradição! - pois sabemos que 3 não
divide 2 e não divide 5).
Então, obrigatoriamente, log10 15 é um número irracional.
Números reais: racionais/irracionais, algébricos/transcendentes 85

(b) log10 16 é irracional:


De fato, suponhamos que log10 16 seja racional. Como log10 16 > 0 , podemos supor
log10 16 = p/q com p, q ∈ IN .
q
Então 10p/q = 16 ⇒ 10p/q = 16q , isto é, 10p = 16q .
Temos então: 2p · 5p = 24q ⇒ 5 | 24q (Contradição! - pois sabemos que 5 não divide 2).
Então, obrigatoriamente, log10 16 é um número irracional.

Exercı́cios:
1) Prove a Proposição 5.10 (pág. 81).

2) Responda se cada um dos números dados abaixo é racional ou irracional. Justifique sua
resposta e, se o número for racional, descreva-o como quociente de dois números inteiros.

(a) a = 1, 175 ;

(b) b = 7 9 ;
(c) c = sen 15o ;
5
(d) d = log10 ;
3
(e) e = 0, 101001000100001000001 . . . ;
1
(f) f = 1 + log10 90 − log10 3 ;
2
(g) g = tg a , sendo cos 4a irracional ;
√ √
(h) h = 2 ( 7 − 1) ;
(i) i = 15, 2399999999 . . . ;
(j) j , único real que é raiz de x7 + 2x6 + 3x5 + 5x4 + 7x3 + 9x2 + 6x + 3 = 0 ;
(k) k = log10 75 − log10 3 ;
3
(l) l = sen 3a , sendo cos a =
;
5
(m) m = −5, 1234567891011121314151617 . . . ;
√ √
(n) n = 3 3 + 2 ;
(o) o = cos 12o ;
(p) p = −3, 13636363636 . . . ;
(q) q , único real que é raiz de 3x3 + 5x2 + 7x + 2 = 0 .
86 CAPÍTULO 5

Densidade dos irracionais/racionais em IR


(e aproximação de irracionais por racionais)

Sejam a < b dois números reais quaisquer.


Por mais próximos que estejam um do outro, isto é, por menor que seja a diferença b − a
(por menor que seja o intervalo aberto (a, b)), mostraremos que é sempre possı́vel garantir a
existência de números irracionais e racionais em (a, b).
A partir do resultado acima, dado qualquer número x ∈ IR , podemos obter um número
irracional (ou racional) tão próximo de x quanto desejarmos. Em outras palavras, é possı́vel
obter uma sequência (xn ) de números irracionais (racionais) que se aproximam cada vez mais
de x.
De fato, existe um irracional (racional) x1 no intervalo (x − 1, x + 1). Observemos que
|x1 − x| < 1 (a distância de x1 a x é menor do que um).
1 1
Existe um irracional (racional) x2 no intervalo (x − , x + ) .
2 2
Prosseguindo desta forma, obtemos uma sequência (x1 , x2 , x3 , . . .) de irracionais(racionais)
1 1
tais que |xn − x| < ∀ n ∈ IN , ou seja, 0 ≤ |xn − x| < → 0 quando n cresce.
n n
É fácil perceber (pelo menos intuitivamente) que os termos xn se aproximam cada vez mais
e tanto quanto desejarmos de x à medida que n cresce.
Escrevemos então xn → x e dizemos que a sequência (xn ) converge para x.

Por este motivo, dizemos que os conjuntos IR\Q e Q são DENSOS em IR .

Vamos então mostrar os resultados que garantem as densidades de IR\Q e de Q em IR .


A densidade de IR\Q em IR é imediata a partir da enumerabilidade de Q e da não-
enumerabilidade de IR (e de IR\Q, que tem a mesma cardinalidade que IR):

Teorema 5.12. (Densidade de IR\Q em IR) Se a < b são dois números reais quaisquer, então
existe (pelo menos) um número irracional no intervalo (a, b).

Demonstração:
Suponhamos, por absurdo, que (a, b) ∩ (IR\Q) = φ .
Então (a, b) ⊂ Q ⇒ card ((a, b)) ≤ card (Q) = w (Contradição!, pois sabemos que
card ((a, b)) = card (IR) = c > w = card (Q) ).
Portanto, obrigatoriamente, temos (a, b) ∩ (IR\Q) 6= φ .
Números reais: racionais/irracionais, algébricos/transcendentes 87

O resultado acima já era esperado, pois card (IR\Q) = card (IR) = card ((a, b)) >
card (Q) .
A densidade de Q em IR, por outro lado, não é tão obvia assim (“temos muito menos
racionais do que racionais na Reta Real” ):

Teorema 5.13. (Densidade de Q em IR) Se a < b são dois números reais quaisquer, então
existe (pelo menos) um número racional no intervalo (a, b).

Demonstração:
Como a < b, temos b − a > 0.
Sabemos que IN não é limitado superiormente em IR, o que equivale a dizer que, dado c > 0
1
em IR, é possı́vel obter n0 ∈ IN tal que <c.
n0
1
Considerando c = b − a > 0 , é possı́vel obter então n0 ∈ IN tal que <b−a.
n0
[  m m + 1
O próximo passo é observar que , = IR (tente provar, como exercı́cio).
m∈Z
n 0 n 0
 
m0 m0 + 1 m0 m0 + 1
Como a ∈ IR , existe m0 ∈ Z tal que a ∈ , , ou seja, ≤a< .
n0 n0 n0 n0

m0 + 1 m0 + 1
Afirmamos que a < < b , ou seja, ∈ (a, b) .
n0 n0
m0 + 1 m0 m0 + 1 m0 + 1 m0 1
De fato, se b ≤ então ≤a<b≤ ⇒ b−a≤ − =
n0 n0 n0 n0 n0 n0
1
(Contradição!, pois < b − a ).
n0
m0 + 1
Então, obrigatoriamente, existe um número racional ∈ (a, b) .
n0

Obs.: Da mesma forma que a densidade de Q em IR não é tão óbvia quanto a já espera-
da densidade de IR\Q em IR, o problema de aproximar um número irracional por números
racionais (ou por uma sequência de números racionais) é bem mais interessante que o contrário:

Exercı́cio: Dado um número racional r, obtenha uma sequência (xn ) de números irra-
cionais de forma que xn → r .
(Sugestão: RACIONAL + IRRACIONAL = IRRACIONAL, IRRACIONAL/RACIONAL
= IRRACIONAL e x/n → 0 para todo real x)
88 CAPÍTULO 5

Desta forma, iremos ver alguns resultados conhecidos sobre aproximação de números irra-
cionais por números racionais.

Aproximação de números irracionais por números racionais:

(A) Aproximações para raı́zes quadradas:


Seja a > 0 .
   
1 a 1 a
Tomemos x1 > 0 e façamos x2 = x1 + > 0 , x3 = x2 + > 0 . ...
2 x1 2 x2
 
1 a
Em geral: xn+1 = xn + >0.
2 xn
Com isso obtem-se uma sequência (xn ) = (x1 , x2 , x3 , x4 , . . .) e é possı́vel mostrar que

xn → a , ou seja, à medida que n cresce, os termos xn da sequência se aproximam cada vez

mais e tanto quanto desejarmos de a .
Ora, se a e x1 são racionais, é fácil ver que x2 , x3 , x4 , . . . são todos racionais.
Temos então um método para aproximação de certos irracionais (raı́zes quadradas) por
sequências de racionais:

Exemplo: Seja a = 2 > 0 . Tomemos x1 = 1 > 0 . Então:


     
1 2 3 1 2 17 1 2
x2 = 1+ = , x3 = (3/2) + = , x4 = (17/12) + ,...
2 1 2 2 (3/2) 12 2 (17/12)

Assim, obtemos uma sequência de números racionais (x1 , x2 , x3 , . . .) tal que xn → 2 .

(B) Aproximações via representações decimais:


Se temos em mãos a representação decimal de um número irracional α, já dispomos de uma
sequência de racionais que se aproximam cada vez mais e tanto quanto desejarmos de α :

Exemplo: Seja α = π = 3, 141592653 . . . . Temos


3 < π < 4 (a distância de π a 3 ou 4 é menor do que 1)
3, 1 < π < 3, 2 (a distância de π a 31/10 ou 32/10 é menor do que 1/10)
3, 14 < π < 3, 15 (a distância de π a 314/100 ou 315/100 é menor do que 1/100)
3, 141 < π < 3, 142 (a distância de π a 3141/1000 ou 3142/1000 é menor do que 1/1000)
3, 1415 < π < 3, 1416 (a distância de π a 31415/10000 ou 31416/10000 é menor do que
1/10000) e assim por diante...
Números reais: racionais/irracionais, algébricos/transcendentes 89

Obs.: Esse tipo de aproximação é um tanto restritivo, pois precisamos ter em mãos a
representação decimal do irracional α a ser aproximado e os racionais que aproximam α têm
sempre potências de 10 como denominadores.

(C) Aproximações por racionais com qualquer denominador:

O Lema abaixo é suficiente pra provarmos o resultado que nos interessa, a ser apresentado
em seguida.

Lema 5.14. Para qualquer número irracional α existe um único número inteiro m tal que
1 1
− <α−m< .
2 2

1 1 1 1
De fato, observemos inicialmente que − < α − m < ⇔ α− <m<α+ .
2 2 2 2
 
1 1
Como α é irracional, então o intervalo α − , α + (de comprimento igual a uma
2 2
unidade) tem extremos irracionais.
   
1 1 1
Se k é o menor inteiro em α + , +∞ , é claro que m = k − 1 ∈ α − , α +
2 2 2
(pois caso contrário a distância de m = k − 1 até k seria maior do que uma unidade).
 
1 1
É óbvio também que m é o único inteiro no intervalo α − , α + .
2 2
Da observação inicial, o resultado segue.
Obs.: m é o inteiro mais próximo de α .

Teorema 5.15. Sejam α um número irracional qualquer e n um número natural qualquer.


Então, existe um número racional de denominador n (digamos m/n) tal que
1 m 1
− <α− < .
2n n 2n

Demonstração:
Como α é irracional e n é natural (racional em particular), então n · α é irracional.
1 1
Segue do Lema anterior que existe um único inteiro m tal que − < n · α − m < ,
2 2
1 m 1
ou seja, − <α− < (dividindo por n > 0).
2n n 2n
90 CAPÍTULO 5

(D) Aproximações melhores:


Para completar, apenas enunciaremos dois teoremas, mais elaborados que o anterior, e que
produzem aproximações ainda melhores:

Teorema 5.16. Quaisquer que sejam o número irracional α e o inteiro positivo k, existe um
número racional m/n, com n ≤ k (n ∈ IN), tal que

1 m 1
− <α− < .
k·n n k·n
Teorema 5.17. Para todo número irracional α, existem infinitos números racionais m/n, em
forma irredutı́vel, tais que
1 m 1
− 2 <α− < 2 .
n n n

Exercı́cios:
1) Usando (A), obtenha sequências de racionais que convergem para os seguintes números
√ √ √
irracionais: 3 , 7 , 30 .
2) (a) Obtenha um número racional que esteja a uma distância menor que 1/10000 do

número irracional 2 = 1, 41421356... .
(b) Obtenha um número racional que esteja a uma distância menor que 1/1000000 do número
irracional e = 2, 7182818... .
(c) Obtenha um número racional que esteja a uma distância menor que 1/53422709 do número
irracional π = 3, 14159265358979... .
3) Usando as demonstrações do Lema e do Teorema em (C), obtenha um número racional

na forma m/7 que esteja a uma distância menor do que 1/14 do número irracional 3 .

5.5 Números algébricos/transcendentes

Definição 5.18. Um número (real) é dito ALGÉBRICO quando é raiz de uma equação poli-
nomial de grau maior ou igual a 1 e coeficientes inteiros.

Exemplos: 5 é um número algébrico, pois é raiz da equação x − 5 = 0 .


3
− é um número algébrico, pois é raiz da equação 7x + 3 = 0 .
7

2 é um número algébrico, pois é raiz da equação x2 − 2 = 0 .
Números reais: racionais/irracionais, algébricos/transcendentes 91

Observações:
(a) Apesar de estarmos estudando números reais, é possı́vel usar a Definição acima também
para números complexos algébricos.

(b) Todo número racional é algébrico.


De fato, seja r = p/q, com p, q ∈ Z, q 6= 0 . Então r é raiz da equação qx − p = 0 .

Definição 5.19. Um número (real) é dito TRANSCENDENTE quando não é algébrico.

Questão: Existem números transcendentes ?


(Todos os números transcendentes serão irracionais - veja Obs. acima, (b))

O Teorema seguinte nos ajudará a responder a questão acima:

Teorema 5.20. O conjunto dos números algébricos é enumerável. (tente provar)

Corolário 1. Existem números transcendentes e, mais ainda, o conjunto dos números trans-
cendentes é não-enumerável (ou seja, “existem muito mais números transcendentes do que
números algébricos”).

De fato, se não existissem números transcendentes, todo número real seria algébrico (Ab-
surdo, pois IR é não-enumerável e pelo Teorema acima o conjunto dos números algébricos é
enumerável).
Mais ainda, se o conjunto dos números transcendentes fosse enumerável, então IR (união
dos conjuntos dos números algébricos e transcendentes) seria enumerável (Absurdo!).

Temos as seguintes classificações para os números reais:




 RACIONAIS (todos são algébricos)


REAIS (
 ALGÉBRICOS
 IRRACIONAIS



TRANSCENDENTES

ou então
92 CAPÍTULO 5

 (
 RACIONAIS
 ALGÉBRICOS



IRRACIONAIS
REAIS




 TRANSCENDENTES (todos são irracionais)

Não é trivial (em geral é extremamente difı́cil) provar que certos números são trancendentes.
Vejamos alguns resultados conhecidos nessa direção (obtenção de números transcendentes):

1 1 1 1 1
• α = 0, 11000100000000000000000100 . . . ... = + 2 + 6 + 24 + 120 + . . . =
10 10 10 10 10
1 1 1 1 X 1
= + + + + . . . = (Número de Liouville) é um número transcen-
101! 102! 103! 104! n∈IN
10n!
dente (veja uma prova em [?]).

• π (razão entre o comprimento e o diâmetro de qualquer circunferência) é um número


transcendente (veja em [?]).

1 1 1 1
• e = 1+ + + + + . . . é um número transcendente (veja em [?]).
1! 2! 3! 4!

• Teorema (Lindemann): Se a 6= 0 é algébrico então ea é transcendente.


√ √
Exemplos: e 2 , 3 e = e1/3 , e = e1 são transcendentes.

• Teorema (Gelfand-Schneider): Se α 6= 0 , α 6= 1 , α é algébrico e β é algébrico e


irracional, então αβ é transcendente.

Exemplos: 2 2 , log10 2 (mostre), eπ (mostre, considerando o Teorema também para
números complexos) são transcendentes.

• sen a , cos a , tg a , csc a , sec a , ctg a são transcendentes, se a (em radianos) é


algébrico e a 6= 0 .

• log a = ln a é transcendente, se a é algébrico, a 6= 0 e a 6= 1 .

• 0, 123456789101112131415 . . . (Constante de Champernowne) é transcendente.


Números reais: racionais/irracionais, algébricos/transcendentes 93

Para finalizar, vejamos alguns exemplos de números os quais não sabemos (problemas em
aberto) se são ou não são transcendentes:
π + e , π − e , π · e , π/e , π π , ee , π e .
  
1 1 1 1
Constante de Euler-Mascheroni: γ = lim 1 + + + + ... + − log n .
n→∞ 2 3 4 n
94 CAPÍTULO 5
Capı́tulo 6

Noções de Lógica

6.1 Conceitos básicos

Definição 6.1. Chama-se PROPOSIÇÃO todo conjunto de palavras ou sı́mbolos que exprimem
um pensamento de sentido completo. As proposições afirmam fatos.
As proposições podem ser SIMPLES (não contêm nenhuma outra proposição como parte in-
tegrante de si mesma) ou COMPOSTAS (formadas pela combinação de duas ou mais proposições
- em geral essas combinações são dadas por conectivos que representam operações envolvendo
as proposições, como veremos adiante).
Chama-se VALOR LÓGICO de uma proposição a verdade (V) se a proposição é ver-
dadeira ou a falsidade (F) se a proposição é falsa.

Existem dois princı́pios (axiomas) fundamentais adotados pela Lógica Matemática:


(1) PRINCÍPIO DA NÃO-CONTRADIÇÃO: uma proposição não pode ser verdadeira e
falsa ao mesmo tempo.
(2) PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO: Toda proposição é verdadeira ou falsa, ou
seja, nunca ocorre um terceiro caso além destes dois: V ou F.
Pelos princı́pios acima, podemos concluir que toda proposição tem um, e somente um, dos
valores: V ou F.

Exemplos:
(a) O número 17 é um número primo. (Proposição simples com valor lógico (V))
(b) O número π é maior do que 3 e é racional. (Proposição composta - note o conectivo e
combinando duas proposições simples - com valor lógico (F))
96 CAPÍTULO 6

(c) 3/5 é um número racional ou 3 < 5. (Proposição composta com valor lógico (V))
√ √
(d) Ou 3 > 1 ou 3 < 2 . (Proposição composta com valor lógico (F))
(e) Se 8 é um número primo então 2 + 2 = 5 . (Proposição composta com valor lógico
(V))
(f) −1 < −7 se, e somente se, ( π/3 < 1 ou 0 é um número positivo). (Proposição
composta com valor lógico (V))

Obs.: Veremos já na próxima seção como determinar o valor lógico de proposições com-
postas como as dadas nos exemplos acima.

6.2 Conectivos e operações lógicas sobre proposições

Veremos agora como combinar proposições lógicas através de certas operações as quais,
além de descritas por EXPRESSÕES CARACTERÍSTICAS, são também representadas por
sı́mbolos chamados CONECTIVOS.
Para cada uma das operações que definiremos a seguir, iremos explicitar o valor lógico
resultante da operação aplicada (o que dependerá do(s) valore(s) lógico(s) da(s) proposição(ões)
envolvida(s)) através de uma tabela, chamada TABELA-VERDADE.

Negação

Conectivo: ∼ . Expressão caracterı́stica: “não” . Se p é uma proposição então sua negação


é escrita como ∼ p e lê-se: “não p”.
Exemplo: Seja p a proposição dada por p : π é um número racional . Temos

∼ p : π é um número irracional

Tabela-verdade:

Figura 6.1: Negação


Noções de Lógica 97

No exemplo anterior, como p é falsa (F), então podemos concluir que ∼ p é verdadeira
(V) (veja na tabela-verdade).

Conjunção

Conectivo: ∧ . Expressão caracterı́stica: “e” . Se p e q são proposições então a conjunção


de p com q é escrita como p ∧ q e lê-se: “p e q”.
Exemplo: Sejam p a proposição dada por p : π é um número racional e q a proposição
dada por q : π > 3 . Temos

p ∧ q : π é um número racional e π > 3

Tabela-verdade:

Figura 6.2: Conjunção

No exemplo acima, como p é falsa (F) e q é verdadeira (V), podemos concluir que p ∧ q
é falsa (F) (veja na tabela-verdade).

Disjunção

Conectivo: ∨ . Expressão caracterı́stica: “ou” . Se p e q são proposições então a disjunção


de p com q é escrita como p ∨ q e lê-se: “p ou q”.
Exemplo: Sejam p a proposição dada por p : π é um número racional e q a proposição
dada por q : π > 3 . Temos

p ∨ q : π é um número racional ou π > 3


98 CAPÍTULO 6

Tabela-verdade:

Figura 6.3: Disjunção

No exemplo anterior, como p é falsa (F) e q é verdadeira (V), podemos concluir que
p ∨ q é verdadeira (V) (veja na tabela-verdade).

Disjunção exclusiva

Conectivo: Y . Expressão caracterı́stica: “ou ... ou” . Se p e q são proposições então a


disjunção exclusiva de p com q é escrita como p Y q e lê-se: “ou p ou q”.
Exemplo: Sejam p a proposição dada por p : π é um número irracional e q a proposição
dada por q : π > 3 . Temos
p Y q : ou π é um número irracional ou π > 3

Tabela-verdade:

Figura 6.4: Disjunção exclusiva


Noções de Lógica 99

No exemplo anterior, como p é verdadeira (V) e q é verdadeira (V), podemos concluir


que p Y q é falsa (F) (veja na tabela-verdade).

Condicional

Conectivo: → . Expressão caracterı́stica: “se ... então” . Se p e q são proposições então a


condicional de p em q é escrita como p → q e lê-se: “se p então q”.
Neste caso ( p → q ), p é condição suficiente para q e q é condição necessária para p.
Exemplo: Sejam p a proposição dada por p : 8 é um número primo e q a proposição
dada por q : 2 + 2 = 5 . Temos

p → q : se 8 é um número primo então 2 + 2 = 5

Tabela-verdade:

Figura 6.5: Condicional

No exemplo acima, como p é falsa (F) e q é falsa (F), podemos concluir que p → q é
verdadeira (V) (veja na tabela-verdade).

Bicondicional

Conectivo: ↔ . Expressão caracterı́stica: “...se, e somente se,...” . Se p e q são proposições


então a bicondicional de p e q é escrita como p ↔ q e lê-se: “p se, e somente se, q”.
Neste caso ( p ↔ q ), p é condição necessária e suficiente para q e q é condição necessária
e suficiente para p.
100 CAPÍTULO 6

Exemplo: Sejam p a proposição dada por p : −1 < −7 e q a proposição dada por


q : ( π/3 < 1 ou 0 é um número positivo). Temos

p ↔ q : −1 < −7 se, e somente se ( π/3 < 1 ou 0 é um número positivo).

Tabela-verdade:

Figura 6.6: Bicondicional

No exemplo acima, como p é falsa (F) e q é falsa (F) - note que q é por sua vez uma
proposição composta, uma disjunção - podemos concluir que p ↔ q é verdadeira (V) (veja
na tabela-verdade).

Obs.: ORDEM DE PRECEDÊNCIA DOS CONECTIVOS

(1) ∼ , (2) ∧ , ∨ e Y , (3) → , (4) ↔

Assim, por exemplo, a proposição p → q ↔ s ∧ ∼ r → t é o mesmo que

(p → q) ↔ ((s ∧ (∼ r)) → t)

e qualquer intenção em obter uma interpretação diferente, ou seja, que não obedeça à ordem
de precedência, deve ser obtida com a introdução de parêntesis que a tornem clara.
Por exemplo: se escrevemos s ∧ ∼ r → t não precisamos de parêntesis para interpretar
isso como (s ∧ (∼ r)) → t , pois estamos querendo obedecer à ordem de precedência.
Já s ∧ (∼ r → t) tem um significado completamente diferente e para obtê-lo foram
utilizados parêntesis.
Noções de Lógica 101

Exercı́cios:
1) Para cada uma das proposições abaixo faça o seguinte: 1) Nomeie ( p, q, r, ... ) as
proposições simples que a compõem, 2) Determine o valor lógico das proposições simples que a
compõem, 3) Escreva a proposição na forma simbólica, 4) Finalmente determine o valor lógico
da proposição:
(a) Ou −2 < −1 ou cos π/4 > 1/2 .

(b) 2 < 5 ou π é um número racional.

(c) Se π > 4 então 3 > 5 e 2 é um número irracional.
(d) 32 + 42 = 52 se, e somente se, π 2 > 10 .
(e) Não é verdade que: 23 = 8 ou 42 = 43 .
(f) Se 34 = 81 então não é verdade que: 2 + 1 = 3 e 0.5 = 0 .
(g) Se não é verdade que 32 = 9 então tg π/3 > 1 .

2) Sabendo que os valores lógicos das proposições p, q, r e s são respectivamente V, V, F


e F , determine o valor lógico de cada uma das seguintes proposições:
(a) p → q ↔ q → p
(b) (p → r) ↔ (∼ p →∼ r)
(c) (p ∧ q) ∨ s → (p ↔ s)
(d) p →∼ q ↔ (p ∨ r) ∧ s

3) Como já vimos anteriormente, uma TABELA-VERDADE é uma tabela que mostra o
valor lógico de uma porposição composta de acordo com todos os valores lógicos possı́veis das
proposições simples que a compõem.
Construa a tabela verdade das seguintes proposições:
(a) ∼ q ∨ p ↔ q →∼ p
(b) (p ∧ (∼ q → p)) ∧ ∼ ((p ↔∼ q) → q ∨ ∼ p)
(c) (p ∨ q → r) → q ∨ ∼ r
(d) p →∼ q ↔ (p ∨ r) ∧ q
102 CAPÍTULO 6

4) Uma proposição composta é uma TAUTOLOGIA quando seu valor lógico é sempre V ,
independente dos valores lógicos das proposições simples que a compõem, ou seja, ao montar-
mos sua tabela-verdade, a coluna que apresenta seu valor lógico é só formada por V s.
Uma proposição composta é uma CONTRADIÇÃO quando seu valor lógico é sempre F , in-
dependente dos valores lógicos das proposições simples que a compõem, ou seja, ao montarmos
sua tabela-verdade, a coluna que apresenta seu valor lógico é só formada por F s.
Caso os valores lógicos de sua tabela-verdade apresente V e F , temos uma CONTINGÊNCIA.
Classifique as proposições abaixo de acordo com as definições acima:
(a) (p ∨ q)∧ ∼ q → p
(b) p ∧ (q ∨ r) ↔∼ p ∨ (∼ q∧ ∼ r)
(c) (p → q) ∧ ∼ q →∼ p
(d) p ↔ (p ∨ q) ∧ q

6.3 Implicações e equivalências lógicas

Definição 6.2. Dizemos que uma proposição P (p, q, r, . . .) IMPLICA uma proposição Q(p, q, r, . . .)
e escrevemos P (p, q, r, . . .) ⇒ Q(p, q, r, . . .) quando Q(p, q, r, . . .) é verdadeira (V) sempre
que P (p, q, r, . . .) for verdadeira (V).
Isto significa que sempre que tivermos (V) numa linha da tabela-verdade de P (p, q, r, . . .) ,
teremos obrigatoriamente (V) nessa mesma linha da tabela-verdade de Q(p, q, r, . . .) .

Obs.: Dizer que P implica Q é o mesmo que dizer que a condicional P → Q é uma
tautologia (veja Exerc. 4 da seção anterior).

Definição 6.3. Dizemos que uma proposição P (p, q, r, . . .) é EQUIVALENTE a uma proposição
Q(p, q, r, . . .) e escrevemos P (p, q, r, . . .) ⇔ Q(p, q, r, . . .) quando as tabelas-verdade dessas
duas proposições são idênticas.
Isto significa que P (p, q, r, . . .) ⇒ Q(p, q, r, . . .) E Q(p, q, r, . . .) ⇒ P (p, q, r, . . .) .

Obs.: Dizer que P equivale a Q é o mesmo que dizer que a bicondicional P ↔ Q é


uma tautologia (veja Exerc. 4 da seção anterior).
Noções de Lógica 103

Na Matemática, os resultados em geral (Teoremas, Proposições, Lemas, Corolários, etc.)


sempre se apresentam sob a forma de implicações ou equivalências.
Quando o resultado a se provar tem a forma de uma implicação P ⇒ Q , tem-se uma
conjunto de proposições (chamadas PREMISSAS) P1 , P2 , . . . , Pn que formam a HIPÓTESE
P = P1 ∧ P2 ∧ . . . ∧ Pn e podemos utilizar uma série de REGRAS DE INFERÊNCIA para
chegarmos à CONCLUSÃO (ou TESE) Q do resultado, ou seja, para mostrar que P ⇒ Q .
Quando o resultado a se provar tem a forma de uma equivalência P ⇔ Q , deve-se provar
ambas as implicações P ⇒ Q e Q ⇒ P .
Desta forma, iremos aproveitar essa discussão e para dar como exemplos de implicações as
chamadas regras de inferência, que são “passos” que podemos utilizar em uma dedução ou
demonstração:

Exemplos: (implicações)
(a) REGRA DA ADIÇÃO (AD):
(i) p ⇒ p ∨ q . De fato, se p é verdadeira, então obrigatoriamente p ∨ q é verdadeira e
portanto p implica p ∨ q .
(ii) q ⇒ p ∨ q (analogamente).

(b) REGRA DA SIMPLIFICAÇÃO (SIMP):


(i) p ∧ q ⇒ p . De fato, se p ∧ q é verdadeira, então obrigatoriamente p é verdadeira e
portanto p ∧ q implica p .
(ii) p ∧ q ⇒ q (analogamente).

(c) REGRA DA ABSORÇÃO (ABS):

p → q ⇒ p → (p ∧ q) .

De fato, se p → q é verdadeira, temos duas possibilidades: ou p é falsa ou p e q são


verdadeiras. De qualquer modo teremos p → (p ∧ q) verdadeira.
Assim, como p → (p ∧ q) é verdadeira sempre que p → q é verdadeira, temos que p → q
implica p → (p ∧ q) .
Obs.: p → q e p → (p ∧ q) são equivalentes.
104 CAPÍTULO 6

(d) REGRA MODUS PONENS (MP):

(p → q) ∧ p ⇒ q .

De fato, se (p → q) ∧ p é verdadeira, temos (pela regra de simplificação) p → q é


verdadeira e p é verdadeira. Mas se isso ocorre então q é verdadeira.
Assim, como q é verdadeira sempre que (p → q) ∧ p é verdadeira, temos que (p → q) ∧ p
implica q .

(e) REGRA MODUS TOLLENS (MT):

(p → q) ∧ ∼ q ⇒ ∼ p .

De fato, se (p → q) ∧ ∼ q é verdadeira, temos (pela regra de simplificação) p → q é


verdadeira e q é falsa. Mas isso só pode ocorrer se p for falsa, ou seja, ∼ p é verdadeira.
Assim, como ∼ p é verdadeira sempre que (p → q) ∧ ∼ q é verdadeira, temos que
(p → q) ∧ ∼ q implica ∼ p .

(f) REGRA DO SILOGISMO DISJUNTIVO (SD):


(i) (p ∨ q) ∧ ∼ p ⇒ q . De fato, se p ∨ q é verdadeira e p é falsa, então obrigatoriamente
q é verdadeira. Logo (p ∨ q) ∧ ∼ p implica q .
(ii) (p ∨ q) ∧ ∼ q ⇒ p (analogamente).

(g) REGRA DO SILOGISMO HIPOTÉTICO (SH):

(p → q) ∧ (q → s) ⇒ p → s .

O único jeito de p → s ser falsa é p ser verdadeira e s ser falsa. Nesta situação, se q
é verdadeira então q → s é falsa e teremos (p → q) ∧ (q → s) falsa. Por outro lado, se
q é falsa então p → q é falsa e teremos (p → q) ∧ (q → s) falsa. De qualquer modo ( q
verdadeira ou falsa), teremos (p → q) ∧ (q → s) falsa. Portanto p → s é verdadeira sempre
que (p → q) ∧ (q → s) for verdadeira e a implicação está provada.
Noções de Lógica 105

(h) REGRA DO DILEMA CONSTRUTIVO (DC):

(p → q) ∧ (r → s) ∧ (p ∨ r) ⇒ q ∨ s .

(Exercı́cio: prove a implicação)

(i) REGRA DO DILEMA DESTRUTIVO (DD):

(p → q) ∧ (r → s) ∧ (∼ q ∨ ∼ s) ⇒ ∼ p ∨ ∼ r .

(Exercı́cio: prove a implicação)

Exemplos: (equivalências)
(a) p → q ⇔ ∼ p ∨ q
(⇒) Se p → q é verdadeira, então ou p é falsa ou p e q são ambas verdadeiras. De
qualquer modo teremos ∼ p ∨ q verdadeira.
(⇐) Se ∼ p ∨ q é verdadeira, então p é falsa ou q é verdadeira (podendo ocorrer
ambos). De qualquer modo teremos p → q verdadeira.

(b) As proposições (p → q) ∧ p e q não são equivalentes:


Sabemos que (p → q) ∧ p ⇒ q (Modus ponens - MP), mas a recı́proca q ⇒ (p → q) ∧ p
não ocorre, uma vez que podemos ter q verdadeira e (p → q)∧p falsa (basta tomar p falsa).

(c) PROPRIEDADES DISTRIBUTIVAS: (Exercı́cio: prove a equivalência)

p ∧ (q ∨ r) ⇔ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r) e p ∨ (q ∧ r) ⇔ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r)

(d) REGRAS DE DE MORGAN: (Exercı́cio: prove a equivalência)

∼ (p ∧ q) ⇔ ∼ p ∨ ∼ q e ∼ (p ∨ q) ⇔ ∼ p ∧ ∼ q

(e) NEGAÇÃO DA CONDICIONAL:

∼ (p → q) ⇔ p ∨ ∼ q

(Exercı́cio: Prove a equivalência acima. Sugestão: use a equivalência do Exemplo (a) e as


Regras de De Morgan)
106 CAPÍTULO 6

6.4 O método dedutivo: uso de argumentos e regras de


inferência nas demonstrações

Nesta sessão iremos exibir exemplos nos quais exploraremos algumas das idéias já tratadas
na seção anterior.

Exemplos:

(a) A equivalência p ∨ q ⇔ ∼ p → q :
A equivalência acima nos permite demonstrar que p ∨ q é verdadeira, mostrando que
∼ p → q é verdadeira e vice-versa.
Por exemplo: Vamos mostrar que se o produto a · b de dois números reais é igual a 0 ,
então a = 0 ou b = 0 .
Sejam a, b ∈ IR tais que a · b = 0 .
1 1
Se a 6= 0 então existe ∈ IR tal que ·a=1.
a a
1 1 1
Temos então b = 1 · b = ( · a) · b = · (a · b) = ·0=0.
a a a
Mostramos que a 6= 0 → b = 0 ( ∼ p → q ). Então temos a = 0 ou b = 0 ( p ∨ q ).

Obs.: Temos também p ∨ q ⇔ ∼ q → p .

(b) Modus ponens (MP): (p → q) ∧ p ⇒ q


Por exemplo: Sabemos (do Cálculo) que se uma função f : X → IR é derivável num
ponto a ∈ X então f é contı́nua em a ( p → q ).
Dado a ∈ IR , a função s : IR → IR dada por s(x) = sen x é derivável em a ( p ).
Podemos concluir então (MP - Modus ponens) que essa função s acima é contı́nua em todo
ponto a ∈ IR ( q ).

Obs.: (p → q) ∧ p e q não são equivalentes, pois q não implica em (p → q) ∧ p


(mostre). À luz do exemplo dado, isto significa afirmar que se uma função é contı́nua num
ponto não podemos garantir que ela é derivável neste ponto.
Noções de Lógica 107

(c) Modus tollens (MT): (p → q) ∧ ∼ q ⇒ ∼ p


Por exemplo: Sabemos que se uma sequência (an ) = (a1 , a2 , a3 , . . .) de números reais é
convergente (ou seja, se aproxima cada vez mais e tanto quanto quisermos de um número real
a à medida que n cresce), então essa sequência é necessariamente limitada ( p → q ).
A sequência (0, 1, 0, 2, 0, 3, 0, 4, 0, 5, 0, 6, 0, 7, . . .) não é limitada ( ∼ q ).
Podemos concluir então (MT - Modus tollens) que essa sequência acima não é convergente
( ∼ p ).

Obs.: (p → q) ∧ ∼ q e ∼ p não são equivalentes, pois ∼ p não implica em


(p → q) ∧ ∼ q (mostre). À luz do exemplo dado, isto significa afirmar que se uma sequência
não é convergente não podemos garantir que ela não é limitada.

(d) Igualdade de conjuntos:


Dados dois conjuntos A e B , para mostrarmos que A = B devemos provar que A ⊂ B
e B⊂A.
Mostrar que A ⊂ B é provar a implicação x ∈ A ⇒ x ∈ B e, reciprocamente, mostrar
que B ⊂ A é provar a implicação x ∈ B ⇒ x ∈ A .
Podemos provar ambas as implicações acima citadas através de uma série de equivalências,
pois a ⇔ b é o mesmo que a ⇒ b E b ⇒ a .
Por exemplo: Vamos mostrar que dados dois conjuntos A e B, temos

C(A ∪ B) = CA ∩ CB

Para os passos abaixo, consideremos as proposições p : x ∈ A e q : x ∈ B .


DeM organ
x ∈ C(A ∪ B) ⇔ x 6∈ (A ∪ B) [∼ (p ∨ q)] ⇔ [∼ p ∧ ∼ q] x 6∈ A e x 6∈ B ⇔
⇔ x ∈ CA ∩ CB .

Note que na IDA (⇒) das equivalências acima estamos provando que

C(A ∪ B) ⊂ CA ∩ CB

enquanto que na VOLTA (⇐) estamos provando que

CA ∩ CB ⊂ C(A ∪ B)

O passo fundamental na demonstração acima foi a utilização de uma das Regras de De


Morgan (veja o exemplo (d) de equivalências na seção anterior).
108 CAPÍTULO 6

(e) Demonstração condicional:


Suponhamos que se queira provar um resultado que se apresenta sob a forma de implicação
P ⇒ Q , onde as premissas P1 , P2 , . . . , Pn formam a hipótese P = P1 ∧ P2 ∧ . . . ∧ Pn e a tese
Q tem a forma a → b .
Da equivalência [ P ⇒ (a → b) ] ⇔ [ (P ∧ a) ⇒ b ] , podemos então ADICIONAR
a proposição a ao conjunto de premissas e assim, provando que (P ∧ a) ⇒ b , teremos
demonstrado o resultado através de um argumento válido.
Por exemplo: Sejam x e y números reais tais que x2 = y 2 (P ). Queremos provar que
se x, y ≥ 0 então x = y (a → b).
Mas vimos acima que provar P ⇒ (a → b) é o mesmo que mostrar P ∧ a ⇒ b .
Sejam então x, y ∈ IR dois números reais não-negativos tais que x2 = y 2 (P ∧ a).
Temos então 0 = x2 − y 2 = (x + y) · (x − y) . Logo x + y = 0 ou x − y = 0 .
Temos dois casos possı́veis: (i) Se x = y = 0 já temos x = y . (ii) Se um dos dois (x ou
y) é positivo então x + y 6= 0 e assim, pelo Silogismo Disjuntivo ( (p ∨ q) ∧ ∼ p ⇒ q ), temos
x − y = 0 e portanto x = y .
De qualquer modo, mostramos que x = y (b).

(f) Demonstração indireta (REDUÇÃO AO ABSURDO):


Suponhamos que se queira provar um resultado que se apresenta sob a forma de implicação
P ⇒ Q , onde as premissas P1 , P2 , . . . , Pn formam a hipótese P = P1 ∧ P2 ∧ . . . ∧ Pn .
A demonstração indireta (ou por redução ao absurdo) consiste em SUPOR O CONTRÁRIO
DO QUE SE QUER PROVAR, ou seja, ADICIONAR a proposição ∼ Q ao conjunto de
premissas e mostrar que dessa forma P ∧ ∼ Q implica em uma CONTRADIÇÃO!
Ora, se chegamos a uma contradição (um absurdo, que não pode ocorrer) incluindo a
suposição de que Q é falsa, então OBRIGATORIAMENTE Q é verdadeira e o resultado está
provado.
Por exemplo: Vamos provar: O conjunto vazio φ é subconjunto de qualquer conjunto A .
Suponhamos, por absurdo, que exista um conjunto A tal que φ 6⊂ A (estamos supondo
a negação do que queremos provar).
Então existe algum elemento x ∈ φ tal que x 6∈ A (CONTRADIÇÃO! pois o conjunto
vazio não pode possuir elemento algum).
Portanto, obrigatoriamente, φ ⊂ A , qualquer que seja o conjunto A .
Referências

[1] Alencar Filho, E., Iniciação à Lógica Matemática, Livraria Nobel S.A.

[2] Alencar Filho, E., Teoria Elementar dos conjuntos, Livraria Nobel S.A.

[3] Domingues, H. H. & Iezzi, G., Álgebra Moderna, Atual Editora LTDA.

[4] Castrucci, B., Elementos de Teoria dos Conjuntos, Livraria Nobel S.A.

[5] Lima, Elon L., Curso de Análise, vol. 1, Projeto Euclides, IMPA

[6] Niven, Ivan M., Números: Racionais e Irracionais, SBM

[7] Figueiredo, Djairo G., Números Irracionais e Transcendentes, Coleção Iniciação


Cientı́fica, SBM

[8] Lipschutz, Seymour, Teoria dos Conjuntos, Coleção Schaum, Editora MacGraw-Hill
do Brasil

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