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octavia butler
tradução de amilcar packer
parábola da semeadora
(capítulos 5 e 6)
octavia butler
tradução de jota mombaça
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Em The Undercommons, Fred Moten e Stefano Harney abrem uma brecha
para re-pensarmos o que estudar (to study) significa, especialmente o estudo
preto (black study), compreendido aí como “estudo sem finalidade”, estudo
para a fuga, para o plano de fuga, isto é: para a fuga sem finalidade, para a fuga
indefinida em meio à noite preta dos subcomuns. Como quando nos damos conta
de que há algo condenado neste planeta e que não há para onde fugir senão rumo
à própria fuga, ao domínio opaco, impreciso, mutante e especulativo da fuga.
Estudar é fugir. É estudar para fugir, para habitar o desterro, a catástrofe e os
outros mundos possíveis que se precipitam ao fim deste.
Na conversa com sua amiga Joanne – que toma quase o capítulo 5 inteiro –, ao
ser confrontada quanto à impossibilidade de ler o futuro, Lauren responde: “é
assustador, mas depois que você atravessa o medo, é fácil.” Ler o futuro aqui
não se trata de uma operação miraculosa, mas de um estudo, uma atenção aos
diagramas de força e às coreografias do tempo, e não se limita à capacidade de
fazer maus presságios – Lauren se recusa a parar por aí. Ler o futuro – isto é:
as forças que estão em jogo na produção do futuro – é apenas o primeiro passo
rumo a uma ação cujo sentido é o de moldá-lo, agir sobre ele.
Cada capítulo de Parable of the Sower inicia com versos de um outro livro,
escrito por Lauren e chamado Earthseed: o livro das coisas que vivem1. Trata-se
de uma teologia experimental que reposiciona Deus e o inscreve como Mudança
– força tão irresistível e inexorável quanto maleável e caótica: God exists to be
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