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São Mateus - ES
2017
Wilma Cairu Josefa
Monografia apresentada ao
Departamento de Ciências
Naturais – DCN - CEUNES,
Universidade Federal do Espírito
Santo, como parte dos requisitos
para obtenção do título de
Licenciado em Química.
São Mateus-ES
2017
Wilma Cairu Josefa
Monografia apresentada ao
Departamento de Ciências Naturais
– DCN - CEUNES, Universidade
Federal do Espírito Santo, como
parte dos requisitos para obtenção
do título de Licenciado em
Química.
BANCA EXAMINADORA
____________________________
Prof (a). Dr (a). Christiane Mapheu Nogueira
____________________________
Prof (a). Dr (a). Márcia Helena Rodrigues Velloso
____________________________
Mestranda Cristiane Pitol Chagas Ferreira
São Mateus-ES
2017
Dedico esta monografia a minha família, em especial à
minha filha Lara Josefa Barbosa que soube esperar o
pouco tempo que a ela dediquei, aos amigos que
estiveram do meu lado em todos os momentos que
precisei, aos meus irmãos pela força e companheirismo e
a todos que de uma maneira ou de outra me ajudaram a
não desistir desse árduo e prazeroso fardo que carreguei
por esses longos anos.
Agradecimentos
A Deus pela saúde e força que me mantiveram de pé por todos esses anos. Por não me
abandonar, mesmo quando eu pensei que tudo estava acabado. Obrigada Senhor!
À minha querida, maravilhosa e espetacular filha, Lara. Que me alegrou, com seus risos
e seus cantos, quando eu estava tão amarga que mal a ouvia perguntar, “mamãe, o que
você trouxe pra mim?”. Obrigada a você criança guerreira, que cresceu entre as idas e
voltas da universidade e que mesmo com tamanho cansaço se divertia e se sentia muito
feliz. Você me deixa feliz.
Aos meus pais, por terem me dado a vida, e mesmo que não estejam mais presentes,
sinto que me apoiam como sempre fizeram. Obrigada por me encorajar.
À minha amiga Delzuity, que sempre me apoiou, me incentivou, se alegrou com minhas
vitórias e me encorajou nas minhas derrotas.
Aos grandes amigos que conquistei ao longo desses anos: Caio, Cristiane, Jhonatan e
Welber, com os quais pude contar em todos os momentos de necessidade e me
atenderam sem hesitar.
À minha orientadora, por aceitar meu pedido, por tornar possível esse trabalho, por ser
profissional e atenciosa com seus alunos. Muito obrigada Christiane Mapheu Nogueira.
A todos meus amigos e familiares, irmãos, sobrinhos, tios, obrigada por acreditarem
que seria possível. A todos que não acreditaram que seria possível, usei todas as falas de
descrédito para reforçar meus pilares e construir mais um degrau rumo ao sucesso
chamado “vida”.
“Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas,
ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus
filhos sejam professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é
duro, difícil e necessário, mas que permitidos que esses profissionais continuem sendo
desvalorizados. Ainda assim, nós professores devemos educar as pessoas para serem
águias e não apenas galinhas. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade,
sem ela, tampouco, a sociedade muda.”
Paulo Freire
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 17
1.1. Revisão Bibliográfica ..................................................................................... 18
1.1.1. A utilização de plantas medicinais ........................................................... 18
1.1.2. Comunidades Quilombolas do Norte do Espírito Santo ........................... 19
1.1.3. Quilombolas e plantas medicinais ............................................................ 20
1.1.4. Extratos Vegetais ...................................................................................... 22
1.1.5. Estudos Fitoquímicos ............................................................................... 22
1.1.5.1. Terpenoides ........................................................................................... 23
1.1.5.2. Flavonoides ........................................................................................... 24
1.1.5.3. Taninos.................................................................................................. 25
1.1.5.4. Saponinas .............................................................................................. 26
1.1.5.5. Alcaloides ............................................................................................. 26
1.1.5.6. Cumarinas ............................................................................................. 27
1.1.6. Capim cidreira ............................................................................................... 28
1.1.7. Jambu ............................................................................................................ 29
1.1.8. Alecrim .......................................................................................................... 30
2. Objetivos ................................................................................................................ 33
2.1. Geral ................................................................................................................ 33
2.2. Específicos....................................................................................................... 33
3. METODOLOGIA.................................................................................................... 34
3.1. Características da Pesquisa........................................................................... 34
3.2. Local da pesquisa ........................................................................................... 34
3.2.1. Comunidade quilombola Angelim I ......................................................... 34
3.3. Sujeitos da pesquisa ....................................................................................... 37
3.4. Procedimentos de coleta de dados ................................................................ 37
3.6. Obtenção dos Extratos ................................................................................... 38
3.7. Análise Fitoquímica ....................................................................................... 39
3.7.1. Determinação de alcaloides ........................................................................... 39
3.7.2. Determinação de cumarinas .......................................................................... 40
3.7.3. Determinação de fenóis e taninos.................................................................. 40
3.7.4. Determinação de esteroides e triterpenos ...................................................... 40
3.7.5. Determinação de saponinas ........................................................................... 40
3.7.6.1. Reação de Cianidina ............................................................................... 41
3.7.6.2. Reação de AlCl3 ..................................................................................... 41
APÊNDICE 01 .............................................................................................................. 59
LISTA DE FIGURAS
The quilombola communities are ethnic groups predominantly constituted by the rural
or urban black population, who define themselves from the specific relationships with
their own land, kinship, territory, ancestry, traditions and cultural practices.
Quilombolas are descendants of enslaved Africans who maintain cultural, subsistence
and religious traditions throughout the centuries. One such tradition is the use of
medicinal plants, which has been around for millions of years. Man has always sought
to remove resources to improve his quality of life. Due to the hallucinogenic power of
some plants, they came to be treated as divine, because those who used them believed in
the apex of the hallucination that could have direct contact with God. Nowadays in
Brazil and in the world, the innovative ideas of sustainable development and the new
global trends, have given greater importance to the study of medicinal plants, which
have taken on a general interest in herbal medicine. Researchers from diverse fields,
such as: biology, biochemistry, biomedicine, chemistry, among others, employ modern
techniques in the works with medicinal plants for the purpose of making the use of
herbal medicine more accessible and safe. Motivated to interpret, record and
disseminate quilombola cultural knowledge about the ethnobotany of medicinal use and
using the use of chemical science to extract the essential oil and through it characterize
the active principles of the plants most used in the communities, the present work was
carried out with visits to the Angelim I e São Jorge communities, located in the north of
Espírito Santo, between the cities of São Mateus and Conceição da Barra, adopting
interviews and applying a questionnaire with questions regarding the diversity of plants
used in a therapeutic care. It was observed that effusion, decoction and maceration are
the most used forms for consumption and the plants most used are: rosemary, lemon
grass and watercress.
O uso das plantas medicinais é uma cultura milenar praticada por povos de todo
o mundo. Mesmo com a expansão das práticas farmacêuticas, atrelada ao grande
desenvolvimento da medicina moderna a utilização de recursos oriundos da natureza
persiste até os dias atuais. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 80% da
população de países em desenvolvimento fazem uso de plantas nos cuidados básicos
com a saúde (BRASIL, 2007).
As plantas são importantes fontes de produtos naturais biologicamente ativos.
Muitos princípios ativos das plantas são utilizados na síntese de um grande número de
fármacos. Alguns dos constituintes isolados de várias partes das plantas
(flavonoides, taninos, alcaloides, cumarinas e terpenos) são os principais responsáveis
pelas ações analgésicas, anti-inflamatórias, antivirais, hipoglicemiantes,
antiespasmódicas e antialérgicas das plantas (BANDONI, 2008).
O Brasil é conhecido mundialmente por sua biodiversidade. No território do país
encontra-se cerca de 20% de todas as espécies de plantas do planeta (BRASIL, 2010).
Porém, mesmo com essa vasta riqueza, a medicina tradicional recebe pouco
investimento em pesquisas e incentivos à população de fazer usos desses recursos
naturais.
Dentre os povos que fazem parte da sociobiodiversidade brasileira, encontram-se
os quilombolas, que assim como em outras culturas, os povos das comunidades
quilombolas do norte do Espírito Santo, utilizam as plantas como fins medicinais e
também em rituais religiosos. De acordo com a Fundação Cultural Palmares, existem
hoje, apenas, cerca de 100 comunidades quilombolas em todo o estado. Na década de 70
apenas no norte do Espírito Santo existiam pelo menos 12 mil famílias habitando em
comunidades quilombolas. Com a grande expansão da exploração territorial por
empresas de eucalipto e cana-de-açúcar, muitas famílias venderam suas terras a preço
baixo e foram viver aglomeradas nas cidades, principalmente em São Mateus e
Conceição da Barra. Mesmo não morando na roça, a maioria desses remanescentes
quilombolas não se afastaram de sua cultura, levando para a cidade seus conhecimentos
e práticas culturais, principalmente acerca da medicina tradicional. As poucas 1200
famílias que ainda vivem nas 32 comunidades do norte do Espírito Santo, guardam
consigo sua ancestralidade, sua relação territorial, sua prática de manejo da terra, e uma
17
extraordinária história de resistência em meio a um imenso “deserto verde” e pastagens
de animais, pertencentes a grandes latifundiários (BRASIL, 2009).
Diante da importância da relação entre as comunidades quilombolas com a
medicina tradicional através do uso das plantas medicinais, este trabalho teve por
objetivo realizar um levantamento visando catalogar as espécies mais utilizadas nas
práticas terapêuticas dessas comunidades, contribuindo como registro de informações
para gerações futuras, resgate e preservação do conhecimento e empoderamento desses
povos com as plantas, bem como, utilizar a ciência química na obtenção dos extratos e
análise fitoquímica dos constituintes das espécies selecionadas.
19
1.1.3. Quilombolas e plantas medicinais
20
realizadas nos quilombos por rezadoras ou curandeiros, devido às perseguições sofridas
por esses povos a cerca de sua cultura desde os tempos remotos. Muitos deles foram
taxados como feiticeiros (as) e bruxos (as) e suas práticas de cura confundidas com atos
de feitiçaria. (AGOSTINHO, 2012).
É importante salientar que as práticas da medicina tradicional realizadas nos
quilombos, não são de uso restrito dos quilombolas. Uma vasta quantidade de pessoas
que habitam fora das comunidades quilombolas procuram esses serviços, ainda que sem
comprovação científica de sua eficácia. As repetidas experiências de seu uso dentre a
população permitem validar sua utilidade, pois esse conjunto de saberes e práticas tem
sua estrutura pautada na experiência empírica. Isso demonstra ser um fenômeno cultural
que sempre existiu e faz parte do cotidiano das comunidades e que dificilmente
desaparecerá. Deixar o uso da medicina tradicional cair no esquecimento, é excluir a
cultura de um povo (BARBOSA, 2004). Sobre a cultura como parte do cotidiano e da
comunidade, Amadou Hampaté Bá, mestre em tradição de línguas africanas diz:
21
1.1.4. Extratos Vegetais
A fitoquímica é a área responsável pelo estudo dos princípios ativos das plantas.
Esses princípios ativos são chamados de metabólitos secundários, os quais fazem parte
do metabolismo dos vegetais que conferem proteção às plantas e que possuem atividade
biológica que oferecem benefícios à saúde humana (BANDONI, 2008).
1
Medicamentos preparados exclusivamente à base de plantas.
2
Substâncias extraídas das plantas, que apresentam atividades farmacológicas que podem ter
aplicações terapêuticas.
22
A primeira etapa da análise fitoquímica é a coleta do material vegetal. É
essencial realizar uma Exsicata3, seguida de preparação do material, secagem se for a
opção, moagem e a obtenção do extrato (SIMÕES, 2007).
Os objetivos dos estudos fitoquímicos são extração, isolamento, purificação e
determinação da estrutura química dos constituintes presentes em extratos de plantas
com atividade biológica (SCHULZ, 2001). Para algumas substâncias, em certos
vegetais, podem-se realizar reações de caracterização diretamente sobre os tecidos do
material vegetal, que resultam no desenvolvimento de coloração e/ou formação de
precipitado característico. Em algumas reações utiliza-se diretamente o extrato, em
outras é necessário eliminar todo o solvente e realizar a análise do extrato seco da planta
diluído em reagentes específicos (BARBOSA, 2001). Entre as classes de princípios
ativos vegetais pode-se citar: terpenoides, flavonoides, taninos, saponinas, alcaloides,
cumarinas, que serão identificados nesse trabalho, mas existem outros compostos que
podem ser evidenciados em análises fitoquímicas como: Ligninas, quinonas,
metilxantinas, etc... (SIMÕES, 2007).
1.1.5.1. Terpenoides
3
Identificação botânica da planta.
23
classificação dos terpenoides de acordo com o número de unidades de isopreno e
quantidade de carbono na molécula.
Tabela 1: condensação de unidades de isopreno na formação de terpenoides
1 5 Isopreno
2 10 Monoterpenoides
3 15 Sesquiterpenoides
4 20 Diterpenoides
5 25 Sesterpenoides
6 30 Triterpenoides
N N Polisoprenoides
Fonte: Simões 2007
1.1.5.2. Flavonoides
24
Figura 01 - Núcleo fundamental dos flavonoides e sua numeração.
5'
6' 4'
8 C
9 O 3'
7 2
A B 2'
6 3
10
5
O
Fonte: acervo próprio.
1.1.5.3. Taninos
R3 O
R1
O HO OH
HO O
R4 O
O O O O
OH O OH
HO O O
(a) OH (b) O O
OH
HO
OH
OH
OH
Fonte: acervo próprio. 25
1.1.5.4. Saponinas
COOR 2
R1O
1.1.5.5. Alcaloides
N OH
1.1.5.6. Cumarinas
As cumarinas são amplamente distribuídas nos vegetais, mas também podem ser
encontradas em fungos e bactérias. Estruturalmente, são lactonas do ácido o-hidróxi-
cinâmico, a cumarinas (1,2-benzopirona), é a mais simples de sua representação. São
várias as propriedades farmacológicas das cumarinas, dentre elas pode-se citar:
relaxante muscular, atividade antiespasmódica, vasodilatadora. Cumarinas
vasodilatadoras podem ser utilizadas no tratamento de impotência masculina (SIMÕES,
2007). As principais classes de cumarinas são: simples, furano cumarinas, pirano
cumarinas, cumarinas diméricas e cromona. Na Figura 05, são apresentados exemplos
de cumarinas simples e diméricas.
R1
OH OH
R2 O O
R3 (a) O OO O (b)
Fonte: Acervo próprio.
27
1.1.6. Capim cidreira
1.1.7. Jambu
NH
1.1.8. Alecrim
30
Fotografia 03 - Alecrim coletado.
HO OH
Fonte: acervo próprio.
.
31
O alecrim possui um potencial de cura enorme, mas grande parte do consumo
dessa planta pela população brasileira é na culinária, pois apresenta efeito marcante em
carnes, aves e peixes (PORTE, 2001).
32
2. Objetivos
2.1. Geral
Identificar as plantas medicinais mais utilizadas com fins terapêuticos nas comunidades
quilombolas. Obter os extratos de três dessas plantas, realizar análises e identificação
dos compostos, que seu potencial de cura.
2.2. Específicos
33
3. METODOLOGIA
34
comunidade é castigada com solos degradados e escassez de água, o que dificulta o
meio de subsistência (FERREIRA, 2010).
37
3.5. Processamento e análise dos dados
38
O extrato foi obtido a partir das plantas frescas. Do jambu e do alecrim foram
utilizadas as folhas, flores e caule, do capim cidreira, as partes utilizadas foram as
folhas. Das partes das plantas utilizadas foram maceradas 30 gramas e eluídas em etanol
96%, onde ficaram por três dias. Posteriormente foi efetuada uma filtração simples com
gaze e depois com papel de filtro. Alíquotas de 30 mL foram separadas para posterior
análise fitoquímica. A outra porção dos extratos foram concentradas em evaporador
rotativo sob vácuo, em temperatura de 55º C, para a eliminação do solvente. Os extratos
brutos foram congelados para aplicações futuras. Do jambu, foi confeccionada uma
pomada medicinal, indicada para dores musculares. A Fotografia e metodologia da
fabricação da pomada encontram-se apresentadas no Apêndice 01.
39
3.7.2. Determinação de cumarinas
Em um papel de filtro foi aplicado uma gota de cada extrato etanólico, após a
secagem, o papel foi submetido à luz ultravioleta para observação de fluorescência.
Posteriormente, em cima da mancha foi disperso uma gota de KOH 10%. Após a
secagem, o papel foi novamente exposto à luz ultravioleta para observação de
fluorescência azul brilhante ou verde.
40
3.7.6. Determinação de flavonoides
41
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quadro 01: lista de plantas medicinais citadas pelos quilombolas entrevistados, nome científico, popular,
indicação terapêutica, partes utilizadas, preparo e modo de uso*.
(continua)
Indicação
Nome científico Nome popular Partes Preparo Uso
terapêutica
Pressão alta /rim
Persea americana Abacate Fo/ Se Dec/ Inf Ch
/cólica /fígado
Fortificante/
Allium sativum Alho Todas ME/Dec Ch/X
gripe/pressão/ameba
Anti-inflamatório/dor
Arnica montana Arnica Todas MA/Dec T/Bh
muscular
Aroeira/pimenta Anti-inflamatória/
Schinus terebinthifolius Fl/Ca Dec Ch/Bh
rosa cicatrizante
Mal olhado/dilatador
Ruta graveolens Arruda Todas MA/Dec T/Ch
uterino
Cicatrizante/trato dos
Aloe vera Babosa Ca Ma T
cabelos
43
Quadro 01: lista de plantas medicinais citadas pelos quilombolas entrevistados, nome científico, popular,
indicação terapêutica, partes utilizadas, preparo e modo de uso*.
(continuação)
Indicação
Nome científico Nome popular Partes Preparo Uso
terapêutica
Anti-inflamatório/
Stryphnodendron Barbatimão Fo/Cl MA/Dec Ch/T
cicatrizante
Solanum tuberosum
Batata inglesa Azia Tu/Ca MA Ig
doré
Anti-inflamatório/
Copaifera langsdorffii Copaíba Cl Dec Ol In/T
antiséptico
Insônia/gases
Melissa oficinallis Erva cidreira Fo Dec Ch
estômago
Calmante/cólica/
Pimpinella anisum Erva doce Todas Dec Ch
gases
Sinusite/febre/
Eucalyptus Eucalipto Fo Dec/In In
infecção
Descarrego/
Nicotiana tabacum Fumo Todas Dec Bh
articulação/dores
44
Quadro 1: lista de plantas medicinais citadas pelos quilombolas entrevistados, nome científico, popular,
indicação terapêutica, partes utilizadas, preparo e modo de uso*.
(continuação)
Indicação
Nome científico Nome popular Partes Preparo Uso
terapêutica
Afrodisíaco/
Zingiber officinales Gengibre R Inf Ch
antiasmático
Stachytarpheta
Gervão Ùlcera/afecções renais Fo Inf Ch
jamaicensis
Bronquite/tosse/dor
Psidium guajava Goiabeira Fo/Ca Dec Ch
de barriga
Anti-inflamatório
Petiveria alliacea Guiné/ tipim Todas De/ME Ch/Bh
descarrego
Cefaleia/gases/condi
Mentha arvensis Hortelã miúdo Fl/Fo Dec/In In/Ig
mento
Plectranthus
Hortelã grande Condimentos/gases Fl/Fo/Cl Dec/MA Ig/Ch
amboinicus
Jambu, dor de
Acmella oleracea Analgésico tópico Fl/Fo Dec/MA Bo/T
dente
Diurético/controle
Syzygium cumini Jamelão Fo Dec Ig/Ch
pressão alta
Calmante/relaxante
Cyperus esculentus Junco branco Fl/Fo Dec Ch
muscular
Gripe/febre
Citrus x sinensis Laranjeira Fo/Ca Dec Ch/X
expectorante
Má digestão/
Artemisia absinthium Losna/ labsinto Fo/Cl Dec/MA Ig/Ch
verminoses
Macaé/cabelo de
Leonurus sibiricus Má digestão/cólica Fl/Fo Dec/Inf Ch
iaiá
Gripe/constipação
Ocimun basilicum Manjericão Fl/Fo Dec Ch
intestinal
Dhyspania Mastruz/ erva Dor de
Fo/Cl MA Ig
ambrosioides santa barriga/verminose
Melão de São Purifica o
Mormodica Charantia Fo/Fr Dec/MA Bh/T
Caetano sangue/coceira
Dilatador uterino/
Ageratum conyzoides Mentrasto Fl/Fo Dec/Ma T/Ch
Anti-inflamatório
Antimicrobiana/
Bauhinia forficata Pata de vaca Todas Dec Ch
fungicida
Má digestão/tontura/
Platycyamus regnellii Pau pereira Ca Dec Ch
febre
45
Quadro 01: lista de plantas medicinais citadas pelos quilombolas entrevistados, nome
científico, popular, indicação terapêutica, partes utilizadas, preparo e modo de uso*.
(conclusão)
Indicação
Nome científico Nome popular Partes Preparo Uso
terapêutica
Estômago/tosse/
Bidens pilosa Pico preto Todas Dec Ch/Bh
úlceras
Diabete/diurética/
Eugenia uniflora Pitangueira Fo Dec Ch
calmante
Anti-inflamatória/
Punica granatum Romã Ca/Se Dec/Ma Ga/ig
antisséptica
Elimina cálculos
Phyllanthus niruri Quebra- pedra Todas Dec Ch
renais
Anti-inflamatório/
Kalanchoe Saião Fo/Fl Inf Ch
cicatrizante
Cicatrizante/
Plantago Major Tansagem Fl/Fo Dec/MA Ch/T
expectorante
Solanum lycopersicum Tamarindo/ Anti-inflamatório/
Todas Dec Bh
cerasiforme tamarineira erisipela
__________*Abreviações: partes utilizadas (Fo-folhas, Fl-fores, F-fruto, R-raíz, Se-semente, Tu-
tubérculos, Ca-casca, Cl-caule), modo de preparo (Ol-óleo, Dec-decocção, In- infusão, MA-maceração
em água, ME-maceração em álcool, S- sumo, O-outros), formas de uso (Ch-chá, Bh-banho, Al-alimento,
Bo-bochecho, Ga-gargarejo, In-inalação, T-tópico, X-xarope, Ig-ingestão, Gar-garrafada).
Das plantas citadas, a maior parte utilizada são as folhas, a maneira de preparo
mais utilizada foi a decocção4, seguido da infusão e a forma de uso mais mencionada foi
o chá. Os valores em porcentagem das manipulações mais apresentadas são encontrados
no Quadro 02.
4
Termo da química que designa um experimento que consiste em submergir plantas em um líquido
efervescente, a fim de extrair o princípio ativo da mesma.
46
Quadro 02: forma de manejo das plantas, partes utilizadas, modo de preparo, formas de uso e
porcentagem das mais utilizadas.
As plantas mais citadas foram capim cidreira, alecrim, romã, quebra pedra e
cana de macaco. A escolha do jambu para realizar análise fitoquímica se deu do
interesse de dar continuidade em pesquisas com essa planta, devido a grande quantidade
de espilantol em suas estruturas, principalmente nas folhas.
As indicações das plantas mencionadas pelos entrevistados em sua maioria
referem-se à terapêutica de trato intestinal, anti-inflamatório, respiratório, renal,
estomacal, pressão arterial, analgésico e ansiedade. As devidas indicações e suas
quantidades são representadas no gráfico 02.
Gráfico 02: indicações terapêuticas das plantas mencionadas.
Quanto à utilização das plantas medicinais para uso próprio, alguns entrevistados
responderam que fazem uso das plantas antes mesmo de recorrer a medicamentos
47
alopáticos, outros utilizam as plantas medicinais e os alopáticos simultaneamente.
Houve informações também de moradores que utilizam somente as plantas medicinais
no trato da saúde. Os dados decorrentes da pergunta encontram-se no Quadro 03.
Quadro 03: utilização de plantas das medicinais para uso dos entrevistados.
Ainda que o consumo de plantas com fins terapêuticos seja uma automedicação,
é muito difícil ou quase impossível ingerir uma dose tóxica ou letal de um medicamento
vegetal, devido à minúscula quantidade de um único composto em um extrato integral
(SCHULZ, 2001).
48
Quadro 04: resultados das análises fitoquímicas, identificação dos compostos e plantas selecionadas.
49
foi possível a determinação desses compostos nos extratos etanólicos das três plantas,
uma vez que a fluorescência não foi observada.
50
O teste para a determinação de fenóis e taninos, mostrou resultado positivo,
ocorrido pela observação da mutação de cor começando por avermelhado, seguido de
estabilidade da coloração que se manteve laranja para o extra etanólico de jambu e
marrom para os extratos de alecrim e capim cidreira (Fotografia 11). O teste de
identificação de fenóis e taninos sugeridos pela metodologia de (Simões, 2007), com
utilização de cloreto de ferro a 2%, apresenta mutação de cor, devido ao fato de os
polifenois serem substâncias redutoras, e portanto, oxidam-se facilmente. As cores
apresentadas pelo produto de oxidação, devem-se ao elevado número de conjugações
existentes nas estruturas dos polifenois.
51
três extratos etanólicos. Nesse teste, a reação de AlCl3, tem como produto o complexo
flavonoide-Al3+ de coloração verde florescente intensa.
52
Fotografia 14- Teste para saponinas.
5
Diz-se de substâncias que combatem a formação de gases intestinais.
53
no extrato etanólico de alecrim, validando o conhecimento popular acerca da indicação
terapêutica desta planta.
O componente majoritário do capim cidreira é o citral, um terpenoides
responsável pelo potencial sedativo desta planta. As indicações terapêuticas do capim
cidreira, citadas pelos entrevistados é calmante estimulador do sono, corroborando com
a literatura e com análise fitoquímica que apresentou resultado positivo na determinação
de terpenoides para o capim cidreira.
54
5. CONCLUSÃO
O chá ainda é a forma de uso mais utilizada pelas comunidades, que na maioria
das vezes, as plantas para a confecção desses chás, são coletadas direto dos quintais e
consumida in natura.
55
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
56
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APÊNDICE 01
Pomada de jambu
Nome científico: Acamella oleracea.
Nome popular: jambu, agrião do mato, planta de dor de dente.
Fórmula:
Componentes Quantidades (g)
Material vegetal 50
Óleo de girassol 200
Cera de abelha 15
Modo de preparo:
Colocar em um recipiente que possa ser levado ao aquecimento, a planta fresca ou seca,
macerada, (folha, flores e caule) e o óleo de girassol, para cozimento durante 25
minutos a 70º C. A presença de água pode causar deterioração da pomada. Após o
passar do tempo, retirar o recipiente do aquecimento e misturar a cera de abelha.
Misturar até ficar homogêneo e consistente. Deixar esfriar, em seguida, embalar e
armazenar.
Embalagem e armazenamento:
Acondicionar em frascos de plástico ou de vidro com tampa e não transparente.
Armazenar em local fresco, seco e ao abrigo da luz.
Indicações: Analgésico e anti-inflamatório em dores associadas à musculatura e aos
tendões.
Fotografia 15: etapas para a fabricação da pomada de jambu.
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Fotografia 15: etapas para a fabricação da pomada de jambu..
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