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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE DANÇA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DANÇA

Seminários Avançados de Pesquisa (PPGDANCA000000004) | 2022.1


Docentes: Prof. Dr. Fernando Marques Camargo Ferraz, Prof. Dr. Joubert de
Albuquerque Arrais e Prof.ª Dr.ª Lenira Peral Rengel
Discente: Ivana Carvalho Marins

Módulo “LENIRA”

TEXTO SEMANAL III


QUAL(IS) HÁBITO(S) MINHA PESQUISA PRETENDE MUDAR?

Salvador
2022
“"Onde quer que haja tendência para aprender,
processos autocorretivos, mudanças de hábito,
onde quer que haja ação guiada por um propósito,
aí haverá inteligência"

Santaella (1992, p. 79)


Meu texto se baseará no que depreendi e compreendi do artigo de Priscila Lena Farias
“Semiótica e Cognição: Os conceitos de hábito e mudança de hábito em C. S. Peirce”
(1999). Priscila Farias é Doutora em Comunicação e Semiótica (PUC/SP). Realiza
pesquisas sobre Teoria e História do Design, Processos e Linguagens e Semiótica
Peirceana.

Para o filósofo, pedagogo, linguista e matemático Charles Peirce (1839-1914),


o hábito seria uma tendência adquirida, diferentemente de crença, que seria um hábito
inteligente e distintamente do ato de consciência, como o julgamento, no qual se
reconheceria uma crença. O hábito no conceito peirceano, não ocorre,
necessariamente e exclusivamente a partir de processos conscientes e não se
restringe a seres humanos ou ‘vivos’. Peirce sinalizava que percebemos hábitos
adquiridos por plantas ou produzidos por fluxos de água, como o que prepara um leito
de rio, para dar alguns exemplos. Ele afirmava que a substância essencial da crença
seria o estabelecimento de um hábito e que cada crença se distinguiria das diferentes
formas de ação que a ocasionaria.

Em meio a esse processo, Peirce apresenta um exemplo de interrupção de um


hábito mental, a dúvida. Ela paralisaria a ação e uma crença restauraria um hábito -
uma regra geral ou padrão ativo em nós, por assim dizer -, o que reaveria a ação.
Então, ele indaga: se a função do pensamento é guiar nossas ações, elucidar hábitos
de pensamento e regras de ação, quais modos de hábitos promovem quais modos de
ação? O cerne do problema do pragmatismo para Peirce era determinar como
agiríamos, não apenas em situações prováveis, factíveis ou esperadas, mas, em
quaisquer situações possíveis ou até mesmo, improváveis.

Com base no que depreendi da leitura do artigo, trago minha(s) resposta(s)


para a pergunta ‘Qual(quais) hábitos sua pesquisa pretende mudar?’. De pronto,
penso que uma tese de doutorado se coloca a ampliar o conhecimento não apenas
científico, mas, de experiência de mundo, mesmo. Costumo dizer que toda pesquisa
científica que é concluída, na verdade, inicia outras. É como um punhado de areia que
terá seus grãos espalhados na medida em os ventos soprarem. Dois dos recortes
temáticos da minha pesquisa são Estudos de Gênero e Orientalismo(s), temas
impreteríveis na agenda das discussões, debates e ações políticas da
contemporaneidade, que, na verdade, urge (a agenda) há séculos.

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Ao não se discutir as pautas do racismo, de gênero e sexualidade, da
xenofobia/fetichização de povos e culturas, mantemos um hábito que coloniza e isso
implica dizer que é um campo frutífero para o cultivo de crenças que oprimem,
violentam e cerceiam o direito à digna e plena existência. Se minha pesquisa modificar
em alguma medida, ainda que pequena, o hábito de olharmos para as pessoas em
sua pluriversalidade, como propõe Ramose (2011), ou seja, se um dos
desdobramentos nos levar a assumir a primazia das particularidades específicas na
configuração dos saberes, ao reconhecimento da validade de todas as perspectivas e
do privilégio de um ponto de vista como equívoco, terei contribuído para a mudança
de um hábito. E dando continuidade à pesquisa, que não se encerra na defesa da
tese, seguirei para propor mudanças de outros hábitos.

REFERÊNCIAS

RAMOSE, M. Sobre a legitimidade e o estudo da filosofia africana. Ensaios


Filosóficos, Rio de Janeiro, v. IV, p. 6-23, out. 2011. Disponível em:
<http://www.ensaiosfilosoficos.com.br/Artigos/Artigo4/Ensaios_Filosoficos_Volu
me_IV.pdf. Acesso em: 31 out. 2020>. Acesso em: 06 jun. 2022.

FARIAS, Priscila. Semiótica e Cognição: Os conceitos de hábito e mudança de


hábito em C.S. Peirce. Revista Eletrônica Informação e Cognição, v.1, n.1, p.12-
16, 1999. ISSN:1807-8281

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