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A expressão interesse público é muito utilizada e pode ser entendida, de modo geral, como
o interesse da coletividade. Contudo, precisa-se ser pensado algumas questões: quem e como é
definido o interesse público? Outro aspecto que merece ser destacado é a elasticidade deste
conceito, adaptável aos mais variados discursos, dos mais democráticos aos mais autoritários. Em
defesa do interesse público já se justificaram práticas bastante questionáveis. Em muitas ocasiões
há disputas narrativas em torno dela, como se pode ser observado nas imagens abaixo.
Sobre a formação do interesse público, Childs (1967),a partir da leitura de Bryce, levanta
dois possíveis problemas quanto à definição. O primeiro deles é sobre a dificuldade de se aferir a
vontade da maioria, e o outro questionamento é sobre a possibilidade de que as minorias [ou grupos
vulneráveis ] não se façam ouvir o suficientemente, ou seja, que o debate público pode ser
controlado ou manipulado por aqueles com maior habilidadee e/ou suporte de mecanismos
(presencial ou midiatizada) para dar visibilidade à defesa do seu ponto de vista.
Reflita sobre a imagem abaixo para discutirmos em sala de aula.
Figura 2: PEC das Domésticas
http://www.portaldodelta.com/charge-do-cicero/
Feitas as observações iniciais sobre interesse público, no texto-base utilizado para esta aula,
Wilson da Costa Bueno (2007) questiona a existência de fronteiras rígidas entre público e privado.
Baseado no discurso de muitas organizações privadas que argumentam poderem trabalhar e agir
de acordo com seus interesses próprios, Bueno (2007) questiona se no mundo globalizado onde
as interações são intensas, em que a crise econômica de uma país pode abalar o globo, se é
possível estabelecer fronteiras rígidas do mundo privado. Serve como exemplo a crise econômica
da Rússia em 2008 que agiu como uma espécie de “efeito borboleta”.
Para Bueno (2007), a insistência equivocada de organizações para estabelecer demarcações
rígidas entre interesse público e privado serve para justificar ações e posturas empresariais que
objetivam ação de uma ética particular. O fundamental, nesta concepção que separa público e
privado, é “garantir a sustentabilidade dos negócios”. Sendo assim, para o autor não há fronteiras
rígidas entre o público e o privado, pelas seguintes razões:
✓ Sensibilidade no mundo globalizado às decisões de alcance aparentemente localizado
[Efeito borboleta];
✓ A simples disseminação de uma informação [troca de executivos, fusões empresariais]
podem provocar “tufões” que afetam a sociedade;
✓ As organizações são sistemas abertos, não é mais possível postular uma ética particular e
descompromisso com o coletivo. A inserção é no ambiente em constante mutação, incerteza
e olhares atentos.
Neste contexto, a responsabilidade não se restringe apenas cuidar apenas das finanças, zelar da
reputação/imagem passou a ser fundamental porque quando danos atingem ativos intangíveis
(imagem, marcas), a reparação é muito difícil ou até impraticável. O autor sugere que tanto
empresas públicas, privadas [e do terceiro setor] deveriam praticar a comunicação de interesse
público, isto significa “desenvolver ações e atividades que têm como endereço a sociedade,
independente de sua origem” (BUENO, 2007, p. 136).
A comunicação de interesse público, segundo o autor, objetiva: 1)Focar suas ações além
dos stakeholders (clientes, fornecedores, colaboradores e acionistas), o foco deve ser a sociedade,
2)Levar informação que possa contribuir para se viver melhor; e, por fim, 3) se difere de interesses
propagandísticos.
Em contraposição a essa perspectiva de comunicação, Bueno destaca que as estratégias de
comunicação podem ser utilizadas, como já foram utilizadas nos exemplos abaixo, para contribuir
com o que o autor chama de “crimes corporativos”. Relevante destacar que as comunicação pode
ser adotada para emancipar ou, como nesses casos, para omitir e desinformar. A comunicação é
aliada aos crimes corporativos quando:
• Ações contrárias aos interesses sociais;
• Intenção da comunicação, neste caso, é persuadir, enganar audiência para ganhar
adesão/simpatia ou minimizar danos causados à imagem;
• Omissão de informação e falta de transparência marcam a comunicação nos chamados
“crimes corporativos”.
Referências bibliográficas
BUENO, Wilson da Costa. Comunicação, iniciativa privada e interesse público. In:
Comunicação Pública: Estado, governo, mercado, sociedade e interesse público. São Paulo: Atlas,
2007.p. 135-151