Você está na página 1de 5

ÁUDIO NAS IGREJAS

tou de imediato! Até entender que

Áudio
era uma brincadeira e que o isolamento
não permitiria tal feito, foram mais al-
gumas horas de reunião. Mas, por fim,
estava tudo como deveria ser, isola-
mento e condicionamento acústico no

nas igrejas
seu devido lugar, e com os absorvedores
e seus respectivos materiais.
Os absorvedores acústicos podem ser
construídos de vários materiais e for-
mas, mas devem ser construídos para

Acústica atuarem nas altas, médias e baixas fre-


qüências, sempre levando em conta as
características acústicas de cada ambi-
ente. Em nosso caso, em que nos pro-
pomos a simplificar todo o processo de
A absorção acústica é
fundamental para o
condicionamento da
H á alguns anos trabalhei em um
projeto de uma igreja aqui em
Brasília e tive que convencer os ar-
forma a tornar simples e acessível a
construção dos absorvedores, desen-
volvi uma solução de fácil construção.
acústica interna de quitetos da importância de absorção
um ambiente. Sem dentro do ambiente. Foi interessan- CONSTRUÇÃO
absorção não é te, porque tínhamos que resolver Serão quatro tipos de absorvedores
possível controlar a principalmente o isolamento acústi- diferentes, cada um atua de uma for-
reverberação co da igreja, visto que a mesma, uma ma no espectro de freqüências, absor-
igreja para três mil pessoas, seria vendo mais em determinadas fre-
construída entre cinco prédios resi- qüências e menos em outras. O im-
denciais. A certa altura de uma das portante é que devem trabalhar jun-
reuniões com os arquitetos, era quase tos. Todos eles têm em comum as di-
certa a não utilização de ar-condicio- mensões, até por questões de estética,
nado, as janelas ficariam abertas para e os materiais de construção. Todos
ventilar, eu dizia que não, não tería- serão construídos com as laterais em
mos janelas, poderíamos até ter vidros madeira, compensado de 20mm, pai-
nas paredes duplas em função da ilu- néis de Eucatex de 3mm, manta de lã
minação, mas com tudo fechado. de vidro e tecido como acabamento,
Quando chegamos a um consenso, de preferência os de tramas maiores,
tudo fechado, começamos a falar da como a Juta, por exemplo.
acústica interna. Aí eles não cogita- Aqui em Brasília as madeireiras já
vam nem de perto a utilização de ne- vendem as madeiras com o corte li-
nhum material de absorção que eu near que você pede, imagino que deve
sugeria a eles. ser assim nos outros estados. De tal
Em um determinado momento, eu fiz forma que, caso as madeiras sejam
uma brincadeira: “Bom, então acho compradas assim, o processo de fabri-
Aldo Soares trabalha há 19 anos com áudio, é
operador de PA, engenheiro projetista e educa-
que a solução seria abrir as paredes do cação fica mais fácil ainda. As madei-
dor de áudio. fundo, então deixaríamos a igreja sem ras devem ser cortadas conforme a fi-
aldo@arsnet.com.br essas paredes”, e teve gente que acei- gura 1. Em nosso exemplo vamos uti-

160 www.backstage.com.br
ÁUDIO NAS IGREJAS

lizar 36 módulos de absorção. Sendo e “C” utilizarão painéis de eucatex, terais (essas perfurações podem ser
quatro modelos de absorvedores, de- que serão instalados em profundida- feitas com serra circular de mesa) de
vemos então construir oito módulos des diferentes dentro dos painéis, as forma a acomodar o eucatex de 3mm
de cada modelo. Os modelos “A”, “B” perfurações deverão ser feitas nas la- e a borracha que deverá ser instalada
nas bordas do eucatex, conforme fi-
guras 2 e 3. Essas borrachas são vendi-
das em lojas especializadas e são ade-
sivas em uma de suas faces. Elas são
importantes para poder amortecer o
movimento dos painéis.
Deverão ser instaladas no fundo de
todos os módulos mantas de lã de vi-
Figura 1
dro. Como esses módulos não terão
fundo, porque deverão ser instalados
diretamente nas paredes, a lã poderá
ser colada diretamente na parede.
Depois disso, aplique a borracha nos
painéis de eucatex e instale nas late-
rais, fechando os módulos com os pa-

Figura 2

Os absorvedores
acústicos podem ser
construídos de vários
materiais e formas, mas
devem ser construídos
para atuarem nas altas,
Figura 3
médias e baixas
freqüências

inéis, figuras 4 e 5.
Agora feche os módulos B e C com o
tecido, recobrindo toda a sua área até
Figura 4 as extremidades das madeiras late-
rais. Nesse caso, você também pode
recobrir com o tecido até a parte do
fundo do módulo, cobrindo, inclusi-
ve, as laterais de madeira. Essa etapa é
bem flexível, podendo adaptar- se
bem às necessidades estéticas do lo-
cal. Inclusive, caso você queira, pode
Figura 5 recobrir todo o perímetro dos painéis

www.backstage.com.br 161
ÁUDIO NAS IGREJAS

para um resultado aceitável; o segun-


do, não estou considerando a acústica
da igreja vazia, já que deverá estar ocu-
pada para suas reuniões, o que nos leva
a considerar as absorções das pessoas,
já que os bancos de madeira não absor-
vem mais do que as pessoas, algo que só
aconteceria com “poltronas bem esto-
fadas”. Caso contrário poderíamos
instalar mais absorvedores e mais bai-
Figura 6 Figura 7
xos. Na parede da entrada da igreja re-
petimos, a exemplo das paredes late-
com tecido, escondendo-os. Já os claro, a redução ao máximo do volu- rais, a mesma instalação (vejam as fi-
módulos A e D, que até então ainda me por lá, principalmente nos extre- guras 8, 9, 10 e 11).
não tinham sido mencionados, vão mos, local onde geralmente são colo-
receber lã de vidro e em seguida se- cadas as baterias em igrejas. RESULTADOS
rão fechados com o tecido. O mó- Outra questão importante é a insta- A primeira avaliação é a do tempo de
dulo A receberá duas mantas de lã de lação dos módulos de quatro em qua- reverberação. Nela podemos ver uma
vidro, uma na sua parte interior, an-
tes do painel de eucatex, e a outra na
parte superior, em frente ao eucatex Essa simulação leva em consideração o espaço dos bancos
(vejam a figura 6). O módulo D não com a ocupação máxima e com a ocupação pela metade,
receberá painel de eucatex, somente antes e depois de instalados os módulos, só que agora,
a lã de vidro e o tecido no acabamen- levando em consideração a absorção do ar, os cálculos são
to (vejam a figura 7). somente com Fitzroy, mais preciso para a situação

INSTALAÇÃO
Depois da fase de construção dos tro, já que estamos utilizando quatro considerável melhora nos tempos
módulos vamos às instalações. Insta- modelos de absorvedores, sendo um (veja figura 12). Essa simulação leva
le os módulos com cantoneiras na de cada modelo. Nas laterais da igreja em consideração o espaço dos bancos
parte interior delas, ou caso prefira, instalamos, na parte superior das ja- com a ocupação máxima e com a ocu-
na parte exterior. Na região do palco, nelas, os módulos, e isso tem uma rela- pação pela metade, antes e depois de
como pode ser visto na figura 8, insta- ção direta com dois fatos: o primeiro, instalados os módulos, só que agora,
lamos uma concentração maior de por questões de economia, estamos levando em consideração a absorção
absorvedores. Isso tem um objetivo instalando o mínimo de absorvedores do ar, os cálculos são somente com

Figura 8 - Vista do palco Figura 9 - Vista da entrada Figura 10 - Vista Lateral do palco

162 www.backstage.com.br
ÁUDIO NAS IGREJAS

mas considerações da parte acústica.


1. Não, caixa de ovo não resolve pro-
blemas acústicos! Pelo amor de Deus,
esqueça isso.
2. Madeira em tudo é melhor que
massa e tinta em tudo! Ainda vai soar
bem melhor.
3. Não existem milagres em relação a
Figura 11 - Vista frontal do palco Figura 12 - Tempo de reverberação (RT60) isolamento acústico; se não fechar
Fitzroy, mais preciso para a situação. simulação demonstra é essa, sendo tudo, não isola!
Na figura 13 podemos ver um gráfico que quanto maiores os valores nega- 4. O isolamento acústico obedece,
que demonstra a intensidade dos tivos, piores são os resultados. pelo menos, aos seguintes princípios;
sons diretos nas diferentes posições Mas, podemos melhorar esse aspecto peso, desligamento estrutural, e ve-
do ambiente. Os níveis demonstra- com uma sonorização melhor! E é dação. É um conjunto de ações que
dos são em dB (SPL). deve trabalhar junto para que o isola-
Já na figura 14 vemos o nível de mento seja alcançado.
inteligibilidade que alcançamos com 5. Se o isolamento acústico não for
Se o isolamento acústico não
a instalação dos módulos. Perceba bem projetado e executado o resulta-
for bem projetado e
que mesmo no palco, atrás das caixas, do será visível, ou melhor, audível.
os níveis de inteligibilidade são bons,
executado o resultado será Por isso, procure profissionais experi-
mas, é importante fazer outra avalia-
visível, ou melhor, audível. entes e qualificados para executar o
ção, que é a dos sons diretos e dos sons Por isso, procure profissionais isolamento acústico da sua igreja.
reverberados; veja na figura 15 uma experientes e qualificados Nessas poucas linhas que abordei o as-
simulação sobre esse aspecto. É im- para executar o isolamento sunto, acústica, quis ser o mais direto e
portante frisar que o ideal nesse pon- acústico da sua igreja menos complexo. Entendo que o as-
to seria que os níveis ficassem positi- sunto é muito vasto e o espaço deve ser
vos ou no máximo a -3dB. Isso por dedicado de forma objetiva para a
quê? Nesse caso, negativo, estamos grande maioria, que não serão projetis-
escutando mais os sons reverberados isso que veremos no próximo mês. tas. Por isso, não me propus a colocar
do que os sons diretos, a relação que a Por enquanto vamos fazer mais algu- ninguém para fazer cálculos e mais cál-
culos, e sim para tratar os problemas
com soluções mais simples.
Cada um sabe das necessidades e li-
mitações financeiras da sua igreja, de
tal forma que se precisar de uma solu-
ção mais completa, não hesite, procu-
re um profissional, será mais vantajo-
so. Mas, com certeza, a solução pro-
posta trará resultamos mensuráveis
para ambientes pequenos.
Como já disse, no próximo mês con-
tinuaremos nosso processo, vamos
sonorizar a nossa igreja e buscar uma
melhor uniformidade e distribuição
Figura 13 - Níveis de intensidade sonora e cobertura das caixas acústicas no ambiente (dB-SPL) dos sons dentro do ambiente. Vamos

164 www.backstage.com.br
ÁUDIO NAS IGREJAS

atenua uma determinada freqüên-


cia, as possibilidades de micro -
fonias são imensamente inferiores
do que se você tivesse aumentado a
freqüência. E esse já é um bom moti-
vo para você começar sua equa-
lização com atenuações.Outro bom
motivo é que acertando a região de
freqüências, você estará atuando
não somente nessa região que você
atenuou, mas também em outras
que você ressaltou.

Figura 14 (%Alcons) - 0% a 7% Muito bom, 8% a 11% bom, 12 a 15% justo, 16% a 18% pobre e acima de 19% inaceitável

diminuir bem a relação entre a inten- e instrumentos musicais.


sidade dos sons entre as primeiras e as A dica desse mês é sobre a forma de
Sempre que você atenua
últimas fileiras. equalização. A maioria dos técnicos uma determinada
que conheço equaliza atenuando as freqüência, as
DICA DO MÊS freqüências e não aumentando. Uma possibilidades de
Os equalizadores podem ser utiliza- boa parte faz isso simplesmente por- microfonias são
dos de duas maneiras: uma, para a que aprendeu dessa forma, e isso é vá- imensamente inferiores
equalização corretiva, que tem por lido. Uma outra parte sabe dos moti- do que se você tivesse
objetivo corrigir a resposta de fre- vos, que são variados. aumentado a freqüência
qüência de uma via, ou a caixa acús- No seu caso, técnico operador do som
tica toda e também de corrigir a res- que opera ou pode vir a operar em uma
posta de freqüências de um sistema igreja com problemas acústicos, um
inteiro. A segunda forma é a da bom motivo para você sempre começar Um exemplo disso, no caso de uma voz
equalização artística, aquela em que a sua equalização, seja corretiva ou ar- feminina com muito médio, atenuan-
o técnico operador interage artisti- tística com atenuações, é a possibilida- do a região certa, e para isso geralmen-
camente sobre todo o sistema, vozes de de microfonias. Sempre que você te fazemos, em um mixer com tais pos-
sibilidades, um sweep (ou uma varre-
dura) com o knob da freqüência, já
com o knob do ganho atenuando na
região das freqüências médias da
voz. Quando acertamos a região,
geralmente percebemos, e isso é
um fenômeno da psicoacústica, um
aumento nas regiões baixas e altas
das freqüências da voz, de tal forma
que somente com uma atenuação
você já pode alcançar um timbre de
voz melhor.
e-mail para esta coluna:
aldo@arsnet.com.br
Figura 15 - Relação entre o sinal direto e o sinal indireto (reverberado) Ld-Lr

166 www.backstage.com.br

Você também pode gostar