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Patrick Johnstone - Evangelizando o mundo

Por Jamierson Oliveira, tradução de Theófanes R. Nobre

Com 64 anos de idade, Patrick Johnstone é renomado pesquisador e estrategista de missões. Serviu
durante 22 anos na WEC International, uma das maiores organizações de missões do mundo (Missão
Amém no Brasil) e é autor do livro Intercessão Mundial, o mais completo manual sobre missões e
intercessão pelas nações. Poucos são os missiólogos com uma compreensão tão exata e atual dos
desafios da igreja para a evangelização mundial como ele. A entrevista concedida à Defesa da Fé, como
segue, precede a publicação, pela Missão Horizontes, de seu novo livro em português. “Espero que este
novo trabalho conscientize a igreja brasileira e aumente seu compromisso com missões”, disse Patrick.
Defesa Fé: O que aconteceu com o AD2000, projeto que visava a evangelização mundial em uma década
(1990 – 2000)? E qual o balanço dessa empreitada?
Patrick Johnstone - Quando lançamos o AD2000, em 1990, com a visão de colocar o evangelho ao
alcance de todas as pessoas, era uma chamada muito clara para obedecer à Grande Comissão. Na
ocasião, não havia nenhuma lista publicada sobre os povos do mundo, embora eu e outros estivéssemos
trabalhando nisto. Alguns líderes-chave evangélicos e organizações no mundo juntaram-se sob a
liderança de Luis Bush — pessoas como George Verwer, John Robb, Peter Wagner. O que aconteceu foi
surpreendente, deixe-me listar algumas coisas:
1. Produzimos a lista do Projeto Josué
2. Terminamos o milênio com pouco menos de cem povos, de uma lista de 1 600, que não foram alvo de
alguma agência, e, provavelmente, cerca de mil povos, de mais de dez mil, dos quais falta muito pouco
para ocorrer um movimento nativo de plantação de igreja.
3. Um aumento do número de evangélicos no mundo entre 1990 e 2000: 141 milhões — a maior colheita
da história!
Ninguém jamais disse que terminaríamos a tarefa até o ano 2000. Queríamos obter o mais próximo
possível de um grande e concentrado esforço, e muito disso foi alcançado!
Defesa da Fé – O que substitui o movimento AD2000 neste novo século?
Johnstone - Minha mais profunda preocupação é que, desde o fim do ano 2000, não houve nenhum novo
foco na evangelização mundial. O Movimento Lausanne e a Aliança Evangélica Mundial estão tentando
uma atividade coordenada, mas ambos são de uma geração mais velha e também estão em sérias
dificuldades financeiras. Precisamos de uma visão nova, nascida neste século novo, e com um foco claro
na Grande Comissão.
Defesa da Fé – O senhor acabou de fazer uma revisão de suas pesquisas, qual é a nossa realidade, em
números, hoje?
Johnstone - Ainda temos muito que fazer, pois, provavelmente, exista 1,5 bilhão de pessoas que ainda
não tiveram uma chance adequada para ouvir o evangelho e três mil povos sem um movimento viável de
plantação de igreja. Sem contar os megablocos dos muçulmanos, budistas e hindus, que ainda
permanecem não-alcançados em grande parte. Mas os acontecimentos de 11 de setembro de 2001 e os
eventos na Índia estão abalando as fundações destas últimas fortalezas religiosas.
Defesa da Fé – A Bíblia ainda falta ser traduzida para mais de quatro mil línguas. Por outro lado, quase
todas as pessoas do mundo já podem ler as Escrituras nas traduções que existem. Este desafio já não
estaria resolvido?
Johnstone – O problema é bem mais complexo. Há quase sete mil idiomas conhecidos no mundo, e
desses, somente cerca de três mil com alguma porção da Palavra de Deus. Alguns pensam que, no final
deste século, a metade das línguas existentes estará extinta. Isso não significa que não devemos
trabalhar por elas também, mas isso dá muito trabalho, até mesmo para determinar a necessidade ou a
validade de se fazer essas traduções. Aproximadamente, 97% da população do mundo lêem os três mil
idiomas com alguma porção da Palavra de Deus, mas os outros 3% falam quatro mil! Pode-se levar anos
para avaliar um único idioma, e só então se comprometer com um trabalho de dez a quinze anos na
tradução do Novo Testamento. Chegamos à conclusão de que somente 20% a 30% dessas línguas
precisarão da tradução dessa parte da Bíblia.
Defesa da Fé – Por que a igreja investe tão pouco nos povos não-alcançados, algo em torno de 2% ao
ano?
Johnstone - Sem visão, as pessoas preferem que seu dinheiro seja usado em algo em que possam ver os
efeitos, ou, então, que tornem suas próprias igrejas mais confortáveis: mais poltronas para os santos na
terra do que portas do céu para os não-alcançados.
Defesa da Fé – O senhor tem conhecimento de algum país em que não há absolutamente nenhum
missionário cristão?
Johnstone - Sim. Se você quer dizer “evangélico”, então as cidades do Vaticano e de San Marino, na
Itália, são dois exemplos. Mas eu teria dificuldade em achar outros — pois há obreiros cristãos
trabalhando secretamente em situações de extremo risco, nas quais qualquer publicidade seria perigosa.
Defesa da Fé – Os evangélicos contam com quantos missionários transculturais?
Johnstone - Fizemos uma pesquisa minuciosa de todos os missionários e agências de missões no
mundo. Isto nos permitiu chegar a um resultado confiável quanto ao número de missionários enviados e
recebidos para cada país do mundo — excetuando-se aqueles cuja publicação não seria prudente por
razões de segurança. Concluímos que há 201 mil missionários no mundo, dos quais 98 mil estão servindo
em outras terras e 142 mil estão servindo transculturalmente, muitos dentro de seus próprios países,
como a Índia, China e Brasil.
Defesa da Fé – Na sua opinião, a tarefa de evangelização mundial já deveria ter sido concluída?O que
impediu essa realização ao longo da história da igreja?
Johnstone - Sim, deveria! A desobediência da Igreja em cada geração em assumir a sua responsabilidade
de obedecer ao último comando de Jesus atrasou esse processo. Só uma pequena minoria de cristãos
tem estado comprometida. Queremos a volta de Jesus o mais rápido possível, mas isso só acontecerá
com um nível de mobilização jamais visto! Mateus 24.14.
Defesa da Fé – A segunda vinda de Cristo depende desses desafios?
Johnstone - Acredito em Mateus 24.14, que liga a complementação da tarefa ao retorno de Jesus. Mas
não gostaria que esse versículo fosse tomado isoladamente para apoiar um ensino particular sobre a
Segunda Vinda de Cristo e para medir exatamente quando Jesus poderá voltar. Acredito que a coisa mais
importante que Jesus ensinou aqui é que devemos continuar trabalhando duro para alcançarmos isso, até
que Ele volte! A única definição do fim de missões ou de sua finalidade é o retorno dele!
Defesa da Fé – Por que os adeptos de seitas também não são vistos como “povos” não-alcançados e
devidamente tratados nas reuniões e estudos de missões?
Johnstone - A necessidade desses é tão grande quanto a necessidade de um muçulmano das ilhas
Maldivas, merecendo igualmente ouvir sobre a salvação. A perdição eterna é igualmente terrível para os
dois. A diferença é que os sectários vivem perto de cristãos que falam a mesma língua e compartilham da
mesma cultura — mas devemos também alcançar aqueles que estão além. É por isso que os
missionários precisam ser enviados.
Defesa da Fé – Qual deve ser o perfil ideal de um missionário para o contexto atual de missões no
mundo?
Johnstone - Um profundo senso do chamado de Deus, um viver santo, dependência do Espírito Santo,
profundo compromisso com a Palavra de Deus, parceria com outros irmãos de nações diferentes, para se
ajustar às culturas para as quais ele será enviado, e disposição para dar a própria vida pela causa de
Cristo e seu reino. Um missionário que suporta sua própria cruz identifica-se melhor com Jesus.
Defesa da Fé – A igreja da Coréia do Sul despontou-se como a segunda igreja que mais envia
missionário ao mundo. Como o senhor explica esse despertamento?
Johnstone - Sofrimento, grande desenvolvimento econômico (a partir de absoluta pobreza e destruição
até 1951) e muita oração. Nos anos 90, o crescimento da igreja coreana fora reduzido e parado por causa
do orgulho, divisões e lutas pelo poder entre as lideranças das igrejas, mas um grande e novo avivamento
gerou um maior número de pessoas querendo servir a Jesus. E, por faltar igrejas locais para pastorear, os
milhares de obreiros se dispuseram a atender à chamada missionária, e eles estão indo em grandes
números.
Defesa da Fé – Com relação à igreja brasileira e missões, qual a sua percepção?
Johnstone – Lembro-me dos primeiros dias em que os missionários brasileiros saíram para outras terras.
Havia muito entusiasmo, mas, devido aos fracassos de alguns, a taxa de perdas foi inaceitavelmente
muito grande, o que desmotivou a igreja local. Isso mudou, e agora muitos missionários brasileiros estão
fazendo contribuições significantes para a evangelização mundial. A taxa de crescimento está fixa, mas a
situação econômica, em toda a América Latina, tem causado muitas dificuldades para sustentar e enviar
obreiros para outras terras.
Defesa da Fé – Há uma crise de relacionamento entre as igrejas locais e as agências missionárias?
Johnstone – Definitivamente sim! E explico isso, em toda a sua extensão, no meu livro A igreja é maior do
que você pensa. Há muitas razões para isso, mas no fundo de tudo está uma interpretação errônea da
natureza do Corpo de Cristo, que é uma unidade de três funções — igrejas locais, missões e treinamento
do corpo. Não há unidade no momento, e precisamos trabalhar muito nesse sentido.
Defesa da Fé – O que uma igreja precisa fazer para desenvolver sólida visão missionária?
Johnstone - Há vários passos que eu colocaria aqui. Mas, por enquanto, digo o seguinte: a visão da igreja
deve estar, acima de tudo, comprometida em enfatizar a Grande Comissão de Atos 1.8. O pastor deve ser
apaixonado pelas almas para ver a glória de Deus entre as nações, caso não, ele nunca deveria ser
chamado ou designado para o cargo. O treinamento bíblico/teológico deve ser permeado pela visão de
evangelização mundial. E muita, muita oração.
Defesa da Fé – Seu livro “Intercessão Mundial” trouxe uma grande consciência à igreja brasileira. O que
podemos esperar deste novo trabalho?
Johnstone - Espero que esta nova edição conscientize a igreja brasileira e aumente o seu compromisso
com missões, para que ela seja uma bênção para o mundo. No mês passado, eu estava na Filadélfia,
EUA, e, em uma de minhas reuniões, um querido irmão peruano veio a mim e me agradeceu pelo meu
ministério. Ele esteve na conferência “Operação Mundial” em São Paulo, em 1981, e foi servir a Deus por
muitos anos no Norte da África. Agora ele é um líder missionário maduro e experiente, incentivando a
visão missionária na América Latina de fala espanhola.

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