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O que aprendi em 50 anos

Eduardo da Costa Aguiar

O que aprendi em 50 anos!


Narrativas de um consultor.

Recife, 2013

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Eduardo da Costa Aguiar

Copyright© 2013, by Eduardo da Costa Aguiar


Direitos reservados à autora
Impresso no Brasil

Editor:
Tarcísio Pereira

Capa:

Diagramação:
Lourdes Duarte

Uma publicação
Tarcísio Pereira, editor
Av. João de Barros, 434, Sala, 203, Boa Vista
CEP: 50050-180, Recife PE
Fone (81) 3037.0707
tarcisiopereiraeditor@gmail.com

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O que aprendi em 50 anos

Dedico o livro à minha família representada pelos meus


cinco filhos, Dudu, Daniel, Beatriz, Felipe e Tiago, minha
mulher Sandra, meu irmão Manuel, minha sogra Inah, minhas
noras Sabrina e Adriana, e aos amigos Adriano, Alexandre,
Aluísio, Carlos Germano, Cláudio Alcoforado, Fernando
Schuler, Freitas, Gustavo Galindo, Gustavo Mendonça, Lula,
Marco Aurélio, Maurício, Nelson Telles, Roberta Gonçalves,
Robinson Pacheco, Romildo Andrade, Suzana Masur, Wilson
Trindade, entre outros, os quais durante minha vida me
ajudaram enormemente, alguns com ações diretas e outros com
palavras que me deixaram com força para enfrentar a vida.

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Eduardo da Costa Aguiar

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O que aprendi em 50 anos

AGRADECIMENTOS

A gradeço a Roberta e Fernanda pela elaboração da capa, a


Aldair pela revisão do texto e a Adriano pela última frase do
livro.

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O que aprendi em 50 anos

APROXIMAR-SE EM TEMPOS DE CRISE

M inha amizade com Eduardo começou quando


trabalhamos juntos numa Empresa de Consultoria de
Informática. Eu Gerente Administrativa Financeira e ele
Gerente de TI.

Sempre observava a forma dinâmica (meio elétrica) de


trabalho dele e a forma rígida como ele conceituava horário,
dedicação, ética e responsabilidade daqueles que trabalhavam
com ele.

O tempo passou tomamos caminhos diferentes até que


um dia ele entra em meu Restaurante. Logo pensei: exigente do
jeito que é vai achar defeito em tudo! Parece que ele entra nos
lugares com um olhar diferente, mas não um olhar de inveja,
que é o da grande maioria e sim a “crítica positiva”, aquela que
quase ninguém tem coragem de fazer e que é tão importante
seja nos negócios ou na vida. Ao terminar me chamou a mesa
e disse que estava tudo maravilhoso, mas logicamente fez
algumas observações, absolutamente prudentes e que foram
ajustadas dentro de nossa realidade.
Frequentou o Restaurante por 15 anos e sempre fez

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Eduardo da Costa Aguiar

suas observações sejam positivas ou negativas, mas com o


olhar de quem diz “não deixe a peteca cair!”.

Alguns anos se passaram e novamente reencontro


com Eduardo numa situação completamente diferente. Tinha
acabado de caminhar na Jaqueira, era domingo estava vivendo
um “Tempo de Crise” na minha vida profissional e pessoal.
Ao entrar em uma Padaria vejo Eduardo ao lado da esposa e
de dois filhos tomando café da manhã sentado a uma mesa.
Tinha fechado meu Restaurante depois de 15 anos e estava
separada de um relacionamento de quase 30 anos, ou seja,
era um ser contagioso em que as pessoas passam a ignorá-lo
porque você não representa mais aquele papel exigido pela
Sociedade: Bem sucedido, Rico e Feliz! Passei na mesa
para cumprimentá-los e qual não foi minha surpresa quando
Eduardo disse: está sozinha? Senta com a gente! Com esta
frase ele demonstrou uma coisa importante: quem é amigo é
em qualquer situação!

Conversamos muito e voltamos a trabalhar novamente


juntos na área de “Ensino”, nova fase na minha vida profissional,
mas que foi plenamente confiada por Eduardo a mim.

O importante nesta nova situação é a busca da Auto


Estima e que vai depender exclusivamente de seu empenho.

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Alguém lhe deu a mão, cabe a você buscar os caminhos e


soluções.

Durante esses últimos anos conheci várias pessoas que


passaram pelas mesmas situações que eu. Algumas tiveram a
sorte ou a LUZ de ter alguém que lhe mostrasse algum caminho
e isso não é em vão, você tem que ter feito algo bom para que
haja este reconhecimento. Nunca é tarde para dizer que Ética,
Responsabilidade, Respeito, Profissionalismo, Integridade,
Humildade e Amizade são instrumentos básicos de um bom
profissional.

As crises vão e vem. As amizades permanecem, caso


realmente elas sejam amizades!

Suzana Masur
Outubro/2010.

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PREFÁCIO

O texto de nosso amigo Eduardo Aguiar nos leva a pensar


em coisas que esquecemos de publicar, mas nos lembramos de
falar. Palavras passam e são esquecidas.

Quando você nos fala que as fontes confiáveis devem


ser ouvidas ao tomarmos decisões, lembramos das atitudes
responsáveis. Que as emoções e as razões para agir precisam
ser complementadas com reflexões não restam dúvidas.

Ao ler as narrativas enviadas aos jovens senti-me


novamente orientando os alunos ao fazerem as monografias,
quando perguntava a cada um: “o que você pretende atingir?”.
Isso para que delimitassem suas expectativas, procurando
adaptar-se às condições específicas para concluir o trabalho.

Nunca é pouco falar sobre o modo de agir, mesmo


que nem sempre nos levem a sério. Sua intuição ao compor
a mensagem aqui apresentada, por certo, é a de contribuir na
formação humana e profissional de jovens a partir do que tem
realizado em sua vida.

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Eduardo da Costa Aguiar

Continue escrevendo, pois as idéias precisam


transformar-se em palavras e o que é melhor, pensar é preciso.

Aldair Catarino

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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................... 15

2 A MINHA HISTÓRIA DE VIDA........................................ 19

3 A VIDA EM FAMÍLIA.......................................................... 27
3.1 Pais e filhos................................................................. 27
3.2 Companheira.................................................................. 27

4 O ASPECTO PROFISSIONAL.......................................... 29
4.1 O bom profissional........................................................ 29
4.2 O passar recibo........................................................... 30
4.3 O cachorro em cima do coqueiro.................................... 30
4.4 Sinergia nos valores...................................................... 31
4.5 Cercar-se dos bons....................................................... 31
4.6 Trabalhar e agir com amor....................................... 32
4.7 Rápido e bem feito.................................................... 33
4.8 O melhor lugar para arranjar emprego................... 33
4.9 Zelo com o patrimônio alheio................................. 34
4.10 Ser fácil......................................................................... 34
4.11 O bom, o perfeito e o concluído................................... 34
4.12 Senso de urgência......................................................... 35
4.13 Reuniões difíceis........................................................... 35

5 COMPORTAMENTO............................................................ 37
5.1 Agradecimento............................................................... 37
5.2 O bom humor.............................................................. 37
5.3 Educação........................................................................ 38
5.4 Reclamações.................................................................. 39
5.5 Humildade para aprender............................................ 39
5.6 Humildade para reconhecer erros e falhas............. 39
5.7 Tomada de decisões.................................................... 40

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5.8 Tamanho dos problemas............................................ 40


5.9 Brincadeiras.................................................................. 41
5.10 Inversão de valores..................................................... 41
5.11 Inspiração e transpiração............................................. 42
5.12 Respeitar cabelos brancos............................................ 42
5.13 Cumprir horário............................................................ 43
5.14 Negociação................................................................... 43
5.15 Ser um líder educador................................................. 44
5.16 Vaidade......................................................................... 45
5.17 Tolerância..................................................................... 45
5.18 Discussões e brigas...................................................... 46
5.19 Comentários infelizes.................................................. 46
5.20 Investir no futuro........................................................ 47
5.21 Deixar uma saída. Ameaça não!................................ 47
5.22 Doar o excesso............................................................. 48
5.23 Desmotivação e irresponsabilidade............................. 48
5.24 Crítica no plural........................................................... 49
5.25 Rosas e repolhos.......................................................... 49

6 LAÇOS DE AMIZADE E AFETIVIDADE................... 51


6.1 Aproximar-se na crise................................................... 51
6.2 Amigos contam-se nos grãos de areia........................ 51
6.3 Expor-se para ajudar.................................................... 52
6.4 Boa vontade.................................................................. 53

7 GRANDES ARMADILHAS............................................... 55
7.1 Elogiar o trabalho para ganhar tempo............................ 55
7.2 Criar uma comissão........................................................ 55
7.3 Trabalhos impossíveis de realizar................................... 55

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................. 57

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O que aprendi em 50 anos

1. INTRODUÇÃO

O livro procura apresentar lições que foram aprendidas em


cinquenta anos de vida, no que tange aos aspectos familiares,
profissionais, comportamentais e afetivos, apresentados em
forma de narrativa, que é uma exposição de acontecimentos
encadeados e reais.

Procura-se com o texto apresentar experiências, que são


conhecimentos e vivências acumulados durante a existência,
que marcaram uma vida e possam apoiar os mais jovens, que
com a leitura das orientações, consigam fugir de algumas
armadilhas que a vida proporciona.

Existe um ditado que diz: “a palavra experiência


representa o nome que o homem dá aos erros que comete”.
Não é necessário defender esse pensamento, mas parte dos
erros cometidos deve ser considerada como experiência.

Ao escrever o texto procura-se responder a alguns


aspectos que levam a pessoa ao sucesso ou o impedem. Parte-se
do princípio que a orientação de ações vividas pode beneficiar
o desenvolvimento pessoal e profissional dos jovens.

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Eduardo da Costa Aguiar

O objetivo do texto é apresentar experiências em forma


de pequenas narrativas que podem servir como orientação para
o comportamento e as ações de jovens em momentos de dúvida
ou crise.

O documento está organizado em oito capítulos, sendo


o primeiro esta introdução e o último as considerações finais.
O segundo é dedicado a narrativa de minha história de vida. O
terceiro é dedicado aos aspectos familiares. O quarto discute
as questões profissionais. No quinto são apresentados casos
que influenciam o comportamento. No sexto capítulo são
discutidos os laços de amizade e afetividade, ficando o sétimo
capítulo para alertar sobre armadinhas que as vezes aparecem
na vida.

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O que aprendi em 50 anos

2. A MINHA HISTÓRIA DE VIDA

E u, Eduardo da Costa Aguiar, filho de Eduardo da Silva


Aguiar e Adília Ferreira Lopes da Costa, portugueses de um
vilarejo perto do Porto chamado Junqueira, nasci em Recife
no dia 21 de Julho de 1960 na Maternidade do Derby, sendo
o segundo filho da união dos pais. O primeiro é o empresário
José Manuel da Costa Aguiar. Meu pai teve antes do casamento
uma filha, muito querida por mim, chamada Vera Lúcia.

Estudei até os nove anos na escola de Dona Ester na


Rua das Ninfas, indo em seguida estudar no Colégio Santa
Maria em Boa Viagem. De lá fui para o Marista até o 2º ano
científico. Em paralelo cursei o profissionalizante de Desenho
Técnico de Arquitetura, tendo concluído o curso. O 3º ano foi
cursado no CONTATO, o qual tinha acabado de ser inaugurado,
fazendo parte da primeira turma, onde conheci o Professor
José Ricardo, o qual encontraria mais a frente.

Neste período já trabalhava desde os 12 anos em


uma padaria da família, tendo por conta disto o apelido de
Padeirinho no Marista. Antes, aos sete anos, já frequentava a
construtora que meu pai trabalhava para ganhar alguns trocados
desamassando pregos. Aos dezoito anos passei a cuidar das

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Eduardo da Costa Aguiar

obras da construtora da família na região de Candeias e


Piedade. Meu pai cuidava das construções nos bairros de Boa
Viagem e Imbiribeira.

Aos dezenove anos fui estagiar também na Federação


das Indústrias de Pernambuco, fazendo cadastros nas empresas.
Ao final da etapa de pesquisa, fui convidado para participar
da elaboração do Cadastro Industrial de Pernambuco. Em
seguida fui estagiar na FIDEM, tendo chegado a responder
por uma Seção de Contratos, mesmo sendo estagiário. Embora
tivesse estes estágios, continuava a trabalhar na construtora da
família. A esta época já era aluno do Curso de Administração
de Empresas da UFPE, tendo sido o 7º colocado no vestibular
com a média 726,35.

Em sala de aula, conheci o Professor Henrique


Steinberg, que me chamou para trabalhar no BANORTE,
sendo o primeiro grande Guru. Com ele aprendi a técnica de
Modelagem de Dados, a qual no futuro foi aperfeiçoada, com
aulas do Professor João Carlos Frazão. Aprendi também o senso
de urgência, a dosagem extrema de trabalho, responsabilidade,
agilidade e compromisso. No BANORTE convivi com
excelentes profissionais e tive a oportunidade de fazer toda a
formação na área de Informática na IBM. Da época guarda
até hoje grandes amigos, dentre os quais, Wilson Trindade e

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O que aprendi em 50 anos

Nélson Telles, padrinho do meu primeiro casamento com Hilda


Lacerda, que me deu os três primeiros filhos: Luiz Eduardo,
Daniel e Beatriz.

No BANORTE fiquei até 1986, ano em que decidi


começar a formar o perfil gerencial, tendo ido trabalhar
na BLUK, fábrica de roupas de dois empresários que
se transformaram em amigos: William e Keila Benício.
Experiência extraordinária e que serviu como base para
a carreira gerencial. De lá parti para a primeira passagem
(relâmpago) pelo ITECI, não ficando muito tempo por ser
alocado para trabalhos mais técnicos e eu já queria desenvolver
a carreira gerencial. Em pouco tempo decidi me juntar ao
primeiro Guru, Henrique Steinberg e outro Guru, Jair Kitner,
montando a Kitner & Steinberg Consultores Associados. Desse
último aprendi a escrever, negociar em grande estilo e ter um
gosto mais apurado. Um verdadeiro “Lord” este Jair Kitner.
Durante anos formamos um trio vitorioso até que decidi seguir
carreira independente: consultor.

Neste período duas baixas que mudaram a minha forma


de ver o mundo: a perda dos pais.

A carreira de consultor estava indo bem, mas


o BANORTE me chamou de volta. Inicialmente para

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Eduardo da Costa Aguiar

desenvolver o Sistema de Recursos Humanos, depois para


cuidar do Centro de Informações, em seguida para assumir a
AGROTROP, empresa agropecuária do grupo e por fim cuidar
de todos os sistemas administrativos do banco. Já em 1993
recebi um convite para ser Superintendente do Banco BM&S
e mais uma vez me desliguei do BANORTE. Desta segunda
passagem, ganhei a grande amizade de José Romildo, Luis
Cláudio, que foram comigo, entre outros. Arrependido pela
mudança, depois de três meses no novo banco, fui convidado
por Guy Bruere (amigo dos tempos de Marista e outro Guru)
para assumir a Diretoria Operacional e Comercial do ITECI.
Dele aprendi o gosto pela área comercial, a capacidade de
não passar recibos em situações desagradáveis e a vibração
em fechar um negócio, por menor que seja. Nesta época
estava iniciando um segundo relacionamento com Sandra
Lubambo, do qual tive mais dois filhos: Felipe e Tiago. Desta
vez criei vínculos com o ITECI e passei longos anos, tendo
ajudado a montar filiais em: Alagoas, Ceará, Rio de Janeiro
e São Paulo. Meus amigos do BANORTE foram novamente
comigo: Wilson, Romildo, Luis Cláudio e vários outros. O
ITECI chegou a ter 400 consultores espalhados no BRASIL.
Empresas como BOMPREÇO, BRENAND, ESPOSENDE,
ALCOA, VOTORANTIM, João Santos, CELPE, CHESF,
Lojas Americanas, Marisa, DOCENAVE, IBMEC, Santista
Alimentos, Plus Vitta, várias usinas, TIM, BCP, OI, TELPE,

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O que aprendi em 50 anos

Rapidão Cometa, EMPREL, foram visitados, atendidos e se


tornaram clientes ativos. Durante esta fase, nas viagens ao Rio
de Janeiro, reencontrei um antigo companheiro de trabalho da
K&S, que se tornou um dos melhores amigos: Carlos Germano
Ferraz. Nos clientes locais, reencontrei Cláudio Alcoforado,
conhecido das peladas do BANORTE, tornando-se outro dos
muitos amigos conquistados durante esses anos todos. No final
dos anos 1990 comecei a ter vontade de trabalhar com uma
das vocações do nosso estado: Turismo. Inicialmente entrei na
primeira turma da FIR, dirigida pelo Professor José Ricardo
(CONTATO), para cursar Turismo, conhecendo mais uma
referência: Rosilei Montenegro, professora e profissional da
área de Turismo. Em paralelo comecei, como autodidata e em
viagens a trabalho, a conhecer o negócio hotelaria. Candidatei-
me, através de uma indicação, a um cargo de Gerente Geral
de um resort, porém a distância da família me fez retroceder
logo nos primeiros dias da empreitada. Após dias de angústia,
dividida com outro grande amigo, Miguel Sampaio, voltei ao
ITECI, convidado por Merval Jurema, trabalhando apenas
meio expediente, e montei a COSTA LUBAMBO Consultores
Associados Ltda, para tentar uma carreira solo. Em paralelo
fiz pós-graduação em Gestão Estratégica de Marketing na
FAFIRE, iniciando a carreira acadêmica.

Ainda durante a realização da pós na FAFIRE fui

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Eduardo da Costa Aguiar

convidado a realizar uma consultoria na área de TIC da


Instituição, indicado por um ex-companheiro do BANORTE,
o agora Professor Freitas. Ao final do curso, fui contratado
como professor de Sistemas de Informação e em seguida como
Coordenador Adjunto do Curso de Turismo, aproveitando
os conhecimentos adquiridos no passado. Em seguida, fiz
Mestrado no ITEP na área de Tecnologia Ambiental. Assumi a
Coordenação do Curso de Turismo e iniciei a fase de colocar
em livros as experiências: São Benedito do Sul ganhou dois
livros para o desenvolvimento do Turismo, Nova Jerusalém
e o Parque das Esculturas também foram agraciados com
outros dois. Com base na dissertação de mestrado elaborei
um livro sobre utilização de GPS, outro sobre Metodologia de
Pesquisa, e um sobre o Vale do Catimbau. Decidi então relatar
neste livro a experiência dos meus 50 anos. Montei a empresa
de consultoria da FAFIRE, credenciando-a ao SEBRAE,
passando a ser um Consultor e Instrutor do SEBRAE. Escrevi
o livro Fundamentos de Consultoria Empresarial. Durante a
fase de Coordenação do Curso de Turismo, firmei parceria com
outro Guru: Robinson Pacheco, Diretor Geral do espetáculo
da Paixão de Cristo. Com ele aprendi muito, principalmente
a perder o medo de participação de entrevistas em rádio e TV,
o gosto pelo planejamento e organização e a observação de
detalhes para garantir a qualidade. Uma frase que aprendi com
ele e procurei seguir a risca na minha vida: quem não sabe

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O que aprendi em 50 anos

obedecer não sabe mandar. Desta amizade surgiram a Escola


de Turismo Plínio Pacheco e várias ações de responsabilidade
social. Passei também a fazer parte do Conselho Editorial da
Revista da Paixão. Ao final de 2011, recebi o convite para
assumir a Coordenação do Curso de Administração da FAFIRE,
tendo sido muito feliz já no primeiro ano de trabalhos. Durante
este período tinha decidido abandonar a carreira de Executivo,
até receber um convite da UNIBRATEC para ser o Diretor
Acadêmico. Convite aceito, novos desafios: renovação de
reconhecimento da instituição, reconhecimento e renovação
de cursos, autorização de novos cursos etc. Vem mais por aí.
Renasci aos 50.

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Eduardo da Costa Aguiar

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O que aprendi em 50 anos

3. A VIDA EM FAMÍLIA

3.1 Pais e filhos

A o avaliar cuidadosamente frases de efeito, uma chama a


atenção pela falta de critério, de conhecimento de causa e de
apego: “Filho foi criado para o mundo”. Quem inventou a frase
não sabe o que é ser pai. A presença dos filhos dá aos pais uma
segurança e um prazer indescritível. É como se invertessem os
papéis. Os pais deixam de cuidar para serem cuidados. Somem-
se a eles as noras e genros. O ambiente familiar dá aos pais um
sentimento de continuidade, de amor desinteressado, de prazer
sem limites. Os filhos são eternos companheiros e o convívio
deve ser constante. Os pais têm de zelar muito pelo exemplo. A
educação pelo exemplo é a melhor forma de direcionar a vida
dos filhos. Falar algo e fazer diferente confunde-os. O amor
dos pais para os filhos é regido pela operação de multiplicação.
A cada filho que nasce, multiplica-se o amor e não o contrário.
Uma frase resume a importância dos pais: “quando os pais
tentarem te ensinar procure aprender, pois a vida não ensina
com o mesmo amor!”.

3.2 Companheira

Encontrar uma companheira que comungue dos

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Eduardo da Costa Aguiar

mesmos pensamentos é fundamental para o sucesso do


homem. Os caminhos parecem ser bem mais curtos quando
há unidade de pensamento. Uma das frases feitas que possui
grande fundamento e verdade é a que diz: “por trás de um
homem ou mulher de sucesso tem um bom companheiro ou
companheira”. Não existe meio-termo. Ou apóia ou atrapalha.

A educação dos filhos se torna muito mais fácil, pois os


valores semelhantes são passados e não podem ser contestados.
Estudo, vícios socialmente aceitos, entre outros, são tratados da
mesma forma. Valores éticos passam a compor um ambiente
no qual há harmonia.

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O que aprendi em 50 anos

4. O ASPECTO PROFISSIONAL

4.1 O bom profissional

A o ser avaliado o ambiente de trabalho, é verificado que


o bom funcionário é o que sai e volta de férias sem nenhum
transtorno. Esse profissional é o que está preparado para
assumir novos desafios, pois formou alguém para o seu lugar.
Não se apegou aos “aspectos pequenos”, tais como, “ensino
tudo, menos o pulo do gato”. A frase significa que algo de suas
atividades ele não ensina por “medo” de perder o lugar. Os que
têm medo de serem substituídos, nunca serão promovidos. Em
resumo: o profissional deve ser avaliado durante a ausência.

Outro aspecto a avaliar no profissional é o desempenho


superior ao que o cargo determina ou exige. Os funcionários
que produzem acima do esperado, estão também na lista de
promoções. Os que “produzem” pelo que “ganham” nunca
serão promovidos, pois simplesmente não merecem.

O comportamento do bom profissional supera os muros


da empresa. Ele deve se comportar adequadamente também
fora do ambiente de trabalho. O comportamento na sociedade
influencia na avaliação geral do profissional. Imaginem um

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Eduardo da Costa Aguiar

professor encontrando-se com seus alunos em uma festa


completamente embriagado. Haveria comentários em sala de
aula?

4.2 O passar recibo

A frase “não passe recibo” seguida a risca traz grandes


benefícios. O passar recibo, significa demonstrar incômodo
com situações desagradáveis. Tentar responder ou demonstrar
chateação com algo, só acirra os ânimos. Agir de forma que
o “engolir sapo” passa a ser feito com sabedoria, não ficando
engasgado, demonstra maturidade e controle emocional. O
tempo é o grande aliado de situações incômodas.

4.3 O cachorro em cima do coqueiro



Ao ver um cachorro no alto de um coqueiro, não se
vai perguntar como ele subiu lá e sim quem o colocou. Essa
analogia deve servir como base em relação a se criticar alguém
no ambiente de trabalho. Em muitas vezes a culpa não é do
funcionário e sim de quem o promoveu sem prepará-lo. O
funcionário provavelmente era competente no ambiente
em que estava e a promoção, sem treinamento e adaptação,
levou-o a seu nível de incompetência. Todo mundo pode
ser incompetente, caso seja colocado em lugar que não está

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O que aprendi em 50 anos

preparado ou adequado. Muitos casos de adoração e isolamento


de profissionais excelentes ocorrem, os quais, depois de
promovidos, são sumariamente demitidos. Antes de criticar
alguém, deve-se analisar três aspectos: verdade, bondade e
utilidade. Pense: é verdade o que estou falando; existe bondade
na ação crítica; qual a utilidade da crítica. Semelhante aos três
aspectos citados, são outras três perguntas: eu gostaria de ouvir
esta crítica; a pessoa criticada vai gostar; eu vou ganhar algo
com isto (bem ou mal).

4.4 Sinergia nos valores

A empresa ao contratar um funcionário deve avaliar


profundamente se os valores do entrevistado comungam
com os valores da empresa. Excelentes funcionários em uma
empresa, ao passarem para outra, tornam-se comuns, pois não
comungam com os valores da empresa e deixam-se abater por
isso. É um prejuízo para todos os envolvidos.

4.5 Cercar-se dos bons

Um gerente ao assumir um cargo, verificou que a equipe


que iria gerenciar era formada por profissionais alijados de
outras empresas. Ao verificar que não teria sucesso gerenciando
aquele grupo, pois eram profissionais desmotivados, sem

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Eduardo da Costa Aguiar

vontade de se qualificar e sem um comportamento ético


aceitável, assustou-se e procurou conversar com o ex-dirigente
da equipe. A resposta foi “que não iria contratar pessoas que
no futuro viessem a tomar o meu lugar”. Ficou claro para
ele, o motivo da sua contratação. A equipe de trabalho tem
de ser formada por profissionais mais qualificados do que o
próprio gerente. Cada um em sua função. Só assim pode-se
produzir algo de qualidade. O sucesso do trabalho depende da
qualificação da equipe.

4.6 Trabalhar e agir com amor

Toda atividade deve ser realizada com boa vontade e


dedicação, reconhecendo a importância de cada uma. Existe
uma pequena história que resume este pensamento. Conta-
se que um velho mestre de obras, com mais de 40 anos de
serviços dedicados a uma construtora, resolve que estava na
hora de se aposentar. Ao comunicar o desejo ao proprietário da
empresa, foi pedido a ele que esperasse mais seis meses, pois
a construtora tinha de entregar uma casa e ele precisaria cuidar
pessoalmente dessa obra. Ele relutou, mas terminou aceitando,
porém não mais com a dedicação de outrora. Ele que sempre
tinha sido zeloso com cada detalhe de uma obra relaxou e
deixou passar vários serviços mal feitos. Ao terminar a casa e

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O que aprendi em 50 anos

se dirigir ao proprietário para se despedir, teve uma surpresa.


A casa era uma doação da construtora pelos serviços prestados
com tanta dedicação e por tão longos anos.

4.7 Rápido e bem feito

A frase: “a pressa é inimiga da perfeição” está obsoleta.


Hoje os profissionais têm de ser ágeis o bastante para fazer
bem feito e no menor tempo possível. O mundo não dá o tempo
considerado necessário para realizar as atividades. Alguém
vai entregar primeiro o trabalho solicitado e com a qualidade
esperada.

4.8 O melhor lugar para arranjar emprego

O mundo acadêmico é o melhor lugar para recrutar e


selecionar profissionais para equipes de trabalho. Avaliar um
candidato durante quatro meses, no mínimo, é um excelente
fator, pois existe a possibilidade de conhecer a parte técnica,
a capacidade de escrever, o comportamento, a educação, o
interesse, a forma de se relacionar com os companheiros, a
resistência ao estresse, entre outros aspectos. É uma grande
fonte de recursos para as empresas e profissionais autônomos.
Em tempo: um dos aspectos de maior importância no processo
de seleção é o da educação doméstica.

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Eduardo da Costa Aguiar

4.9 Zelo com o patrimônio alheio

O cuidado com o patrimônio de terceiros ao ser


confiado a alguém é sinal de educação e respeito. Cabe ao dono
do patrimônio ter a opção de descuidar, mas o que pertence
aos outros deve ser permanentemente zelado. Estragar,
destruir, descuidar ou permitir que o façam, é uma falta de
respeito enorme. Ao pegar emprestado algo, deve-se devolver
no mínimo nas mesmas condições. Caso seja possível, até em
melhor estado.

4.10 Ser fácil

O mercado de trabalho procura por profissionais que


sejam “fáceis”. Explica-se a frase através de pessoas que
tenham respostas e não apenas indagações. Pessoas que façam
e não as que apenas cobram. Profissionais que resolvam
problemas e não os que apenas os criam. Pessoas complicadas
estão cada vez mais fora do mercado.

4.11 O bom, o perfeito e o concluído

O bom profissional “coloca na balança” pesos


adequados quanto ao fazer o bom ou o perfeito. Muitas vezes se
procura uma perfeição e não se consegue chegar nem ao bom.

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O que aprendi em 50 anos

É a “dosagem” entre a eficiência e a eficácia. Uma boa forma


de trabalho é a prototipagem, que é partir de algo próximo do
que se deseja, e se aperfeiçoar com o tempo. Com o uso e a
experiência dos envolvidos, o trabalho passará de algo bom
para a perfeição, porém já produzindo alguns frutos durante
a realização. Outro aspecto a considerar é a capacidade de
conclusão dos trabalhos. Muitos têm uma grande motivação
para planejar, iniciar e desenvolver os trabalhos. Quanto a
concluí-los, é um grande problema. Muitos trabalhos ficam
incompletos, faltando muito pouco para terminar. O bom
profissional sabe “virar a ponta do prego”.

4.12 Senso de urgência

Uma boa prática para ser produtivo é ter senso de


urgência, que é uma forma de concluir no menor tempo
possível os trabalhos que lhe são confiados, porém sem querer
“se livrar” do problema. É a capacidade de priorizar, de avaliar
o que falta e fazê-lo.

4.13 Reuniões difíceis

Em algumas reuniões, aparecem pessoas que querem


chamar para si a atenção e começam a gritar, agredir, debochar,
entre outras práticas pouco recomendadas. Uma boa técnica

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Eduardo da Costa Aguiar

nesses casos é olhar fixamente para a pessoa e começar a anotar


tudo o que ele fala. Em caso da pessoa parar de falar, deve-se
parar de imediato a escrita. Caso ele retorne, iniciar novamente
as anotações. Ele tem de perceber que tudo o que está falando,
está sendo anotado. Ele irá parar, pois geralmente esses mais
“corajosos”, morrem de medo de qualquer ação.

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O que aprendi em 50 anos

5 COMPORTAMENTO

5.1 Agradecimento

E xiste uma pequena história que fala das três filas que
existem no céu. Duas sempre cheias e uma permanentemente
vazia. As duas primeiras são as das reclamações e dos pedidos.
A vazia, a dos agradecimentos.

Com base nessa história, recomenda-se iniciar o dia


agradecendo: agradecer por acordar, por ter o que comer e
vestir, por ir à escola ou ao trabalho. Por ter uma família e
amigos. O dia inicia muito melhor e traz uma grande força,
pois é olhado o lado bom em vez de sair de casa reclamando e
enchendo-se de cargas negativas.

A vida se torna positiva.

5.2 O bom humor

Em um almoço de confraternização de aniversário numa


boa churrascaria, o atendimento estava brilhante. Produtos
impecáveis, serviço atencioso e cortês. Durante o almoço, um
dos participantes afirmou que existia a prática do aniversariante
não pagar naquele estabelecimento. Foi perguntado ao garçom

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Eduardo da Costa Aguiar

que respondeu: “aniversariante não paga: pagam por ele os


acompanhantes”. Mesmo a resposta não sendo a esperada, a
brincadeira era de bom gosto e o bom ambiente e atendimento
continuaram. Ao final do almoço, o maitre foi chamado à mesa
para receber elogios pelo atendimento e pela qualidade dos
produtos comercializados pela casa. O maitre agradeceu os
elogios e falou: “a chave de nosso atendimento é a contratação
de profissionais competentes e bem humorados”. O serviço
não se dá apenas com o conhecimento técnico ou a qualidade
dos produtos. Deve haver um diferencial no atendimento:
educação, bom humor e atenção.

5.3 Educação

Em uma reunião de trabalho, apareceu um inseto que


estava perturbando a todos. Uma das participantes conseguiu
abatê-lo com uma das mãos e um dos participantes levantou-se
para buscar álcool e papel para que ela limpasse as mãos. Qual
não foi a surpresa quando chegou à sala com os materiais. Ela
afirmou que estava encantada com o gesto, pois não esperava
que alguém fizesse aquilo. Era uma questão de amor ao
próximo, pois ninguém gostaria de ficar com as mãos sujas e
não custava nada fazer aquilo. Naquele momento ficou claro
que o mundo está precisando de gestos de atenção, educação
e amor.

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O que aprendi em 50 anos

5.4 Reclamações

Algumas frases sempre soam mal. Uma é: “isto tem de


ser feito”. Deve ser respondido com a seguinte frase: “assuma
e faça”. Muitas vezes os que mais reclamam são os que menos
fazem. Existe uma frase que diz: “para que um trabalho saia,
entregue a quem estiver ocupado”. A frase resume o que se
deseja transmitir: existem os que fazem e os que reclamam.
O exemplo do copo de água que não está completamente
cheio explica: os que fazem, tomam a água e aceitam como
uma forma de matar a sede. Os que reclamam, ficam com a
sede, enquanto vão discutir que falta água no copo.

5.5 Humildade para aprender

Um professor de pós-graduação, em uma de suas


aulas, citou que “o mar só é grande porque fica abaixo dos
rios”, mostrando que para que se possa crescer, deve-se estar
aberto a novos aprendizados. Ao se fechar e achar que já se
conhece tudo é criado um bloqueio para o acesso a novos
conhecimentos.

5.6 Humildade para reconhecer erros e falhas

Recomenda-se que ao ser criticado, deve-se evitar

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Eduardo da Costa Aguiar

discutir no momento e imaginar que o crítico “pode” ter


alguma razão. O momento da crítica leva a um descontrole
emocional que irá bloquear qualquer forma de entendimento.

Uma boa prática é ir para casa achando que o outro


pode ter razão. Deve-se dar tempo ao tempo. Deixar esfriar
o assunto e agir com o aspecto emocional controlado e com
todas as opções bem avaliadas. Não deixar de conversar depois
sobre o assunto.

5.7 Tomada de decisões

A tomada de decisões deve avaliar três aspectos: o


tempo, o conhecimento e o controle emocional. Qualquer
decisão tomada com deficiência em um dos três aspectos
leva a uma situação desastrosa. Para se tomar uma decisão,
deve haver o maior conhecimento possível da situação, o que
demanda tempo. Ao possuir o tempo necessário e se obter
o conhecimento completo do assunto, obtém-se o controle
emocional necessário a uma excelente e correta decisão.
Existe uma frase que fala sobre a necessidade de se dar tempo
ao tempo: “deixai que o diga o tempo, pois, mudamente surdo,
sem dizer nada, diz tudo”.

5.8 Tamanho dos problemas

Os problemas ao serem comunicados aos demais

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O que aprendi em 50 anos

envolvidos devem ter um tamanho menor do que realmente


eles têm e não serem amplificados. Frases do tipo “todo mundo
está falando...”, devem ser reprimidas. Devem ser enumerados
os falantes. Quanto menos se der “valor” aos problemas, mais
cedo são resolvidos. Evitar comentários vagos. A valorização
excessiva de problemas é “confete jogado ao alto para cair na
cabeça de quem irá resolvê-los”. São formas de valorização de
alguém que irá se beneficiar após o episódio.

5.9 Brincadeiras

Um artigo de Max Gehringer diz que brincadeiras só


devem ser tiradas com a própria pessoa. Brincadeiras que
denigrem os demais são tiradas por pessoas que não sabem
brincar. O bem humorado faz de si o motivo da brincadeira.
A brincadeira dessa forma, evita constranger os demais e em
momento algum coloca as pessoas em situações delicadas.
Essa é a recomendação: evite brincadeiras nas quais alguém
possa ficar magoado. Em tempo: o lugar da brincadeira deve
ser considerado. Nem todos estão a fim de ouvir gracinhas
em qualquer lugar. A pessoa que brinca o tempo todo e em
qualquer lugar pode se tornar um “chato”.

5.10 Inversão de valores

No Brasil existe uma inversão de valores que deve

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Eduardo da Costa Aguiar

ser combatida. Como exemplo pode ser citado que quem tem
algo a receber de outro tem vergonha de cobrar. Outro, é o de
alguém provocar uma briga e se os demais não o defenderem,
é dito que estão deixando um amigo em situação difícil. Será
que não é o contrário? Deve-se entrar em uma briga por erro
de um “amigo”? Que amigo é este?

5.11 Inspiração e transpiração

Muitos jovens inteligentíssimos naufragam na


vida profissional. A análise de cada caso constata que muitos
deles são muito inspirados, porém não têm a atitude neces-
sária ao sucesso. A frase “inspiração tem de estar acompanhada
da transpiração” é um tiro certeiro em direção ao sucesso na
vida.

5.12 Respeitar cabelos brancos

O início da vida profissional deve ser à sombra de


alguém que possua cabelos brancos. A experiência ensina
muito e cria atalhos na vida. Conversar com pessoas mais
experientes é um caminho para se obter a sabedoria. Aprende-
se bastante. Eles já passaram pelos momentos em que a vaidade
atrapalha bastante a vida e isto impede que sejam cometidos
alguns erros.

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O que aprendi em 50 anos

5.13 Cumprir horário

O brasileiro em geral tem o mau costume de atrasar


os compromissos. Cumprir os acordos e chegar antes da hora
é uma prova de respeito. Até em viagens, deve-se chegar ao
aeroporto bem mais cedo do que o previsto, pois evita os
atropelos de última hora, geralmente no percurso. Evita-se
faltar com o respeito aos demais. Chegar atrasado em uma
reunião significa dizer que o tempo dos outros não é importante.
Alegar que estava em uma reunião ou outro trabalho e que por
isto atrasou-se é pior ainda. A frase que representa o atraso é
“falta de educação”.

5.14 Negociação

Não existe mais espaço para, em uma negociação,


se pedir um valor acima do que se deseja. Os preços estão
disponíveis na ponta dos dedos. Ao pedir um valor muito alto
e sair baixando, significa que se estava querendo “roubar” a
outra parte. Pode-se baixar o valor, desde que a outra parte
aceite retirar algo da proposta. A negociação deve ser séria e
não uma brincadeira de criança. Ao negociar, deve-se deixar
claro que se tudo for cumprido, não vai ser considerado um
mau negócio. A frase “o combinado não é caro”, reflete isto.
Negócio bom é duradouro e bom para as duas partes.

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Eduardo da Costa Aguiar

Um português irreverente sempre falava que uma


das coisas importantes na vida era “saber se coçar”. Todos
ficavam curiosos com o que ele queria passar com aquela
frase. Quando perguntavam, ele dizia que em tudo na vida
existem dois sentidos, mostrando com a mão direita coçando o
braço esquerdo. O movimento era inicialmente dos dedos para
o tronco e em seguida, o contrário. Ele queria mostrar que
não há negócio bom só para um lado. Deveria pensar-se nos
outros. Os negócios só são interessantes quando beneficiam
as partes. Existe uma frase que afirma que não devemos ser
extremamente zelosos com nossos direitos.

5.15 Ser um líder educador

A prática de ensinar tudo que se possa aos liderados e


aos que pertencem ao círculo de amizades é salutar. Ao ensinar,
o profissional se torna uma pessoa respeitada e procurada.
Ao ensinar, se aprende. O ensinamento liberta a pessoa para
outras atividades. Aquele conhecimento ensinado, permite a
busca por novos conhecimentos. Chega a hora de aprender
outra coisa. O líder acompanha os liderados, apoiando-os em
caso de dificuldades, estando ao lado para suportar em caso de
“fardos” muito pesados.

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O que aprendi em 50 anos

5.16 Vaidade

Existe uma frase que diz “não se encante com a própria


voz”. Ela reflete o que a vaidade pode trazer de ruim para uma
pessoa. Deve-se ter alegria com o que é alcançado, devendo-
se até comentar o sucesso e ficar feliz. Gabar-se ou elogiar-
se é outra coisa. O sucesso é passageiro. A vaidade não pode
ser maior do que a inteligência. Existe uma história de um
profissional mais experiente ser chamado por um amigo ao
seu novo local de trabalho, em uma empresa pública, sendo
recebido em uma grande sala com um birô enorme e com
o “novo executivo” totalmente afundado em uma cadeira,
reclinada para trás. A imagem era ridícula. Ele disse que
respeitava a opinião do profissional mais experiente e gostaria
que ele o orientasse de como proceder no cargo que tinha
assumido. O convidado disse de pronto: “a primeira coisa que
você deve fazer é se sentar como uma pessoa normal e perder o
ar de arrogância e vaidade, pois quem o colocou no cargo pode
também tirá-lo a qualquer momento e tudo passará”. O ”novo
executivo” deu um “pinote” da cadeira e ficou com os olhos
“esbugalhados”.

5.17 Tolerância

Em um sinal de trânsito estava sendo distribuído um

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Eduardo da Costa Aguiar

pequeno papel que falava sobre tolerância. Explicava que saber


tolerar as dificuldades era uma habilidade que fornecia ao ser
humano uma superação das situações negativas. Recomendava
ser pacífico, agüentar insultos, críticas ou raiva, sem reagir,
porém, permanecendo feliz através do exercício da tolerância.
Acredito que esse pequeno papel transformou a vida de muitas
pessoas que o leram.

5.18 Discussões e brigas

Complementando o assunto anterior, devem-se evitar


discussões e brigas. Em uma discussão geralmente alguém
se descontrola e ofende o outro. Quem fala se esquece, quem
ouve guarda para sempre. A discussão é uma “fagulha” que
provocará um incêndio. A vida é difícil, com todos ajudando,
e altamente complicada se aparecer alguém para atrapalhar.
A vida ensina que tentar entender a atitude dos demais e em
muitos casos, relevar é sempre saudável.

5.19 Comentários infelizes

Vez por outra pessoas chegam altamente felizes em


alguns lugares e saem com cara de “velório”. Tudo provocado
por frases inoportunas. A alegria inicial por comunicar um
objetivo alcançado, e a tristeza pelo menosprezo como foi

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O que aprendi em 50 anos

recebido pelos demais. Muitas vezes alguém chega dizendo


que conseguiu vender o carro por um determinado valor, o que
o deixou feliz e alguém na mesma hora afirma: “o valor foi
muito baixo”. Frustração. O costume de colocar “gosto ruim”
no que é dos outros torna a pessoa amarga. Cuidado.

5.20 Investir no futuro

Alguns trabalhos devem ser realizados sem que exista


um pagamento direto por ele, considerando-se nestes casos
como um investimento. Muitas vezes deve-se investir algum
tempo em idéias que no futuro irão se tornar produtos e trarão
benefícios. Em muitos casos as pessoas colocam dificuldades
para realizar alguma atividade em caso de não haver, de
imediato, um acerto ou pagamento financeiro. Os que aceitam
o desafio, mais à frente, colhem os benefícios. É necessário
plantar para colher. A partir desse pensamento, foi elaborada a
frase: “quem só pensa em dinheiro, não sabe ganhá-lo”.

5.21 Deixar uma saída. Ameaça não!

Existe uma pequena história que diz: “se um rato entrar


em seu quarto abra totalmente a porta e saia andando atrás
dele em direção da saída, deixando a área da frente livre para
ele fugir. O objetivo é que ele vá embora. Ao contrário dessa
ação, se a porta for fechada e ele acuado no canto da parede,

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Eduardo da Costa Aguiar

pulará em cima de você”. Levando o exemplo para a vida,


não se deve deixar ninguém sem opção, pois a pessoa poderá
criar uma “coragem” extra e colocar o oponente em situação
difícil. Um exemplo é ameaçar alguém em público, como por
exemplo em uma sala de aula: “caso não pare de falar eu te
coloco para fora da sala”. O aluno pode responder: “coloque,
mas eu não saio”. E aí? O que fazer? Em resumo: não se deve
ameaçar. Faça o que tem de ser feito.

5.22 Doar o excesso

Uma prática que dá muito prazer é a de, logo após


adquirir algo, doar algo semelhante e em bom estado a alguém
que precise. Não é doar o que não presta. É doar com o intuito
de beneficiar alguém e evitar o acúmulo de bens, a avareza.
Treinar esse pensamento traz benefícios ao espírito e outros
benefícios bem pragmáticos. Existe uma prática que diminui
bastante o estresse e é realizada com o intuito de reduzir as
várias opções que temos: contas bancárias, cartões, celulares,
equipamentos eletrônicos etc. Não há necessidade de tantos.
Um de cada. Ao praticar isto, são diminuídas as cobranças e o
estresse diminui.

5.23 Desmotivação e irresponsabilidade

Existe uma frase que afirma: “A desmotivação é

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O que aprendi em 50 anos

sinônimo da irresponsabilidade”. A motivação é algo que tem


de partir da pessoa. Dizer que a empresa ou a situação não dá
condições para o sucesso e pelo fato ficar desmotivada, é jogar
para os outros a própria frustração. Muitas pessoas afirmam
que ganham pouco ou são mal avaliados e por este fato não
estão motivados. Recomenda-se ir ao mercado, pegar um
“carimbo” do valor que possui e refletir sobre o assunto. Em
caso do mercado dar um valor superior, a pessoa tem escolha,
e em caso contrário, deve procurar o aperfeiçoamento para
melhorar o desempenho.

5.24 Crítica no plural

Toda vez que se faz uma crítica no plural, é melhor


analisar a situação. Quando todos estão errados e só o crítico
está certo, a situação pode estar invertida. Críticas do tipo:
“estes funcionários são todos uns incompetentes ...”, “este
povo acha que ....”, devem ser evitadas. O erro pode estar com
o crítico.

5.25 Rosas e repolhos

Em uma palestra, Daniel Godri fala sobre empresas


que formam repolhos e rosas. Diz que uma boa empresa
forma pessoas que se assemelham às rosas. Os funcionários

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Eduardo da Costa Aguiar

ao entrarem estão ainda fechados como um botão de rosas


e são estimulados a se abrirem e desenvolverem todo o seu
potencial. Já em outras empresas são “plantados” repolhos que
nascem abertos e com o tempo se fecham. As pessoas nessas
empresas são reprimidas e a tendência é de se acomodarem. É
necessário falar sobre o perfume das rosas quando se abrem e
do cheiro dos repolhos quando se fecham?

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O que aprendi em 50 anos

6 LAÇOS DE AMIZADE E AFETIVIDADE

6.1 Aproximar-se na crise

A aproximação das pessoas que se encontram em momentos


de crise é de grande importância para elas, pois nesses períodos
existe uma tendência de todos se afastarem. É terrível alguém
precisar de apoio e não ter com quem contar. Como exemplo:
as pessoas que perdem o emprego. Deve-se ligar para elas e
ocupar o tempo com algo útil que irá levá-las ao mundo do
trabalho brevemente. Apresentá-las aos amigos, indicá-las
para empresas, almoçar com elas. Ninguém fica sempre em
crise e muito menos o sucesso é permanente.

Em muitos casos, pessoas se aproveitam da fraqueza


do outro para ainda colocá-lo mais para baixo. A frase “chutar
cachorro morto” é adequada a este tipo de atitude. Em vez de
ajudar ainda “pisam na cabeça” de quem está prestes a afundar.
Não é momento de crítica e sim de apoio. A vida dá o troco
para quem age assim, diretamente ou indiretamente.

6.2 Amigos contam-se nos grãos de areia



Outra frase feita que não é verdadeira é a que “os amigos
se contam nos dedos de uma mão”. Amizade se constrói. Ao

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Eduardo da Costa Aguiar

se aproximar na hora que os demais precisam, ligando para


eles, ajudando, dando carinho, sendo honesto, servindo, é
construída uma amizade permanente.

Quem não sabe servir, terá grande dificuldade na hora


das crises. O saber pedir ajuda é mais fácil para quem sabe
servir. Não é pedir contrapartida de atos generosos. É saber
que a vida é uma grande roda gigante. Em alguns momentos se
está em cima, e em outros na parte de baixo.

A parte de cima da roda gigante serve para enxergar


melhor os que estão em volta e se ter uma idéia da situação dos
demais. Enxergam-se as condições e entende-se que, ao chegar
lá embaixo, alguém estará também observando.

A vida mostra que se constroem vários amigos com


ações leais e que quase todos têm os mesmos pensamentos.
Quem age dessa forma, para contar os amigos, necessita de
muitos grãos de areia.

6.3 Expor-se para ajudar

A capacidade de se expor para ajudar alguém é algo


que mostra o quão comprometido você está com o problema
do outro. Ajudar apenas se houver oportunidade é uma coisa,

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O que aprendi em 50 anos

e gerar a oportunidade é outra. Em muitos momentos pessoas


necessitando de apoio, pedem ajuda a alguém. A resposta em
muitos casos é: “caso me perguntem eu lembrarei do teu nome e
falarei”. Recomenda-se que sempre seja gerada a oportunidade.
Expor-se. Muitos têm vergonha de se comprometer. Devem
imaginar: “será que vão pensar que eu vou me beneficiar com
isso?”. Que pensem, se é por uma boa causa! Em certas horas
se deve fazer muito mais do que esperar uma oportunidade. As
pessoas “valem pelo bem que fazem”.

6.4 Boa vontade

Este tópico poderia estar no grupo de aspectos


familiares, profissionais, de comportamento ou de laços de
amizade. Foi deixado por último para que englobasse tudo.
A pessoa que age com boa vontade em seus relacionamentos
tem uma tendência muito maior de criar laços de amizade, na
família, no trabalho ou na sociedade como um todo. É estar
pronta para aceitar a opinião dos outros, saber ceder, entender
as diversas situações. Deve-se entrar nos ambientes com o
espírito de entender as situações e pronto para colaborar.
Muitos começam suas frases com a palavra “não” antes de
entender o que se deseja. Existem várias pessoas assim.

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O que aprendi em 50 anos

7 GRANDES ARMADILHAS

7.1 Elogiar o trabalho para ganhar tempo

E m muitos casos, alguns profissionais pouco éticos (se


isto existe) elogiam muito um trabalho realizado e em seguida
dão idéias “maquiadoras” de como melhorá-lo. A melhora é
só superficial e tem como intuito protelar a decisão. Deve-se
saber quando o elogio é verdadeiro ou é apenas uma forma de
adiar ou não evoluir com o trabalho.

7.2 Criar uma comissão

Em muitos casos a criação de uma comissão é uma


forma de ganhar tempo para tomar decisões e no final jogar a
responsabilidade para os outros. Comissões devem ser criadas
para planejar ou colocar em prática algo e não para adiar
decisões e transferir responsabilidades.

7.3 Trabalhos impossíveis de realizar



Caso algo esteja muito difícil de ser resolvido é pelo
fato de se estar tentando resolver da maneira errada. O melhor
exemplo desta narrativa são os quebra-cabeças ou jogos
similares. Mude o paradigma, olhe de outro ângulo, afaste-se

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do objeto. Nada é tão difícil que não possa ser solucionado. O


olhar com outros olhos facilita a resolução de vários problemas
ditos impossíveis.

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O texto procurou passar para os mais jovens, lições de


vida aprendidas com várias pessoas e muita leitura. A base das
narrativas é a de se cercar de boas companhias e aprender com
cada um dos que nos rodeiam. Cada pessoa é boa em algo, e
se com cada um se aprende um pouco, a tendência é que se
torne uma pessoa um pouco melhor. A ideia inicial de escrever
o texto era de encaminhar para alguns amigos, após cinquenta
anos de vida, algo que resumisse o aprendizado. Demorou
mais alguns meses e foi verificado que deveria também chegar
o documento aos jovens para partilhar esses pensamentos.

Por fim, para enriquecer o texto, é apresentada uma


frase que diz: “por mais livre que você seja, estará preso aos
seus princípios e, por mais preso que esteja, estará sempre livre
em seus pensamentos”. Não sei se a frase foi criada por quem
a me repassou, mas pensar desta forma demonstra o tamanho
do caráter da pessoa.

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