Você está na página 1de 4

1

EQUALIZADORES
Para obtermos resultados satisfatórios numa gravação ou mixagem, é preciso que
o timbre das fontes sonoras seja muito bem ajustado. O instrumento deve soar como soa
ao vivo, em seus melhores momentos. Ou ainda, soar conforme o desejo dos artistas e
produtores, mesmo que isso implique num som artificial. Tudo depende do estilo e da
linguagem musical. Ajustam-se os timbres com o equalizador (EQ), que pode ser
gráfico, paramétrico, semi-paramétrico, ou simples controles de tonalidades graves e
agudas.
Ondas sonoras, freqüências e timbre. O ouvido humano interpreta como som
as vibrações do ar emitidas entre as freqüências de 16 ciclos por segundo (16 Hertz ou
16 Hz) até cerca de 20 mil ciclos (20 KHz, ou 20 K). Cada instrumento ou voz musical
tem seu próprio espectro de freqüências, a faixa de freqüências onde o instrumento atua.
A faixa de freqüências varia de acordo com a extensão ou a escala do instrumento e a
riqueza do seu timbre.

Extensões de alguns instrumentos

O som tem quatro parâmetros principais: altura, intensidade, timbre e duração.


As alturas são as afinações (pitch) dos sons e notas musicais, como do, re, mi,
medidas em ciclos por segundo (Hz). Quanto mais “aguda’ (alta) uma nota, mais ciclos
de onda vibram por segundo. Diz-se que são freqüências altas, enquanto as “graves” são
as baixas freqüências.
A intensidade é o volume do som. No gráfico da curva da onda sonora, quanto
maior a intensidade do som, maior a amplitude da onda. Ela se distancia mais do centro,
vibra com mais energia. Nesse gráfico, a linha reta ao centro indica silêncio, ausência de
energia sonora.
Uma onda tem ciclos, que se dividem em morros e vales, alternando-se e
variando seu comportamento ao longo do tempo. Durante um ciclo da onda, a amplitude
pode variar, determinando a forma da onda. É a forma da onda que define o timbre. A
forma da onda é derivada da superposição das parciais do som.

© Curso de Home Studio® Sergio Izecksohn


w w w . h o me s t u di o . c o m. b r
2

Timbre. Um som da natureza nunca é totalmente puro. Ele é composto de


parciais, sons que se agregam ao som principal. É como se uma nota musical nunca
fosse uma só nota, mas sempre fosse um acorde com muitos sons. E é isso mesmo o
som. Ouvimos a nota principal, chamada fundamental, porque ela tem uma intensidade
muito maior que as outras, em geral. Mas são as outras parciais (chamadas sons
harmônicos) que dão a principal característica do som, o timbre. Uma mesma nota, com
a mesma altura e intensidade, cantada por duas pessoas, soa com diferentes timbres. Os
harmônicos presentes numa voz e na outra, que são os mesmos, estão com intensidades
diferentes de uma voz para a outra, como se fossem duas diferentes mixagens dos
harmônicos sobre a fundamental. O resultado é dois timbres diferentes.
A onda sonora pura, sem harmônicos, que pode ser produzida artificialmente
para experimentos, é totalmente arredondada. É a onda senóide ou senoidal. Cada
harmônico é também uma onda senóide. Superpostos, fundamental e seus harmônicos
resultam numa outra forma de onda, de acordo com as amplitudes de todas as ondas
superpostas. Na superposição de ondas sonoras, dois movimentos iguais se somam,
aumentando a amplitude da onda resultante. Dois movimentos opostos, simétricos,
como um morro e um vale ao mesmo tempo, se anulam, tirando amplitude (volume) do
som.
Um som estridente tem os harmônicos de altas freqüências com mais intensidade
que um som mais abafado. A onda sonora do primeiro é mais pontuda, e a do segundo
som, mais arredondada.
O equalizador atua tanto sobre a intensidade das fundamentais quanto dos
harmônicos, de acordo com as freqüências que se operam, moldando o timbre do
instrumento.
A duração é o quarto parâmetro do som. Todos os outros parâmetros podem
variar ao longo do tempo.
Controles de tonalidade. Os controles de graves (Low), médios (Medium) e
agudos (High), presentes nos amplificadores e mesas simples, atuam sobre faixas ou
bandas de freqüências pré-determinadas, aumentando ou atenuando as intensidades
dessas faixas. Os mais antigos têm as freqüências centrais pré-ajustadas em 100 Hz, 1
KHz e 10 KHz. As mesas mais novas vêm com freqüências centrais em 80 Hz, 2,5 KHz
e 12 KHz. Assim como as freqüências centrais de cada banda, as larguras de banda, ou
as freqüências vizinhas, também são determinadas pelo fabricante. Temos, então, 2 ou 3
faixas de freqüências com freqüência central e largura de banda pré-ajustadas. Em cada
faixa, só há controle de intensidade. No centro, o som passa como entrou. Pode-se
aumentar ou abaixar a intensidade de cada faixa, graves, médios e agudos.
Equalizador gráfico. Funciona do mesmo modo que os controles de tonalidade,
mas tem maior número de faixas de freqüências. Seu nome vem de seu aspecto, com
vários sliders (potenciômetros lineares) lado a lado, formando uma curva. O equalizador
gráfico tem uma quantidade variável de faixas (bandas) de freqüências, de 4 até 20, cada
uma reforçada ou atenuada por um controle de nível. O usuário tem à disposição aquele
leque de freqüências, para manipular uma a uma. Útil quando várias freqüências
precisam ser manipuladas ao mesmo tempo.
Os EQs gráficos de 20 bandas, nos estúdios, podem ser usados para processar
um canal, para timbrar os canais masters estéreo na mixagem ou mesmo para compensar
deficiências acústicas da sala de operação (técnica), sendo então plugado ao
amplificador dos monitores.

© Curso de Home Studio® Sergio Izecksohn


w w w . h o me s t u di o . c o m. b r
3

Equalizador paramétrico. Os equalizadores paramétricos apresentam menores


quantidades de faixas (em geral de uma a quatro bandas), mas são os que têm mais
controles. O usuário escolhe exatamente a freqüência central que deseja manipular em
cada banda, a largura da banda, ou quantas freqüências vizinhas, e a amplitude dessa
banda. Um botão (freqüência) determina a freqüência central, outro (Q) controla a
largura da banda e um terceiro (volume) reforça ou atenua o nível dessa faixa de
freqüências. É útil quando se quer mexer em algumas bandas, mas com precisão, para
só afetar as freqüências que realmente precisam de equalização.
Os equalizadores semiparamétricos, comuns em mesas de som de médio e
grande porte, não dispõem do controle de largura da faixa. Só apresentam controles para
selecionar a freqüência central e o que reforça ou atenua o nível. A largura de banda é
determinada pelo fabricante.
Qualquer que seja o seu EQ, nunca exagere o seu uso, ou estará criando
sonoridades que não existem na gravação real. Depois, na mixagem, a gravação soará
irreal. Com moderação, o EQ é um grande aliado do estúdio.
Filtros. Existe uma variedade de filtros no mercado, que cortam freqüências
específicas, como os filtros passa-alta (high-pass filter, ou HPF), passa-baixa (low-pass
filter, ou LPF), passa-banda, corta-banda. Cada um tem controles de cutoff, ponto de
corte, determinando as freqüências a partir das quais os sons serão cortados.
Enhancer. Você gosta do som do seu estúdio? Gostava. Espere até ouvir suas
melhores mixagens depois de processadas por um enhancer ou exciter. Aquele baixo
meio velado, bem tocado, mas velado, porque se aumentasse embolava, agora está ali,
nítido, pesado, inteirinho, colado com o bumbo, os dois firmes como uma rocha. Os
pratos e o contratempo estão muito mais claros, como também as palhetadas da guitarra.
As cordas? Em volta de você, na sala. Os CDs da sua coleção, como os seus cassetes,
agora revelam timbres e sonoridades que você nunca tinha notado, e que dão ainda mais
coerência aos arranjos que você já adorava nos seus artistas preferidos. Aliás, seu
ouvido nunca mais será o mesmo.
Que mágica é esta? Não é mágica. Nem exatamente uma novidade. Na verdade,
o primeiro circuito de um exciter foi montado em 1955, desenvolvido por Charles D.
Lindridge, para “melhoria do som da música e do discurso”. Fontes sonoras eram
enriquecidas com harmônicos superiores gerados artificialmente, o que dava maior
transparência e inteligibilidade aos diversos timbres. De lá pra cá muitos modelos
representaram uma grande evolução no conceito de exciters e enhancers. O primeiro
significa, numa tradução direta, um excitador, e o segundo, um melhorador do som.
Ao mesmo tempo que dá maior transparência e nitidez aos timbres dos
instrumentos na música erudita, o enhancer permite maior compreensão das letras das
canções e mais brilho e peso em gravações de música pop, rock ou de quaisquer
gêneros. Ele pode ser usado nas mais diferentes aplicações de áudio, como gravação em
estúdio, mixagem, masterização, shows (no P.A. e no setup dos instrumentistas), música
ao vivo, música mecânica (bailes, discotecas), home theater e a mera audição caseira ou
cópia de CDs e cassetes. Ainda por cima, reduz a fadiga auditiva, por ser baseado nos
conceitos da psico-acústica. Existe em hardware e em software.
Psicoacústica. O aspecto psicológico da audição é muito importante para a
percepção dos sons. É mais fácil distinguirmos os instrumentos de uma orquestra numa
sala de concertos do que ouvindo um CD. Isto se deve, primeiro, ao fato de estarmos
vendo e ouvindo os instrumentos, e segundo, porque são instrumentos acústicos,

© Curso de Home Studio® Sergio Izecksohn


w w w . h o me s t u di o . c o m. b r
4

ouvidos diretamente sem interferências mecânicas ou eletrônicas. Numa gravação, esses


mesmos sons são prejudicados pela perda de sinal em certas freqüências, a cada elo da
cadeia de gravação, como o microfone, a mesa, o gravador multipista, os processadores,
o gravador estéreo, o amplificador e os falantes, sem contar o ruído eventualmente
gerado pelos cabos. Todos estes elos atenuam ou cortam harmônicos dos diversos sons,
fazendo com que eles percam algo de suas características depois de mixados.
O som de qualquer instrumento ou voz, como de resto qualquer som da natureza,
é composto de parciais, a fundamental e os harmônicos. A nota que você ouve é a
fundamental, mas o timbre dela é o resultado da superposição dos harmônicos sobre a
fundamental. O que diferencia a sua voz da voz de seu amigo é o timbre. Embora os
harmônicos sejam sempre os mesmos, com os mesmos intervalos (8a, 12a, segunda 8a
etc.) sobre a nota fundamental, seus níveis (volumes) variam de um timbre para outro.
São essas diferentes “mixagens” naturais das parciais do som que originam os diferentes
timbres. A fundamental é mais perceptível porque seu nível costuma estar muito mais
alto do que os harmônicos, mas um sino de igreja não tem a fundamental tão clara
assim, e fica mais difícil reconhecer que nota ele está tocando. A série harmônica é
apresentada nos livros de Teoria Musical.
Quando os timbres são gravados e reproduzidos, sofrem deterioração, e quando
são mixados (misturados) a outros timbres também têm vários harmônicos atenuados ou
até cancelados,`o que muda suas características. Mesmo afastando os instrumentos uns
dos outros com o controle de pan dos canais da mesa de mixagem, ou usando um
equalizador, é difícil manter suas propriedades sonoras quando mixamos muitos sons.
Os aparelhos psico-acústicos, como os exciters, enhancers, clarificadores e
outros, sempre foram cercados por um certo misticismo. Muitos manuais não deixam
claro o seu modo de atuação. Mas todos esse aparelhos trabalham com três conceitos:
correção de freqüências, alteração de fase e geração de harmônicos artificiais.
A correção de freqüências consiste no corte, atenuação ou incremento de certas
parciais dos sons. Equalizadores e filtros são geralmente usados para redefinir os
timbres. Aumentar os agudos, por exemplo, causa um efeito de maior transparência.
A alteração de fase causa um minúsculo atraso (delay) em certos sons. Quase
imperceptível, esse atraso soa como se numa orquestra os músicos de um naipe ou seção
instrumental não tocassem exatamente ao mesmo tempo, dando um resultado mais
“humano” ou “natural” à música. O chamado “alargamento de pulso” amplia o sinal
sonoro resultante. Esse efeito é conhecido também como “3-D”, e se traduz num som
mais vivo.
A geração de harmônicos artificiais, principal característica dos exciters,
consiste em repor altas freqüências (agudos) supostamente perdidas na gravação ou na
captação do som. O resultado é um som mais claro e transparente, em geral devolvendo
ao sinal os harmônicos perdidos, fazendo o timbre readquirir suas características.
É importante levarmos em conta que é sempre perigoso “enfeitar” o som com
harmônicos em níveis que ele não possuía antes de ser gravado. Exagerado, o
processamento pode funcionar como uma faca de dois gumes. Em vez de trazer
naturalidade, calor e humanizar o som, um exciter pode, mal usado, tornar o som ainda
mais artificial. Por isso, é fundamental usar o bom senso com uma intervenção
comedida de um processador como este.

© Curso de Home Studio® Sergio Izecksohn


w w w . h o me s t u di o . c o m. b r

Você também pode gostar