anos depois da formatura, não tenham tido nenhuma carreira brilhante. São os funcionários, os mecânicos, os vagabundos, os alcoólatras desempregados, os escritores, os artistas miseráveis... as pessoas que não ganham um décimo da tal média de 25.000 dólares. Estes não comparecem às reuniões de celebração que a classe andou fazendo ao longo dos anos, muitas vezes por não ter sequer dinheiro para a passagem. Quem são os que jogaram o questionário na cesta de papéis? Não podemos ter certeza, mas talvez não erremos muito se considerarmos serem estes os que não estão ganhando o bastante para vangloriar- se. Devem parecer-se um pouco com o sujeito que achou uma notinha no seu primeiro envelope de pagamento, pedindo que considerasse o seu salário como confidencial, e que não deveria ser revelado nem comentado com seus colegas. "Não se preocupe", disse ele ao patrão. "Tenho tanta vergonha do meu salário quanto o senhor". Torna-se bem claro que a amostra omitiu dois grupos bem capazes de reduzir a média. O número 25.111 começa a explicar- se. Se é que vale alguma coisa, é expressivo daquele grupo especial da classe de 1924 cujos endereços são conhecidos e que não se incomodam de dizer quanto ganham. Mesmo assim, espera-se que os cavalheiros estejam dizendo a verdade. Tal esperança (de que digam a verdade) não é desprezível. A experiência ganha num tipo especial de estudo de amostragens, a chamada pesquisa de mercado, diz-nos que tal esperança (de respostas verdadeiras) deve ser reduzida quase que a zero. Um levantamento de porta-em-porta, pretendendo pesquisar a leitura de uma revista, foi certa ocasião realizado, tendo entre outras a seguinte pergunta-chave: "Quais as revistas lidas em sua casa?" Quando os resultados foram tabulados e analisados, parecia que muitos leitores preferiam Harper's, uma revista literária, e poucos liam True Story, especializada em xaroposas e melodramáticas novelas. Entretanto, existiam números disponíveis sobre a tiragem editorial dessas revistas, que indicavam claramente que True Story tinha milhões de exemplares em circulação, enquanto que Harper's tinha só algumas centenas de milhares. Assombrados, os planejadores da pesquisa perguntavam se tinham entrado em contato com as pessoas erradas. Mas não! As perguntas foram feitas em todas as espécies de bairros, por todo o país. A única conclusão razoável foi que muitos dos entrevistados não tinham dito a verdade. Tudo o que a pesquisa tinha revelado foi o alto número de pernósticos. Por fim, descobriu-se que, quando se deseja saber o que determinadas pessoas lêem, de nada adianta perguntar-lhes. Pode-se saber muito mais indo às suas casas, pedindo para comprar revistas velhas. Depois disso e só separar as revistas. Mesmo esse recurso furtivo, claro está, não dirá o que o pessoal lê, mas apenas revelará ao quê estiveram expostos. No meio, estarão certamente alguns relatórios técnicos.
The Art of Invisibility The World's Most Famous Hacker Teaches You How To Be Safe in The Age of Big Brother and Big Data by Kevin D. Mitnick, Robert Vamosi (PT)