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5 originais que serão recusados

por editoras
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Augusto Assis, no Cabine Literária

Uma editora provavelmente vai levar meses para conseguir avaliar o original que você mandou.
Se já é complicado competir com outros tantos originais que eles recebem diariamente, você
não vai querer cometer uma besteira que te desclassifique antes de ser lido, não é?

Pensando nisso, trouxe hoje alguns tipos de originais — e de autores —, que não muito bem
vistos pelas casas editoriais. Gostaria de agradecer ao Walter Tierno (editor da Giz Editorial) que
me contou um pouco sobre a arte de avaliar originais.

O intrigante
Quem manda esse tipo de original quer deixar o editor com um gostinho de quero mais. O
problema é que não deixa. Tem olhos de ressaca e é todo trabalhado no mistério. Esse autor
quer causar angústia ao editor, quer que ele sofra pedindo por mais e que ele vá até sua casa
(nada de e-mail) e implore pelo final da história.

Bem, agora falando sério:seria uma perda de tempo para o autor e para o profissional que leria
o original mandar um texto incompleto achando que vai abalar. Frases como “O resto é
surpresa” não são nada recomendáveis. Ninguém vai te procurar desse jeito.

O pavão
Ele não precisa de editora nem de marketing nem de qualquer coisa que não ele próprio. Os
grandes nomes da literatura já podem abrir um espaço para a sua genialidade. Vem aí o
queridinho da critica, o amadopelo povão, o consagrado pelos acadêmicos: o anônimo!

O anônimo é um talento a ser descoberto, e ele sabe disso. Por isso, sua obra (não diga original:
é quase ofensivo) chegará às mãos do editor com uma frase de apresentação do tipo: “Esta é a
melhor obra que você já recebeu e será o novo grande sucesso da literatura mundial”. Pois é,
então. Não tenho tanta certeza que seu possível editor vai te dar sequer uma chance de
convencê-lo.

O inovador
Quem disse que precisa seguir as regras da língua? Balela! Você é escritor e usa as palavras do
jeito que você bem entender. Assim chega o inovador, não se importando com a gramática, que
é para a ralé.

Calma, você não precisa dominar tudo.Não é como se um pequeno deslize fosse comprometer
sua carreira, seu futuro e suas futuras gerações, mas cuidado faz bem. Dê uma revisada, peça
para alguém (um professor ou outro que domine bem a língua) dar uma corrigida. Erros de
português não são imperdoáveis, mas “agente tamos” é sacanagem.

O atirador
“É editora? Então toma um original!” Não é assim que funciona. Faça uma filtragem de editoras
que publicam o gênero da sua história. Não adianta mandar um romance água-com-açúcar
para uma editora que só publica literatura fantástica. Editora nenhuma vai abrir uma exceção
pra você, só porque você quer. Enviar uma história que não segue a linha editorial da casa é
pedir pra nem ser lido.

E uma vez escolhida a editora, tente resistir à tentação de enviar para outras antes de receber
uma resposta. Editoras conversam entre si e trocam informações. Você não quer ser aquele
autor que atirou para todos os lados e ficou com fama de desesperado.

O rebelde
Essa é bem básica, mas é sempre bom prestar atenção. Se a editora que você vai tentar pede
tudo em Arial tamanho 11, não mande em Georgia tamanho 12. Obedeça às normas de
espaçamento, margem e o que mais a editora pedir.

Lembre-se de é você quem está submetendo o original para a avaliação. Às vezes, você nem
prestou atenção ao fato de que deveria seguir um padrão.Simplesmente mandou. Agora que eu
já avisei, não tem mais desculpa: sempre confira antes de mandar. Geralmente as editoras têm
isso no próprio site.

O espertalhão
Entregar um original para autor da casa na esperança de que o cara leve até as mãos do editor e
dê aquela forcinha é no mínimo deselegante. É pedir não só pra não ser lido, mas para ficar
queimado no meio. Você não quer ser esse cara ou essa garota,acredite. Não, não falo por
experiência própria.

Outra característica do espertalhão é ter a síndrome de PC Siqueira. O que seria isso? Ele arranja
vários seguidores para suas redes sociais. Comprados (sim, tem gente que faz isso!), ou vários
perfis que ele próprio criou para seguir a si mesmo e outros tipos de trapaça,só para parecer
mais “popular”.

Gente, quando uma pessoa é popular (nível PC Siqueira, daí o nome), a gente sabe. Todo
mundo conhece ou ouviu falar. Não adianta chegar falando que você é o famoso Rodela, sendo
que ninguém conhece o famoso Rodela.

O penetra
Esse é o autor vai aos eventos só pra tentar entregar aquele original para um editor. Claro,
ninguém pediu nada, mas ele entrega mesmo assim, porque ele é o chato. Gente, isso é feio.
Completamente fora de hora, completamente contraproducente. Não tente isso. Começar a
falar descontroladamente sobre o livro, sem que o editor tenha dito: “Me fale sobre o seu livro”,
é encrenca.É a mais pura tradução daquele meme (que eu adoro): não li e nem lerei.

E aí, anotou tudo? Pronto para não fazer besteira? Então tudo certo. Faça suas escolhas
sabiamente e boa sorte!
Germano Bran ·
Redator publicitário em Germano Comunic
Sobre editoras ainda avaliarem originais ou não vai aqui um relato
pessoal: há vinte anos, eles liam, avaliavam, de fato. Hoje, esse interesse
está minguado pelos novos autores. Por que uma editora como a
Intrínceca, que está lá como você falou NÃO ESTAMOS RECEBENDO
ORIGINAIS POR HORA irá ainda se interessar em lançar alguém novo se,
para eles, é muito mais fácil ir a uma feira do livro nos EUA ou em
Franckfurt, e comprar um livro que já é um sucesso e só traduzir para o
português? Chiado, Giostri, Scortecci (publiquei dois romances por esta),
todas cobram para publicar. Queria deixar um destaque: estas não são
editoras de fato, são prestadoras de serviço. E há várias! Elas publicam o
que vc quiser, o que interessa é o dinheiro, o conteúdo do livro não é
problema delas, é seu. Tampouco elas revisam, vendem ou distribuem
seu livro. Vc como escritor que terá que negociar com livrarias e cobrar
sempre seu repasse. Terá que ir deixar os livros ou depois buscar o que
não vendeu. Elas também não tem análise qualitativa. Algumas provocam
um discurso de qualidade como a Giostri ou Chiado, mas é cortina de
fumaça, o que vale mesmo é a grana. É fácil comprovar, é só entrar no
site deles e vê a qualidade dos livros: capas sofríveis, feias até,
conteúdos de escritores diletantes, movidos por ingênua vaidade de que
suas histórias pessoais ou passeios pela literatura tem alguma
relevância. Editora de verdade, uma Leya,por exemplo, não publica teu
livro nem se vc pagar uma fortuna, pois zelam pelo selo, a marca, e só
vão publicar se chegarem a um concenso de que aquela obra tem valor.
Veja o prêmio Leya, eles se dispõem até não premiar se o júri não
considerar nenhuma obra à altura. Eu já publiquei dois romances e um
livro de contos, esgotados. Estão em formato e-book pela Amazom. Hoje,
o e-book, pelo Kindle, é uma solução de publicar. Sei que não é a mesma
coisa que formato livro impresso. Mas sabe: quando vc olhar aquelas
caixas de livro que vc mandou fazer pagando do próprio bolso debaixo da
tua cama.... Você não irá saber o que fazer com elas! Meu primeiro
romance publicado o fiz com o dinheiro de um prêmio literário. Cheguei a
ser entrevistado no P,rograma do Jô por conta do livro. Não tenho
dúvidas que a divulgação no programa ajudou nas vendas, mas mesmo
assim ainda demorei pra me livrar daqueles 420 exemplares (80 vendi na
noite de autógrafo, antes de ir ao programa). Anos depois, publiquei meu
segundo romance com ajuda do meu irmão, mas apenas imprimi 200
exemplares. Vendi 85 exemplares, contando a noite de autógrafos no
estande da Bienal de SP no Anhembi e em Fortaleza, onde moro. Vale
aqui um toque: não caia na armadilha dessas prestadoras de serviço
dizendo que se publicar por elas você terá um estande na Bienal
Internacional do Livro em SP. Você terá, mas não venderá nada! Bem, eu
vendi cinco livros: quatro minha família comprou e o outro um leitor
passante. Vi autores do meu livro sem vender nem um! Mas você verá lá
o Pe. Fabio de Melo com uma fila enorme de mulheres lindas querendo
seu autografo e seu abraço.Se você não for famoso, esqueça, continuará
anônimo lá. Outra: se decidir gastar dinheiro pra publicar seu livro, saiba:
você irá perder dinheiro! Se for livro acadêmico, didático e você for
professor, tem chances de vender bem para os alunos e espectadores de
palestras, se for literatura, romance, conto, poesia, é bem mais difícil.
Acontece, claro, mas é muito difícil vc recuperar o que gastou.
Geralmente não recupera, é mais satisfação pessoal. Contudo, com disse
Ubaldo Ribeiro: leitor trata de literatura, escritor trata de dinheiro. Se vc
é um escritor e redator profissional, como eu, vc quer que seu produto
livro seja comercializado e vc receba dinheiro do seu trabalho, se for
escritor diletante, é uma satisfação pessoal e valeu o gasto que não
volta mais. E tchau. Meu novo romance tem sido aceito por algumas
editoras, mas logo elas me convidam a participar investindo dinheiro, o
que não me interessa mais fazer. Como acredito na minha obra, escolhi o
caminho mais difícil de inscrever em prêmios e uma ou outra editora que
aceita avaliar. Agora, pra finalizar, chamo a atenção para uma grande
sacanagem que as editoras fazem, exceto a Novo Conceito: elas ainda
pedem que vc envie os originais pelos correios. Uma grande sacanagem
na era da internet eles exigirem isso! O gasto com xerox e correios não é
desprezível. Ainda o fazem, a meu ver, para vc não enviar mesmo. Tive o
privilégio de conhecer pessoalmente a escritora Rachel de Queiroz, que
me recebeu eu seu apto, e me disse que tivera sorte ao ser logo
publicada por uma editora. Ela me disse: Meu filho, vc escolheu uma
profissão ingrata. Dona Rachel tinha razão.

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