Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Mortimer Adler
Há diversas maneiras de fazer marcações em um livro de maneira inteligente e frutífera. Eis como eu o faço:
Sublinhando (ou usando marca-texto): pontos principais, de declarações fortes ou importantes.
Linhas verticais na margem: Para enfatizar uma declaração já sublinhada.
Estrela, asterisco, ou outro símbolo na margem: deve ser usada com moderação, para enfatizar as
dez ou vinte declarações mais importantes no livro. (Podes fazer uma orelha no canto inferior das páginas
nas quais aparecem estas marcações. Isto não machucará as folhas grossas dos quais a maioria dos livros são
feitos hoje em dia, e, com isto, poderás tirar o livro da prateleira a qualquer momento e, abrindo na página
dobrada, refrescar teu entendimento do livro).
Números na margem: para indicar a sequência de pontos que o autor faz ao desenvolver um mesmo
argumento.
Número de outras páginas na margem: para indicar onde mais o autor diz pontos relevantes ao
ponto em questão; para ligar as ideias no livro que, embora separadas por muitas páginas, são conectadas.
Circulando ou destacando palavras-chave ou frases.
Escrevendo na margem, ou na parte superior ou inferior da página: para recordar perguntas (e
talvez respostas) que uma passagem tenha levantado em tua mente; reduzindo uma discussão complicada a
uma declaração simples; recordando a sequência dos pontos principais pelo livro. Eu uso as folhas em
branco no final do livro para fazer um índice pessoal dos pontos do autor na ordem em que apareceram.
As páginas em branco no começo do livro são as mais importantes para mim. Algumas pessoas reservam-
nas para um ex-libris sofisticado. Eu as reservo para um pensamento sofisticado. Após terminar o livro e
fazer um índice pessoal nas páginas finais, eu retorno às iniciais e tento delinear o livro, não página por
página, ou ponto por ponto (já o fiz nas páginas finais), mas como uma estrutura integrada, com uma
unidade básica e uma ordem em suas partes. Este delineamento é, para mim, a medida do meu entendimento
da obra.
Se és um radical anti-marcações em livros, podes objetar que as margens, o espaço entre as linhas, e as
páginas finais não te dão espaço suficiente. Tudo bem. Que tal usares um bloco de rascunho ligeiramente
menor que o tamanho da página do livro, de modo que as bordas do rascunho não apareçam? Faças teu
índice, delineamento, e até tuas anotações no rascunho, e, depois, insere os rascunhos permanentemente no
começo e no final do livro.
Ou, podes dizer, este negócio de fazer marcações em livros irá tornar tua leitura mais lenta. De fato,
provavelmente irá. E esta é uma das razões para fazê-lo. A maioria de nós se impregnou da idéia de que a
velocidade de leitura é uma medida de nossa inteligência. Não existe tal coisa como a “velocidade correta”
para se fazer uma leitura inteligente. Algumas coisas devem ser lidas rapidamente e sem esforços e outras
devem ler lidas lentamente e até laboriosamente. O sinal de leitura inteligente é a habilidade de
ler diferentes coisas diferentemente de acordo com seu valor. No caso de livros bons, o objetivo não é ver
por quantos consegues passar; mas sim quantos permanecem em ti — quantos consegues possuir. Ter alguns
poucos amigos é melhor que ter milhares de conhecidos. Se este é teu objetivo, como deveria ser, não te
impacientarás se te exigir mais tempo e esforço ler um grande livro do que te exige ler um jornal.
Podes ainda ter uma objeção final a fazer marcações nos livros: não podes emprestá-los aos teus amigos
porque ninguém pode lê-los sem distrair-se com tuas notas. Além do mais, não quererás emprestá-los porque
um livro com anotações é como um diário intelectual, e emprestá-los é expor a público tua mente.
Se um amigo deseja ler teu “Vidas Paralelas” de Plutarco, Shakespeare, ou “O Federalista”, digas-lhe gentil,
mas firmemente, que compre uma cópia. Emprestarias teu carro ou teu casaco, mas teus livros são tão parte
de ti quanto tua cabeça ou teu coração.