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O Evangelho

Essênio da Paz

2012

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OTA EDITORIAL:

HAILE I SELASSIE I JAH RASTAFARI!

Bendito o Amor de Deus Conosco e Seus ensinamentos que dão


orientação a Eu&Eu para como seguir na caminhada terrena.
Está é a segunda edição do livro O Evangelho Essênio da Paz
publicada pelo Eu&Eu Realidade Rasta. Parte da série Escrituras Sagradas,
que tem o objetivo de divulgar e popularizar grandes escritos sagrados que
por muito tempo ficaram ocultos e desconhecidos, que, porém, trazem
imensuráveis contribuições para a compreensão da vida, dos ensinos de
Cristo e das Leis divinas e naturais.
A primeira edição deste livro teve muita procura e grande
repercussão, seu conteúdo fascinou os leitores e inspirou muitos a alterarem
seu antigo modo de vida e buscarem uma purificação de seus templos-
corpos através de novos hábitos de conduta.
É nesse intento que trazemos essa nova edição revisada e também
incluindo alguns textos de apresentação dos manuscritos de seu primeiro
tradutor do hebraico e aramaico para uma língua moderna, Edmond
Bordeaux Székely, o mesmo que os encontrou guardados nas bibliotecas do
vaticano, ocultos do público em geral. Como profundo estudioso desses
manuscritos, consideramos que suas contribuições são de grande valor para
o estudo das escrituras dos Essênios.
Para Eu&Eu, os textos que se seguem são de tamanha importância
por trazerem o ensinamento vivo daqueles que por milhares de anos
representaram o povo que opta por uma vida separada do mundo ordinário,
buscando um contato mais profundo e natural com Deus, a Natureza, os
seres divinos, ou anjos, e a irmandade, os Essênios que também foram
conhecidos como Nazireus. Jesus e São João são os conhecidos praticantes
e difusores dessas práticas e ensinos.
Nesta compilação de textos sagrados chamada de O Evangelho
Essênio da Paz, Jesus traz aspectos fundamentais para a vivência Cristã que
pouco ou nada são mencionados em outros escritos mais populares. Em
especial o contato com o aspecto Omega-feminino de JAH RASTAFARI
(Deus-Chefe Criador), a Mãe Terrena, e Suas leis naturais e universais. A
importância da Alimentação VIVA, sem morte e sem cozimento, faz parte
desses ensinos de harmonia com Nossa Mãe. É somente estando em
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perfeita harmonia e equilíbrio com nossa Mãe e suas leis, que poderemos
então almejar conhecer nosso Pai.
Em anexo, trazemos alguns textos que falam da origem desses
manuscritos e um breve resumo de quem são os Essênios.
Assim como ensina Jesus nesses manuscritos, Eu&Eu deseja que
essas palavras escritas sejam experienciadas como Palavra Viva na prática
das Eu&Eu vidas.

Luísa Benjamim – editora


Eu&Eu Realidade Rasta

Projeto Omega Nyahbinghi:


omeganyahbinghi.blogspot.com

Contatos:
luisabenjamim@gmail.com

Ilustração da capa: Alemayehu Bizuneh - artista etíope

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SUMÁRIO

LIVRO 1 – O Evangelho Essênio da Paz ................................................. 7

Prefácio ....................................................................................................... 9
O Evangelho Essênio da Paz ................................................................... 11

LIVRO 2 – Os Livros Desconhecidos dos Essênios .............................. 43

Prefácio ..................................................................................................... 45
Introdução ................................................................................................ 47
A Visão de Enoque ................................................................................... 51
O Livro Essênio de Moisés ...................................................................... 53
As Comunhões ......................................................................................... 57
Do Livro Essênio de Jesus ....................................................................... 67
Fragmentos Idênticos aos Manuscritos do Mar Morto ........................ 73
Do Livro Essênio do Mestre da Virtude ................................................ 77
Fragmentos do Evangelho Essênio de João ........................................... 81
Fragmentos do Evangelho Essênio do Apocalipse ................................ 83

LIVRO 3 – Manuscritos perdidos da Irmandade Essênia ................... 91

Prefácio ..................................................................................................... 93
Introdução ................................................................................................ 95
O Voto Sétuplo ......................................................................................... 99
O Culto Essênio ...................................................................................... 100
O Anjo do Sol ......................................................................................... 101
O Anjo da Água ..................................................................................... 103
O Anjo do Ar .......................................................................................... 105
O Anjo da Terra .................................................................................... 107
O Anjo da Vida ...................................................................................... 109
O Anjo da Alegria .................................................................................. 111
A Mãe Terrena ....................................................................................... 113
O Anjo do Poder .................................................................................... 115
O Anjo do Amor .................................................................................... 117
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O Anjo da Sabedoria ............................................................................. 118
O Anjo da Vida Eterna ......................................................................... 120
O Anjo do Trabalho .............................................................................. 123
O Anjo da Paz ........................................................................................ 125
O Pai Celestial ........................................................................................ 127
A Lei Sagrada ........................................................................................ 130
Os Anjos ................................................................................................. 132
A Irmandade .......................................................................................... 135
Árvores ................................................................................................... 138
Estrelas ................................................................................................... 140
A Lua ...................................................................................................... 142
Salmos de Louvor e Ação de Graças ................................................... 144
Lamentações .......................................................................................... 148
Profecias ................................................................................................. 151

LIVRO 4 – Os Ensinamentos dos Eleitos ........................................... 157

Prefácio .................................................................................................. 159


As Comunhões Essênias ....................................................................... 161
O Dom da Vida na Relva Humilde ...................................................... 169
A Paz Sétupla ......................................................................................... 177
As Correntes Sagradas .......................................................................... 187

A EXOS ................................................................................................ 191

Os Essênios ............................................................................................ 193


A Doutrina do Deserto .......................................................................... 195

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LIVRO 1

O EVA GELHO ESSÊ IO DA PAZ

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PREFÁCIO

Quase dois mil anos se passaram desde que o filho do Homem


ensinasse o caminho, a verdade e a vida à humanidade. Levou saúde ao
enfermo, sabedoria ao ignorante e felicidade àqueles que estavam na
desgraça.
Suas palavras quase foram esquecidas, e não foram copiadas até
algumas gerações depois de que foram pronunciadas. Foram mal
entendidas, mal anotadas, centenas de vezes reescritas e centenas de vezes
transformadas, mas mesmo assim sobreviveram quase dois mil anos.
E mesmo suas palavras, como as temos hoje em dia no novo
testamento, foram terrivelmente mutiladas e deformadas, conquistaram
meia humanidade e a totalidade da civilização ocidental. Este feito prova a
eterna vitalidade das palavras do Mestre, e seu valor supremo e
incomparável.
Por esta razão decidimos publicar as palavras de Jesus, puras e
originais, traduzidas diretamente da língua aramaica falada por Jesus e seu
amado discípulo João, quem, único entre os discípulos de Jesus, anotou
com exatidão perfeita os ensinamentos pessoais de seu Mestre.
É uma grande responsabilidade anunciar o Novo Testamento atual,
que é a base de todas as Igrejas Cristãs, como deformado e falsificado,
porém não há mais alta religião que a verdade.
Este livro contém só um fragmento – digamos que uma oitava parte –
dos manuscritos completos que se conservam em aramaico, na Biblioteca
do Vaticano, e em antigo eslavo na Biblioteca Real dos Habsburgo,
atualmente propriedade do governo austríaco.
Devemos a existência de ambas as versões aos monges nestorianos,
aqueles que, antes do avanço das hordas de Gengis Khan, se viram forçados
a fugir do Leste até o Oeste, trazendo consigo todas as suas antigas
escrituras e ícones.
Os antigos textos em aramaico datam do primeiro século depois de
Cristo, enquanto que a versão em eslavo é uma tradução literal daquele. A
arqueologia ainda não pôde reconstruir exatamente como viajaram esses
textos desde a Palestina até o interior da Ásia, chegando às mãos dos
monges nestorianos.
Atualmente está em preparação uma edição contendo o texto
completo com todas as referências e notas explicativas (arqueológicas,
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históricas e explicativas) necessárias. A parte publicada trata dos trabalhos
curadores de Jesus. Emitimos primeiro essa parte antes que o resto, porque
é a qual a humanidade sofredora tem hoje mais necessidade.
Nada teremos a adicionar a este texto. Ele fala por si próprio. O leitor
que estude as páginas que se seguem com concentração, sentirá a vitalidade
eterna e a poderosa evidência destas verdades profundas que a humanidade
necessita hoje mais urgentemente do que nunca.

“E a verdade se demonstrará por si mesma”

Edmond Bordeaux Székely, Londres, 1937


(primeiro tradutor do Evangelho Essênio da Paz)

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O EVA GELHO ESSÊ IO DA PAZ

E, então, muitos doentes e aleijados se aproximaram de Jesus,


perguntando-lhe: “Se conheces todas as coisas, dize-nos: Por que nós
sofremos com estas penosas calamidades? Por que não estamos sadios
como os demais homens? Mestre, cura-nos, para que nos também possamos
tornar-nos fortes e não tenhamos que viver por mais tempo nosso
sofrimento. Sabemos que tu tens o poder de curar todo tipo de enfermidade.
Livra-nos de Satã e de todas as suas grandes aflições. Mestre, tem
compaixão de nós”.
E Jesus respondeu: “Felizes sois vós que tendes fome da verdade,
pois eu vos satisfarei com o pão da Sabedoria. Felizes sois vós que bateis,
pois eu vos abrirei a porta da vida. Felizes sois vós que rechaçais o poder
de Satã, pois eu vos conduzirei ao reino dos anjos de nossa Mãe, onde o
poder de Satã não pode entrar”.
E eles perguntaram-lhe, pasmados: “Quem é nossa Mãe e quais são
seus anjos? E onde se encontra seu reino?”
“Vossa Mãe está em vós, e vós n’Ela. Ela vos deu à luz e Ela vos dá
vida. Foi Ela quem vos deu vosso corpo, e a Ela devolvereis algum dia.
Felizes sereis vós quando chegardes a conhecê-la, assim como a Seu reino;
se receberdes os anjos de vossa Mãe e cumprirdes Suas leis. Em verdade
vos digo, quem fizer isso nunca conhecerá enfermidade. Pois o poder de
nossa Mãe está acima de tudo. E destrói Satã e seu reino, e tem governo
sobre todos os vossos corpos e todas as coisas vivas.”
“O sangue que corre em vós nasceu do sangue de nossa Mãe
Terrena. Seu sangue cai das nuvens, brota do ventre da terra, murmura nos
córregos das montanhas, flui amplamente nos rios das planícies, dorme nos
lagos e se enfurece poderosamente nos mares tempestuosos.”
“O ar que respiramos nasceu do alento de nossa Mãe Terrena. Sua
respiração é azul-celeste nas alturas dos céus, silva nos cumes das
montanhas, sussurra entre as folhas do bosque, ondeia sobre os trigais,
descansa nos vales profundos e abrasa no deserto.”
“A dureza de nossos ossos nasceu dos ossos de nossa Mãe Terrena,
das rochas e das pedras. Erguem-se desnudas aos céus no alto das
montanhas; são como gigantes que jazem adormecidos nos pés das
montanhas, como ídolos erguidos no deserto, e estão ocultos nas
profundidades da terra.”
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“A delicadeza de nossa carne nasceu da carne de nossa Mãe Terrena;
cuja carne amadurece amarela e vermelha nos frutos das árvores, e nos
alimenta nos sulcos dos campos.”
“Nossas entranhas nasceram das entranhas de nossa Mãe Terrena, e
estão ocultas de nossos olhos como as profundidades invisíveis da terra.”
“A luz de nossos olhos e o ouvir de nossos ouvidos nascem ambos
das cores e dos sons de nossa Mãe Terrena, que nos envolve como as ondas
do mar a um peixe, como o ar em redemoinho a um pássaro.”
“Em verdade vos digo, o Homem é Filho da Mãe Terrena, e d’Ela o
Filho do Homem recebeu todo o seu corpo, assim como o corpo do bebê
recém-nascido nasce do ventre de sua mãe. Em verdade vos digo, vós sois
um com a Mãe Terrena; Ela está em vós e vós, n’Ela. D’Ela nascestes,
n’Ela viveis e a Ela de novo retornareis. Guardai, portanto, Suas leis, pois
ninguém pode viver por muito tempo, nem ser feliz, ao menos que honre
sua Mãe Terrena e cumpra Suas leis. Pois vossa respiração é a Sua
respiração; vosso sangue, Seu sangue; vossos ossos, Seus ossos; vossa
carne, Sua carne; vossas entranhas, Suas entranhas; vossos olhos e vossos
ouvidos, Seus olhos e Seus ouvidos.”
“Em verdade vos digo, se deixardes de cumprir uma só de todas estas
leis, se prejudicardes um só dos membros de vosso corpo, ficareis
totalmente perdido em vossa dolorosa enfermidade e haverá choro e ranger
de dentes. Eu vos digo que, a menos que seguis as leis de vossa Mãe, não
podereis de nenhum modo escapar à morte. E aquele que é fiel às leis de
sua Mãe é fiel à sua Mãe também. Ela curará todas as suas pragas e ele
nunca ficará enfermo. Ela lhe dá longa vida e lhe protege de toda a aflição;
do fogo, da água, da mordida das serpentes venenosas. Pois vossa Mãe vos
deu à luz, conservai a vida em vós. Ela vos deu Seu corpo, e ninguém senão
Ela vos cura. Feliz é aquele que ama sua Mãe e repousa sossegadamente
em Seu seio. Porque vossa Mãe vos ama, mesmo quando vos afastais d’Ela.
E quanto mais Ela vos amará, se regressardes de novo a Ela? Em verdade
vos digo, muito grande é Seu amor, maior que a maior das montanhas e
mais profundo que o mais fundo dos mares. E aqueles que amam sua Mãe
Ela nunca os abandona. Como a galinha protege a seus pintinhos, como a
leoa a seus filhotes, como a mãe a seu bebê recém-nascido, assim protege a
Mãe Terrena ao Filho do Homem de todo perigo e de todo mal.”
“Pois em verdade vos digo, males e perigos inumeráveis estão à
espreita dos Filhos dos Homens. Belzebu, príncipe de todos os demônios, a
fonte de todo mal, está à espreita no corpo de todos os Filhos dos Homens.

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Ele é a morte, o senhor de toda peste, e, pondo uma vestidura agradável, ele
tenta e seduz aos Filhos dos Homens. Promete riqueza e poder, e
esplêndidos palácios, e adornos de ouro e prata, e numerosos servos.
Promete glória e renome, luxúria e fornicação, embriaguez e gula, vida
desenfreada, preguiça e ócio. E seduz a cada qual por aquilo pelo que mais
se inclina seu coração. E no dia em que os Filhos dos Homens se tornarem
escravos de todas essas vaidades e abominações, então, em retribuição, ele
arrebata dos Filhos dos Homens tudo o que a Mãe Terrena lhes deu em
abundância. Arrebata-lhes sua respiração, seu sangue, seus ossos, sua
carne, suas entranhas, seus olhos e seus ouvidos. E a respiração do Filho do
Homem torna-se curta e sufocada, penosa e mal-cheirosa, como a respiração
das bestas imundas. E seu sangue torna-se espesso e fétido como a água dos
pântanos; coagula-se e escurece como a noite da morte. E seus ossos
tornam-se rígidos e nodosos; dissolvem-se por dentro, quebram-se em
pedaços, como uma pedra caindo sobre uma rocha. E sua carne torna-se
graxenta e aquosa; apodrece e putrefaz com feridas e furúnculos que são
uma abominação.”
“E suas entranhas se enchem de uma imundície abominável,
escorrendo rios de deterioração, e nelas habitam inúmeros vermes
abomináveis. E seus olhos se escurecem, até que a noite escura os recobre;
e seus ouvidos se fecham, como o silêncio da tumba. E, por último, o
errante Filho do Homem perderá a vida. Pois não manteve as leis de sua
Mãe, mas somou um pecado a outro. Por isso são arrebatados dele todos os
dons da Mãe Terrena: a respiração, o sangue, os ossos, a carne, as
entranhas, os olhos e os ouvidos e, depois de todo o mais, a vida com que a
Mãe Terrena coroou seu corpo.”
“Porém, se o errante Filho do Homem se arrepende de seus pecados
e os desfaz, e regressa à sua Mãe Terrena; e se ele cumpre as leis de sua
Mãe Terrena e se liberta das garras de Satã, resistindo a suas tentações,
então a Mãe Terrena recebe novamente a Seu Filho pecador com amor e lhe
envia Seus anjos para que possam servi-lo. Em verdade vos digo, quando o
Filho do Homem resiste a Satã que habita nele e não faz sua vontade, na
mesma hora se encontram ali os anjos da Mãe para que possam servi-lo
com todo seu poder e libertar por inteiro o Filho do Homem do poder de
Satã.”
“Pois nenhum homem pode servir a dois senhores. Porque ou ele
serve a Belzebu e a seus demônios ou serve à nossa Mãe Terrena e a seus
anjos. Ou serve à morte ou serve à vida. Em verdade vos digo, felizes são

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aqueles que cumprem as leis da vida e não vagam pelos caminhos da morte.
Pois neles as forças da vida se fortalecem, e eles escapam das pragas da
morte”.
E todos aqueles que o rodeavam escutavam suas palavras com
espanto, pois sua palavra tinha poder, e ele ensinava de maneira bem
distinta da dos sacerdotes e escribas.
E, embora o sol já tivesse se posto, eles não se foram para suas casas.
Sentaram-se ao redor de Jesus e lhe perguntaram: “Mestre, quais são essas
leis da vida? Fica conosco um pouco mais e ensina-nos. Gostaríamos de
escutar teus ensinamentos para que possamos ser curados e nos tornarmos
corretos”.
E Jesus sentou-se no meio deles e disse: “Em verdade vos digo,
ninguém pode ser feliz, ao menos que cumpra a Lei”.
E os demais lhe responderam: “Todos cumprimos as leis de Moisés,
nosso legislador, tal como estão escritas nas sagradas escrituras”.
E Jesus respondeu: “Não busqueis a lei em vossas escrituras, porque
a Lei é a vida, enquanto o escrito está morto. Em verdade vos digo, Moisés
não recebeu de Deus suas leis por escrito, mas através da Palavra Viva. A
Lei é a Palavra Viva do Deus Vivo, dada aos profetas vivos para os homens
vivos. Em tudo o que há vida, está escrita a lei. Podeis encontrá-la na erva,
na árvore, no rio, na montanha, nos pássaros do céu, nos peixes do mar;
porém buscai principalmente em vós mesmos. Pois, em verdade vos digo,
todas as coisas vivas encontram-se mais perto de Deus que a escritura que
está desprovida de vida. Deus fez a vida e todas as coisas vivas para que
pudessem, por meio da palavra eterna, ensinar as leis do Deus verdadeiro
ao homem. Deus não escreveu as leis nas páginas dos livros, mas em vosso
coração e em vosso espírito. Encontram-se em vossa respiração, em vosso
sangue, em vossos ossos, em vossa carne, em vossas entranhas, em vossos
olhos, em vossos ouvidos e em cada pequena parte de vosso corpo. Estão
presentes no ar, na água, na terra, nas plantas, nos raios do sol, nas
profundidades e nas alturas. Todas falam convosco para que possais
compreender a língua e a vontade do Deus Vivo. Porém vós cerrais vossos
olhos para não ver, e tapais vossos ouvidos para não ouvir. Em verdade vos
digo, a escritura é a obra do homem, porém a Vida e todas as suas hostes
são obra de nosso Deus. Por que não escutais as palavras de Deus que estão
escritas em Suas obras? E por que estudais as escrituras mortas, que são a
obra das mãos do homem?”

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“Como podemos ler as leis de Deus em algum lugar, a não ser nas
escrituras? Onde estão escritas? Lê-as para nós de onde tu as vês, pois nós
não conhecemos mais que as escrituras que herdamos de nossos
antepassados. Conta-nos das leis de que falas, para que as ouvindo sejamos
sanados e justificados”.
Jesus disse: “Vós não entendeis as palavras da Vida, porque estais na
morte. A escuridão obscurece vossos olhos, e vossos ouvidos estão surdos.
Pois vos digo, de nada vale que vos debruceis sobre as escrituras mortas se,
por vossos atos, negais àquele que vos entregou as escrituras.
Em verdade vos digo, Deus e Suas leis não estão no que vós fazeis.
Não estão na gula nem na embriaguez, nem em uma vida desregrada, nem
na luxúria, nem na busca de riquezas, nem muito menos no ódio de vossos
inimigos. Pois todas essas coisas estão longe do verdadeiro Deus e de Seus
anjos. Mas todas essas coisas vêm do reino da escuridão e do senhor de
todos os males. E todas essas coisas carregais em vós mesmos; e, por isso,
a palavra e o poder de Deus não entram em vós, pois em vosso corpo e em
vosso espírito habitam todos os tipos de males e abominações. Se desejais
que a palavra e o poder do Deus Vivo entrem em vós, não profaneis vosso
corpo e vosso espírito; pois o corpo é o templo do espírito, e o espírito é o
templo de Deus. Purificai, portanto, o templo, para que o Senhor do templo
possa habitar nele e ocupar um lugar digno d’Ele.”
“E afastai todas as tentações, que vêm de Satã, de vosso corpo e de
vosso espírito, sob a sombra do céu de Deus.”
“Renovai-vos e jejuai. Pois em verdade vos digo, Satã e suas pragas
somente podem ser expulsos por meio do jejum e da oração. Vai por vossa
conta e jejuai a sós, sem mostrar vosso jejum a homem algum. O Deus
Vivo o verá e grande será vossa recompensa. E jejuai até que Belzebu e
todos os seus demônios vos abandonem, e todos os anjos de vossa Mãe
Terrena venham e sirvam a vós. Pois em verdade vos digo, a não ser que
jejueis, nunca estareis livres do poder de Satã nem de todas as enfermidades
que vêm de Satã. Jejuai e orai fervorosamente, buscando o poder do Deus
Vivo para vossa cura. Enquanto jejuardes, eviteis aos Filhos dos Homens e
buscai os anjos de nossa Mãe Terrena, pois aquele que busca, encontrará.”
“Buscai o ar fresco da floresta e dos campos, e em meio deles
encontrareis o Anjo do Ar. Tirai vossos calçados e vossas roupas e permiti
que o Anjo do Ar abrace todo o vosso corpo. Respirai então longa e
profundamente, para que o Anjo do Ar penetre dentro de vós. Em verdade
vos digo, que o Anjo do Ar expulsará de vosso corpo toda imundície que o

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profane por fora e por dentro. E assim sairá de vós todas as coisas sujas e
malcheirosas, como a fumaça do fogo que ascende em ondas e se perde no
oceano do ar. Pois em verdade vos digo, sagrado é o Anjo do Ar, que limpa
tudo o quanto está impuro e confere a todas as coisas fétidas um odor
agradável. Nenhum homem pode chegar diante da face de Deus, se o Anjo
do Ar não lhe deixar passar. Verdadeiramente, tudo deve nascer novamente
pelo ar e pela verdade, pois vosso corpo respira o ar da Mãe Terrena, e
vosso espírito respira a verdade do Pai Celestial.”
“Depois do Anjo do Ar, buscai o Anjo da Água. Retirai vossos
calçados e vossas roupas e permiti que o Anjo da Água abrace todo vosso
corpo. Lançai-vos por inteiro em seus braços envolventes, e, com a
frequência que moveis o ar com vossa respiração, movei também a água
com vosso corpo. Em verdade vos digo, o Anjo da Água expulsará de
vosso corpo toda imundície que o profane por fora e por dentro. E todas as
coisas sujas e malcheirosas fluirão para fora de vós, assim como as
imundícies das vestimentas lavadas nos rios se vão e se perdem na
correnteza do rio. Em verdade vos digo, sagrado é o Anjo da Água que
limpa tudo o quanto está impuro, e confere a todas as coisas fétidas um
odor agradável. Nenhum homem pode chegar diante da face de Deus, se o
Anjo da Água não lhe deixar passar. Em verdade, tudo deve nascer
novamente da água e da verdade, pois vosso corpo se banha no rio da vida
terrena e vosso espírito se banha no rio da vida eterna. Pois recebeis vosso
sangue de nossa Mãe Terrena e a verdade de nosso Pai Celestial.”
“Não penseis que é suficiente que o Anjo da Água vos abrace
somente por fora. Em verdade vos digo, a imundície interna é muito maior
que a externa. E aquele que se limpa por fora, permanecendo sujo em seu
interior, é como as tumbas que são pintadas belamente por fora, mas que
por dentro estão cheias de todo tipo de imundícies e abominações horríveis.
Por isso, em verdade vos digo, permiti que o Anjo da Água vos batize
também por dentro, para que possais vos libertar de todos os vossos antigos
pecados, e para que internamente, da mesma forma, possais vos tornar tão
puros quanto a espuma do rio brincando à luz do sol.”
“Buscai, portanto, uma grande cabaça com um talo do comprimento
de um homem; retirai seu interior e enchei com a água do rio acalentada
pelo sol. Pendurai em um galho de árvore e ajoelhai-vos no solo diante do
Anjo da Água, e fazei com que o extremo do talo da cabaça penetre em
vossas partes ocultas, para que a água flua através de vossos intestinos. Em
seguida, permanecei de joelhos no solo diante do Anjo da Água e orai ao

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Deus Vivo para que Ele perdoe todos os vossos antigos pecados, e orai ao
Anjo da Água para que ele liberte vosso corpo de toda imundície e
enfermidade. Deixai então que a água saia de vosso corpo, para que possa
levar para fora de vosso interior todas as coisas sujas e fétidas de Satã. E
vereis com vossos olhos e cheirareis com vossos narizes todas as
abominações e imundícies que profanavam o templo do vosso corpo; bem
como todos os pecados que residiam em vosso corpo, atormentando-vos
com todo tipo de dores. Em verdade vos digo, o batismo com água vos
liberta de tudo isto. Renovai vosso batismo com água em cada dia de vosso
jejum, até o dia em que vejais que a água que expulsais de vós é tão pura
quanto a espuma do rio. Entregai então vosso corpo ao rio que corre e,
estando nos braços do Anjo da Água, dai graças ao Deus Vivo por vos
haver libertado de vossos pecados. E este batismo sagrado pelo Anjo da
Água é o renascimento para a nova vida. Pois vossos olhos verão, a partir
de então, e vossos ouvidos escutarão. Não pequeis mais, portanto, após o
vosso batismo, para que os anjos do ar e da água possam eternamente
habitar em vós e servir-vos para sempre.”
“E se depois ainda permanecer dentro de vós algo de vossos antigos
pecados e imundícies, buscai ao Anjo da Luz do Sol. Retirai vossos
calçados e vossas roupas e permiti que o Anjo da Luz do Sol abrace todo
vosso corpo. Respirai então longa e profundamente para que o Anjo da Luz
do Sol vos penetre. E o Anjo da Luz do Sol expulsará de vosso corpo todas
as coisas fétidas e sujas que o profanem por fora e por dentro. E todas as
coisas impuras e malcheirosas sairão de vós, assim como a escuridão da
noite se dissipa diante do brilho do sol nascente. Pois, em verdade vos digo,
sagrado é o Anjo da Luz do Sol, quem limpa toda imundície e confere a
todas as coisas fétidas um odor agradável. Ninguém pode chegar diante da
face de Deus, se o Anjo da Luz do Sol não lhe deixar passar. Em verdade,
tudo deve nascer novamente do sol e da verdade, pois vosso corpo se
aquece na luz do sol da Mãe Terrena, e vosso espírito se aquece na luz do
sol da verdade do Pai Celestial.”
“Os anjos do ar, da água e da luz do sol são irmãos. Eles foram
entregues ao Filho do Homem para que possam servi-lo e para que ele
possa ir sempre de um a outro.”
“Sagrado, da mesma forma, é o abraço deles. Eles são filhos
indivisíveis da Mãe Terrena, assim não separeis aqueles a quem a terra e o
céu uniram. Deixai que esses três anjos irmãos vos envolvam todos os dias
e habitem convosco durante todo vosso jejum.”

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“Pois em verdade vos digo, o poder dos demônios, todos os pecados
e as imundícies partirão rapidamente do corpo que é abraçado por estes três
anjos. Como os ladrões fogem de uma casa abandonada ao chegar o senhor
da casa, um pela porta, outro pela janela e o terceiro pelo telhado, cada um
onde se encontra e por onde pode, da mesma forma, fugirão de vossos
corpos todos os demônios do mal, todos os antigos pecados e todas as
imundícies e as enfermidades que profanavam o templo de vossos corpos.
Quando os anjos da Mãe Terrena entrarem em vossos corpos, de modo que
os senhores do templo tomem posse novamente dele, então partirão
rapidamente todos os maus odores através de vossa respiração e de vossa
pele, e as águas corrompidas através de vossa boca, de vossa pele e de
vossas partes ocultas e íntimas. E todas essas coisas vereis com vossos
olhos, cheirareis com vossos narizes e tocareis com vossas mãos. E quando
todos os pecados e as imundícies tiverem abandonado vosso corpo, vosso
sangue se tornará tão puro quanto o sangue de nossa Mãe Terrena e quanto
a espuma do rio brincando à luz do sol. E vosso alento se tornará tão puro
quanto o alento das flores perfumadas; vossa carne, tão pura quanto a carne
dos frutos corando sobre as folhas das árvores; a luz de vossos olhos, tão
clara e luminosa quanto o brilho do sol que resplandece sobre o céu azul. E
então todos os anjos da Mãe Terrena vos servirão. E vossa respiração,
vosso sangue e vossa carne serão um com a respiração, com o sangue e
com a carne da Mãe Terrena, para que vosso espírito também possa se
tornar um com o espírito de vosso Pai Celestial. Pois, em verdade, ninguém
pode alcançar o Pai Celestial a não ser através da Mãe Terrena. Assim
como um bebê recém-nascido não pode entender os ensinamentos de seu
pai até que sua mãe o tenha amamentado, banhado, cuidado, posto para
dormir e alimentado. Enquanto a criança ainda é pequena, seu lugar é junto
à sua mãe e a ela deve obedecer. Quando a criança já está crescida, seu pai
a leva para trabalhar ao seu lado no campo, e a criança regressa para junto
de sua mãe somente quando chega a hora do jantar e da ceia. E então seu
pai a instrui, para que possa se tornar hábil nas obras de seu pai. E quando o
pai vê que seu filho entende seu ensinamento e faz bem seu trabalho, lhe dá
todas as suas posses, para que elas pertençam a seu amado filho e para que
o filho continue a obra de seu pai. Em verdade vos digo, feliz é o filho que
aceita o conselho de sua mãe e segue por ele. E cem vezes mais feliz é o
filho que aceita e segue também pelo conselho de seu pai, pois vos foi dito:
‘Honra teu pai e tua mãe, para que teus dias possam ser longos por esta
terra’. Mas eu vos digo, Filhos do Homem: Honrai vossa Mãe Terrena e

18
mantende todas as Suas leis, para que vossos dias sejam longos nesta terra,
e honrai vosso Pai Celestial, para que a Vida Eterna seja vossa nos céus.
Pois o Pai Celestial é uma centena de vezes maior do que todos os pais pela
semente e pelo sangue, e maior é a Mãe Terrena do que todas as mães pelo
corpo. E mais querido é o Filho do Homem aos olhos de seu Pai Celestial e
de sua Mãe Terrena do que o são os filhos aos olhos de seus pais pela
semente e pelo sangue e de suas mães pelo corpo. E mais sábias são as
palavras e as leis de vosso Pai Celestial e de vossa Mãe Terrena que as
palavras e a vontade de todos os pais pela semente e pelo sangue, e de todas
as mães pelo corpo. E de maior valor também é a herança de vosso Pai
Celestial e de vossa Mãe Terrena, o reino perpétuo da vida eterna e
celestial, do que todas as heranças de vossos pais pela semente e pelo
sangue, e de vossas mães pelo corpo.”
“E vossos verdadeiros irmãos são todos aqueles que fazem a vontade
de vosso Pai Celestial e de vossa Mãe Terrena, e não vossos irmãos pelo
sangue. Em verdade vos digo que vossos verdadeiros irmãos na vontade do
Pai Celestial e da Mãe Terrena vos amarão um milhão de vezes mais que
vossos irmãos pelo sangue. Pois desde os dias de Caim e Abel, quando os
irmãos pelo sangue transgrediram a vontade de Deus, não existe uma
verdadeira irmandade de sangue. E os irmãos agem entre si como
estranhos. Por isso eu vos digo, amai vossos verdadeiros irmãos na vontade
de Deus um milhão de vezes mais que vossos irmãos pelo sangue.”

POIS VOSSO PAI CELESTIAL É AMOR.


POIS VOSSA MÃE TERRENA É AMOR.
POIS O FILHO DO HOMEM É AMOR.

***

“É pelo amor que o Pai Celestial, a Mãe Terrena e o Filho do


Homem se tornam um. Pois o espírito do Filho do Homem foi criado do
espírito do Pai Celestial, e seu corpo do corpo da Mãe Terrena. Tornai-vos,
portanto, perfeitos como perfeitos são o espírito do vosso Pai Celestial e o
corpo de vossa Mãe Terrena. E assim amai vosso Pai Celestial, como Ele
ama vosso espírito. E assim amai vossa Mãe Terrena, como Ela ama vosso
corpo. E assim amai vossos verdadeiros irmãos, como vosso Pai Celestial e
vossa Mãe Terrena os amam. E então vosso Pai Celestial vos dará Seu

19
espírito santo, e vossa Mãe Terrena vos dará Seu corpo santo. E então os
Filhos dos Homens, como verdadeiros irmãos, darão amor uns aos outros, o
amor que receberam de seu Pai Celestial e de sua Mãe Terrena; e todos eles
se tornarão consoladores uns dos outros. E então desaparecerá da terra todo
mal e toda tristeza, e haverá amor e alegria sobre a terra. E então a terra
será como os céus, e virá o reino de Deus. E então virá o Filho do Homem
em toda sua glória, para herdar o reino de Deus. E os Filhos dos Homens
dividirão sua herança divina, o reino de Deus. Pois os Filhos dos Homens
vivem no Pai Celestial e na Mãe Terrena, e o Pai Celestial e a Mãe Terrena
vivem neles. E então com o reino de Deus virá o fim dos tempos. Pois o
amor do Pai Celestial dá vida eterna a todos no reino de Deus. Pois o Amor
é eterno. O Amor é mais forte que a morte.”
“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tenho
amor, serei como o som do bronze ou como o tinido de um címbalo. Ainda
que diga o que há de vir e conheça todos os segredos e toda a sabedoria; e
ainda que tenha uma fé tão forte como a tempestade que ergue as
montanhas de seu lugar, se não tenho amor não sou nada. E ainda que doe
todos os meus bens para alimentar ao pobre e lhe entregue todo o meu fogo
que recebi de meu Pai, se não tenho amor, não sou de proveito algum. O
amor é paciente e o amor é gentil. O amor não é invejoso, não faz mal, não
conhece o orgulho; não é rude nem egoísta; tarda em irar-se, não imagina a
malícia; não se regozija na injustiça, mas se deleita na justiça. O amor
defende tudo, o amor crê em tudo, o amor espera tudo, o amor suporta tudo;
nunca se esgota; mas, quanto às línguas, elas cessarão, e quanto ao
conhecimento, ele desaparecerá. Pois nós possuímos a verdade em parte e o
erro em parte, mas quando chegar a plenitude da perfeição o parcial será
eliminado. Quando um homem era criança, falava como criança, entendia
como criança, pensava como criança; mas quando se tornou homem
abandonou as coisas de criança. Pois agora nós vemos através de um vidro
e através de enigmas. Agora nós conhecemos parcialmente, mas quando
chegarmos diante da face de Deus, não conheceremos em parte, visto que
seremos ensinados por Ele. E agora restam três coisas: fé, esperança e
amor; porém a maior delas é o amor.”
“E agora eu vos falo na língua viva do Deus Vivo, através do espírito
santo de nosso Pai Celestial. Não há ainda nenhum dentre vós que possa
entender tudo quanto digo. Quem vos explica as escrituras vos fala em uma
língua morta de homens mortos, por meio de seu corpo enfermo e mortal. A
ele, portanto, todos os homens podem entender, pois todos os homens estão

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enfermos e todos estão na morte. Nenhum vê a luz da vida. O cego guia aos
cegos nos caminhos escuros dos pecados, das enfermidades e dos
sofrimentos; e no final todos caem no abismo da morte.”
“Eu fui enviado a vós pelo Pai, para que eu pudesse fazer a luz da
vida brilhar diante de vós. A luz ilumina a si mesma e a escuridão, mas a
escuridão só conhece a si mesma e não conhece a luz. Eu ainda tenho
muitas coisas para vos dizer, mas ainda não podeis suportá-las. Pois vossos
olhos estão acostumados com a escuridão, e a plena Luz do Pai Celestial
vos cegaria. Portanto, não podeis entender ainda o que vos falo acerca do
Pai Celestial, quem me enviou a vós. Segui, portanto, primeiro somente as
leis de vossa Mãe Terrena, de quem eu vos falei. E, quando os anjos d’Ela
tiverem limpado e renovado vossos corpos e fortalecido vossos olhos,
sereis capazes de suportar a luz ofuscante de vosso Pai Celestial. Quando
fordes capazes de contemplar o brilho do sol do meio-dia com os olhos
fixos, podereis então mirar a luz ofuscante de vosso Pai Celestial, a qual é
um milhão de vezes mais brilhante que o brilho de um milhão de sóis. Mas
como olharíeis para a luz ofuscante de vosso Pai Celestial, se não podeis
suportar sequer a luz do sol radiante? Crede-me, o sol é como a chama de
uma vela comparado ao sol da verdade do Pai Celestial. Tenhais, porém, fé,
esperança e amor. Em verdade vos digo, não perdereis vossa recompensa.
Se acreditais em minhas palavras e acreditais naquele que me enviou, que é
o Senhor de tudo, e para quem todas as coisas são possíveis. Pois o que é
impossível para os homens, é possível com Deus. Se acreditais nos anjos da
Mãe Terrena e cumpris Suas leis, vossa fé vos sustentará e nunca
conhecereis a enfermidade. Tende esperança também no amor de vosso Pai
Celestial, pois quem n’Ele confia nunca se enganará, tampouco conhecerá a
morte.”
“Amai-vos uns aos outros, pois Deus é amor, e assim Seus anjos
saberão que ides pelos Seus caminhos. E então todos os anjos virão diante
de vossas faces e vos servirão. E Satã partirá de vosso corpo com todo
pecado, enfermidade e imundície. Ide, renunciai a vossos pecados;
arrependei-vos; batizai-vos; para que possais nascer de novo e não mais
pecar”.
Então Jesus se levantou. Porém os demais permaneceram sentados,
pois cada homem sentia o poder de suas palavras. E então a lua cheia
apareceu entre as nuvens e envolveu Jesus em seu resplendor. E fagulhas
esvoaçavam pelos seus cabelos, e ele permaneceu entre eles sob a luz da
lua, como se pairasse no ar. E ninguém se moveu, nem tampouco se ouviu a

21
voz de ninguém. E ninguém sabia quanto tempo havia passado, pois o
tempo parecia parado.
Então Jesus estendeu suas mãos até eles e disse: “A paz esteja
convosco”. E assim ele partiu, como a brisa balança as folhas das árvores.
E ainda por um bom tempo o grupo permaneceu imóvel, e então
despertaram do silêncio, um após o outro, como voltando de um longo
sonho. Porém ninguém desejava ir, como se as palavras de quem lhes havia
deixado soassem em seus ouvidos. E permaneceram sentados como se
escutassem alguma música maravilhosa.
Mas um deles, finalmente, como se estivesse um pouco
amedrontado, disse: “Como é bom estar aqui!”. Outro disse: “Oxalá esta
noite fosse eterna!”. E outros: “Oxalá ele possa estar conosco sempre!”.
“Verdadeiramente, ele é o mensageiro de Deus, pois plantou a esperança
em nossos corações”. E ninguém queria voltar para casa, dizendo: “Eu não
vou para casa, onde tudo é escuro e triste. Por que temos de ir para casa,
onde ninguém nos ama?”
E deste modo falaram, pois eram quase todos eles pobres, coxos,
cegos, aleijados, mendigos, sem-teto, desprezados em sua miséria, que só
eram suportados por piedade nas casas em que encontravam alguns dias de
refúgio. Até mesmo alguns que tinham tanto casa como família disseram:
“Também nós ficaremos convosco.” Pois todos sentiam que as palavras
daquele que se havia ido unia o pequeno grupo com fios invisíveis. E todos
sentiam que haviam nascido de novo. Viam diante de si um mundo
iluminado, mesmo quando a lua se ocultou nas nuvens. E nos corações de
todos se abriram flores maravilhosas, de uma beleza admirável, as flores da
alegria.
E quando os brilhantes raios de sol apareceram sobre o horizonte,
todos sentiram que aquele era o sol da vinda do reino de Deus. E, com
semblantes alegres, foram ao encontro dos anjos de Deus.
E muitos sujos e enfermos seguiram as palavras de Jesus e buscaram
as margens dos riachos murmurantes. Tiraram seus calçados e suas
vestimentas, jejuaram e entregaram seus corpos aos anjos do ar, da água e
da luz do sol. E os anjos da Mãe Terrena lhes abraçaram e possuíram seus
corpos por dentro e por fora. E todos eles viram todos os males, pecados e
imundícies lhes abandonarem rapidamente.
E o alento de alguns se tornou tão fétido quanto o odor que soltam os
intestinos, e alguns babavam e de suas partes internas surgia um vômito
malcheiroso e sujo. Todas estas imundícies saíram por suas bocas. Em

22
alguns pelo nariz, e em outros pelos olhos e pelos ouvidos. E muitos tinham
um suor fétido e abominável saindo por todo seu corpo sobre toda sua pele.
E em muitos de seus membros se abriram furúnculos grandes e quentes,
dos quais saíam imundícies malcheirosas, e de seus corpos fluía urina em
abundância; e em muitos sua urina foi-se toda e quase secou, tornando-se
espessa como o mel das abelhas, a de outros era quase vermelha ou preta e
quase tão dura como a areia dos rios. Muitos expeliam fétidos gases de seus
intestinos, semelhantes ao alento dos demônios. E seu fedor tornou-se tão
grande que ninguém podia suportá-lo.
E quando eles se batizaram, o Anjo da Água entrou em seus corpos,
e deles saíram todas as abominações e imundícies de seus antigos pecados,
e como um rio desce de uma montanha, transbordou de seus corpos grande
quantidade de abominações duras e moles. E a terra onde caíram suas águas
tornou-se contaminada, e o fedor tornou-se tão grande que ninguém podia
permanecer ali. E os demônios abandonaram suas entranhas na forma de
numerosas larvas que se retorciam no solo com ira impotente, depois que o
Anjo da Água lhes expulsou das entranhas dos Filhos dos Homens. E então
desceu sobre eles o poder do Anjo da Luz do Sol, e eles ali pereceram em
suas contorções desesperadas, pisoteados pelos pés do Anjo da Luz do Sol.
E todos estremeceram aterrorizados ao olhar todas aquelas abominações de
Satã, das quais os anjos lhes haviam salvado. E deram graças a Deus, quem
enviou Seus anjos para sua libertação.
E havia alguns atormentados por grandes dores, que não lhes
abandonavam; e, não sabendo o que deveriam fazer, decidiram enviar
alguns deles a Jesus, pois desejavam muito tê-lo entre eles.
E, quando dois estavam indo buscá-lo, viram o próprio Jesus
aproximando-se pelas margens do rio. E seus corações se encheram de
esperança e de alegria quando ouviram sua saudação: “A paz esteja
convosco”. E muitas eram as perguntas que desejavam fazer-lhe, mas em sua
surpresa não conseguiam começar, pois nada ocorria a suas mentes. Disse-
lhes então Jesus: “Vim porque necessitais de mim”. E um gritou: “Mestre,
te necessitamos de verdade. Vem e livra-nos de nossos sofrimentos.”
E Jesus lhes falou em parábolas: “Vós sois como o filho pródigo, que
durante muitos anos comeu e bebeu, e passou seus dias no desenfreio e na
luxúria com seus amigos. E toda semana, sem que seu pai soubesse,
contraía novas dívidas, desperdiçando o quanto tinha em poucos dias. E os
credores sempre lhe emprestavam, pois seu pai possuía grandes riquezas e
sempre pagava pacientemente as dívidas de seu filho. E em vão admoestava

23
seu filho com boas palavras, pois ele nunca escutava as advertências de seu
pai, quem lhe suplicava em vão que abandonasse suas depravações sem
fim, e que fosse a seus campos vigiar o trabalho de seus servos. E o filho
sempre lhe prometia tudo, se ele pagasse suas antigas dívidas, mas no dia
seguinte começava de novo. E durante mais de sete anos o filho continuou
em sua vida desregrada. Porém, ao fim, seu pai perdeu a paciência e não
pagou mais aos credores as dívidas de seu filho. ‘Se as sigo pagando
sempre – disse – não acabarão os pecados de meu filho’. Então os credores,
que se viram enganados, em sua ira, levaram o filho como escravo para
que, com seu trabalho diário, pudesse lhes pagar o dinheiro que havia
tomado de empréstimo. E então se acabou o comer, o beber e todos os
excessos diários. Da manhã à noite molhava os campos com o suor de seu
rosto, e todos os seus membros doíam com o trabalho desacostumado. E
vivia de pão seco, não tendo mais que suas próprias lágrimas para
umedecê-lo. Ao terceiro dia, havia sofrido tanto pelo calor e pelo cansaço
que disse a seu mestre: ‘Não posso trabalhar mais, porque me doem todos
os meus membros. Por quanto tempo mais me atormentarás?’ ‘Até o dia em
que, pelo trabalho de tuas mãos, me tiver pago todas as dívidas, e, quando
tiver passado sete anos, serás livre’. E o filho desesperado respondeu
chorando: ‘Mas eu não posso suportar nem sequer sete dias! Têm piedade
de mim, pois todos os meus membros doem e ardem’. E o malvado credor
gritou: ‘Segue com teu trabalho! Se pudeste, durante sete anos, gastar teus
dias e tuas noites no desenfreio, agora terás que trabalhar durante sete anos.
Não te perdoarei até que me tenhas pago todas as tuas dívidas até o último
dracma’. E o filho regressou desesperado aos campos, com seus membros
atormentados pela dor, para seguir com seu trabalho. Já dificilmente podia
ficar em pé devido ao cansaço e às dores, quando chegou o sétimo dia, o
dia de Shabat, no qual ninguém trabalha no campo. O filho então reuniu o
resto de suas forças e se arrastou até a casa de seu pai. E lançou-se aos pés
de seu pai, e disse: ‘Pai, crê-me pela última vez e perdoa todas as minhas
ofensas contra ti. Juro-te que nunca mais voltarei a viver desenfreadamente,
e que serei teu filho obediente em tudo. Liberta-me das mãos de meu
opressor. Pai, olha para mim e para meus membros enfermos e não
endureças teu coração’. Então brotaram lágrimas dos olhos de seu pai, que
tomou seu filho nos braços, e disse: ‘Alegremo-nos, porque hoje me foi
dada uma grande alegria, pois reencontrei meu amado filho que estava
perdido’. E vestiu-lhe com as melhores roupas, e durante todo o dia fizeram
festa. E na manhã seguinte ele deu a seu filho uma bolsa de prata para que

24
pagasse a seus credores tudo quanto lhes devia. E quando o filho regressou,
lhe disse: ‘Meu filho, vês quão fácil é, com uma vida desenfreada, contrair
dívidas por sete anos, porém difícil é pagá-las com o trabalho duro de sete
anos’. ‘Pai, de fato é duro pagá-las mesmo por sete dias!’ E o pai lhe
advertiu, dizendo-lhe: ‘Só por esta vez te foi permitido pagar tuas dívidas
em sete dias ao invés de em sete anos, o resto te está perdoado. Porém,
cuida de não contrair mais dívidas no tempo vindouro. Pois em verdade te
digo que ninguém além de teu pai perdoa tuas dívidas, porque tu és seu
filho. Pois, com todos os demais, tu terias que trabalhar duro por sete anos,
como está ordenado em nossas leis’. ‘Meu pai, a partir de agora serei teu
filho amado e obediente, e nunca mais contrairei dívidas, pois sei que pagá-
las é duro’.”
“E ele foi ao campo de seu pai e todos os dias vigiava o trabalho dos
lavradores de seu pai. E nunca tornava seu trabalho demasiado duro, pois
recordava de seu próprio trabalho pesado. E passaram os anos e as
possessões de seu pai aumentaram mais e mais sob suas mãos, pois a
benção de seu pai estava sobre seu trabalho. E lentamente devolveu a seu
pai dez vezes mais do que havia desperdiçado naqueles sete anos. E quando
seu pai viu que o filho tratava bem seus servos e todas as suas possessões,
lhe disse: ‘Meu filho, vejo que minhas possessões estão em boas mãos.
Dou-te todo o meu ganho, minha casa, minhas terras e meus tesouros. Que
tudo isso seja tua herança; continua aumentando-a para que eu tenha alegria
em ti’.”
“E quando o filho recebeu a herança de seu pai, perdoou as dívidas
de todos os seus devedores, que não podiam pagá-lo, pois não esquecera
que sua dívida também havia sido perdoada, quando não pôde pagá-la. E
Deus lhe abençoou com uma vida longa, com muitos filhos e com muitas
riquezas, pois era amável com todos os seus servos e com todo seu gado.”
Jesus então se virou para o povo enfermo e disse: “Eu vos falo em
parábolas para que entendais melhor a palavra de Deus. Os sete anos de
comer e beber e de vida desenfreada são os pecados do passado. O malvado
credor é Satã. As dívidas são as enfermidades. O trabalho duro são as
dores. O filho pródigo sois vós mesmos. O pagamento das dívidas é a
expulsão de vós dos demônios e das enfermidades e a cura de vosso corpo.
A bolsa de prata recebida do pai é o poder libertador dos anjos. O pai é
Deus. As possessões do pai são o céu e a terra. Os servos do pai são os
anjos. O campo do pai é o mundo, que se converte no reino dos céus, se os
Filhos do Homem trabalham junto aos anjos do Pai Celestial. Pois eu vos

25
digo que é melhor que o filho obedeça a seu pai e vigie os servos de seu pai
no campo, a converter-se em devedor do malvado credor, e trabalhar e suar
na servidão para pagar suas dívidas. De igual modo, é melhor que os Filhos
do Homem também obedeçam às leis de seu Pai Celestial e trabalhem com
Seus anjos em Seu reino, a tornarem-se devedores de Satã, o senhor da
morte, de todos os pecados e de todas as enfermidades, e a sofrerem com
dores e suor até haverem reparado todos os seus pecados. Em verdade vos
digo que grandes e muitos são os vossos pecados. Durante muitos anos
haveis cedido às tentações de Satã. Haveis sido glutões, beberrões e
prostitutos, e vossas antigas dívidas se multiplicaram. E agora deveis
repará-las, e o pagamento é duro e difícil. Não vos impacienteis, no entanto,
no terceiro dia, como o filho pródigo, mas esperai pacientemente pelo
sétimo dia, que é santificado por Deus, e então ide com coração humilde e
obediente diante da face de vosso Pai Celestial, para que Ele possa perdoar
vossos pecados e todas as vossas antigas dívidas. Em verdade vos digo,
vosso Pai Celestial vos ama infinitamente, pois Ele também vos permite
pagar em sete dias as dívidas de sete anos. Daqueles que devem pecados e
enfermidades de sete anos, mas pagam honestamente e perseveram até o
sétimo dia, nosso Pai Celestial perdoará as dívidas de todos esses sete
anos.”
“E se nós pecamos por sete vezes sete anos?” Perguntou um homem
enfermo que sofria terrivelmente.
“Até mesmo nesse caso o Pai Celestial vos perdoa todas as vossas
dívidas em sete vezes sete dias.”
“Felizes são aqueles que perseveram até o fim, pois os demônios de
Satã escrevem todas as vossas más ações em um livro, o livro de vosso
corpo e de vosso espírito. Em verdade vos digo, não há uma só ação
pecaminosa, desde o início do mundo, que não esteja escrita diante de
nosso Pai Celestial. Pois podeis escapar das leis feitas por reis, mas das leis
de vosso Deus, dessas não pode escapar nenhum dos Filhos do Homem. E
quando chegais diante da face de Deus, os demônios de Satã testemunham
contra vós por meio de vossos atos, e Deus vê vossos pecados escritos no
livro de vosso corpo e de vosso espírito, e entristece-se em Seu coração.
Mas se vos arrependeis de vossos pecados e buscais aos anjos de Deus por
meio do jejum e da oração, então, cada dia que seguis jejuando e orando, os
anjos de Deus apagam um ano de vossas más ações do livro de vosso corpo
e de vosso espírito. E quando a última página é apagada e limpa de todos os
vossos pecados, vós estais diante da face de Deus, e Deus se alegra em Seu

26
coração e perdoa todos os vossos pecados. Ele liberta-vos das garras de
Satã e do sofrimento; faz-vos entrar em Sua casa e ordena que todos os
Seus servos, todos os Seus anjos vos sirvam. Vida longa Ele vos dá, e
nunca vereis enfermidade. E se, daí em diante, ao invés de pecar, passardes
vossos dias fazendo boas ações, então os anjos de Deus escreverão todas as
vossas boas ações no livro de vosso corpo e de vosso espírito. Em verdade
vos digo, nenhuma ação boa permanece sem ser escrita diante de Deus,
desde o início do mundo. Pois de vossos reis e de vossos governantes
podeis esperar em vão por vossa recompensa, mas vossas boas ações nunca
deixarão de ser recompensadas por Deus.”
“E quando vós chegais diante da face de Deus, Seus anjos
testemunham a vosso favor por meio de vossas boas ações. E Deus vê
vossas boas ações escritas em vossos corpos e em vossos espíritos, e se
alegra em Seu coração. Ele bendiz vosso corpo e vosso espírito, e todas as
vossas ações, e dá a vós por herança Seu reino Terreno e Celeste, para que
nele possais ter vida eterna. Feliz é aquele que pode entrar no reino de
Deus, pois nunca verá a morte.”

***

E um grande silêncio se fez após suas palavras. E aqueles que


estavam desanimados obtiveram nova força de suas palavras, e
continuaram jejuando e orando. E aquele que falou primeiro exclamou:
“Perseverarei até o sétimo dia”. E o segundo igualmente disse: “Eu também
perseverarei até sete vezes o sétimo dia”.
Jesus lhes respondeu: “Felizes são aqueles que perseveram até o fim,
pois eles herdarão a terra”.
E havia entre eles muitos enfermos atormentados por fortes dores, e
eles arrastaram-se com dificuldade até os pés de Jesus. Pois já não podiam
caminhar sobre seus pés. E disseram: “Mestre, a dor nos atormenta
intensamente, diz-nos o que devemos fazer.” E mostraram a Jesus seus pés,
cujos ossos estavam retorcidos e nodosos, e disseram: “Nem o Anjo do Ar,
nem o da Água, nem o da Luz do Sol aliviaram nossas dores, apesar de
termos nos batizado, jejuado e orado e seguido suas palavras em tudo”.
“Em verdade vos digo, vossos ossos sanarão. Não desanimeis, antes
buscai a cura próximo ao curador dos ossos, o Anjo da Terra. Pois dela
saíram vossos ossos, e para ela retornarão”.

27
E apontou com sua mão para onde a corrente de água e o calor do sol
haviam amaciado a terra dando um barro argiloso, à beira da água.
“Afundai vossos pés na lama, para que o abraço do Anjo da Terra extraia
de vossos ossos toda imundície e toda enfermidade. E vereis Satã e vossas
dores fugirem do abraço do Anjo da Terra. E desaparecerão as nodosidades
de vossos ossos, e eles serão endireitados, e todas as vossas dores
desaparecerão”.
E os enfermos seguiram suas palavras, pois sabiam que seriam
curados.
E havia também outros enfermos que sofriam muito com suas dores,
todavia, persistiam em seu jejum. E suas forças se esgotavam, e um calor
intenso lhes atormentava. E, quando se levantaram de seu leito para irem
até Jesus, suas cabeças começaram a girar, como se um forte vento lhes
sacudisse, e todas as vezes que tentavam se levantar, caíam de costas no
chão.
Então, Jesus foi até eles e disse: “Sofreis porque Satã e suas
enfermidades atormentam vossos corpos. Mas não temais, pois o poder
deles sobre vós terminará logo. Pois Satã é como um vizinho colérico que
entrou na casa de seu vizinho enquanto ele estava ausente, pretendendo
levar seus bens para sua própria casa. Porém, alguém avisou ao outro que
seu inimigo estava saqueando sua casa, e ele regressou a ela correndo. E
quando o malvado vizinho, tendo reunido tudo o que lhe agradava, viu de
longe o dono da casa retornando de pressa, ficou furioso, pois não poderia
levar tudo, e se pôs a quebrar e estragar tudo o que havia ali, para destruir
tudo. Assim, ainda que essas coisas não pudessem ser suas, o outro não
teria nada. Porém o dono da casa chegou imediatamente, e antes que o
malvado vizinho concluísse seu propósito, agarrou-o e expulsou-o da casa.
Em verdade vos digo, de igual modo Satã entrou em vossos corpos, que são
a morada de Deus. E ele tomou em seu poder tudo o que desejou roubar:
vossa respiração, vosso sangue, vossos ossos, vossa carne, vossas
entranhas, vossos olhos e vossos ouvidos. Mas por meio de vosso jejum e
de vossa oração chamastes de volta o senhor de vosso corpo e seus anjos. E
agora Satã vê que o verdadeiro senhor de vosso corpo retorna e que é o fim
de seu poder. Por isso, em sua ira, ele reúne suas forças mais uma vez para
destruir vossos corpos antes da chegada do senhor. É por isso que Satã vos
atormenta tão intensamente, pois sente que seu fim chegou. Mas não
deixeis que vossos corações se estremeçam, pois logo aparecerão os anjos
de Deus para novamente ocupar suas moradas e consagrá-las como templos

28
de Deus. E eles prenderão Satã e o expulsarão de vossos corpos, junto com
todas as suas enfermidades e todas as suas imundícies. E felizes sereis vós,
pois recebereis a recompensa de vossa perseverança, e nunca mais vereis
enfermidade.”
E havia entre os enfermos um a quem Satã atormentava mais que a
todos os outros. Seu corpo estava seco como um esqueleto e sua pele
amarela como uma folha seca. Ele estava já tão fraco que nem sequer sobre
suas mãos podia arrastar-se até Jesus, e só de longe pôde gritar-lhe:
“Mestre, tem piedade de mim, pois nunca nenhum homem sofreu, nem
sequer desde o princípio do mundo, como eu sofro. Eu sei que tu és de fato
enviado por Deus, e sei que, se desejares, podes expulsar imediatamente
Satã de meu corpo. Não obedecem os anjos de Deus ao mensageiro de
Deus? Vem, Mestre, e expulsa agora Satã de mim, pois ele se enfurece com
raiva em meu interior e doloroso é seu tormento.”
E Jesus lhe respondeu: “Satã te atormenta tanto porque já tens
jejuado muitos dias, e não pagas a ele seu tributo. Não lhe alimentas com
todas as abominações com as quais até agora profanavas o templo do teu
espírito. Atormentas Satã com a fome, e por isso, em sua raiva, ele também
te atormenta. Não temas, pois te digo, Satã será destruído antes que teu
corpo seja destruído; pois enquanto jejuas e oras, os anjos de Deus
protegem teu corpo para que o poder de Satã não te destrua. E a ira de Satã
é impotente contra os anjos de Deus.”
Então vieram todos a Jesus, e com altos clamores lhe suplicaram,
dizendo: “Mestre, tem compaixão dele, pois sofre mais que todos nós, e, se
tu não expulsares rapidamente Satã de seu corpo, tememos que ele não
sobreviva até amanhã”.
E Jesus lhes respondeu: “Grande é vossa fé. Seja segundo vossa fé, e
logo vereis, face a face, o horrível semblante de Satã e o poder do Filho do
Homem. Pois expulsarei de vós o poderoso Satã, por meio da força do
inocente cordeiro de Deus, a mais fraca criatura do Senhor. Pois o Espírito
Santo de Deus torna o mais fraco mais poderoso do que o mais forte.”
E Jesus ordenhou uma ovelha que estava pastando na relva. E pôs o
leite sobre a areia iluminada pelo sol, dizendo: “Eis que o poder do Anjo da
Água já entrou neste leite. E agora também entrará nele o poder do Anjo da
Luz do Sol”.
E o leite aqueceu com a força do sol.
“E agora os anjos da água e do sol se unirão ao Anjo do Ar”.

29
E eis que o vapor do leite quente começou a levantar-se lentamente
pelo ar.
“Vem e aspira pela boca a força dos anjos da água, da luz do sol e do
ar, para que ela entre em teu corpo e expulse de ti Satã.”
E o enfermo a quem Satã atormentava aspirou, profundamente, para
seu interior o vapor branqueado que ascendia.
“Satã abandonará imediatamente teu corpo, já que fazem três dias
que ele não come e não encontra nenhum alimento dentro de ti. Ele sairá de
ti para satisfazer sua fome com o leite quente e fumegante, pois esse
alimento é de seu agrado. Ele cheirará seu aroma e não será capaz de
resistir à fome que o atormenta já há três dias. Porém o Filho do Homem
destruirá seu corpo para que não atormente a ninguém mais”.
Então o corpo do homem doente foi tomado por calafrios e ele
ansiava como se fosse vomitar, porém não podia. E ele aspirava o ar, pois
sua respiração estava esgotada. E desmaiou no colo de Jesus.
“Agora Satã abandona seu corpo. Vede-o.” E Jesus apontou para a
boca aberta do homem enfermo.
E então todos eles viram com espanto e terror como Satã saia de sua
boca, na forma de uma larva abominável, em direção ao leite fumegante.
Então Jesus pegou duas pedras pontiagudas com suas mãos e esmagou a
cabeça de Satã e extraiu do homem enfermo todo o corpo do monstro, que
era quase tão comprido quanto o homem. Quando a larva abominável saiu
da garganta do enfermo, ele recuperou imediatamente o fôlego, e então
cessaram todas as suas dores. E os demais olharam com terror para o
abominável corpo de Satã.
“Olha que besta abominável carregou e alimentou em teu corpo
durante tantos anos. Expulsei-a de ti e matei-a para que nunca mais possa te
atormentar. Dá graças a Deus por Seus anjos terem te libertado, e não
peques mais, para que Satã não retorne a ti novamente. Deixa que teu corpo
seja, de agora em diante, um templo dedicado a teu Deus.”
E todos eles ficaram abismados por suas palavras e seu poder. E
disseram: “Mestre, verdadeiramente tu és o mensageiro de Deus, e conhece
todos os segredos.”
“E vós – replicou Jesus – sejais verdadeiros Filhos de Deus, para que
possais também participar de Seu poder e do conhecimento de todos os
segredos. Pois a sabedoria e o poder somente podem provir do amor de
Deus. Amai, pois, vosso Pai Celestial e vossa Mãe Terrena com todo vosso
coração e com todo vosso espírito. E servi-os, para que Seus anjos possam

30
servir-vos também. Deixai que todos os vossos atos sejam sacrificados a
Deus. E não alimenteis a Satã, pois a retribuição do pecado é a morte. Mas
com Deus está a recompensa do bem, Seu amor, que é o conhecimento e o
poder da vida eterna”.
E todos eles ajoelharam-se para dar graças a Deus por Seu amor.
E Jesus partiu, dizendo: “Virei novamente a todos aqueles que
persistirem na oração e no jejum até o sétimo dia. A paz esteja convosco.”
E o homem enfermo de quem Jesus havia expulsado Satã se pôs em
pé, pois a força da vida havia regressado a ele. Respirou profundamente e
seus olhos clarearam-se, pois toda dor havia lhe abandonado. E atirando-se
ao solo onde Jesus havia estado, beijou a marca de seus pés e chorou.

***

E foi no leito de um rio que muitos enfermos jejuaram e oraram com


os anjos de Deus durante sete dias e sete noites. E grande foi sua
recompensa, pois seguiram as palavras de Jesus. E com o passar do sétimo
dia, todas as suas dores lhes abandonaram. E, quando o sol se levantou
sobre o horizonte, viram que Jesus vinha até eles desde a montanha, com o
esplendor do sol nascente ao redor de sua cabeça.
“A paz esteja convosco”.
E eles não disseram nenhuma palavra, mas somente se prostraram
diante dele e tocaram a borda de sua vestimenta, em agradecimento por sua
cura.
“Dai graças não a mim, mas à vossa Mãe Terrena, que vos enviou
Seus anjos curadores. Ide, e não pequeis mais, para que possais nunca mais
voltar a ver enfermidade. E deixai que os anjos curadores sejam vossos
guardiões.”
Porém eles lhe responderam: “Para onde iremos, Mestre? Pois
contigo estão as palavras da vida eterna. Diz-nos quais são os pecados que
devemos evitar, para que nunca mais vejamos enfermidade”.
Jesus respondeu: “Assim seja segundo vossa fé”, e sentou-se no meio
deles, dizendo:
“Foi dito àqueles dos tempos antigos: ‘Honra teu Pai Celestial e tua
Mãe Terrena e cumpre Seus mandamentos, para que teus dias possam ser
muitos sobre a terra’. E em seguida lhes foi dado este mandamento: ‘Não
matarás’, pois a vida é dada a todos por Deus e o que Deus dá não deve o
homem arrebatar. Pois em verdade vos digo, de uma mesma Mãe procede

31
tudo o que vive sobre a terra. Portanto, quem mata, mata a seu irmão. E
dele a Mãe Terrena se afastará e retirará Seus seios vivificadores. E serão
evitados por Seus anjos, e Satã fará sua morada em seu corpo. E a carne dos
animais mortos em seu corpo se converterá em sua própria tumba. Pois, em
verdade vos digo, quem mata, mata a si próprio, e quem come a carne de
animais mortos come do corpo da morte. Pois, em seu sangue, cada gota do
sangue deles torna-se veneno; em sua respiração, a respiração deles torna-
se mal cheiro; em sua carne, a carne deles torna-se furúnculos; em seus
ossos, os ossos deles tornam-se gesso; em seus intestinos, os intestinos
deles tornam-se decomposição; em seus olhos, os olhos deles tornam-se
crostas; em seus ouvidos, os ouvidos deles tornam-se fonte de cera. E a
morte deles será a sua morte. Pois somente no serviço de vosso Pai
Celestial são vossas dívidas de sete anos perdoadas em sete dias. Enquanto
que Satã não vos perdoa nada e deveis pagar-lhe tudo. ‘Olho por olho,
dente por dente, mão por mão, pé por pé; queimadura por queimadura,
ferida por ferida, vida por vida, morte por morte’. Pois a recompensa do
pecado é a morte. Não mateis, nem comeis a carne de vossa inocente presa,
para que não vos torneis escravos de Satã. Pois esse é o caminho dos
sofrimentos e conduz à morte. Mas fazei a vontade de Deus, de modo que
Seus anjos possam servir-vos no caminho da vida. Obedecei, portanto, as
palavras de Deus: ‘Eis que vos dei toda a erva que produz semente, que há
sobre a face de toda a terra, e toda a árvore em que há fruto que dá semente.
Para vós, esse será o alimento. E a todo animal da terra, e a toda ave do céu,
e a tudo o que se arrasta sobre a terra, em que há o alento da vida, dou toda
erva verde como alimento. Também o leite de tudo que se move e que vive
sobre a terra será alimento para vós, assim como dei a eles toda erva verde,
dou a vós o seu leite. Mas a carne, e o sangue que a aviva não comereis. E,
seguramente, eu requererei vosso sangue que jorra, vosso sangue no qual
está a vossa alma; requererei todos os animais assassinados e as almas de
todos os homens assassinados. Pois Eu, o Senhor teu Deus, sou um Deus
forte e zeloso, e visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e
quarta geração daqueles que me odeiam; e mostro misericórdia aos
milhares daqueles que me amam e cumprem meus mandamentos. Ama ao
Senhor teu Deus com todo teu coração, com toda tua alma e com toda tua
força; este é o primeiro e maior mandamento’. E o segundo é este: ‘Ama a
teu próximo como a ti mesmo’. Não há nenhum mandamento maior que
estes.”

32
E após essas palavras todos permaneceram em silêncio, exceto um
que disse: “O que devo fazer, Mestre, se ver uma besta selvagem atacar
meu irmão na floresta? Devo deixar meu irmão perecer ou matar a besta
selvagem? Não transgrediria assim a lei?
E Jesus lhe respondeu: “Foi dito àqueles dos antigos tempos: ‘Todos
os animais que se movem sobre a terra, todos os peixes do mar e todas as
aves do ar estão entregues a teu poder’. Em verdade vos digo, de todas as
criaturas que vivem sobre a terra, só o homem Deus criou à Sua imagem.
Por isso, os animais são para o homem, e não o homem para os animais.
Não transgredireis, portanto, a lei se matardes o animal selvagem para
salvar a vida de vosso irmão. Pois em verdade vos digo, o homem é mais
que o animal. Porém aquele que mata o animal sem causa alguma, sem que
este lhe ataque, pelo desejo por matança, ou por sua carne, ou por sua pele,
ou até mesmo por suas presas, malvada é a ação que comete, pois ele
próprio se converte em um besta selvagem. Portanto seu fim há de ser
também como o fim dos animais selvagens.”
E outro disse então: “Moisés, o maior de Israel, consentiu a nossos
antepassados comer a carne de animais limpos, e proibiu somente a carne
dos animais impuros. Por que, então, nos proíbes a carne de todos os
animais? Que lei vem de Deus, a de Moisés ou a tua?”
E Jesus respondeu: “Deus entregou, através de Moisés, dez
mandamentos a vossos antepassados. ‘Estes mandamentos são rigorosos’,
disseram vossos antepassados e não puderam cumpri-los. Quando Moisés
viu isto, teve compaixão de seu povo e não quis que perecessem. Em
verdade vos digo, se vossos antepassados houvessem sido capazes de
seguir os dez mandamentos de Deus, Moisés não haveria tido nunca
necessidade de seus dez vezes dez mandamentos. Pois aquele cujos pés são
fortes como a montanha de Sião, não precisa de muletas; enquanto que
aquele cujos membros fraquejam, chegam mais longe com muletas que sem
elas. E Moisés disse ao Senhor: ‘Meu coração está cheio de tristeza, pois
meu povo se perderá. Pois eles não têm conhecimento, nem são capazes de
compreender Teus mandamentos. São como filhos pequenos que não
podem entender ainda as palavras de seu pai. Consente, Senhor, que eu lhes
dê outras leis, para que eles não pereçam. Se eles não podem estar contigo,
Senhor, que ao menos não estejam contra ti; para que possam se manter, e
quando chegar o momento, e eles estiverem maduros para Tuas palavras,
revela a eles Tuas leis’. Por isso Moisés quebrou as duas tábuas de pedra
em que estavam escritos os dez mandamentos, e entregou a eles dez vezes

33
dez em seu lugar. E destes dez vezes dez, os escribas e os fariseus fizeram
cem vezes dez mandamentos. E colocaram insuportáveis cargas sobre
vossos ombros, que eles próprios não aguentam. Pois quanto mais próximos
estão os mandamentos de Deus, de um mínimo precisamos, e quanto mais
longe eles estão de Deus, então precisamos de uma quantidade maior. Por
isso inumeráveis são as leis dos escribas, sete as leis do Filho do Homem,
três as dos anjos, e uma a de Deus.”
“Por isso somente vos ensino as leis que podeis compreender, para
que possais vos tornar homens e seguir as sete leis do Filho do Homem.
Então os anjos desconhecidos do Pai Celestial também vos revelarão suas
leis, para que o Espírito Santo de Deus desça sobre vós e vos guie até sua
lei”.
E todos estavam admirados com sua sabedoria, e pediram-lhe:
“Continua, Mestre, e ensina-nos todas as leis que podemos receber.”
E Jesus continuou: “Deus ordenou a vossos antepassados: ‘Não
matarás’. Porém, seus corações estavam endurecidos e eles mataram. Então
Moisés desejou que pelo menos não matassem homens, e permitiu-lhes
matarem animais. E então o coração de vossos antepassados se endureceu
ainda mais, e mataram homens e animais por igual. Mas eu vos digo: Não
mateis nem homens nem animais, nem mesmo o alimento que entra na
vossa boca. Pois se comeis alimento vivo, o mesmo vos vivificará; porém,
se matais vosso alimento, o alimento morto vos matará também. Pois a vida
vem só da vida, e da morte vem sempre a morte. Porque tudo que mata
vossos alimentos, mata também vossos corpos. E tudo que mata vossos
corpos, mata também vossas almas. E vossos corpos se convertem no que
são vossos alimentos, assim como vossos espíritos igualmente se
convertem no que são vossos pensamentos. Portanto, não comais nada que
o fogo, o gelo ou a água tenham destruído. Pois alimentos queimados,
congelados ou apodrecidos queimarão, congelarão e apodrecerão também
vosso corpo. Não sejais como o agricultor insensato que semeou em seu
campo sementes cozidas, congeladas e podres, e chegou o outono e seus
campos não deram nada. E grande foi sua aflição. Mas sede como aquele
agricultor que semeou em seu campo semente viva, e cujo campo deu
espigas de trigo vivas, pagando-lhe cem vezes mais pelas sementes que
plantou. Pois em verdade vos digo, vivei somente do fogo da vida, e não
prepareis vossos alimentos com o fogo da morte, que mata vossos
alimentos, vossos corpos e também vossas almas”.
“Mestre, onde está o fogo da vida?”, perguntaram alguns deles.

34
“Em vós, em vosso sangue e em vossos corpos”.
“E o fogo da morte?”, perguntaram outros.
“É o fogo que arde fora de vossos corpos, que é mais quente do que
vosso sangue. Com esse fogo da morte vós cozinhais vossos alimentos em
vossas casas e em vossos campos. Em verdade vos digo, é o mesmo fogo
que destrói vosso alimento e vossos corpos, assim como o fogo da maldade
que devasta vossos pensamentos, devasta vossos espíritos. Pois vosso corpo
é o que vós comeis, e vosso espírito é o que vós pensais. Não comais nada,
portanto, que um fogo mais forte que o fogo da vida tenha matado. Portanto
preparai e comei todas as frutas das árvores, todas as ervas dos campos e
todo leite dos animais para o alimento. Pois tudo isto é nutrido e maturado
pelo fogo da vida; todos são dádivas dos anjos de nossa Mãe Terrena. Mas
não comais nada a que somente o fogo da morte tenha dado sabor, pois tal é
de Satã”.
“Como cozinharíamos nosso pão de cada dia sem fogo, Mestre?”,
perguntaram alguns com grande espanto.
“Deixai que os anjos de Deus preparem vosso pão. Umedecei vosso
trigo, para que o Anjo da Água possa entrar nele. Colocai-o então ao ar,
para que o Anjo do Ar lhe abrace também. E deixai-o da manhã à tarde sob
o sol, para que o Anjo da Luz do Sol possa descer sobre ele. E a bênção dos
três anjos fará com que o gérmen da vida brote em vosso trigo. Em seguida,
triturai vossos grãos e fazei finas hóstias, como fizeram vossos antepassados
quando partiram do Egito, a casa da escravidão. Ponde-as novamente sob o
sol no seu aparecimento, e, quando ele estiver erguido no seu ponto mais
alto no céu, virai-as do outro lado para que também possa ser envolvido
pelo Anjo da Luz do Sol, e deixai-as assim até que o sol se ponha. Pois os
anjos da água, do ar e da luz do sol nutriram e maturaram o trigo no campo,
e eles devem igualmente preparar também vosso pão. E o mesmo sol que,
com o fogo da vida, fez o trigo crescer e madurar deve cozer vosso pão
com o mesmo fogo. Pois o fogo do sol dá vida ao trigo, ao pão e ao corpo.
Porém o fogo da morte mata o trigo, o pão e o corpo. E os anjos vivos do
Deus Vivo somente servem a homens vivos. Pois Deus é o Deus dos vivos
e não deus dos mortos.”
Assim, comei sempre da mesa de Deus: os frutos das árvores, o grão
das ervas do campo, o leite dos animais e o mel das abelhas. Pois tudo além
disso é de Satã e conduz pelos caminhos do pecado e das enfermidades até
a morte. No entanto, os alimentos que comeis da abundante mesa de Deus
dão força e juventude a vosso corpo, e nunca vereis enfermidades. Pois a

35
mesa de Deus alimentou Matusalém de outrora, e em verdade vos digo, se
viveis como ele viveu, então o Deus dos vivos também vos dará uma longa
vida sobre a terra como a dele.”
“Pois em verdade vos digo, o Deus dos vivos é mais rico que todos
os ricos da terra, e Sua mesa abundante é mais rica que a mais rica mesa de
festa de todos os ricos da terra. Comei, portanto, durante toda vossa vida na
mesa de nossa Mãe Terrena, e nunca vereis escassez. E quando comerdes
em Sua mesa, comei tudo tal como são encontrados na mesa da Mãe
Terrena. Não cozinheis nem mistureis todas as coisas umas com as outras,
para que vossos intestinos não se convertam em lodaçais fumegantes. Pois
em verdade vos digo, isto é abominável aos olhos do Senhor.”
“E não sejais como o servo ganancioso que sempre comia a porção
dos outros na mesa de seu senhor. Devorava tudo sozinho e misturava tudo
em sua gula. E, vendo aquilo, seu senhor irou-se com ele e expulsou-o da
mesa. E, quando todos acabaram suas refeições, mesclou tudo o que restara
sobre a mesa e chamou o servo guloso, e disse-lhe: “Toma e come tudo isso
junto aos porcos, pois teu lugar está entre eles, e não em minha mesa.”
“Cuidai, portanto, e não profaneis com todo tipo de abominações o
templo de vossos corpos. Contentai-vos com dois ou três tipos de
alimentos, que sempre encontrareis na mesa de nossa Mãe Terrena. E não
desejeis devorar tudo quanto vedes ao vosso redor. Pois em verdade vos
digo, se misturais em vossos corpos todo tipo de alimento, então a paz de
vossos corpos cessará e se travará em vós uma guerra interminável. E vosso
corpo se aniquilará como as casas e os reinos que, divididos entre si,
causam sua própria destruição. Pois vosso Deus é o Deus da paz, e nunca
ajuda a divisão. Não desperteis, portanto, contra vós a cólera de Deus, para
que Ele não vos expulse de Sua mesa e não sejais compelidos a irdes à
mesa de Satã, onde o fogo dos pecados, da enfermidade e da morte
corromperá vossos corpos.”
“E quando comeis, não comais até estar cheio. Fugi das tentações de
Satã e escutai a voz dos anjos de Deus. Pois Satã e seu poder vos tentarão
sempre a comerdes mais e mais. Porém vivei pelo espírito e resisti aos
desejos do corpo. E vosso jejum é sempre agradável aos olhos dos anjos de
Deus. Assim prestai atenção ao quanto comestes quando vosso corpo
estiver saciado, e comei sempre menos de um terço disso.”
“Que o peso de vosso alimento diário não seja menor que o de uma
mina, porém vigiai que não exceda o de duas. Então vos servirão sempre os
anjos de Deus, e nunca caireis na escravidão de Satã e de suas

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enfermidades. Não dificulteis as obras dos anjos em vosso corpo comendo
muitas vezes ao dia. Pois em verdade vos digo, aquele que come mais de
duas vezes no dia faz em si a obra de Satã. E os anjos de Deus abandonam
seu corpo, e rapidamente Satã toma posse dele. Comei somente quando o
sol estiver mais alto nos céus, e novamente quando ele se pôr. E nunca
vereis enfermidade, pois desse modo encontrareis favor aos olhos do
Senhor. E se desejais que os anjos de Deus se alegrem em vosso corpo, e
que Satã vos evite de longe, sentai então uma só vez ao dia à mesa de Deus.
E então muitos serão vossos dias sobre a terra, pois isto é agradável aos
olhos do Senhor. Comei sempre em que a mesa de Deus for servida diante
de vós, e comei sempre daquilo que encontrardes sobre a mesa de Deus.
Pois em verdade vos digo, Deus sabe bem o que vosso corpo necessita e
quando o necessita.”
“Com a chegada do mês de Iyar comei cevada; no mês de Sivan
comei trigo, a mais perfeita dentre todas ervas que dão semente. E que
vosso pão de cada dia seja feito de trigo, para que o Senhor cuide de vossos
corpos. No mês de Tammuz comei a uva verde, para que vosso corpo possa
reduzir-se e Satã possa abandoná-lo. No mês de Elul, colhei a uva para que
seu suco possa vos servir como bebida. No mês de Marcheshvan, colhei a
uva doce, seca e adoçada pelo Anjo da Luz do Sol, para que vossos corpos
possam aumentar, para os anjos do Senhor habitarem neles. Deveis comer
os figos ricos em sumo nos meses de Ab e de Shebat, e o que sobrar, deixai
que o Anjo do Sol guarde-os para vós; comei-os com amêndoas em todos
os meses em que as árvores não derem frutos. E as ervas que brotam depois
da chuva, comei-as durante o mês de Thebet, para que vosso sangue possa
ser purificado de todos os vossos pecados. E no mesmo mês começai
também a beber o leite de vossos animais, pois para eles o Senhor deu as
ervas dos campos, para todos os animais que dão leite, para que eles
possam alimentar ao homem com seu leite. Pois em verdade vos digo,
felizes são aqueles que comem somente na mesa de Deus, e abstêm-se de
todas as abominações de Satã. Não comais alimentos impuros trazidos de
países distantes, mas comei sempre daquilo que produzirem vossas árvores.
Pois vosso Deus sabe bem o que é necessário para vós, e onde e quando. E
Ele dá a todos os povos de todos os reinos os alimentos mais adequados
para cada um deles. Não comais como os pagãos, que fartam-se com
pressa, profanando seus corpos com todo tipo de abominações.”

***

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“Pois o poder dos anjos de Deus entra em vós junto com o alimento
vivo que o Senhor vos proporciona de Sua mesa real. E, quando comeis,
tende sobre vós o Anjo do Ar, e abaixo de vós o Anjo da Água. Respirai
longa e profundamente em todas as vossas refeições para que o Anjo do Ar
possa abençoar vosso alimento. E mastigai bem o vosso alimento com
vossos dentes, para que se torne água e para que o Anjo da Água converta-o
em sangue dentro de vosso corpo. E comei lentamente, como se fosse uma
oração que fazeis ao Senhor. Pois em verdade vos digo, o poder de Deus
entra em vós se comeis de tal maneira em Sua mesa. Mas Satã converte em
um lodaçal malcheiroso o corpo daquele sobre cujos alimentos não descem
os anjos do ar e da água. E o Senhor não lhe permite permanecer por mais
tempo em Sua mesa. Pois a mesa do Senhor é um altar, e quem come na
mesa de Deus está em um templo. Pois em verdade vos digo, o corpo do
Filho do Homem converte-se em um templo, e suas entranhas em um altar,
se ele cumpre os mandamentos de Deus. Portanto, não ponhais nada sobre
o altar do Senhor quando vosso espírito estiver atormentado, nem penseis
de alguém com ira no templo de Deus. E entrai sozinho no santuário do
Senhor quando sentirdes em vós a chamada de Seus anjos, pois tudo o que
comeis com tristeza, ou com ira, ou sem desejo, converte-se em veneno em
vosso corpo. Pois o alento de Satã contamina tudo isso. Ponde com alegria
vossas oferendas sobre o altar de vosso corpo, e deixai que todos os maus
pensamentos afastem-se de vós quando receberdes em vosso corpo o poder
de Deus procedente de Sua mesa. E nunca vos senteis à mesa de Deus antes
que ele vos chame por meio do anjo do apetite.”
“Regozijai, portanto, sempre com os anjos de Deus em sua mesa real,
pois isto é agradável ao coração do Senhor. E vossa vida será longa sobre a
terra, pois o mais valioso dos servos de Deus vos servirá todos os dias: o
Anjo da Alegria.”
“E não esqueçais que cada sétimo dia é santo e está consagrado a
Deus. Durante seis dias alimentai vosso corpo com os dons da Mãe
Terrena, mas no sétimo dia santificai vosso corpo para vosso Pai Celestial.
No sétimo dia não comais nenhum alimento terreno, mas vivei somente das
palavras de Deus, e permanecei o dia inteiro com os anjos do Senhor no
reino do Pai Celestial. E no sétimo dia deixai que os anjos de Deus
construam o reino dos céus em vosso corpo, como trabalhastes durante seis
dias no reino da Mãe Terrena. E não deixeis que nenhum alimento dificulte
a obra dos anjos em vosso corpo ao longo do sétimo dia. E Deus vos
concederá vida longa sobre a terra, para que tenhais vida eterna no reino

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dos céus. Pois em verdade vos digo, se não verdes mais enfermidades sobre
a terra, vivereis para sempre no reino dos céus.”
“E Deus vos enviará a cada manhã o Anjo da Luz do Sol para vos
despertar de vosso sono. Obedecei, portanto, a chamada de vosso Pai
Celestial e não permaneçais ociosos em vossos leitos, pois os anjos do ar e
da água já vos aguardam afora. E trabalhai durante todo o dia com os anjos
da Mãe Terrena para virdes a conhecer eles e suas obras cada vez mais e
melhor. Mas quando o sol se pôr e vosso Pai Celestial vos enviar Seu anjo
mais precioso, o do sono, ide descansar e permanecei toda a noite com o anjo
do sono. E então vosso Pai Celestial vos enviará Seus anjos desconhecidos
para que possam permanecer convosco ao longo da noite. E os anjos
desconhecidos do Pai Celestial vos ensinarão muitas coisas sobre o reino de
Deus, assim como os anjos que conheceis da Mãe Terrena vos instruem nos
assuntos do Seu reino. Pois em verdade vos digo, vós sereis toda noite os
convidados do reino de vosso Pai Celestial, se cumpris Seus mandamentos.
E, quando vos despertardes na manhã seguinte, sentireis em vós o poder
dos anjos desconhecidos. E vosso Pai Celestial os enviará a vós todas as
noites, para que possam edificar vosso espírito, assim como todos os dias a
Mãe Terrena envia Seus anjos, para que edifiquem vosso corpo. Pois em
verdade vos digo, se durante o dia vossa Mãe Terrena acolhe-vos em Seus
braços, e se durante a noite o Pai Celestial sopra em vós o Seu beijo, então
os Filhos dos Homens se tornarão os Filhos de Deus.”
“Resisti de dia e de noite às tentações de Satã. Não vos desperteis à
noite, nem durmais de dia, para que os anjos de Deus não vos abandonem.”
“Não tenha prazer em nenhuma bebida, nem em nenhum fumo de
Satã, que vos desperte à noite e vos faça dormir de dia. Pois em verdade
vos digo, todas as bebidas e fumos de Satã são abominações aos olhos de
vosso Deus.”
“Não cometais prostituição, nem de dia nem de noite, pois a
prostituição é como uma árvore cuja seiva escorre para fora do tronco.
Árvore que secará antes do tempo e não chegará a dar fruto. Portanto, não
vos prostituais para que Satã não seque vosso corpo e o Senhor não torne
vossa semente infrutífera.”
“Evitai tudo que estiver demasiado quente ou demasiado frio. Pois é
a vontade da vossa Mãe Terrena que nem o calor nem o frio danem vosso
corpo. E não deixeis que vossos corpos fiquem mais quentes ou mais frios do
que os anjos de Deus os aqueçam ou esfriem. E se cumpris os mandamentos
da Mãe Terrena, então, toda a vez que vosso corpo se tornar demasiado

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quente, ela vos enviará o anjo do frescor para que vos refresque, e, toda a
vez que vosso corpo se tornar demasiado frio, vos enviará o anjo do calor
para vos aquecer novamente.”
“Segui o exemplo de todos os anjos do Pai Celestial e da Mãe
Terrena, que trabalham dia e noite, sem cessar, nos reinos dos céus e da
terra. Portanto, recebei também em vós mesmos o mais poderoso dos anjos
de Deus, o Anjo dos Atos, e trabalhai todos juntos sobre o reino de Deus.
Segui o exemplo da água corrente, do vento como ele sopra, do nascente e
do poente do sol, do crescimento das plantas e das árvores, dos animais
quando correm e saltam, do minguar e do crescer da lua, das estrelas em
seu ir e vir; todos se movem e realizam suas tarefas. Porque tudo o que tem
vida se move, e só o que está morto permanece imóvel. E Deus é o Deus
dos vivos, e Satã é o dos mortos. Servi, portanto, ao Deus Vivo, para que o
eterno movimento da vida vos sustente e para que escapeis da eterna
imobilidade da morte. Trabalhai, portanto, sem cessar para edificar o reino
de Deus, para que não sejais jogados no reino de Satã. Pois uma alegria
eterna abunda no reino vivo de Deus, enquanto que uma quieta tristeza
escurece o reino da morte de Satã. Sejais, pois, verdadeiros Filhos de vossa
Mãe Terrena e de vosso Pai Celestial, para que não vos torneis escravos de
Satã. E vossa Mãe Terrena e vosso Pai Celestial vos enviarão Seus anjos
para que ensinem, amem e sirvam a vós. E Seus anjos escreverão os
mandamentos de Deus em vossa cabeça, em vosso coração e em vossas
mãos, para que possais conhecer, sentir e cumprir os mandamentos de Deus.”
“E orai todos os dias ao vosso Pai Celestial e à vossa Mãe Terrena
para que vossa alma se torne tão perfeita quanto o espírito santo de vosso
Pai Celestial é perfeito, e para que vosso corpo se torne tão perfeito quanto
o corpo de vossa Mãe Terrena é perfeito. Pois se entendeis, sentis e cumpris
os mandamentos, então tudo quanto pedirdes ao vosso Pai Celestial e à
vossa Mãe Terrena vos será dado. Porque a sabedoria, o amor e o poder de
Deus estão acima de tudo.”
“Orai, portanto, do seguinte modo ao vosso Pai Celestial: ‘Pai nosso
que estás nos céus, santificado seja Teu nome. Venha o Teu reino. Tua
vontade seja feita na terra assim como nos céus. O pão nosso de cada dia
dá-nos hoje. E perdoa nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos
nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal,
pois Teus são o reino, o poder e a glória para sempre. Amém’.”
“E orai do seguinte modo à vossa Mãe Terrena: ‘Mãe nossa que estás
na terra, santificado seja Teu nome. Venha o Teu reino, e Tua vontade seja

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feita em nós assim como se faz em ti. Assim como Tu envias todos os dias
os Teus anjos, envia-os também a nós. Perdoa os nossos pecados, pois nós
expiamos todos os nossos pecados contra Ti. Não nos deixes cair em
enfermidade, mas livra-nos do mal, pois Teus são a terra, o corpo e a saúde.
Amém’.”
E todos eles rezaram junto a Jesus ao Pai Celestial e à Mãe Terrena.
E depois Jesus lhes falou assim: “Assim como vossos corpos
renasceram por meio dos anjos da Mãe Terrena, vosso espírito pode, de
igual modo, renascer por meio dos anjos do Pai Celestial. Tornai-vos,
portanto, verdadeiros Filhos de vosso Pai e de vossa Mãe, e verdadeiros
Irmãos dos Filhos dos Homens. Até agora estivestes em guerra com vosso
Pai, com vossa Mãe e com vossos Irmãos. E tendes servido a Satã. A partir
de hoje, vivei em paz com vosso Pai Celestial, com vossa Mãe Terrena e
com vossos Irmãos, os Filhos dos Homens. E lutai unicamente contra Satã,
para que ele não vos roube vossa paz. Eu dou a paz de vossa Mãe Terrena a
vosso corpo, e a paz de vosso Pai Celestial a vosso espírito. E que a paz de
ambos reine entre os Filhos dos Homens.”
“Vinde a mim todos que estejais cansados e que sofrais em conflitos
e aflições! Pois minha paz vos fortalecerá e vos confortará. Porque minha
paz está repleta de alegria. Por isso eu sempre vos cumprimento dessa
forma: ‘A paz esteja convosco!’ Portanto, sempre vos cumprimentai uns
aos outros assim, para que sobre vosso corpo possa descer a paz de vossa
Mãe Terrena, e sobre vosso espírito, a paz de vosso Pai Celestial. E então
encontrareis a paz também entre vós, pois o reino de Deus estará dentro de
vós. E agora regressai a vossos Irmãos, com quem até agora estivestes em
guerra, e dai a eles também vossa paz. Pois felizes são aqueles que lutam
pela paz, pois encontrarão a paz de Deus. Ide, e não pequeis mais. E dai a
todos a vossa paz, assim como eu vos dei a minha paz. Pois minha paz é de
Deus. A paz esteja convosco”.
E lhes deixou.
E sua paz desceu sobre eles; e com o Anjo do Amor em seus
corações, com a sabedoria da lei em suas cabeças e com o poder do
renascimento em suas mãos, dispersaram-se entre os Filhos dos Homens,
para levar a luz da paz àqueles que guerreavam na escuridão.
E separaram-se, desejando uns aos outros:
“A paz esteja convosco”.

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42
LIVRO 2

OS LIVROS DESCO HECIDOS DOS


ESSÊ IOS

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44
PREFÁCIO

Eu tenho que começar este prefácio com uma grande confissão: esta
não é minha primeira tradução do Livro Dois do Evangelho Essênio da Paz;
é minha segunda. O primeiro esforço levou muitos anos para ser concluído,
e foi composto cuidadosamente e literalmente, com centenas de referências
cruzadas e muitas notas de rodapé filológicas e exegéticas. Quando ele foi
finalizado, eu estava muito orgulhoso dele, e, com um entusiasmo de
autossatisfação realizada, eu dei para meu amigo, Aldous Huxley, ler. Duas
semanas depois, eu perguntei a ele o que ele achou de minha monumental
tradução. “É muito, muito ruim”, ele respondeu. “É ainda pior do que os
tratados mais chatos dos patrísticos e dos escolásticos, que ninguém lê hoje
em dia. É, de fato, tão seco e desinteressante que eu não tenho vontade de
ler o Livro Três”. Eu fiquei sem palavras, então ele continuou: “Você
deveria reescrevê-lo e dar-lhe algo da vitalidade de seus outros livros –
torná-lo literário, legível e atrativo para os leitores do século vinte. Eu
tenho certeza de que os Essênios não falavam uns com os outros em notas
de rodapé! No formato em que ele está agora, os únicos leitores que você
terá para ele serão uns poucos dogmáticos em seminários teológicos, que
parecem ter um prazer masoquista em ler esse tipo de coisa. No entanto”,
ele acrescentou com um sorriso, “você pode achar algum valor nele como
uma cura para a insônia; cada vez que eu tentava lê-lo, eu adormecia em
poucos minutos. Você pode tentar vender alguns exemplares, dessa
maneira, anunciando como um remédio novo de sono em revistas de saúde
– sem produtos químicos nocivos, e tudo mais.”
Levei um bom tempo para me recuperar desta crítica. Deixei de lado
o manuscrito por anos. Entretanto, eu continuei a receber milhares de cartas
de muitos leitores, de todas as partes do mundo, da minha tradução do
Livro Um do Evangelho Essênio da Paz, pedindo pelos segundo e terceiro
livros prometidos no prefácio. Finalmente, eu tive a coragem de começar de
novo. O passar dos anos tinha amadurecido a minha postura e eu vi as
críticas do meu amigo sob uma nova luz. Reescrevi todo o manuscrito,
tratando-o como literatura e poesia, confrontando com grandes problemas
da vida, tanto antigos quanto contemporâneos. Não foi fácil ser fiel ao
original, e, ao mesmo tempo, apresentar as verdades eternas de um modo
atrativo para o homem do século vinte. E, no entanto, era de vital
importância que eu tentasse; pois os Essênios, acima de todos os outros,
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esforçaram-se para conquistar os corações dos homens através da razão, e
do poderoso e vívido exemplo de suas vidas.
Infelizmente, Aldous não está mais aqui para ler a minha segunda
tradução. Eu tenho a sensação de que ele teria gostado (nem uma nota de
rodapé!), mas eu terei que deixar o julgamento final para meus leitores. Se
os Livros Dois e Três se tornarão tão populares como o Livro Um, meus
esforços de muitos, muitos anos serão amplamente recompensados.

Edmond Bordeaux Székely


San Diego, Califórnia
1º de Novembro, 1974.

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I TRODUÇÃO

Há três caminhos que levam à Verdade. O primeiro é o caminho da


consciência, o segundo é o da natureza, e o terceiro é o da experiência
acumulada de gerações passadas, que nós recebemos em forma de grandes
obras de todas as épocas. Desde tempos imemoriais, o homem e a
humanidade têm seguido todos os três caminhos.
O primeiro caminho para a Verdade, o caminho da consciência, é o
seguido pelos grandes místicos. Eles consideram que a consciência é a
realidade mais imediata para nós e é a chave para o universo. É algo que
está em nós, que somos nós. E, através das eras, os místicos têm descoberto
que as leis da consciência humana contêm um aspecto não encontrado nas
leis que governam o universo material.
Uma certa unidade dinâmica existe na nossa consciência, na qual um
é ao mesmo tempo muitos. É possível para nós termos simultaneamente
diferentes pensamentos, idéias, associações, imagens, memórias e intuições
ocupando a nossa consciência em frações de minutos ou segundos, contudo
toda esta multiplicidade ainda constituirá apenas uma única unidade
dinâmica. Portanto, as leis da matemática, que são válidas para o universo
material e são uma chave para sua compreensão, não serão válidas no
campo da consciência, um domínio onde dois e dois não necessariamente
são quatro. Os místicos também descobriram que as medições de tempo,
espaço e peso, universalmente válidas na natureza e todo o universo
material, não são aplicáveis à consciência, na qual, às vezes, alguns
segundos parecem horas, ou horas parecem um minuto.
A nossa consciência não existe no espaço e, por conseguinte, não
pode ser medida em termos espaciais. Tem seu próprio tempo, que é muito
frequentemente atemporal, assim medições temporais não podem ser
aplicadas à verdade alcançada por este caminho. Os grandes místicos
descobriram que a consciência humana, além de ser a mais imediata e a
mais profunda realidade para nós, é, ao mesmo tempo, nossa mais próxima
fonte de energia, harmonia e conhecimento. O caminho para a Verdade,
levando para e através da consciência, produziu os grandes ensinamentos
da humanidade, as grandes intuições e as grandes obras-primas através das
eras. Tal é o primeiro caminho ou fonte da Verdade, como as tradições
Essênias compreendem e interpretam-na.

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Infelizmente, as magníficas intuições originais dos grandes mestres
muitas vezes perdem sua vitalidade à medida que passam as gerações. Elas
são muitas vezes modificadas, distorcidas e transformadas em dogmas, e
muito frequentemente seus valores tornam-se petrificados em instituições e
organizados em hierarquias. As intuições puras são sufocadas pelas areias
do tempo e, eventualmente, tem que ser escavadas pelos buscadores da
Verdade capazes de penetrar em sua essência.
Outro perigo é que as pessoas que seguem este caminho para a
Verdade – o caminho da consciência – podem cair em exageros. Eles
chegam a pensar que este é o único caminho para a Verdade e ignoram
todos os outros. Muitas vezes, também, eles aplicam as leis específicas da
consciência humana para o universo material, no qual elas não têm
validade, e ignoram as leis próprias da última esfera. O místico muitas
vezes cria para si um universo artificial, cada vez mais distante da
realidade, até que ele termina por viver em uma torre de marfim, tendo
perdido todo o contato com a realidade e a vida.
O segundo dos três caminhos é o caminho da natureza. Enquanto o
primeiro caminho da consciência começa do interior e penetra daí para a
totalidade das coisas, o segundo caminho toma o caminho oposto. Seu
ponto de partida é o mundo externo. É o caminho do cientista, e foi seguido
em todas as eras através da experiência e da experimentação, através da
utilização de métodos indutivos e dedutivos.
O cientista, trabalhando com medidas quantitativas exatas, mede
tudo no espaço e no tempo, e faz todas as correlações possíveis.
Com seu telescópio, ele penetra muito distante do espaço cósmico,
para os vários sistemas solares e galácticos; através de análise de espectro,
ele mede os componentes dos diversos planetas do espaço cósmico; e, pelo
cálculo matemático, ele estabelece antecipadamente os movimentos dos
corpos celestes. Aplicando a lei de causa e efeito, o cientista estabelece
uma longa cadeia de causas e efeitos que o ajudam a explicar e medir o
universo, assim como a vida.
Mas o cientista, como o místico, às vezes cai em exageros. Embora a
ciência tenha transformado a vida da humanidade e criado grandes valores
para o homem em todas as eras, não conseguiu dar inteira satisfação na
solução dos problemas finais da existência, da vida e do universo. O
cientista tem a longa cadeia de causas e efeitos seguras em todas as suas
partículas, mas ele não tem idéia do que fazer com o final da cadeia. Ele
não tem nenhum ponto sólido em que possa conectar o final da cadeia, e

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assim, pelo caminho da Verdade através da natureza e do universo material,
ele é incapaz de responder às grandes e eternas questões a respeito do início
e do fim de todas as coisas.
Os maiores cientistas reconhecem que, no campo metafísico, além da
cadeia científica existe algo mais – continuando a partir do final dessa
cadeia. No entanto, existem também os cientistas dogmáticos que negam
qualquer outra abordagem da Verdade além da sua própria, que se recusam
a atribuir realidade para os fatos e fenômenos que não se encaixem
perfeitamente em suas próprias categorias e classificações.
O caminho para a Verdade através da natureza não é o dos cientistas
dogmáticos, assim como o primeiro caminho não é o do místico unilateral.
A natureza é um grande livro aberto, no qual tudo pode ser encontrado, se
nós aprendermos a extrair dela a inspiração que ela tem dado para os
grandes pensadores de todas as eras. Se nós aprendermos a sua linguagem,
a natureza nos revelará todas as leis da vida e do universo.
É por esta razão que todos os grandes mestres da humanidade ao
longo do tempo retiraram-se para a natureza: Zaratustra e Moisés para as
montanhas, Buda para a floresta, Jesus e os Essênios para o deserto – e
assim seguiram esse segundo caminho, bem como o da consciência. Os
dois caminhos não se contradizem, mas se completam harmoniosamente
com todo o conhecimento das leis de ambos. Foi dessa maneira que os
grandes ensinadores alcançaram verdades maravilhosas e profundas que
deram inspiração para milhões através de milhares de anos.
O terceiro caminho para a Verdade é a sabedoria, conhecimento e
experiência adquiridos pelos grandes pensadores de todas as eras e
transmitidos a nós na forma de grandes ensinamentos, os grandes livros ou
escrituras sagrados, e as grandes obras-primas da literatura universal, que
juntos formam o que hoje chamaríamos de cultura universal.
Em síntese, portanto, nossa abordagem da Verdade é uma tríplice em
um: através da consciência, da natureza, e da cultura.
Nos capítulos seguintes, nós iremos seguir esse tríplice caminho que
leva à Verdade e examinaremos e traduziremos alguns dos grandes escritos
sagrados dos Essênios.
Existem diferentes maneiras de estudar estes grandes escritos. Uma
maneira – a maneira de todos os teólogos e das Igrejas organizadas – é
considerar cada texto literalmente. Esta é a maneira dogmática resultante de
um longo processo de petrificação, pela qual verdades são inevitavelmente
transformadas em dogmas.

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Quando o teólogo segue este caminho mais fácil, mas parcial, ele
segue em contradições e complicações sem fim, e ele chega a uma
conclusão tão longe da verdade como a do intérprete científico desses
textos que os rejeitam como totalmente sem valor e sem validade. As
abordagens do teólogo dogmático e do cientista exclusivista representam
dois extremos.
Um terceiro erro é acreditar, como fazem certos simbolistas, que
esses livros não têm mais do que um conteúdo simbólico e não são nada
mais que parábolas. Com sua própria maneira de exagero estes simbolistas
fazem milhares de interpretações diferentes e bastante contraditórias desses
grandes textos.
O espírito das tradições Essênias é oposto a todas estas três formas
de interpretar esses textos perenes e segue uma abordagem totalmente
diferente.
O método Essênio de interpretação destes livros é, por um lado,
colocá-los em relação harmoniosa com as leis da consciência humana e da
natureza, e, por outro, considerar os fatos e as circunstâncias da época e do
ambiente em que eles foram escritos. Essa abordagem também leva em
conta o grau de evolução e compreensão das pessoas a quem o singular
mestre dirigia a sua mensagem.
Visto que todos os grandes mestres tiveram que adaptar seus ensinos
ao nível do seu público, eles consideravam necessário formular tanto um
ensinamento exotérico como esotérico. A mensagem exotérica era
compreensível para o povo em geral e era expressa em termos de várias
regras, formas e rituais correspondentes às necessidades básicas do povo e
da era em questão. Paralelamente a isso, os ensinamentos esotéricos
sobreviveram através das eras em parte como escritas e em parte como não
escritas tradições vivas, livres de formas, rituais, regras e dogmas, e, em
todos os períodos, foram mantidas vivas e praticadas por uma pequena
minoria.
É neste espírito de interpretação da Verdade que o Evangelho
Essênio da Paz será traduzido nas páginas seguintes. Rejeitando os métodos
dogmáticos de interpretação literal e puramente científica, bem como o
exagero dos simbolistas, tentaremos traduzir o Evangelho Essênio da Paz à
luz da nossa consciência e da natureza, e em harmonia com as grandes
tradições dos Essênios, a cuja irmandade pertenciam os próprios autores
dos Manuscritos do Mar Morto.
Edmond Bordeaux Székely

50
A VISÃO DE E OQUE

Deus fala ao homem a mais antiga revelação

Falo contigo. Serena-te. Reconhece. Eu sou Deus.


Falei contigo quando nasceste. Serena-te. Reconhece. Eu sou Deus.
Falei contigo em tua primeira contemplação. Serena-te. Reconhece.
Eu sou Deus.
Falei contigo em tua primeira palavra. Serena-te. Reconhece. Eu sou
Deus.
Falei contigo em teu primeiro pensamento. Serena-te. Reconhece. Eu
sou Deus.
Falei contigo em teu primeiro amor. Serena-te. Reconhece. Eu sou
Deus.
Falei contigo em teu primeiro cântico. Serena-te. Reconhece. Eu sou
Deus.
Falo contigo através do pasto das pradarias. Serena-te. Reconhece.
Eu sou Deus.
Falo contigo através das árvores dos bosques. Serena-te. Reconhece.
Eu sou Deus.
Falo contigo através dos vales e das colinas. Serena-te. Reconhece.
Eu sou Deus.
Falo contigo através das Montanhas Sagradas. Serena-te. Reconhece.
Eu sou Deus.
Falo contigo através da chuva e da neve. Serena-te. Reconhece. Eu
sou Deus.
Falo contigo através das ondas do mar. Serena-te. Reconhece. Eu sou
Deus.
Falo contigo através do orvalho da manhã. Serena-te. Reconhece. Eu
sou Deus.
Falo contigo através da paz do entardecer. Serena-te. Reconhece. Eu
sou Deus.
Falo contigo através do esplendor do sol. Serena-te. Reconhece. Eu
sou Deus.
Falo contigo através das estrelas brilhantes. Serena-te. Reconhece.
Eu sou Deus.

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Falo contigo através das nuvens e das tormentas. Serena-te.
Reconhece. Eu sou Deus.
Falo contigo através do trovão e do relâmpago. Serena-te.
Reconhece. Eu sou Deus.
Falo contigo através do arco-íris misterioso. Serena-te. Reconhece.
Eu sou Deus.
Falarei contigo quando estiveres só. Serena-te. Reconhece. Eu sou
Deus.
Falarei contigo através da Sabedoria dos Anciões. Serena-te.
Reconhece. Eu sou Deus.
Falarei contigo no final do tempo. Serena-te. Reconhece. Eu sou
Deus.
Falarei contigo quando tiveres visto meus Anjos. Serena-te.
Reconhece. Eu sou Deus.
Falarei contigo por toda a Eternidade. Serena-te. Reconhece. Eu sou
Deus.
Falo contigo. Serena-te. Reconhece. Eu sou Deus.

52
O LIVRO ESSÊ IO DE MOISÉS

Os Dez Mandamentos

E o Monte Sinai estava envolto por uma nuvem, porque o Senhor


descia sobre ele em fogo; e a fumaça que dali subia era como a de uma
fornalha e toda a montanha tremeu fortemente.
E o Senhor desceu ao Monte Sinai, sobre o topo do monte, e o
Senhor chamou Moisés ao topo do monte, e Moisés subiu.
E o Senhor chamou Moisés para fora do monte, dizendo: “Vem a
mim, que Eu te darei a Lei para teu povo, a qual será uma aliança com os
Filhos da Luz.”
E Moisés foi junto a Deus. E Deus falou nessas palavras, dizendo:
“Eu sou a Lei, teu Deus, quem te resgatou das profundezas da
escravidão das trevas.
Não terás nenhuma outra lei fora de Mim.
Não construirás para ti nenhuma imagem da Lei nem acima no céu,
nem abaixo na terra. Eu sou a Lei invisível, sem princípio e sem fim.
Não criarás para ti falsas leis. Porque Eu sou a Lei e a Lei total de
todas as leis. Se renuncias a Mim, tu serás visitado por desastres de geração
em geração.
Se guardas meus mandamentos, entrarás no Jardim Infinito onde está
a Árvore da Vida, em meio ao Mar Eterno.
Não violarás a Lei. A Lei é teu Deus, quem não te considerará
inocente.
Honra tua Mãe Terrena para que teus dias possam ser longos sobre a
terra e honra teu Pai Celestial para que tenhas vida eterna nos céus, pois os
céus e a terra te são dados pela Lei, que é teu Deus.
Saudarás a Mãe Terrena na manhã do Shabat.
Saudarás o Anjo da Terra na segunda manhã.
Saudarás o Anjo da Vida na terceira manhã.
Saudarás o Anjo da Alegria na quarta manhã.
Saudarás o Anjo do Sol na quinta manhã.
Saudarás o Anjo da Água na sexta manhã.
Saudarás o Anjo do Ar na sétima manhã.
Todos estes Anjos da Mãe Terrena saudarás e te consagrarás a eles
para que possas entrar no Jardim Infinito onde está a Árvore da Vida.
53
Adorarás a teu Pai Celestial no entardecer do Shabat.
Comungarás com o Anjo da Vida Eterna no segundo entardecer.
Comungarás com o Anjo do Trabalho no terceiro entardecer.
Comungarás com o Anjo da Paz no quarto entardecer.
Comungarás com o Anjo do Poder no quinto entardecer.
Comungarás com o Anjo do Amor no sexto entardecer.
Comungarás com o Anjo da Sabedoria no sétimo entardecer.
Com todos os anjos do Pai Celestial comungarás para que teu
espírito possa purificar-se na Fonte de Luz e entrar no Mar da Eternidade.
O sétimo dia é o Shabat, o comemorarás e o guardarás como dia
santo. O Shabat é o dia da Luz da Lei, teu Deus. Nele não farás nenhum
tipo de trabalho, exceto buscar a Luz, o Reino de Deus, e todas as coisas te
serão dadas.
Sabei pois que trabalhareis durante seis dias com os anjos, mas no
sétimo dia habitareis na Luz de vosso Senhor que é a Lei Santa.
Não tomarás a vida de qualquer coisa vivente. A vida vem
unicamente de Deus quem a dá e a tira.
Não degradarás o Amor. É esse o dom sagrado do Pai Celestial.
Não negociarás tua alma, o dom imensurável do Deus amoroso, pois
as riquezas do mundo, que são as sementes que caem em terreno
pedregoso, não criam raízes e vivem muito pouco tempo.
Não darás falso testemunho da Lei para utilizá-la contra teus irmãos;
unicamente Deus conhece o princípio e o fim de todas as coisas, pois Seu
olho é único e Ele é a Lei Santa.
Não cobiçarás os bens de teu próximo. A Lei te dá dons muito
maiores, nos céus e na terra, se guardas os Mandamentos do Senhor teu
Deus”.
E Moisés ouviu a voz do Senhor e selou dentro de si a aliança que
era entre o Senhor e os Filhos da Luz.
E Moisés virou-se e desceu do monte, com as duas tábuas da Lei em
suas mãos.
E as tábuas eram a obra de Deus e a escrita era a escrita de Deus
gravada sobre as tábuas.
E o povo não sabia o que havia acontecido com Moisés, e reuniram-
se e fundiram todos seus artefatos de ouro e construíram um bezerro. E
adoraram ao ídolo e ofereceram-lhe sacrifícios.

54
E eles comeram, beberam e dançaram diante do bezerro de ouro, o
qual eles haviam feito, e abandonaram-se à corrupção e à perversidade
diante do Senhor.
E ocorreu que, assim que chegou perto da aldeia, ele viu o bezerro,
as danças e a maldade do povo. E Moisés se encheu de fúria e jogou as
tábuas da lei de suas mãos e quebrou-as contra o monte.
E na manhã seguinte Moisés disse ao povo: “Vós haveis cometido
um grande pecado. Vós haveis negado a vosso Criador. Eu subirei até o
Senhor e implorarei por vosso pecado”.
E voltando Moisés até o Senhor, disse: “Senhor, Tu viste a
profanação de Tua Santa Lei. Pois Teus filhos perderam a fé e adoraram as
trevas e fizeram para eles um bezerro de ouro. Senhor, perdoa-os, pois eles
estão cegos para a luz”.
E o Senhor disse a Moisés: “Eis que no princípio dos tempos houve
uma aliança feita entre Deus e o homem, e a chama sagrada do Criador
entrou nele. E ele foi feito Filho de Deus, e foi dado a ele que guardasse sua
herança de primogênito, e fizesse frutífera a terra de seu Pai e mantivesse-a
Santa. E ele expulsou o Criador de si mesmo, rechaçando sua
primogenitura. Não existe pecado mais grave aos olhos de Deus”.
E o Senhor falou, dizendo: “Unicamente os Filhos da Luz podem
guardar os Mandamentos da Lei. Escuta, pois te falo assim: as tábuas que tu
quebraste nunca mais serão escritas nas palavras dos homens. Como tu as
converteste em terra e fogo, assim elas viverão, invisíveis, nos corações
daqueles que sejam capazes de seguir sua Lei. À tua gente de pouca fé, que
pecou contra o Criador, mesmo quando estava no solo sagrado diante de teu
Deus, Eu lhes darei outra Lei. Será uma Lei severa, sim, lhes compelirá,
pois eles não conhecem ainda o Reino da Luz”.
E Moisés guardou a Lei invisível dentro de seu peito e manteve-a
como um sinal aos Filhos da Luz. E Deus deu a Moisés a lei escrita para o
povo, e ele voltou a eles, e falou-lhes com um coração abatido.
Moisés disse ao povo: “Estas são as leis que vosso Deus vos tem
dado:
Não terás outro Deus além de mim.
Não farás para ti nenhuma imagem esculpida.
Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão.
Recordarás do dia do Shabat e o manterás santo.
Honrarás teu Pai e tua Mãe.
Não matarás.

55
Não cometerás adultério.
Não roubarás.
Não levantarás falsos testemunhos contra teu próximo.
Não cobiçarás a casa de teu próximo, nem sua esposa, nem nada que
seja de teu próximo”.
E houve um dia de dor e arrependimento pelo grande pecado contra o
Criador, que não terminou. E as tábuas quebradas da Lei Invisível viveram
ocultas no peito de Moisés, até que sucedeu que os Filhos da Luz
apareceram no deserto e os anjos caminharam sobre a Terra.

56
AS COMU HÕES

E era nas margens de um rio que os fatigados e aflitos vinham buscar


a Jesus. E, como crianças, eles haviam esquecido a Lei; e, como crianças,
buscavam a seu pai para que lhes mostrasse onde haviam errado, e
colocasse seus passos novamente no caminho. E, quando o sol apareceu no
horizonte, eles viram Jesus, que vinha em sua direção desde a montanha,
com o brilho do sol nascente sobre sua cabeça.
E ele levantou sua mão e sorriu para eles, dizendo: “A paz esteja
convosco”.
Porém eles estavam envergonhados para retornar-lhe a saudação, pois
cada um a sua maneira havia dado às costas aos sagrados ensinamentos, e os
anjos da Mãe Terrena e do Pai Celestial não estavam com eles. E um
homem, olhando com angustia, falou: “Mestre, estamos necessitados
desesperadamente de tua sabedoria. Pois nós sabemos o que é bom e ainda
seguimos o mal. Sabemos que para entrar no reino dos céus devemos
caminhar com os anjos do dia e da noite, e entretanto nossos pés transitam
pelos caminhos dos ímpios. A luz do dia brilha unicamente sobre nossa
busca por prazer, e a noite cai sobre nossa letargia negligente. Diz-nos,
Mestre, como podemos falar com os anjos e permanecer dentro de seu
santo círculo, para que a Lei possa arder em nossos corações com uma
chama constante?”
E Jesus falou-lhes:
“Levantar vossos olhos ao céu, quando os olhos de todos os homens
estão no chão, não é fácil.
Adorar os pés dos anjos, quando todos os homens adoram somente
fama e riquezas, não é fácil.
Mas o mais difícil de tudo é pensar os pensamentos dos anjos, falar
as palavras dos anjos, e agir como os anjos”.
E um homem falou: “Mas, Mestre, nós somos apenas homens, não
somos anjos. Como então podemos esperar andar nos seus caminhos? Diz-
nos o que devemos fazer”.
E Jesus falou:
“Como os filhos herdam a terra de seu pai, assim nós herdamos uma
Terra Santa de nossos Pais.
Esta terra não é um campo para ser arado, mas um lugar dentro de
nós, em que podemos construir um Templo Santo.
57
E como um templo deve ser levantando, pedra sobre pedra, assim eu
darei a vós essas pedras para a construção do Templo Santo; aquele que
temos herdado de nossos Pais e dos Pais de seus Pais.”
E todos os homens reuniram-se ao redor de Jesus, e seus rostos
brilhavam com o desejo de ouvir as palavras que vinham de seus lábios. E
ele levantou seu rosto para o sol nascente e o esplendor de seus raios
encheu seus olhos quando falou:
“O Templo Santo pode ser construído unicamente com as antigas
Comunhões, aquelas que são faladas, aquelas que são pensadas e aquelas
que são vividas.
Pois se elas forem faladas unicamente com a boca, são como uma
colméia inutilizada que as abelhas abandonaram e não dá mais mel.
As comunhões são como uma ponte entre os homens e os anjos, e,
como uma ponte, pode ser construída unicamente com paciência, assim
como a ponte sobre o rio é construída pedra por pedra, como são
encontradas nas margens da água.
E as comunhões são catorze em número, como os anjos do Pai
Celestial são em número sete e os Anjos da Mãe Terra são em número sete.
E, assim como as raízes das árvores cavam a terra e são nutridas, e os
ramos das árvores levantam seus braços ao céu, assim é o homem, como o
tronco da árvore com suas raízes profundas no coração da Mãe Terrena, e
seu espírito ascendendo às estrelas brilhantes de seu Pai Celestial.
E as raízes da árvore são os Anjos da Mãe Terrena, e os ramos da
árvore são os anjos do Pai Celestial.
E esta é a Sagrada Árvore da Vida que está no Mar da Eternidade.”

***

“A primeira Comunhão é com o Anjo do Sol.


O Anjo do Sol, que vêm cada manhã, como uma donzela de sua
câmara, para derramar sua luz dourado sobre o mundo.
Ó tu, imortal, brilhante, corcel veloz, Anjo do Sol!
Não há calor sem ti, não há fogo sem ti, não há vida sem ti.
Como as folhas verdes das árvores adoram-te, e é através de ti que o
diminuto grão de trigo se converte em um rio de espigas douradas
balançando ao vento.
Através de ti se abre a flor no centro de meu corpo.
Por isso eu nunca me esconderei de ti.

58
Anjo do Sol, santo mensageiro da Mãe Terrena, entra no Templo
Santo dentro de mim e dá-me o Fogo da Vida!”

***

“A segunda Comunhão é com o Anjo da Água.


O Anjo da Água, que faz com que a chuva caia sobre as planícies
áridas, quem enche a fonte seca até transbordar.
Sim, nós te adoramos, Água da Vida. Desde o mar celestial, as águas
correm e fluem das fontes inesgotáveis.
Em meu sangue fluem mil fontes puras, vapores, nuvens e todas as
águas que se espalham sobre os Sete Reinos.
Todas as águas que o Criador fez são santas.
A voz do Senhor está sobre as águas: o Deus de Glória troveja; o
Senhor está sobre muitas águas.
Anjo da Água, santo mensageiro da Mãe Terrena, entra no sangue
que flui através de mim, lava meu corpo com a chuva que cai do céu e dá-
me a Água da Vida.”

***

“A terceira Comunhão é com o Anjo do Ar.


O Anjo do Ar quem espalha o perfume de campos de doces aromas,
de ervas primaveris após a chuva, do botão que se abre da Rosa de Saron.
Nós adoramos o Sopro Sagrado que está acima de todas as coisas
criadas.
Pois eis que o eterno e soberano espaço luminoso onde governam as
incontáveis estrelas é o ar que nós respiramos e é o ar que nós exalamos.
E no instante entre a aspiração e a exalação estão ocultos todos os
mistérios do Jardim Infinito.
Anjo do Ar, santo mensageiro da Mãe Terrena, entra profundamente
dentro de mim, como a andorinha despenca do céu, para que eu possa saber
os segredos do vento e a música das estrelas.”

***

“A quarta Comunhão é com o Anjo da Terra.

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O Anjo da Terra, quem produz o cereal e as uvas da plenitude da
terra. Quem traz os filhos dos lombos do esposo e da esposa.
Aquele que cultiva a terra com o braço direito e com o braço
esquerdo; a ele, ela trará uma abundância de frutos e grãos, plantas
douradas crescendo da terra na primavera, tanto quanto a terra se estende,
tanto quanto os rios se expandem, tanto quanto o sol se levanta, para
conceder seus dons de alimento aos homens.
Esta vasta terra que eu louvo, expandida com caminhos, a produtiva,
a plenamente fértil, Tua Mãe, santa planta!
Sim, eu louvo as terras onde tu cresces, aromática, espalhando-se
rapidamente, o bom desenvolvimento do Senhor.
Ele, quem semeia cereal, ervas e frutas, semeia a Lei.
E sua colheita será abundante e sua safra maturará nos montes,
Como uma recompensa para os seguidores da Lei, o Senhor enviou o
Anjo da Terra, santo mensageiro da Mãe Terrena, para fazer as plantas
crescerem e tornar fértil o ventre da mulher, porque a terra nunca pode ficar
sem o sorriso das crianças. Adoremos ao Senhor nela.”

***

“A quinta Comunhão é com o Anjo da Vida.


O Anjo da Vida, quem dá força e vigor ao homem.
Pois eis que, se a cera não é pura, como pode então a vela dar uma
chama firme?
Ide então até as árvores que crescem altas, e diante de uma delas que
seja formosa, alta e forte, dizei estas palavras:
‘Salve a ti! Ó boa árvore viva, feita pelo Criador!’.
Então o Rio da Vida fluirá entre vós e vossa irmã, a Árvore, e a
saúde do corpo, a agilidade do pé, a agudeza dos ouvidos, a força dos
braços e a visão da águia serão vossas.
Assim é a Comunhão com o Anjo da Vida, santo mensageiro da Mãe
Terrena.”

***

“A sexta Comunhão é com o Anjo da Alegria.


O Anjo da Alegria, quem desce sobre a terra para dar beleza a todos
os homens.

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Pois o Senhor não é adorado com tristezas, nem com gritos de
desespero.
Deixai vossos gemidos e lamentações, e cantai ao Senhor um novo
cântico: cantai ao Senhor toda a terra.
Que os céus regozijem, que a terra se alegre, que os campos jubilem,
que as águas aplaudam, que todos os montes jubilem diante do Senhor.
Para que sigais com alegria e vades adiante em paz: as montanhas e
as colinas se irromperão diante de vós em cânticos.
Anjo da Alegria, santo mensageiro da Mãe Terrena, cantarei ao
Senhor enquanto eu viver: entoarei louvores ao meu Deus em toda minha
existência.”

***

“A sétima Comunhão é com nossa Mãe Terrena.


Nossa Mãe Terrena. Ela, quem envia Seus anjos para guiar as raízes
do homem e as envia profundamente ao solo abençoado.
Invocamos a Mãe Terrena!
A Santa Preservadora!
A Mantenedora!
É Ela quem restabelecerá o mundo!
A terra é d’Ela, e a plenitude do mundo, e dos que moram nele.
Nós adoramos a boa, a forte, a bondosa Mãe Terrena e todos os Seus
anjos generosos, valentes e plenos de força; concedendo bem-estar, dócil, e
doando saúde.
Através de Seu brilho e glória, as plantas crescem na terra nas
eternas primaveras.
Através de Seu brilho e glória, os ventos sopram, precipitando as
nuvens até as fontes inesgotáveis.
A Mãe Terrena e eu somos Um.
Eu tenho minhas raízes n’Ela e Ela se compraz em mim, de acordo
com a Lei Santa.”

***

E houve um grande silêncio, enquanto os ouvintes refletiam sobre as


palavras de Jesus. E havia neles uma força nova, e o desejo e a esperança
brilhavam em seus rostos. E então um homem falou: “Mestre, estamos

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cheios de ansiedade por iniciar nossas Comunhões com os anjos da Mãe
Terrena, que plantaram o Grande Jardim da Terra. Mas e os anjos do Pai
Celestial, que governam a noite? Como nós falaremos com eles, que estão
tão acima de nós, e são invisíveis aos nossos olhos? Pois podemos ver os
raios do sol, podemos sentir a água fria do rio em que nos banhamos, e as
uvas são quentes ao nosso toque enquanto se crescem púrpuras nos
vinhedos. Mas os anjos do Pai Celestial não podem ser vistos, nem
ouvidos, nem tocados. Como, então, poderemos falar com eles e entrar no
seu Jardim Infinito? Mestre, dize-nos o que precisamos fazer.”
E o sol matutino cercou sua cabeça de glória quando Jesus olhou
para eles e falou:
“Meus filhos, não sabeis que a Terra e tudo o que nela habita é
apenas um reflexo do Reino do Pai Celestial?
E assim como sois amamentados e confortados por vossa mãe
quando crianças, mas vão juntar-se ao vosso pai nos campos depois de
crescidos, assim os anjos da Mãe Terrena guiam vossos passos para Ele que
é o vosso Pai, e todos os Seus santos anjos, para que possais conhecer o
vosso verdadeiro lar e tornar-vos verdadeiros Filhos de Deus.
Enquanto formos crianças, veremos os raios do sol, mas não o Poder
que o criou; enquanto formos crianças, ouviremos os sons do córrego que
flui, mas não o Amor que o criou; enquanto formos crianças, veremos as
estrelas, mas não a mão que as espalha pelo céu, como o lavrador espalha
sua semente.
Somente através das Comunhões com os anjos do Pai Celestial, nós
aprenderemos a ver o invisível, a ouvir o que não pode ser ouvido, e a falar
a palavra não pronunciada.”

***

“A primeira Comunhão é com o Anjo do Poder.


O Anjo do Poder, que enche o sol de calor e guia a mão do homem
em todas as suas obras.
Teu, ó Pai Celestial! era o Poder, quando determinaste um caminho
para cada um de nós e para todos.
Através do teu poder, meus pés trilharão o Caminho da Lei; através
do teu poder, minhas mãos executarão tuas obras.
Que o rio dourado do poder sempre flua de ti para mim, e que o meu
corpo sempre se volte para ti, como a flor se volta para o sol.

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Pois não há poder senão o do Pai Celestial; tudo o mais é apenas um
sonho de poeira, uma nuvem que passa sobre a face do sol.
Não há homem que tenha poder sobre o espírito; tampouco tem ele
poder no dia da morte.
Somente o poder que vem de Deus pode levar-nos para fora da
Cidade da Morte.
Guia nossas obras e nossas ações, ó Anjo do Poder, santo mensageiro
do Pai Celestial!”

***

“A segunda Comunhão é com o Anjo do Amor.


O Anjo do Amor, cujas águas curadoras fluem em uma corrente
infindável desde o Mar da Eternidade.
Amados, amemo-nos uns aos outros: Pois o amor é do Pai Celestial,
e todo aquele que ama nasceu da Ordem Celestial e conhece os anjos.
Pois sem amor o coração do homem resseca e racha no fundo de um
poço seco, e suas palavras são vazias feito uma cabaça oca.
Mas as palavras de amor são como um favo de mel doce para a alma;
palavras de amor na boca de um homem são como águas profundas, e a
nascente do amor, como um arroio que flui.
Sim, dizia-se nos dias de outrora, amarás teu Pai Celestial com todo
o teu coração, e com toda a tua mente, e com todos os teus atos, e amarás
teus irmãos como a ti mesmo. O Pai Celestial é amor; e aquele que habita
no amor habita no Pai Celestial, e o Pai Celestial nele.
Aquele que não ama é como um pássaro errante banido do ninho;
para ele a relva se acaba e o córrego tem um gosto amargo.
E se um homem diz, ‘Eu amo o Pai Celestial, mas odeio o meu
irmão’, ele é um mentiroso: Pois quem não ama seu irmão, quem tem visto,
como pode amar o Pai Celestial, quem ele não viu?
Por isto conhecemos os Filhos da Luz: Aqueles que caminham com o
Anjo do Amor, pois amam o Pai Celestial, e amam seus irmãos, e guardam
a Lei Sagrada.
O amor é mais forte que as correntezas de águas profundas: O Amor
é mais forte que a morte.”

***

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“A terceira Comunhão é com o Anjo da Sabedoria.
O Anjo da Sabedoria, quem faz o homem livre do medo, tolerante de
coração e tranquilo de consciência: Santa Sabedoria, a Compreensão que se
desdobra, continuamente, como um pergaminho sagrado, e, no entanto, não
vem por meio do aprendizado.
Toda sabedoria provém do Pai Celestial, e com Ele permanece para
sempre.
Quem pode contar a areia do mar, as gotas da chuva, e os dias da
eternidade?
Quem pode descobrir a altura do céu, e a largura da terra?
Quem pode revelar o começo da sabedoria?
A sabedoria foi criada antes de todas as coisas.
O destituído de sabedoria é como aquele que diz à madeira,
‘Acorda’, e diz à pedra muda, ‘Levanta-te e ensina!’
Assim são vazias as suas palavras, e nocivos os seus atos, como a
criança que brande a espada do pai e não conhece seu gume cortante.
Mas a coroa da sabedoria faz paz e perfeita saúde florescerem.
Ambas as quais são as dádivas de Deus.
Ó tu, Ordem Celestial! E tu, Anjo da Sabedoria! Eu adorarei a ti e ao
Pai Celestial, por quem o rio do pensamento dentro de nós corre para o Mar
Sagrado da Eternidade.”

***

“A quarta Comunhão é com o Anjo da Vida Eterna.


O Anjo da Vida Eterna, quem traz a mensagem da eternidade ao
homem.
Pois quem caminha com os anjos aprenderá a voar acima das nuvens,
e seu lar será no Mar Eterno onde está a sagrada Árvore da Vida.
Não espereis a morte revelar o grande mistério; se não conheceis teu
Pai Celestial enquanto vossos pés calcam o solo empoeirado, não haverá
para vós nada além de sombras na vida que há de vir.
Aqui e agora o mistério é revelado.
Aqui e agora se abrem as cortinas.
Não temas, ó homem!
Agarra-te às asas do Anjo da Vida Eterna, e voa pelos caminhos das
estrelas, da lua, do sol, e da Luz sem fim, movendo-se entorno de seu
circuito para sempre, e voa para o Mar Celestial da Vida Eterna.”

64
***

“A quinta Comunhão é com o Anjo do Trabalho.


O Anjo do Trabalho, quem canta no zunido da abelha, que não pára
no fabrico do mel dourado; na flauta do pastor, que não dorme para seu
rebanho não se perder; na canção da donzela quando leva a mão ao fuso.
E se pensais que estas não são tão belas aos olhos do Senhor quanto a
mais sublime das preces ecoada desde as montanhas mais altas, enganais-
vos de fato.
Pois o trabalho honesto de mãos humildes é uma oração diária de
agradecimento, e a música do arado é um cântico alegre para o Senhor.
Quem come o pão da ociosidade morrerá de fome, pois um campo de
pedras só pode dar pedras.
Para ele o dia não tem sentido e a noite é uma jornada amarga de
sonhos maus.
A mente do ocioso está cheia das ervas do descontentamento; mas
aquele que caminha com o Anjo do Trabalho tem dentro de si um campo
sempre fértil, onde trigo, uvas e toda a sorte de perfumadas ervas e flores
crescem em abundância.
Assim como semeardes, assim colhereis.
O homem de Deus que descobriu sua tarefa não pedirá outra
bênção.”

***

“A sexta Comunhão é com o Anjo da Paz.


O Anjo da Paz cujo beijo confere calma, e cujo rosto é como a
superfície de águas tranquilas, em que a lua se reflete.
Invocarei a Paz, cujo hálito é amistoso, cuja mão suaviza a fronte
conturbada.
No reinado da Paz, não há fome nem sede, nem vento frio nem vento
quente, nem velhice nem morte.
Mas, para quem não tem paz em sua alma, não há lugar para
construir dentro de si O Templo Sagrado; pois como pode o carpinteiro
edificar no meio de um furacão?
A semente da violência só pode oferecer uma colheita de desolação,
e do barro seco não cresce coisa viva.
Procurai, portanto, o Anjo da Paz, que é como a estrela matutina no

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meio de uma nuvem, como a lua cheia, como a formosa oliveira da qual
crescem os frutos, e como o sol que brilha sobre o templo do Altíssimo.
A paz habita no coração do silêncio: Serena-te, e reconhece que Eu
sou Deus.”

***

“A sétima Comunhão é com o Pai Celestial.


O Pai Celestial que é, foi e sempre será.
Ó Grande Criador! Criaste os anjos Celestiais, e revelaste as Leis
Celestiais! És meu refúgio e minha fortaleza, Tu és desde a eternidade.
Senhor, tens sido a nossa habitação em todas as gerações.
Antes que as montanhas fossem geradas, ou antes de Tu teres
formado a terra, mesmo da eternidade para a eternidade, Tu és Deus.
Quem fez as águas, e quem faz as plantas?
Quem ao vento uniu as nuvens de tempestade, as ligeiras e até as
mais velozes?
Quem, ó Grande Criador! é a fonte da Vida Eterna dentro de nossas
almas?
Quem fez a Luz e a Escuridão?
Quem fez o sono e o gosto das horas de vigília?
Quem propagou os meio-dias e a meia-noite?
Tu, ó Grande Criador!
Tu fizeste a terra pelo Teu poder, estabeleceste o mundo pela Tua
sabedoria, e estendeste os céus pelo Teu amor.
Revela-me, ó Pai Celestial, a Tua natureza, que é o poder dos Anjos
do Teu Reino Sagrado.
Imortalidade e Ordem Celestial determinaste, ó Criador, e a melhor
de todas as coisas, Tua Lei Sagrada!
Louvarei Tuas obras com cânticos de agradecimento, continuamente,
em todas as gerações do tempo.
Com a vinda do dia, abraço minha Mãe, com a vinda da noite, junto-
me a meu Pai, e com a partida da noite e da manhã eu respirarei Sua Lei, e
eu não interromperei estas Comunhões até o fim dos tempos.”

E sobre o céu e a terra fez-se um grande silêncio, e a paz do Pai


Celestial e da Mãe Terrena brilhou sobre as cabeças de Jesus e da multidão.

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DO LIVRO ESSÊ IO DE JESUS

A Paz Sétupla

E, vendo a multidão, Jesus subiu a uma montanha, e seus discípulos


foram a ele, e todos aqueles que tinham fome de suas palavras. E, vendo-os
reunidos, ele abriu sua boca e ensinou-lhes, dizendo:
“Paz vos trago, meus filhos, a Paz Sétupla da Mãe Terrena e do Pai
Celestial. Paz eu trago para vosso corpo, guiado pelo Anjo do Poder; Paz
eu trago para vosso coração, guiado pelo Anjo do Amor; Paz eu trago para
vossa mente, guiado pelo Anjo da Sabedoria. Através dos Anjos do Poder,
do Amor e da Sabedoria, percorrereis os Sete Caminhos do Jardim Infinito,
e vosso corpo, vosso coração e vossa mente juntar-se-ão em Unicidade no
Vôo Sagrada para o Mar Celestial da Paz.
Sim, em verdade vos digo, os caminhos são sete através do Jardim
Infinito, e cada um deles deve ser percorrido pelo corpo, pelo coração e
pela mente como um só, para não tropeçardes e cairdes no abismo do vazio.
Pois assim como um pássaro não pode voar com uma asa, assim também o
vosso Pássaro da Sabedoria precisa das duas asas do Poder e do Amor para
voar por sobre o abismo até a Sagrada Árvore da Vida.
Pois o corpo sozinho é como uma casa abandonada vista de longe: O
que supúnhamos belo não passa de ruína e desolação quando nos
aproximamos. O corpo sozinho é como uma biga feita de ouro, cujo
construtor a coloca num pedestal, relutante em sujá-la com o uso. Mas
como um ídolo de ouro, é feia e sem graça, pois somente em movimento
revela o seu propósito. Como a escuridão vazia de uma janela quando o
vento lhe apaga a vela, é o corpo só, sem coração e sem mente para enchê-
lo de luz.
E o coração sozinho é como um sol sem terra sobre a qual brilhe,
uma luz no vácuo, uma bola de calor afogada num mar de escuridão. Pois
quando um homem ama, o amor se volta somente para a sua própria
destruição quando não há mãos para estender em boas obras, nem mente
para tecer as chamas do desejo em uma tapeçaria de salmos. Como um
furacão no deserto é o coração só, sem corpo e sem mente que lhe
conduzam cantando por entre ciprestes e pinheiros.
E a mente sozinha é como um manuscrito sagrado desgastado pelos
anos, que precisa ser enterrado. A verdade e a beleza de suas palavras não
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se modificaram, mas os olhos já não podem ler as letras desbotadas, e ele se
despedaça nas mãos. Assim é a mente sem o coração que lhe dê palavras, e
sem o corpo que lhe execute as obras. Pois de que vale a sabedoria sem um
coração para sentir e sem uma língua para dar-lhe voz? Estéril como o
ventre de uma mulher idosa é a mente só, sem coração e sem corpo que a
encham de vida.
Pois eis que em verdade vos digo, o corpo, o coração e a mente são
como a biga, o cavalo e o cocheiro. A biga é o corpo, forjado em força para
fazer a vontade do Pai Celestial e da Mãe Terrena. O coração é o corcel
ardente, glorioso e corajoso, que conduz a biga bravamente, quer a estrada
seja plana, quer pedras e árvores caídas estejam em seu caminho. E o
cocheiro é a mente, segurando as rédeas da sabedoria, vendo de cima o que
há no horizonte distante, traçando o curso de cascos e rodas.
Dai-me ouvidos, ó céus, e eu falarei; e escuta, ó terra, as palavras da
minha boca. Minha doutrina cairá como chuva, minha fala destilará como
orvalho, como a chuva miúda sobre a erva tenra, e como aguaceiros sobre a
relva.
Bem-aventurado é o Filho da Luz que é forte no corpo, pois ele terá
unidade com a terra. Celebrareis um festim diário com todos os presentes
do Anjo da Terra: O trigo e o milho dourados, as uvas púrpuras do outono,
os frutos maduros das árvores, o mel âmbar das abelhas. Buscareis o ar
fresco da floresta e dos campos, e ali, no meio deles, encontrareis o Anjo do
Ar. Tirai os sapatos e a roupa e permiti que o Anjo do Ar envolva todo o
vosso corpo. Então respirareis longa e profundamente, para que o Anjo do
Ar possa ser trazido para dentro de vós. Entrai no rio fresco que flui e
permiti que o Anjo da Água envolva todo o vosso corpo. Lançai-vos
inteiramente em seus braços envolventes, e com a mesma frequência com
que moveis o ar com a vossa respiração, movei com vosso corpo a água
também. Buscareis o Anjo do Sol, e entrareis no abraço que purifica com
chamas sagradas. E todas essas coisas são da Lei Sagrada da Mãe Terrena,
Ela que vos deu à luz. Aquele que encontrou paz com o corpo construiu um
templo santo, no qual pode habitar para sempre o espírito de Deus.
Conhecei esta paz com vossa mente, desejai esta paz com vosso coração,
realizai esta paz com vosso corpo.
Bem-aventurado é o Filho da Luz cuja mente é sábia, pois ele criará
o céu. A mente do sábio é um campo bem arado, que dá abundância e
fartura. Pois, se mostrardes um punhado de sementes a um sábio, ele verá,
com os olhos de sua mente, um trigal dourado. E se mostrardes um

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punhado de sementes a um tolo, ele só verá o que está diante dele, e as
chamará de pedrinhas sem valor. E assim como o campo do sábio dá grãos
em abundância, e o campo do tolo é uma colheita só de pedras, assim é com
os nossos pensamentos. Como o feixe de trigo dourado repousa escondido
na minúscula semente, assim é o reino do céu escondido em nossos
pensamentos. Se eles se encherem com o Poder, o Amor e a Sabedoria dos
Anjos do Pai Celestial, então eles nos conduzirão para o Mar Celestial. Mas
maculados com a corrupção, o ódio e a ignorância, eles acorrentarão nossos
pés a pilares de dor e sofrimento. Ninguém pode servir a dois senhores;
tampouco maus pensamentos podem habitar na mente cheia da Luz da Lei.
Quem encontrou paz com a mente aprendeu a voar além do Reino dos
Anjos. Conhecei esta paz com vossa mente, desejai esta paz com vosso
coração, realizai esta paz com vosso corpo.
Bem-aventurado é o Filho da Luz que é puro de coração, pois ele
verá Deus. Pois como o Pai Celestial vos deu Seu espírito santo, e vossa
Mãe Terrena vos deu Seu corpo santo, assim dareis amor a todos os vossos
irmãos. E vossos verdadeiros irmãos são todos aqueles que fazem a vontade
de vosso Pai Celestial e de vossa Mãe Terrena. Seja o vosso amor como o
sol que brilha sobre todas as criaturas da terra e não favorece uma folha de
relva em detrimento de outra. E este amor fluirá como uma fonte de irmão
para irmão, e à medida que se esgotar será reabastecido. Pois o amor é
eterno. O amor é mais forte que as correntezas de águas profundas. O amor
é mais forte que a morte. E se um homem não tem amor, ele constrói um
muro entre ele e todas as criaturas da terra, e assim viverá na solidão e na
dor. Ou poderá tornar-se como um irado redemoinho que suga para suas
profundezas tudo o que flutua demasiado perto. Pois o coração é um mar de
poderosas ondas, e o amor e a sabedoria precisam moderá-lo, como o sol
quente surge através das nuvens e aquieta o mar agitado. Quem encontrou
paz com seus irmãos entrou no reino do Amor e verá Deus face a face.
Conhecei esta paz com vossa mente, desejai esta paz com vosso coração,
realizai esta paz com vosso corpo.
Bem-aventurado é o Filho da Luz que constrói sobre a terra o Reino
do Céu, pois habitará nos dois mundos. Seguireis a Lei da Irmandade,
segundo a qual ninguém terá riqueza, e ninguém será pobre, e todos
trabalharão juntos no jardim da Irmandade. Todavia, cada um seguirá seu
próprio rumo, e cada um comungará com seu próprio coração. Pois no
Jardim Infinito há muitas e diversas flores: Quem dirá que uma é melhor
porque sua cor é púrpura, ou que uma é favorecida porque seu talo é longo

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e fino? Embora os irmãos sejam de aparências diferentes, todos labutam na
vinha da Mãe Terrena, e todos erguem juntos suas vozes em louvor ao Pai
Celestial. E juntos partem o pão sagrado, e em silêncio compartilham a
sagrada refeição de ação de graças. Não haverá paz entre os povos até
existir um jardim da irmandade sobre a terra. Pois como poderá haver paz
quando cada homem busca o seu próprio ganho e vende sua alma à
escravidão? Vós, Filhos da Luz, juntai-vos aos vossos irmãos e então saí
para ensinar os caminhos da Lei àqueles que quiserem ouvir. Quem
encontrou paz com a irmandade do homem fez-se colaborador de Deus.
Conhecei esta paz com vossa mente, desejai esta paz com vosso coração,
realizai esta paz com vosso corpo.
Bem-aventurado é o Filho da Luz que estuda o Livro da Lei, pois ele
será como uma vela na escuridão da noite, e uma ilha de verdade num mar
de falsidade. Pois sabei que a palavra escrita que vem de Deus é um reflexo
do Mar Celestial, como as estrelas brilhantes refletem a face do céu. Como
as palavras dos Anciões são gravadas com a mão de Deus nos Manuscritos
Sagrados, assim é a Lei gravada nos corações dos fiéis que os estudam.
Pois se dizia em tempos antigos que no princípio havia gigantes na terra, e
homens poderosos de tempos antigos, Homens de renome. E os Filhos da
Luz guardarão e preservarão sua palavra escrita, para não voltarmos a ser
como animais, e conhecermos o Reino dos Anjos. Sabei também que só
através da palavra escrita encontrareis a Lei que não foi escrita, como a
fonte que mana do solo tem uma nascente escondida nas profundezas
secretas da terra. A Lei escrita é o instrumento pelo qual a Lei não escrita é
compreendida, como o galho mudo da árvore se converte em uma flauta
cantante nas mãos do pastor. Muitos são os que se agradariam em ficar no
tranquilo vale da ignorância, onde brincam as crianças e as borboletas
dançam ao sol em sua curta hora de vida. Mas ninguém pode permanecer
ali por muito tempo, e à frente se erguem as sombrias montanhas do saber.
Muitos são os que temem cruzá-las, e muitos são os que caíram contundidos
e ensanguentados de suas encostas íngremes e escarpadas. Mas a fé é a guia
sobre o abismo escancarado, e a perseverança é o apoio para os pés nas
rochas pontiagudas. Além dos picos gelados de luta existem a paz e a
beleza do Jardim Infinito do Conhecimento, onde o sentido da Lei é dado a
conhecer aos Filhos da Luz. Aqui no centro da sua floresta está a Árvore da
Vida, Mistério dos mistérios. Quem encontrou a paz com os ensinamentos
dos Anciões, através da luz da mente, através da luz da natureza, e através
do estudo da Palavra Sagrada, adentrou no anuviado Salão dos Anciões,

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onde habita a Sagrada Irmandade, da qual homem algum pode falar.
Conhecei esta paz com vossa mente, desejai esta paz com vosso coração,
realizai esta paz com vosso corpo.
Bem-aventurado é o Filho da Luz que conhece sua Mãe Terrena, pois
Ela é a doadora de vida. Conhecei que vossa Mãe está em vós, e que vós
estais n’Ela. Ela vos deu à luz e Ela vos deu vida. Foi Ela quem vos deu
vosso corpo, e a Ela, um dia, o devolvereis. Sabei que o sangue que circula
em vós nasceu do sangue da Mãe Terrena. O sangue d’Ela cai das nuvens,
salta do ventre da terra, murmura nos riachos das montanhas, corre amplo
nos rios das planícies, dorme nos lagos, range fortemente nos mares
tempestuosos. Sabei que o ar que respirais nasceu da respiração de vossa
Mãe Terrena. O hálito d’Ela é límpido nas alturas dos céus, sussurra no
topo das montanhas, murmura nas folhas da floresta, ondula sobre os
trigais, cochila nos vales profundos, incandesce no deserto. Sabei que a
dureza dos vossos ossos nasceu dos ossos de vossa Mãe Terrena, das
rochas e das pedras. Sabei que a delicadeza da vossa carne nasceu da carne
de vossa Mãe Terrena, cuja carne se torna amarela e vermelha nos frutos
das árvores. A luz dos vossos olhos, a audição dos vossos ouvidos
nasceram das cores e dos sons de vossa Mãe Terrena, que vos envolvem
como as ondas do mar envolvem um peixe, como o ar agitado envolve um
pássaro. Em verdade vos digo, o homem é o Filho da Mãe Terrena, e d’Ela
o Filho do Homem recebeu todo o seu corpo, assim como o corpo de um
bebê recém-nascido nasceu do ventre de sua mãe. Em verdade voz digo,
vós sois um com a Mãe Terrena; Ela está em vós, e vós estais n’Ela. D’Ela
nascestes, n’Ela viveis, e a Ela regressareis novamente. Mantende,
portanto, as Suas leis, pois ninguém pode viver muito tempo, nem ser feliz,
a não ser que honre sua Mãe Terrena e mantenha Suas leis. Pois vossa
respiração é a Sua respiração, vosso sangue, Seu sangue, vossos ossos,
Seus ossos, vossa carne, Sua carne, vossas entranhas, Suas entranhas,
vossos olhos e vossos ouvidos, Seus olhos e Seus ouvidos. Quem encontrou
a paz com sua Mãe Terrena jamais conhecerá a morte. Conhecei esta paz
com vossa mente, desejai esta paz com vosso coração, realizai esta paz com
vosso corpo.
Bem-aventurado é o Filho da Luz que procura seu Pai Celestial, pois
ele terá a vida eterna. Aquele que habita no lugar secreto do Altíssimo
habitará sob a sombra do Todo-Poderoso. Pois Ele vos confiará aos Seus
Anjos, para que vos guardem em todos os vossos caminhos. Sabei que o
Senhor tem sido o nosso domicílio em todas as gerações. Antes que as

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montanhas fossem geradas, ou que Ele tivesse formado a terra e o mundo,
mesmo da eternidade para a eternidade, já havia amor entre o Pai Celestial
e Seus filhos. E como se poderá romper esse amor? Desde o começo até o
final dos tempos a chama sagrada do amor circunda as cabeças do Pai
Celestial e dos Filhos da Luz: Como, então, se poderá extinguir esse amor?
Pois ele não arde feito vela, nem feito incêndio que devasta a floresta. Eis
que ele queima com a chama da Luz Eterna, e essa chama não se consome.
Vós que amais vosso Pai Celestial, fazei, pois, o que Ele vos ordena:
Caminhai com os Seus Santos Anjos, e encontrai vossa paz com a Sua Lei
Sagrada. Pois Sua Lei é toda a Lei: Sim, é a Lei das leis. Por meio da Sua
Lei, Ele fez a terra e os céus serem um; as montanhas e o mar são os Seus
escabelos. Com Suas mãos Ele nos fez e nos modelou, e nos deu
entendimento para aprender Sua Lei. Ele cobre-se de Luz como de um
vestuário: Estende os céus que nem uma cortina. Faz das nuvens a Sua
carruagem; caminha sobre as asas do vento. Envia as fontes para os vales, e
o Seu hálito está nas árvores frondosas. Em Sua mão estão os lugares
profundos da terra: A força das colinas também é Sua. O mar é Seu, e Suas
mãos formaram a terra seca. Todos os céus proclamam a Glória de Deus, e
o firmamento mostra a Sua Lei. E para Seus filhos Ele legou o Seu Reino,
àqueles que caminham com os Seus Anjos, e encontram a Sua paz com a
Sua Lei Sagrada. Quereis saber mais, meus filhos? Como podemos dizer
com nossos lábios o que não pode ser dito? É como a romã comida por um
mudo: Como poderá ele exaltar-lhe o sabor? Se dissermos que o Pai
Celestial habita em nós, os céus se envergonharão; se dissermos que Ele
vive sem nós, será uma falsidade. Os olhos que esquadrinham o horizonte
remoto e os olhos que vêem o coração dos homens Ele os faz como um
olho só. Ele não é manifesto, não está escondido. Não é revelado e
tampouco é irrevelado. Meus filhos, não há palavras para dizer o que Ele é!
Sabemos apenas isto: Somos os Seus filhos, e Ele é o nosso Pai. Ele é o
nosso Deus, e nós somos os filhos do Seu pascigo, e os carneiros de Sua
mão. O que encontrou a paz com o seu Pai Celestial penetrou no Santuário
da Lei Sagrada, e fez uma aliança com Deus que durará para sempre.
Conhecei esta paz com vossa mente, desejai esta paz com vosso coração,
realizai esta paz com vosso corpo.
Embora o céu e a terra possam passar, nem uma letra da Lei Sagrada
mudará ou passará. Pois no começo era a Lei, e a Lei estava com Deus, e a
Lei era Deus. Que a Paz Sétupla do Pai Celestial esteja sempre convosco.”

72
FRAGME TOS IDÊ TICOS AOS DOS MA USCRITOS DO
MAR MORTO
E Enoque caminhou com Deus;
e ele não estava;
pois Deus o levou.
Gênese Essênio 5:24

A Lei foi plantada no jardim da Irmandade para alumiar o coração do


homem e tornar retos diante dele todos os caminhos da verdadeira virtude,
um espírito humilde, um temperamento sereno, uma natureza livremente
compassiva, bondade, compreensão e introvisão eternas, e uma sabedoria
poderosa que acredita em todas as obras de Deus, uma confiança segura em
Suas muitas bênçãos e um espírito de conhecimento de todas as coisas da
Grande Ordem, sentimentos leais para com todos os filhos da verdade,
pureza radiante que detesta o que é impuro, discrição relativa a todas as
coisas ocultas da verdade e aos segredos do conhecimento interior.
Do Manual de Disciplina
dos Manuscritos do Mar Morto

Tu me fizeste conhecer todas as coisas profundas, misteriosas. Todas


as coisas existem através de Ti e não há ninguém além de Ti. Com a Tua
Lei dirigiste o meu coração para que eu dê meus passos à frente sobre
estradas retas e me encaminhe para onde está a Tua presença.
Do Livro de Hinos VII
dos Manuscritos do Mar Morto

A Lei foi instituída para premiar os filhos da luz com a cura e a paz
abundante, com vida longa, com semente frutuosa de bênçãos duradouras,
com eterna alegria na imortalidade da Luz eterna.
Do Manual de Disciplina
dos Manuscritos do Mar Morto

Eu Te agradeço, Pai Celestial, porque Tu me puseste na cabeceira de


correntezas que fluem, na fonte viva de uma terra de seca, regando um
73
jardim eterno de maravilhas, a Árvore da Vida, mistério dos mistérios, deita
galhos perenes para o plantio eterno que fincam raízes na corrente da vida
de eterno manancial. E Tu, Pai Celestial, protege-lhes os frutos com os anjos
do dia e da noite e com as chamas da Luz eterna que arde de todas as
maneiras.
Dos Salmos de Ação de Graças
dos Manuscritos do Mar Morto

Eu Te sou grato, Pai Celestial, porque Tu me elevaste a uma altura


eterna e eu caminho nos milagres da planície. Tu me deste orientação para eu
alcançar Tua eterna companhia desde as profundezas da terra. Purificaste-me
o corpo para juntar-me ao exército dos anjos da terra e para meu espírito atingir
a congregação dos anjos celestiais. Deste eternidade ao homem para que louve,
na alvorada e no crepúsculo, Tuas obras e Teus prodígios em cântico jubiloso.
Dos Salmos de Ação de Graças
dos Manuscritos do Mar Morto

Louvarei Tuas obras com cânticos de Ação de Graças continuamente,


era após era, nos circuitos do dia, e em sua ordem fixa; com a vinda da luz
da sua fonte na virada da noite e na partida da luz, na partida da treva e na
vinda do dia, continuamente, em todas as gerações do tempo.
Dos Salmos de Ação de Graças
dos Manuscritos do Mar Morto

Que Ele te abençoe com todo o bem, que Ele te preserve de todo o
mal e te ilumine o coração com o entendimento da vida e te favoreça com a
sabedoria eterna. E derrame sobre ti Suas bênçãos Sétuplas da Paz eterna.
Do Manual de Disciplina
dos Manuscritos do Mar Morto

Com a vinda do dia abraço minha Mãe, com a vinda da noite junto-
me a meu Pai, e com a partida da noite e da manhã respirar-lhes-ei a Lei, e
não suspenderei essas Comunhões até o final dos tempos.
Do Manual de Disciplina

74
dos Manuscritos do Mar Morto
Ele mostrou ao homem dois espíritos com os quais poderia caminhar.
São os espíritos da verdade e da falsidade; a verdade nascida da fonte da
Luz, a falsidade nascida do poço da escuridão. O domínio de todos os
filhos da verdade está nas mãos dos Anjos da Luz para que eles trilhem as
sendas da Luz. Os espíritos da verdade e da falsidade se digladiam dentro
do coração do homem, procedendo com sabedoria e com loucura. E assim
como o homem herda a verdade, assim evitará a escuridão. Bênçãos a todos
os que partilham sua sorte com a Lei, e percorrem realmente todos os seus
caminhos. Que a Lei os abençoe com todo o bem e os preserve de todo o
mal e lhes ilumine o coração com a introvisão das coisas da vida e os
agracie com o conhecimento das coisas eternas.
Do Manual de Disciplina
dos Manuscritos do Mar Morto

Atingi a visão interior e, através do Teu espírito em mim, ouvi o Teu


segredo maravilhoso. Através da Tua introvisão mística, fizeste uma fonte
de conhecimento brotar dentro de mim, uma fonte de poder, que jorra águas
vivas, uma torrente de amor e sabedoria que tudo abarca como o esplendor
da Luz.
Dos Livro de Hinos
dos Manuscritos do Mar Morto

75
76
DO LIVRO ESSÊ IO DO MESTRE DE VIRTUDE

E o Mestre encaminhou-se para as margens de um curso d’água,


onde se haviam reunido os que tinham fome de suas palavras. E ele os
abençoou e perguntou-lhes por que estavam perturbados. E um deles falou:
“Mestre, quais são as coisas que devemos considerar de grande valor, e
quais as que devemos desprezar?”
E o Mestre respondeu, dizendo: “Todos os males de que o homem
padece são causados por coisas que estão fora de nós; pois o que está
dentro de nós nunca poderá fazer-nos sofrer. Uma criança morre, perde-se
uma fortuna, a casa e os campos se queimam, e todos os homens, sentindo-
se desamparados, põem-se a bradar: ‘Que farei agora? Que é que vai
acontecer-me agora? Que mais pode suceder-me?’ E estas são as palavras
dos que se afligem e regozijam com os acontecimentos que lhes sobrevêm,
acontecimentos que não são provocados por eles. Mas se nós pranteamos
pelo que não está em nosso poder, somos iguais à criancinha que chora
quando o sol se ausenta do céu. Dizia-se antigamente: nada cobiçarás que
pertença ao teu próximo. E agora vos digo: não desejarás coisa alguma que
não esteja em teu poder, pois somente o que está dentro de ti te pertence; e
o que está fora de ti pertence a outrem. Nisto reside a felicidade: saber o
que é teu e o que não é teu. Se quiseres ter a vida eterna, agarra com força a
eternidade dentro de ti e não procures alcançar as sombras do mundo dos
homens, que encerram as sementes da morte.”
“Tudo o que acontece fora de ti não está fora do teu poder? Está. E o
teu conhecimento do bem e do mal não está dentro de ti? Está. Não está,
pois, em teu poder tratar todas as ocorrências à luz da sabedoria e do amor,
em vez de tratá-las à luz da tristeza e do desespero? Está. Pode algum
homem impelir-te de proceder assim? Nenhum. Portanto, não gritarás: ‘Que
hei de fazer? Que é que vai acontecer-me agora? Isso vai acontecer?’ Pois o
que quer que possa sobrevir, tu julgarás à luz da sabedoria e do amor, e
verás todas as coisas com os olhos dos anjos.”
“Pois avaliar a tua felicidade segundo o que possa acontecer-te é
viver como escravo. E viver de acordo com os anjos que falam dentro de ti
é ser livre. Viverás em liberdade como verdadeiro filho de Deus, e só
inclinarás a cabeça diante dos mandamentos da Lei Sagrada. Dessa maneira
viverás, para que, quando o anjo da morte vier buscar-te, possas estender as
mãos a Deus e dizer: ‘Não descurei das Comunhões que recebi de Ti por
77
conhecer a Tua Lei e por trilhar os caminhos dos anjos; não Te desonrei
pelos meus atos: vê como tenho usado o olho que enxerga por dentro; acaso
Te censurei algum dia? Gritei contra o que me aconteceu, ou desejei que as
coisas fossem diferentes? Desejei transgredir a Tua Lei? Tu me deste a
vida, e eu Te agradeço o que me deste: enquanto usei as coisas Tuas, estive
contente: leva-as de volta e coloca-as onde Te aprouver, pois Tuas são
todas as coisas, até a eternidade’.”
“Sabe que homem nenhum pode servir a dois amos. Não podes
desejar possuir as riquezas do mundo e ter também o Reino do Céu. Não
podes desejar possuir terras e poder sobre os homens e ter também o Reino
do Céu. Riquezas, terras e poder são coisas que não pertencem a nenhum
homem, pois são do mundo. Mas o Reino do Céu é teu para sempre, pois
está dentro de ti. E se desejares e buscares o que não te pertence, perderás,
por certo, o que é teu. Sabe, pois em verdade te digo, que nada é dado nem
obtido a troco de nada. Pois cada coisa no mundo dos homens e dos anjos
tem o seu preço. Quem quiser acumular riqueza e grandes cabedais terá de
correr para cá e para lá, beijar as mãos dos que não admira, desgastar-se
fatigosamente às portas de outros homens, dizer e fazer muitas coisas
falsas, dar presentes de ouro, prata e óleos perfumados; tudo isso e mais
ainda precisa fazer o homem para juntar riqueza e boas graças. E quando o
tiveres conseguido, que terás em mãos? Essa riqueza e esse poder te
assegurarão a libertação do medo, a mente em paz, um dia passado na
companhia dos anjos da Mãe Terrena, uma noite passada em comunhão
com os anjos do Pai Celestial? Esperas obter de graça coisas tão grandes?
Quando tem dois amos, o homem ou odiará um e amará o outro; ou se
agarrará a um e desprezará o outro. Não podes servir a Deus e também
servir ao mundo. Pode ser que o teu poço seque, que o óleo precioso se
derrame, que tua casa se queime, que tuas safras murchem: mas tu tratarás
o que te acontece com sabedoria e amor. As chuvas voltarão a encher o
poço, as casas podem ser reconstruídas, novas sementes podem ser
semeadas: todas essas coisas poderão desaparecer, e voltar, e tornar a
desaparecer. Mas o Reino do Céu é eterno e não desaparecerá. Por
conseguinte, não troques o eterno pelo que morre em uma hora.”

***

“Quando os homens te perguntarem a que país pertences, não digas


que és deste ou daquele país, eis que, na verdade, foi apenas o pobre corpo

78
que nasceu num cantinho qualquer desta terra. Mas tu, ó Filho da Luz,
pertences à Irmandade que abrange todos os céus e além deles, e do teu Pai
Celestial provieram as sementes não só do teu pai e do teu avô, mas
também de todos os seres gerados na terra. Na verdade, és filho de Deus, e
todos os homens são teus irmãos: e, porventura, teres a Deus por criador,
pai e guardião não te liberta de todas as tristezas e de todos os medos?”
“Por consequência te digo, não penses em ajuntar bens e
propriedades mundanas, ouro e prata, que só trazem corrupção e morte.
Pois quanto maior for a tua reserva de riquezas, tanto mais grossas serão as
paredes do teu túmulo. Escancara as janelas da alma e respira o ar fresco do
homem livre! Por que te preocupas com o que vais vestir? Pensa nos lírios
do campo e em como crescem: eles não trabalham, nem fiam; e, no entanto
te digo, nem Salomão em sua glória se vestia como um deles. Por que
pensas no que vais comer? Pensa nos presentes de tua Mãe Terrena: os
frutos maduros de Suas árvores e o grão dourado do Seu solo. Por que
pensas em casas e terras? Um homem não pode vender-te o que não possui,
e não pode possuir o que já pertence a todos. Esta terra vasta é tua e todos
os homens são teus irmãos. Os anjos da Mãe Terrena caminham contigo
durante o dia, e os anjos do Pai Celestial te guiam durante a noite, e dentro
de ti está a Lei Sagrada. Não fica bem ao filho de um rei cobiçar uma
quinquilharia na sarjeta. Toma o teu lugar, portanto, à mesa da
comemoração e administra a tua herança com honra. Pois em Deus
vivemos e nos movemos e temos o nosso ser. Em verdade, somos seus
filhos, e ele é nosso Pai.”

***

“Só é livre quem vive como deseja viver; quem não é estorvado em
seus atos e cujos desejos atingem seus propósitos. Quem não é reprimido é
livre; porém, quem pode ser reprimido ou estorvado é, sem dúvida, escravo.
Mas quem não é escravo? Somente o que nada deseja que pertença a
outrem. E quais são as coisas que te pertencem? Meus filhos, somente o
reino de Deus, que está dentro de vós, onde habita a Lei do vosso Pai
Celestial, vos pertence. O reino do céu é como um mercador, que procura
pérolas vistosas, o qual, ao dar com uma pérola de grande preço, saiu,
vendeu tudo o que tinha e comprou-a. E se essa pedra preciosa for vossa
para todo o sempre, por que haveis de barganhá-la por calhaus e pedras?

79
Sabei que vossa casa, vossa terra, vossos filhos e filhas, todas as alegrias da
fortuna e todas as tristezas da tribulação, sim, até a opinião que os outros
fazem de vós, nada disso vos pertence. E se cobiçardes essas coisas, e vos
agarrardes a elas, e vos afligirdes e exultardes por causa delas, na verdade
sereis escravos e na escravidão permanecereis.”
“Meus filhos, não deixeis que as coisas que não são vossas vos
penetrem. Não deixeis que o mundo cresça em vós, como a trepadeira
rastejante cresce depressa no carvalho, para não sofrerdes dor quando ela
vos for arrancada. Despidos saístes do ventre de vossa mãe e despidos para
lá voltareis. O mundo dá e o mundo tira. Mas nenhum poder no céu nem na
terra pode tirar de vós a Lei Sagrada, que reside em vós. Podeis ver vossos
pais mortos e podeis ser banidos do vosso país. Ireis, então, de coração
alegre, viver em outro, e olhareis com piedade para o matador de vossos
pais, sabedores de que, por esse ato, ele matou-se a si mesmo. Pois
conheceis vossos verdadeiros pais e viveis seguros em vosso verdadeiro
país. Vossos pais verdadeiros são o vosso Pai Celestial e a vossa Mãe
Terrena, e o vosso verdadeiro país é o Reino do Céu. A morte nunca poderá
separar-vos de vossos verdadeiros pais e do vosso verdadeiro país não
existe exílio. E, dentro de vós, uma rocha que resiste a todas as tormentas, a
Lei Sagrada, é o vosso baluarte e salvação”.

80
FRAGME TOS DO EVA GELHO ESSÊ IO DE JOÃO

No princípio era a Lei, e a Lei estava com Deus, e a Lei era Deus. A
mesma estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele;
e sem Ele nada foi feito do que se fez. N’Ele estava a vida; e a vida era a
luz dos homens. E a luz brilhou na escuridão, e a escuridão não a conteve.
De um lugar remoto no deserto vieram os Irmãos para dar
testemunho da Luz, a fim de que todos os homens, através deles,
caminhassem na luz da Lei Sagrada. Pois a verdadeira luz ilumina todo
homem que vem ao mundo, mas o mundo não a conhece. Como muitos,
porém, recebem a Lei, a eles é dado o poder de se tornarem Filhos de Deus
e entrarem no Mar Eterno, onde se ergue a Árvore da Vida.
E Jesus ensinou-os, dizendo: “Em verdade, em verdade vos digo: a
não ser que nasça de novo, o homem não poderá ver o Reino do Céu.”
E um homem perguntou: “Como há de um homem nascer se já está
velho? Pode ele entrar, pela segunda vez, no ventre de sua mãe, e nascer?”
E Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo, se um
homem não nascer da Mãe Terrena e do Pai Celestial, e não caminhar com
os anjos do Dia e da Noite, não entrará no Reino Eterno. O que nasce da
carne é carne; e o que nasce do Espírito é espírito. E a carne do teu corpo
nasceu da Mãe Terrena, e o espírito dentro de ti nasceu do Pai Celestial. O
vento sopra onde bem entende, e tu lhe ouves o som, mas não podes dizer
de onde vem. O mesmo sucede com a Lei Sagrada. Todos os homens a
ouvem, mas não a conhecem, pois desde o seu primeiro sopro ela está com
eles. Quem, porém, nasceu de novo do Pai Celestial e da Mãe Terrena
ouvirá com novos ouvidos, e verá com olhos novos, e a chama da Lei
Sagrada será acesa dentro dele.”
E um homem perguntou: “Como pode ser isso?”
Jesus respondeu e disse-lhe: “Em verdade, em verdade vos digo:
falamos o que sabemos e testificamos o que vimos; e não recebeis o nosso
testemunho. Pois o homem nasceu para caminhar com os anjos, mas, em
vez disso, procura jóias no lodo. A ele legou o Pai Celestial sua herança,
para que construísse o Reino do Céu na terra, mas o homem voltou as
costas para seu Pai e adora o mundo e seus ídolos. E esta é a condenação: a
luz veio ao mundo e os homens preferiram a escuridão, porque suas obras
eram más. Pois todo aquele que pratica o mal odeia a luz e tampouco vem
para a luz. Somos todos Filhos de Deus e Deus em nós é glorificado. E a
81
luz que brilha em torno de Deus e de Seus filhos é a Luz da Lei Sagrada. E
quem odeia a luz, nega seu Pai e sua Mãe, dos quais nasceu.”
E um homem perguntou: “Mestre, como podemos conhecer a luz?”
E Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, eu vos dou um novo
mandamento: amai-vos uns aos outros, como eles vos amam a vós, que
trabalhais juntos no Jardim da Irmandade. Por isso todos os homens saberão
que vós também sois irmãos, como todos nós somos Filhos de Deus.”
E um homem disse: “Só falas em irmandade e, no entanto, nem todos
podemos pertencer à irmandade. Todavia, gostaríamos de adorar a luz e
evitar a escuridão, pois ninguém entre nós deseja o mal.”
E Jesus respondeu: “Não se perturbe o vosso coração: acreditai em
Deus. Sabei que na casa de nosso Pai há muitas mansões, e a nossa
irmandade é apenas um vidro escuro que reflete a Irmandade Celeste, à
qual pertencem todas as criaturas do céu e da terra. A irmandade é a vinha,
e nosso Pai Celestial é o lavrador. Ele arranca de nós todo galho que não dá
fruto; e limpa todos os galhos que dão frutos, a fim de que produzam mais
frutos ainda. Permanecei em nós, e nós em vós. Como o galho não dá fruto
por si só, a não ser que permaneça na vinha, tampouco o daremos nós, a
não ser que permaneçamos na Lei Sagrada, que é uma rocha sobre a qual se
assenta a nossa irmandade.”
“Quem permanece na Lei produz muitos frutos: pois sem a Lei não
podeis fazer nada. Se um homem não permanecer na Lei, será arrancado
como um galho e secará; e os homens os juntarão e lançarão ao fogo e eles
se queimarão.”
“E assim como os irmãos permanecem no amor uns dos outros e o
Anjo do Amor lhes ensina, assim pedimos que vós ameis uns aos outros.
Nenhum amor tem o homem maior do que este, qual seja, ensinar a Lei
Sagrada uns aos outros, e amarem-se uns aos outros como a si mesmos. O
Pai Celestial está em nós, e nós estamos n’Ele, e estendemos as mãos com
amor e pedimos que vos identifiqueis conosco. A glória que ele nos deu nós
vos daremos: para que sejais um, como nós somos um. Pois vosso Pai
Celestial vos amou antes mesmo da fundação do mundo.”
E dessa maneira ensinaram os Irmãos a Lei Sagrada aos que
quiseram ouvi-la, e diz-se que fizeram coisas maravilhosas e curaram os
enfermos e os aflitos com diversas ervas e com os usos prodigiosos do sol e
da água. E também muitas outras coisas fizeram eles, as quais, se as
tivessem escrito uma por uma, nem mesmo o mundo conteria os livros que
seriam escritos. Amém.

82
FRAGME TOS DO LIVRO ESSÊ IO DO APOCALIPSE

Eis que o Anjo do Ar o trará, e todos os olhos o verão, e a


irmandade, toda a grande irmandade da terra, erguerá sua voz uníssona e
cantará, por causa dele. Assim seja. Amém.
Eu sou Alfa e Ômega, princípio e fim; que é, que foi e que será.
E a voz falou, e eu voltei-me para ver a voz que falava comigo. E,
tendo-me voltado, vi sete velas de ouro; e no meio da sua luz fulgurante vi
alguém parecido com o Filho do Homem, vestido de branco, branco como a
neve. E sua voz enchia o ar como o som da água aos borbotões e em suas
mãos havia sete estrelas, cheias da luz flamejante dos céus, de onde
procediam. E quando ele falou, de seu rosto jorrava luz, fulgurante e
dourada qual um milhar de sóis.
E ele disse: “Não temas: Eu sou o primeiro e o último; Eu sou o
princípio e o fim. Escreve as coisas que viste, e as coisas que são, e as que
serão doravante; o mistério das sete estrelas que me enchem as mãos, e as
sete velas de ouro, que fulguram com luz eterna. As sete estrelas são os
anjos do Pai Celestial, e as sete velas são os anjos da Mãe Terrena. E o
espírito do homem é a chama que flui entre a luz da estrela e a vela
cintilante: Uma ponte de santa luz entre o céu e a terra”. Essas coisas disse
ele que trazia sete estrelas nas mãos, que caminhava no meio das chamas
das sete velas de ouro. Quem tiver ouvidos ouça o que diz o Espírito: “Para
o triunfador darei de comer da Árvore da Vida, que se ergue no meio do
resplandecente Paraíso de Deus.” E então olhei e eis que uma porta se abriu
no céu: E uma voz que soava de todos os lados, como se fosse uma
trombeta, falou-me: “Sobe até aqui, que te mostrarei as coisas que terão de
ser daqui por diante.”
E imediatamente me vi lá, em espírito, no limiar da porta aberta. E
entrei pela porta aberta num mar de luz resplandecente. E no meio do oceano
de resplendor ofuscante havia um trono; e no trono sentava-se alguém de
rosto escondido. Um arco-íris envolvia o trono, semelhante a uma esmeralda.
Em volta do trono havia treze assentos: e nos assentos avistei treze anciões
abancados, envoltos num trajo branco; e seus rostos estavam ocultos por
nuvens turbilhonantes de luz. E sete lâmpadas de fogo ardiam defronte do
trono, o fogo da Mãe Terrena. E sete estrelas do céu brilhavam diante do
trono, o fogo do Pai Celestial. E à frente do trono havia um mar de vidro feito
cristal: E, refletidos nele, todas as montanhas, vales e oceanos da terra, e
83
todas as criaturas que neles habitam. E os treze anciões se inclinavam diante
do esplendor de quem se sentava no trono, com o rosto escondido. E rios de
luz jorravam de suas mãos, de uma para a outra, e eles clamavam: “Santo,
santo, santo, Senhor Deus Onipotente, que era, é e será. És digno, Ó Senhor,
de receber glória, honra e poder: pois criaste todas as coisas.”
E vi, então, na mão direita de quem se sentava no trono, e cujo rosto
estava escondido, um livro escrito dentro e atrás, selado com sete selos. E
vi um anjo que proclamava em altas vozes: “Quem é digno de abrir o livro;
e soltar-lhe os selos?”
E nenhum ser no céu, na terra, nem mesmo debaixo da terra, foi
capaz de abrir o livro, nem de olhar para ele. E eu chorei, porque o livro
não podia ser aberto, nem fui capaz de ler o que nele estava escrito. E um
dos anciões me disse: “Não chores. Estende a mão e pega o livro, sim, o
mesmo livro dos sete selos, e abre-o. Pois ele foi escrito para ti, que és, ao
mesmo tempo, o mais baixo dos baixos, e o mais alto dos altos.”
Estendi a mão e toquei o livro. E eis que a capa se levantou, e minhas
mãos tocaram as páginas de ouro, e eu contemplei o mistério dos sete selos.
E vi e ouvi a voz de muitos anjos à volta do trono, e o número deles
era dez mil vezes dez mil, e milhares de milhares, que diziam a brados:
“Toda glória, sabedoria, força e poder para todo o sempre a ele que revelará
o Mistério dos Mistérios.” E vi as nuvens turbilhonantes de luz dourada
esticando-se qual ponte ígnea entre minhas mãos, e as mãos dos treze
anciões, e os pés do que estava sentado no trono, cuja face se escondia.
Abri o primeiro selo. E vi e contemplei o Anjo do Ar. Por entre os
lábios fluía-lhe o sopro da vida, e ele se ajoelhou sobre a terra e deu ao
homem os ventos da Sabedoria. E o homem aspirou-os. E, quando expirou,
o céu escureceu, o ar perfumado se tornou viciado e fétido, nuvens de
fumaça má pairaram baixas sobre toda a terra. E eu desviei o rosto,
envergonhado.
Abri o segundo selo. E vi e contemplei o Anjo da Água. Por entre os
lábios fluía-lhe a água da vida, e ele se ajoelhou sobre a terra e deu ao
homem um oceano de Amor. E o homem entrou nas águas claras e
brilhantes. E, quando tocou a água, as correntes claras escureceram, as
águas cristalinas engrossaram, cheias de limo, os peixes passaram a ofegar
na escuridão lodosa, e todas as criaturas morreram de sede. E eu desviei o
rosto, envergonhado.
Abri o terceiro selo. E vi e contemplei o Anjo do Sol. Por entre os
lábios fluía-lhe a luz da vida, e ele se ajoelhou sobre a terra e deu ao

84
homem os fogos do Poder. E a força do sol penetrou o coração do homem,
que tomou o poder e fez com ele um sol falso, e eis que ele espalhou os
fogos da destruição, queimando florestas, devastando vales verdejantes,
deixando apenas ossos calcinados de seus irmãos. E eu desviei o rosto,
envergonhado.
Abri o quarto selo. E vi e contemplei o Anjo da Alegria. Por entre os
lábios fluía-lhe a música da vida e ele se ajoelhou sobre a terra e deu ao
homem o cântico da Paz. E paz e alegria, como música, fluíam através da
alma do homem. Mas ele ouviu apenas a áspera discordância da tristeza e
do descontentamento, e ele ergueu a espada e cortou as mãos dos
pacificadores, e voltou a erguê-la mais uma vez e cortou a cabeça dos
cantores. E eu desviei o rosto, envergonhado.
Abri o quinto selo. E vi e contemplei o Anjo da Vida. Por entre seus
lábios fluía a santa aliança entre Deus e o Homem, e ele se ajoelhou sobre a
terra e deu ao homem o dom da Criação. E o homem criou uma foice de
ferro em forma de serpente, e a safra que colheu foram a fome e a morte. E
eu desviei o rosto, envergonhado.
Abri o sexto selo. E vi e contemplei o Anjo da Terra. Por entre os
lábios fluía-lhe o rio da Vida Eterna, e ele se ajoelhou sobre a terra e deu ao
homem o segredo da Eternidade, e ordenou-lhe que abrisse os olhos e
observasse a misteriosa Árvore da Vida que se ergue no Mar Infinito. Mas
o homem ergueu a mão e lançou fora os próprios olhos, e disse que não
havia eternidade. E eu desviei o rosto, envergonhado.
Abri o sétimo selo. E vi e contemplei o Anjo da Mãe Terrena. E ele
trouxe consigo uma mensagem de Luz ardente do trono do Pai Celestial. E
a mensagem era só para os ouvidos do homem que caminha entre a terra e o
céu. E aos ouvidos do homem sussurrou-se a mensagem, e ele não a ouviu.
Mas não desviei o rosto, envergonhado. Eis que estendi a mão para as asas
do anjo e dirigi minha voz para o céu, dizendo: “Dizei-me a mensagem.
Pois me agradaria comer do fruto da Árvore da Vida que cresce no Mar da
Eternidade.”
E o anjo olhou para mim com grande tristeza, e houve silêncio no
céu. Então ouvi uma voz, que era como a voz que soava qual trombeta e
dizia: “Ó Homem, houvesses tu olhado para o mal que fizeste quando
desviaste o rosto do trono de Deus, quando não fizeste uso dos dons dos
sete anjos da Mãe Terrena e dos sete anjos do Pai Celestial?”. E uma dor
terrível me dominou ao sentir dentro de mim as almas de todos os que se
haviam cegado, de modo que só viam os próprios desejos da carne. E vi

85
sete anjos postados diante de Deus; e a eles foram dadas sete trombetas. E
veio outro anjo e quedou-se no altar, trazendo um turíbulo de ouro; e foi-
lhe dado muito incenso, para que ele o oferecesse com as preces de todos os
anjos sobre o altar de ouro que defrontava o trono. E a fumaça do incenso
elevou-se diante de Deus, saída da mão do anjo. E o anjo tomou o turíbulo,
encheu-o do fogo do altar e arremessou-o dentro da terra, e houve vozes e
estrondear de trovões, e relâmpagos, e terremotos. E os sete anjos que
tinham as sete trombetas prepararam-se para soá-las.
O primeiro anjo soou, e seguiram-se o granizo e o fogo misturado
com sangue, que foram lançados sobre a terra: e as florestas verdes e as
árvores se queimaram, e toda a relva verde murchou, incinerada.
E o segundo anjo soou e, por assim dizer, uma grande montanha que
se abrasava foi jogada ao mar: e o sangue ergueu-se da terra como um
vapor.
E o terceiro anjo soou, e eis que houve um grande terremoto; e o sol
tornou-se tão escuro quanto um burel de pêlos, e a lua ficou como sangue.
E o quarto anjo soou, e as estrelas do céu caíram sobre a terra, como
a figueira deixa cair seus figos prematuros, quando a sacode um vento
poderoso.
E o quinto anjo soou, e o céu se partiu como pergaminho enrolado. E
sobre toda a terra já não havia uma só árvore, nenhuma flor, nenhuma haste
de relva. E eu deixei-me ficar sobre a terra, e meus pés afundaram-se no
solo, macio e grosso de sangue, que se prolongava até onde a vista
alcançava. E sobre toda a terra havia silêncio.
E o sexto anjo soou. E eu vi um ser imenso descer do céu, vestido
com uma nuvem: Um arco-íris encimava-lhe a cabeça, e seu rosto era como
se fosse o sol, e seus pés eram pilares de fogo. Ele tinha na mão um livro
aberto: e colocou o pé direito sobre o mar, e o esquerdo sobre a terra, e
gritou em voz alta, maravilhosa de se ouvir: “Ó Homem, gostarias que esta
visão passasse?” E eu respondi: “Tu sabes, Ó Santíssimo, que eu faria o que
quer que fosse para que tais coisas terríveis não viessem a passar.”
E ele falou: “O homem criou esses poderes de destruição. E os forjou
com a própria mente. Ele desviou o rosto dos anjos do Pai Celestial e da
Mãe Terrena, e talhou a própria destruição.”
E eu falei: “Não há esperança, anjo brilhante?” E uma luz
resplandecente escorria-lhe das mãos como um rio quando ele respondeu:
“Sempre há esperança, ó tu para quem o céu e a terra foram criados.”
E então o anjo, que estivera com um pé sobre o mar e um pé sobre a

86
terra, ergueu a mão para o céu, e jurou por aquele que vive para todo o
sempre, que criou o céu e as coisas que estão dentro dele, e a terra e as
coisas que estão dentro dela, e o mar e as coisas que estão dentro dele, que
já não haveria tempo: Mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando ele
principiar a soar, o mistério de Deus será revelado aos que comeram da
Árvore da Vida que se ergue para sempre no Mar Eterno. E a voz falou de
novo, dizendo: “Vai e pega o livro aberto na mão do anjo que está sobre o
mar e sobre a terra.” E eu me enderecei ao anjo, e disse-lhe: “Dá-me o
livro, pois quero comer da Árvore da Vida que se ergue no meio do Mar
Eterno.” E o anjo me deu o livro, e eu o abri e nele li o que sempre fora, o
que era agora, e o que viria a acontecer.
Vi o holocausto que engolfaria a terra, e a grande destruição que
afogaria todos os seus habitantes em oceanos de sangue. E vi também a
eternidade do homem e a clemência infindável do Onipotente. As almas
dos homens eram como páginas em branco do livro, sempre prontas para
que nele se inscrevesse um novo cântico.
E eu ergui o rosto para os sete anjos da Mãe Terrena e para os sete
anjos do Pai Celestial, e senti que meus pés tocavam a santa fronte da Mãe
Terrena, e que meus dedos tocavam os santos pés do Pai Celestial, e entoei
um hino de Ação de Graças:
“Agradeço-te, Pai Celestial.
Porque me colocaste numa fonte de águas correntes,
Na fonte viva numa terra de seca,
Que rega um eterno jardim de maravilhas.
A Árvore da Vida, Mistério dos Mistérios,
Que brota galhos perpétuos para o eterno plantio
Penetrando raízes na corrente da vida
Que mana de uma fonte eterna.
E tu, Pai Celestial.
Protege-lhes os frutos
Com os anjos do dia e da noite
E com chamas da Luz Eterna que arde de todas as maneiras.”
Mas a voz tornou a falar, e mais uma vez meus olhos se desviaram
dos esplendores do reino da luz. “Presta atenção, ó Homem! Podes parar no
caminho certo e caminhar na presença dos anjos. Podes cantar sobre a Mãe
Terrena de dia e sobre o Pai Celestial à noite, e através do teu ser pode
seguir a corrente de ouro da Lei. Mas deixarias teus irmãos mergulharem
no abismo hiante de sangue, enquanto a terra, destroçada pela dor,

87
estremece e geme debaixo das suas correntes de pedra? Podes beber da taça
da vida eterna, quando teus irmãos morrem de sede?”
Com o coração pesado de compaixão, olhei, e eis que apareceu um
grande prodígio no céu: Uma mulher vestida com o sol e com a lua debaixo
dos pés, que trazia sobre a cabeça uma coroa de sete estrelas. E conheci que
ela era a fonte dos cursos d’água velozes e a Mãe das Florestas.
E quedei-me sobre a areia do mar, e vi erguer-se do mar uma besta,
cujas narinas lançavam um ar imundo e asqueroso, e, no lugar em que ela se
ergueu do mar, as águas se transformaram em lodo, e cobria-lhe o corpo uma
pedra escura e fumegante. E a mulher vestida com o sol estendeu os braços
para a besta, e a besta se aproximou e abraçou-a. E eis que sua pele de pérola
emurcheceu sob o hálito impuro da besta, que lhe quebrou as costas com
braços de rocha trituradora, e, com lágrimas de sangue, ela deixou-se cair na
poça de lama. E da boca da besta saíram exércitos de homens, que brandiam
espadas e lutavam entre si. Eles combatiam com uma fúria terrível, e
decepavam os próprios membros e arrancavam os próprios olhos, até caírem
na voragem de lama, berrando de agonia e de dor.
Caminhei até a borda do abismo e estendi a mão para baixo, e pude
ver o redemoinho turbilhonante de sangue, e os homens dentro dele, presos
feito moscas numa teia. E falei em voz alta, dizendo: “Irmãos, largai as
espadas e segurai a minha mão. Deixai o aviltamento e a profanação
daquela que vos deu à luz, e daquele que vos deu a herança. Pois se
acabaram para vós os dias de comprar e vender, como se acabaram também
os dias de caçar e matar. Pois quem leva ao cativeiro será levado ao
cativeiro, e quem mata pela espada, pela espada morrerá. E os mercadores
da terra se carpirão e lamentarão, pois nenhum homem voltará a comprar-
lhes a mercadoria: Os mercadores de ouro, de prata, de pedras preciosas, de
pérolas, de linho fino, de púrpura, de seda e de escarlate, de mármore, de
animais, de gado e de cavalos, de carros, de escravos e de almas de
homens, nenhuma dessas coisas podereis comprar e vender, porque todas
estão sepultadas num mar de sangue, porque destes as costas ao vosso pai e
à vossa mãe, e adorastes a besta que teria construído um paraíso de pedra.
Largai as espadas, meus irmãos, e segurai a minha mão.”
E enquanto nossos dedos se agarravam, vi na distância uma grande
cidade, alva e brilhante no horizonte afastado, de alabastro luzente. E havia
vozes, trovões e raios, e um grande terremoto, que nunca se vira, desde que
os homens habitaram a terra, tão vigoroso e tão violento. E a grande cidade
dividiu-se em três partes, e caíram as cidades das nações: e a grande cidade

88
lembrou, na presença de Deus, para que ele lhe desse a taça do vinho da
veemência da sua ira. E todas as ilhas se evadiram, e não se encontraram as
montanhas. E caiu do céu sobre os homens um furioso granizo, cada uma
de cujas pedras pesava, mais ou menos, um talento. E um anjo vigoroso
tomou uma pedra semelhante a uma grande mó e jogou-a no mar, dizendo:
“Assim com violência a grande cidade será derrubada, e nunca mais será
encontrada. E a voz dos harpistas, músicos, gaiteiros, cantores, e trombeteiros,
nunca mais será ouvida em vós; e nenhum artífice, seja qual for a sua arte,
nunca mais será encontrado em vós; e o som de uma mó de moinho não
será ouvido nunca mais em vós. E a luz de uma vela não brilhará nunca
mais em vós; e a voz do noivo e da noiva não será ouvida nunca mais em
vós; porque os vossos mercadores foram os grandes homens da terra;
porque enganastes, com vossas bruxarias, todas as nações. E nela se
encontrou o sangue dos profetas e dos santos e de todos os que foram
mortos sobre a terra.”
E meus irmãos agarraram a minha mão, e lutaram por sair do abismo
de lama e ficaram atônitos no mar de areia, e os céus se abriram e com
chuva lhes lavaram os corpos nus. E ouvi uma voz que vinha do céu, como
a voz de muitas águas, e como a voz de um grande trovão; e ouvi a voz de
harpistas que harpejavam, com suas harpas, e cantavam, por assim dizer,
um cântico novo perante o trono.
E vi outro anjo voar no meio do céu, com os cânticos do dia e da
noite e o evangelho eterno para pregar aos que habitavam a terra, aos que
tinham conseguido sair do abismo de lama e se achavam nus e lavados pela
chuva diante do trono. E o anjo clamava: “Temei a Deus, e glorificai-o;
pois chegou a hora do seu julgamento: E adorai aquele que fez o céu e a
terra e o mar e as fontes de águas.”
E vi o céu aberto, e avistei um cavalo branco; e quem o montava se
chamava Fiel e Verdadeiro, e com Virtude ele julga. Seus olhos eram como
chama de fogo, e em sua cabeça havia muitas coroas, e ele trazia uma capa
de luz ofuscante e seus pés estavam nus. E seu nome é a Palavra de Deus. E
a Santa Irmandade o seguia montando cavalos brancos, vestida de linho
fino, branco e limpo. E eles entraram no eterno Jardim Infinito, em cujo
meio se erguia a Árvore da Vida. E as multidões nuas, lavadas da chuva,
entravam à presença dos Irmãos, trêmulas, para lhes receberem o
julgamento. Pois seus pecados eram muitos, e elas tinham conspurcado a
terra, sim, tinham destruído as criaturas da terra e do mar, empeçonhado o
solo, viciado o ar, e enterrado viva a Mãe que os dera à luz.

89
Mas não vi o que lhes aconteceu, pois minha visão mudou, e vi um
novo céu e uma nova terra: Pois o primeiro céu e a primeira terra haviam
passado; e já não havia mar.
E vi a cidade sagrada da Irmandade descendo de Deus para fora do
céu, preparada qual noiva adornada para o marido. E ouvi uma grande voz
saída do céu, que dizia: “Eis que a montanha da casa do Senhor, firmada no
topo das montanhas, é exaltada acima das colinas; e todo o povo acorrerá a
ela. Vinde, e subamos para a montanha do Senhor, para a casa de Deus; e
Ele nos ensinará Seus caminhos, e nós palmilharemos Suas sendas: Pois da
Santa Irmandade sairá a Lei. Eis que o tabernáculo de Deus está com os
homens, e ele habitará com eles, e eles serão o Seu povo, o próprio Deus
está com eles, e será o Deus deles. E Deus lhes enxugará todas as lágrimas
dos olhos; e já não haverá morte, nem tristeza, nem choro, nem haverá dor
alguma: Pois as coisas anteriores terão findado. Os que fizeram guerra
transformarão suas espadas em relhas de arado, e suas lanças em podadeiras:
Nação alguma levantará a espada contra outra nação, pois elas tampouco
aprenderão a guerra: Pois as coisas anteriores terão passado.”
E ele tornou a falar: “Eis que farei novas todas as coisas. Sou Alfa e
Ômega, princípio e fim. Darei ao que tem sede da fonte da água da vida
livremente. O que triunfar herdará todas as coisas, e Eu serei o seu Deus, e
ele será o meu filho. Mas os medrosos e os incrédulos, e os abomináveis, os
assassinos e todos os mentirosos, cavarão sua própria fossa, que queima
com fogo e enxofre.”
Mais uma vez minha visão mudou, e ouvi as vozes da Santa
Irmandade erguidas em cântico, dizendo: “Vinde e caminhemos na luz da
Lei.” E vi a cidade sagrada, e os Irmãos que corriam para ela. A cidade não
precisava do sol nem da lua para nela brilhar: Pois a glória de Deus a
iluminava. E vi o rio puro da Água da Vida, claro como cristal, saído do
trono de Deus. E no meio do rio se erguia a Árvore da Vida, que produzia
catorze tipos de frutos, e dava seu fruto a quem quisesse comê-lo, e as
folhas da árvore se destinavam à cura das nações. E ali não haverá noite; e
eles não precisaram de velas, nem da luz do sol, pois o Senhor Deus lhes
dará luz: e eles reinarão para todo o sempre.
Alcancei a visão interior e, através do Teu espírito em mim, ouvi o
Teu segredo maravilhoso. Através da Tua mística introvisão, fizeste uma
fonte de conhecimento brotar dentro de mim, uma fonte de poder, que
mana águas vivas; um dilúvio de amor e de oniabrangente sabedoria como
o esplendor da Luz Eterna.

90
LIVRO 3

MA USCRITOS PERDIDOS DA
IRMA DADE ESSÊ IA

91
92
PREFÁCIO

Neste momento, nós temos orgulho de nos separarmos da Natureza, e


o espírito de Pan está morto. As almas dos homens estão espalhadas para
além da esperança de unidade, e as espadas dos credos formais estão
drasticamente separando-os em toda parte. Viver em harmonia com o
Universo torna a vida a performance de uma cerimônia majestosa; viver
contra ele é rastejar de um lado a outro em um beco sem saída. No entanto,
mesmo agora, sussurros de mudança estão tomando a face do mundo mais
uma vez. Como outro grande sonho iniciando-se, a consciência do homem
está lentamente expandindo-se mais uma vez. Algumas vozes de tempos
atrás estão divinamente anunciando através de nosso pequeno globo. Para
estas vozes, eu dedico este livro.
E.B.S.

Este terceiro livro do Evangelho Essênio da Paz é uma coleção de


textos de grande valor espiritual, literário, filosófico e poético, criados por
duas poderosas e entrelaçadas correntes de tradições.
Cronologicamente, a primeira corrente de tradições, a qual o povo
hebreu foi exposto na prisão babilônica, data do Épico de Gilgamesh ao
Zend Avesta de Zoroastro. A segunda é a corrente de tradições que fluem
com poética majestade através dos Antigo e Novo Testamentos, desde a
época do eterno Enoch e outros Patriarcas, passando pelos Profetas até a
misteriosa Irmandade Essênia.
Na biblioteca enterrada da Irmandade dos Essênios no Mar Morto,
onde o maior número de pergaminhos foi encontrado, os textos destas duas
correntes de tradições eram muito entrelaçados. Eles seguem uma à outra
em uma estranha sucessão: a poderosa simplicidade cubista da primeira
justaposta com a majestosa poesia expressionista da segunda.
Os textos originais desta coleção podem ser classificados em três
grupos aproximados: cerca de setenta por cento deles são completamente
diferentes dos antigos Livros Sagrados dos Avestas e dos Antigo e Novo
Testamentos; vinte por cento são semelhantes, e dez por cento são
idênticos.
Meu desejo em apresentar esta coleção foi de abster-me de secas
interpretações filológicas e exegéticas, e, ao contrário, concentrar-me em
93
seus valores espirituais e poéticos, mais atraentes para o homem do século
vinte. Tentei seguir o estilo da minha tradução francesa do primeiro livro
do Evangelho Essênio da Paz, que já foi publicado em dezessete idiomas, e
foi distribuído em mais de 200.000 cópias*.
Espero que este Livro Três seja tão bem sucedido como o Livro Um,
e, assim, continue a trazer estas inspirações eternas ao nosso século
desorientado, guiando-nos, através dos tempos, em direção à luz maior.

Edmond Bordeaux Székely

*
A partir desta impressão, em 1986, o Livro Um de O Evangelho Essênio da Paz foi
publicado em vinte e cinco línguas e distribuído em mais de um milhão de cópias.
94
I TRODUÇÃO

Desde os tempos remotos da antiguidade, um ensinamento notável


existiu que é universal em sua aplicação e atemporal em sua sabedoria.
Fragmentos dele são encontrados em hieróglifos Sumérios e em cerâmicas
e pedras que datam de cerca de oito ou dez mil anos atrás. Alguns dos
símbolos, como o sol, a lua, o ar, a água e outras forças naturais, são de uma
época anterior precedente ao cataclismo que encerrou o período Pleistoceno.
Quantos milhares de anos antes o ensino existia é desconhecido.
Estudar e praticar esse ensinamento é despertar no coração de cada
homem um conhecimento intuitivo que pode resolver seus problemas
individuais e os problemas do mundo.
Vestígios desse ensinamento apareceram em quase todos os países e
religiões. Seus princípios fundamentais foram ensinados na antiga Pérsia,
Egito, Índia, Tibete, China, Palestina, Grécia e muitos outros países. Mas
foi transmitido em sua forma mais pura pelos Essênios, esta misteriosa
irmandade que viveu durante os últimos dois ou três séculos a.c. e no
primeiro século da era Cristã no Mar Morto na Palestina e no Lago
Mareotis no Egito. Na Palestina e na Síria os membros da irmandade eram
conhecidos como Essênios e no Egito como Therapeutae, ou curandeiros.
A parte esotérica do seu ensino é dada na Árvore da Vida, nas
Comunhões Essênias com os anjos, na Paz Sétupla, entre outros. O ensino
exotérico ou exterior aparece no Livro Um de “O Evangelho Essênio da
Paz” e nos recentemente descobertos Manuscritos do Mar Morto.
A origem da irmandade é dito ser desconhecida, e a derivação do
nome é incerta. Alguns acreditam que vem de Esnoch, ou Enoch, e alegam
ser ele o fundador, tendo suas comunhões com o mundo angélico sido
dadas primeiro a ele.
Outros consideram que o nome vem do Esrael, os eleitos do povo a
quem Moisés levou as Comunhões no Monte Sinai, onde foram reveladas a
ele pelo mundo angélico.
Mas, qualquer que seja sua origem, é certo que os Essênios existiram,
por um longo período, como uma irmandade, talvez com outros nomes em
outras terras. O ensinamento aparece no Zend Avesta de Zoroastro, que
traduziu-o em um modo de vida que foi seguido por milhares de anos. Ele
contém os conceitos fundamentais do Bramanismo, os Vedas e os
Upanishads; e os sistemas de Yoga da Índia surgiram da mesma fonte. Buda,
95
mais tarde, passou essencialmente as mesmas idéias básicas, e sua árvore
Bodhi sagrada está relacionada com a Árvore da Vida Essênia. No Tibete o
ensinamento mais uma vez encontrou expressão na Roda da Vida Tibetana.
Os pitagóricos e estóicos da Grécia antiga também seguiam os
princípios Essênios e muito do seu modo de vida. O mesmo ensinamento
era um elemento da cultura Adonica dos fenícios, da Escola de Filosofia de
Alexandria, no Egito, e contribuiu grandemente para muitos ramos da
cultura ocidental, a Maçonaria, a Gnose, a Cabala e a Cristandade. Jesus
interpretou-o em sua forma mais sublime e bela nas sete bem-aventuranças
do Sermão da Montanha.
Os Essênios viviam nas margens de lagos e rios, longe de cidades e
vilas, e praticavam uma forma comunal de vida, partilhando igualmente em
tudo. Eles eram principalmente agricultores e arboricultores, tendo um
vasto conhecimento de cultivo, solo e condições climáticas, o que lhes
permitiu fazer crescer uma notável variedade de frutas e vegetais em áreas
relativamente desertas e com um mínimo de trabalho.
Eles não tinham servos ou escravos e teriam sido o primeiro povo a
condenar a escravidão, tanto na teoria como na prática. Não havia ricos e
pobres entre eles, ambas as condições eram consideradas por eles como
desvios da lei. Eles estabeleceram o seu próprio sistema econômico,
baseado inteiramente na Lei, e mostraram que todos os alimentos do
homem e as necessidades materiais podem ser alcançados sem esforço,
através do conhecimento da Lei.
Eles passavam muito tempo em estudo, tanto de escritos antigos e
ramos especiais de aprendizado, como de educação, cura, e astronomia. É
dito que eles são os herdeiros da astronomia caldéia e persa e das artes de
cura egípcias. Eles eram peritos na profecia para qual se preparavam pelo
jejum prolongado. No uso de plantas e ervas para a cura de homens e
animais eles eram igualmente proficientes.
Eles viviam uma vida simples comum, levantando-se a cada dia
antes do nascer do sol para estudar e comungar com as forças da natureza,
banhando-se em água fria como um ritual e vestindo roupas brancas.
Depois de seu trabalho diário nos campos e vinhedos, eles partilhavam suas
refeições em silêncio, precedendo e terminando-as com orações. Em seu
profundo respeito por todas as coisas vivas, nunca tocavam em alimentos
cárneos, nem bebiam líquidos fermentados. Suas noites eram dedicadas ao
estudo e à comunhão com as forças celestiais.

96
A noite era o início de seu dia, e seu Shabat, ou dia santo, começava
na noite de sexta-feira, o primeiro dia de sua semana. Este dia foi dado para
estudo, discussão, entretenimento dos visitantes e reprodução de certos
instrumentos musicais, cujas relíquias foram descobertas.
Seu modo de vida permitia-lhes viver até idades avançadas de 120
anos ou mais e diz-se que eles tinham força e resistência maravilhosas. Em
todas as suas atividades eles expressavam o amor criador.
Eles enviavam curadores e professores das irmandades, dentre os quais
estavam Elias, João Batista, João, o Amado, e o grande Mestre Essênio, Jesus.
Ser um membro da irmandade era atingível apenas após um período
probatório de um ano, e três anos de trabalho iniciático, seguido por mais
sete anos antes de serem admitidos no integral ensino interior.
Registros do modo Essênio de vida chegaram até nós a partir dos
escritos de seus contemporâneos. Plínio, naturalista romano, Filo, filósofo
de Alexandria, Josefo, o historiador romano, Solanius e outros falaram
deles várias vezes como “uma raça por si só mais notável do que qualquer
outra no mundo”, “os mais antigos dos iniciados, recebendo os seus ensinos
da Ásia Central”, “ensino perpetuado através de um imenso espaço de
eras”, “santidade constante e inalterável”.
Alguns dos ensinamentos estão preservados no texto Aramaico, no
Vaticano, em Roma. Alguns no texto eslavo, que foi encontrado na posse
dos Habsburgos na Áustria e disseram ter sido trazido da Ásia no século
treze por sacerdotes nestorianos fugindo das hordas de Genghis Khan.
Ecos do ensinamento existem hoje em muitas formas, em certos
rituais da ordem maçônica, no símbolo do candelabro de sete braços, na
saudação “A paz esteja convosco”, usada desde a época de Moisés, e até
mesmo nos sete dias da semana, que há muito tempo perderam o seu
significado espiritual original.
Por sua antiguidade e sua persistência através dos tempos, é evidente
que o ensinamento não poderia ter sido o conceito de qualquer indivíduo ou
qualquer povo, mas é a interpretação, por uma sucessão de grandes
Mestres, da Lei do universo, a Lei básica, eterna e imutável como as
estrelas em seus cursos, a mesma agora como dois ou dez mil anos atrás, e
tão aplicável hoje como então.
O ensinamento explica a Lei, mostra como os desvios do homem
dela são a causa de todos os seus problemas, e dá o método pelo qual ele
pode encontrar seu caminho para fora de seu dilema.
Edmond Bordeaux Székely

97
98
O VOTO SÉTUPLO

Eu quero fazer e farei o meu melhor para viver como a Árvore da


Vida, plantada pelos Grandes Mestres da nossa Irmandade, com meu Pai
Celestial, que plantou o Jardim Eterno do Universo e me deu o meu
espírito; com minha Mãe Terrena, que plantou o Grande Jardim da Terra e
me deu o meu corpo; com meus irmãos que estão trabalhando no Jardim da
nossa Irmandade.
Eu quero fazer e farei o meu melhor para manter todas as manhãs
minhas Comunhões com os anjos da Mãe Terrena, e todas as noites com os
anjos do Pai Celestial, como estabelecido pelos Grandes Mestres da nossa
Irmandade.
Eu quero fazer e farei o meu melhor para seguir o Caminho da Paz
Sétupla.
Eu quero fazer e farei o meu melhor para aperfeiçoar meu corpo que
age, meu corpo que sente, e meu corpo que pensa, segundo os
Ensinamentos dos Grandes Mestres da nossa Irmandade.
Eu sempre e em toda a parte obedecerei, com reverência, Meu
Mestre, que me dá a Luz dos Grandes Mestres de todos os tempos.
Eu me submeterei a meu Mestre e aceitarei sua decisão sobre
quaisquer queixas ou diferenças que eu possa ter contra algum dos meus
irmãos que trabalham no Jardim da Irmandade; e jamais levarei alguma
queixa contra um irmão ao mundo exterior.
Eu sempre e em toda parte manterei secretas todas as tradições de
nossa Irmandade que meu Mestre me revelar; e nunca mostrarei a ninguém
estes segredos sem a permissão de meu Mestre.
Eu nunca reivindicarei como meu o conhecimento recebido de meu
Mestre, e sempre lhe darei o crédito por todo esse conhecimento.
Eu nunca usarei o conhecimento e o poder que eu tiver obtido,
através da iniciação de meu Mestre, com propósitos materiais ou egoístas.
E adentro o Jardim Eterno e Infinito com reverência ao Pai Celestial,
à Mãe Terrena e aos Grandes Mestres, reverência ao Sagrado, Ensinamento
Puro e Salvador, reverência à Irmandade dos Eleitos.

99
O CULTO ESSÊ IO

Prólogo

Quando Deus viu que o seu povo pereceria porque não via a Luz da
Vida, escolheu os melhores de Israel, para que pudessem fazer a Luz da
Vida brilhar diante dos filhos dos homens, e os escolhidos foram chamados
Essênios, porque ensinavam os ignorantes e curavam os enfermos, e se
reuniam na véspera de cada sétimo dia para alegrar-se com os anjos.

Culto

ANCIÃO: Mãe Terrena, dá-nos o Alimento da Vida!


IRMÃOS: Nós comeremos o Alimento da Vida!
ANCIÃO: Anjo do Sol, dá-nos o Fogo da Vida!
IRMÃOS: Nós perpetuaremos o Fogo da Vida!
ANCIÃO: Anjo da Água, dá-nos a Água da Vida!
IRMÃOS: Nós nos banharemos na Água da Vida!
ANCIÃO: Anjo do Ar, dá-nos o Sopro da Vida!
IRMÃOS: Nós respiraremos o Ar da Vida!
ANCIÃO: Pai Celestial, dá-nos o Teu Poder!
IRMÃOS: Nós construiremos o Reino de Deus com o Poder do Pai
Celestial!
ANCIÃO: Pai Celestial, dá-nos o Teu Amor!
IRMÃOS: Nós encheremos nossos corações com o Amor do Pai Celestial!
ANCIÃO: Pai Celestial, dá-nos a Tua Sabedoria!
IRMÃOS: Nós seguiremos a Sabedoria do Pai Celestial!
ANCIÃO: Pai Celestial, dá-nos a Vida Eterna!
IRMÃOS: Nós viveremos como a Árvore da Vida Eterna!
ANCIÃO: A paz esteja convosco!
IRMÃOS: A paz esteja convosco!

100
OA JO DO SOL

Eia! Levanta-te e segue!


Tu, imortal, cintilante, velocíssimo Anjo do Sol!
Acima das Montanhas!
Produz Luz para o Mundo!
Anjo do Sol, tu és a Fonte de Luz: tu rompes a escuridão.
Abre a porta do horizonte!
O Anjo do Sol habita muito acima da terra e, no entanto, seus raios
enchem nossos dias com vida e calor.
A carruagem da manhã traz a luz do sol nascente e alegra os
corações dos homens.
O Anjo do Sol ilumina nosso caminho com raios de esplendor.
Anjo do Sol!
Arremessa teus raios sobre mim!
Deixa que eles me toquem; deixa que eles me penetrem!
Entrego-me a ti e ao teu abraço, abençoado com o fogo da vida!
Uma enxurrada de santa alegria flui para mim vinda de ti!
Avante, Anjo do Sol!
Como nenhum homem pode fitar o sol a olho nu, assim também
nenhum homem pode ver Deus face a face, para que não seja consumido
pelas chamas que guardam a Árvore da Vida.
Estuda, então, a Lei Sagrada: Pois a face do Sol e a face de Deus só
podem ser vistas por alguém que tenha dentro de si a Revelação da Lei.
Acreditas que a morte é um fim?
Teus pensamentos são tolos como os de uma criança que vê o céu
escuro e a chuva que cai e chora porque já não há sol.
Queres fortalecer-te na Lei?
Sê, então, como o sol no meio-dia.
Que brilha com luz e calor sobre todos os homens e distribui livre e
abundantemente sua glória de ouro.
Então a Fonte da Luz fluirá de volta a ti, assim como o Sol nunca se
desprovê de luz, pois flui livremente, sem restrições.
E quando o Sol nasce, então a Terra, feita pelo Criador, torna-se
limpa, as águas correntes purificam-se, as águas dos poços purificam-se, as
águas do mar purificam-se, as águas paradas purificam-se, todas as
Criaturas Sagradas purificam-se.
101
É através do brilho e da glória que nasce o homem que ouve bem as
Palavras Sagradas da Lei, que a Sabedoria tanto preza.
Através do seu brilho e da sua glória o Sol segue seu caminho,
através do seu brilho e da sua glória a Lua segue o seu caminho, através do
seu brilho e da sua glória as estrelas seguem o seu caminho.
Ao imortal, cintilante e velocíssimo Sol haja invocação com
sacrifício e prece.
Quando a Luz do Sol se torna mais brilhante, quando o brilho do Sol
se torna mais quente, então surgem as forças celestiais.
Elas vertem sua Glória sobre a Terra, feita pelo Pai Celestial, para o
crescimento dos Filhos da Luz, para o crescimento do imortal, cintilante e
velocíssimo Sol.
Ele quem oferece um sacrifício ao imortal, cintilante e velocíssimo
Sol, para resistir à escuridão, para resistir à morte que se arrasta no
invisível, oferece-o ao Pai Celestial, oferece-o aos anjos, oferece-o à sua
própria alma.
Ele regozija com todas as forças celestes e terrestres que oferecem
um sacrifício ao imortal, cintilante e velocíssimo Sol.
Eu sacrificarei a essa amizade, a melhor de todas as amizades, que
reinam entre o Anjo do Sol e os filhos da Mãe Terrena.
Eu bendigo a Glória e a Luz, a Força e o Vigor, do imortal, cintilante
e velocíssimo Anjo do Sol!

102
OA JO DA ÁGUA

Do Mar Celestial as Águas correm e fluem avante vindas das Fontes


inesgotáveis.
Ao deserto seco e infecundo os Irmãos trouxeram o Anjo da Água:
Para que pudesse produzir um jardim e um recanto verde, cheio de árvores
e da fragrância das flores.
Atira-te nos braços envolventes do Anjo da Água: Porque ele
expulsará de ti tudo o que é impuro e mau.
Que o meu amor flua para Ti, Pai Celestial, como o rio flui para o
mar. E que o Teu amor flua para mim, Pai Celestial, como a chuva gentil
beija a terra.
Qual rio que atravessa a floresta, é a Lei Sagrada.
Todas as criaturas dependem dela, e ela nada nega a nenhum ser.
A Lei é para o mundo dos homens o que um grande rio é para
córregos e riachos.
Como rios de água em um local seco são os Irmãos que trazem a Lei
Sagrada ao mundo dos homens.
Na água podes te afogar, e na água podes saciar tua sede.
Dessa maneira é a Lei Sagrada uma espada de dois gumes: Pela Lei
tu podes destruir-te, e pela lei tu podes ver a Deus.
Pai Celestial! Do Teu Mar Celestial fluem todas as Águas que se
espalham pelos sete Reinos.
Somente este Teu Mar Celestial continua trazendo Águas tanto no
verão como no inverno e em todas as estações.
Esse Teu Mar purifica o sêmen nos machos, o ventre nas fêmeas, o
leite nos seios das fêmeas.
O Mar Celestial flui, desimpedido, para os grandes campos de
trigais, para os pequenos campos de pastagem, e para todo o Mundo
Terrestre.
Mil Fontes puras correm para os pastos a fim de alimentar os Filhos
da Luz.
Se alguém sacrificar a ti, ó sagrado Anjo da Água! A ele tu dás tanto
esplendor como glória, com a saúde e o vigor do corpo.
A ele dás vida longa e duradoura, e o Mar Celestial, em seguida.
Nós adoramos todas as águas sagradas que saciam a sede da terra,
todas as águas santas feitas pelo Criador, e todas as plantas feitas pelo
103
Criador, todas as quais são sagradas.
Nós adoramos a Água da Vida, e todas as águas sobre a terra,
paradas, correntes, de poço, águas de nascente que fluem permanentemente,
ou as benditas gotas das chuvas, nós sacrificamos às boas e santas águas
que a Lei criou.
Ruja o mar e todas as águas, o mundo e os que nele habitam.
Batam palmas as enxurradas, rejubilem-se juntas as colinas.
A voz do Senhor paira sobre as águas: O Deus da Glória troveja.
Pai Celestial! E tu, Anjo da Água! Nós te agradecemos e bendizemos
o teu nome.
Uma enxurrada de amor irrompe dos lugares ocultos debaixo da
terra: A Irmandade é abençoada para sempre na Santa Água da Vida.

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OA JO DO AR

Nós adoramos o Sopro Sagrado, posto mais alto que todas as outras
coisas criadas; e nós adoramos a mais verdadeira Sabedoria.
No meio do ar fresco da floresta e dos campos, encontrarás o Anjo
do Ar.
Pacientemente, ele espera que tu deixes os buracos abafados e
abarrotados da cidade.
Procura-o, então, e suga em grandes tragadas, profundamente, a
corrente de ar curativa que ele te oferece.
Respira longa e profundamente, para que o Anjo do Ar possa ser
levado para dentro de ti.
Pois o ritmo de tua respiração é a chave do conhecimento que revela
a Lei Sagrada.
O Anjo do Ar voa em asas invisíveis: Contudo, deves caminhar em
seu caminho invisível se quiseres ver a face de Deus.
Mais doce do que o mais fino néctar de romã adocicada é a
fragrância do vento no bosque de ciprestes.
Mais agradável ainda que o aroma dos devotos, que veneram e
ensinam a Lei Sagrada.
Santo é o Anjo do Ar, que limpa tudo o que é impuro e dá a todas as
coisas malcheirosas um agradável perfume.
Vinde, vinde, ó nuvens! De cima a baixo sobre a terra, por milhares
de gotas, através do seu brilho e glória, sopram os ventos, precipitando as
nuvens, em direção às fontes inesgotáveis.
Sobem os vapores dos vales das montanhas, fomentados pelo vento
ao longo da trilha da Lei que aumenta o reino da Luz.
O Pai Celestial fez a terra com o seu poder, ele estabeleceu o mundo
pela sua sabedoria, e estendeu os céus pela sua vontade.
Quando ele emite sua voz, há uma multidão de águas nos céus, e ele
faz subir os vapores desde os extremos da terra; faz relâmpagos com chuva,
e produz o vento com o seu sopro.
Como o mar é o ponto de encontro das águas, que sobem e descem,
sobem para o ar e caem sobre a terra, e sobem de novo para o ar: Assim
levanta e segue! Tu, para cujos ascensão e crescimento, o Pai Celestial fez
o eterno e soberano Espaço luminoso.
Nenhum homem pode chegar diante da Face de Deus se o Anjo do
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Ar não o tiver deixado passar.
Teu corpo precisa respirar o ar da Mãe Terrena, e teu espírito precisa
respirar a Lei Sagrada do Pai Celestial.

106
OA JO DA TERRA

Nós invocamos a Terra Abundante!


Que possui Saúde e Felicidade e é mais poderosa do que todas as
suas Criaturas.
Louvamos esta terra ampla, expandida com caminhos, a produtiva, a
plenamente capaz de gerar, tua mãe, planta sagrada!
Louvamos as terras onde cresces, perfumosa, espalhando-te depressa,
o bom crescimento da Mãe Terrena.
Louvamos o bom, o forte, o beneficente Anjo da Terra, que se
regozija no orvalho do céu, na opulência da terra, e na colheita farta do
trigo e das uvas.
Louvamos as altas montanhas, ricas em pastos e em águas, sobre as
quais correm os muitos córregos e rios.
Louvamos as plantas sagradas do Anjo da Terra, que brotam do solo,
para alimentar animais e homens, para nutrir os Filhos da Luz.
A terra é a forte Preservadora, a santa Preservadora, a Mantenedora!
Louvamos a força e o vigor da poderosa Preservadora, a terra, criada
pelo Pai Celestial!
Louvamos os curadores da terra, eles que conhecem os segredos das
ervas e das plantas; para os curadores o Anjo da Terra revelou seu
conhecimento antigo.
O Senhor criou remédios da própria terra, e aquele que é sábio os
utilizará.
Não foi a água feita doce com madeira, para que a sua virtude
pudesse ser conhecida?
E a certos irmãos ele conferiu habilidade, para que a Lei pudesse ser
honrada e cumprida.
Com essas coisas eles curam os homens, e lhes tiram as dores, e para
as suas obras não há fim; e deles emana a paz que cobre a terra.
Dá lugar, portanto, aos curadores e honra-os, pois o Pai Celestial os
criou: Não deixes que se afastem de ti, pois tu precisas deles.
Louvamos os lavradores do solo, que trabalham juntos no Jardim da
Irmandade, nos campos que o Senhor abençoou: àquele que lavra a terra,
com o braço esquerdo e com o direito, ela produzirá abundância de frutos,
plantas verdes saudáveis e grãos dourados.
Doçura e opulência fluirão dessa terra e desses campos, junto com a
107
saúde e a cura, com a plenitude, o incremento e a abundância.
Aquele que semeia trigo, relva e frutos semeia a Lei Sagrada: ele faz
progredir a Lei do Criador.
Quando toda a terra for um jardim, então todo o mundo corpóreo se
tornará livre da velhice e da morte, da corrupção e da podridão, para todo o
sempre.
A misericórdia e a verdade se juntarão, a virtude e a paz beijarão
uma a outra, a verdade saltará da terra, e a glória habitará em nossa terra.

108
OA JO DA VIDA

Não sejas ingrato ao teu Criador, pois Ele te deu a Vida.


Não busques a lei em tuas escrituras, pois a lei é Vida, ao passo que
as escrituras são apenas palavras.
Em verdade te digo, Moisés não recebeu suas leis de Deus por
escrito, mas através da palavra viva.
A lei é a palavra viva do Deus Vivo, dos profetas vivos para os
homens vivos.
Em tudo o que é vida a lei está escrita.
Ela é encontrada na relva, nas árvores, no rio, nas montanhas, nos
pássaros do céu, nas criaturas da floresta e nos peixes do mar; mas é
encontrada sobretudo em vós mesmos.
Todas as coisas vivas estão mais perto de Deus que as escrituras, que
são sem vida.
Deus fez a vida e todas as coisas vivas para que elas pudessem, pela
primeira palavra eterna, ensinar as leis do Pai Celestial e da Mãe Terrena
aos filhos dos homens.
Deus não escreveu as leis nas páginas dos livros, mas em teu coração
e em teu espírito.
Elas estão em teu alento, em teu sangue e em teus ossos; em tua
carne, em teus olhos, em teus ouvidos, e em cada pequena parte do teu
corpo.
Estão presentes no ar, na água, na terra, nas plantas, nos raios de sol,
nas profundezas e nas alturas.
Todas falam contigo para que tu possas compreender a língua e a
vontade do Deus Vivo.
As escrituras são obras do homem, mas a vida e todas as suas hostes
são obras de Deus.
Primeiro, Ó Grande Criador! Tu criaste os Poderes Celestiais e Tu
revelaste as Leis Celestiais!
Tu nos deste entendimento de Tua própria mente, e fizeste nossa vida
corpórea.
Nós somos gratos, Pai Celestial, por todas as Tuas inúmeras dádivas
de vida: pelas preciosidades do céu, pelo orvalho, pelos preciosos frutos
produzidos pelo sol, pelas preciosidades apresentadas pela lua, pelas
grandiosidades das montanhas antigas, pelas preciosidades das colinas
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duradouras, e pelas preciosidades da terra.
Nós somos gratos, Pai Celestial, pelo vigor da saúde, saúde do corpo,
sábio, brilhante e lúcido, com pés velozes, rápida audição, força nos braços
e visão de águia.
Por todas as inúmeras dádivas de Vida, nós adoramos o Fogo da
Vida, e a Santa Luz da Ordem Celestial.
Adoramos o Fogo, o bom e o amistoso, o Fogo da Vida!
O mais benéfico e o mais prestativo, o Fogo da Vida!
O maior apoiador, o mais generoso, é o Fogo que é a Casa do
Senhor!
Eis agora o Filho da Luz que comunga com o Anjo da Vida: Ei-lo
agora, sua força está em seus lombos, e sua força está nos músculos de seu
peito.
Ele move suas pernas como um cedro: os tendões de suas coxas estão
entrelaçados.
Seus ossos são como tubos de bronze, seus membros são como
barras de ferro.
Ele come da mesa da Mãe Terrena, a relva do campo e as águas do
córrego alimentam-no; as montanhas, sem dúvida, lhe produzem alimento.
Abençoadas são a sua força e a sua beleza, porque ele serve à Lei.
Um Santuário do Espírito Santo é o corpo em que o Fogo da Vida
arde com Luz eterna.
Nós Te agradecemos, Pai Celestial, pois Tu nos colocaste em um
manancial de córregos, numa fonte viva em uma terra de seca, regando um
eterno jardim de maravilhas, a Árvore da Vida, mistério dos mistérios,
cultivando perpétuos ramos para o eterno plantio, para penetrar suas raízes
no córrego da Vida de uma fonte eterna.

110
OA JO DA ALEGRIA

Os céus sorriem, a terra celebra, as estrelas da manhã cantam juntas,


e todos os Filhos da Luz gritam de Alegria.
Entoai ao Pai Celestial um novo cântico: Cantai à Mãe Terrena, toda
a terra.
Regozijem-se os céus, alegre-se a terra, ruja o mar, e a plenitude da
Vida Eterna.
Jubile-se o campo, e tudo o que nele existe: então todas as árvores da
mata regozijarão diante da Lei Sagrada.
Cantai para o Pai Celestial, todos vós, céus dos céus, e vós, águas
que estais acima dos céus, todas as montanhas e todas as colinas, vento
tempestuoso que cumpre sua palavra, árvores frutíferas e todos os cedros,
animais e todo o gado, répteis e aves que voam, reis da terra e todo o povo,
príncipes e juízes da terra: Rapazes e donzelas, velhos e crianças, cantem
eles ao Pai Celestial com Alegria.
Cantai para o Senhor com a harpa e a voz de um salmo.
Com trombetas e o som de flautas produzi um som alegre diante dos
anjos.
Que as enxurradas batam palmas: que as colinas jubilem-se juntas na
presença do Senhor.
Fazei um som alegre para o senhor, vós, todas as terras.
Servi ao Pai Celestial e à Mãe Terrena com prazer e alegria: Vinde
diante da presença deles com cânticos.
O espírito da Lei Sagrada está sobre mim, porque os Anciões
ungiram-me para pregar as boas novas aos humildes.
Eles enviaram-me para atar os corações partidos, para proclamar a
liberdade dos cativos, e a abertura da prisão daqueles que estão confinados;
consolar todos que lamentam, e enviar-lhes o santo Anjo da Alegria, para
dar-lhes beleza em troca das cinzas, o óleo da alegria em troca das
lamentações, vestes de Luz em troca do espírito da opressão, porque o
choro pode durar a noite inteira, mas a alegria chega pela manhã.
As pessoas que caminhavam na escuridão verão uma grande luz, e
sobre os que habitam na terra da sombra da morte brilhará a luz da Lei
Sagrada.
Descei, ó céus, do alto, e deixai que os céus derramem felicidade.
Que o povo saia da tristeza com alegria, e seja conduzido com paz:
111
que as montanhas e colinas rompam em cânticos diante deles, para que
possam participar da santa celebração, e comer do fruto da Árvore da Vida,
que está no Mar Eterno.
O sol não será mais a sua luz de dia, e tampouco pelo seu brilho a lua
iluminará a eles: mas a Lei será para eles uma luz permanente, e o Pai
Celestial e a Mãe Terrena serão a sua glória eterna.
O seu sol não mais se porá, nem a sua lua se recolherá: pois a Lei
será a sua luz permanente, e os dias de suas lamentações estarão findados.
Eu regozijarei grandemente na Lei Sagrada, minha alma se alegrará
nos anjos; pois eles me vestiram com trajes de luz, e me cobriram com
mantos de alegria.
Como a terra gera seu broto, e como o jardim faz brotar suas
sementes, assim o Pai Celestial fará a Lei Sagrada brotar, com alegria e
contentamento, diante de todos os Filhos da Luz.
No Jardim da Irmandade, toda a terra brilha com santidade e alegria
abundantes, pois lá se semearam as sementes da Lei Sagrada.
A Lei é o melhor de todos os bens para os Filhos da Luz: Dá-lhes
brilho e glória, saúde e força do corpo, vida longa em comunhão com os
anjos, eterna e infindável Alegria.
Nós cantaremos para o Pai Celestial, e para a Mãe Terrena, e para
todos os anjos, enquanto vivermos no Jardim da Irmandade: cantaremos
louvores à Lei Sagrada para todo o sempre.

112
A MÃE TERRE A

Honra tua Mãe Terrena, para que teus dias possam ser longos sobre a
terra.
A Mãe Terrena está em ti e tu estás n’Ela.
Ela te deu à luz; Ela te deu a vida.
Foi Ela quem te deu teu corpo, e a Ela tu, um dia, o devolverás.
Feliz serás tu quando chegares a conhecer a Ela e a Seu reino.
Se receberes os anjos de tua Mãe e cumprires as Suas leis, quem faz
essas coisas nunca verá a doença.
Pois o poder de nossa Mãe está acima de tudo.
Ela tem domínio sobre todos os corpos dos homens e de todas as
coisas vivas.
O sangue que corre em nós nasceu do sangue de nossa Mãe Terrena.
O sangue d’Ela cai das nuvens, salta do ventre da terra, murmura nos
riachos das montanhas, corre amplo nos rios das planícies, dorme nos
lagos, range poderosamente nos mares tempestuosos.
O ar que nós respiramos nasceu do sopro da nossa Mãe Terrena. Seu
alento é puro nas alturas dos céus, suspira no topo das montanhas, sussurra
nas folhas da floresta, eleva-se sobre os trigais, descansa nos vales
profundos, arde quente no deserto.
A dureza dos nossos ossos nasceu dos ossos de nossa Mãe Terrena,
das rochas e das pedras. Elas estão nuas debaixo dos céus no topo das
montanhas, são quais gigantes adormecidos nas encostas dos morros, como
ídolos erguidos no deserto, e estão escondidas nas profundezas da terra.
A maciez da nossa carne nasceu da carne de nossa Mãe Terrena, cuja
carne se torna amarela e vermelha nos frutos das árvores, e nos alimenta
nas leiras dos campos.
A luz de nossos olhos, a audição de nossos ouvidos, nasceram ambas
das cores e dos sons de nossa Mãe Terrena; que nos envolvem como as
ondas do mar envolvem o peixe, como o ar que turbilhona envolve o
pássaro.
O Homem é o Filho da Mãe Terrena, e d’Ela o Filho do Homem
recebeu todo o seu corpo, assim como o corpo do bebê recém-nascido
nasce do ventre de sua mãe.
Tu és um com a Mãe Terrena; Ela está em ti e tu estás n’Ela.
D’Ela tu nasceste, n’Ela tu vives, e a Ela tu voltarás novamente.
113
Mantenha, portanto, as Suas leis, pois ninguém pode viver muito,
nem ser feliz, ao menos que honre sua Mãe Terrena e realize Suas leis.
Pois o teu alento é o alento d’Ela, o teu sangue é o sangue d’Ela, os
teus ossos são os ossos d’Ela, a tua carne é a carne d’Ela, teus olhos e teus
ouvidos, são os olhos e os ouvidos d’Ela.
Nossa Mãe Terrena! Somos sempre abraçados por Ela, sempre
cercados pela Sua beleza.
Nunca poderemos separar-nos d’Ela; nunca poderemos conhecer-lhe
as profundezas.
Ela está sempre criando formas novas: o que agora existe nunca
existiu antes. O que existia não retorna novamente.
Em Seu reino tudo é sempre novo e sempre velho.
Vivemos no meio d’Ela e ainda não a conhecemos.
Continuamente Ela fala conosco, mas nunca trai os Seus segredos
para nós.
Sempre lavramos o Seu solo e apanhamos as Suas colheitas, no
entanto, não temos poder nenhum sobre Ela.
Ela constrói sempre, Ela destrói sempre, e Seu local de trabalho está
escondido dos olhos dos homens.

114
OA JO DO PODER

Teu, Ó Pai Celestial! era o Poder quando ordenaste um Caminho


para cada um de nós e para todos.
O que é a ação bem praticada? É aquela praticada pelos Filhos da
Luz que consideram a Lei antes de todas as outras coisas.
A melhor de todas as dádivas, portanto, eu imploro a Ti, ó melhor
dos seres, Pai Celestial! Que a Lei Sagrada governe dentro de nós através
do Teu Anjo do Poder!
Aproximo-me de Ti com minhas invocações, para que Tuas grandes
dádivas de poder protejam Tua Ordem Celestial e Tua mente criativa dentro
de nós, para sempre.
Nós Te exaltaremos, Pai Celestial, Rei Todo Poderoso!
E bendiremos o Teu poder para todo o sempre.
Enquanto formos capazes e pudermos ter o poder, ensinaremos o
povo a respeito desses atos que devem ser praticados por eles com fé no Pai
Celestial, na Mãe Terrena, nos santos anjos, em todos os Filhos da Luz, que
lavram o solo do Jardim da Irmandade, e no desejo do advento da Ordem
Celestial em suas almas e seus corpos.
Teu, Ó Pai Celestial! era o Poder, sim, Teus, Ó Criador do Amor!
eram o entendimento e o espírito, quando ordenaste um caminho para cada
um de nós e para todos.
Através do Teu Poder iremos para o meio do povo, e ensinaremos a
eles, dizendo: Confiai na Lei, e caminhai nos caminhos dos santos anjos,
assim habitareis na terra, e, em verdade, sereis alimentados da mesa do
festim da Mãe Terrena.
Deliciai-vos também no Poder do Pai Celestial, e Ele satisfará os
desejos do vosso coração.
Não deixeis que a arrogância saia de vossa boca: pois o Pai Celestial
governa segundo a santa Lei, e por Ele as ações são pesadas.
Ele leva para o túmulo e leva para cima.
O Poder da Lei empobrece e enriquece: seu Poder derruba e eleva.
Ele ergue o pobre do pó, e levanta o mendigo da esterqueira, e os faz
herdar o trono da glória.
Com estrondo expulsa do céu os filhos da escuridão: O Senhor
julgará com Poder os confins da terra.
Ouvi as vozes dos Irmãos que clamam no ermo e no deserto
115
infecundo: Preparai o caminho da Lei, endireitai as veredas do Pai
Celestial, da Mãe Terrena, e de todos os santos anjos do dia e da noite.
Todos os vales serão aterrados, todas as montanhas e colinas serão
abatidas; o torto será endireitado, os caminhos acidentados serão aplanados,
e toda a carne verá o Poder da Lei.
Nós Te exaltamos, Pai Celestial, pois Tu nos levantaste.
Ó Senhor, nosso Onipotente e Poderoso Pai, nós clamamos a Ti e Tu
nos curaste.
Do túmulo ergueste as almas das pessoas; e as mantiveste vivas, para
que não caíssem no abismo.
Ó Pai Celestial, Tu és a Lei; cedo e tarde buscaremos os Teus anjos:
nossas almas têm sede da Lei, nossa carne anseia a Lei.
A Lei é um rio de santo Poder numa terra seca e sedenta, onde não
existe água.
Nossos lábios louvarão o Teu Poder enquanto vivermos, nós
ergueremos nossas mãos em Teu nome.
Nós preservaremos, nós alimentaremos Tua Ordem Celestial através
do cumprimento de Atos.
Nós invocaremos e proclamaremos de dia e de noite Teu santo
Poder, e esse Poder virá nos ajudar; será como se houvesse mil anjos
empenhados em vigiar um homem.
A Ti, Pai Celestial, pertence todo o Poder, como a Ti também
pertence a misericórdia: Pois a santa Lei retribuirá a cada homem segundo
a sua obra.

116
OA JO DO AMOR

O Amor é mais forte que as correntezas de águas profundas.


O Amor é mais forte que a morte.
Amados, amemo-nos uns aos outros; pois o amor é do Pai Celestial:
E todo aquele que ama nasceu do Pai Celestial e da Mãe Terrena, e conhece
os anjos.
Vós vos amareis uns aos outros, como o Pai Celestial vos tem amado.
Pois o Pai Celestial é amor; e quem habita no amor habita no Pai
Celestial, e o Pai Celestial habita nele.
Que aquele que o ama seja como o sol quando se apresenta em sua força.
Irmãos, tende todos o mesmo propósito, com amor e compaixão
infinitos uns pelos outros.
Não exercerás vingança, nem nutrirás rancor contra os filhos do teu
povo, mas amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Se um homem disser: ‘Eu amo o Pai Celestial, mas odeio meu
irmão’, ele é um mentiroso: pois se ele não ama a seu irmão, a quem viu,
como pode amar o Pai Celestial a quem não viu?
Quem ama o Pai Celestial ama também seu irmão.
Amai também o estrangeiro: pois vós fostes estrangeiros na terra do
Egito.
O povo costuma dizer: É melhor um jantar de ervas onde está o
amor, do que um boi gordo e com ele o ódio.
As palavras de amor são qual favo de mel, doce para a alma e
saudável para os ossos.
As palavras da boca de um homem são como águas profundas, e a
fonte do amor é como um córrego que flui.
O que a Lei requer de ti é apenas que procedas com justiça, ames a
misericórdia, e caminhes humildemente com os anjos.
Por isso nós sabemos que o Anjo do Amor habita em nós, quando
amamos o Pai Celestial e mantemos a sua Lei.
Gracioso Amor! Criador do Amor! Revela as melhores palavras
através da Tua mente divina que vive dentro de nós.
Dize aos Filhos da Luz que lavram o solo no Jardim da Irmandade:
Honrai todos os homens.
Amai a Irmandade.
Obedecei à Lei.
117
OA JO DA SABEDORIA

Seguir o Senhor é o princípio da Sabedoria: E o conhecimento do


Santíssimo é entendimento.
Pois por meio dele, teus dias serão multiplicados, e os anos de tua
vida serão acrescentados.
Toda Sabedoria provém do Pai Celestial, e está com Ele para sempre.
Através da Lei sagrada, o Anjo da Sabedoria guia os Filhos da Luz.
Quem pode contar a areia do mar, as gotas da chuva, e os dias da
eternidade?
Quem pode encontrar a altura do céu, a largura da terra, o abismo, e
a sabedoria?
A sabedoria foi criada antes de todas as coisas.
Pode-se curar com bondade, pode-se curar com justiça, pode-se curar
com ervas, pode-se curar com a Palavra Sábia.
Entre todos os remédios, curativo é aquele que cura com a Palavra
Sábia.
Este é o que melhor expulsa a doença dos corpos dos fiéis, pois a
Sabedoria é a cura mais eficiente de todos os remédios.
Seguir a Lei Sagrada é a coroa da Sabedoria, fazendo florescer a paz
e a saúde perfeita, ambas as quais são dádivas dos anjos.
Nós nos aproximamos de Ti, Ó Pai Celestial! Com a ajuda do Teu
Anjo da Sabedoria, que nos guia por intermédio da Tua Ordem Celestial, e
com ações e palavras inspiradas pela Tua santa Sabedoria!
Vem a nós, Pai Celestial, com a Tua mente criativa, e Tu, que
conferes dádivas através da Ordem Celestial, confere igualmente a dádiva
duradoura da Sabedoria aos Filhos da Luz, para que esta vida possa ser
vivida em santo serviço no Jardim da Irmandade.
No reino da Tua boa mente, encarnado em nossas mentes, o caminho
da Sabedoria flui da Ordem Celestial, na qual habita a sagrada Árvore da
Vida.
De que modo se manifesta a Tua Lei, Ó Pai Celestial!
O Pai Celestial responde: Pelo bom pensamento em perfeita unidade
com a Sabedoria, ó Filho da Luz!
Qual é a palavra bem falada?
É a palavra da Sabedoria que confere bênçãos.
Qual é o pensamento bem pensado?
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É o que pensa o Filho da Luz, aquele que considera ser o Pensamento
Santo mais valoroso do que todas as outras coisas
Assim o Filho da Luz crescerá em concentração e comunhão, e ele
poderá desenvolver a Sabedoria, e assim ele continuará até que todos os
mistérios do Jardim Infinito, onde está a Árvore da Vida, sejam-lhe
revelados.
Então ele dirá estas palavras vitoriosas: Ó Pai Celestial! Dá-me a
minha tarefa para a construção do Teu Reino na terra, através de bons
pensamentos, boas palavras, boas ações, que serão para o Filho da Luz o
seu dom mais precioso.
Ó tu Ordem Celestial! E tu Mente Universal! Eu vos adorarei e
adorarei o Pai Celestial, graças a quem a mente criativa dentro de nós leva
o imperecível Reino a progredir!
Santa Sabedoria, liberta todos os homens do medo, e faze-os sábios
de coração e leves de consciência.
Santa Sabedoria, o entendimento que se desdobra para sempre,
continuamente, sem fim, e não é adquirido através dos manuscritos
sagrados.
A ignorância arruína a maioria das pessoas, tanto entre as que
morreram, quanto entre as que morrerão.
Quando a ignorância for substituída pela Santa Sabedoria, então a
suavidade e a abundância voltarão novamente à nossa terra e aos nossos
campos, com saúde e cura, com plenitude e progresso, e crescimento e
abundância de trigo e relva, e rios de Paz fluirão pelo deserto.

119
OA JO DA VIDA ETER A

E Enoque caminhava com Deus; e ele não estava; pois Deus o levara.
Sobre a terra nenhum homem foi criado como Enoque, pois ele foi
tirado da terra.
Ele era como a estrela da manhã no meio de uma nuvem, como a lua
cheia, como o sol que brilha sobre o templo do Altíssimo, como o arco-íris
que dá luz às nuvens brilhantes, como a flor de rosas na primavera do ano,
como lírios à beira dos rios, como os galhos da árvore de olíbano na época
do verão, como uma formosa oliveira brotando frutos, e como o cipreste
que cresce até chegar às nuvens.
O primeiro seguidor da Lei foi Enoque, o primeiro dos curadores,
dos sábios, dos felizes, dos gloriosos, dos fortes, que repeliu a doença e
repeliu a morte.
Ele obteve uma fonte de remédios para resistir à doença e resistir à
morte; para resistir à dor e resistir à febre; para resistir ao mal e à infecção
que a ignorância da Lei criou contra os corpos dos mortais.
Nós invocamos Enoque, o mestre da vida, o Fundador da nossa
Irmandade, o homem da Lei, o mais sábio de todos os seres, o que melhor
governa entre todos os seres, o mais brilhante de todos os seres, o mais
glorioso de todos os seres, o mais digno de invocações entre todos os seres,
o mais digno de glorificação entre todos os seres, quem primeiro pensou o
que é bom, quem primeiro falou o que é bom, quem primeiro fez o que é
bom.
Que foi o primeiro Sacerdote, o primeiro Lavrador do Solo, que
primeiro conheceu e primeiro ensinou a Palavra, e a obediência à Lei
Sagrada.
A todos os Filhos da Luz ele deu todas as coisas boas da vida: Ele foi
o primeiro portador da Lei.
Estão escritas as palavras do Pai Enoque: Nós sacrificamos ao
Criador, ao Pai Celestial, aos brilhantes e gloriosos anjos.
Nós sacrificamos aos céus resplandecentes, nós sacrificamos à
brilhante, feliz, bem-aventurada sabedoria dos Santos anjos da Eternidade.
Concede-nos, Pai Celestial! o desejo e o conhecimento do caminho
mais reto, mais reto por razão da Ordem Celestial da Vida, a Melhor Vida
dos anjos, brilhante e toda gloriosa.
Assim como a saúde é excelente, assim também é a Vida Eterna,
120
ambas emanam da Ordem Celestial, a criadora da bondade da mente, e das
ações da vida realizadas por devoção ao Criador da Vida Eterna.
Nós sacrificamos ao céu soberano, nós sacrificamos ao tempo sem
limites, nós sacrificamos ao mar sem fim da Vida Eterna.
Nós invocamos a Lei mais gloriosa.
Nós invocamos o Reino do Céu, o tempo sem limites e os anjos.
Nós invocamos a eterna e santa Lei.
Nós seguimos os caminhos das Estrelas, da Lua, do Sol e da Luz sem
fim, que se movem entorno de seu círculo giratório para sempre.
E a veracidade em Pensamento, Palavra e Ação colocará a alma do
homem fiel na luz sem fim da Vida Eterna.
O Pai Celestial me dominou no começo do Seu caminho, antes de
Suas obras mais antigas.
Fui criado desde a eternidade, desde o princípio, ou desde que a terra
existiu.
Quando não havia profundezas, eu fui gerado: quando Ele ainda não
havia feito a terra, nem os campos, nem o começo do pó do mundo.
Quando Ele estabeleceu os céus, eu estava lá; quando Ele pôs um
círculo sobre a face do abismo; quando Ele firmou os céus no alto; quando
a fonte do abismo tornou-se forte; quando Ele deu ao mar os seus limites,
para que as águas não transgredissem Sua Lei; quando Ele demarcou as
fundações da terra: eu estava ao Seu lado, como mestre operário; e eu era
diariamente o Seu deleite, regozijando-me sempre diante d’Ele, regozijando-
me em Sua terra habitável, e o meu deleite está com os filhos dos homens.
Por toda a eternidade reina o Pai Celestial, que se veste com
majestade e força.
Ele é o Eterno!
As enxurradas se ergueram, Ó Senhor, as enxurradas ergueram sua
voz, as enxurradas ergueram suas ondas.
O Pai Celestial nas alturas é mais forte do que o som de muitas
águas, sim, do que as poderosas ondas do mar.
Seu nome durará para sempre, Seu nome será mantido por toda a
eternidade, e todos os Filhos da Luz serão abençoados n’Ele, e todos os
homens o chamarão bendito.
Que a terra inteira seja preenchida com a glória do Pai Celestial, da
Mãe Terrena, e de todos os santos anjos.
Eu alcancei a visão interior e, através do Teu espírito em mim, eu
ouvi o Teu segredo maravilhoso.

121
Através da Tua mística introvisão, fizeste uma fonte de conhecimento
brotar dentro de mim, uma fonte de poder, que verte águas vivas, uma
enxurrada de amor e sabedoria abrangente como o esplendor da Luz Eterna.

122
OA JO DO TRABALHO

Quem mediu as águas na concavidade de sua mão, e distribuiu o céu


com um palmo, e conteve o pó da terra em uma medida, e pesou as
montanhas e as colinas numa balança?
O sol nasce, e os Irmãos se reúnem, eles saem para seu trabalho nos
campos; com dorsos fortes e corações alegres partem para trabalhar juntos
no Jardim da Irmandade.
Eles são os Trabalhadores do Bem, porque trabalham o bem do Pai
Celestial.
Eles são o espírito, a consciência e a alma dos que ensinam a Lei e
lutam por ela.
Com o braço direito e o esquerdo, eles lavram o solo, e o deserto
irrompe em cores, em verde e ouro.
Com o braço direito e o esquerdo, eles assentam as pedras que
edificarão na terra o Reino do Céu.
Eles são os mensageiros do Anjo do Trabalho: neles se revela a Lei
sagrada.
Pai Celestial! Quão múltiplas são as Tuas obras!
Com sabedoria fizeste todas elas; a terra é repleta das Tuas riquezas.
Tu enviaste as fontes para os vales, que correm entre colinas.
Tu dás de beber a todos os animais do campo, e fazes crescer o
capim para o gado.
Tu colocaste as árvores poderosas em seus lugares, para que as aves
do céu possam ter sua morada, e cantem suavemente entre os ramos.
Tu dás as ervas para o serviço do homem, para que ele possa retirar o
alimento da terra.
Nas mãos dos Irmãos todos os Teus dons dão fruto, pois eles constroem
na terra o Reino do Céu.
Tu abres as Tuas mãos, elas estão repletas com o bem.
Tu envias o Teu espírito, eles são criados e, juntamente com os Teus
santos anjos, eles renovarão a face da terra.
Ó Pai Celestial, Tu que és um só! Revela aos Filhos da Luz: Qual é o
lugar principal, no qual a terra sente a maior alegria?
O Pai Celestial, respondendo, disse:
É o lugar em que um dos Irmãos, que seguem a Lei sagrada, dá um
passo à frente: com seus bons pensamentos, boas palavras e boas ações!
123
Cujo dorso é forte no serviço, cujas mãos não são ociosas, que eleva
sua voz em pleno acordo com a Lei.
Este lugar é santo, onde um dos Irmãos semeia a maior parte de trigo,
capim, e frutas: onde rega o solo seco, ou drena o solo demasiado úmido.
Pois a terra foi entregue à guarda dos Filhos da Luz, para que eles a
estimem e zelem, e tirem das suas profundezas somente aquilo que for para
a alimentação do corpo.
Bem-aventurados são os Filhos da Luz cuja alegria está no trabalho
da Lei, que laboram no Jardim da Irmandade de dia, e juntam-se aos anjos
do Pai Celestial à noite.
Seus lábios contam a história que serve de ensinamento aos filhos
dos homens:
Diz-se que as árvores partiram, em um momento, para ungir um rei
sobre elas; e disseram à oliveira:
“Reina tu sobre nós.”
Disse-lhes, porém, a oliveira:
“Deveria eu deixar minha fartura que, por meu intermédio, honrou a
Deus e ao homem, e ser promovida acima das árvores?”
E as árvores disseram à figueira:
“Vem tu, e reina sobre nós.”
Mas a figueira disse-lhes:
“Deveria eu abandonar minha doçura e meus bons frutos, e ser
promovida acima das árvores?”
Disseram, então, as árvores à vinha,
“Vem tu, e reina sobre nós.”
E a vinha lhes disse:
“Deveria eu deixar o meu vinho, que alegra a Deus e ao homem, e
ser promovida acima das árvores?”
O homem da Lei que cumpre suas tarefas não necessita de outras
bênçãos.

124
OA JO DA PAZ

Pois a terra será preenchida com a Paz do Pai Celestial, como as


águas cobrem o mar.
Eu invocarei o Anjo da Paz, cujo alento é amistoso, cujas mãos se
vestem de poder.
No reino da Paz não há fome nem sede, nem vento frio nem vento
quente, nem velhice nem morte.
No reino da Paz, tanto os animais como os homens serão imortais, as
águas e as plantas serão inesgotáveis, e o alimento da vida nunca faltará.
Diz-se que as montanhas trarão paz ao povo, e as pequenas colinas,
virtude.
Haverá paz enquanto o sol e a luz perdurarem, do princípio ao fim de
todas as gerações.
A Paz cairá como chuva sobre a relva aparada, como aguaceiros que
irrigam a terra.
No reinado da Paz a Lei crescerá forte.
E os Filhos da Luz terão domínio de mar a mar, até os confins da
terra.
O reinado da Paz tem sua fonte no Pai Celestial; pela Sua força Ele
estabeleceu rapidamente as montanhas, Ele faz a partida da manhã e da
noite regozijarem-se na Luz, Ele traz à terra o rio da Lei, para aguá-la e
enriquecê-la, Ele amacia a terra com as chuvas; elas caem sobre os pastos
do deserto, e as pequenas colinas regozijam-se de todos os lados.
As pastagens estão vestidas com rebanhos; os vales também estão
cobertos com trigo; eles gritam de alegria, e cantam também.
Ó Pai Celestial! Traz à Tua terra o reinado da Paz!
Então nós nos lembraremos das palavras daquele que ensinava
outrora aos Filhos da Luz:
Eu dou a paz de tua Mãe Terrena ao teu corpo, e a paz de teu Pai
Celestial ao teu espírito.
E que a paz de ambos reine entre os filhos dos homens.
Vinde a mim todos que estais cansados, e que sofreis em disputas e
aflição!
Pois a minha paz vos fortalecerá e consolará.
Pois a minha paz está excedente, plena de alegria.
Por isso eu sempre vos saúde desta maneira:
125
A paz esteja convosco!
Saudai sempre assim, portanto, uns aos outros, para que sobre o
vosso corpo possa descer a Paz de vossa Mãe Terrena, e sobre o vosso
espírito, a Paz de vosso Pai Celestial.
E então encontrareis paz também entre vós, pois o Reino da Lei está
dentro de vós.
E voltai para os vossos Irmãos e daí a vossa paz também a eles, pois
felizes são aqueles que lutam pela paz, pois eles encontrarão a paz do Pai
Celestial.
E dai a cada um a vossa paz, assim como eu vos dei a minha paz.
Pois a minha paz é de Deus.
A paz esteja convosco!

126
O PAI CELESTIAL

No Reino Celestial há obras notáveis e maravilhosas, pois, pela Sua


palavra, todas as coisas consistem.
Existem ainda escondidas coisas que são maiores do que estas, pois
só vimos apenas algumas de Suas obras:
O Pai Celestial fez todas as coisas.
A beleza do céu, a glória das estrelas, emite luz nos lugares mais
altos do Mar Celestial.
Sentinelas do Altíssimo, elas estão em sua ordem, e nunca
desfalecem em sua vigília.
Olha para o arco-íris e louva aquele que o fez; lindíssimo é ele em
seu resplendor.
Ele circunda o céu com um círculo glorioso, curvado pelas mãos do
Altíssimo.
Pela Sua Lei, Ele faz a neve cair célere, e envia velozmente os raios
do Seu julgamento.
Através disto os tesouros são abertos, e as nuvens voam como aves.
Pelo Seu grande poder, ele firma as nuvens, e quebra em pedacinhos
o granizo.
À Sua visão, abalam-se as montanhas, e, à Sua vontade, sopra o
vento do sul.
O rugido do trovão faz a terra tremer, assim fazem a tempestade do
norte e o tufão; como aves que voam, Ele dispersou a neve, e os olhos
maravilham-se diante da beleza da sua alvura, e o coração pasma diante da
sua precipitação.
Assim os céus declaram a glória de Deus, e o firmamento mostra sua
obra.
Quem fez as águas?
E quem faz as plantas?
Quem ao vento atrelou as nuvens de tempestades, as rápidas e até as
mais velozes?
Quem, Ó Pai Celestial, é o Criador da Lei sagrada dentro de nossas
almas?
Quem fez a luz e a escuridão?
Quem fez o sono e o prazer das horas de vigília?
Quem deu ao sol e às estrelas recorrentes o seu caminho invariável?
127
Quem estabeleceu o porquê a lua cresce, e porquê ela míngua?
Quem, senão Tu, Pai Celestial, fez estas coisas gloriosas!
Senhor, Tu tens sido o nosso refúgio em todas as gerações.
Antes que as montanhas fossem criadas, ou antes de formares a terra
e o mundo, desde toda a eternidade, Tu és a Lei.
Teu nome é Entendimento, Teu nome é Sabedoria, Teu nome é o
Beneficentíssimo, Teu nome é o Invencível, Teu nome é Aquele que dá o
verdadeiro relato, Teu nome é Aquele que tudo vê, Teu nome é Aquele que
Cura, Teu nome é o Criador.
Tu és o Guardião, Tu és o Criador e o Mantenedor; Tu és o
Discernidor e o Espírito, Tu és a Lei Sagrada.
Estes nomes foram pronunciados antes da Criação deste Céu, antes
da feitura das águas e das plantas, antes do nascimento do nosso santo Pai
Enoque.
Antes do princípio do tempo, O Pai Celestial plantou a sagrada
Árvore da Vida, que está para todo o sempre no meio do Mar Eterno.
No alto de seus galhos canta um pássaro, e somente aqueles que
viajaram até lá, e ouviram o canto misterioso do pássaro, somente eles
verão o Pai Celestial.
Eles lhe perguntarão o Seu nome, e Ele responderá: Eu sou o que Eu
sou, sendo sempre o mesmo como o Eterno Eu sou.
Ó Tu, Pai Celestial! Quão excelente é o Teu nome em toda a terra!
Colocaste Tua glória acima dos céus.
Quando nós consideramos os Teus céus, a obra dos Teus dedos, a lua
e as estrelas, que Tu ordenaste, o que é o homem para que Tu te lembres
dele?
Entretanto, Tu fizeste uma aliança com os Filhos da Luz, e eles
caminham com os Teus santos anjos; Tu os coroaste com glória e honra, Tu
fizeste-os ter domínio sobre as obras de Tuas mãos, e deste-lhes a tarefa de
nutrir e proteger todas as vidas e crescimentos sobre a Tua terra verde.
Ó Pai Celestial! Quão excelente é o Teu nome em toda a terra!
Ouve a voz daquele que clama por Ti:
Aonde eu me esconderei do Teu espírito?
Ou onde eu fugirei da Tua presença?
Se eu subir ao céu, lá Tu estarás; se eu fizer minha cama no inferno,
eis que lá Tu estarás.
Se eu tomar as asas da manhã, e for morar nas partes mais remotas
do mar, até lá Tua mão me guiará, e Tua mão direita me sustentará.

128
Se eu disser: “Certamente a escuridão me cobrirá”, mesmo a noite
será clara sobre mim; Sim, a escuridão não me ocultará de Ti, mas a noite
brilhará como o dia: a escuridão e a luz serão ambas iguais para Ti, pois Tu
tomaste minhas rédeas.
Como o veado anseia pelos ribeiros de água, assim minha alma
anseia por Ti, Ó Deus.
Minha alma tem sede do Pai Celestial vivo.
A Lei é a minha luz e a minha salvação; a quem eu temerei?
A Lei é a rocha e a força da minha vida; de quem eu terei medo?
Uma coisa eu tenho desejado da Lei, que eu buscarei:
Que eu possa habitar na casa da Lei todos os dias da minha vida,
para contemplar a beleza do Pai Celestial.
Aqueles que habitam no esconderijo do Altíssimo habitarão sob a
sombra do Todo Poderoso.
Nós diremos da Lei: “Tu és o nosso refúgio e a nossa fortaleza; nós
confiaremos na Lei Sagrada”.
E o Pai Celestial nós cobrirá com Suas penas, e debaixo de Suas asas
nós estaremos confiantes; Sua verdade será nosso escudo e nosso broquel.
Não teremos medo do terror à noite, nem da seta que voa de dia, nem
da peste que rasteja no escuro, nem da destruição que assola ao meio-dia.
Pois de dia nós caminharemos com os anjos da Mãe Terrena, e à
noite comungaremos com os anjos do Pai Celestial.
E quando o sol chegar ao seu zênite no meio-dia, nós ficaremos em
silêncio diante da Paz Sétupla: E nenhum mal nos sucederá, nem praga
alguma se aproximará de nossa morada, pois Ele conferiu nossa custódia
aos Seus anjos, para nos manter em todos os Seus caminhos.
O Pai Celestial é o nosso refúgio e a nossa força.
Portanto, não temeremos.
Ainda que a terra seja mudada de lugar, e ainda que as montanhas
sejam carregadas para o meio do mar, ainda que águas dele rujam e se
perturbem, ainda que os montes se abalem pela expansão dele, há um rio
que flui para o Mar Eterno.
E à sua beira está a sagrada Árvore da Vida.
Ali habita o meu Pai, e o meu lar está nele.
O Pai Celestial e eu somos Um.

129
A LEI SAGRADA

Tu, Ó Lei Sagrada, a Árvore da Vida que está no meio do Mar


Eterno, que é chamada a Árvore da Cura, a Árvore da Cura poderosa, a
Árvore de todas as Curas e sobre a qual repousam as sementes de tudo o
que nós invocamos.
Vós não conhecestes?
Vós não ouvistes?
Acaso não te foi contado desde o princípio?
Ergue os olhos para o alto e contempla a Lei Sagrada, que está
estabelecida antes do eterno, soberano e luminoso espaço, que criou as
fundações da terra, que é a primeira e a última, que vive no coração dos
Filhos da Luz.
Pois a Lei é grande, como é grande o Pai Celestial acima dos Seus
anjos: É Ele quem nos dá a Lei, e Ele é a Lei:
Em Sua mão estão os lugares profundos da terra; a força das colinas
é Sua também.
O mar é Seu, e Ele o fez, e Suas mãos formaram a terra seca.
Vamos, adoremos e prostremo-nos, ajoelhemos diante do Pai Celestial,
pois Ele é a Lei, e nós somos o povo de Sua pastagem e as ovelhas de Sua
mão.
Com cânticos de alegria os Filhos da Luz invocam a Lei Sagrada:
A moléstia foge diante dela, a morte foge, a ignorância foge.
O orgulho, o desprezo e a febre alta, a calúnia, a discórdia e o mal,
toda a raiva e toda a violência, e as palavras mentirosas de falsidade, todas
fogem diante do poder da Lei Sagrada.
Aqui está a Lei que derrotará todas as moléstias, que derrotará toda a
morte, que derrotará os opressores dos homens, que derrotará o orgulho,
que derrotará o desprezo, que derrotará as febres altas, que derrotará todas
as calúnias, que derrotará todas as discórdias, que derrotará o pior do mal,
que banirá a ignorância da terra.
Nós bendizemos a invocação e a prece, a força e o vigor da Lei
Sagrada.
Nós invocamos o espírito, a consciência e a alma dos Filhos da Luz
que ensinam a Lei, que lutam no reino da escuridão para trazer a luz da Lei
aos filhos dos homens.
Nós bendizemos a vitória dos bons pensamentos, das boas palavras e
130
das boas ações, que fortalece as fundações do Reino da Luz.
Que os filhos dos homens, que pensam, falam e fazem todos os bons
pensamentos, palavras e ações, habitem o céu como seu lar.
E que aqueles que pensam, falam e fazem maus pensamentos,
palavras e ações habitem no caos.
A pureza é para o homem, depois da vida, o maior dos bens:
Essa pureza está na Lei Sagrada, que faz crescer a relva sobre os
montes, e limpa o coração dos homens.
Com bons pensamentos, boas palavras e boas ações, será limpo o
fogo, limpa a água, limpa a terra, limpas as estrelas, a lua e o sol, limpo o
homem fiel e a mulher fiel, limpa a Luz eterna e sem limites, limpo o Reino
da Mãe Terrena e limpo o Reino do Pai Celestial, limpas as boas coisas
feitas pela Lei, cuja prole é a Criação Divina.
Para obter os tesouros do mundo material, ó filhos dos homens, não
renuncieis o mundo da Lei.
Pois aquele que, para obter os tesouros do mundo material, destrói
em si o mundo da Lei, não possuirá nem a força da vida nem a Lei, nem
tampouco a Luz Celestial.
Mas aquele que caminha com os anjos, e segue a Lei Sagrada, obterá
tudo o que é bom: Ele entrará no Mar Eterno onde está a Árvore da Vida.
As Comunhões da Lei são perfeitas, convertem a escuridão da alma
em luz; o testemunho da Lei é seguro, torna sábios os simples.
Os estatutos da Lei são corretos, alegram o coração; o mandamento
da Lei é puro, e ilumina os olhos.
A verdade da Lei é limpa, e dura para sempre.
Que os Filhos da Luz triunfem em toda parte entre os Céus e a Terra!
Respiremos a Lei Sagrada em nossa prece:
Quão belos são os Teus tabernáculos, Ó Pai Celestial!
Minha alma anseia, sim, e até desfalece pela Árvore da Vida que está
no meio do Mar Eterno.
Meu coração e minha carne clamam pelo Deus Vivo.
Sim, o pardal encontrou um lar, e a andorinha um ninho para si, onde
pode deixar os seus filhotes.
Os Filhos da Luz que trabalham no Jardim da Irmandade
permanecem na Lei Sagrada: Bem-aventurados são os que nela habitam.

131
OS A JOS

O Pai Celestial confiou aos seus Anjos a tua guarda:


E em suas mãos eles te sustentarão, até a Árvore da Vida que está no
meio do Mar Eterno...
Pela sabedoria da Lei, pelo poder incomparável da Lei, e pelo vigor
da saúde, pela Glória do Pai Celestial e da Mãe Terrena, e por todos os
benefícios e remédios da Paz Sétupla, nós adoramos os Santos Anjos.
Nossos esforços por eles e nossas Comunhões com eles fazem-nos
bons aos olhos do Pai Celestial.
A Lei é cumprida de acordo com os Anjos, os Brilhantes e Santos,
cujos olhares executam a sua vontade, fortes, senhoris, que são
imperecíveis e sagrados, que são sete e todos de um só Pensamento, que
são sete e todos de um só Discurso, que são sete e todos de uma só Ação.
Cujo Pensamento é o mesmo, cujo Discurso é o mesmo, cuja Ação é
a mesma, cujo Pai é o mesmo, ou seja, o Pai Celestial!
Os Anjos que vêem as almas uns dos outros, que trazem o Reino da
Mãe Terrena e o Reino do Pai Celestial aos Filhos da Luz que trabalham no
Jardim da Irmandade.
Os Anjos que são os Fabricantes e os Governantes, os Modeladores e
os Supervisores, os Guardiões e os Preservadores da Terra abundante! E de
todas as Criações do Pai Celestial.
Nós invocamos os bons, os fortes, os benéficos Anjos do Pai
Celestial e da Mãe Terrena!
Da Luz!
Do Céu!
Das Águas!
Da Terra!
Das Plantas!
Dos Filhos da Luz!
Da Eterna e Sagrada Criação!
Nós adoramos os Anjos que primeiro escutaram o pensamento e o
ensinamento do Pai Celestial, de quem os Anjos formaram a semente das
nações.
Nós adoramos os Anjos que primeiro tocaram a fronte de nosso Pai
Enoque, e guiaram os Filhos da Luz pelos sete vezes sete Caminhos que
conduzem à Árvore da Vida que se ergue para sempre no meio do Mar
132
Eterno.
Nós adoramos todos os Anjos, os bons, heróicos e generosos Anjos,
do mundo corpóreo da Mãe Terrena, e os dos Reinos Invisíveis, aqueles
dos Mundos Celestiais do Pai Celestial.
Nós adoramos os sempre benditos imortais Anjos, os brilhantes de
semblante esplendoroso, as criaturas sublimes e devotadas do Pai Celestial,
que são Imperecíveis e Santas.
Nós adoramos os resplandecentes, os gloriosos, os generosos Santos
Anjos, que governam justamente e que ajustam todas as coisas
corretamente.
Ouvi as vozes alegres dos Filhos da Luz, que entoam louvores aos
Santos Anjos enquanto trabalham no Jardim da Irmandade:
Nós cantamos com alegria para as águas, o solo e as plantas, para a
terra e para os céus, para o santo vento e para o santo sol e a santa lua, para
as estrelas eternas sem começo, e para todas as santas criaturas do Pai
Celestial.
Nós cantamos com alegria para a Lei Sagrada, que é a Ordem
Celestial, para os dias e para as noites, para os anos e para as estações, que
são os pilares da Ordem Celestial.
Nós adoramos os Anjos do Dia, e os Anjos do Mês, os dos Anos e os
das Estações, todos os bons, heróicos, sempre benditos imortais Anjos que
mantêm e preservam a Ordem Celestial.
Nós desejamos nos aproximar dos Anjos poderosos, de todos os
Anjos da Ordem Celestial, por causa da Lei Sagrada, que é o melhor de
todos os bens.
Nós apresentamos estes pensamentos bem pensados, estas palavras
bem faladas, estas ações bem executadas, aos Anjos generosos e imortais,
que exercem corretamente o seu governo.
Nós apresentamos estas oferendas aos Anjos do Dia e aos Anjos da
Noite, os sempre vivos, os sempre úteis, que habitam eternamente com a
Mente Divina.
Que os bons, heróicos e generosos Anjos do Pai Celestial e da Mãe
Terrena caminhem com os seus santos pés no Jardim da Irmandade, e
andem de mãos dadas conosco com as virtudes curativas dos seus dons
benditos, tão difundidos quanto a terra, tão espalhados quanto os rios, tão
alto quanto o sol, para favorecer o aprimoramento do homem, e o
crescimento abundante.
São eles, os Santos Anjos, que restaurarão o Mundo!

133
Que a partir daí jamais envelhecerá e jamais morrerá!
Jamais decairá e sempre viverá e aumentará.
Então a Vida e a Imortalidade virão, e o Mundo será restaurado!
A Criação crescerá imortal, o Reino do Pai Celestial prosperará, e o
mal terá perecido!

134
A IRMA DADE

Vede, quão bom e quão agradável é para os Filhos da Luz habitar


juntos em unidade!
Para a Irmandade O Pai Celestial ordenou a Lei.
E a vida para todo o sempre.
A Lei foi plantada no Jardim da Irmandade para iluminar os corações
dos Filhos da Luz, para endireitar diante deles os sete vezes sete caminhos
que conduzem à Árvore da Vida, erguida no meio do Mar Eterno; A Lei foi
plantada no Jardim da Irmandade, para que eles pudessem reconhecer os
espíritos da verdade e da falsidade.
A verdade nasceu da fonte da Luz, a falsidade, do poço da escuridão.
O domínio de todos os Filhos da Verdade está nas mãos dos
poderosos anjos da Luz, para que eles trilhem nos caminhos da Luz.
Os Filhos da Luz são os servos da Lei, e o Pai Celestial não os
esquecerá.
Ele apagou-lhes os pecados, qual densa nuvem; Ele acendeu a vela
da Verdade dentro de seus corações.
Cantai, ó céus, gritai, ó partes baixas da terra, rompei em cânticos, ó
montanhas, ó florestas, e cada árvore que há nelas:
Pois o Pai Celestial acendeu Sua chama nos corações dos Filhos da
Luz, e glorificou-se neles.
A Lei Sagrada do Criador purifica os seguidores da Luz de todos os
maus pensamentos, palavras e ações, como um vento poderoso veloz que
limpa a planície.
Que ao Filho da Luz, que assim desejar, seja-lhe ensinada a Palavra
Sagrada, no primeiro período do dia e no último, no primeiro período da
noite e no último, para que sua mente possa crescer em inteligência e sua
alma se fortaleça na Lei Sagrada.
No momento da aurora, ele olhará para o sol que nasce e saudará
com alegria sua Mãe Terrena.
No momento da aurora, ele banhará o corpo na água fria e saudará
com alegria sua Mãe Terrena.
No momento da aurora, ele respirará o ar fragrante e saudará com
alegria sua Mãe Terrena.
Durante o dia, ele trabalhará com seus irmãos no Jardim da
Irmandade.
135
No descer do crepúsculo, ele se juntará a seus irmãos, e todos,
reunidos, estudarão as palavras sagradas de nossos pais e dos pais de seus
pais, até as palavras do nosso Pai Enoque.
E quando as estrelas estiverem altas nos céus, ele comungará com os
santos anjos do Pai Celestial.
E sua voz será erguida com alegria até o Altíssimo, dizendo: Nós
adoramos o Criador, o feitor de todas as coisas boas:
E da Boa Mente, da Lei, da Imortalidade, e do Sagrado Fogo da Vida.
Nós oferecemos à Lei a Sabedoria da Língua, o Discurso Sagrado, as
Ações, e as Palavras corretamente proferidas.
Concede-nos, Pai Celestial, que possamos trazer abundância ao
mundo que criaste, para podermos eliminar a fome e a sede do mundo que
criaste, para podermos eliminar a velhice e a morte do mundo que criaste.
Ó bom, beneficentíssimo Pai Celestial!
Concede-nos que possamos pensar segundo a Lei, para que possamos
falar segundo a Lei, para que possamos agir segundo a Lei.
Ó Pai Celestial, qual é a invocação mais meritória em grandeza e
bondade?
É aquela, ó Filhos da Luz, que oferecemos ao acordar e levantar do
sono, ao mesmo tempo professando bons pensamentos, boas palavras e
boas ações, e rejeitando maus pensamentos, más palavras e más ações.
O primeiro passo dado pela alma do Filho da Luz colocou-o no
Paraíso do Bom Pensamento, o Reino Sagrado da Sabedoria.
O segundo passo dado pela alma do Filho da Luz colocou-o no
Paraíso da Boa Palavra, o Reino Sagrado do Amor.
O terceiro passo dado pela alma do Filho da Luz colocou-o no
Paraíso da Boa Ação, o Reino Sagrado do Poder.
O quarto passo dado pela alma do Filho da Luz colocou-o na Luz
Infinita.
O Pai Celestial conhece os corações dos Filhos da Luz, e sua herança
será para sempre.
Eles não sentirão medo nos maus tempos:
E, nos dias de fome, eles serão saciados.
Pois com eles está a Fonte da Vida, e o Pai Celestial não desampara
Seus filhos.
Suas almas respirarão para todo o sempre, e suas formas serão
dotadas de Vida Eterna.
Abençoados sejam os Filhos da Luz que seguem com a Lei, que

136
caminham verdadeiramente em todos os seus caminhos.
Que a Lei abençoe-os com todo o bem e guarde-os de todo o mal, e
ilumine seus corações com visão sobre as coisas da vida, e agracie-os com
o conhecimento das coisas eternas.

137
ÁRVORES

Vai até as Árvores altaneiras e, diante de uma delas, que seja bela,
alta e poderosa, dize estas palavras:
Eu te saúdo! Ó boa Árvore viva, feita pelo Criador.
Antigamente, quando a Criação era nova, a terra estava cheia de
árvores gigantescas, cujos galhos pairavam acima das nuvens, e nelas
habitavam nossos Antigos Patriarcas, os que caminhavam com os anjos e
viviam segundo a Lei Sagrada.
À sombra dos seus ramos todos os homens viviam em paz, e a
sabedoria e o conhecimento estavam neles, e a revelação da Luz Infinita.
Através das suas florestas fluía o Rio Eterno, em cujo centro se
erguia a Árvore da Vida, que não se escondia deles.
Eles comiam da mesa da Mãe Terrena, e dormiam nos braços do Pai
Celestial, e sua aliança era pela eternidade com a Lei Sagrada.
Naquele tempo as árvores eram irmãs dos homens, e muito longa era
a duração de sua vida na terra, tão longa quanto o Rio Eterno, que fluía sem
cessar desde a Fonte Desconhecida.
Agora o deserto varre a terra com areia ardente, as árvores
gigantescas fizeram-se poeira e cinzas, e o vasto rio é uma lagoa lodosa.
Pois a sagrada aliança com o Criador foi rompida pelos filhos dos
homens, e eles foram banidos de seu lar nas árvores.
Agora o caminho para a Árvore da Vida esconde-se dos olhos dos
homens, e a tristeza enche o céu vazio onde antes pairavam os galhos
altaneiros.
Agora ao deserto ardente chegaram os Filhos da Luz, para trabalhar
no Jardim da Irmandade.
A semente que eles plantam no solo árido transformar-se-á em uma
floresta poderosa, e as árvores se multiplicarão e estenderão suas asas de
verde até que toda a terra seja coberta outra vez.
A terra toda será um jardim e as altas árvores cobrirão a terra.
Nesse dia, os Filhos da Luz entoarão um novo cântico:
Minha irmã Árvore!
Não deixes que eu me esconda de ti, mas partilhemos o alento de
vida que nos deu nossa Mãe Terrena.
Mais bela que a jóia mais fina da arte do tapeceiro, é o carpete de
folhas verdes sob os meus pés nus; mais majestosa que o dossel de seda do
138
rico mercador, é a tenda de galhos acima da minha cabeça, através dos
quais as estrelas brilhantes dão luz.
O vento entre as folhas dos ciprestes faz um som como o de um coro
de anjos.
Através do robusto carvalho e do cedro real, a Mãe Terrena enviou
uma mensagem de Vida Eterna ao Pai Celestial.
Minha prece segue até as altas árvores:
E os seus ramos erguidos em direção ao céu carregarão minha voz
até o Pai Celestial.
Para cada filho tu plantarás uma árvore, para que o ventre de tua Mãe
Terrena produza vida, como produz vida o ventre da mulher.
Aquele que destrói uma árvore corta seus próprios membros.
Assim cantarão os Filhos da Luz, quando a terra voltar a ser um
jardim:
Árvore Sagrada, dom divino da Lei!
Tua majestade reúne todos aqueles que se desgarraram do verdadeiro
lar, que é o Jardim da Irmandade.
Todos os homens se tornarão irmãos novamente debaixo dos teus
ramos espalhados.
Como o Pai Celestial tem amado todos os seus filhos, assim
amaremos e cuidaremos das árvores, que crescem na nossa terra, assim nós
as guardaremos e protegeremos, para que possam crescer altas e fortes, e
encham de novo a terra com sua beleza.
Pois as árvores são nossas irmãs, e como irmãos nós nos amaremos e
guardaremos uns aos outros.

139
ESTRELAS

As brancas, cintilantes, Estrelas vistas ao longe!


As penetrantes, saudáveis, Estrelas que penetram longe!
Seus raios brilhantes, seu esplendor e sua glória são todos, através da
Tua Lei Sagrada, os Oradores do Teu louvor, Ó Pai Celestial!
Sobre a face do céu o Pai Celestial lançou Seu poder:
E eis que Ele deixou um Rio de Estrelas em Seu rastro!
Nós invocamos as Estrelas luzentes e gloriosas que purificam todas
as coisas do medo e trazem saúde e vida a todas as Criações.
Nós invocamos as Estrelas luzentes e gloriosas às quais o Pai
Celestial deu um milhar de sentidos, as Estrelas gloriosas que têm dentro de
si a Semente da Vida e da Água.
Às Estrelas luzentes e gloriosas nós oferecemos uma Invocação:
Com sabedoria, poder e amor, com discurso, ações e palavras
corretamente proferidas, nós sacrificamos às Estrelas luzentes e gloriosas
que voam em direção ao Mar Celestial, tão rapidamente quanto a seta cruza
o Espaço celestial.
Nós invocamos as Estrelas luzentes e gloriosas, que belas se destacam,
espalhando conforto e alegria ao comungarem dentro de si.
As Obras Sagradas, as Estrelas, os Sóis e a Aurora multicolorida que
traz a Luz dos Dias, são todos, através da Ordem Celestial, Oradores do teu
louvor, ó tu, grande doadora, a Lei Sagrada!
Nós invocamos o Senhor das Estrelas, o Anjo da Luz, o sempre
desperto! Que toma posse da bela Lei de ampla expansão, grande e
poderosamente, e cuja face olha sobre todos os sete vezes sete Reinos da
Terra; célere entre os céleres, generoso entre os generosos, forte entre os
fortes, doador de Crescimento, doador de Soberania, doador de
Contentamento e Bem-aventurança.
Nós invocamos o Senhor das Estrelas, o Anjo da Luz, que fala a
verdade, com um milhar de ouvidos e dez milhares de olhos, com pleno
conhecimento, forte e sempre desperto.
A Ordem Celestial permeia todas as coisas puras, dela são as
Estrelas, em cuja luz se vestem os anjos gloriosos.
Grande é o nosso Pai Celestial, e de sumo poder:
Seu entendimento é infinito.
Ele diz o número das estrelas; e chama todas pelos seus nomes.
140
Contemplai a altura das estrelas!
Como são altas!
No entanto, o Pai Celestial as segura na palma das mãos, como
peneiramos a areia nas nossas.
Aquele que não conhece a Lei Sagrada é como uma estrela errante na
escuridão de um céu desconhecido.
Pensas tu que existe apenas uma forma de ver o firmamento?
Imaginai que as estrelas são apenas lugares partidos no firmamento,
através dos quais a glória do céu se revela em fragmentos de luz
resplandecente!
Na noite purpúrea, atravessada pelas Estrelas contínuas, as almas dos
Filhos da Luz criarão asas e se juntarão aos anjos do Pai Celestial.
Então o Mar Eterno refletirá a glória deslumbrante dos céus, e os
ramos da Árvore da Vida alcançarão as Estrelas.
Então o Reino do Céu encherá a terra de Glória, e as Estrelas
brilhantes do Altíssimo arderão nos corações dos Filhos da Luz e aquecerão
e confortarão os filhos dos homens que buscam.

141
A LUA

Para a Lua luminosa, que guarda dentro de si a semente de muitas


espécies, haja uma invocação com sacrifício e prece.
Quando a Luz da Lua fica mais quente, plantas de matizes dourados
brotam da terra durante a estação da Primavera.
Nós sacrificamos às Luas Novas e às Luas Cheias; o crescente da
Lua Nova está repleto de santa Paz.
Nós sacrificamos ao Anjo da Paz.
A Lua radiante e luminosa guarda a semente dentro de si: a brilhante,
a gloriosa, a que nos dá a água, a que nos dá o calor, a que nos dá a
sapiência, a que nos dá a meditação, a que nos dá o frescor, a curadora, a
Lua da Paz!
Com luz silenciosa e doadora de Paz a Lua brilha sobre pastos,
moradias, águas, terras e plantas do nosso jardim terreno.
A Lua e o Sol, o Vento sagrado e as Estrelas sem começo,
autodeterminados e automovidos, são todos reguladores da Ordem Sagrada,
dos dias e das noites, dos meses e dos anos.
A face da Lua muda seu aspecto e, no entanto, é sempre a mesma.
Assim como a Lei Sagrada revela uma face diversa a cada um dos
Filhos da Luz, mas não se altera em sua Essência.
Nós invocamos a Lua Nova e a Lua que míngua, e a Lua Cheia que
dispersa a Noite, e os festivais e as estações anuais do Pai Celestial.
Pois foi Ele quem deu à lua o seu aumento e a sua diminuição, para
que através dela conheçamos os movimentos do dia e da noite.
Tu, lua prateada e luminosa!
Nós somos gratos por podermos contemplar-te, e ver no teu reflexo a
face abençoada de nossa Mãe Terrena.
No mundo dos filhos dos homens, os Irmãos da Luz são chamas de
esplendor, como as estrelas empalidecem na presença da lua brilhante e
resplandecente.
A lua move-se iluminada, cruzando o céu, e o deleite na Lei Sagrada
enche nossos corações.
Paz, Paz, Paz, Santo Anjo da Paz, ilumina a lua de prata com a tua
santidade, para que todos possam contemplar sua beleza e sentir tua Paz
eterna.
O céu deserto é azul à noite, e nós vemos o primeiro raio da Lua
142
Nova, casta e formosa.
Então os Irmãos saúdam-se um ao outro com amor e agradecimento,
dizendo: “A Paz esteja contigo! A paz esteja contigo!”

143
SALMOS DE LOUVOR E AÇÃO DE GRAÇAS

Eu sou grato, Pai Celestial, por me haveres elevado a uma altura


eterna, e eu ando pelas maravilhas da planície.
Tu me deste orientação para alcançar a Tua eterna companhia desde
as profundezas da terra.
Tu purificaste meu corpo para juntar-me ao exército dos anjos da
terra e para meu espírito alcançar a congregação dos anjos celestiais.
Tu deste eternidade ao homem para exaltar, na aurora e no
crepúsculo, Tuas obras e maravilhas em cântico jubiloso.
Ó vós, todas as obras da Ordem Celestial, bendizei a Lei:
Louvai e exaltai a Lei acima de tudo, para sempre.
Ó vós, céus, bendizei a Lei:
Louvai e exaltai a Lei acima de tudo, para sempre.
Ó vós, anjos do Pai Celestial, e vós, anjos da Mãe Terrena, bendizei
a Lei:
Louvai e exaltai a Lei acima de tudo, para sempre.
Ó vós, todas as águas que estão acima dos céus, bendizei a Lei.
Ó vós, todos os poderes dos Santos Anjos, bendizei a Lei.
Ó vós, sol e lua, bendizei a Lei.
Ó vós, estrelas do céu, bendizei a Lei.
Ó vós, chuviscos e orvalhos, bendizei a Lei.
Ó vós, todos os ventos, bendizei a Lei.
Ó vós, fogo e calor, bendizei a Lei.
Ó vós, inverno e verão, bendizei a Lei.
Ó vós, luz e treva, bendizei a Lei.
Ó vós, orvalhos e tempestades de neve, bendizei a Lei.
Ó vós, noites e dias, bendizei a Lei.
Ó vós, relâmpagos e nuvens, bendizei a Lei.
Ó vós, montanhas e pequenas colinas, bendizei a Lei.
Ó vós, o que cresceis na terra, bendizei a Lei.
Ó vós, fontes, bendizei a Lei.
Ó vós, mares e rios, bendizei a Lei.
Ó vós, baleias e tudo que se move nas águas, bendizei a Lei.
Ó vós, todas as aves do ar, bendizei a Lei.
Ó vós, animais e gado, bendizei a Lei.
Ó vós, filhos dos homens, bendizei a Lei.
144
Ó vós, espíritos e almas dos Filhos da Luz, bendizei a Lei.
Ó vós, santos e humildes trabalhadores do Jardim da Irmandade,
bendizei a Lei.
Que toda a terra bendiga a Lei!
Dai graças ao Pai Celestial, e bendizei a Sua Lei.
Ó todos vós que adorais a Lei, louvai o Pai Celestial e a Mãe
Terrena, e todos os Santos Anjos, e dai-lhes graças, porque a Lei dura para
sempre.
Nós adoramos a Lei de dia e de noite.
Salve o Pai Celestial!
Salve a Mãe Terrena!
Salve os Santos Anjos!
Salve os Filhos da Luz!
Salve nosso santo Pai Enoque!
Salve toda a Santa Criação que foi, que é e que sempre será!
Nós sacrificamos às estrelas luzentes e gloriosas, sacrificamos ao céu
soberano, sacrificamos ao tempo sem limites, sacrificamos à boa Lei dos
adoradores do Criador, dos Filhos da Luz que trabalham no Jardim da
Irmandade; sacrificamos ao caminho da Lei Sagrada.
Nós sacrificamos a todos os Santos Anjos do mundo invisível; Nós
sacrificamos a todos os Santos Anjos do mundo material.
Dai graças ao Pai Celestial, pois Ele é bom, dai graças ao Deus dos
Anjos, dai graças ao Senhor da Luz, pois a Sua misericórdia dura para
sempre.
A Ele que por si só opera grandes maravilhas, a Ele que, pela
sabedoria, fez os céus, a Ele que estendeu a terra acima das águas, a Ele que
fez grandes luzes nos céus, a Ele que fez o sol para reinar de dia, e a lua e as
estrelas para reinarem à noite, entoai infinitos louvores e agradecimentos,
pois a Sua misericórdia dura para sempre.
E nós adoramos a antiga e santa religião, instituída na Criação, que
estava na terra no tempo das Grandes Árvores; a santa religião do Criador,
a resplandecente e gloriosa, revelada a nosso Pai Enoque.
Nós adoramos o Criador, e o Fogo da Vida, e as boas Águas que são
Santas, e o resplandecente Sol e a Lua, e as Estrelas lustrosas e gloriosas; e
sobretudo nós adoramos a Lei Sagrada, que o Criador, nosso Pai Celestial,
nos deu.
É a Lei que santifica o nosso lugar de morada, que é a terra extensa e
verde.

145
Louvai a Lei!
A Lei cura o coração partido, e cura-lhe as feridas.
Grande é a Lei, e grande é o seu poder; infinita é a compreensão da
Lei.
A Lei eleva os humildes, e arremessa ao solo os iníquos.
Cantai para a Lei em agradecimento, harpeai louvores à Lei, que
cobre o céu de nuvens, que prepara a chuva para a terra, que faz crescer a
relva nas montanhas.
Nós louvamos em voz alta o Pensamento bem pensado, a Palavra
bem falada, a Ação bem executada.
Nós iremos a vós, ó generosos imortais!
Nós iremos a vós, enaltecendo-vos e invocando-vos, anjos do Pai
Celestial e da Mãe Terrena!
Nós adoramos o Santo Senhor da Ordem Celestial, o Criador de
todas as boas criaturas da terra.
E nós adoramos as elocuções do nosso Pai Enoque, e sua religião
antiga e pura, sua fé e seu saber, mais velhos que o início do tempo.
Nós cantaremos para a Lei enquanto vivermos, entoaremos louvores
ao nosso Pai Celestial enquanto existirmos, enquanto durar o Jardim da
Irmandade.
Nossas comunhões com os anjos serão doces; estaremos contentes na
Lei.
Bendize a Lei, ó minha alma.
Louva a Lei Sagrada.
Os Filhos da Luz amam a Lei, porque a Lei ouve as nossas vozes e
nossas súplicas.
Um ouvido que tudo ouve tem a Lei inclinada para nós, portanto nós
invocaremos a Lei enquanto vivermos.
A Lei livrou nossas almas da morte, nossos olhos das lágrimas e
nossos pés de cair.
Nós caminharemos diante da Lei na terra dos vivos: Nos caminhos
do Infinito Jardim da Irmandade.
Os dias dos filhos dos homens são como a relva; como as flores do
campo, assim eles florescem; e o vento passa por eles, e eles se vão; mas a
misericórdia da Lei é de eternidade a eternidade para aqueles que a seguem.
Bendizei o Pai Celestial, todos vós, Seus anjos; vós, Seus ministros,
que executais a Sua vontade.
Bendizei o Senhor, todas as Suas obras, em todos os lugares do Seu

146
domínio:
Bendize o Senhor, ó minha alma.
Ó Pai Celestial, Tu és imenso!
Tu estás vestido de honra e majestade.
Quem te cobriu de luz como de uma veste, quem descerrou os céus
como uma cortina, quem colocou as vigas de Suas câmaras nas águas,
quem fez das nuvens Sua carruagem, quem caminhou sobre as asas do
vento, quem fez dos Seus anjos espíritos, de Seus Filhos da Luz um fogaréu
chamejante para acender a Verdade no coração dos filhos dos homens,
quem assentou os fundamentos da terra.
Bendize o Pai Celestial, ó minha alma!

147
LAME TAÇÕES

Das profundezas eu clamei a ti, Ó Senhor.


Senhor, ouve a minha voz!
Ouve a minha oração, Ó Senhor, e deixa que o meu clamor chegue a
ti.
Não escondas Tua face de mim no dia em que eu estiver em
tribulação; inclina Teu ouvido para mim; no dia em que eu clamar,
responde-me depressa.
Pois meus dias se consomem qual fumaça, e meus ossos estão
queimados qual lareira.
Meu coração está ferido e seco como a relva; tanto que me esqueço
de comer o meu pão.
Por causa da voz dos meus gemidos, meus ossos se colam à minha
pele.
Eu sou como um pelicano do ermo; sou como a coruja do deserto.
Eu vigio, e sou como um pardal, sozinho no telhado da casa.
Meus dias são como uma sombra que declina; e estou seco como a
relva.
Ó meu Deus, não me leves embora no meio dos meus dias: Os céus
são obra de Tuas mãos.
Eles perecerão, mas Tu permanecerás.
O primeiro passo dado pela alma do homem perverso deixou-o no
inferno dos maus pensamentos.
O segundo passo dado pela alma do homem perverso deixou-o no
inferno das más palavras.
O terceiro passo dado pela alma do homem perverso deixou-o no
inferno das más ações.
O quarto passo dado pela alma do homem perverso deixou-o na
escuridão sem fim.
Eu sei que Tu podes fazer todas as coisas, e que nenhum propósito
Teu pode ser impedido.
Meus olhos agora te vêem, e por isso eu abomino a mim mesmo, e
me arrependo no pó e nas cinzas.
Pois os filhos iníquos dos homens pecaram contra si próprios, e o seu
inferno de maus pensamentos, más palavras e más ações é o inferno que
eles próprios fizeram.
148
Mas minha angústia e minhas lágrimas amargas são pelos meus
antigos patriarcas, que pecaram contra o Criador e foram banidos do Reino
Sagrado das Grandes Árvores.
Por isso eu choro e escondo meu rosto na tristeza, pela beleza do
Jardim Perdido, e pela doçura desaparecida do canto do Pássaro, que
cantava nos galhos da Árvore da Vida.
Tem misericórdia de mim, Ó Deus, e limpa-me do meu pecado.
Acabou-se a alegria dos nossos corações, nossa dança transformou-
se em lamento.
A coroa caiu de nossas cabeças:
Ai de nós, que pecamos!
Por isso nosso coração está fraco, por essas coisas nossos olhos estão
turvos.
Tu, Ó Pai Celestial, permaneces para sempre em Teu trono de
geração a geração.
Por que Tu nos esqueces para sempre, e nos desamparas por tanto
tempo?
Volta-nos para ti, Ó Senhor, renova nossos dias como outrora.
Onde não há virtude nem compaixão, jazerão os animais selvagens
do deserto; e suas casas estarão cheias de criaturas lastimosas.
E ali corujas morarão, e ali sátiros dançarão.
E os animais selvagens chorarão em suas casas desoladas.
Lava-me, Ó Senhor, e eu serei mais alvo do que a neve.
Faze-me ouvir a alegria e o contentamento; afasta o Teu rosto dos
meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades.
Cria em mim um coração limpo, Ó Deus; e renova dentro de mim um
espírito reto.
Não me expulses da Tua presença; e não tires de mim Teu espírito
santo.
Restaura para mim a alegria do Jardim Infinito e sustenta-me com os
Teus Santos Anjos.
Deixa-me afastar todas as coisas más e todas as impurezas do fogo,
da água, da terra, das árvores, do homem fiel e da mulher fiel, das estrelas,
da lua, do sol, da Luz sem limites, e de todas as coisas boas feitas por ti, Ó
Pai Celestial, cujo fruto é a Lei Sagrada.
Pelos rios da Babilônia, lá nós nos sentamos, sim, e choramos
quando lembramos de Sião.
Nós penduramos nossas harpas nos salgueiros.

149
Como entoaremos o cântico do Senhor em uma terra iníqua?
Se eu te esquecer, ó Jerusalém, que a minha mão direita esqueça a
sua destreza.
Se eu não me lembrar de ti, que minha língua una-se ao céu da minha
boca; pois a Babilônia é a escravidão do mundo, e Sião é a liberdade da
Irmandade.
Ó Senhor, a ti clamarei!
Pois o fogo devorou as pastagens do deserto, e a chama abrasou
todas as árvores do campo.
Os animais do campo também clamam a ti: pois os rios de água
secaram e o fogo devorou as pastagens do ermo.
Tremam todos os habitantes da terra:
Pois o dia do Senhor vem, pois está próximo; um dia de escuridão e
melancolia, um dia de nuvens e densa escuridão, um dia em que a terra
tremerá, e os céus tremerão.
O sol e a lua escurecerão, e as estrelas retirarão o seu brilho.
Das profundezas nós clamaremos a ti, Ó Senhor! Senhor, escuta as
nossas vozes!

150
PROFECIAS

Ouvi-me, meu povo, dai ouvido ao que digo!


Erguei os olhos para os céus, e olhai para a terra embaixo: pois os céus
desaparecerão como fumaça, e a terra envelhecerá como uma vestimenta, e
os que habitam nela morrerão da mesma maneira:
Meu Reino, porém, durará para sempre, e minha Lei não será
abolida.
E nesse dia o inferno se alargará, e abrirá sua boca sem medida: e a
glória, o orgulho e a pompa dos ímpios cairão dentro dela.
E o homem mesquinho será abatido, e o homem poderoso será
humilhado, como o fogo devora o restolho, e a chama consome a palha;
assim sua raiz será qual podridão, e sua floração subirá como poeira.
Porque eles rejeitaram a Lei Sagrada da Ordem Celestial e
desprezaram a palavra dos Filhos da Luz.
E nesse dia, quem olhar para a terra verá apenas trevas e tristeza, e a
luz nos céus terá escurecido.
Os líderes do povo o levarão a errar, e os conduzidos por eles serão
destruídos.
Pois todos são hipócritas e malfeitores, e todas as bocas dizem
disparates.
A maldade queima como o fogo: devorará arbustos e espinhos.
Incendiará nas moitas da floresta e subirá como a elevação da fumaça.
Por causa da cólera da Lei, a terra escurecerá, pois isto o homem
forjou para si mesmo.
E as pessoas serão como combustível do fogo: nenhum homem
poupará seu irmão.
Ai daqueles que não tiverem guardado a Lei Sagrada!
Ai da coroa de orgulho!
Ai daqueles que cobiçam as coisas do mundo, e se corrompem com
injustiças, que erram na visão e tropeçam no julgamento:
Pois são um povo rebelde, um povo mentiroso, um povo que não
ouvirá a Lei do Senhor:
Que diz aos videntes, não vejais, e aos Profetas, não nos profetizeis
as coisas certas, mas dizei-nos coisas agradáveis, profetizai falácias.
Ai daqueles que decretam leis injustas, e que escrevem as desgraças
que prescreveram.
151
Ai daqueles que juntam casa com casa, que acrescentam campo com
campo, até não haver lugar em que o homem possa estar só no meio da
terra!
Ai daqueles que se levantam de manhã cedo, não para comungar com
os anjos, mas para perseguir bebidas fortes e continuam até a noite, até que
os vapores do vinho os inflamem!
Ai de todos os que chamam bem ao mal e mal ao bem, que passam a
escuridão por luz e a luz por escuridão.
Ai daqueles que desviam os necessitados do juízo, e arrebatam o
direito dos pobres, que fazem das viúvas sua presa e roubam os órfãos!
Por essa razão sucederá que a mão do Senhor podará os galhos com
o julgamento da Lei, e os altos serão cortados e os soberbos serão
humilhados.
Gemei, pois o dia da Lei está próximo; ele virá como destruição do
Todo Poderoso.
Por isso todas as mãos serão fracas, e o coração de cada homem
derreterá.
E eles terão medo: dores e sofrimentos se apossarão deles, sentirão
dores como a mulher em trabalho de parto; surpreenderão uns aos outros;
seus rostos serão como chamas.
Eis que chega o dia do Senhor, cruel tanto com ira quanto com
ardente furor, para deixar a terra desolada: e Ele expulsará os pecadores
dela.
Sucederá nesse dia que o Senhor castigará a hoste dos arrogantes, e
os reis da terra sobre a terra.
E eles serão reunidos, como se reúnem os prisioneiros no poço, e
encerrados na prisão.
E o Senhor sairá do Seu lugar, e descerá, e pisará nos lugares altos da
terra.
E as montanhas se derreterão debaixo d’Ele, e os vales se fenderão
como cera no fogo, como as águas derramam de um despenhadeiro.
Então a lua desaparecerá e o sol se obscurecerá.
E as estrelas dos céus e as suas constelações não darão sua luz:
O sol será escurecido em seu andamento, e a lua não fará a sua luz
brilhar.
E o Senhor sacudirá os céus, e a terra será removida do seu lugar, no
dia da ira da Lei, e no dia do ardente furor do Senhor.
E as cidades brilhantes serão devastadas, e nelas viverão os animais

152
selvagens do deserto; o feno murchará, a relva faltará, e em toda a terra não
haverá uma só coisa verde.
Nesse dia, as cidades fortes serão como um galho abandonado, e uma
tempestade de granizo varrerá o refúgio das mentiras, e as águas enfurecidas
inundarão o esconderijo dos iníquos.
E haverá sobre toda alta montanha, e sobre toda alta colina, rios e
cursos de água no dia da grande mortandade, quando as torres cairão.
Nesse dia, a luz da lua será como a do sol, e a luz do sol será sétupla.
Eis que o nome da Lei vem de longe, queimando com raiva ardente,
e o seu fardo é pesado:
Os lábios do Senhor estão cheios de indignação e Sua língua é como
um fogo devorador.
Ele mostrará a força do Seu braço, com a chama do fogo consumidor,
com dispersão, tempestade e granizo.
A terra será totalmente esvaziada, totalmente arruinada, pois os
filhos dos homens se afastaram da Lei.
A cidade da confusão é derrubada:
Todas as casas estão fechadas, para que nenhum homem possa entrar
nelas.
Há choros e lamentos nas ruas:
Toda a alegria escureceu, a alegria da terra se foi.
E sucederá que aquele que foge do ruído do medo cairá no poço; e
aquele que sobe e sai do meio do poço será tomado pelo laço:
Pois as janelas do alto estão abertas, e as fundações da terra tremem.
A terra está completamente arruinada, a terra está totalmente
dissolvida, a terra está excessivamente alterada.
Então a lua se confundirá, o sol se envergonhará, e a terra vacilará de
um lado para outro, que nem um bêbedo, e cairá, e não tornará a levantar-
se.
E toda a hoste do céu será dissolvida, e os céus serão enrolados como
um pergaminho: e toda a sua hoste cairá, como cai a folha da parreira, e
como cai o figo da figueira.
As águas do mar se extinguirão, e os rios se esgotarão e secarão.
As correntezas de água se transformarão em piche, e o pó dele em
enxofre, e a terra se tornará em piche ardente.
E a fumaça não será suprimida nem de noite nem de dia, e nenhum
homem a transpassará.
Mas o corvo marinho e o ouriço possuirão a terra; também a coruja e

153
o corvo habitarão nela.
E ali se estenderão sobre ela a linha da confusão e as pedras da
vacuidade.
Eles chamarão seus nobres ao reino, mas nenhum estará lá, e todos
os seus príncipes serão nada.
E espinhos crescerão em seus palácios, urtigas e sarças nas suas
fortalezas.
E eles serão morada de dragões, e corte de avestruzes.
Os embaixadores da paz chorarão amargamente, e as estradas serão
assoladas.
A glória das florestas será consumida, e a dos campos produtivos;
sim, as árvores serão tão poucas que uma criança poderá contá-las.
Eis que chegará o dia em que tudo o que estiver na terra, e tudo o que
vossos pais armazenaram, será levado como fumaça, pois vós esquecestes
vosso Pai Celestial e vossa Mãe Terrena, e infringiram a Lei Sagrada.
Oh, Tu rasgaria os céus, Tu descerias, para que as montanhas
derretessem em Tua presença.
Quando Tua mão exibiu o poder da Tua Lei, Tu desceste em fúria:
As montanhas derramaram-se na Tua presença, e os fogos que
derretem arderam.
Eis que Tu estás irado porque nós pecamos.
Nós somos como o mar conturbado, quando não pode repousar, cujas
águas atiram para cima lama e lodo.
Nós confiamos na vaidade e falamos mentiras; nossos pés seguem
para o mal, ruína e destruição estão em nossos caminhos.
Nós tateamos pelas paredes como os cegos, tropeçamos ao meio-dia
como se fosse de noite, estamos em lugares desolados como homens
mortos.
Mas agora, Ó Pai Celestial, Tu és o nosso pai:
Nós somos o barro e Tu és o oleiro, e nós somos todos o Teu povo.
Tuas cidades santas são um ermo, Tuas florestas estão consumidas,
toda a Tua terra é uma desolação.
Nossa santa e bela casa, onde nossos pais te louvavam, foi queimada
pelo fogo.
Até o antigo saber de nosso Pai Enoque é pisoteado no pó e nas
cinzas.
E eu avistei a terra, e eis que ela era sem forma e vazia; e os céus não
tinham luz.

154
E eu avistei as montanhas, e eis que elas tremiam, e todas as colinas
estremeciam.
Eu avistei, e eis que não havia nenhum homem, e todas as aves dos
céus tinham voado.
Eu avistei, e eis que o lugar produtivo era um deserto, e todas as suas
cidades foram derrubadas na presença do Senhor, e pelo seu furor ardente.
Pois dessa maneira disse o Senhor, a terra inteira ficará desolada;
entretanto, não acabarei com tudo.
Eis que a mão da Lei não está reduzida, que ela não possa salvar;
tampouco está pesado o ouvido da Lei, que ela não possa ouvir:
Do deserto eu trarei uma semente, e a semente será plantada no
Jardim da Irmandade, e florescerá, e os Filhos da Luz cobrirão a terra
infecunda com capim alto e árvores frutíferas.
E eles reconstruirão os antigos lugares arruinados: consertarão as
cidades devastadas, as desolações de muitas gerações.
Eles serão chamados de os reparadores da ruptura, e restauradores
dos caminhos para morar.
Eles serão uma coroa de glória na cabeça do Senhor, e um diadema
real na mão da Lei.
O ermo e o local solitário se alegrarão por eles, e o deserto regozijará
e florescerá como a rosa.
Florescerá abundantemente, e regozijará com alegria e cânticos.
Os olhos do cego se abrirão, e os ouvidos do surdo se destamparão.
Então o coxo saltará como um veado, e a língua do mudo cantará.
Pois as águas irromperão no ermo, e fontes de água fluirão no
deserto.
E o solo ressequido se converterá em lagos, e a terra sedenta, em
fontes de água.
E uma estrada haverá ali, e um caminho, e será chamado de o
Caminho da Lei:
O impuro não passará por ele, mas ele será para os Filhos da Luz,
que cruzarão o Rio Eterno para chegar ao lugar escondido, onde se ergue a
Árvore da Vida.
E os filhos dos homens regressarão à terra, e virão ao Jardim Infinito
com cânticos e eterna alegria sobre suas cabeças:
Eles obterão alegria e contentamento, e o pesar e os suspiros
desaparecerão.
E sucederá nos últimos dias, que a montanha da casa do Senhor será

155
estabelecida no topo das montanhas, e exaltada acima das colinas; e todos
os filhos dos homens da terra afluirão a ela.
E muitas pessoas irão e dirão: Vinde e subamos à montanha do
Senhor, até o tabernáculo da Lei Sagrada, e os Santos Anjos nos ensinarão
dos caminhos do Pai Celestial e da Mãe Terrena, e trilharemos os caminhos
da retidão:
Do Jardim da Irmandade sairá a Lei e a palavra do Senhor dos Filhos
da Luz.
E o Senhor julgará entre as nações, e repreenderá muitos povos:
E eles converterão as espadas em enxadas, e as lanças em foices:
Nações não erguerão a espada contra nações, e tampouco aprenderão
mais a guerrear.
Ouvi as vozes dos Irmãos, que gritam a brados no ermo:
Preparai o caminho da Lei!
Endireitai no deserto uma estrada para o nosso Deus!
Todo vale será exaltado, e todas as montanhas e colinas serão
abaixadas:
O torto será endireitado, e os lugares ásperos aplainados:
E a voz do Pai Celestial será ouvida:
Eu, sim, Eu sou a Lei; e além de mim não há nenhum outro.
Sim, antes que o dia fosse, Eu sou:
E não há ninguém que possa livrar-se da minha mão.
Ouvi-me, ó Filhos da Luz!
Eu sou ele; Eu sou o primeiro, e também sou o último.
Minha mão também assentou os alicerces da terra, e minha mão
direita mediu palmo a palmo os céus.
Ouvi-me, ó Filhos da Luz!
Vós que conheceis a retidão, meus filhos em cujos corações está a
minha Lei:
Vós saireis afora com alegria, e sereis conduzidos em paz: As
montanhas e as colinas irromperão em cânticos diante de vós, e todas as
árvores do campo baterão palmas.
Levantai-vos, brilhai, ó Filhos da Luz! Pois minha Luz desceu sobre
vós, e vós fareis a Glória da Lei erguer-se sobre a nova terra!

156
LIVRO 4

OS E SI AME TOS DOS ELEITOS

157
158
PREFÁCIO

Foi em 1928 que Edmond Bordeaux Székely publicou pela


primeira vez sua tradução do Livro Um de O Evangelho Essênio da
Paz, um antigo manuscrito que ele encontrara no Arquivo Secreto do
Vaticano como resultado de paciência ilimitada, erudição impecável, e
intuição infalível, uma história contada em seu livro: ‘A descoberta do
Evangelho Essênio da Paz’. A versão em Inglês deste antigo
manuscrito surgiu em 1937, e, desde então, o pequeno volume viajou
por todo o mundo, aparecendo em diferentes idiomas, e ganhando a
cada ano mais e mais leitores, até agora, mesmo sem nenhuma
propaganda comercial, mais de um milhão de cópias foram vendidas
somente nos Estados Unidos. Foi quase cinquenta anos depois que a
primeira tradução francesa do Livro Dois e Livro Três apareceu, e
estes também já se tornaram clássicos da literatura Essênia.
O Livro Quatro, Os Ensinamentos dos Eleitos, chegará como
uma surpresa para os leitores que estão cientes da morte do Dr.
Székely em 1979. Se eu fosse também um filólogo, ou erudito, ou
arqueólogo, eu poderia ser capaz de fornecer uma explicação. Mas eu
sou apenas o seu fiel servo escriturário, e as instruções que ele me
deixou foram claras e explícitas: “Dois anos após a minha morte, você
publicará o Livro Quatro de O Evangelho Essênio da Paz”. Isso foi
tudo, e agora eu estou realizando seu desejo.
Este Livro Quatro, Os Ensinamentos dos Eleitos, representa
ainda um outro fragmento do manuscrito completo que existe em
aramaico no Arquivo Secreto do Vaticano e em antigo eslavo na
Biblioteca Real dos Habsburgos (hoje propriedade do governo
austríaco). Quanto à razão para o atraso na sua publicação, só posso
supor que o Dr. Szekely queria que a vivida realidade dessas verdades
imutáveis permanecesse única, desobscurecida até mesmo pela
presença do tradutor. Ele disse em seu prefácio à primeira edição de
Londres do Livro Um, em 1937, que “nós publicamos esta parte antes
do resto, porque é a parte da qual a humanidade sofredora tem mais
necessidade hoje”. Talvez, da mesma forma, o mundo conturbado de
quarenta e quatro anos mais tarde, precisa deste quarto volume de O
Evangelho Essênio da Paz.
159
Mais uma vez as palavras do Dr. Szekely: “Nada teremos a
adicionar a este texto. Ele fala por si próprio. O leitor que estude as
páginas que se seguem com concentração, sentirá a vitalidade eterna e
a poderosa evidência destas verdades profundas que a humanidade
necessita hoje mais urgentemente do que nunca.”

“E a verdade dará testemunho de si mesma.”

160
AS COMU HÕES ESSÊ IAS

E sucedeu que Jesus reuniu os Filhos da Luz junto à margem do


rio, a fim de revelar-lhes o que estivera oculto; pois havia transcorrido
o espaço de sete anos, e cada um deles estava maduro para a verdade,
como a flor se abre do botão, quando os anjos do sol e da água levam-
na para o seu tempo de florescimento.
E todos eles eram diferentes uns dos outros, pois alguns já
tinham idade avançada, ao passo que outros ainda conservavam nas
faces o orvalho da juventude, e outros ainda haviam sido educados
segundo as tradições de seus pais, e outros não sabiam sequer quem
eram seu pai e sua mãe. Todos, porém, partilhavam de clareza de
visão e agilidade de corpo, sinais de que, durante sete anos, haviam
caminhado com os anjos da Mãe Terrena e obedecido às suas leis. E,
por sete anos, os anjos desconhecidos do Pai Celestial haviam os
ensinado durante suas horas de sono. E esse era o dia em que
entrariam para a Irmandade dos Eleitos e aprenderiam os ensi-
namentos ocultos dos Anciões, incluindo os de Enoque e os anteriores
a ele.
E Jesus conduziu os Filhos da Luz a uma árvore anciã ao lado
do rio, e ali ele ajoelhou-se no lugar em que as raízes, torcidas e
grisalhas da velhice, espalhavam-se pela margem do rio. E os Filhos
da Luz ajoelharam-se também, e tocaram com reverência o tronco da
árvore anciã, pois lhes fora ensinado que as árvores eram Irmãs dos
Filhos dos Homens. Pois sua mãe é a mesma, a Mãe Terrena, cujo
sangue corre na seiva da árvore e no corpo do Filho do Homem. E seu
pai é o mesmo, o Pai Celestial, cujas leis estão escritas nos galhos da
árvore, e cujas leis estão gravadas na testa do Filho do Homem.
E Jesus estendeu suas mãos para a árvore, e disse: “Eis a Árvore
da Vida, que se ergue no meio do Mar Eterno. Não olheis apenas com
os olhos do corpo, mas vede com os olhos do espírito a Árvore da
Vida em uma fonte de córregos; em uma fonte viva numa terra de
seca. Vede o eterno jardim de maravilhas e no seu centro a Árvore da
Vida, mistério dos mistérios, brotando ramos imortais para o eterno
plantio, para penetrar suas raízes na corrente da vida de uma fonte
eterna. Vede com os olhos do espírito os anjos do dia e os anjos da
161
noite que protegem os frutos com chamas de Luz Eterna, que ardem
de todos os modos.”
“Vede, ó Filhos da Luz, os ramos da Árvore da Vida
estendendo-se em direção ao reino do Pai Celestial. E vede as raízes
da Árvore da Vida descendo ao seio da Mãe Terrena. E o Filho do
Homem é elevado a uma altura eterna e caminha entre as maravilhas
da planície; pois somente o Filho do Homem carrega em seu corpo as
raízes da Árvore da Vida; as mesmas raízes que mamam no seio da
Mãe Terrena; e apenas o Filho do Homem carrega em seu espírito os
galhos da Árvore da Vida; os mesmos galhos que atingem o céu, até o
reino do Pai Celestial.”
“E por sete anos, vós trabalhastes durante o dia inteiro com os
anjos da Mãe Terrena; e por sete anos vós dormistes nos braços do Pai
Celestial. E agora será grande a vossa recompensa, pois vos será dado
o dom das línguas, para que possais atrair para vós o pleno poder de
vossa Mãe Terrena e ter o comando sobre os Seus anjos e o domínio
sobre todo o Seu reino; e para que possais atrair para vós a glória
ofuscante de vosso Pai Celestial, a fim de comandardes os Seus anjos
e entrardes na vida perpétua dos reinos celestiais.”
“E por sete anos essas palavras não vos foram dadas, pois quem
usa o dom das línguas para buscar riquezas ou para dominar seus
inimigos, deixa de ser um Filho da Luz para converter-se em filhote
do diabo e em uma criatura das trevas. Pois somente a água pura pode
refletir como um espelho a luz do sol; e a água escurecida pela sujeira
e pela treva não reflete coisa alguma. E quando o corpo e o espírito do
Filho do Homem tiverem caminhado com os anjos da Mãe Terrena e
do Pai Celestial por sete anos, então ele passa a ser como o rio que
corre debaixo do sol do meio-dia, que espelha as luzes deslumbrantes
de jóias luminosas.”
“Ouvi-me, Filhos da Luz, pois eu vos concederei o dom das
línguas, para que, falando com vossa Mãe Terrena pela manhã, e com
vosso Pai Celestial à noite, vós possais chegar cada vez mais perto da
unidade com os reinos da terra e do céu, unidade para qual o Filho do
Homem está destinado desde o princípio dos tempos.”
“Eu vos farei conhecerdes coisas profundas e misteriosas. Pois,
em verdade vos digo, todas as coisas existem através de Deus e não há
ninguém além d’Ele. Portanto encaminhai vossos corações para que

162
possais caminhar nos caminhos certos, onde está a presença d’Ele.”
“Quando abrirdes vossos olhos de manhã, antes mesmo de
vosso corpo ter sido chamado pelo Anjo do Sol, dizei a vós mesmos
estas palavras, deixando-as ecoar em vosso espírito; pois as palavras
são como folhas mortas quando não há nelas a vida do espírito. Dizei,
portanto, estas palavras: ‘Eu entro no jardim eterno e infinito do
mistério, meu espírito em unidade com o Pai Celestial, meu corpo em
unidade com a Mãe Terrena, meu coração em harmonia com os meus
Irmãos, os Filhos dos Homens, dedicando meu espírito, meu corpo e
meu coração ao santo, puro e salvador Ensinamento, o Ensinamento
que outrora fora conhecido como de Enoque’.”
“E depois que essas palavras tiverem entrado em vosso espírito,
na primeira manhã após o Shabat, dizei estas palavras: ‘A Mãe
Terrena e eu somos um. Seu hálito é meu hálito; Seu sangue é meu
sangue; Seus ossos, Sua carne, Suas vísceras, Seus olhos e Seus
ouvidos são meus ossos, minha carne, minhas vísceras, meus olhos e
meus ouvidos. Eu nunca a abandonarei, e Ela sempre alimentará e
sustentará o meu corpo’. E sentireis o poder da Mãe Terrena fluindo
através do vosso corpo como o rio quando está cheio pelas chuvas e
corre poderosamente com grande estridor.”
“E na segunda manhã após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo
da Terra, torna frutífera a minha semente, e com o teu poder dá vida
ao meu corpo’. Assim como a vossa semente cria nova vida, assim
percorre a terra a semente do Anjo da Terra: na relva, no solo, em
todas as coisas vivas que brotam do solo. Sabei, ó Filhos da Luz, que
o mesmo Anjo da Terra, que transforma a vossa semente em filhos,
também transforma a minúscula glande neste poderoso carvalho, e faz
a semente fértil do trigo crescer para o pão do Filho do Homem. E a
semente do vosso corpo não precisa entrar no corpo da mulher para
criar vida; pois o poder do Anjo da Terra pode criar a vida do espírito
interior, bem como a vida do corpo exterior.”
“E na terceira manhã após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo
da Vida, entra com força nos membros do meu corpo’. E com estas
palavras abraçai a Árvore da Vida, assim como eu abraço este irmão
carvalho, e vós sentireis o poder do Anjo da Vida fluir para os vossos
braços, para as vossas pernas e para todas as partes do vosso corpo,
como a seiva flui na árvore na primavera, e assim como ela escorre

163
para fora do tronco, assim o Anjo da Vida inundará vosso corpo com o
poder da Mãe Terrena.”
“E na quarta manhã após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo
da Alegria, desce à terra e derrama beleza e satisfação sobre todos os
filhos da Mãe Terrena e do Pai Celestial’. E vós saireis para os
campos de flores depois da chuva e dareis graças à vossa Mãe Terrena
pelo doce aroma das florescências; pois em verdade vos digo, um flor
não tem outro propósito senão o de trazer alegria ao coração do Filho
do Homem. E vós ouvireis com novos ouvidos o canto dos pássaros, e
vereis com novos olhos as cores do sol no nascente e no poente; e
todos esses dons da Mãe Terrena farão a alegria brotar dentro de vós,
como brota uma fonte subitamente em um lugar improdutivo. E
sabereis que ninguém chega à presença do Pai Celestial se o Anjo da
Alegria não o tiver deixado passar; pois na alegria a terra foi criada, e
na alegria a Mãe Terrena e o Pai Celestial deram à luz ao Filho do
Homem.”
“E na quinta manhã após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo
do Sol, entra em meu corpo e deixa que eu me banhe no fogo da vida’.
E sentireis os raios do sol nascente penetrarem no ponto central do
vosso corpo, no centro em que os anjos do dia e da noite se misturam,
e o poder do sol será vosso para dirigir a qualquer parte do vosso
corpo, pois os anjos habitam nele.”
“E na sexta manhã após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo da
Água, entra no meu sangue e dá a Água da Vida ao meu corpo’. E vós
sentireis, como a correnteza célere do rio, o poder do Anjo da Água
entrar em vosso sangue e, como os riachos de um córrego, enviar o
poder da Mãe Terrena, através do vosso sangue, a todas as partes do
vosso corpo. E será para a cura, pois o poder do Anjo da Água é muito
grande e, quando lhe falardes, ele enviará o seu poder para onde vós
comandardes, pois quando os anjos de Deus habitam no interior do
Filho do Homem, todas as coisas são possíveis.”
“E na sétima manhã após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo
do Ar, entra com a minha respiração e dá o Ar da Vida ao meu corpo’.
Sabei, ó Filhos da Luz, que o Anjo do Ar é o mensageiro do Pai
Celestial, e ninguém chega diante da face de Deus se o Anjo do Ar
não o tiver deixado passar. Nós não pensamos no Anjo do Ar quando
respiramos, pois respiramos sem pensar, como os filhos das trevas

164
vivem sua vida sem pensar. Mas quando o poder da vida entra em
vossas palavras e na vossa respiração, então, todas as vezes que
invocardes o Anjo do Ar, estareis invocando também os anjos
desconhecidos do Pai Celestial; e assim chegareis cada vez mais perto
dos reinos celestiais.”
“E na noite do Shabat, dizei estas palavras: ‘O Pai Celestial e eu
somos Um.’ E fechai os vossos olhos, Filhos da Luz e, no sono,
adentrai os reinos desconhecidos do Pai Celestial. E vós vos banhareis
na luz das estrelas, e o Pai Celestial vos segurará em Sua mão e fará
uma fonte de conhecimento manar dentro de vós; uma fonte de poder,
despejando águas vivas, um dilúvio de amor e sabedoria oniabrangente,
como o esplendor da Luz Eterna. E um dia os olhos do vosso espírito
se abrirão e vós conhecereis todas as coisas.”
“E na primeira noite após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo
da Vida Eterna, desce sobre mim e dá vida eterna ao meu espírito!’ E
fechai os vossos olhos, Filhos da Luz e, no sono, contemplai a unidade
de toda a vida em toda parte. Pois em verdade vos digo, nas horas
diurnas nossos pés estão no chão e nós não temos asas com as quais
voar. Mas os nossos espíritos não estão atados à terra e, com a
chegada da noite, nós superamos nosso apego à terra e nos juntamos
com o que é eterno. Pois o Filho do Homem não é tudo o que ele
parece, e somente com os olhos do espírito nós podemos ver os fios de
ouro que nos ligam a toda vida em toda parte.”
“E na segunda noite após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo
do Trabalho Criativo, desce à terra e confere abundância a todos os
Filhos dos Homens’. Pois este mais poderoso dentre os anjos do Pai
Celestial é a causa do movimento, e só no movimento há vida.
Trabalhai, Filhos da Luz, no jardim da Irmandade a fim de criar o
reino dos céus na terra. E como vós trabalhais, assim o Anjo do
Trabalho Criativo alimentará e amadurecerá a semente do vosso
espírito, para que possais ver a Deus.
“E na terceira noite após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Paz,
paz, paz, Anjo da Paz, esteja sempre em toda parte’. Procurai o Anjo
da Paz em tudo o que vive, em tudo o que fazeis, em cada palavra que
pronunciais. Pois a paz é a chave para todo conhecimento, para todo
mistério, para toda vida. Onde não há paz, reina Satã. E, acima de
tudo, os filhos das trevas cobiçam roubar dos Filhos da Luz a sua paz.

165
Ide, portanto, nessa noite, à corrente dourada de luz que é a vestimenta
do Anjo da Paz. E trazei de volta para a manhã a paz de Deus que
ultrapassa o entendimento, para que com essa paz perfeita vós possais
confortar os corações dos Filhos dos Homens.”
“E na quarta noite após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo do
Poder, desce sobre mim e enche de poder todos os meus atos’. Em
verdade vos digo, assim como não há vida na terra sem o sol, não há
vida no espírito sem o Anjo do Poder. O que pensais e o que sentis são
como as escrituras mortas, apenas palavras em uma página, ou
discursos mortos de homens mortos. Os Filhos da Luz, todavia, não
somente pensarão, não somente sentirão, mas também agirão, e seus
atos cumprirão os seus pensamentos e sentimentos, como o fruto
dourado do verão dá sentido às folhas verdes da primavera.”
“E na quinta noite após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo do
Amor desce sobre mim e enche de amor todos os meus sentimentos’.
Pois é pelo amor que o Pai Celestial, a Mãe Terrena e o Filho do
Homem tornam-se um. O amor é eterno. O amor é mais forte que a
morte. E todas as noites os Filhos da Luz devem banhar-se na água
santa do Anjo do Amor, para que com a manhã ele possa batizar os
Filhos dos Homens com atos amáveis e palavras gentis. Pois quando o
coração do Filho da Luz é banhado no amor, só profere palavras gentis
e amáveis.”
“E na sexta noite após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo da
Sabedoria desce sobre mim e enche de sabedoria todos os meus
pensamentos’. Sabei Filhos da Luz, que os vossos pensamentos são
tão poderosos quanto o raio que apunhala a tempestade e despedaça a
árvore poderosa. Por isso vós esperastes sete anos para aprender como
falar com os anjos, pois vós não conheceis o poder dos vossos
pensamentos. Usai, portanto, a sabedoria em tudo o que pensais, dizeis
e fazeis. Pois em verdade vos digo, o que é feito sem sabedoria é
como um cavalo sem cavaleiro, com boca espumando e olhos
selvagens, correndo enlouquecido na direção de um abismo. Mas
quando o Anjo da Sabedoria governa os vossos atos, então o caminho
para os reinos desconhecidos é estabelecido, e a ordem e a harmonia
governam vossas vidas.”
“E estas são as comunhões com os anjos que são dadas aos
Filhos da Luz, para que, com os corpos purificados pela Mãe Terrena

166
e os espíritos purificados pelo Pai Celestial, eles possam comandar e
servir os anjos continuamente, de um período a outro, nos circuitos do
dia e em sua ordem fixa; com a vinda da luz de sua fonte e na virada
da noite e na saída da luz, na saída da escuridão e na vinda do dia,
continuamente, em todas as gerações do tempo.”
“A verdade nasceu da fonte da Luz, a falsidade proveio do poço
da escuridão. O domínio de todos os filhos da verdade está nas mãos
dos Anjos da Luz, de modo que eles possam caminhar pelos caminhos
da Luz.”
“Benditos sejam todos os Filhos da Luz que traçam a sorte pela
Lei, que caminham verdadeiramente em todos os seus caminhos. Que
a Lei vos abençoe com todo o bem e vos guarde de todo o mal, e
ilumine vossos corações com visão sobre as coisas da vida e vos
agracie com o conhecimento das coisas Eternas.”
E a lua crescente da paz ergueu-se sobre a montanha e lascas de
luz brilharam nas águas do rio. E os Filhos da Luz, como um homem,
ajoelharam-se em reverência e agradecimento pelas palavras de Jesus,
visto que ele os ensinava à maneira antiga de seus pais, assim como
Enoque outrora foi ensinado.
E Jesus disse: “A Lei foi plantada para recompensar os Filhos
da Luz com cura e paz abundante, com vida longa, com semente
fecunda de bênçãos eternas e com eterna alegria na imortalidade da
Luz Eterna.”
“Com a vinda do dia eu abraço minha Mãe, com a vinda da
noite me junto ao meu Pai, e com a saída da noite e da manhã eu
respirarei sua Lei, e eu não interromperei essas Comunhões até o fim
do tempo.”

167
168
O DOM DA VIDA A RELVA HUMILDE

Foi no mês de Tébet, quando a terra estava coberta com brotos


de relva nova depois das chuvas, e a cobertura de verde-esmeralda era
tenra como a fina lanugem de um pintinho. E foi numa bela manhã
ensolarada que Jesus reuniu os novos Irmãos dos Eleitos à sua volta,
para que eles pudessem ouvir com seus ouvidos e compreender com
seus corações os ensinamentos de seus pais, assim como outrora foram
ensinados a Enoque.
E Jesus sentou-se debaixo de uma árvore antiga e retorcida,
segurando nas mãos um pequeno pote de barro; e no pote crescia uma
tenra relva de trigo, a mais perfeita dentre todas as ervas portadoras de
sementes. A tenra relva dentro do pote estava radiante de vida, como a
relva e as plantas que revestiam as colinas nos campos mais distantes
e além. E Jesus acariciou a relva no pote com as mãos, tão suavemente
quanto acariciaria a cabeça de uma criancinha.
E Jesus disse: “Felizes sois vós, Filhos da Luz, pois ingressastes
no caminho sem morte, e andais pelos passos da verdade, assim como
fizeram vossos pais outrora, ensinados pelos Grandes. Com os olhos e
ouvidos do espírito vedes e ouvis as imagens e os sons do reino da
Mãe Terrena: o céu azul onde habita o Anjo do Ar, o rio espumoso
onde flui o Anjo da Água, a luz dourada que escorre do Anjo do Sol. E
em verdade vos digo, tudo isso está dentro e fora de vós; pois o vosso
alento, o vosso sangue, o fogo da vida dentro de vós, estão todos
unidos à Mãe Terrena.”
“Mas de tudo isso, e mais, o dom mais precioso de vossa Mãe
Terrena é a relva debaixo de vossos pés, a mesma relva que vós pisais
sem pensar. Humilde e manso é o Anjo da Terra, pois não tem asas
para voar, nem raios dourados de luz para penetrar a neblina. Grande,
porém, é a sua força e vastos são os seus domínios, pois ele cobre a
terra com o seu poder e, sem ele, os Filhos dos Homens já não
existiriam, já que nenhum homem pode viver sem a relva, as árvores e
as plantas da Mãe Terrena. E estes são os dons do Anjo da Terra aos
Filhos dos Homens.
“Mas agora vos falarei de coisas misteriosas, pois em verdade
vos digo, a relva humilde é mais do que alimento para o homem e para
169
o animal. Ela esconde sua glória sob um aspecto modesto, como se
contava de um soberano de outrora que visitava as aldeias dos seus
súditos disfarçado de mendigo, sabendo que eles diriam muitas coisas
a um homem assim, mas cairiam amedrontados diante do seu Rei. Da
mesma forma, a relva humilde esconde sua glória debaixo de uma
capa de verde modesto, e os Filhos dos Homens andam sobre ela,
aram-na, dão-na como alimento aos animais, mas não conhecem quais
segredos estão escondidos em seu interior, mesmo aqueles segredos da
vida imortal nos reinos celestiais.”
“Mas os Filhos da Luz saberão o que está oculto na relva, pois
foi entregue a eles levar conforto aos Filhos dos Homens. Assim
também nós somos ensinados pela Mãe Terrena com este punhadinho
de trigo num pote singelo, o mesmo pote de barro que usais para
tomar leite e juntar o mel das abelhas. O pote, agora, está cheio com
terra preta, rica de folhas velhas e úmida pelo orvalho da manhã, o
dom mais precioso do Anjo da Terra.”
“E eu umedeci um punhado de trigo, para que o Anjo da Água
penetrasse nele. O Anjo do Ar também o abraçou, e o Anjo do Sol, e o
poder dos três anjos despertou também o Anjo da Vida dentro do
trigo, e em cada grão nasceram broto e raiz.”
“Então eu coloquei o trigo despertado no solo do Anjo da Terra,
e o poder da Mãe Terrena e de todos os Seus anjos entraram no trigo,
e, depois do sol ter se erguido quatro vezes, os grãos tornaram-se
relva. Em verdade vos digo, não há maior milagre do que este.”
E os Irmãos olharam com reverência para as tenras folhas de
relva nas mãos de Jesus, e um deles perguntou-lhe: “Mestre, qual é o
segredo da relva que tens nas mãos? Em que difere ela da relva que
recobre as colinas e as montanhas?”
E Jesus respondeu: “Ela não é diferente, Filho da Luz. Todas as
relvas, todas as árvores, todas as plantas, em todas as partes do
mundo, todas são parte do reino da Mãe Terrena. Mas eu separei neste
pote uma pequena porção do reino de vossa Mãe, para poderdes tocá-
la com as mãos do espírito, e para que o poder dela possa entrar em
vosso corpo.”
“Pois em verdade vos digo, existe uma Corrente Sagrada da
Vida que deu à luz a Mãe Terrena e a todos os Seus anjos. Essa
Corrente da Vida é invisível aos olhos dos Filhos dos Homens, pois

170
eles caminham na escuridão e não vêem os anjos do dia e da noite que
os cercam e pairam sobre eles. Mas os Filhos da Luz tem caminhado
por sete anos com os anjos do dia e da noite, e agora lhes foram
entregues os segredos da comunhão com os anjos. E os olhos do vosso
espírito serão abertos, e vereis, ouvireis e tocareis a Corrente da Vida
que gerou a Mãe Terrena. E vós entrareis na Corrente Sagrada da
Vida, que vos carregará, com infinita ternura, à vida eterna no reino de
vosso Pai Celestial.”
“Como faremos isso, Mestre?”, indagaram alguns, atônitos.
“Que segredos precisamos conhecer para ver, ouvir e tocar essa
Corrente Sagrada da Vida?”
E Jesus não respondeu. Mas colocou suas duas mãos em torno
das folhas de relva que cresciam no pote, delicadamente, como se
fosse a testa de uma criancinha. Fechou seus olhos e, ao seu redor,
ondas de luz cintilavam ao sol, como o calor do verão faz tremer a luz
debaixo de um céu sem nuvens. E os Irmãos se ajoelharam e
inclinaram suas cabeças em sinal de reverência diante do poder dos
anjos, que vertia da figura sentada de Jesus; e ele permaneceu sentado
em silêncio, com as mãos fechadas, como que em oração, em torno
das folhas de relva.
E ninguém sabia se havia se passado uma hora ou um ano, pois
o tempo parou e era como se toda a criação tivesse prendido sua
respiração. E Jesus abriu seus olhos, e um aroma de flores encheu o ar
quando ele falou: “Aqui está o segredo, Filhos da Luz; aqui na relva
humilde. Aqui está o ponto de encontro da Mãe Terrena e do Pai
Celestial; aqui está a Corrente da Vida que deu à luz a toda a criação;
em verdade vos digo, somente ao Filho do Homem é dado ver, ouvir e
tocar a Corrente da Vida que flui entre os Reinos Terreno e Celestial.
Colocai vossas mãos em torno da tenra relva do Anjo da Terra e
vereis, ouvireis e tocareis o poder de todos os anjos.”
E, um a um, cada um dos Irmãos sentou-se com reverência
diante do poder dos anjos, segurando em suas mãos a tenra relva. E
cada um sentiu a Corrente da Vida entrar em seu corpo com a força de
uma correnteza após uma tempestade de primavera. E o poder dos
anjos fluiu em suas mãos, até os seus braços, e sacudiu-os
poderosamente, assim como o vento do norte sacode os galhos das
árvores. E todos admiraram-se com o poder da relva humilde, capaz

171
de conter todos os anjos e os reinos da Mãe Terrena e do Pai Celestial.
E sentaram-se diante de Jesus e foram ensinados por ele.
E Jesus disse: “Contemplai, Filhos da Luz, a modesta relva.
Vede dentro do que estão contidos todos os anjos da Mãe Terrena e do
Pai Celestial. Pois agora entrastes na Corrente da Vida, e suas
correntes vos carregarão em tempo para a vida imortal no reino de
vosso Pai Celestial.”
“Pois na relva estão todos os anjos. Aqui está o Anjo do Sol, no
brilho da cor verde das folhas de trigo. Pois ninguém pode olhar para
o sol quando ele está alto nos céus, pois os olhos do Filho do Homem
são ofuscados pela sua luz radiante. E é por isso que o Anjo do Sol
torna verde tudo aquilo que ele dá vida, para que o Filho do Homem
possa olhar para os muitos e variados tons de verde e neles encontrar
força e conforto. Em verdade vos digo, tudo o que é verde e com vida
tem o poder do Anjo do Sol dentro de si, incluindo essas tenras folhas
de trigo novo.”
“E assim o Anjo da Água abençoa a relva, pois em verdade vos
digo, há mais do Anjo da Água dentro da relva do que de qualquer
outro anjo da Mãe Terrena. Pois se esmagardes a relva com as mãos,
sentireis a água da vida, que é o sangue da Mãe Terrena. E, todos os
dias em que tocardes a relva e entrardes na Corrente da Vida, dai ao
solo umas poucas gotas de água, para que a relva possa ser renovada
pelo poder do Anjo da Água.”
“Sabei também que o Anjo do Ar está dentro da relva, pois tudo
o que está vivo e verde é o lar do Anjo do Ar. Colocai o vosso rosto
perto da relva, respirai profundamente e deixai o Anjo do Ar entrar
fundo no interior do vosso corpo. Pois ele habita na relva, como o
carvalho habita na glande, e como o peixe habita no mar.”
“O Anjo da Terra é o que dá à luz a relva, e como o bebê no
útero vive da alimentação de sua mãe, assim também a terra dá de si
própria ao grão do trigo, fazendo-o brotar para abraçar o Anjo do Ar.
Em verdade vos digo, cada grão de trigo que irrompe para cima na
direção do céu, é uma vitória sobre a morte, onde reina Satã. Pois a
Vida sempre recomeça.”
“É o Anjo da Vida quem flui através das folhas da relva para o
corpo do Filho da Luz, sacudindo-o com o seu poder. Pois a relva é
Vida e o Filho da Luz é Vida, e a Vida flui entre o Filho da Luz e as

172
folhas da relva, fazendo uma ponte para a Corrente Sagrada da Vida,
que deu origem a toda a criação.”
“E quando o Filho da Luz segura entre as mãos as folhas da
relva, é o Anjo da Alegria que enche seu corpo com música. Entrar na
Corrente da Vida é ser um com o canto do pássaro, as cores das flores
silvestres, o cheiro dos feixes de grãos, recém devolvidos aos campos.
Em verdade vos digo, quando o Filho do Homem não sente alegria no
seu coração, ele trabalha para Satã e traz esperança aos filhos das
trevas. Não há tristeza no reino da Luz, apenas o Anjo da Alegria.
Aprendei, portanto, com as tenras folhas da relva, o canto do Anjo da
Alegria, para que os Filhos da Luz possam caminhar sempre com ele,
e então confortar os corações dos Filhos dos Homens.”
“A Mãe Terrena é quem provê a subsistência para nossos
corpos, pois nascemos d’Ela e n’Ela temos a nossa vida. Assim Ela
provê para nós alimento nas mesmas folhas de relva que tocamos com
nossas mãos. Pois em verdade vos digo, não é apenas como pão que o
trigo pode nos alimentar. Podemos comer também das tenras folhas da
relva, para que a força da Mãe Terrena possa entrar em nós. Contudo,
mastigai bem as folhas, pois os dentes do Filho do Homem são
diferentes dos dentes dos animais, e somente quando mastigamos bem
as folhas da relva o Anjo da Água entra em nosso sangue e dá-nos
força. Comei, pois, Filhos da Luz, da erva mais perfeita da mesa de
nossa Mãe Terrena, para que os vossos dias sejam longos sobre a
terra, pois assim encontrareis graça aos olhos de Deus.”
“Em verdade vos digo, o Anjo do Poder entra em vós quando
tocais a Corrente da Vida por intermédio das folhas da relva. Pois o
Anjo do Poder é como uma luz brilhante que envolve todas as coisas
vivas, assim como a lua cheia é rodeada de anéis de resplendor, e
como a névoa sobe dos campos quando o sol se ergue no céu. E o
Anjo do Poder entra no Filho da Luz quando seu coração é puro e seu
desejo é apenas confortar e ensinar os Filhos dos Homens. Tocai, pois,
as folhas da relva, e senti o Anjo do Poder entrar pela ponta de vossos
dedos, fluir, subindo pelo vosso corpo, e sacudir-vos, até tremerdes
com admiração e reverência.”
“Sabei também que o Anjo do Amor está presente nas folhas da
relva, pois o amor está no doar, e grande é o amor dado aos Filhos da
Luz pelas tenras folhas da relva. Pois em verdade vos digo, a Corrente

173
da Vida corre através de todas as coisas vivas, e tudo o que vive se
banha na Corrente Sagrada da Vida. E quando o Filho da Luz toca
com amor as folhas da relva, as folhas da relva lhe retribuem seu amor
e conduzem-no à Corrente da Vida, onde ele encontra a vida eterna. E
esse amor nunca se esgota, pois a sua fonte está na Corrente da Vida,
que flui para o Mar Eterno, e não importa o quanto o Filho do Homem
tenha se distanciado de sua Mãe Terrena e de seu Pai Celestial, o
contato com as folhas da relva sempre trará uma mensagem do Anjo
do Amor; e seus pés se banharão novamente na Corrente Sagrada da
Vida.”
“Eis que é o Anjo da Sabedoria que governa o movimento dos
planetas, o ciclo das estações e o crescimento ordenado de todas as
coisas vivas. Assim o Anjo da Sabedoria ordena a comunhão dos
Filhos da Luz com a Corrente da Vida, por intermédio das tenras
folhas da relva. Pois em verdade vos digo, vosso corpo é santo porque
se banha na Corrente da Vida, que é a Ordem Eterna.”
“Tocai as folhas da relva, Filhos da Luz, e tocai o Anjo da Vida
Eterna. Pois, se olhardes com os olhos do espírito, vereis
verdadeiramente que a relva é eterna. Agora ela é jovem e tenra, com
o brilho de uma bebê recém-nascido. Logo ela será alta e graciosa,
como a árvore nova com seus primeiros frutos. Em seguida, ela
amarelará com a idade, e inclinará sua cabeça com paciência, como o
campo depois da colheita. Finalmente, ela murchará, pois o pequeno
pote de barro não pode conter todo o período de vida do trigo. Mas ela
não morre, pois as folhas marrons voltarão para o Anjo da Terra, e ele
a mantém em seus braços e a faz dormir, e todos os anjos trabalham
nas folhas murchas, e eis que elas se modificam e não morrem, mas
erguem-se novamente em uma outra forma. E, assim, os Filhos da Luz
nunca vêem a morte, mas encontram-se alterados e ressurgidos à vida
eterna.”
“E assim o Anjo do Trabalho nunca dorme, mas penetra as
raízes do trigo profundamente no seio do Anjo da Terra, para que os
rebentos de verde tenro possam superar a morte e o reinado de Satã.
Pois vida é movimento, e o Anjo do Trabalho nunca pára, trabalha
sem cessar no vinhedo do Senhor. Fechai os olhos quando tocardes a
relva, Filhos da Luz, mas não adormeçais, pois tocar a Corrente da
Vida é tocar o ritmo eterno dos reinos imortais, e banhar-se na

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Corrente da Vida é sentir, cada vez mais, o poder do Anjo do Trabalho
dentro de vós, criando na terra o reino do Céu.”
“A Paz é a dádiva da Corrente da Vida aos Filhos da Luz. Por
isso nós sempre nos saudamos uns aos outros dizendo: ‘A Paz esteja
convosco’. Assim mesmo a relva saúda vosso corpo com o beijo da
Paz. Em verdade vos digo, a paz não é somente a ausência de guerra,
pois muito rapidamente pode o rio pacífico transformar-se em torrente
veloz, e as mesmas ondas que embalam o barco podem, num instante,
despedaçá-lo de encontro às rochas. Assim a violência jaz à espera dos
Filhos do Homem, quando eles não mantém a vigília da Paz. Tocai as
folhas da relva, e desse modo tocai a Corrente da Vida. Nisso
encontrareis a Paz, a Paz construída com o poder de todos os anjos. E,
assim, com essa Paz, os raios da Luz Sagrada expelirão toda a
escuridão.”
“Quando os Filhos da Luz são um com a Corrente da Vida, o
poder das folhas da relva os conduz ao reino imortal do Pai Celestial.
E sabereis mais a respeito desses mistérios, que ainda não é o
momento para vós ouvirdes. Pois existem outras Correntes Sagradas
nos reinos imortais; em verdade vos digo, os reinos celestiais são
cruzados e recruzados por correntes de luz dourada, que formam arcos
muito além da abóbada do céu e não têm fim. E os Filhos da Luz
viajarão por essas correntes para sempre, sem conhecer a morte,
guiados pelo amor eterno do Pai Celestial. E em verdade vos digo,
todos esses mistérios estão contidos na modesta relva, quando a tocais
com ternura e abris vosso coração para o Anjo da Vida internamente.”
“Juntai, portanto, os grãos de trigo e plantai-os em pequenos
potes de barro; e, todos os dias, com o coração alegre, comungai com
os anjos, para que eles possam guiar-vos à Corrente Sagrada da Vida,
e vós possais trazer de volta de sua fonte eterna o conforto e a força
para os Filhos dos Homens. Pois em verdade vos digo, tudo o que vós
aprendeis, tudo o que os olhos do vosso espírito vêem, tudo o que os
ouvidos do vosso espírito ouvem, tudo isso é como uma cana oca no
vento se não enviardes uma mensagem de verdade e luz aos Filhos dos
Homens. Pois pelo fruto conhecemos o valor da árvore. E amar é um
ensinar sem fim, sem cessar. Pois assim foram vossos pais ensinados
outrora, até mesmo nosso pai Enoque. Ide agora e que a paz esteja
convosco.”

175
E Jesus mostrou o pequeno pote com as folhas de relva nova,
como num gesto de bênção, aos Irmãos e caminhou em direção às
colinas ensolaradas, ao longo da margem do rio, como era costume de
todos os Irmãos. E os outros o seguiram, cada um guardando em si as
palavras de Jesus, como se fossem uma jóia preciosa dentro de seu
peito.

176
A PAZ SÉTUPLA

“A paz esteja convosco”, disse o Ancião saudando os Irmãos


reunidos para ouvir-lhe os ensinamentos.
“A paz esteja contigo”, responderam eles; e caminharam juntos
ao longo da margem do rio, pois assim era o costume quando um
Ancião ensinava os Irmãos, para que eles pudessem partilhar os
ensinamentos com os anjos da Mãe Terrena: do ar, do sol, da água, da
terra, da vida e da alegria.
E o Ancião disse aos Irmãos: “Eu queria falar-vos hoje da paz,
pois de todos os anjos do Pai Celestial o da paz é aquele pelo qual o
mundo mais almeja, como um bebê cansado anseia colocar sua cabeça
no seio de sua mãe. É a ausência de paz que perturba os reinos,
mesmo quando não estão em guerra. Pois a violência e a guerra podem
imperar em um reino mesmo quando não se ouve o tinir das batidas
das espadas. Embora os exércitos não marchem uns contra os outros,
ainda assim não há paz quando os Filhos dos Homens não caminham
com os anjos de Deus. Em verdade vos digo, muitos são os que não
conhecem a paz; pois estão em guerra com seu próprio corpo; estão
em guerra com os seus pensamentos; não têm paz com seus pais, suas
mães, seus filhos; não têm paz com os amigos e vizinhos; não
conhecem a beleza dos Manuscritos Sagrados; não trabalham durante
o dia no reino de sua Mãe Terrena; tampouco dormem à noite nos
braços do seu Pai Celestial. A Paz não reina dentro deles, pois estão
sempre sedentos daquilo que no fim só traz miséria e sofrimento, até
mesmo daqueles ornamentos de riquezas e fama que Satã se utiliza
para tentar os Filhos dos Homens; e vivem na ignorância da Lei,
mesmo da Lei Sagrada segundo a qual vivemos: o caminho dos anjos
da Mãe Terrena e do Pai Celestial.”
“Como, então, podemos levar a paz a nossos irmãos, Mestre?”
perguntaram alguns ao Ancião, “pois desejaríamos que todos os Filhos
dos Homens compartilhassem das bênçãos do Anjo da Paz”.
E ele respondeu: “Em verdade, somente aquele que está em paz
com todos os anjos pode derramar a luz da paz sobre outros. Portanto,
em primeiro lugar, estai em paz com todos os anjos da Mãe Terrena e
do Pai Celestial. Pois os ventos de um temporal agitam e perturbam as
177
águas do rio, e somente o silêncio que se segue pode serená-las outra
vez. Quando vosso irmão vos pedir pão, cuidai de não lhe dar pedras.
Vivei primeiro em paz com todos os anjos, pois então vossa paz será
como uma fonte que se reabastece ao doar, e quanto mais doardes
tanto mais vos será doado, pois essa é a Lei.”
“Três são as moradas do Filho do Homem, e ninguém pode
chegar perante a presença de Deus sem que conheça o Anjo da Paz em
cada uma das três. Estas são o seu corpo, os seus pensamentos e os
seus sentimentos. Quando o Anjo da Sabedoria guia os seus
pensamentos, quando o Anjo do Amor purifica os seus sentimentos e
quando os atos do seu corpo refletem tanto o amor quanto a sabedoria,
então o Anjo da Paz o guia, infalivelmente, ao trono de seu Pai
Celestial. E ele deve rezar sem cessar para que o poder de Satã com
todas as suas moléstias e impurezas seja expulso de todas as suas três
moradas; para que o Poder, a Sabedoria e o Amor reinem no seu
corpo, nos seus pensamentos e nos seus sentimentos.”
“Primeiro que tudo o Filho do Homem procurará a paz com seu
próprio corpo; pois o seu corpo é como o lago de uma montanha que
reflete o sol quando está parado e claro; mas quando se enche de lodo
e pedras, não reflete coisa alguma. É preciso, primeiro, que Satã seja
expelido do corpo, para que os anjos de Deus possam entrar
novamente e habitar dentro dele. Em verdade, nenhuma paz pode
reinar em um corpo ao menos que ele seja um templo da Lei Sagrada.
Portanto, quando aquele que padece com sofrimentos e tormentos
atrozes pedir a vossa ajuda, dizei-lhe que se renove com jejum e
orações. Dizei-lhe que invoque o Anjo do Sol, o Anjo da Água e o
Anjo do Ar, para que eles possam entrar em seu corpo e expulsar dele
o poder de Satã. Mostrai-lhe o batismo interno e o batismo externo.
Dizei-lhe sempre que coma da mesa de nossa Mãe Terrena, repleta de
seus dons: os frutos das árvores, a relva dos campos, o leite dos
animais bom para consumo e o mel das abelhas. Que ele não invoque
o poder de Satã comendo a carne dos animais, pois quem mata, mata
seu irmão, e quem come a carne de animais mortos, come o corpo da
morte. Dizei-lhe que prepare seus alimentos com o fogo da vida e não
com o fogo da morte, pois os anjos vivos do Deus Vivo só servem a
homens vivos.”
“E, embora ele não os veja, não os escute e não os toque, ele

178
está, a todo o momento, cercado pelo poder dos anjos de Deus.
Enquanto seus olhos e seus ouvidos estiverem fechados pela
ignorância da Lei e sedentos pelos prazeres de Satã, ele não os verá,
não os ouvirá e não os tocará. Porém, quando ele jejuar e orar ao Deus
Vivo para expulsar todas as moléstias e impurezas de Satã, então seus
olhos e seus ouvidos se abrirão, e ele encontrará a paz.”
“Pois não somente sofre o que abriga em si as moléstias de
Satã, como também sofrem sua mãe, seu pai, sua esposa, seus filhos e
seus companheiros, pois nenhum homem é uma ilha em si mesmo, e
os poderes que fluem por ele, seja dos anjos seja de Satã, em verdade,
fluem para os outros para o bem ou para o mal.”
“Dessa maneira, portanto, orai para o vosso Pai Celestial quando
o sol estiver no alto ao meio-dia: ‘Pai nosso, que estás no céu, envia a
todos os Filhos dos Homens o Teu Anjo da Paz; e envia ao nosso
corpo o Anjo da Vida, para habitar nele para sempre!’”
“Então o Filho do Homem buscará a paz com os seus próprios
pensamentos; que o Anjo da Sabedoria possa guiá-lo. Pois em verdade
vos digo, não há maior poder no céu e na terra do que os pensamentos
do Filho do Homem. Embora invisível aos olhos do corpo, cada
pensamento tem uma poderosa força, uma força capaz de sacudir os
céus.”
“Pois a nenhuma outra criatura do reino da Mãe Terrena é dado
o poder do pensamento, pois os animais que rastejam e as aves que
voam não vivem do seu próprio pensamento, mas da Lei que a todos
governa. Somente aos Filhos dos Homens foi concedido o poder do
pensamento, incluindo o pensamento que pode romper os laços da
morte. Não penseis que, por não poder ser visto, o pensamento não
tenha poder. Em verdade vos digo, o raio que fende o carvalho
poderoso, ou o terremoto que abre rachaduras na terra, são brincadeiras
de crianças comparados ao poder do pensamento. Na verdade, cada
pensamento de treva, seja de maldade, raiva ou vingança, provoca
destruição semelhante à do fogo que se alastra por gravetos secos sob
um céu sem vento. Mas o homem não vê o massacre, nem ouve os
gritos lastimosos de suas vítimas, pois está cego para o mundo do
espírito.”
“Mas quando esse poder é guiado pela santa Sabedoria, então os
pensamentos do Filho do Homem conduzem-no aos reinos celestiais e

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dessa maneira se constrói o paraíso na terra; então é que vossos
pensamentos elevam as almas dos homens, como as águas frias de um
córrego reanimam vossos corpos no calor do verão.”
“Quando o passarinho que acaba de empenar-se tenta o
primeiro vôo, suas asas não podem sustentá-lo, e ele cai repetidas
vezes no chão. Mas ele torna a tentar e, um dia, ele voa bem alto,
deixando a terra e o ninho para trás. O mesmo acontece com os
pensamentos dos Filhos dos Homens. Quanto mais eles caminham
com os anjos e mantém sua Lei, tanto mais fortes se tornam seus
pensamentos na santa Sabedoria. E, em verdade vos digo, dia virá em
que os seus pensamentos superarão até o reino da morte e subirão à
vida imortal nos reinos celestiais; pois, com seus pensamentos guiados
pela santa Sabedoria, os Filhos dos Homens constroem uma ponte de
luz pela qual chegam a Deus.”
“Dessa maneira, portanto, orai para o vosso Pai Celestial quando
o sol estiver no alto ao meio-dia: ‘Pai nosso, que estás no céu, envia a
todos os Filhos dos Homens o Teu Anjo da Paz; e envia aos nossos
pensamentos o Anjo do Poder, para que possamos romper os laços da
morte.’”
“Então o Filho do Homem buscará a paz com os seus próprios
sentimentos; para que sua família possa se alegrar com a sua afetuosa
bondade, incluindo seu pai, sua mãe, sua esposa, seus filhos e os filhos
de seus filhos. Pois o Pai Celestial é cem vezes maior do que todos os
pais pela semente e pelo sangue, e a Mãe Terrena é cem vezes maior
do que todas as mães pelo corpo, e vossos irmãos verdadeiros são
todos aqueles que fazem a vontade de vosso Pai Celestial e de vossa
Mãe Terrena, e não vossos irmãos pelo sangue. Mesmo assim, vereis o
Pai Celestial em vosso pai pela semente, e vossa Mãe Terrena em
vossa mãe pelo corpo, pois não são eles também filhos do Pai
Celestial e da Mãe Terrena? Mesmo assim, amareis vossos irmãos
pelo sangue como amais os vossos verdadeiros irmãos que caminham
com os anjos, pois não são eles também filhos do Pai Celestial e da
Mãe Terrena? Em verdade vos digo, é mais fácil amar os que recém
encontramos do que os de nossa própria casa, que conhecem nossas
fraquezas, ouviram nossas palavras de cólera e nos viram em nossa
nudez, pois eles nos conhecem como nós nos conhecemos, e isso nos
deixa envergonhados. Chamaremos, então, o Anjo do Amor para entrar

180
em nossos sentimentos, para que eles sejam purificados. E tudo o que
antes era impaciência e discórdia se transformará em harmonia e paz,
como o solo ressequido bebe a chuva mansa e passa a ser verde, suave
e tenro com sua nova vida.”
“Pois muitos e dolorosos são os sofrimentos dos Filhos dos
Homens quando não abrem caminho para o Anjo do Amor. Em
verdade, um homem sem amor lança uma sombra escura em todas as
pessoas que encontra, principalmente naquelas com as quais ele vive;
suas palavras ásperas e iradas caem sobre seus irmãos como o ar
fétido que exala de uma poça de água estagnada. E sofre mais o que as
profere, pois a treva que o envolve é um convite a Satã e seus
demônios.”
“Todavia, quando ele chama o Anjo do Amor, a treva é
dissipada, a luz do sol flui dele, as cores do arco-íris giram ao redor da
sua cabeça, uma chuva suave cai dos seus dedos e ele traz paz e força
a todos aqueles que se aproximam dele.”
“Dessa maneira, portanto, orai para o vosso Pai Celestial quando
o sol estiver no alto ao meio-dia: ‘Pai nosso, que estás no céu, envia a
todos os Filhos dos Homens o Teu Anjo da Paz; e envia aos da nossa
semente e do nosso sangue o Anjo do Amor, para que a paz e a
harmonia possam habitar em nossa casa para sempre.’”
“O Filho do Homem buscará, então, a paz com outros Filhos
dos Homens, até mesmo com os fariseus e os sacerdotes, os mendigos
e os desabrigados, os reis e os governantes. Pois todos são Filhos dos
Homens, seja qual for a sua posição, seja qual for a sua vocação, quer
seus olhos tenham sido abertos para ver os reinos celestiais, quer
continuem eles a andar no escuro e na ignorância.”
“Pois a justiça dos homens pode recompensar os indignos e
punir os inocentes, mas a Lei Sagrada é a mesma para todos, sejam
mendigos ou reis, pastores ou sacerdotes.”
“Buscai a paz com todos os Filhos dos Homens e deixai chegar
aos Irmãos de Luz o conhecimento de que nós temos vivido segundo a
Lei Sagrada desde o tempo de Enoque de outrora e antes dele. Pois
não somos ricos nem pobres. E compartilhamos todas as coisas,
mesmo as vestimentas e as ferramentas que usamos para cultivar o
solo. E juntos trabalhamos nos campos com todos os anjos,
produzindo as dádivas da Mãe Terrena para todos comerem.”

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“Pois o mais forte dos anjos do Pai Celestial, o Anjo do
Trabalho, abençoa todo homem que trabalha da melhor maneira para
ele, pois desse jeito não conhecerá escassez nem excesso. Em verdade,
há abundância para todos os homens nos reinos da Mãe Terrena e do
Pai Celestial quando cada homem trabalha em sua tarefa; e quando um
homem foge da sua tarefa, outro precisa assumi-la, pois nos são dadas
todas as coisas nos reinos do céu e da terra ao preço do trabalho.”
“Os Irmãos da Luz sempre viveram onde se alegram os anjos da
Mãe Terrena: perto de rios, de árvores, de flores, da música dos
pássaros; onde o sol e a chuva podem abraçar o corpo, que é o templo
do espírito. Também não temos dever para com os decretos dos
governantes; tampouco mantemo-los, visto que a nossa lei é a Lei do
Pai Celestial e da Mãe Terrena; tampouco nos opomos a eles, pois
ninguém governa senão pela vontade de Deus. Em vez disso, nos
esforçamos por viver de acordo com a Lei Sagrada e reforçamos
sempre o que é bom em todas as coisas; então o reino da treva será
transformado em reino da luz; pois onde há luz, como pode subsistir a
escuridão?”
“Dessa maneira, portanto, orai para o vosso Pai Celestial quando
o sol estiver no alto ao meio-dia: ‘Pai nosso, que estás no céu, envia a
todos os Filhos dos Homens o Teu Anjo da Paz; e envia a toda a
humanidade o Anjo do Trabalho, para que, tendo uma tarefa sagrada,
não peçamos por nenhuma outra bênção.’”
“O Filho do Homem buscará, então, a paz com o conhecimento
dos tempos passados; pois em verdade vos digo, nos Manuscritos
Sagrados há um tesouro cem vezes maior do que qualquer uma das
jóias e do ouro do mais rico dos reinos e mais precioso, pois eles
contêm seguramente toda a sabedoria revelada por Deus aos Filhos da
Luz, incluindo as tradições que chegaram a nós através do antigo
Enoque e, antes dele, em um caminho sem fim ao passado, os
ensinamentos dos Grandes. E estes são a nossa herança, assim como o
filho herda todas as propriedades do pai quando se mostra digno da
bênção paterna. Em verdade, estudando os ensinamentos da sabedoria
imortal, chegamos a conhecer Deus, pois em verdade vos digo, os
Grandes viam Deus face a face; assim mesmo, quando lemos os
Manuscritos Sagrados, tocamos os pés de Deus.”
“E quando vermos com os olhos da sabedoria e ouvirmos com

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os ouvidos do entendimento as verdades imortais dos Manuscritos
Sagrados, temos de ir para o meio dos Filhos dos Homens e ensiná-
los, pois se escondermos ciosamente o santo conhecimento, alegando
que ele pertence unicamente a nós, seremos como aquele que encontra
uma fonte no alto das montanhas e, em vez de deixá-la escorrer para o
vale, a fim de saciar a sede do homem e do animal, enterra-a debaixo
de rochas e terra, privando-se também de água como aos outros. Ide
para junto dos Filhos dos Homens e falai-lhes da Lei Sagrada, para
que eles possam, por esse meio, salvar-se e entrar nos reinos celestiais.
Falai-lhes, contudo, com palavras que eles compreendam, em
parábolas da natureza, que falam ao coração, pois a ação precisa
primeiro viver como desejo no coração despertado.”
“Dessa maneira, portanto, orai para o vosso Pai Celestial quando
o sol estiver no alto ao meio-dia: ‘Pai nosso, que estás no céu, envia a
todos os Filhos dos Homens o Teu Anjo da Paz; e envia ao nosso
conhecimento o Anjo da Sabedoria, para podermos percorrer os
caminhos dos Grandes que viram o rosto de Deus.’”
“O Filho do Homem buscará, então, a paz com o reino de sua
Mãe Terrena, pois ninguém pode viver muito nem ser feliz ao menos
que honre sua Mãe Terrena e cumpra Suas leis. Pois a vossa respiração
é a Sua respiração; o vosso sangue é o Seu sangue; os vossos ossos
são os Seus ossos; a vossa carne é a Sua carne; as vossas entranhas são
as Suas entranhas; os vossos olhos e os vossos ouvidos são os Seus
olhos e os Seus ouvidos.”
“Em verdade vos digo, vós sois um com a Mãe Terrena; Ela
está em vós e vós estais n’Ela. D’Ela nascestes, n’Ela viveis e a Ela
retornareis. É o sangue da nossa Mãe Terrena que cai das nuvens e
corre nos rios; é a respiração da nossa Mãe Terrena que sussurra nas
folhas da floresta e sopra desde as montanhas com um vento poderoso;
suave e firme é a carne de nossa Mãe Terrena nos frutos das árvores;
fortes e inabaláveis são os ossos de nossa Mãe Terrena nas gigantescas
rochas e pedras que se erguem como sentinelas dos tempos perdidos;
em verdade, nós somos um com nossa Mãe Terrena, e aquele que se
apega às leis de sua Mãe, a ele sua Mãe se apegará também.”
“Mas chegará um dia em que o Filho do Homem desviará o
rosto de sua Mãe Terrena e a trairá, chegando a renegar sua Mãe e o
seu direito de primogenitura. Então ele a venderá como escrava, e a

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carne d’Ela será devastada, Seu sangue poluído, Sua respiração
sufocada; ele levará o fogo da morte a todas as partes do reino d’Ela, e
sua fome devorará todas as Suas dádivas e deixará em seu lugar
apenas um deserto.”
“Todas essas coisas ele fará por ignorância da Lei, e como um
homem que morre lentamente não sente seu próprio mau-cheiro, assim
o Filho do Homem será cego à verdade: e como ele saqueia, devasta e
destrói sua Mãe Terrena, assim também saqueia, devasta e destrói a si
mesmo. Pois ele nasceu de sua Mãe Terrena, e ele é um com Ela, e
tudo o que ele faz à sua Mãe, faz também a si mesmo.”
“Há muito tempo, mesmo antes do Grande Dilúvio, os Grandes
andavam na terra, e as árvores gigantes, incluindo as que hoje não são
mais do que lendas, eram o seu lar e o seu reino. Eles viveram grande
número de gerações, pois comiam da mesa da Mãe Terrena, dormiam
nos braços do Pai Celestial e não conheciam moléstia, nem velhice,
nem morte. Aos Filhos dos Homens eles legaram toda a glória dos
seus reinos, até o conhecimento oculto da Árvore da Vida, que se
ergue no meio do Mar Eterno. Mas os olhos dos Filhos dos Homens
estavam ofuscados pelas visões de Satã e por promessas de poder,
inclusive o poder que conquista pela força e pelo sangue. O Filho do
Homem rompeu, então, os fios de ouro que o ligavam à sua Mãe
Terrena e ao seu Pai Celestial; ele saiu da Corrente Sagrada da Vida
em que o seu corpo, seus pensamentos e seus sentimentos eram um
com a Lei, e começou a usar apenas seus próprios pensamentos, seus
próprios sentimentos e suas próprias ações, fazendo centenas de leis
onde antes só havia Uma.”
“E, desse modo, os Filhos dos Homens exilaram-se do seu lar e,
a partir de então, amontoaram-se atrás dos seus muros de pedra e
deixaram de ouvir o sussurro do vento nas altas árvores das florestas,
para além de suas cidades.”
“Em verdade vos digo, o Livro da Natureza é um Manuscrito
Sagrado e, se quiserdes que os Filhos dos Homens se salvem e
encontrem a vida eterna, ensinai-os mais uma vez a ler nas páginas
vivas da Mãe Terrena. Pois em tudo o que é vida a lei está escrita. Está
escrita na relva, nas árvores, nos rios, nas montanhas, nos pássaros do
céu e nos peixes do mar; e, sobretudo, no interior do Filho do Homem.
Somente quando retornar ao seio de sua Mãe Terrena ele encontrará a

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vida imortal e a Corrente da Vida que conduz ao seu Pai Celestial;
somente dessa maneira a visão escura do futuro não subsistirá.”
“Dessa maneira, portanto, orai para o vosso Pai Celestial quando
o sol estiver no alto ao meio-dia: ‘Pai nosso, que estás no céu, envia a
todos os Filhos dos Homens o Teu Anjo da Paz; e envia ao reino de
nossa Mãe Terrena o Anjo da Alegria, para que os nossos corações
possam se encher de cânticos e júbilos, à medida que nos aninhamos
nos braços de nossa Mãe.”
“Por fim, os Filhos do Homem buscarão a paz no reino do seu
Pai Celestial; pois, em verdade, o Filho do Homem somente nasceu de
seu pai pela semente e de sua mãe pelo corpo, para que pudesse
encontrar sua verdadeira herança e saber, por fim, que é o Filho do
Rei.”
“O Pai Celestial é a Lei Única, que formou as estrelas, o sol, a
luz e a escuridão, e a Lei Sagrada dentro das nossas almas. Ele está em
toda parte, e não há lugar algum em que Ele não esteja. Tudo em
nosso entendimento e tudo o que não sabemos é governado pela Lei.
O cair das folhas, o fluir dos rios, a música dos insetos à noite, tudo é
governado pela Lei.”
“No reino do nosso Pai Celestial existem muitas mansões e
muitas são as coisas ocultas que ainda não podeis conhecer. Em
verdade vos digo, o reino do nosso Pai Celestial é vasto, tão vasto que
nenhum homem pode conhecer seus limites, pois eles não existem.
Entretanto, todo o Seu reino pode ser encontrado na menor gota de
orvalho sobre uma flor silvestre, ou no aroma da relva recém-cortada
nos campos debaixo do sol de verão. Em verdade, não existem
palavras para descrever o reino do Pai Celestial.”
“Gloriosa, de fato, é a herança do Filho do Homem, pois só a
ele é dado entrar na Corrente da Vida que o conduz ao reino do seu
Pai Celestial. Mas antes disso ele deve procurar e encontrar a paz com
o seu corpo, com os seus pensamentos, com os seus sentimentos, com
os Filhos dos Homens, com o conhecimento sagrado e com o reino da
Mãe Terrena. Pois em verdade vos digo, esta é a embarcação que
carregará o Filho do Homem pela Corrente da Vida até seu Pai
Celestial. Ele precisa ter a paz que é sétupla antes que possa conhecer
a paz que sobreleva o entendimento, incluindo o de seu Pai Celestial.”
“Dessa maneira, portanto, orai para o vosso Pai Celestial quando

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o sol estiver no alto ao meio-dia: ‘Pai nosso, que estás no céu, envia a
todos os Filhos dos Homens o Teu Anjo da Paz; e envia ao Teu reino,
nosso Pai Celestial, o Teu Anjo da Vida Eterna, para que nós
possamos voar além das estrelas e viver para sempre.’”
E então o Ancião se calou e um grande silêncio recaiu sobre os
Irmãos, e ninguém desejava falar. As sombras do entardecer
brincavam sobre o rio sereno e prateado como vidro, e no céu que
escurecia podia lentamente ser vista a filigrana da lua crescente da
paz. E a grande paz do Pai Celestial envolveu a todos em amor
imortal.

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AS CORRE TES SAGRADAS

Chegastes ao círculo mais íntimo, ao mistério dos mistérios,


àquele que era velho quando nosso pai Enoque era jovem e andava
pela terra. Voltas e voltas destes em vossa jornada de muitos anos,
sempre seguindo o caminho da retidão, vivendo de acordo com a Lei
Sagrada e com os votos sagrados de nossa Irmandade, e fizestes do
vosso corpo um templo sagrado onde moram os anjos de Deus.
Durante muitos anos compartilhastes a luz do dia com os anjos da
Mãe Terrena; durante muitos anos dormistes nos braços do Pai
Celestial, ensinado pelos seus anjos desconhecidos. Aprendestes que
as leis do Filho do Homem são sete, as dos anjos três, e a de Deus,
uma. Agora vós sabereis das três leis dos anjos, o mistério das três
Correntes Sagradas e o modo antigo de percorrê-las; assim vos
banhareis na luz do céu e, por último, contemplareis a revelação do
mistério dos mistérios: a lei de Deus, que é Uma.
Agora, na hora que antecede o nascimento do sol, pouco antes
dos anjos da Mãe Terrena inspirarem vida na Terra ainda adormecida,
vós entrareis na Corrente Sagrada da Vida. É a vossa Irmã Árvore que
mantém o mistério dessa Corrente Sagrada, e é a vossa Irmã Árvore
que abraçareis em vosso pensamento, assim como durante o dia vós a
abraçais em saudação quando caminhais pela margem do lago. E
sereis um com a árvore, pois, no princípio dos tempos, todos nós
assim compartilhávamos da Corrente Sagrada da Vida que deu origem
à toda a criação. E à medida que abraçais a vossa Irmã Árvore, o
poder da Corrente Sagrada da Vida preencherá o vosso corpo inteiro e
estremecereis diante da sua força. Então inspirai profundamente do
Anjo do Ar, e dizei a palavra “Vida” ao exalares o ar. Então vos
tornareis, em verdade, a Árvore da Vida, cujas raízes penetram
profundamente na Corrente Sagrada da Vida de uma fonte eterna. E
como o Anjo do Sol aquece a Terra, e todas as criaturas da terra, da
água e do ar regozijam com o novo dia, assim vosso corpo e vosso
espírito se regozijarão na Corrente Sagrada da Vida que flui para vós
através de vossa Irmã Árvore.
E quando o sol estiver alto nos céus, vós buscareis a Corrente
Sagrada do Som. No calor do meio-dia, todas as criaturas estão
187
quietas e buscam a sombra; os anjos da Mãe Terrena ficam em
silêncio por um tempo. É quando deveis permitir entrar em vossos
ouvidos a Corrente Sagrada do Som; pois ela só pode ser ouvida no
silêncio. Pensai nas correntes que nascem no deserto depois de uma
tempestade repentina, e no rugido das águas quando elas passam
ligeiras. Verdadeiramente, essa é a voz de Deus, caso vós ainda não a
conheceis. Pois, como está escrito, no princípio era o Som, e o Som
estava com Deus, e o Som era Deus. Em verdade vos digo, quando
nós nascemos, entramos no mundo com o som de Deus nos nossos
ouvidos, até mesmo com os cantos dos vastos coros do céu, e o
cântico sagrado das estrelas em suas órbitas fixas; e é a Corrente
Sagrada do Som que atravessa o firmamento das estrelas e cruza o
reino infinito do Pai Celestial. Ela está sempre nos nossos ouvidos,
por isso nós não a ouvimos. Escutai a ela, então, no silêncio do meio-
dia; banhai-vos nela, e deixai o ritmo da música de Deus bater em
vossos ouvidos até serdes um com a Corrente Sagrada do Som. Foi
este Som que formou a terra e o mundo, gerou as montanhas e pôs as
estrelas em seus tronos de glória nos mais altos céus.
E vós vos banhareis na Corrente Sagrada do Som, e a música
das suas águas fluirá sobre vós; pois, no princípio dos tempos, todos
nós assim compartilhávamos da Corrente Sagrada do Som que deu
origem à toda a criação. E o poderoso rugido da Corrente do Som
preencherá o vosso corpo inteiro, e tremereis diante da sua força.
Então, respirai profundamente do Anjo do Ar, e tornai-vos o próprio
som, para que a Corrente Sagrada do Som possa levar-vos ao reino
infinito do Pai Celestial, lá onde todo o ritmo do mundo sobe e desce.
E quando a escuridão gentilmente fechar os olhos dos anjos da
Mãe Terrena, então vós também dormireis, para que o vosso espírito
possa juntar-se aos anjos desconhecidos do Pai Celestial. E nos
momentos antes de dormirdes, pensai nas estrelas brilhantes e
gloriosas, nas estrelas brancas, brilhantes, distantes e penetrantes. Pois
os vossos pensamentos antes do sono são como o arco do arqueiro
habilidoso, que envia a sua flecha para onde ele desejar. Deixai que
vossos pensamentos antes de dormir estejam com as estrelas; pois as
estrelas são Luz, e o Pai Celestial é Luz, essa mesma Luz que é mil
vezes mais brilhante do que o brilho de mil sóis. Entrai na Corrente
Sagrada da Luz, para que os grilhões da morte possam perder seu

188
domínio para sempre e, libertando-vos dos laços da Terra, ascendais à
Corrente Sagrada da Luz através do brilho resplandecente das estrelas,
até o reino infinito do Pai Celestial.
Abri vossas asas de luz e, com os olhos do vosso pensamento,
voai com as estrelas até os confins do céu, onde incontáveis sóis
ardem com sua luz. Pois no princípio dos tempos, a Lei Sagrada disse:
‘Haja Luz’, e houve Luz. E sereis um com ela, e o poder da Corrente
Sagrada da Luz preencherá o vosso corpo inteiro, e estremecereis
diante da sua força. Dizei a palavra “Luz”, ao respirardes
profundamente do Anjo do Ar, e vos tornareis a própria Luz; e a
Corrente Sagrada vos carregará ao reino infinito do Pai Celestial,
perdendo-se no eterno Mar de Luz que deu origem à toda a criação. E
sereis um com a Corrente Sagrada da Luz, sempre antes de dormirdes
nos braços do Pai Celestial.
Em verdade vos digo, o vosso corpo não foi feito apenas para
respirar, comer e beber, mas ele também foi feito para entrar na
Corrente Sagrada da Vida. E os vossos ouvidos não foram feitos
apenas para ouvir as palavras dos homens, o canto dos pássaros e a
música da chuva caindo, mas eles também foram feitos para ouvir a
Corrente Sagrada do Som. E os vossos olhos não foram feitos apenas
para ver o nascer e o pôr do sol, a ondulação dos feixes de trigo, e as
palavras dos Manuscritos Sagrados, mas eles também foram feitos
para ver a Corrente Sagrada da Luz. Um dia o vosso corpo retornará à
Mãe Terrena; assim como os vossos ouvidos e os vossos olhos. Mas a
Corrente Sagrada da Vida, a Corrente Sagrada do Som e a Corrente
Sagrada da Luz, estas nunca nasceram e nunca morrerão. Entrai nas
Correntes Sagradas, nessa mesma Vida, nesse mesmo Som e nessa
mesma Luz que te deram origem; para que possais alcançar o reino do
Pai Celestial e vos tornardes um com Ele, assim como o rio deságua
no mar distante.
Mais do que isto não pode ser dito, pois as Correntes Sagradas
vos levarão ao lugar onde não existem mais palavras, e cujos mistérios
nem mesmo os Manuscritos Sagrados podem registrar.

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190
A EXOS

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192
OS ESSÊ IOS

Eram originários do Egito, e durante a dominação do Império


Selêucida, em 170 a.C., formaram um pequeno grupo de judeus, que
abandonou as cidades e rumou para o deserto, passando a viver às
margens do Mar Morto, e cujas colônias estendiam-se até o vale do
Nilo. No meio da corrupção que imperava, os essênios conservavam a
tradição dos profetas e o segredo da Pura Doutrina. De costumes
irrepreensíveis, moralidade exemplar, pacíficos e de boa fé,
dedicavam-se ao estudo espiritualista, à contemplação e à caridade,
longe do materialismo avassalador. Segundo alguns estudiosos, foi
nesse meio onde passou Jesus, no período que corresponde entre seus
13 e 30 anos. Os essênios suportavam com admirável estoicismo os
maiores sacrifícios para não violar o menor preceito religioso.
Procuravam servir a Deus, auxiliando o próximo, sem imolações no
altar e sem cultuar imagens. Eram livres, trabalhavam em
comunidade, vivendo do que produziam. Em seu meio não havia
escravos. Tornaram-se famosos pelo conhecimento e uso das ervas,
entregando-se abertamente ao exercício da medicina ocultista. Em
seus ensinos, seguindo o método das Escolas Iniciáticas, submetiam
os discípulos à rituais de Iniciação, conforme adquiriam
conhecimentos e passavam para graus mais avançados. Mostravam
então, tanto na teoria quanto na prática, as Leis Superiores do
Universo e da Vida, tristemente esquecidas na ocasião.
Vivendo em comunidades distantes, os essênios sempre
procuravam encontrar na solidão do deserto o lugar ideal para
desenvolverem a espiritualidade e estabelecerem a vida comunitária,
onde a partilha dos bens era a regra. Rompendo com o conceito da
propriedade individual, acreditavam ser possível implantar no reino da
Terra a verdadeira igualdade e fraternidade entre os homens.
Consideravam a escravidão um ultraje à missão do homem dada por
Deus. Todos trabalhavam para si e nas tarefas comuns, sempre
desempenhando atividades profissionais que não envolvessem a
destruição ou violência. Não era possível encontrar entre eles
açougueiros ou fabricantes de armas, mas sim grande quantidade de
mestres, escribas, instrutores, que através do ensino passavam de
193
forma sutil os pensamentos da seita aos leigos. O silêncio era prezado
por eles. Sabiam guardá-lo, evitando discussões em público e assuntos
sobre religião. A voz, para um essênio, possuía grande poder e não
devia ser desperdiçada. Através dela, com diferentes entonações, eram
capazes de curar um doente.
Cultivavam hábitos saudáveis, zelando pela alimentação, físico
e higiene pessoal. A capacidade de predizer o futuro e a leitura do
destino através da linguagem dos astros tornaram os essênios figuras
magnéticas, conhecidas por suas vestes brancas. Eram excelentes
médicos também.
Em cada parte do mundo onde se estabeleceram, eles receberam
nomes diferentes, às vezes por necessidades de se proteger contra as
perseguições ou para manter afastados os difamadores. Mestres em
saber adaptar seus pensamentos às religiões dos países onde se
situavam, agiram misturando muitos aspectos de sua doutrina a outras
crenças. O saber mais profundo dos essênios era velado à maioria das
pessoas. É sabido também que liam textos e estudavam outras
doutrinas.
Para ser um essênio, o pretendente era preparado desde a
infância na vida comunitária de suas aldeias isoladas. Já adulto, o
adepto, após cumprir várias etapas de aprendizado, recebia uma
missão definida que ele deveria cumprir até o fim da vida. Vestidos
com roupas brancas, ficaram conhecidos em sua época como aqueles
que “são do caminho”. Foram fundadores dos abrigos denominados
“beth-saida”, que tinham como tarefa cuidar de doentes e
desabrigados em épocas de epidemia e fome. Os beth-saida
anteciparam em séculos os hospitais, instituição que tem seu nome
derivado de hospitaleiros, denominação de um ramo essênio voltado
para a prestação de socorro às pessoas doentes. Fizeram obras
maravilhosas, que refletem até os nossos dias.

(pegue.com/religiao/osessenios.htm - trecho adaptado)

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A DOUTRI A DO DESERTO

Em 1923, o húngaro Edmond Szekely obteve permissão para


pesquisar os arquivos secretos do Vaticano. Estava à procura de livros
que teriam influenciado São Francisco de Assis. Curioso e encantado,
vagou pelos mais de 40 quilômetros de estantes com pergaminhos e
papiros milenares. Viu evangelhos nunca publicados e manuscritos
originais de muitos santos e apóstolos, condenados a permanecer
escondidos para sempre. De todas essas raridades, uma obra em
especial lhe chamou a atenção. Era o Evangelho Essênio da Paz. O
livro teria sido escrito pelo apóstolo João e narrava passagens
desconhecidas da vida de Jesus Cristo, apresentado ali como o
principal líder de uma seita judaica até então pouco comentada – os
essênios. Szekely não perdeu tempo. Traduziu o texto e o publicou em
quatro volumes. Sentindo-se traída pelo pesquisador, a Igreja o
excomungou.
Não foi uma punição tão grave. Considere o que aconteceu com
o reverendo inglês Gideon Ouseley. Em 1880, ele achou um
manuscrito chamado O Evangelho dos Doze Santos em um
monastério budista na índia. O texto em aramaico – a língua que Jesus
falava – teria sido levado para o Oriente por essênios refugiados.
Ouseley ficou eufórico e saiu espalhando que tinha descoberto o
verdadeiro Novo Testamento. Afirmava que a Bíblia estava incorreta,
pois Cristo era um essênio que defendia a reencarnação e o
vegetarianismo. Se hoje essa tese soa estranha, dizer isso na Inglaterra
vitoriana do século XIX era blasfêmia da pior espécie. Resultado: os
conservadores atearam fogo na casa de Ouseley e o original foi
destruído.
O mistério que envolve esses dois textos e o tom místico que os
descobridores deram aos seus achados acabaram manchando seu
crédito diante dos historiadores.
Para os historiadores, os essênios seriam até hoje uma nota de
rodapé na História se, em 1947, dois pastores beduínos não tivessem
por acidente levado a uma das maiores descobertas arqueológicas do
século.

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Escondidos em cavernas próximas ao Mar Morto, em Israel,
813 manuscritos redigidos pelos essênios entre 225 a.C. e o ano 68 da
nossa era guardavam as mais antigas cópias do Antigo Testamento,
calendários e textos da Bíblia.
Perto das cavernas, em Qumran, estavam as ruínas de um
monastério essênio e um cemitério com cerca de 1200 esqueletos,
quase todos masculinos.
O achado deu início a um longo e árduo esforço de tradução dos
manuscritos por teólogos e cientistas de várias universidades no
mundo. Milhares deles estavam em pedaços minúsculos, menores do
que uma unha. “Hoje, 90% dos textos já foram transcritos”, diz o
teólogo Geza Vermes, da Universidade de Oxford, que pesquisa os
manuscritos. O que já é suficiente para moldar uma imagem mais
precisa da história, da doutrina, da crença e dos hábitos essênios, que
ficaram séculos a fio esquecidos nas ruínas daquele monastério.
O surgimento da doutrina essênia aconteceu em tempos
conturbados. Os judeus viveram sob dominação de diversos povos
estrangeiros desde 587 a.C., quando Jerusalém foi devastada pelos
babilônios, habitantes da atual região do Iraque. Por volta do século II
a.C., o domínio era exercido pelos selêucidas, um povo grego que
habitava a Síria. A cultura helenista proliferava e a tradição hebraica
sofria fortes ameaças. Para recuperar o judaísmo, os israelitas
acreditavam na vinda do Messias que chegaria ao final dos tempos
para exterminar os infiéis e salvar os seguidores das Escrituras. A
chegada do Salvador poderia se dar a qualquer instante.
Os mais ortodoxos seguiam tão à risca os preceitos religiosos e
buscavam a ascese e a pureza com tal fervor que ficavam chocados
com os hábitos mundanos dos gregos. Entre eles estavam os essênios.
Um dia boa parte deles, liderados por um sacerdote, partiu para o
Deserto da Judéia (atual Israel) para orar, meditar e estudar as leis
sagradas. Longe, bem longe, de tudo o que eles consideravam impuro.
Surgia assim o monastério de Qumran.
A região escolhida para a construção do monastério é a de
menor altitude no planeta – 400 metros abaixo do nível do mar. As
chuvas são raras e o mar é tão salgado que é impossível mergulhar
nele, pois a enorme densidade da água mantém o banhista na
superfície. Para prosperar, os bens individuais e as tarefas foram

196
divididos entre toda a comunidade e regras de disciplina e de
hierarquia foram instituídas.
É possível conhecer o dia-a-dia dos essênios a partir do legado
do historiador judeu Flávio Josefo (37-100). Aos 16 anos Josefo
recebeu lições de um mestre essênio, com quem viveu durante três
anos. Os essênios acordavam antes do nascer do sol. Permaneciam em
silencio e faziam suas preces até o momento em que um mestre
dividia as tarefas entre eles de acordo com a aptidão de cada um.
Trabalhavam durante 5 horas em atividades como o cultivo de
vegetais ou o estudo das Escrituras. Terminadas as tarefas, banhavam-
se em água fria e vestiam túnicas brancas. Comiam uma refeição em
absoluto silêncio, só quebrado pelas orações recitadas pelo sacerdote
no início e no fim. Retiravam então a túnica branca, considerada
sagrada, e retornavam ao trabalho até o pôr-do-sol. Tomavam outro
banho e jantavam com a mesma cerimônia.
Os essênios tinham com o solo uma relação de devoção. Josefo
conta que um dos rituais comuns deles consistia em cavar um buraco
de cerca de 30 centímetros de profundidade em um lugar isolado
dentro do qual se enterravam para relaxar e meditar.
Diferentemente dos demais judeus, a comunidade usava um
calendário solar de 364 dias, inspirado no egípcio. O primeiro dia do
ano e de cada mês caía sempre um uma quarta-feira, porque de acordo
com o Gênesis, o Sol e a Lua foram criados no quarto dia. O
calendário diferente trouxe vários problemas para os essênios. Outros
judeus poderiam atacar o monastério no shabbath – o dia sagrado
reservado ao descanso, no qual era proibido qualquer esforço,
inclusive o de se defender.
A correta observação das regras garantiria a salvação dos
essênios quando chegasse o apocalipse, que seria a vitória dos puros
“filhos da luz” contra os “filhos das trevas”.
Graças a essa organização toda, Qumran produzia tudo de que
precisava. A dieta era vegetariana. Os essênios tinham um enorme
respeito pela natureza. Nenhum homem poderia sujar-se comendo
qualquer criatura morta.
No ano de 68 o monastério de Qumran foi aniquilado numa
devastadora investida do exército romano que arrasou a Judéia e
destruiu Jerusalém. O ataque era dirigido principalmente aos judeus

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zelotes, que se insurgiram contra o domínio romano. Qumran, que não
era nenhuma fortaleza, foi presa fácil para as legiões do César. Mas
nem todos os essênios morreram aí. Alguns fugiram para Massada
onde, aí sim, no ano de 73, descobriram o que é um final trágico. O
esconderijo, uma fortaleza zelote ao sul de Qumran, localizada no alto
de uma colina, parecia impenetrável. Mas 15000 romanos fizeram um
cerco que durou dois anos e metodicamente construíram uma rampa
de terra e areia para alcançar o topo da fortaleza. Quando os soldados
finalmente invadiram Massada tiveram uma surpresa: todos os 1000
rebeldes estavam mortos. Em um sorteio, os zelotes haviam escolhido
um grupo de soldados para assassinar todos os habitantes da fortaleza
e, em seguida, cometer suicídio. Eles preferiram morrer entre os
judeus a se tornar escravos dos romanos. Sobraram para contar a
história apenas duas mulheres e cinco crianças, que haviam se
escondido nos reservatórios de água. O episódio foi relatado por
Josefo e provou ser verdadeiro em 1965, quando arqueólogos
pesquisaram a região. Eles acharam as marcas dos oito acampamentos
romanos e pedaços de cerâmica com inscrições dos nomes dos zelotes,
utilizados no dramático sorteio.
Um pouco antes do ataque romano destruir o monastério
de Qumran, os essênios esconderam seus manuscritos em
potes de cerâmica e os enterraram em cavernas.
“Eles viviam em tendas, que mudavam de lugar
frequentemente, pois construções permanentes matariam a relva”,
afirma Fernando Travi. Ele acredita que Jesus, apesar de ter passado
por Qumran, viveu muito mais tempo em Monte Carmel. A região em
que teria existido essa comunidade está próxima ao local em que Jesus
nasceu e realizou muitos de seus milagres. Afirma também que Cristo
não era conhecido como “Jesus de Nazaré”, mas sim como “Jesus, o
Nazareno”.
Algumas dessas comunidades essênias existem, de certa forma,
até hoje.
Szekely pesquisou o pensamento dos essênios durante toda a
vida. Uma de suas principais obras é a tradução de um manuscrito
encontrado em 1785 pelo historiador francês Constantine Volney em
viagens pelo Egito e pela Síria. É um diálogo entre Josefo e o mestre
essênio Banus a respeito das leis da natureza.

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A alimentação possui um papel central na doutrina encontrada
nos evangelhos de Szekely e Ouseley. Ao afirmarem que Jesus era
frugívero, ou seja, que ingeria apenas alimentos que não significavam
a morte de nenhum ser vivo, como folhas e frutos, eles pregam que as
refeições devem ser um momento de compaixão e comunhão com
Deus. O contato com a natureza é essencial.
Os essênios permanecem como um assunto vivo. Os
pergaminhos e evangelhos que eles deixaram são exaustivamente
estudados por cientistas e religiosos do mundo inteiro. Seus
ensinamentos recrutam milhares de fiéis e, qualquer que seja a relação
que mantiveram com Cristo, deixaram, sem dúvida, sua influência
impressa no coração e na mente do cristianismo.

(espacoholistico.com.br/essenios.htm - texto adaptado)

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