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Pr Enaldo Brito

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CRISTÃ CONTINUADA

MATRIZ CURRICULAR
ESTUDO, LEITURA E CÓPIA MANUSCRITA DA BÍBLIA

EM 8 ANOS
Ano Trim Antigo Testamento Trim Novo Testamento

1º Gênesis 2º Mateus

2021
3º Êxodo, Levítico 4º Atos

1º Números, Deuteronômio 2º Romanos



2022
3º Josué 4º Marcos

1º Juízes (Rute) 2º 1 Coríntios



2023
3º 1,2 Samuel 4º Lucas

1º 1,2 Reis; 1,2 Crônicas 2º 2 Coríntios



2024
3º Esdras, Neemias (Ester) 4º João

5° 1º Jó 2º Salmos de Oração
Ano
Poético Provérbios, Eclesiastes,
2025 3º Salmos de Celebração 4º
Cantares

1º Isaías 2º Gálatas, Efésios



2026 Filipenses, Colossenses
3º Jeremias, Lamentações 4º
1,2 Tessalonicenses

1,2 Timóteo, Tito e


1º Ezequiel 2º
7° Filemon
2027
3º Daniel 4º Hebreus e Tiago

Oseias, Joel, Amós,


1,2 Pedro; 1,2,3 João e
1º Obadias, Jonas, 2º
Judas
Miqueias

2028
Naum, Habacuque, So-
3º fonias, Ageu, Zacarias, 4º Apocalipse
Malaquias
REVISTA DA
ESCOLA DOMINICAL
Lições Bíblicas para culto doméstico, devocional e pequenos grupos

SUMÁRIO Comentário e adaptação:


Ney Maranhão e equipe editorial

............ /............ /................. LIÇÃO 1 MARCOS 1: A CHEGADA DO SERVO......................................................... 5

............ /............ /................. LIÇÃO 2 MARCOS 2 e 3: A OPOSIÇÃO AO SERVO................................................. 11

............ /............ /................. LIÇÃO 3 MARCOS 4: AS PARÁBOLAS DO SERVO.................................................. 17

............ /............ /................. LIÇÃO 4 MARCOS 5: A AUTORIDADE DO SERVO................................................... 23

............ /............ /................. LIÇÃO 5 MARCOS 6: O SERVO ENFRENTA A INCREDULIDADE............................ 29

............ /............ /................. LIÇÃO 6 MARCOS 7 e 8: O SERVO É O CRISTO..................................................... 35

............ /............ /................. LIÇÃO 7 MARCOS 9: A TRANSFIGURAÇÃO DO SERVO......................................... 41

............ /............ /................. LIÇÃO 8 MARCOS 10: O SERVO VEIO PARA SERVIR A TODOS............................ 47

............ /............ /................. LIÇÃO 9 MARCOS 11 e 12: A ENTRADA TRIUNFAL DO SERVO..................................... 53

............ /............ /................. LIÇÃO 10 MARCOS 13: O SERVO REVELA O FUTURO............................................ 59

............ /............ /................. LIÇÃO 11 MARCOS 14: TRAIÇÃO E PRISÃO DO SERVO.......................................... 65

............ /............ /................. LIÇÃO 12 MARCOS 15: SOFRIMENTO E MORTE DO SERVO.................................. 71

............ /............ /................. LIÇÃO 13 MARCOS 16: GLÓRIA E TRIUNFO DO SERVO.......................................... 77

Ney Maranhão é casado com Jofrane Maranhão. Desse amor, nasceram duas filhas: Rute e Rebeca. Pastor Auxiliar no
Templo Central da Assembleia de Deus em Belém do Pará (Igreja-Mãe). Professor de Escola Bíblica Dominical há mais
de 20 anos. Doutor em Direito pela Universidade de São Paulo. Professor do Curso de Direito da Universidade Federal
do Pará. Membro da Academia Brasileira de Direito do Trabalho. Juiz Titular de Vara da Justiça do Trabalho da 8ª Região
(PA/AP). Bacharelando em Teologia pela Faculdade Internacional Cidade Viva.
Capa: Pintura de Pavel Popov. Fuga do jovem desnudo, narrada exclusivamente no evangelho de Marcos (Mc 14.51,52).
EXPEDIENTE
MARCOS
Conselho Editorial
Samuel Câmara, Oton Alencar, Jonatas
Convido você para ler, estudar e Câmara, Philipe Câmara, Celso Brasil,
manuscrever o maravilhoso Evange- Marcos Galdino Júnior, André Câmara,
lho de Jesus, escrito por Marcos. Nele, Luiz Gonzaga de Lima.
Jesus é apresentado como o Servo Editor
Atuante: aquele que veio não para ser Samuel Câmara
servido, mas servir e dar a sua vida
Editores Assistentes
em resgate por muitos (10.45).
Philipe Câmara
Escrito para os cristãos romanos, Pádua Rodrigues
seu conteúdo retrata o ministério ter- Tarik Ferreira
reno do Senhor em ritmo acelerado
Coordenador Editorial
e empolgante, com ênfase mais em Jadiel Gomes
suas ações do que em seus ensinos.
Palavras como “logo” e “imediata- Equipe Editorial
Auristela Brasileiro, Elielson Figueiredo, Ivan
mente” aparecem mais de 40 vezes e Martins, Leandro Santos, Enoc Miranda
conferem especial dinâmica ao firme
propósito de Jesus de servir e ser obe- Supervisão Pedagógica
Faculdade Boas Novas (FBN) e Seminário
diente até à morte e morte de cruz. Teológico da Assembleia de Deus (SETAD)
Muito conciso e objetivo, Marcos
já principia no primeiro versículo Repertório Musical
Rebekah Câmara
com o título do livro (evangelho)
e a síntese do seu conteúdo: Jesus Distribuição e Comercial
(Sua humanidade), Cristo (Sua mis- Jadiel Gomes
são redentora) e Filho de Deus (Sua
Editoração e Projeto Gráfico
divindade). São fatos exclusivos de Nei Neves, Tarik Ferreira, Sara Martins
Marcos: a parábola da semente que
germina (4.26-29), a cura de um Conteúdo Digital e Imagens
Jeiel Lopes
surdo e gago (7.31-37), o cego cura-
do com saliva (8.22-26) e o jovem Versão bíblica: Almeida Revista e Atualizada
que fugiu desnudo (14.51-52). (ARA), salvo quando indicada outra versão.

Vamos, “logo e imediatamente”, © 2022. Direitos reservados. É proibida a


no mesmo ritmo, acompanhar os pas- reprodução parcial ou total desta obra, por
sos triunfantes do Servo Jesus! Guia- qualquer meio, sem autorização por escrito
da Assembleia de Deus em Belém do Pará e
dos pela Bíblia e pelo Espírito Santo! do autor dos comentários e adaptações.

Programa de Educação Cristã Continuada.


Avenida Governador José Malcher, 1571, es-
Pr. Samuel Câmara quina com a Tv. 14 de Março, bairro: Nazaré.
Editor CEP: 66060-230. Belém - Pará - Brasil. Fone:
(91) 3110-2400. E-mail: pecc@adbelem.org.br

4
LIÇÃO 1
MARCOS 1:
A CHEGADA DO SERVO
SUPLEMENTO EXCLUSIVO DO PROFESSOR
Afora o suplemento do professor, todo o conteúdo de cada lição
é igual para alunos e mestres, inclusive o número da página.

ORIENTAÇÃO OBJETIVOS
PEDAGÓGICA • Compreender os propósitos do
evangelho escrito por Marcos.
Em Marcos 1 há 45 versos. Suge-
• Reafirmar nossa fé em Jesus,
rimos começar a aula lendo, com
o Filho amado enviado para re-
todos os presentes, Marcos 1.1-20
missão dos pecados.
(5 a 7 min.).
• Assumir compromisso com a
A revista funciona como guia de es-
pregação do Evangelho do arre-
tudo e leitura complementar, mas
pendimento, como Jesus assumiu.
não substitui a leitura da Bíblia.
Olá, professor(a)! Iniciamos
esta revista com uma pergunta PARA COMEÇAR A AULA
urgente: temos desempenhado
um bom serviço, assim como Jesus Professor(a), mostre aos alu-
desempenhou? Um servo precisa nos que Marcos nos conta sobre
estar decidido a cumprir o que lhe o batismo e, logo a seguir, sobre
é proposto, apesar da dificuldade. o deserto e as tentações. Assumir
Não é uma questão de concor- Jesus significa renunciar também
dar ou de estar com vontade de a si mesmo e às promessas ilusó-
cumprir, mas de obedecer ao que
rias de Satanás. Jesus venceu as
Jesus ordena. Quando fracassa-
tentações, mas não foi descansar.
mos, a atitude deve ser a de levan-
Ao invés disso, passou a viajar,
tar e prosseguir, como o próprio
Marcos fez em relação às viagens ensinando e curando possessos.
missionárias. Quanto às nossas Não há outra maneira de assumir
habilidades, devemos usá-las o Evangelho senão agindo. Como
em favor do Reino; foi assim que estamos testemunhando Jesus?
Marcos compôs seu evangelho de Servir é estar disponível. Todos
modo a ser convincente e verda- estão?
deiro diante de leitores gentios.
RESPOSTAS DA PÁGINA 10
1) Pedro.
2) Isaías (Mc 1.2-3).
3) A sogra de Pedro (Mc 1.30-31).

I
Lição 1 - Marcos 1: A Chegada do Servo

LEITURA ADICIONAL

“Quando o imperador Augusto morreu, no ano 14 d. C., Roma era uma


cidade esplêndida. Ele chegou a gabar-se que tinha herdado uma cidade
de barro e feito dela uma cidade de mármore. A capital do Império tinha
cerca de um milhão de habitantes e hospedava várias culturas, povos e re-
ligiões. O Porto de Roma, Óstia, tornou-se o centro do comércio mundial.
Havia uma riqueza ostensiva na cidade de Roma. Construções monumen-
tais eram erguidas e o luxo dos ricos era exorbitante. Ao mesmo tempo,
havia também uma extrema pobreza e miséria. Os navios despejavam
seus produtos por intermédio dos braços suados dos escravos. Na cidade,
prevaleciam a corrupção, a anarquia e a decadência moral. A bebedeira e
a orgia faziam subir um mau cheiro repugnante da reluzente metrópole
(Rm 13.11-14). Foi para essa cidade enfeitiçada pelo prazer que Marcos
escreveu o seu evangelho. Nessa cidade do prazer e do luxo, uma igreja foi
implantada. Essa igreja foi duramente perseguida a partir do ano 64 d. C.
Os cristãos eram queimados vivos, lançados nas arenas para serem piso-
teados pelos touros, enrolados em peles de animais para serem devora-
dos pelos cães raivosos. Foi para essa igreja mártir que Marcos escreveu
seu evangelho. Havia martírio atrás de si e à sua frente”.

Livro: Marcos: o evangelho dos milagres (LOPES, Hernandes Dias. São Paulo: Hag-
nos, 2006, pp. 23-24).

II
Estudada em ___/___/____

LIÇÃO 1 Leitura Bíblica Para Estudo


Marcos 1.1-20

MARCOS 1:
Verdade Prática
A CHEGADA DO Quem confia em Cristo
experimenta uma vida de serviço
SERVO triunfante.

INTRODUÇÃO

I. O EVANGELHO SEGUNDO
MARCOS  Mc 1.1
1. Autor, data e local  Mc 1.1
Texto Áureo 2. Marcos e os demais evangelhos 
“Então, foi ouvida uma voz dos
Mc 10.45
céus: Tu és o meu Filho amado,
em ti me comprazo.” 3. Características de Marcos  Mc 1.12
Mc 1.11
II. PREPARATIVOS DO SERVO 
Mc 1.2-13
1. O servo é profetizado  Mc 1.2
2. O servo é batizado  Mc 1.11
3. O servo é tentado  Mc 1.12

III. INÍCIO DO SERVIÇO  Mc 1.14-45


1. Jesus prega arrependimento  Mc 1.14
2. Jesus chama cooperadores  Mc 1.17
3. Jesus exerce autoridade  Mc 1.39

APLICAÇÃO PESSOAL

Devocional Diário
S T Q Q S S
Mc Mc Mc Mc Mc Mc
1.3 1.5 1.13 1.15 1.22 1.24

Hinos da Harpa: 139 - 372

5
Lição 1 - Marcos 1: A Chegada do Servo

INTRODUÇÃO – Cl 4.10) seguiu com Marcos (At


15.37-40).
Marcos apresenta Jesus como Posteriormente, Marcos recon-
o perfeito Servo de Deus, ou seja, quistou a confiança de Paulo (2Tm
como aquele que executa com fir- 4.11; Fm 24). A tradição cristã
me disposição toda a obra que lhe também o aponta como intérprete
foi divinamente confiada. Assim, fiel do apóstolo Pedro (1Pe 5.13).
Jesus é visto como servo dedicado O Evangelho de Marcos foi escrito
e fiel, trabalhador obediente, ape- em meados do século 1º d.C., na
sar das espinhosas dificuldades cidade de Roma.
enfrentadas na caminhada.
2. Marcos e os demais evangelhos
I. O EVANGELHO (Mc 10.45)
SEGUNDO MARCOS Pois o próprio Filho do Homem não
(Mc 1.1) veio para ser servido, mas para ser-
vir e dar a sua vida em resgate por
1. Autor, data e local (Mc 1.1) muitos.
Princípio do evangelho de Jesus De modo geral, Marcos é con-
Cristo, Filho de Deus. siderado o primeiro Evangelho
Diferentemente da maioria das escrito. Assim, serviu de base para
cartas, os evangelhos não indicam os autores dos demais Evangelhos,
o nome de seus autores. Entretan- que acresceram ou editaram seu
to, há um antigo consenso entre os conteúdo.
estudiosos no sentido de que seu Se em Lucas temos Jesus como
autor é Marcos, cujo nome judeu Filho do Homem, em João, como
era João, daí ser chamado de João Filho de Deus, e em Mateus, como
Marcos (At 12.25). Rei, aqui, em Marcos, temos Jesus
Marcos era filho de Maria, uma como Servo. Esperava-se que o
mulher rica e hospitaleira em Je- Messias chegasse como rei con-
rusalém (At 12.12). Foi amigo e quistador. Marcos apresenta-o,
assistente direto de três dos pri- porém, como servo humilde e so-
meiros missionários: Barnabé, fredor que dá a sua vida em res-
Paulo e Pedro. gate por muitos (Mc 10.45).
De fato, Marcos participou Marcos foi escrito para leitores
da primeira viagem missionária gentios, romanos em particular. Por
de Paulo e Barnabé (At 12.25 e isso, faz poucas citações do Antigo
13.5). Todavia, por ter desistido Testamento, não expõe genealogias,
no meio do caminho (At 13.13), traduz frases aramaicas e hebrai-
Paulo se opôs à sua presença cas para seus equivalentes gregos
na segunda viagem. Paulo esco- (por exemplo, 5.41; 15.34), explica
lheu Silas; Barnabé (seu primo costumes judaicos (por exemplo,

6
Lição 1 - Marcos 1: A Chegada do Servo

7.3-4; 14-12; 15-42), cita moedas los inteiros, não consta do Evan-
romanas (6.37; 12.42), bem como gelho de Marcos. É, portanto, um
menciona pessoas importantes em livro de ação. Jesus está sempre
Roma (Mc 15.21 e Rm 16.13). agindo, apresentando-se como
perfeito servo do Senhor.
3. Características de Marcos Contudo, ao contrário dos con-
(Mc 1.12) quistadores romanos, Marcos pro-
E logo o Espírito o impeliu para o clama a boa notícia de que Jesus é
deserto. o próprio Filho de Deus (1.1) e sua
Marcos tem estilo compacto, vitória não vem pela força ou vio-
muito apropriado para o espíri- lência, mas pelo serviço obediente
to prático dos romanos. É o mais (14.36) e doação sacrificial (10.45).
curto dos Evangelhos: apenas 16
capítulos, nada tratando sobre II. PREPARATIVOS DO
nascimento, infância e juventu- SERVO (Mc 1.2-13)
de de Jesus. Todavia, algumas de
suas histórias são mais completas, 1. O servo é profetizado (Mc 1.2)
quando comparadas com as mes- Conforme está escrito na profecia
mas histórias nos outros Evange- de Isaías: Eis aí envio diante da tua
lhos. É o caso dos eventos em que face o meu mensageiro, o qual pre-
Jesus cura a filha de Jairo e a mu- parará o teu caminho.
lher com hemorragia (5.21-43). Ao citar o profeta Isaías (1.2),
Marcos também tem estilo ati- Marcos estabelece importante co-
vo, descrevendo Jesus como sol- nexão entre Antigo e Novo Testa-
dado que se move com agilidade e mento, provando que a chegada de
poder para conquistar uma vitória Jesus não foi uma ideia tardia ou
após outra sobre demônios, doen- ação improvisada de Deus para sal-
ças e mesmo a morte, caracterís- var a humanidade, diante da frus-
tica também muito apropriada ao tração de um plano anterior. Pelo
espírito conquistador dos roma- contrário, revela a continuidade de
nos. As palavras “logo”, “em segui- um mesmo e poderoso plano que
da” e “imediatamente” aparecem envolvia o cumprimento de antigas
dezenas de vezes, dando ritmo promessas (por exemplo, Is 40.3-5
acelerado às narrativas e transmi- e Ml 3.1). Esse registro tinha im-
tindo a ideia de prontidão militar portância especial para o conven-
(por exemplo, 2.1; 3.1; 8.10; 10.1). cimento dos leitores romanos, co-
Assim, Marcos foca mais as nhecidos estrategistas militares.
ações que os ensinos de Jesus. A descrição de Marcos a res-
Contém poucas parábolas. O Ser- peito de João Batista é a mais resu-
mão do Monte, por exemplo, para mida dos Evangelhos. Seu foco era
o qual Mateus dedica três capítu- destacar João Batista como execu-

7
Lição 1 - Marcos 1: A Chegada do Servo

tor fiel do papel profético de prepa- são sobrenaturais e provam que Je-
rar o caminho de Jesus, o Messias e sus era o Filho de Deus (1.1).
Filho de Deus (1.1), ou seja, o “mais Em seguida, o Espírito Santo
poderoso” (1.7), que batizaria com desce sobre o Filho no rio Jordão
o próprio Espírito Santo (1.8). (1.10) e o Pai brada do alto: “Tu és
O estilo rústico e a pregação meu Filho Amado, em ti me com-
inflamada de João Batista, realiza- prazo” (1.11). Era a unção pública
da em pleno deserto e com ênfase de Jesus para seu ofício messiâni-
na confissão de pecados e no ar- co. Mais uma vez, o Espírito paira-
rependimento, chamou a atenção va por sobre as águas e o Pai mani-
de todos (1.4-6). Na antiguidade, festava seu intenso deleite naquilo
antes de um Rei visitar qualquer que contemplava (Gn 1.2 e 31). O
porção de seu Reino, um mensa- profetizado Servo do Senhor havia
geiro era enviado para preparar o chegado e estava cheio do Espírito
caminho. João Batista preparou o Santo. O Reino de Deus estava pró-
coração das pessoas para receber ximo (1.14).
o Salvador.
3. O servo é tentado (Mc 1.12)
2. O servo é batizado (Mc 1.11) E logo o Espírito o impeliu para o
Então, foi ouvida uma voz dos céus: deserto.
Tu és o meu Filho amado, em ti me Rapidamente, Marcos con-
comprazo. duz-nos da glória do batismo à
O evento inaugural do minis- dureza da tentação de Jesus. A
tério público de Jesus foi seu ba- presença de “feras” é exclusivi-
tismo no rio Jordão (1.9). Embora dade de Marcos (1.13). Adão, no
tal batismo demandasse confissão ambiente favorável do jardim,
pública de pecados (1.5), não era pecou (Gn 3.6). Mas Jesus, o úl-
esse o caso de Jesus, que não co- timo Adão (1Co 15.45), triunfou
meteu pecado (1Pe 2.22). Seu pro- no cenário extremamente desfa-
pósito era “cumprir toda a justiça” vorável do deserto.
(Mt 3.15), ou seja, como servo hu- Marcos é o mais sucinto no
milde e fiel, identificar-se com os relato da tentação de Jesus. A po-
pecadores que veio salvar, apon- sição de Filho de Deus servia à
tando para a remissão de pecados promoção do Reino de Deus. As-
na sua morte (Is 53.4-5). sim, enfrentar e vencer o histórico
Segundo Marcos, na ocasião, os adversário desse Reino era etapa
céus foram literalmente “rasgados” essencial de sua missão. Marcos
(verbo grego schzein) (1.10), des- enfatizou esse fato: a vitória de
crição suavizada por Mateus e Lu- Cristo sobre Satanás, qualifican-
cas, que preferiram o verbo “abrir” do-o para seu serviço de destruir
(Mt 3.16 e Lc 3.21). Esses eventos as obras do diabo (1Jo 3.8).

8
Lição 1 - Marcos 1: A Chegada do Servo

No Jordão, ficou provado que 2. Jesus chama cooperadores


Jesus era o Filho de Deus. Agora, (Mc 1.17)
conduzido pelo Espírito Santo Disse-lhes Jesus: Vinde após mim e
(1.12), no deserto, para além da eu vos farei pescadores de homens.
natureza humana, ganharia expe- Caminhando junto ao mar da
riência humana triunfante, ser- Galileia (1.16), Jesus convoca ho-
vindo-nos como paradigma. Jesus mens simples. Pedro, André, Tiago
estava pronto para começar seu e João. São esses primeiros que,
ministério. prontamente, atendem ao chama-
do do Senhor, largando afazeres
III. INÍCIO DO SERVIÇO de pescaria e passando a seguir
(Mc 1.14-45) mais de perto o Mestre (1.17-20).
Consciente de que a seara é
1. Jesus prega arrependimento grande e de que sua missão não se
(Mc 1.14) destinaria apenas àquela época,
Depois de João ter sido preso, foi Jesus chama cooperadores. Ho-
Jesus para a Galileia, pregando o mens que, por sua fé e disposição,
evangelho de Deus. colaborariam diretamente na obra
Seguindo seu estilo sucinto e de Deus. Pessoas que, igualmente,
prático, Marcos oferta-nos sínte- pelo seu testemunho oral e escri-
ses preciosas a respeito do início to, perpetuariam sua obra.
do ministério terreno de Jesus. O chamado de Jesus destoa da
Quando? Após a prisão de João tradição judaica. A entrada em
Batista. Onde? Na Galileia. Como? uma escola rabínica dependia da
Pregando o Evangelho de Deus iniciativa daquele que aspirava ser
(1.14). aluno e não do chamado do Rabi.
O quê? Qual a essência dessa Todavia, aqui, Jesus toma a inicia-
pregação? A mesma que todas as tiva, pois Ele nos amou primeiro
fiéis testemunhas de Deus sempre (1 Jo 4.19). Da parte dos chama-
proclamaram ao longo da história: dos, cumpre apenas obedecer,
“arrependei-vos e crede no evange- pronta e radicalmente (Mt 19.29).
lho” (1.15).
De fato, arrependimento e fé 3. Jesus exerce autoridade
constituem o próprio núcleo da (Mc 1.39)
mensagem cristã (At 20.21). Afi- Então, foi por toda a Galileia, pre-
nal, sem abandono do pecado e gando nas sinagogas deles e expe-
mudança radical de vida, não há lindo os demônios.
cristianismo verdadeiro. Cumpre Jesus segue para Cafarnaum e,
nascer de novo, da água e do Es- no sábado, põe-se a ensinar na si-
pírito, para se entrar no Reino de nagoga, onde os presentes se ma-
Deus (Jo 3.5-7). ravilham com a autoridade com a

9
Lição 1 - Marcos 1: A Chegada do Servo

qual expõe sua doutrina, em muito levados a Jesus, experimentando


superior à dos escribas (1.21-22). a mesma libertação (1.34). “Todos
Não tardou para que apareces- te buscam” – diz Simão Pedro para
se na sinagoga um homem posses- Jesus (1.37), que, àquela altura,
so de espírito imundo. Jesus, mais nem conseguia mais entrar publi-
uma vez exercendo sua autorida- camente em qualquer cidade, mas
de, repreendeu o mal e libertou o permanecia fora, em lugares afas-
homem (1.23-26). Também a so- tados (1.45).
gra de Pedro, que se achava aca- O alvoroço foi geral. O povo que
mada com febre, é curada (1.30- andava em trevas viu grande luz
31), seguindo-se o mesmo com (Is 9.2). Por isso, a fama de Jesus
um leproso (1.40-42). correu célere em todas as direções
Marcos registra que muitos en- (1.28). O servo de Deus iniciara sua
fermos e endemoninhados foram maravilhosa obra de redenção.

APLICAÇÃO PESSOAL
Jesus cumpriu Seu ministério terreno com total disposição, fidelida-
de e obediência. Sejam esses também nossos atributos na qualidade
de servos de Deus e seguidores de Cristo.

RESPONDA
1) A tradição cristã aponta que Marcos foi intérprete fiel de qual dos apóstolos?

2) Qual profeta Marcos invoca no início de seu evangelho, fazendo importante conexão entre
Antigo e Novo Testamento?

3) Que familiar de Pedro foi curado por Jesus no primeiro capítulo do Evangelho de Marcos?

10
LIÇÃO 2
MARCOS 2 e 3:
A OPOSIÇÃO AO SERVO
SUPLEMENTO EXCLUSIVO DO PROFESSOR
Afora o suplemento do professor, todo o conteúdo de cada lição
é igual para alunos e mestres, inclusive o número da página.

ORIENTAÇÃO OBJETIVOS
PEDAGÓGICA • Proclamar o Evangelho e dar tes-
Em Marcos 2 e 3 há 28 e 35 ver- temunho da nossa transformação.
sos, respectivamente. Sugerimos • Perseverar na fé em Jesus mes-
começar a aula lendo, com todos mo sob críticas e acusações.
os presentes, Marcos 3.1-21 (5 a • Acolher todos quantos queiram
7 min.). conhecer Jesus e libertar-se dos
A revista funciona como guia de es- pecados.
tudo e leitura complementar, mas
não substitui a leitura da Bíblia. PARA COMEÇAR A AULA
Caro(a) professor(a), nesta li-
ção veremos que o ministério do Podemos começar a aula re-
Filho de Deus é muito operante. fletindo sobre o que dizem atual-
Nós também podemos transfor- mente os opositores do Evan-
mar vidas se nos mostrarmos, nós gelho de Jesus. O contexto é de
mesmos, transformados. O crente idolatria crescente; atentados à
é um cego que passou a ver; um criação através da legalização do
paralítico que finalmente andou. aborto e da ideologia de gênero.
Se nós mesmos somos um milagre, Há ainda seitas judaizantes e pre-
outros vão andar e enxergar quan- gações enganosas. Nossos deser-
do contarmos quem nos transfor- tos devem nos qualificar, nunca
mou. Porém, como aconteceu com nos desanimar. Não nos cabe jul-
Jesus, logo aparecerão opositores gar, mas convidar cada um a cear
que tentarão desacreditar a fé que com Jesus, como na casa de Levi.
nos sustenta. Mesmo assim, haja o A mensagem é de arrependimen-
que houver, sejamos perseveran- to e perdão. Sejamos dinâmicos
tes. Antes de conhecermos Jesus no trabalho que temos a fazer.
éramos paralíticos, agora pode-
mos andar. Aleluia! É tempo de le- RESPOSTAS DA PÁGINA 16
varmos a Jesus todos quantos es- 1) Cafarnaum (Mt 4.13).
tejam dispostos a crer e a aceitá-lo 2) O Evangelho era incompatível com as
como Filho do Altíssimo. velhas tradições religiosas da época.
3) Davi (1Sm 21.1-6).

I
Lição 2 - Marcos 2 e 3: A Oposição ao Servo

LEITURA ADICIONAL

“Nos versículos anteriores a essa passagem, vemos nosso bendito Sal-


vador sob a acusação dos escribas, que diziam estar ele em aliança com o
diabo. (...) Nos versículos que lemos agora, percebemos que essa acusa-
ção absurda, feita pelos escribas, não foi tudo que Jesus precisou tolerar
naquela ocasião. Somos informados também de que, 'nisso, chegaram sua
mãe e seus irmãos, e, tendo ficado do lado de fora, mandaram chamá-lo'.
Eles eram ainda incapazes de compreender a beleza e a utilidade da vida
que nosso Senhor vivia. Embora, sem dúvida, o amassem muito, eles o
teriam, de bom grado, persuadido a interromper suas atividades com a
finalidade de 'poupá-lo'. Não sabiam o que estavam fazendo! Pouco ha-
viam observado ou compreendido das palavras de nosso Senhor quando
ele tinha apenas doze anos: 'Não sabíeis que me cumpria estar na casa
de meu Pai?' (Lc 2.49). É interessante observarmos a tranquila, mas fir-
me perseverança de nosso Senhor diante de todos os desencorajamentos.
Nenhuma dessas coisas foi capaz de abalá-lo. As caluniosas insinuações
de seus adversários e as bem-intencionadas reprimendas de seus amigos
e parentes ignorantes mostraram-se igualmente incapazes de fazê-lo des-
viar-se de seu curso. Jesus havia voltado o rosto, decididamente, na dire-
ção da cruz e da coroa. Ele sabia qual missão viera cumprir nesse mundo.
(...) Assim deve acontecer com todos os servos de Cristo. Nada, por um
momento sequer, deve desviá-los do caminho estreito ou levá-los a parar
e olhar para trás. Que eles não deem atenção às maldosas observações
dos inimigos! Que não desistam diante de bem-intencionadas, mas errô-
neas súplicas de parentes e amigos não convertidos. Pelo contrário, que
eles respondam com as palavras de Neemias: ‘Estou fazendo grande obra,
de modo que não poderei descer’ (Ne 6.3). Que eles declarem: 'Já tomei
minha cruz e de modo nenhum me desfarei dela!'”.

Livro: Meditações no Evangelho de Marcos (RYLE, John Charles. 2. ed., São José
dos Campos, SP: Editora Fiel, 2018, pp. 58-59).

II
Estudada em ___/___/____

LIÇÃO 2 Leitura Bíblica Para Estudo


Marcos 3.1-21

MARCOS 2 e 3: Verdade Prática


Servir a Cristo também significa
A OPOSIÇÃO AO ser fiel e corajoso em meio às
provações e perseguições.
SERVO
INTRODUÇÃO

I. OPOSIÇÃO SILENCIOSA Mc 2.1-12


1. O paralítico e seus amigos Mc 2.3
2. Jesus e seus opositores Mc 2.7
Texto Áureo
“Retirando-se os fariseus, cons- 3. Perdão de pecados Mc 2.9
piravam logo com os herodia-
nos, contra ele, em como lhe ti- II. OPOSIÇÃO EXPLÍCITA Mc 2.13-22
rariam a vida.” 1. Reunião com pecadores Mc 2.15
Mc 3.6
2. Negligência do jejum Mc 2.18
3. Velhas tradições Mc 2.21

III. OPOSIÇÃO CRUEL  Mc 2.23–3.35


1. Porque valorizou as pessoas acima
dos costumes Mc 2.27
2. Porque fez o bem  Mc 3.4
3. Porque não recuou Mc 3.14

APLICAÇÃO PESSOAL

Devocional Diário
S T Q Q S S
Mc Mc Mc Mc Mc Mc
2.2 2.5 2.10 3.5 3.15 3.28

Hinos da Harpa: 225 - 305

11
Lição 2 - Marcos 2 e 3: A Oposição ao Servo

INTRODUÇÃO ria aquele desafortunado, não


mediram esforços: engenhosa-
Jesus atinge o auge de sua po- mente, contornaram a multidão,
pularidade. Multidões afluem de destelharam a casa e, pelo teto,
todos os cantos em busca de cura baixaram diante de Jesus o leito
e libertação (2.2; 3.7-8). Mas a em que jazia o paralítico (2.4; Lc
popularidade de Jesus também 5.19). O que nos tem impedido
atrai terríveis opositores, polê- de levar pessoas a Cristo?
micas religiosas e resistências
familiares. 2. Jesus e seus opositores (Mc 2.7)
Por que fala ele deste modo? Isto é
I. OPOSIÇÃO blasfêmia! Quem pode perdoar pe-
SILENCIOSA (Mc 2.1-12) cados, senão um, que é Deus?
A fé daqueles homens chamou a
1. O paralítico e seus amigos atenção de Jesus. Por isso, sua res-
(Mc 2.3) posta foi igualmente surpreendente:
Alguns foram ter com ele, condu- “Filho, os teus pecados estão perdoa-
zindo um paralítico, levado por dos” (2.5). Ora, a expectativa geral era
quatro homens. a cura do corpo, porém Jesus decidiu
Devido à privilegiada locali- tratar antes com o verdadeiro pro-
zação geográfica, Cafarnaum foi blema daquele homem: seu coração.
escolhida por Jesus como sua Arrancou o mal pela raiz ao perdoar
cidade-base (Mt 4.13). O Servo seus pecados, oportunizando salva-
encontrava-se “em casa” (2.1), ção espiritual – propósito principal
provavelmente a casa de Pedro de sua vinda (Mt 1.21).
(Mc 1.29). Havia uma multidão Nesse ponto, o foco passa para
no local (2.2). a oposição dos doutores da lei. É
De repente, percebeu-se que que a menção a perdão de peca-
algumas pessoas enfrentavam dos suscita acusação silenciosa
dificuldades para conduzir um de blasfêmia por parte de alguns
paralítico até Jesus. Somente Mar- escribas ali presentes (2.6-7), uma
cos revela que eram precisamente vez que só Deus pode perdoar pe-
quatro homens os que carregavam cados (Êx 34.6-7). O equívoco foi
o paralítico (2.3-4). não perceber que aquele que esta-
Esse grupo tinha uma fé per- va entre eles era o próprio Deus.
sistente e criativa: o peso do pa-
ralítico, a impenetrabilidade da 3. Perdão de pecados (Mc 2.9)
multidão e as tentativas frustra- Qual é mais fácil: Dizer ao paralí-
das de acesso a Jesus pelas vias tico: Estão perdoados os teus pe-
usuais não os fizeram desistir. cados, ou dizer: Levanta-te, toma o
Confiantes de que Jesus cura- teu leito e anda?

12
Lição 2 - Marcos 2 e 3: A Oposição ao Servo

Para seus críticos, Jesus era levantou e o seguiu” (2.14).


um charlatão e não poderia per- Ora, por cooperarem com o
doar pecados (2.7). A prova disso governo romano e explorarem o
era que tinha se limitado apenas povo, não raro cobrando além do
a proclamar esse perdão, todavia devido, essa classe social, também
sem prová-lo. Para eles, a prova chamada de “publicanos”, era pro-
irrefutável seria fazer o paralíti- fundamente desprezada pela co-
co andar. munidade.
Então, não por ostentação Levi prepara, então, um ban-
pessoal ou pressão humana, mas quete em sua casa. Convidados?
como mais um ponto da sua ma- Jesus e seus discípulos, além de
ravilhosa aula (para que “saibais” “muitos publicanos e pecadores”
– 2.10), Jesus se revela como o (2.15). A oposição, que antes fora
prometido Filho do Homem (Dn um simples questionamento silen-
7.13-14) e ordena ao paralítico cioso consigo mesmo (2.6-7), ago-
que se levante, tome seu leito e re- ra se torna verbalizada, todavia
torne para casa. ainda não diretamente para Jesus,
No mesmo instante, o homem mas para seus discípulos: por que
não só é curado, como também ele come e bebe com publicanos e
obedece à risca aos comandos do pecadores (2.16)?
Servo de Deus, deixando todos Porém, o próprio Jesus res-
admirados (2.10-12). Jesus faz a ponde: “os sãos não precisam de
obra completa em nossas vidas. médico, e sim os doentes; não vim
chamar justos, e sim pecadores”
II. OPOSIÇÃO EXPLÍCITA (2.17). De fato, Jesus chama para
(Mc 2.13-22) si exatamente os cansados e so-
brecarregados (Mt 11.28).
1. Reunião com pecadores
(Mc 2.15) 2. Negligência do jejum
Achando-se Jesus à mesa na (Mc 2.18)
casa de Levi, estavam juntamen- Ora, os discípulos de João e os fa-
te com ele e com seus discípulos riseus estavam jejuando. Vieram
muitos publicanos e pecadores; alguns e lhe perguntaram: Por que
porque estes eram em grande motivo jejuam os discípulos de João
número e também o seguiam. e os dos fariseus, mas os teus discí-
Marcos agora mostra que a pulos não jejuam?
autoridade de Jesus para per- A lei apontava para um je-
doar pecados se estende inclu- jum anual, no dia da expiação (Lv
sive para o coletor de impostos 16.29-34). Todavia, os fariseus,
Levi, também chamado de Ma- por exemplo, orgulhavam-se de
teus (Mt 9.9). “Segue-me! Ele se jejuar pelo menos duas vezes por

13
Lição 2 - Marcos 2 e 3: A Oposição ao Servo

semana (Lc 18.12). Eles faziam do ele encolherá e rasgará o tecido


jejum o palco de um teatro onde velho. Da mesma forma, não se
apresentavam o show de uma pie- põe vinho novo em recipientes de
dade inexistente e hipócrita. couro (odres) velhos (2.22). É que
A pergunta agora é feita dire- o vinho novo fermenta e se expan-
tamente a Jesus (2.18). A oposi- de, rompendo a vasilha antiga, frá-
ção se torna cada vez mais explí- gil e já inflexível.
cita. Em resposta, Jesus compara Jesus trouxe novidade de en-
a sua presença na terra com uma sino e de vida (Mc 1.22 e 27; 2.12
festa de casamento: “Durante o e 3.34-35). Portanto, o cristianis-
tempo em que estiver presente o mo não é um adendo ou apêndice
noivo, não podem jejuar” (2.19). ao judaísmo, tampouco reforma
Ora, casamento é sinônimo de dos antigos costumes judaicos.
quebra de rotina, novidade de Trata-se, em verdade, de algo in-
vida e alegria abundante. Não faz compatível com a religiosidade
qualquer sentido jejuar em plena exterior e as velhas tradições ve-
festa de casamento. neradas pelos líderes de então.
É bom destacar que Jesus não Seu sangue constitui uma nova
estava contra o jejum. Ele denun- aliança (1Co 11.25), com uma
ciou o jejum dos hipócritas, mas nova comunidade (3.35) e novas
não era de modo algum contra o práticas (Mt 5.3-15).
verdadeiro e legítimo jejum que
teria lugar na Igreja depois da Sua III. OPOSIÇÃO CRUEL
ressurreição até os nossos dias. (Mc 2.23–3.35)

3. Velhas tradições (Mc 2.21) 1. Porque valorizou as pessoas


Ninguém costura remendo de pano acima dos costumes (Mc 2.27)
novo em veste velha; porque o re- E acrescentou: O sábado foi estabe-
mendo novo tira parte da veste ve- lecido por causa do homem, e não o
lha, e fica maior a rotura. homem por causa do sábado.
O Evangelho implica em vida A oposição a Jesus vai se tor-
radicalmente nova (2Co 5.17). nando cada vez mais insistente e
Para clarear essa profunda verda- alarmante. Agora o Servo será tes-
de, Jesus se vale de duas figuras tado em relação a outro tema caro
próprias ao cotidiano da época: aos fariseus: a questão do sábado.
remendo de roupas e acondicio- Ao observarem que os discípu-
namento de vinho. los de Jesus colheram e comeram
Jesus afirma que não se costu- espigas, após debulhá-las com as
ra remendo de pano novo em ves- mãos (2.23; Lc 6.1), os fariseus
te usada (2.21). De fato, quando os acusam de violação do sábado
esse remendo novo for molhado, (2.24; Ex 20.8-11).

14
Lição 2 - Marcos 2 e 3: A Oposição ao Servo

Jesus aproveita a oportunida- mais vale um homem que uma ove-


de para resgatar o autêntico sen- lha?”. O argumento é irrefutável. Je-
tido da lei divina, rememorando sus conclui a magistral lição: “Logo,
o episódio em que Davi e seus é lícito, nos sábados, fazer o bem”.
companheiros, com fome e de- Em seguida, sai da teoria para
sespero, entram no tabernáculo a prática: à vista de todos, cura o
(“casa de Deus”) e comem pães homem, restaurando-lhe a mão
sagrados (1Sm 21.1-6), então (3.5). Para os fariseus, a verdadei-
destinados exclusivamente aos ra religião consistia em obedecer
sacerdotes (Lv 24.5-9). Ora, ritos às leis. Para Jesus, porém, em amar
não valem mais que o ser huma- o próximo (Jo 13.34-35; Tg 1.27).
no. Assim, conclui que o sábado Mesmo apenas fazendo o bem, a
foi estabelecido por causa do ho- oposição ao Servo de Deus se acirra:
mem e não o contrário (2.27). uma surpreendente coalizão políti-
Como se vê, o conhecimento da co-religiosa entre fariseus e hero-
Palavra é antídoto contra o lega- dianos (defensores da dominação
lismo e o amor é a chave de com- romana) contra Jesus. O objetivo?
preensão da Lei de Deus (Dt 6.5). Matá-lo (3.6). Os homens amaram
mais as trevas do que a luz (Jo 3.19).
2. Porque fez o bem (Mc 3.4)
Então, lhes perguntou: É lícito nos 3. Porque não recuou (Mc 3.14)
sábados fazer o bem ou fazer o Então, designou doze para esta-
mal? Salvar a vida ou tirá-la? Mas rem com ele e para os enviar a
eles ficaram em silêncio. pregar.
O debate a respeito do sábado Perseguições nunca frearam o
se prolonga. Desta feita, Jesus entra Reino de Deus. Pelo contrário, ex-
em uma sinagoga e se depara com pandiram-no (Êx 1.12; At 8.1 e 4).
um homem cuja mão direita estava No auge da perseguição, inclusive
ressequida (3.1). Insensíveis, seus com conspirações pela sua morte,
opositores observam atentamente Jesus segue resoluto em sua mis-
para ver se curaria em dia de sába- são (3.7-11). Mais que isso: Jesus
do, a fim de o acusarem (3.2). decide amplificar o poder de al-
Jesus não se faz de rogado: É cance de seu ministério ao se-
lícito fazer o bem no sábado? Mar- parar entre seus discípulos doze
cos é o único que registra o silêncio homens para estarem mais próxi-
sepulcral dos opositores. Mateus mos de si e os enviar para pregar
12.11-12 detalha mais: “Qual den- e exercer a autoridade de expelir
tre vós será o homem que, tendo demônios (3.14-15).
uma ovelha, e, num sábado, esta O conflito cósmico se agrava.
cair numa cova, não fará todo o es- A reação maligna é dura e cruel: a
forço, tirando-a dali? Ora, quanto sanidade mental de Jesus é posta

15
Lição 2 - Marcos 2 e 3: A Oposição ao Servo

em xeque por sua própria família Frustrados os ataques ao es-


(3.21). Não bastasse, a seguir vem pírito e à mente, é chegado o mo-
a sórdida acusação da parte dos mento da tentativa de contenção
líderes religiosos: “É pelo maioral física: a família de Jesus aparece
dos demônios que expele os demô- para levá-lo (3.31-32). A prová-
nios” (3.22). vel intenção de dar-lhe prote-
Na articulação de sua resposta, ção, alimento e descanso (3.6, 9
Jesus demonstra plena saúde inte- e 20) era nobre e compreensível.
lectual e espiritual: de início, pro- Entretanto, a missão do Servo
va a contradição lógica das acusa- era fazer a vontade de Deus (Jo
ções (3.23-26); depois, afirma, por 6.38). Por isso, para Jesus, víncu-
parábola, sua franca oposição a los espirituais haveriam de redi-
Satanás (3.27); por fim, faz solene mensionar o conceito de família:
advertência a respeito do perigo todos que abraçassem essa von-
do pecado de blasfêmia contra o tade seriam a sua própria família
Espírito Santo (3.28-29). (3.35; Sl 27.10).

APLICAÇÃO PESSOAL
Aquele que serve a Cristo caminha triunfantemente em meio a toda
espécie de perigos e oposições.

RESPONDA
1) Qual a cidade-base de Jesus em seu ministério público na Galileia?

2) O que Jesus quis dizer ao afirmar: “ninguém costura remendo de pano novo em veste velha”?

3) Ao se defender da acusação de violar o sábado, que importante personagem do Antigo


Testamento Jesus invocou?

16
LIÇÃO 3
MARCOS 4:
AS PARÁBOLAS DO SERVO
SUPLEMENTO EXCLUSIVO DO PROFESSOR
Afora o suplemento do professor, todo o conteúdo de cada lição
é igual para alunos e mestres, inclusive o número da página.

ORIENTAÇÃO OBJETIVOS
PEDAGÓGICA • Compreender que a obediência
Em Marcos 4 há 41 versos. Suge- – acolher a semente da boa-no-
rimos começar a aula lendo, com va – gera frutos espirituais.
todos os presentes, Marcos 4.3-34 • Proclamar ao mundo que Jesus
(5 a 7 min.). é a salvação revelada.
A revista funciona como guia de es- • Assimilar que a soberania de
tudo e leitura complementar, mas Jesus garante a expansão do Seu
não substitui a leitura da Bíblia. Reino.
Olá, professor(a)! Nesta lição
vemos a variedade do ministé- PARA COMEÇAR A AULA
rio do Servo. Entre leituras feitas
nas sinagogas e curas diversas, há Para introduzir esta lição, po-
tempo para contar parábolas que demos continuar com as imagens
ensinam os propósitos do Reino rurais que Jesus usou. Cabe a cada
de Deus. A imagem do mundo ru-
um de nós priorizar o Evangelho e
ral – o semeador e a germinação
retirar das nossas vidas pedras e
– mostram o cuidado de fazer com
que todos tomem para si aquelas espinhos. Vale lembrar que o Rei-
verdades eternas. A candeia, que no de Deus será implantado so-
representa a manifestação clara beranamente, pois é semente de
do Reino de Deus na pessoa de Je- crescimento infalível. O mesmo
sus, mostra que se fosse trazida à que plantou também colherá; não
luz toda a verdade sobre o Reino,
há tempestade capaz de impedi-lo,
muitos poderiam acolher a men-
pois Ele é o Messias. O Reino ma-
sagem em seus corações fazendo-
-a frutificar a cem por um. Essas e nifesto em Jesus alcançará todo o
outras imagens – como a do grão mundo. Quanto a nós, somos convi-
de mostarda – mostram a beleza e dados a cooperar.
a força transformadora da boa-no-
RESPOSTAS DA PÁGINA 22
va que veio aos homens. 1) Os que ouvem a Palavra, mas estão divididos
com preocupações mundanas.
2) A parábola da semente que germina.
3) Cerca de 166 km².

I
Lição 3 - Marcos 4: As Parábolas do Servo

LEITURA ADICIONAL

“Um semeador que está lançando sementes não é apenas uma imagem
familiar da vida agrícola diária; é uma imagem de Deus semeando Israel
novamente em sua própria terra, depois de longos anos no exílio; de Deus
restaurando a sorte de seu povo, tornando a fazenda familiar frutífera no-
vamente, depois de os espinhos e cardos terem nascido e crescido por
tanto tempo. (...) O problema é que as pessoas estavam esperando um
grande momento de renovação. Elas acreditavam que Israel iria resga-
tar seu destino como um todo; o reino de Deus eclodiria sobre o palco
do mundo em um arroubo de glória. Não, declara Jesus: é mais como um
semeador lançando a semente, que, em grande parte, aparentemente, se
perde, pois o solo não é apropriado para ela e não consegue mantê-la. (...)
algumas pessoas se aproximavam, enquanto outras ficavam à distância.
(...) Algumas ouvem e esquecem; outras ficam entusiasmadas, porém por
pouco tempo; outras têm outras coisas em suas mentes e em seus co-
rações. Sim, há algumas frutíferas, muito frutíferas (qualquer agricultor
estaria contente com uma safra cem vezes maior); mas Jesus está fazendo
uma advertência codificada de que pertencer ao reino não é algo auto-
mático. O reino está chegando, mas não da maneira como eles haviam
imaginado. Tudo o que Jesus faz cria uma divisão dentro de Israel em seus
dias. As parábolas não somente explicam isso, como também são parte do
processo. (...) Jesus não quer que todos recebam a mensagem? Sim e não.
O que ele está dizendo é tão explosivo que não pode ser dito diretamente,
bem no meio da rua”.

Livro: Marcos para todos (WRIGHT, N. T. Tradução de Jorge Camargo. Rio de Janeiro:
Thomas Nelson Brasil, 2020, pp. 64-66).

II
Estudada em ___/___/____

LIÇÃO 3 Leitura Bíblica Para Estudo


Marcos 4.3-34
MARCOS 4: Verdade Prática
AS PARÁBOLAS DO Fomos chamados para frutificar
abundantemente no Reino de Deus.
SERVO
INTRODUÇÃO

I. A PARÁBOLA DO SEMEADOR
Mc 4.3-20
1. Sua importância Mc 4.13
2. Seu tema central Mc 4.4
Texto Áureo 3. A dinâmica do Reino de Deus Mc 4.20
“Os que foram semeados em boa
terra são aqueles que ouvem a pa- II. MAIS PARÁBOLAS DO REINO
lavra e a recebem, frutificando a Mc 4.21-34
trinta, a sessenta e a cem por um.” 1. Parábola da candeia  Mc 4.22
Mc 4.28
2. Parábola da semente que cresce
automaticamente  Mc 4.27
3. Parábola do grão de mostarda 
Mc 4.31

III. UMA AULA PRÁTICA Mc 4.35-41


1. O cenário da aula Mc 4.35
2. A confiança de Jesus Mc 4.38
3. O poder de Jesus Mc 4.39

APLICAÇÃO PESSOAL

Devocional Diário
S T Q Q S S
Mc Mc Mc Mc Mc Mc
4.8 4.15 4.17 4.21 4.37 4.40

Hinos da Harpa: 224 - 578

17
Lição 3 - Marcos 4: As Parábolas do Servo

INTRODUÇÃO humano e a especial dinâmica do


Reino de Deus.
Marcos é um evangelho de
ação. Contém poucas parábolas. 2. Seu tema central (Mc 4.4)
Apenas seis, das quais quatro es- E, ao semear, uma parte caiu à bei-
tão neste capítulo. As outras duas ra do caminho, e vieram as aves e a
são: a parábola dos lavradores comeram.
maus (12.1-12) e a parábola da fi- Nesta parábola, o solo repre-
gueira que brota (13.28-37). senta o coração humano. A pará-
A parábola da semente que cres- bola do semeador ajudou os dis-
ce automaticamente (4.26-29) é ex- cípulos a entender o porquê de
clusiva do evangelho de Marcos. Jesus não se impressionar com
multidões: a grande maioria de
I. A PARÁBOLA DO seus componentes representa
SEMEADOR (Mc 4.3-20) solo improdutivo, ou seja, cora-
ções inapropriados ao cultivo da
1. Sua importância (Mc 4.13) boa semente.
Então, lhes perguntou: Não en- De fato, muitos que ouvem
tendeis esta parábola e como a Jesus têm corações insensíveis
compreendereis todas as pará- (solo endurecido: bastante pisa-
bolas? do pelos homens, porque “à beira
Jesus usava parábolas não por- do caminho” – v. 4). Movidos por
que desejava ocultar a verdade ou outros interesses, são indiferen-
negar salvação a quem quer que tes ou mesmo resistentes à Pala-
seja (1Tm 2.4). O problema é o co- vra. Por isso, Satanás retira-lhes
ração humano (Pv 4.23; Jr 17.8). A com facilidade a semente (v. 15).
chave para acessar o significado Outros possuem corações super-
das parábolas está em ter um co- ficiais (solo pedregoso – v. 5). Até
ração aberto, humilde e sensível recebem alegremente a Palavra,
(Mt 13.14-15; Mc 4.11-12). mas tudo não passa de ligeira ex-
A parábola do semeador é uma periência emocional. Logo com as
das mais conhecidas parábolas primeiras aflições e angústias, de-
de Jesus. Além de estar retrata- cepcionam-se com a vida cristã e
da nos três evangelhos sinóticos desistem da fé (v. 17).
(Mt 13.3-8; Mc 4.3-8; Lc 8.5-8), foi Há ainda os portadores de co-
considerada pelo próprio Senhor rações divididos (solo espinhoso
como chave de compreensão para – v. 7), ou seja, recebem a Palavra
qualquer outra parábola (v. 13), com alegria e até se firmam na fé,
na medida em que revela, com porém preocupações mundanas
impressionante simplicidade, a disputam ferozmente pela aten-
terrível problemática do coração ção de seu coração (riqueza, po-

18
Lição 3 - Marcos 4: As Parábolas do Servo

der, fama etc.), impedindo a gera- A parábola do semeador ser-


ção de frutos (v. 19). viu como ferramenta pedagógica
Mas, felizmente, sempre há para corrigir expectativas irreais.
também corações acolhedores Apesar das circunstâncias desen-
(solo fértil – v. 8). Servos corajo- corajadoras, a colheita é impres-
sos e frutíferos, que amam ao Se- sionante, frutificando “a cem por
nhor de todo o seu coração. Esses um” (v. 20), ou seja, uma colheita
triunfam sobre o diabo, a carne e o sobrenatural.
mundo – os três grandes inimigos Assim, a parábola revela a es-
do coração humano revelados ao pecial dinâmica do Reino de Deus
longo da parábola. em Jesus: começo humilde, mas
garantia de frutos miraculosa-
3. A dinâmica do Reino de Deus mente desproporcionais para as
(Mc 4.20) circunstâncias da semeadura e os
Os que foram semeados em boa ter- méritos humanos.
ra são aqueles que ouvem a palavra
e a recebem, frutificando a trinta, a II. MAIS PARÁBOLAS DO
sessenta e a cem por um. REINO (Mc 4.21-34)
Para o observador superficial,
a parábola em estudo pode ser 1. Parábola da candeia (Mc 4.22)
desestimulante. O semeador pa- Pois nada está oculto, senão para
rece distraído: desperdiça semen- ser manifesto; e nada se faz escon-
tes em locais não promissores. A dido, senão para ser revelado.
semente parece frágil: depende “Candeia” era um pequeno
de condições perfeitas de semea- vaso de barro com óleo e um pa-
dura. O solo parece improdutivo: vio, servindo como espécie de
apenas 25% do terreno é verda- lamparina. Seu lugar era onde me-
deiramente cultivável. A parábola lhor irradiasse luz no ambiente.
insinua ação humana um tanto Não fazia sentido, portanto, colo-
desordenada, até displicente, em car a lâmpada debaixo da cama ou
meio a um cenário altamente ad- do “alqueire” (cesta grande usada
verso. Tudo sinalizando para uma para medir cereais), abafando a
colheita desastrosa. sua luz. Antes, convinha que se
Recorde-se que muitos tinham colocasse no “velador”, suporte
expectativas culturais e espiri- em que se punha a lamparina para
tuais equivocadas a respeito do melhor iluminar o ambiente.
Messias: aguardavam um rei con- Ora, toda verdade será revela-
quistador, forte e poderoso, que, da (v. 22). E as verdades do Reino
comandando ação militar arrasa- de Deus, outrora ocultas (v. 11-
dora, enfim libertasse o povo ju- 12), agora estavam sendo enfim
deu da opressão romana. reveladas em Cristo (Hb 1.1-2).

19
Lição 3 - Marcos 4: As Parábolas do Servo

“Atentai no que ouvis. Com a afirma que nada pode resistir para
medida com que tiverdes medido sempre à força da semente, já que
vos medirão também, e ainda se sua eficácia é assegurada pelo se-
vos acrescentará” (v. 24) é um pro- nhorio de Deus – e nesse poder os
vérbio popular judaico derivado discípulos poderiam depender se-
do comércio que aponta para a renamente.
ideia de transação justa. Esta parábola acalma discípu-
Aqui, significa que ouvir aten- los ansiosos, especialmente os que
tamente ao ensino de Cristo ge- desejam praticar medidas mais
rará recompensas (Hb 11.6). En- agressivas e imediatas para esta-
tretanto, para aqueles que não belecer o Reino.
respondam em reciprocidade, “até
o que tem lhe será tirado” (v. 25). 3. Parábola do grão de mostarda
Com isso, Jesus fazia severas (Mc 4.31)
críticas, em especial aos judeus da É como um grão de mostarda que,
época, sobretudo aos líderes reli- quando semeado, é a menor de to-
giosos, que estavam escondendo a das as sementes sobre a terra.
luz da Palavra de Deus debaixo de A semente da mostarda é mi-
uma grossa camada de religiosi- núscula. Na cultura da época, sua
dade externa, tradições humanas invocação era um conhecido pro-
e busca por glória própria. vérbio para destacar tudo o que
era muito pequeno (Mt 17.20).
2. Parábola da semente que cres- Contudo, seu arbusto pode chegar
ce automaticamente (Mc 4.27) de três a quatro metros de altura,
Depois, dormisse e se levantasse, de proporcionando providencial re-
noite e de dia, e a semente germi- frigério às aves do céu (v. 32).
nasse e crescesse, não sabendo ele Jesus faz desse dito proverbial
como. uma bela ilustração do mundo es-
Parábola exclusiva do evange- piritual, descortinando a ideia do
lho de Marcos. Em certo sentido, alcance abrangente de seu Reino,
dá prosseguimento à parábola do onde mesmo os gentios encontra-
semeador: mesmo no caso dos rão descanso (Gn 12.3; Jr 17.23).
corações acolhedores (solo fértil), Também há nítido contraste entre
gerar frutos envolve um processo a singeleza da semeadura e a gran-
misterioso (Jo 3.8). diosidade da colheita.
A parábola da semente aponta Importante perceber que, na
também para a inevitabilidade da parábola do semeador, a ênfase
vinda do Reino. O semeador se- está na responsabilidade humana
meia e depois só lhe cabe obser- (cultivar um coração acolhedor);
var o natural desenvolvimento da já na parábola da semente que
semente na terra. R. N. Champlin cresce em segredo, a ênfase recai

20
Lição 3 - Marcos 4: As Parábolas do Servo

na soberania divina. Agora, Jesus ram e lhe disseram: Mestre, não te


revela que, havendo santa coope- importa que pereçamos?
ração entre esses dois agentes, o A presença de outros barcos de-
que parece insignificante resulta monstra que o clima parecia tran-
em bênção abundante. quilo para a navegação. Todavia,
Marcos reporta o abrupto advento
III. UMA AULA PRÁTICA de um “grande temporal de vento”,
(Mc 4.35-41) com fortes ondas açoitando impie-
dosamente o barco (v. 37).
1. O cenário da aula (Mc 4.35) Pescadores experientes per-
Naquele dia, sendo já tarde, disse- cebem que a situação fugira do
-lhes Jesus: Passemos para a outra controle (v. 37). O que parecia ser
margem. só mais um costumeiro problema
É hora de uma rica aplicação climático ganha ares de incomum
prática. Marcos capricha: em com- dramaticidade. Só uma interven-
paração com Mateus (8.23-27) ção divina os salvaria da tragédia
e Lucas (8.22-25), seu relato do que se anunciava.
grande temporal no Mar da Ga- A aflição dos discípulos con-
lileia é o mais rico em detalhes: trasta com a tranquilidade de Jesus.
menciona, entre outros pontos, a Ironicamente, a única vez em que
hora do dia (v. 35), a presença de vemos o Servo dormindo nos evan-
outros barcos que o seguiam (v. gelhos é durante uma assustadora
36) e o fato de Jesus dormir sobre tempestade. A cena confere vida
um travesseiro (v. 38). às recentes lições teóricas: como
O chamado Mar da Galileia é, na o homem que jogou a semente no
verdade, um grande lago de água solo e depois adormeceu tranqui-
doce com uma extensão de 166 lamente (v. 26-27), Jesus descansa
km². Sua superfície está muito abai- confiante que Deus cuidará dele e
xo do nível do mar, em uma bacia da semente que plantara.
cercada por montes e montanhas Não sem razão: Jesus estava
bastante íngremes. Quase 50 km a cumprindo a vontade do Pai (Mc
nordeste está o monte Hermon, a 1.38-39). Ele não era um Jonas, fu-
2.804 metros acima do nível do mar. gindo da ordem divina (Jn 1.10,15).
O contato do ar frio do alto com o
ar quente que sobe do lago faz com 3. O poder de Jesus (Mc 4.39)
que até hoje seja comum na região E ele, despertando, repreendeu o
a ocorrência de fortes tempestades. vento e disse ao mar: Acalma-te,
emudece! O vento se aquietou, e
2. A confiança de Jesus (Mc 4.38) fez-se grande bonança.
E Jesus estava na popa, dormindo Jesus é despertado não pela
sobre o travesseiro; eles o desperta- fúria da natureza, mas pelo sar-

21
Lição 3 - Marcos 4: As Parábolas do Servo

casmo humano (v. 38). O Servo ga ao seu momento mais importan-


volta-se para o vento e o mar e, te: as narrativas parabólicas e a ex-
com autoridade, repreende-os. O periência prática deixam evidente
Criador bradou com a sua criatura que Jesus é o Messias. Ele faz coisas
(Gn 1.3). Não poderia ser diferen- que só Deus pode fazer.
te: obediência imediata (v. 39). O perigo maior para o ser hu-
Os discípulos entram em um mano não é a fúria do mar ao seu
novo e mais profundo estado de redor, mas a incredulidade em seu
assombro: o terror em relação ao interior (v. 40).
que Jesus fez supera o terror inicial Aprendemos que o descan-
causado pela força da tempestade. so não vem da calmaria, mas da
“Quem é este que até o vento e o mar confiança. Quem confia descansa,
lhe obedecem?” (v. 41). A lição che- mesmo nas piores tempestades.

APLICAÇÃO PESSOAL
Nada impedirá a implantação do Reino de Deus. Em situações desespe-
radoras, é essencial manter a fé em Jesus e seguir dando frutos para o
Seu Reino.

RESPONDA
1) Na parábola do semeador, quem as sementes que caem entre espinhos representam?

2) Qual parábola é exclusiva do Evangelho de Marcos?

3) Segundo a lição, qual a extensão do Mar da Galileia?

22
LIÇÃO 4
MARCOS 5:
A AUTORIDADE DO SERVO
SUPLEMENTO EXCLUSIVO DO PROFESSOR
Afora o suplemento do professor, todo o conteúdo de cada lição
é igual para alunos e mestres, inclusive o número da página.

ORIENTAÇÃO OBJETIVOS
PEDAGÓGICA • Compreender que a fé exige re-
Em Marcos 5 há 43 versos. Suge- núncia a si mesmo.
rimos começar a aula lendo, com • Confessar fé exclusiva em Jesus
Cristo.
todos os presentes, Marcos 5.21-
• Testemunhar o poder de Jesus
43 (5 a 7 min.).
sobre a morte.
A revista funciona como guia de es-
tudo e leitura complementar, mas
PARA COMEÇAR A AULA
não substitui a leitura da Bíblia.
Caro(a) professor(a), nesta
lição reafirmamos a certeza de Professor, leve seus alunos a
que a soberania de Jesus sobre examinarem seus corações. Se o
toda atividade espiritual é o que centro da sua adoração é o seu
nos liberta do maligno. A cena da sofrimento ou o sofrimento do
libertação de um homem segui-
seu ente querido, então você está
da da possessão de uma vara de
cultuando a si mesmo ou a outra
porcos nos faz pensar se também
nós não estamos cuidando mais pessoa. Se nada acontece é porque
do nosso patrimônio do que da nenhum de nós tem poder. Somen-
nossa salvação. Que seria de nós te quando o homem confessa sua
sem Jesus? Que poderíamos fazer impotência é que o caminho fica li-
por nós mesmos ou por nossas fa-
vre para Jesus manifestar Sua gló-
mílias sem Jesus? Jairo e a hemor-
rágica encontraram graça quan- ria. Jairo e a mulher hemorrágica
do confessaram que o Cristo era depositaram fé incondicional em
sua única esperança. Precisamos Jesus. Temos examinado nossos
aprender a nos esvaziar de nós corações?
mesmos para vermos as maravi-
lhas de Jesus se manifestarem na RESPOSTAS DA PÁGINA 28

nossa vida pessoal e na vida cole- 1) Cerca de seis mil soldados.

tiva da Igreja. 2) 12 anos (Mc 5.25).


3) A força do amor.

I
Lição 4 - Marcos 5: A Autoridade do Servo

LEITURA ADICIONAL

“Você acha estranho que, ao chegar à casa de Jairo, Jesus tenha dito
que a menina estava apenas dormindo? Os relatos paralelos dos Evan-
gelhos de Mateus e Lucas deixam claro que Jesus compreendia que ela
estava morta. Ela não estava apenas quase morta; ela estava inteiramente
morta. Então, por que Jesus fala que ela estava dormindo? A resposta está
naquilo que Jesus faz em seguida. Lembre-se, Jesus senta-se ao lado da
menina, toma a mão dela e lhe diz duas palavras. A primeira é Talita. Lite-
ralmente, significa menina, mas isso não capta o sentido do que ele estava
dizendo. Ele estava usando um diminutivo, uma forma carinhosa de se re-
ferir à menina. Uma vez que é um diminutivo que uma mãe usaria em re-
lação à sua filha, é provável que a melhor tradução para essa palavra seja
'meu amorzinho'. A segunda palavra que Jesus diz é cumi, que significa
'levanta'. Não significa 'ressuscita'; significa somente 'levanta'. Jesus está
fazendo exatamente o que os pais dessa menina fariam em uma ensola-
rada manhã de domingo. Ele senta, segura a mão da menina e diz: 'Meu
amorzinho, é hora de levantar'. E ela se levanta. Jesus está enfrentando a
morte, o inimigo mais implacável e inexorável da raça humana, e o poder
dele é tão grande que ele segura essa menina pela mão e gentilmente a
traz para o mundo dos vivos. (...) as palavras e os atos de Jesus não são
somente poderosos; são também repletos de amor”.

Livro: A cruz do Rei (KELLER, Timothy. Tradução de Marisa Lopes. São Paulo: Vida

Nova, 2012, p. 88).

II
Estudada em ___/___/____

LIÇÃO 4 Leitura Bíblica Para Estudo


Marcos 5.21-43
MARCOS 5: Verdade Prática
A AUTORIDADE DO Jesus triunfa frente a qualquer
inimigo. Mesmo a morte não tem
SERVO poder para detê-lo.

INTRODUÇÃO

I. AUTORIDADE SOBRE OS
DEMÔNIOS Mc 5.1-20
1. A ação de Satanás Mc 5.5
2. A ação da sociedade Mc 5.3
Texto Áureo
“E ele lhe disse: Filha, a tua fé te 3. A ação de Jesus Mc 5.19
salvou; vai-te em paz e fica livre
do teu mal.” II. AUTORIDADE SOBRE AS
Mc 5.34 DOENÇAS Mc 5.21-34
1. A condição da mulher Mc 5.26
2. A fé da mulher Mc 5.28
3. A cura da mulher Mc 5.29

III. AUTORIDADE SOBRE A MORTE


Mc 5.35-43

1. Contraste entre situações Mc 5.24


2. Continue crendo Mc 5.36
3. A força do amor Mc 5.41

APLICAÇÃO PESSOAL

Devocional Diário
S T Q Q S S
Mc Mc Mc Mc Mc Mc
5.8 5.14 5.20 5.23 5.30 5.34

Hinos da Harpa: 116 - 65

23
Lição 4 - Marcos 5: A Autoridade do Servo

INTRODUÇÃO los sepulcros e montes, ferindo-


-se com pedras e emitindo gritos
Jesus já havia demonstrado infernais (v. 3-5).
sua autoridade sobre a natureza O propósito do diabo será
(Mc 4.35-41). Agora, na sequên- sempre roubar, matar e destruir
cia, Marcos aprofunda o assunto, (Jo 10.10), ou seja, implantar em
registrando a eficácia da auto- nossas vidas caos, dor, tristeza e
ridade do Servo de Deus sobre indignidade.
demônios, doenças e, por fim,
sobre a própria morte. 2. A ação da sociedade (Mc 5.3)
O qual vivia nos sepulcros, e nem
I. AUTORIDADE SOBRE mesmo com cadeias alguém podia
OS DEMÔNIOS prendê-lo.
(Mc 5.1-20) Tudo o que a sociedade pode-
ria fazer por aquele homem pos-
Nessa cena, Warren Wiersbe sesso de demônios foi feito, mas
vê três forças diferentes em ação: sem resultados. As diversas ten-
Satanás, a sociedade e Jesus. tativas de controlá-lo foram todas
frustradas. Sua força era descomu-
1. A ação de Satanás (Mc 5.5) nal, espalhando terror e medo, de
Andava sempre, de noite e de dia, maneira que ninguém podia sub-
clamando por entre os sepulcros jugá-lo (v. 3-5). Cadeias e grilhões
e pelos montes, ferindo-se com eram-lhe como fios de algodão:
pedras. despedaçavam-se com facilidade.
Após vencer uma terrível A única opção foi abandoná-lo em
tempestade ao longo da traves- sua triste condição degradante.
sia (Mc 4.35-41), Jesus chega ao Força humana não tem poder
lado leste do mar da Galileia, ter- para libertar almas aprisionadas
ra de gentios. Mas a oposição sa- por Satanás. Aqui, qualquer esfor-
tânica é impiedosa: outra “tem- ço, ainda que movido pela melhor
pestade” o aguarda. Desta feita, a das intenções, tocará apenas o su-
fúria advirá de uma multidão de perficial. Nesse campo, ouro e pra-
demônios. ta nada podem fazer. Somente Je-
De fato, Marcos relata com sus é capaz de libertar o oprimido
detalhes o horripilante resultado e tratar a verdadeira fonte do pro-
da ação do mal na vida humana: blema humano (At 3.6; Jo 8.36).
alijado de sua família e da socie-
dade, totalmente desprovido de 3. A ação de Jesus (Mc 5.19)
dignidade, aquele homem vivia Jesus, porém, não lho permitiu,
como uma besta fera enlouque- mas ordenou-lhe: Vai para tua
cida: perambulava dia e noite pe- casa, para os teus. Anuncia-lhes

24
Lição 4 - Marcos 5: A Autoridade do Servo

tudo o que o Senhor te fez e como de valores também é sinal de de-


teve compaixão de ti. sordem espiritual (Mt 6.33).
A simples presença de Jesus Apesar da forte resistência ma-
anula toda a agressividade do ligna, Jesus não mediu esforços para
possesso: ao invés de violência, chegar até aquela terra, quebrar o
rendição (v. 6-7). A inegável ver- poder do inimigo e ali implantar um
dade, infelizmente recusada por missionário (v. 19-20; Lc 8.39).
muitos ainda hoje, é objeto de
pública confissão até entre os II. AUTORIDADE SOBRE
espíritos imundos (Tg 2.19). AS DOENÇAS
Jesus aproveita o momento (Mc 5.21-34)
para fazer revelações profun-
das. “Qual é o teu nome?” A res- 1. A condição da mulher
posta é surpreendente: “Legião (Mc 5.26)
é o meu nome, porque somos E muito padecera à mão de vários
muitos” (v. 8). Ora, legião desig- médicos, tendo despendido tudo
nava a maior unidade de tropas quanto possuía, sem, contudo,
do exército romano: cerca de nada aproveitar, antes, pelo con-
seis mil soldados. Tratava-se trário, indo a pior.
da mais poderosa e destrutiva Outro cenário caótico irá tes-
arma de guerra da antiguidade. tar a autoridade de Jesus. Agora, o
O diabo age sem dó nem pieda- Senhor é procurado por uma pes-
de e, se puder, com o máximo de soa culturalmente desvalorizada
sua força (Mt 12.45). (mulher), fisicamente debilitada
O curioso atendimento ao pe- (doente), economicamente ar-
dido dos espíritos impuros — de rasada (falida), emocionalmente
serem transferidos a uma mana- frágil (frustrada), espiritualmente
da de porcos — objetiva ofertar- desfavorecida (impura) e social-
-nos mais uma importante reve- mente rejeitada (abandonada).
lação: não apenas o interior do Foram doze anos de uma ter-
homem possesso estava em de- rível hemorragia, cujo tratamento
sordem, mas também o coração arruinou suas finanças e destruiu
de toda aquela comunidade. sua autoestima, agravando ainda
Afinal, mesmo diante da li- mais sua situação (v. 25-26). A
bertação miraculosa do outrora problemática com o sangue lhe
possesso, então visto em perfeito impôs também o afastamento de
juízo e sentado aos pés de Jesus (v. sua família e comunidade, porque
15), a população deu mais atenção considerada impura segundo a
para o prejuízo econômico advin- Lei Mosaica (Lv 15.25-27). Deplo-
do da perda dos animais que para rável situação a dessa mulher: se-
a glória de Deus (v. 17). Inversão quer seu nome é revelado.

25
Lição 4 - Marcos 5: A Autoridade do Servo

2. A fé da mulher (Mc 5.28) sangue consegue cumprir à risca


Porque, dizia: Se eu apenas lhe to- o seu plano e, ao tocar nas vestes
car as vestes, ficarei curada. de Jesus, recebe cura imediata (v.
Nada obstante a tragédia que 29). Há um nítido contraste en-
vivia, essa mulher possuía algo tre o poder de cura dos médicos
especial: fé em Jesus (v. 27). Po- que se debruçaram atentamente
rém, para conquistar sua bênção, sobre o seu caso (sabedoria hu-
ela deveria romper a enorme mana – v. 26) e o poder de Jesus,
multidão e conquistar a atenção involuntariamente acionado.
de Jesus, que, na ocasião, estava Expectativas religiosas de então
inteiramente compromissado também caem por terra: ao invés
com a cura da filha de um homem do toque da mulher transmitir
influente da região (v. 22-24). impureza a Jesus, um incrível po-
Ora, em si, essa já era uma der curativo foi transmitido de
missão impossível, especialmente Jesus para ela.
quando atentamos para a dificul- “Quem me tocou nas vestes?”
dade de sua execução, que impli- (v. 30). Impressiona a sensibilida-
cava grande esforço físico (apesar de de Jesus: ora, em meio à cami-
da debilidade decorrente da he- nhada, inúmeras pessoas o com-
morragia), disposição psicológica primiam (v. 24). Todavia, ainda
elogiável (apesar do histórico de assim é capaz de perceber os que
frustrações de tentativas de cura) lhe tocam diferente, porque mo-
e uma coragem diferenciada (além vidos por espírito quebrantado e
de tocar no próprio Jesus, inevita- coração contrito (Sl 51.17).
velmente também tocaria nas pes- Mas a cura física foi só o início de
soas da multidão). um processo mais profundo: aquela
A solução? Simples e audacio- mulher – outrora doente, frustrada,
sa: em um último e desesperado abandonada e desvalorizada – li-
esforço físico-emocional, a ideia bertou-se de seu mal, ganhou um
era assumir todos os riscos, in- testemunho poderoso, desenvolveu
vadir a multidão, ganhar espaço uma fé preciosa e ainda foi explici-
pouco a pouco e, por trás, discre- tamente acolhida na família de Deus
tamente, apenas tocar nas vestes (v. 34). Cura completa: física, emo-
de Jesus (v. 28). cional, social e espiritual.

3. A cura da mulher (Mc 5.29) III. AUTORIDADE SOBRE


E logo se lhe estancou a hemorra- A MORTE (Mc 5.35-43)
gia e sentiu no corpo estar curada
de seu flagelo. 1. Contraste entre situações
Contrariando a todas as ex- (Mc 5.24)
pectativas, a mulher do fluxo de Jesus foi com ele.

26
Lição 4 - Marcos 5: A Autoridade do Servo

Contrastes dramáticos mar- Jesus foi negligente? Sua autori-


cam Jairo e a mulher do fluxo de dade havia encontrado limites?
sangue. Ao contrário desta, Jairo O Servo de Deus não perde
detém grande prestígio social e re- tempo: olha nos olhos de Jai-
ligioso, com acesso direto a Jesus ro e declara, com firmeza: “Não
(v. 22). Ademais, ao invés dos doze temas, crê somente” (v. 36). Ou
anos de tristeza da mulher com seja: “Estou no controle de tudo,
hemorragia, Jairo vivenciara doze Jairo. Permaneça firme na sua
anos de alegria com sua filhinha, fé. Confie em mim!”. Verdadeira-
cuja vida agora estava por um fio mente, somos chamados a viver
por conta de uma terrível doença pela fé.
(v. 23 e 42). Não bastasse, Jesus Retoma-se a marcha rumo
acatou suas súplicas públicas e à sua casa. Porém, quanto mais
aceitou ir até sua casa para curar a próximo do destino, mais eviden-
criança (v. 23-24), ao passo que a te fica que sua filha estava mes-
mulher anelou apenas um discre- mo morta: desespero e pranto
to toque na roupa do Servo. era tudo o que se via (v. 38). Mas,
Todavia, apesar dessas van- de novo, Jesus ousa contrariar to-
tagens pessoais e circunstan- dos e, pacientemente, insiste: “A
ciais, Jairo precisou gerir com criança apenas dorme” (v. 39). Os
paciência suas emoções: en- presentes debocham (v. 40).
quanto sua filha sucumbia, ele
teve de assistir a todo o profun- 3. A força do amor (Mc 5.41)
do processo de cura da mulher Tomando-a pela mão, disse: Talitá
anônima. O propósito? Jairo cumi!, que quer dizer: Menina, eu te
buscava simples cura, mas Jesus mando, levanta-te!
preparava algo maior: ressur- Jesus mantém no local ape-
reição. Era a vez da morte se su- nas aqueles movidos por amor
jeitar à sua autoridade. incondicional: os pais da crian-
ça e aqueles que abandonaram
2. Continue crendo (Mc 5.36) tudo para o acompanhar (v. 40).
Mas Jesus, sem acudir a tais pala- O Servo enfim entra no cômodo
vras, disse ao chefe da sinagoga: onde estava a menina. O embate
Não temas, crê somente. atinge seu ápice: vida e morte es-
Jairo seria testado em sua fé tão frente a frente. Quem será o
com mais um doloroso conjunto mais forte?
de contrastes. De saída, à alegria Esperava-se talvez um estron-
pela cura da mulher com hemor- doso embate cósmico. Gritos?
ragia se seguiu a tristeza pela Relâmpagos? Terra tremendo?
notícia da morte de sua filha (v. Nada disso. Para vencer o último
35). O tempo havia se esgotado... inimigo (1Co 15.26), Jesus se vale

27
Lição 4 - Marcos 5: A Autoridade do Servo

apenas da sutileza do Seu amor força do Seu eterno amor e sobe-


e poder. Tomando-lhe pela mão, rano poder.
calmamente diz à criança: “Me- O capítulo 5 de Marcos apon-
nina, levanta-te!” (v. 41). Imedia- ta para o triunfo da fé em Jesus
tamente, a menina se levantou e e a consequente subjugação do
pôs-se a andar (v. 42). Eis a arma diabo, das doenças e mesmo da
com que Jesus vence a morte: a morte.

APLICAÇÃO PESSOAL
Devemos ser corajosos e abundantes na obra do Senhor. A plena au-
toridade de Jesus nos céus e na terra é garantia de vitória para todo
aquele que Nele confia.

RESPONDA
1) Segundo a lição, quantos soldados havia em uma legião (maior unidade de tropas do
exército romano)?

2) Por quantos anos já perdurava a doença da mulher do fluxo de sangue?

3) Segundo a lição, qual arma Jesus usou para vencer a morte?

28
LIÇÃO 5
MARCOS 6: O SERVO ENFRENTA A
INCREDULIDADE
SUPLEMENTO EXCLUSIVO DO PROFESSOR
Afora o suplemento do professor, todo o conteúdo de cada lição
é igual para alunos e mestres, inclusive o número da página.

ORIENTAÇÃO OBJETIVOS
PEDAGÓGICA • Defender a fé única e verdadei-
Em Marcos 6 há 56 versos. Suge- ra em Jesus.
rimos começar a aula lendo, com • Imitar o caráter humilde do
todos os presentes, Marcos 6.1-16 Cristo.
(5 a 7 min.).
• Servir a quantos queiram co-
A revista funciona como guia de es-
tudo e leitura complementar, mas nhecer Jesus.
não substitui a leitura da Bíblia.
Olá, professor(a)! O evange- PARA COMEÇAR A AULA
lho de Marcos vem nos mostran- Professor(a), leve seus alu-
do como a autoridade e o poder nos a perceberem que o evan-
de Jesus foram questionados por gelho de Marcos nos faz reava-
muitos. Ainda hoje, várias pessoas liar nossos valores e critérios
se referem a Ele como apenas um éticos. Jesus ordenou que ser-
profeta, um místico; no máximo, víssemos uns aos outros; que
um líder político. não buscássemos os primeiros
Irmãos, Jesus nos serviu com assentos a fim de sermos elo-
tanta humildade que ainda hoje giados, mas que vivêssemos de
muitos tentam rebaixá-lo. Por ser tal modo que pelo amor fôsse-
soberbo, Herodes não reconheceu mos reconhecidos. Com gran-
o ministério do Cristo; mas um de poder sobre males físicos e
povo literalmente faminto corria espirituais, Jesus não buscou
para ouvir as palavras do nazare- honras, mas procurou no meio
no. O Servo foi tão humilde que até do povo quem pudesse crer. Es-
os apóstolos demoraram a enten- tamos seguindo os passos do
der o Seu poder, mesmo assim Ele nosso Mestre?
cura e liberta quantos o aceitam
como Salvador.
RESPOSTAS DA PÁGINA 34
1) Por causa da incredulidade do povo.
2) Tetrarca (Lc 3.19).
3) Das três às seis da manhã.

I
Lição 5 - Marcos 6: O Servo Enfrenta a Incredulidade

LEITURA ADICIONAL

“Marcos diz abertamente que Jesus ‘não pôde fazer ali nenhum mi-
lagre’. (...) A ênfase da conclusão recai sobre a não disposição do povo
dessa cidade em crer. Somos confrontados mais uma vez com o mistério
do Reino de Deus: alguns daqueles que tiveram todas as oportunidades
de crer não o fizeram e outros que, como o geraseno endemoninhado, não
se esperava que acreditariam, passam a crer. (...) Deus se surpreende com
a dureza de coração da humanidade e sua relutância de crer nele, e não
com a pecaminosidade e propensão para o mal. Essa dureza do coração é
o maior problema do mundo e nisso repousa o julgamento divino sobre a
humanidade. A humanidade quer um sinal espetacular de Deus ou, como
o demônio, uma grande demonstração do poder divino (Mt 4.1-11; Lc 4.1-
13). Contudo, ela não quer que Deus se torne um ser humano como um
de nós (Jo 1.11). O povo de Nazaré vê só um carpinteiro, só um filho de
Maria, só outro dos filhos do vilarejo que cresceu e voltou para uma visita.
Se ao menos Deus fosse menos comum e mais único, então eles creriam. A
imagem de servo do Filho é muito prosaica para amealhar a credulidade.
Deus se identificou muitíssimo com o mundo para que o mundo o visse,
muitíssimo com a cidade de Nazaré para que esta reconhecesse em Jesus
o Filho de Deus. A humanidade quer algo distinto daquilo que Deus dá.
O maior obstáculo à fé não é a falha de Deus em agir, mas a relutância do
coração humano para aceitar o Deus que digna a se apresentar a nós em
apenas um carpinteiro, o filho de Maria”.

Livro: O comentário de Marcos (EDWARDS, James R. Tradução de Helena Aranha.


São Paulo: Shedd Publicações, 2018, pp. 227-228).

II
Estudada em ___/___/____

LIÇÃO 5 Leitura Bíblica Para Estudo


Marcos 6.1-16
Verdade Prática
MARCOS 6: O Servo Jesus triunfa até sobre
O SERVO ENFRENTA a incredulidade dos Seus discí-
pulos.
A INCREDULIDADE
INTRODUÇÃO

I. A INCREDULIDADE DOS
NAZARENOS Mc 6.1-13
1. Local de incredulidade Mc 6.3
Texto Áureo 2. Efeitos da incredulidade Mc 6.5
“Não é este o carpinteiro, filho de
Maria, irmão de Tiago, José, Ju- 3. Reações à incredulidade Mc 6.6
das e Simão? E não vivem aqui
entre nós suas irmãs? E escandali- II. A INCREDULIDADE DE
zavam-se nele.” HERODES Mc 6.14-29
Mc 6.3 1. Homem devasso Mc 6.18
2. Homem perturbado Mc 6.16
3. Técnica de "sanduíche" Mc 6.22

III. A INCREDULIDADE DOS


DISCÍPULOS Mc 6.30-56
1. Ao alimentar cinco mil homens Mc 6.37
2. Ao andar sobre as águas Mc 6.50
3. O exemplo de fora Mc 6.56

APLICAÇÃO PESSOAL

Devocional Diário
S T Q Q S S
Mc Mc Mc Mc Mc Mc
6.2 6.12 6.20 6.31 6.41 6.51

Hinos da Harpa: 11 - 467

29
Lição 5 - Marcos 6: O Servo Enfrenta a Incredulidade

INTRODUÇÃO A menção de que era simples


“filho de Maria” (v. 3) revela algo
O capítulo 6 de Marcos, objeto mais: na tradição judaica, um ho-
desta lição, destaca a tragédia da mem sempre era descrito pelo
incredulidade dos nazarenos, de nome de seu pai, ainda que faleci-
Herodes e dos próprios discípulos. do, exceto por insulto/ofensa (Jz
Esse contraste serve para realçar 11.1-2; Jo 8.41). Mas havia algo
a importância de se desenvolver fé pior: como um homem comum
sincera no Servo de Deus. poderia ter tamanho poder e sa-
bedoria (v. 2)? Só haveria duas
I. A INCREDULIDADE DOS opções: Deus ou Satanás. Ou seja,
NAZARENOS (Mc 6.1-13) ao serem movidos pela incredu-
lidade (v. 6) e ao recusarem-se
1. Local de incredulidade (Mc 6.3) a reconhecer o Pai na pessoa de
Não é este o carpinteiro, filho de Jesus, restava a triste insinuação
Maria, irmão de Tiago, José, Judas de que a fonte de seu poder era
e Simão? E não vivem aqui entre maligna – tese já defendida por
nós suas irmãs? E escandaliza- alguns (Mc 3.22).
vam-se nele.
À época, Nazaré, lugar onde 2. Efeitos da incredulidade
Jesus fora criado, nada mais era (Mc 6.5)
que um acanhado vilarejo repleto Não pôde fazer ali nenhum mila-
de casas de barro espalhadas por gre, senão curar uns poucos enfer-
cerca de 30 mil metros quadra- mos, impondo-lhes as mãos.
dos de uma encosta pedregosa, Em Nazaré, ao contrário do que
com uma população de, no máxi- vinha ocorrendo em outros locais
mo, quinhentas pessoas. Era uma (Mc 3.10, por exemplo), Jesus não
pequena aldeia, sem importância, pôde fazer ali nenhum milagre,
inclusive objeto de preconceito senão curar uns poucos enfermos
por parte do povo da região (Jo (v. 5). Recorde-se que não era a
1.46). primeira vez que a comunidade
No trecho bíblico em estudo, onde Jesus crescera negava seu mi-
Jesus volta a Nazaré (“sua ter- nistério (Lc 4.16-30). Tratava-se,
ra” – v. 1). Esperava-se que fosse portanto, de um povo persisten-
bem recepcionado pelos que o co- temente incrédulo. E, sem dúvida,
nheciam desde a infância. Porém, esse ambiente de total descrença
infelizmente, para os nazarenos, operou limitações ao Servo.
Jesus não passava de um homem Todavia, não se trata de Je-
comum, membro de uma família sus não ter desejado ou podido
comum, praticante de uma profis- realizar milagres em Nazaré. É
são comum (v. 3). que os habitantes daquele local

30
Lição 5 - Marcos 6: O Servo Enfrenta a Incredulidade

endureceram seus corações e vo: ampliar seu poder de alcance


alimentaram um obstinado pre- através do comissionamento dos
conceito contra o Senhor. Eles apóstolos, enviados a pregar o
simplesmente não o desejavam. Evangelho, expelir demônios e
Assim, houve limitação, não do curar enfermos, em seu nome (v.
Seu poder, mas de Sua missão. 7, 12-13).
Não faltou poder a Jesus, mas, A urgência dessa missão de-
sim, fé aos nazarenos. mandava deslocamento rápido e
Afinal, Jesus não agia para im- confiança plena: pouquíssimos
pressionar, mas para transformar itens poderiam ser levados, o que
a vida de pessoas que, movidas não incluía pão e dinheiro (v. 8-9).
pela fé, reconheciam sua inteira Os emissários deveriam em tudo
dependência dele (Mc 2.17; Hb depender da provisão divina. O
11.6). Quem curava apenas para justo viverá pela fé (Hb 10.38).
impressionar eram os mágicos
pagãos da Antiguidade. Cuidado: II. A INCREDULIDADE DE
incredulidade limita o agir de HERODES (Mc 6.14-29)
Deus (2Rs 13.14-19; Hb 3.12-13).
1. Homem devasso (Mc 6.18)
3. Reações à incredulidade Pois João lhe dizia: Não te é lícito
(Mc 6.6) possuir a mulher de teu irmão.
Admirou-se da incredulidade deles. Notícias sobre os embaixado-
Contudo, percorria as aldeias cir- res de Jesus chegaram até Herodes
cunvizinhas, a ensinar. Antipas, filho de Herodes, o Gran-
Expressando sua humanidade, de (Mt 2.1). Pelo costume local,
mesmo Jesus admirou-se da incre- era chamado de “rei” (v. 14), em-
dulidade dos nazarenos. Até onde bora seu título verdadeiro fosse
se sabe, ele nunca mais retornou “tetrarca” (Lc 3.19). Governou as
a Nazaré. Em certo sentido, espi- regiões da Galileia e da Pereia de
ritualmente, o ceticismo dos naza- 4 a.C. a 39 d.C.
renos era um símbolo da cegueira Herodes Antipas era devasso:
do próprio povo judeu (Jo 1.11). deixou a esposa para se casar com
Mas quando uma porta se fe- Herodias, sua sobrinha e mulher
cha, o Senhor abre outras. A in- de seu meio-irmão Herodes Fili-
credulidade dos nazarenos em pe, estando este ainda vivo. Sua
nada afetou o prosseguimento atitude adúltera e incestuosa foi
do ministério terreno de Jesus. denunciada por João Batista, que
Lutas e decepções não podem acabou preso por tamanha ousa-
parar o povo de Deus. Após um dia (v. 17-18).
ligeiro momento de espanto, eis Em verdade, Herodes parece
a firme e imediata reação do Ser- ter percebido que o ministério

31
Lição 5 - Marcos 6: O Servo Enfrenta a Incredulidade

de Cristo era maior que o de João a mensagem de João Batista con-


Batista (Lc 9.7-9). Todavia, o te- tinuava a martelar no coração de
mor de sofrer oposição do povo Herodes. Todavia, via-se flores-
o impediu de aproximar-se do cer de tudo, menos arrependi-
Servo. A personalidade maliciosa mento e fé (Mc 1.15).
e impetuosa de Herodes Antipas
foi duramente criticada por Jesus 3. Técnica de “sanduíche”
(Mc 8.15; Lc 13.31-33). (Mc 6.22)
Entrou a filha de Herodias e, dan-
2. Homem perturbado (Mc 6.16) çando, agradou a Herodes e aos
Herodes, porém, ouvindo isto, disse: seus convivas. Então, disse o rei à
É João, a quem eu mandei decapi- jovem: Pede-me o que quiseres, e eu
tar, que ressurgiu. to darei.
Herodias era muito segura Na teologia bíblica, tem-se
quanto ao que nutria por João Ba- por técnica de "sanduíche" a mo-
tista: ódio mortal, literalmente (v. dalidade redacional muito usada
19). Já Herodes Antipas alimen- no evangelho de Marcos em que
tava sentimentos conflitantes: ao determinada história é abrupta-
tempo em que o temia, reconhe- mente interrompida por uma se-
cendo-o como homem “justo e gunda, com posterior retomada
santo” (v. 20a), cogitava matá-lo daquela primeira. Essa técnica
(Mt 14.4); maravilhava-se com segue a fórmula A-B-A, em que a
suas palavras (v. 20b), mas não narrativa B serve de chave teoló-
hesitou em lançá-lo ao cárcere gica para compreensão adequada
quando confrontado com seus das metades que a ladeiam.
pecados (v. 17-18). Recorde-se que a cura da fi-
Igualmente, quando a filha lha de Jairo foi repentinamente
de Herodias, instruída pela mãe, suspensa para dar espaço à cura
pediu a cabeça de João Batista e da mulher do fluxo de sangue, de-
encurralou a Herodes Antipas, mandando de Jairo o exercício de
cobrando publicamente que cum- uma fé diferenciada (Mc 5.22-43).
prisse com sua insensata promes- São pelo menos nove ocorrências
sa (v. 21-25), este “entristeceu-se dessa técnica ao longo do evan-
profundamente”, todavia cum- gelho de Marcos (mais algumas:
priu com sua palavra e matou o 3.20-35; 11.12-21; 14.1-11).
profeta (v. 26-28). Na seção bíblica em estudo,
Ao ouvir sobre a fama de Je- o tema principal da missão dos
sus, sua mente logo veio pertur- apóstolos (v. 7-13) é pausado
bá-lo: “É João, a quem eu mandei para ceder ao relato de João Ba-
decapitar, que ressurgiu” (v. 16). tista e Herodes (v. 14-29), sendo
A verdade é que, mesmo morto, depois retomado (v. 30-44).

32
Lição 5 - Marcos 6: O Servo Enfrenta a Incredulidade

III. A INCREDULIDADE DOS ciência, posturas opostas ao ver-


DISCÍPULOS (Mc 6.30-56) dadeiro amor (1Co 13.4-8).

1. Ao alimentar cinco mil ho- 2. Ao andar sobre as águas


mens (Mc 6.37) (Mc 6.50)
Porém ele lhes respondeu: Dai-lhes Pois todos ficaram aterrados à vista
vós mesmos de comer. Disseram-lhe: dele. Mas logo lhes falou e disse: Ten-
Iremos comprar duzentos denários de bom ânimo! Sou eu. Não temais!
de pão para lhes dar de comer? Os discípulos serão submetidos a
Na ocasião, os doze retornam outro teste de fé: agora, sem a com-
com êxito de sua missão evange- panhia de Jesus. Desta feita, o Mestre
lística (v. 7-13), porém exaustos, sobe a um monte para orar e os discí-
pelo que Jesus os convida para, pulos, por orientação do próprio Je-
de barco, irem a um lugar isolado sus, seguem de barco rumo a Betsai-
a fim de descansarem (v. 30-32). da (v. 45-47). Todavia, o tempo passa
Mas a oportuna pausa para recu- bastante (já era a “quarta vigília da
perar forças físicas e mentais não noite”: das três às seis da manhã) e
vinga: uma multidão, a pé, chega os discípulos não conseguiram de-
antes ao local, demandando aten- senvolver a viagem, pois o vento lhes
ção e cuidado (v. 33). era forte e contrário (v. 48).
Neste ponto, há uma forte di- Percebendo o fracasso dos dis-
ferença entre as reações de Jesus cípulos em vencer mais esse desa-
e de seus discípulos: ao invés de fio espiritual, Jesus anda por sobre
os encararem como invasivos ou as águas e se aproxima do barco
impertinentes, Jesus os viu como para resolver a situação, mas, ao
“ovelhas que não têm pastor”, vê-lo, os discípulos gritam de as-
passando a “ensinar-lhes muitas sustados, imaginando se tratar de
coisas” (v. 34). Todavia, ao final um fantasma (v. 49). “Sou eu. Não
da tarde, seus discípulos demons- temais” – disse Jesus. E logo subiu
tram impaciência: recomendam ao barco e o vento cessou, deixan-
que a multidão seja liberada, mes- do-os atônitos (v. 50-51).
mo cansada e faminta (v. 35-36). Cegueira e incredulidade:
“Dai-lhes vós mesmos de comer” marcas dos corações não apenas
– desafiou-os, porém, Jesus (v. 37). dos opositores de Cristo (Mc 3.5;
Diante da postura incrédula de 10.5), mas também, incrivelmen-
seus seguidores mais próximos, te, de seus próprios embaixadores
Jesus opera mais um milagre e (v. 52; Mc 8.16-18).
todos participam de um farto ban-
quete (v. 38-44). Mesmo o círculo 3. O exemplo de fora (Mc 6.56)
mais íntimo do Servo não estava Onde quer que ele entrasse nas al-
imune à incredulidade e impa- deias, cidades ou campos, punham

33
Lição 5 - Marcos 6: O Servo Enfrenta a Incredulidade

os enfermos nas praças, rogando- 5.28) – que, verdadeiramente,


-lhe que os deixasse tocar ao menos todos que a tocavam saíam cura-
na orla da sua veste; e quantos a dos (v. 56).
tocavam saíam curados. Marcos utiliza mais um valioso
Quando Jesus e seus discípu- contraste: à surpreendente incre-
los desembarcam nas planícies dulidade do círculo mais íntimo
férteis de Genesaré, o povo se de Jesus segue-se a abundante fé
mobiliza para trazer seus enfer- daqueles mais afastados. O contato
mos às praças, os quais desejam com a fé pura e exemplar de pes-
apenas um toque na orla da ves- soas simples e anônimas era uma
te do Servo de Deus. A fé desse preciosa fonte de aprendizado para
povo era tão viva e intensa – tal- os discípulos – que, como vimos,
vez inspirada na experiência da ainda estavam em processo de cura
mulher do fluxo de sangue (Mc de seus próprios corações (v. 52).

APLICAÇÃO PESSOAL
Examinemos, corriqueiramente, os nossos corações. Em nossos testes
de fé, devemos tirar os olhos das circunstâncias e sempre confiar em
nosso Salvador.

RESPONDA
1) Em Nazaré, por que Jesus curou poucos enfermos e não fez milagres?

2) Herodes Antipas era chamado de “rei” (Mc 6.14). Porém, como autoridade romana, segun-
do a lição, qual era o seu verdadeiro título?

3) Segundo a lição, a “quarta vigília da noite” (Mc 6.48) equivaleria a que horário?

34
LIÇÃO 6
MARCOS 7 e 8:
O SERVO É O CRISTO
SUPLEMENTO EXCLUSIVO DO PROFESSOR
Afora o suplemento do professor, todo o conteúdo de cada lição
é igual para alunos e mestres, inclusive o número da página.

ORIENTAÇÃO OBJETIVOS
PEDAGÓGICA • Assumir, como servos, o com-
Em Marcos 7 e 8 há 37 e 38 versos, promisso missionário.
respectivamente. Sugerimos come- • Praticar a justiça e a humilda-
çar a aula lendo, com todos os pre- de, seguindo o exemplo de Jesus.
sentes, Marcos 8.11-30 (5 a 7 min.). • Ensinar a todos que Jesus os
A revista funciona como guia de convida à salvação.
estudo e leitura complementar,
mas não substitui a leitura da Bí- PARA COMEÇAR A AULA
blia.
Querido(a) professor(a), Jesus Professor(a), mostre aos seus
enfrentou rejeição e acusações ao alunos que o crente vai a qualquer
longo de suas caminhadas. Mes-
lugar onde o Evangelho deva ser
mo assim, seguia com enorme
senso missionário e messiânico ministrado, pois não somos cha-
a fim de alcançar quantos o qui- mados para excluir as pessoas do
sessem conhecer. Ele cumpriu a Reino. Ao contrário, empenhamos
Torá com justiça, recusando uma nossas vidas na tarefa de revelar
religiosidade corrompida e mo-
tivada pelo desejo de manipular Jesus a todos que queiram conhe-
e explorar as pessoas. Ninguém cê-lo. É no cotidiano das nossas
precisa se ocupar de uma santi- atividades seculares, entre incré-
dade ritualística, pois um coração dulos, que devemos testemunhar
convertido não se deixa arrastar
com firmeza e generosidade para
por costumes e tradições secula-
res. Jesus foi até os impuros e en- que muitos creiam e sejam liber-
controu mais fé entre eles do que tos pela fé em Jesus, o Cristo.
entre os fariseus. Vamos vigiar
para que Satanás não nos leve a
agir contra os propósitos do Rei- RESPOSTAS DA PÁGINA 40

no, como, por um instante, acon- 1) A lei de “Corbã” (Mc 7.11-13).


teceu com Pedro. 2) As curas do surdo e gago e do cego de Betsaida.
3) Da verdade de que Jesus é o Cristo (Mc 8.29).

I
Lição 6 - Marcos 7 e 8: O Servo é o Cristo

LEITURA ADICIONAL

“A pureza moral não depende de lavar ou não lavar, de tocar ou não


tocar em coisas, de comer ou não comer certas coisas, conforme os fari-
seus e escribas ensinavam. (...) Nossa pecaminosidade original e nossa
inclinação natural para o mal raramente são consideradas como convém.
A iniquidade dos homens, frequentemente, é atribuída aos maus exem-
plos, às más companhias, a tentações peculiares ou às armadilhas do
diabo. Parece que esquecemos o fato de que cada homem traz, dentro
de si, o manancial de sua própria iniquidade. Não precisamos de qual-
quer companhia má para nos ensinar ou de qualquer demônio para nos
tentar a cair em pecado. Já temos dentro de nós a fonte de cada pecado
debaixo do céu. (...) Ao lermos essas palavras, precisamos entender cla-
ramente que nosso Senhor estava referindo-se ao coração humano em
geral. Ele não aludia somente ao devasso de má reputação ou ao preso
na cadeia. Todos nós, grandes ou pequenos, ricos ou pobres, patrões ou
empregados, idosos ou jovens, eruditos ou ignorantes – todos nós temos,
por natureza, um coração como aquele que foi descrito por Jesus. As se-
mentes de todos os males aqui mencionados jazem escondidas dentro de
nós. Podem ser reprimidas pelo temor às consequências, pelas restrições
da opinião pública, pelo medo de sermos descobertos, pelo desejo de pa-
recermos respeitáveis e, acima de tudo, pela graça onipotente de Deus.
Porém, cada indivíduo possui, dentro de si mesmo, a raiz de todo pecado.
(...) Aos olhos de Deus, 'todos nós somos como o mundo' (Is 64.6). Deus
vê, em cada um de nós, incontáveis iniquidades que o mundo jamais será
capaz de perceber, porquanto Deus lê nossos corações. (...) Certamente,
a pessoa que não se gloria no evangelho reconhece pouco da praga que
abriga em seu interior”.

Livro: Meditações no Evangelho de Marcos (RYLE, John Charles. 2. ed., São José dos
Campos, SP: Editora Fiel, 2018, pp. 124-125).

II
Estudada em ___/___/____

LIÇÃO 6 Leitura Bíblica Para Estudo


Marcos 8.11-30
MARCOS 7 e 8:
Verdade Prática
O SERVO É O Cristo é o único que pode trans-
formar o nosso ser de dentro
CRISTO para fora.

INTRODUÇÃO

I. VERDADEIRA
ESPIRITUALIDADE Mc 7.1-23
1. A acusação Mc 7.5
Texto Áureo 2. A refutação Mc 7.8
“Então, lhes perguntou: Mas
3. O ensino Mc 7.20
vós, quem dizeis que eu sou?
Respondendo, Pedro lhe disse:
II. O EVANGELHO ALCANÇOU
Tu és o Cristo.”
OS GENTIOS Mc 7.24-37
Mc 8.29
1. Território gentio Mc 7.24
2. A mulher siro-fenícia Mc 7.26
3. O surdo e gago Mc 7.32

III. JESUS É O CRISTO Mc 8.1-38


1. Alimentando gentios Mc 8.4
2. Cego de Betsaida Mc 8.24
3. Quem dizem que eu sou? Mc 8.29

APLICAÇÃO PESSOAL

Devocional Diário
S T Q Q S S
Mc Mc Mc Mc Mc Mc
7.6 7.13 7.21 7.28 8.2 8.12

Hinos da Harpa: 299 - 45

35
Lição 6 - Marcos 7 e 8: O Servo é o Cristo

INTRODUÇÃO sessão farisaica pelo tema. “Pureza”,


porém, aqui, não tem a ver com hi-
Nos capítulos 7 e 8 de Marcos, giene, mas com ritos de purificação.
a essência da verdadeira espiri- Mesmo que não implicasse sujeira,
tualidade é revelada por Jesus. o simples contato com utensílios
Ademais, ao palmilhar por terras ou pessoas “impuras” demandava
gentílicas e promover milagres sujeição a rigorosos rituais de lava-
entre gentios, o Servo demonstra gem e purificação (7.3-4).
o alcance universal da redenção. Fariseus e escribas se escanda-
Após, no ápice do evangelho de lizaram com o fato dos discípulos
Marcos, Pedro, representando os de Jesus não lavarem as mãos an-
discípulos e inspirado pelo Espí- tes de comerem (7.5). No entanto,
rito Santo, enfim professa a iden- essa conduta em nada ofendia a
tidade messiânica de Jesus. No Lei de Moisés, que, de sua parte,
capítulo 8, destaca-se a cura do apenas exigia dos sacerdotes que
cego de Betsaida, narrada exclusi- lavassem suas mãos e pés antes de
vamente por este evangelista. oferecerem sacrifício (Êx 30.18-
21). A verdade é que diversos pre-
I. VERDADEIRA ceitos humanos foram acrescenta-
ESPIRITUALIDADE dos à lei de Deus, impondo à vida
(Mc 7.1-23) espiritual do povo um fardo pesa-
díssimo de carregar (Mt 23.4).
1. A acusação (Mc 7.5)
Por que não andam os teus discí- 2. A refutação (Mc 7.8)
pulos de conformidade com a tra- Negligenciando o mandamento de
dição dos anciãos, mas comem com Deus, guardais a tradição dos homens.
as mãos por lavar? Jesus foi contundente em sua
Segundo a tradição rabínica, resposta, denominando seus con-
Moisés recebeu duas leis no Monte tendores de “hipócritas” (7.6).
Sinai: a Torá escrita e a Mishná oral. Para demonstrar a pertinência
Esta consiste em comandos verbais de sua colocação, o Servo invoca a
prescrevendo, com riqueza de deta- lei e os profetas. Cita Isaías: “Este
lhes, como a Torá deveria ser aplica- povo honra-me com os lábios, mas
da nas mais variadas circunstâncias seu coração está longe de mim” (7.6;
do cotidiano, sendo transmitidos Is 29.13). Após, Moisés: “Honra a
às gerações sucessivas. Na época teu pai e a tua mãe” (7.10; Êx 20.12).
de Jesus, para os fariseus, a adesão Resgata, assim, a primazia da lei de
à tradição oral era tão importante Deus para guiar a vida do ser huma-
quanto a obediência à própria Torá. no (Sl 119.105).
Questões de pureza ocupam Um exemplo concreto vem à
25% da Mishná, daí o motivo da ob- tona: a lei de “Corbã” (7.11-12).

36
Lição 6 - Marcos 7 e 8: O Servo é o Cristo

Segundo o costume rabínico, uma no “sistema” ou em objetos, mas,


pessoa poderia devotar alguns de sim, no coração humano. Antes
seus bens ao Senhor (Lv 27.28; Nm de atentar para nossas palavras e
18.14), embora mantendo o exclu- ações, o Senhor contempla a qua-
sivo controle sobre eles enquanto lidade do nosso coração (Gn 4.4b;
vivesse. Ou seja, somente com a sua 1Sm 16.7), pois dele procedem as
morte esses bens passariam ao uso fontes da vida (Pv 4.23).
no templo, nenhum sacrifício real
demandando do “ofertante”. II. O EVANGELHO
Essa medida não passava de ar- ALCANÇOU OS
diloso artifício para privar sobretudo GENTIOS (Mc 7.24-37)
pais, em sua velhice, de usufruir da
propriedade desses bens, com am- 1. Território gentio (Mc 7.24)
pla aceitação dos sacerdotes, dispen- Levantando-se, partiu dali para as
sando os filhos de seus deveres para terras de Tiro [e Sidom].
com pai e mãe (7.12). Tradição hu- A partir desta seção, Marcos
mana francamente violadora da lei passa a relatar o ministério de Jesus
de Deus (7.13). Como amar a Deus e na região de Tiro e Sidom (7.24),
desobedecer à sua Palavra (1Jo 5.3)? local com ampla predominância de
Jesus foi certeiro: pura hipocrisia. gentios, forte paganismo e histórica
inimizade para com os judeus. Ali,
3. O ensino (Mc 7.20) por exemplo, nasceu a rainha Jeza-
O que sai do homem, isso é o que o bel, que seduziu Israel para práticas
contamina. pagãs (1Rs 16.31-32).
O sistema de purificação dos Logo, tal visita de Jesus era não
fariseus partia do pressuposto de apenas embaraçosa, mas até escan-
que a fonte do mal é exterior – o dalosa para os seus. Porém, tudo que
que vem de fora é o que contamina Jesus faz tem um sábio propósito: as
o homem (7.15). Jesus inverte essa lições sobre pureza e impureza deve-
afirmativa. Antes, “o que sai do ho- riam continuar. Afinal, já se declarou
mem é o que o contamina” (7.20). que não há alimento impuro (7.19).
De fato, o alimento que se in- Agora, é tempo de proclamar que
gere apenas desce pelo aparelho também não há terras ou pessoas
digestivo (7.19). No coração, po- impuras. O Evangelho deve chegar
rém, residem nossas genuínas mo- em todos os lugares e alcançar a to-
tivações e propósitos (Mt 12.34), das as pessoas (Mt 28.19; At 1.8).
inclusive contaminações morais e
espirituais que afetarão a todos os 2. A mulher siro-fenícia (Mc 7.26)
que nos circundam (7.21-23). Esta mulher era grega, de origem
Assim, o mal não vem de fora, siro-fenícia, e rogava-lhe que expe-
mas de dentro. Sua fonte não está lisse de sua filha o demônio.

37
Lição 6 - Marcos 7 e 8: O Servo é o Cristo

Como é de seu costume, Jesus alcance abrangente de Sua missão


aplicará a lógica de seu ensino ante- redentiva.
rior (7.1-23) em experiências con- Jesus continua aplicando aos “im-
cretas. Para tanto, a personagem que puros” a obra que iniciou entre os ju-
surge é perfeita: mulher, grega, de deus. Chega a Decápolis, ainda terra
origem siro-fenícia, habitante de ter- gentílica. Aproxima-se outro gentio,
ra infame e com uma filha endemo- mas, agora, com dificuldades singula-
ninhada (7.26). Para um judeu mé- res: nunca ouviu acerca de Jesus tam-
dio da época, o cúmulo da impureza. pouco dialogou a respeito. Deficiên-
Mas a frustrante incredulidade do cia na audição e na fala. Porém, esse
povo escolhido contrasta com a sur- rigoroso bloqueio não impediu que
preendente sabedoria dessa mulher: alguns por ele intercedessem, levan-
diante de uma necessidade desespe- do-o perante o Servo (7.31-32).
radora, prostra-se aos pés de Jesus e O Senhor o colocou à parte e o
roga-lhe que liberte sua filha (7.25- tratou com dignidade, com ele inte-
26). Segue-se, então, um diálogo ragindo diretamente. Demonstrando
profundamente espiritual: com uma intensa compaixão (“suspirou”), após
resposta aparentemente dura, o Ser- tocar em seus ouvidos e língua, disse:
vo testa a qualidade de sua fé (7.27). “Abre-te!” (7.33-34). Instantanea-
A mulher não decepciona: em mente, tanto os ouvidos quanto a lín-
reação, revela não apenas fé persis- gua ficaram desembaraçados (7.35).
tente, como também compreensão Nosso Mestre concretiza a vi-
correta do plano divino, reconhe- são de Isaías da era messiânica da
cendo a preferência dos judeus nas salvação: surdos ouvindo e mudos
bênçãos de Deus (Rm 1.16), mas cantando (Is 35.5-6). A lição prin-
não sua exclusividade (7.28). Mes- cipal está cada vez mais evidente:
mo sendo gentia, tem plena con- Jesus é o Cristo (8.29) e Seu Reino
vicção que o amor de Jesus é tão de amor não tem limites étnicos
abundante que pode saciar a todos ou geográficos (Sl 96.3; Mc 13.10).
os povos da terra (Gn 12.3b).
III. JESUS É O CRISTO
3. O surdo e gago (Mc 7.32) (Mc 8.1-38)
Então, lhe trouxeram um surdo e
gago e lhe suplicaram que impu- 1. Alimentando gentios (Mc 8.4)
sesse as mãos sobre ele. Donde poderá alguém fartá-los de
Com esse milagre, só encontra- pão neste deserto?
do no evangelho de Marcos, Jesus A segunda multiplicação de
oferece alimento salvífico a gen- pães e peixes guarda, pelo menos,
tios com o mesmo amor e compai- duas importantes singularidades
xão que o ofertou aos judeus (Mar- em comparação com a primeira (Mc
cos 6). O Servo está reforçando o 6.35-44): a) o papel mais ativo de

38
Lição 6 - Marcos 7 e 8: O Servo é o Cristo

Jesus: é o próprio Senhor quem per- sus o leva para fora da aldeia, apli-
cebe o problema (8.1-3) e, do início ca-lhe saliva aos olhos e impõe suas
ao fim, protagoniza a dinâmica dos mãos (8.22-23). O homem sinaliza
acontecimentos; b) os destinatá- que sua visão fora restaurada em
rios do milagre: na alimentação dos parte, pois enxergava imagens ain-
quatro mil (Marcos 8), Jesus ofere- da borradas (8.24). Após novo to-
ce alimento salvífico a gentios com que de Jesus em seus olhos, fez-se
o mesmo amor e compaixão que o perfeita restauração da visão (v. 25).
ofertou aos judeus (Marcos 6). O A cura em duas etapas não se
Servo está reforçando o alcance uni- deve a limitações do poder de Jesus
versal de sua missão redentiva. (Mc 6.56 e 10.51-52). Pelo contrário,
Entretanto, à diferença dos essa curiosa dinâmica de restau-
gentios, o povo judeu continua ração gradual foi deliberadamente
resistindo ao ministério do Servo, escolhida pelo Servo para servir de
pedindo “um sinal do céu” (8.11). símbolo da própria obra que estava
Tamanha incredulidade continua realizando no povo judeu, especial-
a incomodar profundamente a Je- mente nos discípulos, cujo processo
sus, que rejeita qualquer exposi- de discernimento espiritual também
ção gratuita de poderes (8.12-13; acontecia lenta e progressivamente,
Mt 7.6). Afinal, pelo contrário, é com importantes avanços e incômo-
preciso crer para ver (Jo 20.29). dos recuos (8.14-21 e 27-33).
Infelizmente, até os discípulos
continuam com corações endure- 3. Quem dizem que eu sou?
cidos, fato evidenciado em outro (Mc 8.29)
evento de falta de alimento. Desta Respondendo, Pedro lhe disse: Tu és
feita, porém, Jesus repreende a con- o Cristo.
tínua falta de discernimento espi- O evangelho de Marcos chega ao
ritual de seus companheiros mais seu ponto alto. Em meio a todo esse
próximos, que permanecem presos contexto de avanço do Evangelho
a uma visão por demais superficial junto aos gentios e embaraço junto
e materialista de suas falas (8.14- aos judeus, Jesus prepara o cenário
21), como ocorrera, inicialmente, para, enfim, descortinar com maior
com Nicodemos (Jo 3.1-10). riqueza de detalhes a natureza e o
propósito de sua missão, bem como
2. Cego de Betsaida (Mc 8.24) o nosso papel em Seu Reino.
Vejo homens, porque como árvores A culminância desse amoroso
os vejo, andando. processo acontece exatamente quan-
Deparamo-nos, agora, com ou- do Jesus, no caminho de Cesareia de
tro episódio bíblico exclusivo de Filipe, debate com seus discípulos
Marcos: a cura gradual do cego de sobre o que os homens diziam a seu
Betsaida. Tomando-o pela mão, Je- respeito. Em meio a muitas respos-

39
Lição 6 - Marcos 7 e 8: O Servo é o Cristo

tas, todas equivocadas, o Mestre, en- vontade de Deus (Rm 12.2).


fim, pergunta: “Mas vós, quem dizeis Sobre a sólida verdade de ser
que eu sou?”. Pedro, então, responde: o Cristo (8.29), Jesus passa a des-
“Tu és o Cristo” (8.27-29). A identida- cortinar detalhes de seu sofrimen-
de messiânica de Jesus estava plena- to, morte e ressurreição (8.31).
mente revelada e crida! O vacilo de Pedro, deixando-se
O verdadeiro cristão não teme ser usado por Satanás para ten-
destoar da convicção das massas e tar convencer Jesus a não morrer
posicionar-se ao lado da verdade, por nossos pecados (8.32-33), dá
com amor e sabedoria (1Tm 1.7). ensejo a mais uma lição: a bata-
Afinal, não devemos nos confor- lha espiritual contra o diabo será
mar com este mundo, mas, sim, dura, mas devemos ser firmes em
sujeitarmo-nos à transformação resistir-lhe (Ef 6.10-18). Para tan-
pela renovação das nossas men- to, cumpre-nos viver uma vida de
tes, pois só assim experimenta- total abnegação e entrega a Jesus
remos a boa, agradável e perfeita (8.34-38; Tg 4.7).

APLICAÇÃO PESSOAL
Jesus é o Filho de Deus. Por Sua graça, pode alcançar a todos, agindo
onde reside o verdadeiro problema humano: no coração.

RESPONDA
1) Para provar a hipocrisia de seus contendores, que lei decorrente de costume rabínico
Jesus denunciou?

2) Nesta lição, temos duas curas que Jesus operou cujos registros só existem no evangelho
de Marcos. Quais são?

3) Segundo a lição, a partir de que sólida verdade espiritual Jesus passou a descortinar
detalhes de seu sofrimento, morte e ressurreição?

40
LIÇÃO 7
MARCOS 9:
A TRANSFIGURAÇÃO DO SERVO
SUPLEMENTO EXCLUSIVO DO PROFESSOR
Afora o suplemento do professor, todo o conteúdo de cada lição
é igual para alunos e mestres, inclusive o número da página.

ORIENTAÇÃO OBJETIVOS
PEDAGÓGICA • Perseverar no caminho da vida
Em Marcos 9 há 50 versos. Sugeri- cristã até que estejamos com Je-
mos começar a aula lendo, com to- sus.
dos os presentes, Marcos 9.2-29 (5 • Testemunhar uma fé genuína e
a 7 min.). incondicional em Jesus.
A revista funciona como guia de es- • Servir a todos os necessitados
tudo e leitura complementar, mas com alegria.
não substitui a leitura da Bíblia.
A Paz do Senhor, professor(a)! PARA COMEÇAR A AULA
Nesta lição, vamos acompanhar os
momentos de preparação de Jesus Professor(a), nesta lição, te-
para a cruz. Veremos como o Pai mos a oportunidade de aprender
conforta seu Filho de forma mara- que a vida cristã exige humildade
vilhosa, prenunciando a glória que e atitude. Para vencer batalhas
viria após as dores. Como imitado- espirituais precisamos cultivar
res do Cristo, precisamos atraves- uma rotina de oração, mas o je-
sar vales se quisermos chegar ao jum também nos ensina a procu-
monte; ser os últimos em tudo, se rar mais a glória do céu do que os
quisermos ser os primeiros. Nin- prazeres terrenos. É por essa dis-
guém atravessa a vida cristã sem ciplina que o espírito se fortalece
obstáculos, mas ninguém vence os e resplandece na atitude prática
obstáculos sozinho. Precisamos de servir com disponibilidade e fé
de Jesus, pois ele é o nosso socor- genuína. Ensine aos seus irmãos
ro, aquele a quem devemos bus- que apenas os que renunciarem a
car em incessante oração. Na vida si mesmos verão Jesus na plenitu-
diária, cultivemos uma fé prática de de sua glória.
que se mostre na nossa disponibi-
lidade de servir como os menores
empregados do Reino. RESPOSTAS DA PÁGINA 46
1) Elias e Moisés (Mc 9.4).
2) A do sofrimento e morte do Servo (Sl 22; Is 53).
3) Aquele que é servo de todos (Mc 9.35).

I
Lição 7 - Marcos 9: A Transfiguração do Servo

LEITURA ADICIONAL

“Quem poderia imaginar que alguns poucos pescadores e publicanos


seriam dominados pela competição e pelo desejo de supremacia? Quem
esperaria que homens pobres, que haviam desistido de tudo por amor a
Cristo, seriam perturbados por contenda e dissensão quanto ao lugar e à
precedência que cada um merecia? Não obstante, foi isso que aconteceu.
(...) É um fato horrível, mas, admitamos ou não, o orgulho é um dos mais
comuns pecados que assediam a natureza humana. Todos nós nascemos
fariseus. Naturalmente, todos nós imaginamos que merecemos algo me-
lhor do que aquilo que possuímos. Esse é um pecado muito antigo. Co-
meçou no Jardim do Éden, quando Adão e Eva pensaram que não tinham
tudo o que seus méritos mereciam. Esse é um pecado sutil. Governa e di-
rige muitos corações sem ser detectado e pode até mesmo revestir-se de
humildade. (...) as máximas do mundo são diretamente contrárias à men-
talidade de Cristo. Dominar é a ideia que o mundo faz da grandeza; mas a
grandeza do crente consiste em servir. A ambição do mundo consiste em
receber honrarias e atenções; porém, o desejo do crente deve ser o de dar
e não o de receber; o de servir ao próximo e não o de procurar ser servi-
do. Em suma, o homem que mais serve aos outros e é útil, em sua época
e geração, é justamente o maior aos olhos de Cristo. Esforcemo-nos para
fazer uso prático desse princípio. (...) Haverá algum serviço que possamos
prestar aos nossos irmãos na fé? Haverá algum ato de gentileza que pos-
samos fazer para ajudá-los e promover a felicidade deles? Se a resposta é
sim, façamos isso sem demora. (...) Os homens que estão dispostos a ser
os últimos e servos de todos, por amor a Cristo, são sempre bem poucos.
Não obstante, esses são os homens que fazem o bem, que derrubam por
terra os preconceitos, que convencem os incrédulos de que o cristianismo
é uma realidade e que sacodem o mundo. (...) A carne e o sangue não são
capazes de perceber outra forma de grandeza senão o poder, a riqueza e
as elevadas posições sociais no mundo. O Filho de Deus declarou que a
verdadeira grandeza consiste em nos devotarmos a cuidar dos mais fra-
cos e humildes de seu rebanho”.

Livro: Meditações no Evangelho de Marcos (RYLE, John Charles. 2. ed., São José
dos Campos, SP: Editora Fiel, 2018, pp. 163-164).

II
Estudada em ___/___/____

LIÇÃO 7 Leitura Bíblica Para Estudo


Marcos 9.2-29
MARCOS 9: Verdade Prática
A O discípulo de Cristo deve
cultivar uma vida de serviço
TRANSFIGURAÇÃO humilde e abnegado e não de
busca de elogio humano.
DO SERVO
INTRODUÇÃO

I. O SERVO É
TRANSFIGURADO  Mc 9.1-8
1. Brilho incomparável Mc 9.2
Texto Áureo
“As suas vestes tornaram-se res- 2. Presenças ilustres Mc 9.4
plandecentes e sobremodo bran- 3. Entendimento limitado Mc 9.5
cas, como nenhum lavandeiro na
terra as poderia alvejar.” II. O PODER DA FÉ GENUÍNA
Mc 9.3 Mc 9.9-32
1. Correção teológica Mc 9.11
2. Reação demoníaca Mc 9.17
3. Disciplina espiritual Mc 9.24

III. O SERVIÇO LEVA À HONRA


Mc 9.33-50
1. Vaidade e ambição Mc 9.33
2. Humildade e tolerância Mc 9.35
3. Renúncia e santidade Mc 9.43

APLICAÇÃO PESSOAL

Devocional Diário
S T Q Q S S
Mc Mc Mc Mc Mc Mc
9.7 9.23 9.29 9.31 9.39 9.40

Hinos da Harpa: 20 - 192

41
Lição 7 - Marcos 9: A Transfiguração do Servo

INTRODUÇÃO retratou o oposto: exterior refle-


tindo o interior (Jo 8.12).
Chegamos à segunda metade Séculos antes, Deus revelou sua
do Evangelho de Marcos. A partir glória a Moisés no Monte Sinai, a
de agora, o Servo de Deus marcha- ponto de seu rosto resplendecer
rá firmemente em direção à cruz. (Êx 34.29). Os “seis dias” represen-
Neste capítulo 9, Jesus manifesta tam outro paralelo de Marcos com
um vislumbre da beleza da sua esse evento central da história de
glória, ensina sobre o poder da fé Israel (Êx 24.16). Diferentemente,
genuína e corrige o rumo de cora- porém, Moisés refletiu a glória de
ções egoístas. Para tanto, em cada Deus, ao passo que Jesus refletiu
evento, preciosos segredos de seu sua própria glória (Jo 1.14).
Reino são revelados.
2. Presenças ilustres (Mc 9.4)
I. O SERVO É Apareceu-lhes Elias com Moisés, e
TRANSFIGURADO estavam falando com Jesus.
(Mc 9.1-8) Personagens de destaque esta-
vam presentes na transfiguração
1. Brilho incomparável (Mc 9.2) de Jesus, tudo a proclamar profun-
Seis dias depois, tomou Jesus consi- das verdades espirituais. De fato,
go a Pedro, Tiago e João e levou-os Moisés e Elias ali compareceram e
sós, à parte, a um alto monte. Foi dialogavam com o reluzente Servo
transfigurado diante deles. (v. 4). O tema da conversa é reve-
Seis dias depois da confissão lado exclusivamente por Lucas: a
de Pedro e da revelação da na- “partida” de Jesus para Jerusalém
tureza sacrificial do discipulado (do grego exodos, “saída” – Lc 9.30-
(Mc 8.29-38), Tiago, João e Pedro 31). Ou seja, a morte, ressurreição
estavam com o Servo em um “alto e ascensão de Jesus representaria a
monte” (v. 2). Na ocasião, Jesus foi grande libertação da humanidade
transfigurado diante deles, a pon- no Novo Testamento, assim como o
to de suas vestes refletirem um êxodo do Egito representou a liber-
brilho incomparável (v. 3). Mateus tação no Antigo Testamento.
refere que o rosto de Jesus res- Ademais, Moisés representava
plandecia como o sol (Mt 17.2). a lei, enquanto Elias retratava os
Não fazia muito, Jesus chama- profetas – dois elementos centrais
ra seus opositores de “hipócri- na história do povo judeu (Ml 4.4-
tas” (Mc 7.6) – termo que remete 5) que se cumpriram em Jesus (Mt
ao cenário teatral, onde o uso de 5.17). Igualmente, Moisés morreu
máscaras expressa simples mu- e foi sepultado (Dt 34.5-6), mas
dança exterior, sem equivalência Elias foi arrebatado (2Rs 2.11).
interior. A transfiguração, porém, Assim, suas presenças também

42
A Palestina
na época
de Jesus

Adaptado de jw.org
Cronologia e local dos principais
acontecimentos da vida de Jesus em Marcos
Data Lugar Acontecimento Ref.
29 d.C,
abril Deserto, Rio Jordão João Batista inicia seu ministério 1.1-8

29 d.C, Rio Jordão, próx. Betânia Jesus é batizado 1.9-11


outubro Deserto da Judeia Jesus é tentado pelo diabo 1.12,13
30 d.C.,
Páscoa Tiberíades João Batista é preso [Jesus viaja para a Galileia] 6.17-20

Galileia Jesus anuncia o Evangelho pela 1ª vez 1.14,15


Mar da Galileia Jesus chama 4 discípulos: Simão, André, Tiago e João 1.16-20
Cafarnaum Cura a sogra de Pedro e outros 1.21-34
30 d.C
1ª viagem com os 4 discípulos; cura leproso; multi-
Galileia 1.35-45
dões o seguem
Cura paralítico; chama Mateus; come com cobra-
Cafarnaum 2.1-22
dores de impostos; pergunta sobre jejum
Retorno de Jerusalém (?) Jesus: “Senhor do sábado” 2.23-28
Galileia Cura no sábado; multidões o seguem; cura muitos 3.1-12
31 d.C,
Páscoa Mte. próx. Cafarnaum Escolhe os 12 apóstolos 3.13-19
Expulsa demônios; pecado imperdoável; Sua mãe e
Galileia 3.19-35
irmãos chegam; diz que discípulos são seus parentes
Região de Cafarnaum Ilustrações sobre o Reino 4.1-34
Mar da Galileia Acalma tempestade 4.35-41
Região de Gadara Manda demônios para os porcos 5.1-20
31 ou
32 d.C. Cafarnaum (?) Cura mulher do fluxo de sangue; ressuscita a filha de Jairo 5.21-43
Nazaré Novamente rejeitado em sua cidade 6.1-5
Galileia 3ª viagem à Galileia; envia apóstolos 6.6-13
Tiberíades Herodes mata João Batista e fica perplexo com Jesus 6.14-29
Cafarnaum (?); lado NE Apóstolos voltam da pregação; Jesus alimenta 5
6.30-44
do mar da Galileia mil homens
Lado NE do mar da Povo quer fazer de Jesus rei; anda sobre o mar;
6.45-56
Galileia; Genesaré cura muitas pessoas
Cafarnaum Tradições invalidam a Palavra de Deus 7.1-23
Fenícia; Decápolis Cura filha de mulher siro-fenícia; alimenta 4 mil homens 7.24-8.9

32 d.C., Magadã Jesus não dá sinais, exceto o de Jonas 8.10-12


perto da Em viagem para Betsaida, Jesus alerta contra o
Páscoa Mar da Galileia; Betsaida 8.13-26
fermento dos fariseus; cura cego
Cesareia de Filipe Chaves do Reino; profetiza sua morte e ressurreição 8.27-9.1
Talvez Mte. Hermom Transfiguração; Deus fala 9.2-13
Cesareia de Filipe Cura menino endemoninhado 9.14-29
Galileia Profetiza novamente sua morte 9.30-32
O maior no Reino; ilustrações da ovelha perdida e
Cafarnaum 9.33-50
do escravo que não perdoou
Acompanhe juntamente com o
mapa da página anterior.

Data Lugar Acontecimento Ref.


Ensina sobre casamento e divórcio; abençoa
32 d.C., Pereia crianças; pergunta do jovem rico; ilustração dos 10.1-31
após a trabalhadores no vinhedo e mesmo salário
Festivi-
dade da Profetiza sua morte pela 3ª vez; pedido de posição
Pereia (?) 10.32-45
Dedica- no Reino para Tiago e João
ção No caminho, cura dois cegos; visita Zaqueu; ilus-
Jericó 10.46-52
tração das dez minas
33 d.C. Betânia Maria derrama óleo na cabeça e nos pés de Jesus 14.3-9
9 de Betânia – Betfagé –
nisã Entra em Jerusalém montado num jumento 11.1-11
Jerusalém
10 de Betânia – Jerusalém Amaldiçoa figueira; purifica o templo novamente 11.12-17
nisã Jerusalém Principais sacerdotes e escribas tramam matar Jesus 11.18, 19
Betânia–Jerusalém Lição sobre figueira que secou 11.20-25
11 de Sua autoridade é questionada; ilustração dos dois filhos 11.27-33
nisã Templo em Jerusalém Ilustrações: lavradores assassinos, banquete de
12.1-12
casamento
Responde a perguntas sobre Deus e César, res-
surreição, maior mandamento; Pergunta se Cristo
11 de Templo em Jerusalém 12.13-44
é filho de Davi; Ai dos escribas e fariseus; Vê a
nissã contribuição da viúva
Monte das Oliveiras Fala sobre o sinal de sua presença 13.1-37
12 de 14.1-2;
nisã Jerusalém Judeus tramam matá-lo; Judas combina a traição
10-11
13 de
nisã Jerusalém e
(tarde de proximidades Prepara a última Páscoa 14.12-16
quinta)
Jesus Celebra a Páscoa; identifica Judas como
Jerusalém 14.17-25
14 de traidor; institui a Ceia do Senhor
nisã Monte das Oliveiras, Profetiza que Pedro o negaria e que os apóstolos o
14.26-52
Getsêmani abandonariam; angustiado no jardim; traído e preso
Interrogado por Anás; julgado no Sinédrio; Pedro
14.53-72
o nega
14 de
nisã Jerusalém Perante Pilatos, depois perante Herodes e de
novo perante Pilatos; judeus preferem Barrabás; 15.1-19
sentenciado à morte numa cruz
Sexta, Gólgota Morre na cruz 15.20-41
15h Jerusalém Seu corpo é tirado da cruz e sepultado 15.42-47
16 de Jerusalém e proximida- Jesus ressuscita; aparece a Maria Madalena e a
nisã 16.1-13
des; Emaús dois discípulos
Após 16
de nisã Jerusalém; Galileia Comissão de fazer discípulos; ascende aos céus 16.14-20
Assuntos exclusivos de Marcos
Nº Referência Descrição

01 Mc 4.26-29 Parábola da semente que germina


02 Mc 7.31-37 Cura do surdo e gago
03 Mc 8.22-26 Cura gradual do cego de Betsaida
04 Mc 14.51-52 Fuga do jovem desnudo durante a prisão de Jesus

Profecias sobre a morte de Cristo


cumpridas em Marcos
Nº Profecias Cumprimento

01 Sl 35.11 Mc 14.56 - Falsas testemunhas


02 Sl 41.9 Mc 14.10 (Jo 13.18-19) - A traição de Judas
03 Is 53.1-3 Mc 15.29-32 - Desprezado e rejeitado pelos homens
04 Is 53.4-6 Mc 15.25 (1Pe 2.24) - Crucificado por nossos pecados
05 Is 53.12 Mc 15.27-28 - Foi morto entre os transgressores
06 Zc 13.7 Mc 14.27,50 - Seus discípulos o abandonaram
Adaptado de: A Bíblia Anotada: edição expandida (Charles C. Ryrie. São Paulo, Mundo Cristão, 2007).

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Lição 7 - Marcos 9: A Transfiguração do Servo

apontam para o fato de que Je- a etapa mais difícil de sua missão:
sus, quando voltar, ressuscitará sofrer e morrer em resgate por
os corpos dos que já morreram no muitos (Mc 10.45). De toda forma,
Senhor e arrebatará os santos que a trilha rumo à cruz não impediu
estiverem vivos (1Ts 4.13-18). a manifestação da glória de Deus.
Em verdade, eis aí o segredo reve-
3. Entendimento limitado (Mc 9.5) lado: é o caminho do sofrimento
Então, Pedro, tomando a palavra, que conduz à glória (Fp 2.5-11).
disse: Mestre, bom é estarmos aqui
e que façamos três tendas: uma II. O PODER DA FÉ
será tua, outra, para Moisés, e ou- GENUÍNA (Mc 9.9-32)
tra, para Elias.
Pedro, Tiago e João estavam no 1. Correção teológica (Mc 9.11)
monte da transfiguração testemu- E interrogaram-no, dizendo: Por
nhando a glória de Deus. Todavia, que dizem os escribas ser necessá-
não alcançaram as alturas espiri- rio que Elias venha primeiro?
tuais do evento. Pedro, impulsiva- Devido às suas pressuposições
mente, fala a primeira coisa que culturais, os discípulos enfrenta-
lhe vem à mente, propondo a cons- ram dificuldades para entender
trução de três tendas, igualando o que havia acontecido no monte
a Jesus com Moisés e Elias (v. 5) da transfiguração, haja vista pre-
– embora somente Jesus tenha se sumirem que os justos ressuscita-
transfigurado (v. 2). Com isso, de- riam simultaneamente (Dn 12.2)
monstrou pouco discernimento e o próprio Elias viria no fim dos
quanto ao verdadeiro significado tempos para preparar a vinda do
daquele santo colóquio. Senhor (Ml 3.1 e 4.5).
O Pai, que também estava pre- Agora, é o Filho quem promove
sente, imediatamente corrigiu a oportunas correções teológicas.
teologia dos discípulos, dizendo- Para tanto, esclarece que Elias já
-lhes: “Este é o meu Filho amado; veio (v. 13), sendo que seu papel
a ele ouvi” (v. 7). De repente, to- fora cumprido em João Batista
dos desapareceram, restando com (Mt 17.11-13; Mc 1.2-7; Lc 1.17).
eles somente a Jesus (v. 8). A espi- Mas se Elias deveria voltar nos úl-
ritualidade sadia é cristocêntrica timos dias, porque era necessário
(Cl 1.18). Sendo Filho de Deus, que o Filho do Homem morresse?
Cristo é maior que Moisés e Elias Afinal, pressupunham que o Mes-
(Lc 24.25-27; Hb 1.1-3). sias viria como rei conquistador
Essas mesmas e amorosas pa- e vitorioso (Jo 6.14-15). O fato é
lavras do Pai também serviram que essa concepção negligenciava
para revigorar o coração do Filho a a incontornável doutrina do sofri-
fim de que cumprisse cabalmente mento e morte do Servo (Sl 22; Is

43
Lição 7 - Marcos 9: A Transfiguração do Servo

53). Tal fé era equivocada. Logo, 3. Disciplina espiritual (Mc 9.24)


ineficaz em poder. E imediatamente o pai do menino
exclamou [com lágrimas]: Eu creio!
2. Reação demoníaca (Mc 9.17) Ajuda-me na minha falta de fé!
E um, dentre a multidão, respon- Marcos continua a narrar sobre
deu: Mestre, trouxe-te o meu filho, fé. Por que os discípulos tiveram
possesso de um espírito mudo. insucesso na expulsão daquele
A vigorosa dinamicidade da demônio? Porque negligenciaram
narrativa de Marcos segue nos algum aspecto da vida com Deus.
surpreendendo: no mesmo dia, os Afinal, conforme o ensino de Je-
discípulos vão da glória do “alto sus, fé madura envolve persistente
monte” para a mais imunda ação disciplina espiritual, em especial a
satânica. Partem de uma grandio- prática da oração e do jejum (v. 29).
sa experiência espiritual para um No âmago de todo pecado há
surpreendente relato de fracasso uma recusa em crer nas verdades
ministerial. A vida cristã é mesmo de Deus, trocando-as por mentiras
uma “terra de montes e de vales” (Rm 1.25). A humildade desse pai
(Dt 11.11). deve nos inspirar a nunca nos es-
Desta feita, um demônio que tribar em nossas próprias forças,
tentava matar um jovem desde mas sempre confiar inteiramente
sua infância (v. 21) o havia trans- no Senhor Jesus (Jr 17.5-7). O fra-
formado em surdo e mudo (v. 25). casso em nossa caminhada cris-
Embora tivessem tentado, os dis- tã aponta para a necessidade de
cípulos de Jesus haviam falhado buscarmos mais a Deus através da
na tentativa de expeli-lo (v. 18). oração e do jejum (Dn 9.3; Jl 2.12).
Debate lançado: o fracasso dos se- Descortinado mais um segredo: fé
guidores colocava em dúvida o mi- genuína e disciplina espiritual ge-
nistério do Mestre (v. 14; Mc 6.7). ram grande poder na batalha con-
Física e emocionalmente esgo- tra o mal (Ef 6.10-18).
tado, o pai do rapaz, desesperado Incrivelmente, porém, àquela
e banhado em lágrimas, não he- altura, mesmo os discípulos ainda
sitou em confessar ao Servo sua nutriam dúvidas a respeito de ele-
humildade espiritual: “Ajuda-me mentos básicos dessa fé poderosa
na minha falta de fé!” (v. 24). Jesus (v. 30-32).
não despreza o clamor de quem
lhe deposita toda a confiança: ex- III. O SERVIÇO LEVA À
pulsou o demônio e restaurou o HONRA (Mc 9.33-50)
menino a seu pai (v. 25-27). Em-
bora pequena, tal fé era genuína e, 1. Vaidade e ambição (Mc 9.33)
por conseguinte, eficaz em poder Tendo eles partido para Cafar-
(Mc 4.30-32). naum, estando ele em casa, inter-

44
Lição 7 - Marcos 9: A Transfiguração do Servo

rogou os discípulos: De que é que Em seguida, tomou uma criança


discorríeis pelo caminho? em seus braços e disse: “Qualquer
Jesus promove uma conver- que receber uma criança, tal como
sa a sós com seus discípulos (v. esta, em meu nome, a mim me recebe;
33). Pergunta sobre o que haviam e qualquer um que a mim me receber,
discorrido pelo caminho a Cafar- não recebe a mim, mas ao que me
naum, recebendo como resposta enviou” (v. 37). Ora, naquela época,
um silêncio constrangedor. Saben- crianças não eram vistas como ino-
do que Jesus era um exímio leitor centes e puras, mas, sim, como fracas
de corações (Mc 2.6-8), logo per- e inferiores. Acolher os mais frágeis
ceberam que o Servo sabia que e esquecidos da sociedade é o cami-
andaram discutindo entre si sobre nho para o reconhecimento divino
quem era o maior (v. 34). (Mt 25.34-40; Tg 1.27).
Não fazia muito que Jesus expu- João ainda tentou defender os
sera a necessidade de seu sofrimen- discípulos, apontando para seu
to e morte em favor de pecadores (v. zelo (v. 38), porém, sem êxito (v.
31; Mc 8.31). Todavia, os corações 39). Jesus aproveita para liberar
dos discípulos engajaram-se em tri- mais um esplêndido segredo espi-
lha oposta, mergulhados em um es- ritual: “... quem não é contra nós, é
pantoso jogo de vaidade e ambição. por nós” (v. 40). De fato, o Reino de
Procuremos ser servos humildes e Deus é maior que nossa experiên-
deixemos as grandezas nas mãos de cia dele. Por isso, sejamos toleran-
Deus (Ap 4.9-11). tes e também honremos aqueles
que servem a Cristo fora do nosso
2. Humildade e tolerância grupo ou de modo diferente daque-
(Mc 9.35) le com o qual estamos acostuma-
E ele, assentando-se, chamou os dos. Se Cristo estiver sendo prega-
doze e lhes disse: Se alguém quer do, então, alegremo-nos (Fp 1.18)!
ser o primeiro, será o último e ser- Como ja foi dito: "nas questões
vo de todos. essenciais, a unidade; nas periféri-
Para corrigir esses corações cas, liberdade; em todas as coisas,
egoístas, Jesus ensinou que aquele o amor."
que se esforça em servir aos outros
é o maior aos olhos de Deus (v. 35). 3. Renúncia e santidade (Mc 9.43)
Para o mundo, grande é aquele E, se tua mão te faz tropeçar, corta-
que é servido e exerce poder sobre -a; pois é melhor entrares maneta
outros. Porém, no Reino de Deus, na vida do que, tendo as duas mãos,
grande é aquele que serve e consi- ires para o inferno, para o fogo
dera os outros superiores a si mes- inextinguível.
mo (Fp 2.3). O verdadeiro líder tem Jesus, por fim, ensina que o Rei-
coração de servo (Lc 22.26-27). no de Deus exige renúncia com-

45
Lição 7 - Marcos 9: A Transfiguração do Servo

pleta de tudo aquilo que nos afasta do é difícil e demanda uma vida
da santidade e determinação radi- de sacrifícios (Mc 8.34-38). Há
cal para fazer morrer a nossa na- uma guerra em curso (Ef 6.10-12).
tureza terrena (Cl 3.5), ainda que Portanto, cicatrizes são inevitáveis
o custo dessa renúncia seja altís- para o cristão verdadeiro (Gl 6.17).
simo – em linguagem metafórica Ceder à tentação e viver em pecado
e com propósitos pedagógicos, o nos conduzirá a algo bem pior: o
Mestre valeu-se de três figuras ex- inferno, “onde não lhes morre o ver-
pressivas do corpo humano: mãos, me, nem o fogo se apaga” (v. 47-48).
pés e olhos (v. 43-47). A promessa é esta: humilhemo-nos
Verdadeiramente, o ato de se- sob a poderosa mão de Deus e, em
guir a Jesus não pode ser motivado tempo oportuno, ele nos exaltará
pelo simples desejo de conquistar (1Pe 5.6). Serviço abnegado con-
realizações pessoais. O discipula- duz à honra (v. 41).

APLICAÇÃO PESSOAL
Uma vida de amor incondicional a Cristo e rejeição firme ao pecado
nos levará a atender às necessidades dos outros sem esperar por re-
compensas terrenas. O coração do cristão verdadeiro não anela satis-
fação própria, mas a glória de Deus.

RESPONDA
1) Que personagens do Antigo Testamento aparecem conversando com Jesus no monte da
transfiguração?

2) Segundo a lição, a convicção de que o Messias viria como rei conquistador e vitorioso
negligenciava que importante doutrina das Escrituras?

3) No Reino de Deus, quem é considerado como grande?

46
LIÇÃO 8
MARCOS 10: O SERVO VEIO PARA
SERVIR A TODOS
SUPLEMENTO EXCLUSIVO DO PROFESSOR
Afora o suplemento do professor, todo o conteúdo de cada lição
é igual para alunos e mestres, inclusive o número da página.

ORIENTAÇÃO OBJETIVOS
PEDAGÓGICA
• Defender o matrimônio indis-
Em Marcos 10 há 52 versos. Sugeri- solúvel e monogâmico.
mos começar a aula lendo, com to- • Praticar a humildade em todos
dos os presentes, Marcos 10.23-45 os nossos relacionamentos.
(5 a 7 min.). • Renunciar às coisas ou projetos
A revista funciona como guia de es- que nos afastem de Jesus.
tudo e leitura complementar, mas
não substitui a leitura da Bíblia. PARA COMEÇAR A AULA
Olá, professor(a)! Nas próxi-
mas páginas, Jesus nos orienta- Professor, aplique os ensina-
rá sobre situações complexas da mentos de Jesus aos tempos de
vida humana, ajudando-nos a vi- hoje, mas com o cuidado para
ver segundo os princípios da Sua não se afastar do contexto bíbli-
mensagem. O Messias falou sobre
co. Não estaríamos fascinados
casamento e sobre os homens de
coração duro; sobre a necessidade pelas posições que ocupamos na
de sermos crianças em relação ao congregação, como os discípulos
Reino e a de resistirmos à cobiça. estavam (Mc 10. 35-37)? E se o
Discípulos fiéis vivem voltados ex- cantor precisasse deixar o micro-
clusivamente para o Mestre, pois fone para assumir a portaria? E se
ele é o caminho da salvação. Por a líder dos casais tivesse que dei-
falar em caminho, o jovem rico
xar o cargo para assumir a limpe-
não seguiu aquele que o Senhor
lhe apresentou, mas o próprio Je- za do templo? A lógica do Reino
sus seguiu, humildemente, para a é oposta a este mundo: quanto
cruz. Nos nossos dias, pregações mais servirmos com desprendi-
triunfalistas ensinam que rique- mento, mais honra receberemos.
zas são sinal de bênção, mas é
preciso cuidar para que o dinheiro RESPOSTAS DA PÁGINA 52
não nos escravize. 1) As escolas de Shammai (mais rigorosa) e Hillel.
2) Consciência do pecado e da necessidade de Cristo.
3) Tiago e João (Mc 10.35-37).

I
Lição 8 - Marcos 10: O Servo Veio Para Servir a Todos

LEITURA ADICIONAL

“Qual a sua atitude em relação a dinheiro? Não é coincidência o fato


de que, para cada vez que Jesus alerta sobre construirmos nossa vida com
base em sexo e romance, ele alerta dez vezes sobre o perigo de fazermos
o mesmo em relação ao dinheiro. O dinheiro sempre tem sido visto como
um dos salvadores mais comuns. A possibilidade de frequentar restau-
rantes badalados, de comprar coisas novas e interessantes, de transitar
em círculos profissionais ou de amizade – todas essas coisas provavel-
mente são mais importantes para você do que percebe. Mas como saber
que o dinheiro para você é mais do que apenas dinheiro? Seguem algumas
dicas. Você é incapaz de abrir mão de quantias significativas de dinheiro.
Sente-se atemorizado diante da perspectiva de ter menos dinheiro do
que está acostumado. Repara em pessoas que estão sendo mais bem-su-
cedidas que você, muito embora você tenha trabalhado mais ou seja um
ser humano melhor do que elas, e o sucesso delas aborrece você. Quando
isso acontecer, você já está com um pé na armadilha. Pois o dinheiro não
se tornou apenas uma ferramenta; agora é uma medida de sucesso. É a
sua essência, a sua identidade. (...) Por que o coração de Jesus de repente
se encheu de amor por aquele homem? (...) Será que Jesus o amou pelo
potencial que via no jovem para ser um líder? Ou foi por causa do que o
jovem lhe disse? Não, acredito que não foi por isso. Jesus, que nessa época
tinha cerca de trinta e um anos, olha para aquele jovem e se identifica
com ele. Jesus também era um jovem rico, bem mais rico do que aquele
jovem poderia imaginar. Ele havia vivido na dimensão incompreensível
de glória, riqueza, amor e alegria da Trindade, por toda a eternidade. Mas
já tinha deixado essa riqueza para trás. Paulo nos diz que, embora Jesus
fosse rico, ele se fez pobre por nós (2Co 8.9). (...) 'Estou abrindo mão de
absolutamente tudo. Por quê? Por você. Agora é a sua vez de abrir mão de
tudo para me seguir (...) Não estou pedindo que você faça nada mais do
que eu mesmo já fiz'. (...) A única maneira que conheço de lutar contra o
poder que o dinheiro tem na sua vida é olhando para o maior dos jovens
ricos, o maior de todos, que abriu mão de absolutamente tudo o que tinha
para vir até você, para salvá-lo e amá-lo”.

Livro: A cruz do Rei (KELLER, Timothy. Tradução de Marisa Lopes. São Paulo: Vida
Nova, 2012, pp. 162-164).

II
Estudada em ___/___/____

LIÇÃO 8 Leitura Bíblica Para Estudo


Marcos 10.23-45

MARCOS 10: Verdade Prática


Somos salvos para servir a Jesus
O SERVO VEIO PARA e ao próximo.

SERVIR A TODOS
INTRODUÇÃO

I. FAMÍLIA E DIVÓRCIO Mc 10.1-12


1. Armadilha maldosa Mc 10.2
2. Aula profunda Mc 10.7
Texto Áureo 3. Coração endurecido Mc 10.9
“Pois o próprio Filho do Homem
não veio para ser servido, mas II. CRIANÇAS E RICOS Mc 10.13-31
para servir e dar a sua vida em
resgate por muitos.” 1. Indignação de Jesus Mc 10.14
Mc 10.45
2. Riquezas e autojustiça Mc 10.20
3. Amor ao dinheiro e encorajamento
Mc 10.27

III. O MAIOR É O QUE SERVE


Mc 10.32-52

1. Exemplo de humildade Mc 10.32


2. Ânsia pelo poder Mc 10.37
3. Modelo de discípulo Mc 10.52

APLICAÇÃO PESSOAL

Devocional Diário
S T Q Q S S
Mc Mc Mc Mc Mc Mc
10.5 10.8 10.15 10.28 10.30 10.43
Hinos da Harpa: 156 - 147

47
Lição 8 - Marcos 10: O Servo Veio Para Servir a Todos

INTRODUÇÃO
2. Aula profunda (Mc 10.7)
À medida que se aproxima de Deixará o homem a seu pai e mãe
Jerusalém, em sua solene marcha [e unir-se-á a sua mulher].
rumo ao Gólgota, o Servo prossegue Os inquiridores desejavam de-
seu ministério, pondo-se a revelar di- bater filigranas interpretativas da
retrizes do Reino de Deus aplicáveis lei mosaica a respeito do divórcio,
a temas práticos da complexa rea- mais precisamente em relação à
lidade humana: divórcio, crianças, expressão “coisa indecente” (Dt
posses e ambição. Para tanto, Jesus 24.1), objeto, à época, de intensa
enfrenta cada situação valendo-se de controvérsia entre duas escolas
sua incomparável sabedoria. rabínicas: a escola de Shammai
(mais rigorosa) e a escola de Hillel
I. FAMÍLIA E DIVÓRCIO (mais permissiva – ao que parece,
(Mc 10.1-12) influente entre os contemporâneos
de Jesus [Mt 19.3] e mesmo entre
1. Armadilha maldosa (Mc 10.2) alguns dos discípulos [Mt 19.10]).
...É lícito ao marido repudiar sua Jesus responde à pergunta cap-
mulher? ciosa dos fariseus com outra: “O que
Os fariseus voltam a armar cila- Moisés disse na lei a respeito do divór-
das contra Jesus. Desta feita, abor- cio?” (v. 3). Neste primeiro momento,
dam o polêmico tema do divórcio: a sábia intenção do Mestre era estabe-
“É lícito ao marido repudiar sua mu- lecer uma base correta para o debate:
lher?” (Mc 10.2). Mateus revela que a Palavra de Deus (Sl 119.105).
o questionamento continha ardiloso Ao responderem que Moisés
detalhe: “É lícito ao marido repudiar havia “permitido” o divórcio, Jesus
sua mulher por qualquer motivo?” avança em sua estratégia: proferir
(Mt 19.3). Se afirmativa a resposta, uma profunda aula sobre casamen-
Jesus seria acusado de afrouxar a lei to. Para tanto, remete a atenção de
mosaica. Se negativa, de afrontá-la. seus ouvintes para a vontade origi-
Naquela ocasião, Jesus estava nária de Deus, fazendo-os recordar
na Pereia, território também go- que o casamento deve ser monogâ-
vernado por Herodes Antipas, o mico (único cônjuge), monossomá-
mesmo que mandara prender e tico (uma só carne) e indissolúvel
degolar João Batista por ter de- (toda a vida) (v. 6-9).
nunciado seu divórcio e novo ca-
samento como ilegais (Mc 6.17- 3. Coração endurecido (Mc 10.9)
28). Portanto, o sórdido propósito Portanto, o que Deus ajuntou não
dos fariseus era colocar Jesus em separe o homem.
situação difícil, tanto em termos Agora, Jesus estava pronto
religiosos quanto políticos. para seu terceiro passo argumen-

48
Lição 8 - Marcos 10: O Servo Veio Para Servir a Todos

tativo em resposta aos fariseus: a não desperdiçar tempo e energia.


discorrer sobre natureza, causa e A verdade, porém, é que não deram
ocorrência prática do divórcio. importância às crianças, demons-
A respeito da natureza, deixou trando, de novo, insensibilidade e
claro que Deus instituiu o casa- desobediência, uma vez que o Servo
mento (Gn 2.24), não o divórcio. já havia reiterado a lição de valori-
O matrimônio é digno de especial zá-las (Mc 9.36-37).
honra (Hb 13.4), porém o divór- A reação de Jesus foi de forte re-
cio, obra humana (v. 9), é odiado provação (v. 14a), sendo essa a única
pelo Senhor (Ml 2.16). Quanto à passagem dos evangelhos em que se
sua causa, o Servo explicou que o diz que Jesus ficou “indignado” (do
divórcio é fruto da necessidade de grego aganaktein, “ficar com raiva”).
regulamentação de práticas não A seguir, disse que deixassem ir até
ideais que, por causa da dureza ele os pequeninos, “porque dos tais
do coração humano (v. 5; Mt 19.8), é o reino de Deus” (v. 14b). E prosse-
precisaram ser justificadas. guiu: “Quem não receber o reino de
Por fim, transcendendo as dis- Deus como uma criança, de maneira
cussões legalistas entre as duas es- nenhuma entrará nele” (v. 15). Por
colas rabínicas, Jesus atinge o âma- fim, não apenas as tocou, como as to-
go da questão: o divórcio, embora mou nos braços, impôs-lhes as mãos
legítimo em remotas hipóteses (Mt e as abençoou (v. 15).
19.9; 1Co 7.15), não é desejável Não se trata de qualquer virtu-
nem obrigatório, mas meramente de própria às crianças (pureza, ino-
permitido (v. 5) – tão-só para os cência ou espontaneidade). Jesus
casos onde o poder do perdão não não nos acolhe em razão de nossas
encontrou solo fértil para florescer qualidades ou méritos (Ef 2.8-9).
(Os 1–3; 1Co 13.1-8). Enfim, aos Eis a sabedoria: a criança é total-
olhos de Deus, o casamento é uma mente dependente; recebe tudo
aliança para a vida toda (v. 9). como aqueles que não têm crédito,
nem reivindicações. Como destaca
II. CRIANÇAS E RICOS James Edwards, as criancinhas são
(Mc 10.13-31) modelo no Reino de Deus, pois só
mãos vazias podem ser enchidas.
1. Indignação de Jesus (Mc 10.14)
Deixai vir a mim os pequeninos... 2. Riquezas e autojustiça (Mc 10.20)
Crianças são bênção, não peso ...Mestre, tudo isso tenho observado
ou maldição (Sl 127.3-5). Nada obs- desde a minha juventude.
tante, os discípulos repreenderam Um homem rico (v. 22) e im-
pessoas que traziam crianças para portante (Lc 18.18) está em busca
que Jesus as tocasse (v. 13). Talvez espiritual e, literalmente, lança-se
imaginassem estar ajudando Jesus aos pés de Jesus. “Bom Mestre, que

49
Lição 8 - Marcos 10: O Servo Veio Para Servir a Todos

farei para herdar a vida eterna?” (v. 3. Amor ao dinheiro e encoraja-


17b). Inquirido sobre os Dez Man- mento (Mc 10.27)
damentos (Êx 20.1-17), não hesi- Jesus, porém, fitando neles o olhar,
tou em afirmar cumpri-los desde a disse: Para os homens é impossível;
juventude (v. 20). Ingênua respos- contudo, não para Deus, porque
ta: quando aplicada corretamente, para Deus tudo é possível.
a lei não gera certificados de auto- O episódio do jovem rico deixou
justiça; antes, denuncia nosso in- os discípulos perplexos. “Então,
contornável fracasso em cumprir quem pode ser salvo?” (v. 26). Afinal,
os preceitos divinos (Rm 3.19-20), riqueza era comumente conside-
conscientizando-nos da urgente rada sinal da aprovação divina (Jó
necessidade de Cristo (Gl 3.24). 1.10; Is 3.10). Mas Jesus acabara de
Jesus fitou-o com amor – ex- descontruir essa cultura simplista
clusividade da narrativa de Mar- ao destacar que a riqueza material
cos (v. 21). O Servo contemplou a pode dificultar (v. 23) e até impedir
alma daquele homem com grande o exercício da fé (v. 25).
interesse e especial compaixão e, Não que a riqueza material seja
sabiamente, cumprindo o papel um mal em si. Jesus foi muito claro:
da lei e fazendo-se ele próprio de “Filhos, quão difícil é [para os que
espelho, oportunizou ao jovem confiam nas riquezas] entrar no rei-
uma segunda chance para con- no de Deus!” (v. 24). Logo, pecado
templar as mazelas do próprio não é ser rico, mas confiar nas ri-
coração. “Só uma coisa te falta: quezas. O problema não é o dinhei-
Vai, vende tudo o que tens, dá aos ro, mas o amor ao dinheiro (1Tm
pobres e terás um tesouro no céu; 6.10).
então, vem e segue-me” (v. 21). Por fim, Jesus encorajou os
Noutros termos: “Imagine a sua discípulos com mais três signifi-
vida sem todo o dinheiro e pa- cativas lições: a) salvação não é
trimônio que possui e tendo so- obra humana, mas divina (v. 27;
mente a mim. Conseguiria viver Jo 3.5-8); b) qualquer renúncia do
assim?”. cristão nesta vida será abundante-
Lamentavelmente, o jovem mente recompensada, tanto aqui
“retirou-se triste, porque era dono quanto na vida eterna (v. 29-30);
de muitas propriedades” (v. 22). O c) aparências enganam: humildes
sacrifício requerido por Jesus foi e desprezados terão prioridade (v.
tido por ele como demasiado alto 31; 1Co 1.26-29). De alguma for-
(Gn 22). Afinal, seu coração já ti- ma, o jovem rico foi exemplo para
nha um deus: o dinheiro. Ele não cada uma delas.
estava disposto a perder a vida,
em Cristo, para poder salvá-la III. O MAIOR É O QUE
(Mc 8.35). SERVE (Mc 10.32-52)
50
Lição 8 - Marcos 10: O Servo Veio Para Servir a Todos

1. Exemplo de humildade (Mc 10.32) messiânico assim que chegasse em


Estavam de caminho, subindo para Jerusalém (At. 1.6). No caminho
Jerusalém, e Jesus ia adiante dos (v. 32), Tiago e João, dois de seus
seus discípulos. Estes se admiravam discípulos mais próximos, revelam
e o seguiam tomados de apreensões. o desejo egoísta de ocupar postos
E Jesus, tornando a levar à parte os de destaque no Reino vindouro (v.
doze, passou a revelar-lhes as coisas 35-37). Mais uma vez, os discípulos
que lhe deviam sobrevir... fracassam ao buscar grandeza ao
Jesus, pela terceira e última vez, invés de serviço. Misturaram ado-
prediz sua morte e ressurreição ração e discipulado com anseio por
(Mc 8.31; 9.31; 10.33-34). Agora, posição e prestígio. Nem imagina-
a revelação é mais detalhada: Jeru- vam que, em breve, dois bandidos
salém será o palco desses eventos. ladeariam a Jesus, cada qual com
Na subida para a cidade santa, em sua cruz (Mc 15.27).
direção à cruz, Jesus não estava Jesus questiona: “Podeis vós be-
atrás, como um prisioneiro que se ber o cálice que eu bebo ou receber o
dirige à forca; antes, “ia à frente” (v. batismo com que eu sou batizado?”
32), como um comandante rumo (v. 38). Os discípulos não discer-
ao triunfo. Por puro amor, humi- nem a admoestação e pioram as
lhou-se, fazendo-se figura humana coisas: “Podemos” – entendem “cá-
e assumindo a forma de servo a fim lice” como taça de ouro da realeza
de morrer na cruz por amor a cada e “batismo” como unção para cargo
um de nós (Fp 2.5-11). elevado. Todavia, Jesus empregou
Esse exemplo de humilhação esses termos em sentido oposto:
não está perdido na narrativa, “cálice” como sofrimento/morte
como aparenta ao olho apressado. (Mc 14.36) e “batismo” no sentido
Essa verdade serve de lição para as de julgamento divino (Is 30.28).
duas pontas da narrativa: o relato Mesmo assim, o Mestre anuncia
anterior, como exemplo de despo- que Tiago e João experimentarão
jamento que deveria ter sido segui- essa realidade (v. 39b). De fato, Tia-
do pelo jovem rico (v. 22); o relato go será o primeiro apóstolo a ser
seguinte, como padrão de humilda- martirizado (At 12.2) e João será
de que deveria nortear o coração exilado em Patmos (Ap 1.9).
de seus apóstolos (v. 37 e 45). O pedido gera indignação en-
tre os discípulos (v. 41). Mas Jesus,
2. Ânsia pelo poder (Mc 10.37) paciente e sabiamente, reitera o
Permite-nos que, na tua glória, nos conteúdo de lições espirituais ante-
assentemos um à tua direita e o ou- riores: a virtude suprema do Reino
tro à tua esquerda. de Deus é o serviço ao próximo (v.
Os discípulos pareciam acredi- 43-44; Mc 9.35) e o exemplo perfei-
tar que Jesus estabeleceria o Reino to desse serviço é dado pelo próprio

51
Lição 8 - Marcos 10: O Servo Veio Para Servir a Todos

Jesus, que não veio para ser servido, 48). Para a mesma pergunta feita
mas para servir e dar a sua vida em a Tiago e João (v. 36), ao invés de
resgate por muitos (v. 45; Is 53.10). pedir fama, Bartimeu professa sua
vigorosa fé no Servo (v. 51).
3. Modelo de discípulo (Mc 10.52) Logo que curado, Bartimeu
... e seguia a Jesus estrada fora. deixa seu lugar “à beira do ca-
Para fechar, o Espírito Santo, minho” (v. 46) e passa a seguir a
pela instrumentalidade de Marcos Jesus em direção a Jerusalém (v.
(2Pe 1.21), oferece-nos um mode- 52). Eis a sabedoria divina em
lo humano de discípulo: Bartimeu. sua manifestação sintética final,
Embora desejasse chegar a Jerusa- neste capítulo: a essência do dis-
lém, Jesus atendeu a esse insisten- cipulado está em crer em Jesus e
te cego mendigo (v. 46), que, ape- segui-lo, inclusive em seu glorio-
sar de suas limitações e oposições, so caminho de sofrimento (v. 33-
acreditava que as misericórdias 34). Jesus vai à nossa frente (v.
de Deus estavam abundantemen- 32); cabe-nos segui-lo, como fez
te derramadas em Jesus (v. 47- Bartimeu (v. 52; Hb 12.2).

APLICAÇÃO PESSOAL
Atentemos para que nossas famílias, posses e pretensões do coração
sejam em tudo santificadas, espelhando as sábias lições de Jesus. Afinal,
devemos viver de acordo com os padrões do Reino de Deus, não com
os do mundo.

RESPONDA
1) Segundo a lição, à época de Jesus, que escolas rabínicas rivalizavam na interpretação da
lei mosaica?

2) Segundo a lição, quando aplicada corretamente, o que a lei gera no ser humano?

3) Quais discípulos pediram a Jesus postos de destaque em um glorioso reino vindouro?

52
LIÇÃO 9

MARCOS 11 e 12:
A ENTRADA TRIUNFAL DO SERVO
SUPLEMENTO EXCLUSIVO DO PROFESSOR
Afora o suplemento do professor, todo o conteúdo de cada lição
é igual para alunos e mestres, inclusive o número da página.

ORIENTAÇÃO OBJETIVOS
PEDAGÓGICA • Testemunhar que Jesus é o cen-
Em Marcos 11 e 12 há 33 e 44 versos, tro da nossa fé.
respectivamente. Sugerimos come- • Praticar uma vida de serviço
çar a aula lendo, com todos os pre- aos irmãos.
sentes, Marcos 11.1-19 (5 a 7 min.). • Compreender a dimensão espi-
A revista funciona como guia de es- ritual do culto.
tudo e leitura complementar, mas
não substitui a leitura da Bíblia.
Caro(a) professor(a), nesta li- PARA COMEÇAR A AULA
ção, vamos acompanhar a entrada
de Jesus em Jerusalém e os prepa- Professor(a), uma boa estraté-
rativos para a sua Páscoa. As festi- gia é levar os irmãos a refletir so-
vidades judaicas renovavam a ex- bre o culto que oferecemos a Deus.
pectativa pela chegada do Messias,
Será que não estamos dedicados a
mas o povo não havia percebido
claramente a missão espiritual de um ritualismo infrutífero, baseado
Jesus. Ainda como servo, Jesus dá nas celebrações grandiosas, mas
sinais claros de como agirá como sem substância? Cada um volte
juiz ao amaldiçoar a figueira e ao seu coração para Jesus; viva para
restituir a dignidade do templo. servir, conforme nos foi ensinado.
Quão glorioso é o Senhor, pois ele Do contrário, corremos o risco
nos ensina a viver uma fé frutífera,
de viver de euforias passageiras,
da qual ele mesmo é o centro, cujo
objetivo é produzir frutos de arre- como a multidão à entrada de Je-
pendimento dos nossos pecados e rusalém, ou de exibir folhagem
perdão aos que nos ofenderem. Na sem fruto.
sequência, a autoridade e a sabe-
doria de Jesus novamente calam
seus adversários. RESPOSTAS DA PÁGINA 58
1) Zacarias (Zc 9.9).
2) É alicerçada em Cristo e gera perdão ao próximo.
3) O governo humano é legítimo, porém a autori-
dade suprema da vida é Deus.

I
Lição 9 - Marcos 11 e 12: A Entrada Triunfal do Servo

LEITURA ADICIONAL

“As figueiras do Oriente Médio davam dois tipos de fruto. Quando as fo-
lhas estavam começando a despontar, na primavera, antes de os figos nas-
cerem, os galhos da figueira produziam pequenos nódulos em abundância.
Eram muito gostosos para se comer. Os viajantes gostavam de apanhá-los
e comê-los quando passavam pelas estradas. Caso alguém encontrasse
uma figueira com folhas novas, mas que não tivesse esses deliciosos nó-
dulos, saberia que havia algo de errado com ela. À distância, ela poderia
até parecer normal, pois as folhas haviam brotado, mas, se ela não tivesse
esses nódulos, deveria estar doente ou até mesmo morrendo por dentro.
Crescimento sem frutos era um sinal de deterioração. Jesus estava simples-
mente dizendo que esse era o caso dessa figueira. Lembre-se de que isso
aconteceu entre sua primeira ida ao templo e seu retorno ao templo no
dia seguinte. Jesus aproveita a oportunidade para dar uma aula particular
e memorável, uma parábola contra a religiosidade superficial, e a figueira
era um recurso visual. Mas, afinal, o que ensina nessa aula? Jesus depara-se
com uma figueira que não cumpre a sua função. A figueira torna-se uma
metáfora perfeita para Israel, e mais do que isso, para aqueles que alegam
ser o povo de Deus, mas não geram frutos para Deus. Ao voltar ao templo,
Jesus estava voltando para um lugar repleto de atividades religiosas, exata-
mente como muitas igrejas de hoje: uma porção de coisas para fazer, uma
série de compromissos a cumprir, muito barulho, muita gente indo e vindo,
muita interação. Mas toda essa agitação não trazia em si uma só gota de
espiritualidade. Ali ninguém realmente orava. Há muitas coisas que pode-
mos fazer que podem parecer sinais de fé verdadeira, mas que crescem sem
uma verdadeira mudança no coração. É evidente que podemos nos ocupar
com muitas atividades na igreja sem que haja uma verdadeira mudança
em nosso coração e sem ter um envolvimento real e compassivo com as
pessoas. Mais tarde, naquele mesmo dia, Jesus limparia o templo de toda
aquela atividade que não gerava fruto algum. Ele transformaria aquela aula
particular e objetiva sobre a figueira em um necessário espetáculo público.
Com isso, ele está dizendo que queria mais do que mera agitação; quer o
tipo de transformação de caráter que vem apenas da percepção de que você
foi resgatado, redimido”.

Livro: A cruz do Rei (KELLER, Timothy. Tradução de Marisa Lopes. São Paulo: Vida
Nova, 2012, pp. 189-190).

II
Estudada em ___/___/____

LIÇÃO 9 Leitura Bíblica Para Estudo


Marcos 11.1-19

MARCOS 11 e 12: Verdade Prática


Vida de aparências não impres-
A ENTRADA siona a Deus. O Senhor ordena
que seu povo dê frutos.
TRIUNFAL DO
INTRODUÇÃO
SERVO
I. SERVO E REI Mc 11.1-11
1. Preparativo incomum Mc 11.2
2. Entrada triunfal Mc 11.9
Texto Áureo
“Tanto os que iam adiante dele 3. Saída discreta Mc 11.11
como os que vinham depois clama-
vam: Hosana! Bendito o que vem II. SERVO E JUIZ Mc 11.12-26
em nome do Senhor!" 1. Figueira estéril Mc 11.14
Mc 11.9
2. Templo estéril Mc 11.17
3. Fé frutífera e disposição para
perdoar Mc 11.24

III. SERVO E PROFETA Mc 11.27–12.44


1. Autoridade questionada Mc 11.28
2. Responsabilidade e cidadania Mc 12.14
3. Prioridade do amor Mc 12.30

APLICAÇÃO PESSOAL

Devocional Diário
S T Q Q S S
Mc Mc Mc Mc Mc Mc
11.10 11.15 11.23 11.25 12.10 12.17

Hinos da Harpa: 42 - 254

53
Lição 9 - Marcos 11 e 12: A Entrada Triunfal do Servo

INTRODUÇÃO Não há surpresas nem impro-


visações: a vinda de Jesus foi um
Inicia-se o ministério do Servo plano traçado desde a eternidade
em Jerusalém. Doravante, Marcos (Gn 3.15; Mt 25.34). O Rei adentra-
se ocupará dos últimos dias da ria os portões de Jerusalém mon-
vida de Jesus em seu ministério tado em seu jumentinho, como
terreno. Os detalhes dessa agitada profetizado no Antigo Testamento
semana final ocupam um terço do (1Rs 1.38-48; Zc 9.9). Não há os-
evangelho de Marcos (Mc 11–16) tentação militar, mas mansidão e
e quase metade do evangelho de humildade: Seu Reino é espiritual
João (Jo 12–21), demonstrando e Sua missão era morrer por nós
a enorme importância espiritual (Jo 18.36; Mc 10.33-34).
desse período. Nos capítulos 11
e 12, mais precisamente, Marcos 2. Entrada triunfal (Mc 11.9)
narra a atuação de Jesus nas fun- Tanto os que iam adiante dele
ções de Rei, Juiz e Profeta. como os que vinham depois clama-
vam: Hosana! Bendito o que vem
I. SERVO E REI (Mc 11.1-11) em nome do Senhor!
Era tempo de Páscoa, quando
1. Preparativo incomum (Mc 11.2) a esperança de libertação do povo
E disse-lhes: Ide à aldeia que aí judeu se revigorava. Quando Jesus
está diante de vós e, logo ao entrar, se aproxima da descida do Monte
achareis preso um jumentinho, o das Oliveiras (Lc 19.37), a multidão
qual ainda ninguém montou; des- se alegra vendo o famoso profeta
prendei-o e trazei-o. da Galileia (Mt 21.11). Espalhando
Jesus chega ao Monte das Oli- mantos e ramos diante de seu ca-
veiras, cerca de 91 metros mais minho, entoam: “Hosana! Bendito
alto que Jerusalém e local histori- é o que vem em nome do Senhor!
camente associado à manifestação Bendito é o reino que vem, o reino
do Messias (Ez 11.23). Mas os pre- de nosso antepassado Davi! Hosana
parativos para sua gloriosa entrada no mais alto céu!” (Mc 11.8-10).
na cidade santa diferem dos prati- Um clima messiânico paira no
cados pelos grandes generais ro- ar. De fato, para além do uso profé-
manos: Jesus envia dois discípulos tico do jumentinho (Zc 9.9), a pala-
para tomarem de empréstimo um vra hebraica hosana significa “salva
jumentinho em uma aldeia vizinha. agora”: um clamor pelo Salvador. Já
O Servo também antecipa detalhes a frase “Bendito o que vem em nome
sobre onde, quando e como esse do Senhor!” remonta a dizeres do
animal seria encontrado. Tudo se salmista em alegria pelo Salvador
dá exatamente como previsto e a (Sl 118.25-26). Não bastasse, o es-
missão é exitosa (Mc 11.1-6). tender de ramos e mantos diante de

54
Lição 9 - Marcos 11 e 12: A Entrada Triunfal do Servo

Jesus é sugestivo da recepção ceri- No dia seguinte, cedo de ma-


moniosa de um rei (2Rs 9.13). nhã (Mt 21.18), quando saíra de
Betânia, Jesus teve fome. Avistan-
3. Saída discreta (Mc 11.11) do, de longe, uma figueira com
E, quando entrou em Jerusalém, folhas, dirigiu-se a ela para ver se
no templo, tendo observado tudo, achava algo, todavia “nada achou,
como fosse já tarde, saiu para Be- senão folhas”. Então, à vista dos
tânia com os doze. discípulos, disse-lhe: “Nunca mais
De repente, a multidão se dis- coma alguém fruto de ti!” (Mc
persa de maneira tão misteriosa 11.12-14). A figueira secou desde
quanto apareceu. O relato termina a raiz (Mc 11.20).
de forma inesperada: a entrada de Os frutos das figueiras normal-
Jesus no templo se dá sem alvoro- mente cresciam com as folhas ver-
ço e sua saída de Jerusalém é dis- des (Os 9.10). No caso, a figueira
creta, partindo com os doze para ostentava abundância de folhas e
descansar em Betânia (Mc 11.11). estava em um solo aparentemen-
Desfecho surpreendente, haja vis- te bom, pois sua folhagem havia
ta a marcante euforia do povo e os crescido antes da temporada (Mc
claros traços messiânicos existen- 11.13b). Contudo, essa era uma
tes no cenário. O Rei dos reis esta- árvore com muitos sinais de fruto,
va entre eles! mas sem um fruto sequer.
Entretanto, mesmo os próprios Esse intrigante episódio de Je-
discípulos só alcançariam a real sus e a figueira detém forte sentido
compreensão desse evento com a simbólico: a maldição da figueira
glorificação do Senhor (Jo 12.16). representa o juízo de Deus sobre
Mas essa triste desatenção espi- a hipocrisia e a infrutuosidade da
ritual contrasta com o olhar agu- liderança espiritual de Israel e do
çado de Jesus. Marcos diz que ele templo, apesar da exuberância das
observou a “tudo” nessa primeira aparências. Assim, Jesus não amal-
visita ao templo (Mc 11.11), ou diçoou a figueira apenas porque
seja, fez uma inspeção espiritual não tinha frutos; antes, ele a usou
minuciosa. O juízo de Deus estava para proclamar um sinal profético,
preparado: de Rei, o Servo passará como antigos profetas já haviam
à função de Juiz. feito (Jr 29.17; Jl 1.7).

II. SERVO E JUIZ (Mc 11.12-26) 2. Templo estéril (Mc 11.17)


Também os ensinava e dizia: Não
1. Figueira estéril (Mc 11.14) está escrito: A minha casa será cha-
Então, lhe disse Jesus: Nunca ja- mada casa de oração para todas as
mais coma alguém fruto de ti! E nações? Vós, porém, a tendes trans-
seus discípulos ouviram isto. formado em covil de salteadores.

55
Lição 9 - Marcos 11 e 12: A Entrada Triunfal do Servo

Na área maior do templo, no Ora, todos esses julgamentos re-


chamado Pátio dos Gentios, mer- tratavam a triste condição espiritual
cadores vendiam ovelhas e pom- da nação de Israel e do culto judai-
bos para o sacrifício com o único co. Como destaca o Pr. Hernandes
propósito de obter cada vez maior Dias Lopes, apesar de seus muitos
lucro. Havia ainda cambistas para privilégios e oportunidades, Israel
trocar moedas gregas e romanas estava externamente sem frutos (fi-
pela dos judeus, aplicando taxas gueira) e internamente corrompida
de câmbio exorbitantes. Também (templo): tinha pompa, mas não
era comum os próprios sacerdotes, vida; tinha rituais, mas não comu-
buscando enriquecimento ilícito nhão com Deus.
e mancomunados com os vende- Depois de condenar a religião
dores, rejeitarem animais que os sem vida e a perda de significado
peregrinos traziam para sacrifício, dos símbolos religiosos, o Servo
forçando-os a procurarem os mer- ensina aos seus discípulos a res-
cadores do templo. Mamom tinha peito da fé frutífera: a) aquela ali-
tomado o lugar de Deus (Lc 16.13). cerçada na autoridade messiânica
Jesus percebeu que a casa do Se- de Jesus (dimensão vertical) (Jo
nhor tinha perdido completamente 15.5), a mesma autoridade exer-
a razão de ser, apesar de toda a sua cida perante a figueira e o templo,
grandiosidade e imensidão, pelo todavia com potencial demasiada-
que promoveu simbólica limpeza mente superior (“mover monta-
espiritual no templo, expulsando nhas” – Mc 11.23-24; Jo 14.12-14);
negociadores, derribando mesas de b) e fundada em um permanente
cambistas e impedindo que o tem- espírito perdoador para com o
plo servisse de atalho para trans- próximo (dimensão horizontal)
porte de utensílios e recipientes (Mc 11.25-26; Mt 6.12; Cl 3.13).
com mercadorias (Mc 11.15-16). Uma relação frutuosa com Deus
De fato, a perda de reverência tinha requer confiança plena em Cristo e
sido total. Por isso, o Servo foi firme disposição sincera de reconciliação
em seu julgamento: ao invés de casa com nossos semelhantes.
de oração para todas as nações (Is
56.7), o templo havia se transfor- III. SERVO E PROFETA
mado em covil de salteadores (Mc (Mc 11.27–12.44)
11.17; Jr 7.11).
1. Autoridade questionada
3. Fé frutífera e disposição para (Mc 11.28)
perdoar (Mc 11.24) E lhe perguntaram: Com que autori-
Por isso, vos digo que tudo quanto dade fazes estas coisas? Ou quem te
em oração pedirdes, crede que re- deu tal autoridade para as fazeres?
cebestes, e será assim convosco. A estratégia de emboscar o

56
Lição 9 - Marcos 11 e 12: A Entrada Triunfal do Servo

Servo de Deus prossegue, sujei- 2. Responsabilidade e cidadania


tando-o a diversos testes e a te- (Mc 12.14)
mas variados. Aqui, membros do Chegando, disseram-lhe: Mestre,
Sinédrio (Mc 11.27) colocam em sabemos que és verdadeiro e não te
dúvida uma das bases de seu jul- importas com quem quer que seja,
gamento anterior: a fonte de sua porque não olhas a aparência dos
autoridade (Mc 11.28). O Servo homens; antes, segundo a verdade,
responde com outra pergunta: ensinas o caminho de Deus; é lícito
“O batismo de João era do céu ou pagar tributo a César ou não? De-
dos homens?” (Mc 11.30). O ques- vemos ou não devemos pagar?
tionamento não é irrelevante ou Apesar de inimigos naturais, fa-
evasivo, já que a unção pública de riseus e herodianos, mais uma vez,
Jesus para seu ofício messiânico somam forças contra Jesus (Mc 3.6
se deu perante João Batista (Mc e 12.13). Sabendo que pagar im-
1.9-11). Seus inquiridores ficam postos era uma dor contínua para
atônitos: se positiva a resposta, judeus devotos, perguntam-lhe se
entrariam em conflito consigo era lícito pagar tributo a César (Mc
próprios; se negativa, com o povo, 12.14). Eis o dilema: se positiva a
pois João era considerado profeta resposta, as pessoas se afastariam
(Mc 11.31-32; Lc 20.6). de Jesus, pois odiavam pagar im-
Encurralados, os opositores postos; se negativa, seria tido por
respondem de maneira convenien- revolucionário pelo governo roma-
te e pragmática: “Não sabemos”. A no, resultando em sua prisão.
verdade, porém, é que a ignorância Valendo-se de uma moeda roma-
sobre as coisas de Deus era geral na (denário), Jesus, então, questiona:
(Mc 12.24). Percebendo que não “De quem é esta efígie [imagem] e
havia disposição para um diálogo inscrição?”. “De César” – respondem.
sincero, Jesus encerra a conversa E arremata: “Dai a César o que é de
com firmeza: “Nem eu tampouco César e a Deus o que é de Deus” (Mc
vos digo com que autoridade faço 12.15-17). De fato, a moeda, tendo a
estas coisas” (Mc 11.33). Não se imagem de César, pertencia a César.
lança pérolas aos porcos (Mt 7.6). Porém, o homem, sendo imagem
Em seguida, Jesus apresen- de Deus (Gn 1.26), pertence a Deus.
ta uma parábola que revela para Como o ser humano é mais impor-
onde os pecados de seus inquiri- tante que coisas (Mc 2.27), Deus é
dores os estavam levando: já ha- mais importante que César. A sutile-
viam permitido que João Batista za e sabedoria da resposta consiste
fosse morto e, em breve, estariam em reconhecer a legitimidade do go-
pedindo a crucificação do próprio verno humano, mas afirmando que a
Filho de Deus (Mc 12.1-12). Profe- autoridade suprema da vida é Deus
cia certeira (Mc 15.10-15). (Rm 13.1-8; 1Pe 2.13).

57
Lição 9 - Marcos 11 e 12: A Entrada Triunfal do Servo

3. Prioridade do amor (Mc 12.30) 6.4-5) e amar ao próximo como a


Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, si mesmo (Lv 19.18).
de todo o teu coração, de toda a tua Nossa prioridade na vida é
alma, de todo o teu entendimento e amar (Rm 13.8-10; Cl 3.14). Afi-
de toda a tua força. nal, foi o amor que fez Deus vir
Entre os antigos rabinos, discu- ao mundo como homem (Jo 3.16),
tia-se quais mandamentos tinham propiciando que um “filho” de Davi
maior e menor peso. Na ocasião, (Is 11.1) também fosse Senhor
o Servo é inquirido por um dos de Davi (Mc 12.35-37; Sl 110.1).
escribas a respeito do principal Também foi o amor que motivou
de todos os mandamentos (Mc Jesus a fazer dois alertas finais no
12.28). Em resposta, Jesus cita encerramento do Capítulo 12 de
famosas confissões de fé da Lei Marcos: uma contra o orgulho dos
(Mc 12.29-31): em síntese, amar escribas (v. 38-40) e outra contra
a Deus sobre todas as coisas (Dt o orgulho dos ricos (v. 41-44).

APLICAÇÃO PESSOAL
Não viva uma vida cristã superficial e estéril. Comprometa-se,
diariamente, em amar a Deus e ao próximo, gerando frutos dignos do
Reino do Senhor Jesus.

RESPONDA
1) A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém montado em um jumentinho remete a que profeta
do Antigo Testamento?

2) Segundo a lição, quais as características de uma fé frutífera?

3) Segundo a lição, em síntese, o que Jesus quis dizer em Marcos 12.17?

58
LIÇÃO 10
MARCOS 13:
O SERVO REVELA O FUTURO
SUPLEMENTO EXCLUSIVO DO PROFESSOR
Afora o suplemento do professor, todo o conteúdo de cada lição
é igual para alunos e mestres, inclusive o número da página.

ORIENTAÇÃO OBJETIVOS
PEDAGÓGICA • Anunciar com altivez as profe-
Em Marcos 13 há 37 versos. Suge- cias de Jesus, para que muitos
rimos começar a aula lendo, com creiam.
todos os presentes, Marcos 13.1-23 • Praticar uma fé madura, capaz de
(5 a 7 min.). reconhecer os sinais profetizados.
A revista funciona como guia de es- • Cultivar uma fé ativa em favor
tudo e leitura complementar, mas dos irmãos até que tudo seja
não substitui a leitura da Bíblia. cumprido.
Olá, professor(a)! Neste encon-
tro, vamos estudar o Sermão Pro- PARA COMEÇAR A AULA
fético. Veremos o cuidado pastoral
de Jesus revelado nos avisos que Os temas escatológicos me-
nos deixou acerca do que ocorre- recem tratamento cuidadoso.
rá antes da sua volta. No tempo Comece explicando aos irmãos
em que vivemos, cheio de tantas que algumas profecias podem
situações extremas, o cristão pre- ter sentido reiterado, ou seja,
cisa “ler” os acontecimentos atuais que algumas podem ter se cum-
à luz das profecias deste sermão. prido no passado, mas, ainda
Apesar de profetizar um tempo assim, tornarão a se cumprir.
de dores, Jesus nos encorajou ao Fatos como o sacrilégio come-
garantir que em tudo somos capa- tido por Antíoco são apenas fi-
citados pelo Espírito e que, ainda guras do que ainda virá. Mostre
que haja sofrimento, o maligno aos irmãos que o crente maduro
nunca prevalecerá. Aleluia! Por observa atentamente os fatos
serem profecias de sentido reite- históricos atuais com prudência
rado, certamente ainda se cumpri- e crendo que muitos anunciam a
rão. Quanto a nós, permaneçamos próxima vinda de Jesus.
firmes a fim de alcançarmos a gló-
ria reservada aos que forem fiéis. RESPOSTAS DA PÁGINA 64
1) Comandante Tito, em 70 d.C.
2) Ao livro de Daniel (Dn 9.27, 11.31 e 12.11).
3) Isaías (13.10) ou Joel (2.10).

I
Lição 10 - Marcos 13: O Servo Revela o Futuro

LEITURA ADICIONAL
“Sem dúvida, as tribulações fazem parte da vida de todos os homens,
desde o dia em que Adão pecou. Essas tribulações vieram junto com os
espinhos e abrolhos. (...) Todavia, há tribulações especiais, às quais os
crentes em Jesus Cristo estão sujeitos; e foi acerca dessas tribulações
que nosso Senhor os advertiu claramente. Os crentes devem esperar tri-
bulações da parte do mundo. Eles não podem esperar ajuda da parte de
‘governadores e reis´. Eles descobrirão que suas maneiras de agir e suas
doutrinas não os favorecem perante as autoridades. Pelo contrário, com
frequência serão encarcerados, espancados e conduzidos à presença dos
juízes, como se fossem malfeitores, sem qualquer outro motivo senão a
dedicação ao evangelho de Cristo. Os crentes devem esperar tribulações
da parte de seus próprios parentes. (...) As pessoas de seu próprio sangue
e de sua própria carne, com frequência, haverão de se esquecer de amar
os crentes, porquanto odeiam a religião deles. Assim, em muitos casos, os
crentes descobrirão que a inimizade da mente carnal contra Deus é mais
forte do que os próprios laços de família e sangue. Faríamos bem em ente-
sourar no coração essas instruções e ‘calcular o custo’ de sermos crentes.
Não devemos pensar como coisa estranha se a nossa religião traz consigo
algumas amarguras. (...) precisamos estar preparados para enfrentar cer-
ta dose de dificuldades se somos crentes verdadeiros e decididos. Deve-
mos contentar-nos em ter de enfrentar a chacota, o ridículo, a zombaria,
a calúnia e até mesmo as perseguições. Às vezes, temos de ouvir palavras
duras e desagradáveis de nossos parentes mais próximos e queridos. O
‘escândalo da cruz’ ainda não cessou. ‘O homem natural não aceita as coi-
sas do espírito de Deus, porque lhe são loucura’ (1Co 2.14). Aqueles que
‘nasceram segundo a carne’ perseguirão aqueles que nasceram ‘segundo
o Espírito’ (Gl 4.29). A maior coerência na vida não será capaz de impedir
isso. Se já nos convertemos, então nunca nos devemos surpreender ao
descobrir que somos odiados por causa de Cristo”.

Livro: Meditações no Evangelho de Marcos (RYLE, John Charles. 2. ed., São José
dos Campos, SP: Editora Fiel, 2018, pp. 234-235).

II
Estudada em ___/___/____

LIÇÃO 10 Leitura Bíblica Para Estudo


Marcos 13.1-23
Verdade Prática
MARCOS 13: A glória da volta de Jesus é maior
do que qualquer perseguição
O SERVO REVELA O que enfrentemos por causa do
Evangelho.
FUTURO
INTRODUÇÃO

I. PRINCÍPIO DAS DORES Mc 13.1-13


1. Destruição do templo e queda de
Jerusalém Mc 13.2
Texto Áureo 2. Engano, guerras e calamidades
“Sereis odiados de todos por cau-
naturais Mc 13.8
sa do meu nome; aquele, porém,
que perseverar até o fim, esse 3. Perseguição e dissoluções familiares
será salvo.” Mc 13.13
Mc 13.13
II. A GRANDE TRIBULAÇÃO
Mc 13.14-23
1. Sacrilégio Mc 13.14a
2. Desespero Mc 13.14b
3. Angústia Mc 13.19

III. A VINDA DO FILHO DO


HOMEM Mc 13.24-37
1. Retorno em glória Mc 13.26
2. A lição da figueira Mc 13.28
3. Exortação à vigilância Mc 13.37

APLICAÇÃO PESSOAL

Devocional Diário
S T Q Q S S
Mc Mc Mc Mc Mc Mc
13.7 13.11 13.27 13.31 13.32 13.35

Hinos da Harpa: 323 - 74

59
Lição 10 - Marcos 13: O Servo Revela o Futuro

INTRODUÇÃO lembrar, já havia sido condenado


como “covil de ladrões” (Mc 11.17)
No capítulo 13 de Marcos, te- e simbolizado por uma figueira que
mos o famoso Sermão Profético secou desde a raiz (Mc 11.12-20).
ou Sermão do Monte das Olivei- Sua magnífica beleza exterior con-
ras (v. 3). Nele, Jesus profetiza a trastava com sua terrível podridão
inesperada destruição do templo espiritual. Era chegado o momento
e a trágica queda de Jerusalém. de Jesus profetizar sua destruição,
Porém, ao longo da narrativa, es- literalmente. De fato, em 70 d. C.,
ses eventos servem também como Jerusalém foi duramente tomada
poderosas figuras escatológicas, pelas forças do comandante roma-
ou seja, sinalizações para eventos no Tito. O templo foi destruído, a
que ocorrerão ao final dos tempos. cidade ficou em ruínas e inúmeros
judeus perderam suas vidas.
I. PRINCÍPIO DAS DORES
(Mc 13.1-13) 2. Engano, guerras e calamida-
des naturais (Mc 13.8)
1. Destruição do templo e que- Porque se levantará nação contra
da de Jerusalém (Mc 13.2) nação, e reino, contra reino. Have-
Mas Jesus lhe disse: Vês estas grandes rá terremotos em vários lugares e
construções? Não ficará pedra sobre também fomes. Estas coisas são o
pedra, que não seja derribada. princípio das dores.
Uma obra de restauração e am- Do alto do Monte das Oliveiras,
pliação do templo começou antes defronte do templo, os quatro discí-
do nascimento de Jesus, no go- pulos que Jesus chamou por primei-
verno de Herodes, o Grande, que ro (Mc 1.16-20) pedem ao Servo, em
buscava apoio político dos judeus. particular, mais detalhes sobre essa
Quando do discurso profético, esse chocante profecia. Apenas Marcos
trabalho no templo ainda não es- cita seus nomes (v. 3-4).
tava finalizado, mas sua exuberân- Os discípulos querem conhecer
cia já era marcante, sendo motivo o futuro, mas Jesus os direciona com
de grande orgulho para os judeus firmeza para o presente: “Vede que
(v. 1b; Lc 21.5). De fato, à época, o ninguém vos engane” (v. 5). O Servo
templo de Jerusalém figurava entre alerta seus discípulos sobre perso-
as mais formidáveis construções nagens que aparecerão com aparên-
da antiguidade. cia messiânica, enganando a muitos
Todavia, a expressão “ao sair (v. 6). Portanto, a primeira grande
Jesus do templo” (v. 1a), mais que ameaça destacada por Jesus seria in-
mera descrição física, simboliza terna, dentro da própria família de fé.
uma definitiva ruptura espiritual Em seguida, Jesus menciona
entre o Servo e o templo – que, vale desavenças humanas e calamida-

60
Lição 10 - Marcos 13: O Servo Revela o Futuro

des naturais: guerras, rumores de manecerem fiéis até o fim colherão


guerras, terremotos e fomes (v. 7-8). gloriosa recompensa (v. 13).
Ameaças que atingirão a crentes e
não crentes. A menção a “princípio II. A GRANDE
das dores” é impactante, pois re- TRIBULAÇÃO (Mc 13.14-23)
mete às dores de parto, espécie das
mais aflitivas – e tudo isso será só o 1. Sacrilégio (Mc 13.14a)
“início” dessas dores. Quando, pois, virdes o abominá-
vel da desolação situado onde não
3. Perseguição e dissoluções deve estar...
familiares (Mc 13.13) “Abominável da desolação” ou
Sereis odiados de todos por causa do “sacrilégio assolador” são termos
meu nome; aquele, porém, que perse- que remontam ao Profeta Daniel
verar até ao fim, esse será salvo. (9.27, 11.31 e 12.11), referindo-se
Jesus também profetiza duras à profanação do templo de Jeru-
perseguições a cristãos (v. 9 e 13). salém (Mt 24.15), liberando sofri-
Por todos os lados: de judeus e gen- mentos de magnitude indescritível
tios, de autoridades religiosas e se- ao povo judeu. Em seu contexto
culares (v. 9) e mesmo de familiares original, referia-se à ação do excên-
(v. 12). Afinal, o servo não é maior trico general sírio Antíoco Epifânio
que seu senhor (Jo 15.20). Mateus que, em 167 a.C., erigiu um ídolo
narra mais dois elementos: multi- a Zeus no templo e sacrificou um
plicação da iniquidade e esfriamen- porco no altar do holocausto.
to generalizado do amor (24.12). Alguns fatos históricos pode-
Longe de qualquer sucesso riam ser apontados como cum-
imediato, com primazia da verdade primento dessa profecia: a) entre
e paz, Jesus estava alertando a seus 67-68 d.C., os zelotes assumiram o
seguidores que deveriam esperar controle do santuário e nomearam
exatamente o contrário: engano, pessoa desqualificada como sumo
guerras, frieza e perseguição. Che- sacerdote (Fanias), permitindo o
gou a hora de cada cristão carregar cometimento de homicídios dentro
a sua própria cruz (Mc 8.34). do santuário; b) em 70 d.C., quando
Todavia, Jesus nos presenteia Jerusalém foi destruída, Tito e seus
com três promessas consoladoras: soldados entraram no santuário,
a) as portas do inferno não pre- inclusive trazendo seus estandar-
valecerão contra a Igreja, pois o tes para dentro do templo.
Evangelho será pregado a todas as É provável que essa profecia
nações (v. 10; Mt 16.18b); b) sere- seja de cumprimento complexo
mos especialmente ajudados pelo e reiterado, referindo-se a essas
Espírito Santo nos momentos mais evidentes profanações do templo,
difíceis (v. 11); c) aqueles que per- todavia também apontando para

61
Lição 10 - Marcos 13: O Servo Revela o Futuro

tristes eventos relacionados ao 3. Angústia (Mc 13.19)


fim dos tempos, no cenário do an- Aqueles dias serão de tamanha tri-
ticristo (Ap 13; 2Ts 2.3-4). bulação como nunca houve desde o
princípio do mundo.
2. Desespero (Mc 13.14b) A catástrofe que se abateu so-
...Os que estiverem na Judeia, fujam bre Jerusalém em 70 d.C. repre-
para os montes. senta uma poderosa figura esca-
Jesus profetiza que o sacrilé- tológica dos eventos que advirão
gio desolador desencadeará uma com a grande tribulação, no fim
onda de desespero geral, com fuga dos tempos (Dn 12.1), quando as
às pressas. Neste ponto, rememo- circunstâncias serão tão horren-
rar elementos histórico-culturais das que não haverá episódio ante-
ajudará a dar mais sentido às pa- rior ou posterior sequer compará-
lavras do Servo. vel (v. 19; Ap 9.6) – a tal ponto que,
Com efeito, naquela região, os se Deus não operasse intervenção
montes eram um seguro refúgio abreviadora, por causa dos eleitos,
para abrigar fugitivos, pois reple- “ninguém se salvaria” (v. 20).
tos de cavernas (v. 14b). A cober- Tem continuidade a advertência
tura das casas da época era plana sobre falsos profetas que realizam
e podia ser usada para receber sinais e maravilhas para enganar, se
visitas, fazer refeições, conversar possível, os próprios eleitos (v. 22).
com vizinhos e até orar (Mc 2.4; At Jesus encerra este tópico com um
10.9). Como o acesso a essa área sonoro chamado para ficarmos aler-
dava-se por uma escada exterior, tas (v. 23). O crente verdadeiro não
em caso de fuga repentina, não se preocupa em prever o futuro, mas
se teria tempo para acessar o in- em ser fiel e perseverante no pre-
terior da casa para levar consigo sente (v. 13), vivendo com sobrieda-
algum objeto (v. 15). de e vigilância (1Ts 5.6; 1Pe 5.8).
Da mesma forma, aquele que es-
tivesse no campo não deveria voltar III. A VINDA DO FILHO DO
em casa nem para pegar sua capa, HOMEM (Mc 13.24-37)
manto externo essencial para pro-
teção contra o frio, à noite (v. 16). 1. Retorno em glória (Mc 13.26)
Igualmente, gestantes e lactantes Então, verão o Filho do Homem vir
não conseguiriam correr rápido o nas nuvens, com grande poder e
suficiente para escapar da invasão glória.
(v. 17). Ademais, no inverno, além Os eventos da tribulação cul-
da escassez de provisões, o clima é minarão em um completo colapso
frio e chuvoso, quando os vales e o cósmico e caos mundial (v. 24-25;
próprio rio Jordão estão cheios, difi- Lc 21.25-26; 2Pe 3.10), sinais esses
cultando deslocamentos (v. 18). preditos pelos profetas (Is 13.10; Jl

62
Lição 10 - Marcos 13: O Servo Revela o Futuro

2.10). Em seguida, Jesus voltará à que quando seus ramos se reno-


terra não mais como servo sofredor vam e suas folhas brotam, está pró-
depositado em singela manjedoura ximo o verão. Assim, “quando vir-
(Mc 10.45; Lc 2.7), mas com grande des acontecer estas coisas, sabei que
poder e glória, envolto em nuvens está próximo, às portas” (v. 28-29).
(v. 26; Dn 7.13-14). Recorde-se que, Ora, a maioria das árvores da Terra
no Antigo Testamento, em geral, as Santa não sofre mudanças ao lon-
nuvens simbolizam a presença da go das estações do ano. A figueira,
glória de Deus (Êx 16.10). porém, só revela suas folhas ao fi-
A relevância universal de Cristo nal da primavera, quando o tempo
também será evidenciada com um quente se aproxima. Assim como
maravilhoso ajuntamento dos elei- a figueira é uma ótima referência
tos, outrora dispersos por vastas re- para identificar estações do ano,
giões, mas que serão reunidos com esses preocupantes sinais aponta-
Jesus (v. 27; 2Ts 2.1). Essa dispersão rão para a iminência da vinda de
humana gloriosamente unificada Cristo.
em Jesus espelha a imensa com- A autoridade profética do Ser-
plexidade e diversidade da própria vo prossegue em pleno exercício
criação, cujo ponto de convergência ao decretar, inclusive, que já aque-
também é Cristo (Ef 1.10). la própria geração testemunharia
Apesar da severidade das per- tamanha ruína (v. 30). De fato, Je-
seguições e da tragicidade dos rusalém foi destruída pelo exérci-
acontecimentos, o povo de Deus to romano cerca de 40 anos depois
sempre nutrirá viva esperança em dessas palavras – à época, exata-
relação ao futuro. Afinal, nosso Se- mente o tempo médio de uma ge-
nhor continua com as rédeas da ração (Nm 32.13).
história em suas poderosas mãos
(Ap 1.8). A história não termina 3. Exortação à vigilância (Mc 13.37)
em catástrofe: Jesus é o Princípio, O que, porém, vos digo, digo a to-
mas também é o Fim (Ap 22.13). dos: vigiai!
Jesus não desejava que seus dis-
2. A lição da figueira (Mc 13.28) cípulos perdessem tempo com con-
Aprendei, pois, a parábola da fi- jecturas sobre o futuro; antes, adver-
gueira: quando já os seus ramos se tiu-os a permanecerem focados em
renovam, e as folhas brotam, sabeis suas responsabilidades do presente.
que está próximo o verão. Por isso, o Servo encerra o Sermão
Jesus volta ao assunto da queda do Monte das Oliveiras com dois im-
de Jerusalém (“estas coisas” – v. 29), portantes esclarecimentos: a) deve-
valendo-se da figueira, mais uma mos ter plena confiança em sua pa-
vez (Mc 11.13-14), como valioso lavra, pois ela sempre se cumpre (v.
instrumento pedagógico. Afirma 31; Is 55.11); b) os eventos descritos

63
Lição 10 - Marcos 13: O Servo Revela o Futuro

terão consumação repentina, sendo sorientados. Quanto ao que virá,


que datas precisas estão escondidas Jesus assume a postura humilde de
no coração do Pai, exclusivamente reconhecer limitações humanas e se
(v. 32; At 1.6-7). A propósito, esta submeter por completo à soberania
é a única passagem de Marcos em do Pai (v. 32), dando-nos o exemplo
que Jesus se chama de “Filho” (v. de como proceder (Fp 2.5-6). Por
32) – por mais paradoxal que seja, fim, exorta-nos à constante vigi-
para afirmar seu desconhecimento lância (v. 33, 35 e 37). Jesus virá de
quanto a algo. O capítulo inicia com surpresa, pelo que devemos estar
um pedido de esclarecimentos (v. 4), sempre despertos e atentos (v. 34-
todavia finda com uma expressiva 36). Como se vê, no capítulo 13 de
nota de mistério. Marcos, o objetivo central do Servo
Nessa incômoda mistura de não é transmitir conhecimento so-
certezas e incertezas, o que fazer? bre o futuro, mas exortar seu povo
Nosso Senhor nunca nos deixa de- à obediência, aqui e agora.

APLICAÇÃO PESSOAL
O mundo jaz no maligno e as circunstâncias tendem a se agravar no futu-
ro. Nada obstante, por mais dura que possa ser nossa realidade, devemos
permanecer firmes e vigilantes até a gloriosa volta de nosso Salvador.

RESPONDA
1) Em que ano e que comandante romano liderou forças que ocasionaram a trágica queda de
Jerusalém, cumprindo a profecia de Jesus (Mc 13.2)?

2) No contexto da Grande Tribulação, os termos “abominável da desolação” ou “sacrilégio


assolador” remetem a que livro do Antigo Testamento?

3) Os eventos da Tribulação culminarão em um completo colapso cósmico e caos mundial.


Cite pelo menos um profeta do Antigo Testamento que previu esses trágicos acontecimentos.

64
LIÇÃO 11
MARCOS 14:
TRAIÇÃO E PRISÃO DO SERVO
SUPLEMENTO EXCLUSIVO DO PROFESSOR
Afora o suplemento do professor, todo o conteúdo de cada lição
é igual para alunos e mestres, inclusive o número da página.

ORIENTAÇÃO OBJETIVOS
PEDAGÓGICA • Adorar de forma prática, ser-
vindo a Jesus na pessoa do pró-
Em Marcos 14 há 72 versos. Sugeri- ximo.
mos começar a aula lendo, com to- • Testemunhar a eficácia da Nova
dos os presentes, Marcos 14.27-52 Aliança que nos deu salvação.
(5 a 7 min.). • Testemunhar diariamente que
A revista funciona como guia de es- somos discípulos de Jesus.
tudo e leitura complementar, mas
não substitui a leitura da Bíblia. PARA COMEÇAR A AULA
Querido(a) professor(a), esta
lição trata da prisão do nosso Professor(a), comece sua aula
Senhor. As autoridades judaicas reforçando a certeza de que o pa-
tramaram contra o próprio Mes- drão ético de Jesus não mudou. Se
sias alegando zelo religioso. Para realmente quisermos viver como
conseguir a cumplicidade romana, ele, é preciso fazer de nossas vidas
alegaram que Jesus ameaçava a um serviço ativo dedicado aos ir-
ordem pública. Maria o adorou de mãos. Não somos chamados a jul-
modo incondicional, mas houve
gar quem merece ou não a nossa
quem o traísse de modo covarde.
ajuda, mas a estender a mão; não
Entre uma atitude e outra, Jesus
institui conosco uma Nova Alian- nos cabe a violência nem a vin-
ça. Durante a ceia ou enquanto gança, mas o perdão e a renúncia.
agonizava no Getsêmani, Jesus Nosso desafio é grande, mas so-
nos amou; abandonado por todos, mos guiados pelo Espírito Santo,
continuou nos amando. Vamos fa- que nos capacita a viver de um
lar disso, da radicalidade do amor modo estranho ao mundo, mas fiel
Cristão, o mesmo que devemos a Jesus.
praticar. Devemos amar ao invés
RESPOSTAS DA PÁGINA 70
de punir ou desprezar; tomar a
1) Cerca de trezentos denários (1 ano de salário).
decisão de amar sob qualquer cir-
cunstância, como fez Jesus. 2) Salmos 41.9.
3) Pedro, Tiago e João (Mc 14.33).

I
Lição 11 - Marcos 14: Traição e Prisão do Servo

LEITURA ADICIONAL

“Algo aconteceu no Getsêmani – Jesus viu, sentiu, percebeu algo –, e


isso abalou o inabalável Filho de Deus. O que foi isso? Ele estava enfren-
tando algo que ia além do tormento físico, além da morte física – algo
tão pior que essas coisas pareciam picadas de pulga em comparação. Ele
estava sufocado pelo simples sopro do que iria enfrentar na cruz. Ele não
sabia que iria morrer? Sim, mas não estamos falando de informação aqui.
É claro que ele sabia; ele mesmo havia dito isso aos discípulos por várias
vezes. Mas agora ele estava começando a provar o que ele iria experimen-
tar na cruz e isso era algo que ia muito além da tortura e da morte física.
Mas o que era assim tão terrível? Está no próprio cerne da oração que
Jesus faz aqui. Ele diz: ‘Afasta de mim este cálice’. Lembre-se que, nas Es-
crituras Hebraicas, o ‘cálice’ é uma metáfora para a ira de Deus em razão
da maldade humana. (...) Por toda sua vida, por causa da eterna dança
de Jesus com o Pai e o Espírito, sempre que ele voltava para o Pai, o Es-
pírito o inundava com amor. O que aconteceu de forma visível e audível
no batismo e na transfiguração de Jesus acontecia de forma invisível e
inaudível toda vez que Jesus orava. Mas, no jardim do Getsêmani, Jesus se
volta para o Pai e tudo o que consegue ver diante de si é a ira, o abismo, a
separação do cálice. Deus é a fonte de todo amor, toda vida, toda luz, toda
coerência. Portanto, ser excluído de Deus é ser excluído da fonte de todo
amor, toda vida, toda luz, toda coerência. Ali Jesus começou a experimen-
tar a desintegração espiritual, cósmica e infinita que aconteceria quando
ele se separasse do Pai na cruz. Jesus começou a experimentar uma mera
antecipação disso e cambaleou. (...) Para Jesus, naquele momento ainda
seria possível abortar sua missão e deixar que perecêssemos. Mas ele não
considera isso como uma opção. Ele suplicou ao Pai que cumprisse a mis-
são de outra forma, mas jamais pediu que desistisse dela por completo.
Por quê? Porque, por mais terrível que fosse o cálice, Jesus sabia que seu
desejo imediato (ser poupado) deveria curvar-se diante de seu desejo su-
premo (nos poupar). (...) Jesus não nega suas emoções e não evita o sofri-
mento. Ele ama sofrendo. Em meio ao sofrimento, ele obedece, por amor
ao Pai – e por amor a nós”.

Livro: A cruz do Rei (KELLER, Timothy. Tradução de Marisa Lopes. São Paulo: Vida
Nova, 2012, pp. 205-206 e 210-211).

II
Estudada em ___/___/____

LIÇÃO 11 Leitura Bíblica Para Estudo


Marcos 14.27-52

MARCOS 14: Verdade Prática


O cristão fiel, diariamente,
TRAIÇÃO E PRISÃO sacrifica a própria vontade em
prol da vontade de Deus.
DO SERVO
INTRODUÇÃO

I. ADORAÇÃO Mc 14.1-11
1. Ódio Mc 14.1
Texto Áureo 2. Amor Mc 14.3
“E dizia: Aba, Pai, tudo te é possí- 3. Reconhecimento Mc 14.9
vel: passa de mim este cálice; con-
tudo, não seja o que eu quero e II. TRAIÇÃO Mc 14.12-31
sim o que tu queres.” 1. Traição em meio à comunhão
Mc 14.36 Mc 14.18
2. Comunhão em meio à traição
Mc 14.23
3. Abandono em meio à crise Mc 14.27

III. PRISÃO Mc 14.32-72


1. Angústia no Getsêmani Mc 14.34
2. Beijo de Judas e o jovem desnudo
Mc 14.45,52
3. A deserção de Pedro Mc 14.71

APLICAÇÃO PESSOAL

Devocional Diário
S T Q Q S S
Mc Mc Mc Mc Mc Mc
14.6 14.7 14.16 14.21 14.22 14.24

Hinos da Harpa: 296 - 12

65
Lição 11 - Marcos 14: Traição e Prisão do Servo

INTRODUÇÃO exposição de Mateus de que “os an-


ciãos do povo” também integravam
O capítulo 14 é o mais extenso o complô (26.3), demonstram que,
do evangelho de Marcos e continua de fato, a resolução de matar Jesus
a revelar o jogo de contrastes típico foi uma decisão mais das lideran-
desse evangelista, instigando o lei- ças judaicas que do povo. Por isso,
tor a se posicionar diante de Jesus. a opção por articulações secretas
Adoração ou traição? Perante Cris- não se dava por questão de escrú-
to, não há neutralidade. pulos, mas por temor de “tumulto
Temos outra exclusividade do entre o povo” (v. 2), que tinha gran-
evangelho de Marcos: no alvoroço de estima por Jesus (Mc 12.37b).
da fuga, um jovem anônimo deixa
sua capa (“lençol”) para trás e cor- 2. Amor (Mc 14.3)
re desnudo (v. 51-52). Veio uma mulher trazendo um vaso
de alabastro com preciosíssimo
I. ADORAÇÃO (Mc 14.1-11) perfume de nardo puro; e, quebran-
do o alabastro, derramou o bálsa-
1. Ódio (Mc 14.1) mo sobre a cabeça de Jesus.
E os principais sacerdotes e escri- Eis outro exemplo da famosa
bas procuravam como o prende- técnica de "sanduíche", caracterís-
riam, à traição, e o matariam. tica de Marcos: uma linda declara-
Era véspera da Páscoa (v. 1), ção de amor (v. 3-9) está encravada
quando o povo judaico celebra a entre registros de ódio e traição (v.
libertação do Egito (Dt 26.5-9). A 1-2 e 10-11). Como de costume, a
Páscoa dava início à festa dos pães história do meio provê a chave de
sem fermento, com duração de compreensão do todo: Marcos faz
uma semana (v. 1; Ex 12.15-20). um oportuno contraste entre a trai-
Multidões vinham de todos os lu- ção dos líderes judaicos e de Judas
gares até Jerusalém para participar e o gesto de fidelidade de Maria.
de uma semana de festejo. Euforia Só João relata que se tratava de
para os judeus, mas grande tensão Maria de Betânia, irmã de Marta e
para os romanos: temendo mo- Lázaro (Jo 12.2-3). Seu amor por
tins, enviavam tropas especiais a Jesus é escancarado: em todas as
Jerusalém e mesmo o governador três vezes em que mencionada nos
vinha de Cesareia para ficar dispo- Evangelhos, Maria está aos pés do
nível, caso surgissem problemas. Servo (Lc 10.39; Jo 11.32 e 12.3).
Também havia ódio: há muito, Desta feita, o fato se dá na casa de
autoridades tramavam a prisão e Simão, o leproso (v. 3).
morte de Jesus (Mc 3.6). A menção O que ocorreu foi que Maria,
de Marcos aos “principais sacer- surpreendendo a todos, quebra um
dotes e os escribas” (v. 1), aliada à vaso com preciosíssimo perfume

66
Lição 11 - Marcos 14: Traição e Prisão do Servo

de nardo puro e o derrama sobre a Após o anúncio de que Jesus se-


cabeça (v. 3) e os pés de Jesus (Jo ria traído por alguém de seu círcu-
12.3). Nardo era um óleo aromáti- lo próximo (v. 10), Marcos narra os
co caríssimo, importado da Índia. A preparativos para um cenário fa-
quantidade usada foi equivalente a miliar: a ceia de Páscoa. Novamen-
trezentos denários (v. 4): salário de te (Mc 11.1-6), Jesus comissiona
um ano de trabalho. Radical em sua uma dupla de discípulos e demons-
adoração, Maria não usa parte do tra presciência divina: discípulos
unguento; prefere quebrar o fras- seguem um homem carregando
co, dedicando tudo a Cristo. um cântaro de água (algo incomum
para a cultura da época, pois era
3. Reconhecimento (Mc 14.9) tarefa típica de mulheres) e obtêm
Onde for pregado em todo o mundo do dono da casa permissão para
o evangelho, será também contado realizarem a ceia de Páscoa em
o que ela fez, para memória sua. um “espaçoso cenáculo mobiliado e
O gesto de Maria gera escânda- pronto” (v. 12-16).
lo e murmuração, sendo tido como A Páscoa deveria ser comida à
desperdício de dinheiro, em espe- noite, após o sacrifício do cordeiro,
cial diante dos pobres (v. 4-5). Jesus, em ambiente de celebração familiar,
porém, elogia-o (v. 6), revelando reunindo uma ou duas famílias para
que Maria antecipou-se a ungi-lo partilharem a refeição (Êx 12.3-4 e
para a sepultura (v. 8), ou seja, dis- 8). No Oriente, repartir o pão com
cerniu que o mistério do Evangelho alguém expressava aliança íntima.
é revelado no sofrimento e morte de Portanto, culturalmente, trair pessoa
Jesus (Is 53.3-7; Mc 8.31 e 10.45). com quem se tenha comido do mes-
Maria reconhece o valor incom- mo prato (v. 17-20) era ato horrendo.
parável de Jesus, ao contrário do No caso, espiritualmente, também
jovem rico (Mc 10.22). Reconhe- era cumprimento profético (Sl 41.9).
cendo a elogiável percepção espi-
ritual e a incomum intensidade da 2. Comunhão em meio à traição
adoração de Maria, Jesus disse que (Mc 14.23)
seu gesto seria lembrado onde fos- Tomai, isto é o meu corpo.
se pregado o Evangelho (v. 9). Para Mesmo sabendo que havia um
Judas Iscariotes, porém, Jesus não traidor entre os discípulos (v. 18)
tinha tanto valor assim (v. 10-11). e que, ao final, todos o abandona-
riam (v. 50), Jesus prossegue com
II. TRAIÇÃO (Mc 14.12-31) sua missão de amor (Jo 3.16): ins-
titui a Ceia do Senhor, dando novo
1. Traição em meio à comunhão simbolismo ao pão e ao vinho (v.
(Mc 14.18) 22-25; 1Co 11.17-34). Não pre-
O que come comigo me trairá. tende romper laços; antes, deseja

67
Lição 11 - Marcos 14: Traição e Prisão do Servo

estreitar comunhão com os discí- 10-11), fraqueza (v. 37-42), medo


pulos. Jesus entrega sua vida não (v. 50-52) ou covardia (v. 66-72).
pelos justos, mas pelos doentes e Todavia, como pastor preocu-
pecadores (Mc 2.17; Rm 5.8). pado com suas ovelhas, Jesus se
A palavra grega para “corpo” (v. apressa em ministrar palavras de
22b) não é sarx (“carne”), mas sõma esperança: reafirma que ressuscita-
(“corpo” ou “ser”), indicando que Je- rá dos mortos e, em breve, irá para a
sus está falando de si mesmo como Galileia a fim de se reencontrar com
uma dádiva total e sem reservas (Gl eles (v. 28). O Reino de Deus se esta-
1.4; Tt 2.14). Já a referência ao “cá- belecerá pela soberana vontade do
lice” como “meu sangue” remete à Senhor e não com base no acerto ou
sua própria vida (Lv 17.11), derra- desacerto do ser humano (Mt 6.10).
mada em favor de muitos (v. 23-24).
Quanto à afirmada “nova alian- III. PRISÃO (Mc 14.32-72)
ça” (v. 24), significa que, através
da obra da cruz, Jesus derramaria 1. Angústia no Getsêmani (Mc 14.34)
o seu sangue precioso para re- A minha alma está profundamente
missão dos nossos pecados (Mc triste até à morte.
10.45; Ef 1.7), assumindo-se como Jesus está no Getsêmani (do
o verdadeiro Cordeiro Pascal (Jo hebraico, “prensa de azeite”). Ali,
1.29; 1Co 5.7; 1Pe 1.19). Assim, Jesus teve sua alma “prensada”, em
Jesus, imolado de uma vez por to- uma das cenas mais impactantes
das, substituiria o modelo sacrifi- da Bíblia: a vivência de um conflito
cial anterior, baseado no derramar espiritual que, de tão terrivelmen-
reiterado de sangue de animais e te angustiante e traumático, faria o
cuja eficácia frente ao pecado era Servo suar profusamente como que
apenas provisória e parcial (Lv gotas de sangue (v. 33-34; Lc 22.44).
1–7; Hb 9.6–10.18). Esse episódio só pode ser com-
preendido à luz daquilo que estava
3. Abandono em meio à crise prestes a acontecer na cruz: ele car-
(Mc 14.27) regaria em seus ombros os pecados
Todos vós vos escandalizareis... de toda a humanidade (Is 53.4-6; 1Pe
O gesto amoroso de Jesus ga- 2.24), tomaria sobre si a maldição da
nha contorno mais impressionante Lei (Gl 3.13) e, por consequência – e
diante da dolorosa profecia: todos, mais apavorante –, experimentaria
sem exceção, irão abandoná-lo em o tenebroso vazio da total separação
meio à crise (v. 27 e 50). Pode haver de Deus (Is 59.2; Mc 15.34). Esse era
apenas um traidor direto (Judas Is- o “cálice” da ira de Deus que Ele have-
cariotes), mas, ao amanhecer, a ver- ria de beber (Jo 18.11). A dilaceração
dade é que todos os discípulos "trai- do corpo no Gólgota foi precedida do
riam" o Servo, seja por cobiça (v. esmigalhar da alma no Getsêmani.

68
Lição 11 - Marcos 14: Traição e Prisão do Servo

Sendo também plenamente hu- remetendo a beijos longos e apai-


mano, Jesus busca a companhia de xonados. Puro cinismo e zombaria.
amigos (v. 33) e põe-se a se derra- A rendição não violenta de Jesus
mar diante do Pai, em fervorosa e prova o exagero das armas usadas
insistente oração (v. 32, 35 e 39), para prendê-lo (“espadas e porre-
pedindo que, se possível, passas- tes” – v. 43). Ao ser tratado como
se dele tamanha tragédia, mas re- criminoso (v. 48), mais uma profe-
conhecendo, expressamente, sua cia se cumpre (Is 53.12). Com sua
completa rendição à soberana von- prisão, todos fogem (v. 50).
tade do Pai (v. 36). Neste ponto, outra exclusivi-
Apesar de seu explícito pedido dade do evangelho de Marcos:
de ajuda (v. 32), Jesus, por três ve- Um jovem fugiu nu, deixando sua
zes, encontra Pedro, Tiago e João veste para trás (14.51-52). A fuga
dormindo (v. 41), certamente ante- desse jovem é motivo de inúme-
cipando as três negações por vir de ros comentários, pois não temos
Pedro (v. 30). O alerta é claro: obede- como saber se era João Marcos ou
cer a Deus demanda luta incessante um seguidor anônimo. Provavel-
contra o pecado que tenazmente nos mente, a resposta mais acertada
assedia (v. 38; 1Co 9.27; Hb 12.1). é que se trata do próprio escritor
e que esta é sua maneira de dizer:
2. Beijo de Judas e o jovem des- "Eu, ainda jovem, estive ali", sem
nudo (Mc 14.45,52) mencionar o seu nome.
E, logo que chegou, aproximando- O acontecimento retrata o
-se, disse-lhe: Mestre! E o beijou quão vergonhoso foi o fato de os
(Mc 14.45). discípulos terem abandonado Je-
Por singelas trinta moedas de sus. Falamos com frequência do
prata (Mt 26.15), valor equivalen- sofrimento físico de Jesus durante
te a um escravo (Ex 21.32), Judas Sua paixão, mas costumamos não
aceita trair Jesus e liderar grupo tratar do sofrimento emocional
fortemente armado para prendê- decorrente da traição por Judas
-lo em secreto, no jardim do Get- e do abandono por Seus amigos
sêmani (v. 41-43). Como era tarde mais chegados, na hora de Sua
da noite e alguns não conheciam a maior necessidade. Durante todo
Jesus pessoalmente, combinou um o tempo em que Jesus sofreu na
sinal que serviria para identificá- cruz e permaneceu morto na se-
-lo: um beijo no rosto (v. 44). pultura, eles haviam se escondido
Ao encontrar-se com o Servo, atrás de portas fechadas!
Judas não apenas o beija, mas o
beija calorosamente, sem reser- 3. A deserção de Pedro (Mc 14.71)
vas. O termo grego para a palavra Não conheço esse homem de quem
“beijo” no verso 45 é kataphilein, falais!

69
Lição 11 - Marcos 14: Traição e Prisão do Servo

Pedro fora elogiado por Jesus Porém, naquela mesma noite,


quando o reconheceu como Filho Pedro nega a Jesus não uma, mas
do Deus vivo (Mt 16.16-17). Teste- três vezes (v. 68, 70 e 71). Não
munhou inúmeras curas e milagres apenas nega, mas jura e até pra-
– inclusive de sua sogra (Mc 1.30- gueja que não conhecia “esse ho-
31) – e experienciou a transfigura- mem” (v. 71) – o mesmo “homem”
ção de nosso Senhor (Mc 9.2). Até que estivera, lado a lado, por cerca
foi salvo por Jesus de morrer afo- de três anos (Mc 1.16-18).
gado no Mar da Galileia (Mt 14.28- Confrontado com sua trágica
32), integrando seu seleto grupo de pecaminosidade, Pedro “desatou
mais próximos (v. 33), afirmando-se a chorar” (v. 72). Marcos encerra o
inclusive como espécie de líder (Mc capítulo 14 nos impondo tocante
9.5). Pedro desfrutou de momentos reflexão: pode haver um “Judas” em
inesquecíveis e privilégios espe- cada um de nós. Aquele que pensa
ciais, chegando a jurar fidelidade estar em pé, cuide para que não caia
absoluta a Jesus (v. 29). (1Co 10.12). Vigiai e orai (v. 38)!

APLICAÇÃO PESSOAL
Em momentos decisivos, o melhor a fazer é prostrar-se aos pés do
Pai, em oração, na busca de força e sabedoria. Assim fazendo, nossas
ações e reações realizarão mais a vontade de Deus que a nossa.

RESPONDA
1) Em termos de dinheiro, quanto valia o vaso repleto de preciosíssimo perfume importado
que Maria de Betânia consagrou a Jesus?

2) Segundo a lição, que referência do Antigo Testamento contém a profecia de que Jesus
seria traído por alguém que lhe era muito próximo?

3) Quais discípulos Jesus convidou para estarem com ele no Jardim do Getsêmani?

70
LIÇÃO 12
MARCOS 15:
SOFRIMENTO E MORTE DO SERVO
SUPLEMENTO EXCLUSIVO DO PROFESSOR
Afora o suplemento do professor, todo o conteúdo de cada lição
é igual para alunos e mestres, inclusive o número da página.

ORIENTAÇÃO OBJETIVOS
PEDAGÓGICA • Testemunhar que só há salva-
Em Marcos 15 há 47 versos. Sugeri- ção para os que creem em Jesus.
mos começar a aula lendo, com to- • Compreender que o sacrifício
dos os presentes, Marcos 15.22-47 de Jesus foi cumprimento pro-
(5 a 7 min.). fético.
A revista funciona como guia de es- • Testemunhar que estamos sob
tudo e leitura complementar, mas a Nova Aliança, celebrada atra-
não substitui a leitura da Bíblia. vés do sacrifício de Jesus.
Olá, professor(a)! Trataremos
do sacrifício perfeito do Senhor e PARA COMEÇAR A AULA
dos episódios que o antecedem.
Jesus silencia diante das acusa- Professor(a), um tema impor-
ções porque sabia que precisava tante a ser discutido nesta lição
destruir a serpente, como prome- é a infalibilidade do sacrifício de
tido (Gn 3.15). Para cumprir o que Cristo. Nenhum de nós deve cul-
o Pai determinou, ele suportou tivar a vaidade de acreditar que
um açoite brutal, submeteu-se ao há algo a ser feito. Somos discí-
escárnio de torturadores e acu- pulos de Jesus e, como tais, preci-
sadores e à morte mais indigna samos compreender que o nosso
imposta pelos romanos. Cada de- Senhor cumpriu, por amor, o que
talhe do sacrifício de Jesus deve estava determinado em nosso fa-
estar vivo na nossa memória para vor. Tudo que precisamos é crer,
que saibamos quanto ele é Santo servir aos irmãos como ele nos
e quanto somos indignos. Fomos serviu e confessá-lo como Salva-
justificados com sangue para que dor. Jesus nos abriu passagem de
o véu do lugar santo se abrisse e volta para casa; o guia para o ca-
pudéssemos ter acesso a Deus. O minho é o Evangelho.
mínimo a fazer é testemunhar a
misericórdia e o amor que recebe- RESPOSTAS DA PÁGINA 76
mos para nossa salvação. 1) Sedição e traição contra o Império Romano.
2) Simão, da cidade de Cirene.
3) Por volta da “hora nona” (três da tarde).

I
Lição 12 - Marcos 15: Sofrimento e Morte do Servo

LEITURA ADICIONAL

“... vemos Jesus sendo alvo de zombarias, enquanto morria, como se


fosse algum impostor, como se não fosse capaz de salvar a si mesmo. Mas
por que isso lhe sucedeu? A fim de que nós, em nossos últimos momentos
de vida, mediante a fé em Cristo, tenhamos forte consolação. Todas essas
coisas aconteceram a Cristo a fim de que desfrutássemos uma inabalável
segurança, sabendo em quem temos crido e podendo descer ao vale da
sombra da morte sem temer mal algum. Deixemos essa passagem com
um profundo senso de dívida que todos os crentes têm para com Cristo.
Tudo que os crentes são, têm e esperam deve-se à vida e à morte do Filho
de Deus. Por meio da condenação dele, os crentes têm absolvição; por
meio de seus sofrimentos, eles desfrutam paz; por meio do opróbrio que
ele sofreu, eles irão à glória; e, mediante a sua morte, eles receberam vida.
Os pecados deles foram lançados na conta de Cristo. A retidão dele lhes
foi imputada. (...) Deixemos essa passagem com o mais profundo senso
do indizível amor de Cristo por nossas almas. Lembremos aquilo que so-
mos: corruptos, vis e miseráveis. Recordemos quem é o Senhor Jesus: o
eterno Filho de Deus, o Criador de todas as coisas. Então, não esqueçamos
que foi por nossa causa que Jesus suportou, voluntariamente, a mais do-
lorosa, horrível e desgraçada morte. Certamente, quando pensamos nes-
se amor, isso deveria constranger-nos a viver diariamente não para nós
mesmos, mas para Cristo. Isso deveria tornar-nos dispostos e desejosos
de apresentar nossos corpos como um sacrifício vivo àquele que viveu e
morreu por nós (2Co 5.14; Rm 12.1). Que a cruz de Cristo esteja sempre
em nossas mentes! Corretamente compreendido, é possível que nenhum
outro assunto, em todo o cristianismo, tenha um efeito tão santificador e
consolador para nossas almas”.

Livro: Meditações no Evangelho de Marcos (RYLE, John Charles. 2. ed., São José
dos Campos, SP: Editora Fiel, 2018, p. 288).

II
Estudada em ___/___/____

LIÇÃO 12 Leitura Bíblica Para Estudo


Marcos 15.22-47

MARCOS 15: Verdade Prática


O propósito divino de salvação
SOFRIMENTO E se cumpre na morte de Jesus. A
fé no Servo Sofredor é garantia
MORTE DO SERVO de vida eterna.

INTRODUÇÃO

I. JULGAMENTO Mc 15.1-20
1. Pilatos enrascado Mc 15.1
Texto Áureo
“O centurião que estava em fren- 2. Barrabás solto Mc 15.15
te dele, vendo que assim expirara, 3. Soldados cruéis Mc 15.19
disse: Verdadeiramente, este ho-
mem era o Filho de Deus.” II. CRUCIFICAÇÃO Mc 15.21-32
Mc 15.39
1. Rumo ao Gólgota Mc 15.22

2. Sofrimento horripilante Mc 15.24

3. Insultos e escárnios Mc 15.30

III. MORTE Mc 15.33-47


1. Trevas Mc 15.33

2. Jesus expira Mc 15.37

3. Sepultamento Mc 15.46

APLICAÇÃO PESSOAL

Devocional Diário
S T Q Q S S
Mc Mc Mc Mc Mc Mc
15.5 15.14 15.28 15.34 15.38 15.39

Hinos da Harpa: 291 - 191

71
Lição 12 - Marcos 15: Sofrimento e Morte do Servo

INTRODUÇÃO se convence de que terá que julgar


essa complicadíssima causa.
Jesus segue firme em seu propósi-
to de ser “obediente até à morte e mor- 2. Barrabás solto (Mc 15.15)
te de cruz” (Fp 2.8). Neste capítulo 15, Então, Pilatos, querendo contentar
Marcos relata a submissão de Jesus a multidão, soltou-lhes Barrabás; e,
à cruel engrenagem de perseguição após mandar açoitar a Jesus, entre-
romana: da astuta sentença de Pôncio gou-o para ser crucificado.
Pilatos, passando pelas mãos de sol- Pilatos vê uma oportunida-
dados abusivos, até chegar à selvage- de de transferir novamente suas
ria da morte por crucificação. responsabilidades, inclusive com
ganhos políticos junto à multidão,
I. JULGAMENTO (Mc 15.1-20) aplicando o costume da época. Ele
propôs ao povo a libertação de um
1. Pilatos enrascado (Mc 15.1) preso: Jesus ou Barrabás, este um
E amarrando a Jesus, levaram-no e assassino e revolucionário (v. 6-7).
o entregaram a Pilatos. Pilatos tinha autoridade para per-
Cedo da manhã, encerrada a reu- doar qualquer criminoso.
nião do Sinédrio, os líderes judaicos A estratégia não vinga: apesar
entregam Jesus a Pôncio Pilatos (v. de sugestionar, insistentemente,
1), governador romano da Judeia. O o nome de Jesus (v. 9; Lc 23.20), o
Sinédrio não tinha autoridade para povo segue a orientação das autori-
aplicar pena de morte (Jo 18.31). dades religiosas judaicas e escolhe
No tribunal judaico, o Servo sofrera Barrabás (v. 11). Preocupado com
acusação religiosa (blasfêmia – Mc um repentino e intrigante alerta de
14.64). Agora, sofrerá acusação po- sua esposa (Mt 27.19), Pilatos con-
lítica: sedição e traição contra o im- tinua a insistir na absolvição de Je-
pério romano (Lc 23.2). sus (Lc 23.22), todavia o povo já se
Pilatos fica maravilhado com agitava, gritando pela crucificação
o silêncio de Jesus diante de seus do Servo (v. 13-14). Desejando evi-
acusadores (v. 4-5; Is 53.7) e intui a tar rebelião, Pilatos lava suas mãos,
verdadeira razão do alvoroço – in- astutamente, e entrega Jesus à mul-
veja (v. 10) –, declarando sua per- tidão para morte de cruz, com açoi-
cepção inicial de inocência de Jesus tamento prévio (v. 15; Mt 27.24-26).
(Lc 23.14). Todavia, falta-lhe cora-
gem para manter sua decisão. Po- 3. Soldados cruéis (Mc 15.19)
lítico sagaz, percebe um potencial Davam-lhe na cabeça com um ca-
de rebelião no conflito (Mt 27.24). niço, cuspiam nele e, pondo-se de
Depois de frustrada tentativa de joelhos, o adoravam.
transferir sua responsabilidade Um severo açoitamento costu-
para Herodes (Lc 23.6-12), Pilatos mava preceder a crucificação. O cri-

72
Lição 12 - Marcos 15: Sofrimento e Morte do Servo

minoso era despido e amarrado a (v. 22), fora dos muros da cidade
um poste para ser flagelado com chi- (Lv 24.14; Hb 13.12-13). A cru-
cotes de couro com pedaços afiados cificação era um aterrorizante
de ferro e ossos costurados em suas espetáculo público: o condenado
tiras. O açoitamento lacerava a pele era obrigado a carregar sua cruz
e arrancava pedaços, abrindo feridas (ou, mais comumente, a barra ho-
profundas que, não raro, expunham rizontal) até o local da execução.
ossos e entranhas. Os golpes eram Não espanta, porém, que tenham
tão brutais que alguns prisioneiros faltado forças para Jesus cumprir
morriam antes de chegar à cruz. essa penosa tarefa: havia sido
Mas o açoitamento de Jesus tem surrado e humilhado, impiedosa-
acréscimos pavorosos: sua notória mente, já por duas vezes (v. 17-
fragilidade física, o incomum al- 20; Mc 14.65).
voroço social e os especiais com- Simão, da cidade de Cirene
ponentes políticos e religiosos do (norte da África), foi obrigado pe-
caso instigam a cultura abusiva dos los soldados romanos a carregar-
soldados romanos. De fato, ao co- -lhe a cruz (v. 21). Oficiais romanos
locarem-lhe, jocosamente, veste de podiam impor a qualquer cidadão
púrpura e coroa de espinhos (púr- que lhes prestasse serviços, o que
pura e coroa são típicos símbolos desagradava aos judeus (Mt 5.41).
de realeza), os soldados zombam Os leitores de Marcos provavel-
dele como rei dos judeus (v. 17-18). mente conheciam os filhos de Si-
Ao golpearem sua cabeça com um mão Cireneu, Alexandre e Rufo (v.
caniço, cuspirem-no e ajoelharem- 21), pois este último integrava a
-se para “adorá-lo”, escarnecem de igreja de Roma (Rm 16.13).
Jesus como Filho de Deus (v. 19).
Esse chocante sofrimento fora 2. Sofrimento horripilante
predito com detalhes pelo profeta (Mc 15.24)
Isaías (50.6 e 53.7) e pelo próprio Então, o crucificaram e repartiram
Jesus (Mc 10.33-34). O propósito entre si as vestes dele, lançando-
do Servo está se cumprindo com -lhes sorte, para ver o que levaria
perfeição (Mc 10.45). cada um.
A crucificação é uma das for-
II. CRUCIFICAÇÃO mas mais abomináveis de exe-
(Mc 15.21-32) cução já criadas pelo homem.
Remonta aos medos e persas, no
1. Rumo ao Gólgota (Mc 15.22) século 7 a.C., mas essa prática se
E levaram Jesus para o Gólgota, espalhou pelo leste do Mediter-
que quer dizer Lugar da Caveira. râneo no século 4 a.C., por meio
O lugar da crucificação era o de Alexandre, o Grande. O impé-
Gólgota (“caveira”, em hebraico) rio romano a adotou como for-

73
Lição 12 - Marcos 15: Sofrimento e Morte do Servo

ma dominante de execução até Segundo Marcos, Jesus foi cru-


337 d.C., quando foi proibida por cificado à hora terceira (v. 25), ou
Constantino. seja, às 9h da manhã. Os judeus
Na crucificação, a morte era len- calculavam as horas das seis da
ta, dolorosa e humilhante. Chegan- manhã às seis da tarde. Contra-
do ao local da execução, o senten- riando as autoridades judaicas, Pi-
ciado era deitado de costas no chão, latos colocou na placa de acusação
seus braços eram esticados e depois de Jesus: “O Rei dos Judeus” (v. 26)
amarrados ou pregados à barra ho- – em hebraico, latim e grego (Jo
rizontal. No caso de Jesus, grossos 19.19-22).
cravos atravessaram-lhe os ossos Era comum pessoas oferece-
das mãos ou pulsos (Jo 20.25-27; Cl rem ao condenado substâncias
2.14). Em seguida, a barra era levan- narcóticas que ajudavam a mino-
tada junto com o crucificado e presa rar a dor (Pv 31.6). Jesus recusou
ao poste vertical, já fixado ao solo. essa oferta (v. 23). Desejava man-
Por vezes despido, o conde- ter-se plenamente sóbrio no cum-
nado permanecia exposto ao pú- primento de sua missão de beber
blico em infindável vergonha e o cálice da ira de Deus (Mc 10.38
com dores lancinantes, emitindo e 14.36).
gemidos tenebrosos. Enquanto Os quatro Evangelhos regis-
estendia os braços e puxava as tram que os soldados romanos di-
pernas para respirar, sofria in- vidiram entre si as roupas de Jesus
contáveis ataques agudos, des- (v. 24; Mt 27.35; Lc 23.34; Jo 19.23-
maiando em exaustão. 24), dando cumprimento à profecia
Alguns sobreviviam por dias, (Sl 22.18). A crucificação entre dois
sujeitando-se a sol e chuva, ca- criminosos também é cumprimen-
lor e frio; não raro, corvos e cães to profético (v. 27-28; Is 53.12),
devoravam o corpo antes mesmo bem como transeuntes meneando
do falecimento. Para evitar morte a cabeça (v. 29; Lm 2.15).
rápida por asfixia, comumente um Interessante: em geral, ao
suporte para os pés ou um assen- retratar o sofrimento de Jesus,
to era colocado no poste vertical. Marcos enfatiza mais a ridicula-
A morte acontecia pela perda ex- rização que seu sofrimento físico.
pressiva de sangue, asfixia por Aqui, todos escarnecem do Servo:
exaustão, desidratação crônica transeuntes (v. 29-30), principais
ou por parada cardíaca – ou uma sacerdotes e escribas (v. 31) e
combinação dessas causas. mesmo quem com ele fora crucifi-
cado (v. 32). Escarnecem também
3. Insultos e escárnios (Mc 15.30) quanto a tudo: como Profeta (v.
Salva-te a ti mesmo, descendo da 29), como Salvador (v. 31) e como
cruz! Rei (v. 32).

74
Lição 12 - Marcos 15: Sofrimento e Morte do Servo

III. MORTE (Mc 15.33-47) nona” – v. 34), ou seja, hora em que


a oferta regular do final da tarde
1. Trevas (Mc 15.33) era oferecida no Templo. Pilatos
Chegada a hora sexta, houve trevas so- admirou-se pela rapidez da morte
bre toda a terra até a hora nona. de Jesus (v. 44) – talvez pela seve-
Todos os nossos pecados es- ridade dos açoites que recebeu.
tavam sobre os ombros de Jesus A morte do Servo não repre-
naquela cruz (1Pe 2.24), gerando sentou um fim trágico. Pelo con-
forçosa separação com Deus (Is trário, trata-se do retumbar triun-
59.1), a verdadeira fonte de luz e fante de uma nova história para
vida (Sl 36.9). O próprio sol ocul- a humanidade, já que, com sua
tou sua face. Por isso, em pleno morte, o Filho de Deus abriu um
meio-dia (“hora sexta”), miraculo- novo e vivo caminho de acesso ao
sa escuridão cobriu a terra, fenô- Pai (Hb 10.19-20), pondo fim ao
meno que durou três horas (v. 33). antigo sistema sacrificial (Lv 1–7).
Ao fim desse tempo (“hora Para demonstrar essa realidade, o
nona”), Jesus angustiou-se, pois vi- próprio Deus rasga o véu do Tem-
venciava o momento mais aflitivo plo em duas partes, do céu para a
de sua caminhada: o afastamento terra (“de alto a baixo” – v. 38).
do Pai (v. 34; Sl 22.1). As trevas co- Marcos registra outro exemplo
briram não apenas a terra, mas tam- prático desse novo tempo espiri-
bém o coração do povo (v. 35-36). tual: um centurião (oficial romano
Certamente, alguns judeus lem- responsável por cem soldados) re-
braram da primeira Páscoa: a nona conhece, publicamente, que aquele
praga do Egito foi uma escuridão homem morto e desfigurado, pen-
total que durou três dias, seguida da durado em uma cruz, era o Filho
última praga: morte dos primogêni- de Deus (v. 39). Tamanha confissão
tos (Êx 10.22–11.9). A escuridão no indica que, por revelação divina,
Calvário anunciava que o Filho Pri- foi-lhe descortinada ao coração a fé
mogênito de Deus estava prestes a salvífica em Jesus (Mt 16.17; Ef 2.8).
entregar sua vida pelos pecados do Uma fé viva e sincera, a mesma que
mundo (Mc 1.11; Cl 1.15-18). inspirava corajosas mulheres a con-
tinuar seguindo ao Servo (v. 40-41).
2. Jesus expira (Mc 15.37) Judeus e gentios, homens e mulhe-
Mas Jesus, dando um grande brado, res, libertos e escravos: todos pode-
expirou. rão agora estar reunidos na mesma
Marcos trata da morte de Jesus fé em Cristo (Gl 3.28).
com impressionante simplicidade
(v. 37). A morte do Autor da vida 3. Sepultamento (Mc 15.46)
(At 3.15) veio de forma repentina, Este, baixando o corpo da cruz, envol-
por volta das três da tarde (“hora veu-o em um lençol que comprara e

75
Lição 12 - Marcos 15: Sofrimento e Morte do Servo

o depositou em um túmulo que tinha ou jogados em grandes lixões. Era


sido aberto numa rocha; e rolou uma preciso muita coragem para pedir ao
pedra para a entrada do túmulo. governador o corpo de um homem
O sábado começaria com o pôr executado como inimigo de Roma.
do sol, poucas horas depois da Mesmo assim, ousadamente, José
morte de Jesus, quando não se po- de Arimatéia, sujeito rico e influente,
deria realizar trabalho (Êx 31.15). membro do Sinédrio e seguidor se-
No caso, esse seria um sábado creto do Servo, conseguiu audiência
especial, por causa da Páscoa (Jo com Pilatos fora do horário de expe-
19.31). Era importante, pois, que o diente e obteve autorização para re-
local fosse liberado rapidamente. mover o corpo de Jesus. Com a ajuda
Eram comuns negativas de se- de Nicodemos, sepultou-o a tempo e
pultamento a crucificados. Em re- com dignidade (v. 42-46; Mt 27.57-
gra, seus corpos eram lançados em 60; Jo 19.38-42). Mais uma profecia
campos abertos para cães e abutres se cumpre (Is 53.9).

APLICAÇÃO PESSOAL
Jesus sofreu uma morte dolorosa e humilhante para que pudéssemos
ter vida em abundância. Portanto, cumpre-nos viver para Cristo, que
nos amou e a si mesmo se entregou por nós.

RESPONDA
1) Segundo a lição, quando submetido a Pôncio Pilatos, de que crimes Jesus foi acusado?

2) Qual o nome do homem que foi obrigado pelos soldados romanos a carregar a cruz de Jesus?

3) A morte de Jesus aconteceu em que horário do dia?

76
LIÇÃO 13
MARCOS 16:
GLÓRIA E TRIUNFO DO SERVO
SUPLEMENTO EXCLUSIVO DO PROFESSOR
Afora o suplemento do professor, todo o conteúdo de cada lição
é igual para alunos e mestres, inclusive o número da página.

ORIENTAÇÃO OBJETIVOS
PEDAGÓGICA • Proclamar o Evangelho da sal-
Em Marcos 16 há 20 versos. Suge- vação até que Jesus nos arrebate.
rimos começar a aula lendo, com • Proclamar a certeza de que Je-
todos os presentes, Marcos 16.1-20 sus, assim como subiu ao céu,
(5 a 7 min.). em breve voltará.
A revista funciona como guia de es- • Adorar intimamente o Sacerdo-
tudo e leitura complementar, mas te Eterno, que está à direita de
não substitui a leitura da Bíblia. Deus.
Amado(a) professor(a), o
cumprimento de tudo que Je- PARA COMEÇAR A AULA
sus profetizou e o testemunho
dos apóstolos nos dão a certeza Esta lição deve ser ministrada
de que Ele está vivo. Nosso de- com desejo apostólico de cumprir
safio é crer sem ter visto, pois é o que nos foi comissionado. A fé
da natureza humana crer apenas que nos move é uma dádiva ime-
no que a visão percebe, por isso recida concedida pelo Espírito à
as imagens – digitais, inclusive – Igreja, mas os dons não devem ser
são tão idolatradas hoje quanto guardados. Devemos agir na vida
na antiga Babilônia. Mas, é pela dos irmãos que ainda não creem,
fé que devemos ver aquele que pois eles estão sob nossa respon-
somente pelo Evangelho está re- sabilidade. Se não formos a cada
velado. Também pela fé devemos pessoa para pregar o Evangelho,
cumprir a comissão que nos foi como elas poderão crer? O mover
ordenada, pois aquele que orde- do Espírito é ativo, como no Pen-
nou em breve cobrará frutos. Se- tecostes. Não é pela emoção que
jamos empenhados e diligentes se reconhece uma igreja fiel, mas
em testemunhar; ligeiros em en- pela evangelização.
sinar e dinâmicos em anunciar a
mensagem que transformou nos- RESPOSTAS DA PÁGINA 82

sas vidas. 1) Seu testemunho era considerado menos confiável.


2) Maria Madalena (Mc 16.9; Jo 20.11-18).
3) Durante quarenta dias (At 1.3).

I
Lição 13 - Marcos 16: Glória e Triunfo do Servo

LEITURA ADICIONAL

“... Tendo assentado Jesus na esfera celestial depois de ressuscitá-lo dos


mortos, Deus também assentou os fiéis nesse lugar de autoridade a fim de
demonstrar a realidade da graça divina (Ef 1.20; 2.6-7). (...) O assentar de
Jesus denota posição de autoridade sobre outras autoridades; de modo se-
melhante, nosso assentar sugere que não somos mais obrigados a aceitar a
autoridade de outros poderes. Podemos resistir a eles (Ef 6.12). (...) Assim,
a ressurreição de Jesus significa que os fiéis continuam a usufruir de vida
física, mas também se relacionam com esse outro reino. Eles também não
foram apenas ressuscitados – ou mesmo ressuscitados apenas a uma nova
forma de vida terrena –, mas ressuscitados a uma vida celestial. Seu espírito
está nos céus, embora seu corpo esteja na terra. Por isso, os discípulos devem
buscar as coisas do alto, focar a mente nas coisas de cima (Cl 3.1-2). (...) Foco
celestial não quer dizer que a vida atual e terrena das pessoas não importe. O
corpo na terra e o espírito nas regiões celestiais englobam uma única pessoa.
O próprio Jesus promete coisas aos discípulos na esfera do material e do ex-
terior, como herança territorial, comida e vestimenta, embora lhes diga para
não se preocuparem com isso (Mt 5.5; 6.25-34). Ressaltar o céu revoluciona a
vida das pessoas na terra em vez de privá-las de significado. É à luz do fato de
ter ressuscitado com Jesus que os fiéis devem matar (nekroõ) práticas terre-
nas como imoralidade sexual, ganância (que é idolatria), ira, malícia, engano
e instinto de divisão (judeu e gentio, nós e eles, escravo e livre), fazendo dis-
tinções cuja importância foi abolida para aqueles que se despiram do velho
homem e se revestiram do novo (Cl 3.5-11). No lugar disso, devem cultivar
práticas que refletem realidades celestiais, como compaixão, humildade,
gentileza, paciência, perdão e paz – tudo que, como princípio global, expressa
cuidado por outras pessoas. Fiéis devem revestir-se de características de sua
natureza celestial (Cl 3.12-15)”.

Livro: Teologia Bíblica: o Deus das Escrituras Cristãs (GOLDINGAY, John. Rio de Janei-
ro: Thomas Nelson Brasil, 2020, pp. 386-387).

II
Estudada em ___/___/____

LIÇÃO 13 Leitura Bíblica Para Estudo


Marcos 16.1-20
Verdade Prática
MARCOS 16: Ser cristão é seguir as pegadas
do Cristo ressurreto, confiando
GLÓRIA E TRIUNFO naquele que tem todo o poder
nos céus e na terra.
DO SERVO
INTRODUÇÃO

I. RESSURREIÇÃO   Mc 16.1-8

Texto Áureo 1. Amor transbordante Mc 16.2


“Ele, porém, lhes disse: Não vos
2. Cristo vive Mc 16.6
atemorizeis; buscais a Jesus, o
Nazareno, que foi crucificado; 3. Primeiras testemunhas Mc 16.7
ele ressuscitou, não está mais
aqui; vede o lugar onde o ti- II. APARIÇÕES Mc 16.9-14
nham posto.”
Mc 16.6 1. Transformação Mc 16.9
2. Incredulidade Mc 16.11
3. Diversas aparições Mc 16.12

III. ASCENSÃO Mc 16.15-20


1. Grande Comissão Mc 16.15
2. À destra de Deus Mc 16.19
3. Sinais Mc 16.20

APLICAÇÃO PESSOAL

Devocional Diário
S T Q Q S S
Mc Mc Mc Mc Mc Mc
16.3 16.4 16.5 16.10 16.14 16.17

Hinos da Harpa: 183 - 545

77
Lição 13 - Marcos 16: Glória e Triunfo do Servo

INTRODUÇÃO 2. Cristo vive (Mc 16.6)


Ele, porém, lhes disse: Não vos ate-
No último capítulo do Evangelho morizeis; buscais a Jesus, o Nazare-
de Marcos, o Servo Sofredor rompe no, que foi crucificado; ele ressus-
os grilhões da morte, restaura a citou, não está mais aqui; vede o
comunidade de discípulos e assen- lugar onde o tinham posto.
ta-se, triunfante, à destra do Pai. A Para impedir a entrada de la-
narrativa demonstra que Jesus vive drões ou animais, os jazigos eram
e reina para todo o sempre, tendo fechados com rochas circulares.
toda autoridade nos céus e na terra. Logo, como de costume, seria
necessário um grupo de homens
I. RESSURREIÇÃO (Mc 16.1-8) fortes para rolar a pedra e abrir o
sepulcro. Recorde-se que os discí-
1. Amor transbordante (Mc 16.2) pulos de Cristo estavam escondi-
E, muito cedo, no primeiro dia da dos (Jo 20.19). Por isso, ao longo
semana, ao despontar do sol, foram da caminhada, aquelas piedosas
ao túmulo. mulheres indagavam-se: “Quem
Todos os discípulos abandona- nos removerá a pedra da entrada
ram Jesus (Mc 14.50). Mas existiam do túmulo?” (v. 3). Marcos é o úni-
mulheres de fidelidade exemplar: co que registra esse diálogo.
serviram-no durante todo o seu Mas, ao chegarem, surpreen-
dinâmico ministério e também se dem-se: a pedra “já estava removi-
dispuseram a acompanhar tanto a da” (v. 4). Em Marcos, a menção de
agonia da cruz quanto o silêncio do que a pedra “era muito grande” (v.
sepultamento (Mc 15.40-41 e 47). 4) implica que a rolagem da rocha
Como ato de devoção, antes foi obra divina, percepção confir-
do funeral, os judeus ungiam os mada e detalhada por Mateus, in-
corpos com óleo misturado com clusive relatando o desmaio dos
mirra e aloés. Sabendo que José de guardas que vigiavam o sepulcro
Arimatéia e Nicodemos cuidaram de Jesus (Mt 28.2-4).
às pressas do corpo de Jesus (Jo Focando em apenas um dos
19.38-42), Maria Madalena, Salo- anjos (Lc 24.4), Marcos anun-
mé e Maria (mãe de Tiago) com- cia, com extrema simplicidade,
praram essências aromáticas (v. o evento-chave do cristianismo
1) e, logo cedo, no domingo, foram (1Co 15.14): “ele ressuscitou, não
ao sepulcro para perfumar o cor- está mais aqui” (v. 6). A morte não
po do Senhor (v. 2). tem poder para vencer a vida (Jo
Últimas a saírem do Calvário; 11.25). Deus o ressuscitou (At
primeiras a chegarem ao sepulcro. 2.24 e 32; 1Co 6.14). Jesus é o
Amor transbordante pelo Servo: Filho de Deus, Salvador e Senhor
na alegria e na tristeza. (Rm 1.4).

78
Lição 13 - Marcos 16: Glória e Triunfo do Servo

3. Primeiras testemunhas (Mc 16.7) cia sobrenatural (v. 5); b) cultu-


Mas ide, dizei a seus discípulos e ralmente, à época, o testemunho
a Pedro que ele vai adiante de vós de mulheres era menos confiável
para a Galileia; lá o vereis, como ele que o de homens; c) espiritual-
vos disse. mente, ao que parece, mesmo a
Afirmada a ressurreição de visitação de anjos no sepulcro
Cristo, o anjo convida as mulhe- vazio falhou em estimular fé. O
res a ver o sepulcro vazio (v. 6) resultado? Medo, fuga e desobe-
e, em seguida, proclama palavra diência (v. 8).
cheia de encorajamento: “ide,
dizei a seus discípulos e a Pedro II. APARIÇÕES (Mc 16.9-14)
que ele vai adiante de vós para a
Galileia” (v. 7). O pecado entrou 1. Transformação (Mc 16.9)
no mundo pela mulher (Gn 3.6); Havendo ele ressuscitado de ma-
mas, por ela, vieram o Salvador nhã cedo no primeiro dia da se-
(Gn 3.15; Lc 1.30-31) e a propa- mana, apareceu primeiro a Maria
gação primeira da ressurreição. Madalena, da qual expelira sete
Estonteante sabedoria divina demônios.
(Rm 11.33). Depois de algum tempo de
No mais, tudo muito familiar: reflexão, Maria Madalena é a úni-
Jesus havia dito que, após a res- ca que consegue romper esses
surreição, os reencontraria na duros limitadores e correr para
Galileia (Mc 14.28). Também já contar a Pedro e João o que havia
havia afirmado que a essência do descoberto (Jo 20.2-10), demo-
discipulado consistia em seguir rando-se um pouco no túmulo
as suas pegadas (Mc 1.20; 8.34; depois que eles partem. Nesse
10.21 e 52). instante, o próprio Senhor apa-
A referência específica a Pe- rece, propiciando-lhe encontro
dro é de uma riqueza espiritual memorável. Maria Madalena é a
comovente: mesmo sua chocante primeira a encontrar-se com o
deserção (Mc 14.72) não impediu Jesus ressurreto (Jo 20.11-18)
que o primeiro movimento do Je- – sim, justamente ela, de quem
sus ressurreto fosse um explícito o Servo outrora havia expelido
e restaurador ato de perdão, co- sete demônios (v. 9; Lc 8.2).
locando em prática seus ensina- Eis o milagre da transforma-
mentos (Mc 11.25). ção: aquela que um dia aninhou
Todavia, a missão de testemu- dentro de si diversos seres ma-
nhar a ressurreição encontraria lignos, agora portará as boas-no-
sérios obstáculos: a) psicologi- vas da ressurreição de Cristo. O
camente, as mulheres ficaram Evangelho não é uma ideia nem
atordoadas com aquela experiên- filosofia, mas o poder de Deus

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para a salvação de todo aquele dito que aconteceria (Mc 8.31;


que crê (Rm 1.16). Mais tarde, as 9.31; 10.33-34).
demais mulheres também teriam Não importa quantas expe-
seu próprio encontro pessoal e riências espirituais tenhamos vi-
restaurador com o Jesus ressur- vido. A fraqueza de fé desses pri-
reto (Mt 28.9-10). vilegiados homens que andaram
lado a lado com Jesus constitui
2. Incredulidade (Mc 16.11) um eloquente alerta para perma-
Estes, ouvindo que ele vivia e que necermos vigilantes na luta con-
fora visto por ela, não acredita- tra a catástrofe da incredulidade
ram... (Hb 3.7–4.13; 2Co 13.4-5).
A postura ousada de Maria
Madalena contrasta com a reação 3. Diversas aparições (Mc 16.12)
insistentemente cética dos discí- Depois disto, manifestou-se em ou-
pulos (v. 10; Mc 14.50; Jo 20.19). tra forma a dois deles que estavam
Desprezaram o testemunho de de caminho para o campo.
Maria Madalena (v. 10-11) e das Após ressurreto, acontece-
demais mulheres (Lc 24.10-11). ram, registrados na Bíblia, pelo
Também não creram no testemu- menos, onze eventos de aparição
nho da dupla que encontrou com de Jesus antes de sua ascensão.
o Senhor no caminho de Emaús (v. Confira-se: à Maria Madalena (Jo
12-13; Lc 13.34). 20.14-18), ao grupo de mulheres
Jesus, enfim, aparece e cen- (Mt 28.9-10), a Pedro (Lc 24.34;
sura-lhes a dureza de coração, 1Co 15.5), aos dois discípulos no
confirmando os testemunhos an- caminho para Emaús (Lc 24.13-
teriores (v. 14) – e, mesmo assim, 35), aos discípulos em Jerusa-
não sem antes muita resistência lém (Lc 24.36-43; Jo 20.19-23), a
em aceitar que verdadeiramente Tomé e aos outros (Jo 20.24-29),
o próprio Cristo estava entre eles aos sete junto ao lago (Jo 21.1-
(Lc 24.36-43). O testemunho da 23), aos discípulos no monte (Mt
Igreja a respeito da ressurreição 28.16-20), a quinhentos seguido-
de Jesus é o testemunho do pró- res (1Co 15.6), a Tiago (1Co 15.7)
prio Senhor ressurreto (At 9.1-5). e aos discípulos, quando da as-
Impressiona a indisposição censão (Lc 24.44-53; At 1.1-12).
dos discípulos em crer naquilo As aparições de Cristo foram
que tantas testemunhas relatavam centrais para a pregação na Igre-
com convicção, que as Escrituras ja primitiva (At 2.32; 3.15; 10.41;
sinalizavam com clareza (Sl 16.9- 13.31) e para seu ensino (1Co
10; Is 26.19; Os 6.1-2; 1Co 15.3-4) 15.5-8). Jesus promoveu essas
e que o próprio Servo – prévia, ex- aparições durante um período
pressa e reiteradamente – já havia de quarenta dias (At 1.3).

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III. ASCENSÃO (Mc 16.15-20) devemos estar sempre prepara-


dos para ser boca de Deus (2Tm
1. Grande comissão (Mc 16.15) 2.15), com a firme convicção de
E disse-lhes: Ide por todo o mundo que Jesus está conosco (Dt 31.6;
e pregai o evangelho a toda cria- Mt 28.20) e garantirá a eficácia
tura. de Sua Palavra por meio de sinais
Uma vez cumprido seu mi- que acompanharão os que creem
nistério terreno (Mc 1.14-15 e (v. 17-18; Is 55.10-11).
10.45), não havia mais razões
para Jesus permanecer fora de 2. À destra de Deus (Mc 16.19)
casa (Jo 14.2-3). Antes, porém, De fato, o Senhor Jesus, depois de
o Senhor restaura a comuni- lhes ter falado, foi recebido no céu
dade de discípulos, bem como e assentou-se à destra de Deus.
sua chamada missionária (Mc As aparições e desaparições
6.7-13), constituindo-os, enfim, de Jesus depois da ressurreição
como seus genuínos embaixado- foram instantâneas (Jo 20.19);
res nesta terra (Is 61.1-3; 2Co a ascensão, porém, foi gradual
5.20; 1Pe 2.9). Com efeito, a pa- (At 1.6-11). Sua partida da terra
lavra deve ser pregada a todas deu-se com uma lenta e emocio-
as criaturas e em todo o mundo nante subida – assim como sua
(v. 15). Discípulos de todas as entrada ao mundo foi uma “des-
nações deverão ser formados e cida” (Ef 4.9-10). Igualmente,
batizados em nome do Pai, do como sua entrada no mundo foi
Filho e do Espírito Santo (Mt sobrenatural (Lc 1.35 e 2.13-14),
18.18-19). assim também o foi sua partida.
É certo que a Palavra de Deus A ascensão de Jesus marcou
é espada de dois gumes: gera vida, a conclusão de seu ministério na
mas também sentencia com a terra e o começo de seu ministé-
morte (v. 16; Jo 3.18; Hb 4.12). En- rio no céu, agora como Sumo Sa-
tretanto, como afirma Dewey Mu- cerdote e Advogado de seu povo
lholland, para a Igreja, optar pelo (Hb 7–10; 1Jo 2.1-3).
silêncio é um perigo maior que a Importante lembrar que, para
perseguição e a morte: o Evange- os judeus, não haveria novidade
lho só será boas novas se for com- em um grande herói ascender vi-
partilhado (Rm 10.14-17). sivelmente aos céus, como ocor-
Logo, não podemos ser tími- rera com Elias (2Rs 2.11). Mas
dos ou negligentes na tarefa de, Jesus não só subiu, como também
com amor e sabedoria, pregar o foi recebido nas alturas “e assen-
Evangelho a todos, em qualquer tou-se à destra de Deus" (v. 19),
lugar e a qualquer tempo (2Tm ou seja, lugar de suprema honra
4.1-2). Antes, pelo contrário, e autoridade (Sl 110.1; Mc 12.36),

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tanto no céu quanto na terra (Mt Diante de tão imensa glória, po-
28.18; 1Pe 3.22). Jamais houve der e autoridade, não nos espanta
alguém cujo nome fosse digno de saber que, com a obediência dos
tamanha exaltação (Fp 2.9-11; Ap discípulos em pregar o Evangelho
5.11-14). Todas as coisas do uni- por toda a parte, o Senhor tenha
verso estão debaixo dos pés do cooperado fielmente com eles, con-
Cristo exaltado (Ef 1.20-23). firmado a palavra por meio de si-
nais (v. 20; Mt 11.5). Até hoje, quan-
3. Sinais (Mc 16.20) do a Igreja proclama a mensagem
E eles, tendo partido, pregaram em de Deus, o próprio Deus se encar-
toda parte, cooperando com eles rega de confirmar essa mensagem
o Senhor e confirmando a palavra com a manifestação de seu poder
por meio de sinais, que se seguiam. (Jo 14.12; At 1.8-9; 1Co 2.4; 1Ts 1.5).

APLICAÇÃO PESSOAL
Temos o mais poderoso Senhor e a mais poderosa mensagem. Portan-
to, deixando de lado todo medo ou timidez, preguemos com ousadia
o Evangelho de Cristo a tantos quantos estiverem ao nosso alcance.

RESPONDA
1) Culturalmente, qual o problema para que mulheres testemunhassem a respeito da ressur-
reição de Jesus?

2) Segundo a lição, qual a primeira pessoa que se encontrou com o Jesus ressurreto?

3) Depois da ressurreição, durante quantos dias Jesus promoveu aparições antes de ser
elevado às alturas (At 1.9)?

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