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Suar Olyot

Editora Fiel
PEGAÇÃO PUR E SIMPLES
©2005 by Suar Olyot.
íulo do Original: Preach
Original: Preaching
ing Pure and
and Simple

raduzido e impresso com permissão de


Brynirion Press - País de Gales - eino Unido.

Copyrigh © 2008 Ediora Fiel


Primeira Edição em Poruguês - Fevereiro de 2008

odos os direitos em língua portuguesa reservados por


 Editora Fiel da Missão Evangélica
Evangélica Literária
Literária

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Edior: Pr. icardo Denham


Editora Fiel Coordenação Ediorial: iago Sanos
radução: Pr. Wellingon Ferreira
 Av. Cidade Jardim,
 Av. Jardim, 3978 evisão: Laura Macal e Marilene Paschoal
Bosque dos Eucalipos
São José dos Campos-SP
Capa e diagramação: Edvânio Silva
PABX.: (12) 3936-2529 Direção de are: ick Denham
 www.editor
 www.editorafiel.c
afiel.com.br
om.br ISBN: 978-85-99145-40-1
Este livro é dedicado à
memória de Hugh David
Morgan (1928-1992),
que já foi descrito como
“o pastor mais amado do
País de Gales”
Índice

Introdução  ................................................................................................9

Parte 1
O que é Pregação?...................................................................................13

Parte 2
O que Torna a Pregação Excelente?
1 Exaidão Exegéica ................................................................29
2 Coneúdo Dourinário .........................................................49
3 Esruura Clara .......................................................................67
4 Ilusrações Vívidas .................................................................83
5 Aplicação Penerane ......................................................... 101
6 Pregação Eficiene .............................................................. 115
7 Auoridade Sobrenaural................................................... 131

Parte 3
Sugesão de um Méodo de Preparação de Sermões .................. 149
Introdução

 J ohn esá em seus vine anos de idade e Jack em quase cinqüena, mas se
ornaram bons amigos. Eles não se conheciam, aé se enconrarem em
uma série de seminários mensais sobre pregação, em uma cidade vizinha.
Essas reuniões mensais lhes proporcionaram não somene uma nova amiza-
de, como ambém mudaram as suas vidas para sempre.
 Anes de assisir aos seminários, John nunca havia pregado. Ele pen-
sara no assuno por muio empo, mas nunca soubera como começar. Mas,
o que é realmene pregar? Qual a diferença enre um sermão e uma pa-
lesra? Por que algumas pregações são poderosas e caivanes, enquano
ouras são enfadonhas e monóonas? Quais os elemenos essenciais de
um bom sermão? Os seminários responderam as pergunas de John e o
colocaram no rumo cero. Hoje, ele prega com regularidade e seu minisé-
rio realiza uma boa obra espiriual.
 A hisória de Jack é muio diferene. Anes de assisir aos seminários, ele
esivera envolvido na pregação por mais de vine anos. Apesar disso, senia
que precisava melhorá-la. Havia lido alguns livros sobre o assuno e buscara
o conselho de algumas pessoas. Por que os seus sermões pareciam não ali-
menar ninguém? Por que as pessoas se desligavam menalmene, quando ele
ainda esava nos minuos iniciais de seu sermão? E, o que é mais imporane,
por que Jack conhecia ão poucas pessoas ransformadas por seus sermões?
Os seminários rouxeram-lhe alívio inenso, colocando udo em ordem ao fa-
zerem-no livrar-se de coisas desnecessárias, preservando as essenciais. Agora,
muias pessoas agradecem ao Senhor pela poderosa pregação de Jack.
Pregação Pura e Simples

Os seminários foram bem modesos. Cada um deles consisia em uma


palesra inroduória que não apresenava nenhuma novidade e devia muio
ao discernimeno de ouros. Enão, era seguido por pergunas e meia hora
de discussão orienada. Mas, os Johns e os Jacks que freqüenaram aquelas
reuniões se referem a elas com freqüência e usam o maerial dos seminários
para avaliarem não somene a si mesmos, mas ambém uns aos ouros. Eles
pediram que a essência do que aprenderam fosse colocada na forma de um
livro. Eis o livro.

Suar Olyot
Movimeno Evangélico do País de Gales
Brynirion, Bridgend
Novembro de 2004

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Parte 1

O que é Pregação?
O que é Pregação?

S e alguém gasasse uma semana lendo oda a Bíblia e, na semana seguin-


e, se familiarizasse com os principais aconecimenos da hisória da
igreja, o que observaria? Que a obra de Deus no mundo e a pregação esão
inimamene ligadas. Onde Deus age, ali a pregação floresce. Em odos os lu-
gares em que a pregação é menosprezada ou esá ausene, ali a causa de Deus
passa por um empo de improduividade. O reino de Deus e a pregação são
irmãos siameses que não podem ser separados. Junos, eles permanecem de
pé ou caem.
O que iso significa para nós? Significa que, se emos um desejo sério
de ver Deus sendo adorado mais do que Ele realmene o é, precisamos nos
ineressar ardenemene pelo assuno da pregação. Iso será verdade, quer
sejamos pregadores, quer não. Se pregamos, desejaremos fazê-lo melhor. Se
não pregamos, desejaremos fazer udo o que pudermos para ajudar e enco-
rajar aqueles que pregam.
Enão, o que é pregação? Ficamos admirados ao observar quão poucas
pessoas são capazes de apresenar uma resposa exaa a esa perguna. Iso
é verdade aé enre aqueles que pregam durane muios anos! O problema
é que muias pessoas êm formulado sua idéia de pregação a parir do que
ouvem e lêem, e não a parir de um esudo aencioso das Escriuras.

Quatro palavras do Novo Testamento que significam pregar

O Novo esameno descreve a pregação usando mais de sessena ma-


Pregação Pura e Simples

neiras diferenes, porém reserva um lugar especial para quaro palavras.1 Ao


escrever sobre elas, usarei a sua forma verbal, mas erei em mene ouras
palavras da mesma família. Por exemplo, quando uso kerusso (“pregar”),
ambém enho em mene kerygma (“a mensagem pregada”) e keryx (“um
arauo”). Porano, consideremos esas quaro palavras e vejamos de que
forma elas nos ajudam a compreender o que é  pregação. alvez alguns de
nós devamos nos preparar para uma surpresa!

(1) kerusso
Nenhuma oura palavra que significa pregar é mais imporane do que
esa. Ela sempre nos ocorre quando falamos sobre pregação. É usada mais
de sessena vezes no Novo esameno. Significa “declarar, como o faz um
arauo”. efere-se à mensagem de um rei. Quando um soberano inha uma
mensagem para seus súdios, ele a enregava aos arauos. Eses a ransmi-
iam às pessoas sem mudá-la ou corrigi-la. Simplesmene ransmiiam a
mensagem que lhes havia sido enregue. Os ouvines sabiam que esavam
recebendo uma proclamação oficial.
O Novo esameno usa ese verbo para enfaizar que o pregador não
deve anunciar sua própria mensagem. Ele fala como pora-voz de Ourem. A
ênfase desa palavra esá na transmissão exaa da mensagem. O pregador não
fala com sua própria auoridade. Ele oi enviado e fala com a auoridade dA-
quele que o enviou. Palavras da família de kerusso são usadas para descrever
a pregação de Jonas (M 12.41), de João Baisa (M 3.1), de nosso Senhor
 Jesus Criso (“proclamar” e “apregoar” � Lc 4.18b-19) e de seus apósolos
(“pregador” � 1 m 2.7; 2 m 1.11).

(2) euangelizo
Esa é a palavra da qual obivemos a nossa palavra “evangelizar”. O ver-
 bo grego significa “razer boas noícias” ou “anunciar boas-novas”. Em Lucas
2.10, onde lemos que o anjo disse: “Eis aqui vos trago boa-nova...”, ele usou
ese verbo. Mas é imporane observar que kerusso e euangelizo não signi-
ficam algo oalmene diferene. Muias pessoas abraçaram a idéia de que
esses verbos falam sobre duas aividades separadas. Apegaram-se a esa idéia

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O que é Pregação?

sem esudar as Escriuras, para saber o que elas dizem a respeio do assuno.
 Assim, desenvolveram ponos de visa errados quano à pregação.
Precisamos considerar com aenção Lucas 4.18-19. Eses versículos
descrevem nosso Senhor falando na sinagoga de Nazaré, a cidade da Gali-
léia na qual Ele fora criado. Nosso Senhor começou a sua mensagem lendo
o profea Isaías. Ele escolheu uma passagem que, cenenas de anos anes,
predissera o seu minisério. Não há dúvida de que sua leiura ocorreu em
língua hebraica, mas Lucas narrou o aconecimeno usando a língua grega.
No versículo 18a, “evangelizar” é uma forma do verbo euangelizo, enquano
nos versículos 18b e 19, “proclamar e anunciar” são formas do verbo kerusso.
Nosso Senhor usou ambos os verbos para descrever seu minisério. Ao fazer
um, Ele fazia ambém o ouro. “Proclamar” é “evangelizar”, que, por sua vez,
é “proclamar”!
“Evangelizar” pode aé ser usado em referência a algo que fazemos aos
crenes! Iso pode ser viso, por exemplo, em omanos 1.15. Depois de
saudar os seus leiores, que eram crenes, no versículo 7, e de apresenar as
informações dos versículos 8-14, Paulo coninuou: “Quano esá em mim,
esou prono a anunciar o evangelho ambém a vós ouros que esais em
oma”. A expressão “anunciar o evangelho” é uma radução do verbo euan-
 gelizo. Paulo iria a oma para evangelizar aqueles que já eram converidos!
É empo de pensarmos novamene a respeio de como usamos nossas várias
palavras que expressam a idéia de pregar.

3) martureo
Ese verbo significa “dar esemunho dos faos”. Hoje, porém, quando os
crenes falam sobre testemunhar, o que eles geralmene querem dizer? Com
freqüência, usam esa palavra a fim de descrever aqueles momenos em que
conam aos ouros sua experiência pessoal com o Senhor. Na Bíblia, martu-
reo não é usado dessa maneira, em nenhuma ocasião. Muio freqüenemene,
esse verbo é usado ao dar esemunho no ribunal. Em ouras ocasiões, mar-
tureo é usado com o senido de invocar a Deus (ou mesmo pedras) para
esemunhar algo. Esse verbo se refere compleamene à objeividade, e não
à subjeividade; refere-se a conar às pessoas faos e aconecimenos, e não

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 •
Pregação Pura e Simples

os meus senimenos ou o que aconeceu a mim.


Quem já omou empo para esudar a Sepuagina (a aniga radução
grega do Anigo esameno) sabe que as afirmações do parágrafo anerior
são verdadeiras. Um esudo do Novo esameno nos leva rapidamene à
mesma conclusão. No relao de João,
João, quando a mulher samariana
samari ana usou mar-
tureo (“anunciara” � Jo 4.39), ela se referiu ao coneúdo de uma conversa.
Em 1 João 1.2, quando o apósolo empregou martureo (“damos esemu-
nho”), ele falava do que vira e ouvira. Em Aos 26.5, quando Paulo usou
martureo (“esemunhar”), ele o fez porque esava apelando a um esemu-
nho diane de uma core.
Mas, ao esudarmos esa palavra, exise uma passagem que é sobremo-
do relevane. A passagem é Lucas 24.44-48. Neses versículos, nosso Senhor
ressusciado esá dizendo aos discípulos o que deveriam fazer.
fazer. Deveriam sair
por odo o mundo pregando (kerusso) o arrependimeno e a remissão dos
pecados (v. 47 � “pregasse”) e sendo testemunhas (uma palavra da família
de martureo) dos grandes faos do evangelho, que eles mesmos presenciaram
presenc iaram
(v. 48). Aqueles que proclamam dão esemunho; e aqueles que dão ese-
munho proclamam. E, se olhássemos Maeus 28.20, perceberíamos que os
recepores da Grande Comissão ambém deveriam ensinar ( didasko).
 A que conclusão chegamos?
chegamos? Aprendemos que kerusso não é algo sepa-
rado de euangelizo. ambém aprendemos que kerusso não é algo separado
de martureo. E agora emos aprendido que kerusso e martureo não são aivi-
dades divorciadas de didasko � nossa quara grande palavra � à qual nos
 volveremos
 volver emos em seguida.
Por favor, observe: não esou dizendo que esas palavras são inercam-
 biáveis. Esou mosrando que, ao fazermos algumas desas coisas, fazemos
ambém as ouras � viso
v iso que pregar inclui todas elas! Ese é um argumeno
que não podemos enfaizar demais. Adiane, ressalaremos novamene ese
argumeno. Por enquano, devemos considerar nossa quara palavra.

4) didasko
Esa palavra significa “pronunciar em ermos concreos o que a mensa-
gem significa em referência ao viver”. É um erro grave separar kerygma (uma

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O que é Pregação?

palavra da família de kerusso) de didache (uma palavra da família de dis-


dasko). Não são apenas os eólogos erudios que êm procurado fazer isso,
pois há inúmeros crenes, em nossas igrejas, que fazem uma clara disinção
enre uma “mensagem evangelísica” e uma “mensagem dourinária”. Logo
falaremos um pouco mais sobre isso.
“Pronunciar em ermos concreos o que a mensagem significa em re-
ferência ao viver” não deve ser um mero acréscimo à nossa pregação; deve
ser uma pare da mensagem que proclamamos. Iso pode ser comprovado
ao lermos Aos dos Apósolos. Em Aos 5.42, lemos que os apósolos não
cessavam “de ensinar e de pregar” (didasko e euangelizo) a Jesus, o Criso.
Em Aos 15.35, lemos que Paulo e Barnabé demoraram-se em Anioquia,
“ensinando e pregando” (didasko e euangelizo), a palavra do Senhor. Em
 Aos 28.31, lemos que Paulo usou sua casa em oma para prega p regarr e ensinar
(kerusso e didasko). Precisamos ser sensíveis ao vocabulário do rela
relaoo inspi-
rado.. Quando alguém faz o que significa um desses verbos, essa pessoa esá
rado
fazendo, ao mesmo empo, o que significa algum ouro deles!
Precisamos dizer mais do que isso. Se compararmos Aos 19.13 com
 Aos 19.8, veremos
veremos que Paulo
Paulo,, ao pregar (kerusso) em Éfeso, ambém “falava
ousadamene, disserando e persuadindo”. Desa maneira, Lucas nos mos-
ra que, quando alguém prega (kerusso), esá fazendo muio mais do que os
ouros rês verbos expressam. Seguir esa linha de pensameno nos levaria a
um esudo que vai além do escopo dese livro. Mas, anes
anes de deixarmos
dei xarmos Aos
dos Apósolos, devemos observar
obser var Aos 20.24-25. Nesa passagem, Paulo Paulo ex-
plicou aos presbíeros de Éfeso que dar esemunho solene do evangelho
(“esemunhar”
(“es emunhar” � uma palavra da família
famí lia de martureo) foi algo que ocorreu
enquano ele eseve “pregando” ( kerusso).

O que isto significa para nós

Esamos em perigo de dar muia aenção aos dealhes e não enender


o que é realmene imporane. Que argumeno esamos, de fao, procurando
esabelecer? É ese: quando alguém prega, não impora o lugar em que eseja
ou para quem esá falando, esá fazendo odas as quaro coisas que menciona-

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 •
Pregação Pura e Simples

mos. No Novo esameno,


esameno, não emos uma palavra que signifique
sig nifique pregar para
o perdido e oura que signifique pregar para o salvo. Simplesmene não en-
conramos mensagens conhecidas como “mensagens dourinárias”, enquano
ouras são conhecidas como “mensagens evangelísicas”. Alguns leiores po-
dem achar iso desagradável, mas não podemos alerar o que a Bíblia diz. A
pregação, oda a pregação, envolve fazer quaro coisas de uma vez.
Se pudermos enender isso, muias passagens das Escriuras nos ain-
girão de maneira diferene. Um bom exemplo é 2 imóeo 4.1-5. Neses
 versículos, Pa
Paulo
ulo escreve
escreveuu suas palavras finais a alguém que, mesmo sen-
do jovem, já era um imporane líder crisão. Paulo o insrui solenemene
a pregar “a Palavra”! Nesse pono, ele usou o verbo kerusso. Mas, por que
imóeo devia fazer isso? Por que viria o empo em que as pessoas não su-
porariam a sã “dourina” (uma palavra da família de didasko) e se cercariam
de “mesres” (oura palavra da família de didasko). É óbvio que Paulo esava
dizendo a imóeo que pregar (kerusso) é a maneira de ensinar ( didasko) a
igreja e proegê-la do erro.
Mas isso não é udo. Paulo exorou imóeo a fazer o rabalho de um
“evangelisa” (uma palavra da família
famíl ia de euangelizo). É claro que Paulo
Paulo queria
dizer que, à medida que imóeo pregasse (kerusso) e, conseqüenemene,
ensinasse [didasko], deveria assegurar-se de que o verdadeiro evangelho
(euangelizo) fosse manido em primeiro plano. Assim, em um único pará-
grafo, vemos que rês de nossas quaro palavras foram usadas para descrever
a arefa de imóeo. Se ele era um verdadeiro pregador, não faria apenas
uma dessas coisas e sim odas elas. Onde quer que enconr
enconremos
emos a verdadei-
ra pregação, várias coisas aconecem ao mesmo empo.
Se não levarmos isso em cona, jamais seremos verdadeiros pregadores.
emos de nos livrar da idéia de que exisem dois ipos de pregação: uma que é
adequada ao não-converido e oura que é conveniene para o converido. De
agora em diane, emos de rejeiar o pensameno de que pregar para o perdido
e pregar para o salvo são dois fenômenos disinos. Não devemos esabelecer
uma divisão enre um ipo e ouro de pregação. oda pregação é uma pro-
clamação da salvação (no pleno senido desse ermo) a homens e mulheres,
rapazes e moças. É verdade que a audiência pode ser consiuída de pessoas

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O que é Pregação?

muio diferenes. É verdade que os não-converidos e os converidos não êm


as mesmas necessidades. Porano, é verdade que a maneira como a Bíblia é
aplicada pode variar consideravelmene. Mas não é verdade que a pregação
minisrada aos não-converidos possui uma naureza diferene da pregação
apresenada aos converidos. A idéia de que há dois ipos disinos de prega-
ção (e de que algumas pessoas são boas para um ipo de pregação; e ouras
pessoas são boas para ouro ipo de pregação) esá impedindo as pessoas de
odos os lugares a enenderem o que é a verdadeira pregação.

Resposta à nossa pergunta

Enão, o que é pregação? A pregação, oda a pregação, é consiuída de


quaro coisas:
1. É proclamar a mensagem dada pelo ei ( kerusso). Iso nos fala sobre a
 onte da mensagem e a autoridade que a acompanha.
2. É anunciar boas-novas (euangelizo). Iso nos fala sobre a qualidade da
mensagem e o espírito com que ela é apresenada.
3. É dar esemunho dos faos (martureo). Iso nos fala sobre a natureza da
mensagem e a base na qual ela esá consruída.
4. É um esclarecimeno das implicações da mensagem (didasko). Iso nos
fala sobre o alvo da mensagem (a consciência do ouvine) e a medida do
seu sucesso (ela muda a vida de alguém?).

Enquano não esivermos esclarecidos quano a ese assuno, nunca


eremos pregado realmene, de modo algum. Porano, a fim de ornar as coi-
sas ão claras quano possível, você virá comigo a uma igreja local? Ela não
possui muios membros, e, conforme pensamos, odos eles são verdadeiros
crenes. Quando subo ao púlpio a fim de pregar para eles, o que faço?
Primeiramene, oda a minha mensagem é obida nas Escriuras. Não a
inveno. Descobrirei o que o ei afirma em sua Palavra e mosrarei isso aos
membros da igreja. Iso é kerusso.
alvez eu enha de falar ousadamene sobre o pecado deles. Esas
serão más noícias. Mas não os deixarei confusos, em desespero. Eu lhes

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Pregação Pura e Simples

mosrarei como a passagem os leva a Criso, dizendo-lhes como Ele é, e


o que fez em benefício dos pecadores. Isso afeará o modo como udo é
anunciado. Anes de erminar o culo, eles erão ouvido as boas-novas da
graça de Deus. Iso é euangelizo.
Minha mensagem lhes falará sobre a daa e os empos do livro bíblico
que esamos considerando; eu lhes darei abundância de informações fac-
uais, quer sejam aconecimenos, geografia, culura ou ouras coisas. E o
melhor de udo: eles ouvirão novamene os grandes faos da encarnação, da
 vida, more, ressurreição e ascensão do Senhor Jesus Criso. Não os deixarei
aeando em um mundo absrao. Iso é martureo.
Falarei direamene à consciência deles. Mosrarei o que a passagem
significa, mas não pararei ali. Eu lhes mosrarei o que a passagem significa
para eles. E saberão de que maneira a passagem exige uma mudança em sua
 vida. Em nome de Criso, insisirei no arrependimeno. Apresenarei ins-
ruções práicas fundamenadas na Bíblia. Por úlimo, lhes recordarei como
eles presarão conas a Deus mesmo. Iso é didasko.
 Ao final, terei pregado porque fiz as quaro coisas que a Palavra de Deus
exige de mim. E volarei para casa. Conudo, no caminho de vola, enconra-
rei alguns adolescenes nas ruas. E, viso que vocês esão comigo, pararemos
para conversar com eles. Vocês e eu sabemos que emos de suporar alguns
momenos de insensibilidade. ambém sabemos que evenualmene eles
concordarão em ouvir o que emos a dizer-lhes. Enão, onde começaremos?
Não invenarei o que devo dizer-lhes. alvez não possamos abrir
nossa Bíblia diane deles, mas udo que dissermos virá do Livro. rans-
miiremos, ão fielmene quano possível, o que o ei em a dizer a jovens
como esses. Iso é kerusso.
É claro que nos concenraremos nas grandes verdades do evangelho.
Nós lhes falaremos a respeio de Deus, de suas exigências, do seu Filho, da
necessidade de que se arrependam e creiam. Falaremos sobre a ira de Deus.
E, com alegria, lhes proclamaremos o amor de Deus e o que Ele fez na cruz.
 Amaremos esses jovens enquano conversarmos com eles. E odos eles sa-
 berão que a nossa mensagem é boas-novas. Iso é euangelizo.
Não seremos desviados de nossa arefa. Conaremos a eles os faos so-

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O que é Pregação?

 bre a exisência de Deus, o pecado deles, a vinda de Criso, a sua expiação


e a sua ressurreição, o fim do mundo e o que Deus promee àqueles que se
converem a Ele. Iso é martureo.
Incuiremos nossa mensagem com oda a energia que pudermos. Ex-
plicaremos que eles se perderão eernamene, se permanecerem como são.
Nós lhes ordenaremos, exoraremos, convidaremos e apelaremos a que se
arrependam de seus pecados e converam-se a Criso. Diremos a eles que
não há nada mais imporane do que isso. Insisiremos que precisam se arre-
pender e volar-se para Criso agora. Iso é didasko.
 Assim, ano na igreja como nas ruas, eremos feio as mesmas qua-
ro coisas � kerusso, euangelizo, martureo, didasko.   Daremos apenas um
sermão, mas eremos pregado duas vezes! Passaremos por duas siuações
 bem diferenes: uma na igreja, oura na rua. Falaremos a pessoas que são
muio diferenes umas das ouras, mas cujas necessidades profundas são as
mesmas. Faremos aplicações diferenes. Experimenaremos resulados dife-
renes. Mas não eremos feio duas coisas diferenes. Apesar das diferenças
enormes, no que concerne às siuações, em ambas teremos pregado!

Algumas das características-chave


da pregação do Novo Testamento

Porano, já ficou claro o que significa a pregação. Agora, sabemos o su-


ficiene sobre ela para descobrirmos se esamos realmene pregando ou não.
ambém já sabemos a respeio do espírio em que ela deve ser realizada.
Mas seria errado erminar um capíulo inroduório como ese, sem obser-
 varmos que o Novo esameno enfaiza rês caracerísicas pariculares da
 verdadeira pregação.

1) Compulsão
 A primeira é compulsão. Exise algo no ínimo do pregador que o im-
pulsiona à sua obra. Ele possui um consrangimeno inerior que é maior do
que ele mesmo. Em seu coração, há um fogo que se recusa a exinguir-se. Ele
não pode deixar de pregar. Ele tem de pregar. E clama: “Ai de mim, se não

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 •
Pregação Pura e Simples

pregar o evangelho!” (1 Co 9.16). Quando ordenado a parar, o pregador


declara como os apósolos: “Não podemos deixar de falar das coisas que
 vimos e ouvimos” (A 4.20). Ele em um senso de vocação que não encon-
ra dificuldade para enender o que significavam as palavras de seu Senhor,
quando disse: “Vamos a ouros lugares, às povoações vizinhas, a fim de que
eu pregue ambém ali, pois para isso é que eu vim” (Mc 1.38).
Onde não exise essa coerção inerior, ambém não exise um verdadeiro
pregador. Na Bíblia, o homem que proclama, anuncia, dá esemunho dos fa-
os e deseja aingir a consciência é um homem impulsionado. Nos recessos de
sua alma, Deus o conquisou, e esse homem vive cada hora com a consciência
de que foi enviado. A experiência é ão profunda que ele não enconra palavras
para descrevê-la. O melhor que ele pode fazer é conversar a respeio do seu
“chamado”, embora nunca enha escuado uma voz ou recebido uma visão.
Em circunsâncias normais, o “chamado” do pregador é reconhecido,
de um modo ou de ouro, pela igreja de Jesus Criso. Ese reconhecimen-
o é designado, freqüenemene, de “chamado exerior”. Seria anormal um
homem coninuar pregando sem esse chamado. odavia, muias vezes, as
igrejas evangélicas possuem ão pouco discernimeno e mauridade; são ão
mundanas e dominadas pelo pecado, que são incapazes de reconhecer um
homem enviado dos céus. O homem que é verdadeiramene chamado não
desisirá por causa disso. O fogo dado por Deus arderá ão inensamene
como sempre ardeu. A energia inerior impelirá esse homem. Ele pregará,
pregará e pregará de novo, porque a compulsão de seu ínimo é invencível e
o deixará sem opções.

2) Clareza
 A segunda caracerísica-chave é clareza. E em de ser! Os arauos sem-
pre falam na linguagem das pessoas que os ouvem. A boa-nova apresenada
com palavras e frases difíceis não é boa-nova. Se os faos são mosrados sem
clareza parecerão ficção. E como alguma coisa pode ser incuida na consci-
ência, se não pode ser enendida?
Os verdadeiros pregadores são pregadores de linguagem clara. Decla-
ram a palavra do ei; por isso, não araem a aenção para si mesmos. Não

• 22
 •
O que é Pregação?

permiem que nada obscureça a mensagem da cruz. Anseiam que cada


ouvine grave os faos e não seja disraído pela maneira como eses são apre-
senados. Mosram-se resoluos a fazer com que ninguém enha dúvidas
quano ao que se espera deles em seguida.
O apósolo Paulo falou por odos os verdadeiros pregadores da Palavra,
quando descreveu a sua pregação como uma proclamação franca da verdade
(2 Co 4.2). Ele decidiu “pregar o evangelho; não com sabedoria de palavra,
para que se não anule a cruz de Criso” (1 Co 1.17). Eis uma descrição de
seu minisério:
 Eu, irmãos, quando ui ter convosco, anunciando-vos o testemunho
de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria.
 Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este cruci-
 ficado. E oi em faqueza, temor e grande tremor que eu estive entre
vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em lin-
 guagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito
e de poder, para que a vossa é não se apoiasse em sabedoria huma-
na, e sim no poder de Deus. (1 Co 2.1-5.)

3) Cristocêntrica
 A erceira caracerísica-chave é a cenralidade de Criso. E em de ser.
Iso é verdade, porque os pregadores são arauos da Escriura. E oda a Es-
criura fala sobre a pessoa de Criso. Implícia ou expliciamene, direa ou
indireamene, cada pare da Bíblia nos revela Criso. Em oda a Escriura,
não há qualquer passagem que seja uma exceção.
O Espírio de Criso moveu odos os auores do Anigo esameno
a escreverem os seus livros (1 Pe 1.10-12). O próprio Senhor Jesus escla-
receu o Anigo esameno para os seus discípulos e lhes explicou que Ele
esava conido em cada pare das Escriuras (Lc 24.25-27, 44-48). Jesus é
o grande assuno dos quaro evangelhos, de Aos dos Apósolos, de odas
as epísolas e do Apocalipse. Enão, o que diremos a respeio de um prega-
dor que abre a sua Bíblia e não prega a Criso com base na passagem que
em diane de si? Esse pregador não enendeu o Livro; e, se não o enen-
deu, não deveria esar pregando!

• 23
 •
Pregação Pura e Simples

O Senhor Jesus Criso é o coneúdo e o cenro de udo o que Deus re-


 velou em sua Palavra. Jesus é o foco da hisória bíblica. É o âmago de odos
os escriores sagrados, desvendando-se a Si mesmo à mene deles e guiando
os seus escrios. Ele se revela nas páginas das Escriuras a cada pessoa que
comissionou, pessoalmene, ao minisério da pregação. Onde Criso não é
pregado, ali não exise pregação.

Por que este livro possui esta estrutura

Com odas esas coisas em mene, esamos em condições de enen-


der por que ese livro possui esa esruura. Agora, sabemos o que significa
a pregação. emos viso rês das suas caracerísicas-chave. Enão, como
pregar com deerminação? Como podemos er cereza de que esamos pre-
gando correamene?
Não é difícil responder a esas pergunas. econhecendo que somos
arauos do ei e que em seu Livro esá escrio udo que Ele em a dizer-nos,
não pode haver nada mais imporane do que ober o seu significado cor-
reo. E não obemos ese significado, se não vemos a Criso nas páginas das
Escriuras. Pregar requer exatidão exegética.
 A Bíblia é um livro compleo. Nada lhe pode ser acrescenado. Se iso
é verdade, podemos esudá-la e desenvolver o que ela ensina a respeio de
um assuno específico. Ao esudá-la, descobrimos que ela ensina um sisema
compleo de dourina, que revelo em qualquer passagem sobre a qual eu
prego. Por isso, enho de mosrar às pessoas que sisema é esse. Pregar exige
conteúdo doutrinário.
Mas, não aprendemos que a clareza é uma das caracerísicas-chave da
pregação bíblica? Podemos dizer que uma mensagem é clara, se emos difi-
culdade em acompanhá-la e não podemos recordá-la? Pregar exige clareza
na estrutura. E, por essa mesma razão, requer ilustrações vívidas.
Não devemos esquecer que a Palavra do ei, as boas-novas, enree-
cida nos faos, em de aingir a consciência (didasko). Ela insise que odo
ouvine corrija o seu viver. Pregar requer aplicação penetrante.
 Aconeça o que aconecer, a mensagem divina em de alcançar seu alvo.

• 24
 •
O que é Pregação?

Não devemos permiir que nada lhe obsrua o seu objeivo. A maneira como
um pregador fala e se movimena pode ser uma ajuda ou um obsáculo. Pre-
gar exige uma pregação eficiente.
Por causa do fogo inerior que se recusa a apagar-se, o pregador se en-
 volverá emocionalmene com os seus ouvines. O pregador falará a palavra
do ei em nome dEle, mas não desejará fazer isso sem experimenar a pre-
sença e a bênção do ei. Na verdadeira pregação, há uma dimensão que não
ousamos desprezar. Pregar requer autoridade sobrenatural.
Eses são os elemenos que consiuem a verdadeira pregação. Não bas-
a er a maioria deles; precisamos de odos eles. ambém precisamos de um
méodo de preparar sermões que, enquano possível, nos proporcione eses
elemenos. Por isso, nosso livro ermina com uma sugesão de um méodo
de preparação de sermões.

Noas:

1 Minha aenção foi araída, pela primeira vez, a esas quaro palavras pela leiura do clássi-
co Preaching and Biblical Teology (Pregação e eologia Bíblica), escrio por Edmund P.
Clowney (London, Te yndale Press, 1962), p. 54-59.

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 •
Parte 2

O que Torna a
Pregação Excelente?
1
Exatidão Exegética

N ossa arefa é clara: emos de usar os lábios para explicar e proclamar


a Palavra de Deus, aplicando-a à consciência e vida das pessoas que
nos ouvem. Mas, onde enconramos a Palavra de Deus? udo o que Deus
em a dizer aos homens e mulheres foi escrio nas palavras e senenças que
consiuem a Bíblia. Essas palavras e senenças possuem um significado in-
encional. Porano, nada � nada mesmo � pode ser mais imporane do
que conhecer o significado correo. O esudo que revela o significado inen-
cional das palavras e senenças da Bíblia chama-se exegese. Não haverá um
pregador verdadeiro, se udo o que ese disser não esiver fundamenado em
exatidão exegética.
Pecamos quando pregamos aquilo que achamos que as Escriuras
afirmam, e não pregamos o seu verdadeiro significado. ambém pecamos
quando pregamos os pensamenos que a Palavra despera em nosso inelec-
o e não aquilo que a Palavra realmene declara. Um arauo é um raidor, se
não ransmie exatamente o que o ei diz. Quem ousará colocar-se diane
de uma congregação e proclamar: “Assim diz o Senhor”, afirmando em se-
guida, no nome do Senhor, aquilo que Ele não disse? Precisamos enfaizar
novamene: na pregação, não exise nada � nada mesmo � que seja mais
imporane do que a exaidão exegéica.

Quando a “exegese” não é exegese

Não devemos pensar que odos os pregadores que gasam muias ho-
Pregação Pura e Simples

ras esudando a Bíblia são bons exegeas. Oração, empo e esforço precisam
ser unidos a princípios correos de inerpreação. Muias pessoas sinceras
enendem a Bíblia de modo oalmene errado. Eles se manifesam e levam
seus ouvines ao erro. Iso não pode aconecer. 1

1) Superstição
Por exemplo, algumas pessoas esudam a Bíblia de maneira supersti-
ciosa. Em vez de focalizarem o senido claro das palavras e senenças das
Escriuras, esão sempre procurando significados oculos. O que esá escrio
com clareza na Bíblia não comove ais pessoas; porém, se enconrarem algo
que as pessoas comuns não podem ver, ficam foremene impressionadas!
Para elas, ese é o significado “espiriual” das Escriuras, e o consideram mais
imporane do que o seu significado evidene.
Enre os que esudam as Escriuras desa maneira, enconram-se aque-
les que ribuam grande aenção ao valor numérico das leras do hebraico.
Quase odo o Anigo esameno foi escrio em hebraico. Cada lera do alfa-
 beo hebraico serve não apenas como lera, mas ambém como número. Se
 você quiser, pode somar os números represenados pelas leras de uma pala-
 vra, dando a esa um valor numérico. Pode fazer o mesmo com as senenças.
Pode aé enconrar ouras leras e senenças com o mesmo valor numérico.
Com odos esses números ane os seus olhos e um pouco de imaginação,
pode chegar a odo ipo de conclusão. Considere o que você poderá dizer às
pessoas depois de um esudo de odas as palavras e senenças que êm valor
numérico igual a 666!
Ouras pessoas não chegam a esse pono, mas são conroladas por essa
menalidade. Se não se mosram ineressadas em leras hebraicas, podem
ser fascinadas pelo significados dos nomes dos lugares na Bíblia, sobre os
quais fundamenam grande pare de seu ensino. Para eses, o imporane
é o significado que as pessoas comuns não podem ver. “Afinal de conas”,
eles argumenam, “1 Corínios 2.14 não ensina que as coisas espiriuais são
discernidas espiriualmene?”
O fao de que eles usam ese versículo nos mosra como eles são
péssimos exegeas! No versículo, Paulo esava falando sobre pessoas não-

• 30
 •
Exatidão Exegética

converidas. Esava ensinando que ais pessoas não aceiam as coisas


espiriuais, nem se imporam com elas. Pensam que essas coisas são loucura
e irrelevanes. Esa é a razão por que não êm qualquer senso espiriual. Para
que venha a apreciar as coisas espiriuais, uma pessoa em de experimenar
uma mudança de naureza e receber um novo coração.
 A Bíblia não ensina que sua mensagem pode ser enendida somene
por uma elie espiriual. E, com cereza, ambém não afirma que seu verda-
deiro significado é al que a maioria das pessoas não pode descobri-lo! Os
 verdadeiros pregadores da Palavra rejeiam oda exegese supersiciosa.

2) Alegoria
 Algumas pessoas esudam a Bíblia alegoricamente.  A maneira de pensar
deles possui ceras semelhanças com o que acabamos de descrever, mas não
é idênica. Elas esão verdadeiramene ineressadas no senido gramaical da
Palavra de Deus, mas crêem que, em adição a ese senido, algo mais precisa
ser descobero.
Pessoas êm esudado a Bíblia de maneira alegórica desde os primeiros
séculos da igreja crisã. Para enendermos como elas analisam as Escriu-
ras, devemos alvez pensar no famoso livro O Peregrino, de John Bunyan.
Nese livro, enconramos diversos personagens que passam por avenuras
exraordinárias. Os personagens e as avenuras são imporanes, porque sem
eles o livro não exisiria. Mas o que realmene impora não são os dealhes
da hisória, e sim o que John Bunyan esá ransmiindo, enquano cona a
hisória. Ele em verdades a ensinar e lições que precisamos aprender. Esas
são as coisas imporanes, e não os personagens e as avenuras usadas para
ransmii-las.
Os que esudam a Bíblia de maneira alegórica lêem-na de modo se-
melhane. O significado claro das palavras e senenças é imporane, mas
não é ão imporane quano as verdades e lições que esão por rás desse
significado. A Bíblia esá replea de significados, e o significado evidene esá
enre os menos valiosos.
Esse ipo de inerpreação leva a fanasias ilimiadas e às mais grossei-
ras inerpreações. O Anigo esameno, em paricular, significa aquilo que

• 31
 •
Pregação Pura e Simples

o pregador deseja que signifique. Esse ipo de “exegese” aniquila o esudo


sério e recompensa a ingenuidade. Pregar orna-se apenas uma demonsra-
ção dos poderes invenivos do pregador, enquano o rabalho árduo exigido
pela exegese séria desaparece de cena.
Cera vez, ouvi um sermão baseado em Gênesis 24. Fiquei assenado
em meu banco por 75 minuos, senindo-me oalmene encanado, en-
quano o pregador conava a hisória de como Abraão mandara seu servo
de confiança à Mesopoâmia, a fim de enconrar uma esposa para Isaque,
seu filho. O propósio da mensagem era mosrar como Deus Pai raz uma
noiva para seu Filho. No sermão, Abraão foi igualado a Deus Pai; Isaque,
a Deus Filho; o servo de confiança, ao Espírio Sano; ebeca, à igreja; e
os camelos, às promessas divinas que levam a igreja, guiada pelo Espírio,
em segurança ao céu!
 Já passaram-se quarena anos desde que ouvi esse sermão. Ainda posso
recordar quase odas as palavras. Foi pregado por um homem a quem eu
devo mais do que posso expressar. Ele já esá no céu há alguns anos, e não
preendo manchar sua memória, de maneira alguma. odavia, o seu sermão
eria sido oalmene correo, se ele ivesse apenas usado Gênesis 24 como
ilusração da dourina que esava ensinando. Mas não o fez. Ele deu a im-
pressão de que Gênesis 24 foi escrio com a intenção de ensinar como Deus
raz uma noiva para seu Filho. Conudo, esse não é, de modo algum, o sig-
nificado encionado pela passagem. Assim, infelizmene, preciso dizer: um
sermão que me deixou fascinado era um péssimo sermão.
 A verdadeira pregação exige que descubramos o significado proposital
da passagem que esamos abordando. Não há lugar para o alegorismo, a
menos que digamos às pessoas que o esamos fazendo para ilusrar nosso
argumeno � e em de ser um argumeno já esabelecido pela exegese cor-
rea. Não é proveioso apelarmos à passagem como Gálaas 4.21-31 para
argumenarmos que às vezes a alegoria é permiida. Algumas pessoas am-
 bém mencionam 1 Corínios 10.1-3 e Hebreus 7.1-3, para apoiar ese pono
de visa. Se considerarmos com aenção esas passagens, perceberemos que
não são realmene alegorias, embora pareçam à primeira visa. São exemplos
de como o Anigo esameno pode ser usado como ilusração. ambém é

• 32
 •
Exatidão Exegética

ineressane observar que nenhuma desas passagens é usada para provar


qualquer ipo de dourina.
É empo de abandonar o uso de exegese alegórica. Há uma pergun-
a simples que nos diz quando usamos uma passagem como alegoria ou
como ilusração: no esudo desa passagem, o significado intencional das
palavras e senenças esá em primeiro plano ou oculo no conexo? Se
o significado intencional não ocupa a posição primária de nossa exegese, a
alegoria esá espreiando perigosamene em algum lugar � e em de ser
aniquilada imediaamene!

3) Dogma
Exise ouro grupo de pessoas que esuda a Bíblia dogmaticamente.  Não
há nada errado com o vocábulo dogma, desde que enendamos o que ele
significa. Esa não é uma palavra que goso de usar com freqüência, por-
que é aniquada e, no que diz respeio a muias pessoas, ransmie idéias
indesejáveis. “Dogma” é uma palavra aniga que significa dourina. “eolo-
gia dogmáica” é oura maneira de descrever “eologia sisemáica”. Mas, o
que é isso realmene? É uma afirmação do sisema de dourina ensinado na
Bíblia, sem o emprego de qualquer oura informação, além daquela que a
própria Bíblia nos fornece.
Os pregadores mais poderosos são sempre aqueles que são fores em
eologia dogmáica. Aceiam um sisema de dourina que governa odo o
seu viver. Esse sisema de dourina deermina a crença e conrola o com-
porameno deles. Expressa-se nas orações e se manifesa claramene na
pregação deles. São homens de convicções; por isso, esão em perigo.
 À medida que esudam qualquer pare da Bíblia, enconram facilidade
em inerpreá-la à luz de seu sisema, em vez de lembrarem que a própria Bí-
 blia é a fone do sisema eológico deles. O fao é que algumas passagens das
Escriuras são muios difíceis de serem enendidas. Somos enados a fazer
com que elas se encaixem em nosso sisema eológico, em vez de gasarmos
empo e esforço necessários para fazermos uma exegese rigorosa. Muios
pregadores que são fores em eologia dogmáica caem nessa armadilha. Po-
de-se aé dizer que caem com regularidade. Fazem ceros exos e passagens

• 33
 •
Pregação Pura e Simples

parecerem dizer coisas que realmene não dizem!


Podemos omar Hebreus 6.4-8 como exemplo. Inúmeros pregadores e
comenarisas bíblicos êm inerpreado eses versículos à luz do seu sisema
e, por isso, êm deixado de enendê-los correamene. Aqueles que êm um
sisema de eologia que ensina a perda de salvação do verdadeiro crene usam
eses versículos para provar o seu ensino. Aqueles que possuem um sisema
de eologia cujo ensino é de que o crene não perde a salvação, afirmam que a
adverência dada nesa passagem de Hebreus é apenas hipoéica � o auor
esava pinando um quadro ameaçador, mas não descrevia a realidade.
Em ambos os casos, esudar as Escriuras com uma abordagem dog-
máica leva os seus seguidores ao erro. Se qualquer desses ponos de visa
for pregado, o pregador será culpado de inexatidão exegéica. A passagem
não esá comenando se o crene pode ou não perder a salvação. Esse não
é o propósio. E a siuação sobre a qual a passagem fala não é hipoéica,
como é bem evidene no versículo 9. A passagem é uma das várias na Epís-
ola aos Hebreus que êm a inenção de mosrar que é possível alguém er
uma verdadeira experiência do Espírio Sano, sem er necessariamene uma
experiência de salvação. A prova de que você eve uma experiência salvado-
ra da pare do Espírio Sano não é o fao de que seniu algo, e sim de que
 você persevera na fé e produz fruo. Se isso não aconece, você esá perdido
� porano, precisa examinar a si mesmo e omar os passos concreos para
assegurar-se de seu progresso espiriual.
Somene um compromisso com a exegese complea nos capacia a pre-
gar o significado inencional da passagem. E o que é verdade a respeio de
Hebreus 6.4-8 ambém é verdade a respeio de qualquer oura pare da Bí-
 blia. A eologia dogmáica é boa, mas emos de aprender a manê-la no seu
devido lugar. Se não o fizermos, ela arruinará nossa pregação.

4) Razão humana
Gosaria de concluir esa secção dizendo que exisem pessoas que esu-
dam a Bíblia racionalisticamente. Para eses, o grande faor é a razão humana;
eles rejeiam udo que a ofendem. Iso significa que elas não crêem em mi-
lagres ou em qualquer fenômeno sobrenaural. Esas pessoas esão ceras de

• 34
 •
Exatidão Exegética

que a verdade esá na Bíblia, mas não podem crer que oda pare da Bíblia
seja verdadeira. Como poderia ser verdadeira oda a Bíblia? Ela não foi es-
cria por homens imperfeios?
Esse ipo de abordagem em um grande efeio na maneira como a Bí-
 blia é inerpreada. Moisés e os israelias não aravessaram o mar Vermelho
da maneira como foi descria no livro de Êxodo, pois quem pode acrediar
que as águas se abriram formando muros em ambos os lados dos israelias?
Podemos realmene crer que Isaías predisse o surgimeno de Ciro, citando-o
 por nome, muio anes de ele nascer? A alimenação de cinco mil pessoas em
de ser explicada de alguma oura maneira, bem como a ressurreição física de
nosso Senhor Jesus Criso.
 A “desmisificação” da Bíblia, e dos evangelhos em paricular, em sido
uma das maneiras pelas quais a confiança na razão humana em se manifes-
ado em anos recenes. A idéia é que, ao escreverem os quaro evangelhos, os
seus auores, do século I, podiam pensar apenas como pensavam as pessoas
daquele século. Para enendermos o que disseram, não devemos seguir a
maneira que eles inham para ver as coisas, e sim considerar as verdades
subjacenes usando uma perspeciva do século presene. Por exemplo, não
emos de crer que Jesus ressusciou fisicamene denre os moros. Basa
crer que, por meio da experiência de Jesus, homens e mulheres podem er
 vida verdadeira. A hisória da ascensão de Jesus não deve ser enendida li-
eralmene. O que aconeceu foi que os escriores dos evangelhos esavam
ressalando a oura naureza de Jesus.
O que devemos dizer a respeio disso? ejeiamos essa abordagem, e a
rejeiamos por compleo. A Bíblia, embora escria por homens imperfeios, é
a Palavra de Deus. Ele a inspirou e garaniu que seus auores humanos escre-
 vessem com exaidão, sem massacrar, de alguma maneira, a personalidade e
os diferenes esilos deles. Se reirarmos da Bíblia o sobrenaural, ela não em
mensagem. emos de enender o Anigo esameno como nosso Senhor o
enendeu. emos de crer no Novo esameno, sujeiando-nos a ele como as
Escriuras que nosso Senhor ordenou a seus apósolos que escrevessem.
Se reirarmos da Bíblia udo que causa dificuldade à razão humana, se-
remos culpados de disorção exegéica. erminaremos pregando nada mais

• 35
 •
Pregação Pura e Simples

do que nossas próprias idéias. ejeiar o sobrenaural reduz a Bíblia ao ab-


surdo. Assim, o pregador pode fazê-la dizer apenas o que ele quer. Princípios
de inerpreação que esão cenralizados compleamene no homem, nunca
serão bem-sucedidos em enender o Livro de Deus. Nenhuma exegese ver-
dadeira (e, conseqüenemene, nenhuma pregação verdadeira) resula do
campo racionalisa.

Que princípios devem governar o exegeta?

Enão, que princípios devo adoar para descobrir o que deerminada


passagem realmene diz? Como descubro o seu significado inencional e,
ainda assim, enho algo para pregar?
Muios livros foram escrios sobre ese assuno, e os maiores deles
não são necessariamene os melhores. Ese pequeno livro sobre prega-
ção alvez não possa resumir o que eles êm a dizer. Pode apenas ressalar
alguns ponos, caivando nossa aenção ao que é básico. Ese livro pode
impedir que você caia no abismo do desasre exegéico, ao colocar seu pé
em solo firme e seguro.
Para eviar a ruína ano de nós mesmos como de nossos ouvines,
emos de pergunar e responder see pergunas, anes de pregar qualquer
passagem da Palavra de Deus. Gase empo! Não esude para produzir um
sermão � não! não! Esude a fim de enender o exo.  Esta é a regra que o
 pregador tem de respeitar antes de qualquer outra regra. O sermão que você
prega evenualmene é quase nada, se comparado com aquela grandiosa
obra que você realiza no lugar secreo.

1) O que Deus espera de mim


quando me envolvo nesta tarefa?
Ele espera haver em mim a recordação de que o Livro a ser esudado é a
sua sana Palavra. Espera que eu encare ese livro com admiração e sussurre
em emor: “Deus alou neste livro! Deus ala neste livro!” Ele espera que eu o
abra com adoração, emor, graidão e reverência. As profundezas de minha
alma êm de ser laceradas pelo pensameno de que esou na presença de

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 •
Exatidão Exegética

uma revelação divina. Ese é um momeno sagrado. Lágrimas podem surgir,


 bem como um choro de alegria.
Deus espera que eu creia em udo que vier a ler. Deseja que eu fale com
Ele, enquano faço a leiura. Deus espera que eu enesoure udo no coração,
comprovando que o Livro é mais doce do que o mel e mais precioso do que
o ouro. Ele espera que eu renove meus voos de colocar udo em práica.
Deus espera haver em mim a lembrança de que Ele me deu o seu Livro
como uma revelação. Porano, ele em um significado. Sim, a passagem que
esou lendo em um significado. O auor humano esava cero não somene
do significado que encionava ransmiir (e isso eu preciso descobrir), mas
ambém do fao que as suas palavras inham um significado mais compleo
do que ele mesmo podia assimilar. Ele esava ciene de que escrevia para ra-
ar de uma siuação específica e de que suas palavras aingiriam oda a igreja
de Criso, em odas as gerações. Como posso esar cero disso? Por que 1
Pedro 1.10-12 o ensina. O Senhor espera que eu ambém lembre isso.
Deus espera que eu me aproxime de sua Palavra sem quaisquer no-
ções preconcebidas a respeio do que ela deveria dizer e que, em vez disso,
descubra com humildade e obediência o que a Palavra realmene diz. Ele
espera que haja a lembrança de que sou uma criaura cujo enendimeno
é basane limiado. E não somene isso, mas ambém que sou um pecador
cuja habilidade de enender foi severamene prejudicada. Deus espera que
eu admia que jamais enenderei seu Livro sem a ajuda pessoal dEle mesmo,
e que suplique essa ajuda.
 A Bíblia pode ser esudada por qualquer homem em seu escriório.
Mas ese não pode ser um verdadeiro exegea, e um verdadeiro pregador, se
não esudar com uma aiude ínima de submissão. A exegese é um rabalho
árduo. É uma disciplina acadêmica que impomos sobre nós mesmos. Anes
de udo isso, a exegese é um ao de adoração.

2) Qual o significado gramatical das palavras?


O Sagrado Livro de Deus é consiuído de palavras. Algumas delas
são subsanivos; ouras, verbos. Há ambém arigos, adjeivos, advérbios,
numerais, pronomes, preposições, conjunções, inerjeições, ec. Os subs-

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 •
Pregação Pura e Simples

anivos podem esar no singular ou no plural. Os verbos podem er variação


de senidos, empos, modos e vozes. odas as palavras esão disposas em
senenças, e a maneira como esão disposas dá significado à senença!
Iso não deve amedronar-nos. Você já leu ese livro por algum empo.
Ele ambém é formado de palavras de várias classes, disposas em senenças,
endo em visa comunicar algo de minha mene à sua. Se eu ivesse usa-
do palavras diferenes ou se ivesse disposo as mesmas palavras em oura
ordem, você oberia um significado diferene. Porano, a gramáica é im-
porane. Sem ela, é impossível escrever um livro.
De modo semelhane, cada senença da Bíblia em um significado. Se
as palavras fossem diferenes, e a esruura gramaical fosse modificada,
eria um significado diferene. Porano, quer gosemos, quer não, jamais
poderemos er exaidão exegéica, se não ribuarmos aenção cuidadosa
às palavras e à maneira como elas esão disposas na senença. Ese é o
rabalho da exegese.
Os pregadores êm de aprender a amar gramáica! Precisam fazer o
esforço para enender como a linguagem funciona. Se não fazem isso, é
impossível que cumpram a sua arefa. É verdade que a Bíblia é um livro ins-
pirado por Deus. Mas é um livro. em de ser lida como um livro. Precisamos
respeiar o senido gramaical básico de suas palavras e senenças. Sem dú-
 vida, iso pode ser afeado pelo ipo de lieraura em que as suas palavras
foram escrias � e ese é o assuno que consideraremos a seguir. Mas, emos
de encarar o fao: a exegese pode ser feia apenas por pessoas que enendem
a Bíblia em seu primeiro senido e que aceiam as suas palavras e senenças
no seu significado normal.
Nesa época de minha vida, enho desfruado do privilégio de viajar por
muios lugares e conhecer vários pregadores. Sino-me rise em dizer-lhe
que muios deles êm sido infecados pela epidemia mundial de negligência
para com a gramáica. Não conhecem a gramáica, não se imporam com
ela, não lhe ribuam muia aenção, quando esudam as passagens bíblicas
sobre as quais pregarão. Apesar disso, quase odos os pregadores que co-
nheço crêem que a inspiração divina da Bíblia se esende a cada uma de suas
palavras! Há algo seriamene errado; é empo de corrigirmos isso.

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 •
Exatidão Exegética

3) Em que tipo específico de literatura


se encontram as palavras da Bíblia?
 As palavras não exisem para si mesmas. Aé o simples “não” é uma res-
posa a algo que acabou de ser dio. oda palavra em um conexo. Algo
foi dio anes e algo virá depois. Não esamos apenas falando sobre frases
e senenças, mas ambém sobre o ipo de lieraura em que essas frases e
senenças foram escrias. Iso é algo ao que devemos dar aenção cuidadosa,
enquano procuramos descobrir o significado inencional de uma pare es-
pecífica da Palavra de Deus.
Exisem inúmeras leis na Bíblia, especialmene na primeira pare do
 Anigo esameno. As leis foram escrias em forma de prosa, bem como
os relaos hisóricos. Mas o esilo que usamos para falar uns com os ouros
é bem diferene. ornamos nossa conversa mais ineressane por usarmos
odo ipo de linguagem figurada � “Ela é uma fera”, “Ele caiu do cavalo!”,
“O feiiço virou-se conra o feiiceiro”, “Ele é uma besa!”. odos sabemos
que essas frases não devem ser enendidas lieralmene, mas compreende-
mos o seu significado. Porano, é evidene que a prosa e a conversa pessoal
não devem ser inerpreadas da mesma maneira. Iso ambém é verdade
quando lemos a Bíblia.
Não podemos inerprear da mesma maneira odo ipo de lieraura.
 Além da prosa usada na Lei e nos relaos hisóricos, conforme já mencio-
namos, exise abundância de poesia na Bíblia: uma pare dessa poesia se
enconra no livros de Jó, Salmos e Cânico dos Cânicos; oura pare, nos
livros proféicos; e oura pare, em seções longas ou curas de ouros livros
das Escriuras. Enconramos ambém a lieraura sapiencial, os evangelhos
e as epísolas. E emos ainda a linguagem apocalípica � uma maneira de
argumenar usando linguagem exagerada, números, figuras de monsros e
 visões exraordinárias. Se lêssemos odos esses ipos de lieraura da mesma
maneira, ficaríamos realmene basane confusos!
Embora enhamos diferenes ipos de lieraura na Bíblia, jamais deve-
mos esquecer de presar aenção ao senido gramaical de udo que lemos.
Mas, ao fazer isso, devemos gasar empo para recordar que o significado
lieral de uma passagem pode não ser, necessariamene, o seu significado

• 39
 •
Pregação Pura e Simples

intencional. E este é o significado que esamos buscando.


Por exemplo, ao escrever a respeio de um empo de alegria exraor-
dinária, Isaías predisse: “E odas as árvores do campo baerão palmas” (Is
55.12). O que ele preendia dizer? Com cereza, Isaías não esava dizendo
que as árvores desenvolverão novas qualidades admiráveis em algum empo
fuuro! De modo semelhane, a afirmação “o juso florescerá como a pal-
meira” (Sl 92.12) não ensina que os crenes idosos broarão. Igualmene, a
exoração “acauelai-vos dos falsos profeas, que se vos apresenam disfar-
çados em ovelhas” (M 7.15) não é uma adverência conra pregadores que
 vesem casacos feios de lã! Não podemos enender esas afirmações sem
assimilarmos o senido gramaical das suas palavras, mas nenhum de nós é
demasiadamene olo, a pono de pensar que o senido lieral de ais palavras
é o significado intencional. É esse significado inencional que nossa exegese
procura descobrir, para depois pregarmos em público.

4) Qual é o contexto imediato e o mais amplo?


 As palavras são enconradas em frases e senenças; e senenças formam,
geralmene, parágrafos. Esses parágrafos, por sua vez, fazem pare de algo
maior, como um capíulo. E os capíulos são pares de um livro. ambém
precisamos er isso em mene quando nos dedicamos à exegese.
Se ignorarmos o conexo imediao e o conexo mais amplo, pode-
mos fazer a Bíblia afirmar o que desejamos que ela afirme. O maerial que
consiui ese livro sobre pregação foi apresenado originalmene em forma
de palesras. odas as palesras foram gravadas. Agora, imaginemos alguém
comprando uma fia cassee ou CD e gasando empo para ediar as pales-
ras. Imaginemos que essa pessoa maném cada senença inaca, mas usa
seus aparelhos elerônicos para colocar as senenças em ordem diferene.
Depois de fazer isso, al pessoa coloca um anúncio num jornal evangélico e
começa a vender seus próprios cassees e CDs.
 A voz na gravação seria a minha. Cada senença seria minha, exaa-
mene como as proferi. Mas a palesra seria oura. alvez pareceria uma
miscelânea de senenças incoerenes ou eria um significado diferene do
que eu encionava originalmene.

• 40
 •
Exatidão Exegética

Iso é exaamene o que aconece quando pregamos sobre uma frase ou


senença da Bíblia e não esclarecemos o seu conexo imediao ou mais amplo.
Quanas vezes já ouvimos “impora-vos nascer de novo” sendo pregado como
um mandamento. Iso é uma oal disorção do seu significado. Pregar essas
palavras como um mandameno equivale a enganar cada adulo e cada criança
que nos ouve. O novo nascimeno não é ordenado em nenhum lugar da Bí-
 blia. O arrependimeno é ordenado. A fé no Senhor Jesus ambém é ordenada.
Mas o novo nascimeno não é, nem pode ser, ordenado na Bíblia, porque é
uma obra realizada compleamene por Deus. Quando nosso Senhor disse
a Nicodemos: “Impora-vos nascer de novo”, esava fazendo uma declaração
 veemene do fao. Essa é a verdade que em de ser enfaizada a qualquer con-
gregação que nos ouve em nossos dias. Pregar qualquer ouro significado não
é somene uma fala de exaidão exegéica, é ambém um pecado.
Em várias ocasiões, ouvi sermões que mencionam 1 Corínios 2.9, um
 versículo em que Paulo se refere a Isaías 64.4. A pare principal dese versí-
culo diz: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penerou
em coração humano o que Deus em preparado para aqueles que o amam”.
odos os pregadores que ouvi usaram ese versículo para falar sobre o céu.
Fizeram isso porque iraram as palavras de seu conexo. 1 Corínios 2 não é
um capíulo que fala sobre o céu, mas sobre o fao de que o povo do Senhor
pode ver e apreciar coisas que esão escondidas para os não-converidos.
Que privilégio exraordinário nós emos! Que coisas maravilhosas podemos
 ver! O coração não-converido é incapaz aé de imaginar essas coisas. Mas
essas são as coisas que nos emocionam compleamene. Este é o assuno do
 versículo. Por isso, ano é errado como prejudicial dar-lhe um significado
que o auor divino não encionava que ele ivesse.
Dedicar-se mais é a única maneira de eviar erro exegéico. Anes
de pregar sobre qualquer pare de um livro da Bíblia, devemos er fa-
miliaridade com odo o livro. Não somene isso, devemos possuir um
enendimeno compeene a respeio de quem o escreveu, para quem,
por que e quando o escreveu.
O quando é especialmene imporane, pois é a razão da nossa próxima
perguna.

• 41
 •
Pregação Pura e Simples

5) Qual o contexto histórico?


 A Bíblia menciona lieralmene milhares de aconecimenos, e não
ocorreram odos na mesma época. Cia inúmeras pessoas, que não viveram
no mesmo empo. Ensina inúmeras verdades, mas esas não foram reveladas
na mesma época. Exise uma grande linha hisórica que odo pregador em
de saber ano em esboço como em dealhes. Ele precisa saber com cereza o
que aconeceu e quando aconeceu. Ele precisa ser capaz de idenificar cada
momeno dessa linha hisórica e dizer o que esava sendo revelado naquele
momeno, bem como o que seria revelado depois.
Se não pode fazer isso com facilidade, esá se encaminhando ao
desasre exegéico; os efeios do seu minisério sobre os ouros serão ca-
asróficos. Deus é gracioso, mas Ele não dispensa a sua graça na mesma
medida a odos os homens e mulheres. Há semelhanças admiráveis, porém
grandes diferenças, enre um rascunho de pinura, um esboço cheio, um
quadro pinado e um filme colorido, mas essa foi a maneira como Deus
revelou seu grandioso plano de redenção aravés dos séculos. A hisória do
 Anigo esameno não é a mesma no começo, no meio e no fim. O Anigo
esameno não é o Novo. A sombra não é a subsância. A siuação nos
evangelhos não é a mesma que os precedeu ou que os sucedeu. Os cren-
es anes do Dia de Penecoses, não eram iguais aos que se convereram
depois. No início, a igreja de Aos não era ão madura ou inernacional
como o era no final do relao do livro. A igreja na erra ainda não goza o
que gozará depois da segunda vinda de Criso.
Em Jó 19.25-27, aquele crene sofredor exclama: “Porque eu sei que o
meu edenor vive e por fim se levanará sobre a erra. Depois, revesido ese
meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim
mesmo, os meus olhos o verão, e não ouros”. Se sabemos onde Jó se encaixa
na grande linha hisórica das Escriuras, podemos começar a apreciar quão
exraordinária foi essa declaração. Mas, se Jó disse essas palavras depois que
Paulo escreveu 1 Corínios 15, não exise nada especial nelas. E seríamos for-
çados a dizer que a maior pare do seu comporameno era assusador.
Em Aos 19.2, doze homens religiosos declararam: “Nem mesmo ouvi-
mos que exise o Espírio Sano”. Se esses homens ivessem vivido no empo

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 •
Exatidão Exegética

de Abraão, nada haveria de incomum na afirmação deles. Mas eles disseram


isso depois do Penecoses, quando a igreja já exisia por vários anos. A ig-
norância desses homens era uma prova de que não eram converidos, e isso
explica por que Paulo os raou da maneira descria no relao de Aos 19.
Em Números 15.32-36, o Senhor ordenou que fosse execuado um ho-
mem enconrado apanhando lenha no sábado. Creio que precisamos esar
 bem ceros de onde se encaixa ese incidene na grande linha hisórica. De
ouro modo, alvez nos veríamos aplicando esa ordem do Senhor ao seu
povo hoje. E isso resularia em uma drásica diminuição das pessoas em nos-
sas igrejas! Precisamos dizer algo mais? O argumeno é claro: ninguém pode
ser um exegea responsável e, por conseguine, um verdadeiro pregador da
Palavra, se não possui muias clareza a respeio do conexo hisórico da pas-
sagem sobre a qual pregará.

6) Outras passagens da Bíblia


trazem luz a esta passagem?
 A Bíblia, consiuída de 66 livros, é um livro único que inerprea a si
mesmo. Se enconrarmos alguma passagem obscura, ouras passagens nos
ajudarão a enendê-la. Quando esamos presunçosamene ceros de que é
correa a nossa inerpreação pessoal de cera passagem, ouras passagens
nos corrigirão e nos humilharão. Se ivermos de ser bons exegeas, é essen-
cial que conheçamos oda a Bíblia.
Se esivéssemos pregando odo o livro de Isaías, no devido empo che-
garíamos no capíulo 42. O capíulo começa com esas palavras: “Eis aqui
o meu servo, a quem susenho” (Is 42.1). Mas a respeio de quem o profe-
a falava? Nem preciso imaginar. Não preciso ser confundido pela grande
 variedade de eorias exposas por alguns comenários bíblicos. Maeus
12.15-21 nos diz que esa passagem se cumpriu no minisério erreno de
nosso Senhor Jesus Criso. O seu caráer foi al, que não provocou conflio
desnecessário com seus inimigos. Posso pregar uma mensagem clara com
 base em Isaías por causa da luz razida por oura passagem bíblica.
Se pregasse sobre Amós 9.11-15, seria enado a dizer aos meus ouvin-
es que o profea esava afirmando que, um dia, os descendenes de Davi

• 43
 •
Pregação Pura e Simples

serão resaurados aos judeus, como uma família real, e que, naquele empo,
a erra de Israel erá influência e prosperidade renovadas. À primeira visa,
iso é o que as palavras parecem significar. Mas não podemos descansar na
primeira impressão. E não podemos inerprear uma passagem sem fazer-
mos a sexa perguna. Aos 15.15-17 nos fornece luz admirável sobre o que
 Amós disse. Aos nos mosra que a predição de Amós se cumpre na conver-
são dos genios e de sua inclusão como pare da igreja de Criso. Ao fazer
isso, Aos ambém nos dá um princípio pelo qual podemos descobrir o sig-
nificado de muias profecias similares enconradas no Anigo esameno.
Não pode haver exaidão exegéica onde não há inerpreação da Escriura
à luz da Escriura.
Quem ousaria pregar sobre Melquisedeque, em Gênesis 14.18-24 sem
referir-se a Hebreus 5.5-11 e 7.1-28? Quem conaria a hisória do maná, em
Êxodo 16, sem esudar, igualmene, oda a hisória de João 6? Quem ousaria
explicar por que a ribo de Dã esá ausene da lisa de Apocalipse 7.4-8, sem
deerminar à hisória dessa ribo em odo o Anigo esameno? E quem
seria ão ousado que falaria sobre qualquer afirmação dourinária das Escri-
uras, sem er em mene odas as passagens que raam do mesmo assuno?
É vial compararmos Escriura com Escriura. Se não o fizermos, afundare-
mos na areia movediça da confusão, do desequilíbrio e do erro.

7) De que maneira esta passagem aponta para Cristo?


Dissemos algo a respeio disso na Pare 1, mas esse é um pono que
devemos enfaizar novamene. A Bíblia revela Criso. Ele é o grande ema
das Escriuras. Cada pare da Bíblia apona para Criso. Se não podemos ver
como uma passagem específica apona para Ele, isso aconece porque ainda
não enendemos a passagem como deveríamos. Onde Criso não é o cenro,
ali não há exaidão exegéica.
Não posso me desculpar pelo que escrevi anes. udo ao meu redor são
 vozes que dizem algo diferene. Esão proclamando que é errado insisir no
fao de que a Bíblia é crisocênrica. Esou indo longe demais, dizem essas
 vozes. De acordo com elas, devemos, anes, afirmar que a Bíblia é eocênri-
ca. Ela é mais eocênrica do que crisocênrica.

• 44
 •
Exatidão Exegética

Concordo com isso � mas não oalmene. É claro que a Bíblia é um


livro que fala sobre Deus e que nos ensina sobre Deus Pai, Deus Filho, Deus
Espírio Sano. Mas ese Deus se relaciona conosco somene por meio de
Criso. O único Deus que exise é o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cris-
o. Ele nunca se revelou a Si mesmo, a não ser por meio de Criso. Não há
ouro caminho para esse Deus, exceo Criso. O Espírio que age em nós é
o Espírio de Criso. Quando chegarmos ao céu, o único Deus que veremos
é Criso. Nada � nada mesmo � pode ser eocênrico, se não for criso-
cênrico. Pensar que algo pode ser eocênrico sem ser crisocênrico é um
enorme erro. Admiir que a Bíblia é um livro que fala sobre Deus é admiir
que ela fala sobre Cristo!
Mas odas as pares da Bíblia não aponam da mesma maneira para
Criso. Por exemplo, onde esá Criso em Eclesiases? Ese livro nos ensina
que, se Deus esá fora de nossa vida, ela não em significado; e que, se ama-
mos a Deus e O adoramos, a nossa vida esá replea de significado. Enão,
como podemos conhecer a Deus? Eclesiases suscia essa perguna em nossa
mene, mas não nos dá a resposa. Deixa-nos com fome de conhecer a Deus,
mas não nos mosra o caminho para Ele. É dessa maneira que Eclesiases
apona para Criso. Suscia a perguna para a qual Criso é a única resposa.
Porano, Eclesiases apona implicitamente para Criso.
Ouros livros aponam explicitamente para Ele. Iso é verdade a respeio
de cada livro do Novo esameno. odos eles O mencionam por nome.
ambém podemos dizer, que eses livros aponam para Ele diretamente. Mas
há ouros livros das Escriuras que aponam direamene para Ele e não O
mencionam por nome. Isaías e o livro de Salmos seriam bons exemplos dis-
so. Ouros livros, ais como os cinco primeiros livros da Bíblia, por exemplo,
aponam para Ele por meio de predições, figuras, símbolos e cerimônias.
Podemos dizer que esses livros falam sobre Ele indiretamente.
 Alguns leiores podem não se senir à vonade com as quaro palavras
que desaquei. Mas creio que odos concordarão que o Espírio Sano, que
inspirou cada auor bíblico, é o Espírio de Criso. Creio que odos recorda-
rão que o minisério do Espírio Sano é sempre aponar para Cristo. Essa
foi a razão por que nosso Senhor disse: “Abraão... alegrou-se por ver o meu

• 45
 •
Pregação Pura e Simples

dia” (Jo 8.56); “Moisés... escreveu a meu respeio” (Jo 5.46); “Davi... lhe
[me] chama Senhor” (M 22.45). odo auor bíblico escreveu a respeio
do Senhor Jesus. Porano, aqueles que pregam esses auores devem pregar
o Senhor Jesus Criso. Se Criso não é o coneúdo e o âmago da pregação
deles, são culpados de inexaidão exegéica.

O que podemos fazer para sermos melhores exegetas?

Se udo isso é verdade, precisamos fazer esa perguna urgene: “O


que podemos fazer de modo concreto que nos ajudará a sermos melhores
exegeas?” Ninguém pode exagerar a imporância desa perguna. Onde de-
saparece a exaidão exegéica, ali desaparece a pregação � e nenhum dos
leiores dese livro deseja que isso aconeça.
Há algumas coisas que podemos fazer. Se não esamos disposos a fazê-
las, devemos parar de pregar. Nem odos nós seremos capazes de realizá-las
com a mesma eficiência, mas, sem exceção, odos somos capazes de ober
algum progresso nesas áreas.

1) Podemos aprimorar nosso conhecimento bíblico


 A primeira coisa que emos de fazer é aprimorar nosso conhecimeno
 bíblico. Ese capíulo em salienado como é imporane que o pregador e-
nha familiaridade ínima e complea com odas as pares da revelação escria
de Deus. odos nós somos capazes de ler a Bíblia mais do que o fazemos no
momeno, de quesionar mais o que lemos, de memorizar mais versículos
e passagens e de gasar mais empo para mediar na Palavra de Deus, em
diferenes pares no decorrer do dia.
Cera vez, um professor baeu em Winson Churchill porque ese não
havia memorizado as erminações de algumas palavras lainas. Poserior-
mene, Churchill comenou que a única ofensa pela qual ele disciplinaria
um jovem seria a fala de conhecimeno da língua maerna. De modo seme-
lhane, podemos ser brandos para com um pregador em muias áreas. Mas
esamos ceros ao expressar-lhe nossa profunda riseza, se ele em menos
do que um conhecimeno excelene da Bíblia em sua língua maerna.

• 46
 •
Exatidão Exegética

2) Podemos ler
Nenhuma geração de pregadores jamais eve acesso a anos livros
como o emos hoje! Podemos aprimorar nosso conhecimeno, e aprimorá-lo
subsancialmene, em cada área onde somos deficienes. Nenhum pregador
em desculpa para a ignorância quano à vida e aos empos de qualquer per-
sonagem bíblico, ao desdobrameno da hisória bíblica, à eologia bíblica, à
eologia sisemáica ou a qualquer ramo de conhecimeno que seja úil ao
arauo de Deus.
Por meio de livros, podemos nos assenar aos pés dos grandes en-
sinadores que o Criso ressusciado êm enviado à sua igreja, quer vivos,
quer moros. Além disso, nós que vivemos no Ocidene emos acesso aos
amplos recursos disponíveis por meio de gravações, programas de com-
puador e websites . Nosso Senhor disse: “Àquele a quem muio foi dado,
muio lhe será exigido; e àquele a quem muio se confia, muio mais lhe
pedirão” (Lc 12.48).
Dizem que não há diferença real enre a pessoa que não sabe ler e a
que não quer ler. Vivemos em um mundo repleo de aividades. Muios de
nós vivemos sob pressão. Muios pregadores êm anos compromissos, que
não podem imaginar a si mesmos envolvidos em mais um compromisso.
Mas quase odos nós, com um pouco de reflexão e reorganização das prio-
ridades, podemos enconrar mais empo para ler � podemos realmene!
É empo de conrolarmos a nós mesmos. Nossa uilidade depende disso. A
causa do evangelho exige essa aiude.

3) Podemos desenvolver habilidades


que nos ajudarão a entender o texto
Não há muios pregadores capazes de aprender hebraico, aramaico e
grego, em um nível eficaz. Mas alguns podem aprender essas línguas, e esa
é uma das razões por que acho que um pregador da Palavra deveria enar
aprendê-las. Muios logo descobrirão que possuem habilidades modesas,
mas pelo menos aprenderão o suficiene para serem capazes de reconhe-
cer palavras em comenários, léxicos e livros écnicos. Quase odos podem
aprender a usar concordâncias, comenários exegéicos, Bíblias em diversas

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 •
Pregação Pura e Simples

 versões e inúmeros ouros recursos agora disponíveis � não esquecendo os


noáveis programas de compuador e as páginas na internet  que esão pron-
os para serem usados por esudanes sérios da Bíblia.
É maravilhoso viver no século XXI. emos acesso a recursos que nossos
anecessores jamais poderiam er imaginado. Agora, o pregador mais humil-
de pode er cereza do senido gramaical de qualquer pare das Escriuras.
Ele pode subir ao púlpio e falar com auoridade, fundamenado na passagem
sobre a qual esá pregando. Mas, infelizmene, isso não esá aconecendo em
muios lugares. Por quê? Freqüenemene, porque o pregador é negligene ou,
simplesmene, porque não compreendeu a absolua imporância da exaidão
exegéica. O alvo dese capíulo era deixar isso bem claro.

Exercício

1. Escreva um parágrafo a respeio da disinção enre exegese, hermenêui-


ca e exposição, descrevendo a ínima conexão enre eles.
2. O Sr. Smih, um fraco exegea, pasoreou sua igreja durane vine anos e
foi sucedido pelo Sr. Jones, um óimo exegea, que ambém a pasoreou
durane vine anos. Cone a hisória dessa igreja nesses quarena anos.
3. Escreva uma cara a um jovem pasor, dando-lhe conselhos a respeio de
como aprimorar e maner suas habilidades exegéicas.

Noas:

1 Uma pare desa secção esá baseada em uma palesra do Dr. Ernes F. Kevan, que ouvi
quando era esudane de eologia. Exraos desa palesra já foram publicados com o íu-
lo de Te Principles o Interpretation (Os Princípios de Inerpreação), na obra Revelation
and the Bible (A evelação e a Bíblia), ediada por Carl F. Henry (London, Te yndale
Press, 1959, p. 283-298).

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 •
2
Conteúdo Doutrinário

 emos viso o que significa a prega


pregação
ção e que nenhum pregador
pregador pode ser
um verdadeiro pregador sem compromeer-se com a exaidão exegéi-
ca. Nada é mais imporane. Conudo, exise um elemeno na pregação que
ocupa o segundo lugar em imporância e que em sido muio negligenciado
em nossos dias. É o conteúdo doutrinário.

O que isso significa?

O que preendemos dizer quando usamos esse ermo? Queremos dizer


que odo sermão deveria esar repleo de dourina. Deve ser rico em eo-
logia. Afinal de conas, a Bíblia é uma revelação divina. evela a mene de
Deus. Ela nos mosra o que devemos crer a respeio dEle e o que Ele espera
de nós em nossa cura exisência. oda vez que a Bíblia é pregada, aqueles
que a ouvem devem crescer no enendimeno da dourina e do dever.
 A nossa
nossa expecaiva
expecaiva de vida esá enre seena e oiena
oiena anos. Iso é em-
em-
po suficiene para lermos a Bíblia muias dezenas de vezes. Um pasor de
empo inegral que prega durane quarena anos ambém desfrua de empo
suficiene para fazer exegese de oda a Bíblia. E o que o leior da Bíblia, es-
pecialmene o exegea, acaba descobrindo? Ele descobre que as Escriuras
conêm um sisema de dourina. Com oda a Bíblia em mene, é possível
afirmar o que ela ensina a respeio de Deus, dos seus decreos, da criação, da
providência, da redençã
redenção,
o, do livre-arbírio, da jusificação
jusificação,, do juízo
juízo,, do céu,
do inferno e de ouros inumeráveis assunos. As pessoas fracas em eologia
Pregação Pura e Simples

sisemáica, sem dúvida, são pessoas fracas no conhecimeno da Bíblia.


O fao de que a Bíblia coném um sisema de dourina ende a produzir
um efeio imenso em nossa pregação. Cada passagem sobre a qual eu prego,
ainda que seja pequena, é pare de um sisema de dourinas e esa passagem
conribui de alguma maneira para esse sisema. Iso deve se manifesar na
pregação. Mas a passagem não coném odo o sisema e pode ser mal com-
preendida, se não enho em mene odo o sisema, enquano prego. Preciso
da passagem para dar algum esclarecimeno sobre o sisema e enho de usar
o sisema de dourina para esclarecer a passagem. O fluxo em de seguir am-
 bas as direções. Se não o fizer
fizer,, meu sermão pode ornar-se desequilibrado
desequilibrado..
Quem deseja ouvir sermões que não possuem harmonia dourinária? E
quem deseja pregar sermões que levem as pessoas ao erro?
 A Bíblia é uma grande
grande caixa replea de pedras preciosas.
preciosas. É maravilhoso
maravilhoso
pegar cada pedra preciosa, examiná-la em dealhes e ser comovido por sua
 beleza. Mas, por que não dizer às pessoas que essas jóias perencem ao ei
que em lugar para cada uma delas em sua coroa? Devemos permiir que as
pessoas vejam como odas as jóias se encaixam para adornar a coroa do ei.
Elas nunca esquecerão al conemplação. E nunca mais olharão para cada
 jóia como o fizeram
fizeram anes.
anes.
 A Bíblia é um glorioso jardim formado de sessena e seis caneircaneiros.
os.
 Você,
 V ocê, pregador
pregador,, é o guia que o mosra às pessoas ao seu redor.
redor. Alguns guias
levam as pessoas para que vejam um caneiro por vez. Iso é bom, porém há
mais a ser viso
v iso em um jardim. Ouros guias explicam
expl icam que diferenes cores
cores e
subespécies esão em mais do que um caneiro e levam os visianes
vi sianes a verem
odas as flores vermelhas ou odas as planas da família das rosas. Iso é bom,
porém há mais para ser viso em um jardim. Por que não lhes mosrar que
um plano divino decidiu o lugar de cada caneiro e o seu empo de planio,
que o om de cor e o formao de cada flor são pares de um padrão enorme
e impressionane?
impressionane? Por que não pedir-lhes que se afasem e vejam que odas
as coisas no jardim esão direamene relacionadas umas com as ouras? Por
que ocular-lhes o admirável fao de que odos os dealhes se combinam
para formar um rerao perfeio do Proprieário?
Deixemos de lado, agora, a nossa figura de linguagem e reornemos

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 •
Conteúdo Doutrinário

mais direamene
di reamene ao assuno da pregação. Esa é a minha firme convicção: se
no final de meu sermão os ouvines enendem a passagem pregada, mas não
êm um enendimeno melhor do sistema de verdades ensinado na Bíblia,
minha pregação é um fracasso.
 Vou
 Vou mais além. Se aqueles que me ouvem com regularidade não po-
dem ver que a Bíblia ensina um sisema de dourina e não podem começar a
assimilar qual é esse sisema, enho de duvidar, com seriedade, se o Cabeça
da igreja me enviou realmene para pregar a “forma de dourina” (m 6.17)
e o “padrão das sãs palavras”
palavras ” (2 m
m 1.13) a respeio dos quais nos
n os fala a Pala-
 vra de Deus. Sim, prega
pregadores
dores cujos sermões não êm coneúdo
coneúdo dourinário
devem abandonar a pregação. O Senhor não os enviou.

O que acontece quando a pregação


não tem conteúdo doutrinário?

Para enfaizar a imporância do que acabei de dizer


Para dizer,, quero mosrar-lhe
o que aconece quando a pregação não em coneúdo dourinário.

1) Deus não é adorado e amado como deve ser


 As pessoas que não em assimilado o sisema de dourina conido na
Bíblia não sabem quem é Deus. Elas não enendem
enendem o que significa ser Deus
um Espírio. Não compreendem
compreendem que exisem coisas a respeio dEle as quais
não podemos falar a respeio de qualquer ouro ser. Por exemplo, Ele é
infinio, eerno e imuável. Não enendem que Deus é infinio, eerno e imu-
ável em seu Ser e em udo que
qu e Ele é. O resulado é que
qu e o emor de Deus não
lhes domina o coração. Não sabem o que significa buscar a Deus em remor
afeivo. Sua vida não em senso de admiração. Fala à vida espiriual dessas
pessoas oda uma dimensão.
Não exise ouro Deus. Ele é o Deus verdadeiro porque é o Deus vivo.
Conudo,, embora exisa um único Deus, há rês pessoas que são Deus � o
Conudo
Pai, o Filho e o Espírio Sano. Cada um dEles é Deus em seu próprio direio
e no mesmo senido. Eles são disinos, mas iguais em poder e glória. Mas
não exisem rês deuses. A pessoa
pessoa que sabe udo isso vive perplexa.
per plexa. Ela expe-

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 •
Pregação Pura e Simples

rimena admiração desconcerane. Ele crê no que Deus em dio a respeio
de Si mesmo e se prosra diane do misério. Esa é, ambém, uma dimensão
que fala à pessoa fraca em dourina.
Deus em um propósio eerno que não depende de nada, exceo do
que Ele mesmo decidiu. Uma vez que Ele é Deus, Ele ordena odos os acon-
ecimenos
ecimen os em odos os lugares, de al modo que seu propósio se cumpre e
seu nome é glorificado
glorificado.. ão-somene
ão-somene por meio de sua palavra, Ele criou do
nada odo o universo, para que seja o palco desses aconecimenos; e Deus
conrola pessoalmene udo e odos nesse palco. Porano, aqueles que são
insruídos dourinariamene esudam a hisória, lêem jornais e recebem o-
das as alegrias e emoções da vida,
vida , de um modo compleamene
compleamene diferene de
como as recebe a pessoa que é dourinariamene ignorane. Olham para o
céu e dão graças por odas as coisas.

2) A natureza trinitariana da salvação não é admirada


 A melhor
melho r e mais elevada criação
cr iação de Deus
Deu s é a raça humana.
hu mana. O que
qu e nos
orna disinos é que fomos criados à imagem de Deus. É rise observar
que milhões de pessoas que ouvem sermões com regularidade não êm
qualquer idéia do que isso significa. Sabem pouco ou nada a respeio da
exraordinária dignidade que possuem e da humildade com a qual deve-
riam andar nese mundo.
oda a nossa raça descende de um único casal, e por meio dese ca-
sal Deus enrou em aliança com odos nós. Ele promeeu vida aos que Lhe
obedecessem
obedecesse m e more aos que Lhe desobedecessem. NossosNossos primeiros pais
escolheram desobedecer e, com uma única Exceção, odos nós desobede-
cemos. Como resulado, a imagem de Deus em nós foi deformada, nossa
naureza foi corrompida e deurpada de modo irreversível. Agora, vivemos
cada dia em impiedade. Não nos regozijamos mais em Deus, nem sabemos
nada a respeio da doçura ínima de andar com Ele. Em vez disso, vivemos
sob o desprazer dEle e somos objeos de sua ira. Cada revés da vida em o
propósio de nos lembrar isso. Nesse ínerim, a more espera para ceifar os
homens, e o inferno aguarda para queimá-los.
 Aqueles que são dour
dourinaria
inariamene
mene imauros não lamenam a queda

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Conteúdo Doutrinário

da raça humana. Não percebem que a siuação da raça humana é erri-


 velmene ruim � e não perceber isso é pecado. ais pessoas raramene
pensam (se pensam) na quebra da aliança da vida e nas conseqüências
desasrosas que afearam a odos nós. Por isso, não O invocam, com alívio,
quando ouvem sobre a aliança da graça. De fao, a maioria dessas pessoas
nem sabe o que é a “aliança da graça”! Nunca canaram nem se alegraram
com a música desa dourina.
Enquano Deus é Deus, há milhões de pecadores que Ele amou de
maneira especial. Por razões pessoais, Deus resolveu salvá-los da corrup-
ção e ruína de sua vida desobediene, para lhes ouorgar seu favor e vida
eerna. Ele planejou fazer isso por meio de um edenor. Ese edenor
é o Senhor Jesus Criso, o eerno Filho de Deus, que se ornou homem e
permanece o Deus-Homem.
Inúmeros pecadores vivem, morrem e são condenados. Mas alguns
enendem o caminho de salvação. Isso aconece porque o Senhor Jesus é o
 proeta deles. E o Senhor Jesus por meio do seu Espírio, se revela a eles. Eles
esão cheios de pecado, mas Jesus viveu uma vida perfeia em favor deles.
Mereciam perecer, porém Jesus fez isso por eles. Não podem se aproximar
de Deus, mas Jesus inercede por eles; e faz isso porque é o Sacerdote deles.
Não podem crer; odavia, Jesus lhes dá fé. Não são capazes de coninuar
crendo, mas Jesus lhes dá poder. E faz isso porque é o Rei deles.
Da glória celesial, Criso veio ao mundo, à cruz e ao sepulcro. Ele re-
ornou ao mais elevado de odos os lugares como uma Pessoa que é ano
Deus como homem. Ele envia o seu Espírio aos milhões que salvou; e, des-
e modo, eles enram realmene no gozo da salvação. Vêem seu pecado e sua
ruína, enendem o que Criso fez e enregam-se compleamene a Ele.
 Aqueles que enendem a dourina crisã são humilhados em saber que
o Pai sempre eve um amor especial por eles, a pono de lhes dar seu Filho.
Lágrimas calorosas broam de sua face, enquano sussurram: “O Filho de
Deus, que me amou e a si mesmo se enregou por mim” (Gl 2.20). Com
graidão surpreendene, eles falam sobre como o Espírio de Deus agiu em
sua vida e os levou a confiar em Criso, para se beneficiarem pessoalmen-
e da vida, more e ressurreição dEle. Para eles, Deus Pai é o seu Salvador,

• 53
 •
Pregação Pura e Simples

Deus Filho é o seu Salvador, e Deus Espírio Sano é o seu Salvador. Eles
não podem pensar de oura maneira, e isso os disingue daqueles que nunca
ouviram a pregação que em coneúdo dourinário.

3) Os crentes ignoram seus privilégios


Com cera freqüência, os crenes dão seu esemunho nos culos. Fa-
lam a respeio do que eram anes de serem converidos, como foram salvos e
o que aconeceu desde enão. Você pode dizer muias coisas sobre um cren-
e ao ouvir o seu esemunho. Por exemplo, pode dizer se ele ouve ou não
pregações que êm coneúdo dourinário.
Quando pessoas vêm a Criso, recebem imediaamene inúmeras
 bênçãos. ecebem ambém a cereza de que desfruarão de mais bênçãos
depois da more e na ressurreição. Algumas das bênçãos que recebem ime-
diaamene são primárias, enquano ouras são secundárias e acompanham
ou resulam das primárias. Duas das bênçãos primárias são recebidas em
oda a sua pleniude, enquano uma dessas bênçãos é recebida em pare,
sendo acrescenada dia após dia.
Quais são as bênçãos da vida crisã? Quais delas desfruamos agora? E
quais receberemos depois? Quanas são as bênçãos primárias? Quanas são
as bênçãos secundárias? Quais das bênçãos primárias podem ser descrias
como atos e quais podem ser descrias como  processos? As pessoas que ou-
 vem pregações ricas em dourina podem responder essas pergunas e dar
um esemunho que reflee o crisianismo enconrado na Bíblia. As pessoas
que não ouvem esse ipo de pregação não podem fazer nem uma coisa nem
oura e, por isso, êm uma vida crisã relaivamene pobre.
 A primeira das bênçãos da vida crisã é a justificação. Não é a mais ele-
 vada das bênçãos, mas é uma das quais dependem odas as ouras bênçãos.
 A jusificação é algo que Deus faz. É um ao que flui da sua generosidade.
Ele perdoa odos os nossos pecados e nos considera jusos, como Ele é! Isso
aconece porque odos os nossos pecados foram lançados na cona de Criso
e sua jusiça imaculada foi crediada em nossa cona. Não somos jusificados
por causa de qualquer coisa que enhamos feio; somos jusificados oal-
mene por causa do que Criso fez por nós. ornamo-nos jusificados no

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 •
Conteúdo Doutrinário

exao momeno em que nos enregamos ao Senhor Jesus Criso.


Quase odos os problemas ineriores experimenados pelo crene se
devem ao fao de que ele esquece sua jusificação ou não a enende. Onde
a jusificação é pregada e enendida, ali há crenes felizes e ousados. Onde a
 jusificação não é pregada e enendida, ali há pessoas medrosas e persegui-
das por emores desnecessários. Muias das dificuldades de nossas igrejas
evaporariam, se a jusificação fosse enendida como o deveria ser. Quão in-
feliz é a igreja em que esa dourina é negligenciada ou perverida!
 A segunda grande bênção da vida crisã é a adoção. Ese é o mais elevado
privilégio que o evangelho nos oferece. É algo que Deus faz. É um ao que flui
de sua generosidade. Ele declara que é nosso Pai e que somos seus filhos, aben-
çoados com direios e privilégios. Jesus, o eerno Filho do Pai, é nosso irmão
mais velho. odos os ouros crenes, homens e mulheres, são nossos irmãos e
irmãs. Um senimeno de família, ouorgado pelo Espírio Sano, nos une. Os
deveres familiares ambém nos perencem. Mas, que cuidado o Pai demonsra
para conosco e que liberdade emos em oração! Os crenes que não ouvem
pregações dourinárias regularmene não sabem muio a respeio da adoção e,
enho de dizer, caem facilmene em riseza e odo ipo de legalismo.
 A erceira grande bênção da vida crisã é a santificação. Iso ambém é
algo que Deus faz, mas é um processo, e não um ao. Em ouras palavras, não
recebemos oda esa bênção imediaamene. Deus muda o nosso inerior e
sua imagem é renovada em nós. Esa mudança inerior implica em que nosso
comporameno começa a mudar. Pouco a pouco, devagar mas com cereza,
pecamos menos e nos ornamos mais piedosos. Nos esforçamos em busca
de sanidade porque Deus esá agindo em nós. A pregação dourinária não
somene nos mosra essa maravilhosa bênção, mas ambém as insruções de
Deus para que enhamos uma vida semelhane à de Criso.
odos os ouros ipos de bênçãos acompanham essas rês primeiras e
resulam delas. Por exemplo, chegamos a desfruar de uma segurança pesso-
al de que Deus nos ama. A paz invade nossa consciência. O Espírio Sano
nos dá um gozo que jamais pode ser reirado. ornamo-nos cada vez mais
fores em nossa vida espiriual. Apesar de odos os obsáculos e enações,
perseveramos em crer mesmo enfrenando risco de more.

• 55
 •
Pregação Pura e Simples

E o que aconece quando morremos? Muios crenes morrem em


riseza porque não sabem a resposa para essa perguna. A pregação de con-
eúdo dourinário eria poupado essas pessoas da agonia dessa incereza.
Negligenciar o lugar da dourina na pregação é insensibilidade e fala de
amor pasoral.
 A more é a separação enre a alma e o corpo. A alma do crene, agora
sem pecado, vai imediaa e conscienemene à presença de Criso, enquano
seu corpo permanece como propriedade de Criso e aguarda a ressurreição.
 A ressurreição será um dia de glória para odo crene. Ele erá um corpo se-
melhane ao corpo ressurreo de Criso. Será inocenado no julgameno do
úlimo dia e bem recebido no céu. Desfruará a presença complea, perfeia
e eerna de Deus. Ele será ão feliz quano lhe será possível. Sim, o crene
em um fuuro maravilhoso. Nenhum pregador deveria se maner em silên-
cio quano a essas coisas.

4) Os crentes são confundidos a respeito de como viver


Esamos aguardando a vida no céu, mas ainda esamos na erra. Vis-
o que somos crenes, quais devem ser nossas grandes prioridades? Que
princípios devem governar nosso comporameno diário? Aqueles que não
ouvem pregações dourinárias nunca saberão responder essas pergunas.
Somos povo do Senhor e, por isso, emos um único dever: obedecer
a Deus. Iso é udo. É ão simples assim. Infelizmene, milhões de crenes
acordam odos os dias compleamene confusos a respeio do que Deus es-
pera deles. Nenhum princípio bíblico rege as suas vidas durane odo o dia;
e, como resulado, o viver deles é desordenado por meio de decisões impru-
denes e inúeis. Freqüenemene, eles não sabem o que fazer. Causam dores
a si mesmos e razem sofrimeno à vida dos ouros.
udo o que Deus sempre desejou é que Lhe obedeçamos. Isso era ver-
dade no jardim do Éden e ainda é verdade hoje. Não impora o que somos,
onde vivemos, as nossas circunsâncias, um princípio (apenas um princí-
pio) é suficiene para nos guiar com segurança durane oda a vida: emos
de obedecer a Deus.
Enão, como descobrimos o que Deus quer? A sua Lei nos diz. Essa Lei

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 •
Conteúdo Doutrinário

consise de 66 livros do Anigo e do Novo esameno � nada mais, nada


menos. A Bíblia nos fala a respeio de udo o que precisamos crer e de udo
o que Deus quer que façamos. Precisamos de oda a Bíblia, mas não precisa-
mos acrescenar nada à Bíblia. Ela é suficiene.
Mas emos um problema. Em média, a Bíblia impressa em aproxima-
damene 1200 páginas. E muios de nós não a conhecemos bem ou não a
recordamos com facilidade. Enão, como podemos praicá-la na realidade
concrea de nosso viver diário?
Deus é nosso Pai celesial; e Ele é cheio de ernura. Ele nos deu um resu-
mo do que espera de nós. Ese resumo chama-se os Dez Mandamenos. Eses
consiuem-se de dez senenças que Deus ouorgou ao seu povo nos empos
do Anigo esameno e que nosso Senhor Jesus Criso ressalou como nor-
mas para governar seu povo em odos os ouros empos. Nosso Senhor foi
ambém basane amável em nos dar um resumo do resumo! Ele disse:
“Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu
coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é
o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é:
 Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos
dependem toda a Lei e os Proetas (Mt 22.37-40).

Os Dez Mandamenos são maravilhosos. Eles nos mosram quem é o


nosso Deus, por que devemos amá-Lo e como expressar esse amor. Os Dez
Mandamenos nos dizem o que se passa em nosso coração, como devemos
adorar, como devemos usar a língua e gasar o nosso empo. Eles nos mosram
como honrar a Deus na família e na comunidade. Os Dez Mandamenos nos
ensinam a valorizar a vida, o casameno, a propriedade e a verdade. Eles nos
revelam como viver conenes nesa vida e preparar-nos melhor para a vida
fuura. São ão simples que quase odos podem recordá-los facilmene; ão
profundos que aé aqueles que gasam sua vida esudando-os coninuam a
senir-se admirados pela sabedoria dos mandamenos. Os Dez Mandamen-
os aparecem, de um modo e de ouro, em oda a Bíblia e são incorporados
com beleza na vida de Criso. Eles nos mosram o quano necessiamos de
Criso e se cumprem nEle.

• 57
 •
Pregação Pura e Simples

Os crenes que ouvem pregações dourinárias não precisam aear na


escuridão durane a vida. Eles vêem com clareza o caminho e andam com
seu Senhor. Fazem isso com prazer, sem murmurar, e não com insaisfação. E
desfruam de maravilhosa liberdade, porque sua consciência não se vê obri-
gada a qualquer oura coisa, a não ser o que Deus exige de modo específico
em sua Palavra. Ceramene, a sanidade e a felicidade deles são imperfeias.
Mas, apesar disso, são um anegozo do que os aguarda no céu.

5) O testemunho pessoal é pobre


Onde os crenes não ouvem pregação dourinária, eles ficam confusos
não somene a respeio de como viver, mas ambém a respeio do que falar
aos incrédulos. O resulado disso é que há poucos crenes que conhecem a
alegria de ganhar almas. Em odo o mundo, o Senhor em seu povo vivendo
enre os não-converidos, viajando nas mesmas formas de ranspore, ra-
 balhando ao lado deles nas fábricas, escriórios, fazendas, universidades e
escolas. Muios crenes rabalham em lugares aos quais nenhum pasor ou
missionário jamais poderá ir. Que oporunidade para disseminar o evan-
gelho! Mas, freqüenemene, a oporunidade é desperdiçada, porque os
crenes não sabem o que dizer.
 Assim como odos os ouros crenes, aqueles que são insruídos dou-
rinariamene enfrenam o problema do emor. Senem emor de falar. Mas,
uma vez que falam, não lhes falam palavras. Sabem a mensagem que pos-
suem para apresenar. E isso aconece porque a pregação dourinária os
insruiu sobre o assuno que os não-converidos precisam saber.
 As pessoas não-converidas precisam ser lembradas de que conhe-
cem a Deus, embora não O conheçam como Pai e Amigo. alvez elas
dêem as cosas e proesem dizendo que iso não é verdade, mas o crene
em de coninuar insisindo que esa é a siuação delas e que dar as cosas e
proesar é um exemplo de como homens e mulheres suprimem a verdade.
Esão negando aberamene o que o seu ínimo sabe que é verdade. Não
são honesos. São culpados de engano. Os seus lábios e corações conra-
dizem um ao ouro.
 As pessoas não-converidas precisam ouvir que sua culpa é ainda maior

• 58
 •
Conteúdo Doutrinário

do que isso. Em seu coração, elas êm um senso de cero e errado. Sabem que
a Lei de Deus é correa e, apesar disso, desobedecem-lhe em pensamenos,
palavras e ações. Fazem isso odos os dias. Assim, enfurecem odos os dias o
Deus que as criou e a quem erão de presar conas. A vida é breve, a more é
cera, e o julgameno do úlimo dia chamará essas pessoas ao acero de con-
as. Se coninuarem a se rebelar conra Deus; se coninuarem recusando-se
a amar a Deus com odo o seu ser, erão de sofrer as conseqüências. Ele é in-
finio e eerno. Esse é o Ser que elas em ofendido. Porano, a jusiça exigirá
uma punição que ambém é infinia e eerna.
Os crenes que são insruídos com dourina esão ceros de udo isso.
Esão ceros de que esa mensagem em de ser apresenada com amor e
ineresse, por meio das pessoas que vivem de modo semelhane à vida de
 Jesus e que al mensagem não pode ser minimizada. Esão ceros ambém
de que êm de falar ao não-converido a respeio do Senhor Jesus. Deus não
quer que os pecadores se percam. Os pecadores não podem fazer compen-
sação pelo passado, nem salvar a si mesmos. Deus enviou um Salvador que,
por meio de sua vida, more e ressurreição, salva os pecadores. O crene
insruído dourinariamene convida, exora e ordena aos não-converidos
a não desprezarem ese Salvador, e sim a enregarem-se aos cuidados dEle, a
confiarem-se a Ele e a viverem sob o seu cuidado e governo.
 As pessoas não-converidas êm de se arrepender. Precisam ver o seu
pecado, admii-lo, envergonhar-se por causa dele e abandoná-lo. êm de
ser graas pela bondade e misericórdia de Deus e vir a Criso, dispondo sua
mene a amá-Lo e segui-Lo. Precisam enender que seguir significa viver
pela Palavra dEle, associando-se aberamene com o povo dEle, em uma
igreja que ama o evangelho, e andando com Ele, em oração.
O crene insruído dourinariamene não procura ornar o evangelho
uma mensagem “amigável”, embora a amizade sincera seja pare da vida des-
se crene. Ele fala a respeio do pecado, da culpa, da ira de Deus e do inferno.
Fala a respeio da bondade de Deus, de seu Filho e de sua disposição de
salvar. Esse crene não ocula o fao de que ninguém é salvo sem arrepender-
se. Ele roga às pessoas que venham a Criso. Mosra que vir a Criso não é
algo que ocorre apenas de palavra, mas envolve obediência às Escriuras,

• 59
 •
Pregação Pura e Simples

uma paricipação aiva na vida da igreja de Criso e um compromisso com


a oração.
 Aqueles que são fracos em dourina sempre êm uma mensagem que
não é um verdadeiro reflexo da mensagem da Bíblia. A mensagem deles
normalmene não começa com Deus. endem a enfaizar as necessidades
das pessoas, e não a sua culpa. Com freqüência, rivializam o assuno do
arrependimeno. Muias vezes, fazem uma apresenação confusa das gran-
des verdades salvadoras do evangelho. Quase deixam de mosrar que vir a
Criso significa ser compromeido com uma congregação de membros do
povo dEle. Em resumo, a mensagem deles é fraca e sem poder, em vez de
robusa, exigene, gloriosa e emocionane. Não é uma surpresa que o verda-
deiro evangelho eseja se propagando ão lenamene no mundo!

6) O caminho de santidade é obscurecido


Os crenes dourinariamene ignoranes ambém são fracos em ouras
áreas. Em paricular, são fracos a respeio de como ornar-se um homem ou
uma mulher de Deus. Não enendem como os crenes se desenvolvem. Não
sabem como se ornar espiriualmene fores.
Nese século XXI, podemos enconrar exemplos disso em odos os
lugares. Milhões de crenes modernos êm a impressão de que a sanidade
é algo que você absorve.  Você pode cercar-se de uma amosfera sana, e
alguma coisa lhe aconecerá. O Senhor se aproximará de você, e você se
senirá foralecido e capaz de reornar à sua vida normal com um senso de
 vigor e poder espiriual.
Esa maneira de ver as coisas explica por que a música ocupa um lu-
gar imporane em muios enconros e igrejas evangélicas. Às vezes, os
crenes uilizam a música durane mais da meade do empo de culo. À
medida que as músicas coninuam a ser ocadas, as pessoas se senem cada
 vez mais comovidas e elevadas. Senem que as coisas espiriuais lhes são
preciosas e que o Senhor esá se enconrando com elas. Senem que o Es-
pírio Sano esá agindo enre elas, que o mundo não é araene e que será
maravilhoso esar no céu.
Escrevo isso como um homem que aprecia basane a música e que

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 •
Conteúdo Doutrinário

ama o canar os salmos, bem como qualquer hino excelene, quer radicio-
nal, quer moderno. Mas os faos são faos, e não podemos negá-los. É fao
que a igreja do Novo esameno não era paricularmene musical e que o
canar junos não ocupava grande pare de sua vida. É fao que a igreja de
 Jesus Criso gasou os primeiros seiscenos anos de sua vida sem insrumen-
os musicais. É fao que os apósolos de nosso Senhor e os crenes da igreja
primiiva ficariam confusos pelo lugar dado à música, se paricipassem de
um culo em nossos dias.
Os crenes insruídos dourinariamene podem ser verdadeiros aman-
es da música, mas são cuidadosos em não dar à música um lugar imporane
em sua vida espiriual. Isso aconece porque eles sabem como se realiza o
crescimeno espiriual. Não é algo que você embebe ou absorve. Não é algo
que lhe aconece porque você esá numa amosfera espiriual. Pode ser ex-
presso correamene em senimenos, mas você não o consegue por meio
de senimenos. Você cresce espiriualmene porque o Espírio Sano faz as
Escriuras erem impaco sobre a sua mente.
 As Escriuras são a Palavra de Deus. Iso é verdade quer você lhes ese-
 ja dando aenção, quer não. Às vezes, quando as Escriuras são lidas, nossa
mene esá disane. Nesses momenos, as Escriuras não êm qualquer efei-
o sobre nós, e não há crescimeno espiriual. Mas, em ouras ocasiões, as
Escriuras nos aingem. ecebemos algum enendimeno do que elas esão
dizendo, e, ao mesmo empo, as Escriuras nos esimulam e nos compelem.
Iso não é udo. ambém percebemos que emos de colocá-las em práica. É
neste momento que somos foralecidos espiriualmene.
É a vonade do Senhor que as Escriuras sejam lidas publicamene,
quando o seu povo se congrega. Iso é ainda mais imporane do que a lei-
ura bíblica pessoal. Como posso dizer isso? Por que Deus não deu a sua
Palavra a indivíduos, e sim à sua igreja; e a Bíblia é mais abençoada e mais
 bem enendida quando à sua vola se reúne o povo de Deus.
No enano, a leiura pública das Escriuras não é o basane. Nosso
Senhor Jesus Criso, assenado à desra de Deus, envia à igreja homens que
Ele capaciou para ensinar as Escriuras ao seu povo. Assim como a pregação
é o principal meio pelo qual os pecadores são convencidos da verdade do

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 •
Pregação Pura e Simples

evangelho e converidos, assim ambém a pregação é o principal meio de


Deus para edificar o seu povo em sanidade, de conforá-los e preservá-los
na fé aé ao fim de suas vidas. Nenhum crene pode crescer como deveria, se
não ouvir muia pregação. É uma impossibilidade. Evidenemene, ese fao
exige que os pregadores façam bem o seu rabalho � e explica por que ese
livro sobre pregação é mais imporane do que alguns possam imaginar.
Os crenes insruídos dourinariamene sabem udo isso. ambém sa-
 bem que essa pregação em de ser ouvida de cera maneira. Pregar é ão
 vialmene necessário ao nosso vigor espiriual, que emos de fazer odo es-
forço para ouvi-la com regularidade. Anes de ouvi-la, precisamos preparar
o coração e orar em favor dos pregadores. Durane o sermão, precisamos
rejeiar o que é falso, crer e amar o que é verdadeiro. Quando o sermão aca-
 bar, precisamos omar empo e esforçar-nos para recordá-lo, cuidando para
colocá-lo em práica. Esa é a maneira de crescermos espiriualmene. Esa é
a maneira como Deus nos dá um caráer crisão.

7) A vida da igreja não é ordenada


 A vida da igreja é mais do que apenas reunir-se com ouros crenes
para ouvir os sermões. Esa é a aividade mais imporane da igreja, mas
não é a sua única aividade, conforme deixarão claro os sermões funda-
menados na Palavra de Deus.
Crenes insruídos dourinariamene enendem a vida da igreja. Sabem
que, se uma pessoa afirma er se arrependido e deposiado a sua confiança
em Jesus, essa afirmação em de ser examinada. As pessoas mais qualificadas
para ese exame são os homens espiriualmene maduros que consiuem a
liderança de uma igreja amável, fundamenada nas Escriuras. Se a afirma-
ção parece esar bem fundamenada nas Escriuras, o novo converido em
de ser baizado e admiido na comunhão da congregação.
É somene nesse conexo que um novo crene pode amadurecer
apropriadamene. A igreja local recebe o novo crene como um novo
irmão ou irmã em Criso. Fornece amor, enendimeno, apoio, ajuda prá-
ica, ensino, disciplina correiva e udo mais que um novo crene possa
necessiar. É por meio da perseverança na fé, em um conexo de igreja

• 62
 •
Conteúdo Doutrinário

local, que damos prova de que somos realmene nova criaura em Criso
e membros da verdadeira igreja, que inclui odos os crenes, em odos os
lugares, em odas as gerações.
Um dos compromissos mais sublimes e regulares na vida da igreja lo-
cal é a Ceia do Senhor. É a vonade de Criso que nossa vida espiriual seja
foralecida não somene por sua Palavra e pela oração, mas ambém pelas
suas ordenanças ou sacramenos. Algumas pessoas não gosam da palavra
“sacrameno” mas, uma palavra melhor nunca foi enconrada. O baismo é o
primeiro dos sacramenos ou ordenanças, e a Ceia do Senhor é o segundo.
Nenhum desses aos pode nos ornar melhor, se Criso não os abençoar e
seu Espírio não agir por meio deles. Esas ordenanças são figuras vívidas
que nos ensinam a respeio de Criso e de seu evangelho, que nos dão uma
apreciação mais complea do que Ele fez por nós, que nos foralecem a fé
nEle e o desfruar dEle.
Quando nos ornamos crenes, somos baizados um de cada vez e
uma única vez. O baismo é nosso selo de discipulado. É feio em nome do
Pai, do Filho e do Espírio Sano, para demonsrar que agora emos o Deus
riúno como nosso Salvador e Senhor e que devemos nossa salvação com-
pleamene à sua graça, e não a qualquer coisa em nós mesmos. A Ceia do
Senhor é diferene. É algo que celebramos junos como membros da igreja e
que fazemos com regularidade durane oda a nossa vida. Da maneira como
Criso ordenou, odos junos comemos o pão e bebemos o vinho. O pão
represena o corpo de Criso e o vinho, o seu sangue. Por comermos e be-
 bermos, lembramos e proclamamos a more dEle. Quando fazemos isso (na
medida em que emos consciência do que esamos fazendo), nosso coração
se une com o dEle, somos nuridos e foralecidos espiriualmene. Nosso
coração ambém se une com o de cada crene em comunhão de amor. A
Bíblia nos ensina que o nosso inerior é realmene mais imporane do que
celebrações e símbolos exeriores, porque, se nosso coração não esá naqui-
lo que celebra, oda a experiência será espiriualmene prejudicial.
Qual a relação de udo isso com a pregação? Esamos desenvolvendo o
argumeno de que a pregação precisa er um coneúdo dourinário e de que
a pregação sem esse coneúdo rouba de seus ouvines inconáveis benefí-

• 63
 •
Pregação Pura e Simples

cios. Milhões de crenes manquejam em fraqueza espiriual, porque nunca


enenderam que é impossível fazerem progresso espiriual, se não são mem-
 bros de uma igreja verdadeiramene evangélica. Quanas pessoas confessam
ser crenes, mas nunca iveram sua confissão examinada por qualquer ou-
ra pessoa, além delas mesmas? Quanos crenes exisem que jamais foram
 baizados e que vivem em franca desobediência a Criso, por não se com-
promeerem com uma igreja fundamenada nas Escriuras?
Quanos crenes exisem que consideram a paricipação na Ceia do
Senhor como algo que podem perder sem reardar o seu desenvolvimeno
espiriual? Quem pode calcular o número de crenes que realmene crê que
é mais imporane ler a Bíblia sozinho do que ouvi-la em uma pregação?
Onde esão os crenes que são ousados a pono de deender o ensino bíbli-
co de que a igreja local é o único lugar apropriado para a nurição de um
crene jovem? O que podemos dizer sobre o abandono quase universal da
disciplina por pare da igreja, a despeio do fao de que a disciplina na igreja
é um mandameno de Criso? E quando presenciaremos o fim da menira
que nos diz que podemos omar com seriedade a confissão de alguém que
declara ser membro da igreja de Criso, ainda que não enha compromisso
com uma igreja local?
O que pode ser feio? Há algo que possa arrumar essa bagunça? Sim,
apenas uma coisa � um reorno à pregação que em coneúdo dourinário.

8) A oração se torna superficial


Não podemos erminar ese capíulo sem dizer algo mais a respeio da
oração. odos os crenes lhe dirão que orar é imporane. A maioria deles
lhe falará que começamos a vida crisã com oração e que precisamos dela
em odos os dias poseriores à nossa conversão. Mas, o que é realmene a
oração? Esa é a perguna que deixa muios crenes hesianes, porque sa-
 bem que a sua resposa não é clara nem complea.
O crene insruído com pregação dourinária não em esse problema.
Ele sabe que a oração não é uma quesão apenas de palavras, embora seja ex-
pressa com palavras. A oração é uma coisa do coração. É o coração ornando
os seus desejos conhecidos a Deus. O sublime desejo do coração é que Deus

• 64
 •
Conteúdo Doutrinário

lhe conceda somene o que Ele quiser.


O crene sabe que não em acesso à presença de Deus, exceo por meio
de Criso. Assim, ele apresena seus desejos a Deus, confiando oalmene
em Criso. ambém sabe que o pecado é a única coisa que impede a comu-
nhão com Deus. Por isso, confessa odo pecado conhecido. Além disso, não
 vê a oração apenas como um simples ao de fazer peições. em o desejo de
agradecer a Deus por odas as demonsrações de sua bondade.
 À medida que os desejos ascendem a Deus provenienes de um coração
que ora, ais desejos não fluem como uma orrene inconrolável, porque há
um desejo que conrola odos os demais: obedecer a Deus. As pessoas de
menalidade espiriual sabem: Deus não quer que elas orem de um modo
confuso e desordenado. Iso é verdade porque Ele nos dá muios exemplos
de oração em sua Palavra, mas especialmene porque seu Filho ensinou os
discípulos a orar. A Oração do Senhor deve ser o nosso modelo. Os arquie-
os não preparam modelos a fim de viverem neles, e sim para usá-los como
 base de suas consruções. De modo semelhane, a alma consagrada à oração
não se saisfaz em reciar a Oração do Senhor, mas usa-a para organizar os
desejos que fluem de seu ínimo.
Enão, é raro que a verdadeira oração seja dirigida a Jesus ou ao Espí-
rio Sano. A oração se expressa com dependência, amor e emor ao Pai.
 A oração nure grandes pensamenos sobre Ele e deseja que os ouros fa-
çam o mesmo. Suplica que o mal seja aniquilado, que o reino de Deus se
propague em odo o mundo e que seu reino final venha em breve. Ane-
la que a igreja na erra seja ão obediene a Deus como os anjos eleios
o são, no céu. Pede que sejam supridas as necessidades diárias de cada
membro da igreja de Criso. Em profunda consciência de seu pecado, roga
perdão, mas ão-semene sob a condição de que seja governada por um
espírio perdoador. reme ao pensar no pecado, roga que seja poupada
da enação, implorando que nunca seja víima do poder das enações
do Maligno. Com alívio, descansa no fao de que Deus é o ei eerno e de
que, ao orar, falou com ninguém menos do que Ele mesmo.
Poucos crenes modernos são giganes na oração. As orações proferidas
em nossos culos são superficiais, banais, repeiivas e, às vezes, heréicas.

• 65
 •
Pregação Pura e Simples

aramene ouvimos algo que segue o padrão bíblico, fazendo que nos en-
 volvamos com Deus, deixando-nos emocionados, humildes e enobrecidos.
O que aconeceu? A verdadeira oração nos abandonou para sempre? Algu-
ma coisa pode mudar esa siuação?
 A verdadeira pregação bíblica pode mudar a siuação. Não é uma pre-
gação que possui apenas exaidão exegéica; é uma pregação que possui
ambém coneúdo dourinário. Se Deus a abençoar, ela curará odos os ma-
les e risezas, e corrigirá odos os erros que mencionamos nese capíulo. A
pregação que não em coneúdo dourinário esá arruinando a igreja. Não
podemos permiir que as coisas coninuem assim. emos de mudá-las e o
faremos, com a ajuda de Deus � por meio de um reorno à pregação ousa-
da, sincera, crisocênrica e de coneúdo dourinário.

Exercício

1. “Sem eologia, não há pregação, pelo menos no senido expresso no Novo


esameno” (Donald MacLeod).1 Discua esa afirmação.
2. Faça um esboço de um sermão que você pregaria sobre 1 Samuel 3, alis-
ando o ensino dourinário que incluiria.
3. Apresene sugesões práicas a respeio de como odas as principais dou-
rinas da fé podem ser ensinadas na igreja.

Noas

1 M��L���, Donald. Preaching and Sysemaic Teology. In: L����, Samuel . (Ed.)
 Preaching. Welwyn: Evangelical Press, 1986. Capíulo 19, p. 246.

• 66
 •
3
Estrutura Clara

 J á aprendemos o que é pregação. Aprendemos ambém que a nossa


pregação em de ser caracerizada por exaidão exegéica e coneúdo
dourinário. Mas odo o nosso rabalho árduo será desperdiçado, e odas
as oporunidades serão perdidas, se nossos ouvines não puderem acompa-
nhar-nos, quando falamos, e depois não puderem recordar o que pregamos.
 A boa noícia é que isso não precisa aconecer. Nossos sermões podem ser
fáceis de ser acompanhados e relembrados, se iverem uma estrutura clara.
Os pregadores que amam seus ouvines são meiculosos quano à es-
ruura de seus sermões. Sabem que as pessoas compreenderão os sermões,
se eles iverem unidade, ordem e proporção. Unidade significa que odas as
pares da mensagem se manêm unidas; a mensagem não é formada de vá-
rios sermonees desconexos. Ordem significa que o sermão é formado de
idéias disinas que seguem umas às ouras, em uma cadeia lógica que con-
duz a um clímax. Proporção significa que cada idéia em o seu devido lugar;
as coisas insignificanes não são magnificadas, e as imporanes não são me-
nosprezadas. O pior dos pregadores na erra melhorará imediaamene, se
lembrar esas rês palavras.
Com freqüência, enho ouvido que “ordem é a primeira lei do céu”.
Ceramene, Deus é um Deus de ordem. Alguém que já refleiu sobre a
Sana rindade sabe que exise ordem e simeria no ser de Deus, uma or-
dem e simeria que é exasiane em sua beleza. Desordem pode ser um
sinônimo de impiedade.
Durane muios anos, dei palesras sobre pregação em uma faculdade
Pregação Pura e Simples

eológica, ou, como ambém é chamado, um seminário. Meus alunos eram


homens reinados para o minisério pasoral e para a obra missionária rans-
culural. odos eles queriam ser pregadores convincenes. Mas eu sabia que
alguns deles provavelmene não o seriam, e quano a isso eu raramene erra-
 va. Isso aconecia porque eu os visiava em seu dormiório ou em seu lar.
Permia-me falar sobre um aluno que chamarei de Frank. oda vez que
o visiava em seu dormiório, ele esava vesido com roupas limpas e passa-
das, fazendo seus rabalhos em uma mesa arrumada, num quaro limpo e
organizado. Suas roupas esavam dobradas primorosamene nas gaveas ou
penduradas em seu guarda-roupa. Ordem era algo imporane para Frank.
Mas o asseio de Frank não era algo parecido com o asseio fanáico que orna
os visianes desconforáveis. Ordem fazia pare da alma de Frank. Por isso,
eu espera que ele se ornasse um excelene pregador. E isso de fao acon-
eceu. Ele prega mensagens peneranes e sermões poderosos nos quais as
idéias seguem umas às ouras, em uma lógica araene que aé as crianças
podem acompanhar, sem esforço. As pessoas da igreja de Frank o amam e
sua uilidade cresce ano após ano.
Falarei sobre ouro aluno chamado George, que é o conrário de Frank.
O quaro de George parecia um cômodo que uma bomba havia aingido!
Nunca esava limpo! O chão esava cobero de roupas, xícaras, livros e pe-
daços de papel. A mesa de George esava replea de desordem. Por isso, ele
fazia a maioria de suas arefas assenado em uma cama replea de bagunça.
Ele não valorizava a ordem. Esa não fazia pare de sua vida, nem de sua pre-
gação. O que George dizia era bom, mas suas idéias não eram organizadas.
De sua boca saía um miso de esouros que caíam uns sobre os ouros e con-
fundiam a mene dos ouvines. Depois de uma pregação ão ruim, realizada
durane muio empo, posso lhe dizer com alegria que George esá fazendo
algum progresso � somene por que, finalmente, ele esá começando a ver a
imporância de uma esruura clara.
Esruura clara significa que cada sermão pregado erá uma inrodu-
ção, algo a dizer (radicionalmene chamado “o discurso”) e uma conclusão.
Consideraremos agora cada um desses elemenos.

• 68
 •
Estrutura Clara

1) A introdução

Definição
 A inrodução é composa
composa de observações iniciais que preparam os ou-
 vines para udo que será
será dio em seguida. Ese capíulo
capíulo começou com
com uma
inrodução! A inrodução é a pora que o recebe em casa, a aurora que pre-
cede o nascer do sol, o prelúdio que o faz desejar ouvir oda a sinfonia, e o
peisco que lhe
l he esimula o apeie anes de sua refeição.

Propósito
 A inrodução em
em apenas um propósio:
propósio: deixar as pessoas
p essoas ineressadas
ineressadas
pelo assuno sobre o qual o pregador falará. Quando nos levanamos para
pregar, emos odos os ipos de pessoas diane de nós e odos os ipos de
obsáculos a vencermos. Um obsáculo é a a patia patia:: o ouvine não esá ine-
ressado em qualquer coisa que será dia. Ouro obsáculo é a antipatia: o
ouvine esá realmene conra
conra nós e conra aquilo que falaremos. Ouro obs-
áculo é a incredulidade: o ouvine não crê no Livro sobre o qual pregaremos.
De uma maneira ou de oura, emos de preparar cada pessoa ali presene
para ouvir o que emos a dizer. Precisamos vencer a inércia, desperar a aen-
ção, esimular o ineresse e preparar o caminho. emos
emos de irar
i rar as pessoas de
onde elas esão e razê-las ao pono em que nos darão ouvidos aenos.
“Qual é a melhor maneira de ober a aenção dos ouvines?”, per-
gunou um jovem pregador. “Dê-lhes algo ao qual possam ficar aenos”,
respondeu um velho crene
crene..
Uma hisória aniga nos fala sobre um camponês russo que inha um
 jumeno eimoso.
eimoso. Obedecia o seu dono somene quando queria! E isso era
muio raro!
raro! Mas o camponês ouviu falar
f alar sobre um veerinário que afirmav
afirmavaa
er um méodo indolor para reinar jumenos a serem obedienes. Por isso, o
camponês suplicou ao veerinário que viesse ao seu síio. Ao ver o jumeno,
o veerinário irou de sua malea um grande basão de madeira e começou a
espancar a cabeça do jumeno. “Pare! Pare!”, griou o camponês. “Você me
disse que seu méodo de reinameno era sem dores!” O douor respondeu:
“É mesmo! Mas, primeiro, enho de ganhar a aenção do jumeno!”

• 69
 •
Pregação Pura e Simples

É fácil pregar a ouvines que nos dão oda a sua aenção e se mosram
ineressados no que vamos dizer. Um anigo provérbio diz: “Quando come-
çamos bem um rabalho, já fizemos a meade dele”.

Sugestões
 A inrodução
inrodução deve nos
nos levar direamen
direamene e ao
ao discurso.
discurso. Não
Não é um desvio,
desvio,
e sim a própria rodovia que nos conduz ao assuno de nossa pregação. udo
que dissermos na inrodução deve servir
serv ir a ese único propósio.
propósio.
 A inrodução não deve promeer mais do que o sermão pode dar-nos.
 Algumas inroduções
inroduções são ão boas, que o sermão apresenado
apresenado em seguida é
um aniclímax. Se a pora é impressionane, esperamos que a casa, depois
da pora, seja muio mais impressionane. Sempre é um desaponameno
aravessar uma linda pora e enrar num barracão horrível!
 A inrodução deve cone
conerr um único pensamen
pensameno o.. Deve ser simples e
modesa. Quem deseja passar de uma pora a oura, que, por sua vez, leva a
oura pora?
É imporane variar nossa inrodução. Passei grande pare de minha
 vida em uma casa com
com varanda,
varanda, no cenro de uma
uma cidade.
cidade. Em
Em uma
uma rua de ca-
ca-
sas com varanda, várias casas se unem umas às ouras. Parecem
Parecem odas iguais.
Mas, ainda nesa siuação, alguma variedade é possível. Pelo menos, cada
casa pode er uma cor diferene em sua enrada!
 A inrodução
inrodução não deve ser muio
muio longa.
longa. O SrSr. Smih, um homem
homem de ne-
gócios, chega cedo para uma reunião imporane. Sena-se em uma cadeira
no corredor e adormece. Pouco depois, a secreária bae em seu braço e o
conduz à sala de reunião,
reunião, onde o deixa com seus colegas, para prosseguirem
seus negócios. O nome da secreária é Sra. Inrodução.
 A inrodução leva
leva as pessoas aos principais negócios do dia, mas não é
o principal negócio
negócio.. Seu alvo é desperar as pessoas e prepará-las para o que
 vem depois. Com cereza, o seu alvo não é desperar as pessoas e levá-las
a dormir novamene. Ela precisa ser apresenada com cuidado para eviar
confusão ou mal-enendido, anes que as pessoas ouçam as grandes verda-
des que serão explanadas.
Uma inrodução longa é sempre um erro. Uma inrodução breve ra-

• 70
 •
Estrutura Clara

ramene é um erro. Não devemos gasar ano empo arrumando a mesa, a


pono de que as pessoas cheguem a duvidar se janarã
janarãoo alguma coisa!
Enão, que cuidados devemos er ao preparar a inrodução! Que-
remos caivar as pessoas! emos de mediar sobre quais serão nossas
observações iniciais.
iniciai s. Pregadores
Pregadores inexperienes
inex perienes alvez deveriam escrevê-las.
Coloquemo-nos no lugar de nossos ouvines e desenvolvamos maneiras
de conquisar a aenção deles. Se, ao final da inrodução, virmos as pessoas
levanarem as suas cabeças e olharem direamene para nós, saberemos
que fomos bem-sucedidos.

Fontes
Quando procuro melhorar a minha inrodução, onde posso enconrar al-
gumas idéias? Livros sobre pregação geralmene êm muio a dizer sobre ese
assuno. Minha própria convicção é que odos precisamos conhecer nossos
ouvines ão bem quano pudermos e usar discernimeno e originalidade na
maneira como os caivamos. De maneira ão rápida e araiva quano possível,
queremos que fiquem enusiasmados com nosso assuno, sempre lembrando
que a verdade apresenada em seguida é infiniamene mais gloriosa do que
a inrodução que a precedeu. Não enho uma fórmula mágica. Boas inrodu-
ções resulam de mediação, amor e oração por nossos ouvines. Se ivermos
esses rês elemenos, raramene seremos malsucedidos.

2) O discurso

Definição
 A inrodução é seguida por aquilo que em sido radicionalmene
radicionalmene cha-
mado de “o discurso”. Mas o que é isso? É a verdade a ser ensinada a estas
pessoas logo após a inrodução. É consiuída do maerial que o pregador se
dispõe a comunicar naquele deerminado sermão.

Um plano básico
Para levar eficazmene as pessoas a se convencerem desa verdade,
preciso er um plano. Afinal de conas, esarei ensinando a verdade ao

• 71
 •
Pregação Pura e Simples

povo. Meus pensamenos devem seguir uns ao ouros em algum ipo de


ordem preesabelecida; pois, do conrário, não chegarei a lugar algum. As
pessoas êm de senir que há movimeno no sermão que as conduz em
uma direção específica.
O plano de um sermão deve ser ão simples quano possível, de modo
que odos os ouvines vejam aonde esão indo. É difícil dirigir em uma rodo-
 via escura à noie. Mas, se há objeos sinalizadores no meio da rodovia, udo
fica mais fácil. Quando os faróis brilham, os objeos refleores aparecem aos
nossos olhos um de cada vez. emos abundância de orienação, anes de
chegarmos a alguma curva ou sinuosidade.
Embora o plano seja simples, ambém deve ser agradável e impressio-
nane. Se não o for, a congregação se desligará menalmene. odo crene
falará consigo mesmo: “Já sei o que ele vai dizer”. Porém, o plano não deve
ser excessivamene brilhane, engenhoso ou esquisio. Precisamos de uma
esruura fácil de memorizar que não levará as pessoas a nos admirarem
nem a nos rejeiarem, mas que fixará as suas menes nas verdades que es-
amos apresenando.
É empo de abandonarmos odos os planos de sermões que são di-
fíceis, monóonos e enfadonhos, bem como aqueles que são brilhanes e
emocionanes em demasia. É a verdade de Deus que esamos pregando!
Nada deve orná-la difícil de ser assimilada, nem impedir que as pessoas lhe
dêem aenção. Nossa razão para ermos um plano surge de nosso inenso
desejo de que cada pessoa não enha qualquer problema em perceber o que
significa a verdade de Deus.

A utilidade das divisões


 A fim de nos manermos em nosso plano e ajudar os ouvines a perce-
 bê-lo com clareza, um sermão deve er divisões ou subíulos claros. Eses
agem como poses sinalizadores em uma rodovia cobera de neve. Quando
a neve esá ala, o moorisa não pode ver onde esá a rodovia. É fácil sair do
rumo e perder-se compleamene. Poses inensamene coloridos marcando
as margens da rodovia são udo o que ele necessia. Se eses se enconram
no devido lugar, o moorisa esá seguro.

• 72
 •
Estrutura Clara

Divisões, ou subíulos, ornam o sermão fácil de ser acompanhado.


Os ouvines podem acompanhar o argumeno que esá sendo desenvolvi-
do. Podem ver em que pono esão e aonde irão em seguida. Não devemos
esquecer que homem e mulher foram criados originalmene à imagem de
Deus. Essa imagem foi horrivelmene disorcida e danificada, mas ainda
esá presene no homem; por isso, a mene humana não aprecia desordem e
caos. Sermões sem divisões incenivam desordem menal nas pessoas.
 As divisões ornam o sermão fácil de ser lembrado. Como a nossa pre-
gação pode causar algum benefício duradouro, se as pessoas não podem
recordá-la? Cada subíulo age como uma hase em que podemos pendurar
uma verdade recém-aprendida. Quando odas as hases (subíulos) esão
em nossa mene, podem não somene nos razer à memória odo o sermão,
mas ambém dar melhor enendimeno a respeio de como uma verdade se
relaciona à oura.

Algumas regras sobre as divisões


 As divisões ou subíulos deixam de ser úeis quando são mal elabo-
radas. Esruuraremos bem nossos sermões, se as divisões saisfizerem as
seguines descrições:
Distinção
Cada subíulo em de ser disino de odos os ouros, não sendo uma
repeição de qualquer deles. Precisa er sua própria idenidade. Dese modo,
os ouvines perceberão que o sermão possui progressão. Eles observarão
que cada divisão esá consruída sobre a anerior e conduz à poserior. Cada
subíulo é disino porque em um lugar único no argumeno.

Ordem, movimento e progresso


Um carrossel num parque de diversões em ordem e movimeno, mas
não faz qualquer progresso. Quem deseja ouvir um sermão desse ipo? Uma
mulidão de rebeldes em movimeno e progresso, mas não possui ordem.
Em bom esado menal, quem desejaria ouvir um sermão dessa naureza?
Mas um exércio em movimeno possui esas rês caracerísicas. Vai a al-
gum lugar e consegue alguma coisa. Precisamos dizer mais alguma coisa?

• 73
 •
Pregação Pura e Simples

 Acumulação
Um objeo em queda se orna cada vez mais rápido, à medida que cai.
Por causa de sua energia acumulada, aé uma bola de golfe poderia maar
alguém, se fosse airada de um lugar elevadíssimo. Um sermão deveria ad-
quirir força, à medida que é pregado; e a força adquirida deveria ser expressa
nos subíulos. odos deveriam saber com clareza que o argumeno esá se
movendo para frene e ganhando força. Uma divisão deve levar naural-
mene à seguine, de modo que deixe claro que o fluxo de pensameno esá
canalizado e não desorienado. Cada divisão deve ornar os ouvines mais e
mais ineressados no clímax que esá por vir.

 Abrangência
 Anes de começar a falar, o pregador deve ser oalmene claro a respei-
o de quana verdade ele enciona comunicar. Em circunsâncias normais,
ele deve se prender a isso e não acrescenar nada mais, exceo a explicação,
as ilusrações ou as aplicações. Seus subíulos devem prover um resumo
conciso da verdade que ele esá abordando. Devem exrair da laranja odo o
suco que ele quer dar, nem uma goa a mais.

Naturalidade
Os subíulos devem ser naurais e não arificiais. Em sua preparação,
o pregador em sempre de pergunar como o seu versículo, ou passagem,
ou assuno, se divide nauralmene. Nada que não eseja no esboço deve ser
imposo. Os subíulos são alavancas que removem esouros do solo, não
são veículos que os ransporam para algum lugar.

Poucas divisões
Um sermão não deve er muias divisões. Quando eu era menino, ain-
da era permiido por lei reirar os ovos do ninho de ceros pássaros. Achar
ninhos de pássaros era uma diversão favoria de muias crianças e, em nossa
família, fazíamos uma boa colea. Se rouxéssemos um ovo para casa, nos-
sos pais queriam saber quanos haviam no ninho. Se houvessem mais de
quaro, nossos pais ficariam conenes. Como muias ouras pessoas, eles

• 74
 •
Estrutura Clara

maninham a eoria de que um pássaro só pode conar aé quaro! Porano,


não seniria fala do ovo roubado e não seniria qualquer riseza!
Não sei se essa eoria é correa ou não. Mas sei que as pessoas acham di-
fícil seguir ou reer um sermão que enha mais do que quaro ponos. Se há
apenas dois ponos, é difícil maner o ineresse das pessoas, er progressão e
inroduzir muia variedade. Se há ponos demais, os sermões se ornam ex-
remamene difíceis de serem lembrados. Esa é a razão por que é sábio fazer
sermões com rês ponos (a despeio de oda a gozação que exise a respeio
disso) ou, no máximo, quaro.
Um sermão com rês ou quaro divisões evia muios perigos. A for-
ma mais simples de lógica, o silogismo, se expressa em rês ponos. Eis um
exemplo de silogismo:

• odos os careiros usam uniforme azul e amarelo.


• João é um careiro.
• Logo, João usa uniforme azul e amarelo.

Porano, em um sermão de rês ponos é possível er não somene


muia variedade, mas ambém um argumeno lógico que conduz a um clí-
max ou uma conclusão. Devemos parar de rir dos pregadores que usam
rês ponos em seus sermões. Esse ipo de sermão em sido uma boa fer-
ramena de ensino aravés dos séculos. Com muia freqüência, sermões
desse ipo êm sido usados maravilhosamene para apresenar com clareza
a verdade de Deus.

Proporção
Como regra geral, cada divisão em um sermão deve er o mesmo a-
manho. ecenemene, ouvi um jovem pregador cuja mensagem inha rês
ponos bem claros. Ele gasou vine e rês minuos no primeiro pono; see
minuos, no segundo e apenas rês, no úlimo! A impressão deixada foi a de
que ele gasou muio empo em sua primeira divisão e nos desaponou nas
ouras duas. Senimos que o sermão não inha equilíbrio e que havíamos
sido, miseriosamene, iludidos. Nenhum pregador deve causar esse ipo de

• 75
 •
Pregação Pura e Simples

impressão. As pessoas devem sair da igreja comovidas, emocionadas e sub-


 jugadas pela Palavra de Deus. A esruura exise para servir à Palavra, não
para nos afasar dela.

Persuasão
Se pensarmos cuidadosamene em nossos subíulos, podemos es-
crevê-los de modo que sejam mais persuasivos. Em Maeus 6.1-18, nosso
Senhor ensinou seus discípulos a respeio de obras de caridade, oração e
 jejum. Em cada ensino, Ele lhes disse primeiro o que não fazer; depois, o que
deviam fazer. Ese é um bom exemplo a ser seguido. O negaivo deve prece-
der o posiivo. Da mesma maneira, o absrao deve aneceder o concreo; o
falso vir anes do verdadeiro; afirmações, anes de apelos e exorações. Por
que roubar da mensagem a sua força, quando, por meio de uma pequena
consideração e reorganização, podemos orná-la mais convincene?

 Atratividade
De modo semelhane, após mediar em odos os iens, podemos ornar
nossos subíulos mais araenes. Afinal de conas, não anelamos que nossos
sermões sejam ineressanes, fáceis de seguir e mais fáceis de serem lembra-
dos? Faremos progresso imediao apenas simplificando as palavras � “rês
raos cegos” faz mais senido às pessoas do que “um rio de roedores visual-
mene incapazes”! Um subíulo colocado em palavras simples sempre em
mais poder do que um subíulo colocado em frase exensa � por exemplo:
“Uau!” é mais fácil de ser memorizado do que “Esou surpreso!” E por que
os subíulos êm de ser expressos em afirmações? Deerminados subíu-
los não seriam mais caivanes se fossem expressos na forma de pergunas?
Com oração e cuidado, odos nós podemos apresenar nossas divisões de
maneira mais araene.

3) A conclusão

odas as coisas boas chegam ao fim. E isso aconece com sermões, quer
 bons, quer ruins. Mas, qual é a melhor maneira de encerrá-los? O que cons-

• 76
 •
Estrutura Clara

iui uma conclusão proveiosa? Os ineressados na esruura do sermão


nunca esão disposos a eviar pergunas como essas.

Definição
 A conclusão é formada por observações que encerram o sermão. O
seu alvo é concluir a mensagem de um modo que seja digno das verdades
que foram pregadas. ambém procura assegurar que nada imporane
seja perdido e que o ensino seja enfaizado na mene e consciência das
pessoas presenes.
Há alguns anos, minha esposa e eu ficamos surpresos ao enconrar uma
pequena fábrica de chocolae escondida em uma vila ao nore do País de
Gales. O proprieário era um chocolaeiro suíço que fazia à mão cada choco-
lae. Evidenemene, iso significa que seu produo era exremamene caro.
Porque ele fora ão amável conosco e porque havíamos enconrado aquela
fábrica ão ineressane em nossa viagem, decidimos comprar seis caixas de
chocolae. Ele raou cada chocolae com afeição paernal, enquano os co-
locava em uma sacola de cores brilhanes, que, depois, fechou com uma fia
e enregou ao nosso cuidado. Assim como nós, ele se mosrou ansioso de
que nenhum dos chocolaes se perdesse na viagem de vola. O cuidado dele
e aquela sacola foram uma conclusão adequada de nossa visia.

Importância
 A conclusão é capaz de aumenar a uilidade do sermão, assim como é
capaz de arruiná-lo. Pode incuir a verdade no ouvine, mas ambém pode
fazê-lo rejeiar a verdade. A conclusão do sermão pode gravar a verdade no
coração de cada ouvine ou corrompê-la de modo que se orne irreconhe-
cível. As úlimas frases de um sermão êm uma imporância que ninguém
pode exagerar.
Que vanagem há em pregar um sermão esimulane, se os seus úlimos
minuos deixam as pessoas enediadas? Que proveio raz um sermão, se
inicialmene despera as pessoas, mas depois as faz dormir? Se o ensino é
ão claro quano pode ser, mas a conclusão é vaga e confusa, que benefício
duradouro ele raz consigo?

• 77
 •
Pregação Pura e Simples

Quando eu era criança, aprendi a fazer balas de açúcar. Grandes quan-


idades de açúcar eram derramadas na água fervene, que depois era deixada
a esfriar. À medida que a água esfriava, o açúcar dissolvido começava a cris-
alizar ao redor dos barbanes que deixávamos oscilando na água. Essas
deliciosas balas são semelhanes a boas conclusões: odas as pares do ser-
mão crisalizam em uma forma que pode ser facilmene levada embora.
Conudo, sabemos que nem udo em um sermão é agradável. alvez
seja melhor comparar a conclusão à pona de uma flecha. Ela é airada veloz-
mene conra o ar pela corda do arco (a inrodução), manida no rumo por
rês ou quaro penas (as divisões), mas sua obra se realiza quando ainge o
alvo. Nesse momeno, oda a força se concenra em sua pona, que penera
o alvo. Uma flecha emboada ainge o alvo e cai no chão. Não faz nada. Que
desperdício! udo seria diferene, se a pona da flecha ivesse sido afiada.

Sugestões
 Afie a pona da flecha! Prepare com cuidado a conclusão de seu ser-
mão. Escreva exatamente o que você quer deixar reinindo nos ouvidos de
seu povo, ou memorize-o, ou inclua-o (na ínegra) em suas noas.
Devemos preparar a conclusão anes de prepararmos a versão final de
nossa mensagem. A conclusão deve esar em nossa mene a cada pono da
mensagem. Devemos irar do arsenal a arma que sirva à conclusão. Nunca
devemos perdê-la de visa. A cada pono, devemos er perfeiamene claro a
respeio de onde desejamos que o sermão ermine.
Sou uma pessoa que acredia que os emplos das igrejas deveriam ser
simples e sem ornamenação. Mas imaginemos por um momeno que sou
um arquieo conraado para projear um edifício magnífico com um piná-
culo. Ese pináculo esaria em minha mene desde o começo. Seria algo que
eu desejaria que odos vissem. Apareceria em odos os rascunhos e domina-
ria os meus planos. Mas em que pono da consrução o pináculo seria feio?
De modo semelhane, a conclusão de um sermão é o primeiro na concep-
ção, mas o úlimo na execução.
 A conclusão deve ser cura. O discurso acabou e não é correo iniciá-lo
novamene. É hora de erminar! É verdade que a conclusão deve ser longa o

• 78
 •
Estrutura Clara

suficiene para honrar o discurso que a precedeu. Mas emos de lembrar que
seu propósio é concluir!
Nossas conclusões devem ser variadas. Se não forem, nossos ouvines
mais freqüenes saberão o que virá no final, e não haverá qualquer elemeno
de surpresa. Começarão a se mexer e pegar seus hinários, anes que ermine-
mos. Sino-me feliz por haver passado meus anos de esudo sob a influência
do poderoso minisério de Paul ucker, no Eas London abernacle. Os ser-
mões dele não eram muio exensos, mas era impossível imaginar quando
ele erminaria. De repene, ele reunia udo que havia dio e o incuia, com
afeição e auoridade, em nosso coração e vida. Não o percebíamos. Ele nos
maninha fascinados aé ao úlimo momeno. Mas nunca saíamos do emplo
sem ouvir palavras reinines que encapsulavam a mensagem e nos diziam o
que fazer com ela.
Hoje não exisem muios homens que pregam como o Sr. ucker. Pa-
rece que inúmeros pregadores esudam pero de uma cenrifugadora de
roupas. A mensagem esá indo a oda velocidade, mas, de um modo quase
impercepível, começa a perder velocidade. Depois, ao ficar cada vez mais
lena, chega a uma parada leal. A congregação olha com incereza: é o fim
da mensagem, ou ele começará novamene? Esse é o único momeno de
suspense que sino em ais mensagens! Esses érminos enfadonhos não su-
gerem respeio pela verdade que acabou de ser pregada.
Nossas conclusões devem ser direas e pessoais. odo o propósio da
pregação da Palavra de Deus é que as pessoas sejam ransformadas por ela. A
conclusão em de exigir um veredico de todos os ouvines. Cada pessoa pre-
cisa enender que esá diane de uma escolha � em de colocar em práica
o que ouviu ou recusar-se a fazer isso. Não pode permanecer neura. A ver-
dade de Deus exige uma resposa pessoal. Os ouvines êm de desfruar as
 verdades, crer nas promessas, enrar no gozo dos privilégios, receber as con-
solações, cumprir os deveres, abandonar o pecado e aceiar com seriedade
as adverências � ou desprezar udo isso. Mas ninguém deve permanecer
como esá. Uma decisão em de ser feia agora mesmo. A conclusão em de
insisir nisso. E parar.

• 79
 •
Pregação Pura e Simples

***
A história de duas salas de estar

 Já falamos sobre udo que precisava ser dio a respeio de esruura cla-
ra. Permia-me, agora, erminar com a hisória de duas salas de esar.
No domingo passado, a Sra. McGregor assisiu ao culo. O sermão
foi exegeicamene correo e repleo de sã dourina, mas não lhe rouxe
nenhum benefício. Quando ela volou para casa, ambém não conseguiu
ransmiir ao seu marido incrédulo grande pare do sermão; e seu marido
parecia ineressado em saber o que ela inha ouvido. Qual era o problema?
 A fao é que o sermão foi um aglomerado de senenças que inham pouca
ou quase nenhuma esruura, pelo menos aé onde ela recordava. Por isso,
não pôde acompanhá-lo, nem reê-lo, nem comparilhá-lo. Como Deus foi
glorificado nisso?
No domingo passado, John Jones eseve na igreja. O sermão foi exe-
geicamene correo e repleo de sã dourina. Ele mal podia esperar para
chegar em casa. Subiu apressadamene os degraus e conou o sermão à
sua esposa deficiene. John podia lembrar o sermão com ana facilidade,
que o expôs à sua esposa em dealhes, um pono após ouro. De fao, John
quase lhe pregou o sermão. Ela, por sua vez, ficou emocionada, seniu-
se comovida e foralecida. Naquela sala de esar, dois corações buscaram
novamene ao Senhor.
Por amor a Deus, endo em visa o bem daqueles que nos ouvem, con-
 veridos ou não, dediquemo-nos à arefa de dominar a habilidade de pregar
com esruura clara!

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 •
Estrutura Clara

Exercício

1. Você esá almoçando com uma família crisã, no domingo. Enquano al-
moçam, a família discue a fala de esruura no sermão pregado naquela
manhã. Descreva o que você pode er ouvido.
2. Faça um esboço ampliado para um sermão baseado em omanos 12.1-2.
 Jusifique a sua esruura.
3. Algumas pessoas argumenam que o Espírio Sano é o Ensinador Divi-
no, e que somene Ele pode ornar evidene as coisas de Deus. Não há,
porano, necessidade alguma de ficarmos preocupados com a esruura
de um sermão. Escreva o que você pensa sobre esa opinião.

• 81
 •
4
Ilustrações Vívidas

 A  gora, deve esar claro para nós que a boa pregação exige muio rabalho
de preparação. Mas odo o nosso rabalho se perderá, se os ouvines
não puderem praicar e recordar o que foi pregado. Foi por essa razão que
gasamos um capíulo considerando o assuno da esruura clara. A mesma
razão agora nos leva ao assuno de ilustrações vívidas.

1) O valor das ilustrações

Uma ilusração é uma linguagem figurada que raz clareza ou discer-


nimeno a um assuno. É uma janela que permie a luz enrar em uma sala
escura. Muias pessoas não êm muia facilidade no manuseio das palavras.
 Acham difícil lidar com a lógica absraa e a argumenação eórica. Argu-
menos profundos e consisenes deixam-nas confusas. Quando as palavras
são usadas desa maneira, ais pessoas se senem perdidas na escuridão. Al-
guém quer ajudá-las a ver? Será que alguém pode lhes dar um par de óculos
infravermelhos? Ou melhor, uma ocha?
Muias pessoas não podem enender muio bem alguma coisa, se não
puderem vê-la em sua mene. Elas reagem posiivamene a palavras que
projeam imagens, mas consideram as palavras em si mesmas como algo
monóono, obscuro e desineressane. Os Arqueiros é um programa de rádio
inglês que em sido ransmiido quase odos os dias por mais de cinqüena
anos. Milhões de pessoas ainda o sinonizam. Elas ouvem as palavras dos
Pregação Pura e Simples

aores, mas não vêem nada. Enão, o que é ão araene nesse programa?
Divulga-se a si mesmo como “uma hisória diária do povo inglês”. Os seus
fãs não esão sinonizados em um dilúvio de proposições absraas, e sim em
uma hisória que podem ver descorinada em sua mene.
Muios pregadores são basane críicos da culura moderna, especial-
mene de sua dependência de linguagem figurada. Peço-lhes que enfrenem
a realidade. alvez não gosem da maneira como as coisas são. Mas precisam
lembrar que esa é uma geração que precisa de linguagem figurada. E, o que
há de errado nisso? As escriuras conêm ilusrações em cada uma de suas
páginas, e nosso Senhor as usou em odo o empo.
O assuno de ilusrações exige nossa aenção urgene. Não precisamos
ser semelhanes a radialisas que enam comenar uma parida de fuebol,
quando os holofoes já apagaram. Acenda as luzes! Mosre a Palavra de
Deus em odas as suas cores e movimenos. Prepare suas ilusrações e, para
comprovar seu valor, considere eses rês ponos:

As ilustrações explicam a verdade


Esa é a razão porque o Senhor dizia freqüenemene: “O reino dos
céus é semelhane a... (M 13.24, 31, 33, 44-45, 47). Uma vez que uma ilus-
ração se abrigue na mene de uma pessoa, udo se orna claro.
Em omanos 6 e 7, o apósolo Paulo explica por que coninuar no
pecado é um absurdo para uma pessoa jusificada pela fé. Eu mesmo, por
exemplo, acharia difícil enender aqueles capíulos, se esivessem cheios de
argumenos complexos e racionalizados. Mas não esão. Paulo fala sobre um
escravo que morre para um senhor, mas é ressusciado para servir a ouro.
Ele se refere a um mercado de escravos no qual você pode dizer quem é o
senhor de cada servo. Fala a respeio de um casameno em que um cônjuge
morre e deixa o ouro livre para casar com oura pessoa. O apósolo não
usa nada mais do que palavras, mas nos fala por meio de figuras. E esas não
somene nos ajudam a enender, mas ambém nos convencem do que ele
esá dizendo. Não devemos copiar o exemplo do apósolo? Alguém conhece
uma maneira melhor de explicar a verdade?

• 84
 •
Ilustrações Vívidas

As ilustrações tornam a verdade atraente


 Você já viu um pregador perdendo a aenção de seus ouvines? As
pessoas esão no emplo, mas seus pensamenos esão em ouro lugar. e-
peninamene, elas se concenram, olham para o pregador e lhe dão oda a
sua aenção. O que aconeceu? O que causou a mudança de aiude? Ele esá
usando uma ilusração!
Os pregadores nem sempre podem ornar udo fácil. Algumas coisas
na Bíblia são difíceis de enender. Mas as pessoas só podem ouvir coisas difí-
ceis por um período limiado de empo. Dê-lhes um descanso, um refrigério
e, logo, esarão pronas para ouvi-lo novamene.
 A maioria das pessoas da Suíça não vive em chalés, e sim em blocos
de aparamenos. Quase odos os blocos de aparamenos êm um ele-
 vador � maravilha das maravilhas! � que quase nunca quebra. Mas, se
quebrar, pode-se usar as escadas. Há dois lances de escadas para cada an-
dar, e, onde os lances se enconram, há sempre uma cadeira! É difícil subir
escadas, mas, se você parar e senar na cadeira para descansar, descobrirá
que, afinal de conas, subir escadas não é ão difícil. As ilusrações de um
sermão são como essas cadeiras.
Se ivéssemos de fazer uma longa viagem em um breve período de em-
po, acharíamos melhor ir por uma auo-esrada. Isso não é ão ineressane
como dirigir pelas esradas do inerior. Na auo-esrada, cada quilômero
parece exaamene igual ao anerior. Depois de um empo, cansamos da au-
o-esrada e paramos nos seus resauranes e lojas de conveniência. Vamos
ao banheiro, omamos um cafezinho e passamos alguns minuos nas lojas.
 Assim, achamos que esamos pronos para coninuar a viagem e desejamos
coninuá-la. O que aconeceu conosco? Descansamos e fomos revigorados.
 As ilusrações dos sermões são como essas paradas na auo-esrada.
 Você já leu uma hisória para uma criança que assenou ao seu lado?
 A princípio, ela esá ineressada e se deleia com a hisória. Mas, depois de
alguns minuos, começa a inquiear-se. Enão, udo muda: ela insise que
 você prossiga. Você virou a página e a criança viu uma figura!
 Viso que as ilusrações ornam a verdade araene, elas ambém a
ornam impressionane. Nosso Senhor poderia er dio algo assim: “Não

• 85
 •
Pregação Pura e Simples

impora como você vive, nem onde, nem durane, ou por quano empo
em vivido assim, se você se volar para Deus, Ele o receberá”. Mas esas
não foram as suas palavras. Pelo conrário, Ele disse: “Cero homem inha
dois filhos...” (Lc 15.11). A parábola do Filho Pródigo imprime em nós a
recepção do Pai de um modo que nenhuma oura afirmação poderia fazê-lo.
 Vemos a verdade, vemos com clareza e choramos de alegria.
Quando Davi pecou ão descaradamene conra o Senhor, com adulé-
rio e crime de assassinao, e meses se passaram sem que ele se volasse para
Deus em oração, Deus lhe enviou o profea Naã. Ese invadiu a presença do
rei, aponou-lhe o dedo, com ira, e o denunciou? Não. Naã foi muio sábio
ao fazer isso. Seu alvo era resaurar o pecador caído, e não levá-lo a aposaar.
Ele enrou com genileza e conou uma hisória a Davi. Pouco depois, era
o rei, e não o profea, quem esava furioso. Conudo, milhares de anos mais
arde, ainda ficamos chocados com a auoridade de Naã, ao dizer: “u és o
homem” (2 Sm 12.7).

As ilustrações fazem com que


a verdade fique gravada em nossa mente
O que você recorda do úlimo sermão que ouviu? Algumas frases lhe cau-
saram impaco? A linguagem o comoveu? Houve alguns exemplos brilhanes
de argumenos persuasivos? São esas as coisas que você recorda? alvez não.
Mas esou cero de que você, assim como eu, pode lembrar as ilusrações!
Muios anos arás, no início de meu minisério, recebi um convie espe-
cial para assisir o exame cadavérico de um fumane. O propósio era que eu
ficasse ão chocado ao ver o que o abaco faz aos pulmões das pessoas, que usa-
ria minha influência miniserial para desesimular a práica de fumar em odos
os lugares. Sou um homem frágil e provavelmene eria desmaiado, se ivesse
assisido ao exame. Por isso, recusei o convie. Mas de uma coisa esou cero:
se aceiasse o convie, eria ficado infiniamene mais impressionado pelo que
eria viso do que por odas as esaísicas que já li a respeio de fumar. ecor-
damos aquilo que vemos. Esquecemos muio do que lemos e ouvimos.
Como pregadores, não usamos recursos visuais. Nosso Senhor nos cha-
mou a rabalhar com palavras. Mas devemos usá-las para esimular o poder

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 •
Ilustrações Vívidas

de imaginação que Deus ouorgou às pessoas. emos de colocar olhos nos


ouvidos das pessoas. Não há maneira melhor de aingirmos a sua mene.
Quando nos levanamos para pregar, emos diane de nós odos os ipos
de pessoas. Elas são diferenes em raça, idade, culura, educação, habilidades,
conhecimeno, caráer, emperameno e ouras coisas mais. odavia, pode-
mos araí-las com ilusrações bem ponderadas. Foi isso que nosso Senhor fez
durane os dias que o levaram à crucificação. Um exemplo é a parábola dos
lavradores maus que enconramos em Marcos 12.1-12, bem como as rês
parábolas em Maeus 25. Durane esse período, nosso Senhor falou a uma
 variedade de pessoas excessivamene ampla. Sua audiência incluía inimigos
erudios que não esavam presenes em seu minisério fora de Jerusalém. Ele
lhes ensinou verdades desagradáveis que nunca esqueceriam!
Uma verdade lembrada pode cumprir seu objeivo muio, muio em-
po depois de o sermão haver sido pregado. Quando eu inha os meus vine
anos, li vários sermões de F. B. Meyer. Os sermões coninham ilusrações
que êm ajudado minha vida crisã aé aos dias de hoje. De modo semelhan-
e, minha alma coninua a se alimenar dos sermões de Hywel Griffihs, de
Bridgend, que foi indubiavelmene o maior pregador que já ouvi. Eu inha
 vine anos de idade quando o ouvi pela primeira vez, em uma de suas visias
anuais à nossa pequena vila no Sul do condado de Pembroke. E suas prega-
ções, proferidas naquela época, ainda me fazem bem, quase odos os dias.
Isso ocorre não porque as gravei em cassees, e sim porque eu as recordo.
enho escuado milhares de sermões aravés dos anos, e quase odos eles
não se abrigaram em minha memória. Mas a pregação de Hywel Griffihs
coninua viva, primeiramene por causa de seu poder celesial (um assuno
que abordaremos em ouro capíulo) e, em segundo lugar, porque a prega-
ção dele era ilusraiva do começo ao fim.
O que as pessoas vêem, elas o recordam. O que as pessoas vêem em sua
mente, elas ambém recordam. Esa é a maneira como somos consiuídos.
Pessoas que êm se ausenado da igreja por muios anos, mas que freqüen-
aram a escola dominical quando crianças, ainda podem lembrar muias
hisórias bíblicas. Porano, podemos uilizar ilusrações em nossa pregação
e ajudar os ouvines a lembrar o evangelho.

• 87
 •
Pregação Pura e Simples

Um dos livros que êm moldado meus ponos de visa sobre a pregação
é Some Great Preachers o Wales (Grandes Pregadores do País de Gales), es-
crio por Owen Jones. 1 Esse livro considera em dealhes vários homens cuja
pregação poderosa resulou na conversão de milhares de pessoas e, conse-
qüenemene, ransformou a nação. A pare mais proveiosa desse livro é sua
inrodução, na qual Owen Jones idenifica cinco caracerísicas que esses
homens inham em comum. É ineressane observar que uma dessas carac-
erísicas era a imaginação. Esses homens, em medidas diferenes, levavam
os seus ouvines a ver algo. Não podemos fazer o mesmo?

2) Fontes de ilustrações

odo pregador que conheço me diz que é fraco no uso de ilusrações


e que gosaria de melhorar. ambém me diz que apreciaria ajuda no que
concerne às fones de ilusrações.

As Escrituras
Pode obê-las nas Escriuras. Quando raamos do assuno de exaidão
exegéica, vimos que a Bíblia é auo-inerpreaiva. Ela ambém é auo-
ilusraiva. Ela é rica em hisórias, biografias, poesias e provérbios; e udo
isso pode ser usado para ilusrar quase odas as dourinas ou lições que en-
sinamos com base nas Escriuras. econhecendo que os próprios crenes
conhecem ão mal a sua Bíblia, por que não usar sempre as Escriuras como
sua primeira fone, quando esá à procura de ilusrações?
Mas precisamos ser cuidadosos. Quando lemos sermões dos puria-
nos do século XVII ou de Charles H. Spurgeon, do século XIX, observamos
que eles usaram cada livro da Bíblia para ilusrar o que inham a dizer. Não
podemos fazer exaamene como eles o fizeram. Pregaram a congregações
que conheciam muio bem as Escriuras. Às vezes, as referências deles aos
aconecimenos bíblicos eram meras alusões. Falaram sobre “sibolee”, bar-
 ba rapada pela meade, o Vale de Bacaa, a casa do oleiro, a orla da sobrepeliz
e a enfermidade de Públio � e odos sabiam a respeio do que eles fala-
 vam! Não podemos fazer isso hoje. A fim de usarmos essas alusões como

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 •
Ilustrações Vívidas

ilusrações, eríamos de apresenar uma explicação mais ampla ou conar a


hisória. No enano, ao fazer isso, poderíamos maar dois coelhos com uma
só cajadada: ilusraríamos o que emos a dizer e daríamos aos ouvines um
melhor conhecimeno de odo o conselho de Deus.
Há oura coisa a respeio da qual precisamos ser cuidadosos. Falamos
sobre isso no capíulo anerior, mas precisamos mencioná-lo de novo. Sem-
pre precisamos disinguir enre o significado intencional das Escriuras e o
seu uso como ilustração. Essa disinção em de ficar clara para os ouvines.
Use Naamã como uma ilusração da fé reluane e infanil, mas nunca dê a
impressão de que ese é o único propósio de 2 eis 5.1-19. Use a chamada
de Samuel para ilusrar a proximidade de Deus, porém não deixe as pes-
soas imaginarem que o propósio de 1 Samuel 3 é ransmiir essa verdade.
Com cereza, devemos usar porções das Escriuras para esclarecer a passa-
gem sobre a qual esamos pregando. odavia, ao fazer isso, não queremos
obscurecer o enendimeno que as pessoas êm a respeio da passagem que
usamos como ilusração!

Observação
Deus em dado a cada pregador uma cona bancária cheia, não de di-
nheiro, mas de ilusrações para os sermões. Se irássemos dessa cona mil
ilusrações por dia, nunca ficaríamos falidos. Como emos acesso a esa con-
a? Não com um alão de cheques ou com um carão de crédio, e sim com
os olhos e os ouvidos. Devemos apenas manê-los aberos, anoar em nossos
pensamenos o que vemos e ouvimos e acrescenar um pouco de raciocínio.
 As coisas que vemos, as que ouvimos e as experiências do viver diário
são uma fone inesgoável de ilusrações. eire dessa esane udo que você
puder e perceberá que seu esoque se renova imediaamene. Encha o seu
sermão com a água desse poço, porque ele nunca em o aviso “fora de uso”.
 Aé uma baeria de longa durabilidade se acaba, mas esa baeria nunca o
deixa na mão. Ese é um sol que sempre resplandece, um veno que sempre
sopra, um manancial que nunca seca, uma esperança que não desapona �
um suprimeno de ilusrações que nunca se acaba!
Foi o Senhor mesmo que nos ensinou a enconrar ilusrações à nossa

• 89
 •
Pregação Pura e Simples

 vola. Ele falou sobre semear rigo, edificar casas, conservação de vinho,
levedar a massa, assar pães, empresar do vizinho, acender lâmpadas, var-
rer a casa e achar esouros. Jesus falou sobre os deveres dos servos, cães
embaixo da mesa, ladrões assalando, raças desruindo roupas, devedores
na prisão, crianças brincando, fesas, casamenos, julgamenos e evenos
coidianos. Ele veio do céu, mas viveu na erra. Conversou com homens e
mulheres da erra usando figuras que eles podiam enender. Seus mais fiéis
seguidores fazem o mesmo.
C. H. Spurgeon queria que odos os seus alunos fossem pregadores
que usassem ilusrações. Ele os exorava freqüenemene a maner os olhos
aberos e mediar no que viam. Em uma ocasião, Spurgeon lhes disse que, se
udo que ivessem diane de si fosse uma vela, essa vela lhes daria ilusrações
suficienes para muios sermões! Eles riram. Spurgeon provou sua afirma-
ção pregando-lhes dois sermões consiuídos oalmene de lições obidas
de velas. Seu livro Sermons on Candles (Sermões sobre Velas) é uma versão
impressa desses sermões.
 As ilusrações obidas de velas não eriam muio efeio sobre as pes-
soas de nossos dias. Vivemos em um mundo de energia elérica, elevisão,
compuadores, carros, celulares, supermercados, música comercializada,
espores profissionais, viagens mundiais e esperanças de exploração do espa-
ço. Nosso Senhor reirou suas ilusrações da Palesina do século I; Calvino,
da Genebra do século XVI, enquano as palavras de Spurgeon refleiam a
Londres do século XIX. E nós? Os nossos ouvines do século XXI ouvem
ilusrações de nossa época? Se não ouvem, falhamos para com eles.

A criatividade total
O conhecimeno da Bíblia, dois olhos, dois ouvidos e uma mene pon-
deradora são udo que um bom ilusrador precisa. Mas ele pode fazer ainda
melhor, se esiver disposo a enrar no mundo da criaividade oal. Parábo-
las e alegorias criadas pela própria pessoa são especialmene eficazes. É claro
que as alegorias de O Peregrino e Guerra Santa, escrios por John Bunyan,
não podem nem mesmo começar a rivalizar com as parábolas de nosso Se-
nhor, mas esses livros não êm sido uma bênção para milhões?

• 90
 •
Ilustrações Vívidas

Durane quase rina anos, enho ilusrado o ensino de Paulo em


omanos 7 usando uma hisória simples. Fala de um homem que esá cami-
nhando para casa em uma noie escura. Ele cai em uma poça de lama, mas
não percebe o quano esá sujo aé que se aproxima de uma luz. Ele faz o
melhor para ficar limpo. Mas o problema é ese: quano mais ele se aproxima
da luz, ano mais percebe a sujeira e mais dificuldade enconra para ficar
limpo. Finalmene, ele se coloca bem debaixo da luz e clama em desespero
ao ver oda a sujeira que ainda esá grudada nele: “Desvenurado homem
que sou!” (omanos 7.24.) Esse clamor pode ser proferido ão-somene
por aqueles que esão próximos do Senhor.
Por que menciono isso? Bem, alguns meses arás, depois de um iner-
 valo de quarena anos, decidi reler um livro que li quando era esudane.
Queria observar o que penso sobre o livro hoje. Ele se chama A Vida Cristã
 Normal, escrio por Wachman Nee. Fiquei admirado em enconrar nele a
parábola da poça de lama que eu pensava sinceramene haver invenado! O
fao é ese: a parábola do Sr. Nee se mosrara ão eficaz, pelo menos em mim,
porque, embora não a esivesse usando como ele fizera, a parábola enrara
ão profundamene em meu coração, que eu pensava havê-la invenado.
Em minha pregação, enho usado, cenenas de vezes, hisórias, parábo-
las e alegorias criadas por mim mesmo. Em odas as ocasiões, o efeio em
sido o mesmo: as pessoas ficam senadas, mudam-se para assenos mais à
frene, dão-me oda a sua aenção e me agradecem depois. Por que não pen-
sar no que aconece aos seus ouvines em um dia normal e conar-lhes uma
hisória ineressane a respeio desses aconecimenos? Em vez de falar abs-
raamene a respeio da enação, da dúvida, da ousadia em esemunhar,
por que não invenar cenários que odos enenderão? A criaividade pessoal
não é enganosa. As pessoas sabem o que você esá fazendo. ambém sabem
que o Senhor fez esse ipo de coisa há dois mil anos.

Onde mais
 Além da Bíblia e do que obemos por meio dos senidos e da imagina-
ção, há inúmeras fones de ilusração. Como pregadores, cremos que oda
 verdade vem de Deus. Cremos que o mundo Lhe perence. Cremos que

• 91
 •
Pregação Pura e Simples

devemos conhecer ano menos quano possível o pecado e conhecer ano


mais quano possível odas as ouras coisas. Assim, no melhor que puder-
mos, fazemos esforço para aumenar nosso conhecimeno em odas as áreas
que se abrem diane de nós � hisória, geografia, maemáica, ciências, lín-
guas, medicina, ares, lieraura, poesia, música, ciências sociais, ecnologia,
aconecimenos auais, políica, direio, negócios, espores, habilidade de
comunicação ou qualquer oura coisa. Cremos que é correo er fome em
nossa mene. Lemos livros, assisimos a elevisão, vídeos e filmes, ouvimos
palesras, vamos ao earo e a conceros, omamos pare em discussões � e
fazemos pergunas aonde quer que vamos!
Quana coisa há para conhecermos! Conhecemos apenas a menor
pare de udo! Mas, nessa menor pare, enconramos abundância que po-
demos usar para ilusrar nossa pregação. Desejamos conhecimeno por
amor ao próprio conhecimeno, porém, à medida que o obemos, ambém
aumenamos nossa habilidade de proclamar de um modo mais ineressan-
e a verdade de Deus.
No enano, precisamos er cuidado. As ilusrações são ferramenas que
ajudam as pessoas a saírem do conhecido para o desconhecido. Se a ilusra-
ção é reirada de uma área sobre a qual elas não sabem nada, a ilusração
não as ajudará. Além disso, nosso próprio coração é enganoso. É fácil usar
o púlpio como plaaforma sobre a qual demonsramos o quano sabemos.
emos de resisir a essa enação, com a força que o Senhor nos dá. Se o
fizermos, ela fugirá de nós (g 4.7), pelo menos por algum empo.
Enreano, gosaria de apelar que você obenha mais ilusrações da his-
ória da igreja, a despeio da quase complea ignorância dos ouvines quano
a ese assuno. À medida que contamos a hisória e não apenas a mencio-
namos, podemos maar dois coelhos com uma só cajadada: podemos usar
ilusrações para esimular a alma e, ao mesmo empo, cumprir nosso dever
 bíblico de relembrar às pessoas os grandes aos de Deus. Nossos ouvines
devem ser informados a respeio dos grandes heróis da fé e do que lhes de-
 vemos. Devem ser informados sobre as aflições que a igreja de Criso em
passado e como as em enfrenado. Nossos ouvines devem ser comovidos
por hisórias de coragem, discernimeno e esforços missionários. Devem ser

• 92
 •
Ilustrações Vívidas

capazes de perceber que a nossa escolha das ilusrações esá lhes fazendo
conhecer sua hisória e herança.
enho ouro apelo, que se refere à internet . A providência de Deus nos
dá recursos fanásicos, e devemos agradecer-Lhe por esses recursos. Sim,
à semelhança de odas as coisas invenadas e adminisradas pelo homem, a
internet   é horrivelmene corrompida pelo pecado. Sim, a internet  é uma po-
derosa fone de enação e perigo sério para aqueles que a usam sem er em
 visa a glória de Deus. Mas que grande benefício é a internet  para o pregador!
Pode oferecer-lhe basane ajuda em odas as áreas abordadas nese livro.
Há aé sites que oferecem milhares de ilusrações para sermões! Meu apelo é
que você use a internet  não de maneira pecaminosa, nem como um meio de
eviar o rabalho árduo, e sim com oração e sensibilidade � especialmene
para ober ajuda nesa área de ilusrações de sermão, onde odos admiimos
que precisamos fazer melhor.

3) A escolha das ilustrações

Se fizermos udo que sugeri na seção anerior, logo eremos mais


ilusrações do que necessiamos! Jogaremos fora algumas delas e mane-
remos conosco somene as melhores. Porano, quais são as caracerísicas
de uma boa ilusração?

Subordinação
 A coisa mais imporane em uma ilusração é que eseja em subordina-
ção à mensagem. Em ouras palavras, em de ser bem-sucedida em arair a
aenção à verdade que esá ilusrando. Algumas ilusrações araem a aenção
para si mesmas. Ouras, se mosram ão esimulanes que deixam a mene
dos ouvines pensando em alguma oura coisa. E ouras, subjugam a ver-
dade por ocuparem maior lugar do que a própria verdade. Esses ipos de
ilusração devem ser rejeiados. Não cumprem a sua arefa.
Cera vez, levei um grupo de esudanes infanis ao Louvre, em Paris,
para que vissem a Monalisa. Não a apreciaram de maneira alguma! Ao re-
ornarem, não falaram sobre o quadro famoso, e sim a respeio de odo o

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 •
Pregação Pura e Simples

equipameno de segurança que o cercava. Falaram sobre as luzes, os sen-


sores, as poras de segurança, mas não mencionaram o sorriso legendário.
Era como se as crianças nunca ivessem viso aquele quadro. Aquele sisema
elerônico me recorda muias das ilusrações de meus sermões!
 As ilusrações não êm qualquer ouro propósio além de jogar luz
sobre a verdade exposa. Pregadores que não usam nenhuma ilusra-
ção nos deixam aeando na escuridão. E aqueles que usam ilusrações
demais nos expõem ao desconforo de viver em uma esufa. udo que
precisamos é basane luz, para que vejamos a verdade com clareza; e
nada mais do que isso.
E, se a verdade que esamos pregando é incapaz de ser ilusrada? Ese é
o caso, por exemplo, da dourina da rindade. A riunidade de Deus não é se-
melhante a nada! Se enarmos ilusrar a rindade, ceramene cairemos em
heresia. E iso já aconeceu realmene! Algumas pessoas em assemelhado a
rindade a H2O, que se enconra no gelo, na água e no vapor. O gelo não é
água; a água não é vapor; e o vapor não é gelo � mas os rês são H2O: rês
em um! Isso não ajuda as pessoas a enender?
Não, não ajuda. Essa ilusração serve apenas para ensinar modalismo,
ambém conhecido como sabelianismo, que é uma heresia. O modalismo
ensina que exise um só Deus, que se revela em rês formas diferenes: o Pai,
o Filho e o Espírio Sano. H2O ambém se revela em rês formas diferenes.
O problema é que cada molécula de H2O não aparece no gelo, na água e no
 vapor, ao mesmo empo. Iso é exaamene o que o modalismo crê a respeio
de Deus: o único Deus, quando se manifesa como o Pai, não é ambém,
naquele momeno, o Filho e o Espírio Sano. A verdade bíblica é bem dife-
rene: o Pai é compleamene Deus, assim como o Filho e o Espírio Sano.
Mas o Pai não é o Filho, e o Filho não é o Espírio Sano, e o Espírio Sano
não é o Pai! Podemos afirmar isso em palavras simples, mas não podemos
enender como isso é assim! ampouco podemos ilusrá-lo. Se não o pode-
mos, não devemos nem enar.
 A dourina da rindade é o maior de odos os misérios. E ao seu lado
esá a dourina das duas naurezas disinas na pessoa de nosso Senhor Je-
sus Criso. Para ensinar essas dourinas em nossa pregação, devemos nos

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 •
Ilustrações Vívidas

resringir a afirmações simples. Se usarmos ilusrações, deveremos fazê-lo


para ressalar os erros comeidos em relação a elas. Podemos corrigi-los com
afirmações mais simples e, assim, ober sucesso em fazer as pessoas enen-
derem a verdade.
 As ilusrações êm de esar subordinadas à verdade. Se, em qualquer
aspeco, falham nesse ese, devemos abandoná-las. Deus nos chamou a pro-
clamar a sua verdade, não a perverê-la ou a silenciá-la.

Clareza
 As ilusrações não êm qualquer valor se não são claras. Algumas são
ão complicadas que só conseguem razer confusão à mene dos ouvines.
Há pregadores que gasam empo explicando suas ilusrações e, aé, ilus-
rando-as! Mas por que apagar as luzes, quando nossa arefa é acendê-las?
enho um amigo que hoje é um minisro fiel. Anes, porém, ele era um
esudane de eologia inexperiene; e, cera vez, me convidou para ouvi-lo pre-
gar. O coneúdo de sua mensagem era excelene. Mas o seu começo foi um
desasre. Ele começou falando à congregação sobre a Grande Pirâmide, e logo
ficou claro que os ouvines não sabiam nada a respeio da pirâmide. Poran-
o, ele gasou vários minuos explicando onde ela esava, quando e por que a
consruíram. Depois, ele enou inroduzir seu sermão com uma lição exraída
da consrução da pirâmide � um assuno sobre o qual os ouvines ambém
não sabiam nada. Porano, a lição de hisória coninuou, misurada com mui-
as informações sobre engenharia civil. odo o sermão durou cerca de rina e
cinco minuos, dez dos quais foram gasos na Grande Pirâmide! Pregadores,
enham cuidado! As ilusrações êm de ser claras; de fao, ão claras que seja
impossível não compreender o que elas ransmiem.

Brevidade
 As ilusrações êm de ser breves. Se uma ilusração esá replea de
inúmeros dealhes insignificanes e irrelevanes, levará os seus ouvines à
disração. Esqueça odos os aalhos curos, ome a auo-esrada e leve os
seus ouvines do pono A ao B ão direamene quano possível! No que diz
respeio à ilusração, o que vale é o desino, e não a jornada.

• 95
 •
Pregação Pura e Simples

Conudo, se você começa a usar uma ilusração exensa, por favor,


enha a genileza de erminá-la. Uma vez comecei a ler um arigo fasci-
nane em uma revisa semanal. Falava sobre o esilo de vida e as opiniões
do príncipe Charles e me dizia coisas a respeio das quais eu nada sa-
 bia. Cheguei ao final da página e virei-a. Mas o arigo não coninuava. E
não havia qualquer indicação disso em oda a revisa. Fiquei frusrado e
seni-me enganado.
Há pregadores que agem assim. Começam uma ilusração e logo per-
cebem que é irrelevane ou demasiadamene grande. Por isso, deixam-na
de lado e dão coninuidade ao sermão. É verdade que as congregações não
gosam de ilusrações exensas, a menos que sejam hisórias, parábolas ou
alegorias. No enano, os ouvines ambém não gosam de ser deixados a
imaginar o que aconeceu depois. E você gosaria que eles ficassem pensan-
do a respeio de qualquer oura coisa? Você não gosaria que eles dessem
oda a sua mene ao reso do sermão?

Dignidade
Quer sejam curas, quer sejam exensas, odas as ilusrações precisam
ser dignas. Não é a verdade divina que esamos pregando? Podemos razer
luz às coisas sanas por usarmos figuras daquilo que é impuro, indelicado e
frívolo? Não há lugar para mau goso na vida crisã. Com cereza, ambém
não há lugar para impurezas no púlpio crisão.
Um amigo ínimo levou-me, em cera ocasião, para ver a caedral de
Le Puy. Ela esá na pare mais ala de uma cidade pioresca e parece mais
impressionane a cada degrau que você sobe em direção a ela. Um de seus
esouros é um quadro medieval pendurado acima do alar principal. eraa
um homem idoso, de feição genil, com barba branca, assenado em algu-
mas nuvens. Supõe-se que ele seja Deus!
Os peregrinos e urisas são araídos a esse quadro e encorajam ou-
ros a vir e a conemplá-lo. ezam diane do quadro e depois compram
carões posais que o reraam. Mas esse quadro realmene degrada a
Deus. É uma blasfêmia. A sua própria exisência é uma violação da lei
de Deus. ouba-O de sua majesade, não fazendo nada além de esimu-

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 •
Ilustrações Vívidas

lar a idolaria no coração das pessoas. Sim, o fao de que um quadro é


popular não implica que é legíimo. Isso ambém se aplica a ilusrações.
Elas precisam er dignidade. êm de reverenciar a verdade que procu-
ram ilusrar.
Iso significa que nunca devemos usar humor no púlpio? Meu pono
de visa é que, em geral, não planejemos ser engraçados no púlpio, mas,
se o humor surge nauralmene, pode ser uma coisa boa, conano que seja
puro. Embora, haja vários raços de humor na Bíblia, ele não é usado habi-
ualmene para ensinar dourina, mesmo havendo alguma exceção. Seu uso
normal é, com freqüência, para incuir a verdade e, em paricular, para reve-
lar a hipocrisia e a fala de sinceridade. Se guardarmos em mene o princípio
da subordinação, não comeeremos muios erros nesa área.

 Variedade
Em adição a udo que já dissemos, as ilusrações precisam ser variadas.
 Apesar de C. H. Spurgeon er uma habilidade exraordinária para exrair
das velas inúmeras lições, alegro-me em observar que ele nunca pregou um
sermão em que odas as ilusrações se referiam a velas. Se ivesse feio isso,
os analisas modernos o diagnosicariam como alguém que sofria de uma
obsessiva desordem compulsiva!
O que seria o inerior de um país, se houvesse apenas um om de verde?
E o que é um sermão em que odas as ilusrações são iradas da vida da famí-
lia do pregador, ou de sua diversão favoria, ou do fuebol? odos sabemos
o que significa a “mesmice” e nos cansamos dela. Pessoas que rabalham em
fábricas de doce podem comer ano doce quano desejam durane as suas
horas de rabalho, mas em pouco empo elas não comem doce nenhum. A
 variedade é, de fao, um empero da vida.
Somos embaixadores do Deus que criou as esações e pinou odas as
cores do arco-íris. Encheu ese mundo com uma muliplicidade de espécies
e deu a cada roso um formao diferene. Mesmo em seu Ser indivisível há
diversidade. Se manivermos variedade por obermos ilusrações de odas
as fones já mencionadas, nós O honraremos.

• 97
 •
Pregação Pura e Simples

Exatidão
 A úlima coisa que precisa ser dio é que nossas ilusrações devem ser
exaas. Não podemos ilusrar uma verdade sendo mentirosos. Não podemos
dizer que coisas nos aconeceram, quando elas não nos aconeceram. Se nos
referimos à hisória, biografia ou qualquer oura área de conhecimeno, e-
mos de esar ceros dos faos. Se as pessoas percebem que somos uma fone
desconfiável de informação a respeio das coisas comuns, o que pensarão
quando lhes falarmos sobre as coisas de Deus?
Cera vez, usei uma ilusração baseada na esruura do sisema solar.
 As pessoas ficaram ineressadas, mas várias delas mosravam uma feição de
esranheza. Logo que o culo acabou, um fila se formou rapidamene à por-
a. Cada pessoa queria me dizer a mesma coisa: os planeas não esavam na
ordem que eu havia mencionado! Fiquei embaraçado e envergonhado. Eu
havia pregado um erro como se fosse uma realidade e, porano, sufocara a
minha própria credibilidade. Um deslize no falar é uma coisa; um erro evi-
ável é oura bem diferene.
Nossas ilusrações êm de ser consiuídas de faos exaos, bem como
de eologia exaa. Precisamos dizer algo mais a respeio da ilusração com
a molécula H2O? Essa é uma perversão óbvia da verdade. Mas usar uma
ilusração exaa em assunos dourinários pode ser uma ferramena podero-
sa. Por exemplo, algumas pessoas êm obido melhor enendimeno do que
aconece na conversão apenas por serem informadas a respeio do nasci-
meno de um bebê. O bebê chora para nascer ou porque já nasceu? De modo
semelhane, o nosso clamor a Deus para que nos salve é a prova de nosso
novo nascimeno, e não a sua causa.
Novamene, o princípio da subordinação nos guiará aravés de odos os
perigos que enfrenaremos aqui. Uma ilusração eologicamene inexaa não
pode servir à verdade. Ao conrário, porém, uma ilusração eologicamene
exaa pode gravar a verdade na memória para sempre.

***
• 98
 •
Ilustrações Vívidas

Encerramos agora ese capíulo. Suplico que odos nos asseguremos


de que seja bem ilusrada cada mensagem que pregamos. Nosso povo não é
capaz de ver sempre a forma do que esamos enando descrever-lhes. Acen-
damos as luzes! Não devemos possuir ana luz que os deixemos fascinados
e, ainda, incapazes de ver. Não devemos er candelabros que os deixam
ofegando em admiração. As luzes comuns serão suficienes. Saberemos
que nosso sermão causou algum bem, quando ouvirmos nosso povo dizer:
“Agora, sei o que ele quer dizer”.

Exercício

1. Você em um amigo que ilusra com facilidade e profusão, mas pessoas
que o ouvem dizem que ele é apenas um conador de hisórias? O que
 você pode dizer-lhe?
2. Ilusre rês dourinas do que pode ver na sala em que esá assenado.
3. Que ilusrações você usaria para ajudá-lo em um sermão sobre Efésios
2.8-9?

Noas:

1 eimpresso e comercializado por enmaker Publicaions, 121 Harshill oad, Soke-


on-ren S4 7LU.

• 99
 •
5
 Aplicação Penetrante

N unca fui a um alfaiae, viso que sempre compro meus ernos em uma
loja. Mas ouço que ainda exisem muias pessoas que fazem suas rou-
pas sob medida. É com ese pensameno que desejo começar ese capíulo.
Imagine um alfaiae que ece suas próprias roupas. Não há falhas na
exura (exaidão exegéica). O maerial (coneúdo dourinário) é de ala
qualidade. O ecido em um padrão araene (esruura clara). Aé uma
pessoa simples pode senir e ver quão bom é o ecido (ilusração vívida).
Porano, não há nada a reclamar, há? Conudo, odos sabemos que o alfaia-
e ainda não erminou o seu rabalho.
O rabalho de um alfaiae consise em fazer roupas para as pessoas.
Seus clienes o procuram com odos os moldes, amanhos e necessidades
diferenes. O alfaiae em de fazer mais do que escolher o ecido; ele precisa
corá-lo de modo a se adequar aos clienes, para que eses o usem odos os
dias. Um alfaiae que não pode fazer iso não deve esar nesa profissão.
udo o que fazemos como pregadores é desperdiçado, se nossos ou-
 vines não vesirem nosso maerial odos os dias da semana. Eles êm de ser
praicanes da Palavra, e não somene ouvines (g 1.22). É um erro pregar
sermões de “molde padrão”. As pessoas que nos ouvem êm de usar o mes-
mo maerial, mas emos de corá-lo de modo que seja adequado a cada um,
individualmene, e assim eles possam usá-lo com facilidade em suas circuns-
âncias pessoais. Um minisério de “molde padrão” não conseguirá isso. Se
a verdade de Deus em de ser vesida com honra nese mundo, os sermões
êm de ser eitos sob medida.
Pregação Pura e Simples

1) O que é uma aplicação penetrante

Definição
 John A. Broadus pregou com poder nos Esados do Sul dos Esados
Unidos, no século XIX. Seu livro Te Preparation and Delivery o Sermons (A
Preparação e Apresenação de Sermões) é um clássico. Embora não seja um
livro de leiura fácil, cada página esá cheia de ensino claro e conselhos sá-
 bios. Por que não omarmos alguns minuos para refleir sobre cada palavra
que ele usou para definir a aplicação. Eis a definição:
 A aplicação é, no sentido restrito, aquela parte, ou aquelas partes, do
discurso nas quais mostramos como o assunto se aplica aos ouvintes;
mostramos que instruções práticas o sermão lhes oerece e que exi-
 gências práticas o sermão lhes az. 1

Daniel Webser, o grande educador e filósofo americano, ambém


 viveu e escreveu no século XIX. Em uma ocasião, ele disse: “Quando um
homem prega para mim, quero que orne a pregação um assuno pessoal,
um assuno pessoal, um assuno pessoal”.2
Como os raios do sol focalizados sobre a pele por uma lene ampliado-
ra, a aplicação reflee na consciência do ouvine as sérias reivindicações da
 verdade. A aplicação prega às pessoas, e não apenas diante das pessoas. Isola
cada indivíduo e o faz enender que a mensagem é para ele pessoalmene. A
aplicação confrona o ouvine. Enconra-o como um oficial de jusiça baen-
do à pora de seu coração e enregando-lhe uma inimação pessoal. Exige
uma resposa e insise que esa lhe seja dada ali, naquele momeno.

Importância
Quando não há aplicação, a pregação perde seu senido, sua vida, seu
ineresse. Não raz à consciência nenhuma convicção penerane, nem ofere-
ce qualquer consolação resauradora à alma. Deixa cada ouvine senindo-se
como uma criança que nunca recebeu carinho e nunca foi disciplinada. Po-
 bre criança! O que será dela? erá uma vida desorienada e confusa, sem
marcos e valores.

• 102
 •
 Aplicação Penetrante

Pregar sem a aplicação é como airar uma flecha no ar com a esperança


de que ela alvez ainja alguém, em algum lugar. Na providência de Deus,
isso pode aconecer, al como infelizmene o descobriu o rei Acabe, con-
forme relaado em 1 eis 22.34-35. Sermões sem objeivo às vezes realizam
algo! Conudo, a maneira normal de Deus agir é bem diferene. Na baalha
de Agincour, quando os arqueiros galeses airaram ao ar, eles sabiam exaa-
mene o que esavam fazendo. Aceraram o alvo e desruíram os franceses.
Um cirurgião em a vocação de curar, e o insrumeno que ele usa é
um bisuri. Sem o bisuri, ele não pode curar, mas, se não sabe onde fazer
o core, maará o paciene. O pregador em de ser muio mais cuidadoso. A
aplicação pode curar uma alma, enquano o erro na aplicação pode arruiná-
la para sempre. A aplicação que é conveniene a um ouvine pode causar
danos irreparáveis em ouro.
Onde não há aplicação penerane, não há pregação verdadeira. emos
muio a aprender dos apósolos. Suas epísolas esão repleas de dourina,
mas eles não disseram: “Bem, é isso. Expliquei a dourina. Agora deixarei
que o Espírio Sano lhes mosre como essas verdades devem ser colocadas
em práica”. Não! Não! Não! Eles deixaram isso bem claro. ogaram que
seus leiores ivessem uma vida digna da vocação a que haviam sido chama-
dos (Ef 4.1). Mosraram-lhes com dealhes o que isso significava, falando a
respeio de sua vida pessoal e seu comporameno na igreja, na família e na
sociedade. Lidaram com pecados, deveres, problemas, oporunidade e ale-
grias específicas. E, dese modo, nos dão um modelo que devemos imiar.
 A aplicação penerane, que consiui a verdadeira pregação bíblica,
não em correspondene no mundo dos não-converidos. Discursar era uma
pare muio imporane da vida nos anigos impérios grego e romano, mas
a aplicação pública não era encorajada. Não a enconramos em Plaão, ou
em Arisóeles, ou em seus discípulos. Mas a enconramos em Paulo, Cri-
sósomo, Wickliffe, Luero, Calvino, Owen, Bunyan, Whiefield, Wesley,
Spurgeon, Lloyd-Jones e Hugh Morgan! Não podemos explicar o poder do
púlpio crisão, sem considerarmos o assuno da aplicação. Quando Criso
envia um homem a pregar, Ele não o comissiona apenas para expor a verda-
de, mas ambém para dizer aos seus ouvines como praicá-la.

• 103
 •
Pregação Pura e Simples

No enano, os homens e as mulheres não-converidos não gosam de


ouvir a aplicação. ampouco os crenes ineressados nas coisas espiriuais.
Lembro que, em cera ocasião, preguei em uma convenção evangélica nas
monanhas Jura, que dividem a França e a Suíça. Um grande número de
crenes, de ambos os países, esavam ali reunidos. Um deles era um pasor
que se mosrou inensamene agiado, enquano eu pregava. Logo depois da
reunião, ele me procurou e disse irriado: “Senhor Olyot, as pessoas de mi-
nha igreja não são crianças, nem olos. Quando você prega a Palavra, eles são
perfeiamene capazes de deduzir, por si mesmos, a maneira como devem
colocá-la em práica. Eles não precisam que você a apresene em dealhes e
de modo ão direo!”
 Admio que minha pregação esá longe de ser perfeia. Mas aquele ho-
mem esava errado. O coração humano é corrupo e não quer ser mudado.
Ele fica feliz quando a Palavra é pregada e não pressiona a consciência. Pode
 ver como a verdade de Deus se aplica aos ouros, mas não quer aceiá-la para
si mesmo. Age com alruísmo egoísa e passa a responsabilidade a ourem.
 A pregação não cumprirá seu propósio, se não for aplicada às pessoas que
nos ouvem. emos de incui-la nos ouvines e usá-la para aingi-los, porque,
se não fizermos isso, eles acharão que a pregação não em nada a dizer-lhes
pessoalmene. Mas como fazemos isso?

2) Como a aplicação penetrante é realizada

Seja específico
Somos pregadores. Pregar é falar sobre mudanças;  iso é udo que
consiui a pregação. Não somos chamados a falar de modo vago e geral ou
somene para explicar princípios. Somos chamados a falar sobre o pecado,
a mosrar Criso e a apresenar, com firmeza, às pessoas os deveres e conso-
lações do evangelho. Escrevendo para uma oura geração, Charles Bridges
afirmou: “Para que seja eficaz, a pregação em de ser reduzida de meras ge-
neralidades a caráer pessoal percepível � influenciando os negócios e às
afeições de cada pessoa”.3
Em Maeus 19.21, podemos ver como nosso Senhor fez isso. Ele podia

• 104
 •
 Aplicação Penetrante

 ver que o jovem rico inha um ídolo, não em sua casa, mas em seu coração.
O jovem rico era um maerialisa religioso que amava seu dinheiro mais do
que ao seu Criador. Nosso Senhor não lhe deu uma palesra sobre os prin-
cípios que fundamenam a idolaria, deixando-lhe, em seguida, a imaginar
o que deveria er feio como resulado da palesra. Jesus lhe disse que fosse
para casa, desruísse o seu ídolo, pensasse na recompensa eerna e seguisse a
Ele � “Se queres ser perfeio, vai, vende os eus bens, dá aos pobres e erás
um esouro no céu; depois, vem e segue-me”.
 Veja o que nosso Senhor fez em João 4.15-16. rouxe a mulher sama-
riana (que era imoral) ao pono em que ela mosrou ineresse pessoal na
água viva sobre a qual Ele falava. O próximo passo do Senhor não foi dizer-
lhe que, de maneira geral, ela deveria se arrepender de sua vida passada. O
Senhor a fez encarar sua própria condição. Jesus lhe disse: “Vai, chama eu
marido e vem cá” (Jo 4.16). E sabemos o que aconeceu em seguida.
 Veja o que nosso Senhor fez em Marcos 7.20-23. Ele esava lidando
com pessoas que não enendiam a corrupção do coração. Por isso, lhes mos-
rou o seu erro e lhes ensinou um princípio geral: “O que sai do homem, isso
é o que o conamina”. Esse é o pono em que param muios dos pregadores
modernos. Não dizem mais nada, deixando as pessoas pensarem o que iso
realmene significa. Nosso Senhor não agiu assim. Ele descreveu com bas-
ane clareza a maneira como as pessoas deviam pensar:
 Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus
desígnios, a prostituição, os urtos, os homicídios, os adultérios, a
avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasêmia, a sober-
ba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o
homem (Mc 7.22-23).

 Veja como o apósolo Paulo seguiu com precisão o méodo de nosso


Senhor. Em Gálaas 5.16-18, ele disse aos seus leiores que nese mundo há
dois ipos de comporameno. Um deles é inspirado pelo Espírio Sano; o
ouro, pela “concupiscência da carne”. Se vivermos à maneira do Espírio,
não seguiremos o comporameno da carne, ainda que o achemos muio
araene. As regras não impedem que você siga o comporameno errado,

• 105
 •
Pregação Pura e Simples

mas o andar no Espírio impede!


O que Paulo escreveu é claro, e suscia a perguna: os crenes da Galácia
realmene sabiam de que maneira se expressava cada um desses compora-
menos? Paulo era um pregador e não os deixou com dúvida:
Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impure-
za, lascívia, idolatria, eitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras,
discórdias, dissensões, acções, invejas, bebedices, glutonarias e coi-
sas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já,
outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais
coisas praticam. Mas o futo do Espírito é: amor, alegria, paz, lon-
 ganimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio
 próprio. Contra estas coisas não há lei (Gl 5.19-23).

Depois da leiura de um parágrafo como esse, odo crene da Galácia


saberia, em dealhes, a diferença enre o caráer de um não-crene e o de um
crene. De modo semelhane, o apósolo especificou a imóeo que exisem
dois ipos de pessoas na erra: o juso e o ímpio. Mas, em ermos concreos,
a que se assemelha a impiedade? Novamene, o apósolo seguiu o méodo
de ensino de seu Senhor:
endo em vista que não se promulga lei para quem é justo, mas para
transgressores e rebeldes, irreverentes e pecadores, ímpios e proanos,
 parricidas e matricidas, homicidas, impuros, sodomitas, raptores de
homens, mentirosos, perjuros e para tudo quanto se opõe à sã dou-
trina, segundo o evangelho da glória do Deus bendito, do qual ui
encarregado (1 m 1.9-11).

Nem o nosso Senhor, nem o seu apósolo se saisfez com afirmações


gerais. Eles as dealharam. Deram uma lisa de exemplos do assuno a res-
peio do qual falavam. Se a aplicação é muio geral, ela deixa de ser aplicação.
O alvo do pregador é a consciência, sempre. Ele a ainge por meio da mene,
esperando que a consciência moive a vida. Ele a invade, faz-lhe pergunas e
insise que ela pense e se compore à luz da verdade pregada.
 John Jones, de alsarn, um dos maiores pregadores do País de Gales,

• 106
 •
 Aplicação Penetrante

no século XIX, às vezes fazia comenários sobre o seu méodo de pregação.


Ele disse que sempre subia ao púlpio levando várias bombas. Jogava uma
delas sobre a congregação no início do sermão, observando-a maar algu-
mas pessoas. E coninuava jogando bombas durane odo o sermão, aé que
odos os seus ouvines esivessem “aniquilados”!
O que ele queria dizer? John Jones acrediava na aplicação, usando-a de
maneiras diferenes para incuir a Palavra, aé que ela ivesse efeio em odos
os ouvines. Os pregadores mais poderosos da Hisória sempre fizeram isso.
Um sermão impresso não é semelhane a um sermão pregado, mas podemos
 ver essa caracerísica em homens como John Wesley, George Whiefield e
 Jonahan Edwards. Os purianos fizeram isso anes desses homens, acompa-
nhando sempre a sua exposição e dourina com o que chamavam de “usos”.
Esses “usos”, ou aplicações, eram freqüenemene numerosos, e a principal
caracerísica deles era que falavam de modo específico às suas congrega-
ções a respeio do seu pecado, deveres, problemas e privilégios. O erro de
não falarmos de modo específico, como o fizeram os purianos, de cera for-
ma, explica a fala de poder em nossa pregação, hoje.

Seja discriminador
Quando nos levanamos para pregar e olhamos para a congregação,
podemos esar ceros de que enconraremos vários ipos de pessoas presen-
es. alvez eseja ali um visiane que em pouco ou nenhum conao com
o evangelho. Provavelmene, há alguém que freqüena a igreja com regula-
ridade, mas não parece ser converido; ou uma pessoa que “fez uma decisão
por Criso” e não mosra qualquer evidência de er vida espiriual; ou alguns
que ainda são perdidos, mas esão buscando o Senhor com sinceridade. Há
ambém os novos converidos, os crenes amadurecidos e os que passam
por fores enações, dúvidas ou ribulações. Há aqueles que esão se or-
nando egoísas e cujo andar espiriual se ornou desesimulane e cansaivo.
 Veremos crianças que se mosram conenes por esarem ali e ouras que
apenas oleram aquele lugar. Há um adolescene aborrecido, segurando sua
cabeça enre as mãos. E assim por diane. Quem sabe quanos ipos diferen-
es de pessoas podemos acrescenar à lisa?

• 107
 •
Pregação Pura e Simples

O que faremos com odas essas pessoas? Colocaremos o remédio no


 balcão e diremos: “Aqui esá, pessoal! O remédio lhes fará bem. omem a
dosagem que acharem conveniene”? Ou, como um farmacêuico responsá-
 vel, daremos a medida cera para cada um?
É claro que na pregação pública não focalizamos os indivíduos, nem
ciamos o nome de alguém. Mas, quando a verdade é pregada, cada grupo
de pessoas precisa saber como aquela verdade se aplica a elas, e cada in-
divíduo presene precisa ser capaz de dizer a si mesmo: “Exise algo para
mim nessa mensagem”.
Pensemos na cidade imoral de Corino, do século I, e gasemos um
momeno com a igreja crisã daquele lugar. Os crenes recebem uma cara
do apósolo Paulo! odos se assenam e alguém começa a ler a cara. Em
cero momeno, há um silêncio especial:
Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos
enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem eemina-
dos, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem
maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. ais ostes
alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas ostes santificados, mas os-
tes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do
nosso Deus (1 Co 6.9-11).

 Você pode imaginar como cada pessoa se seniu, quando seu pecado
paricular foi mencionado publicamene? Pode imaginar o senso de alívio
que se propagou na congregação, quando as duas úlimas senenças foram
lidas? Haveria esse senso de alívio e admiração, se o apósolo ivesse dio:
“Alguns dos pecados de vocês eram erríveis, mas Deus perdoou odos eles?”
Há um poder na aplicação que não somene é específico, mas ambém fala a
grupos definidos de pessoas.
Exise um livro, escrio originalmene em inglês, que Deus em usa-
do para dar vida espiriual a milhares de pessoas. Foi escrio pelo puriano
 Joseph Alleine e se chama An Alarm to the Unconverted. Alleine menciona
dez ipos de pessoas que são evidenemene não-converidas. Depois, ele
se refere a doze marcas secreas de uma pessoa não-converida. Em ouras

• 108
 •
 Aplicação Penetrante

palavras, ele mosra que há vine e dois ipos de pessoas não-converidas,


dirigindo-se a cada um desses ipos, sem corromper um único versículo
das Escriuras.4 Se Deus descreve os homens e mulheres não-converidos
de maneiras ão diferenes, não deveríamos ambém reconhecer que esses
ipos exisem e dirigir-nos aos não-converidos de acordo com seus ipos?
O que udo iso significa na práica? Anes de me levanar e pregar,
devo pensar nos ouvines do sermão. Devo pensar na congregação que e-
nho diane de mim, e não na congregação que eu  gostaria de er! O que a
minha passagem em a dizer ao menino que cursa o Ensino Fundamenal?
Como o exo se aplica ao adolescene e ao esudane que esá com seus pais
apenas em gozo de férias? De que maneiras pariculares a mensagem fala
aos jovens recém-casados, aos que preendem ser missionários, ao soleiro
de quarena anos, ao desempregado, à viúva, ao rise, ao soliário, ao ancião,
ao enfermo e ao aribulado?
Não basa preparar um ecido de ala qualidade. Chegou a hora de
corá-lo. oda pessoa do audiório precisa ver que você em pendurado no
púlpio roupas feias exaamene para elas. Mas iso não é udo; você em de
exorá-las a vesir ais roupas. Iso nos leva ao nosso pono final.

Seja persuasivo
Nossos ouvines precisam saber não somene que as roupas devem ser
 vesidas, mas ambém que  podem ser vesidas e que esá neles mesmos o
ineresse de fazer isso. O pregador não cumpre o seu dever, se apenas diz
às pessoas o que fazer. Ele em de mosrar-lhes como e  por que al coisa é
digna de ser feia. A Bíblia é sempre clara em mosrar o que fazer. O “ por
que”  é apresenado no seu ensino geral a respeio das bênçãos da obediência
� bênçãos que desfruaremos ano nesa vida como no porvir. O como é
exposo no ensino bíblico a respeio da sabedoria, e nese pono o pregador
precisa fazer algumas sugesões práicas que abençoarão seu povo, e não so-
mene falar com a auoridade direa da Palavra de Deus. Esa é uma área em
que ele não pode ser negligene. Ele não esaria raando os seus ouvines
com amor, se fizesse isso.
alhar não é a melhor maneira de persuadir as pessoas a fazerem algo

• 109
 •
Pregação Pura e Simples

digno. A Palavra de Deus em muio a dizer a respeio de mulheres rabu-


genas, e nada do que ela diz sobre isso é posiivo! Pregadores fiéis são
firmes quano ao pecado e à necessidade de arrependimeno, mas, como
homens que cuidam das pessoas, eles ainda preferem as promessas à vara.
Os pais que amam seus filhos aplicam-lhes disciplina quando necessário,
mas gasam muio de seu empo dando-lhes encorajameno e docinhos. Um
cachorrinho aprende obediência mais por meio de uma recompensa em pe-
daços de chocolae do que por meio de palavras severas e pancadas.
Quando eu era um jovem pasor, fui convidado a palesrar em algu-
mas reuniões especiais em uma pequena cidade do Sul do País de Gales.
 Achei o emplo mais rapidamene do que esperava; por isso, cheguei anes
que o abrissem. Duas senhoras de idade avançada já esperavam do lado de
fora. Pergunei-lhes: “Vieram à reunião?” Elas responderam: “Sim, viemos
para ouvir o Chicoe!”
O Chicoe? As senhoras, que não me reconheceram, me disseram que
alguns meses anes inham ouvido um pregador que havia sido convidado.
Que chicoada ele lhes havia dado! Não esavam ceras de que concorda-
riam com ele hoje, mas esavam lhe dando o benefício da dúvida e inham
 vindo para escuá-lo novamene.
Não preciso lhe dizer que ficaram embaraçadas quando compreende-
ram, repeninamene, que esavam falando com o “Chicoe”. Mas, não ão
embaraçadas como eu, por haver recebido aquele apelido. Aprendi muio
com aquelas duas irmãs em Criso. Elas não fizeram nada para diminuir meu
desejo de ser franco e direo, mas revelaram-me que repreender severamen-
e as pessoas e persuadi-las são duas coisas diferenes.
 A  persuasão em o propósio de mosrar que a roupa criada por você é
digna de ser vesida. Fala aos ouvines sobre a felicidade e bênção que goza-
rão em sua vida, se colocarem em práica a verdade de Deus. Expõe-lhes os
perigos que enfrenarão, o progresso que conquisarão, as experiências que
desfruarão e como a obediência agrada ao seu edenor. A persuasão deixa as
pessoas não somene dispostas, mas ambém desejosas de andar com Deus.
 Aravés dos anos, enho passado muio empo levando jovens para
caminharmos pelas colinas e monanhas do Nore do País de Gales. Eles

• 110  •
 Aplicação Penetrante

sempre reclamam que os faço levar muias coisas. Por que não levar apenas
alguns sanduíches e algo para beber? Por que insiso em algumas roupas
sobressalenes, um chapéu, jaqueas e calças à prova d’água, ki de primeiros
socorros, um apio, uma lanerna, comida de emergência, um liro de água,
um saco de dormir e várias ouras coisas � e udo isso em um dia de verão?
Eu lhes explico o que em aconecido a ouros e por que cada iem é neces-
sário. A murmuração cessa, cada um pega a sua mochila, e desfruamos o
dia! Dizer: “ragam apenas o que lhes disse ou não poderão ir comigo” não
produziria o mesmo efeio.
 A persuasão faz pare da vida, porém, muio freqüenemene, ela não
em seu lugar na pregação. Quanos jovens você conhece que gosam de fue-
 bol, mas não gosam dos reinos iniciais? Nesses reinos, eles aprendem que,
se iverem melhor preparo do que o ouro ime, se iverem maior resisência
física, se puderem driblar com muia habilidade, quase sempre vencerão. O
pensameno de viórias regulares ransforma o ânimo dos jogadores. Um
quilo de persuasão equivale a uma onelada de repreensão.
 A verdadeira persuasão envolve emoção, paixão. Direi mais sobre isso
em ouro capíulo. Agora, porém, algo precisa ser dio. Alguns pregadores
não gosam de qualquer expressão de emoção, e alguns dos que ensinam
os pregadores desencorajam as emoções. Eles precisam lembrar que você
não pode persuadir ninguém, a menos que seu coração eseja envolvido na
persuasão. O discurso persuasivo esá repleo de senimenos. Pregadores
persuasivos falam sobre o mal com desgoso, de Criso com ardor, dos cren-
es com amor, do céu com enusiasmo! São esimulados no profundo de seu
ser, e odos os adulos e crianças que os ouvem esão cienes disso! Os pre-
gadores que permanecem como esáuas, falando com seriedade e calma ,
mas sem senimenos, não persuadem as pessoas. Eles êm perdido seu “o-
que” humano. Por que ouvir uma pessoa que expõe os faos sem expressão,
quando você pode ober a mesma informação em cores, na internet ?
Pensemos na Grande Guerra de 1914 a 1918. Um grupo de soldados
emerosos esá posicionado arás dos sacos de areia, em uma rincheira
lamacena. Em poucos minuos, um apio soará, e eles erão de subir as esca-
das, salar por sobre os sacos de areia e correr por enre uma chuva de balas,

• 111
 •
Pregação Pura e Simples

em direção ao inimigo. Muios morrerão imediaamene, ouros sangrarão


aé à more na erra de ninguém, e somene alguns reornarão. Como você
moiva homens como esses? Como você os convence a subir as escadas e a
correr em direção à more?
O sargeno fala com eles com um profundo senimeno em sua voz.
Ele lhes explica o que esá em jogo nessa guerra. Se perderem-na, não erão
mais liberdade. Seus pais serão moros; suas esposas alvez serão violena-
das, e seus filhos serão escravizados. udo o que eles sempre valorizaram
desaparecerá para sempre. Essa baalha é imporane. De fao, é vialmene
imporane. Se vencerem-na, a guerra não esará ganha, mas erão dado um
passo adiane. Nesse pono, o sargeno levana a arma, soa o apio e gria
com uma paixão de vencedor: “Avançar! Avançar!”
Onde não há paixão, não há persuasão. Se o próprio general ivesse
 vindo e apresenado os mesmos faos, mas o houvesse feio em om gélido,
sem ardor, senimeno, vigor e inensidade, a baalha eria sido perdida. Os
homens eriam ficado desanimados e cheios de dúvidas. O dever os eria
levado às escadas, mas não à viória. Embora o pregador use palavras o-
almene verdadeiras, as únicas palavras que aingem o coração são aquelas
que vêm do coração. Os pregadores nunca esimulam alguém, se eles mes-
mos não esão esimulados.

***
O ese final de um sermão não é o que as pessoas senem, enquano
o sermão esá sendo apresenado. Já vimos que a “emoção” do momeno é
imporane, e que sem ela o sermão não pode cumprir o seu propósio. No
enano, ainda permanece a grande perguna: a verdade  pregada se ornou
uma verdade praticada?
Numa manhã de segunda-feira, nosso alfaiae imaginário anda pela
cidade na qual ele pregou sermões para vine pessoas nos úlimos meses.
Ele as conhecia bem e decidiu enconrar-se inesperadamene com cada
uma delas, se fosse possível. Achou John e Mary esperando o ônibus que
omariam para ir à escola. Conversou com Mônica, que rabalhava no ban-

• 112  •
 Aplicação Penetrante

co. omou café com Sephen, que reornaria à universidade apenas na oura
semana. Foi ao supermercado, à clínica, ao poso de gasolina, à biblioeca,
à floriculura, ao escriório de advogados, à prefeiura e à coleoria. Por fim,
ele checou a sua lisa, e percebeu que se enconrara com dezenove pessoas;
por isso, reornou para casa, a fim de almoçar com a vigésima, a sua esposa.
Observou que ela, assim como os demais, vesia as roupas que ele mesmo
fizera. Ele foi ao andar superior, para lavar as mãos, anes de comer, enrou
em seu quaro, ajoelhou-se e agradeceu a Deus.

Exercício

1.  Você deve pregar numa igreja em que não eseve anes e da qual não
conhece ninguém. O que você pode fazer para assegurar-se de que seu
sermão esará cheio de aplicações significaivas?
2. Seu novo pasor é ão preocupado em pregar de maneira penerane, que
se ornou censurador. Dê-lhe alguns conselhos.
3. Esboce um sermão sobre Ezequiel 37.1-14 e faça uma lisa de suas apli-
cações.

Noas:

1 B������, John A. On the preparation and delivery o sermons . London: Hodder & Sou-
ghon. p. 211.
2 Ciado por John A. Broadus, p. 210.
3 B������, Charles. Te christian ministry. London: Te Banner of ruh rus, 1958. p.
271.
4 Ver Capíulo 4, Te Marks of he Unconvered (As Marcas do Não-Converido), em  An
alarm to the unconverted (em poruguês, Um guia seguro para o céu, Ediora PES), Lon-
don: Te Banner of ruh rus, 1959. p. 44-53.

• 113
 •
6
Pregação Eficiente

Q   uando um livro não é um livro? É fácil responder a essa perguna. Es-
ou senando em frene a um compuador no qual enho digiado udo
que você leu aé ese pono. Iso será um livro, mais ainda não é. Um livro
não em exisência aé que seja impresso e receba o acabameno gráfico.
Quando um sermão não é um sermão? Quando a exegese foi con-
cluída; a dourina, reunida; a esruura, harmonizada; as ilusrações,
selecionadas; as aplicações, preparadas; e, a versão final, escria. Mas, ain-
da não há um sermão � nenhum sermão! Um sermão não em exisência
enquano não é pregado.
Esa é a razão por que a apresenação pública de um sermão em im-
porância crucial. A mensagem mais bem preparada do mundo erá pouco
 valor, se não for apresenada ão bem quano deveria ser. O rabalho árduo
de nossas horas e dias pode se perder em um momeno. Um bebê pode ser
concebido no venre da mãe e crescer bem, aé o insane de seu nascimeno,
mas poderá desroçar o coração dos pais, se nascer moro.
Penso que já disse isso anes: em minha vida, cheguei a um eságio em
que ouço muios sermões. Por causa de meus círculos de convivência, enho
poucas queixas a respeio do coneúdo desses sermões. Mas muios denre
eles são apresenados de modo sofrível. Iso aconece porque os pregadores
dão mais aenção à preparação do sermão do que à sua exposição pública.
Sobem ao púlpio com o senso de que já êm algo compleo. Dizem a si
mesmos: “enho um sermão”, não admiindo que um verdadeiro sermão
é aquele que as pessoas levam consigo para casa. Eles são cuidadosos na
Pregação Pura e Simples

maneira de elaborar seus sermões, mas negligenes, e aé medíocres, na ma-


neira de comunicá-los.
Isso não produzirá resulado algum. Sermões pregados de modo negli-
gene não glorificam a Deus. Desaponam as pessoas, reardam a progresso
do evangelho e provocam grande medida de rejeição. odo pregador em
de avaliar como apresena o seu sermão, a cada vez que o prega. Ele não pro-
gredirá auomaicamene. Pode aé piorar, especialmene se os seus maus
hábios se ornam ão arraigados, que o incapaciam de livrar-se deles. Se
negligenciarmos o assuno da apresenação do sermão, logo será muio ar-
de para progredirmos. Peço-lhe que considere eses see aspecos:1

1) Seu espírito

 A pregação que você prepara não pode ser divorciada de você mesmo!
Quando você prega a homens e mulheres, algo do seu espírito se revela a
eles, e não pode ficar oculo. A mais famosa afirmação desa ligação indis-
solúvel enre o pregador e sua pregação se enconra na palesra de Phillips
Brooks, iniulada Os Dois Elementos da Pregação, apresenada na Conferên-
cia Lyman Beecher, em 1877:
 A pregação é a comunicação da verdade eita de homens para ho-
mens. Ela tem dois elementos essenciais: verdade e personalidade...
 Nenhum destes pode estar ausente e, ao mesmo tempo, haver prega-
ção... Pregar é apresentar a verdade por meio da personalidade... A
verdade, em si mesma, é um elemento fixo e estável; a personalidade
é um elemento variável, sujeito a crescimento. 2

odos nós emos caráer e personalidade diferenes. No enano, exisem


algumas qualidades que êm de ser verdadeiras em cada pregador. Primeira-
mene, emos de ser corajosos. Somos chamados a permanecer na fila daqueles
que se mosraram fiéis a Deus, sem imporarem-se com as opiniões dos ho-
mens e das mulheres � na fila em que permanecem Moisés, Elias, Jeremias,
 João Baisa, nosso Senhor Jesus Criso, os apósolos, os márires, os refor-
madores como Marinho Luero, John Knox, os avivalisas do século XVIII e

• 116  •
Pregação Eficiente

inúmeros ouros. Somos os poradores da Palavra de Deus! Pregamos a cruz


desprezada. Nossa mensagem esá replea de consolação, mas não emos pa-
lavras agradáveis para os impenienes e nenhum compromeimeno com o
espírio de impiedade que predomina em odas as épocas.
emos de ser humildes. Sabemos que o orgulho, nosso maior obsácu-
lo, pode arruinar nosso minisério e roubar-nos o poder. Com cereza, não
pediremos desculpas pela mensagem que razemos: “Se alguém fala, fale de
acordo com os oráculos de Deus” (1 Pe 4.11). Enreano, não podemos ser
fiéis ao evangelho do Criso que humilhou-se a Si mesmo, se pregamos com
um espírio de auo-imporância. Cairemos no orgulho odos os dias, se es-
quecermos o nosso pecado, a cruz do Salvador e o fao de que não podemos
fazer nada sem a bênção do Senhor.
emos de ser sinceros. As pessoas, em especial os jovens, odeiam a falsi-
dade. É rise dizer que a meade das pessoas espera deecar a falsidade no
pregador. emos de ser ão verdadeiros, a pono de eviar a impressão de que
somos perfeios; devemos ser sanos o suficiene para que odos saibam que
 vivemos o que pregamos. Podemos desruir odo o nosso minisério por vi-
 vermos de modo incoerene. odos sabemos que as pessoas sinceras exercem
sobre nós um poder que dificilmene conseguimos expressar com palavras.
Sendo sincero é a única maneira de se falar como uma pessoa sincera!
emos de ser ervorosos. Volamos à quesão dos senimenos, que é ão
pouco enfaizada neses dias. emos de crer no que falamos, as nossas pala-
 vras êm de significar exaamene o que afirmamos, e devemos sentir o que
dizemos. Nos imporamos ou não com as pessoas que esão diane de nós? O
desino eerno delas depende de sua reação ao que esamos dizendo. Como
podemos ser insensíveis? Somos indesculpáveis, se pregamos uma mensagem
fria, quando assunos eernos esão em jogo. Mas não podemos fabricar por
nós mesmos uma pregação fervorosa. emos de senir a força esimulane da
 verdade em nossa alma; assim, falaremos com grande persuasão.
emos de ser auocontrolados. Se conhecermos bem o maerial sobre
o qual pregaremos; se em nosso coração cremos nesse maerial e prepara-
mos bem o nosso sermão, nossa apresenação será caracerizada por calma
e confiança. A sinceridade e o fervor nos moverão a expressar-nos com

• 117
 •
Pregação Pura e Simples

persuasão. Onde não há moderação e calma, os pregadores ransmiem a


mensagem como fanáicos alucinados. Quando não êm auo-renúncia, os
pregadores falam como pessoas insensíveis. Na pregação, em de haver com-
 busível e fogo. O fogo sem combusível se apaga rapidamene, enquano o
combusível sem fogo é frio e inúil. Precisamos realmene de ambos e não
saisfazer-nos com nada menos do que ambos! Alegro-me em saber que um
discípulo que  gasta tempo com o seu Senhor ressusciado, ouvindo a voz
dEle, nas Escriuras, será levado à experiência da esrada de Emaús, e seu
coração arderá por escuá-Lo (Lc 24.32).
emos de ser corteses. Ninguém deve pregar a menos que saiba a dife-
rença enre ser direo e ser rude. Se ofendermos as pessoas, nunca devemos
fazê-lo pelo modo como falamos as coisas, e sim apenas por causa daquilo
que a Palavra de Deus coném. Ilusrações grosseiras, maus cosumes, pala-
 vras riviais e aiudes hosis não êm lugar no púlpio crisão. O pregador
ambém não deve repreender as pessoas presenes por causa do pecado da-
quelas que esão ausenes!
emos de ser bem-humorados. Há “empo de chorar e empo de rir” (Ec
3.4). Já falamos um pouco sobre o assuno de humor no púlpio. Conudo,
desejamos falar um pouco mais agora. É faal alguém misurar a seriedade
com a riseza excessiva. É claro que exisem alguns emas que nunca devem
ser moivo de riso, ais como Deus, a expiação, a more, o julgameno, o céu
e o inferno. Mas, quando o humor pode ser servo da verdade (e, ceramene,
esse é um grande princípio), não enhamos medo de usá-lo. O humor pode
aliviar a pressão emocional, ajudar na concenração, caivar aqueles que nos
são hosis, invesir conra a hipocrisia, mosrar quão ridículas são ceras
idéias e provar aos nossos ouvines que somos humanos. Se Deus colocou
essa ferramena ao nosso dispor, seria correo rejeiá-la?

2) Sua linguagem

Como ransmiimos a mensagem àqueles que esão diane de nós?


Por meio de palavras! Se essas palavras são claras e vigorosas, a mensagem
será clara e vigorosa. As palavras são o veículo pelo qual os pensamenos

• 118  •
Pregação Eficiente

de nossa mene chegam ao coração dos ouvines. odos os ouros faores


mencionados nese capíulo podem ajudar ou prejudicar a mensagem, que,
em si mesma, é consiuída de palavras.
Quão poucos pregadores mediam consanemene nas palavras que
usam! Esse não é o maior erro apenas daqueles que são jovens e inexperienes,
mas ambém de muios que pregam há décadas. Você já mediou no quano
a Palavra de Deus em a dizer sobre o uso das palavras? alvez você descubra
que algumas horas usando a Bíblia e uma concordância abririam verdadeira-
mene os seus olhos. Embora já enha feio esse esudo, não enho espaço para
falar sobre isso agora. udo que posso dizer-lhe é que a Bíblia nos ensina que a
escolha das palavras é um assuno deveras imporane. Além disso, a Bíblia não
nos foi dada em forma de palavras escolhidas pelo Espírio Sano?
Pensemos sobre a pregação, passada e presene. Muias pregações que,
de ouro modo, poderiam ser excelenes, não êm sido ridicularizadas por
causa das palavras mal escolhidas, gramaicalmene erradas e mal pronuncia-
das que alguns pregadores usaram? Milhares e milhares de mensagens que,
de ouro modo, seriam excelenes não em provocado nenhuma resposa da
pare dos ouvines, ão-somene porque os pregadores usaram palavras que
as pessoas não acharam fáceis de enender?
Não pode haver uma boa comunicação da mensagem, se não houver um
uso cuidadoso das palavras. Eis quaro coisas que devemos sempre lembrar:

Simplicidade
Falamos com simplicidade quando:
• Apresenamos cada pono em uma única frase.
• Muias de nossas frases não êm mais do que dez palavras.
• 90% de nossas palavras são com poucas sílabas.
• Usamos palavras que nossos ouvines enendem com acilidade.

 As frases são como ijolos; consruímos nosso sermão na mene das
pessoas colocando um pensameno por vez. Gasei boa pare de minha vida
enando dizer aos pregadores que um estilo oral não é o mesmo que um estilo
escrito. E agora o digo novamene. Precisamos er pensamenos profundos,

• 119
 •
Pregação Pura e Simples

mas precisamos ambém expressá-los com simplicidade. Se as crianças não


podem enendê-los, esamos sendo muio complicados. Por isso, devemos
er as crianças em mene odo o empo.
Em um conexo diferene, o apósolo Paulo escreveu: “Assim, vós, se,
com a língua, não disserdes palavra compreensível, como se enenderá o que
dizeis? Porque esareis como se falásseis ao ar” (1 Co 14.9). Foi dio a respeio
de nosso Senhor: “E a grande mulidão o ouvia com prazer” (Mc 12.37).

Gramática
Por que irar a aenção da mensagem para focalizá-la no mensageiro?
Isso aconece quando usamos um poruguês incorreo. Não devemos ser
ão melindrosos que acabemos falando de maneira arificial e enjoaiva. O
imporane é ser claro, e não correo. Mas não somos claros, se comeemos
erros que esridulam nos ouvidos das pessoas.
Não é difícil falar bom poruguês. Se lermos muios livros bem escrios,
absorveremos bom poruguês sem percebermos. Além do mais, é provei-
oso ler alguns livros simples de gramáica poruguesa, resringindo-nos à
leiura de duas ou rês páginas por vez, a fim de deixarmos o assuno pene-
rar em nossa mene. E por que não pedir que um irmão anoe os nossos
erros e nos fale sobre eles depois? É melhor você receber a avaliação dele do
que a igreja ser disraída pelo seu uso do poruguês.

Convicção
emos de escolher as palavras ceras que expressem exatamente o que
preendemos dizer. Se não fizermos isso, o que  desejamos que as pessoas en-
endam não será o que elas realmente enenderão.
 A linguagem não é convincene, quando os pregadores usam palavras
que indicam hesiação. Essas palavras mais comuns são “eh!” e “hum!” Os
 jovens são especialmene propensos a usá-las. Não precisamos delas. Fazem
o pregador parecer hesiane, incero e esúpido. oubam sua auoridade. Se
 você for culpado desse hábio irriane, não ene fazer nada a respeio dele.
 Apenas observe quando você usa palavras que indicam hesiação, e elas de-
saparecerão por si mesmas.

• 120
 •
Pregação Eficiente

Quase ão más quano essas palavras são as palavras riviais. São pa-
lavras que não acrescenam nada ao significado das frases e, no enano,
êm o poder de orná-las irrelevanes. Se você encara com seriedade o seu
chamado, abandonará esse ipo de palavras para sempre. As mais comuns
são “enende?” e “Enende o que eu quero dizer?” A pior delas é “apenas”
� “Vamos apenas orar”; “Leiamos apenas alguns versículos de Marcos”;
“Quero apenas dizer-lhes”; porque dá a impressão de que você esá se des-
culpando pelo que esá falando. odas as senenças que usam “apenas” se
ornam mais vigorosas e convincenes se esa palavra for reirada.

Pronúncia correta
Novamene, por que afasar da mensagem a aenção dos ouvines?
 Nada deve ser um obsáculo. odos nós devemos usar o dicionário para
aprender como proferir correamene qualquer palavra cuja pronúncia
não conhecemos bem. Devemos ambém usar um dicionário bíblico para
aprendermos a pronúncia correa dos nomes próprios dados no exo. Há
muio empo a Bíblia foi raduzida para o poruguês. Exise uma maneira
correa de pronunciar o nome de cada pessoa e cada lugar mencionado na
Bíblia, por que, enão, invenamos hesianemene nossa própria maneira
de pronunciá-los?
No que diz respeio às palavras, não devemos nunca usar uma palavra
que não sabemos, com certeza, como pronunciá-la. Aprimore a sua lingua-
gem! Não orne o evangelho ridículo por causa da maneira como você fala,
quando esá pregando! As palavras que usamos na pregação são as veses
dela � por que vesi-la com rapos?

3) Sua voz

Os pregadores jovens sempre me pedem algumas regras simples que os


ajudem a desenvolver uma voz ineressane, proegida do desgase. Nunca
me seni capaz de dar-lhes ais regras, mas enho lhes ransmiido algumas
dicas. A mais imporane dessas dicas é enender que “a perfeição ao pre-
gar esá em falar normalmene” (C. H. Spurgeon). Na conversa normal, não

• 121
 •
Pregação Pura e Simples

pensamos muio em nossa voz. Nossa mene é omada pelo que desejamos
comunicar e pelo que desejamos que aconeça em seguida. Se isso ambém
aconece conosco quando pregamos, falaremos muio bem. Nossa comuni-
cação será fluene, fácil e quase conversacional. Eu digo “quase” porque não
será exaamene uma conversa. Como pode ser isso, viso que esaremos
falando de uma plaaforma ou de um púlpio e não de uma polrona?
Nossa voz se ornará melhor apenas por sabermos como são feias as
cordas vocais. A voz é um insrumeno resulane de sopro. O ar em nossos
pulmões, o qual expelimos com nosso diafragma, passa pelas cordas vocais,
fazendo-as vibrar. As cordas vocais esão na laringe, no opo de nossa ra-
quéia. As vibrações se ornam ondas de som, que são amplificadas pelos
espaços vazios de nossa laringe, pelas cavidades e pela boca. O palao, os
maxilares, os denes, os lábios e a língua mudam o formao dessas cavida-
des ressonanes e, assim, produzem sons diferenes. Porano, para falarmos
com clareza, conforo e de modo audível, emos de aprender a conrolar
nossa respiração, a não abusar das cordas vocais, a uilizar nossos ressona-
dores e a movimenar aquilo que modifica o som.  Entender isso nos leva
freqüenemene a aprimoramenos noáveis.
Para ornar nossa voz mais ineressane e agradável a alguém, devemos
ambém enender as cinco capacidades com as quais nosso Criador doou
a nossa voz:
1. Nível: ela pode subir ou descer;
2. imo: ela pode ser rápida ou lena;
3. Volume: ela pode ser ala ou baixa;
4. om: ela pode ser grave ou aguda;
5. Ênfase: ela pode enfaizar ceras palavras em uma senença.

Lembre-se ambém do maravilhoso poder da pausa. O que udyard


Kipling queria dizer, ao afirmar: “Você fala por meio do seu silêncio”? Por
que Cícero, o grande orador público, declarou: “O segredo da reórica é...
a pausa”? A verdade é que o silêncio premediado sempre arai a aenção e
pode ser usado para causar ênfase especial em palavras e idéias. Você já ouviu
um pregador que não parava de falar? O que você seniu enquano o ouvia?

• 122
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Pregação Eficiente

Muias pessoas acham esse ipo de discurso muio cansaivo e irriane. Elas
se desligam. Não podem assimilar os assunos, se eses são comunicados em
fluxo incessane, sem pausa. Mas lembre-se: “A pausa deve ser suficiene-
mene longa para arair a aenção ao pensameno, mas não deve ser exensa
demais para arair a aenção à própria pausa”.3

4) Sua comunicação não-verbal

Em anos recenes, em havido muias pesquisas no âmbio da comuni-


cação verbal. Em odo o empo (e não emos consciência disso!), esamos
ransmiindo mensagens por meio da maneira como nos assenamos ou fi-
camos de pé; por meio de nossa expressão e gesos faciais, bem como por
meio do espaço que gosamos de usar. Por causa da variedade de culuras,
essas coisas êm significados diferenes nos diversos povos.
Não ousemos ignorar esse fenômeno! Não o ridicularize. onali-
dade de voz, sorrisos, roso franzido, piscadelas, fiar alguém e acenar
com os olhos ransmiem realmente uma mensagem, como o reconhece
a Palavra de Deus (Pv 6.12-14). Pregar não é apenas algo que ouvimos;
é ambém algo que vemos. Quando as pessoas o vêem pregando, seus
olhos, mãos, face e pés esão comunicando algo. E iso pode ser em seu
favor ou conra você.
Iso não deve nos consranger. odos precisamos reconhecer que a
mensagem verbal não deve ser conradiada pela mensagem não-verbal. O
que você diria a respeio de um pregador que ergue os punhos e os balança,
enquano prega sobre “Vinde a mim, odos os que esais cansados e sobre-
carregados, e eu vos aliviarei” (M 11.28)? O que pensaria de um homem
que prega sobre o inferno e conserva ambas as mãos nos bolsos? O que diria
a respeio de um pregador que fala sobre “Não possuo nem praa nem ouro”
(A 3.6), enquano brinca freqüenemene com seu anel de ouro? emos de
conscienizar-nos dese assuno. Se o fizermos, o mau uso de comunicação
não-verbal será curado.
Um dos aspecos do assuno que ora consideramos é o contato visual.
Esa é uma área em que aé os mais experienes pregadores falham horrivel-

• 123
 •
Pregação Pura e Simples

mene. Olhe para os seus ouvines! Olhe para eles! Conemple o roso de
odos os presenes, enquano você prega!
 Você não erá um meio de comunicação não-verbal mais proveioso do
que ese. O conao visual exige aenção � quem se concenrará na mensa-
gem de um pregador que nunca olha para seus ouvines? Olhe para eles nos
olhos e cada um senirá que a mensagem é pessoalmente para si. Sim, durane
a mensagem, conece-se com cada pessoa,  enquanto você está alando.  Não as
rae como uma mulidão e sim como indivíduos, o que elas realmene são.
Quando um pregador em bom conao visual com as pessoas, esas
provavelmene o levarão a sério. odos desconfiamos de pessoas que não
nos olham nos olhos. Pensamos que são indignas de confiança e asuas,
que procuram ocular-nos alguma coisa. Nenhum pregador do evangelho
deve passar essa impressão, nem mesmo involunariamene. Permia que
seus ouvines vejam os seus olhos; faça-os perceber que você esá olhando
para eles.
 Além disso, o conao visual em oura vanagem. Capacia-o a ver
como as pessoas esão reagindo à sua mensagem. Elas parecem ineres-
sadas? Confusas? Insaisfeias? Esimuladas? Aribuladas? Hosis? Esão
começando a cansar-se? É empo de usar uma ilusração, para caivar-lhes
a aenção? Se você não olha para os seus ouvines, não pode responder
nenhuma dessas pergunas.
odos os pregadores que amam sua igreja são habilidosos no conao
 visual. De que modo eles reconhecerão a pessoa aribulada, à qual poderão
oferecer uma palavra de ajuda pessoal? De que ouro modo poderão obser-
 var se a congregação esá bem acomodada � se esá senindo calor ou frio,
se é incomodada pelo excesso de claridade, se êm de luar conra a fala de
luminosidade ou qualquer oura dificuldade de acomodação? Esas coisas
não serão corrigidas, se o homem que esá diane deles não agir � e o Sr.
Pregador, o homem que esá diane deles, é você!
Ese não é o empo de olhar por cima da cabeça dos ouvines, fixar os
olhos nas anoações da pregação, conemplar as janelas ou fechar os olhos;
pelo conrário, é empo de olhar as pessoas nos olhos e minisrar-lhes, sem
emor, a Palavra de Deus.

• 124
 •
Pregação Eficiente

5) Sua aparência

 Ao considerar o assuno de apresenação do sermão, precisamos aen-


ar à apresenação pessoal e às roupas. alvez sejamos enados a pensar que
ese assuno não é muio imporane, mas esamos errados, porque a ma-
neira como nos vesimos causa diferença na maneira como nossos ouvines
respondem a nós. Porano, ese é um assuno de grande ineresse.
No enano, devemos er cuidado para eviar o esabelecimeno de
normas rígidas e precipiadas nesa área. Não exisem ais normas. Modas
no vesir e esilos de roupa esão mudando consanemene. econhecendo
isso, odo pregador precisa lembrar o seguine princípio: nada deve atrair
a atenção das pessoas, tirando-a da mensagem e fixando-a no mensageiro; não
devemos permitir que nada desonre ou envergonhe a mensagem.
Como um homem que prega a Palavra na Inglaerra do século XXI,
gosaria de recomendar essas dicas essenciais em minha siuação:
•  Cabelos limpos e peneados
•  Nenhum adorno excessivo
•  Corpo asseado, denes limpos e bom hálio
•  Vesir-se como um homem que em algo imporane a dizer. Em mi-
nha culura, isso inclui erno e gravaa. Essa é a maneira como nossos
represenanes se vesem no Parlameno. É ambém a maneira como
se vesem os médicos e os empresários bem-sucedidos, bem como os
dirigenes famosos de clubes esporivos.
•  Sapaos limpos, calças bem passadas, bolsos sem excesso de volume,
camisa limpa e gravaa bem arrumada.

Com muia freqüência, enho me disraído da Palavra por causa das ves-
es do homem que a proclama. Não é agradável gasar muio empo vendo
uma enorme mancha de café abaixo do queixo do pregador, um esquiador
sorridene em um pulôver vermelho ou dois personagens famosos de de-
senho animado impressos na camisea do pregador! Mais do que uma vez,
pessoas me disseram que não puderam levar à sério pasores convidados,
porque, embora eles ivessem orado e apresenado as Escriuras, se vesiam

• 125
 •
Pregação Pura e Simples

com camiseas de fuebol. Nem odos concordamos a respeio do que é ou


não permissível. Mas odos precisamos concordar que esa é uma área em
que precisamos mediar mais profundamene.

6) Seus movimentos e gestos

É imporane recordar que a pregação ano é vista como ouvida.


 Anes de aprendermos a subir no púlpio, nós, pregadores, devemos
aprender a ter postura. Devemos nos porar como arauos, em posição
firme, mas sem rigidez no corpo. Iso significa er nosso peso disribu-
ído uniformemene sobre ambas as pernas, durane oda a mensagem.
Significa não ficar preso ao púlpio e aprender a ficar de pé com os bra-
ços para baixo, quando não esiverem em uso. A princípio, iso parece
esranho, logo, porém, você se acosumará e, com cereza, iso fará com
que respire melhor. Ou seja, evitar  que as mãos esejam freqüenemene
nos bolsos, pois isso pode dar a impressão de negligência com o assuno.
Procurar ambém o abandono permanene do ao de coçar-se, de irriar-
se, de fazer gesos engraçados com os dedos, orelhas, cabelos ou óculos.
 Às vezes, apóie-se no púlpio para falar sobre um pono agradável e pes-
soal; mas depois, vole à posura anerior.
O que fazemos com o nosso corpo, cabeça e mãos durane a conversa
normal, em especial quando esamos de pé? Não os usamos normalmen-
e para expressar nervosismo e sim para nos ajudar a fazer que os ouros
enendam melhor o que esamos dizendo e, se necessário, para descrever
o assuno com mais exaidão. Devemos fazer a mesma coisa quando prega-
mos. Se lembrarmos que a pregação deve assemelhar-se a uma conversa em
público, eviaremos muios dos maiores erros.
Não devemos er medo de sermos visos, nem de nos locomovermos!
Se pudermos fazer uma escolha do local, devemos escolher o lugar em que
as pessoas possam nos ver da cabeça aos pés. emos nos escondido arás de
cercas de madeira, por muio empo, e isso não nos em ajudado a comu-
nicar a mensagem. Um homem que em uma mensagem, fala com odo o
corpo, e não apenas com a cabeça e os pés. Chegou a hora de sepularmos

• 126
 •
Pregação Eficiente

com dignidade o púlpio radicional e de usarmos esruuras das quais po-


deremos ser visos com facilidade.
Se usarmos um púlpio ou uma plaaforma, nossos gesos podem levar
as pessoas a enender-nos ou a ignorar-nos. Quando usados correamen-
e, os gesos nos auxiliam a apresenar com mais vigor o nosso argumeno.
Nossos ouvines são moivados a olhar para nós, a coninuar olhando para
nós e dar-nos oda a sua aenção. Percebem o que esamos querendo dizer
e assimilam-no mais compleamene. E, se algo nos aconece, podemos agir
com mais nauralidade.
Quais as caracerísicas de gesos proveiosos? Haddon W. obinson
nos diz que são:
1.  Espontâneos,  não planejados. Surgem nauralmene, por causa dos
senimenos que emos a respeio do que falamos.
2.  Específicos, não insinceros, nem esquisios. Colocamos o nosso corpo
nos gesos.
3. Variados, porque qualquer geso repeido logo se orna irriane e
afasa a aenção do que esá sendo pregado.
4.  No momento certo, precedendo ou acompanhando o argumeno que
esá sendo apresenado. Se os gesos vierem depois do argumeno,
parecerão ridículos.4
Na hisória da igreja, há muios relaos sobre pregadores que praica-
 vam seus gesos em frene de um espelho. Acho que esa não é uma boa
idéia. enho cereza de que isso deixa o pregador muio consciene do que
esá fazendo e, assim, quebra a primeira regra de obinson. No enano, pen-
so que é bom assisirmos, ocasionalmene, a um vídeo de nossa pregação, a
fim de idenificarmos que gesos são inúeis. Acho que não devemos fazer
isso mais do que duas vezes por ano, para não ficarmos muio desanimados!
Mas, se a ecnologia moderna pode nos ajudar, por que não aproveiarmos
dos seus benefícios?

7) Seu tempo

erminamos ese capíulo considerando um aspeco da comunicação

• 127
 •
Pregação Pura e Simples

da mensagem sobre o qual muios fazem piadas, mas que possui grande
imporância. É o empo.
emos de lembrar que não esamos vivendo na época de um grande
avivameno. É encorajador ver o avanço consane do evangelho em odo o
mundo, mas ninguém alegará que esamos experimenando algo semelhan-
e ao Avivameno Evangélico do século XVIII. Naquele empo, John Wesley,
por exemplo, pregava freqüenemene por duas horas; e Jonahan Edwards,
por rês horas! Não era incomum que os homens pregassem vários sermões
consecuivos. As igrejas deles permaneciam ineressadas no esudo da Pala-
 vra, e uma obra espiriual duradoura era realizada.
Cada pregador que Criso em enviado esá ciene de que, por cona
própria, não pode converer ninguém, nem fazer qualquer bem duradouro.
Ele se mosra grao por udo o que sabe a respeio da ajuda do Espírio Sano
em expor a Palavra e anela que esse Espírio venha sobre ele de maneira sin-
gular. Cada pregador sabe que essa experiência será muio diferene de um
fluxo de adrenalina ou de um senso de enusiasmo que odos os pregadores
senem de vez em quando. Ele sabe que poderia pregar durane horas inin-
errupas. Mas ambém sabe que as regras normais devem ser aplicadas!
 As regras normais são esas:
1. Cerifique-se do empo que lhe é colocado à disposição.
2. Comece na hora � não recompense aqueles que se arasam persis-
enemene!
3. ermine na hora � as pessoas enendem que o culo durará cero
empo. erminar na hora é uma quesão de inegridade. ambém faz
com que você seja respeiado e, conseqüenemene, isso aumena a
sua uilidade.
4. Não se aproprie do empo desinado a ourem que poderia esar com-
parilhando do culo com você. Iso em sido chamado correamene
de “o roubo proveniene do púlpio”, viso que envolve omar dos
ouros aquilo que nunca lhes será devolvido.

Sempre é melhor deixar a congregação anelando por oura mensagem


do que deixá-la odiando-nos. Não vivemos em uma época que, de modo

• 128
 •
Pregação Eficiente

geral, as pessoas apreciem mensagens longas. Você não pode falar muio so-
 bre a essência do sermão em dez minuos, e a maioria das pessoas acha que
quarena minuos de sermão é faigane.
Conudo, algumas igrejas, por haverem sido pacienemene educadas, são
mais capazes do que ouras a ouvir por mais empo. Iso é algo que precisamos
er em mene, quando decidirmos a quanidade de assuno que apresenare-
mos. alvez uma boa regra é pregar durane rina minuos ou um pouco mais,
fazendo-os, odavia, parecer vine minuos,5 pois “a verdadeira maneira de en-
curar um sermão é orná-lo mais ineressane” (H. W. Beecher).
Quando erminarmos nosso sermão, devemos  parar! É errado esen-
der um sermão apenas para complear o empo! Por que um pregador faria
isso? alvez ele não queira ser criicado por erminar muio rápido. Nese
caso, seu moivo é oalmene egoísa e indigno de um crene e, muio mais,
de um arauo da Palavra. Ou alvez ele não queira desaponar a congregação.
Conudo, é provável que ele desaponará as pessoas mais por falar coisas
desnecessárias do que por ser breve.
No enano, muios pregadores sofrem do problema oposo: acham
difícil erminar na hora! Nada os curará, exceo uma boa dose de conside-
ração pelos ouros. Se o empo esiver quase acabado, devem simplificar o
resane e erminar na hora. Depois, devem ir para casa e arrepender-se da
preparação inadequada. Os pregadores que se preparam adequadamene
não excedem o empo do sermão.
 Alguns homens, conscienes de que não êm empo suficiene para
complear a mensagem, comeem o pecado da desonesidade pública. Di-
zem aos seus ouvines que logo erminarão e coninuam pregando por um
 bom empo. Se você é um desses pregadores, alguém precisa dirigir-lhe esa
perguna ousada: “Por que deveríamos guardar no coração a sua mensagem,
se nossos ouvidos esemunharam que você é um mentiroso?”
Quão imporane é a pregação eficiene! Não é uma habilidade que
aprendemos em um dia. Se esivermos nos desenvolvendo como pregado-
res, seremos cada vez mais conscienes de quano progresso ainda emos de
fazer nesa área. Coninuaremos a ler obras sobre pregação, ouvir palesras e
paricipar de conferências; ambém procuraremos oda ajuda que pudermos

• 129
 •
Pregação Pura e Simples

ober. Ficaremos aenos à pregação de ouros, observando se há quaisquer


dicas que possamos assimilar. Não eremos vergonha de pedir aos amigos e
colegas que comenem a nossa pregação.
No enano, exise algo que é mais imporane do que udo isso: a capa-
cidade de nos despojarmos de nós mesmos, para que vejamos e ouçamos a
nossa própria pregação. emos de aprender a nos colocar no lugar daqueles
que nos ouvem e fazer uma avaliação objeiva de nossa própria mensagem.
Enquano vivermos, precisaremos fazer isso toda vez que pregarmos!

Exercício

1. Avalie a sua própria pregação e elabore um plano para melhorá-la.


2. Em sua opinião, quais os dez pecados mais graves comeidos por aqueles
cuja pregação é ineficiene? Escreva em dealhes a sua resposa.
3. Em que senido oda pregação é um drama, e como iso afea a maneira
de apresenarmos a pregação? Discua iso com ouros pregadores.

Noas:

1 Minha aenção foi araída, primeira vez, a eses see ponos ao ler  Preaching the Word
(Pregando a Palavra), escrio por Alfred P. Gibbs (Oak Park, Illinois, Emmaus, 1958). O
que apreseno em seguida se baseia no esboço de Alfred P. Gibbs, embora complemena-
do e consideravelmene modificado. Mas quero regisrar como sou grao por aquele livro
e o quano me ajudou em odas as minhas deficienes enaivas iniciais de pregar.
2 B�����, Phillips.  Lectures on preaching: he 1877 Yale lecures. Grand apids: Baker,
1969. p. 5, 28.
3 �������, Haddon W.  Expository preaching: principles and pracice. Leiceser: Iner-
 Varsiy Press, 1986. p. 207. Já exise uma edição nova e aualizada dese livro excelene.
4 Idem. p. 200-201.
5 Ese pequeno conselho se baseia em S��, John . W.  I believe in preaching . London:
Hodder & Soughon, 1982. p. 294.

• 130
 •
7
 Autoridade Sobrenatural

E m 1973, fiz minha primeira visia aos Esados Unidos. Durane essa visia,
gasei vários dias com o pasor A. N. Marin, da Igreja Baisa riniy, em
Monville, Esado de New Jersey. Um dos membros de sua igreja me deu um
panfleo que apresenava dealhes sobre as pregações gravadas do pasor Mar-
in, e havia ali um comenário que mudou minha vida para sempre. O panfleo
dizia que os sermões do pasor Marin eram caracerizados por “exaidão exe-
géica, coneúdo dourinário, esruura clara, ilusrações vívidas, aplicação
penerane e urgência espiriual. Finalmene, eu inha uma lisa de avaliação
dos ingredienes que consiuíam uma pregação excelene!
Como você pode observar, embora eu enha acrescenado um capíulo
sobre “Pregação Eficiene”, usei livremene essa lisa de avaliação, enquano
escrevia ese livro. Enão, você poderia esperar que ese capíulo final se ini-
ularia “Urgência Espiriual”. Mas ese não é o caso, e eis a explicação.
Em um capíulo, eu disse que reornaria ao assuno da paixão, emoção.
 Agora chegou o momeno para isso. Muio mais precisa ser dio a respeio
da necessidade de envolvimeno emocional, enquano pregamos. Escrevo
ese livro na Inglaerra, no início do século XXI. Vivo em um empo em
que muio em sido dio e escrio a respeio da pregação; e inúmeros cursos
esão sendo organizados para ajudar os crenes a pregarem melhor. Mas não
posso ocular minha convicção pessoal de que muio do que esá aconecen-
do provavelmene arruinará a verdadeira pregação, em vez de resaurá-la.
 A impressão que esá sendo ransmiida amplamene é a de que o pre-
gador esá fazendo bem, se oferece uma explicação clara do exo bíblico e
Pregação Pura e Simples

o aplica às pessoas que o ouvem. Se o pregador ornou relevane e clara a


sua exposição bíblica, cumpriu plenamene a sua responsabilidade. Ele não
precisa fazer mais nada. A Palavra de Deus fará agora a sua obra singular.
Se esa idéia ganhar erreno e predominar, logo assisiremos ao funeral
da verdadeira pregação. Seu corpo permanecerá (embora logo venha a apo-
drecer), mas sua alma erá parido. Essa alma é consiuída de dois elemenos
unidos de al modo que é impossível separá-los. “Urgência Espiriual” é um
desses elemenos e se refere ao fao de que, ao ransmiir a Palavra de Deus,
o pregador ransmie a sua própria alma � a mensagem esá revesida de
paixão, seriedade, ineresse, preocupação, emoção, os quais esão oculos
nos recessos da alma do pregador. O ouro elemeno é “Auoridade Sobre-
naural”. Somene Deus pode revelar a Si mesmo, e, se o Espírio Sano não
omar a mensagem e levá-la aos recessos ínimos dos ouvines � os reces-
sos que nenhuma voz humana pode alcançar � a mensagem bíblica, ainda
que seja bem apresenada, não poderá fazer coisa alguma.
Se o que esou dizendo lhe parece esranho, gosaria de pedir-lhe que
pensasse sobre um bloco de aparamenos que esá sendo desruído por
um incêndio. Ainda há um pouco de empo, enão você corre para denro
do prédio, para avisar às pessoas que moram lá. O que você lhes cona é
a verdade: o edifício esá realmene pegando fogo (exaidão exegéica).
 Você lhes diz que, se não saírem imediaamene, perecerão nas chamas
(coneúdo dourinário). Você se expressa com clareza (esruura clara,
ilusrações vívidas). Olha em seus olhos e fala com elas de modo pesso-
al (aplicação penerane e pregação eficiene). Mas, o que aconecerá, se
 você fizer udo isso sem expressar urgência em seu om de voz ou em sua
maneira de falar? O que aconecerá, se conar-lhes udo de um modo “in-
diferene”? Você não lhes parecerá como um brincalhão? E que sucesso
oberá com seus avisos?
Onde não há emoção, ali não há persuasão. Iso é verdadeiro no que
se refere a ese mundo e muio mais verdadeiro na dimensão espiriual. A
pregação sem senimenos não é pregação de maneira alguma. E não so-
mene isso, é ambém um insulo a Deus, como ichard Baxer enfaizava
ão freqüenemene:

• 132
 •
 Autoridade Sobrenatural

O quê? Falar com fieza como porta-voz de Deus, buscando a sal-


vação dos homens? Podemos crer que os ouvintes serão convertidos
ou condenados e, apesar disso, alar com um tom de sonolência?
 Em nome de Deus, irmãos, esorcem-se para despertar seu próprio
coração, antes de subirem ao púlpito, a fim de que sejam capazes
de despertar o coração dos pecadores. Lembrem-se: eles têm de ser
despertados ou condenados, e um pregador sonolento não acordará
 pecadores que dormem. Embora você aça, com palavras, os mais
elevados louvores às coisas santas de Deus, você parecerá alguém
que, por sua maneira de alar, está contradizendo o que acabou de
afirmar sobre o assunto. Falar sobre as coisas sublimes (especial-
mente, as mais sublimes) sem muita aeição ou ervor é um tipo de
menosprezo dessas coisas. A maneira de alar, bem como as próprias
 palavras, tem de mostrar com clareza as coisas sublimes.1

Nossa necessidade do Espírito

 A paixão, ou emoção, por si mesma, não pode realizar uma obra espi-
riual. Iso é verdade aé quando falamos sobre a emoção que ransborda
do coração de um crene piedoso. Embora seja uma emoção sanificada,
ela ainda em um sabor humano e, por isso, não pode realizar a obra divina.
Somene o Espírio de Deus pode realizar uma ransformação espiriual.
Sem o oque do Espírio, a melhor pregação do mundo é nada. A men-
sagem bíblica, por si mesma, ainda que seja correamene exposa, nada
pode fazer por alguém. A verdade bíblica em de ser incuida no coração
humano por meio do seu Auor divino. em de aconecer algo divino, para
que o pregador fale com auoridade sobrenaural. Se isso não aconecer,
os ouvines sempre receberão a Palavra de Deus como se fosse palavra de
homens  (ver 1 essalonicenses 1.5, 2.13).
Enão, como posso falar com urgência espiriual? Podemos aprender a
falar com auoridade espiriual? Esas são as pergunas que agora emos de
considerar.

• 133
 •
Pregação Pura e Simples

Urgência Espiritual

Urgência Espiriual é o fruo de uma convicção simples. Quando esa


convicção se apossa de um homem e o domina, ele não falhará nesa área.
Qual é essa convicção? É a convicção de que eu tenho a verdade que homens
e mulheres precisam ouvir.
 Você crê nisso? Crê nisso verdadeira e profundamene? Crê nisso não
somene quando você prega evangelisicamene, mas ambém quando pre-
ga aquelas mensagens chamadas de “mensagens dourinárias”? Se você crê,
falará muio bem, pois a convicção é a mãe da verdadeira eloqüência.
Os pregadores descrios na Bíblia falavam com urgência espiriual.
Eles se levanavam e enregavam sua mensagem, reconhecendo que pos-
suíam a verdade que as pessoas de odos os lugares inham de levar em
cona. Paulo e imóeo ecoaram as palavras do salmisa, quando disseram:
“endo, porém, o mesmo espírio da fé, como esá escrio:  Eu cri; por isso,
é que alei. ambém nós cremos; por isso, ambém falamos” (2 Co 4.13).
Pedro e João, revelando o coração de odos os apósolos, disseram anos
anes: “Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (A
4.20). Eles falavam com senimenos! A pregação deles era consrangedo-
ra! Conforme aprendi quando esava no seminário eológico: “Aquele que
só sabe falar, falará a pessoas que só sabem ouvir”.
 A parir do momeno que formos convencidos de que emos a verda-
de que odos precisam ouvir, falaremos como homens fervorosos. Nossa
mensagem será persuasiva, conforme o dizia Hywel Griffihs: “Somene o
que vem do coração pode alcançar ao coração”. O om de voz, a expressão
no roso e odo o nosso ser se combinarão para caivar a aenção do ouvin-
e. A consciência dos ouvines lhes dirá que esão ouvindo a um homem
que crê nas coisas que diz.
Pessoas de odos os lugares esão no perigo do fogo eerno. O impe-
niene irá para o inferno, bem como odos aqueles que confessam serem
crisãos mas não perseveram na fé. Nada, exceo a verdade, poderá livrá-los.
Nada, exceo a verdade, os fará crescer na graça e conhecimeno de nosso
Senhor Jesus Criso. E você em esa verdade! Se essa convicção ransbordar

• 134
 •
 Autoridade Sobrenatural

em seu coração, você nunca deixará de desperar homens, mulheres, adoles-


cenes e crianças que o ouvem, apesar de odas as imperfeições no coneúdo
e apresenação de sua mensagem. Sua urgência se manifesará. Os pregado-
res expressão esa urgência de maneiras diferenes, e um único pregador a
expressará de maneiras variadas em ocasiões diferenes. Mas a sua urgência
se manifesará. O espírio humano deeca a presença dessa urgência, e os
ouvidos de nosso espírio começam a aenar à mensagem. Mas, precisamos
observar, o espírio humano ambém deeca a ausência desa urgência e,
nese caso, mergulha num sono de indiferença.
George Whiefield, o grande evangelisa do século XVIII, conhecia essa
urgência espiriual. Quando as congregações educadas começavam a fazer ba-
rulho e a sussurrar, ele baia o pé e lhes falava direamene, insisindo para que
o ouvissem. Quando mulidões hosis recorriam a odas as áicas imagináveis
para abafá-lo, ele erguia a voz, a fim de sobrepujá-los. Whiefield inha a ver-
dade que eles precisavam ouvir para serem salvos! Não ficaria calado! De um
modo ou de ouro, ele inroduziria sua mensagem nos ouvidos das mulidões!
Sim, Whiefield lhes falava em palavras claras, usando figuras que eles pode-
riam enender. Fazia aplicações adequadas aos seus ouvines. Mas, por rás de
udo o que dizia, esava a inensa paixão que o impelia a coninuar e, com a
 bênção do Espírio, levava à conversão de milhares e milhares de pessoas.

Emoção

Por que emos medo de emoções? Enquano forem direcionadas pela


 verdade, e somente pela verdade, como podem ser perigosas? alvez, o pro-
 blema eseja em nós? ememos ser chamados de loucos? (ver 2 Corínios
5.13)? Esamos resisindo ao espírio de nosso Senhor, expresso no zelo do
salmisa: “O zelo da ua casa me consumiu” (Sl 69.9; cf. Jo 2.17)? Esamos
nos disanciando do apósolo Paulo, cujo “espírio se revolava em face da ido-
laria dominane na cidade” (A 17.16)? emos nos ornado ão hipócrias,
que honramos homens como Daniel owland, mas esquecemos, convenien-
emene, de que ele sempre pregava como alguém que esava “em fogo”?
Cona-se que um famoso pregador londrino do século XX sempre dei-

• 135
 •
Pregação Pura e Simples

 xava odos os seus ouvines consolados, aliviados e em paz. Esa era a razão
por que as pessoas o amavam ano. A Palavra de Deus nos chama a rejeiar
esse ipo de pregação. Ela nos exora a abandonar discursos suaves, que ran-
qüilizam as pessoas com um falso senso de segurança ou iludem-nas com
um profundo senso de saisfação pessoal. A Bíblia nos chama a pregar com
convicção, fervor, energia e seriedade. Ela despreza oda pompa, exibição e
falsa emoção, insruindo-nos a proclamar a verdade de Deus com senimen-
os profundos, compaixão, ardor, vida e amor. Somos chamados a derrubar
e edificar, ferir e curar, enrisecer e consolar, chorar, anelar, apelar e exorar.
Não basa pregar a mensagem correa; precisamos estar na mensagem, in-
 vesindo odo o nosso ser em sua proclamação.
Muios sermões hoje em dia são ão monóonos quano o reinir de
um sino de funeral. O coneúdo é saisfaório, mas o coração do pregador
não pode ser viso no sermão. Não há o risco de que ais pregadores se-
 jam acusados de possuírem fogo esranho ou de fanaismo, pois não exise
qualquer evidência de que alguma chama eseja ardendo em seu ínimo.
Onde esão o zelo e os apelos cheios de paixão dos pregadores bíblicos?
Onde esão as lágrimas dos apósolos e profeas? Quanos pregadores
modernos podem dizer honesamene: “Não cessei de admoesar, com
lágrimas, a cada um” (A 20.31)?
Procuremos ouvir um pregador evangélico caracerísico do século
 XXI. O que parece moivá-lo é o desejo de maner seus ouvines ineres-
sados, e não o desejo de ver o Deus vivo sendo glorificado na conversão e
no crescimeno espiriual deles. Durane mais ou menos rina minuos, ele
ece uma mensagem bíblica que é basane agradável aos ouvidos. Mas ela
não pode, de maneira alguma, ser descria como o aconecimeno mais ines-
quecível da semana. Não mexe com ninguém, nem emociona seus ouvines.
udo o que podemos dizer sobre o sermão é que esava correo. Nenhu-
ma consciência foi aormenada, ninguém quis clamar com gozo inenso.
Muios dos programas de elevisão da semana foram infiniamene mais re-
cordáveis do que esa explanação da verdade de Deus!
Que desgraça! Nós, que pregamos, emos de buscar a Deus, confessan-
do-Lhe nossa exrema perversidade. Pensamenos sublimes não envolvem a

• 136
 •
 Autoridade Sobrenatural

nossa mene por compleo. Muias vezes, pregamos a verdade de Deus com
frieza e mediocridade. Vemos as pessoas perdidas, e as deixamos sem apelo
à conversão, e não nos dedicamos à persuasão incessane. O nosso coração
não em esado em udo o que fazemos. Comunicamos a mensagem sem se-
riedade e, às vezes, com leviandade. Nosso coração esá endurecido. emos
de admiir que o anigo pregador esava correo, ao dizer: “Viso que há an-
a insensibilidade no púlpio, há muio mais nos bancos da igreja”. Agradeça
a Deus por que em Criso há perdão para homens como nós!

Autoridade sobrenatural

 A auoridade sobrenaural é experimenada por pregadores dominados


por uma convicção singular. Quando essa convicção se apossa de um ho-
mem e governa odo o seu minisério, ele não deixa de conhecer esa bênção
gloriosa. Qual é essa convicção? É a convicção de que a mensagem que eu pre-
 go não pode azer nenhum bem a qualquer pessoa, se não estiver acompanhada
do Espírito de Deus.
Nenhuma mensagem pode fazer alguma coisa, se Deus não a abençoar.
Podemos planar a semene, podemos regá-la, mas somene Deus pode dar-
lhe vida (1 Co 3.6). Se pregarmos com fidelidade e não vermos conversões,
qual é a explicação para isso? Se expusermos a Palavra e não presenciarmos a
ransformação nos crenes por nossa mensagem, como poderemos jusificar
isso? A resposa é sempre que Deus em reido o seu poder. Deus não fez o
que somene Ele pode fazer.
Nenhuma obra espiriual pode ser realizada onde o Espírio de Deus
não esiver agindo. A pregação sempre falhará, se Deus mesmo não agir por
meio dela. Isaías enendeu isso: “Quem creu em nossa pregação? E a quem
foi revelado o braço do S�����?” (Is 53.1) As duas pergunas são, na reali-
dade, apenas uma, e a segunda coném a resposa da primeira � se alguém
realmene creu, isso aconeceu porque o braço do Senhor lhe foi revelado;
mas, se alguém não creu, isso ocorreu porque o braço do Senhor não lhe
foi revelado. Ninguém pode crer, se Deus não visiar o coração com grande
poder. Nem mesmo a realização de milagres pode fazer com que pessoas

• 137
 •
Pregação Pura e Simples

creiam (ver João 12.37-38). Algo em de ser realizado no íntimo das pessoas,
e somene Deus pode fazer isso.
Nosso Senhor ensinou esa lição de modo basane claro. Foi uma lição
que muios dos seus discípulos se recusaram a aceiar e, a parir do mo-
meno que a ouviram, volaram para rás e deixaram de segui-Lo (Jo 6.66).
 Aqueles que aceiaram a lição coninuaram com Ele. Haviam aprendido o
segredo mais fundamenal do minisério crisão. As palavras exaas de nosso
Senhor foram esas: “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não
o rouxer... ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido”
(Jo 6.44, 65). Se Deus mesmo não agir, nada poderemos fazer para razer
uma única pessoa a Criso. Precisamos ter a sua bênção quando pregamos.
ichard Cecil aprendeu esa lição bem cedo em seu minisério e se
ornou um dos mais poderosos pregadores do Avivameno Evangélico, do
século XVIII, na Inglaerra. Eis o seu esemunho:
Certa vez, disse a mim mesmo, na tolice do coração: “Que sermão
 oi aquele que o apóstolo Pedro pregou, quando três mil pessoas se
converteram de uma vez!” Que tipo de sermão? Um sermão como
qualquer outro. Não tinha nada extraordinário. O eeito não oi pro-
duzido pela eloqüência de Pedro, e sim pelo grande poder de Deus
que acompanhou sua Palavra. É inútil ouvir um pastor após outro,
ouvir um sermão após outro, se não rogarmos que o Espírito Santo
acompanhe sua Palavra.2

Deus usa homens para levar avane sua causa, mas odo avanço deve ser
aribuído a Ele. Como foi que aquelas primeiras esemunhas obiveram suces-
so em Anioquia da Síria? “A mão do Senhor esava com eles, e muios, crendo,
se convereram ao Senhor” (A 11.21). Por que Lídia foi a única converida
naquela reunião de oração à beira do rio, em Filipos? “O Senhor lhe abriu o
coração para aender às coisas que Paulo dizia” (A 16.14). Como podemos
explicar a conversão imediaa de dezenas de genios e judeus em essalônica?
O nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas,
sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção... Outra
razão ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é

• 138
 •
 Autoridade Sobrenatural

que, tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus,
acolhestes não como palavra de homens, e sim como, em verdade é,
a palavra de Deus, a qual, com eeito, está operando eficazmente em
vós, os que credes” (1 s 1.5, 2.13).

Com Deus, odas as coisas são possíveis. Sem Ele, nada é possível. Dois
mil anos de hisória da igreja revelam que não basa ser um pregador cheio
de alenos ou perfeiamene écnico, embora os dons e o rabalho árduo
não devam ser rejeiados. Muios homens de dons modesos são usados por
Deus para ransformar comunidades ineiras e, às vezes, nações. Em ceras
ocasiões, uma simples senença conquisa os inimigos do evangelho, quando
odos os argumenos falham. Às vezes, a Palavra vem com poder; às vezes,
não. Porano, ao pregar, não devemos depender da qualidade de nossa pre-
gação ou apresenação, embora esas coisas sejam imporanes. emos de
confiar somene em Deus e jamais adoar qualquer abordagem que diminua
nossa dependência dEle.
Paulo nos dá a abordagem correa, quando descreve o seu minisério
em Corino:
 Eu, irmãos, quando ui ter convosco, anunciando-vos o testemunho
de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria.
 Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este cruci-
 ficado. E oi em faqueza, temor e grande tremor que eu estive entre
vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em lin-
 guagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito
e de poder, para que a vossa é não se apoiasse em sabedoria huma-
na, e sim no poder de Deus (1 Co 2.1-5).

Unção

Em 1961, deparei-me com um livro que, desde enão, enho lido uma
 vez por ano. O livro chama-se  Power Trough Prayer (Poder Aravés da
Oração), escrio por E. M. Bounds.3 Junamene com a Bíblia e o Breve Ca-
ecismo de Wesminser, posso dizer que ese livro me influenciou mais do

• 139
 •
Pregação Pura e Simples

que qualquer ouro que já li. Enquano o lia, cheguei ao capíulo iniulado
“Under he Dew of Heaven” (Sob o Orvalho do Céu). Ali, achei coisas que
me assusaram. Esavam além da minha experiência. Eu não podia enender
sobre o que o auor falava. Eis alguns exemplos:
Unção é algo indescritível e indefinível que um antigo e amoso pre-
 gador escocês delineou assim: “Às vezes, existe na pregação algo que
não pode ser descrito; não se pode dizer o que é, nem de onde procede.
 Mas isso penetra o coração e as aeições, com suave violência; e vem
diretamente do Senhor. Entretanto, se existe uma maneira de obter
isso, tem de ser por meio da disposição espiritual do pregador...” 
 Esta unção divina é a característica que separa e distingue a verda-
deira pregação evangélica de todos os outros métodos de apresentar
a verdade, e que cria um abismo espiritual entre o pregador que a
 possui e aquele que não a possui. Esta unção suporta e impregna
a verdade revelada com toda a energia de Deus. Unção é simples-
mente o colocar-se Deus em sua própria Palavra e em seu pregador...
 Amplitude, liberdade, plenitude de pensamento, objetividade e sim-
 plicidade de discurso são os futos desta unção...
Esta unção é a capacitação divina pela qual o pregador cumpre os
objetivos peculiares e salvíficos da pregação. Sem esta unção, não há
resultados espirituais. Sem esta unção, os resultados e a orça da pre-
 gação são equivalentes aos do discurso não-santificado. Sem unção,
o pregador é tão poderoso quanto o púlpito.
A presença desta unção no pregador cria o estímulo e o ervor em
muitos crentes. Um pregador ensina as mesmas verdades na exati-
dão da letra, mas nenhuma movimentação pode ser vista; nenhuma
dor, nenhuma pulsação pode ser sentida. udo permanece quieto
como um cemitério. Outro pregador vem à igreja, e esta influência
misteriosa está nele: a letra da Palavra é inflamada pelo Espírito, e
os espasmos de um movimento poderoso são sentidos. É a unção que
invade e estimula a consciência, quebrantando o coração. udo se
torna árido, insensível, desagradável e sem vida, quando a pregação
não possui esta unção.

• 140
 •
 Autoridade Sobrenatural

Unção! Aé hoje não esou convencido de que esa palavra é o ermo
correo para descrever aquilo sobre o que falou o Dr. Bounds. Mas, sobre o
que ele falou? � essa foi a minha perguna. Naquela época da vida, eu não
inha qualquer experiência dese fenômeno, quer em minha própria vida,
quer na vida de ouros. Não podia imaginar o que o auor inha em mene.
Na primavera do ano seguine, seni que as coisas logo mudariam. Na-
quele empo, eu era um esudane, e minha mãe elefonou-me, pergunando
se eu poderia ir para casa. Havia um homem que ela desejava que eu conhe-
cesse. Ele inha aproximadamene sessena anos. Anes ele rabalhara nas
minas de carvão, porém já fazia mais de vine e cinco anos que era pasor.
Esava pregando em uma semana de reuniões em nossa cidade; e havia algo
sobre ele que mamãe não podia expressar em palavras. Eu enenderia isso, se
o ouvisse pessoalmene. Ela só podia dizer que ouvi-lo era maravilhoso.
Não me foi possível ir para casa e ive de esperar um ano, aé que pude
ouvir a pregação de Hywell Griffihs. Quando me senei no audiório da
igreja Cosheson Mission, enendi finalmene o que era “unção”. Os sermões
do pregador eram exensos, repleos de ilusrações e ransmiidos com amor
e profunda emoção. Mas havia algo mais. Eram acompanhados por uma in-
fluência indescriível. À medida que Hywell Griffihs pregava, o céu vinha à
erra. O mundo invisível era mais real do que o visível. Havia um oque de
glória. Criso era mais precioso do que qualquer pessoa ou coisa do univer-
so. A Palavra vinha com um poder auoconfirmador irresisível. Crer era a
única opção, porque o conrário era indescriivelmene insensao. A única
coisa sábia a fazer era confiar oalmene no Senhor, amá-Lo de odo o cora-
ção, alma, mene e força.
Esas impressões não eram apenas minhas. Após cada sermão, a con-
gregação se assenava em profundo silêncio, dominada pelo absoluo poder
da Palavra. Às vezes, o silêncio era seguido por oração esponânea. Alguns
se converiam a Criso. Muios ouros, como eu, que já eram crenes, eram
mudados para sempre. Haviam experimenado uma pequena prova do que
aconece nos avivamenos, e odos agora sabíamos o que era a “unção”. Eu
nunca mais eria qualquer dificuldade para enender aquilo sobre o que es-
crevera E. M. Bounds!

• 141
 •
Pregação Pura e Simples

 A unção, a unção divina, esta unção celestial é aquilo de que o púl-


 pito necessita e precisa ter. Este óleo divino e celestial derramado
sobre o púlpito pela imposição das mãos de Deus tem de amolecer
e lubrificar todo o homem � coração, mente e espírito � até que
o separe, com uma poderosa separação, de todos os motivos terre-
nos, seculares, egoístas e mundanos, santificando-o para tudo o que
é puro e divino.

Obtendo a unção

Enão, como podemos ober a unção? Alegro-me em dizer-lhe que


agora sei a resposa, não somene com base no que enho lido, mas ambém
por experiência própria. Não podemos dar ordens ao Espírio de Deus. O
 veno celesial sopra onde quer (Jo 3.8). Não sabemos onde Ele já soprou e
onde soprará. Não emos qualquer conrole sobre ese veno celesial. Deus
é Deus e faz o que Lhe agrada (Sl 115.3, 135.6). Ele nunca se obrigará a fazer
a vonade de um homem.
Mas, apesar disso, Deus responde a oração. Ele realmene o faz! E o
faz porque promeeu fazê-lo. Aos pecadores salvos Ele faz a promessa: “E
udo quano pedirdes em oração, crendo, recebereis” (M 21.22). Deus
coloca nas mãos de pecadores salvos argumenos poderosos que podem
usar em oração: “Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos
 vossos filhos, quano mais vosso Pai, que esá nos céus, dará boas coisas
aos que lhe pedirem?” (M 7.11.) Aos pecadores salvos o Filho de Deus
faz ese exraordinário convie: “E udo quano pedirdes em meu nome,
isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes algu-
ma coisa em meu nome, eu o farei” (Jo 14.13-14). E esas rês passagens
são apenas exemplos. odos sabemos que há dezenas de promessas seme-
lhanes espalhadas por oda a Bíblia.
odo crene e, conseqüenemene, odo pregador êm o dever de remo-
 ver de sua vida udo que enrisece o Espírio Sano (Ef 4.30). O chamado
dos pregadores crisãos consise em proclamar a Criso, sabendo que o Es-
pírio Sano ama glorificar a Criso e abençoar a pregação (Jo 16.14). Mas o

• 142
 •
 Autoridade Sobrenatural

melhor resumo das prioridades do pregador é aquele formulado pelos após-


olos na infância da igreja crisã: “Quano a nós, nos consagraremos à oração
e ao minisério da palavra” (A 6.4). E em de ser nessa ordem!
Exise uma coisa chamada conquisar a Deus. É possível rabalhar-
mos e nos apropriarmos dEle em oração, de al modo que recebemos
dEle a segurança pessoal que nos acompanhará sobrenauralmene quan-
do pregarmos. É possível luar, labuar e suar em oração de al modo que
deixamos o lugar de oração em paz e exausos, ceros de que o Senhor
mesmo abençoará a próxima mensagem e nos acompanhará, de um modo
maravilhoso, quando a esivermos pregando. Iso não significa que é pos-
sível obtermos como recompensa a bênção de Deus. Não significa que haja
alguma obra que Lhe podemos oferecer e pela qual Ele esá obrigado a
recompensar-nos. Significa apenas que, em sua graça, Ele se permie ser
conquisado por oração imporuna.
 Você crê nisso? Crê que um homem pode dizer ao seu Deus: “Não e
deixarei ir se me não abençoares” (Gn 32.26)? Você crê que podemos di-
zer sobre esse homem: “E o abençoou ali” (Gn 32.29)? Se não, como você
enenderá o minisério de homens como João Crisósomo, Marinho Lu-
ero, John Wesley, Jonahan Edwards, Daniel owland, John Elias, C. H.
Spurgeon, Hywel Griffihs, D. Marin Lloyd-Jones? Eses homens eram
 bem diferenes uns dos ouros e pregavam em siuações diferenes; enão, o
que inham em comum? Eles dependiam de Deus, e dependiam complea-
mene. Por isso, se dedicavam a buscá-Lo, a enconrá-Lo, a conquisá-Lo e a
experimenar a sua bênção. Eles não eram primeiramene pregadores; anes,
eram homens de oração. E, nas ocasiões em que oravam e Deus não lhes
concedia a sua bênção, conenavam-se em sussurrar: “Sim, ó Pai, porque
assim foi do eu agrado” (M 11.26).
E. M. Bounds enendeu:
Como e quando vem esta unção? Diretamente de Deus, em resposta à
oração. Corações que oram são os únicos corações cheios deste óleo sa-
 grado; lábios que oram são os únicos ungidos com esta unção divina.
Oração, muita oração, é o preço da unção na pregação. Oração, muita
oração, é a única condição de manter esta unção. Sem oração incessan-

• 143
 •
Pregação Pura e Simples

te, a unção nunca vem ao pregador. Sem perseverança em oração, a


unção produz vermes, como o ez o maná colhido em excesso.

***
 A principal pare dese livro modeso chegou ao final. enei mos-
rar-lhe o que é a pregação e quais os seus ingredienes essenciais. Quero
agradecer-lhe por er lido aé ese pono. Desejo encorajá-lo a ler o resane.
Creio que udo o que eu disse é imporane. Se algum de seus capíulos
fosse reirado, acho que o livro seria defeiuoso e não eria equilíbrio. Mas, se
 vocês me pressionassem a dizer quais capíulos considero paricularmene
imporanes nesa hora, eria de indicar os capíulos sobre Exatidão Exegéti-
ca e Autoridade Sobrenatural. Iso é verdade por causa de minhas convicções
a respeio de nossa necessidade ano da Palavra como do Espírio.
enho sessena e dois anos de idade; espero que o Senhor ainda me
dará mais alguns anos de minisério. Aconeça o que aconecer, enho cere-
za de que esou mais próximo do fim de minha vida, e não do seu começo.
Minha súplica especial é que odos os jovens pasores obenham ajuda es-
pecial dese livro e se dediquem ao que ele ensina, pelo menos enquano
esiver em harmonia com as Escriuras. E que o minisério deles seja uma
 bênção em qualquer pare do mundo!

 Meus talentos, dons e graças, ó Senhor,


 Possam tuas benditas mãos receber;
 Deixa-me viver a pregar a tua Palavra,
 E para tua glória seja o meu viver!
 E que eu gaste cada momento de meus labores
 Em proclamar o Amigo dos pecadores.

Charles Wesley, 1707-1788

• 144
 •
 Autoridade Sobrenatural

Exercício

1. Você sene ão profundamene o que esá pregando, que fala em excesso.
Felizmene, a sua esposa lhe advere sobre isso. O que você fará?
2. Explique a um jovem crene ineressado o que os evangélicos êm preen-
dido dizer, em oda a sua hisória, ao usarem o ermo “unção”?
 3. Explore a conexão enre a oração e a “unção”.

Noas:

1 B�����, ichard. Te reormed pastor   (em poruguês, O pastor aprovado , Ediora PES).
Edinburgh: Te Banner of ruh rus, 1974. p. 148.
2 Ciado por B������, Charles. Te christian ministry. London: Te Banner of ruh rus,
1958. p. 79.
3 B�����, E. M.  Power through prayer. World-wide Circulaion Ediion. London: Mar-
shall Morgan & Scot. odas as ciações foram reiradas do Capíulo 10, p. 43, ss.

• 145
 •
Parte 3

Sugestão de um Método de
Preparação de Sermões
Sugestão de um
Método de Preparação
de Sermões

S ermões precisam de preparo. “Ir freqüenemene despreparado ao púl-


pio é uma presunção imperdoável”, disse C. H. Spurgeon. 1 John Sot
nos recorda ouro pono: “Os grandes pregadores que influenciaram a sua
geração odos deram esemunho da necessidade de preparo consciene”. 2
 A pregação é o meio que Deus usa para vivificar os moros e edificar os
 vivos. Se cremos nisso, não ousaremos nos aproximar da pregação de qual-
quer oura maneira, exceo com um espírio de oração, seriedade e esudo.
Nosso dom de pregação vem de Deus; o desenvolvimento desse dom é nossa
responsabilidade.
O advogado prepara cuidadosamene o seu relao dos faos. O arquieo
raça seus planos; o médico esuda ano as suas anoações como o paciene.
Devo eu, um pregador do evangelho, realizar com desmazelo a obra mais
importante do mundo?
 Apesar do excelene exemplo dado em Eclesiases 12.9-12, não há
regras rígidas e imediaas para a preparação de sermões. O que apreseno
em seguida é um méodo pessoal que gosaria de recomendar-lhes, espe-
cialmene se vocês começaram a pregar recenemene. Esse méodo envolve
odos os ponos essenciais, unindo o preparo do sermão à oração. A inen-
ção não é que o méodo seja uma regra, e sim um guia. É provável que você
desejará modificá-lo, ou rejeiá-lo, em ceros ponos. Conudo, esou cero
de que alguns o acharão proveioso.
Pregação Pura e Simples

Algumas sugestões para uma pregação eficaz

•  Comece seu preparo ão cedo quano possível. O preparo apressado


é um péssimo preparo.
•   Coninuar adiando o preparo é um convie ao fracasso. Deus não
opera milagres desnecessários, a fim de compensar a negligência do
pregador.
•  A coisa essencial é começar � não pense em começar � comece-o!
•  Sene-se diane de uma mesa grande, em uma cadeira firme, onde haja
 basane luz. Pegue a sua Bíblia, uma canea e basane papel.
•  Siga ese guia, passo a passo, nunca enrando no passo seguine anes
de erminar compleamene o anerior.

1. Medite sobre a sua tarefa

•  Pare
•  Fique em silêncio absoluo na presença do Senhor.
•  ecorde qual é a sua arefa. Você deve glorificar a Deus, por levar in-
crédulos a se ornarem crenes e crenes fracos a se ornarem fores.
•  É verdade que iso é feio por meio da exposição e da aplicação da
Palavra de Deus. Porano, você não é primariamene um preparador
de sermões, e sim um insrumeno de azer santos.
•  É essencial que, durane odo o seu preparo, você enha iso sempre
diane de si.

2. Medite no seu texto

•  A palavra “exo” significa aquela pare das Escriuras sobre a qual


 você pregará. alvez seja um versículo ou vários, um parágrafo, um
capíulo, um livro, um ema bíblico...
•  A maneira como você escolhe o seu exo é algo que não abordamos
nese livro, mas você achará, facilmene, conselhos a respeio dese
assuno em ouros livros sobre pregação.

• 150
 •
Sugestão de um Método de Preparação de Sermões

• De joelhos (literalmente!). Leia agora o seu exo.


• Leia senença por senença, palavra por palavra, usando cada pare
como combusível para a oração.
• Sim, concenre-se no exo, excluindo odas as ouras coisas. Evie odas
(odas!) as inerrupções. Medie sobre o exo na presença do Senhor.
• Adore-O por oda verdade e lição que você percebe.
• Se há alguma pare do exo que você não enende, ore e medie aé
que a enenda. Se ainda não obeve esclarecimeno, leia comenários
e ouros recursos � mas somene para descobrir o que esa frase ou
senença significa, e nada mais.
• Enquano você espera em Deus, os pensamenos começarão a surgir,
alvez devagar, no princípio. Mas um pensameno desperará ouro,
que, por sua vez, levará a ouro.
• Fique de joelhos aé que a passagem inflame sua alma, aé que o fogo
irrompa, ornando-o impaciene para pregar as verdades que você o-
mou para si e, especialmene, a “grande idéia”, ou seja, o pensameno
predominane que resume o assuno do exo.
• Você não pediu uma mensagem. Mas a Palavra de Deus é emocionan-
e, e a orienação de sua mensagem é clara.

3. Comece a escrever

• Vá à mesa e faça pergunas ao seu exo. Escreva as resposas. Não


ene colocar udo em uma seqüência lógica � iso pode ser feio
depois. Demore-se nesta tarea, aé fazê-la por compleo. O papel não
esá em escassez, e você pode usar muio papel, se precisar.

• Primeiramene, faça esas pergunas básicas:


* Qual é o conexo imediao, o mais disane e o hisórico?
* O que ese exo significava para o auor e os leiores originais? O
que ese exo nos diz hoje?
* O que ele ensina sobre Deus, o Pai, o Filho e o Espírio Sano?
* O que ensina sobre os homens e suas aiudes em relação a Deus

• 151
 •
Pregação Pura e Simples

e em relação uns aos ouros?


* Há um bom exemplo a ser seguido ou um mau exemplo a ser
eviado?
* Há uma ordem a obedecermos?
* Há uma adverência à qual devemos aenar?
* Há uma promessa que devemos crer e proclamar?
* Há resposa a uma perguna pessoal ou bíblica?
* Há um ensino a ser guardado no coração?
* Há algum ensino confirmado por ouras passagens das Escriuras?

•  Agora, faça ouras pergunas que julgue necessárias. Exisem suges-


ões em livros sobre pregação.

4. Organize seu material

•  Ainda em aiude de oração, faça um rascunho das anoações de seu


sermão. Iso significa ler as várias folhas de papel nas quais você já
escreveu, aproveiando o que elas coném e acrescenando novos
pensamenos que ceramene surgirão.
•   Comece pegando uma nova folha de papel e descrevendo  por que
 você pregará esa mensagem. Qual é o propósio? Afirme iso em
uma única frase.
•  Decida que orma o sermão omará, para cumprir ese propósio. Por
exemplo, você em uma idéia a explicar? Uma proposição a compro-
 var? Um princípio a aplicar? Uma hisória a conar? Um assuno a
complear? Ou o quê?
•  Deixe espaço para a Introdução, que você acrescenará depois.
•  Divida o seu papel em rês colunas, iniulando-as  Afirmar, Ilustrar,
 Aplicar.
•  Na coluna iniulada  Afirmar, escreva a mensagem que você rará a
parir do exo. Não faça oura coisa, aé que a esruura seja clara,
simples e naural � uma esruura suprida pelo próprio exo. Enão,
encha essa esruura.

• 152
 •
Sugestão de um Método de Preparação de Sermões

•  ecuse-se a escrever um manuscrio compleo. Escreva um pensa-


meno em cada linha.
•  Concenre-se no pono principal. Descare udo que não serve à
“grande idéia”.
• Para cada grande verdade escria, ache ou crie uma ilusração. Escre-
 va-a ao lado da verdade, na coluna iniulada Ilustrar.
• Visualize as pessoas que o ouvirão e, na coluna  Aplicar, escreva uma
aplicação ao lado de cada grande verdade ensinada e ilusrada. Será
proveioso subdividir esa coluna em O que (fazer), Como (fazer),
 Por que (deve ser feio).
• Quando acabar o rascunho, cada uma das rês colunas devem esar
igualmene cheias.
• Depois disso, escreva uma Introdução no espaço que você deixou va-
zio. Ela em de desperar o ineresse e levar os ouvines ao assuno
do sermão.
• Finalmene, prepare a Conclusão da mensagem. enha consigo algo
que possa lançar ao coração dos ouvines, de modo a persuadi-los a
agir em relação à “grande idéia” do exo. Ese é o momeno de vio-
lência sana.

5. Verifique se o sermão contém os elementos essenciais

• rabalhe novamene em seu rascunho, reirando ou acrescenando


ano maerial quano necessário, à luz dos seguines elemenos es-
senciais. Não seja mesquinho nese passo vial de sua preparação.
Gaste tempo.

1. Exatidão exegética. A sua mensagem assimila e ransmie realmene


o significado intencional do exo bíblico, focalizando e incuindo o
pensameno predominane (“a grande idéia”)? Se a exegese esá cor-
rea, a mensagem arairá a aenção ao Senhor Jesus Criso e à sua cruz
(Lc 24.27, A 3.24). Use comenários e dicionários para confirmar
ese pono.

• 153
 •
Pregação Pura e Simples

2. Conteúdo doutrinário.   De que maneiras específicas esa mensa-


gem aprimorará o enendimeno das pessoas a respeio do sisema
de dourina que as Escriuras ensinam? Avalie odos os ponos dou-
rinários à luz das confissões de fé hisóricas da igreja crisã (por
exemplo, Confissão Londrina ou a Confissão de Wesminser), a fim
de assegurar-se de que não há erro ou desequilíbrio dourinário.

3. Estrutura clara. Você lidou com o maerial por algum empo, mas a


igreja o ouvirá somene uma vez. A esruura da mensagem é óbvia,
 basane clara e fácil de ser acompanhada? Como regra geral, enha
somene rês ou quaro ponos e nenhum subpono. oda a esruura
esá em sujeição ao pensameno predominane? A inrodução é bre-
 ve, ineressane, caivane e serve ao que vem depois? A conclusão
resume a mensagem e insise em um veredico?

4. Ilustrações vívidas.  As ilusrações consiuem 1/3 da mensagem?


Elas são realmene adequadas às verdades que serão explicadas ou
às aplicações que serão feias? Exclua oda ilusração que chama a
aenção para você mesmo.

5. Aplicação penetrante. Há aplicações para odas as verdades que se-


rão apresenadas? Elas consiuem 1/3 da mensagem? São relevanes
àqueles que ouvirão a mensagem? São expressas com amabilidade?

6. Reescreva suas anotações

•  eescreva suas anoações com um aspeco final e melhorado.


•  Medie e se esforce para er uma linguagem correta. orne a sua lingua-
gem concrea e evidene. Escolha palavras simples e claras � muias
delas devem er poucas sílabas. Faça senenças breves, conendo ape-
nas um pensameno. Use o pronome “você” sempre que possível.
•  enha cereza de que incluiu muitas pergunas reóricas.
•  Considere onde seria úil fazer repeições.

• 154
 •
Sugestão de um Método de Preparação de Sermões

• Ao preparar suas anoações, almeje er clareza, anes de qualquer ou-
ra coisa. As anoações devem ser de leiura fácil.
• Escreva com leras grandes � ou digie.
• Escreva somene em um dos lados do papel.
• Numere as páginas.
• Sublinhe em vermelho os ponos principais e, se houver subponos,
sublinhe-os em azul ou verde.

7. Fale com o seu Deus

• De joelhos, novamene, ore ao seu Deus a respeio das anoações er-
minadas. Iso é mil vezes melhor do que ensaiar a mensagem!
• Na primeira vez, ore em favor de cada linha da mensagem, pedindo
que possa arair a aenção das pessoas ao Deus riuno e levá-las a nu-
rir pensamenos sublimes a respeio dEle.
• Na segunda vez, ore em favor de cada linha, pedindo que raga o
não-converido a Criso e faça o converido crescer na graça e no co-
nhecimeno.
• Ese empo de oração alvez o moive a fazer alerações nas anoações
concluídas. Não hesie em fazer iso. Suas anoações não são infalí-
 veis, nem sagradas.
• Coninue de joelhos. Escolha os salmos e os hinos. Organize odos os
ouros dealhes concernenes à ordem do culo.
• O culo deve ser uma oalidade. udo que consiui o culo deve es-
ar a serviço e enfaizar o pensameno predominane (ou a “grande
idéia”) que será proclamada na mensagem.

8. Faça os preparativos finais

• Chegue cedo à igreja.


• Suba à plaaforma e familiarize-se com o púlpio, a acúsica, o ar-
ranjo dos bancos e odas as circunsâncias físicas relacionadas à
sua pregação.

• 155
 •
Pregação Pura e Simples

•  Arrume a sua Bíblia, as anoações, a ordem do culo e o hinário muio


anes do início do culo.
•  Cumprimene anas pessoas quano você puder. Se possível, enha um
momeno de oração com os líderes da igreja, anes do início do culo.

9. Faça a sua obra

•  A providência de Deus o designou para dirigir o culo e pregar hoje.


Porano, faça-o, em aiude de oração, com auoridade e amor.
•  Olhe para os seus ouvines e fale em voz audível.
•  Concenre-se apenas em duas coisas � exalar o Senhor e sanificar
as pessoas. O culo e a pregação são apenas os meios para aingir es-
es grandes objeivos. Não devem ser os objeivos em si mesmos.

10. Retire-se a um lugar secreto

•  Algum empo depois do culo, procure um lugar quieo, para desfru-


ar de um longo momeno de oração paricular.
•  raga novamene a ordem do culo, as anoações do sermão e ore a
respeio deles.
•  Peça perdão a Deus por odos os ponos em você poderia er feio
melhor.
•  Ore a respeio de cada verdade anunciada. Peça que as pessoas guar-
dem essas verdades no coração; que iso as leve a nurir pensamenos
sublimes a respeio de Deus; que os não-salvos sejam converidos;
que os converidos façam progresso significaivo no enendimeno
e na vida espiriual.
•  Ore em favor de odas as pessoas específicas que puder lembrar.
•  Deixe udo nas mãos do Senhor � e comece a preparar a próxima
mensagem.

***
• 156
 •
Sugestão de um Método de Preparação de Sermões

Quano empo será gaso na preparação de um sermão? A resposa é: o


empo que for preciso! Quem pode dizer quão rapidamene odas as pares
do sermão serão concreizadas e quano empo você luará com Deus, em
oração, aé que enha cereza pessoal de que Ele abençoará ese sermão, nes-
a ocasião paricular?
Podemos dizer iso: a fim de preparar um sermão de rina minuos,
 você precisará, no início, de doze horas, pelo menos. Esa quanidade de ho-
ras pode diminuir, e diminuirá, com o passar dos anos. O mínimo de empo
ao qual você precisará dedicar-se é uma hora de preparação para cada cinco
minuos pregados.
O méodo que sugeri enfaiza que os sermões não são um fim em si
mesmos. O sermão é ão-somene o meio pelo qual Deus é glorificado na
edificação dos crenes e na conversão de incrédulos. O méodo encoraja a
mediação demorada no exo, o compromisso franco com a pureza douri-
nária, o esforço resoluo de produzir uma esruura clara, o preparo diligene
de ilusrações e aplicações, a revisão consane à luz de um criério definido,
a aenção minuciosa ao escrever as anoações, a oração perseverane, a pro-
clamação ousada e o arrependimeno pessoal.
Se você seguir ese méodo, o preparo de seu sermão nunca será uma
arefa apressada e incluirá cada elemeno exigido para pregações excelenes.
Esse ipo de pregação não é a grande necessidade de nossa época?

Noas

1 S�������, C. H. Lectures to my students. Second series. London: Passmore & Alabaser,


1882. p. 4.
2 S��, John . W. I believe in preaching. London: Hodder & Soughon, 1982. p. 212.

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